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DICAS DE GRAMÁTICA
ÍNDICE:
DICAS E BASE DE CONHECIMENTOS DE PORTUGUÊS: Dicas de 101 a 150.................................................................3
Dica 101: RESIDENTE À/ NA RUA XV - Plural siglas - Dignar-se (de) - Bem-vindo.......................................................3
Dica 102: INDEPENDENTE ou INDEPENDENTEMENTE...............................................................................................5
Dica 103: ALERTA - Nacionalidade - Curiosidade - Solicitar (a/de)....................................................................................7
Dica 104: Verbos em ISAR e IZAR.......................................................................................................................................9
Dica 105: ARMAGEDON - Remontar a - Pronome demonstrativo "o"..............................................................................11
Dica 106: SENÃO ou SE NÃO............................................................................................................................................13
Dica 107: AGRADEÇO OS CUMPRIMENTOS................................................................................................................15
Dica 108: NO MÍNIMO SEM VÍRGULAS - Resposta ao agradecimento.........................................................................17
Dica 109: O caso do AGENTE DE POLÍCIA - Visar (a) - Pego/pegado............................................................................19
Dica 110: O feixe, a valva e a flama....................................................................................................................................21
Dica 111: Patacoada Futebol Clube:....................................................................................................................................23
Dica 112: "Tempestade de areia freia..."..............................................................................................................................24
Dica 113: "POR QUE" EM PERGUNTAS E AFIRMAÇÕES Por quê - quê - porque - porquê.........................................25
Dica 114: VÍRGULAS COM NOMES DE PESSOAS........................................................................................................27
Dica 115: COR BRANCA - 14h35min - Grafia das horas e das datas................................................................................29
Dica 116: ACENTUAÇÃO - Proparoxítonas.......................................................................................................................31
Dica 117: TER QUE / TER DE - Etecétera (Etc.)................................................................................................................33
Dica 118: ENSINO À (A) DISTÂNCIA – Crase com locuções adverbiais.........................................................................35
Dica 119: HAJA VISTA - Fecho de carta - Endereçamento................................................................................................37
Dica 120: VERBO HAVER IMPESSOAL - Verbo fazer impessoal....................................................................................39
Dica 121: DE PREPOSIÇÕES E PRONOMES..................................................................................................................42
Dica 122: O INFINITIVO PESSOAL FLEXIONADO.......................................................................................................44
Dica 123: MAU e MAL – MAIS BEM COLOCADO.........................................................................................................46
Dica 124: PRENDIDO E PRESO – O particípio duplo.......................................................................................................48
Dica 125: O PARTICÍPIO (Cont.)........................................................................................................................................50
Dica 126: ACENTUAÇÃO – Oxítonas................................................................................................................................52
Dica 127: PORCENTAGENS - Em / a domicílio................................................................................................................54
Dica 128: COLOCAÇÃO PRONOMINAL.........................................................................................................................56
Dica 129: COLOCAÇÃO PRONOMINAL (Cont.)............................................................................................................58
Dica 130: ARTIGO OITAVO, ARTIGO VINTE - Pronomes átonos...................................................................................60
Dica 131: OMISSÃO DA PREPOSIÇÃO - Certo (de) que.................................................................................................62
Dica 132: SÍMBOLOS E UNIDADES DE MEDIDA - Igual/iguaizinhos..........................................................................65
Dica 133: SENTIMENTOS PLURAIS - Dia a dia - Quando da - Sobre............................................................................67
Dica 134: "CUJAS SÃO ESTAS COROAS?" - O pronome cujo.......................................................................................69
Dica 135: DEIXEM AS CRIANÇAS BRINCAR...............................................................................................................71
Dica 136: Vendem-se ou vende-se casas?...........................................................................................................................73
Dica 137: Indeterminação do sujeito..................................................................................................................................75
Dica 138: Trata-se de casos raros - Voz passiva com auxiliar e infinitivo.........................................................................77
Dica 139: A SOLDADO, A SARGENTO, A CAPITÃO, A CAPITÃ...............................................................................79
Dica 140: O ARTIGO COMO CLASSE GRAMATICAL: casos específicos...................................................................81
Dica 141: O ARTIGO CASO A CASO...............................................................................................................................83
Dica 142: PEDIR E PREFERIR - O artigo caso a caso (cont.)..........................................................................................85
Dica 143: SOBROU UM MILHÃO...................................................................................................................................87
Dica 144: CRASE E VERBOS..........................................................................................................................................89
Dica 145: CRASE E NOMES............................................................................................................................................91
Dica 146: QUANTO À DATA - Junto a, relativamente etc...............................................................................................93
Dica 147: TIRA-DÚVIDAS DE VOCABULÁRIO..........................................................................................................95
Dica 148: Mais sobre DEVIDO A........................................................................................................................................97
Prezados Colegas,
Após 68 dias de folga, as dicas de Português estão de volta. A partir de hoje serão enviadas três dicas
semanais, normalmente segunda, quarta e sexta-feira.
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RESIDENTE À/ NA RUA XV - Plural siglas - Dignar-se (de) - Bem-vindo
Um leitor: "Gostaria de esclarecimentos acerca do uso de ‘residente e domiciliado à rua ou na rua, bem
como se digne de ou se digne em’".
É compreensível a dúvida, porque nessa situação se vêem ambas as grafias: na rua e à rua, com
preferência por esta última, arrisco a dizer. A rigor, como os verbos morar, residir, situar, localizar e
semelhantes regem a preposição em, deveria se usar na e não à nos casos específicos. Tudo bem, tanto
é que se fala assim:
Mas, por obra do dinamismo da língua, incorporou-se à escrita o emprego de à no lugar de na como
complemento de tais verbos diante de logradouros como rua e avenida. O mesmo acontece com seus
derivados morador, residente, domiciliado:
Isso não quer dizer que não se possa ou não se deva escrever "Vende-se casa na Av. Central", "residente
e domiciliado na rua Botucatu". Absolutamente! É uma boa opção. Mas não se pode tachar de erro o
que já está consagrado pelo uso... e abonado pelos gramáticos. Jornais gabaritados e grande parte dos
brasileiros escrevem assim com a crase.
Quanto aos gramáticos, valho-me do saudoso Celso Pedro Luft, que, na sua coluna "O Mundo das
Palavras" n.º 2.347, resume o assunto desta forma: "No português brasileiro atual, com o verbo morar e
derivados a preposição originária em pode comutar com a (esta, sobretudo na língua escrita): morar
(morador) na ou à Rua X. O mesmo vale para residir (residente) e situado, sito".
DIGNAR-SE(DE)
Com relação ao verbo pronominal dignar-se, ele rege a preposição DE (e não ‘em’). No entanto pode
haver a elipse da preposição diante do infinitivo. Exemplificamos:
Com o título acima, quero primeiramente chamar a atenção para a grafia do adjetivo bem-vindo, que é
composto com hífen. Existe, sim, a palavra Benvindo, mas então é nome próprio:
Em segundo lugar, gostaria de tratar do plural das siglas, que infelizmente às vezes é feito de maneira
errônea, com um intrometido apóstrofo antes do s. Tal grafia não é nem cópia do inglês, porque nesse
idioma o ’s indica posse, e não plural. Em português, para pluralizar as siglas, basta a anexação do s
(minúsculo):
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INDEPENDENTE ou INDEPENDENTEMENTE
INDEPENDENTE ou INDEPENDENTEMENTE
Discussão que já deu panos pra manga: pode-se empregar independente como se fosse independentemente?
Da mesma forma, é possível usar breve por brevemente? Paralelo por paralelamente? Primeiro, é preciso ver
como falamos todos os dias:
As palavras grifadas são adjetivos que estão sendo usados como advérbios de modo.
Isso é normal em português. Na nota n.º 28 da Réplica, o então senador Rui Barbosa já defendia o uso de
"independente" - que o gramático Dr. Ernesto Carneiro Ribeiro, em 1902, lhe havia aconselhado substituir por
"independentemente" na redação do Projeto do Código Civil – "porquanto é muito da nossa língua evitar os
largos advérbios em mente, substituindo-os pelos adjetivos adverbialmente empregados". E Rui dá exemplos
extraídos de "Obras" de Filinto Elysio: "Fácil se vê. Comeu fino, bebeu largo. Direito se encaminha. Brando o
atalha. Sem pranto um avarento raro acaba. Folgado dançariam nelas quatrocentas pessoas" e também do
clássico "Nova Floresta" do Pe. Bernardes: "procedia mais discreto, portando-se impertinente, pouco nacional
procede, quis portar-se fiel".
É preciso aceitar que há freqüentes casos, remanescentes do latim popular e do próprio latim clássico, em que
o adjetivo – e não o advérbio - é utilizado para exprimir o modo, como por exemplo: não fale alto; pagou caro;
vendeu barato; ande direito; a esperança que corre tão ligeiro.
Observe-se ainda que, quando é usado adverbialmente, o adjetivo fica sempre no gênero neutro, ou seja, no
masculino. Sendo puramente adjetivo, aí, é claro, ele flexiona: saias caras, indivíduos altos, mão direita etc.
Desta forma, cabe-nos a escolha entre um e outro modo de expressão nos seguintes casos:
Já no caso de paralelo e diferente, recomendo o uso, no português escrito formal, apenas da variação em
-mente quando eles introduzem um adjunto adverbial significando "de modo paralelo / diferente":
• Paralelamente ao debate haverá uma exposição multimídia. [Embora também se fale ‘Paralelo a isso,
haverá...’] Ou opte por escrever: Haverá exposição paralela ao debate.
• Diferentemente dos seus avós, o ilhéu agora gosta de ser chamado de ‘mané’. [Apesar de podermos dizer
‘Diferente dos seus avós, o ilhéu agora ...’]
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é
diretora do Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
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Carlos Drummond de Andrade, em seu poema "Passagem do ano", empregou a palavra ‘alerta’ da forma
clássica, isto é, deixando-a invariável. Embora se refira a sentidos, alerta não está no plural.
Por outro lado, vemos manchetes nos jornais: ‘Hospitais alertas’ e ‘Ressurge febre amarela - comunidades
alertas’. Está errado fazer essa concordância? Não, de acordo com padrões mais modernos de linguagem.
Houve uma evolução no emprego desse termo e alguns dicionários registram tal fato.
Na sua origem italiana, ‘alerta’ é interjeição (Alerta!) que passa a ser também advérbio em português (além de
substantivo, o que não está em discussão). Portanto, como todo advérbio, é palavra invariável, ou seja, não tem
singular nem plural, nem flexiona no feminino. Assim consta nos dicionários de Cândido Figueiredo (1949),
Antenor Nascentes e Francisco Fernandes, e nas gramáticas de Evanildo Bechara e Luiz Antonio Sacconi.
Estes autores não mencionam ‘alerta’ como adjetivo e exemplificam: Estejamos alerta / São pessoas alerta.
Já o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), o Dicionário Aurélio, Laudelino Freire (1954),
Napoleão Mendes de Almeida e outros registram as duas possibilidades: advérbio (‘em atitude de vigilância, de
sobreaviso’; ‘atentamente’) e adjetivo (‘atento, vigilante’), quando então acompanha o substantivo em número:
homens alertas, hospitais alertas. Havendo, pois, controvérsia, a matéria não deve de modo nenhum fazer parte
de concursos e provas. Seu uso é pessoal e a escolha depende muitas vezes do contexto.
Diante de um formulário em que conste a nacionalidade, você escreve ‘brasileira’ porque nacionalidade é
palavra feminina? Não por isso. Ali deve ser feito o registro de acordo com o sexo da pessoa - brasileiro ou
brasileira -, como se a pergunta fosse: quanto à nacionalidade, o que você é? Resposta: eu, João, sou
brasileiro; eu, Maria, sou brasileira. Não é dessa maneira que se faz o reconhecimento do estado civil? Sim,
casado ou casada. Isto é: quanto ao estado civil, sou casado/casada, solteiro/solteira, viúvo/viúva.
E quanto ao sexo? Seria absurdo dizer: sou feminina, sou masculino, por isso se faz a concordância com o
substantivo ‘sexo’: feminino ou masculino, só.
Correto.
Abençoar é verbo transitivo direto, por isso o pronome oblíquo usado é o.
Pagar, verbo transitivo direto e indireto, pede objeto indireto de pessoa, traduzido aqui pelo pronome lhe.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
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Não se perde por escrever corretamente. Mas os dicionários nem sempre estão à mão para dirimir dúvidas. Na
hora do sufoco, tem-se de partir para uma solução de cabeça. E aí, quando o problema é decidir entre o s ou z
dos verbos da 1ª conjugação terminados em isar ou izar, pode ser útil este lembrete: a diferença está na palavra
de que eles derivam.
Primeiramente, os verbos em ‘isar’ são derivados de nomes (radicais) terminados em -is [com respectivos
sufixos ou desinências, conforme o caso]. Aqui ‘ar’ não é sufixo: é sim a terminação verbal da 1ª conjugação,
que agregada a um radical terminado em -is forma os ‘verbos em isar’ de que estamos tratando. Para
exemplificar: agregando-se ‘ar’ ao substantivo anis tem-se o verbo ANISAR; a íris, IRISAR e assim por diante.
Para distinguir esses verbos daqueles escritos com z (de izar), pode-se fazer sua associação com o substantivo
aparentado. Se o nome é grafado com is, o verbo também o será:
alisar / liso
analisar / análise
avisar / aviso
bisar / bis
divisar / divisão
frisar / friso, frisa
guisar / guisado
paralisar / paralisia
pesquisar / pesquisa
pisar / piso
precisar / precisão, preciso
visar / visão
Os verbos terminados em izar, por sua vez, formam-se de nomes (adjetivos, principalmente) aos quais se
agrega o sufixo izar, que significa ‘tornar, transformar em’. Assim sendo, de visual + izar formamos
VISUALIZAR; de neutro, NEUTRALIZAR; de tranqüilo, TRANQÜILIZAR; de harmonia, HARMONIZAR.
Nessa passagem são feitas adaptações gráficas [acréscimo, eliminação ou mudança de letras] exigidas pela
gramática, com as quais normalmente já estamos familiarizados. Para exemplificar: robô -> ROBOTIZAR;
simpático -> SIMPATIZAR; permeável -> PERMEABILIZAR; ênfase -> ENFATIZAR; padrão -> PADRONIZAR;
catequese -> CATEQUIZAR. Exemplos diversos:
UM SUPER-HOMEM
Saber de cor o uso do hífen com os prefixos e radicais não é tarefa fácil.
Sendo o prefixo super um dos mais usados pela população, penso que no caso dele vale a pena memorizar as
duas situações em que o hífen é de regra. Para isso, digo aos meus alunos: "Sempre quis me casar com um
tipo super-rico, super-honesto, superinteligente e superlindo." Claro que a reação não pode ser diferente: "Você
está falando de um super-homem! Isso não existe!" Mas a brincadeira facilita lembrar que com ‘super’ o hífen é
usado apenas diante de substantivo ou adjetivo que começa com r ou com h. Nem mesmo diante de palavra
iniciada por vogal ou s o hífen é necessário – a ligação aí é direta.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br
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Maria Tereza de Queiroz Piacentini
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"O que significa e como se escreve corretamente a palavra ‘Armaggedon’?" quer saber J. Rodrigues.
"Armageddon" é a grafia inglesa para o português Armagedon ou Armagedão, palavra que vem do hebraico AR
MEGGIDO, nome de uma montanha – também chamada de "Tel Meggido" – que se localiza no norte de Israel,
onde se deu a batalha do Juízo Final a que se refere S. João Apóstolo no livro do Apocalipse 16:14-16. Daí que,
figurativamente, o termo se aplica a qualquer conflito decisivo, a uma guerra total.
O mesmo leitor solicita esclarecimento sobre o uso do ‘a’ ou ‘há’ na seguinte frase: "...determino a citação dos
alienantes ou sucessores, dispensada a citação destes últimos, se a data da transcrição remonta a (ou há) mais
de vinte anos".
O correto é escrever a, pois nessa frase o a é simples preposição, exigida pelo verbo transitivo indireto
remontar, que aqui tem o sentido de 'voltar atrás no passado, buscar a origem ou data': remonta ao
Renascimento, remonta à Idade Média, remonta a mais de 20 anos (pode ver que nesses exemplos não é
possível trocar o 'a' por 'faz', como acontece em 'moro aqui há mais de 20 anos' / faz mais de 20 anos).
Diante da frase "Se a opinião é desprezível, a gramática não o é", que consta na coluna "Não Tropece na
Língua" n° 10 - TODA FRANCESA, o leitor J. F. Filho, de Joinville – SC, pergunta se o "o (grifado) é facultativo,
obrigatório ou foi equivocadamente incluído".
Não foi equívoco, não. Eu o utilizei para exprimir que a gramática não é desprezível sem ter de repetir o adjetivo
‘desprezível’. Trata-se de um pronome demonstrativo, equivalendo a isso (isto/aquilo). Ele é obrigatório na
língua culta padrão, mas dispensável na fala, no linguajar coloquial. Sua utilidade é evitar a repetição do
adjetivo e, em outras ocasiões, de um substantivo ou do sentido geral de uma frase. Exemplos (assinalo em
itálico os termos a que o pronome ‘o’ se refere):
"Roubaram as roupas da cachorrinha. A que ponto chegamos!" Terminou assim o comentário do jornalista Luiz
Carlos Prates (Diário Catarinense) sobre um inédito caso de furto. Isso vem a propósito da dúvida que assaltou
a Assessora Jurídica Cláudia N.M. da Cunha, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina: Como é correto
escrever e por que: ‘chegando ao ponto de’ ou ‘chegando a ponto de’.
Assinale a primeira opção, Cláudia. A questão é que existem três expressões parecidas:
2) A PONTO DE.
• Estivemos a ponto de comprar a casa que ruiu na última enchente – sorte nossa.
b) Locução de valor consecutivo [recordemos as conjunções consecutivas: tão... que, tal... que, tanto... que,
tamanho... que], com sentido equivalente a a pique de; também seguida de um verbo no infinitivo:
• O sujeito ficou superfurioso, a ponto de agredir fisicamente o árbitro (que esteve a ponto de perder sua
imparcialidade).
• O programa – que é não-governamental – vem cumprindo sua missão de maneira invejável, a ponto de
suscitar muitas imitações.
• A inflação recrudesceu, a ponto de o presidente convocar reunião de emergência com a equipe econômica.
3) PONTO. Substantivo com o sentido de ‘limite, situação extrema’e que pode ser definido (o ponto, esse ponto,
que ponto, tal ponto etc.); muito usado com o verbo ‘chegar’ :
• O condomínio tradicional perdeu importância nos últimos 40 anos diante da avassaladora presença dos
empreendimentos imobiliários subordinados à Lei n.º 4.591/64, a tal ponto que hoje se costuma adjetivá-lo
como milenar, antigo etc.
Sendo assim, analise cuidadosamente o caso antes de trocar precipitadamente o "ao ponto de" que seu
computador assinala em verde (caso do Word sugerindo uma correção Gramatical) por "a ponto de", visto que
Você pode estar com a razão!
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Prezados colegas,
Inúmeros participantes do grupo entram em contato, diariamente, para solicitar os arquivos com as dicas
consolidades de 01 a 50 e de 51 a 100. Eu enviei estes arquivos via Notes, mas devido a problemaS de falta de
espaça na Caixa Notes de vários usuários, muitas mensagens voltaram. Para facilitar o acesso a estes dois
arquivos, disponibilizei-os, para Download, no servidor do meu site, no seguinte endereço:
http://www.juliobattisti.com.br/dicasdegramatica.asp
SENÃO OU SE NÃO
A dúvida a ser solucionada hoje é da leitora R.A.Rossi, de Maringá – PR, quanto à forma como deve ser escrita
a expressão SENÃO VEJAMOS, que ela costuma ver em petições, como por exemplo: "A Lei n° 2.445/88 é
enumerativa e não taxativa. Senão, vejamos: (...)". Primeiro, é interessante saber o que querem dizer e como se
usam os termos senão e se não.
Exemplos:
• Um espaço cultural deve estar a serviço da qualidade, senão é desserviço. [do contrário]
• É ele quem decide as obras prioritárias, não com bairrismos ou individualismos, senão com o espírito de bom
administrador. [mas sim]
• Para que Paulo se conformasse com a ruptura, disse que ele não fora senão um zero à esquerda todos
aqueles anos. [mais do que]
• As drogas não oferecem senão uma tênue e fugaz visão do paraíso. [a não ser, mais do que]
• O Pareiassaurus é uma prova incontestável de que a América do Sul e a África pertenciam a placas
continentais próximas, no passado. Senão, como explicar a presença de um animal eminentemente terrestre
dos dois lados do Atlântico? [de outro modo, do contrário]
SE NÃO: Aqui são duas palavras distintas: conjunção subordinativa condicional se + o advérbio de negação
não. Significa dizer "caso não ...". Exemplos:
• Preocupa-nos o desempenho da instituição se não for feito o desembolso dos recursos prometidos.
• Esse tipo de escola é considerado um funil para quem deseja evoluir e escapar, se não do anonimato, pelo
menos da marginalidade.
• A história nos ensina que é muito difícil, se não impossível, encontrar um bom político que seja um bom
administrador.
• Com esta máquina, o Brasil terá condições, se não de disputar, pelo menos de acompanhar o
desenvolvimento de um dos setores mais avançados da ciência no mundo.
Devo frisar que há casos em que a conjunção "senão" na acepção 1 (= do contrário) pode se confundir com a
oração condicional; a interpretação depende da pessoa:
- Se o produto for bom, fico com ele; senão / se não, vou devolvê-lo. [do contrário devolvo / se não for bom,
devolvo]
O Dicionário Aurélio assim exemplifica esse caso: Lute, senão está perdido. / Lute; se não, está perdido. E
nesta última frase sugere uma pausa enfática, traduzida pelo ponto-e-vírgula antes e pela vírgula depois da
expressão.
EXPRESSÕES ESTEREOTIPADAS:
[em que "senão" não se encaixa em nenhum dos significados vistos acima]
• (eis) senão quando : equivale a "de repente", "mas, quando menos se esperava": A quietude tomava conta do
ambiente. Eis senão quando um estrondo se fez ouvir.
• senão vejamos / senão, vejamos : vírgula opcional; em vez de mostrar o contrário – como poderia parecer – ,
a expressão leva a uma confirmação do que foi anteriormente enunciado. V. exemplo no início deste artigo.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
AGRADEÇO OS CUMPRIMENTOS
É isto que se faz: agradecemos os cumprimentos, as flores, a recomendação, e não pelos cumprimentos e pela
recomendação.
O verbo agradecer tem dupla regência: é transitivo direto de coisa e indireto de pessoa. Em outros termos: você
agradece alguma coisa [objeto direto] a alguém [objeto indireto]. Nem sempre é mencionada a pessoa a quem
se agradece algo. Mas se precisar ou quiser mencioná-la, você a introduz com a preposição a, antes ou depois
do objeto:
• Agradeço-lhes a recomendação.
• Devo agradecer-lhe os cumprimentos.
• Agradecemos a ele o bom atendimento.
A introdução de ‘pelo’ na frase se explica porque é essa a preposição usada com os adjetivos ‘obrigado’ e
semelhantes:
Mas no caso do verbo agradecer, teríamos (do ponto de vista rigoroso da gramática, repito) dois objetos
indiretos se disséssemos "Agradeço a V.Sa. pela recomendação".
Se quem agradece é homem, diz OBRIGADO; se é mulher, OBRIGADA. E quando o agradecimento parte de
vários homens ou de várias mulheres? Usa-se o plural? Vejamos: "Vamos bem, obrigados."(?) ou "Muito
obrigadas."(?) Fica estranho, sem dúvida. Não se recomenda. A saída para o grupo é fazer um rodeio,
empregar outras fórmulas:
• Estamos gratos/gratas.
• Ficamos muito agradecidos.
• Estamos reconhecidas pela homenagem.
• Transmitimos a todos nossos agradecimentos / nosso reconhecimento / nossa gratidão.
Outra solução é substantivar a expressão "muito obrigado", que daí serve para homem e mulher ou homens e
mulheres indistintamente:
Detalhe a observar: o uso do hífen quando se forma o substantivo composto. E sabe-se que se trata de um
substantivo pela anteposição do artigo – que pode aparecer explicitamente ou ficar oculto – e do pronome
possessivo.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
O que fazem as duas vírgulas ali? Nada, só tiram a fluência da afirmação. Quando ‘no mínimo’ toma o lugar de
um advérbio de intensidade, não deve vir entre vírgulas. Veja que essa frase poderia ser dita assim:
A expressão "no mínimo", como se vê, às vezes serve apenas de reforço; não significa "que é o menor".
Portanto, assim como você não usaria entre vírgulas os advérbios de intensidade vistos acima, não deve entalar
‘no mínimo’ entre elas. Mesmo quando tem o sentido de "no menor limite provável", esses sinais podem ser
eliminados; por exemplo:
Também a expressão equivalente "pelo menos" deve receber o emprego sóbrio das vírgulas. Podemos
observar, nos exemplos abaixo, que sem tal pontuação a frase flui melhor, sem tropeços:
Mas devo ressalvar que a vírgula também pode ser usada, em caso de necessária ênfase e sobretudo se há um
deslocamento da expressão:
Enfim, em se tratando de ‘no mínimo’ e ‘pelo menos’, seria o caso de dizer: use mas não abuse!
RESPOSTA AO AGRADECIMENTO
André L. S. Machado agradece o envio da coluna "Não Tropece na Língua" e, "aproveitando o ensejo, gostaria
de lhe perguntar como se deve responder a um agradecimento: de nada ou por nada?"
Para responder a um agradecimento usam-se as duas formas, sendo a primeira (de nada) a de uso mais
freqüente. Há gramáticos que pregam a utilização de "por nada", visto que os adjetivos obrigado /agradecido /
grato regem a preposição por. Mas também existe o lado da palavra "obrigação". Quando se diz obrigado está
implícita a frase "Tenho a obrigação de.../ Sinto-me na obrigação de (alguma coisa)", ao que alguém responde:
"(V. não está na obrigação) de nada", usando então a regência subentendida. Essa a origem da questão.
Em suma, estão todas corretas: de nada; por nada; não por isso; não há de quê.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
O leitor S.A.M.G., de João Pessoa – PB, anota que é uma agressão à nossa língua "dizer agente de polícia civil
ao invés de agente da polícia civil, pois se perguntarmos ao agente onde ele trabalha certamente ouviremos
como resposta na Polícia, e não em Polícia".
Não creio que seja bem assim. Vejamos por que digo isso.
A rigor, uma vez que se qualifique ou determine um segundo substantivo, deveria se determinar o antecedente
usando da e não de. Por exemplo: ele é chefe de gabinete. Se o gabinete é da Presidência, se diria, como
conseqüência: ele é o chefe do gabinete da Presidência. Mas também é lícito dizer "chefe de gabinete da
Presidência" quando se quer ou se precisa manter a unidade da expressão chefe de gabinete. Isto é: ele é
chefe de gabinete (do gabinete) da Presidência. Subentende-se a repetição da palavra "gabinete".
Outro caso semelhante é o do "projeto de lei orçamentária", que está registrado, por exemplo, inúmeras vezes
na Constituição Federal. Pode parecer estranho, mas tem a mesma lógica: o projeto de lei (da lei) orçamentária.
Nesse tipo de estrutura está se evitando – reitero – a repetição do segundo substantivo, que então estaria
determinado pelo artigo. O projeto de lei forma uma unidade "imexível": o "projeto da lei orçamentária" seria
outra coisa, diferente do "projeto de lei (da lei) orçamentária".
Chegamos, então, ao agente de polícia. O seu cargo é exatamente este: agente de polícia, assim como
"delegado de polícia". Mas qual polícia? perguntamos. – A polícia civil. Portanto, ele é um agente de polícia (da
polícia) civil. Concorda? Claro que pode haver simples agentes que trabalham para a Polícia, os quais seriam
"agentes da Polícia". Mas aí já é outra história...
VISAR
• Com o sentido de dirigir o olhar / a pontaria ou pôr o visto em, é transitivo direto:
• Com o sentido de propor-se, dispor-se, ter em vista, pretender, objetivar, pode ser transitivo indireto (com a
preposição a) ou direto:
PEGO OU PEGADO?
Hoje em dia usam-se indiferentemente os dois particípios. Pego é a forma inovada e pegado a forma tradicional:
Se nenhuma das formas lhe soar bem, substitua por: apanhado, colhido etc.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Quem não se lembra daquelas "deliciosas" aulas de português, em que era preciso decorar listas e
mais listas, como as dos aumentativos e di-minutivos? Ficávamos sabendo que o diminutivo de
"feixe", por exemplo, é "fascículo", que o de "corpo" é "corpúsculo" e assim por diante.
Neste espaço, já afirmei várias vezes que infinitamente mais importante do que decorar é
entender. Saber que o diminutivo de "feixe" é "fascícu-lo" sem saber o porquê disso é como não
saber nada. É como saber que cadeira é cadeira ou que bola é bola.
Muito melhor do que uma lista de diminutivos é a explicação do porquê de certas formas. No caso
de "fascículo", por exemplo, o professor pode dizer que "feixe", "fascículo" e "fascismo", entre
outras, são palavras cognatas, ou seja, têm raiz (latina) comum, pertencem à mesma famí-lia.
Um fascículo de uma publicação nada mais é do que um pequeno feixe (do latim "fascis") de
folhas.
"Lictor" (não há acento, portanto a palavra é oxítona) é "oficial que, na antiga Roma,
acompanhava os magistrados com um molho de varas e uma machadinha para as execuções da
justiça".
Essa viagem pela origem das palavras pode desaguar na história, na filosofia etc. e daí numa das
recomendações dos "Parâmetros Curricu-lares Nacionais" (a relação entre as disciplinas).
Pois bem, dia desses, submeti-me a um ecocardiograma. Explicando-me o que via no monitor, a
médica que me atendeu disse que "a valva isso, a valva aquilo...".
Por mais que soubesse que, como as define o "Aurélio", as terminações (latinas) "-ulo/-ula" são
formadoras "de diminutivos eruditos e/ou de vo-cábulos eruditos (cujo valor diminutivo
acrescenta noção específica ao termo)", demorei a "traduzir" a "valva", de que "válvula" é
diminutivo. O "-ula" de "válvula" tem o mesmo valor (de diminutivo) do "-ulo" de "fas-cículo".
De fato, a primeira definição do "Aurélio" para "válvula" é "pequena val-va"; a primeira para
"fascículo" é "feixinho".
Não são poucos os casos de palavras cuja noção de diminutivo desapa-rece com o uso e o tempo.
Quando se fala de certas doenças, quem re-laciona "nódulo" a "nó"? Literalmente, "nódulo" é
"nozinho", "nó peque-no", assim como "óvulo" é "ovo pequeno", e "glóbulo" ("glóbulos vermelhos/
brancos") é "globo pequeno".
Não lhe parece, caro leitor, que, quando sabemos o porquê de certas coi-sas, fica mais fácil (e
agradável) aprendê-las? É isso.
Nélson Rodrigues dizia que o futebol é a coisa mais importante das me-nos importantes. Concordo com ele.
Sou doentiamente apaixonado pelo "esporte bretão". Deliciam-me os dribles e passes de Cacá (por que "Ka-
ká"?), as mortais arrancadas de Gil pela esquerda e as geniais diabruras de Robinho e Diego.
Quando a coisa sai do campo de jogo, a história muda _e muito. Maracu-taias à parte, o pessoal que "dirige" o
futebol brasileiro é especialista em criar regulamentos burros. Sim, burros, porque nenhum adjetivo pode definir
melhor essas patacoadas perpetradas por esses gênios.
Antes que me esqueça, vou avisando que esta coluna não fala de espor-te, não. Meu assunto é outro. O futebol
será só pretexto para a análise de algo muito mais importante: o raciocínio lógico, a diferença entre o absoluto e
o relativo, temas de que, por sinal, já tratei algumas vezes neste espaço.
O leitor certamente sabe dos vários estudos publicados de tempos em tempos a respeito da capacidade de
leitura e compreensão de textos, do raciocínio lógico e matemático, da percepção da realidade, da competên-
cia para relacionar dados e fatos etc.
O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), por exemplo, avalia basica-mente esses atributos. Em uma de
suas clássicas questões, a banca pe-diu aos candidatos que informassem quantas viagens seriam necessárias
para que três pessoas atravessassem um rio. Os dados eram estes: ha-via só um barco, que suportava até 150
kg. O passageiro mais magro pesava 50 kg; o mais gordo, 120 kg; o intermediário, 70 kg.
Já pensou? De que disciplina é essa questão? É de matemática? De tex-to? Ou de tudo? É bom lembrar que o
Enem não divide as questões por matéria, já que o alvo da prova é a verificação das várias habilidades (aquelas
de que falei no quarto parágrafo).
Vamos lá: na primeira viagem, o gordinho não pode ir, certo? Se ele for, ninguém mais vai; se for sozinho, o
barco não volta. Quem vai primeiro? Os dois mais leves (50 + 70 = 120; o barco suporta 150). Um fica (qual-
quer um) e outro volta. O que volta fica, para o mais pesado atravessar o rio, sozinho. O que tinha ficado na
primeira viagem retorna e apanha o que voltou ao ponto de partida. Moral da história: cinco viagens para que os
três atravessem o rio.
O que essa história tem que ver com o futebol? Pois bem, estamos em plena final do Campeonato Paulista, e o
assunto da semana é a "vanta-gem". Quem joga por "dois resultados iguais" (bobagem que muita gente adora
perpetrar; se um time perde as duas de 15 x 0 é campeão?)?
Lido e relido o regulamento, feitas as contas, chegou-se à conclusão de que a vantagem é do São Paulo,
porque "tem melhor campanha". Por a-caso São Paulo e Corinthians enfrentaram os mesmos adversários? Os
pontos obtidos pelas duas equipes saíram do mesmo universo? Não; os dois times sempre enfrentaram
adversários distintos.
Moral da história: ninguém tem melhor campanha, porque as campanhas são diferentes. Em outras palavras,
não se pode tratar como relativo o que na verdade é absoluto. Se A ganha de B e de C, enquanto X empata
com Y e Z, não se pode concluir que A é melhor que X. Entendeu? É isso.
Estava no título de capa da Folha de ontem: "Tempestade de areia freia tropas". No texto, o singular era trocado
pelo plural, e o presente, pelo pretérito: "Tempestades de areia frearam o avanço das tropas...".
Estamos diante de uma das tantas encrencas da nossa nada simples gra-fia: no infinitivo, não há "i" em "frear",
mas em algumas das flexões desse verbo (e de todos _todos_ os que terminam em "-ear") o bendito "i" dá o ar
da graça. Em "freia", por exemplo, existe o "i" ("Tempestade freia..."); em "frearam", não ("Tempestades
frearam...").
A encrenca aumenta quando se consultam dicionários com o intuito de verificar a conjugação desse e de outros
verbos. Como quase sempre se emprega linguagem técnica, quem não é especialista fica na mesma. Quem
procura "frear", por exemplo, encontra o seguinte: "Recebe um 'i' depois do 'e' nas formas rizotônicas".
Entendeu? Sabe o que são formas rizotônicas? O jeito é verificar, no pró-prio dicionário, o que significa
"rizotônico". O problema é que muita gente fica travada com o primeiro choque e acaba desistindo. Não desista!
Para entender o que é isso, é preciso percorrer algumas etapas. Vamos a elas, pois. No infinitivo, nossos
verbos terminam em "-ar", "-er" ou "-ir" (deixemos de lado os que terminam em "-or", que são um caso à par-te).
Quando se eliminam essas terminações do infinitivo, obtém-se o ra-dical do verbo. Assim, o radical de
"embalar" é "embal-", o de "beber" é "beb-", e o de "assistir" é "assist-".
Pois bem, já estamos perto de entender o que são as formas rizotônicas. São aquelas cuja vogal tônica cai na
raiz, no radical. Em "sofro", por e-xemplo, a vogal tônica (o "o" da sílaba "so") cai na raiz ("sofr-"), portan-to essa
forma é rizotônica. Em "sofremos", a vogal tônica (o "e" da sílaba "fre") cai fora da raiz, portanto essa forma é
arrizotônica.
Voltemos, então, aos verbos terminados em "-ear", para dizer que... Quer saber de uma coisa? Que tal
simplificar isso? Vamos lá: todos _to-dos!_ os verbos terminados em "-ear" ganham um "i" depois desse "e" em
apenas oito formas (eu, tu, ele e eles, dos dois presentes, o do indi-cativo e o do subjuntivo). Em todas _todas!_
as outras formas (dos pre-sentes, dos pretéritos e dos futuros), nada do bendito "i".
Tomemos como exemplo o próprio verbo "frear". No presente do indica-tivo, temos "eu freio, tu freias, ele freia,
nós freamos, vós freais, eles freiam"; no do subjuntivo, "que eu freie, que tu freies, que ele freie, que nós
freemos, que vós freeis, que eles freiem".
Notou que, nos dois presentes, não há "i" depois do "e" do radical em "nós" e "vós"? Em todas as formas dos
demais tempos, nada de "i", o que se vê, por exemplo, em "frearam" (de "Tempestades de areia frea-ram"),
"freava", "freávamos", "freavam", "freei", "freou", "frearam", "freasse", "freássemos", "frearem" etc.
Não custa insistir num ponto: o que vale para "frear" vale para todos os outros verbos terminados em "-ear"
("recear", "cear", "pentear" etc.). Antes que me esqueça, e para satisfazer a todos os gostos, "freia" é for-ma
rizotônica; "frearam" é arrizotônica. É isso.
De São Paulo, o leitor W. Santos sugere o tema ‘por que’ e ‘porque’. E sei por quê. É que há toda uma geração
de brasileiros que aprendeu o seguinte: por que separado se usa em perguntas; porque junto se usa na
resposta. É verdade, mas não é a verdade toda. O correto é acrescentar que por que separado também se usa
em respostas e afirmações. Vejamos esses casos esquematicamente.
1. POR QUE
Expressão formada pela seqüência de preposição + pronome interrogativo ou relativo. Utilizada em perguntas
diretas e indiretas; em frases afirmativas/negativas e exclamativas; em títulos de obras/artigos. Equivale a por
qual razão / por qual motivo. Exemplos:
Observe que a palavra razão ou motivo pode estar apenas subentendida ou aparecer claramente na frase:
O monossílabo átono ‘que’ passa a ser tônico em final de frase. Acentue-o, portanto, antes do ponto (final, de
interrogação ou de exclamação):
3. PORQUE
Conjunção explicativa ou causal, substituível por POIS, uma vez que, já que, porquanto, ou pelo fato de que,
como (caso dos dois últimos exemplos):
4. PORQUÊ
Acentuado, numa palavra só e antecedido de artigo - agora é substantivo masculino, pluralizável, com o sentido
de motivo, causa, razão ou indagação:
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Os nomes próprios de pessoas podem ou não ser separados por vírgulas – e disso entendem os jornais e
revistas, que falam não só de chiques e famosos mas de políticos e de outros simples mortais. Também o
advogado, em seu trabalho, cita muitos nomes próprios. E aí a vírgula pode contribuir para aclarar uma
situação, ou pelo menos dar uma informação correta. É o caso, por exemplo, de filhos ou funcionários
envolvidos numa questão. Se determinada empresa tem vários funcionários e foi um deles que, digamos,
abalroou o veículo X, a frase será assim:
- Afirma o réu que seu funcionário Mário Tadeu dirigia o veículo na ocasião.
Se tal réu tivesse apenas um empregado, o nome deste iria entre vírgulas:
- Afirma o réu que seu funcionário, Mário Tadeu, dirigia o veículo na ocasião.
Neste último caso, o nome se torna um aposto explicativo (o qual equivale a uma oração adjetiva explicativa
sem o ‘que é’), o que justifica sua separação por vírgulas.
Sendo assim, sempre que se referir a pessoa que tiver um cargo único e especificado na frase, como
presidente da República, do Senado, da Câmara Federal, de um partido político, de uma empresa etc., ou
governador de um Estado, faça a separação do nome por vírgulas – uma ou duas, conforme sua posição na
frase. Também é o caso de pai e mãe, que temos um só, e de marido e mulher (podemos ter tido mais de um,
mas aí já é "ex"):
- Quem tem incentivado a edição de bons livros é o atual reitor da UFSCar, José Rubens Rebelatto.
- A ação contra a empresa TAL foi proposta por João Silva e sua mulher, Amália J. Silva.
- O fundador de Jaraguá do Sul, Emílio Carlos Jourdan, morreu em 8 de agosto de 1900, no Rio de Janeiro.
- A mãe de Caetano e Bethânia, dona Canô, é quase tão famosa quanto os filhos.
Mas quando se referir a um entre vários da mesma categoria – como ex-governador, ex-esposa, diretor de
empresa (normalmente há mais de um diretor), professor de escola, habitante, ator, candidato etc. – não faça o
destaque do nome entre vírgulas:
- Um dos palestrantes foi o economista e especialista em gestão condominial César Thomé Júnior.
- O brusquense Eleutério Graf abriu sua banca num dos principais pontos da cidade.
- Para a professora da USP Roseli Baunel, especializada em Educação Especial, a escola deve perceber o que
pode oferecer ao aluno com deficiência visual.
No caso de irmãos e filhos, depende. Filho único vai entre vírgulas. Havendo mais de um filho ou filha, as
vírgulas não devem ser usadas:
- Os seus irmãos Samuel e Sandra estarão competindo em tênis de mesa. [deduz-se que haja outros irmãos]
No caso de nomes estrangeiros ou desconhecidos, ou quando ocorrer uma repetição de nomes (Paulo Paulo),
inverta a ordem dos termos. Em vez de: * O líder da Frente Revolucionária Unida Foday Sankoh recebeu
treinamento militar na Líbia / *O ex-governador de São Paulo Paulo Maluf é candidato a prefeito, escreva:
- Foday Sankoh, líder da Frente Revolucionária Unida, recebeu treinamento militar na Líbia.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Dica 115: COR BRANCA - 14h35min - Grafia das horas e das datas
Origem da dica: Site Língua Brasil: http://www.linguabrasil.com.br
Escreve Sônia M. T. da Silva: Tenho uma dúvida quanto ao gênero da palavra 'branca' na frase a seguir:
SUGESTÃO DE COR: BRANCA. Já vi a mesma frase escrita SUGESTÃO DE COR: BRANCO. Qual o correto?
Há as duas possibilidades.
1) Sempre que você coloca a palavra ‘cor’ junto da própria cor, é preciso fazer a flexão no feminino e, quando
for o caso, também no plural, porque aí você está usando um adjetivo (branco, amarelo, azul, vermelho, verde,
preto, roxo), que deve concordar com o substantivo (cor). Exemplos:
2) Por outro lado, as cores são também usadas como substantivos do gênero masculino: (o) branco, (o) verde,
(o) vermelho, (o) amarelo etc. É o caso de:
Posta a questão dessa maneira, vemos que a concordância gramatical com a palavra ‘cor’ tem de ser ‘branca’
[adjetivo singular feminino concordando com substantivo singular feminino]; todavia, na frase em discussão
existem os dois-pontos a quebrar esse elo entre substantivo e adjetivo. Isso permite o uso do substantivo para
designar a cor. Assim sendo, estão ambas corretas:
Jefferson Barbosa, de Bauru/SP, pede esclarecimentos sobre a maneira correta de escrever as horas.
• A grafia que deve ser adotada em jornais, sentenças, acórdãos, convites, convocações, cartazes e coisas do
gênero é a seguinte:
- Hora quebrada: às 8h35min ; 10h05min ; 10h35 [sem dar espaço entre os elementos]
• A grafia por extenso – que é menos visual – se reserva para convites formais como o de um casamento:
• A grafia com dois-pontos – a mais visual – é usada em áreas específicas como anotações de vôo, de
passagens, competições, agendas ou programações com horário em seqüência:
Aproveito o ensejo para responder à pergunta do Charles sobre a grafia das DATAS abreviadas.
Existem três possibilidades - com traço, barra ou ponto: 16-7-2000, 16/9/2000, 16.10.2000.
Observe que, a não ser em formulários onde haja dois espaços, não é preciso colocar o zero antes do dia ou do
mês formado de um só algarismo: 2-2-92, 8/1/99. Mas, por questões de estética, pode: 02-02-99, 08/01/03.
Por orientação do governo federal, o primeiro dia do mês deve ter esta grafia: 1° de maio, 1°/10/00 (escrevendo
à mão, coloque um ponto ou tracinho embaixo
do °).
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
ACENTUAÇÃO - Proparoxítonas
Se há um aspecto da língua que diz respeito a todas as categorias de escribas é sem dúvida a acentuação.
Ortografia é fundamental, é o complemento de um bom texto. Acentuar corretamente é importante em qualquer
situação. Mesmo nas mensagens eletrônicas a que se quer atribuir algum valor. Como nem todas as pessoas
escrevem em computador ou dispõem de um bom corretor ortográfico, vamos relembrar, numa série de artigos
esparsos, as regras e a razão dos acentos gráficos em português.
A acentuação gráfica serve para informar a leitura correta das palavras. Alguns acentos indicam a intensidade e
outros informam se a pronúncia é aberta ou fechada. Devemos nos lembrar que a língua portuguesa é
predominantemente paroxítona: caneta, escrevo, amamos, dizem, jovens, claro, clareza, varia, horas, saia,
banana, carinho... e por aí seguem milhares de palavras com pronúncia forte (tonicidade) na penúltima sílaba.
Há também aquelas - em menor número - cujo acento tônico recai naturalmente na última sílaba: são as
palavras terminadas em i, u, r, l, ão, ã, como ali, caju, valor, papel, falarão, maçã. O acento gráfico, portanto,
marca a exceção.
Assim, devem ser acentuadas todas as palavras cujo acento tônico (intensidade de pronúncia) recaia sobre a
antepenúltima sílaba. São as proparoxítonas, que constituem sensível minoria em português, como pêssego,
lâmpada, fenômeno, límpido, ácido, tíquete, revólveres, déficit, êxito, estereótipo, rubéola, fac-símile, debênture.
A importância do acento - agudo ou circunflexo - para informar a pronúncia correta pode ser vista nos pares de
exemplos abaixo:
- Meu pai sempre pacifica seus netos. / Sua família é pacífica e ordeira.
- Ela critica seu modo de cozinhar. / Ela é uma pessoa muito crítica.
- Não publico meus discursos agora, mas no futuro o farei. / Não freqüento parque público.
- Será que você não duvida de nada? / Qual é a sua dúvida agora?
- Não habito no paraíso dos meus sonhos. / O hábito não faz o monge.
- Peço que analises estas amostras de sangue. / As análises serão feitas no laboratório X.
- Já nem calculo quanto tempo perdi. / Fez o cálculo da areia necessária para a construção.
- Eu mesma digito meus artigos. / O dígito verificador foi calculado de maneira errada.
- Todo verão a loja liquida seus estoques. / Prefiro medicação líquida a comprimidos.
Imagine ler o termo à direita como se não tivesse acento. Que diferença! Devemos lembrar ainda que os verbos
não fogem à regra. Muitos deles, quando estão na primeira pessoa do plural, precisam ser acentuados por
serem proparoxítonos: "Era maravilhoso quando saíamos juntos. Como se fôssemos parar no tempo... Não
dispúnhamos de dinheiro mas não perdíamos o bom humor. Levávamos a vida cantando, como se quiséssemos
mostrar a todos como éramos felizes."
Da mesma forma devem levar acento os nomes próprios proparoxítonos: Rosângela, Róbinson, Orígenes,
Eurídice, Éverton, Émerson, Amábile, Ângela, Angélica, Ânderson etc.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Faz tempo prometi à leitora Edna A. Vieira tratar deste assunto. Começo dizendo que as duas frases que ela
apresenta estão corretamente redigidas:
A forma original – como ensina longamente Napoleão Mendes de Almeida – é ter de, no sentido de "obrigação,
necessidade": temos de fechar o negócio agora; ele teve de sair; as crianças têm de dormir cedo. Ter que seria
reservado para expressar "coisas que, algo", como por exemplo: Tenho muito que fazer, isto é, tenho muitas
coisas que fazer (por fazer). Porém houve uma evolução do ‘que’ na direção da obrigatoriedade. Ao falante
atual a diferença está mais na repercussão sonora e na força expressiva do que no aspecto histórico. Se ter de
soa mais culto, ter que é a forma mais viva, da linguagem corrente.
Aceitando-se que as duas formas estejam corretas, o que sugiro em frases mais longas é usar o "de" quando já
existam outros "ques", e usar "que" num contexto de muitos "des". Exemplos:
• É intolerável que o povo tenha de pagar o pato. [Em vez de: É intolerável que o povo tenha que pagar o pato]
• Depois de fazer as contas, temos que proceder aos pagamentos devidos. [Melhor do que: Depois de fazer as
contas, temos de proceder aos pagamentos devidos]
• A necessidade de ter que lutar a fim de garantir um trabalho permeia a vida de todos.
• É vergonhoso que os pais tenham de se submeter a tantas dificuldades para ver os filhos na escola.
ETECÉTERA - etc.
Advogados e juízes estão sempre às voltas com o termo ETC. Um deles assim se manifesta: "Em sentença
judicial, substituiu-se a seguinte expressão ‘Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, decido’ por ‘Vistos
etc.’ Aí temos encontrado as mais variadas pontuações." E arrola seis, querendo saber qual é a certa.
Posso afirmar que há dois modos corretos: Vistos etc. e Vistos, etc.
1ª observação: A VÍRGULA ANTES DO ETC. É FACULTATIVA. O moderno é não usá-la, pois além de contribuir
para a não-poluição do texto, a vírgula ali não tem muita lógica, já que et cetera (do latim et coetera),
aportuguesado etcétera, quer dizer e [os] outros; e assim por diante. Contudo, o Formulário Ortográfico de 1943
emprega a pontuação antes de etc. Usa mesmo o ponto-e-vírgula quando fecha uma enumeração separada por
esse sinal gráfico. Por exemplo: "A letra H (...) se conserva no princípio de várias palavras e no fim de algumas
interjeições: haver, hélice, hidrogênio, hóstia, humildade; hã!, hem?, puh!; etc."
2ª observação: O PONTO DEPOIS DE ETC. É ABREVIATIVO. Quando o ponto abreviativo coincide com o
ponto-final, basta um ponto (isso vale também para outras abreviações). Do mesmo modo, não há por que usar
três pontinhos(*etc...). Reticências depois de etc. só para marcar uma ironia, o que é caso raro.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
ENSINO À (A) DISTÂNCIA – Crase com locuções adverbiais - Outras expressões de circunstância
Disse-me o professor José T. B. Neto, de Umuarama / PR: "Tenho certa resistência em grafar ensino a
distância, sem o acento grave indicativo de crase, como é comum encontrar nos documentos exarados pelo
MEC. Alguns autores classificam tal ocorrência como CRASE FACULTATIVA. (...)"
Não está errado o Ministério da Educação. Mas eu, assim como o professor, prefiro usar o acento – nessa e em
outras locuções adverbiais que indicam circunstância. O motivo é que a ausência do acento pode deixar o texto
ambíguo. Em "ensinar/estudar a distância", por exemplo, fica-se com a impressão de que é a distância que está
sendo ensinada ou estudada. É o mesmo caso de viu a distância, escreveu a distância, curou a distância,
fotografe a distância, permanece a distância [= a distância permanece] e assim por diante, frases que parecem
melhor com o acento indicativo de crase (que por questões didáticas também chamamos apenas de ‘crase’): viu
à distância, escreveu à distância, curou à distância, fotografe à distância, permanece à distância.
Já na frase "Compramos uma chácara a grande distância daqui" não há crase, porque está subentendido o
artigo indefinido: a (uma) grande distância.
Nas locuções adverbiais com palavras masculinas, como: a pé, a caminho, a cavalo, a frio, a gás, a gosto, a
lápis, a meio pau, a nado, a óleo, a pé, a postos, a prazo, a sangue-frio, a sério, a tiracolo, a vapor etc. não se
acentua o a, que é uma simples preposição.
Nas locuções femininas, contudo, embora esse 'a' possa ser só preposição – e se sabe que a crase é a fusão
da preposição a com o artigo a –, é de tradição no Brasil crasear o a por motivo de clareza.
Compare nos exemplos abaixo o significado da frase sem a crase e com ela:
É por essa questão de clareza que se recomenda e geralmente se acentua o a nas locuções adverbiais de
circunstância, mesmo não sendo ele rigorosamente a fusão de a + a. Para finalizar, outros exemplos: à
disposição, às avessas, à beira-mar, às centenas, às escondidas, à frente, à mão armada, às mil maravilhas, à
noite, às ordens, à paisana, à parte, à perfeição, à primeira vista, à revelia, à risca, à solta, à toa, à vela, às
vezes, à vontade.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Em atenção ao pedido de Adalberto Tortes (Rio Pardo/RS), vejamos o emprego de haja vista, expressão que
significa "atente-se para, haja atenção para, tenha-se em consideração, veja [o leitor] tal coisa ou pessoa, tenha
[o leitor] em vista o que se passa a exemplificar".
Segundo a tradição literária, vista fica invariável, não importa que a palavra seguinte – o objeto direto, no caso -
esteja no masculino ou no plural:
Também se encontram exemplos na literatura de flexão do verbo haver – ele pode ir para o plural, continuando
"vista" invariável:
"Haja vista" não é expressão jornalística. Quando se encontra em algum texto popular, pode estar lá como "haja
visto". ‘Visto’ no lugar de ‘vista’, entretanto, é uso malvisto pelos puristas.
FECHO DE CARTA
O leitor Beryl E. Taves, do Rio de Janeiro, solicita matéria sobre o uso do ponto ou da vírgula após o
atenciosamente em fechos de carta, "já que existe controvérsia sobre a questão".
O que existe são variações de uso, isso sim. O que disse no Mural de Consultas nº 48 da página Língua Brasil
a respeito do vocativo de cartas comerciais e ofícios vale também para o fecho.
Quando o expediente termina numa palavra só, como Atenciosamente, Cordialmente, Respeitosamente, Grato,
Saudações, o usual tem sido colocar uma vírgula, mas há pelo menos duas décadas começou uma
simplificação, ou seja, pode-se deixar esse tipo de fecho sem pontuação alguma, e isso significa menos toques,
menos tinta de impressão, menos poluição visual.
Portanto estão ambos corretos:
Atenciosamente,
Atenciosamente
O ponto-final é usado quando se faz a despedida por meio de uma frase toda, acabe ela com a palavra
‘atenciosamente’ ou não. Exemplos:
ENDEREÇAMENTO
E a professora Ivanilda "gostaria de saber se ao endereçar uma correspondência (no rodapé) ainda se faz
necessário colocar: MD., Ilmo., DD. etc."
Não é mais preciso, não. O "Manual de Redação da Presidência da República" (1991), que atualiza, uniformiza
e simplifica as normas de redação de atos e comunicações oficiais, aboliu o uso do tratamento digníssimo (DD.)
a todas as autoridades, ficando também "dispensado o emprego do superlativo ilustríssimo para as autoridades
que recebem o tratamento de Vossa Senhoria e para particulares" – é suficiente o pronome de tratamento
Senhor. No endereçamento, escreve-se: Ao Senhor / À Senhora.
Contudo, há uma exceção para as "excelências": a elas ainda se dirige o Excelentíssimo Senhor / Exmo. Sr.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
1. HÁ – HOUVE casos
Emprega-se o verbo haver como impessoal – isto é, sempre na 3ª pessoa do singular – quando tem o sentido
de existir. Este é um dos casos de "oração sem sujeito". Exatamente por isso o verbo haver fica neutro,
impessoal, pois ele não tem um sujeito com quem concordar. Os substantivos que complementam o verbo
haver são considerados seu objeto direto. Assim, para atender aos preceitos da língua culta, é preciso observar
a forma no singular quando o verbo haver está conjugado nos tempos pretéritos ou futuros (no presente
dificilmente se cometeria um engano: ninguém diria * hão outros casos). Exemplos:
As mesmas frases, se construídas com existir, teriam o verbo flexionado de acordo com o substantivo, que aí é
considerado o sujeito do verbo existir:
Não existem soluções a curto prazo / se existisse mais justiça, existiriam menos descontentes / para que
existam menos neuroses / as irregularidades que existirem etc. Em algumas situações também se pode
substituir ‘haver’ por outros verbos:
Quando o verbo haver no sentido de existir faz parte de uma locução verbal, ele transfere sua impessoalidade
ao verbo auxiliar dessa locução, que permanece, por isso, no singular:
3. HÁ – TEM
A professora S. C. M. B., de São Paulo, consulta sobre o verbo ter quando utilizado como haver. Este é um uso
bastante coloquial. Deve ser evitado em linguagem científica ou oficial. Mas como é muito comum no Brasil
(basta ver os versos de Chico Buarque: "Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu"), é bom
saber que ele segue o mesmo padrão de haver – não flexiona no plural, portanto:
Da mesma forma que ‘haver’, o verbo fazer conserva-se na 3ª pessoa de singular quando indica TEMPO
TRANSCORRIDO ou FENÔMENO METEOROLÓGICO. Estando o verbo fazer na função de verbo impessoal
(sem sujeito), deve também assumir a forma impessoal o verbo auxiliar que porventura o acompanhar:
- Faz dois dias que não chove. [Não caia no erro comum de dizer *Fazem dois dias]
- Quando saí da cidade, fazia 40 graus à sombra.
- Vai fazer cinco anos que eles estão noivos.
- Poderá fazer três anos sem que ele saia do sanatório.
- Dizem que faz 10 meses estão se preparando para o concurso.
- Em julho fez uns dias de verão.
1. HÁ (ATRÁS)– FAZ
Quando se quer indicar tempo transcorrido, emprega-se também impessoalmente o verbo haver, tanto quanto o
verbo fazer:
- Inventada em 1851, a máquina de costura de Isaac Singer domina o mercado há / faz 150 anos.
Uma outra opção para indicar um tempo passado é usar a partícula atrás. Nesse caso, porém, é preciso
cuidado para que não apareçam ao mesmo tempo na frase há e atrás. É uma redundância deselegante e
errônea (até podemos falar "Há dias atrás" como um reforço, uma vez que o ouvido pode captar mal o som /a/
inicial), mas deve ser policiada na linguagem escrita. Então, use um ou outro termo, como por exemplo:
- Essa civilização desapareceu há 200 anos [ou: desapareceu 200 anos atrás].
- Exibia uma vasta cabeleira até dois anos atrás, mas o vi há um mês sem um fio de cabelo.
2. HÁ - HAVIA - FAZIA
Um outro problema com que se defrontam os redatores é o uso de havia ou fazia nesse tipo de construção.
Está se generalizando o emprego de há em qualquer situação de tempo transcorrido, mas é preciso lembrar
que há se refere a uma data no passado tendo como referência o dia de hoje. Quando se quer marcar um
tempo transcorrido antes de outra ação passada, deve-se usar havia ou fazia (este fica mais espontâneo).
Vejamos alguns casos:
- Em 1866, o tigreiro Wenceslau tinha 18 anos e estava casado havia sete meses.
- O cabo Cedric Tornay tinha se irritado depois de receber uma advertência e de fato estava chefiando o grupo
responsável pela segurança do Papa havia sete meses, desde que o comandante anterior se aposentara.
- Criticou-se a decisão de entregar o Boeing ao comando de um piloto que estava inativo havia vários meses.
3. A – PASSADO E FUTURO
Por fim, uma questão levantada por jornalista radicada em Roma. Diz ela, sabiamente, que na frase "A um mês
do acidente, J. ainda não recobrara os sentidos", a partícula grifada é a mesmo – este a é preposição –, e não
‘há’ do verbo haver, apesar de ligado a tempo passado. É isso mesmo. Para tirar a prova, basta ver que é
impossível trocar a por faz, como acontece com ‘há’. Ao contrário, o a pode ser substituído pela preposição
após ou pela locução depois de.
Também são conhecidas as combinações de...a e a...de para exprimir distância no tempo ou espaço: de um
tempo/lugar a outro, a um certo tempo/espaço de... Exemplos:
- A cem anos do nascimento de Le Corbusier (1887), uma linha de tensão mantém seu nome entre a
modernidade radical e o ideário humanista.
- Hoje, a 30 anos da morte do mais original dos prosadores brasileiros, tal frase adquire um tom irônico.
Na indicação de um tempo que transcorre de hoje para o futuro a preposição A pode vir ou não acompanhada
do termo ‘daqui’:
- Embora estejamos ainda a seis meses da realização do evento, vimos convidá-la a tomar parte do corpo de
jurados.
- De fato, a 40 dias do campeonato e com esse despreparo, não se pode esperar o título.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
DE PREPOSIÇÕES E PRONOMES
"Esse segredo deve ficar entre mim e você" – é esta a forma recomendada na língua culta: pronome oblíquo
depois de preposição. Nas regiões em que o pronome usual é "tu", o correto formal é entre mim e ti. Mas na
linguagem popular é comum e aceitável a frase "isso fica entre você e eu".
Essa rejeição ao ‘mim’ só se dá com a preposição ‘entre’. Com as demais preposições o uso desse pronome é
natural: a mim, até mim, contra mim, de mim, em mim, para mim, por mim, sem mim etc. O caso da preposição
com é peculiar, pois ela se amalgama com o pronome oblíquo, à exceção da 3ª pessoa: comigo, contigo, com
ele/ela, conosco, convosco, com eles. Registre-se, porém, que se usa "com nós" quando aparece um elemento
especificador depois do pronome: "Ele falou com nós todos, discutiu com nós três".
É um hábito muito arraigado no Brasil a fala "disse para mim ir, para mim trabalhar, para mim descansar". Tem
uma explicação para isso, se se considerar que toda língua transplantada é mais arcaizante que a original: no
período em que se falava o português arcaico – entre os séculos XII e XVI, justamente quando o Brasil foi
descoberto – usava-se o pronome pessoal sujeito pelo pronome complemento e vice-versa. Exemplos
apresentados na Gramática Histórica de Ismael de Lima Coutinho (1968: 67): o coração pode mais que mim
[em vez de ‘que eu’] e enforcariam ele [‘ele’ no lugar de ‘o’]. E assim usamos nós até hoje.
No entanto, a gramática normativa prescreve o uso de eu, tu, ele, nós, vós, eles como sujeitos, e os pronomes
oblíquos como complementos. Quando se acrescenta um verbo no infinitivo à expressão para mim, aí mim
deixa de ser objeto indireto para ser sujeito desse infinitivo. Dizer "um livro para eu ler" é igual a "um livro para
que eu leia": eis a prova do sujeito.
Se você ler rapidinho a frase "Antes de ele fazer o curso, tinha muitas dúvidas", você dirá "antes dele fazer". É
pelo fato de se pronunciar numa só palavra dele (de + ele), dela (de + ela), do (de + o) e da (de + a) que se
acaba escrevendo a expressão num só vocábulo, mesmo quando o sujeito do infinitivo é ele/ela ou um
substantivo iniciado pelos artigos o, os, a, as depois da preposição de:
As primeiras frases, mais comuns e populares, configuram o contato de dois vocábulos que, por hábito e
eufonia, costumam vir incorporados na pronúncia. As frases seguintes trazem a forma recomendada pelos
gramáticos, que afirmam não existir "sujeito preposicionado". De jornais e revistas colhi exemplos dos dois
tipos:
- Apesar do Banco Central ainda não ter baixado resolução determinando as novas taxas de juros, o ministro
acredita que o câmbio ficará estável.
- A seleção deve vencer o jogo, apesar do Brasil já estar perdendo por um gol.
- Não vou romper com João só pelo fato de ele não telefonar.
- Haviam deixado Hiroshima três dias antes de a bomba nuclear destruir a cidade.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Para ir ou irem? Convém ir ou irmos? A chance de eles ganhar ou ganharem? Problemas a ser ou a serem
resolvidos? Têm sido muitas as perguntas dos leitores sobre o infinitivo, que é uma das três formas nominais do
verbo, junto com o gerúndio e o particípio.
Por sua própria essência e natureza, o infinitivo é uma expressão verbal que não comporta flexão
– é o chamado infinitivo impessoal, que não tem sujeito próprio e geralmente corresponde a um substantivo:
Trabalhar é bom = o trabalho é bom; amar é sofrer = o amor é sofrimento.
No entanto, a língua portuguesa tem a peculiaridade de poder (e às vezes dever) flexionar o infinitivo, que
passa a ser chamado de infinitivo pessoal. Flexionar quer dizer conjugar em todas as pessoas, por exemplo:
vender, venderes, vender, vendermos, venderem. Esse infinitivo pessoal, que apresenta um fato ou uma ação
de modo geral, está ligado a uma preposição – para ir, vontade de sair, interesse em ficar – ou a frases do tipo
"Convém / cumpre dizer; e é preciso / é bom / é necessário / é importante / é possível dizer...
O INFINITIVO FLEXIONA
1. Quando tem sujeito claramente expresso, ou seja, quando o pronome pessoal ou substantivo vem ao lado do
infinitivo. É o único caso de flexão obrigatória:
2. Quando se refere a um sujeito não expresso que se quer dar a conhecer pela desinência verbal:
Observe que as mesmas frases, sem a flexão, não deixariam claro o sujeito: "mencionei a intenção de vender"
poderia significar "eu vender"; "é melhor sair" e "está na hora de ir" pode se referir a eu, ele, ela, você.
FLEXÃO NÃO-OBRIGATÓRIA
A flexão é desnecessária quando o sujeito do infinitivo é o mesmo que o sujeito ou objeto da oração principal.
Tendo sido expresso na primeira oração, o sujeito já está claro quem é, não precisando figurar outra vez no
mesmo período.
Quando o sujeito não vem expresso ao lado do infinitivo, deve-se recorrer à flexão somente em caso de
ambigüidade. Observe nas frases abaixo que é muito mais elegante a não-flexão:
De qualquer maneira, é bom repetir que quando não há sujeito expresso (em outros termos: quando o
substantivo ou o pronome pessoal vem antes da preposição) pode-se usar ou não o verbo no plural – a opção
dependerá do redator:
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Em atenção a pedido de José dos Santos, A.L.S. e V.Y., de JI-Paraná, Brasília e Mogi das Cruzes,
respectivamente, vamos ver a diferença entre ‘mau’ e ‘mal’.
MAU, o contrário de bom, é adjetivo – portanto sempre acompanha um substantivo – e tem o feminino má
(plural: maus e más):
(1) advérbio de modo: neste caso fica invariável e no mais das vezes acompanha um verbo ou um adjetivo:
(2) substantivo:
O pequeno mal que o remédio provoca é compensado pelo bem que lhe traz.
Ele não imagina o mal que fez.
(3) conjunção:
Mal chegou de viagem, já deseja partir.
No entanto, diz a regra que quando vêm antes do particípio, os advérbios mal e bem não se contraem com o
mais que os procede: mais bem aceito, mais mal ajeitado; o trabalho mais bem feito, as ruas mais bem
calçadas.
João Ricardo Pupo, Augusto F. Pouchain Júnior e Zeca dirigiram-se ao Mural de Consultas da Língua Brasil
para questionar o uso de mais bem colocado, mais bem aceito, mais bem feito no lugar de melhor.
Como vimos na nota anterior, a forma clássica, original, é justamente a não contraída: o time mais bem
colocado, as questões mais bem aceitas, a frase mais bem elaborada, os políticos mais bem instruídos.
No entanto, pelo fato de mais bem ser sintetizado para melhor, a expressão se transformou com o tempo, e hoje
se admite o uso de melhor em construções como estas:
De qualquer forma, use o ouvido e o bom senso para fazer a melhor escolha. No caso do advérbio com sentido
negativo, contudo, sempre use menos bem, e não ‘pior’:
• Entram em primeiro lugar os alunos pequenos, depois os grandes; em frente ficam os menores de confiança;
mais em vista do professor, os menos bem comportados.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
O particípio acumula as características de verbo com as de adjetivo e, na forma, se distingue pelas desinências
-ado para a 1ª conjugação e -ido para a 2ª e a 3ª. O particípio permite a formação dos tempos compostos que
exprimem o resultado do processo verbal:
- Dora tem provado nos palcos que se pode reescrever o destino das crianças de rua.
- Já havíamos planejado o acampamento quando soubemos da previsão de mau tempo.
- O canário vem sendo negociado por duzentos reais.
- Aquele sofá já está vendido.
Existem verbos, em português, que possuem dois particípios: um regular – com as terminações -ado e -ido – e
outro chamado irregular, porque se forma de modo contraído, sem tais desinências, como solto, findo, salvo,
seco etc. O particípio regular é usado com os auxiliares ter e haver, ou seja, na voz ativa:
O particípio irregular exprime um estado; é usado na voz passiva, em especial com os auxiliares ser, estar, ficar,
e neste caso flexiona no feminino e no plural:
Para sua consulta, listamos alguns verbos com duplo particípio – também chamados de abundantes –
separados por conjugação:
Continuaremos a ver o particípio na próxima dica, ainda a pedido do leitor florianopolitano André Luiz Anrain
Trentini.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
O PARTICÍPIO (Cont.)
Vimos no artigo anterior que existem alguns verbos com particípio duplo: o regular (-ado /-ido) usado com ter e
haver ; o irregular (forma contraída), com ser e estar. Com alguns desses verbos, todavia, já não se faz
distinção, ou seja, na mesma situação emprega-se tanto um quanto o outro particípio:
Há alguns verbos que apresentam dois particípios, mas escapam à regra dos particípios duplos, pois seu
particípio irregular é usado somente como adjetivo. Exemplo:
• Tudo foi anexado conforme sua orientação.[voz passiva com verbo ser + particípio]
• O documento está anexo.[anexo = adjetivo]
Casos específicos
ABRIR. Já teve dois particípios: abrido e aberto. O primeiro saiu de uso. O mesmo aconteceu com os verbos
cobrir e escrever, que de cobrido/coberto e escrevido/ escrevinhado/escrito só ficaram com o último particípio.
• A menina já tinha aberto a porta quando tocamos a campainha.
VIR. Fugindo à regra da formação em -ado ou -ido, vir tem como particípio vindo, igual ao seu gerúndio. Verbos
correlatos: advindo, intervindo, provindo, sobrevindo.
• Ele não tem vindo à igreja ultimamente.
• Se não tivesses intervindo a tempo, as crianças teriam se machucado.
EMPREGAR. Por analogia com entregar, que tem dois particípios – entregado e entregue – há quem diga
empregue. Mas na língua culta no Brasil só o particípio regular é aceito.
• Na construção da casa foi empregado material de primeira classe.
MORRER. Morrido é particípio usado com ter e haver. Morto se usa com os auxiliares ser e estar, mesmo
subentendidos.
• Alguns trabalhadores nesse meio têm morrido precocemente.
• Nascido na França em 1881, morto em Nova Iorque a 10 de abril de 1955, Teilhard de Chardin descendia de
família ilustre.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
ACENTUAÇÃO – Oxítonas
Observe que as palavras sabiá, Pelé, e maiô foram acentuadas para que pudessem ser lidas corretamente.
Sem o acento, nós as leríamos como paroxítonas: saBIa, PEle, MAIo (a penúltima sílaba forte). Por que Telê
tem acento? Porque a pronúncia é diferente de tele (telecomunicações). Como foi dito em artigo anterior, a
maior parte das palavras em português é paroxítona, por isso é natural intensificar a penúltima sílaba. O coco-
da-baía, por exemplo, não precisa de acento, pois é um paroxítono natural, como soco, bolo, tolo, mofo.
Oxítonas são chamadas as palavras cujo acento tônico recai na última sílaba.
1. Assinalam-se com acento agudo os vocábulos oxítonos que terminam em a/as, e/es, o/os abertos, e com
circunflexo os que terminam em a/as, e/es, o/os fechados:
Nesta regra se incluem as formas verbais seguidas de pronomes: contá-lo, amá-la, dizê-lo, magoá-las, marcá-
la-ei, fá-lo-á, fê-los, movê-las-ia, pô-los, qué-los, dá-nos etc.
É necessário colocar um acento gráfico na última sílaba de palavra acabada em em (ou seu plural ens) para ela
não ser lida como paroxítona, como em: forem, morem, desdenhem, cosem, acalmem, bebem, cedem etc.
(verbos) ou imagem, imagens, nuvem, item, itens, hifens [o sing. hífen tem acento porque é paroxítona
terminada em n] , totem, liquens, garagem, jovens, plumagem (substantivos) etc. Quando a palavra é
monossílaba, o acento não é necessário: nem, vem, sem, tem, cem, quem, bem, trem, tens, vens, bens.
3. Na regra dos oxítonos se incluem os monossílabos tônicos, palavras de uma só sílaba com pronúncia forte.
Assinalam-se com acento agudo os que terminam em a, e, o abertos, e com circunflexo os que acabam em e, o
fechados, seguidos ou não de s: pá, pé, pó / pás, pés, pós; dê, dês, vô, vôs; Sé, lá, lê, dá, nó, nós, vó, vós.
4. Terminação em i e u :
• Aqui estão os livros. Desculpe, não quis feri-lo. Chamou à parte os gurupis.
• O urso-panda come bambu. Vendem-se perus congelados. Eles parecem urubus.
Não há necessidade de acentuar graficamente aqui, feri-lo, gurupis, bambu, peru, urubus, por exemplo, porque
pronunciar fortemente a última sílaba de palavras terminadas em i e u é o natural. Repare que em todos os
exemplos o i ou o u formaram sílaba com outras letras (qui, ri, pis, bu, rus, bus). Porém, quando o i e o u estão
sozinhos na sílaba, seguidos ou não de s, devem ser acentuados:
• Sai já daqui! Já saí. Ontem caí da escada como laranja cai do pé. Daí disseram: dai-nos seu perdão. Concluí
que o tolo jamais conclui com acerto. Ai, como deve doer aí.
• Atravessou a vau carregando um baú. Nas naus portuguesas havia muitos baús.
Maus elementos não entram no grupo Emaús.
O hiato, portanto, é a razão de algumas formas verbais serem acentuadas e outras não. Exemplos: atraí-lo,
distraí-la, traí-los, construí-la, subtraí-los, distribuí-los, atribuí-lo, destruí-la, instruí-lo, constituí-lo / admiti-lo, abri-
las, adverti-las, muni-lo, fingi-lo, permiti-nos, garanti-lo, persegui-las, consegui-los.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
PORCENTAGENS - Em / a domicílio
De Belo Horizonte, H.L.L.B. solicita informações sobre porcentagens. "Ou seria percentagens?" pergunta ele.
"Mais uma: usa-se ‘porcentual’ ou ‘percentual’?"
É opcional dizer percentagem (do latim per centum) ou porcentagem (em razão da locução "por cento"). Mas,
em relação ao adjetivo, os dicionários só trazem percentual, o que é uma incoerência diante da forma
porcentagem, com 'o'. Tanto é assim que o jornal "O Estado de S. Paulo" adota "porcentual".
Com as expressões que indicam porcentagens o verbo pode ficar no plural ou no singular, conforme o caso, já
que a concordância pode ser feita com o número percentual ou com o substantivo a que ele se refere:
• No seu Estado, 75% da população ganha menos de dois salários mínimos.[concorda com população]
• No seu Estado, 75% da população ganham menos de dois salários mínimos [concorda com 75%]
• Somente 1% dos candidatos consegue passar nos exames. [concorda com 1%]
• Somente 1% dos candidatos conseguem passar nos exames. [concorda com candidatos]
• Oitenta e três por cento dos inscritos votaram.[concorda com percentual e substantivo no plural]
• Segundo o IBGE, 90% das mulheres pesquisadas aceitam sua situação.[idem: como percentual e substantivo
estão no plural, não existe a opção de verbo no singular]
A orientação mais moderna é fazer a concordância com o substantivo próximo, ou seja, usar o verbo no singular
quando o substantivo está no singular; verbo no plural quando o substantivo está no plural:
Observe a coerência quando usar verbo com particípio (locução verbal passiva). Em outros termos: respeite a
concordância nominal – feminino com feminino, plural com plural etc.:
Se você não usar a fórmula acima, preferindo concordar com o número e não com o substantivo, leve o
particípio para o masculino plural:
EM / A DOMICÍLIO
Flávia Castelo Batista, Fabienne Guttin e Luís Altivo Carvalho Alvim, de São Paulo, solicitam explicações sobre
o uso de "entrega a domicílio" ou "entrega em domicílio".
A regra purista é usar a domicílio com palavras que indicam movimento (levar roupa, mandar o lanche, enviar
bilhetes, trazer uma pizza, ir a domicílio) e em domicílio quando sem movimento (dar aulas, cortar cabelo, fazer
a unha/consertos/comida congelada em domicílio).
No entanto, a prática indica que essa diferenciação está ultrapassada, pois o uso tem sido a domicílio em
ambos os casos; daí a preferência por fazer entrega a domicílio, embora a entrega seja feita em casa, no
domicílio de alguém.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
COLOCAÇÃO PRONOMINAL
O uso dos pronomes oblíquos átonos ME, TE, SE, O(S), A(S), LHE(S) e NOS em relação ao verbo é bastante
livre no Brasil: depende muito do ritmo, da harmonia, da ênfase e principalmente da eufonia. Como a pronúncia
brasileira é diferente da portuguesa, a colocação pronominal neste lado do Atlântico também difere da de
Portugal. O português brasileiro é essencialmente proclítico, isto é, preferimos usar o pronome na frente do
verbo na maior parte do tempo. Tudo poderia se resumir à próclise, então. Mas não é assim tão simples. Há
algumas orientações e regras a serem seguidas.
PRÓCLISE ou ÊNCLISE - O pronome pode ficar antes ou depois do verbo quando houver:
2) conjunção coordenativa:
- Nas lojas esportivas encontramos o equipamento ideal para proporcionar-nos/para nos proporcionar uma vida
sadia.
- Temos satisfação em lhe participar / em participar-lhe a inauguração da fábrica.
- Tenho o prazer de lhes falar/falar-lhes sobre a filosofia que norteia nossa instituição.
Obs. Quando o pronome é a/as, o/os, torna-se preferível a ênclise: Conseguido o divórcio, sentiu-se tentada a
enganá-lo (em vez de a o enganar) na divisão dos bens. / Tenho o prazer de convidá-los a comparecer ao
batismo. / Folgo por sabê-los bem.
RECOMENDAÇÕES
Para muitos, trata-se de regras rígidas, mais do que recomendações. Digamos que quem quer redigir com
correção e estilo deve cuidar para adotar a próclise nas seguintes situações:
1) Os pronomes indefinidos e relativos e as conjunções subordinativas atraem o pronome átono; para facilitar
seu reconhecimento, convém notar que grande parte começa com qu:
Nada nos afeta tanto quanto o aumento do leite. / Nunca se viu coisa igual.
Não me diga isso para não me aborrecer. / Ninguém os tolera.
Jamais se soube a verdadeira versão dos fatos.
É interessante observar que se a palavra negativa precede um infinitivo não flexionado, o pronome pode vir
depois do verbo: Calei para não a magoar. Calei para não magoá-la. / Saí para não os incomodar/para não
incomodá-los.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Dissemos, na última dica, que a língua portuguesa no Brasil é proclítica. Tanto é assim que o Manual Geral de
Redação da Folha de S. Paulo resume sua orientação alertando para esse ponto: "Atualmente o pronome é
colocado antes do verbo haja ou não uma palavra que o atraia (pronome relativo, negações etc.). Mas em pelo
menos um caso usa-se o pronome depois do verbo: início de oração".
PROIBIÇÕES - Há apenas duas situações inviáveis:
1) a ênclise com os tempos futuros; em outros termos: colocar o pronome átono depois dos verbos no futuro do
presente e do pretérito do indicativo e no futuro do subjuntivo:
Se aplicar a orientação de sempre usar o pronome na frente do verbo, você já não corre o risco de cometer
esse erro de ênclise (dois exemplos citados anteriormente). Como corrigir essas situações, então? Usar a
próclise colocando um sujeito explícito antes do verbo, para não deixar o pronome no início da frase:
• Eu me benzerei; ele nos faria um favor; se te disser; quando (eu) as puser no lugar; eles se diriam magoados.
Ficarei feliz se (você) as trouxer junto.
COMEÇO DE FRASE
Ainda não aceita na linguagem culta formal, a colocação do pronome átono em início de frase é permitida na
linguagem informal e nos diálogos - pode ser "proibida", mas não é inviável, portanto. Celso Cunha e Lindley
Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (1985: 307), observam que essa possibilidade –
especialmente com a forma me – é característica do português do Brasil e também do português falado nas
repúblicas africanas. E citam exemplos de Erico Veríssimo e Luandino Vieira, respectivamente: Me desculpe se
falei demais. / Me arrepio todo...
E já escrevia Mário de Andrade, em "Turista Aprendiz": Se sente que o dia vai sair por detrás do mato. Em todo
caso, deve-se evitar o uso do pronome "se" no começo da frase porque ele pode induzir o leitor a pensar que se
trata da conjunção condicional se.
LOCUÇÃO VERBAL
Relembrando: locução verbal é a reunião de dois ou mais verbos para exprimir uma só ação. O primeiro verbo é
chamado auxiliar; o último é o principal e está sempre no infinitivo, no gerúndio ou no particípio. Para melhor
visualização e fixação, vejamos as possibilidades de colocação dos pronomes átonos por meio de exemplos
apenas.
1)Auxiliar + Infinitivo
3)Auxiliar + Gerúndio
4)Auxiliar + Particípio
Veja que aqui só há três opções, porque não se permite a ênclise com o particípio.
Há mais duas situações que queria comentar, mas ficam para o próximo artigo.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
O leitor André Luiz Silveira Machado gostaria de saber "como se deve dizer a seguinte referência legal: artigo
oitavo, inciso doze ou décimo segundo?"
• Quando se trata de artigos e parágrafos de leis, decretos, regulamentos e atos do gênero, usa-se o numeral
ordinal de 1 a 9 (caso de um só dígito) e o cardinal de 10 em diante (isto é, a partir de dois dígitos). Exemplos:
Art. 1º (primeiro), § 2º (segundo), art. 19 (dezenove), § 10 (dez).
• No caso de título, seção e inciso, que são escritos em algarismos romanos, e de capítulo - seja em algarismo
romano ou arábico, como numa tese ou livro -, quando o numeral vem depois do substantivo faz-se a leitura em
cardinal, como se houvesse a palavra ‘número’ entre eles: Título [nº] I (um), Seção VIII (oito), inciso XII (doze),
inciso III (três), Cap. IX (nove), capítulo [nº] 20 (vinte).
• No caso de reis,radores, papas e séculos, em que a ordem de sucessão é redigida com algarismos romanos,
há uma pequena divergência em relação ao número 10. Embora os livros de gramática proponham a leitura em
ordinal até 10 inclusive, na prática também se ouve o cardinal dez, como nos artigos de lei. Exemplos: D. Pedro
I (primeiro), Luís VIII (oitavo), Papa Leão III (terceiro), Luís XIV (catorze), Papa João XXIII (vinte e três), séc.
XIX (dezenove), Seminário São Pio X ( Pio décimo ou Pio dez).
Perguntaram-me se "não se pode colocar pronome átono depois da vírgula". O que posso afirmar é que a
vírgula, por constituir uma pausa, predispõe à ênclise, mas não a obriga. É possível escrever como o escritor
Luandino Vieira: "A sua prima Júlia, do Colungo, lhe mandou um cacho de bananas", ou preferir a ênclise
depois de um termo virgulado, como por exemplo um advérbio, que de outro modo atrairia o pronome: "Agora,
reconheço-a. Aqui, como sempre, trabalha-se muito. Finalmente, dispôs-se a me ouvir. Por fim, peço-te perdão."
No entanto, se depois da vírgula houver um verbo numa das formas chamadas de futuro, que não toleram
posposição de pronome oblíquo, deve-se deixar o pronome na frente do verbo: "Desconhecia as normas de uso
e, por isso, as utilizaria indistintamente" [em vez de :(* utilizaria-as ou do desusado utilizá-las-ia].
Já na frase "Não demorou a definir um tipo de arte que, embora tenha ganho feições diferentes nos últimos
anos, se manteve/manteve-se fiel a uma visão transfiguradora do real", tanto se pode usar a próclise porque o
relativo que, embora distante, atrai o pronome, como se pode preferir a ênclise em razão da pausa marcada
pela vírgula.
A propósito, gostaria de chamar a atenção das pessoas que gostam de usar a ênclise, sobretudo com as
locuções verbais, em que teoricamente o pronome oblíquo pode ocupar quatro posições: tomem cuidado
quando antes da locução aparece um que, quem, quando ou outro termo que atraia o pronome. Aí a ênclise
passa a ser erro, pois o que prepondera é a palavra atrativa. Escreva, então:
- em vez de *A briga que foi-se armando: briga que se foi armando / que foi se armando / que foi armando-se;
- em vez de *Espero que deixes-me ser eu mesmo: que me deixes ser eu mesmo;
- em vez de *Não sei quando vou-te encontrar: quando vou te encontrar/quando vou encontrar-te/quando te vou
encontrar;
- em vez de *Já disse que pretendo-lhe pagar logo: que pretendo lhe pagar/que pretendo pagar-lhe/que lhe
pretendo pagar logo.
Para finalizar, relembremos um relato de Sebastião Nery, publicado na Folha de S. Paulo em 18.2.81 e
posteriormente transcrito por Celso Luft no Correio do Povo:
"O deputado Teixeira Coelho, do Maranhão, fiel ao purismo lingüístico de São Luís, a Atenas brasileira (que
depois do Sarney virou a apenas brasileira), ficou indignado:
– Deputado Flores da Cunha, V. Exa. não pode estar nesta Casa, onde se deve primar pela pureza da língua, a
cometer esses deslizes de pronome fora do lugar, começando os períodos.
– Isso é coisa de importância menor, deputado. O principal é a idéia.
– Desculpe, Exa., mas não é. Lá em São Luís não admitimos isso em estudante de ginásio.
Flores da Cunha deu uma baforada, olhou lá de cima com otal desprezo:
– Senhor deputado, lá no Rio Grande a gramática é livre, como livre são os pampas e o minuano, como é livre o
gaúcho.
– Mas não está dispensado de respeitar a língua.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Este artigo foi suscitado por uma pergunta da leitora Sandra Regina Martins, de Florianópolis/SC, já que "não
achei nas consultas que fiz a expressão no momento que. Escrevo dessa forma ou no momento em que? "
Em primeiro lugar, a elipse da preposição é uma liberalidade da língua nos adjuntos adverbiais de tempo,
sobretudo na fala. Podemos dizer de uma ou de outra maneira:
Da mesma forma, a preposição em também pode ser omitida antes do pronome relativo que quando este
introduz uma oração temporal. São exemplos clássicos:
Como se vê, o uso da preposição em frases desse tipo não é questão de certo/errado, mas sim de escolha por
conveniência ou bom ouvido. Na dúvida, ou num texto formal, é sempre melhor usar a preposição. Exemplos
atuais:
Fora desses casos, a preposição diante do pronome relativo é obrigatória na linguagem culta formal (V. Não
Tropece na Língua nº 9). Isso faz lembrar a propaganda errada de um condomínio residencial: :(* Sabe aquele
lugar que você planejava viver no futuro? O correto é: Sabe aquele lugar em que você planejava viver no
futuro? A inauguração é hoje!
Também a preposição de é facultativa ao introduzir (1) uma oração completiva nominal ou (2) objetiva indireta.
Vale dizer que depois de adjetivos como certo/seguro/ansioso ou substantivos como esperança/receio/medo –
no primeiro caso -, ou deverbos transitivos indiretos que regem a preposição de, como
duvidar/lembrar/convencer-se – no segundo caso - muitas vezes a preposição de é omitida, especialmente na
linguagem falada. Exemplos:
De Machado de Assis, sem a preposição: Já achava o Elisiário à minha espera, à porta, ansioso que eu
chegasse.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Os leitores Newton Luís de Almeida, de Juiz de Fora/MG, Livaldo Fregona, de Imperatriz/MA, e J. S. do Vale
Pereira, de Florianópolis/SC, apresentam suas dúvidas sobre a grafia dos símbolos, unidades de medida e
semelhantes no tocante a maiúscula, plural, abreviatura e espaços.
• A norma oficial estabelece que a forma abreviada dos símbolos científicos e unidades padronizadas seja
escrita sem ponto.
Algumas foram registradas em maiúscula – como K (potássio), Kr (criptônio), Y (ítrio) – outras em minúsculas,
tal qual sen (seno) e g (grama), por exemplo.
A grafia para o singular e o plural é a mesma: sem o acréscimo de ‘s’ ou de qualquer outra letra: nada de *mts
para metros, ou *hrs para horas.
• Deixa-se um espaço entre o valor numérico e a unidade, a menos que haja uma combinação de dois
elementos, como por exemplo metro e centímetro:
• A palavra "quilômetro(s)" pode receber inicial maiúscula quando assume o caráter de nome próprio, ou seja,
ao se referir a uma determinada localidade na estrada:
• Escrevem-se por extenso as unidades padronizadas de pesos e medidas quando enunciadas isoladamente,
como metro, milímetro, litro, grama:
- Cada metro de terra, cada litro de água, tudo era levado em conta no assentamento.
IGUAL – IGUAIZINHOS
A pergunta de F. Esteves, do Paraná, sobre o diminutivo plural de "igual" motivou-me a escrever sobre o plural
do substantivo diminutivo. Sabemos que é muito simples a formação do diminutivo: pão – pãozinho; pá –
pazinha; mãe – mãezinha; coração – coraçãozinho; pastel – pastelzinho; colher – colherinha ou colherzinha;
igual – igualzinho e assim por diante.
O plural dos diminutivos em zinho e zito é formado acrescentando-se zinhos e zitos ao plural do substantivo
primitivo menos o s:
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Escreveu Suely D`Alessandro, de Florianópolis/SC: "Aprendi com meu professor de português, na época de
preparação para o vestibular, que nunca deveríamos usar as palavras ‘saudade’ e ‘ciúme’ no plural. Como é
bastante comum o uso do plural e não encontro bibliografia que possa me esclarecer esta dúvida, gostaria que
pudessem me ajudar." E também Ester Venturin, de São Paulo, pergunta "se há plural para sentimento".
Sentimentos e disposições de espírito têm plural, sim: saudades, ciúmes, alegrias, felicidades, desgostos.
Palavras como pêsames, parabéns e felicitações, por exemplo, eram originalmente usadas no singular (meu
pêsame, parabém! nossa felicitação a você) mas foram sendo substituídas pela forma plural.
Isso não quer dizer que o singular não exista e não seja usado. Com efeito, os substantivos que exprimem
noções abstratas, vícios e virtudes em geral têm seu emprego no singular: Quanta bondade! Queremos paz e
harmonia. Tenho-lhe afeição. Sinto muita saudade. A felicidade é tudo na vida. Sua alegria é contagiante.
Contudo, é usual dizermos "Desejo-lhe felicidades" ou "Que as alegrias da juventude continuem por toda a
vida", assim com a flexão numérica, exatamente pela idéia de plural, de "momentos de alegria" e de "felicidade
em muitas dimensões".
UM DIA-A-DIA FELIZ
"Dia a dia" é uma locução adverbial, isto é, são três palavras com valor de advérbio, a exprimir uma
circunstância de modo. Pertencendo à classe dos advérbios, a expressão se encontra sempre junto a um verbo,
modificando-o, dando-lhe novo sentido. Locuções adverbiais não são hifenizadas e podem ser substituídas por
outros advérbios - no caso, diariamente e cotidianamente, ou mesmo dia após dia. Exemplos:
Pode-se, entretanto, transformar a locução adverbial em substantivo, caso em que é necessário hifenizá-la, pois
não há substantivo composto formado por nomes soltos; como se sabe, ou se escrevem os radicais juntos ou
ligados por hífen. Como se pode reconhecer quando se está usando um substantivo? Pela anteposição de um
artigo – que na frente de um possessivo pode ser omitido – ou pela sua substituição por um outro substantivo (o
cotidiano, no caso). Exemplos:
QUANDO DA APRESENTAÇÃO
Sandra R. Martins, de Florianópolis/SC, quer saber se é lícito usar "O chefe pediu que todos os funcionários
estivessem presentes quando da apresentação do relatório final".
É válida a expressão, embora se considere um galicismo. Os estudiosos acreditam que seja uma má adaptação
do francês "lors de", que quer dizer "no tempo de, quando", e sua origem remonta ao século XVIII. Então se
começou a dizer "quando foi da invasão francesa" no lugar de "quando foi a invasão francesa", e depois,
abreviadamente, "quando da invasão francesa". Mesmo que possa ser considerada uma "construção incorreta",
ela tem tradição na língua. São exemplos clássicos: "Aristóteles mal teria a barba russa quando foi daquele seu
último namoro" (A. Garret); "...quando foi do terremoto" (Camilo).
SOBRE SER
Estranhável à primeira vista, a construção frasal está perfeita. A preposição sobre, a par do seu sentido usual de
"em/por cima, acima de, em posição superior, relativamente a, acerca de", entre outros menos votados, significa
além de. Mais dois exemplos:
• A interpretação lógica é aquela que, sobre examinar a lei em conexão com as demais, investiga-lhe também
as condições e os fundamentos de sua origem e elaboração.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
A pedido de Paul Getty S. Nascimento, de São Luís/MA, vamos falar do pronome relativo CUJO. Antes, uma
curiosidade: antigamente chegou-se a usar esse termo como pronome interrogativo, por herança do adjetivo
cujus, a, um que existia no latim arcaico: "Cujas sõ estas coroas tã esplandecentes?" Ou: "Cujo filho és?" A
‘tradução’ é: De quem...?
No português moderno, cujo é pronome relativo que se emprega em sentido possessivo. Vale por de quem ou
de que / do qual. É imediatamente seguido de um substantivo ou palavra substantiva, com quem deve
concordar flexionando no feminino (cuja) e no plural (cujos e cujas). Sendo pronome relativo, ele se reporta a
um substantivo mencionado anteriormente.Ou seja, indica uma posse de alguém ou de algo referido antes:
Você pode conferir o entendimento e uso correto do pronome nessas frases fazendo uma leitura de trás para
frente: trata-se de 1) os filhos das mães; 2) a solução do problema; 3) o irmão de Orfeu; 4) ou autores dos 10
livros e 5) a poluição dos oceanos. Em outras palavras, é como se disséssemos: as mães de quem os filhos vão
à guerra, o problema do qual a solução, os livros dos quais os autores etc.
Esquematizando:
-> o pronome cujo deve ter um antecedente e um conseqüente, ambos substantivos e um diferente do outro;
-> deve concordar em gênero e número com o substantivo conseqüente;
-> não admite artigo após si (pois esse pronome contém em si o artigo definido).
:(* Saiu nova edição da revista Cultura Catarina, cuja a tiragem é de mil exemplares. [ocorrência proibida: o
artigo definido o, a, os, as junto com o pronome]
Certo: Saiu nova edição da revista Cultura Catarina, cuja tiragem é de mil exemplares.
CUIDADO ESPECIAL
Observar sempre o uso adequado da preposição antes do pronome relativo, conforme falado na coluna Não
Tropece na Língua nº 9 - Falta da preposição:
Enfim, é pela sofisticação do seu emprego que o pronome cujo é praticamente uma exclusividade da linguagem
culta escrita. Mas vale a pena aprender a usá-lo bem .
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
"Acho que o Lula deveria ser mais democrático e deixar as pessoas expor suas idéias" – frase do cantor Supla
registrada na revista ISTOÉ de 25 de abril/2001. Logo ocorreu a um aluno me perguntar: "Não deveria ser
'exporem' uma vez que se refere a 'pessoas'?"
Resposta: Até poderia, mas não é obrigado. O verbo aí não tem que necessariamente flexionar no plural. Qual a
razão? Vejamos.
Na coluna Não Tropece na Língua nº 49 observamos como funciona o INFINITIVO PESSOAL FLEXIONADO:
com flexão optativa [convidou as crianças para brincar/brincarem no pátio] e obrigatoriedade da flexão
[reformou o pátio para as crianças brincarem à vontade]. Um passo além disso é conhecer e aplicar
corretamente o infinitivo nas frases elaboradas com os verbos ver, ouvir, sentir, fazer, mandar e deixar. Se o
complemento desses verbos for um substantivo, pode-se flexionar ou não o infinitivo; mas se o complemento for
um pronome pessoal oblíquo, é proibida a flexão. Exemplos:
Os verbos ver, ouvir e sentir (e sinônimos) são chamados de sensitivos; fazer, mandar e deixar, de causativos
ou factitivos.
1) Preferentemente, não flexionar quando o infinitivo vem logo depois dos verbos sensitivos e causativos, ou
seja, vem antes do substantivo:
- Francisco Braga demonstrou sua inclinação para a música fabricando instrumentos rústicos de bambu, nos
quais imitava trechos que ouvia executar os seus colegas mais velhos.
2) Quando o infinitivo é um verbo pronominal (com o pronome se), a preferência é pela flexão:
- O fato é que pelo país afora vemos esses hospitais se afundarem em dívidas e mostrarem-se incapazes de se
equipar.
Mas devo repetir: em qualquer circunstância, basta haver um pronome oblíquo para que não se possa pluralizar
ou flexionar o infinitivo:
Nos demais casos, a escolha é pessoal, talvez até uma questão de ouvido:
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Muitos leitores, como Lucia H. H. de Camargo, de São Paulo, têm solicitado esclarecimento sobre a frase do
título, tão comum em anúncios de imobiliárias e particulares. O que todos vemos é vende-se casas, sintaxe
correspondente ao uso espontâneo da língua e de grande eficiência comunicativa. É uma forma aceita
socialmente, mas não gramaticalmente. A gramática normativa recomenda que o verbo aí vá para o plural para
concordar com seu sujeito, que é casas. Não se trataria, pois, de uma questão rigorosa de certo ou errado, mas
de gramática natural e artificial, de adequação ou nível de formalidade.
O uso popular é este: "conserta-se relógios, aluga-se quartos, faz-se chaves, vende-se lotes, forra-se botões,
pinta-se muros, lava-se roupas" – isso porque as pessoas sentem a construção como ativa, com um sujeito
ativo (alguém faz, a gente faz), e não com um sujeito passivo. Neste caso, para se entender que o sujeito de
vender é casas ou lotes, é preciso pensar a frase na voz passiva com auxiliar: casas são vendidas, botões são
forrados, quartos são alugados, roupas são lavadas...
Entretanto, embora essas formas no singular já tenham sido inúmeras vezes documentadas em textos de bons
autores, exige a gramática normativa (e os vestibulares e outros concursos também) o verbo no plural. É
"sintaxe mais conceituada junto a pessoas de prestígio social e cultural", dizia Celso Luft. Assim sendo, vamos
pluralizar o verbo em frases deste tipo:
• Veja como se armam estratégias, como através da formalidade escondem-se afetos e desejos.
• Evitaram-se, dessa maneira, as injustiças que por muitos anos se fizeram presentes.
• No Brasil, na década passada, elaboraram-se muitas pesquisas na área de Direito Ambiental, mas colheram-
se poucos resultados.
• Não se discutem os sonhos e as alegrias de uma jovem ou o quanto ela se realiza como ser humano, mas se
debatem os centímetros a mais ou a menos em seus quadris.
A teoria estabelecida, pois, é de que "verbos transitivos diretos com se estão na voz passiva" [vende-se = é
vendido]. São transitivos diretos aqueles verbos que se ligam diretamente ao seu complemento, ou seja, sem a
intermediação de uma preposição como de, a, para, com, e somente eles podem ser transformados em voz
passiva, caso em que seu complemento – o objeto direto – se torna o sujeito da passiva construída com o verbo
auxiliar ser + particípio, e o seu sujeito se torna o agente da passiva. Observe os exemplos:
• VOZ ATIVA
Quando não é necessário explicitar o agente [em itálico, nas frases acima], há uma segunda maneira de indicar
a voz passiva: por meio do pronome se, conhecido então por "partícula apassivadora". Esta passiva se constrói
apenas com o verbo na 3ª pessoa – do singular ou do plural, conforme o substantivo/sujeito que o acompanha:
E como reconhecer aqueles verbos que também são usados com o pronome se mas não podem ser
apassivados? Isso veremos na próxima semana.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Indeterminação do sujeito
Vejamos, na seqüência de artigos, os casos em que o verbo acompanhado do pronome 'se' não configura voz
passiva e, portanto, não se pluraliza.
Isso acontece com os verbos (1) intransitivos; (2) transitivos indiretos e (3) verbos de ligação, pois eles, não
tendo um objeto direto, não admitem a construção passiva. Neste caso o sujeito é indeterminado, representado
então pelo pronome se, que se chama "índice de indeterminação do sujeito". E o verbo fica sempre na 3ª
pessoa do singular, impessoal, pois aí ele não tem com quem concordar.
2) TRANSITIVOS INDIRETOS: são os verbos que requerem um complemento regido de preposição. Então, ao
ver o complemento/substantivo do verbo com a partícula 'se' acompanhada de uma preposição, você já sabe
que não deve pluralizar o verbo mesmo que esse substantivo esteja no plural, justamente porque aí ele não é o
sujeito do verbo, mas sim seu objeto indireto:
3) Também com os verbos de ligação ser e estar o pronome 'se' marca a indeterminação do sujeito:
Para solidificar o aprendizado e aguçar a percepção dos verbos preposicionados, observemos mais algumas
frases construídas com verbos transitivos indiretos e complemento/substantivo no plural cujo sujeito é
indeterminado:
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Dica 138: Trata-se de casos raros - Voz passiva com auxiliar e infinitivo
Origem da dica: Site Língua Brasil: http://www.linguabrasil.com.br
Por que se diz "Trata-se de casos raros" mas ao mesmo tempo se pluraliza o verbo numa frase semelhante:
"Tratam-se casos raros de câncer naquele hospital"? Qual a diferença?
Para resumir os dois artigos anteriores: na 1ª frase o verbo tratar está sendo usado como transitivo indireto, e
na 2ª como transitivo direto, o que lhe permite ser apassivado.
Esses verbos que têm dupla transitividade podem ser encontrados em frases estruturalmente parecidas mas
sintaticamente diferentes justamente por causa da preposição. Podemos verificar que, ao ser usado um
complemento/substantivo no plural, a construção da frase varia de singular para plural conforme a transitividade
ou regência do verbo:
Atendeu-se às reivindicações.
Atenderam-se as reivindicações.
É certo que todas essas frases podem ser desdobradas na voz passiva analítica. Por exemplo: Os fatos devem
ser analisados, os políticos costumam ser criticados, carnes e frios podem ser comprados, poderiam ser dadas
condições.
Esse desdobramento mostra que há um sujeito no plural com o qual deveria concordar o verbo. Contudo,
também se pode entender que o sujeito é o infinitivo, como se fosse assim a frase: Criticar os políticos costuma-
se/é costume; analisar os fatos se deve/é preciso; impor limites ao coração não se pode/não é possível. Isso
explicaria a aceitabilidade da construção no singular, aliás muitíssimo usada, por soar melhor.
A maior parte dos livros de gramática foge dessa particularidade. Domingos Paschoal Cegalla, no entanto, ao
tratar da concordância do verbo passivo, diz textualmente: "Nas locuções verbais formadas com os verbos
auxiliares poder, dever e costumar, a língua permite usar o verbo auxiliar no plural ou no singular,
indiferentemente" (Minigramática da Língua Portuguesa, Cia. Editora Nacional, 1996, p.388 e Novíssima
Gramática da Língua Portuguesa, idem, 1985, p.388).
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Eduardo, militar de Brasília, pergunta: "Devo escrever o sargento Marta ou a sargento Marta?" E J.C.A.C., de
Porto Velho/RO, quer saber se "é correto dizer que o feminino de capitão é capitoa?"
Primeiramente, devo esclarecer que existem na língua portuguesa as formas femininas soldada, sargenta,
coronela, capitã, generala. No entanto, como as Forças Armadas resolveram não adotá-las, preferindo
empregar o nome do posto tanto para os homens como para as mulheres (até porque alguns ficariam
estranhos, como ‘a tenenta’, e outros nem feminino teriam, como ‘major’ e ‘cabo’), a única diferenciação fica
sendo o artigo:
Essa colocação do artigo no feminino é tão mais importante quando pode ocorrer menção a nome próprio
usado por ambos os sexos, como Darci, Enéas, Eli e Adair: a soldado Darci Lira, o soldado Darci Lira.
Fora da hierarquia militar, no caso particular de capitão, pode-se dizer que é correto – existe esse registro em
alguns dicionários – falar em "capitoa", mas é preferível usar o feminino capitã, palavra aliás bastante em voga,
pois designa também o "chefe; a pessoa que comanda, que dirige" ou "atleta que representa a equipe":
Depois da série de artigos sobre o uso do pronome se como partícula apassivadora ou índice de
indeterminação do sujeito, ainda ficou um caso que convém mencionar, pois implica o uso de um verbo com
"se" mais um infinitivo: procura-se estudar um outro idioma, busca-se domesticar a gata, pretende-se alugar
uma casa na praia, quer-se fazer o melhor possível.
Tente-se desdobrar essas frases como se faz em Alugam-se casas = Casas são alugadas e se verá que esse
desdobramento não é possível.
Por exemplo: "a gata busca ser domesticada"? De jeito nenhum! Isso significa que domesticar (o infinitivo) é o
sujeito (domesticar busca-se = buscamos). Neste caso, o verbo usado pronominalmente fica no singular,
mesmo que seu complemento/substantivo esteja no plural: procura-se estudar outros idiomas, busca-se
domesticar os sentidos, pretende-se alugar casas na praia, quer-se fazer planos possíveis.
Nessa categoria de análise se enquadram os "verbos que indicam intenção, declaração de vontade" (Napoleão
Mendes de Almeida, Gramática Histórica da Língua Portuguesa, 1983, § 404).
Outros exemplos:
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
No Brasil é grande a preocupação com a crase, mas poucas pessoas se dão conta de que conhecer bem o
artigo é imprescindível para se fazer bom uso do acento indicativo de crase. O artigo é a palavra que introduz o
substantivo, indicando-lhe o gênero (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
O artigo definido – o, a, os, as – individualiza, determina o substantivo de modo particular e preciso. Designa um
ser já conhecido do leitor ou ouvinte. Exemplos:
• O violino está desafinado. [referência a um instrumento específico, seja o meu ou o seu, enfim aquele já
mencionado]
• A lâmpada queimou. [a apontada ou a única no local]
• Falei com os meninos. [meninos já conhecidos do falante]
• Vimos as estrelas no telescópio. [as estrelas de que falávamos antes]
O artigo definido também é empregado para indicar a espécie inteira; isto é, usa-se o singular com referência à
pluralidade dos seres:
O artigo indefinido – um, uma, uns, umas – determina o substantivo de modo impreciso, indicando que se trata
de simples representante de uma dada espécie. Designa um ser ao qual não se fez menção anterior. Exemplos:
Por questão de estilo, evita-se a utilização freqüente de UM, UMA. O abuso do artigo indefinido torna a frase
pesada e deselegante. Observe nos períodos abaixo como certos artigos são desnecessários:
CASOS ESPECÍFICOS
Certo. Na 1ª frase está subentendida a indeterminação: umas/algumas técnicas; na 2ª, entende-se que sejam
todas as técnicas existentes no momento.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Vimos, na semana anterior, as regras gerais de emprego dos artigos definidos e indefinidos. Há, no entanto,
muito mais: o uso é variado e amplo. Normalmente nos guiamos pela intuição, mas é possível estabelecer
algumas normas que presidem o uso ou a omissão do artigo. Vejamos caso a caso.
"De época" é expressão usada para designar um traje, uma fantasia característica do passado. Com o artigo
[da época], seríamos obrigados a determinar qual.
• D. Pedro II, imperador do Brasil, dava longos passeios pelos jardins do Palácio.
Dir-se-ia o imperador se D. Pedro II tivesse sido o único e não um imperador do Brasil.
• Sua Alteza casou com Dona Teresa Cristina. / Espero não ter interrompido V. Exa.
Não se usa artigo antes de pronomes pessoais e de tratamento.
• Falei com a srta. Ana, sua secretária, antes de vir procurá-la, senhora deputada.
Dentre as expressões de tratamento, senhor, senhora e senhorita são as únicas que admitem artigo, mas não
quando vocativo, ou seja, quando nos dirigimos à própria pessoa.
• Voltou para casa mais tarde do que de hábito./ Voltou para a casa dos pais depois da separação.
O artigo é omitido antes da palavra casa quando designa residência, lar. Mas não quando particularizada ou
usada na acepção de prédio, estabelecimento.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
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Pedir
– A professora pediu silêncio aos alunos.
- Ela pediu que fizéssemos silêncio.
- A professora pediu à diretora para se ausentar mais cedo.
- Pedi para o chefe assinar os papéis. [informal]
- Pedi que o chefe assinasse os papéis. [formal]
Numa frase como "A professora pediu para que fizéssemos silêncio" a preposição para não se justifica; ela só
deve ser usada com o verbo pedir quando está implícita a palavra permissão, licença. Portanto, "Ela não gostou
quando lhe pedi para sair da sala" significa "quando lhe pedi (permissão) para (eu) sair". Se fosse para ela sair,
a frase seria diferente: "quando lhe pedi que (ela) saísse da sala". Embora na linguagem coloquial se encontre a
construção "Ela pediu para eu sair", a forma gramatical requer o uso do subjuntivo: "Ela pediu que eu saísse".
Preferir
– Preferimos os lugares mais à frente.
- O atleta disse que sempre preferiu sauna seca a banho turco.
- Acho que prefiro sair a sentar tão longe.
- Prefiro chá a café.
O verbo preferir repele qualquer expressão que indique intensidade, comomais, muito, antes, mil vezes, bem
como a colocação de do que depois do verbo. Por analogia com a construção "Gosto mais de tênis do que de
futebol", na linguagem familiar se ouve
* Prefiro jogar tênis do que jogar vôlei, mas essa é uma regência condenável do ponto de vista gramatical.
• Você tem razão em não dar confiança ao rapaz, pois ele só disse mentiras.
Não se usa o artigo antes de substantivos abstratos, em expressões que não contêm nenhuma determinação.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
SOBROU UM MILHÃO
Talvez tão difícil quanto conter os gastos para que sobre alguma coisa seja fazer a concordância verbal com os
números. Por isso Moacyr Medeiros, de São Paulo, pergunta: É correto dizer: "sobrou 1,86 milhão" (no
singular)? Igualmente, é correta a frase: "foi processado 1,284 milhão de declarações" (também no singular)?
Comecemos pelo numeral 1, o único número que é singular: 1 caiu / 2, 3, 10 caíram; sobrou um /sobraram dois,
três etc. Já o numeral milhão comporta-se como substantivo masculino. Uma vez que na pergunta acima ele
está se referindo a apenas um, o correto é deixar o verbo no singular:
Se aí acrescentarmos um substantivo para especificar a quantidade, poderemos então optar pela concordância
ou com o número (1) ou com o no nome (2). Mas quando o verbo está antes do número, recomenda-se fazer a
concordância com o número. Assim:
• Estão sendo colocados 20 bilhões de ações ordinárias no mercado de balcão, ao preço de R$1,00 por lote de
1.000 ações.
• Estima-se que um milhão e trezentas mil pessoas foram atingidas pela seca.
• Para se ter uma idéia, foi feito um milhão de novas contratações somente no período de 1980 a 1984 no setor
público.
Já com a quantidade de mil, a concordância verbal e nominal é feita com o nome que o acompanha. Exemplos:
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
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CRASE E VERBOS
Entende-se por crase a fusão de vogais idênticas. Em Gramática Descritiva se utiliza o termo para designar a
contração da preposição A com o artigo definido A /AS e com AQUILO, AQUELE e flexões, indicada pelo acento
grave: à/às, àquele, àquilo.
Como não é possível nos guiarmos pelo ouvido, pois tanto a (preposição, artigo ou pronome pessoal) quanto há
ou à têm o mesmo som, a confusão está feita – para nós que falamos português, naturalmente. Das línguas
neolatinas, a nossa é a única em que existe a assim denominada crase, pois o nosso artigo feminino perdeu o l
do artigo la que o espanhol, o francês e o italiano conservaram do latim vulgar illa. E foi assim que ficamos com
a mesma letra para designar a preposição e o artigo.
O uso da crase ou do a craseado (chamemos desse modo, para facilitar) é de uso relativamente recente. Assim
como os artigos, inexistentes no latim clássico, se originaram da necessidade de determinação e clareza na
enunciação do pensamento, as preposições, de uso restrito em latim, se ampliaram no seu emprego e
significação também por questões de clareza. Uma curiosidade: até meados do século XX não existia o acento
grave. "É essa contração de vozes semelhantes notada pelo acento agudo: áquelle por a aquelle; á mão por a a
mão" (E. C. Ribeiro, Serões Gramaticaes, 1890:87).
CRASE E VERBOS
O universo dos verbos que admitem à ou às após si é relativamente restrito, pois compreende apenas os
verbos transitivos indiretos e, entre estes, somente aqueles que exigem complemento regido da preposição a.
Nas frases abaixo, de construção semelhante, vamos perceber o mesmo verbo seguido de complemento com e
sem crase (neste último caso, trata-se do objeto direto ou do sujeito da oração):
• Solicito acrescentar à lista de livros estes títulos: Mila 18, Os Ratos e Mad Maria.
Solicito acrescentar a lista de livros ao pacote que seguirá para a livraria.
Um bom artifício para confirmar se em determinada circunstância o verbo pede o à craseado é trocar seu
complemento feminino por um masculino, de preferência sinônimos. Onde se usa ao, deve-se usar à, pois um à
(a a) é o feminino de um ao (a o). Exemplos:
- Subiram à primeira plataforma / ao primeiro piso e foram diretamente à sala / ao gabinete do diretor.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
CRASE E NOMES
Como já foi visto, a crase envolve, além de um substantivo feminino determinado, a regência da preposição a.
Não só verbos, mas também nomes – substantivos, adjetivos e advérbios – regem ou se servem da preposição
a para se relacionar com os substantivos ou outros termos regidos.
Por exemplo: tem horror a lugares fechados; instrumento útil a tanta gente; paralelamente a isso... Se depois
desses nomes intermediados pela preposição a for colocado um substantivo feminino determinado, teremos a
a, o que implica uma crase e o uso do acento indicativo dessa crase/fusão. Nesses casos, valer-se do artifício
da troca do substantivo feminino pelo masculino é muito bom para tirar a prova-dos-noves:
É possível fazer a associação de nomes a verbos. Há alguns nomes que apresentam o mesmo regime dos
verbos de que derivam. É o caso, por exemplo, de obedecer, equivaler, referir-se e vincular-se:
• Obedeça à sinalização. / Devemos obediência às leis de trânsito. / É uma criança obediente à sua mãe. Agiu
obedientemente à legislação em vigor.
• No seu discurso, o presidente referiu-se à má distribuição de renda. / No seu discurso, fez referência à má
gestão das empresas.
• O diretor vinculou-se a uma associação de benfeitores do esporte. / A associação está vinculada às empresas
do setor metalmecânico.
Grande parte dos nomes que exigem a preposição a, contudo, derivam de verbos com diferente regência. Em
geral, verbos transitivos diretos:
• Vou apoiar a formação de um novo grupo de trabalho. / Vou dar apoio à formação de um novo grupo de
trabalho.
• Salários baixos não incentivam a eficiência e o desempenho. / Salários baixos não são incentivo à eficiência e
ao desempenho.
• Eles amam a pátria em que nasceram. / Eles têm amor à pátria em que nasceram.
Para finalizar e variar um pouco, proponho ao leitor preencher as lacunas abaixo com à(s) e ao(s), conforme o
caso:
Confira as RESPOSTAS CORRETAS: 1. acesso à ponte/ao túnel 2. parecer favorável à cobrança /ao
pagamento 3. em cumprimento à alínea/ao item 4. destinadas ao restauro/à recuperação 5. ligados à
nobreza/ao clero 6. filiação ao sindicato/à associação 7. restrita aos supermercados / às bancas de revistas 8.
sanção às obras /aos artefatos 9. amor ao belo/à arte 10. sujeitas à aprovação/ao consentimento 11. adesão à
greve/ao motim 12. um cerco aos contrabandos/às fraudes 13. tendência geral à loucura/ao desvario 14. fuga
aos deveres/às responsabilidades sociais 15. adeus ao velho casarão / à velha escola.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Jaime Ramos, de Rio do Sul/SC, sugere que a coluna trate do uso da crase com as locuções prepositivas junto
a, relativamente a, quanto a etc. A locução prepositiva é composta de dois ou mais vocábulos, sendo o último
deles uma preposição simples [ex.: ao lado de, de acordo com, frente a]. Sua função é a mesma da preposição.
Só nos interessam agora as locuções que acabam na preposição a, pois estas exigem o acento indicativo de
crase ou a craseado quando se ligam a um substantivo feminino determinado.
Como são relativamente poucas as locuções que se enquadram nesta categoria, pode-se memorizá-las para
evitar os condenáveis erros de crase:
4) Em relação à solicitação de emprego que V. Sa. nos fez, nada podemos adiantar.
6) Em atenção à reclamação formulada por sua empresa, faremos uma revisão no produto.
16) O governador logrou êxito junto às autoridades federais para que fossem liberadas outras linhas de crédito.
O uso de junto a em frases desse tipo (e outras como: solicitar providências junto a,
conseguir/obter/acertar/fazer pedidos junto a alguém) é condenado por puristas e ainda não se registra em
dicionários. Contudo, não há como negar a sua freqüência em artigos de jornais, revistas e correspondência em
geral. Estritamente falando, junto a significa somente “perto, próximo, chegado; juntamente; adido”.
17) Os produtores de uva enfrentaram uma queda de produção de 70% devido à ocorrência de geadas em
outubro.
Devo advertir que o uso de “devido a” não tem o “respaldo dos autores cuidadosos”, no dizer do professor A. da
Gama Kury, porque a locução surgiu da “masculinização” do particípio do verbo dever, que concordava
normalmente com o substantivo referente: “ausência devida a problemas pessoais; problemas devidos ao
excesso de chuvas”.
Já a opinião de Celso Luft é a seguinte: “Os puristas não gostam desta locução e acham que devido deve ser
usado apenas como particípio: o acidente foi devido (= deveu-se) a um descuido. O uso corrente da locução,
claro, desautoriza os puristas”.
Em todo caso, observe-se a concordância quando devido é realmente particípio (exemplo 1, abaixo) e atente-se
sempre para a colocação do acento indicativo de crase diante de substantivo feminino, dada a presença da
preposição a nos dois casos:
DADO/DADA
Que não se faça confusão com a locução vista acima: dada, sim, é um particípio; não rege preposição, portanto
não forma uma locução, mas concorda com o substantivo seqüente: Dado o mau tempo / dados os raios e
trovões / dada a chuva / dadas as condições de tempo, não fomos à praia.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
TIRA-DÚVIDAS DE VOCABULÁRIO
• A PÉ, DE PÉ, EM PÉ
- Como estava a pé, pedi ao José uma carona. Ele aproveitou para me dizer que o nosso jogo de sábado está
de pé. Acabei pegando um ônibus lotado e fiz em pé todo o trajeto. Acho que teria sido preferível vir a pé.
Estar a pé = estar sem carro, “desmotorizado”. Ir (vir, viajar etc.) a pé = deslocar-se sem qualquer tipo de
veículo.
Estar em pé = estar ereto sobre seus próprios pés, sem ser sentado ou deitado. Nesta acepção, também se diz
de pé: Permaneci de pé / em pé a missa toda.
- Os vizinhos saíram de casa há cerca de uma hora. Não devem demorar, pois só foram ao sítio, a cerca de 10
km daqui.
Cerca de significa “aproximadamente”. Portanto, no primeiro caso o sentido é de tempo transcorrido: “faz mais
ou menos 1 h”. A cerca de marca distância aproximada.
- Sempre tenho dúvidas acerca [ = sobre] da sinceridade de suas palavras, principalmente quando repete que
me ama “há cerca” de dez anos.
• ALUGUEL, ALUGUER
- O pagamento dos aluguéis deve ser feito em nosso escritório ou em bancos autorizados.
Ambos corretos: aluguel/aluguéis é o termo usual no Brasil; aluguer/alugueres é a forma usada comumente em
Portugal.
• A FAVOR, EM FAVOR
São expressões equivalentes, cujo uso varia muito em razão do antecedente: vento a favor, nem contra nem a
favor; trabalhei em seu favor, fiz um pedido em favor do Tiago.
• ACREDITADOS, CREDENCIADOS
- Ele mostrou desenvoltura, como os outros jornalistas credenciados para cobrir o evento.
- Foi para os 1.000 jornalistas estrangeiros acreditados que o governo polonês reservou o melhor da festa.
Um jornalista, um embaixador, um diplomata pode ser credenciado porque recebeu credenciais, ou acreditado
porque recebeu poderes para representar a nação no exterior. O uso de 'acreditar' nessa acepção parece
restrito aos conhecedores do ramo. O verbo 'credenciar' também tem o significado de "ter habilidade, crédito,
merecimento": Suas qualidades o credenciam ao cargo a que aspira.
• ASSUNÇÃO, ASCENSÃO
- Desejamos transmitir nossos parabéns por sua assunção no cargo de prefeito desse próspero município.
- Dizem as más línguas que nada explica tão rápida ascensão na vida.
- Agradecemos a cessão dos seus estúdios, onde esta gravação foi realizada.
- Depois de passar pela seção de eletrodomésticos dirigiu-se à seção de esportes da mesma loja de
departamentos.
- Depois de uma cansativa sessão legislativa, só mesmo uma boa sessão de cinema.
Cessão, o ato de ceder/emprestar, tem por sinônimo cedência. Forma aparentada: concessão. Seção e secção
são formas paralelas que significam divisão, parte de um todo, corte; subdivisão. O verbo é mais usado com
duplo c: seccionar (= secionar) e também seccional (ou secional). Sessão é reunião ou espaço de tempo em
que dura certo tipo de evento ou trabalho.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Em vista do que dissemos nesta coluna a respeito da locução “devido a” faz duas semanas, a leitora Dulce
Maria, de Florianópolis/SC, pergunta como se pode substituir essa expressão.
Antes de mais nada, devo assinalar que não é “proibido” utilizar DEVIDO A, mas sim – como apontam alguns
gramáticos – é recomendável evitar seu uso na linguagem culta. No mínimo, não se deve abusar da locução.
Por isso, apresento abaixo algumas alternativas, que também poderão ser úteis aos leitores que não gostam de
ser repetitivos ao longo do texto:
• “Não joguei bem por causa de uma lesão no tornozelo”, disse o atleta.
Por fim, uma frase da revista ISTOÉ nº 1657: “Vítima de previsíveis trocadilhos em razão de seu sobrenome
soar em inglês como a palavra limão, o ator americano Jack Lemmon, que morreu na quarta-feira 27, aos 76
anos, devido a complicações decorrentes de câncer, não tinha nada de azedo” [grifei].
De qualquer modo, para quem gosta da locução, é um conforto saber que ela já está dicionarizada desde 1957.
Consta lá no Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa, de Laudelino Freire, v. II, pág. 1925,
embora com a ressalva:
DEVIDO A, loc. prep. Por causa de, em razão de, em virtude de: 'Humilde e pronta, mais devido ao terror que à
lealdade, ao serviço acorria' (Porto Alegre). Obs.: "O uso, porém, do particípio devido, em frases como: 'Devido
ao mau tempo, adiou-se a festa', – 'Devido à epidemia reinante, ficam suspensas as aulas desta escola' – e
outras iguais que muito amiúde lemos e ouvimos, é coisa recente. O que empregam os bons escritores, em vez
destes devidos das frases modernas, é por causa de, em razão de, em virtude de, por obra de, em
conseqüência de, graças a. E às vezes a só partícula 'por' basta a remediar a incorreção" (Mário Barreto).
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
O TRAVESSÃO
Dos sinais de pontuação, o travessão é uma dos mais requisitados atualmente, pelo fato de proporcionar mais
clareza do que as vírgulas nas intercalações longas e maior ênfase nos destaques. Travessões substituem e
são substituíveis por dois-pontos, parênteses ou duas vírgulas, dependendo do caso. Orientações de uso:
I - Emprega-se um só travessão:
• para ligar grupos de palavras que não formem um substantivo composto, do tipo “no eixo São Paulo”, “no
sentido norte–sul” ;Rio
• para destacar (no final do período) uma explicação, esclarecimento, síntese, conseqüência ou conclusão do
que foi enunciado:
◦ Durante trÛs semanas nÒo mostraram indÝcios da doenþa, mas agora estÒo infectados – sinal de que a
vacina nÒo sensibilizou o suficiente o sistema imunol¾gico.
◦ Vive tempos pouco felizes a Justiþa brasileira – menos por responsabilidade de quem aplica as leis, mais por
conta daqueles que as formulam.
◦ Dialogar com ele Ú como jogar uma bola contra a parede – ela volta contra a gente.
Observe que o travessÒo tem a virtude da sÝntese, pois pode substituir express§es explicativas como isto é, ou
seja e similares. Veja, por exemplo, como fica a última frase sem o travessão: Precisamos definir as
responsabilidades individuais, as coletivas e as responsabilidades das agências formadoras, quais sejam, as
instituições educacionais.
• para isolar orações intercaladas, assinalar (no meio do período) uma reflexão ou esclarecimento, um
comentário à margem, ou para destacar, enfaticamente, uma palavra ou frase num contexto:
◦ As igrejas florentinas, inclusive a catedral – duomo – Santa Maria del Fiore, ecoam alguma coisa de San
Miniato, o que é muito natural, porque não houve arquiteto entre os grandes que fizeram Florença – Arnolfo di
Cambio, Brunelleschi, Alberti, Michelozzo – que conseguisse escapar à forte influência daquela obra-prima.
Quando a interrupção é muito longa, dentro da qual já existam vírgulas, prefere-se usar o travessão duplo. A
frase acima é exemplo disso. Também numa enumeração explicativa os travessões darão a clareza que as
vírgulas não propiciam, como se constata abaixo:
. O movimento geral das disciplinas de comunicação – informática, marketing, design, publicidade – apoderou-
se da palavra conceito e a transformou em mercadoria.
. É preciso que os três elos dessa corrente – governo, funcionários e população – estejam unidos na campanha.
O travessão pode aparecer antes da vírgula, sem eliminá-la. Isso ocorre quando a intercalação com travessão
duplo é colocada dentro de uma intercalação entre vírgulas [ex. 1] ou quando a vírgula é usada para separar
uma oração subordinada [ex. 2]. Observemos a mesma frase com parênteses e com travessões:
1) Temos no Tesouro, durante os meses de verão (os meses de safra), valores mais elevados.
Temos no Tesouro, durante os meses de verão – os meses de safra –, valores mais elevados.
2) Junto com o teatro que resgata a linguagem erudita brasileira (o do Movimento Armorial de Ariano
Suassuna), nossa dramaturgia se sustenta desse modo.
Junto com o teatro que resgata a linguagem erudita brasileira – o do Movimento Armorial de Ariano Suassuna –,
nossa dramaturgia se sustenta desse modo.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;
Prezados Colegas,
Na semana que vem disponibilizarei, para download, um arquivo com o consolidado das dicas 101 a 150. Neste
mesmo endereço, a ser informado na Dica 151, estarão disponíveis os consolidados com as dicas de 1 a 50 e
de 51 a 100.
Tendo lido os Casos Especiais no livro “Só Palavras Compostas – manual de consulta e auto-aprendizagem”,
em que defendo a não-hifenização de DIRETOR GERAL, o leitor florianopolitano Márcio Schiefler Fontes
insiste: “Como devo me portar em relação à questão de ‘Procurador-Geral’, ‘Diretor-Geral’ etc. Uso hífen ou
não?”
Em primeiro lugar, o hífen aí não se justifica, porque se trata de uma seqüência de substantivo (diretor) e
adjetivo (geral) que não formam um substantivo composto, um novo vocábulo, com novo significado.
Para que se forme um substantivo composto – e conseqüentemente se necessite do hífen – com a seqüência
de substantivo + adjetivo ou adjetivo + substantivo é preciso que o adjetivo perca seu sentido literal, passando
os dois termos a transmitir um novo conceito – aí então se configura uma outra palavra, a palavra composta.
Servem como exemplo: cachorro quente ≠ cachorro-quente; mesa redonda ≠ mesa-redonda; onça pintada ≠
onça-pintada; boa fé ≠ boa-fé.
Quando o adjetivo não adquire novo status nem transmite idéia diferente, portanto, não há razão para usar o
hífen entre ele e o substantivo. É por isso que não são hifenizados: diretor administrativo, diretor adjunto, diretor
executivo, gerente econômico, gerente financeiro, auxiliar técnico, assessor especial, secretária executiva,
secretário geral etc. Não é 'geral' um simples adjetivo como adjunto, financeiro, administrativo, técnico? Neste
caso, por que só os cargos que utilizam o termo geral deveriam ser hifenizados? Afinal, 'geral' aí continua a
significar "geral, abrangente, global, que compreende um todo".
A última edição do “Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa” (1999), da Academia Brasileira de
Letras, não registra diretor-geral, direção-geral e nem secretário-geral ou consultor/procurador-geral. Só abre a
guarda para cônsul-geral. No Dicionário Aurélio constam apenas cônsul-geral e secretário-geral, sabe-se lá por
quê.
E como o Manual de Redação da Presidência da República, editado em 1991, chancela o uso de hífen –
embora ilogicamente – “nas palavras compostas em que o adjetivo geral é acoplado a substantivo que indica
função, lugar de trabalho ou órgão” (p. 96), o que se pode fazer é manter o hífen nos documentos oficiais
quando se está tratando dos tais cargos ou órgãos cuja lei de criação tenha assim estabelecido. No mais,
suprima-se o hífen: Inspetoria Geral, Procuradoria Geral, Corregedoria Geral, diretora geral, consultor geral etc.
Por quê?
Porque aí temos aí uma formação de substantivo + substantivo. É como se fossem “dois em um” – tomam-se
dois substantivos para formar um novo. Nessa composição pode até entrar uma preposição, pois o que importa
é que dois substantivos estão se unindo para formar um terceiro substantivo.
INICIAL MINÚSCULA
Sabe-se que os nomes próprios devem ser grafados com a inicial maiúscula. Entretanto, quando eles fazem
parte de um substantivo composto, perdem essa marca, sendo então escritos com a inicial minúscula, como os
demais termos que formam o vocábulo.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros "Só Vírgula" e "Só Palavras Compostas", é diretora do
Instituto Euclides da Cunha, www.linguabrasil.com.br ;