Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
c o n t e m p o r â n e o s s o b r e a fé c r i s t ã
E ntr eta nto, a verdade é muito mais que um modismo — ela é im utá vel,
tm F undam entos inabaláveis, Norman Geisler e Peter BoccMno mostram
como e i m p o r t a n te dis ting u ir e n t re o que é uma q u e s t ã o de preferência
e o que é um princípio a b so lu to . De forma clara e acess ível, eles ensinam
o povo de Deus a respo nder às ine v itá v eis co ntro vérs ias qu e surgem
dessa dis cussão.
A cul tura secular declarou guerra ao crist ia nism o. Para fo rn ecer resp o stas
c o n v in c e n te s, os cristã os precisam desen v o lv er uma visão de mundo
mais ap u rad a — uma m aneira de c o m p reen d er o que e s t á se p ass an d o ao
n o sso redor de uma persp ecti v a m enos superficial. Este livro não
proporciona a p e n a s res p o stas c o n v in c e n te s sob re a s s u n to s po lêmicos, mas
ta m b e m a o p o rt u n id a d e de tran sfo rm ar vidas quando se enxerg a o mundo
a través das le ntes da verdade.
Peter B occhino ê presid ente do Legacy of Truth Ministries. localizado em Atlanta , Geórgia,
EUA. Atuou d uran te nove ano s como d iretor de liderança do Ravi Zacharias In te rn a tio n a l
Ministries e foi responsável por m in is trar sobre a p olo gética crista cm países da Europa, do
Oriente Medio, da África e das. Américas. Peter e a e sposa, Tnerese, tem dois filhos e residem
em AtLanta EUA.
P elo m e sm o a u to r
O b r a s em c o - a u t o r i a
■
(Mundo Cristão) ■
P r o ib id a a r e p r o d u ç ã o p o r q u a is q u e r m e io s ,
Geisler, N o r m a n L.
F u n d a m e n t o s in aba lá veis : re s p o s ta aos m a io re s q u e s t i o n a m e n to s c o n
t e m p o r â n e o s s o b r e a fé c r i s t ã : c l o n a g e m , b i o é t i c a , a b o r t o , e u t a n á s i a ,
m ac roevoluç ão /• N o r m a n G eisler e P eter B o cc in o ; tra d u ç ã o H e b e r C arlos de
C a m p o s . — São P au lo : E d ito ra V id a, 2 0 0 3 .
02-6636 cdd-239
A gradecimentos 1 7
In tr odução 9
1. A lógica 15
2. A VERDADE 27
3. As c o s m o v i s õ e s 53
4. A c i ê n c i a 69
5. O cosmos 85
6. A o r i g e m da vida 111
7. A m a c r o e v o l u c à o 145
8. P roieto inteligente 177
9. A LEI 199
10. A i u s t i c a 223
11. D eus e o mal 245
B ibliografia 429
A g r a d e c im e n t o s
Dedicam os este livro com carinho a nossas esposas, Barbara e Therese, que nos
têm apoiado com fidelidade e am or no decorrer dos anos. Somos especialmen
te gratos pelo encorajam ento delas durante a produção deste trabalho.
Registramos nosso reconhecim ento especial a Bill e C harlotte Poteet, que
trabalharam na preparação gramatical inicial do m anuscrito para que pudésse
mos enviá-lo à editora. Somos tam bém m uito agradecidos a W ayne H ouse por
gastar tem po fazendo revisão do capítulo sobre lei e por suas sugestões úteis.
A dem ais, seriam os remissos se não agradecêssem os a todos os alunos de
apologética, que durante os anos nos ajudaram com várias sugestões a tornar
este livro tanto prático quanto significativo.
Por fim, desejamos expressar nosso apreço a Steve Laube por acreditar nesta
obra e a todas as pessoas talentosas da B ethany H ouse Publishers que acom pa
nharam este projeto até o final. E m particular, somos agradecidos aos diligen
tes esforços e às louváveis habilidades de redação de C hristopher Soderstrom .
Acim a de tudo, devemos m uito a nosso Deus, que nos tem dado a graça de
ser capazes de raciocinar a respeito dele m esm o e de sua criação. O próprio
Deus nos convida a chegar em sua presença para “refletir juntos” com ele (Is
1.18), e é nossa esperança que o leitor se ocupe dele e de seu convite gracioso.
Introdução
— B laise P ascal
Aos que aceitam a cura de Jesus para a doença moral da hum anidade, aguarda-
os um estado eterno de alegria verdadeira no céu. E ntretanto, aos que rejeitam
Deus, aguarda-os um lugar de verdadeira miséria, que durará para sempre. A
Bíblia refere-se a esse estado eterno de miséria com o inferno. O capítulo 16
pretende m ostrar brevem ente por que o inferno faz sentido e que é decorrência
da natureza santa, justa e am orosa de Deus.
Além desses capítulos, incluím os um apêndice intitulado “Respostas base
adas nos prim eiros princípios a questões éticas”. O s tópicos tratados no apên
dice são aborto, eutanásia, questões biom édicas e clonagem hum ana.
É nossa esperança que suas dúvidas e perguntas sejam respondidas em al
gum lugar nas páginas deste livro e que, com o conseqüência, você possa enten
der m elhor por que sua fé repousa sobre fundam entos inabaláveis. Tam bém
oramos para que esta obra ajude a fom entar em você u m a intrepidez que não
seja defensiva, para que você seja u m a testem unha confiante ao com partilhar o
evangelho de Jesus Cristo.
C a p ít u l o u m
A LÓGICA
— M o r t im e r J. A dler
Q U Í S ÃO P R I M í l R O S P R I N C Í P I O S ?
A tarefa total diante de nós é construir um a lente através da qual possamos enxer
gar adequadam ente a realidade (definida com o “aquilo que é”).2 U m a lente inte
lectual contém muitas hipóteses, mas sua
capacidade focal real pode-se encontrar nas
leis que guiam o pensam ento hum ano.
Todo m undo usa a lógica para pensar a
respeito da vida. A realidade de nossa
existência, p ortanto, é o objeto de foco
para essa lente. Todas as pessoas vez ou
outra já pararam para pensar no fato de
existirem: a existência e a razão hum anas
são dois pressupostos fundam entais que
todos os seres hum anos têm em com um .
Essas duas suposições são inevitáveis. Para
2Estamos em pregando a palavra realidade para significar aquilo que existe independente de nossa
m ente e exteriormente a ela. Essa visão se cham a realismo. N o capítulo 2, vamos m ostrar como o
agnosticismo (doutrina segundo a qual ninguém pode saber nada a respeito da realidade) é auto-
anulável e o realismo é inevitável.
18 fU N D M E N IO S IM B/IUVEI5
qegar a existência.-e..a .razão, o. indivídu o ..teria .de usar a. razão para, pensar., a
respeito dessa negação. Ademais, tem de existir um a pessoa para se ocupar do
processo de raciocínio. Portanto, a existência e a razão devem ser o p o n to de
partida de qualquer pesquisa honesta e im parcial da verdade.
Nossas reflexões a respeito de nossa existência levantam u m a das questões
mais fundam entais da filosofia: “Por que existe algo em vez de absolutam ente
nada?”.3 N o m om ento que com eçam os a usar a capacidade focal da razão para
ponderar acerca de nossa existência, dam os início à tarefa filosófica de construir
um a lente intelectual. C o m isso em m ente, o p on to mais sensível por onde
começar é adquirir conhecim ento das leis que orientam o m odo correto de
pensar. Se nossos processos de pensam ento forem incorretos, quase sem pre nos
conduzirão a conclusões falsas. Se a razão hu m an a é o po n to focal de um a lente
intelectual, logo ela só será boa se estiver lim pa e polida. Se não estiver, corre-
se o risco de ter um a visão obscurecida da realidade.
Q u and o pensamos sobre o pensar, autom aticam ente nos ocupamos da disci
plina acadêmica conhecida por Lógica. A lógica é o ramo da filosofia que com pre
ende o entendim ento das leis que regem nosso processo intelectual, A lógica é a
ordem que a razão descobre quando pensa sobre o pensar. Portanto, é a pré-
condição necessária para todo pensamento. U m a vez que os indivíduos de todos
os lugares se em penham no ato de pensar, e que todo pensam ento se baseia na
lógica, pode-se seguramente adm itir que a lógica é um a prática universal. Um a
vez estabelecida a capacidade focal da razão e livre de qualquer obstrução, pode
mos aplicá-la aos fatos da realidade e pôr em foco um a cosmovisão. tendo em
vista que todo conhecim ento depende de um ato de pensamento, a lógica deve
ser o po nto de partida para construir nossa lente intelectual.
A LEI DA N Ã O - C O N T R A D I Ç Ã O É I N E V I T Á V E L ?
4Para saber mais sobre as leis da lógica, entre elas as falácias formais e informais, v. Come let us
reasom an introduction to logical thinking, de N . L. Geisler e R. M . Brooks.
20 F undamentos inabaláveis
por qualquer um que queira pensar ou dizer algo significativo.É necessária para
fazer qualquer espécie de distinção, afirmação ou negação. Por exemplo, se
alguém dissesse: “Eu nego a lei da nao-contradição”, seria o oposto a dizer: “Eu
afirmo a lei da não-contradiçao”. N o próprio ato de negar a lei da não-contra-
dição, o indivíduo precisa utilizá-la. A afirmação: “Vocês, cristãos, sao intole
rantes porque não aceitam todas as religiões com o verdadeiras!”, é o oposto de
ser tolerante e aceitar com o verdadeiras todas as reivindicações de verdade reli
giosa! (D aqui p o r diante abreviaremos a expressão “lei da não-contradiçao”
com as iniciais l n c ).
A l n c é tão poderosa que não podem os evitá-la nem nos esconder dela. Seu
alcance focal intuitivo foi fortem ente atado aos processos intelectuais de todos
os seres hum anos. Se alguém dissesse: “N ao existe essa coisa cham ada verdade,
e a LNC não tem sentido”, esse alguém teria feito duas coisas. Prim eiro, teria
assum ido que sua posição é verdadeira e oposta à falsa, e desse m odo aplica a
LNC (o que, obviam ente, indica que a LNC faz sentido, porque sua posição
supostam ente tem sentido). Segundo, teria violado a LNC afirm ando que n ã o
e x iste essa coisa c h a m a d a ve rd a d e , enquanto, ao m esm o tem po e no m esm o sen
tido, insistisse que h á essa coisa c h a m a d a v e rd a d e — a verdade de sua própria
posição. Fazendo assim, ela autom aticam ente valida a l n c .
Até agora fomos expostos a três convicções básicas que devem ser pressupos
tas com o verdadeiras para cada cosmovisão. A prim eira é o fato da realidade: ela
é inegável. A segunda é que todo indivíduo que pensa acerca da realidade im e
diatam ente supõe que a razão aplica-se à realidade. A terceira é que as duas
primeiras necessariamente dependem da mais fundam ental verdade auto-evi-
dente, a validade da LNC.
Visto que a LNC é o p o n to focal da lente intelectual em construção, a
confiabilidade dessa lente fica dependente da clareza e integridade de cada com
ponente acrescido daí por diante. Conseqüentem ente, antes de continuar, é pre
ciso responder a algumas perguntas sobre a relação entre a lógica e a realidade, e
sobre a natureza universal da lógica. Tudo o que concluímos e tudo o que vamos
concluir daqui para frente depende das respostas a essas perguntas.
£ SE TU DO NÂO f O R NAD A A L ÉM DE I L U S Ã O ?
Se tudo fosse ilusão, a busca da verdade seria um a tarefa sem sentido. Vamos
com eçar respondendo a essa pergunta, esclarecendo o significado dos term os
re a lid a d e e ilu sã o . As palavras que usamos e recebemos de outras pessoas com
A LÓGICA 21
que algo é ilusão, quer-se dizer que a ilusão falseia o que é real. C o ntud o, se a
realidade objetiva não existisse para fornecer o contraste, não haveria m odo
algum de saber coisa algum a a respeito da ilusão. E m outras palavras, para
saber se estamos sonhando, devemos ter algum a idéia do que significa estar
acordado, só assim podem os com parar os dois estados. D o m esm o m odo, só se
sabe o que é ilusão porque se tem algum a idéia do que significa ser real. Se tudo
fosse de fato ilusão, nun ca poderíam os saber nada a respeito dela. A ilusão
absoluta é impossível! Portanto, é lógico concluir que é ilusão crer que a realida
de é ilusão.
£ S t A LÓGICA N ÃO S t A P L I C A À R E A L I D A D E ?
Já definim os lógica com o a ordem que a razão descobre quando se pensa sobre
o pensar e descobrimos que a lógica é um pré-requisito necessário a todo p en
sam ento. Q u an d o refletimos sobre a natureza da realidade e em seguida faze
mos declarações de verdade a respeito do que descobrimos, nossas declarações
de verdade serão lógicas (com sentido) ou ilógicas (sem sentido). Por isso, a
prim eira pergunta a fazer ao indivíduo que acredita que a lógica nao se aplica à
realidade é: “O que você supõe ser verdadeiro a respeito da lógica e da realida
de?”. A prim eira suposição que esse indivíduo deve fazer para responder a essa
pergunta é que é u m a pergunta lógica acerca da realidade e, p ortanto, digna de
um a resposta lógica.
D o m esm o m odo, presume-se que a contra-pergunta desse indivíduo “E se
a lógica não se aplica à realidade?” é um a pergunta lógica acerca do que existe
(realidade). Portanto, o indivíduo adm ite que a lógica se aplica à realidade.
Mas, nesse caso, a pergunta contém um a contradição im plícita (viola a l n c ) e,
conseqüentem ente, não tem sentido. C onseqüentem ente, se essa não fosse um a
pergunta lógica a respeito da realidade, não seria necessário respondê-la. Se
esse indivíduo realm ente não acredita que a lógica se aplica à realidade — que
tudo da realidade não faz sentido — , então nada deve fazer sentido, até sua
própria pergunta.
U m a vez que todo indivíduo usa a lógica para pensar a respeito da realida
de, todos autom aticam ente adm item que a lógica se aplica à realidade. Q u a n
do alguém nega essa verdade, tam bém confirm a a verdade da lnc no processo
da negação. Por conseguinte, sua negação passa a ser auto-anulável e voltamos
novam ente ao p onto em que começamos: a lógica é inevitável. C. S. Lewis ex
plicou a total inutilidade de tentar dar conta da realidade sem o uso da razão
quando disse:
A LÓGICA 23
Uma teoria que explicasse tudo mais no universo inteiro, mas que tor
nasse impossível crer que nosso pensamento era válido, seria absoluta
m ente inócua. Pois essa mesma teoria teria sido alcançada através do
raciocínio, e se este fosse inválido ela seria então destruída. Destruiria
as suas próprias credenciais. Tratar-se-ia de um argumento provando que
argumento algum é sólido — uma prova de que não existem provas — o
que é tolice.5
£ SE f O S S E E M P R E G A D A A LÓGICA O R I E N T A L ?
Alguns dizem que há outra espécie de lógica, a lógica oriental, que sustenta a
idéia de que a realidade, no seu âmago, abriga contradições. E ntretanto, tentar
im por limitações a qualquer lei universal tam bém é auto-anulável. Im agine
alguém que acreditasse n u m a concepção oriental da gravidade. Para esse indi
víduo, a gravidade deve subm eter-se a u m a m udança radical porque é vista à
luz da cultura oriental. Por mais absurda que essa idéia possa parecer, o m esmo
é verdade para qualquer indivíduo que acreditasse que a lógica pode subm eter-
se a algum a m udança radical em decorrência de sua localização geográfica.
Dizer que a lógica se altera de acordo com a posição do observador é subverter
o sentido da palavra lógica. A lógica oriental afirma que a realidade pode ser
lógica e ilógica. Mas se alguma coisa é lógica e tam bém ilógica, é um a contradi
ção e não faz sentido algum. Logo, de acordo com a lógica oriental, tudo em
últim a análise é sem sentido. Todavia, se em últim a análise, tudo fosse sem sen
tido, o m esmo aconteceria com a distinção entre a lógica ocidental e a lógica
oriental. Se não houvesse base nenhum a para julgar entre o pensam ento correto
e o incorreto, não haveria m odo n enhum de concluir que a lógica oriental é mais
precisa que a lógica ocidental. Além disso, não haveria m odo nenhum de con
cluir que a visão oriental da realidade é mais acurada do que a visão ocidental da
realidade. O único m odo de fazer essa asserção seria adm itir que a realidade não
aceita contradições e existe independentem ente de nossas opiniões. Mas, se isso
é verdadeiro, então as leis d a lógica, em p a r tic u la r a ln c , d e v e m ser u n iversa is.
Portanto, não existe isso de lógica oriental e lógica ocidental. N ão im porta
onde o processo intelectual ocorra nem em que cultura esteja envolvido — a
lógica é a mesma. M ortirner J. Adler sublinha essa universalidade: “O s fu nd a
m entos da lógica devem ser tão transculturais quanto a m atem ática, com a
5Milagres, p. 15.
24 f U N D A f t E N l O S IN AB A LÁ VE I S
Sir Alexander Pope observou corretam ente que pouco conhecim ento é coisa
perigosa! Esse clichê pode ser verdadeiro em nosso caso se deixarmos de indicar
6Truth in religion: the pluralíty o f religions and the unity o f truth, p. 36.
yO panteísm o é explicado no capítulo 3. Basicamente, o panteísta crê que Deus perm eia todas
as coisas e é encontrado em todas elas. Deus é o m undo, e o m undo é Deus.
8C o m o se disse anteriorm ente, isso se cham a em linguagem técnica de lei do terceiro excluído
( lt e ) , que é um a lei irmã da LNC.
A LÓGICA 25
A VíRDADE
Que é a verdade?
--- PlLATOS
Qut É A VERDADE?
Lewis com partilhava da convicção dos antigos gregos de que a filosofia, por
definição, tem de ser prática e significativa. E ntendiam os helênicos que a
filosofia era tão útil para o artesão inculto da época quanto para o estudioso
metafísico. Logo, não precisamos nos desviar, independentem ente da história
escolar do indivíduo, a filosofia pode vir a ser um a ferram enta m u ito im por
tante.
A palavra filosofia é com posta de duas palavras gregas: phileo, “eu am o”, e
sophia, “sabedoria”. E interessante observar que phileo significa a espécie de
am or que se tem p or um amigo. O verdadeiro filósofo am a a sabedoria com o se
fosse um a amiga m uito íntim a. O s gregos com binaram essas duas palavras com
a intenção de designar u m tipo característico de exercício m ental, o exercício
da razão na busca da verdade._Pode-se tam bém com preender a filosofia como
um a inquirição e análise das realidades fundam entais de nossa existência, entre
estas as próprias palavras e os conceitos que constituem a linguagem cotidiana.
Aliás, filosofia é o em penho de em preender um exame racional e consisten
te das reivindicações de veracidade de qualquer sistema de crença. Todavia, se a
verdade não existe, p or que se im portar com a filosofia? Pense em todos os
filósofos e livros de filosofia do m u n d o hoje. Se a disciplina acadêmica da filo
sofia é esvaziada da verdade, então os filósofos estão nu m a busca vã. Deve haver
algo gravem ente errado com os filósofos que escrevem e falam a respeito do
am or por u m amigo chegado que não existe!
A prim eira e principal hipótese que deve fazer todo aquele que procura
respostas é: podem ser encontradas respostas verdadeiras. Alguns negam que
existem respostas verdadeiras. O problem a com essa concepção é que ela se
A VíRDADí É RíLATIVA?
Se essa análise é correta, e cremos que é, com o podem os defender a visão cristã
da credibilidade da verdade absoluta? Para piorar as coisas, alguns professores
2The closing o f the Am erican m ind, p. 25-6. Publicado em português com o título O declínio da
cultura ocidental, da crise da universidade à crise da sociedade.
A VÍRDADÍ 31
estão determ inados a m inar as convicções religiosas dos alunos. C erto professor
disse à sua classe:
A V E R D A D E A BS O LU TA É I N T O L E R A N T E ?
Imagine que você é um aluno universitário e é sua prim eira semana no campus.
Geralmente, esse é um período de novas experiências e de fazer novas amizades.
H oje é seu segundo dia de aula e você está esperando o professor aparecer na
classe. Cálculo é difícil, mas você sabe que se sairá bem estudando m uito. Litera
tura parece algo divertido, já que o professor disse que a m aior parte do curso
consiste em resenhas críticas dos livros de sua escolha. Mas a aula de que você vai
participar agora, esperada com m uita ansiedade de sua parte, pois não imagina o
que vai ouvir. Você não tem m uita segurança em introdução à filosofia. N ão sabe
o que vai ser dito e como você vai reagir. Por isso conforta-se com a idéia de que
um a aula de filosofia num a instituição altam ente reconhecida com o essa lhe vai
oferecer orientação sólida no que diz respeito a encontrar respostas às questões
finais. Bem, você saberá logo, porque o professor está entrando na classe.
3G. Liles, citando o biólogo da Universidade Cornell, W illiam Provine, no artigo T he faith o f an
atheist, m d , m arço/1994, p. 61.
32 F undamentos inabaláveis
— Tate.
— Sim, professora Stone.
— Tate, eu não o vi levantar a mão. C om o é que todo m u n d o aqui reconhe
ce a verdade do que eu disse, m enos você?
— Eu não sei, professora Stone. A única coisa que sei é que todos nós não
podem os estar certos. Creio que devemos respeitar uns aos outros, mas com o
podem todas as nossas respostas ser igualm ente verdadeiras?
— Bem, sr. Tate, bem -vindo ao curso superior e a m inha aula. Deixe-me
gastar alguns m inutos para explicar por que toda verdade religiosa é relativa.
— H á um a antiga parábola a respeito de seis hindus cegos que tocavam um
elefante. Essa parábola pode ajudá-lo a com preender a questão. U m cego tocou o
lado do corpo do elefante e disse que
era um m uro. O u tro cego tocou a ore
lha do elefante e disse que era um a
grande folha de árvore. O u tro segu
rou um a das pernas do elefante e pen
sou que fosse o tronco de um a árvore.
O u tro ainda segurou a trom ba do ele
fante e disse que era u m a cobra. O u
tro cego to co u u m a das presas de
marfim e pensou que se tratava de um a
lança. Finalmente, outro cego tom ou
a cauda do elefante nas mãos e julgou
estar segurando um a corda. Todos os
cegos estavam tocando a mesm a realidade, mas com preendiam -na de maneiras
diferentes. Eles todos tinham o direito de interpretar o que tocaram de acordo
com o seu m odo pessoal, mas o objeto tocado era o m esmo elefante.
— Veja, sr. Tate, u m a vez que todos somos cegos para a realidade que pode
existir além de nosso m u n d o físico, devemos interpretar essa realidade a nossa
própria m aneira. D o m esm o m odo que a parábola ilustra, as diferentes religi
ões têm diferentes interpretações da realidade, mas a realidade é a mesma. Ela
parece ser um a coisa para o budista e outra para o m uçulm ano. O cristão a vê
de um m odo, e o h in d u de outro, e assim p or diante. A realidade é um a, mas
as m aneiras de enxergá-la são m uitas. H á m uitos cam inhos que o podem levar
ao topo de um a m ontanha.
— Semelhantemente, você acabou de ouvir os seus colegas de classe compartilha
rem suas opiniões pessoais sobre a realidade última, cada um certo de acordo com os
34 F undamentos inabaláveis
próprios olhos. Portanto, devemos aceitar a opinião de cada um e ser tolerantes com
todos. Jesus não disse: “Ama o próximo como a ti mesmo”? Olhe ao redor, Tate. Estes
são os seus colegas de classe.
Você quer amá-los, ou quer
condená-los ao inferno por cau
sa de sua crença na verdade ab
Si*is rc*lij*iõcK
J
soluta? Você precisa aprender Judaísm o
lilld llÍM T IO
Q ue é pluralism o?
0 P L U R A L I S M O D £ V E S £R A C O L H I D O N O M £ I 0 A C A D Ê M I C O ?
conduta dos indivíduos no que diz respeito ao gosto, esse regime tende a um
controle monolítico das preferências e decisões pessoais.
A reação contra esse regime monolítico ou totalitário é a força motivadora
da intrépida defesa liberal da tolerância da diversidade em todas as questões
em que os indivíduos têm o direito de ser livres para expressar suas prefe
rências pessoais e agir de acordo com elas. Essas questões dizem respeito à
vontade do indivíduo. Mas quanto às questões de âmbito intelectual, as
quais envolvem a verdade não o gosto, o pluralismo insistente é intolerável
[...] Mas essa intolerância é simplesmente problema de natureza pessoal.
Não exige suprimir opiniões falsas que os outros ainda possam sustentar
[...] Exige somente discussão contínua entre indivíduos [...]
— i Aplicar o pluralismo com relação a valores tão desejáveis e toleráveis
eqüivale a repudiar todos os juízos de valor, como se eles se referissem às
preferências individuais, não à verdade. Se, porém , os julgam entos
prescritivos que fazemos sobre como conduzir nossa vida e nossa comunida
de — julgamentos estes que contêm a palavra “deve” — podem ser verda
deiros ou falsos, então eles são sujeitos à unidade da verdade, tanto quanto
nossos julgamentos na matemática e nas ciências empíricas.4
Q uerem os ser claros em dois pontos críticos que Adler enfatizou. Basicamente,
há lugar para o pluralism o na sociedade com respeito a questões de gosto, e Adler
d eu razões sólidas p o r que isso faz sen tid o n u m a sociedade livre. E m
contrapartida, não há lugar para o pluralism o quando se trata de decidir sobre
questões que dizem respeito à verdade, que im plicam unidade de pensam ento.
Portanto, querem os cham ar atenção para esta pergunta: “As idéias filosóficas e
religiosas são questões de gosto ou de verdade?”.
O m odo mais simples de responder a essa pergunta é deixar os que acredi
tam que a verdade é um a questão de gosto decidir por si mesmos. D igam os que
estamos tendo um a discussão com algumas pessoas que crêem que todas as
afirmações filosóficas e religiosas são m eram ente questão de preferência indivi
dual. Se este é o caso, essas pessoas nao deveriam defender-se quando discorda
mos delas. Se se põem a defender a idéia de que essas afirmações são questão de
preferência (ou m esm o acreditam que suas afirmações são verdadeiras!), a ver
dade se revela. Por que haveriam de ficar transtornadas se preferimos um a idéia
a outra em m atéria de gosto?
A g n o s t i c i s m o — QUE t ISSO?
Pense no que significa saber que um a coisa existe. A existência é o fato mais
básico a respeito de algum a coisa. Retire-se a existência, e nada resta. N ão
obstante, m u ita gente crê que determ inada coisa existe e ao m esm o tem po crê
que é impossível saber algo a respeito dessa coisa. Essa m aneira de ver se cham a
agnosticismo. A palavra agnosticismo literalm ente significa “n en h u m conheci
m ento”. T hom as H en ry Huxley inventou o term o em 1869 para denotar a
atitude filosófica e religiosa daqueles que dizem que as idéias metafísicas não
podem ser provadas nem refutadas. As duas formas básicas de agnosticismo são
representadas p o r aqueles que crêem que não se conhece a realidade (é o
agnosticismo “m oderado” ou ceticismo) e aqueles que declaram que não sepode
conhecer a realidade (agnosticismo “extrem ado”). Mais adiante, m ostrarem os
ao agnóstico m oderado por que
alguns aspectos fundam entais
da realidade são cognoscíveis.
Ro.i I idade
Mas a visão do agnóstico extre
m ado deve ter resposta antes de Abismo fi\o
prosseguirmos nossa busca da
verdade.
Im m anuel Kant, o filósofo
d o sé c u lo d e z o ito ( 1 7 2 4
1804), estabeleceu a idéia co
n h e c id a com o agn osticism o
extremado. O princípio central
do agnosticism o extrem ado é
que, em bora saibamos que a re
alidade existe, o que é a realidade em si (sua essência) não se pode conhecer pela
razão hum ana. E m bora K ant tenha escrito séculos atrás, seus escritos forma-
40 f u N D A M E N I O S I N ABALÁVEI S
ram m uito da base da filosofia m oderna. Foi sua pena que pôs um fim abrupto
ao raciocínio metafísico (oferecendo razões para a existência de Deus). K ant
traçou a linha que estabelece o lim ite para a razão hum ana, linha esta que fixou
um abism o intransponível entre o que a realidade é em si e a nossa capacidade
de conhecê-la com o tal.
Para ajudar a visualizar o p roduto da filosofia de Kant, pense na realidade
últim a com o o que existe realm ente além do m u nd o físico. Segundo Kant,
nosso raciocínio jamais poderá atravessar o abismo daquilo que vemos para o que
realmente ée responder à pergunta “O que é isso?”. C onseqüentem ente*, pode-
se saber que a realidade existe, mas o que a realidade realm ente é em si não se
pode conhecer. Para concordar com Kant, precisaríamos crer que as categorias
da m ente form am ou estruturam a realidade para nós, mas não podem os n u n
ca saber verdadeiram ente o que ela é. Enxergamos a realidade apenas como ela
se nos apresenta depois de term os m oldado a “m atéria-prim a” da realidade por
interm édio das categorias e formas da m ente e dos sentidos.
A m aioria dos filósofos que vieram depois de K ant adotou seu agnosticismo
metafísico. M ais tarde, alguns argum entaram que se não podem os saber se as
idéias correspondem à realidade, toda verdade deve ser relativa ao m odo indi
vidual de nossa m ente interpretar a realidade. Disso, o conceito m oderno de
verdade cham ado relativismo (toda verdade é relativa), no devido tem po, deu
origem ao pluralism o (todas as visões são verdadeiras).
R elativismo e pluralism o ía z em se n t id o ?
*No original, o autor faz um trocadilho, substituindo a primeira sílaba de consequently (conse
qüentem ente) pelo nom e do filósofo Kant, originando “Kantsequently” (o que no inglês produz
m elhor efeito, já que a pronúncia é quase idêntica). (N. da E.)
A V£RDADE 41
Uma vez que todos somos cegos para a realidade que pode existir além deste
m u n d o físico, podem os in te rp re ta r essa realidade à nossa pró pria
maneira [...] As diferentes religiões têm interpretações diferentes da reali
dade, mas a realidade é a mesma. Parece uma coisa para o budista e outra
para o muçulmano. O cristão a enxerga de um jeito, e o hindu, de outro, e
assim por diante. A realidade é uma, mas as idéias sobre eia são muitas. Há
muitos caminhos que o podem conduzir ao topo da montanha.
Se as coisas podem melhorar, isso significa que deve haver algum padrão
absoluto do bem acima e fora do processo cósmico do qual esse processo
pode se aproximar. Não faz sentido falar em “ficar melhor” se melhor signi
fica simplesmente “aquilo em que nos estamos transformando” — seria como
alguém se congratular por alcançar seu destino e definir seu destino como “o
lugar a que chegou”.7
D o m esm o m odo, não faz sentido nen h u m dizer que o relativismo ou o plura
lismo representa um m odo m elhor de ver a realidade que a posição que crê em
absolutos, se essas duas posturas não forem com paradas em relação a um ponto
fixo ou padrão absoluto. Sem p onto fixo, só faz sentido dizer que essas posições
são diferentes u m a da outra e n enh um a é m elhor que a outra. Por isso, os
Agora aplique a ilustração do trem ao que estamos tentando realizar neste livro.
Estamos nu m a jornada à procura da verdade — a verdade é o nosso destino.
M as se toda verdade é relativa, com o saberemos se estamos seguindo na direção
correta? N ão faz sentido dizer que estamos progredindo em nossa busca se não
existir um pon to fixo (realidade imutável) pelo qual avaliamos o nosso progres
so. Todos têm um p on to fixo (ou um absoluto), até os relativistas. D e outra
forma, não poderiam afirm ar que têm um a visão correta da realidade. O s de
fensores do relativismo podem expressar — e freqüentem ente o fazem — suas
convicções de m odos sutis e velados. E ntretanto, quando expressos em p o rtu
guês claro, seus absolutos ficam mais óbvios.
Pense nisto: por que os relativistas argum entam a favor da verdade de suas .
próprias posições? E m outras palavras, se não há um a concepção da realidade
m elhor que a outra e todas são tão-som ente diferentes umas das outras, por
que se im portar argum entando a favor da verdade do relativismo — a menos,
naturalm ente, que os relativistas creiam que de fato têm a m elhor visão da
realidade! C onsidere os escritos de um famoso relativista, Joseph Fletcher (um
dos signatários do M anifesto H um an ista n). E m seu livro Situation ethics [Ética
situacional], Fletcher diz: “O situacionista evita palavras com o nunca’, ‘perfei
to’, ‘sem pre’ e ‘com pleto’ com o evita a praga, com o evita absolutam ente’”.8
O que Fletcher está de fato dizendo é 1) “nunca ninguém deve usar a pala
vra ‘n u n c a ; 2) “deve-se sempre evitar em pregar a palavra ‘sem pre’; e 3) “deve-
se negar absolutamente todos os ‘absolutos’”.9 Negar a validade dos absolutos
viola a lógica (l n c ) e é autofrustrante.
U m a vez que é autofrustrante crer que todas as visões da realidade são falsas
p u relativas e é contraditório crer que todas as visões da realidade são verdadei
8P. 4 3 -4 .
9N o rm a n L. G e is le r, I s m a n the m eam rei, p. 180.
46 F undamentos inabaláveis
ras, a única opção lógica é crer que algumas dessas visões representam a realida
de de m odo m elhor c mais preciso que as outras. P o rtan to ,para que um a inves
tigação filosófica tenha sentido, éforçoso crer na verdade absoluta. C rer que existe
um a realidade cognoscível, transcendente e imutável (um pon to fixo ou refe
rente) faz sentido. Sobre isso, já dem onstram os que a verdade acerca da realida
de pode ser conhecida ou descoberta. C om o entender as outras características
da realidade e form ular um teste para julgar as outras declarações de verdade a
respeito dela é o próxim o passo de nossa cam inhada.
dessa esfera coesa da verdade difere quanto ao m étodo pelo qual é descoberta.
Ele cham a essa idéia de princípio da unidade da verdade. Adler diz que “todas as
diversas partes do todo da verdade de
vem ser compatíveis, umas com as o u
tras a despeito da diversidade dos meios
pelos quais são alcançadas ou recebi
das”.11
Adler se refere ao que se conhece como
a coerência da verdade toda. Aplicare
mos essa teoria e estabeleceremos um
m étodo de teste que nos vai perm itir
descobrir a verdade acerca da realidade
de u m a m aneira que sustente o princí
pio da unidade da verdade {coerência).
O procedim ento que estamos p ro p o n
do implica identificar os prim eiros prin
frimeiroii Princípios
J
cípios das disciplinas acadêmicas que constituem as várias partes da esfera da
verdade. Procedendo assim, tam bém devemos nos em penhar para verificar se a
coerência (unidade) delas está assegurada. Por exemplo, o que descobrimos ser
verdadeiro de acordo com osprimeiros princípios da ciência deve ser coerente com as
verdades anteriores estabe
lecidas pelos prim eiros
princípios da lógica e da
filosofia, e não violá-los.
(C o m o m o stram o s, a
lnc é preem inente.) À
m edida que co n tin u a
mos a descobrir, identi
ficar e unir os prim eiros
p rin c íp io s das o u tras
disciplinas acadêmicas e
formar um a lente inte
lectual, começamos a ver
que as diversas partes da
esfera da verdade podem -se u nir para form ar um todo coerente. U m a vez com
pletam ente m o n tad a essa lente, podem os olhar através dela e fazer certas
inferências que vão corresponder à realidade global existente. Esses dois elem en
tos da epistem ologia (coerência e correspondência) vão constituir nosso m éto
do de testar as declarações de verdade de um a determ inada cosmovisão.
Ao conceber esse teste metodológico, podem os pensar nele juntando todas as
partes (primeiros princípios) da lente intelectual de maneira coerente e coesa.
Pouco a pouco, as características mais essenciais da realidade vão aparecer em
foco, à m edida que se fazem as inferências corretas com o auxílio dessa lente. Essa
visão da realidade (cosmovisão) passa a ser para nós a estrutura interpretativa por
meio da qual os fatos deste m undo podem ser explicados.
Já temos três partes da lente juntas, os primeiros princípios da lógica ( l n c ,
l te , e l id ) e a filosofia (o ponto fixo da realidade imutável). A LNC, no sentido
estrito, é absolutamente a prim eira na ordem do saber, pois todo conhecim ento
hum ano depende dela. Logo, merece ser a peça central da lente, um a vez que será
utilizada em todas as disciplinas acadêmicas. Todo campo do conhecim ento de
pende do uso correto da lnc para ter validade. O ponto fixo na filosofia é o que
nos dá a credibilidade acadêmica para continuar nossa busca da verdade. Os
outros ramos do conhecim ento hum ano tam bém têm associados consigo pri
meiros princípios no sentido que
cada princípio é prim eiro como
fonte, e base, desse ramo espe
cífico do conhecim ento hum a
no. Os primeiros princípios que
buscamos são os pontos de par
tida fundamentais, ou verdades
auto-evidentes, das disciplinas
acadêmicas: ciência, direito, his
tória e ética. Se conseguirmos
dem onstrar que cada parte da
lente intelectual representa al
gum atributo essencial da natu
reza da realidade, então a lente
intelectual passará a ser o padrão
pelo qual devemos testar todas as declarações de verdade acerca do m undo.
Para concluir, será útil pensar na ilustração do cilindro já m encionada quando
se falou do relativismo e do pluralism o. C oncordam os que alguns aspectos de
A VER D AD E 49
m odo. N ossa prim eira conclusão acerca da realidade, isto é, que ela existe e é
cognoscível, é conhecida com o realismo.
A tingir esse prim eiro pon to de verificação conhecido p or realismo significa
que fizemos progresso significativo em nossa jornada rum o à verdade. Chega
mos a ele aplicando os prim eiros princípios da lógica e da filosofia à realidade
que inegavelmente sabemos que existe. Para ir mais além em nossa peregrina
ção, não podem os recuar. Em outras palavras, agora que estabelecemos a verda
de desses princípios e as conclusões tiradas com o auxílio deles, não poderem os
negá-los dentro da lógica em nen h u m m om ento futuro para tentar fugir da
realidade que descobrimos. Desse p onto não há retorno, e é nesse p on to que
podem os definir a natureza da verdade.
reta da realidade.
Deus N ão existe Existe, mas é Existe, e é
A prim eira coluna da tabela incog n o scíve l cognoscível
apenas o teísmo concorda com as conclusões tiradas dos primeiros princípios da lógica
e da filosofia. Conseqüentem ente, podem se eliminar o agnosticismo extremado e
o agnosticismo m oderado/ceticismo,12 um a vez que são autofrustrantes ao decla
rar que sabem que não podem saber nada e não duvidam de que devem duvidar
de tudo.
D en tro em pouco vam os aplicar nosso teste da verdade a cada cosmovisão
no que concerne a suas teses com relação ao cosmos: a origem do universo, a
origem da vida e a origem das novas formas de vida. N o entanto, antes de
em pregar a disciplina acadêmica da ciência para decidir que m undividência do
cosmo é verdadeira, devemos prim eiro adquirir a devida com preensão do que é
cosmovisão (m undividência, visão de m undo) e de com o ela afeta as convicções
e as atitudes de u m indivíduo. Portanto, vamos observar mais de perto o signi
ficado do term o cosmovisão e o que declaram as cosmovisões ateíta, panteísta e
teísta.
12O s agnósticos declaram saber que não podem saber. O s céticos não duvidam de suas dúvidas,
nem retiram o julgam ento sobre sua reivindicação de que devemos retirar o julgamento.
C a p ít u l o três
As cosm ovisões
— R ic h a rd M . W eaver
Q ue é cosm ovisão?
P or q u e as c o s m o v is õ e s são im p o r t a n ie s ?
O mais forte deve dominar, não se igualar ao mais fraco, o que significaria
o sacrifício de sua própria natureza superior. Somente o indivíduo que é
fraco de nascimento pode entender este princípio como cruel. E, se faz isso,
é meramente porque é de natureza mais fraca e de mente mais obtusa, pois
se essa lei não direcionasse o processo de evolução, o desenvolvimento supe
rior da vida orgânica não seria concebível de forma alguma [...] Se a Natu
reza não deseja que os indivíduos mais fracos se igualem aos mais fortes,
deseja ainda menos que uma raça superior se misture com uma inferior,
porque nesse caso todos os seus esforços, ao longo de centenas de milhares
de anos, para estabelecer um estágio evolutivo mais alto do ser, podem-se
traduzir em inutilidade.1
H itler referia-se a essa solução da natureza com o “totalm ente lógica”. D e fato,
era tão lógica para os nazistas que eles construíram campos de concentração
para levar a cabo suas convicções acerca da raça h u m an a com o “nada além do
prod uto da hereditariedade e do am biente” ou, com o os nazistas gostavam de
dizer, “do sangue e do solo”.2 Auschwitz era um desses campos de concentra
ção onde os preceitos teóricos foram aplicados ao m un do real. Se estivéssemos
visitando Auschwitz hoje, poderíam os andar nos corredores de alguns edifícios
onde veríamos o im pacto inimaginável que u m a cosmovisão pode causar (e de
fato causou) sobre todo o m undo. A m aioria dos visitantes não está preparada
e fica chocada ao ver as fotos de mulheres grávidas e de criancinhas que foram
torturadas até a m orte por oficiais nazistas. Lem brando os cinqüenta anos da
libertação de Auschwitz, a revista Newsweek publicou com o m atéria de capa
um a entrevista com o general Vasily Petrenko, o único com andante sobrevi
vente das quatro divisões do Exército Vermelho, que cercou e libertou Auschwitz:
ainda em idade tenra, que foram deixadas para trás na fuga rápida. Essas
crianças eram os sobreviventes dos experimentos médicos perpetrados pelo
dr. Josef Mengele, médico do campo, e os filhos dos prisioneiros políticos
poloneses recolhidos após a malfadada revolta em Varsóvia.3
Pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus
lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de
Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente,
sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais ho
mens são indesculpáveis.5
A idéia de Deus tem guiado ou enganado mais vidas, mudado mais a histó
ria, inspirado mais músicas e poesias e filosofias que qualquer outra coisa,
real ou imaginada. Tem feito mais diferença na vida humana neste planeta,
tanto individual como coletivamente, do que nada jamais fez.6
Para obter algum entendim ento das diferenças principais existentes entre o
ateísmo, o panteísm o e o teísm o, precisamos apenas definir cada cosmovisão e
arrolar suas doutrinas principais. O m otivo dessa com paração é dem onstrar a
natureza logicam ente impossível das declarações essenciais de verdade que cada
cosmovisão tem a respeito de Deus, da realidade, da hum anidade, do mal e da
ética. Recom enda-se algum estudo adicional de cada cosmovisão, mas os p rin
cípios aqui expostos vão servir para o nosso propósito. Por fim, vamos verificar
qual conjunto de princípios de um a cosmovisão condiz mais precisamente
com as verdades fundam entais usadas com o base para cada cam po acadêmico
do conhecim ento estudado aqui neste livro.
Q U E A C R E D I T A M OS A T E Í S T A S ?
O ateísmo acredita que não existe D eus nenhum , seja no próprio universo, seja
além dele. O universo ou cosmos é tu do o que existe ou existirá, ele é auto-
sustentável. E ntre os mais famosos ateus estão Karl M arx, Friedrich Nietzsche,
Sigm und Freud e Jean-Paul Sartre. Seus escritos tiveram trem enda influência
sobre o m u ndo. Esses hom ens expressaram suas idéias de m odos diferentes,
mas todos sustentaram a convicção básica de que D eus não existe. E ntre os
principais ensinos do ateísmo estão os seguintes:
f M Q U E A C R E D I T A M OS P A N I E Í S I A S ?
Q U E É C O N F U S Ã O DF C O S M O V I S Õ E S ?
Não há nada mais sem sentido que a resposta a uma pergunta não plena
mente entendida, ou não totalmente exposta. Somos impacientes demais
As cosm ovisões 61
com perguntas e, por isso, m u ito sup erficiais na ap reciação das respos
tas.'
Antes de tudo, devemos ter em m ente que nem toda pergunta é feita com
sinceridade. Porém, devemos procurar responder ao que parece um a pergunta
insincera da m aneira mais amável e verdadeira. Podemos não vencer o propo
nente da pergunta, mas podem os influenciar os que estão em torno esperando
a nossa resposta. É altam ente improvável, por exemplo, que um professor dian
te de um a classe seja convencido da verdade do cristianismo nessa situação.
C o ntudo, Deus pode usar essa situação para influenciar a m ente de outros
alunos. O princípio essencial que querem os ensinar acerca de fazer o tipo certo
de pergunta diz respeito à m udança do foco da discussão de um a questão
particular para um princípio geral da verdade que subjaz ao assunto em ques
tão. C onsideram os isso a chave m estra para desbloquear o diálogo. U m a vez de
posse dessa chave, devemos ser capazes de abrir a m ente de nossos ouvintes
com a m udança de um a simples pergun
ta! Sugerimos o emprego deste m étodo em Perguntas; ■ -v
todas as situações em que for possível. '■..Para t^es^ < ' ' '
C o ntudo, o sucesso dele depende não de
fazer apenas algumas perguntas, mas de
fazer as perguntas corretas.
M ais um a vez imagine-se na aula de
biologia que m encionam os antes. Agora,
em vez de responder ao professor com
um a resposta, vejamos o que acontece se
você lhe responder com a pergunta certa.
8Para um a análise filosófica mais aprofundada desse tópico, consulte Miracles a n d modem thought,
de N orm an L. Geisler, e Milagres, de C. S. Lewis.
As cosMovisõts 63
um a hipótese filosófica. C om o pode a ciência provar que algo não existe fora da
natureza se, segundo seu professor, a ciência não pode ir além da natureza? H á
algum a coisa errada aí! Seu professor está aplicando a disciplina acadêmica
errada a essa questão sobre milagres. C. S. Lewis explicou com o a ciência não
pode provar a falsidade do miraculoso:
Seu professor não som ente foi não-científico quando afirm ou que milagres
são impossíveis, mas tam bém com eteu u m a falácia lógica cham ada assumir
veracidade para não discutir. Com ete-se essa falácia quando se discute n u m cír
culo. Lewis assinalou que se alguém afirm a que é impossível ocorrer milagres,
esse alguém precisa ter conhecim ento de que todos os relatos de milagres são
falsos. Todavia, o único jeito de saber se todos os relatos de milagres são falsos
é saber de antem ão que jamais ocorreu nen h u m milagre de fato, porque isso é
impossível.10 A única saída a esse raciocínio circular é estar aberto à possibili
dade de que os milagres ocorreram de fato. Pensando nisso, você tam bém pode
considerar a possibilidade de pedir a seu professor que defina o term o natural,
em bora ele não tenha utilizado essa palavra na pergunta que lhe fez. Vamos
aplicar a definição de Lewis e ver aonde ela nos leva.
Se o “natural” significa aquilo que pode ser enquadrado numa classe, obede
ce a uma norma, pode ter paralelo, pode ser explicado por referência a
outros eventos, então a própria natureza como um todo não é natural. Se
milagre significa aquilo que simplesmente precisa ser aceito, a realidade
A única coisa que o seu professor crê que existe é o universo, e então, por
definição, vem a ser o m aior milagre de todos. N ão estamos querendo dizer que
ele vai concordar com você. Estamos dem onstrando com o lidar com esse tipo
de problem a. Pedir esclarecimento leva a pergunta original do seu professor de
volta a um princípio com um em que você pode conseguir construir pontes da
verdade para a visão de m u nd o cristã. Você pode partilhar com seu professor
que se ele concorda com a definição exposta sobre milagre e natural, vocês têm
um a convicção com um . D e fato, mais tarde você pode justificar com o a Bíblia
está em harm onia com o m étodo científico, porque ela é coerente com o prin
cípio da causalidade. E m Gênesis 1.1, a Bíblia declara que D eus é a Causa não-
causada do universo fin ito.12
Esperam os que esse roteiro que acabamos de p rop or tenha ajudado a de
m onstrar quanto pode ser útil para orientar a direção de um a discussão fazer o
tipo certo de pergunta. N osso objetivo é transferir o ônus da prova de nós para
os que nos questionam . Pedindo esclarecimento e usando a L N C , podem os
pedir aos nossos indagadores que definam seus term os, o que p o r sua vez pode
obrigá-los a refletir sobre suas suposições. C onform e se assinalou acima, procu
rar a definição dos term os milagre e natural e sondar até que as suposições
fossem expostas m ostrou que esse professor ou raciocinava em círculo, ou acei
tava o m aior de todos os milagres — o universo. Esse m étodo e esse processo de
raciocínio podem ou não influenciar u m professor de faculdade, mas pode por
certo fazer diferença no m odo que os outros ouvintes vão perceber aquilo em
que cremos. Pode ser um a ferram enta m uito poderosa, mas não espere ser ca
paz de dom iná-la n u m período curto de tem po, vai ser necessário prática e
perspicácia para usá-la eficazmente em situações da vida real. D e novo, o suces
so dele depende não m eram ente de fazer perguntas quaisquer, mas de fazer as
perguntas certas.
vez que o poder de D eus é infinito, ele teria de criar u m a rocha de proporções
infinitas! Esta é a chave: Tom quer que Deus crie um a pedra, e um a pedra é um
objeto físico, finito. C om o pode D eus criar um objeto que é fin ito por natureza
e dar a ele u m tam anho infinito? H á algum a coisa terrivelm ente errada na
pergunta de Tom. Então vamos aplicar corretam ente a LNC para analisá-la.
É lógica e concretam ente impossível criar um a coisa finita fisicamente e
fazer que ela seja infinitam ente grande! Por definição, um a coisa infinita, não-
criada não tem limites, e um a coisa finita, criada tem . C onseqüentem ente,
Tom acabou de perguntar se Deus pode criar u m a pedra infinitam ente finita,
isto é, um a pedra que tem limites e, ao m esm o tem po e no m esm o sentido, não
tem limites. A pergunta dele, po rtanto, viola a lnc e vem a ser absurda. Tom
achava que estava fazendo um a pergunta m uito im portante, que poria o cristão
nu m grande dilema. Em vez disso, ele apenas conseguiu m ostrar a própria
incapacidade de pensar com clareza.
Agora que temos entendim ento claro da pergunta de Tom , é só u m a ques
tão de form ular um a pergunta de princípio a fim de que o erro dele se revele.
Q ue tal esta: “Tom , qual é o tam anho da pedra que você quer que Deus crie? Se
você m e disser o tam anho dela, eu lhe direi se ele pode criá-la”. Bem, podem os
continuar perguntando até que as respostas se aproxim em do tam anho do un i
verso e finalm ente introduzam a idéia da infinitude. U m a vez que Tom chegue
ao pon to em que comece a enxergar o que está realm ente pedindo para Deus
fazer — criar um a pedra infinita — , é necessário m ostrar-lhe que está pedindo
que D eus faça algo logicam ente irrelevante e impossível. Deus não pode criar
um a pedra infinitam ente finita assim com o não pode criar um círculo quadra
do. Am bos são exemplos de impossibilidades intrínsecas. C om entando sobre a
impossibilidade intrínseca e um D eus todo-poderoso, C. S. Lewis disse:
É im p o ssív e l [o in tr in s e c a m e n te im p o s sív e l] em to d a s as c o n d iç õ e s e em
to d o s o s m u n d o s e p ara to d o s o s a g en tes. “T o d o s o s a g e n te s ” a q u i in c lu e m o
p r ó p r io D eu s. S u a o n ip o t ê n c ia s ig n ific a p o d e r p a ra fazer t u d o o q u e é in
s e a t r i b u i r m i l a g r e s a e l e , m a s n ã o , a b s u r d o s . 13
N em toda pergunta que se faz é autom aticam ente significativa apenas por
ser u m a pergunta. A pergunta pode parecer significativa, mas devemos testá-la
com os prim eiros princípios para verificar se é válida. Seja cuidadoso, portanto,
13Theproblem o fp a in , p. 28.
68 F undamentos inabaláveis
nao apressado demais, para responder às perguntas. Você pode ficar com pleta
m ente enrolado ao tentar encontrar um a resposta irrefutável à pergunta que
não possui relevância lógica. Lembre-se do que disse Peter Kreeft: “N ão há
nada mais sem sentido que a resposta a u m a pergunta não plenam ente enten
dida”. Faremos bem em prestar atenção nesta advertência e utilizar o nosso
entendim ento dos prim eiros princípios antes de dar nossa resposta.
Apresentam os os princípios lógicos, com o a ln c, p o r exemplo, aos quais
sem pre se pode recorrer em situações com o a que se apresentou anteriorm ente.
Para ser eficaz, é preciso praticar essa m etodologia e com biná-la com sólida
com preensão da LNC até que se torne um hábito firm em ente enraizado. Q ues
tionar as suposições e em pregar a lnc a fim de detectar o erro é essencial para
m anter um diálogo que cam inhe em direção à verdade.
N o final do capítulo sobre lógica assinalam os que a função p rim ária da
lógica é corrigir o p en sam en to in correto, ou o raciocínio in fu n d ad o , e, p o r
tan to , u m teste negativo da verdade. T am b ém dissem os que o pro pó sito
deste livro é que o en te n d im e n to cum ulativ o aqui apresentado e a aplica
ção dos prim eiro s p rincípios fu n d am en tais dos diversos cam pos do co n h e
c im e n to no s a ju d e m a d e s c o b rir q u e co sm ov isão é m ais razoável o u
verdadeira. C o m o já d em o n s
tram os, e com o a tabela ao lado Ateísmo Panteísmo Teísmo
capítulo.
C a p ít u l o q u a t r o
A CIÊNCIA
— A r ist ó t e l e s
C iência e q u e s tã o de f é ?1
'A resposta a essa pergunta foi inicialmente apresentada nu m artigo de Peter Bochino, intitulado
Keep thefaith. O artigo aparecia com o nom e Just thinking n u m com unicado da primavera de 1996,
distribuído por Ravi Zacharias International Ministries.
*Scio (scire), em latim clássico, significa saber. O verbo “saber” do português deriva de sapere, “ter
sabor” (N. da E).
70 F undamentos inabaláveis
s o fo s a e n te n d e ) p r e s u m e q u e o u n iv e r s o é in te lig ív e l, e n ã o c a p r ic h o so , q u e
çã o e a d e d u ç ã o ? P o r q u e a b o a ló g ic a n ã o p o d e ser tã o e n g a n o s a q u a n to a
m á ló g ic a ? A m b a s s ã o m o v i m e n t o s n o c é r e b r o d e u m c h i m p a n z é c o n f u s o ” .4
N ão s e p o d e c o n t i n u a r “e x p l i c a n d o ” i n d e f i n i d a m e n t e : a c a b a - s e d e s c o b r i n d o
q u e se e x p lic o u a p r ó p r ia e x p lic a ç ã o . N ã o se p o d e c o n t i n u a r “e n x e r g a n d o
20 adjetivo “metafísico” vem de um a palavra grega que significa “além da física”. A metafísica
trata daquilo que é real, do que existe.
3J. P. M or eland , Christianity and the nature o f Science, p. 45.
4Orthodoxy, p. 33. Publicado em português com o título Ortodoxia.
A CI Ê NC I A 71
p o r q u e a ru a o u o ja r d im d o o u tr o la d o é o p a c a . E se se e n x e r g a ss e através
do ja r d im tam b ém ? N ão a d ia n ta ten ta r “e n x e r g a r a t r a v é s ” d o s p r im e ir o s
as c o isa s é o m e s m o q u e n ã o en x erg a r n a d a .5
c a d a in d iv í d u o e x iste a b s o lu t a m e n t e d e si m e s m a o u r e su lta d e a lg u m a c a u s a
v e lm e n te d e p e n d e r d e u m a te r c e ir a , e a s s im p o r d ia n te . N ã o im p o r ta até
que p o n to este p r o ce sso co n tin u a sse desde que você d e sc o b r isse a razão
e v id e n c ia d o q u e m a is c e d o o u m a is ta rd e v o c ê d e v e a d m itir u m a razão q u e
m o s ser u m a ta l razão a u to -e x is te n te .6
O Q U E £ O P R I N C Í P I O DA C A U S A L I D A D E ?
nhecim ento das causas”.7 Se o universo é finito e teve um começo, então preci
sa ter um a causa — se o princípio da causalidade é um princípio válido. U m a
imperfeição no princípio da causalidade seria equivalente a u m colapso fatal no
fundam ento da ciência.
0 P R I N C Í P I O DA C A U S A L I D A D E £ C O N F I Á V E L ?
D avid H u m e (1711-1776) era u m cético que cria que todo conhecim ento
vem através dos cinco sentidos. A associação causai, segundo H um e, não é de
um a coisa causada por outra, é de um a coisa seguida p or outra. Ele declarou
que nossa crença acerca da causalidade é baseada na experiência, que é baseada
no costum e, que depende de conjunções repetidas, não associações causais
observadas.8
Devemos observar, contudo, que H u m e não negou realm ente o princípio
da causalidade em si. Antes, desafiou a base que alguns tinham para afirmar
esse princípio. Tam bém declarou a incerteza de saber quais causas precedentes
são causas de quais efeitos. Por exemplo, podem os verificarjjue B segu e A (A,
B X jnas não pod em o s verificar A causando B (A—>B). H u m e acreditava que
podem os conhecer apenas as conjunções habituais, ou relações, em vez das asso
ciações causais reais.
H um e não disse que não há nenhum causa para um efeito. Disse que não
podemos ter certeza de qual causa provoca qual efeito. Vemos eventos relacionais de
rotina acontecer constantemente, mas não observamos o que na realidade os causa.
Por exemplo, o sol levanta-se regularmente após o canto do galo, mas por certo não
porque o galo canta. Conseqüentemente, H um e argum entou pela suspensão de
todos os julgamentos acerca das associações causais reais. Repetimos, H um e, com
efeito, acreditava que há um a associação causai. Ele até foi longe ao dizer que é
“absurdo” negar o princípio da causalidade: “Jamais fiz um a proposição tão absur
da como essa, que qualquer coisa pode surgir sem nenhum a causa”.9
Nossa resposta a H um e e a outros que sustentam a mesm a posição concentra-
se na certeza desse tipo de ceticismo. D ito de m odo simples, está-se pedindo que
não tenhamos certeza de nada da realidade? Se for isso, então não se nos pede
para suspender o julgam ento a respeito de toda visão da realidade, exceto esta?
Talvez devamos, pelo contrário, ser céticos com respeito ao ceticismo. Além dis
so, não é um julgam ento a respeito da realidade dizer que todos os julgamentos
a respeito da realidade devem ser suspensos? A verdade é que H um e presumiu
causalidade em todo o seu argumento. D e fato, sua própria negação da causalidade
implica um a associação causai necessária em seu processo de raciocínio. D e outra
forma, como poderia ter sabido com certeza que suas conclusões estavam corre
tas? Sem presum ir um a base (causa) necessária, sua negação é sem sentido. Tam
bém postulou im plicitamente que seu argum ento (a causa) pode ser usado para
convencer aqueles que crêem em associações causais a se tornarem céticos como
ele próprio (efeito), ou por que se im portar em escrever livros? Por essas razões,
podem os dizer que as afirmações de H u m e são auto-anuláveis.
A F Í S I CA Q U A N T I C A R Í F R U T A A C A U S A L I D A D E ?
N ã o v e jo n e n h u m a ra zã o q u a lq u e r q u e seja p a ra s u p o r q u e o t o d o [u n iv e r so ]
te n h a a lg u m a ca u sa [ ...] O c o n c e it o d e c a u sa n ã o é a p lic á v e l a o t o d o [u n iv e r
q u e v o c ê d iz q u e a m e n t e h u m a n a n ã o c o n s e g u e co n c e b e r. Q u a n t o às co isa s
v id u a is n o s á to m o s n ã o t ê m n e n h u m a c a u s a . 11
D iante disso, pode-se pensar à prim eira vista que o princípio da causalida
de deve ser suspenso. E ntretanto, o princípio da incerteza não destrona o prin cí
pio da causalidade. Se o fizesse, seria auto-anulável. Se o princípio da causalidade
não fosse válido, todas as conclusões científicas seriam questionáveis, visto que a
causalidade é fundam ental para a disciplina ciência. C om o a física quântica é
parte da ciência, ela tam bém deve enquadrar-se nessa categoria, pois como
pode ser isso, que a única vez que a ciência pode ter certeza de suas conclusões
é nos experim entos que confirm am a incerteza? Parece-nos que esses cientistas
se equivocaram na interpretação do princípio da incerteza e na sua aplicação,
que basicamente afirma que a posição e o m om ento de um a partícula subatômica
não podem ser determ inados sim ultaneam ente.12
Em Truth in religion [Verdade em religião\, de M ortim er J. Adler há um
capítulo intitulado “A realidade em relação à teoria quântica”. O s parágrafos
seguintes são relevantes para o nosso aprendizado.
q u â n tic o s r e c o n h e c e r a m q u e as m e d iç õ e s e x p e r im e n ta is in tr u siv a s q u e fo r
p e n sa r q u e a r e a lid a d e s u b a t ô m ic a é in tr in s e c a m e n te d e te r m in a d a . A razão
é q u e o s te ó r ic o s d a físic a q u â n t ic a r e c o n h e c e m m a is d e u m a v e z q u e suas
120 princípio da incerteza não deve ser entendido como o princípio da não-causalidade nem
confundido com ele, no que diz respeito aos efeitos que ocorrem sem causas.
76 F undamentos inabaláveis
q u e s tã o a q u e a te o r ia q u â n tic a e a p e s q u is a s u b a t ô m ic a n ã o p o d e m resp on
d e r é u m a q u e s t ã o p a r a a f i l o s o f i a , n ã o p a r a a c i ê n c i a . 13
A CAUSALIDADt A PLICA-Sí A D t U S ?
D í U S í U M SER A U I O C A U S A D O ?
Jean Paul Sartre (1905-1980) argum entou que o princípio da causalidade afir
m a que tudo deve ter um a causa, quer dentro, quer fora de si mesm o. Portanto,
devemos presum ir que se chegarmos a um a causa além deste m u nd o (i.e. Deus),
essa causa deve ter em si m esm a u m a causa para sua existência. Isto é, Deus
deve ser um ser autocausado. M as é impossível um ser autocausado um a vez
que para causar-se a própria existência, teria de existir anteriorm ente a sua
própria existência.
Sartre comete o m esmo erro que Russell definindo incorretam ente o princí
pio da causalidade. C om o se observou anteriorm ente, o princípio da causalidade
não afirma que tudo necessita de um a causa, mas, sim, que as coisas finitas neces
sitam. Todavia, Sartre está correto em afirmar que um ser autocausado é impossí
vel. O que, então, é Deus? Se D eus não é causado nem autocausado, o que ele é?
A única alternativa lógica é aquela que a maioria dos teístas se concorda: Deus é
um ser não-causado. U m ser não-causado sempre existiu e não precisa de nenhu
m a causa. Deus é a Causa Prim eira de todas as coisas finitas que vêm à existência,
e não há nada anterior a Deus com o Causa de todas as coisas finitas porque Deus
sempre existiu. Conseqüentem ente, a conclusão de Sartre, de que a causalidade
deve levar a um ser autocausado impossível, não procede.
E ntendido apropriadam ente, o princípio da causalidade nos leva de volta a
algo que deve ser a Causa Primeira, a Causa não-causada de toda coisa finita
que existe. Estamos afirm ando que Deus sempre existiu com o a Causa Prim ei
ra do universo, enquanto, de o utro lado, os ateístas e naturalistas insistem em
que o universo sem pre existiu. Antes de definir qual é a cosmovisão correta,
devemos determ inar se o m étodo científico pode ser utilizado para revelar a
78 F u n d am e n ío s inabaláveis
causa dos eventos passados, com o, por exemplo, a origem do universo. Todos
os cientistas podem não concordar em todos os aspectos de com o em pregar o
m étodo científico com respeito aos eventos passados, mas devem concordar
nos prim eiros princípios, que são necessários para as inferências pertinentes a
ser feitas a respeito dos eventos passados. Assim, vimos que o princípio da
causalidade é um estatuto fundam ental que tem de ser aceito p o r qualquer
pessoa que se com prom ete com a disciplina ciência. C om isso em m ente, va
mos analisar com mais detalhes o m étodo científico.
A C I Ê N C I A P O D f D E T E R M I N A R AS CAUSAS P A S S A D A S ?
A ciência nos fornece conhecim ento no sentido que ela trata da observação e
operação do m un do físico e dos eventos reproduzíveis. Se um evento pode ser
reproduzido e serem feitas observações, então os princípios da filosofia e das
leis da ciência podem ser usados para descobrir o que causa os efeitos. Essa
procura das causas d.os efeitos observáveis é ciência operacional. E u m a espécie
de ciência que se preocupa com as causas (ações) e com os efeitos (reações) dos
funcionam entos atuais do m u nd o físico. Por essa razão, a ciência operacional
limita-se a descobrir as causas secundárias ou naturais por um padrão regular
de eventos. Q u a ndo se trata dos eventos passados, que não ocorrem mais ,
o u tra espécie de ciência deve ser aplicada. Essa espécie de m étodo científico
pode ser cham ada de ciência das origens.
A ciência das origens é comparável à ciência forense, que supervisiona os
tipos de investigações dos eventos que não foram observados e não são
reproduzíveis. Esse tipo de evento chama-se singularidade, Tudo de que se pre
cisa para pressupor u m a causa inteligente para u m a singularidade passada é
dem onstrar que eventos sem elhantes do presente podem ser constantem ente
associados a u m a causa inteligente. O s investigadores de hom icídio freqüente
m ente usam este m étodo para investigar assassínios e responder a perguntas
com o estas: Q ual a causa da morte? Foi acidente ou foi um evento planejado?
A conteceu p o r acaso, ou foi conseqüência de um agente inteligente? Desde que
a base para a reconstrução forense de um fato passado seja u m a ligação causai
regularm ente observada — observada no presente — o objeto dessa especula
ção pode ser um a singularidade não reproduzível. N os capítulos que se se
guem , aplicaremos essa prática científica a essas singularidades, com o a origem
do universo e a origem da vida.
Por ora, é essencial en te n d er que a ciência operacional e a das origens
estão ligadas p o r u m p rin cíp io filosófico cham ado principio da u n ifo rm id a
A ciíncií 79
de (ou analogia). Esta é o u tra h ipótese filosófica pela qual a ciência associa
o presente ao passado e faz previsões acerca do fu tu ro . C o m respeito à ciên
cia das origens, o princípio da u n ifo rm i
dade afirm a que o presente é a chave para ( i.llls.l 1'llllK'Íl.)
A CI Ê N C I A DAS O R I G E N S P O D E A F I R M A R A E X I S T Ê N C I A DE Ü E U S ?
A questão últim a das origens que desafia tanto a filosofia quanto a ciência é o
que Peter Kreeft cham a de “pergunta obsessiva”, feita pelo filósofo M artin
Heidegger: “Por que não há nada antes do nada?”.15 E m outras palavras, p or
que existimos? Deus criou este universo, ou ele sempre existiu? Crem os que os
primeiros princípios da filosofia e da ciência, devidam ente aplicados a essas
perguntas, podem -nos oferecer respostas dignas de confiança. C o n tu d o , m ui
tos cientistas m odernos crêem que a ciência não pode afirm ar nem negar a
existência de Deus. Por exemplo, Stephen Jay G ould, professor de H arvard e
paleontólogo, disse:
1:>Threephilosophies óflife, p. 9.
8 0 f U N D A M Í N T O S INAB A LÁ VE I S
A c iê n c ia s im p le s m e n t e n ã o p o d e (p o r se u s m é t o d o s le g ítim o s ) ju lg a r so b r e
M as se G ould fala a verdade, por que ele (juntam ente com m uitos de seus
colegas cientistas) continua escrevendo e falando tão prolificam ente sobre esse
assunto? Se reina o silêncio, por que continuam os a ouvir tanta oposição da
parte deles sobre essa questão? C om todo o devido respeito ao professor Gould,
ele é culpado de violar suas próprias regras, pois fez m uitos com entários a
respeito “da questão da possível superintendência de Deus sobre a natureza”.
D epois de criticar o argum ento de projeto para a existência de Deus de W illiam
Paley, G ould disse:
O bom p r o j e t o e x is t e e i m p li c a a p r o d u ç ã o p a r a s e u p r o p ó s i t o a tu a l, m a s as
a d a p ta ç õ e s são co n str u íd a s n a tu r a lm e n te , p o r e v o lu ç ã o le n ta e m d ir e ç ã o a
D eu s. A p a la v r a D e u s c o b r e esta s p á g in a s . H a w k i n g e m b a r c a n u m a b u s c a
e n t e n d e r a m e n t e d e D e u s . 18
Q u e r o sab er c o m o D e u s c r io u este m u n d o . N ã o e s t o u in te r e s s a d o n e s te o u
u n i v e r s o . 19
Stephen Jay G ould afirm a que a ciência é neutra quanto ao po nto de vista
metafísico, todavia ninguém pode separar a ciência da metafísica. Já explica
mos com o a ciência está baseada nos prim eiros princípios da metafísica, que
não se justificam definitiva e racionalm ente sem adm itir a existência de Deus.
D e fato, os naturalistas precisam adm itir que algum tipo de razão é anterior à
natureza no que se refere a usarmos a razão para moldar o nosso conceito de
natureza. C. S. Lewis explica:
q u a s e c o m o o te le f o n e a n t e c e d e a v o z a m ig a q u e o u v im o s através d e le . Q u a n
co lo ca m o s n e le .
u m a e x c e ç ã o tá c ita a fa v o r d o c o n c e ito q u e t e m o s n o m o m e n t o . 21
Lewis pôs o dedo na ferida de um a coisa que os naturalistas são m uito pressi
onados a explicar — a racionalidade hum ana. Esta parece ser independente da
natureza no sentido de que a descrição da natureza depende dela. Em outras
palavras, raciocinamos sobre a natureza de um m odo que é independente da
natureza. E semelhante a organizar as peças de um quebra-cabeça cham ado “na
tureza” e a única peça que não se pode colocar no quebra-cabeça é a racionalidade
hum ana, porque está sendo utilizada para formar o quebra-cabeça!
Por conseguinte, os naturalistas são forçados a definir os pensam entos h u
m anos com o produtos (ou subprodutos) de meras secreções do cérebro e con
seqüentem ente reduzem os pensamentos a puras reações químicas não-r.acionais.
M as com o podem pensam entos, inferências, insigbts e conhecim ento racionais
ser simples resultado de química? E possível que o ato de raciocinar dependa
de algo mais que meras reações químicas do cérebro? É possível que ocorrências
m entais, com o os pensam entos racionais, não sejam puram ente a conseqüência
de um fenôm eno físico? E possível que a razão hum ana, em particular as leis da
lógica, esteja ancorada fora da natureza, na razão divina, e o que observamos na
natureza seja o resultado de um a racionalidade m aior que a racionalidade h u
mana? C oncordam os com C.S. Lewis quando diz que
n e la . E le s se a s s o c ia m a ela d e u m m o d o d ife r e n te ; d a m e s m a f o r m a q u e o
co n h e c im e n to de u m a m á q u i n a s e a c h a c e r t a m e n t e li g a d o a ela , m a s n ã o
2lM ila g r e s , p . 2 4 .
A C I Ê NC I A 83
g ic o s...
fo ra o u in d e p e n d e n te d e la . E m r e la ç ã o à n a tu r e z a , o p en sa m en to r a c io n a l
c o n t i n u a “ d e s i m e s m o ” o u e x i s t e “p o r s i m e s m o ” . N ã o s e s e g u e , p o r é m , q u e
in d e p e n d e r d a n a tu r e z a , d e p e n d e n d o e n tr e ta n to d e o u tr a co isa ; p o is n ã o é a
sim p le s d e p e n d ê n c ia m a s s im a d e p e n d ê n c ia do ir r a c io n a l q u e d estró i a
c r e d ib ilid a d e d o p e n s a m e n t o . 22
A P F L A R PARA U M C R I A D OR A N U L A 0 M É T O D O C I E N T Í F I C O ?
causas secundárias (leis naturais) científicas usadas por D eus para operar o
universo. Bacon substituiu o m étodo dedutivo de Aristóteles p o r um m étodo
mais indutivo e experim ental, que estabelecia um a direção nova para a ciência
m oderna. C rer n u m C riador que opera p or m eio de causas secundárias não
prejudica a ciência. N a verdade, essa crença ajudou a inspirar grandes pensa
dores e tam bém a ciência a avançar significativamente.
A questão a que estamos procurando responder está relacionada a encontrar
a causa prim ária das leis naturais. Por exemplo, a causa da queda de u m a pedra
pode ser explicada sim plesm ente com o o resultado da lei universal da gravida
de, um a causa natural, que as puxa para o centro da terra. A gravidade é um a
parte da realidade física e um a das leis fundam entais da física. E ntretanto, a
gravidade é o resultado da força de atração entre dois objetos quaisquer do
universo que têm massa, ou substância. Além disso, pode-se pensar em massa
com o a m edida da quantidade de m atéria de um corpo. C o ntud o, m atéria é
um a substância material, que tem extensão no espaço e no tem po e tam bém
pode ser considerada um a form a especializada de energia (E=mc2). Pense nessas
associações causais:
23Cosmos, p. 4.
C a p ít u l o c in c o
0 COSMOS
— M o r t im e r A dler
0 C O S M O S NECES S I TA DE A L G U M A C A U S A ?
D e q u a lq u e r p o n t o d e v is ta , o v e r d a d e ir o in íc io d e v e ter s id o fo r a d o p r o c e s
m a is n a tu ra l d o q u e u m p á ssa ro q u e t e n h a e x istid o d e s d e t o d a a e te r n id a d e .
p la u sív e l, n ã o é ra z o á v el p r o c u r a r a real o r ig e m em a lg u m lu g a r t o t a lm e n t e
en trar n o m u n d o d o s h o m e n s , p a ra e n c o n tr a r o real o r ig in a d o r d o F o g u e te .
O r ig in a d o r d a o r d e m n a tu r a l? 2
do atual funcionam ento do universo físico. Por outro lado, guando procura
mos explicar a origem do universo, entram os em outra disciplina científica
conhecida com o cosmogonia. A cosm ogonia (origem do cosmos) , o com ponen
te ciência das origens da astronom ia, preocupa-se em form ular teorias que dão
conta da origem do universo com o um todo. E de vital im portância para nós
ter em m ente que qualquer m odelo válido da origem do universo deve ser
baseado no princípio da uniform idade: o presente é a pista para o passado.
Imagine, por exemplo, que estamos sentados no galho de um a árvore seguran
do um serrote e decidimos usar o serrote para cortar o galho sobre o qual estamos.
Seria tolice: nós, o galho e o serrote nos esborracharíamos no chão. Se a árvore
representasse o campo da astronomia, o galho, o campo da cosmologia e o serrote,
o campo da cosmogonia, as conseqüências seriam as mesmas. O u seja, se fôssemos
desenvolver um a teoria sobre a origem do cosmos (cosmogonia) que não se confor
masse às leis e aos princípios da ciência, nem se conformasse à evidência observacional
do universo que sustenta essas leis e esses princípios (cosmologia), nossa teoria
acabaria por auto-anular-se. O princípio da uniformidade (discutido no capítulo
4) estipula que as leis e a ciência dos princípios de funcionamento não devem ser
violados quando investigamos as origens. Portanto, as conclusões sólidas, baseadas
em leis e princípios da ciência, e nas evidências da observação, devem servir como
fundam ento para qualquer teoria válida das origens.3
Depois de estabelecer um a estrutura cosmológica confiável e ligar o presen
te ao passado por meio do princípio da uniform idade, devemos ser capazes de
testar os vários m odelos de origem para verificar qual é filosoficamente mais
sólido e cientificam ente mais confiável. Esse teste se utiliza daquilo que conhe
cemos dos princípios e das leis da ciência e das evidências da observação da
cosmologia. Já identificamos o princípio da causalidade com o o prim eiro p rin
cípio filosófico da ciência. A tarefa que está diante de nós é indicar sua contraparte
em pírica (observável). E m outras palavras, precisamos identificar a principal
lei em pírica da ciência e com biná-la com o princípio da causalidade e com
outras evidências da cosmologia.
Q u a l é a p r i n c i p a l lei da c i ê n c i a ?
3I s s o é v e r d a d e i r o p a r a a o r i g e m d o u n i v e r s o , a o r i g e m d a p r i m e i r a f o r m a d e v i d a , e a o r i g e m d e
n o v as fo rm a s d e vida.
0 cosmos 89
4A primeira lei da term odinâm ica (a lei da conservação da energia) afirma que a quantidade real
de energia do universo físico permanece constante, enquanto a segunda lei afirma que a quantidade
utilizável dessa energia fixa está dim inuindo constantemente.
90 F undamentos inabaláveis
lei da term odinâm ica, as bolinhas de gude jamais serão capazes de retornar ao
seu estado altam ente organizado original. O estado final delas será a desordem.
A razão simples pela qual sabemos que esse estado final de desordem vai
ocorrer é o poder universal e a qualidade de predição dessa lei. Por definição, a
segunda lei ocorre som ente nos sistemas fechados e isolados, e todos os siste
mas fechados e isolados finalm ente acabarão em estado de desordem. O term o
técnico, que. os cientistas em pregam para m edir o nível de desordem de um
sistema.é envtopla O contêiner original da figura da esquerda está n u m estado
baixo de ei i u[ 11 (desordem) porque é um sistema altam ente organizado. D e
m odo concrano, depois de decorrido certo período de tem po, o contêiner da
direita atinge um estado de alta entropia porque seu nível de desordem au
m en to u significativamente. A descoberta da segunda lei com o a principal lei
em funcionam ento no universo significou que os cientistas tiveram de tratar o
universo com o u m sistema fechado, isolado. D o fato de a segunda lei da
term odinâm ica vir a perm ear e dom inar finalm ente todo o cosmos, surge a
pergunta seguinte.
0 C O S M O S ESTÁ P E R D E N D O SUA E N E R G I A U T I L I Z Á V E L ? 5
Antes de passar para um sistema tão grande com o o universo, vamos examinar
de que m aneira a segunda lei afeta um sistema m ecânico bem conhecido, com o
o autom óvel, por exemplo. Se formos construir um m otor, vamos projetá-lo de
tal m odo que ele conserve o nível de desordem (na form a de energia dissipada)
no m ínim o. C om o o m o to r do carro queim a gasolina, o calor gerado pelo
processo de com bustão é conver
tido em energia m ecânica, que
aciona as rodas do carro. D e m odo
ideal, tod o o com bustível que
colocamos no tanque do m o tor
deveria ser convertido diretam en
te em energia mecânica para m o
vim entar o carro. Se 100% da
energia pudessem ser diretam en
te convertidos em potência para
5A resposta a essa pergunta foi originariamente registrada no artigo de Peter Bacchino intitulado
“In the beginning”. Esse artigo surgiu em 1996 num com unicado oficial cham ado Just Thinking,
distribuído pelo Ravi Zacharias International Ministries.
0 C OS MOS 91
fa to e s tr a g a m as c o isa s às v e z e s . M a s se fo r c o n s t a t a d o q u e s u a te o r ia é c o n tr a
s o b r a n a d a p a r a e la s e n ã o ca ir e m c o la p so n a m a is p r o fu n d a h u m ilh a ç ã o .6
A S eg u n d a L ei d a ter m o d in â m ic a é p r o v a v e lm e n te a m a is p o d e r o s a p e ç a
c e ss o q u e d e s c o b r im o s : é o tr ib u n a l d e a p e la ç ã o fin a l e m q u a lq u e r d is p u
p o n to de p a r tid a , um a c r ia ç ã o .7
10Cit. por George Sm oot e Keay Davidson, Wrinkles in Time, p. 283. A citação original pode ser
encontrada no London Times, 25/4/1992, p. 1.
96 f U N D A M N T O S I N ABALÁVEI S
p lic a ç õ e s t e o l ó g i c a s . 11
n P. 20-1.
0 cosm os 97
real m edida foi maior que o valor previsto pela teoria de N ew ton. Essa observação
levou os astrônomos a considerar a idéia da existência de outro planeta mais
próximo do sol, o que responderia por esse com portam ento de Mercúrio.
E ntretanto, segundo a nova teoria de Einstein não havia necessidade de
existir esse suposto planeta. A relatividade geral previa a curvatura extrem a do
espaço nas proxim idades do sol, o que seria responsável pela discrepância. As
medições da órbita de M ercúrio provaram que Einstein estava certo. A m edida
que M ercúrio se aproximava do poço de gravidade próxim o da superfície do sol
(como na analogia do elástico/ bolinha de gude/bala de canhão), seguia essa
depressão, o que causava um a m udança m arcante em sua órbita. O s cientistas
tam bém fizeram medições extrem am ente precisas das posições das órbitas da
Terra, de M arte e V ênus e descobriram que são precisam ente o que a relativida
de geral previa. E im portante observar que as equações de Einstein represen
tam um refinamento dos cálculos de N ew ton, não a contradição. Essa diferença
ou refinam ento é insignificante para objetos pequenos, mas crucial para um
objeto do tam anho de um planeta.
Talvez a previsão mais im pressionante da relatividade geral seja a idéia de
que u m a se massa suficientem ente grande se concentrasse n u m volum e sufici
entem ente pequeno, o espaço em torno desse objeto seria seriam ente deform a
do. Esse alto grau de deform ação no espaço produziria um fenôm eno que veio
a ser conhecido por buraco negro (negro é o nom e que atribuím os ao material
que absorve todas as cores do espectro da luz). A trem enda deformação do
espaço (análogo a u m buraco) de um
buraco negro resulta n u m cam po gra-
vitacional alto co rresp on den te. Esse
cam po é tão poderoso que nada, nem
m esm o a luz, pode gerar energia sufici
ente para escapar de sua força gravitaci-
onal.
Q uando um a estrela, como o sol, por
exemplo, com eça a atravessar seus está
gios finais de m orte, atinge um p onto
em que entra em colapso gravitacional
total. E m outras palavras, a única ener- j\J
gia restante na estrela é sua força gravi
tacional, que por fim faz a estrela entrar em colapso sobre si mesma. Finalmente,
quando o m om entum gravitacional da estrela em implosão aum enta e seu volu
0 cosmos 99
t a i s , u m a e q u i p e n i p o - a m e r i c a n a r e l a t o u n a ú l t i m a s e m a n a “e v i d ê n c i a s c o n
v in c e n t e s ” d e q u e o c e n tr o d e u m a g a lá x ia r e la tiv a m e n te p r ó x im a a b r ig a u m
b u r a c o n e g r o cu ja s o lid e z e q ü iv a le a 4 0 m i l h õ e s d e s ó i s . 13
12R. C o w e n , Repaired H ubble Finds G iant Black Hole, Science News, vol. 145, n.o 2 3 , 4 / 6 /
1994.
13Idem, N ew Evidence o f Galactic Black Hole, Science News, vol. 147, n.o 3, 2 1 /1/1995, p. 36.
l4Jean-Pierre L a s o t a , U nm asking Black Holes, Scientific Ammerican, m aio/1999, p . 42.
100 Í U N D i M t N I O S INABALÁVCIS
Que m o d e l o d a s o r i g e n s s e h a r m o n i z a m e l h o r c o m a s e v i d ê n c i a s c o s m o l o g i a s ?
É a esse ato inicial da criação que nos referimos quando dizemos “m odelo Big-
bang . Incluído nesse m odelo das origens está um a causa que é coerente com as
evidências cosmológicas e as leis da ciência e é a conclusão lógica delas. Isto é,
uma Causa infinita não-causada que tam bém deve ser eterna (fora do tem po)
causou o evento da criação inicial que fez existir o universo de espaço-tempo,
Além disso, o big-bang não foi apenas u m a explosão antiga qualquer. U m a forte
evidência dá a entender que ele foi um a detonação cósmica orquestrada. Esse
evento tinha de ter precisam ente o equilíbrio correto de forças a fim de p ro d u
zir o universo em que vivemos. O físico teórico John Polkinghorne, um colega
de Stephen H aw king, observa:
Toda essa exatidão parece indicar fortem ente que esse poder eterno e infini
to tam bém deve ser cognoscível, dada a m agnitude da precisão observada ao
fazer existir o universo. O que pode ter causado essa espécie de explosão? C om o
M ortim er J. Adler disse: “ S e a existência do cosmos com o um todo precisa ser
explicada e se não pode ser explicada p or causas naturais, então devemos espe
rar encontrar sua explicação na existência e na ação de um a causa sobrenatu
ral”.18 A afirmação de Adler exige um a Causa Prim eira que tenha agido de um a
dimensão da realidade com pletam ente livre de qualquer constrangim ento, in
dependente das dimensões de nosso universo de espaço-tem po, e preexistente
a ele. U m a vez que é impossível o nada produzir algo, algo deve ter existido
desde sem pre com o a Causa Prim eira do universo. Além disso, essa Causa Pri
m eira deve ser eterna (fora do tem po, visto que o tem po é parte do universo
finito) e poderosa bastante para ser responsável pela origem e existência do
universo. Tam bém é altam ente provável que essa Causa tam bém seja inteligen
te 19 (e, posto que é infinita, deve ser infinitam ente inteligente). Portanto, con
cluímos que a Superforça que fe z o universo existir é um a entidade sobrenatural
infinitam ente poderosa, eterna e inteligente. _
C rer que o cosmos teve um começo e, portanto, um a Causa Prim eira é confiá
vel. Por isso, a pergunta básica “por que existe algum a coisa em vez de não
existir absolutam ente nada?” é respondida do seguinte m odo: algum a coisa
existe agora porque um a Superforça com os atributos observados acima a criou.
Nossa presença é um acidente, ou a Superm ente por detrás do universo teve
um propósito ao criar-nos? Paul Davies postula que a “ciência pode explicar o
m undo, mas nós ainda tem os de explicar a ciência”. Prossegue:
19Vamos apresentar um a tese mais substancial para um a conclusão altamente provável de que
essa Causa é inteligente no capítulo 6.
20Superforce, p. 243.
21 The selfish gene, prefácio. Publicado em português com o título O gene egoísta.
0 cosmos 103
P or q u e o cosm os n ã o po d e ser o s c il a n t e ( o u p u l s á t il ) ?
O problem a com essa “nova ciência cham ada cosmologia quântica” é que
ela está além da investigação científica e é de caráter essencialmente filosófico.
C om o filosofia, a cosmologia quântica é cheia de problem as que serão identifi
cados e discutidos no próxim o m odelo das origens: a proposta de Stephen
Hawking.
0 Q U E SE P O D E D I Z E R DA C O S M O L O G I A Q U Â N T I C A E DO M O D E L O DE S l E P H E N H A W K I N G ?
23Kaku M i c h i o , W h at happened before the big-bang, Astronomy, vol. 24, 5/5/1996, p. 36 (grifo
do autor).
24A b rie f history o f tim e, p. 136. Publicado em português com o título Uma breve história do
0 C O S MO S 10/
Gostaria de enfatizar que esta idéia, de que o tempo e o espaço devem ser
finitos sem limites, é apenas uma proposta: não pode ser deduzida de algum
outro princípio. Como qualquer outra teoria científica, ela pode inicialmen
te ser colocada em evidência por razões estéticas ou metafísicas, mas a pro
va real é se ela faz predições que concordam com a observação.25
A proposta de H aw king procura evitar o que tem sido cham ado de singulari
dade — um ponto em que todas as leis conhecidas da física não mais se aplicam.
A singularidade do Big-bang indica claramente o começo do universo espaço-
tem po. C ontudo, H aw king a evita supondo que não houve começo algum. Ele
tem-se em penhado em desenvolver um m odelo de universo finito e mensurável,
mas sem limite no tem po. Ele incorpora em sua proposta o freqüentem ente mal-
interpretado princípio da incerteza da teoria quântica26. Tam bém emprega um
conceito que cham a de tempo imaginário. D ito de maneira simples, tem po ima
ginário, em termos matemáticos, é equivalente a núm eros imaginários (a raiz
quadrada de um núm ero negativo). Conseqüentem ente, a integridade do m ode
lo de H aw king repousa em duas hipóteses: 1) é plausível utilizar o conceito de
tem po imaginário nu m modelo que deve descrever um universo que funciona
em tem o real e 2) é valido empregar o princípio da incerteza aos 1043 segundos
para evitar o começo do universo espaço-tempo.
H aw king designa o uso do tem po im aginário com o “um dispositivo m ate
m ático (ou artifício) para calcular respostas acerca do espaço-tem po real”.27
Mas sua proposta de fato responde à questão final da origem quando aplicada
ao espaço-tem po real? H aw king confessa:
Entretanto, quando se volta para o tempo real em que vivemos, ainda pare
cerá haver singularidades. O pobre astronauta que cai num buraco negro
ainda morrerá. Somente se vivesse num tempo imaginário ele não encontra
ria nenhuma singularidade.28
25Ibid, p. 136-7.
26Para explicação e análise do princípio da incerteza, v. cap. 4, “A Física quântica refuta a
causalidade?”.
27O p.cit„ p. 134.
2SIbid., p. 139
29Ibid., p. 139.
108 F undamentos inabaláveis
verdade, então todas as leis e princípios científicos tam bém deveriam ser in
venção de nossa imaginação porque foram desenvolvidos em tem po real. D e
acordo com a proposta de H aw king, teríamos de recalcular essas leis e esses
princípios convertendo suas respectivas escalas de tem po real em coordenadas
tem po-im aginárias.
Portanto, propom os que o tem po real é real e que a proposta de H aw king é
“invenção da imaginação”. Tão logo os núm eros de sua teoria se convertem de
volta ao tem po real (a dim ensão do tem po em que a ciência opera), as singula
ridades e as condições dos limites aparecem novam ente. A única conclusão
científica que se pode tirar de sua proposta é que ela é u m artifício m atem ático
perspicaz, não um a descrição significativa da realidade. Pode até ser um m odo
de pensar m uito im aginativo e exótico a respeito da origem do universo, mas é
tudo o que podem os dizer dele.
A sugestão de H aw king tem caráter sem elhante à constante cosmológica de
Einstein. Einstein precisava, e criou, de u m a constante m atem ática para o
universo parar de se expandir por causa das implicações dessa expansão com
respeito ao começo do tem po. C on tu do , com o dem onstram os, u m universo
que existe em tem po e espaço reais necessariamente tem de ter um começo —
conclusão coerente com as leis da ciência. Roy Peacock observou a verdadeira
beleza científica da proposta de H aw king quando disse:
A elegância do modelo de Hawking não é que ele nos leve a um universo que
não teve começo e não terá fim; é que ela nos traz de volta ao tempo-espaço
real, que inclui singularidades — e é uma conclusão que se alinha adequada
mente com a Segunda Lei da Termodinâmica.30
segunda lei não som ente é dar a questão como provada para fu g ir da discussão, do
pon to de vista da filosofia, mas tam bém é altam ente estranho à ciência. Se o
princípio da incerteza pode ser em pregado para u m m odelo desenvolvido em
1043 segundos, então a segunda lei da term odinâm ica deve ter prioridade so
bre ele, um a vez que está mais firm em ente estabelecida pela observação.
Visto que H aw king adm ite que as hipóteses fundam entais de sua proposta
são de natureza metafísica,32 podem os criticá-la com o tal. Para crer que o tem
po é infinito, é preciso desejar com eter um erro de lógica. E o erro conhecido
por erro de categoria (apresentado anteriorm ente), que neste caso confunde o
que é m atem aticam ente possível com o que é real.
Por exemplo, os conceitos m atem áticos são logicamente possíveis, mas nem
sem pre realmente possíveis no universo m aterial. C onsidere o dilem a antigo
conhecido por paradoxo de Zenão, que era um a tentativa de provar que todo
m ovim ento é um a ilusão. Zenão baseou seu argum ento no conceito m atem áti
co de que um a reta contém um núm ero infini
to de pontos. A daptam os o argum ento dele,
por propósitos ilustrativos, e m ostram os um a
reta que liga o po nto A ao po n to B.
Em m atem ática, o núm ero de pontos do
segmento de reta A-B é infinito. D o po nto de
vista conceituai, para ir do ponto A ao ponto
B, teríamos de passar pelo po n to m édio M r
C on tu do , depois de passar pelo po n to m édio
M , temos de passar pelo po nto m édio entre A M,
*
M e o pon to B, que é M 2. Esse processo é in
A M,
term inável porque há u m núm ero infinito de
pontos médios m atem áticos entre o p on to A e
A Mi nfinito
o p onto B. Portanto, parece logicam ente im - ■ w
possível mover-se do po n to A ao pon to B. Fa
zer isso requereria
T.
passar rpor um núm ero infinito de rpontos médios —
r
. . ,
M.ínhmto
32Ibid., p. 136.
110 F undamentos inabaláveis
qualquer direção porque para isso o atleta teria de cruzar um núm ero infinito
de pontos médios. Portanto, Zenão concluiu que o m ovim ento é um a ilusão,
um a “invenção da imaginação”. Isso não parece familiar? Deveria, porque Zenão
e H aw king essencialmente com etem o m esm o erro filosófico.
O problem a é am bos confundirem o abstrato com o concreto. U m núm ero
abstrato infinito de pontos (ou m om entos) é possível, mas um núm ero infinito
concreto (real) não é.
D e m odo sem elhante, devemos rejeitar a idéia de que exista um universo
infinito real. C om o conceito, deixa de satisfazer o teste material (observacional)
da verdade. H aw king afirma: “E ntretanto, quando se volta para o tem po real
em que vivemos, ainda parecerá haver singularidades”.33 Referindo-se à valida
de de sua proposta, H aw king diz que “o teste real é se ela faz predições que
concordem com a observação”34. D e acordo com seus próprios critérios, a p ro
posta de não haver limites não passa no teste real de um a teoria confiável tanto
científica com o filosoficamente. H á evidências mais que suficientes para con
cluir que a relatividade geral é um a teoria válida, e fazendo isso somos um a vez
mais confrontados com um a singularidade: o começo do universo. Até Haw king
conclui:
33Ibid., p. 139.
34Ibid., p. 137.
35Ibid., p. 173.
C a p í t u l o seis
A ORIGEM DA VIDA
— M icha el D e n t o n
Q u a is os d o is m o d í l o s c o n c o r r e n t e s da o r í g í m da v i d a ?
Para ser coerente com a investigação anterior, precisamos novam ente fazer dife
renciação entre ciência operacional e ciência das origens. Fazendo isso, deve
mos ser capazes de derrubar as teorias da origem da vida baseadas em hipóteses
injustificáveis e sem o apoio de leis científicas e observação. Ê de vital im por
tância ter em m ente que qualquer modelo válido da origem da vida nunca viole
as evidências das leis científicas obtidas pela observação. Essa regra m etodológica
20 princípio da uniform idade não deve ser confundido com a visão naturalista conhecida como
uniformitarismo. O uniform itarism o presum e que apenas causas naturais podem ser aplicadas aos
eventos passados. Entretanto, essa hipótese não se justifica cientificamente, é um a pressuposição
filosófica do naturalismo. A base do uniform itarism o é o princípio da continuidade. O u seja, existe
um continuum, um a série ininterrupta de causas físicas. Todavia, a conclusão apresentada no capítu
lo 5, de que o universo é finito e teve u m começo, corrói a credibilidade do uniform itarism o. Essa
conclusão dem onstrou claram ente a necessidade de um a força ou causa sobrenatural além do
universo espaço-tempo para justificar a origem dele.
A O RI GE M D á VIDA 115
3Estamos fazendo diferença entre o term o microevolução, que explica as m udanças ocorridas
dentro dos limites biológicos naturais próprios de u m tipo e como ele se adapta às mudanças de seu
am biente (variação de clima e outros fatores ambientais), e macroevolução, que extrapola essas
mudanças presum indo que tipos específicos de vida não têm n enhum limite biológico natural.
4D aw in 's black box: the biochemical challenge to evolution, p. 6.
116 F undamentos inabaláveis
em bora D arw in entendesse m uito da biologia acima do nível celular, não tinha
conhecim ento do funcionam ento interno de um a célula viva. Behe observa que
som ente após a Segunda G uerra M undial, com a ajuda do m icroscópio eletrô
nico, as novas estruturas subcelulares foram descobertas. A m esm a célula que
parecia tão simples aos cientistas do passado agora era vista com o um a entida
de m olecular extrem am ente complexa, equipada com usina de energia e centro
de inform ação próprios. Behe registra:
“C om o a vida funciona?” não era a única pergunta com que D arw in e seus
contem porâneos eram im potentes para lidar. Eles eram incapazes de responder
à pergunta: “C om o a vida com eçou?”. C om o a prim eira célula viva passou de
m atéria não-viva para viva? Para m elhor com preensão da extensão dessa per
gunta, M ichael D e n to n ilustra o tipo de com plexidade que deve ser esclareci
do com relação a um a célula viva. Ele diz:
5O p . cit., p. 10.
A O R I G E M DA V IDA 11/
m ilím etros. Prim eiram ente vamos identificar as várias partes fundam entais da
célula e depois vamos falar de suas respectivas funções.
Interiorm ente às paredes da célula há proteínas (ver a próxim a figura), que
são os com ponentes fundam entais de todas as células vivas. E ntre as proteínas
estão m uitas substâncias, com o as
enzimas, os horm ônios e os anti
corpos. As proteínas são necessári
as para o funcionam ento adequado
de qualquer organismo. Agora, ob
serve que o núcleo da célula con
hm U- ■. i I • í-ilil.i
tém o nucléolo e u m a m olécula
essencial cham ada ácido desoxirribo- f Moléculas de DNAl
Q U E TI PO DE I N F O R M A Ç Ã O C O D I F I C A D A A C ÉLU LA U T I L I Z A ?
criança, cujos lados, cada um , são estam pados com um a dessas quatro letras do
alfabeto. Se essas letras estiverem ligadas n u m a determ inada seqüência codifi
cada, poderão ser usadas para form ar um a m ensagem (conjunto de instruções)
que com unica um a ação. O bservando os blocos, podem os ler o que se parece
com um a mensagem codificada. Lendo as letras da esquerda para a direita e
ligando as fileiras de três blocos de cim a para baixo, a m ensagem é a seguinte:
TAG-CAT-ACT.
*A frase m nem ônica original é: “It is time to get a license TA G for the CA T, so A C T now!”. (N. da E.).
122 F undamentos inabaláveis
* ■ mm m
s HB
T i»
J
ca foi levada em conta quando D arw in C U■
£) m nm V lilH
desenvolveu a teoria da macroevolução. E m wü
p 11 H ■ X SM»Kg MSS
A teoria da inform ação é indispensável G *■ *■ B Y
H llll z «®m5üü
para com preender tud o do que trata a | BB 1
2 ü müm ngggnjggg
m
1
1
1
biologia — arm azena-m ento de infor K 3 awmmmim
|_ ■m t
B
4
1
I
I
i
mações e sistemas de recuperação. Es M » 5 {■«■■B i
N as s 6 ms ■ ■ ■ ■
ses sistemas são análogos aos projetos e o ** ■» 7 mm. «a» i i i
p i ia m d 8 §§ü Wl M Si B
m anuais de instrução que fornecem a Q mi m mws 9 hm mm ms m ■
R m«mm 0 a s s a e
técnica de m ontagem e funcionam ento
dos mecanismos da vida. Eles especificam o que fazer e com o fazê-lo, exata
m ente com o o program a faz para o com putador.
Todo program a de co m p u tad o r é escrito n u m a linguagem de program a
ção que em prega u m código consistente de duas unidades, um e zero. O
co m p u tad o r foi projetado para responder especificam ente a com binações de
term inadas desses núm eros Por exem plo, a seqüência 111001100111 co m u
nicaria um a certa m ensagem lingüística de acordo com a qual o co m pu tad or
deve proceder, segundo seu projeto. E ntretan to , esse código deve ser estabe
lecido com regras específicas a fim de que o sistem a funcione devidam ente.
O p rogram ador deve criar um a linguagem , ju n tam en te com u m co n ju n to de
regras que controlam o sistema, o que garantirá o fu ncion am ento preciso do
com putador.
Agora im agine que tenham os recebido a tarefa de decifrar o código utiliza
do por um determ inado com putador. Se conseguíssemos decifrar o código e
entender com o sua linguagem funciona, seriamos tam bém capazes de ter algu
m a idéia de com o é a m ente do program ador original. A com plexidade da
linguagem usada por um com putador é diretam ente proporcional ao tipo de
m ente que criou o sistema de inform ação codificada. O m esm o é verdadeiro
para o conteúdo de inform ação do código genético e da linguagem de um a
A O R I G f M DA VIDA 123
célula viva. U m a vez decifrado o código e resolvida sua com plexidade, seriamos
capazes de discernir se o conteúdo de inform ação do código genético teve um
program ador original inteligente, ou se o código veio a existir por um processo
do acaso.
travessas dos degraus da escada são feitas de u m nucleotídeo que se liga com
um a base com plem entar do lado oposto da travessa.
Adenina (a ), por exemplo, sempre se liga com tim ina (t ), e citosina (c) sem
pre se liga com guanina (g ). Conseqüentem ente, cada degrau da escada de corda
consiste de duas bases e há so
m ente duas combinações pos
síveis para cada degrau: a /t e CK qii.itm nucleotídeos do
cúdii>o genético
c /g , o qu e eqüivale a dois
r riMM
nucleotídeos por degrau. Cada
nucleotídeo é um a subunidade
de molécula do D NA e contém
fosfato, açúcar e qualquer um a
das quatro bases nitrogenadas.
A ordem específica dos nucleo
tídeos determina o código genéti adenina .i:.i
co para cada um de nós. Esse Ví\ v açúcar e fosfato
___ m oléculas N w
código pode parecer bem in
significante, mas é o meio pelo '
5 C
; citosina guanina
G
qual tudo que é vivo funciona
no nível molecular. Para entender melhor, vamos observar o que acontece duran
te o processo de cópia.
O D NA de um a form a específica de vida tem a responsabilidade de designar
essa form a de vida e suas funções. Tam bém designa a inform ação genética que
será transm itida de u m a geração para a próxim a fazendo cópias exatas de si
m esma. O term o técnico para esse procedim ento é replicação. U m m odo de
im aginar o processo de reprodução do DNA é desenrolar (ou destorcer) a escada
de corda a que nos referimos e separar os pares de letras (nucleotídeos). E essa
seqüência de letras que determ ina o código genético singular de cada indiví
duo. U m a vez que a m olécula do D NA é descondensada e desespiralada, pode
m os observar cada par de letras (par de bases) e sua conform ação particular.
Essas conformações, ou cadeias de inform ação, são extrem am ente im portantes
porque determ inam as características de u m organism o particular. C onseqüen
tem ente, o processo de cópia deve ser um funcionam ento preciso.
N o e s tá g io 1, o s p a res d e b a ses p u x a m d e u m a d as e x tr e m id a d e s d a esca d a
d e s l i g a d o s d a e s c a d a d o DNA o r i g i n a l r e a g r u p a m - s e c o m o s n u c le o t í d e o s liv r e s
Q u e tipo de in fo rm a ç ã o se a r m a z e n a n a m o l é c u l a de DNA?
Já sabemos que o código genético consiste de quatro letras, A, T, c, e G. Agora
precisamos entender qual o grau de com plexidade do código genético a fim de
determ inarm os se ele é um subproduto aleatório de forças puram ente naturais.
Energia, m atéria e tem po sim plesmente, nada mais, podem produzir o tipo de
organização en c o n trad o no código genético? Vejamos o que os biólogos
moleculares encontraram qu ando decifraram o código genético.
C om o se m encionou anteriorm ente, a teoria da informação, subdisciplina
da biologia molecular, procura descrever os dados armazenados e os sistemas
recuperados das entidades biológicas. O tipo de inform ação que com põe o
código genético, segundo se descobriu, é classificado pelos biólogos moleculares
com o equivalente ao de um a língua escrita. O cientista da inform ação H u b e rt
P. Yockey explica:
a n a lo g ia . A h ip ó te s e de se q ü ê n c ia a p lic a -se d ir e ta m e n te à p r o te ín a e ao
m a te m a tic a m e n te id ê n tic o .8
Yockey está dizendo que falar a respeito do código genético com o sendo a
linguagem da vida não é m era analogia. A im portância indescritível dessa desco
berta é que a célula tem um a linguagem própria, plenam ente equipada com
regras — equivalente a um a língua escrita — que controlam seu m odo de com u
nicar-se. N u m a obra mais recente, Yockey explica que a teoria da informação
dem onstrou que há u m a correspondência biunívoca (um a um ), isomorfismo,9
entre o sistema lógico do texto genético, de um lado, e os sistemas de com unica
ção, com putadores e sistemas da lógico-matemáticos de outro lado. Yockey diz,
O p r in c íp io b á sico s e g u n d o o q u a l o p e r a m os c o m p u ta d o r e s é o d a m á q u in a
d e T u r i n g (T u r in g 1 9 3 7 ) . [A la n M a t h is o n ] T u r in g c o n c e b e u o m o d e lo a b str a
to d e u m a m á q u in a d e c o m p u t a ç ã o p a ra r e so lv er p r o b le m a s d e f u n d a m e n t o s
essas m e n s a g e n s o u s e q ü ê n c ia s sã o c h a m a d a s s e q ü ê n c ia s d e b its p o r q u e se
q u e p o d e m o v e r - s e t a n t o p a r a le r o s d a d o s q u e e n t r a m com o os q u e saem ,
são ch a m a d a s d e p ro g ra m a n a te c n o lo g ia m o d e r n a d e c o m p u ta d o r e s .O pro
g r a m a e x e c u ta su a s in s tr u ç õ e s d a m e n s a g e m lid a d a fita , e a m á q u i n a p á ra
q u a n d o o p ro g ra m a fo i execu tad o.
8Self-organization, origin-of-life scenarios and inform ation theory, p. 16. Processo M arkov é um a
expressão usada em estatística. Preocupa-se em analisar um a sucessão de eventos dentro de certos
parâmetros, cada um dos quais determ inado pelo evento imediatamente precedente. O processo
tem esse nom e por causa do m atem ático russo Andrei M arkov (1856-1922).
9Yockey emprega o term o isomorfismo no sentido m atemático, um a correspondência biunívoca
(um a um) entre os elementos de dois conjuntos de form a que o resultado de um a operação sobre os
elementos de um conjunto corresponde diretam ente ao resultado da operação das imagens deles no
outro conjunto. Isto é indicativo de um a relação direta de causa e efeito.
A o rigem da vida 12/
e n t r a d a é o DNA, e a s e q ü ê n c i a d e b i t s r e g i s t r a d a é a m e n s a g e m g en ética . A s
c o n d i ç õ e s i n t e r n a s s ã o o tRNA, mRNA [ . . . ] e o u t r o s f a t o r e s q u e i m p l e m e n t a m
DNA. H á t a m b é m i s o m o r f i s m o e n t r e a i n f o r m a ç ã o d a s i n s t r u ç õ e s d a f i t a d a
m á q u in a d e T u r in g e a in fo r m a ç ã o d a lista d o s a x io m a s d a s q u a is o s te o r e m a s
um c o n j u n t o d e i n s t r u ç õ e s o u t a r e f a s a s e r c o m p l e t a d a s e u m a s a í d a . 10
O d n a d a s c é lu la s v iv a s c o n t é m in f o r m a ç ã o c o d ific a d a . N ã o é d e s u r p r e e n
n ie n te s n e m a p e n a s a n t r o p o m o r f is m o s . E la s d e s c r e v e m com p r e c isã o o ca so
um livro ( o r g a n i s m o ) p r o n t o p a r a s e r l i d o . 11
Já aprendem os que a segunda lei da term odinâm ica resulta n u m alto nível
geral de desordem no universo com o passar do tem po. N aturalm ente, a fun
ção inversa dessa lei (1 dividi
do p ela s e g u n d a lei o u 1/
entropia) p roduz altos níveis Um livro vivo
globais de ordem à m edida que
o tem po passa. Essa função re
O cÓ£ÍigO"genético (qií^tro nu cleotídeos) letras
c íp ro c a da s e g u n d a lei da a rran jad as em 64 trig ên taas ou cód o n s — p slavras
term odinâm ica é cham ada de O ígam zadas em se q ü ê n c ia p ara pro d u zir gene&—
A d e c a d ê n c ia d o u n iv e r so e a su a a sc e n d ê n c ia d e p e n d e m d a m esm a m a te
E d d in g to n q u e a S e g u n d a L e i d a T e r m o d i n â m i c a é u m a le i im p o r t a n t e d a
n a tu r e z a . M a s p e r c e b e m o s q u e e la é s o m e n t e m e t a d e d a p r o v á v e l v e r d a d e e
s e u a n v e r s o q u e u s a a m e s m a m a t e m á t i c a g e r a l . 12
Q uan d o estudam os biologia, não dem ora m uito encontrar a palavra espécie.
A escolha desse termo, em oposição a qualquer outro, se baseia na lei da especificidade.
Por sinal, é essa lei que dá aos biólogos a diferenciação clara entre a m atéria
não-viva e a viva. Essa distinção essencial foi resum ida pelo famoso biólogo
Leslie Orgel:
12P. 4 1 .
A origem da vida 129
lh e s fa lta especificidade, 13
r e s p o n d e r p l a u s i v e l m e n t e q u e e la f o i d e p o s i t a d a a li p e la á g u a e m cam adas,
q u e m a is ta rd e se so lid ific a r a m p o r a çã o q u ím ic a . U m d ia d e s p r e n d e u -s e d e
m a is e c h e g u e a o m o n t e R u s h m o r e , o n d e as fo r m a s d o s q u a tr o r o s to s a p a r e
cem e sc u lp id a s n u m r o c h e d o d e g r a n ito . M e s m o q u e e u n ã o s o u b e s s e n a d a
q u e se o b s e r v a m n o r e s u lta d o d a e r o sã o n a tu r a l. O s r o sto s, p o r s u a v e z , t ê m
ter h a v id o e m a lg u m m o m en to e em a lg u m lu g a r u m a in t e l ig ê n c i a q u e as
fo rm ou .
C r e io q u e n ã o e n fr a q u e c e r ia a c o n c lu s ã o se ja m a is tiv é ss e m o s v is to esses
r e sp e ito d e a lg u m a arte p e r d id a o u d e a lg u m a s d a s m a is c u r io sa s p r o d u ç õ e s
d a te c n o lo g ia m o d ern a .
N em , em s e g u n d o lu g a r, in v a lid a r ia n o s s a c o n c l u s ã o s e , n u m e x a m e m a is
N em , em t e r c e ir o lu g a r , tr a r ia in c e r t e z a a o a r g u m e n t o se n ã o fô ssem o s
rio in t e lig ê n c ia p a r a p r o d u z i- la s .
N em , em q u a r t o lu g a r , q u a lq u e r h o m e m em s e u ju íz o p e r fe ito p e n sa r ia
q u e a e x is t ê n c ia d o s r o s to s s o b r e a r o c h a se e x p lic a s s e i n f o r m a n d o - s e a eles
q u e sã o a lg u m a s d a s m u ita s c o m b in a ç õ e s p o ssív e is o u fo r m a s q u e as ro c h a s
tr u tu r a d ife r e n te .
N em , em q u in to lu g a r , tr a r ia m a is s a t is f a ç ã o a n o ss a p e s q u is a receber
c o m o essa s o b r e u m a m o n t a n h a n ã o é p r o v a d e u m a c r ia ç ã o in te lig e n te , m a s
s o m e n te u m a in d u ç ã o d a m e n t e a p e n sa r a ssim .
d o v en to e da água.
N em , em o it a v o lu g a r, n o s s a c o n c l u s ã o m u d a r ia se d e s c o b r ís s e m o s q u e
N em , em nono lu g a r , fa r ia a m e n o r d if e r e n ç a em n ossa c o n c lu sã o se
in t e lig e n t e . P o r q u e n a d a se a c r e s c e n ta a o p o d e r d a s le is n a tu r a is c o l o c a n d o
um P r o je tis ta o r ig in a l p a ra ela s. P r o je ta d o s o u n ã o , o s p o d e r e s n a tu r a is d o
g r a n ito .
N em , em d é c im o lu g a r , a q u e s t ã o m u d a r ia se d e s c o b r ís s e m o s q u e p o r
re p r o d u zir o u tr o s ro sto s e m o u tr o s r o c h e d o s ín g r e m e s v iz in h o s p o r m e io d e
c ia q u e p r o je to u esse c o m p u ta d o r .
E , a lé m do m a is, se d e s c o b r ís s e m o s q u e esse c o m p u t a d o r fo i p r o je ta d o
p o r o u tr o c o m p u t a d o r a in d a n ã o d e sistir ía m o s d e n o ss a c r e n ç a n u m a ca u sa
in te lig e n te . N a t u r a lm e n te , te r ía m o s a d m ir a ç ã o a in d a m a io r p e la in te lig ê n
c ia e x i g id a p a r a c r ia r c o m p u t a d o r e s t a m b é m c a p a z e s d e c r ia r .
F undamentos inabaláveis
n ita d e c o m p u ta d o r e s p r o je ta n d o c o m p u ta d o r e s ? S a b e m o s q u e au m en ta r o
n ú m e ro d e co m p u ta d o res e m série n ã o d im in u i a n e c e s s id a d e d e u m a in t e
e sse p r in c íp io s e a p lic a s o m e n t e a e v e n t o s d o p a s s a d o p r ó x im o , m a s n ã o d o
q u e são re m o to s d e nós.
u m a c a u s a n a tu r a l, c o m o a e r o sã o , p o r e x e m p lo , m a s n ã o se a p lic a se c o n
n ã o - in t e lig e n t e d o s o b je to s e d a c e r â m ic a a n tig o s?
P or ú ltim o , n e m n o s a fa s ta r ía m o s d e n o s s a c o n c lu s ã o o u n o s s a c o n f ia n ç a
n e la se n o s d is se r e m q u e n ã o s a b e m o s c o isa n e n h u m a a r e sp e ito d e c o m o o s
gerar d e s c o n fia n ç a d a q u ilo que sabem os. E, com e fe ito , sab em os que as
to s n a r o c h a m a n ife s ta m u m a fo r m a ta l q u e s ó p o d e m ter s id o p r o d u z id o s
cia u n if o r m e .”
g ê n c ia p ara p r o d u z ir u m o r g a n is m o v iv o ? E n ã o c h e g a r ía m o s a e ssa p o s iç ã o
A O RI GE M DA VIDA 133
tr a n sm itir in fo r m a ç ã o à r o c h a p a ra a d q u ir ir a f o r m a e s p e c ific a m e n te c o m
p le x a d a fa c e h u m a n a ?
Q u a l é a b a se d a c o n f ia n ç a d e q u e é n e c e s s á r io in te lig ê n c ia p a ra o r ig in a r
cita r D a v id H u m e , q u e “u m a e x p e r i ê n c i a u n i f o r m e e q ü i v a l e a u m a p r o v a ,
[ d e f o r m a q u e ] a q u i u m a p r o v a d i r e t a e p l e n a d a n a t u r e z a d o f a t o ” . 14
Em r e su m o , n o ss a c o n v ic ç ã o n a g r a n d e p r o b a b ilid a d e d e q u e a in te lig ê n
u n ifo r m id a d e (a n a lo g ia )? M as em v is ta d o fa to de que n o ss a e x p e r iê n c ia
i n d i c a u n i f o r m e m e n t e a n e c e s s id a d e d e i n t e l i g ê n c i a p a r a c r ia r ta l i n f o r m a
ç ã o , a h ip ó t e s e d a c a u s a n a tu r a l n ã o - in t e lig e n t e d a s c o isa s v iv a s n ã o é c o n
tr á r ia a o p r i n c í p i o d a u n i f o r m id a d e s o b r e o q u a l o c o n h e c i m e n t o c ie n tífic o
d o s e v e n t o s p a s s a d o s d e p e n d e ? 15
um m a ç o d e 5 2 cartas b e m em b a ra lh a d a s so b r e a m e sa , c o m as fa c e s v ir a d a s
p a ra b a ix o . Q u a is são as c h a n c e s de pegar to d a s as ca r ta s na s e q ü ê n c ia
c o r r e ta d e n a ip e s c o m e ç a n d o com (d ig a m o s) o ás d e e s p a d a s e d e s c e n d o , e
p au s? B e m , a p r o b a b ilid a d e d e p e g a r a p r im e ir a ca r ta c o r r e ta m e n te é d e 1
p o r d ia n te . D e s s e m o d o , a p r o b a b ilid a d e d e p e g a r to d o o m a ç o c o r r e ta m e n
1 0 68. E s t e n ú m e r o s e a v i z i n h a d o d e t o d o s o s á t o m o s d o u n i v e r s o [...]
O núm ero de segundos daqui para trás até a data estim ada do Big-bang é 4
x 1017 (digamos 1018).
O núm ero de átom os do universo: IO80.
O núm ero de fótons do universo: 1088.
O núm ero de estrelas do universo: 1022.
O núm ero de com prim entos de ondas de luz para atravessar o universo:
2 x 1033.16
Se alguém acreditasse que o universo tem aproxim adam ente a idade de 1018
segundos, qual a probabilidade de as forças naturais produzirem vida? U sando
a lei da especificidade, a probabilidade de surgir vida das forças naturais sozi
nhas foi considerada seriam ente tanto p o r m atem áticos com o p o r astrônom os.
a p o s s ib ilid a d e d e m u t a ç õ e s m ín im a s a le a tó r ia s p r o d u z ir e m c o m p le x id a d e e
S c h u tz e n b e r g e r , d e s c o b r iu q u e as p r o b a b ilid a d e s c o n tr á r ia s à m e lh o r a r ia d a
in f o r m a ç ã o s ig n if ic a t iv a p o r m u d a n ç a s a le a tó r ia s s ã o d e 1 0 1000. O s a s t r ô n o
m o s F r ed H o y l e e C h a n d r a W ic k r a m a s in g h e c a lc u la r a m a p r o b a b ilid a d e d e
a v id a se o r ig in a r d a n ã o -v id a e m 1 0 40000, e a p r o b a b i l i d a d e d e c o m p l e x i d a d e
a u m e n t a d a su r g ir p e la s m u t a ç õ e s e p e la se le ç ã o n a tu r a l a p r o x im a -s e d esse
n ú m e r o . 17
O s n ú m e r o s d a o r d e m d e 1 0 15 e s t ã o , n a t u r a l m e n t e , t o t a l m e n t e a l é m d a c o m
m il á rv o r es p o r m ilh a q u a d r a d a . S e c a d a á rv o r e c o n tiv e s s e d e z m il fo lh a s , o
n ú m e r o t o t a l d e f o l h a s d e s s a f l o r e s t a s e r i a d e 1 0 15, e q u i v a l e n t e a o n ú m e r o d e
conexões no c é r e b r o h u m a n o ! 18
Para crermos que forças puram ente naturais podem ter produzido o tipo de
ordem altam ente especializada e complexa, m encionada anteriorm ente, tería
m os de ter um a fé totalm ente cega! Além disso, à luz da ciência da teoria da
inform ação, seriamos forçados a rejeitar as conclusões descobertas nesse cam
c o m p le x id a d e e s p e c ific a d a . P r im e ir o , n u m s is te m a d e c o m u n ic a ç ã o com o
um liv r o , a c o n d iç ã o d e l i m it e e m si é o q u e in te r e s s a . E m o u tr a s p a la v r a s,
a c o m u n ic a ç ã o é a c o n d iç ã o de lim ite , e a c o m u n ic a ç ã o d ep en d en te do
n ic a ç ã o , q u e se sa b e e m p ir ic a m e n te s u r g e m p e la c o n fig u r a ç ã o in te lig e n te d a
m a téria , isto é , p e l a c a u s a p r i m á r i a e f i c i e n t e . 19
u m a te n ta tiv a d e e x p lic a r a fo r m a ç ã o d o c ó d ig o g e n é t ic o c o m os co m p o n en
tem o r ig e m fo ra d as m o lé c u la s d o s c r o m o s s o m o s . Isso é c o m p a r á v e l a s u p o r
s e n te n ç a s a p a rec em , n ã o d e a lg u m a fo n te e x te rn a d e in fo r m a ç ã o (extern a, a
g e n é t i c o , a i n f o r m a ç ã o g e n é t i c a , o r i g i n a - s e s u p o s t a m e n t e d o “p a p e l ” s o b r e o
Q U Í TI PO DE C A U SA I NT E L I G E N T E P R 0 3 E T 0 U 0 CÓ D I G O G E N É T I C O ?
m itiu s o b r e v iv e u . U m c o n h e c im e n to a s s i m , a c r e d i t o , d e v e v a l e r m u i t o . 21
existente n u m a simples célula, o tipo de célula prim itiva que estamos investi
gando? O ateu Richard Dawkins, professor de zoologia da Universidade de
Oxford, reconheceu que
e n c h e r v in te m ilh õ e s d e v o lu m e s , ta n to s q u a n to s c a b e m n as m a io r e s b ib lio
m u ito p e q u e n o . 23
22Tbe blind watchmaker, p. 17-8, 116. Publicado em português com o título [O relojoeiro cego],
p. 17-8, 116.
23Cosmos, p. 230.
A O R I G E M DA VIDA 141
Q U E « A I S SE P O D E SAB ER A R E S P E I T O DESS E S E R S U P E R I N T E L I G E N T E ?
Pense novam ente na analogia do com putador. O s com putadores são com pos
tos de dois elementos im portantes: hardware e software. O hardware é a parte
material de u m com putador, enquanto o software corresponde à inteligência, o
que dá ao com p utado r inform ação ou instruções. E m relação a nossa pergunta
sobre esse Ser superinteligente que projetou e criou o sistema lógico de genéti
ca, D avid Foster observa:
d e h a r d w a r e q u e seja c o n tr a a c o r r e n te , e u m a v e z q u e se sa b e q u e o dna é
142 f U N D A M N T O S I N ABALÁVEI S
c o d ific a d o , não estamos buscando mais fatos físicos, mas funções mentais. A té a
in v e n ç ã o d o s c o m p u ta d o r e s e le tr ô n ic o s essa a b o r d a g e m te r ia s id o c o n sid e
ra d a p u r a m e ta físic a , m a s a in a u g u r a ç ã o d a arte e m c o m p u ta ç ã o n o s d iz q u e
o s o f t w a r e é “r e a l ” e t ã o i m p o r t a n t e q u a n t o o h a r d w a r e [ . . . ] S e a gora tran s
fe r ir m o s o s n o s s o s p e n s a m e n t o s d o s c o m p u ta d o r e s feito s p e lo ser h u m a n o
q u e h á u m a c o r r e s p o n d ê n c i a . O r a , “o q u e e s t á p o r d e t r á s d o s c o m p u t a d o r e s
f e i t o s p e l o s e r h u m a n o ” n ã o é u m a “c o i s a ” , é l ó g i c a p u r a . N o DNA v im o s a
“c o i s a ” o u o h a r d w a r e d a c o m p u t a ç ã o n a tu r a l, m a s p r e c is a m o s in v e n ta r u m
t e r m o p a ra a ló g ic a d o s is t e m a , e p a r e c e n ã o h a v e r p a la v r a m a is a p r o p r ia d a
do que LOGOS. E s t a p a l a v r a g r e g a s i g n i f i c a “p a l a v r a ” o u “ r a z ã o ” , a s u b s t â n c i a
d a m en te e m s i m e s m a . 24
O “quê” por detrás do DNA está ancorado na m ente do “quem”, o Logos, por
detrás do projeto do sistema de informação do dna. Essa Superm ente progra
m ou o sistema lógico genético e toda a realidade física. Entretanto, a ciência está
limitada ao que pode descobrir a respeito desse Logos. A ciência não pode chegar
por detrás do hardware para detectar alguma coisa a mais acerca de com o é o
software ou seu programador. É da alçada de outras disciplinas fornecer a corres
pondência com o program ador — o Logos. A ciência foi usada para descobrir os
três maiores atributos que correspondem a esse Logos — ele é infinitam ente po
deroso, eterno (fora do tempo) e superinteligente. U m a vez que esse Logos está
fora do tem po, podem os tam bém concluir logicamente que ele não está sujeito à
m udança temporal porque m udança requer tem po. Portanto, esse Logos deve ser
um Ser infinitam ente poderoso, inteligente e imutável.
É u m a boa idéia rever as conclusões cum ulativas tiradas até aqui. O teste
m etodológico25 usado para descobrir a verdade acerca da realidade se vale do
princípio da unidade da verdade (princípio da coerência) e identifica e prioriza
os prim eiros princípios das disciplinas acadêmicas que com põem as várias par
tes da lente intelectual. C om o as primeiras três partes (primeiros princípios)
dessa lente intelectual26 foram m ontadas correta e coerentem ente, observamos
A MACROEVOLUÇAO
— C harles D arw in
Q ue é macroevoluçao?
A macroevolução é um a teoria ou modelo das origens que sustenta a idéia de que todas
as variedades deform as de vida provêm de um a simples célula ou “ancestral com um '.
Os macroevolucionistas crêem que, um a vez que as primeiras células vivas passa
ram a existir, foi apenas um a questão de tem po, seleção natural,1 e alterações
biológicas moleculares aleatórias em seus sistemas de informação genética (m u
tações) para o aparecimento de novas características (mudanças microevolutivas).
De acordo com o darwinismo, essas pequenas mudanças microevolutivas sucessi
vas vieram a acontecer por meio de variações genéticas casuais iniciadas por um a
m udança de ambiente, que exerceu várias pressões sobre os organismos. Isso os
induziu a mutações a fim de sobreviverem, e por fim os organismos mais adap
táveis sobreviveram (sobrevivência do mais adaptado). A sobrevivência se deu em
certos organismos pela superação de limites biológicos naturais relativos a sua
espécie e deu origem a novas espécies.2 (macroevolução).
‘Seleção natural, segundo o darwinismo, é o processo pelo qual plantas e animais se adaptam a
u m am biente em transformação durante um longo período de tem po. Supõe-se que esse processo
finalm ente dê origem a organismos tão diferentes da população original que novas espécies se
formam. V. O xfordD ictionary ofBiologf, p. 338.
2Estamos em pregando o term o espécie com o entende a biologia, “um a categoria usada na classi
ficação dos organismos que consistem de um grupo de indivíduos semelhantes que podem cruzar-
se entre si e produzir descendência fértil”. V. Oxford Dictionary ofBiology, p. 477.
146 F undamentos inabaláveis
H Á VAR I A ÇÕ ES DE M A C R O E V O L U C Ã O
Invertebrados
A concepção macroevolucionista mais
com um ente sustentada é conhecida com o gradualismo. Seguindo D arw in, dois
famosos cientistas que sustentam essa posição, que é o entendim ento clássico
do darw inism o, são Stephen H aw king e Richard Dawkins. O gradualismo
afirm a que são necessários períodos m uito longos de tem po para se com pletar
o que é conhecido por formas de vida transicionais ou intermediárias. U m a
form a de vida interm ediária é a macroevoluçao “em processo”. E m outras pala
vras, é um a form a de vida em transição, que possui algumas características da
espécie a que um a vez pertenceu e alguns atributos que no final a transform a
rão n u m a nova espécie. C onseqüentem ente, esse m odelo das origens afirm a
que novas formas de vida apareceram gradualm ente com o prod uto de seleção
natural e de mutações genéticas através de períodos m uito longos de tem po
(norm alm ente m ilhões de anos).
A mais recente variação do m odelo macroevolutivo se cham a equilíbriospon
tuados. U m nom e preem inente associado a essa teoria é um de seus formuladores,
Stephen Jay G ould (paleontólogo e professor de biologia na Universidade de
H arvard). O colega de G ould, Niles Eldredge (paleontólogo do M useu A m eri
cano de H istória N atural, em Nova York), assistiu-o na conceituação dessa
variação. Am bos haviam reconhecido que as evidências observáveis (restos de
fóssil de um a form a de vida em transição) previstas pela teoria da macroevolução
e necessária para dar suporte ao gradualismo eram seriam ente escassas. Dessa
forma, propuseram u m a explicação diferente da m acroevolução, que afirma
que novas formas de vida se criaram pela “eclosão rápida da especiação” (esta
A MACROEVOLUÇÃO 14/
Q U Í É 0 MODELO D£ P R 0 1 E T 0 ?
Modelo de projeto é a teoria das origens que afirm a que todas as form as de vida
foram pivjetadaspara sofrer somente variações genéticas lim itadas (microevolução)
a fim de se adaptar e sobreviver aos estresses causados pelas mudanças ambientais.
Algumas formas de vida não foram capazes de se adaptar a suas circunstâncias
porque haviam alcançado as limitações de seu projeto e, conseqüentem ente, se
extinguiram . O s teístas que sustentam esta form a de m odelo das origens de
projeto crêem que a observação confirm a variações microevolutivas em certo
grau dentro de um a determ inada espécie.A Este m odelo prevê que o registro
fóssil não dá testem unho das formas de transição, mas, sim, manifesta a evi
dência das formas de vida surgindo sobre a terra abruptam ente e plenam ente
formadas, confirm ando sua causa: o irrom per repentino da criação. Além dis
so, este m odelo prevê que as formas básicas de vida experim entaram m udanças
limitadas e não exibiram nenh um a modificação direcional durante sua existên
cia sobre a terra.
O m odelo de projeto das origens sustenta que as formas de vida experimen
tam apenas mudanças microevolutivas limitadas durante longos períodos de tem
po. Tam bém assevera que as semelhanças entre as formas de vida são resultado
das especificações de projetos com uns — não de um ancestral com um . D e acor
do com o m odelo de projeto, esse critério de projeto interdependente se prende
ao fato de que todas as formas de vida com partilham um am biente com um e
devem ser capazes de funcionar adequadam ente dentro de seu ecossistema. Por
tanto, baseado nesse projeto, este modelo prevê que algumas mudanças ambientais
podem causar um a extinção em massa de certas formas de vida.
Há v a r i a ç õ e s do m o d e lo de p r o j e t o ?
rodeios, G ould deveria ter dito: “E u sei que a macroevolução é verdadeira por
que ela aconteceu, e eu sei que ela aconteceu porque ela é verdadeira”.
Tom ar com o certo que de algum a form a a macroevolução aconteceu e que
não há n enh um a limitação natural para alteração biológica é um pressuposto
extrem am ente substancial e altam ente questionável que precisa ser justificado.
C om referência à “docum entação” da macroevolução, vamos tentar dem onstrar
que o registro fóssil não revela essa evidência. Vamos im pedir que todas as
suposições, escondidas ou reveladas, influenciem modelos de origens antes que
provem ser filosófica e cientificam ente justificadas.
Propom os que, para determ inar se qualquer m odelo de origens é aceitável, ele
deve seguir os prim eiros princípios filosóficos e não pode violar as leis da ciên
cia. N ossa m eta é averiguar que m odelo, o de projeto (adaptação biológica
lim itada — microevolução) ou a macroevolução (adaptação biológica ilim ita
da) mais se conform a a esses critérios. Stephen H aw king tam bém acrescenta
mais dois elementos de teste:
U m a te o r ia é b o a se sa tisfa z a d u a s e x ig ê n c ia s : d e s c r e v e r c o m p r e c is ã o um a
a lg u n s e le m e n to s a r b itr á r io s; e fa z e r p r e d iç õ e s cla ra s a c e r c a d o s r e s u lt a d o s
d e ob servações fu tu r a s.6
6A briefhistory oftim e, p. 9. Publicado em português com o título [Uma breve história do tempo].
A MCROEVOLUCÀO 151
devemos ser capazes de julgar por nós mesmos qual modelo de origens se confor
m a mais aproxim adam ente com os critérios estabelecidos.
Pretendem os argum entar que a teoria da m acroevolução é insustentável,
m ostrando que ela não é substanciada pela ciência operacional. Em prim eiro
lugar, vamos analisar o suposto m ecanism o pelo qual se supõe que o processo
da macroevolução ocorreu (seleção natural e mutações genéticas). Em seguida,
examinaremos o registro fóssil para verificar se há evidências observáveis sufici
entes para satisfazer as previsões feitas pela concepção gradualista do m odelo
macroevolutivo.
Depois de m ostrar as deficiências associadas à concepção gradualista, nos
voltaremos para a variante relativam ente nova da macroevolução, a hipótese
cham ada equilíbriospontuados. Pretendem os dem onstrar sua im probabilidade.
Além do mais, dem onstrar-se-á que a única alternativa lógica é o m odelo de
projeto de origens. E m seguida, testaremos esse m odelo a fim de determ inar se
é um a opção científica viável, isto é, se satisfaz os critérios de um a boa teoria. Se
isso acontecer, precisamos apenas apresentar todos os dados concernentes às
origens de m odo sistemático para verificar que variação do m odelo de projeto
das origens — o da terra jovem ou o da criação progressiva — corresponde
mais precisam ente a todas as evidências.
A S í L E Ç Ã O NATURAL DA A P O I O A M A C R O E V O L U C Ã O ?
Todo m odelo de origem deve responder a esta pergunta: “O que produziu esse
efeito?”. U m m odelo das origens precisa de um a causa que realize o trabalho
em questão. N o caso das causas naturais, deve haver um processo ou m ecanis
m o natural que possa produzir o efeito. A m icroevolução explica a variação
dentro de u m a determ inada espécie, mas a macroevolução deve fornecer um
m ecanismo que explique com o um a form a de vida finalm ente se transform a
em um a outra. Por essa razão, u m a das prim eiras questões que precisa ser res
po nd ida é: “H á algum lim ite genético ou biológico (limitações de projeto)
dentro da estrutura de tipos genéticos?”.
Se, com o a teoria evolucionista afirma, não há limites para alterações bioló
gicas, tam bém é preciso perguntar: “C om o o organism o sabe que tipo de m u
tação genético é necessário para se transform ar no tipo de ser que será capaz de
sobreviver no novo am biente?”. N ão nos esqueçamos de que seleção im plica a
idéia de escolher entre alternativas, e para isso é necessário inteligência. O dna,
em si, não tem mente para escolher coisa alguma, para selecionar sozinho um novo
código de sobrevivência. C om o pode haver algum a m eta ou seleção sem n en h u
152 f U N D A M N T O S IN AB A LÁ VE I S
D ifre n ç a s c ru c ia is
S e le ç ã o a rtific ia l S e le ç ã o n a tu ra l
Q U E D I Z E R DOS E X P E R I M E N T O S C O M A D R O S Ó F I L A ( m O S C A - D A S - E R U T A S ) ?
€
pesquisa deles serve com o evi J à ' \m aielo
Jè' ’ Asas o n d u lad a s
dência observável forte para au
torizar a afirmação do modelo de
~ ' - ' Asas curtas
projeto de que a variação ma- • O lh o s laranja
cvgjjw. Pernas na cabeça
croevolutiva ocorre dentro dos ' • Sem olhos
Durante 75 a nos d e m an ip u laç ã o genética
limites genéticos. N o rm a l
7Lane P. L ester & R aym ond G. B o h l in , The natural limits to biologicalchange, p. 88-9.
A MA C R O E V O L U C À O 155
Alguns cientistas convocam m odelos m atem áticos e outras analogias para de
m onstrar que m utações genéticas aleatórias, durante longos períodos de tem
po, podem produzir a com plexidade especificada requerida para a vida e para
surgir novas formas de vida. Por exemplo, Stephen H aw king refere-se a “um
conhecido bando de macacos batendo nas teclas de um a m áquina de escrever
— a m aior parte do que escrevem é lixo, mas m uito eventualm ente, por pura
sorte, eles datilografariam um soneto de Shakespeare”. D e m odo semelhante,
as m utações casuais não poderiam produzir esse tipo de ordem que finalm ente
daria origem à prim eira form a de vida (um a simples célula) e novas formas de
vida?
O texto que usamos para determ inar a credibilidade da analogia entre a
seleção artificial e a seleção natural tam bém pode ser usado para testar a analo
gia do macaco. Antes disso, é im portante observar que os macroevolucionistas
usam m uitas outras analogias baseadas em evidências circunstanciais, entre
elas anatom ia com parativa, embriologia, bioquím ica com parativa e estrutura
com parativa de cromossomos. Todavia, tudo isso não prova nada em relação às
evidências observáveis e à ciência operacional. Por causa disso, esta será a últim a
analogia que analisaremos, pois nosso propósito é testar a validade dos aspectos
fundam entais dos modelos de origens, não dar um panoram a de evidências
circunstanciais.
Precisamos apenas voltar à ciência operacional e ao prim eiro princípio da
biologia m olecular com respeito à teoria da informação: a lei de complexidade
especificada. Esta lei confirm a que o conteúdo de inform ação do texto genético
não pode surgir sem causa inteligente. A inteligência é precondiçao necessária
para a origem de qualquer código de inform ação, inclusive o código genético,
não im porta quanto tem po leve. Portanto, qualquer analogia que tente explicar
o código genético sem intervenção inteligente desqualifica-se autom aticam en
te com o explicação científica.
Além do mais, propor que macacos sentados em frente a um a m áquina de
escrever depois de algu m tem p o acabem d atilo g rafan d o u m son eto de
Shakespeare vai m uito além do escopo da ciência no que se refere à estatística.
U m especialista em estatística decidiu tentar resolver a probabilidade de tal
esforço:
m á q u in a s d e escrever, d ig ita n d o d e z te c la s p o r s e g u n d o a o a ca so . T e r ía m o s
156 f U N D A M E N I O S I N ABALÁVEI S
Eu não sei quem primeiro assinalou que, dado tempo suficiente, um maca
co esmurrando aleatoriamente uma máquina de escrever poderia produzir
todas as obras de Shakespeare. A frase operativa é, naturalmente, dado tem
po suficiente. Limitemos a tarefa defrontando-nos um pouco com o nosso
macaco. Suponha que ele tenha de produzir, não as obras completas de
Shakespeare, mas apenas a curta sentença: “Methinks it is like a weasel”
[Acho que ela parece uma fuinha], e tornaremos a tarefa relativamente fácil
dando-lhe uma máquina de escrever com um teclado restrito, com apenas
26 letras (maiúsculas) e uma barra de espaço. Quanto tempo ele levará para
escrever essa frase curta? [...] A probabilidade de ele conseguir formular a
frase toda corretamente é [...] de cerca de 1 em 10 000 milhões, milhões,
milhões, milhões, milhões. Falando de maneira mais simples, a frase que
procuramos demoraria muito tempo a chegar, sem falar nas obras completas
de Shakespeare. Até aqui falamos de um único estágio de variação aleatória.
Que dizer a respeito da seleção cumulativa: quanto ela seria mais eficaz?
Muito, muito mais eficaz [...] Usamos novamente nosso macaco de compu
tador, mas com uma diferença crucial em seu programa. Ele começa nova
mente escolhendo ao acaso a seqüência de 28 letras [caracteres], exatamente
como antes:
W D L M N L T D T J B K W IR Z R E Z L M Q C O P
8Scientific a n d engineeringproblem solving w ith the Computer, referido no livro de Lane P. Lester e
R aym ond G. Bohlin, The natural lim its to biologicalchanges, p. 157-8.
A MACROEVOLUÇÃO 15/
Ele agora “gera” desta frase aleatória. D uplica-a repetidas vezes, mas com
um a certa probabilidade de erro casual — “m utação” — no copiar. O com pu
tador examina as frases m utantes sem sentido, a “progênie” da frase original, e
escolhe aquela que, embora ligeiramente, mais se parece com a frase alvo,
“m e t h i n k s i t is l i k e a w e a s e l ”.9
se le ç ã o d e “ú n ic o p a ss o ” (e m q u e c a d a te n ta tiv a é u m a n o v a te n ta tiv a ). S e a
ev o lu ç ã o tiv e ss e q u e d e p e n d e r d a s e le ç ã o d e “ú n i c o p a s s o ” , j a m a is ter ia id o
a lu g a r a lg u m . S e , n o e n ta n t o , tiv e ss e h a v id o a lg u m m e i o p e lo q u a l as c o n d i
m a r a v ilh o sa s. D e fa to , f o i e x a t a m e n t e is s o q u e a c o n t e c e u n e s t e p l a n e t a . 10
Precisamos parar aqui e analisar as duas últim as frases. “Se [...] as condições
necessárias [...] pudessem ter sido estabelecidas pelas forças cegas [...] D e fato,
foi exatam ente isso que aconteceu”. Espere um pouco — o que aconteceu e
com o aconteceu? Devemos aceitar a suposição cientificam ente injustificada:
“Se as condições necessárias pudessem ter sido estabelecidas pelas forças cegas”
com o u m a premissa m aior verdadeira por puro salto de fé “cega”? Temos de
acreditar que é “de fato”, e não apenas algum esforço desesperado de ajudar
''The blincl watchwaker, p. 46-8. Publicado em poortuguês com o título O relojoeiro cego.
10Ibid., p. 49 (grifo do autor).
158 F undamentos inabaláveis
q u ite tu r a q u ím ic a , que
f o r m a e sc r ita d e li n g u a g e m s e b a se ia n a a r q u ite tu r a d a t in t a d a im p r e s s o r a ,
s e m s e o r ig in a r d e la . N e m t a m p o u c o a in fo r m a ç ã o c o n tid a n a s m o lé c u la s d a
t in t a d a im p r e s s o r a d á b a s e p a r a o c o n t e ú d o , o c o n t e ú d o c o d i f i c a d o d o liv r o
d a e s c r ita s e ja m c e r ta m e n te in te r d e p e n d e n te s . T o d a v ia , a c o n s t it u iç ã o q u í-
& iM CROtVOLUCÀO 159
cado ou p a r c ia lm e n te m a n c h a d o , m a s ja m a is u m a n o v a in fo r m a ç ã o seria
m a ç ã o se c r ia p e la s m u t a ç õ e s [...]
A s p r o p r ie d a d e s q u ím ic a s d o s á to m o s d o c a r b o n o q u e a fe ta m a n a tu reza
ro c o m o o s e g u n d o tip o d e o r d e m . N o s e g u n d o tip o , a in fo r m a ç ã o a d ic io n a l
q u e e x c e d e e tr a n sc e n d e a d a q u ím ic a p u r a está in clu íd a .
in e r e n te a o ferro. C o n tu d o , um a in fo r m a ç ã o “e s t r a n h a ” a d i c i o n a l a o eix o
D e s ta r te , o e ix o d o carro p o s s u i a o m e s m o t e m p o as p r o p r ie d a d e s d a p la n ta
D a m e s m a fo rm a , o s c o m p o n e n te s q u ím ic o s d o s á c id o s n u c lé ic o s e das
p ro teín a s d a v id a n ã o têm i n f o r m a ç ã o s u f i c i e n t e p a r a c r ia r u m a a m e b a o u
b in a n d o essa in fo r m a ç ã o c o d ific a d a c o m as p r o p r ie d a d e s d o s c o m p o n e n t e s
á cid o s n u c lé ic o s o u as p r o te ín a s sã o fo r m a d o s — n ã o p o ss u i a in fo r m a ç ã o
v iv o é u m híbrido e n t r e o s d o i s t i p o s d e o r d e m . 12
12A. E. W ilder-Sm ith, The naturalsciences know nothing of evolution, p. 46-8 (grifo do autor).
A MACROEVOLUCÃO 161
trado para que a macroevolução possa ter bases em leis científicas e em evidên
cias observáveis. E ntretanto, a ciência operacional não conhece nenhum mecanis
mo que dê apoio à novidade biológica po r meio de mutações cum ulativas. O
registro fóssil é a única evidência observável para ajudar no apoio à reivindica
ção de que o acúm ulo de pequenas m utações durante longos períodos de tem
po foi responsável por novas formas de vida. E assim nos voltam os para a
disciplina da paleontologia a fim de exam inar essas evidências.
Q U E SE P O D E A F I R M A R S OB RE O RE G I S T R O F Ó S S I L ( E V I D Ê N C I A P A L E O N í O L Ó G I C A ) ?
cujo registro geológico estava perdido. Mas esta explicação, embora remenda
da numa teoria magistralmente contrária, agora parece progressivamente
insatisfatória. Desde 1987, descobertas de im portantes sítios fósseis na
Groelândia, China, Sibéria, e agora na Namíbia, mostraram que o período
da inovação biológica ocorreu praticamente no mesmo instante do tempo geo
lógico em todo o mundo [...]
Foi durante o Cambriano (e talvez somente durante o Cambriano) que a
natureza inventou os projetos de corpo animal que definem os amplos gru
pos biológicos conhecidos como filos, que abrange tudo de classes e ordens
a famílias, gêneros e espécies. Por exemplo, o filo dos cordados inclui ma
míferos, aves e peixes. A classe dos mamíferos, por sua vez, abrange a or
dem dos primatas, a família dos hominídeos, o gênero Homo e a nossa
própria espécie, Homo sapiens.
Os cientistas pensavam que a evolução dos filos havia ocorrido durante
um período de 75 milhões de anos, e mesmo assim parecia impossivelmente
curto. Então, dois anos atrás, um grupo de pesquisadores liderados por John
Grotzinger, Samuel Bowring do m it e Andrew Knoll [paleontologista na Uni
versidade de Harvard] tomou este problema que já se estendia e intensificou
sua crise. Em primeiro lugar, esse grupo acertou o relógio geológico, redu
zindo o período Cambriano a cerca de metade de sua extensão anterior. Em
seguida, os cientistas anunciaram que o intervalo da principal inovação
evolutiva não abarcava o total de 30 milhões de anos, mas concentrava-se no
primeiro terço. “Rápido”, [Stephen Jay] Gould da Universidade de Harvard
observa, “agora é muito mais rápido do que pensávamos”. [...] Naturalmen
te, entender o que tornou possível a explosão Cambriana não trata da ques
tão maior do que a fez acontecer tão rapidamente. Aqui os cientistas sutilmente
escorregam no que se refere aos dados, sugerindo possibilidades de acontecimen
tos com base na intuição em vez de evidências sólidas [...]
A explosão Cambriana fez que os especialistas questionassem se os dois
imperativos darwinianos da variação genética e da seleção natural fornecem
uma estrutura adequada para entender a evolução. “O que Darwin descreveu
em A origem das espécies”, observa o paleontólogo N arbonne, da
Queens'University, “foi o tipo de evolução de pano de fundo fixo. Mas parece
haver também uma espécie de evolução não-darwiniana que funciona em pe
ríodos de tempo extremamente curtos — e que está onde toda a ação está”.13
I3J. Madeleine Nash, When Life Exploded, Time, 4/12/1995, p. 49-56 (grifo do autor).
164 F u n d a m e n to s inabaláveis
E X C Í T O A L G U N S ELOS P E R D I D O S , 0 REGI ST RO f Ó S S I L N ÃO É C O M P L E T O ?
Mais um a vez, Charles D arw in adm ite que “se se pudesse dem onstrar que
existiu algum organism o complexo que possivelmente não tenha sido form ado
por inúm eras modificações leves e sucessivas, m inha teoria entraria em absolu
to colapso”.15 Já m ostram os que a teoria de D arw in entrou em colapso no nível
da biologia molecular. N a verdade, M ichael Behe dedicou todo o seu livro,
D arw in 's black box [A caixa-preta de Darwirí\ , a esse fim. Sua tese central se
concentra no fato de haver m uitos órgãos que não foram e não podem ser
“form ados p o r inúm eras modificações leves e sucessivas”.
Behe explica que alguns sistemas biológicos são irredutivelmente complexos.
Isto é, eles não podem ter evoluído com o partes independentes para form ar
um todo integrado — vieram n u m pacote com pleto. U m a ratoeira, p o r exem
plo, é irredutivelm ente complexa, se qualquer um a de suas partes for removi
da, ela não pode funcionar. Behe cita elementos do corpo h u m ano que não
poderiam ter evoluído p orque são igualm ente irredutivelm ente complexos: a
m olécula do dna, a visão, a coagulação do sangue, o transporte celular e m u i
tos outros.
N a replicação do DNA, por exemplo, as proteínas são necessárias para pro
cessar a inform ação na estrutura de dupla hélice. Todavia, a inform ação para
form ar essas proteínas já está ar
mazenada como dados codificados Fragmento de crânio
na hélice dupla!16 E isso que que fossilizado.
Dois modelos conflitantes
remos dizer quando dizemos que
no nível molecular, de acordo com
seu próprio critério de falseamen-
to, a teoria de D arw in entrou em
“absoluto” colapso. A seguir, va
mos aplicar o teste de D arw in para
o registro fóssil e as form as de
transição. A rte d o m odelo Arte do m odelo
A concepção m acroevolutiva m a croe volu tivo p la nejado
17V. E volution: the challenge o f the fossil record, de D a u n e G ish [p. 149]. Exem plo de
reconstituições artísticas macroevolucionistas m ostra dois desenhos contrastantes dos mesmos res
tos fossilizados do Zinjanthropus bosei, ou “hom em da África oriental”. U m desenho descreve o fóssil
com aparência hum ana, enquanto o outro mostra-o com aspectos semelhantes ao do macaco.
18As ilustrações que aqui representam a árvore filogenética são apenas ajuda visual. N ão são
representações tecnicam ente exatas da árvore filogenética nem de um projeto formal das supostas
relações macroevolutivas entre as espécies.
*“Processo que se com põe de m uitas fases, e decorre ao longo de enorm e lapso de tem po,
segundo o qual as espécies vivas se diferenciam umas a partir de outras” (segundo Novo dicionário
Aurélio da língua portuguesa). (N. da E.)
A MACROEVOLUCÃO 16/
N ão é verdade que o registro fóssil é com pleto exceto por alguns elos perdi
dos. A árvore filogenética não é nada mais que galhos filhos (microevolução) e
folhas. A verdade é que não há n en h u m elo perdido, mas, sim, um a corrente
perdida, representativa de lacunas enormes no registro. Por exemplo, se tivésse
m os um elo na cidade de Nova York, um em Londres e outro em Berlim, seria
correto dizer que se tem elos perdidos de um a corrente? N ão. Seria mais corre
to dizer que tem os apenas alguns elos e estamos im aginando que há um a cor
rente. C onseqüentem ente, concluím os que o gradualismo não é apoiado por
nenhum mecanismo conhecido na ciência operacional, nem há nenhum a evidência
de observação aceitável disponívelpara apoiá-lo com base na paleontologia.
Essa notável ausência de formas interm ediárias exigidas para verificação do
m odelo macroevolutivo é u m a responsabilidade séria que não pode ser ignora
da. O próprio Charles D arw in escreveu: “Por que, então, toda formação geoló
gica e toda cam ada não é cheia de elos intermediários? A geologia seguram ente
não revela n en h u m a corrente orgânica tão finam ente graduada. Essa talvez seja
a objeção mais óbvia e mais grave que se pode fa zer contra m inha teoria”,26 C o n
cordamos.
Q ual a situação dos m acroevolucionistas diante disso? A dm item que sua
teoria foi falsificada e vão desistir dela? N ão. E m vez disso, continuam a fazer o
que sempre fizeram: “escorregam sutilm ente, prop on do situações imaginárias
baseadas na intuição em vez de evidências sólidas”.27 U m a dessas situações
imaginárias chama-se equilíbriospontuados. Vamos analisar em seguida sua va
lidade.
N o que certam ente parece ser u m esforço desesperado para salvar u m a teoria
m oribunda, os macroevolucionistas recorreram a inventar um a visão notável de
“dados-escassos” do seu modelo. O s principais advogados dessa nova hipótese
são Stephen Jay G ould, Niles Eldredge e Steven Stanley (paleontólogo da Jo h n
H opkins University). Esses hom ens se referiram a sua nova hipótese com o equi-
líbrios pontuados. O s equilíbrios pontuados não são um m ecanism o científico
recentem ente descoberto, são m eram ente um a tentativa de m anter vivo o m o
delo m acroevolutivo reafirm ando os fatos. D e acordo com Stephen Jay Gould:
brio po ntuado com o explicação válida do aparecim ento da vida e das novas
formas de vida. A rejeição de ambas as variantes do m acroevolucionism o —
gradualismo e equilíbrio po ntuad o — com o m odelos válidos para explicar a
origem de novas form as de vida auto m aticam ente desqualifica tam bém a
macroevolução teísta. C om o acontece com a visão pontualista, a macroevolução
teísta convence som ente quem já está predisposto a crer nela. E ntretanto, nos
ateremos aos problem as associados com a evolução teísta no próxim o capítulo,
quando exam inarm os o m odelo de projeto das origens.
C oncluím os esta análise com com entários do dr. C olin Patterson, autor do
livro Evolution, m acroevolucionista toda a vida. E m 1981 ele fez um a série de
palestras para alguns dos m acroevolucionistas mais im portantes dos Estados
Unidos. N aquele tem po o dr. Patterson era o paleontólogo titular do M useu
Britânico de H istória N atural, em Londres, e editor do periódico científico
daquela instituição. As citações seguintes são extraídas de um a transcrição de
sua palestra proferida no M useu Am ericano de H istória N atural, na cidade de
Nova York, em 5 de novem bro de 1981.
Uma das razões pela qual comecei a assumir uma posição antievolucionismo,
ou chamemo-la posição não-evolucionista, foi que no ano passado tive uma
percepção repentina de que por mais de vinte anos eu pensara que de algum
modo estava trabalhando com a evolução. Certa manhã levantei-me e algo
havia acontecido durante a noite que me deixou perplexo: eu havia trabalha
do nesse assunto por vinte anos e não havia nada que soubesse dele. E um
choque perceber que alguém possa estar tão enganado por tanto tempo [...]
Nestas últimas semanas tenho tentado colocar uma simples questão para
várias pessoas e grupos.
A pergunta é: Você pode me dizer alguma coisa que saiba sobre a evolu
ção, qualquer coisa, qualquer coisa que seja verdadeira? Testei a pergunta no
pessoal de geologia do Field Museum de História Natural e a única resposta
que obtive foi o silêncio. Testei com os membros do Seminário de Morfologia
Evolutiva da Universidade de Chicago, uma organização muito prestigiosa
dos evolucionistas, e tudo o que obtive foi um longo tempo de silêncio e,
finalmente, alguém disse: “Eu só sêi de uma coisa: ela não deveria ser ensi
nada nas escolas” [...] O nível de conhecimento a respeito da evolução é
notavelmente raso. Sabemos que não deve ser ensinada na escola e isso é
tudo que sabemos dela [...] Por isso acho que muitas pessoas nesta sala
reconhecem que durante os últimos anos se tivéssemos pensado a respeito
A MACROEVOLUCÃO 1/5
P r o j e t o in t e l ig e n t e
— G ê n e s is 1.1
Q ue SE P O D E A F I R M A R DO M O D E L O M A C R O E V O L U C I O N I S T A
DAS O R Í G E N S S US T E N T A D O P E L O S T E Í S T A S ?
1Themismeasure o fm a n , p. 324.
1 8 0 f U N D A M E N I O S IN AB A LÁ VE I S
a m acroevolução, tam bém devem tratar sinceram ente das questões bíblicas
que essa opção exige. U m au to r captou sucintam ente essas dificuldades em
seus escritos. Escreveu:
H á cristãos devotos que sustentam que o processo pelo qual o homem foi
é biológico e genético. Em outras palavras, o ser físico do hom em foi
produzido pela evolução. Uma forma dessa teoria, lembro-me bem, me
atraía no curso de graduação na universidade. E eu cria com devoção na
inerrância da Bíblia, mas pensava que o registro bíblico podia harmonizar-
se com a idéia de que Adão foi produzido por mutação e constituído como
homem à imagem de Deus por uma ação sobrenatural de Deus [...] Mas
faz muitos que fiquei totalmente convencido de que essa hipótese é insus
tentável. ..
A evolução não resolve nenhuma dificuldade. É mais complicada do que
a visão simples da criação especial [...] A afirmação de Gênesis 2.7, de que
o “Senhor Deus formou o homem do pó da terra”, parece indicar que o
corpo do homem foi formado não de algum animal previamente existente,
mas de material inorgânico.
H á uma lacuna visível que alguns antropólogos chamaram de lacuna
biocultural entre o homem e os outros animais. Isto significa dizer que a
suposta transição comportamental entre o não-homem e o homem — entre
o animal com instinto e [...] o homem cultural — não é documentada por
evidências paleontológicas e constitui uma descontinuidade mais importan
te que [aquelas do] [registro] o fóssil.
Por fim [...] a teoria da derivação do corpo físico do homem de um
ancestral meramente animal é muito difícil de se harmonizar com a doutrina
do homem criado à imagem de Deus, do homem como uma criatura caída
e do homem como redimível em Cristo.3
Somos obrigados a concluir que a vida hum ana, com o a vemos, só pode ser
explicada com o o resultado direto de um ato especial de criação tal com o regis
trado nos prim eiros capítulos do livro de Gênesis. H á m uitas outras razões —
tanto bíblicas com o não-bíblicas — que m ostram p o r que se deve rejeitar a
macroevolução teísta, mas vai além do escopo desta obra delineá-las. Nossa
próxim a tarefa é considerar os dois modelos de origens remanescentes — o da
visão da terra jovem e o da visão progressiva.
Q U E M O D E L O DE P R O J E T O C O R R E S P O N D E M E L H O R A TODAS AS E V I D E N C I A S C I E N T Í f I C A S ?
Antes de tentar responder a essa pergunta, pode ser útil ter um quadro geral da
origem do universo, da origem da vida e das novas formas de vida. C onsidere o
resumo a seguir, que reflete as conclusões extraídas anteriorm ente com base
nos prim eiros princípios filosóficos, nas leis da ciência e na confiabilidade das
evidências observáveis:
Vamos supor que a ordem do aparecim ento esteja correta, mas que as datas
c o rre s p o n d e n te s , c o n fo rm e p ro p o s ta s pelos g eólogos g ra d u a lista s do
m acroevolucionism o, estejam erradas. O m odelo pontualista argum enta que
as novas espécies podem evoluir em apenas centenas a milhares de anos (um
4U m a vez que acrescentamos a característica da inteligência a esse ser não-causado infinitam en
te poderoso e eterno, temos um a das qualidades essenciais de um a personalidade.
182 F u n d am e n to s inabaláveis
1. Universo/Terra (G n 1.1)
2. M ar (G n 1.6)
3. Porção seca, plantas (G n 1.9,11)
4. Animais m arinhos (G n 1.20)
5. Animais da terra (G n 1.24)
6. H um an idade (G n 1.27)
c o n firm a d o c la ra m e n te p o r
Gould, que disse que as novas formas de vida “mostram-se no registro fóssil m uito
parecidas com o que eram quando desapareceram; a alteração morfológica é geral
mente limitada e sem direção. Em qualquer área local, uma espécie não aparece
gradualmente pela transformação constante de seus ancestrais, aparece de uma vez e
“plenamenteformada’.8
O m odelo que prevê os M o d e l o d e p r o je to m u ita s á r v o r e s
E x p lo sõ es r á p id a s d e e s p e c i a ç ã o n ã o - in te lig e n te
T r a n s iç õ e s — c e n t e n a s e m ilh a r e s d e a n o s 9
B i g - b a n g d a B iologia
C«
O (E xplosão c a m b r ia n a )
"D
r
e
3
+-1
c l - x p l o s õ c s rápida*» d e o s p e u . K ã o P o n tu a d a s
o
a.
v -t " :;,f " ,r \ T
l 1 \ \ \
3
CT
yj
I l,U s o ^ I í
C rem os que esse gráfico é um a visão bem precisa e intelectualm ente hones
ta dos d ado s d e sc o b e rto s no re g istro fóssil. Ele re tra ta as evidências
paleontológicas na m edida que se relacionam com a ordem da natureza, o
aparecim ento de novas formas de vida e as divisões geológicas. Observe que as
primeiras formas pluricelulares de vida aparecem repentinam ente durante aquilo
que hoje cham am os de explosão cambriana. Segundo G ould, depois que as
novas form a de vida surgem, perm anecem em estabilidade (estase) até que as
9O s dados não m ostram evidência alguma que dê suporte à idéia de que estas formas de vida
estivessem “se transform ando” na “direção” de vir a ser novas formas de vida (tipos genéticos novos).
186 F u n d am e n to s inabaláveis
A P O S I Ç Ã O P RO GR ES S I V A F C O E R E N T E CO M TODAS AS E V I D E N C I A S ?
A resposta geral a essa pergunta é fornecida no gráfico a seguir. Observe que ele
com para a ordem da criação relatada em Gênesis 1 com a ordem da natureza e
o aparecimento das novas formas de vida como m ostra o registro paleontológico.
M an tenha em m ente tam bém que a visão progressiva pode interpretar os dias
de Gênesis com o estágios sobrepostos da criação.12 Esse tem po de dem ora
seria necessário para perm itir que novas formas de vida fossem introduzidas no
ecossistema e para este alcançar seu equilíbrio de acordo com as leis da nature
za. Além disso, há diferentes limites de tem po de equilíbrio associados a cada
ser que ia sendo criado, diretam ente relacionadas com a com plexidade e o
tem po de reação para o ecossistema alcançar equilíbrio. À luz deste entendi
m ento de Gênesis, vamos observar mais de perto o que pode ter ocorrido d u
rante os seis estágios da criação.
E m vez de eclosões não-inteligentes de especiações, com o ocorre nos equilí
brios pontuados de G ould, este gráfico m ostra as eclosões inteligentes da cria
13O s dados não m ostram evidência para dar suporte à idéia de que estas formas de vida estavam
“se m ovendo” (transform ando) na “direção” de se tornarem novas formas de vida (novos tipos
genéticos).
1 8 8 fU N D A M E N T O S INABALÁVEIS
encher algumas condições que mais provavelm ente tinh am de estar presentes
do po n to de vista de um m odelo que perm ite longos períodos de estruturas de
tem po de criação sobrepostas.14
Estágios 1— 2: O “big-bang m arcou a criação do universo espaço-tem po.15
O C riador produziu luz das trevas n u m a simples e im ensa explosão concentra
da de energia. As órbitas dos elétrons decaíram e a energia com eçou a ser con
I4E ntre as fontes usadas para este sum ário e para outros estudos posteriores estão G erald
Schroeder, The Science ofG od; D o n Stoner, A new b o k a t an old earth; H ugh Ross, The fingerprint o f
God.
15E fascinante observar que som ente neste século se percebeu que o espaço e o tem po são
correlatos. A descoberta de Einstein revelou que o tem po é um a quarta dimensão. Daí, o tempo fo i
criado juntam ente com o universo. Mas a Bíblia revelara esse fato quase dois mil anos antes de Einstein
(v. IC o 2.7; 2Tm 1.9; T t 1.2).
P ro ie to inteligente 189
16A troposfera é a camada mais baixa da atmosfera. A composição da atmosfera varia com a
altitude. Cerca de 75% do total da massa da atmosfera e 90% de seu vapor de água estão contidos
na troposfera. Excluindo o vapor de água, o ar da troposfera contém 78% de nitrogênio, 21% de
oxigênio e um equilíbrio de argônio, dióxido de carbono e traços de outros gases nobres.
17O s gases nobres são raros (preciosos), como o hélio, neônio e o radônio.
lsO ozônio é produzido subm etendo o oxigênio a descargas elétricas de alta voltagem.
l9Gerald Sc h ro e de r , The Science ofG od, p. 68.
20Isaac A simov , Asim ov 's guide to science, p. 122.
190 F undamentos inabaláveis
210 núm ero de elos de um a cadeia alim entar m édia varia entre três e seis.
22Gerald Schroeder, The science ofGod, p. 193.
P ro je to inteligente 191
E m bora não a d m i t a n e n h u m a d ú v i d a s o b r e o f a t o d a e v o l u ç ã o , S t e p h e n J.
G o u ld , p a le o n tó lo g o d a U n iv e r s id a d e d e H a r v a rd , t e m a d iz e r o s e g u in t e a
h o m in íd io s [ . . . ] n e n h u m a n it id a m e n t e d e r iv a d a d e o u tra ? A l é m d is so , n e n h u m a
e x i b e t e n d ê n c i a e v o l u t i v a a l g u m a d u r a n t e a p e r m a n ê n c i a n a te r r a : n e n h u m a f i c a
m a is in te lig e n te n e m m a i s e r e t a à m e d i d a q u e s e a p r o x i m a d o s d i a s a t u a i s ” . 25
23Vamos tratar desta característica singular do Homo sapiens nos capítulos sobre direito, justiça
e ética, quando vamos definir o conceito de pessoalidade e os assuntos moralidade e os direitos
humanos.
2iHomo é a palavra latina para “hom em ”. O s termos habilis e erectus significam destreza e andar
ereto, respectivamente. São supostam ente ancestrais do Homo sapiens.
25Evolution, p. 171.
P r O H I O INTfLIGtNTt 193
c o m o p o d e r ia q u a lq u e r u m a d e s sa s cr ia tu r a s ser a n c e s tr a l d o h o m e m , q u a n
26Ibid.
27Talvez você esteja surpreso por que o hom em se encontra nu m nível estratigráfico mais baixo,
um a vez que afirmamos que, em bora essas outras criaturas não sejam ancestrais do H om em , outros
mamíferos foram criados primeiro. H á duas respostas para essa indagação. Primeira, se esse fóssil
permanece como pertencente aos símios, e os símios e hum anos existiram juntos n u m determ inado
p onto do tem po, não há razão alguma para que um símio não possa ter m orrido no m esmo local que
tenha sido habitado pelos hum anos n u m tem po anterior. Segunda, a conclusão macroevolutiva de
que esses restos fósseis são ancestrais dos hum anos de m odo n enhum é certa — podem ser fósseis de
seres hum anos. Por exemplo, Jack Cuozzo d ocum entou com recentes raios X de alta tecnologia dos
crânios de N eanderthal que eles não são semelhantes aos dos símios, mas aos dos hum anos. Falando
do famoso fóssil Lê Moustier, ele afirma que “não é semelhante ao símio [...] o maxilar inferior [...]
é 30 m m (mais de um a polegada) fora da cavidade (fossa t m ) . Isto perm itiu que o maxilar superior
fosse em purrado 30 m m para a frente, apresentando um a aparência semelhante à do símio. Isto seria
como um a m andíbula deslocada em qualquer consultório de dentista. Com o pode um a m andíbula
deslocada ser passada como evidência de evolução?” {Buriedalive-. the startling tru th about neanderthal
m an, p. 166).
194 F undamentos inabaláveis
28O s dados não m ostram evidência nenhum a que sustente a idéia de que essas formas de vida
estivessem “se m ovendo” (transformando-se) na “direção” de virem a ser novas formas de vida (novos
tipos genéticos).
P ro je to inteligente 195
A I DADE BÍ B L I C A DA H U M A N I D A D E E CO N E L I T A N T E C O M A C I Ê N C I A M O D E R N A ?
E difícil ignorar a direção óbvia para a qual a idade da hum anidade parece
ca m in h a r — cada vez m ais jovem ! O s estudos m ais recentes acerca do
crom ossom o Y34 fixam até u m a idade ainda m en or do H om o sapiens, dando a
entender que ele apareceu em algum po nto entre 37 000 e 49 000 anos atrás.35
E possível que esta data se reduza ainda mais até entre 10 000 e 20 000 anos
atrás ou menos.
Vamos calcular a m argem de erro associado à idade da raça h u m an a usando
a m édia estim ada de dez milhões de anos36 dos m acroevolucionistas no final
dos anos 1950, e da m édia dos m acroevolucionistas estim ada em 43 000 anos
em 1995:
34Crom ossom os são estruturas filiformes compostas de genes, que carregam informação genéti
ca responsável pelas características herdadas do organismo. O s cromossomos x e v determ inam o
sexo dos descendentes. U m a pessoa do sexo fem inino tem dois cromossomos x (xx), enquanto um a
pessoa do sexo masculino tem u m de cada (xy ).
35O p . Cit.
36Este núm ero é' encontrado pela m édia das estimativas entre 5 e 15 milhões.
P rojeto inteligente 197
Anos
10 000 000
\
10 OOO 000
7 500 000
() 000 000
5 000 000
I ()()() OOO
2 500 000 800 000
125 000
43 000
I I i I I I
Final d o s M eados dos Final d o s M eados dos Final do s M e a d o s d os
anos 1950 anos 1970 anos 1970 anos 1980 anos 1980 anos 1990
ra lm en te m ilh õ e s d e p a la v r a s. O d e se n v o lv im e n to to ta l d a v id a a n im a l é
b íb lic a , o c a s a m e n t o e n tr e as d e c la r a ç õ e s e a n o ç ã o d e t e m p o e m G ê n e sis 1,
e as d e s c o b e r ta s d a c iê n c ia m o d e r n a é f e n o m e n a l, p r in c ip a lm e n t e quando
p e r c e b e m o s q u e t o d a a in te r p r e ta ç ã o b íb lic a u s a d a a q u i f o i r e g is tr a d a s é c u
in f lu e n c ia d a p e la s d e s c o b e r ta s d a c iê n c ia m o d e r n a . E a c iê n c ia m o d e r n a q u e
tem d e se h a r m o n iz a r c o m a n a r r a t i v a b í b l i c a d e G ê n e s i s . 37
das reações em ocionais de alguns de seus colegas e outros hom ens de ciência,
Jastrow disse:
A Líl
— A braham L in c o l n
Q U E É L E I?
fundam ento da lei eterna. Portanto, a teoria legal da lei natural se baseia nas
leis m orais absolutas e objetivas e preza todas as vidas hum anas. “Pois ‘todas as
leis derivam da lei eterna na medida que compartilham da razão co rreta e a razão
correta só está correta se participa da ‘R azão E te m d .”3
(H á outras explicações e expressões m uito boas da teoria legal da lei natural
que devem ser estudadas a fim de se obter m elhor entendim ento desse assunto.
C. S. Lewis o defende eloqüente
Visão natural da lei
m en te em sua o b ra valiosa The
abolition o fm an [A anulação do ho O < ri.idor J
Q U E C A U S O U 0 S U R G I M E N T O DA T EO RI A DA LEI P O S I T I V A ?
aos hum anos criar seus próprios valores. Argum entava que devemos ir “além do
bem e do m al”. Por conseguinte, “um a vez que não há D eus para querer o que
é bom , nós devemos querer o nosso próprio bem. E u m a vez que não há ne
nh um valor eterno, devemos querer a repetição eterna do m esm o estado de
coisas”. Nietzsche disse, nas últim as linhas de sua Para a genealogia da moral,
que preferia querer o nada a não querer. Esse desejo do nada se cham a niilism o.8
O utilitarismo tam bém constituía parte essencial do fundam ento que propor
cionou a base filosófica para a lei positiva. O utilitarismo é “a teoria m oral de que
um a ação moral é m oralm ente correta se e som ente se produz pelo menos outro
tanto de bem (utilidade) para todas as pessoas afetadas pela ação com o qualquer
ação alternativa que um a pessoa possa fazer”.9 Esse conceito era defendido por
Jeremy B entham (1748-1832) e por Jo hn Stuart Mill (1806-1873). Bentham
sustentou esse pensam ento no sentido quantitativo. Falava dele como aquilo que
traz a m aior quantidade de prazer e a m enor quantidade de dor. Essa idéia diz
respeito ao “cálculo utilitário”. Bentham acreditava que o indivíduo deve agir de
m odo que produza o m aior bem para o m aior núm ero de pessoas a longo prazo.
M ill usou o m esm o cálculo utilitário, mas argum entou que ele deveria ser
entendido no sentido qualitativo. “O s prazeres diferem em espécie, e os praze-
res mais altos devem ser preferidos aos prazeres mais baixos”.10 “O s prazeres
não diferem entre si m eram ente n a sua quantidade nem na sua intensidade.
U m é superior a outro e mais valioso do que ele sim plesm ente porque a maioria
das pessoas que experim entam am bos decididam ente preferem um ao o utro”.11
Mill sustentava que “em qualquer evento, não há absolutam ente leis morais.
Tudo depende do que produz o m aior prazer. E isso pode diferir de pessoa para
pessoa e de lugar para lugar”.12
O u tro pensador que influenciou o surgim ento da lei positiva foi Charles
D arw in (1809-1882). Em 1859, Charles D arw in publicou seu livro sobre
macroevolução, Origem das espécies. Seu ensino acabou tornando-se am plam ente
aceito com o a visão acadêm ica a ser defendida e efetivam ente reduziu a hu m a
nidade ao nível dos animais. N a prática, a convicção de que os seres hum anos
são diferentes apenas em grau dos animais, e não diferem na espécie, influen
ciou lentam ente e p or fim fixou a m acroevolução com o m entalidade acadêmi-
ca, política, legislativa, judicial e pública. C oncordando com D arw in, Karl
M arx afirm ou que “em nosso conceito evolutivo do universo, não há absoluta
m ente lugar nen h u m para um C riador nem para um G overnador”.13 E m resu
mo, se não há n en h u m Legislador M oral, não há lei m oral na qual as leis civis
se baseiem. Essa convicção fortalece a lei positiva porque dá suporte à visão de
que não há relação n en hu m a entre o conceito de lei e o conceito de moralidade.
À m edida que os educadores inseriram o pensam ento darw iniano nas várias
disciplinas acadêmicas, os alunos aprenderam gradativam ente que não há base
transcendente para a lei e a m oralidade e que a co nd uta h u m an a era um a
com binação de instinto e genética. Em conseqüência, a idéia de que os seres
hum anos “devem” ser considerados responsáveis por tratar outros seres h u m a
nos de acordo com o m odo prescrito pelas leis naturais foi finalm ente om itida
das aulas de teoria legal. Foi substituída pelo en tendim ento darw iniano da
cond uta hum ana, que está em harm onia com a macroevolução e apóia a visão
da lei positiva. Por conseguinte, a lei positiva, reforçada pela cosmovisão natura
lista darw iniana, acabou tornando-se a teoria dom inante ensinada nos “cursos
superiores" e a visão mais am plam ente aceita e praticada nos tribunais de justiça.
Isso levanta u m a questão de im portância crítica referente à relação entre
m oralidade e lei: “Se os seres hum anos não são naturalm ente morais e se são
determ inados geneticam ente, com o podem ser considerados legalm ente res
ponsáveis por sua conduta?”. A revista Tim e certa vez publicou um artigo de
dez páginas para defender e prom over a idéia de que os seres hum anos são
determ inados geneticam ente e m oralm ente im potentes. O autor do artigo,
R obert W right, propôs que nossas atitudes sexuais, a fidelidade entre tantas,
são determ inadas pela genética — conseqüentem ente, a m ensagem de capa
era: “Infidelidade: pode estar em nossos genes”. W right dizia que “somos po
tencialm ente animais morais — o que é mais do se pode dizer de qualquer
outro anim al — , mas não somos anim ais naturalmente morais”. u E m bora o
artigo tenha enfocado a infidelidade com o u m a das m uitas variedades de ex
pressão sexual, o p rin c íp io da c o n d u ta sexual d ete rm in a d a pelos genes
logicam ente se aplicaria a todas as condutas sexuais, entre elas a homossexuali
dade, o abuso de crianças, a pedofilia, o estupro e outras.
N o artigo, W right explicava que a infidelidade é um im pulso natural, tão
natural com o qualquer desejo sexual — até o desejo de se apaixonar. Disse:
A LEI P OS I T I VA C O M P R O M E T E A J U S T I Ç A C R I M I N A L ?
Dí Q U E M O D O OS LE G I S L A DO RE S P O D E M APROVAR BOAS L E I S ?
U m a vez que se referir às várias modificações da lei positiva por seus nom es
diferentes pode gerar confusão e que os elementos fundam entais de cada um a
perm anecem inalterados, daqui a diante vam os nos referir a todas as visões das
leis feitas pelos hom ens com o lei positiva.22 Usam os o term o lei positiva para
nos referir à condição em que as legislaturas hum anas não têm n en h u m padrão
objetivo e transcendente para avaliar a con du ta hum ana, e as leis são escritas
pelos poderes governantes de u m a sociedade para proteger os seus próprios
interesses. Esse entendim ento da lei levanta um a das mais im portantes per
guntas da teoria legal e do sistema de justiça crim inal, a saber: “C om o um a
sociedade pode desenvolver um conjunto de leis consideradas boas?”. U m a vez
que “boas” pode se referir ao bem do estado ou ao bem do indivíduo, quem
decide qual é o bem “m elhor” ou “m aior”? E m outras palavras, com o um a
nação pode determ inar o que constitui “boas leis”?
20Ibid.
21Clarence D arrow é m uito lem brado nos Estados U nidos como o advogado de defesa no bem
conhecido julgam ento de Scopes, de 1925, que tratou da acusação de um professor de biologia de
um a escola secundária em Dayton, Tennessee, acusado de ensinar a teoria da macroevolução.
22E ntre outros nom es usados neste capítulo para lei positivista estão realismo legal, relativismo
legal, estudos legais críticos e teoria legal pós-m oderna.
2 08 F undamentos inabaláveis
C o m “boas leis” não estamos nos referindo aos direitos civis ou legais, direi
tos tais com o aqueles enum erados nas primeiras oito em endas da constituição
norte-am ericana, o u os direitos explicitam ente definidos nas constituições e
nas leis positivas aprovadas pelas legislaturas. Esses direitos podem e têm sido
m udados com o tem po nos Estados U nidos e variam significativamente de
cultura para cultura. Referimo-nos aos direitos humanos ou naturais, que devem
ser claramente distinguidos dos direitos civis ou legais.
Q u an d o o presidente George H . Bush [pai] indicou o juiz Clarence Thom as
para preencher um a vaga no Suprem o Tribunal dos Estados Unidos, em 1991,
os críticos liberais se opuseram porque tem iam que ele usasse sua crença n a lei
natural com o m eio de interpretar a Constituição. O senador dem ocrata Joseph
Biden ocupava a presidência do C om itê Judiciário nessa época. Biden disse que
ele tam bém cria na lei natural, mas estava tem eroso de que T hom as acreditasse
no “tipo errado” de lei natural. Phillip Johnson (professor de direito na Univer
sidade da Califórnia, em Berkeley) tin h a observado que o senador Biden dife
renciou entre o “tipo correto” (boa) e o “tipo errado” (ruim) de lei natural.
C itando um ensaio escrito por Biden, Johnson diz:
N aturalm ente, o senador Biden não está usando o term o lei natural no
sentido clássico, com o os fundadores dos Estados U nidos o fizeram. Ao contrá
rio, ele coloca a lei positiva acima da lei natural objetiva. Desse m odo, porém ,
ele levanta o dilem a lógico para os relativistas m orais e legais. As “verdades
atem porais” às quais o senador Biden se referiu são o m odo que ele descreve o
en tendim ento clássico da lei natural, pois a lei natural pode ser entendida
Qualquer um que afirma que existe esse padrão [leis objetivas, transcenden
tes e morais absolutas] parece negar que somos seres moralmente autôno
mos, que têm todo o direito de estabelecer os próprios padrões e e se
diferenciar das tradições dos ancestrais. Se alguém atribui os mandamentos
morais duradouros a Deus, incita a acusação de querer forçar sua moralidade
religiosa a pessoas com diferentes conceitos. Por outro lado, alguém que
negue que há uma lei mais alta parece abraçar o niilismo e, portanto, parece
deixar o fraco desprotegido dos caprichos do poderoso. As duas alternativas
são inaceitáveis. O curso mais seguro [...] [é] ser impenetravelmente vago
ou banal no assunto.24
Se, porém , o en tendim ento clássico da lei natural não é verdadeiro, então
não há n en h u m dilem a com que se preocupar, e conseqüentem ente os líderes,
como o senador Biden, não devem se preocupar em abraçar o niilism o e deixar
os fracos desprotegidos aos caprichos dos poderosos. O falecido A rthu r Allen
Leff, professor de direito de Yale, tinha um m odo de afirm ar questões com ple
xas com o esta em term os profundam ente simples. N u m a palestra em ocionante
feita na D uke University, poucos anos antes de morrer, Leff definiu precisa
m ente não só a essência da batalha política entre os defensores da lei natural e
os da lei positiva, mas tam bém a essência de um a luta interna que cada indiví
duo enfrenta. Ele ap on to u diretam ente para o dilem a de um a sociedade cujos
indivíduos anelam tanto a autonom ia com o os valores morais duradouros ao
mesmo tem po. Leff disse,
24Ibid.
210 F undamentos inabaláveis
É esse tipo de sinceridade que nos traz à prova definitiva de quem está certo
nesse debate a respeito da natureza da lei e sua relação com a m oral. O século
vinte testem unhou a perda da objetividade m oral e os perigos associados à
defesa da visão da lei positiva. C om o Peter Kreeft diz,
Tom em os essa rejeição da visão clássica da lei natural até sua conclusão
lógica. A lei natural é baseada no entendim ento inerente e universal de que
certas condutas são imorais e, p ortanto, devem ser ilegais. N o passado, os Esta
dos U nidos abraçavam a verdade de que a vida h u m an a tem u m valor dado por
Deus que vai além da alçada do governo. Se isso é verdadeiro, só faz sentido que
a lei natural seja u m pré-requisito necessário para a lei positiva. Q u a n to a isso,
a lei natural fornece a base para um padrão de m oralidade. Esse padrão, ou lei
m oral, pode ser tido com o u m princípio prim eiro de jurisprudência no qual
toda lei deveria basear-se e do qual a verdadeira civilização depende.
A civilização depende da lei natural no que se refere à convicção de que a
natureza h u m an a é distinta da natureza anim al porque o C riador capacitou
toda a hum anidade com certas características (direitos hum anos inalienáveis).
Essas características não dependem de nen h u m governo e devem testem unhar
a natureza eterna e o caráter m oral do Criador. Todavia, a fim de que a lei se
efetive, ela deve ser proclam ada e sustentada. O s Estados U nidos da Am érica
foram fundados na convicção do en tendim ento clássico da lei natural, que
serviu com o base para os princípios fundam entais (verdades auto-evidentes)
proclam ados na Declaração da Independência. Além disso, no esforço de m an
ter e assegurar as verdades axiomáticas proclam adas nessa declaração, os funda
dores patentearam a C onstituição e estabeleceram o sistema de governo dos
Estados Unidos.
23Unspeakable ethics, unnatural law, D uke Law Journal, dezem bro/1979, n.° 6, p. 1229.
26Back to virtue, p. 25 (grifo do autor).
A L£l 211
O s pais fundadores dos Estados U nidos sabiam que, n u m país que um dia
seria cheio de diversidade, os princípios fundam entais deviam ser baseados na
verdade, porque a verdade traz unidade à diversidade. Eles consideravam os p ri
meiros princípios unificadores da Declaração de Independência verdades “auto-
evidentes”. Sabiam que se essas verdades
Visão do CegisCador d iv in o
fossem violadas, no final seriam mi-
nados e ameaçados os direitos h u A D e c la r a ç ã o
m anos dados por Deus. Direitos d e In d e p e n d ê n c ia
de assegurar certos direitos hum anos — não se acreditava, nem se disse, que os
governos devem ser instituídos para criar esses direitos. C o n tu d o , hoje os Esta
dos U nidos praticam u m a declaração m uito diferente da que seus pais funda
dores criaram. Em vez de um a declaração baseada n u m Criador, na criação e
em direitos hum anos inalienáveis, os Estados U nidos praticam u m a declaração
baseada no naturalism o, na m acroevolução e em direitos hum anos relativos.
U m a vez que os Estados U nidos não mais praticam a lei conform e foi esta
belecida na crença em u m C riador pessoal — e com o expressa na Declaração
de Independência — a cultura norte-am ericana corre o risco de m inar o valor
da vida hu m an a e a convicção de que toda a hum anidade é criada igual e como
tal “deve” ser tratada com valores iguais dados por Deus. Pretendem os m ostrar
que o entendim ento p redom inante da lei positiva é diam etralm ente oposto à
lei natural e aos princípios essenciais que fornecem a base para a C onstituição
norte-am ericana.
C rem os que o entendim ento clássico da lei natural é justificável e imparcial
porque ela é objetiva e determ inada. Vamos argum entar que, ao contrário, a lei
positivista am eaça a verdadeira fibra moral dos Estados U nidos da A m érica e as
verdades básicas que asseguram os direitos hum anos, em cuja defesa m uitos
bravos indivíduos deram a vida. Além disso, a lei positiva separa a teoria legal
de quaisquer padrões norm ativos m orais ao rejeitar todos os princípios, distin
ções e categorias tidos com o elos que unem todos os tem pos, pessoas e lugares.
Portanto, tam bém vamos dem onstrar que a lei positiva é um a ameaça à vida e
aos direitos hum anos básicos nos Estados U nidos e que ela retira a justificativa
racional para defesa da vida e dos direitos hum anos em nível internacional.
DE Q U E M O D O A T EO RI A DA LEI P OS I T I V A A M E A C A OS D I R E I T O S H U M A N O S B Á S I C O S ?
sobre a vida hum ana. Eutanásia não se está referindo à permissão a alguém de
morrer com dignidade, e não significa remover os meios mecânicos para adiar a
experiência da morte. A eutanásia é representada pela prontidão de algumas pessoas
de m atar direta ou indiretam ente alguém que, se tratado devidamente, poderia
continuar a viver. Falando francam ente, é m atar u m a pessoa com base no fato
de que estará mais bem m orta. Isso norm alm ente se esconde atrás de expres
sões enganosas com o “o direito de m orrer”.
Em 26 de ju n h o de 1997, o Suprem o tribunal decidiu que o norte-am eri
cano m édio não tem direito constitucional ao suicídio assistido por médicos.
Por outro lado, a C orte deixou aberta a possibilidade de que algum estado o
perm ita. O estado de O regon já aprovou u m a lei que perm ite a m esm a coisa.
Desse m odo a batalha se dá estado p o r estado. U m a vez que a eutanásia está na
m esm a trajetória do aborto consentido, será provavelm ente apenas questão de
tem po para que ganhe a aceitação nacional.
C om o a visão da lei positivista m o ld o u a m entalidade dos líderes acadê
micos, políticos e judiciários dos Estados U nidos, os direitos hu m ano s bási
cos dos indefesos foram retirados. A questão é: “E m que p rofu nd id ade e
extensão a lei positivista vai am eaçar os direitos hum anos?”. Q u ã o longe a
nação irá ao que concerne à redefinição de pessoalidade? O ganhador do
prêm io N obel, dr. Jam es W atson, recebeu reconhecim ento internacional por
sua parte decifrar o código do DNA. Ele é considerado autoridade em vida
hum ana. W atson tam bém crê que n en h u m a criança recém -nascida deve ser
declarada pessoa viva até que passe por certos testes que avaliem sua capacitação
genética. D iz ele: “Se u m a criança não for declarada viva até três dias após o
nascim ento, então aos pais poderia perm itir-se escolher [...] [de] perm itir
que o bebê m o rra [...] e evite m u ita m iséria e so frim ento.”28
Observe a direção perigosa que “a definição de pessoa” está tom ando — a
pureza genética! Se a pureza genética vier a ser um dos critérios para definir
tanto a pessoalidade com o o direito de ser protegido p o r lei, onde se deve
traçar a linha divisória, se é que deva ser traçada? Além do mais, quem tem o
direito de traçá-la? Se o valor de um a vida hu m an a está relacionado a quan to o
indivíduo é genética, física e m entalm ente “perfeita”, ou se o bebê é desejado
pela mãe e pelo pai, então, com o nação, os norte-am ericanos não têm princípi
os melhores que os da A lem anha nazista.
Que não importa em que um homem crê é uma afirmação que se ouve em
todo lugar hoje. A afirmação traz consigo uma implicação temerária. Se
um homem é filósofo [...] o que ele crê lhe diz para que serve o mundo.
Como os homens que discordam a respeito da finalidade do mundo po
dem vir a concordar a respeito de qualquer minúcia da conduta diária? A
declaração significa que não importa em que um homem crê conquanto
não leve suas convicções a sério [...] Mas suponha que ele leve suas idéias
a sério.32
32P. 23.
A LEI 21/
H itler não só levou suas idéias a sério, mas tam bém levou a sério a idéia de
Charles D arw in em Origem das Espécies. Particularm ente, abraçou o subtítulo
da obra de Darwin: A preservação das raças favorecidas na luta pela vida. H itler
aceitou a lei da natureza ensinada p or D arw in — “a sobrevivência das raças
mais adaptadas” — e a aplicou à A lem anha e ao resto do m undo. Acreditava
que, para a A lem anha sobreviver e prosperar, ele tin h a de ensinar um a geração
de jovens líderes a valorizar a raça ariana e o estado acim a das raças inferiores, à
custa dos direitos hum anos individuais. H itler sabia que a educação era a chave
mestra para convencer a A lem anha de que com o nação eles tinh am direito de
alcançar a pureza genética e racial.
H oje não se enfatiza a intolerância racial de D arw in, mas ela é u m princípio
crucial que anda de mãos dadas com a visão m acroevolucionista da vida. N a
verdade, o julgam ento de Scopes é freqüentem ente citado como o caso referencial
q ue v iso u b a rra r a in to le râ n c ia ed u c a c io n a l nos E stad o s U n id o s . O s
m acroevolucionistas queriam que sua visão da origem da vida fosse ensinada
com o m odelo alternativo ju ntam ente com o m odelo da criação. M as o que
freqüentem ente se nega é o fato de que o m acroevolucionism o deu apoio ao
preconceito racial. O que se segue é um a citação de um texto de biologia que se
usava no Tennessee antes do julgam ento de Scopes. Esse texto dem onstra clara
m ente a hierarquia de cinco raças sobre a terra e a superioridade da raça branca.
Assim se lê:
H itler propôs um curso de ação que daria à Alemanha a vitória sobre as misérias
da vida, no esforço de trazer seu país de volta à dignidade (especificamente, da
humilhação nas guerras anteriores). Escreveu com extrema confiança e capacidade
persuasiva e estabeleceu metas sociais e políticas para um a Alemanha pós-guerra
arruinada e de ânimo devastado. C om a condição da Alemanha tão debilitada e
Considerando a base intelectual do plano de Hitler, os alemães se convenceram de
que a estratégia dele teria sucesso. Hitler nunca deixou nenhum a sombra de dúvi
da de que seus planos poderiam não funcionar. Ele se via como o super-homem de
Nietzsche, com o desejo de poder e de formar um exército de super-homens (nazis
tas) que estabeleceriam o dom ínio sobre as raças inferiores do m undo e transforma
riam a raça Ariana num a super-raça. Hitler considerava esse plano perfeitamente
coerente com as leis da natureza e a “solução final” para livrar o m undo das linha
gens “inferiores” da espécie hum ana, as quais considerava parasitas e impedimento
para se alcançar “o estágio evolutivo mais alto da existência”.
C o m o H itler propagou essas idéias? O n d e isso tu d o começou? A resposta
a am bas as perguntas é a educação! U m sobrevivente de A uschw itz estava
m uito consciente do im pacto que a educação teve sobre a A lem anha nazista.
Disse ele:
33V ictor Frankl, The doctor a n d the soul\ in tro d uctio n to logotherapy (O médico e a alma\
introdução à logoterapia), xxi (grifo do autor).
36O p . cit. p. 240 (grifo do autor)
3~William J. Federer, A m erica's God a n d country Encyclopedia o f Quota tions (Deus e o país da
América: enciclopédia de citações), p. 391.
220 F undamentos inabaláveis
O primeiro problema com o utilitarismo é que ele propõe que o fim justifi
ca os meios necessários para alcançá-lo. Se fosse assim, então a carnificina
de Stalin, de cerca de dezoito milhões de pessoas, poderia ser justificada em
razão da utopia comunista que ele esperava que finalmente se realizasse.
Segundo, os resultados sozinhos não justificam nenhuma ação. Quando os
resultados aparecem, devemos ainda perguntar se são bons ou maus. Os fins
não justificam os meios, os meios devem justificar-se a si mesmos. O
infanticídio compulsório de todas as crianças que se acredita serem porta
doras de “impurezas” genéticas não se justifica pelo alvo de ter uma raça
genética pura. Terceiro, mesmo os utilitaristas tomam os fins como um bem
universal, mostrando que eles não podem evitar o bem universal. De outra
forma, de onde derivariam o conceito de um bem que deve ser desejado por
sua própria causa? Finalmente, os resultados desejados isolados não fazem
algo bom. Freqüentemente desejamos o que é errado. Mesmo os desejos
pelos fins que acreditamos ser bons estão sujeitos a esta pergunta: São dese-
jos bons? Por isso, mesmo aí deve haver algum padrão fora dos desejos pelos
quais eles sejam avaliados.40
" ° I b i d „ p. 37-8.
C a p ít u l o D ez
A ju s t iç a
— A lexander H a m il t o n
É E R R A D O APR OV A R LEIS Q U E N E G A M D I R E I T O S H U M A N O S B Á S I C O S ?
’O p . cit. p. 67-86.
226 F undamentos inabaláveis
devem pesar as conseqüências sérias de ensinar aos alunos que a hum anidade é
sim plesm ente “sangue e solo” e os direitos hum anos não são dados por Deus,
mas, sim, determ inados pelos governos. Se se acredita que os governos deter
m inam os direitos hum anos, deve-se perguntar: “C o m que base racionalm ente
coerente u m governo pode declarar que as leis de outra nação são injustas?”.
O S G O V ER NO S C R I A M O U D E S C O B R E M OS D I R E I T O S H U M A N O S ?
Tanto para os positivistas legais como para os apoiadores da lei natural, essa é
um a questão fundamental, e a resposta vai influenciar outras respostas a pergun
tas fundamentais a respeito dos direitos hum anos. Por exemplo, o que significa
ser hum ano e quais são os direitos humanos? Se os seres hum anos são essencial
m ente animais (como os macroevolucionistas crêem), c os governos criam leis
(como os positivistas crêem), então quem define o que é pessoa e quais são os
direitos humanos? Q u em diz que todos os seres hum anos devem ter direitos?
Além disso, como um a nação (os Estados Unidos) pode acusar outra nação (a
Alem anha nazista) de violar os direitos hum anos se os governos decidem o que é
pessoa e determ inam quais são os direitos hum anos (se é que há)?
N o século dezenove, os Estados Unidos estavam tão fortem ente divididos
quanto à questão da escravidão que se envolveram no grande conflito m ilitar
entre os Estados U nidos da Am érica (a União) e os Estados C onfederados da
América (a Confederação). A G uerra Civil com eçou em 12 de abril de 1861 e
se estendeu até 26 de maio de 1865, quando o últim o exército confederado se
rendeu. A guerra foi responsável p o r 600 000 vidas ceifadas — os m ortos e
feridos totalizaram cerca de 1,1 m ilhão. Mais norte-am ericanos foram m ortos
na guerra civil do que em todas as outras guerras norte-am ericanas juntas des
de o período colonial até a fase final da G uerra do V ietnã (1959-1975). A
G uerra Civil destruiu propriedades no valor de cinco bilhões de dólares, trouxe
liberdade a quatro milhões de escravos negros e abriu feridas que ainda não
estão com pletam ente cicatrizadas m esm o depois de cerca de um século e meio.
Por quê? Q u e princípio estava sob ataque? Q u e questão estava em jogo?
O presidente Lincoln respondeu a essas perguntas em 19 de novem bro de
1863, em Gettysburg, na Pensilvânia, n u m discurso dedicado a honrar aqueles
que haviam m orrido ali naquele ano. A m aioria dos que estudaram a história
norte-am ericana se lem bra de parte desse discurso: “O iten ta e sete anos atrás
nossos pais criaram neste continente um a nova nação, concebida em Liberdade
e dedicada à proposição de que todos os homens são criados iguais’ (grifo do autor).
A iustica 227
Nos seus anos de debate contra a extensão da escravidão para novos territó
rios, Lincoln repetidamente apelou para a Declaração de Independência.
Seus oponentes recorreram à Constituição, com suas referências ocultas à
instituição da escravatura, como decisiva para questões políticas referentes
à extensão da escravatura. Na verdade eles tomavam a adoção da Constitui
ção como a data do nascimento jurídico da nação [...] Considere suas (de
Lincoln) observações improvisadas no Independence Hall na Filadélfia, em
22 de fevereiro de 1861, pouco antes de sua inauguração:
“Eu jamais tivera um sentimento político que não tivesse surgido dos
sentimentos corporificados na Declaração de Independência. Tenho ponde
rado freqüentemente acerca dos perigos em que alguns homens incorreram,
homens que se reuniram aqui e adotaram essa Declaração de Independência
— Tenho ponderado sobre as labutas que foram suportadas pelos oficiais e
soldados do exército que conseguiu essa independência. Freqüentemente me
pergunto que grande princípio ou idéia manteve essa Confederação tanto tempo
unida. Não foi a mera questão da separação das colônias da terra mãe, mas
alguma coisa nessa Declaração que dá liberdade, não somente às pessoas deste
país, mas esperança para todo o mundo. Foi isso que deu a esperança de que
no devido tempo os pesos seriam retirados dos ombros de todos os homens,
e todos teriam oportunidade igual [...] Eu preferiria ser assassinado neste
lugar a me render”.6
Por que continuar a G uerra Civil? Porque Lincoln estava com prom etido
com a proposição de que todos os hom ens foram criados iguais. Ele refletia
com freqüência no preço que os patriotas pagaram pela liberdade e queria m orrer
por ela. Além disso, ele via a Declaração com o o instrum ento de liberdade e
justiça nao som ente para os Estados U nidos da América, mas tam bém para
todo o m u ndo. O s positivistas devem recuar de sua visão de esperança, pois
somente a visão da lei natural é coerente como grande segundo parágrafo da Decla
ração de Independência e as verdades “auto-evidentes”encontradas ali.
O s defensores da lei natural entendem que os governos são instituídos com
base na lei m oral de D eus a fim de assegurar os direitos hum anos, enquanto os
positivistas crêem que os governos os criam. O que, então, os positivistas p en
sam da Declaração?
7Ibid., p. 198.
8Ibid., p. 221.
A justiça 229
Observe com bastante atenção a próxim a página da história e decida por você
m esm o se a lei positivista é ou não intelectual e legalmente aceitável com rela
ção à justiça e aos direitos hum anos. N o começo do capítulo sobre lei, disse
mos que o corpo mais substancial de pensam ento na disciplina da jurisprudência
(a filosofia do direito) concentra-se no significado do conceito do direito em si
(teoria legal) e na relação entre esse conceito e o conceito de m oralidade. C re
mos que a prioridade e a relação entre a m oralidade e o direito foram decidi
dos, com o c o n se n tim e n to de u m m u n d o u ltrajad o , no ju lg am en to de
N urem berg.
O s julgam entos dos crimes de guerra em N urem berg, na Alem anha, foram
dos julgam entos mais significativos do século vinte. E m 1945 um a corte inter
nacional de juizes dos Estados U nidos, Inglaterra, França e União Soviética
julgaram os líderes nazistas mais im portantes, entre eles H erm an n G oering e
R u d o lf Hoess. O s réus foram acusados de conspiração, crimes contra a paz,
crimes de guerra e crimes contra a hum anidade. A prom otoria apresentou fil
mes aterrorizantes e fotografias de campos de concentração, que foram vistos
p or m uitos pela prim eira vez.
O presidente H arry S. T rum an indicou o juiz R obert H . Jackson do Supre
m o Tribunal dos Estados Unidos com o presidente do Tribunal para fazer a
acusação no lado dos Estados Unidos. Jackson era tam bém u m representante
230 F undamentos inabaláveis
reca n to s [...] P o d e r ía m o s e n tã o la v a r as m ã o s e e s c r e v e r u m “f i m ” n a q u e l e
9The case against the nazi war criminais, p. v-vi (grifo do autor).
10Phillip E. J o h n s o n , Reason in the balance, p. 134.
A lusiicA 231
a n o s. U m a v e lh a s e n h o r a d e c a b e lo s b r a n c o s c a r r e g a n d o u m a c r ia n ç a d e u m
segurando a m ão de u m m e n in o de uns 1 0 a n o s e lh e fa la v a d o c e m e n t e , o
m e n in o lu ta v a p ara n ã o chorar. O p a i a p o n ta v a p a ra o c é u , te n ta n d o le v a n ta r
m e vi em f r e n t e d e u m a t r e m e n d a v a la . A s p e s s o a s e s t a v a m a m o n to a d a s e
e m p ilh a d a s u m a s so b r e as o u tra s d e m o d o q u e só se v ia m as c a b e ç a s d e la s.
c a b e ç a . A lg u m a s d e la s a in d a fa z ia m m o v im e n t o s . O u tr a s le v a n ta v a m os bra
ç o s e v ir a v a m a c a b e ç a p a r a m o s tr a r q u e a in d a e s t a v a m v iv a s. D o i s te r ç o s d o
[...] O p r ó x im o g r u p o já se a p ro x im a v a . T o d o s e n tr a r a m n o b u r a c o se a lin h a
ram com as v ít im a s a n te r io r e s e f o r a m m o r t o s a t i r o s . 11
A inda mais espantoso é o testem unho de líderes alemães. U m dos réus mais
im portantes, R ud olf Franz Ferdinand Hoess, orgulhava-se realm ente da m a
neira eficiente que dirigira um cam po de exterm ínio. Suas palavras m anifestam
sua disposição:
“ Testem unho sob juram ento do dr. W illhelm H o ettl (5 de novembro de 1945) na obra de
Robert H . Jackson, The Nuremberg case, p. 169-70.
232 fU N D A M E N T O S INABALÁVEIS
Comandei Auschwitz até 1.° de dezembro de 1943 e calculei que pelo menos
2 500 000 vítimas foram executadas e exterminadas ali por intoxicação de
gases e queimaduras, e pelo menos 500 mil morreram de inanição e doen
ças, perfazendo um total de 3 000 000 [...] Usei o Ciclone B (gás mortífero)
[...] [e] levava 3 a 15 minutos para matar as pessoas nas câmaras de extermí
nio [...] Depois que os corpos eram removidos, nossos comandos especiais
tiravam os anéis e extraíam o ouro dos dentes dos cadáveres.
Outra melhora que fizemos em Treblinka foi construir nossas câmaras de gás
para acomodar 2 000 pessoas de uma só vez [...] O modo que selecionávamos
nossas vítimas era o seguinte: tínhamos dois médicos da SS em Auschwitz para
examinar os prisioneiros que chegavam. Os prisioneiros desfilavam perante os
médicos, que faziam decisões aleatórias à medida que eles passavam. Os que
estavam aptos para o trabalho eram enviados para o campo. Os outros eram
imediatamente mandados para os lugares de extermínio. As crianças ainda tenras
eram invariavelmente exterminadas visto que pela idade ainda eram incapazes de
trabalhar. Em Auschwitz nós nos empenhávamos para escarnecer das vítimas
[...] Muito freqüentemente as mulheres escondiam seusfilhos debaixo de suas roupas,
mas quando nós as encontrávamos as enviávamos para ser exterminadas}2
Para entender m elhor o dilema que esses julgam entos trouxeram aos que sus
tentavam a lei positivista, imagine que você é R obert H . Jackson, o magistrado
m aior representando os Estados Unidos na presença de um tribunal de justiça
internacional. É um princípio fundam ental da lei norte-am ericana que um a pes
soa não pode ser julgada de acordo com estatutos expostfacto (leis feitas após o
fato), e um ato legal não pode ser transform ado em crime retrospectivamente.
O s positivistas legais devem logicam ente concordar que, de acordo com sua
visão do direito, os réus estavam agindo tecnicam ente de m aneira legal e não
havia n en hu m a base racional nem legal pela qual os réus pudessem ser acusa
dos. M o rtim er J. Adler disse que se a visão positivista da relação entre lei e
justiça está correta, segue-se...
I2Testem unho sob juram ento feito de R u do lf Franz Ferdinand Hoess (5 de abril de 1946), na
obra de Jackson, p. 171-3.
A justica 233
C om o Robert H . Jackson, você está agora diante de um tribunal que não está
subm etido a nenhum corpo jurídico de lei positiva, e você está tentando acusar
hom ens supostam ente culpados de “crimes contra a hum anidade”. A expressão
“crimes contra a hum anidade” refere-
se à violação de direitos hum anos.
Todavia, “se não há direitos n atu "Meu dever era ajudar a
rais nenhuns, não há direitos hu m a Alemanha a ganhar a guerra."
nos; se não há direitos hum anos, não
pode haver crimes contra a h u m an i
dade”.14 Além disso, você sabe que a defesa vai argum entar com esse raciocí
nio. Se você sustenta a visão da lei positiva, sobre que base definitiva e
logicam ente coerente você começaria a estabelecer fundam entos para acusar os
réus? N a verdade, essa foi a posição que a defesa tom ou.
U m exemplo simples que ilustra a oposição de Jackson aparece nu m a trans
crição de pós-guerra de um interrogatório de dois engenheiros alemães feita
por oficiais do Exército Vermelho. Esses dois eram engenheiros titulares de
um a com panhia cham ada Topf, que m anufaturava fornos de cremação usados
nos campos de concentração em Buchenwald, D achau, M authausen, Gross-
Rosen, e Auschwitz-Birkenau. O que se segue foi extraído das transcrições do
departam ento de inteligência m ilitar do Exército V erm elho,15 e o diálogo é
16Gerald F l e m in g , Engineers o f death, The N ew York Times, 18/7/1993, E19 (grifo do autor).
17Ibid.
A 3ustica 235
Sem nen h u m padrão de justiça fora do m undo, com o alguém pode desta
car logicam ente a justiça no m undo? A lei positivista não tem nenhu m a base
lógica nem legal coerente para fazer justiça a N urem berg nem a qualquer outro
tribunal internacional, nessa matéria. À parte do apelo a um padrão de verdade
(lei natural) objetivo e universal que avalia as leis dos governos hum anos, a
justiça não pode ser feita.
Nessa altura, os positivistas legais dos Estados U nidos protestaram contra
os tribunais de N u rem b erg , alegando que eram ilegais de acordo com a lei
dos Estados U nidos. Eles contra-argum entaram que a idéia de que um ato
legal pode-se to rn ar crim e retrospectivam ente é estranha às leis de m uitos
países, inclusive os Estados U nidos. Todavia, Jackson sabia que o verdadeiro
fu nd am ento da lei e da justiça repousava no princípio prim eiro da jurispru
dência que prevaleceria e provaria que os positivistas legais estavam errados.
Para Jackson e para cada pessoa que crê no en te n d im en to clássico da lei n atu
ral, segue-se...
Estes quarenta anos iniciais do século vinte serão lembrados nos anais como
dos mais sangrentos de todos os registros [...] Esses feitos são fatos históri
cos tenebrosos pelos quais as gerações vindouras vão se lembrar desta déca
da. Se não pudermos eliminar as causas e evitar a repetição desses eventos
bárbaros, não é uma profecia irresponsável dizer que este século vinte possa
ainda ter sucesso em trazer a condenação da civilização [...] Não devemos
perder de vista o caráter singular e emergente deste grupo de pessoas como
um Tribunal Militar Internacional. Ele não é parte de um mecanismo cons
titucional de justiça interna de nenhuma das nações signatárias [...] Como
Tribunal M ilitar Internacional, está acima do provincial e do transitório e pro
cura orientação não somente da Lei Internacional20, mas também dos princípios
básicos da jurisprudência, que são as pretensões da civilização.21
A analogia sustenta: se este universo não tivesse luz (sem padrões morais
imutáveis) e conseqüentem ente as criaturas não tivessem olhos (sem senso de
m oralidade), a palavra escuro (injustiça) afinal seria sem sentido. O s tribunais
com o os de N urem berg som ente fazem sentido se existe u m Juiz Divino, que
no julgam ento está acima da lei hum ana (positivista). Jackson apelou apropria-
Heinrich estava apenas cumprindo ordens. “Atire para matar” era a ordem
para tratar pessoas que tentavam escapar cruzando a fronteira, e aos olhos dos
superiores de Heinrich, suas ações foram não somente legais, mas também louvá
veis. Três anos mais tarde, com 27 anos, Heinrich vive na mesma Berlim, mas
governada por um governo diferente e com novas leis. Ora, ele é retroativa
mente um homicida [...] Foi sentenciado por crime culposo [...] especifica
mente, o juiz do tribunal disse: por seguir as leis do seu país em vez de declarar
sua consciência. O juiz Theodor Seidel disse: “Nem tudo o que é legal é [moral
mente] certo. O princípio de que o indivíduo pode estar ligado a uma autoridade
moral superior, além do que os estatutos fornecem, foi estabelecido na Alemanha
Ocidental décadas atrás, durante os julgamentos dos ex-líderes nazistas",23
23William A. H enry iii, The price of obedience, Time, 3 de fevereiro de 1992, p. 23 (grifo do
autor).
A justiça 239
Alguns argum entam que ensinar leis morais atemporais e imutáveis é intro
duzir concepções religiosas na sala de aula. E ntretanto, esse argum ento é se
cundário porque a origem de um a idéia é irrelevante para a sua verdade, para a
exatidão histórica epara a credibilidade acadêmica. Realmente não importa se uma
idéia é ou não religiosa em sua origem,
o que importa é se ela é verdadeira. A
educação deve basear-se na verdade, Por que s ijiik k um .i i i.k .i o m>Ii ■
Deus fez-nos iguais. E se somos iguais, então devemos ser livres: a saber, Deus
deve pretender que cumpramos os seus propósitos, não os propósitos de ou
tro. Disto segue-se que cada um de nós está obrigado a preservar não somente
a si mesmo, mas também, tanto quanto possível, todos os outros seres humanos,
e que, portanto, cada ser humano tem direitos sobre todos os outros. Exceto
quando se tratar de fazer justiça a agressores, ninguém pode corretamente
retirar ou prejudicar seja a vida ou os meios de vida de outra pessoa.28
Pode-se notar que Locke fixa o seu argumento todo sobre a lei natural e
sobre os direitos naturais na existência de Deus. Mas como sabemos que
Deus existe? Locke responde em seus outros escritos que nós o conhecemos
27Ibid., 29.
28P. 105.
242 fU N D A /H E N IO S INABALÁVEIS
Estes são, portanto, os dois pontos que queria estabelecer. Primeiro: que os
seres humanos, em todo o mundo, sabem que devem comportar-se duma
certa maneira, e que não podem livrar-se dessa situação. Segundo: que eles
na realidade não se comportam daquela maneira. Conhecem a Lei da Natu
reza, e a infringem. Estes dois são a base de toda a reflexão quanto a nós
mesmos e quanto ao universo em que vivemos.31
29Ibid.
30N o rm an L. G e is le r , Thomas Aquinas: an evangelical appraisal, p. 172.
31Cristianismo puro e simples, p. 4.
A justiça 243
32V. cap. 2 para rever o teste m etodológico das alegações de verdade das cosmovisões.
33A lei da não-contradição na lógica, a realidade imutável na filosofia e o princípio da causalida
de na ciência.
244 fUNDAM NTOS INABALÁVEIS
D eus e o m al
Por que o m l ?
Onde estava Deus quando tudo aquilo estava acontecendo? Por que ele não
interveio para por fim? Por que não exterminou Hitler em 1939 e não pou
pou milhões de vidas e evitou sofrimentos indizíveis, ou por que ele não
enviou um terremoto para demolir as câmaras de gás? Onde estava Deusix
Há algumas coisas que Deus não controla [...] Você é capaz de perdoar e
amar a Deus mesmo quando descobriu que ele não éperfeito? [...] Você pode
aprender a amar e a perdoá-lo a despeito de suas limitações?2
Faltava realm ente poder a Deus para elim inar Hitler? N ão teria recursos
para dem olir os edifícios das câmaras de gás? O C riador do universo não tem
poder para deter um exército nazista? Em prim eiro lugar, por que Deus perm i
tiu que essa carnificina ocorresse? Antes de tratar destas perguntas, perm ita-
nos m ostrar p or que som ente o teísmo pode ao m enos com eçar a fornecer
respostas significativas.
Deve-se lem brar que o teísmo não é a única cosmovisão que precisa dar respos
tas aceitáveis às perguntas relativas ao p ro b lem a do mal. O ateísm o e o
panteísm o tam bém precisam explicar coerentem ente a origem e a natureza do
mal dentro da estrutura de suas respectivas cosmovisões. O panteísm o afirma
D eus e nega o mal. O ateísmo afirm a o mal e nega Deus. O problem a para o
O meu argumento contra Deus era de que o universo parece ser muito cruel
e injusto. Mas de onde tirei essa idéia de justo e injustol Ninguém diz que
uma linha é torta se não tiver uma idéia do que seja a linha reta. Com o que
eu comparava este universo quando o chamava de injusto? Se todo o pano
rama fosse mau e absurdo de A a Z, por que eu, que sou necessariamente
parte do panorama, reagi violentamente contra,.ele?,Nós nos sentimos mo
lhados, se cairmos na água, porque não somos animais aquáticos: um peixe
não se sente molhado [...] Assim é que ao mesmo tempo em que tentava
provar que Deus não existe (em outras palavras, que a realidade é totalmente
absurda) verificava que era obrigado a admitir que uma parte da realidade,
a minha idéia de justiça, não era absurda e tinha muito sentido. O ateísmo.
248 F undamentos inabaláveis
Im agine um a vez mais um universo sem luz (sem padrão final do que é
justo e bom ) e criaturas sem olhos (sem conceito inerente do que é bo m ou
mal). Nessa realidade ateísta teórica, o conceito de trevas (mal ou injustiça) é
sem sentido afinal. Se, com o os ateus dão a entender, o mal enfim é sem senti
do, então qual é o problema? Se formos m eram ente parte de um processo
m olecular cego, com o os ateístas podem levantar-se acima desse processo e
dizer que alguns aspectos dele são maus e outros são bons? Átom os são sim
plesm ente átomos; não há átom os m aus no universo. Portanto, o ateísmo não
pode oferecer nenhum a definição lógica de m al sem apelar para um padrão últim o
de bem. Se tentarem fazer isso, acabarão declarando a existência real daquilo
que afirm am não existir — o bem suprem o (Deus).
D iante das convicções do ateísmo e do panteísm o, fica claro que se alguém
está sinceram ente procurando um a explicação para a origem e a natureza do
mal, é preciso fazer justiça e ouvir o que afirma o teísmo. Entre as três cosmovisões
que estamos considerando neste livro — o ateísmo (ou naturalismo), o panteísmo
e o teísmo — , apenas o teísmo é capaz de tratar suficientem ente destas ques
tões. Deve-se ter sem pre essa verdade em prim eiro plano quando procuram os
explicar a presença e a persistência do mal no universo teísta.
C om o teístas cristãos, não estamos reivindicando saber todas as respostas a
todas as perguntas. M as estamos dizendo que conhecemos as respostas a algumas
das questões mais essenciais desta vida. H á questões que não podem ser respon
didas, mas há tam bém algumas respostas que não podem ser questionadas!
Que é o mal?
E fácil fazer perguntas, mas as respostas m uitas vezes podem ser superficiais ou
equivocadas se não se perceber plenam ente a profundidade da pergunta. Isso é
verdade tanto para quem pergunta quanto para quem responde. C om o já ouvi
mos de Peter Kreeft: “N ão há nada mais fora de propósito que a resposta a um a
pergunta não plenam ente entendida, plenam ente apresentada. Somos extre-
Deus criou o m l ?
com o um a coisa boa, todavia o mal pode surgir dessa coisa boa. Portanto, Deus
não é o autor direto do mal, ele criou o potencial para o mal quando criou
criaturas livres, o que tam bém lhes faz possível experim entar o seu am or (o
bem maior).
Deus não criou robôs, criou seres hum anos com o poder de escolher livre
m ente entre o bem e o mal. Se ele criou seres hum anos já predispostos (além do
controle deles) para amá-lo, isso não seria o verdadeiro amor. Se program arm os o
nosso com putador para nos dizer que ele nos ama cada vez que o ligamos, na
verdade estamos dizendo a nós mesmos que nos amamos. O com putador estaria
apenas reproduzindo nossos pensamentos, não seria livre para nos dizer coisas
diferentes. N ão estaríamos com prom etidos num a relação de amor, mas num a
form a grave de narcisismo. U m relacionamento de am or deve deixar aberta a
possibilidade de o am or ser rejeitado — e, portanto, o mal ser escolhido. Q u an
do as pessoas rejeitam o am or de Deus, percebem o mal potencial dentro delas
mesmas, o que afeta todos os outros relacionamentos nos quais elas entram.
Dizer que seria m elhor se D eus não criasse nada, em vez de algo, não faz
sentido porque não há base com um para com parar nada com algum a coisa.
Deus poderia ter criado seres não-livres, isso tornaria o bem maior, a relação
de am or com ele e com os outros, impossível. Se o pecado (um a espécie de mal)
se define essencialmente com o a rejeição do bem que deveria existir (neste caso
o am or a Deus), é impossível
p a ra D e u s te r c ria d o u m
m u ndo onde as pessoas fos Possíveis m u n d o s criadc
sem livres e o pecado não fos
se possível. Finalm ente, se a
D eus ------- 1. ..
“salvação” se d efin e co m o -3^ uina coisüJ
Deus oferecendo livremente ~ .
m undo livre J
às pessoas u m cam inh o de
volta para a relação de am or
com ele depois de terem re
Pocado
J
jeitado a relação com o peca ateuns sj —^
do, e se o am or requer livre
escolha, tam bém é impossível salvar pessoas contra a vontade delas. D eus não
pode forçar seu am or a ninguém porque am or forçado não é amor, é um a
contradição.
Está claro, po rtanto, que a criação de seres livres tem o potencial inerente
para o mal ocorrer. C. S. Lewis referiu-se habilm ente a essa questão do livre
Deus £ o m 253
arbítrio e da total inutilidade de tentar contestar D eus achando que ele pode
ria ter criado u m m undo melhor.
v o lu n ta r ia m e n te u n id a s c o m E le e e n tr e si m e s m a s [...]
lib e r d a d e p a r a o m a l: a p a r e n t e m e n t e E le j u lg o u q u e v a le r ia a p e n a co r r e r o
risc o . T a lv e z n o s s in t a m o s in c lin a d o s a d is c o r d a r d e le . M a s h á u m a d if ic u l
dade em d is c o r d a r d e D eu s. E le é a fo n te de to d a a n ossa fa c u ld a d e de
r a c io c in a r : n ã o p o d e r ía m o s e s ta r c e r t o s e E le e r r a d o , a s s im com o u m a cor
r e n t e d ’á g u a n ã o p o d e e s t a r a c i m a d e s u a n a s c e n t e . Q u a n d o d i s c u t i m o s c o m
E le , d is c u t im o s c o m o p r ó p r io p o d e r q u e n o s d e u a c a p a c id a d e d e d is c u tir :
é c o m o c o r ta r o g a lh o o n d e e s ta m o s se n ta d o s . S e D e u s ju lg a q u e a g u err a n o
u n iv e r so é u m p r e ç o q u e v a le a p e n a s e r p a g o p a r a h a v e r v o n t a d e s liv r e s , o u
podem fazer o b e m o u o m a l, e o n d e a lg o r e a lm e n te im p o r ta n te p o d e a c o n
quando E le a p e r ta sse o s b o t õ e s , e n tã o d e v e m o s c o n s id e r a r q u e v a le m e s m o
a p e n a co r rer esse r is c o .8
9Até este capítulo, ainda não defendemos a confiabilidade histórica dos docum entos do Novo
Testam ento. Vamos dar evidências e argum entar em favor dela no cap. 12. Apenas querem os
introduzir algumas idéias relacionadas aqui para dar um a visão mais aprofundada da resposta cristã
ao mal e ao sofrimento.
D f U S E 0 MAL 255
Seus breves com entários im plicam advertência quanto ao perigo im inente que
enfrentariam se não reconhecessem e não se preocupassem com o mal no pró
prio coração. Em essência, Jesus disse: “O m al que está no m und o os perturba
de fato? Se vocês estão perturbados com o mal, com ecem com o mal que está
bem próxim o de vocês — o mal em seu próprio coração. Deixem o resto do
m u ndo com Deus e fiquem mais preocupados com seus próprios m odos maus
e as conseqüências que vocês enfrentarão se não os confessarem e não se volta
rem para Deus!”. Se quisermos ver Deus im pedir o mal, devemos pedir-lhe para
começar em nós.
Q u and o o rabino H arold K ushner conclui que D eus é im perfeito, autom atica
m ente presum e algum padrão de perfeição pelo qual avalia Deus. E ntretanto,
K ushner deixa de reconhecer o problem a filosófico que esse tipo de conclusão
levanta. É essencialmente a m esm a que C. S. Lewis enfrentou na sua luta para
ser intelectualm ente sincero na condição de ateu tratando do problem a do
mal. Q u an d o Lewis reconheceu que o m un do era injusto, foi forçado a pressu
por u m padrão de justiça que está além do m undo. O m esm o princípio aplica-
se à conclusão do rabino Kushner. Para dizer que D eus é im perfeito, Kushner
deve ter presum ido um padrão de perfeição além de Deus. N o entanto, Kushner
nega que exista o padrão que ele alega ser perfeito. Isso nos leva de volta à
posição que assumimos no começo: se esse Ser perfeito existe, por que há o mal
e o sofrim ento no m undo?
C onsiderando a largura e a profundidade do problem a do mal, concorda
mos com Peter Kreeft quando diz que a existência do mal e do sofrim ento é
mais u m mistério do que um problem a. C om parou-o ao am or e disse que, um a
vez que estamos envolvidos subjetivam ente, achamos difícil com preender ple
nam ente todas as razões por que o mal acontece. C om o certa vez propôs C. S.
Lewis: “Se esta dor de dente sumisse, eu poderia escrever outro capítulo sobre
a dor”. Teorizar a respeito da dor é um a coisa quando estamos bem , mas é outra
totalm ente diferente quando a sofremos. Portanto, reconhecem os nossa expli
cação incom pleta para justificar todos os propósitos que o mal e a dor possam
ter na vida de um indivíduo. E ntretanto, conhecem os alguns bons propósitos
produzidos pela dor e pelo sofrim ento. Antes de m encioná-los, querem os tra
tar da crítica de que não saber os propósitos do mal e da dor im plica que Deus
não tem propósitos bons para as pessoas que sofrem.
256 F undamentos inabaláveis
Nosso desconhecim ento de todos os bons propósitos que D eus tem para a dor
e para o sofrim ento não significa que não haja bons propósitos. N ossa ignorân
cia não significa que D eus (um Ser infinito) não conheça. A única conclusão
lógica que se pode tirar é que, se Deus é todo-bondoso e onisciente, ele deve
conhecer os bons propósitos para a dor e para o sofrim ento no m undo. N ão
segue disso que o mal dem onstra que Deus é im perfeito e lim itado, segue que
nós somos imperfeitos e limitados.
N o que se refere ao mal e ao sofrim ento, podem os não conhecer todos os
propósitos de D eus, mas podem os conhecer alguns deles. A lgum a dor física é
necessária para o desenvolvimento do caráter. Por exemplo, a compaixão não se
atinge sem a miséria, nem a paciência sem a tribulação. N ão se adquire cora
gem sem o temor, e a persistência é provocada pela privação. Em resumo,
algumas virtudes seriam totalm ente ausentes sem o mal físico.10 A edificação
do caráter só acontece com aflição. Foi H elen Keller que disse: “O caráter não
pode ser desenvolvido na com odidade e na quietude. Som ente através da pro
vação e do sofrim ento a alma pode ser fortalecida, a visão clareada, a ambição
inspirada e o sucesso alcançado”.
Das quatro virtudes cardeais (sabedoria, coragem, dom ínio próprio e justi
ça), C. S. Lewis considerava a coragem um a form a não som ente de cada um a
das outras três, mas tam bém de todas as virtudes. Disse:
A coragem não é s im p le s m e n te um a d a s v ir tu d e s , m as a fo rm a de to d a
v ir tu d e e m s it u a ç ã o d e te s te , o q u e s ig n if ic a , n o p o n t o d a m a is a lta r e a lid a
fo i m is e r ic o r d io so a té q u e p a sso u a c o r r e r r i s c o . 11
preferir vícios com o orgulho, ira, ciúme, avareza, glutonaria, luxúria e preguiça
são manifestações da recusa de dom inar os impulsos físicos e psicológicos. Deixar
de aprender a desenvolver e usar o dom ínio próprio resultará na redução do
interesse pela virtude e do desejo de cultivar um a boa personalidade. Ensinar
as crianças a lidar com esses m aus hábitos em casa, na escola e na sociedade
implica um nível pessoal de sofrim ento cham ado disciplina. As punições são
quase sem pre necessárias para ensinar os indivíduos que eles estão andando
sobre bases m oralm ente perigosas. Som ente por meio da dor da disciplina um a
criança pode aprender o dom ínio próprio.
Um pouco de dor é necessário para nos advertir de um perigo im inente maior. A
dor é usada com o sistema de advertência para nos ajudar a perm anecer vivos.
As pessoas portadoras de lepra participaram de experim entos que visavam a
ajudá-las a se proteger de se causarem danos ainda maiores. U m dos efeitos da
lepra é a perda da sensibilidade nas extrem idades e, quando alguém com lepra
inadvertidam ente toca u m prato m u ito quente ou corta a p o n ta dos dedos com
um serrote, não sente a dor associada com esses atos e pode acabar se queim an
do ou se m utilando sem perceber.
O s pesquisadores colocaram pequenos sensores e transmissores elétricos nas
pessoas leprosas para adverti-las de perigos im inentes. Por exemplo, quando
chegavam m uito próxim o de algum a superfície quente, as unidades elétricas
lhes davam um choque para adverti-las de não tocar o objeto. Porém, depois de
algum tem po, as pessoas que participaram desse experim ento não gostaram de
receber o tratam ento de choque, e os pesquisadores reduziram a intensidade da
descarga da unidade elétrica — a fonte da dor. Em conseqüência desses experi
m entos, os pesquisadores aprenderam q u e b r a a dor funcionar adequadam ente
para advertir alguém do perigo, tinha de vir com a intensidade certa e estarfo ra do
controle dos indivíduos. Esse tipo de pesquisa é u m incentivo para ver a dor
com o bênção em vez de aflição.
Um pouco de dor é necessário para nos ajudar a evitar sofrimento maior. A dor
de suportar sentado na cadeira do dentista é em geral necessária para poupar o
indivíduo de sofrim ento e dor ainda maiores. Q u an d o alguém ignora suas
necessidades de saúde (descanso devido, dieta, exercício etc.), é bom que o
corpo reaja de m aneira dolorida para que esse indivíduo saiba que algo está
errado antes que a situação se torne pior.
Finalmente, um pouco de dor é usado por Deus para obter nossa atenção moral.
D a m esm a form a que u m pai que am a o filho e o disciplina para cham ar-lhe
atenção, D eus tam bém age. Algumas pessoas têm de ter os músculos estirados
258 F undamentos inabaláveis
antes de se voltar para Deus. A m aioria das pessoas se volta para Deus em
tem pos de sofrim ento, não quando tudo está indo bem . Lewis disse:
D eus c o c h ic h a c o n o sc o n o s p razeres,
fa la -n o s à c o n s c iê n c ia , m as g rita
Alguns propósitos p;ir.i <i dor
con osco nas n ossas dores: a dor é o
p r ia e x is t ê n c ia , n a fo rm a de d o r , ele
e m e n d a r . R e m o v e o v é u , p la n ta a b a n d e ir a d a v e r d a d e d e n tr o d a fo r ta le z a d e
u m a a l m a r e b e l d e . 12
P or q u f há tanto mal e s o fr im en t o ?
festa de qualquer jeito. M as quando chega à festa e a noite vai passando, sua
dor de dente piora. Agora vamos associar alguns valores quantitativos a essa dor
que você está sofrendo. Digam os que o nível m ínim o de dor que u m a pessoa
pode suportar antes que o cérebro registre a d or causada no dente seja igual a
cinco unidades de dor. Digam os tam bém que a intensidade m áxim a de dor
que u m a pessoa pode suportar seja cem unidades de dor. Q u an d o você entrou
na festa, seu cérebro registrou quinze unidades de dor. Duas horas mais tarde,
ela subiu para 75 unidades. Após mais trinta m inutos, atingiu o limite, regis
trando cem unidades de dor. Digam os tam bém que há 25 pessoas na festa
(inclusive você), e por algum a estranha coincidência, as outras 24 tam bém
estão com dor de dente, que finalm ente se intensifica, atingindo cem unidades
de dor. Nossa pergunta é: “C om o se sofre tanta dor nesse lugar nessa hora?”.
Em um sentido, a quantidade total de dor na sala é vinte e cinco vezes cem,
ou seja, 2 500 unidades, mas seria errado dizer que u m a pessoa dessa festa está
sofrendo 2 500 unidades de dor. Deve-se ter em m ente que ninguém está
sofrendo a intensidade de 2 500 unidades de dor. Essa dor com posta não está
na consciência de um indivíduo. Acrescentar vinte e cinco, dois mil e qu in hen
tos ou vinte e cinco m ilhões de sofredores a esse cenário não aum enta mais a
dor, aum enta apenas a quantidade de pessoas que sofrem a dor. Por esta razão,
a pergunta certa a fazer não é “Por que há tan ta dor e sofrim ento?”, mas: “Por
que tantas pessoas experim entam dor e sofrim ento?”
d e d e so fr im e n to n o m u n d o . A p e n a s q u e r e m o s m o s t r a r q u e p o r m a is te r r í
v e l q u e seja v e r u m in d iv íd u o so fr e r o m á x im o d e d o r p o s s ív e l, a in d a r e fle te
o fa to d e q u e a d o r e o s o fr im e n to sã o lim ita d o s à e x p e r iê n c ia d e u m a só
in s u p o r tá v e l q u a n d o n ã o h á n in g u é m p o r p erto q u e v e r d a d e ir a m e n te e n te n
d a e p ossa se r e la c io n a r c o m o so fred o r. Ir o n ic a m e n te , a in te n s id a d e do
s o fr im e n to é, c o m e fe ito , d im in u íd a q u a n d o m a is d e u m a p e s s o a o e x p e r i
m en ta .
O teísmo cristão não afirm a que Deus tenha criado o m elhor m u nd o possível.
M as afirm a que D eus criou o m elhor meio para o m elhor m u n d o possível.
Segue, portanto, que a espécie de m un do físico em que vivemos, com males
naturais, é compatível com o “m elhor m eio” para obter o m elhor m u ndo pos
sível. Nesse m elhor m eio para o m elhor m un do possível, o mal físico resulta
tanto direta com o indiretam ente das leis que regem o universo físico e das
decisões dos agentes morais. Deus criou o m un do de m odo que as leis naturais
260 F undamentos inabaláveis
D E U S PODE SER S O B E R A N O E A I N D A A S S I M P E R M I T I R A L I B E R D A D E H U M A N A ?
Espero que agora, tendo u m entendim ento m elhor do problem a do mal, pos
samos voltar à conclusão do rabino H arold K ushner m encionada anteriorm en
te. K ushner crê que Deus não está no controle de todas as coisas, por isso infere
que a soberania de D eus não pode coexistir com a liberdade hu m an a e vê a
liberdade hum ana como a desistência de Deus de exercer seu controle no m undo.
N u m a obra anterior, expus a falácia do tipo de pensam ento de K ushner e
m ostrei que
... toda ação moral [tem de] ser ou a) causada por algo de fora, b) ou não ser
causada, ou c) ser autocausada. Mas causar uma ação moral de fora seria
violação da liberdade. Seria determinismo, e seria eliminar a responsabili
dade individual pela ação. Em última análise, seria tornar Deus diretamente
responsável por realizar atos maus. E não ter sido causado tornaria o ato
gratuito, arbitrário, irresponsável e imprevisível. Mas os atos humanos são
previsíveis e responsáveis (Deus sabe o que o homem vai fazer com a sua
16A tos autocausados não são contradição, como é o caso de seres auto-causados. É possível
alguém causar sua própria transformação (é o que faz a livre escolha), mas é impossível alguém causas
sua própria existência. O u melhor, podem os causar nossas próprias ações, mas não o nosso próprio ser.
I7O p . cit. p. 401-2.
264 F undaaienios inabaláveis
Agora vamos supor que os sete dias de nossa ilustração representam os acon
tecim entos que ocorreram durante a sem ana em que Jesus Cristo foi crucifica
do. D u ran te essa semana, certos
indivíduos fizeram escolhas livres
específicas que afetaram o próprio
destino deles e causaram a m orte
de Jesus. Judas escolheu livremen
te trair Jesus e entregá-lo às au to
rid ad e s p o r t r i n t a m o ed a s de
prata. O s discípulos de Jesus li
vrem ente escolheram abandoná-
lo. As a u to r id a d e s re lig io sa s
livrem ente escolheram entregá-lo
às autoridades rom anas e exigiram que ele fosse executado. A m ultidão livre
m ente escolheu que Pilatos soltasse Barrabás e crucificasse Jesus. Pilatos esco
lheu livrem ente condenar Jesus à m orte por crucifixão. Isto nos leva ao dia
cinco, o dia em que Jesus foi crucificado.
D epois da m orte de Jesus, ele foi sepultado n u m a tum ba. Seus amigos
choraram sua m orte, e aqueles que livrem ente escolheram tom ar parte da sua
m orte cum priram a tarefa que resolveram fazer. O tem po passou e a crucifixão,
a m orte e o sepultam ento de Jesus ocorreram . N ada nem ninguém na terra
podem reverter e m u dar os acon
tecimentos que levaram Jesus Cris
to à m orte. D o p o n to de vista
hum ano, parece que D eus estava
ausente e não teve o controle para
salvar seu próprio Filho do sofri
m ento que suportou das mãos dos
hom ens maus.
E n tretan to , D eus terá a pala
vra final nessa situação, com o em
todos os assuntos! C om o sempre,
Jesus subm eteu-se ao plano de seu Pai e obedeceu à autoridade terrena sobre
ele. Essas autoridades escolheram livrem ente m atar Jesus por crucifixão, p en
sando ter o controle de seu destino final. Fizeram sua escolha, e D eus conside
rou-os responsáveis por suas ações. C o n tu d o , visto que Deus é soberano sobre
todas as coisas, ele tem a palavra final, e havia decretado desde a eternidade que
D eus e o m l 265
A crucificação em si é o
Eternidade
melhor, assim como o pior,
de todos os acontecimentos
Tempo
históricos, mas o papel de __ ____
I 1 1 11| I
Judas perm anece sim ples J 2 3 4 5 6 7
U m m eio mais simples, mas preciso, de entender com o algo pode ser deter
m inado e ainda assim ser livrem ente escolhido é assistir a um videoteipe. Por
algum a razão você não pode ver o final do cam peonato de futebol ao vivo pela
TV e pediu que alguém o gravasse em vídeo para você. Q u an d o finalm ente teve
tem po para sentar-se e assistir ao vídeo, você passou a ver um jogo já determ i
nado. M as cada jogada e ação que você está observando foram livrem ente esco
lhidas.
D epois de considerar a natureza do D eus do teísm o cristão e as opções
lógicas referentes ao mal, concluím os que D eus tem a capacidade de intervir
se e/ou q uando ele determ ina. Se
d ec id ir não in terv ir, p o d em o s
presum ir que ele está p e rm itin
do que o m al persista a fim de
alcançar um bem m aior, m esm o
que não tenham os n e n h u m co
nhecim ento do bem maior. Além
disso, D eus é capaz de redim ir
as nossas más escolhas, ou o mal
que os outros escolhem que faça
mos, com o parte do seu plano so
b e ra n o de p r o d u z ir u m b em
maior. D eus p erm itiu que o mal
acontecesse com seu Filho, to d a
via, teve a palavra final q u and o cu m p riu seus propósitos prod u zin d o um
bem m aior na vida de Jesus e de todos os que crêem nele. Essa vitória sobre o
m al é o tem a central da m ensagem cristã, conhecida com o evangelho ou
boas-novas.
C om o vimos, o ateísmo e o panteísm o não conseguem fornecer dentro da
estrutura de suas próprias cosmovisões respostas aceitáveis às perguntas que
dizem respeito ao problem a do m al.19 Se D eus não existe (ateísmo), ou se o
mal não é real (panteísmo), por que, então, se im portar com o mal? Para os
ateus, o mal é m eram ente problem a da ignorância hum ana, e a resposta ao
problem a é a educação. Para os panteístas, o mal é u m a ilusão e não precisa de
nen h u m a solução, porque não é u m problem a real. Apenas quando alguém
afirm a que o mal é real e que Deus todo-bom , todo-conhecedor e todo-pode-
roso existe, deve-se dar explicação. O teísmo cristão reconhece que o mal está
ancorado em cada coração h u m ano e se m anifesta n u m estilo de vida centrado
15C onsultar cap. 2 para rever o teste metodológico das alegações de verdade das cosmovisões.
D f U S E 0 MAL 267
no eu. Vamos falar diretam ente desse problem a e observar o que pode ser feito
a respeito dele no capítulo sobre ética e moral.
E m bora tenham os dado um a explicação para o problem a do mal de um a
perspectiva teísta cristã, algumas perguntas ainda perm anecem : “O que Deus
fez a respeito do mal? Q ual é a resposta final de D eus para derrotar o problem a
do mal? C om o D eus planeja redim ir todos os males para o seu propósito de
produzir o bem maior?”. A fim
de responder a essas perguntas, \ A te ís m o P a n te ísm o / T eísm o
ÜESUS E A HISTÓRIA
— H . G. W ells
Q ue é história?
É P O S S ÍV E L H A V E R M I L A G R E S ?
Alguns não levam em con ta o N ovo T estam ento com o fonte confiável de
história baseados no fato de que ele contém milagres. Essas pessoas no rm al
m ente se referem à m áxim a de D avid H u m e de que há “experiência uniform e
co ntra os m ilagres”. H u m e argum entava que os milagres são violação da lei
natural e, p o rtan to , são desqualificados. T am bém dizia que “o h om em sábio
nu n ca deveria crer no que se baseia no grau m en o r de pro babilidade”. H u m e
está correto em afirm ar que os milagres não po dem ser considerados parte da
história verdadeira?
Em Milagres, C. S. Lewis respondeu a H um e:
2Ibid„ p. 308.
3P. 96.
] £ S U 5 £ 4 HISTÓRIA 271
U m a vez mais observamos que a história é semelhante à ciência das origens (v.
cap. 4) na m eta de estabelecer a probabilidade de eventos singulares do passado.
Os parâmetros da história são de natureza filosófica no que se refere às lentes
intelectuais (cosmovisão) através das quais o historiador vê (interpreta) os even
tos passados. O processo de verificação do m étodo histórico é de natureza legal
porque a investigação implica estabelecer a verdade ou a fraude dos relatos das
testemunhas oculares. H á outros fatores im portantes que vamos assinalar, mas
por ora esses aspectos intelectuais do m étodo histórico vão-nos ajudar a entender
a base para o desenvolvimento de um a metodologia histórica confiável.
H á um a diferença essencial entre afirmações a respeito de Deus e afirmações que
alegam que Deus agiu em determinado ponto do tempo — na história. As alegações
do Novo Testamento colocam os eventos no continuum da história secular. Dife
rentem ente de muitas outras religiões, o cristianismo é baseado em evidências
históricas que podem ser postas a prova e constatadas verdadeiras ou ser reconhe
cidas com o falsas. U m a regra legal essencial, conhecida de todo advogado, é que
as declarações devem fornecer o tempo e o lugar. O Novo Testamento faz isso com a
m áxima precisão. Por exemplo, em Lucas 3.1 e 2 lemos:
Estes acontecim entos do N ovo Testam ento são abertos ao exame. Se alguém
pudesse dem onstrar que essas pessoas e lugares nunca existiram ou que esses
eventos nun ca aconteceram , a confiabilidade dos docum entos do Novo Testa
m ento seria posta em risco. C o ntud o, evidências suficientes que apóiam a exa
tidão desse registro argum entariam em favor da confiabilidade dos docum entos
do Novo Testamento.
N aturalm ente, a pergunta é: “E m que m edida as evidências são evidências
suficientes?”. E m Introduction to research in english literary History [Introdução à
pesquisa em história literária inglesa\, o historiador militar dr. C. Sanders oferece
critérios para estabelecer a confiabilidade e a exatidão de qualquer peça de
literatura da A ntiguidade.6 H á três testes básicos que Sanders identificou para
decidir se um docum ento antigo é confiável:
J esus e a história 2/3
• Teste bibliográfico: U m a vez que não temos os docum entos originais (au
tógrafos), qual o grau de confiabilidade e precisão das cópias que temos
em relação ao núm ero de m anuscritos (m s s ) 7 , e qual o intervalo de tem
po entre o original e as cópias existentes?
• Teste interno-. O que existe no texto? O texto tem coerência interna?
• Teste externo-. O que está fora do texto? Q ue fragmentos de literatura ou
outros dados ainda existentes, à parte do que está sendo estudado, confir
m am a exatidão do testem unho interno do documento? (Em outras pala
vras, há literatura à parte do docum ento que dê suporte ao que está nele?).
O S M A N U S C R I T O S DO N O V O T í S T A M t N T O
<P ^ «O
■S O
«y
E n tre ta n to , o N ovo - ° /
12Para mais detalhes sobre esses textos, v. Introdução bíblica (cap. 12), de N o rm an Geisler e
W illiam Nix; The text o fth e N ew Testament, de Bruce Metzger (p. 30-54); e A n introduction to the
textual criticism o fth e N ew Testament, de Archibald T. Robertson (p. 70).
13M il anos para Tácito e César, 1 300 anos para H eródoto e 1 500 anos para Dem óstenes. O
espaço de tem po para a Ilíada de H om ero não é conhecido.
276 F jn d ím n to s inabaláveis
suficientes para perm itir comparação. Algumas cópias mil anos mais antigas
que o fato não fornecem elos suficientes na cadeia perdida nem correções de
variantes suficientes no m anuscrito para capacitar os estudiosos do texto a re
construir o original”.14 Ao contrário, qual a im portância das leituras variantes
do N ovo Testamento?
Westcott e H o rt estimaram que apenas cerca de um oitavo de todas as varian
tes tem algum peso, um a vez que a m aior parte delas são simplesmente assuntos
mecânicos como ortografia e estilo. D o todo, somente cerca de um sexto está
acima de “trivialidades”, ou pode de alguma forma ser cham ado de “variação
substancial”.15 M atem aticam ente isso significa um texto 98,33% puro.
A. T. R obertson deu a entender que a preocupação real da crítica textual é
de “milésima parte do texto todo”.16 Isso tornaria o texto do Novo Testamento
99,9% reconstruído, livre de qualquer erro substancial ou de conseqüência.
Por isso, B. B. W arfield observou que “a grande massa do Novo Testamento, em
outras palavras, nos foi transm itida sem n en h u m a variação praticam ente sem
nen h u m a”.17
A prim eira vista, a grande m ultidão de variantes parece um a deficiência
com relação à integridade do texto bíblico. M as exatam ente o contrário é ver
dadeiro, pois o núm ero m aior de variantes supre ao m esm o tem po os meios de
verificar as variantes. Por mais estranho que pareça, a corrupção do texto forne
ce os meios de sua própria correção.18
U m a com paração honesta de três observações: 1) o núm ero de manuscritos;
2) o espaço de tem po entre o original e a cópia mais antiga; e 3) a exatidão do
N ovo Testam ento, todas dão testem unho de que o Novo Testam ento é o docu
m ento historicam ente mais exato e confiável de todos os da Antiguidade. Se
diante disso não se pode confiar no Novo Testam ento, então se deve rejeitar
toda a história antiga que repousa sobre evidências m uito mais fracas. Tão
claras são as evidências para o N ovo Testam ento que ninguém m enos que o
falecido erudito Sir Frederic Kenyon pôde escrever:
d e s p r e z ív e l, e o ú lt im o f u n d a m e n t o p a r a q u a lq u e r d ú v id a d e q u e as E s c r i
T esta m en to podem s e r c o n s i d e r a d a s f i n a l m e n t e e s t a b e l e c i d a s . 13
e les m e s m o s d e c r e t a d o , p r o c e d e m fa z e n d o in fe r ê n c ia s , e a c e n s u r a r o p o e ta
d is se o u q u e u m hom em de bom s e n s o p r e s u m e c o m o v e r d a d e i r a . 20
Distância lingüística
Gleason Archer é dotado singularm ente de dom ínio das línguas originais. N a
Enciclopédia de temas bíblicos, ele lem bra aos leitores:
Distância cultural
22N o rm an L. G e is l e r e T hom as H o w e .
23V. bibliografia no final deste livro.
24Ibid„ p . 14.
Jesus e a história 119
Distância geográfica
Distância histórica
Por exemplo: 1) o acidente de carro ocorreu num a hora específica e num lugar
específico; 2) um a descrição geral dos dois veículos acidentados; e 3) os motoristas
eram ambos homens etc. Digamos que as doze testemunhas concordassem sobre a
hora e o lugar e dissessem que o acidente foi entre um Ford Escort vermelho e um
caminhão preto da GM. Todos testificam que o motorista do Escort era um jovem,
e o do caminhão era um hom em mais velho. Estão de acordo nos pontos mais
importantes. N o que se refere ao Novo Testamento e à pessoa de Jesus, as testemu
nhas oculares tiveram consenso claro nos pontos principais de sua vida miraculosa,
de como foi sua morte, e da sua ressurreição dentre os mortos.
C oncordância com pleta nos detalhes significativos que dão suporte aos
pontos principais
Antes de aplicar essa m áxim a ao N ovo Testam ento, perm ita-nos ilustrá-la.
U m de nós tem um amigo — ao qual cham arem os de A ndré — que vive na
região central do país. Ele tinha três amigos m uito bons — aos quais cham are
mos de José, João e M arcos — , que vivem na região litorânea. U m dia André
recebeu de João a notícia de que José sofrerá um terrível acidente de carro e
morreu instantaneamente. N o dia seguinte, A ndré recebeu um a carta de M ar
cos dizendo que José sofrerá u m acidente autom obilístico, sobrevivera, mas
morreu algum tempo depois. A prim eira vista, as duas narrativas parecem contra
ditórias. E m um a, ele m orreu instantaneam ente no acidente, na outra, não.
A ndré sabia que João e M arcos eram fontes confiáveis e confiou neles para
lhe darem um a narrativa exata dos acontecim entos que envolveram a m orte do
amigo m útuo. Q u an d o tudo veio à luz, viu-se que tanto João com o M arcos
estavam certos, mas havia um a inform ação faltando. N a verdade, José havia
sofrido dois acidentes autom obilísticos no m esm o dia. N o prim eiro acidente,
José feriu-se gravemente, mas sobreviveu. U m “bom sam aritano” parou para
ajudá-lo e levou-o para o pro nto socorro do hospital mais próxim o. E ntretan
to, no cam inho do hospital, o m otorista bondoso sofreu u m acidente m uito
grave e em conseqüência José m orreu instantaneam ente. Portanto, as duas nar
rativas estavam corretas. João não tin h a conhecim ento do prim eiro acidente,
sabia apenas do segundo, que m atou José instantaneam ente. M arcos sabia ape
nas dos detalhes do prim eiro acidente, ao qual José sobreviveu, e não do segun
do. Sabia apenas que José morrera mais tarde naquele dia. A aparente contradição
se resolveu quando o restante da verdade foi descoberto.
A máxima de Aristóteles aplica-se ao Novo Testamento tam bém , como mostra
o exemplo a seguir. N o evangelho segundo M ateus, o autor registra a m orte de
Judas com o suicídio p o r enforcam ento (M t 27.5). C on tudo , em Atos 1.18, ao
registrar a m orte de Judas, Lucas escreve que “seu corpo partiu-se ao meio, e
suas vísceras se derram aram ”. Alguns estudiosos decidiram que essas duas nar
rativas divergentes são irreconciliáveis. Presum em que um a ou as duas narrati
vas estejam incorretas. Se M ateus e Lucas são dignos de confiança para produzir
um a narrativa precisa dos acontecim entos, certam ente parece que pelo menos
um deles está errado: o corpo de Judas partiu-se ao m eio ou ele enforcou-se.
O u , há outra opção?
A integridade dos testem unhos dos autores do N ovo Testam ento é crucial
porque eles testificaram perante o m u nd o, o que inclui alguns dos seus mais
severos antagonistas. Eles proclam aram a sua m ensagem com o testem unhas
oculares e se expuseram à crítica e à correção de seus oponentes (At 2.22). Essa
espécie de pressão para m anter os fatos corretos acontece a m uito poucas pesso
as na história. Esses autores não podiam dar-se ao luxo de expor-se ao perigo de
informações incorretas. Q ualquer m anipulação dos fatos seria prontam ente
exposta, pois havia m uitas testem unhas oculares ainda vivas que teriam reagido
im ediatam ente se eles deturpassem a verdade. C onseqüentem ente, concluí
mos que o N ovo Testam ento passa no teste da coerência interna.
“Q u e fontes existem, à parte dos escritos sob análise, que confirm am a exati
dão, confiabilidade e autenticidade dos docum entos?” Em outras palavras, há
literatura ou outra evidência, exceto o Novo Testam ento, que confirm e o teste
m unho interno dos autores do Novo Testamento? Em resposta a essa pergunta
apresentam os a seguinte evidência objetiva, extraída das várias fontes observa
das, para confirm ar o esboço geral do N ovo Testamento.
dor, cujo nome de família, Flávio, adotou, passando desde então a ser co
nhecido como Flávio Josefo.
[...] Josefo usou esses anos de lazer em Roma em moldes tais a fazer jus.
pelo menos me certa medida, à gratidão patrícia com escrever a história da
nacionalidade. As obras literárias que produziu incluem a HISTÓRIA DAS
GUERRAS JUDAICAS [...] uma AUTOBIOGRAFIA [...] e vinte iivros de
ANTIGÜIDADES JUDAICAS, história da nacionalidade desde o começo
em Gênesis até os seus dias [...]
Nas páginas dessas obras de Josefo, deparamo-nos com muitas figuras
que nos são bem conhecidas através do Novo Testamento: a multicolor fa
mília dos Herodes; os imperadores romanos Augusto, Tibério, Cláudio e
Nero; Quirino, o governador da Síria; Pilatos, Félix e Festo, os procurado
res da Judéia; as famílias de sumo-sacerdotes — Anás, Caifás, Ananias e os
demais; os fariseus e os saduceus; e assim por diante. No fundo que provê
Josefo podemos ler o Novo Testamento com interesse e descortino mais
acentuados. [...]
O repentino falecimento de Herodes Agripa I, narrado por Lucas em
Atos 12:19-23, registra-o também Josefo (ANT. 19:8:2) em termos que con
cordam com o arcabouço geral de Lucas, inda que as duas narrativas sejam
assaz independentes uma da outra. [...]
“E, por essa época, surgiu outro foco de novas dificuldades, um certo
Jesus, homem sábio. Era ele operador de feitos maravilhosos, mestre daque
les que recebem coisas estranhas com prazer. Atraiu a muitos judeus, e tam
bém a muitos gregos. Esse homem era o assim chamado Cristo. E quando
Pilatos, ante o pronunciamento dos principais vultos dentre nós, o condena
ra à crucificação, aqueles que o haviam amado de começo não o repudia
ram; pois lhes apareceu, segundo diziam, vivo outra vez ao terceiro dia.
havendo os divinos profetas falado isto e milhares de outras coisas maravi
lhosas a seu respeito: e mesmo agora a família dos cristãos, assim denomi
nados por causa dele, ainda não se extingiu”.
Nesta versão as secções em itálico marcam as emendas propostas. Mer
cê de um ou dois retoques muitíssimo simples, desfazem-se as dificuldades
do texto tradicional, ao mesmo tempo em que se preserva (ou até se realça)
o valor da passagem como documento histórico. O tom de menosprezo se
faz um pouco mais acentuado, em conseqüência desses acréscimos, e a refe
rência final à “família dos cristãos” não destoa da esperança de que, ainda
que não hajam extinguido, tal não tardará a dar-se.
Portanto, temos boas razões para crer que Josefo fez direta referência a
Jesus, testemunhando-Lhe quanto (a) à data em que exerceu o ministério;
(b) à reputação de taumaturgo; (c) ao fato de ser irmão de Tiago; (d) à
crucificação sob Pilatos, mercê da informação das autoridades judaicas; (e)
à postulação messiânica; (f) à condição de fundador da “família dos cris-
Jesus e a história 287
31Ibid., p. 147-55.
288 f U N D A M EN ÍO S INABALÁVEIS
Testemunho da Arqueologia
33As evidências arqueológicas resumidas aqui valem apenas para o Novo Testamento. Para um
resumo das evidências referentes ao Antigo Testam ento, v. Enciclopédia de apologética, p. 76-80.
-^Ibid., 81-2.
290 F undamentos inabaláveis
7 0 d .C . U m d e le s era u m hom em c h a m a d o Y o h a n a n b e n H a g a lg o l. E le t in h a
um cravo d e 18 c m d e c o m p r i m e n t o . O s p é s e s ta v a m v ir a d o s p a ra fo ra , p a ra
u sa d a s p ara a p o io n a cruz. O c r a v o h a v ia a tr a v e s s a d o u m a c u n h a d e a c á c ia ,
d e p o is o s c a lc a n h a r e s , d e p o is u m a v ig a d e m a d e ir a d e o liv e ir a . T a m b é m h a v ia
in d íc io s d e cr a v o s s e m e lh a n t e s c o lo c a d o s e n tr e o s d o is o s s o s d e c a d a p a rte
in fe r io r d o s b r a ç o s . E s te s h a v ia m feito c o m q u e o s o s so s su p e r io r e s se d e s g a s
la s h i s t ó r i c a s d o s s é c u l o s d e z o i t o e d e z e n o v e , c e rta s fa ses d a s q u a is a in d a se
Jesus e a história 291
p r o d u z ir a m a u m e n t o d o r e c o n h e c im e n t o d o v a lo r d a B íb lia c o m o f o n t e h is
t ó r i c a . 35
O nde se s u s p e ito u d e im p r e c is ã o d e L u ca s, e a p r e c is ã o fo i v in d ic a d a
p o r a lg u m a e v id ê n c ia d e in s c r iç ã o , p o d e ser le g ít im o d iz e r q u e a a r q u e o lo g ia
c o n fir m o u o r e g i s t r o d o N o v o T e s t a m e n t o . 36
N o to ta l, o tr a b a lh o a r q u e o ló g ic o t e m in q u e s tio n a v e lm e n te fo r ta le c id o a
P a l e s t i n a . 37
ju n ta m en te c o m o s m a i o r e s h i s t o r i a d o r e s . 38
Além do esboço geral da história do Novo Testam ento ser confirm ado por
fontes não-cristãs próximas de Cristo, há confirm ação específica de fatos especí
ficos da história do N ovo Testam ento proveniente da arqueologia. Vamos con-
centrar nossa atenção na história registrada por Lucas no livro de Atos. O esbo
ço a seguir foi extraído da Enciclopédia de apologética. V)
C o n q u a n to os e stu d o s a ca d ê m ic o s d o N o v o T e sta m e n to , p o r lo n g o te m
d o s e v a n g e lh o s e d e A t o s , is s o n ã o f o i v e r d a d e d o s h is to r ia d o r e s r o m a n o s d o
m esm o p e r ío d o . S h e r w in -W h ite é u m e x e m p l o . 41
O u t r o h is to r ia d o r d e u o p e s o d e su a e r u d iç ã o à q u e stã o d a h isto r ic id a d e
do liv r o d e A t o s . C o l i n J. H e m e r r e la c io n a d e z e s s e t e r a z õ e s p a r a a c e ita r a
40P. 88-9.
4'Rom an society a n d roman law in the N ew Testament. Oxford: Clarendon, 1969.
Jtsus t a história 293
p e r í o d o d e v i d a d e m u i t o s p a r t i c i p a n t e s . 42 E s s a s r a z õ e s a p o i a m f o r t e m e n t e a
h i s t o r i c i d a d e d e A t o s e , i n d i r e t a m e n t e , a d o e v a n g e l h o d e L u c a s (v . L c 1 .1
4 ; A t 1 .1 ):
1. N ã o h á m e n ç ã o a lg u m a e m A t o s d a q u e d a d e J e r u sa lé m n o a n o 7 0 d .C .,
o m is s ã o im p r o v á v e l, d e v id o a o c o n t e ú d o , se já tiv e ss e o c o r r id o .
2. N ã o h á n e n h u m a p is ta d a d e fla g r a ç ã o d a G u e r r a J u d a ic a n o a n o 6 6 d .C .,
r o m a n o s e ju d e u s , o q u e im p lic a q u e fo i e s c r ito a n te s d e s sa é p o c a .
3. N ão há nenhum in d íc io d e d e t e r io r a ç ã o d a s r e la ç õ e s c r is tã s c o m R om a
d e v id a s à p e r s e g u iç ã o d e N e r o n o fin a l d o s a n o s 6 0 d o p r im e ir o sé c u lo .
4. O a u to r n ã o m o stra n e n h u m c o n h e c i m e n t o d a s ca rta s d e P a u lo . S e A to s
tiv e ss e s id o e s c r ito m a is ta r d e , p o r q u e L u c a s , q u e se m o s tr a tã o c u id a
s e ç õ e s r e le v a n te s d a s E p ís to la s ? A s E p ís to la s e v i d e n t e m e n t e c ir c u la r a m e
za s, m a s o s ilê n c io in d ic a u m a d a ta m a is a n tig a .
5. N ão há nenhum in d íc io d a m o r te d e T ia g o p e lo S in é d r io p o r v o lta d o
ano 6 2 , r e g is tr a d a p o r J o s e fo (Antiguidades 2 0 .9 .1 .2 0 0 ).
6. A im p o r tâ n c ia d o ju lg a m e n to d e G á lio , e m A to s 1 8 .1 4 - 1 7 p o d e ser v is ta
com o o e s ta b e le c im e n to d e u m p r e c e d e n te p a ra le g itim a r o e n s in o c r is
tão so b o g u a r d a -c h u v a d a to le r â n c ia a o ju d a ísm o .
7. A p r e e m in ê n c ia e a u to r id a d e d o s sa d u c e u s e m A to s p erten cem ao p e r ío
d o p r é - 7 0 , a n te s d o c o la p s o d a c o o p e r a ç ã o p o lític a d e le s c o m R om a.
(d ife r e n te d a d o e v a n g e lh o d e L u ca s) n ã o se e n c a ix a b e m n o p e r ío d o d o
J â m n ia . E m c o n s e q ü ê n c ia d e ssa r e u n iã o , u m a fa se d e e s c a la d a d o c o n f li
9. A lg u n s a le g a r a m q u e o liv r o a n te d a ta a v in d a d e P e d r o a R o m a e t a m b é m
com o o p r ó p r io P a u lo , a in d a e sta v a m v iv o s .
1 0 .A p r e e m in ê n c ia dos “t e m e n t e s a D e u s ” n a s s in a g o g a s e m A to s parece
in d ic a r a s itu a ç ã o a n te r io r à G u e r r a J u d a ica .
42The book ofActs in the setting ofhellenistic history. W ino n a Lake: Eisenbrauns, 1990.
294 F undamentos inabaláveis
m a n a d o s im p e r a d o r e s J ú lio e C lá u d io .
ju d e u d u r a n te o p e r ío d o d o te m p lo .
1 3 .A d o l f H a r n a c k a le g o u q u e a p r o fe c ia c o lo c a d a n a b o c a d e P a u lo e m A to s
2 0 .2 5 (v . 2 0 . 3 8 ) p o d e t e r s i d o c o n t r a d i t a p o r a c o n t e c i m e n t o s p o s t e r i o r e s .
S e fo r o c a s o , e la s u p o s t a m e n t e fo i e s c r ita a n te s d e o s e v e n t o s o c o r r e r e m .
14. A f o r m u la ç ã o p r im it iv a d a t e r m i n o lo g ia c r is tã é u s a d a e m A t o s , q u e é c o m
p a t ív e l c o m o p e r í o d o p r im i t iv o . H a r n a c k a r r o la t ít u lo s c r is t o ló g ic o s , c o m o ,
1 5 .R a c k h a m c h a m a a ten çã o para o to m o t i m i s t a d e A t o s , q u e n ã o te r ia s id o
n a tu r a l a p ó s o j u d a ís m o ter s id o d e s tr u íd o , e o s c r is tã o s m a r tir iz a d o s n a s
p e r s e g u iç õ e s d e N e r o n o fin a l d o s a n o s 6 0 (H em er, p . 3 7 6 -8 2 ).
1 6 .0 f in a l d o liv r o d e A t o s . L u c a s n ã o c o n t i n u a a h is t ó r ia d e P a u lo n o fin a l
d o s d o is a n o s d e A to s 2 8 .3 0 . “A m e n ç ã o d e s te p e r ío d o d e fin id o im p lic a
um p o n to te r m in a l, p e lo m enos im i n e n t e ” (H e m e r , p . 3 8 3 ) . E le acres
c e n ta : “P o d e - s e a r g u m e n t a r s im p le s m e n t e q u e L u c a s t e n h a tr a z id o a n a r
r a tiv a p a r a o t e m p o d a e s c r ita , e a n o t a f in a l f o i a c r e s c e n t a d a n a c o n c lu s ã o
d o s d o is a n o s ” (ib id ., 3 8 7 ) .
p e la r e p r o d u ç ã o a p a r e n t e m e n t e ir r e fle tid a d e d e ta lh e s in s ig n if ic a n te s , ca
r a c te r ístic a q u e a lc a n ç a o a p o g e u n a n a r r a tiv a d a v ia g e m d e A to s 2 7 e 2 8
te m e n te co n tra sta d a s c o m o “c a r á t e r i n d i r e t o ” d a p a r t e a n t e r i o r d e A t o s ,
o n d e p r e s u m im o s q u e L u ca s a p o io u -se e m fo n tes o u e m r e m in is c ê n c ia s d e
o u t r o s e n ã o p o d e c o n tr o la r o c o n t e x t o d e s u a n a rra tiv a ” ( ib id ., 3 8 8 - 8 9 ) .
Lucas m anifesta um a ordem incrível de conhecim ento de locais, nom es, costu
mes e circunstâncias, que são próprios de um a testem unha ocular contem porâ
nea que registra o tem po e os acontecim entos. Atos 13-28, que cobre as viagens
de Paulo, m ostra particularm ente o conhecim ento íntim o das circunstâncias
] e s u s E 4 H I S T ÓR I A 295
locais [...] Inúm eras coisas são confirm adas p or pesquisa histórica e arqueoló
gica. (Relacionamos de 25 a 43 da Enciclopédia de apologética, p. 92.)
16. O culto de Ártemis dos Efésios (19.24, 27). O culto é bem atestado, e
o teatro de Efeso o lugar de encontro da cidade (19.29).
17. T ítulo correto grammateus [escrivão da cidade] para o m agistrado exe
cutivo principal e o título de ho nra adequado, Neokoros (19.35). N om e
correto para identificar a deusa (19.37). Designação correta dos que
a ju d a v a m n o t r i b u n a l (1 9 .3 8 ) . O u so d o p lu ra l a n th u p a to i
(procônsules)em 19.38 é provavelm ente um a referência exata notável
ao fato de que dois hom ens juntos exerciam as funções proconsulares
naquela época.
18. O uso de um a designação étnica precisa, beroiaios e o term o étnico
asianos (20.4).
19. A perm anência constante de um a legião rom ana na fortaleza A ntônia
para reprim ir os distúrbios nos tem pos de festa (21.31). A escada usa
da pelos guardas (21.31, 35).
20. A identificação correta de Ananias com o sum o sacerdote (23.2) e de
Félix com o governador (23.24).
21. Explicação do procedim ento penal providencial (24.1-9).
22. C oncordância com Josefo sobre o nom e Pórcio Festo (24.27).
23. Observação sobre direito legal de apelo do cidadão rom ano (25.11).
Fórm ula legal de quibus cognoscere volebam (25.18). Form a característi
ca de referência ao im perador (25.26).
24. N om e e lugar exatos dados para a ilha de C lauda (27.16). M anobra
apropriada dos marinheiros na hora da tempestade (27.16-19). A déci
m a quarta noite julgada pelos marinheiros experientes do M editerrâneo
um a hora apropriada para a viagem na tempestade (27-27). O termo
próprio para esta parte do m ar Adriático nessa época (27.27). O termo
preciso, bolisantes, para lançar a sonda (27.28). Posição de provável abor
dagem de um navio encalhado devido a um vento oriental (27.39).
25. T ítulo correto,protos (tes nesou) para um hom em na posição de Públio,
de liderança nas ilhas (28.7).
Conclusão43
os testes sugerem que a té m esm o duas gerações são m u ito cu rta s para
p e r m i lt ir q u e a t e n d ê n c ia m it o ló g ic a p r e v a le ç a s o b r e a p r e c is ã o h is tó r ic a d a
tr a d iç ã o o ra l ( S h e r w in - W h it e , p . 1 9 0 ).
J u liu s M ü lle r ( 1 8 0 1 - 1 8 7 8 ) d e s a f io u t e ó lo g o s d a s u a é p o c a a m o s tr a r u m
a u to r id a d e so b r e e v id ê n c ia s e m t o d a a lite r a tu r a d o s p r o c e d i m e n t o s le g a is .
John W arwick M ontgom ery, no apêndice de sua obra The law above the law [A
lei acima da leí\ , 4 5 resum iu os critérios de Sim on G reenleaf para determ inar a
credibilidade dos testem unhos. Estes são os cinco principais pontos.
Primeiro, a honestidade deles. U m a pessoa norm alm ente fala a verdade quan
do não há n en h u m m otivo predom inante ou persuasão para o contrário. Essa
hipótese é aplicada nos tribunais de justiça, m esm o a testem unhas cuja inte
gridade não seja totalm ente isenta de suspeita. Portanto, é mais aplicável aos
evangelistas, cujo testem unho foi contra todos os seus interesses m undanos.
Eles desejavam m orrer pelo seu testem unho (e m uitos m orreram ).
Se Jesus não houvesse realm ente ressuscitado dos m ortos, e seus discípulos
não tivessem conhecido esse fato com tan ta certa quan to conheciam qualquer
outro fato, ter-lhes-ia sido impossível persistir na afirmação das verdades que
narraram . Ter persistido em falsidade tão grosseira depois de terem sabido tudo
não era som ente encontrar, pela vida, todos os males que um hom em pode
infligir de fora, mas tam bém suportar as aguilhoadas de consciência de culpa
interior, sem n enh um a esperança de paz futura, sem n en h u m testem unho de
um a boa consciência, sem esperança de ho n ra nem de estima entre as pessoas e
sem esperança de alegria nesta vida nem na vida por vir. N ão há m otivo plau
sível para crer que o testem unho deles era falso. É impossível ler os seus escritos
e não sentir que estamos conversando com hom ens de santidade e de consciên
cia terna, hom ens que agem debaixo da consciência perm anente da presença e
bre este assunto é que sejam coerentes consigo mesmos, que tratem das evidên
cias da fé com o eles tratam das evidências de outras coisas e que exam inem seus
autores e testem unhas. As testem unhas devem ser com paradas com elas mes
mas, um a com a outra, e com os fatos e as circunstâncias em torno, e o teste
m un ho delas deve ser separado, com o se fosse dado n u m tribunal ju n to à parte
contrária, a testem unha sendo sujeita a rigorosos exames investigatórios. O
resultado, acredita-se piam ente, será a convicção firme da integridade, capaci
dade e verdade delas.47
E m bora m uito da história antiga não tenha sido registrada por testem unhas
oculares nem por contem porâneos, ela é, não obstante, considerada suficiente
m ente confiável para nos inform ar a respeito dos principais acontecim entos
que foram registrados. Por exemplo, o nosso conhecim ento de Alexandre o
G rande é baseado em biografias escritas no período de trezentos a quinhentos
anos após sua m orte. Ao contrário, no caso dos docum entos do Novo Testa
m ento que nos inform am a respeito da m orte e ressurreição de Cristo, até os
críticos da Bíblia adm item que alguns deles datam do tem po de vida das teste
m unhas oculares e dos contem porâneos. Por exemplo,
1. A m aioria dos críticos concorda que Paulo escreveu 1C oríntios por volta
de 55-56 D.c. Nessa epístola, o apóstolo fala de mais de quinhentas
testem unhas da ressurreição de Jesus Cristo — a m aioria delas ainda
estava viva (IC o 15.6).
2. U m im portante historiador de Rom a, C olin J. Hemer, estabeleceu que
Atos [como m ostrado anteriorm ente], confirm ado com o historicam ente
preciso em centenas de detalhes, foi escrito entre 60 e 62 d. C. Todavia,
Atos 1.1 refere-se a um “livro anterior” [o evangelho de Lucas] que esse
m esm o historiador cuidadoso escreveu. D e fato, o evangelho de Lucas
não som ente alega ser historicam ente exato, baseado em testem unhas
oculares e evidências docum entais (Lc 1.1-4), mas tam bém verificou-se
que na verdade é. C onsidere novam ente este detalhe preciso de referên
cia histórica confirm ado com o verdadeiro: “N o décimo quinto ano do
reinado de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judéia;
Herodes, tetrarca da Galiléia; seu irm ão Filipe, tetrarca da Ituréia e
47M ontgomery, T h e l o w a b o v e t h e l o w , p . 1 1 8 - 3 9 .
ÜESUS E i HISTÓRIA 301
Conclusão
Q U E S t P O D E C O N C L U I R A R E S P E I T O DOS D O C U M E N T O S DO N O V O T E S T A M E N T O ?
— M ateus 16.15,16
Por qualquer padrão que se estabeleça Jesus é um a das maiores figuras da histó
ria. Ele é o fundador da m aior religião do m u n d o — o cristianismo — , que
tem aproxim adam ente dois bilhões de seguidores. Q uan d o se quer saber sobre
a identidade de Jesus, só faz sentido ir diretam ente à fonte prim ária, o N ovo
Testam ento, e ler por nós m esm os o que ele disse. Já argum entam os em favor
da confiabilidade histórica dos docum entos do N ovo Testam ento e em favor da
integridade dos seus autores; dem onstram os que, nesse aspecto, tem os um
registro exato dos eventos. Podemos tam bém exam inar as evidências que dão
suporte às declarações de Jesus C risto a respeito de si m esm o e de outros —
especificamente a de que Jesus era o Deus encarnado. Esta evidência inclui três
com ponentes: 1) o cu m p rim en to da sua profecia messiânica; 2) sua vida
m iraculosa e sem pecado; e 3) sua ressurreição dentre os m ortos.
O cristianismo ortodoxo afirm a que Jesus de Nazaré era D eus em carne
hum ana, do u trin a absolutam ente essencial para a fé histórica. Se isso é verda
de, então o cristianism o é singular e tem autoridade acima de todas as outras
religiões, inclusive o judaísm o e o islamismo. Se não é verdade, então o cristi
anism o não difere em espécie dessas outras religiões, mas som ente em grau.
Vamos começar, po rtanto, com as declarações que Jesus fez a respeito de si,
pois para saber a respeito de um determ inado hom em , faz todo o sentido 1) ir
306 F undamentos inabaláveis
até ele e perguntar o que ele é, e 2) ir até os seus amigos mais chegados e
perguntar-lhes o que ele disse a respeito de si próprio. (E essencialm ente
irrelevante considerar as opiniões atuais a respeito da identidade de Jesus, um a
vez que quase tu do — se não tud o — que sabemos a respeito de Jesus é deriva
do diretam ente dos próprios docum entos prim ários, a saber, o Novo Testa
m ento. Esta abordagem é justa e acadêmica na tentativa de responder à pergunta
referente à identidade de Jesus Cristo.)
Vamos com eçar a responder a essa pergunta resum indo o que já concluím os a
respeito da natureza de D eus nos capítulos anteriores. Baseados nos prim eiros
princípios da lógica, da filosofia, da ciência e do direito, estabelecemos que
D eus é o Ser não-causado, eterno, ilim itado e im utável que causou a existência
de todas as coisas finitas. C om o a C ausa Prim eira de tud o que existe, D eus é o
único Ser verdadeiram ente soberano e independente (livre). Além disso, Deus
é u m ser pessoal, tem inteligência, vontade, emoções e é um ser moral. Pode
mos dividir os atributos de D eus em duas categorias fundam entais: atributos
transferíveis e intransferíveis.
O s atributos intransferíveis de D eus são aqueles que não podem ser conce
didos a nen h u m outro ser, são sua aseidade (auto-existência), soberania, infini
dade, im utabilidade e eternidade. Som ente Deus possui essas qualidades porque
elas são essenciais à sua natureza (o que ele é — divino). O s anjos e os seres
hum anos não têm e não podem ter essas qualidades porque não são da essência
de sua natureza.1
Agora vamos ao N ovo Testam ento e exam inem os as declarações de Jesus
para ver se ele direta ou indiretam ente afirm ou possuir algum desses atributos
intransferíveis de D eus.2
'Exem plos dos atributos transferíveis de Deus são sua bondade, justiça, seu am or e sua miseri
córdia. Tam bém , como somos feitos à sua imagem, temos capacidades racionais, morais, volitivas e
emocionais, entre outras.
2Vale a pena reservar tem po para ler os versículos a que nos referiremos a fim de entender o
contexto em que eles aparecem.
A D I V INDADE DE Ü E S U S Ç rIS T O 30/
afirm ou ser esse Eu sou: “Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou”.
Q u an d o os judeus ouviram essa declaração, sentiram-se tão ultrajados que
im ediatam ente “apanharam pedras para apedrejá-lo”.
Jesus usou o nom e Iavé outras vezes tam bém : “E u lhes disse que vocês
m orrerão em seus pecados. Se vocês não crerem que Eu Sou, de fato m orrerão
em seus pecados” (Jo 8.24). Jesus não som ente alega ser o Eu Sou, mas tam
bém afirm a que identificar incorretam ente quem ele é resulta em m orte eterna
— separação de D eus para sempre.
2) Em João 18.4-6 um a vez mais encontram os Jesus afirm ando o nom e Eu
Sou. Essa passagem é de interesse particular por causa da resposta do grupo que
o procurava para prender. Jesus lhes perguntou: ‘“A quem vocês estão procuran
do?’” Eles replicaram: “A Jesus de Nazaré’”. Ele respondeu: “Eu Sou”. D iante
dessa resposta, eles “recuaram e caíram por terra”. Em outra circunstância qual
quer, esta seria um a reação m uito estranha, contudo, o poder de Deus se m ani
festou nessas palavras de Jesus que revelaram a sua identidade — Iavé.
3) E m João 17.3-5 — Jesus novam ente enfatiza a ligação entre conhecer a
sua verdadeira identidade e ser salvo das trevas eternas. Em um de seus m o
m entos mais íntim os de conversa com seu Pai, Jesus disse: ‘“Esta é a vida eter
na: que te conheçam, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste’”.
D e acordo com as palavras de Jesus, conhecê-lo é conhecer a Deus, e em João
14.9 ele disse que vê-lo era ver a Deus: ‘“Q u em m e vê, vê o m eu Pai’”. N a
verdade, ele não somente asseverou que para conhecer Deus, é necessário conhecê-
lo tam bém , e para ver D eus é necessário olhar atentam ente para Jesus, mas ele
tam bém afirm ou que qualquer pessoa que quiser com eçar um relacionam ento
com D eus precisa fazê-lo p o r m eio dele: “‘E u sou o cam inho, a verdade e a
vida. N inguém vem ao Pai, a não ser por m im . Se vocês realm ente me conhe
cessem, conheceriam tam bém o m eu Pai. Já agora vocês o conhecem e o têm
visto’“ (Jo 14.6,7).
4) Jesus tam bém declarou que deveria ser honrado do m esm o m odo que
seu Pai é h onrado (adorado): “para que todos honrem o Filho com o honram o
Pai. Aquele que não ho n ra o Filho, tam bém não hon ra o Pai que o enviou” (Jo
5.23). O Pai é D eus e é adorado com o Senhor do universo. Q u an d o um dos
discípulos de Jesus o adorou com o Senhor e Deus, Jesus não o castigou por ele
estar enganado. N a verdade, ele não apenas aceitou esses títulos, mas tam bém
elogiou os outros que creram nele sem o ter visto em carne. “Disse-lhe Tomé:
‘Senhor m eu e Deus m eu’ Então Jesus lhe disse: ‘Porque m e viu, você creu?
Felizes os que não viram e creram”’ (Jo 20.28,29).
308 ÍUNDAMNTOS INABALÁVEIS
5) Em João 17.5 Jesus afirm ou com partilhar a glória de Deus desde a eter
nidade. Todavia, em Isaías 42.8, Iavé disse: “N ão darei a outro a m inh a glória”.
Jesus declarou ser Deus.
6) H á m uitas outras passagens, além destas, onde Jesus se refere a si mesmo
com o D eus com os vários títulos que, no Antigo Testam ento, são aplicados
som ente a Deus. Relacionamos alguns deles abaixo:
• Jesus disse: “Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10.11); o Antigo Testamento
declarou: “Iavé é o m eu pastor” (SI 23.1).
• Jesus declarou ser juiz de todos os hom ens e de todas as nações (Jo 5.27;
M t 25.31); o profeta Joel, citando Iavé, escreveu: “pois ali me assentarei
para julgar todas as nações vizinhas” (J1 3.12).
• Jesus disse: “Eu sou a luz do m u nd o” (Jo 8.12); o Antigo Testamento
proclam ou: “Iavé será a sua luz para sem pre” (Is 60.19) e “Iavé é a m i
nh a luz” (SI 27.1).
• Jesus afirm ou que podia perdoar pecados (M c 2.5), e os judeus reagiram
a ele, dizendo: “Q u em pode perdoar pecados, a não ser som ente Deus?”
(M c 2.7). Jesus então provou sua autoridade pela cura m iraculosa (Mc
2.10-12); contudo, Jeremias 31.34 afirm a que “Porque eu [Deus] lhes
perdoarei”.
• Jesus declarou ser o doador da vida (Jo 5.21-23); Som ente D eus dá vida
(1 Sm 2.6; D t 32.39).
• Finalmente, Jesus disse: “Eu e o Pai somos um ” (Jo 10.30). O term o um
refere-se à essência ou natureza do Ser divino.
Vem então o grande impacto. Dentre esses judeus surge um homem que
anda por toda a parte falando como se fosse Deus. Atribui a si o direito de
perdoar pecados. Diz que sempre existiu. Afirma que virá julgar o mundo
no fim dos tempos. Bem, deixemos isto mais claro. Entre os panteístas e
hindus, quaiquer um pode dizer que é uma parte de Deus, ou que é um com
Deus: não haveria nada de muito surpreendente nisso. Mas este homem,
sendo judeu, não poderia estr se referindo a essa espécie de Deus. Deus, na
linguagem dos judeus, era o Ser à parte do mundo, o Ser que fez o mundo e
que é infinitamente diferente de tudo o mais. Quando tivermos compreen
dido isso, veremos que o que esse homem disse foi simplesmente a coisa
mais surpreendente jamais proferida por lábios humanos.3
Q U Í 0 S A P Ó S T O L O S D I Z I A M A R E S P E I Í O DE J E S U S C r í S T O ?
Aqueles que eram os mais íntim os de Jesus, os apóstolos, aceitaram suas decla
rações e registraram as próprias opiniões a respeito da identidade dele. Veja
mos algumas delas abaixo:
E lhe chamarão Emanuel, que significa “Deus conosco” (Mt 1.23).
“No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era
Deus [...] Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos
a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de
j u n t o d o P a i, o t o r n o u c o n h e c i d o ” (J o 1 .1 ,1 4 ,1 8 ) .
D is s e - lh e T o m é : “S e n h o r m e u e D e u s m e u ! ” (J o 2 0 .2 8 ) .
n o s s o g r a n d e D e u s e S a lv a d o r , J e s u s C r is t o ( T t 2 .1 3 ) .
D e u s n o s s o S a lv a d o r ( T t 1 .3 ; 2 . 1 0 ; c f. 2 P e 1 .1 ; L c 1 .4 7 ; lT m 4 .1 0 ).
O F ilh o é o r e s p le n d o r d a g ló r ia d e D e u s e a e x p r e ss ã o e x a ta d o s e u ser
( H b 1 .3 )
E l e é a n t e s d e t o d a s a s c o i s a s , e n e l e [ J e s u s C r i s t o ] t u d o s u b s i s t e ( C l 1 . 1 “ !.
P o is f o i d o a g r a d o d e D e u s q u e n e le [Jesu s C r is to ] h a b ita s s e t o d a a p le n i
tu d e (C l 1 .1 9 ).
P o is n e le f o r a m c r ia d a s t o d a s as c o is a s [ . . . ] p o r e le e p a r a e le ( C l 1 .1 6 ; c £
Jo 1 .3 ).
Antigo Testamento
N ovo Testamento
A tabela abaixo é oferecida com o suplem ento aos fatos conhecidos e já m en
cionados referentes à divindade de Jesus Cristo. C om o se sabe, os títulos e
atributos intransferíveis são usados para descrever a natureza de Jesus Cristo, e
visto que som ente D eus tem essas qualidades, essenciais da natureza divina,
podem os corretam ente concluir que Jesus é Deus. U m a tabela exaustiva pode
ser encontrada no livro Jesus: um a defesa bíblica de sua divindade, de Josh
M cD ow ell e Bart Larson.4
4E 60 - 2 .
312 F u n d am en to s inabaláveis
Opção 1 — Jesus era apenas D eus (somente uma natureza divina infinita)
Jesus nasceu de mãe h um an a (G1 4.4). Cresceu com o qualquer outro ser h u
m ano (Lc 2.52). T in h a fom e (M t 4.4) e tin h a sede (Jo 19.28). Sentia cansaço
e precisava de descanso (Jo 4.6). Ficava triste e chorava (Jo 11.33-35). Sofria
(Jo 19.1), m orreu (Jo 19.33), e foi sepultado (Jo 19.40-42). Ele era hum ano
em todos os aspectos que somos, todavia era sem pecado (H b 4.15). Por essas
razões, vamos desconsiderar a opção 1.
Está m uito claro que Jesus declarou ser mais do que m eram ente u m hom em .
C om o se disse anteriorm ente, Jesus afirmava existir antes de Abraão (Jo 8.581
e antes da criação do tem po e do universo. Ele disse diretam ente: “E agora. Pai,
glorifica-me ju n to a ti, com a glória que eu tin h a contigo antes que o m und o
existisse” (Jo 17.5). Portanto, a opção 2 tam bém deve ser eliminada.
A D I V I N D A D E DE D E S U S C R I S T O 313
Opção 3 — Jesus era apenas um anjo (somente uma natureza angelical finita)
Algumas pessoas crêem que Jesus era u m anjo. A citação a seguir fornece a base
por que as Testem unhas de Jeová, p or exemplo, insistem em que Jesus era de
fato M iguel, o arcanjo:
D eus, diga-nos [...] M as eu digo a todos vós: chegará o dia em que vereis o
Filho do h o m em assentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do
céu” (M t 2 6.6 3 ,6 4 ). Nessa passagem Jesus declara sob ju ram en to ser o M es
sias, o Filho de D eus. Sua referência fu tu ra a si com o o Filho do H o m em
sentado à direita do Todo-poderoso é significativa p o r duas razões: prim eira,
a Torre de Vigia ensina que, q uan do Jesus usou o títu lo “Filho do H o m em ”,
ele estava-se referindo ao seu estado h u m a n o ou terreno. M as, q u an d o Jesus
se refere a D aniel 7.13 (vindo nas nuvens) e o aplica a si, ele estava afirm ando
ser o Filho de D eus, desautorizando a interpretação da Torre de Vigia. Se
gunda, as T estem unhas de Jeová crêem que, q u and o Jesus (o Filho do H o
m em ) m orreu, sua m o rte foi o fim da vida h u m an a de Jesus. Por exemplo,
citam os a Torre de Vigia:
Prim eiro e mais im portante, deve-se observar que Jesus se referiu a si m esm o
com o D eus e nun ca com o u m anjo. N a verdade, ele criou todos os anjos (Cl
1.15,16) e todos os anjos o adoram (H b 1.6). Segundo, o Novo Testamento
nega enfaticam ente que Jesus era um anjo. C onsidere H ebreus 1.3-14:
anjos não são, todos eles, espíritos ministradores enviados para servir aque
les que hão de herdar a salvação?
9Ibid., p. 219.
A D IV I N D A D E DE ] E S U S C R I S T O 31/
deram eles. Ele lhes disse: “Então, como é que Davi, falando pelo Espírito,
o chama ‘Senhor’? Pois ele afirma: ‘O Senhor disse ao meu Senhor? Senta-te
à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo de teus pés’. Se,
pois, Davi o chama ‘Senhor’, como pode ser ele seu filho?” Ninguém conse
guia responder-lhe uma palavra; e daquele dia em diante, ninguém jamais se
atreveu a lhe fazer perguntas.
O argum ento de Jesus silenciou seus críticos, porque para Davi cham ar seu
próprio filho (descendente) Senhor, o filho de Davi tinha de ser mais do que
apenas um hom em . A Torre de Vigia concordaria dizendo que M iguel é aquele
a quem Davi se referiu com o Senhor, porque um anjo é m aior do que um
hom em . S uponha que eles estejam corretos — que Davi está-se referindo a
M iguel, não a Jesus. Ao m esm o tem po, as Testem unhas de Jeová afirm am que
D eus jamais se referiria a u m anjo com o “Senhor” (“O S e n h o r [Iavé ou Jeovd\
disse ao m eu Senhor” [Adonai]), e nós concordam os sinceram ente com elas.
Seguindo essa lin h a de raciocínio, a Torre de Vigia deveria tam bém co n
cordar que Jesus é Senhor tanto de anjos com o de hom ens, conform e H ebreus
1.10: “E [ele — Iavé-Deus] tam b ém diz: “N o princípio. Senhor, [Jesus]
firm aste os fun dam en to s da terra, e os céus são obras das tuas m ãos”. O ra,
u m a coisa é um h o m em cham ar o u tro ho m em de “Senhor , ou um hom em
cham ar u m anjo de “S en ho r”, mas desde q uando Iavé se refere a um anjo ou
a um ho m em com o “S en ho r”? A resposta se ajusta perfeitam ente à posição
ortodoxa do cristianism o: a prim eira pessoa do D eus trino e uno. o Pai, só
pode estar se referindo logicam ente à segunda pessoa do D eus trino e uno,
Jesus seu filho, que pode com p ropriedade ser cham ado "Senhor porque
am bos co m partilham da m esm a natureza divina. Está claro que podem os
descartar a opção 4.
D eus existe com o três pessoas divinas. Se Jesus é um a dessas três pessoas,
então Jesus deve ter tan to a vontad e divina com o a hum ana. Faz sentido,
p o rtan to , Jesus referir-se a si m esm o no singular, um a vez que sua natureza
du al não im p lica pessoas separadas. Logo, apenas duas v o ntades estão
interagindo — a vontade h u m an a de C risto e a vontade divina de Deus. Por
exem plo, q uando Jesus estava orando a seu Pai, ele disse: "C o n tu d o , não seja
com o eu quero, mas sim com o tu queres” (M t 26.39). Jesus é um a pessoa
com duas vontades, cada um a operando através de u m a natureza — a h u m a
na e a divina. Sua oração reflete a vontade hum an a, não a divina. Este p on to
nos leva à opção 5.
318 F undamentos inabaláveis
[v.5] Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, [v.6] que embora
sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia
apegar-se; [v.7] mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se
semelhante aos homens, [v.8] E, sendo encontrado em forma humana, hu
milhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!
Observe que esse texto não diz que D eus se to rn o u hom em , i.e., que o
infinito se torn o u finito. Seria um a contradição lógica diz£r que o infinito e o
fin ito existem na mesma natureza. Vamos exam inar esse m istério logo adiante,
mas p or ora é im portante saber que esta do utrina não é um a contradição.
Podemos entender que esse texto diz que “Jesus Cristo, o eterno Filho de Deus,
retendo todos os seus atributos divinos, assumiu para si o padrão de conduta volitivo
hu m ano quando assum iu para si m esm o todos os atributos essenciais da n atu
reza h um ana”.10 Esse entendim ento das duas naturezas de u m a pessoa, Jesus,
nos conduz à nossa próxim a pergunta.
O N ovo Testam ento m ostra Jesus claram ente com o u m a pessoa que tem duas
naturezas, a hu m an a e a divina. U m olhar apressado nessa verdade pode causar
o m al-entendido de que a expressão freqüentem ente m encionada — “D eus se
to rn o u hom em ” — signifique que o infinito se torn o u finito. Isso não é um a
descrição tecnicam ente precisa da encarnação. N ão há problem a em verbalizar
a encarnação dessa m aneira entre crentes que pensam da m esm a m aneira —
contanto que o significado seja perfeitam ente entendido pelo locutor e pelos
ouvintes. E ntretanto, a encarnação deve ser corretam ente entendida da seguin
te forma: “Jesus, o D eus Filho, existindo com o a segunda pessoa do D eus trino
e uno, un iu sua natureza divina a u m a natureza h u m an a e por m eio dela veio
I0James Oliver Buswell, Jr., A systematic theology ofthe Christian religion, vol. 2, p. 54.
A D IV I N D A D E DE Í E S U S CrISIO 319
E m N úm eros 13.23, echadé usado para designar mais que duas com o um a
unidade. Q u an d o Moisés enviou um grupo de hom ens para explorar a terra de
Canaa, eles retornaram com alguns frutos. O cacho de uvas que eles trouxeram
era tão grande que precisava de dois hom ens para carregar “um ” cacho. O texto
diz: "C ortaram u m ram o do qual pendia um único \echad\ cacho de uvas”.
A qui temos um grupo de uvas referido com o um cacho único, mas com o um a
unidade plural tam bém .
Estamos com eçando a entender a im portância de Jesus ter incluído o como
parte do m aior m andam ento. A lei de Deus é baseada na natureza de Deus. Por
essa sbema razão, para entender o verdadeiro significado da lei de Deus, a ver
dadeira natureza de D eus tam bém deve ser entendida. A lei se preocupa p rin
cipalm ente com a harm onia relacionai, isto é, a verdadeira unidade dentro da
diversidade de u m a com unidade. A pluralidade e a unidade de D eus são tanto
o padrão quanto o exemplo prim ário dessa verdade. Portanto, cremos que não
é por acidente que a passagem im ediatam ente seguinte a essa de M arcos 12 é o
texto em que Jesus pergunta aos mestres da lei a respeito da identidade do
Cristo. Mais um a vez:
(quem 2), e o Espírito Santo (quem 3).11 Pode-se tam bém dizer que D eus é um a
unidade divina que consiste de um a pluralidade de pessoas. A identidade desse
Ser tripessoal é com posta de u m a relação interna que contém três pessoas indi
viduais distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Considere a ilustração. Agora pode ficar um pouco mais claro que o quê
infinito (Deus) não se to rn o u um quê finito (hom em ); ao contrário, Deus o
Filho (quem 2), ten d o u m a
n a tu r e z a i n f i n i t a ( q u ê J)>
a c re sc e n to u -se e assu m iu
um a natureza finita — um
quê finito (quê2). N ão há três
deuses (três quês) — há so
m ente um D eus (quê1) e três
pessoas (três quem) que pos
suem essa única natureza di
vina. Foi som ente a segunda
pessoa, Jesus (quem 2), que
com partilha a natureza divi
n a (quê'), que assum iu um a
segunda natureza, a natureza hu m an a (quê2).
C onseqü entem ente, Jesus, D eus-Filho, veio à terra assum indo a natureza
hum ana. A união das naturezas divina e h u m a n a n a única pessoa de Jesus
C risto é cham ad a de união hipostática. Ela foi definida no C oncilio de
C alcedônia, em 451 d .C ., e afirm a a unidad e pessoal assim com o as duas
naturezas do Filho de D eus. Essa verdade é u m m istério divino, revelado nas
Sagradas Escrituras. C o m en tan d o sobre as duas naturezas de Jesus C risto,
um au to r disse:
"A nteriorm ente observamos que as três características essenciais denotam pessoalidade: inte
lecto, emoções e livre arbítrio. O Espírito Santo é a terceira pessoa da divindade. Ele tem intelecto
(IC o 2.10,11— o Espírito conhece e revela); tem emoções (Ef 4.30 — não entristeçam o Espírito
Santo de Deus); e tem livre-arbítrio (IC o 12.11 — o Espírito dá dons com o lhe apraz).
322 F u n d am e n to s inabaláveis
Conseqüentem ente, quando lemos no Novo Testamento que Jesus teve fome,
sede, cansou-se, sofreu na carne, e m orreu, tudo isso se refere às características
hum anas de Jesus, não às divinas. Essa idéia da divindade de Jesus C risto era a
posição dom inante da igreja cristã prim itiva — a saber, que as características
hum anas devem ser atribuídas à hum anidade de Cristo, não a sua divindade.
Wk A L G U M M E I O DE ILUSTRAR ESSE M I S T É R I O D I V I N O ?
Podemos dizer agora com confiança que Jesus C risto tem duas naturezas; o
m istério não é esse. O mistério está em entender como as duas naturezas de Cristo
se relacionam. Foi-nos revelado que as duas naturezas de C risto estão em perfei
ta união. C on tu d o , a Bíblia não nos oferece conhecim ento exaustivo dessa ver
dade, mas apenas o conhecim ento suficiente. N ão há nenhum a ilustração perfeita
que capte com pletam ente e ilum ina esse mistério; o m elhor que podem os fazer
é pensar na ilustração que Deus nos dá em sua Palavra. Deus refere-se a si
m esm o com o luz, e Jesus cham ou-se a si m esm o de luz do m undo. Talvez
tendo u m entendim ento m elhor da natureza da luz, possamos tam bém com
preender m elhor esse m istério divino.
Depois de m uitos anos de estudo e de experiências com a luz, os cientistas
a p re n d e ra m q u e ela te m a p a re n te m e n te d u as n a tu re z a s m u tu a m e n te
excludentes: com porta-se como
um a partícula e como um a onda.
A natureza de partícula da luz
m anifesta-se em unidades de
energia cham adas fótons, que Espectro Fspectro
eletromagnético eletromagnético
são diferentes das partículas da
Raios Infra Ondas
m atéria por não terem massa e Raios x
12James Oliver B u s w e ll, Jr., A systematic theology o f the Christian religion, vol. 2, p. 54.
A DIVINDADE DE ] E S U S CRISTO 323
associadas com a luz são cham adas ondas eletromagnéticas porque consistem de
campos elétrico e m agnético alternantes.
Essa natureza dual da luz parece ser m utuam ente excludente — u m a con
tradição — , mas na realidade não é. Se os físicos afirmassem que a natureza
ondulatória da luz é a natureza de partícula da luz, então isso seria um a contra
dição. M as eles não dizem isso. Além do mais, os físicos não declaram que a luz
tem natureza de partícula em alguns dias da sem ana e tem natureza ondulatória
nos outros dias (naturezas diferentes em tem pos diferentes). O que os físicos
com efeito sustentam é que a lu z tem um a natureza dual — um a natureza
ondulatória e um a natureza de partícula ao mesmo tempo. O problem a para os
físicos não é a luz ter natureza dual; o mistério estã em entender como as duas
naturezas da lu z se relacionam entre si. Esse é o m esm o tipo de mistério que
existe na relação entre as duas naturezas de Jesus Cristo. Vamos considerar
abordando o m istério da natureza dual da luz vista da perspectiva privilegiada
das leis da física. Fazendo isso, vamos analisar com o as leis “superiores” se rela
cionam com as leis “inferiores”.
E instein dedicou os últim os 25 anos de sua vida esforçando-se para for
m ular a teoria do campo unificado. O esforço de E instein foi considerado um a
tentativa valiosa de descobrir um a lei superior da física que subsum e as qua
tro leis básicas (inferiores) da física — as forças nuclear forte, nuclear fraca,
eletrom agnética e gravitacional.O s físicos acreditam que esse único cam po
de força unificado descreveria todas as forças fundam entais do universo espa-
ço-tem po com pletam ente em term os de cam pos. Essa superforça, descrita
p o r u m a lei superior, não violaria as leis inferiores da física, mas forneceria a
inform ação que falta para explicar com o as leis inferiores se relacionam de
m odo unificante.
U m a das conseqüências prováveis da descoberta dessa superforça seria dar
aos físicos m elhor com preensão de com o as duas naturezas da luz se relacio
nam . As leis superiores da física transcenderiam e uniriam as leis inferiores,
inclusive as partículas e ondas da física. Por exemplo, as duas leis que operam
no fenôm eno do vôo são as leis da aerodinâm ica e da gravidade. Todavia, a lei
superior, a da aerodinâm ica, não viola ou nega a lei inferior da gravidade — ao
contrário, ela transcende a lei da gravidade. Por exemplo, quando um avião está
a 9 mil metros, a gravidade não é violada, nem deixa de existir; ela está em
plena operação com a lei superior da aerodinâm ica em funcionam ento. N a
verdade, foi pelo entendim ento da lei inferior (gravidade) que os cientistas e
engenheiros vieram a descobrir a lei superior (aerodinâmica).
324 f U N D A M E N I O S INABALÁVEIS
D e m odo sem elhante, somos ensinados que é pelo estudo e entendim ento
dos m andam entos de Deus que somos conduzidos a Cristo. A Palavra de Deus
tam bém nos diz que as leis inferiores (os m andam entos) foram encarregadas de
nos conduzir à lei superior de C risto (G1 3.24). Se não fosse pelo conhecim en
to das leis inferiores de Deus, nunca reconheceríamos a nossa natureza pecam i
nosa nem reconheceríamos a necessidade de u m a lei superior de vida (Rm
7.7). D a m esm a form a que a gravidade nos segura na terra e a aerodinâm ica
nos liberta para voar, as leis inferiores de Deus nos prendem na m orte e a lei
superior do Espírito de vida nos liberta da lei do pecado e da m orte (Rm 8.2).
E possível que os físicos nunca venham a descobrir a lei superior que explica a
natureza dual da luz, mas por sua motivação para descobrir, eles encontraram , e
m uito provavelmente continuarão a encontrar, m uitos outros tesouros. É fre
qüente durante a busca de um determ inado conhecim ento, se fazerem outras
descobertas vitais — a própria busca é um a rica fonte de iluminação. Todavia,
essa iluminação poderia jamais ter sido possível se não fosse pelo mistério da
natureza dual da luz. Sem elhantemente, o estudo da natureza dual de Jesus
Cristo pode levar (e freqüentem ente leva) a um relacionamento mais profundo e
mais rico com Deus por interm édio de sua Palavra e de seu Espírito.
Em Allegeddiscrepancies o fth e Bible [Supostas discrepâncias da Bíblia\, Jo hn
H aley discute algumas razões por que D eus incluiu os mistérios e as aparentes
discrepâncias em sua Palavra. H aley dá a entender que D eus as incluiu de
propósito e “sem dúvida pretendia que fossem um estím ulo ao intelecto h u m a
no, provocativas de esforço m ental” e “servissem para despertar a curiosidade e
apelar para o am or à novidade”.13 Talvez jamais resolvamos o mistério; por isso,
repetimos, pode ser que o A utor da vida nu nca quis que ele fosse resolvido.
U m a coisa é afirm ar ser Deus; outra coisa é com provar essa afirmação. Jesus
ofereceu pelo m enos três linhas de evidência para dar sustentação a sua alega
ção de ser o Filho de D eus (Senhor) e o Filho do H om em (Salvador). As três
provas são
14Esta seção é baseada na obra anterior de Norman Geisler, Christian apologetics, p. 339-51.
326 F undamentos inabaláveis
Todas essas e m uitas outras profecias (cerca de duas centenas) se cum priram
n a pessoa de Jesus de Nazaré, que alegava ser o Messias dos judeus — “o Cris
to, o Filho de D eus” (M t 26.63,64). N a verdade, ele alegava ser o tem a central
de todo o Antigo Testam ento, dizendo a dois de seus discípulos: ‘“ C om o vocês
custam a entender e com o dem oram a crer em tudo o que os profetas falaram!
N ão devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?’ E começando
por Moisés e todos osprofetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as
Escrituras,, (Lc 24.25-27, grifo do autor).
Já se argum entou que videntes fizeram predições com o as da Bíblia. E ntre
tanto,
... um dos testes dos profetas era se eles proclamavam predições que não
aconteciam (Dt 18.22). Aqueles cujas profecias falhavam eram apedrejados
(18.20) — uma prática que sem dúvida detinha qualquer pessoa que não
tivesse certeza absoluta de que suas mensagens eram de Deus. Entre cente
nas de profecias, os profetas bíblicos jamais erraram. Um estudo das profe
cias feitas por médiuns em 1975 e observadas até 1981 demonstrou que, das
72 predições, apenas 6 se cumpriram de alguma forma. Duas delas eram
vagas e duas outras eram pouco surpreendentes — os Estados Unidos e a
Rússia continuariam sendo superpotências e não haveria guerras mundiais.
The People's Almanac (1976) fez uma pesquisa das predições de 24 dos mai
ores médiuns. Os resultados: Do total de 72 predições, 66 (92%) estavam
totalmente erradas (Kole, p. 69). A média de precisão de 8% poderia facil
mente ser explicada pelo acaso e conhecimento geral das circunstâncias. Em
1993 os médiuns erraram todas as principais notícias inesperadas, inclusive
a aposentadoria de Michael Jordan, as enchentes nos Estados Unidos e o
tratado de paz entre Israel e a OLP. Entre as profecias falsas havia uma de que
a Rainha da Inglaterra se tornaria freira e de que Kathy Lee Giíford substi
tuiria Jay Leno como apresentadora do programa de T V americano The Tonight
Show (Charlotte Observer, 30/12/93).15
Sim plesm ente viver um a vida sem pecado, p or mais difícil que possa ser, não
seria necessariamente prova de que alguém é Deus. M as se alguém além de
alegar ser D eus tam bém apresenta um a vida sem pecado com o evidência, a
questão é totalm ente diferente. Se um hom em vive um a vida impecável e ofe
rece com o verdade a respeito de si m esm o que ele é D eus encarnado, sua alega
ção deve pelo m enos ser considerada com seriedade. N aturalm ente, se alguém
afirmasse ser Deus e não vivesse um a vida sem pecado, isso seria prova de que
essa pessoa não era Deus.
Alguns indivíduos se atrevem a declarar que possuem perfeição, mas pouca
gente os leva a sério, principalm ente os que os conhecem melhor. C om Jesus é
totalm ente diferente. Os que o conheciam m elhor tiveram a m elhor idéia dele.
U m dos testem unhos mais significativos a respeito do caráter de um hom em
vem daqueles que lhe são mais próximos. Dos lábios dos amigos mais chegados
e dos discípulos de Jesus, que viveram com ele por vários anos, até o final de sua
vida, vieram testem unhos ardentes:
A vida de Jesus não foi som ente sem pecado, mas tam bém foi m iraculosa
desde o início:
5. “Pois assim com o Jonas esteve três dias e três noites no ventre de um
grande peixe, assim o filho do h om em ficará três dias e três noites no
coração da terra” (M t 12.40).
6. “E necessário que o Filho do hom em sofra muitas coisas [...] seja m orto
e ressuscite no terceiro dia” (Lc 9.22).
7. “N in guém a tira de m im [m inha vida], mas eu a dou por m inha espon
tânea vontade. Tenho autoridade para dá-la e para re to m á -la ...” (Jo
10.18).
As evidências estão aí para ser acreditadas, mas com o Jesus disse: “Se não
ouvem a Moisés e aos profetas, tam pouco se deixarão convencer, ainda que
ressuscite alguém dentre os m ortos” (Lc 16.31). Josh M cDowell levanta um a
questão acerca da fidedignidade da narrativa da ressurreição de Jesus C risto por
um a testem unha ocular. Diz:
Considere tam bém os outros m ártires da igreja cristã primitiva. Paulo, que
prom ovia a execução dos cristãos antes de seu encontro com o Senhor ressusci
tado e sua subseqüente conversão ao cristianismo, declarou que houve mais de
quinhentas testem unhas da ressurreição de Jesus Cristo (IC o 15-6). C o m n ú
meros semelhantes a esses em m ente, as possibilidades de a ressurreição não ter
17P. 28-9.
C a p ít u l o q u a t o r z e
A ÉTICA £ A «ORAL
— C . S. L ewis
Que sã o ética í m o r a l?
universo fossem as leis da física e da quím ica, os julgam entos morais seriam
absurdos. N ão estamos dizendo que os ateus e naturalistas não possam fazer
julgam ento moral; o que estamos dizendo é que eles não têm base real para os
seus julgam entos. C. S. Lewis descreve com o a vida seria se toda con du ta fosse
reduzida à obediência às leis da natureza:
xMilagres, p. 36.
A Í T I C 4 £ A MORAL 335
C o m p o r ta m en to C o r r e t o , a c o i s a m u d a . E s t a l e i c e r t a m e n t e n ã o s i g n i f i c a “o
q u e o s seres h u m a n o s d e fa to fa ze m ”, p o is c o m o já d is se a n te r io r m e n t e , a
m a io r ia n ã o o b e d e c e m e s m o a e s ta le i, e n i n g u é m a c u m p r e p e r fe ita m e n te . A
L ei d a N a tu r e z a H u m a n a n o s d iz o q u e o s h o m e n s d e v e m fazer e n ã o fa z e m .
I s to é, q u a n d o s e tra ta d e h o m e n s , a lg u m o u tr o fa to r se faz p r e s e n te a c im a e
a lé m d o s a to s p o r eles r e a lm e n te p r a tic a d o s . E x is te m o s fa to s (c o m o os h o
Estes são, portanto, os dois pontos que queria estabelecer. Primeiro: que os
seres humanos, em todo o mundo, sabem que devem comportar-se duma
certa maneira, e que não podem livrar-se dessa situação. Segundo: que eles
na realidade não se comportam daquela maneira. Conhecem a Lei da Natu
reza, e a infringem. Estes dois são a base de toda a reflexão quanto a nós
mesmos e quanto ao universo em que vivemos.3
algo com nossos pais ou professores não significa que isso necessariamente seja
m eram ente um a invenção hum ana. D a m esm a m aneira que as leis básicas da
lógica ou da física são ensinadas por professores nas diferentes culturas, e não
m udam de um a cultura para outra, tam bém acontece com a lei m oral univer
sal. Pode-se perceber facilmente isso nos julgam entos morais: Q u an d o julga
mos ações com o m oralm ente certas ou m oralm ente erradas, com o no caso dos
nazistas, na verdade, estamos avaliando-as com base na lei m oral. Portanto, leis
m orais universais necessariamente existem.
Já m ostram os que se as leis m orais não pudessem ser descobertas, não have
ria sentido tentar fazer julgam entos morais e não haveria o que se cham a de
progresso moral. Progresso m oral significa que alguma m udança está ocorren
do, e essa m udança é em direção a — e não se apartando de — um estado
m elhor de m oralidade real. Se isso não fosse verdade, não haveria sentido dizer
que algumas ideologias m orais são melhores que outras. Som ente usando um
padrão m oral somos capazes de dizer que algumas idéias morais estão de acor
do com esse padrão m oral e são, portanto, melhores que outras idéias morais.
Basear todos os julgam entos n u m a convenção social é apenas um a tentativa
(dentre muitas) de elim inar a crença nos valores objetivos. Duas outras con
cepções populares ten tam reduzir a ética aos instintos hum anos ou às emoções
hum anas. Lewis escreveu um a réplica a essas duas, e seus argum entos contra os
instintos e emoções podem ser encontrados nos seus livros Cristianismo puro e
simples e The abolition o fm an [A anulação do homem], respectivamente. E m vez
de tentar m elhorar os argum entos apresentados por um grande pensador como
Lewis, resumim os sua reação à concepção que contem pla os instintos e em o
ções hum anos abaixo.
A ÉTI CA N ÃO É A P E N A S I NS T I N T O H U M A N O ?
vezes sentimos desejo de ajudar outra pessoa, e esse desejo pode, sem dúvida,
ser devido ao ím peto ou instinto de preservar a raça hu m an a — instinto de
grupo. M as tam bém observou a seguinte distinção crítica entre ter o desejo de
ajudar alguém e sentir que devemos ajudar, ajudando ou não.
de forma que tenhamos força suficiente para fazer a coisa certa. Mas obvia
mente não estamos agindo partindo do instinto quando começamos a tornar
um instinto mais forte do que ele é. A coisa que lhe diz: “Seu instinto de
grupo está adormecido. Desperte-o!”, não pode ser o instinto de grupo. A
coisa que lhe diz que nota no piano precisa ser tocada mais alto não pode ser
a própria nota [...] Estritamente falando, não existe o que chamam de bons
impulsos ou maus impulsos. Pense novamente no piano. Ele não tem dois
tipos de notas, as notas “certas” e as notas “erradas”. Cada nota pode ser
certa numa hora e errada noutra. A Lei Moral não é nada do tipo instinto ou
conjunto de instintos: ela é algo que faz uma espécie de tom (o tom que
chamamos bondade ou conduta correta).7
Lewis argum entou que a lei m oral não é m eram ente mais um de nossos
instintos. Se fosse, deveríamos ser capazes de cham ar um desses instintos de
“bom ”. Mas esse não é o caso. N ão há instintos que a lei m oral não possa nos
dizer algumas vezes para suprim ir nem que não possa às vezes dizer-nos para
incentivar. Lewis tam bém ressaltou o perigo de estabelecer u m dos impulsos
da natureza h u m an a com o aquilo que “deve” ser seguido a todo custo. D e
m onstram os que a história confirm ou isso, p or exemplo, no instinto de “sobre
vivência dos mais adaptados”, que H itler incorporou ao dogm a nazista e causou
m uita agressão. O que veio na seqüência lógica foi o genocídio. C oncluím os,
portanto, que a m oralidade é mais do que simples instinto hum ano. E por que
a m oral e a ética não podem ser um produto da psique hum ana?
A resposta a essa pergunta é m uito longa, de form a que lhe pedim os por favor
seguir os argum entos apresentados de form a cuidadosa. A extensão desta res
posta é necessária diante da crença popular na ética subjetiva e a ênfase que
psicologia e a sociologia contem porâneas dão às em oções e aos sentim entos
sobre a responsabilidade moral. N ão estamos condenando a psicologia e a soci
ologia em geral, pois elas têm certam ente feito contribuições positivas para o
entendim ento da natureza hu m ana e das ações sociais. C ontudo, na m aior
parte, essas contribuições positivas têm sido sobreestimadas pelo dano que
causaram a nossa com preensão coletiva da ética e da responsabilidade m oral —
ju ntam en te com o conhecim ento devido da natureza hum ana. O perigo ocorre
7Ibid.
340 F undamentos inabaláveis
livro-texto nos cursos superiores para ensinar a arte da redação na língua ingle
sa, mas estava ensinando m uito mais! Lewis advertiu que “o verdadeiro poder
de Gaius e Titius se deve ao fato de estar lidando com u m m enino, um m enino
que pensa que está ‘fazendo’ a sua ‘preparação em inglês’ e não tem nenhum a
noção de que ética, teologia e política estão todas em jogo”.9
Lewis explicou que os alunos que usavam The green book em aula não esta
vam recebendo um a lição de teoria em si, mas estavam sendo expostos à hipó
tese básica dos autores. Essa hipótese era sua convicção de que todas as declarações
de valor são subjetivas, sem im portância e “nada além” da projeção dos própri
os sentim entos de um indivíduo. Lewis viu o perigo im inente nos estudantes
em sala de aula, que assimilariam a hipótese dos autores ao próprio m odo de
pensar deles e em últim a análise seriam influenciados por ela. Escreveu: “U m a
hipótese que, dez anos depois, sua origem esquecida e sua presença inconscien
te, o condicionará a tom ar um dos lados da polêmica, que ele nunca reconhe
ceu com o polêmica”.10 Lewis citou um exemplo de u m a das lições em The
green book e com o ela ia além da m atéria de redação em língua inglesa. Disse:
“Isto é a lição deles de inglês, em bora de inglês eles não tenham aprendido
nada. O u tro pouco da herança hu m an a lhes foi tirado silenciosamente antes
que ficassem m aduros bastante para entender”.11
Lewis assinalou a responsabilidade séria que os educadores têm com respei
to ao ensino da visão correta de ética: “Aristóteles diz que o alvo da educação é
fazer o aluno gostar e desgostar do que ele deve. Q u an d o a idade para o pensa
m ento reflexivo chega, o aluno que foi treinado nas afeições ordenadas’ ou nos
‘sentim entos justos’ facilmente encontrará os primeiros princípios da Etica: mas
para o hom em corrupto eles jamais serão visíveis, e ele não pode fazer progresso
algum na ciência. Platão, antes dele, havia dito a m esm a coisa”.12 Lewis cha
m ou a concepção correta de ética de “a do utrin a do valor objetivo, definindo-
acom o
... a crença de que certas atitudes são realmente verdadeiras, e outras real
mente falsas, para a espécie de coisa que o universo é e a espécie de coisas
que nós somos [...] E porque nossas aprovações e reprovações são, desse
modo, reconhecimentos valores objetivos ou respostas a ordem objetiva,
9P. 16.
10Ibid., p. 16-7.
11The abolition o f man, p. 22.
12Ibid., p. 26 (grifo do autor).
342 F undamentos inabaláveis
Lewis observou que Gaius e Titius espalharam a sua visão de ética p or todo
The Green Book, e ele concluiu que pode ter sido a intenção deles conseguir
que os estudantes que usaram o texto fizessem um a varredura nos valores tradi
cionais e começassem com u m novo conjunto. C ontu do, ele assinalou p ronta
m ente que esse novo conjunto de valores estava em outro m un do — o m undo
da subjetividade pura. Esse é o m u nd o dos “fatos, sem resquício de valor, e o
m u nd o dos sentim entos sem resquício de verdade ou falsidade, justiça ou in
justiça”.14 Nessa espécie de m u n d o não pode haver conciliação nem harm onia
entre a razão e o sentim ento, entre a m ente e o coração.
A conseqüência final de treinar jovens para crerem nessa dicotom ia de fato/
valor é m uito séria. Q u an d o levada acima da dim ensão pessoal passa a ser a
dicotom ia do quê/quem . Em outras palavras, o que fazemos (nossa imagem
pública) não tem de ser necessariamente associado com quem somos (nossa
integridade pessoal). N a prática, funciona mais ou m enos assim: contanto que
sejamos bons no que fazemos (nossa profissão), não precisamos nos preocupar
com o que somos (nosso caráter).
Logo, de acordo com essa dicotom ia fato/valor, pode-se fazer tudo que se
ache bom na profissão e tornar-se famoso e poderoso. Isso pode ser alcançado
sem haver n en hu m a preocupação real com o caráter do indivíduo e, portanto,
colocar a busca do poder acima da busca do caráter. N ão é preciso m encionar
quanto essa dicotom ia da “im agem pública/integridade pessoal” pode-se ele
var, principalm ente na esfera política. É certam ente um episódio triste da soci
edade norte-am ericana quando o mais alto posto da nação se torna o foco desse
tipo de duplicidade. É ainda mais trágico quando o povo norte-am ericano se
preocupa mais com o desem penho do trabalho de u m representante eleito (o
que ele faz) do que com sua integridade (o que ele realm ente é).
‘Tbid., 29-30.
14The abolition o fm a n , p. 30.
A ÉTICA E A « O R A L 343
A decadência m oral não está restrita apenas à esfera política, tem alcançado
proporções epidêmicas em todas as principais áreas. U m levantam ento feito
pela Time m ostrou que o declínio da m oralidade no m un do dos negócios, na
arena política, na prática do direito e na profissão m édica é conseqüência direta
do orgulho pessoal. N a análise final, a revista Time diz que esses profissionais
todos tenderam a “varrer as queixas éticas para debaixo do tapete” e que essa
inclinação a evitar a integridade m oral é conseqüência direta da “obsessãoprote
tora do eu e da imagem .15
Nossa sociedade não está som ente acostum ada a ter essa dicotom ia da im a
gem pública/integridade pessoal — hipocrisia — com o parte de nossa cultura,
mas tam bém está procurando meios de se aperfeiçoar nisso! U m livro recente
m ente publicado por dois autores tem o título The 4 8 laws o f power [As 4 8 leis
do poder\. A sobrecapa do livro traz um breve parágrafo descrevendo-o com o
“amoral, astuto, implacável e instrutivo [...] U m a síntese de pesquisa profunda
nas filosofias de grandes pensadores com o M aquiavel, Sun-tzo e Carl von
Clausewitz, e os legados de estadistas, guerreiros, sedutores e hom ens do con
tra de todas as épocas, The 48 laws o f power é um estudo conclusivo de poder e
orientação essencial para a m anipulação m oderna [...] As 48 leis fornecem
entendim ento das estratégias usadas pelos outros, as táticas a evitar ou pelas
quais viver”.16
Fazendo justiça aos autores, eles procuraram escrever seu livro objetivam en
te observando e docum entando o que é preciso para obter poder e m antê-lo.
U m breve excerto do prefácio nos dá um a idéia daquilo por que m uitos indiví
duos de nossa sociedade estão lutando para obter e o que é preciso para conse
guir o que querem . O s autores dizem:
Ninguém quer menos poder, todos querem mais. No mundo atual, porém,
é perigoso parecer que se está com fome demais de poder, ou mesmo mani
festar o poder que se tem. É necessário parecer justo e decente. Por isso,
precisamos ser sutis — nos portar adequadamente, mas espertos; democrá
ticos, mas não honestos. Esse jogo de duplicidade constante lembra mais o
poder dinâmico que existia no mundo de intrigas das cortes da antiga aristo
cracia. Ao longo de toda história, sempre se formou uma corte ao redor do
indivíduo no poder — rei, rainha, imperador, guia. Os cortesãos que enchi-
Lewis concluiu sua revisão assinalando que das proposições acerca dos fatos
isolados, não se pode tirar n en h u m a conclusão prática referente aos valores.
Em outras palavras, se aqueles que sustentam o tipo de filosofia defendida na
obra The green book acreditassem que seu m odo de pensar vai preservar a socie
dade (oferecido com o um a declaração do fato), então esse fato nunca pode levar
Lewis logo em seguida adverte seus leitores do perigo que se assoma resul
tante do desprezo da ética em bases puram ente subjetivas. D iz que quando
um a sociedade chega ao po nto de obliterar com pletam ente os valores — apli
cando com perfeição a psicologia e a tecnologia à hum anidade — essa socieda
de está perigosam ente próxim a do fim. Explica o que quer dizer lem brando
seus leitores de que conquistam os m uitas coisas na natureza, e as coisas que
um a vez foram nossos senhores, agora se tornaram nossos servos. Lewis argu
m en to u que os especialistas em ética da subjetividade estão tentando conquis
tar o pico final da natureza — a própria natureza h u m an a — usando os
instrum entos da eugenia, psicologia e educação:
20Ibid„ p. 62-3.
A ÉTICA E A « O R A L 34/
vez, não esteja distante. O estágio final terá vindo quando o Homem, pela
eugenia, pelo condicionamento pré-natal e pela educação e propaganda ba
seada em perfeita psicologia aplicada, tiver obtido o controle pleno de si
próprio. A natureza humana será a última parte da Natureza a render-se ao
Homem. A batalha será ganha [...] Mas quem exatamente a vencerá? Porque
o poder do Homem de fazer de si o que lhe agrada significa, como vimos, o
poder de fazer aos outros homens o que lhes agrada?1
custos de produção e financeiros baixos, em bora possa não ser fácil encontrar
m ulheres equilibradas que carreguem no ventre bebês sem cabeça até o nasci
m ento deles. Organizações
emergentes com o propósi
bugenia - A mentira
to de prod uzir partes h u 'I serei', r m n o I >ou-," i( In S/l)
manas para reposição? Isso
nos conduz exatam ente ao "D eus fez o hom em à sua pró pria imagem.
que Lewis disse: “Porque o Portanto, ele pretendia que o hom em se unisse
com Deus. O hom em deveria ter vida in finita e ter
poder do H o m em de fazer um con he cim en to in finito . E nós vamos conseguir
para si o que lhe agrada sig iSSO logo." (Richard Seed, The AtJanta Journal and
Constítution, 1 8/1/1998, A1)
nifica, com o vimos, o poder
de fazer para outros hom ens N a tu re z a & M a c ro ev o lu çã o
o que lhes agrada”. Lem bra
ficção científica, m as em
tese um a organização pode
,A
clonar u m ser h u m a n o e
Núcleo 11 \ \ X'V~.........................-
possuir essa pessoa com o
celular O rig e m das espécies
possui qualquer outro item
— e, portanto, tem “o poder de fazer de outros hom ens o que lhes agrada”.
O fundam ento legal já existe. U m jornalista do Washington Post relatou o
seguinte:
completo? Uma quimera [besta da mitologia grega]? Não temos uma defini
ção do que é um ser humano para propósitos de patente.”23
Q ual é o p r in c ip a l p r in c íp io í t i c o de D esu s?
Por ora esperamos que tenha ficado claro que os prim eiros princípios não são
conclusões encontradas no fim de um conjunto de premissas, mas, sim, as
premissas das quais as conclusões são tiradas. O s prim eiros princípios são axi
omas dados, ou verdades auto-evidentes. Eles são tão razoáveis quanto outras
premissas razoáveis — na verdade, tão obviam ente razoáveis que não exigem
nem adm item prova. Estão além da prova direta porque sabe-se que são verda
deiros com base em sua natureza inevitável e auto-evidentes. Tam bém não
podem ser refutados porque no esforço de refutar um princípio prim eiro (den
tro de qualquer cam po de estudo), term ina-se com afirmações auto-anuláveis
— com o C. S. Lewis assinalou com respeito à visão subjetiva da ética. Já de
m onstram os isso no caso da lógica, da verdade, da ciência, do direito, da justi
ça e do mal (v. cap. 1, 2, 4, 9, 10 e 11, respectivamente). C om o Aristóteles
disse, cada cam po do conhecim ento tem um a verdade auto-evidentes que for
m a a base que dá origem às outras verdades desse campo. Agora propom os que
o princípio prim eiro da ética não é de natureza diferente de nen h u m dos ou
tros prim eiros princípios anteriorm ente examinados neste livro.
Depois de ter encerrado sua principal crítica ao The green book, Lewis justi
ficou e explicou a necessidade dos prim eiros princípios referentes à ética e aos
valores. C onsidere novam ente o seu argum ento:
23Rick W e is s , Patent sought on m aking o f part-hum an creatures scientist seeks to touch off
ethics debate, Washington Post, 2/4/1998, a12.
350 F undamentos inabaláveis
de Jesus Cristo, podem os agora lançar nosso foco sobre a visão cristã de ética.
Essa posição será apresentada à luz da vida e dos ensinos de Jesus Cristo e dos
autores do Novo Testamento.
Propom os que o prim eiro preceito da ética cristã foi declarado p or Jesus em
M ateus 7.12: “Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles
lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas”. Jesus condensou todo o Antigo
Testam ento (“a Lei e os Profetas”) n u m a prescrição ética concisa ou princípio
prim eiro. Para ver com o isso se aplica na prática, volte o seu pensam ento para
nosso exemplo anterior a respeito de ajudar alguém em perigo. Im agine que
estamos passando por um a casa em chamas e um a m ulher ferida grita por
socorro. Ela nos diz freneticam ente que seu filhinho de seis meses ainda está
dentro da casa em chamas, e nos suplica para tentar resgatá-lo. Provavelmente
desejaríamos ficar em segurança (instinto de autopreservação) m u ito mais do
que desejaríamos salvar o bebê (instinto de g ru po ). Todavia, a lei m oral nos diz
para ajudar a criança, m esm o assim. Essa terceira coisa que julga entre os dois
instintos (autopreservação e instinto de grupo) e decide o que deve ser incenti
vado é coerente com o princípio prim eiro da ética cristã — “façam aos outros o
que vocês querem que eles lhes façam”. Se um de nós fosse um dos pais dessa
criança, não íamos querer que alguém a salvasse? N aturalm ente que sim. E n
tão, façamos o mesmo.
QUÍ ] € S U S D I S S Í A R í S P f I T O DA B O N D A D E M O R A L ?
Essa posição é conflitante com todos os que põem a própria im agem acima da
integridade. N o livro The 48 laws o f power (citado há pouco) as leis 3, 4 e 5
foram formuladas para ajudar a m anter a im agem pública. A saber, ajudar as
pessoas a desenvolver técnicas inescrupulosas de conseguir e m anter o poder ao
m esm o tem po em que m antêm um a aparência externa de m oralidade para lhes
proteger a reputação (imagem pública). Os autores sugerem:
C om pare esta últim a declaração com o que Jesus disse a respeito da hipocri
sia dos líderes religiosos: “Tudo o que fazem é para serem vistos pelos hom ens
[...] Ai de vós, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são com o sepulcros
caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo
de im undície. Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por den
tro estão cheios de hipocrisia e m aldade” (M t 23.5,27,28). Essas duas posi
ções são opostas, um a enfatiza a falta de dignidade da condição m oral interna
da hum anidade e a outra, a de Jesus, enfatiza que o valor e a dignidade verda
deiros se encontram no interior — que não é visto pelos olhos hum anos.
Jesus ensinou que a bondade m oral não se m ede apenas pela conduta, mas
pela condição interior ou atitude do coração. O ato em si não faz o indivíduo
m oralm ente bom ou virtuoso. O principal indicador da condição m oral de
alguém é a atitude de seu coração ou aquilo que está por detrás da ação; esse é
o verdadeiro teste da virtude que ajuda a construir as qualidades de caráter
internas do indivíduo. Se não fosse assim, poderíam os corretam ente concluir
(como m uitos fazem) que Deus está interessado apenas em que obedeçamos a
27H á duas tábuas da lei, e há visões diferentes acerca de como m uitas leis estavam em cada tábua.
Mas há concordância geral em que a prim eira tábua refletia o dever para com Deus, e a segunda
tábua refletia os deveres para com os outros seres hum anos.
354 F undamentos inabaláveis
outros. N ão que D eus não esteja interessado no que pensamos sobre nós mes
mos, ao contrário, a verdadeira bondade m oral requer um a visão correta de
auto-estim a e valor. C on tu d o , esse valor pode ser dado apenas por Deus e vem
no contexto de um relacionam ento sadio e am oroso com ele.
Q u an d o Jesus traz de volta esse padrão, é de se perguntar: é m uito d i t k i
alcançá-lo? E m outras palavras, se é difícil m anter o ódio e a lascívia sob con
trole, o que mais se espera de nós? Q u an d o um especialista na lei testou Jesus
com a pergunta: ‘“Mestre, qual é o m aior m andam ento da lei?’” Respondeu
Jesus: ‘“Am e o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de
todo o seu entendim ento. Este é o primeiro e m aior m andam ento. E o segundo
é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo. Destes dois m anda
mentos dependem toda a Lei e os Profetas”’ (M t 22.34-40; M c 12.28-31).
Esses dois m andam entos são princípios concom itantes. Para am ar nosso
próxim o, deve haver um entendim ento correto de quem somos e do que signi
fica am ar a nós mesmos. O conceito correto de am or-próprio (valorizar-se a si
mesmo) só pode ser com preendido no contexto de u m a relação am orosa e
verdadeira com Deus. É o C riador quem nos dota de valor intrínseco e nos
procura em amor. É esse relacionam ento íntim o de am or que deve engolfar a
totalidade de nosso ser, tanto interna com o externam ente — coração, alma,
m ente e forças. D e acordo com Jesus, u m a vez que nos envolvemos com Deus
nu m relacionam ento de amor, o am or se m anifesta na m aneira que valorizamos
e tratam os os outros.
Se estivermos com prom etidos n u m relacionam ento puro e am oroso com
Deus, não terem os necessidade de nada fora dele. E se confiamos que D eus nos
satisfaz as necessidades, podem os am ar os outros p ondo suas necessidades em
prim eiro lugar. Jesus condensou toda a lei em apenas um princípio primeiro:
“Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam”
(M t 7.12). Essa renúncia total — esse am or ardente p or Deus — é pré-requi
sito para am ar o nosso próxim o. E um am or perfeito e abnegado. E a medida
suprema de virtude moral, e é impossível mantê-lo sem Deus. Q u an d o as pessoas
ouviram Jesus explicar sobre a espécie de padrão que D eus requer delas, m uito
provavelm ente se perguntaram : “Q ue tipo de padrão é esse, e quem alguma
vez conseguiu alcançá-lo?”. Jesus — conhecendo-lhe o coração — não deu
oportunidade para n en hum m al-entendido: “Portanto, sejam perfeitos como
perfeito é o Pai celestial de vocês” (M t 5.48).
D eus sabe que a natu reza h u m a n a é c o rru p ta e que é im possível sermos
perfeitos. Jesus enfatizou isso no serm ão do m o n te. E p o r isso que no final
A ÉTICA £ A MORAL 355
desse serm ão — e im ed iatam e n te após o seu p rim eiro p rin cíp io de ética —
Jesus disse: “E n tre m pela p o rta estreita”. A p o rta estreita a que se referiu
era sua vida e sua relação com D eus, seu Pai. E m João 10.9, ele disse: “Eu
sou a po rta; qu em en tra r p o r m im será salvo”. Jesus co m p reen d ia q ue esse
p rim eiro p rin cíp io de ética é h u m a n a m e n te im possível de ser observado
sem en tra r n u m relacio nam ento am oroso com ele e co m p a rtilh a r de sua
vida e do seu poder. Para en te n d e r p o r que isso e o que se pod e fazer,
precisam os nos vo ltar p ara Jesus n o vam ente para ouvir suas observações e
orientações.
M uita coisa m u d o u nos últim os dois mil anos, mas u m a das coisas que perm a
nece a m esm a é a condição da natureza hum ana: fundam entalm ente corrupta.
Peter Kreeft observou que a civilização ocidental está necessitada de um a pro
funda análise médica. M as ele não está se referindo a u m a análise física do
corpo.
Com análise médica quero dizer não uma análise de nossas doenças físicas,
como a pobreza a inanição, mas nossas doenças espirituais. E uma análise
da alma, não do corpo; da psique, não do soma [corpo], É uma psicanálise
cultural, pois as civilizações, como os indivíduos, têm alma, e a alma, como
o corpo, tem doenças. Muitos indivíduos estão sofrendo interiormente e
procurando os médicos da alma porque toda a nossa civilização tem dores
interiores [...] Não é preciso um moralista para perceber que algo não está
funcionando numa civilização, como C. S. Lewis diz, “cuja rápida produção
de alimento deixa metade dela em estado de inanição, cujos afrodisíacos a
fazem impotente e cujos meios de poupar trabalho baniram o lazer da sua
terra”.
Todos os filósofos práticos, isto é, os buscadores de sabedoria que pen
sam acerca do que fazer e como viver, dizem quatro coisas básicas, simples
mente porque a estrutura de nossa existência é de tal modo que há somente
quatro coisas básicas a dizer, e quatro perguntas básicas para responder.
Esses são os quatro passos de uma análise médica:
m odo que Paulo a usou quando disse de to da a hum anidade que “as exigências
da lei [moral] estão gravadas em seu coração. Disso dão testem unho tam bém a
sua consciência e os pensam entos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os
(Rm 2.15). Portanto, as leis morais de D eus estão gravadas em cada coração
hum ano, e a violação deliberada dessas leis é o que eu quero dizer com o term o
pecado. Culpa é nossa consciência de que violamos um a ou mais das leis de
D eus e, portanto, perm anecem os condenados por Deus.
Se receber a devida atenção, essa vergonha ou culpa interna vai nos levar ao
po nto em que reconhecem os a necessidade da ajuda de Deus. M as esse aspecto
da m oralidade é quase sem pre justificado ou m al entendido. Esse aspecto in
terno é cham ado às vezes de auto-estima ou auto-respeito. Tem que ver com o
senso correto de nos avaliar a nós mesmos e ficarmos seguros com quem somos
— nossa identidade. O en tendim ento correto de si e a consciência de ser ver
dadeiram ente valorizado podem trazer harm onia e paz interior profundas ao
mais íntim o do ser. Em contrapartida, o entendim ento errado de si ou o tipo
errado de am or-próprio, aliado com a idéia de não ser valorizado, pode causar
profundo dano psicológico e produzir confusão interior. Por isso, para amar
nosso próxim o com o a nós mesmos, não devemos ouvir as m entiras da terapia
em otivo-racional nem de outras terapias cognitivas, que dizem que “nossos sen
timentos de culpa e vergonha são basicamente os nossos próprios feitos, conseqüên
cia de nossos pensamentos distorcidos e nossa irracionalidade; devemos aprender
a nos livrar deles”.30 U m a das coisas mais perigosas que podem os fazer é rejeitar
os legítimos sentim entos de culpa e de vergonha. C o m “legítimos”, quero me
referir aos sentim entos que são a conseqüência direta de violar um ou mais
m andam entos de Deus.
D e acordo com Jesus, a visão correta do eu e a relação harm oniosa com
D eus conduzem a u m a vida de integridade pelo desenvolvim ento interior das
virtudes. E essa força interior de caráter que n utre as relações corretas com os
outros. E ntretanto, a concepção incorreta do eu e a relação desarm ônica com
D eus levam a um a vida de corrupção pela tolerância dos maus hábitos. E nessa
corrupção interna do eu que se n utrem os relacionam entos im próprios com os
outros. Toda vez que preferimos a virtude aos maus hábitos ou vice-versa, esta
mos fazendo nosso coração um pouco diferente do que era antes. Q uando
tom am os essa verdade e a estendem os pelo período de u m a vida, o que Peter
Kreeft observou faz sentido. Ele cita o poeta Samuel Smiles:
Para nos livrar do destino que nos leva para longe de Deus, nas trevas, é
necessário tratar da causa original de nossa imoralidade. Para encontrar a causa
original de nossa decadência moral, devemos olhar para além de nossas ações ou
conduta e dentro de nós próprios — os pensamentos de nossa m ente e as atitu
des de nosso coração. Jesus disse que a violação da lei moral de Deus não começa
com um a ação imoral, mas sim com um a atitude imoral do coração. Podemos
jamais cometer, por exemplo, nenhum assassinato nem adultério, mas se odia
mos alguém ou temos um coração lascivo, a lei de Deus já foi violada, ainda que
o ato não se consume. E m outras palavras, se odiamos o nosso próximo, já m ata
mos o relacionamento com ele em nosso coração. D o mesmo m odo, se continu
am ente temos desejo sexual por alguém, enxergamos essa pessoa com o um objeto
a ser possuído e usado em vez de a tratarmos como alguém com quem devemos
construir u m a relação sau
dável. Em ambos os casos o
"Pois do interior tio coração dos
resultado final é a desvalori
homens vêm os maus pensamentos,
zação do outro, o que cons as imoralidade* sexuais, os roubos,
titui violação das leis morais os homicídios, os adultérios..."
e relacionais de Deus.
Pode-nos ser difícil im a Semeie Colha
ginar por que Jesus cham a o
ódio e a lascívia de pecados Pensamento ------- ► atitude
Atitude - ------► ação
e os põe no mesmo nível do
Acào ........ ► conduta
assassinato e do adultério. Se
Conduta - — .. > estilo de vida
as declarações de Jesus o dei Estilo de vida - -------► caráter
xam desconcertado, você não Caráter . ... -...► destino
está sozinho. C. S. Lewis con
fessou que sempre ficou perplexo quando Ua os autores cristãos que pareciam ser
m uito restritos n u m m om ento e m uito abertos noutro. Disse:
3òTheproblem ofpain, p . 2 1 .
362 F undamentos inabaláveis
Se isso está certo — e cremos que há evidências suficientes para dem onstrar
que sim — , os pecados contra o próprio indivíduo não podem ser divorciados
dos pecados contra o seu próxim o. A parentem ente inocentes e aparentem ente
“sem vítim a”, os pecados têm conseqüências trágicas. Isto é verdade não so
m ente para o indivíduo que com ete o pecado, mas tam bém para os que são
afetados por esse pecado tam bém . C o m respeito aos sete pecados m ortais m en
cionados antes, já se disse que o pecado do orgulho está acima de todos. Solomon
Schim mel explica que através dos séculos teólogos cristãos e escritores devotos
classificaram o orgulho com o “o mais m ortal” dos sete pecados mortais. Ele
cita o escritor medieval Gregório, o G rande, dizendo:
Gregório não incluiu o orgulho entre os sete pecados cardeais, mas conside
ra que ele produz os sete, que por sua vez produzem uma multidão de outros
pecados. Não é difícil ver que o orgulho conduz a outros pecados. A pessoa
arrogante, que tem uma imagem muito favorável de si, acredita que tem o
direito de fazer o que seu coração deseja, seja na esfera social ou na materi
al. Uma vez que espera deferência, essa pessoa fica facilmente irada quando
não a recebe. Presumindo-se superior às outras, fica especialmente inclina
da à inveja, que é uma reação às ameaças a sua auto-estima elevada. Por ser
auto-satisfeita, a pessoa orgulhosa não se sente obrigada a agir na busca dos
alvos espirituais e desse modo comete o pecado da preguiça. Convencida de
que sua “eminência” é uma prerrogativa, facilmente pisa nos direitos dos
outros, como freqüentemente fazem os avarentos, os glutões e os lascivos.
Não é que o orgulho inevitavelmente leve a esses pecados, ou que todas as
manifestações desses pecados sejam os efeitos do orgulho. Mas, uma vez
que em geral é o caso, Gregório conferiu ao orgulho uma posição separada,
designando-o pai e rei de todos os pecados.35
Agora vamos abordar aquela parte da moral cristã que se difere mais nitida
mente das outras morais. H á um pecado do qual ninguém neste mundo
escapa; um pecado que todos detestam nos outros, e do qual quase nin
guém, exceto os cristãos, tem a consciência de que o comete. Sei de pessoas
que admitem ter um gênio, que sabem que perdem a cabeça em se tratando
de mulher ou de bebida, e que reconhecem até mesmo que são covardes.
Mas esse pecado de que estou falando, acho que nunca encontrei ninguém,
... desta tentativa sem esperança procede quase tudo o que chamamos de a
história humana: dinheiro, pobreza, ambição, guerra, prostituição, classes,
impérios, escravidão; é a longa e terrível história do homem na procura de
algo que não seja Deus e que o faça feliz.
Esta tentativa falhará pela seguinte razão: Deus nos criou, inventou-nos
como um homem inventa um mecanismo. Um automóvel que é feito para
ser movido a gasolina não poderia andar bem com outro combustível. Pois
bem, Deus projetou que a máquina humana se movesse à base de Deus
mesmo. [...] Deus não pode dar felicidade e paz independentes de Si mes
mo, porque não existem. Realmente, não existem isso.
Esta é a chave para a História. Gasta-se uma energia espantosa, constro-
em-se civilizações, idealizam-se excelentes instituições; mas toda vez alguma
coisa sai errada. Alguma fatalidade dá o poder a indivíduos egoístas e cruéis
Deus nos projetou para funcionar nele e deu a cada um de nós u m a natureza
m oral — a consciência do certo e do errado — para nos ajudar a perm anecer
no cam inho certo. Através de toda a história tem havido pessoas que procuram
obedecer a essa consciência m oral em vários graus. Todavia, com o Lewis disse,
“ninguém jamais conseguiu fazê-lo com pletam ente”. Deus tam bém selecio
nou um grupo de pessoas e “despendeu vários séculos m artelando em suas
cabeças que tipo de D eus Ele é: um único Deus, um D eus que se interessa pelo
correto com portam ento. Este povo foram os judeus, e o Velho Testam ento nos
dá um relato de todo esse processo, feito com m uito esforço e insistência”.38
Até o povo escolhido de D eus parecia não fazer as coisas de m odo correto. Por
isso, logo depois, vem Jesus Cristo, que diz: “Porque D eus tanto am ou o m u n
do que deu o seu Filho U nigênito, para que todo o que nele crer não pereça,
mas ten h a a vida eterna” (Jo 3.16). Q u an d o Jesus descreveu as trevas do cora
ção h um ano e a necessidade de entrar na luz (verdade) e viver nela, ele se referia
a si próprio: “Eu sou a luz do m u ndo. Q u em m e segue, nunca andará em
trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8.12).
Seguir Jesus requer a m orte do orgulho e do egocentrismo: “Se alguém
quiser acom panhar-m e, negue-se a si mesm o, tom e diariam ente a sua cruz e
siga-me” (Lc 9.23). E nfrentar a verdade a respeito de nossa própria natureza
egoísta traz a libertação verdadeira: Jesus prom eteu: “E conhecerão a verdade,
e a verdade os libertará” (Jo 8.32).
Jesus disse que ele nasceu por duas razões específicas. Prim eira, veio a este
m u nd o para “dar a sua vida em resgate p o r m uitos” (M t 20.28). Em outras
palavras, ele veio para pagar a penalidade pelos nossos pecados, dos quais o
orgulho ou egocentrism o é o prim eiro, e se nós aceitarmos o seu pagam ento
pelos nossos pecados, podem os receber perdão de Deus e ser libertos do corre
dor da m orte. Segunda, nu m a declaração vigorosa a Pilatos, Jesus disse: “D e
fato, por esta razão nasci e para isto vim ao m undo: para testem unhar da verda
de. Todos os que são da verdade m e ouvem ” (Jo 18.37). Q u an d o Jesus fala, ele
fala a verdade, e aqueles que o ouvem são os que perm anecem do lado da
37Ibid„ p. 2 7 -8 .
38Ibid., p. 28.
366 F undamentos inabaláveis
verdade e cam inham na luz. O M édico M oral falou e oferece a única cura —
ele próprio.
A prescrição de Jesus para remediar a morte eterna (separação da relação com
Deus para sempre) é a vida eterna. U m a vez que nascemos m ortos do po nto de
vista relacionai com Deus ou espiritualm ente m ortos para com ele por causa de
nossa natureza hum an a corrupta, somos com pletam ente im potentes para fazer
qualquer coisa a respeito desse problem a. H á apenas um a cura que ajuda um a
pessoa m orta, e essa cura é a vida! Essa vida é a vida que som ente Jesus pode
dar. E a verdade que Jesus proclam ou m uitas vezes — a verdade de que ele é a
única cura para a doença m oral cham ada pecado. O único m eio de começar
um a nova vida n u m relacionam ento am oroso com D eus é o m eio dele. É por
isso que Jesus disse: “E u sou o cam inho, a verdade e a vida. N in gu ém vem ao
pai, a não ser por m im ” (Jo 14.6).
A s vezes há somente um caminho que leva ao topo da montanha; às vezes há
somente um a resposta a um problema; às vezes um a doença só tem um a cura. Esse
é um desses casos. Jesus apresentou-se a si m esm o com o a única cura para um a
doença m ortal e para um m un do m oribundo; Jesus prescreveu a si mesmo
com o o remédio para ficar curado e, desse m odo, ter vida eterna. A medicação
para a vida eterna não nos custa nada, é um dom de D eus para nós, dado
gratuitam ente pelo favor de Deus. “Pois vocês são salvos pela graça, por meio
da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não p or obras, para que n in
guém se glorie” (E f 2.8,9).
A natureza de Deus é imutável: ele é santo e justo, mas tam bém é amoroso
e misericordioso. U m a vez que ele não pode m udar a sua natureza, a sua justiça
requer que seja paga a pena pelos pecados da hum anidade. Jesus proveu esse
pagam ento no Calvário (lP e 2.24; 3.18) n u m ato de am or perfeito e abnega
do. Jesus, em graça e misericórdia, ofereceu-se a si m esm o com o resgate por
qualquer pessoa desejosa de segui-lo. Q uan d o as pessoas decidem verdadeira
m ente seguir Jesus, elas são colocadas debaixo do “guarda-chuva” protetor de
Jesus C risto39 e são protegidas da santidade e da justiça de Deus. A cura per
m anente que Jesus prescreveu para os seus pacientes deve ser aceita p or u m ato
de fé da parte dessas pessoas.
U m a vez que se aceita o pagam ento de Jesus, assegura-se o prognóstico
favorável, e a cura se inicia. Eis a descrição de Deus desse processo: “Darei a
vocês u m coração novo e porei u m espírito novo em vocês; tirarei de vocês o
40V. cap. 2 para rever o teste m etodológico para as declarações de verdade das cosmovisões.
C a p ít u l o q u in z e
0 VERDADEIRO SIGNIfICADO
DA VIDA £ 0 CÉU
— Sócrates
0 Q U E DÁ S E N T I D O Ú LTIM O À V I D A ? 1
'E m resposta à pergunta levantada nos capítulos 15 e 16, incorporam os m uitos pensamentos
profundos dos escritos de C. S. Lewis. A m aioria das citações foi tirada dos seus livros Cristianismo
puro e simples, The problem ofpa in e The great divorce. Se você nunca leu essas obras, nós as recom en
damos m uito enfaticamente.
370 Í U N D M E W O S IN AB A LÁ VE I S
O prim eiro passo é sem elhante a passar p o r um portão, e já exam inam os como
e por que Jesus afirm ou ser a Porta. Tendo entrado p or essa porta, recebendo
Jesus com o a cura perm anente da nossa decadência moral, podem os com eçar a
ter verdadeira paz com D eus e a entrar n u m a relação de am or com ele. Deus
nos projetou e criou, e conhece tanto os propósitos gerais com o os específicos
para a nossa vida. Ele revelará esses propósitos durante o processo perm anente
de transform ação de nosso caráter.
N ão im porta o que fizemos ou o que nos fizeram, a prescrição de D eus para
nós é perfeita porque tem um ingrediente fundam ental conhecido com o reden
ção. Redenção é a prom essa de que “Deus age em todas as coisas para o bem
daqueles que o am am , dos que foram cham ados de acordo com o seu propósi
to” (Rm 8.28). O propósito para os amados de Deus e que o am am tam bém é
expresso claram ente pelo próprio Deus. Ele cham ou aqueles a quem am a para
serem “conform es à im agem de seu Filho” (Rm 8.29). Toda aquele que é am a
do por ele e que o am a reciprocam ente se torna igual a seu Filho, Jesus Cristo.
C om o Deus realiza esse propósito é coisa dele, mas os verdadeiros crentes p o
dem estar certos de u m a coisa: D eus vai fazer tudo para realizar, e ninguém
neste planeta nem poder n en h u m do reino espiritual o vai impedir!
Deus sempre tem a palavra final em tudo, o que é um a boa notícia para o crente
genuíno. Ele é capaz até de tom ar vidas desamparadas e redimi-las de seus sofri
mentos a fim de realizar um bem maior. Precisamos apenas olhar para Jesus — sua
vida, m orte e ressurreição — para constatar isso. U m exame sincero dos ensinos, da
vida e paixão de Jesus revela que ninguém pode frustrar os propósitos de Deus. Ele
está no controle soberano de tudo — tanto de vivos como de mortos.
D o pon to de vista técnico, visto que Jesus é á única pessoa que viveu um a
vida sem pecado (Jo 8.46), ele tam bém é a única que experim entou verdadei
ram ente “o sofrim ento inocente” nas mãos dos hom ens maus. Q u an d o o grupo
veio prender Jesus, Pedro (seu discípulo) ten to u tom ar o controle do destino
de Jesus usando violência. Pedro pegou a espada e a usou na tentativa de exer
cer sua própria vontade sobre a vontade de D eus e os seus propósitos com
relação a Jesus. Todavia, Jesus conhecia o plano que seu Pai tin h a para sua vida
e disse a Pedro: “Você acha que eu não posso pedir a m eu Pai, e ele não coloca
ria im ediatam ente à m inha disposição mais de doze legiões de anjos?” (M t
26.53). Doze legiões de anjos é um a quantidade que varia entre 36 mil e 72
m il anjos — mais do que suficiente para lutar poderosam ente! C on tu do , Jesus
resolveu não recorrer a seu Pai para resgatá-lo, mas confiou nos propósitos dele
para sua vida em todas as circunstâncias, até na m orte.
0 V ER D A D EI R O SIGN1 E IC A DO DA VIDA E O CÉU 3/1
Jesus sabia que seu Pai o amava e era soberano sobre todas as coisas. M esmo
quando Pilatos ten to u livrar Jesus de testem unhar e subm etê-lo ao poder e
autoridade de R om a respondendo a suas p ; rguntas, Jesus recusou-se a ser
m anipulado. Q u an d o Pilatos disse: “N ão sabe que eu tenho autoridade para
libertá-lo e para crucificá-lo? Jesus respondeu: ‘N ão terias nen h u m a autorida
de sobre m im , se esta não te fosse dada de cima’” (Jo 19.10,11).
Jesus nos ensina que Deus tem o controle definitivo m esm o quando as
pessoas más com etem atos cruéis e injustos. As pessoas que exercem seu livre-
arbítrio para agir de m odo ím pio nunca serão capazes de interferir no plano de
Deus. Por isso, todos os que verdadeiram ente crêem em Deus e se subm etem a
ser parte dos seus propósitos jamais poderão ser despojados do significado da
vida — não im porta o que as pessoas más lhes façam. N o capítulo 11 citamos
um trecho de C. S. Lewis que afirma de m aneira concisa o que estamos ten tan
do dizer. C o m entando sobre com o Deus usa até o livre-arbítrio dos ímpios
para cum prir seus propósitos, Lewis disse:
A escolha depende de nós. Podem os estar intim am ente envolvidos nos pro
pósitos de D eus por vontade própria — com o João. O u podem os escolher agir
segundo os nossos próprios propósitos nesta vida, os quais no final D eus usa
para os seus próprios fins — com o Judas. D e qualquer m odo, os propósitos de
Deus serão cum pridos, a diferença tem a ver conosco apenas, será vivida por
nós e decidida p o r nós. O tem po de decidir é agora, enquanto D eus nos dá a
liberdade de escolher, pois quando tudo tiver sido dito e feito e chegarmos ao
fim de nossa vida, ele terá a palavra final.
2Theproblem ofpain , p. 1 1 1 .
372 fUNDAMENIOS INABALÁVEIS
Para os incrédulos, se tiver sido encontrado algum sentido na vida, term ina
rá na m orte. Para os crentes, a m orte é apenas a p orta de entrada para o que
Deus lhes tem planejado. A ressurreição de Cristo nos ensina que os propósitos
definitivos de D eus não term inam com a m orte, pois foi na m orte e ressurrei
ção de seu Filho que D eus dem onstrou sua soberania e poder sobre a m orte
fazendo todas as coisas concorrerem para um bem m aior — e agora todos
podem ter a oportunidade de vida eterna. Essa esperança só se pode ter pela
“obediência que vem pela fé” em Jesus C risto (Rm 1.5). Se crermos em Jesus e
reverentem ente nos subm eterm os em obediência a D eus, ele não som ente
redim irá nossa vida das faltas e sofrim entos passados, mas tam bém nos dará
propósito e esperança no futuro — o verdadeiro sentido da vida. É exatam ente
isso que nos revela a Palavra de Deus:
O plano de D eus não era resgatar Jesus das mãos dos hom ens maus, mas,
sim, resgatá-lo das mãos da m orte em si! D errotando a m orte, Jesus nos tornou
possível fazer o m esm o — subm eter ao plano de D eus e abandonar-nos em
seus braços amorosos. Jesus experim entou plenitude durante os dias de sua
vida na terra enquanto obedeceu à vontade de seu Pai. M as a culm inação desse
significado só foi alcançada depois de sua m orte. A Bíblia diz que Jesus “pela
alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e
assentou-se à direita do trono de D eus” (H b 1.22).
O sentido ú ltim o da vida se resum e na relação definitiva com o D efiniti
vo, um a relação de am or com o D eus que é am or ( l j o 4.16). Jesus disse:
“Esta é a vida eterna: que te conheçam , o único D eus verdadeiro, e a Jesus
C risto, a quem enviaste” (Jo 17.3). O conhecim ento de que Jesus falou não é
apenas o conhecim ento intelectual, mas o conhecim ento proveniente de um a
relação sólida com D eus p o r interm édio de Jesus C risto. Esse conhecim ento
significa união ín tim a com D eus, união esta que p ro du z vida eterna. A vida
eterna não é qu an tid ad e o u duração de tem po, é qualidade de vida, com par
tilhada com D eus e vivida para D eus. U ma vez que Deus é a realidade defin i
tiva, ser amado po r ele e am á-lo reciprocamente dá o significado definitivo a
nossa vida, agora e para sempre.
0 V E R D A D E IR O S I G N I f I C A D O DA VI D A E O CÉ U 373
C om o D eus pode se decom por em fatores nas vidas que foram roubadas de
todas as coisas im portantes e significativas que este m u n d o tem para oferecer?
Bem, por mais estranho que possa parecer, quanto mais “coisas” tem os neste
m undo, mais difícil se torna encontrar o verdadeiro significado e a verdadeira
felicidade.
V iktor Frankl, um sobrevivente do H olocausto, escreveu sobre suas experi
ências de tentar encontrar o verdadeiro significado da vida. Falou a respeito de
seus sofrim entos nas mãos dos nazistas e com partilhou com seus leitores o que
significava ter sua liberdade, família e auto-respeito instantaneam ente retira
dos. Frankl recordou que os nazistas ameaçavam seus prisioneiros e lhes priva
vam das últimas coisas de valor que este m undo tem para oferecer, até a dignidade
hu m ana deles. U m dia — no escuro da pré-alvorada e no amargo frio — Frankl
foi obrigado a se ju n tar a um determ inado grupo de trabalho. Q uan d o ele e
seus com panheiros se dirigiam para o local de trabalho, Frankl se recorda pen
sando em sua esposa e no am or que tinham u m pelo outro. A com panhe esta
citação atenciosam ente para penetrar nas reflexões de Frankl. E nquanto se diri
giam para o lugar de trabalho naquele dia Frankl disse:
morrer [...] Mas para cada um dos prisioneiros libertados, chega o dia em
que, ao olhar para trás, para suas experiências do campo, não consegue enten
der como suportou tudo. Quando o dia de sua libertação finalmente chegou,
quando tudo lhe parecia um belo sonho, assim também o dia vem em que
todas as experiências do campo lhe parecem um pesadelo. O apogeu de todas
as experiências, para o homem que volta ao lar depois de longo período de
ausêxvda., k. vmswõJJ&osà de. que., àepovs às. tuáo cjue sotteu, não Vá
nada mais que precise temer — somente seu Deus.6
GM arís searchfo r meaning, p. 56-8, 60, 87, 111 ,1 14 -5 (grifo do autor). O livro foi publicado em
português com o título E m busca de sentido.
0 V E R D A D E I R O S IG N I F I C A D O DA VIDA E O C ÉU 3/7
de que, em últim a análise, somos feitos para o céu, e não para a terra, nos ajuda
a d im inuir as dores e os sofrim entos desta vida. C. S. Lewis disse:
A visão cristã [deste mundo] é que os homens foram criados para estar num
certo relacionamento com Deus (se estivermos em relação com ele, a rela
ção correta de uns para com os outros se seguirá inevitavelmente). Cristo
disse que é difícil para “o rico” entrar no reino dos céus,7 referindo-se, sem
dúvida, aos “ricos” no sentido comum. Mas eu penso que isso abrange os
ricos em todos os sentidos — boa sorte, saúde, popularidade e todas as
coisas que alguém quer ter. Todas essas coisas tendem — da mesma forma
que o dinheiro — a tornar o indivíduo independente de Deus, porque se ele
as tem, já é feliz e contente nesta vida. Não quer se voltar para nada mais e
assim tenta descansar à sombra da felicidade como se ela pudesse durar para
sempre. Mas Deus nos quer dar a felicidade real e eterna. Conseqüentemen
te, ele pode ter de tirar todas essas “riquezas” de nós: se não fizer isso,
confiaremos nelas. Isso parece cruel, não é? Mas estou começando a perce
ber que o que as pessoas chamam de doutrinas cruéis são na verdade as mais
suaves a longo prazo [...] Se pensarmos neste mundo como um lugar plane
jado simplesmente para a nossa felicidade, vamos achá-lo insuportável. Va
mos pensar nele como local de treinamento e correção, e não será tão ruim.
Desse modo, o que parece ser uma doutrina feia é uma doutrina que nos
conforta e fortalece no final.8
céu, terá aTerra com o acréscimo; quem almejar aTerra, não terá nem um a nem
outra coisa”.9
Há algum bem humano mais elevado? Se não há nenhum bem humano mais
elevado — se procuramos literalmente todo bem por causa de algum outro
— , podemos desistir de tentar dar ordem racional a nossa vida, porque
somos como um hamster que corre sem parar na roda da gaiola, mas nunca
chega a lugar algum. Se, contudo, há algum bem humano mais elevado,
seria bom descobri-lo [...] O bem humano mais elevado teria duas qualida
des. Primeira, os outros bens seriam procurados por causa dele; segunda,
ele seria procurado por causa dele mesmo. O que conhecemos que se pareça
com ele? Aristóteles assinala que quase todo o mundo, em todos os tempos
e lugares, dá a mesma resposta a essa pergunta: felicidade [...]
Aristóteles admite a idéia de que o maior bem humano é a felicidade.
Mas imediatamente assinala que ela precisa de refinamento. A razão é que a
opinião comum da raça humana não está de acordo a respeito do que é
felicidade. Entretanto, o número de idéias concorrentes é pequeno:
Definição 1: Felicidade é o prazer.
Definição 2: Felicidade é a honra.
Definição 3: Felicidade é a virtude, ou excelência.
Definição 4: Felicidade é o bem fisico ou externo, como a saúde e a riqueza [...]
Aristóteles [...] considera que em cada uma das quatro opiniões possa
haver um trigo de verdade misturado com o joio. Se puder separar os resí
duos, poderá moer o trigo, transformá-loem farinha e fazer o pão.
Definição 1: A felicidade é o prazer. Trigo: Ninguém pode dizer que um
homem é feliz se ele nunca experimentou prazer nenhum. Joio: Ainda, pode
10P. 19-21.
380 F undamentos inabaláveis
A Bíblia diz que D eus pôs a eternidade no coração de todas as pessoas (Ec
3.11). N o coração h um ano, há o desejo de im portância eterna, de ter valor que
transcende o m u n d o tem poral. H á um anelo profundo dentro de cada um de
nós de viver o tipo de vida que tu do que se faça ou diga, de algum a forma, terá
conseqüências eternas. E ntretanto, o desejo ardente de im portância eterna ja
mais pode satisfazer-se dentro das limitações de um m un do tem poral; som en
te o eterno (Deus) p o d e conceder significado eterno ao que é tem poral
(hum anidade). Foi por isso que Davi disse: “Tu m e farás conhecer a vereda da
vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita” (SI 16.11).
C om o disse Lewis, “os prazeres terrenos nun ca serviram para satisfazer [...]
mas som ente para estim ular [...] dar a impressão da coisa real”, e essa “coisa
real” é a relação com o próprio Deus. Deus é quem deseja conceder-nos felici
dade, e depende de nós aceitar sua oferta graciosa, entregue pessoalmente por
seu Filho.
Q uand o alguém recebe Jesus C risto com o seu Senhor e Salvador, Deus começa
a trabalhar nessa vida com o alvo total de m oldá-la para conform á-la à imagem
de seu Filho. Em outras palavras, Deus a m atricula em seu program a de desen
volvim ento de caráter, usa tu do de sua vida, até pessoas e circunstâncias, para
transform ar seu m un do n u m “lugar de preparação e correção”. O resto da vida
ser c o m b a tid o . P e te r
Kreeft assevera que entendem os m elhor as coisas comparando-as e explicou que
há um paralelo bem próxim o entre os pecados e as virtudes. Ele arrola os pecados
(os sete mortais) e as virtudes (as bem-aventuranças) lado a lado, dizendo:
... quem persevera na prática de ações justas adquire finalmente uma certa
qualidade de personalidade. E a essa qualidade, e não às ações individuais, a
que nos referimos ao falar de uma “virtude”. [...] A questão não é que Deus
recusará a admissão em seu reino eterno de quem não tenha certas qualidades
de caráter; a questão é que, para quem não tiver pelos menos os primórdios
dessas qualidades no seu íntimo, não haverá então condições externas possí
veis que lhe façam um “Céu”; isto é, que lhe façam feliz com a profunda, forte
e inabalável espécie de felicidade que Deus quer proporcionar.13
O céu é o destino final daqueles que recebem Jesus C risto em sua vida.
Estes vão viver para sem pre nu m a relação harm oniosa com Deus e todas as
pessoas que verdadeiram ente o am am . A Palavra de Deus nos diz que viver
neste m un do é com o ver “um reflexo obscuro no espelho”, mas o céu é o lugar
onde tu do se tornará nítido. Agora conhecem os apenas em parte, mas no céu
seremos “plenam ente conhecidos” (IC o 13.12).
Se você pode im aginar um m u n d o onde todos os habitantes sejam verda
deiram ente hum ildes, abnegados, mansos, justos, misericordiosos, compassi
vos, puros de coração e em paz com D eus e com os outros, então você pode ter
um vislumbre de com o é o céu. O céu pode ser com parado a um lugar de
perfeita harm onia — como ouvir um a orquestra maravilhosa. O s músicos (cren
tes) concentram -se exclusivamente no m aestro (Jesus Cristo), e sua apresenta
ção consiste de canções de am or sem fim a seu Deus (Ap 5.11-13). O céu é um
lugar de alegria pura e regozijo em tudo o que Deus é e tudo o que ele fez por
aqueles a quem ama, que o am am e creram em seu Filho, Jesus C risto (Ap 7.9-
12). O céu é um lugar onde não haverá mais d or nem sofrim ento e toda lágri
m a será enxugada pelo próprio D eus (Ap 21.3-5). E um lugar onde não haverá
mais noite nem trevas porque Deus será a luz que guia o seu povo (Ap 21.23,24).
N o céu não haverá mais m entiras, engano, promessas quebradas, desaponta
m entos, traições nem pecados porque não haverá mal no céu; o mal terá sido
derrotado e eternam ente isolado (Ap 21.27).
Todas as pessoas no céu terão o corpo adaptado, projetado para o am biente
celestial. Será o m esm o corpo físico que tin ham na terra, mas ressuscitado e
glorificado (IC o 15.39-49). U m dos significados da palavra glorificado é “per
feição manifesta” ou “com pletitude”. Em outras palavras, os que entrarem no
céu saberão o que significa ser plena ou com pletam ente hu m ano — mais h u
m anos do que jamais poderiam im aginar aqui na terra. N o céu haverá com pa
tibilidade com pleta entre o natural e o espiritual.
D a mesm a m aneira que a N atureza e o Espírito se harm onizarão plenam en
te no céu, tam bém se harm onizarão o corpo, a alma e o espírito glorificado de
todos os crentes. N o céu, os pecados não poderão mais im pedir o florescimento
das virtudes, e os crentes serão capazes de alcançar m aturidade espiritual ple
na. E ntretanto, Deus não quer que seu povo espere até chegar ao céu para
experim entar crescimento espiritual. O processo de crescim ento começa no
m om ento que alguém recebe Jesus Cristo com o Salvador pessoal e Senhor. E
esse processo a cam inho da integridade ou plenitude que é a parte im portante
da conquista do significado tanto desta vida com o do porvir. Em contrapartida,
aqueles que decidem rejeitar Jesus com o Senhor e Salvador vão cultivar a deca
dência que já existe na vida deles. C om isso em m ente, vamos dirigir nossa
atenção para exam inar os efeitos da decadência hu m ana quando os indivíduos
resolvem não invocar D eus para salvá-los dela.
está sob o controle de u m estilo de vida destruído m oralm ente e distante dos
padrões sexuais. E m m uitos aspectos, ele não é m elhor do que o viciado em
drogas. Além do mais, se não reconhecer sua dependência e não procurar auxí
lio, poderá correr grande risco, com o u m viciado em drogas, de tom ar um a
overdose. Perm ita-m e explicar p or que isso ocorre.
Existe u m conjunto de evidências científicas que apóia a conclusão de que
as atividades com portam entais podem , de fato, levar a u m a alteração da quím i
ca do cérebro hum ano. A conseqüência de algo com o determ inado tipo de
hábito prolongado pode ser a m esm a para o indivíduo que a do vício quím ico.
As pesquisas continuam confirm ando que as m em órias de experiências que
ocorreram nos m om entos de excitação com portam ental (inclusive excitação
sexual) são difíceis de apagar e produzem um a espécie de “grilhão” ou “com
portam ento dependente” do que causou o estímulo. N u m artigo de pesquisa
sobre o vício, u m analista do Time disse:
14Madaleine J. N ash , Addicted: why do people get hooked?, Time, 5/5/1997, p. 72.
386 F undamentos inabaláveis
Bundy não é um caso isolado. Os autores do livro Journey into darkness [ Via
gem à escuridão] docum entam vários casos de crimes sexuais. Ao descrever a com
pleta inutilidade da reabilitação de predadores sexuais, os autores usam a analogia
de fazer um bolo com mãos sujas, cheias de graxa. A m edida que o padeiro
m istura os ingredientes, a graxa se torna parte do bolo, m isturada aos outros
ingredientes. O bolo seria m uito bom se houvesse algum m odo de retirar a graxa
da mistura. Falando a respeito dos assassinos seriais, os autores dizem:
não somente causamos danos a nós mesmos como tam bém aos que estão ao redor
de nós. N ão existe pecado privado ou isolado. As decisões individuais e as atitu
des das pessoas acabam afetando os m em bros da família e /o u os amigos — e
finalmente a sociedade. N a verdade, os problemas que enfrentamos como nação
podem ser rastreados e foram até o nível individual e as decisões egocêntricas que
as pessoas tom am . Esse estado de existência egoísta não é som ente a causa origi
nal da corrupção individual, mas tam bém é responsável pela destruição de famí
lias, e agora levou a um a crise moral de âm bito nacional.
N o capítulo 14, observamos que os “pecados privados” têm conseqüências
públicas, e citamos u m autor que diz que “cada pecado m ortal abastece fenô
m enos sociais perigosos: luxúria— pornografia; glutonaria— abuso de substân
cias; inveja— terrorism o; ira— violência; preguiça— indiferença à dor e ao
sofrim ento dos outros; avareza— abuso da confiança pública; e orgulho— dis
crim inação”.18 Tam bém dissemos que o orgulho, a atitude de colocar-se em
prim eiro lugar, i.e., egoísmo, é a causa original de todos os outros pecados.
Agora querem os m ostrar com o u m a nação pode ser, e tem sido, afetada p o r um
individualism o característico ou egoísmo, que é a força m otriz por detrás do
pecado que cham am os de orgulho.
H á um a quantidade inacreditável de vaidade desenfreada em nossa cultura
contem porânea que envolve todo o espectro social — desde os jovens estudan
tes, passando pelos profissionais de negócios e política, culm inando no escritó
rio do presidente dos Estados Unidos. N u m artigo de fundo do Newsweek,
certa vez, fez-se um a pesquisa entre o povo norte-am ericano para verificar o que
se considerava a causa do declínio m oral dos Estados Unidos. A revista infor
mava que 76% dos adultos concordam que os Estados U nidos estão em deca
dência m o ral.19 Esse artigo é apenas u m entre m uitos que d ocu m en tam o
tecido m oral esgarçado dos Estados Unidos. Procurando isolar a causa original
desse declínio, poucos anos antes, a revista Tim e fez algum as pesquisas
investigativas. O s achados foram publicados nu m a edição intitulada “O que
aconteceu à ética? Assaltados pela pobreza, por escândalos e pela hipocrisia, os
Estados U nidos procuram sua cond uta m oral”. Nessa edição, a Time entrevis
to u alguns dos principais especialistas em ética do país. O estudo deles os
levou a identificar a causa original com o um a “obsessão protecionista com o eu
e com a imagem”. O autor do artigo dizia:
D e acordo com alguns dos mais im portantes especialistas em ética nos Es
tados Unidos, a decadência m oral da cultura norte-am ericana rem onta direta
m ente à família e à corrupção m oral individual de cada m em bro. Analisando a
causa original do declínio m oral nacional, a Time retornou ao problem a indivi
dual do egoísmo.
C oncluindo, as conseqüências temporais que um a pessoa sofre por rejeitar
Deus e viver um a vida egocêntrica são muitas; arrolaremos três. Primeira, há um
preço a pagar individualmente à m edida que sua vida desliza lentam ente para as
trevas e para longe da verdadeira luz da lei moral de Deus. Segunda, essa pessoa
causará danos aos que se relacionam com ela — família e amigos. Terceira, a
sociedade como um todo colherá os frutos amargos do egoísmo e do orgulho,
que se manifestam de muitos modos, e são, em últim a instância, o fator subjacente
do colapso m oral da nação toda. Essas conseqüências temporais, em m uitos
aspectos, servem como indicação ou advertência do que será o estado eterno de
vida sem Deus (inferno), que é o assunto do próximo capítulo.
C a p ít u l o d e z e s s e is
Q ua is as c o n s e q ü ê n c ia s p e r m a n e n t e s de r ec u sa r D eus?
A resposta simples e direta a essa pergunta foi dada p o r Jesus: “E u lhes disse
que vocês m orrerão em seus pecados. Se vocês não crerem que Eu Sou, de fato
m orrerão em seus pecados” (Jo 8.24). M orrer em pecado é m orrer para sempre
separado do relacionam ento de am or com Deus. Jesus perguntou aos líderes
religiosos hipócritas que o rejeitavam: “C om o vocês escaparão da condenação
ao inferno?” (M t 23.33). D e acordo com Jesus, se não crermos nele, não so
m ente m orrerem os a m orte física, mas tam bém a m orte espiritual. A Bíblia
refere-se a essa m orte espiritual com o a segunda m orte (Ap 20.6,14), que re
sulta na separação eterna de Deus. O nom e dessa separação eterna ou quaren
tena do mal para as pessoas que rejeitam D eus é inferno. O inferno não foi
criado para os hom ens, mas para os anjos caídos — anjos que preferiram andar
por seus próprios cam inhos a obedecer ao C riador (M t 25.41). Todos que
rejeitam Deus, em últim a instância serão lançados para fora de sua presença e
viverão para sem pre em estado consciente de separação de Deus, no inferno.
M as é justo que, só porque peca nesta vida, alguém passe a eternidade no
inferno? C om o a punição (condenação eterna) se relaciona com o crime (peca
do nesta vida temporal)? Para valorizar plenam ente a proclam ação de Jesus,
devemos considerar o tipo de Ser que D eus é (sua natureza divina) e o tipo de
394 F undamentos inabaláveis
seres que somos (nossa natureza hum ana). Se D eus é justo e am oroso, então o
inferno deve ser um lugar justo e amoroso.
Prim eiro, o inferno é justo porque, ao longo de nossa vida, tem os a escolha
de não ir para lá. D eus nos deu evidências suficientes (como apresentamos
neste livro) para optar por ele e viver com ele para sempre no céu, ou rejeitá-lo
e viver sem ele para sempre no inferno. As pessoas que o rejeitam livremente
escolhem viver sem ele para sempre.
Segundo, o am or de Deus exige que o inferno exista. Deus respeita as escolhas
que as pessoas fazem ao rejeitar seu am or e, um a vez que o am or forçado é um a
contradição, Deus não pode forçar seu am or a pessoas que não o desejam. O
am or de Deus é sempre persuasivo, não coercitivo. Coagir alguém a um relacio
nam ento seria em si mesmo um ato injusto, desamorável e mal, do qual Deus é
incapaz. Jesus expressou essa verdade quando chorou por Jerusalém: “Jerusalém,
Jerusalém, você, que m ata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas
vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debai
xo das suas asas, mas vocês não quiseram ’ (M t 23.37; grifo do autor).
Terceiro, o inferno é justo porque pune o mal. U m a vez que D eus é justo,
ele deve julgar cada pessoa que pecou e violou sua lei moral. O s stalins e os
hitlers do m undo, assim com o toda a hum anidade, devem ser trazidos à justi
ça, e Deus no final vê a justiça realizada. Por isso, é necessário existir um lugar
de punição para os im penitentes (os que não desejam confessar sua culpa e
pedir perdão) depois desta vida para m anter a justiça de Deus.
Alguns acham que o inferno é um lugar apropriado para pessoas com o Stalin e
Hitler, mas e as pessoas médias, que parecem ter um certo grau de vida decen
te? Prim eiro, o que nós podem os cham ar de decente e o que é decente aos olhos
de Deus podem ser coisas totalm ente diferentes. Q u an d o Jesus denunciou as
cidades que ignoraram os milagres que ele havia realizado, disse que o juízo
sobre elas seria m uito mais severo do que para as outras cidades. Por exemplo,
ele disse que as pessoas de C afarnaum sofreriam castigo m uito mais grave que
as pessoas de Sodom a (M t 11.24). Pense nisto: C afarnaum era culpada apenas
de ignorar Jesus, enquanto os pecados de Sodom a estão associados com im ora
lidade sexual. Deus vê a indiferença para com ele com o pecado “m aior” que a
im oralidade sexual. Isto não torn a os pecados sexuais mais leves, eles são repul
sivos aos olhos de Deus. Este exemplo sim plesm ente nos ajuda a ilustrar qu an
to podem os estar errados quando tentam os julgar níveis de pecado.
A V ER D AD EI RA M I S É R I A E 0 I N E ER N O 395
Deus julga de corretam ente, e a gravidade dos pecados com etidos corres
ponde ao nível próprio de punição. Além disso, há outros textos na Bíblia que
dão apoio à idéia de graus variados de pecado com níveis correspondentes de
punição. N a verdade, Jesus disse a Pilatos que Judas era culpado de u m “peca
do m aior” (Jo 19.11). A Bíblia tam bém nos diz que cada pessoa será julgada de
acordo com os seus atos (Rm 2.6; Ap 20.12) e que Deus é reto e justo quando
julga (SI 51 A b).
Segundo, u m a vez que a lei m oral se baseia na natureza de Deus, qualquer
violação dessa lei é, na realidade, violação contra D eus som ente (SI 51 A a). Isso
inclui todos os pecados — até os pecados contra nós próprios porque somos
criados à im agem de Deus, e tudo o que é bom em nós é reflexo da im agem de
Deus. Q u an d o nos desvalorizamos ou desvalorizamos os outros, é o m esmo
que desvalorizar a verdadeira im agem de Deus em nós e nos outros. Desse
m odo, se desfiguramos (pecamos contra) a im agem de Deus em nós ou em
outra pessoa, em últim a instância pecamos contra Deus.
Terceiro, u m a vez que Deus existe fora do tem po (é um Ser eterno) e nós
existimos no tem po (somos seres tem porais), os nossos pecados têm conseqü
ências eternas ainda que sejam com etidos no tem po. D a perspectiva de Deus,
os nossos pecados estão diante dele por toda a eternidade. Portanto, as conse
qüências da punição tam bém devem ter ramificações eternas. Deus tem todo o
tem po em u m “estado de presente eterno”; ele age no tem po a partir da eterni
dade. Nossas ações, no entanto, se realizam no tem po, mas estão eternam ente
perante ele — pensar de outra m aneira é pensar incorretam ente acerca da na
tureza e das conseqüências do pecado. U m a linha de raciocínio errado é a que
acredita na idéia de que o m ero tem po cancela o pecado. Achar que o pecado
passado não precisa de justificação porque o tem po passou é erro. N o seu jeito
claro, cândido e sim plesm ente profundo de pensar, C. S. Lewis argum entou:
como um subalterno [oficial da marinha] ? Pode ser que a salvação exista não
no cancelamento desses momentos eternos, mas na humildade perfeita que
suporta a vergonha para sempre [Cristo].1
Esse com ponente eterno das conseqüências do pecado levanta ainda outra
verdade acerca da necessidade de haver um a cobertura eterna para os nossos
pecados. U m a vez que da perspectiva de Deus os nossos pecados sempre existi
ram, tem de haver u m a expiação (pagam ento) que se estende pela eternidade.
Se Jesus era verdadeiram ente aquele que alegava ser — D eus encarnado — , sua
obra expiatória na cruz tam bém existe na esfera eterna. Em outras palavras,
um a vez que Jesus tem duas naturezas, sua natureza divina existe na eternidade
e age com o um abrigo que no protege das conseqüências de nossos pecados
perante Deus desde toda eternidade — passada, presente e futura. Por essa
razão, a Bíblia diz que Jesus é o “C ordeiro que foi m orto desde a criação do
m u n d o ” (Ap 13.8). Isto significa que, da perspectiva de Deus, ele tratou o mal
e todas as injustiças — desde a eternidade. Para nós, entretanto, visto que
somos criaturas tem porais, ainda é preciso ver o fim e com o D eus vai fazer
todas as coisas certas. Toda mal existente será lançado para sempre no inferno,
e as pessoas que estarão no inferno, voluntariam ente escolheram estar ali. C o n
sidere a seguinte ilustração.
Suponham os que um dia a NASA desenvolva um a espécie de cápsula prote
tora especial que perm ita aos astronautas realizar um a expedição a u m a região
m uito próxim a do sol. Isso vai perm itir-lhes estudar a natureza do sol ao mes
m o tem po em que perm anecem protegidos do calor e d a radiação letal do sol.
Suponham os tam bém que a corrida espacial ten ha alcançado u m ponto em
que um cidadão com um possa ter a oportunidade de acom panhar esses astro
nautas da expedição com o observador. U m dia certo hom em recebe um a liga
ção da NASA explicando que ele havia sido escolhido para u m a jornada ao sol.
T am bém o inform am da cápsula especialmente projetada para protegê-lo do
sol. Todavia, por algum a teim osa razão, esse cidadão se recusa a concordar em
ficar nessa cápsula de proteção — a NASA não consegue convencê-lo a agir de
outra form a — e ainda insiste em ir. M as a NASA não pode perm itir que ele vá,
porque a natureza dele e a do sol não podem coexistir nessa proxim idade.
Portanto, visto que a NASA é responsável por ele, valoriza a vida dele, e respeita
sua escolha, não pode perm itir que ele viaje.
'Theproblem ofpain, p . 6 1 .
A V E R D AD E I RA M I SÉ R I A E 0 IN F E R N O 39/
Igualm ente, para que pessoas pecadoras possam coexistir em proxim idade
com Deus, necessitam ser protegidas da parte da natureza dele conhecida como
ira. Falando de m odo simples, a ira refere-se à característica da justa indigna
ção de D eus com nossas viola
ções voluntárias de suas leis. D o
mesmo m odo que a natureza do
sol não pode ser m udada para
que possamos existir nas proxi
midades dele, tam bém a n atu
reza de D eus não pode mudar.
U m a vez que ele não pode alte
rar sua natureza, e deseja ter um
relacionam ento íntim o e am o
roso conosco, sua solução para
o problem a de nossa natureza Endurece o barra Derrete a cera
P or q u e a l g u é m vai para o i n f e r n o ?
Para concluir essa pergunta sobre o inferno e trazê-lo para o nível prático,
considere o que C. S. Lewis disse:
Descreva para você um homem que foi alçado para a riqueza e o poder por
uma trajetória contínua de traição e crueldade, explorando para fins pura
mente egoístas os gestos nobres de suas vítimas, rindo da simplicidade
delas.Um homem que, tendo obtido sucesso dessa forma, usou-o para a
satisfação da luxúria e do ódio e finalmente parte o único farrapo de honra
entre os ladrões traindo seus próprios cúmplices, zombando nos últimos
momentos da desilusão desnorteada deles. Suponha além disso, que ele faça
tudo isso, não (como gostaríamos de imaginar) atormentado pelo remorso
nem por apreensão, mas comendo como um aluno do primário e dormindo
como uma criancinha — alegre, um homem de face corada, sem nenhuma
preocupação no mundo, intrepidamente confiante até o fim de que só ele
encontrou a resposta para o enigma da vida: que Deus e o homem são tolos
de quem ele obtém o melhor. Esse seu caminho de vida é completamente
bem-sucedido, satisfatório e inatacável [...]
Suponha que ele não se converta, que destino no mundo eterno você
pode considerar para ele? Você pode realmente querer que esse homem,
permanecendo o que é (e ele pode fazer isso se tem livre arbítrio) tenha confir
mada para sempre sua atual felicidade — continue por toda a eternidade
sendo perfeitamente convencido de que o seu riso está a favor dele? [...]
Mais cedo ou mais tarde, a justiça deve ser declarada, a bandeira [da verda
de] plantada nessa alma horrivelmente rebelde, mesmo que não resulte ne
nhuma conquista mais plena ou melhor. De certa forma, é melhor para a
própria criatura, mesmo que ela nunca se torne boa, que se conheça como
um fracasso, um erro [...] A exigência de que Deus deve perdoar esse ho
mem mesmo permanecendo o que é, baseia-se na confusão entre ser con
descendente e perdoar. Ser condescendente com o mal é simplesmente
A V ER D AD EI RA M I S É R I A E 0 I N E ER N O 399
ignorá-lo, tratá-lo como se fosse bom. Mas, para ser completo, o perdão
precisa ser aceito assim como é oferecido: e um homem que não admite
culpa não pode aceitar o perdão.
Acredito sinceramente que os condenados são, de certa forma, bem-
sucedidos, rebeldes até o fim; que as portas do inferno estão trancadas do
lado de dentro [...] No final, a resposta a todos os que se opõem à doutrina
do inferno é a pergunta: “O que você está pedindo que Deus faça?”. Limpar
os pecados passados deles e, a todo custo, dar-lhes um novo começo, alisan-
do cada dificuldade e oferecendo toda ajuda miraculosa? Mas ele fez isso no
Calvário. Perdoá-los? Eles não serão perdoados. Para deixá-los sós? Ai deles,
temo que Deus faça exatamente isso.2
N ovam ente, tem os de entender que todos os que vão para o inferno escolhe
ram isso. Preferiram passar a eternidade miserável no inferno a passar a eterni
dade plena de significado pela glorificação eterna de Deus. O céu é o lugar
onde se encontra o significado últim o da vida pela adoração eterna daquele que
é digno de adoração. Pode-se ter um antegozo desse significado suprem o aqui
e agora, nesta vida, recebendo Jesus C risto com o Salvador e Senhor. O contrá
rio, rejeitar Deus e sua verdade nesta vida e escolher viver um a vida à parte
dele, pode trazer algum significado tem porário nesta vida, mas tam bém o
antegozo do inferno. A escolha final se resume a isto:
R e s p o s ta s b a s e a d a s n o s p r im e ir o s
p r i n c í p i o s a q u e s t õ e s é t ic a s
que nos deu vida e nos concedeu valor, n en h u m ser h u m ano tem o direito
desvalorizar a vida hu m an a nem de retirar os direitos hum anos, principalm en
te o direito à vida.1
S obre o aborio
'Para um a análise bíblica e filosófica mais completa dessas questões éticas, v. Christian Ethics:
options and issues, de N orm an L. Geisler. [A edição brasileira, Etica: alternativas e questões contem
porâneas, não foi utilizada neste capítulo porque a versão adotada pelo autor não foi a publicada
pela Zondevan Publishing House, que deu origem à edição brasileira, mas pela Baker Book.] V. tb.,
Legislating morality. Is it wise? Is it legal? Is it possíble?, de N o rm an L. Geisler e Frank S. Turek m.
A pêndice 403
0 f E T O É H U M A N O OU N Ã O - H U M A N O ?
G eneticam ente a ciência tem dem onstrado que a vida hum an a começa na con
cepção. Todas as características genéticas d e u m ser h u m a n o individual plena
m en te desenvolvido estão realmente, não potencialm ente, presentes desde o
m om ento da concepção. O s ginecologistas são, dessa forma, instados a consi
404 f UN DAM ENTOS INABALÁVEIS
Todos os seres hum anos são pessoas? Essa foi um a questão d om inante debatida
no INS. A equipe especializada concordava que os embriões são vidas hum anas;
o debate era sobre se essas vidas hum anas eram ou não pessoas. O The Wall
StreetJournal relatou:
Tendo reconhecido que a vida humana está em jogo e que lhe deve ser dado
respeito, a mesa redonda do ins tem a difícil tarefa de explicar por que é
moralmente certo produzir vidas para usá-las em experimentos letais [...] As
perguntas críticas desta proposta não são estritamente científicas. São éticas e
filosóficas. A estrutura conceituai do cerne do raciocínio da mesa redonda
especializada é a da “pessoalidade”. Ela altera a pergunta de “Quando a vida
humana começa?” para “Quando o ser humano se torna uma pessoa?” As
pessoas, de acordo com esse construto, são “protegíveis”. As não-pessoas ou
as que são alguma coisa menos que pessoas “não são protegíveis”. [...] E
como decidimos quais seres humanos são pessoas e quais não são?6
6Richard John N euhaus, Don't cross this threshold, a-20 (grifo do autor).
406 F undamentos inabaláveis
será e quem não será admitido no círculo daqueles que são reconhecidos
como pessoas e, portanto, têm direito ao respeito e à proteção [...] A favor
dessa idéia, a mesa redonda especializada cita um artigo do professor Robert
Green de Dartmouth [...] O artigo assevera que não há “qualidades existen
tes fora” de qualquer ser humano que requeiram nosso respeito para com ele
como pessoa Pessoalidade é totalmente um “construto social”. Se al
guém é jovem demais ou velho demais, retardado demais ou doente demais,
inútil demais ou problemático demais para ter o direito à pessoalidade é determi
nado por uma ",decisão nossa”?
Primeiro, o debate sobre a distinção entre pessoas e seres humanos pode ser
legalmente irrelevante. Por exemplo, filhotes de águias e empresas são am
bos protegidos pelo governo. Na verdade, a Suprema Corte dos Estados
Unidos declarou unanimemente as empresas como pessoas abrangidas pela
emenda 14 (no caso de Santa Clara v. Sanford, em 1886). Logo, mesmo se
os não-nascidos fossem apenas pessoas potenciais, não haveria razão por
que não devessem ser protegidos. H á boas razões por que eles devem ser
protegidos, visto que somente pelo nascimento eles são capazes de se tornar
pessoas adultas.
Segundo, fazer distinção entre seres humanos e pessoas é arbitrário. Não
há nenhuma base essencial para declarar seres humanos não-pessoas, mas
apenas bases funcionais. Se se fazem distinções funcionais, isso é pura dis
criminação com base na capacidade, em vez de discernir com base na verda
deira natureza deles.
Terceiro, fazer distinção entre seres humanos e pessoas com bases funci
onais justificaria matar crianças e adultos que perderam essas mesmas fun
ções. Qualquer pessoa que sofre danos cerebrais ou perde a consciência
ainda é uma pessoa que está temporariamente num estado comatoso. Aque
les que dormem ou que estão inconscientes são todos pessoas mesmo quan
do não estão atuando como tais.
Quarto, basear a pessoalidade na função confunde função com essência.
A função é o resultado da essência, não o contrário. Não há diferença essen
cial entre um ser humano e uma pessoa humana, apenas diferença funcio
nal. Por exemplo, ninguém duvida que seres humanos recém-nascidos têm
menos capacidades do que bezerros recém-nascidos. Mas isso não nos con
vence de que tenham menos dignidade inerente.
Quinto, visto que não há concordância sobre quando a pessoalidade
começa, [e] a decisão Roe situou-a no nascimento, todos os tipos de bruta
lidade podem ser justificados. Por exemplo, alguns dizem que a pessoalidade
começa no ponto da autoconsciência, que não acontece antes do segundo
ano após o nascimento. Se foi decidido que isso é verdade, justificaria a
matança de qualquer criança até essa idade.
Essas são algumas razões por que não deve haver n enh um a discriminação
baseada em diferenças funcionais entre ser h u m ano e ser um a pessoa. Visto que
não há diferença essencial entre a nossa hum anidade e a nossa pessoalidade,
resta som ente raciocinar que todos os seres hum anos são pessoas e devem ser
protegidos pela em enda 14 da C onstituição dos Estados Unidos. Ademais,
um a vez que um dos motivos fundam entais por que indicam os juizes para a
Suprem a C orte e elegemos legisladores para fazerem leis se baseia na convicção
de que eles estão entre as pessoas mais sábias de nossa terra, perguntam os:
“Q ual é a decisão mais sábia a tom ar?”. Se não podem os chegar a um acordo
sobre se a vida hu m ana e a pessoalidade são essencialmente a m esm a coisa,
então não seria mais sábio fazer leis que favoreçam a proteção da vida hum ana?
Principalm ente a vida hu m ana que se supõe estar n u m dos lugares mais sagra
dos, protegidos e am ados que possa existir: o ventre de sua mãe? Q uan d o algu
m a vez é sábio tirar a vida hum an a com base na ignorância? Peter Kreeft ilustra
o nosso po nto n u m diálogo im aginário, na Atenas contem porânea, entre um
defensor do aborto cham ado H erodes e Sócrates.
Herodes: Eles [os pró-vida] alegam saber o que de fato não sabem: que o
feto é uma pessoa humana desde o momento da concepção.
F undamentos inabaláveis
você fosse responsável por evacuar o edifício primeiro. Se você não tivesse
certeza de haver pessoas no edifício e mesmo assim desse ordem para fumi-
gar, esse seu ato seria sábio ou tolo?
Herodes: Tolo, obviamente.
Sócrates: Por quê? Não é porque você estaria agindo como se soubesse
algo que realmente não sabe, isto é, que não havia pessoas no edifício?
Herodes: Sim.
Sócrates: E agora, você, doutor. Você mata fetos — por quaisquer que
sejam os meios, não importa; poderia ser com revólver ou veneno. E você
diz que não sabe se eles são pessoas humanas. Isso não é agir como se você
soubesse o que não sabe? Não é uma insensatez — na verdade, o cúmulo da
insensatez, em vez de sabedoria?
Herodes: Eu suponho que você quer que eu diga mansamente: “Sim, de
fato, Sócrates. Qualquer coisa que você diga é certa, Sócrates.”
Sócrates: Você pode se defender desse argumento?
Herodes: Não.
Sócrates: Esse argumento o devorou como um tubarão, do mesmo modo
que você devora os fetos.9
Crem os no que Sócrates, pela pena de Kreeft, expressou, isto é, que a sabe
doria suplica que tratem os os bebês não-nascidos com o pessoas. Já apresenta
m os a nossa base racional por que cremos que Deus capacitou cada pessoa
hu m ana com valor e p or que os direitos hum anos não dependem dos ditames
arbitrários de n en hu m a form a h um ana de governo, nem de suposições infun
dadas de nen h u m a mesa redonda especializada, com o a in s (v . caps. 9 e 10).
Crem os que a argum entação apresentada é sólida e coerente com as três verda
des básicas contidas na afirmação seguinte:
Estas três verdades fundam entais são a pedra angular de nossa grande he
rança e fornecem o fundam ento para o nosso governo. D e acordo com essas
“verdades auto-evidentes”, os governos são instituídos para assegurar os direi-
tos que já foram concedidos às pessoas hum anas p or seu Criador. Entre esses
direitos estão o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. O aborto
nega às pessoas hum anas os direitos mais fundam entais que elas têm . D esfru
tam os as liberdades oferecidas neste país, mas não nos esqueçamos do custo
dessa liberdade e do fundam ento sobre o qual ela foi construída. C om o vimos
anteriorm ente, u m jornalista observou:
Sobre eutanásia
1. E la é a n tié tic a
2. E in c o n s titu c io n a l
3. E fa c ilm e n te co r ru p tív el
4. E p r e ju d ic ia l a o s is te m a d e sa ú d e
“ M artin L e v in , Verdicts on verdicts about easeful death, The Globe a n d M ail, Toronto, 1 0 /8 /
19 9 6 , p . d -9.
A pêndice 413
“T e m o s u m a p r á tic a c la n d e s t in a m u it o com um d e m é d ic o s q u e a c e le r a m
a m o rte de p a c ie n te s te r m in a is ”, d e c la r o u um advogado a rg u m en ta n d o
em fa v o r d e u m n o v o d ir e ito c o n s t it u c io n a l. A ju íz a R u th B a d e r G in s b u r g
em s e g u id a p e r g u n t o u a o P r o c u r a d o r G e r a l W a lte r D e llin g e r , q u e se o p u
“u m co m b a te s im u la d o , p o r q u e o s u ic íd io a ssistid o p e lo m é d ic o a co n te
d e la n o h o s p i t a l n e s s e d i a . 17
com o nação, removemos Deus do governo e das salas de aula. Pelo nosso exem
plo ensinam os a nossos filhos que Deus não é necessário, e peias práticas do
aborto e da eutanásia ensinam os a nossos filhos que não valorizamos a vida
hum ana. N a verdade, algumas pesquisas de opinião nos dizem que um dos
maiores temores que as crianças norte-am ericanas têm é de ser vítimas da vio
lência na escola. Devem os perceber que im porta pouco o que dizemos para os
nossos jovens nas salas de conferência ou nas salas de aula; o que fazem os é
passado com o legado a eles. E a nossa con du ta coletiva, não nossas palavras
superficiais, que ensina os jovens a valorizar a vida. E com o G uy D ou d, o
Professor do A no de 1986, disse:
P r e fir o v e r u m serm ão a o u v ir , q u a l q u e r d ia ;
P r e fir o q u e v o c ê v á c o m i g o e m v e z d e s im p le s m e n t e in d ic a r o c a m in h o .
O s o lh o s sã o a lu n o s m a is a te n to s q u e o s o u v id o s ,
B o n s c o n s e lh o s c o n fu n d e m , m a s o e x e m p lo é s e m p r e c l a r o . 19
S obre q uestõ es b io m é d ic a s?
O te r m o e u g e n ia fo i c u n h a d o e m 1 8 8 3 p e lo m a t e m á t ic o in g lê s F r a n c is G a lt o n ,
um p r im o d e C h a r le s D a r w in . E le a d e fin iu c o m o a c iê n c ia d e m e lh o r a r a
h u m a n i d a d e a u m e n t a n d o a s p r o b a b i l i d a d e s d e q u e o s “m a i s a d a p t a d o s ” p r o
o p a d r ã o d e n o ss a c iv iliz a ç ã o sã o d e s v ia d o s p ara a m a n u t e n ç ã o d a q u e le s q u e
n u n c a d e v e r ia m ter s id o n a s c i d o ” . 22
O m a is fo r te d e v e d o m in a r e n ã o d e v e se u n ir a o m a is fra c o , o q u e s ig n ifi
e n x e r g a r e ste p r in c íp io c o m o cr u e l, e se a s s im faz, é m e r a m e n t e p o r q u e é d e
p rocesso d a e v o lu ç ã o , o d e s e n v o lv im e n to m a is a lto d a v id a o r g â n ic a n ã o
A A lem anha nazista, influenciada pelo darwinism o social, decretou leis ba
seadas em hipóteses de que 1) precisava elim inar os “não-adaptados” e 2) a
eugenia m elhoraria o nível geral da eficiência industrial e pessoal na classe
trabalhadora e finalm ente produziria um a “raça ariana superior”. Desde a Se
gunda G uerra M undial, o interesse no tipo de eugenia popular da prim eira
24Para mais informações sobre o pano de fundo histórico e situação atual da eugenia e do
Projeto G enom a H u m an o, visite o site http://guw eb.georgetow n.edu/nrcbel/scopenotes, conheci
do como “A sentinela da eugenia”. O Projeto G enom a H um ano é um em preendim ento combinado
de treze anos, coordenado pelo D epartam ento de Energia do Instituto Nacional de Saúde dos
Estados Unidos. O projeto originalmente foi feito para durar 15 anos, mas os avanços tecnológicos
rápidos aceleraram o térm ino para 2003. O s alvos do projeto são identificar todos os 100 000 genes
no d n a h um ano e determinar as seqüências das 3 000 000 000 de bases químicas que com põem o
d n a hum ano, armazenar esta informação em banco de dados e desenvolver ferramentas para a análise
dos dados.
25P. 239-40 (grifo do autor).
418 F undamentos inabaláveis
Q u a is sã o as c h a n c e s d e q u e a lg u m a s g e r a ç õ e s a fr e n te v ã o ter m e n o s a n õ e s
tria g em p a ra is s o , sa ib a q u e h a v e r á u m a e s p é c ie d e lista d e c o m p r a s . V e r e
sa r ia m e n te c o n fo r tá v e l c o m i s s o . 29
N a p r im a v e r a d e 1 9 9 5 [ ...] [o m e n in o d e 1 5 a n o s ] B la in e D e a t h e r a g e - N e w s o m
u m a b o a p o l í t i c a p ú b l i c a fa z e r isso ? Q u a i s s ã o o s p r ó s? Q u a i s s ã o o s c o n tr a ?
Q u a l é a s u a r e sp o sta ? P o r q u e v o c ê a c h a is s o ? ” .
f l u í d o n o c é r e b r o ) , “p o r i s s o t e n h o m e u s p r ó p r i o s s e n t i m e n t o s e r e s p o s t a s a
[ . ..] A q u e la in c e r te z a g e r o u c o m e n t á r io s in te r e s sa n te s . A lg u m a s p e s so a s q u i
seram saber o q u e B la in e q u is d iz e r c o m “e l i m i n a r ” ( s e t i n h a p e n s a d o na
“Eu quero saber se as pessoas estão dizendo que acham que o mundo seria
um lugar melhor sem m im ", escreveu. “Q u ero sa b e r se as p e s s o a s p e n s a m
s im p le s m e n te q u e a v id a d as p esso a s c o m in c a p a c id a d e s é tã o c h e ia d e m i
28I b i d .
2 9 Unnaturalselection, p . 4 6 ( g r i f o d o a u t o r ) .
420 f UNDAMENTOS INABALÁVEIS
[...] A m a io r p a r te d o t e m p o e u e s t o u m u it o fe liz e g o s t o m u it o d e m in h a
p o r c i r u r g i a o n z e v e z e s d u r a n t e o t e m p o d e s u a p e s q u i s a ) . 30
P e r m a n e c e o fa to d e q u e , c o m o J o se p h S o b r a n o b se r v o u (n u m a c o lu n a d e
n o m in a d a “O A n jo d a E s c o lh a ”), o s p e s q u is a d o r e s n a z is ta s c o m p a r t ilh a r a m
n a z ista , q u e p a s s o u o s ú lt im o s a n o s d e s u a v id a tr a b a lh a n d o c o m o p r a tic a n te
d e a b o r t o , n a A r g e n t i n a , S o b r a n d iz :
s u fo c a n te s tr a d iç õ e s m o r a is e e sta v a n a v a n g u a r d a d a m u d a n ç a , p r o c u r a n d o
m a te r ia lism o d a r w in ista d o se u t e m p o , q u e é a in d a o n o s s o t e m p o , m e s m o
ç o u d o d ia p a ra a n o ite . O s p r o g r a m a s d e e u g e n ia — q u e se m p r e se in ic ia
il)Unnaturalselection, p . 5 4 - 6 ( g r i f o d o a u t o r ) .
A pêndice 421
C onform e observado acima, a m entalidade darw iniana não pode ser divor
ciada do que aconteceu na A lem anha nazista, nem deve deixar de ser vista na
atual situação nos Estados Unidos. O famoso evolucionista Julian S. Huxley
afirm ou que “à luz da biologia evolucionista o hom em pode ver-se agora como
o único agente de avanço evolutivo adicional neste planeta, e um dos poucos
possíveis instrum entos de progresso na totalidade do universo”.32
Respostas às expectativas exageradas de produzir um a raça superior com
base no ideário darwinista já foram tratadas n u m livro anterior, do qual são
tirados os seguintes excertos.
Em p r im e ir o lu g a r, n ã o h á n e n h u m a e v id ê n c ia real d e q u e a p r e s e n t e raça
te n h a sid o p r o d u z id a p o r a lg u m p r o c e s s o e v o lu t iv o n a tu r a lis ta . T a n t o as E s
c i e h u m a n a . 33 E m s e g u n d o l u g a r , a c i ê n c i a , c o m t o d a s u a t e c n o l o g i a e e s p l e n d o r ,
T em os u m lo n g o c a m in h o a p e r c o r r e r p a r a “m e l h o r a r ” o h o m e m . T e r c e i r o ,
n ã o h á r a z õ e s é t i c a s p o r q u e d e v a m o s f a z ê - l a s . “ P o d e r ” n ã o i m p l i c a “d e v e r ” ,
m esm o q u e fô s se m o s ca p a zes d e p r o d u z ir d e fa to m u d a n ç a s n a e sp é c ie h u
r e s p o n d e r q u e “p e l o padrão h u m a n o d e s e j a d o ” . 34
O bviam ente, a questão que está sendo dada com o provada é “padrão de
quem ?” Quem determ ina o que é um ser h um an o “m elhor”? O s cientistas,
organizações com o o INS, o governo, ou a sociedade em geral? Q u a n to mais
próxim os chegamos de um ser h um an o clonado, mais advogamos os mesmos
princípios morais básicos da A lem anha nazista. N ão há como escapar desta ver-
31T h e use o f fetal tissue w ould encourage abortion, p. 140-4 (grifo do autor).
32Essays o f a biologist, p. 132.
33V. caps. 6 e 7.
34N orm an L. G e is le r , Christian Ethics: options and issues, p. 178 (grifo do autor).
422 F undamentos inabaláveis
nos conduz a outra questão crítica: “Se os embriões hum anos não são conside
rados pessoas, então o que são?”. C ertam ente são organismos vivos. M as o que
acontece se organismos vivos, embriões hum anos particularm ente, não são con
siderados pessoas e não possuem direitos hum anos? Esta não é mais u m a ques
tão especulativa; ela tem sido tratada e continua a se aproxim ar perigosamente
da idéia de vida hu m ana com o “coisa”, não com o “pessoa”. C onsidere os se
guintes excertos de um artigo do Washington Post, alguns dos quais já referidos
anteriorm ente:
fa ze r c r ia tu r a s p a r te h u m a n a s e p a r te a n im a is n u m a a t it u d e c a lc u la d a p a ra
e n g e n d r a r seres h u m a n o s . O c ie n tista , S tu a r t A . N e w m a n , b ió lo g o c e lu la r
D e p a r t a m e n t o d e P a te n te s e M a r c a s d o s E s ta d o s U n id o s e as co r tes p a ra re
ex a m in a r o s 1 8 a n o s d e h is t ó r ia d e s t e p a ís d e p e r m i t ir p a t e n t e s d e c r ia tu r a s
v iv a s, q u e c o n s id e r a a n tié tic o e im o r a l.
p a r c ia lm e n te h u m a n a . O d ep a rta m en to d e p a te n te s já c o n c e d e u d iv e r sa s
la b o r a tó r io e n g e n d r a d o s c o m g e n e s d e c â n c e r h u m a n o o u c é lu la s d o s is te m a
im u n o ló g ic o h u m a n o . M e s m o q u e a p a te n te n ã o seja c o n c e d id a a N e w m a n ,
d iv e r so s p e r ito s c o n c o r d a r a m , a m a n o b r a p o d e r ia a lc a n ç a r o seu a lv o p r i
n u m a era e m q u e g e n e s , c é lu la s , te c id o s e ó r g ã o s e s tã o s e n d o ca d a v e z m a is
i m p u l s i o n a d o s p a r a c r u z a r as b a r r e ir a s e n t r e as e s p é c i e s e o b s c u r e c e r a d is
tin ç ã o e n tr e o s seres h u m a n o s e o s a n im a is n ã o -h u m a n o s .
C e n t r o d e É tic a B io m é d i c a d a C a s e W e s te r n R e s e r v e U n iv e r s ity . “S e c o lo c a
fic a r n e r v o s a s , m a s a in d a n ã o se fe z c l a r a m e n t e u m a p e s s o a . M a s q u a n d o se
fa la a r e s p e it o d e g r a n d e p o r c e n t a g e m d e c é lu la s d e se r e s h u m a n o s [ . . . ] is s o
424 F undamentos inabaláveis
em enda 1 3 d a C o n s t it u iç ã o , q u e im p e d e a e s c r a v id ã o . M a s o d e p a r ta m e n to
n u n c a e n f r e n t o u a q u e s t ã o d e “q u a n t o h u m a n o ” u m a n im a l te r ia d e ser p a ra
d e p a t e n t e s p r e s u m iu q u e as c o is a s v iv a s n ã o p o d i a m ser p a te n te a d a s e c o n
c o r d o u c o n c e d e r p a te n te s d e a lg u m a s p la n ta s e s e m e n te s s o m e n t e d e p o is d e
d e p a r ta m e n to r e je ito u o p r im e ir o p e d id o d e p a te n te r e la c io n a d o a u m a b a c
té r ia — p r o je ta d a p a ra d ig e r ir v a z a m e n t o d e ó le o — em 1 9 7 8 . N u m a v o ta
ção de 5 a 4, em 1 9 8 0 , a S u p r e m a C o r t e d o s E s ta d o s U n i d o s v e t o u a q u e la
a n im a is — e n tr e eles a lg u n s ra to s, c a m u n d o n g o s e c o e lh o s, e u m a para
re sp e c tiv a m e n te , u m p ássaro, u m p e ix e , u m p o r c o , u m a c o b a ia , u m a o v e lh a
“C o m a c l o n a g e m d e D o l l y [a o v e l h a ] , c o m t u d o o q u e t e m o s o u v i d o n o s
no d e E n g e n h a r ia M é d ic a e B io ló g ic a , e m W a sh in g to n . “O que é p r e c is o
c o m p le to ? U m a q u im e r a [b esta d a m it o lo g ia grega]? N ã o t e m o s u m a d e f in i
ção d o q u e é u m s e r h u m a n o p a r a p r o p ó s i t o s d e p a t e n t e . ” 35
Parece que voltamos para o m esm o argum ento com o aconteceu com o abor
to e a eutanásia, mas com um a aplicação diferente. Em princípio, não há ne
nh u m a diferença: estamos firmes nas mesmas bases argum entadas. O s direitos
hum anos são baseados no entendim ento clássico da lei natural e no valor da
vida h um ana dado por D eus.36 À m edida avança com o projeto de clonagem
35Rick W eiss , “Patent sought on m aking o f part-hum an creatures scientist seeks to touch off
ethics debate”
36V. caps. 9 e 10.
A pêndice 425
hum ana, fom enta-se a idéia de que alguns indivíduos podem ter dom ínio total
sobre a existência de outros (soberania h u m an a sobre a vida) ao po n to de p ro
gramar-lhes a identidade biológica — selecionada de acordo com critérios ar
bitrários ou puram ente utilitários (o fim justifica os meios). Esse conceito
seletivo da vida hu m an a terá, entre outras coisas, um pesado im pacto cultural
além da prática (num ericam ente limitada) da clonagem, visto que haverá con
vicção cada vez m aior de que o valor h um ano não depende da identidade pes-
soaJ hum ana, m as apenas das qualidades biológicas que podem ser avaliadas e,
p ortanto, selecionadas (o cham ado princípio da qualidade de vida). Além dis
so, há a crença de que, um a vez que estamos tão avançados em tecnologia,
existe algum a obrigação de orientar o futuro da m acroevolução a fim de criar
um a raça superior.
N ão é exagero de nossa imaginação supor um país que financie um program a
nacional, baseado no darwinismo social, semelhante ao da Alem anha nazista
(que projete geneticamente seres hum anos para maximizar certas características e
alcançar superioridade genética). U m a vez desenvolvido “o ser hum ano perfeito”,
a clonagem de embrião pode ser empregada para fazer réplicas desse indivíduo e
concebivelmente produzir um núm ero ilimitado de clones. A mesm a aborda
gem pode ser usada para criar geneticamente um a classe inferior para exploração:
e.g., indivíduos com inteligência subnorm al e força acima do normal. Além dis
so, podem-se imaginar toda espécie de mal e situações horríveis, especialmente
se o conhecim ento tecnológico estiver nas mãos de líderes imorais.
Este é o estado de coisas com respeito à ciência da eugenia e da clonagem
hum ana. C om isso vêm as questões éticas que estão tragicam ente sendo deixa
das para trás. O s princípios e idéias éticos prim ários que favorecem a clonagem
hu m an a são:
1. O p r in c íp io d a q u a lid a d e d e vida
2. S o b e r a n ia h u m a n a so b r e a v id a
3. O d e v e r d e c r ia r u m a r a ç a s u p e r io r
4. A é t ic a (u tilita r is ta ) d e q u e o f im ju stific a o s m e io s .
37Essas respostas são um a versão resum ida de um a análise mais profun d a feita no livro de
N o rm an L. Geisler, Christian Ethics: options an d issues, p. 173-92.
426 F undamentos inabaláveis
C rer que tem os esse dever é falacioso. As horrendas tentativas passadas deviam
fazer-nos abandonar essa idéia. U m a vez mais, essa idéia presum e que a superi
oridade genética é algo relacionado com o fazer um a hum anidade melhor. To
davia, não h á razão ética p o r que devam os fazer isso. C o m o dissem os
anteriorm ente, “poder” não im plica “dever”, nem tam pouco “ser” im plica “de
ver”. O fato de se poder fazer algum a coisa não significa que devemos fazê-la.
C om o C. S. Lewis disse: “N ão há sentido algum falar a respeito de tornar-se
melhor se m elhor sim plesm ente significa aquilo em que estamos nos transforman
do — é com o congratular-se consigo m esm o por chegar ao destino e definir o
destino como o lugar que você alcançou?*
O único m eio de saber que os fins justificam os meios é saber qual será o fim.
C o ntud o, nós não sabemos o que vai acontecer. Por isso, os meios devem ter a
sua própria justificação; o m esm o acontece com os fins. N em todo alvo é bom ,
m esm o que a maioria da sociedade creia que seja. Deve-se m ostrar que esse é o
caso — e que im plica um padrão. M uitos alemães criam que o alvo deles de
fazer um m u nd o m elhor justificava os meios que eles usavam. Eles estavam
errados\ T am bém , se fins bons ou m elhores justificassem os meios, então
logicam ente teríamos de concordar com os nazistas. Alguém poderia im aginar
todas as espécies de situações análogas para se livrar de todos os problem as
médicos, psicológicos, sociais e políticos com base nessa ética.
C oncluindo, à parte do valor da vida hu m an a e dos direitos hum anos con
cedidos por Deus, não vemos esperança algum a de im pedir a ciência da eugenia
e do alvo desejado de clonar seres hum anos “geneticam ente superiores”. Im pe
dir o projeto da clonagem h um ana é u m dever m oral que tam bém deve ser
traduzido para os term os culturais, sociais e legislativos. Precisamos ser capazes
de distinguir entre o progresso da pesquisa científica e o surgim ento do nazis
mo científico. Aqueles que advogam o “progresso” da eugenia afinal prom ovem
a condição necessária para qualquer sociedade entrar em colapso: tratar seres
hum anos com o um meio para outros fins.
Finalm ente, querem os dizer que nunca devemos nos esquecer de que a ne
gação da crença de que o valor da vida hu m an a e dos direitos hum anos dados
por Deus cria novas formas de escravidão, discriminação e profundo sofrim en
to. Deus confiou o m un do criado à raça hum ana, dando-nos liberdade e inte
ligência. Devemos estabelecer os limites para nossas ações aprendendo onde Deus
estabeleceu os limites entre o bem e o mal. O lugar para aprender onde os limites
essenciais foram estabelecidos por Deus é a sua Palavra, a Bíblia. A principal
diferença entre a vida com o u m dom de Deus e a crença de que a vida deve ser
vista com o u m p ro du to comercial deve ser assinalada novam ente. A pesquisa
científica perde sua dignidade, e, o país, em últim a análise, fracassa, quando a
ciência se volta contra a vida h u m an a e a desvaloriza.
C om o nação, os Estados U nidos se esqueceram de que a vida h u m an a e a
liberdade são dons dados por Deus. N ão se esqueça da advertência do autor da
Declaração de Independência, Thom as Jefferson, que está gravada em m árm o
re na parede nordeste do M em orial de Jefferson em W ashington, D .c .:
F undamentos inabaláveis
M a c m illa n , 1992.
M a c m illa n , 1990.
A n n as, G e o r g e J. & G r o d in , M ich a el A . The nazi doctors and the Nuremberg code:
hum an rig h ts in h u m a n e x p e r im e n ta tio n . N e w Y o rk , O x f o r d U n iv e r s it y P ress,
1992.
B aker, 1991.
e v o lu ç ã o . T r a d . R u y J u n g m a n n . R io d e J a n e ir o : J. Z a h a r , 1997.
P ress, 1996.
S ã o P a u lo : V id a N o v a , 1990 (3 a r e im p ., 1 9 9 9 ) .
Z ondervan, 1962.
C h e s te rto n , G. K. Ortodoxia. S ã o P a u lo , L T R , 2 0 0 1 .
1995, 36.
R ic a , 1994. (G r a n d e s o b r a s d a c u ltu r a u n iv e r sa l, v. 7 ).
D av ies, P a u l. God and the new physics. N ew Y ork: S im o n & S ch u ster, 1983.
D aw k in s, R ic h a r d . O relojoeiro cego: a te o r ia d a e v o lu ç ã o c o n tr a o d e s íg n io d iv in o .
S ã o P a u lo : C o m p a n h i a d a s L etr a s, 2 0 0 1 ) .
U n ite d P ress, 1 9 9 8 .
S ch u ster, 1997.
B ibliografia 431
F elsenthal, Edward. M an 's genes made him kill, his lawyers claim. The Wall Street
Journal, 15 Nov. 1994, Bl.
F leming, Gerald. Engineers o f death, The New York Times, 18 July 1993, e 19.
F letcher, Joseph. Situation ethics: the new morality. Filadélfia: Westminster, 1966.
F rankl, Victor. The doctor and the soul. introduction to logotherapy. New York:
Knopf, 1982.
________. Mans search for meaning. New York: Simon & Schuster, 1984.
________. Christian ethics options and issues. Grand Rapids: Baker, 1989.
________. Christian apologetics. Grand Rapids: Baker, 1976.
_____ & A nderson , J. Kerby. Origin Science-, a proposal for the creation-evolution
controversy. G rand Rapids: Baker, 1987.
_____ . N orm an L. Miracles and modem thought. G rand Rapids: Zondervan, 1982.
1982.
S ã o P a u lo : V id a , 1997.
R a p id s: B aker, 1989.
P a u lo : M a r t in s F o n t e s , 1991.
F la k sm a n . São P a u lo : C o m p a n h i a d a s L e tr a s, 1993.
C o ., 1993.
4.
d e J a n e ir o : R occo, 2000.
U nB , 1987.
ra l, 1996. (C o l. O s P en sa d o res).
N .Y .: P ro m eth eu s, 1988.
Jack so n , R obert H . The case against the nazi war criminais. N ew Y ork: K n o p f,
1946.
Ja stro w , R o b ert. God and the astronomers. N e w Y ork: W . W N o rto n & C o ., 1992.
1996, 36.
1987.
K o p p e l, T e d . C o m m e n c e m e n t s p e e c h , D u k e U n iv e r sity , 10 M ay 1987.
K ra u th a m m e r, C h a r le s . O f h e a d le s s m i c e . . . an d m en ”, Time, v o l. 1 5 1 , n .° 2 , J a n .
1998, 68.
C astro A z e v e d o . S ã o P a u lo , C ír c u lo do L iv r o , 1984.
L em o n ic k , M . D . E c h o e s o f th e b ig b a n g , Time, v o l. 1 3 9 , n .° 1 8 , 4 M a y , 1 9 9 2 , 6 2 .
ro n to , 10 A u g . 1996, d -5 .
C r is tã o , 1984.
P e tr ó p o lis, V o z e s, 1996.
do C r istã o , 1998.
M a c A rth u r, John. FIow to study the bible. C h ica g o : M oody P ress, 1982.
H o r iz o n t e , B e tâ n ia , 1980.
B l B L I O G R A f IA 435
1941.
1964.
1997, a14.
1964.
N o r b e r t o d e P a u la L im a ; in tr . G e i r C a m p o s . R i o d e J a n e ir o , T e c n o p r i n t [ 1 9 8 6 ? ] .
(C o le ç ã o U n iv e r s id a d e d e b o lso ).
5 8 -6 5 .
C r istã o , 1997.
R u s s e l, B ertra n d . Porque não sou cristão e outros ensaios sobre religião e assuntos
correlatos. T rad. B r e n n o S ilv e ir a . S ã o P a u lo , E x p o s iç ã o do L iv r o , 1960.
Sagan, C a r l. Cosmos. T ra d . A n g e la d o N a s c i m e n t o M a c h a d o . 3 . e d . R io d e J a n e ir o ,
F. A l v e s , 1 9 8 2 . x v i.
1952.
S h e le r, J e ffe r y . Is t h e B i b l e tr u e ? E x t r a o r d i n a r y in s i g h t s f r o m a r c h a e o l o g y a n d h is t o r y ,
ro, R o c c o , 1995.
Newsweek, 11 J a n . 1 998, 4 6 -5 1 .
N e ls o n , 1985.
1948.
T .W .E .T ., 1 9 8 1 .
________. S e l f - o r g a n i z a t i o n , o r i g i n - o f - L i f e s c e n a r i o s a n d i n f o r m a t i o n t h e o r y , Journal o f
Theoretical Biology, v o l. 9 1 , 1981, 1 3 -3 1 .