Sei sulla pagina 1di 1354

Giovanni Seabra

(Organizador)

Educação ambiental:
ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos
naturais

Ituiutaba, MG

2017
© Giovanni Seabra (Org.), 2017.
Arte Gráfica e editoração: Alex David Silva de Assis, Claudia Neu, Gabriel de Paiva Cavalcante,
Laciene Karoline Santos de França, Laysa Borba e Silva, Loester Figueirôa de França Filho e Maria
Imaculada de Andrade Morais.
Editor: Anderson Pereira Portuguez
Arte da capa: Gabriel de Paiva Cavalcante

Contatos:
www.cnea.com
ambiental.gs@gmail.com

Editora: Barlavento
Prefixo editorial: 68066
Braço editorial da Sociedade Cultural e Religiosa Ilé Asé Babá Olorigbin.
CNPJ: 19614993000110
Caixa postal nº 9. CEP 38.300-970, Centro, Ituiutaba, MG.

Conselho Editorial:
Mical de Melo Marcelino (Editor-chefe)
Anderson Pereira Potuguez (Editor da Obra)
Antônio de Oliveira Junior
Claudia Neu
Giovanni de Farias Seabra
Hélio Carlos Miranda de Oliveira
Leonor Franco de Araújo
Maria Izabel de Carvalho Pereira
Jean Carlos Vieira Santos

Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais /


Giovanni Seabra (Organizador). Ituiutaba: Barlavento, 2017. 1.354p.

ISBN: 978-85-68066-54-6

1. Educação Ambiental; 2. Sustentabilidade; 3. Recursos Naturais


I. SEABRA, Giovanni

Os conteúdos a formatação de referências e as opiniões externadas nesta obra são de


responsabilidade exclusiva dos autores de cada texto.

Todos os direitos de publicação e divulgação em língua portuguesa estão reservados à Editora


Barlavento e aos organizadores da obra.
APRESENTAÇÃO
Educação Ambiental - Ecopedagogia e Sustentabilidade dos Recursos Naturais

Água, Terra, Fogo e Ar são os pilares de sustentação do V Congresso Nacional de Educação


Ambiental e VII Encontro Nordestino de Biogeografia, realizados, simultaneamente, no período de
9 a 12 de outubro de 2017, na cidade de João Pessoa, estado da Paraíba, Brasil.
Apoiados no tema geral Os quatro elementos da natureza na sustentabilidade dos biomas
brasileiros, os eventos reuniram 800 congressistas, cujos trabalhos apresentados foram publicados
em cinco livros, com distintos temas versando sobre a sociedade e o meio ambiente.
Os quatro elementos fazem parte e sustentam a vida no Planeta desde a sua origem. A água
mantém e revigora a vida, garantindo aos seres crescimento, regeneração, reprodução e perpetuação
das espécies. A terra é o lastro da geodiversidade e suporte da biosfera, abrangendo as terras
continentais e insulares, o solo, o subsolo e o fundo dos mares. O fogo é a fonte de energia criadora
da Terra, do Sol, das estrelas e de tudo o que existe no Universo; é responsável pela germinação das
plantas e o suprimento alimentar do mundo animal. O ar oxigena o espaço vital renovando os
lugares e perpetuando a biodiversidade.
Distintas civilizações e grupos sociais cultuam os quatro elementos como base de equilíbrio
do ser. O elemento Água está associado à bioquímica, ás emoções e os sentimentos; o elemento
Terra oferece ao corpo a matéria composta de substâncias minerais; o elemento Fogo governa a
energia, a intuição e o poder; o elemento Ar é condutor das energias sutis que elevam o ser humano
à esfera espiritual.
As mudanças ambientais globais e seus reflexos nos biomas terrestres e oceânicos exigem
novos paradigmas para o uso dos recursos naturais, baseados no desenvolvimento e uso de novas
matrizes energéticas movidas a energia limpa, bem como a disseminação e fortalecimento da
Educação Ambiental no seio familiar, nas escolas, nas empresas, no campo e na sociedade como um
todo. Os capítulos deste livro são registros de experiências exitosas através do desenvolvimento e
aplicação de projetos, programas e ações, sobretudo envolvendo grupos comunitários e as escolas.

Giovanni Seabra
Sumário
Biotecnologia e Fontes Alternativas de Energia.....................................................................14
PRODUÇÃO COMERCIAL DE CLONES DE CAJUEIRO NO SEMIÁRIDO DO ESTADO DO
PIAUÍ ............................................................................................................................................. 15

FENOLOGIA E PRODUTIVIDADE DO MILHO SOB ESTRESSE HÍDRICO ........................ 23

EFEITO DO ESTRESSE HÍDRICO NA GERMINAÇÃO E VIGOR DE SEMENTES DE


DALBERGIA NIGRA (VELL.) FR. ALL. EX BENTH ............................................................... 35

AVALIAÇÃO DE CULTIVARES DE GIRASSOL POR MEIO DE TESTES DE VIGOR ....... 45

TRATAMENTOS PRÉ-GERMINATIVOS E SUBSTRATOS NO CRESCIMENTO DE


MUDAS DE TAMARINDO ......................................................................................................... 57

QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE Piptadenia moniliformis Benth. EM


FUNÇÃO DA LUZ E TEMPERATURA ...................................................................................... 66

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL TÓXICO DAS FOLHAS DO JUAZEIRO (Ziziphus joazeiro


Mart.) PARA ABELHAS Apis mellifera L. .................................................................................. 76

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO INICIAL DE JUCÁ (Libidibia ferrea) EM FUNÇÃO DO


COMPOSTO ORGÂNICO DE MACRÓFITA AQUÁTICA (Eichhornia crassipes). ................ 85

CARACTERIZAÇÃO DE ATRIBUTOS FÍSICOS E QUÍMICOS DE DIFERENTES


SUBSTRATOS UTILIZADOS NA FORMAÇÃO DE MUDAS DE HORTALIÇAS ................ 95

CARACTERIZAÇÃO DE FRUTOS, SEMENTES E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE


FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE Byrsonima crassifólia ...................................................... 103

VIABILIDADE ECONÔMICA DA UTILIZAÇÃO DE AQUECIMENTO SOLAR


ALTERNATIVO EM SUBSTITUIÇÃO AOS CHUVEIROS ELÉTRICOS ............................. 113

SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM ESPÉCIES VEGETAIS DA CHAPADA DO ARARIPE


...................................................................................................................................................... 124

MONITORAMENTO DE NITROGÊNIO AMONIACAL EM REATORES EM BATELADAS


AGITADA COM BIOMASSA DISPERSA DE Aspergillus niger AN 400 EM ÁGUA
RESIDUÁRIA SINTÉTICA ........................................................................................................ 134

EMERGÊNCIA E CRESCIMENTO INICIAL DE PLÂNTULAS DE Dimorphandra


gardneriana Tulasne EM SUBSTRATOS CONTENDO REJEITO DE CAULIM.................... 140
AÇÃO ALELOPÁTICA DO EXTRATO DE Copaifera langsdorfii DESF. (FABACEAE)
SOBRE SEMENTES E PLÂNTULAS DE Calotropis procera (AITON) W. T. AITON
(APOCYNACEAE) ..................................................................................................................... 150

ROTEIRO DO DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA DE AQUECIMENTO SOLAR DE


ÁGUA – PARTE 1 ...................................................................................................................... 156

Gestão de Recursos Hídricos e Bacias Hidrográficas ...........................................................169


ÁGUA NO SEMIÁRIDO PARAIBANO: TEMÁTICA REGIONAL APLICADA À
EDUCAÇÃO AMBIENTAL ....................................................................................................... 170

BARRAGEM ÁGUA FRIA I: USO DA TERRA NO PERÍODO 2010/2016 ............................ 181

MICROALGAS PERIFÍTICAS COMO BIOINDICADORAS DA QUALIDADE DA ÁGUA:


AÇÕES DE MONITORAMENTO EM UM RESERVATÓRIO DO SEMIÁRIDO CEARENSE
...................................................................................................................................................... 192

AQUÍFERO GUARANI E A CRISE NO MERCOSUL ............................................................. 203

AVALIAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE CIANOBACTÉRIAS EM UM RESERVATÓRIO DO


SUL CEARENSE ....................................................................................................................... 214

ESTUDO COM MATERIAIS ALTERNATIVOS APLICADOS COMO MANTAS EM


BARRAGENS SUBTERRÂNEAS ............................................................................................. 222

MONITORAMENTO E GESTÃO DO CONSUMO DE ÁGUA NO CAMPUS I DA


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA-PB ......................................... 235

LEVANTAMENTO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


NA BACIA DO RIO PACIÊNCIA – MA ................................................................................... 244

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ACARÁ E


ESPACIALIZAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO MÉDIA ANUAL PELO MÉTODO IDW ............ 257

ANÁLISE DAS TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS PARA CAPTAÇÃO DE ÁGUA NO


SEMIÁRIDO BRASILEIRO ....................................................................................................... 268

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE ÁGUA PRODUZIDA TRATADA POR SISTEMA


MICROEMULSIONADO PARA USO NA IRRIGAÇÃO ........................................................ 279

ANÁLISE LIMNOLÓGICA DO AÇUDE MENDUBIM, AÇU/RN ......................................... 290

ANÁLISE DA ÁGUA DO RIO CARACABU DE RIO TINTO - PARAÍBA ........................... 299

CARACTERIZAÇÃO HIDROLÓGICA DA MICROBACIA DOS RIOS VELHO E AÇU NA


APA DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE, LITORAL NORTE DA PARAÍBA................. 308
ASPECTOS GERAIS DE CONSERVAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO
DO MARIMBONDO ................................................................................................................... 320

ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA DE POÇOS TUBULARES DO


POVOADO TIMBUBA, PAÇO DO LUMIAR - MA................................................................. 326

A IMPORTÂNCIA DO USO DE GEOTECNOLOGIAS NO APRIMORAMENTO DA


GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS ...................................................................................... 335

IDENTIFICAÇÃO DOS USOS MULTIPLOS E POTENCIAIS FONTES DE POLUIÇÃO DO


RIO APODI-MOSSORÓ/RN ...................................................................................................... 342

LEVANTAMENTO DAS CONDIÇÕES GEOAMBIENTAIS DAS PRINCIPAIS NASCENTES


DA BACIA DO RIO PACIÊNCIA – MA ................................................................................... 354

Turismo, Meio Ambiente e Sustentabilidade.......................................................................364


ECOTURISMO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .................................................. 365

ESTUDO DO POTENCIAL TURÍSTICO DA CIDADE DE ARACAJU COM BASE NO


PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE RECURSOS NATURAIS......................................... 374

REDE TUCUM NO CEARÁ: A EXPERIÊNCIA DA ESCOLA POPULAR DE TURISMO


COMUNITARIO NA COMUNIDADE DE CAETANOS DE CIMA, AMONTADA – CE ..... 384

TURISMO RURAL E MEIO AMBIENTE ................................................................................. 391

TURISMO E SUSTENTABILIDADE: UM ESTUDO SOBRE OS RECURSOS TURÍSTICOS


POTENCIAIS NA SERRA DE SANTA CATARINA – PB ...................................................... 400

A PAISAGEM COMO ELEMENTO TURÍSTICO NO MUNICÍPIO DE PORTALEGRE/RN


...................................................................................................................................................... 413

MACAPARANA- PE E SEU POTENCIAL TURÍSTICO: A LUZ DE UM TURISMO RURAL


DE BASE COMUNITÁRIO ........................................................................................................ 425

SERRA NEGRA – BEZERROS – PERNAMBUCO .................................................................. 438

Ambientes Urbanos e Qualidade de Vida .........................................................................444


ARBORIZAÇÃO URBANA E QUALIDADE DE VIDA: ESTUDO DE CASO COM
MORADORES DE DOUTOR SEVERIANO, RN ..................................................................... 445

ESTUDO DA QUALIDADE DO AR DO PARQUE PORTUGAL, CAMPINAS, SP, ATRAVÉS


DO USO DE LÍQUENS COMO BIOINDICADORES .............................................................. 456
A IMPORTÂNCIA DAS PRAÇAS PÚBLICAS PARA O BEM-ESTAR DA POPULAÇÃO DA
CIDADE DE CRATO-CE ........................................................................................................... 467

INQUÉRITO EPIDEMIOLÓGICO DOS OS CASOS DE DENGUE NO MUNICÍPIO DE


CAMAÇARI-BA ......................................................................................................................... 476

ARBORIZAÇÃO DA CIDADE DE PEDRA BRANCA – PB: DADOS PRELIMINARES ..... 487

APLICAÇÃO DE PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO EM LAGOA URBANA - CAMPO


MAIOR – PI ................................................................................................................................. 499

A EXPANSÃO IMOBILIÁRIA SOBRE ÁREAS DE AMORTECIMENTO E SUAS


CONSEQUENCIAS NA DRENAGEM URBANA – UM ESTUDO DE CASO NO BAIRRO
BAVIERA DE QUIXADÁ-CE ................................................................................................... 509

OPERAÇÃO URBANA CONSORCIADA PARA CONSTRUÇÃO DE MORADIA POPULAR


EM QUIXERAMOBIM – CE...................................................................................................... 519

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE GESTÃO PARA O CONTROLE


DE ESPÉCIES EXÓTICAS NA ARBORIZAÇÃO URBANA .................................................. 528

AÇÕES PELA PROMOÇÃO DA GUARDA RESPONSÁVEL E ADOÇÃO DE ANIMAIS NA


CIDADE DE CAMPINA GRANDE/PB ..................................................................................... 535

ESTUDO DE CASO EM ÁREA DE CONFLITO PELA OCUPAÇÃO URBANA: A


PERCEPÇÃO DE MORADORES E DE ESTUDANTES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA
UFPB ............................................................................................................................................ 546

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DA MATA CILIAR DO TRECHO URBANO


DO RIO SITIÁ, QUIXADÁ-CE. ................................................................................................. 558

COBERTURA VEGETAL URBANA: UM ESTUDO EM DOIS BAIRROS DE NATAL, RIO


GRANDE DO NORTE, BRASIL ................................................................................................ 566

AMBIENTES URBANOS E SAÚDE: UMA ANÁLISE DOS CASOS DE DENGUE EM


NOSSA SENHORA DO SOCORRO/SERGIPE ......................................................................... 576

A REALIDADE DO TRANSPORTE COLETIVO PÚBLICO URBANO NO TERMINAL


LAURO DE FREITAS EM VITÓRIA DA CONQUISTA-BA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA
OS USUÁRIOS............................................................................................................................ 589

ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE SANEAMENTO BÁSICO DOS BAIRROS SÃO JOSÉ E


MANAÍRA, EM JOÃO PESSOA-PB. ........................................................................................ 599

Tratamento de Resíduos, Saneamento e Reciclagem ........................................................611


ALTERNATIVAS PARA A DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS PROVENIENTES DA
AGRICULTURA FAMILIAR ..................................................................................................... 612

GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL .......................... 622

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NAS CAPITAIS ARACAJU (SE)


E JOÃO PESSOA (PB)................................................................................................................ 628

COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE


MARCAÇÃO-PB ........................................................................................................................ 643

SANEAMENTO AMBIENTAL E SAÚDE PÚBLICA: UM ESTUDO SOBRE A


PROLIFERAÇÃO DO AEDES AEGYPTI E OS CASOS DE DENGUE NO BRASIL ............. 653

GESTÃO AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO- UEMA:


SENSIBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE ACADÊMICA ......................................................... 665

REUSO DE ÁGUA HIPERSALINA E DIFERENTES SUBSTRATOS NA PRODUÇÃO DE


MUDAS DE MANGUE BRANCO (LAGUNCULARIA RACEMOSA (L.) C. F. GAERTN,
1807) ............................................................................................................................................ 675

POTENCIAL DE ADSORÇÃO DE CARVÃO ATIVADO PROVENIENTE DE SEMENTES


DA SAPINDUS SAPONÁRIA ...................................................................................................... 687

DIAGNÓSTICO DOS RESIDUOS SÓLIDOS DE UM LABORATÓRIO DE ANÁLISES


CLÍNICAS ................................................................................................................................... 693

IMPACTOS DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DECORRENTES DO CRECIMENTO


POPULACIONAL ....................................................................................................................... 700

APLICAÇÃO DO RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO NA CONSTRUÇÃO


CIVIL ........................................................................................................................................... 707

CORRELAÇÕES ENTRE OS RESÍDUOS SÓLIDOS GERADOS NOS MERCADOS


PÚBLICOS E A SAÚDE DOS FEIRANTES: ESTUDO DE CASO EM SÃO LUÍS / MA ...... 718

QUITOSANA: UMA ALTERNATIVA DE TRATAMENTO PARA O RIO APODI-MOSSORÓ


...................................................................................................................................................... 730

MODELO PARA REUTILIZAR AS ÁGUAS CINZA DE LAVA-JATO LOCALIZADO NO


MUNICÍPIO DE POMBAL – PB................................................................................................ 741

COAGULANTE ORGÂNICO: UMA ALTERNATIVA NO TRATAMENTO DE EFLUENTE


INDUSTRIAL .............................................................................................................................. 750
AÇÃO DE LIMPEZA NO ESTUÁRIO DO RIO COCÓ – FORTALEZA (CE): UMA
PRÁTICA DE CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DA COLETA DE
RESÍDUOS SÓLIDOS ................................................................................................................ 762

UTILIZAÇÃO DE GARRAFAS PET PÓS-CONSUMO TRITURADAS NA COMPOSIÇÃO


DE CONCRETOS........................................................................................................................ 773

REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS DE GRANITO PARA PRODUÇÃO DE BLOCOS


CERÂMICOS .............................................................................................................................. 782

REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUO DE CAULIM EM COMPOSIÇÕES PARA


PRODUÇÃO DE PEÇAS CERÂMICAS.................................................................................... 790

DESEMPENHO DE UM REATOR UASB EM ESCALA REAL TRATANDO ESGOTO


SANITÁRIO ................................................................................................................................ 803

CATADORES DE RESÍDUOS RECICLÁVEIS DE UMA CIDADE POTIGUAR DE


PEQUENO PORTE: PERFIL SOCIOECONÔMICO, FORMAS DE ATUAÇÃO E
PERCEPÇÃO DO SEU TRABALHO ........................................................................................ 813

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE COAGULANTES ORGÂNICO X INDUSTRIAL NO


ESTUDO DE PARÂMETROS DE QUALIDADE EM EFLUENTE DE LAVA CARROS .... 824

UMA PROPOSTA DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS EM UMA INDÚSTRIA DE


TERMOPLÁSTICO..................................................................................................................... 834

LIXO ELETRÔNICO: CONHECENDO SEU IMPACTO, UMA EXPERIÊNCIA EM


EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA NA ESCOLA............................................................... 843

TRATAMENTO DE AZUL DE METILENO ATRAVÉS DO PROCESSO DE FLOCULAÇÃO


IÔNICA USANDO TENSOATIVO DE ORIGEM VEGETAL ................................................. 867

Ecopedagogia, Ensino e Pesquisa .......................................................................................876


IMPORTÂNCIA DE AULAS DE CAMPO/VISITA TÉCNICA PARA A MELHORIA DA
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS ALUNOS DO INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO -
CAMPUS BURITICUPU E COELHO NETO-RELATOS DE EXPERIÊNCIAS .................... 877

LEITURA DE CARTA TOPOGRÁFICA COMO INSTRUMENTO E RECURSO DIDÁTICO


PARA AULAS NO ENSINO BÁSICO ......................................... Erro! Indicador não definido.

A EDUCAÇÃO E SEUS DIÁLOGOS VITAIS ENTRE MEMÓRIA SOCIAL, PATRIMÔNIO


CULTURAL E SABER AMBIENTAL ...................................................................................... 893
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR APÓS O
ADVENTO DA LEI ESTADUAL N° 14.572/11 EM PERNAMBUCO .................................... 904

INTERSEÇÕES ENTRE A APRENDIZAGEM COOPERATIVA E A EDUCAÇÃO


AMBIENTAL: CAMINHOS EM UM NOVO PARADIGMA EDUCACIONAL .................... 910

BARCO ESCOLA CHAMA MARÉ: ECOPEDAGOGIA COMO UM INSTRUMENTO DE


EDUCAÇÃO SUSTENTÁVEL .................................................................................................. 921

CONCEPÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO PROFISSIONALIZANTE SOBRE


MEIO AMBIENTE E AGROECOLOGIA.................................................................................. 932

O GEOPIBID E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESCOLAR: AS OFICINAS DAS ENERGIAS


RENOVÁVEIS PARA O ENSINO MÉDIO ............................................................................... 941

CONSTRUÇÃO DE UM EQUIPAMENTO ALTERNATIVO PARA EXECUÇÃO DE


CURVAS DE NÍVEL .................................................................................................................. 950

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA IMPLANTAÇÃO DE UMA HORTA DE PLANTAS


MEDICINAIS E HORTALIÇAS NO INTITUTO FEDERAL DO CEARÁ CAMPUS
QUIXADÁ ................................................................................................................................... 957

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA SERRA DO TORREÃO: O USO DE PALESTRAS PARA


INSERÇÃO DA TEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL EM ESPAÇO NÃO-FORMAL DE
ENSINO ....................................................................................................................................... 965

CONHECIMENTO DOS PROFESSORES DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO SOBRE AS


PLANTAS NATIVAS E EXÓTICAS NO BIOMA CAATINGA .............................................. 973

AS CONTRIBUIÇÕES DA AULA DE CAMPO PARA PRÁTICAS EM EDUCAÇÃO


AMBIENTAL .............................................................................................................................. 998

(RE)CONSTRUINDO CONCEPÇÕES DE MEIO AMBIENTE NA FORMAÇÃO DE


PROFESSORES......................................................................................................................... 1008

ATLAS ESCOLAR AMBIENTAL DE PRESIDENTE PRUDENTE/SP: CADÊ O(S) RIO(S)?


.................................................................................................................................................... 1017

A PERCEPÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE PARA A


EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UBERLÂNDIA / MG ......................................................... 1027

A RACIONALIDADE DE DOMINAÇÃO E A NECESSIDADE DE UMA NOVA ÉTICA:


ANÁLISE E PERSPECTIVAS A PARTIR DE TRÊS LADEIRAS, IGARASSU - PE ............ 1039

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: AÇÕES DO PROJETO


MUSEU DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS MUNDO LIVRE ..................................................... 1049
Conceitos e Práticas em Educação Ambiental nas Escolas .............................................1060
A TRAGÉDIA DE MARIANA E SUAS IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
ESCOLAR ................................................................................................................................. 1061

ESTUDO DAS MICROALGAS NA COMUNIDADE ESCOLAR COMO INSTRUMENTO DE


CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL...................................................................................... 1074

FIC SEM LIXO – PROJETO DE SENSIBILIZAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL


DESENVOLVIDO PELO PIBID DE GEOGRAFIA NA ESCOLA ESTADUAL PROFESSOR
FRANCISCO IVO CAVALCANTI EM NATAL/RN .............................................................. 1082

INVESTIGANDO A RELAÇÃO QUÍMICA-MEIO AMBIENTE POR MEIO DE UMA


METODOLOGIA CONTEMPORÂNEA ................................................................................. 1099

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE CAPIM - PB: PROJETO ―ECOSABÃO‖ NA


ESCOLA PROFESSORA EUNICE ALVES DOS SANTOS ................................................... 1111

CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DO CURSO TÉCNICO DE


MEIO AMBIENTE DO IFRN-IPANGUAÇU........................................................................... 1122

AMAZÔNIA VAI À ANTÁRTICA: FORMAÇÃO DE MULTIPLICADORES AMBIENTAIS


.................................................................................................................................................... 1131

XADREZ QUÍMICO: O USO DA LUDICIDADE COMO FERRAMENTA FACILITADORA


DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA DISCIPLINA DE QUÍMICA ........... 1140

DESENHO COMO INSTRUMENTO PARA ANÂLISE DA PERCEPÇAO AMBIENTAL


ADQUIRIDA PÓS PALESTRAS ............................................................................................. 1151

A RELAÇÃO DOS ESTUDANTES NO CONTEXTO EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............ 1159

EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AOS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS EM


PEDRO DO ROSÁRIO (MA) ................................................................................................... 1166

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O CASO DA E. M. E. F. ARACY NOBREGA MONTENEGRO –


ALAGOA GRANDE - PB ......................................................................................................... 1176

A PERCEPÇÃO DOS DOCENTES SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DA


EDUCAÇÃO INFANTIL NA ESCOLA DISNEY, ALAGOA GRANDE – PB...................... 1188

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONCEITOS E PRÁTICAS EM ESCOLAS PÚBLICAS DE PAU


DOS FERROS, RN .................................................................................................................... 1199

VAMOS CUIDAR DA SALA DE AULA? ATIVIDADES PSICOPEDAGÓGICAS


APLICADAS NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ....................................................................... 1211
EXTRAÇÃO DE AREIA: CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL EM DUAS ESCOLAS
PÚBLICAS LOCALIZADAS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE ...................... 1223

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UTILIZAÇÃO DE VÍDEO, SIMULADOR E PALAVRA


CRUZADA COMO FERRAMENTAS METODOLÓGICAS NO ENSINO DA COLETA
SELETIVA................................................................................................................................. 1234

A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL: TRILHAS INTERPRETATIVAS


.................................................................................................................................................... 1247

GINCANA ECOLÓGICA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL E INTERDISCIPLINARIDADE NO


ESPAÇO ESCOLAR ................................................................................................................. 1255

ABORDAGEM DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESTRUTURA CURRICULAR DAS


DISCIPLINAS PELOS PROFESSORES DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO PROGRESSISTA
BOM JESUS PARA OS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DOIS ........................... 1266

PERCEPÇÃO DO CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL


POR DISCENTES DO ENSINO FUNDAMENTAL DO COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA
UFPE .......................................................................................................................................... 1276

VIVÊNCIA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE NA ESCOLA: UMA POSSIBILIDADE


DE TRABALHAR A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................................................................. 1284

MEIOS DIFUSORES DE PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS: ESTUDO DE CASO DO


PROJETO MANDALA ESCOLA JOSÉ MARIA DO TOMÉ ................................................. 1291

CINÉTICA QUÍMICA E O MEIO AMBIENTE: ADAPTAÇÃO DE UMA PRÁXIS


EDUCATIVA PARA UMA TURMA DA EJA ........................................................................ 1301

HORTA ORGÂNICA ESCOLAR COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO PARA A


EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..................................................................................................... 1314

PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE SERPENTES EM


UMA ESCOLA DA REDE PUBLICA DE PERNAMBUCO .................................................. 1326

ALTERNATIVAS LÚDICAS PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS DO


ENSINO FUNDAMENTAL DO RN ........................................................................................ 1334

PERCEPÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL


SOBRE OS RESÍDUOS SÓLIDOS .......................................................................................... 1346
Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Biotecnologia e Fontes
Alternativas de Energia

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 14


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

PRODUÇÃO COMERCIAL DE CLONES DE CAJUEIRO NO SEMIÁRIDO DO


ESTADO DO PIAUÍ

Gabriel Teles Portela POLICARPO


Graduando do Curso de Tecnologia em Gestão da Qualidade da UFC
gabrielpolicarpo@yahoo.com.br
Antonio Lindemberg Martins MESQUITA
Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Pesquisador, Embrapa Agroindústria Tropical
lindemberg.mesquita@embrapa.com
Joilson Silva LIMA
Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Universidade Federal do Ceará
joilsonagro@gmail.com
José Emilson CARDOSO
Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Pesquisador, Embrapa Agroindústria Tropical
Jose-emilson.cardoso@embrapa.br

RESUMO
A região Nordeste responde por cerca de 97% da produção nacional de caju, com destaque para o
Ceará que se sobressai como maior Estado produtor seguido pelos Estados do Rio Grande do Norte,
Piauí e Maranhão. No Piauí, o município de Pio IX figura como o principal produtor, onde está
localizada a fazenda Planalto, hoje com 22 mil hectares de cajueiro. O presente estudo teve por
objetivo avaliar a produção de oito clones de cajueiro cultivados no semiárido do Estado do Piauí,
em sistema de produção comercial, no período compreendido entre os anos de 2007 a 2012. Os
clones utilizados foram o BRS 226, BRS 265, Embrapa 51, CCP 76, FAGA 11, CAC 38, Lindolfo e
Café-Enilda, sendo estes dois últimos, selecionados na própria fazenda Planalto. Os dados obtidos
foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de
5% de probabilidade. Houve variação na produtividade de castanha dos oito clones de cajueiro
cultivados em condição de produção comercial. O BRS 226 foi o clone que apresentou produção
praticamente crescente entre os anos de avaliação, atingindo uma média de 7,54 Kg de
castanha/planta em 2012 (754 Kg/ha), apesar da precipitação pluviométrica nesse ano ter atingido
apenas 237 mm. Os clones CCP 76, CAC 38 e FAGA 11 foram os genótipos menos produtivos.
Palavras-chaves: Anacardium occidentale, genótipos, produtividade, castanha-de-caju.
ABSTRACT
The North-eastern region of Brazil is responsible by approximately 97.0% of the whole national
production of cashew nuts, with Ceara state being the main producer, followed by Rio Grande do
Norte, Piaui and Maranhao states. At Piaui state, Pio IX county is the principal producer due to the
Planalto farm, with a planted area of 22,000 hectares. The aim the present study was to evaluate the
productivity of eight cashew clones usually cultivated in the semi-arid region of Piaui state, in
commercial system, between the years of 2007 to 2012. The following clones were assessed: BRS
226, BRS 265, EMBRAPA 51, CCP 76, CAC 38, FAGA 11, Lindolfo and Café-Enilda, the last
two clones selected among plants of the Planalto farm. The results obtained were analyzed by
Anova and the means compared by the Tukey test at the level of 5% of probability. Results
exhibited significant variation in nuts productivity, with the clone BRS226 showing crescent
productivity during the evaluation period, with the mean production of 7.54 kh/plant (754 Kg/ha) in

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 15


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

2012, despite the low rain fall of only 237 mm. On the other hand, the clones CCP 76, CAC36 and
FAGA 11 were the least productive.
Keywords: Anacardium occidentale, genotypes, productivity, cashew nut.

INTRODUÇÃO

O cajueiro (Anacardium occidentale L.) é uma planta cultivada em diversas partes do


mundo tropical direcionada, principalmente, para a produção de amêndoa - a ACC (amêndoa da
castanha de caju) uma das mais comercializadas no mercado internacional de nozes comestíveis
(BARROS, 2002). No Brasil, a cultura do caju tem grande importância socioeconômica,
mobilizando cerca de 280 mil pessoas (OLIVEIRA, 2008), com uma área cultivada superior a 758
mil hectares, estando presente, praticamente, em todos os estados brasileiros, porém, adapta-se
melhor às condições ecológicas do litoral nordestino (CAVALCANTI et al., 1999). A Região
Nordeste responde por cerca de 97% da produção nacional, com destaque para o Ceará que se
sobressai como maior Estado produtor de caju, perfazendo cerca de 37% da produção do país,
seguido pelos Estados do Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão (IBGE, 2016).
O cajueiro, apesar de ser uma espécie eminentemente brasileira, ainda é uma cultura
relativamente nova no cenário da fruticultura nacional (CARDOSO; VIANA, 2011). No Nordeste
brasileiro, a exploração da cultura do cajueiro está ligada às raízes culturais e socio-econômica
(COSTA et al., 1999). O agronegócio do caju absorve grande contingente de mão-de-obra,
sobretudo no meio rural, tornando-se importante na geração de empregos e renda (BARROS, 2002).
Sua exploração ocorre de outubro a janeiro, período que corresponde à entressafra das culturas de
subsistência (COSTA et al., 1999). A cajucultura desempenha papel de destaque na economia
nordestina, em razão de o fruto se destacar como produto de exportação, além do potencial de
agregação de valor ao negócio por meio do aproveitamento do pedúnculo (SOUZA et al., 2004), o
qual é fonte de vitamina C, ferro e fibras, utilizado, principalmente, na produção de sucos, bebidas e
doces (COSTA et al., 1999).
Apesar da sua importância socioeconômica, a cajucultura nordestina vem atravessando um
período crítico, motivado pelos constantes decréscimos de produtividade, causados pelo modelo
exploratório extrativista, tipo reflorestamento (OLIVEIRA, 2002. Essa atividade, sempre esteve à
margem do emprego de tecnologias, principalmente, aquela relacionada ao material de plantio
(SOUZA et al., 2004). Como resultado desse ineficiente modelo de exploração praticado na maioria
dos pomares de cajueiro comum, devido ao uso material genético de qualidade inferior, práticas de
desmatamento sem manejo florestal adequado, uso intensivo do fogo no controle do mato, manejo e
tratos culturais inadequados, inclusive sem uso de corretivo e adubação e, pouca atenção ao controle
de pragas e doenças, tem havido um declínio acentuado nos seus rendimentos e, em algumas áreas,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 16


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

redução considerável da população de plantas, em razão da instabilidade climática, competição por


água, nutrientes e ataques de pragas e doenças. Tais fatores vêm comprometendo todo o processo de
produção com produtividades muito baixas, em torno de 220 kg/ha (OLIVEIRA, 2007).
Este trabalho teve por objetivo avaliar a produtividade de oito clones de cajueiro cultivados
no semiárido do Estado do Piauí, em sistema de produção comercial, no período compreendido
entre os anos de 2007 a 2012.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram empregados oito clones de cajueiro neste estudo, cultivados no espaçamento de 10


por 10 m. A pesquisa foi conduzida na Fazenda Planalto (CIONE), BR 020 Km 4, localizada no
município de Pio IX-PI (Latitude 6º 31‘ 30 S; Longitude 40º 47‘ 19 W; Altitude 605 m), atualmente
com uma área de 22 mil hectares de cajueiro. O solo da área do pomar é um Latossolo Amarelo
álico, com pH 4,5 na camada de 0-20 cm. O plantio foi realizado no período de 2002 a 2006.
A identificação e origem dos clones de cajueiro anão utilizados no estudo foram as
seguintes: os clones BRS 226, BRS 265, Embrapa 51 e CCP 76 foram lançados pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o FAGA 11 foi lançado por Francisco Aécio
Guedes Almeida (professor aposentado pela Universidade Federal do Ceará), e estão entre os 14
clones inscritos no Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (RCN/MAPA) (VIDAL NETO et al., 2013); O clone CAC 38 foi selecionado a
partir de planta matriz de cajueiro-anão precoce originada de seleção fenotípica de plantas com
caracteres de interesse agroindustrial, em uma área de mil hectares de plantio comercial da fazenda
Capisa (Caucaia Agropecuária e Industrial S.A.), no município de Pio IX, PI; Os clones Lindolfo e
Café-Enilda foram selecionados a partir de plantas matrizes de cajueiro comum dos campos de
produção das fazendas do Grupo Cione (Companhia Industrial de Óleos do Nordeste).
Os tratos culturais foram realizados de acordo com a recomendação para o plantio comercial
de cajueiro em cultivo de sequeiro. O plantio foi conduzido no inicio da estação chuvosa e as mudas
foram tutoradas com uma estaca de um metro de altura, enterrada junto ao caule da planta para
orientar o crescimento e evitar o tombamento em caso de ventos fortes. Foram coletados os dados
de precipitação mensal correspondente ao período compreendido entre os anos de 2007 e 2012
(Figura 1).
O ensaio, com oito tratamentos (clones de cajueiro), foi conduzido em delineamento
inteiramente casualizado. Cada repetição foi representada por um ciclo produtivo (2007 à 2012) em
cada clone de cajueiro. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias
comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 17


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As produções de castanha dos oito clones de cajueiro cultivados em condição de produção


comercial na Fazenda Planalto, Pio IX, PI, durante os anos de 2007 a 2012 são apresentadas na
Tabela I. O clone BRS 226 foi o que apresentou o melhor desempenho com uma produção média de
4,78 Kg de castanha/planta, seguido dos clones Café-Enilda, BRS 265, Lindolfo e Embrapa 51,
sendo, contudo significativamente semelhantes entre si. Os clones CCP 76, CAC 38 e FAGA 11
tiveram produções significativamente menores que o clone BRS 226 (Figura I).

Tabela I. Produção de castanha (Kg/planta) de seis clones de cajueiro cultivados no semiárido do Estado do
Piauí entre os anos de 2007 a 2012. Pio IX, PI.
Produção de castanha/ano (ka/planta)
Clones Data de plantio
2007 2008 2010 2011 2012
226 BRS 2003 1,54 1,81 6,78 6,25 7,54
CAFÉ-ENILDA 2003 2,91 5,02 6,83 3,13 2,26
BRS 265 2006 - - 2,29 2,98 3,88
LINDOLFO 2002 1,48 2,24 2,69 1,20 2,06
EMBRAPA 51 2002 0,61 1,81 2,25 1,63 3,20
CCP 76 2004 0,60 0,73 2,14 0,52 1,84
CAC 38 2003 - 0,98 0,89 0,19 0,90
FAGA 11 2003 0,17 0,25 0,48 0,27 1,21

Figura I. Produção média (Kg de castanha/planta) de clones de cajueiro cultivados na fazenda Planalto, Pio
IX, Piauí. Colunas com médias seguidas pela mesma não diferem entre si pelo teste de Tukey (p = 0,05).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 18


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Trabalhos conduzidos na mesma fazenda (Planalto, Pio IX, PI), porem realizados em
parcelas experimentais de menor dimensão, implantados em fevereiro de 1999, demonstraram o
potencial produtivo do clone BRS 226, sobretudo no quarto ano de idade, com produção de
castanha de 469,6 Kg/ha superior 112% em relação à media dos demais clones testados em
espaçamento de 7m x 7m (PAIVA, 2008). Considerando que o espaçamento utilizado na área de
plantio comercial da fazenda Planalto foi de 10 por 10 m (100 plantas/ha), a produtividade média de
castanha, para os anos avaliados foi 478 Kg/ha, a partir do quarto ano após o plantio. Essa
produtividade ainda pode aumentar consideravelmente caso se reduza o espaçamento de plantio
para 204 planta/ha (7m x 7m), já que é o espaçamento recomendado para o cajueiro anão e com
porte semelhante ao do BRS 226. Vale salientar que o BRS 226 foi o clone que apresentou
produção praticamente crescente entre os anos de avaliação, atingindo uma média de 7,54 Kg de
castanha/planta em 2012 (Tabela I), apesar da precipitação pluviométrica nesse ano ter atingido
apenas 237 mm (Figura II). Neste ano, mesmo no espaçamento de 10m x 10m, a produtividade foi
754 Kg de castanha/ha. Isto demonstra que o BRS 226 pode apresentar uma boa tolerância ao
estresse hídrico, atributo considerado de maior relevância para genótipos recomendados para o
semiárido piauiense e regiões similares. Outro aspecto relevante para o clone BRS 226 é que este
genótipo, segundo Lima et al. (2015), por sua composição química das amêndoas pode ser usado
como fonte potencial de óleo vegetal de alta qualidade.

Figura II. Precipitação (mm) média mensal registada na fazenda Planalto (Cione) em Pio IX, PI, nos de 2007
a 2012.
1200
400
1000
Precipitação (mm)

350 800

600

300 400

200
Precipitação (mm)

250 0
2007 2008 2009 2010 2011 2012
Período
200

150

100

50

2007 2008 2009 2010 2011 2012


Período (mês)

No mesmo trabalho de Paiva et al. (2008), o CAC 38 foi o genótipo que apresentou os
maiores índices relacionados ao peso da castanha (3,03 g), percentual de amêndoas SLW (Special
Large Whole) (64,9%) e percentual de amêndoas sadias. Além disso, este clone também se destacou
com baixos percentuais de bandas e amêndoas quebradas, seguido do clone BRS 226.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 19


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

As doenças do cajueiro estão entre os principais entraves à exploração eficiente do caju, seja
pelos danos diretos na fisiologia e na integridade física, seja indiretamente na interação com outros
tipos de estresses. As principais doenças do cajueiro na microrregião dos Baixões Piauienses são
antracnose (Colletrotrichu gloeosporioides Sac.), a resinose (Lasiodiplodia theobromae Griffon) e o
oídio (Oidium anacardii Noack) (MOREIRA et al., 2012). Considerando os resultados de pesquisas
conduzidas na região do Pio IX e outras regiões semiáridas, relativos à reação dos diversos clones
ao ataque das doenças relacionadas acima (CARDOSO et al., 2007; LOPÉZ; LUCAS, 2010;
MOREIRA et. al., 2012; PINTO, 2016; CARDOSO et al. , 2017), chegou-se aos resultados
contidos na tabela 2.

Tabela II. Reação dos clones às principais doenças do cajueiro.


Clones Antracnose Resinose Oidio
BRS 226 Resistente Resistente Indeterminado
BRS 265 Suscetível Suscetível Suscetível
CAC 38 Resistente Suscetível Indeterminado
CAFÉ-ENILDA Resistente Suscetível Indeterminado
CCP 76 Resistente Suscetível Suscetível
EMBRAPA 51 Resistente Moderadamente Resistente Suscetível
FAGA 11 Suscetível Suscetível Suscetível
LINDOLFO Resistente Suscetível Suscetível

Verifica-se, portanto, que o clone BRS 226 é o único genótipo que apresenta resistência à
resinose, principal doença dos cajueiros anões na região dos baixões piauienses. Os clones FAGA
11 e BRS 265, mostraram-se suscetíveis para as três doenças avaliadas, sendo, portanto,
recomendados com restrição para cultivo na região. Os clones CCP 76 e Lindolfo, apesar de serem
resistentes à antracnose, são suscetíveis à resinose e oídio. O Clone EMBRAPA 51, segundo
Cavalcanti et al. (1999), apresenta alto potencial para exploração comercial na região dos Baixões
Agrícolas Piauienses, porem, mostrou-se apenas moderadamente resistente à resinose e suscetível
ao oídio.

CONCLUSÕES

O clone BRS 226 apresentou o melhor desempenho produtivo para as condições de plantio
em escala comercial na região semiárida do Estado do Piaui. Os clones CCP 76, CAC 38 e FAGA
11 foram os genótipos menos produtivos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fazenda Planalto (CIONE), especialmente ao gerente Engo.


Agrônomo José Orlando Mateus e ao responsável pelos campos experimentais Sr. José Gilson
Pereira.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 20


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

REFERÊNCIAS

BARROS, L. M. Caju. produção: aspectos técnicos. Brasília, DF: Embrapa Informação


Tecnológica, 2002. 148 p.

CARDOSO, J. E.; LIMA, J. S.; MESQUITA, A. L. M.; CAVALCANTI JUNIOR, A. T. Doenças


do Cajueiro na Microrregião do Alto Mearim no Estado do Maranhão. Fortaleza: Embrapa
Agroindústria Tropical, 2017. 25 p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Boletim de pesquisa e
desenvolvimento, 130).

CARDOSO, J. E.; VIANA, F. M. P.; CYSNE, A. Q.; FARIAS, F. C.; SOUSA, R. N. M. de. Clone
Embrapa 51: uma alternativa para resistênica à resinose-do-cajueiro. Fortaleza: Embrapa
Agroindústria Tropical, 2007. 3 p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Comunicado técnico, 130).
Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/ CNPAT/10571/1/cot_130.pdf>.
Acesso em 07 julho 2017.

CARDOSO, J. E.; VIANA, F. M. P. Impacto potencial das mudanças climáticas sobre as doenças
do cajueiro no Brasil. In: GHINI, R.; HAMADA, E.; BETTIOL, W. (Ed.). Impactos das
mudanças climáticas sobre doenças de importantes culturas do Brasil. Jaguariúna: Embrapa
Meio Ambiente, 2011. p.161-176.

CAVALCANTI, J. J. V.; CRISÓSTOMO, J. R.; BARROS, L. M.; PAIVA, J. R. Avaliação de


clones de cajueiro anão precoce na microrregião dos baixões agrícolas piauienses. Fortaleza;
Embrapa Agroindústria Tropical, 1999. 15 p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Boletim de
pesquisa e desenvolvimento, 24).

COSTA, C. A. R.; AGUIAR, M. J.N.; LIMA, J. B. de. Uso de sistema de informações geográficas
no mapeamento da produção, produtividade e área plantada de cajueiro na região Nordeste.
Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 1999. 18 p. (Embrapa Agroindústria Tropical.
Boletim de pesquisa e desenvolvimento, 26).

IBGE. Levantamento Sistemático da Produção Agrícola - LSPA. Ano 2016. Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 17 julho de 2017.

LIMA, J. R.; NOBRE, A. C. de O.; MAGALHÃES, H. C. R.; SOUZA, R. N. M, de. Chemical


composition and fatty acid profile of kernels from different Brazilian cashew tree genotypes.
African Journal of Food Sciene, v. 9, n. 7, p. 390-394, 2015.

LOPÉZ, A. M. Q,; LUCAS, J. A. Reaction of dwarf cashew to Colletrotrichum gloeosporioides


isolates in controlled enviroment. Scientia Agricola, v. 67, n. 2, p.228-235, 2010.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 21


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MOREIRA, R, C.; CARDOSO, J. E.; LIMA J. S.; SILVA, L. G. C. da. Resistência de clones de
cajueiro-comum à resinose. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2012. 18 p. (Embrapa
Agroindústria Tropical. Boletim de pesquisa e desenvolvimento, 58).

OLIVEIRA, F. N. S. Sistema de produção para manejo do cajueiro comum e recuperação de


pomares improdutivos. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2007. 36 p. (Embrapa
Agroindústria Tropical. Sistemas de produção, 2).

OLIVEIRA,V. H. Cajucultura. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 30, n. 1, p. 1-3,


2008.

OLIVEIRA, V. H. de. Cultivo do cajueiro anão precoce. Fortaleza: Embrapa Agroindústria


Tropical, 2002. 40 p. (Embrapa Agroindústria Tropical. Sistema de produção, 1).

PAIVA, J. R.; CARDOSO, J. E.; MESQUITA, A. L. M.; CAVALCANTI, J. J. V.; SANTOS, A. A.


Desempenho de clones de cajueiro-anão precoce no semi-árido do Estado do Piauí. Ciência
Agronômica, Fortaleza, v. 39, p. 295-300, 2008.

PINTO, O. R. O. de. Reação de clones comerciais de cajueiro ao oídio. 2016. Tese (Doutorado
em Agronomia/Fitotecnia)- Universidade Federal do Ceara, Fortaleza, 2015. Acessível em;
http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/19266. Acesso em 07 julho 2017.

SOUZA, M. F.; MIRANDA, O. C.; PAIVA, J. R.; BARROS, L. M.; CORREA, M. C. M.;
CAVALCANTI, J. J. V.; MELO, D. S. BRS 253 ou BRS BAHIA 12: clone de cajueiro-anão
precoce para plantio comercial no Município de Ribeira do Pombal-BA, e áreas similares.
Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2004. 26 p. (Embrapa Agroindústria Tropical.
Boletim de pesquisa e desenvolvimento, 17).

VIDAL NETO, F. das C.; BARROS, L. M.; CAVALCANTI, J. J. V; MELO, D. S. Melhoramento


genético e cultivares de cajueiro. In: ARAÚJO, J.P. de (Ed.). Agronegócio Caju: Práticas e
Inovações. Brasília: Embrapa, DF. 2013. p.481-508.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 22


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

FENOLOGIA E PRODUTIVIDADE DO MILHO SOB ESTRESSE HÍDRICO

Jackson da SILVA
Mestrando em Agronomia-Agricultura UNESP
jackson.silva.batalha@gmail.com
Lucas Alceu Rodrigues de LIMA
Graduando do Curso de Engenharia Agronômica UFAL
lucasalceux2@hotmail.com
Douglas Ferreira dos SANTOS
Graduando do Curso de Engenharia Agronômica UFAL
douglas.agropecuaria2013@gmail.com
Marcelo de Almeida SILVA
Orientador. Professor Dr. UNESP
marcelosilva@fca.unesp.br

RESUMO
Muitos Estados brasileiros apresentam baixas produtividades de milho, o que é reflexo de diversos
fatores, tais como os variados níveis de tecnificação, distribuição pluvial e estresses abióticos, onde
se inclui o estresse hídrico, que é o mais comum entre as regiões produtoras e causa maiores danos
nos processos fisiológicos e metabólicos das plantas, alterando a fenologia e a produtividade.
Assim, o objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão de literatura sobre a fenologia e a
produtividade do milho sobre o déficit hídrico. Constatou-se que os intervalos entre VE a V6 e VT a
R1 são os mais sensíveis a deficiência hídrica, devido necessidade de água por parte da planta para
emergir e estabelecer o seu sistema radicular primário, como também no intervalo que vai do
pendoamento a polinização dos estilos-estigmas, onde a escassez de água nesse período irá
ocasionar a drástica redução na produtividade.
Palavras-chaves: Zea mays L., comportamento, perda de produtividade, déficit hídrico, escassez de
água.
ABSTRACT
Many Brazilian States have low maize yields, which is a reflection of several factors, such as the
different levels of technification, rainfall distribution and abiotic stresses, which include water
stress, which is the most common among producing regions and causes greater damages in the
physiological and metabolic processes of plants, changing phenology and productivity. Thus, the
objective of the present study was to perform a literature review about phenology and productivity
of maize about water deficit. It was found that the intervals between VE to V6 and VT to R1 are the
most sensitive to water deficiency, due to the need of water by the plant to emerge and to establish
its primary root system, as well as in the interval that goes from tasseling to pollination of styles-
stigmata, where water scarcity in this period will lead to a drastic reduction in productivity.
Key-words: Zea mays L., behavior, loss of productivity, water deficit, water shortage.

INTRODUÇÃO

O milho (Zea mays L.) tem um papel muito importante na cadeia produtiva de muitos
produtos, o que o leva a ser um dos principais cereais cultivados em todo o mundo, sendo um
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 23
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

componente de grande relevância na alimentação humana, animal e matéria-prima para indústria,


principalmente em função de suas reservas energéticas, as quais estão presentes nos grãos.
Recentemente o seu uso se diversificou ainda mais com a produção de amido, adoçantes, óleos e
como fonte sustentável de biocombustíveis (SCHITTENHELM, 2008; AGRIANUAL, 2010).
Os Estados Unidos é o maior produtor deste cereal, com produção de 361 milhões de
toneladas em 2014, sendo cultivado em uma área de pouco mais de 33,6 milhões de hectare,
obtendo produtividade média de 10,7 t.ha-1. A china é o segundo maior produtor, com produção de
215 milhões de toneladas em uma área de 35,9 milhões de hectare, com produtividade média de
5,99 t.ha-1, a qual é o principal fator que limite o país para ser o maior produtor mundial, pois em
termos de área a China apresenta maior área cultivada com milho do que os Estados Unidos. O
Brasil figura como o terceiro maior produtor mundial com 79,8 milhões de toneladas, apresentando
uma produtividade baixa com 5,17 t.ha-1(FAO, 2014).
No Brasil, os maiores produtores são os estados do Mato Grosso, Paraná e Goiás com
produção de 15,2, 14,4 e 6,4 milhões de t. Já em relação a produtividade, os que apresentam
maiores números foram Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná com 7,3, 7,1 e 5,5 t.ha-1.
Todavia, a maioria dos Estados apresentam baixas produtividades, o que é reflexo de diversos
fatores, tais como os variados níveis de tecnificação, distribuição pluvial e estresses abióticos
(CONAB, 2016).
Dentre os vários tipos de estresses abióticos existentes, o estresse hídrico é o mais comum
entre as regiões produtoras, esse tipo de estresse é o que causa maiores danos nos processos
fisiológicos e metabólicos das plantas, podendo alterar a fenologia e a produtividade de culturas de
interesse agronômico (PIMENTEL, 2004; HMIDA-SAYARI et al., 2005).
Segundo Taiz & Zeiger, 2009, o déficit hídrico acontece quando o conteúdo de água de um
tecido ou célula está abaixo do conteúdo de água mais alto exibido no estado de maior hidratação.
Esse tipo de estresse tipicamente é ocasionado por um fator externo, que causa desvio significativo
das condições ótimas de vida e desenvolvimento das plantas, os quais em primeiro momento são
reversíveis, mas a depender da intensidade do estresse pode se tornar permanentes (LARCHER,
2004).
A tolerância à seca é uma característica bastante complexa, ou seja, governada por muitos
genes, existindo plantas capazes de suportar a falta de água usando diferentes mecanismos, que
permitem as plantas sobreviver utilizando adaptações morfofisiológicas e produzir satisfatoriamente
(XOCONOSTLE-CAZARES et al., 2010). Vale ressaltar que não existe uma única característica,
isoladamente, que possa ser indicativa de tolerância à seca, sendo o recomendado, avaliar
características que possam ser medidas em vários estádios da cultura do milho (PIMENTEL &
ROSSIELO, 1995).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 24


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

FENOLOGIA E PRODUTIVIDADE DO MILHO SOB DÉFICIT HÍDRICO

O milho possui uma ampla faixa de cultivo, sendo plantado em regiões que a precipitação
pluvial varia de 300 a 5.000 mm anuais, contudo durante todo o seu ciclo o consumo de uma planta
gira por volta de 600 mm. Tendo essa cultura relativa tolerância ao déficit hídrico na fase vegetativa
e bastante sensível na fase reprodutiva (COELHO, 2013).
As necessidades hídricas e a sensibilidade ao déficit hídrico de qualquer cultura são
variáveis ao longo do seu desenvolvimento. Sendo a necessidade hídrica pode ser representada pela
evapotranspiração máxima (ETm), a qual é influenciada pela espécie vegetal, reflexão de luz pelas
plantas, espaçamento e orientação das filas, estatura de planta, profundidade e extensão do sistema
radicular, estádio de desenvolvimento e índice de área foliar (BERGAMASCHI & MATZENAUE,
2014).
O milho por ser uma espécie de metabolismo C4, existe a tendência de expressar sua
elevada produtividade quando a máxima área foliar coincide com a maior disponibilidade de
radiação solar, desde que não haja déficit hídrico, ou seja, a produtividade é extremamente
dependente da fenologia (GUIMARÃES, 2013; ALMEIDA, 2016).
Com o fechamento dos estómatos, ocorre um aumento na resistência da folha à difusão de
vapor, o que resulta no aumento da temperatura da folha, uma vez que o fluxo de calor latente é
reduzido e o calor sensível aumenta, sendo muitas vezes superior a temperatura do ar. Assim, a
diferença entre a temperatura da folha e a temperatura do ar, é um indicador do estresse hídrico,
essa mesma diferença pode ser relacionada com a produtividade das plantas (BERGAMASCHI &
MATZENAUE, 2014). Um exemplo dessa diferença pode ser encontrado no trabalho de Bergonci
et al. (1999), onde os mesmos observaram diferença na temperatura da folha com a temperatura do
ar de até 6 ºC entre os tratamentos com milho irrigado e não irrigado.
Assim, o conhecimento dos períodos críticos da planta ao déficit hídrico no ciclo das
culturas, é importante para um manejo adequado, proporcionando maiores produtividades. Nesse
sentido, diversos estudos relatam que as plantas de hábito de crescimento determinado, são mais
sensíveis ao déficit hídrico durante a iniciação floral, a floração e o desenvolvimento inicial de
frutos e grãos (BERGAMASCHI & MATZENAUE, 2014).
Na cultura do milho os seus estádios fenológicos se dividem em vegetativo (V) e
reprodutivo (R) (Tabela 01), possuindo subdivisões dentre os estádios vegetativos que são
classificados numericamente como VE, V1, V2, V3 até Vn (n representa a última folha emitida
antes do pendoamento) e VT, e os estádios reprodutivos divididos em R1, R2, R3, R4, R5 e R6.
Sendo os estádios VT, R1 e R2 os que ocorrem maior sensibilidade à limitação hídrica
(MAGALHÃES et al., 2002; RITCHIE, 2003).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 25


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 01: Estádios vegetativos e reprodutivos da planta de milho.


Vegetativo Reprodutivo
VE, emergência R1, florescimento
V1, 1 folha desenvolvidas R2, grão leitoso
V2, 2 folhas desenvolvidas R3, grão pastoso
V3, 3 folhas desenvolvidas R4, grão farináceo
V4, 4 folhas desenvolvidas R5, grão farináceo-duro
Vn, n folhas desenvolvidas R6, maturidade fisiológica
VT, pendoamento

A título de demonstração, as considerações feitas são de modo geral, mas é importante


mencionar os intervalos de tempo entre os estádios e os números totais de folhas desenvolvidas
podem variar entre cultivares diferentes, ano agrícola, data de plantio e local. Folha desenvolvida é
definida com a visualização do colar na inserção da bainha da folha com o colmo. Assim, a primeira
folha de cima para baixo é considerada completamente desenvolvida quando o colar é visível
(RITCHIE & HANWAY, 1989).
No estádio VE, as sementes plantadas absorvem água ocorrendo assim a embebição da
semente, havendo assim a digestão das substâncias de reserva, síntese de enzimas, divisão celular,
inchamento e começam a crescer. A radícula é a primeira a se alongar, seguida pelo coleóptilo com
plúmula incluída. O estádio VE é atingido pela rápida elongação do mesocótilo, o qual empurra o
coleoptilo em crescimento para a superfície do solo. Em condições de temperatura e umidade
adequada, a planta emerge dentro de 4 a 5 dias, porém, em condições de baixa temperatura e pouca
umidade, a germinação pode demorar até duas semanas ou mais. Assim que a emergência ocorre e a
planta expõe a extremidade do coleóptilo, o mesocótilo para de crescer (BERGAMASCHI &
MATZENAUE, 2014).
A lentidão na germinação predispõe a semente e a plântula a uma menor resistência a
condições ambientais adversas, e a umidade do solo o fator limitante para rápido crescimento
(RITCHIE & HANWAY, 1989; ALDRICH et al., 1982). Tendo as camadas mais profundas do solo
possuem maior teor de umidade nos plantios tardios.
O estádio V3 ocorre com aproximadamente duas semanas após o plantio. Nesse estádio, o
ponto de crescimento ainda se encontra abaixo da superfície do solo e a planta possui ainda pouco
caule formado. Pêlos radiculares do sistema radicular nodal estão agora em crescimento e o
desenvolvimento das raízes seminais é paralisado. Todas as folhas e espigas que a planta
eventualmente irá produzir estão sendo formadas no V3, assim o número máximo de grãos ou a
produção potencial estão sendo definidos nesse estádio (MAGALHÃES et al., 1994).
No estádio V5, as iniciações das folhas e das espigas estão completas, enquanto que a
iniciação do pendão só é possível ver microscopicamente na extremidade do caule, embaixo do solo
(MAGALHÃES et al., 1994). O ponto de crescimento, situado debaixo da superfície do solo, é

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 26


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

muito sensível a temperatura e umidade do solo, fazendo com que a disponibilidade de água seja
fundamental para o desenvolvimento da planta, bem como o seu excesso pode matar a planta em
poucos dias. O déficit hídrico também reduz o crescimento do milho pela redução da área foliar e
da biomassa (ALDRICH et al., 1982; RITCHIE & HANWAY, 1989; BERGAMASCHI et al.,
2006).
Já no Estádio V6, o ponto de crescimento e pendão estão acima do nível do solo e o colmo
está iniciando um período de alongamento acelerado. O sistema radicular nodal (fasciculado) está
em pleno funcionamento e em crescimento.
O estádio V8 é caracterizado pelo início da queda das primeiras folhas e pela definição do
número de fileiras de grãos. Verifica-se nesse estádio, a máxima tolerância ao excesso de chuvas e
ao encharcamento. Estresse hídrico nessa fase pode interferir no comprimento de internódios, pela
inibição do alongamento das células em desenvolvimento, fazendo com que haja diminuição da
capacidade de armazenagem de açúcares no colmo. O mesmo estresse pode também resulta em
colmos mais finos, plantas de menor porte e menor área foliar (MAGALHÃES et al., 1998).
No estádio V9, muitas espigas são facilmente visíveis, se for feita uma dissecação da planta.
Nesse estádio, ocorre maior desenvolvimento dos órgãos florais e o caule continua alongando-se.
Após o estádio V10, o intervalo de tempo entre um estádio e outro vai diminuindo, geralmente
ocorrendo a cada dois ou três dias (RITCHIE & HANWAY, 1989; MAGALHÃES et al. 1994).
Perto do estádio V10, a planta dá início um rápido e contínuo crescimento, com maior
acumulação de nutrientes e peso seco, os quais continuarão até os estádios reprodutivos, sendo
necessária uma grande demanda de água para transportar os nutrientes necessários (MAGALHÃES
& JONES, 1990).
Já no Estádio V12, o número de óvulos em cada espiga, os quais uma vez fecundados se
tornaram em grãos, assim como o tamanho da espiga, são definidos em V12, e nesse estádio ainda
ocorre perda de duas a quatro folhas basais. Nessa fase, inicia-se o período mais crítico para a
produção, o qual estende-se até a polinização, requerendo uma atenção especial. Nessa fase o
número de grãos por fileira ainda está indefinido e só será definido cerca de uma semana antes do
florescimento, em torno do estádio V17 (MAGALHÃES et al., 1994).
Assim, a deficiência hídrica ou de nutrientes pode afetar drasticamente o número potencial
de sementes, bem como o tamanho das espigas a serem colhidas. As intensidades desses dois
fatores de produção estão também relacionados com o período de tempo disponível para o
estabelecimento dos mesmos, o qual corresponde ao período de V10 a V17. Tendo genótipos
precoces com isso, geralmente, um período mais curto de tempo e usualmente têm espigas menores
que a dos genótipos tardios (RITCHIE & HANWAY, 1989).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 27


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O Estádio V15 ainda é a continuação do período mais importante e determinante para o


desenvolvimento da planta, que resultará no rendimento de grãos. Nesse estádio o estilos-estigmas
iniciam o crescimento nas espigas. Por volta do estádio V17, as extremidades das espigas já podem
ser vistas no caule, bem como a extremidade do pendão (MAGALHÃES et al., 1994).
Estresse hídrico no período de duas semanas antes até duas semanas após o florescimento
vai causar diminuição significativa na produção de grãos. Contudo, a maior redução na produção
poderá acontecer se o déficit hídrico ocorrer na emissão dos estilos-estigmas (início de R1)
(MAGALHÃES et al., 1995).
No estádio V18 é possível observar que os estilos-estigmas (cabelos) dos óvulos basais
alongam-se primeiro do que os estilos-estigmas dos óvulos da extremidade da espiga. Nesse estádio
a planta se encontra a uma semana do florescimento. Raízes aéreas estão em crescimento nesse
estádio, contribuindo na absorção de água e nutrientes. Estresse hídrico nesse período pode diminuir
mais o desenvolvimento do óvulo e espiga do que o desenvolvimento do pendão. Assim, com esse
atraso no desenvolvimento da espiga, pode ter problemas na sincronia entre emissão de pólen e
recepção pela espiga. Em caso de estresse severo, ele pode atrasar a emissão dos estilos-estigmas
até terminar a liberação do pólen, contribuindo para a diminuição do rendimento (MAGALHÃES et
al., 1994; MAGALHÃES et al., 1995; MAGALHÃES et al., 1999).
Em condições de estresse, híbridos não prolíficos produzirão menos grãos com o aumento
da exposição ao estresse, porém, em condições adequadas de desenvolvimento, eles tendem a
render mais que os prolíficos. Umas das vantagens dos prolíficos, é que tendem a apresentar
rendimentos mais estáveis em condições variáveis de estresse, pois o desenvolvimento da espiga é
menos inibido pelos estresses (ALDRICH et al., 1982; RITCHIE & HANWAY, 1989).
Segundo Bergamaschi et al. (2004), a ocorrência de déficit hídrico nos estádios vegetativos
irá promover alteração na área foliar, no teor de clorofila nas folhas, na interceptação de radiação
solar, na condutância estomática e na taxa fotossintética, porém essas podem ser reversíveis.
O estádio de pendoamento (VT) inicia-se quando o último ramo do pendão está
completamente visível e os estilos-estigmas não tenham ainda emergido. Normalmente a liberação
do pólen se dá nos finais das manhãs e no início das noites. Vale ressaltar que nesse estádio, a
planta alcança o máximo desenvolvimento e crescimento.
Estresse hídrico e temperaturas elevadas (acima de 35º C) podem diminuir severamente a
produção, contrariamente, em condições normais uma planta de milho dificilmente deixará de ser
polinizada pela falta de pólen, haja visto que um pendão de tamanho médio chega a ter 2,5 milhões
de grãos de pólen (MAGALHÃES et al., 1994; MAGALHÃES et al., 1999; FANCELLI &
DOURADO NETO, 2000).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 28


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Além de afetar o sincronismo pendão-espiga, a falta de água nesse estádio pode reduzir o
aparecimento de uma segunda espiga em materiais prolíficos. A liberação do pólen dura de uma a
duas semanas (BERGAMASCHI & MATZENAUE, 2014).
Entre VT a R1, a planta de milho é mais vulnerável às intempéries da natureza que qualquer
outro período, devido ao pendão e todas as folhas estarem completamente expostas (MAGALHÃES
et al. 1999; FANCELLI & DOURADO NETO, 2000).
No estádio R1, onde há o embonecamento e a polinização, é iniciado quando os estão
visíveis, para fora das espigas. A polinização ocorre no momento em que o grão de pólen e o estilo-
estigma entram em contato, acontecendo isso o grão de pólen demora cerca de 24 horas para
percorrer o tubo polínico até finalmente poder fertilizar o óvulo, sendo que em dois a três dias todos
os estilos-estigmas em uma espiga estão polinizados (RITCHIE & HANWAY, 1989;
MAGALHÃES et al., 1994).
Com isso, o estresse hídrico, pode ser agente causador de baixa polinização e baixa granação
da espiga, pois os estilos-estigmas e os grãos de pólen tendem à dessecação, além de diminuir a
longevidade do grão de polén. Pode provocar também maior intervalo entre o florescimento
masculino e feminino, abortamento de grãos durante duas a três semanas após o florescimento
feminino, pode reduzir prolificidade de genótipos que apresentam essa característica. Esse estresse
também apresenta estreita correlação entre o número de óvulos fertilizados (MAGALHÃES et al.,
1994; EDMEADES et al. (1999).
No estádio R2, grão leitoso, os grãos apresentam externamente cor branca. O endosperma
exibe uma coloração clara, assim como o seu conteúdo, que é basicamente um fluido que tem em
sua composição açúcares. Embora o embrião esteja ainda desenvolvendo-se vagarosamente nesse
estádio, a radícula, o coleóptilo e a primeira folha embrionária já estão formados. Dentro do
embrião em desenvolvimento já encontra-se uma planta de milho em miniatura (RICHIE &
HANWAY 1989; MAGALHÃES et al., 1994).
Nessa fase inicia-se a acumulação de amido, com rápida acumulação de matéria seca. Esse
rápido desenvolvimento continuará até próximo ao estádio R6. N e P ainda estão sendo absorvidos e
a realocação desses nutrientes das partes vegetativas para a espiga tem início nesse estádio. A
umidade de 85% nos grãos, nessa fase, começa a diminuir gradualmente até a colheita
(MAGALHÃES & JONES, 1990; MAGALHÃES et al., 1994).
Já em R3, grão pastoso, o grão apresenta-se com uma aparência amarela e no seu interior um
fluido de cor leitosa, o qual representa o início da transformação dos açúcares em amido,
contribuindo para o incremento de seu peso seco. Esse incremento acontece pela translocação dos
fotoassimilados presentes nas folhas e no colmo para a espiga e grãos em formação. A eficiência
dessa translocação, além de ser importante para a produção, é extremamente dependente de água

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 29


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

(MAGALHÃES & JONES, 1990; MAGALHÃES et al., 1998). Sendo esse estádio de definição da
densidade dos grãos (MAGALHÃES et al., 1994; FANCELLI & DOURADO NETO, 2000).
A planta de milho no estádio de florescimento, o intervalo de dois dias sob déficit hídrico no
faz com que o rendimento decresça em mais de 20%, enquanto que, quatro a oito dias no estádio de
enchimento de grãos diminuem a produção em torno de 50% (QUEIROZ, 2010). Segundo Bäzinger
et al. (2000), quando o período de déficit hídrico se dá num intervalo entre o início do pendoamento
e o início do enchimento de grãos, pode comprometer a reprodução das plantas, tornando-as
estéreis, Bergonci et al. (2001), Bergamaschi et al. (2004) e Bergamaschi et al. (2006) concordaram
com essa afirmação. Ainda nesse sentido, Magalhães et al. (2002), confirma a importância dessa
fase para o rendimento de grãos, afirmando que o aumento no acúmulo de matéria seca nos grãos
está estreitamente relacionado à fotossíntese, assim, como o déficit hídrico diminui a fotossíntese,
diminui também a matéria seca dos grãos.
Assim um estresse hídrico nessa fase, embora menos crítico que na fase anterior, pode afetar
a produção. Com o processo de maturação dos grãos, o potencial de redução na produção final de
grãos devido ao estresse hídrico vai diminuindo (BERGAMASCHI & MATZENAUE, 2014).
O estádio R4, grão farináceo, o fluido interno dos grãos passa de um estado leitoso para uma
consistência pastosa e as estruturas embrionárias de dentro dos grãos encontram-se já totalmente
diferenciadas. A deposição de amido é bastante acentuada, caracterizando um período
exclusivamente destinado ao ganho de peso por parte do grão. Em condições de campo, tal etapa do
desenvolvimento é prontamente reconhecida, pois, quando os grãos presentes são submetidos à
pressão imposta pelos dedos, mostram-se relativamente consistentes, embora ainda possam
apresentar pequena quantidade de sólidos solúveis, cuja presença em abundância caracteriza o
estádio R3 (grão leitoso) (MAGALHÃES et al., 1994).
Os grãos possuem cerca de 70% de umidade e já acumularam próximo de 50% do peso do
grão na maturidade. Estrese hídrico nessa fase resulta em maior porcentagem de grãos leves e
pequenos.
O estádio R5, grão farináceo-duro, é caracterizado pelo aparecimento de uma concavidade
na parte superior do grão, popularmente chamada de ―dente‖. A separação de R4 e R5 é feita pela
linha do leite, a qual aparece logo após a formação do dente e, com a maturação, vem avançando
em direção à base do grão. Devido à acumulação do amido, acima da linha é duro e abaixo é macio.
Mas, alguns genótipos do tipo ―duro‖ não formam dente, daí ser mais difícil notar esse estádio nos
referidos materiais, podendo ser apenas relacionado ao aumento gradativo da dureza dos grãos
(BERGAMASCHI & MATZENAUE, 2014).
Estresse hídrico, nessa fase, pode antecipar o aparecimento da formação da camada preta, a
qual é indicadora da maturidade fisiológica. Assim, redução na produção, se dá pela redução do

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 30


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

peso dos grãos e não ao número de grãos. Nesse estádio, os grãos têm cerca de 55% de umidade
(MAGALHÃES et al., 1994). Sendo esse momento o indicado para colher materiais destinados a
silagem, pois as plantas apresentam em torno de 33 a 37% de matéria seca (FANCELLI &
DOURADO NETO, 2000).
No estádio R6, maturidade fisiológica, todos os grãos na espiga o máximo de peso seco e
vigor. A linha do amido já avançou até a espiga e a camada preta já foi formada. Essa camada preta
ocorre progressivamente da ponta da espiga para a base. A camada preta é formada com a obstrução
dos vasos, onde o grão perde a ligação com a planta mãe (RITCHIE & HANWAY, 1989;
MAGALHÃES et al. 1994).
O ponto de maturidade fisiológica caracteriza o momento ideal para a colheita, com 30 a
38% de umidade, podendo variar entre genótipos. Contudo, o grão não está ainda em condições de
ser colhido e armazenado com segurança, pois deveria estar com 13 a 15% de umidade. É
recomendado que a colheita seja feita quando os grãos estiverem com cerca de 18 a 25% de
umidade, desde que o produto colhido seja submetido a uma secagem artificial antes de ser
armazenado (BERGAMASCHI & MATZENAUE, 2014).
De modo geral, segundo Wagner (2009) e Mendes & Custodio (2016), o estresse hídrico
pode ocasionar perdas na produção, a depender do estádio fenológico, conforme a Tabela 02.

Tabela 02. Porcentagem de redução de produção de grãos de acordo com o estádio


fenológico da cultura do milho.
Estádio fenológico Perdas da produção de grãos (% redução)
VE – V6 5%
V7 – V10 5%
V10 – VT 10%
VT 15%
VT (Antese) – R1 35%
R2 10%
R3 5%

CONCLUSÕES

Na cultura do milho a deficiência hídrica pode causar grandes perdas na produtividade.


Resposta ao déficit hídrico é dependente da fenologia, onde os intervalos entre VE a V6 e
VT a R1 são os mais sensíveis a deficiência hídrica.
Perdas de produtividade são diferentes, a depender do estádio fenológico e severidade do
estresse.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGRIANUAL 2011. Anuário estatístico da agricultura brasileira. São Paulo: FNP, p.496, 2010.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 31


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ALDRICH, S.R.; SCOTT, W.O.; LENG, R.E. Modern corn production. 2. ed. Champaign, IL: A &
L Publication, 1982. 371p.

ALMEIDA, B. M. Déficit e excesso hídrico na cultura do milho (Zea mays L.) em ambiente
protegido. 124 p. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura ―Luiz de Queiroz‖,
Piracicaba, 2016.

BÄNZINGER, M.; EDMEADES, G. O.; BECK, D.; BELLON, M. Breeding for drought and
nitrogen stress tolerance in maize: from theory to practice. Mexico, D.F.: CIMMYT. 68p., 2000.

BERGAMASCHI, H.; DALMAGO, G. A.; BERGONCI, J. I.; BIANCHI, C. A. M.; MÜLLER, A.


G.; COMIRAN, F.; HECKLER, B. M. M. Distribuição hídrica no período crítico do milho e
produção de grãos. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 39, n. 9, p. 831-839, 2004.

BERGAMASCHI, H.; DALMAGO, G. A.; COMIRAN, F.; BERGONCI, J. I.; MÜLLER, A. G.;
FRANÇA, S.; SANTOS, A. O.; RADIN, B.; BIANCHI, C. A. M.; PEREIRA, P. G. Déficit
hídrico e produtividade na cultura do milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 41, n.
2, p. 243-249, 2006.

BERGAMASCHI, H.; MATZENAUER, R. O milho e o clima. Porto Alegre: Emater/RS; Ascar,


2014. 84 p.

BERGONCI, J. I.; BERGAMASCHI, H.; DILLENBURG, L. R.; SANTOS, A. O. Diferença de


temperatura dossel-ar como um indicador de déficit hídrico em milho. Revista Brasileira de
Agrometeorologia, v.7 n. 1, p. 5-11, 1999.

BERGONCI, J. I.; BERGAMASCHI, H.; SANTOS, A. O.; FRANÇA, S.; RADIN, B. Eficiência da
irrigação em rendimento de grãos e matéria seca de milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
v.36, n. 1, p.949-956, 2001.

COELHO, H. A. Diferentes condições de estresse hídrico no desenvolvimento de milhos


transgênico e convencional. 2013. 93 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Faculdade de
Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2013.

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Safras. Disponível em:


<http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1252&t=2&Pagina_objcmsconteudos=3#A_objcms
conteudos>, 2016. Acesso em: 20/09/2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 32


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

EDMEADES, G. O.; BOLAÑOS, J.; CHAPMAN, S. C.; LAFITTE, H. R.; BÄNZIGER, M.


Selection improves drought tolerance in tropical maize populations. Gains in biomass, grain
yield and harvest index. Crop Science. v.39, n. 1, p.1306-1315, 1999.

FANCELLI, A. L.; DOURADO-NETO, D. Produção de milho. Guaíba: Agropecuária, 2000. 360p.

FOOD AND AGRICULTURA ORGANIZATION OF THE UNITED STATES NATIONS


(FAO). FAOSTAT. Disponível em: <http://faostat3.fao.org/compare/E>, 2014. Acesso em:
20/09/2016.

GUIMARÃES, P. S. Respostas fisiológicas e avaliação de progênies de irmãos germanos


interpopulacionais de milho com ênfase em tolerância à seca. 148 f. Tese (Doutorado) -
INSTITUTO AGRONÔMICO de CAMPINAS, Campinas, 2013.

HMIDA-SAYARI, A.; GARGOURI-BOUZID, R.; BIDANI, A.; JAOUA, L.; SAVOURÉ, A.;
JAOUA, S. Overexpression of Δ1 -pyrroline-5-carboxylate synthetase increases proline
production and confers salt tolerance in transgenic potato plants. Plant Science, v. 196, n. 4, p.
746-752, 2005.

LARCHER, W. Ecofiosiologia vegetal. São Carlos: Rima, p. 531, 2004.

MAGALHÃES, A. C. N. Fotossíntese, particionamento de assimilados e crescimento de plantas


sob condições de estresse: com destaque para o milho. In: Simpósio internacional sobre estresse
ambiental, 1992, Belo Horizonte. O milho em perspectiva. Sete Lagoas: EMBRAPA/CNPMS.
México: CIMMYTIUNDP, p.195-221, 1995.

MAGALHÃES, P. C.; DURÃES, F. O. M.; CARNEIRO, N. P.; PAIVA, E. Fisiologia do milho.


Sete Lagoas: MAPA/Embrapa Milho e Sorgo, 2002. 23 p. (Circular Técnica, 22).

MAGALHÃES, P. C.; DURÃES, F. O. M.; OLIVEIRA, A. C. Efeitos do quebramento do colmo no


rendimento de grãos de milho. Ciência e Agrotecnologia, v. 22, n. 1, p. 279-289, 1998.

MAGALHÃES, P. C.; DURÃES, F. O. M.; OLIVEIRA, A. C.; GAMA, E. E. G. Efeitos de


diferentes técnicas de despendoamento na produção de milho. Scientia Agrícola, v. 56, n. 1, p.
77-82, 1999.

MAGALHÃES, P. C.; JONES, R. Aumento de fotoassimilados sobre os teores de carboidratos e


nitrogênio em milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.25, n.12, p.1755-1761, 1990.

MAGALHÃES, P. C.; RESENDE, M.; OLIVEIRA, A. C.; DURÃES, F. O. M.; SANS, L. M. A.


Caracterização morfológica de milho de diferentes ciclos. In: Congresso nacional de milho e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 33


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

sorgo, 20, 1994, Goiânia. Centro Oeste-cinturão do milho e do sorgo no Brasil: resumos.
Goiânia, ABMS, p. 190, 1994.

MENDES, C.; CUSTÓDIO, F. Milho: Perdas na safrinha pela seca podem passar de 2 mi de t.
Noticias agrícolas. 2016. Disponível em:
<http://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/milho/172125-milho-estiagem-reduz-diariamente-
potencial-produtivo-da-safrinha-brasileira.html#.WCS2iVsrLIU>. Acesso em: 22/09/2016.

PIMENTEL, C. A relação da planta com a água. Seropédica: UFRRJ, p.192, 2004.

PIMENTEL, C.; ROSSIELO, R. O. P. Entendimento sobre relações hídricas. In: Simpósio


internacional sobre estresse ambiental: O milho em perspectiva. Belo Horizonte, MG.
Anais...EMBRAPA/CNPMS, 1995. v. 1, p.131-146, 1995.

QUEIROZ, R. J. B. Resposta fisiológica e molecular de dois genótipos de milho à limitação


hídrica. 2010. 167p. Tese (Doutorado em Agronomia – Área de concentração em Produção
Vegetal). Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP, Câmpus de Jaboticabal – SP,
2010.

RITCHIE, S. W.; HANWAY, J. J.; BENSON, G. O. Como a planta de milho se desenvolve.


KPPOTAFOS, arquivo do agrônomo n. 15, informações agronômicas n. 103, 2003.

RITCHIE, S.; HANWAY, J. J. How a corn plant develops. Ames: Iowa State University of Science
and Technology/Cooperative Extension Service, 1989. (Special Report, 48).

SCHITTENHELM, S. Chemical composition and methane yield of maize hybrids with contrasting
maturity. European Journal Agronomy, v. 29, n. 2, p. 72–79, 2008.

TAIZ, L. & ZEIGER, E. Fisiologia Vegetal. 4.ed. Porto Alegre: E.Atmed, p.819, 2009.

WAGNER, M. V. Características hidroclimáticas para a cultura do milho em Guarapuava-PR. 68


f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual do Centro-Oeste, Programa de Pós-Graduação
em Agronomia. Guarapuava, 2009.

XOCONOSTLE-CAZARES, B.; RAMIREZ-ORTEGA, F.A.; FLORES-ELENES, L. and RUIZ-


MEDRANO. Drought tolerance in crop plants. Americam Journal Plant Physiology, v.5, n. 1,
p.241-256, 2010.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 34


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

EFEITO DO ESTRESSE HÍDRICO NA GERMINAÇÃO E VIGOR DE SEMENTES DE


DALBERGIA NIGRA (VELL.) FR. ALL. EX BENTH

Maria Joelma da SILVA


Graduanda em Ciências Biológicas, CCA/UFPB
joelma_mjs@outlook.com
Edna Ursulino ALVES
Professora do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais, CCA/UFPB
ursulinoalves@hotmail.com
Maria das Graças Rodrigues do NASCIMENTO
Doutoranda em Agronomia, CCA/UFPB
graca.rodrigues@hotmail.com
Edlânia Maria de SOUZA
Mestranda em Agronomia, CCA/UFPB
Edlania.maria@hotmail.com

RESUMO
O conhecimento da tolerância das plantas à seca é uma ferramenta importante para a escolha de
espécies adequadas ao reflorestamento de áreas degradadas no semiárido. Dalbergia nigra (Vell.)
Fr. All. (jacarandá-da-bahia) é uma espécie com alto potencial para o manejo florestal sustentável
devido à alta taxa de regeneração em florestas alteradas e fácil adaptação em terrenos de baixa
fertilidade. Diante disso, o objetivo foi avaliar a germinação e vigor de sementes de D. nigra em
condições de estresse hídrico simulado. Os potenciais utilizados foram de -0,1; -0,2; -0,3; -0,4 e -0,5
MPa simulados com polietileno glicol (PEG 6000), além do nível zero (0,0 MPa) utilizando apenas
água destilada, em delineamento experimental inteiramente ao acaso. As variáveis analisadas
foram: germinação, primeira contagem e índice de velocidade de germinação de sementes, além do
comprimento e massa seca de raízes e parte aérea de plântulas. Os melhores resultados para todas as
variáveis analisadas foram obtidos na ausência do estresse hídrico (0,0 MPa), com subsequente
redução na germinação e vigor de sementes à medida que os potenciais osmóticos se tornaram mais
negativos. A germinação e o vigor das sementes de D. nigra são osmoticamente afetados pelo
estresse hídrico simulado com soluções de PEG 6000.
Palavras-chave: jacarandá-da-bahia; disponibilidade hídrica; espécie florestal.
ABSTRACT
Knowledge about plant tolerance to drought is an important tool for choosing suitable species for
reforestation of degraded areas in the semiarid. Dalbergia nigra (Vell.) Fr. All. (Jacarandá-da-
bahia) is a species with high potential for sustainable forest management because it presents a high
rate of regeneration in altered forests and easy adaptation in low fertility lands. Therefore, the
objective was to evaluate the germination and vigor of D. nigra seeds under the effect of water
stress. The tests were conducted in B.O.D. at 25 ºC, and the treatments consisted of potentials of -
0.1, -0.2, -0.3, -0.4 and -0.5 MPa simulated with polyethylene glycol (PEG 6000), in addition to the
zero level (0,0MPa) using only distilled water. The experimental design was the completely
randomized design with 4 replicates of 25 seeds. The variables analyzed were: percentage, first
count and seed germination rate index, as well as root length and dry mass of seedlings and shoots.
The best results for all analyzed variables were obtained in the absence of water stress (0.0 MPa)
with subsequent reduction in germination and seed vigor as the osmotic potentials became more

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 35


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

negative. The germination and vigor of D. nigra seeds is osmotically affected by PEG 6000,
however potential up to -0.5 MPa does not drastically inhibit seed germination.
Keywords: jacarandá-da-bahia; water availability; forest species.

INTRODUÇÃO

O conhecimento da fisiologia de sementes é de fundamental importância, uma vez que a


maioria das espécies florestais nativas é propagada via semente, e cada espécie necessita de
condições ambientais específicas para a germinação da semente e desenvolvimento da plântula
(REGO et al., 2009). O tempo que a semente de uma espécie florestal requer para germinar pode ser
determinante para a sobrevivência das plantas, principalmente em locais onde há baixa
disponibilidade de água durante a maior parte do ano (ROSA et al., 2005), como é o caso do
semiárido nordestino.
O semiárido nordestino caracteriza-se por as áreas em que ocorre estresse hídrico, seja por
razões climáticas ou condições do tipo de solo, de forma que o entendimento sobre a tolerância das
plantas à seca, assim como a sua exploração, principalmente com relação aos problemas de ordem
fisiológica ou ecológica são importantes, sobretudo para recuperação de áreas nas quais ocorre esse
tipo de limitação (SANTOS et al., 2011).
O uso de substâncias químicas osmoticamente ativas para induzir a restrição hídrica na
semente tem sido amplamente difundido e é normalmente realizado pela adição de solutos como
CaCl2, NaCl ou polietileno glicol (PEG 6000) de alto peso molecular, normalmente maior que 4000
(OLIVEIRA e GOMES-FILHO, 2009; YAMASHITA et al., 2009; KISSMANN et al., 2010).
O polietileno glicol 6000 (PEG 6000), por ser um composto químico inerte e não tóxico, tem
sido amplamente utilizado na forma de solução em diferentes concentrações para simular baixas
condições de umidade no substrato, especialmente por não penetrar nas células, não ser degradado e
não causar toxidez (HARDEGREE e EMMERICH, 1994).
Dalbergia nigra (Vell.) Fr. All., conhecida como jacarandá-da-bahia, pertencente à família
Fabaceae (Caesalpinoidea), ocorre nos biomas Mata Atlântica e no cerrado brasileiro,
especialmente nos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul (LORENZI, 2009). A
espécie é de alto potencial para o manejo florestal sustentável, tendo como principais vantagens à
facilidade de comercialização no mercado atual, alta taxa de regeneração em florestas alteradas e a
fácil adaptação em terrenos de baixa fertilidade (RÊGO e POSSAMAI, 2003).
Devido à exploração desordenada sem plantios de reposição e ao alto valor de sua madeira,
encontra-se na lista oficial das espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção, na categoria
vulnerável, segundo documento do Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2008). É, portanto,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 36


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

essencial conhecer a capacidade germinativa de D. nigra sob condição de estresse hídrico e,


consequentemente, suas vantagens ecológicas em relação a outras que são sensíveis à seca.
Diante do exposto, o objetivo foi avaliar a germinação e o vigor das sementes de Dalbergia
nigra em condições de estresse hídrico simulado.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Análise de Sementes (LAS) do Centro de


Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Areia - PB, com sementes de
D. nigra obtidas de frutos colhidos na copa de árvores matrizes localizadas no referido município e
transportados para o LAS onde foi realizada a extração das sementes de forma manual.
Para simular o estresse hídrico e avaliar o seu efeito sobre a germinação e o vigor das
sementes utilizou-se o polietileno glicol (PEG 6000) para obtenção dos potenciais osmóticos: 0,0
(testemunha), -0,1; -0,2, -0,3, -0,4, e -0,5 MPa, seguindo recomendações de Villela et al. (1991). Os
testes foram conduzidos em germinador do tipo Biological Oxigen Demand (B.O.D.) regulado para
a temperatura constante de 25 °C e fotoperíodo de 12 horas usando lâmpadas fluorescentes tipo luz
do dia (4 x 20 W). Para cada tratamento utilizou-se quatro repetições de 25 sementes, as quais
foram distribuídas sobre duas folhas de papel toalha, cobertas com uma terceira e organizadas em
forma de rolos, que foram acondicionados em sacos de polietileno fechados com atilhos de
borracha, a fim de evitar a perda de água por evaporação. O papel toalha foi previamente
umedecido com as soluções de PEG 6000, nos potenciais supracitados, com uma quantidade das
soluções e de água destilada equivalente a 2,5 vezes o seu peso seco, sem adição posterior.
Porcentagem de germinação - a avaliação foi realizada no 14° dias após a instalação do
teste; considerando-se como sementes germinadas aquelas que haviam emitido a raiz primária e a
parte aérea, conforme as Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009), cujos resultados foram
expressos em porcentagem.
Primeira contagem de germinação - determinou-se juntamente com o teste de germinação,
mediante contagem do número de plântulas normais (raiz e parte aérea presentes) no sétimo dia
após a instalação do teste, sendo os resultados expressos em porcentagem.
Índice de velocidade de germinação (IVG) - foram realizadas contagens diárias das sementes
germinadas, no mesmo horário, durante 14 dias, sendo o índice de velocidade de germinação
calculado pela fórmula proposta por Maguire (1962).
Comprimento e massa seca de raízes e parte aérea - ao final do teste de germinação, as
plântulas normais de cada tratamento e repetição foram medidas (raiz primária e parte aérea) com
auxílio de uma régua graduada em centímetros, sendo os resultados expressos em cm plântula-1.
Após as medições, as raízes e partes aéreas das plântulas, sem as folhas cotiledonares, foram

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 37


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

colocadas em sacos de papel tipo kraft e postas em estufa de secagem a 65 ºC por 48 horas.
Decorrido esse período, as amostras foram pesadas em balança analítica com precisão de 0,001g e
os resultados expressos em mg plântula-1.
O delineamento experimental foi o inteiramente ao acaso, com quatro repetições de 25
sementes, cujos dados foram submetidos à análise de variância e regressão polinomial, testando-se
os modelos linear e quadrático, sendo selecionado o significativo de maior R2. As médias foram
comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade e, para a análise dos dados utilizou-se o
sistema de análise Sisvar® (FERREIRA, 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A germinação e o vigor das sementes de D. nigra foram afetados negativamente pelos


potenciais osmóticos utilizados, constatando-se máxima porcentagem de germinação na primeira
contagem (58%) para o tratamento controle (0,0 MPa). Por ocasião da primeira contagem de
germinação observou-se redução drástica à medida que os potenciais osmóticos se tornaram mais
negativos, obtendo-se germinação nula a partir do potencial -0,3 MPa (Figura 1).

100

P. contagem de germinação (%)


y = 57,929 + 301,21x + 375x² 80
R² = 0,99
60

40

20

0
-0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0
Potenciais osmóticos (MPa)
Figura 1. Primeira contagem de germinação de sementes de D. nigra submetidas ao estresse hídrico.

Pela avaliação do vigor, por ocasião da primeira contagem de germinação de sementes, Silva
et al. (2016) verificaram redução acentuada na germinação de sementes de Chorisia glaziovii O.
Kuntze a partir do potencial -0,1 MPa. Para sementes Apeiba tibourbou Aubl., os maiores
porcentuais de germinação na primeira contagem foram obtidos no tratamento controle (0,0 MPa) e
quando os potencias se tornaram mais negativos houve uma redução drástica na germinação
(GUEDES et al., 2013).
Os resultados observados para as sementes de D. nigra corroboram com aqueles descritos na
literatura, uma vez que quanto maior a concentração do agente osmótico no meio de germinação
maior foi a redução ou inibição da absorção de água pelos tecidos, dificultando assim o início da

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 38


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

germinação das sementes. A intensidade da resposta ao estresse hídrico é variável entre as sementes
de diferentes espécies, as quais se comportam de maneira diferenciada à condição de estresse
induzida pela redução no potencial osmótico da solução (PEREZ et al., 1998).
Pelos dados da Figura 2 observa-se que houve redução linear na porcentagem de germinação
das sementes de D. nigra à medida que os potenciais osmóticos se tornaram mais negativos,
obtendo-se germinação máxima de 73% no tratamento controle (0,0 MPa) e mínima de 3% para o
potencial -0,5 MPa.

100

80
y = 75,429 + 139,71x

Germinação (%)
R² = 0,97
60

40

20

0
-0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0
Potenciais osmóticos (MPa)
Figura 2. Germinação (%) de sementes de D. nigra submetidas ao estresse hídrico.

Uma das características importantes que deve ser considerada na recomendação de espécies
florestais é a sua capacidade de suportar diferentes condições ecológicas, principalmente a
tolerância a solos salinos e áreas com baixa disponibilidade hídrica (REGO et al., 2011). Algumas
espécies florestais cujas sementes conseguem germinar em condições de estresse hídrico têm
vantagens ecológicas em relação a outras que são sensíveis à seca (ROSA et al., 2005).
Pelos estudos com diferentes espécies florestais tem-se verificado comportamento distinto
quando as sementes são submetidas a estresse hídrico simulado. Nas sementes de Piptadenia
moniliformis Benth. em condição de estresse hídrico simulado com PEG 6000, Azerêdo et al.
(2016) verificaram que o processo germinativo foi comprometido a partir de potenciais hídricos
inferiores a -0,6 MPa nas temperaturas de 25 e 30 °C. Em sementes de Genipa americana L., houve
total inibição da germinação quando submetidas a potenciais hídricos de -0,3 e -0,4 MPa (SANTOS
et al., 2011). Entretanto, sementes de Myracrodruon urundeuva Fr. All. são tolerantes ao estresse
hídrico, com valores elevados de germinação nos potenciais de -0,2 a -0,4 MPa (VIRGENS et al.,
2012).
Na avaliação do vigor de sementes de D. nigra pelo índice de velocidade de germinação,
constatou-se redução à medida que os potenciais osmóticos foram ficando mais negativos,
verificando-se maior velocidade de germinação (2,43) no tratamento controle (Figura 3).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 39


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ìndice de velocidade de
y = 2,4368 + 5,3204x + 1,0179x2

germinação
R² = 0,99

Potenciais osmóticos (MPa)


Figura 3. Índice de velocidade de germinação de sementes de D. nigra submetidas ao estresse hídrico.

Os maiores valores do índice de velocidade de germinação de sementes de Erythrina falcata


Benth. foram obtidos no tratamento controle (0,0 MPa), todavia Pelegrini et al. (2013) obsevaram
velocidade de germinação satisfatória até o potencial hídrico de -0,4 MPa. De forma semelhante, o
índice de velocidade de germinação de sementes de P. moniliformis diminuiu à medida que o
potencial hídrico se tornou mais negativo (AZERÊDO et al., 2016).
A redução da velocidade de germinação das sementes nos potenciais osmóticos mais
negativos pode ser explicada pelo fato do PEG 6000 possuir alta viscosidade e peso molecular, o
que retarda a velocidade de hidratação dos tecidos e a difusão de oxigênio, exigindo maior tempo
para a reorganização das membranas e desenvolvimento de processos metabólicos (ANTUNES et
al., 2011).
O comprimento de raiz primária e de parte aérea de plântulas de D. nigra (Figura 4A-B)
submetidas ao estresse hídrico simulado com PEG 6000 foram reduzidos à medida que os
potenciais osmóticos ficaram mais negativos, em que o comprimento máximo obtido foi de 2,9 e
5,4 cm para raiz primária e parte aérea, respectivamente, no tratamento controle (0,0 MPa).
O comprimento de raízes e parte aérea das plântulas de Apuleia leiocarpa (Vog.) Macbr
reduziu linearmente quando as sementes foram submetidas a potenciais osmóticos mais negativos
(SPADETO et al., 2012). Para plântulas de C. glaziovii, Silva et al. (2016) verificaram redução no
comprimento de raiz primária e de parte aérea à medida que os potenciais osmóticos se tornaram
mais negativos, em todas as temperaturas testadas.
O estresse hídrico, além de reduzir a velocidade e a porcentagem de germinação das
sementes (LOPES e MACEDO, 2008), provoca redução no crescimento devido à diminuição da
expansão celular (ÁVILA et al., 2007). O processo de alongamento e síntese de parede celular é
muito sensível ao deficit hídrico, tendo como consequência à redução do crescimento, que pode ser
causada por um decréscimo na turgescência celular (BEWLEY e BLACK, 1994).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 40


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 4. Comprimentos (cm) da raiz primária (A) e parte aérea (B) de plântulas de D. nigra oriundas de
sementes submetidas ao estresse hídrico.

O máximo conteúdo de massa seca (4,3 mg) de raízes de plântulas de D. nigra foi obtido no
tratamento controle (0,0 MPa), com subsequente redução linear à medida que os potenciais
osmóticos se tornaram mais negativos (Figura 6A). Para o comprimento de parte aérea, os dados se
ajustaram ao modelo quadrático, com máximo conteúdo de massa seca de 12,3 mg para o
tratamento controle (0,0 MPa) (Figura 6B).

Figura 5. Massa seca (mg) de raízes (A) e parte aérea (B) de plântulas de D. nigra oriundas de sementes
submetidas ao estresse hídrico.

O conteúdo de massa seca de plântulas de A. tibourbou foi afetado pelos diferentes


potenciais osmóticos, observando-se os maiores conteúdos de massa seca no tratamento controle
(GUEDES et al., 2013). Para o conteúdo de massa seca de raízes e parte aérea de C. glaziovii, Silva
et al. (2016) observaram decréscimo linear com a redução do potencial osmótico. O crescimento das
plântulas pode ser avaliado pelo acúmulo de massa seca, desta forma, raízes e parte aérea aumentam
em massa seca devido à importação das reservas estocadas na semente.

CONCLUSÃO

A germinação e o vigor das sementes de Dalbergia nigra são reduzidos em condições de


estresse hídrico simulado por soluções de PEG 6000.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 41


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

LITERATURA CITADA

ANTUNES, C. G. C.; PELACANI, C. R.; RIBEIRO, R. C.; SOUZA, J. V.; SOUZA, C. L. M.;
CASTRO, R. D. Germinação de sementes de Caesalpinia pyramidalis Tul. (catingueira)
submetidas a deficiência hídrica. Revista Árvore, v. 35, n. 5, p. 1007-1015, 2011.

ÁVILA, M. R., BRACCINI, A. D. L., SCAPIM, C. A., FAGLIARI, J. R., SANTOS, J. D.


Influência do estresse hídrico simulado com manitol na germinação de sementes e crescimento
de plântulas de canola. Revista Brasileira de Sementes, v. 29, n. 1, p. 98-106, 2007.

AZERÊDO, G. A.; PAULA, R. C.; VALERI, S. V. Germinação de sementes de Piptadenia


moniliformis Benth. sob estresse hídrico. Ciência Florestal, v. 26, n. 1, p. 193-202, 2016.

BEWLEY, J. D.; BLACK, M. Seeds: physiology of development and germination. 2.ed. New York:
Plenum Press, 1994. 445p.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes.


Secretaria de Defesa Agropecuária. Brasília: MAPA/ACS, 2009. 395p.

FERREIRA, D. F. Programa Sisvar. exe: sistema de análise de variância. Lavras, Universidade


Federal de Lavras, 2007.

GUEDES, R. S.; ALVES, E. U.; VIANA, J. S.; GONÇALVES, E. P.; LIMA, C. R.; SANTOS, S.R.
N. Germinação e vigor de sementes de Apeiba tibourbou submetidas ao estresse hídrico e
diferentes temperaturas. Ciência Florestal, v. 23, n. 1, p. 45-53, 2013.

HARDEGREE, S. P.; EMMERICH, W. E. Seed germination in response to polyetilene glycol


solution. Seed Science and Technology, v. 22, n. 1, p. 1-7, 1994.

KISSMANN, C.; SCALON, S. P. Q.; MOTA, L. H. S.; VIEIRA, M. C. Germinação de sementes de


Stryphnodendron mart osmocondicionadas. Revista Brasileira de Sementes, v. 32, n. 2, p. 26-35,
2010.

LOPES, J. C.; MACEDO, C. M. P. Germinação de sementes de couve chinesa sob influência do


teor de substrato e estresse salino. Revista Brasileira de Sementes, v. 30, n. 3, p. 79-85, 2008.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do


Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 2009, p. 197.

MAGUIRE, J. D. Speed of germination-aid in selection and evaluation for seedling emergence


vigor. Crop Science, v. 2, n. 2, p. 176-177, 1962.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 42


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MMA (2008) - Instrução Normativa n° 6 de 23 de setembro de 2008a. Ministério do Meio


Ambiente. Lista oficial das espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção - acesso em
161/07/2017. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/
ascom_boletins/_arquivos/83_19092008034949.

OLIVEIRA, A. B.; GOMES-FILHO, E. Germinação e vigor de sementes de sorgo forrageiro sob


estresse hídrico e salino. Revista Brasileira de Sementes, v. 31, n. 3, p. 48-56, 2009.

PELEGRINI, L. L.; BORCIONI, E.; NOGUEIRA, A. C.; KOEHLER, H. S.; QUOIRIN, M. G. G.


Efeito do estresse hídrico simulado com NaCl, manitol e PEG (6000) na germinação de
sementes de Erythrina falcata Benth. Ciência Florestal, v. 23, n. 2, p. 511-519, 2013.

PEREZ, S. C. J. G. A.; FANTI, S. C.; CASALI, C. A. Influência da temperatura sobre a resistência


das sementes de canafístula (Peltophorum dubium (Spreng) Taubert) ao estresse hídrico
simulado. Revista Brasileira de Sementes, v. 20, n. 2, p. 96-103, 1998.

RÊGO, G. M.; POSSAMAI, E. Jacarandá-da-Bahia (Dalbergia nigra Vellozo) Leguminoseae-


Papilionoidae: produção de mudas. Colombo: Embrapa Florestas, 2003. 3 p. (Embrapa
Florestas. Comunicado técnico, 106).

REGO, S. S.; FERREIRA, M. M.; NOGUEIRA, A. C.; GROSSI, F.; SOUSA, R. K.; BRONDANI,
G. E.; SILVA, A. L. L. Estresse hídrico e salino na germinação de sementes de Anadenanthera
colubrina (Veloso) Brenan. Journal of Biotechnology and Biodiversity, v. 2, n. 4, p. 37-42, 2011.

REGO, S. S.; NOGUEIRA, A. C.; KUNIYOSHI, Y. S.; SANTOS, Á. F. Germinação de sementes


de Blepharocalyx salicifolius (H.B.K.) Berg. em diferentes substratos e condições de
temperaturas, luz e umidade. Revista Brasileira de Sementes, v. 31, n. 2, p. 212-220, 2009.

ROSA, L. S.; FELIPPI, M.; NOGUEIRA, A. C.; GROSSI, F. Avaliação da germinação sob
diferentes potenciais osmóticos e caracterização morfológica da semente e plântula de Ateleia
glazioviana Baill (timbó). Cerne, v. 11, n. 3, p. 306-314, 2005.

SANTOS, A. R. F.; SILVA-MANN, R.; FERREIRA, R. A. Restrição hídrica em sementes de


jenipapo (Genipa americana L.). Revista Árvore, v. 35, n. 2, p. 213-220, 2011.

SILVA, M. L. M.; ALVES, E. U.; BRUNO, R. L. A.; SANTOS-MOURA, S. S.; ANJOS NETO, A.
P. Germinação de sementes de Chorisia glaziovii O. Kuntze submetidas ao estresse hídrico em
diferentes temperaturas. Ciência Florestal, v. 26, n. 3, p. 999-1007, 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 43


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SPADETO, C.; LOPES, J. C.; MENGARDA, L. H. G.; MATHEUS, M. T.; BERNARDES, P. M.


Estresse salino e hídrico na germinação de sementes de garapa (Apuleia Leiocarpa (Vogel.) J.
F. Macbr.). Enciclopédia Biosfera, v. 8, n. 14, p.539, 2012.

VIRGENS, I. O.; CASTRO, R. D.; FERNANDEZ, L. G.; PELACANI, C. R. Comportamento


fisiológico de sementes de Myracrodruon urundeuva Fr. All. (Anacardiaceae) submetidas a
fatores abióticos. Ciência Florestal, v. 22, n. 4, p.681-692, 2012.

YAMASHITA, O. M.; GUIMARÃES, S. C.; SILVA, J. L.; CARVALHO, M. A. C.; CAMARGO,


M. F. Fatores ambientais sobre a germinação de Emilia sonchiflora. Planta Daninha, v. 27, n. 4,
p.673-681, 2009.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 44


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

AVALIAÇÃO DE CULTIVARES DE GIRASSOL POR MEIO DE TESTES DE VIGOR

Jorge Marcos Peniche BARBOSA


Mestrando em Produção Agrícola UFRPE
jorgemarcosufra@gmail.com
Alessandro dos SANTOS
Graduando do Curso de Agronomia da UFRPE
alessandrosnt@hotmail.com
Leevna Tenório Vaz FRANÇA
Graduada em Agronomia pela UFRPE
leevna_franca@hotmail.com
Jose Fabio Ferreira de OLIVEIRA
Graduado em agronomia pela UFRPE
fabioagr@outlook.com

RESUMO
O elevado vigor de sementes é um fator importante para que se tenha uma germinação uniforme,
garantindo um estande ideal de plantas, refletindo na escolha de bons genótipos. Torna-se
necessário avaliar as cultivares previamente, por meio de testes de vigor, que são rápidos e
demandam menor custo. Neste sentido, o trabalho teve como objetivo avaliar as cultivares de
girassol por meio de testes de vigor em condições de laboratório e de campo, em delineamento
inteiramente casualizado, com seis cultivares e quatro repetições. As cultivares de girassol
utilizadas: Hélio 253, Hélio 358, ZENIT, PARAÍSO 65, NTO 30 e NEON. Os testes de vigor
empregados em condições de laboratório foram: germinação, primeira contagem, índice de
velocidade de germinação e condutividade elétrica, e em condições de campo: emergência em
campo, primeira contagem e índice de velocidade de emergência, comprimento e massa seca de
plântulas. Os resultados foram submetidos a análise de variância e as médias comparadas pelo teste
de Tukey. Em laboratório foi observado que as sementes da cultivar PARAÍSO 65 apresentaram
alto vigor e as da cultivar ZENIT menor vigor, em todos os testes avaliados. Os testes de vigor só
mostraram eficiência em separar as sementes que apresentaram alto e baixo vigor. Em condições de
campo os testes de emergência e o índice de velocidade de emergência de plântulas são eficientes
para separação de sementes de girassol com diferentes potenciais fisiológicos. As sementes das
cultivares Hélio 358 e PARAÍSO 65 apresentaram maior vigor.
Palavras-chave: Helianthus annuus L, Melhoramento Vegetal, Sementes

ABSTRACT
The high vigor of seeds is a have a uniform germination, ensuring an ideal plants box, reflecting on
good genotypes choice. For that, it's necessary to evaluate the cultivars previously, by means of
quick tests. This research has the intention to evaluate sunflower's cultivars by means onf vigor tests
in laboratory and field conditions, completely randomized, at six cultivars and four repetitions.
Sunflower cultivars used: Hélio 253, Hélio 358, ZENIT, PARAÍSO 65, NTO 30 and NEON. The
vigor tests made at laboratory conditions are the following: germination, first count, germination
speed index and electrical conductivity, and in field conditions: field emergency, first count and
emergency velocity index, seedlings length and dry mass. The results were submitted to variance
analysis and compared averages by Tukey test. In laboratory, the cultivar PARAÍSO 65 presented
high vigor and the cultivars of the type ZENIT a low vigor. The vigor tests were efficient only to

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 45


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

separate the seeds with high and low vigor. In field conditions, the tests were efficients to separate
the sunflower seeds with different physiological potential. The seeds of type Hélio 358 e PARAÍSO
65 showed the highest vigor.
Keywords: Helianthus annuus L, Vegetable Improvement, Seeds.

INTRODUÇÃO

―Dentre as fontes energéticas renováveis, a exploração racional da cultura do girassol


representa hoje uma alternativa de grande importância, não só pela renda que pode agregar à
atividade agrícola, mas como fonte de proteína de alto valor biológico para alimentação humana e
animal‖ (Leite et al., 2007). É uma cultura de comportamento rústico e seu índice de adaptabilidade
é excelente, podendo no Brasil ser cultivado de Norte a Sul.
A avaliação de cultivares para a indicação dos materiais genéticos superiores para plantio é o
primeiro passo para a indicação acertada de cultivo dessa oleaginosa em áreas novas de plantio.
Dentro desse cenário, estados localizados no nordeste brasileiro necessitam importar cultivares
(geralmente híbridos) para verificar a melhor resposta do genótipo ao ambiente. Testes rápidos de
laboratório e de campo, principalmente os de vigor, poderão descartar de imediato os genótipos de
crescimento inicial lento, que podem resultar em plantas menos produtivas. Kueneman (1982)
afirma que ―a premissa básica por trás da maioria dos testes de vigor é submeter a semente ao
estresse, fazendo com que as fracas tenham um baixo desempenho, ao contrário das consideradas
vigorosas, que deverão demonstrar um desempenho superior‖. Os resultados desses testes podem
indicar diferenças entre genótipos (Vieira et al., 1996).
De acordo com Carvalho et al. (2006), ―há várias limitações para retratar o desempenho de
um lote em condições de campo‖. Assim, Marcos Filho (1999) relata que, ―quando as condições de
ambiente se desviam das mais adequadas, a avaliação do vigor é necessária para estimar o potencial
de desempenho das sementes‖. Dickmann et al. (2005) estudaram o efeito do estresse hídrico sobre
a seleção de cultivares de girassol e verificaram que o ―cultivar M734 apresentou plântulas normais,
somente no potencial 0 MPa, indicando a existência de diferença no comportamento dos materiais
em relação a esse estresse‖. Já Smiderle et al. (2005), ao avaliar cultivares de girassol em savana de
Roraima, ―concluíram por meio da duração do ciclo, da taxa de emergência e da produtividade, que
as cultivares Cargill 11, Rumbosol 91 e Agrobel 910 foram as mais produtivas‖. Testes de vigor
empregados por Fernandes et al. (1999) em sementes de pimentão para a detecção de variabilidade
genética intracultivar, verificaram que ―plantas oriundas de sementes selecionadas como mais
vigorosas foram, respectivamente, seis e dez dias mais precoces que as não selecionadas e as
selecionadas como fracas‖. Também constatam que o maior peso de matéria seca, observado nas

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 46


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

plantas selecionadas como vigorosas, pode estar relacionado à sua capacidade de desenvolver um
sistema radicular maior e mais vigoroso.
Um teste rápido de vigor é o da condutividade elétrica, que avalia indiretamente a qualidade
das sementes, baseado na concentração de eletrólitos lixiviados pelas sementes durante o período de
embebição, fornecendo resultados no prazo máximo de 24 horas. ―Os menores valores,
correspondentes à menor liberação de exsudados indicam alto potencial fisiológico (maior vigor),
revelando menor intensidade de desorganização dos sistemas membranais das células‖ (Vieira &
Krzyzanowski, 1999). Albuquerque et al. (2001), empregando a condutividade elétrica e lixiviação
do potássio para avaliar sementes de girassol, concluíram que ―houve efeito do genótipo no teste de
condutividade elétrica e de lixiviação de potássio, com inversão na classificação dos genótipos em
relação aos outros testes de avaliação da qualidade fisiológica‖.
Estudos que viabilizem a separação de genótipos de girassol por meio de testes de
laboratório e de campo podem resultar em redução de tempo e de recursos na seleção e adaptação
de cultivares superiores, principalmente por meio de testes de vigor. Desta forma, o trabalho teve
como objetivo selecionar cultivares de girassol por meio de testes de vigor, em condições de
laboratório e de campo.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em condições de laboratório e de campo. Foram utilizadas


como tratamentos seis cultivares de girassol: Hélio 253, Hélio 358, da safra 2008, colhidas em
novembro, no município de Manga - MG (latitude 14°45‘21‖, longitude 43°55‘56‖ e altitude 440
m, clima tropical semiárido), ZENIT, PARAÍSO 65, NTO 30 e NEON, colhidos na safra de 2008,
em outubro, nas condições de Serra Talhada - PE (latitude 07°59‘31‖, longitude 38°17‘54‖ e
altitude 429 m, clima tropical semiárido). O delineamento estatístico empregado foi o inteiramente
ao acaso, com seis cultivares e quatro repetições.

Avaliações em laboratório

As cultivares foram avaliadas inicialmente por meio do teste de germinação e o teor de


umidade. O teor de umidade foi verificado por meio de estufa regulada a 105ºC, empregando-se
quatro amostras de sementes, que permaneceram na estufa por 24 horas, procedendo-se a leitura do
peso inicial e final. O teste de germinação foi conduzido em germinador regulado a 25°C,
utilizando-se quatro repetições de 25 sementes, segundo modificações de Brasil (2009). As
sementes foram colocadas para germinar em folhas de papel Germitest, previamente autoclavado,
em forma de rolo, dentro de sacos plásticos transparentes, os quais foram colocados no germinador
em posição vertical. As folhas foram umedecidas com água destilada em quantidade equivalente a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 47


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

2,5 vezes o peso do substrato seco, visando adequado umedecimento, e consequente uniformização
do teste. As contagens de plântulas normais foram realizadas aos quatro e 10 dias após a semeadura
(Brasil, 2009).

Testes de vigor

Primeira contagem de germinação - conduzida juntamente com teste de germinação,


realizado no quarto dia após a montagem do teste, segundo Brasil (2009); índice de velocidade de
germinação foi realizado com o teste de germinação, onde as avaliações das plântulas normais
foram realizadas diariamente, à mesma hora, a partir da primeira contagem de germinação,
procedimento seguido até o final do teste e calculado através da fórmula proposta por Popinigis
(1985); comprimento das plântulas – foi realizado juntamente com o teste de germinação, onde o
comprimento das plântulas consideradas normais (Brasil, 2009) foi determinado ao final do décimo
dia, com o auxílio de régua milimetrada (Ávila et al., 2007); massa seca – foram utilizadas todas as
plântulas normais e avaliada a massa seca em estufa regulada a 65ºC, por período até a verificação
de peso constante. As amostras foram pesadas em balança analítica e o resultado obtido foi dividido
pelo número de plântulas normais, com os resultados expressos em g/plântula; condutividade
elétrica - inicialmente, as sementes foram pesadas em balança analítica, eliminando-se as que
apresentaram trincas e/ou fraturas. Posteriormente, foram pesadas quatro repetições, colocadas em
copos plásticos contendo 75 mL de água deionizada, colocou-se em uma B.O.D. regulada à
temperatura de 30oC, por um período de 24 horas. Ao final desse período, foi feita a leitura da
condutividade elétrica na solução de embebição utilizando-se um condutivímetro digital de
bancada. Previamente à leitura, a solução de embebição foi levemente agitada com a ajuda de um
bastão de vidro. O valor da leitura foi anotado e dividido pelo peso obtido de cada repetição. Desse
modo, o resultado obtido foi expresso em µScm-1g-1, de acordo com Vieira & Krzyzanowski (1999).

Avaliações em campo

Teste de emergência das plântulas em campo - foi conduzido com quatro repetições de 25
sementes distribuídas em sulcos com 1,0 m de comprimento. A profundidade de instalação foi de
3,0 cm e o espaçamento entre linhas de 0,5 m. A leitura foi realizada no décimo sétimo dia, após o
semeio, computando-se as plântulas emergidas; primeira contagem de emergência em campo - foi
realizado no quarto dia após o semeio, contabilizando as plântulas emergidas como aquelas com o
epicótilo acima da superfície; índice de velocidade de emergência em campo - foi contabilizado o
número de plântulas emersas e o número de dias transcorridos entre o semeio e a emergência. Os
dados foram calculados de acordo com Popinigis (1985); altura de plântulas - foi medida por
ocasião da última contagem da emergência em campo, com o auxílio de régua milimetrada (Ávila et

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 48


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

al., 2007); massa seca - foram colhidas todas as plântulas normais de cada repetição e avaliada a
massa seca em estufa de 65ºC, por período até a verificação de peso constante. As amostras foram
pesadas em balança analítica e o resultado obtido foi dividido pelo número de plântulas normais,
com os resultados expressos em g/plântula.
Os dados obtidos foram analisados por meio do programa estatístico SAEG (Ribeiro Junior,
2001), em que foram submetidos à análise de variância, sendo as médias comparadas pelo teste de
Tukey, a 5% de probabilidade. Posteriormente todas as variáveis foram avaliadas por correlação de
Pearson, a 1 e 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Verificou-se que houve efeito significativo dos genótipos para todas as características
avaliadas (Tabela 1), a exceção da umidade das sementes, que foi semelhante para as seis cultivares,
variando de 8,22 a 8,5%, com amplitude inferior à amplitude máxima de 1 a 2 pontos percentuais,
aceita para garantir a credibilidade dos resultados obtidos nos testes de vigor (Marcos Filho, 1999).
O dados médios referentes à germinação das sementes de girassol (Tabela 1) foram maiores
nas sementes da cultivar PARAÍSO 65, mas não diferiram estatisticamente das sementes das
cultivares Hélio 253, NTO 30 e NEON. As sementes das cultivares Hélio 358 e ZENIT tiveram os
menores desempenhos em condições controladas de germinação. Entretanto, todas as cultivares
apresentaram germinação média acima de 80%, o que é considerado bom para o plantio comercial
(Brasil, 2005). Ao avaliar as cultivares pelo teste de emergência (Tabela 1) foi observado que as
sementes das cultivares Hélio 253, Hélio 358 e PARAÍSO 65 apresentaram os maiores valores de
vigor, enquanto que as cultivares ZENIT, NTO 30 e NEON, os menores valores. Este fato é
interessante, uma vez que um dos objetivos básicos dos testes de vigor é avaliar ou detectar
diferenças significativas na qualidade fisiológica de lotes com germinação semelhante,
complementando as informações pelo teste de germinação (Marcos Filho, 1999). Pelo exposto, o
teste de emergência possibilitou a separação das cultivares NTO 30 e NEON da cultivar PARAÍSO
65, que haviam apresentado semelhança estatística no teste de germinação. Esses resultados não
estão de acordo com Albuquerque et al. (2001) que estudaram testes de vigor para separar sementes
de girassol e observaram que nos testes de germinação e emergência das plântulas em campo, os
genótipos apresentaram a mesma classificação, em termos de qualidade.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 49


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 1. Avaliação da germinação (GERM), de emergência de plântulas em campo (EM), de primeira


contagem (PC), de primeira contagem de emergência (PCe), de índice de velocidade de germinação (IVG),
de índice de velocidade de emergência (IVE), de comprimento de plântula (COMP), de comprimento de
plântulas emergidas (COMPe), de massa seca de plântula (MS), de massa seca de plântulas emergidas
(MSe), de condutividade elétrica (CE), de teor de água das sementes (UMID). Garanhuns, 2011.
GERM EM PC PCe IVG IVE
Cultivar
-----------------------%--------------------

Hélio 253 92ab 73a 87ab 20b 4,58ab 3,42a


Hélio 358 85b 70a 87a 24a 4,23ab 2,99a
ZENIT 83b 50b 80ab 15c 3,98b 1,94b
PARAÍSO 65 96a 77a 94a 23ab 4,78a 3,45a
NTO 30 87ab 17d 68b 13c 3,93b 0,37c
NEON 91ab 37c 90a 13c 4,51ab 1,35b
CV (%) 4,84 8,68 4,71 22,11 6,75 13,99

Cultivar COMP COMPe MS MSe CE UMID

----------cm--------- ------------g---------- µScm-1g-1 ---%----

Hélio 253 5,95b 12,18a 0,0268e 0,1565b 142,6992b 8,22a


Hélio 358 7,78a 13a 0,0288de 0,2446a 106,8234c 8,38a
ZENIT 6,8ab 11,23ab 0,03573c 0,1516b 170,1628a 8,48a
PARAÍSO 65 7,33ab 11,75ab 0,0316d 0,1464b 133,5056b 8,23a
NTO 30 6,43ab 9b 0,0491a 0,1459b 171,8172a 8,38a
NEON 6,35ab 11,33ab 0,0421b 0,2257a 93,5811c 8,5a
CV (%) 11,18 11,03 4,48 12,28 6,58 3,78
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (P=0,05).

Com relação à primeira contagem de germinação em laboratório (Tabela 1), constatou-se


eficiência na separação de cultivares de sementes de girassol, tendo como resultado as sementes da
cultivar PARAÍSO 65, NEON e Hélio 358 com o maior vigor entre as cultivares analisadas, não
diferindo das cultivares Hélio 253 e ZENIT. O menor vigor foi obtido nas sementes da cultivar
NTO 30. A premissa básica por trás da maioria dos testes de vigor é submeter a semente a estresse,
fazendo com que as fracas tenham um baixo desempenho, ao contrário das consideradas vigorosas,
que deverão demonstrar um desempenho superior (Kueneman, 1982). Resultados semelhantes
foram observados por Barros & Rossetto (2009), realizando teste de germinação sob condições de
restrição hídrica para avaliar o vigor de sementes de girassol. A primeira contagem de emergência
(Tabela 1) separou as sementes da cultivar Hélio 358 das demais cultivares, não diferindo
estatisticamente da cultivar PARAÍSO 65. Como se pode perceber, a avaliação em campo da
primeira contagem permitiu separar as cultivares Hélio 358 e PARAÍSO 65 das cultivares Hélio

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 50


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

253, ZENIT e NEON, que haviam apresentado as médias estatisticamente semelhantes no mesmo
teste, em condições de laboratório.
Observando-se a Tabela 1, para o índice de velocidade de germinação, constatou-se que as
sementes da cultivar PARAÍSO 65 apresentaram os maiores índices, não diferindo das sementes das
cultivares Hélio 253, Hélio 358 e NEON. Os menores índices foram verificados nas sementes das
cultivares ZENIT e NTO 30. Para o índice de velocidade de emergência, observado na Tabela 1,
constatou-se que a cultivar PARAÍSO 65 se destacou como de melhor qualidade, enquanto que as
cultivares ZENIT e NTO 30 como de vigor inferior, ficando as como intermediárias em vigor as
cultivares NEON, Hélio 253 e Hélio 358, que não diferiram estatisticamente das demais. Para ser
avaliado como eficiente, um teste de vigor deve proporcionar uma classificação dos lotes em
diferentes níveis de vigor, de maneira proporcional à da emergência das plântulas no campo
(Marcos Filho, 1999). Nesse caso, o teste do índice de velocidade de emergência em campo foi
eficiente para separar as cultivares PARAÍSO 65, Hélio 253 e Hélio 358 das demais cultivares,
como foi observado na emergência em campo. Na avaliação do comprimento de plântulas, nas
condições de laboratório (Tabela 1) as plântulas que alcançaram comprimento superior
estatisticamente foram oriundas da cultivar Hélio 358, que diferiu apenas da cultivar Hélio 253. Já o
mesmo teste, conduzido no campo, teve como maior resultado as cultivares Hélio 253 e Hélio 358
com plântulas com comprimentos superiores aos da cultivar NTO 30. Trabalho conduzido por
Albuquerque & Carvalho (2003) com girassol concluiu que o teste de comprimento das plântulas
não foi eficiente em classificar os lotes de sementes em diferentes níveis de vigor.
Pelo teste de massa seca, em condições controladas, foi verificado que as sementes da
cultivar NTO 30 apresentaram valores estatisticamente superiores, o que pode ser decorrência da
menor concorrência no substrato, observado na menor primeira contagem, índice de velocidade de
emergência e da germinação. Em condições de campo, as plântulas das cultivares Hélio 358 e
NEON apresentaram maiores valores da massa seca do que as da cultivar Hélio 253, ZENIT,
PARAÍSO 65, NTO 30. Santos & Paula (2009), realizando testes de vigor, para avaliação da
qualidade fisiológica de sementes de Sebastiania commersoniana (Baill.) Smith e Downs,
concluíram que as massas fresca e seca de plântulas não discriminaram adequadamente os lotes de
sementes avaliados. Já Fernandes et al. (1999), comparando cultivares de pimentão, constatam que
o maior peso de matéria seca, observado nas plantas selecionadas como vigorosas, pode estar
relacionado à sua capacidade de desenvolver um sistema radicular maior e mais vigoroso.
Na Tabela 1 pode-se observar que as cultivares Hélio 358 e NEON são classificadas como
de maior vigor, por apresentarem os menores valores de condutividade elétrica na solução de
embebição, e as cultivares Hélio 253 e PARAÍSO 65 apresentaram valor intermediário.
Albuquerque et al. (2001) também constataram que o teste de condutividade elétrica realizado pelo

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 51


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

sistema de massa permitiu classificar os lotes de sementes de girassol em diferentes níveis de vigor.
Vanzolini & Nakagawa (1999) realizaram o teste de condutividade elétrica para sementes de
amendoim com três horas de embebição e observaram que, à temperatura de 30°C, houve a
possibilidade de separação dos três lotes quanto à qualidade. Em sementes de girassol. As cultivares
ZENIT e NTO 30, ainda na Tabela 1, foram as que apresentaram maior condutividade, contribuindo
para explicar o menor vigor alcançado com a emergência das plântulas, indicando que aumentos
nos dados de condutividade elétrica correspondem à maior lixiviação de solutos e, portanto, à
diminuição na qualidade fisiológica das sementes. Em experimento realizado por Mendes et al.
(2010), o teste de condutividade elétrica não se mostrou adequado para avaliação do potencial
fisiológico das sementes de mamona, já os testes de frio e de envelhecimento acelerado (41ºC/72
horas e 100% UR) foram eficientes para avaliação do potencial fisiológico de sementes de mamona,
permitindo classificação de lotes quanto ao vigor semelhante à emergência de plântulas em campo.
Observando os dados de germinação e os testes de vigor, constata-se que houve eficiência
em separar as sementes que apresentaram alto e baixo vigor, sendo ineficientes para aquelas
cultivares com vigor intermediário. É certo, contudo, que os testes de vigor se prestam para
comparar lotes com germinação semelhantes, pois quando esta já difere entre os tratamentos os
testes de vigor perdem um pouco do seu objetivo.
Observando os resultados obtidos pelos diferentes testes, realizados em campo, verifica-se
que sementes da cultivar Hélio 358 e PARAÍSO 65 apresentam maior potencial fisiológico, pois foi
demonstrado nos diferentes testes estudados. A avaliação da qualidade fisiológica das sementes
deve se basear no conjunto de resultados de diferentes testes, para maior segurança das
informações. De acordo com Marcos Filho (1999) ―o uso de apenas um teste de vigor pode gerar
informações incompletas, assim a tendência predominante é a combinação de testes para se obter
informações mais consistentes‖.
Os resultados da correlação entre as variáveis se encontram na Tabela 2, em que se observa
que a germinação apresentou alta correlação com os testes de primeira contagem de germinação e
índice de velocidade de germinação e correlação negativa com a condutividade elétrica, mostrando
que esse teste não apresentou resultados com respostas semelhantes de vigor para a determinação
das cultivares de girassol. A condutividade elétrica mostrou correlação significativa a 5%, com a
germinação e o comprimento das plântulas. Já com a primeira contagem de germinação a correlação
foi significativa a 1%. Santos (2004) também observou a existência de correlação significativa entre
condutividade elétrica e germinação, em sementes de soja. Já Carvalho et al. (2009), estudando teste
rápido de condutividade elétrica e correlação com outros testes de vigor com sementes de soja,
observaram que os resultados de germinação e primeira contagem da germinação foram os que
menos se correlacionaram com o teste de condutividade, exceto para a cultivar Cristalina que

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 52


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

apresentou correlação altamente significativa entre os valores de condutividade elétrica, germinação


e primeira contagem.

Tabela 2 - Coeficiente de correlação de Pearson (r) com os resultados dos testes de germinação (GERM), de
primeira contagem (PC), de índice de velocidade de germinação (IVG), de comprimento de plântula
(COMP), de massa seca de plântula (MS), de emergência de plântulas em campo (EM), de primeira
contagem de emergência (PCe), de índice de velocidade de emergência (IVE), de comprimento de plântulas
emergidas (COMPe), de massa seca de plântulas emergidas (MSe), de condutividade elétrica (CE), de teor
de água das sementes (UMID).

GERM PC IVG COMP MS EM


GERM 1 --- --- --- --- ---
PC 0,53** 1 --- --- --- ---
IVG 0,87** 0,76** 1 --- --- ---
n.s n.s n.s
COMP 0,10 0,09 0,06 1 --- ---
n.s n.s n.s
MS -0,15 -0,59** -0,38 -0,20 1 ---
n.s n.s
EM 0,28 0,72** 0,52** 0,25 -0,93** 1
n.s n.s
PCe 0,27 0,53** 0,40 0,49* -0,82** 0,82**
n.s n.s
IVE 0,36 0,71** 0,56** 0,20 -0,94** 0,97**
n.s n.s n.s
COMPe -0,01 0,55** 0,22 0,21 -0,67** 0,65**
n.s n.s n.s n.s n.s
MSe -0,19 0,23 0,02 0,26 -0,14 0,06 n.s
CE -0,41* -0,60** -0,50* 0,22 n.s 0,30 n.s -0,29 n.s
UMID 0,13 n.s 0,11 n.s 0,06 n.s -0,11 n.s -0,04 n.s 0,01 n.s
PCe IVE COMPe MSe CE UMID
GERM --- --- --- --- --- ---
PC --- --- --- --- --- ---
IVG --- --- --- --- --- ---
COMP --- --- --- --- --- ---
MS --- --- --- --- --- ---
EM --- --- --- --- --- ---
PCe 1 --- --- --- --- ---
IVE 0,83** 1 --- --- --- ---
COMPe 0,58** 0,68** 1 --- --- ---
n.s n.s
MSe 0,21 0,02 0,42* 1 --- ---
n.s n.s n.s n.s
CE -0,17 -0,31 -0,32 -0,34 1 ---
n.s n.s n.s n.s n.s
UMID -0,10 0,09 0,05 -0,05 0,04 1
n.s
não significativo, **significativo a 1% e * significativo a 5% de probabilidade.

O teste de emergência de plântulas em campo não apresentou correlação significativa com o


teste de condutividade elétrica, diferindo dos resultados encontrados por Parvathamma et al. (1991),
que observaram alta correlação entre o teste de condutividade elétrica e a emergência de plântulas
em campo sob condições ótimas de desenvolvimento das plântulas de girassol. Também Ávila et al.
(2005) avaliando o vigor de sementes de canola relatou que houve correlação significativa entre o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 53


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

teste de envelhecimento acelerado e a emergência de plântulas no campo. Além disso, os mesmo


autores observaram correlação significativa entre o teste de condutividade elétrica com o teste de
emergência de plântulas em campo. Em experimento realizado por Albuquerque et al (2001) para
avaliar os testes de condutividade elétrica e de lixiviação de potássio nas sementes de quatro
genótipos de girassol (IAC-Iarama, V-2000, M-742 e C-11), os resultados dos testes de avaliação da
qualidade fisiológica (germinação, primeira contagem e envelhecimento acelerado) apresentaram
correlação significativa com os de emergência das plântulas em campo, verificou-se um efeito do
genótipo nos testes de condutividade elétrica e de lixiviação de potássio, com inversão na
classificação dos genótipos em relação aos outros testes de avaliação da qualidade fisiológica. Não
houve correlação significativa entre os resultados dos testes de emergência das plântulas em campo
e os de condutividade elétrica e de lixiviação de potássio, os autores do trabalho concluíram que os
testes de condutividade elétrica e de lixiviação de potássio não foram eficientes na avaliação das
sementes de genótipos de girassol.

CONCLUSÕES

Em laboratório, as sementes da cultivar PARAÍSO 65 apresentam alto vigor em todos os


testes avaliados. Em campo, as sementes das cultivares Hélio 358 e PARAÍSO 65 apresentam o
maior vigor;
Os testes de vigor só mostram eficiência em separar as sementes que apresentam alto e baixo
vigor, sendo ineficientes para aquelas cultivares com vigor intermediário;
O teste de emergência e o índice de velocidade de emergência de plântulas são eficientes
para separação de sementes de girassol com diferentes potenciais fisiológicos.
A condutividade elétrica foi eficiente para selecionar a cultivar Hélio 358 como de maior
vigor e as cultivares ZENIT e NTO 30 como as de menor vigor.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, M. C. F. et al. Testes de condutividade elétrica e de lixiviação de potássio na


avaliação da qualidade fisiológica de sementes de girassol. Revista Brasileira de Sementes,
Brasília, v.23, n.1, p.1-8, 2001.

ALBUQUERQUE, M. C. F.; CARVALHO, N. M. Effects of the environmental stress on the


emergence of sunflower (Helianthus annus L.), soybean (Glycine max L. Merril) and maize (Zea
mays L.) seeds with different levels of vigor. Seed Science and Technology, Zurich, v.31, p.465-
479, 2003.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 54


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ÁVILA M.R. et al. Testes de laboratório em sementes de canola e a correlação com a emergência
das plântulas em campo. Revista Brasileira de Sementes, vol. 27, nº 1, p.62-70, 2005.

ÁVILA, M. R. et al. Teste de comprimento de plântulas sob estresse hídrico na avaliação do


potencial fisiológico das sementes de milho. Revista Brasileira de Sementes, v. 29, n. 2, p.117-
124, 2007.

BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília:
SNDA/DNDV/CLAV, p. 308-317, 2009.

BRASIL. Instrução Normativa n.25, de 16 de dezembro de 2005. Diário Oficial da República


Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 16 dez. 2005.

BRAZ, M. R. S.; ROSSETTO, C. A. V. Correlação entre testes para avaliação da qualidade de


sementes de girassol e emergência das plântulas em campo. Ciência Rural, v.39, n.7, 2009.

CARVALHO, M. L. M. et al. Controle e qualidade na produção de sementes. Informe


Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.232, p.52-58, 2006.

CARVALHO, L. F. et al. Teste rápido de condutividade elétrica e correlação com outros testes de
vigor. Revista Brasileira de Sementes, v. 31, n. 1, p.239-248, 2009.

FERNANDES, H. S. et al. Uso de testes de vigor de sementes na detecção de variabilidade


genética intracultivar em pimentão. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.34, n.9,
p.1699-1703, set, 1999.

KUENEMAN, E.A. Genetic differences in soybean seed quality: screening methods for cultivar
improvement. In: SINCLAIR, J.R.; JACKOBS, J.A. Soybean seed quality and stand
establishment. Illinois: INTSOY, p. 31-41, 1982.

MARCOS FILHO, J. Testes de vigor: importância e utilização. In: KRZYZANOWSKI, F.C.;


VIEIRA, R.D.; FRANÇA NETO, J.B. (Ed.). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina:
ABRATES, p. 1.1-1.21, 1999.

LEITE, R.M.V.B.C. et al. Indicações para o cultivo de girassol nos Estados do Rio Grande do Sul,
Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Roraima. Londrina, PR: EMBRAPA, 2007.
(Comunicado Técnico n. 78).

MENDES, R. de C. et al. Testes de vigor para avaliação do potencial fisiológico de sementes de


mamona (Ricinus communis L). Ciência e Agrotecnologia. vol.34, n.1, p. 114-120, 2010.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 55


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MURCIA, M. et al. Vigor de semillas y emergência a campo de girassol (Helianthus annus L.) em
siembras anticipadas em El sudeste de la província de Buenos Aires (Argentina). Revista
Brasileira de Sementes, Brasília, v.23, n.2, p.263-267, 2001.

POPINIGIS, F. Fisiologia de Sementes. Brasília: AGIPLAN, p. 289, 1985.

RIBEIRO JÚNIOR, J.I. Análises estatísticas no SAEG. Viçosa: UFV, p. 301, 2001.

SANTOS, S.R.G.; PAULA, R.C. Testes de vigor para avaliação da qualidade fisiológica de
sementes de Sebastiania commersoniana (Baill.) Smith & Downs. Scientia Forestalis.
Piracicaba, v. 37, n. 81, p. 007-016, 2009.

SANTOS, M.R. Qualidade fisiológica, sanidade e alterações bioquímicas em sementes de soja e


suas relações com potencial de armazenamento e emergência no campo. 2004. Tese (Doutorado
em Fitotecnia) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 104f, 2004.

VIEIRA, R.D.; KRZYZANOWSKI, F.C. Teste de condutividade elétrica. In: KRZYZANOWSKI,


F. C.; VIEIRA, R.D.; FRANÇA-NETO, J.B. (Ed.). Vigor de sementes: conceitos e testes.
Londrina: ABRATES, p. 4:1- 4:26, 1999.

VIEIRA, R.D. et al. Efeito de genótipos de feijão e de soja sobre os resultados da condutividade
elétrica de sementes. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.18, n.2, p.220-224, 1996.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 56


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TRATAMENTOS PRÉ-GERMINATIVOS E SUBSTRATOS NO CRESCIMENTO


DE MUDAS DE TAMARINDO

Camile Dutra Lourenço GOMES


Graduanda do Curso de Agronomia da UFCG
camiledutralg@gmail.com
Jolinda Mércia de SÁ
Graduanda do Curso de Agronomia da UFCG
jolindamercia@gmail.com
Marinês Pereira BOMFIM
Doutora em Agronomia Professora Visitante da UFCG/CCTA
mpbfito@gmail.com
Kilson Pinheiro LOPES
Doutor em Agronomia Professor Adjunto, UFCG/CCTA
kilson@ccta.ufcg.edu.br

RESUMO
O tamarindo (Tamarindus indica L.) é uma frutífera exótica com grande potencialidade de
exploração na região Nordeste, cuja sua principal forma de propagação é por sementes as quais
apresentam germinação lenta e desuniforme, consequente de uma dormência, o que dificulta a
obtenção de mudas , limitando os cultivos comerciais desta espécie. O presente trabalho teve como
objetivo avaliar diferentes tratamentos pré-germinativos e substratos no crescimento de mudas de
tamarindo. O experimento foi conduzido nas instalações da Universidade Federal de Campina
Grande no campus de Pombal-PB. O delineamento experimental adotado foi inteiramente
casualizado (DIC) no esquema fatorial de 3x4 sendo 3 tratamentos pré-germinativos (T1-
Escarificação mecânica com a lixa + embebição em água por 24 horas, T2- corte do tegumento
distal + embebição em água por 24 horas, T3- embebição em água por 24 horas) x 4 substratos (S1-
100% solo, S2 - solo + substrato comercial basaplant Solaris®. (3:2), S3 - solo + esterco bovino
(3:2), S4 - solo + esterco caprino (3:2)) com 6 repetições. As variáveis analisadas foram: altura da
parte área (APA), diâmetro do caule (DC), comprimento da raiz (CR), número de folhas (NF),
massa fresca da raiz (MFR), massa fresca da parte aérea (MFPA), massa seca da parte aérea
(MSPA) e massa seca da raiz (MSR). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância
com médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Nas condições em que o
presente trabalho foi desenvolvido conclui-se que as misturas de solo com esterco caprino e bovino
são ideais para o desenvolvimento de mudas de tamarindo. Os métodos de escarificação mecânica
mais embebição em água por 24 horas ou apenas embebição em água por 24 horas são eficientes na
produção uniforme de mudas de tamarindo.
Palavras -Chave: Tamarindus indica L. dormência, germinação.

ABSTRACT
The tamarind (Tamarindus indica L.) is a fruit-bearing, exotic with great potential for exploitation
in the Northeast region, whose his main form of spread is by seeds which have germination slow
and unequal, consequent to a numbness, which makes it difficult to obtain seedlings , limiting the
commercial crops of this species. The present work had as objective to evaluate different treatments
pre-germinativos and substrates on the growth of seedlings of tamarind. The experiment was
conducted in the premises of the Federal University of Campina Grande, campus de Pombal-PB.
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 57
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

The experimental design adopted was entirely casualizado (DIC) in the schema factorial 3x4, being
3 treatments pre-germinativos (T1 - mechanical Scarification with sandpaper + soaking in water for
24 hours, T2 - cutting of the integument distal + soaking in water for 24 hours, T3 - soaking in
water for 24 hours) x 4 substrates (S1 - 100% soil S2 - soil + substrate commercial basaplant
Solaris®. (3:2), S3 - soil + manure bovine (3:2), S4 - soil + manure, goat (3:2)) with 6 repetitions.
The variables analyzed were: height of the part area (APA), diameter of the stalk (DC), root length
(CR), number of leaves (NF), weight of fresh root (RFM), fresh pasta of the aerial part (MFPA), dry
mass of aerial part (MSPA) and dry mass of root (MSR). The obtained data were subjected to
analysis of variance, with averages compared by the test of Tukey 5% of probability. In the
conditions under which the present work has been developed it is concluded that the mixtures of the
soil with manure, goat and beef are ideal for the development of seedlings of tamarind. The
methods of mechanical scarification more soaking in water for 24 hours or just soaking in water for
24 hours are efficient in producing uniform seedlings of tamarind.
Keywords: Tamarindus indica L. dormancy, germination.

INTRODUÇÃO

O tamarindo (Tamarindus indica L.) pertence à família da Fabácea, é originário da África


tropical, sendo largamente encontrado em muitos países da América do sul e Ásia (SOUSA et al.,
2010). No Brasil, é amplamente difundindo e explorado há séculos, com ocorrência em várias
regiões brasileiras (PEREIRA et al., 2007; PEREIRA et al., 2008). Constitui-se como uma planta
típica da região nordeste, especialmente por ser encontrada em plantios espontâneos. Considerada
uma árvore economicamente importante para região, por ser, na maioria das vezes, de fácil acesso
(SOUSA et al., 2010; FERREIRA et al., 2011) .
A planta possui porte arbóreo, atingindo 30 m de altura, com diâmetro de copa de 12 m
(QUEIROZ, 2010). O fruto do tamarindo é bastante conhecido e apreciado no nordeste do Brasil e
se destaca por apresenta sabor agridoce, agradável aroma e excelente qualidade nutricional
(PEREIRA et al., 2007). Sendo utilizado na fabricação de sorvetes, bolos, doces, licores, geleias,
xaropes e refrescos (SANTOS-SEREJO, 2009). Além de ser empregado na medicina popular, no
tratamento de doenças como diabetes, pressão alta e infecções estomacais (FERREIRA et al.,
2008). Na indústria madeireira é bastante utilizado, uma vez que seu tronco fornece madeira de boa
qualidade, encontrando-se também como ornamental devido à grande beleza e produção de sombra
(QUEIROZ, 2010; SILVA et al., 2011).
A propagação da cultura é realizada predominantemente via seminífera, porém, as sementes
são constituídas por uma camada cerosa impermeável, causando dormência tegumentar e
dificultando a entrada da água em seu interior, retardando o processo germinativo além de causar
desuniformidade na emergência das plântulas (FREITAS, 2016). Segundo Nobrega et al. (2016)
existe diversas maneiras para acelerar e uniformizar a germinação de sementes com dormência
tegumentar, através do uso de tratamentos pré-germinativos, tais como: escarificação mecânica,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 58


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

química ou física. Entre os mecanismos mais utilizados, na superação da dormência tegumentar


destaca-se a escarificação mecânica, por ser um método simples, de baixo custo, além de ser uma
opção prática e segura aos pequenos produtores (HERMANSEN et al., 2000; RIBEIRO et al.,
2009).
A produção de mudas de tamarindo representa um dos mais importantes pré-requisitos para
o sucesso da cultura. Segundo Góes et al. (2011), durante a formação das mudas, deve- se ter certos
cuidados, evitando-se erros que possam comprometer a qualidade das mudas. Sendo um dos fatores
mais importantes, a escolha do substrato, onde o mesmo deve apresentar propriedades físicas e
químicas adequadas ao desenvolvimento da planta. Segundo Schafer et al., (2015) as propriedades
físicas adequadas de um substrato são uma boa porosidade, espaço de aeração e a retenção de água
a baixas tensões de umidade. As propriedades químicas ideais são o pH, a capacidade de troca de
cátions (CTC) e o teor de matéria orgânica (SCHMITZ, SOUZA, KAMPF, 2002).
De acordo com Lima et al. (2004) muitos materiais orgânicos e inorgânicos são usados para
a produção de mudas, sendo de fundamental importância identificar aqueles apropriados para a
espécie de forma a atender suas necessidades. Entre os diversos matérias que podem ser utilizados,
certas combinações podem ser feitas com matérias mais acessíveis, ao produtor, como esterco
caprino, bovino ou solo com bom teor de matéria orgânica. Diante do exposto, o presente trabalho
tem o objetivo avaliar diferentes tratamentos pré-germinativos e substratos no crescimento de
mudas de tamarindo.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido em ambiente protegido do Centro de Ciências e Tecnologia


Agroalimentar e no Laboratório de Análise de Sementes e Mudas Universidade Federal de Campina
Grande, campus de Pombal- PB, no período de março a junho de 2017.
O delineamento experimental adotado foi inteiramente casualizado (DIC) em esquema
fatorial de 3 x 4 (3 tratamentos pré-germinativos x 4 substratos) e 6 repetições. Sendo os
tratamentos pré-germinativos: T1 - Escarificação mecânica com a lixa no lado oposto à micrópila+
embebição em água por 24 horas; T2 - Corte do tegumento distal com auxílio de bisturi no lado
oposto à micrópila + embebição em água por 24 horas; T3 - Embebição em água por 24 horas. E os
substratos utilizados foram: S1 - 100% solo; S2 - solo + substrato comercial basaplant Solaris®.
(3:2); S3 - solo + esterco bovino (3:2); S4 - solo + esterco caprino (3:2). A caracterização química
dos substratos e solo foi realizada no Laboratório de Solos e Nutrição Mineral de Plantas da
UFCG/CCTA (Tabela 1).
As sementes utilizadas foram extraídas de frutos maduros adquiridos no comércio local de
Pombal-PB. A extração das sementes foi realizada manualmente, em seguida foram lavadas em

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 59


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

água corrente para remoção da polpa e posteriormente colocadas em papel tolha para secar a
sombra por 48 horas.
Após serem submetidas aos tratamentos pré-germinativos as sementes foram semeadas, em
sacolas de polietileno, com dimensões de 15 x 21 cm, colocando-se duas sementes por saco, a uma
profundidade de 2 cm. A emergência iniciou entre os 10 e 20 DAS (dias após a semeadura) e aos 30
DAS foi realizado o desbaste das plântulas, deixando apenas aquela mais vigorosa por recipiente.
Durante a condução do experimento, foi realizado o desbaste manual das plantas daninhas conforme
a necessidade de manutenção da cultura. A irrigação foi realizada diariamente, com o auxilio de um
regador, sendo as mudas irrigadas duas vezes ao dia.
A avaliação foi realizada aos 90 dias, por meio da determinação da altura de parte aérea
(APA), número de folhas (NF) e diâmetro de caule (DC), comprimento da raiz (CR), massa fresca
da raiz (MFR), massa fresca da parte aérea (MFPA), massa seca da raiz (MSR) e massa seca parte
aérea (MSPA). A altura da parte área (cm) foi realiza com uma régua, graduada em centímetro, da
superfície do colo até o topo da muda. Na medição do diâmetro do caule (mm) utilizou-se um
paquímetro digital, sendo a medida realizada 5 cm do colo da muda. Para a medição do
comprimento de raiz (cm plântula-1), utilizou-se uma régua graduada em centímetro. A massa fresca
(g planta-1) foi determinada pela pesagem das plantas a partir da separação de suas partes raiz, caule
e folhas imediatamente após serem retiradas dos substratos, em balança com precisão de 0,001g, e a
matéria seca (g planta-1) foi obtida após secagem em estufa de circulação forçada de ar a 65ºC, por
48 horas, e em seguida pesou-se em balança analítica com precisão de 0,001g.
Os resultados foram submetidos à análise de variância, sendo as médias comparadas pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o software estatístico SISVAR (FERREIRA,
2010).

Tabela 1. Características químicas do solo e substratos usados para avaliar o crescimento de mudas de
tamarindo.
pH C.E P N K Na Ca Mg Al H+Al SB (T) MO

H2O1:2,5 dS m- mg/dm3 % ....................................


cmolc/dm3.................................... cmolc/dm3 g kg-
1 1

Solo 6,50 0,32 16 1,00 1,39 0,61 2,70 2,50 0,00 0,32 7,20 8,21 16

Esterco 6,47 1,09 98 2,4 3,8 1,54 4,52 2,63 0,00 0,00 12,5 10,9 40
Bovino.

Esterco 7,26 0,74 2,86 3,8 2,68 4,5 2,6 2,93 0,00 0,00 14,5 11,72 42
Caprino.

Substrato 5,8 1,41 315 - 468 6,6 15,6 9,5 0,00 6,6 142 33 8,2
B.S

Nota: SB=soma de bases; CE= condutividade elétrica; T = capacidade de troca de cátions total; M.O=
matéria orgânica; Esterco B.= esterco bovino; Esterco C.= esterco caprino; B.S= Basaplant

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 60


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base na analise de variância (Tabela 2) o fator interação se mostrou não significativo
em todas as variáveis analisadas, exceto para variável de massa fresca da raiz que foi significativa
ao nível de 1% de probabilidade. No fator isolado de tratamento pré-germinativo a única variável
que se mostrou significativa foi o diâmetro de caule (Tabela 2) ao nível de 5% de probabilidade.
Para o fator isolado do substrato todas as variáveis foram significativas exceto, as variáveis massa
fresca e seca da raiz (Tabela 2).

Tabela 2: Resumo da analise de variância para número de folhas (NF),diâmetro do caule (DC),altura de parte
aérea (AP), comprimento da raiz (CR),massa fresca da parte aérea(MFPA) e da raiz (MFR),massa seca da parte
aérea (MSPA) e da raiz (MSR) obtidos de plantas de Tamarindus indica L, provenientes de sementes submetidas
a diferentes tratamentos pré-germinativos e diferentes substratos.
Tratamento GL NF DC AP CR MFPA MFR MSPA MSR
Tratamento
Pré- 4 142,11ns 1,1616** 79,090ns 46,9935ns 10,3040* 0,5103ns 1,3727ns 0,2045ns
gerrminativo
Substrato 3 2171,35** 1,1924** 909,800** 130,452* 142,4000** 0,4345ns 14,2230** 0,0894ns
Tratamento
Pré-
12 96,810ns 0,2266ns 55,97ns 20,9084ns 7,7030* 0,3691ns 1,9764ns 0,1999ns
germinativo x
Substrato
CV (%) 28,30 16,23 19,17 22,88 34,14 34,58 40,64 52,71
**Significativo a 5% de probabilidade; * Significativo a 1% de probabilidade; ns não significativo.

Para a variável massa fresca da parte aérea (MFPA) no fator interação (Tabela3) demonstrou
que as maiores médias foram obtidas quando se utilizou o método de escarificação mecânica +
embebição em água por 24 horas, aplicados ao tratamento substrato composto por solo mais esterco
bovino e no tratamento solo mais esterco caprino (8,59; 8,38g), contudo esses resultados não
diferiram estatisticamente dos tratamentos de corte no tegumento + embebição em água por 24
horas e embebição em água por 24 horas, aplicados ao tratamento com substrato solo + esterco
caprino e do tratamento de embebição em água por 24 horas, na mistura de solo + esterco bovino.
Um maior acúmulo de massa fresca da parte aérea é fundamental para um maior suporte a muda
(NADAI et al., 2015).

Tabela 3: Valores médios da interação tratamento pré-germinativo x substrato em plantas de Tamarindus indica L.
submetida a diferentes tratamentos pré-germinativos e substratos para variável da massa fresca da parte aérea(g)

Massa fresca da parte aérea (g)


Substratos
Tratamentos pré- germinativos
Solo Solo + B. S. Solo + E.B Solo + E.C
Escarificação + água (24 h) 4,72 aB 4,01 aB 8,59 aA 8,38 aA
Corte no tegumento + água (24h) 4,25 aB 3,59 aB 3,96 bB 8,46 aA
Água (24 h) 4,20 aB 3,27 aB 7,31 aA 5,94 aA
Médias seguidas de letras distintas minúscula na coluna e maiúscula na linha diferem entre si pelo teste de Tukey
a 5% de probabilidade

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 61


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Para a variável diâmetro do caule (TABELA 4) observou-se que a maior média foi obtida
quando utilizou-se escarificação mecânica + embebição em água por 24 horas (3,27mm). O
diâmetro do caule é um dos parâmetros mais importantes, uma vez que se caracteriza por ser uma
estrutura fundamental para a sustentação da planta e é através dele que a planta irá tomar as
direções de crescimento (FREITAS, 2016).

Tabela 4: valores médios do fator tratamento pré-germinativo para a variável de diâmetro de caule(cm), em
sementes de Tamarindus indica L submetidas a diferentes tratamentos pré-germinativos e substratos Pombal
– PB, 2017.
Tratamentos pré- germinativos Diâmetro de caule (cm)
Escarificação + água (24h) 3,27 a
Corte do tegumento + água (24h) 2,76 c
Água por (24h) 2,87 b
Médias seguidas de letras distintas minúscula na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.

É possível observa na (Tabela 5) que para as variáveis altura de parte aérea, número de
folhas e massa seca da parte aérea as melhores médias foram obtidas quando utilizou o solo +
esterco bovino e solo + esterco caprino. Isto se deve ao fato de que o esterco caprino e bovino
utilizado apresentou uma elevada concentração de matéria orgânica (Tabela 1). Melo (2008),
estudando diferentes substratos na avaliação de porta-enxertos de tamarindeiro, confirmou que os
substratos compostos pela mistura solo com esterco bovino e esterco caprino promoveram maiores
comprimentos de parte aérea. Porém o mesmo autor demostrou que a mistura de solo com esterco
bovino obtive resultados inferiores para variável de número de folhas e massa seca da parte aérea.
Na variável diâmetro de caule (Tabela 5) a maior média foi obtida com o substrato
composto por solo + esterco caprino (3,22mm). Segundo Henriques, (1997) o esterco de caprino é
mais sólido e muito menos aquoso que o esterco bovinos, tendo a estrutura mais fofa, permitindo
uma maior aeração e por essa razão fermentam rapidamente. O esterco como fonte de nutriente e
matéria orgânica, deve ser utilizado para a obtenção de mudas com diâmetro do caule maior,
favorecendo assim um maior índice de pegamento no campo (SILVA et al., 2010).
Para a variável comprimento da raiz (Tabela 5) a maior média obtida foi no tratamento
composto por solo + basaplant (29,38 cm).A presença de outros materiais e fertilizantes favoreceu
um maior desenvolvimento da raiz, quando comparado aos demais substratos analisados. O
substrato basaplanta contém em sua composição uma adubação inicial com NPK e vermiculita,
contribuindo assim para um maior comprimento da raiz das mudas de tamarindo. A vermiculita é
um mineral que absorve ate cinco vezes do seu volume em água e contém potássio, magnésio
disponível, além de uma elevada CTC (FILGUEIRA, 2003; ALMEIDA, 2008).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 62


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 5: Valores médios do fator substrato, para as variáveis de número de folhas, altura de parte aérea,
comprimento de raiz, diâmetro do caule e massa seca da parte aérea em plantas de Tamarindus indica L.
submetida a diferentes tratamentos pré-germinativos e substratos, Pombal – PB, 2017.
Substratos Número de folhas Altura de parte Comprimento Diâmetro de Massa seca da
(unid. Planta-¹) aérea (cm) da raiz (cm) caule (mm) parte aérea (g)
Solo 21,66 b 31,78 b 25,96 ab 2,85 b 1,55 b
Solo + 22,66 b 28,45 b 29,38 a 2,84 b 1,29 b
B.S
Solo + 40,14 a 38,84 a 24,72 b 3,15 ab 2,47 a
E.B
Solo+ 37,12 a 40,12 a 25,32 ab 3,22 a 2,7 a
E.C.
Médias seguidas de letras distintas minúscula na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.

CONCLUSÃO:

O método de escarificação mecânica + embebição em água por 24 horas ou apenas


embebição em água por 24 horas são os mais eficientes para a produção uniforme de mudas de
tamarindo As misturas de solo + esterco caprino e solo + bovino foram os que proporcionaram um
melhor desenvolvimento de mudas de mudas de tamarindo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICA

ALMEIDA, M. S. de. Desenvolvimento de mudas de tamarindeiro: Tamanhos de recipiente,


substrato e peso de sementes e profundidade de semeadura. 2008. 52 f. Dissertação (Mestrado) -
Curso de Agronomia: Fitotecnia., Universidade Federal de Uberlândia, 2008

ARAÚJO, W. B. M. de.; ALENCAR, R. D.; MENDONÇA, V.; MEDEIROS ,E. V. de;


ANDRADE, R. C. de.; ARAÚJO, R. R. Esterco caprino na composição de substratos para
formação de mudas de mamoeiro. Revista Ciência Agrotecnologia, Larvas, v. 34, n.1, p.68-73,
2010.

ARAÚJO, A. P. de.; SOBRINHO, S. P. Germinação e produção de mudas de tamboril


(Enterolobium Contortisiliquum (Vell.) Morong) em diferentes substratos. Revista Árvore,
Viçosa, v. 35, p.581-588, 2011.

FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna aplicada na produção


e comercialização de hortaliças. Viçosa. Universidade Federal de Viçosa. P. 403, 2003.

FERREIRA, E. A. MENDONÇA U. SOUZA H. A. de. RAMOS J. D. Adubação fosfatada e


potássica na formação de mudas de tamarindo. Scientia Agrária, v. 9, n. 4, p 475-480, 2008.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 63


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

FERREIRA, R. M. A.; AROUCHA E. M.;GÓIS V. A.; SILVA, D. K.; SOUSA C. M. G. Qualidade


sensorial de geleia mista de melancia e tamarindo. Revista Caatinga, v. 24, n. 2, p. 202-206,
2011.

FERREIRA, D. F. Programa computacional Sisvar - UFLA, versão 5.3, 2010FREITAS, J. G. M.


de. Germinação de sementes de tamarindos indica L. submetido a diferentes tratamentos de
quebra de dormência. 2016. 37 f. TCC (Graduação) - Curso de Agronomia, Universidade
Federal do Maranhão, Chapadinha, 2016.

GÓES, G. B. de; DANTAS, D. J.; ARAÚJO, W. B.M.; MELO, I. G.C.; MENDOÇA,V. Utilização
de húmus de minhoca como substrato na produção de mudas de tamarindeiro. Revista Verde
Mossoró – RN – Brasil v.6, n.4, p.125 – 131 outubro/dezembro de 2011.

HENRIQUES, R.C. Análise da fixação de nitrogênio por bactérias do gênero Rhizobium em


diferentes concentrações de fósforo e matéria orgânica na cultura do feijão (Phaseolus vulgaris)
em Rego Pólo. 1997. 29f. Monografia (Graduação em Agronomia)- Universidade Federal da
Paraíba, Areia, 1997.

HERMANSEN, L.A.; DUYEA, M.L.; WHITE, T.L. Variability in seed coat dormancy in
Dimorphandra mollis Benth. Seed Science and Technology, Zurich, v.28, n.3, p.567- 580, 2000.

LIMA, R. L. S.; SEVERINO, L. S.; SILVA, M. I. L.; JERÔNIMO, J. F.; VALE, L. S.; PAIXÃO, F.
J. R.; BELTRÃO, N. E. M. Substratos para produção de mudas de mamona 3: mucilagem de
sisal associada a quatro fontes de matéria orgânica. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
MAMONA, 1., 2004, Campina Grande. Anais... Campina Grande: Embrapa Algodão, 2004.
CD–ROM.

MELO, J. K. H. Avaliação de diferentes substratos na produção de porta-enxerto de tamarindeiro


(Tamarindus indica L.). 2008. 63 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Agronomia: Fitotecnia.
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró-RN, 2008.

NADAI, F. B.; MENEZES, J. B. C. de.; CATÃO, H. C. R. M.; ADVÍNCULA, T.; COSTA, C. A.


Produção de mudas de tomateiro em função de diferentes formas de propagação e substratos.
Revista Agro@mbiente. Roraima V.9 n.3 p. 261-267. 2015.

NOBREGA, J. S. PAIVA, J. S.; LOPES, K. P.; SILVA, J. G. et al. Tratamentos pré-germinativos


de sementes e desenvolvimento inicial de plântulas de umbuzeiro. In: SEABRA, Geovani.
Educação Ambiental & Biogeografia. Itiúba MG, Editora: Barlavento, 2016. p. 253-265.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 64


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

PEREIRA, E. W. L.; RIBEIRO, M. C. C.; SOUZA, J. O.; LINHARES, P. C. F.; NUNES, G. H. S.


Superação de dormência em sementes de Jitirana (Merremia aegyptia L.). Revista caatinga
Mossoró-RN, v. 20, n.2, p.59-62, 2007.

PEREIRA, P. C.; FREITAS, R. S. de; MELO, B. de; FRANZÃO, A. A.; PEREIRA, A. P.;
SANTANA, J. G.; LUZ, J. M. Q.; MARTINS M. Influência do tamanho de sementes na
qualidade de mudas de tamarindo. Bioscience Journal, v. 24, n. 4, p. 73-79 2008.

QUEIROZ, J. M. O. Propagação do tamarindeiro (Tamarindus indica L.). 2010. 78 f. Dissertação


(Mestrado) - Curso de Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas, Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, BA, 2010.

RIBEIRO, V. V.; BRAZ, M. do S. S.; BRITO, N. M. de. Tratamentos para superar a dormência de
sementes de Tento. Revista Biotemas, Santa Catarina, v. 22, n .4 p.25-32, dez. 2009.

SANTOS-SEREJO, J. A.; DANTAS, J. A. S.; SAMPAIO, G. V.; COELHO, Y de S. Fruticultura


Tropical: espécies regionais e exóticas. Brasília, Embrapa Informação Tecnológica, 2009.

SCHMITZ, J. A. K.; SOUZA, P.V.D.; KAMPF, A.N. Propriedades químicas e físicas de substratos
de origem mineral e orgânica para o cultivo de mudas em recipientes. Revista Ciência Rural,
Santa Maria, v. 32, p. 937-944, 2002

SCHAFER, G.; SOUZA, P. V. D. ; FIOR, C. S. Um panorama das propriedades físicas e químicas


de substratos utilizados em horticultura no sul do Brasi. Ornamental Horticulture, Campinas-SP,
v. 21, p.299-306, 2015.

SILVA, E. A. da; MARUYAMA, W. I.; MENDONÇA, V.; FRANCISCO, M. G. S.;


BARDIVIESSO, D. M.; TOSTA, M. da S. Composição de substratos e tamanho de recipientes
na produção e qualidade das mudas de maracujazeiro 'amarelo'. Revista Ciência e
Agrotecnologia, Lavras, v. 34, n. 3, p. 588-595, 2010.

SILVA, G. B. P. da.; Barros, G. L.; Almeida, J. P. N. de; Procópio I. J. S., Medeiros P. V. Q.de.
Tempo de germinação e desenvolvimento inicial na produção de mudas Tamarindus indica L.
Revista Verde Mossoró v.6, n.2, p. 58 – 63 2011.

SOUSA, D. M. M.; BRUNO, R. de L. A.; DORNELAS, C. S. M.; ALVES, E. U.; ANDRADE, A.


P. de; NASCIMENTO, L. C. do. SOUSA, D. M. M. et al. Caracterização morfológica de frutos e
sementes e desenvolvimento pós - seminal de Tamarindus indica L. Leguminosae:
Caesalpinioideae. Revista Árvore, Viçosa v.34, n.6, p.1009 - 1015, 2010.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 65


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE Piptadenia moniliformis Benth. EM


FUNÇÃO DA LUZ E TEMPERATURA1

Denis Miranda LOPES


Graduando do curso de Agronomia do CCA/UFPB
denismlopes96@gmail.com
Maciel Rocha da SILVA
Graduando do curso de Agronomia do CCA/UFPB
macielr87@gmail.com
Rosemere dos Santos SILVA
Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Agronomia, CCA/UFPB
rosyufpbio@hotmail.com
Sidney Saymon Cândido BARRETO
Mestrando do programa de Pós-Graduação em Agronomia, CCA/UFPB
sidneysayon@live.com

RESUMO
A espécie Piptadenia moniliformis é uma Fabaceae, conhecida popularmente como angico-de-
bezerro, possui importância ambiental, medicinal e econômica. O objetivo deste trabalho foi avaliar
a influência de diferentes regimes de luz e temperaturas na germinação e no vigor de sementes de P.
moniliformis Benth. O experimento foi realizado no Laboratório de Análise de Sementes do Centro
de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em Areia-PB. As
temperaturas avaliadas foram 25 e 30 °C constantes e 20-30 °C alternada, nos regimes de luz
branca, verde, vermelha, vermelha-distante e escuro contínuo, adotando-se o delineamento
inteiramente ao acaso, em esquema fatorial 3 x 5 (temperaturas e regimes de luz), em quatro
repetições de 25 sementes cada. As variáveis analisadas foram: porcentagem de germinação,
primeira contagem de germinação, índice de velocidade de germinação, comprimento e massa seca
de raiz e parte aérea das plântulas. As temperaturas constantes de 25 e 30 °C e alternada 20 – 30 °C
no regime de luz vermelho distante e ausência de luz favoreceu o vigor quando avaliados pela
primeira contagem, comprimento e massa seca de raízes de P. moniliformis. As sementes
germinaram em todos os regimes de luz, podendo ser classificadas como fotoblásticas neutras.
Palavras-chave: Espécie florestal, Germinação, Vigor.

ABSTRACT
The species Piptadenia moniliformis is a Fabaceae, popularly known as angico-de-bezerro, has
environmental, medicinal and economic importance. The objective of this work was to evaluate the
influence of different light and temperature regimes on the germination and seed vigor of P.
moniliformis Benth. The experiment was carried out at the Laboratory of Seed Analysis of the
Agricultural Sciences Center (CCA) of the Federal University of Paraíba (UFPB), in Areia-PB. The
evaluated temperatures were 25 and 30 ° C constant and 20-30 ° C alternating in the regimes of
white, green, red, red-distant and dark continuous light, adopting the design completely at random,
in a 3 x 5 factorial scheme (Temperatures and light regimes), in four replicates of 25 seeds each.
The analyzed variables were: percentage of germination, first germination count, germination speed

1
Orientadora: Edna Ursulino Alves/ Engenheira Agrônoma, Dra., Professora Associada, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II / ursulinoalves@hotmail.com

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 66


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

index, length and dry mass of root and aerial part of the seedlings. The constant temperatures of 25
and 30 ° C and alternated 20-30 ° C in the regime of red distant and absence of light favored the
vigor when evaluated by the first count, length and dry mass of P. moniliformis roots. The seeds
germinated in all the light regimes, being able to be classified as neutral photoblasts.
Key words: Forest species, Germination, Force.

INTRODUÇÃO

A espécie Piptadenia moniliformis Benth., pertencente à família Fabaceae, subfamília


Mimosoideae, é uma arbórea nativa do Nordeste brasileiro, conhecida popularmente como angico-
de-bezerro, catanduva, surucucu e quipembé. A planta é decídua, heliófita e xerófita que pode
atingir de 5 a 10 metros de altura. A madeira de P. moniliformis é pesada, de textura média,
resistente e com boa durabilidade, sendo usada em pequenas obras de construção civil, marcenaria,
lenha e para a fabricação de carvão (LORENZI, 2008). Possui propriedades medicinais e é
considerada de alto valor apícola como também forrageira, fornecendo alimento para bovinos,
caprinos e ovinos. Por sua característica como pioneira, rústica e de rápido crescimento, recomenda-
se para programas de reflorestamentos heterogêneos e sistemas agroflorestais (MAIA, 2004).
É imprescindível o estudo de métodos apropriados em análises de sementes para as espécies
florestais nativas na busca de informações referentes às condições ideais de germinação (SILVA et
al., 2014). Nas Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009), constam as recomendações para
a condução do teste de germinação de sementes de várias espécies, porém, há uma escassez de
informações para as de espécies florestais nativas. No meio ambiente as sementes podem ser
influenciadas por diferentes estímulos ambientais, tais como luz e temperatura, e esses, podem
variar de acordo com a estrutura do dossel (LINDIG-CISNEIROS e ZEDLER, 2001). Dessa forma,
entender o comportamento germinativo das sementes é de grande importância, de modo que várias
espécies nativas tem grande potencial na recuperação de áreas degradadas, recomposição da
paisagem e conservação da biodiversidade, fazendo-se necessárias ações que as proteja contra a
ameaça de extinção (LABOURIAU, 1983; VÁZQUEZ-YANES e OROZCO-SEGOVIA, 1993;
ARAÚJO NETO et al., 2003).
A germinação é o processo inicial de crescimento e diferenciação embrionária dos
organismos vegetais, sendo influenciada por fatores internos e externos às sementes. Entre os
fatores intrínsecos encontram-se os hormônios e substâncias inibidoras não hormonais e a
dormência tegumentar, enquanto os externos destacam-se a umidade, temperatura, luz e oxigênio
(KRAMER e KOZLOWSKI, 1972; POPINIGIS, 1985). Cada espécie tem uma exigência específica
ligada aos fatores ambientais. A atuação individual de cada fator como também a interação do

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 67


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

estado fisiológico da semente e das condições ambientais formam um ambiente favorável para o
processo germinativo (BORGES e RENA, 1993).
A temperatura é um fator ambiental decisivo no processo germinativo, pois é responsável
tanto pela velocidade como porcentagem final de germinação (BEWLEY e BLACK, 1994).
Segundo Carvalho e Nakagawa (2012), a temperatura compromete o processo de embebição das
sementes, e as reações metabólicas, essenciais aos processos de mobilização de reservas e a
retomada de crescimento da radícula. A temperatura ideal para uma espécie é aquela que expressa o
máximo potencial de germinação em um menor período de tempo, e sua determinação é
influenciada por fatores como o indivíduo estudado, armazenamento da semente, região de origem e
variedade da espécie (CETNARSKI FILHO e CARVALHO, 2009).
A luz é outro fator que tem implicação positiva ou negativa na germinação das sementes, de
forma que as mesmas podem ser classificadas em fotoblásticas positivas, quando a germinação só
ocorre na presença da luz; fotoblásticas negativas, quando a mesma é diminuída ou inibida na
presença da luz; e fotoblásticas neutras, a germinação ocorre indiferentemente à condição de luz
(MARCOS FILHO, 2015). De acordo com Zaidan e Barbedo (2004), fitocromo é o pigmento
receptor envolvido pela captação dos sinais luminosos do ambiente, e pode ser classificado como
FVe (forma ativa) e FV (forma inativa), onde sua ação é diretamente influenciada pelo o
comprimento de onda (relação vermelho/vermelho-extremo) incidente.
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a influência de diferentes
regimes de luz e temperaturas na germinação e vigor de sementes de Piptadenia moniliformis
Benth.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no Laboratório de Análise de Sementes (LAS), do


Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no município de Areia-PB. Os frutos de Piptadenia
moniliformis foram coletados em diferentes árvores matrizes localizadas no município de Buriti dos
Montes, no Estado do Piauí em 2015 e, após o beneficiamento, as sementes foram acondicionadas
em sacos plásticos e armazenadas em temperatura ambiente (temperatura média de 25 °C) por vinte
e quatro meses, quando se iniciou o experimento.
Antes da semeadura as sementes de P. moniliformis foram submetidas a tratamento pré-
germinativo mediante escarificação com ácido sulfúrico concentrado (H2SO4 96% P.A) durante 20
minutos (AZEREDO et al., 2010) e, em seguida, foram lavadas em água corrente por 1 minuto e
postas para secar sobre papel toalha por 30 minutos. Após essa etapa, as sementes foram tratadas
com fungicida Captan® na proporção de 240 g do produto para 100 kg de sementes. A semeadura

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 68


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

foi realizada em papel Germitest umedecido com água destilada, na quantidade equivalente a 2,5
vezes a sua massa seca. Em seguida, os mesmos foram organizados em forma de rolos e
acondicionados em sacos transparentes para evitar perda de água para o meio. Os rolos foram
colocados em germinadores do tipo Biological Oxygen Demand (B.O.D) regulados para as
temperaturas de 25 e 30 °C constantes e 20-30 °C alternada com fotoperíodo de 8/16 horas de luz e
escuro, respectivamente, cujos regimes de luz foram: branca (LB), verde (LV), vermelha-distante
(LVD), vermelha (LV) e ausência de luz (A).
Para verificar o efeito dos diferentes tratamentos foram avaliadas as seguintes variáveis:
porcentagem de germinação - foram utilizadas 100 sementes divididas em quatro repetições de 25,
sendo a contagem realizada no décimo quarto dia após a semeadura, e com os resultados expressos
em porcentagem. O critério utilizado nas avaliações foi o de plântulas normais, considerando
aquelas que tinham as estruturas essenciais do embrião desenvolvidas (BRASIL, 2009). Primeira
contagem de germinação - computou-se o número de sementes germinadas no terceiro dia após a
semeadura, sendo os resultados expressos em porcentagem. Índice de velocidade de germinação -
realizado conjuntamente com o teste de germinação, em que se computou o número de sementes
germinadas diariamente, do terceiro até o décimo quarto dia após a semeadura e o índice calculado
de acordo com a fórmula apresentada por Maguire (1962). Comprimento de raízes e parte aérea de
plântulas - ao fim do teste de germinação, as raízes principais e a parte aérea das plântulas normais
de cada repetição foram medidas com o auxílio de uma régua graduada em centímetro, sendo os
resultados expressos em cm. Massa seca de raízes e parte aérea de plântulas as mesmas plântulas
da avaliação anterior foram colocadas separadamente em sacos de papel kraft e levadas à estufa
regulada a 65 ºC por 48 h e, decorrido esse período, as mesmas foram pesadas em balança analítica
com precisão de 0,001 g (NAKAGAWA, 1999).
O delineamento estatístico foi inteiramente ao acaso, com os tratamentos distribuídos em
esquema fatorial 3 x 5 (temperaturas e regimes de luz), em quatro repetições. Os dados foram
submetidos à análise de variância pelo teste F (p< 0,05) e as médias comparadas pelo teste de Scott-
Knott, a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1, a interação entre os fatores temperaturas e regime de luz não foi significativa
(p > 0,05) para germinação e para índice de velocidade de germinação. Para essas variáveis, o efeito
isolado desses fatores também não foi significativo até 5% de probabilidade. Com base nas médias
observadas, as quais tiveram valores acima de 92 %, infere-se que não houve efeito negativo sobre a
germinação de sementes de P. moniliformis, quando submetidas aos diferentes regimes de luz e
temperaturas testadas. Para a variável comprimento da parte aérea não foi significativo a interação

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 69


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

entre os fatores de luz e temperatura, contudo, seus efeitos isolados foram significativos até 1% de
probabilidade.

TABELA 1: Resumo da análise de variância referente à germinação (G), primeira contagem de germinação
(PC), índice de velocidade de germinação (IVG), comprimento de raiz (CR), comprimento de parte aérea
(CPA), massa seca de raiz (MSR), massa seca da parte aérea (MSPA) de plântulas de P. moniliformis
submetidas a diferentes temperaturas e regimes de luz.

ns
Valor de F não significativo a 5 e 1% de probabilidade; **Valor de F significativo a 1% de probabilidade;
* Valor de F significativo a 5% de probabilidade; Trat. = tratamento; FV = fonte de variação; GL = grau de
liberdade; (CV%) = coeficiente de variação.

Para a primeira contagem de germinação (Tabela 2) o regime de luz branca na temperatura


alternada de 20-30 ºC proporcionou o menor valor (86%) seguido do regime de luz branca na
temperatura de 25 ºC, onde não diferiram estatisticamente entre si. Nos demais tratamentos não
ocorreram diferenças significativas, no entanto, destacou-se a temperatura de 30 °C no regime de
luz branca, com maiores valores na primeira contagem de germinação (98%).
Para sementes de Tabebuia impetiginosa (Martius ex A. P. de Candolle) Standley e T.
serratifolia (Vahl) G. Nichols. a ausência ou presença de luz na temperatura de 30 °C não
influenciou no vigor determinado pela primeira contagem de germinação (OLIVEIRA et al., 2005).
Para sementes de Leucaena leucocephala L. o menor vigor, determinado pela primeira contagem de
germinação, ocorreu na ausência de luz sob temperatura de 35 °C (OLIVEIRA, 2008).

TABELA 2. Primeira contagem de germinação (%) de sementes de P. moniliformis submetidas a diferentes


temperaturas e regimes de luz.
Temperatura
Regimes de Luz
25ºC 30ºC 20-30ºC
Branca 91Ba 98Aa 86Bb
Verde 98Aa 93Aa 94Aa
Vermelha 94Aa 97Aa 93Aa
Ausência 95Aa 92Aa 91Aa
Vermelho-distante 94Aa 92Aa 93Aa
Médias seguidas pelas mesmas letras, maiúsculas nas linhas e minúsculas nas colunas, não diferem entre si, a
5% de probabilidade, pelo teste de Scott-Knott.

Conforme a Tabela 3, os maiores comprimentos de raízes obtidas na temperatura de 25 ºC


ocorreu sob luz verde, ausência de luz e vermelho distante. Já em relação à temperatura de 30 ºC a
temperatura não diferiu estatisticamente entre os regimes de luz estudados. Dentro da temperatura

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 70


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

alternada de 20-30 ºC apenas a ausência de luz diferiu dos demais tratamentos. Em estudo realizado
por Azerêdo et al. (2011), foi constatado que o desenvolvimento das plântulas de P. moniliformis
ocorreu não apenas em áreas abertas, onde as variações de temperaturas entre o dia e a noite são
maiores, mas também em áreas com menores variações de temperatura.
Em plântulas de Sideroxylon obtusifolium (Roem & Schult.) T.D. Penn. os maiores
comprimentos de raízes foram obtidos na temperatura de 30 °C na luz branca e na temperatura
alternada de 20-30 °C na luz vermelho-distante e escuro (SILVA et al., 2014), enquanto para
plântulas de Aspidosperma tomentosum Mart. as temperaturas de 25 e 30 °C no regime de luz
branca favoreceram o desenvolvimento da raiz (OLIVEIRA et al., 2011).

TABELA 3. Comprimento das raízes de plântulas (cm) oriundas de sementes de Piptadenia moniliformis
Benth. submetidas a diferentes temperaturas e regimes de luz.
Temperatura
Regimes de Luz
25ºC 30ºC 20-30ºC
Branca 3,555Ba 5,236Aa 4,785Aa
Verde 4,545Aa 4,810Aa 4,625Aa
Vermelha 3,725Ba 4,750Aa 5,420Aa
Ausência 4,105Aa 3,895Aa 3,390Ab
Vermelho-distante 4,025Aa 4,485Aa 4,905Aa
Médias seguidas pelas mesmas letras, maiúsculas nas linhas e minúsculas nas colunas, não diferem entre si, a
5% de probabilidade, pelo teste de Scott-Knott.

Para o comprimento de parte aérea (Figura 1), a temperatura de 30 °C se destacou quando


comparada às demais avaliadas, diferindo estatísticamente da temperatura de 25 e 20-30 °C.
Resultados similares foram obtidos por Galindo et al. (2012) em sementes de Crataeva tapia L., a
qual obteve na temperatura constante de 30 ºC maiores valores de comprimento de parte aérea.
Kissmann et al. (2008) trabalhando com sementes de Adenanthera pavonina L. e Braga et al. (2010)
com sementes de Senna alata (L.) Roxb., verificaram que o processo germinativo foi influenciado
pela temperatura, no entanto, à 20 °C as sementes tornam-se fotoblásticas negativas.

Figura 1. Comprimento de parte aérea de plântulas de P. moniliformis Benth. submetidas a diferentes


temperaturas e regimes de luz.

A temperatura constante de 25 °C promoveu maior massa seca de raiz em todos os regimes


de luz, não diferindo estatisticamente entre eles (Tabela 4). A temperatura de 30 ºC proporcionou os

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 71


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

menores valores de massa seca de raiz, especialmente, sob ausência de luz, seguido do vermelho
distante. A temperatura alternada de 20-30 °C, no regime de luz vermelho-distante, não diferiu
estatisticamente da temperatura de 25 °C.
Para plântulas de Clitoria fairchildiana R. os maiores conteúdos de massa seca de raízes
foram conseguidos na temperatura de 30 °C, independente do regime de luz testado (ALVES et al.,
2012).As maiores proporções de massa seca de raízes de plântulas de Syagrus coronata (Mart.)
Becc. foram obtidas quando cultivadas a pleno sol (CARVALHO et al., 2006).

TABELA 4. Massa seca das raízes (g) de plântulas oriundas de sementes de Piptadenia moniliformis Benth.
submetidas a diferentes temperaturas e regimes de luz.
Temperatura
Regimes de Luz
25 ºC 30 ºC 20-30 ºC
Branca 0,002075Aa 0,001125Ba 0,001425Ba
Verde 0,002050Aa 0,000925Ba 0,001225Ba
Vermelha 0,001900Aa 0,000825Ca 0,001500Ba
Ausência 0,002025Aa 0,000225Cb 0,001000Ba
Vermelho-distante 0,001600Aa 0,000500Bb 0,001225Aa
Médias seguidas pelas mesmas letras, maiúsculas nas linhas e minúsculas nas colunas, não diferem entre si, a
5% de probabilidade, pelo teste de Scott-Knott.

Com base na Tabela 5, a ausência de luz mediante temperatura de 25º C se destacou, por
proporcionar o maior valor de massa seca de parte aérea, diferindo estatisticamente dos demais
tratamentos e do mesmo regime combinada com as demais temperaturas testadas. Os menores
valores de massa seca de parte aérea observado foram na temperatura alternada de 20-30 ºC
combinada com o regime de luz vermelha e luz branca. Verifica-se ainda nesta tabela, que o
vermelho-distante não obteve diferença estatística entre as três temperaturas testadas.
Assim como nesse estudo, Silva et al. (2014), constataram o maior conteúdo de massa seca
da parte aérea das plântulas de S. obtusifolium na temperatura de 25 °C em todos os regimes de luz
testados. Para Calendula officinalis L. maiores teores de massa seca foram encontrados quando se
utilizou temperaturas constantes de 20 e 25 °C independente do regime de luz testado
(KOEFENDER et al., 2009).

TABELA 5. Massa seca da parte aérea (g) de plântulas oriundas de sementes de P. moniliformis submetidas
a diferentes temperaturas e regimes de luz.
Temperatura
Regimes de Luz
25ºC 30ºC 20-30ºC
Branca 0,003150Bc 0,003625Ab 0,002800Bd
Verde 0,004000Ab 0,003175Bb 0,003600Ac
Vermelha 0,004175Ab 0,003550Bb 0,002875Cd
Ausência 0,005550Aa 0,004375Ba 0,004800Ba
Vermelho-distante 0,004150Ab 0,003625Ab 0,004025Ab

Médias seguidas pelas mesmas letras, maiúsculas nas linhas e minúsculas nas colunas, não diferem entre si, a
5% de probabilidade, pelo teste de Scott-Knott.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 72


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CONCLUSÃO

Sementes de Piptadenia moniliformis Benth. são fotoblásticas neutras;

A espécie P. moniliformis adapta-se satisfatoriamente às flutuações térmicas.

REFERÊNCIAS

ALVES, M.M.; ALVES, E.U.; BRUNO, R.L.A.; SILVA, K.R.G.; SANTOS-MOURA, S.S.;
BARROZO, L.M.; ARAÚJO, L.R. Potencial fisiológico de sementes de Clitoria fairchildiana R.
A. Howard.-Fabaceae submetidas a diferentes regimes de luz e temperatura. Ciência Rural,
Santa Maria, v.42, n.12, p.2199-2205, 2012.

ARAÚJO NETO, J.C.; AGUIAR, I.B.; FERREIRA, V.M. Efeito da temperatura e da luz na
germinação de sementes de Acacia polyphylla DC. Revista Brasileira de Botânica, São Paulo,
v.26, n.2, p.249-256, 2003.

AZERÊDO, G.A.; PAULA, R.C.; VALERI, S.V. Temperatura e substrato para a germinação de
sementes de Piptadenia moniliformis Benth. Sci. Forestalis, Piracicaba, v. 39, n. 92, p.479-488,
dez. 2011.

AZEREDO, G.A.; PAULA, R.C.; VALERI, S.V.; MORO, F.V. Superação de dormência de
sementes de Piptadenia moniliformis Benth. Revista Brasileira de Sementes, Londrina, v.32, n.2,
p.049-058, 2010.

BEWLEY, J.D.; BLACK, M. Seeds: Physiologyof development and germination. 2.ed. New York:
Plenum Press, 1994. 445p.

BORGES, E.E.L.; RENA, A.B. Germinação de sementes. In: AGUIAR, I.B.; PIÑA-RODRIGUES,
F.C.M.; FIGLIOLIA, M.B. (Coord.) Sementes florestais tropicais. Brasília: ABRATES, 1993.
p.83-136.

BRAGA, L.F.; SOUSA, M.P.; BRAGA, J.F.; DELACHIAVE, M.E.A. Escarificação ácida,
temperatura e luz no processo germinativo de sementes de Senna alata (L.) Roxb. Revista
Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v.12, n.1, p.1-7, 2010.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes.


Secretaria de Defesa Agropecuária: Brasília: MAPA/ACS, 2009. 395p.

CARVALHO, N.M.; NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e produção. 5.ed. FUNEP:


Jaboticabal, 2012. 590p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 73


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CARVALHO, N.O.S.; PELACANI, C.R.; SOUZA-RODRIGUES, M.O.; CREPALDI, I.C.


Crescimento inicial de plantas de licuri (Syagrus coronata (Mart.) Becc.) em diferentes níveis de
luminosidade. Revista Árvore, Viçosa, v.30, n.3, p.351-357, 2006.

CETNARSKI FILHO, R.; CARVALHO, R.I.N. Massa da amostra, substrato e temperatura para
teste de germinação de sementes de Eucalyptus dunnii Maiden. Ciência Florestal, Santa Maria,
v.19, n.3, p.257-265, 2009.

GALINDO, E.A.; ALVES, E.U.; SILVA, K.B.; BARROZO, L.M.; SANTOS-MOURA, S.S.
Germinação e vigor de sementes de Crataeva tapia L. em diferentes temperaturas e regimes de
luz. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v.43, n.1, p.138-145, 2012.

KISSMANN, C.; SCALON, S.P.Q.; SCALON-FILHO, H.; RIBEIRO, N. Tratamentos para quebra
de dormência, temperaturas e substratos na germinação de Adenanthera pavonina L. Ciência e
Agrotecnologia, Lavras, v.32, n.2, p.668- 674, 2008.

KOEFENDER J; MENEZES NL; BURIOL GA; TRENTIN R; CASTILHOS G. Influência da


temperatura e da luz na germinação da semente de calêndula. Horticultura Brasileira, Vitória da
Conquista, v.27, n.2, p.207-210, 2009.

KRAMER, P.J.; KOZLOWSKI, T. Fisiologia das árvores. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
1972. 745p.

LABOURIAU, L.F.G. A germinação das sementes. Washington: Secretaria Geral da OEA, 1983.
174p.

LINDIG-CISNEROS, R.; ZEDLER, J. Effects of light on seed germination in Phalaris arundinacea


L. (reed canary grass). Plant Ecology, Austrália, v.155, n.1, p.75-78, 2001.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas


do Brasil. 5.ed, v.1, São Paulo: Plantarum, 2008. 384p.

MAGUIRE, J.D. Speeds of germination-aidselection and evaluation for seedlingemergence and


vigor. Crop Science, v.2, n.1, p.176-177, 1962.

MAIA, G.N. Caatinga: árvores e arbustos e suas utilidades. São Paulo: D&Z Computação Gráfica
e Editora, 2004. 413p.

MARCOS FILHO, J. Fisiologia de sementes de plantas cultivadas. ABRATES, Londrina, 2015.


659p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 74


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

NAKAGAWA, J. Testes de vigor baseados no desempenho de plântulas. In: KRZYZANOWSKI,


F. C.; VIEIRA, R. D.; FRANÇA NETO, J. B. (Eds.). Vigor de sementes: conceitos e testes.
Londrina: ABRATES, 1999. p.1-21.
OLIVEIRA, A.B. Germinação de semente de leucena (Leucaena leucocephala). Revista de
Biologia e Ciências da Terra, Campina Grande, v.8, n.1, p.166-172, 2008.

OLIVEIRA, A.K.M.; RIBEIRO, J.W.F.; PEREIRA, K.C.L.; SILVA, C.A.A. Germinação de


sementes de Aspidosperma tomentosum Mart. (Apocynaceae) em diferentes temperaturas.
Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v.9, n.3, p.392-397, 2011.

OLIVEIRA, L.M.; CARVALHO, M.L.M.; SILVA, T.T.A.; BORGES, D.I. Temperatura e regime
de luz na germinação de sementes de Tabebuia impetiginosa (Martius ex A. P. De Candolle)
Standley e T. Serratifolia Vahl Nich. -Bignoniaceae. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.29, n.3,
p.642-648, 2005.

POPINIGIS, F. Fisiologia da semente. Brasília: AGIPLAN, 1985. 289p.

SILVA, K.B.; ALVES, E.U.; OLIVEIRA, A.N.P.; SOUSA, N.A.; AGUIAR, V.A. Influência da luz
e temperatura na germinação de sementes de quixaba. Revista Agropecuária Técnica, Areia,
v.35, n.1, p.13-22, 2014.

VÁZQUEZ-YANES, C.; OROZCO-SEGOVIA, A. Patterns of seed longevity and germination in


the tropical rain forest. Annual Review of Ecology and Systematics, Stanford, v.24, n.1, p.69-
87, 1993.

ZAIDAN, L.B.P.; BARBEDO, C.J. Quebra de Dormência em Sementes. In: FERREIRA, A. G. &
BORGHETTI, F. (orgs). Germinação: Do Básico ao Aplicado. Porto Alegre – RS: Artmed,
p.135-146, 2004.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 75


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL TÓXICO DAS FOLHAS DO JUAZEIRO (Ziziphus


joazeiro Mart.) PARA ABELHAS Apis mellifera L.

Gabriela Maria Maia LIMA


Aluno do curso técnico integrado em Apicultura do IFRN
gabriellalima84@hotmail.com
Lucas Fernando de Freitas SOARES
Aluno do curso técnico integrado em Apicultura do IFRN
luksfernando12@hotmail.com
Benito Soto BLANCO
Professor Doutor em Patologia Experimental e Comparada UFMG
btotoblanco@yahoo.com.br
Louise Duarte Matias de AMORIM
Professora Mestre em Ciências Naturais IFRN
louise.duarte@ifrn.edu.br

RESUMO
O juazeiro é uma espécie vegetal de grande importância para a região do semiárido. É uma espécie
bastante utilizada como fonte de alimento por herbívoros, bem como no auxílio ao combate de
várias doenças devido às suas propriedades medicinais. Vários estudos também apontam suas
propriedades repelentes e tóxica para diversas espécies, sendo também bastante visitada por
abelhas. Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo principal avaliar o potencial
tóxico do juazeiro para abelhas da espécie Apis melífera. Foram realizadas visitas ao município de
Rafael Fernandes, situado na Mesorregião do Alto Oeste Potiguar, para coleta da espécie. As
amostras coletadas foram prensadas e levadas ao laboratório do Instituto Federal do Rio Grande do
Norte (IFRN) para serem desidratadas e posteriormente identificadas. Após a desidratação as
amostras foram trituradas a ponto de pó e adicionadas à alimentação das abelhas. Para montagem
dos bioensaios foram utilizadas abelhas do apiário do IFRN as quais foram organizadas em 4
grupos, um controle e 3 tratamentos. Cada gaiola recebeu cerca de 20 operárias que tiveram à sua
disposição, água e alimento proteico além do pó do juazeiro nos grupos tratados. Diariamente o
alimento e a água das abelhas eram repostos seguindo-se a isso a contagem da mortalidade das
mesmas. As leituras eram anotadas em planilhas para posterior análise estatística que baseou-se no
teste não paramétrico Log-Rank Test e o método de Kaplan. Verificou-se q não houve diferença
significativa entre os resultados apresentados para os grupos controle e os tratamentos indicando
que o juazeiro não exerce efeito tóxico sobre as abelhas.
Palavras chave: Toxicidade, abelhas., Juazeiro

ABSTRACT
O juazeiro é uma espécie vegetal de grande importância para a região do semiárido. É uma espécie
bastante utilizada como fonte de alimento por herbívoros, bem como no auxílio ao combate de
várias doenças devido às suas propriedades medicinais. Vários estudos também apontam suas
propriedades repelentes e tóxica para diversas espécies, sendo também bastante visitada por
abelhas. Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo principal avaliar o potencial
tóxico do juazeiro para abelhas da espécie Apis melífera. Foram realizadas visitas ao município de
Rafael Fernandes, situado na Mesorregião do Alto Oeste Potiguar, para coleta da espécie. As
amostras coletadas foram prensadas e levadas ao laboratório do Instituto Federal do Rio Grande do

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 76


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Norte (IFRN) para serem desidratadas e posteriormente identificadas. Após a desidratação as


amostras foram trituradas a ponto de pó e adicionadas à alimentação das abelhas. Para montagem
dos bioensaios foram utilizadas abelhas do apiário do IFRN as quais foram organizadas em 4
grupos, um controle e 3 tratamentos. Cada gaiola recebeu cerca de 20 operárias que tiveram à sua
disposição, água e alimento proteico além do pó do juazeiro nos grupos tratados. Diariamente o
alimento e a água das abelhas eram repostos seguindo-se a isso a contagem da mortalidade das
mesmas. As leituras eram anotadas em planilhas para posterior análise estatística que baseou-se no
teste não paramétrico Log-Rank Test e o método de Kaplan. Verificou-se q não houve diferença
significativa entre os resultados apresentados para os grupos controle e os tratamentos indicando
que o juazeiro não exerce efeito tóxico sobre as abelhas.
Keywords: Toxicity, bees., Juazeiro

INTRODUÇÃO

A polinização é um mecanismo natural que consiste no deslocamento de grãos de pólen de


uma flor para outra frequentemente com a intervenção de agentes polinizadores. Esse processo
garante a reprodução das plantas, assegura o equilíbrio ecológico e agrega valores para culturas
agrárias. Dentre os grupos de agentes polinizadores as abelhas ganham destaque devido ao fato de
necessitarem do pólen para a sua sobrevivência (SOUZA, 2007).
A relação entre abelhas e plantas é baseada no mutualismo, tendo em vista que as abelhas
polinizam as plantas em troca de nutrientes para que possam suprir as demandas da colmeia
(WOLFF, 2008).
As abelhas constituem um grupo com uma vasta variedade de espécies e a maioria dessas
necessita de recursos florais para sua sobrevivência, demonstrando estreita relação com plantas
angiospermas ao longo do tempo. Além de serem alimentos essências para a vida da abelha, o
pólen, o néctar e o óleo, ofertados pela flor, são uma grande aquisição no desenvolvimento das crias
e na construção dos ninhos. A diversidade morfológica e comportamental dos variados grupos de
abelhas garante a polinização de grande parte das flores presentes na flora brasileira de uma região
(RECH et al., 2014).
Mesmo que as plantas venham a oferecer inúmeros benefícios para abelhas e auxiliem de
forma positiva no desenvolvimento da colmeia, essas mesmas plantas podem vir a ofertar grandes
riscos aos polinizadores. É constatado que em algumas regiões do país, plantas de caráter tóxico são
capazes de provocar a mortalidade de crias e abelhas adultas (PEREIRA et al., 2006). Denominam-
se tóxicas, plantas com a capacidade de gerar substâncias com alto teor de toxicidade. Essas
substâncias tem a função de proteger as plantas de organismos, como: fungos, bactérias e animais
herbívoros. Algumas dessas substâncias como as proteínas tóxicas do tipo glicosídeos cianogênicos
e a rícina podem ser encontradas em plantas comuns na caatinga nordestina, como a mandioca-
brava e a mamona, respectivamente (MENGUE, 2001).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 77


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Durante o período de estiagem, prolongado no Nordeste brasileiro devido às condições


climáticas, é comum a ausência de fontes de alimento para as abelhas. Isso faz com que elas
recorram à plantas que florescem durante esse período; mas que frequentemente apresentam
substâncias potencialmente tóxicas, como as mencionadas acima, resultando na morte e,
consequentemente, perda das colônias (ROCHA NETO et al., 2011).
A Região Nordeste do Brasil vem apresentando nos últimos anos um crescimento bastante
expressivo no setor da apicultura por causa do seu elevado potencial para essa atividade. Nessa
região, a exploração apícola é baseada na flora silvestre da caatinga que dispõe de uma elevada
biodiversidade e apresenta um comportamento fenológico diferenciado e indispensável para que o
apicultor obtenha êxito na atividade. É também de extrema importância que o apicultor disponha de
conhecimento sobre a flora em questão, afim de evitar prejuízos resultantes da mortandade de
colmeias pelo consumo de espécies tóxicas (PEREIRA et al., 2004).
O Ziziphus joazeiro Mart., popularmente conhecido como juazeiro, joá, juá, juá bravo, entre
outros, é uma espécie vegetal de grande importância para a região do semiárido nordestino (onde se
encontra a Caatinga), devido aos nutrientes presentes em sua composição. É uma espécie bastante
utilizada como fonte de alimento por herbívoros, bem como no auxílio ao combate de várias
doenças devido às suas propriedades medicinais. É também uma das plantas mais resistentes à
escassez de água devido ao seu profundo e ramificado sistema radicular, capaz de captar com muita
eficiência a água no subsolo (DANTAS et al., 2014).
Além disso, estudos revelam que trata-se de uma espécie com propriedades repelentes e
tóxica para diversas espécies, porém, bastante visitada pelas abelhas, sendo um dos principais
representantes da caatinga como fonte de néctar, pólen e abrigo em diferentes épocas do ano
(SOUZA, 2007)
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo principal avaliar o potencial tóxico
do Ziziphus joazeiro para abelhas da espécie Apis melífera L.

METODOLOGIA

Coleta de amostras vegetais, prensagem e confecção de exsicatas

O trabalho teve início com a coleta de espécimes do juazeiro (Figura 01). Foram feitas
visitas à campo no mês de novembro de 2016 na zona rural (Sítio Lanchinha, S°06° 11.613‘ / O
038° 15.726) do município de Rafael Fernandes – Alto Oeste Potiguar, no Estado do Rio Grande do
Norte, onde foram coletadas amostras de partes vegetativas (folhas e galhos) e reprodutivas (flores)
da planta em questão. Ainda em campo os espécimes foram prensados, utilizando prensas de
madeira do tamanho padrão, e conduzidos ao laboratório de Biologia do Instituto Federal de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 78


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN, câmpus Pau dos Ferros, para
secagem e posterior identificação taxonômica. A desidratação das amostras foi feita em estufa de
secagem com ventilação a uma temperatura de 65 graus por 72h, seguindo-se a isso a confecção de
exsicatas (Figura 02).

Identificação botânica

A identificação taxonômica foi feita utilizando chaves dicotômicas de identificação e a


literatura especializada. A confirmação da espécie foi feita através da análise comparativa
utilizando espécimes depositados no acervo do Herbário Dárdano de Andrade Lima (MOSS) da
Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA).

Figura 01: Ziziphus joazeiro Mart. Figura 02: Exsicata do Ziziphus joazeiro Mart.

Preparação da Alimentação das abelhas

Parte das amostras vegetais coletadas em campo não foram prensadas, mas acondicionadas
em sacos plásticos e também conduzidas ao laboratório de biologia do IFRN para secagem natural.
Feito isso, as folhas desidratadas da planta foram depositadas no moinho elétrico (Figura 03) para
trituração até chegar em ponto de pó. O pó resultante (Figura 04) foi adicionado à alimentação das
abelhas, que consistia em uma mistura de mel e açúcar (cândi).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 79


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 03: Trituração das folhas do Juazeiro Figura 04: Macerado das folhas do juazeiro

Bioensasios

Para montagem dos bioensaios foram utilizadas abelhas coletadas no apiário do IFRN. Estas
foram postas em 8 caixas de madeira, com dimensões de 11 cm de comprimento x 13 cm de largura
x 8 cm de altura. As caixas também possuíam as duas laterais mais largas de vidro, piso e teto
telado, para auxilio da ventilação (Figura 05). Cada gaiola recebeu cerca de 20 operárias que
tiveram à sua disposição, água e alimento proteico (cândi). Foram utilizadas duas repetições para
cada tratamento. O primeiro tratamento era composto por 150 g de cândi acrescido de 7,5 g do
macerado da planta (5%), o segundo por 150 g de cândi mais 15 g do macerado (10%), o terceiro
por 150 g de cândi mais 22,5 g do macerado (15%) enquanto que o grupo controle recebia apenas
água e cândi, conforme a Tabela 01.

Acompanhamento da mortalidade das abelhas

Diariamente o alimento e a água das abelhas eram repostos seguindo-se a isso a contagem da
mortalidade das mesmas. As leituras eram anotadas em planilhas para posterior análise estatística
que baseou-se no teste não paramétrico Log-Rank Test e o método de Kaplan-Meier para
comparação e construção do gráfico da curva de sobrevivência, respectivamente. Também
diariamente as abelhas mortas eram retiradas das caixas, sendo sua visualização possível devido as
laterais de vidro transparente das gaiolas.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 80


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 05: Gaiolas utilizadas no experimento

Medidas Medidas Concentração do pó


Nº do
Nº de insetos (―cândi‖) (planta) folha
tratamento
(g) (g) (%)
1 20 150 7,5 5
1 20 150 7,5 5
2 20 150 15 10
2 20 150 15 10
3 20 150 22,5 15
3 20 150 22,5 15
0 20 150 0 0
0 20 150 0 0

Tabela 01: Bionensaios: grupos controle e tratamentos a 5%, 10% e 15% de macerado

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise estatística mostra que não houve diferença significativa entre os resultados
apresentados para os grupos controle e os tratamentos. Repara-se que o macerado adicionado ao
cândi não reduziu de forma significativa os dias de sobrevivência das abelhas (figura 06), já que
para os grupos controle a média de dias de sobrevivência foi 10 e para os tratamentos observou-se
algo bem próximo desse valor. Para o tratamento com 5% de macerado a média foi de 8 dias, para
10%, 9 dias e meio e para a concentração de 15% 9 dias, de acordo com o teste Kaplan-meier.
Comparando os tratamentos a 5%, 10% e 15% com o grupo controle através do teste Log-rank
observou-se os seguintes resultados: p= 0,00186 para 5%, p= 0,000338 para 10% e p= 0,529 para
15%, os quais não mostraram significância quando comparados aos resultados obtidos para o grupo
controle (P>0,0001), conforme tabela 01.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 81


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Comparação entre grupos* Diferença estatística Significância


Controle x 5% p = 0,00186 Não significante
Controle x 10%: p = 0,000338 Não significante
Controle x 15%: p = 0,529 Não significante
Tabela 01 – Significância através de teste Log-rank

Figura 06: Curva de Sobrevivência para teste com folhas do Ziziphus joazeiro Mart.

Desta forma, os resultados sugerem que o efeito tóxico do juazeiro pouco afeta as abelhas da
espécie Apis melífera, embora esse efeito já tenha sido descrito para outras espécies de
invertebrados, como menciona o trabalho de Xavier et al. (2015), mostrando que os repelentes à
base do extrato de Ziziphus joazeiro se revelaram positivos no combate ao ácaro Tetranychusbastosi
Tutler. Silva (2009) também aponta o efeito tóxico, porém moderado, das folhas e cascas do
juazeiro sobre larvas da espécie Artemia salina Leach
Vale salientar, entretanto, que o juazeiro apresenta um enorme potencial alimentar, sendo
comumente utilizado na alimentação de animais de criação. Barros et al. (1991) mostrou que o feno
a base de juazeiro dado a ovinos e caprinos apresentou uma importante resultância no ganho de
peso e no aumento da produção de leite. Dessa forma, o feno a base de juazeiro teve eficiência na
alimentação desses animais. Isso se torna particularmente importante sob o ponto de vista ambiental
porque conforme os resultados apresentados o juazeiro não exerce efeito tóxico sobre as abelhas em
questão, e portanto, serve como uma importante alternativa alimentar, principalmente durante a
época de estiagem. Gariglio et al. (2010) afirma que a grande variedade de espécies de abelhas
presentes na fauna está associada a abundância de fontes de alimentos e locais de nidificação,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 82


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

fazendo-se necessário que haja maior preservação ambiental e a criação de novos meios de
alimentação para abelhas, para que seja possível manter as variadas espécies vivas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A alimentação feita com o pó das folhas de Ziziphus joazeiro Mart. não se mostrou tóxica
para abelhas da espécie Apis melífera L. Entretanto, devemos ressaltar a necessidade de que outros
estudos sejam realizados nessa área, a fim de conhecer as propriedades fitoquímicas,
principalmente, da flor do juazeiro e de outras espécies da caatinga que servem de alimento para as
abelhas. Tendo sido concluído que as folhas do juazeiro não exercem efeito tóxico significativo
para as abelhas e considerando seu alto teor proteico, sugere-se a utilização dessa espécie como uma
alternativa viável para os apicultores na produção de ração. Com isso, evitaria-se o elevado índice
de mortalidade e/ou migração das colônias em decorrência da escassez de alimento, podendo
acarretar enormes prejuízos para a apicultura.
O presente estudo também pode gerar um alerta à população rural, estimulando-a a preservar
a vegetação nativa, fortemente agredida principalmente pelas queimadas, através do entendimento
mais aprofundado a respeito da forte relação entre as abelhas e o seu ambiente. Esse processo pode
e deve ser orientado por intermédio de alternativas de educação ambiental locais de modo à
promover o surgimento de uma consciência e postura ambientalmente sustentável.

REFERÊNCIAS

BARROS, Nelson Nogueira et al. Valor nutritivo do feno de juazeiro (Zizyphus joazeiro) para
caprinos e ovinos. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 26, n. 8, p.1299-1304, ago.
1991. Disponível em: <https://seer.sct.embrapa.br/index.php/pab/article/view/3468/801>. Acesso
em: 05 maio 2017.

DANTAS, Francisca Clenilda Pereira et al. Ziziphus joazeiro Mart. - Rhamnaceae: características
biogeoquímicas e importância no bioma Caatinga. Principia, João Pessoa, p.51-57, dez. 2014.

GARIGLIO, Maria Auxiliadora et al. Uso Sustentável e Conservação dos Recursos Florestais da
CAATINGA. 2. ed. Brasília/df: Serviço Florestal Brasileiro, 2010. 369 p.

MENGUE, Sotero Serrate. Uso de plantas medicinais na grávidez. Revista Brasileira de


Farmacognosia, Porto Alegre, v. 1, n. 11, p.2135, jan. 2001.

PEREIRA, Fábia de Mello et al (Org.). Flora Apícola no Nordeste. Teresina: Embrapa Meio-Norte,
2006. 40 p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 83


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

PEREIRA, Fábia de Mello et al. Flora Apícola no Nordeste. Teresina: Jorimá Marques Ferreira,
2004. 41 p.

RECH, André Rodrigo et al. Biologia da Polinização. Rio de Janeiro: Projeto Cultural, 2014. 527 p.

ROCHA NETO, J. T. et al. Toxicidade de flores de Jatropha gossypiifolia L. a abelha africanizada


em condições controladas. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v. 6,
n. 2, p. 6468, 2011.

SILVA, Tássia Campos de Lima e. Avaliação comparativa de cascas e folhas de Ziziphus joazeiro
Mart (RHAMNACEAE) em relação aos perfis fitoquimico e toxicológico e as atividades
antioxidante e antimicrobiana. 2009. 73 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciência
Farmacêutica, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2009.

SOUZA, Darklê Luiza. AS ABELHAS COMO AGENTES POLINIZADORES. Revista Eletrônica de


Veterinária, Veterinária.org, v. 8, n. 3, p.17, mar. 2007. Disponível em:
<http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/ n030307.html>. Acesso em: 30 abr. 2017.

WOLFF,L.F. Abelhas melíferas: bioindicadores e qualidade ambiental e de sustentabilidade da


agricultura familiar de base ecológica.
Pelotas:EmbrapaClimaTemperado,2008.38p.(Documento244)

XAVIER, M.v.a. et al. Toxicidade e repelência de extratos de plantas da caatinga sobre


Tetranychus bastosi Tutler, Baker & Sales (Acari: Tetranychidae) em pinhão-manso. Rev. Bras.
Plantas Med, Serra Talhada, v. 17, n. 4, p.790-797, jan. 2015.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 84


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO INICIAL DE JUCÁ (Libidibia ferrea) EM FUNÇÃO


DO COMPOSTO ORGÂNICO DE MACRÓFITA AQUÁTICA (Eichhornia crassipes).

Henrique Campos NOGUEIRA


Graduando em Agronomia UFERSA
henriquecn123@gmail.com
Elis Regina Costa de MORAIS
Professora Associada Doutora UFERSA
elisregina@ufersa.edu.br
Hiara Ruth da Silva Câmara GAUDÊNCIO
Gestora Ambiental Mestre UFERSA
hiararuth@gmail.com
Vera Mônica de VASCONCELOS
Graduada em Química Mestranda UFERSA
monicknobre@gmail.com

RESUMO
A ação humana, nas últimas décadas, vem causando sérias consequências ao meio ambiente,
possivelmente porque o sistema econômico vigente demanda uma produção em larga escala e,
consequentemente, um maior uso dos recursos naturais. Nesse contexto, este estudo objetivou
avaliar o crescimento inicial de Jucá (L. ferrea) em função do composto orgânico de macrófita
aquática (Eichhornia crassipes). Os tratamentos foram distribuídos em blocos casualizados com três
repetições, sendo as unidades experimentais constituídas por vasos com 2 dm3 de solo e as doses de
composto de aguapé à 0, 5, 10, 20 e 30% do volume de cada vaso. Durante o período de 60 dias
foram realizadas seis leituras (10; 20; 30; 40; 50 e 60 dias) de diâmetro de caule e altura de planta
para a realização da análise de crescimento. A produção de Matéria Seca da Parte Aérea (MSPA) se
elevou com o aumento das doses de composto, bem como, os teores de Fe, Mn e Zn foram
crescentes em relação ao aumento de pH. As Taxas de Crescimento Absoluto(TCA) e Crescimento
Relativo(TCR) foram semelhantes em todos os tratamentos, ressaltando que para a dose de 20 e
30% observou-se maiores alturas e na dose de 20% a TCR do diâmetro apresentou um crescimento
mais uniforme.
Palavras-chave: Crescimento de plantas. Aguapé. Caatinga.

ABSTRACT
Human action in recent decades has caused serious consequences for the environment, possibly
because the current economic system demands large-scale production and, consequently, a greater
use of natural resources. In this context, this study aimed to evaluate the initial growth of Jucá (L.
ferrea) as a function of the organic compound of aquatic macrophyte (Eichhornia crassipes). The
treatments were distributed in randomized blocks with three replicates, the experimental units
consisted of pots with 2 dm3 of soil and the doses of the compound of aguapé at 0, 5, 10, 20 and
30% of the volume of each pot. During the 60 day period, six readings (10; 20; 30; 40; 50 and 60
days) of stem diameter and plant height were made to perform the growth analysis. The production
of Dry Matter of the Aerial Part (MSPA) increased with the increase of the doses of compound, as
well, the contents of Fe, Mn and Zn were increasing in relation to the increase of pH. The Absolute
Growth Rates (TCA) and Relative Growth (TCR) were similar in all treatments, noting that for the

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 85


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

dose of 20 and 30% higher heights were observed and in the dose of 20% the TCR of the diameter
showed a more uniform growth.
Key words: Plant growth. Aguapé. Caatinga.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, observam-se iniciativas de recuperação de algumas áreas, envolvendo o


plantio de mudas de espécies nativas. Assim, a produção de mudas de espécies florestais nativas
tem assumido uma grande importância. A Caatinga, além de ser um bioma sob forte pressão
antrópica, tem o processo de recuperação de suas áreas degradadas dificultado devido ás condições
adversas do meio, em especial as chuvas torrenciais de grande poder erosivo, e os longos períodos
de seca. Neste bioma, o isolamento da área é essencial à sua recuperação pois propicia o acúmulo
de matéria orgânica e a sucessão ecológica (ARAÚJO, 2010), além disso, a reposição do estrato
arbóreo protege o solo e recupera a sua fertilidade, além de elevar o potencial produtivo (forragem e
lenha) da área degradada.
Diversas são as técnicas utilizadas para se reestabelecer as condições de equilíbrio e
sustentabilidade num determinado ambiente (GAUDÊNCIO, 2016), atualmente é crescente a
conscientização ambiental, aumentando o interesse em pesquisas com espécies arbóreas nativas,
objetivando a recuperação de áreas degradadas e/ou reflorestamento. Nesse contexto a incorporação
do composto orgânico proveniente de macrófita aquática (E. crassipes) vem se mostrando, por meio
de alguns estudos sobre suas propriedades e utilizações, que se trata de um recurso eficiente na
fertilização do solo, na despoluição de corpos d‘água, entre outras destinações (MALAVOLTA et
al.,1989).
O restabelecimento da qualidade do solo influencia diretamente no crescimento e
desenvolvimento das culturas, o crescimento de uma planta pode ser medido de várias maneiras.
Para Morais (2006), em alguns casos, a determinação da altura é suficiente, mas, às vezes, maiores
informações são necessárias, como por exemplo, o tamanho das folhas, a matéria seca total ou de
órgãos individuais, como raízes, caules, folhas e frutos. Nesse sentido, a análise de crescimento
objetiva descrever e interpretar o desempenho de determinada espécie, crescendo em ambiente
natural ou controlado (BENINCASA, 2003).
Este trabalho tem por objetivo avaliar o efeito do composto orgânico proveniente de
macrófitas aquáticas no crescimento de mudas de jucá (L. ferrea), através das Taxas de Crescimento
Absoluto(TCA) e Crescimento Relativo(TCR) e produção de Matéria Seca da Parte Aérea (MSPA).

MATERIAL E MÉTODOS

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 86


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O solo foi coletado às margens da RN 011, a escolha do local deu-se em razão de ser uma
jazida de retirada de cascalho ativa, entretanto selecionou-se uma área desativada dentro da jazida,
pois já estava esgotada e iria ser iniciado o processo de recuperação. Inicialmente, realizou-se a
limpeza da área com auxílio de uma pá, em seguida amostras simples foram coletadas iniciando do
topo até uma profundidade 15 cm. As amostras foram acondicionadas em sacos de plásticos limpos
e levadas ao Laboratório de Biotecnologia, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido
(UFERSA), do Centro de Ciências Agrárias. Posteriormente, o solo foi seco ao ar, homogeneizado e
peneirado em peneira com 2 mm de malha para remover restos de material vegetal e diminuir
grandes torrões de terra, melhorando assim sua homogeneidade. Os aguapés foram coletados na
área urbana do município de Mossoró/RN, mais precisamente nas proximidades da barragem de
baixo, no bairro Barrocas.
Os tratamentos foram distribuídos em blocos casualizados com três repetições, sendo as
unidades experimentais constituídas por vasos com 2 dm3 de solo e as doses de composto de
aguapé à 0, 5, 10, 20 e 30% do volume de cada vaso. Após a mistura da composição solo e
composto equivalente a cada tratamento, esta foi colocada em vasos plásticos, incubados 20 dias e
em seguida realizado o transplantio das mudas de jucá. Para produção das mudas, as sementes
foram escarificadas. As mudas de Jucá (L. ferrea), após escarificadas utilizando-se lixa d‘água nº
100, foram produzidas em bandejas de poliestireno expandido de 128 células, utilizando-se o
substrato à base de fibra de coco, sendo o transplantio realizado dez dias após a semeadura e o
estande corrigido através do replantio das mudas cinco dias após. Após uma semana foi realizada a
primeira medição. O crescimento das plantas passou a ser monitorado a partir dessa data e as
demais medições ocorreram a cada dez dias por um período de dois meses.
Durante o período de 60 dias foram realizadas seis leituras (10; 20; 30; 40; 50 e 60 dias) de
diâmetro de caule e altura de planta para a realização da análise de crescimento. O diâmetro do
caule foi medido usando paquímetro manual e altura de planta régua graduada (cm). Para modelar
as características de crescimento em função dos dias após a semeadura (DAS), para cada dose de
composto foi usado o modelo logístico (Morais e Maia, 2013) conforme Equação 1.

a
Y b  c.DAS (1)
1 e

em que: DAS dias após a semeadura ; e, a, b e c parâmetros do modelo.

Com base no modelo ajustado aos dados, foram estimados os valores dos índices
fisiológicos, determinando a taxa de crescimento absoluto (TCA) e taxa de crescimento relativo
(TCR). A TCA foi obtida pela derivada primeira do modelo (Equação 2) e a TCR pelo quociente

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 87


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

entre a TCA de cada característica avaliada pelos seus respectivos valores estimados em cada época
de coleta (Equação 3).

a  c  e b  cDAS
TCA  (2)
1  e 
b  c  DAS 2

TCA
TCR  (3)
Y

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A produção de Matéria Seca da Parte Aérea (MSPA) se elevou com o aumento das doses de
composto (Tabela 1). A esse respeito, Souza et al., (2010) observaram em solos onde foram
utilizados adubos orgânicos uma maior produção de massa seca, explicados pela maior
disponibilidade dos nutrientes. A absorção de Fe, Mn, Cu e Zn diminuíram a partir do aumento das
doses de composto. Sobre isso, Silva et.al (2016) concluíram que a matéria orgânica incorporada no
solo pode atuar na quelação, complexação, formando precipitados de baixa mobilidade dos
micronutrientes Zn, Cu, Fe e Mn, afetando assim sua disponibilidade. Kothari et al. (1991)
observaram que o Mn disponível no substrato diminuiu na mesma ordem que diminui o número de
bactérias redutoras de Mn, indicando o papel da redução biológica de manganês, nesse mesmo
contexto, Marschner et al., (1991), afirmam que a disponibilidade de Mn pode ser aumentada por
fatores que aumentem o número de microrganismos redutores ou diminuam o de oxidantes. Ainda
a respeito dos fatores que influenciam na disponibilidade de micronutrientes para as plantas, Abreu,
Lopes e Santos (2007) afirmam que o pH do solo é um dos mais relevantes na alteração da
disponibilidade de certos elementos, visto que o aumento do pH diminui a presença dos
micronutrientes Fe, Mn, Cu e Zn, reduzindo sua solubilidade no solo e, consequentemente sua
disponibilidade para as plantas. Faquin (2005), afirma que o Cd é absorvido pelas raízes na forma
de Cd2+ e o aumento do pH reduz a sua disponibilidade e a absorção. Essa constatação vale
também para o Pb, que por sua vez apresenta efeito tóxico para as plantas podendo resultar na
diminuição do crescimento.
O modelo logístico se ajustou aos dados das características avaliadas, com coeficientes de
determinação para todas as regressões superiores a 0,92. Para o período de avaliação tem-se que a
altura de planta (AP), diâmetro de caule (DC) e a produção de matéria seca da parte aérea (MSPA)
aumentaram de acordo com a elevação das doses de composto (Figura 2 e 3). Observou-se também,
que as mudas atingiram maiores alturas nas doses de 20 e 30%, e o crescimento estabilizou após os

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 88


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

30 dias. Para o DC, verificou-se que no intervalo de 20 a 30 DAP todos os tratamentos atingiram
diâmetros superiores de 9 mm. No entanto, a dose de 20% diferenciou-se das demais com
crescimento contínuo até os 60 dias, com DC em torno de 12mm.
Para as características avaliadas em função do tempo, verifica-se que houve crescimento
inicial lento aumentado exponencialmente até atingir valor máximo em que, a partir deste houve um
decréscimo. Segundo Pace et al. (1999), esse crescimento inicial lento ocorre porque as plantas
gastam grande parte da energia para a fixação no solo, principalmente com a exploração deste pela
emissão de raízes pela planta, sendo as raízes nesta fase o dreno preferencial dos fotoassimilados,
levando à maior produção de matéria seca de raiz quando comparada com a parte aérea.
A taxa de crescimento absoluto pode ser usada para se ter ideia da velocidade média de
crescimento ao longo do período de observação (BENINCASA, 2004). Para as mudas de jucá, a
TCA para altura de planta (TCAAP) calculada para o período de 60 dias foi semelhante em todos
tratamentos, sendo que cresce, em média, exponencialmente entre 0,08 e 0,10 cm dia-1 (Figura 1).
Para as doses de 0 e 5%, verificou-se declínio após os 10 dias, enquanto que para as doses de 10, 20
e 30%, o declínio ocorreu após os 20 dias.
A TCADC aumentou até atingir um valor máximo, em seguida ocorreu um declínio que para
as doses 0, 5, 10 e 30% estabilizou após os 30 dias. Já para a dose de 20% o máximo valor se deu
após os 30 dias e não havendo estabilidade (Figura 2).
Taxa de crescimento relativo (TCR) relaciona a quantidade de matéria orgânica formada, em
relação ao peso inicial (BENINCASA, 2004). Para a taxa de crescimento relativo verificou-se um
período inicial de rápido acúmulo de material, seguido de uma fase de acúmulo constante, com um
período final de declínio da TCR, ressaltando que para a dose de 20% a TCR DC apresentou um
crescimento mais uniforme ao longo do período analisado (Figura 3). Lima Júnior et al, (2004)
também verificaram este comportamento de queda na taxa de crescimento relativo do melão
submetido a diversos tratamentos. Essa diminuição contínua da TCR pode ser explicada pela
elevação da atividade respiratória e pelo autosombreamento, cuja importância aumenta com a idade
da planta. E, ainda, Segundo Costa et al. (1997), a TCR pode ser afetada principalmente por dois
componentes, sendo o primeiro a quantidade de fotoassimilados armazenados nas folhas em
comparação com o restante da planta e, segundo, pela eficiência dos componentes assimilatórios.

FIGURAS E TABELAS

Composto MSPA Fe Mn Cu Zn Cd Pb
% ---------------------------- mg vaso-1 -------------------------------
0 0,19 0,339 0,295 0,018 0,067 0,001 0,011
5 0,40 0,299 0,060 0,019 0,032 0,001 0,011

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 89


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

10 0,85 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000


20 2,31 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
30 4,02 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Tabela 1 - Matéria seca e concentração de metais pesados nas mudas de jucá em função do composto

1,4 AP TCA AP 0,12 AP TCA AP 0,10


1,5

TCAAP (cm dia-1)


TCAAP (cm dia-1)
0,10 0,08
1,2

AP (cm)
0,9 0,08
AP (cm)

0,9 0,06
0,06
0,6 0,04
0,4 0,04
0,3 0,02
0,02
0,0 0,00
-0,1 0 10 20 30 40 50 60 0,00 0 10 20 30 40 50 60
Dias após o plantio Dias após o plantio

(A) (B)

AP TCA AP 2,0 AP TCA AP 0,10

TCA AP (cm dia-1)


0,10
1,5 1,6 0,08
TCA AP (cm dia-1

0,08
AP (cm)

1,2 1,2 0,06


AP (cm)

0,9 0,06
0,8 0,04
0,6 0,04
0,4 0,02
0,3 0,02
0,0 0,00
0,0 0,00 0 10 20 30 40 50 60
0 10 20 30 40 50 60 Dias após o plantio
Dias após o plantio

(C) (D)

AP TCA AP

2,00 0,10
TCA AP (cm dia-1)

1,60 0,08
AP (cm)

1,20 0,06
0,80 0,04
0,40 0,02
0,00 0,00
0 10 20 30 40 50 60
Dias após o plantio

(E)
Figura 1 - Valores de Altura de planta (AP) e taxa de crescimento absoluta para altura de planta
(TCAAP) em função de dias após o plantio (DAP) nas doses zero (A), 5% (B), 10% (C), 20% (D) e
30% (E) de composto.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 90


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

12 DC TCA DC 0,60 DC TCA DC

TCA DC (mm dia-1)


0,50 12 0,80

TCA DC (mm dia-1)


9
0,40
DC (mm)

9 0,60

DC (mm)
6 0,30
6 0,40
0,20
3 3 0,20
0,10
0 0,00 0 0,00
0 10 20 30 40 50 60 0 10 20 30 40 50 60
DAP DAP

(A) (B)

DC TCA DC DC TCA DC
12 0,60 15 0,50
TCA dc (mm dia-1

TCA DC(mm dia-1


12 0,40
9
0,40
DC (mm)

DC (mm) 9 0,30
6
6 0,20
0,20
3
3 0,10

0 0,00 0 0,00
0 10 20 30 40 50 60 0 10 20 30 40 50 60
DAP DAP

(C) (D)

DC TCA DC

12 0,60
TCA DC(mm dia-1

10 0,50
DC (mm)

8 0,40
6 0,30
4 0,20
2 0,10
0 0,00
0 10 20 30 40 50 60
DAP

(E)
Figura 2 - Valores de Diâmetro de caule e taxa de crescimento absoluta para diâmetro do caule
(TCADP) em função de dias após o plantio (DAP) nas doses zero (A), 5% (B), 10% (C), 20% (D)
e 30% (E) de composto.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 91


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TCR AP TCR DC TCR AP TCR DC

0,40 0,5 0,32 0,50

TCR AP (cm dia cm)

TCR AP (cm dia cm)


TCR DC (mm dia mm)

TCR DC (mm dia mm)


0,32 0,4 0,24 0,40

0,24 0,3 0,30


0,16
0,20
0,16 0,2
0,08 0,10
0,08 0,1
0,00 0,00
0,00 0 0 10 20 30 40 50 60
0 10 20 30 40 50 60
DAP
DAP

(A) (B)

TCR AP TCR DC TCR AP TCR DC

0,32 0,50 0,32 0,50

TCR AP (cm dia cm)


TCR DC (mm dia mm)
TCR AP (cm dia cm)
TCR DC (mm dia mm)

0,24 0,40 0,24 0,40


0,30 0,30
0,16 0,16
0,20 0,20
0,08 0,08 0,10
0,10
0,00 0,00 0,00 0,00
0 10 20 30 40 50 60 0 10 20 30 40 50 60
DAP DAP

(C) (D)

TCR AP TCR DC

0,24 0,50
TCR AP (cm dia cm)
TCR DC (mm dia mm)

0,40
0,16 0,30
0,08 0,20
0,10
0,00 0,00
0 10 20 30 40 50 60
DAP

(E)
Figura 3 - Valores da taxa de crescimento relativo para altura de planta (TCR AP) e taxa de
crescimento relativo do diâmetro do caule (TCR DC) em função de dias após o plantio (DAP) nas
doses zero (A), 5% (B), 10% (C), 20% (D) e 30% (E) de composto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A TCA e TCR foram semelhantes em todos os tratamentos, ressaltando que para a dose de
20 e 30% observou-se maiores alturas e na dose de 20% a TCR do diâmetro apresentou um
crescimento mais uniforme. A Matéria Seca da Parte Aérea e teores de Fe, Mn e Zn foram
crescentes em relação ao aumento de pH.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 92


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

REFERÊNCIAS

ABREU, C. A.; LOPES, A. S.; SANTOS, G. C. G. Micronutrientes. In: NOVAIS, R. F. et al.,


Fertilidade do solo. Viçosa, MG: SBCS, 2007. cap. 11, p. 645-736.

ARAÚJO, J. M. Crescimento inicial de três espécies arbóreas Nativas em áreas degradadas da


caatinga. Monografia apresentada à Universidade Federal de Campina Grande, Campus de
Patos/PB, para a obtenção do Grau de Engenheiro Florestal. 28f.

BENICASA, M. M. P. Análise de Crescimento de Plantas (noções básicas). Jaboticabal. FUNEP.


2004. 42p.

COSTA, L. C.; MORISON, J.; DENNETT, M. Effects of the weather on growth and radiation
intercepted by Faba bean. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 32, n. 3, p. 277-281, 1997.

GAUDÊNCIO, HIARA RUTH DA SILVA CÂMARA. Uso de cinza de olaria e composto


orgânico de macrófita aquática na recuperação de solos degradados. 2016.

KOTHARI, S. K.; MARSCHNER, H.; RÖMHELD, V. Effect of a vesiculararbuscular mycorrhizal


fungus and rhizosphere micro-organisms on manganese reduction in the rhizosphere and
manganese concentrations in maize (Zea mays L.). New Phytologist, Cambridge, Inglaterra, v.
117, p. 649-655, 1991.

LIMA JÚNIOR, O. J. et al. Índices fisiológicos de melão cantaloupe ―Torreon‖ cultivado com
diferentes cores de mulch e lâminas de irrigação. Horticultura Brasileira. v. 22, n. 2, 2004.

MALAVOLTA, E. et al. Sobre a composição mineral do aguapé (Eichhornia crassipes). An.


Esalq., v. 46, pt. 1, p. 155-162, 1989.

MARSCHNER, P.; ASCHER, J. S.; GRAHAM, R. D. Effect of manganese-reducing rhizosphere


bacteria on the growth of Gaeumannomyces graminis var. tritici and on manganese uptake by
wheat (Triticum aestivum L.). Biology and Fertility of Soils, Berlin, v. 12, p. 33-38, 1991.

SILVA, JONATHAS BATISTA GONÇALVES; MARTINEZ, MAURO APARECIDO; DE


MATOS, ANTÔNIO TEIXEIRA; OLIVEIRA, ADRIANA PAULO DE SOUSA; DA SILVA,
LEONARDO BATISTA DUARTE. Concentração de metais em um solo adubado com água
residuária da bovinocultura de leite. Revista Engenharia na Agricultura; Vicosa24.4 (Jul/Aug
2016): 357-367.

SOUZA, M. F.; SOUZA JUNIOR, I. T.; GOMES, P. A.; FERNANDES, L. A.; MARTINS, E. R.;
COSTA, C. A.; SAMPAIO, R. A. Calagem e adubação orgânica na produção de biomassa e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 93


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

óleo essencial em Lippia Citriodora Kunth. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 12, p.
401 - 405, 2010.

FAQUIN, VALDEMAR. Nutrição Mineral de Plantas. -- Lavras: UFLA / FAEPE, 2005. p.: il. -
Curso de Pós-Graduação ―Lato Sensu‖ (Especialização) a Distância: Solos e Meio Ambiente.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 94


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CARACTERIZAÇÃO DE ATRIBUTOS FÍSICOS E QUÍMICOS DE DIFERENTES


SUBSTRATOS UTILIZADOS NA FORMAÇÃO DE MUDAS DE HORTALIÇAS2

Caciana Cavalcanti COSTA


Professora Dra. da UFCG/CCTA
costacc@ccta.ufcg.edu.br
José Jaciel Ferreira dos SANTOS
Bolsista PET – Agronomia da UFCG/CCTA
jacielagro@hotmail.com
José Wilson da Silva BARBOSA
Engenheiro Agrônomo Msc. EMATER - PB, Itabaiana–PB
Jussara Silva DANTAS
Professora Dra. da UFCG/CCTA
jussara.dantas@ufcg.edu.br

RESUMO
No processo de produção de hortaliças um dos fatores essenciais é a formação de mudas, o que está
intimamente ligado à utilização de um substrato de alta qualidade que forneça condições
satisfatórias ao desenvolvimento inicial das plantas. Visando-se caracterizar as propriedades físico-
químicas de substratos alternativos a serem utilizados para a produção de mudas de hortaliças,
desenvolveu-se o presente trabalho no campo experimental e no Laboratório de Solos e Nutrição de
Plantas (LSNP) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus de Pombal - PB.
Para isso foram utilizadas as seguintes composições de substratos: Plantmax (substrato comercial);
Esterco caprino + solo + areia (1:1:1 v/v/v); Esterco caprino + barro + areia (1:1:1 v/v/v); Esterco
caprino + solo (3:1 v/v); Composto orgânico + solo + areia (1:1:1 v/v/v); Composto orgânico +
barro + areia (1:1:1 v/v/v); Composto orgânico + solo (3:1 v/v); Composto orgânico + barro (3:1
v/v); Basaplant (substrato comercial). Realizadas as respectivas misturas, foram feitas três coletas
de cada amostra dos substratos para as análises físicas e químicas. Os substratos que apresentaram
os melhores atributos físico-químicos para produção de mudas de hortaliças de maneira geral foram
os substratos comerciais Plantmax® e Basaplant®, havendo, no entanto, a necessidade de
realizarem-se experimentações em culturas específicas, na intenção de se obter resultados mais
precisos, pois os substratos alternativos demostraram características bastante satisfatórias.
Palavras-chave: produção de mudas, fertilidade, nutrição de plantas.

ABSTRACT
Production process changes, which is closely linked to the use of high-quality substrate and
working conditions of the initial development of plants. Aiming to characterize as physical-
chemical agent of alternative substrates to be used for the production of vegetable seedlings, it was
developed in the present work without experimental field and not Laboratory of Soils and Plant
Nutrition (LSNP) of the Federal University of Campina Grande (UFCG), campus of Pombal - PB.
For these composites of substrates: Plantmax (commercial substrate); Goat manure + soil + sand (1:
1: 1 v / v / v); Goat waste + clay + sand (1: 1: 1 v / v / v); Goat manure + soil (3: 1 v / v); Organic
compound + soil + sand (1: 1: 1 v / v / v); Organic compound + clay + sand (1: 1: 1 v / v / v);
Organic compound + soil (3: 1 v / v); Organic compound + clay (3: 1 v / v); Basaplant (commercial

2
Kilson Pinheiro LOPES - Tutor do grupo PET-Agronomia da UFCG/CCTA

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 95


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

substrate). Three samples were collected from each substrate sample for the physical and chemical
analysis. The substrates that present the best physico-chemical attributes for the production of
vegetable seedlings in general the commercial substrates Plantmax® and Basaplant®, there being,
however, a need to carry out experimentations in specific cultures, in order to obtain results more
accurate, for the alternative substrates showed very satisfactory characteristics.
Keywords: seedling production, fertility, plant nutrition.

INTRODUÇÃO

O aumento no cultivo e no consumo de hortaliças nos últimos anos é algo notável, isto
porque a produção desses alimentos, possui um papel crucial para a atividade agrícola,
especialmente a de base familiar. Esta crescente demanda pode ser explicada por tratar-se de uma
prática que permite ser realizada em pequenas extensões de terra e mostra-se economicamente
viável, quando comparada a outras produções agrícolas (FAULLIN; AZEVEDO, 2003).
Um requisito primordial dentro da produção de hortaliças é a formação de mudas de alta
qualidade, pois é nesta fase que se define o sucesso no manejo da cultura, influenciando diretamente
no resultado final (CABRAL et al., 2011). Para se obter uma muda com características desejáveis,
faz-se necessário a utilização de substratos que tenham em sua composição características físicas,
químicas e biológicas apropriadas que possibilitem o pleno desenvolvimento das raízes e da parte
aérea. De acordo com Ensinas et al. (2011) entre os atributos desejáveis podem ser citados:
uniformidade, areação, retenção de umidade, boa agregação das partículas às raízes, o teor e a
disponibilidade de nutrientes e a capacidade de troca de cátions.
No mercado não existe um substrato ideal para uma determinada cultura, ou mesmo,
completo, uma vez que cada espécie possui uma exigência nutricional diferente. Trabalhos
desenvolvidos por Araújo et al. (2010) e Severino et al. (2006), comprovam que nenhum substrato
possuí composição química suficiente para ser utilizado como único componente, pois sempre há
pelo menos um elemento em baixa concentração, de forma que os substratos devem,
preferencialmente, ser formulados com misturas de materiais orgânicos que se complementem,
tanto físico quanto quimicamente.
Para Zorzeto et al. (2014) a caracterização física de substratos para plantas, mesmo sendo de
extrema relevância, no Brasil ainda é elementar, não obstante, apenas com a definição adequada de
métodos confiáveis seja possível padronizar certos insumos, ao tempo em que se possa fornecer as
recomendações necessárias aos produtores. Neste sentido, Negreiros et al. (2004) afirmam que a
qualidade do substrato é resultado da combinação de suas propriedades físicas e químicas, as quais
podem ser adequadas pela formulação de misturas duplas ou triplas.
Na intenção de se obter bons resultados e altas produtividades exige-se do produtor o
investimento em todas as etapas de produção, no entanto, a economicidade deve ser levada em

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 96


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

conta, ou seja, a utilização de insumos próprios e ou que já existam na área é uma opção na busca
por uma maior rentabilidade final. Diante disso, buscou-se com este trabalho caracterizar física e
quimicamente diferentes substratos oriundos de materiais alternativos, com o intuito de verificar
quais deles podem melhor adequar-se na produção de mudas de hortaliças no Sertão Paraibano.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido em área experimental no Centro de Ciências e Tecnologia


Agroalimentar (CCTA) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em Pombal, PB,
município localizado geograficamente na longitude 37º 48‘ 06‘‘ W e latitude 06° 46‘ 13‘‘ S, com
altitude média de 184 metros (Google Earth, 2016).
Os tratamentos testados foram nove: T1= Plantmax® (substrato comercial); T2= Esterco
caprino, solo e areia, na relação volumétrica (1:1:1); T3= Esterco caprino, argila e areia (1:1:1);
T4= Esterco caprino e solo, na relação volumétrica (3:1); T5= Composto orgânico, solo e areia
(1:1:1); T6= Composto orgânico, argila e areia (1:1:1); T7= Composto orgânico e solo, na relação
volumétrica (3:1); T8= Composto orgânico e argila , na relação volumétrica (3:1); e T9=
Basaplant® (substrato comercial).
As misturas dos materiais foram feitas numa relação de volume por volume, sendo a
medição do volume padronizada, de acordo com o método descrito por Hoffmann (1970). Depois
foram coletadas três amostras de cada substrato para análises físicas e químicas no Laboratório do
IFPB utilizando-se para isso a metodologia de Tedesco et al. (1995) e a preconizada por
EMBRAPA (1997), para posterior obtenção e quantificação dos resultados.
Para as análises físicas de substratos, determinou-se a condutividade elétrica, densidade
aparente e densidade real e a porosidade total. As características químicas avaliadas foram: pH,
Soma de Bases (SB); Capacidade de Troca de Cátions (CTC); V= porcentagem de saturação por
bases (V%); Matéria Orgânica (M.O.); e a Porcentagem de Sódio Trocável (PST).
A densidade aparente foi determinada através da coleta de amostras do substrato com
estrutura indeformada através de um anel de aço (Kopecky) de bordas cortantes e volume interno de
50cm3 e a densidade real foi verificada pelo método do anel volumétrico.
Para obtenção do potencial hidrogeniônico e da condutividade elétrica dos substratos com
diferentes proporções foi utilizada a metodologia de Kiehl (2002).
A porosidade total dos substratos foi calculada de acordo com a EN 13041 utilizando-se a
equação que usa valores da densidade aparente com a amostra seca (EN 13041) e a densidade real.
Importante destacar que a IN n.º 17 não determina método para avaliação da porosidade de
substratos (PT=100*(Dr - Da)/Dr).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 97


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em análises de atributos físicos de substratos uma variável muito importante a ser


considerada é a condutividade elétrica (CE). Os maiores valores para esta característica foram
observados na combinação de composto orgânico, solo e areia, sendo 2,02 dS m-1 e no esterco
caprino e solo com 1,44 dS m-1, quando comparado com as demais composições (TABELA 1).
Enquanto que os menores valores foram obtidos na mistura de composto orgânico e solo, com
apenas 0,19 dS m-1, seguido por composto orgânico, argila e areia com 0, 20 dS m-1. A CE está
diretamente relacionada ao teor de sais solúveis, podendo afetar negativamente o crescimento e o
desenvolvimento das mudas, devido ao excesso de sais (ENSINAS et al., 2011).
Quanto a densidade do substrato, o que apresentou os melhores resultados foi o comercial
Plantmax®, com densidade aparente de 0,47 g cm-3 e 1,39 g cm-3 de densidade real, correspondendo
a 58,41% e 44,62% respectivamente, sendo estes valores menores que o do Basaplant®, também
comercial, como pode-se observar na tabela 1.

Substratos CEa Densidade Densidade Porosidade


aparente real total
dS m-1 g cm-3 g cm-3 m3 m3

T1 = Plantmax® 1,18 0,47 1,39 0,66

T2 = Esterco caprino, solo e 1,65 1,00 2,43 0,58


areia
T3 = Esterco caprino, argila e 0,87 1,10 2,64 0,58
areia
T4 = Esterco caprino e solo 1,44 0,74 2,67 0,72

T5 = Composto orgânico, solo 2,02 0,82 2,22 0,63


e areia
T6 = Composto orgânico, 0,20 1,40 2,68 0,47
barro e areia
T7 = Composto orgânico e 0,19 1,30 2,75 0,52
solo

T8= Composto orgânico e 0,31 1,23 2,62 0,53


argila

T9= Basaplant® 0,32 1,13 2,51 0,54


Condutividade elétrica nos estratos de saturação e na relação 1:5
Tabela 1. Resultados das análises das propriedades físicas dos substratos.

Para a porosidade total os maiores valores foram obtidos na composição esterco caprino e
solo (0,72 m3), seguido do substrato comercial Plantmax® (0,66 m3) e o inverso aconteceu com as
combinações que apresentam composto orgânico em sua composição (T6, T7 e T8) que apresentam
porosidade menor e uma maior densidade (Tabela 1), o que corrobora as afirmações de Vence

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 98


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

(2008) e Zorzeto et al. (2014) os quais alegam que a porosidade total de um substrato pode
relacionar-se de forma inversa com a densidade.
Apenas o substrato Plantmax® apresentou pH dentro da faixa ideal (5,7) para o
desenvolvimento da maioria das culturas agrícolas, estando entre 5,5 e 6,5, dando boas condições
para as mudas absorverem os nutrientes do substrato uniformemente. Os demais tratamentos
exibiram valores de pH muito elevados, sendo considerados altamente alcalinos (>7,0) e portanto
prejudiciais a maioria das culturas (TABELA 2). Considerando que o substrato Plantmax não mais
está disponível no mercado e que nesta região a maior disponibilidade é do Basaplanta temos nestes
substratos alternativos características químicas e físicas muito próximas a este, com possibilidade
de uso e redução de custos.
Os resultados encontrados para a Capacidade de Troca de Cátions (CTC) em cada
tratamento são semelhantes aos encontrados para a Soma de Base (SB), uma vez que estas
propriedades estão relacionadas entre si. De acordo com a Tabela 2 os maiores valores para a CTC e
para a SB são verificados no substrato Plantmax®, 41,0 cmolcdm-3 e 31,3 cmolcdm-3,
respectivamente. Esta elevada CTC é explicada pelo alto valor da acidez potencial (H++Al+3) desse
substrato verificado na Tabela 3.
Contudo o substrato alternativo constituído por composto orgânico, solo e areia (T5)
apresentando o segundo maior valor para CTC (20,4 cmolcdm-3) destacar-se do primeiro, por não
possuí acidez potencial, o que pode prejudicar o desenvolvimento das mudas.

pH SB CTC V MO PST
Substratos
(H2O) ....cmolcdm-3.... (%) g kg-1 (%)

T1 = Plantmax® 5,7 31,3 41,0 76 121,5 2

T2 = Esterco caprino, solo e areia 8,1 16,7 16,7 100 66,07 4


T3 = Esterco caprino, argila e areia 7,9 12,3 12,3 100 43,29 6
T4 = Esterco caprino e solo 8,5 17,0 17,0 100 103,3 4

T5 = Composto orgânico, solo e areia 8,2 20,4 20,4 100 95,93 4

T6 = Composto orgânico, barro e areia 7,6 9,8 10,3 95 19,93 3

T7 = Composto orgânico e solo 7,8 8,8 9,13 96 33,04 4

T8= Composto orgânico e argila 7,5 15,1 15,9 94 66,64 2

T9= Basaplant® 7,4 15,8 16,6 95 113,9 3


pH= relação solo-água (7,0) 1:2,5; SB= soma de bases (Ca2+Mg2+k++Na+); CTC= (SB+H+Al+3); V=
porcentagem de saturação por bases (100xSB/CTCt); M.O.= Digestão Úmida Walkley-black;
PST=Porcentagem de Sódio Trocável.
Tabela 2. Resultados das análises das propriedades químicas dos substratos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 99


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A matéria orgânica (M.O.) está ligada a vários atributos do solo, dentre esses, o valor da
densidade do substrato, segundo Zorzeto (2011) pode ser utilizado como um indicativo do
quantitativo de M.O., quanto menor a densidade de partícula maior a quantidade de M.O. Fator
relevante e que pode ser observado nas Tabelas 1 e 2, ao se analisar os teores de matéria orgânica
nos substratos, em que o Plantmax® ao tempo em que apresenta a menor densidade, apresenta
também a maior quantidade de M.O. (121,5 g kg-1) entre os tratamentos avaliados.
No entanto, isso não é uma regra, pois o substrato comercial Basaplant® apresentou
comportamento similar quanto ao quantitativo de matéria orgânica com 114,9 g kg-1 e não
exatamente quanto à densidade real. Dentre os tratamentos estudados os que apresentaram valores
muito baixos quando comparados aos demais foram o T6 (Composto orgânico, argila e areia) e o T7
(Composto orgânico e solo), respectivamente.
Quando analisados os teores de nutrientes presentes nos substratos pode-se verificar (Tabela
3) quec para os macronutrientes primários os tratamentos que se destacaram dos demais foram o T8
(Composto orgânico e argila) e T4 (Esterco caprino e solo) para o Fósforo (P), nessa sequência e o
T5 (Composto orgânico, solo e areia) e T2 (Esterco caprino, solo e areia) também na mesma ordem
para o Potássio (K). São valores aproximados e que podem ser usados de acordo com a exigência
nutricional da cultura a ser cultivada, selecionando-se o substrato que apresente o maior teor do
nutriente mais requerido pela muda específica.

Substratos K+ Na+ Ca2+ Mg2+ Al3+ H++Al+3


4-
PO
mg dm3 ....................................cmolcdm-
3
..........................
T1 = Plantmax® 703 1,36 0,64 15,6 13,7 0,1 9,73

T2 = Esterco caprino, solo e areia 1058 7,47 0,64 7,9 0,7 0,0 0,0
T3 = Esterco caprino, argila e areia 626 4,19 0,73 6,3 1,1 0,0 0,0
T4 = Esterco caprino e solo 1233 6,54 0,73 7,6 2,1 0,0 0,0

T5 = Composto orgânico, solo e 1171 9,77 0,90 6,5 3,2 0,0 0,0
areia
T6 = Composto orgânico, barro e 519 0,38 0,29 7,7 1,4 0,0 0,49
areia
T7 = Composto orgânico e solo 773 0,33 0,35 7,1 1,0 0,0 0,33

T8= Composto orgânico e argila 1319 0,61 0,36 9,9 4,2 0,0 0,82

T9= Basaplant® 1226 0,78 0,55 10,3 4,2 0,0 0,82


P, K+, Na+= extrator Mehlich 1; Ca2+, Mg2+, Al3+ = extrator KCl 1 M; H++Al+3= extrator Acetato de Cálcio
0,5 M;
Tabela 3 – Resultados das análises de nutrientes contidos nos substratos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 100


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Os macronutrientes secundários Cálcio (Ca2+), Magnésio (Mg2+) e Sódio (Na+) mostraram


os melhores resultados nos substratos comerciais Plantmax®, sendo seguido do Basaplant®, com
valores bem superiores aos demais tratamentos. Apresentando características distintas dos
macronutrientes primários que melhor se expressaram em substratos alternativos.
Ao final verificasse que diante de alguns atributos físicos e químicos estarem
intrinsicamente relacionadas entre si, muitas são as variações entre eles num mesmo substrato.
Devendo-se, portanto, para se obter resultados mais precisos, posteriormente realizar
experimentações em culturas específicas.

CONCLUSÕES

De modo geral, os substratos comerciais, Plantmax® e Basaplant®, com maior destaque


para o primeiro, apresentaram as melhores características físico-químicas, como elevado teor de
macronutrientes, excelentes quantidades de matéria orgânica, pH equilibrado, baixa condutividade
elétrica e baixa densidade. Sem desconsiderar, com isso, os substratos alternativos, que
demostraram propriedades bastante relevantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, W. B. M; ALENCAR, R. D; MENDONÇA, V; MEDEIROS, E. V.; ANDRADE, R. C;


ARAÚJO, R. R. Esterco caprino na composição de substratos para Formação de mudas de
mamoeiro. Ciência agrotecnológica. Lavras, v. 34, n. 1, 2010.

CABRAL, M. B. G.; SANTOS, G. A.; SANCHEZ, S. B.; LIMA, W. L., RODRIGUES, W. N.


Avaliação de substratos alternativos para produção de Mudas de alface utilizados no sul do
Estado do espírito santo. Revista Verde. Mossoró, v.5, n.1, 2011.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Análises químicas e físicas do solo.


1997.

ENSINAS, S. CÂNDIDO; MAEKAWA JUNIOR, M. T; ENSINAS, B. C. Desenvolvimento de


mudas de rúcula em diferentes combinações de substrato. Revista Científica Eletrônica de
Agronomia, Garça, v.18, n.1, 2011.

FAULLIM, F. J; AZEVEDO, P. F. Distribuição de hortaliças na agricultura familiar: uma análise


das transições. Informações Econômicas. SP, v. 33, n. 11, 2003.

GOOGLE. Programa Google Earth, 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 101


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

HOFFMANN, G. Verbindliche methoden zur untersuchung von TKS und gartnerischen erden.
Mitteilungen der VSLUFA, v. 6, n. 1, 1970.

KIEHL, E. J. Manual de compostagem: maturação e qualidade do composto. Piracicaba: E. J. Kiehl,


p. 171, 2002.

NEGREIROS, J.R.S.; ÁLVARES, V.S.; BRAGA, L.R.; BRUCKNER, C.H. Diferentes substratos
na formação de mudas de maracujazeiro-amarelo. Revista Ceres, v.51, n. 294, 2004.

SEVERINO, L.S.; LIMA, R.L.; BELTRÃO, N.E.M. Composição química de onze materiais
orgânicos utilizados em substratos para produção de mudas. Campina Grande: Embrapa, 2006.
(Comunicado técnico, 278).

TEDESCO, J. M. et al. Análise de solo, Plantas e Outros Materiais. Faculdade de Agronomia.


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1995.

VENCE, L.B. Disponibilidad de agua-aire en sustratos para plantas. Ciencia del Suelo, v.26, n. 1,
2008.

ZORZETO, T. Q. Caracterização física e química de substratos para plantas e sua avaliação no


rendimento do morangueiro (fragaria χ ananassa duch.). 2011. 110f. Dissertação (Mestrado em
Agricultura Tropical e Subtropical) – Instituto Agronômico - IAC, Campinas.

ZORZETO, T. Q; DECHEN, S. C. F; ABREU, M. F; JÚNIOR, F. F. Caracterização física de


substratos para plantas. Bragantia, v. 73, n. 3, 2014.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 102


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CARACTERIZAÇÃO DE FRUTOS, SEMENTES E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE


FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE Byrsonima crassifólia

Júlio César de Almeida SILVA


Graduando do Curso de Agronomia da UFRPE – UAG
julioifpe@hotmail.com
Priscila Cordeiro SOUTO
Doutoranda no curso de Agronomia/Produção Vegetal – UFAL
pri_cordeiro15@hotmail.com
Lidiana Nayara RALPH
Mestranda no curso de Produção Agrícola UFRPE-UAG
lidianaralph@hotmail.com
Edilma Pereira GONÇALVES
Professora Adjunta Doutora em Agronomia UFRPE-UAG
edilmapg@hotmail.com

RESUMO
A Byrsonima cydoniifolia A. Juss. (murici) é uma frutífera, no qual possui uma germinação lenta e
desuniforme caracterizando a presença de dormência, para a superação existem diversas técnicas
que são empregadas tanto para a tegumentar quanto para a fisiológica em sementes. O presente
trabalho teve como objetivo estudar a caracterização dos frutos e a superação de dormência para a
avaliação da qualidade fisiológica. O experimento foi realizado na UFRPE- UAG, foram utilizados
pirênios oriundos de plantas do Sítio Inhumas do município de Garanhuns – Pernambuco, no qual
foi realizada a biometria e beneficiamento dos frutos, posteriormente realizou-se a biometria de
pirênios, teor de água e o testes de emergência com os seguintes tratamentos: T1- pirênios sem
tratamento pré-germinativo (testemunha); T2, T3 e T4 - imersão dos pirênios em ácido sulfúrico
durante 1h, 2h e 3h respectivamente; T5, T6 e T7 - imersão dos pirênios em ácido sulfúrico durante
1 h, 2h e 3h + embebição em ácido giberélico durante 2 h, respectivamente; T8, T9 e T10- Imersão
dos pirênios em ácido sulfúrico durante 1 h, 2h e 3h + embebição em água destilada durante 2h,
respectivamente e calculada a porcentagem de emergência, índice de velocidade de emergência, o
comprimento de plântulas normais, o comprimento da raiz, o numero de folhas e a massa seca da
parte aérea e da raiz. Os frutos de murici têm um comprimento médio de 6,42mm, já a largura tem
7,25 mm, os pirênios apresentam um comprimento de 5,14 mm e a largura de 5,63 mm, sendo que o
método mais eficiente para acelerar e aumentar a emergência de plântulas de murici foi a
escarificação química feita nos pirênios com ácido sulfúrico, seguida por imersão em solução de
ácido giberélico na concentração de 1000 g L-1.
Palavras chaves: Murici, Biometria, Dormência e Emergência.

ABSTRACT
A Byrsonima cydoniifolia A. Juss. (Murici) is a fruit plant, in which it has a slow and uneven
germination so that characterizing the presence of C, for overcoming there are several techniques
that are employed for both integumentary and physiological dormancy in seeds. The goal of the
present work was to study the characterization of the fruits and the overcoming of dormancy for the
evaluation of the physiological quality. The experiment was carried out at UFRPE-UAG, using
pyrenes of plants from the village of Inhumas in the county of Garanhuns – Pernambuco, in which
the biometry and fruit processing were performed. Afterwards, it was perfomed the pyrene

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 103


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

biometry, water content and the emergence tests with the following treatments: T1 – pyrene without
germinal treatment (control); T2, T3 and T4 - immersion of the pyrenes in sulfuric acid for 1h, 2h
and 3h respectively; T5, T6 and T7 - immersion of the pyrenes in sulfuric acid for 1h, 2h and 3h
respectively, following the imbibition in gibberellic acid for 2h; T8, T9 and T10 - immersion of the
pyrenes in sulfuric acid for 1h, 2h and 3h respectively, following the imbibition in distilled water
for 2h. It was calculated the emergence percentage, emergence speed index, length of normal
seedlings, root length, number of leaves and dry mass of the aerial part and root. The murici fruits
have an average length of 6.42mm and 7.25mm wide, the pyrenes show a length of 5.14mm and
5.63mm wide, wherein the most efficient method to accelerate and increase the emergence of
murici seedlings was the chemical scarification with sulfuric acid in the pyrenes, followed by
immersion in gibberellic acid solution at the concentration of 1000 g L-1.
Keywords: Murici, Biometry, Dormancy and Emergence

INTRODUÇÃO

A Byrsonima cydoniifolia A. Juss. popularmente conhecido como murici, pertence à família


Malpighiaceae que tem 43 gêneros no mundo, sendo destes 34 encontrados no Brasil (GIULIETTI
et al., 2005). Um dos principais gêneros é o Byrsonima tendo 150 espécies. Tendo sua distribuição
pelas regiões pantropicais, principalmente na América do sul (JUDD et al., 1999). A polpa é rica em
fibras, tem baixas concentrações de carboidratos e proteínas, podendo ser utilizado para enriquecer
a dieta em programas de suplementação nutricional, bem como, na produção de geleia, mostrando
ser uma alternativa viável de agregação de valor ao produto final (MONTEIRO et al., 2015). Além
de ter grande potencial farmacológico por apresentar elevados teores de compostos fenólicos e alta
capacidade antioxidante com destaque para a antiulcerogênica (POMPEU et al., 2012).
O pirênio, conjunto endocarpo e semente, é a unidade de propagação desta espécie,
apresenta formato ovalado ou arredondado, com a extremidade apical pontiagudo e a superfície
reticulada, contendo de uma a três sementes individualizadas em lóculos (CARVALHO e
NASCIMENTO, 2008; CAVALCANTE, 1996). Para Barbosa et al. (2015) cada pirênio tem lóculos
septados distintos, com ou sem a presença de sementes, a superfície interna tem coloração preta,
brilhosa, fina, lisa e cerosa, diferente das parede exteriores que são de cor marrom, opaca, textura
áspera e espessa.
A germinação B. cydoniifolia A. Juss. é lenta e não tem uma uniformidade, a emergência das
plântulas tem seu início após 20 a 30 dias de plantio e pode observar até períodos superiores a 200
dias, para que se tenha um mínimo de germinação de 50 %, sendo a presença do endocarpo é o
principal mecanismo físico que impede a germinação das sementes, em alguns casos pode-se
encontrar, ainda, a dormência fisiológica das sementes da referida espécie (CARVALHO e
NASCIMENTO, 2008). Em contrapartida, Nascimento et al. (2011) afirmam que as sementes de
murici não tem nenhum tipo de impermeabilidade, sendo assim suas sementes são facilmente
germinadas logo após a coleta dos frutos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 104


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Existem diversas técnicas que são empregadas para superar a dormência tegumentar em
sementes, dentre elas o uso de ácidos, principalmente o ácido sulfúrico que é utilizado na
degradação química de algumas estruturas morfológicas, aumentando a permeabilidade do
tegumento. Em trabalhos com Colubrina glandulosa Perk. o uso do ácido sulfúrico por 2 e 3 horas,
proporcionou percentuais de germinação de 46,33 e 45,33%, respectivamente. Enquanto que
sementes de Caesalpinia ferrea Mart. Ex Tul.var. ferrea alcançaram 65% de taxa de germinação
(NEGRI et al., 2008). Para Melo et al. (2011) estudando Parkia panurensis Benth. E Parkia
Velutina Benoist. A escarificação química com ácido sulfúrico por 30 minutos é eficaz na superação
da dormência, tanto para emergência quanto para formação de plântula normal.
Para Carvalho e Nakagawa (2000) a dormência em sementes pode ser causada por pelo
menos três mecanismos que funcionam em conjunto com estruturas das sementes, sendo o sistema
de controle de entrada de água na semente, o controle do desenvolvimento do eixo embrionário e o
sistema de equilíbrio das substancia promotores e inibidores do crescimento.
Estudando a superação da dormência de sementes de B. cydoniifolia Murakami et al. (2011)
recomendam a concentração de 1 g L¹ por 24 horas de ácido giberélico para aumentar a germinação
das sementes de murici. Segundo Morais Júnior et al. (2015) os métodos relacionados à ruptura do
tegumento como a esmerilhação superficial da parede dos pirênios, escarificacão através da
imersão em ácido sulfúrico e fragmentação dos pirênios não foram eficiente para superar a
dormência presente no murici. De acordo com Pozos et al. (2013) o endocarpo é o principal
obstáculo para a germinação das sementes de B. cydoniifolia, a escarificação química com ácido
sulfúrico por duas horas se mostrou eficiente para aumentar a germinação.
Diante disso é necessário que pesquisas sejam desenvolvidas para que se possa obter uma
metodologia específica para o murici já que é uma espécie importante para a flora e de grande
potencial comercial, entretanto, apresenta entraves que impedem seu desenvolvimento, como é o
caso dormência tegumentar e fisiológica presente em suas sementes. Assim o presente trabalho teve
como objetivo estudar a biometria de frutos e sementes, métodos de superação de dormência e
avaliar qualidade fisiológica de B. cydoniifolia A. Juss.

METODOLOGIA

O experimento foi realizado no Laboratório de Análise de Sementes (LAS) da Universidade


Federal Rural de Pernambuco, foram utilizados pirênios oriundos de plantas do Sítio Inhumas do
município de Garanhuns – Pernambuco. Os frutos foram coletados com o auxílio de um podão e em
seguida foram transportados para o LAS para realizar as medições dos frutos referentes à largura e
comprimento de 200 unidades, obtidas com o auxílio de um paquímetro digital e beneficiados para
a extração dos pirênios.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 105


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Após o beneficiamento dos frutos, os pirênios foram submetidos às medições referentes à


largura e comprimento de 200 unidades, obtidas com o auxílio de um paquímetro digital com
precisão de 0,01 mm e ao teste de teor de água em estufa regulada a 105 ± 3°C, seguindo as
recomendações das Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009).
Para o teste de emergência utilizou quatro repetições de 25 sementes (pirênios), a semeadura
foi feita em bandejas plásticas de dimensões 0,40 x 0,40 x 0,11m contendo areia lavada, esterilizada
durante 3h em estufa de 105C° e umedecida com água destilada correspondendo a 60 % da
capacidade de campo, as sementes utilizadas foram submetidas aos seguintes tratamentos pré-
germinativos: T1- pirênios sem tratamento germinativo (testemunha); T2, T3 e T4 - Imersão dos
pirênios em ácido sulfúrico durante 1 h; 2h e 3h; respectivamente, T5, T6 e T7- Imersão dos
pirênios em ácido sulfúrico durante 1 h, 2h e 3h + embebição em ácido giberélico durante 2 h,
respectivamente; T8, T9 e T10- Imersão dos pirênios em ácido sulfúrico durante 1 h, 2h e 3h +
embebição em água destilada durante 2h, respectivamente.
Em conjunto com o teste de emergência foi realizado o índice de velocidade de emergência
tendo as avaliações das plântulas normais realizadas diariamente, a partir da primeira contagem de
germinação, procedimento seguido até o final do teste, sendo computadas e o índice calculado por
meio da fórmula proposta por MAGUIRE (1962), comprimento da raiz e parte aérea das plântulas
aferindo após o término do teste de emergência, a raiz primária e o hipocótilo das plântulas normais
de cada repetição, foram medidas com auxílio de régua graduada e os resultados expressos em
centímetros por plântula e a massa seca da raiz e parte aérea das plântulas realizado nas plântulas
normais de cada repetição, foram separadas em raiz e parte aérea, colocadas em sacos de papel e
postas em estufa de ventilação forçada a 80ºC por um período de 24 horas. Decorrido esse tempo, as
amostras serão resfriadas em dessecadores com sílica gel ativada e pesadas em balança analítica
com precisão de 0,0001g. Os resultados foram expressos em gramas (g) por plântula
(NAKAGAWA, 1999).
Os dados provenientes da caracterização biométrica (comprimento e largura) foram
submetidos à análise estatística descritiva utilizando o programa estatístico SISVAR, calculando-se
a média, desvio padrão, variância, coeficiente de variância, valores de máximo e mínimo e
frequência relativa. Para o teste de emergência e os métodos de superação de dormência foi
utilizado o delineamento inteiramente casualizado contendo quatro repetições de 25 sementes, os
dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao
nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O teor de água dos pirênios apresenta uma média de 11,57% de umidade, sendo considerada

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 106


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

uma umidade adequada para a manutenção da qualidade fisiológica das sementes, tendo em vista
que alta umidade acelera o metabolismo celular consequentemente utilizando o material de reserva
e reduzindo o seu vigor.
Na Tabela 1. encontram-se os valores da média, desvio padrão, variância, coeficiente de
variação e valores do máximo e mínimo do comprimento dos frutos de B. cydoniifolia dos 400
frutos amostrados, a média situou-se em 6,42 mm, com valor máximo de 8,92 mm e mínimo de
4,12 cm, com um desvio padrão de 1,09 mm, valores superiores foram encontrados por Silverio e
Fernandes-bulhão(2009) para Byrsonima verbascifolia com os valores máximo de 21,50 mm,
médio 16,26 mm e mínimo de 12,20 mm.
A largura dos frutos encontrada na tabela 1. Obteve uma média de 7,25 mm, como o valor
máximo de 10,88 mm e mínimo de 5,03 mm, e um desvio-padrão de 1,26mm. Silverio e Fernandes-
bulhão (2009) encontraram para B. verbascifolia com os valores máximo de 28,50mm, médio 19,53
mm e mínimo de 15,00mm. Para Gusmão et al. (2006) a variabilidade encontrada para a espécie B.
verbascifolia para os valores de diâmetro, comprimento dos frutos podendo ressaltar a alta
variabilidade encontrada na área ou entre frutos da mesma matriz.
A sementes de murici tem uma média de comprimento de 5,14 mm, tendo um desvio-padrão
de 0,56 mm com os valores máximo de 6,97 mm e mínimo 3,5 mm, já para a largura um valor
médio de 5,63 mm com o desvio padrão de 0,65 mm como os valores máximo os de 7,7 mm e
mínimo de 3,95 mm (Tabela 1). Esses resultados estão de acordo com Barbosa et al. (2015), que
encontrou para essa mesma espécie, pirênios com comprimento médio de 5,23 mm e a largura
média de 5,56 mm, já para Carvalho e Nascimento (2006) estudando murici clone açu encontrou
resultados superiores com comprimento médio de 1,10 cm, e com a largura média 1,02 cm.

Frutos
Parâmetro estatístico Média Desvio padrão Variância CV% Máximo Mínimo
Comprimento (mm) 6,42 mm 1,09 1,19 17,00 8,92 4,12
Largura (mm) 7,25 mm 1,26 1,61 17,49 10,88 5,03
Sementes
Parâmetro estatístico Média Desvio padrão Variância CV% Máximo Mínimo

Comprimento (mm) 5,14 0,56 0,31 10,95 6,97 3,50

Largura (mm) 5,63 0,65 0,42 11,56 7,7 3,95


Tabela 1. Caracterização biométrica dos frutos e pirênios de Byrsonima cydoniifolia.

Os valores da distribuição da frequência relativa dos dados biométricos dos comprimentos


dos frutos de B. cydoniifolia, variaram entre a classe [3,896; 4,343] mm com (1,5%) a [7,466;
7,913] mm (2,5%) de todos os frutos analisados, a classe que apresentou a maior porcentagem foi a
classe [5,235;5,681] mm com 29% dos frutos, considerando as classes mais significativas de [4,789;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 107


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

5,235] mm, [4,789; 5,235] mm, [5,681; 6,128] mm, [6,128; 6,574] mm e [6,574; 7,020] mm com
respectivos porcentagens 21,5%, 29%, 11,5%, 11,5% e 12%. Gusmão et al.(2006) estudando os
frutos de B. verbascifolia encontrou grande variabilidade de tamanhos de frutos, sendo que a
maioria do frutos estudados apresentou comprimento entre 8,4 mm e 9,5mm (27%) e entre 10,6 mm
e 12,8 mm (29%).
A distribuição da frequência relativa dos dados biométricos da largura dos frutos de B.
cydoniifolia encontra-se na Figura 1, as classes variaram de 4,25 mm a 9,05 mm de todos os frutos
analisados, mas as classes de frequência que apresentaram umas maiores quantidades de frutos
foram [5,21; 5,69] mm com (16,5%), [5,69; 6,17] mm com (29%) e [6,17; 6,65] mm com (16%),
correspondendo a 61,5 % dos frutos amostrados. Carvalho e nascimento (2013) encontrou valores
de largura superiores para clone de B. crassifolia, tendo os clone cristo com 0,86 cm, Santarém 2
com 0,79 cm e semelhantes para o clone Tocantins 1 com o,71cm.

Figura 1. Frequência relativa para o comprimentos e a largura dos frutos e pirêniosde Byrsonimacydoniifolia

O comprimento dos pirênios de murici, de acordo com o a figura 1. as classe mais


representativa são [5,01; 5,31] mm com 26% e [4,71; 5,01] mm com 23,5%, totalizando 49,5% do
total de amostras, a menor classe foi [3,80; 4,11] mm com 0,5% e a maior classe foi de [6,81; 7,12]
mm com 1% das amostras. Gusmão et al. (2006) encontrou valores com maior frequência para o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 108


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

comprimento de pirênios de B. verbascifolia entre 5,8mm e 6,5 mm. Barbosa et al. (2015)
estudando B. crassifólia encontrou pirênios com valor médio de 5,26 mm, B. verbascifolia 5,233
mm e Byrsonima coccolobifolia com 5,55 mm de comprimento.
A distribuição de frequência relativa para a largura do pirênios encontra-se na figura 1.
verificou-se uma variação acentuada nas classes, as classes mais representativa foi a [5,50; 5,87]
mm com 23,5%, [5,12; 5,50] mm com 23% e [5,87; 6,25]mm com 17,5%ou 128 dos pirênios.
Barbosa et al. (2015) encontrou valor similares para B. coccolobifolia com um diâmetro médio de
5,64 mm com o máximo de 6,78 mm e o mínimo de 4,32 mm, Silverio e Fernandes-bulhão (2009)
encontrou valor contratantes para Byrsonima orbignyana com uma média da largura de 7,8 mm e
para B. verbascifolia de 8,6 mm.
A aplicação de tratamentos pré-germinativos favoreceu a porcentagem de emergência dos
pirênios. No entanto, respostas de maior magnitude foram obtidas quando os pirênios foram
previamente escarificados em ácido sulfúrico por duas horas e em seguida embebidos em solução
de ácido giberélico por duas horas. A porcentagem final de emergência variou de acordo com os
tratamentos pré-germinativo, tendo o tratamento H2SO4 2H + 2H AG3 com a maior porcentagem
final de emergência com 41%, não diferindo estatisticamente do tratamento no qual os pirênios
foram escarificados em ácido sulfúrico por 1 horas e em seguida embebidos em solução de ácido
giberélico por duas horas 31% (Tabela 2). Os tratamento que sofreram escarificação química,
escarificação química mais embebição em água, e a testemunha não diferiram estatisticamente,
observasse que a emergência oscilou entre 3 e 7%, foi verificado no momento em o experimento
que foi desmontado aos 137 dias, os tratamentos que apresentaram baixa emergência havia pirênios
emitindo radículas e alças cotiledonares, assim reforçando que sementes apresenta algum
mecanismo de dormência que limitou a emergência no período avaliado.

TRATAMENTO EME (%) IVE CPA CR MSPA MSR


T1 4c 0,0091 c 0,1900 c 0,1700 c 0,0006 c 0,0002 a
T2 9c 0,0344 bc 0,6750 c 0,5300 c 0,0020 bc 0,0003 a
T3 6c 0,0250 bc 0,3650 c 0,2750 c 0,0011bc 0,0002 a
T4 6c 0,0215 bc 0,3200 c 0,2450 c 0,0010 bc 0,0001 a
T5 31 ab 0,3286 a 3,5800 ab 2,5200 a 0,0161 a 0,0023 a
T6 41 a 0,4139 a 4,1150 a 2,2450 ab 0,0142 a 0,0018 a
T7 9bc 0,1543 b 1,3050 bc 0,8750 c 0,0063 b 0,0011 a
T8 3c 0,0138 c 0,2485 c 0,1935 c 0,0004 c 0,0001 a
T9 7c 0,0353 bc 0,8850 c 0,5268 c 0,0014 bc 0,0002 a
T10 7c 0,0312 bc 1,7700 bc 1,0265 bc 0,0011bc 0,0003 a
Tabela 2. Emergência (EME) , Índice de velocidade de emergência (IVE), Comprimento da parte aérea
(CPA), Comprimento da raiz (CR) ,Massa seca da parte aérea (MSPA), e Matéria seca da raiz (MSR),
submetidos a tratamentos pré-germinativos.
*Em cada coluna, médias seguidas pela mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey, ao
nível de 5% de probabilidade

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 109


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Carvalho e Nascimento (2013) estudando o murici comprovaram que pirênios pré-


embebidos especialmente em solução de acido giberélico (500 mg L-1) ou água e em seguida de
fratura do endocarpo, favoreceu a germinação, mas para Murakami et al. (2011) a germinação do
murici deve utilizar pirênios que apresentarem estrutura íntegra e embebidos em ácido giberélico
concentração de 1 g.L-1 por 24 horas, pois ao sofrerem impactos o endocarpo pode danificar a
semente inviabilizando a germinação.
Para o índice de velocidade de emergência de plântula normal figura Tabela 2, os
tratamentos T5 e T6 no qual foram utilizados a escarificarão química com acido sulfúrico e o ácido
giberélico e apresentaram os maiores valores não apresentou diferença estatística entre si, mas sim
em relação aos demais, a testemunha apresentou a menor velocidade de emergência em relação ao
demais tratamento, não houve diferença estatística entre todos os tratamentos que não foram
submetidos à embebição em acido giberélico, assim pode se dizer que não exista uma dormência
tegumentar nas sementes, já que apenas os tratamentos que aplicou acido giberélico destacou-se,
mostrando que as giberilinas podem ser usadas para acelerar a germinação. Vários autores
estudando o murici comprovaram que a embebição em acido giberélico ajuda na germinação de
pirênios de B. cydoniifolia (MURAKAMI et al. 2011, MORAIS JÚNIOR et al. 2015).
Já para o comprimento da raiz o tratamento cinco apresentou um valor superior com 2,5
cm/planta, mas também não diferencio estaticamente do tratamento 6. A testemunha foi o
tratamento que apresentou os menores medias do experimento, principalmente por influência das
dormências que os pirênios contem para permitir que germinem em diferentes épocas do ano,
impedindo uma germinação uniforme. Os tratamentos T5 e T6 obtiveram os maiores massa seca da
parte aérea, com medias de 0,0161 e 0,0142 gramas por planta diferindo dos demais tratamentos, o
menor valor foi encontra para o tratamento quatro om 0,0001 gramas por planta. A massa seca da
raiz não apresentou diferença estatística entre os tratamentos.
O T6 foi superior ao demais tratamento na variável CPA com 4,11 cm/planta, mas não
diferindo estatisticamente pata o T5, estes coincidindo com a os tratamento que tem uma maior
germinação e um maior IVE, provavelmente as giberilinas atuam acelerando a emergência e o ácido
sulfúrico degradando o endocarpo da semente, as giberilinas são importantes reguladores de
crescimento, este regulador esta envolvido em diversos processos metabólicos e também tem
participação na divisão e multiplicação celular de plantas.

CONCLUSÃO

Os frutos de murici têm um comprimento médio de 6,42mm, já a largura tem 7,25 mm, os
pirênios apresenta um comprimento de 5,14 mm e a largura de 5,63 mm.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 110


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A escarificação química com ácido sulfúrico nos pirênios seguida por imersão em solução
de ácido giberélico na concentração de 1000 g L-1 foram os métodos mais eficientes para acelerar e
aumentar a emergência de plântulas murici.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, C. Z. R.; MENDONÇA, M. S.; RODRIGUES, R. S. Pyrene morphology of three


species of byrsonima rich. Ex kunth (malpighiaceae). Revista Árvore, Viçosa-MG, v.39, n.5,
p.831-839, 2015.

BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes.


Brasília:SNDA/DNDV/CLAV, 2009. 365p.

CARVALHO, J. E. U.; NASCIMENTO, W. M. O. Caracterização biométrica e respostas


fisiológicas de diásporos de murucizeiro a tratamentos para superação da dormência. Rev.
Bras. Frutic. Jaboticabal - SP, v. 35, n. 3, p. 704-712, Setembro 2013.

CARVALHO, J. E.; NASCIMENTO, W. M. O. Caracterização dos pirênios e métodos para


acelerar a germinação de sementes de muruci do clone açu. Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP,
v. 30, n. 3, p.775-781, Setembro 2008.

CARVALHO, J. E.; NASCIMENTO, W. M. O.; MÜLLER, H. Propagação do Murucizeiro.


Documentos Embrapa, ISSN 1517-2201, Dezembro, 2006.

CARVALHO, N. M.; NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e produção. 4.ed. rev. e


ampl. Jaboticabal: FUNEP, 2000. 588p. il.

CAVALCANTE, P. B. Frutas comestíveis da Amazônia.Belém: CNPq/ Museu Paraense Emílio


Goeldi, 6 ed. 1996, 279p.

GIULIETTI, A. M.; HARLEY, R. M.; QUEIROZ, L. P.; WANDERLEY, M. G. L.; BERG, C. V.


D. Biodiversidade e conservação das plantas no Brasil. Megadiversidada, Volume 1, Nº 1, Julho
2005.

GUSMÃO, E.; VIEIRA, F. A.; FONSECA JÚNIOR, E. M. Biometria de frutos e endocarpos de


murici (ByrsonimaverbascifoliaRich. ExA. Juss.). Cerne, Lavras, v. 12, n. 1, p. 84-91, jan./mar.
2006.

JUDD, W. S.; CAMPBELL, C. S.; KELLOGG, E. A.; STEVENS, P. F. Sistemática Vegetal: Uma
abordagem filogenética.Sunderland: Sinauer, p. 353, 1999.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 111


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MAGUIRE, J. D. Speed of germination-aid in selection and evaluation for seedling emergence and
vigor.Crop Science, Madison, v. 2, n. 1, p. 176-177, 1962.

MELO, M. G. G.; MENDONÇA, M. S.; NAZÁRIO, P.; MENDES, A. M. S. Superação de


dormência em sementes de três espécies de parkia spp. Revista Brasileira de Sementes, vol. 33,
nº 3 p. 533 - 542, 2011.

MONTEIRO, D. C. B.; SOUSA, W. C.; PIRES, C. R. F.; AZEVEDO, L. A.; BORGES, J. S.


Caracterização físico-química do fruto e da geleia de murici (brysonima crassifólia).
Enciclopédia biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p. 3356, 2015.

MORAIS JÚNIOR, O. P.; LEÃO, E. F.; SILVA, F. C; SILVA, D. C.; AGUIAR, J. T. A.;
PEIXOTO, N. Métodos para superação de dormência em sementes de murici. Revista
Agrotecnologia, Anápolis, v. 6, n. 1, p. 01 - 12, 2015.

MURAKAMI, D. M.; BIZÃO, N.; VIEIRA, R. D. Quebra de dormência de semente de murici.


Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP, v. 33, n. 4, p. 1257-1265, Dezembro 2011

NAKAGAWA, J. Testes de vigor baseados no desempenho das plântulas. In: KRZYZANOWSKI,


F. C.; VIEIRA, R. D; FRANÇA, N. J. B. (Eds.). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina:
ABRATES, cap.2, p.1-24. 1999.

NASCIMENTO, I. L.; LEAL, C. C. P.; NOGUEIRA, N. W.; Medeiros, A. K. P.; CÂMARA, F. M.


M. Uso de metodologias variadas na quebra de dormência tegumentar de sementes de murici.
Revista Verde (Mossoró – RN – Brasil) v.6, n.3, p. 226 – 230 julho/setembro de 2011.

NEGRI, L. C. G.; ROSA, A. F.; ZONETTI, P. C. Quebra de dormência de sementes de espécies


arbóreas. IV Mostra Interna de Trabalhos de Iniciação Científica do Cesumar, ISBN 978-85-
61091-01-9, 2008.

POMPEU, D. R.; ROGEZ. H.; MONTEIRO, K. M.; TINTI, S. V.; CARVALHO, J. E. Capacidade
antioxidante e triagem farmacológica de extratos brutos de folhas de Byrsonimacrassifolia e de
Ingaedulis.Acta amazônica, vol. 42(1), 2012: 165 – 172.

POZOS, A. M. G.; CRUZ, E. C.; CORDOVA, C. A. M. Germination of byrsonimacrassifolia (l.)


kunth seeds.Rev. Mex. Cien. For. Vol. 4 Núm. 20.

SILVÉRIO, D. V.; FERNANDES-BULHÃO, C. Fenologia reprodutiva e biometria de Frutos e


sementes de três espécies de Byrsonimarich. exKunth (malpighiaceae) no parque do bacaba,
nova xavantina - Mato Grosso. Rev. Biol. Neotrop. 6(1):55-73, 2009.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 112


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

VIABILIDADE ECONÔMICA DA UTILIZAÇÃO DE AQUECIMENTO SOLAR


ALTERNATIVO EM SUBSTITUIÇÃO AOS CHUVEIROS ELÉTRICOS

Maria Eulalia Correia PORTUGAL


Acadêmica do Curso Técnico em Meio Ambiente do IFPE
lalaportugal00@gmail.com
Pedro Henrique Campello SANTOS
Professor EBTT do IFPE
pedro.santos@garanhuns.ifpe.edu.br

RESUMO
Neste trabalho foi realizado um estudo de viabilidade financeira de dimensionamento de um sistema
de aquecimento solar para justificar a substituição do chuveiro elétrico convencional pelo aquecedor
solar de baixo custo. O sistema de aquecimento foi trabalhado através do processo de termossifão,
constituído por uma placa e um reservatório alternativo. A placa foi construída por três placas de
PVC e o reservatório térmico por um recipiente plástico de 40 litros. O dimensionamento foi
simulado para uma casa com três pessoas, levando em consideração os fatores geoclimáticos da
cidade de Garanhuns-PE. Neste contexto, o uso da energia solar é de extrema importância, uma vez
que, o chuveiro elétrico é o principal agente consumidor de energia do sistema elétrico nacional,
representando 10% da capacidade elétrica gerada no Brasil. O estudo tem como objetivo estudar a
viabilidade e analisar através de projeções e números, o real potencial de retorno do investimento,
sendo apresentados dados de eficiência em diferentes horas do dia para mostrar que o sistema de
aquecimento solar de baixo custo apresenta viabilidade econômica, térmica e de materiais.
Palavras-Chaves: aquecimento; baixo custo; energia solar; chuveiro elétrico; viabilidade.
ABSTRACT
In this work was carried out a financial feasibility study of design of a solar heating system to
justify the replacement of the conventional electric shower by the low cost solar heater. The heating
system was worked through the process of thermosyphon, consisting of a plate and an alternative
reservoir. The plate was constructed by three PVC plates and the thermal reservoir by a plastic
container of 40 liters. The sizing was simulated for a house with three people, taking into account
the geoclimatic factors of the city of Garanhuns-PE. In this context, the use of solar energy is
extremely important, since the electric shower is the main energy consuming agent of the national
electricity system, representing 10% of the electric capacity generated in Brazil. The objective of
this study is to study the feasibility and analyze the real potential of return on investment through
projections and numbers. Efficiency data are presented at different times of the day to show that the
low cost solar heating system presents economic, thermal viability And materials.
Key-words: heating; low cost; solar energy; electric shower; viability.

INTRODUÇÃO

O Brasil passou em 2001 por um racionamento de energia elétrica e a partir deste evento,
muitos consumidores perceberam que poderiam reduzir seu consumo de energia elétrica e,
consequentemente, seus custos. Segundo o Plano Decenal de Expansão 2003-2012 (MME, 2002), o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 113


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

nível de consumo de energia elétrica pelo setor residencial em 2002 não atingiu os patamares
verificados antes do período do racionamento. Em 2002, os níveis dos reservatórios nas regiões
mais críticas estavam expressivamente superiores aos registrados em 2001: Sudeste – 42,9% versus
21,5%; Nordeste: 24,4% contra 15,3% (MME, 2002).
A utilização de sistemas de aquecimento solar em larga escala pode contribuir também para
o desenvolvimento econômico do país, uma vez que a tecnologia já é dominada nacionalmente e
gera muitos empregos na fabricação, nas revendas e na área de projeto e instalação. Graças à
distribuição de empresas em quase todo o Brasil, o aquecedor solar permite o emprego de mão de
obra local, principalmente nas fases de instalação e manutenção (MESQUITA, 1996).
A energia solar e o seu uso data muitos séculos e é de fundamental importância, pois é
responsável pela manutenção da vida no planeta e encontra-se disponível na natureza em grande
quantidade e de forma gratuita (VAZQUES, 2010). Ela tem sido muito utilizada para produção de
energia elétrica e aquecimento de fluidos.
De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL (2010), no Brasil o
aproveitamento da energia solar para geração de energia elétrica é muito encontrado no Norte e
Nordeste e o aquecimento de fluidos é muito utilizado nas regiões do Sul e Sudeste devido suas
características climáticas.
A Figura abaixo apresenta o índice médio anual de radiação solar no País, em watt-hora por
metro quadrado ao dia (Wh/m2.dia), segundo o Atlas de Irradiação Solar no Brasil. Como pode ser
visto, os maiores índices de radiação são observados na Região Nordeste, com destaque para o Vale
do São Francisco, onde a média anual é de aproximadamente 6 kWh/m2.dia. Os menores índices
são observados no Litoral Sul-Sudeste, incluindo a Serra do Mar, e na Amazônia Ocidental,
respectivamente. No Amapá e Leste do Pará, onde também se observam índices inferiores à média
nacional. (ATLAS, 2002, p. 8).

Figura 1 - Mapa de Radiação solar no Brasil – média anual típica (Wh/m2.dia). Fonte: INMET &
LABSOLAR, 1998 (adaptado).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 114


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Apesar de que no Nordeste o aproveitamento é maior para geração de energia elétrica do que
para o aquecimento de fluídos, Garanhuns é uma cidade situada a 08º 53' 25" de latitude sul e 36º
29' 34" de longitude oeste, estando distante cerca de 230km da capital estadual, Recife/PE. O
município de Garanhuns/PE possui características peculiares com relação ao clima frio devido sua
altitude de aproximadamente 900 metros acima do nível do mar que promovem duas situações: alta
demanda por água aquecida e potencial solar. O desafio inicial foi analisar a questão climática de
Garanhuns/PE, uma vez que o município possui peculiaridades geográficas e climáticas que
proporcionam alta incidência solar durante o dia e baixas temperaturas durante a noite e início da
manhã. As baixas temperaturas refletem em alta demanda por água quente para banho e realização
de outras atividades. O aproveitamento da energia termossolar para o aquecimento de água
representa ganho ambiental, redução no desperdício de energia, economia de recurso financeiro e
promoção do desenvolvimento sustentável.

Generalidades

O uso excessivo de combustíveis fósseis e hidrelétricas para a produção de energia geram


graves impactos sociais e ambientais, enquanto as energias renováveis diversificam a matriz
energética. A energia solar é um recurso abundante e gratuito. Estudos comprovam que, se a energia
solar que incide sobre a terra em um único dia, pudesse ser armazenada na forma de energia
elétrica, seria possível abastecer a humanidade durante 27 anos ininterruptamente. Esse dado mostra
o potencial solar e deflagra o quanto a humanidade tem desperdiçado este recurso. Além disso, a
energia elétrica é subutilizada ao ser aplicada em processos para geração de calor e representa
desperdício de uma nobre fonte de energia. Neste sentido, como fator primordial para avaliar
alternativas que tornem possível reduzir o uso de hidrelétricas, nesta seção serão destacados
fundamentos que auxiliam na compreensão da energia termossolar visando a aplicação de coletores
solares térmicos para aquecimento de fluidos contribuindo para uma diminuição na utilização de
chuveiros elétricos voltados para o aquecimento de água para banho, permitindo assim uma redução
no consumo de energia elétrica, principalmente nos horários de pico nas concessionárias de energia.
(PENEREIRO, 2010).
No Brasil é bastante comum o uso de chuveiro elétrico para aquecimento de água para
banho. Vale ressaltar também que o chuveiro é o principal responsável pelo consumo de energia,
todavia isto representa um enorme desperdício, uma vez que este calor poderia ser provido por
outras fontes energéticas. A Energia Solar é um recurso abundante, gratuito e que está disponível
com potencial de aproveitamento em todo território nacional. O uso da energia termossolar
representa uma interessante alternativa para o aquecimento de água para banho, poupando energia
elétrica para outras aplicações.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 115


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Aquecedor solar de baixo custo

No Brasil existem vários fatores que cooperam para a criação de um aquecedor solar de
custo muito baixo, gerando economias financeiras ao usuário final, ampliando sua cidadania e
reduzindo emissões de gás carbônico das novas usinas térmicas.
Segundo a Sunpower (2002), seis fatores cooperam no Brasil para a criação de um
aquecedor solar de custo menor:

Temperatura

O Brasil é um país de altas temperaturas médias diárias, mesmo no inverno, facilitando o


uso de coletores simplificados, semelhantes aos coletores solares de piscinas, que podem aquecer
água de banho acima de 40°C.

Iluminação solar

O Brasil recebe ao longo do ano, farta iluminação solar bem distribuída por todos os meses.
Esta característica da irradiação solar permite o uso pleno do aquecedor, reduzindo o prazo de
retorno do investimento nele realizado.

Pressão da água:

A casa brasileira tem caixa de água, opção pouco usual em outros países. A norma é o envio
direto da água de rua à distribuição doméstica. A água que vem da rede pública é de alta pressão.
Logo toda a rede doméstica, assim como um eventual reservatório térmico para água quente
também teria esta pressão. A presença de uma caixa de água no forro de uma casa é sinônimo de
baixa pressão, tanto para a rede interna quanto para o reservatório térmico, fatores importantes para
a operação econômica do aquecedor solar de Baixo custo.

Dutos de PVC

Esta tecnologia tem abrangência e uso nacional, pela sua simplicidade e baixo preço. Face às
baixas temperaturas esperadas no pré-aquecimento solar da água de banho, o PVC é um
complemento importante do sistema de aquecimento de baixo custo.

O chuveiro elétrico

A absoluta maioria das casas brasileiras tem o chuveiro elétrico ao contrário do que se vê em
outras nações, onde a água é aquecida com aquecedores a gás de passagem. Este chuveiro pode ser
utilizado como aquecedor de apoio para os dias em que o tempo não permitir elevar a água até a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 116


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

temperatura desejada de banho, isto a um custo praticamente nulo, pois ele já é parte integrante do
lar brasileiro.

Estratificação

Este fenômeno da física não está ligado a características típicas brasileiras, mas é de
importância para a simplificação do projeto do aquecedor de baixo custo. A água quente é mais leve
do que a água fria, fenômeno que permite a estratificação da água, isto é, permitindo que a água
quente permaneça flutuando na parte superior de uma caixa de água. Esta separação de água quente
e fria se mantém enquanto não houver movimentação (turbulência) da água na caixa. Ao longo do
tempo, mesmo sem turbulência, por um processo chamado de difusão, o calor da parte superior da
caixa irá sendo lentamente entregue à parte inferior, terminando com uma completa
homogeneização da temperatura das massas de água.

Princípios de operação e principais componentes do sistema de aquecimento solar de baixo custo

O aquecedor solar, pela característica da irradiação solar, não pode ser concebido como
aquecedor de passagem. A energia luminosa do sol só age como elemento aquecedor num período
curto de 5 a 7 horas por dia, não sendo possível evitar a acumulação da água quente, que deve ser
gerada neste curto período. A água porém deve ficar disponível ao usuário durante o período de 24
horas e isto pode ser caracterizado como sinônimo da presença do reservatório térmico, se possível,
bem isolado, minimizando perdas térmicas. (WOELZ & CONTINI, 2002).
O aquecedor deve obrigatoriamente incluir um conjunto de coletores térmicos solares,
(conversores de energia luminosa em calor) com capacidade de aquecer a água até uma temperatura
que nunca deveria estar abaixo de 40º. Também faz parte do sistema de aquecimento um conjunto
de dutos, para circular água entre coletores e reservatório, além do duto que levará a água quente ao
local aonde fica o chuveiro, estes dutos pode ser feito com canos e forro plástico de PVC, com uso
de adesivo para vedação. Todos os materiais são facilmente encontrados no comércio e também é
de grande facilidade a sua construção. (WOELZ & CONTINI, 2002).

A figura 2 apresenta cada um dos componentes do ASBC:

Figura 2 - Design de um aquecedor solar de baixo custo


Fonte: O autor (2017).
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 117
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Reservatório Térmico

No comércio existem fabricantes especializados destes reservatórios, porém, os custos são elevados
para os padrões da população de baixa renda. É possível fabricar reservatórios domésticos
utilizando materiais isolantes acessíveis. Uma solução economicamente viável é a utilização de
reservatórios em isopor, que deverá ser simultaneamente estrutura mecânica, isolante térmico e
impermeabilizante para a água; ou também pode ser utilizado caixa de água fria para suportar
simultaneamente água fria e quente; que ficara distribuída de acordo com a figura 1 da seguinte
maneira:

Camada de água quente: Seu volume é comandado pela diferença de altura entre saída de
água fria aos coletores B, e o nível da água da caixa. Quanto maior esta diferença, maior o
volume disponível no final de um dia de aquecimento;
Camada de transição: É a camada que interliga a camada de água quente com a camada de
água fria. Ela deve ser estreita para que a energia térmica fornecida à caixa pelos coletores
solares, fique a mais possível concentrada na camada de água quente;
Camada de água fria: Tem a função do reservatório tradicional. Seu volume é a diferença
entre o volume total da caixa e o volume do espaço destinado à água quente. Engloba assim
a camada de transição;
Isolamento térmico da caixa de água: Cobre as áreas da caixa ocupadas pelo volume de
água quente. Evita perda de calor no decorrer do período, dia e noite;
Sistema de "dutos furados": Distribui na caixa de água os fluxos provenientes
respectivamente dos coletores solares. Estas entradas da água na caixa não podem, de forma
alguma, dar origem a turbulências ou movimentos de água que poderiam desfazer a sua
estratificação. (WOELZ & CONTINI, 2002).

Coletores solares simplificados

Quando a irradiação eletromagnética incidi sobre uma superfície negra é transformada em


energia térmica. O coletor é basicamente uma superfície negra, que ao ser exposta à luz do dia, se
aquece. Por construção, esta superfície fica junto a dutos cheios de água. Por transmissão o calor
gerado é levado à água presente nos dutos. Esta água aquecida é então levada a um reservatório,
aonde ela fica disponível para um banho.
Portanto, os coletores solares simplificados têm a mesma função dos coletores tradicionais
(aquecer água). Caracterizam-se por serem mais simples, sem cobertura de vidro, menos eficiente
que o Coletor Tradicional, contando, porém com um custo inferior. Os coletores simplificados
deverão entregar à água algo como 35% da energia solar que nele incide no decorrer de um dia.

Misturador de água quente

O usuário tem o direito de tomar um banho frio. Para que isto seja possível, a água quente
que vem pelo duto G, deverá ser adicionada à água fria do duto H. Com um registro 3, a água
quente será controlada, temperando a água oferecida ao usuário através do duto e do chuveiro
elétrico.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 118


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Dimensionamento do sistema de aquecimento solar de baixo custo

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), a quantidade de água suficiente para
atender as necessidades básicas de um indivíduo é de 110 litros. Sendo que um banho com duração
de dois minutos consome aproximadamente 12 litros de água.
O dimensionamento e construção do aquecedor alternativo foi realizado a partir dos
seguintes materiais:

Figura 3 - Tabela de Materiais e Preços. Fonte: O autor (2016)

Através de um microcontrolador com linguagem programada especializada para


monitoramento das variáveis e o auxilio de dados obtidos no site do INMET, foi verificado, em dois
dias, dados como temperatura ambiente, temperatura da água e radiação solar em diferentes horas
do dia, representados pelos gráficos a seguir:

Figura 4 - Experimento dia 1: Temperatura Ambiente X Temperatura da Água


Fonte: O autor (2016).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 119


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 5 - Experimento dia 1: Temperatura da Água X Radiação Solar


Fonte: O autor (2016).

Figura 6 - Experimento dia 2: Temperatura Ambiente X Temperatura da Água


Fonte: O autor (2016).

Figura 7 - Experimento dia 2: Temperatura da Água X Radiação Solar


Fonte: O autor (2016).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 120


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O dimensionamento do sistema de aquecimento alternativo foi realizado através de duas


equações:

Equação 1: Determinar a quantidade de calor (Q) que foi necessária para elevar a
temperatura da água
Q = m c (tf – ti) [1]
Onde,
Q: Quantidade de calor necessária [W/m²];
m: Massa de água em [kg] (1 litro = 1 kg);
c: Calor específico da água [Kcal/kg ºC]; c = 1 Kcal/kg ºC;
ti: Temperatura inicial da água antes do aquecimento [ºC];
tf: Temperatura final da água após o aquecimento [ºC];

Equação 2: Determinar a área total do coletor (S)


S=Q/In [2]
Onde,
S: Área total do coletor [m2];
I: Índice de radiação [Kcal/m2 dia];
n: Rendimento do Coletor.

O cálculo dos gastos mensais e anuais do uso do chuveiro elétrico foram realizados a partir
dos dados tabelados a seguir:

EQUIPAMENTO POTÊNCIA (W) Nº DE BANHOS TEMPO DO BANHO (Min)


CHUVEIRO 6.000 1 4
Tabela 1. Dados sobre a utilização do chuveiro elétrico por pessoa/dia.

Equação 3: Determinar os gastos mensais do uso do chuveiro elétrico (PD)


PD = pot t nº p [3]
Onde,
PD: Preço diário [R$];
pot: Potência [watt];
t: Tempo [min];
nº: Número de banhos;
p: Preço [KWh] (0,72R$ = 1 KWh);

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 121


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

RESULTADOS

Através dos cálculos realizados a partir das equações acima e dos dados obtidos dos
experimentos 1 e 2, calculamos a área do coletor para aquecimento, no qual, chegou-se à conclusão
de que é necessário 1m² de placa aquecedora para aquecer 100 litros de água por dia. No caso, para
fornecer 72 litros de água aquecida por dia, é necessário uma placa de 0,72m²;
ALTOÉ et al. (2012) Destaca que a vazão média de um chuveiro elétrico em abertura
regular é de 5L/min. Considerando o preço de R$0,72 por KWh da Companhia Energética de
Pernambuco (com impostos), chega-se ao total de R$34,50 ao mês do uso do chuveiro elétrico, o
que significa dizer que, com R$178,00, ao optar pelo aquecedor solar, em cinco meses o
investimento retornará.

CONCLUSÕES

Através do cálculo do custo elevado do chuveiro elétrico há de se admitir que o aquecimento


solar é viável e aconselhável na cidade de Garanhuns/PE, pois utilizando um ASBC (Aquecedor
Solar de Baixo Custo) temos um investimento barato, eficiente e duradouro, no qual podemos
chegar a zerar o débito de energia referente ao chuveiro elétrico.
Levando em consideração a crise hídrica e todos os fatores que compõem o processo, desde
a geração á transmissão de energia, a alternativa de investir em energia solar se torna cada vez mais
viável, uma vez que a maior parte da energia gerada é advinda de hidrelétricas que tem um custo
muito caro, principalmente em épocas de escassez, assim, a energia solar tem um papel muito
importante ambientalmente, no qual ameniza a demanda de geração de energia de usinas que estão
em déficit de abastecimento.

REFERÊNCIAS

ALTOÉ, L.; FILHO, O, D.; CARLO, C, J. Análise energética de sistemas solares térmicos para
diferentes demandas de água em uma residência unifamiliar. Ambiente Construído, Porto
Alegre, v. 12, n. 3, p. 75-87, jul./set. 2012.

ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica. Disponível em: <www.annel.gov.br> Acesso em


10 de julho 2017.

ANEEL. Energia Solar. In._____. Atlas de Energia Elétrica do Brasil. Brasília: OMM, 2002. Cap.
2, p. 5-16.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 122


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INMET - Instituto Nacional de Meteorologia. Disponível em: <


http://www.inmet.gov.br/sim/sonabra/dspDadosCodigo.php?ODM0Mzc=> acesso dia: 30 out.
2016.

MEIO AMBIENTE 99, 1., 1999, São Paulo. Aquecedor solar de baixo custo – asbc consumo de
energia renovável em aquecimento de água. Local: Congresso, Sunpower, 1999.

MESQUITA, L. C. S.; MAZZON, L. A. F.; CAMPOS FILHO, M. M. O Aquecedor Solar de Água


para o Setor Elétrico e para o Usuário Final. São Paulo: ENERGIA SOLAR, 1996. 44p.

MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (BRASIL).


Plano Decenal de expansão de energia 2021. Brasília: MME: EPE, 2012. Disponível em:
<http://www.epe.gov.br/PDEE/20130326_1.pdf>. Acesso em: 05 jul. 2017.

PENEREIRO, C. J.; MELO P.L.; CORADI, B. T. Construção de um aquecedor solar de baixo custo
sem cobertura: análise experimental da eficiência térmica para vários ensaios. Revista Ciência e
Tecnologia, vol.10-n°1- p. 18-33, jun.2010.

VAZQUES, M. E. Una brevísima historia de laarquitectura solar. Disponível em: <


http://habitat.aq.upm.es/boletin/n9/amvaz.html> acesso em: 18 outubro 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 123


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM ESPÉCIES VEGETAIS


DA CHAPADA DO ARARIPE

Mariana Ferreira da CRUZ


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Regional do Cariri – URCA
mariana.si@hotmail.com
Amanda Oliveira GUIMARÃES
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Regional do Cariri – URCA
mandikaog@hotmail.com
Fernanda Oliveira MODESTO
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Regional do Cariri – URCA
fernanda_modesto@hotmail.com
Amanda Oliveira ANDRADE
Professora do Departamento de Biologia da Universidade Regional do Cariri – URCA
amanda_crato@hotmail.com

RESUMO
Diante do rápido e intenso processo de desmatamento na Chapada do Araripe, se faz necessária a
utilização de procedimentos que permitam o reflorestamento dessa área. O presente trabalho
objetivou determinar o melhor método para superação de dormência em sementes de aroeira
(Myracrodruom urundeuva Allemão) e Timbaúba (Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong ),
espécies vegetais ocorrentes na Chapada do Araripe, a fim de utilizá-las para a produção de mudas
visando recuperar áreas degradadas. Os testes foram realizados no Laboratório de Botânica
Aplicada da Universidade Regional do Cariri-URCA. Para Myracrodruom urundeuva foram
utilizados 9 tratamentos para a superação de dormência e em Enterolobium contortisiliquum, 6
tratamentos. Foram avaliados o Índice de Velocidade de Germinação e a Porcentagem de
Germinação. Os dados foram submetidos á análise de variância, utilizando o teste de Tukey a 5% de
probabilidade. Sementes de Enterolobium contortisiliquum submetidas à ácido sulfúrico durante 30
minutos tiveram os melhores resultados de Índice de Velocidade de Germinação e Porcentagem de
Germinação, apesar de pouco diferir com os demais tratamentos. A escarificação manual com lixa
foi fortemente eficiente na superação de dormência das sementes de aroeira (Myracrodruom
urundeuva). As espécies estudadas podem ser vastamente utilizadas na produção de mudas para
reflorestamento, pois sua dormência pode ser superada em um curto espaço de tempo.
Palavras Chave: Sementes florestais, Timbaúba, Aroeira, reflorestamento.

ABSTRACT
In the face of rapid and intense process of deforestation in the Chapada do Araripe, it is necessary to
utilization procedures for the reforestation of this área. The objective of this study was to determine
the best method for overcoming dormancy in seeds of aroeira (Myracrodruom Urundeuva Allemão)
and Timbaúba (Enterolobium contortisiliquum(Vell.) Morong), plant species occurring in the
Chapada do Araripe, in order to use them for the production of seedlings to recover degraded areas.
The tests were performed in the Laboratory of Botany Applied Regional University of Cariri-
URCA. For Myracrodruom Urundeuva were used 9 treatments for dormancy breaking. In
Enterolobium contortisiliquum were used 6 treatments. Were evaluated the Germination Speed
Index and the Percentage of Germination. The data were submitted to analysis of variance using the
Tukey test at 5% probability. Seeds of Enterolobium contortisiliquum subjected to sulfuric acid for

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 124


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

30 minutes had the best results of germination speed index and percentage of germination, although
little differ with other treatments. The manual scarification with sandpaper was strongly effective in
overcoming seed dormancy of aroeira (Myracrodruom Urundeuva). The species can be widely used
in the production of seedlings for reforestation because their dormancy can be overcome in a short
time.
Keywords: Forest seeds, Timbaúba, Aroeira, reforestation.

INTRODUÇÃO

A Chapada do Araripe é uma área que engloba os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí e
tem uma diversidade florística composta por 474 espécies e 275 gêneros pertencentes a 79 famílias
(LOIOLA et. al., 2015). Desde o início da ocupação de seu território, em 1750, o local sofre pelas
ações antrópicas, e nos dias atuais, mesmo com a criação das Áreas de Proteção Ambiental
(APA‘s), a região é desmatada para especulação imobiliária, pecuária, agricultura, dentre outras
atividades (FILHO, 2005). Para recuperar tais áreas é necessária a implantação de programas de
reflorestamento, com a formação de um banco de sementes e posterior semeadura.
Um dos problemas que está relacionado á produção de mudas para recuperação de áreas
degradadas está no tempo que os vegetais demoram para germinar, caracterizando o estado de
dormência. Cerca de dois terços das espécies arbóreas apresentam algum tipo de dormência em suas
sementes (FACCHINELLO, 2012), o que impede a produção de mudas em um curto espaço de
tempo.
A dormência de sementes é uma estratégia utilizada para manutenção das espécies, onde a
probabilidade de sobrevivência é aumentada, tendo em vista que mesmo com as melhores condições
para crescimento, as sementes não germinam. A causa da dormência pode ser de origem
tegumentar, quando o tegumento torna-se impermeável, gerando um impedimento na germinação,
ou embrionária, quando há a ocorrência de inibição fisiológica (FOWLER & BIANCHETTI, 2000).
Alguns tratamentos são executados antes do plantio das sementes, visando superar a sua dormência
e fazer com que a germinação ocorra de forma rápida.
As espécies Myracrodruom urundeuva e Enterolobium contortisiliquum pertencem á família
das Anacardiaceae e Fabaceae, respectivamente, e estão presentes na flora da Chapada do Araripe.
É recomendada sua utilização para recuperação de áreas degradadas, sendo anteriormente
empregadas para recuperação das margens do Rio Granjeiro, importante flúmen cuja nascente se
encontra na encosta da Chapada do Araripe (DOS SANTOS & SILVA, 2007).
A aroeira (Myracrodruom urundeuva) é uma planta decídua, heliófita, com grande
amplitude ecológica, podendo ocorrer desde a caatinga até o pantanal. É utilizada na medicina
popular contra inflamações, gastrite e diarreias e sua madeira é empregada na construção civil. Por

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 125


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

sua grande aplicação, a aroeira está na lista de espécies ameaçadas de extinção, na categoria
vulnerável, podendo passar á categoria ―em perigo‖ em um futuro próximo (MAIA, 2012).
A Timbaúba (Enterolobium contortisiliquum) é pertinente para reflorestamentos e
recuperação de áreas degradadas, pois é cicladora de nitrogênio do solo e cresce ligeiramente,
criando condições necessárias para o crescimento de espécies mais exigentes (CORADIN;
SIMINSKI; REIS, 2011).
Poucos estudos foram publicados com informações acerca da superação de dormência
nessas espécies, principalmente com o enfoque no reflorestamento de áreas degradadas da Chapada
do Araripe, que até 2009 teve aproximadamente 65% de sua área desmatada, demonstrando a
urgência de ações para a recuperação de sua estrutura vegetacional (HORSTMANN et. al., 2011).
Dessa forma, objetivou-se nesse trabalho, verificar os melhores métodos para quebra de
dormência de sementes em duas espécies vegetais presentes na Chapada do Araripe, a fim de
recuperar as áreas degradadas com a produção de mudas para o reflorestamento.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no Laboratório de Botânica Aplicada da Universidade Regional do


Cariri – URCA. Para os testes, foram utilizadas câmaras de germinação do tipo BOD e casa de
vegetação. As sementes foram coletadas em pontos específicos da Chapada do Araripe e
armazenadas em sacos de papel. O reconhecimento do material botânico foi realizado no Herbário
Caririense Dárdano de Andrade-Lima (HCDAL) da Universidade Regional do Cariri (URCA),
sendo incorporado em seu acervo.
Para Myracrodruon urundeuva foi utilizada câmara de germinação do tipo BOD e as
sementes foram distribuídas em 9 tratamentos: T1-Testemunha(sementes sem nenhum tratamento);
T2- Imersão em água em temperatura de 80°C; T3- Escarificação manual com lixa de parede n°80;
T4- Imersão em ácido giberélico por 24 horas; T5- Embebição em água em temperatura ambiente
por 24 horas; T6- Escarificação manual com lixa seguida de embebição em água por 24 horas; T7-
Imersão em ácido sulfúrico por 5 minutos; T8- Imersão em ácido sulfúrico por 10 minutos; T9-
Imersão em ácido sulfúrico por 15 minutos. Foram utilizadas 100 sementes por tratamento,
divididas em 5 repetições de 20 sementes, que foram acondicionadas em placas de Petri, contendo
duas folhas de papel filtro. Todo o material foi previamente esterilizado em autoclave. A irrigação
foi feita com 4 mL de água destilada e as placas envolvidas com plástico filme. A temperatura da
câmara de germinação foi controlada em 25°C, com fotoperíodo de 12 horas, durante o período de 7
dias.
As sementes de Enterolobium contortisiliquum foram submetidas aos seguintes tratamentos:
T1-Testemunha (sementes sem nenhum tratamento); T2- Imersão em água em temperatura de 80°C;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 126


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

T3- Escarificação manual com lixa de parede n°80; T4- Embebição em água em temperatura
ambiente por 24 horas; T5- Imersão em ácido sulfúrico por 30 minutos; T6- Imersão em ácido
sulfúrico por 60 minutos. Foram utilizadas 50 sementes por tratamento, com 5 repetições de 10
sementes. O teste foi realizado em casa de vegetação, onde foram utilizadas bandejas plásticas
divididas em células perfuradas no fundo, com substrato areia e vermiculita (na proporção de 1:1),
esterilizadas em autoclave. A irrigação foi feita diariamente, com 5 mL de água destilada para cada
célula, seguindo a capacidade de retenção do substrato. Esta espécie foi acompanhada durante o
período de 7 dias, verificando as sementes que apresentassem cotilédones expandidos.
Foram analisados o Percentual de Emergência (BARTLETT, 1947) e o Índice de Velocidade
de Germinação (MAGUIRE, 1962). Adotou-se um delineamento experimental inteiramente
casualizado. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste
de Tukey a 5% de probabilidade (BANZATTO; KRONKA, 2006), com auxílio do programa
ASSISTAT.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em M. urundeuva, o tratamento que superou melhor a dormência das sementes foi a


escarificação manual com lixa (T3), porém não houve diferença estatística entre esse tratamento e o
controle (T1). As sementes imersas em água à temperatura de 80°C (T2) não apresentaram ação
germinativa. Os tratamentos com ácido sulfúrico por 5 (T7) e 10 minutos (T8) não diferiram
estaticamente entre si (Figura 2). Quanto ao Índice de Velocidade de Germinação, verificou-se que
o maior valor (13,90) foi obtido entre o 3° e 6° dia de semeadura, no tratamento com lixa (T3)
(Figura 1), mostrando a eficiência deste método. A imersão em ácido sulfúrico por 5 e 10 minutos
(T7 e T8) permitiram um IVG de 10,05 e 10,28, respectivamente. Os demais tratamentos
apresentaram desempenhos inferiores, com exceção do controle (T1), que obteve resultado bem
aproximado do tratamento com lixa (T3).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 127


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1: Índice de Velocidade de Germinação (IVG) das sementes de M. urundeuva submetidas a nove
tratamentos para quebra de dormência: T1-Testemunha (sementes sem nenhum tratamento); T2- Imersão em
água em temperatura de 80°C; T3- Escarificação manual com lixa de parede n°80; T4- Imersão em ácido
giberélico por 24 horas; T5- Embebição em água em temperatura ambiente por 24 horas; T6- Escarificação
manual com lixa seguida de embebição em água por 24 horas; T7- Imersão em Ácido sulfúrico por 5
minutos; T8- Imersão em Ácido sulfúrico por 10 minutos; T9- Imersão em Ácido sulfúrico por 15 minutos.
As médias seguidas pela mesma letra não diferem estaticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Tukey ao
nível de 5% de probabilidade (C.V . 22,07%).

Figura 2: Porcentagem de Germinação das sementes de M. urundeuva submetidas a nove tratamentos para
quebra de dormência: T1-Testemunha (sementes sem nenhum tratamento); T2- Imersão em água em
temperatura de 80°C; T3- Escarificação manual com lixa de parede n°80; T4- Imersão em ácido giberélico
por 24 horas; T5- Embebição em água em temperatura ambiente por 24 horas; T6- Escarificação manual com
lixa seguida de embebição em água por 24 horas; T7- Imersão em Ácido sulfúrico por 5 minutos; T8-
Imersão em Ácido sulfúrico por 10 minutos; T9- Imersão em Ácido sulfúrico por 15 minutos. As médias
seguidas pela mesma letra não diferem estaticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5%
de probabilidade (C.V .22,65%).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 128


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Os resultados encontrados diferem dos apresentados por Guedes et. al (2009), onde o melhor
método para superação de dormência em M. urundeuva foi a escarificação química, com imersão
em ácido sulfúrico por 12 minutos. Essa variação pode estar relacionada a fatores ambientais, tendo
em vista a vasta distribuição geográfica da espécie. O autor confirmou ainda que os tratamentos que
envolviam embebição ou imersão em água apresentaram os menores Percentuais de Germinação,
assim como foi encontrado neste estudo. Isso se deve ao fato de que quando as sementes são
embebidas, podem ser afetadas á nível do sistema de membranas, causando danos e problemas na
germinação (CASTRO et. al., 2004).
O tratamento com água à temperatura de 80°C não favoreceu a germinação, corroborando
com outros autores, que afirmam que em altas temperaturas as sementes são danificadas ou mortas.
Oliveira et. al, 2003 , constatou que sementes de Canafístula (Peltophorum dubium) quando
submetidas a tratamentos em água quente não germinavam. Santarén e Áquila (1995) obtiveram
resultados semelhantes para sementes de Senna macranthera (Pau-fava).
Para outras espécies, a escarificação manual com lixa (T3) também mostrou-se um método
eficiente para quebra de dormência, a exemplo de Zizyphus joazeiro (Juazeiro) (ALVES et. al.,
2008), Sterculia foetida (Chichá-fedorento) (SANTOS;MORAIS;MATOS,2004), Acacia mearnsii
(Acácia-negra) (BIANCHETTI & RAMOS, 1982) e Parkia platycephala (fava-de-boi)
(NASCIMENTO et.al., 2009). Sementes que apresentam dureza em seu tegumento geralmente são
tratadas com esse método, porém ele ainda é reprovado por sua utilização em larga escala ser
inviável.
Para as sementes de E. contortisiliquum o tratamento que obteve a maior Percentagem de
Germinação foi a imersão em ácido sulfúrico por 30 minutos (T3), onde 76% das sementes
germinaram. O aumento do tempo de exposição ao ácido sulfúrico para 60 minutos (T6) reduziu a
Porcentagem de Germinação para 68%. Os tratamentos com imersão em água á 80°C (T2), controle
(T1), escarificação manual com lixa (T3) e imersão em ácido sulfúrico por 60 minutos (T6) não
diferiram estaticamente entre si (Figura 4), apresentando um Percentual de Germinação entre 64% e
70%. A embebição em água em temperatura ambiente por 24 horas (T4) não foi eficiente para a
quebra de dormência nas sementes dessa espécie, quando comparada aos demais tratamentos. O
Índice de Velocidade de Germinação, para todos os tratamentos, não diferenciaram entre si (Figura
3).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 129


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 3: Índice de Velocidade de Germinação das sementes de E. contortisiliquum submetidas a seis


tratamentos para quebra de dormência: T1-Testemunha (sementes sem nenhum tratamento); T2- Imersão em
água em temperatura de 80°C; T3- Escarificação manual com lixa de parede n°80; T4- Embebição em água
em temperatura ambiente por 24 horas; T5- Imersão em Ácido sulfúrico por 30 minutos; T6- Imersão em
Ácido sulfúrico por 60 minutos. As médias seguidas pela mesma letra não diferem estaticamente entre si. Foi
aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade (C.V . 26,05%).

Figura 4: Porcentagem de Germinação das sementes de E. contortisiliquum submetidas a seis tratamentos


para quebra de dormência: T1-Testemunha (sementes sem nenhum tratamento); T2- Imersão em água em
temperatura de 80°C; T3- Escarificação manual com lixa de parede n°80; T4- Embebição em água em
temperatura ambiente por 24 horas; T5- Imersão em Ácido sulfúrico por 30 minutos; T6- Imersão em Ácido
sulfúrico por 60 minutos. As médias seguidas pela mesma letra não diferem estaticamente entre si. Foi
aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade (C.V . 23,57%).

O ácido sulfúrico concentrado também foi eficiente para a superação de dormência em


outras espécies de Fabaceae, como Bowdichia virgilioides (Sucupira-preto) (ALBUQUERQUE et.
al., 2007), Erythrina crista-galli (Corticeira) (SILVA; ARPANEZZI; LAVORANTI, 2006),

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 130


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Piptadenia moniliformis (Catanduva) (BENEDITO et.al., 2008) e Parkia gigantocarpa (Fava atanã)
(MORBECK DE OLIVEIRA et. al., 2012).
O Índice de Velocidade de Germinação no método de escarificação mecânica com lixa (T3)
foi de 2,79, enquanto na imersão em ácido sulfúrico por 30 minutos (T5) foi de 2,99, verificando-se
uma diferença no IVG de apenas 0,2 entre os dois métodos. Para a Porcentagem de Germinação,
essa diferença foi de 12%. O resultado encontrado reforça o de ALEXANDRE et.al., (2009), o qual
concluiu que a escarificação mecânica com lixa não difere da utilização de ácido sulfúrico na
quebra de dormência da Timbaúba (E. contortisiliquum).
Silva et. al. (2013) obteve resultados semelhantes a este estudo, porém com um tempo
menor de exposição ao ácido (20 minutos), onde foi alcançado o maior Percentual de Germinação
para E. contortisiliquum com este tratamento. O autor ressalta o perigo na utilização desse método,
pelo seu alto poder corrosivo, dificultando o emprego na produção de mudas em larga escala.

CONCLUSÃO

Os resultados do presente trabalho permitem concluir que para a superação de dormência


das sementes de aroeira (Myracrodruom urundeuva), é recomendada a escarificação manual com
lixa, sendo este tratamento altamente eficaz na germinação destas sementes, tendo em vista a dureza
de seu tegumento. A escarificação química com ácido sulfúrico concentrado durante 30 minutos é
indicada na quebra de dormência de sementes de Timbaúba (Enterolobium contortisiliquum), apesar
de sua dureza poder ser superada eficientemente com outros tratamentos. As espécies apresentadas
neste estudo podem ser amplamente utilizadas para a recuperação de áreas degradadas, pois sua
dormência pode ser superada em um curto espaço de tempo, facilitando a produção de mudas para o
reflorestamento.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Keline Sousa et al. Métodos para a superação da dormência em sementes de


sucupira-preta (Bowdichia virgilioides Kunth.). Ciência e Agrotecnologia, v. 31, n. 6, p. 1716-
1721, 2007.

ALEXANDRE, Rodrigo S. et al. Tratamentos físicos e químicos na superação de dormência em


sementes de Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong. Revista Brasileira de Ciências
Agrárias, v. 4, n. 2, 2009.

ALVES, Edna Ursulino et al. Métodos para quebra de dormência de unidades de dispersão de
Zizyphus joazeiro Mart.(RHAMNACEAE). Revista Árvore, p. 407-415, 2008.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 131


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BANZATTO, D. A.; KRONKA, S. N. Experimentação agrícola. 4. ed. Jaboticabal: FUNEP, 237p.


2006.

BARTLETT, M. S. The use of transformations. Biometrics, Washington, v. 3, n. 1, p. 39-52, 1947

BENEDITO, Clarisse Pereira et al. Superação da dormência de sementes de catanduva (Piptadenia


moniliformis Benth.). Revista Ciência Agronômica, v. 39, n. 1, 2008.

BIANCHETTI, Arnaldo; RAMOS, Adson. Comparação de tratamentos para superar a dormência


de sementes de Acacia-negra (Acacia mearnsii De Wild.). Embrapa Florestas-Artigo em
periódico indexado (ALICE), 1982.

CASTRO, RD de; HILHORST, H. W. M. Embebição e reativação do metabolismo. Germinação:


do básico ao aplicado. Porto Alegre: Artmed, p. 149-162, 2004.

CORADIN, Lidio; SIMINSKI, Alexandre; REIS, Ademir. Espécies Nativas da Flora Brasileira de
Valor Econômico Atual ou Potencial. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2011.

DOS SANTOS, Antonio Carlito Bezerra; FIGUEIREDO, Juliana Matos; DA SILVA, Maria Arlene
Pessoa. Revitalização das margens do Rio Grangeiro–Crato-CE. Revista Brasileira de
Biociências, v. 5, n. S1, p. pg. 899-900, 2008.

FACCHINELLO, Priscila et al. Comparação de dois métodos de quebra de dormência de sementes


de Schizolobium parahyba (Vell). Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão,
v. 4, n. 2, 2012.

FILHO, Salim Kalil Aby Faraj. Análise dos aspectos ambientais e geomorfológicos na microbacia
do rio granjeiro, município do Crato-CE. Rio Grande do Norte, Departamento de Geografia –
UFRN, s.d.

FOWLER, João Antonio Pereira; BIANCHETTI, Arnaldo. Dormência em sementes florestais.


2000.

GUEDES, Roberta Sales et al. Pre-germination treatments in Myracrodruon urundeuva Freire


Allemão seeds. Revista Árvore, v. 33, n. 6, p. 997-1003, 2009.

LOIOLA, M. I. B. et al. Flora da Chapada do Araripe. Sociobiodiversidade na Chapada do


Araripe, v. 1, p. 103-148, 2015.

MAGUIRE, James D. Speed of germination—aid in selection and evaluation for seedling


emergence and vigor. Crop science, v. 2, n. 2, p. 176-177, 1962.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 132


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MAIA, Gerda Nickel. Caatinga árvores e arbustos e suas utilidades. Leitura & Arte, 2004.

MORBECK DE OLIVEIRA, Ademir Kleber et al. SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM


SEMENTES DE Parkia gigantocarpa (FABACEAE-MIMOSIDAE). Ciência Florestal, v. 22, n. 3,
2012.

NASCIMENTO, Irinaldo Lima do et al. Superação da dormência em sementes de faveira (Parkia


platycephala Benth). 2009.

OLIVEIRA, Luciana Magda de; DAVIDE, Antonio Claudio; CARVALHO, Maria Laene Moreira
de. Avaliação de métodos para quebra da dormência e para a desinfestação de sementes de
canafístula (Peltophorum dubium (Sprengel) Taubert. 2003.

SANTAREM, Eliane Romanato; AQUILA, Maria Estefania Alves. Influência de métodos de


superação de dormência e do armazenamento na germinação de sementes de Senna
macranthera (Colladon) Irwin & Barneby (Leguminosae). Revista brasileira de sementes.
Brasília, DF. Vol. 17, n. 2 (1995), p. 205-209, 1995.

SANTOS, Taciana Oliveira dos; MORAIS, Tarciana Gomes de Oliveira; MATOS, Valderez
Pontes. Escarificação mecânica em sementes de chichá (Sterculia foetida L.). 2004.

SILVA, A. C. F. et al. Superação de dormência de Enterolobium contortisiliquum Mor.(Vell.)


Morong. Scientia Plena, v. 8, n. 4 (b), 2013.

SILVA, Ariadne Josiane Castoldi; CARPANEZZI, Antonio Aparecido; LAVORANTI, Osmir José.
Quebra de Dormência de Sementes de Erythrina crista-galli. Pesquisa Florestal Brasileira, n. 53,
p. 65, 2006.

SILVA¹, Kelina Bernardo et al. Quebra de dormência em sementes de Erythryna velutina


Willd. Revista Brasileira de Biociências, v. 5, n. supl 2, p. 180-182, 2007.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 133


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MONITORAMENTO DE NITROGÊNIO AMONIACAL EM REATORES EM


BATELADAS AGITADA COM BIOMASSA DISPERSA DE Aspergillus niger AN 400
EM ÁGUA RESIDUÁRIA SINTÉTICA

Priscila da Silva dos SANTOS


Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária IFCE
Priscyllafap18@gmail.com
Lara Maria Oliveira RABELO
Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária IFCE
laramariaor@gmail.com
Reinaldo Fontes CAVALCANTE
Professor Titular Mestre em Tecnologia e Gestão Ambiental IFCE
reinaldo.ifce@gmail.com

RESUMO
Neste trabalho, foi avaliada a potencialidade do fungo Aspergillus niger como inóculo em reatores
em batelada agitada na remoção de nitrogênio amoniacal em águas residuárias sintéticas. A
pesquisa consiste em algumas etapas: Primeiramente o cultivo e preparo do inóculo do Aspergillus
niger AN 400, depois o preparo da água residuária adicionada do poluente LAS em uma
concentração de 21mg/L, e por fim o preparo dos três reatores em batelada agitada, conduzido em
mesa agitadora com velocidade de 150 rpm, nos tempos de reação de 0h, 24h, 48h, 72h e 96 h. Foi
observado que não ocorreu uma variação brusca de pH no reator PF em relação ao reator de
controle P, variando de 6,5 a 6,9 em todo processo, mas no reator PFG, variou de 7,3 a 4,5. Durante
o teste o reator PFG apresentou maior competência na degradação de amônia com uma eficiência de
aproximadamente 78% durantes os 5 dias de teste. Os resultados obtidos nesta pesquisa mostram a
viabilidade do Aspergillus niger AN 400 na degradação de nitrogênio amoniacal.
Palavras Chaves: Fungos filamentosos; Degradação; Nutriente.

ABSTRACT
In this work, it was evaluated the potential of the fungus Aspergillus niger as inoculum in batch
reactors churning in removing ammoniacal nitrogen in wastewater. The research consists of a few
stages: first the cultivation and preparation of the inoculum of Aspergillus niger AN 400, after the
preparation of wastewater pollutant LAS added at a concentration of 21 milligrams per litre, and
finally the preparation of three batch reactors, conducted in mesa with 150 rpm speed agitator, in
reaction times of 12:00 am, 12:00 am, 48 h, 72 h and 96 h. It was observed that there was a sudden
variation of pH in the reactor PF regarding the control reactor P, ranging from 6.5 to 6.9 in the
whole process but the reactor PFG, ranged from 7.3 to 4.5. During the test the reactor PFG higher
competence in degradation of ammonia with an efficiency of approximately 78% during the 5-day
trial. The results obtained in this research show the viability of Aspergillus niger AN 400 on
degradation of ammoniacal nitrogen.
Keywords: Filamentous fungi; Degradation; Nutrient

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 134


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

A capacidade humana de modificar o meio em que vive se intensifica com a necessidade de


suprir as demandas populacionais. Assim percebe-se que principalmente os ambientes aquáticos
ficam mais propensos e vulneráveis a sofrer danos com o lançamento de compostos tóxicos,
capazes de promover alterações prejudiciais a toda sua biota (SILVA, 2013).
Para suprir as necessidades da sociedade moderna quanto aos itens de limpeza, observou-se
nas últimas décadas um grande aumento na produção mundial de sabões, detergentes, dentre outros
produtos, e com os avanços tecnológicos foram apresentando mudanças na composição a fim de
agregar mecanismos mais eficientes, diminuir o tempo de remoção e conservar objetos e estruturas
(CAVACANTE, 2014).
Sufarctantes ou tensoativos são substâncias utilizadas para limpeza em geral. Estes são
capazes de contaminar o ambiente e seu uso é bastante difundido, como na formulação de
detergentes (OLIVEIRA, 2010). Em geral, efluentes com elevadas concentrações de surfactantes
apresentam grandes níveis de nutrientes como o nitrogênio (TELLES, 2010). Um dos surfarctantes
mais utilizados é o alquilbenzeno linear sulfonado (LAS) (Figura 01) e está presente em esgoto
sanitário e águas residuárias industriais. A presença do LAS em estações de tratamento de esgoto
pode acarretar problemas como a formação de espuma e inibição de microrganismos responsáveis
pelo tratamento biológico (OLIVEIRA, 2010).

Figura 01 - Fórmula estrutural do LAS.

Fonte: (Oliveira et al. 2010).

Os fungos filamentosos têm se mostrado organismos favoráveis na biorremediação, que


consiste na atividade biológica dos organismos vivos, que possuam eficácia na modificação e
decomposição de determinados poluentes, transformando estes em substâncias inertes. Além disso,
a predisposição do fungo em suportar mudanças variadas de PH, temperatura, concentrações de
matéria orgânica e se adaptar as variações e escassez de oxigênio e de umidade são indicadores da
efetividade do tratamento com reatores fúngicos (RODRIGUES, 2006).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 135


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O uso de reatores com fúngicos para o tratamento de efluentes industriais pode vir a ser uma
tecnologia econômica e eficiente (RODRIGUES, 2006). Segundo Benevides e Marinho (2015), o
uso de fungos em reatores biológicos trouxe respostas satisfatórias na degradação de moléculas
como: fenol, benzeno, tolueno, xileno e xenobióticos.
A presente pesquisa buscou avaliar a capacidade de remoção de nitrogênio em águas
residuárias sintéticas, adicionadas do poluente LAS, através do uso de reatores em batelada agitada,
utilizando o fungo Aspergillus niger AN 400 como inóculo, sob rotação de 150 rpm.

METODOLOGIA

Cultivo e Preparo do Inóculo do Aspergillus niger AN 400:

Foi adotada para o cultivo do fungo a metodologia adaptada de Magalhães et al. (2014). De
antemão os esporos foram dispostos cultivados em placa de Petri, acompanhado de meio de cultura
Sabouraud Dextrose Agar. A esterelização do meio de cultura e das placas de Petri foi feita em
autoclave durante 15 minutos, a 121°C. Após esses procedimentos foram armazenadas as placas de
Petri em uma estufa a 30ºC, durante sete dias.
Depois desse período foi realizada a contagem da solução de esporos, que havia sido
preparado com fundamento na apostila Guia Prático para Fungos Fitopatogênicos. Após efetuada a
lavagem das placas de Petri com uma escova de cerdas macias, foi utilizado solução de Tween 20
para homogeneizar a solução de esporos. A concentração para o desenvolvimento da pesquisa foi de
2x106 esporos/mL.

Preparo da Água Residuária:

A água residuária utilizada nos reatores foi preparada a partir da adição do LAS junto à água
destilada, com uma concentração de 21mg/L. Essa água residuária sintética simula a concentração
do LAS no meio.

Reatores em Batelada Agitada:

Foram montados 3 reatores, um para controle apenas com o poluente (P), um contendo
fungo e poluente (PF), e um com poluente, fungo e glicose (PFG), sendo esse adicionado uma
concentração de 1g/L de glicose. Foi utilizado erlenmeyers com volume total de 250 mL e volume
útil para o teste de 200 mL, os mesmos foram fechados durante o procedimento com auxílio de
papel alumínio. O experimento foi conduzido em mesa agitadora com velocidade de 150 rpm, nos
tempos de reação de 0h, 24h, 48h, 72h e 96 h.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 136


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Para validação do experimento foram analisadas as variáveis de pH e amônia de acordo com


APHA (2005).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o período de teste a variação de pH permaneceu dentro da faixa de adequação para


os fungos filamentosos, sendo uma ampla faixa de 2,0 a 9,0 (SPIER, 2005). A Figura 01, mostra o
comportamento do pH, como pode ser observado não ocorreu uma variação brusca de pH no reator
PF em relação ao reator de controle P, variando de 6,5 a 6,9 em todo processo. No entanto pode-se
perceber uma maior alteração de pH no reator PFG, variando de 7,3 a 4,5. A adição de glicose no
reator potencializa a formação de uma maior quantidade de biomassa, desta forma segundo
Rodrigues (2006), essa variação ocorre devido a produção de ácidos orgânicos decorrentes do
consumo de glicose presente no reator.

Figura 01: Variação de pH nos reatores controle (P), com fungo (PF), com fungo e glicose (PFG).
8
7
6
5 P
pH

4
P.F
3
2 P.F.G
1
0
0 24 48 72 96
Horas de Funcionamento

O Aspergillus niger possui habilidades que favorecem a degradação de compostos


nitrogenados, assim sendo capaz de retitrar amônia e nitrito do meio. Os fungos são capazes de
assimilar facilmente concentrações de amônia, no entanto esse composto se apresenta de forma
tóxica na presença de pH alcalino (SANTAELLA. et al, 2009). De acordo com trabalhos
desenvolvidos por Esposito e Azevedo (2004), a amônia pode ser utilizada pelos fungos por difusão
simples através da membrana celular em condições de pH entre 4 e 6, mas o ion amônio não
consegue ser assimilado em pH inferior a 4.
Na Figura 02 é possível observar o comportamento da variável amônia no reator em
batelada agitada de biomassa dispersa de Aspergillus niger AN 400 com uma concentração de LAS
de 21 mg.L-1. Rodrigues (2012) afirma que o íon amônio atua como o principal regulador da
utilização de nitrogênio pelo fungo, sendo essencial para o metabolismo anabólico do nitrogênio nas
espécies fúngicas na absorção e produção de biomassa. A presença do íon garante o crescimento e
desenvolvimento do fungo com a produção de aminoácidos e posteriormente biomassa em meios

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 137


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ácidos a neutros (GRIFFIN, 1994). Mazoto et al. (2013) destacaram o controle da amônia exercido
pelo pH e a importância da disponibilidade desta substância no desenvolvimento e produção de
enzimas pelas espécies filamentosas como o Aspergillus niger.
Durante o teste o reator PFG apresentou maior eficiência na degradação de amônia com uma
eficiência de aproximadamente 78% durantes os 5 dias de teste.

Figura 02: Variação de amônia durante o teste realizado com biomassa dispersa de Aspergillus niger AN400.
100,00
Concentração de Amônia (mg/L)

90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00 P
30,00
P.F
20,00
P.F.G
10,00
0,00
0 24 48 72 96
Horas de Funcionamento

CONCLUSÃO

Diante dos resultados obtidos nesta pesquisa, é possível concluir que a espécie Aspergillus
niger AN 400 apresenta potencial de degradação de nitrogênio amoniacal, sendo condicionado por
condições favoráveis de pH e presença de fontes de carbono de fácil assimilação como a glicose.

REFERÊNCIAS

APHA, Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 18 ed Washington:
American Public Health Association, 2005.

BENEVIDES, J. J.; MARINHO, G. M. Degradação de pesticidas por fungos–uma


revisão. HOLOS, v. 2, 2015.

CAVALCANTE, R. F. DEGRADAÇÃO DE ALQUILBENZENO SULFONATO LINEAR POR


FUNGO Aspergillus niger AN 400. 2014. 86f. Dissertação (Mestrado em Gestão Ambiental) -
Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Tecnologia e Gestão Ambiental - Instituto Federal
do Ceará, Fortaleza, 2014.

ESPOSITO, E.; AZEVEDO, J.L. Fungos: uma introdução à biologia, bioquímica e biotecnologia.
Caxias do Sul: Educs, 2004.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 138


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

FELIX, J. P. L.; KATO, M. T. Remoção de DQO e fenóis totais presentes em efluentes de indústria
petrolífera utilizando reatores de leito fixo e fluxo contínuo inoculados com Aspergillus niger
AN400. KATO, MT Gestão e tratamento de resíduos líquidos gerados na cadeia produtiva do
petróleo: 1ª coletânea de trabalhos técnicos. Recife: Editora Universitária da UFPE, p. 183-198,
2006.

GRIFFIN, D.H. Fungal physiology. 2. ed. New York: Wiley-Liss, 1994.

JERNEJC, K.; LEGISA, M. A drop of intracellular pH stimulates citric acid accumulation by some
strains of Aspergillus niger. Journal of Biotechnology, v. 112, p. 289-297, 2004.

OLIVEIRA, Lorena Lima de. Remoção de alquilbenzeno linear sulfonado (LAS) e caracterização
microbiana em reator anaeróbio de leito fluidificado. 2010. Tese de Doutorado. Universidade de
São Paulo.

RODRIGUES, K. A. Uso de reatores biológicos com fungos para remoção de fenol de água
residuária sintética. 2006. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

SANTAELLA, Sandra Tédde et al. Tratamento de efluentes de refinaria de petróleo em reatores


com Aspergillus niger. Embrapa Agroindústria Tropical-Artigo em periódico indexado (ALICE),
2009.

SANTOS, C. H. Análise espectroscópica da matéria orgânica de solos sob aplicação de águas


residuárias. 2008. 165f. Dissertação (Mestrado em Química Analítica) - Universidade de São
Paulo, Instituto de Química de São Carlos, SP, 2008.

SILVA, N. A. Biodegradação dos pesticidas clorpirifós, metil paration e profenofós por fungos de origem
marinha. Dissertação (mestrado) – Universidade de São Paulo, São Carlos, 2013.

SPIER, M. R. Produção de Enzimas Amilolíticas Fúngicas α-Amilase e Amiloglucosidade por


Fermentação no Estado Sólido. 2005. 178f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de alimentos)
- Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.

PEREIRA, J. A. R. Geração de resíduos industriais e controle ambiental. Centro Tecnológico da


Universidade Federal do Pará. Pará, 2002.

TELLES.D.A; COSTA.R.H.P.G. (Cord). Reúso da água conceitos, teorias e práticas, São Paulo:
Editora Blucher, 4° edição, 2010.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 139


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

EMERGÊNCIA E CRESCIMENTO INICIAL DE PLÂNTULAS DE Dimorphandra


gardneriana Tulasne EM SUBSTRATOS CONTENDO REJEITO DE CAULIM3

Tassio Rogério Borja CAMPOS


Graduando do curso de Agronomia do CCA/UFPB
tassioborja@hotmail.com
Flávio Ricardo da Silva CRUZ
Doutorando do programa de Pós-Graduação em Agronomia, CCA/UFPB
flricardocruz@hotmail.com
Rosemere dos Santos SILVA
Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Agronomia, CCA/UFPB
rosyufpbio@hotmail.com
Marina Matias URSULINO
Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Agronomia, CCA/UFPB
marinamatiasu@gmail.com

RESUMO
A espécie Dimorphandra gardneriana Tulasne é uma Fabaceae de importância ambiental e
econômica, por isso vem sendo alvo da exploração desordenada, de forma que são imprescindíveis
estudos que visem à obtenção de plantas da espécie. O objetivo neste trabalho foi avaliar a
influência de substratos contendo rejeito de caulim sobre a emergência e o crescimento de plântulas
de D. gardneriana. O experimento foi conduzido em casa de vegetação pertencente ao Laboratório
de Análise de Sementes, do Centro de Ciências Agrárias (CCA), da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), em Areia-PB, Brasil, em delineamento inteiramente ao acaso. Os tratamentos
consistiram de diferentes substratos formulados a partir da mistura de terra de subsolo, areia lavada
e rejeito de caulim, em quantidades que variaram de 25 a 100%. Para a comparação do efeito dos
diferentes substratos avaliou-se as seguintes variáveis: porcentagem e primeira contagem de
emergência, assim como, comprimento de raízes e parte aérea das plântulas. O rejeito de caulim
incorporado tanto à areia quanto à terra de subsolo proporciona aumento na porcentagem de
emergência de plântulas de D. Gardneriana, independente da concentração utilizada.
Palavras-chave: Fava d‘anta, Espécie florestal, Vigor, Mudas.

ABSTRACT
The species Dimorphandra gardneriana Tulasne is a Fabaceae of environmental and economic
importance, so it has been the target of the disordered exploration, so that studies are essential to
obtain the plants of the species. The objective of this work was to evaluate the influence of
substrates containing kaolin reef on emergence and growth of D. gardneriana seedlings. The
experiment was conducted in a greenhouse belonging to the Laboratory of Seed Analysis of the
Agricultural Sciences Center (CCA), Federal University of Paraíba (UFPB), in Areia-PB, Brazil, in
a completely randomized design. The treatments consisted of different substrates formulated from
the mixture of subsoil soil, washed sand and kaolin waste, in amounts ranging from 25 to 100%. In
order to compare the effect of the different substrates, the following variables were evaluated:
percentage and first count of emergence, as well as length of roots and aerial part of the seedlings.

3
Orientadora: Edna Ursulino Alves Engenheira Agrônoma, Dra., Professora Associada, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, ursulinoalves@hotmail.com

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 140


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

The kaolin retention incorporated into both the sand and the subsurface soil provides an increase in
the emergence percentage of D. Gardneriana seedlings, regardless of the concentration used.
Keywords: Fava d‘anta, Forest species, Vigor, Seedlings.

INTRODUÇÃO

O Brasil destaca-se no cenário mundial como o detentor de uma flora arbórea bastante
diversificada, entretanto, a escassez de diretrizes técnicas e a falta de conscientização do uso
racional desse recurso tem ocasionado graves prejuízos ao meio ambiente (CHAVES e USBERTI,
2003). A exploração dos recursos naturais, a exemplo das espécies arbóreas para uso da madeira,
destinação de novas áreas à agropecuária intensiva e avanço dos grandes centros urbanos têm
ocasionado à fragmentação dos ambientes atingidos, reduzindo as florestas nativas a pequenas
porções em relação às suas áreas originais (ANDRADE et al., 2007; REGO et al., 2009).
A espécie Dimorphandra gardneriana Tul., popularmente conhecida como fava d‘anta,
faveiro, entre outros nomes populares é uma Fabaceae, da subfamília Caesalpinioideae (LEWIS et
al., 2005), com ampla ocorrência no Brasil, estando distribuída nos Estados do Piauí, Minas Gerais
e Ceará, podendo ser encontrada em formações primárias e secundárias (LORENZI, 2002). Os seus
frutos são comumente utilizados para a extração da rutina, flavonóide empregado na indústria
farmacêutica (RIBEIRO-SILVA et al., 2012), mas devido ao modelo extrativista de exploração da
espécie, atualmente populações naturais estão cada vez menores (LANDIM e COSTA, 2012),
tornando-se necessários estudos que viabilizem a obtenção de plantas de forma rápida e com
qualidade, de modo que possam ser utilizadas para exploração comercial e recuperação de áreas
degradadas.
A obtenção de mudas é uma atividade fundamental no processo produtivo do setor florestal,
principalmente devido a crescente demanda por espécies arbóreas nativas para fins comerciais e
conservacionistas (DUTRA et al., 2012), uma vez que a produção de mudas está relacionada com o
conhecimento do comportamento germinativo das sementes e também dos substratos ideais para
obtenção de plântulas (ALVES et al., 2011), entretanto, essa produção tem uma série de
dificuldades devido a vários fatores podem comprometê-la (SILVA et al., 2011b).
A escolha do substrato adequado para o crescimento inicial de plantas é de grande
importância, sendo imprescindíveis estudos que permitam verificar quais substratos ou combinação
desses proporcionam resultados satisfatórios, uma vez que as espécies podem ter comportamentos
distintos em função dos materiais utilizados na sua formulação (LAVIOLA et al., 2006). Na
produção de mudas, o substrato interfere diretamente na qualidade das plantas em função de
características físicas (estrutura, textura), químicas e biológicas (RODRIGUES et al., 2007; SILVA
et al., 2011a). Além disso, a disponibilidade de nutrientes, esterilidade, facilidade de aquisição,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 141


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

baixo custo, entre outros fatores são relevantes para o sucesso do sistema de produção de mudas de
espécies florestais (NOGUEIRA et al., 2003; WENDLING et al., 2006).
Um dos grandes problemas ocasionados pelo setor industrial, nas suas mais variadas linhas
de produção, está sendo a deposição de resíduos em locais impróprios, os quais não dispõem de
estrutura adequada, nem contam com a aplicação de procedimentos que garantam e certifiquem seu
manuseio correto, provocando alterações muitas vezes irreparáveis ao meio ambiente (ALVES et
al., 2012). A avaliação de substratos alternativos para a obtenção de mudas de espécies florestais
resulta em possibilidades de aproveitamento de resíduos industriais, aliando produção e manutenção
do equilíbrio ambiental (GUERRINI e TRIGUEIRO, 2004; BARROSO et al., 2009).
Nesse sentido, Maranho e Paiva (2011) destacaram a importância da utilização de resíduos
de diferentes origens para a produção de mudas de espécies florestais, por contribuir para a
diminuição do descarte dos mesmos em locais inapropriados. Ainda com relação aos resíduos
industriais, Rolim (2003) destacou o rejeito de caulim, que é oriundo da exploração industrial do
caulim, como um dos que mais agride o meio ambiente, por gerar impacto sobre o solo, ar e
mananciais hídricos. Com relação ao uso do referido resíduo para a obtenção de mudas de várias
espécies vegetais existem informações, entretanto não há registros da eficiência de seu uso para D.
gardineriana.
Diante do exposto, o objetivo neste trabalho foi avaliar a influência de substratos contendo
rejeito de caulim sobre a emergência e o crescimento inicial de plântulas de Dimorphandra
gardneriana Tul.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado na casa de vegetação pertencente ao Laboratório de Análise de


Sementes (LAS), do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientaisdo Centro de Ciências
Agrárias, (CCA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no município de Areia-PB. Durante o
período de condução da pesquisa, a temperatura média na casa de vegetação foi de 29,7 °C e a
umidade relativa do ar de 65%. Os frutos de D. gardneriana foram colhidos em diferentes árvores
matrizes localizadas nos municípios do Crato e Jardins, no Estado do Ceará e, após o
beneficiamento as sementes foram transportadas para o LAS onde foram acondicionadas em sacos
plásticos e armazenadas em câmara fria por sete meses, quando iniciou-se o experimento.
A antes da semeadura as sementes foram submetidas a tratamento pré-germinativo mediante
desponte (pequeno corte) com alicate no lado oposto ao hilo e, em seguida tratadas com o fungicida
Captan® na proporção de 240 g do produto para 100 kg de sementes. A semeadura foi realizada em
bandejas de polietileno (49 x 33 x 7 cm) seguindo um delineamento inteiramente ao acaso, sendo
avaliados diferentes substratos puros e em mistura (tratamentos), a saber: areia lavada (T1), terra de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 142


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

subsolo (T2), rejeito de caulim (T3), areia lavada + terra de subsolo na proporção de 1:1 ( T4), areia
+ rejeito de caulim na proporção de 1:1 (T5), areia + rejeito de caulim na proporção de 1:3 (T6),
areia + rejeito de caulim na proporção de 3:1 (T7), terra + rejeito de caulim na proporção de 1:1
(T8), terra + rejeito de caulim na proporção de 1:3 (T9) e terra + rejeito de caulim na proporção de
3:1 (T10).
Para verificar o efeito dos diferentes tratamentos foram avaliadas as seguintes variáveis:
primeira contagem de emergência - realizado concomitantemente com o teste de emergência, sendo
a contagem das plântulas normais realizadas aos 13 dias após a semeadura; emergência de plântulas
- foram utilizadas quatro repetições de 25 sementes, cuja semeadura foi a uma profundidade de 2
cm, com contagens das plântulas emergidas (cotilédones acima do substrato) realizadas aos 25 dias
após a semeadura, sendo os resultados expressos em porcentagem, com os resultados expressos em
porcentagem; comprimento de raízes e parte aérea das plântulas - após a contagem final do teste de
emergência, as raízes e parte aérea foram separadas e medidas com o auxílio de uma régua
graduada em milímetros, sendo os resultados expressos em centímetro por plântula (cm plântula-1).
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste F (p<0,05) e as médias
dos tratamentos comparadas pelo teste de agrupamento de Scott-Knott a 5% de probabilidade
através do software SISVAR (FERREIRA, 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pelos dados da Tabela 1 observa-se que houve efeito significativo pelo teste F para todas as
variáveis avaliadas, a 1% de probabilidade.

TABELA 1: Resumo da análise de variância referente à primeira contagem de emergência (PC),


porcentagem de emergência (E), comprimento de raiz (CR) e da parte aérea (CPA) de plântulas de D.
gardneriana em diferentes substratos.
FV GL Quadrados médios
PC E CR CPA

Trat. 9 1004,488** 305,600** 8,810195** 1,624908**


Erro 30 98,000 79,200 0,596401 0,165121
CV (%) - 28,53 13,73 17,21 7,50
ns
Valor de F não significativo a 5 e 1% de probabilidade; **Valor de F significativo a 1% de probabilidade;
* Valor de F significativo a 5% de probabilidade; Trat. = tratamento; FV = fonte de variação; GL = grau de
liberdade; e (CV%) = coeficiente de variação.

O maior vigor, determinado pela primeira contagem de emergência de plântulas de D.


gardneriana (Figura 1A) ocorreu no substrato rejeito de caulim (T3) e areia + rejeito de caulim 1:1
(T5), enquanto os substratos areia lavada (T1) e areia + rejeito de caulim 1:3 (T6) foram
responsáveis pelos maiores valores entre todos os substratos avaliados, cujas médias
corresponderam a 58 e 54%, respectivamente. A terra de subsolo quando utilizada pura (T2) e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 143


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

associada a areia ou ao rejeito de caulim, independentemente das concentrações utilizadas,


resultaram em baixo vigor.
Quanto ao uso da areia lavada de forma isolada, Alves et al. (2008) constataram que esse
material não proporcionaram os maiores valores de vigor na primeira contagem de emergência de
plântulas de Erythrina velutina Willd. Ao avaliar a influência de diferentes substratos na
germinação de sementes de Sinningia lineata (Hjelmq.) Chautems, Barroso et al. (2010) verificaram
que a mistura entre areia e resíduos de casca de arroz carbonizada na proporção de 1:1
proporcionaram elevada percentagem de germinação na primeira contagem, entretanto não foi o
melhor entre os tratamentos avaliados. Embora a areia seja um dos principais materiais utilizados
como substrato para obtenção de plântulas de espécies vegetais, Paulus et al. (2011) relataram que
muitas vezes é necessário que seja incorporado outros componentes visando melhorar suas
características físico-químicas.

FIGURA 1: Primeira contagem (A) e emergência de plântulas (B) de D. gardneriana oriundas de sementes
submetidas a diferentes substratos.

T1 - areia lavada, T2 - terra, T3 - rejeito de caulim, T4 - areia lavada + Terra 1:1, T5 - areia + rejeito de caulim
1:1, T6 - areia + rejeito de caulim 1:3, T7 - areia + rejeito de caulim 3:1, T8 - terra + rejeito de caulim 1:1, T9
- terra + rejeito de caulim 1:3, T10 - terra + rejeito de caulim 3:1.

Para a porcentagem de emergência de plântulas de D. gardneriana foram observados os


menores valores nos substratos terra de subsolo (T2) e areia + terra de subsolo 1:1 (T4), os quais
foram de 52 e 49%, respectivamente. No tratamento rejeito de caulim (T3) foi constatado 62% de
emergência de plântulas, não diferindo estatisticamente dos demais substratos, nos quais os valores
foram superiores a este (Figura 1B). Os resultados indicam que o rejeito de caulim pode ser
utilizado como componente de substratos para emergência de plântulas de Dimorphandra
gardneriana, proporcionando bons resultados com a incorporação de 25, 50 ou 75% desse material
à areia lavada ou à terra de subsolo.
Para a emergência de plântulas de espécies vegetais o substrato utilizado deve ter
características físicas que favorecem a aeração e retenção de umidade satisfatória para favorecer a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 144


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

germinação das sementes. Nesse aspecto, Andrade e Pereira (1994) ressaltaram que a capacidade de
retenção de água de cada substrato associado com suas características específicas que regulam o
fluxo de água para as sementes pode influenciar os resultados de emergência de plântulas das
espécies vegetais.
Embora o substrato areia (T1) tenha proporcionado resultados satisfatórios para as variáveis
relacionadas à emergência de plântulas de D. gardneriana, o mesmo não ocorreu para o
comprimento da raiz e parte aérea, cujo maior comprimento da raiz (7,06 cm plântula-1) foi
constatado no substrato areia lavada + rejeito de caulim 1:1 (T5), diferindo estatisticamente dos
demais tratamentos (Figura 2A). A utilização da terra de subsolo e rejeito de caulim de forma
isolada (T2 e T3, respectivamente) ou a associação entre ambos os materiais nos tratamentos T8
(terra + rejeito de caulim 1:1), T9 (terra + rejeito de caulim 1:3) e T10 (terra + rejeito de caulim 3:1)
resultaram nos menores valores para o comprimento da raiz, o que pode estar relacionado com as
características físico-químicas desses materiais.

FIGURA 2: Comprimento da raiz (A) e parte aérea (B) de plântulas de D. gardneriana oriundas de sementes
submetidas a diferentes substratos.

T1 - areia lavada, T2 - terra de subsolo, T3 - rejeito de caulim, T4 - areia lavada + Terra 1:1, T 5 - areia + rejeito de caulim
1:1, T6 - areia + rejeito de caulim 1:3, T7 - areia + rejeito de caulim 3:1, T 8 - terra + rejeito de caulim 1:1, T 9 - terra +
rejeito de caulim 1:3, T10 - terra + rejeito de caulim 3:1.

Os efeitos indesejáveis do caulim sobre o crescimento de plantas, a exemplo do


comprimento de raiz, pode está relacionado com a presença de metais como o Ferro (Fe), Alumínio
(Al), Zinco (Zn) e Cádmo (Cd) (SILVA et al., 2001). Embora a terra de subsolo seja um dos
substratos mais utilizados para a produção de mudas em viveiro, a mesma tem baixa disponibilidade
de nutrientes e, muitas vezes acidez elevada, proporcionando mudas com características
indesejáveis (TUCCI et al., 2009).
Ao avaliarem a aplicação de resíduos de algodão como componente de substratos para a
produção de mudas de espécies florestais, Caldeira et al. (2008) constataram que para mudas de
Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl. não houve diferença estatística para o comprimento
de raiz entre os cinco tratamentos (substratos) testados, sendo constatado o maior valor para a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 145


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

mistura de 25% algodão compostado + 25% casca de arroz carbonizada + 25% argila + 25% esterco
bovino.
Para o comprimento da parte aérea (Figura 2B) os substratos areia lavada (T1) e areia +
rejeito de caulim 1:1 (T5) resultaram nos menores valores (4,38 e 4,6 cm plântula-1,
respectivamente), enquanto a mistura terra e areia na proporção 1:1 (T4) foi responsável pelo maior
valor da variável em questão (6,39 cm plântula-1), o qual não diferiu estatisticamente dos valores
obtidos com a incorporação de 75 e 25% de rejeito de caulim à areia lavada (T6 e T7,
respectivamente) e de 75% à terra de subsolo (T9).
O substrato formulado a partir de resíduos da casca de arroz carbonizada e fibra de coco na
proporção de 1:1 promoveu maiores comprimentos da parte aérea de mudas de Eucalyptus
urophylla S.T. Blake e Eucalyptus grandis Hill ex Mainden (SILVA et al., 2012). A incorporação
de 10% de resíduo de pó de fumo ao substrato padrão (50% de terra de subsolo + 30% casca de
arroz + 10% composto de aves + 10% composto bovino) + NPK resultou em maior comprimento da
parte aérea de plantas de Citharexylum myrianthum Cham (FENILLI; SCHORN; NASATO, 2010).
A maior altura de mudas de Capsicum sp. e Celosia cristata L. foi verificado quando o
substrato foi à base de composto de lodo de curtume mais 10% de vermiculita (SILVA et al.,
2011b), enquanto o resíduo de mineração de areia, por sua vez, foi eficiente como componente de
substrato para produção de mudas de Bactris gasipaes Kunth, sendo responsável pelos maiores
comprimentos da haste quando combinado com a casca de arroz carbonizada na proporção de 1:3
(GARCIA et al., 2011).
A utilização de resíduos industriais como componente de substratos além de ser uma
alternativa para obtenção de maiores incrementos de qualidade nas mudas produzidas, a exemplo de
um satisfatório comprimento da parte aérea, é uma alternativa para o uso racional desses materiais e
consequente diminuição dos impactos causados por esses resíduos ao meio ambiente.

CONCLUSÃO

A incorporação de 25 ou 75% de rejeito de caulim à areia e de 50% à terra de subsolo


favorece a emergência de plântulas de Dimorphandra gardneriana;
O substrato areia + rejeito de caulim 3:1 favorece o crescimento da parte aérea, sendo
indicado para obtenção de plântulas de Dipmorphandra gardneriana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, A.S.; LIMA, V.L.A.; FARIAS, M.S.S.; FIRMINO, M.C.; MEDEIROS, S.S. Desempenho
germinativo de sementes de leucena: avaliação de substratos e lâminas de água. Irriga,
Botucatu, Edição Especial, p.105-119, 2012.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 146


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ALVES, E.U; ANDRADE, L.A.; BRUNO, R.L.A.; VIEIRA, R.M.; CARDOSO, E.A. Emergência
e crescimento inicial de plântulas de Peltophorum dubium (Spreng.) Taubert sob diferentes
substratos. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v.42, n.2, p.439-447, 2011.

ANDRADE, A.C.S.; PEREIRA, T.S. Efeito do substrato e da temperatura na germinação e no


vigor de sementes de cedro - Cedrela odorata L. (Meliaceae). Revista Brasileira de Sementes,
Brasília, v.16, n.1, p.34-40, 1994.

BARROSO, C.M.; FRANKE, L.B.; BARROS, I.B.I. Substrato e luz na germinação das sementes
de rainha-do-abismo. Horticultura Brasileira, Brasília, v.28, n.2, p.236-240, 2010.

BARROSO, R.A.; VALE, A.T.; XAVIER, L.F. Consumo de biomassa energética e produção de
resíduos de madeira no Distrito Federal. Revista Científica Eletrônica de Engenharia Florestal,
Garça, ano 8, n.13, p.13-25, 2009.

CALDEIRA, M.V.W.; BLUMB, H.; BALBINOTC, R.; LOMBARDID, K.C. Uso do resíduo de
algodão no substrato para produção de mudas florestais. Revista Acadêmica: Ciências Agrárias
e Ambientais, Curitiba, v.6, n.2, p.191-202, 2008.

CHAVES, M.M.F.; USBERTI, R. Previsão da longevidade de sementes de faveiro (Dimorphandra


mollis Benth.). Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v.26, n.4, p.557-564, 2003.

DUTRA, T.R.; MASSAD, M.D.; SARMENTO, M.F.Q.; OLIVEIRA, J.C.O. Emergência e


crescimento inicial da canafístula em diferentes substratos e métodos de superação de
dormência. Revista Caatinga, Mossoró, v.25, n.2, p.65-71, 2012.

FERREIRA, D.F. Sisvar: Versão 5.1 (Build 72). DEX/UFLA. 2007.

GARCIA, V.A.; MODOLO, V.A.; LAGÔA, A.M.M.A.; NOMURA, E.S.; SÁES, L.A.
Características do resíduo de mineração de areia como componente de substratos para a
produção de mudas de pupunheira (Bactris gasipaes Kunth). Revista Árvore, Viçosa, v.35, n.3,
p.595-604, 2011.

GUERRINI, I.A.; TRIGUEIRO, R.M. Atributos físicos e químicos de substratos compostos por
biossólidos e casca de arroz carbonizada. Revista Brasileira de Ciências do Solo, Viçosa, v.28,
n.6, p.1069-1076, 2004.

LANDIM, L.; COSTA, J.G.M. Dimorphandra gardneriana Tulasne (Fava d‘anta) - uma
abordagem etnobotânica e riscos de extinção. Revista da Biologia, São Paulo, v.9, n.1, p.1-6,
2012.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 147


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

LAVIOLA, B.G.; LIMA, P.A.; WAGNER JÚNIOR, A.; MAURI, A.L.; VIANA, R.S.; LOPES,
J.C. Efeitos de diferentes substratos na germinação e no desenvolvimento inicial de jiloeiro
(Solanum gilo Raddi), cultivar verde claro. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.30, n.3, p.415-
421, 2006.

LEWIS, G.; SCHRIRE, B.; MACKINDER, B.; LOCK, M. 2005. Legumes of the world. Kew,
Richmond, Royal Botanic Gardens.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas


do Brasil. 4.ed. Nova Odessa: Plantarum, v.1, 2002. 368p.

MARANHO, A.S.; PAIVA, A.V. Emergência de plântulas de supiarana (Alchornea discolor


Poepp.) em substrato composto por diferentes porcentagens de resíduo orgânico de açaí.
REVSBAU, Piracicaba, v.6, n.1, p.85-98, 2011.

NOGUEIRA, R.J.M.C.; ALBUQUERQUE, M.B.; SILVA JUNIOR, J.F. Efeito do substrato na


emergência, crescimento e comportamento estomático em plântulas de mangabeira. Revista
Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.25, n.1, p.15-18, 2003.

PAULUS, D.; VALMORBIDA, R.; TOFFOLI, E.; PAULUS, E.; GARLET, T.M.B. Avaliação de
substratos orgânicos na produção de mudas de hortelã (Mentha gracilis R. Br. e Mentha x
villosa Huds.). Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v.13, n.1, p.90-97, 2011.
REGO, S.S.; NOGUEIRA, A.C.; KUNIYOSHI, Y.S.; SANTOS, A.F. Germinação de sementes
de Blepharocalyx salicifolius (H.B.K.) Berg. em diferentes substratos e condições de
temperaturas, luz e umidade. Revista Brasileira de Sementes, Londrina, v.31, n.2, p.2012-220,
2009.

RIBEIRO-SILVA, S.; SCARIOT, A.; MEDEIROS, M.B. Uso e práticas de manejo de faveira
(Dimorphandra gardneriana Tul.) na região da chapada do araripe, Ceará: implicações
ecológicas e sócio-econômicas. Biodiversidade Brasileira, v.2, n.2, p.65-73, 2012.

RODRIGUES, A.C.C.; OSUNA, J.T.A.; QUEIROZ, S.R.O.D.; RIOS, A.P.S. Efeito do substrato e
luminosidade na germinação de Anadenanthera colubrina (Fabaceae, Mimosoideae). Revista
Árvore, Viçosa, v.31, n.2, p.187-193, 2007.

ROLIM, H. O. Potencial de uso agrícola do rejeito de caulim. 2003. 100f. il. Dissertação (Mestrado
em Manejo de Solo e Água) - Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias,
Areia, PB.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 148


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SILVA, A. C., VIDAL, M., PEREIRA, M.G. Impactos ambientais causados pela mineração e
beneficiamento de caulim. Revista Escola Minas, Ouro Preto, v.54, n.2, p.133-136, 2001.

SILVA, E.A.; OLIVEIRA, A.C.; MENDONÇA, V., SOARES, F.M. Substratos na produção de
mudas de mangabeira em tubetes. Pesquisa Agropecuária Tropical, Goiânia, v.41, n.2, p.279-
285, 2011a.
SILVA, L.G.; COSMI F.C.; JESUS JUNIOR W.C.; SOUZA, A.F.; MORAES, W.B. Efeito do
tratamento químico na sanidade de sementes de espécies florestais. Ciência Florestal, Santa
Maria, v.21, n.3, p.473-478, 2011b.

SILVA, R.B.G.; SIMÕES, D.; SILVA, M.R. Qualidade de mudas clonais de Eucalyptus urophylla
x E. grandis em função do substrato. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental,
Campina Grande, v.16, n.3, p.297-302, 2012.
TUCCI, C.A.F.; LIMA, H.N.; LESSA, J.F. Adubação nitrogenada na produção de mudas de
mogno (Swietenia macrophylla King). Acta Amazonica, Manaus, v.39, n.2, p.289-294, 2009.

WENDLING, I.; GUASTALA, D.; DOMINGOS, D.M. Substratos para produção de mudas de
erva-mate em tubetes plásticos. Boletim de Pesquisa Florestal, Colombo, n.52, p.21-36, 2006.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 149


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

AÇÃO ALELOPÁTICA DO EXTRATO DE Copaifera langsdorfii DESF. (FABACEAE)


SOBRE SEMENTES E PLÂNTULAS DE Calotropis procera (AITON) W. T. AITON
(APOCYNACEAE)

Viviane Bezerra da SILVA


Graduanda do curso de Ciências Biológicas da URCA
viviane_silvabezerra@hotmail.com

Allana Silva RODRIGUES


Graduanda do curso de Ciências Biológicas da URCA
allanarodrigues048@gmail.com

José Fábio de Oliveira SOUSA


Graduando do curso de Ciências Biológicas da URCA
fabiosouzabio@hotmail.com

Maria Arlene Pessoa da SILVA


Professora Doutora em Agronomia/Fitotecnia (UFC) da URCA
arlene.pessoa@urca.br

RESUMO
A alelopatia é a capacidade que um vegetal possui em interferir de forma positiva ou negativa no
desenvolvimento e/ou germinação de outro através da liberação de metabólicos secundários no
ambiente. Com o presente estudo objetivou-se identificar a ação alelopática do extrato por infusão
(EI) das folhas de Copaifera langsdorfii Desf. nas concentrações de 25, 50, 75 e 100% na
germinação e desenvolvimento de Calotropis procera (Aiton) W. T. Aiton (papai Noel). O extrato
da espécie doadora não afetou a germinação das sementes da espécie receptora em nenhuma das
concentrações testadas. Ao passo em que o Índice de Velocidade de Germinação foi inibido nas
concentrações de 25 e 100%. Quanto ao desenvolvimento das plântulas, caulículos e radículas,
apresentaram redução no comprimento em todas as concentrações testadas. Tais resultados sugerem
a ocorrência de um aleloquímico que atuando isoladamente ou em associação com outros seja
responsável por tais efeitos. Tal resultado sugere que C. langsdorfii pode vir a ser utilizada como
bioherbicida.
Palavras-chave: Germinação, Aleloquímicos e Bioherbicida.

ABSTRACT
An allelopathy is the ability of a plant to interfere positively or negatively without development and
/or germination of another through the release of secondary metabolites into the environment. The
present study aimed to identify the allelopathic action of extract by infusion (EI) of the leaves of
Copaifera langsdorfii Desf. At concentrations of 25, 50, 75 and 100% in the germination and
development of Calotropis procera (Aiton) W. T. Aiton (Santa Claus). The donor species extract did
not affect the germination of the seeds of the recipient species in any of the tested concentrations.
At the same time as the Rate of Germination Speed for Inhibited at Concentrations of 25 and 100%.
Regarding the development of the seedlings, caulículos and radicles, presented reduction in all
concentrations tested. Such results suggest the occurrence of allelochemical that acting alone or in
association with others is responsible for such effects. This result suggests that C. langsdorfii can be
used as a bioherbicide.
Keywords: Germination, Allelochemicals and Bioherbicide.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 150


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

Espécies invasoras podem acarretar em prejuízo incalculável não somente no que diz
respeito ao problema que causam as lavouras, mas também aos ambientes naturais. Como forma de
evitar tal situação nas últimas décadas pesquisadores têm considerado o uso de determinadas
substâncias advindas dos vegetais. A alelopatia é a capacidade que uma planta apresenta de
interferir sobre a germinação e/ou desenvolvimento de outra, através da liberação de substâncias
(aleloquímicos) produzidas a partir do metabolismo secundário (FERREIRA & ÁQUILA, 2000).
A liberação de tais substâncias no ambiente pode ocorrer de forma direta ou indireta; através
da volatilização, lixiviação, exsudação das raízes ou decomposição (ALVES et al., 2004). Tendo
por efeito a inibição, estímulo e/ou danos ao entrarem em contato com algum ser vivo (FERREIRA
& ÁQUILA, 2000).
Na natureza as diversas espécies vegetais produzem aleloquímicos como forma de defesa.
Quando um ambiente está em equilíbrio as espécies nele presentes atuam umas sobre as outras de
forma a não romper tal situação, entretanto se ocorre alguma alteração e uma espécie passa a
proliferar de forma indiscriminada pode ocorrer um total desequilíbrio colocando em risco o estado
original do ambiente. Copaifera langsdorfii Desf. (Fabaceae) popularmente conhecida como pau-
d‘óleo é uma espécie de grande porte encontrada em áreas de cerrado, matas de galeria, matas secas
e cerradões (RIBEIRO et al., 2001; ALMEIDA et al., 1998) com potencial alelopático (SANTANA
et al., 2006).
Pesquisas voltadas para análise da ação dos compostos do metabolismo secundário têm
aumentado muito nas últimas décadas como uma estratégia, na busca por um bioherbicida para o
controle de ervas daninhas (ALVES et al., 2003). Visto que o uso dos mesmos pode ser mais
específico em sua ação e menos prejudicial ao meio ambiente comparado com os herbicidas
sintéticos (BORELLA & PASTORINI, 2009).
Em vista do exposto, com o presente estudo objetivou-se identificar a influência do Extrato
por Infusão (EI) das folhas frescas de Copaifera langsdorfii sobre a germinação das sementes e o
desenvolvimento de plântulas de Calotropis procera (Aiton) W. T. Aiton (Apocynaceae), conhecida
invasora de pastagens.

MATERIAL E MÉTODOS

A coleta do material botânico foi realizada em uma área de cerrado da Chapada do Araripe
nas proximidades da estrada Crato-CE/ Exu-PE. O material coletado foi conduzido ao Laboratório
de Botânica Aplicada (LBA) da Universidade Regional do Cariri, em dezembro de 2016.
Para a obtenção do Extrato por Infusão (EI) foram utilizadas 30 g de folhas frescas de C.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 151


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

langsdorffii imersas em 1 L de água destilada a 100°C durante uma hora em recipiente


hermeticamente fechado até completo resfriamento. Após esse período o extrato foi filtrado com
auxílio de funil de vidro e algodão, sendo o mesmo considerado como extrato bruto (100%), a partir
do qual foram feitas as diluições para obtenção das concentrações: 25, 50, 75%. O controle (0%)
conteve somente de água destilada.
Cada tratamento constou de cinco repetições de 20 sementes de C. procera, totalizando 100
sementes. Os experimentos foram conduzidos em placas de Petri devidamente esterilizadas
contendo duas folhas de papel germitest, onde foram dispostas as sementes de papai Noel. Em cada
placa foi adicionado 3 mL de cada concentração de ambos os extratos, e o controle foi umedecido
com 3mL de água destilada, as placas foram vedadas com papel filme e posteriormente
acondicionadas em câmara de germinação tipo BOD a 25ºC com fotoperíodo de 12 horas durante 7
dias.
A avaliação do efeito alelopático da espécie foi realizada através da contagem do número de
sementes germinadas. Foram consideradas germinadas as sementes cujas radículas atingiram 2 mm
de comprimento.
O índice de velocidade de germinação (IVG) foi avaliado a cada 24 horas, sendo calculado
através do somatório da razão entre o número de sementes germinadas no dia i (ni) e o número de
dias (i) (FERNANDES et al., 2007) através da seguinte fórmula:

Onde:
i: n° de dias.
ni: n° de sementes germinadas no dia i.
A medição do comprimento da radícula e do caulículo foi realizada ao final de sete dias com
auxílio de régua milimetrada.
A análise estatística dos dados foi feita através do programa ASSISTAT versão 7.7 beta,
com análise de variância (ANOVA) e comparação das médias pelo Teste de Tukey a 1 e 5% de
probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O extrato das folhas de C. langsdorffii não interferiu na germinação de C. procera, contudo


atuou reduzindo o Índice de Velocidade de Germinação (IVG) das sementes, bem como, o
desenvolvimento do caulículo e da radícula das plântulas quando comparadas ao controle (Tab. 1).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 152


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 1: Efeito de diferentes concentrações do extrato por infusão das folhas frescas de C. langsdorffii
em diferentes concentrações sobre a germinação (G), Índice de Velocidade de germinação (IVG),
comprimento do caulículo (C.C) e da radícula (C.R) de plântulas de C. procera.
Extrato por Infusão
Tratamentos G IVG (plant./dia) C.C (cm) C. R. (cm)
Controle 11.2 a ns 3.44 a * 0. 816 a * 1.980 a **
25 % 1.8 a 2.04 b 0.700 ab 1.208 b
50 % 12.4 a 3.28 a 0.468 b 1.088 b
75 % 11.4 a 3.32 a 0.700 ab 1.224 b
100 % 10.4 a 2.00 b 0.512 ab 1.228 b
CV % 21.87 27.16 28.67 23.23
(**) Significância ao nível de 1% de probabilidade (p ˂ 0.01); (*) Significância ao nível de 5% de probabilidade (0.01
≤ p ˂ 0.05); (ns) Não significância (p ≥ 0.05); (CV%) coeficiente de variação em porcentagem. Letras iguais não
diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

O Extrato de C. langsdorffii não interferiu na germinação das sementes de C. procera (Fig.


1). Para alguns autores a germinação é menos sensível aos aleloquímicos em relação a outros
parâmetros a exemplo do desenvolvimento da plântula (FERREIRA & ÁQUILA, 2000).
As sementes de C. procera submetidas ao extrato apresentaram inibição no IVG nas
concentrações de 25 e 100%, nos demais tratamentos as médias não diferiram estatisticamente em
relação ao controle (Fig. 1). Franco (2013) observou que tal fato pode se dever a ação de
aleloquímicos que atuam afetando os mecanismos de alongamento e divisão celular.

Figura 1- Média de sementes germinadas e Índice de Velocidade de Germinação de sementes de C.


procera submetidas ao EI das folhas de C. langsdorffii em diferentes concentrações (%).

Letras iguais não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade

O desenvolvimento do caulículo das plântulas de papai Noel foi inibido em todas as


concentrações testadas, sendo o efeito mais expressivo nas concentrações de 50 e 100% (Fig. 2).
Tais resultados assemelham-se aos de Gurgel (2009), em sua pesquisa sobre a ação alelopática de
três espécies do gênero Copaifera, ocasião em que observou inibição no desenvolvimento do
caulículo das plântulas de Mimosa pudica L. (malícia) submetidas aos extratos acima de 69% de
concentração.
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 153
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O EI da espécie inibiu o desenvolvimento da radícula de papai Noel, com todas as médias


dos tratamentos diferindo estatisticamente do controle (Fig. 2). Esses resultados diferem dos
encontrados por Linhares Neto et al. (2014), o qual observou que o extrato do caule de Copaifera
sabulicola J. Costa & L.P. Queiroz em diversas concentrações promoveram um aumento médio de
34% no comprimento radicular em relação ao controle.

Figura 2: Comprimento do Caulículo e da Radícula de C. procera submetidas a diferentes concentrações


(%) do EI das folhas de C. langsdorffii.

Letras iguais não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade

Tais resultados mostram um efeito alelopático inibitório da espécie testada, uma vez que o
extrato nas diversas concentrações atuou inibindo o desenvolvimento de C. procera.

CONCLUSÃO

A atividade alelopática do Extrato por Infusão de C. langsdorffii sobre o Índice de


Velocidade de Germinação das sementes e desenvolvimento das plântulas de C. procera pode ser
atribuída a ação de um aleloquímico atuando isoladamente ou em associação com outros. Tal fato
sugere a necessidade da intensificação de pesquisas com o intuito de isolar e identificar os
compostos responsáveis pelo efeito observado com vistas a uma utilização futura como
bioherbicida.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, S.P.; PROENÇA, C.E.B; SANO, S. M.; RIBEIRO, J.F. Cerrado: espécies vegetais
úteis. Planaltina, DF: Embrapa, 464p. 1998.

ALVES, C.C.F.; ALVES, J.M.; SILVA, T.M.S.; CARVALHO, M.G.; NETO, J.J. Atividade

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 154


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

alelopática de alcalóides glicosilados de Solanum crinitum Lam. Floresta e Ambiente, v.10, n.1,
p.93-97, 2003.

ALVES, M. C. S.; MEDEIROS FILHO, S.; INNECO, R.; TORRES, S. B. Alelopatia de extratos
voláteis na germinação de sementes e no comprimento da raiz de alface. Pesquisa Agropecuária
Brasileira, v.39, p.1083-1086, 2004.

BORELLA J., PASTORINI L.H. Influência alelopática de Phytolacca dioica L. na germinação e


crescimento inicial de tomate e picão-preto. Revista Biotemas, v.22, n.3, p.67-75, 2009.

FERNANDES, L.A.V.; MIRANDA, D.L.C.; SANQUETTA, C.R. Potencial alelopático de


Merostachys multiramea Hackel sobre a germinação de Araucaria angustifolia (Bert.) Kuntze.
Acadêmica: Ciências Agrárias e Ambientais, v. 5, n. 2, 2007, p. 139-146.

FERREIRA, A.G.; ÁQUILA, M.E.A. Alelopatia: Uma área emergente da ecofisiologia. Revista
Brasileira de Fisiologia Vegetal, v.12, p.175-204, 2000.

FRANCO, D.M. Atividade alelopática de Copaifera langsdorffii Desf.: Abordagem fitoquímica e


molecular. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
Instituto de Biociências de Botucatu. p.84p. 2013.

GURGEL, E.S.C. Morfoanatomia, perfil químico e atividade alelopática de três espécies de


Copaifera L. (Leguminosae Caesalpinioideae). Tese de Doutorado. Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia, Universidade Federal do Amazonas, Manaus. 2009, 107p.

LINHARES NETO, M.V.; SANTANA, F.S.; MALHEIROS, R.S.P.; MACHADO, L.L.; MAPELI,
A.M. Avaliação alelopática de extratos etanólicos de Copaifera sabulicola sobre o
desenvolvimento inicial de Lactuca sativa, Lycopersicum esculentum e Zea mays. Biotemas,
v.27, n.3, p.23-32, 2014.

RIBEIRO, J.F.; FONSECA, C.E.L. da; SOUSA-SILVA, J. C. (Ed.). Cerrado: caracterização e


recuperação de matas de galeria. Planaltina: Embrapa Cerrados, 2001. p.815-870.

SANTANA, D.G.; RANAL, M.A.; MUSTAFA, P.C.Y.; SILVA, R.M.G. Germination


measurements to evaluate allelopathic interactions. Allelopathy Journal, v.17, p.43-52, 2006.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 155


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ROTEIRO DO DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA DE AQUECIMENTO SOLAR


DE ÁGUA – PARTE 1

Rafaela Ramos BARBOSA


Graduanda do Curso de Engenharia de Energias Renováveis da UFPB
rafaela.barbosa@cear.ufpb.br

Monica CARVALHO
Professora do Departamento de Engenharia de Energias Renováveis da UFPB
monica@cear.ufpb.br

RESUMO
O artigo traz a apresentação de um roteiro de dimensionamento de um Sistema de Aquecimento
Solar com foco em aplicações industriais. Trata-se de um roteiro claro e direto que foi elaborado
com base em referências bibliográficas consistentes e que tem como objetivo facilitar o
dimensionamento correto de sistemas de aquecimento solar de água para aplicações não
residenciais, uma vez que na literatura a grande maioria dos trabalhos encontrados nesse âmbito
foram realizados para perfis de consumo residencial. Neste artigo é destacada a importância da
consideração das condições climáticas ao longo do ano, bem como a relevância de se utilizar dados
confiáveis de radiação solar e o potencial deste tipo de aplicação no Brasil para a diversificação da
matriz energética brasileira e racionalização dos recursos energéticos com a contribuição da energia
solar.
Palavras Chaves: Roteiro, Aquecimento de Água, Energia Solar.
ABSTRACT
The article presents a presentation of a sizing guide for a Solar Heating System focused on
industrial applications. This is a clear and direct script that was prepared based on consistent
bibliographical references and whose objective is to facilitate the correct sizing of solar water
heating systems for non-residential applications, since in the literature the great majority misses in
general then, they were made for residential consumption profiles. This article highlights the
importance of consideration of climatic conditions throughout the year, as well as a relevance of the
reliable data of solar radiation and potential of this type of application in Brazil for a diversification
of the Brazilian energy matrix and rationalization of resources with the contribution of solar energy.
Key Words: Script, Water Heating, Solar Energy.

INTRODUÇÃO

As energias renováveis se apresentam como uma alternativa aos convencionais sistemas


geradores de energia. A localização geográfica do Brasil o torna um dos países com maior potencial
de exploração em energias renováveis, com destaque em algumas regiões para a energia solar
(BRASIL, 2008).
O setor industrial brasileiro é responsável por cerca de um terço de toda a demanda
energética nacional (BRASIL, 2014). Grande parte daquela energia é direcionada para os processos
industriais, seja na utilização de energia elétrica como também na geração de energia térmica,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 156


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

também chamado calor de processo. Em grande parte dos processos industriais são necessárias
temperaturas entre 60 a 250°C (SILVA, 2014). Por meio da utilização de tecnologias já bem
consolidadas, coletores e concentradores solares, é possível atingir esses níveis de temperaturas
através do uso da energia solar.
Os sistemas solares térmicos industriais são capazes de suprir total ou parcialmente demanda
de calor dependendo das condições estabelecidas no projeto. O primeiro passo para estabelecer tais
condições é a determinação das temperaturas necessárias seguido da determinação da localização da
instalação, analise das condições climáticas local, área para instalação do sistema, investimento
disponível e escolha da tecnologia (EUROPEAN COMMISSION, 2001).
Para que os sistemas de energia solar apresentem funcionamento adequado e eficiente é
necessário que alguns critérios sejam estabelecidos, portanto, o presente trabalho tem o objetivo de
descrever os métodos utilizados para o desenvolvimento de um Sistema de Aquecimento solar
(SAS), assim como a escolha dos dados de radiação solar empregados considerando o perfil da
demanda de água quente, sua aplicação e as condições climáticas em que o SAS será submetido.

MATERIAIS E METÓDOS

A partir dos elementos mínimos necessários exigidos pela ANBT e utilizando o roteiro
proposto pela ABRAVA (2008), exposto na Figura 1, como um direcionador, a seguir apresenta-se
a metodologia proposta para o projeto e para análise da viabilidade técnica da implantação de um
SAS de água para processos industriais, bem como, as ferramentas necessárias para sua execução.

Figura 1 – Roteiro para execução de projeto de um SAS.

LEVANTAMENTO DE DADOS

Para o desenvolvimento do trabalho e exemplificação da metodologia recomendada será


considerada operfil de consumo de água quente em uma indústriatêxtil, localizada em João Pessoa,
Paraíba, que opera durante 24 horas diárias, com pausas programadas apenas por 24 horas a cada
um mês para manutenção preventiva dos equipamentos e por um período de recesso de 15 dias entre

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 157


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

os meses de dezembro e janeiro, sendo a parada de 7 e 8 dias, respectivamente. A empresa


apresenta uma demanda mensal de água quente, com temperaturas entre 50 a 60ºC, variando entre
aproximadamente 230 a 300 m³/mês (cerca de 10 m³/dia), o que equivale a uma vazão de consumo
de aproximadamente 0,12 kg/s.
O comportamento é pouco variável ao longo dos meses, o que implicará em uma demanda
de energia para aquecimento da água com comportamento similar. No entanto, para determinar com
melhor precisão a energia útil necessária para atingir as condições necessárias de toda a demanda de
água do processo é necessário o conhecimento das condições climáticas do local durante todo o ano.
Na Tabela 1 estão apresentados os dados encontrados no Climaticus 4.2 para a cidade de
João Pessoa.
Tabela 1- Dados médios mensais para a cidade de João Pessoa

Média
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Anual
Temp. Média
25,8 25,2 28,2 25,5 27 26,2 23,7 25,4 27,5 27,7 27 24,1 26,1
(ºC)
Temp. Máx.
31,8 30,5 30 29,8 29,6 28,3 26,3 27,8 28,3 29,3 29,7 30 29,3
(ºC)
Temp. Mín.
22,8 22,6 21,2 22,9 22,2 21,8 20,3 21,7 18,9 23,3 23,2 23 21,9
(ºC)
Umidade
75 75 81 79 81 81 87 75 67 73 74 74 76,8
Relativa (%)
Nebulosidade
5,6 5,8 6,1 6 6,2 6,1 6 5,2 5,7 5,1 5,4 5,3 5,7
(0-10)
Insolação Total
244 219 209 182 194 181 149 212 235 266,2 273 229 216,1
(horas)
Velocidade do
2,50 2,50 2,50 2,50 2,50 2,50 2,50 2,50 3,00 2,50 2,50 2,00 2,50
vento (m/s)

FONTE: (ALUCCI, 2011).

O próximo passo consiste da estimativa da energia solar disponível. Existem softwares e


planilhas de cálculo disponíveis gratuitamente na internet, que a partir das coordenadas geográficas
de uma determinada cidade fornecem valores médios mensais e anuais da radiação solar disponível
para diferentes inclinações e orientações. Neste trabalho utilizou-se o software RadiaSol 2 (UFRGS,
2010).
Para obter os valores de radiação solar através do RadiaSol 2, além da localização
geográfica deve-se especificar a inclinação, a orientação da superfície e o albedo das superfícies
adjacentes aos coletores, no nosso caso considerou-se o albedo do telhado da indústria de 0,6 a
inclinação dos coletores de 16°N e a orientação de 180°N (ângulo azimutal).

DIMENSIONAMENTO DO SAS

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 158


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A ABNT na NBR 15669 (2008) apresenta em sua metodologia de cálculo duas alternativas
para o dimensionamento de sistemas de aquecimento solar. Para SAS em residências unifamiliares é
indicada a metodologia de cálculo 2, exposta na própria NBR, para demais sistemas é indicada a
metodologia 1, que é a metodologia f-Chart conforme encontrado em DUFFIE & BECKMAN
(2014), no entanto, neste trabalho, será utilizado um método também encontrado em DUFFIE &
BECKMAN (2014), mas bem mais detalhista que o método f-Chart. A escolha dessa metodologia
foi feita com o objetivo de observar as perdas presentes em cada parte do SAS e a identificação dos
motivos, afim de propor possíveis soluções e assim um SAS mais eficiente.
A seguir encontra-se de forma detalhada cada uma das etapas necessárias ao
dimensionamento do SAS:

 1° Etapa: Volume de Armazenamento

O volume de armazenamento pode ser calculado pela seguinte equação (ABNT, 2008):

Onde: Vconsumo é o consumo diário (m³);


Tconsumoé a temperatura de consumo de utilização;
Tarmaz é a temperatura de armazenamento da água (Tarmaz>Tconsumo);
Tamb é a temperatura ambiente média anual do local da instalação;

 2° Etapa: Demanda Diária de Energia Útil (Eútil)

A demanda diária de energia útil é a quantidade de energia utilizada para aquecer a


quantidade de água necessária por dia até a temperatura desejada. Segundo a NBR 15669 (ABNT,
2008) a Eútil pode ser determinada, em kWh/dia, através da equação a seguir:

Onde: ρ é a massa específica da água igual a 1000 kg/m³;


Cp é o calor específico da água a pressão constante, igual a 4,18 kJ/kg K;
Varmaz será considerado igual ao consumo médio diário (para esse cálculo) em m³/dia;
Tarmaz será considerado igual à temperatura requerida no processo industrial (para esse
cálculo);
Tambiente é a temperatura média do ambiente (considera-se que a água está inicialmente na
mesma temperatura).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 159


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

 3° Etapa: SAS Proposto sem perdas

A Figura 2 mostra um esboço do esquema proposto para a instalação do sistema de


aquecimento solar. O sistema proposto apresenta circulação forçada direta, ou seja, é feito o uso de
bombas para circulação da água e a água que circula nos coletores que é a mesma do consumo.
Para determinação da área de coletores deve ser feita uma estimativa inicial, onde será
considerado os valores médios da radiação, da temperatura ambiente local e será desconsiderada as
perdas devido ao vento. Os valores inicialmente calculados serão usados como ponto inicial de
sucessivas interações e serão obtidos a partir de balanços de energia nos principais componentes do
sistema proposto.

Figura 2 – Esquema de Funcionamento Proposto do SAS.


A seguir, através da aplicação da 1° Lei da termodinâmica em cada um dos componentes do
sistema considerando a conservação da massa e regime permanente, são obtidas as equações que
formarão um sistema de equações a ser resolvido posteriormente.

 Balanço de Energia nos Coletores Solares:

 Balanço de Energia no Tanque de Armazenamento:

A Equação 2 foi aplicada considerando a temperatura do tanque de armazenamento


constante, porém é importante considerar que esta temperatura não será uniforme, o que torna
necessária a determinação de uma temperatura média, Tarmaz.

O tanque tende a apresentar uma temperatura estratificada que varia entre a temperatura de
alimentação e a temperatura de consumo. Para considerar este efeito é determinando um coeficiente
adimensional (Earmaz) que será igual a 0 quando Tarmaz = Tambiente e igual a 1 quando Tarmaz = Tconsumo.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 160


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Essa estratificação ocorre devido à diferença de densidade da água no tanque, a água mais quente e
menos densa fica na parte superior do tanque enquanto que a águe fria e mais densa fica na parte
inferior.
A variação do coeficiente de estratificação térmica no tanque, ET, pode ser calculada pela
seguinte equação:

Realizando um balanço de energia considerando a estratificação térmica do tanque de


armazenamento temos:

Onde mconsumoé igual a vazão mássica da água de alimentação e mc é a vazão nos coletores.
Logo, a temperatura média de armazenamento do tanque pode ser calculada:

A área coletora necessária é determinada pela relação entre a energia solar que é
efetivamente usada para aquecer a água do sistema e a energia necessária para o aquecimento da
água nas condições desejadas, como definida a seguir:

Onde é um índice que determina a contribuição solar do sistema de aquecimento e varia de


acordo com a configuração e a localização do sistema.
O número de coletores solares necessários é calculado pela equação a seguir:

𝑜 𝑜

Onde Atc é a área da cobertura de vido do coletor, também chamada de área transparente.
Das Equações 3 a 9, os seguintes dados são conhecidos: Radiação Incidente no plano
inclinado; Eficiência dos coletores solar usados;Temperatura da água de alimentação
(Tambiente);Temperatura requerida no processo (Tprocesso = 60°C);Vazão de consumo (mcons= 0,12
kg/s);Propriedades do fluido de trabalho (água); Área transparente dos coletores. E tem – se as
seguintes incógnitas: Temperatura de entrada dos coletores (Tc1); Temperatura de saída dos
coletores (Tc2); Vazão mássica necessária no banco de coletores; Temperatura média do tanque de
armazenamento (Tarmaz); Temperatura de consumo (Tconsumo); Área coletora (Ac).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 161


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A resolução das equações 3 a 9 é feita a partir de um sistema de equações que pode ser
resolvido no Software Engineering Equation Solver (EES), considerando inicialmente uma fração
solar de 80% e Tc1 20% maior que Tambiente (estratificação térmica no tanque de armazenamento).
Após determinada a primeira estimativa da área coletora, pode-se fazer estimativas da fração
solar para todos os meses do ano, por meio da resolução do mesmo sistema de equações usado
anteriormente no EES.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Tabela 2 mostra valores médios de irradiâncias diárias mensais (W/m²), para cada mês do
ano, calculados a partir dos valores de irradiâncias horarias mensais disponibilizados pelo RadiaSol
2. Estes valores são importantes para a quantificação da radiação incidente na superfície e a sua
variação ao longo do dia. Para o dimensionamento do sistema serão utilizados os valores de
irradiâncias médias horárias mensais em W/m².

Tabela 2 - Valores de Irradiâncias Médias Diárias Mensais (W/m²) no plano inclinado (16°N) para cidade de
João Pessoa.
Irradiâncias médias diárias (W/m²)
Mês Global Direta Difusa Inclinada
(16°)
Jan 297 161 154 316
fev 317 181 141 323
Mar 305 150 145 296
Abr 279 134 118 252
Mai 280 127 111 239
Jun 237 97 99 197
Jul 253 115 94 210
Ago 299 143 118 263
Set 315 165 130 296
Out 356 216 138 355
Nov 367 244 139 383
Dez 351 234 140 375
Anual 302 156 134 296

Os dados da Tabela 3 estão ilustrados na Figura 3.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 162


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Irradiâncias Médias Diárias (W/m²)


450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
Jan fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Global Direta Difusa Inclinada

Figura 3 - Irradiâncias Médias Diárias Mensais no plano inclinado (16°N) em João Pessoa.

DIMENSIONAMENTO DO SAS

O volume de armazenamento calculado foi de 7,70 m³. No entanto como a demanda de água
quente é constante e sem interrupção (24h por dia) e a disponibilidade de energia solar não, o
volume de armazenamento será dobrado, ou seja, consideraremos 16 m³ para garantir uma maior
contribuição do sistema. Os cálculos foram realizados para uma temperatura de armazenamento
igual a 70°C.
Uma estimativa da demanda de energia útil mensal do sistema pode ser obtida multiplicando
o valor calculado com a Equação 2 pelo número de dias do mês em que o sistema está em
funcionamento (Tabela 3). Neste caso, a temperatura ambiente considerada para cada mês é a
temperatura média anual (Tabela 1).

Tabela 4 – Demanda Mensal de Energia para Aquecimento de Água (10000 litros/dia).

Mês Dias de operação Eútil (kWh/mês)


Jan 23 9229,44
Fev 28 11235,84
Mar 30 12038,4
Abr 29 11637,12
Mai 30 12038,4
Jun 29 11637,12
Jul 30 12038,4
Ago 30 12038,4
Set 29 11637,12
Out 30 12038,4
Nov 29 11637,12
Dez 24 9630,72
Total Anual 341 9229,44

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 163


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Calculado os valores médios mensais da energia útil, observou-se que a maior demanda de
energia mensal é de 12038,40 kWh/mês (ocorre nos meses de março, maio, julho, agosto e
setembro) e, portanto, para os cálculos seguintes este será o valor de energia útil mensal utilizado.
Como trata-se de um processo continuo de operação, a demanda de energia diária independe
do mês do ano. Dividindo-se os dados mensais da demanda energia útil pelo dia de operação no mês
nota-se que a demanda diária é sempre 401, 28 kWh (60,1920 MJ por hora).
A Figura 4 mostra o comportamento da variação da demanda de energia útil mensal ao
longo do ano.

14000
Energia Útil Mesnal (kWh/mês)

12000

10000

8000

6000

4000

2000

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Figura 4 – Demanda de energia útil mensal para aquecimento da água necessária (10000 litros/dia).

ESCOLHA DO COLETOR SOLAR

Uma vez estimada a disponibilidade da radiação solar e conhecidas as condições de


aquecimento necessárias pode-se selecionar a tecnologia que será utilizada. Neste trabalho serão
empregados coletores planos, pois é possível atender as especificidades da demanda com está
tecnologia e, em relação às demais, é a tecnologia solar térmica de maior aplicabilidade no Brasil.
O coletor solar adotado nesse trabalho foi o coletor solar plano S-81, fabricado pela empresa
Solar Tech na cidade de João Pessoa. A Tabela 5 mostra as especificações técnicas do coletor, e sua
eficiência é dada pela Equação 10 (GREEN-PUC Minas, 2003):

( )

Onde: Tc2 é a temperatura em que a água sai do coletor solar.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 164


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 5 – Especificações Técnicas: Coletor Solar Plano S-81 da Solar Tech.


Especificações Técnicas (S-81)
Área Externa 1,78 m²
Área Transparente 1,72 m²
Peso do Coletor Seco 29 kg
Pressão Máxima de 250 kPa
Operação
Fluido de Trabalho Água
Eficiência Térmica 51,8%
FR(τα) 0,645
FR(Ul) 5,334
FONTE: (GREEN – PUC Minas, 2003).

SAS PROPOSTO SEM PERDAS

A Tabela 6 mostra os resultados obtidos para os valores médios anuais desconsiderando as


perdas presentes do SAS proposto. Estes valores servem como uma estimativa inicial, um ponto de
partida para o cálculo dos valores médios mensais e para o dimensionamento final do SAS. A única
perda considerada é da curva de eficiência dada pelo fabricante.

Tabela 62 – Resultado do sistema de equações para os valores médios anuais.


Tc1 Tc2 mc Tarmaz Tconsumo Ac Ncoletores f
31,32ºC 61,59ºC 0,1075kg/s 42,87°C 53,22°C 88,79 m² 51,62 0,80

A vazão volumétrica recomendada pelo fabricante nos coletores em condições de teste é de


70 l/h, o que equivale a uma vazão mássica de aproximadamente 0,02 kg/s, portanto para se atingir
a vazão mássica requisitada pelo sistema será necessário o arranjo dos coletores em pelo menos 5
conjuntos em paralelo.
Para que garantir a segurança do dimensionamento o número de coletores será arredondado
para o próximo maior valor múltiplo de 5, ou seja, serão utilizados 55 coletores, sendo 5 conjuntos
em paralelo de 11 coletores conectados em série, o que resulta em uma área coletora de
aproximadamente 95 m².
Definido o número de coletores, a vazão mássica, considerando as médias mensais da
radiação solar e da temperatura ambiente e desconsiderando as perdas no SAS, foram obtidos os
dados da fração solar mensal para o SAS proposto (Tabela 7).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 165


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 73 – Resultado do sistema de equações para os valores médios mensais.

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
f 0,902 0,90 0,83 0,71 0,70 0,56 0,56 0,74 0,88 1,07 1,13 1,02
0 61 03 31 70 90 48 20 91 3 3 00
Tc1(°C) 26,67 26,0 26,0 26,1 27,6 26,7 24,2 26,1 28,3 28,6 28,0 25,1
9 2 9 6 4 8 3 2 8 6 3
Tc2(°C) 63,69 63,9 63,6 55,7 55,6 49,8 48,8 56,9 62,9 70,2 72,9 69,0
3 9 2 6 2 8 3 9 7 2 6
Tarmaz(° 43,02 42,8 41,3 39,2 40,0 36,9 35,1 39,7 43,6 47,0 47,8 44,5
C 0 3 3 3 4 5 3 3 5 7 4
Tcons(°C 56,65 56,7 54,1 50,1 50,3 45,4 44,2 51,0 56,4 62,3 64,3
) 3 0 0 3 3 0 7 0 2 9 58,71

Na Figura 5 está ilustrado o comportamento da fração solar do sistema proposto em relação


a cada mês do ano. Nota-se que nos meses de junho e julho o SAS apresenta seu pior
aproveitamento, no entanto, em todos os meses do ano é capaz de suprir mais da metade de toda a
demanda energética necessária.

Fração Solar (f)


1

0,8

0,6

0,4

0,2

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Figura 51 – Fração Solar Média Mensal Calculado no EES.

CONCLUSÕES

A localização geográfica e a extensão territorial do Brasil o tornam um país de significativo


potencial de exploração de energias renováveis, sobre tudo de energia solar. O Nordeste destaca-se
por estar situado muito próximo à linha do Equador e por isso apresentar uma alta incidência solar,
verões longos, secos e quentes.
Seguindo a metodologia descrita, incialmente, visando uma contribuição mínimo do SAS de
80% foram estimadas uma área coletora de 95 m², sendo essa obtida com o emprego de 55 coletores
planos da Solar Tech arranjados em 5 conjuntos em paralelo de 11 coletores conectados em série, e
uma vazão mássica no banco de coletores de 0,1 kg/s, sendo 0,02 kg/s em cada conjunto de 11

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 166


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

coletores conectados em série. O volume de armazenamento, a partir da demanda de água quente,


foi calculado em 8 m³, porém esse valor foi dobrado (16 m³) pensando que o SAS apresenta
contribuição variável e restrita às horas de Sol, e a demanda de energia é constante durante todo o
dia.
Partindo do pressuposto de que um Sistema de Aquecimento Solar de Água é viável
tecnicamente quando apresenta uma fração solar mínima de 50%, o SAS dimensionado mostrou-se
apto, porém, para verificar a viabilidade técnica da instalação ainda se faz necessária a realização
dos cálculos das perdas térmicas do SAS. Esse cálculo trata-se de um processo interativo resolvido
numericamente e que será mostrado em sequência a este artigo, cujo título será: ROTEIRO DO
DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA DE AQUECIMENTO SOLAR DE ÁGUA – PARTE
2.

REFERÊNCIAS

ABRAVA.Manual de Capacitação em Projetos de Sistemas de Aquecimento Solar. [s.n.], 2008.


138 f. il. color. Disponível em:
<http://www.forumclima.pr.gov.br/arquivos/File/manual2008.pdf>. Acesso em: 20 maio 2016.

ALUCCI, M. Climaticus 4.2 (versão Beta). Laboratório de Conforto Ambiental e Eficiência


Energética- FAUUSP. 2011. Disponível em:
<www.fau.usp.br/pesquisa/laboratorios/labaut/conforto/Climaticus_2011(beta).xlsm>. Acesso
em: 11 jun. 2016.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15569: Sistema de aquecimento


solar de água em circuito direto – Projeto e instalação. Rio de Janeiro, 2008. 36p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10185: Reservatórios térmicos


para líquidos destinados a sistemas de energia solar – Determinação de desempenho térmico –
Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2013. 12p.

BRASIL. ANEEL. Atlas de energia elétrica do Brasil. 3ª Ed. Brasília: ANEEL, 2008. 236 p.
Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/arquivos/PDF/atlas3ed.pdf>. Acesso em: 18 mar.
2016.

BRASIL.EPE. Consumo de energia do Brasil (Análises Setoriais): Nota Técnica DEA 10/14. Rio
de Janeiro: EPE, 2014. 116p. Disponível em:
<http://www.epe.gov.br/mercado/Documents/S%C3%A9rie%20Estudos%20de%20Energia/DE
A%2010-14%20Consumo%20de%20Energia%20no%20Brasil.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 167


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

DUFFIE, J. A.; BECKMAN, W. A. Solar engineering of thermal processes. New York etc.: Wiley,
2014.

EUROPEAN COMMISSION, Directorate General Energy AndTransport, POSHIP: O Potencial da


Energia Solar no Calor de Processo Industrial. Energia Solar – Revista de Energias Renováveis
& Ambiente, n. 48. p. 7-37, 2001.

SILVA, J. A. C. da, Potenciais aplicações de tecnologias solares em processos industriais como


fonte de energia: uma revisão bibliográfica. 2014. 80p. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Engenharia Química)- Escola de Engenharia de Lorena. Universidade de São
Paulo, Lorena: 2014. Disponível em:
<http://sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MEQ14015.pdf>. Acesso em: 18 mar.
2016.

RadiaSol 2. Laboratório de Energia Solar. UFRGS, Porto Alegre: 2010. Disponível


em<http://radiasol-c-program-files-x86-radiasol-2.updatestar.com/pt>Acesso em: 12 Jul. 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 168


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Gestão de Recursos Hídricos e


Bacias Hidrográficas

© Antonio David Diniz

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 169


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ÁGUA NO SEMIÁRIDO PARAIBANO: TEMÁTICA REGIONAL APLICADA À


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Francimaura Carvalho MEDEIROS


Graduanda do curso de Química Industrial da UEPB
mauraamedeiiros@hotmail.com
Mônica Marcelino de SOUZA
Graduada em Química Industrial – UEPB
Verônica Evangelista de LIMA
Professora Doutora do Dep. Química- UEPB
verônica.el@hotmail.com
Djane de Fátima OLIVEIRA
Professora Doutora do Dep. Química - UEPB

RESUMO
Com o crescente avanço tecnológico, torna-se necessária uma adaptação dos meios e recursos
educacionais, incorporando formas interativas e que chamem a atenção do aluno para o conteúdo
ministrado e a correspondência deste com a realidade vivenciada pela comunidade na qual o
educando está inserido. Busca-se, desse modo, além da melhoria no aprendizado, a indispensável
participação do educando como protagonista do seu meio. Com essa perspectiva de construção
coletiva da educação ambiental, foram desenvolvidas atividades em torno da temática da escassez e
qualidade da água no semiárido, estendendo ações em comunidades escolares das cidades de Areia,
Alagoa Nova, Baraúna, Lagoa Seca e Riacho de Santo Antônio, situadas no estado da Paraíba. A
primeira etapa da abordagem em cada município contemplou a realização de visitas, coleta de
amostras de água para análises química e microbiológica e aplicação de entrevista/questionário para
reconhecimento dos principais problemas enfrentados pela comunidade local quanto à
disponibilidade de água para consumo humano. Na etapa seguinte, os resultados da verificação
inicial foram socializados na comunidade escolar, transformando a problemática encontrada em
tema motivador para discussão, disseminação de informações e fundamentação de ações em
educação ambiental. Foram utilizados instrumentos educativos apropriados para cada público alvo:
palestras, vídeos, dinâmicas de grupos, experimentos de análise química, adesivos e folhetos
informativos. A aceitação e participação atenta dos estudantes em todas as atividades desenvolvidas
permitiram concluir que houve contribuição efetiva para a aprendizagem de novos conceitos e
incorporação de hábitos de preservação e uso racional dos recursos hídricos, com atenção para as
informações e sugestões para manutenção da qualidade da água consumida. Repercussão que se
espera estender além da sala de aula, cooperando também para saúde e bem estar da população
local.
Palavras chave: Educação Ambiental, Água, Meio Ambiente, Semiárido.

ABSTRACT
With the increase of technological advance, it is necessary to adapt the means and educational
resources, incorporating interactive forms that can draw the student‘s attention to the taught content
and the correspondence of it with the reality lived by the community; and in which the student is
inserted. Thus, in addition to the improvement in learning, it is indispensable the participation of the
student as protagonist of his environment. With this perspective of collective construction of
environmental education, activities were developed around water scarcity and quality in the semi-

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 170


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

arid region, extending actions in school communities in the cities of Areia, Alagoa Nova, Baraúna,
Lagoa Seca and Riacho de Santo Antônio. In the state of Paraíba. The first step of the approach in
each city was to carry out visits, collect water samples for chemical and microbiological analysis
and apply an interview / questionnaire to recognize the main problems faced by the local
community regarding the availability of water for human consumption. In the next stage, the results
of the initial verification were socialized in the school community, having as a mean point to
transform the problems found in a motivating theme for discussion, dissemination of information
and the basis of actions in environmental education. Appropriate educational tools were used for
each target audience: lectures, videos, group dynamics, chemical analysis experiments, adhesives
and information leaflets related with environmental issues and solutions. The observed acceptance
and student‘s participation in all the developed activities allowed to conclude that there was an
effective contribution to the learning of new concepts, incorporation of habits of preservation and
rational use of water resources; with a special attention to the information and suggestions for
maintenance of the quality of the consumed water. It was expected the repercussion to be extend
beyond the classroom, also cooperating for the health and well-being of the local population.
Keywords: Environmental Education, Water, Environment, Semiarid.

INTRODUÇÃO

A escolha da temática ―água‖ como motivação para a educação ambiental reveste-se de


significado muito especial em se tratando do semiárido brasileiro. Nessa região, a população passa
por longos períodos em que a escassez de água em quantidade ou qualidade representa um risco
para a manutenção das condições ideais de sobrevivência humana. Embora o Brasil possua
expressivas reservas de água doce, algumas regiões do país sofrem devido à distribuição irregular
dos reservatórios superficiais. A região nordeste é a que mais sofre com a escassez de água. Dessa
forma, a necessidade de consciência quanto o uso da água deve ser realizada com o máximo de
equilíbrio, racionalidade e senso de responsabilidade coletiva, como bem afirmam Moraes e Jordão
(2002):

O desenvolvimento de uma consciência ambientalista, muito mais do que medidas


punitivas, ainda é o meio mais eficaz de diminuir esse grande problema da água. As
gerações atuais precisam de uma nova cultura em relação ao uso da água, pois, além da
garantia de seu próprio bem-estar e sobrevivência, devem cultivar a preocupação com as
próximas gerações e com a natureza, as quais também têm direito a esse legado (MORAES;
JORDÃO, 2002).

Nos municípios paraibanos, os efeitos do agravamento da falta de água e saneamento básico


é uma problemática que impacta principalmente a população da zona rural onde a disponibilidade
dessa riqueza natural mostra-se cada vez mais escassa. Além dos períodos de estiagem natural da
região, outros fatores contribuem para essa situação, tais como: o desconhecimento, a falta de
orientação e informação aos moradores que levam ao desperdício nos usos domésticos, sanitários e
nas mais diversas atividades realizadas.
Diante do contexto apresentado, a intenção do presente trabalho foi desenvolver atividades
em educação para uso racional e preservação da qualidade da água em escolas públicas de pequenos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 171


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

municípios paraibanos. Foram contempladas escolas nas cidades paraibanas de Riacho de Santo
Antônio, Alagoa Nova, Baraúnas, Lagoa Seca e Areia com o objetivo de abordar as questões
referentes ao meio ambiente, com ênfase para a temática água.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL CONTEXTUALIZADA

Pode-se entender educação ambiental como um processo pelo qual o educando começa a
obter informações e desenvolver conhecimentos acerca das questões ambientais. Nesse aspecto,
uma nova visão de mundo e da interação do ser com o seu meio passa a ser construída
paulatinamente em direção à concepção do homem como agente transformador e principal
responsável pela conservação ambiental (RUSHEINSKY, 2002). As questões ambientais estão cada
vez mais presentes no cotidiano da sociedade, sendo a educação ambiental essencial em todos os
níveis dos processos educativos e em especial nos anos iniciais da escolarização (MOURA, 2008)
As crianças estão em plena fase de descoberta e encontram-se desprovidas de conceitos pré-
elaborados e hábitos acirrados, diferentemente dos adultos, mostram-se mais sensíveis às questões
ambientais, mais receptivas e mais dispostas a multiplicar as novas ideias e informações na família
e demais pessoas do seu convívio (MENEZES, 2012).
As instituições de ensino já estão conscientes de que precisam trabalhar a problemática
ambiental e muitas iniciativas têm sido desenvolvidas em torno desta questão, incorporando-se a
temática do meio ambiente nos sistemas de ensino como tema transversal dos currículos escolares,
permeando toda prática educacional.
A educação ambiental nas escolas contribui para a formação de cidadãos conscientes, aptos
para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com
o bem-estar de cada um e da sociedade. Para isso, é importante que, mais do que informações e
conceitos, a escola se disponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores e com mais ações
práticas do que teóricas para que o aluno possa aprender a amar, respeitar e praticar ações voltadas à
conservação ambiental (SEGURA, 2001).
A escola é o lugar onde o aluno irá dar sequência ao seu processo de socialização, no
entanto, comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática, no decorrer da
vida escolar com o intuito de contribuir para a formação de cidadãos responsáveis, logo, a escola
deve oferecer a seus alunos os conteúdos ambientais de forma contextualizada com sua realidade.
Com as modificações sofridas no sistema educacional ao longo dos anos, tornou-se
imprescindível um sistema que busque estimular o pensamento do aluno ao mesmo tempo em que
leve em consideração a realidade na qual o mesmo encontra-se inserido. A importância do
desenvolvimento de atividades que supram essa necessidade tomou conta dos cursos de formações

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 172


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

e, propiciou o desenvolvimento de diversas técnicas com o intuito de atrair a atenção do aluno das
mais variadas formas (FUNDAMENTAL, 1998).
A educação ambiental objetiva a compreensão dos conceitos relacionados com o meio
ambiente, sustentabilidade, preservação e conservação. Sendo assim, busca a formação de cidadãos
conscientes e críticos, fortalecendo práticas cidadãs. Aliado a isso, trabalha com a inter-relação
entre o ser humano e o meio ambiente, desenvolvendo um espírito cooperativo e comprometido
com o futuro do planeta. Como tal, o processo de educação ambiental deve ser contínuo, integrado e
permanente, conforme descreve a Política Nacional de educação ambiental, Lei 9.795, de 27 de
abril de 1999 (BRASIL, 2017): ―Art. 10 º. A educação ambiental será desenvolvida como uma
prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino
formal.‘
A educação ambiental é de responsabilidade das instituições de ensino, tornando possível
assim a mudança na mentalidade do ser humano (SILVA et.al, 2011). Os conceitos e definições
isolados têm se mostrado inadequados para o aprendizado uma vez que, aprender é diferente de
apenas reproduzir automaticamente o que foi solicitado. Os assuntos abordados devem representar
para os educandos algo de interesse comum. As atividades desenvolvidas devem ser, portanto,
dinâmicas e flexíveis, tendo sua mediação realizada pelo instrutor e sendo adaptada de acordo com
a necessidade (MEC, 1998).
À educação ambiental é atribuído o papel principal de modificar o pensamento da sociedade,
especialmente no tratante às gerações futuras que, precisam entender a importância da preservação
ambiental a fim de garantir a sustentabilidade do planeta (MENEZES, 2012).

ÁGUA COMO TEMA GERADOR

Dentre os inúmeros recursos essenciais oferecidos pela natureza, a água é, provavelmente, o


único que tem a ver com todos os aspectos da civilização humana, desde o surgimento das
atividades agrícola e industrial até os valores culturais e religiosos arraigados na sociedade. Não há
dúvidas que a água é um recurso natural essencial para a vida e de influência direta na qualidade da
mesma. Sendo assim, este líquido precioso apresenta inúmeras importâncias, seja como componente
bioquímico de seres vivos; como meio de vida de várias espécies vegetais e animais; como
elemento representativo de valores sociais e culturais; e até como fator de produção de vários bens
de consumo final e intermediário (GOMES, 2011).
Segundo os dados estatísticos estabelecidos em 2012 pelo Departamento de Informação
pública das Nações Unidas, 89% da população mundial utiliza fontes tratadas de água, porém, 783
milhões de pessoas ainda estão sem acesso à água potável, com variações dramáticas por região.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 173


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Além disso, é importante ressaltar que, de toda água existente no mundo, apenas uma
pequena parcela, referente à água doce, pode ser usada para o consumo humano, após adequação de
suas características, físicas, químicas e biológicas, tornando-a potável. Diante disso, embora a água
pareça um recurso ilimitado, na realidade apresenta um obstáculo, pois à medida que há
crescimento econômico e populacional, menos se respeita o ciclo natural da água e, em
consequência, a qualidade dos corpos superficiais vai se degradando, tornando-os impróprios para o
consumo (BARROS e AMIN, 2008).
A Agência Nacional de Águas (ANA) relata que na última década os índices de cobertura de
água e esgoto no mundo apresentaram grande avanço. Por outro lado, nesse mesmo período de
desenvolvimento, verificou-se que 24 milhões de pessoas continuaram sem acesso adequado a
sistemas de esgoto e 1,1 bilhão sem atendimento com serviços de abastecimento de água. Essa
situação explicita o fato de que o crescimento populacional e a dinâmica da produção e da
distribuição estão diretamente relacionados com o desgaste ambiental. Com relação ao uso da água,
há uma ligação direta com o mau uso, cujos custos terminam por serem internalizados pelo recurso
hídrico e se refletem na escassez e na poluição, entre outros.
O Brasil possui 12% dos recursos hídricos do planeta. Embora essa porcentagem seja
bastante considerável, há também o problema da distribuição irregular entre as diversas regiões do
país. No nordeste brasileiro a situação de escassez é agravada nos períodos de estiagem severa
(PHILIPPI JR.; MARTINS, 2005). Insere-se na região nordeste uma área territorial denominada
―polígono das secas‖, dentro da zona semiárida, apresentando diferentes zonas geográficas com
distintos índices de aridez, indo desde áreas com características estritamente de seca, com paisagem
típica de semideserto a áreas com balanço hídrico positivo. Caracteriza-se basicamente pelo regime
de chuvas, definido pela escassez, irregularidade e concentração das precipitações pluviométricas
num curto período de cerca de três meses, durante o qual ocorrem sob a forma de fortes aguaceiros,
de pequena duração; tem a Caatinga como vegetação predominante e apresenta temperaturas
elevadas (CODEVASF, 2017).
Com relação à poluição dos corpos aquáticos nessas localidades, os maiores vilões são os
agrotóxicos utilizados nas lavouras, seguidos do lixo que é jogado nas águas e margens de rios e
lagos, além das atividades pecuárias como a suinocultura, esterqueiras e currais, construídos
próximos aos corpos d´água (REDES DAS ÀGUAS, 2017). Tendo em vista essa situação, podemos
defini-la como ameaçadora à qualidade de vida básica da população, pois é inegável que a
disponibilidade de água com qualidade para consumo humano tende a diminuir cada vez mais.
Portanto, uma coisa importante a fazer é evitar o desperdício (CONSELHO NACIONAL DA
ÁGUA, 2017).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 174


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

É preciso também estabelecer uma nova forma de pensar e agir que começa na escola,
através da conscientização ambiental, incentivando a mudança de hábitos, usos e costumes, onde o
objetivo geral seja o crescimento econômico, alicerçado no uso sustentável da água, onde se
promova a proteção dos mananciais que ainda estão conservados e a recuperação daqueles que já
estão prejudicados.

METODOLOGIA

As ações em cada município foram conduzidas em três etapas, descritas a seguir. Na visita
inicial, foram realizadas coletas de água em residências e na escola pública da zona rural, cujo
abastecimento advinha de fontes alternativas. Na ocasião foram tomadas amostras de água para
análises As coletas foram realizadas na cisterna de armazenamento externo e nos recipientes para
consumo humano direto (potes, filtros e baldes, no interior das residências e escolas públicas
locais). Na mesma ocasião da primeira visita, foi estabelecido um contato pessoal com os
moradores tendo como finalidade estreitar relações de parceria e obter informações relevantes
quanto aos cuidados básicos de limpeza, identificação de hábitos de consumo e incidência de
doenças associadas à utilização de água em condições inadequadas. Para tal finalidade, foi proposto
aos moradores responder um questionário composto por 12 questões referentes à origem, ao
tratamento e a qualidade da água consumida.
O método de procedimento utilizado foi o analítico-descritivo e, para as técnicas relativas à
coleta de informações, foi utilizada a observação direta extensiva (GIL, 2002). Foi realizada
também uma observação geral no que diz respeito à localização dos reservatórios de água utilizados
para o consumo direto e aqueles para o consumo indireto, que armazenam a água por um tempo
mais prolongado.
Na etapa seguinte, as amostras de água coletadas foram analisadas nos laboratórios da
Universidade Estadual da Paraíba-UEPB, determinando-se os valores para alguns parâmetros
químicos e físico-químicos (pH, dureza, alcalinidade, turbidez, cloretos), como também
microbiológicos (coliformes totais e termotolerantes, e presença de Escherichia Coli), comparando
os resultados obtidos aos valores referenciais das Normas Brasileiras para água potável.
Na fase posterior, fez-se uma nova visita ao município para socialização dos resultados e
apresentação de forma compartilhada de informações em educação ambiental, sugestões de medidas
simples para manutenção da qualidade da água consumida e cuidados no armazenamento da água
para uso direto. As ações se desenvolveram através de palestras aos estudantes, pais e professores
da escola municipal, com entrega de materiais educativos e realização de dinâmicas ilustrativas.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 175


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Já na primeira visita feita aos municípios, pôde-se observar a aridez do local e a pouca oferta
de água superficial para suprimento das necessidades básicas da população. As observações locais,
os resultados das análises da água utilizada pelos moradores e os dados obtidos nas
entrevistas/questionários proveram um diagnóstico inicial dos principais problemas vivenciados
pela comunidade referentes ao uso, disponibilidade e qualidade da água na localidade. Esses
elementos serviram de base para a elaboração das ações em educação ambiental que contemplassem
as especificidades de cada comunidade.
Das respostas colhidas nos questionários, foi recorrente a reclamação da ―aparência turva‖ e
do ―gosto ruim‖ da água disponível, características indicativas de qualidade duvidosa. Relatou-se
que não há tratamento da água consumida e foram reportados alguns casos de febre, diarreia,
manchas na pele e mal estar gástrico, principalmente nas crianças. As medidas de economia de água
foram colocadas como prioritárias pelos entrevistados, tendo em vista a pouca disponibilidade do
recurso. Foram apontados os hábitos de reutilização da água do banho, da lavagem de roupas e da
lavagem de pratos para limpeza da casa, rega de plantas e para os animais.
Para o armazenamento de curto período da água destinada ao uso direto (beber e cozinhar), a
maioria da população utiliza potes de barro ou recipientes de plástico. Sobre o armazenamento da
água destinada ao consumo humano, observou-se que em todas as residências se fazia uso de
cisternas ou tanques para o armazenamento da agua por tempo mais prolongado, alocados na parte
externa das residências e com tubulações para captura da água no período das chuvas, conforme se
pode observar na Figura 1.

Figura 1 – Residência com sistema de captação da água de chuva para cisterna externa.

Da observação das condições ambientais próximo aos reservatórios, destacou-se o fato de


que muitos animais transitam nas proximidades das cisternas. Observou-se também lixo, esgotos,
fossas e outros fatores de risco para contaminação da água armazenada. Essa pode ser a principal
causa de doenças nas famílias entrevistadas, onde casos de diarreia foram diagnosticados.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 176


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Os problemas diagnosticados referentes à qualidade da água do município bem como as


questões relatadas pelos moradores foram abordados em momento oportuno junto com a
comunidade pela realização de ações em educação ambiental. Alunos da escola pública e seus pais,
professores e funcionários foram convidados para compartilhar experiências numa palestra
educativa promovida no ambiente escolar, na qual foram discutidos os temas de preservação dos
recursos hídricos, fatores que contribuem para manutenção da qualidade da água de consumo, como
evitar doenças de veiculação hídrica e as implicações da qualidade da água na saúde e o bem estar
da população. As palestras foram enriquecidas com dinâmicas de grupo, distribuição de adesivos e
de folhetos informativos.
A apresentação de slides abordou de modo teórico um resumo explicativo sobre algumas das
respostas obtidas através dos questionários. Por meio das informações e das respostas obtidas,
imagens da comunidade eram mostradas, buscando assim inserir o ouvinte de modo mais efetivo no
contexto abordado. As respostas obtidas nos questionários foram apresentadas à medida que as
imagens eram também apresentadas. Previamente à apresentação de tais respostas, as mesmas
perguntas foram direcionadas aos alunos. O intuito dessa sequência de apresentação foi o de, assim
como as imagens, estimular o envolvimento individual nas problemáticas representantes da
sociedade onde vivem.
Em grande parte dos municípios, foram atendidos somente alunos do ensino fundamental
porque a escola pública não comportava o ensino médio. Para esse público infantil foram
priorizadas atividades lúdicas com apresentação de filmes infantis, dinâmicas apropriadas e
distribuição de folhetos informativos, cartilhas e adesivos. Nessas turmas infantis houve a
oportunidade de interação com os pais e professores, momento em que a discussão dos problemas
locais e sugestões de melhorias puderam ser socializadas de modo mais aprofundado.
Para os estudantes do nono ano e do ensino médio, foram apresentadas as informações
também com a realização de pequenas experiências práticas em análise de água (alcalinidade,
dureza e presença de cloretos). A atividade realizada com a participação de alunos voluntários
prendeu a atenção dos estudantes sobre a temática e ajudou na fixação de informações importantes
sobre a necessidade de consumir água com qualidade.
Ao final da apresentação em todas as cidades foram entregues a cada participante da palestra
um adesivo e um folheto (Figura 2), contendo informações, alerta quanto às doenças hídricas,
recomendações e sugestões de cuidados para consumo de água com qualidade adequada ao bem
estar humano. Também foi entregue um folheto contendo informações básicas sobre escassez,
economia e reuso de água. Apesar de esse assunto ser bastante falado, os materiais distribuídos
representaram um reforço para fixação dos temas discutidos e uma oportunidade de multiplicação
das informações com familiares e outras pessoas do convívio do educando.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 177


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 2 – Ilustração do adesivo e do Folder informativo distribuídos nas ações.

Figura 3 - Imagem do folheto utilizado como instrumentos educativo referente à economia de água.

A abordagem dos temas ambientais diretamente associados aos problemas mais pujantes da
comunidade resultou em maior interesse do público atendido e participação voluntária nas
atividades propostas, por consequência, sensibilização para busca de soluções e maior
internalização dos conceitos trabalhados. Quando se depararam com os conteúdos de seu cotidiano,
os educandos se mostraram identificados, representados nas suas necessidades e ávidos por
descobertas. Nas cidades de Riacho de Santo Antônio, Baraúna, Alagoa Nova, Areia e Lagoa Seca,
a participação também de pessoas externas ao ambiente escolar foi um fator determinante para a
compreensão da importância da educação voltada para a interação do educando com o seu próprio
meio e todas as relações sociais que o compõem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A curiosidade dos educandos foi estimulada desde o momento em que se perceberam


identificados em todos os aspectos das atividades propostas: na escolha do tema, na exposição das
imagens da sua cidade, nas análises da água do consumo da sua comunidade, na discussão dos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 178


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

pontos apontados pela sua ―gente‖, pelo seu ―povo‖. Para os alunos do ensino médio, a
apresentação de análises experimentais com vidrarias e materiais de laboratório foi um diferencial.
No momento da apresentação do experimento, os alunos se mostraram participativos e curiosos
sobre o que viria a ser realizado. Além da participação do aluno no experimento, os demais se
sentiram livres para se envolverem no debate sobre os resultados demonstrados.
Quando o pensamento crítico é despertado, o estudante passa a ser capaz de se envolver não
somente de forma passiva, mas ativa e consciente das problemáticas ambientais. Desse modo, é
aberto o caminho para transformação do pensamento individual em ações de interesse coletivo,
mudando paradigmas e influenciando o seu entorno com transferência do conhecimento formal à
busca de soluções no âmbito social.
O envolvimento da comunidade, representado por pais e professores, reforçou a eficácia das
ações educativas, proporcionando um alcance além dos limites da própria escola. Essa amplitude
satisfaz a necessidade de fortalecimento da parceria da educação com as reais demandas da
comunidade. Apropriadamente, a educação ambiental, colabora para o aprofundamento de
discussões reais e contribui para a busca de soluções que visem o bem estar do ser harmonizado
com o seu meio de vivência.

REFERÊNCIAS

ANA- Agência Nacional de Águas. Artigos. Disponível em:


http://www2.ana.gov.br/Paginas/imprensa/artigos.aspx>. Acessado em 25 julho 2017.

BARROS, F. G. N., AMIN, M. M. (2008) Água: um bem econômico de valor para o Brasil e o
mundo. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, (4), 75-108.

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Política Nacional de Educação Ambiental. Lei 9795/99.
Disponível em:< http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=321>. Acessado
em 21 jul.2017.

CODEVASF. Polígono das secas. (2010). Disponível em


<http://www2.codevasf.gov.br/osvales/vale-do-sao-francisco/poligono-das-secas/ /> Acessado
em 27de julho de 2017.

CONSELHO NACIONAL DA ÁGUA. Água no planeta terra. Disponível em:


http://conselhonacionaldaagua.weebly.com/aacutegua-no-planeta-terra.html. Acessado em 27 de
julho de 2017.

FUNDAMENTAL, S. D. E. Parâmetros curriculares nacionais: Ciências Naturais. EDUCAÇÃO,


M. D. Brasília, DF: MEC/SEF: 138 p. 1998.
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 179
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Gil, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed- São Paulo: Editora Atlas, 2002.

GOMES, M. A. F. (2011) Água: sem ela seremos o planeta Marte de amanhã. Embrapa, pp 464.

MENEZES, C. M. V. M. D. C. Educação Ambiental: a criança como um agente multiplicador.


2012. 46 MBA (MBA em Gestão Estratégica em Meio Ambiente). Centro Universitário do
Instituto Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul, SP.

MORAES, D.S.de L.; JORDÃO, B.Q. Degradação de recursos hídricos e seus efeitos sobre a
saúde humana. Revista Saúde Pública. Corumbá, p. 370-374, mar-2002.

MOURA, J. A Importância da educação ambiental na educação infantil. 2008. Disponível em


www.webartigos.com/articles/2717/1/desafios-daeducacaoambiental-para-educacao-infantil/
pagina1.html. Acesso em: 15 de julho de 2017.

PHILIPPI JR. A.; MARTINS, G. (2005) Águas de abastecimento. In: Philippi Jr., A. Saneamento,
Saúde e Ambiente: Fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Barueri, SP: Manole. p.
587-598.

REDE DAS ÁGUAS, SOS Mata Atlântica. (2017), Usos e ameaças a água. Disponível em: <
https://www.sosma.org.br/projeto/observando-os-rios/questao-da-agua/usos-da-agua/> Acessado
em: 27 de julho de 2017.

RUSHEINSKY, A. (org.). Educação ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002.
p.169-173. Disponível em: < https://www.todamateria.com.br/como-citar/> Acessado em: 17 de
julho de 2017.

SEGURA, Denise de S. Baena. Educação Ambiental na escola pública: da curiosidade ingênua à


consciência crítica. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2001. 214p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 180


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BARRAGEM ÁGUA FRIA I: USO DA TERRA NO PERÍODO 2010/2016

Gislane Nunes de ANDRADE


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental do IFBA, bolsista PIBIC/IFBA
anny.andrade@live.com
Jacson Tavares de OLIVEIRA
Professor EBTT do IFBA campus de Vitória da Conquista
jacson123@gmail.com
Leonardo Di Lauro Cunha OLIVEIRA
Graduando do Curso de Engenharia Elétrica do IFBA
leodilauroo@gmail.com

RESUMO
A barragem Água Fria I, em Barra do Choça (BA), tem importante papel no desenvolvimento
regional, pois faz parte do sistema de barragens que abastece, aproximadamente, 380 mil pessoas
numa região suscetível a estiagens prolongadas, onde a cidade de Vitória da Conquista é a capital
regional e passou, nos últimos anos por um severo racionamento de água. Neste trabalho, objetivou-
se analisar o uso da terra no entorno da barragem Água Fria I, no período 2010/2016, a fim de
verificar se os usos estão coerentes com a legislação aplicável para as áreas de preservação
permanente, uma vez que a substituição da vegetação natural pode ocasionar prejuízos à infiltração
e ao armazenamento de água. Para tanto, foram utilizadas imagens de satélite da plataforma Google
Earth para os dois anos, sendo então transformadas em mapas temáticos através do software
MapViewer 7.0. Constatou-se que o uso atual da terra na área de estudo está em desconformidade
legal, com 75% do total da Área de Preservação Permanente (APP) ocupado por pastagem.
Palavras-chave: Engenharia Florestal; Mata ciliar; Geoprocessamento.

ABSTRACT
The Água Fria I dam in Barra do Choça (BA) plays an important role in regional development, as it
is part of the dam system that supplies approximately 380,000 people in a region susceptible to
prolonged droughts, where the regional capital city of Vitória da Conquista has passed, in recent
years by a severe water rationing. The objective of this study was to analyze the use of land in the
surroundings of the Água Fria I dam, in the period of 2010 to 2016, in order to verify if the uses are
consistent with the applied legislation of the permanent preservation areas, since the substitution of
the natural vegetation can cause damages to the infiltration and storage of water. To do so, satellite
images of the Google Earth platform were used for the two years, and then transformed into
thematic maps through MapViewer 7.0 software. It was verified that current land usage in the
studied area is in legal disagreement, with 75% of the total Permanent Preservation Area (PPA)
occupied by pasture.
Keywords: Evironmental Engeneering; Riparian Woods; Geoprocessing.

INTRODUÇÃO

As barragens são construções comunitárias que beneficiam aos grupamentos humanos há


mais de quatro séculos, sendo suas dimensões o resultado direto das demandas que precisam

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 181


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

satisfazer. Isso porque, em função da variabilidade climática, nem sempre há disponibilidade


hídrica e, dessa forma, torna-se essencial armazenar água para os momentos de escassez (MELLO,
2013).
Porquanto seus recursos são indispensáveis em uma sociedade, apesar de sua construção ser
um tipo de obra que influencia uma enorme mudança na ecologia e na dinâmica geral da terra e
rios, uma vez que se altera o regime do rio, os níveis freáticos e as paisagens próximas, além de que
as formações geológicas saturadas pelo represamento passam a ter comportamento diferente.
A bacia hidrográfica é um exemplo disso: a dinâmica dos fatores bióticos e abióticos
combina-se com a atividade antrópica promovendo fluxos de matéria e energia onde o grau de
estabilidade é atingido a partir do equacionamento entre as entradas e saídas, alterando as
características do solo, da água e do canal fluvial (CHRISTOFOLETTI, 1990).
Por isso o conhecimento sobre as bacias hidrográficas reveste-se de grande importância para
o estudo da barragem Água Fria I e suas respectivas mudanças repentinas numa área
economicamente ligadas pelas atividades da terra, notadamente a pecuária e a agricultura. Isso
porque práticas inadequadas alteram a bacia de captação, promovendo ao longo dos anos a retirada
da cobertura vegetal, o empobrecimento do solo, a poluição dos cursos hídricos, o assoreamento, a
aceleração de processos erosivos, o desaparecimento da fauna e flora.
Dessa forma, o grande desafio para a sociedade contemporânea é realizar o manejo dos
recursos naturais para fins de produção de água, em quantidade e qualidade, resguardando o solo, a
vegetação e, notadamente, os recursos hídricos, já que a água é fundamental para a existência de
todas as formas de vida (BRIGANTE; ESPÍNDOLA, 2003). Outro grande desafio é manter a
produção agrícola em níveis compatíveis com o crescimento populacional sem degradar os recursos
naturais, pois o mais comum é que atividades antrópicas se instalem nas mais diversas bacias
hidrográficas sem o devido planejamento e respeito às limitações e/ou riscos de degradação do solo.
No trabalho com a bacia hidrográfica, que envolve os aspectos biofísicos e humanos, a
espacialização das informações é fundamental na análise dos processos e na tomada de decisões.
Neste sentido, a utilização dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG) permite que os diversos
aspectos sobre bacias hidrográficas (solos, clima, recursos hídricos, vegetação, infraestrutura,
ocupação humana, etc.) sejam armazenados digitalmente, possibilitando a comparação e a
correlação entre as informações (ASSAD, 1993). Além disso, o uso de SIG é imprescindível para a
análise de fotografias aéreas e imagens de satélites em diferentes épocas visando acompanhar a
evolução do uso da terra na área de estudo. Alguns softwares, tais como o MapViewer, dispõem de
ferramentas muito úteis no trabalho com imagens, pois permitem identificar e agrupar os diversos
usos da terra em camadas (layers), com informações acerca da superfície de cada uso e oferecendo

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 182


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

a opção de estruturação dos atributos em legendas diferenciadas e facilitando sobremaneira a


geração de mapas temáticos sobre a unidade de estudo.
Neste projeto, a proposta geral foi identificar os tipos de usos da terra no entorno da
barragem Água Fria I para fins de mapeamento e, com essas informações, avaliar se esses usos
estão conformes com a legislação ambiental vigente. Para tanto, foram utilizadas imagens de
satélites disponíveis na plataforma Google Earth, bem como foram realizadas várias visitas
periódicas à área de estudo para checagem de informações e contato com os proprietários. Assim,
ao extrapolar os limites da sala de aula e realizar trabalhos de campo na área de estudo, foi possível
aplicar os conhecimentos científicos através do contato direto com realidades concretas e, dessa
forma, contribuir efetivamente para a troca de saberem acadêmicos e populares, numa tentativa de
produzir um projeto concreto e regionalizado que atenda as especificidades locais e contribua para o
desenvolvimento regional com produtividade e sustentabilidade.

METODOLOGIA

Foi realizado um estudo bibliográfico, envolvendo a produção científica concernente à


temática em estudo, bem como a utilização de imagens de satélite (uma de 25/08/2010 e outra de
27/10/2016), disponíveis gratuitamente na plataforma Google Earth, com o intuito de fazer uma
análise comparativa da forma como a terra vem sendo utilizada na área, entre os anos 2010 e 2016.
Todo o trabalho de mapeamento e cálculo das áreas foi feito através do software MapViewer 7.0.
Além disso, para checar informações quanto aos usos da terra identificados na imagem de satélite
atual e investigar novos problemas decorrentes de ações antrópicas inadequadas não detectados no
processo de análise e interpretação das imagens, foi necessário percorrer, intensamente, a área de
estudo com equipamento GPS.

A BARRAGEM ÁGUA FRIA I

A barragem de Água Fria I está localizada a 517,4 km de Salvador, no Estado da Bahia, e a


10,4 km do centro da cidade de Barra do Choça, faz parte do sistema responsável pelo
abastecimento do município Vitória da Conquista, Barra do Choça e localidades menores da região.
De acordo com Di Lauro e Silva (2004), a barragem de Água Fria I foi construída na década
de 1960, com capacidade para armazenar um milhão de metros cúbicos de água, objetivando o
abastecimento exclusivo da cidade de Vitória da Conquista.
A área da bacia de captação da barragem Água Fria I compreende 3.756 hectares, o
perímetro corresponde a 24,7 km e o comprimento do rio Água Fria até a barragem Água Fria I é de
7,7 km (Figura 1).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 183


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1 – Bacia de captação da barragem Água Fria I

Fonte: Mapa produzido pelos autores em outubro/2016, com base na Folhas Topográficas Digitais da
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia – SEI-BA.

Geograficamente, a barragem de Água Fria I está à montante da barragem de Água Fria II 4,


ou seja, na direção da nascente e, assim, a primeira é tributária da segunda. Elas são separadas
apenas por um barramento de concreto e uma passarela. A solicitação para edificar a nova barragem
surgiu da necessidade de uma população crescente do município de Vitória da Conquista (DI
LAURO; SILVA, 2004).

USO DA TERRA NO ENTORNO DA BARRAGEM ÁGUA FRIA I

Por meio de duas imagens de satélite da plataforma Google Earth foi realizado o
mapeamento da bacia de captação da barragem Água Fria I,
No mapeamento, os diversos usos da terra foram determinados a partir das características
comuns apresentadas na paisagem e que aparecem nas imagens de satélite com feições comuns de
textura, tons de cores, rugosidade, espaçamento de copas, etc. A classificação da vegetação para
legenda da interpretação está apresentada a seguir:

• ESPELHO D´ÁGUA – São os reservatórios de água que aparecem nas imagens com grande
homogeneidade textural e cores escuras.
• PASTAGEM – Estas áreas estão caracterizadas, primordialmente, por pastagens para
criação extensiva de gado bovino.
• MATA CILIAR – Estão incluídos nesta categoria os remanescentes florestais com baixa
antropização, evidenciados pelo adensamento da mata e pouco afastamento entre as copas.
• VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA – São áreas com vegetação em processo de regeneração,
com porte variando de herbáceo a arbóreo, destacando-se pela sua uniformidade.
4
A barragem de Água Fria II foi construída na década de 1980 e tem capacidade de armazenamento superior a seis
milhões de metros cúbicos de água.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 184


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

• CULTIVO (Capim-elefante5) – Área de cultivo de capim-elefante para fins de produção de


ração para o gado bovino, válida apenas para o ano de 2010.
• CAFÉ – Há uma pequena área utilizada para o desenvolvimento da lavoura cafeeira, que
aparece na imagem com homogeneidade visual.
• CONSTRUÇÃO DA EMBASA – Corresponde à porção do território ocupado pela
EMBASA para instalação das máquinas e equipamentos para o bombeamento de água.
• SEDE DE FAZENDA – Área construída com visualização de duas unidades relacionadas à
sede de fazenda.

Após o processo de distinção e separação dos diversos usos, o software Map Viewer 7.0
calcula, automaticamente, as áreas e permite a separação dos usos em camadas (overlayer). Os
dados colhidos nessa etapa resultaram nos mapas de uso da terra apresentados nas Figuras 2 e 3 e os
valores das diversas superfícies (em hectares) aparecem relacionados na Tabela 1.

Figura 2 – Uso da terra na barragem Água Fria I em 2010

Fonte: Cálculo realizado pelos autores, utilizando o software MapViewer 7.0, com base em análise de
imagem de satélite do Google Earth, de 25/08/2010.

5
Esta área de cultivo desconhecido apareceu na imagem de 2010 e, durante o trabalho de campo, em contato com o
gerente da fazenda, obtivemos a informação de que a área, na época, era cultivada com capim-elefante, a fim de
produzir ração para o gado. Para o ano de 2016, o cultivo de capim-elefante foi transferido para outra área da fazenda,
sendo a área original destinada a pastagem.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 185


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 3 – Uso da terra na barragem Água Fria I em 2016

Fonte: Mapa elaborado pelos autores, utilizando o software MapViewer 7.0, com base em análise de imagem
de satélite do Google Earth, de 27/10/2016.

Tabela 1 - Área dos diversos usos da terra na barragem Água Fria I, em Barra do Choça-BA, no período
2010/2016
2010 2016 Taxa de crescimento
CLASSES Área Área 2010/2016 (%)
% %
(ha) (ha)
Espelho d‘água Água Fria I 10,84 22,3 10,84 22,3 0,0
Espelho d‘água Água Fria II 0,48 1,0 0,07 0,1 -85,4
Pastagem 27,21 55,9 29,31 60,2 7,7
Mata 4,31 8,9 4,73 9,7 9,7
Vegetação Secundária 2,72 5,6 2,91 6,0 7,0
Capim-elefante 2,31 4,7 0,00 0,0 -100,0
Café 0,39 0,8 0,39 0,8 0,0
Construções da EMBASA 0,21 0,4 0,22 0,5 4,8
Sede de Fazenda 0,19 0,4 0,19 0,4 0,0
TOTAL 48,66 100,0 48,66 100,0 -
Fonte: Cálculo realizado pelos autores, utilizando o software MapViewer 7.0, com base em análise de
imagens de satélite do Google Earth, de 25/08/2010 e 27/10/2016.

Pela configuração territorial apresentada nos dois mapas de uso da terra (Figuras 2 e 3) é
possível perceber que nos anos de 2010 e 2016 a barragem Água Fria I apresentou-se com seu nível
máximo de armazenamento. Já a barragem Água Fria II, que fica localizada à jusante, para o ano de
2010 também se verificou o espelho d‘água localizado imediatamente após o vertedouro, indicando
que as duas barragens estavam cheias naquele momento. No entanto, para o ano de 2016, houve
modificação desse quadro, uma vez que Água Fria II apresentou um espelho d‘água reduzido,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 186


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

indicando que sua capacidade de armazenamento não foi alcançada. Notadamente, em função dos
baixos níveis de acumulação de água, a cidade de Vitória da Conquista foi submetida ao
racionamento, sendo somente regularizado em julho/2017, quando os reservatórios ficaram cheios
novamente. A bacia hidráulica da barragem Água Fria I corresponde à 10,8 hectares ou 22,3% da
área de estudo.
O principal uso da terra verificado pela imagem de satélite em 2010 foi a pastagem
extensiva de gado bovino, ocupando 27,2 hectares ou 55,9% do total analisado. Posteriormente,
com o mapa de uso da terra atual baseado na imagem de 27/10/2016 e, concomitantemente, com as
visitas ao campo, constatou-se que a pastagem continua sendo a principal atividade na área de
estudo, inclusive com expansão de 7,7%, passando a ocupar mais de 60% do recorte analisado.
A mata ciliar, elemento fundamental para esta pesquisa, aparece bem representada na porção
superior do mapa, margeando a estrada e se estendendo pela lateral norte do vertedouro até 294
metros seguindo a margem esquerda do lago em direção à nascente. Apenas nesse quadrante a mata
ciliar está bem estruturada em termos quantitativos, apresentando uma faixa média superior a 100
metros lineares. No período 2010/2016 houve um aumento da área de mata ciliar, pois algumas
áreas antes cobertas por pastagens desenvolveram uma vegetação de maior porte, possivelmente
devido ao menor fluxo de gado nesses locais. Somando todos os fragmentos florestais que
margeiam a barragem, o total são 487 metros. Mas, observando o perímetro total da bacia hidráulica
que é de 2.760 metros, isso representa apenas 17,6% do total, de forma que mais de 80% da
barragem Água Fria I está desguarnecida dessa importante proteção natural. Observando o mapa de
uso da terra de 2016 (Figura 3), as áreas de vegetação secundária que margeiam o lago podem ser
convertidas em mata ciliar com um certo grau de facilidade, em função da existência de algum tipo
de vegetação de porte arbóreo e herbáceo.
O cultivo de café ocupa apenas 0,4 hectares na área de estudo e está fora dos limites da mata
ciliar, nas porções superiores do terreno. A variável relevo foi importante para limitar esse cultivo
nas partes mais altas e permitiu a existência da mata ciliar circunscrita à descida do vale, nos dois
lados da estrada, que é bastante íngreme naquele local. Nesse sentido, a lavoura cafeeira, importante
fator para o crescimento da economia do município, não afetou diretamente as áreas de preservação
permanente da barragem Água Fria I, sendo a pastagem a atividade responsável pela ocupação
dessa faixa legal de proteção ambiental.
Os demais usos se referem às construções de edificações, uma da Empresa Baiana de Águas
e Saneamento (EMBASA) para instalação de seus equipamentos de bombeamento de água e outra
relacionada à sede de fazenda de gado bovino, pertencente a proprietário rural do entorno da
barragem Água Fria I.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 187


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Os demais usos se referem às construções de edificações, uma da EMBASA para instalação


de seus equipamentos de bombeamento de água e outra relacionada à sede de fazenda de gado
bovino, pertencente à proprietário rural do entorno da barragem Água Fria I.
Com isso, finaliza-se a análise do uso da terra no entorno da barragem Água Fria I no
período 2010/2016, com base nas imagens de satélite e nas visitas técnicas realizadas na área de
estudo, constatando que há muito por fazer no sentido de recuperar a mata ciliar do reservatório,
uma vez que apenas 17,6% do perímetro da barragem está com o uso correto previsto em lei. O
próximo passo deste trabalho é analisar a legislação aplicável para fins de determinação do tamanho
da APP a ser recuperada na barragem Água Fria I.

LEGISLAÇÃO APLICÁVEL PARA FINS DE DETERMINAÇÃO DO TAMANHO DA APP

As medidas referentes à preservação ambiental se aplicam a diversas leis e parâmetros,


inclusive no que se diz respeito a lagos artificial ou barragens. No âmbito federal se faz presente o
novo Código Florestal, através das Leis n° 12.651, de 25 de maio de 2012 e Lei n° 12.727 de 17 de
outubro de 2012, estabelecendo normas gerais sobre, a proteção da vegetação nativa, a delimitação
e regime de proteção das Áreas de Preservação Permanente e das áreas de Reserva Legal e também
sobre a exploração florestal.
No artigo terceiro da Lei n° 12.651/2012, item II, tem-se então o conceito das APPs.
Portanto, essa diretriz legal servirá de guia para definição das áreas de Preservação permanente da
região em estudo: ―Art. 3°: Para os efeitos desta Lei, entende-se por: [...] Item II - Área de
Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade,
facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações
humanas‖ (BRASIL, 2012a).
No artigo quarto dessa mesma lei, são apresentadas as diferentes definições métricas para as
APPs. O item III foi incluído pela Lei n° 12.727/2012 e se refere aos reservatórios artificiais de
água: ―Art. 4º: Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os
efeitos desta Lei: [...] III - as áreas no entorno dos reservatórios d‘água artificiais, decorrentes de
barramento ou represamento de cursos d‘água naturais, na faixa definida na licença ambiental do
empreendimento" (BRASIL, 2012b).
Em seu artigo quinto, a Lei n° 12.727/2012 apresenta a diretriz legal para o estabelecimento
da metragem da faixa de APP, envolvendo reservatórios artificiais para abastecimento público:

Art. 5° Na implantação de reservatório d‘água artificial destinado a geração de energia ou


abastecimento público, é obrigatória a aquisição, desapropriação ou instituição de servidão
administrativa pelo empreendedor das Áreas de Preservação Permanente criadas em seu
entorno, conforme estabelecido no licenciamento ambiental, observando-se a faixa mínima

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 188


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

de 30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem) metros em área rural, e a faixa mínima de 15
(quinze) metros e máxima de 30 (trinta) metros em área urbana (BRASIL, 2012b)

Nesse contexto, para esta pesquisa serão adotados os parâmetros legais estabelecidos pelas
leis supracitadas, que definem as margens dos reservatórios artificiais como APPs e a largura
mínima de 30 metros, sendo que esta faixa será utilizada como referência para a elaboração do
mapa de uso da terra na APP da barragem Água Fria I.

USO ATUAL DA TERRA NA APP DE 30 METROS

Com base na imagem de satélite de 27/10/2016, foi possível avaliar o uso atual da terra,
considerando uma faixa de 30 metros no entorno do reservatório da barragem Água Fria I, em seu
nível máximo. Os diversos usos aparecem na Figura 4 e os valores (em hectares) estão
demonstrados na Tabela 2:

Figura 4 – Uso da terra na APP da barragem Água Fria I -2016

Fonte: Mapa produzido pelos autores, utilizando o software MapViewer 7.0, com base em imagem de satélite
do Google Earth, de 27/10/2016.

Tabela 2 - Área dos diversos usos da terra na faixa da APP de 30 metros na barragem Água Fria I, em Barra
do Choça-BA - 2016
CLASSES ÁREA (ha) %
Pastagem 5,91 75,0
Mata 1,44 18,3
Vegetação Secundária 0,53 6,7
Total 7,88 100,0
Fonte: Cálculo realizado pelos autores, utilizando o software MapViewer 7.0, com base em análise de
imagens de satélite do Google Earth, de 27/10/2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 189


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Percebe-se que a situação da APP da barragem Água Fria I é mais preocupante do que a
existente no recorte analisado (Figura 3; Tabela 1), onde o uso predominante (pastagem) era de
60%, na faixa da APP de 30 metros esse mesmo uso chega a 75% do total. Nesse caso, para
cumprimento da legislação será necessário cercar a área e fazer a recuperação completa da mata
ciliar. O cercamento da área é necessário porque a presença do gado compacta o solo e promove a
degradação da APP em função da dispersão de gramíneas em seu interior, favorecendo a ocorrência
de incêndios nas épocas de seca.
A existência atual da mata ciliar dentro da faixa protegida (1,4 hectares) está restrita ao
quadrante norte, nas proximidades do vertedouro, dentro da propriedade denominada fazenda Ceci.
Na propriedade denominada fazenda Água Fria, que fica no quadrante sul da barragem, não há nem
um metro quadrado de mata ciliar, sendo necessária a recomposição total nesse lado da barragem.
Comparando com a área de estudo total (Figura 3; Tabela 1), a faixa de APP aparece com 18% de
mata ciliar, enquanto que na área total analisada esse valor não chega a 10%, o que evidencia uma
situação um pouco melhor para a faixa protegida.
Apenas meio hectare está coberto com vegetação secundária, que é uma vegetação de menor
porte e com algumas árvores espaçadas, sendo necessário realizar um trabalho de enriquecimento
dessa vegetação para que chegue ao padrão de mata ciliar.
Conforme o item II, do Artigo 3º da Lei n° 12.651/2012, as APPs são fundamentais para
preservar a água, o solo e a biodiversidade, sendo urgente a substituição dos usos inadequados da
terra pela recomposição da mata ciliar. Assim, torna-se necessário o isolamento de toda essa faixa
através de cercamento, bem como a elaboração e execução de um projeto de recomposição da mata
ciliar da barragem Água Fria I.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As Áreas de Preservação Permanente, por imposição do Código Florestal vigente hoje no


Estado brasileiro, são extensões de terra que têm seus limites definidos em lei, em função dos
relevantes serviços que prestam ao meio ambiente e precisam ser respeitadas de forma integral.
A pesquisa mostrou que o uso da terra na barragem de Água Fria I no período 2010/2016
não está, em sua totalidade, dentro dos parâmetros legais, uma vez que a mata ciliar recobre apenas
18% da faixa marginal de 30 metros. Mais de 75% da área protegida por lei está ocupada por
pastagem, o que evidencia um descumprimento legal do Código Florestal e um real risco de
degradação dos solos e da quantidade/qualidade da água, sendo necessária uma ação concreta e
imediata para o restabelecimento das funções da mata ciliar.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 190


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

REFERÊNCIAS

ASSAD, M. Sistema de Informações Geográficas na Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras. In:
ASSAD, E.; SANO, E. (Org.) Sistema de informações geográficas: Aplicações na agricultura.
Brasília: EMBRAPA-CPAC, 1993. p. 173-199.

BRASIL. Congresso Nacional. Lei n. 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília
DF, 28 maio 2012a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12651.htm. Acesso em: 18 jan. 2017.

______. Congresso Nacional. Lei n. 12.727 de 17 de outubro de 2012. Altera a Lei no 12.651, de 25
de maio de 2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília DF, 18 out. 2012b. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12727.htm. Acesso em: 18 jan.
2017.

BRIGANTE, J.; ESPÍNDOLA, E. A Bacia Hidrográfica: aspectos conceituais e caracterização geral


da Bacia do Rio Mogi-Guaçu. In: BRIGANTE, J.; ESPÍNDOLA, E. Limnologia Fluvial: um
estudo no Rio Mogi-Guaçu. São Carlos, SP: RiMa, 2003. p. 1-13.

CHRISTOFOLETTI, A. A aplicação da abordagem em sistemas na geografia física. Revista


Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 52, n. 2, p. 21-35, abr/jun. 1990.

DI LAURO, A.; SILVA, E. O uso atual da terra no entorno das barragens Água Fria I e II.
Monografia (Graduação) – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitória da Conquista,
2004.

MELLO, Flavio M. A importância dos reservatórios formados por barragens. 2013. Newsletter
CBDB. Disponível em: <http://www.cbdb.org.br/site_antigo_2013/img/47artigo. pdf>. Acesso
em: 29 mar. 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 191


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MICROALGAS PERIFÍTICAS COMO BIOINDICADORAS DA QUALIDADE DA


ÁGUA: AÇÕES DE MONITORAMENTO EM UM RESERVATÓRIO
6
DO SEMIÁRIDO CEARENSE

Joice Layanne Guimarães RODRIGUES7


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da URCA
joicelayanne17@gmail.com
Gabriel Messias da Silva NASCIMENTO
Graduando do Curso de Ciências Biológicas da URCA
Adjuto RANGEL JÚNIOR
Mestre em Bioprospecção Molecular, Universidade Regional do Cariri – URCA
Sírleis Rodrigues LACERDA
Orientadora, Professora do Departamento de Ciências Biológicas DCBio/URCA

RESUMO
As microalgas perifíticas são excelentes bioindicadoras da qualidade da água devido à capacidade
de acumular grandes quantidades de substâncias e nutrientes poluentes. O presente estudo teve
como objetivo determinar a composição desta comunidade e sua influência sobre aspectos
qualitativos no Reservatório Rosário localizado no Município de Lavras da Mangabeira-CE. As
coletas foram realizadas manualmente no período de fevereiro a abril de 2017, através de
espremidos e/ou raspagem de partes de macrófitas aquáticas, tais como, folhas, frutos e raízes, em
três pontos distintos do reservatório. As amostras foram acondicionadas em frascos de polietileno,
fixadas com formol a 4%, sendo posteriormente encaminhadas ao acervo do Laboratório de
Botânica da Universidade Regional do Cariri (LaB/URCA), onde foram efetuadas as etapas de
identificação e sistematização dos táxons, utilizando-se de microscópio óptico e bibliografia
especializada. A comunidade perifítica mostrou constituída de 44 táxons distribuídos em quatro
divisões: Chlorophyta (45%), Cyanobacteria (30%), Bacillariophyta (18%) e Euglenophyta (7%).
Registrou-se a predominância de Chlorophyta, com um maior número de táxons, seguida das
divisões Cyanobacteria e Bacillariophyta. Duas espécies de Cyanobacteria potencialmente tóxicas
apresentaram-se como Muito Frequente e Frequente, sendo Aphanocapsa delicatissima West & G.
S. West e Merismopedia punctata Meyen, respectivamente. No geral, a pesquisa apresentou
microalgas perifíticas com preferências ecológicas por ambientes que variam de meso a eutróficos,
sinalizando assim possíveis alterações tróficas, no reservatório em estudo.
Palavras-chave: Perifíton; Substrato natural; Abastecimento.

ABSTRACT
Periphytic microalgae are excellent bioindicators of water quality due to the ability to accumulate
large amounts of polluting substances and nutrients. The present study had as objective to determine
the composition of this community and its influence on qualitative aspects in the Rosario Reservoir
located in the Municipality of Lavras da Mangabeira-CE. The collections were carried out manually
from February to April 2017, by squeezing and / or scraping parts of aquatic macrophytes, such as
leaves, fruits and roots, at three distinct points of the reservoir. The samples were placed in

6
Laboratório de Botânica, Universidade Regional do Cariri – URCA
7
Bolsista FUNCAP

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 192


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

polyethylene bottles, fixed with 4% formaldehyde, and then sent to the Botanic Laboratory of the
Regional University of Cariri (LaB / URCA), where the stages of identification and systematization
of the taxa were carried out, Optic microscope and specialized bibliography. The periphytic
community was composed of 44 taxa distributed in four divisions: Chlorophyta (45%),
Cyanobacteria (30%), Bacillariophyta (18%) and Euglenophyta (7%). The predominance of
Chlorophyta, with a greater number of taxa, was registered, followed by the divisions
Cyanobacteria and Bacillariophyta. Two potentially toxic Cyanobacteria species presented as Very
Frequent and Frequent, being Aphanocapsa delicatissima West & G. S. West and Merismopedia
punctata Meyen, respectively. In general, the research presented peripheral microalgae with
ecological preferences for environments that vary from meso to eutrophic, thus signaling possible
trophic changes in the reservoir under study.
Keywords: Peripheral; Substrate; Supply.

INTRODUÇÃO

O acesso a fontes abundantes de água sempre foi essencial para o desenvolvimento das
grandes civilizações, a água não é apenas um requisito para o ser humano, sendo também de
fundamental importância para o estabelecimento da agricultura e pecuária nacional, a partir disso,
nota-se certa dependência sobre os recursos hídricos, tornando sua utilização de extrema
necessidade (LOWE; PAN, 1996). Baseando-se na perspectiva do elevado uso da água, a escassez
hídrica é uma ameaça à humanidade, visto que a disponibilidade para consumo humano é de 1% do
total da água na Terra (ESTEVES, 2011).
A precipitação pluviométrica do semiárido brasileiro é marcada pela variabilidade espaço-
temporal, que, associada aos baixos totais anuais sobre a região, resulta na frequente ocorrência de
dias sem chuva, ou seja, veranicos, e consequentemente, em eventos de ―seca‖ (COGERH, 2010).
De acordo com Marengo (2006), o semiárido brasileiro sempre foi acometido de grandes eventos de
seca, contudo, não é rara a ocorrência de grandes enchentes.
Com o objetivo de represar água e garantir sua disponibilidade, são construídas represas e
açudes para atender às necessidades da população em relação aos seus múltiplos usos (ESTEVES,
2011). Esses reservatórios são importantes porque desempenham um fator de grande potencial
econômico e social para a região. Nos períodos de estiagem os açudes desempenham a função de
agregar as atividades humanas, como irrigação, dessedentação dos animais, recreação e consumo
humano, dentre outras (ANA, 2016).
Entre as diversas comunidades biológicas que habitam os ecossistemas aquáticos,
encontram-se as microalgas que são seres microscópicos, unicelulares isoladas ou coloniais, que
vivem nos mais diversos ambientes aquáticos (rios, lagos, mares e oceanos) e realizam fotossíntese.
Dentre estas há as que crescem aderidas a algum substrato natural e/ou artificial, e que denominam-
se microalgas perifíticas, e o seu estudo tem cada vez mais ganhado destaque entre os limnólogos,
uma vez que, trata-se de uma comunidade sensível as alterações tróficas que podem ocorrer no

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 193


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ambiente atuando como bioindicadoras da qualidade da água (ESKINAZI-LEÇA et. al., 1996;
POMPÊO; MOSCHINI-CARLOS, 2003).
A importância da comunidade perifítica reside por ser fonte de matéria orgânica autóctone,
constituir o principal local de deposição de carbono orgânico, atuarem na mineralização da matéria
orgânica dissolvida e na ciclagem de nutrientes (ESTEVES, 2011). Nesse sentido, estudos
envolvendo esta comunidade de organismos são relevantes em reservatórios de abastecimento
público, dando um parecer sobre a qualidade da água em ecossistemas aquáticos continentais.
Com isso, nota-se a necessidade de pesquisas relacionadas às microalgas perifíticas em
ambientes lênticos do Nordeste Brasileiro visto que nessa região são poucos os estudos dessa
natureza. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo determinar a composição dessa
comunidade ocorrente no Reservatório Rosário, localizado no Município de Lavras da Mangabeira-
CE, bem como oportunizar o conhecimento da biodiversidade, fornecendo assim informações que
podem auxiliar no gerenciamento deste sistema.

MATERIAL E METÓDOS

Área de Estudo

O Reservatório Rosário encontra-se localizado no Município de Lavras da Mangabeira-CE,


no Distrito de Quitaiús (6° 53‘ 20.81‖S, 39° 4‗ 50.72‖ W). Pertencente à sub-bacia do Rio Salgado
e tem capacidade de 47.200.000 m3, tendo sido concluído no ano de 2001 (Figura 1) (SRH, 2017).

Figura 1 – Vista parcial do Reservatório Rosário, Lavras da Mangabeira-CE. Fonte: Arquivo


Pessoal, 2017.
De acordo com o IPECE (2015), o Município de Lavras da Mangabeira, apresenta
aproximadamente 31 mil habitantes, e possui como características ambientais clima tropical quente
semiárido brando e tropical quente semiárido, com temperaturas médias de 26 ° a 28 ° C. O período

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 194


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

chuvoso compreende os meses de janeiro a abril, com pluviosidade de 866,4 mm. O relevo típico é
caracterizado por depressões sertanejas, vegetação caatinga arbustiva aberta, caatinga arbustiva
densa, floresta caducifólia espinhosa e floresta mista dicotillo-palmácea.
A construção deste reservatório mudou a história da região e trouxe desenvolvimento
econômico e social para a população, uma vez que o mesmo tem como finalidade o acúmulo hídrico
para o consumo, tanto humano quanto animal, a piscicultura, o cultivo de subsistência e alguns
projetos de irrigação para perenizar o riacho Rosário ao Rio Salgado, em Lavras da Mangabeira
(BRITO, 2014).

Coleta e Tratamento das Amostras

As coletas foram realizadas de forma manual no período de fevereiro a abril de 2017, através
de espremidos e/ou raspagem de partes de macrófitas aquáticas (raízes, folhas e frutos) em pontos
distintos do reservatório (P1: próximo à parede; P2: açude de Dão e P3: riacho de Aninga). O
material obtido foi acondicionado em frascos de polietileno, e fixado com formol a uma
concentração final de 4% (NEWELL; NEWELL, 1968), em seguida, as amostras foram
encaminhadas para o Laboratório de Botânica da Universidade Regional do Cariri (LaB/URCA).
A identificação dos táxons foi realizada com o auxílio de microscópio óptico, Motic BA310
e literaturas especializadas: Desikachary (1959), Prescott (1962), Mizuno (1983), Compère (1976),
Parra et al. (1983), Sant‘Anna (1984), Round, Crawnford e Mann (1992), Bicudo e Menezes (2006),
Sant‘anna et al. (2006), Franceschini et al. (2010).
Considerou-se a riqueza de espécies como sendo o número total de organismos registrados
por amostra, a partir do qual pode-se determinar a frequência de ocorrência dos táxons, de acordo
com a fórmula de Mateucci e Colma (1982) F= a.100/A, expressa em termos de porcentagem e
calculada levando em consideração o número de amostras em que o táxon ocorreu, em relação ao
número total das amostras coletadas, sendo os táxons enquadrados nas seguintes categorias: Muito
Frequente > 70%, Frequente > 40% ≤ 70%, Pouco Frequente > 10% ≤ 40% e Esporádica ≤10%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A comunidade de microalgas perifíticas do Reservatório Rosário esteve representada,


durante o período de estudo por 44 táxons distribuídos em quatro divisões: destacando-se
Chlorophyta (clorofíceas, 45%), seguida de Cyanobacteria (cianobactérias, 30%), Bacillariophyta
(diatomáceas, 18%) e Euglenophyta (euglenofíceas, 7%) (Figura 2).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 195


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

7%

18%
45%

30%

Chlorophyta Cyanobacteria Bacillariophyta Euglenophyta

Figura 2 - Distribuição percentual das divisões de microalgas perifíticas identificadas no Reservatório


Rosário, Lavras da Mangabeira/CE.

Na composição de microalgas perifíticas do Reservatório Rosário houve predomínio na


riqueza específica para as divisões algais Chlorophyta e Cyanobacteria, juntas representaram 75%
da comunidade, corroborando com outros estudos, em que estas divisões também foram as mais
representativas, como em alguns reservatórios do Brasil (VERCELINO; BICUDO, 2006;
MARTINS; FERNANDES, 2007; FERRAGUT et al., 2005; AMORIM et al, 2015).
O conhecimento sobre a biodiversidade de espécies da comunidade de microalgas é
imprescindível em estudos de avaliação, monitoramento e recuperação de ecossistemas aquáticos,
permitindo conhecer as relações entre as variáveis ambientais e ocorrência de determinadas
espécies, embora a composição taxonômica varie espacial e temporalmente em um corpo de água,
caracterizações autoecológicas de condições ambientais baseadas em composição taxonômica
devem consistentemente refletir as mudanças físicas e químicas causadas por seres humanos
(STEVENSON; SMOL, 2003).
De acordo com Sant‘Anna et al. (2006) e Tucci et al. (2006), Chlorophyta e Cyanobacteria
são os grupos mais representativos quanto à riqueza de táxons, principalmente em ambientes
eutrofizados e rasos, situação que se assemelha à realidade dos reservatórios da região nordeste do
semiárido brasileiro, assim como Mariani et al. (2006) estudando o reservatório da bacia
hidrográfica da represa Billings, na região sudeste do país, Riacho Grande (SP), que associaram
também a presença de Clorofíceas e Cianobactérias no processo de eutrofização do ambiente.
O grupo das Clorofíceas esteve amplamente distribuído pelo reservatório dentre a comunidade
perifítica. De acordo com Franceschini et al. (2010), as espécies deste grupo são características de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 196


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

variados tipos de ambientes, desde águas oligotróficas até ambientes fortemente poluídos,
possuindo várias estratégias de sobrevivência devido a sua alta diversidade.
Para Reviers (2006), as Cianobactérias, segundo grupo de maior destaque, são encontradas
em habitats extremamente variados, com espécies de água doce e marinha, perifíticas ou
planctônicas, assim como espécies subaéreas, algumas espécies podem viver em ambientes
poluídos. Em ecossistemas de água doce, são consideradas como principais fixadoras de nitrogênio
e importantes componentes de lagos e/ou reservatórios eutróficos (ARAGÃO et al., 2007;
ESTEVES, 2011). Nas florações de cianobactérias, há presença de cianotoxinas e outros compostos,
incluindo substâncias causadoras de gosto e odor (CYBIS et al., 2006).
Com relação à frequência de ocorrência, quatro táxons foram classificados como Muito
Frequente (9%): Staurastrum leptocladum Nordsted (Chlorophyta), Aphanocapsa delicatissima
West & G.S.West (Cyanobacteria), Navicula sp. e Synedra sp.2 (Bacillariophyta); quatro como
Frequentes (9%): Ankistrodesmus densus Korshikov (Chlorophyta), Merismopedia punctata Meyen
(Cyanobacteria), Cymbella sp. (Bacillariophyta) e Trachelomonas volvocinopsis Svirenko
(Euglenophyta) (Figura 3). Os demais táxons apresentaram-se durante o estudo como Pouco
Frequente (24 spp.; 55%) e Esporadicamente (12 spp.; 27%).

Figura 3 – Táxons considerados muito frequente e frequente: A:


Staurastrum leptocladum e B: Ankistrodesmus densus (Chlorophyta); C:
Aphanocapsa delicatissima e D: Merismopedia punctata
(Cyanobacteria); E: Navicula sp. (centro) e Synedra sp.1 (abaixo); F:
Synedra sp.2 e G: Cymbella sp. (Bacillariophyta); e H: Trachelomonas
volvocinopsis (Euglenophyta).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 197


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Espécies do gênero Staurastrum e Ankistrodesmus são cosmopolitas e compõem o metafíton


e o plâncton em ecossistemas dulciaquícolas, respondendo prontamente as alterações tróficas que
podem ocorrer no meio (FRANCESCHINI et al., 2010). Martins (2006), em pesquisa sobre algas
desse gênero, associou estas a ambientes caracterizados por alto teor de oxigênio dissolvido e pouco
nutriente, sendo sensíveis ao aumento de nitrogênio e fósforo, que pode a vir diminuir
drasticamente seu número de espécies.
Os gêneros Aphanocapsa e Merismopedia ocorrem em ambientes aquáticos, subaéreos e no
solo, são cosmopolitas podendo ser encontrados no perifíton e metafíton de ambientes lóticos e
lênticos, desenvolvem-se bem em águas eutrofizadas. A. delicatissima e M. punctata podem crescer
em colônias microscópicas, principalmente em lagos mesotróficos (BICUDO; MENEZES, 2006;
FRANCESCHINI et al., 2010; KOMÁREK, 2003). De acordo com estudos pretéritos, as espécies
correspondentes a estes dois gêneros são consideradas como potencialmente tóxicas (CALIJURI,
ALVES; SANTOS, 2006; SANT‘ANNA et al., 2006; 2008), sinalizando assim a necessidade de um
acompanhamento continuado para este reservatório.
O gênero Navicula é muito comum em ambientes continentais e marinhos, sendo suas
espécies apontadas como indicadora de impacto antrópico, águas poluídas e despejos industriais
(BRANCO, 1978; BICUDO; MENEZES, 2006). Sendo que Synedra também apresenta tolerância a
ambientes eutrofizados (IWATA; CÂMARA, 2007). Para Branco (1978), Synedra mesmo em
pouca quantidade, produz sabor e odor à água. Cymbella trata-se de um gênero composto por
células solitárias ou coloniais, unidas ao substrato por um cordão mucilaginoso (BICUDO;
MENEZES, 2006).
A maioria das espécies de Trachelomonas ocorre em águas rasas de pântanos, canais e
lagoas, especialmente onde há uma alta concentração de matéria orgânica e onde as temperaturas
são elevadas (PRESCOTT, 1962). De acordo com Iwata e Câmara (2007), as microalgas sofrem
influências das condições ambientais, quer sejam naturais, quer seja artificiais, como o clima,
temperatura da água, estações do ano, ou também as influências antrópicas.

CONCLUSÕES

Foi possível observar uma maior riqueza de táxons da divisão Chlorophyta seguida de
Cyanobacteria, evidenciando possíveis alterações tróficas que podem está ocorrendo no
escossistema, uma vez que, a maioria das espécies registradas nesta pesquisa apresenta preferência
por ambientes que variam de meso a eutrófico, mostrando que o Reservatório Rosário pode está
perdendo a qualidade de suas águas.
Com isso, os estudos voltados ao conhecimento da biota algal perifítica são relevantes, tendo
em vista ser um parâmetro biológico que contribui como uma ferramenta de monitoramento hídrico

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 198


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

aplicado ao gerenciamento de reservatórios. Portanto, a caracterização da comunidade de


microalgas é de extrema importância, pois muito contribui na gestão de reservatórios de
abastecimento público, sobretudo, os localizados no semiárido brasileiro.
Diante do exposto, se torna oportuno ilustrar que os dados resultantes do presente estudo
servem, ainda, de alerta para a população, uma vez que demonstra importância de conservar,
monitorar as águas, provocando, por sua vez, a diminuição de possíveis prejuízos ao recurso hídrico
e a saúde pública.

REFERÊNCIAS

AMORIM, C. A., LUCAS, F. H. R., RANGEL, A. J., DO NASCIMENTO, K. J., GÓES, M. I. L.;
LACERDA, S. R. Microalgas perifíticas associadas à Nymphoides indica (L.) O. Kuntze em um
reservatório do semiárido cearense. Cadernos de Cultura e Ciência, v. 14, n. 1, p. 9-23, 2015.

ANA, Agência Nacional de Águas. Outorga de direito de uso. Disponível em: <
http://atlas.ana.gov.br/Atlas/downloads/atlas/Resumo%20Executivo/Atlas%20Brasil%20-
%20Volume%201%20-%20Panorama%20Nacional.pdf>. Acesso em: dezembro de 2016.

ARAGÃO, N. K. C. V.; GOMES, C. T. S.; LIRA, G. A. S. T.; ANDRADE, C. M. Estudo da


comunidade fitoplanctônica no reservatório do Carpina-PE, com ênfase em
Cyanobacteria. Revista do Instituto Adolfo Lutz (Impresso), v. 66, n. 3, p. 240-248, 2007.

BICUDO, C. E. de M.; MENEZES, M. Gênero de algas de águas continentais do Brasil (chave


para identificação e descrições). 2 a . ed. São Carlos: RIMA, 502 p. 2006.

BRANCO, S.M. Hidrobiologia aplicada à Engenharia Sanitária. 2. ed., São Paulo: Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB, 1978. 620 p.

BRITO, A. Quitaiús - Lavras Da Mangabeiras – Ceará. Jornal de Mirador. – Publicado em 14 de


Março de 2014. Disponível em < http://www.jornaldemirador.com.br/meio-ambiente/quitaius-
lavras-da-mangabeiras-ceara> Acesso em 21 de Janeiro de 2017.

CALIJURI M. C.; ALVES M. S. A.; SANTOS A. C. A. Cianobactérias e cianotoxinas em águas


continentais. São Carlos: RIMA, 2006. 118 p.

COGERH, Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos. Cartilha Informativa Hidroambiental -


Vamos Conhecer o Salgado - Bacia Hidrográfica do Salgado. 2. ed. Crato, CE, 2010. 23 p.

COMPÈRE, P. Algues de la región du lac tchad. V – Chlorophycophytes (1ª partie). Série


Hydrobial. Cah. O. R. S. T. O. M, v. 10, n. 2, p. 77–118, 1976.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 199


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CYBIS, L. F.; BENDATI, M. M.; MAIZONAVE, C. R. M.; WERNER, V. R.; DOMINGUES, C.


D. Manual para estudo de cianobactérias planctônicas em mananciais de abastecimento
público: caso da represa Lomba de Sabão e lago Guaíba, Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Rio
de Janeiro: ABES, 2006. 64 p.

DESIKACHARY, T. V. Cyanophyta. New Delhi: Indian council of agricultural Research, 1959.

ESKINAZI-LEÇA, E. E. ; CUNHA, M. G. S. ; KOENING, L. ; CHAMIXAES, C. ;


PASSAVANTE, J. Z. D. E. ; F. A. D. N. . Microalgas. In: Everardo Sampaio; Simon Mayo;
Dilosa Barbosa. (Org.). Pesquisa Botânica Nordestina: Progresso e Perspectivas. Recife:
Sociedade Botânica do Brasil, 1996, v. 1000, p. 61-78.

ESTEVES, F. A. (Coor.) Fundamentos de Limnologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Interciência,


2011. 826 p.

FERRAGUT, C.; LOPES, M. R. M.; BICUDO, D. de C.; BICUDO, C. E. de M.; VERCELLINO, I.


S. Ficoflórula perifítica e planctônica (exceto Bacillariophyceae) de um reservatório oligotrófico
raso (Lago do IAG, São Paulo). Hoehnea, v. 32, n. 2, p. 137-184, 2005.

FRANCESCHINI, I. M.; BURLIGA, A. L.; RAVIERS, B.; PRADO, J. F.; RÉZIG, S. H. Algas:
Uma abordagem filogenética, taxonômica e ecológica. Porto Alegre: Artmed, 332 p., 2010.

IPECE. 2015. Perfil Básico Municipal: Lavras da Mangabeira. Fortaleza, 18p.

IWATA, B. F.; CÂMARA, F. M. M. Caracterização ecológica da comunidade fitoplanctônica do


Rio Poti na cidade de Teresina no ano de 2006. In: Congresso de pesquisa e inovação da rede
Norte Nordeste de Educação Tecnológica João Pessoa – PB – 2, 2007.

KOMÁREK, J. Coccoid and colonial Cyanobacteria. In: WEHR, J. D.; SHEATH, R. G. (Eds.).
Freshwater algae of North America: ecology and classification. Amsterdam: Academic Press,
2003. p. 59-116.

LOWE, R. L.; PAN, Y. Benthic algal communities as biological monitors. In: STEVENSON, R. J.;
BOTHWELL, M. L.; LOWE, R. L. (Eds.). Algal Ecology: freshwater benthic ecosystems. New
York: Academic Press, 1996. p.705-731.

MARENGO, J. A. Mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a biodiversidade:


caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao
longo do século XXI. Brasília, DF, 2006. 226 p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 200


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MARIANI, C. F.; MOSCHINI-CARLOS, V.; BRANDIMARTE, A. L.; NISHIMURA, P. Y.;


TÓFOLI, C. F.; DURAN, D. S.; LOURENÇO, E. M.; BRAIDOTTI, J. C.; ALMEIDA, L. P.;
FIDALGO, V. H.; POMPÊO, M. L. M. Biota and water quality in the Riacho Grande reservoir,
Billings Complex (São Paulo, Brazil). Acta Limnologica Brasiliensia, v. 18, n. 3, p. 267-280,
2006.

MARTINS, F. C. O.; FERNANDES, V. O. Estrutura da comunidade de algas perifíticas em


substrato natural da lagoa da Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil. Neotropical
Biology and Conservation, v. 2, n. 1, p.11-20, 2007.

MARTINS, L. L. NOGUEIRA, I. de S. Desmídias do sistema Lago dos Tigres (Britânia, GO):


Euastrum, Micrasterias, Staurastrum e Xanthidium. In: XI CONGRESSO BRASILEIRO DE
FICOLOGIA, 2006, Santa Catarina, Resumos... Santa Catarina, 2006. p 122.

MATEUCCI, S. D.; COLMA, A. La metodologia para el estudo de la vegetacion. Collecion de


Monografias Cientificas, Serie Biologia, v. 22, n.1, p. 1-168, 1982.

MIZUNO, T. Illustrations of the freshwater plankton of Japan. OSAKA: HOIKUSHA, 319 p.,
1983.

NEWELL, G. E.; NEWELL, R. C. Marini and Plankton: a practical guide. London: Hutchuson
Educational, 1968. 221 p.

PARRA, O. O.; GONZALEZ, M.; DELARROSA, V. Manual taxonômico delfitoplancton de águas


continentales: com especial referência al fitoplâncton de Chile. V. Chlorophyceae. Parte 1:
Vovocales, Tetrasporales, Chlorococcales y Ulotricales. Concepción: EditoralUniversidad de
Concepción, 151 p., 1983.

POMPÊO, M. L. M; CARLOS, V. M. Macrófitas aquáticas e perifíton. São Carlo: Rima, 2003.

PRESCOTT, G.W. Algae of the Western Great Lakes Area: With an illustrated key to the Genera of
Desmids and Fresh water Diatoms. Iowa. Wm. C. Brown Company Publishers, 300 p., 1962.

REVIERS, B. de. Biologia e filogenia das algas. Porto Alegre: Artmed, 2006. 280 p.

ROUND, F. E.; CRAWNFORD, R. M.; MANN, D. G. The diatoms: biology & morphology of the
genera. New York: Cambrigde University Press. 747 p. 1992.

SANT‘ANNA, C. L. Chloroccales (chlorophyceae) do Estado de São Paulo, Brasil. Germany:


STAUSS & CRAMER, 348 p., 1984.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 201


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SANT‘ANNA, C. L.; AZEVEDO, M. T. P.; AJUGARO, L. F.; CARVALHO, M. C.;


CARVALHO, L. R.; SOUZA, R. C. R. Identificação e contagem de Cianobactérias
Planctônicas de Águas Continentais Brasileiras. Rio de Janeiro: Interciência, 2006. 58 p.

SANT‘ANNA, C. L.; AZEVEDO, M. T. P.; WERNER, W. R.; DOGO, C. R.; RIOS, F. R.;
CARVALHO, L. R. Review of toxic species of cyanobacteria in Brazil. Algological Studies,
v.126, p. 249-263, 2008.

SANT‘ANNA, C. L.; GENTIL, R. C.; SILVA, D. Comunidade fitoplanctônica de pesqueiros da


região metropolitana de São Paulo. In: ESTEVES, K. E.; SANT‘ANNA, C. L. Pesqueiros sob
uma visão integrada de meio ambiente, saúde pública e manejo. São Carlos: Rima, 2006. p. 49-
62.

SANT'ANNA, C. L.; AZEVEDO, M. T. P.; AGUJARO, L. F.; CARVALHO, M. C.; SOUZA, R.


C.; CARVALHO, L. R. Manual ilustrado para identificação e contagem de cianobactérias
planctônicas de águas continentais brasileiras. 1. ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2006.

SRH, Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará. Disponível em <


http://atlas.srh.ce.gov.br/infra-estrutura/acudes/index.php?status=1> Acesso em 21 de Janeiro de
2017.

STEVENSON, R. J.; SMOL, J. P. Use of algae in environmental assessments. Freshwater Algae in


North America: Classification and Ecology, p. 775-804, 2003.

TUCCI, A.; SANT‘ANNA, C. L.; GENTIL, R. C.; AZEVEDO, M. T. P. Fitoplâncton do Lago das
Garças, São Paulo, Brasil: um reservatório urbano eutrófico. Hoehnea, v. 33, p. 147-175, 2006.

VERCELLINO, I. S.; BICUDO, D. C. Sucessão da comunidade de algas perifíticas em reservatório


oligotrófico tropical (São Paulo, Brasil): comparação entre período seco e chuvoso. Revista
Brasileira de Botânica, v. 29, n. 3, p. 363-377. 2006.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 202


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

AQUÍFERO GUARANI E A CRISE NO MERCOSUL

Pedro Henrique ROCHA


Estudande de Mestrado da Universidade de Évora
pedro.henrique.rocha.geo@gmail.com
Tamiris Alacoque de Carvalho FREITAS
Estudante de Mestrado da UFJF
tamirislacoque@hotmail.com
Ivair GOMES
Professor Titular Doutor em Geografia UFSJ
ivair@ufsj.edu.br
Arlon Cândido FERREIRA
Mestre em Geografia pela UFSJ
arloncf@gmail.com

RESUMO
O Mercosul (bloco economico formado pela Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela) vem
passando por uma grave crise envolvendo os seus principais membros. Criado em 1991, o Mercusul
tem como objetivo primordial a livre cisculação de bens, serviços e fatores produtivos, politicas
macroeconômicas e setoriais, além da harmonização de legislações nas áreas pertinentes. A atual
crise afeta um dos seus bens naturais mais importantes, o Aquífero Guarani. O Aquífero Guarani é
uma reserva de água existente em parte do subsolo da região do Mercosul, com uma área total de
1.194.800 Km2, sendo a maior parte (70% ou 840 mil Km2) no Brasil e o restante distrubuido entre
o nordeste da Argentina, Noroeste do Uruguai e sudeste do Paraguai, constituindo a maior reserva
de água subterrânea da América do Sul. Para a realização deste trabalho, foi realizado um histórico
politico do bloco, além de levantamento das reguralizações e normativas para formulação de uma
gestão compartilhada do aquífero guarani, onde há uma eminente possibilidade de sua privatização.
Palavras-chaves: Aquífero Guarani; Mercosul; Crise Política; Privatização.
ABSTRACT
The Mercosur (economic bloc formed by Argentina, Brazil, Paraguay, Uruguay and Venezuela) has
been experiencing a serious crisis involving its main members. Created in 1991, Mercusul's primary
objective is the free disposal of goods, services and productive factors, macroeconomic and sectoral
policies, as well as the harmonization of legislation in the relevant areas. The current crisis affects
one of its most important natural assets, the Guarani Aquifer. The Guarani aquifer is a reservoir of
water existing in part of the subsoil of the Mercosur region, with a total area of 1,194,800
Km2,where the majority (70% or 840,000 Km2)is in Brazil and the rest is located between the
northeast of Argentina, Northwest of Uruguay and Southeast of Paraguay, constituting the largest
underground water reserve in South America. In order to carry out this work, a political history of
the block was carried out, as well as a survey of reguralizations and regulations to formulate a
shared management of the Guarani aquifer, where there is an eminent possibility of its privatization.
Keywords: Aquifer Guarani; Mercosul; Political Crisis; Privatization.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 203


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

O Aquífero Guarani é uma reserva de água doce subterrânea com mais de 1,2 milhões de
Km2. Está inserido em quatro países integrantes do bloco econômico Mercosul (Argentina, Brasil,
Paraguai e Uruguais), sendo um importante manancial de águas para o desenvolvimento da
indústria, agricultura e, dependendo da qualidade, para o consumo humano desses países.
É esperado que os países envolvidos tenham forte atuação na regulação e produção de
normas, visando a soberania compartilhada por cada estado membro, com atuações especificas em
cada parte de seu ambiente visando o bem do todo. Entretanto, os interesses sepre visam as
vantagens políticas e econômicas, ficando muito abaixo do necessário para a questão do meio
ambiente.

―Como visto a sociedade hoje é globalizada, o que acarreta problemas globalizados, cujo
interesse de solução não é apenas de um. Assim, modernamente busca-se soluções que
conciliem o conceito de soberania com as atuais necessidades de cooperação e integração
entre os Estados. ‖ (LOPES, GALVÃO & SILVA, pag. 8, 2017).

É evidente que há um interesse de multinacionais na privatização do aquífero guarani, que


consequentemente pode gerar um conflito de interesses entre os países que compõem o Mercosul,
devido principalmente a diferença de detenção do aquífero em seu território.
Tradando dessa temática, esse trabalho vem fazer um breve levantamento histórico sobre a
criação do bloco Mercosul, traçar uma linha do tempo dos últimos anos, das alterações políticas dos
membros principais, uma análise atualizada de como está a atual gestão do Aquífero Guarani pelos
países que detém suas porções avaliando para que rumo as posições políticas atuais e os seus
interesses econômicos vão levar esse bem natural, e os interesses alheiros das multinacionais.

O MERCOSUL

O Mercosul foi criado, partindo de um projeto político com intenções claramente


econômicas de integração bilateral, quando ocorreu a ação para a Integração Brasil Argentina em
1986, estabelecendo modalidades baseadas na complementação industrial, o Programa de
Integração e Cooperação Econômica (PICE), de caráter gradual, flexível e equilibrado, prevendo
tratamentos preferenciais frente a terceiros mercados (Almeida, 2011).
Com o ―Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento‖, relataram que os
presidentes José Sarney (Brasil) e Raul Alfonsín (Argentina) firmaram em 1988 com o objetivo de
consolidar o processo de integração bilateral, onde como meta propôs o estabelecimento de um
mercado comum (Batoli e Rodriguez, 2016).
Segundo Almeida (2011) e Botoli e Rodriguez (2016), com o objetivo de se ter uma
evolução nos acordos comercias na América do Sul, foi criado o Tratado de Assunção em 1991,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 204


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

objetivando a constituição de um mercado comum entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai


dando início ao Mercosul. Sendo um projeto de liberalização completa do comércio intra-regional e
de adoção de uma tarifa externa comum, onde foi estabelecida uma integração econômica
configurada atualmente em uma união aduaneira.
Atualmente segundo o site oficial do Mercosul (2017), o mesmo está composto pela
Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e em 2006 a Venezuela aderiu como efetivo. A Bolívia já é
considerada como membro efetivo, devido ao protocolo de adesão ao Mercosul que foi assinado por
todos os membros efetivos em 2015 e está em processo de incorporação pelos congressos, porém
ainda não atua como efetivo. Há também os membros associados, que são membros que se diferem
dos efetivos pelo grau de integração no bloco e pela não adoção a todos os acordos, ou a não adoção
integral aos acordos, sendo eles: Chile, Equador, Peru, Colômbia, Guiana e Suriname.
O Mercosul tem a abertura para México e Nova Zelândia como membros observadores, que
participam das reuniões, afim de acompanhar as discussões, entretanto não possuem poder de voz
ou possibilidade de votar.

AQUÍFERO GUARANI

O Aquífero Guarani (Figura 01) está inserido na Bacia Geológica Sedimentar do Paraná,
localizada no Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, constituindo a principal reserva de água
subterrânea da América do Sul, como salienta Ribeiro (2008):

O Sistema Aqüífero Guarani está distribuído por uma área de cerca de 1.200.000 km².
Situado na porção Centro-Leste do continente sul-americano, distribui-se pelo território de
quatro países do Cone Sul, todos membros do Mercosul: Argentina, com 255 mil km2;
Paraguai, com área de 58,5 mil km2; Uruguai, onde ocupa cerca de 58,5 mil km2 e Brasil
com a maior partem sendo 840 mil km2 (RIBEIRO; pag. 227; 2008).

Figura 01: Localização do Aquífero Guarani. Fonte: Scientific American Brasil.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 205


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Pinto (2012) e Ribeiro (2008) salientam que a estrutura do aquífero Guarani é complexa e
heterogênea, onde as águas subterrâneas são controladas por formas tectônicas, pelo tipo de fundo e
por condições e forma do terreno, onde a espessura desse aquífero varia de aproximadamente 100
metros até mais de 400 metros de espessura nas áreas centrais da bacia, onde se encontram
confinadas pelos espessos derrames basálticos, cuja espessura máxima pode ultrapassar os mil
metros. É um aquífero poroso e confinado em aproximadamente 90% de sua área total, formado
principalmente por arenitos, sendo sobreposto pelo derrame basáltico, onde os estratos do trifásico
encontram-se na base do aquífero e os estratos jurássicos encontram-se no topo do aquífero.
Ribeiro (2008) revela que a água existente nas porções confinadas do Aquífero Guarani é
proveniente da infiltração da água que ocorreu há centenas ou milhares de anos nas áreas do
afloramento. Ribeiro (2008) ainda ressalta que ao longo tempo de contato entre a água e as rochas,
espera-se maior mineralização das águas à medida que se distanciam das áreas de recarga.

A estrutura geológica da região que abrange o Aquífero Guarani é responsável pelo


armazenamento de água no subsolo. Essa área é formada por rochas sedimentares, muita
areia e pouca argila, características que facilitam a absorção das águas das chuvas, que,
após absorvidas, ficam confinadas em rochas impermeáveis a centenas de metros de
profundidade (FRANCISCO; 2017).

De acordo com Ecoa (2017) com o abastecimento da população, para o desenvolvimento de


atividades econômicas e de lazer, há uma recarga média natural anual de 160 Km³/ano. Onde 40
Km³/ano é constituído do potencial para se tirar proveito econômico sem que ocorra riscos ao
sistema do aquífero, sendo assim considerado como uma importante reserva estratégica. A água
proveniente do aquífero Guarani é em grande maioria é considerada de boa qualidade para o
abastecimento público e outros usos, sendo que em sua porção confinada os poços têm cerca de 1,5
mil metros de profundidade e podem produzir vazões superiores a 700 m³/h.
Segundo Martínez (2006), pela grande extensão do aquífero o seu uso é para fins diversos,
onde na Argentina o uso predominante é a para uso residencial e para fins recreativos (quatro
centros termais habilitados e três em processo de habilitação); no Brasil é utilizado para
abastecimento público, para uso industrial, uso turístico, uso agrícola e produção de energia; no
Paraguai o uso do aquífero Guarani se concentram fundamentalmente para o abastecimento humano
e para a agricultura; e no Uruguai predomina o uso para abastecimento humano e para a indústria, e
em menor proporção a agricultura e o turismo.
De acordo com Pinto (2012), a população na qual abrange a área do aquífero Guarani é
variável em sua densidade e ocupação, onde se estima um total de 92 milhões de pessoas, sendo
90% de brasileiros. Menos 4% da população total na área do aquífero são de paraguaios, porém
mais de 55% da população do país vive na área do aquífero. Argentina e Uruguai possuem pouco
mais de 20% de suas populações totais residentes sobre o aquífero, correspondendo a pouco mais de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 206


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

8% do total populacional da área. Mostrando assim a importância populacional em que o aquífero


Guarani atinge no geral.
A distribuição da população na área do aquífero Guarani não é uniforme: varia entre a quase
zero populacional, até áreas densamente habitadas com mais de 1,5 mil habitantes por quilômetro
quadrado, como ocorre por exemplo em São Paulo. A população paraguaia é a que mais têm
presença rural, enquanto que os demais países (Brasil, Uruguai e Argentina) possuem população
predominantemente urbana (Pinto, 2012).

O acesso a serviços de água também é bastante variável; níveis de escolaridade, atividades


econômicas, acesso a serviços sanitários e esgotamento, entre outros variam bastante, o que
significa que qualquer utilização do Sistema Aqüífero Guarani deve pensar tais questões
que com padrão adequado auxiliarão o desenvolvimento socioeconômico das regiões.
(PINTO; pag. 45; 2012).

No âmbito do Mercosul, segundo Villar (2010), a primeira iniciativa para formular uma
gestão compartilhada em 2004, visando formular um projeto de acordo entre os países ao aquífero
Guarani, porém as atividades foram encerradas, sem a divulgação de qualquer resultado. Sendo
retomado em 2007 pelo Parlamento do Mercosul, que propôs a formação de uma comissão de
estudo, análises e comparações das legislações nacionais sobre recursos hídricos com o propósito de
recomendar aos governos nacionais modificações em seus sistemas internos e um acordo para a
gestão sustentável do aquífero, sugerindo também a criação de um Instituto regional de pesquisa e
desenvolvimento da água subterrânea e proteção de aquíferos.
Porém, ainda segundo Villar (2010), somente em 2010 o Mercosul assinou um tratado para a
gestão do aquífero Guarani, mas é considerado muito fraco, pois seu conteúdo foi pautado
prioritariamente pela soberania dos estados sobre sua porção do aquífero, faltando estratégias de
gestão conjunta, deixando a desejar.

MUDANÇA POLÍTICA NO MERCOSUL

Os países constituintes do Mercosul tomaram as rédeas do ambiente político e econômico na


América do Sul. Porém nos últimos anos houve um desarranjo da estrutura política dos países
constituintes, envolvendo os principais membros efetivos do Mercosul, Paraguai, Argentina e
Brasil.
Em 2012, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo sofreu impeachment devido acusações
de mau uso de quartéis militares, insegurança no país, dentre outras acusações. Que visou a
modificação da organização geopolítica da região, criando no país uma localização estratégica
devido seus reservatórios de água doce e de fontes energéticas, que afetavam principalmente Brasil
e Argentina (Melito, 2012). Para Serrano (2012), é considerado um golpe de Estado, acusa ser uma
manobra no qual Lugo não teve a comprovação de condutas caracterizadoras de ilícitos e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 207


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

anteriormente previstas nas respectivas constituições, sendo os seus direitos não respeitados,
alegando que se tornou uma decisão subjetiva quanto ao cumprimento de certos valores ideológicos.
E isso fez com que fosse criado um ambiente de terror e instabilidade política no Mercosul.
Na Argentina em 2015, houve o início de uma transição política, que após 12 anos se torna
um governo de extrema direita, mudando radicalmente toda a sua forma de governo e
consequentemente, atuação no Mercosul (Turrer, 2015).
Em 2016 o Brasil já enfrentava uma crise política interna, onde já ocorria investigações a
membros do governo da presidente Dilma Rousseff, que era investigado os esquemas da ―Java Jato‖
e do ―Petrolão‖. Porém, somente com as acusações de pedaladas fiscais, foi aberto o processo de
impeachment, que culminou na sua saída em agosto de 2016, mesmo sendo comprovado que não
ocorreu as pedaladas fiscais, por isto foi considerado por estudiosos e críticos como um golpe de
estado.
Segundo Sabin e Abiad (2016) diante dessa situação, a América Latina alterna entre o apoio
e o repúdio ao processo, levando a divisões internas no Mercosul. No primeiro grupo encontra-se a
Argentina, que descreveu o julgamento de Dilma como um ―processo constitucional‖, e no segundo
caso está a Venezuela, que classificou a decisão do Senado brasileiro de golpe de Estado. Enquanto
isso, o Uruguai expressou dúvidas em relação ao processo sem, no entanto, chamá-lo ―golpe‖.
Com o fim do mandato de representação do bloco do Mercosul exercido pelo Uruguai
durante 6 meses, até o final de julho de 2016, ocorreu outro imbróglio político. O sucessor imediato
seria a Venezuela, cumprindo a ordem alfabética estipulada para a rotação da presidência, porém
houve uma denúncia de descumprimento de deveres, sendo questionada a qualidade da democracia
no país e o compromisso de adesão ao bloco, sendo desconsiderado o mandato de condução e a
suspensão de sua vaga no Mercosul. A denúncia foi realizada pelo Brasil, Argentina e Paraguai,
sendo que o Uruguai preferiu se manter neutro.

DIVERGÊNCIAS DE INTERESSE AO AQUÍFERO

O Brasil, por conter a maior parte das reservas do aquífero Guarani em seu território, vem
sendo sondado por multinacionais em cima de políticos para que o governo privatize um dos mais
importantes recursos hídricos. Relata-se que representantes de Nestlé e da Coca-Cola têm realizado
encontros reservados com autoridades do atual governo, Michel Temer, no sentido de formular
procedimentos necessários à exploração pelas empresas privadas de mananciais, principalmente no
Aquífero Guarani, em contratos de concessão para mais de 100 anos.
Daher (2016) revela, que há, segundo fontes, essa ligação entre empresas que querem
privatizar o aquífero e o presidente do Brasil, Michel Temer:

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 208


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Recentemente, na levada que a política neoliberal sugeria no passado, agora oficializada


por um golpe de Estado, alguns departamentos e técnicos da Agência Nacional de Águas
(ANA), sob condição de anonimato, têm revelado a presença do aquífero em lista dos bens
públicos privatizáveis. (DAHER; 2016)

A segundo site oficial da Coca-Cola (2017), ela é composta de sedes na América do Sul nos
países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.
Um fator que se torna facilitador para as negociações com o presidente do Brasil é possuir um
brasileiro a frente das operações da na América do Sul.
Com relação a Nestle, fator que vai de encontro com as afirmações das negociações da
privatização do aquífero Guarani, é que se tem intensificado nos últimos anos investimentos na
América do Sul. Em entrevista apresentada por Saco (2015), o executivo-chefe da companhia, Paul
Bulcke enfatizou que os investimentos se multiplicam na região, com novas fábricas no Brasil e no
Cone Sul de uma forma geral, o que para ele mostra uma confiança nesta parte do mundo, onde ele
visa o maior crescimento devido a potencialidade da região.
Outro fator, sendo esse muito mais enfático ao tema, é que de acordo com Samson (2016)
em 2013, o presidente da Nestlé afirma que a resposta às questões globais da água é a privatização,
onde acredita que "o acesso à água não é um direito público". Sendo essa questão totalmente
possível de relacionar ao momento atual da América do Sul que relatam a possível privatização do
aquífero Guarani.
A soberania, segundo Mello e Silva (2013), relativizada em função dos efeitos da
cooperação internacional, é também dependente, repartida e diferenciada, onde se destaca:

[...] aquilo que se encontra delineado no art. 2º da Carta da Organização das Nações Unidas
(ONU), qual seja, a igualdade soberana entre os Estados, apenas se efetiva no plano teórico,
uma vez que no plano da prática, se desmantela pela desigualdade entre os Estados e pela
prevalência de interesse dos mais fortes (MELLO & SILVA; pag. 115; 2013).

Segundo Bendlin (2011), a porção brasileira do Aquífero Guarani favorece o papel de


liderança regional do Brasil, onde é preponderante em relação aos seus países limítrofes. A análise
referente aos elementos básicos de geopolítica demonstra o predomínio do Brasil em particular,
suas condições geográficas, forma e posição do seu território. Porém a postura de ―softpower‖
imposta pelo atual governo em relação ao aspecto estratégico de manutenção de poder sobre o
Aquífero Guarani é duvidosa.
Após a vitória da direita conservadora na Argentina e dos processos de impeachment nos
quais assumiram a liderança posteriormente a ultradireita, tanto no Paraguai quanto no Brasil,
restou ao Uruguai votar contra a privatização do aquífero, o qual tem a menor parte no aquífero,
fazendo com que tem uma força contraria muito baixa e questionável.
Para bens naturais compartilhados entre Estados, Lopes et al., (pag. 02; 2017), avaliam que:
―Esses recursos estão em países independentes e soberanos e a proteção ambiental no contexto

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 209


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

moderno está desencadeando um rompimento dessa barreira imaginária dos países, ferindo
inclusive a soberania dos Estados. ‖
Baseando em Martínez (2006), outro fator que enfraquece a segurança é que o Mercosul em
todos os seus anos de existência tem se mostrado ineficiente para coordenar medidas de proteção às
águas subterrâneas do aquífero Guarani, mesmo sendo, como foi ressaltado anteriormente,
considerado uma reserva estratégica para o desenvolvimento local e regional do bloco econômico,
onde mostra-se nesta questão ambiental um rotundo fracasso. Questão essa que facilitaria a
privatização, onde possivelmente esse aspecto será salientado, com o objetivo da privatização, de
uma falsa segurança ao bem ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A América do Sul poderia estar hoje muito mais desenvolvidos se as riquezas não fossem
alvo dos ataques das grandes transnacionais da produção de alimentos, produtos de beleza, petróleo
e mineração. Porém na ausência de políticas rígidas que prezem pela soberania nacional sobre os
recursos naturais impede o desenvolvimento e a consolidação como potência econômica.
Os diplomatas Brasileiros, Argentinos e Paraguaios estão mais preocupados em tirar o poder
dos governos contrários com o objetivo de desconstruir e deslegitimar as políticas públicas da
esquerda latino-americana, do que visar a preservação do lado ambiental. O que faz uma barreira a
privatização.
A tendência é haver um isolamento do Uruguai, como ocorreu da Venezuela no Mercosul
por terem opiniões divergentes dos demais países, sendo uma prática de afronta aos governos
progressistas. A soberania absoluta, na forma clássica como descrita no direito internacional, apenas
tende a fazer com que se percam todas as prerrogativas destes países sobre o aquífero guarani,
especialmente diante de um cenário de pressão internacional, movido a grandes interesses
econômicos e políticos.

Na atual realidade pós-moderna, as questões ambientais não se restringem ao território dos


Estados. A percepção do caráter transfronteiriço dos danos ambientais [...] torna cada vez
mais insustentável o discurso dogmático da soberania absoluta dos Estados no âmbito
internacional (PACHECO, pag.10, 2017).

Baseado em Ribeiro (2008), que ressalta que ainda não é de conhecimento técnico todas as
estruturas, o funcionamento, a potencialidade e características hidráulicas do aquífero, despertam
muitas dúvidas e incertezas o futuro do aquífero Guarani, pode se afirmar que a privatização possa
ser um erro ao não saber a real potência do manancial por um todo.
Na visão dos autores desse trabalho a privatização do aquífero Guarani não é a melhor forma
de gerir esse bem natural que, como já foi ressaltado, não há estudos aprofundados sobre o potencial

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 210


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

real. Podendo ser gerido como um bem público voltado para toda a população e não somente para
multinacionais.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, P. R. Uma história do Mercosul (1): do nascimento à crise. Revista Espaço


Acadêmico, Maringá, n. 199, p.106-114, 2011. Mensal.

BENDLIN, L. G. Análise Geopolítica do Aquífero Guarani. 2011. 46 f. TCC (Graduação) - Curso


de Geografia, Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2011.

BORTOLI, D. L.; RODRIGUEZ, V. G. A Crise Político-Institucional do Mercosul: Perspectiva


Brasileira. Boletim de Conjuntura Nerint, Porto Alegre, v. 1, n. 2, p.28-38, 2016.

COCA-COLA. The Coca-Cola Company. Disponível em: <http://www.cocacolabrasil.com.b r/> .


Acesso em: 01 abr. 2017.

REDAÇÃO. Multinacionais Querem Privatizar Uso da Água e Temer Negocia. Brasília, 22 ago.
2016. Disponível em: <http://www.correiodobrasil.com.br/multinacionais-querem-privatizar-
uso-da-agua-e-temer-negocia/>. Acesso em: 15 mar. 2017.

DAHER, R. O que faremos com a Aquífero Guarani?. Brasília, 25 out 2016. Disponível em
:<https://www.cartacapital.com.br/economia/o-que-faremos-com-o-aquifero-guarani>. Acesso
em: 20 mar. 2017.

FRANCISCO, W. C. Aquífero Guarani. São Paulo. Disponível em <http://brasilescola.uol


.com.br/brasil/aquifero-guarani.htm>. Acesso em: 18 mar. 2017.

LOPES, M. A.; GALVÃO, S. M.; SILVA, T. M. C. Soberania Ambiental. In: CONGRESSO


NACIONAL DO CONPEDI, 15., 2006, Manaus. Manaus: Conpedi, 2006. v. 1, p. 1 - 14.

MACHADO, J. L. F. Compartimentação espacial e arcabouço hidroestratigráfico do Sistema


Aqüífero Guarani no Rio Grande do Sul. 2005. 145 f. Tese (Doutorado) - Curso de Programa de
Pós-graduação em Geologia, Escola Politécnica, Universidade do Vale do Rio do Sinos, São
Leopoldo, 2005.

MARTÍNEZ, M. M. O Aquífero Guarani no âmbito do Mercosul. 2006. 159 f. Dissertação


(Mestrado) - Curso de Curso de Mestrado de Integração Latino- Americana, Universidade
Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2006

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 211


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MELITO, L. O Impeachment de Lugo e a Crise no Paraguai. Brasília: Ebc, 11 dez. 2012. Diário.
Disponível em: <http://www.ebc.com.br/noticias/internacional/2012/12/o-impeachment-de-lugo-
e-a-crise-institucional-no-paraguai>. Acesso em: 21 mar. 2017.4

MELLO, R. C.; SILVA, M. B. O. Epistemologias do Sul e Soberania Ambiental: A necessidade de


superação do pensamento Abissal. Revista Eletrônica do Curso de Direito da Ufsm, [s.l.], v. 8,
p.107-119, 4 abr. 2013. Universidad Federal de Santa Maria.

MERCOSUL. Mercosul. Disponível em: <http://www.mercosur.int>. Acesso em: 18 mar. 2017.

PACHECO, A. C. A. Soberania Nacional e Meio Ambiente Global: Desafios ao Direito do Século


XXI. In: 3 Semana Jurídica da Universidade de São Paulo. 2011, Ribeirão Preto. Ribeirão Preto:
Usp, 2011. v. 1, p. 1 - 258.

PINTO, P. L. S. Os Recursos Hídricos do Sistema Aqüífero Guarani Ante as Visões de Soberania


Absoluta e Mitigada. 2012. 235 f. Tese (Doutorado) - Curso de Curso de Ciências Jurídicas e
Sociais, Universidade del Museo Social Argentino, Buenos Aires, 2012.

RIBEIRO, W. C. Aqüífero Guarani: gestão compartilhada e soberania. Estudos Avançados, [s.l.],


v. 22, n. 64, p.227-238, dez. 2008. FapUNIFESP (SciELO).

SABINO, M. A.; ABIAD, P. Crise do Mercosul: Presidência pro tempore da Venezuela. São
Paulo: Desenvolvendo Ideias, 2016. 15 p.

SACO, I. América Latina é a Região do Futuro, diz CEO da Nestlé. São Paulo: Abril, 19 fev. 2015.
Mensal. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/negocios/america-latina-e-a-regiao-do-
futuro-diz-ceo-da-nestle/>. Acesso em: 01 abr. 2017.

SAMSON, K. The Privatization of Water: Nestlé Denies that Water is a Fundamental Human
Right. 2016. Disponível em: <http://www.globalresearch.ca/the-privatisation-of-water-nestle-
denies-that-water-is-a-fundamental-human-right/5332238>. Acesso em: 01 abr. 2017.

SERRANO, P. E. Impeachment de Fernando Lugo foi Sim, um Golpe. São Paulo, 22 jun. 2012.
Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/internacional/impeachment-de-fernando-lugo-
foi-sim-um-golpe>. Acesso em: 21 mar. 2017.

SUPER INTERESSANTE. Aqüífero Guarani. nº 07; ano 13; 1999. Apud: Ecoa. Aqüífero
Guarani. Disponível em: <http://riosvivos.org.br/a/Canal/Aquifero+Guarani/278>. Acesso em:
17 mar. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 212


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TURRER, R. A vitória de Mauricio Macri na Argentina é um não ao autoritarismo. Buenos Aires.


2015. Disponível em : <http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/12 /vitoria-de-mauricio-
macri-na-argentina-e-um-nao-ao-autoritarismo.html>. Acesso em: 18 mar. 2017.

UOL. Entenda a crise que levou à destituição do presidente Lugo no Paraguai. 2012. Disponível
em: <https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2012/06/22/entenda-a-crise-que-
levou-a-destituicao-do-presidente-lugo-no-paraguai.htm>. Acesso em: 21 mar. 2017.

VEJA. Fernando Lugo é cassado e deixa Presidência do Paraguai. 2012. Disponível em:
<http://veja.abril.com.br/mundo/fernando-lugo-e-cassado-e-deixa-presidencia-do-paraguai/ > .
Acesso em: 21 mar. 2017.

RIBEIRO, W.C. Gestão das Áreas de Recarga do Aqüífero Guarani: o caso do município de
Ribeirão Preto, São Paulo. 2008. 184 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Programa de Pós
Graduação em Ciência Ambiental, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

VILLAR, P. C. Gestão das águas subterrâneas e o Aquífero Guarani: desafios e avanços. In: Anais
orgazicional: ENCONTRO NACIONAL DA ANPPAS, 5., 2010, Florianópolis. Florianópolis:
Anppas, 2010. p. 1 - 17.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 213


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

AVALIAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE CIANOBACTÉRIAS EM UM RESERVATÓRIO


8
DO SUL CEARENSE

Samara Alves de ALENCAR9


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da URCA.
samaraalencar05@hotmail.com
Ana Maria do Nascimento CARDOSO
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da URCA
Elaine Cristina Conceição de OLIVEIRA
Mestre em Bioprospecção Molecular, Universidade Regional do Cariri – URCA
Sírleis Rodrigues LACERDA
Orientadora, Professora do Departamento de Ciências Biológicas DCBio/URCA

RESUMO
Devido ao uso indiscriminado da água, os mananciais vêm sofrendo alterações na quantidade e
qualidade desse recurso, o que requer um monitoramento constante e efetivo para manter sua vida
útil e evitar riscos à biota. Assim, sendo os organismos fitoplanctônicos importantes bioindicadores
da qualidade hídrica, o presente estudo teve como objetivo caracterizar a composição de
Cianobactérias e avaliar a sua ocorrência em um reservatório de abastecimento público, localizado
em Lavras da Mangabeira – CE. As coletas foram realizadas, mensalmente, no período de fevereiro
a abril/2017, caracterizando o período chuvoso. As amostras do fitoplâncton foram coletadas
através de arrastos superficiais com rede de plâncton (20 µm), fixadas com formol a 4%, sendo
posteriormente, transportadas para o acervo do Laboratório de Botânica-LaB da Universidade
Regional do Cariri – URCA, onde se efetuou as etapas de identificação por microscopia óptica e
bibliografia especializada. A comunidade de Cianobactérias esteve representada por nove táxons, os
quais mostraram-se distribuídos em quatro ordens e sete famílias, sendo que Chroococcales foi a
ordem que apresentou maior número de representantes (4). Quanto à avaliação da ocorrência dos
táxons, dois (2) foram categorizados como Muito Frequentes sendo, Aphanocapsa delicatissima
West & G. S. West e Merismopedia sp., ambos indicadores de ambientes com importantes
alterações tróficas. Cyanobacteria consiste em um grupo potencialmente tóxico, onde todos os seus
representantes, a princípio, são capazes de produzir algum tipo de substância tóxica, que assim
sendo, merece especial atenção nos programas de controle ambiental de ecossistemas aquáticos,
uma vez que podem ser prejudiciais tanto à biota aquática quanto à saúde humana.
Palavras-chave: Qualidade Hídrica; Composição Fitoplanctônica; Algas Azuis.
ABSTRACT
Due to the indiscriminate use of water, the springs are undergoing changes in the quantity and
quality of this resource, which requires a constant and effective monitoring to maintain its useful
life and to avoid risks to the biota. Thus, as phytoplankton organisms are important bioindicators of
water quality, the present study aimed to characterize the composition of Cyanobacteria and
evaluate their occurrence in a public supply reservoir, located in Lavras of the Mangabeira - CE.
The collections were carried out, monthly, from february to april / 2017, characterizing the rainy
season. The phytoplankton samples were collected by means of surface trawls with plankton net (20

8
Laboratório de Botânica, Universidade Regional do Cariri – URCA
9
Bolsista FUNCAP

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 214


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

μm), fixed with 4% formaldehyde, and then transported to the collection of the Laboratory of
Botany-LaB of the Regional University of Cariri - URCA, where it was carried out The steps of
identification by optical microscopy and specialized bibliography. The Cyanobacteria community
was represented by nine taxa, which were distributed in four orders and seven families, and
Chroococcales was the order that presented the highest number of representatives (4). As for the
evaluation of the occurrence of the taxa, two (2) were categorized as very frequent being
Aphanocapsa delicatissima West & G. S. West and Merismopedia sp., both indicators of
environments with important trophic changes. Cyanobacteria consists of a potentially toxic group,
where all its representatives are, in principle, capable of producing some type of toxic substance,
which therefore deserves special attention in the programs of environmental control of aquatic
ecosystems, since they can be harmful both aquatic biota as to human health.
Keywords: Water Quality; Phytoplankton Composition; Blue Algae.

INTRODUÇÃO

De modo geral, os mananciais têm sido utilizados de forma indiscriminada, encontrando


sempre novos usos, sem avaliar as consequências ambientais em relação à quantidade e qualidade
da água. Essa realidade somada ao aumento populacional em escala mundial no último século, tem
intensificado a escassez hídrica em determinadas regiões do planeta, especialmente, devido aos
fatores antrópicos ligados à ocupação do solo, à poluição e contaminação dos corpos de águas
superficiais e subterrâneos (BACCI; PATACA, 2008).
A degradação ambiental de origem antrópica vem alterando a qualidade dos recursos
hídricos, em especial os situados no semiárido, onde as condições ambientais são desfavoráveis,
com altas taxas de evaporação, rios intermitentes, cobertura vegetal ineficiente e reduzida
capacidade de autodepuração (VIEIRA; GONDIM FILHO, 2006). Outro fator limitante da
qualidade da água está relacionado com o lançamento de efluentes e resíduos sólidos nos corpos
d‘água, o que aumenta a quantidade de nutrientes provenientes da matéria orgânica, principalmente
nitrogênio e fósforo, contribuindo para a eutrofização dos ecossistemas aquáticos (OLIVEIRA;
MOLICA, 2017).
Para a avaliação desses ambientes o conhecimento da microflórula se constitui em uma
importante ferramenta de monitoramento, uma vez que estes organismos atuam no ecossistema
aquático como bioindicadores da qualidade da água (TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI, 2008).
O fitoplâncton, que é composto por tais organismos, caracteriza-se ainda como produtores
primários, uma vez que são fotossintetizantes, e, portanto, considerados base da cadeia trófica.
Consistem em seres unicelulares, com modo de vida colonial, isolado ou filamentoso, e que vivem
livres, se mantendo flutuantes na coluna d‘água. Essa comunidade é bastante diversa e representada
por vários grupos, dentre os quais, está Cyanobacteria, que em função dos riscos que uma grande
parte de suas espécies pode acarretar à vida aquática e à saúde pública, tem recebido especial
atenção nos estudos de monitoramento da qualidade hídrica, particularmente, naqueles

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 215


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

desenvolvidos em reservatórios de abastecimento humano, por tratar-se de seres potencialmente


tóxicos e que apresentam variados efeitos adversos.
As Cianobactérias são encontradas nos mais diversos habitats, desenvolvendo-se bem em
ambientes ricos em matéria orgânica. Assim, a predominância destes organismos está relacionada às
características do meio, que quando enriquecidos em nutrientes, principalmente, nitrogênio e
fósforo, podem ocasionar florações, que consiste no crescimento excessivo de seus representantes
(ESTEVES, 1998). Assim, considerando que toda Cianobactéria é potencialmente produtora de
toxina, e que podem causar sérios danos à vida animal e também à saúde humana (BRASIL, 2015),
o presente estudo teve como objetivo caracterizar a sua composição e avaliar a sua ocorrência em
um reservatório de abastecimento público, localizado em Lavras da Mangabeira – CE, bem como a
partir dos dados taxonômicos registrados, relacionar a ecologia dos representantes com o estado
trófico do referido reservatório.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

O Reservatório Rosário (Figura 1), ambiente do presente estudo, localiza-se no Distrito de


Quitaiús, município de Lavras da Mangabeira - Ceará (6° 53‘ 20.81‘‘ S, 39° 4‘ 50.72‘‘ W). Trata-se
de um reservatório destinado ao abastecimento público, e que pertence à Sub-Bacia do Rio Salgado,
sendo monitorado pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos – COGERH. Possui uma
capacidade hídrica de 47.200.000 m³ (SRH, 2015), e de acordo com dados do IBGE (2010), o
município de Lavras da Mangabeira possui uma área de 948 km², com uma população estimada em
31.359 habitantes para o ano de 2016.
A Sub-Bacia do rio Salgado compõe a Bacia do rio Jaguaribe e possui uma área de
drenagem de 12.865 km², abrangendo 23 municípios do sul do estado, o que corresponde a 8,25%
do território cearense, sendo o Salgado, o seu principal rio (COGERH, 2007).

Figura 1: Imagem de satélite da área de estudo, Reservatório Rosário, Lavras da Mangabeira/CE.


Fonte: Google Earth, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 216


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Obtenção e análise das amostras

As amostras para o estudo taxonômico foram coletadas no período de fevereiro a abril/2017,


meses que integram o período chuvoso (IPECE, 2015), as quais foram obtidas a partir de diferentes
pontos de amostragem através de arrastos subsuperficiais com rede de plâncton de 20 µm, sendo em
seguida, acondicionadas em frascos de polietileno, fixadas com formol a 4-% (NEWELL;
NEWELL, 1968), e depositadas no acervo do Laboratório de Botânica da Universidade Regional do
Cariri – URCA, onde se efetuou a identificação taxonômica a nível genérico e infragenérico,
utilizando-se microscópio óptico Motic BA310 acoplado a uma câmera fotográfica.
A frequência de ocorrência foi determinada de acordo com a fórmula de Mateucci e Colma
(1982), através da qual os táxons foram categorizados como Muito Frequente (> 70%), Frequente (≤
70 > 40%), Pouco Frequente (≤ 40 > 10%) ou Esporádico (≤ 10%).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A composição da comunidade de Cianobactérias do Reservatório Rosário esteve


representada por nove táxons, os quais estiveram distribuídos em quatro ordens e sete famílias. A
ordem Chroococcales apresentou maior número de representantes (4), sendo estes pertencentes às
famílias Merismopediaceae e Microcystaceae, seguida das ordens Nostocales (2), Oscillatoriales (2)
e Pseudanabaenales (1) conforme pode ser visto na Tabela 1.

Tabela 1 – Sistematização e frequência de ocorrência (F. O.) dos táxons de cianobactérias registrados no
Reservatório Rosário - Lavras da Mangabeira/CE, a partir dos pontos amostrados. Classificação: Muito
Frequente (MF), Frequente (F) e Pouco Frequente (PF).
AMOSTRAGEM (2017)
FEVEREIRO MARÇO ABRIL (%) F. O.
P1 P2 P3 P1 P2 P3 P1 P2 P3
CYANOBACTERIA
CYANOPHYCEAE
CHROOCOCCALES
MERISMOPEDIACEAE
Aphanocapsa delicatissima West & G. S.
X X X X X X X X X 100% MF
West
Merismopedia glauca (Ehrenberg) Kützing X X X X X X X 78% MF
Merismopedia sp. X X X X X X X X 89% MF
MICROCYSTACEAE
Microcystis sp. X X X X 44% F
NOSTOCALES
NOSTOCACEAE
Nostoc sp. X 11% PF
RIVULARIACEAE
Calothrix sp. X 11% PF
OSCILLATORIALES
OSCILLATORIACEAE
Oscillatoria sp. X X X 33% PF
PHORMIDIACEAE
Phormidium sp. X 11% PF
PSEUDANABAENALES
PSEUDANABAENACEAE
Pseudanabaena catenata Lauterborn X X X X X 56% F

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 217


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

As Cianobactérias consistem em grupo extremamente oportunista, sendo seu crescimento


exagerado, geralmente, relacionado com a eutrofização (BELLINGER; SIGEE, 2010). Estão
presentes nos mais variados ecossistemas, principalmente em ambientes de água doce (ESTEVES,
1998), e em decorrência de suas características fisiológicas e morfológicas, são consideradas
excelentes colonizadoras ambientais, desenvolvendo-se bem em ambientes com alta concentração
de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo (CALIJURI; ALVES; SANTOS, 2006).
Nos últimos anos, o incremento das atividades de piscicultura intensiva (tanques-rede) tem
sido apontado como as causas mais frequentes do processo de eutrofização artificial, provocando
maior incidência de florações de cianobactérias (FERNANDES et al., 2009). Esse fato sugere um
monitoramento mais efetivo de tais organismos no ambiente do presente estudo, uma vez que tais
atividades são desenvolvidas em suas águas.
As microalgas e Cianobactérias quando em condições ideais podem ocasionar florações, o
que pode causar impactos econômicos, ambientais ou de saúde pública. Uma das consequências
mais preocupantes das florações é a liberação de toxinas no meio aquático, uma vez que as mesmas
causam maus odores decorrentes da liberação de gases, diminuição da biodiversidade aquática,
diminuição do uso da água para o consumo e atividades diárias, e elevação nos custos do tratamento
da água (LAMPARELLI, 2004).
Em termos de frequência de ocorrência, Aphanocapsa delicatissima West & G. S. West,
Merismopedia glauca (Ehrenberg) Kützing e Merismopedia sp. foram categorizados como Muito
Frequente (33%), seguidos de Pseudanabaena catenata Lauterborn e Microcystis sp. classificados
como Frequente (22%) e enquadraram-se como Pouco Frequente os táxons: Oscillatoria sp.,
Phormidium sp., Calothrix sp. e Nostoc sp. (45%).
Embora os gêneros Oscillatoria e Phormidium tenham apresentado ocorrência Pouco
Frequente, ambos são descritos na literatura como produtores de neurotoxinas e hepatotoxinas, e
Nostoc também tem registros tóxicos envolvendo a produção de hepatotoxina. As neurotoxinas são
caracterizadas por sua ação rápida, podendo causar a morte de vertebrados por parada respiratória
após poucos minutos de exposição, já as hepatotoxinas é o tipo mais comum de intoxicação
envolvendo as Cianobactérias, e apresentam ação mais lenta quando comparadas as neurotoxinas
(BRASIL, 2015). Assim, faz-se necessário um acompanhamento constante do ecossistema aquático
em questão, pois trata-se de um reservatório de abastecimento público, utilizado para diversas
atividades, que além do consumo humano direto, também se destina à irrigação, ao lazer, cultivo de
peixes em tanques-rede, dentre outras formas de uso.
Calothrix apresenta talo filamentoso e a maioria de suas espécies ocorre em águas
continentais, porém, sua taxonomia é ainda bastante problemática. Já Nostoc, consiste em gênero

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 218


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

bem distribuído em todo o mundo, e assim como Calothrix, tem a maioria das suas espécies
ocorrendo no perifíton (BICUDO; MENEZES, 2006).
Os representantes do gênero Merismopedia são coloniais, cosmopolitas e comumente
encontrados em águas eutrofizadas nos reservatórios brasileiros. Microcystis é um gênero também
colonial de hábito planctônico, encontrado em ambientes que variam de meso ou levemente
eutróficos, sendo capazes de formarem florações nos corpos d‘água quando em condições ideais
para o seu desenvolvimento, e, portanto, há necessidade de maior atenção para a ocorrência desse
táxon, uma vez que o mesmo possui espécies capazes de produzir toxinas (BICUDO; MENEZES,
2006). Este último é conhecido por sintetizar uma hepatotoxina denominada microcistina
(CALIJURI; ALVES; SANTOS, 2006).
O gênero Pseudanabaena pode ser encontrado tanto na comunidade perifítica quanto
planctônica (BICUDO; MENEZES, 2006). E de acordo com Fernandes et al. (2009), já há registros
tóxicos para esse táxon. Com relação ao gênero Aphanocapsa, este é colonial, e ocorre em habitats
variados, mas principalmente no plâncton, estando relacionada com águas ricas em nutrientes
(REYNOLDS et al., 2002). Este último táxon é bem conhecido nos registros de toxicidade
publicados, e segundo Brasil (2015), está envolvido na produção de hepatotoxinas.
Nos trabalhos relativos às florações de Cianobactérias no Brasil, apesar de pouco
numerosos, há evidências de que essas florações estejam associadas a extensos períodos estivais,
nos quais a ausência de chuvas provoca uma alta taxa de retenção da água. Esse fenômeno natural,
associado a um balanço ideal de nutrientes e à elevação da temperatura, pode propiciar condições
favoráveis ao desenvolvimento excessivo desses organismos (JARDIM et al., 2014).
Dessa forma, o conhecimento aprofundado das características desse grupo, assim como o
entendimento da necessidade de controle de sua proliferação, são fatores que devem ser
considerados (LAPOLLI; CORAL; RECIO, 2011).

CONCLUSÃO

O Reservatório Rosário, ambiente desse estudo, apresentou uma comunidade de


Cianobactérias composta por nove táxons, dentre os quais, Aphanocapsa delicatissima West & G.
S. West, Merismopedia glauca (Ehrenberg) Kützing e Merismopedia sp. foram classificados como
Muito Frequentes no período de amostragem. Tais espécies apresentam ecologia relacionada a
ambientes ricos em nutrientes.
Desse modo, por ser Cyanobacteria um grupo potencialmente tóxico, onde todos os seus
representantes, a princípio, são capazes de produzir algum tipo de substância tóxica, e sendo estas
prejudiciais tanto à biota aquática que compartilha do mesmo ecossistema quanto à saúde humana, é
de extrema importância que o reservatório estudado tenha um acompanhamento contínuo e que

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 219


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

garanta a aplicação de medidas de controle relacionadas ao desenvolvimento desses organismos,


bem como à produção de cianotoxinas.
A comunidade fitoplanctônica é, de modo geral, bioindicadora da qualidade hídrica, e
estudos relacionados particularmente às Cianobactérias, tem recebido especial atenção em função
dos variados efeitos nocivos a elas associadas, além de que, estudos voltados a conhecer sua
composição e estrutura em muito contribui para o entendimento das condições ambientais, tais
como, perturbações oriundas de ações antrópicas que possam estar afetando direta ou indiretamente
a dinâmica natural de funcionamento dos corpos d‘água.

REFERÊNCIAS

BACCI, D. C.; PATACA, E. M. Educação para a água. Estudos avançados, v. 22, n. 63. 2008. p.
211-226.

BELLINGER, E. G.; SIGEE, D. C. Freshwater algae: Identification and use as bioindicators.


Wiley-Blackwell, Oxford, 2010.

BICUDO, C. E. M.; MENEZES, M. Gêneros de algas de águas continentais do Brasil (chave para
identificação e descrições). 2ª ed. São Carlos: Rima, 2006. 502 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Cianobactérias/cianotoxinas: procedimentos de coleta, preservação


e análise. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 106 p.

CALIJURI, M. C.; ALVES, M. S. A.; SANTOS, A. C. A. Cianobactérias e cianotoxinas em águas


continentais. São Carlos: Rima, 2006. 118 p.

COGERH - Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos. Vamos conhecer o Salgado (Cartilha
técnica). Crato/CE, 2007.

ESTEVES, F. A. Fundamentos de Limnologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Interciência, 1998.

FERNANDES, V.O.; CAVATI, B.; SOUZA, B.D.; MACHADO, R.G.; COSTA, A.G. Lagoa Mãe-
Bá (Guarapari – Anchieta, ES): Um ecossistema com Potencial de Florações de
Cianobactérias?.Oecologia Brasiliensis 13:366-381. 2009.

FRANCESCHINI, I. M.; BURLIGA, A. L.; RAVIERS, B.; PRADO, J. F.; RÉZIG, S. H. Algas:
uma abordagem filogenética, taxonômica e ecológica. Porto Alegre: Artmed, 2010. 332 p.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2010. Disponível em:


<http://atlas.srh.ce.gov.br/>. Acesso em: julho, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 220


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

IPECE. Perfil Básico Municipal: Lavras da Mangabeira. Fortaleza, 2015. 18 p.

JARDIM, F. A.; SPERLING, E. V.; JARDIM, B. F. M.; ALMEIDA, K. C. B. Fatores


determinantes das florações de cianobactérias na água do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil.
Revista de Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 19, n. 3, 2014. p. 207-218.

LAMPARELLI, M. C. Graus de trofia em corpos d'água do estado de São Paulo: avaliação dos
métodos de monitoramento. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. 2004.

LAPOLLI, F. R.; CORAL, L. A.; RECIO, M. A. L. Cianobactérias em Mananciais de


Abastecimento – Problemática e Métodos de Remoção. Revista DAE, 2011. p. 10-17.

MATEUCCI, S.D.; COLMA, A. La metodologia para el estudo de la vegetacion. Collecion de


Monografias Cientificas, Serie Biologia, v. 22, n. 1. 1982. p. 1-168.

NEWELL, G. E., NEWELL, R. C. Marini and Plankton: a pratical guide.London: Hutchuson


Educational, 1968. 221 p.

OLIVEIRA, E. J. A.; MOLICA, R. J. R. A poluição das águas e as cianobactérias. Recife: IFPE,


2017. 33 p.

REYNOLDS, C. S.; HUSZAR, V.; KRUK, C.; NASELLI-FLORES, L.; MELO, S. Towards a
functional classification of the freshwater phytoplankton. Journal of Plankton Research, v. 24, n.
5. 2002. p. 417-428.

SRH – SECRETARIA DE RECURSOS HÍDRICOS. Atlas Eletrônico dos Recursos Hídricos do


Ceará (Açude Rosário, Lavras da Mangabeira), 2015. Disponível em:
<http://atlas.srh.ce.gov.br/infraestrutura/fotos.php?cd_acude=206&status=1&objeto=acudes>.
Acesso em: julho, 2017.

TUNDISI, J. G.; MATSUMURA-TUNDISI, T. Limnologia. 1ª ed. São Paulo: Oficina de Texto,


2008. 631 p.

VIEIRA, V. P. P. B.; GONDIM FILHO, J. G. C.; Águas doce no semiárido. In: REBOUÇAS, A.
C.; BRAGA, B.; TUNDISI, J. G. (Org.). Águas doces no Brasil. Capital Ecológico, Uso e
Conservação. 3ª ed. São Paulo, Escrituras, 2006.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 221


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ESTUDO COM MATERIAIS ALTERNATIVOS APLICADOS COMO MANTAS EM


BARRAGENS SUBTERRÂNEAS

Letícia Moreira de CARVALHO


Graduanda em Engenharia Civil - UFERSA
lmcleticia12@gmail.com
José Flávio TIMOTEO JUNIOR
Professor Dr. em Ciências e Engenharia de Materiais
Joel Medeiros BEZERRA
Professor Dr. em Engenharia Agrícola
Clawsio Rogério Cruz de SOUSA
Dr. em Ciência e Engenharia dos Materiais
clawsio.cruz@ufersa.edu.br

RESUMO
A água é um elemento essencial à vida e sua escassez é um grande problema enfrentado por regiões
como o Semiárido Brasileiro. Surge, diante desse cenário, a necessidade de encontrar formas de
armazenar este recurso. Uma das alternativas para solucionar esse problema é a barragem
subterrânea, que tem a função de armazenar água no subsolo, visando captar água por meio de
processo de baixo custo e alta eficiência. O presente estudo, teve como objetivo avaliar a utilização
de mantas alternativas no barramento da água. Foram analisados, a manta sintética de geotêxtil e a
natural de fibra de Carnaúba, a fim de verificar o comportamento na retenção de água através do
estudo de permeabilidade do conjunto solo-manta. Foi realizada a visita técnica à propriedade rural
Fazenda Serra da Madalena, localizada na cidade São Francisco do Oeste - RN, onde foram
coletadas nove amostras de solos não deformadas consistindo de três tipos: solo argiloso, solo com
maior teor de matéria orgânica e solo arenoso. As amostras foram analisadas no laboratório de
Química Aplicada da UFERSA – Pau dos Ferros. O experimento de condutividade hidráulica foi o
de permeâmetro de carga variável. Verificou-se que a manta de carnaúba apresentou retenção
hídrica devido este material apresentar absorção de água, porém o comportamento da manta
sintética geotêxtil para barrar água em relação à manta natural de fibra de carnaúba foi mais
eficiente, devido ao seu arranjo estrutural. Dessa forma, o estudo foi válido para verificar o
comportamento de mantas que ainda não foram utilizadas para fins de barramento de água.
Palavras-chave: armazenamento de água, semiárido brasileiro, geotêxtil, fibra de carnaúba.
ABSTRACT
Water is an essential element of life and its scarcity is a major problem faced by regions such as the
Brazilian Semi-Arid. This scarcity impairs the coexistence of man with the rural environment, being
this resource essential for human consumption, animal and food production. This scenario presents
the need to find ways to store this resource. One of the alternatives to solve this problem is the
underground dam, which has the function of storing water underground. Aiming to capture water
through a low cost and high efficiency, the present study aimed to evaluate the use of alternative
blankets in the water bus. It was analyzed, as a synthetic blanket of geotextile and a natural blanket
of Carnauba fiber behaved in the water retention through the study of permeability of the soil-
blanket set. A technical visit was made to Fazenda Serra da Madalena farm, located in the city of
São Francisco do Oeste - RN, where nine samples of non-deformed soils were collected. The soils
collected consisted of three types: one more clayey, with higher content of organic matter and one

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 222


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

more sandy. These samples were analyzed together with the blankets in the Laboratory of Applied
Chemistry of UFERSA - Pau dos Ferros. The mechanism used to obtain hydraulic conductivity was
the variable load permeability experiment. As a result, a better performance of the synthetic
geotextile blanket was observed to prevent water relative to the natural blanket of carnauba fiber.
Thus, the study was valid to verify the behavior of blankets that have not yet been used for water
bush purposes, and these could serve as an alternative in water scarcity conditions. The synthetic
blanket due to its structural arrangement ensured greater efficiency.
Keywords: Storage of water, natural and synthetic blankets, semiárido brasileiro, geotextile,
carnauba fiber.

1. INTRODUÇÃO

De acordo com Brito et al. (2007), a eficiência de água juntamente com a escassez de
recursos hídricos no Semiárido brasileiro tem sido objeto de vários estudos realizados pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Uma dessas alternativas é a barragem
subterrânea, tecnologia de captação e armazenamento da água da chuva para produção de
alimentos.
Dessa forma, baseando-se na eficiência do seu armazenamento para o uso desta por um
longo período de tempo, o estudo se caracterizou por fazer uma comparação entre dois tipos de
mantas, geotêxtil e folha de carnaúba, destacando o bom funcionamento através da eficiência do
barramento e qual manta seria mais viável, com o propósito de amenizar o problema de escassez de
água no Semiárido Brasileiro.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A Escassez de Água no Semiárido Brasileiro

Segundo a Geo Brasil (2007), 92% do território brasileiro localiza-se na zona intertropical
com temperaturas superiores à 20ºC. Apresentando climas de características diferentes, onde o
clima equatorial, presente na região Amazônica possui períodos chuvosos com mais de 2.500
mm/ano, enquanto o clima semiárido, presente no interior da região nordeste, apresenta baixa
pluviosidade inferior a 1.000 mm/ano, com longos períodos de estiagem e média de três meses de
chuvas ao ano.

2.2 Barragem Subterrânea

A Barragem subterrânea é uma tecnologia social bastante utilizada pelo homem do campo
para uma melhor interação com o semiárido devido os problemas de escassez de água no meio
rural. Por ser de fácil construção, baixo custo e eficaz nos processos de reter e armazenar água da
chuva. Segundo a Embrapa (apud Silva, 2008), a construção de uma barragem subterrânea consiste

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 223


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

na escavação de uma vala até atingir um solo impermeável, e colocado uma manta ao longo da
parede e logo em seguida a vala é fechada. Na parede da barragem é feito um sangradouro com a
função de fazer escoar o excesso de água da chuva. Essa construção é feita no leito de um rio ou
riacho ou em locais onde está propício o escoamento dessa água, visando o seu armazenamento.
A Figura 1, abaixo, ilustra a Esquematização da barragem subterrânea.

Figura 1: à esquerda tem-se a esquematização da barragem e à direita a sua construção.

Fonte: (CIRILO et al, 1998 apud COSTA, 2002)

2.3 Geotêxtil

Geossintético é produto polimérico (sintético ou natural) industrializado, aplicado em obras


geotécnicas a fim de desempenhar funções como reforço, filtração, drenagem, separação,
impermeabilização e controle de erosão superficial, podendo ser classificado de acordo com o
processo de fabricação em Geotêxteis, Geogrelhas, Georredes, Geomembranas, Geocompostos,
Geocompostos argilosos, Geotubo, Geocélulas, Geoexpandido. (ABINT), 2015.
Nestes sistemas de filtração de solo-geotêxtil pode ocorrer a colmatação, que para
Mendonça apud. Freitas (2003), é a redução dos espaços vazios de um meio poroso por onde passa
o fluido. Este processo ocorre ao longo do tempo podendo comprometer a eficiência de um sistema
drenante. Palmeira e Gardoni,(2000); Faure et al. (2006 apud Silva, 2013), relatam que os principais
métodos para se determinar o potencial de colmatação dos geotêxteis é através de ensaios como
condutividade hidráulica e determinação de abertura (aparente ou de filtração).

2.4 Carnaúba

Segundo Carvalho (2011), a carnaubeira é uma espécie de palmeira nativa do Brasil com
altura entre 7 e 10 metros e se encontra geralmente próximo a rios, preferindo solos argilosos e
aluviais, possuindo também uma alta capacidade de suportar o calor. De acordo com Cavalcante
(2014), no Rio Grande do Norte, mesmo durante o período de estiagem, o cultivo e a exploração da
Carnaúba oferecem possibilidades de atividades econômicas o que acaba se tornando uma
alternativa para a composição da renda familiar das comunidades rurais.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 224


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

3. METODOLOGIA

O estudo consistiu na determinação da condutividade hidráulica em solos saturados através


da aplicação de materiais alternativos para retenção hidráulica. A Figura 2 ilustra o fluxograma que
representa as etapas da metodologia utilizada no estudo.

Figura 2: Fluxograma

Fonte: Autora, 2017.

3.1 Materiais Utilizados

O estudo foi constituído de duas etapas principais: a primeira etapa ocorreu em campo e a
segunda em laboratório. Dessa forma, foram utilizados vários materiais e equipamentos empregados
em cada etapa.

3.1.1 Materiais Utilizados em Campo

Figura 3: Materiais utilizados em Campo para a coleta das amostras

Bandeja
Castelinho

Papel filme
Marreta
Cilindros de
PVC
Fonte: Autora, 2017. Espátula

3.1.2 Materiais Utilizados no Ensaio de Laboratório

Para a execução do ensaio de condutividade hidráulica em laboratório, foi desenvolvido um


permeâmetro de carga variável, mostrado na Figura 4 a seguir. Para compor o sistema, foram
utilizados materiais mostrados na figura abaixo. Utilizou-se também TNT, Geotêxtil e Manta de
Carnaúba.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 225


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 4: Permeâmetro de Carga Variável utilizado no estudo.

Funil para
abastecimento

Bureta

Cilindro com a
amostra
Suporte

Funil de Base Tampão

Fonte: Autora, 2017 Béquer

3.1.2 Procedimento Experimental

A coleta foi realizada na propriedade rural Fazenda Serra da Madalena, localizada na cidade
de São Francisco do Oeste - RN, onde foram retiradas as amostras de três diferentes locais
próximos á barragem, distinguindo-se entre si mediante características macroscópicas, cor, textura e
relevo.
Após a coleta do material, as amostras foram levadas para o laboratório de Química
Aplicada da UFERSA – no campus de Pau dos Ferros, onde foram colocadas numa bandeja com
água para ocorrer a saturação dos poros. A saturação ocorreu em fluxo ascendente por capilaridade,
permanecendo cerca de 24 horas. Para a análise das mantas, foi feito o ensaio da condutividade
hidráulica e analisado o quão permeável era o conjunto solo-manta em cada caso.
Então, baseado em Mello e Silva (2007), foi possível obter a condutividade hidráulica de
cada amostra coletada, por meio da utilização de um permeâmetro de carga variável, em que a
permeabilidade do conjunto solo-manta foi analisada através da medição do tempo em que a água
na bureta leva para baixar da altura inicial (h1) para a altura final (h2), utilizando-se 10 ml de água.
Desse modo foi possível obter o coeficiente de permeabilidade K, e a partir da sua
classificação, indicar a eficiência das mantas em cada amostra, comparando-as. A variação da altura
da água foi cronometrada, até que os tempos ficassem constantes, e então a condutividade
hidráulica foi determinada á partir da equação (1):
( ) (1
)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 226


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Onde: K= coeficiente de permeabilidade (cm/s); L= altura da amostra do solo no


permeâmetro (cm); a= área da bureta (cm²); h1= altura inicial da água na bureta (cm); h2= altura
final da água na bureta (cm); A= área do permeâmetro contendo a amostra (cm²); t= tempo de
duração de deslocamento de h1 até h2 (s).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Características do Solo

A figura 5 apresenta os três tipos de solo citados.

Figura 5: Amostras: (1) Solo argiloso; (2) Solo com teor de matéria orgânica; (3) Solo arenoso

1 2 3
Fonte: Autora, 2017.

As três amostras à esquerda da imagem são enumeradas como 1 e possuem características de


um solo mais argiloso com partículas mais finas, maior coesão entre elas e consequentemente
menor quantidade de poros. Essas amostras foram as que conseguiram impedir com maior
eficiência a passagem de água. As três amostras que se encontram no meio da bandeja, possuem
características de solo com presença de matéria orgânica, percebidas pela coloração mais escura,
percebe-se que o tempo da passagem de água dessa amostra enumerada como 2, é o menor tempo
entre os três tipos de solo. Esse tipo de solo tem maior facilidade de se misturar com a água e
carrear seus constituintes junto a ela. Já as três amostras á direita enumeradas por 3 apresentam
características de um solo mais arenoso, com partículas de maior granulometria com grandes poros
facilitando o escoamento da água. Observa-se que o tempo obtido desse tipo de solo foi mais rápido
que na amostra 1 e mais lento que o da amostra 2.

4.2 Ensaio de Permeabilidade com TNT

A tabela 1 apresenta os tempos obtidos em segundos de cada amostra, utilizados para drenar
10 ml de água. Observa-se que os tempos das três amostras são baixos, porém há uma considerável
diferença da amostra 1 em relação as amostras 2 e 3. Isso se deve ao fato do solo da amostra 1 ser

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 227


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

característico de um solo mais argiloso, um solo mais impermeável que consequentemente dificulta
a passagem de água. Observa-se então que o tecido de TNT junto ao solo, quase não apresenta
influência para barrar a passagem de água. Na figura 6, estão os três tipos de amostras de TNT. O
Solo 2 apresentou menor tempo, possivelmente devido a presença de raízes que podem ter formado
caminho preferencial para a drenagem.

Tabela 1: Tempo em segundos da percolação da água em 10ml com o TNT


Tempo (Segundos)
TNT
Solo 1 47
Solo 2 4
Solo 3 7
Fonte: Autora, 2017.

Figura 6: Amostras da água percolada no permeâmetro

1 2 3

Fonte: Autora, 2017.

4.3 Ensaio de Permeabilidade com Geotêxtil

Na tabela 2, estão presentes os tempos em segundos da quantidade percolada de água em 10


ml em um geotêxtil. A amostra 1 promoveu menor passagem de água comparada com as outras
duas. Salienta-se que o geotêxtil barrou mais a água e como citado anteriormente nesse mesmo
estudo, é possível que ocorra um fenômeno chamado colmatação do Geotêxtil, onde as partículas do
solo podem se encaixar nos poros do Geotêxtil, fazendo com que a manta possa barrar a água,
diminuindo o seu tempo para filtração, consequentemente propiciando a retenção de água no
subsolo por maior tempo.
A Figura 7 apresenta a amostra 2 utilizando-se o geotêxtil, onde esta apresentou maior
permeabilidade. Provavelmente, essa alta permeabilidade foi ocasionada devido o solo ser
constituído de matéria orgânica e ao adicionar-se água o solo perdeu a coesão o que ocasionou o
carreamento das partículas junto á água, tal como a ocorrência de caminho preferencial.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 228


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 7: Amostra 2 utilizando o Geotêxtil

Fonte: Autora 2017.

Tabela 2: Tempos em segundos da percolação da água em 10ml com o Geotêxtil .


Tempo (Segundos)
Manta de Geotêxtil
Amostra 1 204
Amostra 2 15
Amostra 3 30
Fonte: Autora, 2017

4.4 Ensaio de Permeabilidade com a Fibra de Carnaúba

Na Tabela 3, avaliando-se os tempos em segundos da percolação na fibra de carnaúba,


verificou-se que novamente a amostra 1 foi a que proporcionou maior retenção de água. Isso
aconteceu devido a manta ter absorvido lentamente a água. Nas amostras 2 e 3 ocorreu grande
permeabilidade.

Tabela 3: Tempos em segundos da percolação da água em 10ml com a Manta de Carnaúba


Tempo (Segundos)
Manta de Carnaúba
Amostra 1 90
Amostra 2 10
Amostra 3 18
Fonte: Autora, 2017

Segundo Silva (2016), a folha da carnaúba apresenta grande absorção de umidade após o
processo de ciclagem, mas antes desse processo a folha tem pouca molhabilidade por presença de
cera. Esperava-se então que a manta de folhas de carnaúba apresentasse uma grande retenção de
água. O que pode ter ocasionado esta alta permeabilidade da manta de Carnaúba foi a forma como a
mesma foi tecida, apresentando espaços vazios entre uma folha e outra, que formou um caminho
preferencial da água. Em comparação com a análise realizada na manta de Geotêxtil pôde-se
observar que a manta de Carnaúba obteve uma maior permeabilidade.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 229


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Comparando–se a utilização do TNT com as duas mantas, foi possível perceber que o TNT
não teve influência de permeabilidade, desta forma as características de percolação da água
observadas no TNT, foram atribuídas a cada tipo de amostra de solo. Já comparando a manta de
Geotêxtil e a manta de Carnaúba, percebeu-se que o Geotêxtil foi bem mais eficiente no quesito de
impermeabilização que a manta de Carnaúba.
Salienta-se que a maior retenção da água, pode ter ocorrido devido ao fenômeno de
Colmatação (citado anteriormente) do geotêxtil, onde as partículas do solo podem se encaixar nos
poros do geotêxtil, fazendo com que a manta possa barrar a água, consequentemente aumentando o
seu tempo de filtração.

4.5 Condutividade Hidráulica

A condutividade hidráulica do solo saturado (K) é uma medida de grande importância, pois
indica a qualidade estrutural do solo, pelo fato de estar diretamente relacionada com a geometria e a
continuidade dos poros preenchidos com água (MESQUITA & MORAES, 2004).
Desse modo, foi possível obter resultados e observações acerca dos tipos de solo e seus
comportamentos perante a utilização das mantas de Geotêxtil e folha de Carnaúba, através da
condutividade hidráulica de cada amostra, podendo comprovar todas as análises citadas
anteriormente por meio de resultados numéricos.
A Tabela 4 apresenta os valores das condutividades hidráulicas de cada amostra. Á partir
dos resultados obtidos pode-se observar que a amostra 2 (sem manta), apresenta maior
condutividade hidráulica e de acordo com a tabela 5 seu tipo de solo é Areia fina á silte grosso.
Comparando a manta de Carnaúba com a manta Geotêxtil, a amostra 2 da Manta de Carnaúba
apresenta maior condutividade, e a que apresenta menor condutividade hidráulica é a amostra 1 de
Geotêxtil. Quando os valores dos expoentes forem menores que 10 7 o solo é considerado
impermeável. Dessa forma chega-se á conclusão que neste estudo seria mais viável utilizar na
barragem subterrânea a amostra 1 com a manta de Geotêxtil, pois este é ovalor que mais se
aproxima da impermeabilidade.

Tabela 4: Condutividade Hidráulica das amostras


Condutividade Hidráulica (cm/s)
Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3
3 2
Sem Manta 2,09 x10 2,45 x10 1,4 x10 2
Manta de Carnaúba 1,09 x10 3 9,8x10 3 5,45x10 3
Manta de Geotêxtil 4,8 x10 4 6,5 x10 3 3,26 x10 3
Fonte: Autora, 2017.

Para a identificação do tipo de solo de acordo com os valores característicos, analisou-se


apenas as amostras que estavam sem as mantas, pois assim, se poderia identificar qual o real tipo de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 230


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

solo coletado em cada localidade. E de acordo com a Tabela 5, a amostra do solo 1, foi classificada
em Areia fina a silte fofo ou silte denso a silte argiloso, e as amostras de solo 2 e 3 em areia fina a
silte fofo. Observa-se dessa forma a influência da manta de Geotêxtil para barrar a água, pois a
condutividade hidráulica com a presença dessa manta no solo 1 diminui o expoente, aumentando a
impermeabilização.

Tabela 5: Valores característicos de condutividade hidráulica de cada classe de textura do solo


Valores Característicos para os tipos de solos (cm/s)

Pedregulho grosso
Pedregulho fino á areia grossa
Areia fina á silte fofo
Silte denso á silte argiloso
Argila siltosa á argila
Fonte: Adaptadas de Soil Survey Staff (1993) apud Silva et al. (2001).

Ainda com os resultados obtidos de condutividade hidráulica, há uma classificação para a


permeabilidade dos solos. Esta classificação está expressa na Tabela 6.

Tabela 6: Tabela adaptada de Classificação da Permeabilidade


Classe Permeabilidade (cm/s)
Rápida
Moderada a rápida
Moderada
Lenta a moderada
Lenta
Muito lenta
Fonte: Adaptadas de Soil Survey Staff (1993) apud Silva et al. (2001).

Pode ser observado na Tabela 7 que a amostra do solo 2 sem manta e com a manta de
Carnaúba e a amostra 3 sem manta, foram classificadas como rápidas, portanto essas amostras são
mais permeáveis. Já a amostra do solo 1 com a manta de Geotêxtil foi considerada como Lenta, ou
seja, essa amostra é a mais impermeável.

Tabela 7: Classificação da permeabilidade do solo de acordo com a condutividade hidráulica, proposta pela
Soil Survey (1993).

Permeabilidade dos Solos ( )


Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3
Sem Manta
(Moderada) (Rápida) (Rápida)
Manta de Carnaúba
(Lenta a moderada) (Rápida) (Lenta a moderada)
Manta de Geotêxtil
(Lenta) (Moderada a Rápida) (Moderada)
Fonte: Autora, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 231


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O Gráfico 1 representa os valores de condutividade hidráulica obtidas em todas os


experimentos realizados. O gráfico ainda apresenta os valores limites de classificação quanto a
permeabilidade.

Gráfico 1: Condutividade hidráulica e classificação da permeabilidade

Sem Manta
Hidráulica (cm/s)
Condutividade 0,02

Manta de
0,01
Carnaúba
0 Manta de
1 2 3 Geotêxtil
Número de amostras Rápida

Fonte: Autora, 2017.

No Gráfico 1 observa-se que houve uma maior condutividade hidráulica no experimento que
não utilizou nenhuma manta. Dentre as amostras analisadas a amostra de número 2 obteve um
maior coeficiente de condutividade hidráulica. De acordo com os resultados obtidos o uso da manta
de geotêxtil se mostrou mais eficiente do que a manta de carnaúba e do que a não utilização de
manta. A amostra de número 1 utilizado no experimento com manta de geotêxtil apresentou o
menor coeficiente de condutividade hidráulica. Isso ocorre, devido as partículas apresentarem maior
coesão e menos poros com relação aos outros tipos de solo analisados. O gráfico ainda apresenta a
classificação quanto a permeabilidade de acordo com a Tabela 6. As amostras que se encontraram
acima da linha tracejada são classificadas como um solo que tem uma permeabilidade rápida, ou
seja, com elevada permeabilidade. A amostra que está situada entre as linhas tracejadas que é o solo
da amostra de número 2 com manta de geotêxtil é classificado com uma permeabilidade moderada a
rápida de acordo com a Tabela 6.

5. CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos nesse estudo, foi possível determinar os valores de
condutividade hidráulica de cada amostra. Concluiu-se que entre os três tipos de solos analisados,
seriam viáveis à construção de uma barragem subterrânea com o tipo de solo coletado da amostra 1
(silte), por ter se aproximado mais do quesito impermeabilização da água, em relação aos outros
dois tipos.
A Carnaúba apresentou boa retenção de água, porém não em quantidade significativa para
este estudo, isto pode ter sido ocasionado pelos arranjos dos poros presentes na manta, advindos da
tecelagem manual destas fibras.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 232


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A manta de Geotêxtil apresentou melhor índice de retenção de água, tendo um resultado


significativo mais próximo de impermeabilização quando em conjunto com o tipo de solo da
amostra 1.
Dessa forma, conclui-se que para fins de emprego em barragem subterrânea, seria mais
viável utilizar uma manta junto ao solo da amostra 1 (siltoso), garantindo uma maior eficiência no
acúmulo de água necessário para este tipo de obra, haja visto que a finalidade da manta seria
proporcionar longo período de retenção e acúmulo de água no subsolo a montante da mesma.
Ressalta-se que se faz necessário a realização de outros estudos com vista ao emprego desses
materiais alternativos para proteção ambiental, tal como outros arranjos estruturais de tais mantas.

6. REFERÊNCIAS

ARAÚJO, B.S. Filtração da Água da Lavagem de Betoneira com Uso de Geotêxtil: Análise da
Qualidade e da Possibilidade de Reuso. 2016. 48 f. Monografia (Graduação) – Curso
Bacharelado em Ciencia e Tecnologia, Universidade Federal Rural do Semi – Árido, Pau dos
Ferros.

Associação Brasileira das Indústrias de Não Tecidos e Tecidos – ABINT. Programa Setorial da
Qualidade de Geotêxteis Não Tecidos. 1299/RS002. Maio, 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 10318: Geossintéticos


Termos e Definições. 2013.

BATHURST, R.J. Classificação dos Geossintéticos. Disponível em: <http://igsbrasil.org.br/wp-


content/uploads/geossinteticos/1.pdf>. Acesso em: 03 de Maio de 2017.

BRITO, Luiza Teixeira de Lima; MOURA, Magna Joelma Beserra de; GAMA, Gislene Feitosa
Brito. Potencialidades da Água de Chuva no Semi – Árido Brasileiro. Petrolina – PE: Embrapa
Semi-Árido, 2007, Comitê de Publicação da Embrapa Semi-Árido.

CARVALHO, Luiz Fernando Meneses. Tratamento de Fibras de Carnaúba [Copernicia Prunífera


(Miller) H. E. Moore] Para o Desenvolvimento de Compósito Biodegradável com Matriz de
Polihidroxubutirato. 2011. 105 f. Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de ciências exatas e da terra.Natal, 2011.

CAVALCANTE, Eduardo Santos et al. Obtenção da Curva de Desidratação da Fibra de Carnaúba


(Copernicia Prunifera) Para a Fabricação de Pás Eólicas. In: Congresso Brasileiro de Engenharia
Agrícola – CONBEA, 2014, Campo Grande - Ms. Centro de Convenções ―Arquiteto Rubens Gil
de Camillo. Campo Grande - Ms: Conbea, 2014. p. 1 - 4.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 233


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

COSTA, Maria Requeira da; Avaliação Potencial de Aproveitamento de Reservatórios Constituído


por Barragens Subterrâneas no Semi-Árido Brasileiro. Dissertação de Mestrado. Universidade
Federal de Pernambuco – UFPE, Recife – PE, 2002.

FREITAS, R. A. S. Comportamento de geotexteis como filtro em resíduo - fosfogesso e lama


vermelha. 2003. 131 f. Tese (Doutorado) - Curso de Engenharia Civil, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

GEO BRASIL: Recursos Hídricos. Brasília: Agência Nacional das Águas, jan. 2017. Anual.

MELLO,J. L. P, SILVA, L.D.B, Drenagem Agrícola. 2007. Departamento de Engenharia,


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

SCHUJMANN, O. S. Estudo da viabilidade técnica de utilização de geotêxteis não tecidos para


filtração da água da chuva. 2010. 80 f. Monografia (Bacharelado em Engenharia Ambiental) -
Universidade de São Paulo. São Carlos.

SILVA, J.L.V. Colmatação Biológica de Geotêxteis. 2013. Dissertação (Mestrado) – Programa de


Pós-Graduação e Área de Concentração em Geotecnia, Escola de Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo, São Carlos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 234


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MONITORAMENTO E GESTÃO DO CONSUMO DE ÁGUA NO CAMPUS I DA


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA-PB

Daniela Maria Fernandes TAVARES


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental da UFPB
tavaresfernandesdaniela@gmail.com
Lucas Rafael Ramos MACHADO
Graduando do Curso de Engenharia Ambiental da UFPB
lucramoos@hotmail.com
Nadjacleia Vilar ALMEIDA
Profª. Drª. do Dpto. de Engenharia e Meio Ambiente da UFPB
nadjacleia@ccae.ufpb.br

RESUMO
A água é um recurso essencial a vida, além de ser um fator indispensável para o desenvolvimento e
sobrevivência do ser humano. Tal importância, faz com que a água possua um alto valor
socioeconômico, ambiental e cultural. O Brasil é detentor de grande potencial hídrico, mas mesmo
possuindo enorme quantidade de água em seu território possui sérios problemas de gerenciamento
dos seus recursos, o que faz com que a água não seja bem aproveitada, causando assim grandes
problemas socioeconômicos e ambientais. Pensando nisso, com o objetivo de reduzir o desperdício
e o alto custo financeiro referentes ao consumo de água no Campus I, foi elaborado um modelo de
gestão e monitoramento dos recursos hídricos nesta instituição, na qual considera principalmente
duas variáveis relacionadas ao uso da água, os problemas de manutenção dos aparelhos
hidrosanitários e agilidade na resolução dos problemas. Para tal, são indicadas ações que visam o
monitoramento do consumo, a manutenção dos aparelhos que apresentam vazamento e a indicação
de substituição destes, além de práticas que visam a educação ambiental, para que com isso se possa
promover uma gestão completa que vise a interação entre todos os envolvidos. Assim, a execução
deste modelo de forma contínua possibilitará, que dentro de alguns anos ocorra uma brusca redução
das perdas de água na instituição, assim como melhoramento do modelo de gestão atuante.
Palavras-chave: Recursos Hídricos, Consumo, Aparelhos Hidrosanitários e Manutenção .

ABSTRACT
The water is an essential resource for life, besides being an indispensable component for the
development and survival of the human beings. Such importance makes the water an owner of a
high socioeconomic, environmental and cultural value. As we know Brazil is a holder of a great
water potential, but even holding this enormous amount of water in it‘s territory it does have serious
management problems related to it‘s resource, which makes the a water not well used, thereby
causing huge socioeconomic and environmental problems. Thinking about this and in order to
reduce the waste and the high costs that refers to the consumption of water in the campus, it was
elaborated a model of management and monitoring of the water resource in the institution, which
mainly considers two variables related to water use, maintenance problems of the hydrosanitary
equipment and the agility in the solution of the problems. For this purpose, there are indicated
actions that aim the monitoring of consumption, maintenance of the equipment that presents water
leakage and the indication for it substitution, besides practices that aim the environmental education
for the contribution n order to promote a complete management that aim the interaction between all
involved. Therefore, the execution of this model in a continuous way will enable that in a few years
occurs a huge reduction in water losses in the institution, so improving the actual model.
Keywords: Water Resource, Consumption, Hydrosanitary Equipment and Maintenance.
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 235
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

A água, essencial ao surgimento e à manutenção da vida em nosso planeta, é indispensável


para o desenvolvimento das diversas atividades desenvolvidas pelo ser humano, e
apresenta, por essa razão, valores econômicos, sociais e culturais. Além de dar suporte à
vida, a água pode ser utilizada para o transporte de pessoas e mercadorias, geração de
energia elétrica, produção e processamento de alimentos, processos industriais diversos,
recreação e paisagismo, além de assimilação de poluentes – sendo essa, talvez, uma das
aplicações menos nobres deste recurso tão essencial (MIERZAWA e HESPANHOL, 2005).

Segundo (Araújo, 2013), a água para consumo humano provém essencialmente de duas
fontes: água superficial e água subterrânea. Para fazer face à irregularidade e imprevisibilidade é
necessário dispor destas fontes (aquíferos subterrâneos, lagos, albufeiras , etc.) gerindo-os com
precaução.
Das diversas formas existentes para o uso da água estão entre as principais, geração de
energia elétrica, produção e processamento de alimentos, processos industriais, higienização,
consumo humano e a dessedentação de animais. Além de que, assim como os seres humanos, todas
as outras formas de vida dependem da água para sua sobrevivência.
No entanto, pelas suas mais diversas potencialidades de uso, a água passou a ser um recurso
escasso. As demandas de uso para as mais diversas finalidades, a partir do século XX, passaram a
ter um aumento significativo em relação à disponibilidade (VILLIERS, 2002).
Dessa forma, o controle e a gestão dos recursos hídricos é de extrema importância para a
manutenção da sua contínua disponibilidade, visto que, a água doce em determinadas regiões, está
praticamente indisponível, seja por motivos de quantidade ou de qualidade. Desta forma, os
recursos hídricos necessitam de uma gestão eficiente no intuito de se evitar a escassez, visto que a
água é um bem indispensável a vida.
Cunha (2000) fala que a água doce é um recurso que vem se tornando cada vez mais
escasso. Sendo que em alguns países a falta desse recurso já atinge fortemente a população.
O Brasil, é o quinto maior país do mundo, e é detentor de grande concentração hídrica além
de possuir em seu território o maior rio do mundo, o Rio Amazonas, e uma das maiores lagoas do
planeta, a Lagoa dos Patos. Porém, ainda assim sofre em algumas épocas e regiões com a falta
d‘água por conta da má gestão e distribuição ou pela má qualidade da água.
Diante desse problema, que é recorrente em várias partes do mundo, faz-se necessário o
desenvolvimento de novas práticas de gestão hídrica visando a redução das perdas, uso sustentável
e controle de suas vazões. Pois só assim será possível que se faça o uso desse recurso de maneira
eficaz e duradoura, afim de que se possa utilizar a água disponível de maneira socialmente
responsável, economicamente viável e ecologicamente sustentável.
A sustentabilidade e o uso racional dos recursos naturais é um tema que está em crescente
discussão e tem sido foco de trabalho em muitas instituições (CAMPOS & RAMOS, 2014).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 236


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A utilização racional e a conservação da água doce deverá se tornar cada vez mais
importante e, daqui a alguns anos a sua falta será fator decisivo para a continuidade do
funcionamento de várias empresas (CUNHA, 2000).
Vaz (2010) afirma que a Gestão Ambiental vem ganhando um espaço crescente no meio
empresarial. O desenvolvimento da consciência ecológica, em diferentes camadas e setores da
sociedade mundial, acaba por envolver também, o setor da educação e da saúde.
A Universidade Federal da Paraíba – Campus I, apresenta grande extensão territorial, e
consequentemente possui uma extensa malha hidráulica e intensivo uso dos aparelhos
hidrosanitários, tubulações etc., este uso frequente junto a falta de monitoramento acarreta em
grandes perdas hídricas relacionados a vazamentos ou quebra de aparelhos.
Então, diante deste problemas, o presente trabalho teve como objetivo realizar o
monitoramento do consumo de água no Campus I da UFPB, no intuito de corrigir os pontos de
desperdício de forma mais rápida, minimizando assim os custos financeiros e ambientais causados
pelo desperdício, assim como a conscientização para o uso adequado desse recurso.

METODOLOGIA

Projetos de gerenciamento de recursos hídricos são de extrema importância para a


sociedade, visto que os recursos hídricos são escassos e requerem um atenção redobrada. Por isso
faz-se necessária a compreensão de toda a dinâmica da água no local de aplicação de qualquer
projeto de monitoramento e gestão desse recurso.
A área de estudo corresponde Campus I da Universidade Federal da Paraíba, como mostra a
Fig. 1, situada na cidade de João Pessoa, capital do estado da Paraíba.

Figura 1 – Mapa de localização da Universidade Federal da Paraíba. Fonte: Autor(2017)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 237


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O Campus I da UFPB ocupa uma área de 185.614,3 m2, e devido sua extensão, possui
grande potencial hídrico, assim como uma alta demanda deste recurso pelos usuários que todos os
dias passam pela universidade, são eles, servidores técnico-administrativos, profissionais
terceirizados de diversas áreas da manutenção, alunos, professores e visitantes que utilizam a água
do campus para fins diversos, como higiene pessoal e consumo.
Com isso para realizar o monitoramento e assim criar um modelo de gestão hídrica no
campus I da UFPB foi necessária a analise de uso e ocupação de toda sua área edificada, fazendo
assim um mapeamento de todas as edificações. Esse mapeamento foi feito a partir de softwares de
geoprocessamento utilizando uma imagem de satélite da área total do campus. Como mostra a
figura a seguir um exemplo de mapeamento da Central de Aulas.

Figura 2 – Área da central de aulas mapeada. Fonte: Autor (2017)

Após o mapeamento vem o processo de coleta de dados para abastecer o Banco de Dados
Espacial que relaciona dados de texto e numéricos a posição geográfica de cada prédio. Esse Banco
de Dados (BDE) contém os dados referentes a tipo de uso de todos os ambientes dos prédios de
cada centro dando enfoque na quantidade, tipo e uso de aparelhos hidrosanitários para assim poder
criar o modelo de gerenciamento baseado na localização de cada aparelho. Os dados são então
dispostos em uma tabela no software de geoprocessamento, chamada de tabela de atributos, e assim
ficam disponíveis para utilização referente a gestão do uso de água do campus I.
Como a Universidade Federal da Paraíba é subdividida em centros o processo de
mapeamento foi iniciado pelo Centro de Tecnologia (CT) e sucessivamente os centros adjacentes
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 238
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

foram sendo mapeados. Em totalidade até o momento existem 4 centros já mapeados, incluindo o
CT, e com o Banco de Dados Espacial abastecidos, são eles: Centro de Ciências Jurídicas(CCJ),
Central de Aulas(CA) e Centro de Ciências Sociais Aplicadas(CCSA). Com isso faz-se possível o
entendimento estrutural de cada centro e assim contribui para a rapidez no acesso georeferenciados
dos dados hidrosanitários.
Com a área mapeada e todos os dados dispostos no software foi utilizada uma ferramenta
online que possibilita o acesso imediato da informação referente aos aparelhos hidrosanitários dos
centros, essa ferramenta é o ―Google Engine Lites‖. Com a ferramenta é possível gerenciar os
chamados de manutenção de vazamentos e problemas com os aparelhos hidrosanitários fazendo
com que a equipe de reparos tenha um acesso rápido e fácil a informação.
Já em relação ao monitoramento de consumo e diagnostico de períodos de pico foram
utilizados dados das contas da CAGEPA disponibilizados pela Prefeitura Universitária. Com o
acesso a esses dados foi possível ver a relação entre consumo e falhas no gerenciamento de água no
campus I e assim junto com o Banco de Dados Espacial proporciona melhor entendimento do
recurso.

RESULTADOS

Devido à grande quantidade de usuários, a instituição possui um elevado índice de consumo


de água, o que acarreta na intensificação do uso dos aparelhos hidrosanitários como encanamentos,
tubulações hidráulica, torneiras e sanitários. Por essa razão, são registrados um número elevado de
problemas de vazamentos nas encanações com quebra desses aparelhos. Problemas como esses
levam a um acentuado desperdício de água dentro da UFPB, problemas nos quais podem ser
minimizados, ou mesmo chegar a níveis insignificantes através do monitoramento e gerenciamento
dos recursos hídricos na instituição.
O monitoramento do consumo de água na universidade é feito através do recolhimento das
contas de água fornecidos pela CAGEPA – Companhia de Água e Esgotos da Paraíba, que são
entregues a PU – Prefeitura Universitária, onde através delas são acompanhados os gastos
financeiros com a água assim como o volume gasto.
O intenso uso de água, assim como a alta taxa de desperdício deste recurso no Campus I,
acarreta em altos custos financeiros à universidade. Vale salientar que a universidade possui poços
artesianos próprios para a distribuição de água, porém sua capacidade não é suficiente para
abastecer toda demanda requerida.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 239


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A Fig. 2 mostra o gráfico de consumo de água10 em m³ da universidade no período entre


janeiro de 2014 a agosto de 2016. Observa-se que em alguns meses o volume de água gasto chegam
próximos a 10mil m³, número elevado quando se nota que tais volumes são referentes apenas ao
volumes de água usado da CAGEPA sem considerar a utilização da água dos poços.

Figura 3 – Gráfico de Consumo de água em m³ no Campus I da UFPB.

No mês de outubro de 2016, por exemplo, houveram diversos problemas relacionados a


vazamentos das tubulações dos banheiros de alguns centros, o que acarretou no elevado índice de
consumo de água naquele mês. Essa relação entre índice de consumo e vazamentos de água foi
evidenciados pelos dados de ocorrência de pedidos de reparo a manutenção fornecidos pela
Prefeitura Universitária, foram no total 2261 pedidos de reparos relacionados a manutenção e troca
de equipamentos.
Para auxiliar o monitoramento dos recursos da universidade foi criado o Banco de Dados
Espacial – BDE, que segundo Sousa et al (2015), ―possibilita a produção de um mapa com
informações geográficas sobre a localização dos equipamentos hidrosanitários, assim como, dos
locais em que ocorre vazamento de água. E, consequentemente, o planejamento e gestão eficaz
deste recurso‖. Dessa forma, os componentes como aparelhos hidrosanitários, e as edificações são
mostradas de forma mais dinâmica, além de ser possível ser visualizada online pelo público através
do Google Engine na pág. da Comissão de Gestão Ambiental – CGA, como mostrado na Fig. 3.

10
Dados retirados das contas da empresa de abastecimento do estado da Paraíba (CAGEPA) dos anos 2014, 2015 e
2016. Fornecidos pela administração de instituição de ensino.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 240


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Fig. 4 – Banco de Dados Espacial da UFPB disponível na página da CGA.

O BDE contribui para que a gestão tenha acesso as informações necessárias para realizar a
manutenção dos aparelhos defeituosos. Assim, de forma dinâmica e rápida qualquer usuário pode
vir a identificar o defeito de algum aparelho e/ou vazamento, identificar pelo banco de dados sua
localização, e por meio de um formulário online de registro de vazamentos (Fig. 4), é possível que
qualquer membro da comunidade acadêmica denuncie problemas hídricos no Campus, onde através
desse registro os responsáveis pela manutenção tem acesso de maneira imediata a tal informação,
agilizando assim o processo de identificação do problema, localização e resolução do sinistro.

Fig. 5 – Modelo do formulário online de denúncias disponível na página da CGA.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 241


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A função do formulário é de identificar o local do ocorrido, o aparelho que apresenta


problema e o tipo do problema apresentado, assim os responsáveis já se dirigem ao local precavidos
das ferramentas para o trabalho.
Além da manutenção corretiva, para um gerenciamento mais eficaz é importância a
realização de vistorias in locu nas áreas mais movimentadas, onde ocorrem mais registros de
problemas com desperdício, afim de que este monitoramento, juntamente com os procedimentos
propostos ajudem, de fato, a manter uma gestão de qualidade no Campus I da UFPB.
Para que a gestão da água do campus seja eficiente e que suas propostas possam ser
colocadas em pratica existem vários fatores e muito trabalho envolvido. Uma vez que devem ser
feitas intervenções em vários setores. Os passos iniciais foram dados, visto que não havia nenhum
tipo de gerenciamento ou sequer monitoramento dos recursos da universidade, e com essa nova
perspectiva almeja-se reduções significativa nas perdas de água e nas taxas tributárias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A implantação desta gestão hídrica gera importantes impactos positivos, não só para a
comunidade acadêmica, mas também para o meio ambiente, além de trazer à tona a importância em
se conservar o recurso hídrico.
Várias são as dificuldades para se aplicar um projeto de gestão de recursos hídricos em uma
instituição com o porte do Campus I da Universidade Federal da Paraíba, visto o número elevado de
usuários. Mas, o maior desafio está na gestão de pessoas, principalmente da equipe responsável pela
manutenção do Campus I que é terceirizada, ocorrendo grade rotatividade dos funcionários,
acarretando em sérios problemas em todo processo.
Mesmo diante das dificuldades, a proposta mostrou resultados satisfatórios em relação a
aplicação de medidas de educação ambiental e em relação a redução gradativa do consumo e dos
custos financeiros do uso de água.
Assim, este modelo de gestão está embasado nos pilares da sustentabilidade, onde a água
passará a ser usada de maneira socialmente responsável, economicamente viável e ecologicamente
sustentável.
A gestão proposta é pioneira dentro do Campus I da UFPB, desta forma ainda está em
processo de aprimoramento e implantação.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, F.A.F.F. 2013. Gestão da Água como um Bem Económico: aplicação de Instrumentos
Económicos. Dissertação (Mestrado em Engenharia do Ambiente). Faculdade de Ciências e
Tecnologia – Universidade Nova de Lisboa.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 242


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CAMPOS, F. J. B.; RAMOS, H. R. Aplicação do Modelo TBL em um Hospital Público. (2014).


Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade – GeAS. Vol. 3, N. 1. Jan-Abr/2014, p. 124-
138.

BARLOW, M., & CLARKE, T. (2 de Setembro de 2002). Who Owns Water?

CUNHA, Renato Zattar Afonso da, A Gestão Ambiental nas Empresas sob a Ameaça da Escassez
de Água, Taubaté: 2000, Monografia (Especialização em MBA –Gerência Empresarial),
Departamento de Economia, Contabilidade e Administração, Universidade de Taubaté.

GARCIA, Ana. et al. (2010). Consumo Domiciliar e Uso Racional da Água em Áreas de Baixa
Renda: Pesquisa De Opinião. in Anais do I Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e
Ambiental - I COBESA, Salvador, Bahia – julho de 2010.

MIERZWA, J. C.; HESPANHOL, I. Água na indústria: uso racional e reuso. São Paulo: Oficina de
Textos, 2005.

NAKAGAWA, A.K.; KIPERSTOK, A.; ESQUERRE, K.P.; QUADROS, A.S. Programa de Uso
Racional da Água em uma Universidade: Metodologia e Resultados. 25o Congresso Brasileiro
de Engenharia Sanitária e Ambiental. 2009.

OLIVEIRA, L.H.; GONÇALVES, O. M. Metodologia para implantação de programa de uso


racional da água em edifícios. 344p. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica, Universidade de
São Paulo. São Paulo, 1999.

SETTI, Arnaldo Augusto. Introdução ao gerenciamento de recursos hídricos.3.ed. Brasília:


Agência Nacional de Energia Elétrica; Agência Nacional de Águas, 2001.

VAZ, C. R. et al. Sistema de Gestão Ambiental em Instituições de Ensino Superior: uma revisão,
in: GEPROS. Gestão da Produção, Operações e Sistemas – Ano 5, nº 3, Jul-Set/2010, p. 45-58.

VILLIERS M. de. Água. 1 ed. Editora Ediouro, 2002. 457p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 243


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

LEVANTAMENTO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DAS ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS NA BACIA DO RIO PACIÊNCIA – MA

Delony de Queiroz RIBEIRO


Graduanda do curso de Geografia da UFMA
idelony@hotmail.com
Renata Maria Sousa CASTRO
Graduada do curso de Geografia da UFMA
renata-maria-castro@hotmail.com
Gabriel Irvine Ferreira Alves dos SANTOS
Graduando do curso de Geografia da UFMA
gabrielirvine@hotmail.com
Ediléa Dutra PEREIRA
Professora Doutora do Departamento de Geociências da UFMA
edileap@gmail.com (Orientadora)

RESUMO
O trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a qualidade da água subterrânea e a intrusão
salina na Bacia Hidrográfica do Rio Paciência na Ilha do Maranhão. Foram analisadas as águas
subterrâneas de 39 (trinta e nove) poços tubulares, sendo 11 (onze) poços tubulares pertencentes ao
Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) e 28 (vinte oito) poços tubulares particulares. Estas
águas são utilizadas para consumo humano. As análises físico-químicas foram analisadas com base
na Portaria MS Nº 2914/2011, Resolução CONAMA nº 396/2008, dentre outras normas. Os teores
de ferro, salinidade, cor, turbidez e magnésio apresentaram valores acima dos preconizados nas
referidas normas de referência. Os parâmetros de cloreto, dureza total, sólidos totais dissolvidos e
cálcio obtidos apresentam-se dentro dos princípios preconizados. A relação Mg/Ca é uma razão
iônica indicadora da presença da cunha salina sendo detectado um índice de (2,5) no poço tubular
P-9, indicando a água salobra. Através dos mapas de tendência foi possível observar que os maiores
índices de condutividade elétrica e os de salinidade se apresentam principalmente nas áreas
próximas ao contato com a orla marinha na porção inferior e os maiores valores de nível estático
estão na porção do médio curso da bacia. A água doce de boa qualidade promove a saúde da
população, por esse motivo é necessário um monitoramento eficaz na qualidade da água utilizada
para abastecimento público. Ressalta-se a necessidade da implantação de políticas públicas na área
da Bacia do Rio Paciência e um maior controle sanitário nas diversas atividades de saneamento que
compõem desde da extração da água, distribuição e abastecimento público com água de qualidade,
além de ações preventivas em relação a entrada da cunha salina.
Palavras chaves: Água Subterrânea. Qualidade da água. Cunha Salina. Bacia Hidrográfica. Rio
Paciência.

ABSTRACT
The work was carried out with the objective of evaluating the groundwater quality and saline
intrusion in the Paciência River Basin. The groundwater of 39 (thirty-nine) tubular wells was
analyzed, of which 11 (eleven) were tubular wells belonging to the Serviço Autônomo de Água e
Esgoto (SAAE) and 28 (twenty eight) private tubular wells that are used for human consumption.
The physicochemical analyzes were analyzed based on MS Ordinance No. 2914/2011, CONAMA

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 244


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Resolution No. 396/2008, among other standards. The iron, salinity, color, turbidity and magnesium
contents presented values above those recommended in the mentioned reference standards. The
parameters of chloride, total hardness, total dissolved solids, dissolved oxygen and calcium
obtained are within the recommended principles. Samples of below-average pH are not considered a
negative factor because the results are termed transient to groundwater. The Mg / Ca ratio is an
ionic ratio indicating the presence of the salt wedge and an index of (2.5) is detected in the P-9
tubular well, indicating the brackish water. Through the maps, it was possible to observe that the
highest indices of electrical conductivity and those of salinity are present mainly in the areas near
the contact with the marine border (lower portion), while the highest values of static level are in the
middle portion of the basin. Good quality fresh water promotes the health of the population, so
effective monitoring of the quality of water used for public supply is necessary. The need to
implement public policies in the area of the Patient River Basin and greater sanitary control in the
various sanitation activities that compose from the extraction of water, distribution and public
supply with quality water, as well as preventive actions regarding the entrance of the salt wedge.
Keywords: Subterranean water. Water quality. Salt wedge. Hydrographic Basin. River Paciência
River.

INTRODUÇÃO

As atividades humanas e as consequentes alterações no ambiente têm provocado severos


impactos, em razão da falta do cumprimento das leis e controle de outorga de exploração das águas
subterrâneas, principalmente nas áreas costeiras que são particularmente sensíveis e frágeis.
A bacia hidrográfica pode ser definida como uma área limitada por um divisor de águas, que
a separa das bacias adjacentes e que serve de captação natural da água de precipitação através de
superfícies vertentes. Por meio de uma rede de drenagem, formada por cursos d‘água, ela faz
convergir os escoamentos para a seção de exutório, seu único ponto de saída (LINSLEY E
FRANZINI, 1978; TUCCI, 1997).
O Rio Paciência é fortemente influenciado pelas marés, condicionado a formação de uma
cunha de água marinha no interior da bacia por ocasião das preamares, caracterizado pela presença
dos mangues na planície flúvio-marinha. Dentre os recursos naturais, a água doce é fundamental
para o abastecimento de diversos usos e para a sustentabilidade da biodiversidade. A água doce de
boa qualidade promove a saúde da população.
A avaliação de parâmetros de qualidade da água é imprescindível para a compreensão do
funcionamento dos ecossistemas e dos problemas ambientais, bem como orientar as ações de
planejamento e gestão, além da importância da divulgação dos resultados para a população, com
intuito de informá-los acerca da condição da água. Este estudo tem o objetivo de avaliar a qualidade
da água subterrânea e o comportamento da intrusão salina na Bacia Hidrográfica do Rio Paciência.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 245


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MATERIAL E MÉTODOS

Foram realizadas análises físico-químicas de 16 amostras de água subterrâneas sendo 11


(onze) amostras do SAAE e 05 (cinco) dos poços tubulares de particulares que foram analisadas no
laboratório de Microbiologia do Programa de Controle de Qualidade de Alimentos e Água –
PCQA/UFMA e 23 (vinte três) análises físicas da água com o auxílio da Sonda Multiparâmetro
Aquaread AP 800, perfazendo um total de 39 (trinta e nove) poços analisados.
Para determinação da potabilidade das águas subterrâneas na bacia do Rio Paciência optou-
se pela realização da coleta de águas dos poços distribuídos na bacia, levando em consideração os
parâmetros físicos e químicos para águas subterrâneas conforme: Portaria MS Nº2914/2011,
Portaria MS Nº518/2004, Resolução CONAMA Nº 396/2008, Resolução CONAMA Nº 357/2005,
Resolução CONAMA N°20/1986, dentre outras normas.
Para realização das análises físico-químicas das águas utilizou-se durante as coletas frascos
plásticos de polipropileno com capacidade de 1,5L diretamente do cano ou torneiras ligadas aos
poços, deixando a água escoar por algum tempo (1 minuto), desprezando as primeiras águas. E as
análises físicas foram obtidas em tempo real por meio do Multiparâmetro, utilizou-se um recipiente
de plástico para se armazenar a água durante o estudo, e a após cada análise o aparelho foi limpo
com água destilada.
A base cartográfica foi elaborada no ambiente SIG - Sistema de Informação Geográfica,
sendo utilizada a técnica geoestatística da krigagem ordinária. ―A krigagem ordinária é ‗linear‘
porque suas estimativas são combinações lineares ponderadas dos dados disponíveis; é ‗não-
viciada‘ porque busca o valor de erro ou resíduo médio igual a 0; e é ‗melhor‘ porque minimiza a
variância dos erros‖ (ISAAKS; SRIVASTAVA, 1989, p. 278).

Área de Estudo

A Bacia Hidrográfica do Rio Paciência com uma área de 145,7 Km², padrão dendrítico e de
4ª ordem, e situa-se nos municípios de São Luís, São José de Ribamar e Paço do Lumiar na porção
central da Ilha do Maranhão, entre as coordenadas Universal Transversa de Mercator – Projeção
UTMs, fuso 23S; 9690000/9730000 mS e 560000/610000 mE (Figura 01). O acesso pode ser
realizado pelas vias terrestres MA-201 e MA-203, e via marítima através de pequenos portos ao
longo da desembocadura do rio principal.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 246


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1: Mapa de Localização da Bacia do Rio Paciência – MA. Fonte: RIBEIRO, 2017.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A poluição das águas têm sido um problema para a sociedade, e as formas de poluição são
variadas, de princípio natural ou como consequência das atividades humanas. E a qualidade da água
afeta de forma direta ou indireta a saúde ou bem‐estar do homem, por isso vale ressaltar a
importância deste estudo.
As análises físico‐químicas das águas subterrâneas de 11 (onze) poços tubulares do SAAE
(15/08/16 – maré baixa) (P – 29, P – 20, P – 21, P – 23, P – 54, P – 26, P – 07, P – 08, P – 09, P –
10 e P – 11) e as 5 (cinco) de poços tubulares particulares (AP1 – 13, AP2 – 18, AP3 – 19, AP4 –
23 e AP5 - 21) (01/07/17 – maré em preamar) presentes na Bacia do Rio Paciência indicaram os
seguintes resultados (Tabela 01) e as análises físicas das águas subterrâneas de 23 (vinte e três)
poços tubulares particulares (17/06/17 – maré alta, 26/06/17- maré alta, 01/07/17- maré em
preamar) presentes na Bacia do Rio Paciência indicaram os seguintes resultados (Tabela 02).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 247


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 04: Análises físico‐química das amostras de água subterrânea da Bacia do Rio Paciência – MA,
2016/17. Fonte: Dados da pesquisa, 2016/17.

Tabela 02: Análises físico‐química das amostras de água subterrânea da Bacia do Rio Paciência – MA,
2016/17. Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

O cloreto é um dos principais ânions inorgânicos presentes na água e sua concentração é


maior em águas residuais do que em água bruta, pois o cloreto de sódio (NaCl-) é um sal
comumente usado na dieta humana e passa inalterado através do sistema digestivo (CLESCERI et
al, 1998). Em águas residuais que contêm esgotos sanitários, as concentrações ultrapassam 15 mg
Cl L-1. (COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2001).
As concentrações do íon cloreto variaram de 8,08 a 72,16 mg/L. Os valores obtidos nas
águas subterrâneas dos poços tubulares encontram-se dentro dos valores preconizados pela Portaria
MS Nº 2914/2011 (BRASIL, 2011) que é de 250 mg/L. Segundo Pereira et al (2004) os valores de
cloreto acima de 20 mg/L podem estar associados à deposição de aerossóis marinhos no período

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 248


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

seco e a subsequente dissolução dos mesmos no período chuvoso durante a recarga do Aquífero
Barreiras, este por sua vez possui suas águas cloretadas.
Os poços P-7 e P-10 apresentaram valores superiores (0,439 e 0,479) ao permitido pela
Resolução MS Nº 2914/2011, sendo de 0,3 mg/L na água. Estes valores estão associados à
contaminação natural proveniente da Formação Barreiras e Formação Itapecuru presente no
substrato geológico da bacia. Segundo Delvin, et al (1998), essas altas concentrações de ferro nas
águas subterrâneas para consumo humano provocam o acúmulo de ferro no fígado, no pâncreas e no
coração, podendo levar à cirrose e tumores hepáticos, diabetes e insuficiência cardíaca. As águas
com elevada presença de ferro contribuem para gerar quantidades excessivas de radicais livres que
atacam as moléculas celulares, aumentando o número de moléculas potencialmente carcinogênicas
(MAHAN, 2000).
A condutividade elétrica se refere à capacidade que uma solução aquosa possui em conduzir
corrente elétrica. Esta capacidade depende basicamente da presença de íons, da concentração total,
mobilidade, valência, concentrações relativas e medidas de temperatura. Soluções da maior parte
dos ácidos, bases e sais inorgânicos são relativamente boas condutoras. Já as moléculas de
compostos orgânicos que não dissociam em solução aquosa, em sua maioria, conduzem pouca
corrente elétrica. A condutividade é medida por condutivímetro e é expressa em μS cm-1 ou mS
cm-1. As aplicações práticas para a tomada da medida da condutividade são: indicação do grau de
mineralização da água e indicação rápida de variações nas concentrações de minerais dissolvidos
(CLESCERI et al, 1998).
Algumas faixas de condutividade elétrica (uS/cm): água deionizada 0,5-3, pura água da
chuva <15, rios de água doce 0-800, água do rio marginal 800-1600, água salobra 1600-4800, Água
salina > 4.800, água do mar 51.500, águas industriais 100-10.000 (Ag Solve Monitoramento
Ambiental, 2013). As condutividades elétricas das águas subterrâneas dos poços indicaram valores
de 43,6 a 747 uS/cm. O poço P-54 apresentou valor anômalo de 747uS/cm, indicando alta
salinidade. Este poço tubular encontra-se na margem direita do Rio Paciência e a aproximadamente
6 km da foz em linha reta.
Na análise do pH os resultados variaram de 04.05 a 7,63 sendo os padrões de
permissibilidade para o parâmetro pH varia em torno de 5,5 e 8,5. Todavia, as amostragens abaixo
da média não são consideradas fator negativo, pois os resultados são designados transitórios para as
águas subterrâneas. Esses baixos valores de pH também foram encontrados e discutidos por Pereira
et al, (2004) no qual confirma que o pH médio do Aquífero Barreiras está em torno de 4,6 e as suas
recargas são provenientes de chuvas regionais. Rodrigues et al (1994) quando trata do Aquífero
Barreiras, esclarece que na sua grande maioria as análises apresentaram valores de pH extrapolando

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 249


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

os limites de potabilidade. No entanto, essa condição não compromete significativamente a


potabilidade das águas, conferindo-lhe pequena acidez passível de correção.
A turbidez é a medida da dificuldade de um feixe de luz atravessar certa quantidade de água,
conferindo uma aparência turva à mesma. Essa medição é feita com o turbidímetro ou nefelômetro,
que compara o espalhamento de um feixe de luz ao passar pela amostra, com o de um feixe de igual
intensidade, ao passar por uma suspensão padrão. Os valores de turbidez variaram de 0,4 a 6,2 UT,
P-26, P-07 e P-10 encontram-se fora do padrão preconizado pela Portaria MS Nº 2914/2011 que é
de 5,0 UT.
Os sólidos totais dissolvidos (STD/TDS) é a soma de todos os constituintes químicos
dissolvidos na água. Mede a concentração de substâncias iônicas e é expressa em mg L-1. Esse
parâmetro variou de 33 a 271 mg/L encontrando-se dentro dos parâmetros preconizados pela norma
MS Nº 2914/2011. O limite máximo permitido de STD na água para consumo humano é de 1.000
mg L-1 (BRASIL, 2004). As fontes primárias de STD em águas receptoras são agrícolas e
residenciais, de lixiviados de contaminação do solo e de fontes pontuais de descarga de poluição das
águas industriais ou estações de tratamento de esgoto.
A salinidade é a medida dos teores de sais dissolvidos na água. A resolução CONAMA
n°20/1986, dividiu as águas do território brasileiro em águas doces (salinidade < 0,05%), salobras
(salinidade entre 0,05% e 3%) e salinas (salinidade > 3%). Desta forma, a "água doce" pode ter uma
salinidade entre 0 e 0,5. Os valores variaram de 00.02 a 00.13 PSU. Através dos mapas de tendência
foi possível observar que os maiores índices de condutividade elétrica e os de salinidade se
apresentam principalmente nas áreas próximas ao contato com a orla marinha na porção inferior e
os maiores valores de nível estático estão na porção do médio curso da bacia. (Figuras 02, 03, 04).

Figura 02: Mapa de isolinhas de condutividade elétrica da porção média e inferior da Bacia Hidrográfica do
Rio Paciência – MA. Fonte: RIBEIRO, 2017.
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 250
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 03: Mapa de isolinhas de salinidade da porção média e inferior da Bacia Hidrográfica do Rio
Paciência – MA. Fonte: RIBEIRO, 2017.

Figura 04: Mapa de NE da porção média e inferior da Bacia Hidrográfica do Rio Paciência – MA. Fonte:
RIBEIRO, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 251


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

―Nível Estático (NE) é a profundidade do nível da água dentro do poço, quando não está em
bombeamento por um bom período de tempo. Medido geralmente em metros (m) em relação à boca
do poço‖ (CPRM, 1998, p. 7).
Os valores de potencial de oxidação/redução nos poços variam de +102.3 a +743.7 mV
indicando um ambiente de médio a fortemente oxidante, as condições de um rio não poluído são
fracamente oxidantes. A resolução Nº 396 CONAMA (BRASIL, 2008) não define limite de
temperatura para o consumo humano. Os valores variam de 25 a 33.60 ºC. Segundo a portaria MS
Nº 2914/2011 a cor aparente deve possui o padrão de 15 uH, e nos poços os valores variam de 0 a
27 uH.
Chachadi e Lobo Ferreira (2001) recomendam a utilização da razão Cl-/[HCO3- + CO32] ou
a razão iônica entre o cálcio e o magnésio (rMg+2/rCa+2) fornece uma imediata indicação do
fenômeno da intrusão salina. Os valores mais elevados desta razão estão associados ao acréscimo
dos teores de cloretos. Esta razão possui um valor compreendido entre 0,3 e 1,5 em águas doces, e
da ordem de 5, para a água do mar. As concentrações do íon cálcio variaram de 3,01 a 52,26 mg/L,
as do íon magnésio de 8,04 a 77,80 mg/L. De acordo com a Resolução RDC nº 274, de 22 de
setembro de 2005 da ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária, não deve exceder, em
100 ml, os limites máximos estabelecidos para: Cálcio: 25 mg/l e Magnésio: 6,5 mg/l.
Segundo Custódio e Llamas (1976), a Dureza Total (DT) é o conteúdo total em cálcio e
magnésio e a Dureza Temporária só é a quantidade total de cálcio e magnésio associados ao
bicarbonato e carbonato. De acordo com a classificação de Dureza Total destes autores, águas das
fontes das regiões de filitos e quartzitos são brandas, e as águas das fontes das regiões carbonáticas
são moderadamente duras a muito duras. Os valores de dureza total variaram de 10,05 a 123,68
mg/L, e encontram-se dentro dos padrões da Portaria MS Nº 2914/2011 que é de 500 mg/.
Na porção média e inferior do curso da bacia hidrográfica do Rio Paciência indicou que o
fenômeno da intrusão salina, conforme as razões Mg/Ca está afetando as águas subterrâneas do P-9
(2,5), indicando a água salobra. Destaca-se que os poços tubulares situados na margem esquerda do
Rio Paciência P-20, P-21, P-54, AP1/P-13, AP2/P-18, AP4/P-23 e pela margem direita P- 26,
apresentaram razões Mg/Ca entre 0,61 a 0,78, indicando um certo risco a ser atingida pela cunha
salina (Tabela 03 e Figura 05).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 252


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 03: Mg/Ca dos poços da Bacia do Rio Paciência-MA, 2016/17. Fonte: Dados da pesquisa, 2016/17.

Figura 05: Mapa de amostragem de água subterrânea da Bacia Hidrográfica do Rio Paciência – MA. Fonte:
RIBEIRO, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 253


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

A água doce de boa qualidade promove a saúde da população, por esse motivo são
necessários cuidados especiais no saneamento básico nas áreas das bacias hidrográfica,
consideradas como áreas de planejamento territorial. A água subterrânea dos poços tubulares da
porção média e inferior da bacia do Rio Paciência apresentaram as seguintes características físico-
químicas:
Os teores de ferro, salinidade, cor, turbidez e magnésio apresentaram valores acima dos
preconizados nas referidas normas de referência. Os parâmetros de cloreto, dureza total, sólidos
totais dissolvidos, oxigênio dissolvido e cálcio obtidos apresentam-se dentro dos princípios
preconizados. As amostragens de pH abaixo da média não são consideradas fator negativo, pois os
resultados são designados transitórios para as águas subterrâneas. O poço P-54 apresentou valor
anômalo de 747uS/cm, indicando alta salinidade. Este poço tubular encontra-se na margem direita
do Rio Paciência e a aproximadamente 6 km da foz em linha reta.
Através dos mapas de tendência foi possível observar que os maiores índices de
condutividade elétrica e os de salinidade se apresentam principalmente nas áreas próximas ao
contato com a orla marinha na porção inferior e os maiores valores de nível estático estão na porção
do médio curso da bacia. Na porção média e inferior do curso da bacia hidrográfica do Rio
Paciência indicou que o fenômeno da intrusão salina, conforme as razões Mg/Ca está afetando as
águas subterrâneas do P-9 (2,5) indicando a água salobra. Destaca-se que os poços tubulares P-20,
P-21, P-54, AP1/P-13, AP2/P-18, AP4/P-23 situados na margem esquerda do Rio Paciência e pela
margem direita P-26, apresentaram razões Mg/Ca entre 0,61 a 0,78, indicando um certo risco a ser
atingida pela cunha salina.
Recomenda-se a implantação de políticas públicas e ressalta-se a necessidade urgente do
controle da potabilidade das águas subterrâneas pelos gestores responsáveis, pois essas águas
subterrâneas dos poços tubulares analisados são utilizadas para consumo humano pela população
residente na área da bacia hidrográfica do Rio Paciência e que correm risco de serem contaminadas
pelo risco da entrada da cunha salina.

REFERÊNCIAS

Ag Solve Monitoramento Ambiental. Como e porque medir a Condutividade Elétrica (CE) com sondas
muiltiparâmetros? (12/03/2013). Disponível em: <https://www.agsolve.com.br/noticias/como-e-
porque-medir-a-condutividade-eletrica-ce-com-sondas-muiltiparametros>. Acesso em: jul.,
2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 254


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BAUMGARTEN, M. G. Z.; Pozza, S. A. Qualidade de águas: descrição de parâmetros químicos


referidos na legislação ambiental. Rio Grande: Ed. FURG, 2001. 166p.

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente.


Resolução nº 357 de 17 de março de 2005. Brasília, 2005.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria n.2914 de


dezembro de 2011. Diário Oficial da União, Brasília, DF. BRASIL. Ministério do Meio
Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 518, de 25 março de 2004. Estabelece os procedimentos e


responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano
e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Diário Oficial da União [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 26 mar. 2004. Seção 1, p. 266-270.

BRASIL. Resolução CONAMA nQ 20, de 18 de junho de 1986. Estabelece a classificação de


águas doces, salobras e salinas. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, p.
11.356, 30 jul. 1986.

CHACHADI, A.G; LOBO FERREIRA, J.P. (2001). Sea water intrusion vulnerability mapping of
aquifers using the GALDIT method. COASTIN – a coastal policy research newsletter, n.º4, pp.
7-9.

CLESCERI, L. S.; GREENBERG, A. E.; EATON, A. D. Standard methods for the examination of
water and wastewater. 20th. ed. Washington, DC: American Public Health Association;
American Water Works Association; Water Environment Federation, 1998. 1325 p.

COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Variáveis de qualidade das águas.


São Paulo, 2001. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/ Agua/rios/variaveis.asp>.
Acesso em: jul., 2017.

CPRM. Ações Emergenciais de Combate aos Efeitos das Secas - Noções Básicas Sobre Poços
Tubulares. 1998. Disponível em:
<http://www.cprm.gov.br/publique/media/hidrologia/mapas_publicacoes/Nocoes_Basicas_Pocos
_Tubulares.pdf>. Acesso em: jul., de 2017.

CUSTODIO, E.; LLAMAS, M.R. Hidrologia Subterrânea. 1 Ed. Barcelona: Omega Editorial,
1976.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 255


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

DELVIN T. M. et al. Manual de Bioquímica com correlações clínicas. 4.ed., São Paulo: Edgard:
Blucher Ltda. 1998.

ISAAKS, Edward H.; SRIVASTAVA, R.M. An Introduction to Applied Geostatistics. NY: Oxford
University Press, Inc., 1989.

LINSLEY, R.K. Jr.; FRANZINI, S. B. Bacias. Engenharia de Recursos Hídricos. Tradução e


adaptação de Luiz Américo Pastorino. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1978.

MAHAN, B. M. Química: um curso universitário. 4. Ed., São Paulo: Blücher, 2000.

PEREIRA, Lucilene et al. Medidas Hidroquímicas e Isotópicas em águas subterrâneas que


abastecem o município de São Luís-Maranhão. Rev. Águas Subterrâneas Nº 18/jan. 2004.

Resolução n° 396 de 03 abr. 2008. Diário Oficial da União n0 066, 07 abr. 2008, seção 1, pag 64-
68.

Resolução RDC nº 274, de 22 de setembro de 2005. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância


Sanitária.Disponível em: <
http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/394219/RDC_274_2005.pdf/19d98e61-fa3b-41df-
9342-67e0167bf550>. Acesso em: jul., de 2017.

RODRIGUES, T. L. N. et al. (Org) Programa de Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil:


São Luís, Folha SA-23-2-A, Cururupu Folha SA-23-X-C, escala 1: 250.000. CPRM; Brasília,
1994.

TUCCI, C.E.M. (Org.) Hidrologia: ciência e aplicação. 2.ed. Porto Alegre: Editora da
Universidade: ABRH, 1997.(Coleção ABRH de Recursos Hídricos; v.4).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 256


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ACARÁ E


ESPACIALIZAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO MÉDIA ANUAL PELO MÉTODO IDW

Bianca Souza Cana VERDE


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental UESB
bia_canaverde@hotmail.com
Romário Oliveira de SANTANA
Mestrando em Ciências Ambientais UESB
romarioambiental1@gmail.com
Gabriel Gomes MENDES
Graduando do Curso de Engenharia Ambiental UESB
gabriel_gomes96@live.com
Maxwell Christian Silva Canaverde OLIVEIRA
Graduando do Curso de Engenharia Ambiental UESB
maxwell_dm@hotmail.com

RESUMO
A gestão de bacias hidrográficas é um instrumento importante para a manutenção da qualidade e
quantidade dos recursos hídricos de uma região. O presente estudo tem como objetivo caracterizar
morfometricamente e avaliar o efeito da espacialização da precipitação na bacia hidrográfica do Rio
Acará. Para isso gerou-se o Modelo Digital de Elevação Hidrologicamente Consistente (MDEHC)
através do uso do software ArcGIS 10.3/ArcMAP® do ESRI. A partir do MDEHC foram
calculados alguns parâmetros morfométricos e realizada a espacialização da precipitação pelo
método IDW para o estudo do comportamento hidrológico. A área de drenagem encontrada foi de
138,55 Km² e o perímetro de 70,97 Km. A bacia do Rio Acará apresentou altitude média de 624 m,
maior parte do terreno na classe de declividade de 20 a 45%, coeficiente de compacidade de 1,69,
fator de forma de 0,44, índice de circularidade de 0,34 e densidade de drenagem de 0,72 Km/Km².
A bacia possui forma irregular, baixa possibilidade de ocorrência de enchentes em condições
normais de precipitação e densidade de drenagem baixa. A espacialização da precipitação indicou
valores de precipitação mínima de 866,75 mm, máxima de 888,81 mm e média de 874,36 mm,
indicando que existe pouca variação média anual da lâmina precipitada na região da bacia
hidrográfica do Rio Acará.
Palavras-chave: geoprocessamento, morfometria, recursos hídricos

ABSTRACT
Watershed management is an important tool for maintaining the quality and quantity of water
resources in a region. The present study aimed to characterize morphometrically and to evaluate the
effect of precipitation spatialization on the Acará River watershed. In order to do so, a
Hydrologically Consistent Digital Elevation Model (MDEHC) was generated using the ESRI's
ArcGIS 10.3 / ArcMAP® software. From the MDEHC, some morphometric parameters were
calculated and the precipitation spatialization was performed by the IDW method to study the
hydrological behavior. The drainage area was 138.55 km² and the perimeter was 70.97 km. The
Acará River watershed had a mean elevation of 624 m, most of the terrain in the slope class from
20% to 45%, a compactness coefficient of 1.69, a shape factor of 0.44, a roundness index of 0.34,
and a drainage density of 0.72 Km / Km². The watershed has an irregular shape, low possibility of
flooding under normal precipitation conditions and low drainage density. The precipitation

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 257


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

spatialization indicated minimum precipitation value of 888.75 mm, maximum value of 888.81 mm
and mean value of 874.36 mm, indicating that there is little average annual variation of the
precipitated leaf in the Acará River watershed region.
Keywords: geoprocessing, morphometry, water resources

INTRODUÇÃO

A bacia hidrográfica é uma área definida topograficamente, responsável pela drenagem da


água advinda da precipitação, de sedimentos e de materiais dissolvidos, os quais são convergidos
para uma única saída, denominada de exutório ou foz, por meio de canais fluviais, tributários e, ou
ravinas (SILVA et al., 2006).
As bacias hidrográficas não devem ser vistas somente como uma área de captação de água
da chuva, mas também como unidades de planejamento, gerenciamento e gestão dos recursos
naturais, uma vez que representam todos os organismos e componentes do sistema ecológico, os
quais são permanentemente dependentes e interligados (UMETSU et al. 2012).
A caracterização morfométrica de uma bacia hidrográfica é um dos procedimentos
indispensáveis executados em análises hidrológicas ou ambientais para o conhecimento da dinâmica
ambiental local e regional, permitindo a identificação de áreas de risco de ocupação, ambientes
frágeis, impactos ambientais, interferência antrópica e a dinâmica da evolução natural da paisagem
(BARBOSA E FURRIER, 2009).
Atrelada ao conhecimento dos componentes da dinâmica de funcionamento do ciclo
hidrológico a caracterização morfométrica permite avaliar o potencial hídrico de uma região. Uma
vez que, o conhecimento da variabilidade dos padrões de precipitação, pode orientar nas decisões
quanto às medidas necessárias para minimizar dos danos decorrentes da irregularidade das chuvas
(FIETZ et al., 2002), permitindo formular um conjunto integrado de ações sobre o meio ambiente, a
estrutura social, econômica, institucional e legal de uma bacia, com a finalidade de promover a
conservação e a utilização sustentável dos recursos naturais, principalmente os recursos hídricos e o
desenvolvimento sustentável (TONELLO, 2005).
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi realizar a caracterização morfométrica e
analisar a variabilidade espacial do comportamento da precipitação na bacia hidrográfica do Rio
Acará.

MATERIAL E MÉTODOS

Caracterização da Área de Estudo

A área de estudo compreendeu a Bacia Hidrográfica do Rio Acará, afluente da margem


esquerda do Rio Catolé Grande. Com base no sistema de projeção Universal Transversa de
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 258
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Mercator (UTM), está contida na zona 24, localizada na região sudoeste do estado da Bahia. O Rio
Acará nasce no município de Nova Canaã e deságua no Rio Catolé Grande na altura no município
de Caatiba.
A classificação climática para a região segundo Köppen é o tropical com estação seca de
inverno (Aw) apresentando inverno seco e verão chuvoso. Segundo os mapas climatológicos do
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), para um período entre 1961 a 2009, o mês de
fevereiro apresentou as temperaturas mais elevadas, 21°C, enquanto no mês de julho foram
observadas as menores temperaturas, 18°C. Com relação à precipitação, o mês de dezembro
apresenta os maiores índices de pluviosidade, com 132 mm, enquanto que no mês de agosto esse
valor não ultrapassou 17 mm.
De acordo com a Embrapa Solos (2006), há predominância de solos do tipo latossolo
vermelho amarelo, podzólico vermelho amarelo e brunizem vermelhado, caracterizando ambientes
bem drenados, muito intemperizados e com pequena reserva de nutrientes para as plantas.
A região está inserida no bioma da Caatinga, cuja classificação fitogeográfica é Savana-
Estépica (VELLOSO et al,. 1991) com imensa diversidade em sua paisagem, possibilitando a
distinção dos ecossistemas baseada nas diferenças de pluviometria, fertilidade e tipo de solos e
relevo.

CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA DA BACIA

Modelo Digital de Elevação Hidrologicamente Condicionado (MDEHC)

A caracterização morfométrica da bacia foi iniciada com a obtenção do MDEHC a partir das
imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), com resolução 30 x 30 m, SD-24Y-A, SD-
24Y-B, SD-24Y-C e SD-24Y-D disponível em MIRANDA et. al. (2017). Após a obtenção das
imagens realizou-se o pré-processamento dos dados digitais de elevação e drenagem no software
ArcGIS 10.3/ArcMAP® produzido pela ESRI - Environmental Systems Research Institute.
Para a geração do modelo digital de elevação, os softwares que realizam esses
processamentos necessitam que os dados digitais de entrada possuam qualidade e estrutura
aceitáveis. Dessa forma, realizou-se o preenchimento das depressões espúrias, foi definida a direção
do escoamento e do fluxo acumulado, em ambiente de SIG. Posteriormente foram realizados
procedimentos para a geração de arquivos individuais contendo somente os limites da bacia,
condicionando o MDE à hidrografia, assim como diversos processamentos para a obtenção de um
modelo digital de elevação hidrologicamente condicionado.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 259


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Morfometria da Bacia Hidrográfica

Com a bacia delimitada obtiveram-se diversas características físicas, como: perímetro da


bacia (P), área de drenagem (A), densidade de drenagem (Dd), ordem dos cursos d‘água, coeficiente
de compacidade (Kc), fator de forma (F), índice de circularidade (IC), declividade da bacia e
altitude.
A área de drenagem (A) de uma bacia é um importante elemento a ser considerado em
estudos hidrológicos. Corresponde a área plana (projeção horizontal) inclusa entre os diversos
divisores topográficos. A área é expressa em km².
O perímetro representa a linha imaginária formada pelo divisor de águas topográfico que
contorna toda a bacia hidrográfica. O perímetro é expresso em km.
O coeficiente de compacidade (Kc) é a relação entre o perímetro da bacia e o perímetro de
um círculo de mesma área que a bacia. O número calculado não depende da área considerada
apenas da forma da bacia. De acordo com Villela & Mattos (1975), o valor de Kc é sempre maior
que um, quanto mais irregular for o formato da bacia maior será o valor do coeficiente de
compacidade e quanto mais próximo da unidade maior a tendência de ocorrer picos de enchentes. O
Kc foi determinado de acordo com a seguinte equação:

Sendo: Kc o coeficiente de compacidade, P o perímetro (km) e A a área de drenagem (km²).

O fator de forma (F) relaciona a forma da bacia com a de um retângulo, correspondendo à


razão entre a largura média e o comprimento axial da bacia (da foz até o ponto mais longínquo do
espigão). O fator de forma constitui um índice da maior ou menor tendência para enchentes de uma
bacia. Uma bacia com um fator de forma baixo é menos sujeita as enchentes que outra de mesmo
tamanho, porém com maior fator de forma. Para sua obtenção utilizou-se a fórmula seguinte:

Sendo: F o fator de forma, A a área de drenagem (km²) e L o comprimento axial da bacia (km).

O índice de circularidade (IC) tende para unidade à medida que a bacia aproxima-se do
formato de um círculo e quanto mais alongada for a bacia menor será o valor do índice de
circularidade. Ele foi calculado pela equação:

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 260


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Sendo: IC o índice de circularidade, A a área de drenagem (km²) e P o perímetro (km).

O sistema de drenagem da bacia é formado pelo rio principal e seus tributários. Seu estudo
indica a maior ou menor velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica. A densidade de
drenagem (Dd) é uma boa indicação do grau de desenvolvimento de um sistema de drenagem.
Expressa a relação entre o comprimento total dos cursos d‘água (sejam eles efêmeros, intermitentes
ou perenes) de uma bacia e a sua área total. O seu valor foi determinado através da equação:

Sendo: Dd a densidade de drenagem (km/km²), ∑L o comprimento total da drenagem (km) e A a área de


drenagem da bacia (km²).

Dd (km/km²) Denominação
< 0,50 Baixa
0,50 – 2,00 Mediana
2,01 – 3,50 Alta
> 3,50 Muito Alta
Tabela 1. Classificação da densidade de drenagem (Dd) de uma bacia (BELTRAME, 1994)

O modelo digital de elevação hidrologicamente condicionado (MDEHC) foi utilizado para a


geração do mapa de declividade e da altitude. A imagem da declividade gerada foi do tipo contínua
por apresentar valores reais. Para classificação do relevo foram utilizados seis intervalos distintos de
classes, de acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2009).

Declividade (%) Discriminação


0–3 Relevo plano
3–8 Relevo suave ondulado
8 – 20 Relevo ondulado
20 – 45 Relevo forte ondulado
45 – 75 Relevo montanhoso
> 75 Relevo forte montanhoso
Tabela 2. Classificação da Declividade segundo Embrapa (2009)

A ordem dos cursos d‘água consiste no processo de se estabelecer a classificação de


determinado curso d‘água no conjunto total da bacia hidrográfica na qual se encontra. A
metodologia escolhida para esse trabalho foi a proposta por Arthur N. Strahler, em 1957, onde os
menores canais sem tributários são considerados de primeira ordem, e só recebem afluentes de
primeira ordem; os canais de terceira ordem surgem da confluência de dois canais de segunda
ordem, podendo receber afluentes de segunda e primeira ordens; os canais de quarta ordem surgem
da confluência de canais de terceira ordem, podendo receber tributários de ordens inferiores e assim
sucessivamente.

Espacialização da Precipitação

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 261


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Os dados de precipitação utilizados foram oriundos de 22 estações pluviométricas


localizadas dentro da bacia hidrográfica e em suas proximidades. Através do Sistema de
Informações Hidrológicas HidroWeb os dados históricos de precipitação foram adquiridos,
contemplando um período de coleta mínimo de 30 anos. O software Hidro 1.0.9 foi usado para a
tabulação dos dados, e calculadas as precipitações médias mensais e anuais para os postos
pluviométricos utilizados no estudo. Para os meses em que não havia dados completos foi estimado
os valores através do preenchimento de falhas pelo método da ponderação regional. O método leva
em consideração os três postos mais próximos e com características climáticas semelhantes e realiza
o preenchimento pela equação a seguir.

Sendo: Ym = precipitação média do posto que apresenta falha, mm; X1, X2, X3 = precipitação do mês dos
postos vizinhos, mm; e Xm1, Xm2, Xm3 = precipitação média das 3 estações vizinhas, mm.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da caracterização da bacia hidrográfica do Rio Acará são apresentados na


Tabela 3.

Características Geométricas
Área de drenagem (Km²) 138,55
Perímetro (Km) 70,97
Comprimento axial da bacia (Km) 17,72
Coeficiente de compacidade – Kc 1,69
Fator de forma – F 0,44
Índice de circularidade – IC 0,34
Características do Relevo
Altitude máxima (m) 962
Altitude média (m) 624
Altitude mínima (m) 285
Características da Rede de Drenagem
Comprimento Total de todos os canais (Km) 99,92
Comprimento do canal principal (Km) 26,45
Densidade de drenagem (Km/Km²) 0,72
Ordem 4
Tabela 3 – Características da bacia hidrográfica do Rio Acará, BA, 2017

A área de drenagem encontrada na bacia foi de 138,5 km² e seu perímetro, de 71 km. A área
da bacia tem fundamental importância para definir a sua resposta hidrológica e sua potencialidade
hídrica, pois quanto maior a bacia, menor será a tendência de ocorrer picos de enchentes, já que
maior será o tempo para que toda a bacia contribua de uma só vez (TUCCI, 2009).
De acordo com os resultados morfométricos, pode-se afirmar que a bacia hidrográfica do
Rio Acará mostra-se pouco suscetível a enchentes em condições normais de precipitação, ou seja,
excluindo-se eventos de intensidades anormais, pelo fato do coeficiente de compacidade apresentar

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 262


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

valor afastado da unidade (1,69), o fator de forma exibir um valor baixo (0,44) e o índice de
circularidade (0,34) também. Assim, há uma indicação de que a bacia não possui forma circular,
possuindo, portanto, uma tendência a ter forma alongada. Bacias com valores de IC inferiores a
0,51 sugerem o favorecimento do processo de escoamento.
A densidade de drenagem obtida foi de 0,72 km/km². De acordo com Villela & Mattos
(1975), esse índice pode variar entre 0,5 km/km² em bacias com drenagem pobre a 3,5 km/km² ou
mais nas bacias excepcionalmente bem drenadas. O valor encontrado indica baixa capacidade de
drenagem da bacia em estudo. Valores baixos de densidade de drenagem estão geralmente
associados a regiões de rochas permeáveis e de regime pluviométrico caracterizado por chuvas de
baixa intensidade ou pouca concentração da precipitação (TONELLO, 2006).
O sistema de drenagem, segundo a hierarquia de Strahler (1957), apresentou grau de
ramificação de quarta ordem, o que demonstra significativa ramificação com relação à área da
bacia. Considera-se que quanto mais ramificada for a rede, mais eficiente será o sistema de
drenagem.
A Figura 1 ilustra a distribuição das altitudes na bacia, evidenciando uma altitude média de
624 m, com altitude mínima de 285 m e máxima de 962 m. Para Duarte et al. (2007), a variação da
altitude e a altitude média de uma bacia hidrográfica está fortemente relacionada com a temperatura
e a precipitação. Grandes variações de altitude numa bacia ocasionam diferenças significativas na
temperatura média, a qual, por sua vez, causa variações na evapotranspiração e precipitação anual
(CARDOSO et al., 2006). Devido à significativa variação de elevação, a bacia é sujeita a variações
de temperatura e precipitação.

Figura 1 – Distribuição espacial da elevação na bacia hidrográfica do Rio Acará

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 263


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Na Tabela 4, apresentam-se as informações quantitativas associadas à declividade do terreno


da bacia. A declividade da bacia variou entre 3 a 165% aproximadamente.

Declividade (%) Relevo Área (Km²) %


0–3 Plano 2,7108 1,96
3–8 Suavemente ondulado 6,0183 4,35
8 – 20 Ondulado 23,5944 17,04
20 – 45 Fortemente ondulado 78,5214 56,71
45 – 75 Montanhoso 26,8866 19,42
>75 Fortemente montanhoso 0,7272 0,52
Total 138,5 100
Tabela 4. Distribuição das classes de declividade da bacia hidrográfica do Rio Acará, BA.

A maior parcela do terreno (56,71%) corresponde aos valores de declividade entre 20 e 45%,
caracterizado como relevo fortemente ondulado. Na figura 2 verifica-se a variação da declividade
sobre o terreno da bacia. A declividade média de uma bacia hidrográfica é relevante no
cumprimento da legislação e na garantia da eficiência das intervenções antrópicas (SILVA, 2014).

Figura 2 – Distribuição espacial das classes de declividade na bacia hidrográfica do Rio Acará.

Na figura 3 está apresentada a distribuição da precipitação média anual, considerando o


período de 1945 a 2016. Observa-se que a precipitação na região da cabeceira apresenta a menor
concentração de precipitação da bacia e esses valores vão elevando-se em direção à foz. A porção
esquerda da bacia representa a parcela em que ocorrem os maiores índices de precipitação. A
precipitação mínima da bacia é de 866,75 mm e a máxima de 888,81 mm, com respectiva

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 264


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

precipitação média de 874,36 mm. Observando-se a distribuição da precipitação média na área de


drenagem, verifica-se que o regime de precipitação apresenta pouca oscilação.

Figura 3. Distribuição espacial da precipitação da bacia hidrográfica do Rio Acará, BA.

CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos conclui-se que a caracterização morfométrica da bacia
hidrográfica do Rio Acará indica uma bacia de formato irregular, sendo comprovado pelo
coeficiente de compacidade, fator de forma e índice de circularidade, o que leva ao maior tempo de
concentração das águas da chuva, sendo pouco sujeita a enchentes em condições normais de
precipitação anual.
A bacia do Rio Acará possui baixa densidade de drenagem e é classificada como de quarta
ordem, apontando que o sistema de drenagem da bacia possui significativa ramificação.
O relevo da bacia também contribui para a menor probabilidade de ocorrência de enchentes
por possui a maior parte de sua área em terreno fortemente ondulado. A associação entre os
elevados valores de declividade e altitude da bacia favorecem o escoamento superficial, que por sua
vez poderão ocasionar processos erosivos intensos em condições de cobertura vegetal
desfavoráveis.
A espacialização da precipitação média anual para a bacia mostrou-se satisfatória, podendo
auxiliar na execução de projetos para melhor gestão dos recursos hídricos da bacia hidrográfica do
Rio Acará.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 265


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

REFERÊNCIAS

BARBOSA, M. E. F.; FURRIER, M. Análise morfométrica da bacia hidrográfica do Rio Guruji,


litoral sul do estado da Paraíba. In: Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada,13,
2009,Viçosa. Anais...Viçosa: UFV, 2009. CD-Rom.

CARDOSO, C. A. et al. Caracterização morfométrica da bacia hidrográfica do Rio Debossan,


Nova Friburgo, RJ. Revista Árvore, Viçosa, v.30, n.2, p.241-248, mar./abr. 2006.

DUARTE, C. C. et al. Análise fisiográfica da bacia hidrográfica do Rio Tapacurá - PE. Revista de
Geografia, Recife, v.24, n.2, p.50-64, maio/ago. 2007.

EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos – Rio de Janeiro: Embrapa, 2009. 412p.

EMBRAPA SOLOS UEP RECIFE. Disponível


em:<http://www.uep.cnps.embrapa.br/solos/index.html. Acesso: 20 de jun. 2017.

FIETZ, C.R.; URCHEI, M.A.; COMUNELLO, E. Probabilidade de ocorrência de chuva na bacia


do rio Dourados - MS. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2002. 32 p.

FRAGA, M. de S.; FERREIRA, R. G.; SILVA, F. B.; VIEIRA, N. P. A.; SILVA, D. P.; BARROS,
F. M.; MARTINS, I. S. B. Caracterização Morfométrica da Bacia Hidrográfica do Rio Catolé
Grande, Bahia, Brasil. Nativa, Sinop, v. 02, n. 04, p. 114-118, out/dez. 2014.

MIRANDA, E. E. Brasil em Relevo. Disponível em:<http://www.relevobr.cnpm.embrapa/>.


Acesso: 15 de jun. de 2017.

PÉRICO, E.; CEMIN, G.; AREND, U.; REMPEL, C.; ECKHARDT, R. R. Análise fisiográfica da
bacia hidrográfica do rio Forqueta, RS. In: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 15,
2011, Curitiba, Anais... São José dos Campos: INPE, 2011. p. 1200-1207.

SILVA, A. M.; HERPIN, U.; MARTINELLI, L. A. Morphometric characteristics of seven


mesoscale river basins in sate of São Paulo (southeastern Brazil). Revista Caminhos da
Geografia, Uberlândia, v. 3, n. 17, p. 20-30, 2006.

SILVA, J. L., TONELLO, K. C. Morfometria da Bacia Hidrográfica do Ribeirão dos Pinheirinhos,


Brotas – SP. Irriga, Botucatu, v. 19, n. 1, p. 103-114, janeiro-março, 2014.

STRAHLER, A. N. Quantitative analysis of watershed geomorphology. Transaction of American


Geophysical Union, p. 913-920, 1957.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 266


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TONELLO, K. C. Análise Hidroambiental da Bacia Hidrográfica da Cachoeira das Pombas,


Guanhães, MG. Viçosa, 2005. 69 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) –
Universidade Federal de Viçosa.

TONELLO, K. C., DIAS, H. C. T., SOUZA, A. L., RIBEIRO, C. A. A. S. R., LEITE, F. P.


Morfometria da Bacia Hidrográfica da Cachoeira das Pombas, Guanhães – MG. Revista
Árvore, Viçosa-MG, v. 30, n. 5, p.849-857, 2006.

TUCCI, C. E. M. Hidrologia: Ciência e Aplicação. 4.ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS/ABRH,


2009. 943p.

UMETSU, R. K. et. al. Análise Morfométrica e Socioambiental de uma bacia hidrográfica


Amazônica, Carlinda, MT. Revista Árvore, Viçosa-MG, v.36, n.1, p.83-92, 2012.

VILLELA, S. M.; MATTOS, A. Hidrologia aplicada. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1975.
245p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 267


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ANÁLISE DAS TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS PARA CAPTAÇÃO DE ÁGUA NO


SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Gabriela Domingos LIMA


Graduanda do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do IFCE
gabrieladomingoslima@gmail.com
Maria Maiany Paiva LIMA
Graduanda do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do IFCE
maianypaival@gmail.com
Lucas da SILVA
Professor Doutor do IFCE
lucasilva@ifce.edu.br

RESUMO
A escassez de água é um dos principais desafios enfrentados pela população do semiárido
brasileiro. Diante desse cenário surgiram diversas tecnologias para a captação e armazenamento
desse recurso, de modo há garantir o abastecimento humano e a manutenção das atividades
econômicas da região, em especial, no meio rural. Considerando a importância de se propor e
avaliar alternativas de convivência com o semiárido, o presente trabalho buscou analisar as
tecnologias disponíveis para a captação de água por meio de pesquisa bibliográfica para auxiliar na
adequação da tecnologia a realidade social, econômica, e ambiental da região. A partir da análise
qualitativa das tecnologias, constatou-se que a cisterna de cal e a barragem subterrânea
apresentaram melhor adaptação ás condições do semiárido brasileiro.
Palavras Chave: Recursos hídricos, Seca, Adaptação.

ABSTRACT
A shortage of water is one of the main challenges faced by the Brazilian semi-arid population. In
the face of the scenario, several technologies emerged for the capture and storage of resources, in a
constant way, human supply and maintenance of economic activities in the region, especially in
rural areas. The purpose of this study is to find a research database. From the qualitative analysis of
the technologies, it was verified that the lime cistern and the underground dam presented better
adaptation to the Brazilian semi-arid conditions.
Keywords: Water resources, Drought, Adaptation

INTRODUÇÃO

A escassez de água no semiárido brasileiro é um os maiores problemas sociais do mundo


atual (SILVA ET AL. 2016). Essa problemática é retratada há muitos anos, até mesmo em
literaturas, como em: Vidas secas e O quinze, que representam verdadeiramente este cenário.
(FOURNIER, 1989; RAMOS, 1980; QUEIROZ, 1993). As irregularidades nas distribuições das
chuvas, as taxas de evaporação e evapotranspiração maiores que as taxas de precipitação, são uns
dos motivos que agravam a falta de recursos hídricos (JATOBÁ, L. & SILVA, A. F, 2015).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 268


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O acesso à água das populações rurais é um problema significativo, mesmo com a imigração
de algumas dessas populações para centros urbanos, visto que, é existente uma maior facilidade de
obtenção desse recurso (MEDEIROS ET AL., 2011). Por haver descontrole na distribuição das
águas de chuvas no semiárido, buscam-se alternativas que proporcionem seu melhor
aproveitamento. Dessa forma, a retenção dessa água irá permitir a produção de alimentos,
preservação de rebanho caprino, suíno, bovino e ovino, além de produção de energia elétrica e
navegação fluvial (JATOBÁ, L. & SILVA, A. F, 2015).
Algumas tecnologias estão sendo implementadas para auxiliar na captação de água
(MEDEIROS ET AL., 2011). Essas podem ser classificadas como de grande, médio e pequeno
porte. São exemplos de ações de grande porte a construção de amplos açudes, que apresentam
capacidade de armazenar grandes volumes de água. As ações de médio porte correspondem a
açudes menores, que tem como prioridade o abastecimento de comunidades locais. Nas ações de
pequeno porte têm-se, por exemplo, pequenas barragens, poços e cisternas (JATOBÁ, L. &
SILVA, A. F, 2015).
Muitas tecnologias estão sendo desenvolvidas para melhor convivência com a seca e para o
desenvolvimento sustentável no semiárido brasileiro (FURTADO ET AL., 2014). Na maioria
dessas aplicações tecnológicas existe a necessidade da água como parte integrada dessas inovações.
Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo apresentar tecnologias alternativas de
captação dos recursos hídricos, considerando a viabilidade ambiental, sociais e econômicas das
mesmas através de revisão bibliográfica e análise qualitativa.

CARACTERIZAÇÃO DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

O espaço geográfico do Semiárido brasileiro estende-se por oito Estados da região Nordeste,
sendo eles: Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Além da região Norte, com o Estado de Minas Gerais, totaliza-se uma extensão territorial de
980.133.079 Km2. Um levantamento da população total residente no semiárido aponta que 61,97%
de seus habitantes residem no meio urbano e 38,03% no meio rural (MEDEIROS ET AL., 2012).
Segundo Medeiros (2012) a extensão semiárida engloba 1.135 municípios assimetricamente
distribuídos nos nove Estados do Brasil. Sendo representados por 37,25% dos municípios de
Alagoas, 63,79% da Bahia, 81,52% do Ceará, 76,23% da Paraíba, 65,95% de Pernambuco, 57,14%
do Piauí, 88,02% do Rio Grande do Norte, 38,67% de Sergipe e 9,96% de Minas Gerais, conforme
é apresentado na figura abaixo:

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 269


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1: Representação gráfica do semiárido brasileiro. Fonte: IBGE, 2005.

A escassez de água está intimamente relacionada ao semiárido brasileiro, devido às


irregularidades das chuvas e baixos índices pluviométricos (abaixo de 800 mm por ano), assim a
falta de água gera problemas crônicos e dificuldades no desenvolvimento das atividades econômicas
da população dependente dessa área. Entre os principais fatores que determinam a variabilidade do
clima na região, se acham a posição geográfica, o relevo, as características da superfície e os
sistemas de tempo na região. O trimestre mais seco ocorre entre agosto e outubro e a máxima
precipitação ocorre normalmente entre fevereiro e abril, que se deve a influência das Zonas de
Convergência Intertropical (ZCIT) (MEDEIROS ET AL., 2011; INPE, 2014).
As atividades econômicas no semiárido, historicamente vinculadas à criação e geração de
gado, algodão e lavouras alimentares entraram em crise pela limitação de recursos disponíveis, tais
como: poucas chuvas e baixa fertilidade natural do solo. Dessa forma, grande parte da população do
Semiárido vive uma ―economia sem produção‖ (SILVA ET AL., 2010).

TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS

Existem diferentes possibilidades para a criação e exploração de reservas hídricas na região


do semiárido brasileiro; reservatórios superficiais são os mais utilizados, devido às condições
geológicas que favorecem um elevado escoamento superficial (BRITO ET AL., 1999). A técnica de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 270


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

captação e armazenamento de água de chuva para consumo humano é uma das mais utilizadas na
região semiárida do Nordeste, onde esse recurso hídrico é reservado em cisternas (PORTO, 1999).
O barreiro apresenta-se como outra tecnologia alternativa, visto que, a partir da sua
implantação a água que infiltrar no solo, será posteriormente ―barrada‖ e armazenada para
posteriores usos (ANDRADE ET AL., 2010). A criação de poços é uma significante alternativa,
porém arriscada, pois a água é obtida no nível em que o lençol se encontra, dessa forma, poderão
ser obtidas pequenas vazões (CIRILO, 2003).
As cisternas podem ser classificadas de acordo com o material utilizado para sua confecção,
sendo elas de: placas de cimento, tela-cimento, tijolos, ferro cimento, cal e plástico
(GNADLINGER, 1997). Os poços são classificados de acordo com suas características: amazonas,
profundo, raso, artesiano, entre outros (VASCONCELOS, 2015). As barragens são de acordo com
sua aplicação, em ambientes superficiais ou subterrâneos. Algumas destas tecnologias serão
apresentadas a seguir.

CISTERNA DE PLACA

O modelo de cisterna de placas de cimento é localizado em todo o Semiárido e suas


construções continuam ocorrendo. São utilizadas normalmente em comunidade de pequeno porte e
podem reservar água da chuva por longos períodos (FARIAS ET AL., 2008).
A cisterna de placas de cimento fica imersa no solo cerca de dois terços de sua altura. Ela
consiste em placas de concreto (mistura cimento: areia de 1:4), com diâmetro de 1m por 1,2 m. Há
variações a depender da capacidade de armazenamento de água prevista, onde serão modificados os
diâmetros e volume da cisterna. As placas são fabricadas a partir de moldes de madeira e revestidas
com material aglomerante. O piso deve ser feito com material impermeável, normalmente cimento,
e as paredes (placas) deve ser levantadas a partir do piso. Após a secagem das paredes, elas deverão
ser revestidas com aço galvanizado e rebocada (Figura 2. a e b) (GNADLINGER, 2006).
[A] [B]

Figura 2: a) Representação de reboco em cisterna; b) Elaboração de cisterna de placas próximo à conclusão


Fonte: GNADLINGER, 1997; Instituto Antônio Conselheiro, 2011.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 271


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Os materiais para fabricação de uma cisterna de placas são facilmente encontrados, além de
apresentar baixo custo na produção. São indicadas para projetos de pequeno porte, com curto prazo
e apresenta facilidade na remoção de água. Porém sua construção requer mão de obra qualificada,
pois a elaboração da placa é complexa e um conserto de vazamentos é impossível na maioria nas
vezes (GNADLINGER, 1997).

CISTERNA DE TELA E ARAME

Segundo Gnadlinger (1997) esse tipo de reservatório é construído à superfície do terreno,


sua constituição é feita por chapas de aço que dão forma à sua estrutura. Depois de aplicadas duas
camadas de argamassa na parte exterior, a forma de aço é retirada e reutilizada para dá forma a
outros reservatórios. Na parte interior é feito o reboco duas vezes e depois coberto com calda de
cimento, modelo representado na figura 3.

Figura 3:Construção de cisterna de tela e arame. Fonte: GNADLINGER, 1997.

O teto da cisterna pode ser fabricado também com a ajuda da forma de aço. Nos intervalos
da confecção da cisterna, deve haver recobrimento da mesma com uma lona para evitar o
ressecamento prematuro da parede de concreto fina, podendo gerar pequenas rachaduras
(VERDADE, 2012).
Esse método de fabricação é rápido, apropriado para construções de pequeno e grande porte,
não necessita de escavação, eventuais vazamentos são facilmente detectados e consertados, pouca
matéria-prima necessária. Porém as chapas de aço não são de fácil acesso, as paredes não devem
ressecar, a água esquenta com facilidade por ser uma cisterna externa ao solo e por ser alta, a
retirada de água é mais complicada (GNADLINGER, 1997).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 272


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CISTERNA DE CAL

O reservatório de cal se destaca entre as outras no quesito imersão e material para


fabricação, apresenta a particularidade de ficar praticamente no subsolo. O local deve ser escavado
precisamente de acordo com o formato final do reservatório, posteriormente é erguido as paredes de
tijolos e argamassa de cal pura junto a escavação (figura 4). O reboco interior também deve ser feito
com argamassa de cal pura e sua aplicação deverá ser de duas ou três camadas (VERDADE, 2012).

Figura 4: Representação de cisterna de cal (VERDADE, 2012).

Segundo Gnadlinger (2012) essa fabricação é interessante para agricultores do semiárido,


pois a técnica de construção é muito conhecida, ela pode ser construída sem ajuda financeira
externa, as paredes levantadas com cal são mais resistentes a tensões, pois a argamassa de cal é
mais elástica que a de cimento. Porém com a utilização frequente do cimento, dificilmente os
pedreiros têm domínio sobre a cal, além de demorar mais tempo para endurecer que o cimento.

POÇO PROFUNDO

Os poços profundos são normalmente aqueles que precisam de uma maior extensão para
captação de água, pela provável distância do lençol freático do solo. A perfuração do poço é feita
verticalmente por meio de sonda, atinge uma profundidade até 2000 metros. Eles podem apresentar
3 constituições diferentes: sem filtros, com filtros ou misto, tais características estão diretamente
envolvidas com o perfil do solo em que será perfurando, onde o filtro é indicado para barrar os
sedimentos dos solos sedimentares, já os cristalinos não necessitam de filtro, esquema indicado na
figura 5 (VASCONCELOS, 2015).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 273


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 5: A) Poço sem filtro; B) Poço com filtro; C) Poço misto. Fonte: ABAS.

Segundo a Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS) a escolha do local de


perfuração deve ser precedida de estudo a ser realizado por profissionais da área (hidrogeólogos). A
construção deve ser realizada dentro das normas da ABNT, por empresas registradas no CREA e
por responsáveis técnicos. Dessa forma, será garantida uma segurança na construção do poço.

POÇO AMAZONAS

É definido como poço amazonas, todos aqueles poços escavados que possuírem diâmetros
superiores a 5 m e apresentem revestimento parcial ou total em sua parede, diferenciando-se de
poços tipo cacimba apenas pelo diâmetro. Também é constituído com um pré-filtro que atua como
filtro (VASCONCELOS, 2015).
Quando construído à montante de uma barragem, será permitida grande captação de água,
como indicada na figura 5. A barreira retém a água que escoa e infiltra para que o poço seja
abastecido com maior volume e para que o recurso hídrico não seja desperdiçado durante o fluxo de
escoamento (BRITO ET AL., 1999).

Figura 5: Representação de poço amazonas com o auxílio de barreira para melhor eficiência de captação de
água. Fonte: BRITO ET AL., 1999.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 274


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CACIMBA

As cacimbas são consideradas como poços escavados, sem revestimento, sendo bastante
comuns em leitos de rios sazonais ou em margens de reservatórios de águas superficiais, como
representado na figura 6. Suas características de dimensões são variadas, tanto em profundidade
como em diâmetro. Podem ser revestidas com tijolos ou pedras, possuindo diâmetro variável desde
1 m até 5m (VASCONCELOS, 2015).

Figura 6: A) Cacimba (corte lateral); B) cacimba (vista superior). Fonte: SCHISTEK, 2002.

Para que a obtenção de água doce seja feita com sucesso, deve-se verificar anteriormente à
escavação se a água é de boa qualidade, além de ter cuidado na abertura, para evitar possíveis
misturas com areia. A cacimba possui vantagens como: fonte de água segura, custo acessível, difícil
evaporação. Mas também há desvantagens: leito do rio, muitas vezes longe das residências e perigo
de contaminação pela proximidade de animais, com possíveis contaminações fecais (SCHISTEK,
2002).

BARRAGEM SUPERFICIAL

A função desta barragem é, primordialmente, o armazenamento da água da chuva, a qual é


retida em um terreno com determinada declividade, para possibilitar o levantamento de uma
barreira, não permitindo assim, o escoamento natural da água (SOBRAL ET AL., 2010).
O recurso hídrico retido nas barragens superficiais está sujeitos à evaporação, além de
poluições difusas ou pontuais ocasionadas por fatores externos. Isso ocorre porque a barragem

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 275


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

superficial não apresenta proteção do solo em si, estando totalmente exposta a possíveis situações
negativas.

BARRAGEM SUBTERRÂNEA

Barragem subterrânea é toda estrutura que tem como objetivo barrar o fluxo subterrâneo de
um aquífero preexistente ou criado junto à construção de uma barreira impermeável (SANTOS,
1978). A barragem submersa tem sua parede totalmente no aluvião, ficando a água armazenada no
perfil do solo (Figura 8).

Figura 8: Representação de uma barragem submersa. Fonte: BRITO ET AL., 1999.

A construção desse tipo de barragem é vantajoso em alguns aspectos, tais como: i)


resistência à evaporação e à contaminação da água por poluentes, pois estão protegidas por uma
camada superior de solo, ii)Não estão sujeitas à assoreamento, iii) menor espaço ocupado, iv) os
custos não são muito altos para construção desse tipo de barragem (SOBRAL et al., 2010).

CONCLUSÃO

As tecnologias alternativas de captação dos recursos hídricos analisadas apresentam em


geral, uma considerável viabilidade ambiental, social e econômica, por serem de simples, de baixo
custo e são em partes implementadas envolvendo a sociedade. Destacando-se a cisterna de cal e a
barragem subterrânea por apresentam serem mais completas e rentáveis para a aplicação no
semiárido, principalmente porque a maior parte da sua estrutura encontra-se no subsolo e sua
fabricação é feita com material disponível e acessível nas localidades.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, E. M.; PEREIRA, O. J.; DANTAS, F. E. R. Semiárido e o manejo dos recursos


naturais: uma proposta de uso adequado do capital natural. Fortaleza, 2010.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS (ABAS) [online] Disponível em:


http://www.abas.org/educacao_pocos.php Arquivo consultado em 30 de Agosto de 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 276


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BRASIL. IBGE. Cadastro de municípios localizados na Região Semiárida do Brasil, 2005. [online]
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/semiarido.shtm?c=4
Arquivo consultado em 29 de Agosto de 2017.

BRITO, L. D. L.; da SILVA, D. A.; CAVALCANTI, N. D. B.; dos ANJOS, J. B. Alternativa


tecnológica para aumentar a disponibilidade de água no Semiárido. Embrapa Semiárido-Artigo
em periódico indexado (ALICE), 1999.

CIRILO, J. A.; ABREU, G.; COSTA, M. R.; GOLDEMBERG, D.; COSTA, W. D.; BALTAR, A.
M.; AZEVEDO, L. G. T. Soluções para o suprimento de água de comunidades rurais difusas no
semiárido brasileiro: avaliação de barragens subterrâneas. Revista Brasileira de Recursos
Hídricos, v.8, n.4, p. 5-24, 2003.

Da SILVA, P. C. G.; de MOURA, M. S. B.; KIIL, L. H. P.; BRITO, L. D. L.; PEREIRA, L. A.; SÁ,
I. B.; GUIMARÃES FILHO, C. Caracterização do Semiárido brasileiro: fatores naturais e
humanos. Embrapa Semiárido- Capítulo em livro (ALICE), 2010.

DOS SANTOS, J. P. Barragens submersas: uma tecnologia para o nordeste brasileiro. Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo [sd], 1978.

FARIAS, M.; EVANGELISTA, J.; CONNOLLY, A. Convivendo com o Semiárido –Construção da


cisterna calçadão 52.000 litros: Série compartilhando experiências. Recife: Diaconia, 2008.

FOURNIER, Luis Mariano de Barros. O problema das secas no Nordeste. Mossoró: ESAM, 1989.

FURTADO, D. A.; BARACUHY, J. G. V.; FRANCISCO, P. R. M.; FERNANDES NETO, S.;


SOUSA, V. A. Tecnologias adaptadas para o desenvolvimento sustentável do semiárido
brasileiro. Campina Grande: EPGRAF, 2014.

GNADLINGER, J. Apresentação técnica de diferentes tipos de cisternas construídas em


comunidades rurais do semiárido brasileiro. Simpósio sobre captação de chuva no semiárido
brasileiro, v.1, 1997.

GNADLINGER, J. Tecnologias de Captação e Manejo de Água de Chuva em Regiões semiáridas.


Tecnologias Apropriadas Para Terras Secas. Fortaleza: Fundação Konrad Adenauer, v.1, p. 103-
122, 2006.

INPE - INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS. Climanálise Boletim, 2014.


[online] Disponível em: http://climanalise.cptec.inpe.br/~rclimanl/boletim/ Arquivo consultado
em 30 de Agosto de 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 277


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INSTITUTO ANTÔNIO CONSELHEIRO, 2011 [online] Disponível em:


http://ongiac.webnode.com.br/projetos-que-atuamos/o-p1mc/ Arquivo consultado em 30 de
Agosto de 2017.

JATOBÁ, L.; SILVA, A. F. O nordeste brasileiro: a convivência com a seca. Recife: Bagaço
Design, v. 4, p. 60, 2015.

MEDEIROS, S. S.; GHEYI, H. R.; GALVÃO, C. O.; PAZ, V. P. S. Recursos hídricos em regiões
áridas e semiáridas. Campina Grande, PB: Instituto Nacional do Semiárido, 2011.

MEDEIROS, S. S.; CAVALCANTE, A. M. B; MARIN, A. M. O; TINÔCO, L. B. M; SALCEDO,


I. H; PINTO, T. F. Sinopse do censo demográfico para o semiárido brasileiro. Campina
Grande,: Instituto Nacional do Semiárido, 2012.

PORTO, E. R.; SILVA, A. D. S.; ANJOS, J. D.; BRITO, L. D. L. & LOPES, P. R. C. Captação e
aproveitamento de água de chuva na produção agrícola dos pequenos produtores do semiárido
brasileiro: o que tem sido feito e como ampliar sua aplicação no campo. Centro de Pesquisa do
Trópico Semiárido (CPATSA), 1999.

QUEIROZ, R. O Quinze. São Paulo: Siciliano, 1993.

RAMOS, G. Vidas secas. São Paulo: Record, 1980.

SCHISTEK, H. Caldeirão, Caxio e Cacimba: Três sistemas Tradicionais de Captação de Água de


Chuva no Nordeste Brasileiro. In: CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE SISTEMAS DE
CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA, p. 1-8, 2002.

SILVA, L. Água: fonte de desenvolvimento para o Sertão Central Cearense In: SILVA, L.;
PREIRA, A. Q.; AMARAL. E. L. G. Sertão Central Cearense: turismo, meio ambiente e
desenvolvimento regional. Recife: imprima, 2016.

SOBRAL, P. M.; SILVA, G. V.; SILVA, W. M.; SOARES, W. A. Comparação Entre Barragens
Subterrâneas e Superficiais. Águas Subterrâneas, 2010.

VERDADE, J. H. O. Aproveitamento de água das chuvas e reutilização de águas cinzentas, 2012.

VASCONCELOS, M. B. Poços para captação de águas subterrâneas: revisão de conceitos e


proposta de nomenclatura. Águas Subterrâneas, 2015.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 278


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE ÁGUA PRODUZIDA TRATADA POR SISTEMA


MICROEMULSIONADO PARA USO NA IRRIGAÇÃO

Gregory Vinicius Bezerra de OLIVEIRA


Estudante de Graduação em Engenharia Química/UFRN
gregory_vinicius@outlook.com
Yasmine Ísis Fernandes do NASCIMENTO
Doutoranda no Programa de Pós Graduação de Ciências e Engenharia do Petróleo/UFRN
yasmine_isis@hotmail.com
Prof. Tereza Neuma de Castro DANTAS
Instituto de Química/UFRN
tereza@eq.ufrn.br
Prof. Afonso Avelino DANTAS NETO
Departamento de Engenharia Química/UFRN
aadantas@nupeg.ufrn.br

RESUMO
A água produzida é o principal efluente da indústria do petróleo e devido ao seu alto teor de
contaminantes precisa passar por tratamentos adequados a fim de enquadrá-la o dentro das
legislações vigentes ao seu destino. A utilização de sistemas microemulsionados vem se mostrando
uma técnica eficiente nos estudos de tratamento desses efluentes. O objetivo deste trabalho foi
avaliar a qualidade da água produzida tratada por sistema microemulsionado para uso em irrigação,
utilizando como parâmetros de estudo: concentrações de metais pesados, pH, Condutividade
Elétrica e a Razão de Adsorção de Sódio (RAS). O sistema utilizado no tratamento da água
produzida consistiu de óleo de coco saponificado como tensoativo, n-butanol como cotensoativo, e
n-hexano como como fase orgânica, sendo escolhido o ponto 5% C/T, 10% FO, 85% FA, localizado
na região de Winsor II no diagrama pseudoternário. Os parâmetros foram estudados na mistura da
água de torneira com a água produzida tratada nas proporções de 4:1 e 2:1, além dessas misturas
foram utilizadas para efeito de comparação a água produzida sem tratamento e a água de torneira. O
ponto de Winsor II utilizado conseguiu uma ótima remoção de metais pesados, com cerca de 90%
de extração para a maioria deles. As combinações da água de torneira com água tratada
apresentaram concentração de metais dentro do permitido e do ideal considerado pelo
CONAMA/396 e por parâmetros da literatura, além de pH, condutividade elétrica e RAS dentro do
ideal para água de irrigação. Os resultados se mostraram como se mostraram como uma ótima
alternativa para reúso da água produzida tratada por sistema microemulsionado.
Palavras-Chave: Água Produzida, Microemulsão, Irrigação

ABSTRACT
The produced water is the main efluent from the oil industry and due to its high content of
contaminants, it needs to go through adequate treatments in order to fit the effluent into the
legislation in force at its destination. The treatment of effluents with microemulsion systems has
proved to be an efficient technique in the studies in which the method is applied. The purpose of
this work was to evaluate the quality of the produced water by the microemulsion system for use in
irrigation using as study parameters: heavy metals concentrations, pH, Electrical Conductivity and
Sodium Adsorption Ratio (RAS). The system used in the study consisted of saponified coconut oil
as surfactant, n-butanol as cosurfactant, and hexane as the organic phase, being chosen the point 5%

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 279


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

C/T, 10% FO, 85% FA, located in the Winsor region II in the pseudoternary diagram. The
parameters were studied in the mixing of tap water with the produced water treated in the ratios of
4: 1 and 2: 1, in addition to the produced water without treatment and tap water. The point of
Winsor II used has achieved a great removal of heavy metals, with about 90% extraction for most of
them. The combinations of tap water with treated water presented a concentration of metals within
the allowed and ideal by CONAMA/396 and by parameters of the literature, in addition to pH,
electrical conductivity and RAS within the ideal for irrigation water, showing itself an excellent
alternative for reuse of produced water treated by microemulsified system.
Keywords: Produced water, microemulsion, irrigation

INTRODUÇÃO

A qualidade da água utilizada em um sistema de irrigação é um dos aspectos mais


importantes para se obter êxito no rendimento das culturas, mas por muitos a avaliação dessa
qualidade é omitida no momento da elaboração de projetos de irrigação, podendo causar efeitos
indesejáveis para o produtor, como a baixa produção da cultura e alteração de aspectos físico-
químicos e biológicos do solo (MANTOVANI, 2006).
No Brasil ainda não existe uma legislação especifica para avaliar a qualidade de águas
residuais para irrigação. Por segurança os parâmetros descritos na Resolução 396/2009, do
CONAMA, que dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento das
águas subterrâneas tem sido aplicada. Além disso, foi utilizada como parâmetro a concentração de
metais descritas na publicação da Embrapa ―Qualidade de Água para Irrigação‖ Almeida (2010), e
os parâmetros descritos por Ayers e Westcot (1999) que consideram a salinidade, sodicidade e
toxicidade de íons os parâmetros mais críticos para o uso de água na irrigação.
A água produzida é o principal efluente gerado durante a produção e extração de petróleo, e
devido a grande quantidade de contaminantes presentes faz com que seja necessários tratamentos
para a redução desses poluentes para o enquadramento da água em legislações dependendo do seu
destino.
O tratamento da água produzida é um processo muito complexo que envolve diversas
etapas, por isso é grande o número de estudos visando encontrar métodos que sejam eficientes e
mais baratos que os meios atuais de tratamento, condições estas que se enquadra o tratamento por
sistemas microemulsionados, que possuem tensoativo como principal componente (OLIVEIRA et.
al, 2016).
As microemulsões são sistemas dispersos formados da solubilização de líquidos que são
imiscíveis, como água e óleo, na presença do tensoativo e cotensoativo (ROBB, 1992; LUCENA
NETO, 2005).
A classificação dos sistemas microemulsionados foi realizada por Winsor (1948), que
observou a formação de 4 regiões em um diagrama de fases pseudoternários: Winsor I, que

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 280


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

apresenta a região de microemulsão em equilíbrio com a fase óleo, Winsor II, com a região de
microemulsão em equilíbrio com a fase aquosa, Winsor III, que tem a região de microemulsão em
equilíbrio com a fase aquosa e oleosa, e o Winsor IV, que é constituída só por uma fase de
microemulsão (MENESES, 2011).
Diante do contexto apresentado este trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade da água
tratada por sistema microemulsão para a irrigação.

MATERIAL E METÓDOS

Obtenção da água produzida sintética

O preparo da água produzida sintética foi feito tendo como basea as concentrações de metais
da água produzida de Campos (NASCIMENTO, 2014). Inicialmente foi feita uma solução salina
(10L) de NaCl à 2000 ppm e as soluções de cada sal de metal foram preparadas separadamente:
100mL de uma solução padrão de MnSO4.H2O (vetec, 98%) e Li2SO4(vetec, 98%), 250mL de
solução padrão contendo CrCl3.6H2O (Dinâmica, 99%), FeCl3.6H2O (Vetec, 98%), SrSO4
(Êxodo,99%), BaCl2 (Vetec, 99%), 1L de solução padrão de K2SO4 (Vetec, 99%), e 1L de solução
padrão de contendo CaCl2 (Vetec, 99%) e MgCl2.6H2O (Vetec, 99%). Em seguida, todas as
soluções foram misturadas em uma bombona de 10 litros e foi feita a adição de 20g de petróleo do
Campo Marítimo de Ubarana – Macau/RN, sob agitação constante de 4000rpm, utilizando o
homogeneizador (TECNAL TE-102), para ocorrer a emulsificação do óleo (OLIVEIRA, 2016).

Construção do diagrama pseudoternário

Após a síntese da água produzida, construiu-se um diagrama pseudoternário, usando hexano


como fase óleo (FO), água produzida sintética como fase aquosa (FA), n-Butanol como
cotensoativo e óleo de coco saponificado (OCS) como tensoativo, em uma razão C/T=4.
O método para construção dos diagramas de fases foi baseado na titulação gravimétrica
entre os componentes do sistema, a fim de se obter as proporções mássicas entre eles e assim ser
registrado no diagrama quando ocorria uma variação no sistema (RAMOS, 1996; MOURA, 1997;
NASCIMENTO, 2013).

Caracterização das águas utilizadas no estudo

Foi utilizado água de torneira (AT) como controle positivo, água produzida sintética (AP)
como controle negativo, e misturas da água de torneira com água tratada na proporção de 2:1 (2:1
APT) e 4:1 (4:1 APT). É importante ressaltar que a água produzida só foi utilizada como um
parâmetro de comparação, pois se sabe que não pode ser utilizada em irrigação sem o tratamento

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 281


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

adequado para diminuição dos poluentes.


Os parâmetros escolhidos para avaliar a qualidade de água foram as concentrações de Bário,
Cálcio, Cromo, Estrôncio, Ferro, Lítio, Magnésio, Manganês Potássio e Sódio, além de pH,
Condutividade Elétrica (CE) e Razão de Adsorção de Sódio (RAS). As análises foram realizadas
seguindo procedimentos internos e as normas APHA 4110, APHA 2320, EPA 6010. A razão de
adsorção de Sódio (RAS) foi calculada a partir dos valores das concentrações de Sódio, Cálcio e
Magnésio, aplicando os valores na equação apresentada na figura 2.

Figura 1 - Fórmula para o cálculo da razão de adsorção de sódio (RAS). (ALMEIDA, 2010)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diagrama pseudoternários e escolha do ponto de extração

O diagrama pseudoternário construído para o estudo está representado na figura 1.

Figura 2 - Diagrama pseudoternário do sistema Água Produzida, Hexano, OCS e n-Butanol.

Depois da construção do diagrama pseudoternário foi escolhido um ponto de na região de


Winsor II. Com o objetivo de se utilizar uma baixa quantidade de matéria ativa para o tratamento,
foi escolhido o ponto com composição de 5% C/T, 85% FA e 10% FO.

Estudo da extração dos metais da água produzida por sistema microemulsionado

As concentrações para todos os metais presentes na água produzida (AP) e na água

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 282


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

produzida tratada (APT) pelo sistema microemulsionado, bem como os percentuais de extração dos
metais, estão apresentadas na tabela 1.

Metais AP (ppm) APT (ppm) %E


Bário 5,261 0,195 96,29
Cálcio 801,4 143,2 82,13
Cromo 6,908 0,083 98,80
Estrôncio 92,3 6,099 93,39
Ferro 19,53 0 100
Lítio 4,571 1,314 71,25
Magnésio 288 118,72 58,77
Manganês 3,327 0,624 81,24
Tabela 5 - Concentrações de metais nas águas produzidas sintética e tratada.

O sistema apresentou alta porcentagem de extração para todos os metais no ponto estudado
(5% C/T, 85% de FA e 10% FO), obtendo em torno de 90% de remoção para a maioria dos metais,
a eficiência da extração se dá pelas cargas dos metais já que os cátions se associam
eletrostaticamente às membranas que envolvem as gotículas de água presentes na fase da
microemulsão (BELLOCQ, 1980; OLIVEIRA, 2014).
Foi constatado um aumento na concentração de sódio e potássio na água produzida tratada.
O aumento na concentração de sódio se deve a troca iônica entre o tensoativo e o meio aquoso,
onde o tensoativo libera Na+ para o meio e é substituído pelos íons metálicos da solução aquosa que
são atraídos eletrostaticamente (CARVALHIDO et al, 2001; NASCIMENTO, 2014). Já o
acréscimo na concentração do potássio pode ter sido provocado por alguma interferência durante a
síntese do OCS.
Devido ao aumento na concentração do sódio na água produzida tratada para o estudo que
foi utilizado apenas misturas da água de torneira com a água produzida tratada na proporção de 2:1
e 4:1, foram escolhidas essas proporções com base no estudo de Lewis (2015), que trabalhou com
as mesmas proporções, mas com a mistura de água subterrânea com água produzida tratada após
processo de remoção de óleos e graxas, remoção de compostos orgânicos, metais, inorgânicos,
sólidos suspensos, cloro e sódio.

Concentração de metais nas águas

Para todas as águas utilizadas no experimento foram determinadas as concentrações de


metais presentes, por espectrometria de absorção atômica, para verificar o enquadramento das
mesmas com a legislação da CONAMA/397 bem como com as concentrações presentes no livro
―Qualidade de água para irrigação‖ da Embrapa (ALMEIDA, 2010), todos os dados obtidos estão
retratados na tabela 2. Para uma melhor discussão dos resultados foram construídos gráficos
representados nas figuras 3 e 4, que relacionam as concentrações de cada água com os parâmetros
do CONAMA e da Embrapa.
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 283
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Concentração AP AT 2:1 APT 4:1 APT


Metais Parâmetro
máxima (ppm) (ppm) (ppm) (ppm) (ppm)
Bário CONAMA 5 5,261 0,273 0,266 0,241
Cálcio Embrapa 400,8 801,4 0 18,13 9,36
Cromo CONAMA 0,1 6,908 0 0 0
Ferro CONAMA 5 19,53 32,524 0 0
Lítio Embrapa 2,5 4,571 0 0,921 0,602
Magnésio Embrapa 60,8 288 0 92,19 59,85
Manganês CONAMA 0,2 3,327 7,898 0,18 0,113
Potássio Embrapa 2 143,8 6,736 57,31 33,1
Sódio Embrapa 919,6 434,5 27,62 432,3 254,8
Tabela 6 - Concentrações máximas de metais permitidas e ideais para reuso na irrigação e as concentrações
de metais nas águas utilizadas no experimento.

Figura 4 - Relação das concentrações de Li, Ba, Mn, Cr e Fe pela Legislação e dos tratamentos utilizados.

Para os metais descritos na figura 3 a água produzida apresentou valores acima do


permitido, com isso é considerada uma água que não pode ser utilizada para reuso na irrigação,
sendo necessários tratamentos para diminuir a quantidade de poluentes, que podem trazer
problemas para as plantas e para o solo.
A mistura da água produzida tratada bem como a água de torneira se mostraram dentro do
limite permitido para uso na irrigação para os metais descritos no gráfico representado na figura 3,
esse resultado mostrou a eficiência da extração dos metais com a utilização do tratamento por
sistema microemulsionados.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 284


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Relação das concentrações


1400 dos metais pela Legislação
e tratamentos.
1200
Concentração (ppm)
1000 Na
K
Mg
800
Ca

600

400

200

0
Conama/Embrapa AP 2:1 APT 4:1 APT AT
Figura 5 - Relação das concentrações de Na, K, Mg e Ca pela Legislação e dos tratamentos utilizados.

Como observado na figura 4 e na tabela 2, a água produzida apresentou concentração abaixo


do permitido para Sódio (Na), mas para Potássio (K), Magnésio (Mg) e Cálcio (Ca), as
concentrações estavam maiores às permitidas, o que mais uma vez atesta a importância do
tratamento para diminuir o teor desses contaminantes.
As misturas da água produzida tratada com a água de torneira apresentaram concentração de
cálcio e sódio abaixo do limite, já o magnésio e potássio apresentaram concentrações maiores do
que o ideal para água de irrigação. Para Bergmann (1992) as plantas podem tolerar relativamente
um excesso de potássio sem trazer problemas graves para seu rendimento, por isso é necessário o
monitoramento da cultura pois o excesso desse nutriente pode causar inibição a absorção de cálcio e
magnésio. Assim como o excesso de magnésio pode trazer desiquilíbrio na absorção de potássio.

Razão de Adsorção de Sódio (RAS) e Condutividade Elétrica (CE)

A condutividade elétrica é um parâmetro fundamental para avaliar a salinidade das águas, e


sua associação com a Razão de Adsorção de Sódio (RAS) permite avaliar riscos quanto a
sodificação e infiltração de solo que algumas águas podem causar. Os resultados obtidos para a
condutividade elétrica das águas utilizadas no experimento se encontram na tabela 3.

Tipos de água CE (dS.m-1)


AT 0,812
AP 8,98
2:1 APT 2,80
4:1 APT 1,78
Tabela 7 - Condutividade elétrica das águas utilizadas no experimento.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 285


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ayers e Scott (1999) classificam as águas com CE maior que 3 dS.m-1 de grau de restrição a
uso severo na irrigação, entre 0,7-3,0 dS.m-1 de restrição leve a moderado e menor que 0,7 dS.m-1
não possuem grau de restrição.
A água produzida apresentou condutividade de 8,98 dS.m-1, se enquadrando na classificação
de grau de restrição severo ao uso. A alta condutividade dessa água está associada a grande
quantidade de íons presentes na sua composição.
As misturas da água produzida tratada e a água de torneira apresentam valores de CE na
faixa de 0,7-3,0 dS.m-1, portanto possuem um grau de restrição de leve a moderado, não
apresentando então um alto risco em relação a salinidade do solo, principalmente a água de torneira
que apresentou o valor mais baixo.
Devido à alta quantidade de sódio nas misturas da água tratada, foi calculada a razão de
adsorção de sódio (RAS) que ajuda na avaliação de possíveis problemas que as águas podem causar
em relação a sodificação e infiltração do solo. O cálculo utilizado para obter a RAS está descrito na
página 4 e os resultados mostrados na tabela 4.

RAS
Tipos de água
(mmolc.L-1)0,5
AT 2,1
AP 3,33
2:1 APT 9,07
4:1 APT 6,7
Tabela 8 - Razão de adsorção de sódio (RAS) das águas utilizadas no experimento

O Departamento de Agricultura Norte Americano, apud Bernardo (2006) classifica águas


com RAS maiores que 26 mmolc. L-1 como de risco muito forte em relação a sodicidade, entre 18-
26 mmolc. L-1 são de risco forte, entre 10-18 mmolc. L-1 de risco médio e menores que 10 mmolc. L-
1
de risco baixo.
Segundo Ayers e Scott (1999) águas com valores de RAS maiores que 9 mmolc. L-1
apresentam um grau moderado de restrição ao uso na irrigação superficial, como foi o caso da água
tratada da diluição 2:1 APT (9,07 mmolc. L-1), a diluição 4:1 APT (6,7 mmolc.L-1) e a água
produzida (3,3 mmolc. L-1) possuem ligeira restrição, e a água de torneira, nenhuma.

pH

O pH é um parâmetro importante pois pode interferir na disponibilidade de alguns nutrientes


para as plantas além de causar problemas nas tubulações utilizadas na irrigação. Os valores de pH
das águas utilizadas estão descritos na tabela 5.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 286


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tipos de água pH
AT 6,89
AP 4
2:1 APT 6,79
4:1 APT 6,87
Tabela 9 - Valores de pH das águas uttilizadas no experimento.

Para Ayers e Scott (1999), o valor ideal de pH da água para ser utilizada na irrigação situa-se
entre 6,5 e 8,4, nesse caso, a água produzida apresentou valor fora dessa faixa, sendo uma água com
pH ácido. Essa característica da água produzida vai em concordância com Almeida (2010) que
descreve que águas que possuem pH fora da faixa ideal é um indicador da presença de íons tóxicos,
que, como já relatado nesse trabalho, são encontrados em alta quantidade na água produzida.
A água de torneira e as misturas dá agua tratada se apresentaram dentro da faixa ideal de pH,
não possuindo nenhum tipo de restrição a uso.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos da extração de metais evidenciam a eficiência do tratamento da água


produzida utilizando sistema microemulsionado. As misturas da água de torneira com a água
produzida tratada apresentaram concentrações de metais dentro dos parâmetros do
CONAMA/EMBRAPA, além de serem classificadas na maioria dos parâmetros da literatura como
de uso leve a moderado, com resultado de pH, condutividade elétrica e Razão de Adsorção de Sódio
(RAS) dentro de valores ideais para uso na irrigação.

REFÊRENCIAS

ALMEIDA, O. Á. de. Qualidade da Água de Irrigação. Cruz das Almas: EMBRAPA, Mandioca e
Fruticultura, 2010.

APHA; AWWA; WPCF. (2005). Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater.
21th ed. Washington D.C.: American Public Health Association, 1153 p.

AYERS, R. S.; WESTCOT, D. W. Qualidade da água na agricultura. Campina Grande: UFPB,


1999, 218 pp. (Estudos FAO Irrigação e Drenagem, 29 revisado).

BELLOCQ, A. M.; BIAS, J. GELOT, A. Three Dimension Phase Diagram of the Brinetoluene-
butanol-sodium dodecyl sulfate. System. J. Colloid Interface Sci, v. 74, p. 311-321, 1980.

BERGMANN, W. Nutritional disorders of plants: development, visual and analytical


diagnosis. Gustav Fischer Publishing House Jena, New York, ed. 2, p. 741, 1992.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 287


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BERNARDO, S.; SOARES, A. A.; MANTOVANI, E. C. Manual de irrigação. 8. ed. Viçosa:


UFV, 2006.

CARVALHIDO, C. A., PEDROSA, M. F., MARTINS, A. H. Extração por solventes aplicada à


remoção de metais pesados presentes no licor de lixiviação do minério de manganês da Mina do
Azul (PA). Rem: Revista Escola de Minas, v. 54, n. 3, p. 227-231, 2001.

CONAMA. Resolução N.° 396 – 03 de abril de 2008. Dispõe sobre a classificação e diretrizes
ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas e dá outras providências. Diário
Oficial da União, Brasília, 2008.

DANTAS, T. N. C.; DANTAS NETO, A. A.; MOURA, M. C. P. A.; BARROS NETO, E. L.;
FORTE, K. R.; LEITE, R. H. L. Heavy metals extraction by microemultion. Water Research, v.
37, p. 2709-2717, 2003.

LEWIS, K. Agricultural Reuse of Treated Produced Water. Disponível em:


<https://www.owrb.ok.gov/2060/PWWG/Resources/Lewis_Katie.pdf>. Acesso em: 25.06.2017.

LUCENA NETO, M.H. Estudo da influência de tensoativos em sistemas micromemulsionados na


extração de gálio e alumínio. Dissertação (Tese de doutorado), Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Natal: DEQ-PPGEQ, Natal, 2005.

MANTOVANI, E. C.; BERNARDO, S.; PALARTTI, L. F. Irrigação: princípios e métodos.


Viçosa: UFV, 2006. 328 p.

MENESES, Z. I. Extração de boro de água produzida sintética por sistema microemulsionado.


Natal. UFRN, 2011. 104p. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Ciência e
Engenharia de Petróleo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2011.

MOURA, M.C.P.A. Otimização do processo de recuperação do cromo de efluentes de curtumes


por microemulsões no extrator Morris. Natal: 1997. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Química, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 1997.

NASCIMENTO, Y. I. F.; CARVALHO, C. N.; MACHADO, S. F.; DANTAS, T. N. De C.; MELO,


K. R. De O. Análise da Influência do pH e da Concentração de Matéria Ativa na Extração de
Ânions em Água Produzida Sintética Utilizando Sistemas Microemulsionados. Anais do 7°
Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Petróleo e Gás. Aracaju: ABPG, 2013.

NASCIMENTO, Y. I. F. Extração de metais (K, Mg, Ba, Ca, Cr, Mn, Li, Fe) de água produzida
sintética utilizando sistema microemulsionado. 2014. Dissertação (Mestrado) – Programa de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 288


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Petróleo, Universidade Federal do Rio Grande do


Norte.

OLIVEIRA, M. R. Eficiência de extração de cobre e níquel utilizando sistemas microemulsionados


bifásicos e trifásicos. Natal. UFRN, 2014. Dissertação (Tese de Doutorado) – Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Química, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2014.

OLIVEIRA, G. V. B.; NASCIMENTO, Y. I. F; ALVES, J. D. B.; DANTAS, T. N. C.. Avaliação


qualitativa da germinação do girassol irrigado com água produzida tratada por sistemas
microemulsionados. Anais do II Congresso Nacional de Engenharia De Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis, 2016, Natal. Editora Realize, 2016. v. 1. ISSN 2446-8339.

RAMOS, A. C. Extração de tungstênio utilizando microemulsões. Dissertação (Mestrado) – Centro


de Tecnologia, Departamento de Engenharia Química, Programa de Pós Graduação em
Engenharia Química, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 1996.

ROBB, I. D. Microemulsions. New York: Plenum Press, 1982.

ROSSI, C. G. F. T., DANTAS, T.N de C., NETO, A. A. D, MACIEL., M. A. M. Tensoativos: uma


abordagem básica e perspectivas para aplicabilidade industrial. Rev Univ Rural Ser Cienc
Exatas Terra, v. 25, p; 59-71, 2006.

WINSOR, P.A. Solvent Properties of Amphiphilic Compounds Butterworths Scientific Publications.


London, 207p, 1954.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 289


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ANÁLISE LIMNOLÓGICA DO AÇUDE MENDUBIM, AÇU/RN

Jéssica Marielle Inácio da SILVA


Estudante do curso técnico em Meio Ambiente do IFRN
jessicamarielly11@hotmail.com.br
Marcelo Aguiar TÁVORA
Professor orientador do curso técnico em meio ambiente do IFRN
marcelo.tavora@ifrn.edu.br

RESUMO
A água é um recurso natural indispensável à qualquer forma de vida. Em função da sua qualidade,
ela propicia diversas formas de uso, que se classificam de acordo com a sua origem, composição e
finalidade. Tendo em vista a caracterização do clima semiárido do Nordeste brasileiro, a população
enfrenta graves problemas hídricos devido aos constantes períodos de seca, o que motiva o poder
público a investir na construção de açudes e barragens a fim de minimizar a escassez de água. Em
virtude dos fatos mencionados, este trabalho tem como principal objetivo analisar a qualidade da
água do Açude Mendubim tendo em vista a sua importância, uma vez que, o mesmo, é capaz de
abastecer a população circunvizinha que utilizam dessa água para as demais atividade, sejam elas de
uso doméstico, irrigação, dessedentação animal, lazer, entre outros. Os parâmetros analisados nesta
pesquisa foram os físicos (condutividade elétrica e sólidos totais dissolvidos) e os químicos
(temperatura, ph e oxigênio dissolvido). As coletas foram realizadas durante cinco meses, no
período de outubro/2016 a fevereiro/2017. A metodologia adotada foi a análise dos parâmetros de
acordo com a Resolução CONAMA nº 357/2005, recomendações da CEBESP e outros artigos. A
partir das análises realizadas, concluiu-se portanto que o corpo hídrico apresenta boa qualidade,
tendo todos os parâmetros em acordo com a portaria vigente.
Palavras Chave: Recursos hídricos, qualidade de água, análise limnológica.

ABSTRACT
Water is a natural resource indispensable to any form of life. Due to its quality, it provides various
forms of use, which are classified according to their origin, composition and purpose. Considering
the characterization of the semi-arid climate of the Brazilian Northeast, the population faces serious
water problems due to the constant drought periods, which motivates the public power to invest in
the construction of dams and dams in order to minimize water shortages. Due to the mentioned
facts, this work has as main objective to analyze the quality of the water of the Mendubim Açu in
view of its importance, since it is able to supply the surrounding population that use this water for
the other activities, Be they of domestic use, irrigation, animal watering, leisure, among others. The
parameters analyzed in this research were the physical (electrical conductivity and solids total
dissolved) and the chemical (temperature, pH and dissolved oxygen). The collections were carried
out during five months, from October / 2016 to February / 2017. The methodology adopted was the
analysis of the parameters according to CONAMA Resolution nº 357/2005, CEBESP
recommendations and other articles. From the analyzes carried out, it was concluded that the water
body presents good quality, all parameters being in agreement with the current ordinance.
Keywords: Water resources, water quality, limnological analysis.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 290


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

A água representa um recurso essencial ao desenvolvimento humano, de modo que, além da


constituição corporal e a essencialidade quanto ao consumo direto, ela tornou-se um meio para a
evolução da civilização. Nessa perspectiva, pode-se notar o progresso das primeiras sociedades
históricas (como Egito e Mesopotâmia) baseado nos recursos hídricos, o que as leva a ter o título de
―sociedades hidráulicas‖. Desde então, os bens aquíferos vêm sendo utilizados para diversos fins,
como a geração de energia e a irrigação, gerando uma necessidade de observação quanto à
qualidade da água dos reservatórios, que é a origem de todas essas atividades.
A sociedade brasileira conta com o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA),
presidido pelo Ministério de Meio Ambiente, para orientar quanto a diretrizes técnicas que visam
melhor utilização de recursos e, consequentemente, melhor interação entre o homem e o meio
natural. Através do CONAMA, dispõe-se da Resolução nº 357/2005 que trata da classificação dos
corpos de água e diretrizes ambientais para seu enquadramento, bem como o estabelecimento de
condições e padrões de lançamento de efluente e, dessa forma, classificar a água como de ―boa
qualidade‖ ou não.
Historicamente, o Vale do Açu é caracterizado pela presença da Bacia do Piranhas-Açu,
constituída pelo rio principal Piranhas-Açu e alguns afluentes, dentre eles, o Rio Paraú, barrado
pelo Açude Mendubim, localizado na zona rural do município de Assu, RN, importante pólo
econômico da região e destaque em atividades agropecuárias e comerciais.
Partindo desta explanação, este trabalho teve como objetivo caracterizar os aspectos
limnológicos do Açude Mendubim, bem como reconhecer as relações existentes entre os fatores
bióticos e abióticos e estabelecer seu nível de qualidade de acordo com a Resolução CONAMA nº
357/2005, levando em consideração sua influência na vida da população local.

METODOLOGIA

Área de estudo

O município de Açu está situado no estado do Rio Grande do Norte, região Nordeste do
Brasil. O mesmo se enquadra no Vale do Açu, ocupando uma área de 1.303.442 km². Sua
população segundo o IBGE, 2016 é de 57.743 habitantes e o acesso ao município se dá pela BR 304
e pelas RN 118 e 016.
Açu é abastecida pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN),
com captação a partir do principal reservatório do Vale, a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves.
Ainda no município, existe um outro reservatório muito importante, o açude Mendubim (figura 1),
que serve para suprir a necessidade da população local. Este açude é alvo de estudo neste trabalho,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 291


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

pois até a presente data não existem dados oficiais sobre o mesmo. O açude compreende uma
grande área territorial e suas águas, além de servir para consumo animal são retiradas, diariamente
para abastecimento humano.

Figura 1. Localização do Açude Mendubim no âmbito nacional, regional e municipal.

Procedimentos Metodológicos

Visando obter os objetivos propostos neste trabalho, foram adotados os seguintes


procedimentos metodológicos: revisão bibliográfica em artigos, livros, resoluções, entre outros,
visando o estudo acerca da qualidade de água, que serviram como base para a construção da
fundamentação teórica; em seguida foram realizadas entrevistas com moradores da comunidade de
Mendubim II para conhecer a vivência e o uso por eles da água do açude, além de buscar
informações e fotografias para melhor entender e visualizar a área de estudo, o que facilitou a
elaboração de um breve mapeamento do corpo hídrico.
Após esse processo inicial, realizou-se as atividades em campo, iniciando pela coleta de
água em 5 meses sucessivos, onde as mesmas foram encaminhadas e analisadas em laboratório para
determinação da qualidade da água. Foi usada a classificação dos parâmetros de acordo com a
Resolução CONAMA nº 357/2005 e recomendações da CEBESP e alguns autores como SILVA

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 292


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

(2014), determinando os seguintes critérios de qualidade: parâmetros físicos (temperatura,


condutividade elétrica e sólidos totais) e químicos (ph, oxigênio dissolvido).

Amostragens e análises

Realizou-se coletas e análises de água em 5 pontos diferentes (Figura 2), no período de


outubro/2006 a fevereiro/2017, com duas medições por ponto e, ao final, foi calculada a média de
cada ponto. As amostras foram coletadas em um dia e analisadas no dia seguinte, a fim do conteúdo
líquido não sofrer alterações nos seus resultados. A primeira coleta foi realizada no dia 03 de
outubro de 2016 às 17h00min e analisada no dia 04 de outubro de 2016 às 10h15min; a segunda foi
realizada no dia 20 de novembro de 2016 às 17h30min e analisada no dia 21 de novembro de 2016
às 15h07min; a terceira realizou-se em 20 de dezembro de 2016 às 07h03min e foi analisada no
mesmo dia às 9h33min; a quarta amostra foi coletada no dia 23 de janeiro de 2017 às 16h50min e
analisada no dia 24 de janeiro de 2017 às 08h29min e por fim, a quinta e última coleta foi realizada
no dia 27 de fevereiro de 2017 às 16h45min e analisada no dia 28 de fevereiro de 2017 às
10h29min.

Figura 2. Localização dos pontos utilizados para coleta

Em todas as amostragens foram coletadas águas de superfície, sendo retiradas diretamente


do açude, localizado no município de Açu/RN. O material liquido colhido foi armazenado em
garrafas envolvidas por papel alumínio, capaz de impedir a penetração dos raios solares e,
consequentemente, impedir a alteração nos resultados obtidos após análise. Para facilitar o
procedimento, foi utilizada uma canoa guiada por pescadores locais que se deslocava até os pontos
de coleta. As coletas foram realizadas diretamente nos frascos descontaminados e em seguida,
foram encaminhadas ao laboratório do IFRN campus Ipanguaçu, localizado no Munícipio de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 293


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ipanguaçu/RN, onde as mesmas foram analisadas com a ajuda de uma sonda multiparâmetrica da
marca Horiba, modelo U-5000.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Determinação do nível de qualidade do açude

Para o enquadramento da água em Classes, foi utilizada a Resolução CONAMA nº 375/05, anexo
que dispõe os limites de águas doces de classe 2, no qual se enquadra o Açude Mendubim. Além de
outras referências que discutem os parâmetros físicos, químicos e biológicos, como as
recomendações da CEBESP e citações de artigos científicos na área. A seguir, serão apresentados
os resultados obtidos através dos procedimentos analíticos realizados ao longo desta pesquisa.

Parâmetros analisados

Temperatura da água

Temperatura (°C)
Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5

28,54 28,35
27,26 27,72 27,26
29,22 29,87
27,27 27,76 27,27

30,4 29,42
27,29 27,87 27,29

27,89 30,44 31,44


27,25 27,25

26,91 27,76 28,84 26,64 26,91

Outubro novembro dezembro janeiro Fevereiro

Valores encontrados da temperatura da água.

Durante as coletas, o menor valor da temperatura (26,64) foi encontrado no P1 do mês


janeiro. Já a maior temperatura (31,44) foi encontrada no P2 também do mês de janeiro. Vale
salientar que as coletas em campo foram realizadas em horários distintos, entre 06h00 da manhã e
17h00 da tarde.
A temperatura exerce uma maior influência nas atividades biológicas e no crescimento.
Todas as espécies têm uma temperatura preferencial, no caso de essa faixa ser ultrapassada, para
mais ou para menos, o número de espécies pode diminuir ou até extinguir. (BARRETO, 2010).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 294


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ph da água

Ph
P1 P2 P3 P4 P5

6,73
5,96 5,71 5,97
5,54
6,49 5,57
5,86 5,67 5,58
5,94 5,62 5,12 5,04
5,22
5,36 4,85 4,75
5,34 3,23
6,24 6,34 5,74
4,95 4,33
Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro

Valores encontrados do Ph da água.

Os valores de Ph variaram de 3 a 6 aproximadamente. Sendo o menor valor (3,23)


apresentado no ponto P2 do mês de Janeiro, e o maior valor (6,73) no ponto p5 do mês de Outubro.
De acordo com a Resolução CONAMA nº 357/2005, o valor máximo permitido do potencial
hidrogeniônico para água doces de classe 2, é 9,5. Os resultados estão portanto, em acordo com a
portaria vigente e a água considerada de natureza ácida.
Ressalta-se também que elevados valores de Ph podem causar incrustações nas águas de
abastecimento, e afetar a vida aquática (VON SPERLING, 1996).

Condutividade elétrica

Condutividade elétrica (µs/cm)


P1 P2 P3 P4 Série 5

0,727 0,747
0,677
0,596 0,738 0,778 0,703
0,673
0,596
0,679 0,718 0,723 0,345
0,602 0,407
0,676 0,73 0,742 0,661
0,594
0,598 0,696 0,726 0,728 0,724

Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro

Valores encontrados da condutividade elétrica da água.

A condutividade elétrica é a capacidade que a água tem de conduzir corrente elétrica, ou seja
a quantidade de sais dissolvidos na água (SALES, 2012).
De acordo com o gráfico, os valores da condutividade elétrica da água oscilaram entre 0,345
µs/cm e 0,778 µs/cm. O menor valor foi encontrado no P4 em fevereiro e o maior no P4 em Janeiro,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 295


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ambos em 2017. Assim, conclui-se que os valores acima descritos são permitidos. Para a CETESB
(1999), limites superiores a 100 µs/cm indicam ambientes impactados.

Oxigênio dissolvido

Oxigênio dissolvido (mg/L)

7,06 7,09
8,03
6,05 7,75 7,24 P5
7,05
7,92 7,98
7,04
10,89 10,65 P4
7,56 7,85 P3
7,61
10,94 8,94
8,73 8,01 P2
7,09
10,03 P1
6,9 8,03 8,12
6,14

Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro

Valores encontrados do Oxigênio dissolvido da água.

Segundo Sales (2012), o oxigênio dissolvido está presente no corpo aquático para que os
peixes e microrganismos aeróbios possam sobreviver.
O gráfico abaixo apresenta as concentrações de oxigênio dissolvido. Analisando o mesmo,
constatou-se que os valores de OD variaram de 6,14mg/L a 10,94mg/L. Sendo o menor valor
encontrado no P1 de outubro e o maior, encontrado no P2 de dezembro. Assim, todos os pontos e
análises estão de acordo com a Resolução CONAMA 357/2005, que determina o valor mínimo
exigido de 5mg/L.

Sólidos Totais (mg/L)

Sólidos Totais (mg/L)


P1 P2 P3 P4 P5 Colunas1

0
0,465
0
0,433 0
0,435
0
0,381 0,469 0
0,45
0,431 0,462
0,381
0,434 0,46 0,438 0,225
0,385 0,265
0,433 0,467 0,437 0,423
0,38
0,382 0,446 0,465 0,425 0,464

Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro

Valores encontrados dos sólidos totais da água.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 296


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Segundo Lima (2008), as impurezas contidas na água, com exceção dos gases dissolvidos,
contribuem para a quantidade de sólidos na água.
No açude, as concentrações de sólidos totais variou de 0,225 a 0, 469 mg/L, onde o menor
valor foi identificado no P4 em fevereiro e o maior no P4 em dezembro. Nota-se portanto, que os
valores estão de acordo com a recomendação de SILVA (2014), que é de 0-500 mg/L para águas
doces de classe 2.

CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como objetivo geral, caracterizar através de parâmetros físicos e
químicos, a qualidade da água do açude Mendubim, localizado no município de Açu/RN. As coletas
e análises foram realizadas no período de outubro de 2016 a fevereiro de 2017. Afim de identificar
se o uso do corpo hídrico pela população (lavagem de roupas, pesca, dessedentação animal, etc.)
está afetando as suas propriedades.
De acordo com a Resolução CONAMA nº 357/2005, o açude é enquadrado na Classe 2,
caracterizando águas que podem ser destinadas: ao abastecimento para consumo humano, após
tratamento convencional; à proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato primário,
tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA nº274, de 2000; à
irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os
quais o público possa vir a ter contato direto; e à aquicultura e à atividade de pesca.
A partir das análises e resultados obtidos, nota-se que a água do açude é considerada de boa
qualidade, pois responde a todas as recomendações da Portaria acima citada e da CETESB. Nenhum
dos parâmetros apresentou alteração quando comparados ao valor máximo/mínimo permitidos.
Dessa forma, conclui-se que o corpo hídrico e seu ecossistema não sofrem danos antrópicos.
A geração de dados atuais, um dos produtos desse trabalho, foi útil para caracterizar a real
situação da qualidade hídrica do açude. Todas essas informações serão úteis para um melhor
entendimento da população e servirão também como fonte de pesquisa para outros estudos que
poderão surgir posteriormente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARRETO, P.R. Caracterização da qualidade da água do açude Buri-Frei Paulo/SE. Scientia


Plena. VOL. 6, NUM. 9. 2010.

CARVALHO, C. de F. FERREIRA, A> L.; STAPELFELDT, F. Qualidade das águas do ribeirão


Ubá-MG. Revista Escola de Minas. V.57, n.3, p.165-172, jul-set. 2004.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 297


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CETESB – Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental. Variáveis de qualidade das águas.


São Paulo. Disponível em: http://www.cetesb.sp.gov.br/agua/rios/variáveis.asp. Acessado em 21
de junho de 2017.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução CONAMA Nº 357 de 17 de março


de 2005. Brasília. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/res05/res35705.pdf.
Acessado em 15 de abril de 2017.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades. Disponível em:


http://cidades.ibge.gov.br. Acessado em 29 de agosto de 2017.

LIMA, W.S. Qualidade da água em Ribeirópolis: O açude do Cajueiro e a Barragem do João


Ferreira. Universidade Federal de Sergipe, 2008a. 98p. Dissertação de mestrado.

SALES, Ádla Maria de Jesus. Avaliação da qualidade de água do açude com Cumbe, no município
do Barro - CE. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. 2012.

SILVA, Hileane Barbosa. Qualidade da água do açude Grandena cidade de Campo Maior/PI. XII
Congresso Nacional de Meio Ambiente de Poços de Caldas. 2014

VON SPERLING, Marcos. Introdução à qualidade das águas e tratamentos de esgotos. 2. Ed. Belo
Horizonte: UFMG, 1996.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 298


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ANÁLISE DA ÁGUA DO RIO CARACABU DE RIO TINTO - PARAÍBA

Jhônatas das Neves ALMEIDA


Graduando em ecologia (Bacharel) UFPB – Campus IV
Jhonatas_almeida.eco@hotmail.com
Linaldo Freire SILVA
Graduando em ecologia (Bacharel) UFPB – Campus IV
linaldo.fs@hotmail.com
Maxsuel Bezerra do NASCIMENTO
Graduando em ecologia (Bacharel) UFPB – Campus IV
Maxsuel10gba@hotmail.com
Rene Pinto da SILVA
Técnico do Laboratório de Ecologia Química UFPB – Campus IV
renesilva@ccae.ufpb.br

RESUMO
A importância da água na vida do planeta é de tamanha proporção, posto que é um elemento
essencial para a sobrevivência na Terra. Embora este recurso seja encontrado em abundância em
nosso planeta (cerca de 70% da superfície é composto por água), somente 4% da água é doce, ou
seja, própria para o consumo. Com isso, o atual trabalho tem como objetivo analisar a qualidade da
água do rio Caracabu Rio Tinto-PB, a fim de garantir a preservação do meio ambiente e para a
utilização pelos moradores locais e turistas. Para a realização desse trabalho foram coletadas a
mostras com o auxilio de recipientes plásticos tri-lavadas com água destilada, câmera fotográfica
para realizar os registros fotográficos da área, além de GPS para a demarcação das coordenadas
geográficas. Os valores de pH dos poços variaram entre 4,7 a 5,7 assim revelando uma alta acidez
na água do rio Caracabu. A condutividade elétrica apresentou o maior valor de 222,7µS/cm e o
menor de 95,2 µS/cm. A análise de alcalinidade de hidróxido apresentou valores variantes entre 68
e 80 mg/L de CaCO3. Os dados relacionados às concentrações de cloreto também estão dentro dos
limites admitidos, onde o maior valor foi de 100,6 mg/L e o menor de 43,9 mg/L. A dureza total
apresentou uma baixa concentração desses sais presentes com concentração de 56 mg/L CaCO3 a 40
mg/L CaCO3. Com relação aos parâmetros analisados, fica evidente que a qualidade da água do rio
Caracabu na comunidade de Praia de Oiteiro em Rio Tinto/PB não apresenta graves impactos
ambientais, assim apresentando uma boa qualidade, de acordo com os parâmetros analisados,
exceto a variável pH em que apresenta níveis de acidez elevados.
Palavras–Chave: Qualidade da água, Preservação, impactos ambientais.

ABSTRACT
The importance of water in the life of the planet is of such proportions, since it is an essential
element for survival on Earth. Although this resource is found in abundance on our planet (about
70% of the surface is composed of water), only 4% of the water is sweet, that is, suitable for
consumption. Therefore, the present work aims to analyze the water quality of the Rio Tinto-Rio
Caracabu river, in order to guarantee the preservation of the environment and for the use by local
residents and tourists. For the accomplishment of this work the samples were collected with the aid
of plastic containers tri-washed with distilled water, photographic camera to realize the
photographic records of the area, besides GPS for the demarcation of the geographical coordinates.
The pH values of the wells ranged from 4.7 to 5.7, thus revealing a high acidity in the water of the

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 299


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Caracabu river. The electrical conductivity had the highest value of 222.7μS/cm and the lowest of
95.2 μS/cm. The alkalinity analysis of hydroxide showed values varying between 68 and 80 mg/L
of CaCO3. Data related to chloride concentrations are also within the limits allowed, where the
highest value was 100.6 mg/L and the lowest was 43.9 mg/L. The total hardness presented a low
concentration of these salts present with concentration of 56 mg/L CaCO3 at 40 mg/L CaCO3.
Regarding the analyzed parameters, it is evident that the water quality of the Caracabu River in the
community of Praia de Oiteiro in Rio Tinto/PB does not present serious environmental impacts,
thus presenting a good quality, according to the parameters analyzed, except for the pH variable in
which it has high acidity levels.
Keywords: Waterquality, Preservation, environmentalimpacts.

INTRODUÇÃO

Os rios, ou cursos fluviais, sempre foram, e são até hoje, um dos mais importantes recursos
para a sobrevivência da humanidade. São eles que nos fornecem grande parte da água que
consumimos. A água doce de extrema importância para os seres humanos tendo como principais
usos: funcionamento e manutenção do corpo humano, irrigação na agricultura (produção de
alimentos para os seres humanos), uso também na pecuária (criação de gado), funcionamento dos
ecossistemas (fauna e flora), tanto aquáticos quanto terrestres, uso da água na produção industrial
(bens materiais, medicamentos, alimentos industrializados, etc.), geração de energia nas usinas
hidrelétricas e a evaporação da água doce das principais fontes hídricas (rios, lagos, açudes e
represas) são importantes na formação de chuvas e da umidade do ar. A qualidade da água
requerida está bem definida nas concentrações máximas permitidas para determinadas substâncias,
conforme especificado nas Resoluções CONAMA 357/05, 410/09 e 430/2011, que dispõem sobre a
classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas e superficiais e
estabelecem às condições e padrões de lançamento de efluentes, entretanto, os principais
indicadores da qualidade da água são separados sob os aspectos físicos, químicos e biológicos
(Brasil, 2013). O monitoramento e a manutenção da qualidade dos corpos d‘água são de vital
importância em virtude de seu papel fundamental para o abastecimento dos ecossistemas naturais e
artificiais (ALLEN et al., 1974). A utilização incorreta e não sustentada que conduzem à
deteriorização dos recursos hídricos ocasionam diversos impactos, com destaque para a
contaminação de populações dependentes da pesca, modificação da qualidade e quantidade da água
destinada ao abastecimento dos ecossistemas naturais e artificiais, alterações dos padrões de vazão
devido a assoreamento, modificação da geomorfologia fluvial e a destruição de áreas de recarga de
aqüíferos e de habitats marginais (SILVA, 2011). Os diversos processos que controlam a qualidade
da água fazem parte de um frágil equilíbrio, motivo pelo qual quaisquer alterações de ordem física,
química ou climática na bacia hidrográfica podem modificar a sua qualidade (ARCOVAET et al.,
1998).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 300


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O presente trabalho objetivou a análise de parâmetros físico-químicos (pH, condutividade


elétrica, dureza total, alcalinidade total, cloreto e salinidade) da água no rio Caracabu Rio Tinto/PB,
a fim de garantir a preservação do meio ambiente e utilização adequada pelos moradores locais. O
rio Caracabu localiza-se dentro da comunidade de Praia de Oiteiro, área de preservação ambiental
(APA do rio Mamanguape) com área de 14. 640 Km² (ICMBIO, 2015).

MATERIAL E MÉTODOS

O município de Rio Tinto localiza-se no estado da Paraíba, situado na mesorregião da Zona


da Mata paraibana e na microrregião litoral Norte. (Figura 1). A área da unidade territorial
apresenta 465,666 Km², com estimativa de 24,090 habitantes (IBGE, 2016). A cidade de Rio Tinto
apresenta uma divisão territorial com os municípios de Mamanguape, Capim, Lucena, Marcação,
Santa Rita e Mataraca (IBGE, 2010).

Figura 1. Localização do rio Caracabu no município de Rio Tinto/PB

O rio Caracabu localiza-se dentro da comunidade de Praia de Oiteiro, área de preservação


ambiental (APA do rio Mamanguape) com área de 14. 640 Km² (ICMBIO, 2015). Algumas áreas
do rio são utilizadas por alguns moradores para diversos usos como: agricultura de subsistência,
lavagem de materiais domésticos, lazer e turismo ecológico.
As amostras das águas em estudo foram coletadas em pontos distintos do rio, escolhidos de
acordo com alguns critérios de localização: nascente, área de agriculta e acessos a moradores e
turistas (Tabela 1).
Para a realização desse trabalho foram coletadas a mostras com o auxilio de recipientes
plásticos tri-lavadas com água destilada; câmera fotográfica para realizar os registros fotográficos
da área, além de GPS para a demarcação das coordenadas geográficas. Após a identificação da área

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 301


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

foi coletada manualmente uma amostra na superfície de cada ponto, totalizando quatro amostras. O
material foi encaminhado para o Laboratório de Ecologia Química da Universidade Federal da
Paraíba – Campus IV onde foi realizadas as análises químicas dos parâmetros de cloreto, salinidade,
dureza total, alcalinidade, pH e condutividade, dureza total, seguindo a metodologia de Standard
Methods (2012).

Identificação Caracterização

PONTO 1 Localizado dentro de um pequeno fragmento de mata atlântica em que se encontra


próximo a canaviais, estando coberto de vegetação de porte arbóreo, apresentando
grande aporte de matéria orgânica (Figura 2. A).
PONTO 2 Localizado dentro de um fragmento de mata atlântica com interferência de
atividades antrópicas (trilhas), apresentando perca de cobertura vegetal nas margens
(Figura 2. B).
PONTO 3 Localizado próximo a plantações de monocultura (mandioca e capim arroz) uma
trilha ecológica, com grandes impactos de ações antrópicas (Figura 2. C).
PONTO 4 Localizado próximo a uma lagoa, poço criado para consumo da comunidade local,
coberto de vegetação de porte arbóreo, rodeado de serapilheira (Figura 2. D).
Tabela 1: Caracterização dos pontos do rio Caracabu de Rio Tinto/PB

Nascente do rio Caracabu Rio Tinto/PB Trilha ecológica.

Plantações de monocultura (mandioca e capim


Poço de abastecimento da comunidade.
arroz).
Figuras 2 (A-E): Registro fotográficos dos pontos de coletas no rio caracabu, Rio Tinto, Paraíba, Brasil.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 302


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 2 apresentam os resultados das análises químicas das amostras do rio Caracabu
Rio Tinto-PB.

Parâmetros Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 VMP

Cloreto (mg/L) 43,9 49.6 43,9 100.6 < 250


Salinidade (‰) 0,3 0,3 0,4 0,4 ≤ 30
Condutividade Elétrica
95,2 110.0 111.0 202.7 10<X<100
(uS/cm)
pH 5,7 5,6 5,7 4,7 6,0-9,0
Alcalinidade de hidróxido
72 80 68 72 0,0
(mg/L de CaCO3)
Alcalinidade de carbonato
0 0 0 0 < 120
(mg/L de CaCO3)
Alcalinidade de bicarbonato
0 0 0 0 < 250
(mg/L de CaCO3)
Dureza Total (mg/L CaCO3) 56 48 48 40 <500
Tabela 2. Resultados das análises químicas das amostras do rio Caracabu Rio Tinto-PB e Valor
Máximo Permitido (VMP) pelo Ministério do Meio Ambiente - Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA – Resolução nº 357, de 17 de março de 2005. Ministro de Estado da Saúde -
Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Fundação Nacional de Saúde, 2014.

O potencial hidrogênio (pH) é uma variável em que indica as condições de acidez de uma
amostra, representando a concentração de íons de hidrogênio. No entanto com os dados obtidos foi
observado que as amostras apresentaram valores abaixo do máximo permitido pelo CONAMA –
Resolução 357/05, variando entre 5,7 a 4,7 (amostra 1 e 4) assim revelando uma alta acidez na água
do rio Caracabu (tabela 2). Corroborando com o trabalho de Vaz e Orlando (2012) que também
encontraram pH ácido em duas nascentes, diz que o fator que pode explicar essa acidez na água se
dar possivelmente através da decomposição da matéria orgânica e a constituição do solo da região e
ao passar do curso do rio, ocorreu à diluição da acidez na água.
Em relação à condutividade elétrica apresentou o maior valor de 202,7 μS/cm (ponto 4) e o
menor de 95,25 μS/cm (ponto 1), respectivamente, valores estes que estão adequados de acordo a
FUNASA (2014) (Tabela 2). No entanto isso ocorreu pela grande quantidade de matéria orgânica
em decomposição existente no corpo hídrico, pois a água tem um grande poder de dissolução e
pode separar o material dissolvido em íons carregados eletricamente, aumentando a condutividade

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 303


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

elétrica em alguns pontos amostrados. Em relação à salinidade os pontos analisados apresentaram


valores entre 0,3 e 0,4‰ sendo classificado como água doce de acordo com CONAMA – Resolução
357/05. Segundo Libânio (2008), a condutividade elétrica indica a capacidade da água natural de
transmitir corrente elétrica em função da presença de substâncias dissolvidas que se dissociam em
ânions e cátions, sendo diretamente proporcional à concentração de íons. Relaciona-se ao teor de
salinidade, característica relevante para muitos mananciais subterrâneos e águas superficiais
próximas ao litoral passiveis de intrusão de águas salgada. Constitui-se importante indicador de
eventual lançamento de efluente por relacionar-se à concentração de sólidos dissolvidos. A entrada
de material orgânico alóctone da mata ciliar acumulado durante a estiagem pode ter ocasionado o
aumento da taxa de decomposição, elevando os valores de condutividade, especialmente no período
chuvoso (GUERESCHI e FONSECA-GESSNER, 2000).
O cloreto é o ânion (Cl-) que se apresenta nas águas subterrâneas, oriundo da percolação da
água através de solos e rochas. O conhecimento do teor de cloretos das águas tem por finalidade
obter informações sobre o seu grau de mineralização ou indícios de poluição, como esgotos
domésticos e resíduos industriais das águas e por essa razão o sua concentração deve ser conhecida
e controlada (OLIVEIRA; PELEGRINI, 2011). Ferreira (2011) afirma que concentrações decloretos
são encontradas praticamente em todas as águas naturais. A sua presença pode ser de origem
mineral ou derivada de contaminação marinha de suprimentos subterrâneos, despejos humanos e
animais, efluentes industriais e contaminação devido a sais utilizados na agricultura, salinas e
atividades afins. O cloreto não apresenta toxicidade ao ser humano, exceto no caso da deficiência
no metabolismo de cloreto de sódio, por exemplo, na insuficiência cardíaca congestiva. A
concentração de cloreto em águas de abastecimento público constitui um padrão de aceitação, já
que provoca sabor ―salgado‖ na água. Concentrações acima de 250 mg/L causam sabor detectável
na água, mas o limite depende dos cátions associados. Os consumidores podem, no entanto,
habituarem-se a uma concentração de 250 mg/L, como é o caso de determinadas populações árabes
adaptadas ao uso de água contendo 2.000 mg/L de cloreto. No caso do cloreto de cálcio, o sabor só
é perceptível em concentrações acima de 1.000 mg/L. A Portaria 518/04 do Ministério da Saúde
estabelece o valor máximo de 250 mg/L de cloreto na água potável como padrão de aceitação de
consumo (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE-SP, 2009). Os dados relacionados às
concentrações de cloreto também estão dentro dos limites admitidos, onde o maior valor foi de
100,6 mg/L (ponto 4) e o menor de 43,9 mg/L (ponto 1 e 3), ambos abaixo de 250 mg/L, como
estabelecido pelo resolução CONAMA nº 357/05.
A dureza total é a concentração de Ca2+ e Mg2+ presente nos corpos hídricos. A água dura é
aquela que contém um alto nível mineral e têm quantidades variáveis de compostos, em especial
sais de magnésio e cálcio (ZAMORA, 2009). Eles são responsáveis pela dureza da água, e grau de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 304


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

dureza é diretamente proporcional à concentração destes sais. A dureza da agua deve se


principalemte a presença de sais de calcio e magnesio em solução e o seu grau varia de acordo com
a região. De modo geral, as aguas de superficie são mais brandas (moles) que as subterraneas
(FERREIRA, 2011). As análises realizadas com a água do rio Caracabu, apresentou uma baixa
concentração desses sais presentes, sendo a maior no ponto 1 com concentração de 56 mg/L CaCO3
e o menor no ponto 4 com 40 mg/L CaCO3 (Tabela 2), estando de acordo com o Ministério da
Saúde (2011). Abdalla et al. (2010) diz que dureza total refere-se à concentração total da de íons
alcalino-terrosos na água, particularmente de cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+), cujas concentrações
são muito superiores às dos demais íons alcalino terrosos encontrados em águas naturais,
normalmente expressa como número de equivalente de miligramas por litro (mgL-1) de
carbonato de cálcio (CaCO3).
A análise de alcalinidade de hidróxido apresentou valores variantes entre 68 e 80 mg/L de
CaCO3, entre as quatro amostras, estando fora do padrão permitido pelo resolução CONAMA
nº 357/2005. Em relação a alcalinidadade de carbonato e bicarbonado, ambas apresentam valores
nulos, assim classificada como adequada assim como estabelecido pela resolução do
CONAMA nº 357/05. Segundo Souto et al. (2014) a alcalinidade é um parâmetro que estima a
capacidade de tamponamento do sistema água/constituintes iônicos, principalmente sais de ácidos
fracos e bases fortes, frente a mudanças de pH. As principais espécies responsáveis pela
alcalinidade em corpos d‘água são bicarbonato (HCO-), carbonato (CO2-) e hidróxido (OH-). Para as
águas naturais, a maior contribuição para a alcalinidade se deve à presença do bicarbonato, que é
formado pela ação do dióxido de carbono sobre materiais básicos como os carbonatos de cálcio e
magnésio.

CONCLUSÃO

Com relação aos parâmetros analisados, fica evidente que a qualidade da água do rio
Caracabu na comunidade de Praia de Oiteiro Rio Tinto/PB não apresenta graves impactos
ambientais, assim apresentando uma boa qualidade, de acordo com os parâmetros analisado, exceto
a variável pH em que apresenta níveis de acidez elevados. Levando-se em consideração novas
análises físico-químicas e microbiológicas que não abordado nessa pesquisa, deverão ser realizadas
para atestar a qualidade de potabilidade da água.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ALLEN, S. E., GRIMSHAW, H. M., PARKINSON, J. A., QUARMBY, C. 1974. Chemical


analysis of ecological materials. Oxford: Black well Scientific Publication. 565 p., 1974.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 305


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BAIRD, R. B., CLESCERI, L. Standard Methods for examination of water and wastewater, Ed. 22.
Estados Unidos da América: Amer Public Health. 1496 p., 2012.

Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle da qualidade da


água para técnicos que trabalham em ETAS. Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde
– FUNASA, Brasília, 2014.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. RESOLUÇÃO Nº 357, DE 17 DE


MARÇO DE 2005. Disponível em: <
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf> Acesso em: 22 de agosto de 2017.

FERREIRA, D. M. Influencia de atividades sobre a salinização da agua em areas de dunas no


municipio de guamaré - RN/ Douglisnilson de Mourais Ferreira. Natal, RN, 2011.

GUERESCHI, R. M., FONSECA-GESSNER, A. A. Análise de variáveis físicas e químicas da


água e do sedimento de três córregos da Estação Ecológica de Jataí. Luiz Antônio, SP, 2000.

LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. 2 ed. Campinas: Átomo, 443 p.,
2008.

MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE. PORTARIA Nº 2.914, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2011.


Disponível em: <
http://site.sabesp.com.br/site/uploads/file/asabesp_doctos/PortariaMS291412122011.pdf>
Acessado: 31 de agosto de 2017

OLIVEIRA, F. C., PELEGRINI, D. D. Controle de qualidade do sistema de produção de água


purificada obtida por osmose reversa em indústria farmacêutica. Revista de Saúde e Biologia,
v.6, n.1, p.36-42, 2011.

SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, QUALIDADE DAS ÁGUAS INTERIORES NO


ESTADO DE SÃO PAULO, SIGNIFICADO AMBIENTAL E SANITÁRIO DAS VARIÁVEIS
DE QUALIDADE DAS ÁGUAS E DOS SEDIMENTOS E METODOLOGIAS ANALÍTICAS
E DE AMOSTRAGEM, BRASIL, 2009.

SILVA, E. F. L. P. Avaliação da qualidade da água em microbacias hidrográficas de uma Unidade


de Conservação do Nordeste do estado de São Paulo. Brasil, Revista Brasileira de Biociências,
2011.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 306


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SOUTO, R. T. B., F. G., PINTO, M. C. F., MOURÃO, M. A. A. ESTUDO COMPARATIVO DE


MODELOS DE DETERMINAÇÃO DA ALCALINIDADE EM AMOSTRAS DE ÁGUA
SUBTERRÂNEA. XVIII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas. 2014.

VAZ, L., ORLANDO, P. H. K. Importância das matas ciliares para manutenção da qualidade das
águas de nascentes: diagnóstico do ribeirão Vai-Vem de Ipameri-GO. XXI Encontro Nacional
de Geografia Agrária Territórios em disputa: Os desafios da geografia agrária nas contradições
do desenvolvimento brasileiro. Uberlândia-MG, 15 a 19 de Outubro de 2012.

ZAMORA, J. R. Parámetros físico químicos de dureza total encalcio y magnesio, pH,


conductividad y temperatura del agua potable analizados en conjunto com lãs Asociaciones
Administradoras Del Acueducto, (ASADAS), de cada distrito de Grecia, cantón de Alajuela,
noviembre del 2008. Revista Pensamiento Actual, Universidad de Costa Rica. Vol. 9, No. 12-13,
2009.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 307


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CARACTERIZAÇÃO HIDROLÓGICA DA MICROBACIA DOS RIOS VELHO E AÇU


NA APA DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE, LITORAL NORTE DA PARAÍBA

Juliane Monteiro COSTA


Graduanda do Curso de Ecologia da UFPB
julianemonteiro89@gmail.com
Jerferson de Lima FREIRES
Graduando do Curso de Ecologia da UFPB
Jerferson_lima@hotmail.com
Nadjacleia Vilar ALMEIDA
Professora do Curso de Ecologia da UFPB
nadjacleia@ccae.ufpb.br

RESUMO
Nos últimos anos os recursos hídricos vêm sendo cada vez mais explorados pelo homem causando
impactos negativos nos rios, lagos e riachos. Para entender melhor os processos que causam alguma
perturbação aos recursos hídricos, é necessário conhecer os elementos e os parâmetros que
compõem a paisagem, sendo assim, os rios são elementos integradores de extrema importância,
pois, refletem a situação atual das bacias hidrográficas. Entendendo a importância da configuração
espacial da rede hidrográfica e das bacias, sub-bacias e microbacias hidrográficas como unidade
básica do planejamento ambiental, o presente trabalho objetivou analisar as características
hidrológicas da microbacia dos rios Velho e Açu e sua interação com o mangue situado no interior
da Área de Proteção Ambiental-APA da Barra do Rio Mamanguape. Para isso, foram aplicadas
técnicas de Geoprocessamento aliadas a Análise Morfométrica. A caracterização morfométrica
revelou que a microbacia em estudo possui uma área de 29,49km² e comprimento de 8,93km,
apresenta uma hierarquia fluvial de 5ª ordem, possuindo 295 canais, sendo 162 canais de drenagem
de 1ª ordem indicando ser muito ramificada; o índice de circularidade foi de 0,54 indicando que a
microbacia não têm forma circular, o índice de forma foi de 0,38 configurando a forma triangular,
sendo menos propicia a enchentes; a densidade de rios foi alta com 10,0 canais/km2 ou seja, uma
grande quantidade de cursos de água existentes em uma área; a densidade de drenagem é de
2,91km/km2, caracterizando uma baixa capacidade de drenagem; o comprimento do rio principal é
25,97km e a extensão do percurso superficial foi de 0,118 e o gradiente dos canais têm
aproximadamente 31,14m. Conclui-se que a microbacia dos rios Velho e Açu têm grande
capacidade de escoamento superficial e, consequentemente, de gerar novos cursos de água e não é
propicia a enchentes mesmo apresentando baixa densidade da drenagem.
Palavras-chaves: Recursos hídricos, Morfométria, Geotecnologia

ABSTRACT
In recent years, water resources have been increasingly exploited and degraded through anthropic
actions in rivers, lakes and streams. In addition, their beds have been preferably inhabited and
occupied by man, due to the availability of resources that these water bodies offer. In order to better
understand the processes that make up or cause some disturbance to water resources, it is necessary
to know the integrating elements of this landscape, thus, rivers and river basins are integrating
elements of extreme importance, as they reflect the current situation of the environment. The
present work aimed to analyze the hydrological characteristics of the microbasin of the Velho and
Açu rivers and their interaction with the mangrove within the Environmental Protection Area
(APA) of Barra do Rio Mamanguape. For this, Geoprocessing and Morphometric Analysis
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 308
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

techniques were applied. In the morphometric characterization, the 5th and 5th river microbasin
was found for the microbasin of the Velho and Açu rivers, having 295 channels, 162 channels of 1st
order drainage indicating a very branched, with an area of 29.49 km² and a length of 8, 93km; The
circularity index was 0.54 indicating that the microbasin did not have a circular shape, the shape
index was 0.38, forming the triangular shape, being less conducive to flooding; The density of
rivers was high with 10.0 channels / km2 ie a large number of existing watercourses in one area;
The drainage density is 2.91 km / km2, with a low drainage capacity; The length of the main river is
25.97km and the extension of the surface course was 0.118 and the gradient of the channels are
approximately 31.14m. It is concluded that the microbasin of the Velho and Açu rivers, deserves
special attention due to the springs that are outside the limits of the APA, since everything that
occurs in its springs and in any point of the basin will reflect in its mouth, Within the APA.
Keywords: Water Resources, Morphometry, Geotechnology

INTRODUÇÃO

A água é um recurso natural importante e essencial a toda vida terrestre. Os recursos


hídricos vêm sendo explorados pela sociedade, desde a antiguidade com a observação do fluxo
contínuo das águas, ou seja, sua movimentação desde a montante até a jusante (BRANCO, 1930).
Este rico recurso está presente em todas as atividades humanas, além de integrar todos os
elementos físico, biológico e socioeconômico. A água tem um grande valor econômico em todos os
aspectos, tanto para a irrigação na agricultura, quanto para geração de energia (hidrelétricas), para
as atividades industriais e principalmente para o consumo humano, além da sua importância para
manutenção do ciclo hidrológico. Para entender melhor os processos que compõe ou causam
alguma perturbação aos recursos hídricos, é necessário conhecer os elementos integradores dessa
paisagem. Araujo, Almeida e Guerra (2010, p.63) afirmam que ―os rios são os formadores de
Bacias Hidrográficas e têm um caráter fundamental de diferenciação‖. Os rios formam a coluna
principal do sistema de drenagem. Cunha (2010, p.219) definiu os rios como ―um amplo corpo de
água em movimento, confinado em um canal‖. Sendo assim, os rios e as bacias hidrográficas são
elementos integradores de extrema importância, pois, refletem a situação atual do ambiente.
Portanto, qualquer perturbação no ambiente será detectada ou refletida no sistema de
drenagem, constituído por um rio principal e seus afluentes, responsáveis em transportar água e
sedimentos, ao longo do seu percurso, desde a montante até a foz. A bacia hidrográfica é
considerada como uma unidade natural na qual o elemento integrador é representado pelos canais
fluviais ou de drenagem natural, cujo norteador é a água. (RODRIGUES & CARVALHO, 2003).
De acordo com Guerra e Cunha (2011, p. 353) ―a bacia hidrográfica apresenta-se como uma
unidade integradora, dos setores (naturais e sociais), deve ser mantida com essa função, a fim de
amenizar os impactos ambientais‖. É necessário o estudo e conhecimento das bacias, assim como
também um planejamento, pois tudo que acontece em algum ponto da bacia hidrográfica terá
resultados diretos e indiretos em pontos adjacentes. De acordo com Teodoro et al (2007, p. 139), as

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 309


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

sub-bacias hidrográficas ―são áreas de drenagem dos tributários do curso d‘água principal‖. Para
definir sua área vários autores utilizaram-se de diferentes unidades, mas para Faustino (1996), as
sub-bacias possuem áreas maiores que 100 km² e menores que 700 km². Ainda para o mesmo autor,
uma sub-bacia é formada por várias microbacias, que possui uma área inferior a 100 km². Botelho
(1999, p. 273) diz que uma microbacia ―é uma unidade espacial mínima, que deve ser
suficientemente grande para identificar as inter-relações existente e pequena o suficiente para estar
compatível com os recursos disponíveis‖.
O planejamento ambiental juntamente com as geotecnologias nos permite analisar e apoiar a
identificação das formas e das inter-relações existentes. A geotecnologia e o uso do Sensoriamento
Remoto nos auxiliam a obter dados precisos e atuais com maior agilidade. Diante do exposto, o
objetivo da pesquisa foi analisar as características hidrológicas da microbacia dos Rios Velho e Açu
na APA da Barra do Rio Mamanguape.

METODOLOGIA

Área de estudo

A microbacia dos rios Velho e Açu está inserida parcialmente na APA da Barra do Rio
Mamanguape que está situada na mesorregião da Mata Paraibana e na microrregião do Litoral Norte
do Estado da Paraíba a qual se limita com os municípios de Marcação, Baía da Traição, Rio Tinto e
Lucena, localiza-se a cerca de 70 km da cidade de João Pessoa, capital do Estado (ICMBIO, 2015).
A área estudada, a microbacia dos rios Velho e Açu, está inserida totalmente no município
de Rio Tinto, que possui uma área territorial de 465,666 (km2) e uma população estimada de 24.023
habitantes (IBGE, 2010) (fig. 1).

Figura 1. Localização da Sub-bacia dos Rios Velho e Açu, Rio Tinto-PB, Brasil.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 310


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MATERIAIS

Para a realização do presente trabalho foi necessário o uso de alguns materiais, tais como:
carta topográfica do ano de 1974 da Barra do Rio Mamanguape (Folha: SB-25-Y-A-VI-3-NO)
elaborada pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) na escala de
1:25.000 (SUDENE,1974), imagem SRTM- Shuttle Radar Topography Mission (folha SB-25-Y-A)
com resolução espacial de 30 x 30m adquirida no website da TOPODATA 11, câmera fotográfica e o
GPS - Global Positioning System.

PROCEDIMENTOS TÉCNICOS

Para a realização dos procedimentos metodológicos desta pesquisa, fez-se necessária a


utilização do Sistema de Informações Geográficas (SIG).
No presente estudo, foi realizada a delimitação e a extração da rede de drenagem da
microbacia dos rios Velho e Açu utilizando um software de Sistemas de Informações Geográfica-
SIG. O trabalho foi dividido em duas etapas: na primeira etapa foi realizado um levantamento
bibliográfico relacionando às características hidrológicas da microbacia e na segunda etapa foi
realizado o levantamento cartográfico, com montagem do banco de dados espacial.
Os mapas foram gerados em ambiente SIG, a delimitação da microbacia, foi realizada
manualmente, baseando-se na carta topográfica da Barra do Rio Mamanguape, orientando-se
através dos valores de elevação dos pontos cotados e das curvas de nível. A extração da rede de
drenagem foi feita de forma automática e manual, utilizando a imagem SRTM, imagens disponíveis
no Google Earth (2009) e a carta topográfica. A validação dos dados foi realizada através de visitas
in loco, confirmando o local das nascentes com pontos marcados por GPS e atualizando a rede de
drenagem.
Após a delimitação da área da microbacia, foram necessários os cálculos dos índices e
parâmetros morfométricos estabelecidos por Strahler apud Christofoletti (1980) e que serão
abordados em três itens: hierarquia fluvial, análise areal e análise linear.
A hierarquização dos canais fluviais da microbacia foi feita pelo método de Strahler (1952,
apud CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 106), no qual ―a hierarquia dos rios é formado pelo processo de
ordenar a classificação de determinado curso de água, no conjunto total da bacia hidrográfica na
qual se encontra‖. A hierarquia dos rios foi gerada de forma automática no SIG, sendo de extrema
importância, pois facilita os estudos morfométricos (análise linear e areal). Para Strahler (1952 apud
CHRISTOFOLETTI, 1980) canais de primeira ordem são aqueles menores e sem tributários, que se

11
Banco de dados Geomorfométricos do Brasil.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 311


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

inicia da nascente a junção com o próximo canal; os de segunda ordem é a união de dois canais de
primeira ordem e assim sucessivamente.
Após a realização da hierarquia dos rios, o primeiro passo para a análise morfométrica, é o
processo da análise dos aspectos lineares e areal.

ANÁLISES DOS ASPECTOS LINEARES

São medições realizadas ao longo de todo escoamento da rede de drenagem, estabelecido


por Christofoletti (1980) onde se identifica o comprimento do rio principal; extensão do percurso
superficial e o gradiente dos canais.
Comprimento do rio principal: é a distância que se tem ao longo do curso de água desde a
desembocadura até a nascente. Primeiro medimos o comprimento dos dois rios principais da
microbacia através da ferramenta measure, em seguida calculou-se a média que resultou no
comprimento final.
Extensão do percurso superficial: calcula a média percorrida pelas enxurradas entre o
interflúvio e o canal permanente. O cálculo para a extensão do percurso superficial foi realizado
com a seguinte fórmula:

Onde Eps é a extensão do percurso superficial e Dd é o valor da densidade de drenagem.

Gradiente dos canais: é a diferença máxima de altitude entre o ponto de origem e o término
com o comprimento do respectivo segmento fluvial. Obsevando a tabela de atributos da rede de
drenagem, foi analisado o valor de altitude das nascentes e da foz de cada ordem fluvial.

ANÁLISE AREAL

De acordo com Christofoletti (1980, p, 113) ―Análise Areal das bacias hidrográficas é a
reunião de vários índices nos quais ocorre interferência de medições planimétricas, além de
medições lineares‖. Assim, serão analisados os seguintes índices: área da bacia (A); comprimento
da bacia (L); Índice de circularidade, índice de forma, densidade de rios e densidade da drenagem.
Horton (1945 apud CHRISTOFOLETTI 1980) fez a seguinte classificação:
Área da bacia (A): É toda área drenada pelo conjunto do sistema fluvial, projetada em plano
horizontal. A área da bacia foi calculada através da ferramenta calculate areas.
Comprimento da bacia (L): Distância medida em linha reta acompanhando paralelamente o
rio principal. O comprimento da bacia foi realizado através da ferramenta measure.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 312


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Índice de circularidade: É a relação existente entre a área da bacia e a área do círculo de


mesmo perímetro, de acordo com a seguinte fórmula:

(2)

Na qual Ic é o índice de circularidade; A é a área da bacia e Ac é a área do círculo de


perímetro igual ao da bacia considerada. O valor máximo é igual a 1,0 e quanto maior o valor, mais
próxima da forma circular estará a microbacia
Índice de forma: Lee & Salle (1970 apud CHRISTOFOLETTI, 1980) estabeleceram o
método no qual ―após a delimitação da bacia, independentemente da escala, traça-se uma figura
geométrica (círculo, retângulo, triângulo, etc.) que possa cobrir da melhor maneira possível à
referida bacia hidrográfica‖. Esse procedimento foi realizado em ambiente SIG.

(3)

na qual:
If é o índice de forma; K é a área da bacia; L é a área da figura geométrica; ( éa
interseção da área da sub-bacia; é a união das duas áreas.
Quanto menor for o índice, mais próxima da figura geométrica respectiva estará à forma da
bacia.
A densidade de rios: É a relação entre o número de rios e a área da bacia hidrográfica.
Calculado pela seguinte fórmula:

(4)

Dr é a densidade de rios; N o número total de rios ou cursos de água e A é a área da bacia


considerada.
Densidade da drenagem: É a relação do comprimento total dos canais de escoamento com a
área da bacia hidrográfica. Sendo calculada pela seguinte equação:

(5)

Dd é a densidade da drenagem, Lt, é o comprimento total dos canais e A é a área da bacia.


Para calcular a densidade de drenagem, utilizamos a drenagem extraída de forma automática da
imagem de radar da Missão Topográfica de Radar Transportado (SRTM - Shuttle Radar
Topography Mission) (folha SB-25-Y-A) (TOPODATA, 2011).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 313


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Microbacia dos rios Velho e Açu são do tipo exorréica. No baixo curso do rio Açu
apresenta drenagem do tipo meândrica (fig.2). De acordo com a classificação de Dury (1969 apud
CHRISTOFOLETTI, 1980), um canal do tipo meândrico ―são canais sinuosos, com curvas largas,
harmoniosas e semelhantes entre si‖. No médio e alto curso dos rios Açu e velho apresentam
drenagem dendrítica que é designada como arborescente, pois o seu formato assemelha-se a uma
árvore (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 103).

Figura 2. Rede de Drenagem da microbacia dos Rios Velho e Açu, Rio Tinto-PB, Brasil.

ASPECTOS MORFOMÉTRICOS

A microbacia dos rios Velho e Açu possui uma área de 29,49 km² e seu comprimento é de
8,93 km (Fig. 3 e Tab.1). Foi classificada como de 5ª ordem, possuindo 295 canais, sendo 162
canais de drenagem de 1ª ordem (Quadro.1) indicando ser muito ramificada,

Figura 3. Hierarquia Fluvial da microbacia dos Rios Velho e Açu. Rio Tinto-PB, Brasil.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 314


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ordem (Strahler) Quantidade de canais


1ª 162
2ª 60
3ª 30
4ª 41
5ª 2
Total 295
Quadro 1- Número de canais por ordem de hierarquia na microbacia dos Rios Velho e Açu. Rio Tinto-PB,
Brasil.

O índice de circularidade é de 0,54 indicando que a microbacia não têm forma circular. O
índice de forma é de 0,38 tem a forma de um triângulo. Esses dois índices indicam que a microbacia
é menos propicia a enchentes, pois como afirma Rocha (1997, p.78) as formas retangulares,
trapezoidais ou triangulares ―são menos susceptíveis a enchentes que as circulares, ovais ou
quadradas‖.
A densidade de rios foi alta com 10,0 canais/km2, ou seja, uma grande quantidade de cursos
de água existentes em uma área. De acordo com Horton (1945, apud CHRISTOFOLETTI, 1980)
esse valor indica uma grande magnitude da bacia, ressaltando que é de grande ―importância porque
representa o comportamento hidrográfico de determinada área, em um de seus aspectos
fundamentais: a capacidade de gerar novos cursos de água‖. Como consequência dessa
característica natural, tem-se maior capacidade de escoamento superficial, e se não houver cobertura
vegetal natural para proteger o solo da ação abrasiva das gotas da chuva os processos erosivos
(laminar e ravinamento), são intensificados, carreando sedimentos para o leito dos rios causando o
assoreamento dos canais.
A microbacia apresenta o valor médio de densidade de drenagem de 2,91km/km2,
apresentando o valor mínimo 1,3 Km² e valor máximo de 5,3Km² indicando uma baixa capacidade
de drenagem (FLORENZANO, 2008, p.119), (Fig. 4). Estes valores de mínimo e máximo podem
ser explicados pelo fato da microbacia possuir dois rios principais localizados no centro da
microbacia e a maior concentração dos cursos d‘água que vão das margens para o centro. Carvalho
& Silva (2006, p. 21), afirmam que a densidade de drenagem ―é uma boa indicação do grau de
desenvolvimento de um sistema de drenagem, que expressa à relação entre o comprimento total dos
cursos d‘água (sejam eles efêmeros, intermitentes ou perenes) de uma bacia e a sua área total‖.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 315


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 4- Densidade de Drenagem da microbacia dos Rios Velho e Açu. Rio Tinto-PB, Brasil.

A microbacia dos rios Velho e Açu possuem características de um relevo


predominantemente plano (fig. 5) e tendo uma relação direta com a densidade de drenagem. De
acordo com Medeiros (2016, p. 42) a microbacia ―possui mais áreas planas e algumas áreas
íngremes ou inclinadas que são justamente as margens dos rios‖.

Figura 5- Médio curso do rio Velho. Inserido fora Figura 6- Médio curso do rio Açu. Inserido na APA
dos limites da APA da Barra do Rio Mamanguape. da Barra do Rio Mamanguape. Data: 02/08/2016
Data: 02/08/2016

O comprimento do rio principal é 25,97km e a extensão do percurso superficial foi de 0,17,


demonstrando que o escoamento superficial faz um rápido trajeto até o leito de um curso d‘água,
colaborando para o aumento mais rápido do volume de água dos canais receptores (NUNES et al,
2006). O gradiente dos canais têm aproximadamente 31,141 km, considerado alto, pois quanto
maior for o gradiente dos canais, maior será a energia cinética e potencial do rio, podendo ocasionar
um risco maior de erosão. De acordo com Fernandes (2014, p. 10) ―se o gradiente for menor em
alguns trechos, as calhas serão mais profundas, enquanto em calhas com gradientes maiores, são

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 316


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

mais rasos e com maior turbulência do fluxo. Estas alterações refletem em alternância de processos
de transporte e deposição de sedimentos‖.
Os resultados da caracterização morfométrica da microbacia dos Rios Velho e Açu estão
apresentados na tabela 2.

Tabela 2 – Parâmetros morfométricos da microbacia dos Rios Velho e Açu.

CONCLUSÃO

Conclui-se que a microbacia dos rios Velho e Açu têm grande capacidade de escoamento
superficial e, consequentemente, de gerar novos cursos de água e não é propicia a enchentes mesmo
apresentando baixa densidade da drenagem.
É fundamental maior fiscalização nas áreas das nascentes, as quais se encontram fora dos
limites da APA da Barra do Rio Mamanguape, estando susceptíveis a degradação, assoreamento,
erosão e perda da mata ciliar, principalmente porque o seu entorno é ocupado pelo cultivo de cana-
de-açúcar, provocando impactos negativos na mata ciliar (Área de Proteção Permanente-APP) dos
rios Velho e Açu. Diante disso, é extremamente importante a preservação e a inserção das nascentes
dentro dos limites da Área de Proteção Ambiental (APA).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAUJO, G. H. S.; ALMEIDA, J. R. & GUERRA, A. J. T. Gestão ambiental de áreas


degradadas-6ºed.-Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.

BRASIL. LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997. Institui a Política Nacional de Recursos


Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso
XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de
1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 317


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Banco de Dados Geomorfométricos do Brasil (TOPODATA). Disponível em:<


318TTP://www.dsr.inpe.br/topodata/acesso.php> Acessado em 26 de Julho de 2016.

BRANCO, S. M. Água: origem, uso e preservação. 2 ed-São Paulo: Moderna, 2003.

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia – São Paulo: Edgard Blucher, 1980.

BOTELHO, R. G. M. Planejamento ambiental em microbacia hidrográfica. In: Erosão e


conservação dos solos.Orgs.: A. J. T. Guerra, A. S. Silva e R. G. M. Botelho. Bertrand Brasil,
Rio de Janeiro, 269-300, 1999.

CARVALHO, D. F.; SILVA, L. D. B. Apostila de Hidrologia. Rio de Janeiro: Universidade


Federal Rural do Rio de Janeiro, 2006. cap. 3, p. 15-32.

FLORENZANO, T. G., Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de


textos, 2008.

FERNANDES, M. R. Parâmetros Básicos de Bacias Hidrográficas. BELO HORIZONTE.


EMATER–MG, SETEMBRO DE 2014.

GUERRA, A. J. T. & CUNHA, S. B. Geomorfologia e meio ambiente, 10ª 318T. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2011.

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:


<http://cidades.ibge.gov.br/painel/populacao.php?lang=&codmun=251290&search=paraiba|rio-
tinto|infogr%E1ficos:-evolu%E7%E3o-populacional-e-pir%E2mide-et%E1ria> Acesso em 29
de Agosto de 2016.

ICMBIO- Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Brasília, 2004.

MEDEIROS, I. S. Fragilidade Ambiental da Paisagem da Área de Proteção Ambiental (APA) da


Barra do Rio Mamanguape-PB. /Monografia– Rio Tinto: [s.n.], 2016. 76 f. : il.

NUNES, F. G., RIBEIRO, N. C., FIORI, A.P. Propriedades morfométricas e aspectos físicos da
bacia hidrográfica do rio atuba: Curitiba-Paraná. VI Simpósio Nacional de Geomorfologia/
Regional Conference on Geomorphology, Goiânia, 6 a 10 de Setembro de 2006- Brasil.

PÉRICO, E., CEMIN, G., AREND, Ú. REMPEL, C. & ECKHARDT, R. R. Análise fisiográfica da
bacia do rio Forqueta, RS. Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto-SBSR,
Curitiba, PR, Brasil, 30 de Abril a 05 de maio de 2011, INPE p.1200.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 318


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SUDENE- Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste. Carta topográfica na escala


1:25.000, Folha SB 25-Y-A-VI-3-NO. 1º Ed. 1974.

SRTM- Shuttle Radar Topography Mission Disponível em:


https://www.cnpm.embrapa.br/projetos/relevobr/download/pb/sb-25-y-a.htm. Acesso em: 02 de
Fevereiro de 2016.

TEODORO, V. L. I.; TEIXEIRA, D.; COSTA, D. J. L.; FULLER, B. B.; O conceito de bacia
hidrográfica e a importância da caracterização morfométrica para o entendimento da dinâmica
ambiente local. Revista Uniara, n. 20. São Paulo. 2007.

VILLELA, S.M.; MATTOS, A. Hidrologia aplicada. São Paulo: McGRAWHill do Brasil, 1975.
245p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 319


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ASPECTOS GERAIS DE CONSERVAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO


CÓRREGO DO MARIMBONDO

Juliane Silveira ARAÚJO


Graduanda do Curso de Geografia da UFU
julianesa.eletronica@gmail.com
Paulo Cezar MENDES
Orientador, Professor Adjunto IV Doutor em Geografia UFU
pcmendes@ig.ufu.br

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo, relatar as condições ambientais apresentados atualmente na bacia
do Córrego do Marimbondo, sendo analisados seus aspectos geológicos, pedológicos, seus recursos
hídricos, e principalmente suas atividades de uso e ocupação do solo. Sendo este trabalho realizado
através das observações acerca da Paisagem desta bacia.
Palavras-chaves: Bacia, solo, água, vegetação.

SUMMARY
The objective of this work is to report on the environmental conditions currently presented in the
Córrego do Marimbondo basin, being analyzed its geological, pedological, water resources, and
mainly its land use and occupation activities. This work is carried out through observations about
the landscape of this basin.
Keywords: Basin, soil, water, vegetation.

INTRODUÇÃO

A bacia hidrográfica do Córrego do Marimbondo está localizada nos municípios de Araguari


e Uberlândia, tendo o segundo, a maior parcela da área da bacia em questão, ambos os municípios
fazem parte da mesorregião do Triângulo Mineiro. A bacia em questão está localizada nas
coordenadas 18º52'04" E e 48º12'00" S. A bacia do Córrego do Marimbondo tem como principais
tributários o Córrego do Marimbondo e o Córrego dos Morenos, possuindo uma área total de 39
Km², desaguando no Rio Araguari.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 320


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1: Localização da bacia hidrográfica do Córrego do Marimbondo.

Figura 2: Hipsometria da Bacia do Córrego do Marimbondo.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 321


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ASPECTOS NA ÁREA URBANA

Esta presente na bacia, na porção do município de Uberlândia, os bairros Dom Almir, Joana
D'árc, Mansões Aeroporto e Alvorada na área urbana do mesmo. Os bairros Dom Almir e Joana
D'árc foram construídos através de invasões, com início de suas atividades aproximadamente de 15
a 25 anos. Nestes bairros residem pessoas de baixa renda, onde apresentava todas as suas ruas
formadas de terra batida, posteriormente, a Prefeitura de Uberlândia providenciou asfalto para todas
as ruas. Estes bairros já são considerados independentes das atividades características do centro do
município, por possuírem as diversas formas de recursos e serviços em sua área.
Estes bairros possuem sua localização em algumas das porções de topo da bacia, estando
assim presentes em alguns dos divisores de água da mesma, e não apresentando cursos d'água
nestas porções. Mesmo estando nestas localidades, o relevo plano da região dificulta o escoamento
superficial e infiltração do solo, o qual é agravado com os processos de impermeabilização do solo
com o desenvolvimento e crescimento dos bairros, foram construídos bolsões para auxiliar a
drenagem, concentrando os volumes de precipitação destas áreas.
Os bolsões se apresentam em estado de má conservação, não possuindo sua limpeza.
Embora tenham sido construídos justamente para a captação das águas pluviais, eles foram mal
calculados, ocorrendo com frequência a inundação dos bairros nos períodos de chuva, por não
suportarem o volume total da precipitação nestas áreas.
O esgoto da região é bombeado para o Rio Uberabinha e não para o Rio Araguari. Tem-se
uma estação elevatória do DMAE, onde o esgoto das casas é captado e lançado na ETE (Estação de
Tratamento e Esgoto) por ser um terreno muito plano, sem nenhuma declividade.

ASPECTOS NA ÁREA RURAL

As áreas de topo da bacia são compostas pela Formação Marília, arenito com cobertura
detrítico laterítico e o latossolo vermelho-amarelo, podendo o solo chegar a 40 metros de
profundidade. À medida em que se vai em direção aos vales da bacia a sua geologia e o solo
mudam, apresentando com a diminuição da altitude afloramentos do basalto Serra Geral, o qual
pode ser observado pela mudança de cor do solo, sendo este, um latossolo de tonalidade mais
escura, também apresentando localidades de terra roxa e nitossolo. À medida que o Córrego do
Marimbondo segue em direção ao Rio Araguari, pode ser encontradas algumas parcelas do Grupo
Araxá, possuindo em sua foz terrenos sedimentares.
Em algumas localidades da bacia, é possível a visualização dos patamares da Formação do
grupo Serra Geral, com os derramamentos de basalto. O Córrego do Marimbondo cortou o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 322


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

derramamento de basalto ao meio. No topo se tem o arenito da Formação Marília e no vale é o


basalto da Formação Serra Geral.
Nas áreas de topo da bacia podem ser encontradas algumas veredas, porém, com a rara
presença de buritis, os quais podem ser utilizados como parâmetros de observação da qualidade da
água. O uso e ocupação do solo nestas regiões é de predominância de áreas de pastagem, com a
presença de alguns hortifrutigranjeiros, os quais possuem a destinação de seus produtos para o
Ceasa de Uberlândia.
A bacia apresenta vegetações nativa de fitofisionomias do cerrado, como a mata ciliar nas
bordas de alguns de seus canais, cerradão e mata estacional ao longo da bacia, sendo esta última em
maior quantidade. Não possui campo limpo ou campo sujo por possuir um solo fértil, o qual
proporciona o desenvolvimento de árvores de porte maior. Poucas gramíneas são nativas, a maioria
são plantadas para a pastagem com o objetivo de alimentação de gado leiteiro, sendo que, este tipo
de pastagem gera uma degradação na região, devido o pisoteio do gado, o qual propicia a evolução
de processos erosivos em algumas áreas, como os sulcos e ravinas encontrados nesta bacia. Uma
das medidas de prevenção dos processos erosivos tomadas pelos proprietários nestas áreas é a
formação dos terracetes em suas propriedades.
Em algumas localidades a mata ciliar é muito estreita, assim, não possuindo os 30 metros
mínimos deste tipo de vegetação. O cerradão presente em algumas áreas é apresento devido a
preservação de algumas pessoas. A mata estacional é o que prevalece nesse local. A vegetação da
região foi suprimida para pastagens, mas ainda se tem espécies nativas da mata estacional.
É possível notar algumas áreas já em desequilíbrio, as quais apresentam espécies pioneiras,
como as embaúbas, as quais podem servir de parâmetro para a observação desta busca por
equilíbrio da área, as quais não possuem uma presença marcante na paisagem quando a região
encontra seu estado de clímax.
A água em algumas localidades da bacia apresentam uma tonalidade esbranquiçada por
receber ao longo de seu curso, a água que foi utilizada para a limpeza de materiais utilizados
durante a ordenha do gado, porém estes cursos d'água não recebem outro tipo de esgoto, a maior
parte de poluentes do Córrego do Marimbondo são propriedades rurais, tendo sua água, também
utilizada para a irrigação dos hortifrutigranjeiros.
Na área de drenagem para o abastecimento do bairro Jardim Ipanema, tem-se a presença de
muito descarte inapropriado de entulho e grande proliferação de mamonas, a água retirada neste
local possui também a presença de esgoto. Essa água, ao descer para o canal abaixo, causa sulcos e
ravinas. Outro aspecto da parte econômica na bacia será a implantação de uma fábrica da empresa
Coca-Cola, onde será engarrafada água mineral, através da retirada por meio de um poço, o qual é
localizado em uma região pertencente ao grupo de basalto da Serra Geral.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 323


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Em comparação com outras bacias da mesorregião do Triângulo Mineiro, a do Córrego do


Marimbondo apresenta áreas de boa conservação de sua vegetação natural. Dentro da bacia tem-se
o Parque Estadual do Pau Furado, a qual foi comprada pela Usina Hidrelétrica do Capim Branco
como compensação pela degradação feita pela barragem na bacia. Essa área não pode ser
modificada, só podendo ser utilizada para atividades de recriação, para pesquisa, não podendo ser
realizado plantio ou desmatamento, é uma unidade de conservação de proteção integral, o parque
estadual tem sua extensão até a área da usina.
A bacia apresenta também a comunidade rural da Tenda dos Morenos, a qual está localizada
também, em um dos divisores de água. As pessoas desta comunidade tem a base de sua economia
na venda de produtos de hortifrutigranjeiro para o Ceasa de Uberlândia. Também possuindo um
setor de chácaras através do loteamento de uma fazenda por parte do proprietário anterior na região.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo da Bacia, não é frequente a presença de processos erosivos, pela quantidade


geológica do basalto da Formação Serra Geral, pois o solo desse local é a terra roxa e, sendo um
solo de boa resistência, por isso se tem poucos processos erosivos. Quando se tem alguma erosão
está associada as partes do arenito da Formação Marília.
Apesar da boa conservação da vegetação nativa em algumas regiões, a bacia possui uma
concentração de matas ciliares muito baixa, e as mesmas em sua maioria, não apresentam os 30
metros mínimos exigidos.
Considerando os métodos de análise desenvolvidos por Bertrand, a bacia do Córrego do
Marimbondo apresenta geofácies diferentes. Onde encontramos em seu topo, uma geofácie de uso
urbano, possuindo como característica uma área que é extremamente plana e não possui canal
fluvial. Conforme sua evolução para o vale, tem-se outro geofácie, sendo característicos os seus
patamares estruturais. E já na base do vale, o geofácie apresenta o vale entalhado do Córrego do
Marimbondo.

REFERÊNCIAS

ACHE TUDO. História de Uberlândia. Disponível em:


<http://www.achetudoeregiao.com.br/mg/uberlandia/historia.htm>. Acesso em: 29 de julho de
2017.

DEL GROSSI, S. R.; SOARES, A. M.; OLIVEIRA, H.L.P.R. Agricultura Familiar e Recursos
Hídricos: um projeto para conservação de micro bacias hidrográficas. In: XVI Encontro
Nacional de Geógrafos, Porto Alegre, 2010.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 324


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cartas Topográficas. Folha SE 22-Z- B-VI4-
SO (Cachoeira Sucupira). Brasília: IBGE, 1984. (Escala: 1:25.000).

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cartas Topográficas. Folha SE. 22-Z-BVI-4-
NO (Pau Furado). Brasília: IBGE, 1984. (Escala: 1:25.000).

SANTOS, J.G.; OLIVEIRA, L. A. Avaliação dos parâmetros qualiquantitativos das águas da


bacia hidrográfica do córrego marimbondo, Uberlândia (MG). In: Caminhos de Geografia,
Uberlândia v. 15, n. 50, 2014.

XAVIER, J. L.; ARAÚJO, J. S.; CALMON, M.; CARDOSO, M. F.; VANÇO, V. Implicações
decorrentes da ocupação da Bacia do Córrego do Marimbondo, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 325


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ANÁLISE DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA DE POÇOS


TUBULARES DO POVOADO TIMBUBA, PAÇO DO LUMIAR - MA

Julyana Martins MOTA


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental da Faculdade Pitágoras - São Luís
juhengenharia0@gmail.com
Ellen Karine MORAIS
Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental da Faculdade Pitágoras - São Luís
ellemorais@gmail.com
Jeferson Botelho RODRIGUES
Graduando do Curso de Engenharia Ambiental da Faculdade Pitágoras - São Luís
botelhojef@outlook.com
Elon Vieira LIMA
Professor Orientador pela Faculdade Pitágoras - São Luís
prof.elon.lima@gmail.com

RESUMO
A água subterrânea é uma das fontes mais utilizadas para consumo humano, trazendo consigo um
enorme potencial de transmissão de doenças, tornando-se inevitável uma averiguação e um
acompanhamento de sua potabilidade. Este estudo teve como objetivo avaliar, mediante
caracterização microbiológica, a qualidade da água que abastece os moradores da comunidade do
bairro Timbuba no município de Paço do Lumiar no Estado do Maranhão, quanto à presença de
coliformes totais e fecais e correlacioná-las com o esgotamento sanitário da comunidade. Foram
analisadas amostras de três poços tubulares, os resultados revelaram que um dos poços não está apto
para consumo humano sem tratamento, apresentou parâmetros de qualidade acima do estabelecido
pela Portaria do MS n°2914/11.
Palavras-Chaves: Poços. Qualidade da água. Coliforme.

ABSTRACT
The underground water is one of the main water sources for human consumption, along with an
enormous potential for disease transmission, becoming inevitable the investigation and the
monitoring of its potability. This study aimed to evaluate, by microbiological characterization, the
quality of the water that supplies the residents of the Timbuba neighborhood community in the
municipality of Paço do Lumiar in the State of Maranhão, for the presence of total and fecal
coliforms and relate them to the sanitation of the community. Samples were analyzed in three wells.
The results revealed that one of the wells is not fit for human consumption without treatment
provided quality parameters set up by the MS Order No. 2914/11.
Keywords: Wells. Water quality. Coliforms.

INTRODUÇÃO

Do total de água existente no globo terrestre, cerca de 97% é constituído de água salgada dos
oceanos, 2% está nas calotas polares e apenas 1% é representado por água doce sob a forma líquida.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 326


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Desse total de água doce disponível para uso da humanidade, cerca de 97% encontra-se no subsolo
na forma de água subterrânea (UNESCO,2002). Segundo Hirata et al. (2010), as águas subterrâneas
são de grande importância na gestão de recursos hídricos, pois começaram a desempenhar papel
fundamental no abastecimento das 7 bilhões de pessoas no mundo. No Brasil, os aquíferos
subterrâneos abastecem 6.549.363 domicílios, (19% do total) e destes, 68,78% localizados na área
rural, abrangendo 11,94% de toda população nacional (IBGE, 1994).
Os padrões de uso do solo têm importante influência sobre a qualidade da água (superficial e
subterrânea) e os ecossistemas aquáticos (LEE et al., 2009; TRAN et al., 2010; ROTHWELL et al.,
2010; BU et al., 2014, MENEZES et al., 2014; DUPASA et al., 2015; FIA et al., 2015). As
características microbiológicas das águas subterrâneas são variáveis, de acordo com a presença de
microrganismos aquáticos autóctones ou de trânsito, provenientes dos efluentes industriais e
domésticos, do deflúvio superficial agrícola ou mesmo do ar (CETESB, 1995).
A água potável deve ser isenta de microrganismos patogênicos e de bactérias que indicam
contaminação fecal. Tradicionalmente os indicadores de contaminação fecal estão no grupo de
bactérias denominadas coliformes, onde a principal representante desse grupo de bactérias é
conhecida de Escherichia coli. Os coliformes são geralmente obtidos através da ingestão de água, e
serão eliminados pelos seres humanos, facilmente visualizados quando realizado testes
parasitológicos (BETTEGA, 2006).
De acordo com Black (2002), coliformes são micro-organismos que habitam no intestino de
animais de sangue quente, entre eles o homem, e estão presentes em suas excretas. Em contato com
a água, as fezes humanas e até mesmo as de outros animais podem encontrar. A presença deles na
água não representa por si só um perigo à saúde, mas indica a de outros organismos causadores de
problemas à saúde. Por exemplo, as bactérias coliformes, em especial a Escherichia coli,
representam contaminação fecal recente e indica a possível presença de bactérias patogênicas, vírus
entéricos ou parasitas intestinais (AMARAL et al.,2005, p. 43).
Os coliformes totais são um grupo de bactérias que contem bacilos gram-negativos, aeróbios
ou anaeróbios facultativos, não formadores de esporos, oxidase-negativa, capazes de crescer na
presença de sais biliares ou outros compostos ativos de superfície, com propriedades similares de
inibição de crescimento, e que fermentam a lactose com produção de ácidos, aldeídos e gás a 35ºC
em 24-48 horas. Este grupo contém os seguintes gêneros: Escherichia, Citrobacter, Enterobacter e
Klebisiela (BETTEGA, 2006).
Coliformes fecais ou coliformes termotolerantes são bactérias capazes de desenvolver e/ou
fermentar a lactose com produção de gás a 44ºC em 24 horas. A principal espécie dentro desse
grupo é a Escherichia coli. Essa avaliação microbiológica da água tem um papel destacado, em

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 327


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

visto da grande variedade de microrganismos patogênicos, em sua maioria de origem fecal, que
pode estar presente na água (BETTEGA, 2006).
Segundo os registros do Ministério da Saúde, no ano de 2004 foram registrados cerca de 2,4
milhões de casos de diarréia no Brasil, e considera-se que a água seja responsável por 60% das
internações por diarréia no país. O custo gerado para o tratamento de doenças transmitidas ou
causadas por águas contaminadas, segundo o Ministério da Saúde, é equivalente a US$ 2,7 bilhões
por ano (ADEODATO, 2006). Encarregar o próprio consumidor de controlar a qualidade da água é
uma postura incorreta, uma vez que o seu conhecimento quanto aos riscos que a água pode oferecer
à saúde é praticamente inexistente (AMARAL et al., 2003).
Embora a água seja necessária para praticamente todas as atividades humanas, atualmente
encontramos problemas relacionados à quantidade e qualidade desse precioso recurso natural. Nesse
contexto, o povoado Timbuba, localizado no município de Paço do Lumiar não foge à regra:
enfrenta problemas de infraestrutura, e isso tem impulsionado a ocorrência de problemas
relacionados à falta de recursos hídricos em condições adequadas. Devido à insuficiência de
políticas públicas, uma das alternativas da população para usufruir de água foi à abertura de poços
tubulares. Outro agravante é a falta de rede coletora de esgotos, obrigando a população local a
construir fossas negras e sépticas dentro de seus terrenos para a deposição de efluentes. Essa prática
pode contaminar as águas subterrâneas possibilitando consequências drásticas na saúde coletiva.
Este artigo busca analisar a interferência da falta de saneamento básico no povoado
Timbuba, na possível contaminação do lençol freático. Objetivou-se realizar a análise
microbiológica da qualidade da água consumida pelos habitantes do povoado Timbuba através das
amostras de água coletadas de 3 poços artesianos da comunidade, com o intuito de verificar a
relação entre as fossas sépticas e negras e a possível contaminação do lençol freático que alimenta
os poços artesianos utilizados pela comunidade.

MÉTODOS

Com base nos procedimentos técnicos adotados a metodologia de pesquisa será em 3 fases,
com a primeira tendo como objetivo adquirir dados bibliográficos por meio de acesso à internet aos
sítios das bibliotecas digitais de teses e dissertações de outras relevantes universidades brasileiras,
esses trabalhos serão lidos e fichados e suas idéias principais serão referenciadas. A segunda fase
objetivou-se a coleta de amostras de água de 3 poços tubulares da comunidade Timbuba para
análises microbiológicas e a terceira na medição das distâncias entre os poços e as fossas, assim
como checagem das condições do entorno dos mesmos. Dessa forma, a pesquisa assume um caráter
descritivo na qual o método misto (quantitativo e qualitativo) nos permitiu, após a obtenção dos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 328


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

dados, informações necessárias e análises, discorrendo sobre os fatores sustentadores década dado,
relacionando-os continuamente teoria e prática.
A comunidade do povoado Timbuba localiza-se na região do Paço do Lumiar, Maranhão, as
margens do Rio Paciência. O povoado está localizado a 2º31‘26,66‖ S e 44º04‘08,46‖ O. O clima é
tropical mesotérmico e úmido, com duas estações bem-definidas, a chuvosa de janeiro a junho, que
concentra cerca de 94% do total anual das chuvas; a estação seca, de junho a dezembro, que
concentra apenas 6%. O total pluviométrico médio é de 1.900 mm anuais. As temperaturas são
elevadas durante o ano todo(média de 26° C) com variação anual pequena,principalmente nos
meses de abril, maio e junho (IBGE, 1984).De acordo com a carta de solos do Instituto Maranhense
de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos - IMESC, a microrregião é caracterizada como areia
quartzosa distrófica latossolica (AQ1) e Podzólico vermelho amarelo concrecionado (PVcf). São
solos que apresentam alta permeabilidade, o que favorece a contaminação do lençol freático
prejudicando o consumo de água pela comunidade.
Cerca de 70% da população rural da ilha de São Luís (São José de Ribamar, Raposa e Paço
do Lumiar) não possui nenhum tipo de esgotamento sanitário, e algumas ainda utilizam fossas
rudimentares construídas sem controle (IMESC, 2007). A Organização Mundial da Saúde afirma
que cerca de 80% das doenças que ocorrem em países em desenvolvimento são veiculadas pela
água contaminada por microrganismos patogênicos (COELHO et al., 2007). As análises
microbiológicas reforçam e constatam a poluição do aquífero freático por fossas sépticas e negras.
O grupo coliforme é normalmente usado como indicador da ausência ou da precariedade de um
sistema de saneamento (VIEIRA & OLIVEIRA, 2001).
Para as análises bacteriológicas da água foram selecionados 3 poços tubulares, P1, P2 e P3,
localizados no povoado Timbuba. A coleta das amostras se deu no dia 08 de maio de 2017, sendo
cada uma localizada em uma propriedade diferente. As amostras foram coletadas, em frascos de
vidros estéreis, de 500 mL, e foram transportadas em caixas de isopor até o laboratório para análise.

Figura 1 – Poços tubulares P1, P2 e P3 respectivamente. Fonte: Acervo da Pesquisa, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 329


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 2 – Fossas sépticas F1, F2 e F3 respectivamente. Fonte: Acervo da Pesquisa, 2017.

Todas as atividades que envolveram a coleta e a preservação das amostras foram procedidas
de acordo com o ―Guia de coleta e preservação de amostras de água‖ (CETESB, 1977). As análises
microbiológicas foram realizadas pelo Laboratório de Oceanografia Química e de Controle de
Qualidade de Água, do Departamento de Oceanografia e Limnologia – DEOLI, na Universidade
Federal do Maranhão – UFMA. Para atestar a provável contaminação das águas subterrâneas pelas
fossas sépticas e negras de três residências da comunidade do Timbuba, baseados nos parâmetros
estabelecidos pela Portaria MS N° 2917 de 12 de dezembro de 2011, do MINISTÉRIO DA
SAÚDE.
Dessa forma, segundo Reetz (2002) para medição de parâmetros microbiológicos serão
analisadas as quantidades de Coliformes Totais e Termotolerantes. De acordo com a Portaria
2.914/2011 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2011), uma amostra de 100 mL de água deverá
apresentar ausência de bactérias do grupo coliformes (NMP 100 mL-1), e as bactérias heterotróficas
não deveriam ultrapassar 500 UFC. 100 mL. Essa análise será necessária para avaliar de forma
indireta o potencial de contaminação da água por patogênicos de origem fecal provenientes das
fossas sépticas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A portaria 518/2004 – MS determina que os coliformes totais e termotolerantes devem estar


ausentes em água destinada ao consumo humano, para as amostras dos poços P1 e P3 os coliformes
totais e os termotolerantes foram ausentes. Já o poço P2 apresenta VPM DE 240NMP/100 ml para
estes coliformes na amostra coletada, caracterizando-se como imprópria para consumo humano sem
tratamento prévio.

COLIFORMES
POÇO DISTANCIA (M) COLIFORMES TOTAIS
TERMOTOLERANTES
P1 43 Ausente Ausente
P2 26 240 240
P3 154 Ausente Ausente
Tabela 1– Distancias poço-fossa e Resultados das Análises Bacteriológicas.
Fonte: Acervo da Pesquisa, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 330


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

As análises de campo indicaram que as concentrações de coliformes totais e fecais nas águas
do poço tubular P2 devem-se aos problemas de saneamento básico da região (grande quantidade de
fossas sépticas e sumidouros), este poço está localizado em uma região imprópria, próximo a um
córrego com grandes indícios de contaminação, aliadas a alta permeabilidade do solo dessa região.
Relacionando-se o distanciamento existente entre os poços tubulares e as possíveis fontes de
contaminação, verificou-se que a qualidade bacteriológica da água foi influenciada pelo tipo de
fonte contaminante e pelo posicionamento das mesmas. De acordo com os resultados, nos casos em
que se aumentava a distância entre o poço e as possíveis fontes de contaminação, as amostras foram
consideradas adequadas para consumo humano. Quando a distância entre poço e fossa foi superior a
26 metros amostras de água coletadas atenderam aos padrões de potabilidade.
A água quando não tratada corretamente se torna uma importante fonte de transmissão de
doenças, principalmente as doenças que afetam o trato intestinal, sendo capaz de agir como meio de
cultura para microrganismos patogênicos e assim causar doenças àqueles que a ingerem
principalmente crianças com menos de cinco anos, pois essa ainda não tem hábitos de higiene que
possam evitar tais doenças. Segundo a Organização Mundial da Saúde cerca de 80% das doenças
que ocorrem em países em desenvolvimento são veiculadas pela água contaminada por
microrganismos patogênicos (COELHO et al., 2007).
Todavia, a maioria das doenças de veiculação hídrica pode ser reduzida, controlada, desde
que se possibilite o acesso à água potável. Entretanto, um dos maiores problemas das fontes de água
é a ausência ou a irregularidade de monitoramento da qualidade (CAPPI et al., 2011, p.2).

CONCLUSÕES

Através das análises realizadas nas amostras coletadas em poços tubulares do município de
Paço do Lumiar, apontam apenas a água do poço P1 e P3 estão aptas para o consumo humano. A
água do poço P2 não pode ser consumida pela população sem tratamento prévio, pois apresentou
parâmetros de qualidade acima dos VMP estabelecidos pela Portaria MS nº 2914/11. Segundo
Cardoso et al (2003), a presença de E. Colina água indica contaminação recente, já que eles não se
multiplicam nem persistem por um longo período, possuindo sobrevivência similar à das bactérias
patogênicas, caracterizando-a como imprópria para consumo humano sem tratamento prévio. Os
coliformes são os microrganismos mais utilizados para indicar contaminação fecal de humanos ou
animais em água, o que a torna imprópria para o consumo humano (MICHELINA et al., 2006).
Muitas pessoas acreditam que saneamento básico está apenas relacionado ao abastecimento
de água e rede de esgoto, porém algumas medidas como, coleta de lixo, saneamento e controle de
alimentos também podem ser considerados (COPASAD, 1995). Para se promover a saúde e garantir
a qualidade ambiental de uma comunidade é imprescindível socializar as informações. Pessoas

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 331


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

sensibilizadas quanto à adoção de medidas adequadas de saneamento ambiental, tendem a ter


melhor qualidade de vida (RODRIGUES, 2008).

REFERÊNCIAS

ADEODATO, S. O consumo consciente da água. Bio nutrição e saúde, ano 1, n. 2, 2006.

AMARAL, L. A. Controle da qualidade microbiológica da água utilizada em avicultura. In:


Marcos Macari, Água na avicultura Industrial. 1 ed. Jabuticabal:FUNEP, 1996. Cap. 7. p 93-117.

AMARAL, L.A.; NADER FILHO, A.; ROSSI JUNIOR, O. D.; FERREIRA, F.L.A.; BARROS,
L.S.S. Água de consumo humano como fator de risco à saúde em propriedades rurais.Saúde
Pública, v. 37, n. 4, 2003, p. 510-514.

BETTEGA, janine Maria Pereira Ramos et al. Métodosanalíticos no controle microbiológico de


agua para consumo humano. Cienc. agrotec. [Online]. 2006, vol.30, n.5, pp.950-954. ISSN
1413-7054.

BLACK, J.G. Microbiologia: fundamentos e perspectivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2002. 829 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Diário Oficial da


União, Brasília, 14 de dezembro de 2011. Seção V. p. 32.

BU, H.; MENG, W.; ZHANG, Y.; WAN, J. (2014). Relationships between land use patterns and
water quality in the Taizi River basin, China.Ecological Indicators, v. 41, p. 187-197.

CAPPI, N; GENTIL, H.P.R.; SANTOS, T.M.B.; XAVIER, C. de A. N. Qualidade química e


sanitária dabacia do córrego João Dias, Aquidauana/MS. In: XL Congresso Brasileiro de
Engenharia Agrícola.Cuiabá. Anais CONBEA, 2011. 2011, p.1-9.

CARDOSO, A.L.P.; TESSARI, E.N.C.; CASTRO, A.G.M.; KANASHIRO, A.M.I.; ZANATA,


G.F. Incidência de coliforme e Salmonella sp. Em águas provenientes de abatedouro avícola.
Higiene Alimentar, v. 17, n. 111, 2003, p. 73-78.

CETESB - Microbiologia ambiental. São Paulo, 1995. 133 p. [Apostila de Curso do Departamento
de Microbiologia e Departamento de Transferência de Tecnologia].

CETESB. Guia de coleta e preservação de amostras de água. 1° edição. São Paulo. 1977, 150.
Variáveis de qualidade das águas. Disponível em:
<http://www.cetesb.sp.gov.br/Agua/rios/variaveis.asp#cromo>. Acesso em: 6 de março, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 332


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

COELHO, D. A.; SILVA, P. M. F.; VEIGA, S. M. O. M.; FIORINI, J. E. Avaliação da qualidade


microbiológica de águas minerais comercializadas em supermercados da cidade de Alfenas,
MG. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 21, n. 151, p. 88-92, maio 2007.

COPASAD C. Conferência Pan-Americana sobre saúde e ambiente no desenvolvimento humano


sustentável. Plano nacional de saúde e ambiente no desenvolvimento sustentável. Diretrizes para
implantação. Brasília: Ministério da Saúde; 1995.

DUPASA, R.; DELMASC, M.; DORIOZD, J. M.; GARNIERE, J.; MOATARF, F.; GASCUEL
ODOUXA, C. (2015). Assessing the impact of agricultural pressures on N and P loads and
eutrophication risk. Ecological Indicators, v. 48, p. 396-407.

FIA, R.; TADEU, H. C.; MENEZES, J. P. C.; FIA, F. R. L.; OLIVEIRA, L. F. C. (2015).
Qualidade da água de um ecossistema lótico urbano. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v.
20, n. 1.

HIRATA, Ricardo; ZOBY, José Luiz Gomes; OLIVEIRA, Fernando Roberto de. Água
subterrânea: reserva estratégica ou emergencial. In: BICUDO, Carlos E. deM.; TUNDISI,
JoséGalizia; SCHEUENSTUHL, Marcos C. Barnsley (Org.). Águas do Brasil: Análises
Estratégicas. São Paulo: Instituto de Botânica, 2010. p. 147-161.

IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 1984. Atlas do Maranhão. Rio de
Janeiro:Superintendência de Estudos Geográficos e Sócio-Econômicos.

IBGE -Ministério do Planejamento e Orçamento-Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística - Anuário Estatístico do Brasil - 1994, Rio de Janeiro, v. 54, p. 1.1-8.32, 1994.

IMESC, Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos. Maranhão em Dados.


Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro. São Luís, 2007.

LEE, S. W.; HWANGS, S. J.; LEE, S. B.; HWANGS, H. S.; SUNG, H. C. (2009). Landscape
ecological approach to the relationships of land use patterns in watersheds to water quality
characteristics. Landscape and Urban Planning, v. 92, p. 80-89.

MENEZES, J. P. C.; BERTOSSI, A. P. A.; SANTOS, A. R.; NEVES, M. A. (2014). Correlation


between land use and groundwater quality.Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 19. p. 173-186.

MICHELINA, A. de F.; BRONHAROA, T. M.; DARÉB, F.; PONSANOC, E. H. G. Qualidade


microbiológica de águas de sistemas de abastecimento público da região de Araçatuba,
SP.Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 20, n. 147, p. 90-95, dez. 2006.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 333


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 518, de 25 de março de 2004. Normas e padrão da


potabilidade da água destinada ao consumo humano. Brasília (DF); 2004.

REETZ, E.F. Avaliação quali-quantitativa dos recursos hídricos superficiais na bacia hidrográfica
do Campus da Universidade Federal de Santa Maria. 2002. 121 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Civil) – Universidade Federal de Santa Maria, 2002.

RODRIGUES, I, Barbieri JC. A emergência da tecnologia social: revisitando o movimento da


tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável. RAP [periódico na
Internet]. 2008 nov-dez [acessado 2017 ago. 20];42(6):1069-1094. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rap/v42n6/03.pdf

ROTHWELL, J. J.; DISE, N. B.; TAYLOR, K. G.; ALLOTT, T. E. H.; SHCOLEFIELD, P.;
DAVIES, H.; NEAL, C. (2010). A special and seasonal assessment of river water chemistry
across NorthWest England. Sciences of the Total Environment, v. 408, p. 841-855.

TRAN, C. P.; BODE, R. W.; SMITH, A. J.; KLEPPEL, G. S. (2010). Land-use proximity as a basis
for assessing stream water quality in New York State (USA).Ecological Indicators, v. 10, p. 727-
733.

VIEIRA, R.H.S.F. & OLIVEIRA, R.A. Avaliação do grau de contaminação fecal da água e do
camarão sossego (Macrobrachium jelskii), na Lagoa Parangaba (Fortaleza, Ceará).Higiene
Alimentar, v. 15, n. 85, p. 61-64, 2001.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 334


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A IMPORTÂNCIA DO USO DE GEOTECNOLOGIAS NO APRIMORAMENTO DA


GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS

Lara Souza CAMPANA


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental na UFC
laracampana11@gmail.com
Orientador Ronner Braga GONDIM
Superintendente de Sustentabilidade da Cagece
rbgondim@gmail.com

RESUMO
Objetivou-se com esse trabalho fornecer elementos para aprimorar a gestão dos recursos hídricos
do estado do Ceará por meio de geotecnologias. O geoprocessamento aplicado aos recursos
naturais apareceu pela necessidade de reduzir os efeitos das ações antrópicas e da escassez hídrica
ocasionadas pela gestão pouco eficiente dos recursos hídricos. Seu maior objetivo é ser utilizado
como uma ferramenta útil e eficaz, na gestão sustentável dos recursos naturais, a fim de atender as
demandas múltiplas de água no semiárido brasileiro, principalmente para garantir o abastecimento
humano e dessedentação de animais.
Palavras Chave: Geoprocessamento, Recursos Naturais, Semiárido.

ABSTRACT
It aimed at this work to provide elements to improve the water management by geotechnological
tools in the state of Ceara, Brazil. The Geoprocessing applying on water resources emerged from
the need to reduce the effects of anthropogenic actions and water shortage caused by innefective
water resources management. The article´s goal is to show the Geographic Information System
(GIS) as a powerful and helpful solution tool to assist the water management. So, it will be possible
to attend multiple demands from Brazilian semiarid, manly to human and animal supply.
Keywords: Geoprocessing, Natural Resources, Semiarid.

INTRODUÇÃO

O semiárido brasileiro tem como maior característica o regime irregular das chuvas. O
sertanejo, homem que vive nessa região, desde muito tempo sofre com escassez de água. Ao longo
dos anos, foram sendo discutidas e implantadas diversas medidas para contornar a situação.
Segundo Pomponet (2009), as medidas adotadas pelos governos foram a construção de açudes pelo
Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) – as obras da seca de 1970 foram se
decompondo logo depois de concluídas – e as frentes de trabalho, nas quais se alistaram 1,5 milhão
de flagelados. A política dos açudes possibilitou ao longo do território cearense a construção 153
açudes públicos. Além dos açudes, em 2008 o DNOCS se preparou para gestão de obras da
transposição do Rio São Francisco, projeto que traria o abastecimento de água para grande parte do
semiárido brasileiro, abrangendo estados como Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 335


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ceará.
O Ceará, particularmente, vem sofrendo a pior crise hídrica de todos os tempos. Medições
apontam que já faz 5 anos consecutivos de chuvas abaixo da média, e isto é um problema que
assola a vida de milhares de cearenses que vivem no sertão e com o passar do tempo trará
problemas de falta de água para a população da Região Metropolitana de Fortaleza, que
normalmente é a última a sentir os efeitos da seca.
Portanto, por conta da gestão pouco eficiente de muitos anos, o trabalho que envolve o uso
de geotecnologias para uma melhor gestão dos recursos hídricos é de extrema importância. O uso
da plataforma livre, QGis, se mostra como uma ferramenta que auxilia na forma de se desenvolver
um mapa que busque facilitar a localização dos recursos naturais que o estado possui e obras que
foram desenvolvidas durante anos para combater a seca.
Segundo Instituto de Pesquisa e Estratégica Econômica do Ceará, IPECE (2011), no prisma
de recursos hídricos e convivência com o fenômeno da seca e combate à desertificação, ao passo
que alguns dos principais problemas do semiárido brasileiro cabem referenciar a definição e
caracterização das principais funções, com as respectivas subfunções em termos da gestão, oferta e
conservação das águas das bacias hidrográficas cearenses.

MATERIAL E MÉTODOS

O artigo foi desenvolvido com apoio de dados e materiais disponibilizados pela Companhia
de Água e Esgoto do Estado do Ceará (CAGECE), Agência Nacional de Águas (ANA), Companhia
de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e Secretária de Recursos Hídricos (SRH). Os principais arquivos utilizados como base do
projeto são os arquivos SIG, que estão em formato de shapefile (.shp) ou Keyhole Markup
Language (.kml), também chamados de camadas, após entrarem nos mapas. Estes dão o formato ao
mapa e são os materiais que formam os polígonos, se for representar os municípios do estado do
Ceará; as linhas, caso a representação seja de adutoras ou canais de água; e os pontos, como foi
feito na representação dos açudes monitorados (vide resultados e discussão).
Além da caracterização física no mapa, eles possuem uma tabela de atributos, que pode ser
definida como um banco de dados que contém diversos tipos de informações, das mais simples as
mais complexas, e ainda pode executar cálculos. Na parte de ―resultados e discussão‖ do trabalho,
estão alguns mapas criados com o apoio de dados disponibilizados no site do IBGE, arquivos
shapefile dos Limites Municipais do Ceará. Da mesma forma foi possível obter shapefiles do site
da ANA, os arquivos de Hidrografia com escala de 1:250.000 e as Bacias Hidrográficas da região
(Atlântico, Trecho Norte e Nordeste).
Algumas camadas foram criadas pelo próprio autor do trabalho, que adquiriu dados online

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 336


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

em sítios eletrônicos da COGERH, na página do Portal Hidrológico, que disponibiliza diversas


informações a respeito da situação atual dos açudes públicos do Ceará, como volume atual, bacia
hidrográfica a qual pertence, e um arquivo kml dos açudes monitorados, mostrando suas
localizações, que serviu como base para alimentar a nova camada criada: Açudes Monitorados. A
CAGECE também cooperou na aquisição de dados das Estações de Tratamento de Água (ETAs),
como sua localização geográfica, tipo de tratamento de água utilizado, ligações ativas das redes e
dados de vazão. Por fim, para criação da camada Cinturão das Águas (CAC), a SRH disponibilizou
o resumo do projeto online.
A união de informações de vários órgãos responsáveis pela gestão dos recursos hídricos foi
o que impulsionou a criação de mapas que fossem úteis de alguma forma para qualificar a atual
gestão, que sofre muitas vezes com a falta ou desencontro de informações. Ademais, proporciona a
integração dos dados espaciais da bacia e um modelo para o gerenciamento dos recursos hídricos
(MEDEIROS et al, 2016).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os mapas que foram confeccionados são definidos de acordo com sua origem de estilo:
existem os mapas de calor, que intensificam pontos de acordo com seu valor numérico da tabela de
atributos, no caso do mapa da figura I, que mostra a atual situação do volume dos açudes no Ceará;
os mapas categorizados, que relacionam símbolos de acordo com uma coluna específica da tabela
de atributos, como ocorre na figura III a qual representa o mapa da obra hídrica que está sendo
implementada no Estado, o CAC; e por fim os mapas que são baseados em regra, que definem um
padrão no qual o mapa vai se basear a sua classificação, a figura IV mostra as ETAs de todo o
Ceará, sendo classificadas como cadastradas e não cadastradas.
Na figura I, o mapa de calor foi confeccionado de acordo com dados obtidos no Portal
Hidrológico da COGERH, que apresenta diariamente boletins a respeito da situação hídrica do
Estado, como dados das bacias hidrográficas do Ceará e seus açudes, por exemplo suas
capacidades, volumes armazenados e a percentagem desses volumes.
Os dados utilizados para criar o mapa de calor foram os volumes percentuais de cada açude,
retirados do boletim do dia 14 de Fevereiro de 2017. Percebe-se que existe uma maior incidência
nas bacias Metropolitana, Litoral e Coreaú, o que significa que os reservatórios estão mais cheios
nessas regiões. Enquanto as bacias que pertencem completamente a região do semiárido,
representada no mapa em tom amarelado, estão sofrendo graves problemas de falta de água,
principalmente a bacia Médio Jaguaribe, Banabuiú e Curu, como pode ser verificado na figura I.
Na figura II mostra um comparativo dos volumes das bacias Metropolitana e Médio Jaguaribe.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 337


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura I. Mapa de calor do volume percentual dos açudes. Fonte: Elaborado pelo autor.

Açude Capacidade Bacia Hidrográfica Município Volume %


Tigre 3.510.000 m³ Médio Jaguaribe Solonópole 4,56
Jenipapeiro 17.000.000 m³ Médio Jaguaribe Deputado Irapuan Pinheiro 0,07
Riacho do Sangue 61.424.000 m³ Médio Jaguaribe Solonópole 0,51
Castanhão 6.700.000.000 m³ Médio Jaguaribe Alto Santo 4,97
Riacho da Serra 23.470.000 m³ Médio Jaguaribe Alto Santo 1,07
Figueiredo 519.600.000 m³ Médio Jaguaribe Alto Santo 0,02
Ema 10.390.000 m³ Médio Jaguaribe Iracema 1,34
Canafístula 13.110.000 m³ Médio Jaguaribe Iracema 0
Santo Antônio 832.000 m³ Médio Jaguaribe Iracema 0,82
Santa Maria 5.866.800 m³ Médio Jaguaribe Ererê 2,12
Adauto Bezerra 5.250.000 m³ Médio Jaguaribe Pereiro 0
Joaquim Távora 26.772.800 m³ Médio Jaguaribe Jaguaribe 10,71
Nova Floresta 5.194.457 m³ Médio Jaguaribe Jaguaribe 0
Potiretama 6.330.000 m³ Médio Jaguaribe Potiretama 0
Madeiro 2.810.000 m³ Médio Jaguaribe Pereiro 0
Sítios Novos 126.000.000 m³ Metropolitana Caucaia 0,07
Cauhipe 12.000.000 m³ Metropolitana Caucaia 40,17
Maranguapinho 9.350.000 m³ Metropolitana Maranguape 61,1
Gavião 33.300.000 m³ Metropolitana Pacatuba 81,84
Riachão 46.950.000 m³ Metropolitana Itaitinga 28,34
Pacoti 380.000.000 m³ Metropolitana Horizonte 8,18
Catucinzenta 27.130.000 m³ Metropolitana Aquiraz 4,36
Malcozinhado 37.840.000 m³ Metropolitana Cascavel 6,77
Pacajus 240.000.000 m³ Metropolitana Pacajus 9,57
Aracoiaba 170.700.000 m³ Metropolitana Aracoiaba 6,35
Aracape do Meio 31.500.000 m³ Metropolitana Redenção 12,26

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 338


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Itapebussu 6.300.000 m³ Metropolitana Maranguape 34,51


Amanary 11.010.000 m³ Metropolitana Maranguape 0,72
Penedo 2.414.000 m³ Metropolitana Maranguape 2,29
Pesqueiro 9.030.688 m³ Metropolitana Capistrano 3,93
Castro 63.900.000 m³ Metropolitana Itapiúna 0,06
Batente 33.517.107 m³ Metropolitana Ocara 0,43
Macacos 10.320.337 m³ Metropolitana Ibaretama 2,99
Pompeu Sobrinho 143.000.000 m³ Metropolitana Choró 2,95
Tijuquinha 974.000 m³ Metropolitana Baturité 5,78
Figura II. Comparativos dos volumes percentuais das bacias Metropolitana e Médio Jaguaribe. Fonte:
Elaborado pelo autor.

Na figura III, o mapa representado é classificado em mapa categorizado, sua finalidade é


facilitar a visualização da nova obra hídrica de integração no Estado do Ceará, o CAC. O novo
empreendimento do Ministério de Integração Nacional (MIN), prevê a transposição das águas do
rio São Francisco para o Ceará, ao longo de aproximadamente 1300 km de extensão, buscando a
segurança hídrica do Estado. O mapa foi categorizado de acordo com cada trecho previsto no
projeto, o qual foi retirado no site da SRH, e serviu como base para a construção do mapa, que
possui na sua camada informações de extensão e vazão dos trechos da obra.

Figura III. Mapa categorizado da obra hídrica Cinturão das Águas. Fonte: Elaborado pelo autor.

A figura IV mostra um mapa baseado em regra, no caso das Estações de Tratamento de


Água (ETAs) de todo o estado cearense, foi escolhido esse estilo de mapa, pois contribui para a
organização de quem o confecciona e ainda serve de guia para quem o visualiza, pois fica claro que
há um banco de informações que precisam ser cadastradas para determinada ETA estar entre as
―ETAs Cadastradas‖. Na figura V mostra o tipo de dados necessários para o cadastramento ser
validado.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 339


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura IV. Mapa baseado em regra das ETAs cadastradas e não cadastradas no banco de dados da Cagece.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura V. Print Screen da tela do QGis para validação do cadastramento das ETAs.

CONCLUSÕES

O desenvolvimento de tecnologias em geoprocessamento vem inovando na forma de gerir


os recursos hídricos e estão sendo cada vez mais utilizadas por órgãos estaduais e federais. Por
exemplo, percebe-se um grande avanço no monitoramento dos açudes no Ceará, que possui um

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 340


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

canal na internet, Portal Hidrológico da Cogerh, e ainda há disponibilidade de dados para outros
que trabalham e fazem pesquisas na área. No que diz respeito a obras futuras, as ferramentas de
Sistema de Informação Geográfica (SIG) facilitaram o desenvolvimento de projetos como o CAC,
que necessitou das geotecnologias para a escolha de um percurso mais viável.
Por fim, o geoprocessamento foi de extrema importância para organização de dados das
ETAs da Cagece, a fim de conhecer suas localizações e principais atributos. Portanto, reafirma-se o
potencial do geoprocessamento como uma ferramenta fundamental para a gestão, e seu avanço nas
últimas décadas está contribuindo para o aprimoramento da gestão de recursos hídricos no Estado
do Ceará. A partir desse estudo sugere-se a ampliação do uso das geotecnologias na política de
gestão integrada dos recursos hídricos, a fim de disponibilizar o abastecimento de água para as
regiões do semiárido brasileiro e combater a escassez hídrica.

REFERÊNCIAS

MEDEIROS, L. et al. Uso de SIG na Análise dos Recursos Hídricos no Município de Caicó (RN).
Revista Geoambiente On-line, v. 27, 2016.

MEDEIROS, N. C.; GOMES, M. D. D.; ALBUQUERQUE, S. L. E.; CRUZ, B. L. M. Os Recursos


Hídricos do Ceará: Integração, Gestão e Potencialidades. 1.ed. Fortaleza, IPECE, 2011. v.1.
268p.

POMPONET, S. A. 100 Anos de DNOCS: Marchas e Contramarchas da Convivência com as


Secas, Bahia, Brasil. Revista Conjunto & Planejamento, v. 162, p.58-65, 2009.

Portal Hidrológico do Ceará. Disponível em: <http://www.hidro.ce.gov.br/>. Acesso em: 14 fev.


2017.

Shapefile Cinturão das Águas. Disponível em


<http://atlas.srh.ce.gov.br/arquivos/documentos/Aprenset_Cinturao_das_Aguas.pdf> Acesso: 13
fev. 2017

Shapefile Limites Municipais do Ceará. Disponível em: <http://dados.gov.br/dataset/malha-


geometrica-dos-municipios-brasileiros> Acesso em: 12 dez. 2016

Shapefiles de Hidrografia e Bacias Hidrográficas. Disponível em:


<http://hidroweb.ana.gov.br/HidroWeb.asp?TocItem=4100/>. Acesso em: 10 jan. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 341


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

IDENTIFICAÇÃO DOS USOS MULTIPLOS E POTENCIAIS FONTES DE POLUIÇÃO


DO RIO APODI-MOSSORÓ/RN

Lilian Cristina Bezerra MAGALHÃES


Graduanda do Curso de Ciência e Tecnologia pela UFERSA
liliacrystina@hotmail.com
Jorge Luís de Oliveira PINTO FILHO
Professor Adjunto do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA.
jorge.filho@ufersa.edu.br
Alex Pinheiro FEITOSA
Professor Adjunto do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA
alex.pinheiro@ufersa.edu.br
Joel Medeiros BEZERRA
Professor Adjunto do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA
joel.medeiros@ufersa.edu.br

RESUMO
Este trabalho tem por objetivo realizar uma análise ambiental do alto e médio curso superior da
Bacia Hidrográfica do rio Apodi-Mossoró/RN (BHRAM/RN). Como procedimento metodológico
foi utilizado um Check-List, com coleta dos seguintes dados da caracterização da área; descrição
das influências das atividades produtivas humanas na área (levantamento teórico e pesquisa em
campo) e determinação in loco dos impactos ambientais. Constatou-se que o alto e médio curso
superior da BHRAM/RN vem sendo utilizado para múltiplos usos, com ênfase na preservação da
fauna e flora local; recreação com atividades de esportes radicais; dessedentação de animais;
harmonia paisagística; pesca; segurança hídrica; navegação; abastecimento humano; recreação
secundária; aquicultura; irrigação; diluição de efluentes, plantações nas margens do rio, destino de
resíduos sólidos, retirada de areia e, abastecimento industrial. Observou-se a possibilidade de
existência de fontes difusas e pontuais de origem natural, urbana e a agropastoril, oriundos do
escoamento de sendimentos corrente de processos de iintempéries, da geração de resíduos sólidos e
efluentes líquidos. Portanto, para atenuar a referida problemática sugere-se a adoção das ações:
estabelecimento dos componentes de saneamento ambiental na área de estudo, recuperação das
matas ciliares, maior fiscalização ambiental, legalização dos usos deste ambiente e, implementação
de programas de educação ambiental e sanitária.
Palavras-chave: Degradação dos recursos hídricos; Semiárido; Sustentabilidade;

ABSTRACT
This work aims to carry out an environmental analysis of the medium and high degree of
BHRAM/RN. As methodological procedure was used a checklist, with collection of the following
data: theoretical survey of the characterization of the area; description of the influences of
productive activities in the area (theoretical and field research survey) and on-site determination of
environmental impacts. It was noted that the medium and high degree of BHRAM/RN has been
used for multiple uses, with emphasis on the preservation of local fauna and flora; extreme sports
activities recreation; watering of animals; landscape harmony; fishing; water security; Navigation;
human supply; secondary recreation; aquaculture; irrigation; dilution of effluents, plantations on the
banks of the River, destination of solid waste, removal of sand and industrial supply. There was the
possibility of existence of diffuse sources and point sources of natural origin, urban and agricultural,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 342


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

from the escarreament of sediments of weather processes, the generation of solid residues and liquid
effluents. Therefore, to alleviate this problem suggests the actions: establishment of environmental
components in the study area, recovery of riparian forests, greater environmental oversight,
legalization of the uses of this environment, and implementing environmental and health education
programs.
Keywords: Degradation of water resources; Semi-arid; Sustainability;

INTRODUÇÃO

A água é um importante recurso natural que se encontra presente na maioria dos processos
metabólicos, tornando-se indispensável para a vida, devido a sua dependência cada vez maior em
praticamente todas as atividades (ATHAYDE JÚNIOR ET AL, 2008).
Sendo que a água pode ser utilizada para diversos fins: consumo humano; atividades
agrícolas e pecuárias; geração de energia; transporte; abastecimento industrial; pesca e aqüicultura e
turismo e lazer (DERÍSIO, 2012). Ainda conforme Von Sperling (2005) acrescenta usos na:
preservação da flora e fauna; harmonia paisagística e diluição de efluentes.
Esses diversos tipos de usos podem resultar em alterações das suas características através de
processos de poluição hídrica, sendo definida por Von Sperling (2005) a adição de substâncias ou
de formas de energia que, direta ou indiretamente, alterem a natureza do corpo d‘água de tal
maneira que prejudique os legítimos usos que dele são feitos. Classificando dessa forma a poluição
hídrica em: poluição natural, poluição urbana, poluição agropastorial e, poluição industrial (SPIRO;
STIGLIANI, 2009).
Diante desse cenário de poluição hídrica inúmeras conseqüências são desencadeadas,
principalmente, relacionadas com as dimensões: sanitária; ambiental; econômica; social, e; saúde
(DERÍSIO, 2012).
Os efeitos sanitários da poluição das águas estão ligados na diminuição do oxigênio
dissolvido, salinização das águas, aumento da temperatura e presença de substâncias orgânicas
tóxicas (SPIRO; STIGLIANI, 2009). As alterações ambientais referem-se à impropriedade da água
para banhos, envenenamentos e diminuição da fauna e da flora (MACEDO, 2002). Já as
consequências socioeconômicas relacionam-se com a desvalorização das terras marginais, a
eliminação da possibilidade de novas indústrias se instalarem e a elevação de custos do tratamento
(MACEDO, 2002). Os maléficos para saúde consistem na água poluída ser considerado um veículo
de contaminação de doenças entre os seres vivos quando esta estiver com agentes microbianos ou
poluída por agentes químicos (CARVALHO; OLIVEIRA, 2003).
Na região Oeste do Estado do Rio Grande do Norte, localiza-se a Bacia Hidrográfica do Rio
Apodi-Mossoró/RN – (BHRAM/RN), que ocupa uma área de 14.276 km² (26,8% do território

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 343


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

estadual), sendo composta por quatro unidades: alto curso, médio curso superior, médio curso
inferior e, baixo curso (SEMARH, 2015).
Essa bacia hidrográfica foi utilizada como recorte para os estudos de Santos (2004); Araújo,
Santos e Araújo (2007); Pinto Filho e Oliveira (2008); Oliveira, Souza e Castro (2009); Pinto Filho
e Araújo (2010); Souza, Silva e Dias (2012) e; Bezerra et al. (2013). Entretanto, estes artigos não
direcionaram para identificar os tipos de usos das águas na bacia hidrográfica investigada
juntamente com suas possíveis fontes de poluição e efeitos.
Diante dessa situação, verifica-se a relevância de investigar os principais usos da água no
alto e médio curso superior da BHRAM/RN, bem como apontar seus possíveis aspectos ambientais
e suas fontes de poluição. Ressalta o interesse em investigar essa área de estudo devida ser situada
no Semiárido Brasileiro próxima de intervenção antrópica, o que resulta no cenário de deficiências
nas condições de saneamento ambiental, restrições climáticas e, pressão urbana.
Portanto, o objetivo desse estudo foi realizar uma análise ambiental do alto e médio curso
superior da BHRAM/RN. Para isso, elencaram-se como objetivos específicos: a) identificar os tipos
de usos múltiplos dos recursos hídricos na região; b) apontar as possíveis formas de poluição
hídrica na bacia e; c) realizar correlação dos efeitos da poluição.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

A Bacia Hidrográfica do Rio Apodi/Mossoró – (BHRAM) ocupa uma superfície de 14.276


km², correspondendo a 26,8% do território estadual do RN, na qual, este recurso hídrico é de grande
importância para a região Potiguar, com nascente no município de Luís Gomes e foz entre os
municípios de Grossos e Areia Branca (SEMARH, 2015), ver figura 1.

Figura 1 – Bacia Hidrográfica do Rio Apodi-Mossoró – BHRAM.


Fonte: SEMARH (2015).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 344


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A partir da classificação das quatro unidades da BHRAM/RN alto curso, médio curso
superior, médio curso inferior e, baixo curso, delimita-se a área de estudo desta pesquisa a qual
abordará o trecho entre os municípios de Luís Gomes (ponto Ap1), até a Barragem de Santa Cruz,
Apodi (ponto Ap9), ver figura 2.

Figura 2 – Pontos (Ap1-9) de visitas de reconhecimento na BHRAM.


Fonte: Google Earth, 2016.

A área de estudo apresenta clima do tipo BSw´h´, segundo a classificação climática de


Koppen, caracterizado como muito quente e semiárido com a estação chuvosa atrasando para o
outono. Ressalta ainda no extremo sudoeste da bacia, ocorre clima tipo Aw´caracterizado, sendo
considerado tropical chuvoso com verão seco e estação chuvosa. Assim, a maior parte da bacia, as
chuvas anuais médias de longo período situam-se em torno de 700 mm, com valores mínimos nas
proximidades da foz e na região a leste do trecho médio do rio do Carmo, com média de 600 mm e,
valores máximos na região alta de Martins, onde chegam a 1.100 mm (SEMARH, 2015).
Os tipos de solo predominantes na BHRAM/RN são: podzólico Vermelho-Amarelo
eutrófico, cambissoloeutrófico, bruno não cálcico e solos litólicoseutróficos (SEMARH, 2015).
A vegetação predominante nesta área segundo é a caatinga hiperxerófila, que tem por
principais características suportarem bem a escassez de água por determinados períodos de tempo,
tendo porte pequeno e médio assim se sobressaindo sobre as demais.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa classifica-se conforme sua finalidade em descritiva e exploratória. Quanto aos


meios utilizados, enquadra-se como de campo e bibliográfica, através da aplicação do método de
avaliação de impactos ambientais Check-List (GIL, 2006).
A análise ambiental das fontes potenciais e/ou efetivas da poluição do alto curso do rio
Apodi-Mossoró/RN a partir da aplicação do sistema de avaliação Check-List se deu com coleta de
dados da seguinte forma: levantamento da caracterização da área; descrição das influências das

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 345


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

atividades produtivas humanas na área (pesquisa em campo) e determinação in loco dos impactos
ambientais.
Para subsidiar o levantamento dos impactos ambientais utilizou-se o método Check-List em
visita no dia 27/06/2016 com a finalidade de identificar as fontes de poluição da área de estudo, por
ser um método rápido e conciso (SÁNCHEZ, 2012). Esta metodologia quando utilizada
isoladamente deve desenvolver a Avaliação de Impacto Ambiental de forma simples, de fácil
interpretação e de maneira dissertativa, sendo utilizada em um curto espaço de tempo.
As variáveis abordadas no Check-List foram embasadas em Derísio (2012), sendo as
seguintes: localização da área de estudo; localização dos usuários dos recursos naturais; tipos de
usos dos recursos naturais; possíveis fontes potenciais ou efetivamente poluidoras da área de
estudo; efeitos da poluição ambiental e técnicas de controle da poluição ambiental.
Os dados primários e secundários obtidos foram expostos através de uma matriz de interação
(SÁNCHEZ, 2012) e analisados através discussão com estudos dos impactos ambientais em
recursos hídricos no Semiárido, no Brasil e no mundo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os tipos de usos encontrados no ponto 01 referem-se à preservação da fauna e flora local


(Figura 3); recreação com atividades de esportes radicais (Figura 4); dessedentação de animais e;
harmonia paisagística. A partir destes usos, observam-se possíveis fontes de poluição relacionada
com: geração de resíduos sólidos e efluentes líquidos. Em estudos de Bezerra et al. (2013) também
é possível encontrar usos dos recursos hídricos relacionados com a recreação, pesca e,
dessedentação de animais, com geração de aspectos e impactos ambientais pautados no lançamentos
de esgotos, despejos de resíduos sólidos e, ocupação da área de preservação permanente. Portanto,
apesar deste ponto tem relevância crucial para manutenção da qualidade ambiental do Rio Apodi-
Mossoró/RN devido ser a nascente do referido ambiente aquático, o que pode tornar um fator
comprometedor na sua qualidade.

Figura 3 – Ponto 01: preservação da fauna e flora Figura 4 – Ponto 01: local para recreação de
local na nascente do rio Apodi-Mossoró/RN. esportes na nascente do rio Apodi-Mossoró/RN.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 346


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

No ponto 02 os tipos de usos encontrados foram: pesca (Figura 5); segurança hídrica (Figura
6); navegação; abastecimento humano; recreação; aquicultura; irrigação; diluição de efluentes e;
preservação da fauna e flora. Diante destes usos, constatou-se poluição por fontes natural, urbana e
a agropastoril. Este cenário assemelhasse ao determinado por Souza, Silva e Dias (2012) que
investigaram também o Rio Apodi-Mossoró/RN e constataram impactos provenientes da: lixiviação
de fertilizantes e pesticidas de diversas atividades agrícolas e; da expansão urbana. Desta forma,
observa-se que as formas de impactos ambientais no ambiente investigado vão ampliando
concomitantemente a maior diversidade de ocorrência em seus usos.

Figura 5 – Ponto 02: pesca no açude de Major Figura 6 – Ponto 02: obra de segurança hídrica no
Sales no rio Apodi-Mossoró/RN. rio Apodi-Mossoró/RN.

No ponto 03 os tipos de usos da água notados foram preservação da fauna e flora local
(Figura 7), dessedentação animal e irrigação das plantações (Figura 8), atividades de recreação,
navegação, práticas de aquicultura, e diluição de despejos. A partir destas utilizações, pode-se
inferir possíveis emissões de poluentes relacionadas com fontes naturais e agrícola. A poluição
agropastoril no Rio Apodi-Mossoró/RN também foi identificada por Pinto Filho e Oliveira (2008);
Oliveira, Souza e Castro (2009); Souza, Silva e Dias (2012) e, Bezerra et al. (2013). Desta forma,
aponta-se a necessidade de investigar a qualidade da água do referido ambiente, na perspectiva de
conhecer possíveis poluentes que limitem os seus usos.

Figura 7 – Ponto 03: fauna e flora local no Açude Figura 8 – Ponto 03: dessedentação animal no
em José da Penha/ RN. Açude em José da Penha/ RN

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 347


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Os tipos de usos encontrados no ponto 04 foram: dessedentação animal, irrigação, recreação,


segurança hídrica (Figura 9), preservação da fauna e flora (Figura 10) e, diluição de despejos. Já em
relação aos tipos de poluição existentes nessa área, encontra-se possibilidade de existência de fontes
difusas e pontuais de origem natural, urbana e agropastoril. O cenário de poluição neste ponto é
similar ao identificado por Pinto Filho e Oliveira (2008), já que estes autores apontam alterações
relacionadas com expansão urbana e atividades agrícolas. Ainda é possível apontar que tais
resultados são corroborados com os de Oliveira, Souza e Castro (2009), já que estes autores
identificaram impactos provenientes da lixiviação de fertilizantes e pesticidas das diversas
atividades agrícolas desenvolvidas no rio Apodi-Mossoró/RN. Portanto, essa problemática merece
destaque, principalmente para não se chegar num cenário de maiores vulnerabilidades, já que
localiza-se numa área de restrições climáticas, soma-se com a demanda de água para atividades
agrícolas e, ainda existe o possível incremento de poluentes.

Figura 9 – Ponto 04: barragem de Pau dos Ferros Figura 10 – Ponto 10: fauna e flora na barragem
no rio Apodi-Mossoró/RN. de Pau dos Ferros no rio Apodi-Mossoró/RN.

No ponto 05 observaram-se usos relacionados com dessedentação animal (Figura 11),


irrigação de plantações nas margens do rio, destino de resíduos sólidos (Figura 12), retirada de
areia, diluição de efluentes, manutenção da fauna e floral local. Estes tipos de usos proporcionam
diversas alterações socioambientais na área, através das fontes de poluição urbana e agrícola.
Corroborando tais resultados Pinto Filho e Oliveira (2008); Oliveira, Souza e Castro (2009); Pinto
Filho e Araújo (2010); Araújo et al. (2012); Souza, Silva e Dias (2012); Bezerra et al. (2013),
encontraram alterações em trechos do rio Apodi-Mossoró/RN relacionadas com destino de resíduos
sólidos, plantações e, diluição de efluentes; atividades agrícolas; despejo de esgotos, atividades
agrícolas, criação de animais, destino inadequado de lixo e, extração de areia; atividades agrícolas e
descargas de esgotos domésticos; despejos de efluentes domésticos, uso de defensivos agrícolas e,
retirada das mata ciliar; respectivamente. Diante dessa situação, é notório perceber que as
implicações socioambientais ocorrem de forma heterogênea ao longo da BHRAM/RN, necessitando
dessa forma, discutir estas possíveis ações preventivas e corretivas no Comitê da bacia.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 348


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 11 – Ponto 05: Dessedentação animal: Figura 12 – Ponto 05: Destinação de resíduos na
trecho urbano do rio Apodi-Mossoró/RN em Pau área urbana do rio Apodi-Mossoró/RN, Pau dos
dos Ferros. Ferros.

Para o ponto 06 os usos relacionam-se diretamente com os serviços e bens ambientais desse
ambiente aquático, com a harmonia paisagística (Figura 13) e a manutenção da fauna e flora (Figura
14). Com relação às possíveis fontes de poluição para essa seção, pode-se inferir que são os esgotos
domésticos oriundos do município de Pau dos Ferros, haja visto que se encontra a montante. Tais
resultados são confirmados também por Souza, Silva e Dias (2012) ao afirmarem que a
BHRAM/RN compreendida como um sistema ecológico. Diante desse contexto, é necessário em
estudos sobre referida bacia, realizar abordagem sistêmica, já que Santos (2004) define a bacia
hidrográfica como unidade de planejamento, uma vez que esta se constitui num sistema natural bem
delimitado geograficamente, onde os fenômenos e interações podem ser integrados, onde os
recursos naturais se integram.

Figura 13 – Ponto 06: harmonia paisagística no Figura 14 – Ponto 06: manutenção da fauna e
trecho rural do rio Apodi-Mossoró/RN em Pau Flora na área rural do rio Apodi-Mossoró/RN,
dos Ferros. Pau dos Ferros.

No ponto 07, evidenciou-se usos relacionados com a manutenção da fauna e flora local
(Figura 15) e retirada da areia para fins de construção civil (Figura 16). As possíveis fontes de
poluição relacionando-se com processos naturais e atividades industriais. O processo de extração de
areia do rio Apodi-Mossoró/RN também foi apurado por Souza, Silva e Dias (2012). Estes autores
ainda acrescentam que na retirada da vegetação das matas ciliares inicia o processo de impedimento

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 349


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

do fluxo natural do rio através da formação de bancos de areias. Portanto, ao longo da BHRAM/RN
as matas ciliares possuem importância imprescindível na manutenção da qualidade ambiental da
área investigada, já que permite a regularização do regime hídrico deste ambiente aquático.

Figura 15 – Ponto 07: Matas ciliares no trecho do Figura 16 – Ponto 07: Bancos de areias no rio
rio Apodi-Mossoró/RN em Taboleiro Grande. Apodi-Mossoró/RN em Taboleiro Grande.

No ponto 08 constatou-se usos relacionados com a harmonia paisagistica, a manutenção da


fauna e flora local (Figura 17) e, pesca (Figura 18). Dentro dessa perspectiva, as possíveis fontes de
poluição relaciona-se com origem natural (escoamentos de sendimentos de processos intempéries) e
antrópica (resíduos da atividade pesqueira). O uso múltiplo dos recursos hídricos pode acarretar
desordem entre os usuários, como por exemplo, a deposição de resíduos sólidos e efluentes
líquidos, nos pontos anteriores influenciarem na qualidade de água dos cursos a jusante,
comprometendo assim, a reprodução das espécies aquáticas, que são utilizadas como fonte de
alimento. É oportuno mencionar que Souza, Silva e Dias (2012) também constaram a questão de
conflitos pelo uso da água na BHRAM/RN. Portanto, para resolver problemas relacionados aos usos
da água deve levar em consideração o seu manejo e manutenção (SANTOS, 2004).

Figura 17 – Ponto 08: preservação da fauna e Figura 18 – Ponto 08: atividade pesqueira na
flora no Barragem de santa cruz, rio Apodi- Barragem de santa cruz no rio Apodi-
Mossoró/RN, Itaú. Mossoró/RN em Itaú.

O ponto 09 é denominado da Barragem de Santa Cruz, localizado em Apodi – RN. Este


ponto merece destaque em virtude de ser considerado o maior reservatório da BHRAM/RN,
apresentando os mais diversificados usos, sendo comtemplados abastecimento humano (Figura 19),
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 350
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

dessentação animal, abastecimento industrial, irrigação, aquiltura (Figura 20), recreação,


preservação da fauna e da flora, e harmonia paisagística. Com isso, as fontes de poluição relaciona-
se de origem natural (sedimentação do ambiente) e antrópica (agrícola e urbana).

Figura 19 – Ponto 09: Espelho dágua da Figura 20 – Ponto 09: atividade de lazer na
Barragem de Santa Cruz no rio Apodi- Barragem de Santa Cruz, rio Apodi-
Mossoró/RN. Mossoró/RN.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa através de um enfoque qualitativo constatou que o alto e médio curso superior da
BHRAM/RN vem sendo utilizado para múltiplos usos, com ênfase na preservação da fauna e flora
local; recreação com atividades de esportes radicais; dessedentação de animais; harmonia
paisagística; pesca; segurança hídrica; navegação; abastecimento humano; recreação secundária;
aquicultura; irrigação; diluição de efluentes, plantações nas margens do rio, destino de resíduos
sólidos, retirada de areia e, abastecimento industrial.
Diante destes usos, encontra-se possibilidade de existência de fontes difusas e pontuais de
origem natural, urbana e a agropastoril, oriundos dos escoamentos de sendimentos de processos
intempéries, da geração de resíduos sólidos e efluentes líquidos.
A partir desses processos de poluição pode gerar conseqüências negativas relacionadas com
as dimensões: econômica (desvalorização das terras e, maiores custos para recuperação ambiental),
social (diminuição dos usos tradicionais do ambiente aquático), ambiental (comprometimento dos
bens, e serviços e qualidade ambientais), sanitária (alteração da qualidade hídrica), político
(conflitos ambientais pelo uso), saúde (proliferação de vetores de doenças por veiculação hídrica) e,
territorial (redução no desenvolvimento regional).
Assim, sugere que ações de gestão ambiental precisam ser efetivadas com a finalidade de
prevenir e controlar os efeitos da poluição: estabelecimento dos componentes de saneamento
ambiental na área de estudo, recuperação das matas ciliares, maior fiscalização ambiental,
legalização dos usos deste ambiente e, implementação de programas de educação ambiental e
sanitária.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 351


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Para acompanhar a evolução deste cenário faz se necessárias novas abordagens científicas,
principalmente relacionadas com o monitoramento da qualidade de água, solo e, sedimento deste
ambiente; diagnóstico da degradação ambiental; identificação da percepção ambiental dos usuários
do rio, propostas de recuperação de matas ciliares; planejamento e gestão ambiental dos usos deste
ecossistema e, levantamento da capacidade de suporte do ambiente investigado.

REFERÊNCIAS

ATHAYDE JÚNIOR, G. B. et al. Principais usos da água do rio Sanhauá na área de influência do
antigo lixão do Roger: proposta de revisão de enquadramento do rio. Ambiente & Água – An
Interdisciplinary Journal of Applied Science, Taubaté, v. 3, n. 3, p. 128-142. 2008.

BEZERRA, J. M. et al. Análise dos indicadores de qualidade da água no trecho urbano do rio
apodi-mossoró em Mossoró-RN, Brasil. Semina: ciências agrárias, Londrina, v. 34, n. 6, p.
3443-3454, ago./mar. 2013.

CARVALHO, R. A; OLIVEIRA, M. C. V. Princípios básicos de saneamento do meio.. 3ºed.:


editora SENAC. São Paulo, 2003.

DERÍSIO, J. C. Introdução ao controle da poluição ambiental. 4. ed. São Paulo. Editora: Oficina de
Textos, 2012, 224.

GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2006.

MACEDO, J.A. 2002. Introdução à química ambiental – química e meio ambiente e sociedade, 1ª
ed. Juiz de Fora: CRQ-MG.

OLIVEIRA, T. M. B. F.; SOUZA, L. D.; CASTRO, S. S. L. Dinâmica da série nitrogenada nas


águas da bacia hidrográfica Apodi/Mossoró, RN, Brasil. Eclética Química, São Paulo, v. 34, n.
3, p. 17-26, 2009.

PINTO FILHO, J. L. De O. P.; ARAÚJO, J. B. Dos S. Identificação de fontes poluidoras de metais


pesados nos solos da bacia hidrográfica do rio Apodi-Mossoró/RN, na área urbana de Mossoró-
RN. Revista verde de agroecologia e desenvolvimento sustentável, Mossoró, v. 5, n. 2, p. 80-94,
abril/junho 2010.

PINTO FILHO, J. L. de O; OLIVEIRA, A. M. Impactos socioambientais da ocupação desordenada


das margens da Lagoa do Apodi - RN. Revista Verde, Mossoró, v. 3, n. 1,jan./mar. 2008.

SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de Impactos Ambientais: conceitos e métodos. Oficina de Textos 2 ed.


São Paulo:, 2012.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 352


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SANTOS, R. F. Planejamento Ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de textos, 2004.
184p.

SEMARH. Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos. Banco de dados – SEMARH.
Disponível
em:http://servicos.searh.rn.gov.br/semarh/sistemadeinformacoes/consulta/cBaciaDetalhe.asp?Co
digoEstadual=01. Acesso em: 30/06/2017.

SOUZA, A. C. M.; SILVA, M. R. F. Da; DIAS, N. Da S. Gestão de recursos hídricos: o caso da


bacia hidrográfica Apodi/Mossoró (RN). Irriga, Botucatu, p. 208-296, 2012.

SPIRO, T.G; STIGLIANI, W. M. Química Ambiental. 2 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2009.

VON SPERLING, M. Princípios do Tratamento Biológico de Águas residuárias. 3 ed.


Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental/UFMG, Belo Horizonte, MG, 2005.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 353


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

LEVANTAMENTO DAS CONDIÇÕES GEOAMBIENTAIS DAS PRINCIPAIS


NASCENTES DA BACIA DO RIO PACIÊNCIA – MA

Waldiana Almeida CANTANHEDE


Graduanda do curso de Geografia da UFMA
waldianacantanhede@gmail.com
Delony de Queiroz RIBEIRO
Graduanda do curso de Geografia da UFMA
idelony@hotmail.com
Waldenir Lucas Nina ARAUJO
Graduando do curso de Geografia da UFMA
waldenir.silva.10@hotmail.com
Ediléa Dutra PEREIRA
Professora Doutora do Departamento de Geociências da UFMA
edileap@gmail.com (Orientadora)

RESUMO
O trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar as condições geoambientais das principais
nascentes da bacia do Rio Paciência situada no município de São Luís na porção central da Ilha do
Maranhão. Para o levantamento das principais nascentes utilizou-se o SIG – Sistema de
Informações Geográficas e, a partir da imagem Pleiade (ONU Habitat, 2014) disponível para a área
do curso superior da bacia e do Google Earth (2017), foram selecionadas dez nascentes e estudadas
no raio de 50m para diagnóstico do seu estado de conservação. Seguindo a classificação de (PINTO
et al., 2003), quanto ao estado de conservação destas nascentes: 3 (três) encontram-se preservadas,
1 (uma) perturbada e 6 (seis) avaliadas como degradadas por sofrerem influências antrópicas, foram
avaliadas ainda as classes de uso e cobertura do solo nos quais foram constatadas uma variação de
5,42 a 32,15% de áreas urbanizadas; 8,57 a 100% de áreas com vegetação e 34,14 a 74,35% de
áreas que apresentaram solo exposto. Em relação aos impactos negativos observados nas áreas das
nascentes os principais foram o lançamento de esgoto in natura, resíduos sólidos;
impermeabilização do solo: construções em concretos e ruas asfaltadas; presença de vegetação de
capoeira e a canalização de córregos. Diante do levantamento das principais nascentes do Rio
Paciência é notório a necessidade de adoção de medidas urgentes de recuperação dessas áreas,
tendo em vista que estas são relevantes para a conservação dos mananciais hídricos de água doce na
ilha do Maranhão tornando-se indispensável para a perenização das águas utilizadas para o
abastecimento público da sociedade ludovicense.
Palavras chaves: Bacia hidrográfica, Rio Paciência, Nascentes, Condições geoambientais.

RESUMEN
El trabajo se realizo com el objetivo de evaluar las condiciones geoambientales de la cuenca de río
Paciência situada em el município de São Luís em la porción central de la isla del Maranhão. Para
el levantamento de las principlaes nacientes se utilizo el SIG – Sistema de Informaciones
Geográficas y a partir de la imagen Pleiade (ONU Habitat, 2014) disponible para el área del curso
superior de la cuenca y de Google Earth (2017) fueron selecionadas 10(diez) nascientes y
estudiadas em el radio de 50m para diagnóstico de su estado de conservación. Seguiendo la
clasificación de (PINTO et al, 2003). Em cuanto al estado de conservación de estas nacientes: 3
(tres) se encuentran preservadas, 1 (una) perturbada y 6 (seis) evaluadas como degradadas por sufrir

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 354


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

influencias antrópicas, se evaluaron las clases de uso y cobertura del suelo que se constató una
variación de 5,42 a 32,15% de áreas urbanizadas; 8,57 a 100% de áreas com vegetación y 34,14 a
74,35% de áreas que presentaron suelo expuesto. Em cuanto a los impactos negativos observados
em las áreas de las nacientes, los principales fueron el vertido de aguas residuales in natura,
resíduos sólidos, impermeabilización del suelo: construciones em concretos y calles asfaltados,
presencia de vegetación de capoeira y la canalización de arroyos. Ante el levantamento de las
principales nacientes del río Paciência es notorio la necessidade de adopción de medidas urgéntes
de recuperación de essas áreas, teniendo en cuenta que éstas son relevantes para la conservación de
los manantiales hídricos de agua dulce en la isla del Maranhão, siendo indispensable para la
perennización de las aguas utilizadas para el abastecimento público de la sociedad ludovicense.
Palavras clave: Cuenca hidrográfica, Río Paciência, Nacientes, Condiciones geoambientales.

INTRODUÇÃO

As bacias hidrográficas constituem importantes sistemas ambientais que agregam elementos


naturais de relevante valor para a manutenção da vida e atividades humanas. Na ilha do Maranhão,
os impactos gerados nas bacias hidrográficas estão relacionados principalmente ao crescimento
urbano dos quatro municípios que a compõe. Para Vitte e Guerra (2007), a bacia hidrográfica pode
ser entendida como uma célula básica de análise ambiental, pois esta permite conhecer e avaliar
seus diversos componentes, os processos e interações que nela ocorrem. Os autores ainda afirmam
que a bacia hidrográfica é o espaço de planejamento e gestão das águas, onde procura
compatibilizar as diversidades demográficas, sociais, culturais e econômicas das regiões.
A exploração inadequada dos recursos naturais de forma cada vez mais desordenada, através
de atividades de desmatamentos, práticas agrícolas perniciosas, atividades extrativistas agressivas, a
construção indiscriminada de barramentos, o lançamento de esgotos industriais e domésticos nos
rios, tem promovido inúmeros problemas ambientais, principalmente em áreas de nascentes. Porto
et al. (2002) enfatiza algumas consequências da urbanização em relação ao uso e ocupação do solo
em bacias, como: as alterações do escoamento superficial direto, proliferação de loteamentos
executados sem condições técnicas adequadas, ocupação de áreas impróprias, proliferação de
favelas e invasões, ocupação extensa e adensada dificultando a construção de canalizações
dificultando a recarga dos aquíferos.
O processo de ocupação na bacia hidrográfica do Rio Paciência iniciou-se nas décadas de 70
e 80, tornando-se mais evidente devido à criação de diversos conjuntos habitacionais. Este processo
tem dado ênfase a uma forte concentração do setor terciário e de serviços, em que provocaram no
solo desmatamentos, aterros, impermeabilizações, diminuindo as áreas de recarga dos aquíferos
Barreiras e Itapecuru. Com isso, os riscos ambientais são constantes e não há um incentivo real para
a preservação e/ou conservação dos mananciais que ainda restam.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 355


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ressalta-se que as nascentes são áreas estratégicas para o manejo de bacias hidrográficas
devido as suas funções hidrológicas e ecológicas, importantes na produção de água, e que a
supressão da vegetação, as atividades agrícolas e o uso inadequado do solo vêm contribuindo para o
processo de degradação de nascentes e cursos d`água interferindo na qualidade e quantidade da
água produzida na bacia. Todas essas atividades desenvolvidas nas áreas de nascentes infringem o
que está previsto na legislação brasileira, pois essas áreas são consideradas Áreas de Preservação
Permanentes (APP`s) pelo Código Florestal Brasileiro.
O levantamento das condições geoambientais das nascentes do Rio Paciência, é de extrema
importância, visto que a conservação dos mananciais hídricos de água doce na Ilha do Maranhão é
indispensável para o abastecimento público da sociedade ludovicense, e que a intensa urbanização
ameaça a conservação das nascentes.
Portanto, faz-se necessário pensar sobre o uso racional e a conservação da água,
principalmente nas nascentes, no que diz respeito a este recurso, os conflitos mais graves surgem e
permanecem, de forma cada vez mais preocupante, trazendo consigo a necessidade de soluções que
estão intimamente vinculadas ao sistema legal e organizacional brasileiro.

MATERIAL E MÉTODOS

Os procedimentos metodológicos para o estudo do problema constaram de levantamento e


análise de materiais relacionados com a pesquisa (livros, dissertações, teses, documentos, relatórios,
mapas, imagens de satélite, artigos etc.) bem como a legislação aplicada ao uso e conservação da
cobertura vegetal referida às nascentes, sendo este material selecionado de suma importância para o
desenvolvimento das fases da pesquisa.
As caracterizações das nascentes foram avaliadas quanto ao estado de conservação (PINTO
et al., 2003): Preservadas – quando apresentaram pelo menos 50 metros de vegetação natural no seu
entorno, medidas a partir do olho d´água; Perturbadas – quando não apresentaram 50 metros de
vegetação natural no seu entorno, mas com bom estado de conservação; Degradadas – quando
apresentaram um alto grau de perturbação, muito pouco vegetada, solo compactado e a influência
intensa das ações antrópicas. Foram necessários os trabalhos de campo para a caracterização do
meio físico, fazendo o reconhecimento das nascentes selecionadas através da drenagem da bacia por
meio do SIG, além de registro fotográfico e do georeferenciamento dos pontos de amostragem. Para
a análise dos Impactos Ambientais foi utilizado o Sistema de Informação Geográfica software
QuantumGis 2.8 (QGIS), onde foi utilizada a imagem Pleiade 2014 para a elaboração da Carta
Geoambiental das principais nascentes do curso superior da bacia do Rio Paciência.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 356


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Área de Estudo

A porção superior da bacia hidrográfica do Rio Paciência situa-se nos municípios de São
Luís, São José de Ribamar e Paço do Lumiar na porção central da Ilha do Maranhão, entre as
coordenadas Universal Transversa de Mercator – Projeção UTMs, fuso 23S; 9711000/9723000 mN
e 583000/585000 mE (Figura 01).
O acesso pode ser realizado pelas vias terrestres MA-201 e MA-203, e via marítima através
de pequenos portos ao longo da desembocadura do rio principal.

Figura 1- Mapa de Localização da porção superior da Bacia do Rio Paciência - MA

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Bacia do Rio Paciência com uma área de 145,7 Km² situa-se na porção centro-oriental da
Ilha do Maranhão, limitada pelos divisores da bacia oceânica ao norte, Bacia Anil a oeste e Bacia
Jeniparana ao sul. Sua principal nascente está localizada no tabuleiro do Tirirical com direção
preferencial de nordeste e desembocando na Baía de São José, próximo à Ilha de Curupu.
As atividades humanas representam fator decisivo na modificação da dinâmica da água na
bacia hidrográfica, o uso e ocupação sem considerar a vulnerabilidade e a potencialidade da área
podem provocar danos irreparáveis ao ambiente dinamizando os processos do meio físico, dentre os
quais se destaca a perda de nascentes. O adensamento urbano tem provocado o aterramentos das
principais nascentes e gerado impactos ambientais direto no curso dos rios, tais impactos possuem
natureza negativa e certo grau de dificuldade para reversão, sendo agravados por estarem presentes
de maneira contínua e progressiva ao longo da bacia do Rio Paciência (Figura 2), em especial no

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 357


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

seu curso superior, onde foram estudadas as 10 nascentes representando um fator decisivo na
modificação da dinâmica da água na bacia, as ocupações nessa área resultaram em danos
irreparáveis ao ambiente dinamizando os processos do meio físico, destacando-se as perdas das
nascentes e/ou migração.

Figura 6 – Imagem de satélite com a drenagem da bacia hidrográfica do Rio Paciência.


Fonte: Google Earth 2017.

Segundo a Lei Federal Nº 12.651, de 25 de maio de 2012, ―Consideram-se as áreas de


preservação permanente nas áreas rurais ou urbanas as áreas no entorno das nascentes e dos olhos
d´água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica no raio de 50 (cinquenta) metros‖.
Segundo ainda o Art. 3º dessa Lei ―A área protegida pode ser coberta ou não por vegetação nativa,
com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a
biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas‖.
A ocupação urbana desordenada sobre as áreas de nascentes pode ser considerada como uma
das ações que mais gera impactos ao longo de toda bacia, as nascentes analisadas no curso superior
foram classificadas como: Preservadas, Perturbadas e Degradadas e quanto ao uso e ocupação
dentro do raio de 50m a partir da nascente analisada (Tabela 1). As nascentes preservadas são
definidas por apresentar uma vegetação com 50 metros de extensão ao redor da APP (área de
preservação permanente), e as perturbadas são aquelas que, mesmo não estando ocupadas por
vegetação, têm uma boa conservação, por ser ocupadas com pastagem ou por uso agrícola
adequado; as degradadas, são as que se encontram em um alto grau de perturbação, como solo
compactado, um alto grau de escassez da vegetação, voçorocas e erosão. (PINTO, 2003).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 358


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 10 – Estado de Conservação das Nascentes e Uso e Ocupação das áreas – Bacia do Rio Paciência –
MA.
Nascentes Georeferências Grau de Uso e Ocupação
Conservação
Vegetação Solo Urbanização
Exposto
A -2.59637519675, Degradada 19,82% 47,51% 32,65%
-44.1965325716
B -2.571444873611, Degradada 20,21% 74,35% 5,42%
-44.2060273062
C -2.58647411722, Preservada 100% - -
-44.2216636827
D -2.59763107627, Degradada 41,41% 34,88% 23,70%
-44.1960521584
E -2.57142222689, Preservada 100% - -
-44.2083762619
F -2.5759455773, Degradada 8,57% 61,69% 29,73%
-44.2215347159
G -2.58584653438, Preservada 100% - -
-44.2284332493
H -2.55896227848, Degradada 24,28% 61,99% 13,72%
-44.2230899564
I -2.53383941201, Degradada 53,64% 34,14% 12,20%
-44.2195882139
J -2.52534772474, Perturbada 93,83% - 6,16%
-44.2247721665
Pesquisa 2017.

As nascentes classificadas como preservadas (Figura 3) apresentam 100% de vegetação


dentro do raio de 50m, 2 (duas) destas localizadas na porção sudoeste do curso superior da bacia
(nascentes C e G), dentro da área do aeroporto Marechal Cunha Machado no bairro Tirirical e 1
(uma), localizada na porção sudoeste do curso superior da bacia (nascente E), dentro de instalações
do IBAMA, estando portanto, em conformidade com Lei Federal nº 12.651/2012, que prevê um raio
mínimo de 50 metros de largura de vegetação.

Figura 3 – Vista das nascentes do Rio Paciência classificadas como Preservadas. Fonte: Acervo de Pesquisa.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 359


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A nascente que apresentou grau de conservação Perturbada, está localizada na porção norte
do curso superior da bacia (Figura 4), sofre pequenas influências antrópicas, todavia, a substituição
em partes da vegetação nativa pelo cultivo agrícola na área (Figura 5), pode ser altamente
contaminante, por gerar resíduos químicos que podem ser levado à nascente nos períodos chuvosos,
infiltrando no solo e consequentemente ao lençol subterrâneo, gerando possíveis contaminação.

Figura 4 – Vista parcial da nascente (J), classificada como Perturbada. Fonte: Acervo de Pesquisa.

Figura 5 – Cultivo agrícola no entorno da nascente (J). Fonte: Acervo de Pesquisa.

Das 6 (seis) nascentes avaliadas como Degradadas observou-se que estas estão inseridas
totalmente em área urbana, sofrendo ao longo de toda sua calha pressões antrópicas e
descaracterização de suas margens. Destaca-se no local a presença de resíduos sólidos e o
lançamento de esgoto junto à rede fluvial (Figura 6), apresentando ainda poucas espécies vegetais, a
ocorrência de asfalto, casas e pavimentos dentro da área de APP geraram percentuais altos na classe
de uso do solo, ―urbanização‖.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 360


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Foi observado ainda o desaparecimento de algumas nascentes no curso superior, devido ao


elevado processo de urbanização, verificadas através da drenagem da bacia processadas na imagem
de satélite Pleiade (SFADU/ONU-HABITAT, 2014), através desta foi possível a realização da
Carta Geoambiental das 10 (dez) nascentes estudadas no curso superior da bacia, com enfoque no
uso e ocupação destas nascentes (Figura 7).

Figura 7 – Vista parcial do córrego de uma nascente degradada. Fonte: Acervo de Pesquisa.

Figura 8 – Carta Geoambiental das nascentes do curso superior da bacia do Paciência – MA.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 361


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Dos impactos negativos observados nas áreas das nascentes os principais foram o
lançamento de esgoto in natura, resíduos sólidos, impermeabilização do solo: construções em
concretos e ruas asfaltadas, presença de vegetação de capoeira e a canalização de córregos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dos dados obtidos, constatou-se com relação às dez nascentes avaliadas no curso
superior da bacia do Rio Paciência – MA, que apenas três encontram-se conservadas, e as sete
encontram-se perturbadas e degradadas não sendo respeitado o raio mínimo de 50m (cinquenta
metros) da Área de Preservação Permanente- APP, ocasionando pela perda da mata ciliar migração
ou desaparecimento da nascente, ou diminuição de sua área brejada onde conforme registros dos
moradores habitavam jacarés e área era visitada por vários pássaros.
A conservação dos mananciais hídricos de água doce na ilha do Maranhão é indispensável
para o abastecimento público da sociedade ludovicense, sendo notória a necessidade de adoção de
medidas urgentes de recuperação dessas áreas, tendo em vista que estas são relevantes para a
conservação e preservação dos mananciais hídricos de água doce, tornando-se indispensável para a
perenização das águas utilizadas para abastecimento, sendo relevantes portanto, estudos e medidas
que orientem a ocupação humana respeitando as fragilidades e potencialidades ambientais, fazendo
necessário pensar ainda sobre o uso racional e a conservação destas nascentes.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa.
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 mai. 2012. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm >. Acesso em: 07
jun. 2017.

PINTO, L.V.A. Caracterização física da bacia do ribeirão Santa Cruz, Lavras, MG, e propostas de
recuperação de suas nascentes. (Dissertação Mestrado em engenharia Florestal) – Universidade
Federal de Lavras, Lavras, MG. 165p, 2003.

PORTO, R.; Zahed, K. F.; Tucci, C. Bidone, F. Drenagem Urbana. In: TUCCI, C.E.M. (org.).
Hidrologia: ciência e aplicação. Porto Alegre: Editora UFRGS. 943 p, 2002.

SFADU. FUNDAÇÃO SOUSANDREDE. Projeto de monitoramento dos indicadores


socioeconômicos nos municípios de Bacabeira, Santa Rita, Rosário e São Luís, do entorno da
Refinaria Premium I (MA). Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos
(ONU-HABITAT)/ODMs. Imagem Pleiade 2014.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 362


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

VITTE, Antonio Carlos; GUERRA Antonio José Teixeira. Reflexões sobre a geografia física no
Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. 280p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 363


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Turismo, Meio Ambiente e


Sustentabilidade

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 364


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ECOTURISMO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Elaine Cristina Dantas da CRUZ


Bel. Administração, UFPB
ecrisdantas@gmail.com
Jazielly Nascimento da ROCHA
Graduanda em Agroecologia, UFPB
jazy_rocha@hotmail.com
Maria José Araújo WANDERLEY
Profª Drª do CCHSA, UFPB
mjwander@gmail.com
Sérgio Matheus Tomé Costa da SILVA
Especialista em Literatura e Cultura Afro-Brasileira
sergiopazeamor@hotmail.com

RESUMO
O ecoturismo é uma atividade que se iniciou no final dos anos 80 e início dos anos 90 e com o
passar do tempo ganhou maior visibilidade, impulsionando um mercado promissor. Constitui-se em
um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural,
bem como incentiva sua conservação. O objetivo desse trabalho foi, através de uma pesquisa
bibliográfica, explanar sobre o ecoturismo e sua contribuição para o desenvolvimento sustentável,
gerando uma reflexão sobre o tema. Assim, foram analisados livros, revistas e relatórios que
serviram de aporte para a sua elaboração. Diante dessa análise verificou-se que existem vários tipos
de atividades ecoturísticas como tirolesa, cavalgada, passeios a pé, boia-cross, cicloturismo
trekking, parapente, asa-delta, balonismo e rafting, os quais podem ser praticados por diferentes
pessoas com os mais variados perfis. O ecoturismo proporciona aos indivíduos que vivem tais
experiências a ampliação de uma consciência crítica. Também, o ecoturismo se apresenta como
uma alternativa diretamente associada com a preservação ambiental, contribuindo com as
comunidades envolvidas, levando ao desenvolvimento sem grandes danos ao meio ambiente.
Palavras chave: Ecoturismo, Turismo, Desenvolvimento Sustentável.

ABSTRACT
Ecotourism is an activity that has started in the late 80's and early 90's and over time got further
visibility, boosting a promising market. It is a segment of tourism that uses, in a sustainable way,
the natural and cultural heritage, as well as encourages its conservation. The objective of this work
was, by means of a systematic literature review, to explain about ecotourism and its contribution to
sustainable development, getting a reflection on the theme. Thus, books, journals, magazines and
reports were analyzed and they served as subsides for its elaboration. In the face of this analysis, it
has been verified that there are several kinds of ecotourism activities such as ziplining, horseback
riding, walking, buoy-cross, cycloturism, trekking, paragliding, hang gliding, ballooning and
rafting, which can be practiced by people with the most different profiles. Ecotourism provides to
people that experience that activities above the expansion of a critical awareness. Also, ecotourism
appears as an alternative directly associated with environmental preservation, contributing to the
communities involved, leading to development without greater damage to the environment.
Keywords: Ecotourism, Tourism, Sustained Development.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 365


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

O turismo destaca-se como uma das atividades econômicas mais importantes dos últimos
anos, seja em ambientes de montanha, ecossistemas costeiros, ilhas, ou mesmo em ambientes
urbanos, estando a atividade turística amplamente difundida pelo globo terrestre, de modo que não
existe praticamente um lugar de nossa geografia onde não se observe a influência desse
fenômeno (BARRETO,1995).
Durante muito tempo a ênfase sobre a atividade turística direcionou-se, quase que
exclusivamente, aos aspectos econômicos e aos benefícios que o turismo poderia desempenhar para
a economia, o que gerou a ideia de indústria do turismo, mas recentemente observa-se a necessidade
de outro tipo de visão, que seja socialmente mais justa, ecologicamente prudente e economicamente
eficiente e fortemente ligada a fatores ambientais e sociais, ou seja, um turismo voltado para a
sustentabilidade (MARULO, 2012).
Neste contexto, o turismo sustentável surge como uma das formas para se alcançar o
desenvolvimento sustentável, a fim de evitar danos ao meio turístico, minimizando custos sociais e
otimizando os benefícios desse desenvolvimento (SOUZA, 2011). Ainda, conforme Souza (2011),
essa perspectiva de turismo tem apresentado um crescimento contínuo no mundo e no Brasil, com
destaque para o ecoturismo, que surge nessa vertente como um dos mais inteligentes instrumentos
de viabilização e gerenciamento dos recursos naturais, além de contribuir para o resgate da
conscientização ecológica da população envolvida e suas unidades receptoras que tem sido
negligenciada pela prática de turismos de massa, ampliando assim o debate em prol do meio
ambiente e sua preservação.
Por fim, na sequência desse artigo, se explanará sobre o ecoturismo e sua contribuição para
o desenvolvimento sustentável, a partir de uma pesquisa bibliográfica, onde foram analisados,
livros, periódicos, revistas, relatos, que serviram de aporte para a sua elaboração, gerando uma
reflexão sobre o tema.

DEFINIÇÃO DE TURISMO

A origem da palavra turismo vem do vocábulo tour que é de origem francesa e significa
―volta‖ (BARRETO, 1995). A matriz do radical tour é do latim tourns, do verbo tornare, cujo
significado é giro, volta, viagem ou movimento de sair e retornar ao local de partida (ANDRADE,
1992).
Segundo a Organização Mundial de Turismo (OMT, 2007), turismo é a atividade do viajante
que visita uma localidade fora de seu entorno habitual, por período inferior a um ano, e com
propósito principal diferente do exercício de atividade remunerada por entidades do local

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 366


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

visitado. Em diversas partes do mundo o turismo tem crescido e contribuído direta e indiretamente
pela geração de 195 milhões de empregos, equivalente a 7,6% da mão de obra no ramo turístico
(EMBRATUR, 2010).
De acordo com Leiper (1979) o turismo pode ser pensado como uma gama de indivíduos, de
negócios, de organizações e lugares, que de alguma forma se combinam para proporcionar uma
experiência de viagem, influenciando muitas vidas e atividades econômicas diferentes. Essa ideia é
motivada por necessidades como lazer, recreação, férias, práticas de esportes, turismo cultural,
turismo de saúde, conferências, dentre outras (OMT, 2007).
Ainda segundo Leiper (1979) o turismo pode ser classificado em duas categorias relacionada
a natureza de suas viagens: doméstico e internacional. O turismo doméstico refere-se a viagens
realizadas pelas pessoas dentro de seu próprio país de residência; já o internacional envolve viagens
que podem cruzar fronteiras, gerando implicações quanto a questões de moeda, idioma e
procedimentos legais como o visto.
Por fim, o turismo pode ser compreendido como uma atividade complexa originada pela
necessidade de deslocamento das populações dentro do espaço físico mundial passando a ocupar
espaço considerável nas relações econômicas, podendo vir a ser uma das mais importantes em
termos de oferta de empregos e geração de receita e renda (SCÓTOLO e PANOSSO NETTO,
2015).

ECOTURISMO

O Ministério do Turismo disponibilizou uma cartilha que caracteriza bem o ecoturismo


(BRASIL, 2008). Conforme essa cartilha o crescimento do ecoturismo iniciou-se no final dos anos
80 e início dos anos 90, sendo introduzido no Brasil no final dos anos 80, seguindo a tendência
internacional. Já em 1989 foram autorizados pela Embratur os primeiros cursos de guia desse tipo
de turismo. Em 1992, com a Rio 92, o termo ecoturismo ganhou maior visibilidade, impulsionando
um mercado promissor, que desde então não para de crescer. Aos poucos, órgãos e instituições
ligados ao setor também foram sendo criados. Fundado em 1995, o Instituto de Ecoturismo do
Brasil - IEB, surge no contexto nacional com o objetivo de organizar e unificar toda a
cadeia ecoturística que compreende desde empresários, operadoras e agências de viagem, meios de
hospedagem e entidades ambientalistas, entre outras. Conforme a EMBRATUR (2010) o
ecoturismo é um dos segmentos turísticos que mais cresce no mundo, sendo observado crescimento
de 7,5% ao ano do turismo convencional e 15 a 25% por ano do ecoturismo.
Cordeiro (2002) desenvolveu uma monografia visando mostrar um panorama geral sobre
turismo, destacando aspectos relacionados ao ecoturismo, entre outros. Conforme seus achados o
ecoturismo constitui-se em um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 367


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

patrimônio natural e cultural, bem como incentiva sua conservação. Sendo assim, essa prática
necessita de um ambiente pouco alterado pelo homem. Para que uma atividade seja entendida
como ecoturística ela precisa propor ações para que o turista seja informado e sensibilizado para a
conservação e importância das áreas visitadas, além de proporcionar o envolvimento da
comunidade local nas decisões de implantação de atividades e serviços do turismo. Dessa forma, o
ecoturismo constitui-se num conjunto de princípios de respeito à natureza e à cultura local, onde
para ser seu praticante, também se faz necessário compreender e respeitar essas dimensões.

O PERFIL DO ECOTURISTA

Conforme Costa (2008) as novas preferências dos turistas em relação aos seus destinos tem
evidenciado, ao longo dos tempos, uma acentuada mudança, onde se pode perceber um consumidor
com critérios mais refinados, que se recusam integrar grupos massificados. Assim o turismo
convencional perde muitos dos seus adeptos, que passam a manifestar a sensibilidade pelo meio
ambiente e o despertar para a consciência ecológica e a sustentabilidade de seus destinos turísticos
(PORTUGUEZ et al., 2012). Nesse novo cenário surge então a figura do ecoturista caracterizada
por pessoas oriundas de grandes centros urbanos, de cotidiano agitado, com alto grau de stress,
geralmente com formação universitária, com médio e alto poder de compra, com idade de 20 a 40
anos, ávidos por um contato positivo com a natureza e atividades que proporcionem lazer,
relaxamento e contemplação. São pessoas preocupadas com que a cultura permaneça viva e que os
recursos naturais sejam preservados (BRITO, 2010).

ATIVIDADES CONSIDERADAS ECOTURISMO

As atividades praticadas no ecoturismo, devem ocorrer de forma a garantir a preservação do


meio ambiente e de acordo com as normas ambientais (OLIVEIRA, 2004). Os turistas devem
sempre preservar os recursos naturais das áreas visitadas, sendo proibido caçar animais, desmatar
ou poluir estas áreas (PORTUGUEZ et al, 2012).
A Associação Brasileira das Empresas de Turismo ABETA desenvolveu um relatório de
impactos do Programa Aventura Segura onde descreve detalhadamente as principais atividades
consideradas ecoturísticas, como tirolesa, cavalgada, passeios a pé, boia-cross, cicloturismo
trekking, parapente, asa-delta, balonismo e rafting (ABETA, 2011). Assim, tirolesa consiste na
travessia de um vale, um lago ou um rio, preso em uma cadeira que desliza por uma corda, presa há
metros de altura. A cavalgada, por sua vez, permite ao participante andar a cavalo e conhecer belos
lugares. Os passeios a pé, proporcionam passeios tranquilos e possíveis de serem praticados por
pessoas de todas as idades. Já a boia-cross é uma atividade em que os participantes descem um rio
em boias individuais, num percurso pré-definido. O cicloturismo permite viajar utilizando a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 368


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

bicicleta como meio de transporte enquanto que trekking são passeios que duram mais de um dia,
ou seja, inclui uma noite no meio da natureza. O parapente é uma modalidade de voo livre
semelhante a um paraquedas onde o participante pode controlar a direção em que voa. A asa-delta é
um estilo de voo livre, onde o participante é atrelado a uma estrutura rígida feita de tubos de
alumínio presa a uma vela feita de tecido num formato semelhante a um triângulo. O balonismo é
uma atividade praticada com um balão de ar quente. Por fim, o rafting é uma atividade em que os
participantes montam um grupo para descer corredeiras utilizando um bote inflável. (ABETA,
2011).
Observa-se a oferta de várias opções que o ecoturismo pode proporcionar ao turista,
permitindo a este a escolha da atividade que mais se enquadra ao seu perfil, seja ele aventureiro,
pacato ou que busca adrenalina, além de conceder um contato direto com a natureza,
proporcionando-lhes bem estar.

ECOTURISMO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

O Relatório Brundtland, um documento publicado após discussões da ONU sobre questões


ambientais, propõe o desenvolvimento sustentável em 1987 (BATISTA e ALBUQUERQUE,
2007). Segundo Bell e Morse (2000), nem mesmo a ampla gama de definições acerca do que é
desenvolvimento sustentável foi capaz de reduzir a popularidade do conceito, de modo que,
conforme Sadler (1999), o paradigma transformou-se no grande tema da atualidade e tem sido
aplicado em todos os campos da atividade econômica.
O desenvolvimento sustentável tornou-se um tema bastante discutido nos últimos anos. Na
verdade, a palavra desenvolvimento sustentável passou a ser usada com sentidos tão distintos que
até já se esqueceu qual foi a sua gênese, bem anterior à atual aplicação ao desenvolvimento, à
sociedade e até à cidade. (VEIGA,2005).
A prática do ecoturismo pressupõe o uso sustentável dos atrativos turísticos (BRASIL,
2008). O conceito de sustentabilidade, embora de difícil delimitação, refere-se ao desenvolvimento
capaz de atender às necessidades da geração atual sem comprometer os recursos para a satisfação
das gerações futuras, ou seja, visa promover a harmonia dos seres humanos entre si e com a
natureza. (MAIA, 2005)
Reconhece-se que o ecoturismo tem liderado a introdução de práticas sustentáveis no setor
turístico, mas é importante ressaltar a diferença e não confundi-lo como sinônimo de turismo
sustentável (BRASIL, 2008). Sobre isso, a OMT (2010) refere-se ao ecoturismo como um segmento
do turismo, enquanto os princípios que se almejam para o turismo sustentável são aplicáveis e
devem servir de premissa para todos os tipos de turismo em quaisquer destinos. Assim, o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 369


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ecoturismo pode ser entendido como as atividades turísticas baseadas na relação sustentável com a
natureza, comprometidas com a conservação e a educação ambiental (BRASIL, 2008).
O ecoturismo é considerado por alguns autores como a indústria não poluidora, apontado
como a atividade capaz de promover o desenvolvimento sustentável (ARAÚJO, 2003). Além de ser
considerado o reencontro do homem com a natureza, sendo uma alternativa diretamente associada a
preservação do meio ambiente, contribuindo com as comunidades envolvidas, levando ao
desenvolvimento sem grandes danos ao meio ambiente (SOUZA, 2011).
O Governo Federal, temendo que esta modalidade pudesse deixar de gerar os benefícios
sócio-econômicos esperados, criou uma política especialmente voltada para o ecoturismo, as
Diretrizes para uma política nacional do Ecoturismo publicada em 1994, com a preocupação de não
comprometer o conceito deste segmento, em relação aos consumidores do mercado interno e
externo (BRASIL, 2008).
No ecoturismo é importante saber quando e como utilizar uma área natural e essa
questão pode variar de acordo com as características de cada local e o que se espera dessa utilização
(PEDROSO e NERY JÚNIOR, 2014). De acordo com Machado e Conto (2013), mesmo que o
ecoturismo possua premissas sustentáveis, a sua prática requer o consumo de energia, de água e
demais recursos naturais, o que pode ocasionar a produção de resíduos sólidos, emissões
atmosféricas e substâncias poluentes que levem danos ao ecossistema. Por isso Pedroso e Nery
Júnior (2014) frisam a necessidade do planejamento do ecoturismo e seu constante monitoramento
como uma preocupação cotidiana de todos os profissionais interessados em seu desenvolvimento
sustentável, pois quando concebido e planejado levando em consideração a dimensão ambiental,
o ecoturismo colabora com a diminuição dos impactos ambientais nos destinos, o desenvolvimento
sustentável das comunidades locais, tudo isso propiciando a manutenção dos recursos naturais e
ecossistemas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma sociedade sustentável só poderá ser atingida a partir do momento que as pessoas
passarem a pensar a sociedade em que vivem e se conscientizarem em relação ao futuro do planeta
e o desenvolvimento sustentável de forma consciente e com a menor degradação ambiental
possível.
Tem se observado que o setor de turismo é capaz de racionalizar a atividade para a obtenção
de lucro, de modo que a sustentabilidade encontre espaço de destaque no turismo. E é justamente no
ecoturismo que o viés sustentável do turismo se sobressai, já que este possibilita promover a
economia, sobretudo local, em harmonia com a natureza.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 370


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O ecoturismo proporciona aos indivíduos que vivem tais experiências a ampliação de uma
consciência crítica em favor da formação de uma consciência ambiental, considerando que as
atividades ecoturísticas são desenvolvidas em contato direto com comunidades locais e com a
natureza, além de proporcionar equilíbrio entre ser humano e natureza, fortalecendo a
sustentabilidade e a sua conservação.
Por fim, a temática sobre ecoturismo vem dando sinais de maturidade com o crescimento
das pesquisas a ele dedicada, com um número cada vez maior de artigos, periódicos e livros.
Mesmo sendo uma área de estudo considerada jovem, acarreta um vasto cenário para pesquisas,
ensino e estudos.

REFERÊNCIAS

ABETA e Ministério do Turismo. Relatório de Impactos do Programa Aventura Segura. Belo


Horizonte: Ed. dos autores, 2011. 166 p. (Série Aventura Segura)

ANDRADE, J. V. Turismo: fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática, 1992. 215p.

ARAÚJO, C. V. F. de. Ecoturismo, sua prática, seu espaço. 2003, (Dissertação Mestrado em
Geografia) -Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2003. 107p.

BARRETO, M. Manual de iniciação ao estudo do Turismo. Campinas, SP: Papirus, 1995. 164p.

BATISTA, H. I.; ALBUQUERQUE, C.C. Desenvolvimento sustentável: novos rumos para a


humanidade. Revista Eletrônica Aboré Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo -
Edição 03/2007. Disponível em:
http://www.revistas.uea.edu.br/old/abore/artigos/artigos_3/Ieda%20Hortencio%20Batista.

Acesso em: 09.07.2017.

BELL, S.; MORSE, S. Sustainability indicators: Measuring the immeasurable. Earthscan: London,
2000. 759p.

BRASIL, Ministério do Turismo. Ecoturismo: orientações básicas. Ministério do Turismo,


Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e
Ordenamento Turístico, Coordenação Geral de Segmentação. Brasília: Ministério do Turismo,
2008. 96p.

BRITO, B. R. O Turista e o Viajante: Contributos para a conceptualização do Turismo alternativo e


Responsável. 2000. Disponível em:
http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR462dea1a49422_1.PDF. Acesso em: 19.07.2017

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 371


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CORDEIRO R. I. Turismo e desenvolvimento sustentável. Faculdade de Ciências da Saúde do


Centro Universitário de Brasília/ Licenciatura em Ciências Biológicas. 2002. 34p.

COSTA, R.A. Ecoturismo. 2008. Disponível em: //http: www.portaldaeducação.com.br/conteudos,


Acesso em: 10.07.2017.

EMBRATUR. Plano Aquarela - Marketing Turístico Internacional do Brasil. 187p. 2007-2010.


Disponível em http://www.turismo.gov.br. Acesso em 08.07.2017.

LEIPER, N. The framework of tourism: towards a definition of tourism, tourist, and the tourist
industry. Annals of Tourism Research, v. 6, p. 390-407, 1979.

MACHADO, Á. L. M.; CONTO, S. M. Práticas ambientais para a minimização de impactos


ambientais do ecoturismo: informações de gestores de agências de viagem do Rio Grande do
Sul. 2013. Disponível em: http://www.uesc.br/revistas/culturaeturismo/ano7-
edicao1/2.machado.pdf. Acesso em: 20.07.2017.

MAIA, A. G. Sustentabilidade e ecoturismo: um estudo de multi-casos em agências turísticas do


Município de Joinville / SC. 180p. 2005. Dissertação (Mestrado em Administração).
Universidade do Vale do Itajaí.

MARULO, A. M. Turismo e meio ambiente: uma análise do ecoturismo e sua contribuição sócio-
ambiental no distrito matutuine: caso da reserva especial de Maputo – Moçambique/ Artur
Manuel Marulo. Natal, RN, 2012. 123p. Disponível em:
arquivos.info.ufrn.br/arquivos/.../Artur_Manuel_Marulo.pdf, Acesso em: 08.07.2017

OLIVEIRA, T. C. de. Resort Ecológico. Monografia apresentada ao Centro de excelência em


Turismo. Universidade de Brasília, 67p. 2004.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO (OMT). Desenvolvimento do turismo sustentável:


manual para organizadores locais. Brasília: Organização Mundial do Turismo - OMT, 96p.
1994.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO (OMT). Datos Esenciales del Turismo. 2007. 96p.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO (OMT). Tourism Highlights. 2010. 96p.

PEDROSO, E. C. E.; NERY JUNIOR, H. Como reduzir os impactos ambientais através do


ecoturismo Lagoa Azul Sustentável, 2014 COPEC. Disponível em:
http://copec.eu/congresses/shewc2014/proc/works/55.pdf. Acesso em: 14.07.2017

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 372


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

PORTUGUEZ, A. P.; SEABRA, G. F.; QUEIROZ, O. T. M. M. (Organizadores). Turismo, espaço


e estratégias de desenvolvimento local - João Pessoa. Editora Universitária da UFPB, 396p.
2012. Disponível em:
http://www.geociencias.ufpb.br/~paulorosa/Documentos/Divulgacao/livros/livroGEPTEEDL.pdf. Acesso em:
22.07.2017

SADLER, B. Desenvolvimento sustentável e gestão ambiental. In: PARTIDÁRIO, M. R.; JESUS,


J. (eds). Avaliação do impacto ambiental: Conceitos, procedimentos e aplicações. Caparica:
Centro de Estudos de Planeamento e Gestão do Ambiente, 1999. 78p.

SCÓTOLO, D.; PANOSSO NETTO, A. Contribuições do turismo para o desenvolvimento local.


2015. Disponível em: http://www.uesc.br/revistas/culturaeturismo/ano9-edicao1/2.pdf. Acesso
em: 21.07.2017.

SOUZA, R. S. Ecoturismo como ferramenta para conservação: um estudo sobre os parques


ecológicos do DF. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia
elétrica, 2011. 87p.

UNITED NATIONS, World Tourism Organization, Recommendations on Tourisme Statistics, Serie


M, nº 83, United Nations, Ney York, 1994. 84 p.

VEIGA, J. E.da. Cidades Imaginárias – o Brasil é menos urbano do que se calcula. Campinas:
Editora da Unicamp, 2005. 77p.

WTTC. Agenda 21 for the Travel & Tourism Industry: Towards Environmentally Sustainable
Development Progress. Report Nº 1 (1998). WTTC: London, 1998. 83p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 373


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ESTUDO DO POTENCIAL TURÍSTICO DA CIDADE DE ARACAJU COM BASE NO


PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE RECURSOS NATURAIS

Jocimar Coutinho RODRIGUES JUNIOR


Discente de Engenharia Ambiental e Sanitária – DEAM/CCET/UFS
jocimar_junior@hotmail.com
Matheus Santana SILVA
Discente de Engenharia Ambiental e Sanitária – DEAM/CCET/UFS
matheus18santana@gmail.com
Paulo Sergio Rezende NASCIMENTO
Docente do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária – DEAM/CCET/UFS
psrn.geologia@gmail.com
Glauber Vinícius Pinto BARROS
Discente de Engenharia Ambiental e Sanitária – DEAM/CCET/UFS
glauber.barros@hotmail.com

RESUMO
O turismo ambiental busca desenvolver atividades de lazer, recreação ou entretenimento que
promove o contato com os recursos naturais e a valoração dos mesmos. Neste sentido, o município
de Aracaju abrange diversos atributos naturais que possuem um relevante potencial ambiental para
atividades voltadas ao turismo. Portanto, este trabalho tem como finalidade averiguar os recursos
naturais presente em Aracaju, para assim, avaliar o potencial turístico ambiental do munícipio a
partir de um planejamento estratégico. Assim, foram elaborados mapas destes recursos ambientais,
que estão presentes na cidade, como rios, unidades de conservação, áreas florestais, entre outros.
Com esse mapeamento foi permitido traçar um planejamento estratégico a partir da matriz Ansoff,
que verifica oportunidades de crescimento e surgimento de negócios. Diante disto, pode-se
constatar que o potencial de turismo ambiental do munícipio de Aracaju é relevante, porém poucos
explorado em algumas áreas. Os locais próximos à foz do rio Sergipe e as praias concentram os
maiores investimentos e preocupações. Dessa forma, percebe-se que é necessário traçar um
planejamento que leve em consideração outras áreas relevantes, como os parques existentes na
cidade, as áreas florestais, entre outras, delineando os atributos ambientais com mais diversidade
para serem úteis na exploração do turismo ambiental. Desta maneira, percebe-se que o potencial de
Aracaju em relação ao turismo ambiental é relevante e com um planejamento estratégico poderá
trazer mais benefícios socioeconômicos e ambientais para a região.
Palavras Chave: Turismo ambiental, Gestão estratégica, Atributos Ambientais.

ABSTRACT
The environmental tourism looks to develop activities of leisure, recreation or entertainment that
promotes the contact with the natural resources and the valoração of same. In this sense, the local
authority of Aracaju includes several environmental attributes that have a relevant environmental
potential for activities turned to the tourism. So, this work has as finality checks the environmental
resources present in Aracaju, for so, to value the environmental tourist potential of the munícipio
from a strategic projection. So, there were prepared maps of these environmental resources, which
are present in the city, like rivers, unities of conservation, forest areas, between others. With this
mapeamento it was allowed to draw a strategic projection from the womb Ansoff, which checks
opportunities of growth and business appearance. Before this, it is possible to note that the potential

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 374


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

of environmental tourism of the munícipio of Aracaju is relevant, however few ones explored in
some areas. The places near to a deságue of the river Sergipe and the beaches concentrate bigger
investments and preoccupations. In this form, it is seen that it is necessary to draw a projection that
takes into account other relevant areas, like the existent parks in the city, the forest areas, between
others, outlining the environmental attributes with more diversity to be useful in the exploration of
the environmental tourism. In this way, it is seen that the potential of Aracaju regarding the
environmental tourism is relevant and with a strategic projection it will be able to bring more
benefits socioeconômicos and environmental for the region.
Keywords: Environmental tourism, Strategic management, Environmental Attributes.

INTRODUÇÃO

O turismo pode ser definido como o conjunto de atividades que envolvem o deslocamento
de pessoas de um lugar, para fins de entretenimento, recreação ou lazer. Além disto, pode-se
afirmar que as atividades de turismo são práticas crescentes no mundo todo, o que promove uma
relevante contribuição para a melhoria das condições socioeconômicas de uma determinada região
ou país. Neste sentido, é indispensável que programas de implementação de atrativos turísticos
sejam adequadamente planejados, em razão de evitar o uso impróprio e os possíveis impactos sobre
os recursos naturais e sociais. Particularmente, existe um setor que se refere ao chamado turismo
ambiental, que inclui o ecoturismo e pode ser entendido como uma procura por conveniências que
promovem contato com espaços naturais ou simplesmente com a natureza e recursos naturais.
(YÁZIGI, 2002).
Para um melhor desempenho do turismo ambiental, inicialmente se deve conhecer o
potencial e a capacidade de uma localidade no que tange as suas atividades turísticas, a fim de
respeitar a aptidão de suporte e a fragilidade do meio, pois, caso contrário, projetos turísticos serão
apenas ambientalmente danosos e economicamente insustentáveis. (RUSCHMANN, 2000). Com
isso, pode-se inserir a cidade de Aracaju, capital do estado de Sergipe, que abrange recursos
naturais notáveis, dispondo de um potencial turístico relevante. Assim, é necessário a elaboração de
um planejamento turístico ambiental adequado para averiguar a potencialidade e recursos do local,
para que assim, seja possível traçar metas de maneira e objetivos apropriados.
Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo realizar um estudo acerca do potencial
turístico de Aracaju com embasamento no planejamento estratégico de seus recursos naturais. Para
assim, averiguar a capacidade do munícipio de investir em atrativos turístico e atividade de cunho
socioambiental envolvendo lazer e recreação.

ÁREA DE ESTUDO

O município de Aracaju foi fundado em 17 de março de 1855, sendo uma cidade criada pelo
governo provincial da época para ser a capital da província em substituição ao município de São

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 375


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Cristóvão. A partir de então, Aracaju passa a ser capital do estado de Sergipe, sendo que em meados
da década de 90 sofreu um crescimento populacional exorbitante. Em 2014, de acordo com
estimativa do IBGE, a cidade de possuía em torno de 623.766 habitantes, com região metropolitana
em volta de 912.647 habitantes. Este município litorâneo, está situado ao leste do estado, limitando-
se com o município de São Cristóvão, Nossa Senhora do Socorro, Santo Amaro das Brotas, Barra
dos Coqueiros e Itaporanga D‘ajuda, com uma faixa territorial de 181, 857 km² e uma densidade
demográfica de 3.140,65 hab/km². (IBGE, 2010).
De acordo com o Ministério do Turismo (2008), Aracaju possui uma infraestrutura positiva,
no que tange ao apoio existente em atrativos naturais, preocupação com a conservação urbanística e
ambiental no entorno destes atrativos naturais e culturais e pela existência de eventos programados
típicos que atraem turistas. Assim, se percebe que o município em estudo abrange recursos
ambientais que possuem potencial para serem atrativos turísticos, para assim, auxiliarem no
desenvolvimento socioeconômico da área em conjunto com a conservação de bens naturais.

MATERIAL E MÉTODOS

Mapeamento dos recursos naturais e áreas naturais notáveis de Aracajú com base no software
Spring

O espaço físico-geográfico que a cidade de Aracaju ocupa, possui áreas naturais de beleza
cênica relevantes, refletindo a presença de componentes naturais de alta valoração. Deste modo, o
município revela possuir localidades de significativa potencialidade turística, levando em
consideração recursos como rios, manguezais, praias, áreas florestais, unidades de conservação,
entre outros.
Os materiais utilizados consistem em dados cartográficos cedidos pela Secretaria de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos de Sergipe (SEMARH) e no software SPRING.
Os procedimentos se iniciaram com a criação de um banco de dados no SPIRNG, onde é
permitido que dados de interesse para análises fiquem armazenados. Para esse bando de dados
foram importados os seguintes dados de recursos naturais: hidrografia, unidades de conservação,
rios federais, afluentes, diagnóstico florestal e áreas naturais notáveis. Nas avaliações foi adotada a
escala de 1/100.000. No módulo SCARTA do SPRING foram realizadas as edições, e assim, foram
geradas as cartas imagens que possuem o mapeamento geoturístico de Aracaju.

Avaliação do potencial turístico ambiental com base na matriz de planejamento estratégico ansoff

Para a realização de um estudo do potencial turístico com base nos recursos naturais
presentes na cidade de Aracaju, foi utilizado um modelo de planejamento estratégico, denominado

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 376


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

matriz de Ansoff. Esta ferramenta pode ser entendida como um instrumento que avalia
oportunidades de expansão de negócios em um determinado mercado. Nesta conjuntura, as decisões
estratégicas, de acordo com Ansoff (1990), devem ser direcionadas especificamente para a seleção
de produtos ou serviços que serão introduzidos em mercados que estão com certa defasagem ou
necessidade, além de permitir estruturar e definir as táticas para crescimento.
Diante do exposto, a matriz Ansoff possui relevância em planejamentos estratégicos, pois
analisa os mercados e produtos ou serviços novos e existentes para preparar uma avaliação e
programação futura. Além disto, esta ferramenta também é conhecida como Matriz
Produto/Mercado, pois consiste em um quadrante composto por duas dimensões, produtos e
mercados (Figura 01). Assim, do lado direito de cada dimensão estão situados os
produtos/mercados novos, e do lado esquerdo, os produtos/mercados existentes.
A partir desta combinação, são formadas quatro estratégias para o crescimento e o
desenvolvimento de uma organização, sendo que estas mesmas estratégias são:

 Penetração de mercado: consiste na venda de produtos ou serviços existentes em um


mercado também existente, ou seja, busca desenvolver uma estratégia para aumentar a quota
de mercados;
 Desenvolvimento de mercado: a partir de serviços e produtos existentes busca-se introduzi-
los em mercados de segmentos diferentes;
 Desenvolvimento de produtos: a partir de mercado já existente, se busca o desenvolvimento
de novos serviços, frequentemente intensificando os canais existentes de comunicação;;
 Diversificação: consiste na mais arriscada das estratégias, neste quadrante, a organização
foca na comunicação explicando, buscando explicar as razões de estar entrando em novos
mercados com novos produtos, visando com isso, ganhar credibilidade.

Figura 01. Modelo de Matriz Ansoff.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 377


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Diante disto, entende-se que a Matriz de Ansoff pode ser utilizada uma ferramenta útil na
determinação de oportunidades de crescimento para uma empresa ou organização, e é de grande
relevância as manifestações de produtos e mercados novos ou existentes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Mapeamento

Com a elaboração de um mapa dos recursos naturais da cidade de Aracaju (Figura 02) pode-
se visualizar que existe no município dois rios federais, um afluente, unidade de conservação e
áreas florestais.

Figura 02. Mapa dos Recursos Hídricos e Florestais de Aracaju.

Com base nas informações do mapa (Figura 02), é possível observar que Aracaju possui
duas unidades de conservação: Parque Ecológico do Tramandaí e Área de Proteção Ambiental
(APA) Morro do Urubu.
No local onde existe a APA Morro do Urubu, há uma das últimas localidades da Mata
Atlântica do município. Esta unidade de conservação foi criada pelo Decreto nº 13.713, de 1993 e,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 378


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

de acordo com este decreto, o local compreende aproximadamente 214 hectares, constituídos por
áreas públicas e também privadas. Dentro do seu território estão implantados o Parque Estadual
José Rollemberg Leite ou Parque da Cidade e o Zoológico de Aracaju. A área é administrada pela
Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (EMDAGRO).
É possível perceber que a APA Morro do Urubu compõe uma importante área de relevância
ambiental que necessita ser conservada para resguardar os componentes ambientais como a fauna e
a flora. Com isso, o local atua como um recurso de atividade turística importante para Aracaju.
Além disto, também existe em Aracaju, o Parque Ecológico do Tramandaí, que foi
implementado com a criação do Bairro Jardins, pela Lei Municipal nº 2.666 de 1998. Isto ocorreu
devido as construções que estimulariam o crescimento populacional na área, e posteriormente, o
desmatamento de áreas verdes e manguezais.
Nesta perspectiva, o Tramandaí foi criado pelo decreto municipal n° 112 de 1996, surgindo
em um contexto de rápido crescimento e valorização da região no entorno do bairro Jardins. Nesta
época, houve o desmatamento para construção de prédios e de um shopping, acarretando problemas
urbanísticos, em razão de não existir um sistema efetivo de drenagem ou planejamento de
esgotamento sanitário. Assim, perante a falta de um planejamento geoambiental e urbanístico, o
Parque Ecológico do Tramandaí é palco de contaminação por efluentes domésticos, ocasionando
perda da sua beleza cênica, morte da fauna e incidência de mal odores. Mesmo diante destes fatos,
ainda é possível encontrar no Tramandaí crustáceos e pássaros, demonstrando vida no bioma.
Com estas ocorrências, se percebe que a área necessita de ações mitigadoras para cumprir
seu objetivo de resguardar a fauna e a flora local. Inicialmente, se deve retirar todo o despejo de
efluentes do local para recuperar a área do parque. A partir disto, estas ações mitigadoras também
promoveriam maior valoração da área, em específico, o bairro do Jardins, que é um dos mais nobres
da cidade. Assim, o potencial turístico do Tramandaí que está sendo defasado, seria mais valorizado
e atenderia a população com recreação e lazer.
Ainda pode-se outras citar áreas em Aracaju, que possuem beleza cênica relevante, como
por exemplo: (i) o Parque dos Cajueiros na foz do rio Poxim que é o afluente do rio Sergipe, os (ii)
manguezais do rio Poxim na parte oeste e um pouco na parte sul de Aracaju, e os manguezal
localizados mais ao sul e na zona de expansão do Município.
Desta maneira, é possível perceber a cidade tem muito a oferecer de atividades turísticas
com base em recursos naturais, porém grande parte não são conservados, e com isso, não são
explorados. Então, é válido ressaltar, que Aracaju tem muito ainda a melhorar neste fator, uma vez
que estes atrativos ambientais e naturais são as bases para o desenvolvimento da atividade turística.
O município de Aracaju também possui um litoral que dispõe de praias com uma coloração
mais escura em razão da alta presença de sedimentos e de matéria orgânica, além disto, a orla de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 379


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Aracaju possui uma faixa de areia extremamente cumprida. Devido a estes fatores, a orla da cidade,
conhecida como orla de Atalaia possui um vasto arsenal de atrações e cartões postais, evidenciando
o potencial turístico da região.
A Figura 03 revela áreas naturais notáveis no município em estudo. A Lei nº 2.825 de 30 de
julho de 1990, define como "Paisagem Natural Notável" a área de especial proteção ambiental,
durante todo o trecho do rio Sergipe. Esse trecho que serve de divisa entre os municípios de Aracaju
e Barra dos Coqueiros, compreendendo as margens e todo o leito do rio Sergipe, tanto na parte
permanente coberta pelas águas, tanto naquela que somente o é por efeito dos movimentos de maré,
tanto no segmento que se estende até o mar, quanto naquele que sai em demanda do rio Poxim.

Figura 03. Área de Paisagem Natural Notável em Aracaju.

A área de paisagem natural notável que abrange a localidade do deságue do rio Sergipe no
mar, abriga uma grande área de manguezal e concentra pontos turísticos, como o calçadão da Praia
Formosa, além de abranger a Av. Beira-Mar, uma das mais famosas e tradicionais de Aracaju, que
dispõe de pistas de caminhas, ciclovias, área de playground e quadras.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 380


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Desta forma, a área possui capacidade de recepcionar turistas e habitantes do local para a
realização de atividades de recreação e lazer, cumprindo assim, o papel da área de conter
alternativas socioeconômicas viáveis para usufruir do potencial paisagístico notável.

Avaliação do potencial turístico ambiental com base na matriz Ansoff

Com base nos recursos naturais evidenciais nos mapas referentes as Figuras 02 e 03, se pode
listar os principais elementos naturais que compõem a cidade de Aracaju e possuem potencialidade
turística.
Assim, foi aplicada a metodologia Ansoff (Quadro 1), evidenciando estratégicas de
penetração de mercado, desenvolvimento de mercado, desenvolvimento de produto e diversificação.

PRODUTOS/SERVIÇOS/ATRAÇÕES

Existentes Novos

Atrativos turísticos próximo ao Implementação de atrações e atividades


Existentes

deságue do rio Sergipe, Morro do culturais;


Urubu e praias do litoral de Construção de mirantes no morro do
Aracaju. Urubu.
MERCADO

Implementação de ecoturismo
Implementação de ecoturismo, lazer e
com atrativos ambientais em volta
recreação com atrativos ambientais em
Novos

dos manguezais do rio Sergipe, e


volta dos manguezais do rio Poxim, e
no morro do Urubu, com trilhas,
demais afluentes do rio Sergipe, visando
atividades de recreação, passeios
também a sua conservação.
de barcos.

Quadro 1. Matriz Ansoff referente ao potencial turístico ambiental de Aracaju.

A atividade turística apresenta um expressivo crescimento mundial, por ser uma atividade
que de forma direta ou indireta oportuniza postos de trabalho, favorece o desenvolvimento local,
gera renda e contribui significativamente para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. No
entanto, em todos os locais onde há utilização de recursos naturais, assim como em Aracaju, deve-
se evidenciar que esta atividade tem seus impactos, sejam eles negativos e positivos. Neste
contexto, é visto que a Aracaju possui aspectos ambientais de grandes belezas cênicas, envolvendo
o rio Sergipe e seus afluentes, unidades de conservação, manguezais, entre outros.
Desta maneira, o potencial turístico ambiental está sendo voltado e concentrado apenas nas
praias ou em locais próximo ao deságue do rio Sergipe no mar, onde se considera área de paisagem

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 381


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

natural notável. Sendo assim, é válido ressaltar que outras áreas da cidade necessitam de atenção
para suas belezas cênicas e feições paisagísticas.
As áreas de diagnostico florestal mostradas na Figura 02 são locais de relevante atributos e
possuem potencial para se tornarem áreas turísticas. Áreas do afluente do rio Sergipe, o rio Poxim
também merecem atenção tanto na construção de praças, como áreas de lazer ou de recreação.
Por fim, se deve destacar que é necessário traçar metas estratégicas para cumprir o papel de
conservação dos recursos naturais, para assim, usufruir do potencial turístico de Aracaju e das
paisagens notáveis.

CONCLUSÕES

A partir do exposto, se pode averiguar que a cidade de Aracaju possui um vasto potencial
turístico com base em recursos naturais. Assim, esta potencialidade necessita de um planejamento
estratégico que leve em consideração, questões como:
1 – Incentivo do turismo ambiental e do ecoturismo em áreas ao longo dos manguezais e do
rio Poxim, sendo assim, uma alternativa oposta aos atrativos já existentes ao longo do rio Sergipe e
da área de Paisagem Natural Notável que está presente no entorno do seu deságue.
2 – Medidas de conservação para o incentivo e lançamento de novas atrações turísticas em
locais já existentes, como o Parque Ecológico do Tramandaí.

REFERÊNCIAS

ANSOFF, H. I. Do planejamento estratégico à administração estratégica. São Paulo: Atlas, 1990.

ARACAJU. Lei Municipal n° 2.666 de 1998, SEPLAN: cria o bairro Jardins.

ARACAJU. Decreto municipal n° 112 de 1996, cria o Parque Ecológico do Tramandaí.

ARAUJO, H. M.; VILAR, J.W.C.; WANDERLEY, L. L.; SOUZA, R. M. O Ambiente Urbano:


visões geográficas de Aracaju. São Cristóvão: Editora da UFS, 2006.

BARISON, M.R., CAVALCANTI JR., D.A. E ASSIS, W. S. Caracterização do Subsolo da Cidade


de Aracaju a partir da Análise de Seções Geotécnicas. XI COBRAMSEG, Vol. 1, 89-94p.

IBGE. Censo Demográfico, 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.

BRASIL. Estudo de Competitividade dos 65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico


Regional - Relatório Brasil. 2ª ed. revisada, Brasília: Ministério do Turismo, 2008.

RUSCHMANN, D.V.M. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente.


Campinas (SP): Papirus, 2000.
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 382
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SERGIPE. Decreto nº 13.713 de 16 de junho de 1996, que institui a Área de Proteção Ambiental do
Morro do Urubu, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.semarh.se.gov.br/biodiversidade/modules/tinyd0/index.php?id=11>. Acesso em:
Novembro de 2016.

SERGIPE. Lei nº 2.825 de 23 de julho de 1990, que delimita espaço físico como área constitutiva
de ―paisagem natural notável‖ e de especial proteção ambiental. Disponível em:
<http://www.semarh.se.gov.br/biodiversidade/modules/tinyd0/index.php?id=11>. Acesso em:
Novembro de 2016.

SERGIPE. Lei nº 2.795 de 30 de março de 1990, que define áreas de proteção ambiental da foz do
Rio Vaza-Barris, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.semarh.se.gov.br/biodiversidade/modules/tinyd0/index.php?id=11>. Acesso em:
Novembro de 2016.

YÁZIGI, E.C. Turismo, espaço, paisagem e cultura. São Paulo: Hucitec, 2002.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 383


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

REDE TUCUM NO CEARÁ: A EXPERIÊNCIA DA ESCOLA POPULAR DE TURISMO


COMUNITARIO NA COMUNIDADE DE CAETANOS DE CIMA, AMONTADA – CE

Léia Gomes PEREIRA


Graduanda do Curso de Geografia da UECE
leah_gomes@hotmail.com
Leonor de Maria Rodrigues MELO
Mestre em Geografia pela UECE
leonordemaaria@hotmail.com

RESUMO
Sendo fenômeno social transformador de realidades locais, o turismo tem como objeto de consumo
o espaço geográfico, e como protagonista principal, o turista. Buscando sempre por novos espaços a
serem consumidos, o turismo alcançou outros cenários e possibilitou a inclusão de comunidades
tradicionais onde as trocas de experiências ocorrem através das vivências diárias, além dos
discursões acerca da importância da resistência, da valorização de suas raízes culturais, lutas e
planos de melhorias. Este trabalho buscou compreender o papel desenvolvido pela Escola Popular
de Turismo Comunitário (EPTC) da Rede Cearense de Turismo Comunitário (Rede Tucum) na
comunidade de Caetanos de Cima, localizada no município de Amontada-Ce, no litoral oeste do
Estado. Para alcançar o objetivo proposto foram feitos levantamentos bibliográficos, entrevistas
com responsáveis pelo projeto, acompanhamento de um encontro realizado com os jovens das
comunidades ligadas à rede Tucum e trabalhos de campo.
Palavras-Chaves: Turismo. Turismo Comunitário. Educação.

ABSTRACT
As a transformative social phenomenon of local realities, tourism has as its object of consumption
the geographical space, and as the main protagonist, the tourist. Always looking for new spaces to
be consumed, tourism has reached other scenarios and allowed the inclusion of traditional
communities where the exchange of experiences occur through daily experiences, as well as
discussions about the importance of resistance, appreciation of their cultural roots, struggles and
plans for improvements. This work sought to understand the role played by the Popular School of
Community Tourism (PSCT) of the Cearense Network of Community Tourism (Tucum Network)
in the community of Caetanos de Cima, located in the municipality of Amontada-Ce, on the west
coast of the State. In order to reach the proposed objective, bibliographical surveys, follow-up of a
meeting with the young people of the communities connected to the Tucum network and fieldwork
were carried out.
Keywords: Tourism. Community Tourism. Education.

INTRODUÇÃO

O turismo é um fenômeno extremamente complexo, dinâmico, que opera de múltiplas


formas e nas mais diversas circunstâncias, sendo difícil apreendê-lo em sua totalidade por meio de
uma única perspectiva teórica ou mesmo de uma única ciência. (RICCO, 2012).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 384


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Segundo Rodrigues 2002, o turismo está para além do campo técnico, pois seu estudo não
fica apenas centrado em funções e cargos operacionais. Transcende para o campo humano já que o
turismo, atualmente, é entendido como um fenômeno social.
Sendo um fenômeno social, transformador, o turismo tem como seu objeto de consumo o
espaço geográfico, e como protagonista principal, o turista, que busca usar de todas as formas
possíveis os espaços que lhes são pensados e seletos, tendo como critérios a localização, a
acessibilidade, os meios de transportes, hospedagem, os atrativos culturais, paisagísticos e etc.
Dessa forma o turismo é, consequentemente, cultural, político e econômico.
Atualmente, o turismo, é uma nova forma de modalidade do processo de acumulação de
capital e isso resulta em uma versão contraditória da configuração do espaço geográfico, deixando,
em maior evidência, as desigualdades sociais.

―Compreender essa dinâmica significa entender as relações produtivas do espaço e o


exercício de poder do Estado, das classes empresariais e trabalhadoras em movimento e
conflito. O turismo, para se reproduzir, segue a lógica do capital, quando poucos se
apropriam dos espaços e dos recursos neles contidos apresentando-os como atrativos
transformados em mercadorias. ‖ (CORIOLANO, 2006).

BARBOSA (2011) defende que a apropriação dos territórios não se dá apenas por aqueles
que priorizam a reprodução ampliada do capital, reforçando o modo de produzir desigual e
combinado, mas realiza-se também pelas classes pobres e, às vezes, por meio de participação
comunitária e solidária. No qual, ainda segundo a autora, toda essa produção está ligada ao
sentimento de pertencimento, resistência e luta daqueles que, de alguma forma, se sentem excluídos
dos resultados obtidos e desejam inclui-se na cadeia produtiva do turismo. Neste contexto, o
turismo comunitário revela ―formas diferentes de apropriação territorial, que por meio da atividade
turística conseguem resistir ao modelo econômico consumista e fortalecer o poder, a identidade e a
solidariedade de territórios periféricos ao capital.‖ (BARBOSA, 2011).
Nessas apropriações de territórios solidários se desenvolve a escola popular de turismo
comunitário, que busca uma interdisciplinaridade do aluno na construção e vivencia do local de
resistência que o mesmo recria a partir da educação participativa e decisiva, que corrobora na
formação do sujeito social.

―A experimentação da vivência de uma realidade global, que se inserem nas experiências


cotidianas do aluno, do professor e do povo. Articular saber, conhecimento, vivência,
escola comunidade, meio ambiente, etc., tornou-se, nos últimos anos, o objeto da
interdisciplinaridade que se traduz, na prática, por um trabalho coletivo e solidário na
organização da escola.‖ (GADOTTI, 2000).

A zona costeira Cearense apresenta um grande potencial para a prática turística, tornando-se
alvo de inúmeras transformações nas últimas décadas. Na lógica do turismo alternativo de base
comunitária, como forma de acompanhar o desenvolvimento, foi escolhido um município cearense

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 385


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

que faz parte da rede Tucum, objetivando compreender como se processam as transformações, e as
inclusão de novas formas de resistência, como a escola popular de turismo comunitário.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para melhor organização do trabalho os procedimentos metodológicos foram divididos em


cinco etapas.

 Na primeira etapa foram feitos levantamentos bibliográficos com informações e dados


referentes à área em estudo, houve consultas a documentos disponíveis em órgãos públicos,
instituições de referência como Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), Instituto
de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), ministério do turismo (MTur); livros
como o lançado em 2010 pelo MTur que tem por título ―Brasil. Ministério do Turismo. Sol e
Praia: orientações básicas‖; sites da internet como o do Instituto Brasileiro de Turismo
(Embratur) e outros materiais, como artigos científicos, dissertações e teses.
 A segunda etapa se constituiu na obtenção de dados estatísticos acerca do turismo de uma
forma geral, buscando foco no turismo de base comunitária e na educação.
 Na terceira etapa, foram realizados os trabalhos em campo, com registros fotográficos
durante o I Acampamento da Juventude da Zona Costeira do Ceará da EPTC que ocorreu no
assentamento Maceió (Itapipoca – CE), da comunidade, da associação de moradores;
anotações do cotidiano da população e de conversas informais junto à população local e com
os responsáveis da Rede Tucum, objetivando maiores conhecimentos sobre as formas de uso
e ocupação local.
 Na quarta etapa, ocorreram as entrevistas com jovens da comunidade e a elaboração e
confecção de mapa de localização dos locais pelo qual a EPTC passou.
 E por fim, na quinta etapa, os dados obtidos em campo juntamente com os levantamentos
bibliográficos e estatísticos, foram organizados e articulados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A comunidade de Caetanos de Cima está localizada à 170 km de Fortaleza, no município de


Amontada no litoral oeste do Estado do Ceará. Com latitude 3°04'47.8"S e longitude 39°33'04.3"W;
possui clima tropical quente semiárido brando e tropical quente semiárido com pluviosidade de
825,5 mm ao ano e média de temperatura 26º a 28ºC. De acordo com dados do Perfil Básico
Municipal de 2016 do IPECE, o município conta com uma população estimada de 42.508 pessoas e
a comunidade com 65 família em seu território.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 386


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 9- Mapa de localização do município de Amontada (CE). Fonte: Elaborado pelos autores.

Caetanos de Cima se destaca por ser umas das primeiras comunidades a aderir a Rede
Tucum, por contar com a participação de uma jovem na vice-presidência de seu grupo de turismo
local, por sua bagagem cultural e pela forte presença das mulheres na frente das lutas e debates
sociais. Dentre as principais atividades desenvolvidas pela comunidade estão a agricultura de
subsistência, na qual se destaca o cultivo da mandioca; a pesca tradicional que é realizada através de
canoas; a produção de doces de acordo com a estação da fruta e o artesanato.
Os grandes desafios enfrentados pela comunidade, atualmente, são referentes a privatização
de suas terras; que envolve conflitos diretos e indiretos com empresários do mercado imobiliário; a
redução dos espaços de moradia e trabalho para a população local, a ocupação indevida de suas
terras por parte dos posseiros/grileiros; a perda da diversidade nos usufrutos tradicionais e
ancestrais dos ambientes marinhos-costeiros e o êxodo da juventude para a metrópole, causando
assim, o enfraquecimento dos movimentos de lutas e organização da comunidade. E nessa
realidade que é desenvolvida a EPTC.
A Escola Popular de Turismo Comunitário é uma iniciativa do Instituto Terramar e da Rede
Cearense de Turismo Comunitário que visa a formação e participação da juventude das
comunidades da Zona Costeira do Ceará para o desenvolvimento de atividades turísticas
comunitárias. Tendo como base a Educação Popular situando-o como atividade estratégica na
defesa dos direitos das populações tradicionais costeiras do Ceará, o projeto tem o objetivo de
robustecer o turismo comunitário da Rede Tucum como uma ação social e atuante na defesa dos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 387


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

territórios, no desenvolvimento do pensamento crítico sobre o seu local de origem, analisando os


fenômenos e os fatos que ocorrem no seu e em outros ambientes, a importância da permanência dos
jovens na continuidade da luta por melhorias nas suas comunidades, a potencialização da pesca
artesanal, e as diversidades econômicas locais. ―Logo, a formação crítica, tão necessária para o
exercício da cidadania, começa na escola com a pratica do respeito às diferenças (raça, fenótipos,
religião etc.) e da cooperação e partilha de objetos e atividades (...).‖ (SANTOS, 2007, p. 30).
O projeto foi dividido em módulos e cada modulo era realizado em uma comunidade
diferente, na qual também foi proposto, a partir do intercambio, a troca de experiências entre as
próprias comunidades. O módulo I - Seminário de Abertura ―O Turismo Comunitário e a Defesa do
Território e das Culturas Tradicionais‖ foi realizado no Centro Frei Humberto em Fortaleza; o
módulo II – Gestão e Comunicação na Rede Tucum foi realizado na Comunidade Caetanos de Cima
em Amontada-CE; o módulo III – Comércio Justo e Comunicação no Turismo Comunitário foi
realizado na Comunidade Ponta Grossa em Icapuí-CE; as oficinas de comunicação do Leste e
comunicação do oeste foram realizadas, respectivamente, na Reserva Extrativista Prainha do Canto
Verde em Beberibe-CE e em Itapipoca (CE). E por fim, o I Acampamento da Juventude da Zona
Costeira do Ceará foi realizado no Assentamento Maceió em Itapipoca-CE, onde se deu a conclusão
do projeto.
No encontro realizado na comunidade em questão, teve a participação da jornalista Camila
Garcia e do professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Ceará Aécio Oliveira
com a temática: Os desafios de comunicação e gestão no turismo comunitário.
No primeiro ponto foram abordados a necessidade de expressão da juventude da Zona
Costeira para produzir comunicação e a corrente preocupação em disseminar os informações para
fora as comunidade, visando inclusive, uma maior propagação da forma de turismo que é praticada
por eles.
Na abordagem sobre a gestão no turismo comunitário, foi discutido como o viés do turismo
aparece sendo ferramenta de dinâmica e movimento criativo; na perspectiva da diversificação das
atividades econômicas para além das já existentes, criando assim, oportunidade da permanência da
juventude em seu território, dificultado por sua vez, o processo de emigração. Eixos como
ambientais, como desmatamento, a carcinicultura, o lixo implantação de torres eólicas, especulação
imobiliária; políticos com a importância do planejamento político para o dimensionamento do que
significa o investimento em turismo comunitário; e culturais, onde foram destacados impasses
relativos à identidade cultural, o território como base da cultura e entendimentos de cultura popular.
Observou-se também, a necessidade do desenvolvimento de possibilidades para a inserção de novas
tecnologias sociais, que dialoguem com as atividades tradicionais como a pesca artesanal e a
agricultura familiar.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 388


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As necessidades emergentes das comunidades da zona costeira cearenses em desenvolver


uma dinamicidade nas atividades econômicas, sociais e culturais, têm suas possibilidades reais no
Turismo Comunitário e é nessa perspectiva que a EPTC teve a sua importância desenvolvida.
Como resultados dessa organização, tivemos a produção de conhecimentos e
autoconhecimentos, a sistematização de informações e visibilidade da realidade da população local,
a realização de encontros entre si e outros sujeitos, a troca de experiências entre os participantes, o
encorajamento de melhoria dos serviços voltados para o turismo comunitário, bem como a
possibilidade de um viés educacional voltado para a alimentação das lutas de resistências e
valorização do local de origem.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BARBOSA, Luciana Maciel. Redes de territórios solidários do turismo comunitário: políticas para
o desenvolvimento local no Ceará. / Luciana Maciel Barbosa.— Fortaleza, 2011. 160p. ; il.

BORGES, Cícera Inara Oliveira Sousa. O turismo comunitário em comunidades tradicionais na


zona costeira do Ceará: em foco a experiência da rede tucum. 2011. Dissertação – Universidade
Federal do Ceará, Fortaleza, 2011.

Brasil. Ministério do Turismo. Sol e Praia: orientações básicas. / Ministério do Turismo, Secretaria
Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento
Turístico, Coordenação-Geral de Segmentação. – 2.ed – Brasília: Ministério do Turismo, 2010.
59 p. ; 24 cm.

CORIOLANO, Luzia Neide Menezes Teixeira. et al. Arranjos Produtos Locais do Turismo
Comunitário: Atores e Cenários em Mudança. Fortaleza: EdUECE, 2009.

CUNHA, José Maria Alves da; MÉLO, Inês de Carvalho; PERINOTTO, André Riani Costa. O
turismo de base comunitária no desenvolvimento socioeconômico da comunidade pedra do sal,
em parnaíba – Piauí. Turismo: Estudos & Práticas (RTEP/UERN), Mossoró/RN, vol. 3, n. 1,
jan./jun. 2014 Acesso em: 22 de Ago. de 2016. http://periodicos.uern.br/index.php/turismo
[ISSN 2316-1493].

GADOTTI, Moacir (et al). Perspectivas Atuais da Educação. Porto Alegre: Atmed, 2000.

M. T. Coriolano, Luzia Neide. Turismo: prática social de apropriação e de dominação de territórios.


Em publicación: América Latina: cidade, campo e turismo. Amalia Inés Geraiges de Lemos,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 389


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Mónica Arroyo, María Laura Silveira. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias


Sociales, San Pablo. Diciembre 2006.

MARTONI, Rodrigo Meira. Globalização e Turismo: Limites do Desenvolvimento Local na Ordem


Contemporânea do Capital. Anais do VI Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul –
Saberes e fazeres no turismo: interfases. 6., 2010. Caxias do Sul. Anais... Caxias do Sul, 2010. 15
p.

SANTOS, Glauber Eduardo de Oliveira; KADOTA, Décio Katsushigue. Economia do turismo. São
Paulo: Aleph, 2012.

SANTOS, Marlene Oliveira dos. Formação continuada e professores de escolas comunitárias:


Sentidos do percurso formativo / Marlene Oliveira dos Santos – 2007. 202 f.

RICCO, Adriana Sartório. O turismo como fenômeno social e antropológico. In.,Turismo, espaço e
estratégias de desenvolvimento local. Org. PORTUGUEZ, Anderson Pereira; SEABRA,
Giovanni de Farias; QUEIROZ, Odaléia Telles M. M. - João Pessoa: Editora Universitária da
UFPB, 2012. 396p.

RODRIGUES. A. A. B. Geografia do Turismo: novos desafios. In: TRIGO, L. L. G. (org).


Turismo: como aprender, como ensinar. São Paulo: Editora SENAC, 2002.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 390


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TURISMO RURAL E MEIO AMBIENTE

Lucas Alves do Espírito SANTO


Graduando do Curso de Licenciatura em Geografia da UPE
lucasalves020@hotmail.com
Jorge José Araújo da SILVA
Professor Doutor do Curso de Licenciatura em Geografia da UPE
Jasil1@terra.com.br

RESUMO
O turismo rural tem sido visto como uma boa opção de geração de renda para as famílias rurais e
com condições de manter essas pessoas no meio em que vivem, possibilitando assim a diminuição
do êxodo rural que na maioria das vezes é causado pela falta de opções no campo. Contudo, o
turismo rural pode provocar danos ao meio ambiente se não for considerada a dimensão ambiental
como fator fundamental na sustentabilidade desta atividade. Dessa forma é necessário a realização
de práticas para a conscientização do cuidado com o meio ambiente e a sua preservação.
Palavras-chaves: Turismo rural, meio ambiente, sustentabilidade

ABSTRACT
Rural tourism has been seen as a good option for generating income for rural families and able to
keep these people in the environment in which they live, thus enabling the decrease of the rural
exodus, which is most often caused by the lack of Options in the field. However, rural tourism can
cause damage to the environment if the environmental dimension is not considered as a
fundamental factor in the sustainability of this activity. In this way it is necessary to carry out
practices to raise awareness about the environment and its preservation.
Keywords: Rural tourism, environment, sustainability

INTRODUÇÃO

Neste artigo empreendemos um estudo tendo como foco principal compreender a relação do
turismo rural com a Educação Ambiental visando a sustentabilidade ambiental, econômica e
cultural. Dessa forma, conhecendo os princípios das técnicas de sensibilização e interpretação
ambiental que podem ser usadas nas atividades turísticas. O turismo rural se apresenta como uma
nova forma produtiva no meio rural sendo um caminho de renda familiar e introduzindo o setor de
serviços interno à propriedade rural. A realização de práticas de conscientização ajudam a garantir
uma sustentabilidade ambiental da atividade turística. A sustentabilidade no meio rural garante que
o desenvolvimento seja compatível com a manutenção dos processos ecológicos essenciais, da
diversidade biológica e dos recursos biológicos. A conservação e proteção dos recursos naturais são
de interesses de todos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 391


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O turismo rural não é um fenômeno novo no Brasil, o interesse crescente pelas atividades
recreativas no meio já se manifestava no século XIX, na Europa. Esse crescimento no país é originário
das classes média e alta que atribuem grande importância aos valores e identidade cultural locais e, ao
mesmo tempo, possibilidade de desenvolvimento econômico regional.
O turismo rural é diferente de outros como o turismo verde, turismo ecológico, agroturismo,
ecoturismo, etc. Porém, alguns destes podem apresentar características semelhantes, como pequenas
escalas ao ar livre, proporcionando ao visitante o contato com a natureza, com a herança cultural das
comunidades do campo. Há inúmeras características relacionadas a quem busca o turismo rural, dentre
elas estão a busca do simples e autêntico, como uma reação ao estresse promovido pelos meio urbanos
decorrente, sobretudo, da expansão industrial nas cidades. Sendo assim, o turista de forma geral busca
tranquilidade, paz e relaxamento que o meio rural proporciona. Além dessas características, existem
outras como o retorno da pessoa a seu habitat de origem, após anos, decorrente, principalmente, do
―êxodo rural‖.
Do turismo rural se esperam diversas contribuições importantes na revitalização econômica
e social dos territórios rurais, na valorização dos patrimônios e produtos locais, além do importante
papel que pode desempenhar na conservação do meio ambiente e na gestão da diversidade das
paisagens. Entretanto, para que esse tipo de turismo possa, de fato, se constituir em um fator de
desenvolvimento, são necessárias ações de estruturação e caracterização para que essa tendência
não ocorra desordenadamente, de modo a consolidar o Turismo Rural como uma opção de lazer
para o turista e uma importante e viável oportunidade de renda para o empreendedor rural.

CONCEITUAÇÃO DE TURISMO RURAL

O Turismo Rural está relacionado com a exploração e com a organização produtiva do


espaço rural, envolvendo a cultura camponesa. Gera uma melhor qualidade ambiental preservando
a cultura tradicional e melhorando a qualidade de vida das pessoas, sendo muitas vezes um tipo de
turismo alternativo.

Turismo rural é conhecido como atividade turística que ocorre na zona rural, integrando a
atividade agrícola pecuária à atividade turística, surge como alternativas para proprietários
rurais na atual crise fundiária, atrelada a falta de incentivos ao homem do campo.
ALMEIDA E RIEDL (2000:07)

O Turismo rural é uma modalidade do turismo que tem por objetivo permitir a todos um
contato mais direto e genuíno com a natureza, a agricultura e as tradições locais, através da
hospedagem domiciliar em ambiente rural e familiar.
Desde a década de 70, como resposta ao aumento e diversificação da procura turística, assim
como a procura de soluções para o declínio e desagregação das sociedades rurais, assiste-se ao
desenvolvimento do turismo em espaço rural, constituindo-se estas como um meio privilegiado de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 392


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

promoção dos recursos existentes nos territórios rurais, um fator de revitalização do tecido
econômico e social e uma oportunidade para o desenvolvimento destes territórios. Alguns autores
se referem ao turismo rural como:

[...] deslocamento de pessoas ao espaço rural, com roteiros programados ou espontâneos,


com ou sem pernoite para a fruição dos cenários e instalações rurículas como sendo
turismo no espaço rural; isto serve para incluir o agroturismo. (BENI, 2001, p. 428)

Sendo assim, ele prefere dizer que o turismo rural possui características próprias e bem
definidas. O Turismo no Espaço Rural constitui uma atividade geradora de desenvolvimento
econômico para o mundo rural quer por si só, quer através da dinamização de muitas outras
atividades econômicas que dele são tributárias e que com ele interagem.
O conceito de Turismo Rural que foi adotada pelo Ministério do turismo fundamente-se em
aspectos que se referem ao turismo, ao território, a base econômica, aos recursos naturais e
culturais e a sociedade. Com base nesses aspectos, define-se que:

Turismo Rural é o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural,


comprometidas com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços,
resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade.

Esse conceito revela uma lógica de valorização das particularidades do Turismo Rural e
pode ser compreendido a partir de detalhes das ideias nela sintetizada, tais como: as atividades
turísticas no meio rural, o meio rural, o comprometimento com a produção agropecuária, a
agregação de valor a produtos e serviços e o resgate e promoção do patrimônio cultural e natural.
As atividades do turismo no meio rural, para que ele se efetive, deve estar de acordo com
alguns pilares que são fundamental, tais como: ser ecologicamente correto ser economicamente
viável, ser socialmente justo e ser verdadeiramente rural. Além disso, deve ser observadas que a
propriedade e suas instalações devem ser totalmente adaptadas para receberem os turistas.

TURISMO RURAL E MEIO AMBIENTE

O impacto do turismo rural acontece em várias escalas e distintos aspectos culturais,


econômico, ambiental, social e político. Dessa forma, o turismo precisa ser estudado e muito bem
planejado. O Turismo Rural caracteriza-se pela valorização do patrimônio cultural e natural como
elementos da oferta turística no meio rural. Assim, os empreendedores, na definição de seus
produtos de Turismo Rural, devem contemplar com a maior autenticidade possível os fatores
culturais, por meio do resgate das manifestações e práticas regionais e primar pela conservação do
ambiente natural.

Afinal, não se deve esquecer que os componentes naturais da paisagem, isto é, ar puro, o
sol, as montanhas (...) são inteiramente gratuitos. Eles estão a livre disposição de todos ou
quase. Eles não têm preço. De certa forma são o bônus do pacote. É pôr esta razão que

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 393


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

muitas regiões liquidam seus recursos, sem se dar conta do que estão perdendo, cada vez
mais a própria independência (KRIPPENDORF,1989: 96).

Sobre o meio ambiente, há possibilidade de aumento acentuado de resíduos de forma geral,


sejam sólidos, líquidos ou gasosos; destruição da vegetação; desrespeito às normas e às leis ambientais.
Dependendo de como é feito o produto, ele pode gerar um impacto de grandes proporções, caso aumente
o consumo de forma contínua. Ainda poderiam ser ilustrados inúmeros impactos ao espaço, como o
crescimento da prostituição, aumento da violência, aculturamento, destruição do patrimônio, entre
inúmeros impactos que proporcionam. Dessa forma, caso não haja um planejamento e uma estrutura
pré-estabelecida pelos agentes de um determinado espaço, esse turismo não terá um desenvolvimento
sustentável.
O desenvolvimento do turismo rural passa obrigatoriamente pela sustentabilidade das ações,
tanto do ponto de vista social como ambiental, não é possível garantir o desenvolvimento regional
sem antes ter discutido e elaborado ações para a manutenção da biodiversidade e nos cuidados com
o ecossistema, além de ações que não agridam o modo de viver do povo nativo nas regiões. A
exploração do turismo rural tem em seu íntimo a diferença de estar em sintonia na convivência
com a cultura social e a natureza, buscando explorar com responsabilidade ambiental e social, a
final, são as belezas naturais somadas as condições de preservação sócio culturais, do artesanato
tradicional e do patrimônio histórico destes lugares que fazem a riqueza de seus atrativos.
Neste tipo de turismo, o turista entra em contato com o modo de vida rural no engenho,
integrando-se de alguma forma aos hábitos do cotidiano no campo.

O contato com a natureza e a cultura local funciona como uma fuga para os turistas, pois
seu maior desejo é justamente sair da realidade estressante da vida cotidiana dos grandes
centros urbanos motivados pôr uma nova opção de lazer, proporcionando a interação com o
modus vivendi rural, incorporando elementos carregados de uma simplicidade peculiar a
este meio, inserida em um contexto de uma paisagem cênica remetendo o indivíduo a
exercer um olhar contemplativo. CAVACO (1996:111).

Embora baseado no contato com a natureza, em que o turista busca no campo sossego, paz,
tranquilidade e integração do meio ambiente e as atividades rurais, este não abre mão de algumas
condições de conforto que encontra na cidade. O que acarreta maiores custos no preço de
hospedagem, tornando caro este tipo de turismo, pois devem ser também contabilizados os
deslocamentos. Portanto, é necessário salientar que o turismo rural em virtude dessas
características que apresenta, não pode ser tratado como um fenômeno de massa.
É importante manter um equilíbrio entre lazer e meio ambiente satisfazendo os turistas,
para que haja sucesso no empreendimento. Dessa forma é fundamental a valorização do homem do
campo, sua autenticidade, e a estabilidade ecológica do meio natural, buscando soluções para a
economia local e preparando a comunidade para as possibilidades de exploração dessa atividade
com sustentabilidade.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 394


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A educação ambiental é fundamental para uma conscientização das pessoas em relação ao


mundo em que vivem para que possam ter cada vez mais qualidade de vida sem desrespeitar o
meio ambiente. O maior objetivo é tentar criar uma nova mentalidade com relação a como usufruir
dos recursos oferecidos pela natureza, criando assim um novo modelo de comportamento,
buscando um equilíbrio entre o homem e o ambiente.

TURISMO RURAL EM NAZARÉ DA MATA-PE

Nazaré da Mata é um município pernambucano localizado na Zona da Mata Norte de


Pernambuco, distante 65 km da capital Recife. Com uma área de 141,3 km² o município possui
uma população de 30.647 habitantes, sendo 24.704 residentes na zona urbana e 5.943 na zona
rural.
O município de Nazaré da Mata possui vários engenhos com potencial turístico para a
prática da educação ambiental. Dessa forma, o turismo rural surge como alternativa à monocultura
da cana de açúcar, para o município, pois devido as poucas oportunidades oferecidas pelo
município ocorre a intensa migração das pessoas em direção a capital do estado. Dentre alguns dos
engenhos com potencial turístico e ambiental pode-se citar:
 Engenho Bonito: está localizado a 8 km da sede do município, e é de difícil acesso devido ao
péssimo estado de conservação das estradas em terra no trecho final antes da chegada a
ele. Atualmente o engenho possui uma produção semi- artesanal de doces e geleias. A
casa grande, chalé do início do século XIX, não tem valor arquitetônico. O prédio da moita
é uma construção de alvenaria de tijolos, assentada num declive de terreno, de modo que os
blocos se situam em diferentes níveis. A capela de São Francisco Xavier é um belíssimo
exemplar rural do século XVIII e está tomada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional) desde 1949. A sua fachada principal, compõe-se de um vão
central e dois laterais. Uma única parte central dá acesso à nave e duas seteiras, uma de
cada lado, no nível térreo, e quatro janelas, no nível do primeiro pavimento. O frontão
possui colunas ladeadas por pequenos pináculos, com um nicho ao centro e uma cruz em
cima. As geleiras laterais, encimadas por um pequeno frontispício, possui nichos vazados
centrais e cornijas onduladas. Seu interior é deslumbrante. Talhas no estilo D. João V
evoluído formam o arco- cruzeiro, as tribunas e os altar-mor. A teia de coro também é em
madeira torneada e entalhada. O forro da capela-mor é abobadado, de talha dourada, e os da
nave e os da sacristia, em madeira com pintura. Sob o piso de coro, também em madeira,
pintura de motivos florais.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 395


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 01: Capela de São Francisco Xavier no Engenho Bonito

Disponível em: http://m.jc.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2015/03/15/capela-de-sao-


francisco-xavier-passa-por-obra-de-restauracao-emergencial-172236.php

 Engenho Santa Fé: está localizado junto a cidade, distante apenas 0,7 km, tem um acesso
fácil e rápido. Já funciona como espaço receptivo de hospedagem, com açude de pesque-
pague e outros equipamentos de apoio. O conjunto do engenho, de valor arquitetônico
pouco significativo, é formado pela casa grande, construída em meados do século XX, é
uma edificação de único pavimento com cobertura de quatro águas. Elemento de destaque
no conjunto, a casa de purgar ainda preserva sua estrutura.

Figura 02: Casa grande no Engenho Santa Fé

Disponível em: http://vicencianet.blogspot.com.br/2014_05_01_archive.html

 Engenho Pedregulho: está localizado as margens da BR-408 bem perto da sede do


município. É um local atrativo e bastante visitado, principalmente nos finais de semana, é
rodeado por área verde e também possui um pesque-pague.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 396


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 03: Pesque-Pague no Engenho Pedregulho.

Disponível em: http://www.pescanordeste.com.br/forum/viewtopic.php?t=8421

 Engenho Cueirinha: o lugar é excelente para quem busca tranquilidade, contato com a
natureza e vivenciar um pouco da história dos engenhos da zona da mata pernambucana.
Com piscina, muito verde e uma linda paisagem de fazenda, o lugar respira tranquilidade e
tem uma gastronomia de pratos regionais fantásticos.

Figura 04: Detalhe da lateral da casa grande no Engenho Cueirinha.

Disponível em: http://blogs.ne10.uol.com.br/social1/2013/10/16/para-revelar-a-zona-rural-de- pernambuco/

Após a visita aos engenhos, foi observado que o turismo rural foi implantado nos locais de
forma planejada proporcionando alguns benefícios, tais como:
Geração de empregos, procurando o empreendedor garantir a manutenção das
atividades, oportunizando a manutenção da família rural no campo utilizando a mão de obra local;
Preservação do patrimônio natural, promovendo a preservação e recuperação ambiental
no espaço rural, criando oportunidades tanto no visitante quanto na população local de aumentar a
consciência ambiental;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 397


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Melhoria da formação educacional do homem do campo, oferecendo capacitação para o


trabalhador rural, que adquire novos conhecimentos, melhorando assim o nível de serviços
oferecidos no local a clientela,
Conservação do patrimônio histórtico-cultural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O turismo é o setor que mais cresceu nos últimos anos. O turismo rural é uma modalidade
relativamente nova no Brasil e ainda pouco explorada, mas que se demonstra como uma atividade
de grande potencial, pois proporciona o resgate do regionalismo cultural e valoriza e preserva o
meio ambiente, isto quando há um planejamento que tenha como prioridade o desenvolvimento
sustentável.
O desenvolvimento de um turismo rural sustentável deve efetivamente refletir as questões
ambientais, sociais, culturais e econômicas. Entretanto, é a ambiental que domina qualquer um dos
debates. Porém, é necessário que se adotem critérios de sustentabilidade e se decida que é possível
um desenvolvimento continuado, ao mesmo tempo em que se preservam os recursos naturais
existentes. Assim, deve-se desenvolver o turismo em áreas rurais com uma importância redobrada,
nutrindo e enriquecendo o desenvolvimento da atividade turística e ao mesmo tempo em que se
cuide da matéria- prima da atividade, o meio rural, bem como dos próprios recursos que favorecem
e influenciam na demanda para esse meio, conscientizando os proprietários rurais, os
colaboradores e os turistas, que também devem fazer a sua parte nesse processo, preocupando-se
com a minimização dos impactos ambientais e culturais negativos que a atividade possa provocar.
Finalmente, a sustentabilidade ambiental no turismo deve refletir o desenvolvimento de
políticas, de estratégias e ações contínuas, que promovam a preservação do meio ambiente,
evitando assim a degradação dos recursos naturais, cuja base e qualidade dependem da
manutenção e desenvolvimento deste setor. E a conquista da sustentabilidade deve estar atrelada ao
envolvimento e à participação de cada segmento, instituição e entidade que constituem a
sociedade.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, J.A.; FROEHLICH, J.M.; RIEDI, M. (Orgs.). Turismo rural e desenvolvimento


sustentável. São Paulo: Papirus, 2000.

ALMEIDA, J. A., RIEDL, M. (org.). Turismo Rural: Ecologia, lazer e desenvolvimento. Bauru:
EDUSC, 2000. 07p.

BENI, M.C. Análise estrutural do turismo. 6.ed, São Paulo: SENAC, 2001.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 398


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CAVACO, Caminda. Turismo rural e desenvolvimento local. In: RODRIGUES, Adyr A. B. (org.)
Turismo e Geografia: reflexões teóricas e enfoques metodológicos. São Paulo: Hucitec, 1996.
94-121 p.

DIAS, R. Turismo sustentável e meio ambiente. São Paulo: Atlas, 2003. KRIPPENDORF, JOST.
Sociologia do Turismo: para uma compreensão do lazer e das viagens. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1989. 96 p.

MAGALHÃES, Antônio. Turismo com cheiro de mato. Folha de Pernambuco. Recife,

18 de Maio de 200.

MOLLETA, Vânia Florentino. Turismo Rural. Porto Alegre: Sebrae/RS,1999

RIBEIRO, Santos Virgílio, GRANATA, Francisco de Melo. Turismo Rural e o desenvolvimento


local: novos tempos, novos desafios na comunicação rural. In: Travessia. Período. Ano 4, n. 4,
2002.

RODRIGUES, Adayr Balastreri (org). Turismo Rural: práticas e perspectivas. 2. Ed. São

Paulo: Contexto, 2003.

RUSCHUMAN, Dóris. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente.


Campinas: Papirus, 1997.

SANTANA, Laudicéa Maria do Nascimento. 2003, 94 fls. As fazendas engenhos como espaço de
desenvolvimento do turismo rural em Nazaré da Mata. Monografia: UPE- FFPNM. Nazaré da
Mata.

SOARES, Silvana Gomes de. 2003, 69 fls. O desenvolvimento do turismo em Nazaré da Mata-PE.
Monografia: UPE-FFPNM. Nazaré da Mata.

ZIMMERMANM, A. Turismo rural: um modelo brasileiro. Florianópolis: autor, 1996.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 399


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TURISMO E SUSTENTABILIDADE: UM ESTUDO SOBRE OS RECURSOS


TURÍSTICOS POTENCIAIS NA SERRA DE SANTA CATARINA – PB

Benedita Martins TOMAZ


Graduanda do Curso de Geografia da UFCG
benedita.martins@hotmail.com
Marcelo Henrique de Melo BRANDÃO
Doutor em Geociências. Universidade Federal de Campina Grande-CFP-UNAGEO
mhmh64@hotmail.com

RESUMO
O objetivo deste trabalho é identificar os recursos turísticos potenciais na Serra de Santa Catarina, a
fim de propor formas alternativas de uso e ocupação da área agregando valor turístico ao município
de São José da Lagoa Tapada-PB, e futuramente a outros municípios que se limitam com a serra,
uma nova atividade econômica complementar as já existentes, que promoveria seu reconhecimento
e geraria renda para a população local, sem agressões maiores ao meio ambiente, e de modo
particular, a serra, que sofre com os efeitos das atividades agrícolas, pecuárias e do corte ilegal e
predatório da madeira. O estudo tem caráter descritivo-exploratório, e utilizou como procedimentos
metodológicos pesquisa bibliográfica, observação, pesquisa de campo, registro fotográfico e
história oral, para conhecimento da temática e atingir o objetivo. Os resultados dessa análise
mostram, em um primeiro momento, os pontos na serra com potencial para uso turístico, e em um
segundo momento, a proposta de agregar os princípios do ecoturismo, com a finalidade de
promover a: conservação ambiental da área; educação ambiental, do visitante e do morador; e
inclusão da comunidade local.
Palavras-chaves: Ecoturismo, Sustentabilidade, Turismo, Turismo de Base Local.
ABSTRACT
The objective of this work is to identify the potential tourist resources in the Serra de Santa
Catarina, in order to propose alternative forms of use and occupation of the area adding tourist
value to the municipality of São José da Lagoa Tapada-PB, and in the future to other municipalities
that are limited With the mountain range, a new economic activity complementing those already
existing, which would promote their recognition and generate income for the local population,
without major environmental aggressions, and in particular, the mountain range, which suffers from
the effects of agricultural activities, livestock And illegal and predatory logging. The study has a
descriptive-exploratory character, and used as methodological procedures bibliographic research,
observation, field research, photographic record and oral history, to know the subject and reach the
objective. The results of this analysis show, in a first moment, the points in the mountain range with
potential for tourist use, and in a second moment, the proposal to add the principles of ecotourism,
with the purpose of promoting the: environmental conservation of the area; Environmental
education, of the visitor and of the resident; And inclusion of the local community.
Keywords: Ecotourism, Sustainability, Tourism, Local Base Tourism.

INTRODUÇÃO

O turismo é uma atividade econômica que vem assumindo importante papel no contexto
mundial, chegando a ser comparado a outros setores mais rentáveis, como a indústria

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 400


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

automobilística, petrolífera, bélica e farmacêutica. Fatores como à expansão dos transportes e da


telecomunicação; e as melhorias nas questões trabalhistas, como direto à férias, tem sido
importantes para que o turismo ganhasse impulso no Brasil e no mundo.
Nosso país é privilegiado de biodiversidade e geodiversidade12, além de considerável
patrimônio cultural, histórico e paisagístico, que são, sem dúvida, importantes elementos que
impulsiona a indústria do turismo. Entretanto, a maioria de nossas cidades possui grande potencial
para desenvolver o turismo, mas que infelizmente poucos são explorados. É o caso da Serra de
Santa Catarina, no alto sertão paraibano.
As leituras sobre a área revelam a existência de uma riqueza florística, faunística, geológica
e paisagística que está vulnerável às práticas inadequadas da agricultura, pecuária e o corte
predatório e ilegal da madeira. Frente essas ações surgiram os seguintes questionamentos: que
atitudes poderiam ser tomadas para o reconhecimento e importância da área? Se o que move o
assunto são a renda e o sustento de famílias, então, que outra atividade econômica poderia ser viável
implantar na serra em questão? E por fim, que atividade econômica melhor se enquadra quando o
assunto da ―moda‖ é a sustentabilidade?
Diante disso, o objetivo deste trabalho é identificar os recursos turísticos potenciais na Serra
de Santa Catarina, a fim de propor uma nova forma de uso e ocupação da área agregando valor
turístico ao município de São José da Lagoa Tapada-PB, e futuramente a outros municípios que se
limitam com a serra, uma nova atividade econômica complementar as já existentes, que promoveria
seu reconhecimento e geraria renda para a população local, sem agressões maiores ao meio
ambiente, e de modo particular, a serra. Neste caso, propõe-se desenvolver, dentro dos diversos
segmentos do turismo, o ecoturismo como modelo de turismo mais responsável.
Para a realização deste trabalho foram utilizadas como procedimentos metodológicos
referências bibliográficas, a fim de embasa todo o conhecimento teórico sobre a temática e para as
informações do quadro natural da serra. Também foi realizado trabalho de campo, cujo objetivo foi
observar e identificar os possíveis locais de interesse ao turismo, utilizando-se de caderno de
campo, registro fotográfico e história oral para fins de nota e coleta de informações.

ECOTURISMO E TURISMO DE BASE LOCAL

O turismo é uma atividade econômica geradora de renda e empregos, formal e informal, que
vem se destacando no cenário nacional e internacional como um dos setores mais rentáveis e mais
significativos do mundo. Os principais motivos para a expansão do turismo estão associados à
12
Geodiversidade é, em linhas gerais, o conjunto de elementos geológicos e geomorfológicos da paisagem envolvendo
os aspectos abióticos da Terra, que por sua vez, são evidências dos processos passados e atuais. Assim, a
geodiversidade é o resultado da interação de diversos fatores como as rochas, o clima, os seres vivos, entre outros,
possibilitando o aparecimento de paisagens distintas em todo o mundo. (BRILHA, 2005, apud MOURA-FÉ, 2015, p.
55)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 401


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

evolução nos meios de transporte, da telecomunicação, aumento no poder aquisitivo, melhorias nos
direitos trabalhistas, como férias, e a necessidade de conhecer lugares novos, para descanso e lazer,
longe do estresse de longas jornadas de trabalho, da vida agitada das grandes cidades, e entre outros
motivos.
De acordo com o Anuário Estatístico do Turismo (2017), o turismo é definido como:

Atividades realizadas pelos visitantes durante sua viagem a um destino fora de seu entorno
habitual, por uma duração inferior a um ano, com qualquer finalidade (lazer, negócios ou
outro motivo) que não seja empregado por uma entidade (empresa/instituição) residente no
país ou lugar visitado. (RIET 2008 - Ver p.10, § 2.9)

O turismo não pode ser confundido com os movimentos migratórios ou com os movimentos
do cotidiano. Barretto (1995), explica que três elementos importantes devem ser levados em
consideração ao definir seu conceito: tempo de permanência, o caráter não lucrativo e o lazer. O
turista tem a noção do tempo mínimo e máximo que permanecerá fora de seu domicílio, e ele
sempre tem a intenção de retornar à sua casa. Este deslocamento não tem caráter lucrativo, visto
que o objetivo está na busca por lazer. Neste caso, o turista irá gastar o dinheiro que ganhou em
outro lugar, em lugares que lhe proporcionem sensação de bem estar físico e espiritual, recreação,
paz, contentamento, descanso, cultura, informação, aventura, entre outros, durante algum tempo
livre.
Como forma de diversificar a atividade, o Ministério do Turismo13 definiu alguns segmentos
turísticos prioritários para o Brasil, entre os quais destaca-se o ecoturismo com suas práticas
ecológicas que mais se enquadram às ideias de sustentabilidade.
Ecoturismo é um segmento do turismo que vem se destacando no Brasil quando os
movimentos ambientalistas e os debates sobre a importância de conservar e preservar nossa riqueza
natural alcançou a atividade turística. Nesta mesma época, o modelo de turismo de massa 14 era
apontado como importante agressor e gerador de impactos negativos na esfera social, cultural,
econômica, e principalmente, na ambiental (BRASIL, 2010)15.
As Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo (1994, p. 18) define o ecoturismo
como ―segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e
cultural, incentiva a sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através
da interpretação dos ambientes, promovendo o bem estar das populações envolvidas.‖
Diante das leituras sobre o assunto, entende-se por ecoturismo como uma modalidade
desenvolvida em ambientes naturais, que aplica práticas da conservação, informação e inclusão nas

13
BRASIL, Ministério do Turismo. Segmentação do Turismo: Marcos Conceituais. Brasília: Ministério do Turismo,
2006.
14
Turismo de massa é caracterizado por ―oferecer serviços e produtos homogeneizados, para uma demanda turística
inexperiente e motivada [principalmente] pela oferta de sol e praia, a preços muito baixos, sem maiores preocupações
com as questões ambientais e culturais‖ (BRASILEIRO, 2012, p. 89).
15
Brasil. Ministério do Turismo. Ecoturismo: orientações básicas. Brasília: Ministério do Turismo, 2010.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 402


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

localidades receptoras, apoiando-se nos princípios básicos da gestão ambiental16. Assim, todas as
atividades, projetos e ações desenvolvidas são baseados na capacidade e no limite da natureza, para
que desta forma ocorra à conservação e proteção das áreas e o bem-estar da população local.
Outra característica importante é a harmonia entre o homem e a natureza, onde o homem é
inserindo no ecossistema, costume e história local a partir da prática da educação ambiental. Deste
modo, tanto o visitante como o turista são orientados e sensibilizados sobre a importância de
conservar o patrimônio natural e cultural e o valor da área visitada.
Por último, está a inclusão na comunidade local nas decisões de implantação das atividades
e serviços turísticos. Nesta parte enquadra-se o conceito de Turismo de Base Local, que segundo
Bursztyn, Bartholo e Delamaro (2009, apud CARVALHO, 2012, p. 4) ―é uma nova modalidade do
turismo, que requer menor densidade de infraestrutura e serviços, visando à exploração dos recursos
naturais e culturais locais, por meio da inclusão da comunidade no desenvolvimento e planejamento
da atividade‖.
O turismo de base local é um segmento que incentiva a participação da comunidade na
tomada de decisões, abrindo espaço para que suas ideias, opiniões, medos, anseios e expectativas
sejam ouvidos e, deste modo, o turismo aconteça de forma responsável e dentro dos seus limites.
Deve-se também desenvolver planos e ações que valorizem a mão de obra local e promova a
capacitação da comunidade para gerenciar seus próprios negócios no setor, a fim de que a riqueza
gerada pela atividade turística, ainda que em longo prazo e lucros reduzidos, mantenha-se no
próprio local e promova a qualidade de vida da população receptora (BALDISSERA; BAHL, 2012,
GOMES, 2012).

CARACTERIZANDO O LOCAL DO ESTUDO

O município de São Jose da Lagoa Tapada, localizado no estado da Paraíba, pertence à


microrregião de Sousa, a aproximadamente 420 km de distância da capital estadual, João Pessoa. O
município tem uma área de 341,806 km² e limita-se ao norte com Sousa e Aparecida, a oeste com
Nazarezinho, ao sul com Aguiar, a Sudeste com Coremas e a Leste com São Domingos e Pombal.
Os acidentes geográficos de destaque no município são a Serra Cascavel, situado na porção norte do
município, e, na porção sul, a Serra de Santa Catarina, objeto de estudo deste trabalho.

16
A gestão ambiental utiliza instrumentos como fiscalização, licenciamento, monitoramento e educação ambiental
(COIMBRA, 1999, apud GOMES, 2012).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 403


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 10: Mapa de localização da Serra de Santa Catarina. Fonte: Araújo et al (2016)

A Serra de Santa Catarina é parte integrante do denominado Planalto da Borborema, situada


entre as coordenadas geográficas UTM, 9230 km N a 9220 km N de latitude e 610 km E a 575 km
E de longitude, com uma área de aproximadamente 112,1 km², desde o Olho d‘ água do Frade, em
Nazarezinho, até o riacho saco dos Bois, em São José da Lagoa Tapada. Apresenta uma orientação
no sentido E – W, com níveis altimétricos que alcançam em média cotas de 500 a 700 metros,
chegando a superar a altitude de 830 metros em sua porção superior. (BRANDÃO et al, 2012)

OS RECURSOS TURÍSTICO POTENCIAIS NA SERRA DE SANTA CATARINA

ZA Serra de Santa Catarina é rica de elementos naturais que lhe atribui particularidades em
relação a outras áreas e não há duvidas que exista uma riqueza ecológica, geológica e ambiental
incalculável, principalmente para o ponto de vista estético e científico. Considerando essa riqueza
florística, faunísticas, paisagísticas e a geodiversidade da área, foram identificados, até o presente
momento, alguns pontos com potencial e de interesse ao turismo, os quais foram classificados em
dois grupos: os recursos naturais – Riachos, Ponte de Pedra, Escadaria de Micaxisto, Diversidade na
Cobertura Vegetal, Apertado da Hora, -; e os possíveis lugares para uso culturais – Cruz do Nego,
Pedra Branca. As figuras a seguir mostram um pouco do potencial desta área:

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 404


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 11: Riacho Figura 12: Ponte de Pedra


Fonte: Autor, 2017. Fonte: Autor, 2017.

Figura 4: Escadaria de Micaxisto Figura 5: Tapete de pteridófitas


Fonte: Autor, 2017. Fonte: Autor, 2017.

A Serra de Santa Catarina é um divisor de águas com rios que deságuam na Bacia
Hidrográfica do Rio Piranhas. Os riachos da serra são temporários, típicos de clima semiárido, e por
isso normalmente apresentam bastante água no seu curso nos períodos chuvosos, e secam nos
períodos de estiagem. Nos períodos chuvosos, os riachos constituem importante recurso natural para
região, por contribuírem com o abastecimento de açudes e barreiros, utilizados pelos habitantes da
zona rural e urbana nos períodos de estiagem.
A Ponte de Pedra é uma forma de relevo resultante do processo de erosão diferencial, ao
longo de milhões de anos. Neste processo a ação dos agentes do intemperismo nas rochas será
determinada pelo o grau de resistências dos minerais. Assim, alguns minerais podem ser mais
suscetíveis à erosão do que outros, resultando em diferentes geoformas esculpidas no relevo, como
é o caso da Ponte de Pedra. Além de sua beleza cênica, o local ainda é contemplado pela passagem
de um curso d‘água nos períodos chuvosos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 405


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A Escadaria de Micaxisto é um nome utilizado para caracterizar uma área parecida com uma
espécie de rampa, formada de micaxisto, uma rocha metamórfica que se caracteriza por um brilho
significativo, devido à forte presença de micas de cores cinza á preta (minerais sob a forma de
pequenas placas, semelhantes às escamas de peixes, conhecidos popularmente como malacacheta);
e pela presença de uma forte foliação (estrutura planar originada durante os processos metamórficos
e esforços tectônicos), conhecida como xistosidade e evidenciada pelo resfriamento de seus
minerais sobre um plano (NASCIMENTO; SANTOS, 2013). A beleza cênica desta área está
relacionada com a reflexão de seu brilho quando os raios solares incidem nesta área, tornando-a
resplandecente.
A área está inserida no Domínio Morfoclimático da Caatinga, logo a vegetação
predominante será caatinga. As espécies vegetais do tipo caatinga identificadas na serra
apresentam-se em três estratos: Caatinga Arbustiva, Caatinga Arbóreo-arbustiva e Caatinga
Arbustivo-arbórea.
Além destas espécies vegetais, também foram coletadas, classificadas e fotografadas
espécies vegetais típicas das áreas de restingas e mata atlântica (clima mais úmido), como por
exemplo, Malpighiaceae (Murici de praia), Rubiaceae (Jenipapo), Bignoniaceae (Ipê- Roxo),
Leguminosae (Jatobá), espécies das famílias Celastraceae e Myrtaceae (Goiabinha da Serra), e a
ocorrência de pteridófitas (BRANDÃO et al, 2009). São espécies vegetais que não suportariam as
características edafoclimáticas dos sertões semiáridos, e por isso a Serra de Santa Catarina pode ser
entendida como um enclave subúmido (SOUZA, 2006, apud BRANDÃO et al, 2009), cuja
explicação mais aceita para o desenvolvimento e manutenção desta flora diferenciada está na Teoria
dos Redutos e Refúgios Florestais (BRANDÃO et al, 2009; SOUSA, 2011; ARAUJO, 2013,
ARAÚJO et al, 2016). Este é um importante fator para valorização da área, visto que em um curto
espaço, é possível visualizar diferentes formações vegetais.
O Apertado da Hora é o nome utilizado para caracterizar uma área composta basicamente
por Colúvio pedogeneisado (BRANDÃO et al, 2009), formado por material intemperizado de outras
partes do relevo – áreas mais elevadas-, transportadas principalmente pelo efeito da gravidade.
Esses tipos de solo atuam como uma espécie de esponja, absolvendo a umidade e liberando-a
durante os períodos secos, garantindo a manutenção de uma vegetação de grande porte. Este é o
elemento que distingue a Serra de Santa Catarina das demais serras na região, e proporciona a
existência de uma vegetação diferenciada.
A Cruz do Nego é um local histórico que existe há mais de 300 anos, cuja lenda era contada
pela morada mais antiga do local, com idade superior a 90 anos - hoje falecida-, que ouvia a história
do seu avô, sobre essa cruz. A lenda que os moradores conhecem é que a cruz teria sido de um
homem que morava na proximidade da serra que foi morto por ataque de onça. Os motivos pouco se

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 406


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

sabem, mas o fato é que o local mexe com o imaginário de todos que desejam conhecer uma
história que já perpassa três séculos de existência.
A Pedra Branca é um nome popularmente utilizado para caracterizar um afloramento
rochoso situado na unidade geoambiental denominada de piemonte, onde foi construído um
cruzeiro. O local é conhecido pelas romarias realizadas pelos os moradores locais durante a Semana
Santa do calendário Cristão, desde 1998. O acesso à área é realizado a pé por um percurso que
muitas das vezes apresentam obstáculos, como mata fechada, cercas e riachos, além da própria
inclinação do relevo, no sopé da vertente. Segundo os moradores locais, o acesso a Pedra Branca
caminhando não está ligado diretamente a esses desafios do percurso, mas é entendido como
símbolo de penitência da fé cristã.

A SUSTENTABILIDADE NA SERRA DE SANTA CATARINA

A Serra de Santa Catarina é uma área ambientalmente vulnerável à ameaça humana. A prova
disso é o manejo inadequado do solo para atividades agropecuárias, e a extração predatória da
madeira, que são visivelmente percebidos na visitação do local. Entretendo, ainda existem áreas que
estão relativamente conservadas, e por isso, novas medidas poderão ser tomadas para evitar,
futuramente, a possível degradação total da área.
Identificando, inicialmente, os possíveis pontos de interesse ao turismo e, aplicando os
princípios da sustentabilidade, poderá ser desenvolvido o turismo alternativo, caminhando pelas
ideias e princípios básicos do ecoturismo. Deste modo, as práticas iniciais que deverão ser
desenvolvidas considerando a proposta de turismo e sustentabilidade, apoiado no ecoturismo,
precisam estar sustentadas em três quesitos básicos:

Planejamento turístico focado na conservação ambiental do local;

Nesta questão é de fundamental importância à participação do órgão público na iniciativa de


promover o estudo preliminar da potencialidade turística para elaboração de planos, ações e
programas que auxiliem o desenvolvimento do segmento, com o objetivo de reduzindo o máximo
possível os impactos negativos, e que sejam capazes de promover a conservação, preservação,
recuperação e o manejo adequado da área. Para isso, é necessário o efetivo conhecimento da
realidade local, a fim de que o planejamento atinja suas finalidades de acordo com o que o
município dispõe e com foco no que se propõe.
Para isso poderá ser realizado melhorias das condições de infraestrutura e saneamento básico
na comunidade; recuperação de áreas degradadas; utilização de tecnologia limpas; implantação de
serviços de coleta seletiva do lixo nas proximidades da área; controle de volume e intensidade dos
fluxos e no porte dos equipamentos turístico nas proximidades do local; aplicar os princípios da

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 407


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Gestão Ambiental Territorial do destino, para fins de fiscalização, licenciamento, monitoramento e


educação ambiental; assegurar a efetivação do cumprimento das leis e decretos que regem o meio
ambiente local; atender as necessidades que forem surgindo a partir da dinâmica da atividade.
Além destas, é necessário elabora um conjunto de elementos estratégicos para garantir a
acessibilidade e a permanência do turista no local. Assim poderão ser utilizados estradas e caminhos
que já existem, para facilitar acesso à área e os recursos disponíveis; introdução de placas de
sinalização que divulgue a existência da serra e oriente o visitante até o local; providenciar, quando
possível, a implantação de sinalização, equipamentos de proteção e facilitadores, como corrimão,
escadas, pontes e sinalização para autoguia; elaboração de folders, panfletos e mapas contendo
informações, roteiros e atrativos da área, para serem distribuídos, a princípio, nas cidades e regiões
circunvizinhas; painéis interpretativo-explicativos, colocado em locais de interesse geológico, e que
incorporem informações sobre essas áreas.

Princípio da educação ambiental e conscientização do visitante e do residente;

Educação ambiental é processo pelo qual o ―indivíduo e a coletividade constroem valores


sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente‖17. Para isso é necessário realizar as seguintes ações: formação e preparação de guia e
monitores locais; curso de capacitação para professores; oficina de educação ambiental com
crianças, jovens e adultos; trabalho de campo realizado com alunos da rede estadual e municipal de
ensino.

Princípio da inclusão da comunidade local no desenvolvimento do ecoturismo.

Neste ponto, a comunidade deve estar presente em todas as fases de planejamento, que vão
desde a decisão inicial de implantação das atividades e serviços turísticos, até o conhecimento de
todas as mudanças que poderão ocorrer, inclusive, os possíveis impactos positivos ou negativos.
Para que isso aconteça, poderá ser realizada a capacitação da mão de obra local; o estimulo ao
artesanato e a gastronomia local; hospedagem em casa de moradores ou em casas direcionadas a
turistas (albergues); instalação de Centro de visitantes; incentivo a eventos culturais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta de desenvolver o ecoturismo e o Turismo de base local se faz necessário a fim de


amenizar maiores impactos na área e incentivar uma nova atividade econômica complementar para
os moradores daquela localidade. Contudo, o objetivo deste trabalho não está em propor um tipo de
17
Lei Nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação
Ambiental e dá outras providências. MMA- Ministério do Meio Ambiente. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/educacao-ambiental> Acesso em: 01 de agosto de 2017

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 408


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

turismo camuflado, capaz de maquiar todo o lado negativo da atividade, mas atribuir uma nova
forma de uso e ocupação da área de modo a não causar impactos maiores dos quais ela já vem
sofrendo.
É importante o entendimento que toda atividade, prática ou ação vai desencadear um
conjunto de impactos negativos de diferentes graus. Mas, aplicando os princípios do ecoturismo, é
possível desenvolver um conjunto de medidas que poderão amenizar esses impactos negativos,
desde que o seu planejamento envolva o compromisso de: conservação ambiental da área; promover
a educação ambiental, do visitante e do morador; inclusão a comunidade local;
Este segmento exige atitudes e comportamento que remetem a necessidade de mudanças dos
padrões ofertados, para que o manejo dos recursos naturais seja ambientalmente responsável. Por
isso que as acomodações e serviços turísticos são mesmo sofisticados que em outros segmentos,
porque os participantes do ecoturismo visão o contato com a natureza e a cultura local de forma
sustentável.
Um ponto importante é envolvimento da comunidade como protagonista no processo de
desenvolvimento da região, e não apenas como expectadores das atividades turísticas organizadas
externamente. A comunidade conhece perfeitamente suas potencialidades e, ofertando um serviço
de qualidade, garante a satisfação do turista e sua possível volta. Contudo, a formação de uma
consciência ecológica e de reconhecimento da importância da serra deve ser direcionada
primeiramente aos moradores, para que este por sua vez possa transmitir para os visitantes. Isso se
torna necessário porque se os próprios moradores não valorizar a Serra, quem irá? Daí entra a
importância da educação ambiental e da divulgação da área.
Vale destacar que como o turismo é uma atividade que se alimenta daquilo que é
diferente/exótico, foi identificado que o local apresenta potencialidades para atrair diversos perfis
de turista, desde os que buscam o contato com a natureza (Turismo ecológico), do convivo com o
homem do campo (Turismo Rural), os que procuram realizar esportes radicais, com os devidos
regulamentos e usos de equipamentos, (Turismo de Aventura), estudos a nível didáticos ou
acadêmicos na área da geologia, geomorfologia e ecologia (Turismo Educacional), até os que são
movidos pela fé cristã (Turismo Religioso).
A realização desta pesquisa para o município de São Jose da Lagoa Tapada-PB é de grande
valia, visto que expõem a importância ecológica, geológica e paisagística da Serra de Santa
Catarina, e contribui com possíveis ações e medidas que poderão direcionar o olhar dos gestores
públicos, comunidade local e até as entidades religiosas por seu valor estético, ambiental, cientifico
e econômico, além de incentivar e estimular dois importantes pontos: a educação ambiental e a
criação de áreas, programas e entidades (governamentais ou não) de proteção.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 409


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, E. D. S.. RIBEIRO, E. P.. SANTOS, E. B.; SOUZA, J. O. P. de. Potencialidades E


Riquezas Naturais Do Semiárido: A Serra De Santa Catarina Como Área De Excessão. In: I
Congresso Nacional Da Diversidade Do Semiárido. Campina Grande, 2016.

ARAUJO, Luana Martins de. Impactos Ambientais Na Serra De Santa Catarina, São José Da
Lagoa Tapada-PB. Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia, Universidade Federal de
Campina Grande, Cajazeiras, 2013.

BRANDÃO, M H M, PEREIRA, M S., SOUSA, P V P.. Indicadores Paleoclimáticos no alto


sertão da Paraíba. In XIII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA,
Viçosa. A Geografia Física Aplicada e as Dinâmicas de Apropriação da Natureza. Viçosa:
Editora da UFV, 2009.

BRANDÃO, Marcelo Henrique de Melo. SÁ, Francisco Severo de. SOUSA, Paulo Victor Paz de. O
Turismo Geocientífico Na Serra Da Santa Catarina-PB . In: Comunidades, natureza e cultura no
turismo [recurso eletrônico]/Giovanni Seabra (Organizador).-- João Pessoa: Editora
Universitária da UFPB, p. 1236 – 1245, 2012

BALDISSERA, Luana Maria. BAHL, Miguel. Turistas e moradores locais: Uma reflexão teórica
dessa relação. Anais do VII Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul. Turismo e
Paisagem: relação complexa, 2012.

BRASILEIRO, M. D. S. Desenvolvimento e turismo: para além do paradigma econômico. In:


Turismo, cultura e desenvolvimento [online]. Orgs.: BRASILEIRO, MDS., MEDINA, JCC., and
CORIOLANO, LN., Campina Grande: EDUEPB, 2012. pp. 75-98. ISBN 978-85-7879-194-0.

BARROS, Marcelo Oliveira. SILVA, Sibele Castro. GRANERO, Arlete Eni. FILHO, Hélio Braga.
O Desenvolvimento do Turismo: Uma visão sistêmica. Anais do 4º Congresso Brasileiro de
Sistemas. Centro Universitário de Franca Uni-FACEF. 2008.

BARRETTO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas, São Paulo: Papirus,
1995. (Coleção Turismo)

BRASIL. Ecoturismo Diretrizes para uma política Nacional. Embratur/Ibama. Brasília:


MICT/MMA, 1994, 48p.. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/estruturas/sedr_proecotur/_publicacao/140_publicacao2008200904371
0.pdf> Acesso em: 20 de julho de 2017

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 410


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

__________. Ministério do Turismo. Segmentação do Turismo: Marcos Conceituais. Brasília:


Ministério do Turismo, 2006. Disponível
em:<http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publi
cacoes/Marcos_Conceituais.pdf> Acesso em: 08 de julho de 2017.

__________. Ministério do Turismo. Ecoturismo: orientações básicas. Brasília: Ministério do


Turismo, 2010. 90p.; 24 cm. Disponível em: <
http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoe
s/Ecoturismo_Versxo_Final_IMPRESSxO_.pdf> Acesso em: 20 de junho de 2017

__________. Ministério Do Turismo. Anuário Estatístico de Turismo 2017 – Ano Base 2016.
Disponível em: <http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/2016-02-04-11-53-05/item/347-
anu%C3%A1rio-estat%C3%ADstico-de-turismo-2017-ano-base-2016/347-anu%C3%A1rio-
estat%C3%ADstico-de-turismo-2017-ano-base-2016.html>

Acesso em: 20 de julho de 2017

CARVALHO, Simone Marcela Souza de. Turismo De Base Local: Desafios Da Reserva De
Desenvolvimento Sustentável Tupé, Manaus-AM. VI Encontro Nacional da Anppas, 18 a 21 de
setembro de 2012. Belém – PA.

GOMES, Celso Cardoso. Turismo Comunitário: Um Caminhar Para o Desenvolvimento Local.


In: Comunidades, natureza e cultura no turismo [recurso eletrônico]/Giovanni Seabra
(Organizador).-- João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, p. 69 – 87, 2012

MMA. Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/educacao-


ambiental> Acesso em: 01 de agosto de 2017

MOURA-FÉ, Marcelo Martins. Geoturismo: uma proposta de turismo sustentável e


conservacionista para a região Nordeste do Brasil. In: Sociedade & Natureza, vol. 27, núm. 1,
enero-abril, 2015, pp. 53-66

NASCIMENTO, Marcos Antônio Leite do. SANTOS, Onésimo Jerônimo. Geodiversidade na arte
rupestre no Seridó Potiguar. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Naciona (IPHAN).
Superintendência do Iphan no Rio Grande do Norte. Natal: Iphan-RN, 2013.

SEABRA, Giovannni. Turismo Sertanejo. Joao Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2007.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 411


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SOUSA, Paulo Víctor Paz de. A Serra de Santa Catarina: um enclave subúmido do sertão
paraibano e a proposta de criação de uma unidade de conservação. Dissertação. Mestrado em
Geografia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2011. 87 p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 412


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A PAISAGEM COMO ELEMENTO TURÍSTICO


NO MUNICÍPIO DE PORTALEGRE/RN

Francisco Heverton de Aquino COSTA


Graduando em Geografia, UFCG/CFP.
heverton.rn@hotmail.com

Marcio Antonio Bezerra ALMEIDA JUNIOR


Graduando em Geografia, UFCG/CFP.
marcioaldjr@gmail.com

Jucier Ricarte SARAIVA


Graduando em Geografia, UFCG/CFP.
Jucierricarte@hotmail.com

Henaldo Moraes GOMES


Professor Mestre do curso de Geografia, UFCG/CFP.
henaldogomes@uol.com.br

RESUMO
O fenômeno do Turismo consome cada vez mais novos espaços e áreas, e dessa forma os elementos
naturais se tornam de grande importância para o desenvolvimento de uma determinada região que
possui suas peculiaridades. Diversos fatores contribuem para o desenvolvimento do turismo em
Portalegre/RN, principalmente as paisagens do município, onde a beleza cênica, o clima e a
gastronomia se constituem em atrativos turísticos. Torna-se evidente que cada vez mais o homem
transforma e altera seu meio, modificando também as paisagens que o cerca. O turismo em
Portalegre surge como uma alternativa ao turismo de mar e praia que, em todo o litoral do estado
encontra-se saturado, constituindo-se como uma modalidade, em função da localização geográfica,
para o turismo sertanejo, pois proporciona o consumo do turismo de contemplação, turismo de
natureza, ecoturismo, turismo pedagógico e turismo de aventura. Ao analisar a realidade e as
potencialidades de desenvolvimento do turismo que tem como atrativo não só o clima, mas
principalmente a paisagem, entende-se que o mesmo deverá incluir a população local com base nos
pressupostos do turismo de base local e do turismo sustentável, promovendo assim, a ideia de
conservação do patrimônio natural do município podendo gerar cada vez mais benefícios para a
própria população.
Palavras-Chave: Turismo. Portalegre/RN. Paisagem.

ABSTRACT
The phenomenon of tourism consumes more and more new spaces and areas, and in this way the
natural elements become of great importance for the development of a certain region that has its
peculiarities. Several factors contribute to the development of tourism in Portalegre / RN, mainly
the landscapes of the municipality, where the scenic beauty, the climate and the gastronomy
constitute tourist attractions. It becomes evident that more and more man transforms and alters his
environment, also modifying the landscapes that surround him. Tourism in Portalegre emerges as an
alternative to the tourism of sea and beach in the entire coast of the state that already saturated,
constituting itself as a modality, due to the geographic location, for the sertanejo tourism, since it
provides the consumption of contemplation tourism , Nature tourism, ecotourism, educational
tourism and adventure tourism. In analyzing the reality and the development potential of tourism

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 413


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

that attracts not only the climate, but mainly the landscape, it is understood that it should include the
local population based on the assumptions of local tourism and sustainable tourism, Thus promoting
the idea of conservation of the natural heritage of the municipality and can generate more and more
benefits for the population itself.
Keywords: Tourism. Portalegre/RN. Landscape.

INTRODUÇÃO

As atividades turísticas vêm cada vez mais ganhando espaço no mundo como uma fonte de
geração de emprego e renda para aqueles que dispõem – principalmente em suas respectivas cidades
– de locais com potenciais naturais para o desenvolvimento do turismo. No início do processo de
desenvolvimento do turismo, as paisagens naturais são modificadas para melhor atender aos turistas
e visitantes que colaborarão para que o local se torne um destino turístico.
Neste artigo, procuramos tecer algumas considerações sobre a importância do uso da
paisagem no desenvolvimento do turismo, sabendo que, para o turista definir um local para ser
visitado, a paisagem é um dos principais fatores que colaboram para a escolha do destino turístico.
Seja através de fotos, vídeos ou indicações orais.
O discurso sobre a paisagem como atrativo turístico surgiu a partir de observações
relacionadas ao município de Portalegre-RN que é uma cidade serrana que se localiza no Oeste
potiguar, contida na microrregião de Pau dos Ferros/RN e tem como municípios limítrofes ao Norte,
Tabuleiro Grande e Riacho da Cruz; ao Sul, Serrinha dos Pintos; ao Leste, Viçosa e Martins; e ao
Oeste o município de Francisco Dantas, todos dentro do território potiguar. A localização da cidade
é privilegiada, pois se encontra relativamente próxima as principais cidades das microrregiões, do
Alto Oeste, Médio Oeste, Oeste, Vale do Açu e a região do Seridó do Rio Grande do Norte. O
município Possui uma população estimada em 2016 de 7.861 habitantes, sendo que a população no
último senso (2010) era de 7.320 habitantes.
Durante o desenvolvimento deste trabalho, foram utilizadas metodologias que tiveram bases
em pesquisas bibliográficas e trabalhos de campo. Durante a pesquisa na área de estudo foram
utilizados equipamentos como: Computador, Notebook, Celulares, câmera GoPro, prancheta para
anotações e os aplicativos GPS Status e C7 GPS Dados, no qual o segundo foi utilizado para a
marcação de pontos cardeais e o traçado de rotas para a elaboração e manipulação das imagens,
enquanto o primeiro foi utilizado para uma maior precisão da marcação dos pontos. Esses
aplicativos foram instalados em celulares e a cada ponto marcado, era observado o grau de precisão
de cada um dos aplicativos. Ao iniciar o processo de manipulação das imagens, foram utilizados
Softwares como o Google Maps, Google Earth Pro e o QGis versão 2.14.6, que foram essenciais
para a qualidade da pesquisa.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 414


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Durante o campo, foi possível a observação das paisagens locais e o fluxo de pessoas que
transitavam no município, sejam elas turistas ou residentes locais. Assim, através de uma pesquisa
qualitativa, foi possível mostrar as características populacionais, culturais e os fenômenos que
ocorrem no município, que são formadores de vários atrativos turísticos.
Estes atrativos colaboram diretamente para a interiorização do Turismo, o que é de total
importância, já que a maior parte de turistas que visitam o estado são turistas de mar e praia que,
estão sempre buscando o litoral do estado; mas esquecendo da diversidade paisagística com o
potencial elevado para o turismo que os municípios do interior do estado possuem.

A PAISAGEM E O TURISMO EM PORTALEGRE/RN

Historicamente, os primeiros conceitos de paisagem que foram utilizados, surgiram na


Alemanha no final do século XIX onde diziam que a paisagem era ―um objeto concreto,
perfeitamente observável, que mantém uma visão de unicidade e conjunto dos elementos e fatores
que envolvem o meio natural.‖ (NUNES, p. 127).
A palavra Paisagem é usada em todo o mundo como termo científico-geográfico. Em 1968,
o Brasil conheceu uma discussão sobre a paisagem por meio do artigo do biogeógrafo francês
Georges Bertrand, intitulado ―Paisagem e geografia física global: esboço metodológico‖. Bertrand
(1971, p. 2), cita a paisagem como o ―Resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de
elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem
da paisagem um conjunto indissociável, em perpétua evolução, numa porção do espaço‖.
Dessa forma a paisagem surge de interações diretas entre o homem e o meio, onde ela
sempre será modificada para atender as necessidades do homem e seus interesses pessoais e
econômicos.
Já Milton Santos ao conceituar paisagem, nos diz que:

A paisagem é tudo aquilo que nós vemos, o que a nossa visão alcança, é o domínio do
visível, e a nossa visão depende da localização em que se está e a paisagem toma escalas
diferentes. A dimensão da paisagem é a dimensão da percepção, o que chega aos sentidos.
(SANTOS, 1997. p. 61-62).

Fundamentando-se neste conceito, ao chegar no município de Portalegre é possível observar


a beleza cênica daquele local logo ao subir da Serra na qual da acesso a sede do município. Um
encantamento para aqueles que gostam admirar belas paisagens.
O Município de Portalegre foi privilegiado com uma natureza que pôs a disposição daqueles
que a povoaram, um patrimônio com uma beleza imensurável. Beleza que encanta a todos que
visitam o município, sendo assim, um atrativo com um enorme potencial para o turismo de
contemplação.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 415


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Referente ao turismo de contemplação, Schwab, Pereira e Martins (2012, p. 3)


fundamentam-se no filósofo Merleau-Ponty para afirmar que este ―é a capacidade de percebermos o
que nos cerca, dando significado ao que foi captado pelos sentidos que está na base do
conhecimento‖.
Para essa beleza imensurável, a localização geográfica privilegiada fez do município não
apenas mais uma cidade serrana do estado, mas sim, aquela que detêm uma beleza cênica que atrai
os olhares do Brasil e do Mundo, devido a suas paisagens.
No decorrer do tempo, a natureza passou a ser humanizada, o homem passou a interferir
diretamente modificando-a e tentando se adaptar a geografia local, que possui alguns componentes
que geraram desafios para o mesmo, como, o difícil acesso e o frio inesperado para aqueles que
viviam em baixas altitudes, em relação ao nível do mar e, presenciavam altas temperaturas no sertão
nordestino.
O município de Portalegre encontra-se dentro domínio geomorfológico dos Planaltos
residuais sertanejos. Segundo Dantas e Ferreira (2010, p.88) esses tipos de Planaltos ―representam
relevos elevados em forma de platôs18 (R2c) ou maciços montanhosos (R4c), correspondendo, em
geral, as rochas mais resistentes, remanescentes do aplainamento generalizado que ocorreu no
Terciário‖.

FIGURA 1: Localização da Unidade Planalto (R2b3), no estado do Rio Grande do Norte. Com ênfase para a
localização do município de Portalegre. FONTE: Adaptado de DANTAS, Marcelo Eduardo; FERREIRA,
Rogério Valença. Relevo. In: Geodiversidade do estado do Rio Grande do Norte.

Esse planalto na qual está inserido o município de Portalegre é a formação da Serra dos
Martins que conta com uma elevação que varia entre 700 e 800 m de altitude. Essa elevação
contribui diretamente para as baixas temperaturas que podem chegar aos 15°C em alguns meses do
ano, como em junho, julho e agosto, sendo possível caracterizar o clima de Portalegre como Sub
Úmido, devido a algumas observações in loco, levando em consideração a temperatura média e a
vegetação que muda de acordo com a elevação da serra.
18
O mesmo que planalto (vide).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 416


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Referindo-se a questões da altitude da serra, Torres e Machado (2008, p. 72), afirmam que:

―[...] em algumas áreas a altitude determina diferenciações sensíveis nas temperaturas.‖


Diz-se que a altitude corrige a latitude, afirmação correta apenas no que tange a
temperatura, visto que as características climáticas das regiões elevadas são completamente
diferentes das regiões de alta latitude.

Esse processo de aplainamento criou condições necessárias, para que hoje o município de
Portalegre possua um grande potencial turístico, resultante de sua altitude e seu clima que
interferem diretamente na formação das paisagens.
Ao humanizar o meio natural de Portalegre, a paisagem foi modificada; construções foram
erguidas e novos espaços foram criados. Estes espaços foram construídos para atender as
necessidades daqueles que passavam a habitar a nova vila19 e, hoje, essas construções são
responsáveis por atrair os olhares de turistas de todo o estado, de todo o Brasil e também de todo o
mundo. A Potencialidade turística de Portalegre, a proximidade com Martins e as semelhanças entre
os municípios foram importantes para o desenvolvimento do turismo local. Tendo a paisagem como
mais um atrativo, incentivando o turista a passar mais tempo nos municípios.
A partir dessas construções e da alteração do meio ambienta, é possível utilizar as estruturas
antigas do município e o patrimônio natural para o desenvolvimento do turismo pedagógico, que
segundo Braga (2014), se baseia em viagens programadas por instituições de ensino, estando dentro
do calendário escolar e tendo como principal objetivo notas de trabalhos e provas, além de mostrar
para o aluno a interação entre o homem e o meio e seus respectivos impactos na paisagem.
Paisagem que nem sempre é a natural, já que ―Uma das principais estratégias no
empresariamento de cidades, é a construção de paisagens que atraiam eventos, turistas e negócios, o
que neste trabalho se denomina, genericamente, de ―paisagens turísticas‖‖ (BESSA; ÁLAVARES,
2014. p. 24).
A paisagem que foi modificada, em Portalegre para a construção de casas e prédios públicos
no início de seu povoamento, hoje, 255 anos depois, são responsáveis por atrair um novo público,
turistas que se encantam e ficam fascinados com a beleza das estruturas antigas. Duque e Mendes
(2006, p. 17), citam que ―O turismo é responsável por atrair a atenção de profissionais e
pesquisadores com diversas motivações e propósitos‖. Essas motivações e propósitos fazem das
estruturas antigas de Portalegre, um roteiro importante para o turismo pedagógico, turismo de
contemplação e também para sediar alguns eventos que são programados para atrair um público
alternativo dos turistas que se encontram na cidade.
Beni (1998) refere-se ao turismo como um produto turístico que é o resultado da soma de
recursos naturais e culturais e serviços produzidos por uma pluralidade de empresas. Esse produto

19
Categoria que foi adotada após a colonização daquela região.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 417


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

turístico possui uma característica marcante, pois ele é produzido e consumido no seu local de
origem, sendo que o consumidor (turista) se desloca para a área de consumo.
Para que o turismo de uma determinada região possa se desenvolver, é necessário que possa
haver uma interação entre os recursos naturais, mão-de-obra, capital financeiro, tecnologia e outros
fatores que contribuam para o desenvolvimento do local possivelmente ele possa se tornar um
destino turístico.
Partindo do pressuposto dos recursos naturais, o município que foi utilizado como base para
o desenvolvimento deste trabalho, possui uma rica diversidade de recursos que foram utilizados
para o desenvolvimento do Ecoturismo. De acordo com Serrano e Brunhs (2000, apud LEME;
NEVES, 2007. p. 213), o ecoturismo ―[...] é toda atividade turística realizada em área natural com o
objetivo de observação e conhecimento da flora, fauna e dos aspectos cênicos, com ou sem sentido
de aventura; práticas de esportes e realização de pesquisas cientificas‖.
A partir do momento em que um local possui alguns recursos naturais, os outros fatores
acima citados, servem para agregar valo a paisagem e seus recursos.
De acordo com essa interação e agregação de valor a paisagem é possível ainda o
desenvolvimento do turismo de base local cita por Rodrigues (2007, p. 16-19), como sendo uma
relação entre o turismo e o patrimônio valorizando ainda mais a identidade cultural, gerando renda
para a sociedade em geral.
Buscando o desenvolvimento do turismo em Portalegre, com o passar do tempo, parcerias
foram feitas entre grupos de empresários conhecidos em todo o estado para que a interiorização do
turismo fosse possível, tendo Martins e Portalegre como as bases para o desenvolvimento do
turismo no interior do Rio Grande do Norte. Essa interiorização do turismo, iniciou-se pelo
município de Martins, pois possuía um maior potencial turístico. Alguns anos depois, parcerias
foram feitas, visando em Portalegre um destino a mais para aqueles que visitavam o interior do
estado.
Estruturas físicas foram construídas para a recepção e acomodação dos turistas, e hoje
Portalegre dispõe para o consumo do Turismo, vários atrativos que se encontram na própria sede do
município e em outros locais um pouco mais distantes. Entre os principais atrativos estão: A trilha
até a formação rochosa das Torres; os Mirantes (Boa vista e Recanto Alto da Serra); o terminal
turístico da Bica; a Cachoeira do Pinga; a Casa de Câmara e Cadeia que foi reaberta depois de
passar por uma reforma.

DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS PAISAGENS COMO ATRATIVO TURÍSTICO

AS TORRES - A Trilha das Torres é uma trilha para aqueles que gostam de uma
combinação que tem aventura, conhecimento e aprendizagem sobre a história local. O Percurso tem

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 418


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

pouco mais de 6 km de extensão e se trata de uma trilha com um percurso leve e em uma escala de
0 a 10, a trilha possui um nível de dificuldade 320, onde é possível perceber mudanças na elevação
do relevo, mudança na vegetação e também no solo. Durante a caminhada, é possível encontrar
inscrições rupestres antes de chegar no final do percurso e se deparar com uma bela paisagem que
tem como base fixa uma formação rochosa, mas o turista deve redobrar sua atenção pelo perigo
recorrente, já que no local não existe nenhum tipo de sinalização. Durante alguns meses do ano essa
trilha aumenta o seu nível de dificuldade, chegando até mesmo ficar impossibilitada de receber o
transito de turistas, devido a se adentra por algumas propriedades privadas e a abertura de veredas
fica impossibilitada, já que alguns donos não permitem. E as dificuldades para fazer essa trilha
continuam quando se tem apenas duas pessoas no município responsáveis por levar os grupos até
As Torres, e essas pessoas possuem outros trabalhos além do de guias, limitando o seu tempo para
atender os turistas.

FOTO 1: As Torres. FONTE: Henaldo Gomes, 2013.

MIRANTES - Em Portalegre, os mirantes são um atrativo a mais para aqueles que


buscam a tranqüilidade, um clima agradável e uma paisagem exuberante. Hoje, o município conta
com dois mirantes: O Mirante Boa Vista e o Mirante Recanto Alto da Serra. Ambos, localizam-se a
alguns metros do centro da cidade, onde foram construídos em um local privilegiado, onde é
possível observar algumas cidades da região principalmente durante a noite; durante o dia é possível
ter uma visão das escarpas da serra, e desfrutar da sensação de prazer e tranqüilidade sob a sombra
das árvores que agregam valor a beleza do mirante Boa Vista.
Enquanto isso, o mirante Recanto Alto da Serra, é muito utilizado como lazer e
restaurante. Já que no seu espaço possui uma pequena área de lazer com piscina, balanço e um
parquinho para o divertimento das crianças, enquanto os pais desfrutam dos vinhos, bebidas,
petiscos e pratos servidos no mirante. A estrutura física do mirante ainda passa por algumas
20
Trilha com distancia de 04km até 09km, com um terreno que apresenta subidas longas e indicado para pessoas que
não estejam acostumadas a praticar esporte regularmente.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 419


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

melhorias, como por exemplo, a construção de alguns apartamentos para serem reservados por
turistas que desejam a hospedagem no mirante e, aproveitar assim de toda a sua estrutura. A
previsão para o término dessas melhorias e construções é o mês de outubro deste ano (2017).

FOTO 2: Mirante Boa Vista. Fonte: do Autor, 2017.

FOTO 3: Mirante Recanto Alto da Serra. FONTE: do Autor, 2017.

TERMINAL TURÍSTICO DA BICA – O Terminal Turístico da Bica distancia-se a


aproximadamente 500 metros do centro da cidade, hoje o local é conhecido pelo nome acima
citado; mas até os anos 2000 o local era conhecido apenas por nome de Bica de Portalegre.
A partir do ano de 2002 a bica passou por uma reforma onde a fonte natural de água que
brota do solo foi melhor utilizada, para que o local se tornasse um terminal turístico.
Hoje, o terminal turístico da bica é um dos principais pontos de visitação que Portalegre
dispõe, recebendo turistas de toda a região e de todo o estado. Local propício para a prática do
ecoturismo, já que no local possui várias espécies de árvores nativas, contendo placas indicativas
com nome científico e nome popular em duas línguas; inglês e português. O turista que visita
Portalegre e mais precisamente o terminal turístico da bica, ainda pode aproveitar e se banhar nas
águas puras e cristalinas, através de uma dita bica.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 420


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Infelizmente o local não tem uma estrutura de banheiros própria para que os turistas possam
se trocar após se banhar na bica, sendo que os banheiros pertencem a um Bar/Restaurante que existe
dentro do terminal; mas após ser autorizado pelo responsável, os visitantes podem utilizar os
banheiros.

FOTO 4: Terminal Turístico da Bica. FONTE: do Autor, 2017.

CACHOEIRA DO PINGA - A trilha da Cachoeira do Pinga é uma trilha com vegetação


densa, com características de floresta serrana ou Brejo de Altitude e com aproximadamente metro
de extensão. O acesso se dá pela RN-117, onde é possível perceber a entrada da trilha através da
sinalização que existe no local, que fica as margens da rodovia. Ainda não existe um
estacionamento propício para receber os turistas, mas um acostamento na entrada da trilha serve
como um estacionamento improvisado.
A trilha possui uma boa infraestrutura com pontes de madeira, degraus esculpidos no solo,
alguns esculpidos em blocos de rocha e outros feitos de cimento, tudo para facilitar o acesso a
cachoeira que possui um dos poucos cursos d‘água perene do município. A Cachoeira possui uma
queda d‘água com pouco mais de 30m de altura, onde os turistas aproveitam para se banhar na água
que fica acumulada em um poço natural. Embora seja um dos principais atrativos do município, a
falta de segurança e fiscalização é nítida. Pois os turistas se adentram na trilha e ficam expostos a
pessoas de uma má índole que podem circular pelo local, e aproveitar-se da fragilidade daqueles
que visitam a cachoeira. Apesar das placas de aviso para a preservação da trilha, é possível
encontrar resquícios de lixo que foram deixados para trás por pessoas sem o mínimo de
entendimento sobre o mal que está causando ao meio ambiente.
CASA DE CÂMARA E CADEIA - A Casa de Câmara e Cadeia é uma das obras mais
antigas da cidade de Portalegre, sendo que foi construída para o funcionamento de uma casa de
poder, onde funcionava o governo local, e no Subsolo existe um local onde os escravos ficavam
presos. Hoje no local funciona um museu onde é possível conhecer toda a história de Portalegre e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 421


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ver objetos originais da época e, ainda conhecer um pouco sobre a história da família na qual os
objetos pertenciam.
Grande parte da estrutura é original, sendo que passou por constantes reformas. Devido ao
péssimo estado de conservação todo o piso superior do prédio teve de ser trocado para que o prédio
voltasse a funcionar.
Mas, por ser um museu local, com todas as técnicas hoje existentes, seria de grande
importância que um esforço fosse feito para que ao menos uma pequena parte do piso, telhado e
outros componentes fossem conservados, preservando ainda mais a originalidade da história local.
Ao longo da pesquisa de campo, foram observadas algumas paisagens com um potencial
cênico que podem ser georreferenciadas compondo um mapa turístico de Portalegre, favorecendo
todos aqueles que visitam o município. Pois assim, o acesso aos pontos turísticos seriam facilitados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em função das análises feitas após o trabalho de campo, entende-se que o município
estudado se constitui numa alternativa turística que busca a interioriza o turismo, sendo uma opção
a mais para aqueles que praticam o turismo nas praias do estado, principalmente pela proximidade
com algumas das mais visitadas do estado do Rio grande do Norte, como é o caso de Tibau e Areia
Branca, que possuem um turismo de praia e mar já consolidados no mercado.
Em suma, Portalegre tem o seu clima como um atrativo importante para o turismo e
desenvolvimento local, assim como outras cidades serranas do Nordeste Brasileiro. Dessa forma, as
paisagens naturais preservadas funcionam como um atrativo importante pela sua beleza cênica
contemplativa, que surge como um diferencial para atrair os turistas para o município. Assim, com
algumas iniciativas de melhorias na sua infraestrutura, com apoio de empresários locais e através do
Projeto Circuito das Serras Potiguares (Projeto que tem como principal objetivo o desenvolvimento
Turismo no Alto Oeste Potiguar), o município pode se tornar um produto turístico mais conceituado
juntamente com o município de Martins, que serviram como um fator primordial para a
interiorização do turismo potiguar. Onde, através dessa interiorização do turismo, haveria a
complementação na renda da população residente no município de Portalegre.

REFERÊNCIAS

BENI, M. C. Análise estrutural do turismo. São Paulo: Editora Senac. 2004.

BERTRAND, Georges. Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico. 8. ed. Curitiba:
Editora UFPR, 2004. 12 p. 151. f.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 422


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BESSA, Altamiro Sergio Mol; ÁLVARES, Lúcia Capanema. A Construção do turismo: Mega
eventos e outras estratégias de venda das cidades. Belo Horizonte: C/Arte, 2014.

BRASIL. MINISTÉRIO DO TURISMO. Turismo pedagógico cresce no Brasil. Brasília, 2014.


Disponível em:< http://www.turismo.gov.br/ultimas-noticias/604-turismo-pedagogico-cresce-no-
brasil.html>. Acesso em: 03 jul. 2017.

DANTAS, Marcelo Eduardo; FERREIRA, Regério Valença. Relevo. In: Geodiversidade do estado
do Rio Grande do Norte / Organização: Pedro Augusto dos Santos Pfaltzgraff, Fernanda Soares
de Miranda Torres. Recife: CPRM, 2010. 227 p.

DIAS, T. A. Os marcos da colonização portuguesa na Serra de Portalegre (séc. XVII e XVIII). In:
Portalegre do Brasil: história e desenvolvimento: 250 anos de fundação de Portalegre /
Organizadores: Maria Bernadete Cavalcante, Thiago Alves Dias. - Natal, RN: EDUFRN, 2010.
126 p.

DUQUE, Renato Câmara; MENDES, Catarina Lutero. O Planeamento turístico e a Cartografia.


Campinas: Alíneas, 2006.

GUERRA, Antonio Teixeira; GUERRA, Antonio José Teixeira. Novo dicionário geológico-
geomorfológico / 6º ed. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2008. 648 p.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio Grande do Norte- Portalegre. Disponível
na internet via: http://cod.ibge.gov.br/45RR3. Acesso em 25 de fev. de 2015.

LEME, Fernanda Beraldo Maciel; NEVES, Sandro Campos. Dos ecos do Turismo aos ecos da
paisagem: análises das tendências do ecoturismo e a percepção de suas paisagens. Revista de
Turismo y Patrimonio Cultural. v. 5. nº 2. p. 209-223, 2007.

LOPES, F. M. A vila de Portalegre: povos e instituições. In: Portalegre do Brasil: história e


desenvolvimento: 250 anos de fundação de Portalegre / Organizadores: Maria Bernadete
Cavalcante, Thiago Alves Dias. - Natal, RN: EDUFRN, 2010. 126 p.

NASCIMENTO, M. A. L do; RUCHKYS, Úrsula A.; MANTESSO-NETO, Virginio.


Geodiversidade, Geoconservação e Geoturismo: Trinômio importante para a conservação do
patrimônio geológico. Sociedade Brasileira de Geologia – SBGEO, 2008. p. 81.

NUNES, João Osvaldo Rodrigues; SANT‘ANNA-NETO, João Lima; TOMMASSELLI, José


Tadeu Garcia. et al. A Influência dos métodos científicos na geografia física. Terra Livre. n. 27.
vol. 2. 2006, p. 121-132.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 423


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

RODRIGUES, A. B. Território, patrimônio e turismo com base local – uma relação inequívoca. In:
Turismo de Base Local: identidade cultural e desenvolvimento regional/ Giovanni Seabra
(organizador). – João Pessoa: Editora Universitária/ UFPB, 2007.

RODRIGUES, A.B. Turismo e Geografia: Reflexões teóricas e enfoques regionais, 2.ed., São
Paulo: Hucitec, 1999.

SANTOS, M. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2002.

SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da


geografia. 5ª ed. São Paulo: Hucitec, 1997.

SCHWAB, Cláudia Brandão; MARTINS, Gabriel Silveira et al. Turismo de contemplação em


Santa Vitória do Palmar/RS: Uma pesquisa de demanda. In: Encontro SeminTur jr. 4. 2012,
Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul.

TIAGO (Ed.). Infográfico – Os níveis de dificuldade de trilhas. 2015. Disponível em:


<http://www.fenope.com.br/niveis-de-dificuldade-de-trilhas/>. Acesso em: 29 jun. 2017.

TORRES, Fillipe Tamiozzo; MACHADO, Pedro José de Oliveira; Introdução à Climatologia. Ubá:
Geographica, 2008. 234 p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 424


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MACAPARANA- PE E SEU POTENCIAL TURÍSTICO: A LUZ DE UM TURISMO


RURAL DE BASE COMUNITÁRIO

Genilson Oliveira Costa SILVA


Graduando no Curso de Licenciatura em Geografia – CFP/UFCG
genilsoncostaesilva2017.1@gmail.com
Rodrigo de Sousa Almeida FERREIRA
Graduando no Curso de Licenciatura em Geografia – CFP/UFCG
Rodrigoalmeidaufcg@hotmail.com
Marcio Antonio Bezerra de ALMEIDA JUNIOR
Graduando no Curso de Licenciatura em Geografia – CFP/UFCG
marcioaldjr@hotmail.com
Henaldo Moraes GOMES
Professor Adjunto no Curso de Licenciatura em Geografia – CFP/UFCG
henaldogomes@uol.com.br

RESUMO
O estudo realizado parte do interesse de verificar a importância da atividade turística, interpretada
assim pela geografia do turismo, no intuito principalmente de envolver a comunidade local.
Buscando assim fazer ponte com as categorias geográficas como e o espaço vivido dos sujeitos. A
metodologia aplicada pauta-se na revisão bibliográfica, além da análise empírica do lugar, que
contribuiu significativamente para o desenvolvimento do trabalho. Levanta-se, por tanto, algumas
das potencialidades que o Município de Macaparana- PE apresenta, sendo que os investimentos
realizados tanto pelo poder público como privado não satisfazem as reais necessidades, deixando a
desejar quanto à organização, manejo sustentável dos recursos naturais, segurança e até mesmo
acessibilidade á alguns dos espaços, como por exemplo, no Maciço de Pirauá (Pedra do Bico), a
Pedra da Mascarenhas, Pedra da Goiana, entre outros. E como forma de organizar a pesquisa, foi
dividida em três subtemas que, respectivamente, realiza uma abordagem sobre as características
geográficas e históricas da região de estudo, em seguida discuti-se a apropriação dos lugares pela
atividade turística, e por fim o turismo como ferramenta de uso consciente dos recursos naturais e
imateriais da região, destacando ainda que é um desafia levando em conta o atual modelo de
consumo. Por fim, nas conclusões propõe- se estratégias de organização e investimentos para que
seja possível estruturar- se uma atividade turística sócio-econômica favorável e ambientalmente
sustentável, que inclusive envolva a população local, tornando assim possível o Turismo de Base
Comunitário.
Palavras Chaves: Ecoturismo, Turismo Rural, Macaparana- PE, Desenvolvimento Local.

RESUMEN
Estimado local de verificación la importancia de la actividad turística, interpretada así por la
geografía del turismo, no intuida principalmente de involucrar a la comunidad local. Buscando así
hacer puente con como categorías geográficas como el espacio vivido de los sujetos. Una
metodología aplicada se pauta en la revisión bibliográfica, además del análisis empírico del lugar,
que contribuye al desarrollo del trabajo. Se plantean, por tanto, algunas de las potencialidades que el
Municipio de Macaparana-PE presentadas, siendo que son inversiones realizadas tanto como poder
público como privado no satisfacen como retales, dejando a desear para la organización, gestión
sostenible de los recursos naturales, seguridad E Por muy poco accesible, como por ejemplo, en el

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 425


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Macizo de Pirauá (Piedra del Bico), Piedra de la Mascarenhas, Pedra da Goiana, entre otros. Y
como forma de organizar una investigación, fue dividido en tres subtemas que, respectivamente,
realice un abordaje sobre las características geográficas e históricas de la región de estudio, se
discute la apropiación de los lugares para la piscina, y por fin el turismo como A Información
contenida en la página 3 del Reglamento. La información de este artículo se aplica. Por último, en
las conclusiones se propone estrategia de organización e inversiones para que sea posible
estructurar una actividad turística socioeconómica favorable y ambientalmente sostenible
sostenible, que incluya a la población local, haciendo así disponible el Turismo de Base
Comunitario.
Palabras Clave: Ecoturismo, Turismo Rural, Macaparana- PE, El Desarrollo Local.

INTRODUÇÃO

No mundo moderno, palco de grandes mudanças, que perpassam por todas as esferas
humanas, o turismo vem se manifestando de maneira cada vez mais intensa como atividade
econômica e que abrange uma boa parcela da população a incluindo no mercado de trabalho.
O estudo tem caráter analítico, partindo de uma análise geográfica, buscando interligar as
categorias Geográficas e o espaço vivido pelos sujeitos, por meio de uma metodologia pautada em
revisões bibliográficas, como também pela ótica da pesquisa empírica, sendo está de muita
relevância para o desenvolvimento do trabalho, com destaque ainda por ser um pesquisador e ex-
morador dessa região.
Portanto, buscou-se estruturar essa abordagem em um primeiro momento realizando uma
apresentação do objeto de estudo, contextualizando-o com os atrativos turísticos que o mesmo
apresenta, tratando em síntese sua história, dados demográficos e localização, ou seja, de maneira
resumida localizar o leitor a cerda do objeto de estudo. No segundo momento discute-se a
apropriação dos lugares pelo turismo, que muitas vezes acomete-se de ocorrer à descaracterização
da cultura local em detrimento de satisfazer as vontades dos visitantes. Em seguida é abordada a
importância de uma atividade econômica que busca o uso consciente dos recursos naturais, sendo
que esta seja ecologicamente correta e economicamente viável critério esse considerado um dos
maiores desafios que a humanidade vem enfrentando nesses últimos tempos.
Por fim, apresentam-se algumas reflexões acerca do potencial turístico do Município de
Macaparana-PE, trazendo algumas discussões referente as necessidades de infraestruturas dos
possíveis destinos turísticos. Colocando como proposta a participação direta do morador da
comunidade na atividade turística, ou seja, trabalhando em função de uma atividade turística de
base local.

MACAPARANA- PE: CONHECENDO O OBJETO DE ESTUDO

O município de Macaparana- PE, localiza- se na Mesorregião da Zona da Mata do Estado de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 426


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Pernambuco, Microrregião da Mata Setentrional com uma população estimada de 25.114


habitantes, segundo as estimativas do IBGE de 2016. Distante aproximadamente 123,9 km da
capital, pela via BR-408 sendo ela, uma das 20 cidades que compõem essa região.
Documentalmente, a data de criação do município se deu pelo decreto de lei estadual de n°
1.931 de 11 de Setembro de 1928, criando- se assim o Município de São Vicente, englobando os
distritos de São Vicente e Macapa, desmembrados do Município de Timbaúba e parte do Siriji, que
integrava dessa forma o Município chamado de Bom Jardim. Quando em janeiro de 1929, pelo
decreto estadual de nº 57 de 21 de Abril de 1931 Macapa, antes considerada como distrito de São
Vicente é elevada a categoria de Cidade (SANTOS, 2015).
O Município apresenta locais que em virtude de fatores geográficos como o relevo, chegam
a temperaturas muito baixas em determinados períodos do ano, como os chuvosos, sendo que já se
verifica essa queda na temperatura em relação a outros lugares durante todo o ano, principalmente
durante a noite, como nos distritos de Lagoa Grande ao Norte e Paquevira a Noroeste.

Imagem 01: Localização do Município de Macaparana- PE.


Fonte: Arquivo Pessoal (SILVA, 2016).

Assim Silva (2014) coloca que a origem da cidade se deve as usinas, fazendas sítios, vilas e
povoados denominados por Nova Esperança, Pirauá e Poço Comprido. Sendo importante destacar
que a maior porção das terras dessa região, faz parte dos engenhos, que atualmente se encontram
desativados, desempenhado assim novas funções como é o caso, por exemplo, do Engenho Rincão
(Imagem02) utilizado durante todo o ano para atividades religiosas pela Igreja Católica, enquanto
isso outros desativados e sem uso ou com outras finalidades.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 427


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Imagem 02: Engenho Rincão- PE.

Fonte: Google.

Dessa forma, busca-se utilizar esses equipamentos (engenhos) dando-lhes novas funções, de
maneira que preserve o patrimônio histórico e fortaleça a cultura local através de incentivos a
manifestações folclóricas do patrimônio imaterial. Eles, portanto, podem ser modificados e
transformados em pontos de hospedagens, como também de visitação turística. E dessa forma
contribuir economicamente e culturalmente para ambas as partes, moradores e visitantes.
Portanto, é nesse cenário que se consolida aspirações que dizem respeito aos investimentos
públicos e privados, possibilitando a organização dos espaços e as atividades possíveis de serem
desenvolvidas nos destinos que apresentam potencial turístico. Logo, verificou-se que até o
momento não se tem investimentos pelo Trade Turístico, como também não se verificam cobranças
pela população local reivindicado investimentos a fim de desenvolver as potencialidades que o
município apresenta.

APROPRIAÇÃO DOS LUGARES PELO TURISMO

É inegável que o turismo se torna a cada dia uma atividade que contribui com a vida dos
sujeitos, no entanto, ele também deforma os lugares na perspectiva do morador. Dessa forma,
busca-se uma atividade turística local que preserve suas características primárias. E como
identificado anteriormente, não se verifica que haja investimentos nem do poder público nem do
privado para o desenvolvimento dos destinos turísticos no município de Macaparana.
Impossibilitando que a própria comunidade local possa também se desenvolver nessa atividade que
também é econômica, como bem identifica Rodrigues (1999, p. 17) ao dizer que o turismo é um
fenômeno econômico, político, social e cultural dos mais expressivos das sociedades ditas pós-
industriais.
Entretanto, verifica-se que algumas empresas se utilizam das belezas cênicas existentes, para
atividades publicitárias, sendo estas divulgadas em redes sociais na internet, como Facebook, com
páginas intituladas como Macaparana em Foco ou Macaparana Turística, por exemplo.
E ainda no que corresponde à apropriação dos lugares pelo turismo, Rodrigues (1999, p.17)
afirma que:
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 428
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Num mundo globalizado o turismo apresenta-se em inúmeras modalidades, sob diversas


fases evolutivas, que podem ocorrer sincronicamente num mesmo país, em escalas
regionais ou locais. Expande-se em nível planetário, não poupando nem um território. Nas
zonas glaciais, nas cadeias terciárias, até nas regiões submarinhas, na cidade no campo, na
praia, nas montanhas, nas florestas, savanas, campos e desertos, nos oceanos, lagos, rios,
mares e ares. (RODRIGUES 1999, p.17)

A autora destaca muito bem o poder de abrangência que o turismo tem em suas mais
distintas áreas e modalidades, no caso do Brasil, sendo este privilegiado pelas riquezas naturais é
palco para muitas das categorias turísticas. Seja dos campos às florestas, seja do litoral ao sertão, as
potencialidades podem ser direcionadas ao desenvolvimento desses possíveis destinos.
E tendo em vista esse domínio proporcionado pelo turismo Bessa (2014), ao refletir destaca que:

No turismo as relações são provisórias, efêmeras, fugazes, e tem a regê-las um interesse


comercial. Por mais que exista encantamento, identificação, o turista não cria relações
afetivas permanentes e gratuitas; se isto vier a ocorrer, ele deixa a condição de turista. O
turista não participa cotidianamente do cotidiano do lugar (o lugar pede continuidade) e
suas relações são sempre provisórias e de fora, como espectador. Assim, não se pode
empregar a expressão ―lugar turístico‖, ... pois o turismo não cria lugares. Ou ele se
apropria dele ou constrói novos territórios (BESSA, 2014).

Se um determinado sujeito decide conhecer um destino turístico em Macaparana e dessa


forma vivenciar novas experiências, não se deve pensar que o mesmo deva se adaptar ao visitante,
mas que o destino tem de proporcionar comodidade ao turista e ao mesmo tempo preservar as
características locais do próprio lugar, ou seja, que o turista se adapte ao destino, sem que se crie
relações efetivas e gratuitas, descaracterizando dessa forma essa atividade, como bem destacou o
autor anteriormente.
É importante destacar que antes da cidade enquanto destino turístico ser ―boa‖ para o turista,
ela deve ser agradável aos moradores. Por isso é de fundamental importância o envolvimento da
população residente nos projetos turísticos, fomentando um arranjo produtivo onde os moradores
passam a agregar renda através de ocupações como guias de turismo, vendedores, artesões ou
empregados em atividades como hospedagem e gastronomia.
E refletindo sobre essa problemática se discute a importância de preservar as características
locais a fim de mergulhar o visitante na cultura, mostrando-o que é importante e interessante
vivenciar esses elementos locais, sem ser necessário realizar mudanças radicais. Por isso como
defende Rodrigues (1999), o turismo descaracteriza os espaços os tornando um não lugar. E diante
isso, se faz cada vez mais importante analisar os efeitos possíveis e realizados da implantação de
um sistema voltado ao turismo, em especial ao Rural de Base Comunitário.
Salienta-se ainda que, a atividade turística já foi bastante vista por alguns autores como a
indústria sem chaminés, entretanto, com o passar dos anos percebeu-se que ela não muito diferente
acaba por causar graves danos ao meio ambiente e claro ao social, quando executada sem um
planejamento socioambiental adequado a cada realidade. E como bem afirma BARRETO (1995), o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 429


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

turismo acaba por ser caracterizado como um fenômeno social complexo e diversificado,
envolvendo todas as esferas da sociedade.
Dessa forma, Macaparana apresenta um patrimônio cultural significativo, no que diz
respeito à boa parte do casario antigo bem preservado, como também pelas crenças e as tradições
culturais que se manifestam nas danças folclóricas, lendas e no artesanato que embora não seja
atualmente muito incentivado, apresenta um potencial de desenvolvimento em função de tradições
culturais relatadas pelos moradores mais antigos. Agregado a isso se tem as belezas cênicas
encontradas na paisagem natural do município e claro com a gastronomia local.
Portanto é de fundamental importância à presença da comunidade local nesse processo de
organização dos destinos turísticos do município, se claro, o objetivo for desenvolver uma atividade
que forneça benefícios positivos para os sujeitos, entendidos aqui como os moradores.
Nesse sentido Coriolano (2013), aponta que o desenvolvimento ocorre apenas quando há um
beneficio de todos os sujeitos em volta, atingindo a escala humana, dessa forma assegurando uma
existência digna, garantindo assim um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde,
bem-estar, alimentação, vestuário, habitação entre outros.
Por isso então, propõe-se uma atividade turística de base comunitária, onde se tem a
interação principalmente da comunidade na gestão dos espaços destinados a atividade turística,
admitindo-se as políticas defendidas pela atividade ecoturística. Gerando assim possibilidades de
emprego, motivação por parte do visitante a ir e permanecer por mais tempo no destino, além da
própria valorização do lugar por meio principalmente do morador e claro, o manejo sustentável dos
recursos existentes.

O TURISMO COMO FERRAMENTA DE USO CONSCIENTE DOS RECURSOS NATURAIS E


IMATERIAIS DA REGIÃO

É possível utilizar-se das práticas turísticas para promover o manejo sustentável dos
ecossistemas, filosofia essa trazida na abordagem do Ecoturismo. No entanto, admiti-se que é um
desafio discutir essa temática e as reflexões feitas sobre, muitas vezes não conseguem manterem-se
em virtude de interesses de instituições privadas que se beneficiam.
O município de Macaparana possui um potencial extraordinário para atividades turísticas
que envolvem as categorias como de experiência, o ecoturismo, do tipo base comunitária, o
referente à aventura e até mesmo o religioso e cultural. Sendo que, todas essas categorias
necessitam de investimentos, tanto pelo poder público, quanto principalmente pela ação da
comunidade local.
Verifica-se que o crescimento da cidade e de seus distritos possibilitou o desenvolvimento
de algumas áreas específicas que apresentam potencial significativo para exploração turística,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 430


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

entretanto, a falta de investimentos na área de lazer, religião, cultura e gastronomia, entre outros
dificulta o próprio desenvolvimento local. Mesmo com um casario que apresenta um arcabouço
histórico (Imagens 03 e 04) de grande valor para a região, não é explorado corretamente. Há uma
série de engenhos e casas antigas que poderiam ser integradas na atividade turística.

Imagem 03: Engenho Monte Alegre-PE. Imagem 04: Engenho Monte Alegre-PE.

Fonte: Leôncio Francisco.

Dessa forma, todos sairiam beneficiados, pois haveria de um lado a preservação desses
espaços e um reconhecimento histórico e subjetivo do lugar, que poderia ser abordado de diferentes
maneiras, ora, resgatando elementos culturais, ora fortalecendo os fatos históricos e mitológicos da
região, mergulhando assim o turista dentro do espaço cultural da comunidade.
Com isso é possível proporcionar ao turista uma experiência exótica do que vivencia no dia
a dia. Dessa forma, Rodrigues (2006), ao refletir sobre o como, o porquê e como se configura a
busca pelo lazer na atividade turística diz que, formaram-se novos produtos (turísticos) nesse novo
cenário da sociedade, com características contrárias aos tempos de pressa, ofertando dessa forma
um serviço baseado na cultura e tradições locais, entendendo que inclui um tratamento caseiro,
artesanal, ou seja, de maneira familiar, se colocando agora de maneira bastante expressiva sobre o
modelo dominante de praia e sol.
Verifica-se que locais como a Pedra do Bico, ou como é chamada cientificamente Maciço do
Pirauá, por exemplo, pode oferecer alguns dos elementos identificados anteriormente, no entanto,
mesmo apresentando forte potencial não há investimentos, sendo que apenas neste destino poderia
ser explorado além do turismo de aventura o de lazer e o religioso, destacando ainda a importância
do envolvimento da comunidade local. A área que corresponde a esse ponto turístico faz parte
inclusive de uma proposta criada em 2014 que propusera a criação de uma Área de Proteção
Ambiental- APA, denominada Serra do Mascarenhas, englobando assim o Maciço do Pirauá. Neste
caso, aderindo aos termos que correspondem a APA a SEMAS- Secretaria de Meio Ambiente e
Sustentabilidade define segundo o Artigo 15 da Lei Estadual 13.787/2009 / § 1º ao 4º, que:

A Área de Proteção Ambiental – APA é uma área, em geral, extensa, com certo grau de
ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais
especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem estar das populações humanas;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 431


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica e os recursos hídricos,


disciplinar o processo de ocupação do solo, preservar paisagens notáveis e assegurar a
sustentabilidade do uso dos recursos naturais.‖ A Área de Proteção Ambiental é constituída
por terras públicas, privadas, ou ainda públicas e privadas. Respeitados os limites
constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma
propriedade privada localizada em uma Área de Proteção Ambiental. As condições para a
realização de visitação pública nas áreas sobre domínio público serão estabelecidas pelo
órgão gestor da unidade. Nas áreas de propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer
as condições para visitação pública, respeitando-se as definições do Plano de Manejo.
(SEMAS, p. 38, 2014)

Nesse destino em particular, não se verificam investimentos nas mais simples


infraestruturas, como por exemplo, escadas em bom estado para se ter acesso a ―Pedra do Navio‖
(Imagem 05), escadas estas que se encontram muito deterioradas pelos agentes intempericos, como
umidade e temperatura, ainda em menor escala a vegetação. Quanto à capela construída sobre a
rocha, denomina-se de Igreja de Santo Antônio, destino esse para muitos fiéis na ―Festa da Pedra do
Bico‖ (Imagem06) que acontece todos os anos. Como também não dispõe de nem uma oferta de
serviços no local como venda de água, alimentos, ou até mesmo acomodações como quiosques,
elementos esses que atrairia um maior número de visitantes. Para ter acesso a esse espaço
atualmente se paga uma quantia significativa de R$ 1,00 real por pessoa, a um dos moradores que
reside basicamente na entrada da reserva.

Imagem 05 e 06: Respectivamente Pedra do Navio e Pedra do Bico- PB.

Fonte: Arquivo Pessoal (Silva, 2016).

Além desse destino, é importante destacar a cachoeira (imagem 08) que fica ao Norte do
Município de Macaparana, sendo está intermitente e que mesmo assim acaba por atrair a atenção de
um número significativo de pessoas em períodos de chuva, principalmente os moradores dos sítios
circo-vizinhos e até mesmo da própria cidade.
Ainda ao Norte, pode ser encontrado outro destino conhecido na região de Pedra da Goaina
(Imagem07), localizando-se basicamente na divisa entre os dois Estados, Paraíba e Pernambuco. O
local possui uma beleza cênica, com uma paisagem que chega a surpreender. E agregado a isso se
tem os rituais que ocorrem da Igreja Católica em uma capela construída no afloramento rochoso. Ou
seja, além de todo o atrativo natural, paisagístico, se tem as curiosidades e tradições locais acerca do
lugar.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 432


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Imagem 07: Pedra da Goiana. Imagem 08: Cachoeira.

Fonte: Arquivo Pessoal (SILVA, 2016).

Diante disso, é notório pela imagem que não se verifica investimentos no que se refere à
acessibilidade ao local, nem tão pouco no requisito de proteção. Como a Capela foi construída no
afloramento rochoso, deveria ter uma barra de proteção em todo seu entorno, identificando ao
turista até onde pode ser acessível, no entanto, tem apenas essa barra para descer. Atrelado a isso,
tem a precariedade no que diz respeito de sinalização que não se tem em nem uma das vias de
acesso.
Agregando ao já exposto, destaca-se que a culinária da região, com áreas em sítios que
servem um cardápio exótico, podendo o turista desfrutar ao mesmo tempo de uma bela paisagem.
Como exemplos, pode-se citar o Restaurante de Jesus, na região de Paquevira, próximo a Pedra do
Bico já explorada anteriormente, ofertando uma comida regional saborosa. Embora que se verifica a
necessidade de promovê-lo para que mais pessoas possam saber de sua existência.
Como também no Sitio Piacas, onde é possível deliciar-se com a degustação de peixes,
como Tilápia e Trairá, criadas em reservatórios, servidos a moda da casa e a critério do visitante,
acompanhando verduras em volta do prato, além de servirem refeições completas. Logo, não muito
diferente de outros espaços, como a exemplo o Restaurante do Jesus falado anteriormente, precisa
ser mais divulgado e sinalizado, já que muitos moradores inclusive não sabem de sua existência. Na
cidade alguns estabelecimentos destacam-se como a Churrascaria do Lalai, disponibilizando uma
oferta diversificada de pratos regionais, além dos famosos caldinhos, como também Pizzarias e
lanchonetes para os mais distintos gostos e paladares, entre outros ambientes.
Dessa maneira, fica claro que a cidade dispõe de alguns elementos importantes para a
recepção de visitantes, no entanto, salienta-se que é de fundamental importância buscar trazer novas
concepções a cerca do real potencial local para essa atividade, pois ainda há muito que ser feito.
Ainda como elemento que pode ser buscado como ponto turístico tem a Serra da
Mascarenhas, que segundo a SEMAS (2014), está localizada exatamente na divisa entre Vicência e
Macaparana e a Serra de Pirauá, oscilando em altitude entre 450m a 500m em seu ponto mais alto

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 433


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

(Pedra da Mascarenhas). Podendo assim ser introduzida como atrativo turístico por meio da
construção de um mirante, por exemplo.
E como elemento singular, destaca-se a importância da feira local, que como ferramenta de
atrativo é um espaço diversificado e que mostra um pouco de todas as áreas ciro-vizinho do
Município de Macaparana, como aponta (LIMA, 2016).

Imagem 09: Mercado Público.

Fonte: Google Earth (2016).

A foto mostra o Mercado Público da cidade onde no qual todos os fins de semana seu
entorno é ocupado por bancas de diversas mercadorias, como verificado do lado direito, que vai
desde os produtos naturais como os alimentos: Macaxeira, beterraba, jerimum, milho, feijão,
manga, coco, uvas, Inhame, banana, jaca, tomate, coentro, cebola, alface, entre outros itens, a
produtos industrializados como venda de aparelhos eletroeletrônicos, além de variados serviços,
como conserto de relógios, celulares (além das lojas já permanentes) e barracas para lanches rápidos
como cachorro quente, Misto quente, macaxeira ou inhame com carne de gado bovino ou de frango
cozida.
Além dos pontos destacados existem outros que também poderiam ser incorporados nessa
abordagem como o Cruzeiro (Imagem10), onde no qual aprecia-se a beleza da cidade por estar
localizado em uma área mais alta, sendo que esse espaço é bastante depredado sem que haja um
manejo e cuidado com o ambiente físico e natural, pois ver-se muito lixo jogado, além de não ter
serviços como quiosques ou barracas de lanches para os visitantes.
Na cidade encontra-se a Casa de Dona Nita de Moraes (Imagem11), onde se tem peças
riquíssimas de valor histórico para a região, sendo esta por sua vez utilizada para visitas escolares e
ou de historiadores junto à Prefeitura e também Museu da cidade, que dispõe de um riquíssimo
acervo histórico e cultural do município. Estes por sua vez, precisariam ser mais bem divulgados e
colocados ao público de maneira que os incentivasse a querer buscar conhecer a historicidade da
cidade, da região, do lugar dos mesmos e dos que pela cidade passam.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 434


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Imagem 10: Igreja de São Francisco no Alto do Imagem 11: Casa de Dona Nita de Moraes.
Cruzeiro.

Fonte: Leôncio Francisco (2017). Fonte: Site da Prefeitura de Macaparana.

E por todos esses elementos apontados, verifica-se que há forte potencial para a exploração
turística, faltando apenas que haja investimentos junto à comunidade pelo Trade turístico. Todavia
que possibilite o desenvolvimento da própria comunidade, pois os investimentos são primordiais
para a execução e sucesso dessa aspiração que é desenvolver uma atividade turística pautada na
filosofia de um ecoturismo de base local e comunitária.

CONCLUSÕES

Conclui-se, portanto que a partir da pesquisa foi possível identificar os pontos turísticos
existentes no município, além de como os mesmos se encontram. Colocando como proposta uma
atividade turística partindo do seguimento referente ao turismo rural de base comunitário, trazendo
os objetivos propostos pelo Ecoturismo. Busca-se por meio do turismo uma atividade que seja
economicamente viável e ambientalmente sustentável, sendo que quando bem planejada não agride
o meio ambiente, como outras que acabam por trazer grandes prejuízos à biodiversidade local.
Diante disso, verificou-se que os investimentos direcionados às potencialidades do turismo rural de
base comunitária nesse município não satisfazem as reais necessidades. Devendo-se, buscar uma
prática socioambiental válida, incentivando tanto para o manejo sustentável dos recursos finitos da
região como fornecer a possibilidade de divisas financeiras para os envolvidos e a própria
valorização do lugar pelo morador. Dessa forma traria uma segunda renda as famílias que
estivessem envolvidas direta e indiretamente com a atividade turística. Sendo positiva a realização
de novos estudos da região possibilitando um manejo mais consciente em relação aos recursos
naturais e culturais. Destacando ainda que não se devem descaracterizar os costumes locais para
satisfazer os visitantes, pois entende-se que nesse tipo de turismo o visitante deve se adaptar às
características locais, pois só assim acontece a real magia do Turismo Rural de Base Comunitária.

REFERÊNCIAS

BARRETO, Margarida. Manual de iniciação ao estudo do turismo. 8°Ed; Campinas, SP: Papiros

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 435


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Editora, 1995.

BESSA, Altamiro Sérgio Mol; ÁLVARES, Lúcia Capanema. A Construção do Turismo e outras
Estratégias de Venda das Cidades. Belo Horizonte. C/Arte, 2014.

CORIOLANO, Luzia Neide Menezes. Os limites do Desenvolvimento e do Turismo.PASSOS-


Revista de Turismo y Patrimônio Cultural. Vol. 1 Nº 2. Pág. 161-171. 2013. Disponível em
http://www.pasosonline.org/Publicados/1203/PS040603.pdf. Acessado em: 08 de janeiro de
2017.

LIMA. Alberto Anderson de Araújo. Trabalho de conclusão de curso. A dinâmica espacial da feira
de Macaparana – PE. Graduado no curso de Licenciatura em Geografia pela UFCG-
Universidade Federal de Campina Grande. Campus de Campina Grande, 2016.

Pernambuco » Macaparana. IBGE. Disponível em:


http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=260900.. Acessado em 07 de
Dezembro de 2016.

RODRIGUES, Adyr Balastreri. Desafios para os estudiosos do turismo in Turismo e Geografia:


Reflexões teóricas e enfoques regionais. Organização de Adyr Balastreli Rodrigues. Segunda
edição São Paulo: Hucitec, 1999.

RODRIGUES, Adyr Balastreri. Turismo e territorialidades plurais– lógicas excludentes ou


solidariedade organizacional. En publicación: América Latina: cidade, campo e turismo. Amalia
Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo, María Laura Silveira. CLACSO, Consejo
Latinoamericano de Ciencias Sociales, San Pablo. Diciembre 2006. Disponível em:
http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/edicion/lemos/17rodrigu.pdf. Acessado em 15 de
janeiro de 2017.

SANTOS, Lourinaldo Bezerra dos. IBGE. Historia de Macaparana. Ache Tudo e Região.
Disponível em http://www.achetudoeregiao.com.br/pe/macaparana/historia.htm. Revisado em:
27 de maio, 2015. Acessado em 10 de Dezembro de 2016.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único a consciência. Universal. 19ª
Ed; Rio de Janeiro: Record, 2010.

SEMAS. Proposta para criação da Área de Proteção Ambiental APA Serra do Mascarenhas –
PERNAMBUCO. Disponível em:
http://www.semas.pe.gov.br/c/document_library/get_file?uuid=74587437-27fc-4d4f-9c71-
355bfe6aa826&groupId=709017. Fevereiro de 2014. Acessado em 22 de Janeiro de 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 436


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SILVA, Arnaldo Tranquilino da, 1962. Revelando os segredos da princesa/ Arnaldo Tranquilino da
Silva. Recife: Printer, 2014.

SILVA, Genilson Oliveira Costa. Licenciando em Geografia. Universidade Federal de Campina


Grande/CFP. Arquivo Pessoal de Fotos. 2016.

Turismo de Macaparana. Disponível em


http://www.achetudoeregiao.com.br/pe/macaparana/turismo.htm. Acessado em 14 de Dezembro
de 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 437


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SERRA NEGRA – BEZERROS – PERNAMBUCO

Jorge Luiz Farias de SOUZA


Aluno do Centro Universitário Guararapes – UNIFG
fariasjorge135@gmail.com
Elizabeth Rodrigues da Fonseca DIAS
Professora Mestra Orientadora
piterisdias@yahoo.com.br

RESUMO
Estudo sobre o povoado de Serra Negra situada a pouco mais de 9 km do município de Bezerros
onde o caminho se dá por uma estrada que começa pouco depois da ponte da ferrovia e mescla
trechos de terra com trechos de paralelepípedos. Durante o caminho, observamos algumas serras e
grandes pedras esculpidas pelo tempo, que embelezam e impressionam os viajantes. O povoado
ainda não é tão conhecido, mas a especulação imobiliária elevou muito o valor das terras da região.
Observamos muitas casas de campo e pequenos sítios de fins de semana. Em pouco mais de 10
minutos, chegamos ao tranquilo povoado, que tem algumas casas adaptadas para pequenos
restaurantes e a pequena Igreja de São Francisco Xavier. No frontispício consta a data de sua
fundação, 1949. Segundo os moradores, a Igreja só abre para casamentos ou uma vez por mês para
uma missa. Na frente dela tem uma pequena lagoa formada pela água da chuva que se acumula na
pedra. A menos de 1 km da Igreja, fica o Pólo de Eventos de Serra Negra. Nesse local, há um teatro
ao ar livre que também serve como mirante. A vista é deslumbrante. No pólo ainda há um bom
restaurante que proporciona, além de boa comida e bom atendimento, degustarem uma boa cerveja
ou um bom vinho, a depender da temperatura do dia, curtindo a vista. Também há um centro de
artesanato, onde encontramos vários itens da cultura local, sobretudo os relacionados aos Papangus,
além de informações turísticas da região.
Palavras chaves: Bezerros, povoado, serra.
ABSTRACT
Study about the village of Serra Negra, located a little more than 9 km from the municipality of
Bezerros where the road takes a road that starts shortly after the railway bridge and mixes stretches
of land with stretches of cobblestone. Along the way, we observe some mountain ranges and large
stones carved by time, which embellish and impress travelers. The village is not yet so well known,
but real estate speculation has greatly raised the value of the region's land. We observed many
cottages and small week-end sites. In just over 10 minutes, we reach the quiet village, which has
some houses adapted for small restaurants and the small Church of St. Francis Xavier. In the
frontispiece is the date of its foundation, 1949. According to the residents, the Church only opens
for weddings or once a month for a mass. In front of it is a small lagoon formed by rainwater that
accumulates in the stone. Less than 1 km from the Church, is the Serra Negra Event Center. In this
place, there is an open-air theater that also serves as a gazebo. The view is breathtaking. In the pole
there is also a good restaurant that provides, besides good food and good service, to taste a good
beer or a good wine, depending on the temperature of the day, enjoying the view. There is also a
handicraft center, where we find various items of local culture, especially those related to the
Papangus, as well as tourist information of the region.
Keywords: Calves, village, sierra.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 438


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

Seguindo pela BR – 232 chegamos ao município de Bezerros onde se localiza o distrito de


Serra Negra. Bezerros têm uma população de aproximadamente 58.984 habitantes e fica a 100 km
da capital. Os primeiros habitantes de Bezerros foram Terciano e Zenóbio Torres que possuíam
fazendas de criação de gado, estes por sua vez foram substituídos por José Bezerra e Francisco
Bezerra também irmãos. A partir daí, Bezerros começou a se desenvolver ganhando outras
pequenas propriedades rurais e uma capela construída pelos irmãos Bezerra no ano de 1740 em
pagamento a uma promessa feita a São José por parte de um dos irmãos que teve seu filho perdido
numa floresta do município e foi encontrado após a promessa. A capela foi reformada e hoje é a
igreja matriz de Bezerros. Ainda existem outras versões que explicariam a origem do nome
Bezerros como a de que primitivamente havia uma queimada de bezerros no local.

Figura 1

Figura 2

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 439


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Serra Negra está localizada a 110 km do Recife e situada entre as coordenadas geográficas
8.24262‘S e -35.7852 8° 14′W possui uma paisagem exuberante e nos proporciona um contato
direto com a natureza, o parque ecológico e o mirante são umas das atrações de Serra Negra. Quem
chega a Serra Negra pode desfrutar ainda das trilhas ecológicas, as visitas às cavernas os mirantes e
o parque ecológico. O distrito conta com a vila ao seu redor e a igreja de São Francisco Xavier e um
pequeno povoado. O nome Serra Negra é denominado a formação de nuvens que sombreiam a
paisagem e mantém um clima sempre agradável durante o dia e frio durante a noite. O mirante do
parque ecológico possibilita uma visão privilegiada do planalto da Borborema e do divisor de águas
dos rios Capibaribe e Ipojuca (vale do Ipojuca). O mirante possui aproximadamente 900m de
altitude sendo um dos pontos mais altos da Serra onde é possível observar também à vila de Serra
Negra, trechos de Bezerros, a leste a cidade de Gravatá.

CARACTERÍSTICAS DA TERRA

Serra Negra, seu nome têm duas versões, uma historicamente comprovada que é a origem da
expressão dos colonizadores do Norte, que, passando pelo Rio Capibaribe, situavam-se
geograficamente com ―aquela serra negra‖, que vista de longe, apresenta-se de cor escura, passando
a ser um marco de orientação aos viajantes; a outra, tendendo mais para o lado da lenda, da
imaginação popular, referindo-se a uma escrava que, fugindo da perseguição do seu senhor, pulou
do penhasco ali existente, sendo fugitiva seria alcançada facilmente pelo Capitão do Mato, o que
faria nascer outra versão, a qual teria sido estuprada e morta pelo perseguidor e seu corpo, sacudido
no penhasco.
Figura 3

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 440


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A Serra Negra faz parte do maciço da Borborema, possuindo terra fértil o que determina
uma agricultura diversificada, do café – que já fez época -, até as de subsistência, como a mandioca,
tomate, frutas diversas, flores, e sendo o maior produtor de mel de abelha do estado, de
internacional prestígio. Observamos as cidades de Cumaru e Passira que ao limitam ao Norte, São
Joaquim do Monte e Agrestina que limitam ao Sul, Riacho das Almas e Caruaru que limitam ao
Oeste e Gravatá, Sairé e Camocim de São Félix que limitam ao Leste. Seu clima é semiárido,
porém, com alguns trechos de tropical de altitude, estando inserida nas bacias do Rio Ipojuca. O
município de Bezerros é composto por um Distrito-sede, Boas Novas, Sapucarana, Encruzilhada e
os povoados de Cajazeiras, Fazendinha, Jurema, Poção, Serra Negra e o Sítio dos Remédios.

Figura 4

Figura 5

O município está inserido na unidade geoambiental do Planalto da Borborema. Tem seu


ponto culminante no povoado de Serra Negra, aonde a altitude chega a 957m. A vegetação do
município é composta por caatinga hiperxerófila e mata atlântica. A economia do município
consiste na agricultura, sendo um dos maiores produtores de tomate do Estado; na indústria

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 441


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

destacam-se suas fábricas de bolos. Bezerro destaca-se também nas fabricas de doces. Além disso,
Bezerros é uma das cidades pernambucanas que mais se destaca na produção de granito.
Na gastronomia uma boa pedida são os restaurantes do Distrito de Encruzilhada, onde o principal
atrativo é a carne de sol.

Figura 6

MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo foi realizado através de duas visitas in loco na região de Serra Negra no mês de
novembro de 2016 e também através de pesquisa bibliográfica e consultas a diversos artigos
científicos da área.

RESULTADOS

De acordo com duas visitas realizadas no mês de novembro de 2016 e pesquisas


bibliográficas efetuadas, pode-se constatar que o ambiente é muito rico em plantas, especialmente
em licófitas, briófitas, angiosperma, líquens e fungos entre outras riquezas que a bioflora apresenta
em Serra Negra - Bezerros, estado de Pernambuco.

DISCUSSÃO

Os levantamentos florísticos que consideram que a área pesquisada é muito rica em flora
específica, caracterizada como Brejo de Altitude ou Floresta Serrana, a área estudada apresenta
vegetação semiárida que a cerca, por isso os Brejos de Altitude, principalmente o de Serra Negra de
Bezerros, estão sofrendo acelerado processo de devastação.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 442


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CONCLUSÕES

De acordo com o estudo realizado, observou-se que a área pesquisada é muito rica
principalmente em flora específica com uma biodiversidade local, com um clima Tropical de
Altitude bastante diferenciado e sendo também um importante Polo Turístico para o Estado de
Pernambuco, necessita urgente de uma política de preservação ambiental mais rigorosa visando
desta forma a preservação desta área.

AGRADECIMENTOS

A Deus pela sabedoria e por iluminar as nossas jornadas. Aos familiares, e amigos que
contribuíram de alguma forma para a realização desse trabalho. A Professora Mestra Elizabeth
Rodrigues da Fonseca Dias, pela orientação na pesquisa, a Professora Doutora Aline Alves Barbosa
da Silveira Coordenadora do Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário Guararapes –
UNIFG – Piedade – Jaboatão dos Guararapes, pelo o apoio constante e a todos que direta ou
indiretamente participaram da composição deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Divisão Territorial do Brasil e Limites Territoriais. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE). 2008.

IBGE (10 de outubro de 2002). Área territorial oficial. Resolução da Presidência do IBGE de n° 5
(R.PR-5/02). Consultado em 5 de dezembro de 2010.

Estimativa da população 2015 População estimada Comparação entre os municípios:


Pernambuco. Estimativa Populacional - 2015. Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). agosto de 2015. Consultado em 11 de dezembro de 2015.

Ranking decrescente do IDH-M dos municípios do Brasil. Atlas do Desenvolvimento Humano.


Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 2010. Consultado em 01 de
outubro de 2013.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 443


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ambientes Urbanos e
Qualidade de Vida

© Antonio David Diniz

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 444


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ARBORIZAÇÃO URBANA E QUALIDADE DE VIDA: ESTUDO DE CASO


COM MORADORES DE DOUTOR SEVERIANO, RN

Daniel Tavares de FARIAS


Graduando em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido
daniel.bky@gmail.com
Veroneide Maria de OLIVEIRA
Graduanda em Geografia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN
veroneideoliveira@hotmail.com
Francisco Rodolfo da Silva BARRETO
Graduando em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido
rodolfo_eng.floresta@hotmail.com
Carlos José da SILVA
Docente - Universidade Federal Rural do Semi-Árido
carlos.silva@ufersa.edu.br

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo avaliar a percepção ambiental dos moradores da cidade de Doutor
Severiano, RN acerca da arborização urbana. Atentando para sua importância para a qualidade
ambiental da cidade e consequentemente para a qualidade de vida dos seus habitantes. A pesquisa
baseou-se em estudo bibliográfico sobre a temática e ainda na aplicação de questionário com
moradores da referida cidade. Constatamos com este estudo que os moradores são conscientes da
importância e dos benefícios proporcionados pela arborização aos espaços urbanos, no entanto, a
política de planejamento voltada à arborização do município é negligenciada pelo poder
administrativo, o papel de implementação e manutenção da arborização do município é transferido
quase que exclusivamente aos munícipes.
Palavras-chave: Arborização Urbana. Qualidade de vida. Percepção Ambiental.

ABSTRACT
This work aims to evaluate the environmental perception of the residents of the city of Doutor
Severiano, RN about the urban afforestation. Taking into account its importance for the
environmental quality of the city and consequently for the quality of life of its inhabitants. The
research was based on a bibliographic study on the subject and also on the application of a
questionnaire with residents of that city. We verified with this study that the residents are aware of
the importance and the benefits provided by the afforestation to the urban spaces, however, the
planning policy directed to the afforestation of the municipality is neglected by the administrative
power, the role of implementation and maintenance of the afforestation of the municipality is
Transferred almost exclusively to the residents.
Keywords: Urban Arborization. Quality of life. Environmental Perception.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 445


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

Conforme Lima e Amorim (2006) o meio urbano é composto pelo sistema natural (meio
físico e biológico) e ainda pelo sistema antrópico (sociedade e suas atividades). Configurando-se,
assim, em um sistema aberto no qual a sociedade necessita dos recursos do meio ambiente para
sobreviver. E a arborização é um dos componentes bióticos mais importantes do meio urbano
porque está diretamente relacionado com o conforto ambiental (BIONDI 2008 citado por MARTINI
2013). Este é um elemento imprescindível na constituição do espaço das cidades, uma vez que
contribui diretamente para a qualidade de vida de seus residentes.
Referido-se a qualidade de vida urbana Loboda e Angelis (2005) afirmam estar a mesma,
diretamente atrelada a vários fatores como: infra-estrutura, ao desenvolvimento econômico social e
à questão ambiental. E no caso do ambiente, as áreas verdes públicas constituem-se elementos
imprescindíveis para o bem estar da população, pois influencia diretamente a saúde física e mental
da população.
São vários os benefícios que a vegetação pode proporcionar para as nossas cidades, pois
serve de equilíbrio entre a vida urbana e o meio ambiente, dentre estas funções Nucci; Cavalheiro
(1999, p. 30) apontam:

[...] estabilização de determinadas superfícies, obstáculo contra o vento, proteção da


qualidade da água, filtração do ar, equilíbrio do índice de umidade, diminuição da poeira
em suspensão, redução dos ruídos, interação entre as atividades humanas e o meio
ambiente, fornecimento de alimentos, proteção das nascentes e mananciais, organização e
composição de espaços no desenvolvimento das atividades humanas, valorização visual e
ornamental, segurança nas calçadas (acompanhamento viário), recreação, quebra da
monotonia das cidades, cores relaxantes, estabelecimento de uma escala intermediária entre
a humana e a construída, caracterização e sinalização de espaços, etc.

No entanto, geralmente, o processo de implantação das cidades é responsável por uma série
de prejuízos socioambientais, pois, sua formação está atrelada às alterações do meio natural, uma
vez que, sua construção passa pela retirada da cobertura vegetal para dar lugar aos equipamentos de
infra-estrutura urbana, o que na maioria das vezes ocorre sem o devido planejamento.
E o desconforto térmico, é uma dessas problemáticas relacionadas ao uso e ocupação
indevidos e sem planejamento do solo para a construção do ambiente artificial. Isso ocorre de
acordo com Peixoto (1995), Castro (1999) e Bueno (2003) citados por Shams, Giacomeli e
Sucomine (2009, p.3):

[...] pelas alterações climáticas decorrentes das mudanças das características térmicas das
superfícies, das taxas de evaporação, da grande impermeabilização do solo decorrentes de
construções e pavimentações, aumento da concentração de poluentes, fruto das atividades
humanas, novos padrões de circulação do ar e principalmente devido à ausência de
vegetação, causando uma incidência direta da radiação solar nas construções, que retorna
ao meio externo sob a forma de calor; este, por sua vez, tem sua dissipação reduzida devido
às condições do ambiente, transformando as cidades em verdadeiras estufas, tendo como
efeito denunciador o surgimento das chamadas ilhas de calor.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 446


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Portanto, ―a falta de arborização pode trazer desconforto térmico e possíveis alterações no


microclima [...]‖ (LIMA E AMORIM 2006, p. 69).
Uma vez que, as árvores atuam na atenuação dessa problemática, propicionando o controle
da temperatura do ambiente através do sombreamento lançado pela vegetação, que reduz a
conversão de energia radiante sensível, reduzindo as temperaturas de superfície dos objetos
sombreados e ainda, através do consumo da energia para a evapotranspiração na superfície da folha,
resfriando a folha e o ar adjacente dado à troca de calor latente, ou seja, a vegetação retira calor do
meio e o transforma e não armazena calor como ocorre nos materiais de construção (FURTADO
1994 citado por SHAMS, GIACOMELI, SUCOMINE 2009).
É inegável a importância da arborização no espaço das cidades, no entanto, não pode ocorrer
de qualquer maneira, esta exige todo um cuidado e planejamento por parte da administração pública
no intuito de evitar possíveis problemas que possam vir a surgir, como por exemplo, quando da
escolha de espécies não apropriadas para cada realidade/localidade.
Estudos de percepção ambiental muito tem a contribuírem na ajuda de tomada de decisão da
administração pública já que representam a opinião dos principais atores a quem devem ser
destinadas as políticas públicas, as cidades devem ser pensadas para as pessoas, por isso, se faz
importante ouvir a população a respeito das problemáticas que os atingem no intuito de se buscar
alternativas viáveis de minimização de tais problemas.
No entanto, de acordo com Ferreira e Amador (2013), para que haja um eficiente
planejamento e manutenção da arborização urbana, faz-se necessário, considerar a percepção da
população, uma vez que a percepção da arborização urbana pela população humana tem sido
relegada a um plano secundário pelos administradores e técnicos responsáveis. Sendo assim, este
trabalho tem como objetivo avaliar a percepção de moradores da cidade de Doutor Severiano, Rio
Grande do Norte – RN, acerca da arborização urbana. Atentando para sua importância na qualidade
ambiental urbana e consequentemente na qualidade de vida de seus moradores.

METODOLOGIA

Caracterização da Área em Estudo

O município de Doutor Severiano faz parte da Mesorregião Alto Oeste do Estado do Rio
Grande do Norte, estando a 446 km da capital do Estado, Natal. Tem no seu território, 108,28 km²
de extensão. A sede do município tem uma altitude de 370m e coordenadas 06º05‘38‘‘ de latitude
sul e 38º22‘30‘‘ de longitude oeste.
Em termos de população o município conta com 6.492 habitantes, sendo 3.709 na zona rural
distribuídos em 32 comunidades e 2.783 na zona urbana (IBGE 2010).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 447


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Na região o clima é tropical quente, úmido e sub-úmido, com períodos chuvosos que variam
entre os meses de janeiro a junho, tendo aproximadamente 2700 horas de insolação.
A agricultura é atividade econômica que se destaca, principalmente, na produção de feijão,
milho, arroz, batata-doce e mandioca. A pecuária, embora com menos potencial que a agricultura,
aparece também como importante fonte de renda no município, aí se destacando a criação de
bovinos, caprinos e suínos (PREFEITURA MUNICIPAL DE DOUTOR SEVERIANO 2017).

Figura 01: Localização do Município de Doutor Severiano, RN. Fonte: IBGE, 2016.

Procedimentos e Métodos

Para efeito de realização da pesquisa os dados foram coletados por meio de procedimentos
metodológicos do tipo revisão bibliográfica, e coleta de dados em campo, com um questionário
semi-estruturado, contendo questões objetivas e do tipo aberta, aplicado aos moradores de Doutor
Severiano.
Foram aplicados 54 questionários, distribuídos pelos moradores da cidade de forma
sistemática, tentando abranger a maior parte do local. Este questionário tem o objetivo de analisar a
percepção dos moradores quanto à importância de arborização no local onde vivem.
A pesquisa foi realizada em junho de 2017 e baseou-se no tema Arborização urbana e
qualidade de vida. Propondo aos moradores refletirem sobre a importância das árvores no espaço da
cidade.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 448


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A primeira parte do questionário buscou coletar dados referentes ao perfil dos entrevistados
atentando para o grau de escolaridade dos mesmos. A segunda parte visou abordar a compreensão
dos questionados relacionados aos aspectos de arborização da cidade e a compreensão dos mesmos
a respeito da importância da arborização para a qualidade ambiental urbana e de vida dos
moradores. Perguntou-se aos moradores se os mesmos conheciam praças, áreas verdes e jardins no
espaço da cidade. Isso devido a grande importância destes locais para sociabilidade e/ou ainda
utilização pelos moradores como espaço de lazer, para a prática de atividades físicas como a
caminhada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quanto ao grau de escolaridade dos moradores, 40,74% possuem ensino médio completo,
29,63% apresentam ensino superior incompleto, 11,11% correspondem aos que possuem ensino
superior completo e ensino médio incompleto respectivamente e ainda 7,41% os que possuem
ensino fundamental incompleto.
No que se refere a arborização das vias públicas de Doutor Severiano, os moradores
consideram como relevante a distribuição de árvores nos espaços da cidade, já que apenas 7,41%
dos questinados a classificaram como ruim, concentrando as respostas entre bom, regular e ótimo
(figura 02).

50%
44,44%
45%
40% 37,04%
35%
30%
25%
20%
15% 11,11% 7,41%
10%
5%
0%
Boa Regular Ótima Ruim

Figura 02 - Classificação da arborização da cidade de Doutor Severiano, RN, indicada pelos entrevistados.

Quando questionados sobre a importância da arborização, todos afirmaram ter conhecimento


da importância das árvores em vias públicas. Então, foram apresentadas propostas sobre os
benefícios da arborização, ou seja, quais benefícios às árvores proporcionariam. Entre as
alternativas estavam: redução de calor que apresentou (37,29%) das respostas, sombra com 33,90%
das afirmações, produção de flores e frutos e outros benefícios (10,17%) respectivamente e redução

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 449


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

da poluição sonora 8,47%, a opção nenhum benefício não foi votada. Diante das afirmações
podemos avaliar na figura 03 que a população tem consciência que as árvores trazem benefícios.

40% 37,29%
33,90%
35%

30%

25%

20%

15%
10,17% 10,17% 8,47%
10%

5%

0%
Redução de Sombra Produção de Outros Redução de
calor flores e frutos poluição
sonora

Figura 03 - Benefícios proporcionados pela arborização da cidade.

Em relação ao microclima e ao conforto térmico da área em estudo, 44,44% classificaram


como regular, 25,93% como agradável 18,52% desagradável, 7,41% muito agradável, e 3,70%
muito desagradável (figura 04).

50%
44,44%
45%
40%
35%
30% 25,93%
25%
18,52%
20%
15%
7,41%
10%
3,70%
5%
0%
Regular Agradável Desagradável Muito Agradável Muito
desagradável

Figura 04 - Sensação térmica ao caminhar pelas ruas da cidade de Doutor Severiano, RN.

Quanto a existência de praças, áreas verdes e jardins no espaço da cidade, 40,74%


afirmaram não haver praça ou área verde na cidade, 59,26% afirmaram haver praças na cidade,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 450


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

porém estas possuem poucas árvores e geralmente as poucas árvores presentes são de baixo porte
apenas com função paisagística e ornamental. Sobre a arborização das praças podemos constatar a
confirmação das respostas dadas pelos moradores ao analisarmos a figura 05. O que para Schuch
(2006, p. 12):

Dentro de um planejamento urbano, as praças e parques também precisam receber atenção


especial. Como áreas de lazer e de descanso, estes locais devem resgatar a sua função social
e devem ser agradáveis e que estimulem as pessoas a freqüentá-los. Com relação a esse
aspecto, a arborização também é fundamental. As árvores têm a capacidade de suavizar as
duras linhas do ambiente urbano, formando um conjunto estético e belo, com efeitos no
bem-estar psíquico da população.

Figura 05 - Praças da cidade de Doutor Severiano, RN.

Sobre as possíveis desvantagens que a arborização poderia trazer para as ruas da cidade
31,43% atribuiu a redução da iluminação pública, 25,71% a problemas nas calçadas, 22,86% a
sujeira de ruas e calçadas, 17,14% a problemas com a rede elétrica, e 2,86%, sujeira provocada
pelos pássaros que habitam as árvores (figura 06).

35%
31,43%
30%
25,71%
25% 22,86%

20% 17,14%

15%

10%

5% 2,86%

0%
Redução da Problemas na Sujeira das ruas Problemas com a Sujeira
iluminação calçada e calçadas rede elétrica ou provocada pelos
pública telefônica pássaros

Figura 06 - Desvantagens da arborização para as ruas da cidade de Doutor Severiano, RN de acordo com os
moradores.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 451


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A problemática que pode ser ocasionada pelas árvores nos centros urbanos é decorrente da
falta de planejamento urbano e paisagístico, o que de acordo com a CEMIG (2011. p. 37):

O planejamento da arborização deve passar pela gestão pública em sua mais ampla
concepção. O órgão gestor da arborização deve trabalhar em acordo com políticas
comprometidas com um manejo que reconheça não somente a importância da presença das
árvores na cidade, mas que efetivamente respalde as práticas necessárias à sua boa
condução.

Este planejamento deve envolver desde a escolha das espécies mais adequadas para cada
localidade, plantio, manutenção até aspectos paisagísticos que vise à harmonia desse elemento com
os demais que compõem do espaço urbano, e assim evitar os possíveis problemas que podem vir a
surgir como os citados, relacionados a problemas nas calçadas e na rede elétrica. O que nota-se é
que não houve a preocupação quanto a escolha das espécies mais adequadas para o contexto
semiárido, assim como, quanto a manutenção das árvores presentes no município. Como podemos
ver no que se refere à poda na figura 07.

Figura 07 - Árborização nas ruas da cidade de Doutor Severiano, RN.

Para melhorar a arborização no local 37,04% dos entrevistados declararam ser necessário
plantar mais árvores, 35,18% afirmaram achar necessário se fazer a manutenção e realizar podas de
forma e em época correta e, 27,78% disseram se fazer necessário a realização de um trabalho de
conscientização sobre a arborização no local.
Quanto a identificação representada na tabela 1, das principais espécies que compõem a
arborização da cidade de Doutor Severiano, 85,19% disseram identificar algumas espécies e
14,81% declaram não identificar.
Das espécies florestais a Castanhola, Ficcus e o Nin foram as mais citadas respectivamente,
também a Algaroba, Mangueira, Canafistula e Limoeiro e em menor quantidade de vezes, ainda
foram citados Pau Brasil, Algodão do Pará, Hibisco, Gravioleira, Coqueiro, Pseudo Pinus e a
Laranjeira.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 452


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 01: Espécies que compõe a arborização urbana identificadas pela população de Doutor Severiano,
RN.

Dentre as famílias identificadas se destacaram a Fabaceae, Malvaceae e Rutaceae com três,


duas e duas espécies respectivamente identificadas pelos moradores entrevistados na situação de
caminhar pelas ruas da cidade. Ao nível de espécies destacam-se Terminalia catappa, Ficus
benjamina e Azadirachta indica, 22,22%, 20,99%, 17,29% respectivamente.
Embora apresente uma diversidade de espécies compondo a arborização urbana do
município estudado a origem de 100% das espécies identificadas pelos moradores é exótica, que
segundo Blum, Borgo e Sampaio (2008) possuem a capacidade de realizar invasão biológica. É um
processo de introdução e adaptação de espécies que não fazem parte, naturalmente, de um dado
ecossistema, mas que se naturalizam e passam a provocar mudanças em seu funcionamento
(ZILLER, 2000). Fato esse que indica a predominância de espécies que não pertencem ao bioma
caatinga que possuem características adequadas e contribuiriam para a preservação da vegetação
nativa.
A presença de frutíferas na arborização foi um fator observado nas entrevistas, sendo
identificado um total de seis espécies pelos moradores, com destaque para a Mangifera indica
7,41%, Terminalia catappa 22,22% e Citrus limon 6,18%.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esta pesquisa conclui-se que a população em estudo tem consciência da importância e
dos benefícios da arborização para o espaço urbano.
Embora os moradores avaliem a arborização da cidade de forma geral como regular e boa,
percebe-se que assim como na maioria dos municípios brasileiros a missão de arborizar a cidade

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 453


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ficou por conta dos próprios moradores, que muitas vezes sem o devido conhecimento técnico
acabam por adotar as espécies sem levar em consideração as características locais o que pode gerar
problemas futuros quanto à harmonia da arborização, como da infraestrutura da cidade em
decorrência da escolha menos apropriada para a localidade.
A arborização urbana é um importante fator condicionante para o conforto térmico e
qualidade de vida a população, portanto, deve compor a pauta de discussão e a política de
planejamento da gestão municipal no intuito de construirmos cidades mais sustentáveis e que
priorizem a melhoria de vida dos seus habitantes.

REFERÊNCIAS

BLUM, C. T.; BORGO, M.; SAMPAIO, A. C. F. Espécies exóticas invasoras na arborização de


vias públicas de Maringá-PR. Revista SBAU, Piracicaba, v. 3, n. 2, jun. 2008, p. 78-97.

CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais. Manual de arborização. Belo Horizonte:


CEMIG, 2011. 112p. Disponívelem:<http://www.cemig.com.br/sites/imprensa/pt-
br/Documents/Manual_Arborizacao_Cemig_Biodiversitas.pdf>. Acesso em: 04 dez 2015.

FERREIRA, E. da S; AMADOR, Mª B. M. Arborização urbana: a questão das praças e calçadas no


município de Lajedo-PE e a percepção da população. In: Periódico Eletrônico Fórum Ambiental
da Alta Paulista. Dilemas da Sustentabilidade Urbana. 01/2013.v. 9, n. 4, 2013. p. 59-78.
Disponível
em:<http://amigosdanatureza.org.br/publicacoes/index.php/forum_ambiental/article/view/614/63
>. Acesso em: 07 nov. 2015.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Brasil/Rio Grande do Norte/Doutor Severiano.


Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/rn/doutor-severiano/panorama> . Acesso
em 16 de jul 2017

_________Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio Grande do Norte>Doutor Severiano.


Disponível em:<
http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=240320&search=rio-grande-do-
norte|doutor-severiano|infograficos:-informacoes-completas> . Acesso em Acesso em 16 de jul
2017

_________Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O seu Município em Números 2016.


Doutor Severiano. Disponível em:<
http://www.ibge.gov.br/downloads/folders/eleicao2016/24/2403202.pdf

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 454


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

>. Acesso em 16 de jul 2017.

LIMA, V.; AMORIM, M. C. de C. T. A Importância das Áreas Verdes para a Qualidade Ambiental
das Cidades. Revista Formação, nº13, 2006, p.139–165. Disponível
em:<revista.fct.unesp.br/index.php/formacao/article/view/835/849> Acesso em 16 de jul.2017

LOBODA, C.R.; ANGELIS, B. L. D. Áreas Verdes Públicas Urbanas: Conceitos, Usos e Funções.
Ambiência, V. 1, n.1, p. 125-139. jan./jun 2005. Disponível em:<
http://200.201.10.18/index.php/ambiencia/article/view/157> acesso em 13 de julho OK

MARTINI, A. Microclima e conforto térmico proporcionado pelas árvores de rua na cidade de


Curitiba, PR. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências
Agrárias, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal. Curitiba, 2013, 129 p.
Disponível em:< http://www.floresta.ufpr.br/pos-graduacao/defesas/pdf_dr/2016/t433.pdf>.
Acesso em 16 de jul 2017.

NUCCI, J.C.; CAVALHEIRO, F. Cobertura vegetal em áreas urbanas: conceito e método.


GEOUSP, 6, São Paulo: Depto. de Geografia/USP, pp. 29-36, 1999. Disponível em:<
http://www.labs.ufpr.br/site/wp-
content/uploads/2014/09/nucci_Cavalheiro_artigoscompletos_geousp_-1999.pdf>. Acesso em 16
de jul 2016.

Prefeitura Municipal de Doutor Severiano. História da cidade. Disponível em: <


http://doutorseveriano.rn.gov.br/historia-cidade>. Acesso em 16 de jul. 2017.

SHAMS, J. C. A.; GIACOMELI, D. C.; SUCOMINE, N. M. Emprego da arborização na melhoria


do conforto térmico nos Espaços livres públicos. In: REVSBAU, Piracicaba – SP, v.4, n.4, 2009,
p.1-16. Disponível em:< http://www.revsbau.esalq.usp.br/artigos_cientificos/artigo71.pdf>.
Acesso em 20 de jul 2017.

SCHUCH, M. I S. Arborização Urbana: Uma Contribuição à Qualidade de Vida com Uso de


Geotecnologias. Dissertação (Mestrado). Universidade federal de Santa Maria. Centro de
Ciências Rurais. Programa de Pós-Graduação em Geomática. Santa Maria, RS 2006. Disponível
em:< http://cascavel.cpd.ufsm.br/tede/tde_arquivos/21/TDE-2007-08-21T144753Z-
769/Publico/Mara%20Ione.pdf>.Acesso em: 07 nov. 2015.

ZILLER, S. R. A Estepe Gramíneo-Lenhosa no segundo planalto do Paraná: diagnóstico ambiental


com enfoque à contaminação biológica. Tese (Doutorado). Engenharia Florestal Universidade
Federal do Paraná, Curitiba, 2000, 268 p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 455


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ESTUDO DA QUALIDADE DO AR DO PARQUE PORTUGAL, CAMPINAS, SP,


ATRAVÉS DO USO DE LÍQUENS COMO BIOINDICADORES

Gabriel de Andrade VIEIRA


Graduando do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da PUC - Campinas
gabrielvieiracontato97@gmail.com
Gisele Tavares LOPES
Graduando do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da PUC - Campinas
giselelopes1955@hotmail.com
Luiza Ishikawa FERREIRA
Docente do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária PUC - Campinas
ishikawa@puc-campinas.edu.br

RESUMO
Ao longo dos anos, diversos estudos utilizando distintos bioindicadores foram feitos, no qual se
concluiu que os líquens são ótimos indicadores para detectar determinados poluentes no campo
atmosférico. Por conseguinte, em regiões com altos índices de poluição no ar geralmente encontra-
se uma escassa presença de líquens. O trabalho teve como objetivo comparar as condições da
qualidade do ar nos anos de 2016 e 2017, através da análise da quantidade de líquens presentes nas
árvores do Parque Portugal de Campinas, SP. Utilizou-se o método de Helmut Troppmair 1977,
com a coleta de dados com o uso de uma tela quadriculada dividida em 100 partes, contagem dos
líquens observados e cálculo da porcentagem de cobertura liquênica corrigida de acordo com o grau
de rugosidade dos troncos das árvores. Ao todo foram analisadas 75 árvores de espécies variadas,
em cada ano, na mesma região. Constatou-se que a qualidade do ar quando comparado os resultados
de 2016 com o de 2017, neste último ano aumentou as classificações menores que Classe III o que
representa menores quantidades de líquens na área e maior poluição no ar. Pode se inferir que o
principal motivo foi o aumento do número de veículos que circulam no Parque Portugal (Lagoa do
Taquaral) e que por consequência aumentou a quantidade de emissores poluentes na região. O uso
dos líquens é bastante útil, uma vez permite observar as mudanças em relação a qualidade do ar de
maneira fácil, econômica e ao mesmo tempo proporciona uma melhor compreensão de como os
poluentes agem nos seres vivos.
Palavras Chave: Bioindicadores de qualidade do ar, Líquens, Troppmair, Poluição.
ABSTRACT
Over the years, several studies using different bioindicators have been made, not which it has been
concluded that liquids are great indicators for certain pollutants experts in the atmospheric field.
Therefore, in regions with high pollution rates are not more complex. Scarce broadcasting presence.
The objective of this study was to compare air quality conditions in the years 2016 and 2017 by
analyzing the amount of liquids present in the trees of the. We used the method Helmut Troppmair
1977 with a data collection using a checkered screen divided into 100 parts count of observed liquid
and calculating the lichen coverage percentage adjusted according to the degree of roughness of the
tree trunks. In total, 75 trees of different species were analyzed each year in the same region. It was
verified that the quality is when compared the results of 2016 with the one of 2017, in the last year
of creation of mine positions that Class III which represents smaller amounts of resources in the
area and greater air pollution. It can be inferred that the main reason was the increase in the number
of vehicles that circulate in the Park Portugal (Lagoa do Taquaral) and consequently an increasing
number of polluting emitters in the region. The use of the media is quite useful as you want to
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 456
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

observe how changes in air quality with the easy, economical way and at the same time to a better
understanding of how the pollutants act on living things.
Keywords: Air quality bioindicators, Lichens, Troppmair, Pollution.

INTRODUÇÃO

O ar é considerado um recurso natural substancial ao homem, fauna e flora, assim sendo,


vital a manutenção da vida. O ar atmosférico é composto por uma fusão de gases, principalmente
constituído por nitrogênio (78,11%), oxigênio (20,95%), argônio (0,93%) e CO2 (0,03%) (MOTA,
2003). Portanto, é importante conhecer a qualidade do ar das regiões da cidade onde se vive. De
acordo com Miller Jr. (2015), a poluição do ar é uma das mais prejudiciais para a humanidade,
podendo promover o aparecimento de várias doenças cardíacas e pulmonares, chegando ademais a
causar numerosas mortes, tanto nas áreas emissoras quanto nas proximidades. Este tipo de poluição
tem dois originadores principais: Os processos naturais e os processos antrópicos, porém a maior
parte da poluição atualmente é proveniente das ações antrópicas, que por sua vez tem uma de suas
origens a queima de combustíveis fósseis em veículos, usinas elétricas e indústrias.
Os problemas de poluição do ar não são recentes. Registrou-se antigamente, em Roma, há
dois mil anos atrás, surgiram as primeiras denúncias sobre o assunto. No século XIII, o Rei Eduardo
da Inglaterra assinou as primeiras leis de qualidade do ar, através da proibição do uso de carvão
com alta taxa de enxofre. Além do mais, ele proibiu a queima de carvão em durante as sessões do
Parlamento, por causa da fumaça produzida. Em 1300, o Rei Ricardo III fixou tarifas para permitir
a utilização do carvão. Por causa da intensa queima de madeira, as florestas inglesas limitaram-se
rapidamente. (BRAGA 2005). Segundo Braga (2005) e Miller Jr (2012) os problemas continuaram
agravando-se até que, em 1911 em Londres, aconteceu o primeiro grande desastre proveniente da
poluição atmosférica, cerca de 1150 pessoas morreram por causa da fumaça produzida pelo carvão,
denominada de smog (smoke e fog - fumaça e neblina). Em 1952, aconteceu o evento mais crítico
da história da humanidade que se tem registro, entre 4 mil e 12 mil pessoas morreram em Londres
devido à poluição do ar advindas das indústrias.
De acordo com Miller Jr e Spoolman (2015) ―a poluição atmosférica é a presença de
produtos químicos na atmosfera, em concentrações altas o suficiente par prejudicar organismos,
ecossistemas ou materiais feitos por seres humanos ou para alterar o clima‖.
Atualmente, para facilitar o estudo da qualidade do ar, pensando se em uma metodologia
barata e na facilidade de observação, pode se fazer uso de organismos bioindicadores, como os
líquens. ―Líquens são seres vivos provenientes do mutualismo obrigatório (simbiose) entre fungos e
algas‖, são espécies pioneiras bem adaptadas à escassez natural e ao estresse (ambientes extremos),
mas são muito sensíveis à poluição, principalmente poluição do ar (ODUM, 2012).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 457


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

―Bioindicadores são parâmetros biológicos, qualitativos ou quantitativos, que são sujeitos a


apontar condições ambientais particulares que correspondem a um estado natural ou alteração do
meio‖ (CAIRNS; PRATT, 1993). A resposta do monitoramento através do bioindicador caracteriza-
se na sensibilidade deste ao poluente e sua concentração no ambiente. Segundo Troppmair (1977),
um dos principais bioindicadores são os líquens e vários estudos como este, visando identificar a
qualidade do ar, já foram realizados desde o século passado por diversos pesquisadores e em várias
cidades ao redor do mundo.
O objetivo do trabalho foi verificar a qualidade do ar e comparar os resultados em relação a
classe de poluição do Parque Portugal nos anos de 2016 e 2017 através do uso de líquens.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O local escolhido foi o Parque Portugal (Figura 1), mais conhecido como Taquaral, fundado
em 1972 e hoje abriga uma grande área verde, atraindo diversos visitantes nos finais de semana e
está localizado na região leste de Campinas, SP.

Figura 1 – Entrada do Parque Portugal (Taquaral), Campinas, SP. (Imagem disponível na internet)

Esse estudo foi embasado na metodologia de Helmut Troppmair (1977) e utilizou-se a


Classe de poluição do ar (Tabela 1).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 458


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Para a contagem dos bioindicadores, foram selecionadas 75 árvores para cada ano, todas
com 40 cm ou mais de diâmetro. Utilizou-se uma tela quadriculada, para estimar a porcentagem de
líquens em cada árvore, na altura de aproximadamente um metro do chão (Figura 2).
O georreferenciamento do parque foi feito via satélite a partir do programa Google Earth
(figura 4), e o georreferenciamento das árvores foi feito com o auxilio do aplicativo de celular
MyLocation (Android).
A contagem dos veículos foi realizada no final de semana e durante a semana para obter uma
média geral da quantidade de carros que passam no local por dia. Nos dias, 30 de abril de 2016 e 15
de julho de 2017, foram feitos os cálculos do final de semana. A contagem durante a semana na
terça feira, 03 de maio de 2016 e 03 de junho de 2017.
Para o cálculo real de cobertura liquênica das árvores foi utilizado a seguinte formula de
correção:
%Y = %X.100
I
Sendo:
%Y = Grau de cobertura corrigido, conforme a rugosidade da casca; %X = Grau de cobertura lida
na casca; i = Índice de correção da espécie em estudo (Tabela 2).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 459


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 2 - Tela quadriculada, utilizada na contagem de líquens, a um metro do chão. Foto: Maisa de Mattos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para o estudo escolheu se as árvores com 40 cm ou mais de diâmetro e a tela foi fixada a 1m
do chão. Foi observado que neste parque as árvores mais comuns encontradas foram a de
rugosidade média e muito rugosa (Figura 3 e Figura 5), que possuem índices de correção da espécie
de 155 e 300 respectivamente, grau de cobertura médio de 20,4 % e de 34,8%.

Figura 3 - Árvore de casca muito rugosa, espécie mais encontrada no Parque Portugal (taquaral), Campinas.
Foto: Gabriel Vieira.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 460


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Os índices de poluição foram mais altos no ano de 2017, onde se teve maior elevação em
número de deserto de líquens, Classe I. Os resultados de classificação a cada 5 árvores e seus
respectivos índices podem ser observados na Tabela 3.

Notou-se nos pontos 9 e 10 um menor índice de cobertura de líquens do que nos pontos de 1
a 8 (Figura 4), esse evento pode ser explicado pela taxa de trafego de carros nesses pontos ser
maior, como também observado por Soares et al. (2016) em Três Rios, RJ.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 461


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 4. Georreferenciamento da localização das árvores do Parque Portugal de Campinas, SP. Sendo que
cada ponto representa 7,5 árvores totalizando 75 árvores. Fonte: Google Earth

As árvores mais encontradas no parque são as de casca muito rugosa e rugosidade média e
as menos encontradas são as de casca lisa (Figura 5), essas informações são fundamentais para os
cálculos da cobertura liquênica, pois, cada espécie de planta reage de uma forma quando se trata de
poluição atmosférica, como afirma Gonçalves et al. (2007). De acordo com Santos et al. (2015),
essa reação se dá devido ao fator da superfície do tronco das árvores, uma vez que, os líquens se
desenvolvem com mais facilidade em árvores com troncos ásperos e rugosos.

2017 Muito rugosa


Rugosa
Rugosidade média
Pouco áspera
2016
Lisa

0 50 100 150 200

Figura 5. Análise das árvores nos dois anos de estudos.

Em 2016, grande parte das árvores foi classificada como Classe IV, na zona fracamente
poluída, porém no ano de 2017 a maior quantidade delas passou para a Classe I, classificada como
deserto de líquens (grau de cobertura inferior a 6%) (Figura 6), o resultado de 2017 foi semelhante
ao estudo de Ferreira (1984) em Cubatão, SP.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 462


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

I - Deserto de líquens
2017
II - Zona de poluição
alta
III - Zona de poluição
média
2016
IV - Zona fracamente
poluída
V - Zona não poluída
0 20 40 60 80
Figura 6. Análise das classes nos dois anos de estudos.

Se comparado os resultados de 2016 com o de 2017 é perceptível que neste último ano
houve um aumento nas classificações menor que Classe III, o que representa menores quantidades
de líquens na área (Figura 6), portanto é fundamental a redução de emissores poluentes no ar, uma
vez que ao longo de aproximadamente um ano, observou-se a diminuição da porcentagem de
líquens.
A quantidade de carros que passam em frente ao parque, aumentou cerca de 90% do ano de
2016 para 2017, passando de 16.752 para 31.776 carros por dia (Tabela 4). Houve uma mudança
significativa entre os dois anos, o índice de poluição foi maior no ano de 2017, um dos motivos,
provavelmente foi devido ao aumento do fluxo de veículos ao redor do Parque Portugal (Lagoa do
Taquaral). Estes dados podem contribuir, ainda que forma bastante modesta, para se repensar e
estudar alguma maneira de diminuir a poluição do ar local. Para Miller Jr (2012) a principal ameaça
da poluição do ar, atualmente vem dos poluentes emitidos por veículos motorizados.

Período 2016 2017


Semana 15 minutos 179 202
24 horas 17 184 19 392

Final de semana 15 minutos 170 460


24 horas 16 320 44 160

Total 15 minutos 175 331


24 horas 16 752 31 776
Tabela 4. Quantidade de veículos que circulam pelas proximidades do Parque Portugal,
nos períodos de 15 minutos e 24 horas, analise dos anos de 2016 e 2017.

Portanto, o processo de poluição do ar é agravante em grandes centros urbanos, devido à alta


circulação de automóveis, intensa queima de combustíveis fósseis advindas da indústria, carga e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 463


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

descarga de produtos voláteis, construção civil; as indústrias podem emitir alguns poluentes no ar,
como por exemplo, os óxidos de enxofre, hidrocarbonetos, poeiras e fuligem (VALLE, 2012).
Para melhorar as condições da qualidade do ar, seria desejável que, iniciativas como o
programa ―Verão Vivo‖ da secretaria municipal de Transportes e da presidência da Empresa
Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), que ocorreu no período de 16 de outubro de
2016 a 18 de fevereiro de 2017, quando fecharam uma das pistas de circulação de carro entorno do
Parque Portugal (Lagoa do Taquaral), durante duas vezes nos dias de semana à noite e algumas
horas nos finais de semana (PREFEITURA DE CAMPINAS, 2016) tivessem continuidade para
ajudar a diminuir o nível de poluição do ar do local.

CONCLUSÃO

A mudança de Classe de poluição de acordo com a quantidade de líquens presentes nos


troncos das árvores indicou um índice de poluição maior no ano de 2017, provavelmente decorrente
do aumento do fluxo de veículos ao redor do Parque Portugal (Lagoa do Taquaral). O uso dos
líquens é bastante útil, uma vez permite observar as mudanças em relação a qualidade do ar de
maneira fácil, econômica e ao mesmo tempo proporciona uma melhor compreensão de como os
poluentes agem nos seres vivos.

REFERÊNCIAS

AQUINO, S.M.F. et al. Bioindicadores vegetais: Uma alternativa para monitorar a poluição
atmosférica. Revista Internacional de Ciências (RIC). 2011. Disponível em: <http://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/ric/article/view/3629/2533>. Acesso em: 27 abr. 2016.

BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental. 2.ed. São Paulo, SP: Pearson/Prentice Hall,
c2005. 318 p.

FERREIRA, M. E. M. C. Estudo biogeográfico de líquens como indicadores de poluição do ar em


Cubatão – SP. 1984. Disponível em:
<http://ojs.uem.br/ojs/index.php/BolGeogr/article/view/12927/7411>. Acesso em: 25 jul. 2017.

GONÇALVES, V. F et al. Utilização de liquens como bioindicadores da qualidade atmosférica na


cidade de Uberlândia, MG. 2007. Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil, 2007,
Caxambu – MG. Disponível em: <http://www.seb-ecologia.org.br/viiiceb/pdf/1185.pdf>. Acesso
em: 23 jul. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 464


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

HONDA, N.K.; VILEGAS, W. A química dos liquens. Química Nova. Sociedade Brasileira de
Química, v. 22, n. 1, p. 110-125, 1999. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/26373>.
Acesso em: 19 abr. 2016.

KLUMPP, A; ANSEL, W; KLUMPP, G; FOMIN, A. Um novo conceito de monitoramento e


comunicação ambiental: a rede européia para a avaliação da qualidade do ar usando plantas
bioindicadoras (EuroBionet). Rev. bras. Bot. [online]. 2001, vol.24, n.4, pp.511-518. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-
84042001000500005&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 27 abr. 2016.

LORENZI, H. Árvores Brasileiras: Manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas


do Brasil – Vol. 2. Editora Plantarum. 2011.

MILLER Jr, G.T. Ciência Ambiental. 1 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012. 501p.

MILLER Jr, G.T.; SPOOLMAN, S.E. Ciência Ambiental. 2 ed. São Paulo: Cengage Learning,
2015. 464p.

MOTA, S.. Introdução a engenharia ambiental. 3. ed. ampl. Rio de Janeiro, RJ: ABES, 2003. 419
p.

ODUM, Eugene P. Ecologia. Guanabara Koogan, 2012. 434p.

PIQUÉ, M.P.R. et al. Biomonitoramento, instrumento pedagógico a serviço da sustentabilidade


urbana. COBENGE. XXXIII Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia.

PREFEITURA DE CAMPINAS. Noticias. Disponível em:


http://www.campinas.sp.gov.br/noticias-integra.php?id=30537. Acesso em: 27 jul. 2017.

SOARES, C. de. S. et al. Uso dos liquens como bioindicadores da qualidade do ar em Três Rios,
RJ. 2016. Disponível em: <http://www.itr.ufrrj.br/sigabi/wp-
content/uploads/5_sigabi/Sumarizado/37%20-
%20USO%20DOS%20LIQUENS%20COMO%20BIOINDICADORES%20DA%20QUALIDA
DE%20DO%20AR%20EM%20TR%C3%8AS%20RIOS,%20RJ.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2017.

SPIELMANN, A. A. Fungos Liquenizados (Liquens). 2006. 13f. Tese (Doutorado em


Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente) – Instituto de Botânica (IBt), São Paulo, 2006.
Disponível em: <http://passthrough.fw-
notify.net/download/403038/http://www.biodiversidade.pgibt.ibot.sp.gov.br/Web/pdf/Fungos_Li
quenizados_Spielmann_&_Marcelli.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 465


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TROPPMAIR, H. Estudo biogeográfico dos liquens como vegetais indicadores de poluição aérea
da cidade de Campinas – SP. Geografia, vol. 2, n. 4, pp. 1-38, 1977.

TROPPMAIR, H. Metodologias simples para pesquisar o meio ambiente. Rio Claro: GRAFF SET,
1988.

VALLE, C.E. do. Qualidade ambiental: ISO 14000. 12 ed. São Paulo, SP: SENAC, 2012. 207 p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 466


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A IMPORTÂNCIA DAS PRAÇAS PÚBLICAS PARA O BEM-ESTAR DA


POPULAÇÃO DA CIDADE DE CRATO-CE

Rudá Peixoto TELES


Graduando do curso de Engenharia Ambiental do IFCE- campus Juazeiro do Norte
telesruda@gmail.com
Maria Lucineide Gomes da SILVA
Graduanda do curso de Engenharia Ambiental do IFCE- campus Juazeiro do Norte
lucineidegmd@gmail.com
Sóstenes Gomes de SOUSA
Graduado em Engenharia Ambiental
sostenes-sousa@hotmail.com
Rosemary de Matos CORDEIRO
Doutora em Geografia
rosymatos@hotmail.com

RESUMO
Grande parte das cidades brasileiras estão passando por processo de urbanização, em sua maioria
sem planejamento adequado, que considere a importância dos elementos naturais. Contudo, sabe-se
que a qualidade de vida urbana está diretamente associada a vários fatores reunidos na
infraestrutura, o desenvolvimento econômico-social e aqueles ligados à questão ambiental. No caso
do ambiente, destaca-se a importância das áreas verdes públicas, que se constituem de elementos
imprescindíveis para o bem-estar da população. Dentre esses espaços, destacam-se as praças que
são locais públicos com função social, destinadas ao lazer, socialização e realização de atividades
cívico-religiosas, com função também de embelezamento da cidade, por ter aspectos ornamentais.
Com isso, objetivou com este estudo, analisar o papel das praças públicas da cidade de Crato-CE.
Foram realizadas consultas bibliográficas sobre a temática, além do levantamento de campo com
aplicação de questionário. Os resultados apontaram para diversificação do público frequentador das
praças, em diferentes horários, assim como diversas motivações que influenciam diretamente na
permanência e na circulação de pessoas nesses espaços. Observa-se as sensações descritas pelos
indivíduos ao estarem nesses ambientes como o sentimento de felicidade descrito por 46% dos
entrevistados, de liberdade por 30% e de contato com natureza por 15%. Evidenciando a
importância das praças públicas da cidade para o bem-estar da população local.
Palavras-chaves: Praças públicas; Qualidade de vida; Conforto ambiental; Crato-CE.
ABSTRACT
Most Brazilian cities are undergoing urbanization, mostly without adequate planning, that consider
the importance of natural resources. However, it is known that an urban quality of life is directly
associated with several factors gathered in infrastructure, economic-social development and their
languages. In the case of the environment, the importance of public green areas, which are essential
elements for the well-being of the population, stands out. Among these places, stand out as squares
that are public places with social function, the accomplishment and activities of civic-religious
activities, with also function of beautification of the city, for having. With this aim, this study
analyzes the role of the public squares of the city of Crato-CE, for a life of its users with the
intention of showing an element of the preservation and maintenance of the spaces. Bibliographical
consultations were carried out on the subject, besides a field survey with questionnaire application.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 467


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

The results pointed to the diversification of the public attending the squares, at different times, as
well as several motivations that influence the presence in the stay and circulation of people spaces.
It is observed how the sensations described by the users when being in these environments as the
feeling of happiness described by 46% of the interviewees, of freedom by 30% and of contact with
nature by 15%. Evidenciating the importance of the public squares of the city for the well-being of
the local population.
Keywords: Public squares; Quality of life; Environmental comfort; Crato-CE.

INTRODUÇÃO

A maioria das cidades brasileiras estão passando por um período de urbanização acentuada,
fato que tem refletido de forma negativa na qualidade de vida dos moradores das cidades. A falta de
planejamento urbano que considere a importância dos elementos naturais é o principal agravante
desta situação (LOBODA, 2009).
Diversos autores abordam que a qualidade de vida urbana está diretamente associada a
vários fatores reunidos na infraestrutura, no desenvolvimento econômico-social e nos aspectos
ligados à questão ambiental. No caso do ambiente, destaca-se a importância das áreas verdes
públicas, que constituem-se de elementos imprescindíveis para o bem estar da população, por
influenciar diretamente na sua saúde física e mental.
Áreas verdes é um tipo especial de espaços livres, onde se tem a vegetação como principal
elemento compositor. Essas áreas devem satisfazer três requisitos principais: ecológico-ambiental,
estético e de lazer. Devendo servir a população e proporcionar um uso com condições adequadas
para recreação (NUCCI, 2016).
Benini (2011) trabalha as áreas verdes urbanas, como sendo espaços livres, áreas verdes e de
lazer, que possuem um uso comum e apresentam algum tipo de vegetação, seja ela espontânea ou
plantada, que possam contribuir para os processos de fotossíntese, evapotranspiração,
sombreamento, permeabilidade, conservação da biodiversidade e mitigue os efeitos da poluição
sonora e atmosférica e também desempenham um papel social, ecológico, científico e cultural.
Como exemplo desses ambientes temos as praças, parques, canteiros, jardins entre outros.
Destacando, entre esses as praças, as que se caracterizam como locais totalmente públicos, com
função social, destinadas ao lazer, socialização, realização de atividades cívico-religiosas e
embelezamento da cidade, por ter aspectos ornamentais (SILVA, 2008).
De acordo com Lee (2011), às praças se mostram tão importantes exemplos de áreas verdes,
devido ao tamanho limitado das mesmas, o que permite que sejam espalhadas por diferentes bairros
de grandes cidades, isso sem comprometer as funcionalidades e contribuindo diretamente para
melhoria da qualidade de vida local, permitindo uma melhora da saúde física e mental da
população.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 468


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Na maioria dos municípios brasileiros, as praças são facilmente encontradas,


desempenhando o papel importante na melhoria da qualidade de vida ambiental e social da
população (BARROS, 2003). Nas cidades interioranas e de menor porte, as praças revelam toda
simbologia da centralidade e do espírito comunitário, sendo esse um dos principais motivos que
tornam indispensáveis a análise sobre as praças de cidades (ANGELIS, 2004).
O município de Crato está localizado na região Sul do Ceará, considerada uma das três
principais cidades da região metropolitana do cariri, apresenta uma área territorial de 1.177 km²
com um total de 129.662 habitantes e densidade demográfica de 103,21 hab/km² segundo dados do
IBGE (2010). Dada a proximidade com a Chapada do Araripe e a Floresta Nacional do Araripe
(FLONA), o município apresenta grandes riquezas naturais como fontes e espécies endêmicas da
região. Destaca-se por possuir clubes recreativos e trilhas ecológicas que proporcionam um
potencial elevado de desenvolvimento do turismo ecológico e científico (CORDEIRO, 2015).
Vale ressaltar que o município apresenta uma vida cultural bastante diversificada, com
destaque para à Expo Crato, conhecida nacionalmente e que proporciona lazer para a população e
elevação do comercio da região.
Outra característica do município são suas praças, as quais se destacam na região,
destacando-se a Praça da Sé considerada um cartão postal da cidade. A Praça Siqueira Campos que
apresenta espaços de ocorrências culturais e apresentações artísticas, a Praça Alexandre Arraes que
é bastante frequentada, devido a sua estrutura física com equipamentos que permitem as práticas de
exercícios físicos e a Praça Francisco Sá que é tida como o terminal de ônibus da cidade.
Diante do que foi apresentado, objetiva-se, com esse estudo, analisar o papel das praças
públicas do município de Crato-CE.

METODOLOGIA

Para realização da pesquisa, fez-se necessário um levantamento bibliográfico referente à


temática, seguido de aplicação de questionários aos frequentadores de cinco praças localizadas no
bairro centro da Cidade de Crato-CE (Figura 01).
A aplicação dos questionários ocorreu, com cinquenta indivíduos, em horários
diversificados entre os dias 27 de fevereiro a 02 de março de 2017. Os questionários eram
compostos por 10 perguntas, dentre as quais buscavam informações sobre:

 Nome do entrevistado
 Sexo dos entrevistados
 Frequência de utilização dos espaços
 Motivação de frequência às praças
 Sentimentos proporcionados pelos espaços a seus frequentadores
 Sugestões para melhoria dos ambientes

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 469


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 01: Localização das praças pesquisadas. Base de dados: IBGE, 2016. Fonte: Adaptado por autores,
2017.

Concluída a etapa de entrevistas, os dados coletados foram compilados, buscando facilitar


sua análise.

RESULTADOS

Dentre as pessoas entrevistadas, 80% eram do sexo masculino e 20% feminino, dos quais
38% estão na faixa etária acima dos 61 anos, 24% de 26 a 35 e 22% de 16 a 25, conforme os dados
são expostos no gráfico 01. Os dados revelam, então, a maior participação de pessoas mais idosas
como frequentadores desses logradouros públicos.
Em relação ao horário e permanência dessas pessoas nas praças, percebemos que o durante
todo o dia temos movimento nesses espaços, sendo o público de cada faixa de horário diversificado,
com finalidades em comuns.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 470


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

40% 38%

35%

30%

25% 24%
22%

20%
16%
15%

10%

5%

0%
16 a 25 anos 26 a 35 anos 46 a 60 anos Acima de 61 anos

Gráfico 1: Idade dos Frequentadores de Praças, Crato-CE, 2017. Fonte: Autores, 2017

Em relação aos dados do gráfico 02, no período matutino de 7:00 às 8:00, 13% dos
frequentadores costumam realizar caminhadas e exercícios físicos. Os horários que apresentam
maior número de frequentadores, são os intervalos das 8:00 às 12:00 horas (26%), e 14:00 às 16:00
(18%), sendo justificado por esse ser horário de maior movimento no comércio local.
Outras duas faixas de horários que se destacam são das 12:00 às 14:00 (13%), por costumar
ser o horário de almoço, o que torna as praças ambientes de descanso da população. Chegando ao
fim da tarde e adentrando a noite na faixa das 16:00 às 18:00 (15%), vamos ter novamente um
público adepto a práticas de exercícios (Figura 3)

30%
26%
25%

20% 18%
15%
15%
13% 13%

10%
7%
6%
5%
3%

0%
6–7 7–8 8 – 12 12 – 14 14-16 16- 18 18- 20 20- 24

Gráfico 2: Horário de visitação das praças no Crato-CE, 2017.Fonte: Autores, 2017

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 471


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ao analisar a frequência de utilização das praças constatou-se, uma boa visitação a nível
semanal, onde 38% do entrevistado frequentam a praça mais de duas vezes na semana, 22% de 3 a 4
vezes e apenas 6% vai de duas a três vezes ao mês (Figura 4). A frequência a esses ambientes é
justificada devido à localização das praças, que se encontram no centro da cidade, sendo esses
locais de fácil acesso. Os 6% que frequentam a praça de duas a três vezes ao mês, são pessoas que
residem fora da cidade e em outros municípios vizinhos.

2 a 3 vezes no mês 6%

Menos 2 vezes no mês 14%

Mais de 5 vezes na semana 38%

3 a 4vezes na semana 22%

2 vezes na semana 12%

1 a 2 vez na semana 8%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%

Gráfico 03: Frequência de utilização das praças do Crato-CE, 2017. Fonte: Autores, 2017

As motivações que levam a população a deslocar-se a um espaço verde são prática de


desporto, relaxamento, passeio, dentre outras. Mas as motivações dos entrevistados na pesquisa,
conforme dados expostos no gráfico 04, entram em concordância com estes aspectos, haja vista que,
27% relatam frequentar esses espaços buscando relaxar, principalmente pelo clima e conforto
térmico encontrado nas praças. As praças analisadas se encontram numa localização privilegiada,
no centro da cidade, o que acaba proporcionando um entorno bem diversificado com a presença de
igrejas, hospitais, bancos, lanchonetes, restaurantes, e comércios em geral, sendo estes aspectos
primordiais para 17% dos entrevistados que frequentarem as praças. Devido à beleza proporcionada
pela quantidade de árvores presente no local, as mesmas acabam se tornando para muitos espaços
de passeio e lazer (16%), 15% dos frequentadores utilizam os espaços como seus locais de trabalho,
como os vendedores de salgados e bebidas, balas e doces, roupas e cosméticos, engraxar sapatos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 472


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

30%
27%

25%

20%
17%
16%
15%
15%

10%
7% 7%
6%
5% 2% 2%
0%
0%

Gráfico 04: Motivação na frequência das praças públicas no Crato-CE, 2017. Fonte: Autores, 2017

Dentre as sensações proporcionadas por esses espaços aos entrevistados destacam-se os


sentimentos de felicidade (46%), liberdade (30%) e contato com natureza (15%) (Figura 6). O
contato com a natureza aumenta a vitalidades das pessoas, além de ajudar a afastar sentimentos de
esgotamento, e contribuir diretamente para o aumento do sentimento de bem-estar e felicidade.
Neste estudo 90% das pessoas relatam um aumento de energia quando praticam atividades ao ar
livre (HAGNE, 2010).

50% 46%
45%
40%
35%
30%
30%
25%
20%
15%
15%
10% 7%
5% 3%

0%
Contato com a Liberdade Felicidade Aventura Conforto
natureza

Gráfico 05: ―Sensações‖ produzidas pelas praças públicas no Crato, 2017. Fonte: Autores, 2017

Para tornar esses espaços mais agradáveis ao público, 33% dos entrevistados sugeriram
melhorias na manutenção e limpeza das praças, como também, ajuste nos equipamentos (29%), de
práticas esportivas. Outra sugestão feita por 17% dos entrevistados é um aumento na segurança
pública, dentro e no entorno das praças, fato que contribuiria para maior permanência nesses

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 473


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ambientes principalmente no período noturno. Em relação à vegetação, 18% dos entrevistados


sugeriram aumentar e diversificar as espécies arbóreas e manter a manutenção dessas espécies e das
existentes (Gráfico 06).

35% 33%

29%
30%

25%

20% 18%
17%

15%

10%

5%
1% 1%
0%
Segurança Equipamentos Manutenção Vegetação Dimensão Sanitários

Gráfico 06: Demandas de melhorias nas praças públicas do Crato-CE, 2017. Fonte: Autores, 2017

CONCLUSÃO

A partir deste estudo podemos observar claramente a importância das praças públicas da
cidade de Crato-CE. Esses espaços não se restringem apenas a parte estética, e do embelezamento
da cidade, mas influenciam diretamente na qualidade de vida da população, sendo áreas com grau
elevado de importância nos setores sociais e econômicos da cidade.
Devido à localização privilegiada, no centro da cidade, é possível observar um grande
frequentamento desses locais, por públicos diversificados e em horários diferenciados. Observando
que não somente a parte estrutural, mas o entorno dessas praças aumenta significativamente a
circulação de pessoas nesses espaços. Dentre as motivações que fazem as pessoas frequentarem
esses ambientes destacamos a procura do local para relaxar, isso devido à composição ambiental,
que acaba proporcionando conforto térmico e contato com natureza para os indivíduos.
Contudo observamos alterações simples sugeridas pelos entrevistados, como melhoria na
manutenção e limpeza e aumento da segurança. Acredita-se que quando acatadas estas sugestões
contribuirá diretamente para maior permanência das pessoas nesse ambiente.
Com isso sugerimos que as entidades públicas do município trabalhem para a ampliação da
potencialidade e do uso destas praças, assim como investimento em uma política voltada para
fiscalização e manutenção das praças públicas de toda a cidade.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 474


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

REFERÊNCIAS

ANGELIS, B.L.D.; CASTRO, R.M.; DE ANGELIS NETO, G. Metodologia para levantamento,


cadastramento, diagnóstico e avaliação de praças no Brasil. Engenharia Civil, 4(1), 57-70,
2004.

BARROS, M. V. F., & VIRGILIO, H. (2003). Praças: espaços verdes na cidade de Londrina.
Geografia, 12(1), 533-44.

BENINI, S. M. (2011). Encarnita Salas. Decifrando as áreas verdes públicas. Formação (Online),
v.2, n.17.

CORDEIRO, R.M. As aglomerações produtivas de calçados, folheados e de joias do Crajubar


(CE): formação, produção, trabalho, implicações socioespaciais. Tese de Doutorado
apresentada ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas do Campus de Rio Claro, da
Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖. Rio Claro – SP, 2015.

HAGEN, S. Contato com a natureza aumenta sensação de vitalidade. Diário da Saúde, 2010.
Disponível em :<http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=contato-natureza-bem-
estar-vitalidade&id=5404>. Acesso em 22 de junho, 2017.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Base de dados.


Disponível em:< http://downloads.ibge.gov.br/downloads_ estatísticas. htm>. Acesso: 05 mai.
2017.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Índices estatísticos sobre


demografia, clima, faixa etária, 2010. Disponível em :<http://www.ibge.gov.br/home/ >. Acesso
em 21 de junho, 2017.

LEE, A. C. K., MAHESWARAN, R. (2011). The health benefits of urban green spaces: a review of
the evidence. Journal of Public Health, v.33, n.2, p.212-222.

LOBODA, C. R.; DE ANGELIS, B. L.D. Áreas verdes públicas urbanas: conceitos, usos e funções.
Ambiência, v. 1, n. 1, p. 125-139, 2009.

NUCCI, J. C., & CAVALHEIRO, F. (2016). Cobertura vegetal em áreas urbanas-conceito e


método. GEOUSP: Espaço e Tempo (Online), (6), 29-36

SILVA, J. A. (2008). Direito Urbanístico Brasileiro. 5. ed. rev. São Paulo: Malheiros. p.476.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 475


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INQUÉRITO EPIDEMIOLÓGICO DOS OS CASOS DE DENGUE


NO MUNICÍPIO DE CAMAÇARI-BA

Diele Gonçalves SANTOS


Graduanda do Curso de Biologia da UNEB
dieliysantos@hotmail.com
Juma Gomes da SILVA
Graduanda do Curso de Biologia da UNEB
jjuma.gomes22@gmail.com
Leilane Estevam LEAL
Doutora em Biotecnologia da UEFS
leilaneestevam@hotmail.com
Deise Pereira Gonçalves SANTOS
Graduanda do Curso de Contabéis da UNEB
debora.159159@gmail.com

RESUMO
Essa pesquisa trata-se de um assunto atual: a Dengue. Doença que tem atingido não só a classe
baixa como também a média e a alta. Este trabalho busca fazer um levantamento dos casos
notificados de dengue no município de Camaçari-BA (municipio localizado na Região
Metropolitana de Salvador) e buscar responder quais fatores tem influenciado para o aparecimento
da doença. Uma vez que os vírus dessa doença são transmitidos pela fêmea do Aedes aegypti,
quando pica uma pessoa, após isso há manifestação da doença. Os dados foram retirados do site do
SINAN ( Sistema de Informação de Agravos e Notificações) referente aos anos de 2007 a 2012.
Este trabalho trata-se de uma pesquisa de caráter quantitativo e documental, servindo para manter a
população e a comunidade acadêmica atualizados sobre a doença. Os resultados indicaram que há
uma maior prevalência da doença em pessoas do sexo feminino. Quanto ao grau de instrução, os
mais afetados foram pessoas de 1ª a 4ª e pessoas do ensino médio. Na classificação por raça os mais
afetados foram os Pardos sendo um numero de 751 pessoas pertencentes ao universo de 1174
pessoas notificadas. A idade que mais apresentou taxa entre crianças de 1 a 9 anos e entre jovens de
20 a 39 anos de idade.
Palavras-Chave: Aedes aegypti.Camaçari. SINAN.

ABSTRACT
This research is a current subject: Dengue. Disease that has reached not only the lower class but
also the average and the high class. This work aims to survey the reported cases of dengue in the
municipality of Camaçari-BA (municipality located in the Metropolitan Region of Salvador) and
seek to answer which factors have influenced the onset of the disease. Since the viruses of this
disease are transmitted by the female Aedes aegypti, when a person bites, there is a manifestation of
the disease. The data were taken from the SINAN website (Sistema de Informação de Agravos e
Notificações) for the years 2007 to 2012. This work is a quantitative and documentary research,
serving to keep the population and the academic community updated about the disease. The results
indicated that there is a higher prevalence of the disease in females. Regarding the level of
education, the most affected were people from 1st to 4th and high school students. In the
classification by race the most affected were the Pardos being a number of 751 people belonging to

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 476


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

the universe of 1174 people notified. The age that presented the highest rate among children from 1
to 9 years and among young people from 20 to 39 years of age.
Keywords: Aedes aegypti.Camaçari. SINAN.

INTRODUÇÃO

A dengue é transmitida por mosquitos (arboviroses) Aedes aegypt e Aedes albopctus,


mosquitos que há cerca de 30 anos são conhecidos pelas epidemias anuais de dengue no Brasil.
A proliferação do mosquito é favorecida pela forma de ocupação dos espaços urbanos. Os
contrastes resultantes da organização social favorecem a proliferação dos mosquitos transmissores
do dengue, principalmente por fatores associados às mazelas sociais, expressos em grandes
adensamentos populacionais, precariedade de infra-estrutura de saneamento, produção desenfreada
e disposição no meio ambiente de recipientes descartáveis e pneus, dentre outros. Assim, pode-se
observar em nível macro que os depósitos predominantes de Aedis aegypti na Região Nordeste, a
mais pobre do país, são aqueles que se destinam ao armazenamento de água no domicílio, enquanto
na mais rica, Região Sudeste, são vasos de planta (TEIXEIRA, 1999).
No município de Camaçari-Ba, todo ano há um grande número de pessoas infectadas pelo
vírus da dengue, entretanto, não sabemos se há notificação de todos ou da maioria dos casos. Diante
disso, nosso trabalho tem por objetivo realizar um inquérito epidemiológico neste município.
Clinicamente, as manifestações variam de uma síndrome viral, inespecífica e benigna, até
um quadro grave e fatal de doença hemorrágica com choque. São fatores de risco para casos graves:
a cepa do sorotipo do vírus infectante, o estado imunitário e genético do paciente, a concomitância
com outras doenças e a infecção prévia por outro sorotipo viral da doença. (TRAVASSOS DA
ROSA et al., 1998 apud BASTOS 2004).
Sabe-se que os 4 tipos conhecidos de vírus da Dengue são potencialmente graves e fatais.
Esse potencial de gravidade aumenta, expressivamente, em uma segunda infecção por novo sorotipo
que, eventualmente, penetre na mesma comunidade, concomitante ou sucedendo ao primeiro
(MARZOCHI).
Esta doença pode se manifestar de duas maneiras: a dengue clássica que apresenta febre alta,
dores de cabeça, nas costas e na região atrás dos olhos e a dengue hemorrágica com hemorragia em
vários órgãos do corpo, choque circulatório, vômitos, tontura, dificuldades de respiração, dores
abdominais fortes e contínuas, presença de sangue nas fezes e em alguns casos falecimento.
Esta doença infecciosa é transmitida pela fêmea do mosquito Aedes aegypti, que necessita
da albumina, substância encontrada no sangue, para completar o processo de amadurecimento de
seus ovos. O vetor apenas transmite o vírus, mas não seus efeitos. Esta põe ovos de 4 a 6 vezes

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 477


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

durante sua vida, podendo colocar mais de 100 ovos de cada vez, em locais preferencialmente com
água limpa e parada. O Aedes aegypti costuma picar as pessoas durante o dia.
O ciclo se inicia quando a fêmea do Aedes aegypti pica uma pessoa com dengue. O tempo
necessário para o vírus se reproduzir no organismo do mosquito é de 8 a 12 dias. Após isso, ele
começa a transmitir o vírus causador da doença. Esse mesmo mosquito, ao picar um ser humano
sadio, transmite o vírus para o sangue dessa pessoa. Dentro de um tempo, que varia de 3 a 15 dias, a
doença começa a se manifestar. A partir daí o ciclo pode voltar a se repetir, caso essa segunda
pessoa seja picada por outro Aedes aegypti. O ciclo do mosquito transmissor apresenta quatro fases:
ovo, larva, pupa e adulto.
É indispensável que as ações para o controle dessas doenças garantam a participação efetiva
de cada morador da comunidade na abolição de criadouros já existentes ou de possíveis locais para
reprodução do mosquito. É seguro que atitudes simples de educação ambiental, podem ajudar no
controle e combate do mosquito. Para tanto, atitudes devem ser analisadas pela população para que
assim possam ajudar a reduzir a incidência de casos de doenças. Atentando-se aos detalhes, como
por exemplo: descartar o lixo em locais corretos; cuidar diariamente dos vasos de plantas; tampar
corretamente as caixas d'água; limpar terrenos baldios e os quintais das residências abandonadas,
entre outras ações.
Este assunto tem gerado discussão e tem causado um maior impacto na saúde pública. O
controle destas doenças tipicamente urbanas são complexas, envolvendo, além do setor saúde,
fatores como, infraestrutura das cidades, transporte de pessoas e cargas, o meio ambiente, entre
outros.
Segundo Chiaravalloti Neto (1997) as ―atividades de eliminação de criadouros (...) não têm
se mostrado suficientes para diminuir os níveis de infestação do mosquito, já que os recipientes
eliminados têm sido sistematicamente substituídos‖. A explosão de número de recipientes
artificiais, tais como plásticos em geral, pneus e o hábito de cultivar plantas em vasos com água
vem corroborando este acúmulo indevido de materiais passíveis de se tornarem criadouros do
mosquito.
Compreende-se que as ações públicas para o combate do problema aumentaram, agrupando
procedimentos que estão voltados á mobilização social e também ações voltadas ao controle
químico do vetor. Há o reconhecimento que ações educativas podem diminuir significativamente os
focos do mosquito. Informando a população que as suas mudanças de atitudes são de extrema
importância para o combate a essas doenças.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 478


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

DESENVOLVIMENTO:

Doença

O dengue é uma enfermidade causada por um vírus de genoma RNA pertencente ao grupo B
dos arbovírus, família Flaviviridae, gênero Flavivirus (BASTOS 2001). Este vírus é transmitido
para uma pessoa saudável através da picada da fêmea contaminada do mosquito Aedes Aegypti.
Clinicamente, as manifestações variam de uma síndrome viral, inespecífica e benigna, até um
quadro grave e fatal de doença hemorrágica com choque. São fatores de risco para casos graves: a
cepa do sorotipo do vírus infectante, o estado imunitário e genético do paciente, a concomitância
com outras doenças e a infecção prévia por outro sorotipo viral da doença. (TRAVASSOS DA
ROSA et al., 1998 apud BASTOS 2004).
Sabe-se que os 4 tipos conhecidos de vírus da Dengue são potencialmente graves e fatais.
Esse potencial de gravidade aumenta, expressivamente, em uma segunda infecção por novo sorotipo
que, eventualmente, penetre na mesma comunidade, concomitante ou sucedendo ao primeiro
(MARZOCHI).
Esta doença pode se manifestar de duas maneiras: a dengue clássica e a dengue hemorrágica.
Na Dengue Clássica, os sintomas são mais leves. O doente tem febre alta, dores de cabeça, nas
costas e na região atrás dos olhos. A febre começa a baixar a partir do quinto dia e os sintomas, a
partir do décimo dia. Na forma clássica, dificilmente ocorrem complicações, porém alguns doentes
podem apresentar quadros de hemorragias leves na boca e também no nariz. Já no caso de dengue
hemorrágica a enfermidade apresenta-se de forma mais grave. Nos cinco dias iniciais, os sintomas
são semelhantes ao do tipo clássico. Contudo, a partir do quinto dia, alguns doentes podem
apresentar hemorragias (sangramentos) em vários órgãos do corpo e choque circulatório. Podem
ocorrer também vômitos, tontura, dificuldades de respiração, dores abdominais fortes e contínuas e
presença de sangue nas fezes. Não acontecendo um acompanhamento médico e tratamento
adequado, a pessoa doente pode falecer.

Vírus

Os vírus são entidades que possuem um único tipo de ácido nucléico, DNA ou RNA e uma
cobertura protéica (ás vezes recoberta por um envelope de lipídeos, proteínas e carboidratos)
envolvendo o ácido nucléico. Multiplicam-se dentro de células vivas usando maquinaria de síntese
das células e induzem a síntese de estruturas especializadas capazes de transferir o ácido nucléico
viral para outras células.(TORTORA, 2005)
Os vírus do dengue, bem como todos os flavivírus, são esféricos, possuem envelope, medem
entre 40-60nm de diâmetro. O genoma é constituído por uma fita simples de RNA de polaridade

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 479


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

positiva, de aproximadamente 11.000 nucleotídeos, com peso molecular (PM) de 4 x 106


(Figueiredo & Fonseca, 1997). O vírus possui três proteínas estruturais: a proteína C, localizada no
nucleocápside ou proteína do núcleo; a proteína M, que está associada com a membrana; e a
proteína E do envelope, principal proteína estrutural, está diretamente relacionada com a imunidade
e provável virulência da amostra. (BASTOS, SIGProj - Página 6 de 172004).
O vírus do dengue pertence à família dos flavivírus e é classificado no meio científico como
um arbovírus,os quais são normalmente transmitidos por mosquitos e outros artrópodes. O vírus do
dengue se divide em quatro tipos, denominados Den-1, Den-2, Den-3 e Den-4 –

Vetor

A origem do Aedes aegypti, inseto transmissor da doença ao homem, é africana. O Aedes


aegypti é o principal vetor de transmissão do vírus causador da Dengue. É um inseto cosmopolita,
encontrado principalmente em locais de grande concentração humana. Costuma alimentar-se de
sangue, dando preferência ao sangue humano, ao amanhecer ou ao entardecer. Porém, pode também
picar à noite sob iluminação artificial. Na verdade, quem contamina é fêmea, pois o macho apenas
se alimenta de seivas de plantas. A fêmea precisa de uma substância do sangue (a albumina) para
completar o processo de amadurecimento de seus ovos. O mosquito apenas transmite a doença, mas
não sofre seus efeitos.
O inseto normalmente se reproduz em recipientes artificiais como vasos de flor, latas, e
plásticos em geral. Os ovos conseguem resistir à dissecação por até um ano, e eclodem quando
esses recipientes são inundados por água desoxigenada. O Aedes aegypti é um mosquito urbano,
embora já tenha sido encontrado na zona rural. Acredita-se, porém, que para lá tenha sido levado
em recipientes que continham ovos ou larvas. Próprio das regiões tropical e subtropical, não resiste
a baixas temperaturas nem a altitudes elevadas. Desenvolve-se por metamorfose completa. Seu
ciclo de vida, portanto, compreende quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto.

Imunidade

Existem dois padrões de respostas imunológicas à infecção pelo vírus do dengue: primária e
secundária.
A resposta primária ocorre em indivíduos que não são imunes aos flavivírus, que ainda não
tinham sido infectados por flavivírus ou não tinham sido inoculados com a vacina da febre amarela
ou da encefalite japonesa. Neste tipo de infecção os anticorpos são monoespecíficos (mais altos
contra o sorotipo infectante que contra os outros).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 480


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A resposta secundária é observada em indivíduos com infecção por dengue que já tiveram
infecção prévia por flavivírus. Pode apresentar-se como resultado à imunidade a algum sorotipo
diferente do vírus dengue, que é o mais freqüente, ou por vacinação prévia contra outros flavivírus.
Monócitos circulantes e células dendríticas têm sido considerados como as principais células
alvo para a replicação viral do Dengue. Vírus são isolados de monócitos circulantes ou células
dendríticas da pele SIGProj - Página 7 de 17após a infecção humana. Os vírus ativam as células
alvo, induzindo a liberação de monocinas, derivados do ácido aracdônico, óxido nítrico, entre
outros. Citocinas pró-inflamatórias, TNF-a, IL-1 e IL-6 têm sido encontradas em pacientes com
dengue na Ásia, e também no Brasil, e seus níveis circulantes têm correlação com as manifestações
hemorrágicas e uma maior incidência de dengue hemorrágico.
A imunopatogenia do vírus do dengue já vem sendo discutida há mais de 30 anos, algumas
hipóteses tentam explicar a ocorrência de formas graves (FHD/SCD), como a hipótese da infecção
seqüencial postulada por Halstead (1970, 1980 e 1982), e a da virulência de determinadas cepas do
vírus, defendida por Rosen (1977). Estudos epidemiológicos e sorológicos realizados em Cuba e na
Tailândia são bons exemplos da importância da infecção secundária como fator de risco para FHD
(Guzmán & Kourí, 2002). Desde as primeiras observações feitas por Halstead em1970, a FHD tem
estado presente em situações onde há circulação de mais de um sorotipo do vírus (PAHO, 1994;
Guzmán et al., 2000; Guzmán et al., 1990).

METODOLOGIA

O Município de Camaçari está localizado na Região Metropolitana de Salvador (RMS), que


é uma das regiões mais importantes do estado da Bahia, não apenas por abrigar a Capital do estado,
Salvador, mas também por desempenhar papel importante na densidade demográfica do estado,
sendo a região econômica que mais apresenta crescimento populacional (SEI, 2003).
Camaçari apresenta o maior território da RMS, com área total de 784,658 km² e representa
18% da área total da RMS, o que a torna de fundamental importância para ser estudada. Localiza-se
a uma latitude 12º41'51" sul e a uma longitude 38º19'27" oeste, estando a uma altitude de 36 metros
(CAMAÇARI, 2014a).
Esta pesquisa classifica-se quanto aos objetivos como exploratório. Reis (2008) destaca que,
a pesquisa exploratória é o primeiro passo de qualquer pesquisa, que acontece quando o tema
escolhido é pouco explorado e o pesquisador precisa incorporar características inéditas e buscar
novas abordagens. Ela é feita por meio de levantamento bibliográfico, entrevistas, análise de
exemplos sobre o tema estudado.
Segundo Fonseca (2002), a pesquisa científica é o resultado de um inquérito ou exame
minucioso, realizado com o objetivo de resolver um problema, recorrendo a procedimentos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 481


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

científicos. Investiga-se uma pessoa ou grupo capacitado (sujeito da investigação), abordando um


aspecto da realidade (objeto da investigação), no sentido de comprovar experimentalmente
hipóteses (investigação experimental), ou para descrevê-la (investigação descritiva), ou para
explorá-la (investigação exploratória).
Para se desenvolver uma pesquisa, é indispensável selecionar o método de pesquisa a
utilizar. De acordo com as características da pesquisa, poderão ser escolhidas diferentes
modalidades de pesquisa.
A metodologia estabelecida busca de forma breve, caracterizar o objeto de estudo
contribuindo com conhecimentos e esclarecendo a idealização da pesquisa. Dessa forma quanto aos
procedimentos, a pesquisa será delineada como quantitativa, por considerar que tudo pode ser
quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para inseri-las e analisá-
las. (SILVA; MENEZES, 2005).
Para levantamento dos dados, a coleta foi realizada no Sistema de Informações de Agravos
de Notificação (SINAN), a partir do ano de 2007 até o ano de 2012. O universo da pesquisa está
representado pelo município de Camaçari-Ba, foram delimitadas algumas características para
atender o objeto do estudo como: sexo, idade, se mora em zona urbana ou rural entre outros. Após
analise dos dados, estes foram dispostos em gráficos e tabelas pelo programa EXCEL.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Segundo dados do SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), o número


de casos de dengue vem aumentando, tendo mais casos confirmados entre os anos de 2009 e 2012.
Os fatores que tem influenciado para os casos confirmados no município de Camaçari são diversos,
dentre eles temos: a urbanização nos urbanos, água armazenada incorretamente, focos de mosquitos
perto ou dentro de residências.
Levando em consideração o numero de casos confirmados por sexo, constatou-se que no
sexo feminino o numero é o dobro que o do sexo masculino. Sendo, 62,5% o primeiro (feminino) e
37,5% o segundo (masculino)., como pode ser visto no gráfico 1. A dengue tem acometido pessoas
de ambos os sexos, contudo os estudos mostram maior incidência entre as mulheres do que em
homens, em um estudo da população de Vitória-ES apresentou prevalência de 46% em homens e
54% em mulheres. A hipótese mais provável é por habitualmente as mulheres ficarem mais tempo
na residência, onde boa parte das infecções acontece (RIBEIRO, 2006; VICENTE, 2013).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 482


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

F M

32,5

67,5

Gráfico 1: Classificação das pessoas por sexo

Quanto ao grau de instrução das pessoas que tiveram casos de dengue confirmados, houve
uma predominância em todas as instruções no ano 2009, totalizando 296 pessoas, sendo o ano com
maior registro. Seguindo-se no ano de 2010, onde houve predominância entre pessoas de 1ª a 4
incompleta e 1ª a 4ª serie completa. No ano de 2011 houve predominância entre Ing/Branco e Não
se aplica. No ano de 2012 houve predominância em pessoas do ensino médio, seguido por
Ing/Branco. Como é possível observar no Tabela 1. abaixo.

Grau de instrução Ign/Branco 1ª a 4ª série 1ª


incompleta
a 4ª série 5ª
do
incompleta
aEF
8ª série Ensino
do
incompleta
EF médioNão
docompleto
EF
se aplicaTotal
2012 53 16 16 29 64 32 265
2011 45 26 26 33 43 45 236
2010 45 48 48 33 13 44 218
2009 63 55 55 50 33 53 296
2008 20 19 19 14 16 29 121
2007 6 6 6 7 0 10 38
Tabela 1: Grau de instrução de pessoas que apresentaram a doença

Quanto ao numero de pessoas que tiveram dengue classificadas por raça, temos um numero
exorbitante nas pessoas Pardas em todos os anos, sendo mais alto nos de 2009 e 2012, como
podemos observar na tabela 2. Muitas dessas pessoas moram em áreas carentes, sem saneamento ou
possui um nível de escolaridade baixo, tem má alimentação o que favorece para o aumento destes
casos. Segundo Johansen(2014) ―No Brasil, a cor da pele, a situação socioeconômica e o perfil
epidemiológico estão intimamente associados. Á proporção de pessoas não brancas: o acréscimo de
1% nesta população conflui para a elevação da taxa de dengue em mais de quatro vezes‖.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 483


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Anos Ign/Branco Branca Preta Amarela Parda Indígena Total


2012 29 35 31 1 169 0 265
2011 26 27 21 1 160 1 236
2010 22 36 9 0 150 1 218
2009 62 30 23 1 179 1 296
2008 21 16 8 1 75 0 121
2007 5 10 4 1 18 0 38
Total 165 154 96 5 751 3 1174
Tabela 2: Classificação por raça

A Dengue é uma doença que acomete todas as faixas etárias, neste presente estudo não foi
diferente. A maior números de casos da doença ocorreu no ano de 2009 entre as idades de 1 a 9
anos e 20 a 39 anos. Seguido pelo ano de 2010 com índice maior entre crianças de 1 a 9 ano. No
ano de 2011 o maior registro foi com pessoas de 10 a 19 anos e em 2012 foi entre pessoas de 20 a
39 anos. Como pode ser observado na tabela 3. O deslocamento da doença para idades entre
menores de 15 anos no Brasil e em outros países pode estar associado ao aumento da incidência de
casos graves da dengue como demonstra Halstead et al. (2006), Cordeiro et al. (2007).

Idade
Ano Total
Abaixo de 1 1a9 10 a 19 20 a 39 40 a 59
2007 0 11 8 11 8 38
2008 8 31 29 41 13 120
2009 11 91 63 93 35 296
2010 6 73 59 42 34 214
2011 11 57 63 75 24 231
2012 1 37 49 104 56 251
Tabela 3: Classificação por idade

Segundo Teixeira (2012), a dengue tem acometido pessoas de todas as idades, entretanto
crianças e imunodeficientes apresentam risco aumentado para as formas graves da infecção,
dependendo do nível de imunidade estabelecido para cada idade e do sorotipo que é mais circulante,
a resposta imunológica pode ser menos eficiente levando ao agravamento dos sinais e sintomas da
doença.

CONCLUSÃO

Os resultados encontrados nesta pesquisa permitiram contatar que o município de Camaçari


apresentou muitos casos da doença de dengue entre os anos de 2007 e 2012. Indicando que existe
uma relação direta entre os casos da doença e os fatores socioeconômicos do município. A
incidência se deu de forma espacial, apresentando uma taxa mais acentuada no ano de 2009 e 2012.
A Dengue é hoje, um dos maiores problemas de saúde pública, onde as pessoas estão sob o
risco de serem infectadas. A cidade de Camaçari possui um ambiente favorável para o mosquito,
por conta da umidade e temperatura e grande numero de urbanização para que o mosquito Aedes
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 484
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

aegypti queira ficar por perto para farantir sua reprodução. Por conta disso é essencial por parte de
todos uma conscientização quanto aos seus hábitos de combate ao mosquito.
É de extrema importância preparar as comunidades mais humildes para combater o
mosquito, verificar onde pode ter focos em sua residência, e saber quais atitudes tomar se algum
familiar tiver a doença. Utilizar todos os meios de combate é interessante, pois o meio mais
eficiente contra a dengue é o combate a proliferação da fêmea do mosquito Aedes aegypti.

REFERÊNCIAS

BASTOS, Michele de Souza. Perfil soroepidemiológico do dengue diagnosticado na Fundação de


Medicina Tropical do Amazonas (1998- 2001). 2004. 85f. Dissertação (Mestrado em Ciências na
área de Saúde Pública - Subprograma de Mestrado Interinstitucional da CAPES Centro de
Pesquisa Leônidas e Maria Deane), Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2004.

FERREIRA, Pablo Pires. O vírus do dengue. Disponível em: http://www.fiocruz.br. Acesso em 04


de outubro de 2009 às 21:30.

FUNASA (Fundação Nacional de Saúde), 2003. Distribuição de casos confirmados, por Unidade
Federada. Brasil, 1980-2000. 20 abril de 2003. <http://www.funasa.org/>

GUZMÁN, M. G.; KOURI, G. & GONZÁLEZ, J. R. B., 1999. La emergencia de la fiebre


hemorrágica del dengue en las Américas. Reemergencia del dengue. Revista Cubana de
Medicina Tropical, 51: 5-13.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home


Acesso em: 24 de outubro de 2009.

KUBELKA, C. Febre do Dengue e Dengue Hemorrágico. FIOCRUZ. Rio de Janeiro.

SIGProj - Página 10 de 17MARTINEZ, R., 1988. Dengue en Cuba: Historia de una epidemia.
Revista Cubana de Medicina Tropical, 40: 29-49.

NOBRE, A.; ANTEZANA, D. & TAUIL, P. L., 1994. Febre amarela e dengue no Brasil:
epidemiologia e controle. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 27 (Suplemento
III): 59-65.

NOGUEIRA, R. M. R.; SCHATZMAYR, H. G.; MIAGOSTOVICH, M. P.; FARIAS, M. F. D. B.


& FARIAS FILHO, J. C., 1988. Virological study of dengue type 1 epidemic at Rio de Janeiro.
Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 83: 219-225.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 485


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SCHATZMAYR, H., 2000. Dengue Situation in Brazil by Year 2000. Memórias do Instituto
Oswaldo Cruz, 95 (suppl. I):179-181.

Teixeira MG; Barreto, Barreto, ML. Epidemiologia e medidas de prevenção do dengue. Inf
Epidemiol SUS; 8: 5-33, 2009.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 486


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ARBORIZAÇÃO DA CIDADE DE PEDRA BRANCA – PB: DADOS PRELIMINARES

Fabrício Ferreira JERÔNIMO


Graduando em Ecologia – UFPB
fabricio.jf10@hotmail.com
Maria Alinny Cruz da SILVA
Graduando em Ecologia – UFPB
mariaalinny.cruz@outlook.com
Sofia Erika Moreira GOMES
Mestre em Desenvolvimento Sustentável
sofiaerika@gmail.com
Zelma Glebya Maciel QUIRINO
Doutora em Biologia Vegetal
zelmaglebya@gmail.com

RESUMO
A avaliação da arborização de ruas é essencial para o planejamento e manutenção das cidades de
modo a maximizar os benefícios proporcionados pelas árvores. Assim, o trabalho objetivou
descrever como é a arborização urbana do centro de Pedra Branca - PB. A coleta de dados foi
realizada nos meses de dezembro de 2016 e junho de 2017. A metodologia empregada consiste no
levantamento de todos os indivíduos arbóreos nas ruas. Para a identificação das espécies botânicas e
seus caracteres ecológicos foi utilizada literatura especializada. Foram encontrados 328 indivíduos
arbóreos, distribuídas em 19 espécies pertencentes a 10 famílias. Das 19 espécies encontradas, 84%
são de origem exótica e apenas três Caesalpinia echinata, Bougainvillea spectabilis, Morinda
citrifolia identificadas como nativas (16%). As espécies mais frequentes foram: Azadirachta indica,
Senna siamea, Ficcus benjamina e Albizia lebbeck perfazendo um total de 86% das árvores do
centro de Pedra Branca – PB. É necessário a realização de programas educação ambiental a fim de
evitar práticas de plantios aleatórios e sensibilizar a população quanto à importância da arborização
com árvores nativas.
Palavras Chaves: Ecologia, Urbana, Árvores Urbanas, Semiárido.

RESUMÉN
Assessing street afforestation is essential for planning and maintaining cities in order to maximize
the benefits provided by trees. Thus, the objective of this work was to describe the urban
afforestation of the center of Pedra Branca - PB. Data collection was carried out in the months of
December 2016 and June 2017. The methodology employed is the survey of all tree individuals in
the streets. For the identification of the species and their ecological characters it was used
specialized literature. There were 328 arboreal individuals, distributed in 19 species belonging to 10
families. Of the 19 species found, 84% are of exotic origin and only three identified as native
(Caesalpinia echinata, Bougainvillea spectabilis, Morinda citrifolia). The most frequent species
were Azadirachta indica, Senna siamea, Ficcus benjamina e Albizia lebbeck, making a total of 86%
of the trees in the center of Pedra Branca - PB. It is necessary to carry out environmental education
programs in order to avoid practices of random plantations and raise awareness of the importance of
afforestation with native trees.
Keywords: Urban Ecology, Urban Trees, Semi-Arid.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 487


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

A arborização de ruas, além de ser um serviço público, é um patrimônio que deve ser
conhecido e conservado, estando associada a manutenção da qualidade ambiental nas cidades e ao
bem estar, saúde física e mental da população. Às árvores urbanas são de caráter indispensável, pois
a presença da cobertura vegetal na área urbana proporciona inúmeros benefícios, tais como:
melhoramento na qualidade do ar, regulação das condições microclimáticas, redução da poluição
atmosférica, barreira acústica, abrigo para animais, além de caracterizarem a beleza das cidades
(AQUA e MULLER, 2014; DAMO et al., 2015).
A implantação inadequada da arborização urbana pela falta de planejamento ambiental pode
causar conflitos. Podemos observar nas interferências e danos causados aos equipamentos e
estruturas urbanas, tais como: fiações elétricas, encanamentos, calçamentos, muros, postes de
iluminação e sinalização (SANTOS et al, 2015). Por outro lado, para que a presença da árvore no
espaço urbano não venha trazer transtornos futuros, é necessário ter um conhecimento das suas
características morfológicas e fisiológicas visando uma maior eficiência das múltiplas contribuições
trazidas por estas ao ambiente (ZAMPRONI et al, 2016). A escolha da espécie deve ser criteriosa,
optando aquelas que são adequadas para cada rua ou cidade (AQUA e MULLER, 2014). De acordo
com Souza et al. (2013), ainda é comum o fracasso dos plantios ou da manutenção dessas áreas
urbanas, isso se deve, principalmente, à ausência de conscientização sobre a sua importância, cuja
conservação pode ser feita através do conhecimento da biodiversidade (SILVA et al, 2012).
As cidades do semiárido brasileiro estão submetidas a um clima quente e seco, com até nove
meses de estiagem. Com isso necessitam da presença de uma massa arbórea que lhes proporcione
alterações no padrão ambiental, proporcionando-lhe uma melhoria de vida das populações nelas
inseridas. Nas cidades de pequeno porte do Sertão paraibano, o planejamento da arborização não faz
parte das práticas da gestão ambiental. Com este trabalho objetiva-se analisar as condições da
arborização da cidade de Pedra Branca – PB, com intuito de contribuir com informações que
possam ser utilizadas em planos de ampliação de áreas verdes.

MATERIAL E MÉTODOS

Caracterização da Área de Estudo

O estudo foi realizado no perímetro urbano do município de Pedra Branca, situada na região
semiárida do Nordeste brasileiro, no Estado da Paraíba, a 444,6 km da capital, João Pessoa (Figura
tal 1). O município foi criado pela lei nº 3152 de 30 de Janeiro de 1964 e instalado no dia 17 de
maio do mesmo ano (BELTRÃO et al, 2005). Encontra-se a cerca de 239m de altitude, entre
coordenadas geográficas de 38° 04‘ 04‘‘ longitude oeste e 07° 25‘ 37‘‘ de latitude sul e apresenta

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 488


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

área total de 112,932 Km². De acordo com o censo de 2016 do IBGE, a população é constituída por
3.800 habitantes. A densidade demográfica em 2010 era de 32,95 hab/km2.
Em termos climatológicos, o município de Pedra Branca se encontra inserido no
denominado ―Polígono das Secas‖, constituindo o tipo BSh semiárido, quente e seco, segundo a
classificação de Koppen, atualizada por Alvares et al (2013). As temperaturas são elevadas durante
o dia, amenizando à noite, com variações anuais de 23° a 30º C, com ocasionais picos mais
elevados, principalmente durante a estação seca. O regime pluviométrico é baixo e irregular com
médias anuais em torno de 800mm/ano (BELTRÃO et al, 2005). No geral, caracteriza-se pela
presença de apenas duas estações: uma seca, que constitui o verão, de setembro a dezembro, e uma
estação chuvosa, de fevereiro a maio (AESA, 2017).

Figura 1. Mapa de localização do município de Pedra Branca – PB.

Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada nos meses de dezembro de 2016 e junho de 2017. A
metodologia empregada consiste no levantamento de todos os indivíduos arbóreos nas ruas do
centro da cidade (BORTOLETO et al, 2007; COLETTO et al, 2008; MIRANDA et al, 2015).
A análise de campo foi efetuada com o auxílio de uma planilha de levantamento de dados de
acordo com Silva Filho et al (2002) e Lacerda et al (2011), adaptada para as condições locais. Em
relação aos indivíduos vegetais inventariados foram coletados informações: espécie, nome popular,
altura, síndromes de dispersão e interações com o meio urbano. A identificação das espécies e seus

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 489


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

caracteres ecológicos ocorreu com consulta bibliográfica em Lorenzi (2002) e Flora do Brasil
(2017).
A medição da altura das árvores foi feita através do aplicativo telemóvel Smart Measure
(versão 1.6) de acordo com Brito Neto et al (2016), e a classificação seguiu o método adaptado de
Santos e Teixeira (2001), considerando como: árvores de pequeno porte aquelas que atingiram até
2,5 m; médio porte – 2,5 a 4m e as de grande porte maior que – 6 m de altura.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Até o momento, nas ruas analisadas na cidade de Pedra Branca – PB foram encontrados 328
indivíduos arbóreos, distribuídos em 19 espécies pertencentes a 10 famílias, como mostra a (Tabela
1).

Tabela 1. Relação das famílias, espécies, número de indivíduos, frequência, e síndromes de dispersão dos
indivíduos arbóreos registrados na arborização de cinco vias públicas da cidade de Pedra Branca – PB.
FAMÍLIA Nome Popular Número Freq. % Síndromes de Presença nas ruas
Nome científico de Indiv. dispersão
ANACARDIACEAE
Mangifera indica L. mangueira 5 1.52 zoocórica I, III e V

Spondias purpurea L. seriguela 2 0.61 zoocórica III e V


APOCYNACEAE
Plumeria rubra L. jasmim 1 0.30 autocórica V
COMBRETACEAE
Terminalia catappa L. castanhola 4 1.22 zoocórica III e IV
Senna siamea (Lam.) canafístula 61 18.60 autocórica I, II, III, IV e V
H. S. Irwin
& Barneby
FABACEAE
Albizia lebbeck (L.) albízia 21 6.40 autocórica I, II, III, IV e V
Benth
Tamarindus indica L. tamarindo 9 2.74 zoocórica I, IV e V
Erythrina variegata L. brasileirinho 4 1.22 autocórica I e II
Delonix regia (Bojer flamboyant 2 0.61 autocórica II
ex Hook.) Raffin
Adenanthera pavonina olho de 1 0.30 autocórica I
L. pombo
Caesalpinia echinata pau-brasil* 1 0.30 autocórica III
Lam.
Prosopis juliflora algaroba 10 3.05 zoocórica I, III e IV
(Sw.) DC.
MALVACEAE
Hibiscus tiliaceus L. algodão-de- 1 0.30 autócorica III
praia
MELIACEAE
Azadirachta indica A. nim indiano 157 47.86 zoocórica I, II, III, IV e V
Juss
MORACEAE
Ficcus benjamina L. figueira 44 13.41 zoocórica I, II, III, IV e V
Artocarpus jaca 1 0.30 zoocórica V
heterophyllus Lam.
NYCTAGINACEAE
Bougainvillea primavera* 1 0.30 anemócorica I
spectabilis Willd.
RUBIACEAE
Morinda citrifolia L. none* 1 0.30 zoocórica I
RUTACEAE
Citrus limonum (L.) limoeiro 2 0.61 zoocórica III e V
Burm. f.
Ruas: I -Manoel Claudino da Silva, II - Antônio de Sousa Oliveira, III - José Teotônio dos Santos, IV -
Balduino de Carvalho, V - Solidônio Leite de Oliveira. * - Espécies Nativas

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 490


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Observou-se que as vias de Pedra Branca – PB que tiveram o maior número de indivíduos
foram José Teotônio dos Santos (108 ind.), Manoel Claudino da Silva (82 ind.) e Solidônio Leite de
Oliveira (58) (Figura 2). Essas ruas, em sua maioria, são compostas por residências, escolas, bares e
comércios. É comum a prática de plantios aleatórios realizados pelos próprios moradores, os quais
acontecem sem orientação e observação de alguns critérios essenciais. Isto pode ser comprovado
pela irregularidade da distribuição das espécies. Nas ruas Manoel Claudino da Silva, José Teotônio
dos Santos e Solidônio Leite de Oliveira foi possível observar a existência de algumas espécies com
apenas um exemplar.

Figura 2. Número de indivíduos e número de espécies registradas nas ruas do centro de cidade de Pedra
Branca – PB.

A predominância de poucas espécies na arborização das ruas traz efeitos negativos para a
biodiversidade do ecossistema urbano, considerando-se que a variedade da vegetação é de suma
importância para a ampliação, fixação e a conservação do equilíbrio biológico (PEREIRA et al,
2005). Segundo Santamour-Júnior (2002), a diversidade de espécies no panorama urbano faz-se
necessária justamente para garantir uma melhor estética, maior disponibilidade de recursos para a
fauna urbana e o máximo de proteção contra pragas e doenças, evitando assim, o desaparecimento
de espécies.
A partir dos dados inventariados das ruas do centro de Pedra Branca – PB, calculou-se o
índice de indivíduos por quilometragem de rua (Tabela 2), obtendo-se um índice médio de 122,12
indivíduos/km. Santos et al (2012) obtiveram em um bairro da cidade de Natal – RN o índice médio
de 70 indivíduos/km. Bortoleto (2004), em Estância de Águas de São Pedro – SP, obteve um índice
médio de 130 indivíduos/km de rua. Portanto, pode-se concluir até o momento, que Pedra Branca –
PB se enquadra bem nas recomendações de Paiva et al (2010), que consideram como ideal o índice
de 100 árvores por quilômetro de calçada, com exceção apenas da rua Solidônio Leite de Oliveira.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 491


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 2. Comprimento, número total de indivíduos e índice de indivíduos por quilômetro de cada via
pública do centro de Pedra Branca – PB.
Nome da rua Comp. da rua (m) N° de indiv. Índice de indiv./Km
I -Manoel Claudino da Silva 694 82 118,1
II - Antônio de Sousa Oliveira 324 34 104,9
III - José Teotônio dos Santos 609 108 177,3
IV - Balduino de Carvalho 342 46 134,5
V - Solidônio Leite de Oliveira 765 58 75,8
Médias 546,8 65,5 122,12

PRINCIPAIS FAMÍLIAS E ESPÉCIES

Das 19 espécies encontradas, cerca de 84% são de origem exótica e apenas três (Caesalpinia
echinata, Bougainvillea spectabilis, Morinda citrifolia) identificadas como nativas (16%). Apesar
das pesquisas de reintrodução da flora nativa na arborização nos centros urbanos, ainda se constata
que a maioria das cidades brasileiras possuem flora exótica. Um estudo realizado por Hoppen et al
(2014), nas vias públicas da cidade de Farol - PR, observa que o número de espécies exóticas supera
o número de espécies nativas. O mesmo foi observado por Aqua e Muller (2014) no levantamento
da arborização em vias de Santa Rosa – RS, onde o número de espécies exóticas foi 62%. Isso
mostra que esse problema não é apenas encontrado nas ruas de Pedra Branca, mas também em
outras cidades brasileiras.
A família Fabaceae destacou-se em relação as demais no presente trabalho. Ela possui uma
ampla distribuição geográfica e é comumente utilizada na ornamentação por possuírem folhas e
flores vistosas, sendo uma das principais famílias empregadas na arborização urbana das cidades
brasileiras (SOUZA e LORENZI, 2005).
Dentre as espécies mais frequente estão: Azadirachta indica (nim indiano), Senna siamea
(canafístula), Ficcus benjamina (figueira) e Albizia lebbeck (albízia), que juntas perfazem um total
de 86% das árvores do centro de Pedra Branca - PB. Essas espécies são bastante encontradas na
arborização das cidades nordestinas. Resultados semelhantes foram observados nas cidades de Patos
e Pombal, no Sertão da Paraíba (MELO et al, 2007; RODOLFO JÚNIOR et al, 2008). A
comparação destes dados indica uma grande homogeneidade na flora arbórea da cidade de Pedra
Branca – PB e regiões circunvizinhas como município de Patos – PB, evidenciando a prevalência de
exóticas com relação às nativas.
De acordo com Kramer e Krupek (2012), a maior parte das cidades brasileiras apresenta a
composição arbórea pouco diversificada, constituindo-se muitas vezes de espécies exóticas. Além
disso, estes autores alertam que a homogeneização da vegetação pode colaborar para a perda do
equilíbrio ecológico.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 492


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Pode-se observar que A. indica (nim indiano) apresenta uma grande frequência, sendo
predominante na composição da arborização analisada até o momento. Essa espécie é de origem das
regiões áridas da Índia, e no Brasil vem sendo muito utilizada devido ao seu desenvolvimento
rápido (VALE et al. 2011). No entanto, embora apresente o crescimento acelerado e bom
sombreamento, poderá contribuir negativamente causando grandes alterações ecológicas na região
(MORAES e MACHADO, 2014). Desta forma, A. indica exerce grande impacto na arborização de
Pedra Branca - PB, tendo sido introduzida recentemente, pela boa adaptação ao ambiente urbano e o
desconhecimento da população a respeito da biologia da espécie.
A espécie S. siamea (canafístula) foi a segunda com maior frequência de indivíduos
(18,6%), estando presente também em todas as ruas, porém, não é indicada para a arborização
urbana por possuir madeira de baixa resistência mecânica, quebrando com facilidade, o que pode
causar prejuízos à população (ROCHA et al., 2004).
Ficcus benjamina (figueira) e Albizia lebbeck (albízia) também foram muito comuns nas
ruas analisadas, caracterizando-se por apresentarem crescimento rápido e pelo seu grande valor
ornamental. Tais espécies não são recomendadas, pois de acordo com os autores Albertin et al.
(2011), Moraes e Machado, (2014), o seu sistema radicular prejudica drasticamente calçadas, ruas e
avenidas.

CARACTERES ECOLÓGICOS E SUAS INTERFERÊNCIAS

Quanto ao modo de dispersão das espécies encontradas nas ruas do centro de Pedra Branca –
PB, teve predominância a zoocórica, com 53% do total, seguida da autocórica, com 42% e da
anemocórica com 5% (Tabela 1). Esses dados foram compilados a partir da observação dos
caracteres dos frutos, os quais foram descritos baseados em informações preexistentes em
literaturas. Embora essa característica não seja considerada na maioria dos trabalhos de arborização,
ela é importante, pois indica os tipos de animais que podem estar sendo atraídos para se alimentar,
bem como fatores como o acúmulo de material vegetal nas ruas. Pode-se observar que a maioria
das árvores do presente trabalho são dispersas por animais, podendo-se favorecer destes para a sua
disseminação e estabelecimento, tornando-se invasoras em alguns casos.
Com relação os dados de altura das espécies utilizadas na arborização de Pedra Branca - PB,
15% apresentaram altura inferior a 2,5m, 58% apresentou-se entre 2,5m e 4m e 27% entre 4,1m e
6m (Figura 3). Assim, a maioria dos exemplares encontrados na categoria de médio porte.
Observou-se que todos os indivíduos passaram por podas de rebaixamento, com objetivo de evitar
os conflitos com a fiação, indiretamente seguindo as indicações de Souza et al (2014), onde
recomendam que as espécies não ultrapassem os 5m de altura.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 493


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 3. – Número de indivíduos em diferentes classes de altura da arborização das ruas do centro de Pedra
Branca – PB.

No presente estudo, de modo geral verificou-se pouca interferência das árvores com os
elementos urbanos: Fiação (11%), Posteamento (2,1%) e Iluminação (2,4%). Tais ações são
constituídas principalmente de podas de conformação e de limpeza que, em alguns casos, são
realizadas também pelos moradores, constituindo um risco não só para eles como para os vegetais.
Nesse caso, se faz necessária a implantação de programas de educação ambiental com foco
na arborização, que visem a disseminação de informações sobre espécies arbóreas e a suas
adaptações ao ambiente urbano. Assim como as melhores formas de cuidado, para que a população
possa servir de parceria junto com os órgãos responsáveis, e evitar práticas de plantios e
intervenções aleatórios.
Deve-se enfatizar ainda, a importância do planejamento da arborização para a região de
Caatinga, uma vez que, apesar de apresentar um dos maiores biomas brasileiros, algumas espécies
ainda são desconhecidas. Em meio a um cenário com clima semiárido, com temperaturas bastante
elevadas e um estresse hídrico, a Caatinga assume diferentes mecanismos de sobrevivência como
resposta às hostilidades do meio ambiente (ALVAREZ et al, 2012). Segundo o autor, a arborização
tem um caráter fundamental nessa região, especialmente por atuar na melhoria do microclima e das
condições ecológicas.

CONCLUSÃO

Conclui-se, até o momento, que arborização do centro da cidade de Pedra Branca - PB é


formada principalmente de árvores exóticas, com dominância de poucas espécies, sendo a maioria
de dispersão zoocórica. Porém, a quantidade de indivíduos/km é considerada satisfatória, estando
dentro dos padrões recomendados. Os indivíduos são em maioria de médio porte, apresentando
poucas interferências com os elementos urbanos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 494


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Recomenda-se que sejam utilizadas mais espécies do bioma, e que sejam implantados
programas de planejamento e educação ambiental para a ampliação e melhoria das áreas verdes da
cidade.

REFERÊNCIAS

ALBERTIN, R. M.; ANGELIS, R.; ANGELIS-NETO, G.; ANGELIS, B. L. D. Diagnóstico quali-


quantitativo da arborização viária de Nova Esperança, Paraná, BRASIL. Revista da Sociedade
Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba – SP, v.6, n.3, p.128-148, 2011.

ALVARES, C. A.; STAPE, J. L.; SENTALHAS, P. C.; de Moraes, G.; LEONARDO, J. &
SPAROVEK, G. 2013 Köppen'climate classification map for Brazil. Meteorologische
Zeitschrift, 22(6), 711-728.

AQUA, M.; MULLER, N. T. G. Diagnóstico da arborização urbana de duas vias na cidade de Santa
Rosa – RS. Revista da sociedade brasileira de arborização urbana, Piracicaba, v. 9, n. 3, p. 141-
155, 2014.

BELTRÃO, B. A.; MORAIS, F.; MASCARENHAS, J. C.; MIRANDA, J. L. F.; JUNIOR, L. C. S.;
MENDES, V. A.; (Org.) DIAGNÓSTICO DO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA. Projeto
Cadastro de Fontes De Abastecimento por Água Subterrânea Estado De Paraíba. Recife
Setembro/2005.

BORTOLETO, S.; SILVA FILHO, D. F.; SOUZA, V. C.; FERREIRA, M. A. P.; POLIZEL, J. L.;
RIBEIRO, R.C. S. Composição e distribuição da arborização viária da Estância de Águas de São
Pedro-SP. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, v. 2, n. 3, 2007.

BORTOLETO, S. Inventário qualiquantitativo da arborização viária da Estância de Águas de São


Pedro-SP. 2004. 85f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Escola Superior de Agricultura
―Luiz de Queiroz‖, Piracicaba, 2004.

BRITO NETO, R. L.; BARRETO, P. A. B.; PRADO, W. B. Utilização de aplicativo telemóvel para
medição da altura total das árvores. IV Semana de engenharia florestal da Bahia e I mostra de
pós-graduação em ciências florestais da UESB. Vitoria da Conquista, março de 2016.

COLETTO, E. P.; MULLER, N. G.; WOLSKI, S. S. Diagnóstico da Arborização das vias públicas
do município de Sete de Setembro – RS. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização
Urbana, Piracicaba, v.3, n.2 p.110-122, jun. 2008.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 495


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

DAMO, A.; HEFLER, S. M.; JACOBI, U. S. Diagnóstico da arborização em vias públicas dos
bairros Cidade Nova e Centro na cidade de Rio Grande – RS. Revista da Sociedade Brasileira de
Arborização Urbana, Piracicaba – São Paulo, v.10, n.1, p. 43‐60, 2015.

HOPPEN, M. I.; DIVENSI, H. F.; RIBEIRO, R. F.; CAXAMBÚ, M. G. Espécies exóticas na


arborização de vias públicas no município de Farol-PR, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira
de Arborização Urbana, Piracicaba, v. 9, n. 3, p.173-186, 2014.

KRAMER, J. A.; KRUPEK, R. A. Caracterização florística e ecológica da arborização de Praças


Públicas do Município de Guarapuava, PR. Revista Árvore, Viçosa-MG, v.36, n.4, p.647-658,
2012.

LACERDA, R. M. A.; Lira Filho, J. A.; Santos, R. V. Indicação de espécies de porte arbóreo para a
arborização urbana no semiárido paraibano. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização
Urbana, Piracicaba – São Paulo, v.6, n.1, p.51-68, 2011.

LORENZI, H. Árvores Brasileiras. V.1. São Paulo: Nova Odessa, 368 p. 2002.

MELO, R.R.; LIRA FILHO, J.A.; RODOLFO JÚNIOR, F. Diagnóstico qualitativo e quantitativo
da arborização urbana no bairro Bivar Olinto, Patos, Paraíba. Revista da Sociedade Brasileira de
Arborização Urbana, v.2, n.1, p.64-78, 2007.

MIRANDA, Y. C.; MACHADO, M. S.; SILVA, L. S.; ESTEVAM, R.; MARTINS NETO, F. F.;
CAXAMBU, M. G. Análise quali-quantitativa da Arborização de ruas do município de Godoy
Moreira – PR. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba – SP, v.10,
n.1, p. 71‐81, 2015.

MORAES, L. A. e MACHADO, R. R. B. A arborização urbana do município de Timon/MA:


inventário, diversidade e diagnóstico quali-quantitativo. Revista da Sociedade Brasileira de
Arborização Urbana, Piracicaba – SP, v.9, n.4, p 80-98, 2014.

PAIVA, A.V.; LIMA, A.B.M.; CARVALHO, A.; JUNIOR, A.M.; GOMES, A.; MELO, C.S.
Inventario e Diagnóstico da Arborização Urbana Viária de Rio Branco, AC. Revista da
Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, v. 5, n.1, p.144-159, 2010.

PEREIRA et al. O Uso de Espécies Vegetais, como Instrumento de Biodiversidade da Avifauna


Silvestre, na Arborização Pública: o caso de Recife. Atualidades Ornitológicas. Olinda, n.125, p.
1-15, maio/junho.2005.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 496


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ROCHA, R.T.; LELES, P. S. S.; OLIVEIRA NETO, S. N. Arborização de vias públicas em nova
Iguaçu, RJ: o caso dos bairros Rancho Novo e Centro. Revista Árvore, Viçosa-MG, v.28, n.4,
p.599-607, 2004.

RODOLFO JÚNIOR, F.; MELO, R.R.; CUNHA, T.A.; STANGERLIN, D.M. Análise da
Arborização Urbana em Bairros da Cidade de Pombal no Estado da Paraíba. Revista da
Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, v.3, n.4, p.3-19, 2008.

SANTOS, C. Z. A. S. et al. Análise qualitativa da arborização urbana de 25 vias públicas da cidade


de Aracaju -SE. Ciência Florestal. Santa Maria, v.25, n.3, p.751-763, 2015.

SANTAMOUR JÚNIOR, F. S. Trees for urban planting: diversity uniformity, and common sense.
Agriculture Research Service. Washington: U. S. National Arboretum, 2002.

SANTOS, N. R. Z.; TEIXEIRA, I. F. Arborização de vias públicas: ambiente x vegetação. Santa


Cruz do Sul: Instituto Souza Cruz, 2001. 135p.

SANTOS, T.O. B.; LISBOA, C. M. C. A.; CARVALHO, F. G. Análise da arborização viária do


bairro de Petrópolis, Natal, RN: uma Abordagem para diagnóstico e planejamento da flora
urbana. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba – SP, v.7, n.4, p.90‐
106, 2012.

SILVA L. M.; FARINA B.; LOURENÇO, J. F. G. O ensino de botânica no litoral do Paraná e as


implicações da arborização urbana. Revista da Sociedade Brasileira Arborização Urbana,
Piracicaba – SP, v.7, n.3, p.97‐103, 2012.

SILVA FILHO, D. F. da; PIZETTA, P. U. C.; ALMEIDA, J. B. S. A. de; PIVETTA, K. F. L.;


FERRAUDO, A. S. Banco de dados relacional para cadastro, avaliação e manejo da arborização
em vias públicas. Revista Árvore, Viçosa, v. 26, n. 5, p. 629 - 642, 2002.

SOUZA, V. C.; LORENZI, H. Botânica sistemática. São Paulo: Plantarum, 640p. 2005.

SOUZA, P. F.; BOURSCHEID, C. B.; POMPÉO, P. N.; STANG, M.B.; MANFROI, J.;
RODRIGUES, M. D. S.; SILVA, A. C.; HIGUCHI, P. Inventário e recomendações para a
arborização do centro da cidade de São Joaquim, SC. Revista da Sociedade Brasileira
Arborização Urbana. Piracicaba – São Paulo, v.9, n.4, p 99-112, 2014.

VALE, N. F. L.; SOUSA, G. S.; MATA, M. F.; BRAGA, P. E. T. Inventário da arborização do


parque da cidade do município de Sobral, Ceará. Revista da Sociedade Brasileira de
Arborização Urbana, Piracicaba – São Paulo, v.6, n.4, p.145-157, 2011.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 497


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ZAMPRONI, K; BIONDI, D.; BOBROWSKI, R. Avaliação quali-quantitativa da espécie Licania


tomentosa (Benth.) Fritsch. na arborização viária de Bonito-MS. Revista da Sociedade Brasileira
de Arborização Urbana, Piracicaba – SP, v.11, n.2, p. 45-58, 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 498


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

APLICAÇÃO DE PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO EM


LAGOA URBANA - CAMPO MAIOR – PI

Flávia Fideles de VASCONCELOS


Graduando em Ciências Biológicas, Lab. Limnologia e Aquicultura , URCA
flavia.fideles@hotmail.com
Hênio do Nascimento MELO JÚNIOR
Professor de Ciências Biológicas, Coordenador do Lab. de Limnologia e Aquicultura, URCA
heniolimnologia@yahoo.com.br

RESUMO
Diversos impactos antrópicos sobre os ecossistemas aquáticos têm sido responsáveis pela
deterioração da qualidade ambiental. Avaliações rápidas têm-se tornado um método popular para
avaliar esses ambientes, sendo que um dos motivos para esta popularidade é a facilidade de
operação e redução de especialidade técnica requerida para fazer uma avaliação. O estudo tem
como objetivo avaliar através de protocolo o impacto ambiental em lagoa urbana da cidade de
Campo Maior-PI. O presente trabalho foi realizado em uma lagoa urbana localizada na cidade de
Campo Maior no estado do Piauí (Lat.4°50‘00.47‖S Long. 42°45‘51.69‖O) no dia 05 de setembro
de 2014, no período da manhã, em três pontos distintos. O estudo foi realizado através do protocolo
de avaliação rápida de impactos ambientais para açudes proposto por Melo Júnior, Feitosa & Santos
(2013). O protocolo de avaliação foi dividido em matriz in Lócus (campo) e análise de imagens de
satélite (utilizando o Google Earth).Com os dados obtidos foram produzidas duas matrizes de
classificação quantitativa e qualitativa para melhor avaliar o ambiente, onde a partir dessa
classificação poderemos concluir o nível de impacto que o ambiente vem sofrendo. O Ponto
Amostral 1 obteve uma pontuação total de 17 pontos, os Pontos amostrais 2 e 3 resultaram em 20
pontos. A média da classificação quantitativa foi de 19 pontos classificando qualitativamente a
matriz in lócus como Ambiente Impactado seguido do mesmo resultado na imagem de satélite. Os
resultados demonstram que o ambiente aquático encontra-se impactado.
Palavras chave: Impactos; Avaliação rápida; Qualidade Ambiental.

ABSTRACT
Various anthropic impacts on aquatic ecosystems have been responsible for the deterioration of
environmental quality. Rapid reviews have become a popular method for evaluating such
environments, and one of the reasons for this popularity is the ease of operation and reduction of
technical expertise required to make an assessment. The objective of this study was to evaluate the
environmental impact of the urban lagoon in the city of Campo Maior-PI. This work was carried out
in an urban lagoon located in the city of Campo Maior in the state of Piauí (Lat.4 ° 50'00.47 "S
Long. 42 ° 45'51.69" W) on September 5, 2014, during the Morning in three different places. The
study was carried out through the protocol of rapid evaluation of environmental impacts for dams
proposed by MELO JÚNIOR, FEITOSA AND SANTOS (2013) to obtain data about the
environmental impacts present in the study environment. The evaluation protocol was divided in
matrix in Locus (field) and analysis of satellite images (using Google Earth). With the data obtained
were produced two matrices of quantitative and qualitative classification to better evaluate the
environment, where from this classification we can conclude the level of impact that the
environment has been suffering. Sample Point 1 scored 17 points, Sample Points 2 and 3 resulted in
20 points. The average of the quantitative classification was 19 points, qualitatively classifying the

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 499


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

in situ matrix as Impact Environment followed by the same result in the satellite image. The results
demonstrate that the aquatic environment is impacted.
Keywords: Impacts; Rapid assessment; Environmental Quality.

INTRODUÇÃO
A água é considerada em algumas regiões do Brasil um recurso escasso, mas de elevada
importância para todas as atividades humanas e fundamental á manutenção da vida em todo o
planeta. De acordo com Oliveira & Nunes (2015), os impactos causados pelo homem ao ambiente
natural vêm, com o passar do tempo, dificultando sua utilização do ponto de vista sustentável,
levando a diminuição da sua disponibilidade. Segundo Brito et al (2016), na região semiárida, onde
a seca caracteriza-se como um fenômeno contínuo os reservatórios artificiais são ecossistemas de
suprema importância ecológica e social.
Para Fernandez (2004) as alterações ambientais ocorrem por infindas causas, muitas
denominadas naturais e outras provindas de interferência antrópica, consideradas não naturais.
Segundo Radtke (2015), em menos de uma geração o Brasil, um país predominantemente
agrário, tornou-se rapidamente e intensamente urbanizado, tendo as atividades humanas
impulsionada por fatores socioeconômicos responsáveis pela degradação da qualidade ambiental.
Contudo, a intercessão contínua das atividades humanas interfere nas condições naturais dos
sistemas aquáticos continentais do Brasil, e isto está relacionado principalmente com a urbanização
e uso do solo para a agricultura e pecuária.
Segundo Mucelin (2008), a criação das cidades e a crescente expansão das áreas urbanas
têm contribuído para o contínuo aumento de impactos ambientais negativos. Também segundo o
mesmo autor os hábitos e costumes para com o uso da água e a produção de resíduos pelo
exacerbado consumo de materiais são responsáveis por parte das alterações e impactos ambientais.
Segundo Oliveira & Nunes (2015), ―o uso e ocupação do solo de uma bacia hidrográfica,
como também, os usos múltiplos da água alteram as características físico-químicas e ambientais não
somente dos corpos hídricos, mas também de suas margens e do seu entorno‖. Sendo assim, Vargas
& Júnior (2012), indagam que são poucos os cursos fluviais que ainda mantêm suas condições
naturais preservadas.
Porém, segundo Figueirêdo et al. ( 2007); Lodi et al. (2011) e Barbosa et al. (2012), além da
atividade humana, reservatórios expostos a condições climáticas extremas, como temperaturas
elevadas, resultando em evaporação intensa e precipitações irregulares, reduzindo o volume hídrico,
chegando a tornar-se eutrofizados, dificultando a utilização deste recurso.
Diante deste fato, Rodrigues, Castro & Malafaia (2010) relatam que se torna de fundamental
importância o monitoramento das alterações ambientais, seja realizado através de métodos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 500


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

físico-químicos usuais, por uso de organismos bioindicadores ou por meio de ferramentas


auxiliares, como os protocolos de avaliação rápida. Avaliações rápidas têm-se tornado um método
bastante utilizado para avaliar ecossistemas aquáticos, os recursos metodológicos dos protocolos de
análise ambiental possibilitam uma fácil interpretação da paisagem permitindo quantificar e
qualificar o ambiente quanto ao nível de impacto sofrido.
De acordo com Oliveira & Nunes (2015), estes protocolos avaliam a estrutura e o
funcionamento dos ecossistemas aquáticos contribuindo com o manejo e a conservação, tendo como
base parâmetros de fácil entendimento e de utilização simplificada. Conforme Callisto et al. (2002)
e Vargas & Júnior (2012), essa avaliação consiste em uma inspeção visual do ambiente que
substitui ou que agrupam indicadores aos resultados das tradicionais análises físico-químicas e
bacteriológicas de qualidade da água.
Apesar de o uso dos protocolos não ser muito difundido no Brasil, podem ser destacados os
trabalhos de Callisto et al. (2002); Rodrigues et al. (2008); Rodrigues & Castro (2008); Oliveira &
Nunes (2015); Brito (2016); Radtke (2015); Rodrigues, Castro & Malafaia (2010) e Vargas &
Júnior (2012).
O presente estudo teve como objetivo, avaliar a qualidade ecológica da lagoa urbana do
município de Campo Maior – Piauí, identificando o nível de degradação ambiental através da
aplicação de um Protocolo de Avaliação Rápida de Impactos Ambientais para Açudes.

METODOLOGIA

A lagoa urbana ou Açude Grande como é popularmente chamado, está inserido dentro do
perímetro urbano do município Campo Maior no Estado do Piauí (Lat.4°50‘00.47‖S Long.
42°45‘51.69‖O) e nas margens da BR 343 (Figura 1). De acordo com Silva, (2003) o lago possui
até 2,5 metros de profundidade, ausência de mata ciliar e com margem que chega em torno de dois
metros anteposta a passarela que é utilizada para caminhadas.
O estudo foi realizado no dia 05 de setembro de 2014, pela manhã no período seco, em três
pontos distintos (P1, P2 e P3) o qual foi executado através do Protocolo de Avaliação Rápida de
Impactos Ambientais para Açudes proposto por Melo Júnior, Feitosa & Santos (2013) (Quadro 1).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 501


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1. (A) Localização da Lagoa Urbana de Campo Maior-PI. (B) Imagem de satélite da Lagoa Urbana e
localização dos pontos de avaliação (P1, P2 e P3). (C) Imagem Fotográfica da Lagoa Urbana de campo
maior.

Quadro1. Protocolo de avaliação ambiental para açudes urbanos e periurbanos, proposto por Melo Junior,
Feitosa e Santos (2013).
Protocolo de Avaliação Ambiental para Açudes Urbanos e Periurbanos
Identificação do Ambiente
Nome do Ambiente: Localização Geográfica Lat.:
Long.:
Data: ___/___/___ Hora ___:___
Tempo (situação do dia):_________________________
Parâmetros Pontuação
5 Pontos 3 Pontos 2 Pontos 0 Pontos
Ausente Origem rural (criação Origem urbana Origem Urbana –
Antrópicas
Alterações

de animais/pequenas (lixo doméstico e


01 plantações com residencial/esgo- industrial
utilização de to). (lixo industrial
agrotóxicos). /esgoto).
Presença de Alterações causadas Alterações causadas Vegetação natural
vegetação natural pelo homem: vegetação pelo homem, ausente/ água de
no local por onde natural com sinais de caracteristicamente cor escura,
(Entrada de água no açude)

a água entra no desmatamento, todavia bem evidenciadas: característica de


açude/ água sem ainda com locais de presença de lixo, lama preta. Água
alterações ambiente remanescente esgoto e com
causadas pelo com características desmatamento. características de
Afluente

02 homem, sem naturais conservadas. Afluente com intensamente


indícios de indícios de poluição poluídas por
poluição. por efluentes fontes urbanas,
urbanos, industriais industriais e ou
ou agropecuários. agropecuárias,
caracterizada por
forte odor de ovo
podre.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 502


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ausências ou Pequenos e ou médios Grandes e médios Toda região


pequenos bancos bancos de macrófitas bancos de urbanizada (leito
de macrófitas localizados em regiões macrófitas transformado em
aquáticas/ água diferentes a saída de localizados a saída canal e presença
aparentemente água do açude/ água de água do de residências.); 2
(Saída de água do açude) limpa/pouco aparentemente limpa, açude/efluente com – o local de saída
material em porém apresentando aspecto de alteração de água do açude
suspensão. levemente mau cheiro (água com presença está coberta por
(cheiro de ovo podre). de lixo/ presença de macrófitas
Efluente

03 mau cheiro) muito aquáticas; 3 –


material em ocorrência de
suspensão de efluente
origem orgânica ou nitidamente
não. poluído
caracterizado por
forte odor de ovo
podre e muito
material em
suspensão.
Vegetação natural Reflorestada/em Campo de Vegetação natural
Tipo de Vegetação

Reflorestamento/em pastagem/Agricultu ausente/ presença


Regeneração com ra/ de urbanização
vegetação arbustiva Monocultura. (prédios,
04
secundaria presente em residências,
partes das margens. comércios,
indústrias,
parques).
Total Parcial (clareiras Semiparcial Ausentes
Cobertura

da Mata
Vegetal

presentes em meio à (pequenos trechos


Ciliar

05
mata ciliar). com remanescentes
de mata Ciliar).
Pequenos bancos Macrófitas distribuídas Macrófitas Cobertura total do
macrófitas no açude.

de macrófitas na margem do açude e distribuídos na açude por


relação presença de
Estado trófico em

distribuídos por pequenos bancos margem do açude e macrófitas.


toda a margem do situados longe das grandes e médios
06 açude. margens do açude, bancos situados
localizados mais no longe das margens
centro do ambiente. do açude,
localizados mais no
centro do ambiente.
Água clara, com Água com coloração de Água com Água totalmente
Cor da água em relação a presença de material em

pouco material tons claros da cor verde coloração turva de cor verde
em suspensão, ou marrom. Água com esverdeada ou escuro ou marrom
quando observado pouco material em amarronzada, escuro, devido a
suspensão (orgânica e/ou inorgânica)

contra a luz. suspensão e todavia ainda processos naturais


translucida, quando translúcida quando e por fatores
observado contra a luz. observada contra a antrópicos,
Material em suspensão luz, bem como processos
de origem autóctone apresentando erosivos, despejos
07 em função da formação material em de efluentes
do solo local e/ou suspensão bem (rurais,
evolução do estado evidenciado. domésticos,
trófico. Material em industriais).
suspensão de
origem autóctone
e/ou alóctone, como
também, por
evolução do estado
trófico.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 503


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ausente. Presente em pequeno Presente, com Presente, em


porte, com remoção médio porte, com grande porte, com

Erosão próxima e/ou nas margens do açude e


parcial da camada remoção total da remoção total de
superficial do solo, solo camada de solo camadas
húmico (causada por superficial, superficiais de
assoreamento do leito processos naturais, apresentando solo,
erosão hídrica e ou indícios de apresentando
erosão eólica). formação de voçorocas de
pequenas voçorocas médio e grande
08
causada por ação porte, causada por
antrópica (práticas ação antrópica
de cultivo agrícola, (práticas de
pastagens, cultivo agrícola,
exploração de pastagens,
madeira e/ou lenha exploração de
e construção civil). madeira e/ou
lenha e
construção civil).
Odor ausente. Odor ausente no Odor presente em Odor forte
período chuvoso. No uma das margens presente na
Odor da Água

período seco odor (cheiro de ovo maioria das


09 presente em uma das podre e ou óleo e margens
margens (cheiro de ovo combustível). (cheiro de ovo
podre e ou óleo e podre e ou óleo e
combustível). combustível).
Vestígios de Vestígios de vegetação Vestígios de Vestígios de
caracterizados a partir da zona eulitorânea

vegetação (macrófitas/briófitos/pt vegetação vegetação


Possíveis tipos de Fundo do Açude

(macrófitas/briófit eridófitos e plantas (macrófitas/com (presença de


os/pteridófitos e superiores) com sinais sinais moderados de macrófitas/alteraç
plantas de alterações antrópicas alterações ões antrópicas
até a zona sublitorânea
(período de estiagem).

superiores) sem (lixo – resíduos antrópicas (lixo – (lixo – resíduos


sinais de sólidos). resíduos sólidos). sólidos).
alterações Sedimento mesclado Sedimento Sedimento
10
antrópicas (lixo – com características mesclado com orgânico de cor
resíduos sólidos). inorgânicas características escura e forte
Sedimento com (predomínio de cor de inorgânicas e com odor de ovo
características terra ou barro) e com, maior percentual de podre.
inorgânicas (cor menor percentual de matéria orgânica de
de terra ou barro). matéria orgânica de cor cor escura e forte
escura e fraco odor de odor de ovo podre.
ovo podre.
FONTE: MELO JUNIOR, FEITOSA e SANTOS 2013.

O protocolo de avaliação foi aplicado in Locus (campo) e verificado por imagens do software
Google Earth, sendo estes utilizados para comparar os resultados quantitativos. Os parâmetros
considerados no protocolo foram pontuados com os números 5, 3, 2 e 0 com base na observação das
condições do ambiente. O somatório dos resultados obtidos foram enquadrados respectivamente nas
matrizes de classificação quantitativa e qualitativa (Quadro 02), das quais foi possível classificar o
nível de qualidade ambiental do ecossistema.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 504


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Quadro 2. Matriz do protocolo de avaliação rápida. Classificação do nível de impacto do açude.


MATRIZ DE CLASSIFICAÇÃO DO NÍVEL DE IMPÁCTO – PERÍODO SECO
QUANTITATIVO QUALITATIVO
40 – 31 Conservado
30 – 20 Alterado
19 – 11 Impactado
10 - 00 Fortemente Impactado
FONTE: MELO JUNIOR, FEITOSA e SANTOS 2013.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Ponto Amostral 1 obteve um total de 17 pontos, os Pontos Amostrais 2 e 3 obtiveram 20


pontos resultando na média de classificação quantitativa de 19 pontos (Quadro 3),classificando
qualitativamente a matriz in lócus como Ambiente Impactado. A estatística descritiva (Quadro 04)
revela a semelhança entre os pontos de amostragem na lagoa revelando que o ambiente não possui
área com menor impacto e com possibilidade de resiliência e ou recuperação das perturbações
sofridas. O teste ANOVA Tukey comp=0.1663, revela a semelhança entre os pontos analisados.

Quadro 3.Resultado Quantitativo das Análisesdos Parâmetros avaliados para a Lagoa Urbana (Açude
Grande) - Campo Maior – Piauí – setembro 2014.
PONTUAÇÃO
LAGOA URBANA
IMAGEM DE SATÉLITE
(Açude Grande)
P1 P2 P3 P1 P2 P3
1 2 2 2 0 0 0
2 2 2 2 2 2 2
3 2 2 2 0 0 0
4 0 0 0 0 0 0
5 0 0 0 0 0 0
6 2 3 3 3 3 3
7 2 2 2 2 2 2
8 2 2 2 2 2 2
9 5 5 5 - - -
10 0 2 2 - - -
Total 17 20 20 9 9 9

Quadro 4.Estatística descritiva da pontuação atingida na aplicação do protocolo.


Local de Valor Média Desvio Coeficiente de
amostragem total padrão (±0) variação (%)
P1 17 1,7 1,5 87.91%
P2 20 2,0 1,4 70.71%
P3 20 2,0 1,4 70.71%

Trabalhos realizados por Nogueira (2014); Melo Júnior, Feitosa & Santos (2013), em açudes
do Ceará e da Paraíba, obtiveram resultados semelhantes para as observações em campo, onde a
classificação do nível de impacto ambiental variou entre ambiente alterado e impactado.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 505


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

As alterações ambientais encontradas no Lago são de origem urbana. De acordo com


Mucelim, (2008) ―á medida que a cidade se expande, freqüentemente, ocorrem impactos com o
aumento da produção de sedimentos pelas alterações ambientais das superfícies e produção de
resíduos sólidos; deterioração da qualidade da água pelo uso nas atividades cotidianas, e lançamento
de lixo, esgoto e águas pluviais nos corpos receptores‖.
Silva (2014) analisando o Açude Grande (Lagoa urbana) verificou condições semelhantes
aos impactos observados através do protocolo, portanto, corroborando os nossos resultados.O
mesmo trabalho retrata através de resultados obtidos nas análises de água que é possível afirmar que
as águas do Açude Grande estão comprometidas sanitariamente, limitando, assim, os seus usos
preponderantes, como águas de abastecimento para consumo humano, recreação de contato
primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho.
Quanto ao comportamento humano para com a lagoa Silva (2014) relata que o em torno do
açude apresenta lixo disposto nas suas margens e dentro da água, bem como, menciona o despejo
esgoto de efluentes urbanos in natura diretamente na água em alguns pontos ao longo das margens.
Podemos observar neste trabalho que os impactos ambientais são provindos da urbanização
do entorno do lago. No trabalho realizado por Oliveira & Mello Júnior, (2014) verificaram que os
impactos ambientais no Açude Cumbé são decorrentes de ações ou atividades humanas (Sánchez,
2008).
Apesar de se tratar de um método empírico de avaliação, segundo Firmino et al. (2011), os
protocolos de avaliação rápida podem ser considerados instrumentos de diagnóstico ambiental
objetivos e de baixo custo, porém sem perda da qualidade da informação.
De modo geral, independentemente do método utilizado, o monitoramento das condições
estruturais e funcionamento dos ecossistemas aquáticos continentais permitem aos pesquisadores
entendê-los e, assim, desenvolver ações de manejo que possam os proteger (Callisto et al., 2001).
O protocolo utilizado demonstrou ser uma boa ferramenta de monitoramento, capaz de
auxiliar as demais ações de manejo realizadas pelas agências públicas e privadas que atuam no
monitoramento dos recursos hídricos.

CONCLUSÃO

Os resultados demonstram que o ambiente aquático encontra-se impactado, bem como, que
a urbanização é fator de risco para a manutenção da qualidade ecológica dos ecossistemas,
especialmente, pela quebra das interações do corpo aquático com sua bacia de captação e,
especialmente, o aporte de efluentes urbanos, o qual representa a principal fonte pontual de
impactos nessas lagoas, causando o desenvolvimento de eutrofização artificial, alterando
rapidamente a qualidade ecológica do ambiente.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 506


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, J.E.L.; MEDEIROS, E.S.F.; BRASIL, J.; CORDEIRO, R.S.; CRISPIM, M.C.B. &
SILVA, G.H.G. Aquatic systems in semi-aridBrazil: limnologyand management. Acta Limnol.
Bras. 24(1): 103-118. 2012.

BRITO, M.T.S; NASCIMENTO FILHO, S.L; VIANA, G.F.S & MELLO JÚNIOR, M. Aplicação
de um Protocolo de Avaliação Ambiental Rápida em reservatórios do semi árido Brasileiro.
Brazilian Journal of aquatics ciencean d technology – BJAST, 20 (1). 2016.

CALLISTO, M.; FERREIRA, W.; MORENO, P.; GOULART; M.D.C.; PETRUCIO, M. Aplicação
de um protocolo de avaliação rápida da diversidade de habitats em atividades de ensino e
pesquisa (MG-RJ). Acta Limnologica Brasiliensis. 14: 91-98.2002.

CALLISTO, M.; MORETTI, M. & GOULART, M. Macroinvertebrados bentônicos para avaliar a


saúde de riachos. Rev. Bras. Recur. Hídr. 6(1): 71-82. 2001.

FIGUEIRÊDO, M.C.B.; TEIXEIRA, A.S.; ARAÚJO, L.F.P.; ROSA, M.F.; PAULINO, W.D.;
MOTA, S. & ARAÚJO, J.C. Avaliação da vulnerabilidade ambiental de reservatórios à
eutrofização. Eng. Sanit. Ambient. 12(4): 399-409. 2007.

FIRMINO, P.F.; MALAFAIA, G. & RODRIGUES, A.S.L. Diagnóstico da integridade ambiental


de trechos de rios localizados no município de Ipameri, sudoeste do estado de Goiás, através de
um protocolo de avaliação rápida. Braz. J. Aq. Sci. and Tech. 15(2): 1-12. 2011.

LODI, S.; VIEIRA, L.C.G.; VELHO, L.F.M.; BONECKER, C.C.; CARVALHO, P. & BINI, L.M.
Zooplankton Community Metrics as Indicators of Eutrophication in Urban Lakes.Nat. Conserv.
9(1): 87-92. 2011.

MELO JÚNIOR, H. do N.; FEITOSA,I.M.M.; SANTOS,T.M.L. dos. Protocolo de avaliação


rápida de impactos ambientais para açudes: uma proposta de educação ambiental. In: Anais do
Congresso Nascional de Educação Ambienetal e o Encontro Nordestino de Biogeografia. 3° e 5°.
João Pessoa- PB, Universitária. P.291-301. 2013.

MUCELIN, C.A; BELLINI, M. Lixoe impactos ambientais perceptíveis no ecossistema urbano.


Sociedade & Natureza. Uberlândia, 20(1): 111-124. 2008.

NOGUEIRA,C.H.O. Avaliação da qualidade ecológica do lago Juavile- Juazeiro do Norte Ceará.


Monografia (bacharelado em ciências biológicas) – Universidade Regional do Cariri , Crato -
CE, 2014

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 507


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

OLIVEIRA, V. G. ; MELO-JÚNIOR, H. N. Prática de educação ambiental realizada com alunos


do primeiro ano do ensino médio no açude do cumbe em barro-ceará.Trabalho de Pós
Graduação, 2014.

OLIVEIRA, F.M; NUNES, T.S. Aplicação de Protocolo de Avaliação Rápida para caracterização
da qualidade ambiental do manancial de captação (Rio Pequeno) do município de Linhares, ES.
Natureza Online, 2015. 13 (2): 86-91. Disponível em: <http://www.naturezaonline.com.br>
Acesso em: 16 de outubro de 2017.

RODRIGUES, A. S. L.; CASTRO, P. T. A. Protocolos de avaliação rápida: instrumentos


complementares no monitoramento dos recursos hídricos. Revista Brasileira de Recursos
Hídricos, v. 13, n. 1, p.161-170, 2008.

RODRIGUES, A.S.L.; CASTRO, P.T.A. & MALAFAIA, G.Utilização de protocolos de avaliação


rápida de rios como instrumentos complementares na gestão de bacias hidrográficas envolvendo
aspectos da geomorfologia fluvial: uma breve discussão. Enciclopédia Biosfera. 6(11): 1-9.
2010.

SÁNCHEZ, L. H. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de


Textos, 495 p. 2008.

VARGAS, J.R.A; JÚNIOR, P.D.F . Aplicação de um Protocolo de Avaliação Rápida na


Caracterização da Qualidade Ambiental de Duas Microbacias do Rio Guandu, Afonso Cláudio,
ES. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, 17: 161-168. 2012.

SILVA, M. P.C. Educação ambiental como tema gerador do uso sustentável no açude Grande de
Campo Maior-PI.Monografia (Especialização em Educação Ambiental e Turismo) ─
Universidade Estadual do Piauí. 2003.

SILVA, H.B; CÂMARA, F. M. M. Qualidade da água do Açude Grande na Cidade de Campo


Maior-PI. XI Congresso Nacional de Meio Ambiental de Poços de Caldas. Poços de Caldas-MG.
2014.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 508


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A EXPANSÃO IMOBILIÁRIA SOBRE ÁREAS DE AMORTECIMENTO E SUAS


CONSEQUENCIAS NA DRENAGEM URBANA – UM ESTUDO DE CASO NO
BAIRRO BAVIERA DE QUIXADÁ-CE

Gilson de Oliveira CLAUDINO


Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária – Instituto Federal do Ceará (IFCE)
gilson.claudino@gmail.com
Henrique Áquila Ferreira LEMOS
Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária – IFCE
henriqueaquilafl@gmail.com
João André Ximenes MOTA
Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária – IFCE
jandrexm@gmail.com
Nara Gabriela de Mesquita PEIXOTO
Professora Temporária do Departamento de Arquitetura e Urbanismo IFCE
nara.gabriela.mesquita@gmail.com

RESUMO
É notório que a taxa de urbanização nas últimas décadas tem crescido exponencialmente. Isso pode
ser explicado pelo êxodo rural atrelado às vantagens encontradas em um centro urbano, como
educação superior, oportunidades de emprego, entretenimentos e melhores serviços de saúde.
Devido a esses e outros motivos, a busca por moradias fez o mercado imobiliário ter um rápido
crescimento, que ocorre muitas vezes sem considerar a importância do meio ambiente e de
infraestruturas básicas de uma cidade, como a drenagem urbana. A partir desse contexto, o presente
artigo tem o intuito de analisar os impactos ambientais urbanos que um loteamento instalado na
cidade de Quixadá-CE causou na drenagem urbana dos bairros Alto São Francisco e Baviera.
Foram realizadas visitas ao local, conversas com moradores, registros fotográficos, análise temporal
de imagens de satélite e utilização da ferramenta de perfil de elevação topográfico disponível pelo
software Google Earth PRO (2017). O empreendimento instalou-se próximo ao rio Sitiá, em uma
área que no período chuvoso servia como amortecimento de águas pluviais urbanas. Para isso, toda
a área de amortecimento foi soterrada e não houve o nivelamento do solo para fins de drenagem, o
que fez com que as águas pluviais oriundas dos bairros próximos não conseguirem mais escoar até o
rio Sitiá, causando diversos alagamentos e transtornos aos moradores. Foi constatada a necessidade
de novas obras de infraestrutura hídrica e de saneamento nos dois bairros, bem como um maior
controle da expansão imobiliária sobre áreas de interesse ambiental.
Palavras Chave: Águas Pluviais, Crescimento Populacional, Planejamento Ambiental Urbano.

ABSTRACT
It is notorious that the rate of urbanization in the last decades has grown exponentially. This can be
explained by the rural exodus tied to the advantages found in an urban center, such as higher
education, employment opportunities, entertainment and better health services. Due to these and
other reasons, the search for dwelling has made the real estate market have a rapid growth where it
grows often without regard to the importance of the environment and basic infrastructure of a city
such as urban drainage. From this context, the present article aimed to analyze the urban
environmental impacts that a settlement, located in the city of Quixadá-CE, caused in the urban

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 509


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

drainage of the Upper São Francisco and Baviera neighborhoods. Visits, conversations with
residents, photographic records, temporal analysis of satellite images and use of the topographic
elevation profile tool available by Google Earth PRO software (2017) were carried out. The
enterprise was installed near the river Sitiá, in an area that during the rainy season served as
rainwater cushioning. In order to do so, the entire damping area was buried and there was no
leveling of the ground for drainage purposes, which caused the rainwater coming from the
neighboring districts to no longer flow to the river Sitiá, causing several floods and disturbances to
the residents . Therefore, it was noticed that there was no concern on the part of the city hall that the
area used for the subdivision served as cushioning in the rainy season as well as there was no
inspection for soil leveling, and now new infrastructure and water infrastructure works are needed
In the two neighborhoods, as well as greater control of real estate expansion over areas of
environmental interest.
Keywords: Rainwater, Population Growth, Urban Environmental Planning.

INTRODUÇÃO

Admitindo a complexidade do que é cidade e todas as interações que a fazem, nos últimos
anos cresceu rapidamente o interesse quanto as questões de caráter ambiental e sanitário. Em
especial àquelas referentes à drenagem urbana, sendo diretamente ligada a problemas cada vez mais
recorrentes como alagamentos e inundações, muitas vezes causados pelo crescimento urbano
desordenado (TUCCI, 2002).
Tem-se a partir da metade do século XX o desenvolvimento urbano acelerado e deficiente de
ações de controle do espaço urbano, gerando diversos impactos ambientais nos ecossistemas
terrestre e aquático. A população urbana é afetada por meio de inundações, enfermidades e a perca
da qualidade de vida (TUCCI, 2005).
Trazendo a questão dos problemas de drenagem urbana para as cidades do semiárido
brasileiro, em que o regime pluviométrico se concentra em apenas quatro meses do ano
(MARENGO et al., 2011), a escassez encontrada na maior parte do ano contrasta com as ocasionais
inundações urbanas, o que juntamente com situações de racionamento de água potável forma um
dos grandes paradigmas das cidades brasileiras (MORUZZI, 2007).
No entanto, torna-se impossível deter ou desacelerar o crescimento de uma cidade em franco
desenvolvimento. O que pode ser feito é o devido planejamento, ambiental e urbano, evitando que a
urbanização aconteça de maneira inadequada, através de medidas preventivas e organizacionais em
um plano diretor participativo coerente com as legislações vigentes, como a Lei 11.445 de 2007,
que estabelece as diretrizes para o saneamento básico, a qual engloba a drenagem urbana (BRASIL,
2007; TUCCI & COLLISCHONN, 1998; SOUZA et al., 2005).
O centro urbano de Quixadá, não diferente de outras cidades brasileiras, enfrenta diversos
desafios quanto à drenagem urbana. Uma vez que o afloramento rochoso de grande parte da cidade
é próximo à superfície, destacando-se os denominados Monólitos, bem como tendo a presença de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 510


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

lagoas e de um rio urbano, a implantação de novos loteamentos que empregam aterramento para
nivelamento de solo tem alterado a dinâmica da microdrenagem local.
Quixadá é um município brasileiro pertencente ao Sertão Central do estado do Ceará, que
possui uma população estimada para o ano de 2017 de 86.605 habitantes, e densidade demográfica
de 39,91 hab/km² (IBGE, Censo 2010). Segundo o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do
Ceará (IPECE, 2016), a cidade possuía uma taxa de urbanização no ano de 2010 de 71,32%, porém
nos dias atuais esse número provavelmente ainda é maior, visto Quixadá ser conhecida como uma
cidade universitária, onde recebe diversos estudantes do estado do Ceará. Quanto ao seu regime
pluviométrico, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME,
2016), as chuvas estão concentradas nos meses de fevereiro a abril com média anual de 838,1
milímetros.
O presente trabalho teve como objetivo analisar o impacto da expansão imobiliária na
drenagem urbana de Quixadá. Foi usado como referência um loteamento no bairro Baviera que foi
instalado em uma área de lagoas, na qual serviam de amortecimento de águas pluviais urbanas.

METODOLOGIA

A pesquisa baseou-se em um diagnóstico que se deu a partir de visita a campo, registros


fotográficos, análise temporal de imagens de satélite e também do perfil de elevação topográfico
disponível pelo software Google Earth PRO (2017), bem como conversas com moradores que
residem próximo ao loteamento.
Para definir a área de influência do empreendimento foram levados em conta diversos
fatores e estágios de operação do empreendimento. Foram analisados aspectos relevantes,
considerando a Área de Preservação Permanente (APP) referentes ao Rio Sitiá, que está localizado
nas proximidades do loteamento. Deste modo, o prognóstico desse impacto, bem como a análise da
influência do empreendimento foram importantes para definir os limites geográficos de cada área de
influência.
No Loteamento Novo Baviera, com base no diagnóstico, definiu-se três áreas de influência:
 ADA – Área Diretamente Afetada: corresponde a área que suporta o empreendimento, onde
são realizadas as atividades físicas de operação e instalação.
 AID – Área de Influência Direta: após o diagnóstico, definiu-se a área de influência direta,
na qual são os dois bairros no entorno do empreendimento, bairro Alto São Francisco e
Baviera, bem como a área de APP do Rio Sitiá.
 AII – Área de Influência Indireta: definiu-se como área de influência indireta toda a cidade
de Quixadá, que suporta os impactos da implantação do empreendimento, bem como a bacia
hidrográfica que o município está inserido.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 511


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Todas as áreas de influência foram georreferenciadas em consonância com os requisitos do


Art. 4º, item III da Resolução CONAMA Nº. 01/86, que estabelece que devam ser definidos os
limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de
influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza.
A Área Diretamente Afetada (ADA) corresponde a porção onde as atividades de
planejamento, implantação e operação do empreendimento foram consolidadas fisicamente. Na
mesma foram feitas alterações físicas a fim de tornar a área suscetível a implantação do
empreendimento.
A Área de Influência Direta (AID) do empreendimento corresponde a região no entorno da
implantação física do empreendimento. A Figura 1 indica as áreas correspondente às poligonais
citadas.

Figura 1: Em branco: Poligonal da Área Diretamente Afetada (ADA); Em azul: Poligonal da Área de
Influência Direta (AID). Fonte: Adaptado do Google Earth PRO, 2017.

Nesta AID foram considerados também os aspectos ambientais presentes, visto que é uma
área protegida por lei devido a presença do corpo hídrico, bem como sua proximidade com a ADA.

LEGISLAÇÃO URBANA AMBIENTAL

Quanto às legislações federais, foram consideradas relevantes para o artigo a Constituição


Federal, Estatuto das Cidades, Política Nacional de Saneamento Básico e a Política Nacional do
Meio Ambiente. As legislações consideradas na esfera municipal foram: Lei nº 1.905 de 14 de abril
de 2000, que dispõe sobre o Código de Obras e Posturas do município de Quixadá; Lei nº 1.904 de
14 de abril de 2000, dispõe sobre o parcelamento, uso e ocupação do solo do município de Quixadá;
e, Lei nº 1.903 de 14 de abril de 2000, que institui o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de
Quixadá (PDDU).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 512


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Com a Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo de Quixadá, o loteamento classifica-se


em uma área que está inserida entre a Zona Residencial Especial (ZRE), onde essa zona é uma área
de uso predominantemente residencial, de baixa densidade, que se avizinha a algumas zonas de
proteção ambiental, e a Zona de Proteção Ambiental 1 (ZPA1), na qual se destina a proteger os
recursos hídricos nela contidos contra poluição, assoreamento, uso e ocupação indevidos, além de
preservar sua capacidade drenante no território urbano e os remanescentes de mata ciliar ainda
existentes em suas margens.

RESULTADOS

Anteriormente à implantação do empreendimento, a área estudada continha diversas lagoas,


servindo estas, como zonas de amortecimento para o rio Sitiá. Essas áreas de amortecimento
recebiam grande parte das águas pluviais do bairro Alto São Francisco e Baviera, o que garantia a
drenagem pluvial dos bairros. Em entrevista aos moradores da região, os mesmos relataram que
anos atrás não existia a problemática de alagamentos nos bairros, devido a existência das lagoas.
Como se observa na Figura 2, no ano de 2008, pode ser percebido a presenças das lagoas
quando ainda não havia intervenção do empreendimento.

Figura 2: Evolução da ocupação urbana ao longo do tempo: Presença de lagoas no ano de 2008 na área de
estudo (A); Início da separação de lotes na parte Norte do empreendimento no ano de 2009 (B); Residências
construídas na zona Nordeste do empreendimento no ano de 2013 (C); Atual desaparecimento de todas as
lagoas na área empreendida para a construção de residências (D). Fonte: Adaptado do Google Earth PRO,
2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 513


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Já no ano de 2009, houve o início de separação de lotes em quarteirões, apenas na parte


norte do empreendimento, porém, segundo a Figura 2, pode-se ainda notar a presença das lagoas na
área. No ano de 2013 foram construídas residências na área nordeste do loteamento. Já em 2016,
com o avanço do loteamento, as lagoas mais próximas ao rio Sitiá foram parcialmente aterradas,
conforme observado na Figura 3.

Figura 3: Aterramento parcial das lagoas próximas ao rio Sitiá. Fonte: Autor, 2016.

Por fim, de 2016 a 2017, houve um crescimento exponencial em construção de residências


no empreendimento, fazendo com que todas as lagoas de amortecimento do bairro fossem aterradas
para as construções. A Figura 2 demostra o uso total da área do empreendimento no ano de 2017.
Em consequência do aterramento desordenado do empreendimento na ADA, houve como
resultado a alteração natural da drenagem nas ruas da AID. Antes do empreendimento, a drenagem
ocorria da AID para as lagoas da ADA e posteriormente para o Rio Sitiá, isto é, a ADA
correspondia a uma zona de amortecimento, com lagoas que recebiam e amorteciam a drenagem
das ruas em cota superior. Após o aterramento das lagoas, não foram executados procedimentos de
nivelamento do solo, desconsiderando assim a AID e suas respectivas necessidades de drenagem, o
que resultou em picos de alagamento ou áreas de alagamento críticos (AAC), conforme demostrado
na Figura 4.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 514


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 4: Alagamentos na AID. Fonte: Autor, 2017.

As AAC estão cercadas de zonas de cotas altimétricos maiores, o que favorece a formação
dos acúmulos de água. Ainda, existe outro fator desfavorável à AAC, que é a inexistência de
calçamento das ruas, onde as mesmas são em areia prensada. Devido ao acúmulo das águas pluviais
e as péssimas condições de drenagem, o tempo de detenção hidráulica nas ruas é maior,
favorecendo o desprendimento do solo, o que tem favorecido a presença de buracos, veículos
atolados em solo desprendido e presença contínua de poças de água, impossibilitando trânsito na
mesma.
Após levantados estes fatores, foram cruzados os dados com o perfil de elevação disponível
pelo Google Earth PRO, comprovando a real existência da AAC, como representa a Figura 5.

Figura 5: Perfil de elevação do solo em uma Área de Alagamentos Críticos. Fonte: Adaptado do Google
Earth PRO, 2017.

Na AAC, representada pela Figura 5, não há presença de instalações de esgoto sanitário. O


mesmo é direcionado às galerias pluviais competindo diretamente com as águas pluviais,
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 515
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ocasionando um aumento na vazão sujeita à drenagem. Essa vazão cria zonas de águas inertes, ou
seja, não possuem locais para escoar, formando ―lagoas‖ nas ruas. Esse aspecto ambiental gera
vários impactos nas moradias da AAC, como: retorno de efluente líquido pelas instalações
sanitárias, invasão de água pluvial nas casas, ocorrência de agentes patogênicos e ruas
intransitáveis.
Como relatado anteriormente, a construção de residências no empreendimento bem como
sua expansão total sobre as lagoas ocorreu dos anos de 2013 a 2017, anos estes que fazem parte de
uma das maiores secas no estado do Ceará, ou seja, devido ao rio Sitiá ser intermitente e a
ocorrência de poucas precipitações nestes anos, houve a seca total do rio e lagoas, o que facilitou a
expansão do empreendimento sobre as áreas de interesse ambiental.

CONCLUSÃO

Após o embasamento, percebe-se a problemática da área de estudo bem como os problemas


diretos e indiretos que estão sendo causados na região. Também, foi notório a falta de percepção e
fiscalização, da população e dos órgãos públicos, que o loteamento estava sendo implantado em
uma área que servia como amortecimento no período chuvoso.
Por meio de legislações pertinentes e o Plano Diretor Municipal, podem ser propostas
medidas e instrumentos aplicáveis afim de minimizar a problemática acerca dos impactos
ambientais urbanos na área do empreendimento. Como medida imediata, é necessário a melhoria
das condições de infraestrutura urbana, na microdrenagem e macrodrenagem dos bairros Alto São
Francisco e Baviera, que pode ser trabalhado através de novas redes de esgotamento sanitário, para
evitar que os efluentes domésticos não sejam despejados na rede de drenagem; maior
dimensionamento da rede de drenagem; programas de educação ambiental aos moradores para que
os mesmos descartem seus resíduos sólidos de maneira correta, para que esses resíduos não
obstruam as bocas de lobo, e atrelado a isso haver eficácia na coleta de resíduos sólidos por parte da
prefeitura.
Além disso, deve haver um maior ordenamento e fiscalização no avanço da ocupação
humana sobre áreas de amortecimento e sobre o leito do rio Sitiá, sendo necessário medidas de
preservação ambiental nessas áreas, evitando assim processos de assoreamento e soterramento. Por
fim, é necessário haver uma atualização no instrumento de zoneamento da cidade, visto ser do ano
de 2000, aumentando as áreas de interesse ambiental para evitar casos como demostrado nesse
trabalho bem como futuros.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 516


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BRASIL. Lei n.º 11.445, de 5 de Janeiro de 2007. Institui a Política Nacional de Saneamento
Básico.

BRASIL. Lei n.º10.257, de 10 de Julho de 2001. Estatuto da Cidade.

BRASIL. Lei n.º 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Institui a Política Nacional do Meio Ambiente.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional de Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução CONAMA nº 01, de 23 de janeiro de 1986. – In: Resoluções, 1986. Disponível em: <
http://www.mma.gov.br/port/conama/legislacao/CONAMA_RES_CONS_1986_001.pdf>.
Acesso em: 14. ago. 2017.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Censo 2010. Disponível em: <
http://censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso em: 12. ago. 2017.

IPECE, Perfil Básico Municipal de Quixadá – CE, 2016. Disponível em: <
http://www.ipece.ce.gov.br/perfil_basico_municipal/2016/Quixada.pdf>. Acesso em: 12. ago.
2017.

MARENGO, José A. et al. Variabilidade e mudanças climáticas no semiárido brasileiro. Recursos


hídricos em regiões áridas e semiáridas. Campina Grande: Instituto Nacional do Semiárido, p.
384-422, 2011.

MORUZZI, Rodrigo Braga. ÁGUAS URBANAS: uma abordagem integrada. Engenharia


Ambiental: Atualidades e Tendências. Anais. Guarapuava/Irati, Unicentro, 2007.

QUIXADÁ. Lei n.º 1.903, de 14 de Abril de 2000. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de
Quixadá.

QUIXADÁ. Lei n.º 1.904, de 14 de Abril de 2000. Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo do
Município.

QUIXADÁ. Lei n.º 1.905, de 14 de Abril de 2000. Código de Obras do Município.

SOUZA, Christopher Freire; TUCCI, Carlos Eduardo Morelli; POMPÊO, César Augusto.
Diretrizes para o estabelecimento de loteamentos urbanos sustentáveis. IV Encontro Nacional
de Águas Urbanas. Belo Horizonte, Brasil, 2005.

TUCCI, Carlos E. M.; COLLISCHONN, Walter. Drenagem urbana e controle de erosão. VI


Simpósio Nacional de Controle da Erosão. Presidente Prudente–SP, 1998.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 517


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TUCCI, Carlos E. M. Gerenciamento da Drenagem Urbana. Revista Brasileira de Recursos


Hídricos, v. 7. n. 1. p. 5-27. jan/mar, 2002.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 518


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

OPERAÇÃO URBANA CONSORCIADA PARA CONSTRUÇÃO DE MORADIA


POPULAR EM QUIXERAMOBIM – CE

Jeftha Amanda de Sousa e SILVA


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do IFCE
jefthamanda@gmail.com
José Marcos Marques MOURÃO
Graduando do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do IFCE
jmarcosmm1@gmail.com
Thaslane Elias TEIXEIRA
Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do IFCE
thaselias@gmail.com
Nara Gabriela de Mesquita PEIXOTO
Professora Temporária do Departamento de Arquitetura e Urbanismo IFCE
nara.gabriela.mesquita@gmail.com

RESUMO
Os vazios urbanos vêm ocasionando uma série de impactos ambientais que para serem solucionados
ou minimizados necessitam de mecanismos que possam realizar uma organização espacial da
cidade. O presente trabalho busca apresentar uma alternativa democrática para um espaço vazio
localizado no centro de Quixeramobim, cidade em expansão no Sertão Central Cearense, de forma
que seu uso cumpra a função social de espaço urbano. A cidade de Quixeramobim é a segunda
maior cidade do sertão central, com uma área de 3.275,628 km² (IPECE, 2016). Segundo dados do
IBGE (2010), possui uma população estimada em 2016 de 77.931 habitantes, onde
aproximadamente 60% encontram-se em área urbana. Nos últimos anos vem havendo um progresso
econômico com a chegada de indústrias no município. Por consequência desse crescimento houve
uma expansão da população para áreas fora da poligonal urbana. O loteamento compreendia uma
antiga área verde. O aparecimento de voçorocas ao longo do terreno ameaça atingir as vias de
transportes e comprometer a mobilidade urbana da área. As OUC se configuram como a melhor
alternativa de intervenção que busca a resolução dos problemas urbanos. A pesquisa se deu a partir
da vistoria in loco da área, juntamente com o levantamento das características gerais da
propriedade, sendo realizado um diagnóstico ambiental com foco no perfil socioeconômico da
vizinhança. Foi realizado um prognostico como proposta de intervenção para a área. A OUC que
visa construir moradia popular para de abater parte do déficit habitacional de Quixeramobim, que
segundo dados censitários, gira em torno de 1,8%, e minimizar os impactos ambientais urbanos,
além de satisfazer os interesses do proprietário, contribuem de maneira positiva no desenvolvimento
urbano. Diante do cenário que se encontra a área de estudo, é possível identificar a viabilidade da
aplicação do instrumento do estatuto da cidade como forma de garantir a função social da cidade.
Palavras-chave: Estatuto da Cidade; Planejamento Ambiental Urbano; Vazio Urbano; Função
Social.

ABSTRACT
The urban voids have been causing a series of environmental impacts that, in order to be solved or
minimized, need mechanisms that can perform a spatial organization of the city. The present work
seeks to present a democratic alternative to an void space located in the center of Quixeramobim, a
city in expansion in the Central Sertão Cearense, so that its use fulfills the social function of urban

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 519


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

space. The city of Quixeramobim is the second largest city in the central sertão, with an area of
3,275,628 km² (IPECE, 2016). According to data from IBGE (2010), it has a population estimated
in 2016 of 77,931 inhabitants, where approximately 60% are in urban area. In recent years there has
been economic progress with the arrival of industries in the municipality. As a consequence of this
growth there was an expansion of the population to areas outside the urban polygon. The lot
comprised an old green area. The appearance of gullies along the terrain threatens to reach the
transport routes and jeopardize the urban mobility of the area. The OUC are the best intervention
alternative that seeks to solve urban problems. The research was based on the on-site survey of the
area, together with the survey of the general characteristics of the property, being carried out an
environmental diagnosis focusing on the socioeconomic profile of the neighborhood. A prognosis
was proposed as an intervention proposal for the area. The OUC, which aims to build a popular
housing to reduce part of the housing deficit of Quixeramobim, which according to census data, is
around 1.8%, and to minimize urban environmental impacts, besides satisfying the interests of the
owner, contribute positively in urban development. Given the scenario that is the study area, it is
possible to identify the feasibility of applying the instrument of the city statute as a way of
guaranteeing the social function of the city.
Keywords: Statute of the City; Urban Environmental Planning; Urban Voids; Social Function.

INTRODUÇÃO

O Brasil tem vivido nas últimas décadas um acentuado fluxo migratório, em detrimento das
condições naturais, sociais e financeiras dos habitantes. Inicialmente esses movimentos
populacionais se deram da zona rural para as regiões metropolitanas, acelerando o processo de
urbanização nas cidades, tornando-as populosas e desordenadas. O processo de concentração da
produção e da riqueza e as consequentes migrações, impulsionaram a mudança das migrações
internas para as cidades de pequeno e médio porte, através da elaboração de políticas de
desconcentração urbano-regional (CLEMENTINO; DANTAS, 2012). Por consequência, o
crescimento populacional se tornou maior nos municípios do que o observado nas capitais e
metrópoles, processo denominado por Santos (1993) de desconcentração metropolitana.
Esse crescimento acelerado pegou as cidades despreparadas para suprir as necessidades
básicas de sobrevivência dos migrantes, causando uma série de problemas sociais e ambientais.
Aliado ao fator da urbanização intensa está à carência de planejamento na área de uso e ocupação
do solo, gerando a segregação social, uso informal e irregular do solo, surgimento de vazios
urbanos, problemas de saneamento básico, gerenciamento precário das áreas de risco, entre outros,
que por sua vez ocasiona uma serie de impactos ambientais urbanos.
A presença de mecanismos que delimitem o uso de terras de forma apropriada se faz
necessário para proporcionar o equilíbrio do meio ambiente e bem-estar dos cidadãos. Resultante
desta iniciativa está o Estatuto da Cidade, Lei Federal nº 10.257/2001 sobre desenvolvimento e
expansão urbana, que surgiu para assegurar a organização espacial da cidade e garantir o
desenvolvimento socioeconômico, constituindo-se como um dos maiores avanços da legislação

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 520


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

brasileira nessa área. Entre os instrumentos que o Estatuto enumera estão as Zonas Especiais de
Interesse Social – ZEIS de Vazios Urbanos, que são estratégicos para baratear e viabilizar a
produção habitacional para famílias de média e baixa renda.
O presente trabalho apresenta o município de Quixeramobim, localizado no Sertão Central
Cearense, que está passando por uma expansão territorial aonde sua área urbana está crescendo para
fora do perímetro determinado pelo Plano Diretor. Este, por sua vez, é um exemplo significativo de
cidade que possui vazios urbanos, que segundo Dittmar (2006) consistem em áreas ociosas ou ainda
conforme Freitas e Negrão (2014) são terrenos vagos ou espaços vazios encontrados no perímetro
urbano, onde são frutos da especulação imobiliária, formando um paradoxo entre grandes glebas e
pessoas sem moradia.
A área de média extensão a ser analisada dentro do município de Quixeramobim constitui-se
como um vazio urbano no Centro da cidade, onde não há nenhuma construção. Essa propriedade
torna-se um desserviço, pois acabou ficando em detrimento da valorização, do lucro, da especulação
imobiliária, fazendo com que o local perca sua função social. Em contrapartida a existência de
locais no qual há um adensamento demográfico indica a carência na gestão democrática urbana.
Sendo assim, o principal objetivo do artigo é apresentar uma alternativa democrática para um
espaço vazio localizado no Centro de Quixeramobim, de forma que seu uso cumpra a função social
de espaço urbano, assegurando assim uma sustentabilidade econômica, social e ambiental da
cidade.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

A cidade de Quixeramobim, município localizado na Mesorregião do Estado do Ceará, em


extensão territorial é a segunda maior cidade do sertão central, com uma área de 3.275,628 km²
(IPECE, 2016). Segundo dados do IBGE (2010), possui uma população estimada em 2016 de
77.931 habitantes, onde aproximadamente 60% encontram-se em área urbana. O clima da região se
caracteriza como semiárido, apresentando uma vegetação de Caatinga Arbustiva Densa e Aberta
(IPECE, 2016) e encontra-se na bacia hidrográfica do Rio Banabuiú, do qual é a fonte de
abastecimento de água da cidade. Quanto a economia ressalta-se atividades relacionadas a pecuária
extensiva, como a produção de leite. Nos últimos anos vem havendo um progresso econômico com
a chegada de indústrias no município, consequentemente inserindo mais vagas de empregos,
aumentando assim seu centro urbano. Por consequência desse crescimento houve uma expansão de
trechos da população para áreas fora da poligonal do distrito urbano.
A área tratada, localizada em frente a rodovia CE 060, possui as seguintes coordenadas
dadas em UTM, latitude 9426142.77 m S e longitude 468349.34 m E; representando uma área de
aproximadamente 260 m². Sobre o aspecto físico do local pode-se dizer que não é plano, sendo

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 521


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

caracterizado como levemente ondulado, apresentando pouca vegetação nativa ao norte, pois a
maior parte do terreno se encontra desmatado devido a construção de um loteamento, como é
apresentado na Figura 01. A supressão da vegetação, possibilita que ocorram intempéries, ou seja,
ações naturais diretamente sobre o solo descoberto, como insolação e erosão; fragilizando e
reduzindo a resistência dele.

Figura 01. Vazio Urbano no Centro da cidade de Quixeramobim. Fonte: Google Earth adaptado pelo autor.

Quanto ao uso do solo no entorno, em sua maior parte compreende moradias, localizadas
mais nas direções leste e sul. Por meio de uma observação visual as casas caracterizam-se como de
médio ou baixo porte, onde a maioria possui antenas parabólicas ou assinadas indicando também
renda média das famílias. Existe num raio menor que 500 metros a presença de pequenos
comércios, igrejas, restaurantes, posto de abastecimento, hotel, dentre outros estabelecimentos;
possibilitando o lazer, a crença e o tráfego de transportes. Analisando os equipamentos urbanos
próximos a área pode-se destacar escolas (escola profissionalizante, liceu), serviços de saúde (samu,
posto), serviço de transporte (rodoviária) e delegacia. Além disso há a presença de algumas
fábricas, principalmente a de calçados ao norte, que gera a maior parte dos empregos da cidade. O
terreno definido como um vazio urbano, devido possuir grande número de estabelecimentos e
equipamentos urbanos no seu entorno, além dos conjuntos habitacionais, conta com uma
infraestrutura de água, esgoto e energia que agrega valor em todo a sua extensão, consequentemente
favorecendo a especulação imobiliária local.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 522


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A região segundo o zoneamento do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do município


- PDDU, se encontra na zona de uso misto, residencial de baixa densidade e área de preservação.
Sendo assim pode considerar que a área pode ser submetida a qualquer um dos usos, configurando
por sua vez maior valor ao terreno (PREFEITURA DE QUIXERAMOBM, 2017).

IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS IDENTIFICADOS

Tendo em vista a complexidade de definir o termo meio ambiente e que qualquer atividade,
antrópica ou não, gera impactos dos mais variados tipos no meio ambiente, os impactos que serão
descritos aqui serão aqueles de maior significância e que serão objeto dessa pesquisa.
O loteamento que corresponde a área de estudo, compreendia uma antiga área verde
próximo a um açude de pequeno porte. Com a retirada da vegetação e a compactação do solo para
torna-lo próprio para a construção civil, o solo tornou-se incapaz de sustentar uma vegetação de
grande porte, o que minimiza a possibilidade de recuperar a área uma vez provida de vegetação.
Dessa forma, o solo nú encontra-se sujeito as ações ambientais, insolação e erosão por carreamento
do material mineral nos períodos de chuva.
Os aspectos ambientais descrito induzem a formação de voçorocas que já se encontram em
estágio intermediário. A perda do material mineral é direcionada para região mais baixa do terreno,
onde fica localizado o açude, o que pode provocar seu consequente assoreamento.
O aparecimento de voçorocas ao longo do terreno, se não recuperadas a tempo, pode atingir
as vias de transportes e comprometer a mobilidade urbana da área.
Os impactos ambientais urbanos no meio socioeconômico variam em função da forma como
o meio físico interage dentro do contexto social: Na identificação e avaliação desses impactos, um
dos parâmetros mais importantes analisados foi o déficit habitacional da cidade de Quixeramobim.
Segundo a Fundação João Pinheiro (2013), o déficit habitacional é obtido a partir do somatório de
quatro componentes: o número de domicílios precários, coabitação familiar, ônus excessivo com
aluguel urbano e adensamento excessivo de domicílios alugados.
Segundo dados censitários do IBGE (2000), o déficit habitacional de Quixeramobim gira em
torno de 1,8%, o que chega a mais de 13% no déficit relativo. A existência de áreas vazias no centro
das cidades com alto valor especulativo contribui para manter esse déficit, uma vez que o mesmo é
compreendido, principalmente, pela população de menor poder aquisitivo. Dessa forma, com preço
da terra servida caro, o grupo da população que corresponde a esse déficit investe na terra não
servida, que possui menor valor.
O problema das terras não servidas é que estas encontram-se, geralmente, nas periferias,
longe dos postos de trabalho da maioria da população e dos equipamentos urbanos públicos e
infraestrutura.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 523


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Se por um lado essa lógica encarece o estilo de vida da população que vive em terras não
servidas, por outro o governo também se ver fadado a investir em obras que levem até essas terras
os serviços básicos necessários para garantir condições de vida adequada a população.
O que fica nesse meio termo vai bem além de entraves econômicos, a falta de serviços como
educação, saúde, moradia de qualidades, saneamento básico entre outros, deixa a população as
margens de seus direitos. Os índices de mortalidade infantil, ocorrências policiais e violência são
aumentados na precariedade desses serviços e podem afetar a cidade como um todo, prejudicando a
economia local de determinadas regiões e impedindo o progresso da cidade.

INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO URBANO

Diante do cenário atua que se encontra a área de estudo, é possível idealizar um conjunto de
cenários ideais que se mostram solução para os impactos descritos. Cada proposta possui suas
peculiaridades e interesses mútuos que iram gerar ações em prol de um benefício para todos.
Tendo em vista que a área consiste em um vazio urbano, levando em consideração os
instrumentos de planejamento do estatuto da cidade, e partindo de um senso comum, a aplicação do
parcelamento, edificação ou utilização compulsória criaria um cenário ideal para resolver os
impactos existentes na área. No entanto este instrumento obriga o proprietário a dividir o terreno em
glebas, construir, vender ou utilizar de alguma forma. O problema para a aplicação deste
instrumento encontra-se no contexto geral da situação, pois a área já está parcelada em forma de
lotes disponíveis para a venda, mas continuam vazios pelas condições intrínsecas da própria área,
do interesse e o poder aquisitivo do público alvo.
A utilização do imposto progressivo no tempo e a desapropriação também se tornam
ineficiente quando os aspectos ambientais físicos são levados em consideração. A aplicação desses
instrumentos prevê um determinado tempo de aplicação que excede a capacidade do ambiente de se
manter recebendo impactos ambientais como o da erosão. O período de 5 anos é suficiente para
elevar o grau de degradação da área até valores irrecuperáveis. A formação de voçorocas pela
erosão hídrica do solo pode tornar o espaço improprio para qualquer tipo de atividade humana e
ainda trazer riscos a população que mora na vizinhança.
As operações urbanas consorciadas, nesse caso, se configuram como a melhor alternativa de
intervenção que busca a resolução dos problemas ambientai urbanos e o benefício mútuo da
população. Com esse instrumento é possível propor alguns cenários de interesse coletivo.
As operações urbanas consorciadas fazem parte dos instrumentos de planejamento e
desenvolvimento urbano do estatuto da cidade. Com esse instrumento é possível elaborar
intervenções e medidas, através do poder público municipal, com o propósito de preservar,
recuperar, ou transformar áreas urbanas. Essas medidas são tomadas em conjunto com o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 524


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

proprietário, moradores, usuários e investidores. O principal objetivo da operação urbana


consorciada é garantir que a área onde será realizada a intervenção urbanística estrutural adquira
melhorias sociais e valorização ambiental (OLIVEIRA, 2001).

METODOLOGIA

A pesquisa se deu a partir da vistoria in loco da área afetada, onde foi possível identificar os
principais impactos ambientais no meio natural físico. Juntamente à essa análise, foi realizado um
levantamento das características gerais da propriedade, sendo realizado um diagnóstico ambiental
com foco no perfil socioeconômico da vizinhança.
Tendo como apoio o Estatuto da Cidade e legislações pertinentes, foi realizado um
prognostico como proposta de intervenção democrática para a área, através de um instrumento de
desenvolvimento urbano, de forma que seu uso cumpra a função social de espaço urbano,
assegurando a sustentabilidade econômica, social e ambiental da cidade.

RESULTADOS

Com a Operação Urbana Consorciada é possível propor alguns cenários de interesse


coletivo, como a utilização da área para a construção de equipamentos urbanos. Este cenário busca
minimizar a falta de serviços dentro da cidade (interesse público) e garante a valorização da área
para possíveis empreendimentos correlacionados (interesse privado) (BRASIL, 2001). No entanto,
visto que a área já é bem infraestruturada, esse cenário apenas resolveria os impactos existentes,
mas contribuiria de maneira pouco significativa para a promoção da função social da cidade.
A criação de uma área de lazer seria outra alternativa, pois as áreas verdes de lazer são
ótimas para a pratica de exercícios ao ar livre e para atrair pessoas. Praças ou parques seriam
algumas das propostas para a área, no entanto não foi identificado demanda para esse tipo de
serviço na área.
No entanto tendo em vista o déficit habitacional de Quixeramobim, a expansão desordenada
da cidade para fora do perímetro urbano, o poder aquisitivo da população que reside nas
proximidades da área e os interesses do poder público de o proprietário, a construção de moradias
populares configura-se como o cenário mais apto a resolver os impactos ambientais urbanos da área
e garantir a função que a cidade tem dentro da sociedade.
Analisando as possibilidades que tal instrumento pode proporcionar, sua forma de criar
relações entre o poder público e privado, e os benefícios que o mesmo pode trazer para a cidade
como um todo, a operação urbana consorciada que visa construir moradia popular com o objetivo
de abater parte do déficit habitacional de Quixeramobim e minimizar os impactos ambientais

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 525


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

urbanos da área, além de satisfazer os interesses do proprietário, contribuem de maneira positiva no


desenvolvimento urbano municipal.
A proposta de intervenção através desse instrumento visa a construção de moradia popular
por parte da iniciativa privada e a infraestruturação da área pelo poder público. Essas duas medidas
garantem que o proprietário alcance seu objetivo com a construção e venda das casas, ao mesmo
tempo que proporciona uma queda no preço dos imóveis, tornando-os acessíveis para a população
de baixa renda que reside na região. A queda dos preços e o lucro do proprietário é garantido pelo
poder público através dos investimentos em infraestrutura de responsabilidades da iniciativa privada
e que agora serão de responsabilidade do poder público, juntamente com os outros serviços de
infraestrutura pública.
Espera-se com isso que a população de baixa renda e que se enquadra em um dos quatro
componentes que definem o déficit habitacional: número de domicílios precários, coabitação
familiar, ônus excessivo com aluguel urbano e adensamento excessivo de domicílios alugados,
tenha oportunidade de adquirir um imóvel no centro, perto do seu posto de trabalho e dotado de
infraestrutura básica que garanta condições de vida ideais para um convívio social adequado.

CONCLUSÃO

Diante do atual cenário que se encontra a área de estudo, é possível identificar a viabilidade
da aplicação do instrumento do estatuto da cidade como forma de garantir a função social da cidade.
A Operação Urbana Consorciada pode ser considerada uma potencial alternativa de intervenção à
problemas urbanos que se encontram com inviabilidade de solução, pois garante a satisfação dos
interesses mútuos.
Dessa forma, a OUC que visa instalar moradia popular no vazio urbano no centro da cidade
de Quixeramobim é uma proposta que busca conciliar o interesse privado do proprietário do terreno
com as necessidades da sociedade de baixa renda que vive às margens de seu direito de moradia,
além de contribuir para o desenvolvimento sustentável da cidade, minimizando os impactos
ambientais urbanos e garantindo a função social da cidade.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da
Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF. Data da
publicação 11 de julho de 2001. Disponível:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10257.htm. Acesso em 20 de abril
2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 526


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BRASIL. Lei Federal nº 11.124, de 16 de junho de 2005. Dispõe sobre o sistema Nacional de
Habitação de Interesse Social. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder
Executivo, Brasília, DF. Data da publicação 17 de junho de 2005.
Disponível:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004- 2006/2005/Lei/L11124.htm>.
Acesso em 20 de abril de 2017.

DANTAS, Joseney Rodrigues de Queiroz; CLEMENTINO, Maria do Livramento Miranda. O papel


das cidades (inter) médias para o desenvolvimento regional: um estudo a partir dos centros sub-
regionais. Rio Grande do Norte: UFRN, 2013.

DITTMAR, Adriana C. C. Paisagem e morfologia de vazios urbanos: Análise da transformação


dos espaços residuais e remanescentes urbanos ferroviários em Curitiba – PR. 2006.
Dissertação (Mestrado) - Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia, Pontifícia Universidade
Católica. Curitiba, 2006.

FREITAS, Marina Roberta P. e NEGRÃO, Glauco Nonose. Vazios Urbanos: Estudo de caso no
município de Guarapuava-PR. Geographia Opportuno Tempore, Londrina, v. 1, número
especial, p. 480-493, jul./dez. 2014.

Fundação João Pinheiro. Déficit habitacional municipal no Brasil. Centro de Estatística e


Informações – Belo Horizonte, 2013.

IBGE. Ceará – Quixeramobim. Disponível em:


<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=231140>. Acesso em 28 de abril de 2017.

IPECE. Perfil Básico Municipal 2016 – Quixeramobim. Disponível em:


<http://www.ipece.ce.gov.br/perfil_basico_municipal/2016/Quixeramobim.pdf>. Acesso em 28
de abril de 2017.

Oliveira, Isabel Cristina Eiras de. Estatuto da cidade para compreender. Rio de Janeiro:
IBAM/DUMA, 2001.

PREFEITURA DE QUIXERAMOBIM. Disponível em:


<http://www.quixeramobim.ce.gov.br/inicio>. Acesso em 10 de abril de 2017.

SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira. Hucitec: Rio de Janeiro, 1993.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 527


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE GESTÃO PARA O


CONTROLE DE ESPÉCIES EXÓTICAS NA ARBORIZAÇÃO URBANA

João André Ximenes MOTA


Acadêmico de Engenharia Ambiental e Sanitária – IFCE
jandre.xm@gmail.com
Lucas da SILVA
Professor Orientador – IFCE
lucasuab@gmail.com

RESUMO
A arborização é um importante componente para o ambiente urbano, esta é responsável por
proporcionar condições microclimáticas agradáveis através da diminuição da temperatura e
manutenção da umidade relativa do ar, no entanto muitas vezes as espécies escolhidas para tal são
exóticas e até invasoras, o que se torna um problema. Este artigo tem por objetivo discutir a
importância da educação ambiental como ferramentas para melhor escolha e manejo de espécies
exóticas na arborização urbana. Observou-se através de revisão bibliográfica que diferentes autores
defenderam o uso da educação ambiental como elemento principal para reverter a problemática de
espécies exóticas e que a questão custo-benefício evidencia que os gastos com prevenção são
menores que os com controle e erradicação dos impactos causados.
Palavras-chave: Espécies Alienígenas, Planejamento Urbano, Impacto ambiental.

ABSTRACT
Arborization is an important component for the urban environment, which is responsible for
providing pleasant microclimatic conditions by decreasing the temperature and maintaining the
relative humidity of the air, however often the species chosen for this purpose are exotic and even
invasive making it a problem. This article aims to discuss the importance of environmental
education as tools for better choice and management of exotic species in urban afforestation. It was
observed through a bibliographic review that different authors defended the use of environmental
education as the main element to revert the problem of exotic species and that the cost-benefit issue
shows that the expenses with prevention are smaller than those with control and eradication of the
impacts caused.
Keywords: Alien Species, Urban Planning, Environmental Impact.

INTRODUÇÃO

A arborização urbana tem papel importante no conforto ambiental através da manutenção


das condições microclimáticas (PINHEIRO & SOUZA, 2017). A exemplo Martelli & Santos Jr
(2015) constataram que áreas urbanas que contavam com diferentes níveis de vegetação
apresentavam valores de temperatura e umidade relativa do ar significativos quando comparados à
uma área desprovida de arborização.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 528


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Silva e outros (2016) apontam que a escolha para espécies para a arborização urbana deve
seguir uma série de preceitos, integrando questões culturais, sociais e históricas. No entanto,
diferentes levantamentos florísticos (LUNDGREN et al., 2013; SOUSA et al., 2015; BEZERRA et
al., 2017; BIONDI & PEDROSA-MACEDO, 2007; FABRICANTE et al., 2017; CALIXTO
JUNIOR et al., 2009) evidenciam a predominância no uso de exóticas, ou alienígenas, que são
aquelas que se encontram fora de sua área natural de distribuição geográfica e com isso podem
causar uma variedade de mudanças significativas no ecossistema receptor (BLACKBURN et al.,
2014; BRASIL, 2011).
O uso de espécies exóticas torna-se um problema, pois, independentemente do objetivo de
introdução destas, seja para alimentação, fibras e/ou ornamentação (PIMENTEL et al., 2010) a
invasão pode ocasionar alterações em componentes ecológicos como a ciclagem de nutrientes,
interações entre planta e polinizador e a estrutura da comunidade vegetal (HOPPEN et al., 2014).
Mwebaze e outros (2010) citam que a introdução de espécies exóticas invasoras ocupa o segundo
lugar das maiores ameaças a biodiversidade depois da degradação direta de um habitat.
O presente artigo, através de uma revisão bibliográfica, tem por objetivo discutir sobre como
a educação ambiental e a valoração de espécies nativas podem ser utilizadas como ferramentas para
diminuir o avanço no uso de espécies exóticas na arborização urbana.

ESPÉCIES EXÓTICAS NA ARBORIZAÇÃO URBANA

A definição de espécies exóticas contrasta com a de espécies nativas, o que são definidas
pela Resolução Nº 429 de 28 de fevereiro de 2011 do CONAMA, como sendo espécies que
apresentam suas populações naturais dentro dos limites de distribuição geográfica, participando de
ecossistemas onde apresenta seus níveis de interação e controle demográficos (BRASIL, 2011).
Ao falarem sobre a cobertura de espécies exóticas arbóreas na cidade de Serra Talhada no
estado de Pernambuco Lundgren e outros (2013) comentam que o plantio destas começou durante o
período de colonização, quando portugueses traziam árvores que eram comumente plantadas em
Portugal. Em sua pesquisa Lundgren e outros (2013) mostraram ainda que boa parte da arborização
da cidade é composta por espécies exóticas e não-nativas da Caatinga.
Em levantamento semelhante Sousa e outros (2015) identificaram que três quartos das
árvores encontradas no campus oeste da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, na cidade de
Mossoró-RN, são exóticas. A justificativa para tal foi o acompanhamento da tendência histórica e a
falta de informação e disponibilidade de mudas nativas no mercado (SOUSA et al., 2015).
Analisando vias públicas Bezerra e colegas (2017) e Hoppen e outros (2014) identificaram
que mais de 90% das espécies de seus levantamentos não eram nativas das regiões geográficas em

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 529


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

questão, respectivamente Caatinga no município potiguar Baraúna e Floresta Estacional


Semidecidual Paranaense em Farol – PR.
Biondi & Pedrosa-Macedo (2007) e Fabricante e outros (2007) também escreveram sobre o
uso de espécies exóticas na arborização urbana em seus trabalhos considerando também o papel
invasor destas alienígenas. Biondi & Pedrosa-Macedo (2007) constataram que da amostragem
aleatória feita na cidade de Curitiba, Paraná, apenas 4,9% das espécies são consideradas
oficialmente invasoras no Brasil, em contrapartida a percentagem de espécies exóticas continua alta
(58,1%).
Diante de todos os trabalhos científicos citados anteriormente é possível notar que a
problemática do uso de espécies exóticas para a arborização urbana é pertinente a diferentes regiões
do país, isso evidencia a necessidade de uma mudança nas práticas existentes.

A DELEGAÇÃO DE RESPONSABILIDADES E AÇÕES

Observando as responsabilidades do ponto de vista jurídico Sirvinskas (2000) discute a


necessidade de leis complementares que fixem critérios de cooperação administrativa sobre a
proteção do meio ambiente, de acordo com o artigo 23, inciso VI da Constituição Federal de 1988.
O poder público deve então procurar alternativas para minimizar os impactos negativos ao meio
ambiente buscando a colaboração da sociedade de forma geral, fiscalizando, denunciando aos
órgãos competentes e participando efetivamente de campanhas educativas em favor do meio
ambiente (SIRVINSKAS, 2000).
Biondi & Pedrosa-Macedo (2007) reconhecem a população urbana como principal
responsável pela introdução de espécies exóticas invasoras, e o papel da administração pública de
criação de diretrizes para os departamentos responsáveis pela gestão de temas relacionados a
vegetação. De forma mais abrangente Bezerra e outros (2017) propõem a realização de ações
diretas de educação ambiental com a comunidade para divulgação dos prejuízos dessa prática ao
meio ambiente.
Quanto a substituição das espécies exóticas já instaladas recomenda-se que estas sejam
substituídas por espécies nativas de forma planejada e gradativa, recebendo prioridade nos
planejamentos de manejo e arborização (BLUM et al., 2008). Fabricante e outros (2017) sugerem
que essa substituição, quando escolhidas espécies com a mesma função paisagística e de conforto
ambiental, contribui ainda para a harmonia das relações com outras espécies locais.
Silva e outros (2016) expressam a necessidade do protagonismo da administração pública
através de um planejamento ambiental urbano coerente, determinando onde e o que plantar,
evitando transtornos nos âmbitos social, ecológico e econômico. A exemplo de como lidar com esta

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 530


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

questão o estado do Ceará criou no ano de 2016 uma legislação específica para a valorização de
espécies nativas (CEARÁ, 2016).

A VALORAÇÃO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A questão econômica é tratada por Pimentel e outros (2010), estes consideram que a fração
maligna, representada por espécies exóticas invasoras, não precisa ser grande para promover
impactos consideráveis em um ecossistema. Os autores consideram ainda que fatores como
ambientes que proporcionam condições favoráveis ou espécies altamente adaptáveis podem fazer
com que invasoras se tornem abundantes e persistentes (PIMENTEL et al., 2010).
A valoração ambiental pode ser definida como um conjunto de técnicas que objetivam
calcular o valor econômico dos recursos ambientais como um bem que pode ou não estar no
mercado (LIPTON, 1995 apud SOUZA, 2011). Esta é uma importante ferramenta para a tomada de
decisão de gestores públicos principalmente no que diz respeito a elaboração de punições, na forma
de multa, de acordo com o dano ambiental provocado (CARVALHO, 2009 apud SOUZA, 2011).
Em seu trabalho Souza (2011) traz como exemplo de cálculo de o método de valoração
conhecido como fator ambiental que considera a degradação ambiental como uma alteração
negativa da qualidade ambiental e o valor deste dado é dado a partir do somatório dos custos das
atividades de recuperação (KASKANTZIS NETO, 2005 apud SOUSA, 2011).
McIntosh e outros (2010) consideram que a melhor compreensão dos custos e benefícios
associados à proteção contra espécies invasoras pode levar a resultados mais eficientes. A exemplo
Silayo & Kiwango (2010) analisando diferentes formas de controle de Azadirachta indica,
popularmente conhecido como ―nim‖ ou ―neem‖, comentam que restaurar comunidades de plantas
nativas é dispendioso, no entanto os custos controlando e erradicando exóticas são ainda maiores.
Hoppen e outros (2014) consideram ainda os danos a estrutura física dos municípios por meio de
transtornos com a fiação elétrica, ruas, calçadas.
Embora a abordagem para atribuir um valor para a biodiversidade e/ou espécies isoladas
precise melhorar, há de se considerar o valor dos serviços que estes promovem como padrão de
comparação com os gastos atribuídos aos impactos gerados por espécies exóticas invasoras
(KONTOGIANNI et al., 2012; HOPPEN et al., 2014). Sop e outros (2012) discorrem que a
percepção da população sobre espécies vegetais também são fontes importantes para a valoração da
importância destas.
De forma geral, analisar o custo-benefício, assim como Mwebaze e outros (2010) ponderam,
mostra que políticas de prevenção se mostram mais eficientes quando comparadas a erradicação e
controle. Em concordância outros autores atribuem estratégias e investimentos na prevenção ou

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 531


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

redução da introdução de espécies exóticas através da educação da população (BIONDI &


PEDROSA-MACEDO, 2007; BLUM et al., 2008; PIMENTEL et al., 2010; OGAWA et al., 2015).
Bezerra e outros (2017) recomenda a realização de projetos de educação ambiental com a
sociedade objetivando-se a divulgação dos prejuízos que espécies exóticas podem causar, entra aí o
papel da valoração desses prejuízos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A problemática do uso de espécies exóticas e invasoras é recorrente em todo o país,


evidenciando a necessidade de melhorias na forma como a questão é levada prevenindo maiores
gastos ou perdas. Nesse sentido a educação ambiental se mostra como uma importante ferramenta
para conscientização da população, e para tal também a valoração poderia ser usada, uma vez que a
atribuição de valor para um bem evidencia que existem consequências econômicas com a
degradação deste.

REFERÊNCIAS

BEZERRA, Marina Beatriz Silva; CASTRO, Vinícius Gomes; BOTREL, Rejane Tavares.
Arborização da Avenida Jerônimo Rosado no Município de Baraúna-RN, Brasil. Revista da
Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, v. 12, n. 1, p. 122-131, 2017.

BIONDI, Daniela; PEDROSA-MACEDO, José Henrique. Plantas invasoras encontradas na área


urbana de Curitiba (PR). Floresta, v. 38, n. 1, 2008.

BLACKBURN, Tim M. et al. A unified classification of alien species based on the magnitude of
their environmental impacts. PLoS biology, v. 12, n. 5, p. e1001850, 2014.

BLUM, Christopher Thomas; BORGO, Marília; SAMPAIO, André Cesar Furlaneto. Espécies
exóticas invasoras na arborização de vias públicas de Maringá-PR. Revista da Sociedade
Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba, v. 3, n. 2, p. 78-97, 2008.

BRASIL, Resolução nº 429 do CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, de 28 de


fevereiro de 2011.

CALIXTO JÚNIOR, João Tavares; SANTANA, Gregório Mateus; LIRA FILHO, José Augusto.
Análise quantitativa da arborização urbana de Lavras Da Mangabeira, CE, Nordeste do Brasil.
Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, v. 4, p. 99, 2009.

CEARÁ, Lei estadual nº 16002, de 02 de maio de 2016. Cria o programa de valorização de espécies
nativas. SEMACE. Quixadá, CE, 12 ago. 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 532


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

FABRICANTE, Juliano Ricardo et al. Utilização de espécies exóticas na arborização e a


facilitação para o estabelecimento de casos de invasão biológica. Biotemas, v. 30, n. 1, p. 55-63,
2017.

HOPPEN, Mariana Irene et al. Espécies exóticas na arborização de vias públicas no município de
Farol, PR, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, v. 9, n. 3, p. 173-186,
2015.

KONTOGIANNI, A. et al. Service providing units, existence values and the valuation of
endangered species: A methodological test. Ecological Economics, v. 79, p. 97-104, 2012.

LUNDGREN, Wellington Jorge Cavalcanti; SILVA, LF da; ALMEIDA, A. Q. Influência das


espécies exóticas arbóreas urbanas na área de cobertura da cidade de Serra Talhada–PE.
REVSBAU, Piracicaba–SP, v. 8, n. 3, p. 96-107, 2013.

MARTELLI, Anderson; SANTOS JR, Arnaldo Rodrigues. Arborização Urbana do município de


Itapira–SP: perspectivas para educação ambiental e sua influência no conforto térmico.
Electronic Journal of Management, Education and Environmental Technology (REGET), v. 19,
n. 2, p. 1018-1031, 2015.

MCINTOSH, Christopher R.; SHOGREN, Jason F.; FINNOFF, David C. Invasive species and
delaying the inevitable: Valuation evidence from a national survey. Ecological Economics, v. 69,
n. 3, p. 632-640, 2010.

MWEBAZE, Paul et al. Economic valuation of the influence of invasive alien species on the
economy of the Seychelles islands. Ecological Economics, v. 69, n. 12, p. 2614-2623, 2010.

OGAWA, Cyndell Caram et al. Educação ambiental e arborização urbana: transformando o


espaço social. In: Congresso de extensão universitária da UNESP. Universidade Estadual
Paulista (UNESP), 2015. p. 1-5.

PIMENTEL, David; ZUNIGA, Rodolfo; MORRISON, Doug. Update on the environmental and
economic costs associated with alien-invasive species in the United States. Ecological
economics, v. 52, n. 3, p. 273-288, 2005.

PINHEIRO, Clebio Rodrigues; SOUZA, Danilo Diego de. A importância da arborização nas
cidades e sua influência no microclima. Revista Gestão & Sustentabilidade Ambiental, v. 6, n. 1,
p. 67-82, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 533


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SILAYO, Dos Santos A.; KIWANGO, Halima R. Management of invasive plants in tropical forest
ecosystems: trials of control methods of Azadirachta indica. World Applied Sciences Journal, v.
10, n. 12, p. 1414-1424, 2010.

SILVA, Vicente Elício Porfiro Sales Gonçalves da; MONTE, Pollyana Maria Pimentel; BRITO,
Sara Letícia Lopes de Souza; SILVA, Lucas da. Diversidade da Caatinga para arborização
urbana no semiárido. Anais I CONIDIS, V. 1, 2016, ISSN 2526-186X.

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Arborização urbana e meio ambiente–Aspectos jurídicos. Revista do


Instituto de Pesquisas e Estudos, p. 263-276, 2000.

SOP, Tene Kwetche et al. Ethnobotanical knowledge and valuation of woody plants species: a
comparative analysis of three ethnic groups from the sub-Sahel of Burkina Faso. Environment,
development and sustainability, v. 14, n. 5, p. 627-649, 2012.

SOUSA, L. V. et al. Levantamento de espécies de cobertura vegetal nativas e exóticas encontradas


no campus oeste da Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Revista Verde de Agroecologia
e Desenvolvimento Sustentável, v. 10, n. 5, p. 70-75, 2015.

SOUZA, Fernando Basquiroto de. Avaliação de metodologias par valoração de recursos naturais e
danos ambientais em ecossistemas costeiros: estudo de caso da área do banhado da Palhocinha.
Garopaba, SC. 2012.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 534


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

AÇÕES PELA PROMOÇÃO DA GUARDA RESPONSÁVEL E ADOÇÃO DE ANIMAIS


NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE/PB

Juciely Gomes da SILVA


Graduanda do curso de Bacharelado em Agroecologia da UEPB
jucielygomes07@hotmail.com
Rayane Ellen de Oliveira JERÔNIMO
Graduanda do curso de Bacharelado em Agroecologia da UEPB
rayanneoliveira67@live.com
Camila Firmino de AZEVEDO
Professora Doutora em Agronomia UEPB
camfiraze@bol.com.br

RESUMO
O presente artigo tem por objetivo relatar as ações promovidas em parceria com a ONG A4
(Associação de Amigos dos Animais Abandonados) no município de Campina Grande/PB, com o
intuito de promover a adoção de cães e gatos, além de traçar o perfil dos adotantes e orientá-los
quanto aos cuidados básicos dos animais e guarda responsável. Para que essa ação fosse efetivada,
fez-se necessário, a priori, o contato direto com a ONG onde foi realizado processos da
higienização, vermifugação e aplicações de carrapaticidas nos animais a fim de preparar os mesmos
para os eventos de adoção ocorridos nos dias 08 de julho e 05 de agosto de 2017. No momento das
feiras de adoção foram aplicados questionários semiestruturados a fim de obter dados relativos ao
perfil dos adotantes, como também dados relacionados aos animais. Os adotantes foram orientados
sobre a importância da guarda responsável, os benefícios da castração, bem como sobre as
necessidades básicas dos animais. Os dados obtidos a partir da aplicação dos questionários
apontaram que a maior parte dos adotantes eram mulheres (60%) e maior parte dos adotados eram
felinos (61,90%). Todos os animais adotados eram sem raça definida e ocorreram 21 adoções ao
total. As ações voltadas para a guarda responsável, como a realização de eventos de adoção e
conscientização da população, proporcionam melhorias para o bem estar animal e podem ajudar no
controle da taxa de natalidade dos mesmos e reduzir o número de animais abandonados nas ruas. Os
dados adquiridos em relação ao perfil dos adotantes podem colaborar para o planejamento de
campanhas em prol do bem estar animal e de futuros eventos de adoção, aumentando as chances de
sucesso na adaptação do animal na nova família.
Palavras-chave: Castração, cães; gatos, perfil de adotantes; saúde.

ABSTRACT
The objective of this article is to report promoted actions in partnership with NGO A4 (Association
of Friends of Abandoned Animals) in Campina Grande/ PB city, with the purpose of promoting the
adoption of dogs and cats, and determine the profile adopters and guide them on basic animal care
and responsible care. For this action to take place, it was necessary, direct contact with the ONG
where we are actively involved in the hygienization, vermifugation and applications of
carrapaticides in the animals to prepare them for the adoption fairs that took place in the days July 8
and August 5, 2017. At the time of the adoption, semi-structured questions were applied in order to
obtain data regarding the adopters' profile, as well as the date related to the animals. Adoption was
explained to adopters about the importance of responsible custody, the benefits of castration as well
as the basic needs of animals. After completing the fairs, the data obtained indicated that most of
the adopters were women (60%); Most of the adopted were felines (61.90%). All adopted animals
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 535
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

were non-breed, and there were 21 adoptions to the total. Responsible guarding actions, such as
adoption events and population awareness, provide improvements in animal welfare and can help
control their birth rate and reduce the number of abandoned animals on the streets. The data
acquired in relation to the profile of the adopters can collaborate in the planning of campaigns for
animal welfare and future adoption events, increasing the chances of success in the adaptation of the
animal to the new family.
Keywords: Castration; cats; dogs; health, profile of adopters.

INTRODUÇÃO

Desde os primórdios o homem tem uma relação intrínseca com os animais, o que perdura até
os dias atuais (SINGER, 2013). Ao longo do tempo ocorreram algumas mudanças nessa relação, o
animal deixou de ser apenas um objeto de exploração e passou a ser tratado como um companheiro.
Atualmente eles são vistos como seres sencientes, capazes de experimentar sentimentos e sensações
de forma consciente como nós, humanos. Tal raciocínio corrobora com o pensamento de Tom
Regan (2006), defensor da igualdade dos animais humanos com os animais não humanos, uma vez
que este afirma que os animais não humanos têm a capacidade de sentir dor e prazer, além de ter a
percepção do que os rodeia, por este motivo têm direitos tais como a espécie humana. O mesmo
autor alega ainda que pertencemos todos, animais humanos e animais não humanos, a uma
comunidade moral na qual os interesses de uma espécie não são mais importantes que os de outra.
De acordo com o pensamento do filósofo Singer (2013), os animais são seres sencientes e
desta forma, não haveria como distanciá-los de seus direitos, sendo essencial realizar ações para
promover seu bem estar.
A Declaração Universal dos Direito dos Animais, proclamada pela UNESCO em 1978, em
sessão realizada em Bruxelas, na Bélgica, preza pelo respeito aos direitos dos animais. Em seu Art.
6º, o documento diz que ―todo o animal que o homem escolheu para ser seu companheiro tem
direito a uma duração de vida conforme a sua longevidade natural‖, e ainda, ―o abandono de um
animal é um ato cruel e degradante‖. No Art. 12, fica assegurado que ―todo o ato que implique a
morte de um grande número de animais é um genocídio‖, isto é, um crime contra a espécie. Por fim,
no Art.14, tem-se que os direitos dos animais devem ser defendidos pela lei, assim como os direitos
dos homens (JOFFILY et al., 2013). No Brasil, a lei nº 9.605 de 1998 afirma que praticar ato de
abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou
exóticos é crime passível de pena (PLANALTO, 1998). Contudo, a taxa de abandono e maus tratos
ainda é alta e por este motivo, é necessário a disseminação da ideia de guarda responsável. A luta
contra o abandono animal pode ser considerada um verdadeiro fator social urbano, devido à
constância e permanência dos problemas das cidades devido ao grande número de animais de rua
(SORDI, 2011).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 536


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Souza (2003) conceitua ―guarda responsável‖ como a condição na qual o guardião de um


animal de companhia aceita e se compromete a assumir uma série de deveres centrados nas
necessidades físicas, psicológicas e ambientais de seu animal, assim como, prevenir os riscos
(potencial de agressão, transmissão de doenças ou danos a terceiros) que seu animal possa causar à
comunidade ou ao ambiente. A guarda responsável de animais de companhia configura-se como
uma das práticas para promoção do bem-estar animal (SILVANO et al., 2010).
Assim, as ações realizadas com o intuito de conseguir adoções para animais abandonados,
sejam eles em ruas, ONGs ou Centro de Controle de Zoonoses municipais são de grande
importância, já que estas ações buscam o bem estar dos animais e consequentemente, o bem estar de
toda uma comunidade.
Diante do exposto, objetivou-se realizar ações com o intuito de promover a adoção de cães e
gatos abandonados na cidade de Campina Grande/PB, em parceria com uma ONG de proteção
animal que atua no mesmo município e, além disso, traçar o perfil dos adotantes e orientá-los
quanto à guarda responsável e aos cuidados básicos dos animais.

MATERIAL E MÉTODOS

As ações realizadas a fim de propiciar o bem estar e promover a adoção de animais de


companhia abandonados foram realizadas em parceria com a ONG (Organização Não
Governamental) de proteção animal A4 (Associação de Amigos dos Animais Abandonados da
Paraíba), que atua no município de Campina Grande – PB e em cidades circunvizinhas. Segundo
Costa Neto et al. (2013), a A4 atua desde 2004 e as suas atividades envolvem principalmente o
acolhimento e tratamento de cães e gatos abandonados, eventos e campanhas de adoção, apoio aos
adotantes e campanhas de sensibilização e conscientização através de diversas práticas educativas
para diferentes públicos.
Foram realizados dois eventos de adoção em diferentes pontos da cidade de Campina
Grande/PB nos dias 8 de julho e 5 de agosto de 2017. Dias antes dos eventos, foram realizadas
ações na sede da ONG A4, onde foram realizadas higienizações dos animais, vermifugações e
aplicações de carrapaticida, com o intuito de preparar os animais selecionados para, posteriormente,
irem para os eventos de adoção.
No momento da adoção foram realizadas entrevistas com os adotantes através da aplicação
de questionários semiestruturados com a finalidade de analisar o perfil dos mesmos, abordando
principalmente questões sobre o que motivou a adoção, como também dados relacionados aos
animais que estavam sendo adotados. Além da aplicação dos questionários, os adotantes foram
orientados sobre a saúde e o bem estar dos animais, benefícios da castração, as necessidades básicas
dos animais, a exemplo da vacinação e visitas periódicas ao veterinário para avaliar sua saúde.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 537


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Além disso, também foi conversado sobre a guarda responsável, inclusive acobertada pelo art. 32 da
lei 9.605/98.
Os dados colhidos com a aplicação dos questionários foram computados e tabulados em
planilha Excel para posterior análise descritiva.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas ações realizadas para promoção da guarda responsável e adoção de animais


abandonados na cidade de Campina Grande/PB foram adotados 21 animais, entre cães e gatos. As
ações em prol do bem estar animal junto com a ONG A4 desencadearam grandes benefícios para os
animais que ganharam um lar, como também para a ONG, uma vez que a quantidade dos animais
ali presentes foi reduzida.
As ONG ‗s têm-se demonstrado imprescindíveis na disseminação dos princípios da
educação ambiental e na sensibilização das comunidades através da percepção ambiental
(RODRIGUES e LOUREIRO, 2012). Muitas das ONG ‗s que atuam no apoio aos animais
promovem ações educativas a fim de modificar a concepção acerca da responsabilidade humana em
relação à melhoria do bem-estar animal e, além disso, acolhem e tratam animais abandonados,
principalmente cães e gatos (COSTA NETO et al., 2013). No entanto, é importante considerar que
elas passam por dificuldades, por não terem fins lucrativos e atuarem, em sua maioria, através de
doações de pessoas físicas e sem auxílio do poder público; tornando imprescindível o apoio das
instituições de ensino no desenvolvimento de suas atividades.
Foi verificado que 60% dos adotantes eram mulheres e 40%, homens (Figura 1A). Em
relação a faixa etária dos mesmos, 6,66% tinham entre 20 a 37 anos, 40% tinham entre 38 a 45
anos, 40% estavam na faixa de 46 a 55 anos e 13,33% tinha entre 56 a 63 anos (Figura 1B). Quanto
à ocupação dos entrevistados, 26,66% eram autônomos, 13,33% eram aposentados, 26,66% era
servidor público, 13,33% trabalhavam em empresa privada e 20% correspondiam a outras opções
(Figura 1C).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 538


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1. Perfil dos adotantes de animais (cães e gatos) em eventos de adoção na cidade de Campina
Grande/PB. A. Sexo. B. Idade. C. Ocupação. D. Estado civil. E. Escolaridade. F. Renda

A respeito do estado civil dos adotantes, 46,66% eram solteiros e 53,33% eram casados
(Figura 1D). Em relação ao grau de escolaridade, 26,66% cursaram até o ensino fundamental I,
6,66% até o ensino fundamental II, 33,33% até o ensino médio, 26,66% até o superior e 6,66%
cursaram até a pós-graduação (Figura 1E). Foi constatado também que a renda parcial dos adotantes
variava de 1 a mais de 4 salários mínimos, sendo 26,66% um salário mínimo, 33,33% dois salários,
26,66% três salários e 13,33% quatro ou mais salários mínimos (Figura 1F). Por sua vez, a renda
por pessoa que morava na residência dos adotantes oscilava de 234$ até mais de 1 mil reais,
correspondendo 33,33% de 234 a 400 reais, 26,66% de 401 a 600 reais, 13,33% de 601 a 1 mil reais
e 26,66% acima de 1 mil reais.
Em relação à quantidade de moradores na residência a qual os animais adotados foram
destinados, 20% apresentava de uma a duas pessoas, 60% de três a quatro pessoas e 20%
apresentava cinco ou acima de cinco moradores. Nestas, 40% não possuíam crianças e 60%
possuíam de um a três crianças até 12 anos. No que diz respeito à quantidade de idosos, 93,33% das
residências não apresentavam idosos acima de 65 anos, e apenas 6,66% das residências possuíam de
um a dois idosos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 539


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Dos animais adotados 61,90% eram gatos e 38,09% eram cães (Figura 2A), destes 76,19%
eram fêmeas e 23,80% eram machos (Figura 2B). Em relação ao porte dos adotados, 33,33% dos
animais apresentavam pequeno porte e 66,66% apresentava porte médio (Figura 2C). Em relação à
idade dos animais, 42,85% eram filhotes, 52,38% eram adolescentes e 4,76% eram adultos (Figura
2D). Todos os animais adotados eram sem raça definida.
Em uma pesquisa realizada a fim de traçar o perfil de adotantes de cães em Botucatu/SP por
Paploski et al. (2012), foi observado que a maioria dos entrevistados buscava cães sem raça definida
(65,5%) e quanto à idade mais procurada, 68,9% buscavam filhotes, classificados como animais
com menos de três meses de idade.

Figura 2. Perfil dos animais adotados em eventos de adoção na cidade de Campina Grande/PB. A. Espécie.
B. Sexo. C. Porte. D. Idade aproximada.

De acordo com Nogueira (2009) cães e gatos podem ser classificados em relação aos seus
hábitos de vida, podendo ser domiciliados, pois são aqueles animais que dependem totalmente dos
tutores e só saem de casa acompanhados de seus donos; semi-domiciliados também apresenta
dependência, recebem vacinas, mas permanecem fora da residência por tempo indeterminado;
animais comunitários, são independentes, que vivem nas ruas, porém recebem alimentação e
cuidados da vizinhança; não domiciliados, estes animais vivem totalmente soltos nas ruas e não
recebem nenhum tipo de cuidado.
Em respeito à tutela de outros animais, 57,14% dos adotantes declararam que possuía outros
animais em casa e 42,85% não possuía (Figura 3A). Dos que afirmaram possuir outros animais,
19,04% alegaram ter gatos, 23,80%, cães, 4,76%, pássaros e 9,52% afirmaram ter cães e gatos
(Figura 3B). Quando questionados sobre o motivo da adoção, os entrevistados alegaram que
adotaram por gostar de animais (28,09%), adotaram para companhia (28,57%), para guarda (4,76%)
e alguns não responderam (28,57%) (Figura 3C). De acordo com um estudo realizado por

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 540


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Azevedo et al. (2015) com 100 pessoas da Comunidade Vila Florestal no município de Lagoa
Seca/PB, 54,41% dos entrevistados afirmaram que possuíam cães, 10,29% possuíam gatos, 30,88%
possuíam cães e gatos e 4,41% possuíam outros animais.

Figura 3. Dados relacionados aos adotantes de animais (cães e gatos) em eventos de adoção na cidade de
Campina Grande/PB. A. Tem outros animais em casa? B. Espécie e quantidade dos outros que tem em casa.
C. Motivo de ter adotado.

No momento da adoção, 14,28% dos animais estavam vacinados (Figura 4A) e 33,33%
estavam vermifugados. (Figura 4B). Alguns animais ainda não tinham sido vacinados e
vermifugados devido à idade, uma vez que a maioria era adolescentes ou filhotes.

Figura 4. Dados de vacinação e vermifugação dos animais adotados em eventos de adoção na cidade de
Campina Grande/PB. A. Animais vacinados. B. Animais vermifugados.

Nos últimos 120 anos foi demonstrado que a vacinação é o método mais eficiente no
controle de doenças infectocontagiosas, sendo recomendada a qualquer animal desde filhote,
respeitado o período em que a imunidade passiva ocorre para torná-lo eficientemente imune a
possíveis infecções (TIZARD, 2002)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 541


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

De acordo com Silvano et al. (2010), em uma pesquisa realizada com o intuito de analisar a
percepção de proprietários de animais sobre a importância da vacinação, os entrevistados disseram
que a vacinação é de grande valia, tanto para cães, quanto para gatos, assim como a esterilização,
pois é uma forma de promover saúde e bem-estar aos animais. Babboni et al. (2013), afirma que é
necessário vacinar os animais anualmente contra raiva, a partir dos quatro meses de idade e as
demais doenças a partir dos sessenta dias de vida.
Do total de animais adotados, 4,77% estavam castrados no momento da adoção e 95,23%
não estavam castrados. A alta quantidade de animais não castrados se deu devido à maioria dos
animais ainda não está na idade correta para que fosse feita a castração. Quando perguntado aos
entrevistados se os mesmos castrariam seus animais, 52,38% responderam que castrariam, 19,04%
afirmaram que não castrariam e 28,57% não responderam (Figura 5A). Dos adotantes que
afirmaram que castrariam, 44,06% afirmaram que castrariam para controlar a natalidade, 18,17%
alegaram que castrariam devido a saúde do animal, 18,17% castrariam para evitar fugas e 18,17%
não responderam (Figura 5B). Já os entrevistados que declararam não terem interesse em castrar os
animais, 50% afirmaram não querer intervir na saúde do animal, 25% alegaram usar métodos
anticoncepcionais e 25% afirmaram que só castraria se houvesse necessidade (Figura 5C).
A castração de animais está ligada diretamente ao bem estar dos mesmos, pois ela previne
doenças gerando uma melhor qualidade de vida e reduz os abandonos, já que controla a natalidade,
e ainda surge como uma forma de reduzir os maus tratos (BORTOLOTI e D‘ AGOSTINHO, 2007).

Figura 5. Dados referentes à visão do adotante de animais em eventos de adoção na cidade de Campina
Grande/PB em relação à castração. A. Castraria seu animal? B. Por que castraria? C. Por que não castraria?

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 542


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Quando questionados sobre a eutanásia, 57,14% dos adotantes afirmaram que não
eutanasiariam seu animal, 9,52% alegaram que eutanasiaria seu animal e 33,33% não responderam
(Figura 6A). Dos entrevistados que afirmaram que não eutanasiariam seu animal, 15,58% alegaram
que não eutanasiaria seu animal por gostar deles, 10,38% cuidaria até o fim, 15,58% não querem
intervir na causa da morte e 15,58% alegaram que é uma vida (Figura 6B). Dos que alegaram que
eutanasiaria seu animal, todos afirmaram que só realizaria esse processo se animal estivesse
sofrendo (Figura 6).

Figura 6. Dados referentes à visão do adotante de animais em eventos de adoção na cidade de Campina
Grande/PB em relação à eutanásia. A. Eutanasiaria seu animal? B. Por que não eutanasiaria?

Em uma pesquisa com o intuito de avaliar a percepção da sociedade sobre a qualidade de


vida e o controle populacional de cães não domiciliados, realizada por Moutinho et al. (2015),
apenas 2,1% da população entrevistada defendeu a da eutanásia. Esta prática significa a morte
humanitária de um animal executado por meio de um método que produz inconsciência rápida e
subsequente morte sem evidência de dor ou agonia ou um método que utilize drogas anestésicas em
doses suficientes para produzir a perda indolor da consciência seguida de parada cardiorrespiratória
(AGOSTINHO e LÉGA, 2009).

CONCLUSÃO

As ações voltadas para a guarda responsável, como a realização de eventos de adoção e


conscientização da população, proporcionam melhorias para o bem estar animal e podem ajudar no
controle da taxa de natalidade dos mesmos e reduzir o número de animais abandonados nas ruas. Os
dados adquiridos em relação ao perfil dos adotantes podem colaborar para o planejamento de
campanhas em prol do bem estar animal e de futuros eventos de adoção, aumentando as chances de
sucesso na adaptação do animal na nova família.

REFERÊNCIAS

AGOSTINHO, J. J.; LÉGA, E. Aplicações clínicas e éticas da eutanásia em pequenos animais.


Revista Nucleus Animalium, v.1, n.1, p. 23-35, 2009.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 543


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

AZEVEDO, C. F. et al. Avaliação do bem estar de animais de companhia na comunidade da Vila


Florestal em Lagoa Seca/PB. Revista Archives of Veterinary Science. V.20, n. 2, p. 06-15, 2015.

BORTOLOTI, R., D‘AGOSTINO, R. G. Ações pelo controle reprodutivo e posse responsável de


animais domésticos interpretadas à luz do conceito de metacontigência. Revista Brasileira de
Análise de comportamento. v.3, n.1, p.17-28, 2007.

BABBONI, S. D. et al. Avaliação da imunidade ativa de cães primovacinados (fuenzalida &


palácios) no intervalo de campanhas anuais de vacinação contra a raiva no município de
Botucatu/SP. Revista Científica Eletrênica de Medicina Veterinária. Ano 6, n. 20, p. 1-15, 2013.

COSTA NETO, B.M. et al. Educação socioambiental como estratégia de melhoria do bem-estar
animal. In. SEABRA, G. Terra: Qualidade de vida, mobilidade e segurança nas cidades. João
Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2013.

JOFFILY, D. et al. Medidas para o controle de animais errantes desenvolvidas pelo grupo pet
medicina veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Revista Em Extensão,
Uberlândia, v. 12, n. 1, p. 197-211, 2013.

MOUTINHO, et al. Percepção da sociedade sobre a qualidade de vida e o controle populacional de


cães não domiciliados. Revista Ciência Animal Brasileira. Goiânia, v.16, n.4, p. 574-588
out./dez. 2015.

NOGUEIRA, F. T. A. Posse responsável de animais de estimação no bairro da Graúna – Paraty RJ.


Revista Educação Ambiental BE-597. V. 2, p. 49-54, 2009.

PAPLOSKI, I. A. D. et al. Características dos adotantes de cães na área urbana de Botucatu. Revista
veterinária e zootecnia, v.1, n.1, p. 584-592, 2012.

PLANALTO. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e


administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Diário Oficinal da União, Brasília, DF, 13 fev. 1998.

REGAN, T. Jaulas vazias: encarando o desafio dos direitos dos animais. Porto Alegre: Lugano,
2006.

RODRIGUES, J.N.; LOUREIRO, C.F.B. Crise socioambiental e a atuação de ONGs ambientalistas


no campo educacional. Linhas críticas, n.36, p. 379-394, 2012.

SILVANO, D. et al. Divulgação dos princípios da guarda responsável: uma vertente possível no
trabalho de pesquisa a campo. Revista Eletrônica Novo Enfoque, v. 9, n. 9, p. 64- 86, 2010.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 544


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SORDI, C. O animal como próximo: por uma antropologia dos movimentos de defesa dos direitos
dos animais. Cadernos IHU ideias, ano 9, n. 147, p. 1-28, 2011.

SOUZA, M. F. A. Resumo da Primeira Reunião Latino-americana de especialistas em posse


responsável de animais de companhia e controle de populações caninas. In Primeira Reunião
Latino-americana de especialistas em posse responsável de animais de companhia e controle de
populações caninas, de 01 a 03 de setembro de 2003. Rio de Janeiro, 2003.

SINGER, P. Libertação animal: O clássico definitivo sobre o movimento pelos direitos dos
animais. São Paulo: WMF Martins Fontes, p. 461, 2010.

TIZARD, Ian R. Imunologia Veterinária. 6 ed. São Paulo, SP: ROCA LTDA, 2002.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 545


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ESTUDO DE CASO EM ÁREA DE CONFLITO PELA OCUPAÇÃO URBANA: A


PERCEPÇÃO DE MORADORES E DE ESTUDANTES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
DA UFPB

Laís BARBOSA
Graduanda do Curso de Bach. Ciências Biológicas da UFPB
bio.laisbarbosa@gmail.com
Antonia Arisdelia Fonseca Matias Aguiar FEITOSA
Professora Adjunta da UFPB (Orientadora)
arisdelfeitosa@gmail.com

RESUMO
Construções civis em áreas de proteção ambiental constituem uma problemática para a gestão
pública. Situações de conflitos são mobilizadas por causas e consequências variadas. Esta pesquisa
teve como finalidade analisar uma situação de conflito pela construção de um condomínio em área
litorânea urbana de João Pessoa-PB e compreender a percepção de moradores e estudantes de
Educação Ambiental acerca da problemática em estudo. A pesquisa ocorreu entre os meses de
fevereiro e julho de 2017, mediada pela abordagem qualitativa e os dados foram obtidos por meio
da aplicação de questionários junto à comunidade envolvida. O contexto envolve um condomínio
construído próximo a praia e a um mangue. Os moradores pagam impostos desde sua construção,
onde compraram imóveis legalmente sem que houvesse nenhuma intervenção ambiental por parte
de qualquer órgão de direito, até o momento. O Ministério Ambiental solicitou a demolição de mais
da metade do condomínio e o pagamento de uma multa de alto valor por parte de todos os
moradores. O órgão ambiental alega que desde a construção do condomínio, o curso do mangue foi
desviado sofrendo algumas alterações. Neste cenário de conflito, moradores entendem injustiçados,
consideram viáveis projetos de recuperação da área e se dispõem a assumir novas posturas. Os
estudantes manifestam olhares mais profissionais, enfatizando as incoerências, porém evidenciam a
necessidade de disciplinamento com base na legislação. A problemática vai além da conservação do
mesmo, abrange os vínculos sociais e emocionais, criados pelos moradores e ainda monetário, pois
todo o terreno foi comprado antes das leis vigorarem e a legalidade da compra e venda das casas foi
assegurada.
Palavras-Chave: Ocupação urbana e conflitos; legislação ambiental; educação ambiental crítica.

ABSTRACT
Civil constructions in areas of environmental protection constitute a problem for public
management. Conflict situations are mobilized for various causes and consequences. This research
had as purpose the analyzes of a situation of conflict by the construction of a condominium in urban
coastal area of João Pessoa-PB and understand the perception of residents and students of
Environmental Education about the problematic under study. The research was conducted between
February and July 2017, mediated by the qualitative approach and the data were obtained through
the application of questionnaires to the community involved. The context involves a condominium
built near the beach and a mangrove. Residents pay taxes since the construction, where they have
legally acquired real estate without any environmental intervention by any body of law, so far. The
Environmental Ministry requested the demolition of more than half of the condominium and the
payment of a fine of high value by all the residents. The environmental body claims that since the
construction of the condominium, the course of the mangrove has been diverted undergoing some

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 546


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

changes. In this scenario of conflict, residents feel wronged, consider feasible projects of recovery
of the area and are willing to assume new positions. The students show more professional looks,
emphasizing the inconsistencies, but they highlight the need for discipline based on the legislation.
The problem goes beyond the conservation of the same, encompasses the social and emotional
bonds, created by the residents and still monetary, because all the land was bought before the laws
were in force and the legality of the purchase and sale of the houses was ensured.
Keywords: Urban occupation and conflicts; environmental legislation; Critical environmental
education.

INTRODUÇÃO

A zona costeira se caracteriza pela diversidade de ecossistemas que abriga e toda a


peculiaridade de sua extensão. É compreendida como um espaço de conexão ou de transição entre a
geosfera, hidrosfera e atmosfera (LMFA MORAIS 2009 apud MORAES, 1999, p. 29). Nessa região
se encontra uma extensa variedade de ambientes naturais como por exemplo, manguezais, restingas,
recifes de corais, bacias, lagunas, praias, falésias dunas, se constituindo importante base de recursos
para a sociedade humana. Entretanto, se apresenta como um ecossistema sensível, tendo em vista os
impactos ambientais advindos da intensa ocupação urbana desordenada nessa região, constituindo-
se uma séria problemática.
Apesar da ocupação do litoral brasileiro não ser uma situação recente, é a partir do século
XX, com o avanço das pressões de desenvolvimento urbano, industrial e intenso crescimento
populacional, que as problemáticas decorrentes da construção do espaço urbano no ambiente
costeiro se apresenta mais intenso, tendo em vista ainda a ausência de um planejamento de gestão
sustentável, que compreenda as dimensões ambientais e os impactos severos decorrentes do
processo de produção antrópica nessa área. (BARBOSA, A. G 2005).
No estado da Paraíba, a expansão da cidade para o litoral é recente, datando a década de 70
para o litoral Norte (Tambaú, Manaíra, Bessa) e somente a partir da década de 80 para o litoral sul
(Seixas, cabo branco). Um agravante é a ausência das licenças ambientais que só vigoram a partir
de 1981, ou seja, assim se encontram muitas construções irregulares e que ferem o direito do meio
ambiente para todos afirmado na legislação (PEREIRA, V. D 2016).
A produção do espaço urbano na zona costeira de João Pessoa está diretamente relacionada à
abertura da Avenida Epitácio Pessoa, em 1920, o que proporciona a conexão entre o litoral e o
centro da cidade e promove a abertura de estradas e bairros nos arredores da avenida. Foi nesse
contexto que o litoral norte é vislumbrado com forte perspectiva de urbanização, e em 1960 o Hotel
Tambaú faz valer a localização privilegiada da sociedade burguesa. O terreno plano do litoral norte
e a facilidade de acesso via Epitácio Pessoa impulsionou seu processo de desenvolvimento urbano,
que revela as características sociais e políticas da época. (LMFA MORAIS, 2009)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 547


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Nas décadas de 60 e 70 a visão de progresso para o regime militar era a dominação da


natureza, o que incentiva a implementação de projetos que visam à ocupação urbana, seja através do
turismo ou de conjuntos habitacionais. Tal ideologia antropocêntrica foi a responsável pelas
diversas construções irregulares, presentes no litoral do município de João Pessoa. (LEANDRO, A.
G 2006). A tardia interferência urbana no litoral sul evidencia a falta de infraestrutura (saneamento
básico, acesso a vias e estradas) para essa região, assim como a geomorfologia envolvendo praias
que apresentam falésia, o que justifica o crescimento horizontal da região.
Os processos de desenvolvimento antrópico do litoral sul surge través do Programa de Ação
para o Desenvolvimento do Nordeste (PRODETUR-NE), que visa políticas públicas para o turismo
pela instalação do ―Complexo Turístico Costa do Sol‖ para essa região, e da política dos conjuntos
habitacionais implementados pelo Estado (D‘ANGELIS, B. C. S.; LIMA, G. F). Assim, os dramas
socioambientais de uso e ocupação do solo, periferização dos moradores tradicionais, aterramento
de mangue, associado à ausência de um Estudo de Impacto ambiental que se fizesse valer,
determinou a problemática da ocupação urbana na zona costeira do litoral sul. (LMFA MORAIS -
2009).
Esta pesquisa teve como objetivos de analisar uma situação de conflito pela construção de
um condomínio em área litorânea urbana de João Pessoa-PB e compreender a percepção de
moradores acerca da problemática por eles vivenciada, bem como entender como os estudantes de
educação ambiental percebem o caso.
Entendemos que a ocupação Urbana é uma área de interesse dentro da perspectiva da
Educação Ambiental, pois qualifica a obtenção de dados do que pode ou não dá certo para a
construção de cidades sustentáveis. Também nos mantém a par das problemáticas abordadas dentro
da educação ambiental crítica e complexa. Uma vez posta em reflexão, às situações - problemas são
discutidas, socializadas e viabiliza uma busca compartilhada por soluções viáveis e conciliadoras.

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido no bairro do Seixas, situado na porção extremo-leste do litoral


brasileiro, na cidade de João Pessoa Paraíba. Está limitado ao norte pela Praia do Cabo Branco e ao
sul pela Praia da Penha. Historicamente a urbanização seguiu o sentido horizontal determinado pelo
Estado devido as falésias da região, principalmente de casas e condomínio a beira mar, o que resulta
em graves impactos ambientais diretamente ocasionados pelo transtorno de urbanização sem
planejamento. A pesquisa ocorreu entre os meses de fevereiro e julho de 2017. O contexto envolve
um condomínio construído próximo a praia e a um mangue na cidade de João Pessoa.
O estudo orientou-se pela abordagem da pesquisa qualitativa (MINAYO,1998). As ações
foram realizadas em duas etapas que se complementaram: na primeira, ocorreram: análise de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 548


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

documentos (legislação e processos) e registros fotográficos no local. Este procedimento


possibilitou a elaboração de um perfil da realidade em estudo; aplicação de questionários junto à
comunidade envolvida residente no condomínio – objeto do estudo. Os questionários aplicados
junto aos moradores foram divididos em quatro (04) esferas: 1) Perfil dos moradores, 2) perfil de
moradia, 3) meio ambiente e 4) ação civil pública. Na segunda, a situação apreendida foi
apresentada aos estudantes da turma de Bases de Educação Ambiental.
A apresentação junto aos estudantes partiu de uma abordagem histórica de ocupação do
litoral norte e sul do município de João Pessoa, demonstrando situações de conflitos já existentes
como o caso do Hotel Tambaú e do Shopping Manaíra e fazendo um panorama geral sobre a
situação da legislação, a saber, antigo e novo código florestal no que se trata de Área de
Preservação Permanente (APPs) e do Estudo de Impacto Ambienatal (EIA) no Brasil. Depois dessa
contextualização, foram expostos os dados dos questionários aplicados junto aos condôminos e por
fim, a aplicação de questionários junto aos estudantes, com a finalidade de perceber os olhares
acadêmicos acerca do caso.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Situação-problema: condomínio construído em área de proteção e o enfrentamento judicial

As ferramentas legais para fiscalização de ocupações urbanas em áreas de preservação no


contexto da política ambiental brasileira são elaboradas sem muita especificidade já no código
florestal de 1965, porém, sem diretrizes gerais ou definição de órgãos responsáveis a fiscalização. O
Estudo de Impacto Ambiental só foi de fato incorporado como legislação específica Brasil na
década de 1980, pela Lei Federal nº 6.803/80, que trata do zoneamento industrial, porém sem
critérios e definições. (PEREIRA, V. D. 2015).
A partir da Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente
(PNMA) e relaciona o EIA como um dos instrumentos desta política, é que efetivamente o EIA é
incorporado na legislação brasileira tornando-se parte integrante do processo de licenciamento de
atividades e empreendimentos efetiva ou potencialmente poluidores ou causadores de degradação
ambiental. Através da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente surge o Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA) que cria as normas e os critérios afirmados acima para o
licenciamento de atividades poluidoras (PEREIRA, V. D. 2015).
A Resolução do CONAMA 001/1986 estabelece definições gerais, critérios básicos e
responsabilidades em relação à Avaliação de Impacto Ambiental que é um dos instrumentos da
Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). As diretrizes e definições abordadas nessa
Resolução auxiliam na elaboração do EIA/RIMA necessários durante os processos de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 549


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Licenciamento ambiental, definindo as atividades que necessitam do mesmo (PEREIRA, V. D.


2015). Além disso, somente no final da década de 1980, a partir do Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro (PNGC) pela Lei Nº 7.661, de 16 de maio de 1988 é que a zona costeira
começou a ser tratada de maneira diferenciada, valendo a utilização racional de seus recursos
através da preocupação com o caráter cultural, historio e ambiental (DORNELLES, L. M. A.). Só
para fins de comparação, as previsões apontadas pelo Plano de Gerenciamento Costeiro, elaborado
ainda em 2004 pela gestão pública municipal, previam uma forte tendência de ocupação de áreas de
uso comum à beira mar por barracas, bares, residências e arrimos, a maioria em desacordo com
critérios estabelecidos pela legislação municipal (VIANA, A. R. S. 2009).
O histórico de ocupações desordenadas em áreas de preservação ambiental na zona costeira
se torna uma problemática socioambiental, mais ainda, quando se sabe que o Estado foi um dos
grandes atores dos investimentos de expansão urbana no litoral em visão de comércio e de
progresso.
O condomínio Village Atlântico Sul, situado na orla da Praia do Seixas, litoral sul João
Pessoa, constitui o fenômeno deste estudo. Apresenta-se, neste contexto, como uma das construções
de caráter progressista e de viabilização de imóveis urbanos promovidos em meio às atrocidades
cometidas tanto com as comunidades locais que ali residiam, quanto com o meio ambiente
suprimido, assim como, os moradores que adquiriram ou venham a adquirir o imóvel.
Em relação à judicialização do fato por meio de uma Ação Civil Pública, temos que foi
instaurado o Inquérito Civil nº 1.24.000.000152/2006-19 para apurar impactos ambientais no Rio
do Cabelo, que apresenta históricos de graves impactos desde sua foz. O Ministério Público Federal
na Paraíba ajuizou contra o Condomínio Village Atlântico Sul uma ação civil pública com pedido
de liminar para que a Justiça Federal determine a remoção da ocupação irregular mantida pelo
mesmo em Área de Preservação Permanente (APP) do Rio Cabelo, na praia do Seixas, em João
Pessoa. As ações foram ajuizadas em 19 de dezembro de 2016.
O Ministério Público Federal requer, conforme consta na legislação ambiental, que cerquem
a faixa mínima de 30 metros a ser protegida para garantir o processo de recuperação ambiental; que
seja fixada multa diária, conforme indicado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, no valor
de R$ 1.000,00, passíveis de elevação caso o condomínio não se manifeste de acordo com as
medidas solicitadas. Nesse sentido, também solicita que o condomínio remova a ocupação irregular
na Área de Proteção Permanente (APP) relacionada ao rio Cabelo e pague uma indenização por
danos materiais e morais ao meio ambiente e à coletividade, em valor não inferior a R$ 2 milhões
de restaurar o meio ambiente degradado.
Como parte do condomínio é território cedido da União, pelo qual todos os moradores
pagam impostos, o MPF requer ainda determinação judicial para que a União cancele a inscrição de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 550


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

todos os demandados tendo em vista os danos causados. Além de solicitar que tanto a União como o
Município de João Pessoa se coloquem presentes na elaboração de um plano de recuperação de área
degradada e remoção da construção irregular. A mesma ação civil também consta para outras
ocupações irregulares como a Associação dos Fiscais de Rendas e dos Agentes Fiscais do Estado da
Paraíba (AFRAFEP), à Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) e à proprietária de uma
residência próxima.

Percepção dos Moradores frente à experiência de conflito vivenciada

Foram entrevistados 20 moradores do condomínio residencial Village Atlântico Sul, situado


na Orla Marítima de João Pessoa. O objetivo foi analisar o nível de percepção destes moradores
acerca da situação de conflito decorrente de uma Ação Civil Pública impetrada pelo Ministério
Público contra o condomínio. No grupo entrevistado, 15 pessoas são proprietários(as), 03
inquilinos(as) e 02 pessoas se abstiveram. A faixa etária variou entre 22 – 72 anos, distribuídos
entre homens (130) e mulheres (07). O estado civil variou entre casados, solteiros, divorciados e
viúva. O grau de escolaridade indicou 12 pessoas com superior completo, 06 com superior
incompleto e 02 com médio completo. A maioria deles (11 pessoas) revelou que esta é a única
moradia, os demais têm outro imóvel, mas usam frequentemente este como residência. o tempo em
que residem neste condomínio variou entre 1-25 anos. Pagam impostos como o IPTU e pelos
serviços públicos oferecidos a exemplo da taxa de coleta de lixo. Se sentem motivados a morar nele
por aspectos como segurança, tranquilidade e qualidade de vida.
Quando abordados sobre a frequência nas reuniões de condomínio, a maioria (12 pessoas) se
manifestou que não participam assiduamente, as outras (08 pessoas) afirmaram participarem das
reuniões, porém não conseguiram elencar precisamente quais as temáticas tratadas durante as
assembleias. Citaram temas como: questões da administração do condomínio e a questão ambiental,
enfatizando que a questão ambiental começou a ser tratada após a Ação Civil Pública.
Sobre a relação do condomínio com o meio ambiente circundante, os moradores se
manifestaram de maneira diversificada. Alguns percebem esta relação como excelente (01 pessoa) –
considerando que o condomínio não polui o ambiente; outros percebem como boa (11 pessoas) –
alegando que há certa Consciência Ambiental, há práticas de descarte e recolhimento correto do
Lixo e há Arborização e Urbanização; e os demais consideram ruim (08 pessoas) – enfatizando que
os moradores fazem pouco pelo meio ambiente, têm Pouca Conscientização Ambiental e, portanto,
consideram uma relação fraca no tocante aos cuidados com o meio ambiente circundante.
Manifestaram-se ainda, sobre alguns impactos decorrentes desta ocupação: As construções não são
ecológicas e a proximidade com o Rio provoca mudança no curso do Rio, causando poluição e
avanço no nível do mar (aumento da erosão). Entendem com uma Interferência agressiva do ser

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 551


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

humano na natureza sem planejamento e sem medir consequências e, assim percebem que toda e
qualquer ação que altere o meio ambiente traz consequências para a qualidade de vida.
A respeito da Ação Civil Pública, os moradores do Condomínio Village Atlântico Sul
revelaram ciência ou não do processo indicando a seguinte distribuição: 19 entrevistados disseram
ter ciência do processo. Destes, 10 pessoas conhecem o teor do processo e acompanha, de certa
forma o desdobramento da ação; 09 pessoas têm dúvidas acerca da essência e do desdobramento do
processo. Apenas uma pessoa informou que não tem ciência. Indagados sobre a possibilidade de
deslocamento e indenizações, se posicionaram: 07 aceitariam a indenização (lutando, em lugar com
as mesmas condições e dependendo do valor indenizado) 10 pessoas não aceitariam; 01 disse que
seria um caso a se pensar. Os discursos foram na direção de defesa ao condomínio:

Estavam na legalidade na época; São bens civis próprios e o estado não pode retirar seu
único bem, está na lei. Quando foi construído obedeceu as leis; Constituição na época da
construção foi liberada dentro da lei; O Ministério alega que não deveria estar aqui algo que
foi autorizado pelo governo, devendo haver ao menos uma indenização; A construção
respeita a constituição vigente e não foi apreciado pelo juiz que a maior parte apresentado
pelo processo são riscos e não impactos; Os moradores não têm culpa do Ministério ter
permitido a obra que foi comprada legalmente e agora eles querem tirar as pessoas sem
indenizar; Não foi o condomínio que retirou o curso natural do Rio Cabelo; Estamos sendo
penalizados por uma situação que não provocamos dentro de uma escala de penalidades
fomos classificados como um crime gravíssimo relacionado ao aterramento do mangue;
Porque é a única moradia de muitos que não tem onde morar se foram despejados e não
recebem indenização (Pesquisados, 2016).

Entendem que a ação civil pública traz penalidades drásticas, como por exemplo, a
demolição de uma área considerável do condomínio e afirma que o mesmo praticou ilegalidades e
se manifestaram:

Não é culpa dos moradores – (que não deveriam ser despejados sem idenização); não se
torna necessário despejar famílias honestas simplesmente por morarem em um lugar que a
construção foi permitida pelo governo na época; Não se pode mover várias famílias para a
rua sem dar nenhum apoio ou retorno financeiro já que é o único imóvel de alguns; Não se
constitui como um balneário e sim um lugar urbanizado que não apresenta o luxo citado no
processo (Pesquisados, 2016).

Ao serem abordados sobre algumas atitudes corretivas frente aos impactos identificados
pelos próprios moradores, estes revelaram que se fazem necessárias medidas educativas que visem
melhorar as condições ambientais do local, especialmente em relação ao rio e aos impactos na área
costeira. E sugeriram alguns mecanismos de ações ambientais mitigadoras dos impactos ambientais
vigentes. Foram apontadas medidas a serem tomadas pelo poder público, como:

Planejamento por engenharia ambiental; estudo de impacto ambiental para também


prevenir o que está acontecendo; A recuperação do Rio do Cabelo desde a nascente e resto
do curso devido a dejetos e poluentes, canalização para fixação do curso do rio;
Conscientização ambiental dos moradores; Decretamento de trabalho de limpeza e
restauração do mangue e da APA do Rio do Cabedelo; Identificação dos pontos de poluição
e desvio do rio que o direciona ao condomínio (Pesquisados, 2016).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 552


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Como medidas a serem assumidas pelos moradores do condomínio, foram citadas:


―Reorganizar o curso do rio de forma que não ocorram problemas para o condomínio nem para a
natureza; Compensação, replantio de plantas nativas, a exemplo do shopping Manaíra‖. Como
forma de atendimento às demandas legais apresentadas pelo Ministério Público, os moradores
citaram as seguintes medidas: ―Desviar o curso do rio, deixar como está, pois estamos quites
perante a lei; Enfrentamento jurídico legal; Comprovar-se e investigar-se os fatos do processo‖.

Percepção dos Estudantes de Educação Ambiental da UFPB

O estudo envolveu vinte e sete (27) estudantes dos cursos de Ciências Biológicas (11)
Engenharia Ambiental (14) e Matemática Computacional (02). O objetivo foi identificar a
percepção destes estudantes acerca dos casos de conflitos por ocupações urbanas e suas tomadas de
decisão como atores sociais e futuros profissionais na área ambiental. Foi tomado como caso a
refletir, o conflito que envolve o Condomínio Village Atlântico Sul, situação apresentada aos
estudantes (envolvendo o contexto legal da construção e as percepções manifestadas pelo
moradores). Investigou-se o perfil dos discentes, percepção acerca da legislação ambiental e
conhecimentos gerais sobre o tema discutido, percepção da educação ambiental crítica, percepção
pessoal sobre o tema relacionado ao caso abordado.
Os discentes investigados foram estudantes entre 20 e 34 anos e se autodenominam brancos,
negras e pardos. Entre alguns foi evidenciada a ausência de conhecimento sobre a legislação com
ênfase no Novo Código Florestal sobre Ocupações em áreas de Preservação Permanente. Muitos
dos que tiveram acesso a esse conhecimento citaram atividades da universidade sobre o meio
ambiente e legislação, seminário sobre o Shopping Manaíra e pesquisas acadêmicas sobre o Novo
código como procedência dessa percepção. De modo específico, os estudantes do curso de
engenharia ambiental demonstraram conhecimento sobre o Novo Código Florestal em relação a
Ocupações em áreas de Preservação Permanente, devido as disciplinas ofertadas no seu curso, como
Direito Ambiental, citam também pesquisas acadêmicas, leituras em revistas e jornais, divulgação
na internet e televisão, e cursos técnicos.
A maioria dos investigados (vinculados aos cursos envolvidos) elencou que a legislação
sobre conflitos em áreas costeiras impõe medidas necessárias devido ao impacto da interferência
antrópica no meio natural, as áreas em risco ambiental, precisam ser protegias; como por exemplo,
as construções que são feitas em áreas onde existe a nascente de rios‖, diz um dos entrevistados. A
complexidade ambiental e a aplicabilidade pura da lei apareceram em uma resposta com o devido
recorte: ―A legislação não compreende o contexto das variadas situações que irão cair na sua
competência, fazendo com eu sua aplicabilidade pura seja dificultada‖ (Pesquisados, 2017).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 553


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Dentre os casos citados pelos estudantes sobre situações de conflito por ocupação urbana,
estão os barzinhos na orla de João Pessoa e de Cabedelo; o caso do Farol de Cabo Branco, o Hotel
Tambaú, o bairro Rua do Rio em torno das margens do Rio Paraíba em Santa Rita e o Shopping
Manaíra. Somente dois discentes revelaram não ter conhecimento. Ademais, quando questionados
sobre a situação do condomínio Village Atlântico Sul, com exceção de um discente que considerou
que os moradores não possuem culpa, apesar de ser necessária uma intervenção, todos afirmam que
as ações tomadas pelo Ministério Público Federal sobre o condomínio são justas. Os argumentos se
incorporam no contexto da perspectiva técnica ambiental:

Justas. Porque é claro o impacto gerado pelo meio ambiente com a ocupação do
condomínio. O tempo de existência não justifica as atrocidades cometidas. A medida
tomada é de médio custo, comparada à perda em termos de biodiversidade e função
ecológica do rio pela existência do condomínio. Embora haja a justificativa de que a obra
foi permitida, o condomínio de forma geral, vem contribuindo cotidianamente com o
aumento de danos ambientais; Ele está edificado irregularmente (Pesquisados, 2016).

Os construtores foram indicados como principais sujeitos aos quais refletem a culpabilidade
da situação conflito em questão. Os moradores que vivem no condomínio, assim como o
proprietário do condomínio foram indicados apenas duas vezes. Perdura em poucas respostas uma
reflexão sobre a dificuldade de elencar culpados nessa situação.
Em tese, a relação do condomínio com o meio ambiente é percebida como impactante,
citando principalmente as interferências no curso do Rio Cabelo e no ambiente costeiro; a geração
de resíduos dos moradores para o ambiente e despejo de resíduos sólidos nas proximidades do Rio,
como atividades de maior impacto. Por conseguinte, boa parte dos entrevistados considerara que um
trabalho de Educação Ambiental auxiliaria na harmonização desta situação-conflito no sentido de
sensibilizar os moradores sobre o impacto que estão causando.
Os estudantes apresentaram posicionamentos divergentes quanto às medidas requeridas pelo
MPF serem coerentes com o que a preceitua a Educação Ambiental. Dos que acreditam que o
Ministério Público Federal não está coerente com os conceitos da Educação Ambiental, alegam:

A educação ambiental visa atingir mudanças de acordo com a mudança da consciência da


pessoa em questão; O fato de retirar pessoas que já moram lá há muito tempo a educação
ambiental trataria de uma forma mais branda para não causar um dano emocional aos
moradores; As medidas propostas pelo Ministério Público são referentes a questões
técnicas. Os moradores ficam à par de sua responsabilidade no processo. Acabam
interpretando as medidas como "impactos pessoais" no sentido de perder sua casa, o lar, e
não entendem a verdadeira situação referente às questões ambientais (Pesquisados, 2016).

Foram citados, pelos estudantes, como fatores de resistência à desocupação do Condomínio


o poder aquisitivo, a falta de indenização aos moradores, a relação interpessoal com o espaço, e a
residência de famílias:

A relação com o espaço. As pessoas mantem uma forte relação com o ambiente onde elas
vivem, associando sempre a um local de conforto e segurança, atribuindo sentimento ao

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 554


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

lugar. Aliado a isso, as regiões litorâneas proporcionam uma situação de bem-estar pelas
particularidades do local. Acredito que essas são as maiores causas de resistência
(Pesquisados, 2016)

A Educação Ambiental é reconhecida pelos pesquisados como um conjunto de processo para a


sensibilização e conscientização, atua como medida preventiva para evitar conflitos de ocupação
urbana afirmando que seria uma atitude assumida por eles em uma situação de poder:

Se a área fosse de impacto ambiental realocar os moradores e conscientizá-los; Uma boa


conscientização ambiental para eles poderem entender o que está acontecendo e poder
desocupas as áreas sem transtornos, pois a maioria tem uma relação afetiva com o local;
Faria trabalhos de sensibilização ambiental; criaria um monitoramento de áreas de
vegetação nativa, fauna e flora; Cumprir a legislação promove educação ambiental e
fiscalização constante (Pesquisados, 2016).

A fiscalização e o cuidado com o local onde se deve construir moradia, também foram
citadas como medidas preventivas. Por fim, uma resposta citou o deslocamento dos(as)
moradores(as) da área de conflito como medida preventiva.
A ausência de imóveis em áreas costeiras foi a manifestação mais evidente (informaram que
não possuem imóveis em áreas costeiras e afirmaram que possuem). Porém, um pouco mais da
metade afirma que compraria um imóvel em construção em um bairro litorâneo com financiamento
facilitado, próximo ao mar e com todos os documentos legalizados. Entre os argumentos, o fato do
imóvel está devidamente legalizado é o mais citado, porém ainda há dúvidas quanto a forma de
aquisição pelos moradores.

Definir o zoneamento ambiental mostrando as áreas que podem ser construídas e definir as
limitações.‖; ―Educação Ambiental com a população local; Fiscalização mais efetiva,
processos de licenciamento mais rigorosos, educação ambiental com a população local.‖;
―Deveria haver um planejamento prévio de onde poderá construir as habitações e
empreendimentos, isso evitaria a ocupação em locais indevidos e seus possíveis impactos.‖;
―Planejamento urbano é a melhor solução para questões de ocupação urbana desordenada.‖;
―Melhor distribuição do solo, trabalhando com o potencial econômico e cultural, das áreas
ocupadas e intervindo na adequada revitalização de bairros menos estruturados da cidade,
respeitando as condicionantes legais (Pesquisados, 2016)

Sugerem a delimitação de áreas de preservação, a conscientização da população, a


fiscalização, um plano diretor mais bem planejado, remoção e aplicação de multas como principais
medidas preventivas para evitar conflitos de ocupação urbana afirmando que seria uma atitude
assumida por eles em uma situação de poder.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As relações sociedade-natureza estão sujeita muitas vezes a conflitos resultantes da não


identificação do ser humano como parte integrante da natureza, ou seja, o reconhecimento do
sujeito ecológico e da ideologia utilitária presente no perfil político-econômico do século presente
(BARBOSA, A. G 2007).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 555


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A construção do espaço urbano é resultado reflexo direto da sociedade que o produz. Assim,
a expansão urbana é edificada em meio às contradições sociais, onde construções de grande porte e
que visam o consumo da classe mais abastada da sociedade são seguidas de ocupações por parte das
esferas mais pobre da população. De um lado vislumbramos alicerce da riqueza, do consumo e
produção em massa, argumentos utilizados para a sustentação dessas obras, embora irregulares. De
outro lado, falta de infraestrutura, saneamento, água potável, energia.
Situações de conflito decorrentes de ocupações desordenadas são recorrentes e causam
constrangimentos e perdas irreparáveis às comunidades e ao ambiente. As percepções apreendidas
demonstram que estamos sempre vinculados às demandas do nosso cotidiano, fato evidenciado nas
perspectivas apresentadas pelos moradores do condomínio e os estudantes. Estes últimos, menos
envolvidos emocionalmente, e mais acadêmicos, se posicionaram com argumentos e bases legais, e,
embora reconheçam o ―sofrimento‖ dos envolvidos na ação, fortalecem seus discursos amparados
nas bases teóricas em defesa ambiental.
Porém, para compreender os processos de conflitos de ocupação urbana, é necessária uma
leitura integrada e interseccional do mundo que não se limite a lente naturalista do saber
reducionista e do cientificismo dos conhecimentos técnicos da natureza (CARVALHO, 2008) mas,
que dialogue com a complexidade e multiplicidade dos saberes. A educação ambiental, nesse
sentido, faz valer o conceito de sujeito ecológico, de responsabilidade coletiva, propondo a troca do
mundo do Ego, da desconexão com a natureza, da superioridade e da satisfação do ser humano
frente ao meio ambiente. filosofia do descartável e do moderno, para o mundo do Eco.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, A. G. Produção do espaço e transformações urbanas no Litoral Sul de João Pessoa.


2005. 204 f. Dissertação (Mestrado em Geografia)− Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Natal, 2005. Disponível em: <ftp://ftp.ufrn.br/pub/biblioteca/ext/bdtd/AdaultoGB.pdf>.
Acesso em: 29 ago 2017.

CARVALHO, I.C.M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 4ª ed. São Paulo:
Cortez, 2008.

D‘ANGELIS, B. C. S.; LIMA, G. F. da. Políticas Públicas de turismo na Paraíba: avaliação do


Polo Cabo Branco e do Prodetur (NE) . Disponível em:
<http://www.mapp.ufc.br/images/revista_aval/edi%C3%A7%C3%B5es/PG-73-87.pdf>. Acesso
em: 29 ago. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 556


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

DORNELLES, L. M. A. Educação Ambiental e gerenciamento costeiro. Rev. Eletrônica Mestr.


Educ. Ambient., v. 21, julho a dezembro 2008. Disponível em:
<file:///C:/Users/Livre/Downloads/3065-8508-1-PB.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2017.

LEANDRO, A. G. O turismo em João Pessoa e a construção da imagem da cidade. 2006. 195 f.


Dissertação (Mestrado em Geografia)− Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2006.
Disponível em: <http://www.geociencias.ufpb.br/posgrad/dissertacoes/aldo_leandro.pdf>.
Acesso em: 29 ago. 2017.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 5.


ed. São Paulo-Rio de Janeiro: HUCITEC-ABRASCO, 1998.

MORAIS, L. M. F. A. Expansão urbana e qualidade ambiental no litoral de João Pessoa-PB.


2009. 171 f. Dissertação (Mestrado em Geografia)− Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa, 2009. Disponível em:
<http://www.geociencias.ufpb.br/posgrad/dissertacoes/lenygia_maria.pdf>. Acesso em: 29 ago.
2017.

PEREIRA, V. D. Uma abordagem geográfica dos EIAs/RIMAs no estado da Paraíba. 2016. 106 f.
Monografia (Bacharelado em Geografia) Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2016.
Disponível em:
<http://rei.biblioteca.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/1060/1/VDP19082016.pdf>. Acesso
em: 29 ago. 2017.

VIANA, A. R. S. Zona de proteção costeira no município de João Pessoa – PB. 2009. 73 f.


Monografia (Graduação em Geografia)− Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009.
Disponível em: >file:///C:/Users/Livre/Downloads/alyson.pdf>. Acesso em: 29 ago 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 557


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DA MATA CILIAR DO TRECHO


URBANO DO RIO SITIÁ, QUIXADÁ-CE.

Maria da Conceição de SOUSA


Graduanda do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do IFCE
conceicaosousa150410@gmail.com
Maria Maiany Paiva LIMA
Graduanda do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do IFCE
maianypaival@gmail.com
Lucas da SILVA
Professor Doutor do IFCE
lucasilva@ifce.edu.br

RESUMO
O artigo tem como principal objetivo avaliar a qualidade ambiental da mata ciliar do trecho urbano
do rio Sitiá, através da análise dos fatores que influenciam o processo de degradação ambiental da
mata ciliar as margens do rio Sitiá no município de Quixadá–CE, localizado na região do sertão
central cearense, uma área semiárida. A metodologia utilizada foi composta por visitas in loco onde
foram selecionados inicialmente, pontos estratégicos do rio para avaliação da degradação ambiental,
isso através de registros fotográficos e listagem dos impactos. Os primeiros resultados evidenciados
é que o rio Sitiá, no trecho que corta o município de Quixadá-CE, recebe uma grande carga
poluidora, pois é receptor direto de aporte de águas residuárias e assoreamento tanto em pontos
difusos quanto pontuais, decorrente principalmente da destruição da mata ciliar. Com isso conclui-
se que é necessária uma revitalização urgente em todo trecho urbano do rio Sitiá, como limpeza,
reposição da vegetação ciliares, por meio de programas de recuperação de áreas degradadas e
adoção de ações de educação ambiental, visando a melhoria da qualidade ambiental do rio.
Palavras chave: Degradação, Mata ciliar e Assoreamento.
ABSTRACT
The article has as main objective to evaluate the environmental quality of the riparian forest
stretches from rio Sitiá, through the analysis of factors influencing the process of environmental
degradation of riparian forest on the banks of the Rio Sitiá in the municipality of Quixadá - EC,
located in the region of the sertão central Ceara, a semi-arid. The methodology used was composed
of visits in loco where they were initially selected, strategic points of the river to evaluate the
environmental degradation, this through photographic records and the listing of impacts. The first
results show that the river Sitiá, in the section that cuts the municipality of Quixadá-CE, receives a
great pollutant load, since it is a direct receiver of waste water supply and material from
sedimentation in both diffuse and punctual points, mainly due to Degradation of the riparian forest.
With this, it is concluded that an urgent revitalization is necessary in all urban segments of the river
Sitiá, such as cleaning, restoration of riparian vegetation, by means of programs for the recovery of
gravel areas and adoption of environmental education actions, aiming at the improvement of quality
Environment of the river.
Keywords: Degradation, Riparian Forest and Sedimentation.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 558


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

A ocupação e a intervenção entrópica sobre os cursos d‘água provocam o carreamento de


grandes quantidades de solo, matéria orgânica, insumos agrícolas e até mesmo esgotos domésticos,
contendo coliformes e industriais, ricos em metais pesados, para o leito dos rios no período
chuvoso, contribuindo significativamente com o aumento da concentração de sólidos e nutrientes na
água dos mananciais (Vanzela et al. 2010).
A principal consequência da ocupação das margens de rios é a perda da mata ciliar,
ocasionando assoreamento que, além de alterar e/ou deteriorar a qualidade da água e provocar a
perda da diversidade de fauna e flora, e o decréscimo da velocidade da água resultando também na
redução da disponibilidade hídrica (Andrade et al. 2007).
A importância da cobertura do solo sobre as perdas de água e solo pode ser compreendida
por meio da interferência que a cobertura tem sobre as gotas de chuva, provocando a dissipação da
energia cinética do choque das mesmas sobre a superfície, diminuindo o impacto inicial nas
partículas de solo e consequentemente, a concentração de sedimentos na enxurrada. Somando-se a
isso, a cobertura do solo representa um obstáculo mecânico ao livre escoamento superficial da água,
provocando a diminuição da velocidade e da capacidade de desagregação e transporte de
sedimentos (Vanzela et al. 2010).
Portanto a principal responsável pela preservação dos recursos hídricos é a mata ciliar, pois
a vegetação que se localiza nas margens dos rios, ajuda a garantir a vazão mínima e fornece abrigo
e alimentação para a fauna nativa. Contudo, o aumento da pressão urbana e agrícola, devido ao
desenvolvimento econômico acelerado e à falta de cumprimento do que é legalmente previsto, estas
vêm sendo degradadas em ritmo acelerado, gerando a necessidade de reabilitá-las (Guislon et al,
2016).
Diante do cenário atual de ocupação das margens de rios em áreas urbanas torna-se
fundamental o estudo dos canais fluviais para a compreensão do aumento da degradação ambiental
nas encostas fluviais. Pois se sabe que a degradação das margens está associada ao desmatamento
ciliar para ocupação irregular, ou seja, os problemas ambientais estão relacionados ao mau uso do
solo e a exploração dos recursos naturais. Baseando-se nesses estudos é possível traçar linhas de
ação ou subsidiar a tomada de decisões para prevenir, controlar e corrigir os problemas ambientais
(Frederice, 2010).
Outro fator que influencia nesta questão é o comportamento hidrológico de uma bacia
hidrográfica, uma vez que são resultantes das características geomorfológicas (forma, relevo, área,
geologia, rede de drenagem, solo, etc.) e do tipo da vegetação (Lima, 1986). As características
físicas e também as bióticas, principalmente àquelas relacionadas com a cobertura vegetal do solo
desempenham importante papel nos processos relacionados à fase terrestre do ciclo hidrológico,
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 559
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

influenciando, dentre outros, a infiltração, a evapotranspiração e os escoamentos superficial e


subsuperficial e a quantidade de água produzida como deflúvio (Santos et al., 2012) .
Neste contexto, o Rio Sitiá em Quixadá-CE apresenta um elevado grau de degradação da
mata ciliar acarretado pelos diversos fatores elencados acima. Dessa forma, este artigo tem o
objetivo de estudar os fatores que influenciam este processo levando em consideração os aspectos
geográficos e ambientais.

METODOLOGIA

O Rio Sitiá corta os municípios de Quixadá e Banabuiú, na Região do Sertão Central do


estado Ceará, com nascente na Serra do Estevam, município de Quixadá e deságua no Rio
Bananabuiú, no município que dá nome ao rio, com comprimento de 90 km, não perenizado,
captando água da bacia do Banabuiú que também é afluente do Rio Jaguaribe (Figura 1).

Figura 1: Mapa de localização do rio Sitiá


Fonte: do próprio autor
O Rio é barrado em dois pontos, o primeiro no açude Cedro a 20 km da nascente e no
segundo ponto no açude Pedras Brancas, sendo este responsável pelo abastecimento das cidades de
Quixadá e Quixeramobim. Entre estes pontos o rio atravessa a área urbanizada do seu comprimento
sem evidências de estrutura de saneamento básico, descrita na figura 2.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 560


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 2: Percurso do Rio Sitiá na área urbana do município de Quixadá-CE.


Fonte: adaptado GoogleEarth (2017)
A metodologia utilizada foi composta pesquisas bibliográficas, trabalhos, visitas de campo
in loco onde foram selecionados inicialmente, pontos estratégicos do rio para avaliação da
degradação ambiental, isso através de registros fotográficos e a listagem dos impactos. Foi realizada
a aplicação de um Protocolo de Percepção/Avaliação Rápida Ambiental/RAP (Callisto et al., 2002) e
parâmetros socioeconômicos e de infraestruturas técnicas.
Os pontos selecionados foram o trecho do Rio Sitiá próximo a ACOCECE (Associação de
Ovinos e Caprinos do Estado do Ceará), localizado logo após a barragem do Cedro; um ponto
próximo ao Matadouro Municipal de Quixadá-CE, local potencialmente poluidor; e outro ponto
próximo a UNICATÓLICA (Universidade Católica de Quixadá-CE), maior aglomerado urbano
identificado com o maior acúmulo de água, próximo ao bairro Boto, ponto de maior contribuição de
efluente clandestino.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com o Código Florestal Brasileiro (2012), a margem de cursos de água deve ser
considerada como uma Área de Preservação Permanente (APP), tanto em zonas rurais como em
zonas urbanas. A lei atribui ainda que cursos d‘água de menos de 10 (dez) metros de largura, a APP
a suas margens deverá ser de 30 (trinta) metros.
A margem do Rio Sitiá encontra-se com alguns trechos totalmente urbanizados como já
estacado anteriormente, a cidade de Quixadá-CE praticamente cresceu em entorno do rio, sendo que
algumas áreas antes alagáveis foram aterradas para construção civil, como é o caso do bairro
Rodoviária, que atualmente enfrenta sérios problemas durante a quadra chuvosa pela dificuldade de
escoamento das águas pluviais.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 561


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A ocupação de áreas marginais de rios, na grande maioria dos casos, ocorre sem o
planejamento adequado, fato que consequentemente expõe a população a inúmeros riscos, além de
ser responsável pelo desencadeamento de inúmeros problemas ambientais. Entre os riscos mais
comuns perpassados pelas populações estão: inundações, bem como outros processos de dinâmica
superficial, basicamente movimentos de massa, erosão e assoreamento (Frederice, 2010).
Outros trechos onde não existem aterramento do leito do rio, também não há presença de
mata ciliar o que prejudica mais ainda o curso do rio, como é o caso do trecho próximo a
ACOCECE (Figura 3), que fica localizado logo após o açude Cedro em área de Proteção do
Governo Federal. Na margem direita do Rio são construídos o Instituto Federal do Ceará, a
Universidade Federal do Ceará e a ACOCECE. Com o alto fluxo de pessoas o espaço acaba sendo
impactado com ações de desmatamento que influencia na alteração do habitat de espécies nativas da
região e na predominância de vegetação pioneira.

Figura 3: Trecho do Rio Sitiá próximo a ACOCECE


Fonte: do próprio autor.

Esta área é também utilizada para desenvolvimento de pesquisas de estudantes do curso de


Engenharia Ambiental e Sanitária do IFCE devido à proximidade com o campus. As pesquisas
geralmente voltadas para recuperação de áreas degradadas atuando no desenvolvimento de técnicas
de produção e manejo de mudas nativas da caatinga, sendo essas mudas utilizadas para recuperação
da mata ciliar do rio Sitiá (Monte et al, 2016; Brito et al, 2016; Mota e Silva, 2016).
No trecho do curso do rio que passa próximo ao matadouro municipal de Quixadá é
perceptível a degradação da mata ciliar, (Figura 4). Os principais motivos da vulnerabilidade do rio
são a aproximação a uma rodovia além da poluição pontual de rejeitos do matadouro.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 562


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 4: Trechodo Rio Sitiá próximo ao Matadouro Municipal


Fonte: SEMA/SEMACE

Nesta área foi identificada a maior falta de cobertura do solo que acarreta na abertura de
ravinas que logo evoluem para sulcos, podendo chegar a voçorocas. Este fenômeno acaba sendo
amenizado pela falta de grandes precipitações, pois não é característica daregião grandes volumes
de chuvas.
Após passar ao lado do matadouro o rio corre para o centro da cidade e passa ao lado da
Universidade Católica de Quixadá. Ao longo desse percurso ele recebe contribuição constante de
águas residuárias e resíduos sólidos. A figura 4 mostra o descaso com o rio e consequentemente
com a saúde pública, pois o rio passa a ter uma quantidade maior esgoto que sua própria vazão.
Segundo Leite (2007) os aglomerados populacionais e a expansão urbana trouxeram consigo
grandes alterações ambientais, dentre elas, pode-se destacar a perda da qualidade da água para
abastecimento e a precariedade ou ausência de saneamento básico.

Figura 5: Trecho do Rio Sitiá próximo a UNICATOLICA


Fotos: do próprio autor

Seguindo seu curso, o rio passa próximo ao bairro Boto. Localidade de maior
vulnerabilidade social, entregue ao descaso público que vem a acrescentar mais carga de poluentes
ao rio. A figura 6, mostra que existe uma pequena mancha de vegetação pioneira resultante da
degradação constante e sucessão ecológica.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 563


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 6: Trecho do Rio Sitiá próximo ao bairro Boto


Fonte: do próprio autor

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Rio Sitiá, no trecho que corta o município de Quixadá-CE, recebe uma grande carga
poluidora, pois é receptor direto de aporte de águas residuarias e assoreamento tanto em pontos
difusos quanto pontuais, decorrente principalmente da destruição da mata ciliar.
Assim, foram identificados pontos escolhidos dentro da área estudada evidenciam a
devastação da mata ciliar com níveis hierárquicos de degradação. Assim, o ponto próximo ao
Matadouro o solo não apresenta cobertura vegetal, assim considerado o mais crítico. O ponto
próximo a UNICATOLICA, também considerado um ponto crítico, pois o acúmulo de água no leito
proporciona substratos abertos.
Percebe-se que dos pontos analisados o que apresenta melhor condição de conservação da
mata ciliar é o ponto próximo a ACOCECE, pois apresenta menor trafico de pessoas e as
instituições lá instaladas não poluem diretamente o rio, o que favorece a reestruturação da
vegetação.
Diante dos resultados apresentado, observa-se a necessidade uma revitalização urgente em
todo trecho urbano do rio Sitiá, como limpeza, reposição da vegetação ciliares, por meio de
programas de recuperação de áreas de gradadas e adoção de ações de educação ambiental, visando a
melhoria da qualidade ambienta do rio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, E. M. DE; ARAÚJO, L. DE F. P.; ROSA; M. F.; GOMES, R. B.; LOBATO, F. A. DE


O. Seleção dos indicadores da qualidade das águas superficiais pelo emprego da análise
multivariada. Engenharia Agrícola, v.27, n.3, p.683-690, 2007.

BRASIL. Lei n. 12.651, de 25 de maio de 2012. Institui o novo código florestal.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 564


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BRITO, S. L. L. S. ; SILVA, V. E. P. S. G. ; MONTE, P. M. P. ; SILVA, L. . Potencial do uso


medicinal tradicional da angico (anadenanthera colubrin) e do aroeira (myracrodruon
urundeuv) no sertão central cearense. In: I Congresso Internacional da diversidade do semiárido,
2016, Campina Grande, PB.. I Congresso Internacional da diversidade do semiárido, 2016.

CALLISTO, M.; FERREIRA, W.R.; MORENO, P.; GOULART, M. & PETRUCIO, M. Aplicação
de um protocolo de avaliação rápida da diversidade de hábitats em atividades de ensino e
pesquisa (MG-RJ). Acta Limnologica Brasiliensia, 14(1):91- 98,2002.

FUNCEME- Fundação Cearense de meteorologia e Recursos Hídricos. Disponível em:


<http://www.hidro.ce.gov.br/#3>. Acesso em 27 de jul. de 2017.

LEITE, M. E.; FRANÇA, I. S. de. Reflexões sobre a sustentabilidade urbana: novo modelo de
gestão ambiental da cidade. Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 8, n. 22, p. 137-142, 2007.

LIMA, W.P. Princípios de hidrologia florestal para o manejo de bacias hidrográficas. São Paulo:
Escola Superior de Agricultura ―Luiz de Queiroz‖, 1986. 242p.

SANTOS, A. M.; TARGA, M. S.; BATISTA, G. T.; DIAS, N. W. Análise morfométrica das sub-
bacias hidrográficas Perdizes e Fojo no município de Campos do Jordão, SP, Brasil. Ambi-
Agua, Taubaté, v. 7, n. 3, p. 195-211, 2012.

GUISLON, A. V.; CERON, K.; ELIAS, G. A.; SANTOS, R.; CITADINI-ZANETTE, V. Estrutura
da vegetação herbácea em paisagens ciliares no sul de Santa Catarina, Brasil, Revista Ambi-
Água Taubaté, vol. 11 n. 3, p. 650-664, 2016.

MONTE, P. M. P. ; SILVA, V. E. P. S. G. ; BRITO, S. L. L. S. ; SILVA, L. . Análise da


potencialidade das espécies arbóreas da caatinga para reter água em regiões semiáridas. In: I
Congresso Internacional da diversidade do semiárido, 2016, Campina Grande, PB.. I Congresso
Internacional da diversidade do semiárido, 2016.

MOTA, J. A. X. ; SILVA, V. E. P. S. G. . Analise dos modelos de recuperação ecológica de áreas


degradadas pela agricultura. In: XI Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, 2016,
Maceió - AL. XI Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, 2016.

VANZELA, L.S.; HERNANDEZ, F. B. T.; FRANCO, R. A. M. Influência do uso e ocupação do


solo nos recursos hídricos do Córrego Três Barras, Marinópolis. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental. v.14, n.1, p.55–64, 2010.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 565


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

COBERTURA VEGETAL URBANA: UM ESTUDO EM DOIS BAIRROS DE


NATAL, RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL

Maria Luiza de Oliveira TERTO


Graduanda em Geografia pela UFRN
marialuizaterto@gmail.com
Jocilene Dantas BARROS
Mestre em Geografia pela UFRN
Jocilene_db@yahoo.com.br
Luíz Antônio CESTARO
Professor Doutor da UFRN
cestaro@ufrnet.br

RESUMO
A Cobertura Vegetal apresenta relevância para a qualidade de vida nas cidades. Conhecer sua
distribuição é um passo importante em direção ao aprimoramento do seu uso e, por consequência, a
qualidade de vida dos cidadãos. Desta forma, este trabalho tem por objetivo mapear a Cobertura
Vegetal em dois bairros da cidade de Natal (Igapó e Petrópolis) por meio de duas técnicas de
geoprocessamento. A primeira sem classificação, para indicar o arranjo espacial da Cobertura
Vegetal e a segunda fazendo a classificação entre Arborização de Praça, Viária e Outros ( que
envolve as áreas particulares). No desenvolvimento dessas técnicas foram utilizadas imagens de
satélite do Google Earth PRO para os anos de 2012 e 2013 e para o processamento os SIGs
QGIS2.8.9 e ArcGIS 10.4.1. Foi feito o comparativo dos resultados obtidos nas duas técnicas com
os dados populacionais dos dois bairros, através da aplicação do ICVH (Índice de Cobertura
Vegetal por Habitante). Constatou-se que a Cobertura Vegetal nos dois bairros é baixa, em relação à
área, 11,83%, encontrada em Petrópolis e 10,68 % em Igapó, em relação a população 16,80 m²/hab
e 8,16 m²/hab, em Petrópolis e Igapó, respectivamente. No resultado da segunda técnica de
mapeamento, observou-se no bairro de Petrópolis a classe Arborização Viária com maior
representatividade, 53,28%. No bairro de Igapó, os menores valores de Arborização de Praça e
Viária, sendo a predominância da classe Outros com 92,02%. No que se relaciona com a população
Petrópolis apresenta maior ocorrência de Cobertura Vegetal de acesso público, representado na
tipologia pelas classes Arborização de Praça e Viária, 0,77 m²/hab e 8,95 m²/hab respectivamente.
No bairro de Igapó a tipologia Outros é a mais representativa, 7,51 m²/hab. Foi verificada a
necessidade de aumentar a Cobertura Vegetal viária e de praças, sobretudo em Igapó.
Palavras-chave: Cobertura Vegetal. Geoprocessamento. Arborização urbana.

ABSTRACT
Plant cover is relevant to the quality of life in cities. Knowing your distribution is an important step
towards improving your business and, consequently, the quality of life of citizens. In this way, this
work has the objective of mapping the Plant Cover in two neighborhoods of the city of Natal (Igapó
and Petrópolis) by means of two techniques of geoprocessing. The first one without classification,
to indicate the spatial arrangement of the Plant Cover and the second one to make the classification
between Arborization of square, road and Other (that involves the particular areas). In the
development of these techniques, Google Earth PRO satellite images were used for the years 2012
and 2013 and for the processing of the SIGs QGIS2.8.9 and ArcGIS 10.4.1. The results obtained in
the two techniques were compared with the population data of the two neighborhoods, through the
application of ICVH (Index of Plant Cover by Inhabitant). It was verified that the Plant Cover in the
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 566
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

two neighborhoods is low, in relation to the area, 11.83%, found in Petrópolis and 10.68% in Igapó,
in relation to the population 16,80 m² / hab and 8,16 m² / Hab, in Petrópolis and Igapó, respectively.
In the result of the second mapping technique, it was observed in the district of Petrópolis the class
Arborization road with greater representativity, 53,28%. In the district of Igapó, the lowest values of
Arborization of Square and Road, being the predominance of Class Others with 92.02%. In relation
to the Petrópolis population, there is a greater occurrence of vegetation cover with public access,
represented in the typology by Arborização de Square and Road, 0.77 m² / hab and 8.95 m² / hab
respectively. In the district of Igapó the typology Others is the most representative, 7.51 m² / hab. It
was verified the need to increase the Plant cover Road and squares, especially in Igapó.
Keywords: Plant cover. Geoprocessing. Urban greening.

INTRODUÇÃO
O crescimento das cidades tem sido um fenômeno de grande expressividade na atualidade
que vem promovendo, na maioria das vezes, expansão urbana sem um planejamento adequado. Os
espaços de lazer, a harmonia da paisagem e a qualidade do ambiente público, em suma não são
considerados, estes elementos somente recebem atenção, quando muito, depois de estabelecidos os
bairros. E isso não ocorrendo de forma homogênea entre eles, preservando uma segregação social e
espacial, comum nas cidades brasileiras (QUEIROZ, 2010).
O município de Natal, localizado na mesorregião do leste potiguar, capital do Estado do Rio
Grande do Norte, com população de 803 mil habitantes (IBGE,2010), teve seu processo de
urbanização intensificado a partir do início do século XX, em decorrência da Segunda Guerra
Mundial, que atraiu muitos militares, além de pessoas do interior do Estado, fugidas da seca que
assolava o interior, conforme Santos (1998, p. 33 apud MEDEIROS, 2007, p 51).
Até o início do século XX a cidade contava apenas com dois bairros consolidados, Ribeira e
Cidade Alta. O plano Polidelli (1901), é o primeiro plano que objetiva o planejamento e
ordenamento dos espaços, através da criação de novos bairros, no entanto apenas em 1929 com
plano Palumbo, como ficou conhecido, que a malha então definida é ampliada, executando
propriamente os primeiros passos para a formação do bairro de ―Cidade nova‖. O atual bairro de
Petrópolis é resultado do desmembramento em dois deste bairro (CARVALHO, 2007). O
crescimento acelerado da cidade resulta na apropriação de áreas sem o planejamento urbano
necessário, principalmente nas regiões mais periféricas da cidade, o bairro de Igapó é um exemplo
desse processo.
Nas cidades tropicais, como Natal, a vegetação exerce um impacto significativo na vida dos
habitantes e ecossistemas em geral, tendo em vista a quantidade de insolação que absorve, com
grande influência sobre o clima urbano. Com a perda da Cobertura Vegetal o processo de
evapotranspiração diminui, contribuindo para o aumento da temperatura na cidade. Além disso, a
Cobertura Vegetal urbana é responsável pela redução de ruídos, purificação do ar, absorção de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 567


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

partículas tóxicas e provimento de sombra em passagem pública (BORGES; MARIM;


RODRIGUES, 2012).
Assim sendo, é de grande importância o estudo da Cobertura Vegetal urbana para que se
desenvolva melhor a gestão do território, minimize os efeitos nocivos de um ordenamento
inadequado do espaço urbano, bem como para o provimento da qualidade de vida para seus
habitantes. A classificação e a quantificação das classes de cobertura do solo, com destaque para a
Cobertura Vegetal, receberam uma contribuição técnica bastante importante a partir do uso de
produtos de Sensoriamento Remoto e do Geoprocessamento.
Desta forma, o objetivo geral deste trabalho é aplicar técnicas de classificação de
imagens e de geoprocessamento para classificar e quantificar a Cobertura Vegetal urbana,
utilizando imagens de satélite de fácil acesso e alta resolução disponibilizadas no Google
Earth. Como objetivos específicos estão classificar e quantificar a Cobertura Vegetal em
dois bairros de Natal e relacioná-la com parâmetros populacionais.

COBERTURA VEGETAL URBANA

A Cobertura Vegetal em ambiente urbano traz benefícios como conforto térmico, redução da
poluição, sombra, dentre outros, estes que ajudam no equilíbrio fisíco-ambiental das cidades como
nos garante Schuch (2006). Sobre a regulação do equilíbrio físico ambiental, Fálcon (2007 apud
ÁVILA e PANCHER, 2016) afirma que ―os benefícios da Cobertura Vegetal são vários, como a
redução da contaminação atmosférica, por conseguir absorver parte do gás carbônico (CO2) emitido
pela combustão de combustíveis fósseis‖. A vegetação consegue fixar nas folhas partículas de
chumbo, flúor e ácido sulfúrico suspensas no ar. Também contribui para a regulação da umidade e
da temperatura, amenizando os efeitos das ilhas de calor. A vegetação evita o impacto da chuva e a
influência dos ventos sobre o solo, reduzindo os processos erosivos.
Os benefícios sociais da Cobertura Vegetal são descritos por Alves (2012), que aponta a
influência de espaços exteriores, como jardins e pátios, para o crescimento da interação social e
interação entre vizinhos, e mesmo o prolongamento da expectativa de vida dos idosos nas cidades.
Os serviços da Cobertura Vegetal não são restritos à vida humana, pois também prestam
serviços para as espécies silvestres. Para Douglas (1983 apud CAVALHEIRO; NUCCI, 1999), a
Cobertura Vegetal exerce a função de suporte para a vida silvestre nas cidades, onde os espaços
livres não mais se referem apenas à disponibilidade de recreação para a população, mas também
servem aos animais silvestres que a habitam.

MATERIAIS E MÉTODOS

Neste estudo foram escolhidos dois bairros, Petrópolis e Igapó, os critérios de escolha foram
localização e processo de formação dos bairros, com objetivo de escolher bairros com
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 568
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

características diferentes, com objetivo de compara-los. Petrópolis, localizado na Região


Administrativa Leste da Cidade, foi um dos primeiros bairros a passar por um processo de
planejamento, no início do século XX. Igapó, localizado na Região Administrativa Norte, é um dos
bairros mais antigos desta região, parte periférica da cidade, não passou por um processo de
planejamento urbano mais estruturado.
Para o mapeamento da Cobertura Vegetal do Natal foi utilizado um mosaico de imagens de
satélite provenientes do software Google Earth PRO para os anos de 2012 e 2013, cedido pela
SEMURB (Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo do Município de Natal). É uma combinação
das bandas 3, 2, 1, de resolução espacial submétrica, proporcionando considerável detalhamento ao
mapeamento.
Foi realizado o recorte do mosaico no SIG QGIS 2.8.9, obtendo-se uma imagem para cada
bairro escolhido; Petrópolis e Igapó. As imagens de satélite foram reprojetadas para o sistema de
coordenadas planas UTM, datum SIRGAS 2000, utilizando nesse procedimento e nos
procedimentos de classificação, o SIG ArcGIS 10.4.1 versão trial.
Em seguida foi feita uma segmentação nas imagens e, posteriormente, uma classificação
supervisionada pelo método MAXVER, gerando um arquivo raster com as classes Cobertura
Vegetal (todos os tipos de Cobertura Vegetal) e Outros (demais tipos de cobertura da terra: solo
exposto, edificações, estradas, etc.). Foi feita uma reclassificação do raster para obter apenas a
classe Cobertura Vegetal, convertido posteriormente para vetor (polígono).
Neste estudo foram utilizadas duas técnicas de mapeamento da Cobertura Vegetal, estas
aplicadas para os dois bairros escolhidos. A primeira técnica consistiu na quantificação da
Cobertura Vegetal, sem nenhum tipo de separação entre classes, realizada da seguinte forma: a
partir do arquivo vetorial gerado, foi feita a edição de cada polígono no SIG QGIS 2.8.9, alterando
os limites de acordo com a sobreposição à imagem de satélite. Esse procedimento de edição foi
necessário devido à incorporação de sombras nos polígonos de Cobertura Vegetal resultantes da
classificação.
No SIG ArcGIS 10.4.1 realizou-se o cálculo da área dos polígonos e a exclusão dos
polígonos de área menor que 4 m², por serem considerados insignificantes no contexto de avaliação
da Cobertura Vegetal. O resultado quando sobreposto à imagem de satélite original é o
delineamento de toda Cobertura Vegetal do bairro.
Na segunda técnica, foi realizada a classificação por interpretação visual (PANIZZA;
FONSECA, 2011) da Cobertura Vegetal arbórea e arbustiva dos bairros, utilizando como base os
produtos obtidos com a técnica anterior e os recursos Google Street View e visualização 3D do
Google Maps. A Cobertura Vegetal herbácea foi excluída da classificação. Foram definidas as
seguintes classes:

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 569


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

 Arborização Viária: Cobertura Vegetal distribuída em calçadas, canteiros centrais e rotatórias;


 Arborização de Praça: Cobertura Vegetal distribuída em praças
públicas, selecionada a partir do arquivo vetorial elaborado por membros do projeto de
pesquisa da UFRN ―A vegetação no ecossistema urbano de Natal (RN): diagnóstico, dinâmica e
interações‖, com base em listagem de praças públicas da Prefeitura do Natal;
 Outros: Arborização particular e de terreno baldio.

Em seguida foi feita a seleção por atributos para cada uma das classes e uma verificação da
área total de cada classe em ―estatísticas‖, na tabela de atributos do SIG ArcGIS, que transportada
para o programa Excel, permitiu a manipulação e síntese de dados (totais e por classe), tornando-se
possível qualificar a Cobertura Vegetal nas classes acima descritas, concluindo a segunda
técnica.Também foi calculado o ICV (Índice de Cobertura Vegetal) para cada bairro, gerado a partir
da multiplicação do total de Cobertura Vegetal em metros quadrados, multiplicado por 100 e
dividido pela total da área urbanizada, adaptado de Melazo e Nishiyama (2010).
Para verificar a relação da Cobertura Vegetal com a população de cada bairro foi calculado o
ICVH (Índice de Cobertura Vegetal por habitante), com base em Melazo e Nishiyama (2010),
dividindo-se o total de área coberta por Cobertura Vegetal pelo número de habitantes, segundo
dados do IBGE, 2010.
Os mapas finais de Cobertura Vegetal dos quatro bairros foram confeccionados na escala de
1:25.000, no SIG ArcGIS. Essa convenção foi estabelecida para que fosse possível realizar a
comparação entre as proporções reais dos bairros e a Cobertura Vegetal.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O bairro com maior Cobertura Vegetal é Petrópolis, proporcionalmente, todos os dois


bairros apresentam Índice de Cobertura Verde (ICV) inferior a 12%, a Tabela 1 ilustra.

Bairro
Parâmetro
Igapó Petrópolis
Cobertura Vegetal (m²) 235.234,71 92.771,48

ICV (%) 10,68 11,83


Tabela 1 – Parâmetros levantados para os bairros de Natal-RN envolvidos no estudo, com destaque para Cobertura
Vegetal por bairro e ICV (Índice de Cobertura Vegetal). Fonte: Elaboração própria (2017), áreas dos bairros a partir de
dados da SEMURB.

Borges, Marim e Rodrigues (2012) estipularam parâmetros para a avaliação do ICV,


considerando Baixo, ICV menor que 5%; Médio, entre 10 e 25% e Alto, acima de 30%. Nesta
perspectiva, os bairros de Petrópolis e Igapó enquadram-se na classe Médio de Cobertura Vegetal.
A partir da classificação tipológica, realizada na segunda técnica, foi possível diferenciar a
Cobertura Vegetal entre Arborização Viária, Arborização de Praça e Outros, proporcionando uma
compreensão da forma como a Cobertura Vegetal está diversificada nos bairros. No bairro de Igapó,
a classe Outros, distribui-se por todo o bairro, concentrando-se principalmente no interior das

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 570


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

quadras, como pode ser visto na Figura 1, em seguida, a classe mais extensa é Arborização Viária,
nota-se que, mesmo sendo a segunda maior classe, esta é muito menos expressiva no bairro que a
classe Outros. A classe Arborização de Praça aparece com a menor expressividade, isso ocorre
devido à pouca quantidade de praças no bairro, apenas 4 praças públicas reconhecidas (SEMURB,
2009).

Figura 13: Mapa da Cobertura Vegetal de Igapó e Petrópolis e localização de Natal no Brasil. Fonte:
Elaboração própria (2017).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 571


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Petrópolis é o bairro que apresenta o maior equilíbrio entre as três classes de arborização
utilizadas. A classe Arborização Viária é a classe predominante como podemos constatar na
representação da Figura 1. A classe Arborização Viária é a mais bem representativa no bairro, em
seguida a classe Outros e a classe Arborização de Praça, como a menos expressiva.
Diante do exposto, podemos encontrar a classe Outros com maior relevância indicando que
a maior parte da Cobertura Vegetal não está disponível para toda população, restringindo assim o
acesso aos benefícios que proporciona, sobretudo no que se refere ao lazer e ao sombreamento. A
Tabela 2 traz os valores obtidos para cada classe nos dois bairros.

Petrópolis Igapó
Parâmetros
(m²) (%) (m²) (%)
Arborização de Praça 4.249,79 4,58 1.297,94 0,55
Arborização Viária 49.425 53,28 17.455 7,42
Outros 39.096 42,14 216.462 92,02
Total CV 92.771 100 235.234 100
Área do Bairro 784.291 2.202.000
Tabela 2 - Descrição da Cobertura Vegetal total. Fonte: Elaboração própria (2017).

O bairro de Igapó merece maior preocupação quanto à Cobertura Vegetal urbana, devido à
vulnerabilidade em que essa Cobertura Vegetal está sujeita, tendo 92,02% da classe Outros, em sua
maioria pertencendo a particulares. A classe Arborização de Praça poderia ser mais representativa
para o bairro, tendo em vista que possui quatro praças públicas, mas apenas duas delas são
vegetadas. O Bairro de Petrópolis ganha destaque por apresentar maior representatividade de
Cobertura Vegetal pertencente à classe de Arborização Viária. Por se tratar de uma classe de acesso
público, nesse bairro podemos perceber maior relevância na qualidade de vida, tendo em vista a
influência dessa vegetação no microclima, no provimento de sombra e embelezamento paisagístico,
dentre outros benefícios.
Diante dos dados da Cobertura Vegetal obtidos dos quatro bairros, buscou-se saber quantos
metros quadrados de Cobertura Vegetal estão disponíveis para cada habitante do bairro. Por meio
do cruzamento dos dados do total de Cobertura Vegetal sobre o total de habitante por bairro,
obteve-se o Índice de Cobertura Vegetal por Habitante (ICVH). Foram constatadas algumas
diferenciações entre eles, como descriminado na Tabela 3.

Parâmetro Igapó Petrópolis


Área da CV (m²) 235.234 92.771
População (IBGE, 2010) 28819 5521
ICVH (m²/hab) 8,16 16,80
Tabela 3 – Parâmetros encontrados para os bairros estudados, com destaque para o ICVH (Índice de
Cobertura Verde por Habitante). Fonte: Elaboração própria (2017), população baseada em IBGE (2010).

Na Tabela 4 é apresentado o ICVH de cada classe, o bairro Petrópolis destaca-se por ser o
que apresenta o maior valor de Arborização Viária por habitante. O singular na classe Outros é a
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 572
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

proximidade entre os valores para os bairros de Igapó e Petrópolis, indicando o maior acesso por
parte da população de Petrópolis à Cobertura vegetal.

Arborização de Praça Arborização Viária Outros Populaçã


Bairro o IBGE
Área(m² (2010)
Área(m²)/hab Área (m²) Área(m²)/hab Área(m²) Área(m²)/hab
)
Igapó 1.297,94 0,05 17.455,51 0,61 216.462,82 7,51 28819
Petrópolis 4.249,79 0,77 49.425,33 8,95 39096,35 7,08 5521
Tabela 4 –Fonte: Elaboração própria (2017), com base nos dados do IBGE (2010) e SEMURB.

O Índice de Cobertura Vegetal por Habitante aplicado nos bairros, representado na Tabela 4,
nos mostra uma diferenciação entre eles, sendo Igapó o que apresenta os menores valores em todas
as classes. Aponta assim a relação entre Cobertura Vegetal e planejamento urbano na cidade de
Natal, principalmente no que diz respeito à ocorrência de Cobertura Vegetal de acesso público. A
partir do exposto, deve-se fazer uso do planejamento e utilização inteligente dos espaços livres dos
bairros para possibilitar melhorias, quanto à vegetação urbana e os benefícios que a mesma
possibilita.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro do meio científico é sabida a importância da Cobertura Vegetal para a melhoria do


ambiente urbano. Seus atributos contribuem para a prevenção dos impactos causados pelas
edificações e o adensamento populacional. Nesse sentido, deve-se considerar a manutenção da
Cobertura Vegetal, bem como o aproveitamento inteligente desta variável. O planejamento urbano e
a gestão pública são ferramentas importantes para essas ações e devem andar em parceria com a
iniciativa privada e popular, tendo em vista que influenciam na qualidade de vida de todos.
De acordo com o que se constatou após a análise nos bairros, a questão da Cobertura
Vegetal urbana em Natal ainda precisa ser muito debatida e desenvolvida dentro das políticas
públicas da cidade.
O bairro de Igapó é que apresenta maior carência de Cobertura Vegetal, principalmente em
ambientes que proporcionem para a população, de forma geral, conforto visual e lazer. Petrópolis
possui maior equilíbrio na ocorrência das classes de acesso público (Arborização Viária e de Praça).
Verificamos assim, de maneira geral, a necessidade de mais áreas verdes, em oposição à estrutura
atual. Para esse fim, entende-se que a reutilização dos espaços livres existentes pode ser uma opção,
procurando inserir esta variável de forma planejada dentro da configuração existente.
Observa-se que os espaços verdes devem ser analisados, entendidos e estudados em
combinação com a função que exercem para que sejam implementados em praças, corredores

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 573


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

viários, bosques, parques, canteiros e calçadas, proporcionando um ambiente favorável a um bom


modo de vida, fundamental para o equilíbrio do ecossistema urbano.

REFERÊNCIAS

ALVES, Daniel B. Cobertura Vegetal e qualidade ambiental na área urbana de Santa Maria (RS).
2012. 155 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Geografia e Geociências, Geografia,
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS, 2012.

ÁVILA , Marcelo R. de ; PANCHER, Andréia M. Os benefícios da Cobertura Vegetal arbórea e


arbustiva no meio ambiente urbano. Disponível em<
http://www.eng2016.agb.org.br/resources/anais/7/1467847965_arquivo_osbeneficiosdacobertura
vegetalarboreaearbustivanomeioambienteurbano.pdf>. Acesso em : 12 ago. 2016.

CARVALHO, Heliana Lima de. Cidade Nova: Petrópolis e Tirol, bairros em constante
transformação. Disponível em <
http://www.dpi.inpe.br/spring/portugues/arquivos_publicacoes/TFG_HelianaLimadeCarvalho.pd
f>. Acesso em: 10 jul. 2017.

BORGES, Cézar Augusto. MARIM, George C. RODRIGUES, José E. C. Análise da Cobertura


Vegetal como indicador de qualidade ambiental em áreas urbanas: Um estudo de caso do bairro
da Pedreira – Belém/PA. VI Seminário Latino Americano de Geografia Física, Coimbra 2010.

Disponível em< http://www.uc.pt/fluc/cegot/VISLAGF/actas/tema3/cezar>. Acesso em 13. ago.


2016.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE): Cidades, Natal.


Disponível em: < https://cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/rn/natal/panorama > Acesso em: 25 jul.
2017.

QUEIROZ, Thiago A. N. de. Produção do espaço urbano de Natal/RN: Algumas Considerações


Sobre as Políticas Públicas. Observatorium: Revista Eletrônica de Geografia, Uberlândia, v. 4,
n. 2, p.2-16, jul de 2010. Disponível em: <http://www.observatorium.ig.ufu.br/jul2010.htm>.
Acesso em: 01 dez. 2016.

MEDEIROS, Sara R. F. Q. de. A casa própria: sonho ou realidade? Um olhar sobre os conjuntos
habitacionais em Natal. 2007. 113 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências Sociais,
Departamento de Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2007.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 574


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MELAZO, Guilherme C.; NISHIYAMA, Luiz. Mapeamento da cobertura arbóreo-arbustiva em


quatro bairros da cidade de Uberlândia- MG. Revista Brasileira de Arborização Urbana,
Piracicaba, v. 5, n. 2, 2010.

NUCCI, João C. CAVALHEIRO, Felisberto. Cobertura Vegetal em áreas urbanas – conceito e


método. Geousp, São Paulo,1999.

PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL. Anuário Natal 2009. Natal: SEMURB, 2009.

PANIZZA, Andrea. de C.; FONSECA, Fernanda P. Técnicas de interpretação visual de imagens.


GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, 2011.

SCHUCH, Maria I. Arborização urbana: Uma contribuição à qualidade de vida em uso de


tecnologias. 2006. 102 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Tecnologia da Geoinformação,
Deomática, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria / RS, 2006. Disponível em:
<http://cascavel.ufsm.br/tede/tde_arquivos/21/TDE-2007-08-21T144753Z-769/Publico/Mara
Ione.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 575


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

AMBIENTES URBANOS E SAÚDE: UMA ANÁLISE DOS CASOS DE DENGUE EM


NOSSA SENHORA DO SOCORRO/SERGIPE

Rafael dos Anjos ANDRADE


Graduando em Enfermagem pela UFS
anjosandrader@hotmail.com
Jailton Santos SILVA
Mestrando em Educação pelo PPGED/UFS
jailton.santossilva@yahoo.com.br
Márcia Eliane Silva CARVALHO
Doutora em Geografia, Professora do Departamento de Geografia da UFS
marciacarvalho_ufs@yahoo.com.br

RESUMO
As bruscas transformações socioambientais pelas quais o mundo vem passando, caracterizadas
pelas rápidas expansões desordenadas das áreas urbanas, vem proporcionando aparecimento e/ou
ressurgimento de doenças. Neste estudo apresentamos uma análise da relação entre os casos de
dengue no município de Nossa Senhora do Socorro/SE e sua correlação com as sazonalidades das
precipitações, além de compreender os condicionantes socioambientais que potencializam a
proliferação do vetor transmissor (Aedes aegypti), no recorte temporal de 2007 a 2015. Este
trabalho apoiou-se em metodologias quali-quantitativas, baseadas na pesquisa
bibliográfica/documental e trabalho de campo na área de estudo. As análises dos dados sobre a
dengue indicam moderada correlação entre os registros de casos dessa doença e os meses de maior
precipitação no município, desta forma atribui-se a proliferação do mosquito também a fatores
sociais, culturais e econômicos, justificando a maior ocorrência da doença em áreas de alta
vulnerabilidade socioambiental, onde o planejamento urbano ocorre de forma deficitária.
Palavras-chave: Dengue, condicionantes socioambientais, Planejamento urbano.

SUMMARY
The sharp socioenvironmental transformations in which the world has been suffering, characterized
by the fast disordered expansion of urban areas, has been provided the emergence and / or
resurgence of diseases. In this study we present an analysis of the relationship between dengue
cases from Nossa Senhora do Socorro district and its correlation with the seasonality of
precipitation, in addition to understood the socioenvironmental constraints that potentiate the
proliferation of the transmitter vector (Aedes aegypti), from 2007 to 2015. This assignment was
based on qualitative-quantitative methodologies, based on bibliographical / documentary and field
search which was performed in the studied area. The analysis of the data about the dengue indicate
a moderate correlation between the records of cases of this disease and the biggest months of
precipitation in that district, in this way the mosquito proliferation is also attributed to social,
cultural and economic factors, justifying the largest occurrence this disease in areas of high
socioenvironmental vulnerability, where the urban planning occurs in a deficit way.
Keywords: Dengue, socialenvironmental constraints, Urban planning.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 576


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

Muito se tem debatido a respeito dos aspectos saúde/doença das diversas sociedades ao
longo do tempo e na atualidade essas discussões tornam-se ainda mais enfáticas devido às bruscas
transformações socioambientais pelas quais o mundo vem passando, caracterizado pelas rápidas
expansões desordenadas das áreas urbanas, sem um acompanhamento no mesmo ritmo, das
melhorias no saneamento básico.
No Brasil, inúmeros centros urbanos deixaram de assegurar qualidade de vida e tornaram-se
ambientes insalubres, onde as preocupações se multiplicam, devido à incapacidade financeira e
administrativa dos governos em prover infraestrutura e serviços essenciais como água, saneamento,
coleta e destinação adequada do lixo, serviços de saúde, além de empregos e moradias. Nesta
perspectiva, a urbanização acentuada, o aumento da densidade populacional e a situação de pobreza
nestes espaços, proporcionam o aparecimento de doenças, oferecendo riscos imediatos às
populações residentes (GOUVEIA, 1999; OLIVEIRA, 2006).
Dentre um quadro vasto de doenças presentes nos espaços urbanos, a dengue tornou-se foco
de combate e controle pela vigilância epidemiológica nacional e internacional, devido a ser uma das
doenças virais transmitidas por mosquitos que mais vitimam a humanidade, tornando-se um
problema de saúde pública. A Organização Mundial da Saúde estima que entre 50 a 100 milhões de
pessoas se infectem com a dengue anualmente, em mais de 100 países; cerca de 550 mil doentes
carecem de hospitalização e 20 mil notificam óbito em consequência da doença (AQUINO JÚNIOR
e MENDONÇA, 2012).
Neste sentido a ausência de investimentos em saneamento básico, o aumento da pobreza
urbana, a suspensão ou limitação de programas de prevenção e controle, influenciam a incidência da
dengue nos espaços urbanos, bem como fatores climáticos, como a intensidade e regime
pluviométricos e térmicos (OLIVEIRA, 2006; MENDONÇA, SOUZA E DUTRA, 2009).
Este estudo busca analisar a relação entre os casos de dengue no município de Nossa
Senhora do Socorro/SE e sua correlação com as sazonalidades das precipitações, além de
compreender os condicionantes socioambientais que potencializam a proliferação do vetor
transmissor (Aedes aegypti) no recorte temporal de 2007 a 2015. Os resultados alcançados
possibilitam subsídios para planejamentos da área pesquisada, bem como oferece contribuições para
direcionamentos de políticas públicas efetivas para a população de Nossa Senhora do Socorro.

METODOLOGIA

O presente estudo apoiou-se em metodologias quali-quantitativas, baseadas na pesquisa


bibliográfica/documental e trabalho de campo na área de estudo. Além de levantamentos de dados

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 577


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

secundários como indicadores sociais, econômicos e ambientais num recorte temporal de nove anos
(2007/2015).
Seguida da pesquisa bibliográfica, realizou-se a caracterização socioambiental do referido
município, bem como o levantamento e análise dos índices de precipitação mensais para a série
temporal em estudo, coletados no Centro de Meteorologia de Sergipe (CEMESE). Os dados
pluviométricos para Nossa Senhora do Socorro/SE foram construídos através da técnica de
interpolação de dados, tomando por base as estações presentes nos municípios de Aracaju,
Laranjeiras e Santo Amaro das Brotas, os quais limitam-se com o território em análise.
O levantamento do número de casos de dengue para série temporal de 2007-2015 do Brasil,
região nordeste e Sergipe foram adquiridos no site do Ministério da Saúde (SES/SINAN), já os
dados das notificações de dengue de Nossa Senhora do Socorro foram adquiridos na Secretaria de
Saúde do município. Para construção do banco de dados, gráficos e tabelas utilizou-se o
Excel/Windows/07, já para a construção dos mapas utilizou-se o ArcGis 10.1 como software e a
base de dados do Atlas da Superintendência de Recursos Hídricos do Estado de Sergipe. Para
construção do mapa de localização dos casos notificados de dengue, os dados foram obtidos na
Secretaria de Saúde de Nossa Senhora do Socorro, porém devido ao não registro das localizações de
várias notificações nos anos de 2007 a 2010 a série temporal de mapeamento se restringiu aos anos
de 2011 a 2015.
A análise estatística, a fim de identificar a relação entre os eventos de precipitação
pluviométrica e a ocorrência da doença, procedeu-se com base no Coeficiente de Correlação de
Pearson, a partir da qual os dados de precipitação foram considerados como variável independente e
os casos de dengue como variável dependente e cujo resultado de acordo com categorização de
Dancey e Reidy (2006): 0 a 0.30 indica fraca correlação; 0.40 a 0.6 (positivo ou negativo) indica
correlação moderada; 0.70 a 1 (positiva ou negativa) indica forte correlação.
Diante das análises prévias, efetuaram-se trabalhos de campo no bairro Parque dos Faróis
que registrou o maior número de casos do município, além de entrevistas com a população local.
Nesse sentido a análise realizou-se de forma integrada, buscando identificar as relações existentes
entre as variáveis ambientais e sociais no condicionamento do número de casos de dengue
levantados, especialmente no que se refere à sazonalidade climática e à gestão dos ambientes
urbanos.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Nossa Senhora do Socorro está situada no território da Grande Aracaju, sendo um dos quatro
municípios que compõem a região metropolitana (Figura 01). Ocupa o segundo lugar em população
absoluta do Estado totalizando 160.827 habitantes, sendo que, destes 155.823 residem na zona

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 578


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

urbana e 5.004 na zona rural. Abrange uma área total de 156,771 Km² correspondendo a 0,71% do
território estadual e uma densidade demográfica de 1.025,87 (hab./km²) (IBGE, 2010).

Figura 01 - Localização do Município de Nossa Senhora do Socorro/SE.

O município está situado na região litorânea sergipana, apresentando um clima do tipo


Megatérmico seco e sub-úmido, com temperatura média anual de 25,2 ºC, precipitação
pluviométrica anual de aproximadamente 1689,0mm e período chuvoso de março a agosto, com
máxima concentrada em maio, junho e julho (BONFIM, COSTA e BENVENUTI, 2002).
As vegetações encontradas são caracterizadas pela formação da mata atlântica, manguezal e
restinga, bastante degradados pela presença desordenada da ocupação urbana, entretanto encontra-
se em Nossa Senhora do Socorro a Floresta Nacional do Ibura, um remanescente da mata atlântica
com área territorial de 144,14 hectares, que se caracteriza como unidade de conservação, conforme
Decreto Federal de 19 de setembro de 2005 (Enciclopédia dos municípios sergipanos, 2014; Brasil,
2005) As disponibilidades dos recursos hídricos estão agrupadas em águas superficiais e águas
subterrâneas, estando o município inserido na Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, sendo banhado
pelo Rio Sergipe, Cotinguiba e do Sal (BONFIM, COSTA e BENVENUTI, 2002).
O uso do solo é amplo e diversificado com destaque para as indústrias de transformação,
construção e comércios e ainda a pouca presença expressiva nas atividades da agricultura e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 579


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

pecuária. Merece destaque também, a aquicultura, que apesar de ainda ser realizada de forma
artesanal, transforma o município em um dos maiores produtores de pescado do estado
(EMDAGRO, 2009).
Verifica-se que essas intensas transformações urbanísticas em Nossa Senhora do Socorro
são resultados das pressões antrópicas devido ao crescimento populacional acelerado nas últimas
décadas, sendo maiores que as taxas de Sergipe e do Brasil, duplicando os números de habitantes de
1991 a 2010 e totalizando segundo estimativas de 2015 uma população de 177,827 habitantes
(Figura 02) (IBGE, 2010).

Figura 02 - Números de habitantes de 1991 a 2015. Fonte: IBGE. Organização: Rafael Andrade.

Informações do Diagnóstico Qualitativo de Gestão Integrada das Águas Urbanas da Região


Metropolitana de Aracaju (2010) apontam que em Nossa Senhora do Socorro:

O crescimento populacional acelerado nas últimas décadas tem se dado de forma pouco
ordenada, com o surgimento de periferias sem a infraestrutura adequada de vias, transportes
e logicamente, águas urbanas, considerando neste último, o abastecimento doméstico,
saneamento, drenagem e coleta de resíduos sólidos (Gestão Integrada das Águas Urbanas
em Aracaju - SE/Brasil 2010, p. 5).

Tais alterações bruscas no crescimento populacional, acompanhadas pela falta de


infraestruturas básicas adequadas, levou Nossa Senhora do Socorro a potencializar problemas
sociais, econômicos e ambientais, porém devido a política de planejamento urbano, incentivos
governamentais na área da educação, saúde, moradia, alguns desses indicadores tiveram melhorias
nas últimas décadas. Dados do IBGE– Observatório de Sergipe (1991, 2000 e 2010) mostram que
houve uma pequena diminuição no índice de Gini de Nossa Senhora do Socorro, apesar de ainda ser
considerado alto; já a proporção de extremamente pobres verifica-se nos últimos vinte anos uma
diminuição expressiva dessa parcela da população; a renda per capita geral média de Nossa Senhora
do Socorro demonstra uma evolução dos anos de 1991 a 2010, tendo um acréscimo de R$216, 62 e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 580


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

fixando o valor de R$379,98 em 2010, entretanto bem abaixo do valor de Sergipe R$523,53 e do
Brasil R$793,87 (Tabela 01).

Índice de Gini % de extremamente pobres Renda per capita média

1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991 2000 2010


0,51 0,47 0,47 35,45 15,91 8,09 163, 37 234,39 379,98
Tabela 01 - Índice de Gini, relação das extremantes podres e renda per capita média de Nossa Senhora do
Socorro. Fonte: Observatório de Sergipe. Organização: Rafael Andrade

O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-IDHM, compreende indicadores de três


dimensões do desenvolvimento humano: renda, educação e longevidade Nossa Senhora do
Socorro apresentou a seguinte situação no recorte de 19 anos: (Tabela 02)

IDHM IDHM-Renda IDHM-Educação IDHM-Longevidade


1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991 2000 2010
0,396 0,510 0,664 0,485 0,543 0,620 0,195 0,351 0,581 0,655 0,695 0,811

Tabela 02 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Dimensões: Renda, Educação e Longevidade.


Fonte: Observatório de Sergipe. Organização: Rafael Andrade.

A evolução no IDHM de Nossa Senhora do Socorro é resultado das melhorias nas três
dimensões básicas que o compõem, decorrente de políticas públicas efetivas. Destas, merece
destaque a educação que passou segundo o PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento) de uma classificação muito baixa (0,195) no ano de 1991 para baixa (0,581) em
2010, lembrando que O IDHM é um número que varia entre 0 e 1 e quanto mais próximo de 1,
maior o desenvolvimento humano de uma unidade federativa, município, região metropolitana.
Segundo dados do IBGE-Observatório de Sergipe censo (1991, 2000, 2010)21 confirmam a
diminuição da taxa de analfabetismo para o grupo de 15 anos ou mais do município, que em
1991apresentava taxas em torno de 23,85%, diminuindo em 2000 para 14,64% e em 2010 chegando
ao número de 10,69%, o que equivale respectivamente 17.192 pessoas que não sabem ler nem
escrever, número relativamente alto, logo que o Plano Nacional de Educação (PNE) prevê a
erradicação do analfabetismo absoluto até 2024.
Em relação ao saneamento básico entre 2010 e 2012, 96,2% dos domicílios tinham rede de
abastecimento de água, 90,01% tinham tratamento de esgoto, 94,6% recebiam coleta seletiva e
99,81% tinham energia elétrica (Deepask, 2015, Observatório de Sergipe, Atlas de Saneamento

21
Dados retirados do Observatório do Estado de Sergipe. Fonte: http://www.observatorio.se.gov.br/geografia-e-
cartografia/2015-08-24-13-25-14/2013-01-31-07-25-04

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 581


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

2011-IBGE). Em relação à coleta seletiva22, em 2015 realizou-se um mapeamento pela Secretaria


de Transportes e Serviços Urbanos de Nossa Senhora do Socorro e foram identificados mais de 300
pontos de descarte irregular do lixo, fato preocupante para o desenvolvimento da qualidade de vida,
pois além dos vários problemas que o lixo traz ele atrai inúmeros vetores transmissores de doenças,
incluindo o Aedes aegypti.
Outro fator relevante, refere-se ao crescimento do número de aglomerados subnormais no
município. Segundo dados divulgados pelo IBGE 2010, Nossa Senhora do Socorro possui um total
de 14 aglomerados classificados como subnormal23 o que representa a soma de 17.535 pessoas
morando nestas condições. (Tabela 03).

TOTAL DE POPULAÇÃO
AGLOMERADOS SUBNORMAIS
RESIDENTE
Areal/Mangabeira - Nossa Senhora do Socorro – SE 1.403
Palmares - Nossa Senhora do Socorro – SE 309
Novo Horizonte - Nossa Senhora do Socorro – SE 4.745
Invasão da Taiçoca de Fora - Nossa Senhora do Socorro – SE 1.278
Invasão Beira Rio - Fernando Collor - Nossa Senhora do Socorro –SE 863
Alto da Bela Vista - Nossa Senhora do Socorro – SE 1.573
Invasão da Perimetral I - Marcos Freire 3 - Nossa Senhora do Socorro – SE 1.706
Invasão da Perimetral H - Nossa Senhora do Socorro – SE 899
Invasão Beira Rio - Parque dos Faróis - Nossa Senhora do Socorro –SE 873
Itacanema II - Nossa Senhora do Socorro – SE 681
Rosa de Maio - Guajará - Nossa Senhora do Socorro – SE 220
Pai André - Nossa Senhora do Socorro – SE 789
Santo Inácio - Nossa Senhora do Socorro – SE 1.224
Parque São José - Loteamento Esperança - Nossa Senhora do Socorro – SE 972
Tabela 03 -Aglomerados Subnormais-Nossa Senhora do Socorro/SE. Fonte: IBGE 2010. Organização:
Rafael Andrade.

Todos esses dados sobre indicadores socioambientais descritos de Nossa Senhora do


Socorro são importantes pela necessidade de uma análise integrada entre saúde coletiva e os
fatores econômicos e sociais, logo que a VII Conferência Nacional de Saúde realizada em 1986
entende que:

Em seu sentido mais abrangente, a saúde é resultante das condições de alimentação,


habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, emprego, lazer, liberdade, acesso e
posse da terra e acesso à serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas
de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis
de vida. (BRASIL, 1986).

22
Dados da Agência de Notícias de Socorro (ANS), site de vinculação local mantido pela prefeitura.
http://www.ansocorro.se.gov.br/noticias/11220157223712333/prefeitura-de-socorro-alerta-sobre-descarte-irregular-do-
lixo.html
23
Conjunto constituído por 51 ou mais unidades habitacionais caracterizadas por ausência de título de propriedade e
pelo menos uma das características abaixo: - irregularidade das vias de circulação e do tamanho e forma dos lotes e/ou-
carência de serviços públicos essenciais (como coleta de lixo, rede de esgoto, rede de água, energia elétrica e
iluminação pública). (IBGE, senso 2010 – aglomerados subnormais – Informações Territoriais)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 582


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

OS CASOS DE DENGUE EM NOSSA SENHORA DO SOCORRO/SERGIPE

A dengue é uma doença viral, transmitida para o homem através da picada da fêmea do
Aedes aegypti, principal mosquito vetor. Atualmente, no Brasil se encontra quatro tipos diferentes
desse vírus, o sorotipo DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4.
Nos dias atuais a doença é a mais preocupante arbovirose que afeta o homem, pois se
constitui em um problema de saúde pública no mundo, principalmente em países tropicais, onde as
condições ambientais tornam-se favoráveis para a proliferação e desenvolvimento do mosquito
vetor. (Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde, 2002)
O Aedes aegypti é um mosquito antropofílico, de hábitos urbanos, cuja infestação é mais
intensa em regiões com alta densidade populacional e principalmente, de ocupação desordenada,
onde as fêmeas têm mais oportunidades para alimentação e dispõem de mais locais para desova,
principalmente em caixas d´água, galões e tonéis (Instituto Osvaldo Cruz, 2008).
Os aspectos clínicos incluem infecções inaparentes, quadro de febre alta, dor de cabeça,
dores musculares, vermelhidão no corpo e coceira, podendo evoluir para quadros hemorrágicos
com sangramento nasal, gengival, entre outros e a Síndrome do choque associado à dengue, que
vem acompanhado de complicações neurológicas e sintomas cardiorrespiratórios, entre outros.
De acordo com dados do Ministério da Saúde (SES/SINAN) em um recorte temporal de
nove anos (2007-2015), os números de notificações confirmadas de dengue para o Brasil foram de
7.529.719 casos. No Nordeste, para o mesmo período, foi confirmado um total de 1.588.964
notificações, o que corresponde a 21,10% dos casos nacionais. Em Sergipe, de 2007 a 2015, os
números de notificações confirmadas chegaram a 52.697, o que corresponde a 3,31% em relação
ao Nordeste. Para Nossa Senhora do Socorro os dados adquiridos através da Secretaria de Saúde
do município para a série de 2007 a 2015 revelam um total de 3.908 casos, correspondendo a
7,41% em relação ao total registrado no Estado de Sergipe.
Aplicando-se o Coeficiente de Pearson, observa-se que a relação entre a precipitação e os
números de casos da doença é da ordem de 0,465 o que segundo a categorização de Dancey e
Reidy (2006) indica correlação moderada. (Figura 03).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 583


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 03 -Precipitação pluviométrica e números de casos de dengue em Nossa Senhora do Socorro/SE -


2007 a 2015. Fonte: DATASUS. SEMARH/CEMESE. Organização: Rafael Andrade

Como observado no gráfico o índice pluviométrico de maior concentração foi o mês de


maio, ultrapassando os 3000mm, seguido por julho e abril; já o pico de maior notificação
confirmada da dengue concentrou-se no mês de abril, seguido dos meses de março e maio,
confirmando desta forma, a correlação mediana entre precipitação e os números de casos.
Deve-se compreender que a proliferação do mosquito transmissor ocorre em ambientes com
água parada desta forma, qualquer local que possibilite o empossamento de água limpa é um foco
em potencial e nestas circunstâncias as chuvas por menor intensidade que sejam, intensificam a
formação desses criadouros e consequentemente a proliferação do mosquito.
Neste sentido as chuvas do mês de março, mesmo abaixo de 1500mm, atreladas à
temperaturas elevadas podem ser responsáveis pela maior incidência da doença no mês de abril,
superando 1200 casos no recorte em estudo (2007-2015), visto que o período de incubação do
mosquito varia de 3 a 15 dias, pois após um repasto de sangue infectado, o mosquito fica apto a
transmitir o vírus, depois de 8 a 12 dias de incubação, deste modo, provavelmente os indivíduos
infectados em março somente foram notificados em abril.
Através dos dados fornecidos pela Secretaria de Saúde de Nossa Senhora do Socorro foi
possível especializar alguns casos confirmados de Dengue num recorte temporal de cinco anos
(2011 a 2015). (Figura 04).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 584


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 04- Local de ocorrência de dengue em Nossa Senhora do Socorro/SE - 2011 a 2015. Fonte: Secretaria
de Saúde de Nossa Senhora do Socorro

Além destas três localidades Nossa Senhora do Socorro apresentou ocorrência de Dengue
no mesmo recorte temporal nas seguintes localidades: Palestina (35 casos), Santa Cecília (30
casos), Marcos Freire II (25 casos), João Alves Filho (22 casos), Fernando Collor (19 casos),
Taiçoca de Fora, Piabeta (15casos), Marcos Freire III, Lavandeira (13 casos), Parque São José, Pai
André (09 casos), Taboca, Guarujá (07 casos), Jardim, Jardim Lamarão (05 casos), Conjunto
Albano Franco, Sobrado, Porto Grande, Nossa Senhora do Socorro-sede (04 casos), Nossa
Senhora de Fátima, Marcos Freire I (03 casos), Novo Horizonte, Bita, Mutirão, São Braz
Coqueiral, Oiteiros, Veneza (01 caso).
As espacializações dos casos de dengue indicam que o bairro com maiores casos
confirmados foi o Parque dos Faróis, num total de 118 casos em cinco anos, totalizando quase o
dobro do segundo bairro com maior índice, Taiçoca de Dentro (68) casos. Trabalhos de campo
realizados no Parque dos Faróis permitiram constatar que este bairro passa por grandes problemas
principalmente relacionados ao saneamento básico, marcado pela ineficiência da rede de esgoto e
coleta de lixo, além das moradias precárias e próximas a córregos, que são locais de acúmulo de
lixo, tornando-se reservatórios/criadouros potenciais. (Figura 05).
Todos esses fatores atrelados a desinformação da população, precipitação pluviométrica, e o
baixo poder aquisitivo da população que acaba habitando áreas vulneráveis são contribuintes para a
concentração da doença no bairro.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 585


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 05- Parques do Faróis – Nossa Senhora do Socorro/SE Fonte: autor (2016)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos dados sobre dengue em Nossa Senhora do Socorro, indica moderada
correlação entre os registros de casos dessa doença e os meses de maior precipitação no município.
Destacando a ocorrência da doença em áreas de alta vulnerabilidade socioambiental, onde o
planejamento urbano ocorre de forma deficitária, expondo a população à falta de saneamento
básico, ao convívio com os resíduos sólidos, e à criação de situações potencializadoras para
expansão da dengue, que se tornou uma doença que afeta principalmente grupos populacionais que
habitam áreas esquecidas pelo poder público.
A dengue se tornou um problema de saúde pública que necessita ser entendida diante da
multidimensionalidade que a produz. Nesse sentido a adoção de medidas que visem diminuir os
casos de dengue exigem a compreensão dos aspectos sociais, econômicos, culturais, políticos,
educacionais e naturais (clima, precipitação, temperatura), logo que a interrelação entre essas
dimensões criam condições ideias para a propagação do mosquito que a causa dengue. Dessa forma
em Nossa Senhora do Socorro, o processo histórico de ocupação do espaço urbano sem
planejamento e o acelerado crescimento populacional nas últimas décadas, criou áreas sem
infraestruturas adequadas para a ocupação humana, com ausência de saneamento básico, moradias
precárias e carência de serviços de saúde, o que pode ser visualizado a partir dos 14 territórios de
aglomerados subnormais elencadas pelo IBGE -2010, enquadrando-se enquanto área de surto de
dengue, devido às suas condições socioespaciais.
Deste modo, compreende-se que melhorar a gestão urbana está estreitamente ligada à
melhoria da qualidade de vida da população e à diminuição de condicionantes para o
desenvolvimento do mosquito transmissor da dengue. Nesse sentido a identificação de áreas e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 586


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

condicionantes para o desenvolvimento da doença no município possibilita o direcionamento de


suas políticas públicas para estas áreas prioritárias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AQUINO JUNIOR, José, MENDONÇA, Francisco. A problemática da dengue em Maringá-PR:


uma abordagem socioambiental a partir da epidemia de 2007. Revista Brasileira de Geografia
Médica e da Saúde. Paraná: Hygeia, p.157-176, 2012

BRASIL. (1986). VIII Conferência Nacional de Saúde: relatório final. Brasília: Ministério da
Saúde. Disponível
em:http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/relatorios/relatorio_8.pdfAcesso:26/06/2016.

BRASIL. Guia de Vigilância Epidemiológica / Fundação Nacional de Saúde. 5. ed. Brasília:


FUNASA, 2002.842p.

BRASIL. Decreto de 19 de setembro de 2005. Cria a Floresta Nacional do Ibura, no Município de


Nossa Senhora do Socorro, Estado de Sergipe, e dá outras providências. Brasília, 19 de setembro
de 2005.

BOMFIM, Luiz Fernando Costa; COSTA, Ivanaldo Vieira Gomes da BENVENUTI, Sara Maria
Pinotti. Projeto Cadastro da Infra-Estrutura Hídrica do Nordeste: Estado de Sergipe. Diagnóstico
do Município de Nossa Senhora do Socorro. Aracaju: CPRM, 2002.

DANCEY, C.; REIDY, J. Estatística sem Matemática: usando SPSS para Windows. Porto Alegre,
Artmed, 2006.

EMDAGRO, Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe. Informações Básicas


Municipais – Municípios de Nossa Senhora do Socorro 2009. Disponível em:
www.emdagro.se.gov.br/modules/wfdownloads/visit.php?cid=1&lid=369Acesso: 16-07-2017.

Gestão Integrada das Águas Urbanas da Região Metropolitana de Aracaju – Diagnóstico


Qualitativo- Grupo Técnico de GIAU, Setembro 2010. Disponível em:
http://www.semarh.se.gov.br/search.php?query=diagn%F3stico&action=resultsAcesso:
10/07/2016.

GOUVEIA, N. Saúde e meio ambiente nas cidades: os desafios da saúde ambiental. Saúde e
sociedade, v. 8, n. 1, p. 49-61, 1999.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 587


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

IOC – Instituto Osvaldo Cruz. Conheça o comportamento do mosquito Aedes aegypti. 2008.
Disponível em: http://www.fiocruz.br/ioc/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=571&sid=32
Acesso: 15/07/2017.

MENDONÇA, Francisco de Assis; VEIGA e SOUZA, Adilson; DUTRA, Denecirde Almeida.


Saúde Pública, Urbanização e Dengue no Brasil. Sociedade & Natureza, vol. 21, núm. 3,
diciembre, 2009, p. 257-269.

OLIVEIRA, Márcia Maria Fernandes de. Condicionantes sócio-ambientais urbanos da incidência da


dengue na cidade de Londrina/PR. 2006, 171f. Dissertação (Mestrado em Geografia).
Departamento de Geografia, Setor de Ciências da Terra da Universidade Federal do Paraná.
Londrina, 2006.

SERGIPE. Secretaria de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão. Enciclopédia dos


municípios sergipanos. Aracaju: 2014. Disponível em:
http://www.observatorio.se.gov.br/pesquisas-e-estudos/enciclopedia-dos-municipios-sergipanos
Acesso em: 09 nov. 2015.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 588


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A REALIDADE DO TRANSPORTE COLETIVO PÚBLICO URBANO NO


TERMINAL LAURO DE FREITAS EM VITÓRIA DA CONQUISTA-BA
E SUAS IMPLICAÇÕES PARA OS USUÁRIOS

Tatiane de Oliveira CARVALHO


Graduanda em Geografia pela UESB
tatianeocb@outlook.com
Hanneli Souza Almeida SANTOS
Graduanda em Geografia pela UESB
hanneli.souza@gmail.com
Renaildo Santos da CONCEIÇÃO
Graduando em Geografia pela UESB
renaildosanttos@hotmail.com
Altemar Amaral ROCHA
Professor doutor do Departamento de Geografia da UESB
altemarrocha@gmail.com

RESUMO
Este artigo teve como objetivo analisar a realidade do transporte público do terminal Lauro de
Freitas na cidade de Vitória da Conquista-BA e suas possíveis implicações para os usuários.
Acredita-se que os resultados poderão elucidar a realidade do transporte público em Vitória da
Conquista e, com isto, poder fomentar novos planejamentos urbanos no que tange à estrutura de
mobilidade urbana, assim como também apresentar os aspectos deste serviço na cidade para a
população. Na execução da pesquisa com aplicação de questionários para os usuários do Sistema de
Transporte Público, verificou-se que 96% das pessoas entrevistadas apontam algum problema no
terminal, dentre o maior problema, 30% dos entrevistados alegam que o espaço do terminal é
pequeno para a grande quantidade de ônibus. Outra situação foi em relação à movimentação nesta
área, 73% dos usuários afirmaram que o terminal é muito tumultuado. Neste contexto, avaliando o
fluxo de pessoas por turno, observou-se que, consideravelmente, todos os turnos têm grande
movimentação de pessoas no terminal. Em se tratando à pontualidade ou atrasos dos ônibus, 50%
dos usuários do transporte público urbano apontam que os ônibus têm sempre atrasos, outros 43%
afirmaram que o atraso é relativo. A partir dos resultados alcançados, constatou-se que a realidade
do transporte público em Vitória da Conquista-BA, tendo como base o terminal Lauro de Freitas, é
preocupante. Esta situação se faz devido a maior parte das linhas dos ônibus, 46 de 55, serem via
terminal considerando que possui uma área consideravelmente pequena. Diante dos resultados é
possível comprovar a urgência de novos planejamentos e medidas para resolver estes problemas,
para que melhores condições sejam fornecidas aos usuários do Sistema de Transporte Publico de
Vitória da Conquista.
Palavras-chave: Transporte Público. Terminal de Ônibus. Mobilidade Urbana.

ABSTRACT
The article has as main point analyses the public collective transport reality in the Lauro de Freitas
Station in Vitória da Conquista – BA and its possible implications for users. The results would
allow the elucidation of the public transport reality of Vitória da Conquista and it shall support new
urban planning for the development of the urban mobility, as also to show the aspects from this

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 589


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

service for the city and population. The research had as a method the aplication of a form where the
users filled the form up. 96% pointed out any kind of problem in the Lauro de Freitas Station,
among the biggest problem, 30% said that the Lauro de Freitas Station has a small structure for the
huge number of buses. Another question pointed out was about the site flow, 73% of the users
confirmed as being a crowded site. In this context, evaluating the people flow per day-shift, it was
observed that, considerably, all the day-shifts have great movement of people in the terminal.
Checking the punctuality or delays of the buses, 50% of urban public transport users point out that
buses always have delays, another 43% said that the delay is relative. From the achieved results, it
was found that the reality of public transport in Vitória da Conquista - BA, based on the Lauro de
Freitas Station, is a cause for concern. This situation happens in most of the bus lines, where 46 of
55 bus lines have it trajectory via the Lauro de Freitas Station which has been considered with a
small area. Given the results it is possible to prove the urgency of new plans and measures to solve
these problems, to improve the conditions for users of the Public Transport System of Vitória da
Conquista.
Keywords: Public Transport. Bus Station. Urban Mobility.

INRTODUÇÃO

A realidade do transporte público no Brasil vem sendo alvo de diversas pesquisas, pois com
o crescimento populacional houve uma demanda de transportes mais eficientes, mas a realidade é
outra. A situação do transporte público em muitas cidades brasileiras, atualmente, é de bastante
precariedade, pois os ônibus atrasam e estão em péssimas condições, podendo oferecer riscos à
população local. Em Vitória da Conquista, este problema também ocorre. Os ônibus apresentam
sérios problemas e o terminal, local de parada dos ônibus, apresenta uma infraestrutura
insatisfatória, pois é pequeno e inseguro. Estes problemas são alvo de críticas por parte da maioria
dos usuários, que estão insatisfeitos com a condição em que os ônibus e o terminal Lauro de Freitas
se encontram. Diante disso, este artigo tem como objetivo analisar a realidade do transporte público
do terminal Lauro de Freitas e suas possíveis implicações para os usuários na cidade de Vitória da
Conquista-BA. Entretanto, a priori, é necessário abarcar uma discussão acerca do processo de
estruturação do referido espaço urbano.
A cidade de Vitória da Conquista (Figura 1) está situada no interior do Estado da Bahia e
atualmente, segundo o IBGE (Censo 2010), possui uma população estimada para 2016 de 346.000
habitantes, aproximadamente, e uma densidade demográfica de 91,41 hab/km², ocupando a sexta
posição no Produto Interno Bruto das cidades baianas.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 590


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1- Localização de Vitória da Conquista-BA. Fonte: Conceição, R.S.; Pereira, L.B.; Veiga, A. J. P.
(2016).

Estes aspectos e dentre outros, caracterizam Vitória da Conquista como uma capital
regional, uma vez que também é considerada como um polo educacional, haja vista que são muitas
as universidades presentes, as públicas: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB),
Universidade Federal da Bahia (UFBA), Instituto Federal Baiano (IFBA). Ainda com algumas
faculdades privadas: Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR), Faculdade Santo Agostinho,
Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), Mauricio de Nassau, entre outras. São muitos os
aspectos (educação, saúde, comércio, entre outros) que tornam Vitória da Conquista como uma
capital regional e também como a terceira maior cidade do Estado. Segundo Ferraz (2001) a partir
da década de 40 Vitória da Conquista passou a expandir sua malha urbana num processo crescente,
que se intensificou, especialmente nas ultimas décadas, em decorrência de abertura de loteamentos
e do incremento populacional vivenciado pela zona urbana do Município.
Com o crescimento urbano e populacional, Vitória da Conquista se tornou uma cidade
atrativa e, dessa forma se mantém num crescimento, sendo também a cidade que atrai grandes
indústrias, intensificando ainda mais o processo de urbanização e crescimento populacional. Ferraz
(2001) ainda acrescenta que o desenvolvimento do comércio e a abertura de estradas como Ilhéus -
Lapa (BA 415) e a Rio – Bahia (BR 116), cujas fazem entroncamento em Vitória da Conquista,
também intensificaram o crescimento da zona urbana.
Para Casimiro (1992), diante do crescimento urbano de Vitória da Conquista:

É impossível a fixação no centro, já ocupado, havendo possibilidades de expansão em áreas


relativamente baratas e planas, não se pode falar em escolha natural, numa atração exercida
naturalmente pelas rodovias sobre as pessoas, como ocorrera antes. O fato é que o negócio

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 591


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

imobiliário para potenciar os lucros e tendo em vista a capacidade aquisitiva do mercado


comprador, abre loteamentos que possam articular-se com a cidade pela via de acesso às
rodovias, ou mesmo em margens destas. (CASIMIRO, 1992 p. 30).

Estes processos, ocupação e expansão urbana, contornam Vitória da Conquista como uma
cidade com vários subcentros, isto é, devido a sua extensa expansão, não cabe mais a centralização
em apenas uma área. Porém esta conjuntura, além de fragmentar o espaço urbano, faz-se, também,
uma necessidade em planejamentos urbanos que visem estruturas de melhorias para os citadinos e,
principalmente, para a mobilidade urbana, uma vez que os diversos tipos de estabelecimentos,
necessários à manutenção da vida (hospitais, clínicas, farmácias, supermercados, locais de trabalho,
escolas, universidades), podem está distantes de seus habitantes, necessitando do uso do transporte
coletivo urbano. Para Passos (2009):

Ao se analisar a urbanização da cidade de Vitória da Conquista, Bahia, percebe-se que o


processo é similar aos das demais cidades médias brasileiras, com a expansão urbana
acontecendo de forma acelerada, enquanto se intensifica a segregação sócioespacial com a
construção e organização seletiva determinando, por um lado, uma privilegiada rede urbana
e, por outro, as ocupações sem planejamento e discriminadas. O resultado dessa segregação
socioespacial é evidente na história e no presente da cidade, resultado de um espaço urbano
fragmentado e articulado no tempo e no espaço. (PASSOS, 2009, p. 15).

Neste aspecto, é possível observar que a cidade de Vitória da Conquista é dotada de


complexidade em seu espaço urbano, uma vez que se caracteriza como uma cidade média, porém
com grandes implicações em sua estrutura urbana. Para Rocha (2010), fica mais evidente que a
cidade vai se reproduzindo apagando sua história, passível de ser aprendida nas construções, no
desenho das vias de circulação, construindo uma forma e estrutura sempre cambiante. Nesta
perspectiva Ferraz (2001) complementa que:

Como fruto do processo de construção do espaço urbano, diversos são os problemas


enfrentados por grande parte da população de Vitória da Conquista. Faz-se importante
ressaltar que, apesar do traçado regular apresentado pelo tecido urbano e da aparente
organização e harmonia que a planta demostra, diversos problemas são vivenciados
quotidianamente pelos citadinos. [...] Destaca-se a carência de abastecimento de água, de
iluminação elétrica e de transporte urbano em vários pontos da cidade, além da carência no
setor de habitação, educação, cultura, saúde e lazer. (FERRAZ, 2001, p. 49).

Frente a isto, é de suma importância avaliar o transporte urbano na referida cidade, para
verificar a realidade e possíveis implicações aos usuários, haja vista que, a priori, observa-se
problemas no transporte publico urbano, com necessidades de planejamentos para facilitar a
mobilidade dos citadinos em Vitória da Conquista.
Acredita-se que os resultados deste trabalho poderá elucidar a realidade do transporte
público em Vitória da Conquista e, com isto, poder fomentar novos planejamentos urbanos no que
tange à estrutura de mobilidade urbana, assim como também apresentar os aspectos deste serviço na
cidade para a população.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 592


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

METODOLOGIA EXECUTADA

Para a realização desta pesquisa, foram necessários sete etapas com procedimentos
interligados:
Estudos referentes ao processo de ocupação e urbanização de Vitória da Conquista, tendo
como base as obras de Ferraz (2001) e Casimiro (1992).
Elaboração de questionários com perguntas objetivas, e em seguida aplicados a trinta
usuários do transporte público em Vitória da Conquista, tendo como pesquisa de campo o terminal
Lauro de Freitas. Os questionários foram aplicados em forma de entrevistas com uma estratégia de
melhores resultados e coesão dos mesmos.
Tabulação dos resultados por meio do Software Excel e, em seguida, geração de gráficos
para exposição dos resultados.
Interpretação dos questionários aplicados, tendo como base a conversa informal realizada no
momento de aplicação dos mesmos.
Mapeamento do terminal Lauro de Freitas e das ruas adjacentes por meio do programa
MapViewer (versão 7) utilizando a malha urbana de Vitória da Conquista. Este procedimento foi
necessário para verificar a realidade do terminal (tamanho e vias de acessos).
Análise das linhas e dos trajetos dos ônibus que fazem parte do transporte público urbano da
cidade.
Na ultima etapa, visou-se interpretar os dados e resultados obtidos, correlacionando-os, para
averiguar os seus possíveis efeitos sob os usuários. A realização do trabalho segue com descrição
dos resultados em forma de texto, mapas, tabelas e gráficos visando uma melhor compreensão dos
resultados, assim como sua coesão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para adentrar nos resultados, é preciso esclarecer que, justifica-se analisar o transporte
público de Vitória da Conquista, tendo como base o terminal Lauro de Freitas porque a maioria das
linhas dos ônibus são via terminal, das 55 linhas de ônibus 46 passam no centro e apenas 9 linhas
não são via terminal. Como pode ser observado na tabela 1.

Tabela 1. Relação das linhas dos ônibus que passam no centro, Vitória da Conquista, 2016. Fonte: Pesquisa
de campo, 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 593


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Atualmente duas empresas fornecem serviços aos usuários do transporte público na cidade, a
frota da Cidade Verde e da Vitória, dispondo de 86 ônibus cada (sendo que seis ônibus, para cada
empresa, são reservados para os horários de maior movimento), totalizando um total de 172 ônibus.
O percurso que estes ônibus fazem para atender a população é dividido em quatro classes: linha D,
R, E e P. A linha D possui 14 ônibus que fazem o percurso Bairro-Centro-Bairro. A linha R possui
32 ônibus e atende os passageiros do centro para determinado bairro (Centro-Bairro), são os ônibus
diretos. A linha E, são os ônibus específicos para atender a empresa Dass e UESB (CEMAE x
UESB). A linha P faz o trajeto Bairro-Bairro, sem passar pelo Terminal de ônibus.
Por conseguinte, avaliando as linhas de ônibus que são via centro, na figura 2 pode observar
como o terminal em alguns horários do dia pode ter um fluxo muito grande pessoas e de ônibus.
Isto porque as linhas que veem das principais ruas e avenidas da cidade são via terminal Lauro de
Freitas.

Figura 2. Terminal Lauro de Freitas e ruas adjacentes, Vitória da Conquista, 2016. Fonte: Elaborado Por
Altemar Amaral Rocha com base em dados da pesquisa de campo, 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 594


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Cabe ressaltar que como se observa no traçado denominado de número 2, é um dos trajetos
de maior fluxo, isso porque o mesmo é o percurso diário de muitos estudantes do ensino básico e da
maioria dos universitários, uma vez que este trajeto conduz às principais universidades do
município. Frisa-se também que os outros dois traçados (1 e 3), também conduzem os estudantes às
escolas e universidades, porém ambos veem de outros bairros, param no terminal e seguem para às
universidades e escolas. Os traçados 1 e 3 ainda têm outras grandes funções, traçado 1: acesso à
rodoviária, hospitais, escolas e ao Instituto Federal Baiano (IFBA), e traçado 3, acesso ao shopping,
hospitais, Assaí Atacadista, escolas e entre outros.
Diante destes resultados é possível avaliar que são muitos os problemas que podem ser
realidade do quotidiano dos usuários do transporte público no Terminal Lauro de Freitas.
Entrevistando os usuários constatou-se que o maior problema do terminal é o espaço
pequeno, 30% dos entrevistados afirmam que o terminal é pequeno para a grande quantidade de
ônibus. Os outros problemas foram insegurança com 22%, atraso dos ônibus também com 22% e
ainda com esse mesmo percentual aparece o tumulto como um problema também presente no
terminal, apenas 4% afirmaram não ver nenhum problema no terminal, esta relação pode ser
verificada na figura 3.

Figura 3. Percentual dos problemas do terminal Lauro de Freitas, Vitória da Conquista, 2016. Fonte:
Pesquisa de campo, 2016.

Assim, avaliando a relação do percentual dos problemas apontados, verifica-se que 96% das
pessoas entrevistadas apontam algum problema no terminal, o que faz dessa situação uma realidade
preocupante, uma vez que, como abarcado anteriormente, Vitória da Conquista é um espaço com
malha urbana extensa, com subcentros e com um grande contingente populacional. Logo, verifica-
se a urgência em resolver estes problemas. Por conseguinte, uma situação preocupante se faz nos
atrasos dos ônibus, haja vista que a maioria dos usuários utiliza o transporte publico para o trabalho
e/ou estudar.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 595


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Outra situação do terminal se exibiu quando se questionou aos usuários de como é a


movimentação nesta área, em que 73% afirmaram que o terminal é muito tumultuado, nenhum
usuário afirmou que o terminal é tranquilo, 14% que é pouco tumultuado e 3% que o movimento é
regular. Estes aspectos podem ser verificados na figura 4.

Figura 4. Realidade do terminal Lauro de Freitas, Vitória da Conquista, 2016. Fonte: Pesquisa de campo,
2016.

Neste contexto, avaliando o fluxo de pessoas por turno (figura 5) observa-se que,
consideravelmente, todos os turnos têm significativa movimentação de pessoas no terminal, o
vespertino se apresenta como o turno mais movimentado, com 37 %, seguido da noite com 35% e
manhã com 28%.

Figura 5. Relação do fluxo de pessoas por turno no terminal Lauro de Freitas, Vitória da Conquista, 2016.
Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Assim, como se constata, os percentuais são muito próximos, os usuários entrevistados


apontam que o fluxo se faz nos horários de ―pico‖ isto é, quando as pessoas estão indo e voltando
do trabalho, escolas e universidades, configurando-se nos seguintes horários: das 6:30 até às 8:00
horas da manhã, seguido das 12:00 às 13:30 horas da tarde e inicio da noite entre 18:00 e 19:00.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 596


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Com a tentativa de verificar a pontualidade ou atrasos dos ônibus (figura 6), optou-se em
realizar uma questão separada para avaliar esta situação, 50% dos usuários do transporte público
urbano apontam que os ônibus têm sempre atrasos, 43% afirmaram que o atraso é às vezes e 7%
que os ônibus raramente atrasam.

Figura 6. Percentual dos usuários que afirmaram atraso dos ônibus, Vitória da Conquista, 2016. Fonte:
Pesquisa de campo, 2016.

É importante salientar que estes atrasos dos ônibus se acentuam ainda mais nos finais de
semana e feriados, isto porque as frotas são reduzidas, uma entrevistada afirmou que muitas vezes
precisou optar por utilizar o serviço de táxi particular para chegar ao seu trabalho, porque os ônibus
atrasam muito e algumas vezes não passam em alguns horários.
Diante do processo de urbanização de Vitória da Conquista, considerando que esta é tida
como uma cidade média, com um espaço urbano extenso e fragmentado, assim como dos resultados
alcançados na análise do transporte publico urbano. É possível verificar a urgência em
planejamentos para o transporte público de Vitória da Conquista. Fica evidente que o terminal
Lauro de Freitas recebe um quantitativo exacerbado de ônibus, o que causa muito tumulto e,
consequentemente, atraso dos ônibus. Dessa forma, novos estudos são necessários para possíveis
planejamentos de reestruturação deste serviço, como desvinculação de algumas linhas com via
terminal Lauro de Freitas para outras áreas da cidade, isto tirando apenas o terminal do trajeto, para
não prejudicar os usuários.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados alcançados, constatou-se que a realidade do transporte público em


Vitória da Conquista-BA, tendo como base o terminal Lauro de Freitas, é preocupante. Esta
situação se faz devido a maior parte das linhas dos ônibus, 46 de 55, serem via terminal,
consequentemente, esta grande quantidade de ônibus faz do terminal um espaço pequeno e muito
tumultuado e, ainda, ocasionando atrasos dos ônibus dificultando a mobilidade dos citadinos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 597


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Comprovou-se também que 96% dos entrevistados apontam algum tipo de problema no
terminal, 30% aponta que o maior problema é consequência do espaço pequeno, 22% insegurança,
com o mesmo percentual aparece os problemas de ser muito tumultuado e atrasos dos ônibus. Esta
conjuntura da maioria dos ônibus serem via centro, faz com que o terminal sempre tenha fluxo de
pessoas, o vespertino foi o turno mais apontado pelos usuários como de maior movimentação.
Em outro aspecto, verificou-se que novos estudos referentes ao transporte publico urbano de
Vitória da Conquista são necessários e que novos planejamentos para melhorias aos usuários destes
serviços são de extrema importância e urgência.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/>.


Acesso em: 10 de set de 2016.

CASIMIRO, A. P. B. et al. Projeto de Pesquisa: Documentação e registro audiovisual da


arquitetura e evolução urbana de Vitória da Conquista. Vitória da Conquista: 1992.
Mimeografado.

CONCEIÇÃO, R. S. PEREIRA, L.B.; VEIGA, A. J. P. A temperatura do ar e sua Relação com


Algumas Doenças Respiratórias em Vitória da Conquista-BA. Revista Eletronica Geoaraguaia.
2016. v.2 Barra do Garças-MT.

FERRAZ, A. E. Q. O urbano em Construção: Vitória da Conquista: um retrato de duas décadas.


Vitória da Conquista, Bahia: Edições Uesb, 2001.

PASSOS, J. G. F. G. produção do espaço urbano e requalificação de áreas degradadas: o caso do


bairro santa cruz, entorno da lagoa das bateias, vitória da conquista, Bahia. (Dissertação de
mestrado), Programa de Pós Graduação em Geografia da UFBA. 2009. Disponível
em:<http://www.posgeo.ufba.br/dissertaçoes/dissertaçao_Julia_Gabriela.pdf>. Acesso em: 16 de
set de 2016.

Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista. Disponível em: http://www.pmvc.ba.gov.br/horario-


de-onibus/. Acesso em: 15 de set de 2016.

Rocha, A. A. A morfologia urbana no contexto da produção do espaço geográfico. Porto Alegre:


AGB, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 598


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE SANEAMENTO BÁSICO DOS BAIRROS SÃO JOSÉ


E MANAÍRA, EM JOÃO PESSOA-PB.

Vinícius dos Santos GENUINO


Graduando do Curso de Geografia da UFPB
genuinovini@yahoo.com.br
Charles Marques FERNANDES
Graduando do Curso de Geografia da UFPB
charles_geografia@hotmail.com
Camila CUNICO
Professora Doutora do Curso de Geografia da UFPB
camilacunico@yahoo.com.br

RESUMO
O presente trabalho possui como objetivo principal realizar uma análise no tocante as condições de
saneamento básico apresentadas em dois bairros, São José e Manaíra, localizados na cidade de João
Pessoa – PB, os quais apresentam nítidas disparidades sociais. Diante disto, utilizou-se como
procedimentos metodológicos a operacionalização de mapas temáticos e tabelas, com base em
indicadores concernentes a assistência básica da população, obtidos junto ao censo demográfico por
setor censitário do IBGE (2010) agregado a dados adquiridos junto a AESA (2015); onde dentre os
indicadores utilizados estão a coleta de lixo, o esgotamento sanitário, o fornecimento de água,
dentre outros. Por meio da análise dos produtos gerados observou-se uma grande discrepância entre
os dois bairros analisados, o bairro de São José apresenta os piores indicadores quando comparado
com o bairro de Manaíra, essa diferenciação encontrada em bairros tão próximos, deve proporcionar
um questionamento no que diz respeito a efetivação das políticas sociais e de saúde que são
propostas nesta área, e principalmente a forma como o planejamento e a gestão dessas áreas estão
sendo desenvolvidas.
Palavras Chave: Saneamento Básico; Planejamento Urbano; Geoprocessamento;
ABSTRACT
The main objective of this study is to analyze the conditions of basic sanitation in two
neighborhoods, São José and Manaíra, located in the city of João Pessoa - PB, which show clear
social disparities. In view of this, thematic maps and tables were used as a methodological
procedure, based on indicators concerning the basic assistance of the population, obtained from the
demographic census by IBGE's census section (2010), added to data acquired from the AESA
(2015); where among the indicators used are garbage collection, sanitary sewage, water supply,
among others. By means of the analysis of the products generated a great discrepancy was observed
between the two neighborhoos analyzed, the São José neighborhood presents the worst indicators
when compared to the neighborhood of Manaíra, this differentiation found in neighborhoods so
close, should provide a questioning in what refers to the effectiveness of the social and health
policies that are proposals in this area, and especially the way in which the planning and
management of these areas are being developed.
Keywords: Basic Sanitation; Urban Planning; Geoprocessing;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 599


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

O crescimento urbano acelerado ocorrido a partir das últimas décadas na cidade de João
Pessoa – PB, trouxe consigo não apenas uma contínua crescente população, mas também as
consequências que essa combinação acarreta ao meio ambiente. Chamados de problemas ambientais
urbanos, essas consequências são pontos marcantes na sociedade atual, ocasionadas devido uma
urbanização sem planejamento nem gestão, acabam ocasionando transtornos para população.
Esse crescimento desordenado das cidades, ou seja, a macrocefalia urbana, faz com que elas
se tornem incapazes de absorver a população e fornecer moradia e renda, propiciando as instalações
de famílias em áreas precárias, constituindo as comunidades carentes, caracterizadas por serem
qualquer área de habitações irregulares, com carência em infraestruturas básicas como água, luz,
saneamento, esgoto, coleta de lixo e os demais serviços.
Levar em consideração a dinâmica ambiental é de suma importância na compreensão do
espaço urbano de modo que seja possível entender a problemática ambiental, quanto a natureza e o
espaço urbano, como afirma Souza (2002), quando acrescenta dizendo que raramente a cidade é
pensada como parte do meio ambiente natural, visto que isso se dá pela forma que a sociedade se
apropria da natureza, transformando-a.
Podendo ser definidas como a maior expressão das desigualdades sociais presentes no
espaço geográfico, onde a população carente passa a morar em áreas precárias para garantir o
mínimo de condições de vida, as instalações nessas áreas inadequadas causam alterações nessas
condições socioambientais. Em concordância, Silva e Travassos (2008) afirmam que as mudanças
nos padrões produtivos e nas dinâmicas populacionais alteram a natureza desses impactos e,
consequentemente, as condições socioambientais das aglomerações urbanas.
Diante disso, foi escolhido como recorte espacial dois bairros da cidade (Figura 1), sendo
eles os bairros São José e Manaíra. Esses bairros estão separados pelo curso do rio Jaguaribe,
importante rio urbano que corta toda cidade. Esse recorte foi escolhido devido às disparidades
sociais encontradas entre os dois bairros, visto que o bairro São José é uma comunidade carente,
construída de forma desordenada, sem estrutura e/ou planejamento, diferentemente do bairro
Manaíra, considerado um bairro de classe alta, a beira-mar, com grandes construções civis e centros
econômicos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 600


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1: Mapa de localização da área estudada.

DESENVOLVIMENTO

Fazendo uso dos dados da base de informações do Censo Demográfico 2010 por setor
censitário, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, publicado em 2011, em
combinação com dados oriundos de levantamentos feitos pela Agência Executiva de Gestão das
Águas da Paraíba – AESA, de 2015, foram construidos mapas temáticos, além de tabelas para
acréscimo de informações e dados, que tratam dos indicadores da assistência básica a população
dentro dos parâmetros do saneamento básico, como fornecimento de água, coleta de lixo e
esgotamento sanitário.
Para conceituação de saneamento é necessário ter em mente que ela assume distinções a
cada classe social, visto que a relação existente entre sua cultura, condições materiais, níveis de
conhecimento e acesso a informação, é capaz de transformar o entendimento de cada indivíduo a
esse conceito.
Segundo Moraes (1993), o saneamento pode ser definido como um conjunto de ações que
tem como busca a melhoria da salubridade ambiental, com o objetivo de prevenir doenças e a
promoção da saúde; ou seja, a noção de saneamento ligado ao entendimento da saúde, direito de
todo cidadão.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 601


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tal qual Benjamin (2003), ao fazer análise dos componentes jurídicos que estão regendo o
direito ao saneamento, é possível constatar que segundo a Constituição Federal de 1988, o
saneamento é tido como um direito à saúde, sendo dessa forma, parte integrante do Sistema Único
de Saúde – SUS.
Esse entendimento da saúde como direito surge por volta dos anos 80, em meio a pressão
popular em movimentos sociais e políticos, e no debate sobre Reforma Sanitária existente, como
afirmam Borja e Moraes (2005). Com a Conferência Nacional da Saúde, ocorrida em 1986, seu
relatório ficou marcado como influenciador das mudanças teóricas e conceituais sobre a área de
saneamento, que posteriormente inspirou a delimitação dos princípios da política pública de
saneamento. Os debates dessa época, em conjunto com a política levaram a promulgação da
Constituição de 1988, onde a Saúde passa a ser um direito de todos e dever do Estado, obrigando-se
a ser igualitário e universal, como descrito no artigo 196 da Constituição: ―A saúde é um direito de
todos e dever do Estado, garantida mediante políticas sociais e econômicas, que visem à redução do
risco de doença‖.
É importante também se atentar as diferenças entre o saneamento, e o saneamento
ambiental, o que conforme Meneses (1984) o saneamento se restringe apenas ao controle de
patogênese, ou seja, o que provoca direta, ou indiretamente, uma doença; por outro lado o
saneamento ambiental está ligado diretamente ao equilíbrio a administração dos recursos
ambientais, como também econômicos, culturais, sociais e principalmente populacionais.
Apesar dessa variância quanto ao seu entendimento, muito do que se compreende sobre
saneamento está ligado a infraestrutura, o que gera um distanciamento do saneamento ao que tange
a área da saúde, onde o Estado tem a sua obrigação de forma mais ampla e efetiva.
Em confirmação a isso, no Plano Municipal de Saneamento Básico de João Pessoa – PMSB-
JP, utilizando-se dos termos da lei, afirma que o saneamento é um marco no exercício de planejar,
corroborando ao Plano Diretor de João Pessoa – PDJP, estabelecido pela Lei Complementar N°
03/1992, sendo este o maior instrumento de planejamento, bem como políticas públicas de saúde,
meio ambiente, habitação e recursos hídricos do município em questão.
Como se sabe, o planejamento urbano nem sempre é favorável a todos os cidadãos, visto que
muitas vezes, contrariamente ao esperado, reafirma a segregação espacial, levando a população
carente cada vez mais longe dos centros urbanos, e da infraestrutura adequada.
Como é possível perceber, as ações de saneamento vêm sendo tratadas como política social,
em sua maioria, dessa forma, como direito social; e em outras vezes como política pública,
submetendo-se assim à lógica de mercado (Borja e Moraes, 2005), onde as desigualdades que
deveriam ser extintas, se agravam ainda mais.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 602


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ainda no PMSB-JP, é citado o Estatuto das Cidades, de Lei N° 10.257/2001, que refere-se
ao direito a cidade sustentável. Essa lei definiu o Saneamento Básico como um conjunto de
serviços, infraestruturas e instalações operacionais relacionadas a processos de: 1. Abastecimento
de água potável; 2. Esgotamento sanitário; 3. Drenagem e manejo das águas pluviais urbanas; e 4.
Manejo de resíduos sólidos.
Com isso em mente, serão analizados mapas sobre o abastecimento de água por rede geral,
esgotamento sanitário e manejo de resíduos sólidos do bairro São José (Figura 2) e do bairro
Manaíra (Figura 3), organizados em prancha, deixando a drenagem e manejo das águas pluviais
urbanas, quarto e último pilar do saneamento, de fora, devido a indisponibilidade dos dados para
efetivação comparativa.
Nos mapas foram utilizados para classificação o ―Quintil‖, método estatístico que divide os
valores de uma amostragem em cinco partes iguais, destacando a mediana; ou seja, essa mediana
passa a ser representada pela classe média, central, de ocorrência daquele fenômeno, onde as classes
inferiores, ou quintis inferiores, representam a ocorrência abaixo da média, e as classes, ou quintis
superiores, representam a ocorrência superior a média do fenômeno em questão.
Foram utilizados os dados em setor censitário, visto que é a menor unidade territorial,
formada por área contínua, integralmente contida em área urbana ou rural, com dimensão adequada
à operação de pesquisas e cujo conjunto esgota a totalidade do Território Nacional, o que permite
assegurar a plena cobertura do País (IBGE, 2011). Assim, compreende os dados mais precisos
realizados no Brasil.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 603


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 604


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 605


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

No primeiro mapa de cada prancha é possível observar a quantidade de domicílios


particulares permanentes de cada setor censitário dos bairros. No caso do bairro São José, a
mediana passa a ser representada pela classe que compreende de 163 até 170 domicílios
permanentes. Esse número elevado pode ser justificado pela forte aglomeração presente no bairro,
as pequenas casas construídas de forma irregular umas próximas as outras sem a devida estrutura
que uma casa precisa ter. É interessante destacar os quintis inferiores, com menor número de
domicílios, por apresentarem melhores condições de vida. Por outro lado, no bairro de Manaíra, a
classe destacada como mediana compreende os setores censitários de 211 a 246 domicílios
permanentes, e isso se dá devido ao grande número de edifícios residenciais e a verticalização
presente no bairro.
O segundo mapa trata dos domicílios com abastecimento de água por rede geral, sendo esse
um dos pilares do saneamento básico; e ao comparar os mapas dos dois bairros é possível identificar
que a classe da mediana destacada compreende o total de domicílios de 161 até 164 onde as classes
de quintis inferiores representam uma queda na qualidade desses domicílios principalmente na
classe de 20% abaixo da média; já no bairro de Manaíra, a classe mediana destacada compreende os
setores com 209 até 245 domicílios com abastecimento por rede geral, onde deve ser dado destaque
as classes de quintis abaixo da mediana, onde há um deslocamento na quantidade de domicílios
assistidos pela rede geral. Isso pode ser compreendido pelas demais formas de abastecimento de
água pelos domicílios, como pode ser observado nas tabelas a seguir.

Domicílios com abastecimento Domicílios com outra forma de


de água de poço ou nascente abastecimento de água
na propriedade 15
400
10
11
200 267 5 8
1
0 0
São José Manaíra São José Manaíra

Tabela 1 – Domicílios com abastecimento de água Tabela 2 – Domicílios com outra forma de de
de poço ou nascente na propriedade; Organização: abastecimento água; Organização: Vinícius
Vinícius Genuino, 2017. Genuino, 2017.

A Tabela 1 representa a quantidade de domicílios com abastecimento de água de poço ou


nascente na propriedade, podendo ser observado a disparidade entre os dois bairros. Isso pode ser
explicado devido ao acesso a recursos que podem pagar pela perfuração de poços artesianos nas
propriedades, o que torna mais difícil que ocorra no bairro São José. A presença de outras formas de
abastecimento, Tabela 2, por menor que seja, pode ser explicada pelas cisternas e captação, que
compreende maior parte desses números.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 606


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Os mapas 3 e 4 da prancha de cada bairro, representam os setores censitários com domicílios


com banheiro de uso exclusivo dos moradores, e os domicílios com banheiro de uso exclusivo dos
moradores ligados ao esgotamento sanitário via rede geral, respectivamente. Nos mapas do bairro
São José é possível percerber a partir da mediana, que nos setores que se encontram nessa classe, o
número de domicíios com banheiro em comparação ao primeiro mapa deixa claro que existe uma
disparidade entre os dados, levando a entender que muito dos domicílios do bairro não possuem
banheiro exclusivo. O que se agrava ao visualisar o mapa 4, onde exibe os domicílios com banheiro
ligado a rede geral de esgoto, ficando claro o baixo número de domicílios compreendidos por esse
fenômeno. Já no bairro de Manaíra, o mapa 3 demonstra que os domicílos apresentam banheiro
exclusivo dos moradores em quase sua totalidade, porém se for comparado com o mapa 4, onde
relaciona o banheiro ligado ao esgotamento por rede geral, deixa claro que muitos dos domicílios
não são atendidos pelo esgotamento sanitário de forma devida.
O mapa 5 de cada prancha refere-se aos domicílios com banheiro de uso exclusivo dos
moradores e esgotamento sanitário via rio, lago ou mar, tendo destaque ao Rio Jaguaribe, que faz a
divisão entre os dois bairros e recebe bastante poluição. No bairro São José é possível perceber que
em sua mediana, de 11 até 78 domicílios fazem o despejo do esgoto nos rios, onde nas classes
abaixo é possível perceber que existem setores que não possuem nenhum domicílio que faça esse
despejo, por outro lado, há setores em classes de quintil superiores, que compreendem entre 134 até
214 domicílios que fazem esse despejo de forma inadequada.
No bairro de Manaíra, dos 38 setores censitários, apenas 9 fazem esses despejo inadequado,
porém ainda assim, na última classe de quintis é possível notar que de 51 até 120 domicílios fazem
esse despejo no rio. É importante resaltar que o despejo é realizado no rio, devido a localização dos
setores que fazem esses despejos inadequado. Mesmo que o bairro esteja a beira-mar, o despejo
inadequado é feito no rio, por não existir qualquer tipo de fiscalização.
Outros dados foram adicionados em tabela para corroborar com informações sobre os dois
bairros (Tabela 3 e 4), que informam sobre o sistema de esgotamento sanitário ligado a outro
escorredouro, e sobre os domicílios sem banheiro de uso exclusivo dos moradores, respectivamente.

Domicílios com banheiro de Domicílios sem banheiro de


uso exclusivo dos moradores uso exclusivo dos moradores
e esgotamento sanitário via 15
outro escoadouro
10 13
10 5
1 7 0
0 0
São José Manaíra São José Manaíra
Tabela 3 – Domicílios com banheiro de uso exclusivo dos Tabela 4 – Domicílios sem banheiro de uso exclusivo dos
moradores com esgotamento sanitário via outro moradores; Organização: Vinícius Genuino, 2017.
escoadouro. Organização: Vinícius Genuino, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 607


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Na tabela 3, é possível inferir que o bairro de Manaíra apresenta maior número de


domicílios com esgotamento sanitário via outro escoadouro, com destaque para as valas, o que
acaba fugindo do esperado. Por outro lado, na tabela 4, consta que apenas no bairro São José
apresenta domicílios sem banheiro de uso exclusivo dos moradores, importante dado que representa
a precariedade na infraestrutura desses domicílios presentes nesse bairro, dado que sequer aparece
no bairro de Manaíra.
Os mapas 6 e 7 compreendem os domicílios com lixo coletado, e os domicílios que o lixo é
coletado por serviço de limpeza, respectivamente. No bairro São José é possível perceber uma
variação entre o mapa de lixo coletado e o primeiro mapa, sendo possível inferir que nem todos os
domicílios possuem coleta de lixo, e isso se agrava quando é analisado o mapa 7, onde os dados de
lixo coletado por serviço de limpeza, que deveria ser dever do Estado, apresentam uma diferença
ainda maior entre eles. Por outro lado, no bairro de Manaíra, no mapa 6 de coleta de lixo segue os
mesmos dados do primeiro mapa, informando que quase sua totalidade tem coleta de lixo, e ao
analisar os domicílios com coleta de lixo por serviço de limpeza, no mapa 7, a diferença entre os
dados é bem reduzida, diferentemente do que acontece no bairro São José.
No mapa 8 é representado o lixo coletado por caçamba de serviço de limpeza, onde os dados
nos dois bairros são baixos, porém presentes, com destaque para o bairro de Manaíra onde apresenta
setor censitário com até 196 domicilios com esse tipo de coleta de lixo, e no bairro São José o
máximo se restringe até 29 domicílios atendidos por esse tipo de coleta.
Por outro lado, outros tipos de descarte de lixo também são feitos (Tabelas 5 e 6),
retornando a preocupação com os recursos naturais.

Domicílios com lixo jogado em Domicílios com lixo jogado em


terreno baldio ou logradouro rio, lago ou mar
150 15
100 10
100 10
50 5
0 0
0 0
São José Manaíra São José Manaíra

Tabela 5 – Domicílios com lixo jogado em terreno baldio Tabela 6 – Domicílios com lixo jogado em de rio,
ou logradouro. Organização: Vinícius Genuino, 2017. lago ou mar; Organização: Vinícius

Com as tabelas 5 e 6 é concebível deduzir que apenas no bairro São José ainda exista o descarte do
lixo em terreno baldio, ou logradouro, mostrando o quanto o bairro ainda está aquém das políticas
de assistência quanto a coleta adequada do lixo, além da poluição marcante do Rio Jaguaribe, já
citado, ficando bem aparente graças a Tabela 6, onde demonstra que ainda 10 domicílios do bairro
jogam seu lixo no rio.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 608


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que a Prefeitura de João Pessoa, nos últimos anos, tem buscado implementar uma
política de revitalização da área no bairro São José, o que entre propostas está a melhoria das
condições de saneamento básico desse bairro. Assim, será possível uma comparação entre os dados
utilizados na construção desses trabalho, com novos dados junto ao novo Censo que acontecerá em
2020.
Foi possível perceber as disparidades presentes entre os dois bairros analisados, o que nos
remete a efetivamente cobrar do Estado mais atuação nessa área, tanto nas condições de
saneamento, mas também no tocante ao rio Jaguaribe que vem sofrendo durante anos com o despejo
inadequado de esgoto e lixo em seu leito.
Muitas questões se levantam sobre a efetivação das políticas sociais e de saúde, e
principalmente quanto a efetivação desse planejamento, tanto no Plano Diretor, quanto no Plano
Municipal de Saneamento Básico, deixando interrogações sobre até que ponto essas políticas
governamentais estão a serviço da população, e não apenas do mercado imobiliário ou da
espacialização da mão de obra.
O saneamento é um direito de todo cidadão e deve ser exigido e construído de forma
conjunta, visto que a atuação cooperativa do orgãos gestores com a população torna a problemática
mais clara e passível de uma atuação mais rápida e efetiva. Em concordância, Ricão, et al (1987)
afirmam que um conjunto de ações sobre saúde pública, intrisecamente relacionadas a
infraestrutura, responsabilidade do Estado e coordenação e gestão de setores do governo, possuem
uma extrema necessidade da participação da população, com a identificação dos problemas,
planejamento, acompanhamento e análise do que está sendo feito.
Estar presente no contexto da cidade é consumar o direito a cidade, tornando-se visto,
mostrar que está presente e que aquela população merece, além de tudo por direito, ser assistida
pelo Estado, em qualquer área das políticas públicas e serviços quanto qualquer outro morador,
sejam eles de qualquer classe social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENJAMIN, Antônia Herman. Aspectos jurídicos que envolvem o direito ao saneamento


ambiental. Brasília: Câmera dos Deputados, 2003. Não publicado.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Congresso Nacional, Brasília, DF, 1988.

BORJA, Patrícia Campos; MORAES, Luiz Roberto Santos; SANEAMENTO COMO UM DIREITO
SOCIAL. Bahia. Assembleia da Assemae, v. 35, 2005.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 609


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

JOÃO PESSOA, Plano Municipal de João Pessoa, Semanário Oficial, Pag 001/82; n° 1509; 30 de
dezembro de 2015.

MENEZES, Luiz Carlos C. Considerações sobre saneamento básico, saúde pública e qualidade de
vida. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental, Rio de Janeiro, v.23, n. 1, p.55-61, jan/mar.
1984.

MORAES, Luiz Roberto Santos; Conceitos de Saúde e Saneamento. Salvador: DHS/UFBA, 1993.

SOUZA, Maria Salete de; MEIO AMBIENTE E SANEAMENTO BÁSICO. Mercator – Revista de
Geografia da UFC, ano 01, número 01, 2002.

RICÃO, Juranyr Mathias; BANDEIRA, Lúcio Henrique; COSTA E SILVA, Rodolfo; NÓVOA
Walton Vieira de; FORMIGLE, Vera Lúcia de Almeida; SÁ, Marilene Castilhos; LEAL, Luiz
Maria Camacho. Reforma Sanitária e Saneamento: Algumas Contribuições e Propostas para
Discussão. Rio de Janeiro: FSESP/ABES, 1987. Não Publicado.

SILVA, S. L.; TRAVASSOS, L. Problemas ambientais urbanos: desafios para a elaboração de


políticas públicas integradas. In: Cadernos Metrópole 19 pp. 27-47 1º sem. São Paulo-SP, 2008.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 610


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tratamento de Resíduos,
Saneamento e Reciclagem

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 611


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ALTERNATIVAS PARA A DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS


PROVENIENTES DA AGRICULTURA FAMILIAR24

Ananda Paula Rodrigues FERREIRA


Graduada em Geografia Bacharelado e Graduanda em Geografia Licenciatura da UFC
anandarof@gmail.com
Francisco Jordy Martins de VASCONCELOS
Graduando em Geografia Licenciatura da UFC
jordy-martins@hotmail.com
Suedio Alves MEIRA
Doutorando em Geografia da UFC
suediomeira@gmail.com

RESUMO
O gerenciamento de resíduos sólidos no Brasil, sobretudo no tocante à agricultura familiar, é
demasiadamente precário. O descarte desses materiais é um grande problema no país por ainda ser
utilizado um apanhado de técnicas usuais e inapropriadas, tal como a incineração, o aterramento, o
descarte irregular e demais modos de destinação de resíduos sólidos severamente impactantes.
Dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil dos últimos anos confirmam a crescente
produção de resíduos sólidos urbanos no Brasil, que no ano de 2015 chegou a cerca de 79,9 milhões
de toneladas, sendo cerca de 57% compostos por resíduos orgânicos. Esse ascendente cenário revela
a necessidade cada vez maior do Estado e da população de se fazer o manuseio menos impactante
ao meio ambiente. Sabendo-se do crítico cenário ambiental mundial, comumente associado ao
consumismo desenfreado da ordem capitalista de produção, faz-se necessário a busca por
alternativas de gerenciamento dos resíduos sólidos. Através disso, a pesquisa se apresenta a partir
de uma discussão fundamentada em pesquisa bibliográfica e documental, assim como o
levantamento de dados secundários, que permitem a análise da destinação dos resíduos sólidos.
Dessa forma, é apresentado, dando enfoque na agricultura familiar, um apanhado de alternativas
para o manuseio desses resíduos sólidos, especificados e trazidos em lei específica, tais como:
reutilização, reciclagem e compostagem.
Palavras-chave: Resíduos Sólidos; Educação Ambiental; Agricultura Familiar.

ABSTRACT
The solid waste management in Brazil, especially in relation to family agriculture, is very
precarious. The disposal of these materials is a major problem in the country because still of the use
of usual and inappropriate techniques, such as incineration, grounding, irregular disposal and other
solid waste disposal impactful techniques. Data from the Solid Waste Panorama in Brazil in recent
years confirm the growing production of urban solid waste in Brazil, which in the year 2015
reached about 79.9 million tons, of which about 57% are composed of organic waste. This
ascending scenario reveals the growing need for the State and the population to make the least
impactful handling of the environment. Knowing the critical environmental scenario that the planet
has suffered, commonly associated with the unbridled consumerism of the capitalist order of
production, it is necessary to search for alternatives to solid waste management. Through this, the
research presents itself from a discussion based on bibliographical and documentary research, as

24
Trabalho orientado pelo Professor Doutor Edson Vicente da Silva, Departamento de Geografia, Universidade Federal
do Ceará, Fortaleza, Ceará.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 612


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

well as the collection of secondary data, which allow the analysis of the solid waste‘s destination. In
this way, it is presented, focusing on family agriculture, a collection of alternatives for the handling
of solid waste, specified and brought into specific law, such as: reuse, recycling and composting.
Keywords: Solid Waste; Environmental Education; Family Agriculture.

INTRODUÇÃO

Com o atual modo de vida no qual o homem encontra-se inserido, caracterizado pelo sistema
capitalista e pelo consumismo, intimamente ligado a produção, tem-se como fruto das atividades
humanas a produção de resíduos sólidos, lixos ou rejeitos, onde o que não é de interesse da indústria
nem do consumidor é assim reconhecido. Os resíduos sólidos se tornaram um dos grandes
problemas enfrentados pela sociedade contemporânea, principalmente devido sua disposição
inadequada, a qual está entre as principais ações antrópicas que resultam na poluição do ambiente
do qual fazemos parte.
Resíduos sólidos são definidos, segundo o Art. 3° da Lei Federal 12.305/10, que trata a
Política Nacional de Resíduos Sólidos, como:

XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de


atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou
se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos
em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou em corpos d‘água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;

Grande parte dos resíduos produzidos são dispostos inadequadamente, ou seja, não é dada a
destinação final considerada ambientalmente adequada, o que inclui ―reutilização, reciclagem,
compostagem, recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos
órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa‖ (Art. 3° da Lei Federal 12.305/10).
Diante disso, o objetivo do presente artigo configura-se numa discussão teórica sobre como
a destinação adequada dos resíduos sólidos podem resultar numa melhoria ambiental, tendo como
foco especial a destinação na agricultura familiar. Tendo como intuito elucidar alternativas para o
descarte correto desses resíduos, são apresentadas algumas possibilidades a partir do gerenciamento
de resíduos sólidos, fáceis de serem aplicadas e de baixo custo, efetivas na minimização dos
impactos ambientais, sociais e econômicos.

METODOLOGIA

A metodologia empregada deu-se por meio de um levantamento bibliográfico e documental


que permitiu uma discussão fundamentada em autores diversos que realizaram estudos acerca de
resíduos sólidos como Darolt (2002), Boteon, Martini, Costa (2006), Demajorovic (1996), além de
amparar o estudo em leis e normas recorrentes. Também se realizou a busca de dados secundários

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 613


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

em órgãos como a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais –


ABRELPE que permitiram uma aproximação maior de informações concretas.

PANORAMA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO BRASIL

Conforme a NBR 10.004 da ABNT (2004), os resíduos sólidos urbanos podem ser definidos
como, resíduos no estado sólido e semi-sólido, que resultam da atividade da comunidade de origem
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, serviços e varrição. Segundo o Panorama dos
Resíduos Sólidos no Brasil apresentado pela ABRELPE (2015), o Brasil produziu cerca de 79,9
milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos no ano de 2015, o que indica um crescimento em
relação ao ano anterior, como se pode observar na figura 1:

Figura 1 – Geração de resíduos sólidos urbanos por dia no Brasil no ano de 2014 e 2015.
(ABRELPE, 2015, p. 19).

Pode-se analisar ainda que, desse total, cerca de 72,5 milhões de toneladas são coletados, o
que faz com que cerca de 7,3 milhões de toneladas de resíduos não sejam coletados e
consequentemente tenham uma destinação imprópria. Percebe-se na figura 2, que assim como a
quantidade de resíduos sólidos produzidos cresceu em relação ao ano anterior, o mesmo também
ocorreu com os resíduos coletados. Sendo a região Sudeste a responsável por quase 53% do total
dos serviços de coleta do país, como se pode observar na figura 3 (ABRELPE, 2015).

Figura 2 - Coleta de resíduos sólidos urbanos por dia no Brasil no ano de 2014 e 2015. (ABRELPE,
2015, p. 19).
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 614
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 3 – Resíduos sólidos urbanos coletados por região. (ABRELPE, 2015, p. 20).

Acerca da disposição final dos resíduos sólidos, dos que foram coletados em 2015, por volta
de 42,6 milhões de toneladas seguiram para aterros sanitários. Porém, aproximadamente 30 milhões
de toneladas de resíduos foram dispostos em lixões ou aterros controlados, que recebem em torno
de 82.000 toneladas de resíduos por dia, com grande potencial de poluição ambiental, como
demonstra a figura 4 Sendo esses, ausentes de medidas necessárias para a proteção do meio
ambiente contra danos e degradações, e por isso considerado impróprios. É importante ressaltar, que
essa prática ainda ocorre em 3.326 municípios dispostos em todos os estados brasileiros
(ABRELPE, 2015).

Figura 4 – Disposição final de resíduos sólidos urbanos no Brasil por tipo de destinação (t/dia).
(ABRELPE, 2015, p. 23).

Segundo a ABRELPE (2015), dos resíduos sólidos urbanos coletados no Brasil cerca de
57% são compostos por resíduos orgânicos, comumente associados aos restos de alimentos,
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 615
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

seguidos de 17% constituídos por plástico, 13% por papel, 2% por vidro, 2% por metal e 9% por
outros materiais. Com isso, é possível perceber que há destinação adequada de objetos compostos
por alumínio, plástico, entre outros, antes de chegar a disposição final, no entanto, o mesmo não
ocorre com os resíduos orgânicos. Resíduos orgânicos esses que podem ser transformados em
excelentes fontes de nutrientes para o solo e para a produção advinda da agricultura familiar.

AGRICULTURA FAMILIAR E A PRODUÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Segundo Darolt (2002), os resíduos produzidos em áreas e comunidades rurais são


compostos tanto pelos restos vegetais do que é cultivado, quanto por possíveis materiais associados
à produção, como adubos químicos, dejetos animais, quanto por sobras semelhantes às geradas em
áreas urbanas, como restos de alimentos, vidros, latas, papéis, papelões, plásticos, lâmpadas etc.
Assim, destaca-se que a produção dos resíduos sólidos produzidos nas residências tem aumentado
significativamente em relação à destinação adequada desses componentes, visto a falta de um
sistema eficiente para descarte e coleta desses resíduos.
Reforçando os impactos retratados anteriormente, a disposição inadequada dos resíduos nas
localidades rurais pode ocasionar sérios problemas como contaminação da água, solo e alimentos
produzidos nas plantações, prejudicando a saúde da população, dado a possibilidade de gerar
insetos e outros tipos de pragas. Como nesse cenário geralmente não existe coleta de lixo e a
deposição é feita em áreas impróprias, muitas vezes, o meio encontrado pelos moradores e
produtores para descartar esses resíduos de forma mais rápida é a queima. O que se torna
contraditório, já que nas comunidades rurais a maior parte dos resíduos produzidos se trata de
resíduos orgânicos (BOTEON, MARTINI, COSTA, 2006).
Sabe-se que cada um é responsável pelo resíduo que produz, porém, o Estado possui a
responsabilidade de garantir um serviço de coleta adequado tanto para as áreas urbana quanto rural,
principalmente para aqueles que vivem em comunidades rurais, muitas vezes afastadas e por isso,
desassistidas das políticas públicas. Os resíduos produzidos nessas áreas podem ter como destino
processos de compostagem para os resíduos orgânicos, bem como de explorar o potencial de
reciclagem dos resíduos inorgânicos, o que pode acarretar, dentre outros benefícios, uma
rentabilidade para a comunidade (DEMAJOROVIC, 1996). É certo que ao mesmo tempo em que é
líder mundial na reciclagem de alumínio, o Brasil despreza grande parte dos seus resíduos
orgânicos, que podem ser considerados uma verdadeira riqueza diante do que podem ser
transformados.

DISCUSSÃO

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 616


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Além da legislação vigente que disserta sobre o assunto, a educação ambiental é o


embasamento fundamental que antecede todos os processos destinado ao gerenciamento de resíduos
sólidos. Então, trabalhar em cima dessa educação ambiental é ponto chave para a conscientização
do manuseio do produto final.
Acerca da disposição adequada de resíduos sólidos, no processo, que pode ser observado na
figura 5, dá-se prioridade a não geração de resíduos, onde não sendo possível, é indicada a sua
redução, reutilização, reciclagem e recuperação energética. Posterior a isso, o seu tratamento físico,
químico ou biológico, a depender da sua composição. E em último caso, a sua disposição final
adequada enquanto rejeito, que passa a assumir essa denominação quando se esgotam todas as
possibilidades de tratamento, restando apenas sua destinação a lixões ou aterros.

Figura 5 – Sistematização dos passos para disposição adequada de resíduos sólidos. (Adaptado de
KONDOGEORGOS, 2017).

Quando essa disposição correta não ocorre, diversos problemas ambientais são
desencadeados, como a degradação do solo, a poluição de rios e aquíferos subterrâneos pela
percolação do chorume; poluição atmosférica pelas emissões de gases tóxicos quando os resíduos
são queimados; agravamento do aquecimento global; aumento da proliferação de fauna relacionada
à transmissão de doenças por vetores; além de poluição visual através da deterioração da paisagem.
Dessa forma, apresentam-se algumas alternativas como métodos de gerenciamento de
resíduos sólidos, aplicáveis por qualquer pessoa em qualquer ambiente. São elas, a saber:
reutilização, reciclagem e compostagem.
A reutilização de resíduos sólidos se dá no prolongamento da vida útil de determinado bem,
conservando suas características iniciais a fim de exercer a mesma função sem prejuízo final de seu
produto. Ressalta-se que a reutilização de resíduos sólidos ―[...] como insumo nos processos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 617


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

produtivos gera benefícios diretos, tanto na redução da poluição ambiental causada pelos aterros e
depósitos de lixo como em benefícios indiretos relacionados à conservação de energia‖
(GOUVEIA, 2012).
Esse método já é amplamente utilizado na produção brasileira no que condiz a indústria de
bebidas que adota a reutilização a partir de garrafas retornáveis. Isso faz com que o resíduo sólido
seja reutilizado algumas vezes antes mesmo de ser reciclado, o que barateia o valor do produto
final, tanto para produtores como para consumidores, assim como utiliza da vida útil possível que o
material tem a oferecer antes de ser descartado por completo ou reciclado.
Dentro do âmbito doméstico isso se evidencia, por exemplo, na reutilização das embalagens
de plásticos e vidros destinados ao acondicionamento de alimentos e bebidas, função inicial que
esse material exercera antes de ser resíduo para reutilização e que pode ser aplicado também no
acondicionamento de sementes na agricultura familiar ou reutilização de caixa de ovos para
germinação de sementes, por exemplo.
Outra alternativa é a reciclagem. A própria Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010,
define em seu texto que o termo reciclagem se refere ao

Processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas


propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos
ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos
competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa (BRASIL, 2010).

Em suma, reciclar refere-se ao ato de reintegrar determinado resíduo sólido ao ciclo


produtivo, fazendo com que se haja uma destinação igual à que tivera, ou uma nova função. Seus
benefícios são dos mais diversos, porém todos voltados, principalmente, para a economia de
recursos naturais.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos brasileira também define a reciclagem apenas
como a 4ª forma de gerenciamento de resíduos sólidos disposto em uma ordem. Essa ordem, no que
se refere os resíduos sólidos, se dá na ―não geração‖, na ―redução‖, na ―reutilização‖, e somente
depois na ―reciclagem. Ou seja, antes de ser reciclado o resíduo sólido deverá passar pelas três
formas de gerenciamento que o antecede.
Portanto, para que se obtenha tal método de manuseio de resíduo sólido, faz necessário que a
coleta seletiva seja assídua e correta desde a residência do indivíduo até o centro de tratamento
especializado de resíduos sólidos. Por isso, separar muito bem cada resíduo que se produz em casa é
fundamental para que se tenha a oportunidade de ser realizada a reciclagem.
Vale ressaltar que no momento em que os resíduos não são selecionados corretamente, a
reciclagem é comprometida devido, sobretudo, à contaminação ocasionado dos diferentes resíduos
encontrados.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 618


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A destinação a partir da reciclagem pode ainda ser feita por qualquer pessoa, como em
comunidades rurais, na confecção de composteiras utilizando garrafões de água, na construção de
hortas verticais com garrafas PET‘s, entre outras.
O terceiro método aqui exposto é o de compostagem. Ferreira, Borba e Wizniewsky (2013),

A compostagem é um processo biológico em que os microrganismos transformam a matéria


orgânica, tais como, dejetos de animais (estercos de aves, bovinos, suínos, ovinos, equinos,
etc.), cascas e bagaços de frutas e caroços não comercializados, resíduos de culturas (cascas
de arroz, palha de milho, vagem seca de feijão, casca seca de café), folhas e ramos de
mandioca, bananeira e demais culturas, serragem, restos de capim (colonião, elefante,
brachiara, quicuiu, etc.), além desses materiais, também pode ser utilizada para enriquecer o
adubo orgânico: farinha de osso, cascas de mexilhão e de caranguejo (trituradas), cinzas e
terra preta, além de como estrume, folhas e restos de comida, num material semelhante ao
solo, a que se chama composto, e que pode ser utilizado como adubo (FERREIRA;
BORBA; WIZNIEWSKY, 2013, p. 308).

Podemos evidenciar que esse método é facilmente providenciado através dos resíduos
orgânicos provenientes do próprio lixo doméstico. Já para os agricultores familiares, a técnica é
interessante porque muitos dos restos das próprias culturas podem ser utilizados na compostagem.
Cria-se um adubo natural e barato para a fertilização dos solos, sobretudo os solos com baixa
fertilidade natural.
Seus benefícios são dos mais variados, desde o aumento do número de minhocas no solo, de
insetos e microrganismos, ―até o que se chama de ―adubação de disponibilidade controlada‖, onde a
planta retira apenas os nutrientes que necessita, diferentemente do que se é proposto por adubos
sintéticos‖ (FERREIRA; BORBA; WIZNIEWSKY, 2013, p. 308).
De forma geral, a ―compostagem transforma os diferentes tipos de resíduos orgânicos em
adubo, que adicionado ao solo, melhora suas características física, físico-químicas e biológicas‖
(OLIVEIRA; AQUINO; NETO, 2005). Sendo assim, restringe-se aos materiais orgânicos, o que
revela que os demais resíduos sólidos que não se enquadram nessa categoria sejam gerenciados com
outras formas e métodos, sobretudo os anteriormente falados.
Salienta-se, mais uma vez, que todos os métodos aqui citados estão diretamente ligados para
a população no âmbito familiar e da agricultura familiar, de forma a ser um componente diário de
manuseio e gerenciamento de resíduos sólidos produzidos por eles. Estratégias essas atreladas à
educação ambiental e a conscientização do uso dos recursos naturais, de forma a contribuir para a
nossa discussão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo permite, a partir da discussão levantada, o conhecimento da realidade no


que diz respeito a produção de resíduos sólidos no Brasil e para onde vai tudo que é produzido.
Quando coletado, parte do material que deveria passar por todos os trâmites de reutilização,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 619


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

reciclagem, compostagem, recuperação e aproveitamento energético ou outras destinações


admitidas pelos órgãos competentes, são simplesmente separados e destinados a locais próprios
(aterros) ou impróprios (lixões). Os resíduos sólidos, principalmente os urbanos, são reduzidos a
lixo, quando na verdade com conscientização de toda a problemática que o circunda e educação
ambiental poderia trazer a geração de renda, a diminuição de custos e a melhoria do ambiente, para
a sociedade, principalmente em comunidades rurais que é, em sua grande maioria, desassistida e
sofre com os impactos negativos resultantes.
É possível perceber que atrelada a investimentos do governo e órgãos responsáveis, é
possível a diminuição de uma problemática ainda maior, que é o custo da destinação adequada e os
gastos com a saúde e o bem-estar da sociedade, além de garantir a conservação dos recursos
naturais, fator imprescindível a todo esse ciclo de produção e consumo. Bilhões de reais são
perdidos no lixo diariamente quando há diversas possibilidades de transformá-los em arte, adornos,
peças de decoração, transformação de restos de alimentos em comidas exóticas, doces,
aproveitamento de resíduos de óleo de fritura para confecção de sabão caseiro, etc. É necessária
conscientização por meio da educação ambiental para que a própria sociedade seja capaz de refletir
o quanto atitudes simples podem contribuir para a melhoria da vida das comunidades onde vivem,
além da sociedade e meio ambiente como um todo.

REFERÊNCIAS

ABRELPE. Associação Brasileira de Empresa de Limpeza Publica e Resíduos Especiais. Panorama


dos resíduos sólidos no Brasil 2015. São Paulo, 2015. 92 p. Disponível em: <
https://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2015.pdf> Acesso em: 14 jul. 2017.

BOTEON, Margarete, MARTINI, Rodrigo, COSTA, Carolina Dalla. Gestão do Lixo: Um estudo
sobre as possibilidades de reaproveitamento do lixo de propriedades hortícolas. XLIV
CONGRESSO DA SOBER, Fortaleza, Sociedade Brasileira de Sociologia Rural, 2006.

BRASIL. Norma Brasileira nº 10.004, de 2004. Resíduos Sólidos – Classificação. Brasil, 31 maio
2004.

BRASIL. Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos;
Altera A Lei no 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998; e Dá Outras Providências.

DAROLT, Moacir Roberto. Lixo Rural: Entraves, estratégias e oportunidades. Ponta Grossa: 2002.

DEMAJOROVIC, J. A evolução dos modelos de gestão de resíduos sólidos e seus instrumentos,


Cadernos Fundap, São Paulo, 1996.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 620


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

FERREIRA, Aline Guterres; BORBA, Sílvia Naiara de Souza; WIZNIEWSKY, José Geraldo. A
prática da compostagem para a adubação orgânica pelos agricultores familiares de Santa
Rosa/RS. Revista Eletrônica do Curso de Direito - UFSM, Santa Maria, v. 8, p.307-317, jul.
2013. Disponível em: <https://periodicos.ufsm.br/revistadireito/article/download/8275/4991>.
Acesso em: 20 jul. 2017.

GOMES, Maria Helena Scalabrin Cardoso, OLIVEIRA, Edenis Cesar de, PEREIRA, Raquel da
Silva, BRESCIANI, Luis Paulo. Perspectivas de cumprimento da Lei 12305/2019 que trata da
Política Nacional de Resíduos Sólidos: um panorama geral dos municípios brasileiros com
recorte de estudo no estado de São Paulo e região do ABC. In: Encontro Internacional sobre
Gestão Empresarial e Meio Ambiente, Anais ....XV ENGEMA, São Paulo: FEA/USP, 2013.

GOUVEIA, Nelson. Resíduos sólidos urbanos: impactos socioambientais e perspectiva de manejo


sustentável com inclusão social. Ciência e Saúde Coletiva, [s.l], v. 6, n. 17, p.1503-1510, abr.
2012.

OLIVEIRA, Arlene Maria Gomes; AQUINO, Adriana Maria; NETO, Manoel Teixeira de Casto.
Compostagem Caseira de Lixo Orgânico Doméstico. Embrapa, Circular Técnica 76. Bahia,
2005.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 621


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL

Bruno da Cunha FREIRE


Graduando do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFERSA
brunoaurora@gmail.com
Gabriela Valones Rodrigues de ARAÚJO
Docente do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFERSA
gabriela.valones@ufersa.edu.br

RESUMO
Desde os primórdios, a relação entre a sociedade e os resíduos produzidos pela mesma é
conflituosa. Apesar da busca atual por uma relação equilibrada entre as partes, ainda existem muitas
fragilidades no sistema de produção x consumo x responsabilidade ambiental na destinação dos
resíduos sólidos a serem melhoradas. Diante da premissa, da escola como espaço de aprendizado e
construção do conhecimento, este trabalho buscou conhecer e diagnosticar a situação atual do
gerenciamento de resíduos sólidos em uma instituição de ensino privado do município de Pau dos
Ferros - RN. Para tanto, foram identificadas as características do estabelecimento escolar como as
iniciativas e os trabalhos ambientais desempenhados na mesma, apresentadas as principais
problemáticas relacionadas à gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos e analisada a estrutura da
instituição para o acondicionamento dos resíduos. Verificou-se que há práticas que carecem de
adequação ambiental, entre elas, a necessidade da implantação de trabalhos ambientais relacionados
à gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, tais como, a técnica da coleta seletiva. Nesse sentido,
também foi indicada a criação e adoção de mecanismos que promovam a sensibilização ambiental
na comunidade escolar (alunos e colaboradores), essencial para o correto gerenciamento dos
resíduos gerados.
Palavras-chave: Escola, Coleta Seletiva, Educação Ambiental, Política Nacional de Resíduos
Sólidos.

ABSTRACT
From the beginning, the relationship between society and the waste produced by it is conflicting.
Despite the current search for a balanced relationship between the parties, there are still many
weaknesses in the system of production x consumption x environmental responsibility in the
destination of solid waste to be improved. Given the premise of the school as a space for learning
and knowledge construction, this work sought to know and diagnose the current situation of solid
waste management in a private educational institution of the municipality of Pau dos Ferros - RN.
For that, the characteristics of the school were identified as the initiatives and environmental work
carried out in it, presented the main problems related to the management and management of solid
waste and analyzed the structure of the institution for the packaging of waste. It was verified that
there are practices that lack environmental adequacy, among them, the need to implement
environmental works related to solid waste management and management, such as the selective
collection technique. In this sense, it was also indicated the creation and adoption of mechanisms
that promote environmental awareness in the school community (students and employees), essential
for the correct management of waste generated.
Keywords: School, Selective Collection, Environmental Education, National Policy on Solid
Waste.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 622


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

O crescimento exponencial da população juntamente com seus padrões de consumo e o


avanço nos setores tecnológico e econômico têm contribuído para um aumento exacerbado na
geração de resíduos sólidos urbanos e na diversidade destes, sendo esta uma das principais
preocupações ambientais da atualidade (GOUVEIA, 2012). Apesar dessa produção de resíduos ser
inerente à atividade humana, a relação entre as partes é conflituosa. A população sempre tratou o
―lixo‖ como algo inútil e que deveria apenas ser afastado do convívio (PORTILHO, 1997).
O gerenciamento inadequado dos resíduos sólidos pode resultar em riscos à saúde pública e
à degradação ambiental, além, de riscos indesejáveis nos aspectos sociais, estéticos, econômicos e
administrativos envolvidos (SMA, 1998). Diante disso, técnicas como a coleta seletiva e a
reciclagem do lixo, podem auxiliar a prevenir desastres econômicos e bioambientais (HASHEMI et
al., 2012).
A destinação inadequada dos resíduos sólidos tem causado problemas de ordem ambiental e
social, assim o tratamento destes tornou-se indispensável para população e um fator desafiador para
os governos (SOUZA et al., 2013). Nesse sentido, a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS
foi criada pela Lei nº 12305/2010 buscando uma relação equilibrada entre a sociedade e seus
resíduos. Para isto, a mesma trata da gestão e do gerenciamento dos resíduos sólidos a partir da
orientação da prática de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos que propiciam o
aumento da reutilização e reciclagem destes e de um destino ambientalmente correto para os rejeitos
(ZVEIBIL, 2001).
As instituições de ensino, públicas ou privadas, são importantes fontes geradoras de
resíduos sólidos. Isso se deve às diversas atividades realizadas nas mesmas, do simples papel
utilizado em uma sala de aula ao resíduo orgânico produzido nas cantinas ou restaurantes destas.
Com isso, torna-se necessária a aplicação de práticas sustentáveis nas mesmas. Para Dos Santos
Xavier et. al. (2016) também é de grande importância às abordagens ambientais no âmbito escolar
em todos os níveis de ensino, pois a educação de poder de mudança social e intelectual, envolvendo
não só o alunado, mas a comunidade como um todo para a aquisição de práticas sustentáveis.
Mediante tais discussões, este trabalho tem por objetivo conhecer e diagnosticar a situação
atual do gerenciamento de resíduos sólidos em uma instituição de ensino privado da cidade de Pau
dos Ferros - RN. Para tanto, faz-se necessário identificar as características da empresa tais como as
iniciativas e os trabalhos ambientais desempenhados na mesma; apresentar as principais
problemáticas relacionadas à gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos; analisar a estrutura da
instituição para o acondicionamento dos resíduos e propor ações que busquem alternativas
ambientais adequadas para os problemas encontrados.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 623


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

METODOLOGIA

O objeto de estudo desta pesquisa foi uma escola de ensino privado que funciona de segunda
a sexta-feira, oferece os ensinos infantil e fundamental I e II, possui quadro de funcionários
composto por 48 colaboradores distribuídos nos cargos de Auxiliar de Serviços Gerais – ASG,
Auxiliar de Serviços Diversos – ASD, Professor, Auxiliar de Professor, Coordenação Pedagógica e
Direção Administrativa, e tem uma comunidade estudantil com aproximadamente 360 alunos da
faixa etária de 1 aos 15 anos de idade. O estabelecimento escolar também possui uma cantina em
que são ofertados lanches para os discentes e docentes, e está localizado na cidade de Pau dos
Ferros – RN (6º06‘45.9‖S; 38º12‘29.5‖W). Esta escola está contabilizada nas 16 instituições de
ensino, incluindo as públicas e privadas que estão inseridas no município do alto oeste potiguar.
O presente trabalho apresenta um caráter descritivo, pois buscou o levantamento das
características da instituição de ensino privada e a identificação dos problemas na gestão dos
resíduos sólidos, bem como, a proposição de medidas ambientais apropriadas e em acordo com a
legislação vigente, para a realidade local.
Métodos exploratórios foram utilizados na realização de visitas in loco, observação direta,
realização de entrevistas, registros fotográficos e identificação dos locais de acondicionamento dos
resíduos sólidos, permitindo a execução de uma análise preliminar e configurando o trabalho como
um estudo de campo conforme Gil (2008). O embasamento teórico-científico também norteou a
realização e discussão dos dados obtidos com a pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Docentes da área de Ciências Naturais citaram ao menos dois trabalhos ambientais


desenvolvidos anualmente pela escola para os alunos do Ensino Fundamental II. O primeiro trata do
consumo sustentável de água, em que os alunos são conscientizados da atual situação hídrica da
região a partir de aportes teóricos e visitas técnicas. No segundo, é trabalhada a Política dos ―5 Rs‖
em sala de aula (Repensar, Reduzir, Recusar, Reutilizar e Reciclar).
Os trabalhos e iniciativas ambientais nas escolas são de suma importância para o
desenvolvimento sustentável da sociedade como um todo (Dos Santos Xavier et al., 2016). A
inserção das ações, particularmente, sobre a gestão dos resíduos sólidos, proporciona aos discentes
uma percepção mais ampla, crítica e reflexiva dos problemas e conceitos relacionados a essa
temática. Com isso, tem-se o fim dessas ideias simplistas sobre este tema, dando-se um passo
importante para mudança de valores e comportamentos da população (PEREIRA, GIBBON, 2014).
A partir dos relatos dos funcionários, a escola é uma grande geradora de resíduos sólidos,
sendo estes na maioria papel e garrafas de politereftalato de etileno – PET, além da matéria

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 624


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

orgânica proveniente do preparo e desperdício de alimentos da cantina. Anualmente são utilizadas


cerca de 200 mil folhas de papel A4, que não são reutilizadas e nem separadas para reciclagem. Em
cinco anos, mantidas as mesmas proporções, o consumo será uma tonelada de papel. Se essa mesma
quantidade de papel consumido na escola fosse reciclada, evitaria o corte de 17 árvores (HASHEMI
et al., 2012).
Em relação ao manejo e gerenciamento dos resíduos gerados na escola, assim como relatado
na pesquisa de Peruchin (2013), não há nenhum tipo de treinamento para funcionários sobre esta
prática. As únicas intervenções para a diminuição da geração de resíduos são o incentivo da adoção
do copo plástico (descartável ou não) pelos alunos e funcionários e a doação das garrafas PET
utilizadas nos dias de segunda e sexta-feira para uma vendedora de leite utilizando-os como
depósito e para o Centro de Recuperação Espiritual de Dependentes de Drogas (CREDD) para a
fabricação de vassouras pelos internados. Lâmpada, pilhas e até recipientes de medicamentos ainda
são depositados juntamente com o resíduo comum. O resíduo úmido (material orgânico) não é
destinado separadamente do resíduo seco (recicláveis).
A etapa inicial para o êxito na implantação de um sistema de coleta seletiva e reciclagem na
instituição perpassa o aspecto técnico, sendo mais relevante o aspecto humano, pois é a partir do
processo de sensibilização e educação ambiental da comunidade escolar que ocorre o primeiro e
fundamental passo na reciclagem, que é a criação do hábito/cultura de segregar os resíduos
recicláveis no local em que são produzidos (HASHEMI et al., 2012). Além disso, promover o
aprendizado das pessoas e o incentivo à segregação dos resíduos sólidos, ao mesmo tempo que
declina as despesas de reciclagem, eleva a qualidade de alguns materiais com potencial reciclável
evitando sua contaminação, como o papel (BAGHERI et al, 2013).
Através da observação do local em estudo, pode-se verificar que existem contêineres em
todas as salas, nos banheiros, cantina e alguns lugares estratégicos espalhados pela escola, sendo
com confeccionadas a partir do inox e outras do plástico, com sacos pretos para o acondicionamento
e coleta após de saturadas para o armazenamento externo (Figura 01). Não há identificação em
nenhuma, o que inviabiliza a separação dos materiais recicláveis.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 625


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 01: Contêineres sem identificação. Fonte: Própria, 2017.

Esses resíduos são coletados diariamente no fim do expediente diurno pelos ASGs e
transportados para o armazenamento externo (Figura 02) localizado aos fundos da escola, em que é
recolhido pelos responsáveis pela limpeza urbana municipal três vezes por semana. Esse não possui
nenhuma proteção contra fatores climáticos e nem contra vetores. Por conta do pequeno porte deste,
grande parte dos resíduos gerados pela escola são alocados ao lado do armazenamento, facilitando
assim o contato dos resíduos com animais.

Figura 02: Acondicionamento do resíduo para coleta. Fonte: Própria, 2017.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A gestão dos resíduos sólidos no Brasil atualmente apresenta uma situação precária e
desafiadora. Com a deficiência do saneamento básico do país, compromete-se a saúde da população
e a qualidade dos recursos naturais. Nesse sentido, percebe-se que embora haja inciativas
ambientais importantes, ainda ocorre a carência de uma cultura sustentável nas práticas ambientais
da instituição educacional analisada, no que se refere à Gestão e Gerenciamento de Resíduos
Sólidos, tais como a redução e a hábito de reutilização do papel (resíduo mais produzido na escola).
Além dessa ausência, a técnica da coleta seletiva torna-se essencial para um bom
gerenciamento dos resíduos, necessitando-se da utilização de contêineres devidamente
identificados. Com isso, pode-se também buscar parcerias com catadores a fim de destinar os
resíduos com potencial para a reciclagem.

REFERÊNCIAS

DOS SANTOS XAVIER, Alda Leaby; DA SILVA, Edevaldo; DE OLIVEIRA ALMEIDA, Elzenir
Pereira. Influência da educação ambiental na percepção de alunos do ensino público de Pombal,
Paraíba, quanto a gestão dos resíduos sólidos. Revista ESPACIOS, v. 37 (Nº 08), 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 626


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

GOUVEIA, Nelson. Resíduos sólidos urbanos: impactos socioambientais e perspectiva de manejo


sustentável com inclusão social. Ciência & saúde coletiva, v. 17, n. 6, 2012.

PEREIRA, Vilmar Alves; DE AZEVEDO GIBBON, Caroline. A Educação Ambiental no ensino:


investigando as abordagens, percepções e desafios na realidade de uma escola pública em Rio
Grande (RS). Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 9, n. 2, p. 376-394, 2014.

PERUCHIN, Bianca et al. Gestão de resíduos sólidos em restaurante escola. Tecno-Lógica, v.17,
n.1, p. 13-23, 2013.

PORTILHO, Maria de Fátima Ferreira. Profissionais do lixo: um estudo sobre as representações


sociais de engenheiros, garis e catadores. Unpublished master thesis. Rio de Janeiro:
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1997.

[SMA] SÃO PAULO (ESTADO). SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE. Proposta


de Política Estadual de Resíduos Sólidos. São Paulo (SP): Secretaria de Estado de Meio
Ambiente [Série Documentos Ambientais]; 1998.

SOUZA, Girlene Santos et al. Educação ambiental como ferramenta para o manejo de resíduos
sólidos no cotidiano escolar. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 8, n. 2, p.
118-130, 2014.

ZVEIBIL, Victor Zular. Manual de gerenciamento integrado de resíduos sólidos. 2001.

HASHEMI, M.; KHANJANI, N.; SABER, M.; FARD, N. K. Evaluating health literacy of kerman
medical university, school of public health students about recycling solid waste. Journal of
Education and Health Promotion, v.1, 2012.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ed. São Paulo: Atlas, 2008

HASHEMI, M.; KHANJANI, N.; SABER, M.; FARD, N. K. Health literacy of kerman medical
university, school of public health students about recycling solid waste. Journal of Education and
Health Promotion, v.1, 2012.

BAGHERI, M.; NABIE, A.; ESLAMI, A. Knowledge and attitudes of zanjan university of medical
sciences in the field of solid waste separation and recycling. Conference on Environmental
Health, v. 1385 (1386), 2013.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 627


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NAS CAPITAIS


ARACAJU (SE) E JOÃO PESSOA (PB)

Clarita Izabelle Araújo SILVA


Tecnóloga em Saneamento Ambiental pelo Instituto Federal de Sergipe (IFS)
clarita.araujo1@gmail.com
Aline Carolina da SILVA
Doutoranda em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
alinesilva.ambiental@gmail.com
Aías Santino de LIMA
Engenheiro Civil pela Universidade Federal da Paraíba e Gerente de Operações da REVITA
aias_santino@hotmail.com

RESUMO
Este estudo objetiva analisar a gestão dos resíduos sólidos dos municípios de Aracaju(SE) e João
Pessoa(PB), localizados na região nordeste do Brasil, focando nas formas de disposição final e
problemas enfrentados para o cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal
nº 12.305/2010), de modo a promover a compreensão e sensibilização para futuras ações. Para o
desenvolvimento do trabalho utilizou-se a pesquisa de campo e coleta de dados secundária. A
pesquisa caracteriza-se como exploratória, cuja tabulação dos dados foi realizada por meio do
arquivo no formato XLSX (Excel 2003/2007). Verificou-se que ambos municípios possuem
características socioeconômicas semelhantes e enfrentam dificuldades orçamentárias para o
cumprimento das metas estabelecidas na PNRS, o que comprova a insustentabilidade do atual
sistema de gestão e gerenciamento de resíduos, sendo à taxação e tarifas para os resíduos sólidos
uma possibilidade de cenário futuro.
Palavras-Chave: Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disposição final de resíduos. Nordeste
Brasileiro. Déficit orçamentário. Taxa de Resíduos.

ABSTRACT
This study aims to analyze the solid waste management of the municipalities of Aracaju (SE) and
João Pessoa (PB), located in the northeastern region of Brazil, focusing on the forms of final
disposal and problems faced to comply with the National Solid Waste Policy Federal No. 12,305 /
2010), in order to promote understanding and awareness for future actions. Field research and
secondary data collection were used for the development of the work. The research is characterized
as exploratory, whose tabulation of the data was done through the XLSX format file (Excel
2003/2007). It was verified that both municipalities have similar socioeconomic characteristics and
face budgetary difficulties to the fulfillment of the goals established in the PNRS, which proves the
unsustainability of the current waste management and management system, being the taxation and
tariffs for solid waste a possibility of Future scenario.
Keywords: National Policy on Solid Waste. Final disposal of waste. Brazilian Northeast. Budgetary
deficit. Waste Rate

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 628


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

Como equacionar a gestão de resíduos sólidos urbanos - RSU - diante de uma sociedade
com crescimento vertiginoso em um cenário de galopante aumento populacional, progressivo,
aperfeiçoamento produtivo e fetichismo tecnológico? É possível diminuir a geração desses resíduos
e os custos atribuídos aos sistemas de gerenciamento municipal? Como atingir as metas impostas
pela Lei Federal 12.305/2010 (Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos-PNRS)? Qual é o papel
do cidadão brasileiro dentro desse contexto atual dos resíduos sólidos urbanos e mudança de
cenários para a sustentabilidade do sistema? Há respostas para tais indagações?
O Brasil enfrenta desafios, considerados por muitos, como quase inalcançáveis com relação
à gestão de seus resíduos sólidos urbanos. Grande parte das cidades brasileiras apresenta um
panorama complexo em relação aos modelos de gestão/gerenciamento de resíduos sólidos adotados,
revelando uma diversidade de problemas na sua execução (JACOBI, 2004).
De acordo com a ABRELE (2015) no Brasil houve aumento em números absolutos e no
índice de disposição adequada em 2015: cerca de 42,6 milhões de toneladas de RSU, ou 58,7% do
coletado, seguiram para aterros sanitários. Por outro lado, registrou-se aumento também no volume
de resíduos enviados para destinação inadequada, com quase 30 milhões de toneladas de resíduos
dispostas em lixões ou aterros controlados, que não possuem o conjunto de sistemas e medidas
necessários para proteção do meio ambiente contra danos e degradações (ABRELPE, 2015).
Justifica-se tal realidade pela falta de projetos bem elaborados, simples, eficientes, com
flexibilidade técnica-operacional e compatíveis com a realidade socioeconômica dos municípios
brasileiros, o que se constituem um entrave para o equacionamento dos problemas relacionados aos
resíduos sólidos (BORDIGNON et. al, 2011).
Também, segundo o Tribunal de Contas da União – TCU, há desperdício gerado pela má
aplicação de recursos financeiros, obtidos por meio de convênios, para construção de aterros
sanitários. De acordo com o TCU (2011) o valor total de convênios para construção de aterros
sanitários foi de cerca de R$ 20 milhões (U$ 6.31 milhões25) ou 31% do valor transferido pelo
órgão para tal fim no período de janeiro/2000 a abril/2011. A conjectura para esta realidade pode ter
ocorrido, provavelmente, por problemas como desvio de finalidade, abandono de obra parcialmente
realizada, ausência de operacionalização correta de aterro sanitário concluído, levando-o à condição
de lixão, etc (TCU, 2011).
Destaca-se que que o mercado de limpeza urbana é de extrema relevância no cenário
econômico do país, a exemplo, superou a casa dos R$ 27,5 bilhões ($ 8,68 bilhões) em 2015
(ABRELPE, 2016). Sendo o Nordeste do país responsável por 5.952 milhões/ano ($1.9 milhões) em

25
Considerada cotação do dólar R$ 3,16 (três reais e dezesseis centavos).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 629


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

2014 e 6.158 milhões/ano ($1.94 milhões) em 2015. Já em relação a despesa total com o manejo
dos resíduos sólidos, quando rateada pela população urbana, resulta em um valor médio anual de
R$110 ($34,74) por habitante, partindo de um patamar inferior médio de R$78,71 ($ 24,86) para
municípios até 100 mil habitantes (SNIS, 2014).
Salienta-se que o panorama de geração per capita de resíduos nas regiões Centro-Oeste,
Nordeste e Norte do Brasil corresponde a 1,63kg/hab./dia (Brasília (DF)), 2,23kg/hab./dia
(Fortaleza(CE)), e 1,33kg/hab./dia (Manaus (AM)), respectivamente, no ano de 2014
(MCIDADES/SNSA, 2016).
No contexto, visualiza-se que os programas executados pelos estados e municípios
brasileiros, são mais paliativos do que preventivos, o que aponta a falta de racionalidade política
com relação à gestão de resíduos sólidos municipais.
Pelo posto, pode-se observar que a Política Nacional de Resíduos Sólidos ("PNRS"),
instituída pela Lei nº. 12.305/2010 e regulamentada pelo Decreto nº. 7.404/2010, que estabeleceu
prazo para ações como a eliminação de lixões e a, consequente, disposição final ambientalmente
adequada dos rejeitos, é um marco histórico na gestão ambiental do País. Contudo, os desafios por
soluções diante dos cenários municipais envolvem estruturação estratégica para que se sejam
revertidas as problemáticas quanto as: limitações de ordem financeira municipais; deficiência no
quadro técnico, no que tange ao quantitativo de funcionários e eficiência do quadro;
descontinuidade política e administrativa, entre outros (SILVA, 2014).
Assim, compreender o cenário atual de gestão e gerenciamento de resíduos, a exemplo, na
região nordeste do país que somatiza uma população urbana de 56.915.936 milhões de habitantes e
que possuem uma taxa de urbanização superior a 90% nas capitais e média de PIB per capita, base
ano 2014, de R$ 22.835,86 (vinte e dois mil, oitocentos e trinta e cinco reais e oitenta e seis
centavos) (IBGE, 2016) torna-se imprescindível para o planejamento de estratégias regionais.
Então, a partir do cenário descrito o objetivo principal do estudo foi compreender o
planejamento executado na gestão dos resíduos sólidos urbanos nas capitais nordestinas Aracaju
(SE) e João Pessoa (PB), que foram escolhidos pela possibilidade de comparação devido às
características socioeconômicas semelhantes, porém com discrepância nas ações de gerenciamento
de resíduos sólidos, o que vem a propiciar o entendimento das realidades locais com destaque para
as potencialidades e ameaças enfrentadas no sistema.

METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada de forma indutiva, partindo-se da realidade para a formulação de
hipóteses explicativas e de planificação de políticas públicas visando a gestão adequada dos
resíduos sólidos urbanos (ALMEIDA, 2012).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 630


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

No desenvolvimento do estudo utilizou-se dados primários para a pesquisa de campo


(observação in loco e formulário de entrevista aberta). Também foram obtidos dados secundários
por meio de revisão bibliográfica e pesquisa documental em órgãos governamentais e não
governamentais.
A coleta de dados primários e secundários ocorreu no período de abril de 2012 a outubro de
2013. A análise dos resultados foi realizada por meio de estatística simples em gráficos e tabelas
como também, em forma de discurso indireto inserido no texto dos resultados apresentados.
Na capital Aracaju foram realizadas visitas ao antigo aterro controlado - o Lixão da Terra
Dura, a estação de transbordo de resíduos instalada no município de Nossa Senhora do Socorro e ao
atual Centro de Gerenciamento de Resíduos, onde funciona o aterro sanitário, localizado no
município de Rosário do Catete. Já na capital João Pessoa, foram visitados o antigo Lixão do Roger
e o atual Aterro Sanitário Metropolitano de João Pessoa.
Após levantamento das informações secundárias e primárias foi realizada a análise dos
dados com auxílio do arquivo no formato XLSX (Excel 2003/2007) de modo a facilitar a
organização das informações, bem como a tabulação dos resultados por gráficos, tabelas e quadros.

PANORAMA SOCIOECONÔMICO NORDESTE BRASILEIRO

Na região nordeste do país cuja densidade demográfica apresentada foi de 34,1 hab/Km² e o
crescimento demográfico de 1,3% ao ano, conforme dados do Censo Demográfico (IBGE, 2010), é
de grande valia observar o crescimento populacional, a exemplo, das capitais de modo a possibilitar
projeções na gestão dos resíduos a longo prazo. Para tanto, foi analisado o período de 2010 a 2016 e
neste observa-se que a capital regional Aracaju (SE) apresentou o maior crescimento populacional
no período, com aumento de 12,32% de sua população, passando de 571.149 hab. para 641.523
hab., o oposto da capital regional Teresina (PI) que apresentou um menor crescimento populacional
entre as capitais, correspondendo a 4% de aumento, 0,57% ao ano, conforme Gráfico 1.

Gráfco 1: Crescimento populacional das capitais do nordeste brasileiro de 2010 para 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 631


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Crescimento populacional 2010 - 2016 (%)


14,00% 12,32%

Taxa de crescimento (%)


12,00% 10,81%
9,81% 9,20% 9,54%
10,00%
8,00% 6,42% 5,71% 6,71%
6,00% 4,08%
4,00%
2,00%
0,00%

Capitais do nordeste brasileiro

Fonte: Silva, 2017. Dados IBGE, 2016.

Quanto aos dados econômicos das capitais, analisou-se os valores de rendimento per capita
dos anos de 2015 e 2016 de modo a identificar a variação do crescimento econômico nos ultimos
anos nas cidades, como apresentado no Gráfico 2.

Gráfico 2: Rendimento Per Capita anos 2015 e 2016 das capitais do nordeste brasileiro.

Rendimento Per capita 2015 e 2016


R$ 4.000,00 20,00%
10,00%

Variação crescimento (%)


Per capita em reais (R$)

R$ 2.000,00 0,00%
-10,00%
R$ 0,00 -20,00%

Capitais do nordeste brasileiro

Rendimento médio Per Capita 2015


Rendimento médio Per Capita 2016
Crescimento Rendimento 2015-2016

Fonte: Silva, 2017. Dados IBGE, 2016.

A partir da análise do Gráfico 2 é possível identificar que houve queda dos valores dos
redimentos per capita do ano de 2015 para 2016 na maioria das capitais nordestinas, com destaque
para Natal que obteve -13% no período. Salienta-se que o crescimento nos rendimentos foi
observado apenas nas cidades de Recife (10%), João Pessoa (8%) e Aracaju (9%). Entende-se que o
cenário apresentado esta correlacionado com a crise econômica vivenciada no país. Fechando o
panorama socioeconomico das capitais foi feito comparativo entre a variação da desocupação e
rendimentos dos anos de 2015 e 2016, Gráfico 3.

Gráfico 3: Relação crescimento dos rendimentos per capita e crescimento desocupação nos 2015 e 2016 das
capitais do nordeste brasileiro.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 632


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Relação rendimentos x desocupação das


capitais do nordeste brasieleiro 2015-2016
(%)
100,00%

0,00%
%
-100,00%
Capitais do nordeste brasileiro

Crescimento Desocupação 2015 - 2016 (%)


Crescimento Rendimento 2015 - 2016 (%)

Fonte: Silva, 2017. Dados IBGE, 2016.

Observa-se no Gráfico 3 que a capital Teresina obteve a menor taxa de desocupação


negativa, sendo possível interpretar que houve um acrescimo no quantitativo de contratações e
empregos ditretos no período apresentado, apesar do rendimento per capita negativo, ou seja,
redução dos valores per capita. Diferente do que ocorreu na capital Aracaju que obteve crescimento
da renda per capita e alta taxa de desocupação para o período, chegando a 50% de 2015 para 2016.
A partir dos resultados apresentados nos Gráficos 1, 2 e 3 tem-se destaque para a capital
Aracaju com maior crescimento populacional (12%), aumento per capita de 9% de 2015 (R$
2.534,00) para 2016 (R$ 2.757,00) e maior taxa de desocupação da região nordeste.
No que tange ao Índice de Desenvolvimento Humano, que é uma medida resumida do
progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano renda, educação e
saúde (PNUD, 2017), destaca-se Recife e Aracaju com maiores indicadores. Cabe ressaltar que o
IDHM do país é 0,754 (PNUD, 2017). Em relação ao acesso Índice de Bem-Estar Urbano, que
avalia a dimensão urbana do bem-estar usufruído pelos cidadãos brasileiros promovido pelo
mercado, via o consumo mercantil, e pelos serviços sociais prestados pelo Estado (RIBEIRO,
2016), a capital Aracaju (SE) se destaca com 0,821 considerado indicador de qualidade de vida. e
João Pessoa (PB) com 0,799.
Cabe salientar que no sistema urbano brasileiro, o município de Aracaju é considerado um
centro submetropolitano, estando sob a influência do município de Salvador, no estado da
Bahia/BA, umas das metrópoles regionais do nordeste do Brasil. Assim como, o município de João
Pessoa, que tem como influência a metrópole Recife, no estado de Pernambuco/PE.

DISPOSIÇÃO FINAL RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

As capitais da região Nordeste do país somatizam 6.293.155 t/ano (SNIS, 2016) depositadas
em aterros sanitários, tendo em vista a regularização de todas as capitais para na disposição final de
resíduos, Tabela 1.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 633


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 1: Gerenciamento da disposição final dos resíduos sólidos urbanos


Capitais Disposição final Tipo de unidade Quantidade de Valor contratual Aproveitamento
resíduos para aterramento energético do
recebidos de RDO e biogás
RDU e RPU RPU(R$/t)
(t/ano)
Salvador Aterro Sanitário Aterro sanitário 992.822 58,31 Sim
Metropolitano
Fortaleza Aterro Sanitário Municipal Aterro sanitário 1.803.503 40,00 Não informado
Oeste de Caucaia (Asmoc)
Recife Aterro Sanitário CTR Aterro sanitário 822.763 43,77 Não informado
Candeias
São Luís Central de Gerenciamento Aterro sanitário 554.305 45,24 Não informado
Ambiental (CGA) em
Rosário (MA)
Teresina Aterro Sanitário dos Aterro sanitário 441.535 38,97 Não
Resíduos Sólidos Urbanos de
Teresina
Natal Aterro Sanitário Aterro sanitário 315.806 59,06 Não
Metropolitano de Natal
(BRASECO SA)
Maceió Centro de Resíduos Sólidos Aterro sanitário 865.908 61,17 Não
(CTR)
João Aterro Sanitário Aterro sanitário 269.479 31,88 Não
Pessoa Metropolitano
Aracaju Centro de Gerenciamento de Aterro sanitário 227.033 70,90 Não
Resíduos (CGR) em Rosário
do Catete (SE)
Fonte: Silva, 2017. Dados SNIS, 2016

É importante observar na Tabela 1 que o quantitativo de resíduos descritos como aterrados


referem-se aos coletados domiciliares e públicos. No que se refere ao valor pago para disposição
final tem-se uma média de R$ 43,00 (quarenta e três reais) por tonelada. É de se interrogar, por
exemplo, os quantitativos depositados nas cidades de João Pessoa e Aracaju com valores próximos,
contudo com discrepâncias de valores contratuais por tonelada.

CAPITAL ARACAJU (SE)

O município de Aracaju deposita seus resíduos sólidos no Centro de Gerenciamento de


Resíduos –CGR no município Rosário do Catete, localizado na BR 101, Km 63, s/n, administrado
pela empresa Estre Ambiental, que administra e opera diversos aterros sanitários no Brasil. O CGR
fica cerca de 37 km do município de Aracaju e recebe resíduos Classe IIA e IIB (inertes e não
inertes, respectivamente). A Figura 1 mostra área interna do CGR verificada em visita in loco.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 634


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Legenda:
a) Tanque de chorume;
b) Célula de disposição de resíduos;
c) Flare enclausurado – queima de biogás;
d) Galpão de resíduos inertes.

Figura 1: Centro de Gerenciamento de Resíduos em Rosário do Catete/SE. Fonte: Silva, 2014.

O CGR foi instalado no Estado de Sergipe no ano de 2011 e foi projetado para receber os
resíduos de 17 municípios do estado, não revelados pela empresa responsável, mas principalmente
do município de Aracaju devido ao maior quantitativo gerado. Entretanto, a negociação junto à
Prefeitura Municipal de Aracaju foi dificultada pela alegação de inviabilidade financeira de
remoção dos resíduos coletados para o aterro sanitário, devido à distância a ser percorrida (SILVA,
2014)
Desde então, a empresa Estre Ambiental tentou viabilizar a negociação e, para reverter a
alegação no que refere a inviabilidade por distância, construiu uma Unidade de Transbordo no
município de Nossa Senhora do Socorro, localizada no quilômetro 9, na BR 235, distante 11km do
centro de massa da capital Aracaju (os cálculos da distância foram feitos tendo como referência o
centro do município). Assim, os resíduos ali dispostos, posteriormente, são enviados para o Centro
de Gerenciamento de Resíduos - CGR - no município de Rosário do Catete pela referida empresa.
Segundo Silva (2014) a regularização quanto à disposição final dos resíduos sólidos
praticada pelo município de Aracaju, ocorrida no ano de 2013, obedece a Lei Federal nº
12.305/2010, que determina a finalização dos lixões até 2014. Tem-se então, com relação ao antigo
Lixão da Terra Dura, a necessidade de monitorar e recuperar toda a área degradada de forma que
possa ser possível seu posterior reaproveitamento conforme preconiza o Decreto nº 7.217/2010 da
Política Nacional de Saneamento Básico - PNSB.

CAPITAL JOÃO PESSOA (PB)

O Aterro Sanitário da Região Metropolitana – ASMJP (Figura 2) foi implantado em


conformidade com NBR 8419/1992 da Associação Brasileira de Normas Técnica (ABNT), está
localizado fora do perímetro urbano e tem capacidade para receber resíduos por um período de 20
anos. Opera por meio de um consórcio intermunicipal com mais seis municípios circunvizinhos:

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 635


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Bayeux, Cabedelo, Conde, Cruz do Espírito Santo, Lucena e Santa Rita. Entretanto, vale salientar,
que os municípios de Cruz do Espírito Santo e Lucena ainda não dispõem seus resíduos no referido
aterro (SILVA, 2014). A Figura 2 mostra uma célula de disposição de resíduos do Aterro
Metropolitano de João Pessoa.

Figura 2: Célula de disposição de resíduos no aterro metropolitano do município de João Pessoa/ PB.
Fonte: Silva, 2014.

A formação de Consórcio, no ano de 2003, para impulsionar a implantação do Aterro


Sanitário Metropolitano de João Pessoa (Figura 2), tornou possível a destinação correta dos
resíduos sólidos, mesmo antes da obrigatoriedade e discussão legislativa trazida pela PNRS e
PNSB. Pode-se afirmar que, mesmo o município não possuindo um amplo arcabouço regulatório
sobre a temática, implantou-se o Aterro Metropolitano com auxílio do Governo Federal devido ao
compromisso dos gestores envolvidos.

QUANTITATIVO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NOS MUNICÍPIOS

Para análise da produção de resíduos nos municípios em estudo, observou-se o cenário


temporal no período de 2003 a 2012, intervalo de dados consistentes com informações
consolidadas, com base no trabalho de Silva (2014).
No município de João Pessoa a variação dos quantitativos de resíduos coletados entre os
anos de 2007 e 2008 (Gráfico 4), pode ser explicada pela ausência contínua de informações acerca
daqueles identificados, como diversificados ou misturados como: entulho, mobílias, restos de
equipamentos, etc.

Gráfico 4: Total de resíduos urbanos domiciliares coletados nos municípios de Aracaju e João Pessoa (t/ano)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 636


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

toneladas/ano
500.000,00
400.000,00
300.000,00
200.000,00
100.000,00
0,00
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Aracaju/SE João Pessoa/PB

Fonte: Silva, 2014.

Observa-se Gráfico 4 longo do período analisado que o quantitativo coletado de resíduos


sólidos, em ambos os municípios, foi crescente. Também, esse montante de resíduos, até o ano de
2007, foi maior no município de João Pessoa do que no município de Aracaju. Porém, de 2007 até
2012, a situação se inverteu, ou seja, o maior quantitativo de resíduos ocorreu no município de
Aracaju.

CENÁRIO DOS MUNICÍPIOS FRENTE A PNRS

No Quadro 1 pode-se observar o cenário dos municípios em relação aos resíduos sólidos e as
possíveis dificuldades a serem enfrentadas para implementação da PNRS. A análise proposta do
Quadro 1 é vista como complexa, pois discute-se planejamento, processo de decisão,
funcionalidade da gestão aplicada, alcance de tal da gestão no município, dados de produção de
resíduos e eficiência no gerenciamento destes

Quadro 1: Elementos de identificação dos serviços prestados em relação aos resíduos sólidos nos municípios
de Aracaju - SE e João Pessoa – PB, no período de 2003 à 2012

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 637


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Identificação do Serviço Prestado Município de Aracaju Município de João Pessoa


Forma Atual de deposição de resíduos Aterro Sanitário Aterro Sanitário
Existência de consórcio Não Sim
Possui estação de transbordo Sim Não
Ano de desativação dos antigos lixões 2013 2003
municipais
Plano de Recuperação de Áreas Não Sim
Degradadas - PRAD antigos lixões
Quantitativo resíduos sólidos urbanos 316.682.967 t 334.226.685 t
coletados período
Quantitativo de resíduos domiciliares 147.359.852 mil t 201.839.054 mil t
coletados período
Percentual de resíduos domiciliares 47% 60%
coletados no município período
Geração per capita de resíduos - em 0,87 kg.hab.dia-1 0,88 kg.hab.dia-1
relação ao coletado domiciliar ano 2012
Valor pago pelo município para deposição R$ 60,00 R$ 24,30
dos resíduos por tonelada de domiciliar
Cobrança de taxa municipal de coleta de Não Sim
resíduos
Quantitativo de empresas privadas que 1 4
executam a coleta de resíduos
domiciliares no município
Existência de usina de reciclagem de Sim Sim
RCD
Fonte: Silva, 2014.

Quatro itens são destacados do Quadro 1: Existência de Consórcios; Existência de Estações


de Transbordo; Planos de Recuperação de Áreas Degradadas e Taxa de Resíduos, pois podem
provocar diferentes discussões sobre a temática resíduos sólidos, alcance e funcionalidade da
PNRS.
Evidencia-se que o valor pago pela tonelada de resíduos domiciliares sofre influência do
montante produzido num município, sendo uma relação inversamente proporcional, ou seja, quanto
maior o volume a ser coletado, menor tende a ser o valor negociado pelas prefeituras. Porém, no
caso dos municípios estudados, também não há discrepância entre os montantes de resíduos
coletados (uma produção aproximada de 317mil toneladas no município de Aracaju e 334 mil
toneladas em João Pessoa – Quadro 1) que justifique maiores valores a serem pagos, por tonelada,
pela sua disposição.
Pelo exposto, admite-se que o custo do sistema de coleta e transporte dos resíduos sólidos,
atrelado à estação de transbordo, no município de Aracaju, pode ser justificável, mas, não viável
visto que paga-se o dobro do coletado, tomando-se como referência o município de João Pessoa.
Dessa forma, sugere-se que estudos de viabilidade econômica e operacional sejam feitos (SILVA,
2017).
Assim, pela realidade apresentada, para os municipios nordestinos estudados, a cerca dos
resíduos sólidos, tem-se um panorama dos diferentes cenários políticos brasileiros sobre o tema.
Então, constata-se que a formação dos consórcios, proposta pela PNRS, é de extrema importância
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 638
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

para que sejam possibilitadas as atividades operacionais do gerenciamento correto dos resíduos nos
municípios, principalmente os de pequeno porte.
No que se refere à cobrança da taxa para a execução dos serviços que englobam os resíduos
sólidos, o município de João Pessoa/PB cobra uma taxa específica anual. Já em Aracaju essa taxa
não é cobrada, pois, embute-se, como na maioria dos municípios brasileiros, no Imposto Predial
Territorial Urbano (IPTU). No entanto, o valor irrisório cobrado pelo município de João Pessoa,
conforme informações repassadas pelo gerente responsável, não cobre o valor das despesas com o
serviço.
O montante arrecadado com a cobrança da taxa de resíduos no município de João Pessoa
fica em torno de R$ 12 milhões por ano (U$4.969.355,64), o que representa 1/7 (um sétimo) dos
custos municipais com limpeza urbana, tendo em vista que os custos anuais do município com
limpeza urbana são de aproximadamente R$ 69 milhões (U$28.573.794,93), segundo informações
do gestor responsável. Soma-se a esses fatores o alto índice de inadimplência da taxa de resíduos,
mais de 50% (SILVA, 2014)
Segundo informações do gestor responsável, no município de Aracaju não se justifica a
cobrança de taxa específica para os resíduos produzidos sem, no entanto, explicar tal fato.
Evidencia-se que, a ausência de tarifário para a coleta e disposição final de resíduos pode
representar um empecilho à sustentabilidade dos sistemas em face da limitação orçamentária dos
municípios para arcar com os custos de operação e manutenção desses sistemas. A taxa de
resíduos, constante na PNRS, pode ser vista como uma forma de estratégia na gestão integrada de
resíduos sólidos, possibilitando a tarifação individual como pagamento pelo benefício do tratamento
visando à proteção ambiental. Por outro lado, atrelar tarifas ou taxas individuais para resíduos
sólidos, não é uma questão fácil de ser absorvida pela população, principalmente por se tratar de
resíduos sólidos e pela cultura de disposição irregular.
Dessa forma, reflexões com relação à taxação e tarifas para os resíduos sólidos são
importantes, principalmente, porque as experiências existentes no Brasil têm encontrado muitas
barreiras, notadamente, pelo tipo de serviço oferecido, isto é, a população não consegue perceber o
benefício ambiental que está comprando. Isto decorre de vários fatores, como: distribuição desigual
de renda no País com a não satisfação das necessidades básicas, falta de acesso aos serviços de
infraestrutura pública, carga tributária elevada e a não integração da educação ambiental como fator
primordial de conscientização para preservação do meio ambiente como um todo.

CONCLUSÃO

O estudo reforçou o desafio a ser enfrentado e a complexidade das ações necessárias para o
alcance da Lei Federal nº 12.305/2010, pelos municípios, mesmo naqueles com estrutura básica

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 639


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

para possíveis mudanças, com gestores conscientes e verbas federais disponíveis para a
implementação das ações.
Faz-se necessária mão de obra qualificada e maior comprometimento político independente
da continuidade administrativa e de interesses políticos diretos e indiretos para a viabilidade do
gerenciamento dos resíduos sólidos, além de maior esclarecimento das diretrizes e aplicação dos
instrumentos pelo Governo Federal.
O município de Aracaju por ser de pequena dimensão, quando comparado a outros
nacionais, torna-se potencialmente favorável para aplicação dos instrumentos da PNRS. No entanto,
percebem-se na capital fortes entraves por parte de lideranças políticas, o que implica no
retardamento dos processos legais e necessários para mudança do cenário. Também se percebe que,
as tomadas de decisões na adoção de soluções de gerenciamento de resíduos sólidos realizada, de
maneira geral, de forma empírica e sem critérios técnicos bem definidos, tornam-se um obstáculo
ainda maior para a implementação das ações mínimas necessárias para o alcance da Política
Nacional de Resíduos e que implica no não cumprimento dos prazos pré-estabelecidos na
legislação.
Em João Pessoa, capital da Paraíba, o cumprimento das normativas da PNRS parece estar
alcançável. O município já atende a algumas das exigências determinadas pela Lei Federal, como
exemplo, Aterro Sanitário Metropolitano, Plano de Recuperação de Área Degradada do antigo
lixão, contratação das empresas de limpeza urbana realizada sob regimes de licitação, efetua a
reciclagem de parte dos resíduos da construção civil, entre outros.
Apesar dos municípios estarem de acordo com a PNRS, no que diz respeito ao Aterro
Sanitário, observa-se que não ocorre um gerenciamento correto desses resíduos, de modo que venha
a ser reduzido o quantitativo disposto no aterro, ou seja, maximizar a disposição apenas de rejeitos,
conforme preconiza a PNRS.
Os resultados mostraram também que a ausência de informações consistentes e
sistematização parametrizada de dados sobre quantidades, composições de resíduos sólidos e de
indicadores de qualidade de eficiência destes sistemas inviabilizam o planejamento estratégico de
ações.

REFERÊNCIAS

ABRELPE - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E


RESÍDUOS ESPECIAIS. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil. São Paulo: Associação
brasileira de empresas públicas e resíduos especiais, 2015. Disponível em:
http://www.abrelpe.org.br/. Acesso em: Set, 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 640


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ALMEIDA, K. M. V. Logística reversa para gestão de resíduos e coprodutos da cadeia de


biodiesel – estudo de caso em usinas do Nordeste Brasileiro. Recife: O Autor, 2012. Tese
(Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. CTG. Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, 2012.

BORDIGNON. L.P.; BORDIGNON, S. M.; SOUZA, M.A.; SILVA, C.A. Coleta de resíduos
sólidos como fator de gestão ambiental e fonte de geração de renda para catadores: um estudo
de caso na associação de catadores de medianeira – paraná. In: Engenharia Ambiental -
Espírito Santo do Pinhal, v. 8, n. 4, p. 091-099, 2011.

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo Demográfico 2010. Rio de
Janeiro, 2010. Rio de Janeiro, IBGE, 2010.

BRASIL. Lei nº 12.305/2010, de agosto de 2010.Intitui a Política Nacional de Resíduos Sólidos


Brasília: Diário Oficial da União, 2010. Disponível em
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em
05.08.17.

BRASIL. Tribunal de Contas da União (TCU). Relatório do Segundo Monitoramento no Programa


Resíduos Sólidos Urbanos. Brasília, 2011.

D‘ALMEIDA, M. L. O. & VILHENA, A. Instituto de Pesquisas Tecnológica (IPT) e Compromisso


Empresarial para Reciclagem (CEMPRE). Lixo Municipal: manual para gerenciamento
integrado. 2ª ed. São Paulo, 2000.

JACOBI, P. Impactos Socioambientais Urbanos: do risco à busca de sustentabilidade. In: Impactos


Socioambientais Urbanos. Curitiba: UFPR, 2004.

MCIDADES.SNSA. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental Sistema Nacional de


Informações sobre Saneamento: diagnóstico do manejo de resíduos sólidos urbanos – 2014.
Brasília: 2016.

SILVA, A.C. Análise da Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos em Capitais do Nordeste Brasileiro:
O Caso de Aracaju/SE e João Pessoa/PB. 2014. 158p. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Urbana e Ambiental) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.

SILVA, A.C; JUCÁ, J.F.T; ALMEIDA, K.V. Estudo do Fluxo Comercial dos Materias Secos
Recicláveis nas Capitais do Nordeste Brasileiro. 8º Fórum Internacional de Resíduos Sólidos,
2017. Disponível em: http://institutoventuri.org.br/ojs/index.php/firs/article/view/350. Acesso:
ago. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 641


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Dados municipais. Disponível em:
http://www.snis.gov.br Acesso em: Dez, 2016

SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Diagnostico do Manejo de Resíduos


Sólidos Urbanos, 2012. Disponível em: http://www.snis.gov.br/diagnostico-residuos-solidos
Acesso em: Mai, 2015.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 642


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS


DO MUNICÍPIO DE MARCAÇÃO-PB

Denise da Silva VIEIRA


Graduanda em Agronomia UFPB
devieira18@gmail.com
Genilson Silva de LIMA
Mestrando em Educação UNIGRENDAL
genilsonelima@gmail.com
Sidnei Felipe da SILVA
Doutorando em Geografia UnB
prof.sidnei.eageo@gmail.com

RESUMO
O município de Marcação situado no litoral setentrional da Paraíba apesar de ser considerado de
pequeno porte devido sua demografia e economia, produz uma quantidade de resíduos significativa.
Neste sentido torna-se necessária a realização de um estudo a fim de definir a melhor forma de
tratamento e destinação final dos mesmos. A metodologia utilizada para a realização desse estudo
foi a composição gravimétrica através do método de quarteamento, onde os resíduos oriundos das
atividades humanas realizadas no município passaram por um processo de segregação,
caracterização e análise. Verificou-se que quando analisado separadamente o componente
encontrado em maior quantidade durante a caracterização dos resíduos foi o lixo eletrônico, embora
possua em sua composição metais pesados que quando liberados podem ocasionar impactos
negativos a saúde e ao meio ambiente. Quando analisados em grupos, os resíduos que apresentaram
maior quantidade foram os recicláveis. Deste modo, conclui-se que este estudo foi importante, pois
verificou-se o potencial de reciclagem, além de fornecer informações consideradas cruciais para
definir a melhor forma de tratamento e destinação final dos resíduos sólidos produzidos no
município.
Palavras Chave: Composição Gravimétrica, Resíduos Sólidos, Marcação.
RESUMÉN
El municipio de Marcação situado en el litoral septentrional de Paraíba a pesar de ser considerado
de pequeño porte debido a su demografía y economía, produce una cantidad de residuos
significativa. En este sentido se hace necesaria la realización de un estudio para definir la mejor
forma de tratamiento y destino final de los mismos. La metodología utilizada para la realización de
este estudio fue la composición gravimétrica a través del método de cuadra, donde los residuos
oriundos de las actividades humanas realizadas en el municipio pasaron por un proceso de
segregación, caracterización y análisis. Se verificó que cuando analizado separadamente el
componente encontrado en mayor cantidad durante la caracterización de los residuos fue la basura
electrónica, aunque posea en su composición metales pesados que cuando liberados pueden
ocasionar impactos negativos a la salud y al medio ambiente. Cuando se analizaron en grupos, los
residuos que presentaron mayor cantidad fueron los reciclables. De este modo, se concluye que este
estudio fue importante, pues se verificó el potencial de reciclaje, además de proporcionar
informaciones consideradas cruciales para definir la mejor forma de tratamiento y destino final de
los residuos sólidos producidos en el municipio.
Palabras Clave: Composición Gravimétrica, Residuos sólidos, Marcação.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 643


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO
Os resíduos sólidos tem sido alvo de uma série de questionamentos e debates devido os
impactos negativos que o mal gerenciamento dos mesmos ocasiona na sociedade. Um dos fatores
que atenuam esta preocupação em relação a esta problemática é o costume existente na sociedade
de forma geral, de tratar os materiais resultantes de suas atividades como algo inútil, não desejado,
que deve apenas ser recolhido pelo serviço de limpeza urbano e destinado a um determinado local.
Deste modo, nota-se que há uma distorção do real sentido do conceito de gerenciamento
integrado dos resíduos sólidos, descartando muitas vezes estes resíduos de maneira incorreta no
meio ambiente, esquecendo-se das práticas de redução na origem de produção e eliminação destes
resíduos. Como também do reaproveitamento dos materiais, de forma que contribua para o
aproveitamento máximo do tempo de vida útil destes materiais.
Logo, tornou-se uma das grandes preocupações a nível nacional, uma vez que,
caracteriza-se como um desafio aos gestores públicos ajustar-se e dar cumprimento à Lei
12.305/2010 que dispõe sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cuja finalidade é priorizar a
gestão dos resíduos sólidos, a reciclagem, a reutilização, a redução da geração dos resíduos,
tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, como
também, a valorização dos catadores de materiais recicláveis, de modo que este possa ser
reintegrado à sociedade.
Evidenciando, a importância dos municípios em elaborar e pôr em pratica o plano de
Gerenciamento integrado de Resíduos sólidos dos respectivos municípios. Tendo em vista que o
gerenciamento integrado dos resíduos sólidos deve buscar soluções operacionais que sejam capazes
de atuar tecnicamente de forma adequada e econômica, beneficiando o meio ambiente e a
população.
De modo que promovam a participação efetiva da população nestas questões, e assim haja
a conscientização dos mesmos em relação ao seu papel como consumidor e gerador, como também,
sobre a importância de sua participação na tomada de decisões e soluções referente à problemática.

GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Neste sentido, o gerenciamento integrado dos resíduos sólidos urbanos, é uma ferramenta
que visa os objetivos mais importantes referentes a esta problemática, buscando não somente a
limpeza urbana, mas uma interação efetiva entre a população e o sistema de gerenciamento
proposto pela gestão pública.
O Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos (GIRSU) requer que haja
articulação entre o poder público e privado, envolvendo aqueles que procedem dos setores públicos,
bem como, das empresas de iniciativa privada, da sociedade civil e das organizações de terceiro

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 644


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

setor. Mediante esta afirmação, entende-se que a realização de parcerias entre a população, o poder
público e as lideranças da sociedade, são possíveis criar programas que englobem estas questões
supracitadas, além da disposição final dos resíduos de maneira sanitária e ambientalmente
adequadas proporcionando benefícios econômicos, ambientais e sociais a população.
Todavia, vale ressaltar que para o bom funcionamento do gerenciamento integrado dos
resíduos sólidos é necessário que além das instalações, de equipamentos, mão-de-obra e
tecnologias, haja a participação e o compromisso de todos os geradores de resíduos em relação a
esta problemática, dentre as quais destacam-se:

 Separação prévia dos resíduos pela própria população;


 Responsabilidade dos próprios geradores pelos resíduos produzidos, através da
logística reversa;
 Organização de Associações ou Cooperativas de catadores de materiais
recicláveis, cujo, objetivo é coletar e comercializar os materiais recicláveis
resultantes das atividades produtivas da comunidade;
 Postos de coleta dos materiais, fornecidos pela gestão municipal;
 Implantação de programas voltados a Educação Ambiental no município;

Em relação ao sistema de limpeza urbana, este deve englobar métodos que sejam capazes de
proporcionar:

 Sustentabilidade econômica, ambiental e social do município;


 Promover uma sadia qualidade de vida no município, não apenas para os residentes
urbanos, mas também para as comunidades indígenas do município em questão;
 Promover o beneficiamento econômico e social, dos catadores de materiais
recicláveis que atuam no município;
 Preservação ambiental das aldeias indígenas existentes no município.

De modo geral, além das questões supracitadas o gerenciamento integrado dos resíduos
sólidos deve buscar soluções operacionais que sejam capazes de atuar tecnicamente de forma
adequada e econômica, beneficiando o meio ambiente e a população. De modo que promovam a
participação efetiva da população nestas questões, e assim, haja a conscientização dos mesmos em
relação ao seu papel como consumidor e gerador, como também, sobre a importância de sua
participação na tomada de decisões e soluções referente a esta problemática.
Contudo, o bom funcionamento deste gerenciamento, não envolve apenas a participação
populacional, embora esta seja a peça fundamental para o bom andamento do mesmo. Mas, é a
partir da adoção e implantação de bons programas de gerenciamento integrado do município, que
priorizem o sistema de limpeza urbana e rural de modo regular e pontual, da criação de programas
orçamentários e de geração de emprego e renda por meio de associações de catadores e materiais
recicláveis, da criação de regulamentação municipal que estabeleçam posturas obrigatórias a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 645


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

sociedade, que resulte em multas e infrações, caso a mesma não cumpra a referida regulamentação,
como também, deve-se promover a fiscalização, e manutenção dos programas municipais a fim de
garantir o sucesso e bom funcionamento do gerenciamento.
É a partir destas iniciativas, e do envolvimento efetivo da população com a Educação
Ambiental que poderão ser somadas parcerias entre a gestão pública, as lideranças municipais e a
população. Resultando assim, em um gerenciamento integrado destes resíduos de maneira mais
eficiente e duradoura.
Neste sentido o presente plano tem por objetivos, diagnosticar a situação atual dos resíduos
sólidos do município de Marcação-PB; caracterizar os resíduos, e apresentar propostas de
gerenciamento integrado dos mesmos, de forma que a gestão pública ajuste-se e dê cumprimento à
lei 12.305/10 que dispõe sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos, contribuindo com o bem-
estar da coletividade.

CARACTERIZAÇÃO DO MUNICIPIO

O município de Marcação está localizado a cerca de 66 km da capital João Pessoa, na


Microrregião do Litoral Norte, e Mesorregião da Mata Paraíba. Possui extensão territorial de 123
km², a sede municipal situa-se nas coordenadas geográficas de 06º 46' 12" de latitude sul e 35º 01'
00" de longitude oeste. Limita-se ao Norte com os municípios de Baía da Traição e Rio Tinto e ao
Leste com o Oceano Atlântico. Conforme o mapa a seguir de localização do município de
Marcação-PB:

Figura I: Localização do município de Marcação-PB. (Fonte: Adaptado do Geoportal AESA e


FUNAI apud VIEIRA ,2016).
De acordo com os dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
IBGE, no ano de 2010 sua população era de 7.609 habitantes (IBGE, 2010). Contudo, dados
recentes do IBGE, apontam que em 2014 a população de Marcação era estimada em 8.241
habitantes, sendo a maioria indígena, do povo Potiguara.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 646


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O município de Marcação possui, além do distrito sede, 15 aldeias indígenas do povo


Potiguara, distribuídas por todo o seu território. As aldeias existentes no município são as seguintes:
Três Rios, Brejinho, Camurupim, Tramataia, Carneira, Caieira, Ybikara, Lagoa Grande, Jacaré de
Cezar, Jacaré de São Domingos, Estiva Velha, Grupiúnas, Grupiúnas dos Candidos, Val,
Coqueirinho.
Cabe ressaltar que, a zona rural do município é composta pelas aldeias indígenas
supracitadas, cuja fonte de renda se dá por meio da agricultura, pesca, criação e cultivo de viveiros
de camarão e artesanato, o que proporciona uma estreita relação entre a cidade e o conjunto de
aldeias.
Fato este, que pode ser comprovado no comércio, onde alguns residentes da zona rural
comercializam seus produtos na feira do município. Além do conjunto de aldeias que cercam o
município e da interação comercial entre as mesmas e a cidade, é possível observar que a rodovia
PB 041, é a única divisão existente entre a aldeia Três Rios e a cidade de Marcação, evidenciando
esta estreita relação entre a população urbana e a população indígena.

QUALIFICAÇÃO DO LOCAL DE DESTINAÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DO


MUNICÍPIO.

No município de Marcação a destinação final dos resíduos sólidos resultante de suas


atividades é feita em um lixão que fica a cerca de 4 km de distância da sede municipal, cujas vias de
acesso foram citadas anteriormente.
Durante as visitas realizadas no local, com uma equipe da prefeitura, foi possível perceber
que para que haja um controle da área degradada, e esta não venha a tomar maiores proporções,
uma equipe da prefeitura municipal enterra parte dos resíduos sólidos do lixão, quando estes
alcançam um volume elevado no local, com a finalidade de evitar incêndios, uma vez que não se
sabe se os catadores da cidade de Rio Tinto que atuam irregularmente no local, são fumantes,
podendo ocasionar incêndios.
Os resíduos são enterrados também para minimizar os impactos visuais ocasionados pelo
acumulo de lixo, dentre outros impactos negativos ao meio ambiente e ao homem. A equipe
supracitada aderiu a esta iniciativa após realização do Plano de Recuperação de Área Degradada
(PRAD), onde se tomou conhecimento do tamanho da área impactada pela presença dos resíduos
sólidos.
Contudo, embora haja este encaminhamento dos resíduos resultantes das atividades
humanas para o lixão, não foi detectada a presença de chorume, resultante da decomposição dos
resíduos, este fato pode ser explicado, devido a predominância dos resíduos inorgânicos no lixão.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 647


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CARACTERISTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS E ESTUDO GRAVIMÉTRICO

De acordo com Monteiro (2001), ―a composição gravimétrica traduz o percentual de cada


componente em relação ao peso total da amostra de lixo analisada‖. Segundo o autor, deve ser feita
cuidadosamente para não ocasionar distorções da realidade, portanto, a escolha dos componentes da
gravimetria depende do tipo de estudo que se deseja realizar.
Diante disto, este estudo tem por objetivo determinar a composição gravimétrica dos
resíduos sólidos domiciliares gerados pela população da zona urbana e dos resíduos sólidos
domiciliares gerados pela população da zona rural do município, no caso, das 15 (quinze) aldeias
existentes no município de Marcação. Bem como, buscar soluções adequadas para sanar ou
minimizar os impactos negativos que permeiam esta problemática no município em questão.
Ocasionar distorções da realidade, portanto, a escolha dos componentes da gravimetria depende do
tipo de estudo que se deseja realizar.
A composição da cidade foi realizada no lixão do município, que fica à cerca de 4 km de
distância da sede municipal, onde foram contempladas 04 (quatro) amostras, o estudo foi realizado
no período diurno no dia 27 de fevereiro 2015, iniciando ás 09:35h da manhã, a partir do qual foi
possível obter resultados dos resíduos domiciliares da zona urbana do município em questão, que
serão apresentados mais adiante.

METODOLOGIA

Como partes iniciais para o levantamento dos dados do estudo gravimétrico realizado no
município de Marcação foram realizadas visitas na área rural do mesmo, que é composta por 15
(quinze) aldeias.
Estas visitam aconteceram de acordo com uma tabela, estabelecida pela equipe responsável
pela elaboração do plano, sem que houvesse interferência da equipe nas atividades realizadas pelos
moradores das referidas aldeias.
Durante as visitas que foram realizadas em todas as aldeias em dias distintos foram
observados os tipos de resíduos existentes, bem como aqueles que são encontrados em quantidade
significativa ou não. Além disso, observou-se o tipo de tratamento que são adotados pelos
moradores de cada aldeia.
Diante disto, ressalta-se que esta etapa inicial foi realizada por meio de observações e
anotações sistemáticas em cada aldeia seguida de fotografia dos pontos com maior acumulo de
resíduos ao longo das aldeias, de modo que possibilitasse a identificação e caracterização tanto dos
resíduos quanto das formas de tratamento utilizadas. Deste modo, foi realizado o diagnóstico da
zona rural do município.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 648


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Durante a coleta de dados realização do estudo gravimétrico do município de Marcação,


além da descrição anterior, foi realizado um levantamento dos resíduos sólidos urbanos, onde foram
utilizados 04 (quatro) tambores de 200 litros, sacos de lixo médio uma balança e uma lona. O dia
escolhido para fazer este estudo, ocorreu devido à disponibilidade da equipe de garis responsáveis
por coletar e destinar os resíduos do município, como também, por se tratar do dia da realização da
coleta no município, haja vista a necessidade de se realizar o estudo com os resíduos coletados no
mesmo dia e horário, a fim de proporcionar ao plano uma maior precisão à cerca dos resíduos.
Os resíduos utilizados durante o estudo, foram coletados em frente as residências escolas e
pequenos pontos de comércio do município, a equipe voluntária de garis, percorreu todas as ruas da
cidade em uma caçamba, recolhendo os resíduos acondicionados em caixas, sacolas e tambores
espalhados na cidade. Em seguida, foram encaminhados para o lixão da cidade de marcação, onde
os resíduos são depositados temporariamente.
Logo após, a chegada da caçamba com a equipe voluntária de garis devidamente fardados
e equipados com EPI‘s, juntamente com a equipe que compõe a Secretaria de Meio Ambiente do
município, no lixão.
Deu-se início a triagem manual dos resíduos sólidos do município, onde foram utilizados
04 (quatro) tambores, uma balança de pesagem, sacolas plásticas de lixo de tamanho médio, uma
lona de 10 m, câmera fotográfica para registrar a triagem, prancheta e caneta para anotações.
Ao chegar ao lixão, a caçamba que transportava os resíduos iniciou a descarga dos
materiais, na sequência, os 04 (quatro) tambores foram cheios de resíduos sólidos, que foram
depositados sobre a lona separadamente, formando montantes de resíduos respectivos a cada
amostra.
Em seguida, 02 (dois) tambores contendo 400 (quatrocentos) litros de resíduos são
descartados, e os 02 (dois) restantes são misturados e expostos a triagem manual, onde foram
devidamente colocados separadamente em plásticos, papel, papelão, matéria orgânica, rejeito,
dentre outros, onde foram colocados em sacos e em seguida pesados.
Para determinar os percentuais dos constituintes dos resíduos, foi aplicada a equação
utilizada por Carvalho et al. (2014) durante a realização do estudo referente a composição
gravimétrica dos resíduos sólidos domiciliares e comerciais do centro da cidade de Barreiras na
Bahia, conforme pode ser observado a seguir:

CG (%) = Mc X 100
___
Mt

Onde:

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 649


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CG corresponde ao percentual da composição gravimétrica (%);

Mc corresponde a massa do componente (Kg);

Mt corresponde a massa total da amostra (Kg).

Além das metodologias supracitadas, foram colhidas informações junto a prefeitura


municipal, por meio de um site oficial da administração municipal, como também, foram realizadas
pesquisas bibliográficas, a fim de buscar informações de caráter complementar.
Para se obter os resultados da composição gravimétrica dos resíduos sólidos municipal, foi
utilizada a metodologia de quarteamento que é utilizada por diversos autores de maneira adaptada, a
exemplo de Alcantara (2010).
A composição gravimétrica dos resíduos foi realizada uma única amostragem no dia
27/02/2015 em uma sexta-feira, com o auxílio da equipe dos garis, que disponibilizaram 04 (quatro)
agentes de limpeza para coletar os resíduos, de uma estudante de Ecologia e do secretário de Meio
Ambiente do município.
Ressaltando que para obter resultados reais e mais precisos a definição da rota de coleta
dos materiais e o período foram baseados no cronograma de limpeza da cidade, deste modo
contemplando todas as ruas da cidade e uma aldeia indígena. Os agentes de limpeza (garis) estavam
devidamente paramentados com equipamentos de proteção individual (EPI‘s).
A caracterização dos resíduos iniciou-se ás 09h35minh da manhã com a chegada da
caçamba que presta serviços ao município, com o auxílio dos garis e do secretário de Meio
Ambiente do município. O método de quarteamento foi realizado no lixão onde os resíduos são
encaminhados após cada coleta. Os materiais utilizados foram luvas, lona de plástico, câmera
fotográfica para registrar o processo, 04 (quatro) tambores de 200 litros, balança de precisão,
sacolas de plástico e caixas de papelão.
Os componentes analisados foram: Plástico mole, plástico duro, papelão, papel, metal,
vidro, borracha, madeira, fraldas, papel higiênico, absorvente, roupa e tecido, isopor, lixo eletrônico
e matéria orgânica.

MÉTODO DE QUARTEAMENTO

O processo para se obter a caracterização dos resíduos do município iniciou-se com a


descarga dos resíduos da caçamba, formando uma pilha de resíduos, em seguida as sacolas foram
rasgadas e houve a homogeneização dos resíduos. Desta pilha foram retirados quatro tambores com
capacidade de 200L cada, que foram pesadas previamente em uma balança de precisão. Para encher
os tambores foram retirados resíduos de cinco pontos distintos da pilha de resíduos, sendo 01 (um)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 650


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

do topo e 04 (quatro) das laterais. Depois de cheios os tambores foram pesados novamente para se
obter o peso existente em cada um.
Em seguida os tambores contendo os resíduos foram esvaziados sobre uma lona de
plástico, onde passaram por uma triagem e foram acondicionados em sacolas e caixas de papelão de
capacidade diferentes, separadamente, de acordo com os componentes analisados de plástico mole,
plástico duro, papelão, papel, metal, vidro, borracha, madeira, fraldas, papel higiênico, absorvente,
roupa e tecido, isopor, lixo eletrônico e matéria orgânica, conforme mencionado anteriormente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas últimas décadas vem se intensificando as preocupações inerentes à temática ambiental


e, concomitantemente, as iniciativas dos variados setores da sociedade para o desenvolvimento de
atividades, projetos e congêneres no intuito de educar as comunidades, procurando sensibilizá-las
para as questões ambientais, e mobilizá-las para a modificação de atitudes nocivas e a apropriação
de posturas benéficas ao equilíbrio ambiental (SILVA, 2015).
Diante do exposto neste estudo, conclui-se que há a viabilidade de se instalar um sistema
de coleta seletiva no município, uma vez que uma vez que a modalidade dos recicláveis apresentou
39% dos materiais caracterizados, embora a quantidade dos catadores que atuam no município seja
relativamente pequena.
Em relação à criação de uma Associação de Catadores de Materiais Recicláveis, durante o
estudo constatou-se que no município existem alguns profissionais que atuam de maneira irregular
no lixão, contudo, estes residem nos municípios vizinhos, apenas cinco profissionais residem no
município e coletam seus, materiais porta a porta e em datas festivas, não atuando no lixão, porém,
há a necessidade de assistir estes, e assim incluí-los na sociedade. Todavia, devido ao pequeno
número de catadores atuantes no município, ainda não é viável a formação de uma associação.
Observou-se a necessidade de reeducar a população do perímetro rural e abolir a queima
dos resíduos.
Concluiu-se também, que devido à baixa quantidade de resíduos orgânicos e da ausência
de chorume, o aterro de rejeitos será adaptado a realidade do município, não necessitando de
captação de gás e outras formas de tratamento para chorume.
No que se refere às proposições apontadas neste trabalho, o presente estudo concluiu que a
adoção da mesma no município, proporcionará o auxílio necessário à gestão pública na solução
destas questões apresentadas de maneira simples e eficaz, deste modo, ajustando-se e dando
cumprimento a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

REFERÊNCIAS

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 651


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ALCANTARA. A. J. de O. Composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos e


caracterização química do solo da área de disposição final do município de Cáceres-MT, 2010.

Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (2004). Resíduos Sólidos - Classificação. NBR
10004. São Paulo.

BRASIL, Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado,


1998.

________. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de Gerenciamento de Resíduos de


Serviços de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

________. Política Nacional de Educação Ambiental, LEI n° 9.795, de 27 de Abril de 1999.

________. Lei nº12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional dos

Resíduos Sólidos; altera a Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras

providências. Brasília, DF, Senado 2010.

________. Conselho Nacional do Meio Ambiente, Resolução no 275, de 25 de abril de 2001.


Estabelece o código de cores para diferentes tipos de resíduos. Disponível
em:<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res01/res27501.html>. Acesso em: 12/11/15.

CARVALHO, et al.Composição gravimétrica dos resíduos sólidos domiciliares e comerciais do


centro da cidade de barreiras – Bahia, 2014.

MONTEIRO, José H. P.; FIGUEIREDO, Carlos E. P.; MAGALHÃES, Antonio F.; MELO, Marco
Antonio F.; BRITO, João Carlos X.; ALMEIDA, Tarquínio P. F., MANSUR, Gilson L. Manual
de Gerenciamento Integrado de resíduos sólidos. Coordenação técnica Victor Zular Zveibil. Rio
de Janeiro: IBAM, 2001.

SILVA, Sidnei Felipe da. Educação Ambiental em Terras Indígenas Potiguara: concepções e
possibilidades na educação de jovens e adultos nas escolas estaduais indígenas do município de
Rio Tinto-PB. Saarbrücken, Deutshland:OmniScripitium GmbH & CO. KG, 2015.

VIEIRA, Denise da Silva. Estudo Gravimétrico dos Resíduos Sólidos do Município de Marcação,
Paraíba (Monografia de Graduação em Ecologia-UFPB), 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 652


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SANEAMENTO AMBIENTAL E SAÚDE PÚBLICA: UM ESTUDO SOBRE A


PROLIFERAÇÃO DO AEDES AEGYPTI E OS CASOS DE DENGUE NO BRASIL

Laiane Cristina de FREITAS


Graduanda do Curso de Geografia da UFU/Campus Pontal
laianecf@gmail.com
Emmeline Aparecida Silva SEVERINO
Graduanda do Curso de Geografia da UFU/Campus Pontal
emmelineasseverino@gmail.com
Gerusa Gonçalves MOURA
Docente Associada I do Curso de Geografia da UFU/Campus Pontal
gerusa.moura@ufu.br
Rildo Aparecido COSTA
Docente Associado I do Curso de Geografia da UFU/Campus Pontal
rildocosta@ufu.br

RESUMO
O presente trabalho objetivou contribuir para a discussão sobre as problemáticas existentes acerca
do saneamento ambiental no território brasileiro, verificando seus impactos na saúde das
populações, contribuindo para a proliferação do mosquito vetor Aedes aegypti e consequentemente,
provocando elevada incidência dos casos de dengue. Trata-se de uma pesquisa qualitativa,
desenvolvida através do levantamento bibliográfico e leitura de artigos publicados que tratavam da
mesma temática a que este trabalho se refere, sendo esta: dengue; fatores de incidência e
proliferação do mosquito vetor; aspectos socioambientais; saneamento ambiental; políticas públicas,
dentre outras abordagens relativas ao assunto. Analisou-se a partir do levantamento realizado de
trabalhos desenvolvidos sobre a temática, que as ações em saneamento ambiental são de grande
importância para o controle e a proliferação do mosquito e consequentemente dos casos de dengue e
demais doenças no Brasil, dentre outras ações realizadas em conjunto (tais como infraestrutura dos
bairros, políticas públicas de saúde, dentre outras).
Palavras-Chave: Saneamento Ambiental. Saúde Pública. Urbanização. Dengue.

ABSTRACT
The objective of this work was to contribute to the discussion about the existing problems regarding
environmental sanitation in the Brazilian territory, verifying its impacts on the health of the
populations, contributing to the proliferation of the mosquito vector Aedes aegypti, causing a high
incidence of dengue cases. It is a qualitative research, developed through the bibliographical survey
and reading of published articles that deal with the same theme to which this work refers, being this:
dengue; Occurrence and proliferation factors; Social and environmental aspects; environmental
sanitation; Public policies, among other approaches related to the subject. It was analyzed from the
survey carried out on the research carried out on the theme of the present research, that the actions
in environmental sanitation are of great importance for the control and proliferation of the mosquito
and consequently of the cases of dengue and other diseases in Brazil, among others Joint actions
(such as neighborhood infrastructure, public health policies, among others).
Keywords: Environmental sanitation. Public health. Urbanization.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 653


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

A dengue é uma doença viral de ampla incidência, transmitida pelo mosquito (vetor) do
gênero Aedes (Aedes aegypti) e considerada como um problema de saúde pública. É uma "[...]
doença infecciosa febril aguda, que pode ser de curso benigno ou grave, dependendo da forma
como se apresente" (BRASIL, 2005, p. 131).
A primeira manifestação de sua infecção é a "[...] febre geralmente alta (39ºC a 40ºC), de
início abrupto, associada à cefaleia, adinamia, mialgias, atralgias, dor retroorbitária, com presença
ou não de exantema e/ou prurido". Sintomas como "[...] anoxia, náuseas, vômitos e diarréia podem
ser observados por 2 a 6 dias, [...] com quatro sorotipos conhecidos, sendo estes: DENV1, DENV2,
DENV3 e DENV4" (BRASIL, 2005, p.131).
O modo de transmissão se dá "[...] pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti, no ciclo
homem -> Ae. aegypti -> homem. Após um repasto de sangue infectado, o mosquito está apto a
transmitir o vírus, depois de 8 a 12 dias de incubação extrínseca". Há também a transmissão
mecânica, "[...] quando o repasto é interrompido e o mosquito, imediatamente se alimenta em um
hospedeiro susceptível próximo. Não há transmissão por contato direto de um doente ou de suas
secreções com uma pessoa sadia, nem por fontes de água ou alimento" (BRASIL, 2005, p.132).
Considerada uma doença transmissível, observou-se que sua incidência aumentou 30 vezes
nos últimos 50 anos, expandindo para novos países, cidades de pequeno porte e áreas rurais.
Estima-se que 50 milhões de infecções por dengue aconteçam e que, por volta de 2,5 bilhões de
pessoas morem em países em que a dengue é uma doença endêmica (BRASIL, 2017).
Conforme Aquino Júnior e Mendonça (2012, p.158), "[...] para as questões ligadas às
doenças transmissíveis por vetores, como a dengue, deve-se ter a compreensão sobre a relação das
enfermidades com o meio, que é de essencial importância, pois a existência da primeira se deve à
complexidade da segunda". Desta forma, fazem-se necessários diversos estudos que busquem
compreender e abarcar a gama de fatores tanto geográficos, quanto de ordem biótica e social que
são condicionantes ao aparecimento da dengue (AQUINO JÚNIOR; MENDONÇA, 2012).
O fenômeno da expansão demográfica e surgimento de áreas urbanizadas dotadas de pouco
planejamento, oriundas de restritos espaços e recursos naturais para abrigar todo o volume de
pessoas, estimulou a adoção de medidas que visassem à preservação ou correção de possíveis danos
à saúde e ao meio ambiente. Logo, avaliar e planejar as implicações provenientes da eficácia dos
sistemas de saneamento ambiental tornou-se elemento fundamental, dado que este adquire papel de
suma importância associado à saúde humana, pois abarca o bem-estar social e o cuidado com o
meio ambiente, questões estreitamente relacionadas.
Conforme afirma Sperandio (2006, p.4) sobre a segregação sócio-espacial urbana existente,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 654


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

É comum encontrar nas cidades, de um lado, ambientes precários, sem saneamento básico,
com infra-estrutura urbana deficitária e moradias mal concebidas, que atestam contra a
saúde e conforto das pessoas, onde a qualidade ambiental e de vida humana é
comprometida, e, de outro lado, um ambiente urbano opulento, com residências luxuosas,
onde há eficientes serviços públicos e onde não faltam equipamentos urbanos de lazer e
saúde. Isso irá proporcionar ambientes urbanos desiguais, com distintos níveis de qualidade
de vida (SPERANDIO, 2006, p.4).

O desenvolvimento urbano associado ao agrupamento populacional intenso e desorganizado,


geram recintos que possuem condições propícias para a degradação do meio ambiente e
consequentemente, o surgimento e a evolução de doenças resultantes da falta de saneamento,
especialmente em áreas pobres, agravando o quadro epidemiológico. A insuficiência dos serviços
de saneamento colabora para o surgimento das chamadas Doenças Relacionadas ao Saneamento
Ambiental Inadequado (DRSAI), que tem relação direta com o ambiente degradado (FONSECA;
VASCONCELOS, 2011, p. 448-453).
Segundo a FUNASA (2010, p. 29), a definição clássica de saneamento baseia-se na
formulação da Organização Mundial de Saúde (OMS), onde saneamento ―[...] constitui o controle
de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos deletérios
sobre seu estado de bem-estar físico, mental ou social‖ (HELLER, 1998). De acordo com este
conceito, é evidente a importância do saneamento enquanto abordagem preventiva e de promoção
da saúde, a partir do enfoque ambiental (FUNASA, 2010, p.30).
De acordo com Heller (1998, p. 74) ―[...] está na expressão saúde ambiental a chave para
orientar a organização institucional e para sensibilizar comunidades, técnicos e governos sobre a
necessidade de uma abordagem que articule ambas as esferas‖. Pressupondo essa perspectiva, é
necessário que ocorra melhor aproximação entre saúde e ambiente, não só em seus conceitos, mas
principalmente em suas aplicabilidades, para que se obtenham resultados condizentes aos
necessários referente às questões sociais e ambientais.
Enfermidades como Febre Amarela, Dengue, Zika Vírus e Chikungunya, oriundas do vetor
Aedes aegypti, são exemplos concretos vivenciados atualmente pela sociedade, sucedidas dos
precários sistemas implantados de saneamento ambiental, dos quais a parte da população que mais
sofre são as comunidades mais carentes, que muitas vezes são abandonadas pelo governo, tratadas
com descaso (MELO; PASQUALETTO, 2008, p.3).
Partindo do exposto anteriormente, o presente trabalho objetivou contribuir para a discussão
sobre as problemáticas existentes acerca do saneamento ambiental no território brasileiro,
verificando seus impactos na saúde das populações, contribuindo para a proliferação do mosquito
vetor Aedes aegypti, e consequentemente, provocando elevada incidência dos casos de dengue.

METODOLOGIA

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 655


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa. De acordo com Godoy (1995), a
pesquisa qualitativa pode ser caracterizada por três caminhos, sendo estes: pesquisa documental, o
estudo de caso e a etnografia. A pesquisa documental foi escolhida para ser desenvolvida através do
presente trabalho, pois ―(...) representa uma forma que pode se revestir de um caráter inovador,
trazendo contribuições importantes no estudo de alguns temas‖ (GODOY, 1995, p.21).
Deste modo, buscando-se contribuir para a discussão a respeito da dengue, foi desenvolvido
um levantamento bibliográfico e leitura de artigos, entrevistas e demais publicações que tratavam
sobre seus fatores de incidência e proliferação do mosquito vetor Aedes aegytpi; aspectos
socioambientais; saneamento ambiental; políticas públicas, dentre outras abordagens relativas ao
assunto. Logo após, elaborou-se um quadro com as publicações selecionadas e analisadas, e por
fim, as conclusões e demais apontamentos foram realizados.

DESENVOLVIMENTO

O Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB) "[...] constitui o eixo central da


política federal para o saneamento básico, promovendo a articulação dos entes da federação para a
implementação das diretrizes da Lei 11.445/07‖ (BRASIL, 2014, p.27). Sob a responsabilidade da
União sob a coordenação do Ministério das Cidades, o PLANSAB é um instrumento de
implementação da Política Federal de Saneamento Básico (BRASIL, 2014, p.27), sendo,

[...] fundamental para a retomada da capacidade orientadora do Estado na condução da


política pública de saneamento básico e, consequentemente, da definição das metas e
estratégias de governo para o setor no horizonte dos próximos vinte anos, com vistas à
universalização do acesso aos serviços de saneamento básico como um direito social,
contemplando os componentes de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário,
limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos, e drenagem e manejo das águas pluviais
urbanas" (BRASIL, 2014, p. 27).

Conforme dito anteriormente a respeito da Lei 11.445/2007, esta, estabelece as diretrizes


nacionais para o saneamento básico. Nesta, é tratado em seu artigo 2º sobre os serviços públicos de
saneamento básico, sendo especificados no inciso III, "[...] abastecimento de água, esgotamento
sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde
pública e à proteção do meio ambiente" (BRASIL, 2007, art. 2). Dentre outras diretrizes, são
abordadas especificações, orientações, dentre outros esclarecimentos a serem desenvolvidos pelos
gestores municipais.
De acordo com uma entrevista feita à professora livre docente da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) Ermínia Maricato, pela Rede Brasil Atual,
publicada em 27/02/2016, tratando sobre a temática "Saneamento básico é fundamental no combate
ao mosquito da dengue". A referida professora faz uma critica ao problema da exclusão nas cidades
entre outras discussões, em que afirma ―[...] Esqueceu-se da cidade dos pobres, que depois do

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 656


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

boom imobiliário se expandiu mais ainda. Esquecemos das políticas públicas de saneamento e
habitação. Construíram casas sem olhar onde é local de habitação‖ (REDE BRASIL ATUAL,
2016).
Sobre a proliferação do mosquito, a professora trata que ―[...] não vamos resolver só
pedindo para as pessoas tirarem água do pratinho‖, compreendendo que esta é uma problemática
muito complexa, dependente de diversos fatores (políticas públicas efetivas que incluam a
população menos favorecida, saneamento ambiental) que estão em um patamar superior ao simples
ato citado, mas que também contribui para a erradicação do mosquito (REDE BRASIL ATUAL,
2016).
Ainda conforme afirma a professora Ermínia Maricato nesta entrevista,

Vemos nas periferias quatro problemas seríssimos na área do saneamento: água, esgoto,
drenagem de águas fluviais e coleta de resíduos sólidos, que vão formando barreiras.
Córrego não é mais córrego. É área de descarte de lixo. Ali se tem a condição perfeita
para a produção de mosquito. Estou falando de casos de São Paulo, Belo Horizonte,
Curitiba, Porto Alegre. Em cidades praianas, o problema é ainda mais grave: tem as
palafitas, os mangues. Mas a política urbana foi reduzida. É voltada para o mercado
imobiliário com o (Programa) Minha Casa, Minha Vida, expulsando os pobres para os
conjuntos habitacionais fora da cidade. Foi assim (que ocorreu) o fomento de uma
especulação imobiliária fantástica (REDE BRASIL ATUAL, 2016).

A professora aponta que o saneamento deveria ser a prioridade, em que a falta de drenagem
de águas fluviais proporciona o criatório dos mosquitos, sendo preciso ações que visem a
recuperação dos rios, córregos e demais recursos hídricos. "A questão do saneamento é fundamental
e básica nessa discussão sobre o combate à malária, febre amarela, dengue e à febre do zika e do
chikungunya (REDE BRASIL ATUAL, 2016). Ela ainda trata que, ―Nós temos hoje mais de 2
milhões de pessoas em áreas de proteção de mananciais na Região Metropolitana de São Paulo.
Não é um problema de um prefeito, mas de muitos prefeitos e do governador" (REDE BRASIL
ATUAL, 2016).
Sobre a necessidade de reforma urbana, a professora Maricato aborda na entrevista,

"A forma de expansão descontrolada das metrópoles no Brasil – e elas fornecem um


modelo para as demais cidades – compromete esgotos domésticos, os rios, córregos, lagos,
lagoas e praias. Os mais pobres não cabem nas cidades – mais de 80% do déficit
habitacional encontram-se nas faixas entre zero e três salários mínimos – e, como
precisam inevitavelmente de um lugar para morar, ocupam encostas íngremes, mangues,
dunas ou Área de Proteção de Mananciais (APM)" (REDE BRASIL ATUAL, 2016).

A citada professora ainda trata que,

"Em São Paulo, aproximadamente 2 milhões de pessoas moram nas APM. E isso não se dá
por falta de leis de proteção ambiental. Essas áreas não interessam ao mercado
imobiliário devido à legislação proibitiva. São as áreas que sobram para os que não têm
lugar na cidade formal: áreas de proteção ambiental e áreas de risco de desmoronamento.
Outros aspectos do desastre ambiental, decorrentes desse predatório padrão de uso e
ocupação do solo, estão na impermeabilização contínua da superfície da terra, incluindo o
tamponamento de córregos, o que acarreta frequentes enchentes, poluição acentuada do ar

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 657


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

e expansão horizontal desmedida, reforçando a dependência em relação ao automóvel"


(REDE BRASIL ATUAL, 2016).

Em relação ao combate do mosquito transmissor da dengue, a Associação Brasileira de


Engenharia Sanitária e Ambiental afirma que "[...] só ganharemos a guerra contra o mosquito
Aedes aegypti com saneamento básico" (ABES, 2016), denominado atualmente saneamento
ambiental. Sobre o saneamento destacam-se:
 Em relação ao abastecimento de água: o problema está no abastecimento irregular, na falta
ou intermitência de água, obrigando a população a armazená-la em potes, caixas d'água e
demais recipientes, transformando-se em reservatórios ideais para a procriação e
desenvolvimento dos mosquitos. Estes mosquitos depositam seus ovos em águas paradas,
potável e não potável, mas também com pouco material em decomposição, sendo desta
forma, os esgotos também devem ser considerados potenciais locais de reprodução (ABES,
2016);
 Em relação aos resíduos sólidos: o problema refere-se à coleta irregular dos resíduos, ao
acúmulo de garrafas plásticas, embalagens, pneus e demais recipientes que permitam o
acúmulo de água da chuva nas casas e depósitos irregulares de resíduos (ABES, 2016);
De acordo com o presidente da ABES, Dante Ragazzi Pauli, "[...] as ações de controle do
mosquito envolvem tanto as políticas públicas de saúde como de saneamento, mas elas ainda não
se conversam, quanto a ação individual e comunitária" e ainda que "[...] promover o saneamento é
a melhor campanha sanitária contra essas doenças" (dengue e zika) (ABES, 2016).
No Guia de bolso "Doenças infecciosas e parasitárias" elaborado pelo Ministério da Saúde e
disponibilizado em meio digital, dentre diversas informações sobre doenças infecciosas e
parasitárias existentes no Brasil, aborda sobre a dengue. Neste guia, verifica-se o cuidado em se
tratar das medidas de controle, especificamente, sobre as medidas de controle que se restringem ao
vetor, em que, devido à complexidade que envolve o controle e prevenção desta doença, levou ao
Programa Nacional de Controle da Dengue o estabelecimento de dez componentes de ação, sendo
dentre eles, as ações de saneamento ambiental uma de suas medidas sugeridas a serem aplicadas
(BRASIL, 2005).
O quadro 1, a seguir, traz o levantamento de pesquisas que discutem sobre esta temática:

Quadro 1 - Levantamento bibliográfico realizado sobre a temática do presente trabalho, 2017


PUBLICAÇÃO AUTORES ANO
Andréia Aparecida da Silva,
Fatores sociais e ambientais que podem ter contribuído
Carla Ferreira Miranda, Jussara
para a proliferação da dengue em Umuarama, estado do 2003
Rocha Ferreira, Eduardo José de
Paraná
Almeida Araújo
Eliene Almeida Santos, Magno
Fatores socioambientais e ocorrência dos casos de
Conceição das Merces, Bárbara 2015
dengue em Guanambi - Bahia
Teixeira Carvalho
Rosilainy Surubi Fernandes,
Dengue e fatores ambientais no município de Tangará da Sandra Mara Alves da Silva
2014
Serra, Amazônia brasileira Neves, Mônica Josene Barbosa
Pereira, Eliane Ignotti, Cláudio

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 658


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Kleber Juiz de Souza

Clima, tropicalidade e saúde: uma perspectiva a partir da


Francisco Mendonça 2005
intensificação do aquecimento global
Francisco de Assis Mendonça;
Saúde pública, urbanização e dengue no Brasil Adilson Veiga e Souza; Denecir 2009
de Almeida Dutra
Considerações sobre os casos registrados de dengue
Elizabeth Kohnert Linhares;
entre 2000 e 2005 e alguns fatores socioambientais na 2006
Aglaé de Andrade Celestino
Zona Oeste do Rio de Janeiro
Christovam Barcellos; Adelaide
Identificação de locais com potencial de transmissão de
Kreutz Pustai; Maria Angélica
dengue em Porto Alegre através de técnicas de 2005
Weber; Maria Regina Varnieri
geoprocessamento
Brito
Alexandre San Pedro; Reinaldo
Condições particulares de produção e reprodução da
Souza Santos; Paulo Chagastelles
dengue em nível local: estudo de Itaipu, Região 2009
Sabroza; Rosely Magalhães de
Oceânica de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil
Oliveira
A dengue na área urbana contínua de Maringá/PR: uma
José Aquino Júnior 2010
abordagem socioambiental da epidemia de 2006/07
Análise espacial e temporal da dengue no contexto
Tatiana Rodrigues de Araujo
sócio-ambiental do município do Rio de Janeiro, 1996- 2009
Teixeira
2006
Dengue, heterogeneidade e indicadores sócioambientais:
Regina Fernandes Flauzino 2009
particularidades da dinâmica da dengue em nível local
A influência do clima urbano na proliferação do
Jesiel Souza Silva; Zilda de
mosquito Aedes aegypti em Jataí (GO) na perspectiva da 2007
Fátima Mariano; Iraci Scopel
Geografia Médica
Diferenciais intraurbanos na distribuição de dengue em Ludmila Sophia Souza; Rita de
2012
Cuiabá, 2007 e 2008 Cássia Barradas Barata
A problemática socioambiental urbana da dengue no
Devanir André Fappi 2014
município de Missal
Fonte: Pesquisa direta, 2017.

CONCLUSÃO

A partir do que fora exposto anteriormente através do levantamento bibliográfico de


publicações e trabalhos desenvolvidos sobre o saneamento ambiental e a proliferação de mosquitos
vetores da dengue e demais doenças, percebe-se que é unanime a compreensão de que esta
problemática é desencadeada devido à falta de saneamento ambiental, e dentre outros problemas,
que podem agravar esta situação culminando em surtos epidêmicos.
Deste modo, foi verificado na pesquisa desenvolvida em artigos, dissertações, legislações,
entrevistas e demais publicações, que esta problemática poderá ser solucionada a partir de ações que
proporcionem o saneamento ambiental à toda população brasileira e também de demais
localidades/países onde sua incidência faz-se presente.

AGRADECIMENTOS

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 659


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

À Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Ciências Integradas do Pontal e à Pró


Reitoria de Extensão (PROEX) pelo apoio e auxílio financeiro prestados.

REFERÊNCIAS

AQUINO JUNIOR, José. A dengue na área urbana contínua de Maringá/PR: uma abordagem
socioambiental da epidemia de 2006/07. 2010. 190 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Geografia, Pós-graduação em Geografia, Universidade Federal do Paraná, Maringá, 2010.
Disponível em: <http://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/26063/Dissertacao VERSAO
FINAL - Aquino Junior, J.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 22 ago. 2017.

AQUINO JUNIOR, José; MENDONÇA, Francisco. A problemática da dengue em maringá-pr: uma


abordagem socioambiental a partir da epidemia de 2007. Hygeia: Revista Brasileira de
Geografia M dica e da Saúde, Uberlândia-mg, v. 8, n. 15, p.157-176, 19 ago. 2017.
Quadrimestral. Disponível em:
<http://www.seer.ufu.br/index.php/hygeia/article/view/17742/11171>. Acesso em: 19 ago. 2017.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA AMBIENAL E SANITÁRIA (ABES). Dengue


e zika: ABES alerta sobre a importância do saneamento básico no combate às doenças. 2016.
Disponível em: <http://abes-dn.org.br/?p=923>. Acesso em: 18 ago. 2017.

BARCELLOS, C. et al. Identificação de locais com potencial de transmissão de dengue em Porto


Alegre através de técnicas de geoprocessamento. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
Tropical, Uberaba, v. 38, n. 3, p. 246-250, maio/jun. 2005. Disponível em: <
http://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/727>. Acesso em: 19 ago. 2017.

BRASIL. Lei 11.445, 5 jan. 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera
as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de
junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978;
e dá outras providências. Publicado no DOU de 8.1.2007 e retificado no DOU de 11.1.2007.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm>.
Acesso em: 18 ago. 2017.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de


Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso/ Ministério da
Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. 8ª ed.
rev. - Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_infecciosas_parasitaria_guia_bolso.pdf>.
Acesso em: 21 ago. 2017.
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 660
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE


NOTIFICAÇÃO (SINAN). Dengue. 2017. Disponível em:
<http://portalsinan.saude.gov.br/dengue>. Acesso em: 18 ago. 2017.

BRASIL. MINISTÉRIO DAS CIDADES. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental.


PLANSAB. Plano Nacional de Saneamento Básico: Mais Saúde com Qualidade de Vida e
Cidadania. Brasília, 2014. Disponível em: < https://www.saneamentobasico.com.br/plano-
nacional-de-saneamento-basico-plansab/ >. Acesso em: 22 ago. 2017.

FAPPI, Devanir André. A Problemática Socioambiental Urbana da Dengue no Município de


Missal. 2014. 37 folhas. Monografia (Especialização em Gestão Ambiental em Municípios).
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Medianeira, 2014. Disponível em:
<http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/4608/1/MD_GAMUNI_2014_2_80.pdf>.
Acesso em: 19 ago. 2017.

FERNANDES, Rosilainy Surubi et al. Dengue e fatores ambientais no município de Tangará da


Serra, Amazônia Brasileira. Boletim de Geografia, Maringá, v. 35, n. 1, p.35-51, 2014.
Quadrimestral. Disponível em:
<http://eduem.uem.br/ojs/index.php/BolGeogr/article/view/19397/pdf_2>. Acesso em: 19 ago.
2017.

FLAUZINO, Regina Fernandes. Dengue, heterogeneidade e indicadores socioambientais:


particularidades da dinâmica da dengue em nível local. 2009. 114 f. Tese (Doutorado) - Curso
de Saúde Pública, Escola Nacional de SaÚde PÚblica SÉrgio Arouca, Rio de Janeiro-rj, 2009.
Disponível em: <http://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/2546>. Acesso em: 19 ago. 2017.

FONSECA, Fernanda Rodrigues; VASCONSELOS, Cíntia Honório. Análise espacial das doenças
relacionadas ao saneamento ambiental inadequado no Brasil. Cadernos de Saúde Coletiva, Rio
de Janeiro, v.19, p.448-453, 2011. Disponível em: <
http://www.cadernos.iesc.ufrj.br/cadernos/images/csc/2011_4/artigos/csc_v19n4_448-453.pdf>.
Acesso em: 08 ago. 2017.

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE (FUNASA). Impactos na saúde e no sistema único de


saúde decorrentes de agravos relacionados a um saneamento ambiental inadequado. Brasília,
DF. Fundação Nacional de Saúde, 2010. 29-30 p. Disponível em:
<http://www.funasa.gov.br/site/wpcontent/files_mf/estudosPesquisas_ImpactosSaude.pdf>.
Acesso em: 08 ago. 2017.
GODOY, Schmidt Arilda. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista Administração de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 661


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Empresas. São Paulo, v. 35, n.3, p.20-29. Mai/Jun. 1995. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rae/v35n3/a04v35n3.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2017.

HELLER, Léo. Relação entre saúde e saneamento na perspectiva do desenvolvimento. Ciência &
Saúde Coletiva, [s.l.], v. 3, n. 2, p.73-84, 1998. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81231998000200007>. Acesso
em: 08 ago. 2017.

LINHARES, Elizabeth Kohnert; CELESTINO, Aglaé de Andrade. Considerações sobre os casos


registrados de dengue entre 2000 e 2005 e alguns fatores socioambientais na Zona Oeste do Rio
de Janeiro. 2006. Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais,
ABEP, realizado em Caxambú- MG – Brasil, de 18 a 22 de Setembro de 2006. Disponível em:
<http://www.abep.nepo.unicamp.br/encontro2006/docspdf/abep2006_748.pdf>. Acesso em: 19
ago. 2017.

MELO, Rute Gisele de; PASQUALETTO, Antônio. O saneamento básico como forma preventiva
da dengue em Aparecida de Goiânia - GO. Universidade Federal de Goiás, Departamento de
Engenharia, Engenharia Ambiental, Goiânia. 2008. 22p. Disponível em: <
http://www.pucgoias.edu.br/ucg/prope/cpgss/ArquivosUpload/36/file/Continua/O%20SANEAM
ENTO%20B%C3%81SICO%20COM%20FORMA%20PREVENTIVA%20DA%20DENGUE%
20EM%20APARECIDA%20DE%20GOI%C3%82NIA-GO.pdf> . Acesso em: 08 ago. 2017.

MENDONÇA, Francisco de Assis; VEIGA E SOUZA, Adilson; DUTRA, Denecir de Almeida.


Saúde pública, urbanização e dengue no Brasil. Sociedade & Natureza, Uberlândia, 21 (3): 257-
269, dez. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-
45132009000300003>. Acesso em: 19 ago. 2017.

MENDONÇA, Francisco. Clima, tropicalidade e saúde: uma perspectiva a partir da intensificação


do aquecimento global. Revista Brasileira de Climatologia, Vol. 1, Nº1. 2005. Disponível em: <
http://revistas.ufpr.br/revistaabclima/article/view/25231/16934>. Acesso em: 19 ago. 2017.

PEDRO, Alexandre San et al. Condições particulares de produção e reprodução da dengue em


nível local: estudo de Itaipu, Região Oceânica de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. 2009.
Disponível
em:<https://www.researchgate.net/profile/Alexandre_Pedro/publication/26808453_Specific_den
gue_transmission_conditions_at_the_local_level_A_study_in_Itaipu_Niteroi_Rio_De_Janeiro_S
tate_Brazil/links/02e7e51633539afc54000000.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 662


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

PEREIRA, Heronides dos Santos; SILVA, Sandra Sereide Ferreira da; SOUZA, Valdir Cesarino de.
Saneamento Básico. 2017. Disponível em:
<http://www.portalsaofrancisco.com.br/biologia/saneamento-basico>. Acesso em: 08 ago. 2017.

REDE BRASIL ATUAL. Saneamento básico é fundamental no combate ao mosquito da dengue.


Disponível em: <http://www.redebrasilatual.com.br/saude/2016/02/saneamento-basico-e-
fundamental-no-combate-ao-mosquito-da-dengue-4364.html>. Acesso em: 18 ago. 2017.

SANTOS, Eliene Almeida; MERCES, Magno Conceição das; CARVALHO, Bárbara Teixeira.
Fatores socioambientais e ocorrência dos casos de dengue em Guanambi - Bahia. Revista de
Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, v. 7, n. 1, p.486-496, 2015.
Trimestral. Disponível em: <https://periodicos.ufsm.br/reufsm/article/view/16046/pdf>. Acesso
em: 19 ago. 2017.

SILVA, Andréia Aparecida da et al. Fatores sociais e ambientais que podem ter contribuído para a
proliferação da dengue em Umuarama, estado do Paraná. Acta Scientiarum: Health Sciences,
Maringa, v. 25, n. 1, p.81-85, 2003. Semestral. Disponível em:
<http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHealthSci/article/view/2305/1476>. Acesso em:
19 ago. 2017.

SILVA, Jeziel Souza; MARIANO, Zilda da Fatima; SCOPEL, Irací. A influência do clima urbano
na proliferação do mosquito Aedes aegypti em Jataí (GO), na perspectiva da Geografia Médica.
H geia: Revista Brasileira de Geografia M dica e da Saúde, Uberlândia-mg, v. 3, n. 1, p.33-49,
2007. Quadrimestral. Disponível em:
<http://search.proquest.com/openview/f31a84f85f1dda53b8f2971f7cc5b1ef/1?pq-
origsite=gscholar>. Acesso em: 19 ago. 2017.

SOUZA, Ludmila Sophia; BARATA, Rita de Cássia Barradas. Diferenciais intraurbanos na


distribuição de dengue em Cuiabá, 2007 e 2008. Revista Brasileira de Epidemiologia, [s.l.], v.
15, n. 4, p.761-770, dez. 2012. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1415-
790x2012000400008. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-790X2012000400008>. Acesso
em: 19 ago. 2017.

SPERANDIO, Thaís Maria. Qualidade ambiental e de vida humana: as alterações socioambientais


e a difusão da dengue em Piracicaba - SP. 2006. xii, 173 f. Dissertação (mestrado) -
Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, 2006. Disponível
em: <http://hdl.handle.net/11449/95711>.Acesso em: 21 ago. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 663


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TEIXEIRA, Tatiana Rodrigues de Araujo. Análise espacial e temporal da dengue no contexto


sócio-ambiental do município do Rio de Janeiro, 1996 - 2006. 2009. 139 f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Saúde Pública, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de
Janeiro-rj, 2009. Disponível em: <http://bvssp.icict.fiocruz.br/pdf/Teixeiratram.pdf>. Acesso em:
19 ago. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 664


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

GESTÃO AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO- UEMA:


SENSIBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE ACADÊMICA

Francisca Suenia Alves da CRUZ


Graduanda em Geografia – Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
suenia_13frashe@hotmail.com
Regina Célia de Castro PEREIRA26
Professora da graduação e do Programa de pós-graduação em Geografia / UEMA
rdecastropereira@yahoo.com.br

RESUMO
Este trabalho teve o objetivo de sensibilizar a comunidade acadêmica quanto a descarte correto dos
resíduos sólidos (papel) gerados no ambiente de trabalho. Foi desenvolvido através de proposta de
extensão, desenvolvida no Campus Paulo VI da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) nos
setores administrativos. Para tanto foram visitados os setores administrativos da instiuiçao e pro
meio de conversas informais, palestras, realizou-se a sensibilização dos servidores destes setores.
Os resíduos (papel) depositados em caixas de papelão e são encaminhados a um posto de
reciclagem do projeto Ecocemar, que tem a proposta a conversão de certa quantidade de resíduos
sólidos, em descontos nas contas de energia elétrica. Ação de recolhimento dos resíduos sólidos
(papel) ao longo de seis meses possibilitou a destinação correta de mais 299,89 kg de papel.
Educação ambiental por meio de políticas socioambiental em IES é uma ferramenta essencial para o
desenvolvimento ambiental no que se referi a preservação do ambiente. Desta forma, a educação
ambiental por meio de políticas socioambiental em IES é uma ferramenta essencial para o
desenvolvimento ambiental no que se referi à preservação do ambiente.
Palavras chave: Educação ambiental, sensibilizações, resíduos sólidos.

RESUMEN
Este trabajo tuvo el objetivo de sensibilizar a la comunidad académica en cuanto a la eliminación
correcta de los residuos sólidos (papel) generados en el ambiente de trabajo. Fue desarrollado a
través de una propuesta de extensión, desarrollada en el Campus Pablo VI de la Universidad
Estadual de Maranhão (UEMA) en los sectores administrativos. Para ello se visitaron los sectores
administrativos de la instiuación y pro forma de conversaciones informales, conferencias, se realizó
la sensibilización de los servidores de estos sectores. Los residuos (papel) depositados en cajas de
cartón y son encaminados a un puesto de reciclaje del proyecto Ecocemar, que tiene la propuesta la
conversión de cierta cantidad de residuos sólidos, en descuentos en las cuentas de energía eléctrica.
La acción de recogida de los residuos sólidos (papel) a lo largo de seis meses posibilitó el destino
correcto de más 299,89 kg de papel. La educación ambiental a través de políticas socioambientales
en IES es una herramienta esencial para el desarrollo ambiental en lo que se refiere a la
preservación del ambiente.
De esta forma, la educación ambiental a través de políticas socioambientales en IES es una
herramienta esencial para el desarrollo ambiental en lo que se refiere a la preservación del ambiente.
Palabras clave: Educación ambiental, sensibilización, residuos sólidos.

INTRODUÇÃO

26
Doutora em Geografia.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 665


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

As dificuldades que permeiam as questões ambientais constituem como objeto de


preocupação na sociedade contemporânea em seus diversos séquitos. Surgindo com isso, nos mais
diferentes países movimentos socioambientais cuja intenção é de propagar ideias, formar conceitos
e influenciar opiniões e ações que fortaleçam aquisição de valores e atitudes associados à
sensibilização ambiental.
Contribuiu para tal processo o desenvolvimento da educação ambiental (EA) como um
conjunto de estratégias que visam contribuir para mudanças de atitudes dando ênfase às práticas
corretas de conservação e respeito aos recursos naturais (SEMACE, 2005).
As décadas de 1970 e 1980 foram marcadas pela ocorrência de conferências e reuniões
sobre a problemática ambiental, nas quais destaca-se a EA como estratégia eficiente de diálogo
para enfrentamento dos referidos problemas, sempre na perspectiva de entender a relação sociedade
e natureza em suas diferentes versões. Nesse contexto destaca-se que conceito de EA, aborda temas
como a natureza, a sociedade e a produção de riqueza, como apresentem os conceitos que seguem.
Na conferencia de Tbilisi, a educação ambiental foi definida como uma dimensão dada ao
conteúdo e à prática da educação, orientada para a resolução dos problemas concretos do meio
ambiente através de um enfoque interdisciplinar e de uma participação ativa e responsável de cada
individuo e da coletividade.
Para Dias (1994) [...] a EA deve permitir a compreensão da natureza complexa do meio
ambiente e interpretar a interdependência entre os diversos elementos que conformam o ambiente,
vista a utilizar racionalmente os recursos no presente e no futuro.
Refletindo sobre o conceito acima se pode dizer que a educação ambiental, visando à
sensibilização de uma coletividade, é contínua e indispensável, constituindo um componente
necessário para implantação de programas de transformações sócio educacional associadas a
qualquer política social.
Nessa perspectiva que foi criada em 27de abril de 1999 a Politica a Nacional de Educação
ambiental (PNEA) que apresenta sua importância, conceitos e modalidades de desenvolvimento, da
qual se destaca que os:

―... processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade‖ (PNEA, art.1.1999).

Conhecendo as recomendações da PNEA, que este trabalho, ora se apresentado, foi


realizado na perspectiva da modalidade não formal. Na qual as ações e práticas educativas estão
voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e a sua organização e
participação na defesa da qualidade do meio ambiente (OLIVEIRA- SECO, 2009).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 666


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Sendo assim a educação ambiental não formal deve esta inserida nas Instituições de Ensino
Superior (IES) e se estabelecendo como complemento da educação institucionalizada. A proposta é
propagar a educação ambiental por meio de ações participativas permanentes, no intuito de
incentivar a comunidade acadêmica a construírem uma consciência sensível e critica as questões
ambientais que os cercam.
Nesse sentido é de suma importância dá continuidade às articulações que envolvam os mais
variados atores do universo educativo, com a capacidade de potencializar as Instituições de Ensino
Superior (IES) de forma interdisciplinar no que tange a gestão ambiental. Para Jacobi (2003) o
conhecimento crescente gera uma inter-relação entre o social e o meio, sendo este determinante na
concretização das ações sustentáveis para o ensino.
Desta forma a abordagem das causas ambientais atuais e ações que possam minimizar os
impactos gerados por tais problemas são de suma relevância para composição educacional das IES,
tanto as presentes como as que estão por vir.

―A educação não se constitui como resposta absoluta para todos os problemas, mas, em seu
sentido mais amplo deve ser entendido como parte vital de esforços que se façam para criar
relações novas entre as pessoas e para fortalecer maior respeito pelas necessidades
ambientais. A educação é, em síntese, a melhor esperança para o meio mais eficaz que a
humanidade tem para alcançar a sustentabilidade ambiental‖ (IBAMA, 1991).

Por meio da educação ambiental em IES, o que se pretende é formar multiplicadores que
possam se sentir desafiados a serem sensibilizadores ambientais em quaisquer ambiente que possam
encontrar-se, pois o objetivo é que as ações efetivadas no campus universitário ultrapassem seus
muros, sendo estas, conduzidas pela Política dos 5R‘s e a Agenda Ambiental na Administração
Pública (A3P).
Essa modelagem atual de um ambiente acadêmico sustentável é um compromisso assumido
pela Universidade Estadual do Maranhão, proporcionando o direito a educação de saber, discernir,
questionar, e propor; é a chamada para formação de autores que se disponibilizem a serem
executores, e transmissores dessa educação para a geração presente, assim como a vindoura. E a
educação ambiental é uma ferramenta necessária para as reflexões e os desafios da sustentabilidade
das instituições de ensino acadêmico.
Este trabalho teve o objetivo de sensibilizar a comunidade acadêmica quanto a descarte
correto dos resíduos sólidos (papel) gerados no ambiente de trabalho. Foi desenvolvido através de
proposta de extensão, desenvolvida no Campus Paulo VI da Universidade Estadual do Maranhão
(UEMA) nos prédios do Centro de Educações Ciências Exatas e Naturais (CECEN), Protocolo,
Letras, e Programa Darcy Ribeiro e Assessorias, contabilizando 91 funcionários.
A concretização deste trabalho deu-se pelo principio da urgência cada vez mais presente no
que se refere à mudança de hábito quanto ao acelerado processo de geração de resíduos sem ter a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 667


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

deposição final adequada do mesmo, visando desta forma o uso consciente deste resíduo sem que
haja desperdício e a adoção de ações sustentáveis. Sendo assim promove-se com este trabalho a
distribuição de hábitos sustentáveis na universidade e ações de sensibilização por meio da
importância da redução dos resíduos nas salas dos setores administrativos, assim como em suas
residências.
Segundo Jacobi e Teixeira (1998) ,o resíduos, na realidade, constituem matéria prima
proveniente principalmente de recursos não renováveis, cuja produção provoca custos financeiros e
energéticos, e podem causar impactos negativos ao ambiente. O ser humano se livra do resíduo,
jogando-o fora de seu alcance, mas não do ambiente em que vive.
A definição de resíduos sólidos segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas –
ABNT, que os resíduos são os "restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como
inúteis, indesejáveis ou descartáveis, podendo apresentar se no estado sólido, semissólido ou
líquido, desde que não seja passível de tratamento convencional" (ABNT, 2004).
A Lei 12305/10 classifica os resíduos sólidos como sendo: resíduos domiciliares, de limpeza
urbana, de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviço, industriais, de serviços da saúde,
da construção civil e de mineração. Os resíduos também podem ser classificados quanto as suas
peculiaridades que são: os resíduos úmidos e secos, orgânicos e inorgânicos e perigosos e não
perigosos.
Somente no final do século XX a sociedade começou a demonstrar maior interesse sobre a
deposição dos resíduos, que na atualidade em muitos ambientes ainda são lançados inatura no
ambiente, causando com isto impactos ambientais. Cunha (2013) justifica este processo pela
explosão demográfica das ultimas décadas, assim como o desenvolvimento das indústrias e da
tecnologia, que acabam por impulsionar a criação de novas opções de consumo à sociedade,
acarretando problemas ao ambiente, decorrente da geração de resíduos.
Para minimizar os problemas relacionados aos resíduos sólidos pode-se usar o caminho da
gestão, gerenciamento e reaproveitamento destes. Esse processo se dá no controle da geração de
resíduos, armazenamento adequado, transporte e aproveitamento dos resíduos gerados. Para (Dias;
BRAGA, 2008) esse olhar para a preservação não só da estética, mas da saúde pública e do
ambiente ocorre por meio das considerações voltadas às mudanças de atitudes e hábitos das
comunidades.
Neste cenário de transformações é que a UEMA assume uma politica interna colaborativa
em contribuir para com o processo de reciclagem dos resíduos gerados no ambiente universitário. O
trabalho relaciona-se com a sensibilização e adequação dos resíduos sólidos (papel) que são gerados
nos setores administrativos da universidade

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 668


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

METODOLOGIA

Com a finalidade de estabelecer com mais eficácia as ações propostas por este trabalho
foram feitos levantamento bibliográficos, assim como a observação inicial em cada setor sobre a
perspectiva da realidade socioambiental por estes vivenciados. Partindo desta análise foram
realizadas sensibilizações explicativas através de conversas e palestras sobre a temática dos 5R‘s
(reciclar, repensar, reutilizar, recusar, reaproveitar), assim como a importância de adequação dos
resíduos produzidos em cada setor. As sensibilizações ocorreram de forma continua de acordo com
as necessidades que foram surgindo no desenvolvimento do trabalho. As sensibilizações se
desenvolveram da seguinte forma:
1) Para o desenvolvimento da sensibilizaçao primeiro foi caracterizado a rotina dos setores
pre definidos no qual foi executado as conversas informais visando preparar o ambiente
para desenvolvimento das açoes previamente planejadas.
2) Os objetivos do projeto foram apresentados após a fase de caracterização.
3) Sensibilizaçoes atráves de palestras enfatizando: ―o descarte correto dos resíduos
sólidos, conceitos sobre a sustentabilidade‖, ― Os 5R‘s presentes em nossa vida‖,
―resíduos em lugares errados geram problemas a saúde ( Dengue)‖.
4) Adequaçao dos residuos nas salas, seguidos por recolhimentos quinzenal , ação está
realizada em conjunto com a Assessoria de Gestao Ambiental/ UEMA, e a Prefeitura de
Campus.

RESULTADOS

No decorrer de seis meses de trabalho por meio de sensibilizações informais nos setores
administrativos, salas de aula, através de palestras obteve-se avanços com a comunidade
universitária no que se refere ao descarte e desperdício dos resíduos (papel).
A ação de sensibilização e coleta de resíduos ocorreu junto a diretores de cursos;
coordenadores setoriais; professores; técnicos administrativos; secretários; estagiários. O
quantitativo de funcionários e o horário de funcionamento estão listados na tabela 1.

Tabela 1 – Setores alcançados pelo projeto

Fonte: Cruz,2017

A realização de conversas foi adotada para repassar as informações sobre os objetivos do


trabalho com o intuito de fortalecer ações participativas na educação e gestão ambiental, pontuando

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 669


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

a necessidade da mudança de hábitos e atitudes da comunidade acadêmica e suas respectivas


dificuldades (Figura 1 A e B).

Figura 1. (A) apresentação no prédio de Letras; (B) Assessorias.

Fonte: Própria pesquisa, 2016.

Após as sensibilizações desenvolvidas e a identificação das necessidades observadas nos


respectivos prédios, foram realizadas três palestras voltadas para o publico alvo do projeto (Figura
2).

Figura 2. (A) Sensibilização no prédio de Letras; (B) Cecen.

Fonte: Própria pesquisa, 2016.

A palestra realizada no curso de pedagogia destacou a importância da educação ambiental


dentro da universidade, assim como os princípios da politica dos 5R‘s ressaltando os benefícios da
mudança de cultura com relação aos resíduos gerados no campus, trazendo a responsabilidade de dá
à destinação correta para estes resíduos à comunidade acadêmica. Outra temática abordada foi à
relação dos resíduos quando colocados em ambientes inadequados, tornam-se facilitadores para a
proliferação de doenças como a Dengue em períodos chuvosos. Observou-se que a coletividade,
diante das oportunidades de envolvimento em um projeto reagem de forma positiva e motivadora
(Figuras 3 A e B ).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 670


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 3. Sensibilização (A) Darcy Ribeiro; (B) Cecen

Fonte: Própria pesquisa, 2016.

As sensibilizações informais apresentam-se como ferramenta importante para a aproximação


do público alvo para com as ações propostas pelo trabalho que foram (educação ambiental na
universidade; redução do uso de descartáveis e papeis nos setores administrativos, economia dos
recursos hídricos e energéticos). Consolidando uma etapa importante de informações que permeiam
o universo da educação ambiental nos seus mais amplos aspectos.
Ação de recolhimento dos resíduos sólidos (papel) ao longo de 6 meses possibilitou a
destinação correta de mais 299,89 kg de papel (Figura 4) e bonificou em forma de KWh um
instituição filantrópica. Para que este processo ocorra conta-se com a parceria da Assessoria de
Gestão Ambiental / UEMA, a prefeitura do campus universitário que sede o transporte, e o
programa ECOCEMAR da companhia energética do Maranhão. A figura 4. (A) Os resíduos sendo
transportados; (B) passagem dos resíduos, esta é demonstração do processo executado na
universidade.

Figura 3. (A) Os resíduos sendo transportados; (B) passagem dos resíduos.

Fonte: Própria da pesquisa, 2016.

Após a realização da coleta foram feitos controle por meio de tabela quantitativa para pode
identificar se estava ocorrendo redução da geração de resíduos (papel) nos setores. Segue
demonstrativo no gráfico resultado das coletas dos meses de setembro de 2016 a fevereiro de 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 671


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Fonte: Cruz, 2017

Observaram-se no gráfico os meses de novembro e fevereiro no qual ocorreu maior


produção de resíduos (papel) nos setores administrativos do prédio Letras e Cecen esta relacionado
a eventos em especial que são desenvolvidos na instituição com o Exame Nacional de Ensino
Médio (ENEM); e o Programa de Acesso ao Ensino Superior (PAES), neste processos são gerados
um quantitativo significante de papel, que ao serem liberados para o descarte são encaminhados ao
projetos para se dado a destinação correta. Foi possível perceber que os servidores tem entendido a
importância do trabalho, e tem preferido guarda este resíduo com a finalidade de ser encaminhado
para a reciclagem. Ponto este positivo sinalizando que a comunidade acadêmica começou a
entender o seu papel dentro da instituição. Mas também se destaca que problemas surgiram durante
o desenvolvimento da coleta de resíduos, o que já era esperado, visto que toda mudança requer
tempo para adaptação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação ambiental por meio de políticas socioambiental em IES é uma ferramenta


essencial para o desenvolvimento ambiental no que se referi a preservação do ambiente.
Através das ações e experiências passada a comunidade percebeu-se mais interesse pela
causa, trazendo a responsabilidade para o público alvo em zelar pelo espaço de vivencia acadêmico.
Contribui-se com a destinação correta dos resíduos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 672


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

As sensibilizações contribuíram com a destinação correta dos resíduos, é serviram como


incentivo para mudanças de hábitos da comunidade acadêmica, ampliando de parceiras, formando
multiplicadores que estão seguindo os passos das boas práticas ambientais.
Desta forma, estas experiências vivenciadas fortalecem cada vez mais a ideia de que a
educação ambiental através da sensibilização é um processo continuo.

REFERÊNCIAS

ABNT 2004 – Resíduos Sólidos Classificação.

CEARÁ. Superintendência Estadual do Meio Ambiente. Apostila do Curso de Capacitação para


Multiplicadores em Educação Ambiental – 4ª Edição. Fortaleza: SEMACE, 2005.

CUNHA, Rogério. Sistema de Gestão Ambiental para Resíduos Sólidos Orgânicos. Alfenas, p.2,
2013.

DIAS C. N; BRAGA M. C. Gestão de Resíduos Sólidos Urbano volume I. Curitiba, 2008.

JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118,


p.109, 2003.

JACOBI, Pedro; TEIXEIRA. M.A.C. Resíduos Sólidos e Educação Ambiental: Quando a vontade
influi nas políticas públicas. Educação Ambiental Meio Ambiente e Cidadania: reflexões e
experiências. São Paulo : SMA/ CEAM, 1998.

OLIVEIRA – SECO,M.A. Educação Ambiental. Cuiabá: EduUFMT, 2009.54p.

OLIVEIRA, I.; GADELHA, F. E. A. A gestão ambiental e a análise do uso racional e


ecologicamente correto dos recursos naturais e seus processos no Centro de Tecnologia da
Universidade Federal do Ceará. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia
Ambiental, v. 18, n. 1, p. 43-56, 2014.

RECIFE. Manual de práticas A3P. Diretoria de Políticas Ambientais. Secretaria de Meio Ambiente
de Recife: Prefeitura do Recife, 2012.

SANTOS, E. C. G.; MOURA, J. M.; FERNANDES, A. T. Estudo de caso para aplicação da


Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P no IFMT – Campus Cuiabá Bela Vista. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE GESTÃO AMBIENTAL, 3., Instituto Brasileiro de Estudos
Ambientais. Anais... Goiânia, 19 a 22 de novembro, 2012.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 673


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TAUCHEN, J.; BRANDLI, L. A gestão ambiental em Instituições de Ensino Superior: modelo para
implantação em Campus Universitário. 2006.

Universitário Estadual do Maranhão. UEMA: a Universidade de todo Maranhão. São Luís:


UEMA/PROPLAN, 2015. 309 p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 674


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

REUSO DE ÁGUA HIPERSALINA E DIFERENTES SUBSTRATOS NA PRODUÇÃO


DE MUDAS DE MANGUE BRANCO (LAGUNCULARIA RACEMOSA (L.) C. F.
GAERTN, 1807)

Francisco Rodolfo da Silva BARRETO


Graduando em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido
rodolfo_eng.floresta@hotmail.com
Sílvio Roberto Fernandes SOARES
Doutor em Manejo de Solo e água pela Universidade Federal Rural do Semi-árido- UFERSA
silviorfs@live.com
Marcelo Tavares GURGEL
Docente- Universidade Federal Rural do Semi-Árido
marcelo.tavares@ufersa.edu.br
Daniel Tavares de FARIAS
Graduando em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido
daniel.bky@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho objetivou avaliar as variáveis de crescimento de mudas de mangue branco
(Laguncularia racemosa (L.) C.F.Gaertn, 1807) irrigadas com reuso de água hipersalina. Realizou-
se produção de mudas de mangue branco em substrato oriundo de áreas de restinga com adição de
fibra de coco nas proporções de 0, 25 e 50%, sendo submetidas a irrigação com uso de água
hipersalinas nas concentrações de 0, 5 e 10% diluídas em água de abastecimento urbano e foram
avaliadas as seguintes variáveis de crescimento: número de folhas (NF), diâmetro do caule (DC),
altura da planta (AP) e comprimento da raiz (CR). As variáveis de crescimento NF, DC e AP foram
influenciadas significativamente de forma negativa pelo uso da água hipersalina, ou seja,
influenciou até mesmo indivíduos naturalmente adaptados às condições de salinidade. O melhor
tratamento quanto as variáveis avaliadas foi o que utilizou 100% solo de restinga com substrato e
somente água de abastecimento na irrigação, mas ao considerar-se o reuso de água e uma melhor
adaptação das mudas ao ambiente natural o tratamento com 100% solo de restinga e 5% de água
hipersalina obtiveram resultados com diferença significativa ao nível de 5 % probabilidade pelo
teste de tukey para as variáveis supracitadas.
Palavras-Chave: Manguezal, Reuso de água, Água hipersalina, produção de mudas.

ABSTRACT
The objective of this work was to evaluate the growth variables of white mangrove (Laguncularia
racemosa (L.) C.F.Gaertn, 1807) seedlings irrigated with hypersaline water reuse. Production of
white mangrove seedlings was carried out in substrate from areas of restinga with addition of
coconut fiber in proportions of 0, 25 and 50%, being submitted to irrigation with the use of
hypersaline water in the concentrations of 0, 5 and 10% Diluted in urban water supply and the
following growth variables were evaluated: leaf number (LF), stem diameter (SD), plant height
(PH) and root length (RL). The growth variables LF, SD and PH were significantly influenced
negatively by the use of hypersaline water, that is, it influenced even individuals naturally adapted
to salinity conditions. The best treatment as the evaluated variables for 100% soil use with substrate
and water supply in irrigation, but considering the reuse of water and a better adaptation of the

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 675


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

seedlings to the natural environment, the treatment with 100% soil De Restinga and 5% of
hypersaline water obtained results with volume difference of 5% probability by the tukey test for
the aforementioned variables.
Keywords: Mangrove, Water reuse, Hypersaline water, seedling production.

INTRODUÇÃO

O manguezal é um ambiente natural situado em áreas de ocorrência de transição entre os


rios e o mar. Ecossistema característico de zonas tropicais e subtropicais possui rica biodiversidade
de flora, fauna e presença de populações, ocupando regiões tipicamente inundadas pela maré tais
como: estuários, lagoas costeiras, baías e deltas (BABA et al., 2013; PRATES et al., 2012; ALVES,
2001). O manguezal possui conexões diretas e indiretas com múltiplas atividades (turismo, pesca,
caça e construções imobiliárias) que, por sua vez, provocam impactos resultando em significativas
diminuições na sua biodiversidade.
No Brasil é possível encontrar manguezais em praticamente toda costa atlântica,
configurando-se como um importante ecossistema de relevância econômica, principalmente no
norte e nordeste. Nessas regiões a aquicultura (nordeste) e a pecuária e extração de madeira (norte)
são as principais fontes de renda para a população, mas estimativas indicam que aproximadamente
25% dos manguezais já tenham sido destruídos, tendo a aquicultura e a especulação imobiliária
como suas principais causas (PRATES et al., 2012; MMA, 2010).
No Estado do Rio Grande do Norte (RN) é possível encontrar manguezais em quase todo o
litoral norte e em parte do leste. Na região do extremo norte do Estado também se desenvolveu uma
atividade econômica muito importante para o Estado, a indústria salineira.
Apesar de apresentar distribuição considerável no Estado do Rio Grande do Norte,
observado desde o litoral leste até o extremo norte. Prates et al. (2012) informam que, dos 12.451 ha
de mangue no RN, apenas 16,3% são protegidos. Mesmo diante da tutela jurídica do Estado,
atividades econômicas de alto impacto vêm consumindo áreas de manguezais, especialmente na
costa do Estado do Rio Grande do Norte (MEDEIROS et al. 2015).
Portanto, ações que visem recuperar estes ambientes necessitam de políticas públicas que
coloquem em evidência a importância dos manguezais para a preservação de diversas espécies
marinhas: caranguejos, peixes, camarão, etc. Para tal, torna-se fundamental a produção de mudas de
mangue em viveiros levando em conta a adaptação prévia a que as mudas precisam ser submetida
considerando o ambiente hipersalino aos quais serão transplantadas (COSTA, 2015).
Pode-se considerar Mangue vermelho (gênero Rhizophora); Mangue preto (gênero
Avicennia); Mangue branco (gênero Laguncularia); Mangue botão (gênero Conocarpus), como
sendo os quatro principais gêneros de plantas lenhosas que compõe os manguezais brasileiros, além

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 676


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

disso, existem grupos de plantas associadas ao manguezal em suas margens ou borda interior, que
possuem tolerância a diferentes teores de salinidade. Como exemplos tem-se samambaia do
mangue, gênero Acrostichum, Hibiscus sp. e Spartina sp.
Estes gêneros se distribuem de acordo com suas características morfofisiológicas, assim
Melo (2008) relata que é possível observar um padrão de zonação, ou seja, a existência de zonas
formadas pelas espécies arbóreas dos mangues (Figura 1), e ainda acrescenta que um dos principais
fatores determinantes é a salinidade, por sua vez, dá em função das condições climáticas, pelo
aporte fluvial e pela oscilação das marés.

(Figura 01): Zonação horizontal da vegetação num ecossistema de manguezal. Fonte: Livro Ecossistemas
Marinhos: recifes, praias e manguezais.

As águas residuais da produção de sal também são denominadas de água-mãe, por sua vez
podem ser classificadas como hipersalinas27. A água-mãe possui grande quantidade de magnésio,
potássio e outros elementos (SILVA, 2001) que na agricultura têm ampla utilidade como
fertilizantes (BLANCHET et al. 2017; BASAK et al. 2017; BOCIANOWSKI et al. 2015;
PANHWAR et al. 2014).
A produção de mudas para recomposição de áreas de manguezais degradados ainda é a ação
mais utilizada no Estado do Rio Grande do Norte, porém apresentam alto índice de mortalidade ou
serem transplantadas para o campo. O fato de se utilizar em todo o processo produtivo, águas com
condutividade elétrica (CE) muito baixa pode ser possivelmente a causa de tal situação, visto que
em ambiente natural pode passar de 30dS.m-1 .
Em trabalho realizado por Costa (2015), com o objetivo de produzir mudas de mangue
branco (Laguncularia racemosa (L.) C. F. Gaertn, 1807) com diferentes salinidades (S1 = 0,5;
S2=24; S3 =53; S4 =77; S5 =101e S6=124 dS m-1) oriundas da mistura de água-mãe com água de

27
? Água hipersalinas são águas que possuem mais de 36g de sal por litro em sua composição; água-mãe é o
subproduto da produção de sal marinho, esta água não gera mais cristais de sal; salmoura é nome dado ao ponto de
concentração da água que vai para os cristalizadores de sal.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 677


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

abastecimento, verificou-se que, após o transplantio para o campo, as plantas irrigadas com as
salinidades S3= 55 dS.m-1 e S4= 77 dS.m-1 foram as de melhor crescimento.
Nesse contexto, O presente trabalho objetivou avaliar as variáveis de crescimento de mudas
de mangue branco (Laguncularia racemosa(L.) C.F.Gaertn, 1807) irrigadas com reuso de água
hipersalina em diferentes substratos.

METODOLOGIA

Espécie Estudada

A pesquisa foi realizada por meio de um experimento para avaliação do uso de águas
hipersalinas na produção de mudas de Laguncularia racemosa (L.) C.F.Gaertn, 1807 ( Figura 7) em
diferentes substratos. Foram utilizadas sementes (Figura 2) de Laguncularia racemosa (L.)
C.F.Gaertn, 1807 provenientes de manguezais dos municípios Grossos-RN e Icapuí-CE, optando-se
por indivíduos que mantêm a vegetação mais próxima das condições originais, seguindo a
metodologia proposta por Fernandes (2012).

(Figura 02): a folhas e inflorescências e b frutos.

A Laguncularia racemosa (L.) C.F.Gaertn, 1807 são árvores com altura variando de 4 a 5
m, cujas folhas têm pecíolo vermelho, com duas glândulas em sua parte superior, próximas à lamina
foliar (COSTA, 2015). O sistema radicular é menos desenvolvido com relação às outras espécies de
mangue.

Localização e Caracterização da Área Experimental

O experimento foi instalado em casa de vegetação do Centro de Ciências Agrárias –


UFERSA – Mossoró/RN, sob as coordenadas geográficas 5°12‘Sul, 37º19‘Oeste e altitude de 20 m,
no período de 23 de setembro de 2015 a 3 de fevereiro de 2016, Segundo a classificação de Köppen,
o clima da região é do tipo BSwh‘, com temperatura média anual de 27,4 °C, precipitação

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 678


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

pluviométrica anual bastante irregular, com média de 672,9 mm e umidade relativa de 68,9%
(CARMO FILHO; OLIVEIRA, 1995).

Substrato e Recipiente

O material utilizado como substrato no experimento constituiu-se na mistura de areia de


restinga – AR, e fibra de coco - FC sendo três misturas, S1: 100% AR, S2: 50% AR + 50% FC e
S3: 75%AR + 25%FC.
Antes da instalação do experimento, realizou-se análise das misturas dos substratos, onde
foram determinadas suas características químicas e físicas, como descrito na Tabela 1. As análises
foram realizadas no Laboratório de Análise do Solo, Água e Plantas (LASAP) da UFERSA, de
acordo com os métodos propostos por Richards (1954) e por Donagema et al. (2011).

Tabela 01 - Caracterização química e física dos substratos. Fonte: Elaborado pelos autores com base na
pesquisa, 2017.
pH CEes Na+ K+ Ca2+ Mg2+ Areias Silte Argila Silte/Argila
Sub Granulometria (kg/kg -
(água) dS.m-1 cmolc.kg-1 1 Relação
)
S 1 8,3 1,65 309,6 43,2 6.66 33,5 0,94 0,02 0,04 0,4
S 2 7,5 2,64 518 2289 10.5 1543 0,84 0,13 0,04 3,4
S 3 7,7 2,65 669,6 729 12.96 483 0,93 0,03 0,04 0,8
Nota: Para se obter os valores de pH, CE(condutividade elétrica), Na+(sódio), Ca2+(cálcio), Mg2+ (magnésio),
primeiro se obteve o extrato da pasta de saturação. O pH obtido direto da pasta; A CE Na +, K+, Ca2+ e Mg2+
foram obtidos a partir do extrato de saturação; A CE em condutivímetro de bancada; Na +, K+, Ca2+ em
fotômetro de chama e Mg2+ foi por absorção atômica; A granulometria foi determinada pelo método da
pipeta (DONAGEMA, 2011).

Preparo das Águas de Irrigação

Para condução do experimento, utilizou-se água de abastecimento – AA, proveniente da


companhia de abastecimento do Estado, e água hipersalina – AH, proveniente das bacias de
cristalização, obtida na Salina Miramar – Areia Branca – RN. Estas duas águas foram utilizadas
para preparar os tratamentos, compostos pelas concentrações: A1: 100% de água de abastecimento
(AA); A2: 95% de AA + 5% de água hipersalina (AH); e A3: 90% de AA + 10% de AH. As
características químicas das águas empregadas no estudo foram determinadas conforme
metodologia proposta pela Embrapa (DONAGEMA et al, 2011), presentes na Tabela 2.

Tabela 02 - Caracterização química das águas. Fonte: Elaborado pelos autores com base na pesquisa, 2017.
Águas AP AH pH CE Baumé Na+ K+ Ca2+ Mg2+
dS.m-1 Grau ----------mg.L-1-----------
AH 0% 100% 6,99 411 29º 45750 8000 1700 75,67
0º 79,01
A1 100% 0% 8,60 0,5
88 27,37 20,04 4
A2 95% 5% 7,60 29,6 2º 2527.5 430 64 283
A3 90% 10% 7,54 54,2 4º 4675 850 132.5 675

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 679


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Nota: Para se obter os valores de pH, CE(condutividade elétrica), Na+(sódio), Ca2+ (cálcio), Mg2+
(magnésio), primeiro se obteve o extrato da pasta de saturação. O pH obtido direto da pasta; A CE Na+, K+,
Ca2+ e Mg2+ foram obtidos a partir do extrato de saturação; A CE, em condutivímetro de bancada; Na +, K+,
Ca2+ em fotômetro de chama e Mg2+ foi por absorção atômica. (DONAGEMA et al, 2011).

A água hipersalina estava com aproximadamente 29° graus Baumé parâmetro mensurado no
momento da coleta. Coletou-se um volume de 1,0 m3, sendo transportado até o campus leste da
UFERSA, em Mossoró-RN.

Delineamento experimental e variáveis avaliadas

O delineamento experimental adotado foi em blocos casualizados, em esquema fatorial


3x3, sendo três níveis de água e três níveis de substrato e quatro blocos, totalizando 36 parcelas
com 25 plantas em cada parcela, ou seja, 900 unidades experimentais.
Avaliou-se o efeito de três níveis de salinidade da água de irrigação (A1 = 0,5 dS.m-1; A2 =
29,6 dS.m-1, A3 = 54,2 dS.m-1) com três concentrações de substrato (S1= 100% AR, S2= 50%AR +
50% FC, e S3 = 75% AR + 25% FC). No tratamento testemunha (A1), empregou-se a água de
abastecimento urbano, já os demais tratamentos (A2eA3) foram provenientes das misturas da água
de abastecimento urbano com águas hipersalinas.
Aos 21, 42, 63, 84 e 105 dias após a aplicação dos tratamentos (DAT), foram retiradas três
plantas das parcelas em cada época da avaliação, sendo selecionadas as plantas médias dentro da
parcela experimental.
As variáveis avaliadas no estudo foram número de folhas (NF); diâmetro do caule (DC);
altura da planta (AP); comprimento da maior raiz (R).
As variáveis avaliadas foram analisadas mediante análise de variância pelo teste F ao nível
de p<0,01 e p<0,05 de probabilidade e, nos casos de significância, foi realizado o teste de Tukey a
5% de probabilidade, utilizando-se o software SISVAR 5.6 (FERREIRA, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Número de folhas (NF)

As médias do NF para interação tiveram comportamento crescente para combinação A1S1 e


A2S1, com valores de 11,75 e 9,00, respectivamente, aos 105 DAT (Gráfico 1).
Todas as outras combinações praticamente mantiveram o NF com amplitude pequena, tendo
valores de 2,67 para combinação A3S1, aos 42 DAT, e 4,33 para combinação A2S2 aos 105 DAT.
Isso pode ter ocorrido pelo fato de as plântulas terem destinado parte de suas reservas para a
formação de tecido fotossinteticamente ativo e para manutenção da regulação osmótica na zona
radicular.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 680


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O tratamento testemunho (A1S1), o substrato com areia de restinga e com a água de baixa
salinidade, observou-se desenvolvimento das folhas alto, no as demais variáveis de crescimento
devem ser observadas antes de indicar essa combinação como melhor para a produção das mudas de
mangue, pois os resultados foram obtidos em casa de vegetação, num ambiente climaticamente
diferente do manguezal.

Gráfico 01–Valores médios do número de folhas (NF) das mudas de mangue (Laguncularia racemosa (L.)
C.F.Gaertn, 1807), cultivadas com uso de água hipersalina e substratos ao longo do tempo
14,0
Aa
12,0
Aa
10,0 Ba
Aa
Número de folhas - (uni)

8,0 Ba
Aa Ba
6,0 Aa
Ab Ab Ab Aa Ca
Aa Aa Aa Aa Ab Ab
Ab
Ab
Ab Ab
Ab
AabCa
4,0 ABabAa Aa Ab Ab Ab Ab Aa
Ab Aa Ba Aa Aa Ca Aa
Aa Ab Bb Aa

2,0

0,0
21 DAT 42 DAT 63 DAT 84 DAT 105 DAT
A1S1 A1S2 A1S3 A2S1 A2S2 A2S3 A3S1 A3S2 A3S3

Nota: A1 corresponde a 0% de água hipersalina com 100% de areia de restinga (A1S1), 50% de areia de restinga + 50%
de fibra de coco (A1S2) e 75% de areia de restinga + 25% de fibra de coco (A1S3).
A2 corresponde a 5% de água hipersalina com 100% de areia de restinga (A2S1), 50% de areia de restinga + 50% de
fibra de coco (A2S2) e 75% de areia de restinga + 25% de fibra de coco (A2S3).
A3 corresponde a 10% de água hipersalina com 100% de areia de restinga (A3S1), 50% de areia de restinga + 50% de
fibra de coco (A3S2) e 75% de areia de restinga + 25% de fibra de coco (A2S3).
Para comparação pelo teste de média em cada data de avaliação, deve-se ver se o fator substrato(S) em cada nível de
água está representado pela cor da barra, as médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey
ao nível de 5% de probabilidade; o fator água(A), em cada nível do fator substrato, está representado pelo
preenchimento da barra, as médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5%
de probabilidade.
Ao final do estudo (105 DAT), o uso da fibra nas interações com S2 e S3 não reduziu os efeitos negativos dos
tratamentos com as águas hipersalinas (A2 e A3). Esses resultados podem estar relacionados às características
intrínsecas da planta, propõe-se que essa queda de folhas, provocada pelos altos níveis de sais na rizosfera da planta,
seja pelo efeito osmótico, provocado pelo excesso de sal.

É importante mencionar o tratamento A2S1 ao termino do estudo (105 DAT), pois, mesmo
sendo inferior estatisticamente à testemunha (A1S1), teve número médio de nove folhas/planta,
sendo superior aos demais tratamentos. Esse resultado é importante, pois pelo fato de essas mudas
terem sido produzidas com água hipersalina (29 dS.m-1), ao serem transplantadas para o campo,
possivelmente terão maiores chances de sobreviverem nos ambientes hipersalinos do que as mudas
produzidas com água de baixa salinidade.
Diâmetro do caule (DC)
No geral, a média do DC teve comportamento crescente ao longo do estudo, praticamente
em todas as combinações (Gráfico 2). As combinações com uso de água hipersalina (A3) tiveram
maior variação ao longo do tempo.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 681


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Assim como para a variável NF, o DC, nas combinações A1S1 e A2S1, obteve as maiores
médias aos 105, com valores de 3,00 e 2,82 mm, respectivamente. Constatou-se, ainda, que, na
combinação A3S1, houve pequena amplitude média dos diâmetros, sendo de 1,55 mm, aos 21 DAT,
para 1,98 mm aos 105 DAT (Gráfico 2).

Gráfico 02–Valores médios de diâmetro do caule (DC) das mudas de mangue (Laguncularia racemosa (L.)
C.F.Gaertn, 1807), cultivadas com uso de água hipersalina e substratos ao longo do tempo.
3,50
Aa
3,00 Aa Aa
Aa
Diâmetro do caule (mm)

Aa Aa Aa Aa
2,50 Aa Aa Aab Aab Ab Ab Ab Ab
Ab Ab Ab
Aa ABaABa ABaBa Aa ABb Ba
Aa Aa Aa Ba Ba Ba
Ba Ba Ba Bb
Ba Ba
2,00 Aa ABa Ba
Aa Aa Ba
1,50

1,00

0,50

0,00
21 DAT 42 DAT 63 DAT 84 DAT 105 DAT

A1S1 A1S2 A1S3 A2S1 A2S2 A2S3 A3S1 A3S2 A3S3

Nota: A1 corresponde a 0% de água hipersalina com 100% de areia de restinga (A1S1), 50% de areia de restinga + 50%
de fibra de coco (A1S2) e 75% de areia de restinga + 25% de fibra de coco (A1S3).
A2 corresponde a 5% de água hipersalina com 100% de areia de restinga (A2S1), 50% de areia de restinga + 50% de
fibra de coco (A2S2) e 75% de areia de restinga + 25% de fibra de coco (A2S3).
A3 corresponde a 10% de água hipersalina com 100% de areia de restinga (A3S1), 50% de areia de restinga + 50% de
fibra de coco (A3S2) e 75% de areia de restinga + 25% de fibra de coco (A2S3).
Para comparação pelo teste de média em cada data de avaliação deve-se ver se o fator substrato (S) em cada nível de água está representado pela cor
da barra, as médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade; o fator água (A) em cada
nível do fator substrato está representado pelo preenchimento da barra, as médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey
ao nível de 5% de probabilidade.

Comportamento contrário foi observado por Silva et al.(2008), onde a salinidade da água de
irrigação(4,7 dS.m-1) para duas cultivares, BRS Paraguaçu e BRS Energia de mamoneira
(Ricinuscommunis L.), interferiu no DC aos 80 e 100 DAS, observando diminuição do DC ao longo
do tempo. Pode-se atribuir esse comportamento contrário a esse experimento o fato de as plantas de
mangue já serem espécie adaptada a ambientes hipersalinos.
Altura da planta (AP)
O crescimento do caule, verificado no Gráfico 3, assim como o DC e NF, também
destacaram as combinações A1S1 e A2S1, aos 105 DAT. Essas combinações chegaram a valores
médios de 12,8 e 11,4 cm, praticamente o dobro dos valores médios das outras combinações que
tiveram amplitude de 0,7 cm. Já na combinação de salinidade (A2 e A3) com substrato composto
por fibra (S2 e S3) resultou em plantas que praticamente não cresceram, todas as reservas foram
provavelmente destinadas para manutenção de folhas e atividades fisiológicas.
Gráfico 03–Valores médios da altura de planta (AP) das mudas de mangue (Laguncularia racemosa (L.)
C.F.Gaertn, 1807), cultivadas com uso de água hipersalina e substratos ao longo do tempo.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 682


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

14,0 Aa
Aa Aa
12,0
Altura da planta (cm
10,0
Aa Ba
ABa
8,0 Aa Aa Aa Aa Aa
Aa Aa Aa Aa Aa Aa Aa Aa Aa Aa Ab Ba Aa Ab Ab Ab Ca Aa Aa Ab Ab Ab Ab Ba Aa Aa
Aa Aa Aa Ab Aa
Ab Ab Ab
6,0

4,0

2,0

0,0
21 DAT 42 DAT 63 DAT 84 DAT 105 DAT

A1S1 A1S2 A1S3 A2S1 A2S2 A2S3 A3S1 A3S2 A3S3

Nota: A1 corresponde a 0% de água hipersalina com 100% de areia de restinga (A1S1), 50% de areia de restinga + 50%
de fibra de coco (A1S2) e 75% de areia de restinga + 25% de fibra de coco (A1S3).
A2 corresponde a 5% de água hipersalina com 100% de areia de restinga (A2S1), 50% de areia de restinga + 50% de
fibra de coco (A2S2) e 75% de areia de restinga + 25% de fibra de coco (A2S3).
A3 corresponde a 10% de água hipersalina com 100% de areia de restinga (A3S1), 50% de areia de restinga + 50% de
fibra de coco (A3S2) e 75% de areia de restinga + 25% de fibra de coco (A2S3).
Para comparação pelo teste de média em cada data de avaliação, deve-se ver se o fator substrato (S) em cada nível de
água está representado pela cor da barra, as médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey
ao nível de 5% de probabilidade; o fator água (A) em cada nível do fator substrato está representado pelo
preenchimento da barra, as médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5%
de probabilidade.

Resultados semelhantes para a variável AP foi observado por Pedro et al. (2016) que
estudaram a tolerância à salinidade de cultivares de algodoeiro (Gossypiumhirsutum L.) com
condutividade elétrica da água de irrigação (0,0; 2,5; 5,0, 10,0 e 20,0 dS m–1), verificando que a
altura das plântulas de algodão foi afetada negativamente pelos níveis de salinidade mais altos.

Comprimento da maior raiz (R)

Pelo fato de a variável comprimento da maior raiz ter comportamento estatisticamente não
significativo na última avaliação, preferiu-se apresentar o Gráfico 4 para cada fator em separado: o
da água e outro para o do substrato. No geral o aumento no crescimento da raiz se deu em
praticamente todos os tratamentos. Nos tratamentos em que se aplicou A3 (10% de água
hipersalina) o crescimento da raiz foi pouco perceptível, passando de 16,86 cm, aos 21 DAT, para
16,92 cm aos 105 DAT, variando apenas 0,06 cm.
Esse crescimento limitado pode ter ocorrido pela alta concentração de sais na A3, salinidade
em torno de 56 dSm-1. Nessa salinidade é possível que as plantas tenham paralisado o crescimento
das raízes e de outras partes, a exemplo da altura da planta, para evitar mais gasto de energia.
Epstein e Bloom (2006) relataram que sais na solução do substrato provocam a redução do
potencial hídrico externo, dificultando a absorção de nutriente e consequentemente a formação de
novas células.
Gráfico 04–Valores médios de comprimento da raiz das mudas de mangue (Laguncularia racemosa (L.) C.
F. Gaertn, 1807), cultivadas com uso de água hipersalina e substratos ao longo do tempo- Fator água 4A e a
fator substrato 4B.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 683


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Nota: A1: água com salinidade 0,5 dS.m-1 ou 0º baumé, 0% de água hipersalina; A2: água com salinidade 29 dS.m -1 ou
2º baumé, 5% de água hipersalina; A3: água com salinidade 54 dS.m-1 ou 4º baumé, 10% de água hipersalina. S1:
substrato com 100% de areia de restinga; S2 substrato com 50% de areia de restinga + 50% de fibra de coco, S3:
substrato com 75% de areia de restinga + 25 % de fibra de coco. Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As variáveis de crescimento Diâmetro do caule (D), Número de folhas (NF) bem como
Altura da planta (AP) foram influenciadas significativamente pelo uso da água hipersalina em
interação com os diferentes substratos utilizados nos tratamentos, sendo maiores, as variáveis
associadas aos indivíduos submetidos ao tratamento com menores níveis de salinidade, ou seja, os
altos níveis de salinidade podem influenciar negativamente até mesmo indivíduos naturalmente
adaptado a condições de salinidade. No caso de se considerar o reuso de água e uma melhor
adaptação das mudas ao ambiente natural o tratamento com 100% solo de restinga e 5% de água
hipersalina obtiveram resultados com diferença significativa ao nível de 5 % probabilidade pelo
teste de tukey para as variáveis supracitadas.

REFERÊNCIAS

ALVES, J. R. P.(Org.). Manguezais: educar para proteger. Rio de Janeiro: FEMAR: SEMADS,
2001.

BABA, SHIGEYUKI; CHAN, HUNG TUCK; AKSORNKOAE, SANIT. Useful products from
mangrove and other coastal plants. ISME Mangrove Educational Book Series, v. 3, p. 45-47,
2013.

BASAK, B. B., SARKAR, B., BISWAS, D. R., SARKAR, S., SANDERSON, P., NAIDU, R.
Chapter Three-Bio-Intervention of Naturally Occurring Silicate Minerals for Alternative Source
of Potassium: Challenges and Opportunities. Advances in agronomy, v. 141, p. 115-145, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 684


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BLANCHET, G., LIBOHOVA, Z., JOOST, S., ROSSIER, N., SCHNEIDER, A., JEANGROS,
B.,SINAJ, S. Spatial variability of potassium in agricultural soils of the canton of Fribourg,
Switzerland. Geoderma, v. 290, p. 107-121, 2017.

BOCIANOWSKI, JAN; SZULC, PIOTR; NOWOSAD, KAMILA. Parallel coordinate plots of


maize traits under different magnesium applications. Journal of Integrative Agriculture, v. 14, n.
3, p. 593-597, 2015.

CARMO FILHO, F.; OLIVEIRA, O.F. Mossoró: um município do semi-árido nordestino,


caracterização climática e aspecto florístico. Mossoró: ESAM, (Coleção Mossoroense, série
B).1995. 62p.

COSTA, LUCAS RAMOS da: Uso de águas hipersalinas na produção de mudas de mangue.
Mossoró-RN. Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Fevereiro de 2015. Dissertação.
Programa de Pós-Graduação em Manejo de Solo e Água.

DONAGEMA, G. K., CAMPOS, D. D., CALDERANO, S. B., TEIXEIRA, W. G., VIANA, J. M.


Manual de métodos de análise de solos. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, v. 2, p. 230, 2011.

EPSTEIN, E.; BLOOM, A. J. Nutrição mineral de plantas: princípios e perspectivas. Londrina:


Editora Planta. 403p, 2006.

FERNANDES, R.T.V: Recuperação de manguezais, ecologia dos manguezais, 2012.

FERREIRA, DANIEL FURTADO. Sisvar: a Guide for its Bootstrap procedures in multiple
comparisons. Ciência e agrotecnologia. 2014, vol.38, n.2, pp. 109-112 . Disponível em: ISSN
1413-7054. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-70542014000200001.

MEDEIROS, SAMYLLE RUANA MARINHO DE; CARVALHO, RODRIGO GUIMARAES DE;


PIMENTA, MELISSA RAFAELA COSTA. A proteção do ecossistema manguezal a luz da lei:
12.651/2012: novos desafios para a sustentabilidade dos manguezais do rio grande do
norte. Revista Geotemas, v. 4, n. 2, p. 59-78, 2015.

MELO, ANDERSON TAVARES DE. Aspectos ecológicos da formação de um manguezal em área


de aterro hidráulico (Via Expressa Sul, Fpolis, SC), através de mapeamento. 158 f. Dissertação
(Mestrado em Biologia Vegetal) – Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Santa
Catarina. 2008.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 685


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Cuidar das Zonas Úmidas: uma resposta às
mudanças climáticas. Versão e adaptação do texto da revista comemorativa do Dia Mundial das
Zonas Úmidas 2010. 27 p. Disponível em: <www.mma.gov.br> Acesso em: 6 jun 2017.

PANHWAR, Q. A., NAHER, U. A., RADZIAH, O., SHAMSHUDDIN, J., RAZI, I. M. Bio-
fertilizer, ground magnesium limestone and basalt applications may improve chemical
properties of malaysian acid sulfate soils and rice growth. Pedosphere, v. 24, n. 6, p. 827-835,
2014.

PEDRO, Á. A., STEINER, F., ZUFFO, A. M., DOURADINHO, G. Z., DE OLIVEIRA, C.


P. Crescimento inicial de cultivares de algodoeiro submetido ao estresse salino. Revista de
Agricultura Neotropical, v. 3, n. 4, p. 32-38, 2016.

PRATES, A.P; GONÇALVES, M.A; ROSA, M. Panorama da Conservação dos ecossistemas


Costeiros e Marinhos no Brasil. 2 ed. Brasília: MMA, 2012.

SILVA, S. M., ALVES, A. N., GHEYI, H. R., BELTRÃO, N. D. M., SEVERINO, L. S., SOARES,
F. A. Desenvolvimento e produção de duas cultivares de mamoneira sob estresse salino. Revista
Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 12, n. 4, p. 335-342, 2008.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 686


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

POTENCIAL DE ADSORÇÃO DE CARVÃO ATIVADO PROVENIENTE DE


SEMENTES DA SAPINDUS SAPONÁRIA

Francisco Waslleyson Gomes REZENDE


Acadêmico de Engenharia Ambiental e Sanitária – IFCE
waslleysonr@gmail.com
Pedro Henrique Freitas OLIVEIRA
Acadêmico de Engenharia Ambiental e Sanitária – IFCE
henriquehameson@gmail.com
Marcos Danillo Rodrigues PINHEIRO
Acadêmico de Engenharia Ambiental e Sanitária – IFCE
marcosdanillo100@gmail.com
Reinaldo Fontes CAVALCANTE
Professor Orientador – IFCE
reinaldo.ifce@gmail.com

RESUMO
O carvão ativado têm sido amplamente utilizados no controle de efluentes, seja ele doméstico ou
industrial. O interesse nesse material se deve a sua alta capacidade de remover íons metálicos, além
disso, sua porosidade que fornece uma boa área superficial de contato colaborando na adsorção de
poluentes. A aplicação de carvão ativado tem se mostrado promissora, menos em relação aos altos
custos de sua produção e ativação. Por esse motivo, tem-se aumentado os esforços referentes a
estudos de novas matérias primas de fabricação que torne menos oneroso todo esse processo. Esse
contexto mostra a importância do referido estudo análise do potencial de fabricação de carvão
ativado a partir de sementes de sabonete (Sapindus saponária). Muitas sementes da Caatinga tem
demonstrado bons potenciais adsortivos ao serem utilizadas como matéria prima para a produção de
carvão ativado, apontando resultados satisfatórios quanto a adsorção de substâncias presentes em
água. Com isso, pode-se perceber que a semente Sapindus saponária, assim como de outras
espécies nativas da caatinga apresenta potencial de adsorção que vale a pena ser investigado.
Palavras-chave: Resíduos florestais, Efluentes, Filtração.

ABSTRACT
Activated carbons have been widely used in effluent control, be it domestic or industrial. This
material has been widely used because of its high ability to remove metallic ions and its porosity
which provides a good contact surface area. The application of activated carbon has shown to be
promising, less in relation to the high costs of its production and activation. For this reason, efforts
have been made to study new raw materials and manufacturing, which will make the whole process
feasible and less costly, which shows the importance of this study of the coal production from soap
seeds (Sapindus saponaria). Many Caatinga seeds have shown good adsorptive potentials when
used the raw material for the production of activated carbon. Thus, Sapindus saponaria, as well as
other native species of the caatinga, has an adsorption potential that is worth investigating.
Keywords: Forest residues, Effluents, Filtration.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 687


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

Fertilizantes agrícolas, esgoto doméstico, má alocação de resíduos e efluentes industriais


estão entre as principais fontes de matéria orgânica em cursos de água e reservatórios, causando
problemas ambientais como a eutrofização, que é o processo de fertilização excessiva da água por
recebimento de nutrientes como o nitrogênio e fósforo que causam o crescimento descontrolado de
algas, cianobactérias e plantas aquáticas, escassez devido à perda de características básicas de
potabilidade e até mesmo de saúde, provocando a proliferação de microorganismos que podem
causar a morte da biota aquática e por sua vez, causarem doença ao homem tornando a água
inutilizável.

Os impactos ambientais e sociais da degradação da qualidade das águas têm reflexos


econômicos, nem sempre mensurados, tais como o aumento do custo de tratamento das
águas destinadas ao abastecimento doméstico e ao uso industrial, o aumento de custos
hospitalares com internações, a perda de produtividade na agricultura e na pecuária, a
redução da pesca, a perda da biodiversidade e a perda de valores turísticos, culturais e
paisagísticos. (FUNASA,2014).

Uma solução viável para efluentes seja ele doméstico ou industrial, para uso agrícola ou da
piscicultura e até para o processo de filtragem da água usada para fins humanos é o carvão ativado.
Esse material é amplamente utilizado devido sua alta capacidade de remover íons metálicos devido
sua porosidade que fornece uma alta área superficial e sua afinidade com compostos orgânicos,
agrotóxicos, cobre, cromo, cádmio, chumbo, entre outros (Peruzzo, 2003; Chen & Wu, 2004;
Lyubchik et al, 2004; Youssef et al, 2003).
Outro ponto válido em relação a utilização de carvão ativado é sua susceptibilidade de
modificação de superfície que fornece uma variabilidade maior de aplicações, podendo ser alterado
dependendo da substância no qual irá adsorver. Além disso, suas características variam de acordo
com o tamanho, volume e distribuição dos poros e a presença de diferentes grupos funcionais em
sua superfície (OCAMPO-PEREZ, 2010).
A aplicação de carvão ativado tem se mostrado promissora, menos em relação aos altos
custos de sua produção e ativação. Por esse motivo, tem se aumentado os esforços referentes a
estudos de novas matérias primas e de fabricação, que tornem mais viável e menos oneroso todo
esse processo, o que mostra a importância do referido estudo de fabricação de carvão a partir de
sementes de Sapindus saponaria.

CARVÃO ATIVADO

O carvão ativado (CA) é um material rico em carbono, com estrutura altamente porosa onde
ocorre a maior parte do processo de adsorção. Devido a sua porosidade elevada, o CA oferece uma
grande superfície de contato colaborando com a adsorção de moléculas tanto em fase líquida quanto

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 688


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

gasosa. Suas propriedades variam de acordo com a matéria-prima utilizada, do processo e do tempo
de ativação utilizados, além da forma final do carvão.

De acordo com a União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC), o carvão


ativado possui uma rede interconectada de poros com diâmetros classificados como
macroporos (acima de 50 nm), mesoporos (2-50 nm), microporos secundários (0,8-2
nm) e microporos primários (menores que 0,8 nm) (PELEKANI & SNOEYINK, 2000).

Os carvões ativados podem ser usados para purificar, desintoxicar, desodorizar, filtrar,
descolorir, declorificar, remover ou modificar sabor e concentração de uma infinidade de materiais
líquidos e gasosos. Além disso podem ser fabricados por uma grande variedade de matérias primas
contanto que sejam substâncias altamente carbônicas como madeira, endocarpo de coco,
sementes, ossos de animais, petróleo, carvões minerais, plástico, pneus, lignita e material
betuminoso (FERNANDES, 2010).
A produção de carvão ativado é realizada em duas etapas: a carbonização da matéria-prima e
a ativação do material carbonizado (MOLETTA, 2011). Na primeira etapa é realizada a
carbonização processo onde o material é submetendo à elevadas temperaturas (acima de 400ºC)
onde ocorre a remoção de compostos voláteis e gases leves como CO, H2, CO2 e CH4 (Claudino
2003, Mohan e Pittman, 2006). Sobram os elementos minerais e um esqueleto carbonizado,
com massa fixa de carbono, com área superficial específica pequena (algumas dezenas de
m2 g-1), pois possui estrutura porosa rudimentar (FERNANDES, 2010).
Na segunda fase ocorre a ativação, com o intuito de garantir o aumento da porosidade do
carvão ativado, podendo a mesma ser de natureza física ou química (MOLETTA, 2011). Na
ativação física são usados agentes oxidantes de gases como o vapor de água, CO2 ou uma mistura
destes dois gases, após a carbonização. Com isso são formadas estruturas porosas e finas que
tornam os carvões produzidos, apropriados para o uso em processo de adsorção gasosa. A ativação
química consiste no uso de cloreto de zinco (ZnCl2) e ácido fosfórico (H3PO4) no material
ainda não carbonizado, gerando carvões com poros maiores, mais apropriados a aplicações em
fase líquida (OCAMPO-PEREZ, 2010)

POTENCIAL DE USO DA SABONETE PARA PRODUÇÃO DE CARVÃO ATIVADO

O sabonete (Sapindus saponaria) ocorre da Região Amazônica até Goiás e Mato Grosso,
nas florestas pluviais e semidecíduas e também na caatinga. O sabonete é uma árvore que não tolera
sombreamento, possuindo pequeno porte, atingindo até 8 m de altura (Pereira, 2011), a planta tem
período de floração entre abril e junho e a maturação dos frutos ocorrendo entre setembro e outubro.
A semente de Sapindus saponaria é rígida e de difícil decomposição podendo passar até
anos para sua decomposição completa na natureza, pensando nisso e na problemática da qualidade

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 689


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

de água para consumo humano principalmente por compostos orgânicos acredita-se no potencial de
adsorção do carvão ativado feito das sementes de sabonete.
Muitas sementes da Caatinga tem demonstrado bons potenciais adsortivos ao serem
utilizadas como matéria prima para a produção de carvão ativado. No trabalho de Guerra et. al.,
(2015) o carvão ativado produzido a partir de sementes de Juá mostraram-se eficientes na remoção
de corante têxtil em solução, com percentual de remoção observado de 75%.
O estudo de Neres et. al. 2014 sobre produção de CA a partir de sementes apresentou como
resultado remoção de 25,74% de resíduos presentes em água. Assim como esse trabalho, a pesquisa
de Postai, 2013, utilizando carvão ativado obtido de resíduos florestais de Aleurites moluccana para
adsorção de corantes que mostrou que o material utilizado além de apresentar baixo custo, é eficaz
na remoção de corantes catiônicos em águas residuais.
Rocha et. al., (2006) realizou testes adsortivos com carvão ativado proveniente de sementes
de goiaba onde foram demonstrados resultados que comprovaram a aplicabilidade desse material
gerado como adsorvente, sendo que os dados obtidos para a semente de goiaba foram próximos ao
da capacidade adsortiva do carvão ativado industrial.
Todos esses estudos demonstram a grande diversidade de materiais provenientes de resíduos
florestais aptos de produzir carvão ativado, devido as características vegetais de propensas a
adsorverem uma grande variedade de gases e líquidos poluentes, isso confirma que a Sapindus
saponária pode ter grande potencial de adsorção e ser utilizada como material de baixo custo para
produção de CA (Neres et. al. 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização de resíduos provenientes de sementes para a produção de carvão ativado têm


sido amplamente testados e os resultados tem se mostrado bastante satisfatórios. Alguns fatores
como densidade, umidade e granulometria da semente podem ser investigados como ponto de
partida para a comprovação da capacidade de adsorver compostos por sementes. Resultados como
de Rocha, 2006 e Guerra et. al. 2015, mostraram alta eficiência das sementes na produção de carvão
ativado, com destaque para esse resíduo florestal oriundo da Caatinga. Com isso, pode-se perceber
que a semente Sapindus saponária, assim como de outras sementes de espécies nativas da caatinga,
apresenta potencial de adsorção que vale a pena ser investigado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE JÚNIOR, Eden. Carvão ativado do mesocarpo do coco


verde-produção, otimização e aplicação na adsorção do corante Remazol black B. 2002.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 690


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Coelho, Thalia Camila, Estudos de adsorção de cobre II em micro esferas de quitosana reticuladas
com epicloridrina e impregnadas heparina, Florianópolis, 2006, p 24.

Postai, Debora Luiza. Adsorção de corantes com os resíduos das sementes de Aleurites moluccana
L. WILLD (EUPHORBIACEAE). Itajaí, 2013.

FERNANDES, Kendra AN; SANTOS, F. A.; BRUN, G. W. Uso de carvão ativado de endocarpo
de coco no tratamento de água. Salão de Iniciação Científica PUCRS, XI, p. 3, 2010.

Fundação nacional de saúde, FUNASA, Manual de controle da qualidade da água para técnicos
que trabalham em ETAS, Brasília, 2014, p 46-47.

Gonçalves, Gilberto da Cunha, S. Mendes, C. Pereira, C. de Sousa, Produção de carvão ativado a


partir de bagaço e melaço de cana-açúcar, Maringá 2006.

Guilarduci, Viviane Vasques da Silva , João Paulo de Mesquita, Patrícia Benedini Martelli e
Honória de Fátima Gorgulho, adsorção de fenol sobre carvão ativado em meio alcalino, São
João del Rei, 2006.

HEYLMANN, Kelly Kathleen Almeida. Produção, caracterização e aplicação de carvão ativado


de caroço de pêssego no tratamento de efluente têxtil.

JUNIOR, ORLANDO FERREIRA CRUZ. Produção de carvão ativado a partir de produtos


residuais de espécies nativas da região amazônica. Manaus: Universidade Tecnológica Federal
do Paraná, 2010.

MOLETTA, Nathalia Rodrigues. Caracterização e aplicação de carvão ativado produzido a partir


de biomassa amilácea. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Tecnológica
Federal do Paraná.

Neres, Nathana Gomes Cardoso et. al. Produção de carvão ativado a partir de cascas de sementes
de seringueira e de castanha do Pará. Manaus: Universidade Federal de Tocantis, 2014.

OCAMPO-PEREZ, R. et al. Modeling adsorption rate of pyridine onto granular activated carbon.
Chemical Engineering Journal, v. 165, n. 1, p. 133-141, 2010.

PELEKANI, Costas; SNOEYINK, Vernon L. Competitive adsorption between atrazine and


methylene blue on activated carbon: the importance of pore size distribution. Carbon, v. 38, n.
10, p. 1423-1436, 2000.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 691


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Pereira, E. Nascimento, carvão do caroço de açaí (Euterpe oleracea) ativado quimicamente com
hidróxido de sódio (NaOH) e sua eficiência no tratamento de água para o consumo, Moju, 2013.

Pereira, Magnum de Sousa. Manual técnico. Conhecendo e produzindo sementes e mudas da


caatinga. Fortaleza: Associação Caatinga, 2011 p 47.

Pereira, R. Gonçalves, Síntese de carvões ativados a partir de resíduos agroindustriais e sua


aplicação na adsorção de proteínas do soro do leite, Itapetinga, 2012, p15.

ROCHA, Welca Duarte da et al. Adsorção de cobre por carvões ativados de endocarpo de noz
macadâmia e de semente de goiaba. Rem: Revista Escola de Minas, v. 59, n. 4, p. 409-414,
2006.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 692


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

DIAGNÓSTICO DOS RESIDUOS SÓLIDOS DE UM LABORATÓRIO DE ANÁLISES


CLÍNICAS

Geversson Pinheiro Dias Fernandes de MORAIS


Graduando do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFERSA
geversson93@gmail.com
Gabriela Valones Rodrigues de ARAÚJO
Docente do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFERSA
gabriela.valones@ufersa.edu.br

RESUMO
Pouco têm sido estudado sobre o gerenciamento adequado e a produção de resíduos de serviços de
saúde no semiárido potiguar, inclusive acerca da exponencial elevação da procura e demanda por
tais serviços (que multiplicou o números de laboratórios e serviços correlatos no município), como
também, os riscos inerentes ao manejo inadequado e a legislação vigente que estabelece que todo
gerador deve se responsabilizar pelo resíduo que gera. Diante do exposto, a presente pesquisa
buscou realizar um diagnóstico com base no manejo, segregação e acondicionamento dos resíduos
gerados em um laboratório de análises clínicas de Pau dos Ferros, afim de verificar a
compatibilidade da disposição final com base nos parâmetros definidos pela RDC ANVISA nº 306
de 2004. Trata-se de estudo descritivo, cujos dados foram coletados por meio de observação. A
partir dos resultados obtidos, verificou-se pontos de adequação e inadequação do laboratório quanto
ao gerenciamento dos resíduos gerados.
Palavras-chave: Resíduos Sólidos da Saúde, Gerenciamento, Disposição Adequada, Semiárido
Potiguar.

ABSTRACT
Little has been studied about the adequate management and production of waste health services in
the semi-arid region, including the exponential increase in demand and demand for such services
(which multiplied the number of laboratories and related services in the municipality) The inherent
risks of inadequate management and the current legislation that establishes that all generators
should be responsible for the waste they generate. In view of the above, the present research sought
to make a diagnosis based on the management, segregation and conditioning of the waste generated
in a laboratory of clinical analyzes of Pau dos Ferros, in order to verify the compatibility of the final
disposal based on the parameters defined by the RDC ANVISA nº 306 of 2004. This is a descriptive
study, whose data were collected through observation. From the obtained results, it was verified
points of adequacy and inadequacy of the laboratory regarding the management of the generated
residues.
Keywords: Solid Waste of Health, Management, Adequate Disposal, Semi-Arid Potiguar.

INTRODUÇÃO

A geração de resíduos sólidos provenientes das atividades humanas, representam um dos


grandes desafios para a implementação da gestão ambiental na maioria das cidades brasileiras, o
município de Pau dos Ferros/RN também, enfrenta este desafio, levando em consideração que não

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 693


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

há um manejo adequado dos Resíduos Sólidos (RS). Segundo o Manual de Gerenciamento dos
Resíduos de Serviços de Saúde da ANVISA (2006), o descarte de forma inadequada dos Resíduos
dos Serviços de Saúde (RSS), representam um dos maiores riscos de potenciais de contaminação no
meio ambiente, bem como, a saúde da população em geral.
Severo apud. Rizzon (2015, p.41) diz que os Resíduos dos Serviços de Saúde, são
compostos por diferentes divisões, sendo elas desde material perfurocortante, contaminado com
agentes biológicos; produtos químicos, tóxicos e materiais perigosos até resíduos alimentares. Com
base na RDC ANVISA nº 306 de 2004, o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de
Saúde deve atender as normas locais da coleta, transporte e disposição final dos resíduos gerados
pelos órgãos locais, dando ênfase no manejo desse material, ou seja, ao gerenciamento dos resíduos
tanto externamente quanto internamento dos seus locais de estabelecimentos, bem como a geração e
disposição final, que acaba englobando as etapas de segregação, que é a separação dos resíduos de
acordo com suas características, sejam elas físicas, químicas, biológicas, e a parte de
acondicionamento que consiste na embalagem dos resíduos segregados, sejam em sacos, caixas ou
em recipientes que evitem vazamentos dos mesmos.
Com isso, objetivou-se com este estudo, realizar um diagnóstico com base no manejo,
segregação e acondicionamento dos resíduos gerados em um laboratório de análises clínicas de Pau
dos Ferros, afim de verificar a compatibilidade da disposição final com base nos parâmetros
definidos pela RDC ANVISA nº 306 de 2004.

METODOLOGIA

a) Descrição do tipo de pesquisa

Segundo Gil (2008), a pesquisa apresenta caráter: hipotético dedutivo, pois há a criação de
uma hipótese, que busca por fim uma comprovação e de com o objetivo exploratório, ou seja, expor
um conhecimento sobre um determinado fato, ou acontecimento, envolvendo levantamento
bibliográfico, documental e entrevistas não padronizadas.

b) Procedimentos para conhecer os resíduos sólidos gerados pelo laboratório

Para a realização da pesquisa, inicialmente foram realizados estudos bibliográficos que


abordassem assuntos referentes a resíduos sólidos, em ênfase a Resíduos dos Serviços de Saúde,
assim como os parâmetros para disposição final dos mesmo com base nas atuais legislações e
normas vigentes.
A pesquisa documental se deu mediante a coleta de dados, disponibilizados pelo responsável
pela administração do Laboratório ―X‖ que cedeu dados referentes a média de número de exames

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 694


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

que eram realizados mensalmente, sejam exames de sangue ou de urina, como também
disponibilização dos dados referentes ao manejo e quantidade de resíduos gerados pelo laboratório
pelo responsável da manutenção e limpeza dos setores do órgão local, assim como a pesquisa com
os funcionários que realizam a limpeza do setor supracitado.
Com a coleta de dados foi feito uma análise de todo material, afim de uma fundamentação
que buscasse comparar a atual situação de disposição do laboratório com a situação exigida pelos
órgãos da Saúde e Meio Ambiente.

c) Descrição da área de estudo

O Laboratório de Análises Clínicas (Figura 01) funciona na cidade de Pau dos Ferros/RN
desde o ano de 1989, atendendo todas as cidades circunvizinhas da região. São realizados exames
de sangue, como: ácido úrico, amilase, creatina, hemograma, glicose, BETA HCG, VDRL,
plaquetas, dentre outros, bem como o SUMÁRIO/EAS, referente ao exame de urina. É classificado
como de grande porte, do segmento público e possui quadro de funcionários constituído por 08
(oito) bioquímicos, e 22 (vinte e dois) técnicos operantes em patologia, análises clinicas, ou
enfermagem. O laboratório é caracterizado, segundo a CONEMA Nº 04/2006 de Potencial Poluidor
/ Degradador: MÉDIO.

Figura 01: Laboratório. Fonte: Própria, 2017.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A definição quanto à condição ou não de recuperação dos resíduos gerados, bem como, sua
separação foi baseada a partir da classificação estabelecida pela ANVISA acerca dos RSS (Tabela
01); diante da categorização realizada buscou-se tomar decisões referente ao tratamento e/ou
disposição final adequados (RÊGO, 2014).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 695


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Resíduos com a possível presença de agentes biológicos podendo apresentar riscos


GRUPO A de infecção.

Resíduos com substâncias químicas que podem apresentar características de riscos


GRUPO B inflamáveis, corrosivas, reativas e toxicas à saúde pública ou ao meio ambiente.

Resíduos gerados das atividades humanas que contenham radionucleídeos em


GRUPO C quantidades superiores aos limites estabelecidos nas normas da Comissão Nacional
de Energia Nuclear.
Resíduos que não apresentam riscos biológico, químico ou radiológico à saúde ou
GRUPO D ao meio ambiente, podendo ser assimilados aos resíduos domiciliares.

GRUPO E Materiais perfurocortantes ou escarificantes.

Tabela 1: Grupos de a classificação dos RSS. Fonte: Própria, 2017.

O laboratório gera resíduos dos grupos A, B, D e E (Figura 02), produzidos pela realização
de exames de sangue e de urina. Com base no levantamento do mês de julho de 2017, foram
realizados 14.132 exames de sangue e 150 coletas de urina. Esta quantidade de exames não refere-
se a quantidade de coleta, no qual uma coleta de sangue, poderá servir para a realização de diversos
exames, entretanto para a obtenção dos resultados dos exames nem sempre são utilizados as
mesmas placas e tubos, podendo uma coleta resultar em até 08 exames, segundo uma técnica
presente durante o levantamento dos dados.
Após o levantamento da quantidade de exames realizados, foi questionado quanto ao manejo
dos materiais após a sua utilização, no qual foi dito que os materiais do grupo A e B são
acondicionados sacos plásticos especiais, tratados como materiais infectantes; o grupo D, são
acondicionados em sacos plásticos pretos e o grupo E são acondicionados em caixas que após
atingirem a capacidade estabelecida na embalagem, são vedadas e destinadas para os pontos de
coleta do órgão local.

Figura 02: Sacos plásticos com materiais do grupo D. Fonte: Própria,2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 696


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Os resíduos dos grupos A, B e E (Figura 03 e 04), são coletados duas vezes por semana por
uma empresa terceirizada, especializada em resíduos hospitalares, já os do grupo B são coletados 3
vezes por semana por uma empresa terceirizada pela prefeitura da cidade em coletar resíduos do
mesmo grupo em todo o município. Os resíduos A, B e E necessitam de tratamento específico,
assim como destinação, já os resíduos do grupo D podem ser destinados ao lixão da cidade.

Figura 03: Sacos plásticos com materiais A e B. Fonte: Própria ,2017.

Figura 04: Caixa para acondicionamento de materiais do grupo E. Fonte: Própria, 2017.

O laboratório é limpo 01(uma) vez ao dia, e o material é recolhido 02 vezes ao dia, não foi
possível informar a quantidade de lixo gerada pelo laboratório, entretanto, no hospital no qual o
laboratório opera, são gerados aproximadamente 1.200kg por semana.
O RSS é coletado em diversos pontos do laboratório, tendo em vista o local de descarte
específico para cada um dentro do setor. Os resíduos do grupo D, são colocados em sacos plásticos
pretos de 100L (Figura 05); os resíduos do grupo A e B, são colocados em sacos plásticos brancos
com a descrição ―lixo infectante‖ na sua embalagem, alertando assim as pessoas que o transportam
e os resíduos do grupo E, são colocados em caixas de papelão grosso, com tonalidade amarela e
descrição em suas laterais do tipo do material, com capacidade de 7L.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 697


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 05: Depósitos dos materiais do grupo D. Fonte: Autor,2017.

Referente à disposição final dos resíduos, tanto o responsável do laboratório, quanto o


responsável pela manutenção e limpeza dos setores do órgão local, não souberam informar qual a
finalidade dos resíduos gerados, com exceção dos resíduos do grupo D, que segundo os mesmos são
depositados no lixão do município, quanto aos demais resíduos foi enfatizando apenas a
responsabilidade da empresa para a função de tratamento e disposição final.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da análise dos dados, podemos perceber que a segregação dos materiais de grupos
A,B, D e E, são feitos de maneiras exigidas pela RESOLUÇÃO RDC Nº 306, DE 7 DE
DEZEMBRO DE 2004, entretanto o seu acondicionamento para coleta, apresenta algumas
divergências, tais como os pontos de coleta dos materiais de grupo A e B, nas quais os depósitos
deveriam estar fechados, entretanto, com a visita in loco, pode se perceber, que os recipientes de
acondicionamentos desses materiais estavam abertos, bem como parte destes materiais estavam
dispersos nas localidades dos recipientes, o que representa uma forma tanto de periculosidade para
o meio ambiente quanto para as pessoas que ali trabalham, ouro fator no acondicionamento desses
materiais foi a presença de resíduos líquidos no chão, supostamente vazados dos recipientes, o que
mostra a sua fragilidade e descuido dos responsáveis pela manutenção desses resíduos.
Quanto a suposta deposição do resíduo do grupo D, no lixão a céu aberto da cidade,
podemos constatar também, a inadequação desta disposição, o qual seria recomendado após o
tratamento dos resíduos deste grupo suscetíveis a reutilização ou reciclagem, o que não atendem os
padrões destes tipos de reuso, fossem depositados em aterro controlados, pois o gerenciamento dos
RSS, não está relacionado apenas as empresas de coleta e disposição final, mas sim na participação
da comunidade quanto a idealização e execução de uma gestão ambiental, não apenas relacionado
aos RSSS, mas sim em relação à produção de todos os tipos de resíduos (RIZZON,2015).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 698


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Diante disso, é de suma importância a educação ambiental nos currículos de todo cidadãos,
despertando assim, um discernimento ecológico para que possa haver transformações significativas
na forma como cada um lida com o meio ambiente, e para que os limites com o manejo dos
Resíduos de Serviços de Saúde, possam ser respeitados e sua produção minimizada, além de que, o
manejo desses instrumentos se dá por etapas, na qual se necessita de prudência e conhecimento para
a realização de cada um dos procedimentos do processo (BORGES,2017).

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA (Brasil). Dispõe sobre o


regulamento técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Resolução RDC nº
306, de 07 de dezembro de 2004. D.O.U de 10 de dezembro de 2004.

BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de


gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

BORGES, Nelma do Carmo Fernandes et al. Planos de gerenciamento de resíduos de serviços de


saúde: uma análise sobre conhecimento e qualificação dos colaboradores. Revista Brasileira de
Geografia Médica e da Saúde, Uberlândia, v. 13, p.14-23, 2017.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

RÊGO, G. S. Diagnóstico preliminar do sistema de gestão dos resíduos de serviços de saúde da


liga norte riograndense contra o câncer: policlínica. Holos, [s.l.], v. 4, p.72-77, 2014.

RIZZON, F.; NODARI, C. H.; REIS, Z. C. dos. Desafio no Gerenciamento de Resíduos em


Serviços Públicos de Saúde. Revista de Gestão em Sistemas de Saúde, [s.l.], v. 04, n. 01, p.40-54,
2015.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 699


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

IMPACTOS DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DECORRENTES DO


CRECIMENTO POPULACIONAL

Gustavo Leite GONÇALVES


Graduando de Bacharelado em Ciência e Tecnologia – UFERSA
legustavog@gmail.com
Otávio Paulino LAVOR
Professor Dr. - UFERSA
otavioplavor@gmail.com

RESUMO
Concomitante ao crescimento populacional, a geração de resíduos sólidos avança como uma
progressão geométrica, acarretando assim, muitas vezes, em impactos irreversíveis, tanto ao meio
ambiente, quanto à saúde humana. Desta forma, objetivou-se analisar a partir do modelo
matemático de Verhulst, como a população tende a crescer exponencialmente e de que modo isto
está associado à geração de resíduos sólidos. A partir das observações, verificou-se que a má
disposição de resíduos sólidos, em virtude da expansão populacional, ocasiona mau cheiro,
desvalorização de imóveis, proliferação de vetores e contribuem para a ampliação do efeito estufa.
Com isso, por meio de conferências, acordos e criação de novas tecnologias, podem-se minimizar
os impactos oriundos do descarte inadequado dos resíduos sólidos, bem como promover planos e
propostas que visem o desenvolvimento sustentável.
Palavras chave: Resíduos Sólidos, Modelagem Matemática, Impactos ambientais.

ABSTRACT
Concomitant with population growth, a generation of solid waste advances as a geometric
progression, often leading to irreversible impacts on both the environment and human health. In this
way, we aimed to analyze from the mathematical model of Verhulst, as a population tends to grow
exponentially and that is a stage for solid waste generation. From the observations, it was verified
that it is a disposal of solid residues, due to population expansion, occasion of bad smell, property
devaluation, proliferation of vectors and contributions to a greenhouse expansion. With this,
through conferences, Classification and creation of new technologies, the impacts from solid waste
disposal can be minimized, as well as the promotion of plans and proposals for sustainable
development.
Keywords: Solid Waste, Mathematical Modeling, Environmental Impacts.

INTRODUÇÃO

Singularmente a partir de 1970, as discussões no âmbito das ciências econômicas


acompanharam o debate mundial sobre a responsabilização dos estilos de vida e práticas de
consumo para os problemas ambientais globais, com eventos como a Rio92 e a Agenda 21.
Para Godecke, 2012, a dificuldade dos povos mudarem seus padrões de consumo, entre
outros fatores, está provocando impactos ambientais irreversíveis. Só nos últimos 40 anos estima-se
que o planeta tenha perdido 30% da sua biodiversidade, sendo que os países tropicais são os mais

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 700


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

afetados, tendo perdido 60% da fauna e flora originais. Com relação aos Resíduos sólidos, o grau
dos impactos pode ser analisado a partir dos volumes de geração, associados ao nível de eficácia da
sua gestão e aos malefícios que podem acarretar.
A baixa eficácia da Geração de resíduos brasileira fica comprovada na comparação com
países desenvolvidos, a exemplo da Holanda, onde 39% dos resíduos são reciclados, 7% são
aproveitados pela compostagem e outros 42% são utilizados para recuperação energética, restando
apenas à fração de 12% para disposição em aterros sanitários. No Brasil, 11% dos resíduos gerados
sequer são coletados. Da parcela coletada, aproximadamente 43% são destinados a lixões ou
aterros.
Segundo dados da ABRELPE, o total mundial de resíduos sólidos produzidos nas cidades é
de 1,3 bilhões de toneladas por ano, ou 1,2 kg por dia para cada habitante. Cerca de metade dessa
quantidade é produzida nos países da OCSE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico, que inclui 34 países). Estima-se que em 2025 esses valores alcancem 2,2 bilhões de
toneladas, com a China que vai aumentar de três vezes a sua quantidade (de 520 milhões de
toneladas para 1,4 bilhões).
Os Estados Unidos da América ficam em primeiro lugar neste ranking nada sustentável, produzindo
mais de 2,5 kg de resíduos, em média, para cada habitante diariamente. Na Noruega também é alcançado
estes níveis. A Itália produz cerca de 89.000 toneladas de resíduos por dia, 2,23 kg per capita (considerando
apenas a população urbana, cerca de 40 milhões de pessoas), com a previsão de uma leve redução (86.500
toneladas) em 2025.
Por conseguinte, faz-se necessário uma avaliação do ritmo de crescimento populacional em razão do
modelo matemático de Verhulst, levando em conta a sua relação com a geração de resíduos sólidos e o modo
como isto interferirá de maneira negativa no meio e suas consequências.
METODOLOGIA
Para (Tavoni, 2013), um dos modelos de crescimento populacionais mais conhecidos é do
economista inglês Thomas Malthus, que foi apresentado em 1798. O modelo admitia que a
proporção em que a população qualquer cresce em um instante t é relacionada com o número da
mesma população naquele presente t0.
A afirmação de Malthus era que a variação do número de indivíduos N(t) estaria relacionada
com a subtração do número de nascimentos e o número de mortes em um instante t.

Onde,

Quando o dt→0,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 701


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Pode-se obter a solução da equação diferencial ordinária acima pelo método de separação de

variáveis, onde, pelo modelo genérico, , logo:

Em um instante , que pode substituir a constante , perfazendo:

A solução para essa equação depende de valores de e e seu gráfico terá a mesma
forma que o gráfico da função , porém este modelo não apresenta uma situação real, visto
que não leva em consideração a influência de fatores que interferem na sobrevivência e
crescimento.
Em 1837, Verhulst modificou o modelo de Malthus e adicionou esse fator limitante,
chamado de população limite L, que seria uma quantidade máxima de habitantes de uma população,
levando em conta a quantidade máxima de alimentos que se pode produzir, , alimentos
A taxa de variação deve ser proporcional à fração da população ainda não utilizada,
chamada fator de crescimento.

Assim obteve-se a EDO,

Nota-se que quando N(t) , , assemelhando-se ao modelo inicial de

Malthus, entretanto, quando a população estiver próxima de atingir o valor máximo

então , ou seja, a população começa a decrescer.

A EDO pode ser reescrita da seguinte maneira:

Sendo classificada como não-Linear, visto que N=N(t) aparece com expoente diferente de 1.
Ainda pelo método de substituição de variáveis pode-se solucionar a EDO, notando que:

* ( )+

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 702


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

∫ ∫ ∫

( )

Quando

( )

Finalmente, o crescimento populacional pode ser descrito como sendo:

( )

Assim fica explícito que quando o instante , que é a quantidade de


habitantes da população enquanto a capacidade máxima de produção de alimentos é suficiente.
Esse método é usado principalmente para ambientes controlados, como culturas de bactérias,
pois a população humana pode sofrer interferências que não são possíveis de se prever, como
catástrofes naturais, epidemias, guerras, entre outras ocorrências.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O gráfico da equação gerado pelo estudo de Verhults, uma assíntota horizontal para curva
sigmoide, como o modelo da figura abaixo, de uma cultura de bactérias criada em placa de petri.

Figura 1: Quantidade de bactérias na cultura, segundo o modelo de Malthus.


Fonte: http://www.rc.unesp.br/biosferas/Art0060.html

A Figura 2 mostra o crescimento populacional do planeta e uma projeção até 2100.


Comparando com a primeira parte da Figura 1, nota-se certa semelhança com modelo do gráfico da
Figura 2, mostrando que apesar das interferências ao longo dos anos, o crescimento é aproximado
com a construção teórica apresentada.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 703


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 2: Crescimento populacional ao longo dos anos e projeção até 2100. Fonte: Autoria Própria

Para o presidente da Iswa, David Newman, a população, além de crescer rapidamente desde
o século passado, também tem cada vez mais acesso à renda, o que aumenta o consumo e a
produção de lixo. Os Países desenvolvidos produzem uma quantidade de resíduos maior, porque
tem níveis mais elevados de consumo. À medida que os países vão se tornando mais ricos, há uma
redução gradual dos componentes orgânicos no lixo. A proporção de plásticos, metais e papel no
lixo doméstico fica maior.

Riqueza = mais lixo

O crescimento populacional é regido por fatores relacionados com o desenvolvimento


social, acesso à saúde, ritmo de vida, mudanças culturais, religiosas e catástrofes naturais,
principalmente. Este crescimento se dá de forma exponencial, saltando para valores exorbitantes
nos últimos séculos, comparando com o início e desenvolvimento da civilização.

Os principais malefícios decorrentes das destinações finais inadequadas dos resíduos


sólidos urbanos estão aqueles que afetam a população de entorno dos locais de deposição
dos resíduos sólidos e outros, relativos à saúde humana, poluição ambiental e ao clima.
(Godecke, 2012)

Godecke, 2012 cita o mau cheiro, redução do bem-estar, desvalorização dos imóveis e o
desgabo da paisagem como resultados decorrentes da acumulação em locais inapropriados. A
absorção de metais pesados provenientes do descarte de lixo eletrônico, pilhas, baterias, lâmpadas
fluorescentes, etc, são causadoras de desordem na saúde humana, bem como macro e microvetores
que se proliferam nos lixões, além dos materiais particulados e gases cancerígenos emitidos nas
incinerações dos resíduos.
A atmosfera também é impactada pela concentração de gases provenientes da decomposição da
matéria orgânica presente no lixo, dando procedência ao efeito estufa, causando mudanças climáticas

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 704


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

drásticas, onde lugares de temperaturas extremamente frias sofrem elevações e áreas úmidas enfrentam
períodos de estiagem; Calotas de gelo localizadas nos polos sofrem derretimento e, consequentemente,
provocam uma elevação global nos níveis dos oceanos. Além disso, o fenômeno pode levar áreas cultiváveis
e férteis a entrar em um processo de desertificação. Há o aumento significativo na incidência de grandes
tempestades, furacões ou tufões e tornados. A fauna e a flora em domínios distintos do planeta são perdidas
com o desequilíbrio dos ecossistemas.

CONCLUSÃO

Diversos estudos, teorias, análises e o dia a dia areiam as nossas caras com as consequências
da geração descontrolada e descarte inadequado de resíduos. Felizmente, com as conferências,
encontros, acordos e consciência ambiental que está surgindo, a população e os governantes estão
buscando maneiras de amenizar esses efeitos, como programas de descarte correto e a reciclagem e
reutilização de materiais descartados. Cerca de 1,5 mil usinas térmicas estão espalhadas pelo mundo
atualmente, elas utilizam o lixo para gerar energia ou calor em 35 países. Japão, alguns países da
Europa, China e EUA são líderes na lista dos produtores deste tipo de energia, reduzindo em torno
de 10% o volume do lixo que entra, transformado em cinzas que podem ser aproveitadas como base
de asfalto ou na construção civil. No processo, produzem energia elétrica, vapor, água gelada e
combustível. Já a compostagem tem sido incentivada principalmente na Europa Ocidental. No
Brasil, há o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que Institui a responsabilidade compartilhada dos
geradores de resíduos: dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e
titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na Logística Reversa dos resíduos e
embalagens pré-consumo e pós-consumo.

REFERÊNCIAS

ABRELPE. PANORAMA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 2015. 2015. Disponível em:
<http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2015.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2017.

ALVES, José Eustáquio Diniz. Enxame Humano? 2013. Disponível em:

<http://www.ufjf.br/ladem/2013/09/28/enxame-humano-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/>.
Acesso em: 15 mar. 2017.

GALEFFI, Carlo. Quem produz mais lixo no mundo. 2013. Disponível em:
<http://www.portalresiduossolidos.com/quem-produz-mais-lixo-no-mundo/>. Acesso em: 20
mar. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 705


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

GODECKE, Marcos Vinicius; NAIME, Roberto Harb; FIGUEIREDO, João Alcione Sganderla. O
CONSUMISMO E A GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO BRASIL. 2012.
Disponível em: <http://web-resol.org/textos/6380-33840-2-pb-2.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2017.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Gestão de Resíduos. Disponível em:


<http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/a3p/eixos-tematicos/gestão-
adequada-dos-resíduos>. Acesso em: 16 mar. 2017.

SENADO FEDERAL. Aumento da produção de lixo tem custo ambiental. 2014. Disponível em:
<http://www12.senado.leg.br/emdiscussao/edicoes/residuos-solidos/mundo-rumo-a-4-bilhoes-
de-toneladas-por-ano>. Acesso em: 24 mar. 2017.

SOARES, Débora da Silva. Biologia e Matemática: uma relação de contribuição mútua. 2013.
Disponível em: <http://www.rc.unesp.br/biosferas/Art0060.html>. Acesso em: 17 mar. 2017.

SODRÉ‖, Ulysses. Crescimento Populacional. 2007. Disponível em:


<http://www.uel.br/projetos/matessencial/superior/pdfs/crescpop.pdf>. Acesso em: 16 mar.
2017.

TAVONI, Robinson; de OLIVEIRA, Renata Zotin G. Os modelos de crescimento populacional de


Malthus e Verhulst - uma motivação para o ensino de logaritmos e exponenciais. 2013.
Disponível em: <http://www2.fc.unesp.br/revistacqd/v2n2/v2n2_art9.pdf>. Acesso em: 16 mar.
2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 706


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

APLICAÇÃO DO RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO


NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Loredanna Melyssa Costa de SOUSA


Doutoranda em Engenharia de Processos UFCG
loredannamcs@gmail.com
Maria Luiza Ramalho de ARAÚJO
Graduanda em Engenharia Civil (UFCG)
maria_luiza_ramalho@hotmail.com
Ana Maria Gonçalves Duarte MENDONÇA
Professora Pesquisadora Doutora em Engenharia de Materiais UFCG
ana.duartemendonca@gmail.com
Jackson Hugo Ribeiro Feitosa BATISTA
Graduando em Engenharia Civil UFCG
jackson_hugo1994pe@hotmail.com

RESUMO
Os impactos ambientais gerados em torno da produção de resíduo é atualmente um dos principais
temas discutidos em relação ao meio ambiente por ambientalistas e políticos, pois esta atividade é
vista como ameaça para futuras gerações e a qualidade de vida das atuais. Dado isso, pesquisas
científicas estão constantemente buscando analisar alternativas para o reaproveitamento de
materiais não convencionais com intuito de reduzir a degradação ambiental, devido ao alto consumo
de materiais. Assim, este trabalho tem como objetivo analisar a possibilidade de aproveitamento do
resíduo de construção e demolição (RCD) para produção de concreto. Foram moldados corpos de
prova cilíndricos nas dimensões de 10 cm x 20 cm para o concreto de referência e para o concreto
contendo RCD. Nesta pesquisa, utiliza-se o RCD como filler em substituição a 10% de cimento
Portland objetivando avaliar a resistência à compressão simples para as idades de 3, 7 e 28 dias,
conforme especificações da NBR 5739: 2007. Verificou-se que não ocorreu diferença significativa
obtida para a resistência à compressão simples do concreto de referência-CR e a resistência obtida
para o concreto com incorporação do RCD, sendo justificado pela ação do RCD em preencher os
espaços vazios existentes entre os agregados. Desta forma, há uma contribuição significativa para
reduzir os impactos ambientais gerados pela disposição dos RCD´s ao meio ambiente.
Palavras Chave: Impactos Ambientais, Construção Civil, Resíduos, Concreto.
RESUMÉN
Los impactos ambientales generados en torno a la producción de residuos son hoy uno de los
principales temas discutidos en relación al medio ambiente por ambientalistas y políticos, pues está
actividad es vista como amenaza para futuras generaciones y la calidad de vida de las actuales. Por
eso, investigaciones científicas están constantemente buscando analizar alternativas para el
reaprovechamiento de materiales no convencionales con el fin de reducir la degradación ambiental,
debido al alto consumo de materiales. La construcción civil es uno de los sectores que más se
destaca en el consumo de materiales, al que objetivó nuestro trabajo en evaluar la aplicación del
residuo de construcción y demolición (RCD) para producción de concreto. Así, fueron moldeados
cuerpos de prueba cilíndricos de 10 cm x 20 cm para evaluar la resistencia a la compresión simple
del hormigón incorporado con RCD en comparación al de referencia, siendo realizado esos ensayos
de acuerdo con la NBR 5739: 2007 en las edades de 3, 7 Y 28 días de curación. Indicando así, que

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 707


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

no hubo diferencia significativa entre las resistencias a la compresión simple del concreto de
referencia-CR en relación al concreto con RCD, siendo eso justificado debido a la acción del RCD
en llenar los espacios vacíos existentes entre los agregados y el cemento e incluso La reducción de
cemento se compensará parcialmente. De esta forma, a una contribución significativa para reducir
los impactos ambientales generados por la disposición de los RCD's al medio ambiente.
Palabras Clave: Impactos Ambientales, Construcción Civil, Residuos y Concreto.

INTRODUÇÃO

Atualmente, a questão ambiental na sociedade é vista com uma certa preocupação se


compararmos a épocas passadas, pois a cada dia que se passa aumenta-se a população
consecutivamente acréscimo na geração de resíduos. Logo, deve-se haver um consenso da
sociedade na questão de um desenvolvimento sustentável, ao qual tenha uma maior redução,
reutilização e reciclagem de resíduos para não comprometer as fontes naturais de obtenção de
matéria prima. Assim, é constituído na lei 6.938/81 no artigo 225 que todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
As atividades que estão envolvidas na obtenção da matéria bruta até seu processamento na
indústria para consumo final da sociedade e consequentemente o resíduo gerado pelo consumidor,
são os principais impactantes para o desgaste do ambiente. Assim, as empresas que mais utilizam
em excesso os recursos naturais, se destaca o setor da construção civil, além de ser responsável por
um enorme desperdício de material e energia, colaborando com a degradação ambiental, devido à uma
péssima gestão dos recursos naturais, como água e solo (ÂNGULO et al., 2008). Segundo Karpinsk
et al., (2009) a construção civil mantém um relacionamento com o meio ambiente, muitas vezes
provocando grandes impactos ambientais, gerados pelo grande consumo de materiais, desde locação
do empreendimento e até geração de resíduos.

CONSTRUÇÃO CIVIL E SUSTENTABILIDADE

Diante da ameaça ao meio ambiente e escassez dos recursos naturais a uma preocupação
constante para inserção de materiais alternativos, aos quais exerçam a mesma função com qualidade
que o material convencional. Aliado a isso, pesquisas estão sendo constantemente desenvolvidas
para buscar uma aplicação viável de resíduos gerados pela população. Assim, o setor construtivo é
um dos principais em estudo, pois a indústria da construção civil é uma das maiores consumidoras
de matérias-primas naturais, sendo responsável por um consumo em torno de 50% dos recursos
naturais utilizados (AGOPYAN & JOHN 2011).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 708


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A quantidade de matérias utilizados na construção, o aumento constante na geração de


resíduos sólidos urbanos (RSU), consumo elevado de energia, destruição da camada de ozônio,
surgimento de chuva ácida e consumo excessivo de materiais não renováveis abriu discursões
acerca desses problemas para o meio ambiente, surgindo assim o tema desenvolvimento sustentável.
Segundo Ventura (2009) o desenvolvimento sustentável, permite atender às necessidades básicas de
toda a população e garanta a todos a oportunidade de satisfazer suas aspirações para uma vida
melhor sem, no entanto, comprometer a habilidade das gerações futuras atenderem suas próprias
necessidades.
Com isso, a definição supracitada mostra que o desenvolvimento sustentável busca produzir
uma maior quantidade de materiais aos quais utilizem uma menor quantidade de recursos naturais,
ou seja, o desenvolvimento econômico terá que ser desintegrado da geração de resíduos. Conforme
Brasileiro e Matos (2015), tendo em mente a grandiosidade da cadeia produtiva da indústria da
construção civil, fica claro que não é possível alcançar o desenvolvimento sustentável sem que a
indústria da construção também se torne sustentável.

IMPORTÂNCIA DO RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD)

Por definição a ABRECON (Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da


Construção Civil e Demolição) classifica o entulho como sendo: o conjunto de fragmentos ou restos
de tijolo, concreto, argamassa, aço, madeira, e outros provenientes do desperdício na construção,
reforma e/ou demolição de estruturas, como prédios, residências e pontes. Segundo Santos (2008), a
geração de RCD é anterior ao início de qualquer obra ou serviço, se observarmos que a produção de
insumos para a construção civil, além de consumir recursos naturais também produz resíduos.
A construção civil por ser um grande produtor de resíduo é consecutivamente um alarmante
para um futuro comprometimento da flora de uma determinada região, ou seja, necessita de um
grande espaço para disposição de entulho, agredindo assim a vegetação regional e posteriormente
devido a decomposição de materiais a uma emissão de gases que agravam o efeito estufa. Estima-se
que a produção de resíduos nos aterros sanitários seja composta de 61% correspondentes a RCD
(Resíduo de construção e demolição), 25% de domésticos e 14% de outros. Praticamente todas as
atividades desenvolvidas no setor da construção civil, são geradoras de resíduos, conforme dados da
Secretaria Nacional de Saneamento do Ministério das Cidades obtido pelo diagnóstico SNIS (2007).
Segundo Cabral (2007), a uma aproximação que argamassa, concreto e cerâmica vermelha
correspondem, juntos, a mais de 60% do total do RCD gerado. Com isso, devido a seu elevado
percentual gerado deve-se ter em mente que a sua disposição na maioria das vezes é inadequada e
isto é um facilitador para proliferação do vetor de doenças como a dengue, febre amarela e
chamariz de insetos e roedores. Além disso, quando descartado indiscriminadamente em rios,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 709


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

córregos e represas, eleva o seu leito (assoreamento) culminando com enchentes e riscos de
desabamento de residências próximas ao rio.
Conforme Elias (2008), para se ter uma ideia do dano que os RCD´S pode causar, mais da
metade dos lagos de Fortaleza foram aterrados pelos mesmos e os riachos Pajeú e Maceió foram
transformados em galerias de esgotos por estarem contidos em canais fechados.
Analisados sob aspectos técnicos, os impactos gerados pela construção civil se agravam pelo
uso e desenvolvimento insuficiente de novas tecnologias mais racionalizadas, desperdício de
materiais e baixa qualificação profissional, de acordo com Malta et al (2013). Isto porque, em vários
canteiros de obra à falta de uma aplicação eficiente de um planejamento e controle, pois ao se
inserir essas duas variáveis podemos evitar custo superior ao esperado e reduzir os RCD´s
produzidos.
Conforme Malta et al (2013), a geração de resíduos sólidos municipais, notadamente os de
construção e demolição (RCD), tem sido um dos grandes problemas enfrentados pelas
municipalidades e pelo setor da construção civil, visto que a Resolução CONAMA n. 307/2002,
obriga, por parte dos geradores, à correta destinação e beneficiamento dos RCD, os quais não
poderão ser dispostos em aterros de resíduos domiciliares, em áreas de "bota fora", em encostas,
lotes vagos e em áreas protegidas por Lei. Segundo essa mesma resolução a uma classificação para
os resíduos de construção e demolição, a qual divide-se em classes sendo: A (resíduos reutilizáveis
ou recicláveis como agregados e concreto), B (resíduos recicláveis para destinações como plásticos
e vidros), C (resíduos ao qual não se tem uma aplicação economicamente viável que permita sua
reciclagem/recuperação, tais como produtos oriundos do gesso) e D (resíduos perigosos como tintas
e solventes).
Na concepção de Oliveira e Mendes (2008), os elevados gastos por parte da Administração
Pública na limpeza e remoção desses resíduos de locais inadequados, bem como da construção de
um local apropriado para receber os mesmos, é hoje um dos grandes problemas enfrentados pelos
governantes, o que acaba gerando um ciclo vicioso de disposição inadequada e remoção dos
mesmos pelas companhias de limpeza pública. Os grandes geradores de resíduos por serem
facilmente identificáveis e fiscalizados, preferem optar pelos procedimentos adequados, mesmo que
tais procedimentos sejam mais onerosos. Além do mais, as grandes construtoras buscam as
certificações ambientais usando-as como diferencial em suas campanhas de marketing na promoção
de seus lançamentos de acordo com Oliveira (2015). Por outro lado, as pequenas construções são as
que mais contribuem na questão de impactos ambientas, devido o município não ter um controle ou
fiscalização suficiente para evitar que metralhas não sejam colocadas em determinados locais.
Segundo a ABRECON, uma característica vital para a reciclagem de RCD no país é o
entrosamento com as questões ambientais e a abordagem preservacionista que a atividade agrega.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 710


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Com isso, segundo Oliveira (2015) ser sustentável garante ao setor um crescimento acima do
esperado e ainda facilita as negociações com órgãos públicos, iniciativa privada e com potenciais
parceiros.
Conforme Brito & Evangelista (2010) ; Reis (2009), para o uso em argamassas e concretos,
alguns estudos ainda precisam ser desenvolvidos para sua viabilidade técnica, pois os agregados
produzidos a partir do RCD apresentam características específicas, tais como: a) composição
definida a partir da composição do RCD (fases de cerâmica, concreto, rocha e argamassa); b) o
processo de britagem (tipo de britador e classificação granulométrica) define a granulometria do
agregado reciclado (AR) e teor de finos; c) elevada porosidade e absorção; d) forma lamelar e
textura mais áspera; e e) massa específica em média 14% a menos na condição seca e 9% a menos
na condição saturado superfície seca, em relação aos agregados convencionais.

APLICAÇÃO DO RCD NA CONSTRUÇÃO CIVIL – PRODUÇÃO DE CONCRETO

A construção civil é uma atividade importantíssima em todo mundo, pois está intimamente
ligada ao desenvolvimento socioeconômico de um país. Aliado a isso, a uma busca incessante para
utilização de resíduo de construção e demolição (RCD) nesse setor, pois o mesmo pode substituir
matérias primas convencionais dada a composição ser equivalente.
Na concepção de Neves et al., (2011) pesquisas de novos materiais e métodos construtivos
vêm sendo realizados com o intuito de aumentar a eficiência e o desempenho das edificações,
buscando adequar a indústria da construção civil aos conceitos de sustentabilidade. Com isso, ao
utilizar o RCD na construção civil estamos diminuindo os danos ambientais, consequentemente,
atribuindo valor econômico ao qual sua disposição em lixões é uma possível fonte de renda para as
pessoas que trabalham nesses locais.
As aplicações na construção civil dos RCD´s se dá em diversos setores, aos quais podemos
destacar: a utilização em misturas a asfaltos quentes, fabricação de argamassa de assentamento,
revestimento, pré-moldados e blocos. Leite (2001) indicou em seu estudo que uso de agregado
reciclados é perfeitamente viável para a produção de concreto considerando as propriedades
mecânicas avaliadas, resistência à compressão, resistência à tração, resistência à tração na flexão e
módulo de deformação.

METODOLOGIA

Para realização deste estudo, foram utilizados os seguintes materiais:

Resíduo de Construção e Demolição (RCD): utilizado como filler em substituição a 10% da


massa do cimento Portland;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 711


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Cimento: CP II F 32 – Cimento Portland composto com adição de filler.


Agregado miúdo: areia quartzosa proveniente do município de Barra de Santana- PB.
Agregados graúdos: concreções lateríticas proveniente da jazida localizada na cidade de
Mari- PB;
Água: fornecida pela Companhia de Água e Esgotos da Paraíba – CAGEPA.

Na pesquisa foram utilizados dois tipos de concretos para efeito comparativo. Um concreto
de referência CR composto com concreções lateríticas como agregados graúdos, areia como
agregados miúdos, cimento e água e, outro concreto composto de concreções lateríticas como
agregados graúdos, areia como agregados miúdos, cimento, e resíduo de construção civil moído,
como filler, substituindo 10% da massa de cimento, e água.
A metodologia utilizada na pesquisa foi dividida em quatro etapas:

1a Etapa: Seleção dos constituintes e beneficiamento por moagem do RCD;


2ª Etapa: Caracterização das propriedades físicas dos agregados graúdos, miúdos e filler;
3a Etapa: Caracterização do concreto fresco e moldagem dos corpos-de-prova cilíndricos;
4ª Etapa: Determinação das propriedades mecânicas do concreto endurecido.

Separação dos constituintes do RCD

O resíduo utilizado nesta pesquisa foi proveniente de uma reforma realizada em bloco do
Departamento de Engenharia Civil. Inicialmente foram retirados da amostra, pedaços de ferro,
plástico, papel e madeira. Para determinar a composição do RCD foram colhidas 5 amostras de 1kg
cada. As amostras foram separadas manualmente, segundo a classificação adotada por Zordan
(1997):

Beneficiamento do RCD

Após a análise da composição do resíduo, procedeu-se com o processo de moagem, com a


finalidade de proporcionar ao material a obtenção de uma granulometria mais fina. Em seguida,
realizou-se o beneficiamento em peneira ABNT malha nº 200, objetivando obter o material como
filler.
Sequencialmente procedeu-se com a caracterização físicas dos materiais e a moldagem dos
corpos de prova, seguindo o método de ensaio ABNT NBR 5738:1994. Por fim, foi determinada a
resistência a compressão simples do concreto.
Para determinar a resistência à compressão simples do concreto, foram moldados corpos de
prova cilíndricos de 10 cm x 20 cm, os quais foram ensaiados nas idades de 3, 7 e 28 dias da data de
moldagem, de acordo com o método de ensaio ABNT NBR 5739: 2007.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 712


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Figura 1 ilustra os resultados obtidos para a composição do resíduo em estudo. Obteve-se


como resultados da seleção dos constituintes, um RCD composto por 52% de argamassa e concreto,
26% de materiais cerâmicos, 10% de pedras e 12% de outros materiais como torrões de argila.

45
40
35
30
25 52
20 26
15
10
12 10
5
0

Figura 1: Composição do RCD

A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos para caracterização física do agregado graúdo


utilizado na pesquisa, ao qual foi beneficiado e separado de acordo com as peneiras de abertura de
malhas 6,3 mm, 12,5 mm e 19 mm, para posteriormente serem utilizados no traço do concreto.

Tabela 1: Caracterização física dos agregados graúdo


Método de
Ensaios Resultados
ensaio
ys6,3mm = 3,12 g /
cm3
ys12,5mm = 3,24 g /
Massa específica DNER-ME 195/97
cm3
ys19mm = 3,09 g / cm3

yss6,3mm = 1,46 g /
cm3
yss12,5mm = 1,54 g /
DNER-ME
Massa unitária cm3
152/95
yss19mm = 1,50 g /
cm3

Abs6,3mm=6,04%
DNER – ME
Absorção Abs12,5mm=7,48%
081/98
Abs19mm=5,34%

ABNT NBR
Teor de materiais
7219:1987 MP=6,67%
pulverulentos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 713


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

As médias das concreções lateríticas ilustrado na Tabela 1 pela análise granulométrica para:
massa específica foi de ys = 3,15 g / cm3, posteriormente o de massa unitária encontrado de yss = 1,50
g / cm3, dada essa diferença devido a última considerar vazios permeáveis do material. Por
conseguinte, os resultados obtidos para o ensaio de absorção apresentaram valor médio de 6,29%,
significando assim, que a amostra sofreu um aumento de 6,29%, devido o preenchimento de seus
poros por água, e em seguida, para observação do teor de materiais pulverulentos encontrou-se o
valor de 6,67%.
O agregado miúdo utilizado neste estudo apresentou massa específica de 2,60 g/cm3 e
equivalente em areia de 77,00%, ou seja, 77,00% da amostra é formado por grãos de areia e o
restante por materiais pulverulentos.
No filler RCD analisado os resultados obtidos para pesquisa foi em relação a massa
específica, a qual apresentou o valor de 2,48g/cm3, que segundo estudos realizados por Ângulo
(2005), agregados inseridos no intervalo de densidade d > 2,2 possuem teores elevados de rocha e
teores baixos de cerâmica vermelha, resultando em concretos com comportamento mecânico
semelhante aos agregados naturais analisados.
A Figura 2 ilustra os resultados obtidos para a resistência a compressão do concreto
incorporado com RCD.

35
31,32
Resistência a compressão (MPa)

CREF
30 CRCD 26,87 30,13

25 21,32 25,78
20 21,38

15

10

0
3 dias 7 dias 28 dias
Tempo de cura

Figura 2: Resistência à compressão do concreto incorporado com RCD.

De acordo com os resultados obtidos, pôde-se verificar que a utilização do RCD em


substituição ao cimento, possibilitou a obtenção de resistência ao concreto, praticamente igual a
obtida para o concreto de referência, indicando que a substituição de 10% de cimento por RCD não
compromete as propriedades mecânicas do concreto.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 714


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Assim, a utilização do resíduo de construção e demolição na composição do concreto,


permite reduzir volume de descarte e o impacto ambiental causado por sua disposição no meio
ambiente, além de agregar valor ao resíduo. O descarte de resíduos de construção e demolição, além
de causar poluição visual e ambiental, contribui para a proliferação de insetos como, escorpiões,
baratas, etc e animais peçonhentos, como, ratos, cobras, etc. assim, sua utilização apresenta
contribuições significativas no âmbito ambiental, social, e de saúde pública.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os resultados obtidos, pôde-se concluir que:


A pesquisa se mostrou viável para uma aplicação setor de construção civil, devido os
resultados obtidos pelo ensaio de resistência a compressão simples;
O resíduo em estudo apresenta um potencial a ser utilizado no concreto;
A utilização do RCD para esta finalidade além de agregar valor econômico ao resíduo
mostra-se uma alternativa para diminuir os impactos ambientais, a qual o setor de construção é o
que mais contribui dada a quantidade de materiais que é utilizado. Aliado a isso, a uma elevada
quantidade de processo para obtenção de um determinado material, que ao ser substituído por um
reciclado diminui consideravelmente a agressão ambiental e o não comprometimento de fontes de
materiais primas naturais.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 7219: Agregados-


Determinação do teor de materiais pulverulentos. Rio de Janeiro, 1987.

_____. NBR 5738: Concreto- Procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova. Rio de
Janeiro, 1994.

_____. NBR 5739: Concreto- Ensaios de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de


Janeiro, 2007.

DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM (DNER). ME 195: Agregados


– Determinação da absorção e da massa específica de agregado graúdo real. Rio de Janeiro, julho
de 1997.

_____. ME 081: Agregados- Determinação de absorção e da densidade de agregado graúdo. Rio de


Janeiro, Maio de 1998.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 715


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

_____. ME 152: Agregado em estado solto. – Determinação da massa unitária. Rio de Janeiro,
1995.

_____. ME 054: Equivalente de areia. Rio de janeiro, Julho de 1997.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 7219: Agregados-


Determinação do teor de materiais pulverulentos. Rio de Janeiro, 1987.

_____. NBR 5738: Concreto- Procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova. Rio de
Janeiro, 1994.

_____. NBR 5739: Concreto- Ensaios de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de


Janeiro, 2007.

AGOPYAN, V.; JOHN, V. M. O desafio da sustentabilidade na construção civil. In:


GODEMBERG, J. (Coord.). Sustentabilidade. São Paulo: Blucher, 2011. V. 5.

ÂNGULO, S. C.; ZORDAN, S. E.; JOHN, V. M. Desenvolvimento Sustentável e a Reciclagem de


Resíduos Na Construção Civil. São Paulo: POLI/USP, 2008.

ÂNGULO, S. C. Caracterização de agregados de resíduos de construção e demolição reciclados e


a influência de suas características no comportamento de concretos. São Paulo-SP, 2005. 167p.
Tese (Doutorado). Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

BRASILEIRO, L. L.; MATOS, J. M. E. Revisão bibliográfica: reutilização de resíduos da


construção e demolição na indústria da construção civil. Cerâmica, v.61, n.358, p. 178-189,
2015. ISSN 0366-6913.

BRITO, J.; EVANGELISTA, L. Durability performance of concrete made with fine recycled
concrete aggregates. Cement & Concrete Composites, v. 32, p. 9-14, 2010.

CABRAL, A. E. B. Modelagem de propriedades mecânicas e de durabilidade de concretos


produzidos com agregados reciclados, considerando-se a variabilidade da composição do RCD.
São Carlos-SP, 2007. 280p. Tese (Doutorado). Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo.

ELIAS, M. D. Gestão de resíduos da construção civil no município de Fortaleza-ce. Fortaleza-CE,


2008. 126p. Monografia (Especialização em Direito Ambiental), Universidade Estadual do
Ceará.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 716


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

VENTURA, E. Responsabilidade Social em Instituições Financeiras. Elsevier, Rio de Janeiro, RJ


(2009).

FARIAS FILHO, J.; NEVES, G. A.; FERREIRA, H. S.; J. W. B. do Nascimento,; MENEZES, R.


R.; LUCENA, L. F. L. Land Contam. & Reclam. 18, 4 (2011) 389-395.

LEITE, M. B. Avaliação de propriedades mecânicas de concretos produzidos com agregados


reciclados de resíduos de construção e demolição. Porto Alegre-RS, 2001. 270p.Tese
(Doutorado). Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

MALTA, J. O.; SILVA, V. S.; GONÇALVES, J. P. Argamassa contendo agregado miúdo


reciclado de resíduo de construção e demolição. Gesta, v.1, n.2, p. 176-188, 2013. ISSN 2317-
563X.

OLIVEIRA, E. G.; MENDES, O. Gerenciamento de resíduos da construção civil e demolição:


estudo de caso da resolução 307 do Conama. GOIÂNIA: PUC/UCG, 2008.

OLIVEIRA, B. T. Uso de resíduos de construção e demolição em argamassa para revestimento de


alvenaria. Rio de Janeiro: POLI/UFRJ, 2015.

REIS, C. N. Influência da utilização de agregado miúdo de RCD na aderência aço-concreto


reciclado. 2009. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil e
Ambiental da Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana/BA, 2009.

SECRETARIA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO. Sistema Nacional de


Informações sobre Saneamento: diagnóstico do manejo de resíduos sólidos urbanos – 2007. –
Brasília: MCIDADES. SNSA, 2009.

SANTOS, A. N. Diagnóstico da situação dos resíduos de construção e demolição (RCD) no


Município de Petrolina (PE). Recife-PE, 2008. 58p. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-
graduação em Engenharia Civil, Universidade Católica de Pernambuco.

KARPINSK. Luisete Andreis. [et al.]. Gestão diferenciada de resíduos da construção civil: uma
abordagem ambiental [recurso eletrônico] /... [et al.]. – Dados eletrônicos. –Porto Alegre:
Edipucrs, 2009.163 p.

ZORDAN, S. E. A Utilização do Entulho como Agregado na Confecção do Concreto. Campinas:


Departamento de Saneamento e Meio Ambiente da Faculdade de Engenharia Civil, Universidade
Estadual de Campinas. Dissertação (Mestrado), 1997.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 717


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CORRELAÇÕES ENTRE OS RESÍDUOS SÓLIDOS GERADOS NOS


MERCADOS PÚBLICOS E A SAÚDE DOS FEIRANTES: ESTUDO DE
CASO EM SÃO LUÍS / MA

Jeferson Botelho RODRIGUES


Graduando do Curso de Engenharia Ambiental da Faculdade Pitágoras de São Luís -MA
botelhojef@outlook.com
Debora Danna Soares da SILVA
Graduada em Engenharia Ambiental na Faculdade Pitágoras de São Luís - MA
dannasilva94@gmail.com
Gabrielle Silva de ALMEIDA
Graduada em Engenharia Ambiental da Faculdade Pitágoras de São Luís - MA
gabi-silva-almeida@gmail.com
Eduardo Mendonça PINHEIRO
Professor Orientador do Curso de Engenharia Ambiental da Faculdade Pitágoras de São Luís - MA
eduardomp1979@gmail.com

RESUMO
A geração de resíduos sólidos nos mercados públicos de São Luís/MA têm causado diversos
impactos negativos pelo seu descarte incorreto, como por exemplo, proliferação de insetos, mau
cheiro, poluição visual, entre outros. Objetivou-se neste estudo, analisar a correlação entre as
doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti e o volume dos resíduos sólidos gerados nos
mercados públicos de São Luís. Em vista disso, utilizaram-se dados obtidos a partir das visitas in
loco nos mercados públicos e entrevistas aplicadas aos feirantes e medição das dimensões dos locais
de armazenamento de resíduos sólidos de cada mercado pesquisado.
Palavras-chave: Epidemiologia; Saneamento; Salubridade.
ABSTRACT
The generation of solid waste in the public markets of São Luís / MA has caused several negative
impacts due to its incorrect disposal, such as insect proliferation, bad smell, visual pollution, among
others. The objective of this study was to analyze the correlation between the diseases transmitted
by the Aedes aegypti mosquito and the volume of solid waste generated in São Luís public markets.
In this way, data obtained from on-site visits in public markets and Interviews applied to merchants
and measurement of the dimensions of the solid waste storage sites of each researched market.
Key-words: Epidemiology; Sanitation; Salubrity;

INTRODUÇÃO

O Município de São Luís capital do Estado do Maranhão possui vinte e nove mercados
públicos, entre portes grandes e pequenos que geram em torno de seis toneladas de resíduos sólidos
orgânicos/dia cada uma delas, segundo coordenação destes mercados (SEMAPA, 2016).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 718


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A geração de resíduos sólidos nestes mercados tem causado diversos impactos negativos
pelo seu descarte incorreto, como por exemplo, proliferação de insetos, mau cheiro, poluição visual,
entre outros.
O mau acondicionamento desses materiais possibilita o desenvolvimento de insetos e
pequenos animais hospedeiros como o mosquito Aedes aegypti, vetor de doenças importantes como
a dengue, à febre chikungunya e a zika, uma vez que neste ambiente esses vetores encontram
condições adequadas para sua proliferação (água, alimento e abrigo).
No que tange a relação resíduo-saúde estudos do Ministério da Saúde (BRASIL, 2015),
ressaltam que a presença da larva do mosquito Aedes aegypti pode estar relacionada à destinação
incorreta de resíduos na ordem de 5,0% a 50,0%, destacando a importância da eliminação dos lixões
e depósitos clandestinos de resíduos.
No Município os resíduos sólidos correspondem a 6,0% dos abrigos de lavar do mosquito,
segundo dados apresentados pela Secretaria Municipal de Saúde de São Luís (SEMUS), através do
Levantamento de Infestação Rápido de Aedes aegypti (LIRAa), realizado em junho de 2016.
Portanto, o manejo adequado dos resíduos é uma importante estratégia de preservação do meio
ambiente, assim como de promoção e proteção da saúde do homem.
Nesse contexto, escolheram-se os mercados públicos de São Luís como local de estudo
dessa pesquisa por consistirem em ambientes com grande contingente de pessoas (feirantes e
consumidores) que ficam expostas diariamente a diversos riscos biológicos. Geralmente os
mercados públicos caracterizam-se pela produção constante de resíduos sólidos nos seus setores de
venda, e que são gerados desde sua chegada e organização dos alimentos nas bancas até o seu
consumo/compra. Objetivou-se neste estudo, analisar a correlação entre as doenças transmitidas
pelo mosquito Aedes aegypti e os resíduos sólidos gerados nos mercados públicos de São Luís.

METODOLOGIA

Caracterização da área de estudo

O presente trabalho teve como base de pesquisa os mercados públicos de São Luís, ambiente
no qual se praticam a venda de produtos alimentícios e diferem-se das feiras livres por possuírem
estruturas físicas e fixa e seu comercio ocorre durante toda a semana. Em São Luís há atualmente 29
mercados públicos (de grande, médio e pequeno porte), que são administrados pela Secretaria
Municipal de Abastecimento, Agricultura e Pesca (SEMAPA). Para realização desse trabalho
estudou-se oito (08) mercados públicos do município, escolhidos aletoriamente, onde procurou
entender se alguma variação das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti (dengue, zika e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 719


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

chikungunya) nos feirantes infectados é explicada pela formação de pequenos lixões irregulares
nesses estabelecimentos.

Coleta de dados

Os dados para execução deste trabalho foram coletados a partir de visita in loco em oito (08)
mercados públicos do Município de São Luís, nos períodos de julho a setembro de 2016, ocasião
em que se observaram as condições higiênico-sanitárias do local.
Com as visitas também foi possível aplicação de um questionário com os feirantes usando-se
um questionário previamente estruturado com 19 questões, tomou-se por base o mercado como
unidade amostral, entrevistou-se o feirante responsável pela banca ou boxe, contabilizando um total
de 270 feirantes entrevistados, o questionário aplicado contemplou dados, como: identificação,
situação socioeconômica, grau de escolaridade, acometimento das doenças transmitidas pelo
mosquito Aedes aegypti, entre outras. Foram assegurados o conhecimento e a concordância dos
entrevistados, assim como a confidencialidade das informações.
Para a obtenção de dados referente ao volume (m3) de resíduos sólidos gerados por dia nos
mercados de São Luís, foram feitas medições dos locais de armazenamento desses materiais
(contêineres estacionários e casas coletoras), para tal utilizou-se uma Trena a Laser Bosch GLM30.
Como os reservatórios de acondicionamento dos resíduos sólidos gerados nos mercado
tinham formato geométrico de um retângulo, mediram-se as seguintes dimensões necessárias para
aplicação da equação do volume para um sólido retângulo: comprimento (m), altura (m) e largura
(m). A equação utilizada para calcular o volume de um sólido retangular, consiste na multiplicação
das dimensões supracitadas:

Foi formulada a hipótese de que os resíduos sólidos gerados nos mercados públicos de São
Luís repercute de maneira inversamente proporcional sobre a taxa de casos positivos de dengue,
zika e chikungunya nos feirantes.

Analise de dados

Para a realização das análises estatísticas do estudo, foram utilizadas variáveis para a
correlação entre os sistemas em estudo. A análise de correlação servirá para estimar o grau de
associação entra a taxa de casos das doenças transmitidas pelo mosquito e a acumulação de resíduos
sólidos nos mercados públicos do Município de São Luís.
Para a apuração dos dados e suas observações foi necessário determinar a variável sobre a
qual se deseja fazer uma estimativa, conhecida como variável dependente, e a variável sobre a qual

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 720


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

é condição que explica a estimativa proposta na variável dependente, essa recebe o nome de
variável independente.
A partir disso, três variáveis foram identificadas como variável independente, quais foram:
Volume (m3) de resíduos sólidos produzidos por dia nos mercados (VRM); Proporção da frequência
de limpeza (varrição) por dia dos mercados (FLM) e; Proporção da frequência (por semana) da
coleta do lixo realizada pela Prefeitura (FCL). E uma variável foi determinada como variável
dependente, sendo: Taxa de Casos Positivos de Dengue, Zika e/ou Chikungunya (CP-
DENV/ZIKV/CHIKV) entre os feirantes dos mercados públicos pesquisados.
Os dados foram armazenados, tabulados e analisados no Excel mediante a correlação
estatística das variáveis estudadas, através do coeficiente de correlação linear de Pearson (r), que
indica a força da correlação entre as duas variáveis estudadas, verificou-se se há ou não
confirmação da hipótese formulada em relação ao impacto da acumulação dos resíduos nos
mercados públicos de São Luís sobre a condição de saúde do feirante.

RESULTADOS

Proporção da frequência de limpeza por dia dos mercados (FLM)

A atividade de limpeza de espaços públicos denomina-se varrição, que consiste no ato de


varrer logradouros públicos em geral, sejam vias, calçadas, túneis e/ou mercados públicos e feiras
livres, agrupando um conjunto de resíduos, denominado lixo público. Portanto, para efeito desse
estudo julgou-se a ação de varrição como principal atividade de limpeza dos mercados públicos de
São Luís.
Com isso, considera-se que a proporção da frequência de limpeza dos mercados representa o
número de vezes por dia em que é realizada a varrição desses locais.
O Quadro 1 apresenta a frequência (%) por dia em que é realizado a limpeza (varrição) dos
mercados estudados na cidade, dados colhidos a partir das respostas dos feirantes entrevistados,
quando quantas vezes ao dia é realizado a varrição do mercado.

FLM (%)

MERCADOS
01 vez ao De 02 a 03 vezes ao Até 04 vezes ao Mais de 05 vezes ao
dia dia dia dia

Cohab 31 50 4 15
Primavera 52 48 - -
Anil - 36 27 37
João Paulo 21 74 2 3
Tirirical 26 61 4 9

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 721


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ipem São 79 21 - -
Cristovão
Central - 43 12 45
Liberdade 21 64 10 5
MÉDIA 38% 50% 10% 19%
Quadro 1: Proporção da frequência de varrição por dia nos mercados públicos de São Luís.
Fonte: Autores da pesquisa, 2017.

Averiguando-se as informações, de acordo com a resposta dos feirantes, notou-se que é


realizado em média de 02 a 03 varrições por dia (50%) nos respectivos mercados. Segundo os
administradores de cada mercado a limpeza desses costuma acontecer nos turnos da manhã, antes
do expediente e no encerramento da atividade.

Proporção da frequência (por semana) da coleta do lixo realizada pela Prefeitura (FCL)

A proporção da frequência da coleta de lixo representa a porcentagem das respostas dos


feirantes a respeito do número de vezes por semana em que a Prefeitura realiza a retirada dos
resíduos sólidos produzidos nos mercados.
Os resíduos gerados nos mercados públicos de São Luís ficam acondicionados em
recipientes sem uma padronização, variando entre contêineres estacionárias e casas coletoras, esses
recipientes servem para o acúmulo de todo tipo de resíduo gerado no mercado, como sacolas
plásticas, papelão, resto de alimentos, entre outros. Os resíduos ficam armazenados até sua coleta,
que normalmente acontece diariamente à noite, quando não há mais expediente nesses locais.
O Quadro 2 expõe a frequência (%) por semana em que a Prefeitura Municipal realiza a
coleta dos resíduos gerados nos mercados públicos da cidade, de acordo com as respostas dadas
pelos feirantes entrevistados, quando perguntados da referida atividade.

FCL (%)
MERCADOS
02 vezes por 03 vezes por Todos os Não sabe
semana semana dias informar

Cohab 19 12 56 13
Primavera 4 22 41 33
Anil 10 13 37 40
João Paulo 10 10 45 35
Tirirical - 17 52 31
Ipem São
3 16 68 13
Cristovão
Central 7 9 57 27

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 722


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Liberdade 7 7 43 43
MÉDIA 9% 13% 50% 29%
Quadro 2: Proporção da frequência (por semana) da coleta do lixo realizada pela Prefeitura.
Fonte: Autores da pesquisa, 2017.

Identifica-se que a metade dos feirantes entrevistados, 50%, declararam haver a coleta
regular dos resíduos, realizada todos os dias, nota-se também que uma grande porção de feirantes,
em média 29% não sabem informar a frequência em que é realizado a coleta de lixo, influenciando
diretamente na limpeza dos mercados, pois acredita-se que estes feirantes não contribuem de forma
efetiva para a manutenção do seu local de trabalho.

Volume dos resíduos sólidos produzidos por dia nos mercados públicos estudados (VRM)

O volume de resíduos sólidos dos mercados públicos representa a capacidade dos recipientes
utilizados em cada mercado pesquisado para o armazenamento dos resíduos, esses espaços
ponderam a quantidade de lixo gerada por dia durante o período de funcionamento desses locais.
Como foi verificado que os reservatórios de acondicionamento dos resíduos sólidos gerados
nos mercado, são contêineres e casas coletoras, logo esses possuem formato geométrico de um
retângulo, assim para aplicação da equação do volume, foi necessário realizar a medida das
seguintes dimensões: altura (m), comprimento (m) e largura (m).
Destaca-se que nos mercados estudados o armazenamento dos resíduos sólidos gerados não
está em conformidade com a NBR 11.174 (1990) que define as regras gerais para o armazenamento
de resíduos classes II - não inertes e III – inertes.
Notou-se durante a pesquisa o armazenamento temporário dos resíduos gerados nos
mercados em contato direto sobre o piso, tornando-se sujeito a alteração de sua classificação e a
riscos de danos ambientais.
Vale ressaltar que, no caso de armazenamento em contêineres, tanques e/ou tambores,
devem-se prever medidas para contenção de vazamentos acidentais, o que não foi percebível
durante as visitas aos mercados públicos de São Luís.
O Quadro 3 apresenta os valores para as dimensões medidas em cada mercado, necessárias
para o calculo do volume de um sólido retângulo, bem como seu volume final, o tipo de
armazenamento adotado por cada um e a quantidade de recipientes em cada um dos mercados
(Quant.).

MERCADOS
Tipo de Altura Comp. Larg. Volume
Quant.
PÚBLICOS Armazenamento (m) (m) (m) (m3)
Cohab Contêiner 02 1,49 2,84 1,92 8,12 m3

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 723


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Primavera Contêiner 01 1,22 1,67 1,00 2,03 m3


Anil Casa coletora 02 0,92 1,02 0,88 0,82 m3
João Paulo Contêiner 02 1,53 2,78 1,96 8,34 m3
Tirirical Contêiner 01 1,33 1,42 0,79 1,49 m3
Ipem São Cristóvão Contêiner 01 2,40 2,20 1,34 7,07 m3
Central Casa coletora 01 1,97 2,60 3,32 17,00 m3
Liberdade Casa coletora 02 2,92 2,71 1,90 15,03 m3
Quadro 3: Volume dos resíduos sólidos gerados nos mercados estudados em São Luís.
Fonte: Autores da pesquisa, 2017.

Observa-se no Quadro 3 que o porte dos mercados é diretamente proporcional à quantidade


de resíduos gerados diariamente por esses, ou seja, quanto maior o número de feirantes maior será a
quantidade de lixo produzida, nota-se que em média os mercados estudados podem chegar a
produzir até 7420L de resíduos sólidos por dia.
Os resíduos sólidos orgânicos, maioria gerada nos mercados, iniciam sua decomposição
imediatamente após serem dispostos no ambiente, dessa forma se não houver o mínimo de cuidado
com o armazenamento desses resíduos cria-se um ambiente propício ao desenvolvimento de
microrganismos que muitas vezes podem ser agentes que podem causar doenças (NETO et al.,
2007). Portanto o manejo adequado desses resíduos é uma importante estratégia de preservação do
meio ambiente, assim como de promoção e proteção da saúde do homem (GOUVEIA, 2012).
Durante a pesquisa, notou-se que além dos resíduos gerados nos mercados a
circunvizinhança armazena nesses recipientes móveis, lixo eletrônico, pneumático, entre outros,
interferindo na sua capacidade de armazenamento final.

Taxa de casos positivos de Dengue, Zika e/ou Chikungunya (CP-DENV/ZIKV/CHIKV) entre os


feirantes dos mercados públicos pesquisados

Para obtenção desse resultado, os feirantes foram questionados se já haviam contraído


alguma das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti e se sim, quais doenças.
Com isso, nos oitos mercados estudados aproximadamente 55,0% dos feirantes
entrevistados afirmaram já ter sido acometido por dengue, zika e/ou chikungunya. Observa-se na
tabela 2 que os mercados do João Paulo, Liberdade e Ipem São Cristovão apresentaram os maiores
índices de casos positivos das doenças supracitadas, 83,0%, 71,0% e 58,0% respectivamente.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de São Luís (SEMUS), por meio do
Levantamento de Infestação Rápido de Aedes aegypti (LIRAa), realizado em junho de 2016, bairros
como Liberdade (estrato 03) apresentaram o maior índice de infestação predial (IIP) (quantidade de
amostras de larvas do mosquito coletadas em todos os tipos de móvel, dentro de um determinado

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 724


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

perímetro) pelo mosquito Aedes aegypti. Nessas áreas, o IIP chega aproximadamente 4,6%, o que é
categorizado como grave por essa secretaria (SEMUS, 2016).
Portanto, acredita-se que a incidência de contaminação nesses mercados é maior porque eles
estarem localizados em bairros que podem possuir um vulnerável serviço de atendimento ao
saneamento.
O Quadro 4 apresenta, para melhor visualização dos dados, os valores dos casos positivos
(%) para cada uma das arboviroses transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti nos mercados
pesquisados, contabilizado a partir dos entrevistados que responderam ―sim‖ para o acometimento
das doenças, a quantidade total de casos registrados, além do número de feirantes entrevistados em
cada mercado (n).

Casos registrados (%)


MERCADOS
n
PÚBLICOS Dengue Zika Chiku Sinal de 02 ou mais Total de casos
(%) (%) (%) arboviroses (%) registrados (%)
Cohab 32 6 22 19 6 53
Primavera 28 7 14 14 11 46
Anil 30 10 17 10 3 40
João Paulo 40 10 18 25 30 83
Tirirical 23 9 17 9 8 43
Ipem São Cristovão 31 7 23 16 9 55
Central 44 9 25 12 3 48
Liberdade 42 5 19 33 14 71
MÉDIA 33,75 8% 19% 17% 11% 55%
Quadro 4: Taxa de casos positivos de dengue, zika e/ou chikungunya entre os feirantes dos
mercados pesquisados.
Fonte: Autores da pesquisa, 2017.

Correlação

Para análise do coeficiente de correlação de Pearson (r), foi adotada a classificação da tabela
1, proposta por Dancey e Reidy (2006).

TIPO DE CORRELAÇÃO Valor de r


Fraca 0,10 a 0,39
Moderada 0,40 a 0,69
Forte 0,70 a 1
Tabela 1: Interpretação referente ao coeficiente de correlação (r), por Dancey e Reidey (2006).
Fonte: Autores da Pesquisa, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 725


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

As possíveis correlações existentes entre a variável resposta - taxa de casos positivos de


dengue, zika e/ou chikungunya (CP-DENV/ZIKV/CHIKV) e as variáveis preditoras - variáveis
relacionados à presença de resíduos sólidos e frequência de limpeza dos mercados - proporção da
frequência de limpeza por dia dos mercados (FLM), proporção da frequência (por semana) da coleta
de lixo realizada pela Prefeitura (FCL) e estimativa do volume dos resíduos sólidos produzidos por
dia nos mercados estudados (VRM), são apresentadas na Tabela 2.

VARIÁVEIS Valor de r
TC-D/Z/CHIKV x FLM (até 03 vezes ao dia) 0,592
TC-D/Z/CHIKV x FCL (03 vezes por semana) -0,548
TC-D/Z/CHIKV x VRM 0,477
TABELA 2: Correlação linear de Pearson (r) entre a taxa de casos positivos para as doenças transmitidas
pelo Aedes Aegypti e a presença de resíduos sólidos e frequência de limpeza dos mercados.
Fonte: Autores da pesquisa, 2017.

Adotando a classificação de Dancey e Reidy (2006), nota-se uma correlação positiva


moderada para a relação entre a taxa de casos positivos para as doenças transmitidas pelo Aedes
Aegypti (CP-DENV/ZIKV/CHIKV) e a proporção de entrevistados que disseram haver pelo menos
03 varrições por dia nos mercados (FLM), com r = 0,592, significa dizer que, se a frequência de
limpeza diminuir nesses locais os casos das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti
consequentemente pode aumentar. Afirmar-se então que a presença do mosquito pode está atrelada
de forma direta ou indireta as condições higiênicas do ambiente.
Vários autores consideram o lixo como um dos determinantes da estrutura epidemiológica
da comunidade, exercendo sua ação sobre a incidência de doenças (MORAES, 2007). Maricato
(2016) em uma entrevista ao Jornal Rede Brasil Atual deixa claro que a área de descarte de lixo,
tem-se condição perfeita para a produção do mosquito Aedes aegypti.
Entre a taxa de casos positivos para as doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti
(CP-DENV/ZIKV/CHIKV) e a proporção da frequência de coleta do lixo dos mercados (FCL), a
correlação encontrada foi negativa moderada, com valor de r = -0,548. Essa correlação indica que
quanto maior a quantidade de feirantes que manifestar sintomas para os arbovírus transmissores da
dengue, zika e chikungunya, menor será a frequência por semana da coleta de lixo nesses mercados.
Por fim, entre a taxa de casos positivos para as doenças transmitidas pelo mosquito Aedes
Aegypti (CP-DENV/ZIKV/CHIKV) e o volume de resíduos sólidos produzidos nos mercados por
dia (VRM), obteve-se uma correlação dita fraca, com r igual a +0,477.
Tais resultados são coerentes, pois no que se refere à infestação larvária pelo Aedes aegypti,
a literatura tem indicado que os maiores índices costumam ocorrer em locais que possuem maior

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 726


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

irregularidade na coleta de resíduos sólidos e passam por intermitência mais frequente no


abastecimento de água.
Estes resultados são equivalentes aos encontrados por outros pesquisadores, que asseveram
ser a destinação imprópria dos resíduos sólidos um dos potencias focos de proliferação de vetores
(LEFRÈVE et al., 2007; TEIXEIRA; MEDRONHA, 2008; OLIVEIRA; LINK, 2011).
Ainda em relação ao serviço de coleta de lixo dos resíduos gerados nos mercados, notou-se
uma intermitência em relação à periodicidade de coleta, muitos feirantes não sabem realmente a
frequência por semana que estes resíduos são recolhidos, contribuindo diretamente para o acúmulo
destes materiais, logo estando passiveis a possíveis contaminações.

CONCLUSÕES

A correlação linear de Pearson (r) encontrada entre a variável resposta e suas preditoras
findaram-se como moderada, valores entre 0,40 a 0,69, de acordo com o grau de correlação
estabelecido por Dancey e Reidy (2006), variando apenas entre positivas e negativas.
O Brasil apresenta um grave e complexo quadro epidemiológico, onde doenças da pobreza,
como doenças infecciosas tais como a dengue e a febre Chikungunya, esta última mais
recentemente introduzida no país, se misturam às doenças do desenvolvimento, como doenças do
aparelho circulatório, neoplasias, obesidade, entre outras. A cidade estudada, São Luís, no Estado
do Maranhão, apresenta Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) alto, 0,768, com
elevados índices de cobertura por serviços de saneamento básico, com 91% de cobertura por serviço
de abastecimento de água, com 38,6% de cobertura por serviços de esgotamento sanitário e 92% de
cobertura por serviços de coleta de lixo, o que pode explicar o fato de que o indicador
epidemiológico estudado tenha apresentado correlação com os indicadores de saneamento básico.
Assim, o desafio do Município de São Luís é manter e melhorar continuamente os serviços
de saneamento básico prestados à população, ampliando a sua cobertura principalmente nas áreas de
expansão da cidade.

REFERÊNCIAS

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11.1744/1990:


armazenamento de resíduos classes II - não inertes e III – inertes. BR, 1990.

BAENINGER, R. População e Cidades: subsídios para o planejamento e para as políticas sociais.


Campinas: Núcleo de Estudos de População-Nepo/Unicamp; Brasília: UNFPA, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde - FUNASA. Manual de Saneamento.


4. ed. Brasília: Funasa, 2015. 642 p. il.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 727


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

DANCEY, Christine; REIDY, John. Estatística Sem Matemática para Psicologia: Usando SPSS
para Windows. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

GOUVEIA, N. Resíduos sólidos urbanos: impactos socioambientais e perspectiva de manejo


sustentável com inclusão social. Ciência e Saúde Coletiva, São Paulo, v. 6, n. 17, p.1503-1510,
abr. 2012.

GONÇALVES, W. P.; MAIA, R.; BARBOSA, E. A. Caracterização de resíduos sólidos orgânicos


produzidos no restaurante universitário de uma instituição pública (estudo de caso). In: Encontro
Nacional de Engenharia de Produção. Foz do Iguaçu. Anais... . Foz do Iguaçu: ABEPRO, 2007.

LEFRÈVE, A. M. C.; RIBEIRO, A. F.; MARQUES, G. R. A. M.; SERPA, L. L. N.; LEFRÈVE, F.


Representações sobre dengue, seu vetor e ações de controle por moradores do município de São
Sebastião, Litoral Norte do Estado de São Paulo. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro,
2007. Vol. 23. , p. 1696- 1706.

MORAES, L. R. S. Acondicionamento e coleta de resíduos sólidos domiciliares e impactos na


saúde de crianças residentes em assentamentos periurbanos de Salvador, Bahia, Brasil. Caderno
de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.23, n.4, p.643-649, 2007.

NETO, Hélio Cavalcanti Albuquerque; MARQUES, Charles Cavalcante; Araújo, Paulo Gustavo
Coutinho de; GONÇALVES, Wherllyson Patrício; MAIA, Rafaella; BARBOSA, Edimar Alves.
Caracterização de resíduos sólidos orgânicos produzidos no restaurante universitário de uma
instituição pública (estudo de caso). In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Foz do
Iguaçu. Anais... . Foz do Iguaçu: ABEPRO, 2007.

OLIVEIRA, Claúdia Renate Trojahn; LINK, Dionísio. A educação ambiental como estratégia de
prevenção á dengue nas comunidades rurais de Mata Grande e São Rafael, Município de Sepé –
RS. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Catarina. Revista Eletrônica em Gestão,
Educação e Tecnologia Ambiental. Vol. 4. Número 4, p 618-629, 2011.

OLIVEIRA, Eliane Gurjão. Qualificação dos resíduos sólidos gerados em uma feira livre na cidade
de Campina Grande – PB. 2012. TCC (Graduação) – Universidade Estadual da Paraíba. 2012

SÃO LUÍS. Secretaria Municipal de Saúde – SEMUS. Relatório Técnico. São Luís, 2016.

SOUZA, C. M. N.; FREITAS, C. M. de. A produção científica sobre saneamento: uma análise na
perspectiva da promoção da saúde e da prevenção de doenças. Artigo Técnico, Belém, v.15, n.1,
p.65-74, Fev. 2010.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 728


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

VAZ, L. M. S.; COSTA, B. N.; GUSMÃO, O. S.; AZEVEDO, L. S.. Diagnóstico dos resíduos
sólidos produzidos em uma feira livre: o caso da feira do Tomba. Sitientibus, Feira de Santana –
BA, n.28, p. 145-159, Jan. /Jun. 2003.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 729


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

QUITOSANA: UMA ALTERNATIVA DE TRATAMENTO


PARA O RIO APODI-MOSSORÓ

Juciane Vieira de ASSIS


Graduanda do Curso de Gestão Ambiental da UERN
jucianevda@gmail.com
Larissa Fernandes da SILVA
Graduada em Gestão Ambiental pela UERN
Lfernandes24a12@hotmai.com
Renata Luiza Lisboa CARLOS
Graduanda em Gestão Ambiental da UERN
renata_luiza1@hotmail.com
Yáskara F. M. Marques LEITE
Professora adjunta do Departamento de Química da UERN
ya.marques2@gmail.com

RESUMO
Os coagulantes são amplamente utilizados no tratamento de água. Porém, vem ocorrendo um
aumento no número de estudos da substituição dos coagulantes sintéticos pelos orgânicos, devido às
várias vantagens dos naturais sobre os químicos, se destacando a biodegradabilidade e a sua baixa
toxicidade. Assim, este trabalho propõe comparar a eficiência do coagulante natural quitosana com
o coagulante inorgânico sulfato de alumínio, em diferentes dosagens e pHs de coagulação, por meio
da utilização de diagramas de coagulação no tratamento de água superficial. Os ensaios foram
realizados em Jar Test nas seguintes condições de operação: TMR 100 rpm/3 min, TML 30 rpm/15
min e TD 30 min, com água superficial proveniente da bacia do Rio Apodi-Mossoró, em 3 pontos
distintos localizados no município de Mossoró-RN, variando-se o pH de coagulação e floculação
até encontrar a faixa ótima para cada coagulante e as dosagens dos coagulantes, a fim de verificar a
concentração de maior eficiência de remoção dos parâmetros de qualidade, cor aparente (mg L -1
Pt/Co), turbidez (NTU) e pH para ambos os coagulantes. Após os ensaios de coagulação/floculação
e sedimentação, amostras de água tratada foram coletadas para avaliar a eficiência do processo. Foi
observado que a utilização da quitosana pôde substituir satisfatoriamente o coagulante sintético
utilizada no tratamento da água do efluente analisado, além de ser mais compatível com as questões
ambientais atuais.
Palavras-chave: Coagulante orgânico e inorgânico; tratamento de água; Rio Apodi/Mossoró.

ABSTRACT:
Coagulants are widely used in water treatment. However, there has been an increase in the number
of studies on the substitution of synthetic coagulants for organic compounds, due to the natural
advantages of organic coagulants over chemicals, with emphasis on biodegradability and low
toxicity. Thus, this work proposes to compare the efficiency of the chitosan natural coagulant with
the inorganic aluminum sulfate coagulant, in different dosages of pHs and coagulation, through the
use of coagulation diagrams in the treatment of surface water. The tests were performed in Jar Test
under the following operating conditions: TMR 100 rpm / 3 min, TML 30 rpm / 15 min and TD 30
min, with surface water from the Apodi-Mossoró River basin, in 3 distinct points located in the
municipality Of Mossoró-RN, varying the pH of coagulation and flocculation until finding the
optimum range for each coagulant and the dosages of the coagulants, in order to verify the

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 730


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

concentration of greater efficiency of removal of the parameters of quality, apparent color (mg L -1
Pt / Co), turbidity (NTU) and pH for both coagulants. After the coagulation / flocculation and
sedimentation tests, treated water samples were collected to evaluate the efficiency of the process. It
was observed that the use of chitosan was able to satisfactorily replace the synthetic coagulant used
in the water treatment of the analyzed effluent, besides being more compatible with current
environmental issues.
Keywords: Organic and inorganic coagulant; water treatment; River Apodi/ Mossoró.

INTRODUÇÃO

A água é o mais importante recurso natural do mundo e sem ela a vida não poderia existir.
Contudo, as ações antrópicas estão alterando os componentes físico, químico e biológico da água,
são muitos os poluentes que podem prejudicar a qualidade das águas dos rios, lagos e águas
costeiras e marinhas. A poluição aquática pode ser causada por matérias orgânicas, nutrientes e um
grande número de substâncias químicas que ou são produzidas para utilização deliberada (como os
pesticidas), e também grande quantidade de resíduos sólidos que são descartados de forma
inadequada (FERNANDES, 2010).
Nos últimos anos a preocupação com a qualidade da água é notório, por essa razão,
estudiosos buscam tecnologias para a recuperação da água, que envolvam um baixo custo financeiro
e uma oferta de tecnologia apropriada, simples e acessível. Uma técnica que esta sendo bastante
disseminada é a utilização de coagulantes orgânicos nas etapas de
coagulação/floculação/decantação/filtração em processo de tratamento de efluentes, para a remoção
de turbidez e cor (COUTO JUNIOR et al., 2012; MORETI et al., 2013). Entre os principais
coagulantes orgânicos em estudo utilizados para tratar efluentes estão a Moringa oleifera Lam,
Tanino vegetal e Quitosana; e os inorgânicos sulfato de alumínio e cloreto férrico (CAPELETE,
2011).
Em relação aos coagulantes inorgânicos, como o sulfato de alumínio e o cloreto férrico, são
os mais utilizados em processos de tratamentos de efluentes, pois é comprovado seu grau de
eficiência na remoção dos parâmetros (cor e turbidez) em tratamentos de água e efluentes e ao seu
baixo custo, porém são ambientalmente indesejáveis, pois os lodos produzidos podem disponibilizar
íons solúveis que comprometem a saúde humana e o meio ambiente (VAZ, et al., 2010).
Porém, tem-se a ascensão de pesquisas pela utilização de produtos naturais no tratamento de
efluentes, produtos estes que contribuem de maneira significativa para a preservação não só do
recurso água mais também dos recursos solo e ar. Um desses coagulantes é a quitosana que de
acordo com Monteiro et al (2009) se destaca com inúmeras vantagens com relação aos coagulantes
químicos, principalmente quanto à biodegradabilidade, à baixa toxicidade, ao baixo índice de
produção de lodo residual e ao grande número de cargas superficiais que favorecem o aumento da
eficiência do processo de coagulação.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 731


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Diversos estudiosos fizeram comparação entre os coagulantes orgânicos e industriais, como


Martins et al., (2014) que afirma a grande importância dos coagulantes/floculantes orgânicos, em
substituição aos inorgânicos no tratamento de água potável, efluentes, águas residuárias além de
serem eficientes adsorventes na remoção de íons metálicos.
Nesse sentido, o presente trabalho objetiva avaliar e comparar a eficiência do coagulante
orgânico quitosana e o coagulante inorgânico sulfato de alumínio no tratamento do efluente do rio
Mossoró/RN.

Características da Área de Estudo: Munícipio de Mossoró- RN

Mossoró está situado no Estado do Rio Grande do Norte, ocupa uma área de
aproximadamente 2.099,333 km² e possui 291.937 habitantes (IBGE, 2015; CPRM - Serviço
Geológico do Brasil, 2005), sendo limítrofe ao Norte por Grossos e Tibau, ao Sul por Governador
Dix-Sept Rosado e Upanema ao Leste, Serra do Mel, Areia Branca, Assu e Grossos e a Oeste,
Baraúna e Governador Dix-Sept Rosado (LUCAS et al, 2016).
O município é cortado pelo rio Mossoró, que faz parte da bacia hidrográfica Apodi/Mossoró,
a segunda maior do Estado com sua nascente na Serra de Luiz Gomes (RN), passando por 51
municípios desde a nascente até a foz, localizada entre os municípios de Areia Branca e Grossos.
Do ponto de vista histórico o rio Apodi-Mossoró continua sendo de grande importância para o
Estado do Rio Grande do Norte. O povoamento do oeste potiguar se deu a partir de suas margens,
onde se situavam os currais de gado que se direcionavam para o interior dessa região, dando origem
a importantes núcleos urbanos como Mossoró, Areia Branca, Felipe Guerra, Apodi, Pau dos Ferros,
dentre outros (OLIVEIRA e QUEIROZ, 2008).
O Rio Apodi-Mossoró tem passado ao longo dos anos por forte degradação ambiental desde
a sua nascente á sua foz. No município de Mossoró essa degradação tem se intensificado devido ao
rápido e desordenado crescimento do município, onde ações antrópicas como o lançamento de
efluentes domésticos, industriais e a prática de atividades de subsistência desenvolvidas em toda a
sua extensão tem comprometido a qualidade das águas, interferindo no equilíbrio da fauna e flora,
representando uma fonte potencial de risco à saúde pública.

MATERIAIS E MÉTODOS

Classificação da Pesquisa

A presente pesquisa é de caráter misto, pois utiliza as abordagens qualitativa e quantitativa,


considerando que ambas são complementares. A primeira visa gerar dados necessários para o
desenvolvimento de forma aprofundada (DUARTE, 2002). A segunda analisa quantitativamente

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 732


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

dados sobre comportamentos que se desejam conhecer para obter conclusões (GIL, 2008).
No que diz respeito aos procedimentos da pesquisa, segundo Prodanov (2013) se define
quando, a primeira é elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de:
livros, revistas, publicações em periódicos e artigos científicos, jornais, boletins, monografias,
dissertações, teses, material cartográfico, internet, com o objetivo de colocar o pesquisador em
contato direto com todo material já escrito sobre o assunto da pesquisa. E a segunda se concretiza
quando definimos um objeto de estudo, selecionamos as variáveis que seriam capazes de influenciá-
lo, definimos as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto.
Foram feitos registros fotográficos e observações ―in loco‖, sobre a situação atual do Rio Mossoró.
Procedimento Experimental

Coleta e Caracterização do Efluente

As amostras do efluente utilizadas nos ensaios foram coletadas em três pontos distintos do
rio Mossoró que corta a área urbana do município, o primeiro foi depois da barragem de Genésio
sentido montante, sob a ponte da BR-304, este foi selecionado para que pudéssemos observar com
quais características este efluente chega até a área urbana do município. O segundo foi sob a ponte
da Av. Presidente Dutra no Centro da cidade, este foi escolhido, pois faz parte de um trecho do rio
que sofre diretamente com as ações antrópicas (descarte de resíduos sólidos e líquidos, ineficiência
do saneamento básico), por ser uma área comercial que diariamente tem um grande número de
pessoas passando por esta. E o terceiro, foi depois da barragem de baixo sentido jusante localizado
no bairro Barrocas, este foi seleto para analisamos com quais características o efluente sai e chega a
jusante do rio.
Após a coleta, foi realizada a caracterização do efluente de acordo com os parâmetros
descritos na Tabela 1.

Parâmetros Métodos Equipamentos


Cor (mg L-1 Pt/Co) Cloroplatinato Medidor de Cor Aparente IIP
Microprocessado
Turbidez (NTU) Nefelométrico Turbidímetro Microprocessado de Bancada
II
Potencial Hidrogeniônico - pH Potenciométrico Medidor de pH TEC-5
Tabela 11 – Parâmetros analisados.

Preparo das Soluções Coagulantes

Solução Coagulante de Quitosana

No preparo da solução padrão de Quitosana utilizou-se 1g de quitosana em ácido acético 5%


(m/v), completando os 100 mL de solução com água destilada para a diluição do coagulante, com

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 733


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

auxílio do Agitador Magnético Modelo D1-01 por 15 minutos. A solução foi preparada momentos
antes dos ensaios para garantir maior eficiência.

Solução Coagulante do Sulfato de Alumínio

No preparo da solução padrão do Sulfato de Alumínio utilizou-se uma concentração de 1%,


ou seja, para um 1 g do coagulante foi adicionada 100 mL de água destilada para a diluição do
coagulante, com auxílio do Agitador Magnético Modelo D1-01 por 15 minutos (Figura 2). A
solução foi preparada momentos antes dos ensaios para garantir maior eficiência.
Ensaios de Coagulação/Floculação, Sedimentação e Filtração

Ajuste de pH

O pH é um parâmetro importante no processo de coagulação e floculação uma vez que cada


coagulante tem uma faixa ótima de operação, onde se observa a maior formação de quantidade e
tamanho dos flocos, elementos que influenciam diretamente na eficiência do processo de tratamento
do efluente (VAZ, 2010). A Tabela 2 apresenta os pHs que compreendem a faixa ótima de operação
dos coagulantes. O ajuste não foi necessário, pois o efluente apresentava pH correspondente a faixa
ótima de operação dos coagulantes.

Coagulantes Faixa ótima de operação


Quitosana* 3; 4; 5; 6; 7 e 8
Sulfato de Alumínio** 5; 6; 7; e 8
*Borba (2001).
**Silva (1999).
Tabela 12 – Faixa ótima de operação dos coagulantes.

Ensaios de Coagulação/Floculação

Os ensaios de Coagulação/Floculação foram realizados em equipamento Jar Test, onde em


cada cuba do Jar Test foram adicionados 300 mL do efluente utilizando as concentrações definidas
de 1500 e 2250 ppm das soluções coagulantes.
As condições de operação utilizadas no Jar Test para propiciar o Tempo de Mistura Rápida-
TMR, Tempo de Mistura Lenta-TML e Tempo de Decantação-TD, são abordados na Tabela 3.

TMR TML TD
100 rpm por 3 min 30 rpm por 15 min 30 mim

Tabela 3 – Condições de operação utilizadas no Jar Test.

Essas condições foram utilizadas por que segundo Valverde et al., (2015), são condições
caracterizadas como ótimas na determinação das etapas de coagulação/floculação e sedimentação

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 734


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

em processos de tratamento de águas, por serem mais viáveis economicamente e por constituírem as
condições padrão normalmente usadas em ETAs (Estação de Tratamento de Água), além de
apresentar vantagem, por se tratar das menores condições de operação aplicadas aos processos, o
que está diretamente relacionado com a diminuição de gastos com energia.
Após o tempo de decantação de cada ensaio, coletou-se 50 mL do sobrenadante dos ensaios
para ser filtrado em papel-filtro com porosidade de 7 μm e realizada as analises definidas.

Análise Estatística
A análise estatística da porcentagem de remoção dos parâmetros cor, turbidez e pH, foram
definidas conforme Equação 1.

Equação 1 - Em que é a concentração do efluente real, e do tratado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O rio Mossoró passa por um processo de poluição alarmante, é visível pela grande
quantidade de materiais em suspensão causada pelo resíduo sólido (Figura 1) e líquido descartado
impropriamente, pois o município não possuir sistema de coleta de resíduos sólidos e saneamento
básico eficiente.

Figura 1: Resíduos sólidos a margens e dentro do rio Apodi/Mossoró no município de Mossoró. A)


Barragem do bairro Centro. B) Barragem de Genésio. Fonte: Acervo do Projeto de Pesquisa, 2017.

Conforme o CONAMA 357/05 (BRASIL, 2005) que estabelece a classificação dos corpos
de água e diretrizes em relação aos parâmetros e condições de lançamento de efluentes, os
parâmetros turbidez e pH analisados nos três pontos de coleta antes do processo de tratamento
apresentaram-se dentro das condições estabelecidos pela Resolução. Diferente da cor que
apresentou valor superior ao limite máximo permitido, devido em geral à presença de uma grande
quantidade de matéria orgânica e/ou inorgânica, observadas na área e estudo (Tabela 4).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 735


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Pontos de Coleta Valores máximos/


Parâmetros
1º 2º 3º CONAMA 357/05

Cor 350,3mg/L 147,2mg/L 140,2mg/L 75 mg/L


Turbidez 25,21 NTU 16,20 NTU 32,17 NTU 100 NTU
pH 7,56 7,70 7,72 6,0 a 9,0
Tabela 4 – Resultados obtidos nas amostras do efluente antes do tratamento com os coagulantes.

O pH das amostras tratadas com a solução coagulante quitosana depois do processo de


tratamento mudou, já que esta solução coagulante é ácida, pois a quitosana é solúvel em HCl, o que
provocou variações significativas no valor inicial do pH, conforme está apresentado na tabela 5.

Pontos de Barragem de Genésio Barragem no Centro Barragem nas Barrocas


coleta
Dosagens 1500 ppm 2250 ppm 1500 ppm 2250 ppm 1500 ppm 2250 ppm
pH 5,71/ 4,96 8,16/ 7,19 5,35/ 2,81 3,24/ 2,01 5,91/ 4,92 7,29/ 2,24

Tabela 5: pH do efluente antes e após o tratamento com a Solução Coagulante Quitosana com pH ótimo.

O pH das amostras do efluente tratado com a solução coagulante sulfato de alumínio após o
processo de tratamento não apresentou mudanças significativas, onde que está representando na
tabela 6.

Pontos de Barragem de Genésio Barragem no Centro Barragem nas Barrocas


coleta
Dosagens 1500 ppm 2250 ppm 1500 ppm 2250 ppm 1500 ppm 2250 ppm
pH 7.76/ 7,28 8,21/ 7,96 7,70/ 7,09 8,14/ 7,83 7,72/ 7,19 8,37/ 8,07

Tabela 6: pH do efluente antes e após o tratamento com a Solução Coagulante Sulfato de Alumínio no pH
ótimo.

As Tabelas 7, 8 e 9, apresentam os resultados de remoção dos parâmetros analisados após


tratamento com o coagulante orgânico quitosana e o inorgânico sulfato de alumínio.

1º ponto Barragem de Genésio

Coagulantes Quitosana Sulfato de alumínio

Dosagens 1500 ppm 2250 ppm 1500ppm 2250ppm

Cor Aparente 94,57 % 93,17 % 82 % 78,86 %

Turbidez 95,08 % 93,69 % 91,42 % 89,86 %

Tabela 7 – Valores da remoção da Cor aparente e Turbidez em %.

Ao analisar os resultados do obtidos na Barragem de Genésio (Tabela 7), foi possível

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 736


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

verificar que a solução coagulante quitosana foi mais eficiente que o sulfato de alumínio na
remoção da cor e turbidez com a dosagem 1500ppm chegando a remover, após o tratamento,
94,57% da cor e 95,08% da turbidez. A solução coagulante sulfato de alumínio removeu 82 % da
cor e 91,42% da turbidez. Portanto, a solução coagulante quitosana se mostrou mais eficiente que o
sulfato para as duas dosagens, neste setor.

2º ponto Barragem Centro


Coagulantes Quitosana Sulfato de alumínio
Dosagens 1500 ppm 2250 ppm 1500ppm 2250ppm
Cor Aparente 89,13 % 83,89 % 91,10% 86,89 %
Turbidez 96,11 % 94,93 % 99,31 % 99,18 %
Tabela 8 – Valores da remoção da Cor aparente e Turbidez em %.

Na Barragem no Centro os resultados obtidos a solução coagulante sulfato de alumínio


apresentou maior eficiência do que a solução coagulante quitosana (Tabela 8). Na remoção da cor, a
solução coagulante quitosana conseguiu remover 89,13 % com a dosagem 1500ppm, já a solução
coagulante sulfato de alumino removeu 91,10 %. Em relação à turbidez, a solução coagulante
quitosana conseguiu remover 96,11 % e com a solução coagulante sulfato de alumino conseguiu
remover 99,31%.
Nascimento (2013) em sua pesquisa buscou avaliar a eficiência do processo de coagulação-
floculação quanto à remoção dessa matéria orgânica presente em lixiviado pré-tratado
biologicamente utilizando quitosana e sulfato de alumínio como coagulantes. Os resultados
mostraram que o uso da quitosana como coagulante, alcançou-se valores médios de eficiência de
remoção de cor verdadeira e turbidez iguais a 73% e 94%, respectivamente, com dosagem de 480
mg.L-1 e valor de pH 8,5. Quanto ao uso do coagulante químico, foram alcançados valores médios
de eficiência de remoção de cor e turbidez iguais a 87% e 93%, respectivamente, com dosagem de
146 mg Al+3.L-1 e valor de pH 8,5.

3º ponto Barragem na Barrocas


Coagulantes Quitosana Sulfato de alumínio
Dosagens 1500 ppm 2250 ppm 1500ppm 2250ppm
Cor Aparente 80,31 % 80,09 % 79,90 % 79,83 %
Turbidez 93 % 97,04 % 99,60 % 99,58 %
Tabela 9 – Valores da remoção da Cor aparente e Turbidez em %.

E na Barragem de Baixo os resultados obtidos com a solução coagulante quitosana foram


superiores aos resultados do sulfato de alumínio em relação à cor, pois após o tratamento com a
solução coagulante quitosana ocorreu à redução de 80,31% da cor com a dosagem 1500ppm; e com
a solução coagulante sulfato de alumínio conseguiu remover 79,90% da cor aparente com a mesma
dosagem. Já a turbidez a solução coagulante sulfato de alumínio foi mais eficiente conseguindo

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 737


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

remover 99,60% com a dosagem 1500 ppm, e com a solução coagulante quitosana conseguiu
remover 97,04% da turbidez com a dosagem 2250ppm, conforme a tabela 9.
Carvalho (2008) realizou ensaios de coagulação/floculação, sedimentação e filtração, com o
objetivo de aperfeiçoar o processo de produção de água potável, a partir da água do Rio Pirapó -
PR, utilizando como coagulantes a quitosana e o sulfato de alumínio e a associação entre esses dois
coagulantes. O volume do lodo e a concentração de metais provenientes do tratamento com
quitosana foram inferiores ao lodo gerado pelo tratamento com sulfato de alumínio, tanto para
águas com baixa ou alta cor e turbidez.

CONCLUSÃO

Os coagulantes testados mostraram-se eficientes na remoção da cor e turbidez da água do


Rio Apodi-Mossoró, onde o coagulante orgânico natural quitosana no 1º ponto foi superior ao
inorgânico em ambos os parâmetros analisados (cor e turbidez), e no 2º e 3 o ponto, o coagulante
orgânico conseguiu resultados bastante próximos aos obtidos pelo inorgânico nos mesmos
parâmetros de tratabilidade citados. Desta forma, podemos concluir que a solução coagulante obtida
com o coagulante orgânico quitosana mostra-se um agente coagulante/floculante promissor para o
tratamento deste tipo de efluente tanto pelo potencial coagulante ser semelhante ao de um
coagulante inorgânico amplamente usado comercialmente, quanto por se tratar de um material mais
compatível com as questões ambientais vigentes.

REFERÊNCIAS

BORBA, L.R. Viabilidade do uso da Moringa oleifera Lam no tratamento simplificado de


água para pequenas comunidades. 2001. 96p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e
Meio Ambiente) - Universidade Federal da Paraíba, Fortaleza, 2001.

CAPELETE, B. C. Emprego da quitosana como coagulante no tratamento da agua contendo


microc stis aeruginosa – avaliação de eficiência e formação de trihalometanos. Xvii, 127p.,
(ENC/UnB, Mestre, Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos, 2011). Dissertação de Mestrado
– Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia.

CARVALHO, M. J. H. Uso de coagulantes naturais no processo de obtenção de água potável.


Maringá, 2008. p,154.

CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução Nº 357 de 17 de março de 2005.

COUTO JUNIOR, O. M.; STROHER, A. P.; BARROS, M. A. S. D.; PEREIRA, N. C.


Caracterização e Otimização do Tratamento de Efluente Têxtil por Coagulação-Floculação,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 738


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Utilizando Coagulante Natural Tanino. RECEN 14(1) p. 79-90 jan/jun 2012.


DOI:10.5777/RECEN.2012.01.05

DUARTE, R. Pesquisa Qualitativa: reflexões sobre o trabalho de campo. Cadernos de Pesquisa,


Campinas, n. 115, 2002. Disponível em: <
http://unisc.br/portal/upload/com_arquivo/pesquisa_qualitativa_reflexoes_sobre_o_trabalho_
de_campo.pdf >. Acesso em: 31 de março de 2016.

FERNANDES, N. M. G.; GINORIS, Y. P.; RIOS, R. H. T. Influência do pH de coagulação e da


dose de sulfato de alumínio na remoção de oocistos de Cryptosporidium por filtração direta
descendente. Eng Sanit Ambient, v.15 n.4, out/dez 2010, p. 375-384.

GIL, A. C. M todos e T cnicas de Pesquisa Social. 6 ed. São Paulo: Scipione, 2008.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mossoró (RN). In: IBGE cidades, 2015.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 18 Jan.
2016.

LUCAS, L. E. F.; MEDEIROS, F. H. F.; MEDEIROs, S. R. M. de; FERNANDES. C. do N.. Análise


da ocupação inadequada das áreas de preservação permanente em um trecho urbano do rio
mossoró no município de mossoró/rn. REVISTA GEONORTE, Edição Especial 5, V.7, N.26,
p.14- 34, 2016.

MARTINS, A. A.; OLIVEIRA, R. M. S.; GUARDA, E. A. G. Potencial de uso de compostos


orgânicos como, coagulantes, floculantes e adsorventes no tratamento de água e efluentes. X
Fórum Ambiental da Alta Paulista, v. 10, n. 12, 2014, pp. 168-183.

MONTEIRO, Daniel Trentini; BERGAMASCO, Rosângela; MORAES, Leila Cristina Konradt.


Tratamento de água por coagulação/floculação/filtração com membranas, utilizando o
coagulante natural quitosana. VIII Congresso Brasileiro de Engenharia Química em Iniciação
Científica. Uberlândia, Minas Gerais, Brasil 2009.

MORETI, L. O. R; CAMACHO, F. P.; BONGIOVANI, M. C.; STROHER, A. P.; NISHI, L.;


VIEIRA, A. M. S.; BERGAMASCO, R.. Emprego das sementes de moringa oleifera lam, como
coagulante alternativo ao policloreto de alumínio (pac), no tratamento de água para fins
potáveis. e-xacta, Belo Horizonte, v. 6, n.1, p. 153-165. (2013). Editora UniBH.

NASCIMENTO, I. O. do C. Avaliação do processo de coagulação-floculação de lixiviado de aterro


sanitário pr -tratado biologicamente utilizando quitosana e sulfato de alumínio como
coagulantes. 2013. 167f. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Escola

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 739


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Politécnica, 2013.

OLIVEIRA, M. A.; QUEIROZ, R. A. C. A poluição do rio Mossoró (RN) e a ação intervencionista


do Minist rio Público. In: IV Encontro Nacional da Anppas 4,5 e 6 de jun. 2008 – Brasília (DF).

PEREIRA, E. R.; FRANCISCO, A. A.; THEODORO, J. D. P.; BERGAMASCO R.; FIDELIS, R.


Comparação entre a aplicação do coagulante natural moringa oleifera e do coagulante químico
sulfato de alumínio no tratamento de água com diferentes níveis de turbidez. enciclop dia
biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p. 2015.

PERSPECTIVAS DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DIANTE DA CONTAMINAÇÃO


QUÍMICA DA ÁGUA: DESAFIOS NORMATIVOS. Revista de Gestão Integrada em Saúde do
Trabalho e Meio Ambiente - v.2, n.4, Seção 1, ago 2007.

PRODANOV, C. C. Metodologia do trabalho científico [recurso eletrônico] : m todos e t cnicas


da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. – Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

SERVIÇOS GEOLÓGICO DO BRASIL (CPRM). Diagnóstico do Município de Mossoró. Set.


2005. Disponível em:
http://www.cprm.gov.br/rehi/atlas/rgnorte/relatorios/MOSS089.PDF >Acesso em: 18 Jan. 2016.

SILVA, T. S. S. Estudo de tratabilidade físico-química com uso de taninos vegetais em água de


abastecimento e esgoto. Tese (Mestrado, Área de Saúde Pública) – Fundação Oswaldo Cruz, Rio
de Janeiro, 85f. , 1999.

VALVERDE, K. C.; COLDEBELLA, P. F.; SANTOS, T. R. T.; NISHI, L.; MORETI, L. O. R.;
CAMACHO, F. P.; BONGIOVANI, M. C.; FAGUNDES-KLEN, M. R.; SANTOS, O. A. A.;
BERGAMASCO, R. Otimização dos parâmetros de mistura e sedimentação empregando a
combinação dos coagulantes Moringa oleífera lam e cloreto f rrico no tratamento de água
superficial. Anais do III Encontro Paranaense de Engenharia e Ciência. Toledo–PR, 2013.

VAZ, L. G. L.; KLEN, M. R. F.; VEIT, M. T.; SILVA, E. A. da S.; BARBIERO, T. A.;
BERGAMASCO, R. B. Avaliação da eficiência de diferentes agentes coagulantes na remoção
de cor e turbidez em efluente de galvanoplastia. Eclet. Quím. vol.35 n.4 São Paulo 2010.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 740


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MODELO PARA REUTILIZAR AS ÁGUAS CINZA DE LAVA-JATO LOCALIZADO


NO MUNICÍPIO DE POMBAL – PB

Kardelan Arteiro da SILVA


Graduando do Curso de Engenharia Ambiental da UFCG
kardelanok0@gmail.com
Graziela Pinto de FREITAS
Mestranda do Curso de Energias Renováveis da UFPB
graziellapf@hotmail.com
Wallysson Klebson de Medeiros SILVA
Mestrando do Curso de Energias Renováveis da UFPB e Graduando de Administração da IFPB
wallyssonk@gmail.com
Habila Yusuf THOMAS
Graduado do curso de Engenharia Química da UFRN
habilayusufthomas@yahoo.com

RESUMO
Uma das formas de se conservar água é utilizando fontes alternativas de suprimento de recursos
hídricos, de modo a aumentar a oferta desse bem e consequentemente reduzir desperdícios. O reúso
de águas cinza para fins não-potáveis, tais como lavagem de veículos, rega de jardins e descarga de
vasos sanitários, são apenas alguns exemplos. O presente estudo teve como principal objetivo
analisar a situação de lava-jatos localizados no município de Pombal – PB, com relação à aplicação
de um modelo de tratamento de águas cinza no estabelecimento. Foi realizado uma descrição da
área de estudo, posteriormente foi levantada uma definição para a tecnologia utilizada no tratamento
e reaproveitamento de águas cinza, realizado através de pesquisa bibliográfica especializada na
área, as informações adicionais para dimensionamento do sistema de tratamento proposto foram
realizadas através de pesquisa técnica a empreendimentos de lava-jato.
Palavras Chave: Reuso de Água; Poluição; Atividades Antrópicas.
ABSTRACT
One way to conserve water is by using alternative sources of water supply, in order to increase the
supply of water and consequently reduce waste. The reuse of gray water for non-potable purposes,
such as car wash, garden watering and toilet flushing are just a few examples. The present study had
as main objective to analyze the situation of jet wash located in the city of Pombal - PB, in relation
to the application of a model of treatment of gray water in the establishment. A description of the
study area was carried out, later a definition was established for the technology used in the
treatment and reuse of gray water, carried out through specialized bibliographic research in the area,
additional information for designing the proposed treatment system was carried out through
research Technical assistance to jet-launder ventures.
Keywords: Water Reuse; Pollution; Anthropic Activities.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 741


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

A água é um bem indispensável a todas as formas de vida na terra e avaliada como sendo o
recurso natural mais abundante, ocupando cerca de 75 % da sua superfície, porém a maior parte da
água disponível é salgada ou encontra-se congelada, restando apenas uma pequena parcela para os
diversos usos. Em muitos países a escassez hídrica torna-se um fator limitante, fazendo com que
metade da população sofra com a falta d‘água (FIORIN, 2005).Para Silva et al.(2010), o problema
se agrava com o aumento da demanda hídrica para o consumo humano e agrícola devido ao
crescimento populacional e também pelo desperdício, que poderá levar a um déficit na quantidade e
qualidade da água, resultando em vários problemas para o homem, animais e ao meio ambiente,
tornando-se evidente a necessidade da sua preservação, uma vez que a sua falta poderá levar a
morte das espécies que habitam a Terra.
DESCHEEMAEKER et al. (2010) consideram a escassez hídrica como um dos principais
entraves para o desenvolvimento econômico da região semiárida do Nordeste brasileiro, tendo em
vista que a falta deste recurso impede a instalação e a expansão do setor industrial, a geração de
emprego e renda e a melhoria da qualidade de vida da população.O aumento da demanda hídrica
decorrente do crescimento populacional, tem incentivado a busca de novas tecnologias, além de
aperfeiçoar as que já existem e principalmente difundir essas técnicas para melhor aproveitamento
da água (SILVA et al., 2010). Sob a ótica empresarial, é imprescindível a prática da adoção de
novas tecnologias relacionadas às águas, pois elas podem trazer vários benefícios como diminuição
de custos e riscos, redução de desperdícios e geração de lucro e melhorias no relacionamento com
os consumidores. Assim, é mister que as empresas inovem cada vez mais e com maior frequência e
intensidade (FREEMAN; SOETE, 2008).Com a nova visão de sustentabilidade, optar por não
inovar pode significar o fim de uma empresa, principalmente em setores intensivos em
conhecimento e tecnologia (MOWERY; ROSENBERG, 2005).
Partindo do princípio de que é mister o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções
alternativas para diminuir o consumo de água potável para usos não nobres, é que este estudo
buscou encontrar uma solução viável para melhor destinação final das águas cinza originadas em
lava jatos da cidade de Pombal-PB verificando a viabilidade econômica e técnica da aplicação de
um sistema de captação e tratamento das águas cinza produzidas nesses estabelecimentos, a serem
utilizadas para usos não nobres, tais como: irrigações de jardins; lavagens de pisos, calçadas e
banheiros; descargas de vaso sanitário; dentre outros.
Levando em consideração o contexto do assunto, esse trabalho tem como principal objetivo
analisar a situação de empreendimentos de lava-jatos localizados no município de Pombal – PB,
com relação à aplicação de um sistema de tratamento de águas cinza no estabelecimento,
ocasionando, por isso, o seu reuso.
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 742
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MATERIAIS E MÉTODOS

- Localização da área de estudo

Oestudofoi realizadonomunicípiodePombalFigura 1,localizadoaOestedo estado da Paraíba,


região Nordeste do Brasil, Mesorregião SertãoParaibano e MicrorregiãoSousa.Limita–
seaoNortecomosmunicípiosde SantaCruz,Lagoae Paulista, aLeste comCondado;ao Sul com São
Bentode Pombal, Cajazeiras, Coremas, e SãoJosédaLagoa Tapada,ea Oeste,comAparecidae São
Francisco. Sua área territorial éde666,7 km2eestá situadaaumaaltitudede184 metros. Apresenta
coordenada geográfica:Latitude-6.76º Se longitude -37.8º O.

Figura 1:Localização do município de Pombal- PB

Fonte: LUCENA, etal 2013

- Definição da tecnologia utilizada para o tratamento do efluentes originados no lava jato.

Segundo o secretário de tributação do município de Pombal-PB existem, em média, 15 lava-


jatos na cidade.Tendo em vista apontar alternativas que visam minimizar o consumo de água
através de medidas estruturais e/ou não estruturais fez-se a quantificação do consumo de água.Em
seguida elaborou-se a proposta do sistema de reúso de água. A escolha do tipo de processo de
tratamento do efluente é de fundamental importância, pois está diretamente ligada ao sucesso do
empreendimento. Por isso, a mesma deve ser bastante fundamentada e criteriosa no conhecimento
das técnicas de tratamentos existentes e nas necessidades e requisitos de qualidade da aplicação do
reuso proposto (METCALF, EDDY, 2003). Tem-se uma grande variabilidade dos elementos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 743


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

constituintes dos efluentes, com isso é grande também a variedade de sistemas possíveis de serem
concedidos para fazer o tratamento.O efluente gerado pela lavagem de veículos pode conter
quantidades significativas de óleos e graxas, sólidos em suspensão, metais pesados, dentre outros
elementos (TEXEIRA, 2003).
Na Figura 2 é apresentado um layout da proposta do sistema de reuso de água cinza no lava-
jato, as etapas resultantes deste sistema encontram-se descritas a seguir.

Etapa 1:

O veículo é estacionado num piso ligeiramente superior, cuja elevação é de


aproximadamente 1 (um) metro, favorecendo o escoamento da água por gravidade para as unidades
de tratamento subsequentes. Após a lavagem, a água escoa para o sistema de separação de água e
óleo, formado por um tanque de três câmaras, na primeira ocorre a separação dos sólidos
decantáveis que são mais densos do que a água, a segunda câmara é responsável pela retirada dos
sólidos flutuantes como óleos e sabão. Esse tipo de tecnologia ajuda a diminuir a quantidade de
partículas que poderiam causar problemas nas etapas seguintes do tratamento, pois se não houver
essa primeira etapa pode comprometer o funcionamento do filtro pela quantidade de sólidos em
suspensão da água bruta proveniente da lavagem dos veículos. Posteriormente, a água que está
contida na última câmara é conduzida por tubulação perfurada do tipo espinha de peixe para o filtro
de fluxo descendente formado por uma camada de pedregulho e duas camadas de areia grossa e
areia fina. Esta configuração permite a distribuição uniforme da água no filtro (Figura 3).

Etapa 2:

Em seguida, tem-se a caixa d‘água com capacidade de 500 litros (Reservatório 1) para a
filtração descendente FIG. 3.
Nesse tipo de filtração tem-se primeiro a areia fina, em seguida, a areia grossa e o
pedregulho, ocasionando, desta forma, uma melhor clarificação do efluente. Dentro deste recipiente
tem uma canalização em formato de ‗‘espinha de peixe‖, para que haja uma melhor distribuição da
água durante a filtração, contribuindo com uma maior vida útil do sistema. A filtração descendente
remove as impurezas presentes na água bruta pela passagem destas em um meio granular poroso,
constituído de camadas de pedregulho e areia. Tem-se uma diminuição da turbidez e da cor
aparente, pois retirando os sólidos em suspensão ocorre uma clarificação da água, ocasionando,
assim, uma melhor aparência da mesma.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 744


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 2:Layoutdo sistema para reaproveitamentode águas cinza

Fonte: Autoria própria.

Figura 3: Filtração descendente em ―espinha de peixe‖.

Fonte: Autoria própria, 2016.

Etapa 3:

A água é conduzida e armazenada no Reservatório 2 (caixa d'água de 1000 litros), sendo


recomendado também o processo de desinfecção para inativar microrganismos que por ventura

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 745


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

estejam presentes após as etapas anteriores, para isso deve-se introduzir o cloro e deixar um tempo
de contato. A etapa de desinfecção é extremamente importante para evitar o crescimento
microbiano e odores desagradáveis. Após a desinfecção, a água está pronta para ser reutilizada para
a lavagem de veículos, pisos, calçadas, rega de jardim e uso nas descargas sanitárias,
proporcionando, de tal forma, diversos benefícios para o proprietário e o meio ambiente.

RESULTADOS

- Consumo de água em lava jato

Tendo em vista quantificar o consumo de água, caracterizar os tipos de veículos lavados,


além de identificar rotinas e procedimentos em lava-jato, buscou-se informação através da técnica
de entrevista aos donos de tais estabelecimentos, para isso selecionou-se dentre os 15 lava-jatos
cadastrados na cidade de Pombal, aqueles de médio a grande porte, cuja rotina é mais frequente.
Constatou-se que por semana são lavados 19 veículos equivalendo a 76 carros lavados por mês. De
acordo com o proprietário, o consumo mensal de água é de 15 m3 (15.000 litros), desta forma, cada
carro consome aproximadamente 198 litros de água para ser lavado.

- Especificações para construção do sistema de reuso de águas cinza

A água cinza seguirá por um tanque de alvenaria para separação de água e óleo, formado por
três câmaras, cujo volume total é de 750 litros. Posteriormente, é conduzida por um filtro (caixa de
500 litros) composto de areia e pedregulho. Desta unidade, a água clarificada é conduzida para a
última unidade. Por fim, a água tratada é armazenada em um reservatório de 1000 litros para
posterior uso. Nesta unidade a água poderá passar pelo processo de desinfecção para garantir a
eliminação de microrganismos nela presentes e após um período estará pronta para o uso. Na Tabela
1 estão dispostas as especificações dos materiais que compõem o sistema de tratamento proposto e
os seus respectivos quantitativos; já na Tabela 2 são apresentados os valores referentes aos custos
de implantação do sistema.
A presente proposta contribuirá para a redução do consumo de água através da prática do
reúso de água, além de minimizar os impactos decorrentes das atividades desenvolvidas em lava
jato.
Tabela 1 – Especificações do sistema estudado

Componentes do sistema Dimensões Valor adotado (m)

Altura 1
Tanque de separação de água e óleo Largura 0,5

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 746


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Comprimento 1,5

Altura 0,72
Caixa d'água (500 litros) Diâmetro com tampa 1,24
Diâmetro da base 0,95

Altura 0,94

Caixa d'água (1000 litros) Diâmetro com tampa 1,52


Diâmetro da base 1,21

Canalização Comprimento 4,7

Fonte: Autoria própria, 2016

Tabela 2 – Custos de implantação do sistema

Item Valor unitário Quantidade Valor final (R$)


(R$)
Caixa d'água de 1000 litros 292,50 1 Un 292,50
Caixa d'água de 500 litros 175,50 1 Un 175,50
Montagem das tubulações 65,80 - 65,80
Tanque de alvenaria 400,00 1 Un 400,00
Areia e pedras 300,00 1 m2 300,00
Diária do pedreiro 100,00 5 dias 500,00
Custo Total 1793,80
Fonte: Autoria própria, 2016

- Benefícios alcançados através do uso do sistema de tratamento em estudo

A tecnologia de tratamento composta por caixa de separação de água e óleo, filtração


descendente e desinfecção é uma tecnologia simples, de fácil implantação/operação e econômica,
além de não exigir operação sofisticada, sendo uma alternativa viável para pequenos
empreendedores. Assim, além de promover redução do consumo de água em regiões que sofrem
com a falta de recursos hídricos é uma alternativa de fácil implantação e baixo custo. E ainda, se
mostra eficiente no processo de tratamento e clarificação de efluente.
De acordo com estudos, os sistemas de tratamento e reúso de água em lava jatos podem
alcançar uma economia de 44,48% no valor pago na conta de água. Desta forma, considerando a
atual despesa referente ao consumo de água de 212,43 reais que é pago pelo dono do lava-jato em
estudo, pode-se constatar uma economia mensal de94,49 reais. Considerando que o investimento
total é de 1793,80 reais, conclui-se que o sistema de tratamento de reúso apresentado possibilitará

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 747


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

um retorno de investimento em 19 meses, isto é, em pouco mais de um ano o microempresário


atuante nesta área terá um retorno de todo o capital de investimento e passará a obter lucros livres.
Considerando os benefícios ambientais e econômicos do sistema de tratamento e reúso
apresentado neste estudo, o empreendedor poderá agregar mais valor ao seu serviço e apresentar o
projeto como estratégia de marketing ecológico.

CONCLUSÃO

Os problemas decorrentes da escassez hídrica deixaram de ser exclusivos da região nordeste,


sobretudo das regiões semiáridas. As questões envolvendo a falta de água se configura também em
regiões de climas favoráveis e que apresentam autos índices pluviométricos.O sistema de reúso
apresentado neste estudo é uma alternativa viável, de baixo custo e de fácil operação e que permite
a redução da demanda de água no setor, além de minimizar os problemas ambientais resultantes
desta atividade. Foi possível constatar neste estudo, a falta de legislação envolvendo a disciplina do
setor de lava-jato e a necessidade do engajamento das pessoas que atuam neste serviço acerca de
alternativas que promovam à sustentabilidade desta atividade, fazendo-se necessária atuação de
profissionais ligados a área de educação e da área ambiental.

REFERÊNCIAS

DESCHEEMAEKER,K.;MAPEDZA, E.;AMEDE,
T.;AYALNEH,W.Effectsofintegratedwatershedmanagementonlivestockwaterproductivity in
water scarce areasinEthiopia.PhysicsandChemistryoftheEarth,Oxford,v.35,n.13-14,p.723-729,
2010.

FREEMAN,C.; SOETE,L.AEconomiadaInovaçãoIndustrial.EditoraUnicamp, Campinas, 2008.

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2010. Disponível em:


<www.ipea.gov.br/portal/>. Acesso em: 25 de julho de 2016.

FIORIN, J.V. Reutilização das águas cinza e pluviais em edificações residenciais – estudo de caso:
edifício São Paulo, Ijuí, RS. Trabalho de conclusão apresentado ao Curso de Engenharia Civil do
Departamento de Tecnologia – DETEC da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul – UNIJUÍ. 72p.

LUCENA, K. P.EstimativadapegadahídricadapopulaçãourbanadaCidadede Pombal–


PB.TrabalhodeConclusãodoCurso(GraduaçãoemEngenharia Ambiental) apresentadaa
Universidade Federal de CampinaGrande,CentrodeCiênciase Tecnologia Agroalimentar.
Pombal, 2013.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 748


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

METCALF e EDDY, Wastewater engineering: treatmed and reuse, McGraw-Hill – Boston, 2003.
1819p.

MOWERY,D.C.;ROSENBERG, N.TrajetóriasdaInovação:a mudança tecnológica nos Estados


Unidos da América no século XX. Campinas: Editora Unicamp, 2005.

SILVA, W. M.; SOUZA, L. O.; REGO, L. H. A.; ANJOS, T. C. Avaliação da reutilização de águas
cinzas em edificações, construções verdes e sustentáveis. In: ENCICLOPÉDIA BIOSFERA,
Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.6, N.11; 2010.

TEXEIRA, P. C. Emprego da filtração por ar dissolvido no tratamento de efluentes de lavagem de


veículos visando a reciclagem da água. Dissertação apresentada a Faculdade de Engenharia Civil
da Universidade Estadual de Campinas, Campinas – SP, 2003. 199p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 749


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

COAGULANTE ORGÂNICO: UMA ALTERNATIVA NO


TRATAMENTO DE EFLUENTE INDUSTRIAL

Larissa Fernandes da SILVA


Graduanda em Gestão Ambiental pela UERN
lfernandes24a12@hotmail.com
Yáskara F. M. Marques LEITE
Professora adjunta do departamento de química da UERN
ya.marques2@gmail.com
Juciane Vieira de ASSIS
Graduanda em Gestão Ambiental pela UERN
jucianevda@gmail.com
Tamires Elizabete Monte da SILVA
Graduanda em Gestão Ambiental pela UERN
tamires.74@hotmail.com

RESUMO
Com o aumento da população mundial, o consumo dos recursos naturais também tem aumentado
para suprir as necessidades básicas da população. Entre os recursos naturais o que se pode destacar
é o hídrico, recurso base utilizado em toda e qualquer atividade, após ser utilizado acaba gerando
efluentes com alta carga poluente que, se não forem devidamente tratados, podem acarretar grandes
problemas ambientais. Assim, este trabalho apresenta como objetivos a caracterização do efluente
do sistema de resfriamento de uma industrial alimentícia, localizada no município de Mossoró,
Estado do Rio Grande do Norte; e o estudo em laboratório para avaliar a eficiência do coagulante
natural Quitosana como alternativa ao industrial Cloreto Férrico nas etapas de
Coagulação/Floculação/Sedimentação e Filtração do tratamento deste efluente. Com base nos
estudos experimentais realizados foi observado que a utilização do coagulante Quitosana mostrou
eficiência na redução dos parâmetros físico-químicos analisados do efluente obtido das torres de
resfriamento de uma indústria alimentícia, sendo assim considerados viáveis, vantajosos e
promissores no processo de tratamento, para a obtenção de água com boa qualidade, para reuso no
sistema de refrigeração da empresa ou descarte no meio ambiente, já que após o tratamento do
efluente com o coagulante natural, este obedeceu aos padrões exigidos pela Resolução CONAMA
357/2005. Portanto, pode-se concluir que a Quitosana é uma alternativa promissora no tratamento
de efluentes das torres de resfriamento de indústrias alimentícias, assim como para tratamento de
outros efluentes.
Palavras Chave: Quitosana, Cloreto Férrico, Efluente de Refrigeração, Saneamento.

ABSTRACT
With the increase in world population, the consumption of natural resources has also increased to
meet the basic needs of the population. Among the natural resources that can be highlighted is
water, the basic resource used in any and every activity, after being used ends up generating
effluents with high pollutant load that, if not properly treated, can lead to major environmental
problems. Thus, this work presents as objectives the characterization of the effluent of the cooling
system of a food industry, located in the municipality of Mossoró, State of Rio Grande do Norte;
And the laboratory study to evaluate the efficiency of the natural coagulant Chitosan as an
alternative to the industrial Ferric Chloride in the Coagulation / Flocculation / Sedimentation and

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 750


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Filtration phases of the treatment of this effluent. Based on the experimental studies, it was
observed that the use of the coagulant Chitosan showed efficiency in the reduction of the physical-
chemical parameters analyzed of the effluent obtained from the cooling towers of a food industry,
being considered viable, advantageous and promising in the treatment process, for The extraction of
water with good quality, for reuse in the company's refrigeration system or disposal in the
environment, since after treatment of the effluent with the natural coagulant, it obeyed the standards
required by CONAMA Resolution 357/2005. Therefore, it can be concluded that Chitosan is a
promising alternative in the treatment of effluents from cooling towers of food industries, as well as
for treatment of other effluents.
Keywords: Chitosan, Ferric Chloride, Cooling Effluent, Sanitation.

INTRODUÇÃO

Com o aumento da população mundial, o consumo dos recursos naturais também tem
aumentado para suprir as necessidades básicas da população. Entre os recursos naturais o que se
pode destacar é o hídrico, recurso base utilizado em toda e qualquer atividade, após ser utilizado
acaba gerando efluentes com alta carga poluente que, se não forem devidamente tratados, podem
acarretar grandes problemas ambientais.
As indústrias tem necessidade da utilização de grande quantidade de água para a realização
das suas operações, isto acontece na adição ao produto; lavagens de maquinas, tubulações e
pisos; e torres de resfriamento. As torres de resfriamento são uma fonte representativa do uso de
água, o efluente gerado desse processo apresenta uma alta carga poluidora, pois este sistema
utiliza grande volume de água potável, perde parte desse recurso por evaporação e gera
volume considerável de efluentes descartados com altas concentrações de nutrientes, carga
orgânica e sólidos em suspensão (VIEIRA, 2011; HESPANHOL, 2002; SILVA FILHO, 2009;
PONTREMOLEZ, 2009).
Para minimizar esse problema, faz-se o tratamento deste efluente, e um dos mecanismos
utilizados é a coagulação. Os agentes coagulantes podem ser de origem química, como alumínio
ou ferro, ou de origem natural, também chamados de polieletrólitos, como moringa, quitosana e
tanino (FERRARI; GENENA; LENHARD, 2016).
Os coagulantes são espécies químicas capazes de promover a desestabilização de
partículas. Após a desestabilização das partículas ocorre a floculação, quando então as partículas
desestabilizadas são submetidas a choques entre si, unindo-se umas às outras e formando
flocos passíveis de remoção por sedimentação e/ou filtração (DI BERNARDO, DANTAS
2005; LIBÂNIO, 2008).
As vantagens da utilização dos polieletrólitos são inúmeras, pois podem ser utilizadas em
tratamento de efluentes de vários segmentos da indústria (ARRUDA et al., 2015; LO
MONACO et al., 2012; STROHER et al., 2013), tratamento de esgotos domésticos (LO

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 751


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MONACO et al., 2013, LO MONACO et al., 2014; BERTONCINI, 2008) e até mesmo para
tratamento de água potável (MORETI et al., 2013; BONGIOVANI et al., 2010; MADRONA et
al., 2012), além de apresentarem menor custo, maior eficiência e menor volume de lodo gerado,
comparado com os coagulantes de origem química, além de menor toxicidade, podendo ser
descartado mais facilmente e, até mesmo, ser utilizado na agricultura como fertilizante
(ARATES, 2015; FERRARI; GENENA; LENHARD, 2016).
Assim, este trabalho apresenta como objetivos a caracterização do efluente do sistema de
resfriamento de uma industrial alimentícia, localizada no município de Mossoró, Estado do Rio
Grande do Norte; e o estudo em laboratório para avaliar a eficiência do coagulante natural
Quitosana como alternativa ao industrial Cloreto Férrico nas etapas de
Coagulação/Floculação/Sedimentação e Filtração do tratamento deste efluente.

MATERIAIS E MÉTODOS

Coleta e Caracterização do Efluente do Sistema de Resfriamento

O efluente bruto utilizado foi coletado do sistema de resfriamento de uma industrial


alimentícia, localizada em Mossoró-RN. Após a coleta, o efluente foi caracterizado e preparado
para o processo de tratamento (Coagulação/Floculação/Sedimentação e Filtração). Para caracterizar
o efluente, foram determinados parâmetros físico-químicos: cor, turbidez, pH, condutividade e
temperatura, antes e após o tratamento proposto. A avaliação dos coagulantes utilizados nos
experimentos de tratamento do efluente foi realizada baseada na redução percentual destes
parâmetros.

Preparação das Soluções Coagulantes

Quitosana

A solução coagulante da Quitosana foi preparada com 100 mL de solução, dissolvendo 1g


de quitosana em ácido acético 5% (m/v), completando os 100 mL de solução com água destilada.
Com 15 minutos de agitação em Agitador Magnético Modelo D1-01. A solução foi preparada
momentos antes dos ensaios para garantir melhor eficiência.

Cloreto Férrico

Utilizando uma concentração de 1% m/v, ou seja, para cada 1 g do coagulante adicionaram-


se 100 mL de água destilada para a diluição do coagulante, com auxílio do Agitador Magnético
Modelo D1-01 por 15 minutos. A solução foi preparada momentos antes dos ensaios para garantir
maior eficiência.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 752


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ajuste de pH

O pH é um parâmetro importante no processo de coagulação e floculação uma vez que cada


coagulante tem uma faixa ótima de operação, onde se observa a maior formação de quantidade e
tamanho dos flocos, elementos que influenciam diretamente na eficiência do processo de tratamento
do efluente (VAZ, 2009). A Tabela 1 apresenta as faixas ótimas de operação dos coagulantes. O
ajuste não foi necessário, pois o efluente apresentava pH correspondente à faixa ótima de operação
dos coagulantes.

Coagulantes Faixa ótima de operação


Quitosana* 3a8
Cloreto Férrico** 5 a 11
*Borba (2001).
**Silva (1999).
Tabela 1 – Faixa ótima de operação dos coagulantes.

Ensaios de Coagulação/Floculação

Os ensaios de Coagulação/Floculação foram realizados em equipamento Jar Test (Figura 1),


em cada cuba do Jar Test foram adicionados 300 mL do efluente da lavagem de carros utilizando as
concentrações definidas de 100, 250, 350 e 450 ppm das soluções coagulantes. Estes valores de
concentrações foram estabelecidos com base na literatura.

Figura 1 – Realização dos ensaios de coagulação/floculação. Fonte: Acervo do Projeto de Pesquisa, 2017.

Condições de Operação

As condições de operação utilizadas no Jar Test para propiciar o Tempo de Mistura Rápida-
TMR, Tempo de Mistura Lenta-TML e Tempo de Decantação-TD, são abordados na Tabela 2.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 753


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TMR TML TD
100 rpm por 3 min 30 rpm por 15 min 15 mim
Tabela 2 – Condições de operação utilizadas no Jar Test.

Essas condições foram utilizadas por que segundo Valverde et al., (2015), são condições
caracterizadas como ótimas na determinação das etapas de coagulação/floculação e sedimentação
em processos de tratamento de águas, por serem mais viáveis economicamente e por constituírem as
condições padrão normalmente usadas em ETAs, além de apresentar vantagem, por se tratar das
menores condições de operação aplicadas aos processos, o que está diretamente relacionado com a
diminuição de gastos com energia.
Após o tempo de decantação de cada ensaio, coletou-se 50 mL do sobrenadante dos ensaios
para ser filtrado em papel-filtro com porosidade de 7 μm (Figura 2) e realizada as análises
definidas.

Figura 2 – Etapa de filtração. Fonte: Acervo do Projeto de Pesquisa, 2017.

Análise Estatística

A análise estatística da porcentagem de remoção dos parâmetros cor, turbidez e


condutividade, foram definidas conforme Equação 1.

(1)

Em que Ci é a concentração do efluente real, e C do tratado.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 754


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização do Efluente Bruto

As características físico-químicas da água bruta são mostradas na Tabela 1.

Parâmetros Valores do Efluente Bruto Valores Limites Estipulados

Cor (mg/L) 500 75*


Turbidez (NTU) 250 100*
pH 8,0 6 a 9*
Condutividade (µs/cm) 125 100**
Temperatura (ºC) 29 40*
*Resolução CONAMA 357 de 2005, dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o
seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras
providências.
** CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo.
Tabela 1: Caracterização do efluente bruto.

Na Tabela 1, observa-se que os valores dos parâmetros cor, turbidez e condutividade da água
bruta estão acima dos valores limites estipulados. O que caracteriza este efluente como inviável
para descarte direto em corpos hídricos ou para reuso, por apresentarem padrões irregulares
estabelecidos pelo CONAMA CETESB. Apenas o pH e a temperatura encontram-se de acordo com
os padrões estipulados.
Se este efluente sem nenhum tipo de tratamento preliminar chegar a ser lançado em corpos
hídricos ou reusado, no primeiro ocasionará diversos problemas como modificação da qualidade do
corpo receptor assim como na sua dinâmica ambiental, e no segundo comprometera toda a estrutura
de maquinários, o que elevará ainda mais os gastos financeiros, que poderiam ter sido evitadas com
a adoção medidas preventivas.

Avaliação do processo de coagulação/floculação

Os gráficos 1, 2, e 3 abaixo, apresentam a percentagem de remoção/redução de cor, turbidez


e condutividade. A partir disso será avaliada a eficiência do coagulante orgânico utilizando como
base comparativa o industrial no processo de tratamento.

Figura 1: Redução de cor em %, tratamento realizado com os coagulantes e suas respectivas dosagens.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 755


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Observa-se por meio da Figura 1, que os coagulantes e suas respectivas concentrações


reduziram mais de 97% de cor das amostras tratadas. Será definida como concentração ótima a que
obtiver remoção total dos parâmetros, 100%. A dosagem ótima dos coagulantes foram 250 ppm de
Quitosana e 350 ppm de Cloreto Férrico.
Todas as amostras tratadas permaneceram dentro dos padrões estabelecidos pelo CONAMA,
pudemos então perceber que o coagulante orgânico apresentou a mesma eficiência que o coagulante
industrial na remoção deste parâmetro. Representando-se uma alternativa ao uso do coagulante
industrial.
A partir da Figura 2, que apresenta os resultados de redução de turbidez observa-se que
todas as amostras obtiveram remoção de mais de 99 %, todas permanecendo dentro dos padrões
estabelecidos pela legislação. A concentração de Quitosana e Cloreto Férrico que apresentaram a
maior redução deste parâmetro foi de 150 ppm removeu 99,816 % e 350 ppm removeu 99,78.

Figura 2: Redução de turbidez em %, tratamento realizado com os coagulantes e suas respectivas dosagens.

Vaz (2009) avaliou e comprovou a eficiência do coagulante orgânico a base de quitosana em


tempos de sedimentação e diferentes concentrações distintas, no tratamento do efluente de
galvanoplastia, obtendo maior eficiência de remoção de cor (99,44%) e turbidez (99,79%) para a
concentração de 5 ppm e tempo de sedimentação de 50 min. Em termos de custos e eficiência de
remoção de cor e turbidez o autor definiu que o tempo de sedimentação de 20 min nas mesmas
condições de operação mostrou-se atrativa, pois apresentam valores muito próximos aos obtidos
para o tempo de 50 min de sedimentação (Cor: 98,68% e Turbidez: 99,44%).
Nesse estudo, os resultados obtidos para o coagulante natural foi bastante semelhante aos
alcançados pelo autor citado acima, apesar de o fator concentração ser muito superior.
DA SILVA et al. (2003) estudaram o emprego do mesmo coagulante no tratamento de
efluente de indústria têxtil e obtiveram uma remoção de cor e turbidez de 86% e 85%,
respectivamente, nas condições de 4 ppm de coagulante, pH igual a 8,8 e 3 h de sedimentação.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 756


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Embora o efluente utilizado no presente trabalho (efluente de refrigeração) seja diferente do


empregado por DA SILVA et al. (2003), obteve-se uma porcentagem de remoção de cor e turbidez
maior em um tempo de sedimentação (15 min) relativamente curto e sem prévio ajuste de pH.
Os autores BRESAOLA JÚNIOR & CARRARA (2000) e DA SILVA et. al. (2007)
investigaram a eficiência e remoção de turbidez empregando o cloreto férrico no tratamento de
efluentes de galvanoplastia e esgoto sanitário, respectivamente. A eficiência de remoção de turbidez
obtida por BRESAOLA JÚNIOR & CARRARA (2000) foi de 98,97% na concentração de 30 ppm
do coagulante, pH igual a 10 e 60 min de sedimentação, já DA SILVA et. al. (2007) obtiveram uma
remoção de 96% de turbidez na concentração de 200 ppm do coagulante em um tempo de
sedimentação de 30 min.
Quando o cloreto férrico é adicionado em excesso ao meio, parte não participa da reação de
coagulação/floculação, ficando este em solução há o aumento dos valores dos parâmetros cor e
turbidez (VAZ, 2009). Segundo BRANCO (1991), a presença de ferro pode propiciar uma
coloração amarelada e turva à água dependendo dos níveis de concentração.
O Gráfico 3, representa a percentagem de remoção da condutividade das amostras tratadas.
Todas as amostras obtiveram redução de mais de 20 %. A concentração de Quitosana e do Cloreto
Férrico que mais reduziram a condutividade foi 100 ppm reduzindo 63,2% e 150 ppm reduzindo
65,6 %.

Figura 3: Redução de condutividade em %, tratamento realizado com todos os coagulantes e suas respectivas
dosagens.

É importante ressaltar que os coagulantes naturais não possuem metais pesados em sua
composição, ao contrario dos coagulantes químicos, desta forma, constatou-se que a utilização de
agentes coagulantes orgânicos biodegradáveis é, portanto, uma alternativa técnica aos coagulantes
convencionais no tratamento do efluente da indústria alimentícia, possuindo benefícios de saúde
pública além de preservação ambiental (BONGIOVANI et al., 2010; STRÔHER et al., 2013)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 757


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos estudos experimentais realizados foi observado que a utilização do
coagulante Quitosana mostrou eficiência na redução dos parâmetros físico-químicos analisados do
efluente obtido das torres de resfriamento de uma indústria alimentícia, sendo assim considerados
viáveis, vantajosos e promissores no processo de tratamento, para a obtenção de água com boa
qualidade, para reuso no sistema de refrigeração da empresa ou descarte no meio ambiente, já que
após o tratamento do efluente com o coagulante natural, este obedeceu aos padrões exigidos pela
Resolução CONAMA 357/2005.
A Quitosana apresentou a mesma eficiência que o coagulante industrial, sendo possível
então ser utilizado como alternativa, pois além de oferecer uma água de boa qualidade, é
uma alternativa em benefício do meio ambiente (MORETI et al., 2013), que ao contrario dos
coagulantes químicos, não possui metais pesados em sua composição e é biodegradável.
Com isso a substituição do coagulante industrial (Cloreto Férrico) nos processos de
tratamento de efluentes, pelo coagulante orgânico (Quitosana) pode representar redução nos custos
com o tratamento e permitir geração de lodo com menor concentração de metais.
Portanto, pode-se concluir que a Quitosana é uma alternativa promissora no tratamento de
efluentes das torres de resfriamento de indústrias alimentícias, assim como para tratamento de
outros efluentes.

REFERÊNCIAS

A. P.; MENEZES, M. L. PEREIRA, N. C.; BERGAMASCO, R. UTILIZAÇÃO DE


COAGULANTES NATURAIS NO TRATAMENTO DE EFLUENTE PROVENIENTE DE
LAVAGEM DE JEANS. ENGEVISTA, V. 15, n. 3. p. 255-260, dezembro de 2013.

ARANTES, C. C. et al. Diferentes formas de aplicação da semente de Moringa oleifera no


tratamento de água. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental Campina Grande,
PB, UAEA/UFCG – v.19, n.3, p.266–272, 2015. ISSN 1807-1929. DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/1807-1929/agriambi.v19n3p266-272

ARRUDA, C. S. C. et al. Pós-tratamento de efluente cervejeiro com coagulantes naturais. 326


InterfacEHS – Saúde, Meio Ambiente e Sustentabilidade - Vol. 10 no 1 – Junho de 2015.

BERTONCINI, E. I. TRATAMENTO DE EFLUENTES E REÚSO DA ÁGUA NO MEIO


AGRÍCOLA. Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária, Junho de 2008, 152-169 p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 758


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BONGIOVANI, M. C. et al. Os benefícios da utilização de coagulantes naturais para a obtenção


de água potável. Acta Scientiarum. Technology Maringá, v. 32, n. 2 p. 167-170, 2010. DOI:
10.4025/actascitechnol.v32i2.8238.

BORBA, L.R. Viabilidade do uso da Moringa oleifera Lam no tratamento simplificado de água
para pequenas comunidades. 2001. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente) - Universidade Federal da Paraíba, Fortaleza, 2001.

BRANCO, S. M. Água e o homem. In. Hidrologia Ambiental. v. 3, São Paulo: Edusp. 1991.

BRESAOLA JUNIOR, R.; CARRARA, S. M. C. M. Reuso de águas residuárias geradas em


processos de galvanoplastia. In: XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e
Ambiental, 2000. Porto Alegre - RS.

CARDOSO, K. C. et al. Otimização dos tempos de mistura e decantação no processo de


coagulação/ floculação da água bruta por meio da Moringa oleifera. Acta Scientiarum
Technology, v. 30, n. 2, p. 193-198, 2008.

CAVALCANTE, A. L. A. et al. AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DA SOLUÇÃO


COAGULANTE DE Moringa oleifera NO TRATAMENTO DA ÁGUA DO RIO
APODI/MOSSORÓ PREPARADA EM DIFERENTES INTERVALOS DE AGITAÇÃO. In:
SEABRA, G. (Org.). TERRA - Saúde Ambiental e Soberania Alimentar. Ituiutaba:
Barlavento, 2015. Vol. III. p. 687- 694.

COMPANHIA DE TECNOLOGIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO-CETESB.


Qualidade das Águas Interiores no Estado de São Paulo. São Paulo: CETESB, 2009.

CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 357 de 17 de março de 2005.

DA SILVA, F. J. A.; SOUZA, L. M. M.; MAGALHÃES, S. L. Uso potencial de biopolímeros de


origem vegetal na descolorização de efluente têxtil índigo. In: XXII Congresso Brasileiro de
Engenharia Sanitária e Ambiental, 2003. Joinvile - SC.

DA SILVA, M. E. R.; AQUINO, M. D.; DOS SANTOS, A. B. Pós-tratamento de efluentes


provenientes de reatores anaeróbios tratando esgotos sanitários por coagulantes naturais e não-
naturais. Rev. Tecnol. Fortaleza, v. 28, p. 178-190. 2007.

DI BERNARDO, L.; DANTAS, A.D.B. Métodos e técnicas de tratamento de água. 2. ed. v. 1. São
Carlos: RiMa, 2005.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 759


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

FERRARI, C. T. R.; GENENA, A. K.; LENHARD, D. C. Uso de coagulantes naturais no


tratamento de efluente da indústria de alimentos em substituição ao cloreto férrico: revisão
Científica, Jaboticabal, v.44, n.3, p.310-317, 2016.

FONSECA, J. G. et al. COMPARAÇÃO DA ATIVIDADE COAGULANTE DA SEMENTE DE


Moriga oleifera PROCESSADA POR DIFERENTES FORMAS COM UM COAGULANTE
QUÍMICO. In: SEABRA, G. (Org.). TERRA - Saúde Ambiental e Soberania Alimentar.
Ituiutaba: Barlavento, 2015. Vol. III. p. 1052 - 1058.

FRANCISCO, J. P. et al. DESEMPENHO DE FILTROS ORGÂNICOS COM O USO DE


EXTRATO DE SEMENTES DE Moringa oleifera LAM Irriga, Botucatu, v. 19, n.4, p. 705-

713, outubro-dezembro, 2014. ISSN 1808-3765.

HESPANHOL, I. Potencial de Reuso de água no Brasil: Agricultura, Indústria, Municípios,


Recarga de Aquíferos. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 7, n. 4, p. 75-95, 2002.

LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. 2.ed. Campinas: Editora Átomo,


2008. 444 p.

LO MONACO, P. A. V. et al. Ação coagulante do extrato de sementes de moringa preparado em


diferentes substâncias químicas. Engenharia na Agricultura, Viçosa-MG, V.20 N.5. Setembro /
Outubro 2012, 453-459 p.

LO MONACO, P. A. V. et al. EFEITO DA ADIÇÃO DE DIFERENTES SUBSTÂNCIAS


QUÍMICAS NO EXTRATO DE SEMENTES DE MORINGA UTILIZADO COMO
COAGULANTE NO TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO. Eng. Agríc., Jaboticabal,
v.34, n.5, p.1038-1048, set./out. 2013.

LO MONACO, P. A. V. et al. TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO UTILIZANDO


COAGULANTE NATURAL SEGUIDO DE FILTRO ORGÂNICO. Revista Caatinga, Mossoró,
v. 27, n. 1, p. 28 – 40, jan. – mar., 2014.

MADRONA, G. S. et al. Evaluation of extracts of Moringa oleifera Lam seeds obtained with NaCl
and their effects on water treatment. Acta Scientiarum. Technology Maringá, v. 34, n. 3, p. 289-
293, July-Sept., 2012.

MORETI, L. O. R. et al. EMPREGO DAS SEMENTES DE MORINGA OLEIFERA LAM, COMO


COAGULANTE ALTERNATIVO AO POLICLORETO DE ALUMÍNIO (PAC), NO

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 760


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TRATAMENTO DE ÁGUA PARA FINS POTÁVEIS. e-xacta, Belo Horizonte, v. 6, n. 1, p.


153-165. (2013). Editora UniBH.

NKURUNZIZA, T. et al. The effect of turbidity levels and Moringa oleifera concentration on the
effectiveness of coagulation in water treatment. Water Science and Technology, v. 59, n. 8, p.
1551-1558, 2009.

PONTREMOLEZ, N. S. Estudo de caso: diagnóstico de um sistema de reuso de água em torres de


resfriamento. Monografia (Graduação). São Carlos – SP, 2009.

SANTOS, W. R. et al. ESTUDO DO TRATAMENTO E CLARIFICAÇÃO DE ÁGUA COM


TORTA DE SEMENTES DE Moringa oleifera Lam. Revista Brasileira de Produtos
Agroindustriais, Campina Grande, v.13, n.3, p.295-299, 2011. ISSN 1517-8595.

SILVA FILHO, A. Tratamento terciário de efluentes de uma indústria de refrigerantes


visando ao reuso – um estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de processos
químicos e bioquímicos) – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Escola de
Química, 2009.

VALVERDE, K. C. et al. OTIMIZAÇÃO DOS PARÂMETROS DE OPERAÇÃO NO


PROCESSO DE COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO E SEDIMENTAÇÃO NO TRATAMENTO
DE ÁGUA COM A ASSOCIAÇÃO PAC E Moringa oleifera Lam. ENGEVISTA, V. 17, n. 4, p.
491-499, Dezembro 2015.

VAZ, L. G. L. Performance do processo de coagulação/floculação no tratamento de efluente


líquido gerado na galvanoplastia. Toledo, PR, 2009, 83 p. (Dissertação).

VIERA, F. C. Viabilidade Técnica e Econômica do Reaproveitamento de Efluentes de Torres de


Resfriamento. Porto Alegre, novembro de 2011. (Monografia).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 761


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

AÇÃO DE LIMPEZA NO ESTUÁRIO DO RIO COCÓ – FORTALEZA (CE):


UMA PRÁTICA DE CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL
A PARTIR DA COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Liana Pontes de OLIVEIRA


Graduanda do Curso de Geografia da UECE
lianapontes@outlook.com
Lucas Emerson Uchôa RIBEIRO
Graduando do Curso de Geografia da UECE
lucasemersonce@hotmail.com
Jailson Cavalcante LIMA
Graduando do Curso de Geografia da UECE
jaillsonline@gmail.com
Jader Onofre de MORAIS
Professor Emérito
jaderonofre@gmail.com

RESUMO
Este trabalho propõe um alerta para o descaso com os resíduos sólidos em ambientes costeiros,
viabilizado através de uma ação organizada pelo Ecomuseu Natural do Mangue em parceria com
órgãos públicos visando à limpeza no estuário do Rio Cocó, localizado no bairro da Sabiaguaba,
Fortaleza (CE). Simultaneamente, utiliza-se da educação ambiental como ferramenta para alertar a
importância da qualidade ambiental principalmente em áreas de preservação na qual o recorte está
inserido, este por sua vez deve ser protegido das intervenções antrópicas oriundas do cotidiano
urbano. A metodologia abordada consistiu em organizar uma ação de limpeza nas áreas de
preservação da Sabiaguaba, onde a partir de uma amostragem dos resíduos sólidos coletados nas
redondezas foram triados, e, analisados suas possíveis origens, para assim levantar alguns
questionamentos pertinentes. A gestão de resíduos sólidos local é efetiva? E a conscientização dos
frequentadores? Além disso, a ação é um marco inicial para uma integração entre a participação de
órgãos públicos e as áreas de preservação agregando comprometimento.
Palavras-chaves: Resíduos sólidos, Educação Ambiental, Áreas de Preservação.
ABSTRACT
This work proposes an alert for the disregard for solid waste in coastal environments, made possible
through an action organized by the Natural Mangrove Ecomuseum in partnership with public
agencies aiming at the cleaning of solid waste in the Cocó River estuary, located in the Sabiaguaba
neighborhood, Fortaleza-CE. Simultaneously, environmental education is used as a tool to alert the
importance of environmental quality mainly in areas of preservation in which the clipping is
inserted, which in turn must be protected from anthropic interventions originating from urban
everyday life. The methodology used consisted in organizing a cleaning action in the Sabiaguaba
preservation areas, where from a sampling of the solid wastes collected in the vicinity were
screened, and their possible origins analyzed, in order to raise some pertinent questions. Is local
solid waste management effective? And the awareness of the regulars? In addition, the action is an
initial milestone for an integration between the participation of public agencies and the preservation
areas adding commitment.
Keywords: Solid waste, Environmental Education, Preservation Areas.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 762


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

A contaminação dos ambientes naturais pelo descarte inadequado de resíduos sólidos é um


dos mais sérios problemas globais decorrentes das atividades antrópicas desordenadas. Atrelado a
isso, o elevado padrão de consumo atual da sociedade, principalmente nas grandes cidades, acaba
acarretando um déficit na realização do seu manejo e disposição final. Desta maneira, ações de
conscientização ambiental tornam-se indispensáveis, visando a atenuação dos efeitos degradantes
das atividades humanas, consideradas principalmente no contexto da disposição final dos resíduos
sólidos, uma das marcas da sociedade contemporânea.
Segundo Santaella et al. (2014) o aumento populacional associado tanto à produção
industrial como ao crescimento de centros urbanos impulsiona um grande aumento qualitativo e
quantitativo da produção de resíduos sólidos. As discussões acerca de seu descarte não se
restringem às questões ambientais, sendo abordada por diversas áreas, como as de âmbito social e
econômico. De acordo com a Lei 12.305/2010 (Capitulo II, art. 3º, inciso XVI) que institui a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), os mesmos conceituam-se como:

[...] material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em


sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a
proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e
líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos
ou em corpos d‘água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis
em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010).

No contexto das grandes cidades, Pimenta, Filho e Picoli (2013) inserem a discussão dos
ecossistemas urbanos a partir das relações do homem com a natureza e as mudanças promovidas no
meio ambiente, onde a cidade pode ser considerada como um ecossistema que dispõe de
organismos consumidores (ser humano), ambiente físico em constante transformação e fluxos de
energia, matéria e informação que fazem o ecossistema se dinamizar. Assim, áreas urbanas
promovem interferências com o meio relacionadas com a degradação ambiental, porém, a
necessidade de preservação dos espaços naturais em meio ao crescimento das cidades também é
inserida nesse contexto.
Nessa perspectiva, os ecossistemas urbanos se destacam pela sua elevada suscetibilidade a
poluição, dado o elevado grau de antropização dos ambientes naturais e a elevada produção de lixo,
que tem em sua maior parte um manejo inadequado. De acordo com a Lei 6.938/1981 (Art.3º,
inciso III) que institui a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), entende-se por poluição:

―a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:


a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições
adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem
as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em
desacordo com os padrões ambientais estabelecidos‖ (BRASIL, 1981).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 763


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Destarte, observa-se que o desequilíbrio ambiental está articulado a uma problemática mais
ampla, vinculada ao próprio bem-estar da sociedade, haja vista que a própria natureza fornece
recursos necessários ao desenvolvimento humano, bem como fornece serviços essenciais a sua
qualidade de vida. Segundo Mucelin e Bellini (2008), as práticas de disposição inadequada de
resíduos sólidos estão entre os impactos ambientais negativos28 originados do lixo urbano e, dentre
eles, destacam-se a contaminação de corpos hídricos, assoreamento, enchentes, proliferação de
vetores transmissores de doenças etc.
De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais (ABRELPE, 2013), o Brasil é o quinto maior produtor de lixo do mundo, e a deficiência
na gestão de resíduos sólidos no território brasileiro está diretamente associada à coleta e destinação
final do lixo que a população produz: em todo o país, apenas 58,3% dos resíduos sólidos urbanos
recolhidos possuem rumo apropriado.
Também incorporada na discussão da elevada produção de resíduos sólidos, destaca-se a
cidade de Fortaleza (capital do Ceará), com seus 2.452.185 habitantes (IBGE, 2010). O presente
município conta com o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), definido por um
documento onde se indicam e descrevem as ações relativas ao manejo dos materiais descartados,
observadas suas características e riscos, no âmbito dos estabelecimentos geradores de resíduos das
diversas atividades, contemplando os aspectos referentes à segregação, coleta, manipulação, o
acondicionamento, o transporte, armazenamento, tratamento a reciclagem e a disposição final do
lixo.
De acordo com o Souza (2009), os corpos d‘água da cidade de Fortaleza encontram-se em
elevado estado de degradação ambiental e, associado a isso, parte da periferia fortalezense está
inserida as margens de rios nas quais foram ocupadas por moradias de baixa renda. Com o
saneamento básico ineficiente, as águas dos rios, lagos e lagoas recebem efluentes sem qualquer
tipo de tratamento, além da elevada quantidade de lixo doméstico que é depositado em suas
margens.
O recorte espacial do presente trabalho é referido no estuário do rio Cocó, situado no bairro
da Sabiaguaba, Regional IV, no município de Fortaleza. Zanella et al. (2013) afirma que o baixo
curso da bacia do Cocó apresenta o processo de apropriação do espaço bastante complexa,
remetendo a ocupação de populações socialmente menos favorecidas, confrontando-se ainda com o
processo atual de expansão urbana voltada para a parcela mais abastada da cidade.

28
Entende-se por Impacto Ambiental Negativo, de acordo com o art. 1° da Resolução n. 001/96 do CONAMA, como
qualquer alteração adversa das propriedades do meio ambiente, resultante das atividades humanas que, direta ou
indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população, as atividades sociais e econômicas, a biota, as
condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais (CONAMA, 1986).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 764


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Nas proximidades da foz localiza-se a ONG Ecomuseu Natural do Mangue da Sabiaguaba


(Ecomunam), na qual tem como propostas principais o ecoturismo comunitário e a educação
ambiental, ambos voltados para a população em geral. Sendo assim um espaço educativo,
colaborativo e estimulador na promoção de inúmeras atividades voltadas à reflexão da preservação
ambiental e do ecossistema manguezal dentro da cidade de Fortaleza. Deste modo, o presente
trabalho tem como objetivo principal discutir os resultados de uma ação de limpeza realizada na foz
do Rio Cocó, com enfoque na discussão da disposição dos resíduos sólidos e na conscientização da
população.
A presente discussão justifica-se, assim, na análise dos tipos de lixo que se apresentam na
área em destaque, como uma tentativa de conceber as origens e a espacialização dos mesmos, além
da reflexão sobre a atual gestão dos resíduos sólidos na cidade de Fortaleza.

METODOLOGIA

Para a concretização do objetivo geral deste estudo, sintetizou-se quatro etapas constituintes
do processo metodológico: 1) Ação de limpeza – levantamento de dados qualitativos e
quantitativos; 2) Levantamento bibliográfico, documental e cartográfico; 3) Elaboração e
interpretação de bancos de dados, imagens e materiais cartográficos; 4) Sistematização de
resultados e conclusões.
1) O caráter metodológico da ação de limpeza é descrito no próximo tópico do presente
trabalho. A saber, dados qualitativos distribuição do lixo e disposição nos ambientes e quantitativos
equivalentes à quantidade de resíduos por material e por área foram levantados nos momentos finais
da ação através anotações e contribuições do ambientalista do Projeto Limpando o Mundo, bem
como registros através de fotografias digitais e vídeos.
2) O levantamento bibliográfico-documental abordou acerca da busca e leitura de livros e
materiais acadêmicos direcionados à temática de estudo, bem como da apropriação de materiais
legais e documentos disponibilizados em meio digital. Destacam-se autores como Mucelin e Bellini
(2008) na discussão das problemáticas relacionadas a distribuição inadequada dos resíduos sólidos,
Pimenta, Filho e Picoli (2013) no debate relacionado aos ecossistemas urbanos e Souza (2009) e
Zanella et.al (2013) abordando questões em um contexto local.
Salienta-se, também, a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais (ABRELPE, 2013) que, com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil do ano de 2013,
serviu como base a obtenção de alguns dados em escala nacional. E, por fim, algumas leis e
resoluções foram utilizadas como base à definição de determinados conceitos. Podemos citar a Lei
12.305/2010 referente à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a Lei 6.938/1981 relativa à
Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e a Resolução CONAMA n° 1 concerne nos critérios

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 765


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

básicos e diretrizes gerais, para a avaliação de impactos ambientais. Além disso, enfatiza-se também
o levantamento de imagens de satélites disponíveis no software Google Earth Pro.
3) Dado o recolhimento de todos os dados, os mesmos foram organizados com vistas a
formar um banco de dados direto e prático. Submeteu-se também, na presente etapa, a elaboração
de um mapa de localização para a indicação das áreas alcançadas na ação de limpeza. Nesta etapa
foi possível a preparação do conteúdo para a elaboração do presente artigo, visto às interpretações
que foram analisadas no decorrer do estudo.
4) Por fim, com a sistematização dos resultados e conclusões, foi possível assimilar e
recapitular de maneira geral tudo o que foi abordado no trabalho, ademais propor alguns
questionamentos e subsídios para possíveis análises decorrentes sobre a temática, além de
perspectivas para futuras ações de limpeza na presente área.

RESULTADOS

A ação de limpeza ocorreu no dia 15 de julho de 2017, organizada pelo Ecomunan e os


estagiários voluntários da Universidade Estadual do Ceará (UECE) contou com o apoio da
Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (SEUMA), Secretaria do Meio Ambiental
(SEMA), Ecofor Ambiental, Polícia Militar Ambiental e Projeto Limpando o Mundo.
A abertura apresentou uma acolhida com aproximadamente 40 participantes, trazendo um
diálogo sobre a importância da coleta dos resíduos sólidos em áreas naturais, e uma breve
explicação dos percursos que deveriam ser percorridos visando pontos estratégicos articulados
anteriormente através de um estudo prévio da área observando a atuação da maré, dos ventos, entre
outros fatores, ou seja, onde comumente dispõem de maior deposição dos resíduos, veja na figura 1.
Por conseguinte, foi feito um alerta dos principais cuidados ao manuseio no momento da
coleta, para o caso de lixos cortantes e pontiagudos. Posteriormente, ocorreu a distribuição de luvas
descartáveis e sacos plásticos para os participantes.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 766


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1: mapa de localização das áreas de coletas. Fonte: elaborado pelos autores.

Assim sendo, foram separadas três equipes para facilitar a abrangência da coleta. A equipe 1
fez o percurso pela desembocadura do rio onde ficam situadas as barracas de praia, com o objetivo
de além da coleta do lixo conscientizar os consumidores e os banhistas à respeito da disposição final
dos resíduos. Liderada pelo educador ambiental do Projeto Limpando O Mundo, a equipe abordou
cerca de 30 pessoas onde foi explicada a campanha de limpeza de rio e do manguezal.
Dessa maneira foi feito o alerta para as pessoas não descartarem o seu resíduo na areia ou no
rio. Nas mesas das barracas de praia onde os consumidores abordados foram alertados, receberam
sacolas para que pudessem exercer a conscientização de recolher o próprio lixo ou até ao redor. Em
suma os principais tipos de lixos encontrados nesta área foram os descartáveis em geral, além de
pormenores como tampas de garrafa e lacre de latinhas (figura 2).

Figura 2: resíduos pormenores coletados principalmente pelas crianças. Fonte: elaborada pelos autores.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 767


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A coleta destes pormenores ficou a cargo das crianças que estavam envolvidas na ação
juntamente com algumas outras que estavam usufruindo da praia no seu momento de lazer com seus
familiares, dai a importância de que uma ação como esta se mantenha, pois as crianças aprendem a
lição logo cedo e podem até propagar a conscientização ambiental.
As equipes 2 e 3 fizeram o percurso ao redor e no interior dos manguezais. O diferencial
entre elas foram os meios: enquanto a equipe 2 fez o trajeto a pé nas proximidades da ponte, na qual
concentra-se um volume maior de lixo por apresentar uma quantidade considerável de banhistas, a
equipe 3 fez o roteiro pelo rio facilitado pelo projeto Canoagem Ambiental e Cidadã29 a procura de
fazer a coleta do lixo flutuante principalmente na margem esquerda (veja figura 3).

Figura 3: momento da divisão das equipes 2 e 3. Fonte: elaborada pelos autores.

Nestas áreas, quatro tipos de mangues30 foram constatados. Vale ressaltar que a ação foi
promovida em menção ao dia internacional de proteção aos manguezais (26/07). Os manguezais
são ecossistemas que exercem funções e serviços essenciais ao bem-estar social, pois apresentam
condições determinantes ao desenvolvimento social e econômico, sobretudo nas comunidades que
dependem diretamente da extração de recursos naturais para sua sobrevivência.
Nesse contexto, Thiers et al. (2013) destaca algumas funções e serviços ecossistêmicos
associados ao ecossistema como: produção e regulação de gases; regulação do clima; refúgio de
vida silvestre; controle da erosão e retenção de sedimentos; proteção da costa contra extremos
climáticos; deslizamentos, enchentes; controle biológico; produção de alimento; produção primária;
recreação; cultura; amortecimento das consequências previstas pelo aquecimento global; entre
outros.

29
Canoagem Ambiental e Cidadã é um projeto do Ecomunam, no qual procura efetivar ações de limpeza através da
utilização de caiaques para coleta de resíduos sólidos no estuário do Rio Cocó, visando assim à conscientização e
sensibilização dos visitantes e moradores que avistam a ação.
30
Existem quatro tipos no local: Rhizophora mangle (mangue vermelho); Laguncularia racemosa (mangue branco);
Avicennia schaueriana (mangue preto) e Conocarpus erecta (mangue de botão).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 768


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Durante a ação foi possível observar a maneira como o lixo é distribuído e seus diferentes
tipos de decomposição. Entre os galhos e raízes dos manguezais havia principalmente sacolas
plásticas.
A ação durou cerca de uma hora e meia, onde todos se dispersaram já acordado o horário do
retorno para concluirmos a última etapa, a triagem do resíduo recolhido, este último momento foi
bastante simbólico, consistiu na separação dos resíduos sólidos em categorias: plásticos em geral,
metais, vidros, e diversos.
O processo de triagem foi simbólico no sentido da quantidade recolhida que foram no total
de 36 sacos plásticos de 50 litros, apenas 15 foram triados (veja figura 4). Estes sacos processados
foram quantificados com o auxílio do educador ambiental especialista em resíduos sólidos em áreas
costeiras, logo bom investigador quanto à origem dos materiais.

Figura 4: os 15 sacos de lixos que passaram pelo processo de triagem. Fonte: elaborada pelos autores.

Obteve-se de materiais de vidro 6 garrafas inteiras, 7 cacos de vidro, 3 copos e uma


embalagem de perfume. Em metais: 12 latas (refringentes e cervejas) 96 tampas de metal e 10
enlatados. Quanto aos plásticos foram contabilizados 51 garrafas pets, 56 tampas de pet, 123
sacolas plásticas, 186 pedaços de sacolas plásticas, 168 embalagens de alimentos diversos
(biscoitos, salgadinhos, etc), 12 bandeja de ovos de codorna, uma bandeja de bolo, 9 embalagens
iogurte, 21 tetra pak 31(suco, achocolatado, café, leite etc), 55 embalagens de produtos de higiene
pessoal. Em materiais descartáveis foram 198 copos, 55 pedaços de copos, 5 pratos, 17 canudos, 17
embalagens de marmitas, 10 talheres e 11 fraldas descartáveis. Dentre os materiais diversos,
encontraram-se 3 blusas, 2 chinelos, 2 sapatos, um colete salva-vidas, 4 pedaços de isopor, 11
pedaços de corda, 2 brinquedos, 2 isqueiros, uma embalagem de óleo diesel, uma esponja de lavar
louça, uma roda de freezer, uma capa de celular e uma película de celular.

31
Embalagem cartonadas, em formato de tetraedro (quatro faces, triangular, com base horizontal).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 769


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Diversas foram as contribuições em relação à origem dos resíduos. Primeiramente, os


enlatados provavelmente são advindos das pessoas que veem a lazer para a praia, assim como
algumas embalagens de alimentos. Quanto às sacolas plásticas fez a distinção em relação a
mercadinhos e supermercados, visto que a região periférica não apresenta rede de supermercado nas
proximidades, portanto os sacos de supermercados provavelmente seriam provenientes da ação
eólica ou carreados pelo rio. As embalagens de alimentos retrataram o somatório mais significativo,
podemos considerar a leveza do peso favorecendo o transporte eólico.
Vários itens foram classificados como lixo doméstico, dentre eles as embalagens de tetra
pak e a esponja de lavar louça, demonstrando assim que a própria comunidade não possui
conscientização ambiental, supondo que esses tipos de resíduos são nitidamente domésticos. Alguns
dos itens foram identificados provenientes da atividade pesqueira artesanal, por exemplo, isopor e
corda. Outra distinção apontada seria o lixo gerado dos produtos dos vendedores ambulantes como
embalagens de ovo de codorna, e o lixo oriundo dos proprietários das barracas de praia na sua
maioria, descartáveis, pets e latinhas.
Um desagrado constatado foi o costume de algumas pessoas que utilizam produtos de
higiene pessoal para descolorir os pelos, na praia, (popularmente conhecido como banho de lua) e
não fazem o devido descarte do seu lixo pessoal, e outro péssimo hábito seria o descarte de fraldas
descartáveis, demonstrando assim a importância e a necessidade da continuidade das ações.
Inferimos assim que para além da poluição do rio e dos manguezais, todo esse lixo caso não
ocorra à destinação adequada, serão responsáveis por danos à biota seja por enredamento e/ou
ingestão de plásticos por invertebrados bentônicos, peixes, aves, tartarugas e mamíferos marinhos
(veja figura 5). Já os danos causados às atividades humanas incluem prejuízos em relação à
degradação dos atributos da beleza cênica, aumento de despesas municipais com limpezas
periódicas das praias e disseminação de doenças associadas à proliferação de vetores, entre outros
tipos de problemas que incorrem no aumento das despesas inclusive com a saúde pública.

Figura 5: garrafa pet que apresenta indícios de consumo por algum animal marinho.
Fonte: elaborada pelos autores.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 770


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, confirma-se que a demanda de resíduos na foz do rio Cocó encontra-se
em uma situação caótica. O Ecomunan cumpre seu papel através da educação ambiental, praticando
a conscientização e a sensibilização sempre de forma descontraída há 16 anos através de um
trabalho voluntário em defensa dos manguezais.
Por isso, os esforços do Ecomunan são primordiais para dar continuidade em futuras ações
de limpeza, que possam correr periodicamente, com a finalidade de chamar atenção para a
conscientização da qualidade ambiental nos manguezais e na intenção de expandir para outras
instâncias, agregando ainda mais o apoio de órgãos públicos vinculados ao meio ambiente.
Para a continuidade da ação, faz-se necessário propostas mitigadoras com o apoio e
visibilidade tanto da sociedade civil como de órgão públicos. Durante a ação, identificamos que os
resíduos sólidos poderiam ser aproveitados para reciclagem. Além disso, foi proposta a ideia de
entrar em contato, para além da Ecofor, com alguma associação de catadores de resíduos sólidos
recicláveis, e assim tornar o ciclo cada vez mais amplo e sustentável.

REFERÊNCIAS

ABRELPE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E


RESÍDUOS ESPECIAIS. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil, 2013. São Paulo, SP:
ABRELPE, 2014. 114 p.

BRASIL. Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em 20 de
julho de 2017.

BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em: 15 de setembro de 2010.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução nº 001, de 23 de


janeiro de 1986. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html>.
Acesso em: 30 de agosto de 2017.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Senso 2010. Disponível


em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/dados_divulgados/index.php?uf=23>. Acesso em: 25 de
agosto de 2017.

MUCELIN, Carlos Alberto; BELLINI, L. M.. Lixo e impactos ambientais perceptíveis no


ecossistema urbano. Sociedade & natureza (UFU. Online), v. 20, p. 111-124, 2008.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 771


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

PIMENTA, Neder Cassio; SOLINO FILHO, Teobaldo; PICOLI, Rosângela Laura. Ecossistemas
urbanos e a conservação da biodiversidade: benefícios sociais e ambientais do Parque de Uso
Múltiplo da Asa Sul. In: Anais do IV Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental. Salvador/BA.
2013. APA

SANTAELLA, S. T.; BRITO, A. E. R. M.; COSTA, F. A. P.; CASTILHO, N. M.; DE MIO, G.P.;
FERREIRA FILHO, E. ; LEITAO, R. C.; SALEK, J. M.. Resíduos Sólidos e a Atual Política
Ambiental Brasileira. 1. Ed. Fortaleza: UFC/LABOMAR/NAVE, 2014. V. 01. 232p.

SOUZA, Marcos José Nogueira de. Diagnóstico Geoambiental do Município de Fortaleza:


subsídios ao macrozoneamento ambiental e à revisão do plano diretor participativo - PDPFor.
Fortaleza: Prefeitura Municipal de Fortaleza, 2009, 172 p.

THIERS, Paulo Roberto Lopes et al. Manguezais na costa oeste cearense preservação permeada de
meias verdades.. Imprensa Universitária. Fortaleza, 2016, 111 p.

ZANELLA, Maria Elisa et al. Vulnerabilidade socioambiental do baixo curso da bacia


hidrográfica do Rio Cocó, Fortaleza-CE. Sociedade & Natureza, v. 25, n. 2, 2013.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 772


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

UTILIZAÇÃO DE GARRAFAS PET PÓS-CONSUMO


TRITURADAS NA COMPOSIÇÃO DE CONCRETOS

Loraynne de Sousa SANTOS


Graduanda em Engenharia civil UFCG
loraynness@gmail.com
Ana Maria Gonçalves Duarte MENDONÇA
Professora Pesquisadora Doutora em Engenharia de Materiais UFCG
ana.duartemendonca@gmail.com
Maria Luiza Ramalho de ARAÚJO
Graduanda em Engenharia Civil UFCG
maria_luiza_ramalho@hotmail.com
Vanessa de Morais MACIEL
Graduanda em Engenharia Civil UFCG
vanessademarais@live.com

RESUMO
A utilização de resíduos é uma das formas de melhorar a oferta de materiais de construção,
tornando possível à redução do valor dos insumos gerando benefícios sociais por meio da política
habitacional. Estes benefícios podem surgir devido aos incentivos dados à produção de habitações
de baixa renda, empregando-se produtos de desempenho comprovado. O PET é um material
bastante utilizado para produção de garrafas para bebidas, água, refrigerante, sendo bastante
empregadas na atualidade. No entanto, a garrafa PET pós-consumo, tem gerado sérios problemas
ambientais devido ao volume destas descartados no meio ambiente, gerando problemas como
enchentes, entupimento de bueiros, ocupação de espaços extensos em lixões, etc. Assim este estudo
tem como objetivo principal a utilização de garrafas PET pós-consumo na forma triturada em
composições de concreto, substituindo o agregado miúdo convencional por PET triturado nos teores
de 5% e 7,5%, para produção de blocos. Foram moldados corpos de prova nas dimensões de
14cmx19cmx29cm e foi determinada a resistência à compressão e a absorção da água para as idades
de 3,7 e 28 dias. Verificou-se que os resultados obtidos para os blocos com 5% e 7,5% de PET
foram inferiores aos obtidos para o concreto de referencia, no entanto os resultados obtidos
permitem classifica-los como Classe C, com função estrutural para uso acima do nível do solo,
indicando que é possível obter propriedades desejáveis utilizando o PET em substituição ao
agregado miúdo convencional, contribuindo desta forma para redução do passivo ambiental causado
pelo descarte da garrafa no meio ambiente.
Palavras Chave: Meio Ambiente, Reaproveitamento, Material Alternativo, Construção Civil.
RESUMÉN
Una utilización de los residuos es una forma de mejorar la oferta de materiales de construcción,
tornando posible la reducción de valor de los insumos gerando beneficios sociales por medio de la
política habitacional. Estas ventajas pueden surgir a los incentivos dados a la producción de bajos
ingresos, empleando-se productos de rendimiento comprovado. O PET es un material bastante
utilizado para la producción de botellas para bebidas, agua, refrigerante, que se utiliza en la
actualidad. Sin embargo, una garrafa PET post-consumo, una serie de problemas relacionados con
el volumen de los desechos no medio ambiente, un problema de enchentes, un entupimento de
bueiros, una ocupación de espacios extensos en un lixo, etc. Uso de las botellas PET en el

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 773


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

acondicionamiento en las composiciones de hormigón, sustitución o agregado en el material por el


PET triturado nos teores de 5% y 7,5%, para la producción de bloques. Fueron moldeados corpos de
prueba en dimensiones de 14cmx19cmx29cm y fue determinado una resistencia a compresión y una
absorción de agua para las características de 3,7 y 28 días. Verificou-se que los resultados obtienen
para los bloques con 5% y 7,5% de PET fueron inferiores a los resultados obsoletos de la referencia,
sin embargo los resultados obtienen clasificar-los como clase C, Nivel del solo, indicando que es
posible obtener las propiedades desejables utilizando el PET en sustitución de un agregado familiar,
contribuyendo a esta forma para la reducción de pasivo ambiental causado por el descarte de la
garrafa no medio ambiente.
Palabras Clave: Meio Ambiente, Reaproveitamento, Material Alternativo, Construcción Civil.

INTRODUÇÃO

Os polímeros são materiais compostos por macromoléculas, cadeias compostas pela


repetição de uma unidade básica, chamada mero (GORNI, 2013). Formalmente, os polímeros são
definidos como materiais cujo elemento essencial é constituído por ligações moleculares orgânicas,
que resultam de síntese artificial ou transformação de produtos naturais (BANNACH et al., 2011).
O PET um material largamente utilizado em todo o mundo para a fabricação de embalagens,
principalmente em garrafas para bebidas tais como refrigerantes, águas com gás, cervejas etc. O
PET apresenta várias outras utilidades, sendo encontrada em diversos segmentos de mercado
(ABIPET, 2014).
As garrafas de PET são totalmente inertes. Isto significa que, mesmo indevidamente
descartadas, não causam nenhum tipo de contaminação para o solo ou lençóis freáticos. Entretanto,
o PET dura muitos anos para se decompor na natureza, provocando entupimentos de esgotos e
armazenamento de água causando a proliferação de insetos, ratos e baratas, que podem causar
doenças.
Devido à crescente utilização do PET em embalagens plásticas, a necessidade de sua
reciclagem tornou-se imperativa e o estudo das propriedades do material reciclado vem sendo muito
abordado, uma vez que sua produção tem crescido a uma taxa de 10% ao ano (SILVESTRE, 2013).
Por isso, a reutilização desse material, é benéfica em todos os sentidos. Uma alternativa é a adoção
de ―práticas limpas‖. Segundo Martins (2012) uma ―prática limpa‖ pode ser a introdução de um
novo processo menos poluidor, ou a recuperação da matéria prima perdida e reciclada na
fabricação, ou ainda a valorização de um resíduo que poderá dar origem a um subproduto.
Novos usos para o PET vêm sendo estudados numa forma de atingir sua máxima utilização.
A reutilização desse material está em plena ascensão no Brasil e no mundo, proporcionando
benefícios, dentre eles, a redução do volume de lixo coletado; economia de energia elétrica e de
petróleo; geração de empregos (catadores, sucateiros, operários); produtos com menor preço, etc.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 774


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A partir da reutilização e da evolução do mercado bem como dos avanços tecnológicos,


houve um incentivo às novas aplicações para o PET, dentre elas é possível citar: Indústria
automotiva e de transportes - tecidos internos (estofamentos), carpetes, peças de barco; Pisos -
carpetes, capachos para áreas de serviços e banheiros; Artigos para residências - enchimento para
sofás e cadeiras, travesseiros, cobertores, tapetes, cortinas, lonas para toldos e barracas; Artigos
industriais – rolos para pintura, cordas, filtros, ferramentas de mão, mantas de impermeabilização;
Embalagens – garrafas, bandejas, fitas; Vestuário – têxteis roupas esportivas, calçados, malas,
mochilas, vestuário em geral; Uso químico – resinas alquídicas, adesivos (ABIPET, 2014). Na
construção civil o PET é utilizado em caixas d‘água, tubos e conexões, torneiras, piscinas e telhas.
Mármore sintético com PET reciclado é usado para produção de bancadas e pias.
No Brasil, em 2008, foram produzidos 461,7 kton (ABIPET, 2008) de embalagens de PET e
um dos piores problemas originados no descarte de materiais plásticos é o espaço que ocupam nos
aterros sanitários, sem contar que é um material de difícil decomposição (FORMIGONI e
CAMPOS).
No início dos anos 80, EUA e Canadá iniciaram a reciclagem das garrafas PET, utilizando-
as como enchimentos de almofadas. Com a melhoria da qualidade do PET reciclado, surgiram
aplicações importantes como tecidos, lâminas e embalagens para produtos não alimentícios. No
Brasil, segundo o 5º Censo de Reciclagem de PET da ABIPET, a taxa de recuperação desse
material iniciou em 1994 com 18,8% e passou em 2008 para 54,8%.
Em geral, a reciclagem do PET pode ocorrer de três diferentes maneiras: (i) Reciclagem
Química – onde os componentes das matérias-primas do PET são separados; (ii) Reciclagem
Energética – onde o calor da queima do resíduo pode ser aproveitado para a geração de energia
elétrica (centrais termelétricas); (iii) Reciclagem Mecânica – onde é realizada a coleta seletiva, a
produção de flocos e a reutilização do material para a produção de outros produtos, inclusive
embalagens, mas para fins não alimentícios (ABIPET, 2008).
Nesta última forma de reciclagem estão as tentativas de utilização das garrafas de PET na
construção civil, sempre com o intuito de minimizar os custos, criando alternativas para uma
construção mais acessível às pessoas de baixa renda, uma vez que 90,7% do déficit habitacional
brasileiro, de 7,94 milhões de unidades, são para as famílias que possuem renda de até 3 salários
mínimos (BRASIL – MC, 2008).

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE: USO DE GARRAFAS PET PÓS-


CONSUMO EM COMPONENTES DA CONSTRUÇÃO CIVIL

O pensamento que predominou durante séculos no mundo, com relação ao comportamento


humano e o meio ambiente, enxergava o homem como mero explorador e os recursos naturais como

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 775


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

inesgotáveis. Atualmente, porém constata-se que essa postura é insuficiente para permitir o
equilíbrio entre homem e natureza. A visão de que tudo e todos no planeta estão interligados exige
um novo modo de produzir e reproduzir o desenvolvimento humano, seja ele econômico, social ou
ambiental.
A partir desse contexto, surge a ideia de desenvolvimento sustentável. O marco inicial para
o debate sobre esse tema foi a Conferência Internacional das Nações Unidas sobre o Ambiente
Humano (United Nations Conference on the Human Environment), realizada em 1972, em
Estocolmo, na Suécia. O conceito de desenvolvimento sustentável foi consagrado no relatório "O
Nosso Futuro Comum", como o que "satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades" (BRUNDTLAND, 1987).
A educação ambiental tem fundamental papel, consubstanciando-se em uma necessidade do
mundo moderno, existindo cada vez mais o desafio, enquanto prática dialógica, no sentido de serem
criadas condições para a participação dos diferentes segmentos sociais nas esferas das atividades
humanas, sejam elas de cunho formal ou informal.
A educação ambiental é um instrumento capaz de possibilitar transformações nos diversos
segmentos econômicos, dentre eles, a construção civil.
A construção civil é uma das atividades mais importantes para o desenvolvimento
econômico e social da humanidade. É também um dos maiores impactantes ambientais, seja por
modificações de grandes áreas, consumo exagerado de matéria-prima ou pela geração de grandes
volumes de resíduos. A proposta desafiadora para o setor é unir o desenvolvimento econômico à
preservação ambiental tornando possível o desenvolvimento sustentável (CRUZ et al., 2016).
É importante enfatizar que para construção de práticas que busquem o equilíbrio entre as
atividades humanas e a preservação do meio ambiente, é imprescindível o papel da educação
ambiental como mecanismo de conscientização e transformação. Por isso, ela deve estar inserida no
cotidiano dos trabalhadores em diferentes atividades econômicas, principalmente, aquelas com o
alto poder de impacto ambiental, a exemplo da construção civil.
Diante desse quadro a utilização de ferramentas de educação ambiental para conscientização
dos trabalhadores da construção civil aliado a instrumentos de gestão ambiental constituem
alicerces fundamentais para a sustentabilidade da atividade de construção civil. O Plano de
Gerenciamento dos Resíduos da Construção Civil surge como uma proposta para minimizar os
problemas relacionados aos resíduos. A Política Nacional dos Resíduos Sólidos ratifica a
responsabilidade dos geradores pela busca de soluções de reciclagem dos resíduos gerados pelos
seus setores. A Resolução Conama 307/2002 torna obrigatório à elaboração e implantação do
PGRCC para os empreendimentos com grande potencial gerador.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 776


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Assim, a sustentabilidade adota uma postura preventiva, ou seja, os pontos positivos de um


empreendimento devem ser otimizados e os negativos, reduzidos aos limites mínimos possíveis em
um curto espaço de tempo, em busca de evitar danos ao meio ambiente. Ela 4 representa uma
alternativa para a mudança nos padrões de produção e consumo em todos os segmentos da
economia, sejam eles: industriais, comerciais ou agrícolas.
Nesse cenário, é importante incentivar a transformação no processo linear de utilização dos
recursos naturais e posterior descarte para um movimento que obedeça a uma lógica cíclica na qual
as matérias-primas são constantemente utilizadas, reaproveitadas e recicladas, sendo inseridas
novamente no mesmo processo.
Em tese, a sustentabilidade fundamenta-se em três pilares: ambiental, econômico e social.
Ainda podem ser acrescidas, porem as dimensões políticas, culturais e tecnológicas que
desempenham importante função
A cadeia produtiva da construção civil é imprescindível para o desenvolvimento social,
econômico e ambiental do Brasil. Sua importância se traduz nos inúmeros benefícios que seus
membros dão para a consolidação da economia do País. Um dos maiores desafios atuais desse setor
industrial é a minimização dos impactos sociais e ambientais de sua atividade. A redução dessa
pegada ecológica no planeta constitui uma meta muito importante que já foi incorporada à missão
da indústria da construção (CRUZ et al., 2016).
Os desafios propostos passam pela redução do consumo de recursos naturais e energéticos, a
utilização de energias limpas e renováveis, o compromisso pela não ocupação de áreas de
preservação ambiental, a redução das emissões atmosféricas durante o ciclo produtivo, o consumo
de materiais que não agridam o meio ambiente e o gerenciamento adequado dos resíduos. Essa
realidade tem impulsionado a tomada de decisões no sentido da adoção de práticas sustentáveis.
Dentro desse contexto, é imprescindível o papel da educação ambiental no âmbito das atividades da
construção civil.

METODOLOGIA

Para realização deste estudo foram utilizados os seguintes materiais:

Agregado graúdo: Brita de origem granítica, apresentando diâmetro máximo padronizado para brita
0, apresentando massa específica seca de 2,63g/cm3 , massa específica na condição SSS de 2,64
g/cm3, massa específica aparente igual a 2,67g/cm3, finura de 6,19 e diâmetro máximo 6,3mm.

Agregado miúdo: O agregado miúdo, utilizado na pesquisa, foi do tipo natural proveniente de jazida
do leito do Rio Paraíba, apresentando diâmetro máximo de 2,36mm, finura igual a 2,42%, massa

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 777


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

específica de 2,618g/cm3, massa unitária solta igual a 1,429g/cm3, e teor de materiais pulverulentos
de 0,07%.

Cimento CPV –ARI: Cimento Portland CP V ARI de alta resistência inicial, apresentando massa
específica de 3,10g/cm³ e índice de finura de 1,40%.

Politereftalato de etileno – PET: PET micronizado proveniente da indústria PET Reciclagem,


localizado no município de Campina Grande-PB, apresentando módulo de finura obtido para o PET
é de 1,29 e Dimensão Máxima 0,60 mm, Massa unitária estado solto de 629Kg/m e Massa unitária
no estado compactado de 768 Kg/m.

Inicialmente foi realizada a caracterização dos materiais utilizados na pesquisa. Para a


confecção dos blocos de concreto desta pesquisa foi realizado o estudo de dosagem a partir do
método estabelecido pela Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP, estabelecendo-se a
seguinte proporção dos materiais: 1:1,492:0,166:0,166:0,66. A escolha dos percentuais de PET foi
determinada a partir de informações extraídas de pesquisas anteriores acerca do tema e do
conhecimento das propriedades do material. Estipulou-se então dois teores de substituição de
agregado miúdo por PET micronizado, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1: Teores de substituição de agregado miúdo por PET


CONCRETO TRAÇOS

Cimento: ag. miúdo : ag. graúdo : água


Concreto de Referência 1: 1,66:1,66:0,66

Cimento: PET: ag. miúdo: ag. graúdo: água


Concreto com 5,0% PET 1: 0,082: 1,575: 1,660: 0,66
Concreto com 7,5% PET 1: 0,124: 1,533: 1,660: 0,66

Foram moldados blocos de concreto nas dimensões de 14cmx19cmx29cm com substituição


do agregado miúdo (areia quartzosa) por PET micronizado, nos teores de 5,0% e 7,5%.
Sequencialmente foi determinada a resistência característica (fbk) para as idades de 3, 7 e 28 dias e
a absorção por imersão em água conforme procedimentos estabelecidos pela norma da ABNT NBR
6136/2014, para os blocos produzidos com a substituição do agregado miúdo por PET, para idade
de 28 dias.
Após a obtenção dos resultados dos ensaios físicos e mecânicos, pretende-se averiguar se há
possibilidade de utilizar o PET na forma triturada para produção de blocos de concreto,
contribuindo desta forma para redução do impacto ambiental causado pelo descarte das garrafas no
meio ambiente.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 778


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Figura 1 e a Figura 2 ilustram os resultados de resistência à compressão simples e de


absorção de água, respectivamente, para os blocos de concreto com substituição do agregado miúdo
por PET micronizado nos teores de 5,0% e 7,5%.

8
CREF
Resistência à compressão simples (MPa)

6,85
7 CPET5%
CPET7,5%
5,51
6
4,93
5 4,2 4,4

4
2,6
3 3,46
3,16
2 2,6

0
3 dias 7 dias 28 dias

Figura 1: Resistência à compressão simples de blocos de concreto com substituição


do agregado miúdo por PET micronizado nos teores de 5,0% e 7,5%

3,5
Absorção de água (%)

3 3,3 3,4

2,5

2 1,91
1,5

0,5

0
CREF CPET5% CPET7,5%

Figura 2: Absorção de água de blocos de concreto com substituição do agregado


miúdo por PET micronizado nos teores de 5,0% e 7,5%

De acordo com os resultados apresentados nas Figuras 1 e 2 observa-se que a substituição do


agregado miúdo por Politereftalato de etileno micronizado provocou à redução da resistência
característica (fbk) e o aumento da absorção de água para os teores de substituição em estudo, e para
todos os tempos de cura analisados.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 779


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Este comportamento deve-se principalmente à menor resistência mecânica intrínseca dos


polímeros, em comparação aos agregados minerais que são mais resistentes mecanicamente, e, à
ausência de interação química entre o polímero e a matriz cimentícia, gerando a porosidade residual
e, consequente, elevação da absorção de água e redução da resistência.
De acordo com a norma da ABNT NBR 6136 (ABNT, 2014) os valores obtidos para a
resistência característica (fbk) e absorção dos blocos de concreto com substituição do agregado
miúdo por PET micronizado no teor de 5%, podem ser classificados como blocos estruturais classe
B, com função estrutural, para uso em elementos de alvenaria acima do nível do solo. Para os
blocos produzidos com 7,5% de PET micronizado, podem ser classificados como classe C, com
função estrutural, para uso em elementos de alvenaria acima do nível do solo.
Assim, a incorporação do PET em concreto permite a redução do volume a ser descartados
nos lixões ou no meio ambiente.
A utilização do PET em concretos, argamassas, confecção de roupas, artesanato ou qualquer
outro fim, se justifica por contribuir com a prolongação da vida útil dos aterros sanitários e a
preservação do meio ambiente. A importância das cooperativas de catadores também deve ser
considerada, por contribuírem com a redução dos materiais reciclados nos locais impróprios, com o
meio ambiente e com a indústria.
Outro ponto positivo da indústria de reciclados, e da utilização do PET para finalidades
diversas, está relacionado com o número de projetos sociais e de inclusão socioambiental inseridos
neste processo, como a utilização dos materiais reciclados em projetos de educação ambiental nas
escolas, assim como os projetos realizados nos centros de recreação das prefeituras e nas favelas,
que utilizam sucata proveniente do lixo para desenvolver artesanatos e esculturas, visando também
à comercialização. Estes são fatores que reforçam a dimensão social do ecológico, e justificam a
utilização da reciclagem como fonte alternativa para o desenvolvimento sustentável e a inclusão
socioambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que:

 A substituição do agregado miúdo por PET contribuiu para a redução da resistência a


compressão do concreto, no entanto os resultados obtidos satisfazem aos parâmetros
normativos;
 Os blocos produzidos com o concreto incorporado com PET podem ser classificados como
classe B e C respectivamente para os teores de 5% e 7,5%;
 A necessidade de meios alternativos que possibilitem a reciclagem de resíduos de garrafas
PET é imprescindível, permitindo desta forma à minimização dos descartes e o
aproveitamento dos resíduos como insumo de novos produtos, visando à economia de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 780


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

matérias-primas não renováveis, a diminuição da emissão de poluentes, melhoria nas


condições de saúde, segurança e moradia da população.
 A reutilização de resíduos bem como sua reciclagem, são ótimas alternativas para redução
dos gastos na produção, diversificação dos produtos, redução do uso de materiais não
renováveis, economia de energia, ajudando ainda na melhoria da saúde da população.

REFERÊNCIAS

ABIPET – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DO PET. São Paulo, SP. Disponível


em: <http://www.abipet.org.br>. Acesso em 27/02/2014.

ABIPET. Associação Brasileira da Indústria do PET. 5º Censo da Reciclagem de PET no Brasil.


Brasília, 2008. 25p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMA STÉCNICAS – ABNT 6136/2014 – Determinação da


resistência à compressão simples e absorção de água de blocos de concreto.

BANNACH, Gilbert et al. Efeitos da história térmica nas propriedades do polímero PET: um
experimento para ensino de análise térmica. In International Year Chemistry. São Paulo, SP.
2011

BRASIL. MINISTÉRIO DAS CIDADES – MC. Secretaria Nacional de Habitação. Déficit


habitacional no Brasil 2006. - Brasília, 2008. 98p.

CRUZ, I.S.; ANDRADE, I. C. B.; CRUZ, I.S. Educação ambiental para sustentabilidade da
construção civil: o enfoque na conscientização ambiental dos colaboradores dos canteiros de
obras. 10° Encontro Internacional de Formação de Professores, 2016.

FORMIGONI, A. CAMPOS, I.P.A de. Reciclagem de PET no Brasil. UNESP, 2009.

GORNI, Antônio Augusto. Introdução aos plásticos. Revista Eletrônica Plástico Industrial. 2013.

MARTINS, Geruza Beatriz Henriques. Práticas limpas aplicadas às indústrias têxteis de Santa
Cataria. Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Santa Cataria. Florianópolis, SC.
2012.

SILVESTRE, T. Brasil descarta 53% de garrafas PET na natureza. In: Revista Meio Ambiente.
Ed. 103. Mai/Jun-2013.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 781


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS DE GRANITO PARA


PRODUÇÃO DE BLOCOS CERÂMICOS

Maria Luiza Ramalho de ARAÚJO


Graduando em Engenharia Civil UFCG
maria_luiza_ramalho@hotmail.com
Valter Ferreira de SOUSA NETO
Mestrando em Engenharia Civil e Ambiental UFCG
valterneto51@gmail.com
Loredanna Melyssa Costa de SOUSA
Doutoranda em Engenharia de Processos UFCG
loredannamcs@gmail.com
Ana Maria Gonçalves Duarte MENDONÇA
Professora Pesquisadora Doutora em Engenharias de Materiais UFCG
ana.duartemendonca@gmail.com

RESUMO
Toda a produtividade do setor de construção leva ao ligeiro decréscimo dos recursos naturais e
simultaneamente, à geração de grandes quantidades de resíduos e subprodutos que em sua maioria,
não são reciclados diretamente. A construção civil é responsável por uma grande parcela da
produção de resíduos, podendo este setor diminuir consideravelmente o aumento do consumo de
matéria prima utilizando seus próprios rejeitos. A produção de cerâmicas tradicionais, como
revestimentos, telhas e blocos cerâmicos, geralmente, apresentam considerável variação
composicional o que viabiliza uma grande tolerância para a incorporação de resíduos inorgânicos.
Com isso, neste estudo utilizaram-se teores de resíduo de granito nas porcentagens de 16,6% e 20%
incorporados no delineamento de misturas da fabricação de blocos cerâmicos, contendo argila,
resíduo de granito e caulim. Em seguida, os corpos de prova foram queimados nas temperaturas de
800ºC e 1000ºC. Após o processo total de fabricação, foram analisados a absorção de agua e
resistência à compressão dos corpos de prova, observando que o molde com composição
modificada atende aos parâmetros normativos, indicando que é possível utilizar o resíduo como
matéria-prima alternativa, permitindo a minimização dos impactos ambientais gerados pelo seu
descarte no meio ambiente e redução dos custos dos produtos de fabricação dos blocos,
apresentando um grande potencial para ser utilizado como em composições cerâmicas para
produção de revestimentos.
Palavras-chave: construção civil, resíduos, materiais cerâmicos, educação ambiental.
RESUMEN
Toda la productividad del sector de la construcción lleva al ligero descenso de los recursos naturales
y simultáneamente, a la generación de grandes cantidades de residuos y subproductos que en su
mayoría no se reciclan directamente. La construcción civil es responsable de una gran parte de la
producción de residuos, pudiendo este sector disminuir considerablemente el aumento del consumo
de materia prima utilizando sus propios desechos. La producción de cerámicas tradicionales, como
revestimientos, tejas y bloques cerámicos, generalmente, presentan considerable variación
composicional lo que viabiliza una gran tolerancia para la incorporación de residuos inorgánicos.
Con ello, en este estudio se utilizaron contenidos de residuo de granito en los porcentajes de 16,6%
y 20% incorporados en el delineamiento de mezclas de la fabricación de bloques cerámicos,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 782


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

conteniendo arcilla, residuo de granito y caolín. A continuación, los cuerpos de prueba se quemaron
a temperaturas de 800ºC y 1000ºC. Después del proceso total de fabricación, se analizaron la
absorción de agua y la resistencia a la compresión de los cuerpos de prueba, observando que el
molde con composición modificada atiende a los parámetros normativos, indicando que es posible
utilizar el residuo como materia prima alternativa, permitiendo la minimización De los impactos
ambientales generados por su descarte en el medio ambiente y reducción de los costos de los
productos de fabricación de los bloques, presentando un gran potencial para ser utilizado como en
composiciones cerámicas para producción de revestimientos.
Palabras clave: construcción civil, residuos, materiales cerámicos, educación ambiental.

INTRODUÇÃO

―O setor econômico da construção civil, motivado pelo aquecimento da economia no seu


respectivo ramo de trabalho, pela consciência do desenvolvimento sustentável e pelas certificações
ambientais das edificações, tem investido em inovação tecnológica como estratégia para melhorar a
competitividade, para prolongar a fase de crescimento que vive este ramo produtivo e tornar-se um
diferencial neste mercado‖ (TYKKÄ et al., 2010, AR, 2012 e HANUS & HARRIS, 2013). Aliado
a esses estímulos da economia no ramo, Frej & Alencar (2010); Silva & Fernandes (2012);
Rodrigues et al., (2013) acrescenta que a competição entre as empresas brasileiras de construção
está cada vez mais acirrada, fazendo com que o setor busque alternativas ecologicamente corretas e
estimule e intensifique a pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Segundo Raupp-Pereira, et al. (2006), toda a produtividade leva ao ligeiro decréscimo dos
recursos naturais e simultaneamente, à geração de grandes quantidades de resíduos e subprodutos
que em sua maioria, não são reciclados diretamente. Nos últimos anos, a enorme quantidade de
resíduos despejados pelos setores industriais, foram um dos indicativos de fonte de poluição e
contaminação do meio ambiente.
A construção civil é responsável por uma grande parcela da produção de resíduos, podendo
este setor diminuir consideravelmente o aumento do consumo de matéria prima utilizando seus
próprios resíduos ou rejeitos gerados por outros setores atendendo, assim, ao que determina a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), que concede ao gerador do resíduo a
responsabilidade por sua adequada disposição.
―A reutilização e a reciclagem de resíduos, após a detecção de suas potencialidades são
consideradas atualmente alternativas que podem contribuir para a diversificação de produtos,
diminuição dos custos de produção, fornecer matérias-primas alternativas para uma série de setores
industriais, conservação de recursos não renováveis, economia de energia e, principalmente,
melhoria da saúde da população‖ (MENEZES, et al, 2002 e MENEZES, et al, 2005).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 783


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

RESÍDUOS DE GRANITO

Os mercados que fornecem materiais à construção civil também possuem grande


participação na produção de dejetos devido ao seu processo produtivo. A indústria produtora das
peças de granito colabora com uma presença determinante na fabricação de resíduos. Milhares de
toneladas de resto de material advindo do processo de beneficiamento e do corte em produções
ornamentais são produzidas durante o decorrer do processamento. O Brasil transfigura-se como um
grande produtor de rochas ornamentais deste tipo, como exportador mundial deste mercado
aquecido, devido a este ponto, o Brasil também se torna um gerador de resíduos de granito. ―O
processo de beneficiamento e corte para produção de rochas ornamentais no Brasil gera cerca de
280.000 m³ de resíduos por ano‖ (ALVES, 2008).
―O resíduo de corte de granito, conhecido como lama, é uma massa. Uma vez seca a lama
granítica forma um pó de granulometria extremamente fina, não biodegradável, não tóxico e inerte‖
(LIMA et at., 2010). De acordo com Lima et al., (2010), algumas características específicas do
resíduo de granito, como granulometria fina, composição química predefinida e a inexistência de
grãos mistos entre os componentes básicos, favorecem seu aproveitamento e reciclagem na
produção de materiais cerâmicos como blocos, tijolos, telhas, entre outros.
A utilização de resíduos de beneficiamento de rochas ornamentais na fabricação de blocos
cerâmicos tem se mostrado uma alternativa ao desperdício desse material e ao mesmo tempo à
sustentabilidade do setor construtivo.

BLOCOS CERÂMICOS

Conforme a NBR 13816 (1997), placas cerâmicas para revestimento são materiais
compostos de argilas e outras matérias-primas inorgânicas. ―A sequência normal para a fabricação
de revestimentos cerâmicos consiste basicamente em: dosagem, preparação da massa, conformação,
secagem, esmaltação e queima‖ (SOUSA, 2003; CABRAL, 2009). De acordo com Van Vlack
(1973) as matérias-primas fundamentais à fabricação dos produtos cerâmicos originam-se da
natureza. Algumas são acrescentadas aos produtos em sua forma natural, outras são
antecipadamente beneficiadas e processadas.
Cerâmicas tradicionais, como revestimentos, telhas e blocos cerâmicos, geralmente,
apresentam considerável variação composicional, em virtude do largo intervalo de composições das
argilas utilizadas como matérias-primas para sua fabricação, o que viabiliza uma grande tolerância
para a incorporação de resíduos inorgânicos. ―O potencial de incorporação de resíduos, nas
formulações de cerâmicas tradicionais, aliado as elevadas quantidades de recursos naturais
consumidos a cada dia por esse segmento industrial, ressalta a importância da reutilização de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 784


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

resíduos como matérias-primas cerâmicas alternativas‖ (TORRES et al., 2004; MENEZES et al.,
2005; RAUPP-PEREIRA et al., 2006).

METODOLOGIA

Os materiais utilizados para realização deste estudo foram:

 Resíduo da serragem de granito, resultantes do beneficiamento de blocos de granito da


Empresa POLIGRAN S/A – Polimento de Granitos do Brasil - Alça Sudoeste, Rodovia Alça
Sudoeste, Quadra 18 km 1,4 - Campina Grande-PB, apresentando composição química de
62,8% de SiO2, 14,5% de Al2O3, 6,6% de Fe2O3, 3,8% de K2O , 6,2% de CaO e 3,5% de
Na2O. Com fases mineralógicas de Carbonato de cálcio, quartzo, mica e albita, com
tamanho médio de partícula de 24,5 μm e uma faixa de distribuição de tamanho de
partículas significativamente mais estreita, D10 de 2 μm e D90 de 60 μm.
 Argila, procedente da Cerâmica Espírito Santo, município de Espírito Santo-PB
apresentando composição química de 53,5% de SiO2 , 22,2% de Al2O3, 11,15% de Fe2O3,
3,8% de K2O e 7,8% de TiO2 e CaO. Com fases mineralógicas de Caulinita, quartzo e mica
e ilita.
 Resíduo do processamento de Caulim: derivado da segunda etapa do beneficiamento de
caulins primários, extraídos da planície pegmatítica da Borborema, que está localizada no
município de Juazeirinho-PB e foi cedido pela CAULISA indústria S/A, apresentando
composição química de 52,7% de SiO2, 33,5% de Al2O3, 1% de Fe2O3, 3,85,7% de K2O.
Com fases mineralógicas de mica, quartzo e caulinita, com tamanho médio de partícula de
54,4 μm e uma faixa de tamanho de partículas larga, com D10 de 2 μm e D90 de 130 μm.

Para realização desta pesquisa foram realizadas as etapas, a saber: na primeira foi realizada a
seleção dos materiais utilizados para o desenvolvimento da pesquisa. Na segunda etapa procedeu-se
com a caracterização das matérias primas objetivando verificar suas propriedades químicas, físicas
e mineralógicas. Na terceira etapa foram definidas as composições utilizando-se planejamento
experimental através da metodologia de delineamento de misturas, em seguida, foram formuladas
composições contendo argila, resíduo de granito e caulim para avaliar a viabilidade da mistura
dessas matérias-primas para produção de blocos cerâmicos. As matérias primas foram extrudadas
em extrusora (marca Verdes, modelo 51) sendo confeccionados corpos de prova com as dimensões
de 10 cm x 2 cm x 1 cm (comprimento x largura x espessura) para determinação das propriedades
físico-mecânicas. Foram utilizados teores de resíduo de granito nos teores de 16,6% e 20%. Após
conformação os corpos de prova foram queimados (Forno INTI Flyever) nas temperaturas de 800ºC
e 1000ºC, sob taxa de aquecimento de 10°/min., para os blocos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 785


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Figura 1 ilustra os resultados obtidos para a absorção de água dos corpos de prova para
blocos cerâmicos produzidos com 16,6% e 20% de resíduo de granito.

14
13,2 Comp. 20% Res. Granito
13
Comp. 16,6% Res. Granito
12
11,5
Absorção de água (%)

11
10
9
8
7
6,4
6
6,2
5
4
800°C 1000°C

Figura 1: Absorção de água dos corpos de prova para blocos cerâmicos produzidos
com 16,6% e 20% de resíduo de granito.

De acordo com os resultados obtidos, observa-se que as composições em estudo


apresentaram resultados de absorção dentro dos valores estabelecidos pela norma NBR 7.171/1992.
Para a composição com 16,6% de resíduo de granito observou-se que os valores de absorção
foram superiores aos obtidos para a composição contendo 20% de resíduo de granito, podendo
observar-se uma diferença de 12,8% para temperatura de 800°C e 3,1% para temperatura de 1000°C
devido ao fato que a temperaturas de queima mais baixas um corpo cerâmico possui estrutura
desorganizada gerando produtos com maior número de poros e consequentemente com um maior
valor de absorção de água.
Os melhores resultados para absorção de água dos blocos cerâmicos foram obtidos para a
temperatura de 1000°C.
De acordo com os resultados obtidos, pôde-se verificar que a utilização do resíduo de
granito em composições cerâmicas para a produção de blocos possibilita a obtenção de peças com
absorção que atendem aos parâmetros normativos, indicando que é possível utilizar o resíduo como
matéria-prima alternativa, contribuindo para minimizar o volume a ser descartado no meio ambiente
e possibilitando ainda a redução da extração de matérias-primas naturais para esta finalidade.
A Figura 2 ilustra os resultados obtidos para a resistência a compressão dos corpos de prova
para blocos cerâmicos produzidos com 16,6% e 20% de resíduo de granito.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 786


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

30
Comp. 20% Res. Granito
24,5

Tensão de ruptura a flexão (MPa)


25 Comp. 16,6% Res. Granito

20
18,6

15

10 7,04
7,02
5

0
800°C 1000°C

Figura 2: Tensão de ruptura a flexão de corpos de prova para blocos cerâmicos


produzidos com 16,6% e 20% de resíduo de granito.

Com base com resultados obtidos, observa-se que composições cerâmicas contendo resíduo
de granito nos teores de 16,6% e 20% apresentam resultados de resistência à compressão que
atendem as normas técnicas.
Conforme os resultados obtidos, verifica-se que os melhores resultados foram obtidos para
composição contendo 20% de resíduo de granito a temperatura de 1000°C.
Os resultados obtidos permitem verificar que a utilização de resíduo de granito em
composições cerâmicas permite obter resultados de resistência à compressão que atendem as
normalizações da ABNT, desta forma é possível utilizá-lo como componente de formulações
cerâmicas, contribuindo desta forma para a redução do impacto ambiental causado pelo descarte
deste no meio ambiente, visto que o resíduo gera danos à fauna, a flora e a saúde das pessoas. A
incorporação do resíduo de granito ainda possibilita a redução do consumo e extração de matérias-
primas convencionais utilizadas para produção de blocos cerâmicos.
Assim, a utilização do resíduo de granito oferece benefícios ambientais, econômicos e de
ordem publica, sendo, portanto necessário um maior incentivo das empresas geradores do resíduo,
do poder publico e de órgãos ambientais em busca da reutilização, reaproveitamento e da
reciclagem do mesmo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que:

 O resíduo de granito apresenta potencial para utilização em composições cerâmicas por


apresentar componentes químicos similares às matérias primas utilizadas para produção de
produtos cerâmicos;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 787


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

 A utilização do resíduo de granito nos teores de 16,6% e 20% em composições para


produção de blocos cerâmicos permite obtenção de valores de absorção e tensão de ruptura a
flexão que satisfazem as normas técnicas;
 O uso do resíduo de granito como matéria-prima alternativa em composições cerâmicas
permitirá a minimização dos impactos ambientais gerados pelo seu descarte no meio
ambiente, contribuído ainda para a redução do custo dos produtos e para uma destinação
ambientalmente correta. A composição química do resíduo de granito é similar a diversas
matérias-primas utilizadas na construção civil, no entanto, seu descarte no meio ambiente
causa degradação da fauna e da flora além de gerar sérios danos a saúde humana, assim, a
utilização deste resíduo proporcionará ganhos ambientais significativos.

REFERÊNCIAS

ALVES, M. S. 2008. Estudo das características e da viabilidade do uso de resíduos gerados no


polimentos de rochas graníticas como adição em concretos. Dissertação de Mestrado em
Construção Civil, Universidade federal de Minas Gerais, Belo Horizonte – MG.

AR, I. M. The impact of green product innovation on firm performance and competitive capability:
the moderating role of managerial environmental concern. Procedia Social and Behavioral
Sciences, n. 62, n. 4, p.854-864, 2012.

CABRAL, E. S.; LEITE FILHO, E. M. R.; BRAZ DE ARAÚJO. FARIAS, M. S. S. Impactos


ambientais: Uma abordagem das atividades de beneficiamento de caulim na região
Borborema/Seridó na Paraíba. 2009.

FREJ, T.A.; ALENCAR, L. H. Fatores de sucesso no gerenciamento de multiplos projetos na


construção civil em Recife. Revista Produção, Recife, v.20, n. 3, p. 322-334, jul. / set. 2010.

HANUS, M. J.; HARRIS, A. T. Nanotechnology innovations for the construction industry. Progress
in Materials Science, v. 58, n. 7, p. 1056-1102, 2013.

LIMA, R. do Carmo de Oliveira. Estudo da durabilidade de paredes monolíticas e tijolos de solo-


cimento incorporados com resíduo de granito. Dissertação de mestrado em Engenharia Civil e
Ambiental da Universidade Federal de Campina Grande. Campina Grande, 2010.

LIMA, R. C. O., Neves, G. A., Carvalho, J. B. Q., Aproveitamento do resíduo de serragem de


granito em paredes monolíticas de solo-cimento. In: Simpósio de Engenharia de Produção.
Bauru-SP. 2010

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 788


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

LIMA, R. C. O., Neves, G. A., Carvalho. Durabilidade de tijolos de solo-cimento produzidos com
resíduo de corte de granito. REMAP, vol. 5, n.2, 24-25, 2010.

MENEZES, R.R, NEVES, G.A., FERREIRA, H.C.,et al., "Recycling of Granite Industry Waste
from the Northeast Region of Brazil". Environmental Management and Health, v. 13, pp. 134-
141, 2002.

MENEZES, R.R., FERREIRA, H.S., NEVES, G.A., et al., "Use of Granite Sawing Wastes in the
Production of Ceramic Bricks and Tiles", Journal of the European Ceramic Society, v. 25, pp.
1149-1158, 2005.

RAUPP-PEREIRA, F., HOTZA, D., SEGADÃES, A.M., et al., "Ceramic Formulations Prepared
with Industrial Wastes and Natural sub-products", Ceramics International, v. 32, n. 2, pp 173-
179, 2006.

RODRIGUES, A.; ROJO, C. A.; BERTOLINI, G. R. F. Formulação de estratégias competitivas por


meio de análise de cenários na construção civil. Revista Produção, Cascavel, v.23, n.2, p. 269-
282, abr. / jun. 2013.

SILVA, V. A.; FERNANDES, A. L. T. Cenário do gerenciamento dos resíduos da construção e


demolição (RCD) em Uberaba-MG. Revista Sociedade & Natureza, ano 24, n.2, p. 333-334, mai.
/ ago. 2012.

SOUSA, F. J. P. Estudo e desenvolvimento de alternativas para o aproveitamento de resíduo das


indústrias de revestimento cerâmico. Dissertação de Mestrado, UFSC, 2003.

TYKKA, S.; MCCLUSKEY, D.; NORD, T.; OOLONQVIST, P.; HUGOSSON, M.; ROOS, A.;
UKRAINSKI, K.; NYRUD, A. Q.; BAJRIC, F. Development of timber framed firms in the
construction sector – Is EU policy one source of their innovation? Forest Policy and Economics,
v.12, n. 19, p. 199-206, 2010.

TORRES, P. et al. Incorporation of granite cutting sludge in industrial porcelain tile formulations.
Journal of the European Ceramic Society, v. 27, p. 4649-4655, 2007.

VAN VLACK, L. H. Propriedades dos Materiais Cerâmicos. São Paulo: Edgard Blucher, 1973.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 789


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUO DE CAULIM EM COMPOSIÇÕES PARA


PRODUÇÃO DE PEÇAS CERÂMICAS

Ana Maria Gonçalves Duarte MENDONÇA


Professora Pesquisadora Doutora em Engenharia de Materiais UFCG
ana.duartemendonca@gmail.com

Camila Gonçalves Luz NUNES


Mestranda em Engenharia Civil UFPB
camilanunes.engcivil@hotmail.com

Bervylly Lianne de Farias SANTOS


Graduando em Engenharia Civil UFCG
bervylly.santos@gmail.com

Mila Thais Rezende e SILVA


Graduanda em Engenharia Civil UFCG
mila.rezende@outlook.com

RESUMO
A exploração dos recursos naturais desencadeia um processo de contínua degradação, visto que são
produzidos resíduos não aproveitados lançados indiscriminadamente ao meio ambiente. O setor
mineral gera grandes quantidades de resíduos de diversos tipos e níveis de periculosidade, como por
exemplo, a indústria de beneficiamento do caulim, a qual produz resíduos à base de sílica, mica e
caulinita em grandes quantidades. Estes resíduos apresentam uma composição muito semelhante
aos materiais utilizados na indústria cerâmica, desta forma apresentam um grande potencial para ser
utilizado como material alternativo em composições cerâmicas para produção de revestimentos.
Assim, este estudo tem como objetivo o reaproveitamento do resíduo de caulim em composições
cerâmicas para produção de revestimento cerâmico. Foram definidas composições contendo: 80%
argila, 20% resíduo de granito e 10% resíduo de caulim – Composição A e 60% argila, 10% resíduo
de granito e 30% resíduo de caulim – Composição B, e foram moldados corpos de prova nas
dimensões de 60 mm x 20 m x 5 mm por prensagem uniaxial a 27MPa e posteriormente foram
sinterizados a temperatura de 1000°C. Observou-se que a composição com maior percentual de
resíduo de caulim apresentou melhor resultados aceitáveis para as propriedades físicas e mecânicas,
podendo ser classificada de acordo com a norma da ABNT NBR 13818 (1997) como BIII - porosos.
Indicando que há possibilidades de incorporar o resíduo de caulim a composições cerâmicas para
produção de revestimentos, minimizando desta forma o impacto ambiental devido a redução do
volume de resíduo a ser descartado no meio ambiente, dando uma destinação ambientalmente
correta ao mesmo.
Palavras Chave: Resíduo, Cerâmicos, Reciclagem, Educação Ambiental, Meio Ambiente.
RESUMÉN
La explotación de los recursos naturales desencadena un proceso de continua degradación, ya que
se producen residuos no aprovechados lanzados indiscriminadamente al medio ambiente. El sector
mineral genera grandes cantidades de residuos de diversos tipos y niveles de peligrosidad, como por
ejemplo, la industria de beneficiamiento del caolín, la cual produce residuos a base de sílice, mica y
caulinita en grandes cantidades. Estos residuos presentan una composición muy similar a los
materiales utilizados en la industria cerámica, de esta forma presentan un gran potencial para ser

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 790


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

utilizado como material alternativo en composiciones cerámicas para la producción de


revestimientos. Así, este estudio tiene como objetivo el reaprovechamiento del residuo de caolín en
composiciones cerámicas para producción de revestimiento cerámico. Se definieron composiciones
que contenían: 80% de arcilla, 20% residuo de granito y 10% residuo de caolín - Composición A y
60% de arcilla, 10% residuo de granito y 30% residuo de caolín - Composición B, y fueron
moldeados cuerpos de prueba Dimensiones de 60 mm x 20 mx 5 mm por prensado uniaxial a
27MPa y posteriormente se sinterizaron a una temperatura de 1000 ° C. Se observó que la
composición con mayor porcentaje de residuo de caolín presentó mejor resultado para las
propiedades físicas y mecánicas, pudiendo ser clasificada de acuerdo con la norma de la ABNT
NBR 13818 (1997) como BIII - porosos. Indicando que hay posibilidades de incorporar el residuo
de caolín a composiciones cerámicas para producción de revestimientos, minimizando de esta
forma el impacto ambiental debido a la reducción del volumen de residuo a ser descartado en el
medio ambiente, dando un destino ambientalmente correcto al mismo.
Palabras Clave: Residuo, Cerámicos, Reciclaje, Educación Ambiental, Meio Aambiente.

INTRODUÇÃO

O termo caulim é empregado para denominar a rocha que contém a caulinita, seu principal
componente, assim como, o produto obtido do seu beneficiamento (LUZ, 2016). É um dos seis
minerais mais abundantes da crosta terrestre e pode ser encontrado com até 10 metros de
profundidade, apresenta como característica a granulometria fina, que permite maior plasticidade e
a cor branca ou quase branca, devido ao baixo teor de ferro. Em função de suas propriedades, pode
ser utilizado na fabricação de diversos produtos, como produtos farmacêuticos, materiais cerâmicos,
esmaltes para revestimento cerâmico, tintas, papéis, dentre outros, sendo assim, a extração desse
mineral contribui diretamente com a economia do país. Cerca de 28% das reservas mundiais de
caulim são encontradas no Brasil, sendo 8% destas localizadas na região do nordeste brasileiro, nos
estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Bahia, estes se destacam quanto as suas reservas (LUZ,
2016).
Para obtenção do caulim, com as propriedades e características utilizadas pelas indústrias, é
necessário que este seja submetido ao processo de beneficiamento, que segundo Lima (2011)
consiste na separação do minério de suas impurezas, tais como mica, óxidos de ferro, feldspato,
titânio, dentre outros que interferem na sua alvura, comprometendo sua qualidade do produto final.
Entretanto, o processo de beneficiamento do caulim é um dos responsáveis por gerar inúmeros
impactos ambientais, provenientes da queima em fornos que por vezes podem ser alimentados por
mata nativa e pela geração de milhares de toneladas de resíduo do beneficiamento, também
chamado de rejeitos de produção, que se caracterizam por ser um material que fica retido no
peneiramento do caulim, inerte e granular que correspondem a 80 % de todo o material extraído.
A exploração dos recursos naturais desencadeia um processo de contínua degradação, visto
que são produzidos resíduos não aproveitados lançados indiscriminadamente ao meio ambiente. O
setor mineral gera grandes quantidades de resíduos de diversos tipos e níveis de periculosidade,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 791


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

como por exemplo, a indústria de beneficiamento do caulim, a qual produz resíduos à base de sílica,
mica e caulinita em grandes quantidades. A extração desse minério produz um percentual de
resíduos correspondente a 80 a 90% do volume total explorado, representando, assim, um grande
impacto ambiental (MENEZES, 2007).
Apesar da grande importância tecnológica do caulim, sua extração e beneficiamento
produzem enorme quantidade de resíduos, em virtude de seu processamento ter um aproveitamento
de, aproximadamente, 30% do total extraído (TULYAGANOV, 2002; NOBREGA, 2007;
MORAES, 2013).
No processamento do caulim primário, são gerados dois tipos de resíduos, a saber: o
primeiro é o resíduo grosso, originário da separação do quartzo do minério, gerado logo após a
extração e que representa cerca de 70% do total de resíduo produzido; o segundo é o resíduo fino,
que provém da segunda etapa do beneficiamento, etapa em que o caulim é purificado. A disposição
desse material é realizada a céu aberto, causando danos a saúde de animais e pessoas.
O maior percentual do rejeito gerado é, em geral, descartado em campo aberto e em várzeas
de riachos e rios, o que causa agressão à fauna, flora e à saúde da população. Essa atitude por parte
das empresas produtoras de caulim levou a severas fiscalizações dos órgãos de proteção ambiental,
fazendo com que o resíduo gerado se torne fonte de custos para as empresas e, por vezes, um
limitante no aumento de suas produções (LEITE,2007). No Nordeste do Brasil, as principais
indústrias mineradoras de caulim estão localizadas nos municípios de Equador (RN) e Junco do
Seridó (PB) (CABRAL, 2009).
Os resíduos provenientes das indústrias de mineração e beneficiamento de caulim
apresentam um grande potencial mineral, visto que são constituídos por caulim, mica moscovita e
um pequeno percentual de quartzo. A minimização do impacto ambiental negativo, provocado pelo
descarte deste resíduo tem motivado estudos visando desenvolver tecnologias de aproveitamento do
mesmo em diversas áreas.
A construção civil é um dos setores que contribui efetivamente com a economia do país,
logo, está diretamente ligado ao PIB nacional, portanto seu crescimento ou estagnação podem
refletir a atual situação financeira do país. Entretanto, estas contribuições diretas a economia não
revelam outro aspecto, segundo o Ministério do Meio Ambiente (2016) a construção civil é uma das
atividades humanas que mais consome recursos naturais e uma das que mais consome energia de
forma intensiva. No Brasil cerca de 35% do que é extraído da natureza anualmente, como areia,
madeira, pedras, dentre outros, é utilizado pelo setor, afirma Veronezzi (2016), sendo portanto um
setor que possibilita a inserção de matérias primas alternativas.
A utilização dos resíduos da extração e do beneficiamento mineral em produtos para
construção civil tem-se mostrado uma ótima alternativa para diversificar a oferta de matérias-primas

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 792


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

e para a economia de recursos naturais, onde a reutilização é uma das principais alternativas para o
desenvolvimento sustentável (BARBOSA, 2006). Essas ações visam reduzir os impactos
ambientais e também atuam para que um maior valor seja agregado ao material, gerando além de
uma melhora na qualidade de vida dos moradores da região, emprego e desenvolvimento para a
comunidade local (NOBREGA, 2007). Na construção civil, o resíduo de caulim vem sendo
utilizado na produção de materiais alternativos de custo reduzido em relação aos convencionais.
Na busca pela redução de tais impactos, surge o que se denomina construção sustentável,
que segundo o Ministério do Meio Ambiente (2016) consiste em um processo holístico que aspira a
restauração e manutenção da harmonia entre os ambientes natural e construído, e a criação de
assentamentos que afirmem a dignidade humana e encorajem a equidade econômica. Com a
propagação da necessidade da implantação de medidas sustentáveis em todos os setores, a
construção civil adotou providências para se adequar a esta nova realidade. A sustentabilidade deste
setor deve passar por todos os estágios da construção da edificação, uma das medidas que podem
ser adotadas é a utilização de materiais ecológicos, que podem contar com a utilização de materiais
alternativos com a incorporação de resíduos.
Dentre os estudos realizados, visando a incorporação do resíduo de caulim em produtos da
construção civil, pode-se destacar, o estudo realizado por Rezende (2006), visando a introdução de
resíduo de caulim como substituição da areia em blocos de concreto nas proporções de 40%, 70% e
100%, obtendo valores de resistência à compressão simples dentro das especificações estabelecidas
pelas normas (REZENDE, 2006).
Mendonça (2012) avaliou propriedades físicas e mecânicas de blocos e revestimentos
cerâmicos incorporados com resíduo de granito e caulim, e verificou que os resultados obtidos
atendem as especificações normativas.
Barbosa et al., (2016), realizou estudo visando o aproveitamento do resíduo de caulim na
produção de blocos concreto não estrutural, o observou que é possível utilizar o resíduo de caulim
em substituição ao agregado miúdo e obter blocos de concreto dentro dos parâmetros estabelecidos
pela norma.

REVESTIMENTOS CERÂMICOS

Conforme a NBR 13816 (1997), placas cerâmicas para revestimento são materiais
compostos de argilas e outras matérias-primas inorgânicas, geralmente utilizadas para revestir pisos
e paredes, sendo conformadas por extrusão, prensagem, entre outros processos de conformação. As
placas são então secadas e sinterizadas.
De acordo com Van Vlack (1973) as matérias-primas necessárias à fabricação dos produtos
cerâmicos originam-se da natureza. Algumas são incorporadas aos produtos em sua forma natural,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 793


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

outras são previamente beneficiadas e processadas. De uma forma generalizada, pode-se afirmar
que as matérias-primas utilizadas na fabricação de produtos de larga aplicação e baixo custo
(tijolos, telhas, concretos) recebem pouco ou nenhum processamento prévio, ao passo que as
matérias-primas para os produtos produzidos em baixa escala para aplicações tecnológicas
(cerâmicas para eletrônica ou eletrotécnica, ferramentas de corte, vidro ópticos) são intensamente
beneficiadas, o que justifica o seu maior custo.
A composição de uma massa cerâmica é tri-axial, sendo os seus componentes a argila, o
quartzo e o feldspato. De acordo com Moraes (2007) as matérias-primas cerâmicas podem ser
classificadas como plásticas (argila, caulim e filito) e não plásticas (quartzo, calcita, dolomita, talco,
feldspato, feldspatóide). Embora ambas exerçam funções ao longo de todo o processo produtivo, as
plásticas são essenciais na fase de conformação, enquanto as não plásticas atuam mais na fase de
processamento térmico; logo, a cerâmica é composta exclusivamente por materiais inorgânicos, ou
mais especificamente, de uma mistura de óxidos. Por meio de um processamento adequado, as
propriedades dessas matérias-primas podem ser alteradas na sua composição química, na sua
estrutura cristalina e no arranjo das diversas fases (SANTOS, 1989).
Segundo Van Vlack (1973), o limite para as adições de materiais não-plásticos, tais como o
quartzo e o feldspato, é normalmente a trabalhabilidade da matéria-prima nas operações de
conformação. A adição de um componente grosseiro e não-plástico a um produto cerâmico plástico
introduz a possibilidade de se formar microfissuras, pois estes funcionam como uma fonte de
tensões quando os materiais plásticos se contraem ao seu redor. As microfissuras interferem nas
propriedades mecânicas do produto final, a menos que a queima permita a ―cicatrização‖ das
fissuras.
Pode-se ainda, fazer o uso de aditivos, com o objetivo de melhorar as propriedades
reológicas (reologia é a ciência que estuda a deformação e o escoamento da matéria) das suspensões
aquosas, podendo esses serem inorgânicos ou orgânicos. Os aditivos são adicionados à massa em
pequenas quantidades, geralmente inferior a 1%.
Os revestimentos cerâmicos são utilizados em larga escala pelo setor de construção civil.
Sua aplicação com esses fins teve início com as civilizações do Oriente Próximo e da Ásia, por
volta de 500 a.C., sendo seu uso justificado pelo apelo decorativo, durabilidade e facilidade de
higienização, porém limitado pelo fator custo.
A qualidade do produto final é fortemente influenciada pela matéria-prima. As diversas
possibilidades de combinação dessas implicam em uma vasta variedade de tipos de placas
cerâmicas. A fabricação de placas para revestimentos cerâmicos compreende diversas etapas, as
quais requerem um rigoroso controle das variáveis envolvidas, a fim de se obter produtos de acordo
com as especificações técnicas do mercado. A sequência normal para a fabricação de revestimentos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 794


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

cerâmicos consiste basicamente em: dosagem, preparação da massa, conformação, secagem,


esmaltação e queima (SOUSA, 2003; CABRAL, 2009). É na fase de queima que os produtos
cerâmicos adquirem as propriedades úteis desejadas.
De uma forma geral, as placas cerâmicas para revestimentos apresentam uma série de
características que justificam o constante crescimento da utilização desses produtos, entre essas
características pode-se destacar: beleza, alta resistência, durabilidade, facilidade de instalação e
higienização, baixa condutividade térmica e elétrica, não propagação de chamas e insensibilidade à
luz. Além disso, o Brasil conta com grande número de fabricantes que disponibilizam uma vasta
variedade de produtos que se adequam aos consumidores das mais diversas aplicações e classes
sociais.

METODOLOGIA

Os materiais utilizados neste estudo foram:

Argila: procedente da Cerâmica Espírito Santo, município de Espírito Santo-PB;


Resíduo de Granito: Resíduo da serragem de granito, resultantes do beneficiamento de blocos de
granito da Empresa POLIGRAN S/A – Polimento de Granitos do Brasil - Alça Sudoeste, Rodovia
Alça Sudoeste, Quadra 18 km 1,4 - Campina Grande-PB.
Resíduo de Caulim: Resíduo do processamento de caulins derivado da segunda etapa do
beneficiamento de caulins primários, extraídos da planície pegmatítica da Borborema, localizada no
município de Juazeirinho-PB e foi cedido pela CAULISA indústria S/A.

Inicialmente foram realizados ensaios de caracterização para determinação das características das
matérias primas utilizadas neste trabalho, dentre eles:

Análise Química: As matérias-primas foram beneficiadas em peneira ABNT Nº 200 (0,074 mm) e
posteriormente caracterizadas quanto à composição química através do Equipamento EDX-900 da
marca Shimadzu, pelo método de Espectrofotometria Fluorescente de Raio-X.
Difração de Raios X: As análises por difração de raios X das amostras estudadas nesta pesquisa
foram realizadas em um equipamento modelo XRD 6000 da Shimadzu, operando com radiação Cu
kα (30kV/40mA), com varredura entre 2θ(3°) e 2θ(60°) e com velocidade de varredura de 2o /min.

Foram determinadas as composições de acordo com o planejamento experimental através da


metodologia de delineamento de misturas, contendo argila, resíduo de granito e caulim para avaliar
a viabilidade da mistura dessas matérias-primas para produção de revestimentos cerâmicos. Foram
estabelecidas, por necessidades de processamento, limites inferiores e superiores de 60 e 80% de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 795


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

argila, respectivamente e limites inferiores e superiores de 10 e 30 % de resíduos, respectivamente.


A Tabela 1 apresenta as composições utilizadas neste estudo.

Tabela 1: Composições utilizadas para produção de revestimentos cerâmicos


Composições Argila (%) Resíduo de Caulim (%) Resíduo de Granito (%)
A 80 10 10
B 60 10 30

Após a determinação das composições, as matérias-primas foram misturadas em moinho de


bolas para distribuir de forma uniforme todos os componentes na massa. Após a etapa de mistura, as
massas foram secas e passadas em peneiras ABNT N° 80. Em seguida, foram confeccionados
corpos de prova com dimensões de 60 mm x 20 m x 5 mm por prensagem uniaxial (prensa
hidráulica SCHWING SIWA) a 27,0 MPa.
Os corpos de prova foram submetidos à queima rápida (Forno Maitec FE 50rp), em ciclos de
aquecimento de 30minutos na temperatura de 1000°C. Após queima, os corpos de prova foram
submetidos a ensaios de caracterização física e mecânica. Foram determinadas as seguintes
propriedades: absorção de água e módulo de ruptura à flexão. A absorção de água foi determinada
através da NBR 13818 (1997). A resistência à flexão (MRF) foi determinada através do ensaio de
flexão em três pontos, de acordo com a norma ABNT NBR 13818 (1997), com velocidade de
deslocamento do braço de aplicação da carga de 0,5 mm/min. Os resultados obtidos resultam da
média de 4 corpos de prova.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da caracterização das matérias-primas por análise química e difração de raios-X,


pôde obter os resultados da composição química e das fases mineralógicas dos materiais.
A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos para o ensaio de análise química das matérias
primas em estudo.
Tabela 2: Análise química das matérias primas em estudo
Composições
Matérias-primas SiO2 Al2O3 Fe2O3 K2O TiO2 CaO Na2O PF
Argila 53,49 22,25 11,15 3,87 1,44 2,66 - 5,12
Resíduo de granito 62,87 14,48 6,59 3,78 - 6,28 3,52 2,28
Resíduo de caulim 52,68 33,57 0,93 5,72 0,12 - 0,08 6,75
PF: Perda ao Fogo.

Observando os valores da composição química, verifica-se que o resíduo de caulim é


constituído basicamente de sílica (52,68 %), Al2O3 (33,57 %), teor de óxido de ferro inferior a 1% e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 796


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

óxido fundente (K2O= 5,72 %). O óxido de potássio irá atuar como agente fundente, ajudando na
sinterização das peças cerâmicas.
O resíduo de granito apresenta teor elevado de sílica superior a 60% e elevados teores de
Fe2O3 e CaO. A presença de óxido de cálcio e óxido de ferro (CaO e Fe2O3) encontrados na amostra
de granito é oriunda principalmente da granalha e da cal utilizados como abrasivo e lubrificante no
processo de beneficiamento de granito. Os óxidos de ferro (Fe2O3), cálcio (CaO), sódio e potássio
(Na2O e K2O) presentes no resíduo são agentes fundentes. Com relação ao uso cerâmico o teor de
ferro (Fe2O3) superior a 6% presente no resíduo de granito, conduzirá, provavelmente após
sinterização, a colorações avermelhadas. Em relação à argila, os teores de sílica, alumina e ferro são
típicos de argila para cerâmica vermelha.
A Figura 1, ilustra os resultados obtidos para a difração de raios-X das matérias primas em
estudo.

Figura 1: Difratograma de raios-X das matérias primas em estudo

Observando o difratrograma do resíduo de caulim, verifica-se a presença de mica,


caracterizada pelas distâncias interplanares de 9,47A°; e de caulinita caracterizada pela distância
interplanar de 7,32A°; de quartzo (SiO2), caracterizada pela distância interplanar de 3,34A°; e de
mica moscovita, caracterizada pela distância interplanar 10,04A°. Para o resíduo de granito,
observa-se a presença de quartzo (SiO2), caracterizada pela distância interplanar de 3,34A° ; de
albita (feldspato sódico-NaAlSi3O8), caracterizada pela distância interplanar de 3,19A° , e, em
menor quantidade de mica moscovita, caracterizada pela distância interplanar de 10,04A° , e de
calcita (CaCO3), caracterizada por 3,03A°. Para a argila utilizada na pesquisa, observa-se a
presença das seguintes fases: mica/ilita, caulinita, quartzo e feldspato do tipo albita. Observa-se que
o elevado teor de K2O presente no resíduo de caulim é proveniente da mica, enquanto o alto teor de
Na2O e K2O presente no resíduo de granito é oriundo da mica e feldspato presentes no resíduo.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 797


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A Figura 2 ilustra os resultados obtidos para o módulo de ruptura a flexão dos corpos de
prova de revestimentos cerâmicos incorporados com resíduo de caulim nos teores de 10% e 30%.

5,5
Módulo de ruptura a flexão (MPa) 5,4
5,36
5,3
5,2
5,1
5
4,9
4,8
4,76
4,7
4,6
4,5
4,4
Comp. A - 80A/10RG/10RC Comp. B - 60A/10RG/30RC

Composições cerâmicas

Figura 2: Módulo de ruptura a flexão dos corpos de prova das composições em estudo

Observa-se de forma geral, que a composição com maior teor de resíduo de caulim e menor
teor de argila apresentou melhor resultado para o módulo de ruptura, indicando que é possível
maximizar o teor de resíduo de caulim e obter propriedades mecânicas que atendem aos parâmetros
normativos.
Este comportamento pode ser justificado pela composição química e mineralógica do
resíduo, que possibilitou um empacotamento perfeito das partículas, permitindo uma melhoria na
resistência mecânica.
A caracterização química e mineralógica deste resíduo indica a possibilidade de sua
utilização também como agregado alternativo em blocos de vedação (REZENDE, 2007),
argamassas (ROCHA et al., 2008) e concreto para pavimentação.
A Figura 3 ilustra a absorção de água dos corpos de prova de revestimentos cerâmicos
incorporados com resíduo de caulim nos teores de 10% e 30%.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 798


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

15,1
15,03
15

14,9

Absorção de água (%)


14,8

14,7

14,6

14,5 14,49
14,4

14,3

14,2
Composição A - 80% A/10% RG/ Composição A - 60% A/10% RG/
10% RC 30% RC

Figura 3: Absorção de água dos corpos de prova de revestimentos cerâmicos incorporados com resíduo de
caulim nos teores de 10% e 30%.

De acordo com os resultados obtidos, pôde-se verificar que ocorreu um leve aumento da
absorção de água para os corpos de prova com incorporação de 30% de resíduo de caulim, em
relação à absorção obtida para o teor de 10% de incorporação de resíduo de caulim, no entanto os
valores de absorção obtidos permitem classificá-los como BIII- porosos, com absorção de água
acima de 10%.
Assim, a utilização do resíduo de caulim em composições cerâmicas, na indústria da
construção civil, na produção de blocos de vedação, pisos intertravados, argamassa, etc,
possibilitará minimizar o quantitativo a ser descartado no meio ambiente, gerando desta forma
benefícios econômicos e ambientais, visto que será dado um destino ambientalmente correto,
reduzindo os custos da empresa geradora do resíduo com a disposição do mesmo, agregará valor a
um material indesejável e reduzirá o impacto ambiental causado pela exposição do mesmo no meio
ambiente.
Devido a sua composição química do resíduo de caulim ao atingir a fauna e a flora acarreta
danos à saúde dos animais e extinção de plantas nativas, além de gerar danos à saúde humana como
doenças de pele, doenças respiratórias, etc.

CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos, pôde-se concluir que:


O resíduo de caulim apresenta composição majoritária de óxido de silício e alumínio,
exibindo uma composição semelhante a algumas matérias-primas utilizadas na construção civil e
em composições cerâmicas;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 799


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Quanto às fases mineralógicas presentes no resíduo, pode-se observar o resíduo apresenta


mica, calcita, quartzo e ilita, componentes presentes também em argila e em outros componentes da
construção civil;
O resíduo proporciona a obtenção de propriedades físicas e mecânicas que permitem
classificá-los como BIII, como alta absorção (acima de 10%) e resistência mecânica baixa;
É possível utilizar o resíduo de caulim em composições cerâmicas permitindo obter para o
teor de 30% de incorporação, peças classificadas como BIII – Porosas, indicando que para teores
inferiores a 30% de incorporação pode-se obter propriedades físicas e mecânicas ainda melhores,
possibilitando desta forma que o volume de resíduo tenha uma destinação ambientalmente correta e
que haja a minimização do volume a ser descartado, agregando valor ao mesmo e de certa forma
reduzindo a extração de matérias-primas naturais, proporcionando desta forma um ganho
bidimensional ao meio ambiente, a partir de mitigação do impacto ambiental causado pelo descarte
do resíduo que será utilizado como um insumo na produção de peças cerâmicas ou para outras
finalidades na construção civil e reduzindo a extração de matérias-primas convencionais utilizadas
em formulações cerâmicas ou na produção de artefatos da construção civil.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, A. A.; SÁ, C. S. F.; BARROSO, J. V.; LIMA, R. C. O.; LEAL, J. P. C.;
Aproveitamento do resíduo de caulim na produção do concreto sem fins estruturais, VII
Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental – ConGeA, Campina Grande-PB, 2016.

BARBOSA, M. P. O. N. Potencialidades de um caulim calcinado como material de substituição


parcial do cimento Portland em argamassas. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e
Ambiental; DEAg/UFCG, Campina Grande, PB, 2006.

CABRAL, E. S.; LEITE FILHO, E. M. R.; BRAZ DE ARAÚJO. FARIAS, M. S. S. Impactos


ambientais: Uma abordagem das atividades de beneficiamento de caulim na região
Borborema/Seridó na Paraíba. 2009.

LEITE, J. Y. P.; VERAS; M. M.; SANTOS, E.P.; LIMA, R.F.S.; PAULO, J.B.A.; Mineração de
caulim de pequena escala em APL de Base Mineral – Novo layout para sua otimização. In:
XXII ENTMME/VII MSHMT – Ouro Preto, MG, 2007.

LIMA, R. C. O. Diagnóstico dos impactos ambientais decorrentes do beneficiamento de caulim no


município de Equador – RN. Revista de Biologia e Ciências da Terra. V. 10 – N. 2 – 2010.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 800


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

LUZ, Adão Benvindo da. Argila – Caulim. Disponível em:


<http://mineralis.cetem.gov.br/bitstream/handle/cetem/1101/12. CAULIM. Março Revisado B
ertolino e Scorzelli.pdf/sequence=1>. Acesso em: 13 jul. 2016.

MENEZES, R.R. et al. Análise da co-utilização do resíduo do beneficiamento de caulim e serragem


de granito para produção de blocos e telhas cerâmicos. Cerâmica vol. 53, n. 326, Abril/Junho,
2007.

Ministério do meio ambiente. Construção Sustentável. Disponível em:


<http://www.mma.gov.br/cidadessustentaveis/ urbanismo-sustentável/construção-sustentável>.
Acesso em: 15 jul. 2016.

MORAES, J. M. Caracterização tecnológica e mineralógica de caulins brasileiros. XIV Jornada de


Iniciação Científica – CETEM. UERJ, 2013.

MORAES, M. L. V. N. Aproveitamento de resíduo de beneficiamento do caulim na produção de


porcelanato cerâmico. Natal: Tese de Doutorado, UFRN. 2007.

NBR 13816/2007 – Revestimentos cerâmicos: Determinação da absorção de água. NOBREGA, A.


F. Potencial de aproveitamento de resíduos de caulim paraibano para o desenvolvimento de
argamassas de múltiplo uso. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana
da Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, PB, 2007.

REZENDE, M. L. S. Estudo de viabilidade técnica da utilização do resíduo de caulim em blocos de


vedação. 2007. 72 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de
Campina Grande, Campina Grande. 2007.

REZENDE, M.L.S. et al. Gerência de resíduos de caulim: estudo da viabilidade para produção de
blocos de concreto. In: Simpósio de Engenharia de Produção, 2006, Bauru, SP. Anais. 2006.

ROCHA, A. K. A.; MENEZES, R.R.; NEVES, G. A.; FERREIRA, H. C.; MELO, W. A.


Argamassas mistas para alvenaria utilizando resíduo de caulim: comportamento mecânico.
REM: Revista Escola de Minas - Ouro Preto, v. 61, n. 4, Oct./Dec. 2008.

SANTOS, P. Sousa. Ciência e Tecnologia de Argilas, São Paulo: editora Edgard Blucher Ltda,
1989.

SOUSA, F. J. P. Estudo e desenvolvimento de alternativas para o aproveitamento de resíduo das


indústrias de revestimento cerâmico. Dissertação de Mestrado, UFSC, 2003.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 801


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TULYAGANOV, D. U. et al. Mullite-alumina refractory ceramics obtained from mixtures of


natural common materials and recycled al-rich anodizing sludge. Journal of Materials Synthesis
and Processing, v. 10, n. 6, p. 311-318, 2002.

VAN VLACK, L. H. Propriedades dos Materiais Cerâmicos. São Paulo: Edgard Blucher, 1973.

VERONEZZI, Felipe. O Impacto da Construção Civil no Meio Ambiente. Disponível em:


<http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=23&Cod=1827>. Acesso em: 14 jul.
2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 802


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

DESEMPENHO DE UM REATOR UASB EM ESCALA REAL TRATANDO ESGOTO


SANITÁRIO

Pedro Herlleyson Gonçalves CARDOSO


pedroherlleyson@yahoo.com.br
Mauro Batista SAMPAIO
Biólogo / Coordenador do Núcleo de Água e Esgoto do SAAE Iguatu
maurobsampaio@yahoo.com.br

RESUMO
Os sistemas anaeróbios de tratamento de esgotos, notadamente os UASB, passaram a ocupar uma
posição de destaque, não só em nível mundial, mas principalmente no Brasil, face às favoráveis
condições de temperatura. Essa trajetória de aceitação passou de um estágio de descrédito, até o
início dos anos 80, para na fase atual de grande aceitação. Neste sentido, este estudo objetivou
monitorar o desempenho de um reator tipo UASB, em escala real, que trata esgoto sanitário no
semiárido nordestino. As variáveis analisadas, no período de 33 dias, foram: Vazão, Tempo de
Detenção Hidráulica (TDH), Carga Orgânica Volumétrica (COV), Carga Hidráulica Volumétrica
(CHV), Velocidade Ascensional, Sólidos Suspensos (SS), Taxa de Carregamento Orgânico (TCO),
Demanda Química de Oxigênio (DQO) e Sólidos Totais (ST). De acordo com os resultados obtidos,
pode-se concluir que no período monitorado, o reator UASB funcionou de modo estável na faixa
mesófila de temperatura, com pH próximo de 7,0, além de uma excelente percentagem de
conversão de DQO, como também ótima remoção de ST. Neste contexto, pode-se afirmar que não
houve diminuição da taxa de metanogênese.
Palavras-chave: Tratamento de efluente, digestão anaeróbia, reator UASB.

ABSTRACT
Anaerobic sewage treatment systems, notably the UASB, it came to occupy a prominent position,
not mainly in the world, but mainly in Brazil, due to the favorable temperature conditions. This
trajectory of acceptance changed from a stage of discrediting, until the beginning of the 1980s, to a
current phase of great acceptance. In this sense, this study aims to monitor the performance of a
real-scale UASB-type reactor that treats northeastern northeastern sanitary sewage. The following
variables were analyzed: Flow, Hydraulic Retention Time (HRT), Volumetric Organic Load (VOL),
Loading Organic Rate (LOR), Ascent Velocity, Suspended Solids (SS), Chemical Oxygen Demand
(COD) and Total Solids (TS). According to the results obtained, it can be concluded that it has not
been monitored, the UASB reactor operated in a stable way in the temperature range, with pH close
to 7.0, besides an excellent percentage of COD conversion, as well as good Removal of ST. In this
context, it can be affirmed that there was no decrease in methanogenesis rates.
Key words: Effluent treatment, anaerobic digestion, UASB reactor.

INTRODUÇÃO

Ao longo dos últimos 35 anos, constatou-se que os reatores UASB oferecem muitos
beneficios para as estações de tratamento de esgoto, visto que, que esse reator pode substituir
(conjuntamente) decantadores primários, adensadores e digestores de lodo, além de remover cerca

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 803


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

de 60% a 75% da Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) presente no esgoto sanitário bruto
(SILVA, 2015).
Os principais fatores que influenciam a eficiência do UASB são: temperatura, configuração
física do reator, composição do afluente, grau de mistura, pH, Carregamento Orgânico Volumétrico
(COV), toxicidade do efluente, velocidade ascensional, tamanho e composição das partículas do
lodo, atividade bacteriana, etc ( LETTINGA e HULSHOFF POL, 1991). Noyola (2004) levantou os
dados dos primeiros reatores UASB utilizados para tartar esgoto sanitário. Esses reatores foram
construídos na Colômbia, no Brasil e na Índia entre os anos de 1983 e 1990.
Neste sentido, este estudo objetivou monitorar o desempenho de um reator tipo UASB, em
escala real, que trata esgoto sanitário no semiárido nordestino.

METODOLOGIA

Este estudo refere-se ao monitoramento que realizou-se, no que diz respeito a um reator tipo
UASB que trata esgoto sanitário no semiárido nordestino, totalizando 33 dias de verificação.
Realizou-se tratamento anaeróbio do esgoto sanitário por meio de um reator anaeróbio de
manta de lodo tipo UASB. O reator, em escala real como mostra a Figura 1, fabricado em material
Plástico Reforçado com Fibra de Vidro (PRFV), tem 5 m de diâmetro, 5,2 m de altura total, sendo
4,5 m de altura útil, e volume de 88,31 m3.

Figura 1: Vista do reator UASB, em escala real. Fonte: Acervo pessoal (2014).

O reator encontra-se instalado geograficamente a UTM 467.951,00 mE 9.296.021,00 mS e


trata o esgoto predominantemente sanitário proveniente de 117 ligações derivadas do sistema de
esgotamento sanitário de parte da cidade onde o mesmo está localizado, observado uma vazão
média de contribuição de aproximadamente 34,64 m3 por dia. Anteriormente do esgoto entrar no
reator, o mesmo passa por um tratamento preliminar, que consiste em gradeamento para retenção de
sólidos grosseiros. O espaçamento entre barras deste é de 1‖ e a espessura das barras é de 3/8‖.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 804


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O processo consiste basicamente de um fluxo ascendente de esgotos por meio de um leito de


lodo denso e de elevada atividade e com coleta do efluente na parte superior do reator. No fundo do
reator há a formação de um leito de lodo mais denso até um lodo mais disperso próximo ao topo do
reator. A estabilização da matéria orgânica ocorre pela da passagem e mistura do esgoto no leito de
lodo promovida pelo fluxo ascensional e das bolhas de gás formadas (CHERNICHARO, 2007).
As variáveis analisadas neste período foram: Vazão, Tempo de Detenção Hidráulica
(TDH), Carga Orgânica Volumétrica (COV), Carga Hidráulica Volumétrica (CHV), Velocidade
Ascensional, Sólidos Suspensos (SS) e Taxa de Carregamento Orgânico (TCO). Realizou-se os
cálculos para a eficiência de conversão de DQO e a eficiência de remoção de Sólidos Totais. A
Tabela 1 descreve a referência metodológica de cada variável monitorada. Os critérios para projeto
e operação de reator UASB foram retirados dos trabalhos de Di Bernardo et al. (1991) e
Chernicharo (2007).

Tabela 1 – Referências metodológicas utilizadas na determinação do esgoto sanitário


Variáveis Unidade Referência
Vazão - Azevedo Neto, 1998.
Temperatura °C Chernicharo, 2007.
pH - Van Haandel e Lettinga,
1994.

Tempo de Detenção Hidráulica - TDH Horas Campos, 1999.


Carga Orgânica Volumétrica - COV Kg Campos, 1999.
Carga Hidráulica Volumétrica - CHV 3.di
m3/m3.dia
DQO/m Campos, 1999.
Velocidade Ascensional - VA m/h
a Campos, 1999.
Sólidos Suspensos - SS mg/L Nascimento, 2001 e Chernicharo
et al., 2001.

Taxa de Carregamento Orgânico - TCO Kg Di Bernardo et al., 1991.


mg/L3.di
Demanda Química de Oxigênio - DQO DQO/m LAAE, 2014.
Sólidos Totais - ST mg/L
a LAAE, 2014.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

pH e Temperatura

De acordo com o resultados das análises realizadas, verificou-se valor médio para a
variável pH de 6,81 ± 0,37 no afluente e 7,01 ± 0,11 no efluente. Observou-se valor máximo e
mínimo de 7,39 e 5,76 no afluente respectivamente, e valor máximo e mínimo de 7,38 e 6,81 no
efluente respectivamente. A Figura 1 ilustra os dados do monitoramento realizado.
Uma alta taxa de metanogênese ocorre somente quando o pH se mantém em uma faixa
próxima do valor neutro. Por isso o controle do pH nos reatores anaeróbios é de estrema
importância. Um pH menor que 6,3 ou maior que 7,8, provoca uma diminuição da taxa de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 805


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

metanogênese (VAN HAANDEL e LETTINGA, 1994). A instabilidade no reator poderá acontecer


se os ácidos produzidos na acidogênese não estiverem sendo removidos na metanogênese,
ocasionando o chamado ―azedamento‖ do reator, caracterizado pela elevada produção líquida de
ácidos.

Figura 1 – Representação do pH afluente e efluente

No que diz respeito a variável temperatura, verificou-se valor médio de 29,4 ± 0,8 no
afluente e 29,5 ± 0,9 no efluente. Observou-se valor máximo e mínimo de 31°C e 28°C no afluente
respectivamente, e valor máximo e mínimo de 31°C e 27°C no efluente respectivamente. A Figura
2 esclarece os dados do monitoramento realizado.
A digestão anaeróbia depende fortemente da temperatura, pois influencia a seleção das
espécies que não possuem meios de controlar a temperatura interna. Três faixas de temperatura
podem estar associadas à digestão anaeróbia, uma na faixa psicrófila (0 a 20°C) faixa mesófila (20
a 45°C) e a outra na faixa termófila (45 a 70°C). A operação de reatores anaeróbios próximos à
temperatura ótima pode levar a uma considerável redução nas dimensões do reator. No entanto,
mudanças bruscas de temperatura podem levar a um desbalanceamento entre as bactérias
acidogênicas e bactérias metanogênicas (CHERNICHARO, 1997).
Além de influenciar as taxas de digestão, a temperatura vai afetar a fração de sólidos
orgânicos que podem ser metabolizados no processo de digestão anaeróbia. A fração digerida
diminui consideravelmente com a temperatura, o que pode ser atribuída a uma baixa taxa de
hidrólise, fazendo com que as grandes partículas sólidas não sejam quebradas. Apesar disso, é
possível que o material orgânico particulado seja incorporado à manta de lodo através da adsorção,
decantação ou floculação (VAN HAANDEL e LETTINGA, 1994).

Figura 2 – Representação da temperatura afluente e efluente

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 806


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Vazão e TDH

Em relação as verificações de vazão in loco, observou-se um médio de 15,12 m3/h ± 2,59.

Notou-se valor máximo de 21 m3/h e mínimo de 8,52 m3/h. De acordo com o resultados das
observações realizadas, tendo em vista os dados de vazão, pôde-se equacionar os valores de TDH
em horas, onde observou-se um valor médio de 6,02 ± 1,15. Notou-se valor, em horas, máximo de
10,36 e mínimo de 4,37. Segundo Chernicharo (1997), para temperaturas maiores de 25°C
necessita-se TDH médio acima de 6 horas. A Figura 3 explana os dados do monitoramento
realizado.

Figura 3 – Representação da vazão afluente

Carga Hidráulica Volumétrica

Verificou-se valor médio de CHV de 4,1 m3/m3.dia ± 0,7. Observou-se valor máximo de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 807


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

5,49 m3/m3.dia e mínimo de 2,32 m3/m3.dia. Estudos demostram que a CHV não deve ultrapassar

o valor de 5 m3/m3.dia, equivalente a um TDH mínimo de 4,8 horas (CAMPOS, 1999). Projetos
de reatores com valores superiores de CHV ou inferiores de TDH podem levar o arraste do lodo
com o efluente e/ou redução do tempo de residência celular e consequentemente diminuição do
grau de estabilidade dos sólidos.
A Carga Hidráulica Volumétrica (CHV) é o volume de resíduos aplicados diariamente no
reator, por unidade de volume. O Tempo de Detenção Hidráulico (TDH) é o inverso da CHV.
Geralmente o TDH em reatores UASB é entre 4h e 8h. A Figura 4 expõe os dados do
monitoramento realizado.

Figura 4 – Representação da carga hidráulica volumétrica em função da vazão

Substrato Teórico Afluente

Obteve-se um valor médio de substrato afluente de 0,8 Kg DQO/m3 ± 0,1, tendo em vista
que, segundo Campos (1999), no caso de esgotos domésticos, a carga orgânica volumétrica

situam-se na faixa entre 2,5 e 3,5 Kg DQO/m3.d, utilizando uma média de 3 Kg DQO/m3.d.

verificou-se valor máximo de 1,30 Kg DQO/m3 e valor mínimo de 0,53 Kg DQO/m3. A Carga
Orgânica Volumétrica (COV) é a quantidade (massa) de matéria orgânica aplicada diariamente ao
reator por unidade de volume. A Figura 5 exibe os dados do monitoramento realizado.

Figura 5 – Representação do substrato afluente em função da vazão

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 808


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Velocidade Ascensional

No que diz respeito a velocidade ascensional, notou-se valor médio de 0,8 m/h ± 0,1.
Notou-se valor máximo de 1,07 m/h e valor mínimo de 0,43 m/h. Segundo Campos (1999), a
velocidade ascensional máxima no reator depende do tipo de lodo e das cargas hidráulicas
aplicadas. Para reatores operando com lodo tipo floculento e com cargas orgânicas de até 6 kg

DQO/m3.dia, as velocidades ascensionais médias devem ser da ordem de 0,5 a 0,7 m/h, sendo
tolerados picos temporários, durante 2 a 4 horas, de no máximo 2 m/h. para reatores operando com
lodo granular, as velocidades superficiais podem ser significativamente maiores, chegando à
ordem de 10 m/h.
A velocidade ascensional do fluxo é calculada a partir da relação entre a vazão efluente e a
seção transversal do reator. A Figura 6 ilustra os dados do monitoramento realizado.

Figura 6 – Representação da velocidade ascensional em função da vazão

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 809


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Sólidos Suspensos

Lettinga (1996) apud Oliva (1997) obtiveram uma equação que representa a concentração
de sólidos esperada para o efluente a qual foi obtida através de diversos resultados operacionais
dos reatores UASB, que segue: SS = (250/TDH) + 10. Os números 250 e 10 são constantes
empíricas. SS é dado em mg/L e TDH em horas.
Em relação aos sólidos suspensos analisados com base no TDH do reator, verificou-se
valor médio de 52,8 mg/L ± 7,3. Observou-se valor máximo de 69,44 mg/L e valor mínimo de
34,13 mg/L. A Figura 7 ilustra os dados do monitoramento realizado.

Figura 7 – Representação da quantidade de sólidos suspensos existente no efluente em função do TDH

Eficiência de Conversão de DQO e Remoção de Sólidos Totais

Em análise realizada pelo Laboratório de análises Físico-química de Águas e Efluentes


(LAAE), pode-se verificar os seguintes resultados:

1ª coleta
DQO Afluente = 906,25 mg/L ST Afluente = 4.226,00 mg/L
DQO Efluente = 237,50 mg/L ST Efluente = 695,00 mg/L
2ª coleta
DQO Afluente = 843,75 mg/L
DQO Efluente = 156,25 mg/L

Equacionando estes dados, pode-se observar uma eficiência de 74 % de conversão de DQO


de para a primeira coleta e 82 % para a segunda coleta. Realizando uma média entre as
percentagens, tem-se 78 % no total. Tratando-se da remoção de ST, teve-se uma eficiência de 84
%.
Segundo Nascimento (2001) e Chernicharo et al. (2001) tem-se 77% de remoção de DQO.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 810


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Pode-se verificar concentrações médias de DQO no efluente de 98 a 119 mg/L e verificar


concentrações médias de ST de 17 a 57 mg/L.

Taxa de Carregamento Orgânico

A Taxa de Carregamento Orgânico (TCO) é dada pela diferença entre a DQO do afluente

em kg/m3 sobre o TDH em dias.


Tendo em vista os dados de DQO provenientes do LAAE, verificou-se a TCO, com base na

média de TDH de 0,25 dias, como também a média da DQO de 875 mg/L (0,875 kg/m3). De

acordo com o exposto, tem-se TCO de 3,5 Kg DQO/m3.dia.


Para temperaturas de até 40°C, Di Bernado et al. (1991) recomenda um valor de TCO

inferior a 25 Kg DQO/m3.dia.

CONCLUSÃO

No período monitorado, o reator UASB funcionou de modo estável na faixa mesófila, com
pH próximo de 7,0 e temperatura próxima de 30°C. Portanto, não houve diminuição da taxa de
metanogênese.
Tratando-se de vazão e TDH, notou-se o valor médio aceitável, quando relacionada a
temperatura na faixa mesófila.

No que diz respeito a CHV de 4,1 m3/m3.dia, a mesma relaciona-se com o TDH mínimo
de 4,37, enquadrando-se no valor limite.

Em relação ao valor da quantidade de substrato teórico afluente de 0,8 Kg DQO/m3, tendo

em vista TCO teórica de 3 Kg DQO/m3.dia, tais créditos relacionam-se com a TCO medida de 3,5

Kg DQO/m3.dia, e substrato afluente medido de 0,875 kg DQO/m3.


Discorrendo-se sobre a velocidade ascensional, o mesmo encontra-se com algumas
variações, contudo tendendo para o intervalo limite, provavelmente sem prejuízos ao sistema.
Verificou-se uma excelente percentagem de conversão de DQO, valores estes acima de 74
%, como também ótima remoção de ST, valor este de 84%.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO NETTO, J. M. Manual de Hidráulica. 8. ed. rev. São Paulo: Edgard Blucher, 1998.

BEZERRA, S. M. C. Influência do tempo de detenção hidráulica sobre a auto-inoculação na


partida de um reator UASB tratando Esgoto Sanitário. Dissertação, UFPB, Campina Grande -
Brasil, 1998.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 811


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CAMPOS, J. R. Tratamento de Esgotos Sanitários por Processo Anaeróbio e Disposição


Controlada no Solo. 1a ed, Rio de Janeiro, Brasil, ABES, PROSAB, 1999.

CHERNICHARO, C. A. L. Reatores Anaeróbios – Princípios do tratamento biológico de águas


residuárias. v. 5 2a ed., Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, UFMG, 2007.

DI BERNARDO, L. et al. Emprego de reator anaeróbio de fluxo ascendente com manto de lodo
para tratamento de despejos líquidos provenientes de laticínios. Revista Dae, São Paulo, Vol.
51, N°. 161, p. 19-24, jul/ago. 1991.

LETTINGA, G.; HULSHOFF POL, L. W. UASB-process desing for various types of wastewaster.
Water Science and Technology. V. 24, n. 8, p.87-107, 1991.

NOYOLA, A. Anaerobic digestion applied to municipal wastewater treatment: facts and


limitations of na adapted technology for Latin-America. In: Proceeding WEFTEC, New Orleans,
2014.

OLIVA, L. C. H. V. Tratamento de esgotos sanitários com reator anaeróbio de manta de lodo


(UASB). Protótipo: desempenho e respostas dinâmicas às sobrecargas hidráulicas. Tese,
Escola de Engenharia de São Carlos, USP, 1997.

SILVA, R. S. G da. Concepção e Avaliação do desempenho de um reator anaeróbio de manta de


lodo dotado de agitação com jatos e decantador de alta taxa tratando esgoto sanitário. 167f.
Tese (Doutorado em Engenharia Hidráulica e Saneamento) Escola de Engenharia de São Carlos
da Universidade de São Paulo, São Carlos, SP, 2015.

VAN HAANDEL, A. C.; LETTINGA, G. Tratamento anaeróbio de esgoto. Um manual para


regiões de clima quente. UFPB, Campina Grande, PB, Brasil, 1994.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 812


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CATADORES DE RESÍDUOS RECICLÁVEIS DE UMA CIDADE POTIGUAR DE


PEQUENO PORTE: PERFIL SOCIOECONÔMICO, FORMAS DE ATUAÇÃO E
PERCEPÇÃO DO SEU TRABALHO

Quezia Fonseca de LIMA


Graduanda em Engenharia Química pela UFERSA
quezia.f.de.lima@gmail.com
Alessandra Carla Oliveira Chagas SPINELLI
Docente do curso Bacharelado em Ciência e Tecnologia da UFERSA
alessandraspinelli@ufersa.edu.br
Jacimara Villar FORBELONI
Docente do curso Bacharelado em Ciência e Tecnologia da UFERSA
jacimara@ufersa.edu.br

RESUMO
A coleta seletiva e o estímulo à inclusão social dos catadores de resíduos recicláveis são
importantes instrumentos previstos na Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei
Federal nº 12.305/2010. Entretanto, uma parte expressiva dos municípios brasileiros não destina
adequadamente os seus resíduos, bem como mantém o trabalho dos catadores de recicláveis em
uma condição informal e invisível. Realidade ainda mais significativa nos municípios de pequeno
porte. O presente trabalho teve como objetivo identificar a atuação dos catadores de resíduos
sólidos em uma cidade potiguar de pequeno porte a fim de compor o perfil socioeconômico,
identificar as suas formas de atuação e a percepção dos mesmos quanto ao seu trabalho. Foram
identificados no período da pesquisa oito catadores atuando de maneira informal, individual ou em
dupla, no lixão e nas ruas da cidade. O perfil socioeconômico foi similar a média nacional para
catadores, com a ressalva que os catadores atuantes nas ruas apresentaram idade mais avançada,
menor nível de escolaridade e menor renda. O trabalho desempenhado pelos catadores atuantes nas
ruas destacou-se pela existência de coleta porta a porta. A atuação no lixão, além das dificuldades
próprias do local de trabalho, destacou-se pela característica de liderança de alguns catadores, úteis
para uma futura organização formal. Identificou-se também o anseio dos catadores pela organização
formal do trabalho. Nesse sentido, considera-se oportuno que o poder público e a sociedade locais,
de forma contextualizada, dinamizem ações para a promoção de programas de coleta seletiva,
incentivo à organização formal dos catadores, bem como o desenvolvimento de atividades voltadas
à Educação Ambiental para que se implante e, por conseguinte, consolide a coleta seletiva na cidade
em estudo.
Palavras-chave: Coleta seletiva. Lixão. Reciclagem. Trabalho informal.

ABSTRACT
Selective collection and encouraging social inclusion of recyclable waste pickers are important
waste management instruments, as outlined in Federal Law No. 12,305/2010, which instituted the
National Solid on Waste Policy. However, a significant part of Brazilian cities does not adequately
allocate their waste, as well as keeps the work of recyclable waste pickers under informal and
invisible conditions, being such reality even more concerning in small towns. Tus this study aimed
to identify the performance of waste pickers in a small town, in order to picture their socioeconomic
profile as well as their ways of acting and their self-perceived work. Throughout data collection,
eight waste pickers working informally, individually or as a couple, were identified in the dumping
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 813
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ground and on the streets. The socioeconomic profile was similar to the national average for
pickers, with the exception that the street pickers showed a more advanced age, lower level of
schooling and lower income. The work performed by the waste pickers on the streets was
highlighted by the existence of door-to-door collection. The work in the dumping ground, besides
the difficulties associated to the workplace, was highlighted by the leadership characteristic of some
pickers, which is useful for a future formal organization. The desire of having a formal work
organization was also expressed by the pickers. Therefore, is considered opportune that the public
power and local society, in a contextualized way, streamline actions for the promotion of selective
collection programs, incentive to the formal organization of waste collectors, as well as the
development of activities related to Environmental Education thus consolidating the waste selective
collection in the city under study.
Keywords: Selective collection. Dumping ground. Recycling. Informal job.

INTRODUÇÃO

A promulgação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), sancionada em agosto de


2010, por meio da Lei Federal nº 12.305, representou um importante avanço no que concerne à
gestão e ao gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil (BRASIL, 2010a). Entre os objetivos
propostos pela Lei se prevê a disposição adequada dos rejeitos em aterros sanitários e a destinação
adequada dos resíduos por meio da reutilização, reciclagem, compostagem, etc. Nessa perspectiva,
a coleta seletiva dos resíduos e o fomento à criação de cooperativas ou associação de catadores de
resíduos reutilizáveis e recicláveis passaram a ser importantes instrumentos da Política (BRASIL,
2010a).
Apesar das exigências legais, as iniciativas de coleta seletiva e a formalização do trabalho
dos catadores de recicláveis no Brasil ainda se mostram insuficientes e encontram-se distribuídas de
modo heterogêneo por região do país. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza
Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE, 2015), apenas 69,3% dos munícipios brasileiros, em
2015, apresentaram alguma iniciativa de coleta seletiva e esse índice foi ainda menor para a região
Nordeste, com apenas 49,3% dos municípios nordestinos apresentando alguma iniciativa de coleta
seletiva em comparação ao observado para a região Sudeste (86,9%).
Na perspectiva dos municípios de pequeno porte essa realidade também é discrepante. De
acordo com a ABRELPE (2014), 63% dos municípios brasileiros com até 49.999 habitantes
possuíam alguma iniciativa de coleta seletiva, enquanto os munícipios com 500.000 habitantes, ou
mais, alcançou 95%. A ABRELPE (2014, p. 30), destaca, no entanto, que as iniciativas de coleta
seletiva ―muitas vezes [...] resumem-se à disponibilização de pontos de entrega voluntária ou
convênios com cooperativas de catadores, que não abrangem a totalidade do território ou da
população do município.‖.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 814


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

No que concerne às atividades de segregação dos resíduos recicláveis, de acordo com o


Silva, Goes e Alvarez (2013), a maior parte dos trabalhadores que exercem essa atividade são
trabalhadores informais. Segundo os autores, 387.910 pessoas no país se identificam como
catadores, exercem a coleta como principal fonte de renda, mas, aproximadamente, dois em cada
três trabalham na informalidade. A informalidade, conforme o Silva (2017) é responsável por uma
série de dificuldades enfrentadas pelos catadores, como o reconhecimento precário pelos órgãos da
administração pública, a falta dos direitos trabalhistas e de condições de trabalho.
Nesse contexto, a presente pesquisa teve como objetivo identificar a realidade de catadores
de resíduos recicláveis de uma cidade de pequeno porte do Nordeste brasileiro, Angicos/RN, a
partir do levantamento de seu perfil socioeconômico, dos aspectos inerentes à coleta, destinação e
comercialização, de suas formas de organização, bem como, a percepção dos mesmos quanto à
relevância do seu trabalho e à necessidade de organização formal. O levantamento desses aspectos
foi considerado relevante na presente pesquisa na medida em pode ampliar a visibilidade dos
catadores de resíduos recicláveis e pode auxiliar na construção de mecanismos que fomentem a
organização dos mesmos e dinamizem a coleta seletiva em realidades inerentes a cidades e
municípios brasileiros de pequeno porte.

METODOLOGIA

O município de Angicos/RN encontra-se localizado na região central do Estado do Rio


Grande do Norte, abrange uma área de 741,582 km2 e está a uma distância de 171 km de Natal,
capital do Estado. Sua população é composta por 11.549 habitantes, com 10.085 moradores na zona
urbana e 1.464 na zona rural e possui índice de desenvolvimento humano municipal (IDH-M) de
0,624 (IBGE, 2010).
O lixão municipal encontra-se localizado às margens da rodovia estadual RN-263, distando
aproximadamente 2 km do centro da cidade e ainda é a forma de destino dos resíduos sólidos
urbanos gerados na localidade, conforme também identificado por Oliveira (2015), Cunha (2013),
Costa et al. (2012) e Costa (2011). A pesquisa foi realizada a partir da identificação dos catadores
de resíduos recicláveis atuantes nas ruas de Angicos/RN e no lixão municipal.
Adotou-se a pesquisa qualitativa pautada na documentação indireta e observação direta,
intensiva e extensiva (MARCONI; LAKATOS, 2010). O formulário aplicado junto aos catadores
foi construído com base nos trabalhos de Puech (2008) e Gonçalves (2006).
A primeira etapa da pesquisa envolveu um levantamento bibliográfico, busca em sites
específicos de cadastros de catadores de resíduos recicláveis e levantamento junto aos órgãos
públicos locais objetivando identificar catadores atuantes em Angicos/RN, bem como a presença de
cooperativas e associações locais.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 815


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Em um segundo momento, foram aplicados formulários junto aos catadores identificados


nas ruas de Angicos/RN e no lixão municipal. Essa etapa ocorreu em um período compreendido
entre 29 de setembro e 13 de outubro de 2016. Frequentemente, foram realizadas visitas em
diferentes pontos da cidade no sentido de identificar catadores, por ventura, ainda não entrevistados.
Indicações dos próprios catadores também foram utilizadas para ampliar o número de entrevistados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Perfil Socioeconômico dos Catadores Entrevistados

A presente pesquisa identificou oito catadores de resíduos recicláveis atuantes em


Angicos/RN: quatro catadores atuantes nas ruas e quatro atuantes no lixão. Em sua maioria, os
catadores entrevistados eram homens (cinco do total de oito catadores), sendo dois homens e duas
mulheres atuando nas ruas e três homens e uma mulher atuando no lixão. A predominância de
homens corroborou com o levantamento nacional de 68,9% de catadores do sexo masculino
(SILVA; GOES; ALVAREZ, 2013).
No que se refere à faixa etária, foi observado que a idade dos oito catadores entrevistados
estava compreendida entre 30 e 77 anos. A média de idade dos catadores atuantes nas ruas foi
superior à dos catadores atuantes no lixão, sendo, respectivamente, de 62 e 40 anos. A idade média
dos catadores atuantes no lixão se assemelha a média nacional que é de 39,4 anos e da região
Nordeste que é 38,3 anos, conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2013). Não
foi observada a presença de crianças e adolescentes atuando na coleta.
Quanto ao nível de escolaridade, a maioria apresentou baixo nível de instrução (cinco do
total de oito catadores), especialmente aqueles atuantes nas ruas. Metade dos entrevistados
afirmaram escrever apenas o nome, possivelmente caracterizando-se como analfabetos funcionais, e
um não estudou. Entre os atuantes no lixão, havia dois catadores que completaram o ensino médio.
De acordo com Silva, Goes e Alvarez (2013), 20,5% dos catadores do país são analfabetos,
representando média maior que a média nacional de analfabetismo que é de 9,4%. Na região
Nordeste, a situação é ainda mais alarmante, onde o percentual de analfabetismo chega aos 34%,
exigindo ação mais contundente dos gestores (IPEA, 2013).
Quanto ao quesito moradia, a maioria, seis em oito catadores, viviam em casa própria.
Todos os catadores afirmaram possuir um banheiro, água encanada e acesso à coleta de lixo,
embora não possuíssem acesso à rede de esgoto, realidade do município em estudo. De acordo com
Silva, Goes e Alvarez (2013), apenas 66,7% as famílias brasileiras possuem esgotamento sanitário
adequado e, no caso dos catadores, esse dado é ainda menor, representando 49,8% dos imóveis em
que vivem pelo menos um catador.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 816


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

No que se refere à fonte de renda, a maioria dos catadores (seis do total de oito catadores)
classificou a coleta de recicláveis como uma atividade complementar. Um possuía trabalho fixo e os
demais recebiam auxílio do Programa Bolsa Família, identificado por alguns catadores ―como o
dinheiro certo do mês‖ para as despesas domésticas, ou realizavam ―bicos‖ (atividades
temporárias) de pedreiro, doceira e limpeza de terrenos. Os catadores não souberam quantificar a
renda oriunda dessas atividades. Apenas um catador em cada grupo, rua e lixão, não recebia o
benefício do governo.
Os catadores que classificaram o trabalho de coleta como complementar justificaram esse
fato como decorrente da baixa renda obtida da venda do material coletado. Segundo os catadores,
isso se devia ao pequeno volume coletado e ao tempo necessário para alcançar a quantidade exigida
para a venda. Alguns levavam até dois meses para completar o que chamam de ―uma carrada‖ que,
segundo os próprios catadores, comportava cerca de 800 kg de material.
A dificuldade de obter bons preços, de acordo com os catadores, encontra-se atrelada ao
mercado e a existência de atravessadores. Conforme Silva, Goes e Alvarez (2013a, p. 20), de fato,
os atravessadores ―determinam por imposição o valor a ser pago e as condições exigidas pelo
material coletado‖. Nesse contexto, Pinheiro e Francischetto (2016) identificam o catador como o
elo mais frágil do processo da reciclagem. Conforme os autores, pode ser visto como ―recorrente a
disparidade entre os benefícios extraídos da atividade para o grupo dos empresários e para o grupo
dos catadores, os quais enfrentam situações de completa ausência de direitos para conseguirem o
próprio sustento e de sua família.‖. (PINHEIRO; FRANCISCHETTO, 2016, p. 08).
Ainda nesse contexto, tem-se que essa realidade é mais grave na região Nordeste do país
onde o índice de extrema pobreza entre as famílias de catadores é de 8,4%, bem acima da média
nacional (4,5%). Tais dados indicam a necessidade de investimento em programas de apoio, que
ajudem a aumentar a produção na coleta e organização dos catadores com vistas à melhoria da
renda e ao combate à extrema pobreza entre os catadores de recicláveis (SILVA; GOES;
ALVAREZ, 2013).

Aspectos Operacionais do Processo de Coleta e Comercialização dos Resíduos Recicláveis

Observou-se que todos os catadores atuavam de maneira informal, ou seja, não participavam
de associações ou cooperativas e que desempenhavam a atividade individualmente ou em dupla. No
que se refere ao tempo em que desempenhavam a coleta de recicláveis, metade dos catadores
apresentaram adesão à atividade entre três e quatro anos e os demais, com atuação mais antiga,
entre quinze e vinte e cinco anos.
No tocante à motivação de adesão ao trabalho, entre os catadores atuantes nas ruas, três
apontaram o desemprego como a principal causa, especialmente, por estarem em idade avançada e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 817


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

não terem mais ―saúde para trabalhar‖ e um apresentou a necessidade de aumentar a renda. No
grupo atuante no lixão, foi identificado como agente motivador a intenção de se tornar autônomo,
para metade dos atuantes nesse grupo, e o desemprego e a necessidade de aumento da renda para os
demais.
Quanto ao trabalho desempenhado pelos catadores atuantes nas ruas, esse ocorria em bairros
próximos às suas residências, por exigir menos esforço no transporte do material coletado, ou em
bairros onde havia predominância de estabelecimentos comerciais. A coleta era geralmente feita de
duas formas: retirando-se os resíduos recicláveis entre os rejeitos dispostos nas lixeiras das
residências antes da coleta urbana e, obtendo-se, uma vez por semana, o resíduo reciclável por meio
da doação de vizinhos. Essa forma de coleta seletiva é caracterizada como coleta porta a porta e era
realizada por três em quatro catadores atuantes nas ruas.
O Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2010b, p. 39) destaca que a coleta seletiva porta
a porta, ou seja, aquela em que os resíduos são separados pela população e coletados em cada
domicílio pela prestadora de serviço de limpeza ou por catadores, apresenta inúmeras vantagens,
entre elas: não altera o que é habitual, ou seja, é mantida a ideia de dias e horários para a disposição
dos resíduos pela população; ―dispensa o transporte por parte do usuário dos resíduos até o local da
coleta, permitindo maior participação‖; permite medir as adesões; e é importante para o processo
educativo da população.
No lixão, a coleta era realizada pelos catadores após a chegada do caminhão de coleta
urbana da Prefeitura. Os resíduos recicláveis eram recolhidos e colocados nos chamados bags
(grandes sacos usados para armazenamento).
Em relação ao tempo dedicado à atividade de coleta, os catadores dedicavam mais de quatro
horas ao referido trabalho, quatro a sete dias por semana (sete do total de oito catadores) e apenas
um trabalhava esporadicamente. Observou-se que os catadores atuantes no lixão dedicavam mais
tempo à atividade, trabalhando cerca de oito horas, enquanto os catadores atuantes nas ruas de
Angicos/RN trabalhavam entre quatro e cinco horas.
O trabalho era realizado sem o uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPI).
Apenas dois catadores de cada grupo (ruas e lixão) afirmaram o uso de luvas, três em oito catadores
mencionaram o uso de botas e não houve menção ao uso de máscaras. Alguns citaram uso de
chapéu e roupas com mangas longas para proteção dos raios solares.
No que se refere a ocorrência de acidentes, metade dos catadores afirmaram já haver sofrido,
associados a cortes devido à manipulação de metais e à separação do cobre, e ocorreram
especialmente no lixão. Segundo Silva (2017, p. 16), os acidentes com os catadores ―são causados
geralmente pela falta de equipamentos de segurança ou pela exposição a riscos durante o trabalho.‖.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 818


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Em relação ao transporte adotado do material coletado, verificou-se que os catadores que


atuavam nas ruas utilizavam carrinho e carroça de tração animal, enquanto que os catadores que
coletavam no lixão possuíam veículos utilitários. Dois catadores nas ruas e um no lixão adotavam
somente o uso de sacolas para o transporte do coletado.
Todos os oito catadores entrevistados armazenavam os itens considerados, pelos mesmos,
como mais valiosos em suas residências, entre eles o cobre e policloreto de vinil (PVC). Os
catadores atuantes nas ruas armazenavam todo o material coletado em suas casas por cerca de 60 ou
70 dias até alcançar a quantidade estipulada pelo comprador (cerca de 800 kg). Já os catadores
atuantes no lixão, armazenavam os materiais plásticos, papéis e papelões no próprio lixão.
Foi possível verificar durante a pesquisa a dependência dos catadores em relação aos
atravessadores. O material coletado dependia do interesse do comprador e o preço também era
estipulado por eles. Os catadores atuantes nas ruas de Angicos/RN, por exemplo, demonstraram a
preferência por politereftalato de etileno (PET), PVC, plásticos, alumínio, cobre e vidro e citaram o
desinteresse por ferro por falta de comprador local.
Outra situação que demonstra a relação de dependência entre catadores e atravessadores na
presente pesquisa pode ser ilustrada pelo citado por uma catadora. Segundo a mesma, o número de
catadores em Angicos/RN já foi mais expressivo do que o atual, cerca de 15, e em 2014 parte
deixou de atuar por falta de comprador local. No período, alguns catadores passaram a exercer
também a função de atravessadores.
Em relação aos preços dos resíduos recicláveis, de acordo os catadores, esses encontravam-
se mais baixos em relação aos obtidos com um antigo comprador e isso decorria da falta de
estrutura do comprador atual e da situação do mercado.
Durante o período da pesquisa, a renda obtida pelos catadores atuantes nas ruas era
significativamente menor, cerca de vinte vezes, que a obtida pelos catadores atuantes no lixão de
Angicos/RN. Entre os catadores do lixão também havia diferença de renda de aproximadamente o
dobro. O catador, que alcançava maior renda, comprava dos outros catadores do lixão,
complementava com a coleta que fazia no município vizinho, onde residia, e alugava um veículo de
grande porte para destinar os resíduos para recicladoras da região, portanto, quebrando o elo com o
atravessador. De acordo com o catador, ampliar a renda depende de ter acesso direto às recicladoras
e conhecer o potencial e a diversidade dos materiais recicláveis. Já os demais catadores dependiam
dos atravessadores para escoar os resíduos coletados.

Dificuldades, Visibilidade do Trabalho e Necessidade de Organização Formal: Percepção dos


Catadores

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 819


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Em relação às dificuldades do processo de venda, todos os catadores mencionaram a


necessidade de um comprador que pagasse melhor e que trabalhasse com uma maior variedade de
materiais, evidenciando ainda a necessidade do atravessador. Entre as melhorias sugeridas foram
citadas a necessidade de equipamentos como carrinho e prensa e da separação prévia dos resíduos
recicláveis pela população. A maioria dos catadores (sete do total de oito catadores) também
considerou como necessária a implantação de uma cooperativa de catadores na cidade podendo
resultar em melhores condições de trabalho.
No tocante à percepção dos catadores quanto à importância do trabalho desempenhado,
todos os catadores reconheceram-se como catadores de resíduos recicláveis e afirmaram que a
profissão é importante e digna. Alguns mencionaram os benefícios gerados para o meio ambiente
(três em quatro do grupo dos atuantes no lixão e um em quatro do grupo atuante nas ruas), sendo,
portanto, possível que o grupo atuante no lixão seja mais atento às questões ambientais.
Quanto ao reconhecimento da população pelo trabalho desempenhado pelos catadores,
apenas um catador referiu-se como positiva. Os demais (sete do total de oito catadores) afirmaram
que a população local é indiferente e que já passaram por alguma situação constrangedora. Além de
situações desagradáveis no convívio com os vizinhos, cinco em oito catadores revelaram casos onde
o material foi incendiado por terceiros em sua própria casa ou no lixão. Segundo os catadores, os
incêndios poderiam estar atrelados à imagem depreciativa que algumas pessoas têm da profissão.
A percepção dos catadores quanto à importância dada pelos gestores ao trabalho
desempenhado pelos mesmos, sete em oito catadores afirmaram como indiferente e um não
respondeu. Também foi identificado que, no período da pesquisa, não havia nenhum tipo de
programa específico para os catadores promovido pelos órgãos gestores e que, em 2014, houve uma
ação junto a órgãos locais no intuito de fomentar a organização dos catadores. Essa mobilização
resultou no levantamento, feito por uma das catadoras, de 15 catadores atuantes no período em
Angicos/RN.
Nessa perspectiva, Oliveira e Oliveira (2015, p. 02) ressalta a invisibilidade adquirida pelos
catadores junto à sociedade e aos gestores. Conforme os referidos autores:

O trabalho dos catadores de materiais recicláveis, apesar de possuir um caráter de grande


relevância social e ambiental, é, indubitavelmente, um dos mais degradantes, pelo fato de
mexer com algo que todos tendem a descartar, o lixo. Esses trabalhadores não têm a
merecida atenção por parte dos poderes públicos e da sociedade; ao contrário, são
confundidos com mendigos e vadios, repreendidos e desprezados em face da atividade que
desempenham. São ―invisíveis‖ aos olhos de quem por eles passam.

Quanto ao aspecto de organizar-se formalmente, todos os oito catadores afirmaram que


participariam de uma cooperativa de catadores e a maioria dos catadores atuantes no lixão (três em
quatro) manifestaram o interesse em participar ativamente da estruturação da mesma. Apenas um
catador atuante nas ruas manifestou o mesmo desejo.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 820


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

De acordo com Silva, Goes e Alvarez (2013), melhores condições de vida e de trabalho dos
catadores dificilmente virão de outra maneira se não houver a organização dos mesmos. E, para
isso, cooperativas ou associações são importantes ferramentas para que os catadores não
permaneçam como o elo mais frágil na cadeia da reciclagem e tenham o merecido reconhecimento
pelo seu trabalho. Nesse contexto, ressalta-se, como previsto na PNRS (BRASIL, 2010a), a
necessidade de implantação de um programa de coleta seletiva pelos gestores, bem como o fomento
para a organização dos catadores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa identificou um total de oito catadores ativos, na sua maioria homens,
realizando a coleta de resíduos recicláveis e de maneira informal em Angicos/RN. A coleta ocorria
nas ruas da cidade e no lixão municipal. Foi possível identificar também um total de 15 pessoas que
já atuaram com a coleta de resíduos recicláveis no ano de 2014.
Os catadores atuantes nas ruas apresentavam idade mais avançada, menor grau de instrução
e obtinham menor renda com a coleta dos resíduos recicláveis, representando um complemento da
mesma. Como característica do trabalho, destacou-se a existência de coleta seletiva porta a porta. O
grupo de catadores atuantes no lixão mostrou-se mais jovem, com maior grau de instrução, além de
obter maior renda com a coleta, sendo a única fonte de sustento para alguns catadores desse grupo.
Os catadores exerciam a coleta em dupla ou individualmente, dedicando-se de quatro a oito
horas diárias, de quatro a sete dias por semana. No que se refere à comercialização, foi identificada
a dependência dos catadores em relação aos atravessadores. No que tange à formalização do
trabalho, os catadores manifestaram o desejo de organizar-se na forma de cooperativa. Observou-se,
no grupo atuante no lixão, possíveis fomentadores de um projeto de organização formal.
A ação do poder público local, segundo os catadores, era indiferente, inclusive quanto ao
estímulo à formalização da atividade. Apesar dessa afirmação, a presente pesquisa identificou junto
ao poder público local uma ação nesse sentido, em 2014, mas que ao que parece não se consolidou.
Nesse sentido, e diante dos resultados encontrados no presente trabalho, considera-se
oportuno que o poder público e a sociedade locais dinamizem ações para a promoção de programas
de coleta seletiva, incentivo à organização formal de catadores, bem como o desenvolvimento de
atividades voltadas à Educação Ambiental para que se implante efetivamente e se consolide a coleta
seletiva na cidade em estudo. Ações como coleta seletiva porta a porta, interesse dos catadores em
organizar-se formalmente podem sinalizar, para os tomadores de decisão, possíveis soluções
encontradas localmente.

REFERÊNCIAS

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 821


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ABRELPE. Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.


Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, 2014. 2014. Disponível em:<
http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2014.pdf >Acesso: 07 ago. 2017.

_________. Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.


Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, 2015. 2015. Disponível em:<
http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2015.pdf>Acesso: 07 ago. 2017.

BRASIL. Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Brasília,
DF, 2010a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12305.htm Acesso em: 19 ago. 2017.

______. Ministério do Meio Ambiente. Manual para Implantação de Compostagem e de Coleta


Seletiva no Âmbito de Consórcios Públicos. 2010b. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/estruturas/srhu_urbano/_arquivos/3_manual_implantao_compostagem_
coleta_seletiva_cp_125.pdf Acesso em: 28 ago. 2016.

COSTA, J. M. M. Diagnóstico sócio ambiental dos resíduos sólidos no município de Angicos-


RN. 2011. TCC (Graduação) - Curso de Ciência e Tecnologia, Universidade Federal Rural do
Semi-Árido, Angicos, 2011. 63 f.

COSTA, H. D. G; CUNHA, E. M; FRUTUOSO, M. I. B. ALCANTARA, R.; SPINELLI, A. C. O.


C. Gestão de resíduos sólidos do município de Angicos/RN: Reflexões a Luz da Política
Nacional De Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010). In: XXXIII Congresso Interamericano de
Engenharia Sanitária e Ambiental (AIDIS), CD ROM. Salvador/BA, 2012.

CUNHA, M. E. Resíduos sólidos em Angicos/RN: percepção da população e iniciativas locais à luz


da política nacional de resíduos sólidos (12.305/10). 2013. TCC (Graduação) - Curso de Ciência
e Tecnologia, Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Angicos, 2013. 85 f.

GONÇALVES, M. A. O trabalho no lixo. 2006. Tese (Doutorado) - Curso de Geografia, Faculdade


de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2006. 303 f.
Disponível em: <http://www.mncr.org.br/biblioteca/publicacoes/teses-dissertacoes-e-
monografias/o-trabalho-no-lixo/at_download/file>. Acesso em: 3 out. 2016.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio Grande do Norte: Angicos. 2010.
Disponível em: <
http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=240080&search=||infográficos:
-informações-completas >. Acesso em: 28 de jul. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 822


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Situação social das catadoras e dos catadores
de material reciclável e reutilizável - Região Nordeste. Brasília: IPEA, 2013. Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/participacao/images/pdfs/130820_relatorio_situacaosocial_nordeste.pdf.
Acesso em: 01 de dez. 2016.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 7 ed. São Paulo:


Atlas, 2010. 297p.

OLIVEIRA, N. S. Analise do gerenciamento de resíduos sólidos no município de Angicos – RN.


2015. TCC (Graduação) - Curso de Bacharelado em Engenharia Civil, Universidade Federal
Rural do Semi-árido, Angicos, 2015. 72 f.

OLIVEIRA, L. M. M. S.; OLIVEIRA, R. C. A Inclusão Social dos Catadores de Materiais


Recicláveis. Revista Campo do Saber. v. 1, n. 1, p. 1 -12, 2015.

PINHEIRO, P. T.; FRANCISCHETTO, G. P. P. A Política Nacional de Resíduos Sólidos Como


Mecanismo de Fortalecimento das Associações de Catadores de Materiais Recicláveis. Derecho
y Cambio Social, 24 p., 2016.

PUECH, M. P.S.R. Grupos de catadores autônomos na coleta seletiva do Município de São Paulo.
2008. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2008. 174 f. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6134/tde-
09102008-151025/publico/MarinaPacheco.pdf>. Acesso em: 03 out. 2016.

SILVA, S. P. A Organização Coletiva de Catadores de Material Reciclável no Brasil: Dilemas e


Potencialidades sob a Ótica da Economia Solidária. Texto para discussão. Rio de Janeiro: Ipea,
2017.

SILVA, S.; GOES, F.; ALVAREZ, A. Situação social das catadoras e dos catadores de material
reciclável e reutilizável – Brasil. Brasília: SGPR/IPEA, 2013. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/
PDFs/situacao_social/131219_relatorio_situacaosocial_mat_reciclavel_brasil.pdf>. Acesso em:
01 dez. 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 823


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE COAGULANTES ORGÂNICO X INDUSTRIAL


NO ESTUDO DE PARÂMETROS DE QUALIDADE
EM EFLUENTE DE LAVA CARROS

Renata Luiza Lisboa CARLOS


Graduanda do Curso de Gestão Ambiental da UERN
renataluizalis@gmail.com
Larissa Fernandes da SILVA
Graduanda do Curso de Gestão Ambiental da UERN
lfernandes24a12@hotmail.com
Juciane Vieira de ASSIS
Graduanda do Curso de Gestão Ambiental da UERN
jucianevda@gmail.com
Yáskara F. M. M. LEITE
Professora adjunta do Departamento de Química da UERN
ya.marques2@gmail.com

RESUMO
Diante dos desafios modernos de se buscar maneiras eficientes e de baixo custo para enfrentar
problemas emergentes relacionados à agua, sobretudo em regiões semiáridas, vem se intensificando
o estudo em tecnologias limpas. Nas regiões áridas e semiáridas, a água se tornou um fator limitante
para o desenvolvimento urbano, industrial e agrícola. Planejadores e entidades gestoras de recursos
hídricos, procuram, continuadamente, novas fontes de recursos para complementar a pequena
disponibilidade hídrica ainda disponível. Diante desta realidade, vem se tornando comum a
utilização de efluentes da atividade de lavagem de veículos como alternativa para experimentos
com a finalidade de reuso, levando em consideração o índice excessivo de água que é necessário
para a realização desta atividade econômica, além da ameaça aos corpos hídricos, que existe em
consequência do despejo inadequado deste efluente quando lançado diretamente no meio ambiente
sem nenhum tipo de tratamento prévio. Portanto, o presente estudo tem por objetivo, comparar a
eficiência do coagulante Tanino e Cloreto Férrico na remoção dos parâmetros de cor e turbidez pelo
processo de coagulação/floculação e sedimentação no tratamento de efluente de Lava Carros na
cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte. Ambos os coagulantes utilizados neste estudo
apresentaram resultados satisfatórios e eficientes na remoção dos parâmetros físico-químicos
analisados, portanto, passou a apresentar condições ideais para reuso ou despejo, tomando como
base a legislação CONAMA 357/2005. Apesar da relevância dos coagulantes, o orgânico mostrou-
se mais eficiente chegando a remover até 96,68% de cor aparente e 100% da turbidez, evidenciando
assim, a importância do uso de coagulante natural.
Palavras-Chaves: Tecnologia sustentável; Coagulantes; Efluente; Lava Carros.

ABSTRACT
Faced with the modern challenges of finding efficient and low-cost ways to tackle emerging water-
related problems, especially in semi-arid regions, the study of clean technologies is intensifying. In
the arid and semi-arid regions, water has become a limiting factor for urban, industrial and
agricultural development. Planners and water management entities are constantly seeking new
sources of resources to complement the small availability of water still available. In view of this

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 824


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

reality, it has become common to use effluents from the Car wash activity as an alternative for
experiments with the purpose of reuse, taking into account the excessive water content that is
necessary for the accomplishment of this economic activity, in addition to the threat to the bodies
Which occurs as a consequence of the inadequate disposal of this effluent when it is released
directly into the environment without any type of previous treatment. Therefore, the present study
aims to evaluate the efficiency of the coagulant Tannin and Ferric Chloride in the removal of color
and turbidity parameters by the coagulation / flocculation and sedimentation process in the Car
wash effluent treatment in the city of Mossoró, Rio Grande do Norte. Both coagulants used in this
study presented satisfactory and efficient results in the removal of the physicochemical parameters
analyzed, so it started to present ideal conditions for reuse or dumping, based on the CONAMA
357/2005 legislation. In spite of the relevance of the coagulants, organic Showed up to be more
efficient to remove up to 96.68% of apparent color and 100% of turbidity, thus evidencing the
importance of the use of natural coagulant.
Keywords: Sustainable technology; Coagulants; Effluent; Car wash.

1.INTRODUÇÃO

O crescimento populacional e o desenvolvimento industrial combinados com o uso


irracional da água, têm aumentado consideravelmente a demanda por água doce e a produção de
água residuárias no mundo. Esses efluentes, tanto de origem industrial quanto urbanas, quando
lançados no ambiente, degradam ainda mais os mananciais onde essa água doce é captada.
―BAZZARELLA, 2005‖ Nas regiões áridas e semiáridas, a água se tornou um fator limitante para o
desenvolvimento urbano, industrial e agrícola. Planejadores e entidades gestoras de recursos
hídricos, procuram, continuadamente, novas fontes de recursos para complementar a pequena
disponibilidade hídrica ainda disponível. ―HESPANHOL, 2002‖ As atividades antrópicas geram
diariamente volumes exorbitantes de efluentes que são despejados nos corpos hídricos, entretanto, a
água cinza gerada de esgotos domésticos e de atividades menos poluidoras, são consideradas como
fontes alternativas para utilidade menos restritiva. Nessas condições, o conceito de ―substituição de
fontes‖, se mostra como a alternativa mais plausível para satisfazer a demandas menos restritivas,
liberando a água de melhor qualidade para usos mais nobres, como o abastecimento doméstico.
―HESPANHOL, 2002‖
A prática de reuso de água na lavagem de veículos surge com bastante potencial nas últimas
décadas, por se tratar de uma atividade com utilização de elevados volumes de água e geração de
efluentes ―ETCHEPARE, 2012‖. Esta prática acarreta sérios problemas de impactos ambientais
devido ao efluente gerado durante o processo de lavação dos automóveis, que quando em contato
com o solo, infiltra e causa contaminação nos mananciais. Esta contaminação que é causada pelos
resíduos retirados dos automóveis e pelos produtos utilizados para efetuar a limpeza, geralmente são
compostos por sólidos, óleos e detergentes ―RUBI et al., 2009; ZANETI et al., 2013‖. Diante do
potencial de poluição e impacto sobre o meio ambiente, pesquisadores vem se mostrando dispostos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 825


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

a investir em alternativas sustentáveis e de baixo custo, em processos de tratamento de resíduos


líquidos advindo de atividades econômicas muito utilizadas nos centros urbanos. Segundo
TEIXEIRA ―2003‖, os principais benefícios esperados da reciclagem de água de lavagem de
veículos são a minimização da descarga nos corpos receptores, a diminuição da carga de poluentes
na rede de esgotos e a diminuição do consumo de água.
O processo de tratamento exposto neste estudo, é a simulação das etapas realizadas em
Estações de Tratamento de Efluentes – ETA. Os coagulantes utilizados nos processos
convencionais são no geral de origem industrial, a base de sais de ferro ou alumínio, ou seja,
possuem características inorgânicas, desvantagens ambientais e geração de lodo residual que deixa
em risco a saúde humana, por outro lado, são de baixo custo e fácil acesso no mercado. Em virtude
das significativas desvantagens, faz-se necessário buscar coagulantes ambientalmente mais
compatíveis ―SILVA et al., 2015‖.
Estudos demonstram vantagens no uso do tanino catiônico como coagulante: menor custo,
uso de uma matéria prima renovável, menor contribuição de ânions sulfatos ao efluente final, menor
geração de massa de lodo, e obtenção de um lodo orgânico e com maior facilidade de eliminação
―PIANTÁ, 2008‖. Outra vantagem do tanino que não altera o pH da água tratada por não consumir
alcalinidade do meio, ao mesmo tempo em que é efetivo em larga faixa de pH de 4,5 – 8,0
―BARRADAS, 2004‖ O Tanino é extraído da casca de plantas como a Acácia Negra que se
encontra facilmente no Brasil.
Com relação ao Cloreto Férrico (FeCl3), segundo ―PAVANELLI, 2001‖, a utilização do
cloreto férrico diminui drasticamente a turbidez e a DBO, e elimina fosfatos; uma boa parte de
metais pesados ou venenosos também é eliminada, quando a coagulação é realizada em valores
elevados de pH.
Desse modo, a presente pesquisa tem como objetivo analisar a eficiência de ambos os
coagulantes citados, através do processo de tratamento por coagulação/floculação e sedimentação e
em seguida comparar a porcentagem de remoção nos parâmetros de cor aparente e turbidez da água
bruta do efluente gerado da lavagem de carros, no município de Mossoró no Estado do Rio Grande
do Norte.

2. METODOLOGIA

Para o alcance do objetivo proposto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e


experimental. Vale salientar também que a pesquisa é de caráter misto, pois aplica as abordagens
qualitativas e quantitativas, pois ambas são complementares. A primeira visa gerar dados
necessários para o desenvolvimento de forma aprofundada ―DUARTE, 2002‖. A segunda analisa

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 826


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

quantitativamente dados sobre comportamentos que se desejam conhecer para obter conclusões
―GIL, 2008‖.
Os ensaios foram realizados com a agua bruta coletada de uma empresa de Lava Carros de
pequeno porte, localizada em Mossoró/RN. A caracterização do efluente é realizada antes e após o
tratamento, registrando e analisando os seguinte parâmetros de qualidade: cor aparente, turbidez e
pH. A fase inicial de caracterização da água bruta é considerada uma etapa de grande importância,
pois para o alcance do objetivo do estudo se faz necessário o registro do maior número de
informações e dados para a realização de tratamentos físico-químicos e consequentemente o sucesso
da pesquisa. A comparação da eficiência das dosagens das soluções coagulantes de Tanino e
Cloreto Férrico usadas nos testes de coagulação/floculação e sedimentação foi baseada na redução
percentual.

2.1 Preparo das Soluções Coagulantes

O procedimento de preparo das soluções foi semelhante e realizado logo antes de iniciar os
testes, para a obtenção de um resultado mais preciso e melhor rendimento em todos os ensaios. Foi
utilizada uma concentração de 1% m/v, ou seja, para cada 1g de pó do coagulante, adicionaram-se
100 mL de água destilada para a diluição do coagulante, com auxílio do Agitador Magnético
Modelo D1-01 por 15 minutos.

2.2 Coagulação/Floculação

A coagulação corresponde a desestabilização da dispersão coloidal, obtida por redução das


forças de repulsão entre as partículas com cargas negativas, por meio da adição de produto químico
apropriado, habitualmente com sais de ferro ou de alumínio ou de polímeros sintéticos, seguidos por
agitação rápida, com o intuito de homogeneizar a mistura ―PAVANELLI, 2001‖. A etapa que
antecede a adição da solução na água, é a etapa de regulagem de pH, para isso foi utilizada solução
de NaOH e HCl, 1M respectivamente. A determinação do pH se torna importante à medida que seus
valores influenciam reações químicas e bioquímicas ―FRANCO, 2009‖.
O pH é um parâmetro importante no processo de coagulação e floculação uma vez que cada
coagulante tem uma faixa ótima de operação, onde se observa a maior formação de quantidade e
tamanho dos flocos, elementos que influenciam diretamente na eficiência do processo de tratamento
do efluente ―VAZ, 2009‖. Dos tratamentos realizados com Tanino, a faixa de pH no qual foram
adicionadas as dosagens, foram pH 4,5; 5; 6; 7 e 8. Já com o Cloreto Férrico, as dosagens foram
adicionadas as amostras que apresentaram pH 5; 6; 7; 8; 9; 10 e 11. As concentrações das dosagens
da solução foram as mesmas para ambos os coagulantes (100, 200, 300, 400, 500 e 600 ppm),
portanto, nos testes realizados o que variou foi a faixa de pH correspondente a cada coagulante. No

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 827


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

final do processo de tratamento, o pH de todas as amostras que estavam fora dos limites exigidos
foram regulados para pH de 6 à 9, valores que atendem à legislação CONAMA 357/2005.

2.3 Etapa de Execução do Tratamento


Os ensaios de Coagulação/Floculação foram realizados em equipamento Jar Test simples
Alfakit, Modelo 403 de três provas, com regulador de rotação das hastes misturadoras. Foram
utilizados béqueres contendo 300 mL de efluente bruto e em cada um desses, foram adicionadas
quantidades pré-determinadas dos coagulantes. Foram efetuadas três repetições para cada
concentração testada, o que garante maior confiabilidade dos dados a ser analisados (MORETI et
al., 2013).

Na figura I, é possível observar a cor aparente da água bruta, antes da adição da solução.

Figura I – Jarros contendo efluente antes do tratamento


Fonte: Acervo do Projeto de Pesquisa, 2017.

2.3.1 Circunstâncias de Operação

A coagulação, é a fase inicial do processo de tratamento, onde ocorre o desequilíbrio dos


elementos que se encontram na água bruta, provocado pela introdução de coagulantes metálicos ou
polímeros. As condições de variação utilizadas no Jar Test para propiciar o tempo de mistura rápida
foi fixada em 100 rpm por 3 min e tempo de mistura lenta foi fixada em 30 rpm por 15 min rpm e
15 mim de sedimentação. Tal condição, se caracteriza pela semelhança das condições padrão
normalmente usadas em ETAs. A etapa posterior à coagulação é a floculação. Enquanto a
coagulação se processa na unidade de mistura rápida em um curto espaço de tempo, a floculação
exige um sistema de baixa turbulência, com velocidade menor e tempo de agitação maior,
possibilitando a formação dos flocos ―DI BERNARDO E DANTAS, 2005; RICHTER E NETTO,
1991

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 828


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Após o tempo de decantação de cada ensaio, coletou-se 50 mL do sobrenadante dos ensaios


para ser filtrado em papel-filtro com porosidade de 7 μm e em seguida foram realizadas as análises
definidas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para que fosse possível a comparação e a avaliação dos resultados, foi registrado as
características do efluente bruto, logo após a coleta. Os dados obtidos estão exposto na Tabela I.

Valores Limites
Parâmetros Valores da Água Bruta
Estipulados/CONAMA
Cor aparente 500 mg L-1 Pt/Co 75 mg L-1 Pt/Co
Turbidez 250 NTU 100 NTU
pH 7,5 6a9
Tabela I - Caracterização do efluente bruto

Segundo o CONAMA nº 357/2005 e CONSEMA nº 128/2006, os valores tanto de cor


aparente como de turbidez, encontram-se bem acima dos valores limites exigidos para lançamento e
reuso. Ou seja, fora dos padrões de qualidade da água. Já o pH, (7,5) permanece dentro do limite
aceitável, entre 6,0 a 9,0. Especificamente, para a atividade de lavagem de veículos, ainda não
existem critérios bem definidos (regulamentados) para a qualidade da água de reuso, e raros estudos
avaliam o risco microbiológico. ―ETCHEPARE, 2012‖.
A adição de sais de ferro na água para tratamento requer cautela, pois de acordo com VAZ
―2009‖, Quando o cloreto férrico é adicionado em excesso ao meio, parte não participa da reação de
coagulação/floculação, ficando este em solução e aumentando os valores dos parâmetros cor e
turbidez.
A Tabela II apresenta a porcentagem de remoção dos parâmetros cor e turbidez, para as
amostras do efluente de lava carros tratadas com as dosagens de solução coagulante do tanino e do
cloreto férrico.

Tanino Cloreto Férrico


Dosagens (ppm)
Cor Turbidez Cor Turbidez

100 96,68% 99,87% 84,84% 97,89%

200 94,74% 99,61% 86,60% 98,26%

300 96,20% 100% 85,92% 98,32%

400 96,02% 99,58% 89,36% 98,83%

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 829


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

500 93,36% 99,93% 88,44% 99,09%

600 93,36% 99,60% 88,62% 99,40%

Tabela II– Resultado da porcentagem de remoção de cor e turbidez das melhores análises de cada dosagem
realizada com Tanino e Cloreto Férrico.

A solução coagulante de Tanino e Cloreto Férrico obtiveram elevadas semelhanças nos


resultados da remoção de cor aparente e turbidez, referente a média de porcentagem. Portanto, não
demostraram diferenças expressivas. De acordo com o exposto na Tabela II, todas as amostras
alcançaram remoção acima de 80% em cor aparente e turbidez, o que já indica excelentes
resultados. Contudo, para cada coagulante existe a dosagem ótima, que é aquela que apresenta
maior remoção do parâmetro.
Com Tanino, a dosagem que apresentou maior remoção de cor, foi a de 100 ppm,
conseguindo reduzir em 96,68%. Já relacionada à turbidez, a dosagem mais eficiente foi a de 300
ppm, atingindo a eficiência máxima, reduzindo em 100% a turbidez da água em estudo. As que
apresentaram menor eficiência de cor, foram as dosagens 500 e 600 ppm, com 93,36% de remoção.
Na turbidez, a menor foi com 400 ppm, removendo 99,58%. Uma observação que pôde ser feita,
com base nos resultados de cor com tanino, é que quanto maior a dosagem utilizada neste estudo,
menores foram os índices de remoção, e consequentemente o melhor resultado foi obtido utilizando
menores dosagens.
Analisando os resultados das amostras com Cloreto Férrico, nota-se que a melhor dosagem
referente à cor, ocorreu na dosagem 400 ppm removendo 89,36% da cor aparente. Por outro lado, a
dosagem ótima para a turbidez foi em 600 ppm, alcançando 99,40%. As menores porcentagens
foram encontradas em 100 pmm, tanto para cor como para turbidez, com valores de 84,84% e
97,89% respectivamente.
De acordo com COUTO JUNIOR et al., ―2012‖ através de experimentos com tanino,
utilizando 400 ppm da solução para tratamento de efluente têxtil, que se encontrava com cor
bastante elevada, de 14175 mg/L, após o tratamento alcançou remoção de 99,17% de cor aparente.
Portanto, pode-se afirmar a significativa eficiência nos resultados de experimentos com coagulante
orgânico, em especial, o Tanino. Além de benefícios para a água em tratamento, os coagulantes
orgânicos possuem características expressivas, tanto para o meio ambiente como em benefícios
econômicos, uma vez que o coagulante é de origem natural, produtor de lodo orgânico e
biodegradável. No estudo realizado por FERNANDES et al., ―2015‖, utilizando lodo orgânico
como substrato para o cultivo de alface, expôs em suas considerações, resultados satisfatórios com a
utilização do lodo do tanino na agricultura.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 830


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Vários são os estudos voltados para efluentes de Lavagem de veículos, por considerar que é
uma atividade com alto potencial de impacto ambiental. Com isso, não basta somente pensar em
tratamento e reuso, se faz necessário pensar em tecnologias de sustentabilidade e reaproveitamento
em todos os segmentos das atividades econômicas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do que foi examinado na revisão bibliográfica sobre o objetivo proposto, assim
como na realização dos ensaios comparativos, conclui-se que o Cloreto Férrico e o Tanino foram
bastante eficientes no processo de tratamento do efluente estudado, no que diz respeito à
porcentagem de remoção e adequação dos padrões de qualidade da água. O coagulante orgânico se
destacou em ambos os parâmetros, removendo até 96,68% de cor aparente e 100% da turbidez. Já o
inorgânico chegou a atingir 89,36% de remoção de cor aparente e 99,40% de turbidez. Todos os
testes possibilitaram características propícias para seu reuso e descarte adequado em corpos
receptores.
A alternativa de tratamento de água por coagulação/floculação e sedimentação, se apresenta
como uma opção acessível e promissora no ramo da sustentabilidade, quando há a substituição de
elementos convencionais por alternativas que busquem a valorização dos recursos naturais e o
equilíbrio entre as necessidades ambientais e econômicas. Ambos os coagulante possuem
particularidades importantes, contudo, ressalta-se os excelentes benefícios que os produtos
orgânicos possibilitam.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARRADAS, J. L. D. Tanino - Uma solução ecologicamente correta: agente floculante


biodegradável de origem vegetal no tratamento de água. Novo Hamburgo: Publicação Técnica,
2004.

BAZZARELLA, Bianca Barcellos. Caracterização e aproveitamento de água cinza para uso não-
potável em edificações. 2005

CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 357 de 17 de março de


2005.

CONSEMA. Conselho Estadual do Meio Ambiente. Resolução nº 1 2 8 de 24 de novembro de


2006.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 831


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

COUTO JUNIOR, O. M.; STROHER, A. P.; BARROS, M. A. S. D.; PEREIRA, N. C.


Caracterização e Otimização do Tratamento de Efluente Têxtil por Coagulação-Floculação,
Utilizando Coagulante Natural Tanino. RECEN 14(1) p. 79-90 jan/jun 2012.

DI BERNARDO, L.; Dantas, A. D. B. Métodos e técnicas de tratamento de água. 2.ed. São Carlos:
RiMa, 2005. 792p.

DUARTE, Rosália. Pesquisa qualitativa: reflexões sobre o trabalho de campo. Cadernos de


pesquisa, v. 115, n. 1, p. 139-54, 2002

ETCHEPARE, G. R. Integração de processos no tratamento de efluentes de lavagem de veículos


para reciclagem de água. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul – UFRS. Escola de Engenharia, 2012.

FERNANDES, Mylena et al. Aplicação de Tanino como coagulante no reuso da água de lavação
de automóveis e a utilização do lodo na agricultura. Revista Eletrônica do PRODEMA,
Fortaleza, Brasil, v. 9, n. 1, p. 51-61, jan./jun. 2015.

FRANCO, E. S. Avaliação da influência dos coagulantes sulfato de alumínio e cloreto férrico na


remoção de turbidez e cor da água bruta e sua relação com sólidos na geração de lodo em
estações de tratamento de água. 2009. 207 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental)
– Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2009.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. Editora Atlas SA, 2008.

HESPANHOL, Ivanildo et al. Potencial de reuso de água no Brasil: agricultura, indústria,


municípios, recarga de aquíferos. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 7, n. 4, p. 75-95,
2002.

MORETI, l. o. r. et al. Emprego das sementes de Moringa Oleifera lam, como coagulante
alternativo ao policloreto de alumínio (pac), no tratamento de água para fins potáveis. e-
xacta, belo horizonte, v. 6, n.1, p. 153-165. (2013).

PAVANELLI, Gerson. Eficiência de diferentes tipos de coagulantes na coagulação, floculação e


sedimentação de água com cor ou turbidez elevada. 2001. Tese de Doutorado. Universidade de
São Paulo.

PIANTÁ, Cyro Antônio Vianna. Emprego de coagulantes orgânicos naturais como alternativa ao
uso do sulfato de alumínio no tratamento de água. 2008.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 832


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

RICHTER, Carlos Alfredo; AZEVEDO NETTO, Jose Martiniano. Evolução tecnológica do


tratamento de agua. Revista DAE, v. 51, n. 161, p. 1, 1991.

RUBI, H.; FALL, C.; ORTEGA, R. E. Pollutant removal from oily wastewater discharged from car
washes through sedimentation-coagulation. Water science and technology, v. 59, p.2359-2369,
2009.

SILVA, Tamires Elizabete Monte da; SILVA, Larissa Fernandes da; LIMA, Raquel Bruna Chaves
de; LEITE, Yáskara F. M. Marques; Avaliação do uso de coagulantes orgânicos no tratamento
de efluentes de Galvanoplastia: um estudo de caso. p. 1122-1128 . In: Anais do V Encontro
Regional de Química & IV Encontro Nacional de Química [=Blucher Chemistry Proceedings]..
São Paulo: Blucher, 2015.

Teixeira, 2003. Emprego da flotação por ar dissolvido no tratamento de efluentes de lavagem de


veículos visando a Reciclagem da água. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de
Campinas.

VAZ, L. G. L. Performance do Processo de Coagulação/Floculação no Tratamento de Efluente


Líquido Gerado na Galvanoplastia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 2009. Tese
(Mestrado).

ZANETI, R. N.; ETCHEPARE, R.; RUBIO, J. Car wash wastewater treatment and waterreuse - a
case study. Water science and technology, v. 67, p. 82-88, 2013.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 833


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

UMA PROPOSTA DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS EM UMA INDÚSTRIA DE


TERMOPLÁSTICO

Tamires Elizabete Monte da SILVA


Graduanda do Curso de Gestão Ambiental da UERN
tamires.74@hotmail.com
Larissa Fernandes da SILVA
Graduada em Gestão Ambiental pela UERN
lfernandes24a12@hotmail.com
Maria das Graças de Oliveira PEREIRA
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino/PPGE- /CMAE/UERN
mary_ta_oliveira@hotmail.com
Yaskara F. M. Marques LEITE
Professora Dra. adjunta do Departamento de Química da UERN
ya.marques2@gmail.com

RESUMO
O presente projeto teve por objetivo diagnosticar os pontos de geração de resíduos no processo de
fabricação do plástico, como também as formas de reciclagem ou reaproveitamento destes, a fim de
evitar a formação de passivos ambientais. A metodologia adotada foi pesquisa bibliográfica
pertinente ao assunto e observações em campo. Desta forma, constatamos a necessidade de realizar
algumas adequações para que problemas ambientais não ocorram posteriormente. Assim
apresentamos propostas do que pode ser feito, e o quanto é importante a reutilização de materiais e
o processo da simbiose industrial, como também existem dificuldades para que a destinação
adequada de alguns resíduos ocorram.
Palavras-Chaves: Simbiose industrial; Resíduos Plásticos; Termoplásticos.

RESUMEN
El presente projecto tuvió por objetivo diagnosticar los puntos de geración de desechos en el
proceso de frabricación del plastico, como también las formas de reciclagen o reaprovectamiento de
estes, a fin de evitar la formación de pasivos ambientales. La metodología adoptada fue
investigación bibliografica pertiniente al asunto y observaciones en campo. De esta forma,
constatamos la necesidad de realizar algunas adecuaciónes para que problemas ambientales no
ocurran posteriormente. Así, presentamos propuestas de que puede ser hecho, y o cuanto es
importante la reutilización de materiales y el proceso de la simbiose industrial, como también
existen dificultades para que la destinación adecuada de algunos desechos ocurran.
Palabras-Claves: Simbiose industrial; Resíduos Plásticos; Termoplásticos.

1. INTRODUÇÃO

O tratamento e a destinação final de resíduos de forma adequada é uma preocupação


constante, principalmente aqueles do setor industrial, sendo que tal discussão ganhou mais peso
com a promulgação da Lei Federal Nº 12.305, de 02 de agosto de 2010, que trata da Política

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 834


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Nacional de Resíduos Sólidos. Sendo que, para se chegar a um ideal sustentável ainda é necessária
muita coisa a ser feita.
Na indústria do plástico não é diferente e a principal preocupação ambiental está relacionada
com a destinação inadequada, pois pode propiciar a proliferação de vetores causadores de doenças,
contaminação e poluição de cursos d‘água, contaminação do ar proveniente da queima do plástico,
além da utilização de recursos de origem fóssil como o petróleo para sua fabricação. Porém, os
resíduos plásticos possuem a vantagem de serem recicláveis, e podendo ser reinseridos nos
processos de produção, estes processos feitos de maneira correta diminuem os problemas
ambientais citados e os custos econômicos com sua produção.
Os plásticos são, geralmente, materiais sintéticos, derivados de petróleo e formados pela
união de grandes cadeias moleculares chamadas polímeros (poly = muitos, meros = partes). As
propriedades dos plásticos são definidas a partir do tamanho e da estrutura das moléculas desses
polímeros (resinas), (CÂNDIDO et. al., 2009).
Segundo Abiplast (2015, p. 25) ―em 2014 a participação brasileira na produção mundial de
resinas termoplásticas, foi de 6,3 milhões de toneladas‖. Levando em consideração que o resíduo
plástico mal gerenciado apresenta grande potencial de formar passivos ambientais, é necessário
estar atento.
Com o objetivo de diminuir a geração desses resíduos ou reaproveita-los, algumas empresas
realizam a chamada Simbiose Industrial, segundo Motta e Carijó (2013) é um processo que busca
integrar duas ou mais indústrias, haja entre elas uma circulação de materiais, informações e
serviços, e esta relação seja benéfica para ambas. A proposta da Simbiose Industrial é tornar cíclico
o fluxo de materiais e energia das indústrias, onde os resíduos não são descartados e sim reinseridos
na cadeia produtiva como insumos.
Portanto, este trabalho teve o objetivo de diagnosticar os pontos de geração de resíduos no
processo de fabricação do plástico, como também as formas de reciclagem ou reaproveitamento dos
mesmos, a fim de evitar a formação de passivos ambientais.

2. MÉTODOS

O método utilizado para realização deste trabalho baseou-se em pesquisa bibliográfica e


observação em campo do processo de produção do plástico, bem como observar onde são
armazenados os produtos que não terão mais utilidade e o que são feitos com os mesmos, em uma
empresa de extrusão de plásticos no município de Mossoró/RN.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 835


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A empresa está situada no Município de Mossoró no interior do estado do Rio Grande do


Norte, na mesorregião do Oeste Potiguar.
A mesma é de pequeno porte, trabalha com a extrusão de plásticos, produzindo embalagens
para armazenamento de produtos de limpeza. O processo de fabricação se constitui no
processamento de polietileno (PE) de alta densidade.
O gerenciamento correto dos resíduos sólidos é muito importante para a indústria do plástico
e deve ser pensado de forma a reduzir a geração de resíduos e principalmente reaproveita-los, já que
o mesmo é um material possível de ser reciclado, evitando assim a formação de passivos ambientais
e buscar a sustentabilidade dos processos.

3.1 Processo de Produção

A empresa dispõe de duas máquinas que fazem a produção do plástico, as embalagens


plásticas são fabricadas para o acondicionamento de produtos de limpeza. Esse material é
classificado como Termoplásticos, segundo Cândido et. al., (2009, p. 7).

São plásticos que não sofrem alterações na estrutura química durante o aquecimento e, após
o resfriamento, podem ser moldados novamente. Exemplos: Polietileno Tereftalato – PET,
Polietileno de Alta Densidade – PEAD, Polietileno de Baixa Densidade – PEBD,
Poliestireno – OS, Policloreto de Vinila – PVC e Polipropileno – PP.

Assim, a extrusão do plástico funciona da seguinte forma, conforme Amaral (2011, pg. 27):

É o mais importante processo de transformação de plásticos. Extrudar significa ―empurrar‖


ou ―forçar a sair‖. Muitos materiais são transformados pelo processo de extrusão: metais,
argila, alimentos, plásticos etc. O processo de extrusão de plásticos consiste basicamente
em forçar a passagem (controlada) do material granulado por dentro de um cilindro
aquecido, por meio de uma ou duas roscas ―sem fim‖, que transportam, misturam,
compactam e permitem a retirada de gases liberados no processo. Na saída do cilindro, o
material é comprimido contra uma matriz de perfil desejado, a qual dá formato ao produto,
sendo este, depois, calibrado, resfriado, cortado ou enrolado.

O processo de extrusão é subdividido em: extrusão de filmes, perfil, monofilamentos, chapas


e sopro. Sendo que a empresa adota o processo de extrusão por sopro, segundo Amaral (2011, pg.
36):

A moldagem por sopro é um processo usado para a produção de peças ocas, com aplicação
em termoplásticos. O processo básico envolve a produção de uma parison (pré-forma), que
é colocada dentro de um molde com a forma da peça a ser produzida. Injeta-se, então, gás
pressurizado (normalmente, ar) dentro da parison aquecida, forçando-o em direção às
paredes do molde. A pressão é mantida até o resfriamento e solidificação da peça, para
posterior abertura do molde e remoção da peça soprada.

SOPRADORA DE PET: utiliza pré-formas de 16,5; 24; 29,5 e 48 gramas. As pré-formas já


estão semiprontas, as mesmas só precisam ser aquecidas. São fabricadas garrafas de vários formatos
e gramaturas.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 836


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 14 - A) Sopradora de PET; B) Pré-formas sendo inseridas na máquina; C) Garrafas saindo da


máquina; D) Pré-formas e as garrafas sopradas de acordo com a gramatura.

A EXTRUSORA DE SOPRO POR BAIXO: utiliza como matéria-prima a Resina Virgem e


Resina Reciclada. Este material denomina-se polietileno de alta densidade, no qual são fabricadas
embalagens de 1L e 2L.

Figura 15 - A) Extrusora de sopro por baixo; B) Molde das garrafas; C) Resina Reciclada; D) Resina Virgem.

3.2 Resíduos Gerados na Empresa e sua Destinação

No Quadro 1 está representado o tipo, classe, tratamento e destinação dos resíduos


produzidos no processo de extrusão das embalagens plásticas. E o Quadro 2 apresenta os resíduos
gerados em outros setores dentro da empresa.

TIPO DE RESÍDUO PRODUZIDO


MÁQUINA
Resíduo Classe Tratamento Destinação
Extrusora de Aparas de plástico Resíduo não Reaproveitamento São moídos e
Sopro por baixo perigoso (classe II) reinseridos no
processo de
fabricação
Sopradora de PET Pré-formas Resíduo não Reciclagem Linhares
recusadas perigoso (classe II) Reciclagem
Sopradora de PET Água residual Resíduo não-Inerte Nenhum Rede de esgoto
classe II A
Quadro 1 – Origem, tipo e destinação dos resíduos gerados.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 837


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TIPO DE RESÍDUO PRODUZIDO


SETOR Tipo de resíduo Acondicionamento Frequência da Destino
retirada
Banheiro Resíduos sanitários Lixeiras plásticas, Ao final do dia Serviço público, 3
(papel higiênico) revestidas vezes por semana
internamente com
sacos plásticos
Escritório Resíduos de papel, Lixeiras plásticas, Ao final do dia Serviço público, 3
copo descartável revestidas vezes por semana
internamente com
sacos plásticos
Almoxarifado Papelão, baldes Local reservado Quando necessário Coleta seletiva do
plásticos município
Manutenção Óleo lubrificante e Em bombonas Quando necessário Utilizados pelos
hidráulico funcionários para
proteger alguns
materiais da
ferrugem
Manutenção Panos sujos com Recipientes fechados Quando necessário São incinerados na
óleo caldeira
Quadro 2 – Tipos de resíduos gerados em outros setores da empresa e sua destinação.

3.3 Propostas de Destinação dos Resíduos

Apresentamos propostas do que pode ser feito com os resíduos que não são destinados de
forma correta, afim de não causar danos ambientais e consequentemente beneficiando a empresa.

TIPO DE RESÍDUO PRODUZIDO


Origem Resíduo Classe Destinação
Sopradora de PET Água residual Resíduo não-Inerte Passar por um tratamento para
classe II A posteriormente ser descartada
Manutenção Óleo lubrificante e Resíduo perigoso Reciclagem
hidráulico classe I
Manutenção Panos sujos com óleo Resíduo perigoso Incineração
classe I
Quadro 3 – Proposta de destinação adequada de outros resíduos.

A água residual da sopradora de PET é recolhida em um recipiente, para sabermos as


propriedades desta e sua forma mais apropriada de descarte, realizamos análise em laboratório. A
proposta inicial seria para ser utilizada na irrigação do jardim que foi ornamentado dentro das
dependências da empresa, porém, após a análise observamos que a mesma não serve para tal fim,
pois apresenta o Ph bastante ácido, turbidez e cor elevadas, os resultados estão presentes na Tabela
1.
PARÂMETRO RESULTADO PADRÃO DE LANÇAMENTO
Ph 3.82 5–9
Turbidez 530.37 NTU 100 NTU
Cor 501 mg Pt/L 75 mg Pt Co/L
Cloreto 0.10 mg/L Cl 250 mg/L Cl
Ferro 1.87 mg/L 0,3 mg/L Fe
Tabela 13 - Resultado da análise da água residual proveniente da Sopradora de PET.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 838


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Observamos então que, a quantidade de água gerada é mínima, recomendamos que esta seja
armazenada em recipiente apropriado até determinada quantidade e logo mais ser encaminhada a
um laboratório para tratamento ou possa ser disponibilizado um tratamento apropriado para empresa
realizar, para que assim possa enquadrar-se nos padrões para descarte segundo a Resolução Nº 357
do CONAMA (2005). Como também averiguar a possibilidade de ser utilizada na irrigação após
tratamento.
Os resíduos da manutenção devem ter um tratamento diferenciado, podendo ser observado o
que dispõe a Resolução Nº 9, de 31 de Agosto de 1993, do CONAMA, que estabelece definições e
torna obrigatório o recolhimento e destinação adequada de todo o óleo lubrificante usado ou
contaminado. No Art. 7º Todo o óleo lubrificante usado deverá ser destinado à reciclagem. E no
Art. 9º fala sobre as Obrigações dos geradores de óleos usados, e uma das obrigações destacada no
inciso III - destinar o óleo usado ou contaminado regenerável para a recepção, coleta, rerrefino ou a
outro meio de reciclagem, devidamente autorizado pelo órgão ambiental competente. Conforme a
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, em sua NBR-10004, "Resíduos Sólidos -
classificação", classifica o óleo lubrificante e hidráulico usado como perigoso por apresentar
toxicidade.
Os panos sujos com óleo constituem-se em um resíduo sólido oleoso, podendo os mesmos
ser incinerados, conforme já é feito, mas o correto é ser destinado a um local apropriado para tal,
segundo CONAMA (1993) em seu Artigo 1º, IX - Incineração: queima sob condições controladas,
que visa primariamente destruir um produto tóxico ou indesejável, de forma a não causar danos ao
meio ambiente.
Nas dependências da empresa tinha um local que não estava sendo utilizado, então, com a
utilização de alguns materiais disponíveis que não tinham mais utilidade, por exemplo, baldes
plásticos e pela aquisição de tintas e mudas, preparamos a ornamentação de um jardim, com o
objetivo de deixar o ambiente mais harmonioso, como podemos observar na Figura 3 e o mais
importante, os próprios funcionários se dispuseram a cuidar do jardim.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 839


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 16 - A) Espaço antes; B) Com as primeiras mudas; C) Depois de um tempo com mudas em baldes
plásticos e tubos; D) O jardim atualmente.

Ressaltando a questão da Simbiose Industrial levando em consideração as características da


empresa em estudo segundo Chertow (2007 apud BRANCO E MAÑAS, 2009) para que seja
considerada uma relação simbiótica deve ocorrer entre, pelo menos, três empresas diferentes,
realizando a troca de, ao menos, dois recursos distintos. Ou seja, podemos perceber que a mesma
não atende a descrição de uma SI, o que existe é uma ciclagem de alguns materiais dentro da
própria empresa e a destinação dos resíduos onde beneficia a mesma e o meio ambiente, pois não há
uma troca de recursos com outras empresas que a beneficie materialmente e financeiramente para se
atender a uma SI.
Portanto, a partir desse estudo esperamos contribuir para que a empresa sinta-se motivada a
fazer parte de um sistema de SI, procurando colaboradores que possam fazer essa troca de recursos
e aqueles materiais que ainda não possuem um destino adequado possam ser destinados
corretamente.

4. CONCLUSÃO

A análise dos processos produtivos da empresa permitiu observar que existiam algumas
características que precisavam ser melhoradas, que se não tratadas adequadamente poderá
futuramente gerar passivos ambientais, como é o caso do óleo lubrificante e hidráulico, panos de
limpeza e a água residuária da sopradora de PET, que necessitam de uma maior atenção, para isso,
apresentamos propostas do que poderia ser feito com esse material, mas sabemos que alguns fatores
não contribuem na gestão adequada dos resíduos, que seria a ausência de locais na própria cidade
que recolham os mesmos e façam a destinação, fazendo com que a logística de transporte para outra
cidade se torne onerosa para a empresa.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 840


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Entretanto, foi possível constatar que o processo de simbiose industrial se torna vantajoso
para as empresas, porém a mesma não faz parte desse processo de SI, constituindo apenas de uma
ciclagem de materiais dentro da própria empresa e destinação de resíduos, o que não gera um
retorno financeiro considerável, essas ações evitam ou minimizam a poluição ambiental, que
poderia gerar prejuízos maiores financeiramente se ocorrerem danos ambientais.

REFERÊNCIAS

ABIPLAST. Perfil 2015. Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST): São Paulo,
2015. Disponível em: < http://file.abiplast.org.br/download/2016/perfil_2015_ok.pdf>. Acesso
em: 12 jul. 2017.

AMARAL, Gilmar do. et al. Guia ambiental da indústria de transformação e reciclagem de


materiais. São Paulo: CETESB: SINDIPLAST, 2011. Disponível em:
<http://file.sindiplast.org.br/download/guia_ambiental_internet.pdf>. Acesso em: 14 ago. 2017.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Norma ABNT NBR 10004 - Resíduos


sólidos - classificação. São Paulo, 2004b. Disponível em:
<http://www.videverde.com.br/docs/NBR-n-10004-2004.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2017.

BRANCO, Roderick Cabral Castello; MAÑAS, Antonio Vico. Simbiose Industrial no Polo
Industrial de Manaus: Uma Proposta Para o Alcance da Sustentabilidade Ambiental. In: 6ª
Conferência Internacional de Inovação e Gestão - ICIM, 2009, São Paulo. Trabalhos
científicos. São Paulo: PUC, 2009. p. 1 - 11. Disponível em:
<http://www.pucsp.br/icim/ingles/downloads/papers/TL_050.pdf>. Acesso em: 14 ago. 2017.

BRASIL. LEI Nº 12.305, de 2 de Agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos;
altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 12 jul.
2017.

CÂNDIDO, et. al. Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Plásticos – PGIRP. Belo
Horizonte: Fundação Estadual do Meio Ambiente: Fundação Israel Pinheiro, 2009. Disponível
em: <http://www.feam.br/images/stories/minas_sem_lixoes/2010/plstico.pdf>. Acesso em: 10
jul. 2017.

CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução Nº 357, de 17 de março de 2005.


Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu
enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 841


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

outras providências. Disponível em:


<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2017.

CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução Nº 9, de 31 de agosto de 1993.


Estabelece definições e torna obrigatório o recolhimento e destinação adequada de todo o óleo
lubrificante usado ou contaminado. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=134>. Acesso em: 15 ago. 2017.

MOTTA, João Pedro Soares Pinto da; CARIJÓ, Renata de Sousa. Simbiose Industrial: Um estudo
de caso para uma Indústria de Cosm ticos no Município do Rio de Janeiro. 2013. 79 f. TCC
(Graduação) - Curso de Engenharia Ambiental, Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio
de Janeiro/RJ, 2013. Disponível em:
<http://monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10005527.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 842


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

LIXO ELETRÔNICO: CONHECENDO SEU IMPACTO, UMA EXPERIÊNCIA EM


EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA NA ESCOLA

Thaissa Tavares ARAUJO


Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas
thaissatavaresaraujo@gmail.com
Caroline Zabendzala LINHEIRA
Professora Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas
Universidade Federal de Campina Grande – Campus Cuité
carolinezl.ufcg@gmail.com

RESUMO
A educação ambiental crítica busca transformar a sociedade a partir da construção de cidadãos
conscientes e atuantes. Mas como formar esse sujeito capaz de incorporar valores ambientais e
princípios éticos em seu cotidiano e ainda se mobilizar diante das demandas socioambientais? O
presente trabalho apresenta uma investigação a partir de uma intervenção em educação ambiental
através de uma sequencia didática inspirada na metodologia dialética proposta por Gasparin (2005)
amparada nos pressupostos da pedagogia histórico-crítica. A experiência foi realizada com uma
turma do 7º ano da Escola Municipal Manoel Cassimiro Gomes, no município de Coronel Ezequiel-
RN, O tema escolhido para a ação foi a problemática do lixo eletrônico com ênfase no descarte
inadequado de pilhas e baterias. A escolha teve motivação o desconhecimento dos estudantes sobre
o tema. A sequência didática foi organizada em três etapas – problematização, teorização e prática
social, manifestada em três atividades: um questionário exploratório das concepções e práticas
cotidianas em relação ao consumo e destinação de resíduos eletrônicos; seguida de uma aula
expositiva-dialogada sobre o tema; finalizada com uma campanha de sensibilização da comunidade
escolar com a temática do lixo eletrônico e uma avaliação das atividades. A análise da experiência
pedagógica foi feita através de anotações, registros fotográficos e diálogo com o referencial teórico.
Como resultados do trabalho se viu um engajamento significativo dos estudantes que participaram
ativamente sensibilizando a comunidade escolar para o tema. É possível concluir que o tema é
apropriado e a estratégia didática permitiu conexões com o cotidiano e mobilizou os estudantes
ensaiando uma experiência em educação ambiental crítica.
Palavras chaves: Ensino Fundamental, Meio Ambiente, Sequência Didática, Pilhas e Baterias.
RESUMEN
La educación ambiental crítica busca transformar la sociedad a partir de la construcción de
ciudadanos conscientes y actuantes. ¿Pero como formar ese sujeto capaz de incorporar valores
ambientales y principios éticos en su cotidiano y aun movilizarse delante de las demandas socio
ambientales? El presente trabajo presenta una investigación a partir de una intervención en
educación ambiental a través de una secuencia didáctica inspirada en la metodología dialéctica
propuesta por Gasparin (2005) amparada en los presupuestos de la pedagogía histórico-crítica. La
experiencia fue realizada con un grupo del 7º año de la Escuela Municipal Manoel Cassimiro
Gomes, en el municipio de Coronel Ezequiel-RN. El tema elegido para la acción fue la
problemática de la basura electrónica con énfasis en el desecho inadecuado de pilas y baterías. La
elección fue motivada por el desconocimiento del tema por los estudiantes. La secuencia didáctica
fue organizada en tres etapas – problematización, teorización y práctica social, manifiesta en tres
actividades: un cuestionario exploratorio de las concepciones y prácticas cotidianas en relación al
consumo y destinación de residuos electrónicos; seguida de una aula expositiva-dialogada a cerca

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 843


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

del tema; finalizada con una campaña de sensibilización de la comunidad escolar con la temática de
la basura electrónica y una evaluación de las actividades. El análisis de la experiencia pedagógica
fue hecho a través de notaciones, registros fotográficos y diálogo con el referencial teórico. Como
resultados del trabajo se observó una adherencia significativa de los estudiantes que participaron
activamente sensibilizando la comunidad escolar para el tema. Es posible concluir que el tema es
apropiado y la estrategia didáctica permitió conexiones con el cotidiano y movilizó a los estudiantes
ensayando una experiencia en educación ambiental crítica.
Palabras claves: Enseñanza Fundamental, Medio Ambiente, Secuencia Didáctica Pilas y baterías.

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental (EA) é uma prática pedagógica voltada a educar pessoas sobre a
importância de se repensar as relações entre humanos e natureza, reconhecer que fazemos parte do
ambiente e que temos responsabilidade diante do futuro da humanidade, portanto, a EA deve ser a
ferramenta capaz de produzir novos valores para a relação entre os seres humanos, desses com os
demais seres vivos e para com o ambiente.
Nos tempos atuais vivemos a sociedade do consumo onde estamos sendo sempre
influenciados a consumir cada vez mais, e com todo o consumismo temos também uma grande
produção de lixo, ou resíduos sólidos. Os produtos eletroeletrônicos têm sido objetos de desejo e
consumo capazes de gerar resíduos preocupantes pelo seu potencial poluidor, são os chamados
resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) que exigem um manejo específico.
Considerando que os equipamentos eletroeletrônicos têm vida útil relativamente curta, seja pela
obsolescência planejada ou perceptiva, o volume de lixo produzido deve ser pensado como um
problema ambiental preocupante. Calcula-se que em 2010 foram vendidos 347 milhões de
computadores no mundo (IDC, 2011 citado por CARVALHO; XAVIER, 2014).
Os REEE são, portanto, todos aqueles eletroeletrônicos considerados inúteis e/ou
indesejáveis pela população descartados quase sempre de forma inadequada. Boa parte deles possui
em seu interior metais pesados que ao entrar em contato com o ambiente interferem na
sobrevivência dos ecossistemas e na saúde dos seres vivos.
A Política Nacional de Gestão de Resíduos Sólidos (PNRS) é a lei que engloba princípios,
objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações a serem adotados pelos governos e particulares,
com a finalidade de garantir um destino adequado aos resíduos sólidos. A Política prevê a
responsabilidade compartilhada por diversos atores sociais, a educação ambiental e a logística
reversa como instrumentos importantes na gestão dos resíduos. Mas como promover a EA com o
objetivo de diminuir o consumo e adotar práticas sustentáveis no manejo dos resíduos sólidos, mais
especificamente dos REE?

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 844


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O trabalho aqui apresentado foi desenvolvido com uma turma de 7º ano do ensino
fundamental, no horário das aulas da professora de ciências, uma das autoras deste trabalho,
realizado na Escola Municipal Manoel Cassimiro Gomes, município de Coronel Ezequiel-RN. O
objetivo foi planejar, executar e analisar uma sequência didática sobre a problemática ambiental dos
REEE ou lixo eletrônico – em especial pilhas e baterias. A organização da ação pedagógica foi
inspirada na metodologia proposta por Gasparin (2005) em ―uma didática para a pedagogia
histórico crítica‖.
A sequência didática foi organizada em três etapas – problematização, teorização e prática
social, manifestadas em três atividades e uma avaliação da proposta. Este artigo descreve e analisa
essa experiência pedagógica.

CONTEXTO: O ESPAÇO DE AÇÃO

Coronel Ezequiel é um jovem município, com 5.500 habitantes, no interior do estado do Rio
Grande do Norte, situado a 140 km da capital no sentido sudoeste, já na fronteira com o estado da
Paraíba. O município tem sua economia baseada em agricultura, comércio e serviços públicos. A
gestão do lixo no município não é diferente de outras realidades no interior do nordeste, a coleta de
lixo é precária e a destinação final acontece em lixão a céu aberto.
Na sede do município existem duas escolas, uma municipal de ensino fundamental - a
Escola Municipal Manoel Cassimiro Gomes, com 520 alunos e uma estadual – Escola Estadual José
Joaquim com cerca de 400 alunos. A E. M. Manoel Cassimiro Gomes funciona somente durante o
dia, tem 23 professores e atende o ensino fundamental I e II, e a educação de jovens e adultos com
um total de 20 turmas. A escola tem sala de diretoria, sala de professores, laboratório de
informática, sala de recursos multifuncionais para Atendimento Educacional Especializado (AEE),
quadra de esporte descoberta, cozinha, biblioteca, banheiros dentro e fora do prédio, banheiro
adequado para estudantes com deficiência ou modalidade reduzida, sala de secretaria, refeitório,
dispensa, almoxarifado e auditório. Em relação aos equipamentos disponibilizados pela escola estão
os computadores administrativos, computadores para estudantes, DVD, impressora, aparelho de
som, projetor multimídia e câmera fotográfica.
A proposta da intervenção e da pesquisa aqui relatadas foi construída como um trabalho de
conclusão de curso em Licenciatura em Ciências Biológicas da UFCG, campus Cuité, a partir das
com as inquietações pessoais da professora-pesquisadora, uma das autoras deste trabalho, diante da
problemática do lixo eletrônico em Coronel Ezequiel. O projeto foi apresentado à direção da Escola
e à turma escolhida, todos aceitaram a proposta. A intervenção aconteceu entre junho e agosto do
ano corrente. A turma do 7º ano, com 16 estudantes, foi escolhida por ser uma turma menor e mais
participativa.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 845


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

LIXO ELETRÔNICO: O PROBLEMA

A produção de REE ou lixo eletrônico vem crescendo muito nos últimos anos, e tem se
tornado um preocupante problema ambiental.

―Os resíduos de equipamento eletroeletrônico (REEE) podem ser definidos como


substâncias ou objetos dependentes de correntes elétricas ou campos
eletromagnéticos para funcionar (...) descartados devido a fatores como o não
funcionamento, custo de reparação, inovação tecnológica e curto ciclo de vida‖
(UNIÃO EUROPEIA 2003 apud CARVALHO; XAVIER, 2014, p. 114).

Ao serem jogadas no lixo comum as substâncias químicas presentes nos materiais


eletrônicos, em especial pilhas e baterias, podem penetrar no solo e atingir o lençol freático,
contaminando o ambiente trazendo consequências para todos os seres vivos (MATTOS; MATTOS;
PERALES, 2008).
No Brasil existem orientações legais a respeito do descarte de pilhas e baterias, como a
Resolução n.257, de 30 de junho de 1999 do Conselho Nacional do Meio Ambiente Conama
(CONAMA; 1999), e a PNRS Lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010.
A PNRS define a logística reversa como um "instrumento de desenvolvimento econômico e
social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a
coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo
ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada‖ (BRASIL,
2010). Em outras palavras os produtores e os fabricantes têm a responsabilidade pelos produtos
mesmo após o fim de sua vida útil. O objetivo é forçar os fabricantes a controle das consequências
ambientais de seus produtos quando se transformam em resíduos sólidos (BARROS, 2012).
Na prática para a população, a logística reversa vem a ser uma responsabilidade perante os
produtos consumidos e uma obrigação de descarte correto. Nesse sentido, a EA deve ser uma aliada
na divulgação da legislação vigente, bem como de práticas sustentáveis, e a escola pode e deve
assumir o papel de colaboradora dessa formação ambiental, atendendo inclusive as diretrizes da
Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999).

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O FUNDAMENTO

A EA que fundamenta este trabalho está definida como uma prática pedagógica
emancipatória e crítica, criadora de novos valores que questionam os padrões e comportamentos
estabelecidos, articulada com o exercício da cidadania, na formação de um sujeito ecológico, que
institui novos modos de ser, compreender e agir, ante a si mesmo e aos outros (GUIMARÃES,
1995; LOUREIRO, 2006; CARVALHO, 2012),

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 846


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Levar as crianças a conhecer os problemas ambientais atuais de forma a sensibilizá-las


durante sua formação é um dever e também um direito. A educação é o principal meio que nos
permite viver como seres em sociedade, nos dá capacidade de percepção de nossas atitudes no
cotidiano e na tomada de decisão para uma vida sustentável (LOUREIRO, 2004).
A escola deve ser, portanto, um centro efetivo de mudanças, e ao mesmo tempo garantir que
o processo de ensino e aprendizagem ganhe novos contornos, incorporando a preparação do
indivíduo para o exercício da cidadania e atuação ativa em sua comunidade (VIRGENS, 2010). Mas
como colocar em prática projetos com essa ousadia em uma instituição secular?
É verdade que existem muitas dificuldades para trabalhar a EA no ambiente escolar, mas
elas precisam ser enfrentadas, para que os discentes atuem como protagonistas do desenvolvimento
de um planeta sustentável e não como meros espectadores da sua destruição (MARQUES;
GONZALEZ; XAVIER, 2017).
Para fazer EA na escola, contudo, não existem receitas prontas. Os próprios estudos em
educação e em EA sugerem que o professor e a professora construam suas propostas a partir do seu
contexto, suas características e suas problemáticas.

SEQUÊNCIA DIDÁTICA: A METODOLOGIA

Na escola pública brasileira o ensino tradicional e conteudista ainda é uma realidade. A


contextualização e problematização no sentido de dar uma finalidade social aos conteúdos escolares
é um caminho para a construção de novas abordagens no ensino escolar. Elas possibilitam uma
melhor interação do estudante com o mundo atual. Para que isso ocorra professor e estudante devem
se tornar coautores no processo de ensino-aprendizagem, juntos devem descobrir a que servem os
conteúdos científico-culturais propostos pela escola. Isso requer novas atitudes, novos
posicionamentos e o conhecimento escolar passam a ser teórico-prático, conforme propõe Gasparin
(2005), ou seja, conteúdos capazes de transformar a realidade.
Ainda segundo o autor, essa percepção da prática pedagógica está fundamentada na teoria
dialética do conhecimento. Ele cita Corazza (1991 apud Gasparin, 2005, p.4): ―o conhecimento se
origina na prática social dos homens e dos processos de transformação da natureza (...) agindo sobre
a realidade os homens a modificam, mas numa relação dialética, esta prática produz efeito sobre os
homens mudando tano seu pensamento como sua prática‖.
Tomando essa reflexão como base, a sequência didática organizada nesse trabalho segue as
seguintes etapas: 1ª etapa (prática) - ver a prática social do educando, de acordo com o meio em que
vive; 2ª etapa (teoria) - construir conceitos, discutir, refletir, teorizar; 3ª etapa (prática) - retorno à
prática para transformá-la.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 847


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Esse processo de prática-teoria-prática não é linear, porém aqui ele está limitado e linear
tendo em vistas os limites do contexto de produção. De todo modo, parece válida toda e qualquer
iniciativa que tenha como objetivo de transformar a realidade social e transformar o próprio sujeito.
A isso se destina, de fato, a educação (ambiental).
O quadro 1 resume a organização da sequencia didática proposta. A sequência didática foi
organizada em três etapas – problematização, teorização e prática social, manifestada em três
atividades: um questionário exploratório das concepções e práticas cotidianas em relação ao
consumo e destinação de resíduos eletrônicos; seguida de uma aula expositiva-dialogada sobre o
tema; finalizada com uma campanha de sensibilização da comunidade escolar com a temática do
lixo eletrônico e uma avaliação das atividades.

Quadro 1: Quadro-resumo da sequência didática proposta e executada na Escola


Municipal Manoel Cassimiro Gomes entre junho e agosto de 2017.
Etapas e Duração Tema Objetivos Recursos didáticos
datas
Etapa 1
1h/aula  Estudo das práticas Compreender a relação dos
Questionário
Prática estudantes com os REE

Etapa 2 2h/aula  Lixo eletrônico, Desenvolver conceitos sobre o


Aula expositivo-
Teoria  Logística reversa problema do descarte
dialogada e vídeo
 Descarte adequado inadequado de pilhas e
didático
de pilhas e baterias. baterias, e possíveis soluções.
Etapa 3 1h/aula  Campanha na Mobilizar a escola
Cartolina, canetas,
escola tesoura, cola e fita
Prática
adesiva.
Etapa 3
1h/aula  Coleta e exposição Realizar a coleta e destinar à Coletos feito de uma
Prática de pilhas e baterias. reciclagem garrafa PET
Avaliar a percepção dos
Avaliação Papel e lápis
estudantes sobre a experiência
Fonte: as autoras.

AÇÃO PEDAGÓGICA: OS RESULTADOS

Os resultados serão apresentados e discutidos seguindo o desenrolar das etapas da sequência


didática. As analises foram feitas partir de relatos, anotações, registros fotográficos com a finalidade
de tecer um diálogo com o referencial teórico.

Etapa 1 – Prática – Estudo das concepções dos estudantes

O questionário inicial com 5 perguntas, 2 abertas e 3 de múltipla escolha, teve como


objetivo conhecer a relação dos estudantes com os REEE. A primeira pergunta falou sobre o
descarte de pilhas e baterias - O que você faz com as pilhas e baterias velhas da sua casa? Todos os
participantes afirmaram dar um destino final inapropriado para esse tipo de material: 93%

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 848


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

descartam este tipo de material no lixo comum, enquanto 7% jogam as pilhas e baterias diretamente
na natureza.
O Gráfico 1 sistematiza os resultados para a pergunta - quais são os aparelhos eletrônicos
que você tem em sua casa? O resultado mostra a diversidade de aparelhos eletroeletrônicos
presentes na vida dos estudantes, com destaque para o celular.

Gráfico 1: Lista e frequência de citações de aparelhos eletroeletrônicos presentes


na casa dos participantes da pesquisa.

Aparelhos eletroeletrônicos
Impressora 1
Liquidificador 2
Tablet 2
Ventilador 1
Chuveiro 1
Roteador 3
DVD player 3
Receptor 3
Forno 1
Aparelhos eletrônicos
Ferro 1
Geladeira 6
Microondas 1
Video game 3
Notebook/Computador 6
Som/Rádio 8
Televisão 14
Celular 10
0 5 10 15

Fonte: Dados da pesquisa.

A pergunta 3 de múltipla escolha com quatro alternativas, tratou do conhecimento sobre o


lixo eletrônico - Qual é o seu conhecimento sobre o lixo eletrônico? Para 57% dos participantes é a
primeira vez que ouviu falar o termo lixo eletrônico; 31% já ouviu falar, mas não sabe do que se
trata; 6% só sabem que é formado por materiais eletrônicos como computadores e celulares; e
somente 6% sabiam o que era e conheciam os riscos que ele oferece para o meio ambiente e para a
saúde.
A pergunta 4, de múltipla escolha com cinco alternativas, falava sobre a responsabilidade
pelo descarte e tratamento do lixo eletrônico - Em sua opinião, quem deve ficar responsável pelo
tratamento e descarte do lixo eletrônico? (Marque quantas opções desejar). Na ordem de maiores
citações (entre parênteses o número de vezes citados pelos participantes) os estudantes elegeram
como responsáveis: a Prefeitura (11); em seguida as Empresas de reciclagem (7); depois os
Governos (5); a Indústria e comércio (5); e por fim, de Quem compra o produto (3). As respostas
apontam a responsabilidade para a prefeitura, que de fato é a responsável pelos serviços públicos de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 849


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

limpeza urbana. Entretanto, elas revelam também pouca importância atribuída ao papel dos
consumidores.
A pergunta 5, sobre a Coleta do lixo eletrônico em Coronel Ezequiel - A sua cidade possui
um local onde a coleta de lixo eletrônico é feita de forma permanente? 87% afirmaram não
existirem postos de coleta para o lixo eletrônico e os outros 13% disseram não saber. Esse quadro
mostra a urgência de se trabalhar o assunto não apenas escola, mas também num contexto municipal
mais amplo.
Os resultados confirmaram a realidade esperada: há a presença de eletroeletrônico na casa de
todos os participantes; todos declaram a destinação inadequada - ou jogam no lixo comum ou na
natureza; não sabem o que é lixo eletrônico; e desconhecem postos de coleta na cidade.
Consequentemente há confusões sobre as responsabilidades e práticas sustentáveis.

Etapa 2 – Teoria – Aula expositiva-dialogada

As respostas da etapa 1 levaram ao início da etapa 2 com a problematização inicial através


de uma conversa sobre a destinação inadequada de resíduos e responsabilidades. Em seguida a aula-
expositivo dialogada teve como objetivo promover a construção dos conceitos de lixo eletrônico e
logística reversa. A aula partiu de perguntas como: onde vai parar o lixo produzido pela população
de Coronel Ezequiel? Como fazer o descarte adequado de pilhas e baterias? Por que não pode Jogar
esse tipo de lixo no lixo comum? O que é logística reversa? E seguiu com apresentação de
conceitos e alguns elementos da legislação vigente.
Durante a aula os estudantes se mostraram bastantes interessados pelo tema fazendo
questionamentos como: ―mas se não têm postos de coleta aqui em Coronel Ezequiel, então o que
vamos fazer com as pilhas e baterias?‖; ―Não tenho condições de sair para outra cidade em busca
desses locais de coleta.‖; ―E agora o que devemos fazer?‖, ―Sempre jogamos nossas pilhas no lixo,
mas nunca tínhamos ouvido falar que era errado‖.
A partir das falas foi possível estabelecer relações entre os conteúdos e contexto social
conforme proposto no referencial teórico. É a EA promovendo um ambiente de aprendizagem social
e individual no sentido mais profundo da experiência de aprender (CARVALHO, 2012).
Ainda no contexto da aula foi exibido o vídeo ―Natureza viva - O impacto ambiental das
pilhas e baterias32‖ que está relacionado com a problemática ambiental enfrentada pela população
de Coronel Ezequiel, que é o descarte inadequado de pilhas e baterias. A conversa após o vídeo
levou toda a turma a uma conclusão: é preciso recolher esse material e destiná-lo a um local
adequado.

32
Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=tLAslXsdhTk>, Acesso em junho de 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 850


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

E o que fazer com todo o material que se deseja recolher, se não há ponto de coleta na
cidade? Os estudantes por livre iniciativa encontraram uma loja de comércio e manutenção de
telefones celulares que armazena esse material e entrega ao representante de uma empresa de
reciclagem de Natal-RN a cada 90 dias. A partir desse contato, o grupo resolveu fazer uma
exposição do REEE acumulados pelo comerciante e trouxeram para expor na escola, depois do
período de coleta, 104 baterias e 15 pilhas, acumulados pelo comerciante que, sensibilizado com a
questão se comprometeu a receber o material que os estudantes recolhessem na escola.
Situações como essa só podem emergir de uma educação que acontece como parte da ação
humana, da experiência humana de estar no mundo e participar da vida, são as atitudes ecológicas
de um sujeito ecológico, conforme propõe Carvalho (2012).

Etapa 3 – Prática – Campanha de sensibilização na escola para recolher as pilhas e baterias

Esta etapa teve como objetivo preparar a campanha de sensibilização na escola para recolher
pilhas e baterias e encaminhá-las a um local apropriado. A etapa 3 aconteceu em dois dias de aula.
No primeiro a turma foi dividida em quatro grupos para confecção de cartazes sobre o tema
estudado preparando a sensibilização e a coleta na escola. Durante essa atividade surgiu a ideia de
compartilhar com os colegas a inquietação perante o tema e os próprios estudantes decidiram visitar
as demais turmas da escola para anunciar a campanha. Uma comitiva foi formada por quatro
estudantes, um representante de cada grupo dos cartazes.
No segundo dia da etapa 3 forma afixados os cartazes que alertavam sobre os riscos que esse
tipo de material representa quando jogado no lixo comum; apresentavam a logística reversa; a
responsabilidade socioambiental; e a destinação adequada de pilhas e baterias. Nesse dia foi
bastante visível a participação e o total envolvimento dos estudantes com a atividade e com a
temática. Eles visitaram as turmas do seu turno e voltaram à tarde para visitar as demais. Apesar do
nervosismo e da timidez, os estudantes conseguiram transmitir o alerta sobre o impacto que esse
tipo de material pode causar ao meio ambiente e à saúde dos seres vivos, e anunciaram a coleta na
escola. Em seguida, foi instalado o ponto de coleta - uma garrafa PET de 5 litros em frente à sala da
direção. Em poucos dias foram recolhidas 20 baterias e 9 pilhas.
Percebe-se aqui o movimento da prática social, de elaboração de uma nova forma de
entender o mundo e a uma nova forma de agir a partir do conteúdo aprendido.

―Ao colocar em prática os conhecimentos adquiridos, o sujeito modifica a sua realidade


imediata. Logo, o conhecimento teórico perde seu caráter de ser apenas ‗uma compreensão
do que acontece‘, para se tornar ‗um guia para a ação‘‖ (Corazza 1991 citado por Gasparin,
2005, p. 8).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 851


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Embora desejado, o engajamento dos estudantes foi um resultado que surpreendeu,


considerando que muitas vezes as tarefas desenvolvidas nas aulas de ciências eram recebidas com
pouco ou nenhum entusiasmo.
A avaliação da proposta foi feita através de uma atividade escrita que perguntava se os
estudantes gostaram de estudar o problema ambiental do lixo eletrônico e se todas as pessoas
deveriam estudar esse assunto. Todos afirmaram que sim, mas respostas como ―a gente tem que ter
a responsabilidade‖, ou ―então quando vocês tiverem pilhas e baterias que não servem mais,
procurem um posto de coleta, vá até lá e deposite‖ e ―o meio ambiente sofrerá menos e os seres
vivos também‖ deixam a certeza de alguma transformação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sequência didática, apesar de curta, se mostrou eficiente no sentindo proposto


inicialmente de, a partir da problematização inicial, seguida de teorização levar a uma prática social
de transformação social. Mesmo que a iniciativa na escola seja pequena diante da problemática do
lixo eletrônico estamos convencidas de que estes estudantes, pelo menos boa parte deles procurará
fazer o descarte adequado desse material no futuro.
Com esse trabalho pôde-se concluir que é urgente a necessidade da EA na escola; que os
estudantes têm interesse na temática e querem mobilizar sua comunidade. Os estudantes pareceram,
de verdade, afetados pela temática e tiveram atitudes engajadas na companha na escola. Por conta
disso, a EA é de extrema importância na vida escolar dos jovens, pois é o espaço para a formação
de novos valores ambientais.

REFERÊNCIAS

BARROS, M. Tratamento sobre resíduos: Gestão, uso e sustentabilidade. Rio de Janeiro: Acta,
2012.

BRASIL, Lei n. 9795 - 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a Educação Ambiental. Política Nacional
de Educação ambiental. Brasília, 1999.
BRASIL, Lei N° 12.305 de 02 de agosto de 2010, Política Nacional de Resíduos Sólidos, 2010.

CARVALHO, T.C.M.B. XAVIER, L.H. Gestão de resíduos eletrônicos. 1. Ed Rio de Janeiro:


Elsevier, 2014.

CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental a formação do sujeito ecológico. 6. Ed. São Paulo:


Cortez, 2012.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 852


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Resolução n.257, de 30 de junho de 1999.


Disponível em:<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res99/res25799.html. > Acesso em
05/08/2017.

GASPARIN, J. L. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 3ª ed. rev. Campinas, SP:
Autores Associados, 2005.

GUIMARÃES, M. Dimensão Ambiental na Educação. Papirus Editora, 1995.

LOUREIRO, C. F. B. Educação ambiental transformadora. In: LAYRARGUES, P. P. (Org.).


Identidades da educação ambiental brasileira. Brasília: Ministério do meio ambiente, 2004.

LOUREIRO, C. F. Trajetórias e Fundamentos da Educação ambiental. São Paulo: Cortez, 2006.

MARQUES, R.; GONZALEZ, C. E. F.; XAVIER, C. R. As dificuldades da inserção e da prática


em educação ambiental no currículo escolar. In: Encontro Paranaense de Educação Ambiental,
15. Anais. Paraná, 2015.

MATTOS, K. M. C.; MATTOS, K. M. C.; PERALES, W.J. S. P. Os impactos ambientais causados


pelo lixo eletrônico e o uso da logística reversa para minimizar os efeitos causados ao meio
ambiente. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção, cadeias produtivas com a
abordagem da manufatura sustentável, 28. Anais. Rio de Janeiro- RJ, 2008.

VIRGENS, R. A. A educação ambiental no ambiente escolar. 26f. Monografia (Licenciatura em


Biologia) – Brasília-DF, 2011.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 853


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS TEMPO E TEMPERATURA NA


FUNDIÇÃO DE ALUMÍNIO RECICLADO EM FORNO RESISTIVO

Vivianne Rodrigues de FREITAS


Graduanda do Curso de Engenharia de Produção da UFERSA
viviannerodriguesfreitas@gmail.com
José Flávio TIMÓTEO JUNIOR
Doutor em Ciência e Engenharia de Materiais pela UFRN e Professor da UFERSA
flavio.timoteo@ufersa.edu.br
Cláwsio Rogério Cruz de SOUSA
Doutor em Ciência e Engenharia de Materiais pela UFRN e Professor da UFERSA
clawsio.cruz@ufersa.edu.br
Paula Romyne de Morais CAVALCANTE
Doutoranda em Engenharia Química da UFRN
paula.cavalcante@ufersa.edu.br

RESUMO
Diante do aumento da utilização do alumínio como matéria prima na fabricação de embalagens, as
tentativas de reaproveitamento desses tipos de laminados vem crescendo, e o aumento na geração
de resíduos sólidos faz com que cada vez mais os processos de reciclagem deste material tenham
relevância frente ao desenvolvimento sustentável. Um dos processos utilizados para
reaproveitamento dos laminados provenientes de embalagens é o de fundição. Tal processo pode ser
conseguido em inúmeros tipos de fornos. Nos fornos resistivos elétricos tipo mufla ele é realizado
de forma simples, através da inserção dos valores de tempos, gradientes, rampas de aquecimento, e
temperaturas no controlador digital do forno, entretanto como a variação dos parâmetros influencia
o resultado do processo, ele pode acabar não atingindo o melhor resultado possível, neste trabalho
foram analisados os parâmetros tempo e temperatura no processo de fundição do alumínio reciclado
em fornos deste tipo. A modelagem da superfície de resposta e curva de contorno, bem como do
gráfico de pareto utilizados para analisar as influencias desses parâmetros foi implementada pelo
software Statistica, da Dell Inc. (2016), versão 13, tal análise aconteceu a partir do planejamento
fatorial , com os parâmetros analisados temperatura e tempo, sendo o primeiro a variável mais
significativa para o processo de fundição.
Palavras-chave: Alumínio. Reciclagem. Fundição. Planejamento fatorial.

ABSTRACT
In view of the increased use of aluminum as raw material in the manufacture of packaging, the
attempts of reutilization of these types of laminates has been growing and the increase in solid
waste generation means that the recycling processes of this material are increasingly relevant to
sustainable development. One of the processes used for the reuse of laminates from packaging is
foundry. Such a process can be achieved in numerous types of furnaces. In muffle type electric
resistive ovens it is carried out in a simple way, by inserting the values of times, gradients, heating
ramps, and temperatures in the digital oven controller however as the variation of the parameters
influences the result of the process, it may end up not reaching the best possible result, in this work
the time and temperature parameters in the casting of recycled aluminum in furnaces of this type
will be analyzed, the response surface modeling and contour curve, as well as the pareto graph used
to analyze the influences of these parameters was implemented by Statistica software from Dell Inc.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 854


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

(2016), version 13, this analysis was based on the factorial design , with the analyzed parameters
temperature and time, the first being the most significant variable for the casting process.
Keywords: Aluminum. Recycling. Foundry. Factorial planning.

INTRODUÇÃO

As novas tecnologias e o ritmo da vida moderna tem nos condicionado ao aumento na


produção de resíduos sólidos, um lixo que na maioria das vezes é formado por componentes difíceis
de serem degradarem, a utilização do elemento alumínio (Al) como matéria prima na fabricação de
embalagens por exemplo, vem crescendo em todo país, e isso além de acabar resultando no
aumento dos resíduos sólidos propriamente ditos desencadeia um impacto ambiental, tornando
relevante a reciclagem deste tipo de material. (VALENTIM; OLIVEIRA, 2011)
Segundo a Associação Brasileira de Alumínio ABAL (2017) o alumínio é um dos materiais
recicláveis mais valiosos. Folhas e laminados, vêm sendo consumidos pelo mercado em escala
crescente, utilizados em embalagens de produtos farmacêuticos, de limpeza, higiene e cosméticos,
bebidas e em produtos alimentícios, apresentam maiores dificuldades para a reciclagem, possuem
menores espessuras do que as latas e apresentam níveis de contaminação variados (VALENTIM;
OLIVEIRA, 2011).
Na tentativa de reaproveitar os laminados citados anteriormente uma alternativa é o processo
de fundição, que segundo Salonitis et al. (2016) é um dos processos de fabricação mais antigos,
mais desafiadores e intensivos em energia. Entretanto, a fundição não encontra paralelo com outros
processos de conformação pelo fato de que, em muitos casos, é o método mais simples e econômico
e, em outros, o único método tecnicamente viável de se obter uma determinada forma sólida
(KONDIC, 1973)
Em geral, na realização de um processo de fundição em fornos elétricos é necessário que as
amostras sejam submetidas a uma temperatura acima do seu ponto de fusão, no caso do alumínio
essa temperatura é de 660°C, contudo apesar da fácil utilização do forno elétrico, a determinação e
controle de variáveis como tempo (t) e temperatura (T), que fazem parte do processo, é de
fundamental importância para que o sucesso no processo de fundição seja obtido, visto que a
qualidade e a quantidade do material fundido no fim do processo pode variar juntamente com os
parâmetros envolvidos durante o mesmo.
Desta forma, pretende-se aqui utilizar a técnica de planejamento fatorial de segunda ordem
para estudar a influência das variáveis tempo e temperatura máxima, no processo de fundição em
fornos elétricos, dos materiais metálicos provenientes de embalagens que vem sendo descartados de
maneira inadequada, e obter a partir de análises experimentais resultados que sugiram as melhores
condições para que o processo de fundição venha a ser satisfatório.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 855


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

PARÂMETROS E AMOSTRA

Tendo como objetivo analisar os fatores que influenciam o processo de fundição em fornos
resistivos foi-se realizado no presente trabalho um planejamento experimental fatorial. Os
parâmetros analisados no planejamento fatorial , e nos testes de ponto central foram os de tempo
e temperatura, para que pudéssemos estudar os efeitos desses fatores sobre o resultado do
percentual de material fundido do alumínio reciclado a partir das embalagens descartadas, visto que
esta era resposta obtida em cada teste realizado.
As amostras utilizadas nas fundições eram provenientes de embalagens alimentícias
(coletadas em domicílios). Inicialmente elas foram submetidas à limpeza feita com acetona para
remoção de possíveis contaminantes, após feita essa limpeza deu-se o procedimento de corte das
amostras em dimensões de aproximadamente 2x2cm, para facilitar a troca térmica entre o forno e a
superfície do material e aumentar a reatividade química do processo, tais amostras ficaram
conforme mostrado na Figura 1 a seguir, que descreve o material utilizado incialmente para todos
testes.
Figura 1 - Material utilizado nos testes

Fonte: Autora, 2017

NÚMERO DE TESTES

Em um experimento fatorial com 2 níveis o número de corridas (ou testes) que devem ser
realizados é , onde k é o número de fatores (JURAN et al., 1951), uma vez que tínhamos 2
fatores (tempo e temperatura) para serem analisados passou-se a utilizar um esboço fatorial com
2 variáveis independentes, assim a execução do experimento fatorial possuía quatro corridas. Foram
realizadas ainda 3 corridas de ponto central, que permitem obter uma estimativa interna do erro
puro experimental (ACTION, 2017). Uma corrida é uma condição experimental, ou combinação de
níveis e fatores nas quais as repostas são medidas, e cada uma delas corresponde a um ponto do
experimento, seu conjunto completo, somado aos testes de ponto central, são o experimento.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 856


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ESCOLHA DOS NÍVEIS DE TEMPERATURA E TEMPO

A escolha para realização dos experimentos nos níveis de temperatura 700°C e 900°C, e dos
tempos de 10 minutos e 30 minutos, foi realizada como sendo parte da primeira etapa do
planejamento fatorial, as temperaturas escolhidas estão acima da temperatura de fusão do alumínio
e os tempos variam de 10 a 30 minutos para que possa ser analisado o efeito conjunto dos
parâmetros.
Para cada experimento foram feitas as variações nas temperaturas e tempo com uma taxa de
aquecimento constante de 8°C/min. O planejamento experimental com os 7 testes realizados é
exibidos na Tabela 1 a seguir, com os valores reais de temperatura máxima atingida e tempo de
permanência bem como seus valores codificados.

Tabela 14 - Atributos dos experimentos


Nº do Temperatura Temperatura Tempo (min.) Tempo
Teste Máxima (Variável (Variável
(°C) codificada) codificada)
1 700 -1 10 -1
2 700 -1 30 1
3 900 1 10 -1
4 900 1 30 1
5 (C) 800 0 20 0
6 (C) 800 0 20 0
7 (C) 800 0 20 0
Fonte: Autora, 2017

O valor de -1 representa os pontos em que cada fator assume valor mínimo (700°C e 10
min.), e o valor de 1 representa o valor máximo para os fatores (900 °C e 30min.). Cada teste é
caracterizado por uma combinação diferente, com exceção dos de ponto central, indicadas com (C)
na coluna referente ao número do teste, que são representados pela variável codificada 0 e
representa os valores 800°C e 20 min.

CONSTRUÇÃO DE GRÁFICOS DE CURVA DE TEMPERATURA

De acordo com a realização dos ensaios foram consideradas algumas informações afim de
que se fosse possível construir uma curva de temperatura diferente para cada corrida em que a
combinação dos fatores variasse.
Para tal, a primeira informação observada foi a de temperatura inicial de operação do forno,
e em seguida sabendo à que taxa a temperatura subia por minuto, foi possível prever em quanto
tempo o forno chegaria na temperatura do primeiro patamar estabelecido. Em todos os casos a
rampa de aquecimento foi equivalente a 8 °C/min e o primeiro patamar estabelecido foi de 300°C,
permanecendo nele por 30 minutos antes de começar a subir novamente até a temperatura máxima

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 857


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

desejada, após chegar na temperatura máxima desejada deixava-se a amostra no tempo pré-
estabelecido. Ao final, a temperatura voltava a cair até chegar a temperatura ambiente, com uma
taxa de resfriamento de 0,6 °C/min. Com esses dados facilmente se constroem os gráficos de curva
de temperatura, e se obtém uma ideia de quanto tempo o mesmo ficou em operação até a amostra
ser retirada.
Todos testes apresentaram uma curva de temperatura similar à que é mostrada no Gráfico 1
adiante, que é o gráfico referente ao teste 1.

Gráfico 5 - Curva de temperatura do teste 1, temperatura máxima de 700°C com tempo de permanência de
10 minutos.
Curva de Temperatura 1
800
700 700 700
Temperatura, °C

600
500
400
300 300 300
200
100
0 20 20
0 35 65 115 125 1258
Tempo, min

Fonte: Autora, 2017

PESAGEM E ANALISE DE DADOS NAS AMOSTRAS

Antes da realização das fundições eram feitas as pesagens das amostras em todos os
experimentos, e depois da realização das queimas no forno uma outra pesagem apenas do material
fundido em cada teste era feita.
Os dados das variáveis codificadas da tabela 1, mostradas anteriormente, foram levados para
o software Statistica, juntamente com o resultado obtido em cada teste para que se analisassem as
influencias dos parâmetros em estudo. Eles foram analisados de acordo com o modelo fatorial ,
com duas variáveis.
A resposta do experimento, dada de forma percentual foi obtida a partir da equação 1
abaixo.

𝑚𝑜 𝑓𝑢𝑛 𝑔
𝑚𝑜 𝑛 𝑔
(1)

Onde %F é percentual de fundição para cada teste, e a amostra fundida e inicial é dada em
gramas.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 858


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Para entender melhor os efeitos dessas variáveis no experimento será utilizado o Diagrama
de Pareto, que conforme é dito por Barbosa (2009) examina a sensibilidade dos parâmetros
estudados sobre a resposta de interesse. Assim, é possível indicar quais os parâmetros e interações
têm influências significativas sobre a variável resposta considerada, que aqui se trata do percentual
de fundição obtido em cada teste do experimento.
Para a análise os parâmetros ou fatores envolvidos no processo foi utilizada a metodologia
de superfícies de respostas, esta, como exposto em Barbosa (2009), é uma técnica baseada em
planejamentos fatoriais, em que a modelagem ajusta modelos simples às respostas obtidas no
planejamento. Gráficos de Superfície de Resposta são úteis para a análise de problemas onde a
resposta é influenciada por várias variáveis e o objetivo é a otimização da resposta.

RESULTADOS DOS TESTES

O primeiro experimento a ser realizado aconteceu com o parâmetro de temperatura máxima


correspondendo a 700°C e tempo de permanência nessa temperatura de 10 minutos, assim, a
temperatura se manteve nos 700°C por 10 minutos e então se iniciou o processo de redução da
temperatura, sendo a taxa de resfriamento equivalente a aproximadamente 0,6 °C/min, após 1133
minutos o forno se encontrava em 20°C e foi feita a retirada do material do forno mufla. O processo
completo, do aquecimento inicial ao resfriamento durou aproximadamente 20,97h. A Figura 2 exibe
como ficou a amostra após o processo.

Figura 2 - Resultado do Teste 1

Fonte: Autora, 2017

Pela figura 2, nota-se a diferença da superfície com relação ao que foi colocado, como pode-
se verificar a partir da figura 1, Teixeira (2015) chama a atenção para o fato de que o alumínio não
se encontra em seu estado natural nas embalagens e lacres, assim, essa camada superficial mais fina,
é proveniente de uma camada de resina que é usada para protegê-lo dos agressores, isso mostra que
apesar de a temperatura ter atingido valores acima do ponto de fusão o processo não foi suficiente
para que a essa camada sumisse completamente.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 859


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O processo completo do segundo experimento, em que a temperatura de 700°C se manteve


constante por 30 minutos, do aquecimento inicial ao resfriamento durou cerca de 21,31h. A Figura 3
mostra a peça fundida resultante deste teste.

Figura 3 - Resultado do Teste 2, material fundido

Fonte: Autora, 2017

O material fundido neste teste possuiu características semelhantes ao do primeiro, e foi


possível notar que um grande percentual do alumínio inicial não foi fundido, assim como no teste 1,
o que pode ser justificado pela temperatura, que foi a mesma para ambos os testes.
A variável temperatura máxima foi alterada para 900°C e o teste 3 foi realizado mantendo
esta temperatura por 10 minutos.
O processo total no teste 3 durou cerca de 1467 minutos, ou 24,44h, e neste teste a
quantidade de material fundido foi superior aos materiais obtidos nos ensaios anteriores.
Já no teste 4, onde os 900°C correspondentes à temperatura máxima se mantiveram
constantes por 30 minutos a duração do processo foi de 25,81h e as características da peça fundida
quanto a quantidade se assemelharam à fundida no teste 3.
Os testes 5, 6 e 7 se caracterizam como sendo os de ponto central, em que a temperatura foi
de 800°C, e o tempo de permanência nela foi de 20 minutos. Em média cada processo durou
aproximadamente 24h, e entre eles o material efetivamente fundido foi semelhante.
Uma observação a ser feita é com relação a retirada do alumínio fundido do cadinho de
porcelana nos testes, que pode ser bastante dificultada em virtude de sua solidificação na superfície.
Desta forma afim de facilitar a retirada da amostra fundida do cadinho, foi introduzida uma
interface de areia no fundo do mesmo em todos os experimentos. A areia possui um ponto de fusão
de 1713°C e ela funcionaria como proteção para que o material não se solidificasse na superfície do
cadinho.

RESULTADOS DO PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL FATORIAL E ANÁLISE DE


SUPERFÍCIE DE RESPOSTA

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 860


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Para todos os testes, que tratam da pesagem na analise das amostras, foram realizadas
medições da quantidade do alumínio colocado no forno antes do seu inicio de operação, ao fim da
queima do material nos tempos e temperaturas definidos era feita novamente a pesagem deste
material, entretanto apenas do que foi efetivamente fundido, a variação entre essas duas pesagens
configuram o percentual da fundição. Para o teste 2 por exemplo, foram colocadas 2,0549g do
alumínio reciclado, mas ao fim do processo de fundição, o alumínio que representava a peça
fundida pesava apenas 0,0943g, multiplicando esse último valor de 0,0943g por 100 e dividindo o
resultado desta multiplicação pela quantidade de alumínio colocada no inicio (2,0549g) obtém-se
percentualmente o valor do rendimento da fundição no teste, procedimento decorrente da equação 1
mostrada anteriormente, que para o caso citado acima é de aproximadamente 4,59%.
Tem-se na Tabela 2 abaixo a lista das combinações possíveis dos níveis escolhidos,
incluindo os de ponto central e o rendimento obtido como resposta à fundição do material metálico.

Tabela 15 - Resultados do percentual de fundição (%F) para as condições diversas de tempo e temperatura
Nº do Temperatura Tempo Peso inicial (g) Alumínio Rendimento da
Experimento (°C) (minutos) fundido (g) fundição %
1 700 10 2,0281 0,0511 2,5196
2 700 30 2,0549 0,0943 4,5886
3 800 20 2,0445 1,1594 56,7063
4 800 20 2,0220 1,1214 55,4599
5 800 20 2,0134 1,0943 54,3491
6 900 10 2,0344 0,8282 40,7098
7 900 30 2,0246 1,1683 57,7063
Fonte: Autora, 2017

Observa-se, mediante os resultados apresentados na Tabela 2, que o rendimento da fundição


tende a aumentar (exceto no experimento 6) à medida que a temperatura aumenta. Para entender
melhor os efeitos dessas variáveis no experimento ira-se utilizar o Diagrama de Pareto, mostrado na
Figura 4.

Figura 17 - Estimativa dos efeitos das variáveis temperatura (1) e tempo (2) na fundição de alumínio em
fornos resistivos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 861


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Fonte: Autora, 2017

A partir da figura 4 acima, é possível observar que os parâmetros temperatura (1), tempo (2)
e suas interações tem influências sobre a variável resposta considerada com nível de significância
de 95% entretanto nota-se que o parâmetro que apresenta influência mais significativa é a
temperatura (1). Este efeito positivo está associado a um aumento da variável resposta. Ou seja,
quanto maior a temperatura no interior do forno, maior será o percentual de alumínio fundido das
embalagens recicladas.
O modelo de superfície de resposta de ordem 2 e de curva de contorno (figuras 5 e 6) que
relaciona as temperaturas máximas atingidas e o tempo de permanência nessa temperatura ao
rendimento da fundição a nível de significância de 95% é mostrado a seguir.

Figura 18 - Superfície de resposta na determinação da porcentagem de fundição de alumínio em fornos


resistivos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 862


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Fonte: Autora, 2017

Figura 19 - Curva de contorno da porcentagem de fundição de alumínio

Fonte: Autora, 2017

As figuras 5 e 6 mostram que os ensaios nos níveis superiores foram os ótimos de resposta,
isto é, 900°C por 30 minutos, atingindo % fundição superiores a 70% entretanto percebe-se que
para outros tempos se mantendo a faixa de temperatura em 900°C o resultado também é satisfatório,
com mais de 50% de material fundido em todas as hipóteses para essa temperatura. Já para o nível
inferior de temperatura testado, 700°C, os resultados foram menos significativos uma vez que

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 863


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

apenas uma pequena quantidade do material inicialmente submetido ao teste foi efetivamente
fundido.
Assim, a superfície de resposta que é apresentada nas figuras 5 e 6 retrata os efeitos que
foram observados no diagrama de Pareto, ou seja, as melhores condições para que o rendimento de
fundição se caracterize como máximo estão localizadas nos níveis superiores dos parâmetros
analisados.
A reciclagem deste, e de outros tipos de materiais que provem de embalagens é uma
alternativa à minimização da poluição ambiental, Silva (2012) esclarece que dentro do contexto de
reciclagem, embora se esteja fazendo muito em nível mundial, são poucos os materiais aproveitados
no Brasil, ele comenta que esta perda é estimada em cerca de 4 bilhões de dólares por ano.
Ainda avaliando o viés da reciclagem do alumínio, em SENAC (2000) afirma-se que ela traz
benefícios ao meio ambiente e ao país, economizando matéria-prima e energia elétrica. Além disso,
a reciclagem reduz o volume de lixo enviado aos aterros sanitários e ajuda a manter a cidade limpa,
já que 76% do lixo, como comentado por Silva (2012) é jogado a céu aberto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da análise de influencia dos parâmetros tempo e temperatura foi possível verificar
que a eficiência da fundição do alumínio reciclado em forno do tipo resistivo tem como parâmetro
que mais influencia o processo a variável temperatura, visto que os melhores resultados são obtidos
quando esta se encontra em seu nível máximo estudado.
A faixa ótima de trabalho para a fundição do alumínio nos fornos resistivos, constatadas
através da análise de superfície de resposta foi de 900 °C de temperatura e 30 minutos de
permanência nessa temperatura.
O planejamento experimental mostrou ser uma ferramenta útil para a previsão e
simplificação do processo de fundição, além disso ele permite ainda analises mais complexas, que
englobem mais parâmetros, fazendo assim com que se obtenha um maior numero de previsões com
resultados importantes no que concerne a modelagem de dados e previsões quantitativas de erros.
Algumas sugestões para trabalhos futuros podem ser citadas e uma delas engloba a análise
de parâmetros como dimensão das placas, rampa de aquecimento, temperatura estabelecida para o
patamar, entre outros fatores que podem influir sobre o resultado final e podem ser objetos de novos
estudos.
Outra sugestão de suma importância a ser citada é a de se fazer a análise e caracterização
microestrutural do alumínio em todas as amostras, antes e depois da fundição, para que seja
possível obter informações sobre as propriedades do metal, utilizando por exemplo a espectrometria
de fluorescência de raios X, uma vez que estes ensaios possibilitam a análise da amostra fornecendo

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 864


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

resultados precisos sobre a composição elementar do material fundido (NASCIMENTO FILHO,


1999; COLPAERT, 1974). Só a partir desta análise se pode definir a qualidade metalúrgica do
alumínio fundido e determinar os ajustes necessários em sua composição química para que ele
possa ser reintroduzido no ciclo produtivo.
Por fim, vale salientar que a reciclagem deste tipo de material, apesar de ter uma menor
espessura e nível de contaminação que pode variar é muito importante para o desenvolvimento
sustentável uma vez que o alumínio proveniente de folhas e laminados é consumido crescentemente
pela população e mercado em geral.

REFERÊNCIAS

ABAL - ASSOCIACAO BRASILEIRA DO ALUMINIO. O Alumínio: Processo de produção.


Disponível em: <www.abal.org.br/aluminio/processos_reciclagem.asp>. Acesso em 11 de Fev.
2017

ACTION, Portal. Experimento composto central. 2017. Disponível em: <http://www.portal


action.com.br/622-631-delineamento-composto-central>. Acesso em: 17 maio 2017.

BARBOSA, Janaína Medeiros Dantas. Influência da areia argilosa na recuperação de petróleo por
injeção de vapor. 2009. 125 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciência e Engenharia de
Petróleo, Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2009.
Disponível em: <ftp://ftp.ufrn.br/pub/biblioteca/ext/bdtd/JanainaMedeirosDantasBarbosa_
DISSERT_01_35.pdf>. Acesso em: 17 maio 2017

COLPAERT, H. Metalografia dos Produtos Siderúrgicos Comuns, Editora Edgard Blücher Ltda,
São Paulo, 3ª ed., 1974.

JURAN, J.M.; GRYNA JR., F.M.; BINGHAM JR., R.S. (1951). Quality control handbook. 3. ed.
New York, McGraw-Hill. Cap.27, p.1-49.

KONDIC, V. Princípios Metalúrgicos da Fundição. Editora Polígono (USP), São Paulo, Brasil,
1973.

NASCIMENTO FILHO, V. F., Técnicas analíticas nucleares de fluorescência de Raios X por


dispersão de energia (ES-XRF) e por reflexão total (TXRF). Departamento de Ciências exatas
ESALQ, USP, SP. Julho,1999.

SALONITIS, Konstantinos et al. The Challenges for Energy Efficient Casting Processes. Procedia
Cirp, [s.l.], v. 40, n. -, p.24-29, 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 865


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SENAC. Brasil recicla mentalidade. Senac e Educação Ambiental, Rio de Janeiro, 9(1):32- 33,
2000.

SILVA, Pedro Celso Soares da et al. Estudo da viabilidade econômica do destino final do lixo
urbano de marechal cândido rondon, PR. Varia Scientia Agrárias, Rondon – Pr, v. 02, n. 02,
p.119-133, jul. 2012. Disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/varias
cientiaagraria/article/view/5206/5051>. Acesso em: 20 maio 2017.

VALENTIM, Antão Rodrigo; OLIVEIRA, Ivanir Luiz de. Reciclagem de folhas de alumínio em
forno elétrico à indução. Gestão Industrial, Ponta Grossa, v. 7, n. 2, p.217-231, 2011.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 866


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

TRATAMENTO DE AZUL DE METILENO ATRAVÉS DO PROCESSO DE


FLOCULAÇÃO IÔNICA USANDO TENSOATIVO DE ORIGEM VEGETAL

Yago Neco TEIXEIRA


Graduando do curso de Engenharia Química da UFERSA
yago.neco.teixeira@hotmail.com
Vitor Leão RODRIGUES
Graduando do curso de Ciência e Tecnologia da UFERSA
vitorodrigues37@live.com
Maria Neudna Diniz EVANGELISTA
Graduanda do curso de Ciência e Tecnologia da UFERSA
luednadiniz2@outlook.com
Ricardo Paulo Fonseca MELO
Professor Titular Doutor em Ciência e Tecnologia UFERSA
ricardo.melo@ufersa.edu.br

RESUMO
A água é o recurso mais valioso para o planeta e a contaminação dela por efluentes é um dos
principais problemas enfrentados pelas indústrias. Diante disto, este trabalho propõe o uso da
floculação iônica para remoção de azul de metileno da água. Este processo consiste na mistura de
tensoativos, obtidos a partir de óleo de girassol, com o poluente ao sistema e, posteriormente, a
adição de cálcio. O cálcio proporciona a formação de flocos de tensoativo insolúveis. Os flocos de
tensoativo atraem as moléculas do azul de metileno presente na água e, por sua vez, o floco
contendo o azul de metileno (AM) adsorvido pode ser removido por centrifugação. Neste estudo, a
floculação iônica foi avaliada variando os seguintes parâmetros: concentração de tensoativo,
presença de eletrólitos e pH. Foi obtida uma eficiência de remoção de até 69,31% com 0,02M do
NaCl para a concentração de tensoativo de 1000 ppm, demonstrando que a floculação iônica é um
processo eficiente para remoção do poluente da água.
Palavras chave: Floculação Iônica, Corantes, Efluentes têxteis, Tensoativo.

ABSTRACT
Water is the most valuable resource for the planet and a contamination through effluents is one of
the main problems faced by industries. In view of this, this work proposes the use of ionic
flocculation to remove methylene blue from water. This process consists in the mixture of
surfactants, obtained from sunflower oil, with the pollutant in the system and the addition of
calcium. Calcium provides a formation of insoluble surfactant flakes. The surfactant flakes attract
the methylene blue molecules present in the water which, in turn, the flake containing the adsorbed
methylene blue (AM) can be removed by centrifugation. In this study, the ionic flocculation was
evaluated by varying the following parameters: surfactant concentration, presence of electrolytes
and pH. A removal efficiency of up to 69.31% with 0.02M NaCl was obtained for a surfactant
concentration of 1000 ppm, demonstrating that ionic flocculation is an efficient process for removal
of the pollutant from water.
Keywords: Ionic Flocculation; Dyes; Textile Effluents; Surfactant.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 867


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

Vários processos de tratamento de efluentes têxteis estão em desenvolvimento. Porém, eles


apresentam várias desvantagens, por exemplo: muitos são caros e difíceis de manusear, produzem
grande quantidade de subprodutos, são lentos, requerem níveis de nutrientes adequados e têm uma
faixa de temperatura de trabalho limitada (PEIXOTO, 2013).
O tratamento de efluentes contendo corantes é uma preocupação crescente na indústria têxtil
devido ao visível impacto estético de um lançamento colorido sobre um corpo hídrico, bem como a
possíveis problemas de toxicidade Com isso, o aumento da eficácia e a redução do custo dos
processos de tratamento se tornam indispensáveis (DONADIA, 2009).
Embora vários processos de tratamento de efluentes têxteis estejam em desenvolvimento,
eles apresentam várias desvantagens: processos envolvendo a aplicação de agentes oxidantes, como
ozônio, reagentes Fenton e sonólise fotoquímica, são caros e difíceis de manusear, produzem
grandes quantidades de subprodutos e grandes quantidades de oxigênio dissolvido. Os processos
biológicos, apesar de não serem nocivos ao meio ambiente, são lentos, requerem níveis de
nutrientes adequados e têm uma faixa de temperatura de trabalho limitada (MELO, 2015).
Em razão disso, a utilização de tensoativo é uma alternativa viável uma vez que podem ser
obtidos a partir de matéria-prima de baixo custo como o óleo de girassol. Tensoativos são
substâncias anfifílicas (polar e apolar ao mesmo tempo). A parte apolar ou hidrofóbica de um
tensoativo normalmente tem origem em uma cadeia carbônica e a parte polar ou hidrofílica deve ser
formada por alguns átomos carregados, o que ocasiona a formação de um polo negativo ou positivo.
A parte polar proporciona afinidade da molécula pela água, conferindo-lhe certa solubilidade
(DALTIN, 2011).
A adição de cálcio (Ca2+) à solução de tensoativo mais efluente ocasiona a formação de sais
insolúveis do tensoativo, processo conhecido por floculação iônica. Esses sais se apresentam na
forma de flocos de tensoativo e podem ser separados da mistura por filtração ou centrifugação. Os
flocos de tensoativo apresentam um potencial de descontaminação significativo para compostos
orgânicos, devido à sua característica anfifílica.
O uso de tensoativo para o tratamento de efluente contaminado por o AM (poluente modelo)
é o objeto de estudo desse trabalho. O tratamento proposto está baseado na utilização de tensoativos
carboxilatos, que têm a vantagem de serem produtos de baixo custo e de baixa toxicidade. Os
tensoativos produzidos a partir de óleos vegetais não possuem cadeia carbônica ramificada nem
grupo aromático acoplado a mesma. Os compostos que apresentam essas características tornam-se
resistentes a biodegradação, pois a ramificação forma pontos de impedimento da oxidação e reduz
os elétrons disponíveis para a ação das desidrogenases específicas (OKPOKWASILI E OLISA,
1991).
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 868
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Outra vantagem é a utilização de baixas concentrações de tensoativos comparados a outros


processos, como a extração por ponto nuvem, que fazem uso destas moléculas. Vale destacar que a
floculação iônica é um novo tipo de processo de tratamento e requer estudos para avaliar quais as
medidas que podem ser tomadas para maximizar a eficiência e minimizar os custos.

MATERIAIS

Utiliza-se o corante azul de metileno (AM, massa molar = 319,85 g/mol, fórmula molecular:
C16H18N3SCl.3H2O) como corante para preparar o efluente sintético. O cloreto de cálcio (CaCl2,
marca Synth) é utilizado para realizar a floculação iônica e precipitar o tensoativo. Nas experiências
para avaliação do efeito pH, este é ajustado utilizando soluções de ácido clorídrico (1 M) e
hidróxido de sódio (1 M), ambos da marca Synth. Utiliza-se NaCl, P.A.-A.C.S., marca Synth, nos
experimentos para avaliar o efeito de eletrólitos no processo de remoção de corantes. Todos os
reagentes são de grau analítico.

MÉTODOS

Inicialmente, prepara-se a solução de azul de metileno (10 ppm), a partir de uma solução
mãe de 100 ppm. Logo após, as massas de tensoativo e CaCl2 são pesadas de modo a obter as
concentrações desejadas de tensoativo (500 a 1700 ppm) e cálcio, respectivamente, em solução. A
massa de CaCl2 é pesada de modo que a concentração de íons cálcio em solução seja metade da
concentração de tensoativo (A Tabela 1 contém os valores de massa de cada reagente),
proporcionando a reação do tensoativo com o íon cálcio, resultando na precipitação do tensoativo.
O tensoativo é então adicionado à solução de AM, dissolvendo o tensoativo nesta solução
com auxílio de um agitador da marca Novainstruments modelo NI 1103P. O cálcio sempre é
adicionado após a dissolução completa do tensoativo, fazendo-o precipitar e formar os flocos de
tensoativo. Este sistema é levado para agitação novamente por 5 minutos para promover a adsorção
do AM na superfície formada pelos flocos de tensoativo, removendo-o da água.
Logo após, as soluções são submetidas a uma centrifugação à 2000 rpm por 20 minutos em
centrífuga, marca OEM/Unbrand modelo 80-2B Tabletop, com finalidade de os flocos impregnados
com o AM do sistema serem separados. Após a separação, as amostras são analisadas em
espectrofotômetro, marca Gehaka modelo UV-340G, a fim de determinar a concentração final de
AM.

Influência da concentração de tensoativo

Para análise do efeito da concentração de tensoativo foi utilizada uma faixa de concentração
de 500 a 1700 ppm, variando de 100 em 100 ppm e mantendo-se fixa a concentração de AM na

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 869


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

solução em 10 ppm. Essa etapa é feita da seguinte maneira: As massas de tensoativo e CaCl2 para as
respectivas concentrações são pesadas; prepara-se o efluente a 10 ppm; dilui-se todo o tensoativo no
efluente com ajuda de agitador magnético; adiciona-se o CaCl2 para que ocorra a floculação iônica;
agita e em seguida centrifuga o efluente. Logo após é feita a análise em espectrofotômetro da
concentração final do efluente. As demais etapas são feitas de forma semelhante.

Influência de eletrólitos

As águas residuais têxteis apresentam alta concentração de eletrólitos, que são empregados
no tingimento especialmente com corantes diretos (MELO, 2015). Para avaliar a influência dos
eletrólitos, utiliza-se NaCl a concentrações de (0,02; 0,04; 0,06 e 0,08 M), a concentração da
solução efluente é fixa em 10 ppm e as concentrações de tensoativos foram de 1000 ppm e 1200
ppm. Vale ressaltar que concentrações de NaCl maiores que as citadas anteriormente foram
testadas. Porém, os resultados foram incompatíveis porque o NaCl floculava o tensoativo antes
mesmo que o CaCl2 fosse adicionado.

Influência do pH

Em experimentos para avaliar o efeito do pH, a solução do efluente foi fixada em


concentração de 10 ppm e a concentração de tensoativo em 1000 ppm, esta etapa pode ser realizada
para outras concentrações de tensoativo. Todavia, neste trabalho foi usada apenas a concentração de
1000 ppm de tensoativo. O processo foi avaliado a pH 7-12,5.
A etapa de ajuste do pH, é realizada após a adição do tensoativo ao efluente e antes da
adição do CaCl2.

Cálculo da eficiência de remoção

A eficiência de remoção de corantes é calculada usando a equação 01:

Onde, Conc.I é a concentração inicial de corante e Conc.F é a concentração de AM na fase


diluída, após a floculação com tensoativo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A seguir, são apresentados os resultados para as análises mencionadas anteriormente


(concentração de tensoativo, eletrólitos e pH).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 870


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Influência da concentração de tensoativo

O Gráfico 01 exibe o efeito da concentração de tensoativo.

90,00%

80,00%
Remoção

70,00%

60,00%

50,00%

40,00%
400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800
Tensoativo (ppm)

Gráfico 01: Remoção de AM vs Concentração de tensoativo.

A variação na concentração de tensoativo não altera consideravelmente a eficiência de


remoção de uma concentração para outra. Isto caracteriza que o processo é independente da
concentração de tensoativo na faixa de concentração de corante estudada. O uso de concentrações
de tensoativo abaixo desta faixa é inviável, pois a quantidade de tensoativo empregada não é
suficiente para produzir flocos capazes de serem separados por centrifugação devido à pequena
dimensão do floco.
A Figura 04 apresenta o resultado da floculação iônica. A Figura 05 apresenta a diferença
entre o efluente antes de passar por tratamento e o efluente após a floculação iônica. Como a
variação na concentração de tensoativo não altera substancialmente a eficiência de remoção, para as
próximas etapas a concentração foi fixada em 1000 ppm.

Figura 04: Processo de Floculação Iônica.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 871


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 05: Antes e depois da Floculação Iônica.

Como podemos ver na Figura 05, o tensoativo remove parte do AM da solução. Isso ocorre
devido a propriedade anfifílica do tensoativo, pois como o corante é de origem orgânica, terá uma
afinidade maior com a parte apolar do tensoativo do que com a água, consequentemente, uma parte
do AM será adsorvida pelo tensoativo e a outra parte continuará livre na solução.

Influência de eletrólitos

O Gráfico 02 exibe o efeito dos eletrólitos na solução.

70,00%
69,00%
68,00%
67,00%
Remoção

66,00%
65,00% 1000 ppm
64,00% 1200 ppm
63,00%
62,00%
61,00%
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10
Molaridades (NaCl)

Gráfico 02: Efeito da presença de eletrólitos em diferentes concentrações.

A adição do sal aumenta a eficiência de remoção, visto que os resultados para remoção do
Gráfico 02 são melhores que os resultados do Gráfico 01 (maior remoção no Gráfico 01 é de
60,72% enquanto a menor remoção no Gráfico 02 é 61,73%). Porém, a quantidade de sal
adicionada aumenta o efeito da salinidade reduz a eficiência de remoção. Isso se deve à competição
dos íons do sal com a cabeça polar do tensoativo, pois à solubilidade dos íons do sal é maior que a
solubilidade da parte polar do tensoativo. Consequentemente, há uma redução no valor da c.m.c.
(CURBELO, 2016).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 872


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Os resultados mostram que a máxima eficiência de remoção (69,31%) se encontra em 0,02M


do NaCl para a concentração de 1000 ppm e a menor eficiência de remoção (61,73%) em 0,08M do
NaCl para concentração de 1200 ppm. Com a elevada concentração de eletrólitos em solução, a
dissociação do tensoativo é desfavorecida, reduzindo a quantidade de tensoativo que reagiria com o
cálcio para formar o floco (MELO, 2015).

Influência do pH

O Gráfico 03 exibe o efeito da variação do pH na solução.

70
Remoção (%)

60

50

40
8 9 10 11 12 13
pH

Gráfico 03: Efeito da variação do pH da solução.

O pH foi avaliado entre 7 e 12,5. A Figura 06 ilustra o processo. Da esquerda para direita:
pH 7, pH 8, pH 9, pH 10, pH 11, pH 12 e pH 12,5.

Figura 06: Análise do efeito pH.

A pH 7 e 8 as soluções tornam-se turvas, impossibilitando uma análise eficiente. Isto ocorre


porque o tensoativo volta aos seus ácidos graxos respectivos, impedindo a formação de flocos
devido à ausência de ânions carboxilatos, tornando o processo inviável (MELO, 2015).
A pH 12,5 ocorre uma mudança na coloração da solução (passando de azul para violeta).
Com essa mudança de coloração a análise se torna ineficiente para os parâmetros usados para as

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 873


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

demais amostras, sendo necessário avaliar novos parâmetros (comprimento de onda ideal para
análise espectrofotométrica) para fazer a análise para o pH 12,5.
Durante as análises verificou-se que, sem ajustar o pH, as amostras apenas com o efluente
têm pH entre 7-8 e as amostras com efluente mais tensoativo têm pH entre 9-10, o que corresponde
ao pH resultante das reações entre ácidos graxos com bases fortes.
O Gráfico 03 mostra que um pH entre 11-12,5 produz os melhores resultados. Para pH 12,
com 1000 ppm de tensoativo, a remoção de corantes atinge 67,12%, um aumento de 13,17% em
relação às experiências nas mesmas condições sem o ajuste do pH (pH 9,2).

CONCLUSÃO

A floculação iônica mostrou ser um método eficiente de tratamento de efluentes, podendo


ser usada não só para o AM, mas também para outros corantes. A partir dos resultados, conclui-se
que os melhores resultados de remoção são obtidos quando a solução tem pH 12 com uma
concentração de tensoativo de 1000 ppm, existe uma concentração mínima de tensoativo (500 ppm)
para realizar a remoção do AM, a presença de eletrólitos na solução aumenta a eficiência de
remoção do tensoativo, porém, a medida que a quantidade de sal adicionada aumenta a eficiência de
remoção diminui, pois o aumento de eletrólitos irá causar uma competição entre os íons dos sais e o
aumento do pH melhora o processo de tratamento do efluente, análises em pH 7 e pH 8 são
ineficientes, já que o tensoativo volta a seu estado de ácido graxo e análises a pH 12,5 são
ineficientes, pois ocorre uma mudança na coloração da solução.

REFERÊNCIAS

CURBELO, F.D.S. et al. Estudo da adsorção do tensoativo não iônico Ultranex NP 150 no arenito.
2016. Disponível em: < file:///C:/Users/Cliente/Downloads/galoa-proceedings--cobeq-2016-
40336-estudo-da-adsorc.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2017.

DALTIN, D. Tensoativos- química propriedades e aplicações. 1ª Ed. São Paulo: Blücher, 2011.

DONADIA, J.F; LELIS, M.F.F. Caracterização de Resíduo de Ferro Gerado pelo Beneficiamento
do Granito e sua Utilização na Degradação de Corante Têxtil. 2009. Disponível em:
<http://www.abq.org.br/cbq/2009/trabalhos/5/5-545-989.htm>. Acesso em: 16 abr. 2017.

MELO, R. P. F. Removal of direct Yellow 27 dye using animal fat and vegetable oil-based
surfactant. 2015. Disponível em:
<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2214714415300209 >. Acesso em: 20 mar.
2015.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 874


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MELO, R. P. F. Remoção de corantes utilizando tensoativos: extração por ponto de nuvem e


floculação iônica. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN,
Natal – RN, 2015.

OKPOKWASILI, G. C; OLISA, A. O. Determinação da concentração micelar crítica de


tensoativos obtidos a partir de óleos vegetais para uso na recuperação avançada de petróleo.
2007. Disponível em:
<http://www.portalabpg.org.br/PDPetro/4/resumos/4PDPETRO_2_1_0072-2.pdf>. Acesso em:
05 mar. 2017.

PEIXOTO, F. et al. Corantes têxteis: Uma revisão. 2013. Disponível em:


<file:///C:/Users/Cliente/Downloads/1239-5521-1-PB.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 875


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ecopedagogia,
Ensino e Pesquisa

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 876


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

IMPORTÂNCIA DE AULAS DE CAMPO/VISITA TÉCNICA PARA A MELHORIA


DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS ALUNOS DO INSTITUTO
FEDERAL DO MARANHÃO - CAMPUS BURITICUPU
E COELHO NETO-RELATOS DE EXPERIÊNCIAS

Iracélia da Silva Neres PEREIRA


Graduanda de Biologia do IFMA
celiaduda6@gmail.com
Rivânia da Silva LIRA
Professora de Biologia do IFMA
rivania.lira@ifma.edu.br
Damiana Nunes ALVES
Aluna de Biologia do IFMA
Anny.danny20@hotmail.com

RESUMO
Dentro do âmbito organizacional dos Institutos Federais – IFs existem as visitas técnicas. Visita
Técnica é um componente extra-curricular que visa estreitar o relacionamento entre o ambiente
escolar e o ambiente empresarial e social, ampliando para o aluno a visão das realidades onde estará
inserido. As Visitas, que podem ser técnicas, a eventos ou feiras envolvem todos os componentes
curriculares ofertados, devendo ocorrer durante o período letivo, segundo normativas aprovadas e
determinadas pelos IFs. Portanto é objetivo geral deste artigo demonstrar a importância destas
visitas para a melhoria da percepção ambiental dos alunos do IFMA-Campus Buriticupu e Coelho
Neto. Foram realizadas 08 visitas realizadas, tendo a participação de alunos do ensino técnico de
diferentes áreas(Campus Buriticupu e Coelho Neto) e alunos do superior especificamente do curso
de biologia do Campus de Buriticupu com a disciplina de biologia/meio ambiente nos cursos
técnicos e disciplinas especificas do curso de biologia.
Palavras-chave: Visita técnica; percepção ambiental.
ABSTRACT
Within the organizational scope of the Federal Institutes -Is there are technical visits. Technical
Visitation is an extra-curricular component that aims to strengthen the relationship between the
school environment and the business and social environment, expanding to the student the vision of
the realities where it will be inserted. Visits, which may be technical, to events or fairs, involve all
the curricular components offered, and must occur during the school year, according to norms
approved and determined by the Ifs. Therefore it is the general objective of this article to
demonstrate the importance of these visits for the improvement of perception Environmental
assessment of the students of the IFMA-Campus Buriticupu and Coelho Neto.There were 08 visits
made, with the participation of technical education students from different areas (Campus
Buriticupu and Coelho Neto) and students from the Biology course of Buriticupu Campus with The
discipline of biology / environment in technical courses and specific subjects Biology course.
Keywords: Technical visit, environmental perception.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 877


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

Em uma aula de campo os alunos/pesquisadores tem a oportunidade de aprender


metodologias de pesquisas ligadas as anotações de mão livre, usando desde o rascunho científico
até ao diário de pesquisa o desenvolvimento de técnicas de fotografias e manejo de equipamentos
de observação. Segundo Franco (1985) numa pesquisa em que a abordagem é basicamente
quantitativa, o pesquisador se limita à descrição factual deste ou daquele evento, ignorando a
complexidade da realidade social. Ao inserir a aula de campo no seu planejamento o professor
impulsiona os seus alunos a ampliar seus olhares as questões espaciais que os envolvem facilitando
assim o ensino-aprendizagem. Dentro do âmbito organizacional dos Institutos Federais – IFs
existem as visitas técnicas. Visita Técnica é um componente extra-curricular que visa estreitar o
relacionamento entre o ambiente escolar e o ambiente empresarial e social, ampliando para o aluno
a visão das realidades onde estará inserido. As Visitas, que podem ser técnicas, a eventos ou feiras
envolvem todos os componentes curriculares ofertados, devendo ocorrer durante o período letivo,
segundo normativas aprovadas e determinadas pelos IFs. Portanto é objetivo geral deste artigo
demonstrar a importância destas visitas para a melhoria da percepção ambiental dos alunos do
IFMA-Campus Buriticupu e Coelho Neto sendo ainda um instrumento metodológico que serve de
enriquecimento para o processo de ensino-aprendizagem; conhecer sobre os aspectos ambientais
dos locais visitados; Desenvolvendo o lado crítico dos estudantes com relação as suas observações e
análise entre seus conhecimentos adquiridos em sala de aula e a prática.

METODOLOGIA

A pesquisa foi inicialmente qualitativa e em seguida tendo uma visão mais ampla, uma etapa
de fase exploratória. As observações foram feitos principalmente por relatos orais dos alunos que
participaram das visitas técnica e através de relatórios solicitados aos mesmos ao fim de cada visita,
relatório este que vale salientar que faz parte das normativas dos IFs no que se refere a visita
técnica, totalizando durante quatro anos,08 visitas realizadas, tendo a participação de alunos do
ensino técnico de diferentes áreas(Campus Buriticupu e Coelho Neto) e alunos do superior
especificamente do curso de biologia do Campus de Buriticupu com a disciplina de biologia/meio
ambiente nos cursos técnicos e disciplinas especificas do curso de biologia.

DISCUSSÃO

Durante quatro anos foram realizadas 08 visitas para lugares diferentes, mais todos voltados
a meio ambiente/percepção ambiental e partindo sempre do pressuposto de que a EA é de suma
importância para a mobilização do pensamento critico e desenvolvimento de uma consciência

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 878


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ambiental, e que a escola deve assumir um papel primordial na educação formal, isso porque é na
escola, principalmente, no Ensino Médio que se podem observar os interesses dos alunos, quando se
desenvolvem atividades que estimulam a participação tornando-os sujeitos ativos no processo de
ensino aprendizagem. (NOGUEIRA et..al, 2011 apud SILVEIRA, 2002).Segundo Nunes(1988, p.
22), a educação é o instrumento que a longo e médio prazo seria capaz de modificar a relação
prejudicial que se estabeleceu entre o homem e a natureza ao longo de sua evolução. A percepção
ambiental pode ser vista como um dos meios para a compreensão do mundo pelos indivíduos
(LARRATÉA et al., 2007), já que trabalha com os sentidos de cada um.
Assim as visitas também tinham objetivos de despertar o respeito ao meio em que vivem
podendo com este contato direto ―percebesse‖ como parte do meio e as consequências de ações
antrópicas sobre o meio, sendo questionados sobre dificuldades de sensibilização e o não cuidar
daquilo que os rodeiam, enfocando que a percepção é uma construção individual realizada através
de vivências, ao final de cada visita observou-se claramente as mudanças no modo de pensar e agir
destes alunos, sendo considerada como avaliação satisfatória na maioria das visitas, levando em
consideração ao fator tempo os alunos do nível técnico sentiram-se insatisfeitos e os alunos do nível
superior foram prejudicados, mais não interferindo nos resultados, observou-se para o ensino
superior, a capacidade de entendimento destes alunos facilitou o resgate oral mediado pelo
professor enquanto os do nível médio necessitou mais de embasamento teórico, verificou-se como
positivo a receptividade das atividades sugeridas pelo professor tanto no nível técnico como no
nível superior, O alto índice de respostas positivas para o nível técnico e superior se deve ao fato de
que, em feed-back do professor, as atividades contemplaram a dimensão lúdica necessária para o
entendimento desses alunos, tornando-se de fácil compreensão por parte deles.

ALGUNS RELATOS

―Esta aula em campo nos propiciou um momento de grandes e marcantes experiências, este
contato próximo com vestígios reais e concretos nos confirmou algo que talvez não fosse aceito
apenas com aulas expositivas de fotos ou vídeos na sala de aula, a percepção de clima, vegetação, e
solo diferente da nossa localidade reforça que foi um momento riquíssimo de aprendizagem não só
para a disciplina de paleontologia, mas para todo um contexto de aluno do curso de biologia, e
como cidadã, o contato com uma outra cultura, com forma de falar diferente da nossa, sem dúvidas
uma experiência muito significativa para o acadêmico.‖ ALUNO 01-8°PERIODO

―A viagem foi muito proveitosa tanto pra matéria de paleontologia quanto pra de
fanerógamas porque podemos saber como se conserva as pegadas e como e feito uma área de
preservação e podemos ver também as rachaduras sedimentar que estamos estudando elas agora em

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 879


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

geologia por isso acho que podemos aprender tudo que nos foi oferecido.‖ ALUNO 02-
8°PERIODO

―O objetivo da visita ao morro dos Garapenses foi poder conhecer um pouco da sua historia
com ajuda do guia Francisco Carlos, poder também colocar em prática conteúdos desenvolvidos em
sala de aula pela professora Rivânia Lira que contribui bastante para que essa visita pudesse
ocorrer.‖ ALUNO-3°ANO TÉC. EM ADM.

―Com a aula prática, foi possível conhecer a história do vale dos dinossauros, que os
dinossauros viveram no período do cretáceo inferior e quais eram essas espécies, além de podermos
observar o clima e a vegetação da região, proporcionando assim aos acadêmicos, um novo
conhecimento.‖ ALUNO 04-7°PERÍODO

CONCLUSÃO

Podemos perceber que as contribuições de uma visita técnica são múltiplas, pois possibilita
ao professor e aos estudantes a visualização mais clara acerca dos conteúdos estudados em sala de
aula e que o desenvolvimento das atividades de percepção ambiental atingiu um número substancial
de alunos, os quais foram desafiados a passar adiante as informações que receberam, sendo possível
perceber o interesse do público nos temas trabalhados, porém, resultados mais concretos somente
serão possíveis com a continuidade das atividades onde os alunos terão uma oportunidade maior de
conhecimento e aplicabilidade de do que foi aprendido.

REFERÊNCIA

NOGUEIRA, B. G. S.; GONÇALVES, G. M.; MENEZES, R. V.; RODRIGUES, R. Educação


Ambiental: a relação entre as aulas de Campo e o conteúdo formal da Biologia. X CONGRESSO
NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCERE. I Ensino, Saúde e Ambiente – V8 (2), pp. 25-36,
Agosto, 2015 ISSN 1983-7011 36 SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS, SUBJETIVIDADE E EDUCAÇÃO – SIRSSE. Pontifícia Universidade Católica do
Paraná – Curitiba, 2011.

NUNES, Ellen Regina Mayhé. Educação Ambiental: Princípios e Objetivos. Revista da Educação
AEC, n. 68, Porto Alegre, 1988.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 880


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

LEITURA DE CARTA TOPOGRÁFICA COMO INSTRUMENTO E RECURSO


DIDÁTICO PARA AULAS NO ENSINO BÁSICO

Renaildo Santos da CONCEIÇÃO


Graduando do Curso de Geografia da UESB
renaildosanttos@hotmail.com
Edvaldo OLIVEIRA
Profº Dr. do Departaemnto de Geografia da UESB
edvaldocartografia@gmail.com
Lucas Libarino BARBOSA
Graduando do Curso de Geografia da UESB
lucas_kais@hotmail.com
Jonathan Aurélio Sousa Sales SILVA
Graduando do Curso de Geografia da UESB
jonathanaurelio.sss@gmail.com

RESUMO
Este artigo apresenta um instrumental e material didático alternativo para o uso de leituras de Cartas
Topográficas no Ensino Básico, cuja atividade tem como objetivo levar os alunos a melhor
conhecer seu espaço vivido e tornar o uso da Cartografia uma atividade mais prazerosa. Para a
leitura, usou-se as Cartas Topográficas analógicas folhas Poções, Vitória da Conquista, Itapetinga e
Jequié. Os procedimentos para a leitura levou em conta o Canevá, grade fixa para leitura de cartas
baseado na metodologia adotada por Diniz (1988), apoiada pelos procedimentos propostos por
Libault (1971), a partir dos desdobramentos dos níveis de análise: compilatório, correlatório,
semântico e normativo. A pesquisa foi realizada em forma de oficina com trinta e dois graduandos,
dois professores de Geografia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e quatro
professores da rede de educação básica da cidade de Vitória da Conquista-BA. Os resultados
mostram que leituras de Cartas Topográficas podem ser utilizadas no Ensino Básico com a mesma
metodologia proposta neste trabalho.Verificou-se também que este exercício poderá fomentar nos
alunos um sentimento de agentes leitores do espaço e que são muitas as curiosidades que poderão
surgir neste momento, uma vez que com a carta posta sobre a mesa, os estudantes têm a
oportunidade de viajar pelo seu espaço representado.
Palavras Chave: Leitura espacial. Carta Topográfica. Realidade local. Educação Básica.
ABSTRACT
This article presents an instrumental and alternative didactic material for the use of topographic
letter reading in basic education, whose activity aims to get students to better know their lived space
and make the use of cartography a more pleasurable activity. For reading, it was used the analogue
charts Potions sheets, Vitória da Conquista, Itapetinga and Jequié, all located in the State of Bahia.
The procedures for reading took into account Canevá, fixed grid for reading letters based on the
adopted methodology By Diniz (1988), supported by the procedures proposed by Libault (1971),
from the unfolding levels of analysis: compilatory, correlative, semantic and normative. The
research was made in the form of a workshop with thirty-two graduates, two professors of
Geography of the State University of Southwest of Bahia (UESB) and four teachers of the basic
education network of the city of Vitória da Conquista-BA. The results show that readings of
topographic letters can be used in basic education with the same methodology proposed in this

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 881


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

work. It was also verified that this exercise may provide students with a feeling of agents readers of
the space and that there are many curiosities that may arise in this moment, since with the letter
placed on the table, students have the opportunity to travel through their represented space.
Keywords: Space reading. Topographic Letter. Local reality. Basic education.

INTRODUÇÃO

A leitura de Cartas Topográficas traz consigo um histórico desde suas primeiras


representações, quando a cartografia passou a representar as feições dos terrenos, trazendo
elementos espaciais como a informação do relevo através das hachuras. Dessa forma, observa-se a
importância desses documentos, uma vez que passaram a ser utilizados no planejamento espacial.
Com os avanços das técnicas cartográficas e ampliação conceitual do uso da cartografia
sistemática, as cartas topográficas passaram a ser utilizadas em grandes espaços e em escalas
diferentes, como a adotada no sistema cartográfico nacional, empregando as escalas pequenas:
1:1 000 000 e em escalas médias variando entre 1:500 000 e 1:250 000. Daí para as escalas
maiores, 1:100 000, 1:50 000 e 1:25 000. Assim, a importância da Carta Topográfica passou, para
além do uso enquanto técnica cartográfica representada para a sua leitura.
No que concerne a utilização da Cartografia nas aulas de Geografia no Ensino Básico, é
visível o despreparo de muitos professores e falta de ânimo dos alunos em estudar/analisar mapas e,
principalmente, na falta de ferramentas e habilidades para interpretação dos dados cartográficos,
tanto de alguns professores e para a maioria dos alunos. Isto porque muitas das atividades realizadas
em salas de aula têm sido baseadas em decoração/codificação de mapas, muitas das vezes lendo um
espaço distante do aluno. Salienta-se que trabalhar com o espaço local dos alunos em mapas não é
uma tarefa fácil, uma vez que há escassez de bases cartográficas sistematizadas referentes ao espaço
vivido do aluno e quando se tem as informações são genéricas.
Por esta razão, este trabalho visa estabelecer um instrumental e material didático para
professores que trabalham com leituras de Cartas Topográficas no Ensino Básico, com uma
perspectiva de tornar o uso de mapas e cartas em atividades mais prazerosas para os estudantes do
Ensino Básico, assim como uma tentativa de levar os estudantes a melhor conhecer seu espaço de
vivência, isto é, a estudar, analisar e avaliar os aspectos representados no espaço vivido ou próximo.
Entretanto, a priori, é necessário enfatizar que muitas vezes o termo mapa é confundido com a Carta
Topográfica e vice-versa. Sabe-se que um conjunto de cartas resulta em um mapa. Nesse sentido,
parecem sinônimos. Assim, nesse artigo, será utilizado para se referir a leitura tanto da carta quanto
do mapa.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 882


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A PROPOSTA DO TRABALHO DE LEITURA DE CARTAS TOPOGRÁFICAS PARA O


ENSINO BÁSICO

Com a atividade de leituras de cartas topográficas no Ensino Básico, o professor estará


realizando um exercício que tornará os estudantes em indivíduos que conhecem um pouco mais dos
aspectos representados no espaço, e, consequentemente, tornará estes alunos em leitores do espaço e
com atitudes frente à discussão e possíveis tomadas de decisão sobre ações de seu território local.
Decerto que, a prática da leitura de carta ou mapa conduzirá o aluno ao desenvolvimento de
novas habilidades e atitudes, deixando-o seguro em suas análises/pesquisas, nas formulações de
generalizações e possíveis conclusões. A atividade de leituras de Cartas Topográficas do espaço
vivido do aluno prescinde uma decodificação de seu espaço que conduzirá a aquisição de um
conjunto de conhecimentos e habilidades sistematizadas, ou seja, com a leitura os estudantes
acrescentarão informações de seu espaço que foram acumuladas ao longo de sua vida. Dessa forma,
podem contrapor o senso comum e a realidade visível com as informações que estarão sendo
apuradas no ato da leitura. Neste momento, a percepção do aluno sobre seu espaço está sendo
aguçada e ao concluir a leitura, terá uma nova ótica a respeito deste espaço que foi lido/mapeado.
Segundo Passini ―A aquisição para leituras de mapas deve ser entendida como o processo de
aquisição, pelos alunos, de um conjunto de conhecimentos e habilidades, para que consigam efetuar
a leitura do espaço, representá-lo e desta forma construir os conceitos das relações espaciais.‖
(1994, p. 9).
A leitura e compreensão de Cartas Topográficas já concebem no aluno uma capacidade de
mudança qualitativa, uma vez que este estará contrapondo a visão cotidiana com abordagem mais
técnica (as informações formuladas na Carta Topográfica), o que não significa que o processo
cognitivo não esteja presente. Almeida e Passini no campo da percepção espacial por meio da
leitura de mapas e cartas, destacam que a ― representação do espaço através de mapas permite ao
aluno atingir uma nova organização estrutural de sua atividade prática e da concepção do
espaço.‖(2011, p. 13). Portanto, estará sendo formado no aluno aprendizagens significativas em
relação ao seu espaço, e assim manter este processo, criando novas formulações.
É importante ressaltar que com leituras de Cartas Topográficas o estudante será, também,
conduzido a formular conceitos próprios, isto é, nova organização estrutural da concepção de seu
espaço e sobre a dinâmica topográfica de sua região e, logo em seguida, para uma escala maior,
uma vez que se desenvolve no aluno uma perspectiva de uma formulação própria e não de
reprodução. Essa prática fortalece uma autonomia no estudante leitor de cartas e mapas, ao
refazer seus conceitos, como analisa Kaercher:

Ao construir conceitos, o aluno realmente aprende, por exemplo, a entender um mapa, a


compreender relevo, o que é região, nação, município. Ao conhecer, analisar e buscar

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 883


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

explicações para compreender a realidade que está sendo vivenciada no seu cotidiano, ao
extrapolar para outras informações e ao exercitar a crítica sobre essa realidade concreta,
teorizar sobre ela e construir o seu conhecimento. Ao construir conceitos, o aluno aprende e
não fica apenas na memorização.(KAERCHER, 2010, p. 61).

São muitos os aprendizados e maneiras que a cartografia oferece àqueles que a utiliza. Por
este motivo que o professor deve incentivar em seus alunos os métodos para fazer o uso da
cartografia, para que os mesmos tenham um prévio conhecimento teórico antes de partir para a
prática. Feito isso, as descrições vazias serão evitadas e superadas, como afirma Simielli (1996), ao
destacar que os professores de Geografia devem e podem usar cada vez mais a cartografia nas aulas,
pois ela facilita a leitura de informações para os estudantes e permite um domínio do espaço de que
só os alfabetizados cartograficamente podem usufruir.

PROPOSIÇÃO/ADAPTAÇÃO DE GRADE PARA LEITURA DE CARTAS TOPOGRÁFICAS

Os avanços das análises propostas por Libault (1971) para leituras do espaço em seus
respectivos níveis permitem uma aplicação à leitura de Cartas Topográficas proposta nesse trabalho.
Já o trabalho de Diniz (1988), resulta em uma matriz ou grade fixa denominado Canevá.
Trata-se de uma matriz, na forma de quadro em que são extraídas informações gerais (qualitativas)
e depois no formato quantitativo, que permitem uma leitura sistematizada da carta, sem perder a
visão da totalidade. Nesse ponto tem sido feitas adaptações das matrizes, nos mais diversos
formatos, de maneira a manter a qualidade das análises e que facilitasse, com a redução do tamanho
da matriz original.
Tais experimentos levaram à leitura de cartas pelo modelo adotado por Diniz (1988) e pelos
níveis propostos por Libault (1971). Nesses casos, as adaptações levaram a adoção de dois modelos:
o modelo analógico e o digital.
O modelo analógico (adotado nesse trabalho) ou matricial, desenvolvido por Diniz, com
suas respectivas adaptações, traz uma leitura da carta em meio impresso, com separação das
variáveis ou das feições representadas nas cartas topográficas, conforme apresentada adiante. Para
evitar a fragmentação das feições, é feita uma síntese no final do documento em que se associa os
fatos correlacionando-os.
No caso dos níveis de análise propostos por Libault: compilatório, correlatório, semântico e
normativo, embora a princípio não se aplicava à leitura da carta topográfica, os quatro níveis
assinalam uma forma de fazer a leitura apontando para uma pesquisa regional, na forma de
compilação de dados e informações, seguido pela leitura dos dados, sistematizando-os. Nesse caso,
a extração dos dados da carta já indica uma série de informações como rede de drenagem, rede
viária e entre outros, que chamou-se de nível compilatório. Os dois últimos níveis remetem ao

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 884


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

semântico, haja vista que faz-se uma análise dos fenômenos representados de forma mais geral, e o
normativo, que evidencia os resultados mais normatizados, apresentados como produto final.
É desse processo metodológico e da necessidade de voltar à leitura de documentos
cartográficos em geral, particularmente da carta topográfica, que a proposição deste trabalho torna-
se relevante. Diniz (1988), faz um alerta sobre a falta de prática de leitura e uso de documentos
cartográficos, não só no nível médio, mas também, no nível superior, a saber nos cursos de
graduação e dos próprios profissionais de Geografia. Ratifica ainda que as análises de cartas
topográficas é uma etapa essencial na extração de informações, ainda que, essa atividade deveria
fazer parte da formação mínima de geógrafos.

PROCEDIMENTOS ADOTADOS PARA A LEITURA DE CARTA TOPOGRÁFICA

São apresentados dois modelos de análise da carta topográfica, a saber, analógico e digital.
O modelo de leitura analógico apresenta uma técnica manual que permite separar os campos dos
fenômenos ou categoria de análise. Assim, o leitor/mapeador pode realizar uma descrição
minuciosa do fenômeno, analisar e extrair conclusões pertinentes ao fato em estudo. Dentre as
metodologias aplicadas à leitura das cartas topográficas, destaca a forma livre. No entanto, com a
melhoria das técnicas de representação e da necessidade de extrair mais informações desses
documentos cartográficos, tornou-se necessário a adoção de métodos de leituras mais apurados, que
permitisse a extração de informações em separado, sem perder a noção geral da carta. Destaca-se
ainda, que é possível fazer a leitura analógica concomitante com a leitura digital, em softwares de
geoprocessamento.
Dessa forma, novas metodologias foram abraçadas, levando em conta a adoção de matrizes
que separassem as feições apontadas na carta, culminando com uma leitura de síntese. Nesse
sentido, as propostas de Libault e Diniz, além de outros autores que adaptaram essas metodologias,
apontam para uma nova forma de olhar a carta topográfica para além da técnica pela técnica, da
carta pela carta, permitindo extrair informações que antes não saltavam aos olhos do leitor.
Nos procedimentos propostos por Libault, (1971), tomado como base para este trabalho,
para leitura de Carta Topográfica, o leitor deve se debruçar nos níveis, onde o nível compilatório
envolve o levantamento de dados que podem resultar de recenseamentos, pesquisa direta ou
consulta de banco de dados. O correlatório, consiste na análise de dados. Chama a atenção para que
sejam verificados a homogeneidade e comparabilidade dos dados; a ordenação dos dados antes de
passar para a análise definitiva, entre outros. No semântico, busca-se a localização dos problemas
parciais para organizar os elementos dentro de um problema global. Por último o nível normativo
que envolve a tradução dos resultados fatoriais em normas aproveitáveis.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 885


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Levou-se em conta, também, alguns dos procedimentos para leituras de Cartas Topográficas
baseado na metodologia adotada por Diniz (1988) que trata desta atividade como Canevá, em que a
leitura é executada por meio das informações externas e as feições internas da carta.
Na leitura externa, na grade de observação/descrição, o aluno deverá anotar as informações
do exterior da carta: nome da carta/mapa, escala, data de elaboração , municípios que margeiam a
carta, índice de nomenclatura e fonte. É preciso salientar que o professor precisa explicar sobre o
conceito de escala para os alunos. Com a leitura externa, o professor irá sintonizando os alunos com
a carta, aguçando possíveis curiosidades e preparando-os para a leitura interna da carta topográfica.
Na leitura interna, o aluno deve ser instigado a aprofundar ainda mais a leitura da carta ou
mapa, momento em que o professor deverá levar os alunos a pesquisar, analisar, avaliar e chegar a
conclusões sobre o relevo, a hidrografia, as vias de circulação, os lugares habitados, entre outros.
Neste momento o aluno deve ser encarregado de mapear o espaço que está sendo lido. Para
isso o professor precisa revisar os conceitos dos temas acima descritos, conduzindo os alunos a
interpretar o relevo a partir das curvas de nível e altimetria, para entender a topografia da carta em
estudo e, em seguida, as redes hidrográficas para chegar a uma conclusão sobre os recursos
hídricos, verificando os possíveis problemas e potencialidades.
Nas vias de circulação, devido a dificuldade para interpretar estes aspectos, no Ensino
Básico, é interessante que o professor tenha como estudo apenas as rodovias, na tentativa de indagar
nos estudantes sobre o acesso deste espaço que está sendo lido (se as localidades são ou não de fácil
acesso). Para avaliar o uso da terra, o professor deverá conduzir os estudantes a mapear as possíveis
concentrações de fazendas e pequenas cidades, distritos e povoados presentes na carta.
Após a descrição, o professor montará um quadro para associação entre os pontos
observados. Neste momento chega-se ao ponto fundamental da análise que remete a associação
entre os fatos e a extração de conclusões, para o Ensino Básico se torna limitado, mas, com
experiência se consegue uma análise mais completa, (DINIZ, 1988). É interessante que o professor
incentive uma discussão coletiva ao término da leitura para reforçar o trabalho e cosntrução de
conhecimento coletivo, assim como aumentar ainda mais o leque de informações de cada aluno. É
preciso enfatizar que com essa discussão coletiva, o professor poderá avaliar ainda mais sobre o
aprendizado dos alunos.

PROCEDIMENTOS REALIZADOS NA PESQUISA

Para a realização deste trabalho foi necessário uma revisão bibliográfica sobre o uso de
mapas no ensino da educação básica, tendo como base os estudos de Passini (1994), Kaercher
(2010) e Simielli (1996). Os procedimentos para a leitura de Cartas Topográficas levou em conta o
Canevá, baseado na metodologia adotada por Diniz (1988), apoiada pelos procedimentos propostos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 886


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

por Libault (1971) a partir dos desdobramentos dos níveis de análise: compilatório, correlatório,
semântico e normativo.
Na execução da leitura, utilizou-se as Cartas Topográficas analógicas de Poções folha
SD.24-Y-B-IV, Vitória da Conquista folha SD.24-Y-A-VI, Itapetinga folha SD.24-Y-D-I e Jequié
folha SD.24-V-D-IV, ambas com Escala 1:100.000 e com datas de elaboração entre 1974 a 1977,
as cartas em estudo se encontram no sudeste do Estado da Bahia. Teve-se como estratégia utilizar
quatro Cartas de municípios distintos para tentar alcançar resultados mais coesos e abrangentes, e
também para verificar as possíveis dificuldades que poderiam surgir na execução da leitura em cada
carta.
O trabalho foi realizado em forma de oficina com quatro grupos, um para cada município
das cartas. Estes grupos foram formados com a divisão de trinta graduandos do segundo ao último
semestre de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, assim
como quatro professores que lecionam Geografia há alguns anos na rede de educação básica e dois
professores do curso de Geografia da mesma universidade. Este procedimento teve como objetivo
verificar a eficiência da atividade de leitura de Carta Topográfica no Ensino Básico, avaliar o plano
com a metodologia proposta, e também de instruir os graduandos e professores os procedimentos
para execução de leituras de Cartas Topográficas. Para isto, utiliza-se um questionário para cada
grupo avaliar a eficiência da oficina apontando os possíveis problemas encontrados e os benefícios
que o exercício de leitura de Carta Topográfica poderá trazer para os alunos do Ensino Básico.
No ato da leitura cada grupo recebe uma grade/roteiro (figura 1) para a execução da
observação, descrição e conclusões, adotando os métodos propostos por Diniz (1988) com o Canevá
que envolve a extração das informações externas e internas. Utiliza em seguida os níveis de análises
compilatório, correlatório, semântico e normativo propostos por Libaut (1971).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 887


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1. Grade de leitura de Cartas Topográficas. Adaptado de Diniz (1988).


Fonte: Elaborado pelos autores. (2017).

Para finalização da pesquisa/oficina, todos os grupos deverão apresentar oralmente os


resultados obtidos na leitura das Cartas Topográficas. Para este procedimento terá como objetivo
avaliar o aprendizado dos agentes da oficina (estudantes de graduação e professores) e a possível
eficiência da atividade se realizada no Ensino Básico, analisando as possíveis dificuldades e
benefícios, cujos os depoimentos serão descritos em forma de textos nos resultados deste trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir do desdobramento da oficina, foi possível observar a importância de atividades que


abrangem o exercício da cartografia em sala de aula. Pôde-se ter uma visão da necessidade dos
profissionais de Geografia em cada vez mais atualizarem seus conhecimentos acerca da cartografia,
para tornar os exercícios em salas em atividades práticas e prazerosas. No ato da leitura das cartas
topográficas todos os grupos se envolveram na atividade e realizaram as leituras sem dificuldades
significativas, como pode ser observado na figura 2.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 888


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 2. Execução da oficina de leituras de Cartas Topográficas.


Fonte: Pesquisa de campo. (2017).

Na oficina, foi possível observar que tanto os estudantes de Geografia, como os professores
da graduação em Geografia e do Ensino Básico que estavam presentes, tiveram um receio quando
se falou em leituras de Cartas Topográficas. Isso porque a cartografia traz consigo um peso muito
grande para os profissionais de Geografia e também para aqueles que estão em processo de
formação. Porém, no decorrer da oficina, esses voluntários perceberam que a leitura de Cartas
Topográficas pode ser um processo de aprendizagem muito prazeroso, a partir do momento que o
professor se desfaz das dificuldades encontradas na prática e no ensino da cartografia e consegue
elaborar/planejar atividades cartográficas levando em consideração o seu próprio conhecimento e
dificuldades.
Esta situação pode ser verificada nas respostas dos voluntários para a indagação que lhes foi
feita de como estudantes de graduação e professores de Geografia, o que eles observaram na oficina
que pode ajudar em seu processo de formação e/ou complementação. Dessa forma, declararam que:

A prática cartográfica, que ainda é uma dificuldade tanto na graduação quanto no


Ensino Básico.
 É uma boa atividade a ser levada para a sala de aula e a prática desse tipo de
atividade complementa a formação.
 Pode aprimorar a formação por meio dos conhecimentos variados e a disposição
facilitada pelo aspecto visual.
Com os depoimentos dos voluntários e observações dos pesquisadores, constatou-se que a
metodologia que aqui foi proposta para leituras de cartas topográficas é eficiente e que pode ser
utilizada no Ensino Básico como instrumento e material didático, e que esta atividade possibilita ao
aluno a melhor conhecer seu espaço de vivência e, consequentemente, desenvolver habilidades de
investigador deste espaço. Os grupos da oficina ainda afirmaram que esta atividade pode trazer
outros benefícios para os alunos, tais como: conhecimento da cartografia por meio da identificação
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 889
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

da hidrografia, relevo, localidades, entre outros; bem como desenvolvimento para capacidade de
interpretação cartográfica e resolver trabalhos. Ratificam ainda que a atividade de leituras de cartas
topográficas facilitam a orientação espacial, fomentam conhecimentos práticos da cartografia e
possibilita habilidades para manipulação dos instrumentos cartográficos.
Ainda foi solicitado aos grupos que avaliassem a oficina e atribuíssem uma nota de zero a
dez à metodologia utilizada para leituras de cartas topográficas. Obteve-se as notas nove, nove e
meio e por último dois grupos avaliaram a oficina com nota dez, totalizando média geral de 9,6. A
eficiência da metodologia utilizada, pode ainda ser verificada nos depoimentos acerca da indagação
aos grupos no que diz respeito a oficina e o desenvolvimento da metodologia para o Ensino Básico
como um instrumento para levar o aluno a conhecer melhor seu lugar de vivência. Com essas
perguntas lançadas, o primeiro grupo respondeu que a metodologia e dinâmica da oficina podem ser
aplicadas, principalmente com o Ensino Médio, uma vez que com esta atividade o aluno valoriza
mais seu espaço, ao reconhecê-lo e identifica os vários aspectos. Já o segundo, salientou que com
essa prática o aluno sai da abstração e trabalha com o concreto, conhecendo melhor o seu lugar de
existência, por encontrar na carta locais que fazem parte do seu cotidiano. O terceiro grupo destacou
que a metodologia é bem interessante e deve haver uma motivação muito grande. Em seguida o
último grupo também afirma a eficiência da oficina e pondera sobre a necessidade da realização de
uma sondagem na sala de aula, para saber quais as cartas adjacentes fazem parte da realidade da
turma.
Por fim, foi perguntado aos voluntários se eles acreditam que com a leitura de cartas
topográficas o professor poderá fomentar e incentivar nos alunos habilidades de leitores e de
pesquisadores do seu próprio espaço. Todas as respostas foram afirmativas e com depoimentos
conclusivos de que essa atividade pode ser de vital importância para a prática da cartografia em
sala, pois a partir dessa leitura o aluno percebe aspectos que suscitam a sua curiosidade para
aprofundar os estudos. Os grupos reiteram, ainda, que as atividades em sala de aula que remetem a
realidade local ou próxima do aluno despertam maior interesse, e que o processo de leitura de
cartas topográficas desenvolve nos alunos interesse pela investigação a partir da curiosidade, no
qual através da carta topográfica o aluno aprende a se localizar para se situar no espaço.
É preciso enfatizar que após a execução das leituras das cartas topográficas, o professor
precisa incentivar uma discussão coletiva, para que os grupos exponham os resultados alcançados e
assim, sejam aguçadas outras curiosidades e indagações. A exposição dos resultados na forma oral
pode ser, ainda, um momento de intensa interação entre todos os grupos, bem como uma maneira
para o professor avaliar o aprendizado dos alunos como observado na figura 3.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 890


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 3. Execução da oficina de leituras de Cartas Topográficas.


Fonte: Pesquisa de campo. (2017).

Assim, é possível afirmar, diante da pesquisa realizada, que atividades de leituras de Cartas
Topográficas podem ser realizada no Ensino Básico como instrumento que conduz os alunos a
serem leitores de seu espaço e este exercício pode ser realizado a partir da metodologia aqui
apresentada e comprovada por meio de pesquisas realizadas. Evidencia-se ainda que é uma
atividade prática que torna uma interação entre os alunos, aguçando curiosidades aos mesmos e,
consequentemente, construção de conhecimento coletivo, a partir do momento que esta atividade
for realizada em grupo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da oficina de leituras de cartas topográficas realizada para graduandos em Geografia,


professores da graduação e do Ensino Básico, a conclusão é que esta atividade pode ser aplicada
com a mesma metodologia apresentada neste trabalho, baseada nos procedimentos adotados por
Diniz e Libault . Constatou-se ainda que os professores de Geografia necessitam de aprimoramento
de atividades envolvendo a cartografia , em especial a leitura de Cartas Topográficas para aplicação
em sala de aula.
Os depoimentos dos voluntários comprovaram que esta atividade pode fomentar habilidades
nos alunos tornando-os agentes leitores de seu espaço. A partir desta leitura o aluno pode ser
aguçado para várias interpretações de seu espaço a partir de curiosidades que poderão ser
desenvolvidas no processo de interpretação da leitura da carta topográfica. Ainda é possível afirmar
conforme observações na oficina, que ao colocar a Carta Topográfica sobre a mesa, permite ao
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 891
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

leitor, seja ele qual for, viajar sobre o espaço da carta, entender os aspectos e elementos de
composição de uma Carta Topográfica, assim como compreender os aspectos espaciais. Verificou-
se ainda que este momento é composto por um despertar de curiosidades, e com isso, presume-se
que esta atividade poderá conduzir nos alunos novas ideias e novas atitudes, bem como formação de
conceitos próprios em relação ao seu espaço e até mesmo em estudos subsequentes.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Rosângela Doin de; PASSINI, Elza Yasuko. O espaço geográfico: ensino e
representação. 15. Ed. São Paulo: Contexto, 2008.

DINIZ, José Alexandre Felizola. Análise de cartas e ensino da Geografia. Revista Geografia e
Ensino, Belo Horizonte, v. 3, n. 9 p. 10-17, 1988.

KAERCHER, Nestor André. Estudos sociais: reflexões, conflitos e desafios.


In:CASTROGIOVANNI, C. A; CALLAI, H. C.; SCHÄFFER, N. O.; KAERCHER, N. A..
Geografia em sala de aula práticas e reflexões. 5 ed. Porto Alegre: Editora da UFRG,
Associação dos GeógrafosBrasileiros – Seção Porto Alegre, 2010.

LIBAULT, André. Os quatro níveis da pesquisa geográfica. Métodos em Questão, 1. IGEOG-USP,


1971.

PASSINI, E. Y. Alfabetização cartográfica. Belo Horizonte: Editora Lê, 1994.

SIMIELLI, Maria Elena Ramos. Variação espacial da capacidade de uso da terra. Série teses e
monografias nº 42. Instituto de Geografia, São Paulo: DG-USP, 1982.

______. Cartografia e ensino de Geografia. Disponível em:


<https://poesionline.files.wordpress.com/2015/02/simielli-2010.pdf>. Acessado em 05 de
dezembro de 2015.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 892


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A EDUCAÇÃO E SEUS DIÁLOGOS VITAIS ENTRE MEMÓRIA SOCIAL,


PATRIMÔNIO CULTURAL E SABER AMBIENTAL

Victor Pereira de SOUSA


Graduando em Licenciatura em Geografia – UERJ
victordesousa@outlook.com.br
Marcelo Penna da SILVA
Graduando em Licenciatura em Geografia – UERJ
celo_penna2@hotmail.com
Moacir Apolinário da COSTA
Graduando em Licenciatura em Geografia – UNEMAT
moahbtw@gmail.com
Leonardo de Souza MEDEIROS
Mestre em Cognição e Linguagem – UENF
leonardosm1985@gmail.com

RESUMO
A problemática ambiental que assola nosso planeta precisa tomar caminhos que possam ser ditos
sustentáveis. Os diálogos entre cultura, sociedade, memória, patrimônio cultural e saber ambiental
guiados pela educação podem nos auxiliar nesse processo. Dessa forma, o presente trabalho segue
metodologicamente com pesquisas em bibliografias de autores renomados no tema, e tem como
objetivo apresentar reflexões pertinentes diante da nossa relação com o meio ambiente.
Palavras-chave: Educação; memória; práticas socioambientais; Meio ambiente.
RESUMEN
La problemática ambiental que asola nuestro planeta necesita tomar caminos que puedan ser dichos
sostenibles. Los diálogos entre cultura, sociedad, memoria, patrimonio cultural y saber ambiental
guiados por la educación pueden ayudarnos en ese proceso. De esta forma, el presente trabajo sigue
metodológicamente con investigaciones en bibliografías de autores renombrados en el tema, y tiene
como objetivo presentar reflexiones pertinentes ante nuestra relación con el medio ambiente.
Palabras clave: Educación; Memoria; Prácticas socioambientales; Medio ambiente.

INTRODUÇÃO

Nós, seres humanos, devemos compreender de uma vez por todas que não passamos de
meros hospedeiros em nosso planeta. Devemos compreender também, que não somos donos da
natureza, e que a mesma não se trata de um insumo para nosso desenvolvimento. Respeito,
solidariedade, humanidade, gentileza, reciprocidade, encontram-se quase que inexistentes na
relação entre o ser humano e o meio, e isso tem causado consequências seríssimas e muitas vezes
irredutíveis diante da gravíssima problemática ambiental na qual estamos inseridos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 893


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Por isso, o presente trabalho tem por objetivo apresentar reflexões pertinentes diante da
nossa relação com o meio ambiente. Para isso, traçaremos caminhos fundamentais para tal
entendimento, diante de conceitos estruturantes em nossa sociedade, tais como, o próprio conceito
de sociedade, o conceito de cultura, de memória e patrimônio cultural. Dessa forma será possível
compreendermos os diálogos fundamentais que tais conceitos apresentam na proteção, preservação
e conservação do nosso meio ambiente. Segue metodologicamente com pesquisas em bibliografias
de autores renomados na temática da problemática levantada por esse trabalho a fim de arcabouçar
a discussão apresentada. Ainda, e mais importante, serão apresentados caminhos que possam nos
ajudar em uma caminhada que possa ser dita sustentável, em paralelo ao desenvolvimento humano,
por meio de práticas educacionais e saber ambiental.

ENSAIOS SOBRE CULTURA E SOCIEDADE

Para se compreender a relação intrínseca entre memória social, patrimônio cultural e saber
ambiental e suas correlações com o meio ambiente é necessário, primeiramente, compreendermos
aspectos que nos direcionem aos conceitos de cultura e de sociedade. É certo que ambos os
conceitos apresentam altos níveis de complexidade e que muitas vezes seus significados se
assemelham e se misturam, se complementam. Ainda assim, não devemos equivocadamente
entender que tais conceitos sejam sinônimos, uma vez que ambos apresentam especificidades
próprias.
O conceito de cultura é muito caro para qualquer ciência que o insira em seu objetivo de
estudo, assim como para os pesquisadores e estudiosos que se dedicam a esse tema. Essa
complexidade se dá pelo fato de as expressões culturais serem muito diversas além de estarem
presentes nas mais distintas sociedades terráqueas. Cada aspecto cultural faz com que as diferenças
entre grupos sociais se tornem vias expressivas de identidade. E tal identidade faz com que as
diferenças sejam vistas como particularidades, constituindo que nenhuma cultura seja superior à
outra. Podemos entender então que a cultura é um complexo de práticas sociais, de modos de vida,
que interferem diretamente em nosso modo de agir e em nossa sobrevivência. A cultura é então
nossa forma de viver o mundo. Nosso papel social. Nosso gênero de vida em sociedade.
Ao compreendermos dessa forma, somos capazes de entender que todos nós somos iguais
em nossas particularidades que nos fazem diferentes – mas nunca desiguais – e nosso papel como
agentes culturais perfazem e refazem nossos ciclos vitais. Heranças socioculturais que materializam
imaterialidades e que transcendem fixos culturais que são passados de geração em geração. Atributo
singular de nossa identidade.
A sociedade, então, apresenta-se como um mosaico multicultural onde as identidades, os
papéis sociais e os gêneros de vida se fazem presentes, seja em forma material ou imaterial. O

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 894


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

tecido social de modo perspicaz condiciona e é condicionado pelo modus operandi do agente
cultural. A sociedade não trata-se de apenas um palco, mas sim de uma protagonista em um dueto
cênico com a cultura, no qual todos são atores e espectadores deste espetáculo. É na sociedade que
desenvolvemos nossas personalidades, que encontramos nossos grupos sociais, que manifestamos
nossa cultura. A sociedade é o éthos. É o complexo desenvolvimento do ser humano enquanto
agente cultural e paralelamente ente social. O quebra-cabeça que atravessa toda a história da
humanidade, enquanto seres pensantes e racionais.

MEMÓRIA, PRÁTICAS SOCIOCULTURAIS E MEIO AMBIENTE

A memória é um dos principais instrumentos da faculdade humana para que possamos nos
desenvolver no espaço geográfico. O ser humano descobriu o fogo, domesticou animais,
desenvolveu técnicas agrícolas e mais contemporaneamente chegou a seu ápice de desenvolvimento
informacional e tecnológico. Muitas das vezes, ainda na pré-história, a memória era materializada
em forma de pinturas, demarcações, expressões, signos e símbolos. Com o advento da escrita, a
memória passou, quase que predominantemente, a se materializar em forma de textos, artigos,
livros, contos, músicas, entre tantos outros veículos passíveis de serem passados de geração em
geração. "A memória é essencial a um grupo porque está atrelada à construção de sua identidade.
Ela é o resultado de um trabalho de organização e de seleção do que é importante para o sentimento
de unidade, de continuidade e de experiência, isto é, de identidade" (ALBERTI, 2005).

A memória não é história, é um complexo mecanismo de reconstrução do ―passado do


presente‖, ou seja, de legitimação no presente das opções de uma sociedade, e dos seus
diferentes grupos culturais ou sociais. A memória é, por isso, um instrumento estruturador
de identidades, o que na prática significa que ela ajuda a segregar: as memórias de uns não
são as memórias de outros, pois ambas são informadas por perspectivas atualistas distintas.
A memória é, ainda, um mecanismo ideológico de compensação face a perdas ou
fragilidades de um determinado grupo ou sociedade: a perplexidade no presente e a
ansiedade frente ao futuro, são equilibrados pelas ―certezas‖ sobre o passado
(OOSTERBEEK, 2015).

Memória e história, segundo Nora (1993), apresentam-se bem distante do sinônimo, na qual
uma se opõem a outra, sendo "a memória é aquela que guarda algo que existiu no tempo, causando
garantida de uma sequencia temporal e/ou de fatos", tendo por base que a memória traz consigo as
questões afetivas, e isso a difere de outras memórias e da história em si, pois ambas vão se
apresentar como formas distintas de conceber o passado. Assim, vemos que a memória é a área de
permanência, na qual ficam as lembranças. A memória é construída pela lembrança, não uma
lembrança incorrupta, mas sim aquela que é revivida segundo o indivíduo e sua perspectiva de
mundo.
As práticas socioculturais dos seres humanos estão repletas de memórias, sejam elas
individuais ou coletivas. Nossas práticas diárias estão arcabouçadas na memória de nossos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 895


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

antepassados, assim como em nossas memórias. Uma construção histórico-cultural. Assim, a


memória social fundamenta e concretiza as práticas socioculturais de nossa sociedade. Logo, é
perceptível que a sociedade, cultura e memória são estruturantes na formação de todo e qualquer ser
humano que habite em nosso planeta.
Além disso, tais estruturas também se fazem presentes em nossa relação com o meio
ambiente. É um aspecto indissociável na compreensão do desenvolvimento humano e de nossas
práticas socioculturais em relação ao meio ambiente e sobre como nos relacionamos com ele. Não
existe, e nunca existiu, ação humana que não interfira direta ou indiretamente em nosso meio
ambiente.
É importante ressaltarmos aqui a palavra "nosso" ao nos dirigirmos ao meio ambiente, pois é
necessária a compreensão de todos nós, que o meio ambiente não é insumo ao desenvolvimento
humano. A humanidade é hospedeira em nosso planeta, e é uma responsabilidade de todos – sem
exceção – proteger, conservar e preservar nossos patrimônios naturais.
Essa compreensão torna verossímil o entendimento da relação entre memória social, práticas
socioculturais e meio ambiente, quando compreendemos que nossas práticas de proteção,
preservação e conservação nos foram passadas através de relatos e experiências antepassados, dos
nossos professores, de intelectuais e pensadores militantes e difusores do tema. Para que tais
indivíduos nos passassem tais práticas e experiências, alguém um dia passou para eles. Aspectos
materiais e imateriais de culturas materializadas e repassadas em prol de nosso meio ambiente.
Assim como músicas, histórias – e estórias – e literaturas passam de gerações em gerações
sem se perderem no espaço-tempo, o cuidado com o meio ambiente também pode seguir o mesmo
caminho. Ao nos debruçarmos sobre questões referentes às problemáticas ambientais que assolam
nosso planeta, seremos capazes de nos depararmos com uma série de relatos, experiências, métodos
e técnicas – memórias materializadas – que nos ajudam a compreender tal problemática e também
nos mostram maneiras de ao menos mitigar – práticas socioculturais – tal conjuntura adversa.
Dessa maneira, memória, sociedade e cultura são elementos fundamentais no diálogo que
nos permite compreender nosso meio ambiente, assim como, nossa relação com o mesmo e sobre
como podemos nos desenvolver de forma menos predatória, degradável, irresponsável, desenfreada
e inconsistente. O meio ambiente é a matriz no qual a vida humana necessita incontestavelmente
para sua reprodução e sobrevivência.

PATRIMÔNIO CULTURAL E SABER AMBIENTAL: UMA GENTILEZA QUE GERA


GENTILEZA

Um dos valores que nos ensinam desde pequenos é que devemos tratar o outro como
gostaríamos de sermos tratados. Tratar bem as pessoas ao nosso redor é uma gentileza que nos atrai

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 896


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

novamente a gentileza. Ou pelo menos deveria ser assim. Como diria uma das personalidades
urbanas carioca que se consagrou através dos tempos, José Dantrino, mais conhecido como Profeta
Gentileza, "gentileza gera gentileza".
Sabemos bem que nosso meio ambiente não se trata de uma pessoa, e que muito menos
pertence a um grupo de pessoas. Todavia, quando nos referimos ao meio ambiente estamos nos
referindo à vida. E essa se encontra em comum acordo com os seres humanos e o meio em que
vivemos. Sabemos também que nossa memória social e nossas práticas socioculturais interferem
direta ou indiretamente em nosso meio ambiente e que todas as nossas ações ocasionam
consequências no mesmo, sejam elas boas ou ruins.
O que devermos saber então que se prezamos por nossas vidas e desejamos uma vida
saudável, devemos desejar o mesmo a nosso meio ambiente. Mais do que isso: prezar por nossas
vidas é prezar pelo meio ambiente. Uma gentileza mais do que necessária, uma obrigação. Nossa
hospedagem nosso planeta necessita de nosso cuidado e proteção. Somos nós quem necessitamos
dele, nunca ao contrário, mantendo assim uma coexistência que tende a somar em ambos os lados.
Com o desenvolvimento da humanidade também acompanhamos no traço histórico do
mesmo um forte desenvolvimento no descaso com o meio ambiente. Se analisarmos mais a finco,
na década de 1970 eclodiram no mundo diversas preocupações com o meio ambiente em relação à
degradação desenfreada em busca de matérias-primas, ou por motivos de poluição nas mais
variadas escalas de nosso planeta, ou por outros tantos motivos que alertavam – e ainda alertam –
para nosso consumo sem limites.

A busca pela sustentabilidade surge quando a sociedade começa a se conscientizar sobre a


importância da preservação do meio ambiente, após grandes impactos e problemas
ecológicos gerados pelo desenvolvimento econômico desenfreado. Hoje se faz presente
também nos fóruns sobre cultura, pois entende-se que, além dos pilares ambiental,
econômico e social, a dimensão cultural é a que perpassa pelos outros três, contribuindo
para o fortalecimento da cidadania e para a construção de um meio ambiente mais justo e
equilibrado (LOURENÇO, 2015).

Dentre as principais conferências podemos citar: a Conferência de Estocolmo, na Suécia, em


1972, que foi a primeira Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sob a égide do
meio ambiente, e também onde ocorreu à criação do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA); a Conferência de Toronto, no Canadá, em 1988; a Conferência de Genebra,
na Suíça, em 1990; a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
(CNUMAD), também conhecida como Rio-92 ou Eco-92, no Brasil, em 1992; a Conferência de
Kyoto, no Japão, em 1997, onde foi criado o Protocolo de Kyoto; a Conferência de Nova Délhi, na
Índia, em 2002; a Conferência de Milão, na Itália em 2003; a Conferência de Nairóbi, na África em
2006; a Conferência de Copenhague, na Dinamarca, em 2009, onde houve a elaboração do Acordo

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 897


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

de Copenhague; a Conferência em Duban, na África do Sul, em 2011 e a Rio +20, que aconteceu no
Brasil em 2012.
Como é possível observar, as conferências ocorreram em várias partes do mundo, com
representantes dos mais diversos Estados, com assinaturas em importantes tratados e com a
elaboração de documentos e protocolos que buscam, pelo menos em teoria, ao menos mitigar a
problemática ambiental da qual fomos apresentados mais detalhadamente após os anos iniciais da
década 1970. Mesmo com isso tudo ainda não se foi possível à tomada de decisões efetivas que nos
levem ao caminho do desenvolvimento sustentável e da sustentabilidade.

A luta pela concretização dos direitos humanos está presente em todas as fases da história
mundial. Hoje, ao se falar em direitos humanos, não se pode deixar de mencionar o direito
humano das presentes e futuras gerações ao meio ambiente. A importância desse direito
humano ao meio ambiente perpassa fronteiras, uma vez que todos os habitantes do planeta
necessitam de um meio ambiente saudável para viver. O meio ambiente compreende tudo
que tem estrita relação com a qualidade de vida, e sendo este o seu conceito, apresente forte
ligação com o conceito de patrimônio cultural acima trabalhado, tendo em vista que falar
em patrimônio cultural é falar na esfera da cultura, ou seja, tudo aquilo que o ser humano
deposita valor (TEIXEIRA & SOBRINHO, 2015).

Com o advento da globalização e de sua estrita relação com o capitalismo, os incentivos


incessantes de práticas socioculturais consumistas ganham cada vez mais força. Consumir está entre
as necessidades básicas dos seres humanos, mais o consumismo no qual vem crescendo cada vez
mais, em busca do acúmulo de capital, favorecendo uma pequena parcela de nossa sociedade, nos
atenta para o plano de fundo no qual foi colocado o meio ambiente.
A partir da alteração da lei 35/1937 da Constituição 1988, veremos que a compreensão de
patrimônio cultural é estendida, de forma que

não se discute mais se o patrimônio cultural é constituído de bens de valor excepcional ou


de bens cotidianos, ou se somente a arte erudita merece proteção. Pelo contrário, passa-se a
considerar as manifestações populares, os bens da natureza, tudo aquilo que serve de
referência para a formação da nação brasileira (FRANÇA, 2009).

Compactua-se com a visão de Oriá (2006), tendo por base que essa alteração visa rever a
questão da pluralidade nacional do patrimônio, com o objetivo de retificar as distorções a respeito
da preservação. Dessa forma, vimos que este fato se dá pela procura de se estender o entendimento
do Patrimônio Cultural a conceitos antes não enxergados, como as questões naturais, no qual aqui
vemos a busca pela percepção do meio ambiente como um eixo do patrimônio.
Dessa forma, perceber-se que o meio ambiente é algo muito maior do que um espaço de
simples interação entre os aspectos que compõem a biosfera, este ambiente é algo a se tomar como
extensão de cada indivíduo e assim, necessário de valorização e, principalmente, a necessidade de
se enxergar este meio ambiente não somente como palco para o patrimônio cultural, mas sim como
próprio Patrimônio Cultural.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 898


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O termo patrimônio cultural envolve todo o mundo da cultura, consubstanciado em tudo


aquilo em que o ser humano deposita seus valores, determinando sua relação com a
natureza e com as outras pessoas, reconhecendo as peculiaridades dos vários segmentos da
sociedade. Por isso, sustentam que o patrimônio cultural envolve o meio ambiente natural
porque também aí a pessoa humana projeta seus valores. (SANTOS, 2005)
O patrimônio cultural é aquele que apresenta bens que possuam valor cultural, sendo este
aquele que não se limita a cultura erudita, mas o que inclui também a cultura popular. É
aquele que compreende não só aquilo que é feito pelas mãos do homem, o das coisas pelas
quais o homem interferiu, mas também aquelas entendidas como naturais. Possui bens
materiais e imateriais, ou seja, tangíveis ou intangíveis e não se limita aqueles tombados
segundo a legislação especial. No entanto, tais bens são os que possuem aqueles valores
que fazem referência a identidade, ação e memória de uma sociedade que por ele projeta
sua nacionalidade e soberania frente a outras nações (PINHÃO, 2015).

Então, falar em meio ambiente "não é somente falar da natureza, mas sim de um conjunto de
elementos que busca determinado fim, ou seja, da natureza e seu entorno, aspirando por um
ambiente de vida equilibrado e saudável em todos os sentidos. Diante da situação em que se
encontra o meio ambiente nos dias atuais" (TEIXEIRA & SOBRINHO, 2015). Os autores ainda
afirmam que o direito ao meio ambiente é o direito humano das presentes e futuras gerações e
preocupa-se não só com a proteção dos direitos individuais, mas também com os direitos coletivos.
Por ser uma preocupação de âmbito global e pela diversidade cultural que se apresenta, é
extremamente importante um diálogo entre as culturas. Esse diálogo intercultural é indispensável na
busca pela efetivação do direito humano ao meio ambiente.
Sirvinskas (2012, p. 639) afirma que patrimônio cultural é "uma gama variada de produtos e
subprodutos oriundos da sociedade, e por esta razão deve ser protegido em razão do seu valor
cultural, pois é a memória de um país, tratando-se de interesse público e, portanto, tutelado pelo
Estado, cabendo ao Poder Público e à coletividade sua preservação nos termos do artigo 225 da
Constituição Federal".
"A crise ambiental é uma crise da razão, do pensamento, do conhecimento" (LEFF, 2009).
Para este autor, o saber ambiental é essencial para pensarmos em qualidade de vida, uma vez que:

O saber ambiental se forja pulsão por conhecer, na falta de saber das ciências, o desejo de
satisfazer essa falta insatisfeita. Daí impulsiona uma utopia como reconstrução da realidade
a partir de uma multiplicidade de sentidos individuais e coletivos, para além de uma
articulação científica, de intersubjetividades e de saberes individuais. O saber ambiental
busca conhecer o que as ciências ignoram, porque seus campos de conhecimento projetam
sobras sobre o real e avançam, disciplinando paradigmas e subjugando saberes. O saber
ambiental, mais do que uma hermenêutica do esquecimento, mais do que um método de
conhecimento do consabido, é uma inquietude do nunca sabido, que falta saber sobre o real,
conhecimento que emerge do que ainda não é. Assim, o saber ambiental constrói novas
realidades (LEFF, 2009).

Assim, após tudo que foi apresentado até aqui, devemos entender como e onde a educação
entra nessa problemática, apresentando meios que possam nos auxiliar em caminhos que sejam
sustentáveis, proporcionando melhores condições de vida para nós, seres humanos, assim como,
para nosso meio ambiente.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 899


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A EDUCAÇÃO COMO CAMINHO A SER SEGUIDO

A educação se mostrou, ao longo da história, ser uma ferramenta extremamente importante


para auxiliar o ser humano em suas ações, em diferentes níveis, sociais, culturais, políticos,
econômico e inclusive ambiental. Por isso, é compreensível que através do longo diálogo
apresentado pela cultura, sociedade, memória, patrimônio cultural e saber ambiental, a educação é
um parâmetro essencial para arcabouçar tal conciliábulo.

Estamos sentindo na pele, em nosso cotidiano, uma urgente necessidade de transformações


para superarmos as injustiças ambientais, a desigualdade social, a apropriação da natureza –
e da própria humanidade – como objetos de exploração e consumo. Vivemos em uma
cultura de risco, com efeitos que muitas vezes escapam à nossa capacidade de percepção
direta, mas aumentam consideravelmente as evidências que eles podem atingir não só a
vida de quem os produz, mas as de outras pessoas, espécies e até gerações (SORRENTINO
& TRAJBER, 2007).

Suavé (apud LAYRARGUES, 2002), nos ajuda a direcionarmos caminhos instigantes para a
aplicação de práticas educacionais na égide do meio ambiente, apresentando três conceitos
diferenciados sobre a educação ambiental:

Educação sobre o ambiente – informativa, com enfoque na aquisição de conhecimentos,


curricular, em que o meio ambiente se torna um objeto de aprendizado. Apesar de o
conhecimento ser importante para uma leitura crítica da realidade e para se buscar formas
concretas de se atuar sobre os problemas ambientais, ele isolado não basta;
Educação no meio ambiente – vivencial e naturalizante, em que se propicia o contato com a
natureza ou com passeios no entorno da escola como contextos para a aprendizagem
ambiental. Com passeios, observação da natureza, esportes ao ar livre, ecoturismo, o meio
ambiente oferece vivências experimentais tornando-se um meio de aprendizado;
Educação para o ambiente – construtivista, busca engajar ativamente por meio de projetos
de intervenção socioambiental que previnam problemas ambientais. Muitas vezes traz uma
visão crítica dos processos históricos de construção da sociedade ocidental, e o meio
ambiente se torna meta do aprendizado (SUAVÉ apud LAYRARGUES, 20002).

Logo, podemos compreender que a educação por meio de práticas e métodos sustentáveis –
como a educação ambiental – é capaz de nos proporcionar melhores condições de vida para com o
meio ambiente. O saber ambiental na educação é extremamente importante, pois, ele nos guia
durante os caminhos a serem seguidos de forma construtiva e efetiva por nossa sociedade.

O saber ambiental não é o conhecimento da biologia e da ecologia; não trata apenas do


saber a respeito do ambiente, sobre as externalidades das formações teóricas centradas em
seus objetos de conhecimento, mas da construção de sentidos coletivos e identidades
compartilhadas que formam significações culturais diversas na perspectiva de uma
complexidade emergente e de um futuro sustentável. Consiste em um saber que faz parte do
ser, na articulação do real complexo e do pensamento complexo, no entrecruzamento dos
tempos e na reconstituição das identidades. O saber ambiental se inscreve no terreno do
poder que atravessa todo saber, do ser que sustenta todo saber e do saber que configura toda
identidade. O saber ambiental constrói estratégias de reapropriação do mundo e da natureza
(LEFF, 2009).

Ao logo de nossa história no planeta Terra, estamos prosseguindo por vias predatórias e
desumanas, seja na relação sociedade-indivíduo seja na relação sociedade-meio ambiente. Mais do

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 900


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

que necessário, é essencial que a humanidade mude sua postura diante de tais acontecimentos. A
educação, sem dúvidas, é uma ferramenta estruturante para que possamos melhorar nossas
condições de vida em nosso planeta, proporcionando qualidade de vida para todos nós, habitantes
desse planeta, mas também para o nosso planeta em si. A educação é capaz de mudar o mundo,
basta que nós dialoguemos com ela, e com os conceitos que a acompanham nesse longo percurso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há uma necessidade de enxergar o meio ambiente além das questões primárias e pretéritas,
além da perspectiva de natural, assim, a partir daí de tal concepção, podermos enxergar e propiciar
ao meio ambiente seu devido valor de Patrimônio Cultural, sendo este de inteira importância para os
bens de valor cultural, bem como responsável pelas gerações contemporânea e as futuras.
A visão sobre o que deve ser considerado como patrimônio tem sido alterada
gradativamente, estendendo-se a setores que se localizam fora dos campos tradicionais da
preservação. Atualmente, tal conceito busca novas abordagens e significados, não se limitando a
cristalizar imagens do passado. O conceito contemporâneo de preservação do patrimônio considera
importante que sejam protegidos todos os elementos do sistema cultural. Dentre seus significados,
compreende-se elementos do meio natural que desempenham papel fundamental no
desenvolvimento de determinadas características culturais de uma sociedade. O meio ambiente faz-
se então como um dos patrimônios culturais de maior importância, necessitando de respeito,
cuidado, proteção, preservação, conservação para com ele. Nisso, a educação se torna uma
ferramenta de extrema importância.

Um primeiro é repensar os próprios objetivos de projetos e práticas pedagógicas. É muito


comum se afirmar que o objetivo da educação ambiental é conscientizar alunos e
comunidades. Ora, e o que é conscientizar? É um conceito com muitos significados, mas
normalmente quando as pessoas fazem menção a ele querem dizer: sensibilizar para o
ambiente; transmitir conhecimentos; ensinar comportamentos adequados à preservação
desconsiderando as características socioeconômicas e culturais do grupo com o qual se
trabalha. Em resumo, dar ou levar consciência a quem não tem (LOUREIRO, 2007).

Logo, compreendemos que a educação segue caminhos de extrema importância para que
possamos cumprir nosso papel de hospedeiros nesse planeta da melhor forma possível. Dialogar os
conceitos de cultura, sociedade, memória, patrimônio cultural e saber ambiental com a educação
faz-se extremamente necessário para que tenhamos melhores condições de ao menos mitigar a
problemática ambiental que assola nosso planeta, como também, para evitarmos que novos
desastres ambientais aconteçam.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBERTI, V. História oral: a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: CPDOC/ FGV, 1989.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 901


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

LAYRARGUES, P. Educação no processo da gestão ambiental: criando vontades políticas,


promovendo a mudança. In: Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental. Erechim:
EdiFAPES, 2002.

LEFF, E. Complexidade, Racionalidade Ambiental e Diálogo de Saberes. Espaço & Realidade. 34


(3). Set/dez, 2009.

LIMA, L. A preservação do meio ambiente cultural e a proteção jurídica através do tombamento: a


ausência do federalismo cooperativo no município alagoano de Marechal Deodoro. Planeta
Amazônia: Revista Internacional de Direito Ambiental e Políticas Públicas. Macapá, n. 2, p. 21-
35, 2010.

LOUREIRO, C. Educação ambiental crítica: contribuições e desafios. In: MELLO, S; TRABJER R


(orgs). Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministério do
Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental: UNESCO, 2007.

LOURENÇO, A. Patrimônio cultural e cidadania. In: CAMPOS, J; PREVE, D; SOUZA, I. (Orgs).


Patrimônio cultural, direito e meio ambiente: um debate sobre a globalização, cidadania e
sustentabilidade. Vol. 1. Curitiba: Multideia, 2015. 256 p.

ORIA, R. Memória e Ensino de História. In: BETTENCOURT, C. (org) O saber Histórico na sala
de aula. 7ª edição. São Paulo: Contexto, 2002

NORA, P. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História. Revista do
Programa de Estudos Pós-graduados. São Paulo, 1993.

OOSTERBEEK, L. Revisitando Antígona: o património cultural na fronteira da globalização. In:


CAMPOS, J; PREVE, D; SOUZA, I. (Orgs). Patrimônio cultural, direito e meio ambiente: um
debate sobre a globalização, cidadania e sustentabilidade. Vol. 1. Curitiba: Multideia, 2015. 256
p.

PINHÃO, K. Patrimônio cultural brasileiro. Disponível em:


http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CCwQFjAA
&url=httrio.br%2Fpibic%2Frelatorio_resumo2010%2Frelatorios%2Fccs%2Fdir%2Fdirkarina_pi
nhao.pdf&ei=40JNU8XIeTQsQSwk4H4AQ&usg=AFQjCNHV4WBNGLBQF2wZrWGCeGJK
gwT5Ug&bvm=bv.64764171,d.cWc. Acesso em 3 de junho de 2017.

SANTOS, L. Tutela das Diversidades Culturais Regionais a Luz e o Sistema Juridico Ambiental.
Porto Alegre: SAFE – FABRIS, 2005.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 902


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SIRVINSKAS, L. Manual de Direito Ambiental. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

SORRENTINO, M; TRAJBER, R. Políticas de Educação Ambiental do órgão gestor. Vamos cuidar


do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola. In: MELLO, S; TRABJER R
(orgs). Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministério do
Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental: UNESCO, 2007.

TEIXEIRA, A; SOBRINHO, L. O direito humano ao meio ambiente frente às sociedades


multiculturais: um desafio transnacional. In: CAMPOS, J; PREVE, D; SOUZA, I. (Orgs).
Patrimônio cultural, direito e meio ambiente: um debate sobre a globalização, cidadania e
sustentabilidade. Vol. 1. Curitiba: Multideia, 2015. 256 p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 903


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR APÓS O


ADVENTO DA LEI ESTADUAL N° 14.572/11 EM PERNAMBUCO

Daniella de Andrade BANDEIRA


Graduanda em Bacharel em Direito pela Faculdade de ciências Humanas de Pernambuco
dani_bandeira@hotmail.com
Emanuel de Souza SANTANA
Graduando em Bacharel em Direito pela Faculdade de ciências Humanas de Pernambuco
e.souza07@hotmail.com
Otávio Correia CAVALCANTI NETO
Graduando em Bacharel em Direito pela Faculdade de ciências Humanas de Pernambuco
otavio.ccneto@gmail.com
Leonardo Brasil MENDES
Professor Mestre da Faculdade de Ciências Humanas de Pernambuco - FCHPE
lbrasilmendes@yahoo.com.br

RESUMO
O cenário mundial, de uma forma geral, está focado para o desenvolvimento e sustentabilidade do
uso dos recursos naturais como a água. Por se tratar de um assunto tão atual e importante não
poderia ficar de fora da abordagem das novas leis nacionais e estaduais, bem como do conteúdo
curricular das instituições de ensino. A Lei de Educação Ambiental trouxe as condições que as IES
devem abordar no cenário nacional, e mais especificamente em Pernambuco, a lei estadual de uso
racional e reaproveitamento da água estabelece condições de como os estabelecimentos,
educacionais ou não, devem proceder em relação a otimização do uso das águas (tanto pluviais
como as servidas), no âmbito acadêmico e fora dele para desenvolver a conscientização do uso da
água na comunidade como um todo. As legislações específicas vêm para positivar ações que
naturalmente deveriam fazer parte do cotidiano comunitário e educacional. No entanto, mesmo não
estando expressamente prevista na mencionada lei estadual, buscou-se demonstrar a sua relação
com a Educação Ambiental.
Palavras-chave: sustentabilidade, conscientização, programas educacionais.
ABSTRACT
The global scenario, in general, is focused on the development and sustainability of the use of
natural resources such as water. As it is a matter so current and important, it could not be left out of
the approach of the new national and state laws, as well as of the curricular content of the
educational institutions. The Environmental Education Law has brought the conditions that IES
must address in the national scenario, and more specifically in Pernambuco, the state law for the
rational use and reuse of water establishes conditions for how establishments, whether educational
or not, should proceed in relation to optimization Of the use of waters (both rainfall and water),
within and outside academia to develop awareness of water use in the community as a whole. The
specific legislations come to positivize actions that naturally should be part of the daily community
and educational. However, even though it was not expressly provided for in the mentioned state
law, it was sought to demonstrate its relationship with Environmental Education.
Keywords: sustainability, awareness, educational programs.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 904


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

O presente trabalho realizou uma breve análise do desenvolvimento sustentável dos recursos
hídricos de acordo com a lei estadual de n° 14.572 de 2011, que define o uso racional e
reaproveitamento das águas nas edificações de igual ou acima de 70m² localizadas no Estado de
Pernambuco. Levando em consideração a importância da conscientização para a consolidação da
eficácia da legislação a relação entre sustentabilidade e Uso Racional da água, assim como o papel
ético e legal das Instituições de Ensino Superior (IES) em inserir a dimensão de suas edificações no
contexto da conscientização em prol de um ambiente sustentável através da educação.
De forma dedutiva, parte-se do Desenvolvimento Sustentável, como princípio norteador do
Uso Racional da água, para evidenciar a relação entre a Lei Estadual n° 14.572 de 2011 em
Pernambuco com a Educação Ambiental. Intuindo-se que tal relação torna-se ainda mais forte se as
edificações previstas na Lei Estadual pertencerem a uma instituição de ensino, a abordagem foi
direcionada para a obrigação legal que cada IES possui de cumprir a Lei de Educação Ambiental
(Lei nº 9.795/99).
Diante do Exposto, o objetivo deste trabalho foi analisar, a partir do Desenvolvimento
Sustentável, a relação ético-legal entre a Lei Estadual Lei Estadual n° 14.572/11 de Pernambuco e a
Lei de Educação Ambiental.

DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL AO USO RACIONAL DA ÁGUA EM


PERNAMBUCO.

O tratado das Nações Unidas em 1987 intitulado de ―Nosso Futuro Comum‖ conceitua
desenvolvimento sustentável como: ―... o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem
comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades‖. Esse
conceito passou a tomar uma grande importância sendo incluído cada vez mais nos trabalhos das
Nações Unidas.
No entanto, Alexandre Charles Kiss e Jean Pierre Beurier (2004), especialistas em questões
ambientais, entendem que, apesar dos inúmeros tratados mundiais e em diversos quadros jurídicos,
o desenvolvimento sustentável não tem uma implementação a altura das nossas esperanças e que só
terá uma real dimensão se recorrermos a produtos e técnicas de substituição na produção e no
consumo que ainda são muito raros. Ainda neste sentido, Michel Prieur (2011) entende haver uma
dimensão jurídica fraca do desenvolvimento sustentável, porém crescente, exprimindo a vontade
política de integrar a preocupação do meio ambiente em longo prazo.
Apesar de discutível quanto à prática e à dimensão, o conceito está implicitamente
consignado na Constituição Brasileira de 1988, em seu Art. 225, no qual os seus sete incisos contêm

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 905


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

responsabilidades ao poder público para se alcançar um meio ambiente ecologicamente equilibrado


e saudável às futuras gerações. Assim, Machado (2013) explica que o Desenvolvimento Sustentável
é uma locução verbal que liga dois conceitos, compondo um paradoxo onde um termo desmancha o
outro. Desenvolvimento pode significar: aumento, progresso, crescimento, ou seja, envolve uma
busca de mudança, de alteração, o desenvolvimento é o termo utilizado pelos economistas que
representava a produção e o consumo, enquanto que o termo sustentabilidade baseia-se no critério
onde o homem pensa nas consequências de suas ações no tempo e no meio, ao mesmo tempo que
faz um prognóstico dessas consequências para o futuro.
Neste sentido, a sustentabilidade emerge como princípio geral no ordenamento jurídico
brasileiro (MACHADO, 2013), norteando inclusive os termos e conceitos jurídicos anteriores à
Constituição Federal, como o ―uso racional‖ e ―racionalização dos recursos ambientais‖, ambos
regulamentados pelo artigo 2º da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81). Por isso,
pode se interpretar que só há racionalidade quando as ações são pensadas em um contexto
intergeracional.
Para entender melhor esta perspectiva, pode-se analisar o Código de Águas de 1934
(Decreto nº 24.643/34), onde o uso racional da água surge enquanto prática ao permitir ao poder
público controlar e incentivar o aproveitamento industrial das águas. Enquanto que o uso racional
da água só surge como princípio jurídico no Brasil (MACHADO, 2013), inclusive já inserido a um
contexto de Sustentabilidade, com o advento da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei
nº9.433/97), em seu artigo 2º, que estabelece como objetivos: assegurar às presentes e futuras
gerações a disponibilidade hídrica em padrões de qualidades adequadas; o uso racional e integrado
dos recursos hídricos; e a prevenção e defesa contra eventos hidrológicos de origem natural ou não.
Atualmente, o uso racional da água enquanto práxis tem como melhor referência algumas
campanhas educativas da Agência Nacional da Água – ANA, que estimula algumas práticas em
indústrias, residências e instituições, como: o combate ao desperdício, identificando e eliminando
vazamentos; reutilização de águas servidas; fiscalização e manutenção das redes de abastecimento
pelos órgãos responsáveis; captação e armazenamento de águas das chuvas; utilização de
equipamentos que visem a redução do desperdício de água como torneiras com redução de vazão e
bacia com sistema de economia de água.
Ainda com relação à prática, a Lei Estadual nº 14. 572/11, acabou por estabelecer algumas
medidas de uso racional e reaproveitamento da água no Estado de Pernambuco, quando definiu o
uso racional de água como um conjunto de ações de reaproveitamento, para evitar o desperdício da
água tratada e o consumo desse recurso nos diversos segmentos, respeitando os padrões definidos
pela ABNT (Art. 2º, inciso II).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 906


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A Lei nº 14.572/2011, basicamente, trata de duas diretrizes: a captação e armazenamento e a


utilização de água proveniente das chuvas; e a captação, armazenamento, tratamento e utilização de
águas servidas (Art.4º), objetivando medidas de conservação, redução do desperdício e utilização de
fontes alternativas para a captação de água, bem como sua conscientização para os usuários. A
norma se aplica a toda edificação e reformas de imóveis residenciais e não-residenciais a partir de
70m² (setenta metros quadrados). Dessa forma, espera-se a diminuição da demanda de água tratada,
aumentando a condição de atendimento das distribuidoras e reduzindo a possibilidade de
inundações.
No entanto, apesar da Lei pernambucana ser bem clara com relação às práticas de uso
racional da água, não trouxe qualquer regulamentação sobre a ―conscientização para os usuários‖.
Desta forma, para além da perspectiva meramente predial trazida pela Lei, a possibilidade da
edificação ser utilizada por uma instituição de ensino torna imanente ao prédio não só a
conscientização, mas também a obrigação de inserir o uso racional da água nos programas e
projetos pedagógicos.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR NO ESTADO DE


PERNAMBUCO.

Partindo-se da premissa de que a educação é um processo que usa como instrumentos a


transformação e a conscientização (FREIRE, 1967) e as instituições educacionais têm um papel
fundamental em relação a sustentabilidade e por isso, seus processos e serviços devem levar em
consideração os níveis: individual, organizacional, político-econômico, sociocultural e ecológico
(UNESCO, 1999), entende-se que deve haver a integração entre a Lei Estadual nº 14. 572 de 2011 e
a Lei nº 9.795/99 (Lei de Educação Ambiental – LEA), principalmente quando tratar-se de uma
edificação pertencente a uma Instituição de Ensino Superior (IES).
Por isso, a Lei de n° 14.572, que estabelece as normas para o uso racional das águas nas
edificações no Estado de Pernambuco, não deve ser enxergada de forma singular, levando em
consideração apenas seu valor único. Mas sim, em um olhar expandido, relacionando o vínculo
entre a medida de uso racional das águas com a perspectiva da educação ambiental, para promover
a sustentabilidade no uso racional das águas das edificações pernambucanas.
Dentro dessa perspectiva, a Lei pernambucana de uso racional torna obrigatória a
conscientização, enquanto a LEA traça princípios, diretrizes e objetivos para atingi-la. Sendo assim,
fundamenta tal perspectiva o Art. 2º da LEA ao afirmar que: ―educação ambiental é um componente
essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos
os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.‖ Especificamente,
as Instituições de Ensino Superior (IES) têm obrigação de inserir em seus programas educacionais

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 907


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

atividades que desenvolvam a conscientização ambiental na população direta e indiretamente ligada


a ela. As Instituições de Ensino Superior (IES) além de levar conhecimento, tecnologia e suporte
ético para os futuros gestores, influenciam o restante da comunidade onde atuam.
Portanto, por mais que o prédio seja privado, a educação é um direito de todos e visa o pleno
desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania, (Constituição Federal de
1988 em seu art. 205). E assim, a educação ambiental passa a constituir um direito do cidadão,
assemelhado aos direitos fundamentais (MILARÉ, 2015), sendo ainda o elemento modelador da
conscientização para os usuários das edificações.
Essas bases legais definem que a educação comum e a educação ambiental se integram
intrinsecamente aos direitos e deveres dos cidadãos, o que as torna, não apenas legais, mas
necessárias para o desenvolvimento ético, democrático e sustentável da sociedade.

CONCLUSÃO

Diante do exposto, as edificações destinadas aos demais níveis de ensino e, em específico, as


Instituições de Ensino Superior (IES), se estendem em seu dever, além do simples cumprimento das
normas para o uso racional e de reaproveitamento das águas nas edificações pernambucanas
previstas na Lei Estadual 14.572/2011, pois estão vinculadas por um dever ético e legal de
promover a educação ambiental, seja instituição de ordem pública, ou de ordem privada.
Promovendo assim, uma conscientização voltada à prática, criadora de uma relação
plurilateral, onde todos são participes do processo de sustentabilidade dos recursos naturais, e de
forma geral, do meio ambiente, estabelecendo assim o desenvolvimento sustentável.
Apesar de, no intuito de melhor evidenciar, as análises legais terem sido restritas às
edificações pertencentes à Instituições de Ensino Superior, considera-se que a Lei de Educação
Ambiental aplica-se a qualquer tipo de edificação dentro dos parâmetros da Lei Estadual
14.572/2011.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Código de Águas, Decreto Nº 24.643, de 10 de Julho de 1934.

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.

BRASIL, Política Nacional de Educação Ambiental, Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe
sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras
providências,1999.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 908


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BRASIL, Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei nº9.433 de 8 de janeiro de 1997. Institui a
Política Nacional de recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de recursos
Hídricos, 1997.

BRASIL, Política Nacional do Meio Ambiente, Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispões
sobre a Política Nacional de Meio Ambiente e mecanismo de formulação e aplicação, e dá outras
providências, 1981.

FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de, Curso de Direito Ambiental. 6 ed. Ver., atual. e ampl. –
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.

FREIRE, P. A educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.

GOMES, Daniela Vasconcellos. Educação Para o Consumo Ético Sustentável. Rev. eletrônica
Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v.16, janeiro junho de 2006.

MACHADO, Paulo Affonso Leme, Direito Ambiental Brasileiro. 21 ed. – São Paulo: Editora
Malheiros LTDA, SP ,2013, 1311p.

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 10 ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2015.

PERNAMBUCO, Lei nº 14.572 de 27 de dezembro de 2011. Estabelece normas para o uso racional
e reaproveitamento, dás águas nas edificações do Estado de Pernambuco e dá outras
providências, 2011.

UNESCO. Carta de Belgrado, Encontro de Belgrado, Iugoslávia, 1975. Disponível em :


http://www.fzb.rs.gov.br/upload/20130508155641carta_de_belgrado.pdf . Acesso em 21 de
julho de 2017.

UNESCO. Education and Population Dynamics: Mobilizing Minds for a Sustainable Future, EPD-
99, 1999.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 909


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTERSEÇÕES ENTRE A APRENDIZAGEM COOPERATIVA E A EDUCAÇÃO


AMBIENTAL: CAMINHOS EM UM NOVO PARADIGMA EDUCACIONAL

Francisco Sócrates Costa de ABREU


Graduando do Curso de Oceanografia da UFC
socratesfiles@gmail.com
Brenda Rozendo MELO
Cientista Ambiental UFC
brendarzmelo@gmail.com
Mariana Ferreira Ventura ALVES
Graduanda do Curso de Engenharia Química da UFC
marianaferreira554@yahoo.com.br
Ana Maria Ferreira dos SANTOS (Orientadora)
Doutora em Geografia UFC
amariafs@gmail.com

RESUMO
O atual modelo de ensino propõe a razão como fator distintivo do ser humano, atribuindo-lhe um
valor inquestionável na aquisição de conhecimento. No entanto, desde o séc. XIX, essa prioridade
da razão é amplamente questionada, apontando-se fatores de diversas origens como decisivos na
constituição socioeducativa de indivíduos em quaisquer contextos. Dentro dessa perspectiva, das
relações interpessoais como uma parte fundamental no processo de aquisição cognitiva,
encontramos duas abordagens que propõem avanços pedagógicos: a Aprendizagem Cooperativa e a
educação ambiental. O modelo de aprendizagem cooperativa é baseado em cinco pilares para o
desenvolvimento de habilidades, responsabilidades e o aprendizado para o trabalho em grupo por
um objetivo comum. Tais características são comumente desenvolvidas nas experiências trazidas
pela Educação Ambiental, visto que se fundamenta em uma visão holística, ressaltando a
interdependência entre sujeitos e destes com o ambiente, mais próxima da pluralidade do cenário
real. Como ponto de partida, este trabalho levanta a hipótese de que a AC e a EA possuem uma base
filosófica comum e compartilham fundamentos que as aproximam e podem constituir parte de uma
novo paradigma educacional. Para isso, empreendemos uma pesquisa bibliográfica buscando
encontrar possíveis interseções teóricas e/ou metodológicas existentes entre o modelo de
aprendizagem cooperativa e a educação ambiental, além do novo paradigma educacional.
Realizamos, então, uma análise para verificar se existem abordagens comuns entre AC e EA que
podem contribuir para a melhoria do aprendizado. A partir da comparação realizada entre as duas
abordagens, foram verificadas a existência de similaridades tanto metodológicas quanto de
princípios e, dadas as diferenças, foi feita uma síntese a fim de sugerir melhorias a serem aplicadas
na educação ambiental, com base na aprendizagem cooperativa.
Palavras-chave: Paradigma Emergente; Princípios Pedagógicos; Metodologia de Ensino.
ABSTRACT
The current model of education proposes rationality as a distinctive factor of the human being,
attributing it an unquestionable value in the acquisition of knowledge. However, since the 19th
century, this priority of rationality is widely questioned, pointing to factors of diverse origins as
decisive in the socio-educational constitution of individuals in any contexts. Within this perspective,
of interpersonal relations as a fundamental part in the process of cognitive acquisition, we find two

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 910


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

approaches that propose pedagogical advances: Cooperative Learning and Environmental


Education. The cooperative learning model is based on five pillars for the development of skills,
responsibilities and learning for group work for a common goal. Such characteristics are commonly
developed in the experiences brought by Environmental Education, since it is based on a holistic
vision, emphasizing the interdependence between subjects and of these with the environment, closer
to the plurality of the real scenario. As a starting point, this paper raises the hypothesis that CL and
EE have a common philosophical basis and share the foundations that approach them and can be
part of a new educational paradigm. To do this, we undertake a bibliographical research to find
possible theoretical and/or methodological intersections between the cooperative learning model
and environmental education, in addition to the new educational paradigm. We then perform an
analysis to see if there are common approaches between CL and EE that can contribute to improved
learning. Based on the comparison made between the two approaches, we verified the existence of
similarities both methodological and principles and, given the differences, a synthesis was made in
order to suggest improvements to be applied in environmental education, based on cooperative
learning.
Keywords: Emerging Paradigm; Pedagogical Principles; Teaching Methodology.

INTRODUÇÃO

O atual modelo de ensino é oriundo da perspectiva sobre o mundo representada pela ciência
moderna e seu coroamento filosófico, no séc. XVIII, o Iluminismo, que, contrapondo-se a uma
situação anterior na qual a religião tinha prioridade sobre o pensamento, passa então a propor a
razão como fator distintivo do humano e atribuir-lhe valor inquestionável na aquisição de
conhecimento. Assim, o humano passa a ser um sujeito racional capaz de apreender o ―mundo-
objeto‖ dado que está a sua volta, criando uma separação sujeito-objeto que norteia as relações tanto
interpessoais quanto com o meio ambiente. A partir disso, nas metodologias tradicionais de ensino,
os estudantes são apenas receptores, sem um desenvolvimento de sua capacidade crítica e com
prejuízo para sua autonomia no processo de aprendizagem. Além disso, as relações interpessoais
não são valorizadas, estimulando interações competitivas e individualistas.
Desde o séc. XIX e começo do séc. XX, no entanto, essa prioridade da razão é
reiteradamente questionada, apontando-se fatores socioeconômicos, culturais, subjetivos ou mesmo
biológicos como essenciais na constituição socioeducativa de indivíduos em quaisquer contextos.
Na educação, pensadores como Piaget e Vygotsky opõem-se às correntes derivadas da separação
sujeito-objeto: de um lado, o objetivismo (todo conhecimento se constrói através da experiência)
decorrente do materialismo mecanicista; de outro, o subjetivismo (o conhecimento é construído a
priori), fruto do idealismo. Eles defendem que o desenvolvimento intelectual decorre de um meio
termo, ou seja, da interação do sujeito com os meios físico e social. Isso possibilita uma construção
ativa do conhecimento, em oposição ao behaviorismo, no qual o comportamento e o saber são
estruturados de forma passiva. (TERRA, 2006).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 911


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

No Brasil, essa concepção sócio-construtivista foi trabalhada por Paulo Freire, que aponta
para as relações interpessoais como uma parte fundamental no processo de aquisição cognitiva, indo
além do modelo fabril da educação bancária de transmissão de conhecimentos em via descendente
de um sujeito conhecedor (professor) para outro ―desconhecedor‖ (aluno).
Frente a esses desenvolvimentos, Paul Blikstein, em publicação da UNESCO/MEC, propõe
um exercício de imaginação em que Piaget contentou-se em ser zoólogo, Paulo Freire em continuar
sua carreira como advogado, enfim, um mundo onde não houve pesquisadores em educação
estudando como as pessoas aprendem.

Nesse mundo, como seriam as escolas? Muito provavelmente, idênticas às nossas escolas
de hoje: alunos em fileiras, professor lá na frente, provas, livros didáticos, crianças
divididas por idade, programas de estudo sobrecarregados com conteúdos irrelevantes,
―decoreba‖ e falta de motivação. Esse breve exercício de imaginação sugere que,
infelizmente, décadas de pesquisa em educação pouco fizeram para mudar nossas escolas.
Sim, há avanços – mas, de um modo geral, verdade seja dita: nossas escolas comportam-se
como se Piaget, Vygostky, Freire ou Papert jamais tivessem existido. (BLIKSTEIN, 2007,
p. 156).

A escola formal, então, mantida ou regulada pelas instâncias governamentais, distancia-se


dos avanços que as ciências em geral vêm produzindo, tanto epistemológica quanto
pragmaticamente. Nesse sentido, a Educação Ambiental (EA) também encontra desafios para
superar a concepção utilizada pelas metodologias tradicionais de ensino e desvencilhar-se da lógica
aristotélica de compartimentação do conhecimento (SATO, 2001). Se fazendo necessária uma
reavaliação da EA, compreendendo-a como uma luta ambiental transformadora, a fim de modificar
metodologias já defasadas que não atua de forma transformadora, muitos menos acompanham a
modificação da sociedade, não atingindo a pluralidade e suas diversas formas de expressões
culturais.
A partir dessa perspectiva, buscou-se, por meio de uma análise bibliográfica, avaliar as
convergências teórico-metodológicas existentes entre a aprendizagem cooperativa e as práticas em
educação ambiental como possibilidades dentro de um novo paradigma educacional, já apontado
por diversas fontes, mas sistematizado por Moraes (2012). Assim, esse estudo comparativo entre os
dois modelos apresentados intenta apontar os elementos dessas abordagens capazes de contribuir
para a construção e melhoria do aprendizado por novos caminhos.

REFERENCIAL TEÓRICO

Quanto à prática educacional, na mesma linha de pensamento de Piaget e Vygotsky,


defensores de que o conhecimento é construído a partir da interação sujeito-objeto, Paulo Freire diz
que o educador precisa saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades
para sua produção ou construção pelo próprio educando. Ou seja, não deve existir uma relação de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 912


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

passividade entre professor e aluno. O docente deve forçar a capacidade crítica do educando
(FREIRE, 1996). Segundo o autor, quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao
aprender. Portanto, existe uma interdependência no ensino-aprendizagem entre docente e discente.
Nesse campo de avanços na pesquisa pedagógica, com o reconhecimento da
interdependência na relação entre sujeito e objeto do conhecimento, insere-se, como uma nova
proposta educacional, a Aprendizagem Cooperativa (AC). Segundo os irmãos Jonhson e Jonhson,
na aprendizagem cooperativa, os alunos aprendem em conjunto para que possam posteriormente
realizar algo mais elevado como indivíduo. Por meio da AC, o indivíduo passa a desenvolver um
esforço cooperativo nos trabalhos em grupo, visando o alcance do objetivo comum. Qualquer
prática de aprendizagem, em qualquer área, pode ser estruturada de forma cooperativa (JONHSON;
JONHSON, 1989).
Em desenvolvimento desde o final do séc. XIX e disseminada pelo mundo pelos irmãos
David e Roger Johnson, esse modelo ressalta a importância da interação entre indivíduos na
construção de uma cognição social, assim como intelectual. De acordo com as ideias dos irmãos
Johnson, a aprendizagem cooperativa fundamenta-se em cinco pilares: i) Responsabilidade
individual: reconhecer a importância do compromisso individual para o alcance dos objetivos
estabelecidos; ii) Interdependência positiva: sentimento de dependência mútua; estabelecimento de
objetivos comuns; iii) Processamento de grupo: avaliação regular do desempenho do grupo; iv)
Interação face a face: interação com os demais integrantes do grupo, compartilhando e construindo
conhecimento e experiências; e v) Habilidades sociais: habilidades como empatia e comunicação.
Para que essa abordagem seja eficiente, é necessário que os pilares sejam aplicados e
estimulados, possibilitando, assim, o desenvolvimento de competências e habilidades sociais que
permitam a atuação do sujeito como agente de uma prática transformadora na sociedade. Dado esse
aspecto, percebe-se que a aprendizagem cooperativa se relaciona com a educação ambiental, com o
reconhecimento da importância das interações sujeito-sujeito e sujeito-ambiente, podem contribuir
para o alcance de objetivos comuns ao coletivo, visto que ambas ressaltam a educação como
dinâmica de atuação social.
Em 1981, é sancionada, no Brasil, a Lei nº 6.938, estabelecendo a Política Nacional do Meio
Ambiente, que visa à preservação e à conservação do meio ambiente, à melhoria da qualidade de
vida e classifica, como um de seus princípios, a aplicação da educação ambiental em todos os níveis
de ensino, inclusive na comunidade, buscando capacitá-la para participação ativa na proteção e
defesa do ambiente (BRASIL, 1981). Mais tarde, com a Conferência das Nações Unidas para o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento no Rio de Janeiro (Rio 92), criou-se uma conjuntura muito
favorável à expansão da educação ambiental e, em 1999, através da Política Nacional de Educação
Ambiental (Lei nº 9.795/99), é reforçado o direito de todos à educação ambiental, estabelecendo o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 913


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

enfoque humanista, holístico, democrático e participativo como fundamental, bem como reconhecer
e respeitar a pluralidade e a diversidade individual e cultural (BRASIL, 1999).
A educação ambiental surge exatamente dessa percepção, ao passo em que é proposta
também como medida preventiva das consequências de uma relação negativa entre sujeito e
ambiente, sendo compreendida por Michèle Sato como transformadora, uma luta ambiental que
reivindica liberdade de expressão, autonomia e respeito pelas diversidades.

A EA deve se configurar como uma luta política, compreendida em seu nível mais
poderoso de transformação: aquela que se revela em uma disputa de posições e proposições
sobre o destino das sociedades, dos territórios e das desterritorializações; que acredita que
mais do que conhecimento técnico-científico, o saber popular igualmente consegue
proporcionar caminhos de participação para a sustentabilidade através da transição
democrática (SATO; GAUTHIER; PARIGIPE, 2005, p. 106).

Como as metodologias pedagógicas tradicionais são reducionistas e, portanto, incapazes de


englobar a ação ambientalmente integrada, faz-se necessária a procura por outras metodologias
semelhantes à aprendizagem cooperativa. Desse modo, ambas as metodologias mostram-se afins ao
holismo, que é a percepção de que o todo é maior que as partes e que existe interdependência entre
o indivíduo e o ambiente.
Sob essa mirada, percebe-se que a prática da educação ambiental pode ser vinculada à
aprendizagem cooperativa. Pois o meio ambiente é um objeto compartilhado, essencialmente
complexo e somente uma abordagem colaborativa favorece uma melhor compreensão e uma
intervenção mais eficaz (SAUVÉ, 2005). A educação ambiental necessita vincular os processos
ecológicos aos sociais na leitura de mundo, na forma de intervir na realidade e de existir na natureza
(MELLO; TRAJBER, 2007). Isso torna-se possível na medida em que é feita uma conscientização,
no sentido em que foi proposta por Paulo Freire (1980, p. 27): ―A conscientização não pode existir
fora da ‗práxis‘, ou melhor, sem o ato ação – reflexão‖. A AC possibilita isso, visto que promove
autonomia e um maior poder de criticidade (HEERDT; BRANDT, 2007).

METODOLOGIA

Como ponto de partida, este trabalho levanta a hipótese de que a AC e a EA possuem uma
base filosófica comum e compartilham fundamentos que as aproximam, tornando-as um conjunto
de práticas pedagógicas que fazem parte de um paradigma educacional emergente.
Nessa perspectiva, empreendemos uma pesquisa bibliográfica buscando encontrar possíveis
interseções teóricas e/ou metodológicas existentes entre o modelo de aprendizagem cooperativa,
baseado em Johnson e Johnson, e a educação ambiental a partir do trabalho de Michèle Sato e
pensada também por outros autores.
No desenho do panorama do que seria um novo paradigma educacional, apoiamo-nos no
trabalho de Maria Cândida Moraes, no qual a autora faz um levantamento dos avanços mais
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 914
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

significativos nas ciências e tenta expor o descompasso entre estas e as práticas pedagógicas,
lançando luz sobre as possíveis implicações e desenvolvimentos que a práxis educativa corrente tem
a percorrer na construção de uma educação condizente com os conhecimentos produzidos até a
atualidade (MORAES, 2012).
Realizamos, então, uma análise para verificar se existem abordagens comuns entre AC e EA
que podem contribuir para a melhoria do aprendizado.

DISCUSSÃO

A emergência de um novo paradigma educacional, mais que a capacidade de inovação


científica, mostra a defasagem de nosso modelo educacional (provavelmente em todos os níveis)
frente ao que as inúmeras ciências têm percorrido na história recente. O que seria o ponto de
convergência entre a educação e a produção científica, conteúdos gerados pelo pensamento
metodologicamente organizado, serve principalmente para alimentar uma educação excessivamente
compartimentalizada, focada nesses conteúdos e, baseada em um conceito de objetividade científica
já desconstruído tanto pela filosofia quanto pela práxis científica, sem uma construção crítica acerca
das diversas realidades em que se inserem estudantes plurais.
Dentro da proposta levantada por Moraes (2012), a construção pedagógica abarcando os
avanços do conhecimento pode ser compreendida em três diferentes instâncias. Há uma mudança
mais global, mais propriamente paradigmática, com implicações para a visão de mundo de sujeitos
envolvidos em todas as esferas da ação educacional. Em nível institucional, ou seja, na organização
da escola, aparecem novas necessidades, que vão desde a percepção das e dos estudantes, agora na
figura de aprendizes, como o foco da educação até a estruturação do currículo incluindo esses novos
valores e ampliando o espectro de atuação da escola. E, em um nível mais face a face, percebe-se
uma mudança acentuada no modo como as relações dentro dos ambientes de aprendizagem se
desenvolvem.
Os elementos paradigmáticos mais globais, relativos às transformações da visão de mundo,
estariam vinculados à percepção da educação como um diálogo aberto, considerando a conjunção
de dois conceitos claramente oriundos do novo pensamento científico. O diálogo aqui, não é apenas
o da linguagem corrente, que remetemos diretamente à conversa entre duas ou mais pessoas, trata-
se de uma derivação do conceito de dialógico, cunhado por Morin (2008), que pretende ultrapassar
o conceito de dialético, no qual apenas duas teses são confrontadas para gerarem uma síntese. No
pensamento dialógico (MORIN, 2007), existe a possibilidade de que mais de duas teses dialoguem
e, mais que gerarem uma síntese, podem coexistir ao ponto de permitirem a emergência de novas
teses, de forma a aumentar a diversidade de ideias. Some-se a isso, o conceito de aberto, trazido
diretamente da teoria dos sistemas, que coloca um sistema aberto como aquele no qual há trocas

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 915


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

contínuas com o ambiente, de modo que o sistema vive em movimento constante em busca do
equilíbrio, recebendo informações do meio, assimilando-as, transformando o meio, obtendo novas
informações e assim segue em uma espiral.
Segundo a autora, a educação como um sistema fechado pode ser identificada quando ―[...] o
planejamento possui uma sequência linear, apresenta um único caminho traduzido em objetivos
predeterminados e externos ao processo, à seleção e à organização [...] os fins estão separados dos
meios, o que caracteriza a visão tecnicista, instrumentalista da educação.‖ (MORAES, 2012, p.
149). Mais adiante, expõe a educação considerada como um sistema transformacional e dialógico
sendo fundamentada

[...] nos processos interativos que representam as transações locais, traduzidas pelas
relações entre educador e educando, educando e seu contexto, escola e comunidade, a
aprendizagem e o entendimento ocorrem mediante processos de reflexão na ação e reflexão
sobre a ação, que podem ser representados pelo ciclo: ação-execução-reflexão-depuração.
Baseamo-nos na visão da aprendizagem como algo construído pelo diálogo que o indivíduo
mantém consigo mesmo, com os outros, com a cultura e com o contexto. (idem, p. 150).

Não por coincidência, todo esse quadro de transformação é o mesmo por onde se desdobra o
pensamento ecológico, que trouxe para a análise da realidade esses avanços científicos e
evidenciou, desde os anos 60, a crise ambiental na qual estamos, fruto da aplicação da ciência sem
consciência, acrítica, reducionista e sem uma perspectiva ética. Nesse sentido, a educação ambiental
crítica questiona metodologias tradicionais engessadas em ações pontuais que não sensibilizam
profundamente o público-alvo e não agem de forma a transformar e modificar pensamentos e
modos de vida. Chegando ao ponto de se considerar que a EA deva estar necessariamente vinculada
―[...] ao campo ambiental, posicionando-a na esteira dos movimentos sociais e ecológicos mais que
ao campo institucional educativo estrito senso [...]‖ (CARVALHO apud SATO, 2001).
Essa crítica se faz possível por conta do uso da EA em uma prática pedagógica não
transformadora, que a entende como ―adjetivo‖ da educação e acessória de outros processos mais
generalistas. Assim, a educação ambiental estaria mutilada se trabalhada em um paradigma
reducionista, que considera a natureza como objeto em separado da dimensão humana e vice-versa.
No paradigma educacional emergente, o papel da escola é proporcionar a estudantes uma educação
centrada no sujeito ―coletivo‖, inseridos que estão em uma ecologia cognitiva, em relação com
outras pessoas, permeadas por instituições de ensino, sistemas de escrita, línguas, livros e
computadores que se interconectam. Seguindo Paulo Freire, Moraes reafirma

[...] que ninguém se conscientiza separado dos outros, ninguém evolui sozinho, desligado
do mundo, apartado dos outros. [...] Tudo está relacionado, conectado, em interpenetração e
renovação contínuas, num constante diálogo do sujeito com o mundo, do sujeito que toma
iniciativa, que é ativo, que, ao interagir com as coisas, com as pessoas, coloca o mundo em
movimento.‖ (2012, p. 161, grifo nosso).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 916


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O conceito de progresso descrito pela lógica do sistema econômico generaliza a definição de


desenvolvimento sustentável, que se utiliza do discurso de sustentabilidade para a manutenção do
crescimento econômico em detrimento da qualidade das relações sociais e ecológicas. Diante desse
cenário de distanciamento antrópico das relações naturais, Sato (2001) propõe a necessidade de um
envolvimento humano que se coloque em prol das boas relações socioambientais, exaltando o
reconhecimento das diversidades como atitude solidária e fundamental para o atendimento à
pluralidade.
A fragmentação do conhecimento e seu distanciamento da aplicabilidade real, já criticada
pelo paradigma educacional emergente, é colocada como insuficiente para o entendimento do
ambiente, mostrando-se uma lógica a ser revista para o desenvolvimento da EA, que necessita das
relações interdisciplinares para a compreensão da complexidade ambiental. A metodologia de
integrar conhecimentos é trabalhada no currículo fenomenológico (SATO, 2001), que incentiva a
busca natural do saber a partir de uma educação horizontalizada, estimulando questionamentos
espontâneos para a geração do conhecimento que vão além de sua compartimentalização em
disciplinas e das amarras acadêmicas.
Em paralelo, uma mudança institucional seria um caminho necessário para a efetivação
desse paradigma emergente. Como direcionado por Sato, na proposta de Moraes, todas essas
transformações e novos vieses de pensamento, somados à importância do contexto para a
construção da prática educacional, trazem uma mudança na missão da escola, a partir da qual o foco
passa a ser o aprendiz, quando se passa do ensino à aprendizagem. O currículo fenomenológico
equivaleria ao que Moraes chama de currículo em ação, mas, enquanto esta se detém na construção
epistemológica que fundamenta esse currículo em construção contínua, Sato reafirma o trabalho de
empoderamento das culturas, de horizontalidade dos saberes, que exige a participação ativa de
quem participa do projeto educacional na construção do currículo.
Essa construção de um novo campo paradigmático em que a educação é tida como um
diálogo aberto, centrada no sujeito coletivo, com uma visão ecológica trazendo a interatividade e a
interdependência, implica mudanças de percepções e valores, coroando o caminho para uma
educação complexa permeada pela ética, em que a neutralidade é apenas silêncio ou conivência
perante as práticas dominantes de opressão. A educação ambiental, então, ―Desenvolve-se num
contexto de complexidade, procurando trabalhar não apenas a mudança cultural, mas também a
transformação social, assumindo a crise ambiental como uma questão ética e política.‖
(MOUSINHO, 2003, p. 349).
Temos, dessa forma, a Educação Ambiental como uma proposta de atuação pedagógica que
se encaixa e fornece elementos para a construção do paradigma educacional emergente e a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 917


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Aprendizagem Cooperativa como uma metodologia que atende aos elementos apontados ao longo
deste trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aprendizagem cooperativa, trabalhada em pilares que estimulam uma aproximação entre


os sujeitos envolvidos e favorecem a confiabilidade entre eles, busca a construção de um sistema
horizontal de busca pelo saber e aprendizado mútuo, respeitando as características particulares de
aprendizes desde suas histórias de vida como fonte de saberes e vivências próprias. Dessa forma,
pode ser configurada como uma importante ferramenta metodológica de contribuição para a
aproximação de práticas que contemplam as teorias do paradigma educacional emergente,
relacionando seus elementos pedagógicos descritos por Moraes, como o aprender a aprender, o
educador-educando, as inteligências múltiplas sendo valorizadas, o autoconhecimento e o
reconhecimento do outro como condição básica nas relações interpessoais, além da abertura à
intuição e à criatividade. E é a partir dessa avaliação que se fundamentam as propostas para a
reconstrução da EA.
De tal forma que é possível resumir os elementos desse paradigma educacional emergente
em paradigmáticos, institucionais e pedagógicos (práticos). Vemos a Educação Ambiental como
doadora de subsídios para a construção paradigmática, que, por sua vez, fornece pistas para novas
possibilidades pedagógicas. Enquanto isso, a Aprendizagem Cooperativa aparece como uma
ferramenta metodológica virtualmente potencial para a efetivação desses elementos emergentes,
servindo como meio de realização e disseminação de práticas condizentes com uma nova condição
paradigmática capaz de fazer uma educação mais inserida e participativa na construção de uma
realidade por meio de valores de cooperação, respeito à diversidade, justiça socioambiental e
democracia efetiva.

REFERÊNCIAS

BLIKSTEIN, Paulo. As novas tecnologias na educação ambiental: instrumentos para mudar o jeito
de ensinar e aprender na escola. In: MELLO, Soraia S. de; TRAJBER, Rachel. (coords.) Vamos
cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola. Brasília: Ministério da
Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministério do Meio Ambiente,
Departamento de Educação Ambiental: UNESCO, 2007.

BRASIL. Congresso. Senado. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 918


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

providências. Brasília, DF. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em: 09 set. 2016.

______. Congresso. Senado. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação
ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília,
DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm>. Acesso em: 09 set.
2016.

ENCONTRO Nacional dos Geógrafos, 16, 2010, Porto Alegre. A aprendizagem cooperativa no
processo de ensino-aprendizagem: perspectivas do grupo de estudo do curso de licenciatura em
Geografia da UFC. Fortaleza: Ago, 2010. 8 p.

FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. São Paulo: Cortez, 1980.

______. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GUERRA, Antonio Fernando S. A aprendizagem cooperativa no processo de ensino-aprendizagem.


2001. 412 f. Tese (Doutorado) - Curso de Engenharia de Produção, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2002.

HEERDT, Betina; BRANDT, Célia F. Aprendizagem cooperativa/colaborativa com o uso da


webquest em sala de aula. VII Seminário de pesquisa em educação da Região Sul, Vale do
Itajaí/SC, 22-5 jun. 2007.

JONHSON, D. W.; JONHSON, R. Cooperation and competition: theory and research. Interation
Book Company: Edina, MN, 1989.

MELLO, Soraia S. de; TRAJBER, Rachel. (coords.) Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas
em educação ambiental na escola. Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de
Educação Ambiental: Ministério do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental:
UNESCO, 2007.

MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente. São Paulo: Papirus, 2012.

MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulinas, 2007.

______. O método I: a natureza da natureza. Porto Alegre: Sulinas, 2008.

MOUSINHO, P. Glossário. In: TRIGUEIRO, A. (Coord.) Meio ambiente no século 21. Rio de
Janeiro: Sextante, 2003.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 919


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

PHILIPPI JUNIOR, Arlindo.; PELICIONI, Maria Cecília Focesi. Educação ambiental e


sustentabilidade. Barueri, SP: USP, Manole, 2005. 878 p.

PROGRAMA de Educação Ambiental do Ceará. PEACE. Fortaleza, CE: SEMACE, 2003. 159 p.

QUINTAS, José Silva. Pensando e praticando a educação ambiental na gestão do meio ambiente.
2. ed. Brasília: IBAMA, 2002. 206 p.

SATO, Michèle. Debatendo os desafios da educação ambiental. In: I Congresso de Educação


Ambiental Pró Mar de Dentro. Rio Grande: Mestrado em Educação Ambiental, FURG & Pró
Mar de Dentro, 17-21 mai. 2001.

SATO, M.; GAUTHIER, J. Z.; PARIGIPE, L. Insurgência do grupo-pesquisador na educação


ambiental sociopoética. In: SATO, Michèle; CARVALHO, Isabel C. M. Educação ambiental:
pesquisa e desafios. Porto Alegre: Editora Artmed, 2005.

SAUVÉ, L. Educação ambiental: possibilidades e limitações. In: Educação e pesquisa, SP, vol. 31,
n. 2, p. 317-22, mai/ago 2005.

TERRA, Márcia Regina. O desenvolvimento humano na teoria de Piaget. 2006. (Resenha).


Disponível em: <http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/d00005.htm>. Acesso
em: 10 set. 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 920


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

BARCO ESCOLA CHAMA MARÉ: ECOPEDAGOGIA COMO UM INSTRUMENTO


DE EDUCAÇÃO SUSTENTÁVEL

Giovanna Guadalupe Cordeiro da OLIVEIRA


Graduanda no curso de Ecologia da UFRN
gio.lupee@gmail.com
Pedro Máximo Costa da SILVA
Graduando no Curso de Geografia da UFRN
pedromaxiimo@hotmail.com
Daniel Vítor Linhares do MONTE
Graduando no Curso de Ecologia da UFRN
danielvitorlm@gmail.com
Tiago Pinheiro de SOUZA
Professor Orientador
tiagounp@yahoo.com.br

RESUMO
Diante da atual conjuntura ambiental que se apresenta é cada vez mais urgente buscar métodos que
contribuam para melhorar a relação do homem com a natureza. A educação é cada vez mais
apontada como fundamental nesse processo de transição, no qual o ser humano entende o seu papel
enquanto parte do meio em que vive. Vislumbrando essa necessidade de orientar os indivíduos do
seu potencial enquanto agente transformador, surge a Ecopedagogia; movimento que engloba os
pilares educacionais, sociais e econômicos, colocando a Terra como lar comum a todos,
problematizando a atual postura do homem e a gravidade contida nos impactos causados pelas suas
atividades. Este trabalho tem como objetivo explicar percepções e práticas de sensibilização na
execução da aula-passeio do barco Escola Chama-Maré, como ferramenta pedagógica que coloca
em prática as perspectivas da Ecopedagogia.
Palavras-Chaves: Ecopedagogia, Educação, Chama-Maré, Sensibilização

ABSTRACT
I see that the current environmental situation we are facing, it is increasingly urgent to seek methods
that contribute to improving man's relationship with nature. Education is increasingly considered
fundamental in this transition process, in which the human being understands his role as part of the
environment in which he lives. I glimpsed this need to guide individuals from their potential as a
transforming agent, ecopedagogy arises. A movement that encompasses the educational, social and
economic pillars, placing the earth as a common home to all, problematizing man's current posture
and the severity contained in the impacts caused by his activities. This work aims to explain
perceptions and sensitization practices in the implementation of the class trip of the boat Chama-
Maré, as a pedagogical tool that puts into practice the perspectives of ecopedagogy.
Keywords: Ecopedagogy, Education, Chama-Maré, Awareness

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 921


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

O estilo de vida popularizado durante os últimos anos tem levado a desarmonia da relação
do homem com o meio ambiente. A necessidade de uso dos recursos naturais nas atividades
econômicas, pessoais e de lazer tornou a natureza em um espaço de uso e extração, na qual a
preocupação com a conservação e preservação tornou-se ponto secundário. Poucos são aqueles que
conseguem desenvolver um senso crítico sobre como seus hábitos diários são perturbadores e
diagnosticar suas ações como insustentáveis do ponto de vista de sobrevivência no planeta.
(MARCATTO, 2002, p.8)
Os cientistas discutem sobre o surgimento de uma nova era, nomeada como Antropoceno, na
qual os seres humanos seriam os principais responsáveis pelas grandes mudanças na Terra,
principalmente as de cunho climático e atmosférico (ARTAXO, 2014, p .13). Ou seja, a espécie
humana estaria causando distúrbios que podem ser sentidos em uma escala global. Diante disso,
torna-se notória a influência que o homem exerce no meio em que vive e como suas atividades são
impactantes e colocam em risco as condições para sua existência e dos demais organismos.
Em meio a essa problemática surge a necessidade de educar as pessoas a fim de que elas
reconheçam o seu papel enquanto agente modificador da natureza e que seu olhar perante a biota se
modifique, assim como sua postura. Haja vista que aproximar o sujeito da realidade, fazê-lo
reconhecer sua ligação com o espaço e transformar o teórico em prático são caminhos necessários
para sensibilizar o indivíduo da importância que os serviços ambientais carregam, da urgência em
protegê-los e como as suas atitudes são determinantes para o sucesso na busca pelo equilíbrio
socioambiental.
Apoiar-se em ferramentas pedagógicas para promover a educação ambiental pode trazer
saldos positivos entre quem emite a mensagem e quem a recebe. A mensagem por sua vez, deve
possuir o um efeito transformador no destinatário, para que, por fim, objetivo seja alcançado. É
nesse contexto que surge os movimentos como a Ecopedagogia, uma pedagogia que se desdobra
para atender as emergências contemporâneas, visando estreitar barreiras e ensinar sobre as coisas a
partir de experiências cotidianas, para estimular as mudanças nos paradigmas construídos na
sociedade e desenvolver as práticas a partir de um pensamento ecológico (GADOTTI, 2005).
Portanto, o objetivo desse trabalho é explanar sobre a eficácia do uso de práticas
ecopedagógicas de ensino em um projeto de educação ambiental, o projeto Barco Escola Chama-
Maré, executado no estuário do rio Potengi no município de Natal/RN. Avaliando como as
experiências, que fogem das práticas tradicionais de ensino e colocam como foco a aproximação do
indivíduo com o meio em que vive, são de fundamental contribuição na formação social que
resultará na transformação da percepção acerca do meio ambiente, auxiliando na melhora do
relacionamento entre o homem e a natureza.
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 922
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

OBJETIVOS

● Explanar questões como o desenvolvimento da Ecopedagogia e sua importância;


● Compreender práticas voltadas a sensibilização em relação às questões ambientais dentro do
projeto Barco Escola Chama-Maré;
● Discutir como a perspectiva da Ecopedagogia é trabalhada na execução do projeto Barco
Escola Chama-Maré;

METODOLOGIA

O presente trabalho parte do objetivo de investigar como a perspectiva da Ecopedagogia é


introduzida na execução da aula-passeio dentro do Barco Escola Chama-Maré, realizada no estuário
do rio Potengi, no município de Natal/RN. Logo, esta pesquisa é caracterizada como um estudo de
caso, "estudo circunscrito a uma ou poucas unidades, entendidas como uma pessoa, uma família,
um produto, uma empresa, um órgão público, uma comunidade ou mesmo um país" (VERGARA,
1990 p.7)
Esta pesquisa também possui característica bibliográfica, definida por Sigelmann (1984,
p.148) como "investigação crítica de ideias, conceitos, uma análise comparativa de diversas
posições acerca de um problema, a partir dos quais o pesquisador defenderá de forma lógica e
criativa a sua tese".
Buscando estimular o desenvolvimento de discussões acerca do tema da Ecopedagogia e
avaliar o uso de práticas de educação sustentável dentro do projeto Barco Escola Chama-Maré,
alguns relatos de Experiência dentro do projeto Barco Escola Chama-Maré servirão de fonte de
dados para se compreender como as práticas da Ecopedagogia são trabalhadas durante as aulas-
passeio, exemplo é os mapas mentais produzidos por dois alunos integrantes de um grupo de
educação ambiental acompanhada, onde cada um produziu dois mapas mentais antes e depois da
aula-passeio, neste caso a aula passeio a bordo do Barco Escola Chama-Maré estava incluída como
parte integrante no trabalho de percepção do rio Potengi.
Na seção seguinte os resultados obtidos a partir desta pesquisa serão expostos, a discussão
contempla a estruturação da Ecopedagogia, e a execução do projeto Barco Escola Chama-Maré e os
paradigmas que são incorporados a aula-passeio dentro do estuário do rio Potengi.

Ecopedagogia: movimento educacional, social e econômico

A Ecopedagogia surge na década de 1990, quando as discussões a respeito dos impactos


ambientais, influenciados pela lógica de produção difundida pós revolução industrial, ganham
espaço. A busca pela formação de novos paradigmas, que direcionam a idealização de uma
sociedade capaz de enxergar as relações de forma planetárias, tornou-se cada vez mais necessário;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 923


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

tudo isso com a finalidade de popularizar e democratizar as discussões de caráter ambiental


(GADOTTI, 2016).
O processo de educar alguém, à respeito de algo, tem como o objetivo central fazer com que
o outro adquira um conhecimento antes não acessível, e tornar esse indivíduo capaz de reproduzir o
que lhe foi ensinado. Confiando nesse processo, acredita-se, que a educação, principalmente aquela
que é pensada para o meio ambiente, a fim de manter e recuperar suas características, pode ser um
dos caminhos para reverter a atual crise ambiental (OLIVEIRA, 2006).
Foi através da necessidade de repensar as posturas adquiridas, moldadas pelo modelo
econômico vigente, que a Ecopedadogia ganhou destaque. O movimento vem adquirindo corpo e
tornando-se uma importante ferramenta de ensino usada para sensibilizar. Ela transpõe as barreiras
pedagógicas tradicionais, em que o conhecimento é centrado no homem, e traz à tona a preocupação
ambiental aflorada nas últimas décadas. Isso se dá em decorrência do reconhecimento da
importância dos elementos que sustentam a vida na terra, no qual cada processo e organismo estão
globalmente interligados, e sendo por meio dessa aglutinação de informações, que se alça o
caminho para alcançar um equilíbrio entre os seres.
Estruturar a construção das noções ecológicas e sociais de um indivíduo perpassa pelas suas
vivências com o meio ambiente. A partir do contato, abre-se oportunidade de criação de uma zona
que introduz e estimula o debate acerca das responsabilidades individuais para com o meio
ambiente, para então, o entendimento de agente transformador seja concebido por cada um. Como
traz o ponto oito da Carta da Terra na Perspectiva da Educação:

8. A Ecopedagogia tem por finalidade reeducar o olhar das pessoas, isto é, desenvolver a
atitude de observar e evitar a presença de agressões ao meio ambiente e aos viventes e o
desperdício, a poluição sonora, visual, a poluição da água e do ar etc. para intervir no
mundo no sentido de reeducar o habitante do planeta e reverter a cultura do descartável.
Experiências cotidianas aparentemente insignificantes, como uma corrente de ar, um sopro
de respiração, a água da manhã na face, fundamentam as relações consigo mesmo e com o
mundo. A tomada de consciência dessa realidade é profundamente formadora. [...]
Precisamos de uma ecoformação para recuperarmos a consciência dessas experiências
cotidianas [...]

Com base nesta ideia, pensar a educação ambiental a partir da Ecopedagogia é pensar um
ensino em que o homem é envolvido no processo pedagógico, valorizando sua autonomia nas
experiências, que serão indispensáveis para o entendimento, e resultarão na tomada de consciência
coletiva que dará suporte para a continuidade dos aprendizados. Tal forma de ensino possibilita uma
visão ampla e crítica a respeito dos problemas globais, e pode, dessa forma, transformar atividades
educacionais pontuais em um "motor" capaz de gerar a energia suficiente para mudar a concepção
individual sobre os espaços naturais e sua relevância.

1. Projeto Barco Escola Chama-Maré

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 924


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O rio Potengi, corta oito municípios do estado. Nasce em Cerro-Corá e encontra sua foz em
Natal, a 176 km de sua nascente, perfazendo uma bacia hidrográfica de 3.180km² (TEIXEIRA,
2015)
O rio é berço da sociedade potiguar, e este curso d'água está inteiramente ligado a formação
local

É de grande importância histórica para a cidade do Natal e para o estado do Rio Grande do
Norte, a começar pelo nome. Nos primórdios da ocupação não-indígena do território
potiguar, quando da instituição das capitanias hereditárias por d. João III, em 1534, a
capitania que daria origem ao atual estado foi batizada pelos colonizadores de capitania do
―Rio Grande‖, e alguns dos primeiros registros da cidade do Natal também a designavam
cidade do ―Rio Grande‖, em alusão ao rio. (TEIXEIRA, 2015)

Apesar de sua importância para a cidade de Natal e para os outros municípios por onde o rio
passa, os registros de ações como a utilização do rio como local de diluição de efluentes, depósito
de dejetos e outras práticas causam impactos negativos a este ambiente, como por exemplo a
eutrofização das águas do rio. No munícipio de Natal essa problemática fica bem mais visível,
segundo o censo demográfico realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
em 2010 mais de oitocentas mil pessoas vivem na capital potiguar, essa é a área mais densamente
urbanizada do estado e é exatamente onde está localizado o estuário do rio Potengi, local onde
problemas como a degradação do estuário resultante da expansão urbana sem o planejamento
correto se intensificam, além disso a falta de práticas de cuidado e proteção do meio natural por
parte da população evidencia a não preservação de um ambiente importante principalmente do
ponto de vista ecológico.
No intuito de fomentar a educação ambiental visando a preservação e conservação do
ambiente estuarino do rio Potengi, surge o projeto Barco Escola Chama-Maré. O IDEMA (Instituto
de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte) lança o programa
Potengi Vivo, constituído de cinco projetos que incluem o projeto Barco Escola, todos eles visando
a recuperação e preservação do estuário do rio Potengi. O projeto Barco Escola Chama-Maré, que é
operacionalizado pela FUNDEP (Fundação para o Desenvolvimento Sustentável da Terra Potiguar)
teve início em Outubro de 2006 e funciona atualmente de Terça a Sábado atendendo grupos de
escolas da rede pública e privada além de grupos da sociedade civil organizada. Em onze anos o
projeto já conseguiu atingir um número de aproximadamente 180 mil pessoas.
Durante o momento em que os participantes da aula-passeio estão participando efetivamente
das vivências a bordo da embarcação, por um período de aproximadamente uma hora e vinte
minutos, a equipe que faz a execução da aula-passeio aborda os temas referentes a educação
ambiental e patrimonial, isso é feito através de uma leitura da paisagem que leva em consideração
aspectos importantes tanto do meio natural como a presença do manguezal, e as características da
fauna que habita esse ambiente, e também as ações humanas que se expressam na paisagem por

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 925


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

meio do crescimento urbano da cidade de Natal e que gera impactos no estuário como a
contaminação das águas do rio por efluentes domésticos e industriais. O trajeto no qual se realiza a
aula passeio do Barco Escola Chama-Maré se inicia no Iate Clube do Natal (local de embarque), até
a Fortaleza dos Reis Magos/Boca da Barra, e voltando em direção a Ponte Presidente Costa e Silva
(Ponte de Igapó), em seguida retorna ao Iate Clube (desembarque).

Figura 1. Local de execução de aula-passeio do projeto Barco Escola Chama-Maré,


estuário do rio Potengi em Natal/RN (área delimitada em vermelho).
Fonte: elaborado pelo autor

Durante os momentos de recepção dos grupos e de encerramento da aula-passeio a


conscientização vem de encontro a proposição de ações práticas que possam causar a minimização
de impactos negativos ao ambiente. A aproximação dos participantes da aula-passeio com o
ambiente natural é de grande importância para a sensibilização desses indivíduos, o conteúdo
repassado cria mecanismos que podem alterar a perturbações que afetam o rio Potengi atualmente.
O Barco Escola Chama-Maré se configura como ferramenta pedagógica, trabalhando temas
com importância histórica, ecológica, social e econômica do rio para a sociedade potiguar e
entendendo como as atividades antrópicas geram impactos negativos.É na perspectiva da educação
multidisciplinar e com o apoio de uma equipe formada por professores/monitores de diferentes
áreas como Biologia, Geografia, Ecologia e História denominados de educadores ambientais que o
projeto Barco Escola Chama-Maré atua, buscando maior sensibilização da população quanto às
questões que afetam a qualidade do estuário do rio Potengi. Tanto do ponto de vista ecológico, mas
também social e econômico, na percepção direta in loco a partir de uma embarcação do tipo
catamarã, nota-se como as diferentes atividades humanas interferem na paisagem e geram impactos
negativos aquele ambiente, na percepção ambiental rompe-se a distinção sujeito-objeto, uma vez

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 926


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

que o participante é parte da cena percebida, se desloca por ela, assumindo múltiplas perspectivas.
(PINHEIRO, 1997)

2. Métodos e paradigmas incorporados da Ecopedagogia para as práticas do Barco Escola


Um método crucial para atender o objetivo de transmitir os assuntos multidisciplinares da aula
do Barco Escola é a interpretação do conhecimento para o público do Projeto. Logo é exigido um
certo conhecimento do conteúdo com interpretações diferentes, já que o Barco Escola atende uma
faixa etária muito ampla. A linguagem utilizada precisa fazer com que aquela pessoa (criança,
adulto ou idoso) que participou da aula no Barco Escola transmita à outras pessoas não só o
conhecimento adquirido durante a aula, mas que reflita sobre e ponha em prática tal aprendizado. O
Barco escola possui um diferencial, fornece o conteúdo de forma visual e física, ou seja, oferecendo
um exemplo concreto do que está sendo explicado.

Dessa forma, ―é importante perceber que a realidade social é transformável; que feita pelos
homens, pelos homens pode ser mudada; que não é algo intocável, um fardo, uma sina, diante de
que só houvesse um caminho: a acomodação a ela‖ (FREIRE, 1968, p. 41).

3. Mapas Mentais: uma memória viva do cuidado


Segundo Gadotti (2009, p.2) "Nós não estamos no mundo; nós somos parte dele. Não
viemos ao mundo; viemos do mundo. Terra somos nós e tudo o que nela vive em harmonia
dinâmica, compartilhando o mesmo espaço. Temos um destino comum." Por isso é de fundamental
importância a aproximação do indivíduo com o ambiente natural, todos fazem parte do contexto
ambiental, mas poucos tem consciência disso e a educação ambiental é o caminho para essa tomada
de consciência. ar.
Ao se descrever um local, instantaneamente, à construção de uma imagem é feita, tentando
reproduzir as características faladas. Essa imagem pode corresponder ao espaço de fato, ou podem
ser distorcidas, isso irá depender do nível de conhecimento sobre o local, da vivência e aproximação
desenvolvida por cada um ao longo da sua trajetória.
Conhecer um lugar, sua história e sua importância, é indispensável para trazer novas
percepções e noções de cuidado, estas serão responsáveis pelo entendimento da necessidade de
manter o local com suas características naturais, para que ele siga oferecendo seus recursos nos
melhores níveis de qualidade e quantidade.
De acordo com Archela (2004, p.127) "Mapas mentais são imagens espaciais que as pessoas
têm de lugares conhecidos, direta ou indiretamente." Estes são a representação daquilo que é
percebido e vivido pelas pessoas. Os mapas mentais são aplicados para se interpretar como se dá a
avaliação pessoal de um indivíduo quando questionado a respeito de um lugar. O contato com os

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 927


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ambientes é relevante para guardar uma memória realista dos espaços, considerando todas suas
nuances e particularidades. Os mapas são ferramentas que trabalham a percepção sobre algo,
quando se faz esse exercício, consegue-se estimular o processo para deliberar qual a atitude deverá
ser adotada por cada um para a favorecer a persistência do lugar (OLIVEIRA, 2006).
As atividades do Barco Escola se dão em uma área muito rica, onde vários aspectos –
históricos, ecológicos, culturais, econômicos – podem ser lidos na paisagem. É em meio a esse
cenário, que o rio Potengi, ganha destaque por ser o elemento comum a todos esses aspectos, mas
também por sua atual condição ambiental. Entretanto, os processos de urbanização, de certa forma,
acabaram por afastar as pessoas dos espaços naturais, afetando a percepção de cada indivíduo.

Figuras 2 e 3. Mapas Mentais elaborados a partir da percepção do antes e depois do rio Potengi

Baseado nisso, a partir da aplicação dos mapas mentais, conseguem-se fazer um resgate
sobre o nível de informação adquirida. A aula-passeio no estuário do Potengi tem a capacidade de
elevar grau dessas informações, agregando outros componentes importantes quando se pensa no rio.
Ou seja, a comparação entre mapas mentais produzidos antes e depois da aula, possibilita discutir a
influência de atividades ambientais, de cunho pedagógico, na construção da imagem de um espaço.
Nas figuras 2 e 3, produzidas por dois alunos do grupo de percepção (paralelo às aulas-
passeio), pode-se observar um padrão nos mapas feitos antes da aula: a figura do lixo/poluição é
sempre presente. Isso indica que a principal imagem vinculada ao rio é negativa. Na figura 2 antes
da aula-passeio o retrato de estruturas físicas a margem e/ou próximo ao rio, reflete como se deu a
ocupação humana, atribuindo a ele um valor social e patrimonial. Na figura 3, no mapa mental feito
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 928
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

pós-aula, a noção de fauna, flora e atividade de pesca ganham ênfase no desenho, ou seja, a
natureza e as atividades desenvolvidas a partir dela, dominam a representação do rio na figura,
diferente do mapa produzido pré-aula que mostra dejetos e a urbanização expressiva próxima ao rio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo da educação com base na Ecopedagogia vai além da transferência de


conhecimentos e instrução acerca da temática ambiental. Ao valorizar a inserção do indivíduo aos
espaços e problematizar os modelos hegemônicos acumulados pela sociedade, essa forma de educar
sobre a perspectiva de cuidado global, traz a possibilidade da mudança das ações a partir da tomada
de consciência baseada nas informações adquiridas, mas também no apelo criado através do
estreitamento do relacionamento homem e natureza (meio ambiente).
Portanto, as atividades do Barco Escola, enquanto prática de educação ambiental, cumpre o
papel de educar tendo como foco a problemática ambiental encarada atualmente pela sociedade a
partir das ações antrópicas.O projeto aplica conteúdos relacionados a diversas áreas do
conhecimento, como História, Geografia, Biologia e Ecologia dentro das aulas-passeio, o objetivo é
fazer com que os participantes possam se sentir parte do meio observando a paisagem e entendendo
como que se dá as relações humanas com o ambiente natural, que é suporte para a vida.
Vale considerar que dentro desta pesquisa, foi observado como as vivências de educação
ambiental podem ser colocadas em prática, garantindo uma melhor aprendizagem. O conceito de
Ecopedagogia vai de encontro à quebra de paradigmas arcaicos e das relações conflituosas entre o
homem e a natureza, fazendo com que o ser humano possa se entender como parte deste planeta e
responsável pela preservação e cuidado com o meio ambiente. A realização de atividades que visam
a mudança de percepção do indivíduo acerca do rio como os mapas mentais contribui na promoção
de conhecimento e sensibilização destas pessoas em relação ao Potengi.
O projeto Barco Escola Chama-Maré oferece oportunidade para diversos estudos e
contribuições de diversas áreas, um projeto de grande importância quando se entende o quadro atual
de problemas que o rio enfrenta, seja pelo expressivo crescimento urbano desordenado, pela
distanciamento da população e não compreensão das diversas importâncias que o rio possui, entre
outros problemas que dificultam a sua valorização. O projeto Barco Escola Chama-Maré faz
grandes contribuições para a educação ambiental e patrimonial dentro do estado do Rio Grande do
Norte, garantindo assim o ideal de preservação do rio Potengi que é um patrimônio natural dos
potiguares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 929


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MARCATTO, Celso. Educação ambiental: conceitos e princípios / Celso Marcatto - Belo


Horizonte: FEAM, 2002, p.8.

ARTAXO, Paulo. Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoceno?.REVISTA USP. São
Paulo n. 103. p. 13-24. 2014

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da terra e cultura de sustentabilidade Revista Lusófona de


Educação. 2005. Disponvel em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=34900602> ISSN 1645-
7250

GADOTTI, Moacir. A ecopedagogia como pedagogia apropriada ao processo da carta da terra.


2016

INSTITUTO PAULO FREIRE. A carta da terra na perspectiva da educação. Primeiro Encontro


Internacional - São Paulo, 23 a 26 de agosto de 1999.

VERGARA, Sylvia Constant. Tipos de pesquisa em administração. 1990.

SIGELMANN, Elida. Tipos de pesquisa: aspectos metodológicos específicos. Arquivos Brasileiros


de Psicologia, v. 36, n. 3, p. 141-155, 1984.

PINHEIRO, José Q. Psicologia Ambiental: a busca de um ambiente melhor. Estudos de Psicologia,


v. 2, n. 2, p. 377-398, 1997.

TEIXEIRA, Rubenilson B. O rio Potengi e a cidade do Natal em cinco tempos históricos.


Aproximações e distanciamentos. Confins. Revue franco-brésilienne de géographie/Revista
franco-brasilera de geografia, n. 23, 2015.

DA PAZ JUSTINO, Ana Neri et al. Educação ambiental e patrimonial: o caso do projeto barco-
escola chama-maré. Anais do iii encontro nacional de educação ambiental ev encontro
nordestino de biogeografia.

SOLER, A., ANTUNES DIAS, E. A educação ambiental na crise ecológica contemporânea.


Acesso Livre n.5 jan-jun. 2016. p 149.

OLIVEIRA, Nilza Aparecida da S. A educação ambiental e a percepção fenomenológica, através


de mapas mentais. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v.16, 2006.

ARCHELA, Rosely Sampaio; GRATÃO, Lucia Helena B.; TROSTDORF, Maria AS. O lugar dos
mapas mentais na representação do lugar. GEOGRAFIA (Londrina), v. 13, n. 1, p. 127-142,
2010.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 930


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

GADOTTI, Moacir. Ecopedagogia, pedagogia da terra, pedagogia da sustentabilidade, educação


ambiental e educação para a cidadania planetária. Produção de terceiros sobre Paulo Freire;
Série Artigos, 2009.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 931


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CONCEPÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO PROFISSIONALIZANTE


SOBRE MEIO AMBIENTE E AGROECOLOGIA

João Henrique Constantino Sales SILVA


Graduando do Curso de Bacharelado em Agroecologia da UFPB
joaoagroecologia@outlook.com
Maria da Guia de MEDEIROS
Graduanda do Curso de Bacharelado em Agroecologia da UFPB
dagmedeirospb@gmail.com
Natacia da Silva NOGUEIRA
Graduanda do Curso de Bacharelado em Agroecologia da UFPB
natacianogueira2009@hotmail.com
Izabela Souza Lopes RANGEL
Orientadora/ Departamento de Agricultura/ CCHSA – UFPB
izabelaisl@yahoo.com.br

RESUMO
Devido à crescente preocupação, pela população, em consumir alimentos saudáveis produzidos em
sistemas agroecológicos, com o intuito de obter melhores condições de vida. Nessa linha de
raciocínio, ao falarmos em educação, assuntos relacionados aos temas ecológicos merecem uma
atenção especial, principalmente quando nos referimos a unidades de ensino agrícola. Sendo assim,
foi realizada uma pesquisa com o objetivo de diagnosticar e compreender o entendimento dos
discentes do Curso Técnico em Agropecuária do Colégio Agrícola Vidal de Negreiros pertencente à
Universidade Federal da Paraíba, em relação às temáticas de meio ambiente, agroecologia e
assuntos relacionados. O levantamento foi realizado no período de abril de 2017, por meio de
questionário semiestruturado, aplicado junto aos discentes do Ensino Médio: Integral e Proeja. A
participação dos discentes foi de forma voluntária. Com base nos resultados, observou-se que, dos
64 entrevistados, muitos desconhecem algum produtor rural agroecológico e acreditam que a
agricultura do futuro será totalmente mecanizada e reconhecem os danos causados pelo uso de
agrotóxicos. Dessa forma, faz-se necessário que a agroecologia esteja mais presente em sala de
aula, visto que, a região na qual os estudantes entrevistados estão inseridos tem sua principal fonte
econômica à agricultura familiar. Ademais, as percentagens das respostas demonstraram
conhecimento positivo, por parte dos discentes, em relação às temáticas abordadas, sendo
necessária, entretanto, a realização de atividades pedagógicas que estimulem a ampliação de
assuntos relacionados à Educação Ambiental, possibilitando os professores e discentes a uma
vivência prática sobre o tema, ocasionando transformações no meio, social e ambiental.
Palavras-Chave: Agricultura familiar, Discentes, Metodologia participativas, Sustentabilidade.
ABSTRACT
Due to growing concern for the population consume healthy foods produced in ecological systems
in order to obtain better conditions of life. In this line of reasoning, to talk about education, issues
related to the ecological themes deserve special attention, especially when referring to units of
agricultural education. Therefore, a survey was held in order to diagnose and understand the
understanding of students of the technical course in Farming Agricultural of Vidal of Negreiros
College belonging to the Federal University of Paraíba, in relation to the themes of environment,
ecology and related subjects. The survey was conducted during the period april 2017, through semi-

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 932


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

structured questionnaire, applied with the students of the high school: Integral and Protect. The
participation of the students was voluntarily. Based on the results, it was observed that, of the 64
respondents, many are unaware of some ecological and rural producer believe that the Agriculture
of the future will be fully mechanized and recognize the damage caused by the use of pesticides.
Thus, it is necessary that Agroecology is more present in the classroom, as the region in which the
students interviewed are inserted has your primary source for family agriculture economic. In
addition, the percentages of responses showed positive knowledge, on the part of students in
relation to themes, being required, however, pedagogical activities that stimulate the expansion of
issues related to environmental education, enabling teachers and students a practical experience on
the topic, causing changes in the middle, socially and environmentally.
Keywords: Family farmers, Students, Participatory methodology, Sustainability.

INTRODUÇÃO

A Agroecologia ganha volume teórico e importância na questão agrária e agrícola a partir da


compreensão de fracassos socioambientais e econômicos advindos da Revolução Verde e,
consequentemente, da necessidade de haver bases científicas para que os processos de transição de
agriculturas menos sustentáveis para agriculturas ecológicas se desenvolvam em um contexto
sociocultural e político (CAPORAL; PETERSEN, 2012). Para Silva et al., (2008), a larga utilização
de agrotóxicos no processo de produção agropecuária, tem promovido uma série de transtornos e
modificações ao ambiente, seja por meio da contaminação das comunidades de seres vivos que o
compõem, ou pela acumulação nos segmentos bióticos e abióticos dos ecossistemas.
Diante da necessidade de uma agricultura sustentável Santos et al. (2015) infere que a
Agricultura Familiar é considerada à base da produção agroecológica, sendo fundamental para o
abastecimento da sociedade brasileira, uma vez que é uma das grandes responsáveis pela produção
de alimento no país. Devido à importância da agroecologia, desde meados da década de 1980, seus
preceitos vêm sendo incluídos em disciplinas da grade curricular de vários cursos técnicos, de
Graduação e Pós-Graduação, assim como atividades letivas ou não de escolas de ensino
fundamental e médio do Brasil (TRINDADE; RABELLO, 2015).
Em atividades escolares, a discussão de temas que vinculem a questão ambiental e agrícola
vivenciada por seus alunos é importante no processo de busca do almejado desenvolvimento
sustentável (RAMOS et al., 2016). Assim, como a Agroecologia possui princípios e técnicas que
podem contribuir para uma mudança dos modelos de produção agrícola, é interessante refletir qual
o papel que as práticas pedagógicas possuem na transformação do atual modelo de campo,
enxergando a educação nesse meio como prática transformadora e emancipatória (CALDART,
2002).
Assuntos relacionados aos temas ecológicos deve-se ter atenção especial, principalmente
quando se referimos a unidades de ensino agrícola, devido à maioria dos estudantes serem

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 933


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

agricultores ou descendentes dos mesmos (RAMOS et al., 2016). Ainda segundo os mesmos
autores, esses estudantes trazem consigo um imenso conhecimento que deve ser valorizado e
aprimorado. Logo, a aprendizagem, é entendida como a construção do conhecimento, implicando
entender tanto sua dimensão como produto, quanto como processo, isto é, o caminho pelo qual os
discentes elaboram pessoalmente os conhecimentos (PIRES et al., 2007).
Um método de mensurar o conhecimento e sua abrangência é por meio de pesquisas
qualiquantitativas, que possibilita caracterizar o processo a partir do qual, questões-chave são
identificadas e perguntas são formuladas (MORESI, 2003). O intuito de pesquisas escolares não é
descrever os indivíduos que tenham sido analisados, mas obter um perfil estatístico da percepção
dos mesmos sobre agroecologia (FLORES JÚNIOR, 1980). Diante do exposto, este trabalho teve
como objetivo verificar a percepção e compreender os conhecimentos de discentes do Curso
Técnico em Agropecuária do Colégio Agrícola Vidal de Negreiros, sobre as temáticas de meio
ambiente, agroecologia e assuntos relacionados.

METODOLOGIA

O estudo foi realizado no mês de abril de 2017, a partir do levantamento de dados junto aos
64 discentes do Curso Técnico em Agropecuária, alunos regulamente matriculados no Colégio
Agrícola Vidal de Negreiros (CAVN) pertencente à Universidade Federal da Paraíba – Campus III,
Bananeiras. Considerou-se três turmas do ensino médio: I - 2º ano (Integrado); II e III - 1º e 4º ano,
respectivamente (ensino médio Proeja – Programa Nacional de Integração da Educação Profissional
com a Educação Básica, abrangendo na modalidade de jovens e adultos). O diagnóstico foi
realizado com os discentes do ensino médio, por entender que devido à faixa etária destes, já
passaram por várias experiências tanto sociais, quanto cognitivas no meio escolar, a cerca de
conhecimentos relacionados ao tema, sendo capazes de demostrar a real concepção
A metodologia utilizada, para avaliar o grau de conhecimento e consciência, foi um
questionário semiestruturado composto por 12 questões de múltipla escolha (Anexo 1), baseadas
nos questionários de Hoffmann et al. (2009) e Sá-Oliveira et al. (2015). A participação dos alunos
foi voluntária, além disso, os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE.
As análises dos dados foram realizadas pela estatística descritiva das médias em percentuais
(correspondem às respostas das três turmas estudadas), por meio da utilização do software
Microsoft Excel 2010.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 934


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Dentre os discentes entrevistados, foi observado que a faixa etária variou entre 16 - 38 anos.
Todos estudam no período matutino/vespertino, sendo a maioria 80% do sexo masculino e feminino
com 20%, indicando que o sexo masculino ainda é maior pelos estudos nos Campus com a base em
ensino agrícola.
Partindo para a observação dos dados relacionados à percepção dos discentes, com a
primeira indagação sobre o nível de interesse pelo tema Meio Ambiente, a média de respostas
afirmativa foi de 86%, permitindo-se então inferir que os discentes possuem um bom grau de
afinidade pelo tema. Os demais 14%, dos discentes, afirmaram que gostam pouco da temática.
Sendo assim, de acordo com Santos et al. (2011), pode ser conferido ao ensino um aspecto mais
dinâmico e participativo, buscando oportunidade de aprendizado e reflexão sobre o meio ambiente,
e a relação que o ser humano tem com o mesmo, demonstrando e fazendo-os compreender que eles
são parte de um todo maior.
Questionados se sabiam o que era Educação Ambiental, 50% dos discentes entrevistados
têm pouco conhecimento sobre o que é a educação ambiental, seguido de 44% sabem do que se
trata e 6% não têm conhecimentos sobre a educação ambiental (FIGURA 1). Isso demonstra que
possivelmente há ausência de trabalhos sobre a temática da educação ambiental nas turmas.

Sim Não Pouco conhecimento

44%
50%

6%

FIGURA 1: Percentagem das respostas apresentadas pelos discentes referentes à questão 4,


―Você sabe o que é Educação Ambiental?‖.
Fonte: Próprio autor.

De acordo com Jacobi (2003), há uma necessidade de formular uma educação ambiental que
seja crítica e inovadora e que seja voltada para a transformação social. Ainda para o mesmo autor, o
seu enfoque deve buscar uma perspectiva holística de ação, que relaciona o homem, a natureza e o
universo, tendo em conta que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua
degradação é o homem.
Quanto aos dados referentes à oportunidade de ler ou ouvir sobre a Agroecologia ou
Agricultura Familiar, verificou-se que 92% dos discentes entrevistados leram ou já ouviram falar
sobre a Agroecologia ou Agricultura Familiar. Esse achado é reflexo, sobretudo, por haver um
curso de graduação em Agroecologia no Campus universitário em que o colégio está inserido.
Possivelmente, devido às oficinas, minicursos realizados no Campus e até mesmo pelo contato com

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 935


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

os discentes do curso de Bacharelado em Agroecologia, favorecendo que a maior parte dos


discentes entrevistados obtivesse uma noção básica sobre o questionado.
Dando continuidade ao questionamento, 62 dos 64 discentes entrevistados mencionaram que
a agroecologia está inserida no processo de educação ambiental e que por essa razão, obviamente, é
considerada importante. Dos entrevistados apena 2 (dois) não responderam. Tratando-se do
consumo de produtos agroecológicos, 72% dos discentes consultados já consumiram algum
alimento de origem agroecológica, expressando um número bem representativo. Dados estes
demonstram a importância da expansão dos alimentos agroecológicos, além da percepção e procura
dos discentes na busca de alimentos saudáveis.
Quanto à relação que os estudantes têm com o meio rural, 66% demonstraram que seus
familiares possuem propriedades rurais e 34% responderam que não. Dos entrevistados que
possuem propriedade rural, a maioria 30% (n=19) moram nela, enquanto que 28% (n=18) frequenta
a propriedade somente nos finais de semana e 9% (n=6) frequentam nas férias. Em relação àqueles
que não possuem propriedade rural, 16% (n=10) frequentam nas férias, seguidos por aqueles que
frequentam nos finais de semana 12% (n=8); 1% (n=1) não possui, mas mora em uma e 2% (n=1)
não frequenta em ocasião alguma. Um dos discentes, representado por 2%, optou por não responder
a essa pergunta (FIGURA 2).

Minha família possui propriedade e moro nela


Minha família possui propriedade e frequento nos finais de semana
Minha família possui propriedade e frequento nas férias
Minha família não possui propriedade, mas moro em uma
Minha família não possui propriedade, mas frequento nos finais de semana
Minha família não possui propriedade, mas frequento nas férias
Minha família não possui propriedade, e não frequento propriedades rurais
Não respondeu
2% 2%
16% 30%
12%
9%
28%
1%

FIGURA 2: Percentagem das respostas apresentadas pelos discentes referentes à questão 7,


―Qual a sua ligação com o meio rural?‖.
Fonte: Próprio autor.

Perguntados sobre o que entendem por agroecologia, a resposta que relaciona a agricultura
que utiliza meios menos agressivos ao ambiente correspondeu a 26% do total. Contudo, é
interessante destacar que 20% relacionam o termo à exclusão do uso de agrotóxicos para a produção
agrícola e outros 20% à agricultura socialmente mais justa no campo, seguidos por 16% que

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 936


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

relacionam o conceito à agricultura que fornece alimentos para uma vida mais saudável e 14%
correlacionaram o termo à produção de alimentos orgânicos. Os demais alunos (4%) assinalaram
não entender nada do assunto.
Para Altieri, (2003) a agroecologia é uma ciência fundamentada segundo os princípios
ecológicos voltados para um desenvolvimento rural sustentável por meio da conservação dos
recursos naturais e tecnologias adequadas ao pequeno agricultor, proporcionando um sistema de
produção ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável.
Relacionado ao conhecimento de algum produtor agroecológico, 56% (n=36) dos alunos
afirmaram desconhecer pelo menos um produtor agroecológico, embora muitos dos discentes
tenham vínculo com o meio rural. Seguidos por 20% (n=13) que conhecem apenas um produtor,
17% (n=11) que conhecem pelo menos de 2 a 5 produtores agroecológicos e 5% (n-=3) afirmaram
conhecer mais de 10 produtores. Apenas um dos discentes (2%) alegou conhecer de 6 a 10
produtores.
A visão dos entrevistados sobre como imaginam a agricultura no futuro mostra que a
maioria (66%) acredita que a agricultura será totalmente mecanizada e somente 14% responderam
que será baseada nos princípios da agroecologia, seguidos por 10% que acreditam que será
concentrada em grandes fazendas (sistema convencional) e os outros 10% de que será de produtos
orgânicos e livres dos transgênicos. Para Sá-Oliveira et al., (2015) este é um dado importante e
delicado, visto que a região a qual os estudantes entrevistados estão inseridos tem sua principal
fonte econômica vinda da agricultura familiar, onde o modelo de produção é pautado em um
sistema que proporcione menor impacto ao ambiental.
Quando indagados se sabiam para que servem os agrotóxicos, 86% dos discentes disseram
que sim, enquanto que os outros 14% afirmaram que não. Dentre os participantes, 92% dos
entrevistados acreditam que no futuro podem ocorrer alguns prejuízos ambientais causados pelo uso
de agrotóxicos e apenas 8%, (5 estudantes) pensam o contrário, que não promoverá prejuízo o uso
de agrotóxicos. Os dados referentes a essas duas questões refletem de forma parcialmente positiva,
o entendimento dos alunos sobre o assunto abordado, considerando o número de amostragens.
Por meio dos discursos produzidos pelos estudantes sobre os possíveis prejuízos futuros
causados pelo uso de agrotóxicos, foi possível obter respostas, como:

―Morte de insetos‖
―Poluição dos solos‖
―Doenças em gerais‖
―Doenças cancerígenas‖
―Degradação do meio ambiente‖

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 937


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Para Castro e Confalonteri (2005), a utilização contínua de agrotóxicos causa sérios danos à
saúde humana e o meio ambiente, além do mais o contato direto ou indireto dos agricultores
familiares com essas substâncias agroquímicas vem acarretando graves intoxicações.

CONCLUSÃO

Após a interpretação dos questionamentos a pesquisa aponta a necessidade de buscar novas


metodologias de ensino dentro e fora da instituição, para que o assunto de Educação Ambiental seja
trabalhado e permita aos discentes a oportunidades de desenvolverem sua concepção a respeito das
questões ambientais, como já se tem em relação à agroecologia.
Vale salientar que a filosofia agroecológica, deve estar presente na realidade das escolas
públicas e em cursos técnicos profissionalizantes, no sentido de promover melhor compreensão do
meio, no qual este vive, por parte dos multiplicadores do saber, ou seja, os próprios discentes.

REFERÊNCIAS

ALTIERI, M. A. Dimensiones Éticas de La Crítica Agroecológica a La Biotecnología Agrícola.


Acta bioeth, Santiago, Chile. v.9, n.1, p. 47-61, 2003.

CALDART, R.S. Por uma Educação do Campo: traços de uma identidade em construção. In:
KOLLING, E.J.; CERIOLI, P.R.; CALDART, R.S. (org). Articulação Nacional por uma
Educação do Campo. Brasília, 2002, n.4.

CAPORAL, F.R.; PETERSEN, P. Agroecologia e políticas públicas na América Latina: o caso do


Brasil. Agroecología. Murcia, v.6, p.63-74, 2012.

CASTRO, J.S.M.; CONFALONTERI, U. Uso de Agrotóxicos no Município de Cachoeira do


Macacau, Rio de Janeiro. Revista Ciência &Saúde Coletiva, v.10, n.2, p. 473-482, 2005.

FLORES JUNIOR, R.G. O que é uma pesquisa por amostragem? Rio de Janeiro: IBGE, 1980.

HOFFMANN, R. B.; NASCIMENTO, M. S. V.; LIMA, R.; SILVA, A. C.; FERNANDES, R. B. A.


A percepção de alunos do ensino médio sobre o tema agroecologia. In: Congresso Brasileiro de
Resíduos Orgânicos, Vitória, 2009.

JACOBI, P-. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa. São Paulo.
v.118, n.3., p. 189-205, 2003.

MORESI, E. Metodologia da Pesquisa. 2003. 108f. Universidade Católica de Brasília – UCB Pró-
Reitoria de Pós-Graduação – PRPG. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gestão do
Conhecimento e Tecnologia da Informação. Brasília – DF, 2003.
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 938
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

PIRES, M. G. P.; FERREIRA, L. G.; SANTOS, A. A.; LIMA, M. J. Horta agroecológica – uma
experiência educativa. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Enciclopédia Biosfera,
N.04, ISSN 1809-058, 2007.

RAMOS, P.R.; ALVES, W. L. da C.; BARBOSA, A. A.; SILVA, N. D. da; SANTOS, W. R. dos;
Agroecologia e Meio Ambiente: Percepção dos Estudantes do Ensino Técnico Integrado e
Superior no IFMT- Campus CONFRESA. Anais... XIII Congresso Nacional de Meio Ambiente
de Poços de Caldas. v.8, n.1, 2016.

SANTOS, J. F.; PEREIRA, D. F.; PEREIRA, E. G.; SANTOS, A. M. V.; Percepção de estudantes
do ensino superior sobre o consumo de alimentos saudáveis e os impactos sócios ambientais
ocasionados pelos agrotóxicos no município de Cruz das Almas – BA. Cadernos de
Agroecologia. Rio de Janeiro, v.10, n.3, p. 2015.

SANTOS, M. B.; MORIYA, M. R. Educação Ambiental nas Escolas Municipais e Estaduais do


Município de Batayporã – MS. Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul. Unidade
Universitária de Ivinhema. 2011.

SÁ-OLIVEIRA, J. C.; VASCONCELOS, H. C. G.; SILVA, E. S. e. A Agroecologia na percepção


de alunos de ensino médio de quatro escolas públicas na cidade de Macapá-Amapá. Biota
Amazônia, Macapá, v. 5, n. 3, p. 98-107, 2015.

SILVA, L. P.; CAVALCANTI, J.A.; QUEIROZ, I.F. e FREITAS FILHO, J.R. A avaliação do
impacto do uso de agrotóxico no meio ambiente e na saúde humana: o que pensa o estudante do
ensino fundamental do município de bonito – PE? Educação Ambiental em Ação, 2008.
Disponível em: <http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=635&class=21>. Acessado em 10
de abril de 2017

TRINDADE, F. C. RABELLO, F. K. Percepção dos estudantes de Agronomia da Universidade


Federal Rural da Amazônia sobre Agroecologia. Cadernos de Agroecologia. Rio de Janeiro,
v.10, n.3, 2015.

TUAN, Yi-Fu. Topofilia: estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. New Jersey:
Ed. DIFEL, 1980.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 939


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ANEXO I

QUESTIONÁRIO

1. Eu de nome __________________________________________ confirmo a veracidade e autorizo a


utilização dos dados abaixo, sem a divulgação da minha identidade e individualidade.

2. Idade:_________ Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

3. Você gosta de assunto sobre Meio Ambiente? ( ) Sim ( ) Não ( ) Pouco

4. Você sabe o que é Educação Ambiental? ( ) Sim ( ) Não ( ) Pouco conhecimento

5. Já leu ou já ouviu falar em Agroecologia ou Agricultura Familiar? ( ) Sim ( ) Não

6. A agroecologia é importante e está inserida no processo de educação ambiental? ( )Sim ( )Não

7. Qual a sua ligação com o meio rural?


Minha família possui propriedade e moro nela ( )
Minha família possui propriedade e frequento nos finais de semana ( )
Minha família possui propriedade e frequento nas férias ( )
Minha família não possui propriedade, mas moro em uma ( )
Minha família não possui propriedade, mas frequento nos finais de semana ( )
Minha família não possui propriedade, mas frequento nas férias ( )
Minha família não possui propriedade, e não frequento propriedades rurais ( )

8. O que você entende por agroecologia?


É a agricultura socialmente mais justa no campo ( )
É a agricultura que fornece alimentos para uma vida mais saudável ( )
É a produção de alimentos orgânicos ( )
É a técnica que exclui o uso de agrotóxicos para a produção agrícola. ( )
É a agricultura que usa meios menos agressivos ao ambiente. ( )
Não entendo nada ( )

9. Você conhece algum produtor rural agroecológico?


Sim, apenas 1 produtor agroecológico ( )
Sim, de 2 a 5 produtores agroecológicos ( )
Sim, de 6 a 10 produtores agroecológicos ( )
Sim, mais de 10 produtores agroecológicos ( )
Não, não conheço nenhum produtor agroecológico ( )

10. Como você imagina a agricultura do futuro?


Será totalmente mecânica ( )
Será apenas de produtos orgânicos e livre dos transgênicos ( )
Será baseada nos princípios da agroecologia ( )
Será concentrada em grandes fazendas ( )

11. Você já consumiu algum produto agroecológico? ( ) Sim ( ) Não

12. Sabe para que servem os agrotóxicos? ( ) Sim ( ) Não

13. Você acha que no futuro podem ocorrer alguns prejuízos ambientais causados pelo uso de agrotóxicos?
( ) Sim ( ) Não | Cite um exemplo : _____________________________________

Fonte: Hoffmann et al. (2009) e Sá-Oliveira et al. (2015) modificado

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 940


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O GEOPIBID E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESCOLAR: AS OFICINAS DAS


ENERGIAS RENOVÁVEIS PARA O ENSINO MÉDIO

João Paulo Teixeira VIANA


Graduando do Curso de Geografia do IFRN
jpviana25@yahoo.com
Jeam Claude de Souza GOMES
Graduando do Curso de Geografia do IFRN
jeanclaude.14@hotmail.com
Rebecka de FRANÇA
Graduanda do Curso de Geografia do IFRN
atransparenciarn@hotmail.com
Maria Cristina Cavalcanti de ARAÚJO
Professora do Curso de Geografia do IFRN
cristina.cavalcanti@ifrn.edu.br

RESUMO
O presente artigo aborda o processo do ensino em geografia ambiental através de oficinas temáticas,
promovidas pelo o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) na Escola
Estadual Francisco Ivo Cavalcanti, sendo a temática de Energias Renováveis a escolhida para o
desenvolvimento desta ferramenta didática. O trabalho se justifica pela necessidade de se discutir
conteúdos práticos e objetivos no que tange o processo da educação ambiental escolar e o ensino da
geografia, buscando assim um ensino-aprendizagem eficaz e que tenha significativo na realidade e
vivencia do educando. Como recursos metodológicos, foram utilizadas pesquisas referencias e
bibliográficas acerca da temática ambiental e das fontes de energias renováveis, bem como
postulados acerca da ferramenta didática ―oficinas‖, como também o livro didático que foi fonte de
consulta para o desenvolvimento e elaboração da oficina relatada neste trabalho. Em linhas gerais,
será possível nesta pesquisa apresentar de maneira didática e sequencial da importância e
atrelamento da geografia e meio ambiente, da necessidade do docente em propor novas abordagens
didáticas como é o caso de oficinas, bem como o relato de experiencia desenvolvidos pelos bolsistas
do PIBID/geografia na referida escola citada e seus processos significativos produzidos e criados
durante este espaço de trocas de conhecimento entre os atores envolvidos no processo do ensino-
aprendizagem.
Palavras Chaves: PIBID. Oficinas Temáticas. Energias Renováveis. Educação Ambiental.
Geografia.
RESUMÉN
El presente artículo aborda el proceso de enseñanza en geografía ambiental a través de talleres
temáticos, promovidos por el Programa Institucional de Becas de Iniciación a la Docencia (PIBID)
en la Escuela Estadual Francisco Ivo Cavalcanti, siendo la temática de Energías Renovables la
elegida para el desarrollo de esta herramienta De la didáctica. El trabajo se justifica por la necesidad
de discutir contenidos prácticos y objetivos en lo que se refiere al proceso de la educación ambiental
escolar y la enseñanza de la geografía, buscando así una enseñanza-aprendizaje eficaz y que tenga
significativo en la realidad y vivencia del educando. Como recursos metodológicos, se utilizaron
investigaciones referencias y bibliográficas acerca de la temática ambiental y de las fuentes de
energías renovables, así como postulados acerca de la herramienta didáctica "talleres", así como el

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 941


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

libro didáctico que fue fuente de consulta para el desarrollo y elaboración del taller relatado en este
trabajo. En líneas generales, será posible en esta investigación presentar de manera didáctica y
secuencial de la importancia y el acoplamiento de la geografía y el medio ambiente, de la necesidad
del docente en proponer nuevos enfoques didácticos como es el caso de talleres, así como el relato
de experiencia desarrollado por los becarios PIBID / geografía en la referida escuela citada y sus
procesos significativos producidos y creados durante este espacio de intercambios de conocimiento
entre los actores involucrados en el proceso de enseñanza-aprendizaje.
Palabras Clave: PIBID. Talleres temáticos. Energias renovables. Educación ambiental. Geografía.

INTRODUÇÃO

Aprender geografia é compreender o espaço em que vivemos. É entender que este espaço
está em constante transformação do mesmo modo que a sociedade também se transforma.
Atualmente, podemos observar uma série de mudanças na sociedade e sua necessidade de ser
discutida no ambiente escolar, e é por isso que as práticas de ensino em geografia a devem estar em
constante renovação, como bem coloca Paulo Freire (1996, p. 39): ―é pensando criticamente a
prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática‖
Com base nesta perspectiva, o presente artigo visa a construção de um relato de experiencia
realizada a partir do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) na Escola
Estadual Francisco Ivo Cavalcanti, localizada em Natal-RN, através de uma oficina temática
intitulada ―Energias Renováveis para o ENEM‖ no qual tinha como público alvo discentes do 3° do
ensino médio.
O objetivo central do artigo é mostrar a importância de conteúdos de cunho ambiental para a
formação social e acadêmica dos discentes da Escola Estadual Francisco Ivo Cavalcanti, através das
ações promovida pelo o GeoPIBID.
O trabalho de justifica pela a importância de programas como o PIBID e suas ações nas
escolas públicas brasileiras, além disso o seu aspecto em discutir questões de cunho social e
informacional na formação do discente, dentre eles a educação ambiental e seus vieses atuais como
a exemplo das novas fontes de energias renováveis, algo bastante presente no cenário econômico
atual norte-rio-grandense. Como recursos metodológicos foram utilizadas pesquisas referencias e
bibliográficas de cunho temático sobre ―Energias Renováveis‖, bem como analises do livro didático
com o intuito de aliar essa importante ferramenta didática e de fácil acesso para consulta discente.
O artigo está desenvolvido em três tópicos, o primeiro elencando a importância de discutir a
geografia e seus contextos da educação ambiental na atualidade, em seguida contextualizar as
oficinas temáticas promovidas pelo o PIBID da Geografia como ferramenta de grande alcance no
processo do ensino-aprendizagem discente e por fim o relato de experiencia nas turmas do 3° do
ensino médio relacionados as oficinas das energias renováveis.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 942


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A GEOGRAFIA E O CONTEXTO EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ATUAL

A geografia é uma ciência multidisciplinar que busca estudar as relações entre o homem e o
seu espaço, vivido, transformado, como também estuda a distribuição dos fenômenos físicos,
biológicos e humanos, as causas desta distribuição e as relações locais desses fenômenos.
Dessa forma, busca instigar o discente, a analisar criticamente as ações produzidas por eles
mesmo ao seu redor, sejam estas questões de cunho social, político, econômico, bem como
ambiental. Sendo assim, o aluno tem uma gama de possibilidades e integrações de conhecimento do
mundo que o cerca. Com relação a está última temática, ela se tornou uma fonte importante do
conhecimento que implica diretamente nas transformações mundiais, que se dão, no caráter da
espacialidade de toda prática social onde há uma dialética entre o homem e o lugar.
O ensino da geografia deve buscar novas possibilidades de métodos e recursos com o
objetivo de construir um saber crítico sobre as questões socioespaciais no mundo, para assim
motivar seus alunos e contribuir para o conhecimento do espaço geográfico no qual eles estão
inseridos, como nos apontam os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p. 22):

O ensino de geografia a pode levar os alunos a compreender de forma mais ampla a


realidade, possibilitando que nela inteiram de maneira mais consciente e propositiva. Para
tanto, porém, é preciso que eles adquiram conhecimentos, dominem categorias, conceitos e
procedimentos básicos com os quais este campo do conhecimento opera e constitui suas
teorias e explicações, de modo que possam não apenas compreender as relações
socioculturais e o funcionamento da natureza às quais historicamente pertence, mas
também conhecer e saber utilizar uma forma singular de pensar sobre a realidade: o
conhecimento geográfico.

Dentre as áreas do currículo, consideradas como principais parceiras para o


desenvolvimento dos conteúdos ambientais, está a Geografia, pela própria natureza do seu objeto de
estudo (BRASIL, 1998, p. 49). Conforme Alexandre e Diogo (1997, p. 33):

Pode-se afirmar que a evolução recente da ciência geográfica demonstrou claramente que,
para além das questões puramente acadêmicas, o geógrafo tem-se preocupado com um
vasto leque de problemas de caráter social, dos quais o "Ambiente" constitui uma das
muitas variáveis. É neste contexto que Educação Ambiental e a Educação Geográfica
constituem dois grandes eixos estruturantes para a organização de uma sociedade
sustentável.

Discutir geografia e educação ambiental, há a necessidade de refletir sobre a importância do


ensino da Geografia na educação atual bem como a Educação Ambiental. Tal inquietação se
justifica em virtude de a Geografia ser uma disciplina que visivelmente tem estreita relação com as
questões ambientais, uma vez que ao longo da sua história sempre se tem preocupado com as
relações homem/meio.
Conforme aponta Cavalcanti (2002, pág. 35)

A Educação Ambiental, no sentido de formação para a vida no ambiente, está cada vez
mais presente nas formulações teóricas e nas indicações para o ensino de Geografia.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 943


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Considerando-se que os paradigmas de interpretação da realidade interferem no trabalho


pedagógico e afetam diretamente o que se pretende ensinar, faz-se pertinente a necessidade
de entender quais os fundamentos teóricos e metodológicos em que os professores de
Geografia se baseiam na prática pedagógica no que diz respeito à Educação Ambiental,
bem como uma análise dessas práxis referentes à relação do Ensino da Geografia com as
questões ambientais.

Dentre tantas possibilidades em discutir geografia e sua relação com o meio ambiente está
no crescente uso das fontes de energias renováveis, sendo uma temática bastante interessante dentro
do processo de educação ambiental na escola. Pois a temática citada consegue percorrer por
diferentes vieses, desde ao processo da globalização mundial, dos fatores econômicos trazidos, de
sua importância na sustentabilidade, como também as principais consequências, na medida que o
homem mexe na natureza ele é alterado e tudo a presença de impactos ambientais. Segundo
HINRICHS, 2011, p.2):
A energia permeia todos os setores da sociedade- economia, trabalho, ambiente, relações
internacionais, assim como as nossas próprias vidas- moradia, alimentação, saúde,
transporte, lazer e muito mais. O uso dos recursos energéticos nos libertou de muitos
trabalhos penosos e tornou nossos esforços mais produtivos. (HINRICHS, 2011, p.2).
Em suma, discutir geografia e meio ambiente através de práticas de educação ambiental
escolar é um processo que está atrelado na ciência geográfica, pois utiliza a natureza como espaço
das ações e estruturas transformadores pelo o homem. As fontes de energias renováveis surgem
como uma temática dentro do campo da educação ambiental com o dever de perpassar por
diferentes assuntos, com isso tornar-se um processo de ensino-aprendizagem significativo para o
discente.

A IMPORTÂNCIA DAS OFICINAS TEMÁTICAS DO GEOPIBID NO PROCESSO DA


EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESCOLAR

O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) dentro de sua proposta


no espaço escolar, está na possibilidade de levar o graduando da licenciatura em ter seus primeiros
momentos de docência, através de aspectos metodológicos como oficinas temáticas dentro da
ciência educacional enquanto componente curricular obrigatório. Segundo a CAPES (2002), o
PIBID:

Incentivar a formação de docentes em nível superior para a educação básica; contribuir para
a valorização do magistério; elevar a qualidade da formação inicial de professores nos
cursos de licenciatura, promovendo a integração entre educação superior e educação básica;
inserir os licenciados no cotidiano de escolas da rede pública de educação, proporcionando-
lhes oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas e
práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar que busquem a superação de
problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem; incentivar escolas públicas
de educação básica, mobilizando seus 1521 professores como formadores dos futuros
docentes e tornando-as protagonistas nos processos de formação inicial para o magistério; e
contribuir para a articulação entre teoria e prática necessárias à formação dos docentes,
elevando a qualidade das ações acadêmicas nos cursos de licenciatura.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 944


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Com isso, o PIBID através das oficinas temáticas produzidas pelo os bolsistas, busca
estabelecer orientações teórico metodológicas construídas na geografia e a Educação para o Meio
Ambiente se constituem desafios basilares para a compreensão do sentido e significado da
Geografia na vida cotidiana.
As oficinas são ferramentas didáticas utilizadas pelo o docente na busca de trazer o conteúdo
de forma pratica e objetiva, no que tange o processo de ensino e aprendizagem do discente, na
medida que este consegue aprender o real significativo dos conceitos e suas aplicações, além disso,
é uma maneira de aliar teoria e pratica, colocar a vivencia e a realidade do mundo real. Para Archela
(2003, p. 25) ―a oficina é um caminho, ou seja, um processo de desenvolvimento de determinado
conteúdo. Assim, a oficina nada mais é, do que uma forma de desenvolver o conteúdo procurando
usar uma metodologia adequada‖.
Propor oficinas de cunho pedagógico e geográfico, faz repensar o ensino da geografia, por
buscar novos meios metodológicos, novas abordagens que seja possível a construção de um
caminho que se baseia na realidade, nas ferramentas disponíveis, ou como é condicionado por
Kaercher (2009) que chama de GCZ (Geografia a Custo Zero).

Geografia do custo zero (gcz) porque não implicam em gastos extras nem tampouco
recursos tecnológicos (nada contra eles, mas no geral não estão muito disponíveis nas
escolas públicas do meu estado, da minha cidade). Uma simples folha xerocada e já temos,
muitas vezes, matéria-prima para belas discussões e produções. O diferencial não é o
computador, é dar o ‗clique‘ na turma. (KAERCHER, 2009, p.10)

Embora uma oficina necessite de recursos tecnológicos para sua concretização, o docente
tem a necessidade de contextualizar com a realidade, fazer correlações da teoria com o espaço de
vivência dos sujeitos numa perspectiva do local para o global.
Dentro dessa perspectiva, existe um outro lado da opção de oficinas como ferramenta
metodológica, onde alguns docentes sentem um certo desconforto na sua utilização, uma vez que
necessita de dedicação e planejamento para a sua construção. E muita das vezes o professor não
consegue tempo disponível para sua criação. Com isto, o PIBID e respectivamente seus bolsistas,
apresenta como um meio para a realização de oficinas dentro do espaço escolar, além de um auxílio
na construção e elaboração desta com o docente, visando assim a aprendizagem do educando. De
acordo com Marquezan (2003, p. 62):

A dinâmica da aprendizagem se dá através de interações mútuas, nas quais educandos e


professores estabelecem relações sociais e afetivas, sendo a sala de aula o ambiente em que
estas relações se solidificam e caminham em direção ao desenvolvimento significativo de
habilidades cognitivas e sócio afetivas.

Assim, as oficinas apresentam-se como uma ferramenta metodológica de grande


importância, bem como eficaz em seu objetivo principal, sabendo que é necessário do docente
tempo para sua elaboração, entretanto programas como PIBID traz essa ―luz‖ no fim do túnel, em

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 945


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

que possibilita a construção de oficinas temáticas coma a exemplo das ―energias renováveis‖ a
seguir relatadas seu processo de construção, desenvolvimento, aplicação e avaliação.

RELATO DE EXPERIENCIA: AS OFICINAS DE ENERGIAS RENOVÁVEIS DO GEOPIBID


NA ESCOLA ESTADUAL FRANCISCO IVO CAVALCANTI

O relato de experiencia foi desenvolvido dentro do PIBID de Geografia do Instituto Federal


do Rio Grande do Norte na Escola Estadual Francisco Ivo Cavalcanti, localizada na zona leste da
cidade do Natal. Tendo como modalidade o ensino médio, além de ser uma das escolas mais
conhecidas pelos natalenses por abrir seu espaço escolar para o desenvolvimento de projetos como
o PIBID, Projeto Meio Ambiente em Foco, bem como programas informacionais de educação
sexual.
O GeoPIBID como é denominado pelos 10 bolsistas que atuam na referida escola, tinha
como missão o desenvolvimento de uma oficina temática de cunho ambiental com foco nos
discentes do 3° ano do ensino médio, em alusão a preparação para o Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) e no desenvolvimento de competências socais, políticas, econômicas e ambientais da
atualidade.
Partido do princípio acima, foram utilizadas pesquisas referencias acercas de temas que
envolvesse os eixos necessário para sua aplicação, de forma unanime a temática ―Energias
Renováveis‖ foi escolhida, mediante a perspectiva de ser um assunto que engloba diversos
conhecimentos e que provocam as correlações dos conhecimentos teóricos e práticos da realidade
atual do Rio Grande do Norte.
A oficina das Energias Renováveis foi planejada a partir de pesquisas realizadas pelo o livro
didático, em seguida artigo e postulados referencias acerca da temática, para a construção de um
material que englobasse informações precisas e objetivas para os discentes, como a exemplo de
conceituações, dados estatísticos, contextos históricos e a utilização de vídeos.
O projeto desenvolvido pelos os bolsistas, foram coordenadas pelos docentes da disciplina
de geografia e aplicadas pelos elaboradores da oficina. Foram aplicadas um total de oito oficinas em
e respectivamente em oito turmas de 3° ano nos três turnos de funcionamento da escola.
A oficina consistiu primeiramente em uma apresentação em slides, contendo informações
claras e objetivas, a princípio indagando os discentes acerca do que venha a ser energias renováveis,
qual a sua necessidade de ser estudada, se ela é renovável, ela pode causar impactos ambientais, e
dentre outros questionamentos.
Em seguida, foi necessário se ater ao contexto histórico das energias renováveis no Brasil e
no mundo, dentre eles a necessidade do homem em sempre buscar na natureza fontes de energias e
que está apresentam grande importância para ―mover‖ as nações. Como também o outro lado,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 946


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

acerca dos impactos ambientais trazidos, primeiramente pelas energias não renováveis (questões
que os discentes já apresentavam tal informações), em seguida os impactos ambientais trazidos
pelas energias renováveis, que embora apresente uma atenuação em comparação aos não
renováveis, ainda assim apresentam impactos.
Os discentes ficaram impactos com essas novas informações, pois eram algo do senso
comum destes que as energias renováveis não passavam de mais uma nova fonte de energia que o
homem, eles passaram a perceber as implicações desse processo, começaram a compreender o
processo das instalações dos parques eólicos no Rio Grande do Norte e a globalização inerentes
dessas transações.
A oficina era finalizada com um vídeo acerca dos impactos ambientais das energias não
renovável como a exemplo do desastre de Chernobyl, além de uma mensagem no final sobre a
importância do homem em procurar novas fontes de energias limpas e que apresentem poucos
impactos ambientais na natureza. Conforme pode ser observado nas figuras I e II.

Figura I: Bolsistas do PIBID de Geografia da Escola Estadual Francisco Ivo Cavalcanti


lecionando a oficina com a temática energias renováveis.

Fonte: Acervo do autor, tirada em junho de 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 947


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura II: Bolsistas do PIBID e Professor Supervisor e discente da disciplina de Geografia da


Escola Estadual Francisco Ivo Cavalcanti durante a oficina com a temática energias renováveis

Fonte: Acervo do autor, tirada em junho de 2017.

Observa-se assim, que a oficina enquanto sua avaliação, conseguiu atingir seu objetivo
proposto que era o desenvolvimento de uma temática de cunho ambiental que conseguisse trazer
indagações e problematizações abrangentes para os discentes que fosse muito além para a
preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio, mas que se apresenta um aprendizado
significativo no que tange a geografia e a educação ambiental na escola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Depreende-se assim que é de extrema importância analisar novas abordagens e ações


capazes de melhorar e aperfeiçoar o ensino da geografia no contexto escolar, em especial da rede
pública. Sabe-se que muitas ações já estão sendo postas em pratica a exemplo do grande projeto do
governo federal que é o PIBID.
A oficina de Energias Renováveis aplicada e desenvolvida pelos bolsistas do programa na
Escola Estadual Francisco Ivo Cavalcanti, teve um dos seus principais objetivos alçando que é a
compreensão e entendimento por parte dos discentes, muito além disso, da ―teia de conhecimento‖
criadas durantes cada oficina.
Por fim, é de grande importância que o professor na figura do principal agente
transformador no ambiente escolar, de criar meios que consiga trazer um real significado para o
educando, neste caso a importância das fontes de energias renováveis e suas relações com nosso dia
a dia, na economia do nosso estado e para a sustentabilidade do nosso planeta.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 948


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

REFERÊNCIAS

ALEXANDRE, F.; DIOGO, J. Didática da Geografia: contributos para uma educação no


ambiente. 3. ed. Lisboa: Texto Editora, 1997. (Educação Hoje).

ARCHELA, R. S., BARROS, M. V. F., MARQUIANA, F. V. B. G. Orientação no mapa e pelo


mapa. Revista do Departamento de Geografia da Universidade de Londrina, v.13, n.02, 2003.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros


Curriculares Nacionais: Geografia. Brasília. MEC/SEF, 1998.

CAPES. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Programa Institucional


de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID. Disponível em: <http://capes.gov.br/
educacaobasica/capespibid>. Acesso em: 30 de jul. 2017.

CAVALCANTI,L.S. Geografia e Práticas de Ensino. Goiânia: Alternativa, 2002.

FREIRE, P. Pedagogia da indignação. São Paulo: Editora UNESP, 2000.

KAERCHER, N. A. Geografia do custo zero: conheça e revele-se estudando a cidade: experiências


pedagógicas para pensar nossa ontologia. UFRGS, 2009, Mimeo.

HINRICHS, Roger A. Energia e Meio ambiente. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

MARQUEZAN, Reinoldo [et al.]. Dinâmica de sala de aula: uma variável na aprendizagem.
Cadernos de educação especial, Santa Maria: n. 22, p. 61-67, 2003.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 949


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CONSTRUÇÃO DE UM EQUIPAMENTO ALTERNATIVO PARA


EXECUÇÃO DE CURVAS DE NÍVEL

Jômane Costa de JESUS


Graduando em Agroecologia UFPB
costajomane@gmail.com
Carmelita Érica Azevedo de LUCENA
Graduando Licenciando em Ciências Agrárias UFPB
erica_agrarias@hotmail.com
Raissa Dália PAULINO
Professora da UFPB
raissa@cchsa.ufpb.br
Erikson Kadoshe de Morais RAIMUNDO
Graduando em Agroecologia UFPB
kadoshetecagro@hotmail.com

RESUMO
O plantio em curvas de nível consiste na produção ordenada por meio de linhas com diferentes
altitudes do terreno. Os equipamentos utilizados para mensurar terrenos com finalidades de planejar
atividades agrícolas são de valores elevados, dificultando o acesso para agricultores familiares, que
embora sejam responsáveis pela produção da maior fatia de alimentos que chegam aos brasileiros
são pouco reconhecidos e não recebem o investimento merecido e necessário. É de suma
importância para a agricultura sustentável o uso de equipamentos que ajude no planejamento dessas
atividades, devido ao custo dos mesmos, e essa etapa é retirado do plano de trabalho. Baseado nesse
problema surgiu a demanda pela busca de alternativas que ajudassem a diminuir os custos na
locação desses serviços. Com a realização de pesquisa documental, foi encontrado um método
alternativo de medição de curvas de nível com precisão semelhante aos equipamentos utilizados
atualmente. Esse fato pode ajudar agricultores familiares a conservar seu solo, mantendo sua
produtividade, gerando renda para a sua família. Este artigo mostra a criação de um aparelho que
contribui para a agricultura em relação à conservação do solo. A partir de testes realizados, foi
possível observar que a diferença entre o nível óptico e o nível de laser não foram relevantes. Essa
tecnologia pode se tornar mais uma ferramenta que ajude colher dados importantes sobre a área de
cultivo para o planejamento agrícola. . As expectativas de criar um aparelho que pode contribuir
para agricultura no que diz respeito à conservação do solo, em relação às curvas de nível e
nivelamento topográfico, foram alcançadas. Deste modo, a socialização de pesquisas que
possibilitem o desenvolvimento produtivo e aumento da geração de renda nunca foi tão relevante.
Palavras-chave: Laser; Nivelamento; conservação do solo.

ABSTRACT
Curve planting consists of ordered production through lines with different altitudes of the terrain.
The equipment used to measure land for the purpose of planning agricultural activities is of high
value, making access difficult for family farmers, who, although responsible for the production of
the largest portion of food arriving to Brazilians, are poorly recognized and do not receive the
necessary and necessary investment . It is extremely important for sustainable agriculture to use
equipment that helps in the planning of these activities, due to their cost, and this step is taken from

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 950


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

the work plan. Based on this problem arose the demand for the search of alternatives that would
help to reduce the costs in the lease of these services. With the accomplishment of documental
research, an alternative method of measurement of contour lines was found with precision similar to
the equipment used today. This fact can help family farmers conserve their soil, maintaining their
productivity, and generating income for their family. This article shows the creation of an apparatus
that contributes to agriculture in relation to soil conservation. From the tests performed, it was
possible to observe that the difference between the optical level and the laser level were not
relevant. This technology can become one more tool that helps to gather important data about the
growing area for agricultural planning. . The expectations of creating an apparatus that can
contribute to agriculture with regard to soil conservation in relation to level contours and
topographic leveling have been achieved. In this way, the socialization of research that enables the
productive development and increase of income generation has never been so relevant.
Keywords: Laser; Leveling; Conservation of soil.

INTRODUÇÃO

O plantio em curvas de nível consiste na produção ordenada por meio de linhas com
diferentes altitudes do terreno. Essa técnica é essencial para áreas íngremes. O processo ajuda a
conservar o solo contra erosões e contribui com o escoamento da água da chuva, fazendo com que
ela se infiltre mais facilmente na terra e evite os deslizamentos. Esse sistema ajuda a reter elementos
solúveis do solo e permite o aumento da produção (VERDE Pensamento). Evitando a lixiviação de
nutrientes, além da movimentação de solo para os lugares mais baixos diminuindo os processos de
degradação do mesmo, causado pela interferência do homem na natureza, o plantio em curvas de
nível é essencialmente importante para conservação do solo. Curva de nível é o nome usado para
designar uma linha imaginária que agrupa dois pontos que possuem a mesma altitude.
Por meio dela são confeccionados os mapas topográficos, pois, a partir da observação, o
técnico pode interpretar suas informações através de uma visão tridimensional do relevo. Uma
curva de nível refere-se às curvas altimétricas ou linhas isoípsas (ligam pontos de mesma altitude),
essa é a mais eficiente maneira de representar as irregularidades da superfície terrestre (relevo).
(SIQUEIRA, 2010).
A erosão dos solos é um processo geológico, porém o seu agravamento em solos agrícolas
se deve à quebra do equilíbrio natural entre o solo e o ambiente, geralmente promovida e acelerada
pelo homem. A erosão, principalmente a antrópica, é algo que preocupa muitos sistemas de cultivo
agrícola, causando vários problemas, contribuindo para a degradação dos solos existentes.
Para se começar a proteger o solo devidamente, tem-se de criar uma mentalidade
conservacionista. Por isso, torna-se vital ter em mente os princípios básicos da conservação do solo.
De acordo com Lima (1998), o uso da terra exerce significativa influência sobre a infiltração do
solo e esta pode ser modificada pelo homem por intermédio de seus programas de manejo.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 951


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Em áreas agrícolas, devem-se considerar os seguintes pontos: manter o solo coberto o


máximo de tempo possível durante o ciclo das culturas e após a colheita, com o objetivo de
minimizar e/ou impedir o impacto direto da gota da chuva sobre o solo, que causa a destruição dos
agregados do solo, o entupimento dos poros e a formação de crosta superficial. Essa crosta, além de
dificultar a germinação das sementes, reduz a infiltração da água no solo e contribui para a
formação de enxurradas.
Em segundo lugar, devem-se adotar práticas agrícolas que mantenham e/ou elevem a
capacidade de infiltração da água no solo e reduzam o escorrimento superficial e a formação de
enxurradas, outro agente muito importante que acelera a erosão (BERTOLINI; LOMBARDI
NETO, 1993).
Embora possa parecer que as terras possuam características pedológicas semelhantes, é certo
que essas características podem variar de área para área, dentro da mesma propriedade. Nesse caso,
é necessário identificar essas diferentes áreas. O planejamento determinará as áreas mais
apropriadas para o plantio de culturas anuais, perenes, pastagem e reflorestamento, entre outras, e
determinará as medidas de controle à erosão a serem adotadas. Cada tipo de solo tem sua aptidão
(RAMALHO; BEEK, 1994).
O nivelamento de uma vertente é imprescindível em trabalhos de conservação do solo, pois,
através dele, podem-se determinar as diferenças de altitude entre dois ou mais pontos consecutivos,
o que permitirá o cálculo da inclinação ou pendente (declividade) do terreno. Determina-se a
pendente através de métodos expeditos ou por processos de precisão.
Preservar o solo com bons hábitos que evitam a erosão é a solução para evitar problemas
socioambientais, como deslizamentos, enchentes, assoreamento dos rios, perda de espécies da fauna
e da flora, redução da biodiversidade e da área de plantio, dentre outros. Em contrapartida, técnicas
agrícolas menos agressivas, como o plantio em curvas de nível, conservam a cobertura vegetal do
solo.

METODOLOGIA

A construção do equipamento (nível de lazer), foi de forma manual, com material na sua
maioria reciclado, usando como referência um fichário técnico da EMBRATER. Foi realizado um
desenho (projeto) e um planejamento das atividades executadas, para que fosse possível a
idealização concreta, sem nenhuma falha no momento de confecção. Após o planejamento
recolhemos o material e ferramentas necessárias para iniciar a elabaroção. Para a construção foi
utilizado um caibro reaproveitado, o mesmo serviu com base para apoio de um laser e um nível
bolha (utilizado para nivelamento de pisos).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 952


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Para a elaboração da régua ou estádia, foi utilizada uma ripa de madeira, também
reaproveitada, nela foi fixada uma fita métrica de costura, para poder mensurar as medidas do nível.

Figura I. Nível de laser e régua

O nível de laser tem função de obter medidas de declividade de um determinado terreno,


assim tem função de nivelamento e elaboração de curva de nível.
Foram realizados alguns testes comparando com um nível óptico (NAL 324 FOIF cal. GEO
CENTER agosto de 2010) para saber se a diferença seria considerável. Os testes foram realizados
na Universidade Federal da Paraíba, campus III em Bananeiras, no setor da primeira chã, com a
intenção de conhecer a precisão do equipamento bem como a sua eficiência no nivelamento de
terrenos.
Foram realizadas cinco medidas com distância de dois metros de um ponto para outro sendo
eles: A-B, B-C, C-D e D-E. Os valores obtidos com o nível de laser foram comparados aos obtidos
com o nível óptico profissional, equipamento de alta precisão, no entanto, de difícil acesso devido
ao seu custo.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 953


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figuras II e III. Comparação entre o Nível Óptico e o Nível de Laser

RESULTADOS

A partir de testes realizados, foi possível observar que a diferença entre o nível óptico e o
nível de laser não foram relevantes. Essa tecnologia pode se tornar mais uma ferramenta que ajude
colher dados importantes sobre a área de cultivo para o planejamento agrícola.

Figura IV. Ilustração dos pontos medidos

A declividade máxima encontrada no terreno foi de 8 cm. Na tabela abaixo segue os valores
obtidos, comparados entre o nível óptico e o nível de laser.

Nível óptico (cm) Nível de laser (cm)

3,01 5,95

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 954


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

5,0 6,0

6,05 6,02

8,0 7,04

Tabela 1: Resultado da comparação do levantamento altimétricas do nível óptico com o de laser.

A precisão do nível de laser em relação às cotas (marcação de nível ou altitude de um


terreno ou do relevo de uma dada região) com distância mínima de 2 metros da Ré para cada vante
foi gratificante. A diferença em relação a um aparelho sofisticado também foi mínima com no
máximo 1 centímetro de variação, comprovando sua viabilidade para fazer nivelamento de
pequenos espaços de uma determinada área.
Esses dados mostram a viabilidade da utilização desse equipamento. O simples fato de
realizar o nivelamento do solo altera significativamente o resultado final da produção. Alem de
minimizar o assoreamento e erosão dos solos utilizados, ainda auxiliam na retenção de nutrientes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca de meios alternativos para contribuir na vivência e desenvolvimento produtivo de


agricultores familiares é de suma importância. Os meios convencionais encontrados são de custo
elevado e de difícil acesso para agricultores camponeses. As expectativas de criar um aparelho que
pode contribuir para agricultura no que diz respeito à conservação do solo, em relação às curvas de
nível e nivelamento topográfico, foram alcançadas. Deste modo, a socialização de pesquisas que
possibilitem o desenvolvimento produtivo e aumento da geração de renda nunca foi tão relevante. O
trabalho proporcionou um aprendizado em vários aspectos junto à topografia, servindo de alimento
para criar novas ideias e melhorar as que já foram criadas, através destes, obter conhecimento
necessário a fim de desenvolver tecnologias que contribuam para a agricultura sustentável,
respeitando o solo como um ser vivo, diminuindo a agressão causada no cultivo irracional, onde é
de extrema importância seu manejo de forma racional e sustentável, podendo assim gerar segurança
alimentar e renda para o agricultor familiar, causando um menos interferência no meio ambiente,
atendendo em parte, os princípios da agroecologia.

REFERÊNCIAS

BERTOLINI, D. et al . Manual técnico de manejo e conservação de solo e água: tecnologias


disponíveis para controlar o escorrimento superficial do solo. Campinas: CATI, 1993. v. 4. p. 1-
65 (CATI. Manual, 41).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 955


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

LIMA, W. P. Princípios de hidrologia florestal para o manejo de bacias hidrográficas. Piracicaba,


SP: ESALQ, 1986. 242 p. Texto básico para a disciplina ―Manejo de Bacias Hidrográficas‖.

RAMALHO FILHO, A.; BEEK, K. J. Sistema de avaliação da aptidão agrícola das terras. 3. ed..
Rio de Janeiro, EMBRAPA-CNPS, 1994. 65 p.

SIQUEIRA, Renato Alves de. Curva De Nível. 2010. Disponível em:


<http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfUR4AI/curva-nivel>. Acesso em: 05 jul. 2017.

VERDE, Pensamento. Conheça o plantio em curvas de nível e seus benefícios para a agricultura: A
técnica é indicada para áreas em declive e ajuda a manter os nutrientes essenciais para o
desenvolvimento da produção, evitando erosões do solo. 2013. Disponível em:
<http://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/conheca-plantio-curvas-nivel-beneficios-
agricultura/>. Acesso em: 31 ago. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 956


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA IMPLANTAÇÃO DE UMA HORTA DE


PLANTAS MEDICINAIS E HORTALIÇAS NO INTITUTO FEDERAL DO
CEARÁ CAMPUS QUIXADÁ

Lara Maria Oliveira RABELO


Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária IFCE
laramariaor@gmail.com
Antônia Bianca Coelho ROCHA
Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária IFCE
biancacst@hotmail.com
Reinaldo Fontes CAVALCANTE
Professor Titular Mestre em Tecnologia e Gestão Ambiental IFCE
reinaldo.ifce@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho tenta mostrar o viés voltado para a educação ambiental com o intuito de
incentivar o cultivo e o consumo de alimentos orgânicos, de modo a garantir os benefícios que uma
alimentação livre de agrotóxicos pode trazer, bem como a utilização e entendimento sobre as
funções de plantas medicianis. Associado a isso, o papel socioambiental da Farmácia Viva em uma
instituição de ensino superior, garante o bem estar e acolhimento de todos os que fazem parte da
instituição, além de demostrar, na prática, a efetividade do ensino em ações. Portanto, este trabalho
foi realizado com o objetivo de instaurar uma horta de plantas medicinais e hortaliças para propiciar
um espaço de cultivo e propalação de informação acerca dos benefícios da Farmácia Viva.
Palavras-chave: Farmácia viva, educação ambiental, plantas medicinais.
ABSTRACT
The present work attempts to show the bias back to environmental education in order to encourage
the cultivation and consumption of organic food, to ensure the benefits that a free supply of
pesticides can bring, as well as the use and understanding of the functions of medicianis plants.
Associated with this, the social and environmental role of Pharmacy in an institution of higher
education, guarantees the welfare and accommodation of all who are part of the institution, in
addition to demonstrate in practice the effectiveness of teaching in actions. Therefore, this work was
performed with the goal of developing a garden of medicinal plants and vegetables to provide a
space for cultivation and information about the career traction units pharmacy benefit Alive.
Keywords: Live pharmacy, environmental education, medicinal plants.

INTRODUÇÃO
O Instituto Federal do Ceará, campus Quixadá está localizada a 5 km do centro urbano e
possui aproximadamente 800 alunos. Tendo como principal meio de transporte dos alunos o ônibus
coletivo, o percurso do IFCE até o centro da cidade torna-se um obstáculo para a obtenção de
remédios e atendimento médico rápido necessários para o combate de alguns sintomas comuns na
vida do aluno e de funcionários. Dessa forma, a Farmácia Viva surge como uma alternativa viável a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 957


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

fim de fornecer medicamentos fitoterápicos de fácil e rápida obtenção para o combate às dores de
cabeça, cólica, doenças gastrointestinais, entre outras, sem a necessidade do deslocamento até a
cidade.
Sabe-se que a medicina através dos tempos, sempre lançou mão das plantas medicinais
como recurso natural. As práticas indígenas brasileiras, aliadas aos conhecimentos orientais, são
responsáveis, hoje, pela forte medicina popular brasileira. Muito inspirada nos rituais sobrenaturais,
esta medicina é, com certeza, a alternativa de muitos brasileiros, principalmente, em regiões com
infra-estrutura deficitária (LUCCA, 2004; NEVES et al., 2009).
A educação ambiental é uma alternativa para a solução de problemas ambientais, e tem
como fundamento a transformação individual e coletiva para garantir qualidade de vida ambiental e
humana (SATO, 1997).
Em paralelo, diante da demanda por alimentos, o uso de agrotóxicos e fertilizantes que
intensificam a produção em larga escala, vem ganhando cada vez mais aceitação por parte dos
produtores. No entanto, as consequências do uso indiscriminados desses tipos de produtos não têm
sido ponderadas. Alimentos que possuem esse tipo de produtos podem trazer inúmeros problemas
de saúde. Não obstante, os resíduos provenientes do uso intensivo de agrotóxico podem gerar
impactos ambientais causando desequilíbrios que, muitas vezes, podem ser irreversíveis.
Dessa maneira, o viés voltado para a educação ambiental que o projeto possui tem o intuito
de incentivar o cultivo e o consumo de alimentos orgânicos em casa, de modo a garantir os
benefícios que uma alimentação livre de agrotóxicos pode trazer. Associado a isso, o papel
socioambiental da Farmácia Viva em uma instituição de ensino superior, garante o bem estar e
acolhimento de todos os que fazem parte da instituição, além de demostrar, na prática, a efetividade
do ensino em ações.
Nessa perspectiva, a produção urbana de alimentos vem sendo cada dia mais aceita,
principalmente em países em desenvolvimento, envolvendo o cultivo de hortas, plantas medicinais,
aromáticas e ornamentais. A implantação dessas hortas em ambientes educacionais é um exemplo
do aproveitamento das áreas urbanas para a produção de alimentos, possibilitando a inclusão de
produtos naturais e a modificação dos hábitos alimentares de alunos e de toda a comunidade escolar
(MORGANO; SANTOS, 2008).
Magalhães (2003) afirma que utilizar a horta escolar como estratégia, visando estimular o
consumo de feijões, hortaliças e frutas, torna possível adequar a dieta das crianças. Outro fator
interessante é que as hortaliças cultivadas na horta escolar, quando presentes na alimentação
escolar, fazem muito sucesso, ou seja, todos querem provar, pois é fruto do trabalho dos próprios
alunos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 958


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O debate à temática ambiental também é fator de grande relevância na implantação de hortas


em ambientes educacionais. As ações desenvolvidas favorecem um ambiente de conscientização
ambiental quanto a importância de temas afins como plantas, alimentos, água, solo, reciclagem de
resíduos, biodiversidade, entre outros.
A grande relevância sociocultural desse trabalho é destacada pelo estabelecimento de um elo
entre o conhecimento científico acadêmico e o conhecimento popular, permitindo que haja uma
aproximação entre todas as pessoas da comunidade e a promoção de serviços de utilidade pública.
Segundo Hoeffel et al. (2011), o processo de globalização pode causar alterações na
identidade cultural de uma comunidade, podendo gerar o desaparecimento de elementos culturais
importantes nessa sociedade. O uso de plantas com propriedades medicinais se insere justamente
nesse contexto, onde conhecimentos são repassados de geração em geração e permitem que muitas
pessoas tenham acesso a uma alternativa viável na manutenção do bem-estar de famílias mais
carentes.
A importância das plantas medicinais é reconhecida pelo governo através do Decreto nº
5.813, de 22/06/06, que aprovou a Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos
(PNPMF) e a inserção no sistema de saúde público através da Portaria GM nº 971, de 03/05/06, que
aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, onde se
inserem as diretrizes para a implementação das Plantas Medicinais e Fitoterapia.
Este decreto tem como um dos objetivos ampliar as opções de acesso à comunidade
brasileira de plantas medicinais de forma segura considerando o conhecimento tradicional sobre
plantas medicinais. Desta forma conseguimos, através desse projeto, garantir para toda a
comunidade acadêmica meios alternativos, diferentes dos tradicionais medicamentos, para atender a
singularidade de cada pessoa e havendo sempre possibilidade de atendimento em casos de ausência
de outros medicamentos.
O cultivo de plantas medicinais e hortaliças proporciona um espaço de laboratório vivo para
diversas experiências de ensino, tanto para alunos quanto para os educadores e visitantes (FONTES,
2009). Com isso é importante notar que a comunidade universitária pode oportunizar atividades de
incorporações de saberes populares, e contribuir com etnobotânica (BRASIL, 2007).
Segundo Marondin e Baptista (2001) a aplicação de plantas para o tratamento de saúde
obteve registros em épocas distintas na história da humanidade, estando inseridas até os dias de hoje
em diferentes culturas de comunidades populacionais. De acordo com a OMS, 80% da população
mundial faz uso das plantas medicinais (LUCCA, 2004; NEVES et al., 2009).
O projeto é destinado a alunos do ensino superior, médio e técnico, desenvolvido pelo IFCE-
Campus Quixadá, assim como para seus funcionários e para os visitantes ao campus. Deve-se levar
em consideração que tanto os alunos quanto os visitantes possuem conhecimento empírico sobre as

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 959


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

espécies de plantas que serão apresentadas, possuindo uma quantidade menor de conhecimento
cientifico sobre o assunto. Desta forma a participação dos alunos se dá desde a concepção da
organização do espaço e acondicionamento das mudas, e posteriormente será disponibilizado
conteúdo com a utilidade de cada espécie disponibilizada na farmácia viva.
O objetivo desse trabalho é implantar uma horta de plantas medicinais e hortaliças para
proporcionar um espaço de cultivo e disseminação de informação acerca dos benefícios da
Farmácia Viva.

METODOLOGIA

A realização deste trabalho foi dividida em etapas para o melhor sistematização. A primeira
etapa consistituiu na elaboração do projeto a partir de pesquisas na literatura em busca de
conhecimento sobre as ervas medicinais, com o objetivo de identificar as funções de cada erva. A
escolha das espécies seguiu o critério na qual o seu papel terapêutico e a existência das mesmas na
região contribuíram para a seleção.
A segunda etapa foi a divulgação interna do projeto. Essa etapa teve como objetivo
mobilizar os alunos a participarem das ações voltadas para a estruturação do espaço destinado à
Farmácia Viva, tendo como público principal, a turma de educação ambiental do semestre 2016.1.
Uma vez feita a divulgação e a mobilização dos alunos, a terceira etapa do projeto entrou em
ação com a construção da estrutura física da Farmácia Viva, a confecção e alocação dos canteiros, a
ornamentação, as sinalizações e os meios de informação impressos.
Em paralelo a construção do espaço físico, os alunos bolsistas do IFCE auxiliaram outro
grupo de alunos na produção de mudas.
Depois do plantio, e passado o tempo necessário para que as plantas se firmem como
componentes integrais da Farmácia Viva, foi iniciada a última etapa do projeto.
Na última etapa foi convidado uma turma de alunos do ensino básico, para visitar o espaço e
conhecer a funcionalidade ambiental do local. Nessa etapa foi realizada uma oficina educativa, e ao
finar foi distribuído mudas.
As plantas que serão incluídas no projeto estão listadas abaixo e são amplamente conhecidas
pela comunidade e já utilizadas para as aplicações mencionadas.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 960


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 1: Espécies de plantas utilizadas no projeto

NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO UTILIDADE

 Erva Aromática
 Chá quente e frio
 Relaxante e boa
Erva Cidreira Melissa officinalis para o coração.
 Utilizada para a
ansiedade e
depressão

 Laxante,
 Antiinflamatória,
 Antibiótica,
 Antiviral,
 Anticârcinogênica,
 Cicatrizante,
Babosa Aloe arborescens  Antipruriginosa,
 Hidratante,
 Tônica,
 Estimulante,
 Anti-Helmíntica,
 Emenagoga,
 Emoliente.

 antiescorpiônico e
ofídio
 anti-reumático
 antiasmático,
 antibiótico,
Aveloz Euphorbia tirucalli L.
 antibacteriano,
 cáustico,
 fungicida,
 purgativo,
 veneno.

 Analgésica,
 Anestésica,
Noni Morinda citrifolia  Antidiabética,
 Anti-Inflamatória,
 Hipotensora.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 961


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

 Rouquidão
 Circulação
 Fraturas
 Gripes
 Varizes
 Hemorroidas
Mastruz (Erva de Santa Chenopodium
Maria) ambrosioides L  Tuberculose
 Asma
 Parasitas Intestinais
 Repelente de
Insetos
 Bronquite
 Resfriados

 Digestão
 Nervosismo
 Hipertensão
 Inchaço
 Depressão
O capim-santo Cymbopogon citratus
 Agitação
 Insônia
 Infecções Da Pele
 Aliviar Dor
Muscular

 Antitumoral
 Antifúngico e
antibacteriano (óleo
essencial)
 Anti-inflamatório
 Inibidor da
Peumus boldus Molina,
O boldo agregação
Monimiaceae
plaquetária (evita
coagulação
sanguínea)
 Laxante suave
 Antioxidante
 Hepatoprotetor

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 962


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

 Indigestão
 Dores Estomacais
 Câimbras
Hortelã Mentha piperita
 Problemas Nervosos
 Antisséptico
 Analgésico

 Cicatrização de
ferimentos
 Gastrite
Corama Bryophyllum pinnata
 Combate
inflamações
 Bactérias

 IRRITAÇÃO NA
BOCA

Malvariço, malvarisco,  NA GARGANTA


Plectranthus amboinicus
hortelã-grande  ROUQUIDÃO
 TOSSE
 BRONQUITE

Após o fim da última etapa, a continuidade do projeto foi garantida através do apoio de um
bolsista que ficou responsável pelos cuidados da farmácia Viva, além de propor desdobramentos em
novas etapas do projeto.
As primeiras etapas de mobilização e conscientização acontecem sempre com o intuito de
garantir a permanência da Farmácia Viva e sua disseminação para as comunidades da região, sendo
esse um dos possíveis viés que da continuidade ao projeto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hodiernamente, a crise ambiental é refletida pelo fato de maior parte da população brasileira
viver em cidades. Assim, sendo necessária uma reflexão sobre os possíveis desafios para
proporcionar uma mudança em torno da questão ambiental numa perspectiva contemporânea.
Nesse contexto cabe destacar que a educação ambiental assume cada vez mais uma função
transformadora e o educador tem a função de mediador na construção de referenciais ambientais e
deve saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no
conceito da natureza.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 963


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Atrelado a isso, a Farmácia Viva tem papel socioambiental relevante em uma instituição de
ensino superior, assegurando o bem estar e receptividade de todos os que fazem parte desta
insituição, demonstrando, também, a efetividade do ensino em ações.

REFERENCIAS

HOEFFEL, J. L. M.; GONÇALVES, N.M.; FADINI, A.A.B.; SEIXAS, S.R.C. Conhecimento


tradicional e uso de plantas medicinais nas APAS‘S Cantareira/SP e Fernão Dias/MG. Revista
VITAS – Visões Transdisciplinares sobre Ambiente e Sociedade. N.1, 2011.

MORGADO, F. da S; SANTOS, M. A. A. dos. A horta escolar na educação ambiental e alimentar:


experiência do projeto horta viva nas escolas municipais de Florianópolis. EXTENSIO –
Revista Eletrônica de Extensão, n. 6, p. 1-10, 2008.

SATO, M. Educação para o ambiente Amazônico. Tese- Doutorado, PPGERG/ Universidade


Federal de São Carlos, São Carlos , São Paulo, 1997.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 964


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA SERRA DO TORREÃO: O USO DE PALESTRAS


PARA INSERÇÃO DA TEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL
EM ESPAÇO NÃO-FORMAL DE ENSINO

Luana Lima de OLIVEIRA


Graduanda em Ciências Biológicas da UFRN
luanabionutri@gmail.com
Aleson da Silva FONSECA
Graduando em Ciências Biológicas da UFRN
fonseca.aleson@gmail.com
Laize Regina Palhares de LIMA
Graduanda em Ciências Biológicas da UFRN
laizepalharesbio@gmail.com
Aline de Moura MATTOS
Orientadora. Doutora Ensino de Ciências e Educação Matemática pela UEL
Docente do Centro de Educação da UFRN
line_mattos@yahoo.com.br

RESUMO
A utilização de espaços não formais hoje é bem mais visada do que há décadas, esses espaços
podem ser usados como facilitadores de aprendizado. O objetivo deste trabalho é divulgar um relato
de experiência com palestras de sensibilização ambiental na Serra do Torreão, no município de João
Câmara/RN, um espaço não-formal de ensino, bem como discutir a importância da utilização deste
espaço para inserção da temática ambiental na prática docente. A palestra foi aplicada na Serra do
Torreão com 90 alunos de duas escolas públicas no município de João Câmara/RN. Ação foi
desenvolvida em dois momentos: primeiramente, foram escolhidas as temáticas a serem abordadas
na área e, no segundo momento, ocorreu às palestras que tiveram foco em aspectos ligados às
características da área, bioma Caatinga. Alguns estudantes demonstraram conhecer um pouco sobre
as histórias envolvendo a Serra do Torreão e seus aspectos culturais e regionais, mas não conhecem
com propriedade alguns conceitos relacionados a fatores bióticos e abióticos. Foi possível notar que
esse tipo de atividade despertou nos estudantes curiosidade sobre a temática, por se tratar de uma
área próxima do seu cotidiano. Embora seja um desafio romper os muros da escola para alguns
professores, essa atividade se mostrou atrativa para os discentes, pois eles puderam explorar
conceitos sistematizados das mais variadas disciplinas usando um único espaço, portanto, se
demonstra a riqueza de aspectos que podem ser discutidos e trabalhados.
Palavras-chave: Conscientização ambiental. Serra do Torreão. Município de João Câmara.
ABSTRACT
The use of non-formal spaces today is much more targeted than for decades, these spaces can be
used as facilitators of learning. The aim of this work is to report a case studies with environmental
awareness lectures in Serra do Torreão, in the municipality of João Câmara/RN, a non-formal
educational space, where they boarded the basic concepts in the environment, as well as discuss the
importance of using this space for insertion of environmental-themed on teaching practice. The
lecture was applied in the Serra do Torreão do with 90 students from two public schools in the
municipality of João Câmara/RN. Action was developed in two moments, in the first stage were

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 965


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

chosen the themes to be addressed in the area and the second moment occurred the lectures which
had a focus on aspects of the characteristics of the area, focusing in the Caatinga biome. Some
students demonstrated knowing a little about the stories surrounding the Serra do Torreão and its
cultural and regional aspects, but did not know with some property related concepts the biotic and
abiotic factors. It was possible to note that this type of activity has aroused students curious about
the subject, because it is an area close to your daily life. While it is a challenge to break the walls of
school for some teachers, this activity proved to be attractive to the students because they might
explore systematic concepts from various disciplines using a single space, so if demonstrates the
wealth of things that can be discussed and worked.
Keywords: Environmental awareness. Serra do Torreão. João Câmara municipality.

INTRODUÇÃO

Os espaços não-formais de ensino são qualquer espaço utilizado com finalidade educacional
e que não esteja dentro da escola (JACOBUCCI, 2008). Atualmente, a utilização de espaços não-
formais é bem mais visada do que há décadas, pois compreendemos que na educação,
principalmente do ensino de Ciências, os espaços não-formais de ensino podem ser usados como
facilitadores de aprendizado.
Em se tratando da Educação Ambiental (EA), a literatura nos mostra diversos relatos de
experiência utilizando espaços não-formais de ensino para promover o processo de sensibilização
ambiental. Chagas (2011) destaca como espaços naturais podem ser utilizados para promover o
processo de compreensão da natureza através das trilhas interpretativas.
No entanto, não é apenas em espaços naturais que se pode promover a sensibilização
ambiental. Hoje sabemos que isso pode ser feito com indivíduos de todas as localidades sendo
ambientes naturais ou até urbanos. Jacobucci (2008) classifica os espaços não-formais em
institucional ou não institucional. Como o próprio nome sugere, os espaços institucionais são
Centros de Ciências, museus, parques, dentre outros e estes estão, portanto, ligados a uma
instituição regularmente registrada como órgão, com finalidades bem estabelecidas. Já os espaços
não-formais não institucionais são áreas públicas ou privadas que podem ser utilizadas para uma
determinada finalidade, embora elas não sejam ligadas a uma instituição. No caso da atividade
relatada neste trabalho, utilizamos de um espaço não-formal não institucional, ou seja, ambiente
natural.
Pretendia-se, portanto, utilizar o espaço natural para promover a sensibilização ambiental
nos estudantes de duas escolas públicas. Para GUIMARÃES (2004) a sensibilização ambiental é
entendida como um processo longo e contínuo de incorporação de conceitos ligados à área
socioambiental estabelecendo conexões entre as ―causas e os efeitos‖. Esse olhar mais sensível a
essa temática é fundamental para atingir a conscientização (CONRADO; CHAGAS; SILVA, 2016).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 966


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Portanto, a Educação Ambiental surge como corrente educacional que visa promover a
compreensão das dinâmicas socioambientais, bem como o papel humano como agente
transformador do espaço, além de levantar questionamentos que fazem o sujeito refletir sobre suas
práticas (CHAGAS, 2011).
Acreditamos que espaços não-formais de ensino são excelentes lugares para promover o
processo de sensibilização ambiental com diferentes públicos, pois é diante de espaços naturais que
fica claro as múltiplas relações ecológicas e sociais e a compreensão desses conceitos pode levar os
indivíduos a mudar suas posturas sendo agentes ativos e participativos (XAVIER; FERNANDES,
2008).
Pensando nisso, a proposta da palestra de sensibilização ambiental na Serra do Torreão,
localizada no município de João Câmara/RN, a 80 km de Natal, foi elaborada por licenciando em
Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e contou com a
parceria de duas escolas públicas do estado do Rio Grande do Norte. A iniciativa teve como
finalidade abordar conceitos ligados a temática ambiental, como eixo transversal no ensino, de
modo a promover criticidadade e comprometimento, por parte dos discentes, com o desejo de
preservação da área como espaço natural e de grande importância socioambiental. O contato com a
serra possibilitou, abordar conceitos básicos em meio ambiente, com foco em aspectos
vegetacionais e faunísticos do Bioma Caatinga.
Assim, o objetivo deste trabalho é divulgar um relato de experiência com palestras de
sensibilização ambiental na Serra do Torreão, no município de João Câmara/RN, um espaço não-
formal de ensino, onde foram abordaram os conceitos básicos em meio ambiente, bem como
discutir a importância da utilização deste espaço para inserção da temática ambiental na prática
docente.

METODOLOGIA

Para a aplicação desta ação, a coordenação pedagógica das Escolas Estaduais Professora
Marluce Lucas e Capitão José da Penha, situadas no município de João Câmara/RN entraram em
contato com um licenciando em Ciências Biológicas (segundo autor) para estabelecer temáticas a
serem abordadas ao longo da palestra.
As ações desenvolvidas com os alunos dessas escolas ocorreram em dias diferentes, mas
seguiam a mesma metodologia. A proposta foi dividida em duas etapas. Na primeira etapa, foram
estabelecidas as temáticas a serem discutidas na ação, bem como foram providenciados os termos
de autorização dos pais e alguns dados dos alunos. Na segunda etapa, os alunos foram conduzidos
até a área onde a Serra do Torreão está localizada. Antes de subir à serra, o licenciando orientou os
estudantes acerca dos riscos, procedimentos e cuidados que deveriam tomar durante a escalada. A

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 967


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

professora de Educação Física da escola fez uma atividade de aquecimento com os alunos, para
evitar dores musculares durante o percurso. Para iniciar a palestra, o licenciando usou a abordagem
do Ensino Construtivista, assim como explicado no trabalho de Carretero (1997), que parte dos
conhecimentos prévios para construir e sistematizar conceitos, colocando o aluno em posição de
destaque no processo de ensino-aprendizagem; para tanto, foram lançados questionamentos A partir
dos questionamentos aos estudantes foi possível ao licenciando conduzir a proposta (MEZZARI,
2011). As crianças contempladas cursavam entre o 6° ao 9° ano do Ensino Fundamental,
totalizando em média 90 alunos.
O licenciando iniciou a palestra questionando sobre a área, perguntou se alguém conhecia a
serra; se já tinha ido outras vezes com a instituição. Em seguida, prosseguiu perguntando se eles
poderiam falar alguma história ou lenda que retratasse a serra. Depois, deu prosseguimento
perguntando se os alunos sabiam caracterizar fatores bióticos e abióticos, ecossistema e bioma;
perguntou se sabiam como classificar a área que estavam explorando; e finalizou falando da
importância da conservação da Serra do Torreão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o percurso foi possível perceber que maioria dos alunos conhecia a área, ao chegar
à localidade, depois de dado todos os informes, os alunos foram conduzidos até o cume da serra, ao
chegar lá, antes de dar início à palestra, observando o entusiasmo dos alunos por estarem
explorando a Serra, foi perguntado o que eles sabiam sobre ela.
Os estudantes falaram sobre os abalos sísmicos que ocorreram na década de 80 no município
e sobre as pessoas daquela época que acreditavam que se tratava de um vulcão que estava entrando
em atividade; outros alunos sabiam sobre as lendas envolvendo a área, tal como a do Torreão
Cachimbando: contaram que há muito tempo, um homem subiu a serra para caçar levando consigo
seu cachimbo o qual tinha o hábito de sair de casa fumando e em uma de suas caçadas ele não
voltou para casa. Um tempo depois as pessoas que moravam próximo a Serra observaram uma
fumaça vindo do cume da Serra, ao chegar lá encontraram o corpo do caçador, desde então
acreditam que quando ocorre alguma fumaça no cume da Serra é o cachimbo do homem que lá
morreu.
Aproveitando a lenda da Serra do Torreão Cachimbado, de forma simples, o licenciando
explicou aos alunos o fenômeno meteorológico que se relaciona ―fumaça do cachimbo‖ que se
observa saindo do cume do Torreão, ocorre naturalmente nas serras quando as temporadas de
inverno são mais intensas, em dias muito frios nas primeiras horas da manhã é fácil observar um
nevoeiro se propagando ao redor da Serra. É importante trazer para eles a visão física desse

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 968


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

fenômeno, visto a curiosidade sobre essa lenda que permeia a cidade está diretamente ligada aos
aspectos culturais do povo local.
Em seguida, para dar início a palestra foi levantada questionamentos acerca de assuntos
sobre o ecossistema. As indagações foram sobre conceitos de fatores bióticos e abióticos dentro de
um ecossistema e, a partir das características da serra, em qual bioma está se enquadraria.
Posteriormente, foi perguntado acerca dos problemas ambientais relacionados à Serra. Os
estudantes da E. E. P. Marluce Lucas não souberam responder, enquanto os alunos da E. E. Capitão
José da Penha demonstraram que sabiam conceitos de ecossistemas e biomas. Tal fato pode ser
explicado porque os professores já tinham trabalhado essa temática em sala de aula, mas quanto aos
fatores bióticos e abióticos, não tinham respostas.
O quadro 1 sintetiza os aspectos debatidos durante a palestra e a quais escolas pertenciam os
alunos que tinham conhecimento sobre tais conceitos. É importante mencionar que não foi
fornecido nenhum instrumento de coleta de dados aos estudantes para que eles registrassem se
sabiam ou não, portanto, o registro foi feito a partir dos questionamentos sobre o conhecimento
prévio feito durante a palestra, e assim, foram observadas e registradas pelo próprio palestrante.
Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) do ano de 2011
apontam que a E. E. Capitão José da Penha teve um desempenho melhor (2.8) do que a E. E.
Professora Marluce Lucas (1.6), segundo avaliação do INEP (2011). Esse dado revela um índice
baixo de ambas às instituições de ensino, embora uma tenha um desempenho um pouco superior.
Portanto, fornece indicativos que justifiquem os resultados evidenciados durante a palestra.

E. E. Professora Marluce Lucas E. E. Capitão José da Penha

Os discentes tinham conhecimento


Conceitos debatidos Sim Não Sim Não

Lendas envolvendo a serra X X


Fatores bióticos e abióticos X X
Ecossistemas X X
Biomas X X
Problemas ambientais X X
Quadro 1: Conhecimento prévio sobre os conceitos debatidos durante a palestra. Fonte: Registro pessoal.

Sendo assim, foi necessário construir o conhecimento a partir do conhecimento deles. O


licenciando falou de aspectos ligados ao solo, ar, chuva para caracterizar os fatores abióticos e
destacou os animais e as plantas da área como seres bióticos, utilizou o próprio espaço como
exemplo, explicou que essas características juntas formariam o ecossistema e o conjunto de
ecossistemas seria um bioma. Essa explicação simplista foi dada como forma de iniciar o
entendimento ambiental da área.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 969


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Os alunos das duas escolas demonstraram ter conhecimento comum sobre os problemas
ambientais encontrados na área; isso se deu talvez pelo fato pelo ensino dessa problemática nas
escolas, como também pode ser acompanhada através de informações trazidas por emissoras de
rádio e TV. Os estudantes citaram e explicaram pontos em comum, tais como queimadas, indícios
de atividade mineradora para extração de pedras para pavimentação, atividades pecuárias,
desmatamentos para abertura de trilhas, descarte inadequado de resíduos sólidos e caça ilegal de
animais silvestres.
Chagas (2011) afirma que o sentimento de pertencimento do meio, faz com que as pessoas
possam compreender melhor as questões envolvendo a natureza. Para isso, são necessárias
estratégias que dinamizem a construção de conceitos sistematizados para elevar o nível do
conhecimento ambiental dos espaços naturais (MORALES et al., 2012; MEDEIROS et al. 2011).
Reconhecemos que seriam necessárias outras atividades para desenvolver conscientização
dos estudantes, pois seria necessário um processo contínuo de fundamentação teórico e prático para
conduzir esses discentes à formação de um sujeito ecológico (CARVALHO, 2012). Mesmo se
tratando de uma única ação por escola e de uma atividade pontual, essa palestra pode ter
sensibilizado os alunos acerca da importância de compreender as finalidades da Educação
Ambiental.
Em se tratando de espaços naturais, eles fornecem uma apropriação melhor dos conceitos a
serem abordados dentro da prática pedagógica, pois aproxima os sujeitos do objeto de estudo
(JACOBUCCI, 2008). Chagas (2011) afirma que ambientes assim são importantes porque
despertam nos visitantes o desejo de proteger, em função do desejo de uma maior compreensão da
dinâmica da área.
Morales et al. (2012) afirma que a utilização de áreas ambientais somados com
metodologias dinâmicas possibilitam relação íntima que auxilia na compreensão da área, e em se
tratando estudantes que não tenham conhecimento sobre a serra, é possível mostrar alguns aspectos
ligados às características da área e, desta forma, se apropriar deles como um organizador prévio,
sendo possível construir novos conceitos que se ancoram, como se fossem uma espécie de ligação
cognitiva, que auxilia na aprendizagem de novas informações (MOREIRA, 1999; SALLES, 2007).
Por se tratar de um ambiente natural é possível discutir problemáticas que podem ser
evidenciadas, isso contribui para formação do sujeito ecológico (CARVALHO, 2012). Para Tamaio
e Layrargues (2014), trabalhar com espaços naturais é fundamental para estabelecer o vínculo de
pertencimento, fundamental para construção de ideias conservacionistas que promovam a
efetivação da proteção, de modo a não excluir as relações sociais da área com a comunidade local.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 970


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível notar que esse tipo de atividade despertou nos estudantes curiosidade sobre a
temática, por se tratar de uma área próxima do seu cotidiano. A consciência é o ponto inicial para o
conhecimento ambiental, levando a uma mudança no comportamento socioambiental e ao
desenvolvimento de novas habilidades que podem ser passadas como alternativas as atividades que
até então eram danosas ao meio ambiente. Além disso, a disseminação desse conhecimento leva a
participação coletiva, aspectos entendidos como os objetivos da EA.
Embora seja um desafio romper os muros da escola para alguns professores, essa atividade
se mostrou atrativa para os discentes, pois eles puderam explorar conceitos sistematizados das mais
variadas disciplinas usando um único espaço. Foi possível promover neste espaço natural uma
apropriação das informações da Educação Ambiental, fundamental para construção de sujeitos
críticos e participativos dentro das transformações da sociedade contemporânea. Portanto, a Serra
do Torreão é um espaço dotado de múltiplos aspectos a serem abordados nas práticas escolares.

REFERÊNCIAS

CARRETERO, M. Construir e Ensinar as Ciências Socias / historicas. São Paulo: Artmed, 1997.

CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez


Editora, 2012.

CHAGAS, K. K. N. Por uma Educação Ambiental corporalizada: a emoção das trilhas


interpretativas. Natal: IFRN Editora, 2011.

CONRADO, L. M. N.; CHAGAS, M. M.; SILVA, V. H. Educação Ambiental e


Interdisciplinaridade: conceitos e diálogos na formação de professores. Natal: Offset Editora,
2016.

GUIMARÃES, M. A formação de educadores ambientai. Campinas/SP. Papirus 2004.

INEP – INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISA EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA. IDEB – Resultados e Metas: E. E. Capitão José da Penha. 2011. Disponível em:
<http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultado.seam?cid=6767140>. Acesso em: 02 mar.
2016.

INEP – INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISA EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA. IDEB – Resultados e Metas: E. E. Professora Marluce Lucas. 2011. Disponível em:
<http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultado.seam?cid=2952453>. Acesso em: 02 mar.
2016.
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 971
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

JACOBUCCI, D. F. C. Contribuições dos espaços não-formais de educação para a formação da


cultura científica. Em extensão, v. 7, Uberlândia, 2008.

MEDEIROS, A. B.; MENDONÇA, M. J. S. L.; SOUSA, G. L.; OLIVEIRA. I. P. A Importância da


educação ambiental na escola nas séries iniciais. Revista Faculdade Montes Belos, v. 4, n. 1,
set. 2011.

MEZZARI, A. O uso da Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) como reforço ao ensino


presencial utilizando o ambiente de aprendizagem Moodle. Revista Brasileira de Educação
Médica. Rio de Janeiro. v. 35, n. 1, p. 114-121, jan./mar. 2011.

MORALES, A. G. et al. Educação Ambiental e Multiculturalismo. Ponta Grossa: Editora UEPG,


2012.

MOREIRA, M. A. Teorias de aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999.

SALLES, G. D. Metodologia do Ensino de Ciências Biológicas e da Natureza. Curitiba: Ibpex.


2007.

TAMAIO, I; LAYRARGUES, P, P. Quando o Parque (ainda) Não é Nosso. Educação Ambiental,


Pertencimento e Participação Social no Parque Sucupira, Planaltina-(DF). Espaço & Geografia,
vol. 1, n.1, 2014.

TEIXEIRA. IDEB – Resultados e Metas: E. E. Professora Marluce Lucas. 2011. Disponível em:
<http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultado.seam?cid=6767140 >. Acesso em: 02 mar.
2016.

XAVIER, O. S.; FERNANDES, R. C. A. A Aula em Espaços Não-Convencionais. In: VEIGA, I. P.


A. Aula: Gênese, Dimensões, Princípios e Práticas. Campinas: Papirus Editora. 2008.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 972


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CONHECIMENTO DOS PROFESSORES DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO SOBRE AS


PLANTAS NATIVAS E EXÓTICAS NO BIOMA CAATINGA

Luiz Carlos Aurelio VIEIRA


Graduando Licenciatura em Ciências Biológicas UECE
luiz.aurelio@aluno.uece.br
Marcelo Campelo DANTAS
Professor Assistente Mestre em Ciências Biológicas UECE
campelo.dantas@uece.br

RESUMO
As plantas advindas de um bioma externo (exóticas), podem trazer impactos em grande escala,
podendo até levar à extinção de espécies naturais da área atingida. Esse assunto não vem sendo
debatido de forma apropriada nos livros didáticos e muito menos na formação dos docentes. O
presente trabalho teve como objetivo avaliar a percepção dos professores dos ensinos Fundamental
e Médio sobre a flora nativa e exótica da Caatinga. Os dados foram coletados por meio de um
questionário semiestruturado contendo cinco questões, aplicado a 19 professores que lecionam em
escolas da cidade de Crateús-CE. Os dados obtidos indicam que o tema é pouco abordado na sala de
aula, assim, pouco se discute sobre os problemas ambientais sofridos e a presença de espécies
vegetais exóticas da Caatinga. Apesar de serem conscientes da importância do Bioma Caatinga e do
ensino do mesmo, grande parte dos entrevistados não está preparada para abordar tal temática
devido à falta de auxílio do livro didático e de formação adequada.
Palavras-chave: Docência. Vegetação Endêmica. Educação Ambiental.
ABSTRACT
Exotic plants can impact on a large scale, and may even lead to the extinction of native species.
This subject has not been properly debated in textbooks, much less in the teacher training. The
present work had as objective to evaluate the perception of the teachers of Elementary and Middle
School about the native and exotic flora of the Caatinga. Data were collected through a semi-
structured questionnaire containing five questions, applied to 19 teachers who teach in schools in
the city of Crateús-CE. The data obtained indicate that the subject is little approached in the
classroom.Thus, little is discussed about the environmental problems that the biome suffers from
the presence of exotic plant species. Although they are aware of the importance of the Caatinga
Biome and its teaching, most of the interviewees are not prepared to address this issue due to the
lack of teaching aid and adequate training.
Keywords: Teaching. Endemic Vegetation. Environmental Education.

INTRODUÇÃO

Em ambientes de estresse hídrico, a exemplo da Caatinga, as plantas desenvolvem uma


adaptabilidade morfofisiológica importante para a sua sobrevivência como, resistência ao estresse
hídrico, no período de estiagem que ocorre diminuição do potencial hídrico, sendo um importante
mecanismo para que continuem os processos produtivos (TROVÃO et al., 2004). Dentre as
adaptações ocorridas estão a perda da folhagem no período de seca. Há a presença de plantas
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 973
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

xerófilas e cactáceas com folhas modificadas em acúleos e espinhos, além de vegetação com raízes
profundas que propiciam a presença de folhas durante a falta de chuva (LINHARES;
GEWANDSZNAJDER, 2014).
O Bioma Caatinga além de apresentar espécies únicas, possui características diferenciadas
com variedade em fauna e flora, mas, necessita de formas de sustentabilidade e estudos que visem a
preservação para que se mantenha essa riqueza ambiental (ALVES; ARAUJO; NASCIMENTO,
2009). Esse Bioma deteriora-se, ainda mais, por não ser tão conhecido, porém, isso não o torna
menos diversificado. Contudo, observa-se um desenvolvimento de conhecimento nos últimos anos,
sobretudo, sobre sua biodiversidade (BRASIL, 2017b). A biodiversidade da Caatinga vem sendo
ameaçada com o aumento desordenado de espécies não nativas nesse ambiente. A presença de
plantas exóticas é a segunda maior ameaça à biodiversidade, sendo ultrapassado apenas pela
destruição antrópica de habitats. Assim, exige-se maior cuidado em seu manejo, devido possuírem
alto potencial invasor (ZILLER, 2000).
Espécies exóticas podem trazer impactos em grande escala na vida das pessoas, sejam eles à
saúde humana, à economia e às comunidades biológicas (BRASIL, 2017a). Dentre essas alterações
evidencia-se que são afetadas a estrutura, a composição, a diversidade das espécies locais, e em
pontos com maior presença de espécies invasoras, ocorre a extinção de espécies nativas, o que torna
a comunidade empobrecida (ANDRADE; FABRICANTE; OLIVEIRA, 2010).
Percebe-se que a introdução de plantas exóticas no Bioma Caatinga não vem sendo debatida
de forma apropriada e difundida. A forma como está sendo apresentado tal assunto nos livros
didáticos não é satisfatória, e ainda há pouca formação dos educadores. Dessa forma, observa-se
que essa problemática tem início na formação dos docentes, devido não possuírem um
conhecimento mais amplo sobre o Bioma (LUZ et al., 2009). É importante que haja mais
intensidade, pelos meios educativos, na divulgação de informações sobre impactos ambientais
causados através da implantação de espécies exóticas (ESTON et al., 2006).
Uma maior atenção deve ser indispensável quanto à invasão biológica, processo de chegada
de espécies de outros Biomas que podem causar impactos na forma de vida das pessoas, tendo em
vista que esta é uma das maiores ameaças à biodiversidade, e trazem real perigo de desequilíbrio
para os ecossistemas (BRASIL, 2009).
Os discentes devem estar inteirados quanto às problemáticas ambientais, desta maneira, há
necessidade, tanto no ensino de Ciências quanto em Biologia, que o estudo esteja ligado aos debates
atuais, além de buscar uma contextualização nos assuntos abordados, e formas mais atrativas para
evidencia-los aos alunos (LUZ et al., 2009).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 974


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

PLANTAS EXÓTICAS E INVASORAS

As plantas trazidas de Biomas diferentes por intervenção humana são consideradas exóticas
independente da sua função, seja essa chegada planejada ou não (HOROWITZ; MARTINS;
MACHADO, 2006). As plantas são consideradas espécies invasoras a partir da adaptação ocorrida
ao novo hábitat, e posterior, passa a ameaçar a biodiversidade nativa, devido sua facilidade de
dispersão e colonização (ZILLER, 2001; HOROWITZ; MARTINS; MACHADO, 2006).
Atualmente, as barreiras que dificultam a entrada de espécies exóticas já não existem, como
barreiras biogeográficas. A medida que os seres humanos habitam novos ambientes, levam consigo
novas espécies não naturais do Bioma e condicionam a dispersão em massa (BRASIL, 2017a).
Centros urbanos não estão livres da introdução de espécies exóticas, e tem como
responsáveis por esse ato a própria população, e dessa forma não se exclui a oportunidade dessa
quantidade de espécies não nativas, que já é grande, crescer ainda mais (BIONDI; PEDROSA-
MACEDO, 2008).

ALTERNATIVAS DE SUBSTITUIÇÃO DAS ESPÉCIES EXÓTICAS

O problema de dispersão de espécies invasoras é global, porém, a gravidade dos impactos na


sociedade, na saúde e na economia se modifica em cada região. Assim, acarretam desafios de
proporções variadas na ameaça ao bem-estar da população e as riquezas biológicas (GISP, 2005).
A administração pública pode contribuir para o conhecimento do Bioma com propostas
através de órgãos que tratem de arborização nativa e que incentivem a população à pratica de
manejo com base em técnicas cientificas, e de fácil manuseio, aprovadas ao meio ambiente (PAES,
2016).
Uma boa oportunidade para que o Bioma Caatinga seja exaltado por sua riqueza em
biodiversidade, é que comecem a ser expandidos as formas de mostrar o que essa área tem de
positivo, inclusive nas escolas, para que o respeito possa existir por parte de todos e a sociedade se
torne mais consciente de seus atos (BARBOSA; NASCIMENTO; PORDEUS, 2013).

MALEFÍCIOS NA INSERÇÃO DE PLANTAS EXÓTICAS

Dentre os objetivos da introdução de vegetais exóticos está a necessidade de prover as


precisões agrícolas, florestais e o comércio de uso ornamental, sendo utilizadas espécies de várias
regiões do mundo (ZILLER, 2001). Porém, a vegetação exótica tem degradado Biomas de várias
áreas, apresentando-se uma das ameaças ao meio ambiente, para a economia, causando prejuízos na
pesca, agricultura e turismo (BRASIL, 2009).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 975


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A constante substituição de vegetação nativa por exótica é um fato que não tem afetado
apenas os centros urbanos. Uma espécie exótica invasora conhecida como Alamanda Roxa
(Cryptostegia madagascariensis), espécie de fácil propagação e rápida dispersão, tem causado
morte de várias espécies naturais da região litorânea cearense, a exemplo da Carnaúba (Copernicia
prunifera). É originária de Madagascar e foi introduzida no Brasil como planta ornamental (LOGES
et al., 2013; SILVA, 2013).
A Algaroba (Prosipis juliflora), é uma planta considerada exótica invasora que, em grandes
áreas do Bioma Caatinga, predomina em relação a outras espécies. Possui maior capacidade de
competição, que favorece à eliminação de espécies naturais do ambiente, e ainda impede que se
estabeleçam novas espécies em seu entorno, de modo a empobrecer a diversidade de espécies
(PEGADO et al., 2006; ANDRADE; FABRICANTE; OLIVEIRA, 2010).
O crescente aumento da população de P. juliflora é algo concreto, cujas consequências ainda
não podem ser projetadas devido a poucos estudos relacionados à introdução de espécies não
nativas em outros ambientes (PEGADO et al., 2006).
Faz parte das espécies exóticas presentes neste Bioma a cactácea palma forrageira (Opuntia
cochenillifera) que possui grande importância no semiárido, pois através do manuseio correto pode
alcançar alta produtividade, principalmente para alimentação animal (SANTOS et al., 2013;
ALMEIDA; PEIXOTO; LEDO, 2012).
O Nim (Azadirachta indica) é uma árvore natural da Índia, e estudos envolvendo abelhas-
europeias (Apis mellifera), indicam que as flores desta árvore possuem toxidade suficiente para
matar as mesmas. Por apresentar propriedades repelentes esta planta chega a causar prejuízo aos
animais e vegetais. Foi introduzida no Brasil com o intuito de amenizar as questões ambientais, tais
como minimizar do uso de agrotóxico, fazendo-se uso de seus princípios ativos como inseticida
(MOURA; SOARES, 2006).
Outra espécie exótica bem presente neste Bioma é a Mangueira (Mangifera indica), árvore
frondosa que pode chegar a 30 metros de altura. Dentre as características que fazem com que a
mesma se dissemine encontra-se a característica de permanecer sempre verde, devido sua boa
adaptabilidade aos fatores físicos da Caatinga, além de seus frutos, que podem chegar a mais de um
quilo (BRASIL, 2017c). Para eliminação de espécies exóticas como essa, podem ser utilizadas
técnicas como o anelamento, que consiste na retirada em círculo da casca do caule da planta,
(LEÃO, 2017). Esse meio é utilizado com o intuito de evitar que ocorra destruição de outras
vegetações, como ocorreria na derrubada da mangueira, de forma que a eliminação do indivíduo
ocorre lentamente.
Apesar da técnica permitir o controle das espécies invasoras, percebe-se que esse
procedimento é lento e gradativo, e um caso foi observado na Reserva Particular do Patrimônio

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 976


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Natural Serra das Almas (SILVA, 2007). Quando se trata de espécies como mangueira, tal
procedimento é visto como negativo, pela sociedade, de modo que as mesmas servem de abrigo
para animais, é fonte de alimento, tanto animal quanto humano dentre outras utilidades.

UNIVERSO DA PESQUISA

O universo de pesquisa escolhido foram as disciplinas de Ciências e Biologia do Ensino


Fundamental e Médio, respectivamente, de 7 (sete) diferentes escolas (03 DE ENSINO
FUNDAMENTAL, 01 DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO e 03 DE ENSINO MÉDIO) do
município de Crateús. Essas disciplinas foram escolhidas por tratarem, a priori, do tema em questão.
O público alvo da pesquisa foram os professores das disciplinas de Ciências e Biologia, no
qual 24 docentes foram convidados, e um total de 19 participou da coleta de dados. Os critérios
utilizados para a seleção foram os seguintes: professores responsáveis pelas disciplinas citadas, de
ambos os sexos, e que estejam atuando na docência nos ensinos Fundamental e Médio. Foram
entrevistados apenas indivíduos que fazem parte da rede pública de ensino. Para facilitar o
entendimento do leitor as espécies exóticas e/ou invasoras da Caatinga presentes no Gráfico 1 da
discussão estão representadas com * (asterisco), enquanto que as nativas não possuem caracteres.
A pesquisa foi realizada na cidade de Crateús, munícipio pertencente ao estado do Ceará a
293 km da capital Fortaleza, localizada na macrorregião do sertão dos Inhamuns. Com uma
população de aproximadamente 74. 271 habitantes, sendo 72,30% presente na zona urbana e 27, 70
% na zona rural (IPECE, 2015).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentre os envolvidos na pesquisa, 13 professores eram graduados, e 6 Pós-Graduados,


ambos em áreas diversas, apesar de ministrarem aulas de Biologia e Ciências. Possuem idade no
intervalo de 23 a 61 anos com tempo de docência variado.
Os dados aqui obtidos são resultados da livre e espontânea aceitação por parte dos
professores convidados à participação da pesquisa. Um montante de 19 professores respondeu ao
questionário, de uma amostra que contou com 24 professores convidados, muito embora, alguns
tenham se negado, ao alegarem motivos diversos, dentre eles, a falta de tempo.
De acordo com as respostas apresentadas pelos entrevistados, constatou-se que a maioria dos
docentes (17) citam, de forma geral, que não trabalham o tema Bioma Caatinga de maneira
adequada, e que devido a isso, falta informação para os alunos sobre a temática. Não se consegue
perceber uma autoavaliação dos mesmos, com justificativas de falhas na preparação acadêmica ou
desmotivação, por exemplo. Dentre estes docentes que não consideram a abordagem do ecossistema
adequado, alguns (4) docentes demonstraram ainda que o tema é pouco trabalhado com os alunos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 977


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

nas escolas. Explanam que um dos principais motivos é porque o livro didático não traz um vasto
conteúdo, como mostrado nos relatos a seguir, que serão nomeados pelas siglas ―E1‖, ―E2‖…, para
representação dos resultados e resguarde da identidade dos entrevistados:

Não, pois somos muito cobrados para ministrar os conteúdos do livro didático que pouco
relata sobre o nosso Bioma [...] (E2).
Não. Talvez pela questão do assunto vir resumidamente no livro didático e somente ser
trabalhado quando o momento requer atenção (E7).
Não, pois nós, professores, estamos muito presos ao livro didático. Deveria haver mais
formação a respeito do Bioma Caatinga (E11).

Mesmo que o Bioma Caatinga não seja discutido de forma adequada no livro didático, com
informações atuais, outros meios devem ser planejados para que essa informação chegue aos
alunos. Dentre as opções viáveis existem, formação continuada de professores, uso de materiais
didáticos que expressem informações sobre as riquezas naturais do Bioma, sua conservação,
degradação, e soluções alternativas para enfrentar a estiagem (MATOS; LANDIM, 2014).
Apesar de haver outras formas de ocorrer a disseminação da informação sobre o Bioma, o
livro didático continua sendo a principal fonte do professor. Assim, mesmo que parte dos discentes
de escolas públicas mostre interesse por informações sobre o Bioma Caatinga, o assunto é tratado
de maneira reduzida e limitada (NASCIMENTO; MACHADO; DANTAS, 2015).
É notório que os diferentes Biomas possuem suas peculiaridades, e reconhecendo essas
diferenças, os docentes foram questionados se os problemas enfrentados pelo Bioma Caatinga eram
tão graves quanto os enfrentados pela Floresta Amazônica, de modo que 17 concordaram sobre a
existência de problemas sofridos pela Caatinga. Para alguns docentes (3) os estudos feitos na região
pouco podem contribuir devido a informação não chegar à sociedade, como percebido nas citações:

Eu acredito que os problemas ambientais do Bioma, são maiores que o da Floresta


Amazônica, até porque pouco se divulga sobre o Bioma (E2).
Sim. A falta de conhecimento sobre ele e sua devastação contribui para agravar a situação.
Existe muita informação e divulgação sobre a Amazônia, apesar de ter muitos estudos sobre
a Caatinga falta divulgação e apropriamento de entender esse nosso Bioma (E9).

Um dos principais problemas enfrentados pela Caatinga, observados pelos professores (7), é
o processo das queimadas das matas, técnica usada indiscriminadamente na agricultura da área,
como observado nas respostas seguintes:

Sim. Existem vários fatores que mostram a degradação desse Bioma, devido a diversos
fatores como queimadas (para agricultura), caça, etc. (E8).
Sim. Queimadas indevidas, tráfico de plantas de diversas espécies, inserção de plantas
exóticas que prejudicam as plantas nativas (E10).
Sim, principalmente pelo aumento de queimadas e caça predatória (E11).

O procedimento através de queimadas utilizado na agricultura e a constante exploração de


recursos vegetais com finalidades diversas afetam o solo e contribuem com a desertificação. A

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 978


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

abordagem de tais situações pelos professores de Ciências, voltado à vivência dos alunos, é de
elevada contribuição (ARAÚJO; SOUSA, 2011).
Com o objetivo de identificar o conhecimento dos docentes a respeito da vegetação exótica
no Bioma, mostrou-se uma lista com diversas espécies nativas da Caatinga (19) e outras exóticas
(11), porém, muito presentes na região. De acordo como observado, verificou-se que a maioria dos
entrevistados (13) detinham conhecimento ao menos de uma espécie vegetal exótica, sendo o Nim
(Azadirachta indica) o mais citado (Figura 1). As espécies exóticas e/ou invasoras do gráfico estão
identificadas por * (asterisco).
Esperava-se que os professores deveriam conhecer o Bioma do qual fazem parte, porém, os
dados indicam um baixo conhecimento na temática. O Nim ser reconhecido por 13, dos 19
participantes, pode ser resposta das intensas campanhas a respeito da espécie, seja nos malefícios
causados na apicultura, seja no seu potencial invasor, e sua recente chegada na região.
Mesmo não podendo se estipular um percentual adequado de conhecimento sobre espécies
exóticas e/ou invasoras pelos participantes, o sensato seria que os docentes tivessem bom
conhecimento a respeito da temática, já que é de grande importância para debate do assunto em sala
de aula. Contudo, os dados encontrados indicam uma pequena percepção a respeito do assunto.
Tendo em vista que os conhecimentos adquiridos pelos alunos no processo de formação
escolar são de grande valia para torná-los futuros cidadãos, é importante que os professores tenham
conhecimento dos assuntos que devem tratar em aula sobre a Caatinga. Por se tratar de um Bioma
em constante processo de aprendizado, e para que haja aprendizado quanto a sua diversidade, é
necessário conhecer ao menos as espécies exóticas mais presentes na região, para que as
informações sejam tratadas com clareza para o entendimento por parte da sociedade.
Relacionado as indicações feitas pelos docentes, percebe-se que as espécies que foram
introduzidas no Bioma há mais tempo apresentam uma tendência a serem menos citadas, como
observado na Figura 1. Esse fato pode estar ligado aos inúmeros espécimes existentes nas diversas
áreas e pouca discussão a respeito da invasão biológica.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 979


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1: Número de professores que indicam espécies exóticas e/ou invasoras.


Fonte: Próprio autor.

A Palma, por exemplo, é uma espécie exótica, porém, só foi citada por 3 professores. A
adaptabilidade ao semiárido e a grande fonte alimentícia de rebanhos na Região Nordeste pode
levar os docentes a acreditarem que a cactácea se trata de uma espécie nativa, e confirma a pouca
abordagem do tema.
Ressalta-se a indicação dos vegetais nativos Mandacaru (Cereus jamacaru) e Xiquexique
(Pilosocereus polygonus), como sendo exóticos, por 4 entrevistados, e dessa maneira confirma que
falta discussão a respeito da temática.
Ao serem indagados se a questão de plantas e animais exóticos deveriam ser melhor
explorados nos conteúdos, 100% dos professores entrevistados (19) reconheceram que essa
abordagem deveria ser difundida.
Em uma pesquisa desenvolvida com professores do semiárido nordestino, verificou-se que
os mesmos conhecem a flora nativa do Bioma Caatinga, mesmo assim, se equivocaram em citar
espécies não típicas, por apresentarem potencial farmacêutico, alimentício e madeireiro. A grande
presença de algumas espécies exóticas pode causar uma ilusão de serem naturais por suas
finalidades e adaptabilidade ao ecossistema (SANTOS et al., 2013). Percebe-se que a presença de
uma espécie que foi implantada na Caatinga há muito tempo, é fator para que seja considerada
nativa por grande parte da população, devido às suas características adaptativas e à falta de
informação em geral.
Com relação à segurança que o professor sente ao abordar um tema transversal como o da
inserção de espécies exóticas e/ou invasoras, 11 afirmaram se sentirem confortáveis para tratar do
assunto. Porém pode ser considerada uma quantidade pequena, tendo em vista a importância do
tema, pois a introdução de espécies vegetais não oriundas do Bioma Caatinga pode prejudicar as
nativas, e causar extinção de espécies da flora e fauna endêmica na região.
É importante que os educadores de ciências e biologia sejam capazes de desenvolver aulas
que abordem temas voltados ao convívio no Bioma local, fazendo surgir nos alunos hábitos
sustentáveis e que se tornem defensores do ambiente em que vivem.
Ao indicarem não se sentirem confortáveis, dos 8 (oito) que afirmaram esse ponto, 4
(quatro) expõem uma argumentação já mencionada anteriormente, que é a falta de formação no
assunto, como pode se perceber nas falas a seguir:

Nós não somos capacitados, pois somos poucos para muito que temos a lecionar, pois os
conteúdos do livro didático tem que ser repassado e somos cobrados por tais. Assim fica
difícil para os professores ensinar tais temas (E2).
Não, pois não há formação na área. Se tivesse curso com essa finalidade daria para
trabalhar perfeitamente com o tema em questão (E11).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 980


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Não. Poderiam ser criados cursos de capacitação para que os professores fossem
capacitados a falar sobre o assunto (E13).

Deve-se ainda ressaltar que as escolas devem ter a percepção da fragilidade dos livros
didáticos nessa abordagem. Dos profissionais encontram-se dois que mesmo não sendo capazes ou
seguros de trabalhar a questão em sala de aula, afirmam que as escolas desenvolvem projetos com a
temática, como curso voltado a Educação Ambiental, trabalho de manejo e reconhecimento de
espécies nativas e palestra com membros de instituição que trabalham o Bioma.
Apesar da temática não ser bem explorada em aulas de ciências e biologia, há escolas que
desenvolvem projetos no contexto do Bioma Caatinga, mostram na prática a utilização de espécies
nativas para a preservação da flora da região, e a importância de se preservar o Bioma através dessa
proximidade do aluno, como se observa na fala dos docentes:

A escola desenvolve o projeto de Farmácia Viva desde 2016. Temos uma cartilha e agora
iniciamos a etapa de planto (E3).
[...] a ecologia é estudada não apenas para provas do ENEM ou do Vestibular, mas como
um ―Curso de Educação Ambiental‖, para o fortalecimento da consciência crítica ecológica
participativa... (E18).

Ações que aproximam os alunos da realidade são muito aceitáveis, de modo que o
conhecimento prático adquirido pelos alunos se torna mais concreto, e essa é uma tarefa da escola.
De acordo com Abílio, Florentino e Ruffo (2010) existe a necessidade de que a escola faça o elo de
ligação entre a sociedade, alunos e professores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, os docentes entrevistados são conscientes da


importância do Bioma Caatinga e que as discussões relacionadas a esse devem chegar aos discentes
através das aulas. Contudo, sentem-se limitados por não possuírem uma preparação acadêmica
adequada para tal ação ou mesmo uma formação continuada que os tornem aptos.
Os mesmos reconhecem que o Bioma sofre problemas tão graves quanto qualquer outro.
Mesmo com essa afirmação, não se sentem confortáveis para fazer explanações a respeito. Grande
parte dos educadores não possui um conhecimento amplo para abordar a importância do
Ecossistema Caatinga, assim como não conseguiram identificar a vegetação exótica que hoje se faz
presente nessa área.
O presente tema não é bem abordado em aula, e o livro didático que é a principal fonte de
consulta dos docentes não traz a temática de maneira adequada, além de haver limitação na
formação inicial. Fica evidente que a biodiversidade da Caatinga é de rica importância, e o debate
sobre a mesma precisa ser ampliado, seja com atividades interdisciplinares, seja com formação
continuada para os educadores.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 981


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

REFERÊNCIAS

ABÍLIO, F. J. P.; FLORENTINO, H. S.; RUFFO, T. L. M. Educação Ambiental no Bioma


Caatinga: formação continuada de professores de escolas públicas de São João do Cariri,
Paraíba. Rev. Pesquisa em Educação Ambiental, v. 5, n. 1, p. 171-193, 2010.

ALMEIDA, J.; PEIXOTO, C. P.; LEDO, C. A. S. Desempenho vegetativo e produtivo da palma


forrageira. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, Goiânia, v. 8, n. 15; p. 571-581,
2012.

ALVES, J. J. A.; ARAÚJO, M. A.; NASCIMENTO, S. S. Degradação da Caatinga: uma


investigação ecogeográfica. Caatinga, Mossoró, Brasil, v. 22, n. 3, p. 126-135, jul-set, 2009.

ANDRADE, L. A.; FABRICANTE, J. R.; OLIVEIRA, F. X. Impactos da invasão de prosopis


juliflora (sw.) Dc. (fabaceae) sobre o estrato arbustivo-arbóreo em áreas de Caatinga no Estado
da Paraíba, Brasil. Acta Scientiarum. Biological Sciences, Maringá, v. 32, n. 3, p. 249-255,
2010.

ARAÚJO, C. S. F.; SOUSA, A. N. Estudo do processo de desertificação na Caatinga: uma


proposta de educação ambiental. Ciência & Educação, v. 17, n. 4, p. 975-986, 2011.

BARBOSA, E. I.; NASCIMENTO, S. R.; PORDEUS, R. B. Percepções da Caatinga, um Bioma


único e exclusivo do semiárido brasileiro. In: I Workshop Internacional Sobre Água no
Semiárido brasileiro, 1., 2013, Campina Grande, Anais... Campina Grande, 2013. p. 1-5.

BARROS, I. O.; SOARES, A. A. Adaptações anatômicas em folhas de marmeleiro e velame da


Caatinga brasileira. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza – CE, v. 44, n. 1, p. 192-198, jan-
mar, 2013.

BIONDI, D.; PEDROSA-MACEDO, J. H. Plantas invasoras encontradas na área urbana de


Curitiba (PR). Floresta. Curitiba – PR, v. 38, n. 1, p. 129-144, jan-mar, 2008.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução CONABIO nº 05 de 21 de outubro de 2009.


Estratégia Nacional. Dispõe sobre a Estratégia Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras.
Brasília, 2009.

_______. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Empresa Brasileira de Pesquisa


Agropecuária. Agência de informações EMBRAPA. Manga. 2017. Disponível em:
<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia22/AG01/arvore/AG01_17_24112005115221.ht
ml> 06 jun. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 982


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

_______. Ministério do Meio Ambiente. Espécies Exóticas Invasoras. 2017. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/Biomas/Caatinga>. Acesso em: 20 abr. 2017.

_______. Ministério do Meio Ambiente. Caatinga. 2017. Disponível em:


<http://www.mma.gov.br/Biomas/Caatinga>. Acesso em: 19 abr. 2017.

ESTON, M. R.; MENEZES, G. V.; ANTUNES, A. Z.; SANTOS, A. S. R.; SANTOS, A. M. R.


Espécie invasora em unidade de conservação: achatina fulica (bowdich, 1822) no Parque
Estadual Carlos Botelho, Sete Barras, SP, Brasil. Rev. Inst. Flor., São Paulo, v. 18, n. único, p.
173-179, 2006.

GISP – Programa Global de Espécies Invasoras. América do Sul invadida: a crescente ameaça das
espécies exóticas invasoras. Gisp, p. 80. 2005.

HOROWITZ, C.; MARTINS, C. R.; MACHADO, T. Ministério do Meio Ambiente. Instituto


Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade. Parque Nacional de Brasília. Espécies exóticas arbóreas,
arbustivas e herbáceas que ocorrem nas zonas de uso especial e de uso intensivo do Parque
nacional de Brasília: diagnósticos e manejo. Brasília, 2007. 58p.

INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEARÁ (IPECE). Perfil


básico municipal 2015 - Crateús. Fortaleza-Ce, 2015. Disponível em:
<http://www.ipece.ce.gov.br /perfil_basico_municipal/2015/Crateus.pdf>. Acesso em: 05 de jun.
2017.

LEÃO, P. C. S. Anelamento. 2017. Disponível em:


<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/uva_de_mesa/arvore/CONT000gn4zkh0d02wx5o
k0liq1mqvy5ackr.html>. Acesso em: 05 jun. 2017.

LINHARES, S.; GEWANDSZNAJDER, F. Biologia Hoje. 2. ed. São Paulo: Editora Ática, 2014.
312 p.

LOGES, V.; CASTRO, A. C. R.; SILVA, S. S. L.; MONTARROYOS, A. V. V. Plantas utilizadas


no paisagismo no litoral do Nordeste. Ornamental Horticulture, v. 19, n. 1, p. 25-32, 2013.

LUZ, C. F. S.; SOUZA, M. L.; DUARTE, A. C. S.; JUCÁ-CHAGAS, R. As concepções sobre a


Caatinga em um grupo de professores da rede municipal de Iramaia- Bahia. In VII Encontro
Nacional de Pesquisa em Educação em Ciência, 7., 2009, Florianópolis, Anais... Florianópolis:
Editora Positivo, 2009, p. 1-12.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 983


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

MACHADO, R. R. B.; MEUNIER, I. M. J.; SILVA, J. A. A.; CASTRO, A. A. J. F. Árvores nativas


para a arborização de Teresina, Piauí. Revista Da Sociedade Brasileira De Arborização Urbana.

Piracicaba-SP, v. 1, n. 1, p. 10-18, 2006. Disponível em: <http://www.revsbau.esalq.usp.br


/consultas/searchpaginacao.php?criterio=%C1RVORES+NATIVAS+PARA+A+ARBORIZA%
C7%C3O+DE+TERESINA%2C+PIAU%CD>. Acesso em: 24 mar. 2017.

MOURA, M.; SOARES, T. Nim: uma árvore de muitas utilidades. 10. ed. Ouricuri. Caatinga,
2006. 21 p.

MATOS, E. C. A.; LANDIM, M. O Bioma Caatinga em Livros Didáticos de Ciências nas Escolas
Públicas do Alto Sertão Sergipano. Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, Florianópolis,
v.7, n.2, p.137-154, 2014.

NASCIMENTO, E. O.; MACHADO, D. D.; DANTAS, M. C. O Bioma Caatinga é abordado de


forma eficiente por escolas no semiárido? Revista Didática Sistémica, Rio Grande, v. 17, n. 1, p.
95-105, 2015.

PAES, M. P. Plantas exóticas invasoras no Brasil: uma ameaça as plantas nativas e ao


ecossistema. Revista Especialize, Goiânia, v. 1, n. 11, p. 1-14, 2016.

PEGADO, C. M. A.; ANDRADE, L. A.; FÉLIX, L. P.; PEREIRA, I. M. Efeitos da invasão


biológica de algaroba - Prosopis juliflora (Sw.) DC. sobre a composição e a estrutura do estrato
arbustivo-arbóreo da Caatinga no Município de Monteiro, PB, Brasil. Acta bot. bras., v. 20, n.
4, p. 887-898, 2006.

SANTOS, P. J. A.; SILVA, M. M. P.; COUTO, M. G.; BORGES, V. G. Relação entre a percepção
ambiental de docentes e discentes do ensino fundamental II de uma escola pública do semiárido
paraibano com as características do Bioma Caatinga. Rev. Eletrônica Mestr. Educ. Ambient.,
Rio Grande, v. 30, n. 1, p. 38-53, jan-jun, 2013.

SILVA, L. M.; HASSE, I.; MOCCELIN, R.; ZBORALSKI, A. R. Arborização de vias públicas e a
utilização de espécies exóticas: o caso do bairro Centro de Pato Branco/PR. Scientia Agraria. v.
8, n. 1, p. 47-53, 2007.

SILVA, F. F. Controle da espécie exótica invasora Mangifera indica L. (Mangueira) na Reserva


Natural Serra das Almas. 2007. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências
Biológicas), Universidade Estadual do Ceará, Crateús-CE, 2007.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 984


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

SILVA, E. R. V. Levantamento fitossociológico arbóreo-arbustivo em fragmento da Caatinga:


Sítio Sulapa, Queimadas-PB. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia),
Universidade Federal da Paraíba, Campina Grande-PB, 2013.

TROVÃO, D. M. B. M.; FERNANDES, P. D.; ANDRADE, L. A.; DANTAS NETO, J.;


OLIVEIRA, A. B.; QUEIROZ, J. A. Avaliação do potencial hídrico de espécies da Caatinga sob
diferentes níveis de umidade do solo. Reviste de Biologia e Ciências de Terra. Campina Grande–
PB, v. 4, n. 2, 2004.

ZILLER, S. R. A estepe gramíneo-lenhosa no segundo planalto do paraná: diagnostico ambiental


com enfoque à contaminação biológica. 2000. 268 f. Tese (Doutorado em Engenharia Florestal)
– Setor de Ciências Agrárias, Curso de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Universidade
Federal do Paraná, Brasil, 2000.

ZILLER, S. R.. 2001. Plantas exóticas invasoras: a ameaça da contaminação biológica. Revista
Ciência Hoje, São Paulo, v. 30, n. 178, p. 77-79, 2001.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 985


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ATOMICIDADE: UMA ABORDAGEM AMBIENTAL NO ENSINO DE QUÍMICA


PARA UMA TURMA DO 1o ANO DO ENSINO MÉDIO

Carlos Alberto da SILVA JÚNIOR


Graduando do Curso de Licenciatura em Química, IFPB
carloschemistry@icloud.com
Márcio Jean Fernandes TAVARES
Graduando do Curso de Licenciatura em Química, IFPB
marciojeanftavares@gmail.com
Daniel Gabriel da SILVA
Graduando do Curso de Licenciatura em Química, IFPB
danielgabriel.s@outlook.com.br
Alessandra Marcone Tavares Alves de FIGUEIRÊDO
Doutora em Química, IFPB
alessandratavaresfigueiredo@ifpb.edu.br

RESUMO
No Brasil, o acúmulo de resíduos sólidos tem sido alarmante, podendo tal acúmulo ocasionar
problemas de saúde e gerar graves danos ao meio ambiente, principalmente quando o descarte é
feito de maneira indevida, contaminando assim, de forma direta e indireta o solo, gerando
consequências que pode variar de pequena a grande escala, desde alagamentos a danos irreversíveis
ao solo. Em vista deste cenário, é primordial exercer ações de conscientização aos discentes, em
razão das implicações ambientais, que podem ser ocasionadas pelo descarte incorreto de resíduos
sólidos e, com isso, apresentar possibilidades de reciclagem. Sob essa perspectiva, o docente deve
proporcionar aos discentes uma compreensão do conhecimento químico associada às questões
socioambientais. Sendo assim, essa pesquisa teve como objetivo aplicar ações, no Ensino de
Química, como a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e o uso da
experimentação, fazendo uso de materiais alternativos reciclados e de baixo custo, no intuito de
despertar uma conscientização, sobre o consumo, o descarte e a reutilização de resíduos sólidos,
para um favorecimento de uma aprendizagem significativa nessa disciplina, com foco na Educação
Ambiental. O trabalho foi desenvolvido e aplicado em uma turma do 1º ano do Ensino Médio, de
uma escola estadual, situada no município de João Pessoa, no estado da Paraíba. Os métodos
utilizados foram embasados na metodologia qualitativa e de cunho participante. Os resultados
indicaram a efetividade da metodologia aplicada e mostraram uma boa assimilação do conteúdo por
parte do alunado.
Palavras-Chave: Ensino de Química, Educação Ambiental, Materiais Alternativos, Reutilização.
ABSTRACT
In Brazil, the accumulation of solid waste has been alarming, and such accumulation can cause
health problems and generate serious damages to the environment, especially when the disposal is
done in an improper way, thus contaminating, directly and indirectly the soil, generating
consequences Which can range from small to large scale, from flooding to irreversible soil damage.
In view of this scenario, it is essential to carry out actions to raise awareness among students, which
is the reason for the environmental implications, which can be caused by the incorrect disposal of
solid waste and, therefore, offer possibilities for recycling. From this perspective, the teacher should
provide students with an understanding of the chemical knowledge associated with socio-

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 986


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

environmental issues. The aim of this research was to apply actions in the Teaching of Chemistry,
such as the use of Information and Communication Technologies (ICTs) and the use of
experimentation, making use of recycled and low cost alternative materials, in order to awaken an
Awareness, about the consumption, disposal and reuse of solid waste, to favor a significant learning
in this discipline, focusing on Environmental Education. The work was developed and applied in a
class of the 1st year of High School, of a state school, located in the municipality of João Pessoa,
state of Paraíba. The methods used were based on the qualitative and participant methodology. The
results indicated the effectiveness of the methodology applied and showed a good assimilation of
content by the student.
Keywords: Teaching of Chemistry, Environmental Education, Alternative Materials, Reuse.

INTRODUÇÃO

A contaminação do meio ambiente por lixo torna-se uma ação humana preocupante,
decorrente da deposição de resíduos sólidos em locais inadequados. Os resíduos sólidos urbanos,
também chamados de lixo urbano, são provenientes das atividades domésticas e comercias. Quando
esses resíduos são descartados de forma incorreta, podem poluir o solo, alterando as características
físicas, químicas e biológicas, acarretando num problema de aspecto estético e, o mais agravante,
numa séria ameaça à saúde pública (MARQUES, 2011). Como se pode ver, é uma problemática à
saúde humana, logo, entende-se como sendo de fundamental importância tratar de temas como
esses, no que diz respeito ao descarte de poluentes, o que implica na necessidade de um enfoque
eficaz da educação ambiental nas escolas, assim como afirma Oliveira et al. (2016, p. 915):

a abordagem da temática ambiental em aulas de química no ensino médio contribui para o


desenvolvimento de valores, comportamentos e atitudes nos alunos, favorecendo o senso
crítico, ampliando a consciência de como suas ações impactam sua vida e para a vida de
uma sociedade inteira, hoje e no futuro.

Destarte, vislumbra-se uma íntima relação entre a educação ambiental e a reciclagem, de


forma que é quase incoerente não falar de questões ambientais sem falar de reciclagem. Segundo
Ceron (2014), é por meio da reciclagem que o lixo pode ser visto como um ciclo de preservação do
meio ambiente:

através da reciclagem, o lixo passa a ser visto de outra maneira, não como um final, mais
como o início de um ciclo em que podemos preservar o meio ambiente, a participação
consciente e a transformação de hábitos. Nesta perspectiva, a educação ambiental tem uma
importância fundamental, pois permite a solução de vários problemas em nossa vida e
novas ideias para a comunidade (CERON, 2014, p. 2).

Em concernência ao Ensino de Química, estendendo-se à Educação Ambiental, observa-se


uma simples transmissão de informações dos conteúdos trabalhados, sem qualquer
contextualização, exigindo dos discentes quase sempre a pura memorização ou reprodução, restrita
a baixos níveis cognitivos o que, consequentemente, não favorece um processo de ensino e
aprendizagem substancial e significativo (BRASIL, 2006).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 987


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

É evidente a preocupação relacionada às questões ambientais, nas diversas áreas do


conhecimento e, em decorrência do caráter interdisciplinar e complexo desse tema, igualmente a
multiplicidade que cercam o tema ambiental, precisa-se do aporte das ciências naturais, a exemplo
da Química, para conseguir maneiras de contribuir para a melhoria do meio ambiente. Partindo
dessa premissa, a educação tem como papel ofertar os subsídios fundamentais para que os cidadãos
tenham capacidade de participar das tomadas de decisões na sociedade (SANTOS; NETO; SOUSA,
2014).
Dentro desse contexto, será possível alcançar uma aprendizagem significativa, que segundo
Oliveira et al. (2016), acontece quando os conceitos ensinados apresentam uma estrutura lógica e o
significado é o produto da aprendizagem, nesse sentido, as disciplinas devem abranger temáticas
relacionadas ao cotidiano da turma. Sendo assim, ―deve possibilitar ao aluno a compreensão tanto
dos processos químicos em si, quanto da construção de um conhecimento científico em estreita
relação com as aplicações tecnológicas e suas implicações ambientais, sociais, políticas e
econômicas‖ (BRASIL, 1999, p. 31).
Sob esse viés, diante das constantes atualizações no mundo globalizado, é visto que as
práticas educacionais obsoletas (quadro, giz e retórica) dos professores, muitas vezes necessitam da
tecnologia como aliado para contribuir para uma aprendizagem significativa. O uso das Tecnologias
da Informação e Comunicação (TICs) promove, além de uma aprendizagem significativa, o
envolvimento dos alunos com o conteúdo e fomenta a iniciação à pesquisa (LEITE, 2015).
Leite (2015) ainda afirma que a tecnologia não é feita para substituir o papel do professor,
esta convém como um auxílio importante do aprendizado:

as tecnologias estão para serem incorporadas ao processo de ensino e aprendizagem e não


como substitutos a outros recursos já existentes (quadro, livros, laboratórios, vídeos, etc.) e
sim como um recurso que nos permita adicionar novos formatos à informação a qual
desejamos que seja convertida em conhecimento por parte do aluno (2015, p. 24).

Outra ferramenta no processo educacional é o uso de experimentos, segundo Salesse (2015),


a experimentação tem sua importância quando se considera a função pedagógica de auxiliar o aluno
na compreensão de fenômenos e conceitos químicos. Desse modo, esse mesmo autor discorre que
―a função do experimento é fazer com que a teoria se torne realidade, poderíamos pensar que, como
atividade educacional isso poderia ser feito em vários níveis, dependendo do conteúdo, da
metodologia adotada ou dos objetivos que se quer com a atividade‖ (SALESSE, p. 45, 2015).
Com isso, a realização de experimentos auxilia na aproximação da Química vista na sala, ao
cotidiano dos alunos, fazendo assim com que as aulas se tornem mais dinâmicas, resultando nos
alunos a capacidade de compreender os fenômenos químicos presentes em seu dia-a-dia
(SALESSE, 2015).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 988


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Diante disto, o presente trabalho teve como objetivo aplicar ações, no Ensino de Química,
como a utilização das TICs e o uso da experimentação, fazendo uso de materiais alternativos
reciclados e de baixo custo, no intuito de despertar uma conscientização, sobre o consumo, o
descarte e a reutilização de resíduos sólidos, para um favorecimento de uma aprendizagem
significativa na disciplina Química, com foco na Educação Ambiental.

METODOLOGIA

Para o desenvolvimento deste trabalho foi utilizada a metodologia qualitativa, de cunho


participante. De acordo com Marconi e Lakatos (2011, p. 269): ―a metodologia qualitativa
preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do
comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre hábitos, atitudes e tendências‖.
Por outro lado, a pesquisa de cunho participante sugere a participação ativa do discente na
construção do seu próprio conhecimento e a convocação do pesquisador para atuar, ativamente,
como um investigador ou interlocutor que se insere no contexto dos discentes (SCHMIDT, 2006).
A pesquisa foi desenvolvida e aplicada com 35 (trinta e cinco) alunos do 1º ano do Ensino
Médio, no turno da manhã, da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio, José Baptista de
Mello, com lócus na cidade de João Pessoa, Estado da Paraíba. O conteúdo abordado discorreu em
―Atomicidade‖. Foram necessárias 10 (dez) aulas de 30 (trinta) minutos cada, sendo as mesmas
fracionadas em quatro partes elencadas em ordem cronológica: parte (i): duas aulas para aplicação
do Questionário Inicial (QI); parte (ii): quatro aulas para a abordagem do conteúdo
supramencionado; parte (iii): duas aulas para a exibição da animação (vídeo) de Walt Disney®
―Nosso Amigo o Átomo‖; parte (iv): duas aulas para aplicação do experimento intitulado ―Caixa
Negra‖ e do Questionário Final (QF).
Para a confecção da ―Caixa Negra‖ foram utilizados materiais reciclados, como caixa de
sapato, esta serviu de estrutura para a ―Caixa Negra‖. Tal estrutura continha sua parte interna
forrada com folhas de ofício e pintadas de preto, para recriar a ideia de uma câmara escura. Na
lateral esquerda da caixa foi feito um furo de 6x5 cm retangular, no intuito de observar o que
ocorria dentro da caixa, para tal visualização e execução do experimento é necessário o auxílio de
um celular (mais precisamente a sua câmera e flash), para produção da fonte de luz ultravioleta
(UV), foi utilizada fita adesiva, sendo a mesma disposta em 8 (oito) camadas pintadas com
marcadores permanentes azul e roxo sobrepostas alternadamente a exemplo: 1ª camada de fita era
azul, já a 2ª camada era roxa e assim consecutivamente. Adoção da utilização das fitas deve-se ao
fato de que uma exposição prolongada aos raios UV causam danos a pele e olhos, logo diante
dessas circunstâncias optou-se pela simulação da mesma, tal simulação esta não possui perda da
efetividade, obtendo os mesmos resultados de uma luz ultravioleta, com o agravante de não causar

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 989


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

danos, a fita foi posta de forma que ocupasse metade do furo retangular feito na caixa, sendo assim
o celular foi colocado com o flash e câmera ligados, de modo que apenas a luz do flash adentrasse
na caixa, para que pudesse ser visto o interior, observando assim as ações propostas pelo
experimento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na primeira parte da pesquisa, aplicou-se o Questionário Inicial (QI), com o intuito de


realizar uma sondagem do conhecimento prévio dos estudantes sobre a temática ―Atomicidade‖. Tal
questionário continha 6 (seis) questões abertas e de múltipla escolha. Concernente à primeira
questão do QI: ―Assinale a alternativa que completa melhor os espaços apresentados na frase
abaixo: O modelo de Rutherford propõe que o átomo seria composto por um núcleo muito pequeno
e de carga elétrica _____, que seria equilibrado por ____, de carga elétrica ____, que ficavam
girando ao redor do núcleo, numa região periférica denominada ___. a) neutra, prótons, positiva e
núcleo. b) positiva, elétrons, positiva, eletrosfera. c) negativa, prótons, negativa, eletrosfera. d)
positiva, elétrons, negativa, eletrosfera. e) negativa, prótons, negativa, núcleo‖. Uma porcentagem
de 57% de discentes respondeu corretamente e 43% responderam de forma incorreta.
Em referência à segunda questão: ―Relacione as características atômicas com os cientistas
que as propôs: I. Dalton; II. Thomson; III. Rutherford. ( ) Seu modelo atômico era semelhante a
um ―pudim de passas‖. ( ) Seu modelo atômico era semelhante a uma bola de bilhar. ( ) Criou um
modelo para o átomo semelhante ao sistema solar‖. Responderam corretamente 93% dos discentes e
apenas 7% responderam incorretamente.
Em observância à terceira questão: ―O átomo de Rutherford (1911) foi comparado ao
sistema planetário (o núcleo atômico representa o sol e a eletrosfera, os planetas): Eletrosfera é a
região do átomo que: a) contém as partículas de carga elétrica negativa; b) contém as partículas de
carga elétrica positiva; c) contém nêutrons; d) concentra praticamente toda a massa do átomo; e)
contém prótons e nêutrons‖. Observou-se que 50% da turma assinalaram de forma correta e o
mesmo percentual de forma incorreta.
Referindo-se à quarta questão: ―Fogos de artifício utilizam sais de diferentes íons metálicos
misturados com um material explosivo. Quando incendiados, emitem diferentes colorações. Por
exemplo: sais de sódio emitem cor amarela, de bário, cor verde e de cobre, cor azul. Essas cores são
produzidas quando os elétrons excitados dos íons metálicos retornam para níveis de menor energia.
O modelo atômico mais adequado para explicar esse fenômeno é o modelo de: a) Rutherford; b)
Bohr; c) Thomson; d) Dalton; e) Millikan‖. Responderam corretamente 20% dos alunos e
incorretamente 80%. A grande maioria dos estudantes assinalou a alternativa ―a‖, talvez devido ao

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 990


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

fato de ser um modelo atômico famoso, visto amplamente em desenhos e filmes, tal fato pode ser a
justificativa para tal discrepância.
Em alusão a quinta questão: ―Em 1808, Dalton propôs o primeiro modelo científico. Este
modelo foi comparado a: a) Uma tábua de madeira; b) Um taco de sinuca; c) Uma bola de pingue-
pongue; d) Uma bola de bilhar (sinuca); e) Uma bexiga cheia de ar‖. Uma porcentagem de 97% dos
alunos acertou e 3% responderam de forma incorreta.
Em concernência à sexta questão: ―Descreva como surgiu a ideia de átomo‖. Uma parcela de
20% dos alunos acertou e um percentual de 80% errou, respondendo, em grande parte, que não
sabiam da resposta ou simplesmente, deixaram em branco.
Na segunda parte do trabalho, ocorreu a iniciação do conteúdo de ―Atomicidade‖. Foram
ministradas quatro aulas, sendo duas introdutórias ao conteúdo (conceitos gerais e modelos), nessas
os discentes demonstraram grande interesse, principalmente devido ao fato das aulas serem
interativas, com uma linguagem próxima a dos discentes, já nas outras duas, focou-se o modelo
atômico de Niels Bohr. Durante essas aulas, que foram expositivas e dialogadas, os discentes se
envolveram completamente, levantando diversos questionamentos, dentre esses, destacam-se dois
(descritos de forma fiel a fala dos alunos): ―Como esse cara descobriu isso?‖ (Referindo-se a como
Bohr descobriu que determinados elementos emitem uma fluorescência de cor característica). E
ainda: ―Como isso está presente no meu dia?‖.
O primeiro questionamento foi respondido seguindo o conceito de Russell (1994) e Atkins e
Jones (2012), afirmando que Bohr discorreu que, quando um gás é excitado, ele emite radiação com
comprimentos de onda específicos o que resulta em linhas coloridas, isto é conhecido como
espectro de emissão de luz, ou seja, cada elemento emitirá uma cor característica que corresponderá
a um comprimento de onda específico.
Em referência ao segundo questionamento, foi respondido explanando que isso acontece
diariamente no dia a dia, nos fogos de artifício, na tela do celular, no arco-íris, nos bastões
luminosos, nos relógios de ponteiro que acendem.
Dando prosseguimento à aplicação da pesquisa, realizou-se a terceira parte do trabalho, em
que se utilizou o vídeo: ―Nosso Amigo o Átomo‖ de Walt Disney®, este foi muito bem aceito pelos
alunos, os mesmos fixaram sua atenção. Tal vídeo ilustrava a descoberta do átomo desde sua tese
inicial, apontada por Demócrito e Leucipo, até os dias atuais, de modo que o mesmo possuía uma
grande facilidade de compreensão, mesclando entre animações e explicações, realizadas por um
apresentador. Este vídeo explanava toda linha temporal, em ordem cronológica, do processo de
aprimoramento da ideia da ―Atomicidade‖. A Figura 1 mostra o momento da aplicação do vídeo na
turma:

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 991


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1 - Aplicação do vídeo. Fonte: Própria.

Foram levantadas, pelos discentes, afirmações como: ―Nossa não sabia que isso era tão
importante‖; ―Ficou tudo mais claro agora‖; ―Não sabia que uma mulher descobriu a
radioatividade‖; ―Professor isso é muito interessante‖. Tais afirmações demonstram a efetividade
do uso das TICs, provando que até mesmo uma animação/vídeo pode instigar o aluno a desenvolver
o interesse pelo saber científico. Alguns alunos questionaram como um desenho animado (vídeo)
iria ajudá-los a entender o assunto, foi elucidado aos mesmos que tudo é passivo de aprendizagem e
que a animação foi criada com embasamento científico e destinada diretamente à aprendizagem. É
importante ressaltar que, não basta apenas reproduzir o vídeo em uma televisão ou projetor
multimídia, é necessário empenho e dedicação do professor, para que o mesmo busque explicá-lo
aos alunos, ocorrendo um diálogo entre as cenas principais, consequentemente, ocorrendo uma
perfeita interação do aprendizado. Como afirmam Souza e Justi:

os educadores devem buscar diferentes estratégias de ensino em suas áreas de atuação


disciplinar, visando ampliar a magnitude de tal ensino, o que conduziria ao rompimento do
paradigma tradicional que rege o ensino de um modo geral. As propostas mais recentes de
ensino de química têm como um dos pressupostos a necessidade do envolvimento ativo dos
alunos nas aulas, em um processo interativo professor/aluno, em que os horizontes
conceituais dos alunos sejam contemplados (2005, p. 3).

Na quarta e última parte, foi realizado o experimento sobre Fluorescência, intitulado ―Caixa
Negra‖. Esta experimentação foi escolhida no intento de não oferecer nenhum risco à saúde ou vida
dos discentes, sendo assim, passivo dos mesmos recriarem em suas residências. Tal experimento
utilizou uma fonte de luz ultravioleta (UV) para provar a veracidade do modelo atômico de Bohr,
tendo como base o conceito dos ―saltos‖ dos elétrons entre as camadas. Devido ao fato dos raios
UV serem uma fonte muito agressiva ao corpo humano (globos oculares e pele), ocorreu uma
grande preocupação com a utilização dessa radiação, pois é sabido que uma exposição prolongada
aos olhos, pode causar danos a visão. Sendo assim, foi formulada uma simulação da radiação UV,
utilizando fita adesiva e marcadores permanentes, roxos e azuis, desta forma, não impondo riscos
nenhum aos discentes. Na Figura 2, pode ser observada a aplicação do experimento escolhido:

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 992


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 2 - Realização do experimento: ―Caixa Negra‖. Fonte: Própria.

A Figura 2 apresentada acima retrata o momento da execução do experimento, o qual tomou


como base dois alicerces: o conteúdo de ―Atomicidade‖, mais precisamente o modelo atômico de
Niels Bohr e a preocupação com o descarte de resíduos sólidos, tendo enfoque no reaproveitamento
deles, realizando um desenvolvimento sustentável do ensino de Química, transformando o que seria
lixo (materiais alternativos reciclados, como a caixa de sapato) em uma ferramenta de ensino.
Durante a execução do experimento, foi explanado que o descarte incorreto de resíduos
sólidos, poderia causar riscos, como por exemplo, entupimentos de sumidouros (bueiros). Um aluno
questionou: ―O que são esses resíduos sólidos?‖, foi explicado a ele o significado de resíduos
sólidos segundo o Art. 3- Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei 12.305/10, inciso XVI, que
afirma:

resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades


humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está
obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em
recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou em corpos d‘ água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010).

Ainda durante a aplicação do experimento, alguns alunos questionaram de que forma os


elementos apresentados mudavam a sua cor, foi explicado que ocorria a excitação dos elétrons,
ocorrendo uma liberação de energia, ocasionando o salto do elétron para o nível mais energético
(ATKINS; JONES, 2012). Assim sendo, ocorreu grande interação entre o professor/alunos e entre
os alunos, os mesmos ficaram bastante curiosos querendo saber quais cores ficariam os objetos
presentes em seu dia a dia. Durante a última etapa do experimento, foi posto no interior da ―Caixa
Negra‖, um papel com a seguinte frase: ―Modelo de Bohr‖, escrita com uma caneta marca-texto
amarela e coberta com uma camada de protetor solar com fator de proteção 30. Os alunos
vislumbraram que o fator de proteção do filtro solar ainda permitia que fossem observadas nuances

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 993


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

da frase escrita no papel, logo após, foi explicado que seriam observadas tais nuances da frase,
devido ao fato desse protetor solar ter um baixo índice de proteção UV, sendo orientado aos alunos,
que deveriam utilizar protetor solar com um fator de proteção superior a 70, para que a pele não
recebesse radiação UV.
Em alusão ao Questionário Final, o mesmo possuía 6 (seis) questões, sendo 3 (três) de
múltipla escolha e 3 (três) discursivas. Em conotação à primeira questão: ―Uma moda atual entre as
crianças é colecionar figurinhas que brilham no escuro. Essas figuras apresentam em sua
constituição a substância sulfeto de zinco. O fenômeno ocorre porque alguns elétrons que compõem
os átomos dessa substância absorvem energia luminosa e saltam para níveis de energia mais
externos. No escuro, esses elétrons retornam aos seus níveis originais, liberando energia luminosa e
fazendo a figurinha brilhar. Essa característica pode ser explicada considerando-se o modelo
atômico proposto por: a) Dalton; b) Thomson; c) Lavoisier; d) Rutherford; e) Bohr.‖ Os resultados
para a primeira questão estão dispostos no Gráfico 1, em que ocorreu 76% de acertos e 24% de
erros, para os alunos respondentes.

Gráfico 1 - Referente à primeira questão. Fonte: Própria.

Referindo-se à segunda questão: ―Qual das alternativas a seguir indica corretamente o modelo
atômico de Niels Bohr? a) Descobriu o tamanho do átomo e seu tamanho relativo; b) Os elétrons
giram em torno do núcleo em determinadas órbitas; c) Modelo semelhante a um ―pudim de passas‖
com cargas positivas e negativas em igual número; d) Modelo semelhante a um ―sistema solar‖ em
que o átomo possui um núcleo e uma eletrosfera; e) Átomos esféricos, maciços e indivisíveis‖. O
percentual de acertos entre os alunos foi de 80% e o de erro foi de 20%, como pode ser observado
no Gráfico 2:

Gráfico 2 - Referente à segunda questão. Fonte: Própria.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 994


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Em menção à terceira questão: ―Por que ocorreu a alteração de cor nos elementos
observados no experimento?‖ Grande parte das respostas afirmava que a excitação dos elétrons
causou essa mudança. 84% dos discentes acertaram, contra 16% que respondeu de forma errônea,
conforme ilustra o Gráfico 3:

Gráfico 3 - Referente à terceira questão. Fonte: Própria.

Em citação à quarta questão: ―Bohr estabeleceu em sua teoria atômica que os elétrons giram
em 7 órbitas circulares denominadas níveis ou camadas ao redor do núcleo. Segundo Bohr, o átomo
pode ter no máximo 7 camadas. Qual delas é a mais energética? a) camada K; b) camada L; c)
camada N; d) camada P; e) camada Q‖. Uma porcentagem de 88% dos alunos respondeu de forma
correta e 12% responderam de forma incorreta, segundo o Gráfico 4:

Gráfico 4 - Referente à quarta questão. Fonte: Própria.

Em concernência à quinta questão: ―Por que o elétron se excita para o nível mais energético,
e como ocorreu essa excitação durante o experimento?‖ Todos os alunos afirmaram que: ―O elétron
se excitou devido existir uma fonte de energia externa, no caso do experimento foi uma fita que
simula o raio UV‖. Com isso, demonstrou-se um incrível aproveitamento de 100% de acertos dos
alunos respondentes para tal questionamento.
Analisando a sexta e última questão: ―Por que a parte com protetor solar ocorreu
fluorescência no experimento e como é possível que essa fluorescência não ocorra?‖. Os discentes
responderam que: ―Ocorreu porque o protetor tinha um fator de proteção solar baixo, para não
ocorrer deve se usar um protetor com esse fator maior que 70‖. Similarmente à quinta questão,
ocorreu 100% de acertos dos discentes.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 995


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Contudo, podem-se inferir, por meio dos resultados do Questionário Final, que ocorreu uma
evolução no número de acertos pós-aplicação das ações, como o uso das TICS e da aplicação da
experimentação, afirmando assim, a efetividade destas ferramentas no processo de ensino e
aprendizagem dos discentes.

CONCLUSÕES

Essa ação conseguiu demonstrar que a reutilização dos resíduos sólidos, como caixas de
sapatos, gerou o início do despertar de uma conscientização ambiental nos discentes, demonstrando
o quão importante é contextualizar o ensino com questões socioambientais. Além disso, vislumbrou
a coadunação entre a reciclagem e o conteúdo de Química, fazendo uso de materiais alternativos
reciclados pertencentes ao cotidiano dos alunos.
Deste modo, é imprescindível ao professor que seja dado enfoque a essas temáticas
ambientais em sala de aula, interligadas a conteúdos químicos, não esquecendo que a consolidação
dessa estrutura auxilia na preparação e na composição do processo de aprendizado, como um todo.
Destarte, nota-se cada vez mais, que a adoção de aulas contextualizadas aponta para a
melhoria do ensino, como pôde ser observado após a aplicação do experimento e do vídeo, sendo
assim, o Ensino de Química pode contribuir de forma decisiva, fazendo com que os discentes
compreendam tal disciplina e criem uma consciência ambiental a partir da vivência deles. Não
obstante, a Educação Ambiental juntamente com os conteúdos químicos deve permanecer cada vez
mais presente nas salas de aulas, para que sejam trabalhados de forma conjunta, tendo a
participação interacional de docentes e discentes.

REFERÊNCIAS

ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 5ª
ed. Tradução: Ricardo Bicca de Alecastro. São Paulo: Bookman, 2012.
BRASIL. LEI No 12305 de 02 de Agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos; altera a
Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm> Acesso em: 18 de
jul. de 2017.

______. Ministério da Educação – Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros


Curriculares Nacionais: Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias.
Brasília: MEC/SEMTEC, 1999.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 996


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

______. Ministério da Educação – Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Orientações


curriculares para o Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias.
Brasília: MEC/SEMTEC, 2006.

CERON, L. P. Educação ambiental e reciclagem do lixo. 5° Forum Internacional De Resíduos


Sólidos, Rio de Janeiro, 2014.

LEITE, B. S. Tecnologia no Ensino de Química: Teoria e prática na formação docente. 1ª. ed.
Curitiba: Editora Appris, 2015.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia científica. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2011.

MARQUES, R. F. P. V. Impacto Ambientais da Disposição de Resíduos Sólidos Urbanos no Solo e


na Água Superficial em Três Municípios de Minas Gerais. Dissertação (Mestrado em Recurso
Hídrico para Sistemas Agrícolas) – Universidade Federal de Lavras, 2011.

OLIVEIRA, R. et al. Aprendizagem Significativa, Educação Ambiental e Ensino de Química: Uma


Experiência Realizada em uma Escola Pública. Revista Virtual de Química, v. 8, n. 3, pp. 913-
925, 2016.

RUSSEL, J. B. Química Geral. 2ª ed., São Paulo: Pearson Makron Books, 1994.
SALESSE, A. M. T. A Experimentação no Ensino de Química: Importância das Aulas Práticas no
Processo de Ensino Aprendizagem. Dissertação (Especialização em Métodos e Técnicas de
Ensino, Modalidade de Ensino a Distância), 2015.

SANTOS, A. D.; NETO, J. M. M.; SOUSA, P. A. D. A. E. Química e Educação Ambiental: Uma


Experiência no Ensino Superior. Quimica Nova na Escola, São Paulo, v. 36, n. 2, pp. 119 - 125,
2014.

SOUZA, V. C. A., JUSTI, R. S. O Ensino de Ciências e seus Desafios Humanos e Científicos:


fronteiras entre o saber e o fazer científico, In: Atas do V Encontro Nacional de Pesquisa em
Educação em Ciências, Bauru: 2005.

SCHMIDT, M. L. S. Pesquisa participante: alteridade e comunidades interpretativas. Psicologia


USP, v. 17, n. 2, pp. 11-41, 2006.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 997


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

AS CONTRIBUIÇÕES DA AULA DE CAMPO PARA


PRÁTICAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Maria José Soares de LIMA


Graduanda do Curso de Pedagogia da UFPB
mariajosesoaresxx@gmail.com
Maria José da SILVA
Graduanda do Curso de Licenciatura em Ciências Agrárias da UFPB
mariasilvat.a@gmail.com
Erika do Nascimento PONTES
Graduanda do Curso de Licenciatura em Ciências Agrárias da UFPB
eryka_pontes@hotmail.com

Orientadora: Maria do Socorro Lopes CAVALCANTI


Professora DCBS da UFPB
corritacg@uol.com.br

RESUMO
A Educação Ambiental (EA) tem sido um tema de discussão nas diversas áreas da sociedade, entre
eles: a igreja, as instituições públicas e privadas e a escola. Em consequência do modelo de
exploração dos recursos naturais para a produção de matéria prima que alimenta a política do
consumo e do capitalismo universal. Este trabalho tem como objetivo analisar sobre a contribuição
que a aula de campo proporcionou para os estudantes obterem uma compreensão das mudanças
ocasionadas no meio ambiente. Utilizou-se como aporte teórico LIMA (2016), GUIMARÃES
(2001), CARVALHO (2012), SAMPAIO (1996), entre outros. As atividades foram desenvolvidas
com estudantes do 5º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental João Paulo II, tendo
aproximadamente 25 estudantes que participaram da intervenção. A escola está localizada no
distrito Roma, área campesina do município de Bananeiras - PB. A aula - passeio é hoje conhecida
como aula de campo, sempre que embasada em um objetivo concreto. Foi o caso proposto para a
turma discutir a EA, na qual, transformou-se em uma aula de descobertas. Percebe-se que a aula-
passeio ou aula de campo é um recurso importante para a formação da criança como cidadã, uma
vez que, possibilita o contato com propostas emancipadoras e voltadas ao conhecimento da
realidade, com estudo e investigação. Para efetivação da educação ambiental nos diversos
ambientes, com diversos públicos da sociedade como todo sugere o uso desse método de forma
interdisciplinar.
Palavras-chaves: Educação Ambiental. Aula de Campo. Meio Ambiente.
ABSTRACT
The Environmental Education (EE) has been a topic of discussion in the various areas of society,
among them: the church, public and private institutions and the school. As a consequence of the
model of exploitation of natural resources for the production of raw material that feeds the politics
of consumption and universal capitalism. This work aims to analyze the contribution that the field
class has given students to gain an understanding of the changes caused in the environment. The
theoretical contribution LIMA (2016), GUIMARÃES (2001), CARVALHO (2012), SAMPAIO
(1996), among others, was used as theoretical contribution. The activities were developed with
students of the fifth year of the Municipal School of Primary Education João Paulo II, with
approximately 25 students who participated in the intervention. The school is located in the Roma

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 998


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

district, peasant area of the municipality of Bananeiras - PB. The class - walk is today known as a
field class, whenever based on a concrete goal. It was the proposed case for the class to discuss EE,
in which it became a class of discoveries. It is noticed that the class-walk or field class is an
important resource for the formation of the child as a citizen, since, it makes possible the contact
with emancipating proposals and directed to the knowledge of reality, with study and investigation.
For effective environmental education in different environments, with different publics of society as
all suggests the use of this method in an interdisciplinary way.
Keywords: Environmental Education. Field class. Environment.

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental (EA) tem sido um tema de discussão nos diversos ambientes da
sociedade, entre eles: a igreja, as instituições públicas e privadas e a escola. Devido a incansável
exploração dos recursos naturais para a produção de matéria prima que alimenta a política do
consumo e do capitalismo universal.
Salienta-se a importância da compreensão sobre a passagem do pensamento mítico – aquele
em que tiveram várias divindades que representavam a natureza – para o racional – sapiens sapiens,
o homem sabe que sabe – tendo este momento com evidência a evolução do pensamento,
conceituando e praticando maneiras de controlar, usufruir dos recursos naturais, sobrepondo-se à
natureza. (LIMA, 2016, p.) Desta maneira, a natureza passou a se tornar alvo de exploração do ser
humano.
A preocupação com o meio ambiente e as mudanças climáticas despertou na sociedade
discussões sobre a temática em várias instâncias. Desta maneira, surgem, encontros científicos,
colóquios, conferências, leis, diretrizes, acordos internacionais e políticas públicas, que dão suporte
à discussões dessa área de conhecimento. Tendo como objetivos criar medidas de proteção aos
recursos naturais e participação do meio social.
Aproveitando o bojo das discussões sobre as diversas maneiras para debater a temática sobre
o contexto meio ambiente e natureza. Temos a educação ambiental como possibilidade de
proporcionar aos sujeitos momentos de percepções do meio natural, bem como, a uma postura do
ser mais, do coletivo, do interativo, do cidadão. Para proporcionar estes momentos de educar e ser
educado ambientalmente, a educação formal tem suporte estrutural para ocasionar esse processo de
mudança, de ensino aprendizagem em uma perspectiva ambiental crítica, reflexiva e interativa.
Tendo como grande aliados para o desenvolvimento destas práticas pró-ambientais a aula de campo
contribui por ser um método que favorece aos estudantes observar o meio em que vivem e suas
constituições, e em seguida, discuti aspectos relacionados à mudança do meio ocasionada pela
intervenção dos homens.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 999


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Diante desse cenário, o trabalho tem como objetivo analisar sobre a contribuição que a aula
de campo proporcionou para os estudantes obterem uma compreensão das mudanças ocasionadas
no meio ambiente. A partir do relato das experiências vivenciadas pelas bolsistas do projeto
Educação ambiental e letramento: os gêneros textuais como via de sensibilização nas escolas
municipais das cidades de Bananeiras e Solânea - PB. Projeto de Extensão, desenvolvido pelo
Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba
CCHSA/UFPB. Com estudantes do 5º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental João Paulo
II, ambas as instituições localizadas no município de Bananeiras, Estado da Paraíba.

DISCUSSÕES ACERCA DA AULA DE CAMPO E DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA

A Educação Crítica e Seu Caráter Emancipatório e Participativo

Guimarães (2004, p. 171) classifica duas vertentes dentro da educação ambiental, a


educação ambiental tradicional (também chamada de conservadora), que segundo o mesmo autor
define-se por ser hegemônica, e possuidora de uma visão mecanicista da ciência, simplificadoras
dos fenômenos complexos da realidade, além de não poder ou não querer revelar as relações de
poder que estruturam a sociedade atual (luta de classes, relações de gênero, identidade, minorias
étnicas e culturais, relação norte-sul). Na concepção do autor, esta educação ambiental tradicional,
não tem potencial de alavancar as mudanças necessárias para a superação da atual crise
socioambiental. Ele define então a educação ambiental crítica como contra-hegemônica, com a
característica de ser interdisciplinar relacionada com a teoria da complexidade e com o objetivo de
desvelar as relações de dominação que constituem a atual sociedade, sendo esta, uma proposta que
pode e deve fazer um contraponto em relação ao que vem sendo realizado com o que identificamos
como sendo a educação ambiental conservadora.
A educação ambiental crítica proporciona um diálogo entre educador e educando, tornando
sujeitos emancipadores, sujeitos de sua própria história. Nessas ações de educar ambientalmente
existe o que chamamos de sujeito ecológico no qual existem vários pontos de vista para caracterizá-
lo, no entanto, todos têm princípios que fazem críticas à ordem social vigente, sendo que ela é que
busca apenas a produtividade, exploração dos bens ambientais, como também da ascensão à
desigualdade social e ambiental.

Assim, a existência de um sujeito ecológico põe em evidência não apenas um modo


individual de ser, mas, sobretudo, a possibilidade de um mundo transformado, compatível
com esse ideal. Fomenta esperança de viver melhor, de felicidade, de justiça e de bem-
estar. Assim, além de servir de fonte de identificação para os ativistas e ecologistas,
mobiliza sensibilidades que podem ser experiência das por muitos segmentos de nossa
sociedade. Carvalho (2012, p. 69).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1000


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O sujeito ecológico, nesse sentido, tem o desejo de mudança, tem esperança na


transformação do mundo, esse sujeito condensa na utopia de uma sociedade ecologicamente e
socialmente equilibrada. É nesse intuito de mudança e construção de novas práticas que a educação
ambiental busca reavive o lado ecológico e acima de tudo humano, que as cobranças do
consumismo atual camuflou nos sujeitos, como explica Pedro Jacobi (2006 p. 255) ―O principal
eixo de atuação da Educação Ambiental deve buscar acima de tudo, a solidariedade, a igualdade e o
respeito à diferença através de formas democráticas de atuação baseadas em práticas interativas e
dialógicas‖, ou seja, a educação ambiental promove uma interação não apenas humana e meio
ambiente, propicia também relações harmônica dele com o Outro.
O que é notável e cativante na educação ambiental é a preocupação diante a formação
humana do sujeito, pois, além de fazer com que ele procure o bem para si, esse tipo de educação
proporciona no estudante a responsabilidade para com o meio ambiente e tudo que lhe é ofertado
para seu convívio nesse meio. Para melhor expor esse sentido humanístico utilizaremos a categoria
básica da Educação Popular Humanização: a humanização é caracterizada como uma marca da
natureza humana ―que se expressa na própria busca do ser mais, através da qual o ser humano está
em permanente procura, aventurando-se curiosamente no conhecimento de si mesmo e do mundo,
além de lutar para ir além de suas próprias conquistas‖ (orgs. Streck, Rendin, Zitkoski, 2008,
p.214).

A Aula de Campo Segundo Freinet e Suas Contribuições

Célestin Freinet foi um educador francês do início do século XX, ele propôs uma teoria
experimental e práticas reflexivas. Após lutar durante a Segunda Guerra Mundial, sofreu as ações
de gases tóxicos, que comprometeram seus pulmões, impedindo de falar por muito tempo, algo
bastante presente nas aulas expositivas em sala de aula, como não queria deixar de dar aulas,
pensando como ensinar de forma que motivasse as crianças no processo de aprendizagem, percebeu
que, o que interessava se encontrava nos animais, nas árvores, nos rios, entre outros. É quando cria,
então, a aula - passeio.
A prática educativa da aula - passeio trabalha com seriedade em seus quatros momentos –
preparação, ação, prolongamento e comunicação – deixarão de ser uma interrupção das atividades
feitas em classe, tornando-se, ao contrário, um aprofundamento (SAMPAIO, 1996).
A aula - passeio é hoje conhecida como aula de campo, sempre que embasada em um
objetivo concreto. Foi o caso proposto para a turma discutir a EA, na qual, transformou-se em uma
aula de descobertas. Percebe-se que a aula-passeio ou aula de campo é um recurso importante para a
formação da criança como cidadã, uma vez que, possibilita o contato com propostas emancipadoras
e voltadas ao conhecimento da realidade, com estudo e investigação.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1001


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O plano metodológico acerca da compreensão sobre a problemática ambiental não se tratou


de listar uma receita de como iríamos debater educação ambiental, mas formar uma escuta de várias
posturas e percepções que conduziram o nosso trajeto para obter ações de dialógico e
compreensivo. Nessa proposição metodológica foi listado como princípio do pensamento para a
construção das atividades o contexto relacionado à teoria de aula de campo de Freinet, no que diz
respeito aos momentos específicos da prática, que são: preparação, ação, prolongamento e
comunicação.
As atividades foram desenvolvidas com estudantes do 5º ano da Escola Municipal de Ensino
Fundamental João Paulo II, tendo aproximadamente 25 estudantes que participaram da intervenção.
A escola está localizada no distrito Roma, área campesina do município de Bananeiras - PB. A
principal atividade econômica da região em que a escola está situada é a agropecuária, em sua
maioria marcada pela organização de natureza familiar, que é caracterizada pelo uso de tecnologia
menos avançada, utilizando recursos naturais para o sustento diário.
Antemão, esse trabalho tem uma abordagem qualitativa, que para Goldenberg (1997, p. 34)
no que diz respeito a esse caso, as representatividades numéricas não são preocupantes,
considerando, portanto, o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma
organização. Assim sendo, este trabalho trata de uma ação empírica, subjetiva, com base em autores
que fundamentam a prática que será relatada. Haja vista que se trata de tais circunstâncias, em
alguns momentos pode ocorrer na descrição dos pensamentos e das análises o envolvimento
emocional por parte das pesquisadoras, por se tratar de uma área que nos envolve físico e
emocionalmente.

Como Chegamos à Aula de Campo

Para que pudéssemos chegar ao objetivo disposto na aula de campo conforme Freinet, e as
crianças pudessem chegar à construção de sentido através das aulas de Educação Ambiental numa
perspectiva crítica interacionista. Foram propostos momentos com intencionalidades que eram
elaborados dia após dia, de acordo com a necessidade de compreensão sobre o contexto meio
ambiente, que a turma ia provocando. Portanto, quando buscamos resgatar ou até mesmo extrair a
―voz‖ do outro, decidimos por agir de maneira polifônica, para que pudéssemos fazer a escuta de
vozes historicamente silenciadas, tendo como: o estudante de escola do campo.
Inicialmente discutimos como se deu a origem da compreensão do homem com a natureza, a
relação do índio com o meio natural, a chegada dos portugueses no Brasil, trazendo os itens
materiais de desconhecimento dos índios, dando espaço para a discussão do acúmulo de resíduos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1002


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

sólidos que existem no nosso planeta, debatendo sobre a evolução das coisas no aspecto
tecnológico, e os descartes das mesmas. Com a discussão sobre a mudança que ocorreu no meio
ambiente devido ao acúmulo e desenvolvimento de materiais de consumo, pedimos às crianças para
que elas desenhassem sua percepção de espaço, bem como, como era o local em que ele morava e
algumas possíveis mudanças, tendo a indagação de quem foram os responsáveis por essas
mudanças.
Tivemos momentos de apreciação e percepção do espaço natural, bem como, discutimos
maneiras para preservar o meio ambiente, o que são os R‘s e Oficina ecológica produção de
brinquedos, na qual, utilizamos como matéria-prima resíduos sólidos que iriam ser descartado em
lixão. Vale ressaltar que nosso método avaliativo foi de maneira contínua, em forma de registros e
observando as falas das crianças a cada problematização que era feita no decorrer das aulas.
A escuta do outro foi algo considerado de grande importância e analisada em todos os
momentos, para que pudesse dá início a esse processo de escuta, propomos a formação da teia do
conhecimento, na qual os estudantes ao passar a linha falasse o que mais gostava de fazer na
natureza e o que esperava que o projeto pudesse abordar no decorrer das aulas.

ANÁLISES E DISCUSSÕES DA AULA PASSEIO SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE


ACORDO COM FREINET

Preparação

A preparação, primeira etapa da aula das descobertas, é pautada por cinco planos que
contribuirão na aquisição de saberes para os alunos, são eles: plano saúde, plano autonomia, plano
financeiro, plano material e plano pedagógico.

A preparação é uma das condições de sucesso. Sem ela, e depois sem o prolongamento e a
comunicação, não haverá senão uma troca de lugares que arriscará ser mais próxima do
turismo do que de um empreendimento educativo (SAMPAIO, 1996, p. 183).

Deste modo, iniciou-se o que podemos nomear como planejamento para a ação. A partir dos
momentos já mencionados nos procedimentos metodológicos, sugerimos que fosse organizada uma
a aula de campo, em que denominamos como piquenique para percepção do espaço natural. Neste
momento de preparação, as crianças sugeriram um local adequado para que fosse realizado. Tendo
em vista, que o local se tratava de espaço histórico para a comunidade, pois lá estava localizada
primeira escola do distrito, como também, era a residência de uma das estudantes que estava
participando das atividades. Outro ponto relevante, para a escolha, foi a questão da relação que a
família tem com a natureza, proveniente da agricultura familiar.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1003


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura I – Discussão sobre as propostas de atividades a serem desenvolvidas

Fonte: Lima, 2016

Ação

No que diz respeito ao momento de ação, Andrade (2014), afirma que:

A ação é a parte da aula das descobertas que o professor deve acompanhar e registrar todos
os passos dos alunos, pois é nesse momento que acontecem situações autênticas nos planos
social, intelectual e afetivo. Criarão oportunidades para as crianças aprenderem a partir do
mundo na sua realidade, aguça a curiosidade e a atenção, nutrir o imaginário e se
transformarão em construtores de seu conhecimento e não apenas consumidores. (p. 3)

Consideramos a etapa da ação, a partir do momento em que saímos dos muros da escola em
direção ao espaço proposto pelas crianças. Como esse momento é também de registro, pedimos que
os estudantes já pudessem ir analisando no caminho, as interferências feita pelo homem. Outro
aspecto importante desse momento, foi que as crianças organizaram sacolas plásticas e luvas para
que realizasse a coleta dos resíduos sólidos que o grupo ia encontrando pelo caminho da trilha. Vale
ressaltar que, esta e outras intervenções como o plantio de uma árvore frutífera, foi uma proposta
vinda dos estudantes no dia do planejamento. Desse modo, consideraram importante realizar esta
ação benéfica para com o meio ambiente. Pois, após as discussões nas aulas sobre a problemática
ambiental, sentiram-se responsáveis pelo bem estar do meio em que eles vivem.
No que se refere a relação das atividades feitas pelas crianças com a aula passeio de Freinet,
o plantio da árvore e a coleta dos resíduos, é considerada como o plano social. Já no plano
intelectual, podemos identificar o momento em que todas as crianças tiveram comportamentos que
sabiam que haviam problemas no meio ambiente, que foi causado a partir das interferências
humanas. Por fim, no plano afetivo, observamos que em todos os momentos o vínculo das crianças
para com elas mesmas e para com a natureza. Há de considerar, que, em todos os momentos as
crianças não se sentiram presas à uma rotulação denominada aula, pois sentiram-se seres
transformadores e empoderados para julgar seus próprios papéis com o meio social e ambiental,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1004


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

bem como, puderam usufruir do espaço de brincadeira ao ar livre e conversa sobre a temática e ao
momento com o grupo.

Figura II, III e IV – Momentos da efetivação da Ação na Aula de Campo

Fonte: Lima, 2016

Prolongamento

No prolongamento, para Sampaio (1996)

A comunicação e o registro no mesmo dia da visita é importantíssima, para depois ser


explorada em todas as disciplinas, também as relações afetivas criadas durante o passeio
continuarão no dia a dia da escola, transformando o ambiente mais prazeroso. Podem surgir
alguns medos nos professores em momentos de tomada de decisão ou conflitos surgidos na
classe, mas se houver espírito aberto e parceria com outros professores com certeza, levará
ao sucesso. (p. 185)

Supõem-se que o prolongamento é o resultado obtido pela criança que participou da aula de
campo, e que irá contribuir no decorrer do dia-a-dia na escola e nas relações sócias que a mesma
está presente. Paralelo a isso, o prolongamento perpassou durante todas as atividades que foram
desenvolvidas após a aula de campo, pois, contribuiu e contribuirá em diversas áreas do
conhecimento a não serem apenas na área de ciências da natureza.

Fonte: Lima, 2016

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1005


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Comunicação

A Comunicação segundo, Sampaio (1996) diz que:

No momento da comunicação, a melhor maneira de preparar essa fase é levantar junto às


crianças como será feito, em termos de tempo, espaço materiais e pessoas envolvidas. O
resultado do projeto pode ser apresentado por meio de palestras, jornais, livro da vida,
exposições, entrevistas na rádio local, teatro, músicas, enfim, o importante é mostrar que a
aula-passeio não é perda de tempo, mas transforma o currículo escolar e enriquece os
aspectos sociais, intelectuais e afetivos dos alunos. (p.186)

No que se refere à comunicação foi proposto que as crianças produzissem um texto, com o
objetivo de dissertarem os sentimentos, críticas, percepções e contribuições da aula de campo, e no
que a aula iria contribuir para a compreensão dos estudos feitos em sala. Outra proposta que
cumpriria esta função de comunicação foi à produção de folder educativo a partir de materiais
reutilizáveis, sobre o contexto meio ambiente e educação ambiental. Esta ação tinha como
finalidade divulgar todos os acontecimentos que ocorreram no decorrer da realização do projeto
com a turma para escola como um todo, porém, esta ação não pode se concretizar, de fato, em
consequência do tempo escola, na qual a instituição está inserida. Desta maneira, a turma propôs
que fizéssemos uma socialização das experiências vivenciadas entre o grupo que realizou as
atividades do projeto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De certo, a aula de campo de Freinet contribuiu para que a prática acontecida no contexto
Educação Ambiental fosse de base científica. De fato, pôde-se perceber a interação das crianças
com a proposta da aula de campo, como também, com as discussões em EA.
Por esse motivo, autores como Isabel Cristina de Moura Carvalho (2012, p.69) tem se
esforçado em ressaltar que ―A educação ambiental está efetivamente oferecendo um ambiente de
aprendizagem social e individual no sentido mais profundo da experiência do aprender. Uma
aprendizagem em seu sentido radical, a qual, muito mais do que apenas prover conteúdos e
informações, gera processos de formação do sujeito humano...‖. Não se pode negar o resultado que
as discussões e práticas de Educação Ambiental tem ocasionado, especificamente no contexto da
educação formal. Temos experiências supracitadas no tópico acima que comprova tudo o que já foi
discutido. Essa associada à aula de campo permite que as crianças construam percepções da
natureza e a importância da preserva-la os faz enxergar com outra lente, que não apenas essa
construída pelo mundo moderno nas pequenas e grandes cidades.
Para efetivação da educação ambiental nos diversos ambientes, com diversos públicos da
sociedade como todo sugere o uso desse método de forma interdisciplinar.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1006


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

REFERÊNCIAS

ANDRADE, G. K., A aula passeio de Freinet e suas possibilidades no ensino de ciências nas séries
iniciais, 2014. Disponível em: <http://anais.unicentro.br/proic/pdf/xixv2n1/208.pdf>. Acesso
em: 15 de jul. 2017.

CARVALHO, ISABEL CRISTINA DE MOURA. Educação ambiental: a formação do sujeito


ecológico. 6 ed. São Paulo, Cortez, 2012.

GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro: Record, 1997.

GUIMARÃES, M. A formação de educadores ambientais. Campinas, SP: Papirus (Coleção Papirus


Educação) 2004.

JACOBI, PEDRO. Educação Ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico,


complexo e reflexivo. São Paulo: USP, 2005.

SAMPAIO, Rosa Maria Whitaker F. A aula passeio transformando-se em aula de descobertas. In:
ELIAS, Marisa D. C.(org). Pedagogia Freinet: teoria e prática: Campinas, SP: Papirus, 1996.

STRECK, DANILO R.; RENDIN, EUCLIDES; ZITKOSKI, JAIME JOSÉ (Orgs.). Dicionário
Paulo Freire. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1007


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

(RE)CONSTRUINDO CONCEPÇÕES DE MEIO AMBIENTE NA


FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Mauro Janner MARTINS


Docente de Química no IFFarroupilha – Campus São Vicente do Sul
mauro.martins@iffarroupilha.edu.br
Marilse Beatriz LOSEKANN
Doutoranda em Geografia no PPGGeo da UFSM
marilselosekann@gmail.com

RESUMO
As representações sociais acerca do meio ambiente norteiam as concepções e as práticas adotadas
por cada sujeito e seus respectivos grupos sociais, e se tratando de futuros docentes estas serão
reproduzidas no desenvolvimento de práticas relacionadas a Educação Ambiental. Neste sentido, a
pesquisa objetivou realizar uma prática pedagógica que explicitasse a concepção de meio ambiente
dos alunos da disciplina de Educação Ambiental e Cidadania, dos cursos de Licenciatura em
Química e Licenciatura em Ciências Biológicas do IFFar (Instituto Federal Farroupilha) – Campus
São Vicente do Sul, e possibilitasse a reconstrução dessas concepções a partir da classificação de
Sauvé (1996, 2000) das representações paradigmáticas sobre o meio ambiente. Quanto aos
procedimentos metodológicos podemos dividir em três momentos: inicialmente buscou-se perceber
as concepções de meio ambiente dos 38 estudantes, utilizando um questionário eletrônico
(Formulários do Google) disponibilizado no grupo da turma na rede social Facebook; no segundo
momento foi utilizado um projetor multimídia para expor os resultados em forma de gráficos, em
que se evidenciou a diversidade de concepções; e o terceiro momento consistiu na realização de
leitura de artigos científicos acerca do tema, assim como na discussão e reconstrução das
concepções conforme as diversas vertentes de pensamento. Os resultados demonstram que há o
predomínio das imagens representativas ―árvores‖, ―rios‖, ―mares‖, ―pássaros‖, ou seja, o
entendimento de meio ambiente como ―natureza intocada‖ por todos os alunos, seguido de como
―recurso‖ (água, ar, solo, fauna, bosques), sendo que 16 alunos compreendem que estes são os
únicos componentes do meio ambiente, e, apenas 10 estudantes compreendem o meio ambiente
como a totalidade das representações (natureza, recurso, problema, meio de vida, sistema, biosfera e
projeto comunitário). Assim, a atividade pedagógica conseguiu sensibilizar os futuros professores
acerca da compreensão mais holística de meio ambiente e da complexidade da EA, entendendo seu
caráter interdisciplinar.
Palavras-chaves: Meio Ambiente, Educação Ambiental, Formação de Professores.
ABSTRACT
The environment social representations guides the conceptions and practices adopted by each
subject and their respective social groups, and if they are future teachers these concepts will be
reproduced in the Environmental Education practices. Thus, the goal of this work was to carry out a
pedagogical practice that would explain the environmental conception of Environmental Education
and Citizenship students, from IFFar (Instituto Federal Farroupilha - São Vicente do Sul) Chemistry
and Biology graduation corses, allowing the reconstruction of these ideas from Sauvé (1996, 2000)
classification of the environment paradigmatic representations. The methodology was divided in
three moments: Initially we aimed to perceive the environmental conception of 38 students, using
an electronic questionnaire (Google Forms) available in the class group from Facebook network; In
the second moment a multimedia projector was used to expose the results as graphics, in which the

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1008


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

diversity of conceptions was evidenced; And the third moment consisted in reading scientific papers
about the theme, as well as in the discussion and reconstruction of the conceptions according to the
different thoughts. The results showed that "trees", "rivers", "seas" and "birds" representative
images are predominat, meaning the understanding of the environment as "untouched nature"
(water, air, soil, fauna, forests), 16 students understand that these are the only environment
components, and only 10 students understand the environment as the totality of representations
(nature, resource, problem, life, system, biosphere and community project). Thus, the pedagogical
activity allowed to aware the future teachers about a deeper insight of the environment and its
complexity, understanding its interdisciplinary character.
Keywords: Environment, Environmental Education, Teacher Training.

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental representa um passo importante na formação de um cidadão crítico e


responsável por suas atitudes como membro da sociedade, atribuindo ao professor um papel ímpar
neste processo, sendo exigida uma formação ampla e consistente para que este obtenha sucesso
nesta proposta.
Este tema está longe de ser algo de fácil compreensão e principalmente de ser
operacionalizado, mesmo que estabelecido por força de Lei n. 9795/1999 que institui a Política
Nacional de Educação Ambiental, apresentando em seu texto, no artigo 1º, o entendimento sobre a
Educação Ambiental como sendo ―[…] os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade.‖
Assim, esta lei instituiu a obrigatoriedade das instituições educacionais em incluir a
Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades de ensino. Uma das principais dificuldades
para a implementação de práticas que deem conta da grande amplitude da Educação Ambiental é a
compreensão sobre o que é meio ambiente, pois conforme este for percebido as atividades propostas
podem apresentar-se restritas a certas práticas ou até mesmo conflituosas entre si.
Diversos autores apresentam o tema meio ambiente não como um conceito e sim como uma
representação social como argumenta Reigota (2010) após verificar a diversidade de definições
existentes, sendo momento ímpar investigar as representações das pessoas envolvidas no processo
educativo para tornar efetiva a construção de conhecimentos na área.
Neste sentido, o presente trabalho visou perceber o entendimento dos estudantes da
disciplina de Educação Ambiental e Cidadania, dos cursos de Licenciatura em Química e Ciências
Biológicas, do Instituto Federal Farroupilha – Campus São Vicente do Sul, RS, sobre o tema meio
ambiente e, ao mesmo tempo, proporcionar a (re)construção dos conhecimentos necessários ao
futuro professor em relação ao referido assunto.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1009


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

METODOLOGIA

Em sua abordagem esta pesquisa é classificada como qualitativa, e em sua natureza, como
pesquisa aplicada, visto que seu interesse é prático e deseja-se que os resultados sejam utilizados na
solução de problemas que ocorrem na realidade (LAKATOS; MARCONI, 2006). Quanto aos
objetivos a pesquisa é considerada exploratória, pois busca proporcionar maior familiaridade com o
problema, buscando explicitá-lo (GIL, 2007). E finalmente, quanto aos procedimentos trata-se de
uma pesquisa de campo que se caracteriza pelas investigações em que, além da pesquisa
bibliográfica e/ou documental, se realiza coleta de dados junto a pessoas, com o recurso de
diferentes tipos de pesquisa (FONSECA, 2002).
As atividades propriamente ditas foram desenvolvidas nas instalações do Instituto Federal
Farroupilha, campus São Vicente do Sul. Participaram 38 alunos do 6 o semestre dos cursos de
Licenciatura em Química e Biologia, na disciplina de Educação Ambiental e Cidadania, no II
semestre de 2016. Para desenvolver as atividades descritas a seguir foram disponibilizados 10
períodos distribuídos em cinco semanas de aulas (2 períodos por semana). Vale ressaltar o
importante papel das redes sociais que propiciaram o aumento do tempo de contato entre os
estudantes e o professor.
No início da primeira aula, buscando fomentar o debate sobre o tema, os estudantes foram
questionados sobre qual é o entendimento de meio ambiente, sendo convidados a responder um
formulário eletrônico construído na ferramenta Formulários do Google, o qual foi postado no grupo
da turma na rede social Facebook, formado por duas questões sendo a primeira objetiva na qual era
possível assinalar mais de uma alternativa enquanto a segunda o aluno poderia escrever a sua
concepção.
Para a construção do questionário foram escolhidas palavras que abrangessem as concepções
de meio ambiente trazidas por Sauvé (1996) de modo que fosse possível identificar a concepção
predominante tanto individualmente quanto de toda a turma. Logo após, utilizando um projetor
multimídia, os resultados gerados pelo formulário foram projetados para que todos visualizassem as
respostas da turma e algumas considerações foram realizadas evidenciando que não havia consenso
no grupo.
Então em um terceiro momento, visando a reconstrução das concepções sobre meio
ambiente foi esclarecido que o tema não possui um conceito propriamente dito, existindo diversas
vertentes de entendimentos. Desta forma, os alunos foram divididos em grupos sendo que cada
grupo recebeu um artigo previamente selecionado que abordavam as diferentes concepções e estes,
após breve leitura, realizaram a exposição para o grande grupo promovendo discussões específicas.
Tendo em vista o processo contínuo que a EA requer, os alunos deram sequência a este
debate, reproduzindo esta pesquisa com os professores do Campus com o intuito de investigar as
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1010
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

suas percepções sobre meio ambiente e perceber o reflexo que estas têm sobre as práticas realizadas
pelos mesmos.

CONCEPÇÕES DE MEIO AMBIENTE DOS ESTUDANTES

Como primeiro questionamento para preparação da prática proposta, buscou-se compreender


o que é o meio ambiente, sendo interessante observar que não existe um consenso sobre o seu
significado, não representando desta forma um conceito científico. Desta maneira, para o
desenvolvimento do trabalho, levando em consideração as diversas definições, considerou-se o
tema como uma representação social como constata Reigota (2010, p. 14): ―Essas definições
indicam que não existe um consenso sobre meio ambiente na comunidade cientifica em geral.
Supomos que o mesmo deve ocorrer fora dela. Por seu caráter difuso e variado considero então a
noção de meio ambiente uma representação social.‖
Sendo assim, é importante que o aluno, e consequente futuro professor, tenha em mente a
existência de uma diversidade de pensamentos, visto que, conforme for a ideia predominante do
docente e estudantes, haverá um reflexo direto nas práticas pedagógicas propostas para Educação
Ambiental (Reigota, 1991).
Diversos autores realizaram estudos sobre o tema observando as diferentes vertentes de
pensamento, sendo que neste trabalho foi adotada a classificação descrita por Sauvé (1996) e Sauvé
et all (2000), que separa em sete classes de representações conforme apresentado no Quadro 1.

Ambiente Representações Imagens representativas


como...
Natureza Percebido de forma ―pura‖, sem levar em Árvores, plantas, animais
consideração o Homem. cachoeiras.
Recurso Percebido como recurso, precisando ser Água, ar, solo, fauna, bosques.
gerenciado, pois é herança coletiva.
Problema Percebido como problema devido a Catástrofes ambientais, poluição
industrialização e urbanização descontroladas. dos rios e atmosfera.
Meio de vida Percebido como algo que devemos conhecer e Escola, casa, bairro etc.
organizar, considerando aspectos naturais e
culturais.
Sistema Percebido como relações contínuas e Ecossistema, equilíbrio ecológico,
integradas, possibilitando a vida no planeta. biótica, relações ambientais etc.
Biosfera Percebido como integração local e global dos Reflexos da poluição em locais
fenômenos. distantes, como geleiras etc.
Projeto Percebido como parte da coletividade humana, Democracia, problemas sociais
comunitário sendo o lugar político precisando do etc.
envolvimento individual e coletivo.
Quando 1 – Representações paradigmáticas sobre o ambiente
Fonte: Adaptado de Sauvé, 2000.
Org.: Autores, 2017.

Baseado nestas premissas foi construído o formulário com palavras que remetem as
diferentes categorias de representações, que busca como resultado perceber o entendimento do

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1011


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

grupo de alunos sobre o tema, assim como um espaço destinado para que o estudante expresse de
maneira descritiva seu entendimento sobre meio ambiente conforme Figura 1.

Figura 1 – Questionário utilizado na pesquisa.


Fonte: captura de tela do questionário aplicado aos alunos.
Org.: Autores (2017).

Este formulário foi disponibilizado no grupo da turma na rede social Facebook o qual foi
respondido com o uso de smartphones e cujos resultados foram projetados com o auxílio de um
projetor multimídia, possibilitando o acompanhamento em tempo real das relações estabelecidas. É
interessante salientar que a ferramenta em questão realiza o processamento instantâneo dos dados e
gera um gráfico tornando a interpretação mais fácil para a dinâmica proposta como apresentado na
Figura 2.
Verifica-se com a análise do gráfico gerado, Figura 2, que a totalidade dos estudantes
entende que o item Florestas está relacionado ao meio ambiente demonstrado forte relação com a
percepção da natureza pura e intocada, sendo reforçada pela grande associação com os itens Rios,
Mar e Pássaros, 89,5%, 78,9 % e 76,3% respectivamente. Este comportamento coletivo foi bastante
explorado para a prática proposta por ser bastante chamativo visualmente.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1012


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 2 – Respostas processadas instantaneamente.


Fonte: Questionário aplicado aos alunos.
Org.: Autores (2017).

Analisando as relações individuais estabelecidas, foi interessante observar que 10 estudantes


assinalaram como únicos componentes do meio ambiente os quatro itens apresentados
anteriormente, demonstrando uma percepção de natureza intocada, sendo reforçada com trechos
retirados dos textos das respostas da parte descritiva do formulário apresentado no Quadro 2.

― - Meio ambiente é um sistema natural que engloba toda a vegetação, animais, solo,
rochas.‖(Aluno 7)
― - Tudo que se vê natural, que ainda não foi tocado pelo homem.‖(Aluno 19)
―- É a natureza que nos cerca, árvores e animais selvagens.‖ (Aluno 25)
Quadro 2 – Trechos que demonstram uma percepção de natureza intocada.
Fonte: Questionário
Org.: Autores (2017).

Em relação a percepção de meio ambiente como recurso a ser gerenciado, seis estudantes
expressaram este entendimento nos textos de suas respostas, Quadro 3, e ainda relacionaram esse
entendimento com as palavras que entendiam como recursos.

―- Meio ambiente para mim é onde vivemos e de certa forma somos dependentes dele. É o
nosso lugar, que devemos cuidar e proteger. São coisas que nos cercam.‖(Aluno 3)
― - Meio ambiente é o essencial para a nossa vida, sem ele ficaríamos sem árvores, água
potável e outros meios importantes.‖(Aluno 11)
― - Meio ambiente é um lugar onde vivem os animais, um local que nos cerca, também onde
está o modo de sobrevivência dos seres humanos.‖(Aluno 36)
― - É o meio onde vivemos. Tudo o que há na terra, a natureza, água, animais, tudo o que tem
vida, tudo o que temos hoje em dia para viver bem.‖(Aluno 28)
Quadro 3 – Trecho que demonstra o meio ambiente como recurso a ser gerenciado
Fonte: Questionário
Org.: Autores (2017).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1013


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Quanto a referência do meio ambiente relacionado a catástrofes e problemas ambientais


cinco estudantes registraram este entendimento em suas respostas e estão apresentadas de maneira
representativa no Quadro 4.

“-meio ambiente é o espaço onde vivemos, com a interação dos fatores climáticos, com a poluição
que existe hoje em dia, causando enchentes e fenômenos como a chuva ácida.‖(Aluno 13)
―- A meu ver meio ambiente é basicamente o lugar onde nós vivemos, interagimos e infelizmente
degradamos.‖(Aluno 30)
―- Vejo o meio ambiente como um conjunto de leis e fatores naturais e não naturais que compõem
um todo. Englobando as florestas, os seres vivos, a atmosfera, estruturas criadas pela humanidade
e os dejetos da sociedade que são liberados no ecossistema, essa atuação que consiste na poluição
da paisagem natural do ambiente, no meu ver, é o que torna o fator "não natural" parte do
conjunto.‖(Aluno 17)
Quadro 4 – Trecho que caracteriza o meio ambiente como problemas ambientais
Fonte: Questionário
Org.: Autores (2017).

Em relação a percepção do meio ambiente como algo que devemos conhecer e organizar,
considerando aspectos naturais e culturais, dois alunos apresentaram o predomínio desta ideia em
seu texto e estão apresentados no Quadro 5.

―-É o lugar onde vivemos, desde nossa casa até o lugar onde estudamos, e a cidade onde
vivemos.‖(Aluno 35)
―-É o local que abrange o lugar em que vivemos. Pode se constituir por normas que nos tornam parte
do meio, do qual damos as características de existência no ambiente de acordo com a nossa
constituição.‖(Aluno 5)
Quadro 5 – Trecho que caracteriza o meio ambiente como meio de vida.
Fonte: Questionário
Org.: Autores (2017).

Quanto a compreensão do meio ambiente como uma relação de continuidade de sistemas


integrados, que possibilita a vida no planeta, apenas cinco alunos apresentaram este entendimento,
sendo apresentadas de maneira representativa no Quadro 6.

―-O meio ambiente é o "lugar" que engloba os seres vivos como animais (homem, pássaros) e vegetais
(árvores, grama), e componentes não vivos (água e rochas). Ele engloba tudo que afeta o ecossistema da
Terra direta e indiretamente, tudo estando interligado.‖(Aluno 9)
―- É o conjunto de unidades ecológicas que funcionam como um sistema natural em uma relação de
interdependência.‖(Aluno 24)
Quadro 6 – Trecho que caracteriza o meio ambiente como sistema.
Fonte: Questionário
Org.: Autores (2017).

É interessante ressaltar que o restante dos estudantes apresentaram um entendimento de


meio ambiente como a totalidade de coisas existentes, conforme expresso no Quadro 7, e em sua
maioria assinalaram todas as palavras apresentadas no formulário justificando sua concepção.

―-Para mim o meio ambiente é onde nós vivemos junto ao resto das coisas vivas e não vivas na
Terra.‖(Aluno 20)
―- [...] então a meu ver, meio ambiente engloba tudo que nos rodeia, desde seres vivos e não vivos, assim
como suas relações e consequências.‖(Aluno 29)
― - Meio ambiente são todos os locais que nos cercam, e todos os seres que habitam nele e o resultado de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1014


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

sua interação.‖(Aluno 15)


Quadro 7 – Trecho que caracteriza o meio ambiente como a totalidade das coisas.
Fonte: Questionário
Org.: Autores (2017).

Como atividade final após apropriação dos novos conhecimentos foi proposto aos estudantes
que desenvolvessem uma pesquisa que buscasse identificar a percepção sobre meio ambiente de
docentes da comunidade escolar e a relação com decisões tomadas por estes. Desta maneira, após
longa discussão, foi decidido desenvolver uma pesquisa com os professores dos cursos da
instituição buscando decisões baseadas na concepção de meio ambiente, permitindo que os
estudantes refletissem sobre as práticas realizadas pelos professores da própria instituição.

CONSIDERAÇÕES

Com o desenvolvimento do presente trabalho foi possível identificar a concepção dos


estudantes de Licenciatura em Química e Ciências Biológicas sobre o tema meio ambiente de
maneira rápida e eficiente. Da mesma maneira foi possível realizar a problematização do tema
contribuindo para dinâmica proposta pelo professor, que buscava reconstruir o entendimento sobre
meio ambiente, visto que este é de grande importância para desenvolvimento de práticas ligadas a
Educação Ambiental.
Os resultados demonstram que há o predomínio das imagens representativas ―árvores‖,
―rios‖, ―mares‖, ―pássaros‖, ou seja, o entendimento de meio ambiente como ―natureza intocada‖
por todos os alunos, seguido de como ―recurso‖ (água, ar, solo, fauna, bosques), sendo que 16
alunos compreendem que estes são os únicos componentes do meio ambiente, e, apenas 10
estudantes compreendem o meio ambiente como a totalidade das representações (natureza, recurso,
problema, meio de vida, sistema, biosfera e projeto comunitário).
Assim, a atividade pedagógica possibilitou que o estudante aplicasse os novos
conhecimentos em uma atividade prática junto a professores do Campus, percebendo a importância
de verificar as concepções sobre meio ambiente da comunidade escolar bem como suas
consequências nas práticas cotidianas. Portanto, conseguiu-se sensibilizar os futuros professores
acerca de uma compreensão mais holística de meio ambiente e da complexidade da Educação
Ambiental, entendendo seu caráter contínuo e interdisciplinar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei n. 9795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre Educação Ambiental, Institui a política
Nacional de Educação e dá outras providencias. Brasília: Imprensa Oficial, 1999. Acesso em: 09
de mar. 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1015


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia científica. 4ª ed. São Paulo: Atlas., 2006. 305
p.

REIGOTA, M.A.S. O meio ambiente e suas representações no ensino em São Paulo, Brasil.
Uniambiente. Brasília, ano 2, 1, 27-30, 1991.

_______________. Meio Ambiente e Representação Social. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 2010, p. 12.

SAUVÉ, L. Envirnmental Education and Sustainable Development: A Further Appraisal. Canadial


Journal of Environmental Education, v. 1, p. 7-54, 1996.

SAUVÉ, L. et alii. La educación ambiental - una relación constructiva entre la escuela y la


comunidad. Montreal: Proyecto EDAMAZ, UQÁM, 2000.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1016


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ATLAS ESCOLAR AMBIENTAL DE PRESIDENTE


PRUDENTE/SP: CADÊ O(S) RIO(S)?

Nayara Rodrigues da SILVA


Graduanda do Curso de Geografia FCT/UNESP
nayara.rodriguees@gmail.com

Isabel Cristina MOROZ-CACCIA GOUVEIA33


Prof. Doutora do Departamento de Geografia FCT/UNESP
icmoroz@unesp.fct.br

João Osvaldo Rodrigues NUNES


Prof. Livre Docente do Departamento de Geografia FCT/UNESP
joaoosvaldo@fct.unesp.br

RESUMO
A produção do espaço urbano traz mudanças profundas ao meio ambiente, especialmente aos rios
e córregos em Presidente Prudente/SP não foi diferente ao longo da história do município. O
presente artigo visa apresentar o Atlas Escolar Ambiental, tais como seus procedimentos teóricos-
metodológicos, no qual podem contribuir para os processos de planejamento, gestão e educação
ambiental; através da abordagem de análise ambiental geográfica e uso de plataforma digital
online, visando apresentar especificamente a situação dos rios e córregos que correspondente ao
perímetro urbano.
Palavras-chave: Presidente Prudente, Atlas Ambiental Escolar, Rios.

ABSTRACT
The production of urban space brings profound changes to the environment, especially in rivers and
streams in Presidente Prudente/SP was not different throughout the history of the municipality. This
article aims to present the Environmental School Atlas, such as its theoretical-methodological
procedures can contribute to environmental planning, management and education processes;
through the geographic environmental analysis approach and use of online digital platform.
Keywords: Presidente Prudente, Envioronmental School Atlas, Rivers.

INTRODUÇÃO

O Atlas Ambiental Escolar de Presidente Prudente/SP foi desenvolvido em plataforma


digital online34 com o intuito de difundir e compilar as informações do município em diversas
áreas do conhecimento, desde o meio físico à dados relacionados ao socioeconômico, a fim de
contribuir para o planejamento, gestão e educação ambiental do município.
O Atlas Ambiental baseou-se na análise ambiental geográfica proposta por Ross (1995), no
qual tem como premissa realizar estudos relacionados ao meio natural e a sociedade, a fim de

33
Orientadora.
34
Para saber mais acesse: http://portaldoprofessor.fct.unesp.br:9000/

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1017


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

compreender a composição da paisagem e suas diferentes relações. De acordo com Nunes et al


(2016), realizou-se um levantamento e análise das características geológicas, relevo, solos, rede
fluvial, clima, vegetação, culturas, estrutura e malha urbana, histórico local e aspectos
socioeconômicos. Segundo Ross (1995):

―A pesquisa ambiental geográfica é fundamental para atingir adequados diagnósticos a


partir dos quais torna-se possível elaborar prognósticos. A pesquisa ambiental na
geografia tem como objetivo entender as relações das sociedades humanas coma natureza
dentro de uma perspectiva absolutamente dinâmica nos aspectos culturais, sociais,
econômicos e naturais. Por essa razão, a pesquisa ambiental de abordagem geográfica só
pode atingir a visão holística da realidade da sociedade objeto de análise, dentro da
perspectiva do seu passado (história), do seu presente (situação atual) e de sua tendência
para o futuro.‖ (ROSS,1995, p.66)

A fim de entender a composição da paisagem dentro da análise ambiental geográfica,


considerou- se o município de Presidente Prudente/SP como elemento a ser estudado. Nunes et al
(2016), apresenta a necessidade de uma abordagem sistêmica para análises ambientais integradas,
logo considera que o espaço urbano ou a porção da paisagem é um sistema, no qual possuí
diferentes componentes (subsistemas) que interagem de forma direta e indireta como o todo.
Segundo Nunes et al (2016):

―Para a elaboração do Atlas Ambiental, optou-se pelo procedimento


metodológico-operacional ―Multitemático‖, pois a demanda a produção de
diversos produtos cartográficos temáticos de características analíticas e de síntese.
Os produtos temáticos analíticos correspondem àqueles que tratam
setorizadamente de temas da natureza, abrangendo os campos disciplinares da
geologia, geomorfologia, pedologia, climatologia, recursos hídricos, fauna e flora
– e da sociedade, envolvendo temas da história da ocupação da área, da
demografia, condições de vida, uso da terra (...).‖ (NUNES et al, 2016, p.1071).

A figura 1 apresenta a estrutura de pesquisa e seus subsistemas para análise, no qual destaca-
se o subsistema Síntese Ambiental e Derivações Ambiental.
O subsistema destacado na figura 1 corresponde ao produto da síntese, no qual de acordo
com Nunes et al (2016) os conteúdos devem contemplar de forma integrada as informações
pesquisadas nos temas das disciplinas especializadas. Logo as ―Derivações Ambientais‖
correspondem a atual situação da paisagem. O presente trabalho visa apresentar especificamente a
situação dos rios e córregos correspondente ao perímetro urbano.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1018


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1: Estrutura de pesquisa em subsistemas. Fonte: http://portaldoprofessor.fct.unesp.br:9000/

BREVE HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE/SP.

O crescimento e o adensamento de áreas urbanas vêm provocando diferentes mudanças no


meio ambiental natural, tais como: aterramento de nascentes, impermeabilização dos solos, cortes e
aplainamentos de vertentes, retificações em rios e córregos. Muitas destas intervenções são
iniciativas de órgãos públicos e privados. E tais alterações perturbam diretamente a paisagem e a
dinâmica de bacias hidrográficas. Como consequência tem os chamados problemas ambientais e
urbanos, gerados pela degradação do meio ambiental em prol do ―desenvolvimento e progresso‖.
O presente trabalho tem como objetivo identificar o resultado de tais perturbações no
perímetro urbano do munícipio de Presidente Prudente/SP. O processo de ocupação da porção oeste
do Estado de São Paulo, também conhecido como Pontal do Paranapanema ou Sertão Paulista, teve
sua em meados do século XVIII. Através das frentes pioneiras, aquisição irregular de terras, cultura
cafeeira e principalmente devido à instalação da estrada de ferro. Em meados do século XIX, a
cultura cafeeira começou a tomar conta do oeste paulista e com a expansão desta cultura e sua
produção no Oeste, os fazendeiros tinham dificuldades em realizar o escoamento das safras
(ABREU, 1972). Com instalação da estrada de ferro, a Estrada de Ferro Alta Sorocabana,
solucionou o problema com o escoamento de mercadorias, estimulou o processo de ocupação e por
fim contribuiu para a criação de novas cidades.
Em 1917, o primeiro núcleo urbano de Presidente Prudente foi criado e logo em seguida, em
1919, a estação da Alta Sorocabana foi inaugurada, sobre o divisor de águas, que divide as bacias

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1019


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

hidrográficas dos rios Santo Anastácio e do Peixe. Mesmo divisor de águas que divide Fazenda
Pirapó – Santo Anastácio e a Fazenda Montalvão (ABREU, 1972). Após a consolidação do
primeiro núcleo urbano, Presidente Prudente se tornará município em 1924 e inicia o seu processo
de urbanização com a criação de loteamentos e arruamentos. A figura 2 apresenta a evolução da
malha urbana ao longo de 100 anos.

Figura 2: Expansão da Malha Urbana de Presidente Prudente. Fonte: Pedro & Nunes, (2012)

Bacias Hidrográficas são unidades naturais cujo elemento integrador está representado
através dos leitos fluviais ou canais de drenagens naturais, que são seus rios e córregos. A Bacia
Hidrográfica, possuí um rio principal e outros córregos e rios que são seus afluentes, ou seja, que
desaguam no rio principal. Logo a água tem como principal função na geomorfologia a
modificação, esculturação do relevo e transporte de sedimentos, portanto é capaz de transformar a
paisagem. Também cabe destacar a importância da preservação das Bacias Hidrográficas para a
utilização da água para uso doméstico, industrial e agrícola. Abaixo a figura 3 apresenta a
composição das bacias hidrográficas do município:

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1020


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

As sub-bacias que estão inseridas no perímetro urbano são as: Córrego do Veado, Ribeirão do Cedro,
Córrego do Limoeiro, Ribeirão do Mandaguari e Ribeirão Santo Anastácio.

E AGORA, CADÊ OS RIOS?

De acordo com Ross (1995), os recursos hídricos, principalmente as águas superficiais, tais
como rios, lagos, bem como as águas subterrâneas é um recurso natural que permeia todas as
atividades e necessidades humanas. A água é um elemento de necessita de atenção no planejamento
ambiental, pois sem dar-se a devida atenção as sociedades humanas estarão fadadas ao fracasso
devido o esgotamento do recurso.
Conforme apresentamos, Presidente Prudente expandiu o seu perímetro e malha urbana,
assim o número de loteamentos e arruamentos aumentou consideravelmente. Como consequência
da urbanização e crescimento da cidade os rios e córregos e demais morfologias originais foram

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1021


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

modificadas. Hoje podemos encontrar ―três tipos de rios‖, que são: canalização fechada,
canalização aberta e rios semipreservados (que possuem a morfologia original e/ou mata ciliar em
suas margens). E também corpos d‘água em forma de lagos, lagoas e açudes que veremos no quadro
1.

Quadro 1: Tipologia dos canais fluviais.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1022


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Podemos notar na figura 1, que a ocupação urbana em Presidente Prudente, inicialmente é restrita ao
topo aplainado do espigão, ou seja, próxima à estação ferroviária e se expandiu pelas áreas de nascentes,
exigindo a canalização de alguns trechos de córregos e rios.
Ao analisar as figura 1 e 2 fica evidente que a mancha urbana se espalhou ocupando e
modificando vários cursos d‘água, principalmente com o processo de canalização aberta e fechada
(tamponados) de vários córregos, como no caso da Bacia Hidrográfica Córrego do Veado,
localizada integralmente (nascentes e foz) no perímetro urbano. Na figura 3 será apresentada a atual
situação dos cursos d‘água.

Figura 3: Situação dos Rios e Córregos de Presidente Prudente/SP

A bacia hidrográfica do Córrego do Veado é um ótimo exemplo para ilustrar como a


ocupação territorial urbana de Presidente Prudente implicou em modificações na rede hidrográfica,
pois encontra-se totalmente inserida na área urbanizada.
Segundo Silva (2016), atualmente a bacia hidrográfica do Córrego do Veado possuí somente
9% de seus canais fluviais semi-preservados, ou seja, com pouca intervenção antrópica. Porém,
temos em torno de 63% de canais fechados (tamponados) e 28% de canais canalizados e retificados,
porém abertos (canalização aberta) (Gráfico 1). Tais perturbações nos canais fluviais geram o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1023


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

aumento do escoamento superficial e a sua rápida concentração em suas antigas planícies de


inundação (áreas que armazenam temporariamente as águas que extravasam do leito fluvial em
eventos de inundações).

Gráfico1: Situação dos canais fluviais da bacia hidrográfica do Córrego do Veado. Fonte: Silva (2016)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração do Atlas Ambiental Escolar do município de Presidente Prudente, tem como


premissa apresentar um conjunto de informações de caráter do meio físico, histórico,
socioeconômico e em especial as consequências (derivações ambientais) da urbanização sem
planejamento ao município.
Conforme apresentado no presente trabalho, os canais fluviais (rios e córregos) foram
cenários do início e da consolidação da urbanização Presidente Prudente e de inúmeras intervenções
em seu sistema hidrogeomorfológico, comprometendo seu comportamento hidrodinâmico.
Constatamos nos mapas de evolução da malha urbana, que praticamente toda a bacia hidrográfica
do Córrego do Veado apresentou intervenções antrópicas. Ainda que no perímetro urbano tenhamos
um grande número de rios e córregos considerados semi-preservados, os mesmos apresentam
problemas sérios de degradação de suas morfologias e de qualidade das águas.
Ao analisar as ―derivações ambientais‖ e a tipologia dos canais fluviais conseguimos
compreender a necessidade de olhar o passado para compreender o presente e pensar no futuro, pois
a partir das informações obtidas e da correlação de morfologias originais e morfologias
antropogênicas pudemos compreender que nem sempre eventos ―naturais‖ como inundações são
consequência exclusiva de fatores naturais. Podemos observar que em muitos casos, os eventos
naturais são agravados pelas ações antrópicas.
Também compreende-se a necessidade da divulgação das informações desenvolvidas
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1024
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

através do Atlas Escolar Ambiental como forma de comunicação entre os munícipes e como modelo
para o desenvolvimento de outros Atlas com a mesma função pedagógica e científica.

AGRADECIMENTOS
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e aos organizadores
do V Congresso Nacional de Educação Ambiental e VII Encontro Nordestino de Biogeografia.

REFERÊNCIAS

ABREU, D. S. Formação histórica de uma cidade pioneira Paulista: Presidente Prudente.


Presidente Prudente/SP: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente
(FFCLPP), Presidente Prudente, 1972.

NUNES, J. O. R; MELAZZO, E. S; SAMIZAVA, T. M; MOROZ-CACCIA GOUVEIA, I. C.;


GOUVEIA, J. M. C. A importância do Atlas Ambiental como instrumento de comunicação de
riscos para população da cidade de Presidente Prudente, São Paulo, Brasil. In: Internacional
Conference of Urban Risks. Lisboa, Portugal, 2016. v. 1. p. 1051-1058.

NUNES, J. O. R.; FUSHIMI, M. Principais classes de solos do município de Presidente Prudente-


SP: Identificação e caracterização. Revista Boletim Goiano de Geografia, Goiânia, v. 32, n. 1,
2012.

NUNES, J. O. R. Uma contribuição metodológica ao estudo da dinâmica da paisagem aplicada a


escolha de áreas para construção de aterro sanitário em Presidente Prudente. Presidente
Prudente, 2002. 211 p. Tese (Doutorado em Geografia com ênfase em Desenvolvimento
Regional e Planejamento Ambiental) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade
Estadual Paulista.

PEDRO-MIYAZAKI, L. C. Dinâmicas de apropriação e ocupação em diferentes formas de relevo:


Análise dos Impactos e da Vulnerabilidade nas cidades de Presidente Prudente/SP e Marília/SP.
Tese de Doutorado, Presidente Prudente: FCT/UNESP, 2014.

PEDRO, L. C. Ambiente e apropriação dos compartimentos geomorfológicos do conjunto


habitacional Jardim Humberto Salvador e do Condominio fechado Dahma – Presidente
Prudente. Dissertação de mestrado, Universidade Estadual Paulista, UNESP/FCT, Presidente
Prudente, 2008

Ross, J. L. S. (1994) Análise empírica da fragilidade dos ambientes antropizados. Revista do


Departamento de Geografia. São Paulo: FFLCH/USP, n. 8, p. 63-74.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1025


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Ross, J. L. S. (1995) Análises e Sinteses na Abordagem Geográfica do Planejamento Ambiental.


Revista do Departamento de Geografia (USP), São Paulo, v. 09.

SILVA, N. R. da. Mudanças Hidrogeomorfológicas decorrentes da Urbanização na Bacia


Hidrográfica do Córrego do Veado, no perímetro urbano do município de Presidente
Prudente/SP, Relatório Final de Pesquisa em nível de Iniciação Científica (IC), Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Processo: 2015/06175-2, UNESP,
Presidente Prudente, 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1026


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A PERCEPÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE PARA A


EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UBERLÂNDIA / MG

Paulo Henrique Silva de AMORIM


Graduando do curso de Geografia – UFU
paulohamr@gmail.com
Beatriz Ribeiro SOARES
Professora Titular do curso de Geografia UFU
brsoares@ufu.br

RESUMO
Estudos que abordam a temática da percepção humana vêm sendo utilizados na área ambiental
como instrumento de compreensão, de modo a contribuir como percebemos a natureza nos dias
atuais e como estes podem ajudar na forma como que nos relacionamos com a mesma. Nesse
contexto, o presente trabalho teve como objetivo realizar um diagnóstico da percepção ambiental de
moradores de dois bairros de Uberlândia, interior do Estado de Minas Gerais. A pesquisa teve um
total de 210 entrevistados, dos períodos matutino e vespertino. O método adotado consistiu na
elaboração de um questionário estruturado com questões discursivas e objetivas, através do qual
procurou-se identificar quais as percepções ambientais eram reveladas pelos moradores
investigados. O objeto principal de estudo refere-se aos bairros Fundinho e Centro, ambos
localizados na zona urbana central da cidade. No geral, verificou-se a importância da criação de
programas de Educação Ambiental visando ressaltar a importância da arborização nos centros
urbanos face às consequências que as variáveis do clima ocasionam na percepção dos moradores
dos bairros tratados na pesquisa.
Palavras-Chave: Percepção Ambiental; Educação Ambiental; Uberlândia – MG.
RESUMÉ
Les études qui portent sur le thème de la perception humaine sont été utilisés dans le domaine de
l‘environnement comme instrument de compréhension, afin de contribuer comme nous pouvons
comprendre la nature actuellement et comment ces outils peut aider de la façon que nous relions à la
même. Dans ce contexte, le présent travail visait à réaliser comme objectif d‘effectuer un diagnostic
de la sensibilisation à l‘environnement et la conscience environnementale des habitants de deux
quartiers d‘Uberlândia, état du Minas Gerais. L‘enquête avait un total de 210 répondants, qui a été
faite pendant le matin et l'après-midi. La méthode retenue a été l‘élaboration d‘un questionnaire
structuré avec des questions objectives et discursive, à travers laquelle il a cherché à identifier les
perceptions environnementales ont été révélées par les résidents étudiée. L‘objet principal de
l‘étude sont les quartiers Fundinho et Centro (Centre), les deux situé dans la zone urbaine centrale
dans la ville. En général, il a été constaté l‘importance des programmes d‘éducation à
l‘environnement visant à souligner l‘importance de boisement dans les centres urbains, en face aux
conséquences qui causent des variables climatiques peut provoquent sur la perception des habitants
des quartiers couverts dans la recherche.
Mots-Clés: Perception de L'environnement; L'éducation Environnementale; Uberlândia – MG.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1027


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

A urbanização desordenada do espaço urbano vem passando por um processo de expansão


constante, que ocasiona num planejamento urbano inadequado e envolve fatores como aumento da
densidade populacional, exclusão social, falta de saneamento básico, além de vários tipos de
impactos ambientais. Tal urbanização tem como uma de suas marcas principais a retirada das
espécies vegetais e sua transformação e ocupação em espaços urbanos.
Segundo Zinkoski e Loboda (2005), os problemas marcantes do desenvolvimento pouco
harmonioso entre a cidade e a natureza são facilmente percebidos nos centros urbanos, como a
substituição de valores naturais por concreto, edificações, poluição, etc. Para os autores, esse elo
conflituoso entre homem e natureza é reflexo direto das fragilidades ambientais, cujos resultados
negativos ocasionam na degeneração do meio ambiente, gerando condições desconfortáveis para a
sobrevivência do indivíduo.
Como consequência do processo de ocupação nas cidades, são formadas ilhas de calor que
dizem respeito à elevação da temperatura média nas zonas centrais da mancha urbana. Nesse
processo, o clima deve ser considerado como agente térmico da cidade, em que às vezes é ignorado
pelos gestores do planejamento urbano. Essas características da atmosfera local refletem
diretamente no bem-estar do indivíduo ali presente. Assim, como a percepção se vincula de forma
direta com o ambiente, apreendido como decorrência da interação da sociedade com a natureza, as
condições do meio natural só possuem importância para o homem quando começam a ser
percebidas por ele ou quando influenciam o seu bem-estar e o seu modo de vida.
Em particular, a cidade de Uberlândia, atualmente com população estimada na faixa de
669.672 mil habitantes (IBGE, 2016), possui uma secretaria de planejamento urbano, na qual são
elaborados projetos voltados para o gerenciamento do município. Todavia, nesse processo de
planejamento e gestão do espaço urbano, muitas vezes são desconsideradas medidas efetivas que
visam estabelecer uma taxa de arborização urbana ideal, fundamental para melhoria da qualidade de
vida dos habitantes. Os estudos de Colesanti (1995), procuram identificar essa relação contraditória
entre a presença do órgão de planejamento e a falta de arborização urbana, sobretudo ao afirmar que
―Uberlândia enfrenta há muitos anos sérios problemas na gestão e execução da arborização urbana,
sendo hoje uma cidade mal arborizada, principalmente nos grandes centros‖. Existem poucas
árvores e grande parte delas está mutilada por podas incorretas. A cidade também enfrenta o
problema da pouca diversidade arbórea.
Estudos realizados por Mendes e Colensanti (2013), mostraram que, em alguns bairros de
Uberlândia, mais da metade das árvores pertencem a uma única espécie, o que pode ocasionar na
falta de opção alimentar para a fauna, contribuindo para que doenças e pragas se espalhem
rapidamente entre as árvores. Com isso, deve-se salientar que nos planejamentos desenvolvidos pela
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1028
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

prefeitura, não são contemplados delineamentos voltados à questão ambiental e consequentemente


ao bem-estar do indivíduo no meio urbano. Desta forma, torna-se necessário compreender que o ato
de preservar o ambiente no qual estes sujeitos se inserem, cabe não exclusivamente ao Estado,
como também a participação da sociedade civil organizada, defendendo interesses comuns no
sentido de protegê-lo e preservá-lo.
Neste sentido, o trabalho aborda uma pesquisa cujo objetivo é diagnosticar a percepção
ambiental dos moradores dos bairros Fundinho e Centro, ambos localizados no Setor Central de
Uberlândia, analisando as opiniões desta frente às variações climáticas, que naturalmente ocorrem,
tendo em vista a relevância da compreensão das inter-relações entre o homem e o ambiente no qual
estão inseridos às alterações do clima local. Dessa forma, o exposto se justifica em razão da
importância da percepção ambiental dos sujeitos para a construção de alternativas que
contribuam ao planejamento urbano, tendo como instrumento a Educação Ambiental.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O município de Uberlândia, recorte espacial de análise deste trabalho, tem área urbana com
extensão territorial de 4.116km², que abriga 86 bairros, conforme ilustrado na Figura 1.

Figura 1: Localização do Setor Central da Área Urbana de Uberlândia - MG

Elaboração: AMORIM, P.H.S, 2017.

É considerado o segundo município mais populoso do Estado de Minas Gerais, depois da


capital, Belo Horizonte. A população estimada em 2016 pelo IBGE foi de 669.672 habitantes,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1029


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

resultando na densidade demográfica de 162,73 hab./km². O Índice de Desenvolvimento Humano


Municipal (IDH-M) em 2016 foi de 0,789, considerado pelo PNUD como município de alto
desenvolvimento humano, ocupando a terceira posição do Estado e a 71ª do Brasil.
O estudo em tela centrou-se nos bairros Fundinho e Centro (Figura 1), inseridos no setor
central do município de Uberlândia – MG. Segundo dados da Prefeitura Municipal, possui uma área
de aproximadamente de 0,38km² e 1,38km², respectivamente, e uma população estimada em 2.732
(Fundinho) e 7.262 habitantes (Centro). Foram escolhidos propositalmente face a caracterização de
uma área de grande aglomeração comercial e residencial, resultado das transformações urbanas e
econômicas ocorridas nas últimas décadas. Esses bairros estão acolhidos no setor central da cidade
e, portanto, são altamente urbanizados, com grande presença de concreto dos edifícios residenciais e
comerciais e asfalto, os quais são responsáveis pela alta absorção de radiação solar gerando altos
picos de intensidade com a formação de ilhas de calor, provocando vários problemas na qualidade
de vida dos moradores ali presentes.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia adotada para a elaboração do trabalho baseou-se na utilização da técnica


exploratória, com a aplicação de questionário aos moradores dos bairros selecionados. Durante as
entrevistas os moradores puderam responder não apenas às questões que lhes foram perguntadas,
mas também apresentar-se com assuntos que lhes deram a oportunidade de refletir acerca de suas
atitudes e de seus julgamentos face à percepção ambiental.
Deste modo, o trabalho tomou como análise uma abordagem qualitativa, embasando-se nos
depoimentos e falas dos entrevistados. Para que a análise obtivesse êxito, elaborou-se um roteiro de
entrevista, que foi aplicado junto a 210 (duzentos e dez) moradores, tomando como base o ―critério
de saturação‖ (SÁ, 1998). Tal critério condicionou a quantidade de entrevistados, visto que a partir
do momento em que as respostas fornecidas pelos moradores começavam a se repetir, viu-se a
necessidade de parar, pois um maior número de sujeitos pouco acrescentaria de significativo ao
conteúdo da percepção ambiental em análise.
Os questionários foram aplicados entre os meses de fevereiro e abril de 2017 apenas em
residências (excluindo-se os comércios). O número de casas participantes foi definido, a partir do
cálculo de 10%, do total de moradias existentes em cada rua analisada, sendo entrevistado somente
um morador por residência. Ou seja, para cada 20 (vinte) numa rua, entrevistavam-se 2 (duas)
casas. O critério de escolha dos indivíduos convidados a participar da pesquisa foi, essencialmente,
terem idade mínima de 18 anos. Foi indispensável que os entrevistados fossem moradores das áreas
avaliadas. Os participantes foram, portanto, identificados e classificados por sexo, faixa etária e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1030


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

nível de escolaridade, para, posteriormente, responderem o questionário e facilitar a tabulação dos


dados.
Além disso, procurou-se avaliar a percepção destes quanto ao nível de satisfação na
configuração de alternativas que contribuam ao planejamento urbano, tendo como instrumento de
análise a Educação Ambiental. O público alvo participante da pesquisa teve inicialmente uma
breve apresentação e somente depois de terem ouvido sobre do que se trata o questionário, que
puderam sentir-se à vontade para responder as perguntas. Finalmente, os dados obtidos foram
inseridos em um banco de dados construído no software Microsoft Office Excel 7.6 e, em seguida,
processados para a análise dos resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com as pesquisas à unidade do IBGE para o ano de 2010, a cidade de


Uberlândia/MG, contabilizava um total de 1.433 residências35 no Centro (120 entrevistados) e 683
residências no Fundinho (90 entrevistados). Desta forma, ao todo, 210 pessoas participaram da
pesquisa.
No que tange ao perfil da população participante, a maioria dos entrevistados, nos dois
bairros em análise, era do sexo feminino, destacando-se o bairro Fundinho, com 70% de mulheres
respondendo ao questionário, enquanto os 30% restantes eram homens. A faixa etária que
predominou entre os indivíduos dos dois bairros foi superior a 50 anos, enquanto a minoria
correspondeu àqueles com idade entre 18 e 20 anos, conforme ilustrado a seguir. (Tabela 1)

Tabela 1: Perfil dos moradores nos bairros analisados em Uberlândia – MG.


SEXO FAIXA ETÁRIA
BAIRROS Masculino Feminino 18 e 20 21 e 31 31 e 49 >= 50
Nº % Nº % N° % N° % N° % N° %
Fundinho 27 30% 63 70% 9 10% 17 18,8% 29 32,2% 35 38,8%

Centro 54 45% 66 55% 15 12,5% 34 28,3% 38 31,6% 33 27,5%

TOTAL 81 37,5% 129 62,5% 24 11,4% 51 24,2% 67 31,9% 68 32,4%


Elaboração: AMORIM, P.H.S, 2017.

Além do exposto, viu-se que o maior número de participantes dos dois bairros avaliados
possuía o ensino médio completo, conforme ilustrado na Tabela 2. O motivo da maior parte dos
entrevistados possuírem o Ensino Médio Completo (EMC) justifica-se em razão do Fundinho e do
Centro serem tidos como bairros mais antigos da área central, cuja valorização da condição
socioeconômica permeia com maior ascensão. Desta forma, observa-se que a atenção de antigos

35
Com base nos dados disponibilizados pelo IBGE para o ano de 2010, ressalta-se que a quantidade de domicílios
apresentados no trabalho contempla tanto casas quanto apartamentos de prédios.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1031


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

gestores sempre priorizou a manutenção de políticas públicas nos dois bairros, com escolas bem-
conceituadas, praças em processos contínuos de revitalização e um notório desenvolvimento em
relação ao comércio e aos serviços, com a instalação de restaurantes e lojas dentro de seus limites.
Tais políticas públicas também devem ser analisadas de forma comparativa a outros bairros
mais distantes, diferentes dos que estão inseridos na zona central, com centenas e milhares de
famílias, desguarnecidos de infraestrutura e na maioria das vezes bastante precária.

Tabela 2: Escolaridade dos entrevistados nos dois bairros analisados em Uberlândia – MG.
Fundinho Centro
ESCOLARIDADE
N° % N° %
Ensino Fundamental Completo (EFC) 14 15,5% 29 24,2%
Ensino Médio Completo (EMC) 56 62,3% 68 56,6%
Ensino Superior Completo (ESC) 20 22,2% 23 19,2%
TOTAL 90 100% 120 100%
Elaboração: AMORIM, P.H.S, 2017.

A maioria da população entrevistada reside nos dois bairros há mais de cinco anos, fato que
reforça o nível de veracidade da entrevista com os moradores dos bairros analisados. Além disso,
perguntou-se aos entrevistados em relação a quantidade de pessoas que moram no mesmo
domicílio. O resultado no Fundinho foi de 3 (três) pessoas para cada domicílio, enquanto no Centro
a média foi de 5 (cinco) pessoas.
Ainda de acordo com a média do perfil dos moradores, verificou-se que existe uma relação
dialética entre a pesquisa e a realidade presente nos bairros, uma vez que a média da população
tanto do Fundinho quanto do Centro está muito próxima dos dados oficiais disponibilizados pela
Secretaria Municipal de Planejamento Urbano para o ano de 2010.

Percepção da População

Por meio da aplicação do questionário aos moradores, analisou-se que a população, de modo
geral, expressa-se positivamente em relação a arborização urbana. Isso porque, ao serem
questionados se gostavam ou não de ruas arborizadas, observou-se o predomínio de respostas
positivas.
No caso do bairro Fundinho (Figura 2), grande maioria dos participantes (94%) responderam
como positiva a presença de árvores nas praças e calçadas, demonstrando desta maneira que os
moradores percebem a questão ambiental como sendo um dos elementos mais importantes a
compor a ―rua ou o bairro‖ desejado por eles. Ou seja, observa-se que são inúmeros os benefícios
que a arborização contribui no ambiente urbano, de forma abundante, colorida – remetendo-se à

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1032


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

flora –, bem tratada, sendo que grande maioria dos entrevistados demonstraram o desejo de que
existam espécies frutíferas nas ruas.
No entanto, ressalta-se que em 6% dos casos, foi possível verificar que alguns moradores
argumentavam como desnecessária a presença excessiva de árvores em razão da ocorrência
constante de ―sujeira‖ provocada pela queda de folhas, a interferência na rede elétrica e o
entupimento de bueiros/calhas, prejudicando a circulação de pessoas e automóveis em dias de
chuva. A partir dessas constatações, percebe-se que essas respostas refletem a pouca informação da
população em relação à arborização, uma vez que esses moradores basearam suas respostas apenas
quando analisam um restrito ponto de vista, desmerecendo os benefícios que a intervenção do
plantio de árvores poderá contribuir no meio urbano como um todo.

Figura 2: Praça Coronel Carneiro. Bairro: Fundinho Figura 3: Praça Tubal Vilela. Bairro: Centro
Fonte: LUZZ, Douglas, 2016. Fonte: LUZZ, Douglas, 2016.

Esses hábitos e comportamentos são culturais, podendo modificar-se com o tempo, de


acordo com os valores e ensinamentos adquiridos pelas futuras gerações de indivíduos dotados de
interesses em melhorar cada vez mais o espaço urbano em que vivem. Preencher essas gerações
com valores mais solidários, respeitosos e afetuosos para com as árvores, por valores menos
egocêntricos e mais coletivos, cujo esforço e o abandono singular resultam na criação de satisfação
do interesse em grupo, é uma das principais alternativas a serem empregadas em intervenções e
atividades educativas.
Após a fixação e observação dos questionários com os problemas que as árvores trazem a
uma pequena parcela de moradores do Fundinho, foram discutidas alternativas face aos problemas
relatados, explorando possíveis soluções e formas que sirvam de instrumento de análise para a
Educação Ambiental. Somente depois de instruí-los sobre os vários benefícios que a arborização
urbana possui que houve uma manifestação em reconsiderar as questões e problemas levantados,
sendo apontadas inúmeras soluções que não implicariam no corte das árvores.
Já no Centro (Figura 3), quando perguntados sobre a arborização 100% dos moradores
disseram gostar da presença de árvores nas ruas do bairro. No entanto, alguns participantes não

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1033


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

conseguiram justificar a importância da árvore mesmo sendo a favor dela. Entre os depoimentos, a
maioria disse gostar da arborização, demonstrando entender a contribuição positiva que a árvore
reproduz na qualidade de vida das pessoas, integrando a paisagem com aproximação da natureza,
redução da incidência solar resultando em sombreamento e em uma menor temperatura,
apresentando desta maneira suas percepções ambientais em relação ao meio que estão inseridos.
Ao serem questionados acerca da instituição que deveria se responsabilizar pelo
encaminhamento e diretrizes voltados ao planejamento urbano, visando o plantio direto de árvores
nas vias públicas dos bairros, grande parte dos entrevistados deu sua opinião, justificando não ter
discernimento em relação a resposta correta, conforme ilustrado a seguir (Figura 4).

Figura 4: Opinião das pessoas frente a responsabilidade do planejamento urbano em relação às árvores
90% 86%
80%
Percentual dos entrevistados

80%
70%
60%
50%
40%
30%
20% 12%
8% 8% 6%
10%
0%
Fundinho Centro

Prefeitura CEMIG Não soube responder

Elaboração: AMORIM, P.H.S, 2017.

De acordo com os moradores, a instituição/órgão que deveria se responsabilizar pelo


planejamento urbano – na contramão da problemática ambiental –, ampliando a plantação de
árvores é de maior grau da prefeitura. No Fundinho e no Centro, os percentuais apontam a
responsabilidade para 80% e 86% em relação à prefeitura, respectivamente. Um fato curioso é que
uma pequena parcela dos entrevistados afirmou pertencer à CEMIG (Companhia Energética de
Minas Gerais) a responsabilidade de zelar pela iniciativa de plantar e preservar árvores, em razão da
manutenção recorrente dos fios elétricos nas ruas dos bairros.
Silva et. al (2007) aponta que o desconhecimento dos moradores sobre o(a) responsável pela
arborização na cidade é um problema refletido na paisagem. A função do responsável repercute nos
moradores pela instrução do manejo adequado e também na aplicação da sanção aos infratores.
Dado o conhecimento da responsabilidade da prefeitura, verifica-se a iniciativa por parte dos
moradores em direção as companhias de energia elétrica, como a CEMIG, por exemplo, visando
resolver questões pertinentes à arborização na cidade.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1034


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Por último, o trabalho buscou identificar as opiniões dos entrevistados em relação a


possíveis sugestões para a melhoria da arborização nas vias e ruas do Fundinho e do Centro, já que
como demonstra Emer e Corona (2013) ―o resgate da consciência e dos valores humanos frente aos
problemas ambientais da cidade pode se caracterizar como o ponto de partida para um
desenvolvimento mais sustentável em todas as esferas‖. Sob esse viés, tem-se o trabalho coletivo
que, quando bem planejado, tem muito a oferecer, uma vez que a partir da percepção os moradores,
os quais possuem grande capacidade de compreender a realidade que estão inseridos, propondo
sugestões e estratégias para amenizar a problemática ambiental dos dois bairros.

Figura 5: Sugestões de melhorias apontadas pelos moradores para a promoção de arborização.


45% 41%
39%
40%
35% 33%
30%
30%
25%
20% 20%
20%
15% 11%
10% 6%
5%
0%
Fundinho Centro
Plantar mais árvores Programas de Educação Ambiental Manutenção e podas adequadas Outras formas

Elaboração: AMORIM, P.H.S, 2017.

Conforme ilustrado na Figura 5, observa-se algumas sugestões apontadas por parte dos
moradores dos dois bairros analisados no trabalho. Dentre as sugestões, destaca-se a promoção de
Programas de Educação Ambiental a fim de construir valores sociais, novos hábitos e costumes,
contribuindo na formação de cidadãos conscientes. Ressalta-se também que em nenhum momento
houve a instigação ou influência para que os moradores escolhessem uma determinada opção. Em
contrapartida, viu-se que grande maioria questionava sobre o que significava o termo ―Educação
Ambiental‖.
Após explica-los detalhadamente sobre o termo, muitos perceberam que a pesquisa tinha um
viés deliberativo, que talvez viria a ter uma iniciativa por parte de órgãos municipais e/ou federais,
como o caso da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e assinalavam a opção como tentativa
de resolver o problema com maior agilidade.
Outra sugestão bastante expressiva na Figura 5, foi a necessidade do plantio de árvores nos
dois bairros. Logo, avaliamos como positivo o reconhecimento dos moradores na promoção de
maior arborização. No entanto, aproveitamos o ensejo para explicar que não basta apenas a
iniciativa dos moradores, mas também a ação do Estado em suas diversas instâncias, a fim de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1035


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

atribuir políticas públicas consistentes no campo urbanístico, evitando justamente os problemas


comuns que ocorrem hoje nas grandes cidades. Além disso, ressaltamos a necessidade de um
planejamento prévio, de modo que as árvores sejam alocadas em espaços de forma organizada,
como por exemplo parques públicos, para que não sirvam de objetos em espaços dispersos na malha
urbana e que possam oferecer riscos à segurança pública.
Alguns argumentaram a importância da atuação de órgãos ambientais da prefeitura a fim de
controlar pragas e insetos que comumente aparecem nos períodos de primavera e de verão. Outros,
propuseram a iniciativa pessoal de irrigar as plantas para que estas se desenvolvam nos períodos de
estiagem, particularmente no inverno. E mais uma vez, afirmamos como positiva a iniciativa dos
moradores, porém, também ressaltamos que grande parte da responsabilidade da preservação,
revitalização e plantio das árvores cabe ao poder público, atribuindo políticas municipais seguidas
de ações não apenas no Fundinho e no Centro, mas também em demais bairros da cidade, para que
todos alcancem a possibilidade de gerar condições mais confortáveis para a melhor qualidade de
vida e bem-estar dos indivíduos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados levantados, observa-se que, em geral, os moradores dos dois bairros
analisados, Fundinho e Centro, respectivamente, compreendem a importância da arborização no
meio urbano e seus benefícios à qualidade de vida. Além disso, foi possível perceber que entre os
entrevistados, houve a proposição de iniciativa a fim de atribuir novos hábitos e posturas de modo a
preservar o meio ao qual estão inseridos. No entanto, embora tenham sido verificadas algumas
respostas contraditórias que, em sua maioria, podem ser explicadas em razão da pouca informação.
Cabe ressaltar também que os resultados da pesquisa só puderam ser reconhecidos a partir
da percepção ambiental. Esse diagnóstico gerado por meio desta pesquisa, oferece um suporte para
ações de proposições ao setor público relacionado à gestão ambiental. Tal instrumento analítico,
reforça a possibilidade de obter informações de grande importância, o qual advém de vivências
diretas do cotidiano dos moradores ali presentes, ou seja, são ações públicas que podem estar
diretamente relacionadas com os anseios da população.
A evidência de que há uma iniciativa – mesmo que pequena – da população entrevistada em
participar de projetos e atividades de proteção e preservação das árvores urbanas, reflete
diretamente na preposição de planos de gestão comunitária. Tal iniciativa certamente alcançaria um
viés coletivo, visto que aos poucos o trabalho conjunto tende a propiciar um maior envolvimento e,
desta maneira, a população teria uma quantidade e qualidade maior das áreas verdes nos dois
bairros.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1036


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Portanto, pensar numa Educação Ambiental que elucide possíveis mudanças, é pensar que
esta educação deve alcançar, prioritariamente, àqueles que deveriam se responsabilizar de forma
técnica e política, ou seja, os órgãos de planejamento e gestão territorial. No entanto, o processo de
Educação Ambiental deve trabalhar juntamente com os atores sociais locais na amenização e
resolução do problema posto. A realização da pesquisa sob a ótica da percepção ambiental é um
diagnóstico que antecede uma possível intervenção sob o viés da Educação Ambiental, a qual são
estabelecidas proposições para a constituição de cidades saudáveis e de melhor qualidade de vida de
seus habitantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COLESANTI, M. T. M. Por uma educação ambiental: o Parque do Sabiá, em Uberlândia – MG.


1994. 175p. Tese (Doutorado em Geografia) – UNESP, Rio Claro, 1994.

EMER, A.A; CORONA, H.M.P. Percepção Ambiental: uma ferramenta para discutir o ambiente
urbano. In: Revista Científica ANAP Brasil, v. 6, n. 7, jul. 2013, pág. 105-121.

IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por


Amostra de Domicílios. Brasil: IBGE, 2010.

_____. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por


Amostra de Domicílios. Brasil: IBGE, 2016.

LUZZ, D. Fotos Aéreas: Douglas Luzz Fotografia. www.douglasluzz.46graus.com. Disponível em:


<https://douglasluzz.46graus.com/para-empresas-1/fotos-aereas/>. Acessado em: 22/08/2017.

MELLAZO, G. C. A percepção ambiental e educação ambiental: uma reflexão sobre as relações


interpessoais e ambientais no espaço urbano. In: Olhares & Trilhas, Uberlândia, n. 6, p. 45-51,
2005.

MENDES, P. C.; COLESANTI, M. T. M. Clima Urbano: uma análise da variação térmica e


higrométrica na cidade de Uberlândia-MG. 2013. In: XI Semana da Geografia – Universidade
Federal de Uberlândia, 2013.

SÁ, Celso Pereira de. A construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de
Janeiro: Eduerj, 1998.

SILVA, L. F.; FILIK, A. V.; LIMA, A. M. L. P.; SILVA FILHO, D. F. Participação comunitária
no planejamento viário de alguns bairros da cidade de Americana – SP. In: Revista da
Sociedade Brasileira de Arborização Urbana. Piracicaba, SP: v. 2, n. 3, p. 47-62. 2007.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1037


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ZINKOSKI, A.E.; LOBODA, C.R. 2005. Arborização: uma percepção do espaço urbano na área
central de Guarapuava, PR. In: VII COLOQUIO INTERNACIONAL DE GEOCRÍTICA.
Anais. Santiago de Chile: Instituto de Geografia – Pontifica Universidade Católica de Chile,
2005.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1038


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A RACIONALIDADE DE DOMINAÇÃO E A NECESSIDADE DE UMA NOVA ÉTICA:


ANÁLISE E PERSPECTIVAS A PARTIR DE TRÊS LADEIRAS, IGARASSU - PE

Ricardo Pinho SOUTO


Professor de filosofia no Centro de Tecnologia e Ciências Humanas da UNICAP
ricardopinho11@hotmail.com
Thais Maiara Nascimento de SOUSA
Graduanda em Gestão Ambiental pelo IFPE e Bacharela em Ciências Biológicas pela UNICAP
thais-mns@hotmail.com

RESUMO
A principal característica de uma sociedade que tem como base o lucro e o crescimento ilimitado é
o poder-dominação. Este firmou-se histórico-socialmente através da tecnologia, sendo esta a forma
primordial de relacionamento com a natureza. Esta atitude faz com que se rompa com a
solidariedade básica da interdependência e coloca os seres humanos numa posição de soberania em
relação aos outros seres. Este trabalho busca, portanto, provocar a reflexão quanto às bases do
pensamento que rege a sociedade atual em detrimento à preservação efetiva da natureza e a
necessidade de uma nova ética. Na revisão bibliográfica, autores como Luiz Marques (2015),
Leonardo Boff (2008, 2009, 2015), Enrique Leff (2009) e Hans Jonas (2006) foram priorizados
devido suas influências em reflexões éticas quanto ao assunto proposto. Também foram utilizados
trabalhos publicados em revistas. As análises foram feitas em função do cenário presente no Distrito
de Três Ladeiras, baseado em uma breve análise comparativa entre o cenário descrito por Freyre
(2004) e o atual, sendo esta uma obra clássica de ecologia do Nordeste e que contém ricos relatos
ambientais desde os tempos da colonização. Tornou-se evidente a contradição ética estabelecida
entre a origem e manutenção do pensamento humano, baseado no crescimento econômico, e sua
relação com os povos e o meio ambiente. Conclui-se, portanto, que uma sociedade, fundada em
uma racionalidade de domínio e exploração, está fadada ao fracasso, pois, além de explorar seu
povo, esgota os recursos naturais, ferindo os direitos básicos e a soberania dos seres humanos e não-
humanos, e impossibilita a permanência da vida na forma como a conhecemos hoje.
Palavras Chave: Democracia ecológico-social, Racionalidade ambiental, Progresso.
RESUMÉN
La principal característica de una sociedad que tiene como base el lucro y el crecimiento ilimitado
es el poder-dominación. Este se ha firmado histórico-socialmente a través de la tecnología, siendo
ésta la forma primordial de relación con la naturaleza.Esta actitud hace que se rompa con la
solidaridad básica de la interdependencia y coloca a los seres humanos en una posición de soberanía
en relación a los demás seres que dispone de los recursos que están a su alrededor. Este trabajo
busca, por lo tanto, provocar la reflexión en cuanto a las bases del pensamiento que rige a la
sociedad actual en detrimento de la preservación efectiva de la naturaleza y la necesidad de una
nueva ética. En la revisión bibliográfica, autores como Luiz Marques, Leonardo Boff, Enrique Leff
y Hans Jonas fueron priorizados debido a sus influencias en reflexiones éticas en cuanto al tema
propuesto. También se utilizaron trabajos publicados en revistas. Los análisis se realizaron en
función del escenario presente en el Distrito de Tres Laderas, basado en un breve análisis
comparativo entre el escenario descrito por Freyre (2004) y el actual, siendo esta una obra clásica
de ecología del Nordeste y que contiene ricos relatos ambientales desde los tiempos de la
colonización. Se hizo evidente la contradicción ética establecida entre el origen y el mantenimiento
del pensamiento humano, basado en el crecimiento económico, y su relación con los pueblos y el

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1039


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

medio ambiente. Se concluye, por lo tanto, que una sociedad, fundada en una racionalidad de
dominio y explotación, está condenada al fracaso, pues, además de explotar su pueblo, agota los
recursos naturales, hiriendo los derechos básicos y la soberanía de los seres humanos y no-humanos,
e imposibilita la permanencia de la vida en la forma en que la conocemos hoy.
Palabras Clave: Democracia ecológico-social, Racionalismo ambiental, Progreso.

INTRODUÇÃO

A crise ambiental que permeia a sociedade atual tem favorecido sérias implicações à
humanidade e aos outros seres. A destruição do equilíbrio ecológico do planeta tem se dado por
ações direta ou indiretamente antrópicas, causadas pela atividade humana, em função de um
crescimento econômico que tem como meta e ―destino (manifesto)‖ o ―desenvolvimento‖
(MARQUES, 2015). Este crescimento se sustenta por meio do domínio e da exploração dos
recursos da natureza, finitos, por sua vez. Este trabalho, portanto, busca provocar a reflexão quanto
às bases do pensamento que rege a sociedade atual em detrimento à preservação efetiva da natureza
e quanto à necessidade de uma nova ética.

A Racionalidade de Dominação a Partir dos Sistemas Político-Econômicos

Os seres humanos, à nível de espécie, são caracterizados, principalmente, pela capacidade de


raciocínio, sendo este último construído por meio de sua cultura (seja ela local ou global, surgida a
partir da globalização) (LEFF, 2009). A racionalidade ambiental, portanto, diz respeito à forma
como determinada população vê o ambiente natural (LEFF, 2009). A racionalidade de dominação,
por sua vez, refere-se ao domínio que a sociedade atual exerce sobre a natureza, alimentada pelas
ideias de Bacon e Descartes, acarretando na exploração e subjugação desta em uma rede complexa
de interligações, fazendo-se refletir também nas relações entre seres humanos.
Todas as outras sociedades históricas, a partir do período neolítico, há aproximadamente
10.000 anos a.C., são energívoras, ou seja, consomem energia de forma crescente e sistemática.
Segundo Boff (2015), a sociedade atual é estruturada ao redor da economia, sendo esta entendida
como arte e técnica de produção ilimitada de riqueza através da exploração de serviços e bens
provenientes da natureza, bem como fruto de intervenções de ordem tecnológica. Em decorrência
deste posto, as sociedades modernas tendem a entender a economia não no seu sentido originário,
como de gestão racional da escassez, mas como a ciência do desenvolvimento/crescimento
ilimitado (BOFF, 2015). Para Andrade (1994), a atividade econômica é sempre acompanhada da
exploração do meio ambiente e do uso sem freio dos recursos naturais, e considera que o maior
ataque ao meio ambiente é a preservação da miséria e da fome.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1040


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Este cenário de dominação e exploração da natureza (entenda-se aqui também os animais


humanos) estende-se não só ao predominante sistema capitalista, mas também ao socialismo. O
ponto chave da crítica está em que, tanto em um modelo como em outro, não houve um crescimento
da economia em função do social e da preservação ambiental. Na sociedade neoliberal-capitalista o
resultado foi, assim como ainda o é, de uma profunda desigualdade social e, consequentemente, da
geração de uma má qualidade de vida para os seres, da luta de sexos, de gêneros, de classe (BOFF,
2015; LEFF, 2009; BEAUVOIR, 2009;). Na sociedade socialista, mesmo apresentando-se ambições
beneficentes, por sua vez, favoreceu o autoritarismo, uma massificação descontrolada e a falta de
uma participação efetivamente ativa dos cidadãos na gestão desta sociedade (BOFF, 2015).
Segundo Dryzek (2014), tanto o capitalismo quanto o socialismo são modelos indissociáveis do
crescimento econômico e, caso cesse esse crescimento, se intensificam todas as desigualdades, até
que o crescimento econômico não se faz mais efetivo. Esse medo da recessão da economia significa
que os dois modelos, segundo Dryzek (2014), estão presos pelo imperativo do
crescimento/desenvolvimento.
Os dois modelos político-econômicos, portanto, se atrelam a objetificar e sujeitar a natureza,
reduzindo-a a um ―baú de recursos naturais‖ (BOFF, 2015; O‘CONNOR, 1989; 1988), e se
apresentam como exemplos contundentes da racionalidade de domínio e exploração que rege a
sociedade atual. Dentro desta objetificação há ainda a sujeição de vidas humanas em ―recursos
humanos‖, sendo estes, assim como a natureza, um grande ―baú de reservas‖ àqueles que detém o
capital. Sendo assim, nenhum ser da natureza é respeitado em seu valor intrínseco (BOFF, 2015).
Consequentemente, este tipo de sociedade, atrelada à objetificação da natureza e a sujeição dos
seres, tem ações e visões profundamente antiecológicas (BOFF, 2015; PELIZZOLI, 2013).

A Influência das Forças Centrípetas e Centrífugas na Racionalidade Ambiental das Sociedades

O planeta Terra é um espaço limitado. Os recursos que sustentaram e ainda sustenta o


crescimento da sociedade, pertencentes a este espaço limitado, são finitos. Considerando tais
pontos, torna-se pertinente analisar a influência de forças centrífugas e centrípetas, sendo estas
construídas social e culturalmente sobre as sociedades, em função da escassez desses recursos. As
forças centrífugas se refere, segundo Marques (2015), à tendência que tem a sociedade moderna à
expansão, ao contrário das forças centrípetas, características de muitas sociedades antigas, que
baseavam seus valores não nas periferias, no externo e no alheio, mas no centro. Para Lebeau (apud
MARQUES 2015, p. 521) ―o encontro da humanidade com os limites do planeta é um fenômeno
sem precedente na história da espécie‖. Também o relatório Living Planet Report (2012), elaborado
por um conjunto de instituições, entre elas a WWF, afirmou que os seres humanos estão utilizando
cerca de 50% a mais dos recursos que o planeta é capaz de produzir e que, até o ano de 2030, nem

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1041


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

mesmo dois planetas serão capazes de suportar tais demandas. A edição de 2014 do mesmo relatório
reafirma:

1.5 Terra seria necessária para fazer satisfazer a demanda atual da humanidade por recursos
naturais. Por mais de 40 anos, a demanda da humanidade vem excedendo a biocapacidade
do planeta – a quantidade de terra biologicamente produtiva e área do mar disponível para
regenerar esses recursos. (p. 10)

As forças centrífugas, comum ao pensamento formado pelas teorias de filósofos como


Descartes e Bacon, por exemplo, de dominação da natureza e dos seres, e às próprias sociedades
que se formaram a partir deste pensamento, em confronto com os limites do planeta, desqualificam
o sentido de crescimento econômico, visto que, chegado o limite dos recursos que alimentam esse
―crescimento‖, ele também sucumbe. Naomi Klein (2015, p. 21) expressa bem a relação do
capitalismo, mais especificamente, em sua visão de expansão ilimitada em um planeta finito:

Nosso sistema econômico e nosso sistema planetário estão agora em guerra. Ou,
mais precisamente, nossa economia está em guerra com muitas formas de vida na
Terra, incluindo a vida humana. O que o clima - crítica central do livro da referida
economista- necessita para que se evite o colapso é uma contração no uso dos
recursos pela humanidade; o que nosso modelo econômico exige para evitar o
colapso é a expansão. Apenas um desse conjunto de regras pode ser mudando e não
é as leis da natureza.

As forças centrípetas, em contrapartida, se apresenta como uma diferença fundamental


entre o mundo na Antiguidade e o mundo oriundo do século XVI. O primeiro busca
compreender-se a partir de mitos de origem, sendo estes concêntricos e centrípetos. Em
contraste, a sociedade moderna orienta-se por mitos relacionados ao futuro, os quais são
expansivos e centrífugos (MARQUES, 2015). É fato que as civilizações mediterrâneas da
Antiguidade, por exemplo, devastaram, diversas vezes, as regiões que circundam seu mar.
Mas as dificuldades tecnológicas, geográficas e geopolíticas para se expandir contribuíram
para que a ideia de expansão fosse vista como algo alheio (e muitas vezes negativo) aos
valores dominantes dessas civilizações (MARQUES, 2015). É também fato que diversas
contingências bem conhecidas estabeleceram limites a qualquer tendência significativa de
expansão vinda destes povos. Para Marques (2015), a Antiguidade no Mediterrâneo fez da
necessidade virtude ao adotar a visão de centro, com uma prevalência do autoconhecimento
sobre o heteroconhecimento, da unidade sobre a pluralidade, do centro sobre a fronteira,
expressando, significativamente, a influência de forças centrípetas sobre as centrífugas.
No que se refere à sociedade moderna (e pós-moderna), as forças centrífugas
embasaram uma racionalidade, sobretudo, de dominação, permitindo, assim, toda forma de
objetificação e exploração da natureza e dos seres vivos em função de um progresso sem
limites. Por fim, podemos observar, que há, de fato, uma significativa influência das forças

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1042


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

centrífugas e centrípetas na racionalidade ambiental da sociedade, determinando suas


respectivas influências sobre as formas de relacionamento o meio ambiente.

As Ilusões Antropocêntricas

A crença no sucesso de um sistema que depende de recursos finitos e de exploração, bem


como a crença em que quanto mais se tem (excedente) mais estamos seguros, são ilusões. Estas são
ainda fundamentadas e intrinsecamente interligadas a outra ilusão, a do antropocentrismo
(MARQUES, 2015; BOFF, 2009; SILVA, 2013). Para Descola (1998),o antropocentrismo é a
capacidade de se identificar com seres não-humanos em função de seu suposto grau de proximidade
com a espécie humana. Este se distingue ainda do antropocentrismo ocidental, o qual determina os
animais dignos de uma suposta proteção, em função de uma proximidade inteligível (nível de
desenvolvimento cerebral) com os humanos, expressos pela sensibilidade, o altruísmo, o amor
materno. Em comunidades tradicionais na Amazônia, em contrapartida, o referencial comum a
todas os seres que habitam a Terra, não é o/a humano/a como espécie, mas a humanidade enquanto
condição: ―os animais – portanto,- são, com certeza, diferentes de nós em sua morfologia e em seu
comportamento; contudo, a existência social que eles têm à nossa revelia é idêntica à nossa‖
(DESCOLA, 1998; pag 28).
Ter uma visão antropocêntrica, entretanto, é inevitável para o ser humano, visto que este não
pode colocar-se a si, em seu sentido literal, no lugar de um outro ser e, a partir deste lugar, analisar
o mundo (MARQUES, 2015). Porém, não se pode pretender que esse ponto de vista desfrute de
uma superioridade e finalidade última na espécie humana, inferiorizando as demais posições em
subordinadas, instrumentais, periféricas. Em suma, o antropocentrismo não pode ser uma presunção
de finalidade e superioridade (SILVA, 2013; MARQUES, 2015).

A Idolatria da T cnica

A capacidade da técnica é a principal forma de desenvolver uma sociedade, de pensar e de


construir o mundo como mecanismo e, posteriormente, como um sistema termodinâmico que
proporcionou aos seres humanos não só a concepção da natureza como um sistema de forças, mas
também o exercício do domínio sobre ela, operando-a de acordo com interesses próprios
(MARQUES, 2015). Stornier (apud SILVA, 1999) relata que viver em um mundo pós-industrial
[Sociedade da Informação] significa não só que somos mais poderosos, mais ricos e menos
dispostos à guerra, como também mais ligados à democracia. Segundo Marques (2015), quanto
mais a técnica se expande e desenvolve, sendo este um desenvolvimento unilateral, mais riscos são
criados à sobrevivência da sociedade e da espécie humana. A tecnolatria, constituída pela idolatria
da tecnologia e, sendo ainda oposta a tecnofobia (manifesta pelo medo e recusa da tecnologia)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1043


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

(SILVA, 1999), se apresenta como uma religião onde, em alusão à tradição judaico-cristã, Deus é o
Homo faber e seus representantes, o alto clero, uma elite de cientistas que entendem que têm a
missão de salvar a humanidade dos descaminhos e permitir-lhes que se cumpra o ―destino
manifesto‖ (MARQUES, 2015). É este, inclusive, o pensamento dos detentores do poder e dos
meios de produção, incluindo-se também a técnica. Considera-se, portanto, a tecnolatria como o
principal combustível para que a tecnologia seja voltada ao crescimento econômico .
Contudo, a técnica, em si, não pode ser considerada como causa da crise ambiental. É
impossível, inclusive, separar o lado beneficente da técnica de seu lado ominoso (MARQUES,
2015). Seu progresso é imprescindível em um momento de mudança adaptativa visando uma
sociedade que exerça menos impactos ao ambiente (RODRIGUES e BARBIERI, 2008).
É importante ainda frisar que, segundo Boff (2008), a tecnologia, em vez de criar meios que
garantam os subsídios para que a sociedade se sustente de forma autônoma, se coloca como a única
responsável direta pela sustentação dos povos (BOFF, 2008), ferindo-lhes o direito à autonomia.
Além disso, esta volta-se a servir ao mercado, sendo conivente e parcial no que diz respeito aos
interesses privados e os interesses sociais. Mesmo a biotecnologia, segundo Boff (2008), tem essa
mesma meta política. Trata-se, portanto, de uma real necessidade do envolvimento da técnica,
através da participação popular, com a diminuição da pressão antrópica sobre a biosfera,
requerendo-se, assim, mudanças profundas na ética que permeia a tecnologia, o que permanece
impossível enquanto predominar a ânsia por um crescimento ilimitado (BOFF, 2008; BURSZTYN,
2001; JONAS, 2006; MARQUES, 2015; RODRIGUES e BARBIERI, 2008; SILVA, 1999;).

O CASO DE TRÊS LADEIRAS, IGARASSU

Três Ladeiras, distrito do município de Igarassu (PE), se apresenta em um cenário muito


propenso, de forma sucinta, à aplicação dos fundamentos éticos e filosóficos discutidos
anteriormente, devido sua influência histórica na construção de uma sociedade que não foge à visão
de lucro ilimitado e ao desrespeito aos direitos básicos dos seres. Em um sistema baseado na
monocultura de cana-de-açúcar, as raízes históricas estão intimamente interligadas à vida cotidiana
de trabalhadoras e trabalhadores dos tempos atuais. Para Freyre (2004), a clareza da sujeição da
natureza à espécie humana, do escravo ao seu senhor, da mulher ao homem, do trabalhador rural ao
dono de engenho e usina, está presente no cenário da monocultura desde os tempos remotos da
colonização do país, contemplando, desde o princípio, esta região e regiões próximas, pertencentes
à zona da mata e ao litoral pernambucano.
O monocultivo da cana-de-açúcar e o comércio crescente de seus produtos proporcionaram
não só o crescimento e ―desenvolvimento‖ destas regiões e a acensão dos colonizadores, mas
também a escravidão da população negra e a sujeição do negro ao branco, o genocídio cruel aos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1044


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

índios Caetés e a outras etnias indígenas que ali habitavam, a sujeição e destruição das matas, de
parte significativa da fauna, dos corpos hídricos que contribuíam para a manutenção do equilíbrio
do ecossistema e hoje se apresentam apenas como sustentáculos da produção canavieira. Mesmo
depois da migração para as usinas (que se deu pela competitividade no comércio do açúcar e demais
produtos), o sistema de produção e consumo, de crescimento ilimitado e lucro, continua a explorar e
sujeitar a si o trabalhador ―livre‖, a mata, os animais.
A cana-de-açúcar, e todo o sistema que em sua volta foi gerado, especificamente em Três
Ladeiras, modificou profundamente rios, tanto em suas diversas ramificações para a irrigação e na
erosão que contribuía para o assoreamento do mesmo, como na contaminação dos corpos hídricos
subterrâneos e em superfície. Suprimiu a mata em função da atividade do engenho, da usina, da
própria plantação expansiva e intensiva de cana-de-açúcar, subtraindo terras de pequenas famílias
de agricultores que, de forma autônoma, dela tiraram o seu sustento, e sujeitando-os ao trabalho na
lavoura de cana, muitas vezes em condições precárias, sem a devida proteção, sem uma
remuneração justa e sem a garantia dos direitos básicos que lhes são previstos e garantidos na lei.
Afugentou os animais nativos da região, tais como lobos-guarás, raposas e afins, ao mesmo tempo
que destruiu o habitat dos mesmos. Contaminou o solo, a terra e dela a fez imprópria ao cultivo de
alimentos saudáveis, ferindo não só o direito a um ambiente ecologicamente equilibrado, mas à
própria segurança alimentar da população. Contaminando o solo, separou ainda mulheres e homens
da relação com a terra. Objetificou seres vivos. O trabalhador, diante deste cenário industrial,
perdeu ainda mais força, sendo ele regido, agora, por corporações e não por poucas pessoas como
outrora (senhor de engenho e sua família), nos engenhos. Todas as ocorrências se deram em função
do lucro imediato e crescimento ilimitado já, por si só, fadado ao fracasso (FREYRE, 2004),
alimentados por uma racionalidade de subjugação, exploração e domínio.
Não só no distrito de Três ladeiras e não só nos arredores do monocultivo da cana-de-açúcar,
mas em cada ponta de uma sociedade que tem como base o crescimento ilimitado, obtido por meio
do lucro ou não, tende-se à sujeição dos seres ao sistema imposto, negando-lhes os direitos básicos
adquiridos e os que ainda não o são por interesse próprio de uma elite branca, assim como relatado
em Freyre (2004), onde pessoas ligadas à alta aristocracia da civilização do açúcar cediam os
primeiros direitos aos negros não por enxergarem, de fato, estes direitos, mas pelo receio de
revoltas, atentando para não ceder-lhes em demasia. De forma semelhante se apresenta o cenário
atual do distrito de Três Ladeiras: uma população pobre, sem saneamento básico, castigada por
diversas doenças causadas pela destruição do equilíbrio ecológico na região (como os numerosos
casos de leishmaniose, por exemplo), dependente direta da Usina São José e demais complexos
industriais da região, obrigada e, pior, acostumada a sujeitar-se à exploração e a sujeitar à si, por sua

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1045


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

vez, o outro e a outra, desde os tempos coloniais, sendo esta mais uma representação da
racionalidade de dominação que permeia a sociedade.

A NECESSIDADE DE UMA NOVA ÉTICA

Não cabe a este ponto uma exposição profunda de um modelo ético em sua complexidade,
porém, diante dos pontos discutidos anteriormente, torna-se visível a necessidade de uma
transformação. Jonas (2006) aponta para uma ética de responsabilidade para com as gerações
futuras e que nortearia o agir da espécie humana, em função da sobrevivência do planeta. Esta
responsabilidade se argumenta também no potencial que as atividades humanas têm de impactar o
ambiente (sendo muitos destes impactos maléficos e irreversíveis), e na responsabilidade que lhes
recai, portanto, em função destes impactos. Para Jonas, diante das desastrosas intervenções do
homem sobre a natureza, são necessárias atitudes urgentes. Ele considerou que a humanidade,
possuidora de um poder inexistente até a revolução industrial, pelo menos, e que se deu por meio da
tecnologia, necessitaria de uma nova ética, em contrapartida àquela a qual se funda pelo
pensamento de Descartes e Bacon, não somente no que se refere ao individual, mas também no
âmbito do coletivo e político, considerando que a ética que permeia a sociedade atual foi criada em
uma época onde não se previa tais condições (nem o poder adquirido posteriormente, tampouco
suas consequências sobre o meio ambiente).
Esta ética, entretanto, fazendo-se alheia a qualquer sistema político-econômico surgido até
então, requer não só um verdadeiro desejo pelo não-domínio, pela não-sujeição, mas requer uma
massiva participação popular construindo uma sociedade onde todos tenham voz ativa. Alguns
autores defendem que uma organização mais centrada ao ―local‖, tende a responder melhor às
intempéries ambientais e facilitam a participação popular (LEFF, 2009). Faz sentido ainda quando
interligamos às forças centrípetas que caracterizaram algumas sociedades na Antiguidade e às
formas de relacionamento que estas tinham com a natureza.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A racionalidade ambiental da sociedade atual se permeia no mesmo pensamento de


dominação e exploração em função do progresso que embasou e formou o pensamento
contemporâneo. Não se trata de não reconhecer o caráter utópico de uma mudança ética tão
profunda, mas do reconhecimento desta mudança como um caminho capaz de englobar todos, ou
quase todos, os setores da sociedade. Torna-se, portanto, claro o fracasso a que está fadada uma
sociedade baseada na exploração da natureza em sua complexidade, no que abrange todos os seres,
homens e mulheres, adultos e crianças, em função do crescimento econômico e do progresso; e a
necessidade de uma mudança ética profunda, que seja capaz de romper o sistema de dominação

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1046


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

do/a outro/a, desenvolvendo e garantindo a autonomia dos povos, os direitos também de seres não-
humanos, e reconhecendo a significativa capacidade de interferência humana nos ecossistemas
naturais, atribuindo-lhes máxima responsabilidade.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, M C. O sentido da colonização. Recife: 20-20 comunicação e editora. 1994. 120 p.

BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Tradução Sérgio Milliet– Sérgio Milliet. 2 ed. v2. Rio de Janeiro:
Ed. Nova Fronteira, 2009.

BOFF, Leonardo. Ecologia, mundialização, espiritualidade. Rio de Janeiro: Record, 2008.

BOFF, Leonardo. A opção terra. Rio de Janeiro: Record, 2009.

BOFF, Leonardo. Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres: dignidade e direitos da Mãe Terra.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

BURSZTYN M. (ORG). Ciência, Ética e Sustentabilidade: desafios ao Novo S culo. 2°


edição ,São Paulo : Editora Cortez ; Brasília, DF : UNESCO, 2001.192p

DESCOLA, Philippe. Estrutura ou sentimento: a relação com o animal na Amazônia. Mana, v. 4, n.


1, p. 23-45, 1998.

DRYZEK, J. S. Ecolog and discursive democrac : Be ond liberal capitalism and the
administrative state. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1080/10455759209358485. Acesso em
15 agosto 2017.

FREYRE, Gilberto. Nordeste. Global Editora e Distribuidora Ltda, 2015.

JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma tica para a civilização tecnológica/.
Tradução do original alemão Marijane Lisboa, Luiz Barros Montez. Rio de Janeiro: Contraponto:
Editora PUC-Rio, 2006.

KLEIN, Naomi. This changes ever thing: Capitalism vs. the climate. Simon and Schuster, 2015.

LEFF, E. Ecologia, capital e cultura: a territorialização da racionalidade ambiental. Traduzido por


Jorge E. Silva. Rio de janeiro: Editora Vozes, 2009.

MARQUES, Luiz. Capitalismo e colapso ambiental. Campinas – SP: Editora da Unicamp, 2015.

O‘CONNOR, J. Capitalism, nature, socialism a theoretical introduction. Capitalism Nature


Socialism, 1:1, 11-38, 1988.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1047


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O'CONNOR, J. Political econom of ecolog of socialism and capitalism. Capitalism Nature


Socialism, 1:3, 93-107, 1989..

PELIZZOLI, Marcelo L. Ética e meio ambiente: para uma sociedade sustentável. Rio de Janeiro:
Editora Vozes Limitada, 2013.

RODRIGUES, I; BARBIERI, J. C. A emergência da tecnologia social: revisitando o movimento da


tecnologia apropriada como estrat gia de desenvolvimento sustentável. Revista de
Administração Pública, v. 42, n. 6, p. 1069-1094, 2008.

SILVA, B. D. Questionar os fundamentalismos tecnológicos: Tecnofobia versus Tecnolatria. In:


Actas da I Conferência Internacional Desafios‘ 99. Centro de Competência da Universidade do
Minho do Projecto Nónio, 1999. p. 73-89.

SILVA, A. T. R. Currículo e representações sociais de homem e natureza: implicações à prática


pedagógica. Revista Brasileira de Educação v. 18 n. 55 out.-dez. 2013

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1048


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: AÇÕES DO PROJETO


MUSEU DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS MUNDO LIVRE

Victória do Nascimento VIANA


Graduanda do curso de Geografia – UFC
victoriadnviana@hotmail.com
Tacyele Ferrer VIEIRA
Graduanda do curso de Geografia – UFC
tacyele.ferrer@gmail.com
Laura M. Marques FERNANDES
Profª. da Faculdade Ateneu e do Mestrado Prof. em Gestão de Negócios Turísticos – UECE
lauralucas66@hotmail.com
Edson Vicente da SILVA
Prof. Titular do Departamento de Geografia – UFC
cacauceara@gmail.com

RESUMO
A extensão universitária, compreendida como um processo educativo, busca a aproximação do
conhecimento científico ao saber tradicional através de ações realizadas em âmbito comunitário,
principalmente, em espaços escolares. Constituído como projeto de ação de extensão, vinculado ao
Laboratório de Geoecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental do Departamento de Geografia
da Universidade Federal do Ceará, o Museu de Ciências Ambientais Mundo Livre atua
desenvolvendo a temática da educação ambiental com o propósito de contribuir com a construção
de uma consciência ambiental pautada na realidade, reconhecendo a possibilidade da formação
cidadã conjunta, estabelecendo vínculos permanentes entre a universidade e a sociedade. Este
trabalho tem como objetivo apresentar os resultados obtidos através da atuação do Projeto Museu
Mundo Livre no ano de 2016, discutindo a importância da extensão universitária e a educação
ambiental, através de análise de referencial teórico e das atividades realizadas em escolas públicas
de Fortaleza – CE.
Palavras-chave: Extensão Universitária; Educação Ambiental; Educação; Geografia.
RESUMEN
La extensión universitaria, comprendida como un proceso educativo, busca la aproximación del
conocimiento científico al saber tradicional a través de acciones realizadas en ámbito comunitario,
principalmente, en espacios escolares. El Museo de Ciencias Ambientales Mundo Libre actúa
desarrollando la temática de la educación ambiental con el propósito de contribuir con la
construcción De una conciencia ambiental pautada en la realidad, reconociendo la posibilidad de la
formación ciudadana conjunta, estableciendo vínculos permanentes entre la universidad y la
sociedad. Este trabajo tiene como objetivo presentar los resultados obtenidos a través de la
actuación del Proyecto Museo Mundo Libre en el año 2016, discutiendo la importancia de la
extensión universitaria y la educación ambiental, a través de análisis de referencial teórico y de las
actividades realizadas en escuelas públicas de Fortaleza - CE.
Palabras-clave: Extensión Universitaria; Educación Ambiental; Educación; Geografía.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1049


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

A extensão universitária é um conjunto de atividades que ultrapassam os muros da


universidade tanto no que se refere à pesquisa como também ao ensino. Representa a união entre
diversas áreas do conhecimento que têm como objetivo fornecer o devido retorno à sociedade, e
construir conexões que possibilitem a comunicação entre o conhecimento científico e os saberes
tradicionais. O desafio é fazer para além da pesquisa, é dedicar-se e ser um cidadão brasileiro
consciente, que se envolve na busca por uma sociedade mais justa e menos excludente
(RODRIGUEZ e SILVA, 2011). Ainda assim, poucos são os acadêmicos envolvidos nessas práticas
e menor ainda é o reconhecimento dado àqueles que ajudam a construir uma sociedade melhor,
sociedade essa, que tanto contribui para a formação dos profissionais dentro da academia, ora como
objeto de análise, ora como fornecedora de recursos através de impostos.
As práticas de extensão universitária exigem a integração de diversas disciplinas, de
profissionais de múltiplas áreas, de metodologias, bem como expectativas e ações para a concreta
efetivação dos objetivos almejados. Muitas são as ferramentas utilizadas nas práticas extensionistas,
dentre elas estão as oficinas, palestras, grupos de discussões, exposições, exibição de vídeos, filmes
e documentários e a posterior discussão, necessária para a construção de ideias e valores, que irão
formar e transformar os indivíduos.
O projeto de extensão Museu de Ciências Ambientais Mundo Livre atua em escolas públicas
de Fortaleza e da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) levando discussões acerca da questão
ambiental para o espaço escolar. As temáticas principais são (i) Cultura indígena, dispondo de um
acervo de peças representativas de diversas tribos indígenas do Ceará e do Brasil; (ii) Cultura
africana, contando com esculturas, obras literárias, fotografias, maquetes e infográficos; todo o
material tendo sido construído e organizado com a colaboração de diversos pesquisadores e
estudantes (da graduação e pós-graduação) de mais de 10 países do continente africano; (iii) Fósseis
do Ceará, que conta com o apoio do Geopark Araripe tanto na colaboração científica com textos de
discussão, informativos, e também na disponibilização de fósseis para exposição e composição do
acervo do museu; e (iv) Ecossistema Manguezal, que conta com exemplares conservados em
formol, da fauna e flora dos manguezais cearenses recolhidos em atividades de campo das pesquisas
e em atividades de extensão realizadas em comunidades pesqueiras, e catalogados em parceria com
estudantes do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Além das atividades relacionadas aos temas centrais, inúmeras outras temáticas são
abordadas durante as oficinas e grupos de discussão como ―O problema da seca no Nordeste e as
políticas públicas de acesso à água‖, ―Sustentabilidade‖, ―Desenvolvimento sustentável‖, ―O
descarte de lixo tecnológico‖, são temas globais que funcionam como conectores entre o que os
alunos veem comumente nas mídias, e o que está mais próximo da realidade deles.
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1050
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

O objetivo principal deste trabalho é discutir a contribuição da educação ambiental como


processo educativo na construção de consciência ambiental individual e coletiva na extensão
universitária por meio das ações do Projeto Museu de Ciências Ambientais Mundo Livre no ano de
2016.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

As definições sobre o conceito de Educação Ambiental são diversas, Rodriguez e Silva


(2010, p. 175) o resumem como sendo ―um processo de aprendizagem e comunicação das questões
relacionadas com a interação dos seres humanos com o ambiente, tanto em âmbito global, natural,
como no criado pelo homem‖. A perspectiva apresentada abre espaço para que os educandos
participem de forma ―ativa, responsável e eficaz na prevenção e solução dos problemas ambientais,
na gestão do uso dos recursos e sistemas ambientais‖, essa forma de gestão ambiental muito tem a
acrescentar para a elevação da qualidade de vida e para a proteção dos ambientes.
A questão ambiental é antes de tudo cultural, a estratégia de explorar a natureza ao máximo
e a crença num ambiente capaz de se recuperar em curto prazo, e assim sendo, infinito, fez com que
o homem se enganasse e, as últimas décadas, buscasse alternativas para corrigir esses erros do
passado.
A Educação Ambiental surge como uma necessidade de adaptação cultural acerca das
práticas fundamentais da cultura humana. Rodriguez e Silva (2010, p. 176) expõem que a
―educação ambiental deverá formar valores ambientais, ou valores verdes, que deverão ser muito
diferentes dos chamados valores da modernidade‖ e acrescentam, ―é um dos meios para se adquirir
as atitudes, as técnicas e os conceitos necessários à construção de uma nova forma de adaptação
cultural aos sistemas ambientais‖.
Diante das transformações mundiais e de consequências do modelo de desenvolvimento
vigente, a questão ambiental assume lugar de destaque nas últimas décadas. A concepção de
desenvolvimento sustentável e o florescimento de experiências, a exemplo da economia solidária e
outras formas de consumo contra-hegemônicas ao modelo de produção predominante são iniciativas
que apresentam formas mais harmônicas na relação entre a sociedade e a natureza.
No entanto o avanço para uma sociedade sustentável exige mudança individual e societária.
Dessa forma, o processo educativo tem papel fundamental, pois é componente social preventivo,
dialoga com as novas gerações, permite a realização da discussão sobre o que gera a crise ambiental
e preocupa-se com a criação de habilidades na interação humana com a natureza. Favorece assim, a
reflexão sobre a complexidade da crise civilizacional e da crise do conhecimento.
Sendo o saber ambiental uma epistemologia política, busca dar sustentabilidade à vida,
assim é um saber que vincula os potenciais ecológicos e a produtividade neguentrópica do planeta

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1051


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

em interação com a criatividade cultural dos povos que o habitam (LEFF, 2009). Fundamenta-se na
interação das diferentes dimensões da vida e das relações sociais.
A educação ambiental como processo dialógico permite a interação de diferentes saberes. O
saber ambiental pode contribuir para a construção da relação entre a sociedade e a natureza de
forma mais harmoniosa, pois leva em conta a ética, os saberes tradicionais e o conhecimento
empírico. Esse saber inclui o respeito ao ambiente, mas também a construção coletiva de um
conhecimento interdisciplinar, conectado à racionalidade ambiental. ―A racionalidade ambiental‖,
em sua dimensão prática, visa construir uma sociedade responsável que preserve e melhore a
sustentabilidade ambiental como base para o desenvolvimento no qual são articuladas todas as
facetas da atividade humana (RODRIGUEZ e SILVA, 2016). A construção dessa sociedade implica
em aporte educacional com direcionamentos voltados a essa concepção. No que concerne à
educação Leff avalia que

(...) o maior desafio da educação na atualidade: o da responsabilidade – a tarefa de


coadjuvar este processo de reconstrução, educar para que os novos homens e mulheres do
mundo sejam capazes de suportar a carga desta crise civilizatória e convertê-la no sentido
de sua existência, para o reencantamento da vida e para a reconstrução do mundo. Esses são
os caminhos abertos pela racionalidade ambiental (2009, p.24).

Compreende-se a pertinência da educação ambiental na extensão universitária enquanto


tema emancipatório. Explica Castro (2004) que o conhecimento emancipador inclui a produção de
um novo conhecimento, mais humano, cidadão e centrado nas questões fundamentais. Dessa forma,
trata-se de extensão universitária que reforça a formação crítica e solidária dos discentes e contribui
para a disseminação de modos de viver pautados no respeito ao meio ambiente.

METODOLOGIA

Os procedimentos metodológicos que nortearam este estudo incluíram a revisão de literatura


e a pesquisa documental. A discussão teórica baseou-se principalmente em Layargues (2003), Leff
(2009) e Rodriguez e Silva (2013). Foram consultados documentos oficiais a exemplo do Plano
Nacional de Extensão Universitária, Política Nacional de Extensão Universitária e Parâmetros
Curriculares Nacionais.
A análise dos resultados do projeto referentes ao ano de 2016 foi feita a partir de registros
fotográficos de atividades, relatos pessoais de bolsistas e participantes, e leitura de relatório anual
do projeto encaminhado anualmente a Pró-Reitoria de Extensão da UFC como pré-requisito para
renovação da ação de extensão. Após isso, foi feita a seleção dos dados utilizados no trabalho, bem
como sua análise e interpretação.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1052


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CONCEPÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO DO PROJETO MUSEU MUNDO LIVRE

A Educação Ambiental (EA) voltada para o ensino básico brasileiro é garantida através da
Política Nacional de Educação Ambiental instituída através da Lei n° 9.795 de 27 de abril de 1999.
Na prática, a EA é trabalhada a partir de projetos que visam discutir os temas transversais presentes
nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a qual a EA está inserida. Esses projetos são
desenvolvidos pelos professores ao longo do ano letivo, no entanto, alguns aspectos a exemplo da
burocratização do sistema educacional, a relação entre gestores e funcionários das escolas, e
também, a formação acadêmica dos profissionais são dificuldades enfrentadas para efetivação da
interdisciplinaridade inerente à EA, pois limitam a aplicabilidade pretendida e, consequentemente, o
alcance dos objetivos propostos. Daí a importância da extensão universitária na construção de uma
consciência ambiental crítica no âmbito escolar concretizando a incorporação da educação
ambiental no sistema de ensino.
O Projeto Museu de Ciências Ambientais Mundo Livre desenvolve atividades lúdicas,
dinâmicas e que instigam a curiosidade dos alunos aproximando o conteúdo da forma, promovendo
ações que envolvem aspectos culturais, sociais, políticos e ambientais. O Museu Mundo Livre, em
seu espaço físico, abriga quatro exposições permanentes acerca das seguintes temáticas: Cultura
Indígena, Cultura Africana, Ecossistema Manguezal e Fósseis, demonstrando a relação existente
entre sociedade e natureza, e buscando contribuir com a formação cidadã dos envolvidos bem como
da própria comunidade através da escola. As atividades são desenvolvidas anualmente, integrando
estudantes da graduação, pós-graduação, professores universitários e da escola básica em seu
planejamento e execução.
A primeira etapa do Plano de Atuação é caracterizada pelo planejamento conjunto com a
gestão escolar. O primeiro contato é destinado ao reconhecimento do espaço escolar, identificação
de demandas e possibilidades, além da apresentação do projeto aos gestores (direção, coordenação e
professores). Após consolidada a parceria com a escola, é feito um cronograma de atividades
seguindo as temáticas trabalhadas pelo projeto de modo que estejam organizadas de acordo com os
conteúdos que estão sendo ministrados em sala de aula. Feito isso, inicia-se o processo de atuação,
onde os bolsistas participantes constroem materiais didáticos, selecionam recursos disponíveis e
realizam as atividades com os alunos.
As atividades, em geral, são realizadas na escola, mas também podem ser desenvolvidas na
universidade, onde os alunos têm a oportunidade de conhecer o campus, o Departamento de
Geografia e os laboratórios, conhecendo as temáticas de pesquisa, os métodos de ingresso, os
auxílios, entre outros aspectos. É um momento de interação com os estudantes do curso, a fim de
apresentar a universidade como um objetivo alcançável e realizável. Quando as atuações se dão no
espaço escolar, é feita a montagem das exposições em um espaço, que geralmente se encontra fora
ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1053
Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

da sala de aula, para que os alunos tenham mais liberdade para participar e interagir com os objetos
expostos. As ações envolvem, além das exposições de objetos temáticos, oficinas de reutilização,
apresentação de documentários seguidos de rodas de conversa e palestras.
As atividades são divididas em dois momentos principais: explanação e interação. A
explanação é feita para apresentar o tema, utilizando de recursos como slides, banners ou apenas
uma apresentação oral. A interação é o momento em que os alunos fazem questionamentos, tocam
os objetos e conversam com os ministrantes. Neste momento também são realizadas atividades
práticas, no caso das oficinas. Através da interação é possível observar os resultados das ações na
formação dos alunos, de que forma as atividades influem na construção de pensamento e
transformação de realidades.
O processo avaliativo é realizado ao término de cada atividade. Os alunos são questionados
a respeito da metodologia, da interação com os bolsistas participantes, do conhecimento adquirido,
e também fazem sugestões a respeito do tema ou do andamento das atividades. Em seguida, os
professores e/ou diretores também avaliam as ações, contribuindo assim para o bom
desenvolvimento de atividades futuras, e da própria formação de alunos e bolsistas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As ações de extensão universitária têm como foco a troca de conhecimentos entre a


comunidade escolar e a comunidade acadêmica. Conforme Brasil (2001)

A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino


e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre Universidade
e Sociedade. A Extensão é uma via de mão-dupla, com trânsito assegurado à comunidade
acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da práxis de um
conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um
aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento. Esse
fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados, acadêmico e popular, terá como
consequências a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade
brasileira e regional, a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva
da comunidade na atuação da Universidade. Além de instrumentalizadora deste processo
dialético de teoria/prática, a Extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão
integrada do social. (BRASIL, 2001, p.5)

Diante dessa afirmação, é possível identificar a considerável contribuição da Extensão


Universitária, através do projeto Museu de Ciências Ambientais Mundo Livre, onde a visão
integradora de elementos sociais, culturais, políticos e econômicos é construída por meio de
metodologias de ensino que aproximam os alunos do conhecimento, materialmente expresso,
tornando-o palpável e instigante.
A participação de um público diverso, do ponto de vista etário, se constitui como um desafio
aos responsáveis pelo planejamento das atividades, mas também representa um diferencial no
processo de ensino e aprendizagem, já que possibilita o contato entre afirmações e questionamentos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1054


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

distintos. Como exemplo de aplicação da metodologia proposta pelo projeto, as figuras 1 e 2


mostram a realização de uma exposição geral dos artefatos que compõem o museu, como também a
apresentação do Laboratório de Geoecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental
(LAGEPLAN) ao qual está vinculado durante o V Congresso Brasileiro de Educação Ambiental
Aplicada e Gestão Territorial (V CBEAAGT), em junho de 2016, tendo como público-alvo os
participantes do evento e demais estudantes da Universidade.

Figuras 1 e 2 - Exposição do Museu Mundo Livre durante o VCBEAAGT. VIANA, V. 2016.

Durante essa atividade, o espaço recebeu em torno de 150 visitantes que tiveram a
oportunidade de conhecer, de forma mais clara, os objetivos do projeto de extensão e demais ações
vinculadas ao LAGEPLAN, assim como a própria ciência geográfica e suas diversas possibilidades
de estudo e compreensão da realidade. Essa atividade proporcionou a construção de novas parcerias
ao projeto, e contribuiu com a sua divulgação e reconhecimento dentre a comunidade acadêmica.
As parcerias com escolas públicas e privadas é o principal elo entre Universidade e
comunidade, pois através delas é possível iniciar o processo de conscientização socioambiental a
partir da Educação Ambiental, como afirma Rodriguez e Silva (2013, p. 139) ―a educação
ambiental tem como propósito básico incorporar a cultura ambiental nas percepções, nos
comportamentos e no imaginário das populações‖. E a fim de alcançar este objetivo, o Museu
Mundo Livre realizou atividades pontuais e continuadas nas escolas Escola Municipal Presidente
Kennedy e Escola Estadual de Educação Profissional Presidente Roosevelt (Figura 5), localizadas
no município de Fortaleza – CE.
Como metodologia de abordagem, o projeto atua nas escolas através de oficinas, palestras,
exposições, dentre outras abordagens. Este trabalho tem como consequência o despertar dos alunos
para o exercício do questionamento, da crítica, do reconhecimento como agentes sociais e
transformadores de realidades, pois através do conhecimento adquirido podem se tornar cidadãos
atuantes em causas sociais, sejam elas de cunho ambiental, cultural ou político. As figuras abaixo
(Figuras 3 e 4) são registros de palestras que contaram com a participação de outros projetos de
extensão do LAGEPLAN, como o Mangrove que desenvolve a Educação Ambiental em áreas de
manguezal, ilustrado na figura 3. Utilizando de animais oriundos desse ecossistema e conservados

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1055


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

em formol. Registro de um momento de interação que envolveu professores, alunos e funcionários


da escola, atraídos pela curiosidade.

Figura 20 - Palestra e exposição sobre o Ecossistema Manguezal


na Escola Municipal Presidente Kennedy. VIANA, V. 2016.

Figura 21 - Palestra e exposição sobre Fósseis


na Escola Municipal Presidente Kennedy. VIANA, V. 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1056


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A exposição representada pela figura 4 teve como temática os fósseis. Os alunos foram
instigados a relacionar os conteúdos vistos em sala de aula com o tema da palestra. O público das
duas atividades contou com a participação de alunos do 6° e 8° anos do Ensino Fundamental II,
cada turma com 35 alunos, 3 professores e 2 funcionárias, em um total de 110 participantes.
A cada ano o projeto busca atuar de forma contínua nas escolas, pois a educação é um
processo diário construído dentro e fora da sala de aula, sendo cada vez mais notória a necessidade
de participação ativa dos discentes neste processo. No ano de 2016, o projeto atuou em três escolas,
com um número aproximado de 600 participantes, dentre alunos, professores e funcionários das
escolas. As principais atividades foram as exposições temáticas sobre fósseis, cultura indígena e
ecossistema manguezal, além de uma exposição sobre o continente africano, onde foram
apresentados alguns países, dentre eles: Guiné-Bissau, Angola, Cabo-Verde, etc. Essa atividade foi
realizada com nove turmas de 35 alunos da Escola Estadual de Educação Profissional Joaquim
Albano, e contou com a participação de alunos africanos dos cursos de graduação de UFC,
compartilhando vivências enriquecedoras.
Em meio a sociedade da informação e da tecnologia, nota-se a importância da pesquisa, e do
aprender a pesquisar, pois práticas que nos parecem simples se tornam complexas à medida em que
constroem opiniões e refletem ações. A extensão também alia ensino e pesquisa. Os pilares da
educação universitária se refletem na prática do estágio e na prática profissional. Não somente
contribui com a formação de graduandos (as), mas também de futuros universitários (as) que
passam a ter a oportunidade de conhecer a dimensão física da Universidade e a dimensão social.
Reconhecer a prática educativa como prática transformadora é essencial aos educadores ambientais
que trabalham diariamente em busca de um desenvolvimento ético e menos agressivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade pode ser compreendida como um organismo vivo, em constante transformação,


onde cada sistema do seu corpo, de forma interdependente, exerce um papel fundamental para a sua
sobrevivência. A educação é como um sistema deste organismo. Um sistema capaz de influenciar
em todos os outros através das capacidades e ação e reflexão. A partir do momento em que um dos
sistemas sente a necessidade de se adaptar à uma nova condição e lutar com um determinado
obstáculo em prol do seu bem-estar, inicia-se uma luta interna que dia após dia sente a necessidade
de se renovar, de buscar forças para atingir o seu objetivo.
A educação ambiental, inserida em um sistema amplo como a educação, insiste em construir
uma consciência ambiental transformadora, que enfrenta desafios diários relacionados à sua
aplicação e compreensão por parte da comunidade e até de seus defensores. A extensão
universitária vem contribuindo para a desconstrução de uma concepção utópica de educação

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1057


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ambiental, e contribuindo com a formação de cidadãos através de ações, por muitas vezes, simples,
mas com consideráveis efeitos posteriores.
Compreender o meio em que vivemos, o impacto de nossas ações, a necessidade de
conhecimento mais aprofundado sobre a realidade, de respeito aos componentes ecossistêmicos,
sejam eles físicos ou humanos, bem como, entender o significado de discussões ambientais teóricas
em âmbito global que se refletem no cotidiano são emergências que se fazem essenciais a toda
população, e quanto maior o raio de acesso a esse conhecimento, maior será seu reflexo na
sociedade.
As atividades realizadas pelo projeto de extensão Museu de Ciências Ambientais Mundo
Livre proporcionam a valorização da temática ambiental e da cultura associadas à própria formação
da nossa sociedade como assunto cotidiano nas comunidades envolvidas. Incentivaram o uso dos
recursos tecnológicos no processo de ensino- aprendizagem nas escolas parceiras; promoveu o
interesse dos alunos em discutir e pesquisar acerca dos temas trabalhados. Em suma, confirmou-se a
importância da parceria das escolas e comunidades com os projetos de extensão universitários que
impactam não somente na vivência dos alunos nas escolas, mas também proporciona aos bolsistas e
participantes das atividades uma formação fundamentada na realidade da educação brasileira.
O Museu Mundo Livre com seu acervo propicia o estudo de ecossistemas litorâneos, que é
realizado pelos alunos do Departamento de Geografia, e ainda possibilita o ensino desses
complexos ecossistemas com os alunos que o visitam. E principalmente, incentivam o debate desses
temas associando elementos naturais e humanos. Os alunos envolvidos no projeto desenvolvem
pesquisas, em sua maioria, sobre ecossistemas litorâneos, bacia hidrográfica e educação. O projeto
também propicia aos participantes a experiência na área da docência, pois as atividades são
planejadas no formato de aulas, sendo elas, expositivas ou práticas. Assim, o ensino, a pesquisa e a
extensão tornam-se aliados nesse processo.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Plano Nacional de Extensão Universitária. Fórum de Pró-Reitores de Extensão das


Universidades Públicas Brasileiras e SESu / MEC. 2000/2001.

BRASIL. Política Nacional de Extensão Universitária. Fórum de Pró-Reitores das Instituições


Públicas de Educação Superior Brasileiras. Manaus – AM. Maio de 2012.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução


aos parâmetros curriculares nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília:
MEC/SEF, 1997.126p.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1058


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

CASTRO, Luciana M. C. A Universidade, a extensão universitária e a produção de conhecimentos


emancipadores. In: Reunião Anual da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em
Educação. ANPED, 2004. Caxambu, MG.

LAYARGUES, Philippe P. Curso um panorama da educação ambiental no Brasil. Educação


Ambiental e Mudança Social. 2013.

LEFF, Enrique. Complexidade, racionalidade ambiental e diálogo de saberes. Revista educação e


realidade. v. 34, n 3. FALTA Só as páginas de início de término do artigo, 2009.

RODRIGUEZ, J. M. M. SILVA, E. V. Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável:


problemática, tendências e desafios. 3 ed. Fortaleza : Expressão Gráfica e Editora, 2013.

RODRIGUEZ, J. M. M. SILVA, E. V. Planejamento e gestão ambiental: subsídios da


geoecologia das paisagens e da teoria geossistêmica. 2 ed. Reimpressão. Fortaleza: Edições
UFC, 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1059


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Conceitos e Práticas em
Educação Ambiental
nas Escolas

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1060


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

A TRAGÉDIA DE MARIANA E SUAS IMPLICAÇÕES NA


EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESCOLAR

Aldineia BUSS
Graduanda do curso de Ciência Biológicas do IFES
aldineiabio@gmail.com
Mariela Mattos da SILVA
Bióloga, MSc Biologia Vegetal – UFES e DSc Fisiologia Vegetal – UFV
marielamtts@yahoo.com.br

RESUMO
Este trabalho objetivou verificar as implicações dos impactos ambientais e suas consequências
socioeconômicas, decorrentes do rompimento da barragem em Mariana-MG, nas ações de
Educação Ambiental (EA) em duas escolas estaduais do município de Colatina-ES. Para isso
procurou identificar as ações de EA realizadas nas escolas amostradas antes e após o desastre
ocorrido e diagnosticar se elas estão vinculados à problemática da tragédia vivenciada pela
comunidade, identificando as potencialidades e fragilidades das ações existentes, mediante a
metodologia de pesquisa documental (análise de diários de classe) e aplicação de questionários
semi-estruturados aos professores e alunos do Ensino Médio. Nota-se que problemas ambientais em
escala local favorecem a sensibilização ambiental, pois as temáticas relacionadas a tragédia
parecem ter sido significativas para os alunos, no entanto, verificou-se que a EA é pouco trabalhada
nessas escolas e o evento danoso local pouco influenciou nesse trabalho.
Palavras chave: Rio Doce; Educação ambiental; Desastre ambiental; Interdisciplinaridade.
ABSTRACT
This study aimed to verify the implications of environmental impacts and their socioeconomic
consequences, resulting from the dam break in Mariana-MG, in Environmental Education (EE)
actions in two state schools in the municipality of Colatina-ES. In order to do this, it sought to
identify the EE actions carried out in the schools sampled before and after the disaster that occurred
and to diagnose if they are related to the tragedy experienced by the community, identifying the
potentialities and weaknesses of the existing actions, through documentary research methodology
(Class diaries analysis) and the application of semi-structured questionnaires to teachers and high
school students. It was noted that environmental problems at the local level are in favor of
environmental awareness, since tragedy related themes seem to have been significant for the
students, however, it was verified that the EE isn‘t developed enough in these schools and the local
harmful event had little influence in this particular question.
Keywords: Rio Doce; Environmental Education; Environmental disaster; Interdisciplinarity.

INTRODUÇÃO

Assim como outras regiões da Mata Atlântica, a Bacia do Rio Doce teve, ao longo do
processo de colonização, sua ocupação e efetivo crescimento econômico sem preocupação com seu
uso sustentável, o que promoveu devastação de solos, matas e assoreamento do rio (AZEVEDO-
SANTOS et. al, 2016). Apesar do registro de degradação, esta região ainda abriga rica

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1061


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

biodiversidade e representa um importante manancial, cuja água é utilizada para uso doméstico,
agropecuário, industrial e geração de energia elétrica (CBH-Doce), tem uma importante função
ecológica na sua foz, além de comportar aproximadamente 3,6 milhões de habitantes distribuídos
em 200 municípios mineiros e 25 capixabas (ANA/CBH-DOCE, 2016).
No dia cinco de novembro de 2015, este rico ecossistema sofreu a maior de suas agressões
ao receber mais de 34 milhões de m³ de rejeitos de mineração provenientes do rompimento da
barragem de Fundão em Mariana-MG, pertencente à Samarco Mineradora, causando graves danos
ambientais e socioeconômicos imediatos. Como consequência, preocupações quanto aos danos
futuros são levantados, tanto devido aos impactos negativos a biodiversidade local, quanto pelas
consequências nas comunidades ao longo do rio (IBAMA, 2015).
Nesse contexto, vê-se na Educação Ambiental (EA) escolar, uma possibilidade de promover
um diálogo entre os diferentes agentes da comunidade, e dessa forma, fazer da escola um espaço
privilegiado para estabelecer conexões e disseminar informações, permitindo a discussão do
problema por ela vivenciado. Dentre as vertentes da EA, a Educação Ambiental Crítica pretende
contribuir para a formação de valores e atitudes capazes de orientar o indivíduo a intervir na
sociedade a fim de capacitá-lo na identificação e discernimento de ações quanto às questões
socioambientais visando à justiça ambiental. Essa tendência da EA busca articular a escola com os
problemas ambientes locais e regionais onde está inserida (BRASIL, 2004).
Dessa forma, o maior desastre ambiental da história do país pode resultar em uma
oportunidade de aprendizado. Entretanto, para que isso ocorra, os trabalhos de Educação Ambiental
desenvolvidos nas escolas necessitam estar suficientemente vinculados à problemática da tragédia
vivenciada pela comunidade, e que estes não estejam apenas a cargo de disciplinas isoladas, mas
sim articulados de forma interdisciplinar. Diante do exposto, é imprescindível que a EA dentro das
escolas seja um reflexo das necessidades da comunidade na qual está inserida, contribuindo para
despertar nos alunos a construção de valores que os possibilita a participação na gestão ambiental,
buscando a relação harmoniosa da sociedade com o ambiente, bem como uma melhor compreensão
das consequências da exploração indiscriminada e inconsequente do meio natural.
Em vista disso, este trabalho objetivou verificar as implicações dos impactos ambientais e
suas consequências socioeconômicas, decorrentes do rompimento da barragem em Mariana, MG,
nas ações de Educação Ambiental em duas escolas estaduais do município de Colatina, ES. Para
isso procurou identificar as ações de EA realizadas nas escolas amostradas antes e após o desastre
ocorrido no rio e diagnosticar se os trabalhos de EA desenvolvidos nas escolas pesquisadas estão
vinculados à problemática da tragédia vivenciada pela comunidade, identificando as potencialidades
e fragilidades das ações existentes.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1062


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada nos turnos matutino e vespertino das escolas EEEFM Rubens
Rangel e EEEFM Conde de Linhares, situadas na sede do Município de Colatina, localizado no
noroeste do Estado do Espírito Santo, cidade esta que possui o Rio Doce como o seu principal
manancial de abastecimento. O público alvo deste trabalho compreendeu os professores dessas
escolas e os alunos da 2ª série do ensino médio através de questionários semiestruturados. Além
disso, foram analisados os diários de classe das referidas escolas, registrados no período entre
fevereiro a outubro de 2015 referentes à 1ª série, sendo duas turmas do turno matutino e duas no
vespertino em cada escola, todas escolhidas arbitrariamente. Para o período após a tragédia foram
considerados os diários de classe registrados no período entre novembro de 2015 e agosto de 2016,
referentes as mesmas turmas de 2015, agora 2ª série/2016 do ensino médio. A coleta de dados foi
realizada em visitas às escolas durante o segundo semestre de 2016.
A EEEFM Rubens Rangel (Escola I) possui 155 alunos matriculados na 2ª série do ensino
médio e desses, 77 responderam ao questionário, o que corresponde a 49,6% dos alunos da 2ª série.
Já na EEEFM Conde de Linhares (Escola II) dos 230 alunos matriculados nos turnos matutino e
vespertino na 2ª série do ensino médio, 93 responderam ao questionário, o equivalente a 40,4%.
Destaca-se que nessa última escola o ensino médio possui cursos técnicos integrados, dessa forma
as turmas participantes da pesquisa foram duas turmas do curso de administração, uma em cada
turno, uma do curso de Logística, no matutino e uma do curso de informática, no vespertino.
Quanto a amostra de professores, na Escola I, dos 21 docentes atuantes nos turnos pesquisados, 13
(62%) participaram da pesquisa, enquanto na Escola II, do total de 41 professores, 11 (27%)
aceitaram participar desta pesquisa. Os dados obtidos foram tabulados a fim de quantificar e
qualificar as ações de EA trabalhadas nas escolas, além de relacionar essas ações à problemática
vivenciada no contexto local.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao se analisar os diários de classe da Escola I nota-se que houve um aumento expressivo no


número de aulas relacionadas à EA quando se compara o mesmo período de tempo antes e após a
tragédia no Rio Doce, apesar de que, dos temas trabalhados no período posterior, apenas dois estão
diretamente relacionados à tragédia do Rio Doce e dois podem ser relacionados de maneira indireta
―Patrimônio Ambiental natural‖ e ―Consumismo e sociedade capitalista‖ (Tabela 1). Por outro lado,
na Escola II (Tabela 2) observa-se que o número de aulas relacionadas à EA apresenta uma queda
no período posterior à tragédia, quando comparado ao período anterior e não há nenhuma temática

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1063


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

trabalhada relacionada à tragédia ocorrida no Rio Doce, o que evidencia que a tragédia não teve
influência ou influenciou pouco no trabalho com EA nessa escola.
Dada a importância de as atividades de EA estarem contextualizadas na realidade local,
esperava-se que a tragédia ocorrida no rio motivasse o trabalho com EA, além de ser um tema
gerador para tal, mas isso ocorreu apenas de forma modesta. Lucatto e Talamoni (2007) ao
investigar a EA realizada em uma escola estadual de ensino médio em São Paulo, constataram que
ela vinha sendo trabalhada apenas ocasionalmente de forma tradicional e descontextualizada da
realidade local e sem nenhuma conexão entre as disciplinas. Os mesmos autores defendem ainda
que o estudo de bacia hidrográfica é um tema capaz de possibilitar uma visão holística do ambiente,
onde integram-se o ambiente físico e os contextos social e econômico. O que favorece o trabalho
interdisciplinar na EA.
Além disso, uma catástrofe (como a que ocorreu no Rio Doce), apesar de danosa, contribui
para a percepção e a compreensão dos riscos ambientais e por consequência, sociais que geralmente
passam despercebidos, ―manifestam o oculto‖, trazendo à tona a possibilidade de debate e estudo
(CARTEA, 2005). Tal afirmativa é feita pelo autor após realizar um estudo a respeito da resposta do
sistema regional de educação para a uma catástrofe ocorrida em Galiza (Espanha) em novembro de
2002, na qual o naufrágio de um navio petroleiro ocasionou o derramamento de sua carga na costa,
o que provocou além de danos ambientais, danos sociais e econômicos devido à relação de
dependência da comunidade local com a costa marítima.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1064


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 1: Disciplinas que abordaram assuntos relacionados à EA desenvolvidos na Escola I antes e depois da tragédia.

ANTES DEPOIS
Disciplinas Nº de aulas Assunto Nº de aulas Assunto
Biologia 9 Impactos antrópicos no ambiente; - -
Carta de 2070 (Dia da água);
Geografia 3 Crise hídrica e uso sustentável da água; 10 Seca no Espírito Santo;
Passeata pelo uso sustentável da água Mudanças climáticas e problemas
(Dia Mundial do Meio Ambiente); ambientai; Sustentabilidade social e
ambiental; Importância da arborização
urbana.
Química 2 Causas e consequências da chuva ácida; 19 Efeito estufa e aquecimento global;
Efeito estufa e aquecimento global. Causas e consequências da chuva ácida;
Meio ambiente.
L. Portuguesa 2 Visita ao Projeto Tamar 7 Entre jovens: eco sim, chato não
Sustentabilidade
Rejeitos no rio Doce
O lugar onde vivo
Arte 1 Patrimônio ambiental 2 Patrimônio ambiental

Filosofia 1 Industrialização e impactos ambientais 3 A tragédia no rio Doce

Física - - 1 Energia limpa e sustentável

Sociologia - - 1 Consumismo e sociedade capitalista


Total 18 44
Fonte: Do autor.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1065


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

Tabela 2: Disciplinas que abordaram assuntos relacionados à EA desenvolvidos na Escola II antes e depois da tragédia.

ANTES DEPOIS
Disciplinas Nº de aulas Assunto Nº de aulas Assunto
Fontes de energia; Aquíferos;
Geografia 11 Escassez de água, degradação do solo e 24 Mobilização para causa ambiental;
segurança alimentar; Fundo econômico verde; Rio + 20;
Bacias hidrográficas. CFCs, efeito estufa, desmatamento e
biodiversidade.
L. Portuguesa 7 Impactos ambientais causados pelo 8
homem; Sustentabilidade
Crise hídrica no Brasil;
Anúncios do Greenpeace.
Sociologia 27 Sociedade e meio ambiente; 6 Sustentabilidade ambiental
Legislação ambiental. Sociedade e meio ambiente
Biologia 3 Desequilíbrio ambiental; - -
Poluição.
Química 2 Efeito estufa e chuva ácida. - -
Física - - 1 Propagação de calor e efeito estufa
Empreendedorismo 2 Empreender com sustentabilidade e - -
responsabilidade social.
Logística empresarial 3 Empresa sustentável; - -
Ciclo de vida fechado do produto.
Fundamentos da 1 O modelo da produção enxuta com - -
logística diminuição do desperdício e do impacto

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1066


Educação ambiental: ecopedagogiae sustentabilidade dos recursos naturais

ambiental.
Informática - - 2 O descarte do lixo eletrônico no Brasil
Gestão de pessoas - - 2 O consumo consciente da água (projeto
interdisciplinar)
Planejamento - - 1 Sustentabilidade (trabalho interdisciplinar)
empresarial e estratégico
Total 56 44
Fonte: Do autor.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1067


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Ainda de acordo com as tabelas 1 e 2 é possível inferir que apesar de ambas as escolas terem
trabalhado temas muito importantes para a compreensão da crise ambiental de forma geral, está
clara a ausência de interdisciplinaridade no desenvolvimento das temáticas. Ao que parece,
conforme os registros encontrados nos diários que elas foram desenvolvidas de forma disciplinar,
sem relacionar-se a outra(s) disciplina (s), visto que apenas duas temáticas foram registradas como
tendo sido desenvolvidas em conjunto com uma ou mais disciplinas (Tabela 2).
Desde o surgimento da EA, ela vem sendo proposta como um ato de formação político-
cidadã, crítica e contextualizada, estabelecendo a relação entre o global e o local. Como já defendia
o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global
(FORUM INTERNACIONAL DAS ONGs, 1992), a EA em um contexto social e histórico deve
envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o universo
de forma interdisciplinar e defendendo a participação das comunidades no planejamento e
implementação de suas próprias alternativas às políticas vigentes, visando mudanças na qualidade
de vida.
Dessa forma, a EA cria uma identidade que reaproxima o indivíduo da natureza e do meio
em que vive ao proporcionar uma reflexão crítica sobre a sua relação e a dos demais membros da
sociedade com o seu habitat e as consequências socioambientais dessa relação (ROSA et.al, 2015).
Para isso, os conteúdos curriculares devem ser tratados de forma crítica e de forma a dialogar com a
realidade local vivida, levando a construção de um novo conhecimento estimulador de novas
práticas que promovem transformações individuais e coletivas e ao mesmo tempo subsidia a
transformação da sociedade (GUIMARÃES, 2007).
Dos alunos participantes da pesquisa, apenas 10% dos estudantes da Escola I afirmaram ter
participado de algum trabalho de EA na escola na qual estudam no período anterior ao rompimento
da Barragem. Enquanto na Escola II nenhum aluno afirmou ter participado de atividades de EA
nesse período. Esse número aumenta muito para o período pós-tragédia, passando para 58% na
Escola I e 42% na Escola II dos entrevistados que afirmaram ter participado de atividades de EA
(Figura 1).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1068


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Você participou de algum trabalho de Educação


Ambiental?
120%

100% Escola I

80% Escola II

60%

40%

20%

0%
Sim Não Não estudei Sim Não
nesta escola
nesse período
ANTES DEPOIS

Figura 1: Participação de alunos em atividades de EA antes e depois da tragédia de Mariana, MG.

Dos alunos da Escola I que afirmaram ter participado de atividades de EA antes da tragédia,
todos citaram atividades práticas ou vinculadas a projetos. Para a Escola II ressalta-se que a análise
documental referente a esse período (visto anteriormente na Tabela 2) constata que houve
atividades de EA, no entanto, os dados da figura 1 podem indicar que nenhum dos alunos
entrevistados lembrou-se de atividades de EA neste período. Esses dados revelam a baixa
frequência com que atividades relacionadas a EA são trabalhadas em ambas as escolas e/ou o quão
significativos são os aprendizados construídos a partir dessas atividades.
Retoma-se aqui a importância da interdisciplinaridade, que proporcionará a compreensão
mais completa dos temas, e das atividades práticas e lúdicas no fazer da EA para que ela seja
significativa para os educandos. Para Santos (2009) a ludicidade é uma forma estimuladora para se
alcançar a totalidade no processo de aprender e na mudança de atitudes que atendem aos objetivos
propostos pela EA.
Dos educandos da Escola I que disseram ter participado de atividades de EA nesse período,
destacam-se, dentre as atividades citadas por eles, os assuntos relacionados a tragédia ocorrida no
Rio Doce, como ―Rios Doce e Santa Maria e a tragédia‖ (33% citaram) e ―Temas polêmicos: a
tragédia do Rio Doce‖ (22% citaram), o que mostra a relevância desses trabalhos para os alunos. Já
na Escola II um reduzido percentual de alunos citou apenas um assunto relacionado à tragédia ―A
tragédia do Rio Doce‖ (16%), o que denota a pouca atenção dedicada pela escola a essa temática,
como já exposto na tabela 2.
Em suma, os dados relacionados às atividades de EA desenvolvidas, obtidas a partir dos
alunos, sugerem a influência da tragédia do Rio Doce na EA escolar e também demonstram à
relevância que ganham os assuntos vinculados a realidade local para os alunos, o que revela a
importância de se trabalhar temáticas de EA que se relacionem ao contexto do ambiente habitado
pelos alunos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1069


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Além da análise de documentos e da pesquisa realizada com os alunos, também se buscou


conhecer as nuances da EA realizada nessas escolas a partir da investigação junto aos docentes que
nelas atuam. A figura 2 mostra o envolvimento dos professores em atividades de EA antes e após a
tragédia no Rio Doce nas escolas pesquisadas, sendo observada pouca variação no trabalho docente
com EA quando comparados os períodos. Na Escola I observa-se um aumento de 8% no número de
professores que afirmou ter se envolvido em trabalhos de EA, enquanto na Escola II houve a
diminuição desse número em 9%. Em ambos os períodos, predomina os professores que afirmaram
não terem se envolvido em atividades de EA.

Você desenvolveu ou acompanhou algum trabalho


de Educação Ambiental?
80%
70% Escola I
60%
Escola II
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Sim Não Sim Não
ANTES DEPOIS

Figura 2: Envolvimento dos professores em trabalhos de EA antes e depois da tragédia

Quanto às atividades de EA desenvolvidas após a tragédia, dos seis professores da Escola I


que afirmaram tê-las realizado, três citaram trabalhos envolvendo o assunto sobre a tragédia do Rio
Doce. Já na escola II dos quatro professores que disseram ter desenvolvido atividades de EA essa
temática foi citada por apenas um professor. Esses resultados mostram que poucos professores
desenvolvem atividades de EA nas suas escolas e que há a influência da tragédia nas temáticas
trabalhadas, mas em pequena escala.
Quando se questionou os professores sobre a qualidade da EA desenvolvida nas suas
escolas, tem-se que dos professores da Escola I, 54% define a EA como ―boa‖, enquanto 38% a
consideram ―insuficiente‖ e na Escola II, 36% dos docentes define a EA como ―boa‖, enquanto
55% a tem como ―insuficiente‖ (Figura 3) Os professores que definiram a EA como insuficiente
apontaram causas como a pouca participação dos alunos, a falta de envolvimento dos profissionais,
poucos resultados quando se trabalha, restrita às disciplinas de Biologia e Geografia, falta de tempo
da equipe pedagógica, falta de ferramentais didáticas e de profissionais qualificados.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1070


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Como você define a EA desenvolvida na sua


escola?
60%

Escola I
50%
Escola II
40%

30%

20%

10%

0%
Insuficiente Boa Não respondeu

Figura 3: Classificação dos professores quanto a qualidade da EA nas escolas analisadas.

Os dados corroboram com a pesquisa de Lamosa e Loureiro (2011) onde encontraram que
50% dos professores atribuem as dificuldades em se trabalhar a EA nas escolas à precariedade de
recursos materiais e humanos, à falta de tempo para planejamento e realização de atividades
extracurriculares. MEC (acesso em jun. 2017) também considera a pouca disponibilidade de tempo
dos professores como um dos principais fatores que dificultam o desenvolvimento de projetos de
EA nas escolas.

Para Tristão (2004, p. 24) o atual momento é de ruptura entre a lógica cartesiana que
fragmenta o objeto de conhecimento e a visão sistêmica e ambiental, uma visão holística onde não
há fronteira ―entre mundo natural e social, entre cultura e natureza, entre sujeito e objeto‖. Tal
ruptura está em processo e a educação ambiental vem a ser uma possibilidade de proporcionar o
pensamento holístico que relaciona homem e natureza e que por isso é capaz de promover a
consciência ambiental crítica. Nesse sentido, a Educação Ambiental Crítica assume um papel
desafiador, não sendo menos desafiador o papel do educador ambiental do qual se requer a
constante compreensão dos processos sociais e dos riscos ambientais que se acentuam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da análise das atividades de EA desenvolvidas antes e após a tragédia de Mariana,


MG, observou-se que problemas ambientais de ordem local e regional favorecem a sensibilização
ambiental, pois, se constituem em espaços conhecidos dos indivíduos, afetando-os de modo mais
direto e intenso. Entretanto, dentre os assuntos dessas atividades realizadas nas escolas
pesquisadas, poucos são os que tratam da tragédia de forma a se valer de um grave problema local,
com o qual podem ser relacionados diversos problemas ambientais de dimensão global. Além disso,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1071


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

poucas são às vezes em que a interdisciplinaridade aparece no desenvolvimento da EA nessas


escolas.
A problemática ambiental vivida pelas comunidades que se relacionam com o Rio Doce é
complexa no sentido de que ela não pode ser concebida sob uma visão estreita de ambiente, mas ser
discutida sob o enfoque pedagógico interdisciplinar proposto pela EA crítica, a fim de promover a
consciência ambiental que envolve a compreensão dos diversos aspectos que se relacionam no
ambiente promovendo no educando a capacidade de compreender as tragédias e riscos ambientais e
saber atuar de forma politica e cidadã. Assim sendo, a prática diagnosticada nessas escolas precisa
ser aperfeiçoada para estar em sintonia ao que se pretende com a Educação Ambiental Crítica.

REFERÊNCIAS

ANA/CBH-Doce – Agência Nacional de Águas/Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Doce. Encarte


Especial sobre a Bacia do Rio Doce Rompimento da Barragem em Mariana/MG.
Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos – SPR, Brasília – DF, 2016.

AZEVEDO-SANTOS, V. M. et. al. A dura lição com a tragédia do rio Doce. Boletim Associação
Brasileira de Limnologia, v. 42, n.1, p.09-13, 2016.

CARTEA, P. A. M. Educación ambiental en tiempos de catástrofe: la respuesta educativa al


naufragio del Prestige. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 31, n. 2, p. 265-283, 2005.

CBH-Doce. Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce. A bacia. Disponível em:


<http://www.cbhdoce.org.br/a-bacia/>. Acesso em: 15/05/2016

BRASIL. Identidades da educação ambiental brasileira / Ministério do Meio Ambiente. Diretoria


de Educação Ambiental; Philippe Pomier Layrargues (coord.). – Brasília: Ministério do Meio
Ambiente, 2004.

FÓRUM INTERNACIONAL DAS ONGs. Tratado de Educação Ambiental para Sociedades


Sustentáveis e Responsabilidade Global. ECO/92, Rio de Janeiro, 1992. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/deds/pdfs/trat_ea.pdf >. Acesso em: 05/06/2016.

GUIMARÃES, M. Educação ambiental: participação para além dos muros da escola. In: MELLO,
S. S.; TRAJBER, R. (Coord.) Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação
ambiental na escola. Brasília: MMA: UNESCO, 2007.

IBAMA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Laudo
Técnico Preliminar: Impactos ambientais decorrentes do desastre envolvendo o rompimento da

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1072


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais. Diretoria de Proteção Ambiental - DIPRO


Coordenação Geral de Emergências Ambientais – CGEMA, 2015.

LAMOSA, R. A. C.; LOUREIRO C. F. B. A educação ambiental e as políticas educacionais: um


estudo nas escolas públicas de Teresópolis (RJ). Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n.2, p.
279-292, 2011.

LUCATTO, L. G.; TALAMONI, J. L. B. A construção coletiva interdisciplinar em educação


ambiental no ensino médio: a microbacia hidrográfica do Ribeirão dos Peixes como tema
gerador. Ciência & Educação, v. 13, n. 3, p. 389-398, 2007.

MEC. Ministério da Educação. Registro de projetos de Educação Ambiental na escola. Disponível


em <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/pol/registro_projetos.pdf>. Acesso em: 09/06/2017.

ROSA, T. S. et. al. A educação ambiental como estratégia para a redução de riscos
socioambientais. Ambiente & Sociedade, São Paulo v. 18, n. 3, p. 211-230, 2015.

SANTOS, L. M. M. A importância de práticas de ensino criativas na Educação Ambiental.


Encontro Nacional de pesquisas em Ciências (ENPEC). Florianópolis, 2009.

TRISTÃO, M. A educação ambiental na formação de professores: redes de saberes. São Paulo:


Annablume. Vitória, Facitec, 2004.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1073


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ESTUDO DAS MICROALGAS NA COMUNIDADE ESCOLAR COMO


INSTRUMENTO DE CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL

Aline Rodrigues da SILVA


Graduanda em Ciências Biológicas/URCA
alliny-rodrigues10@hotmail.com
Elizângela Maria Ferreira RICARTE
Graduanda em Ciências Biológicas/URCA
elizsalvatore@yahoo.com.br
Sírleis Rodrigues LACERDA
Dep. de Ciências Biológicas/URCA
Elaine Cristina Conceição de OLIVEIRA
Orientadora / Dep. de Ciências Biológicas/URCA

RESUMO
A escola constitui-se ambiente ideal para provocar a sensibilização ambiental, pois é no decorrer do
processo formativo educacional que se encontra os espaços mais favoráveis para a introdução do
contexto ambiental e a implementação de práticas integrativas, participativas e comprometidas com
o meio ambiente. Assim, o principal objetivo desse trabalho foi possibilitar maior envolvimento dos
alunos nas questões ambientais a partir da abordagem água/algas. Para tanto, as atividades foram
desenvolvidas no período de abril de 2016 a fevereiro de 2017, e envolveram alunos do 2º e 3º anos,
de duas escolas de nível médio pertencentes à rede pública de ensino sendo, Colégio Estadual
Wilson Gonçalves e Escola Teodorico Teles de Quental, ambas localizadas em Crato - CE. Foram
definidas e elaboradas variadas estratégias didáticas, como: palestras, dinâmicas, jogos, vídeos,
debates, aplicação de questionários, oficinas, visitas ao Laboratório de Botânica da Universidade
Regional do Cariri - URCA, aulas de campo com coletas, e práticas laboratoriais envolvendo a
análise de amostras de água, para avaliação de sua qualidade. Como resultados, conseguiu-se
desenvolver junto aos alunos, importante conhecimento sobre as microalgas, incluindo suas
funções, aplicações, identificação de seus principais representantes, e com isso, a conscientização
acerca da necessidade da proteção e do monitoramento dos ecossistemas aquáticos. Dessa forma, as
variadas ações educativas direcionadas à comunidade escolar, possibilitaram ir além de um
conhecimento científico, uma vez que instigaram a percepção dos alunos para a necessidade do
reconhecimento dos valores ambientais e de sua relação de condicionamento da vida em suas
diferentes formas.
Palavras-chave: Ecossistemas Aquáticos; Estratégias Educativas; Algas; Percepção Ambiental.
ABSTRACT
The school is an ideal environment to provoke this environmental awareness, because it is during
the educational training process that the most favorable spaces for the introduction of the
environmental context and the implementation of integrative, participative and committed practices
with the environment are found. Thus, the main objective of this work was to allow greater
involvement of students in environmental issues from the water / algae approach. To do so, the
activities were developed from April 2016 to February 2017, and involved students from the 2nd
and 3rd years of two middle schools belonging to the public school system, being Wilson
Gonçalves State College and Teodorico Teles School of Quental, both located in Crato - CE.
Several didactic strategies were defined and elaborated, such as lectures, dynamics, games, videos,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1074


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

debates, application of questionnaires, workshops, visits to the Laboratory of Botany of the


Regional University of Cariri - URCA, field lessons with collections, and laboratory practices
involving Analysis of water samples to evaluate their quality. As a result, students were able to
develop important knowledge about microalgae, including their functions, applications,
identification of their main representatives, and with that, awareness about the need for protection
and monitoring of aquatic ecosystems. In this way, the various educational actions directed to the
school community, allowed to go beyond a scientific knowledge, since they instigated the students'
perception of the need to recognize the environmental values and their relation of conditioning of
life in its different forms.
Keywords: Aquatic Ecosystems; Educational Strategies; Algae; Environmental Perception.

INTRODUÇÃO

A água é um bem de suma importância para a manutenção da vida na terra. Esse recurso
natural encontra-se distribuído de várias maneiras e em diversos locais, porém, de todo o volume
disponível, apenas uma diminuta proporção é de água doce. Como se não bastasse a necessidade de
administração de uma reduzida quantidade de água para prover as diferentes formas de vida, temos
ainda os acelerados crescimentos urbanos que associados às inúmeras intervenções antrópicas
agravam a disponibilidade hídrica, afetando-a em quantidade e qualidade, além da prática dos usos
indiscriminados, da distribuição irregular das precipitações e, ainda, das condições ambientais de
algumas regiões que intensificam os processos de evaporação.
Sendo assim, faz-se necessário despertar na comunidade escolar a conscientização
ambiental, a fim de que os discentes venham a desenvolver atitudes comprometidas e relacionadas à
necessidade de recuperação/proteção dos ecossistemas aquáticos, compreendendo que a água não é
um recurso infinito, mas que requer um manejo coletivo com vistas ao uso racional e à manutenção
da sua qualidade. A escola constitui-se ambiente ideal para provocar essa sensibilização ambiental,
pois é no decorrer do processo formativo educacional que se encontra os espaços mais favoráveis
para a introdução do contexto ambiental e a implementação de práticas integrativas, participativas e
comprometidas com o meio ambiente.
Segundo Rangel et al. (2013), é na escola onde o indivíduo adquire discernimento para a
adoção de uma postura de respeito e proteção ao meio ambiente, e nesse sentido, ao se trabalhar a
educação ambiental nesses espaços, o aluno despertará para a necessidade de contribuir enquanto
membro de sua comunidade, com a conservação e/ou preservação ambiental.
Para um maior envolvimento dos alunos nas questões ambientais, e particularmente, na
realidade que envolve os ecossistemas aquáticos, utilizou-se a abordagem das Microalgas como
principal ferramenta de sensibilização ambiental. De acordo com Oliveira et al. (2008), esta
comunidade é composta de organismos microscópicos diversos, clorofilados, e, portanto,
fotossintetizantes, que vivem nos mais variados ambientes aquáticos, onde atuam como base da

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1075


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

cadeia alimentar, respondem pela produção de oxigênio do meio, além de consistirem importantes
indicadores da qualidade ambiental, isto é, quaisquer modificações incidentes sobre as massas
d‘água são prontamente refletidas por tais organismos.
Para Burliga (2006), a utilização das Microalgas na avaliação da qualidade da água
caracteriza o estado atual do ambiente, podendo predizer mudanças e identificar o estresse
ambiental, seja este natural ou antropogênico. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo
desenvolver estratégias didáticas de cunho ambiental junto aos alunos de ensino médio como,
palestras, dinâmicas, jogos, oficinas, dentre outras, contudo, todas integradas ao conhecimento das
Microalgas que constituem a base de qualquer corpo d‘água, e, portanto, das quais dependem a sua
estrutura e funcionamento.
Buscou-se com essas intervenções também difundir as aplicações dessa comunidade quanto
ao monitoramento da qualidade hídrica, uma vez que somada às suas variadas funções no meio, está
a de excelentes bioindicadores das condições ambientais incidentes, não esquecendo ainda, de
abordar os riscos a ela associados quando alteramos o equilíbrio de seus habitats, o que possibilitou
construir uma percepção ambiental nos alunos alicerçada na compreensão pragmática da
importância das ações coletivas, participativas e corresponsáveis no trato dos recursos naturais e na
sua proteção.

MATERIAL E MÉTODOS

As atividades desse trabalho foram desenvolvidas no período de abril de 2016 a fevereiro de


2017, e envolveram duas escolas de nível médio pertencentes à rede pública de ensino sendo,
Colégio Estadual Wilson Gonçalves e Escola Teodorico Teles de Quental, ambas localizadas no
município de Crato - CE, com participação de 28 e 20 alunos, respectivamente, sendo estes do 2º e
3º anos das referidas escolas.
As contribuições foram realizadas por meio de uma série de encontros com frequência
semanal, sendo concretizadas sempre no contraturno das aulas regulares, condição esta que se
mostrou desafiadora por ter que atrair os alunos para horários em que não estão habitualmente
presentes nas escolas. Entretanto, ainda assim, conseguiu-se um público significativo e de
participação efetiva e contínua, a partir da qual se possibilitou ir além da disseminação de
informações teóricas (conceitos, definições...), e sobretudo, desenvolver a sensibilidade ambiental
através do desenvolvimento de ações práticas e que fizeram contato com o seu contexto real, por
exemplo, explorando as problemáticas dos ecossistemas aquáticos de sua própria localidade.
Para o alcance das referidas ações, a equipe executora realizou avaliações ambientais a partir
das condições diretamente observáveis em diferentes corpos d‘água da região, com a obtenção de
registros fotográficos, os quais foram utilizados nos diferentes momentos educativos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1076


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Foram também efetuadas as coletas de amostras de água com diferentes colorações a partir
de diferentes ambientes aquáticos, a fim de evidenciar a variação quanto à ocorrência das espécies
de Microalgas, como forma de trabalhar com a comunidade escolar que as alterações na
composição dessa comunidade são resultantes das modificações, principalmente de natureza
antrópica, que incidem nesses ambientes. Essa etapa permitiu aos alunos, a caracterização dos
variados tipos de ocorrência, com o entendimento de que estes são determinados pelo nível de
desnaturação dos ecossistemas.
E com vistas à conscientização da comunidade escolar sobre a necessidade de controle de
qualidade da água, a equipe também atuou através da implementação de diversas estratégias
educativas e direcionadas ao conhecimento das Microalgas, que consiste na mais importante biota
aquática e que, portanto, constitui-se na ferramenta fundamental de monitoramento de ecossistemas
aquáticos.
Os principais instrumentos utilizados para essa mediação educativa e formativa, seguem
descritos abaixo:

 Execução de dinâmicas integrativas e relacionadas à temática;


 Palestras e debates junto à comunidade escolar, com abordagens sobre a importância do
cuidado com a água e o conhecimento das microalgas;
 Utilização de instrumentos alternativos com vistas ao exercício da abordagem água/algas
junto à comunidade escolar (cartazes, desenhos, jogos, músicas e etc);
 Desenvolvimento de oficinas sobre a temática água/algas e medidas de conservação;
 Caracterização dos diferentes tipos de ocorrência das Microalgas, através de aulas de campo;
 Análises de amostras de Microalgas, a partir de ambientes aquáticos eutrofizados da região;
 Elaborações textuais pelos próprios alunos, a fim de consolidar o conhecimento, dentre
outas atividades.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As atividades foram iniciadas com palestras envolvendo a comunidade escolar na


importância do cuidado com a água, seus múltiplos usos, a relação de quantidade e qualidade e os
danos causados pelo o homem, os quais resultam em variados processos de poluição, e
consequentemente, degradação e perda de vida útil. De acordo com Georgin e Oliveira (2014), os
estudos atuais acerca dos problemas ambientais surgem a partir de novos paradigmas que visam
uma direção mais sistêmica e complexa da sociedade. Nesse contexto a escola emergiu suas
discussões sobre a educação ambiental, com um processo de reconhecimento de valores, em que as
novas práticas pedagógicas devem ser responsáveis na formação dos sujeitos de ação e de cidadãos
conscientes de seu papel no mundo.
Após os embasamentos teóricos iniciais acerca dos recursos hídricos, incluindo discussões
sobre o ciclo da água e as intervenções antrópicas, também se abordou o conhecimento sobre as

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1077


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Microalgas, evidenciando através de intervenções expositivas e dialogadas, suas funções,


aplicações, mas também os possíveis riscos a elas associadas quando são provocadas alterações na
dinâmica natural dos ecossistemas aquáticos. Esses momentos foram marcados pelos debates que os
permitiram refletir e reconhecer a importância da prática de atitudes simples, mas que
coletivamente, podem ser determinantes à mitigação e/ou erradicação de impactos ambientais
como, por exemplo, o não lançamento de resíduos sólidos nos ambientes, especialmente nos
mananciais, o uso consciente e racional da água, bem como a necessária incorporação de hábitos
cotidianos que promovam e propaguem a sua conservação.
Posteriormente, produziu-se vídeos com registros fotográficos dos principais ecossistemas
aquáticos da região, os quais aproximaram os alunos ao seu contexto ambiental real, evidenciando
imagens de descasos a partir de cenários ambientais degradados das próprias localidades em que
estão inseridos, o que provocou nos mesmos um estado de impacto, visto que compreenderam
também contribuírem, de alguma forma, para as alterações demonstradas. Abordou-se com esse
momento, o fato de tais descuidos comprometerem variados elementos do meio natural, inclusive a
qualidade hídrica, sobre a qual mostrou-se como as Microalgas estão representadas quando há
condições de poluição nos corpos d‘água, esclarecendo os riscos.
Aulas de campo foram realizadas em dois dos ecossistemas aquáticos retratados nos vídeos
para que os alunos pudessem ser sensibilizados in loco quanto às variadas modificações que se
acumulam nos ambientes, e que são decorrentes do mau uso dos espaços naturais e dos lançamentos
indiscriminados, os quais quando não diretamente lançados nos rios, terminam atingindo os seus
leitos, posteriormente. E sobre essas questões evidenciadas no campo, já haver trabalhado
previamente na escola tais ambientes e suas problemáticas, muito contribuiu para o entendimento da
responsabilidade coletiva, a qual foi possibilitada a partir de processos reflexivos instigados com
base na própria vivência dos alunos.
Nos referidos ambientes visitados, os quais consistem em rios urbanos e eutrofizados
localizados no município de Crato - CE, foram obtidas amostras de Microalgas a partir da
subsuperfície da água através de potes de polietileno, nos quais, se procedeu a fixação com formol a
4%. Tais amostras foram analisadas por microscopia óptica pelos próprios alunos com o intuito de
familiarizá-los com os representantes algais ocorrentes em sua localidade, e para tanto,
desenvolveram um álbum de desenhos que registrou as divisões e os principais gêneros
identificados.
De acordo com os resultados alcançados nas referidas análises, os alunos foram orientados a
relacionarem os dados encontrados à qualidade ambiental dos ecossistemas aquáticos avaliados,
instigando-os a perceber que quando o meio é alterado, consequentemente também se altera sua
biota, e se produz efeitos diretos não somente na inviabilização do recurso e na modificação da

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1078


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

diversidade biológica, mas também na expressão dos riscos à saúde humana em função do
crescimento de espécies nocivas.
A relação entre meio ambiente e educação para a cidadania assume um papel cada vez mais
desafiador, demandando a emergência de novos saberes para apreender processos sociais que se
complexificam e riscos ambientais que se intensificam. Desse modo, a Educação Ambiental deve
ser vista como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de
conhecimento e forma cidadãos com consciência local e planetária. Com base nessa compreensão, o
seu enfoque deve buscar uma perspectiva holística de ação, que relaciona o homem, a natureza e o
universo, tendo em conta que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua
degradação é o homem (JACOBI, 2003).
Outros instrumentos didáticos aplicados aos alunos no decorrer desse trabalho foram textos
com abordagens à temática poluição da água, a fim de melhor fundamentá-los sobre o processo que
é decorrente das ações antrópicas, diretas ou indiretas, nos diversos ambientes aquáticos, como
também, a confecção de cartazes para representação de suas concepções sobre esse problema e suas
consequências. A partir das ações relatadas acima, as quais estiveram voltadas à integração dos
alunos com a temática ambiental, solicitou-se ainda, a elaboração de um resumo onde os mesmos
puderam relatar sobre todos os temas, até então, trabalhados.
Segundo Medeiros et al. (2011), a educação ambiental nas escolas contribui para a formação
de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo
comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade. Para isso, é importante que,
mais do que informações e conceitos, a escola se disponha a trabalhar com atitudes, com formação
de valores e com mais ações práticas do que teóricas para que o aluno possa aprender a amar,
respeitar e praticar ações voltadas à conservação ambiental.
Um outro tema abordado por meio de palestra foi a eutrofização, fenômeno causado pelo o
enriquecimento de nutrientes nos ambientes aquáticos e um dos problemas ambientais que mais
acometem os ecossistemas aquáticos, e junto à palestra que buscou explorar e ilustrar os conceitos,
causas e prejuízos, foram também utilizados vídeos, melhor caracterizando o processo, inclusive,
utilizando como exemplos as ilustrações de situações dos ambientes aquáticos locais. E para a
avaliação da compreensão dos alunos sobre esse fenômeno, aplicou-se um questionário para
analisar a desenvoltura dos mesmos, o qual demonstrou importantes resultados relacionados ao
entendimento acerca do referido processo e de suas implicações.
Após a concretização das variadas ações didáticas, os alunos também foram contemplados
com uma palestra integrativa que buscou abordar os principais temas desenvolvidos nas diferentes
atividades coletivas, evidenciando os assuntos mais relevantes e que foram vivenciados ao longo
das contribuições desse trabalho. Posteriormente, aplicou-se uma gincana envolvendo várias etapas,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1079


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

as quais melhor consolidaram os enfoques ambientais trabalhados, desta vez, através de espaço
ainda mais dinâmico, participativo e interativo.
Os alunos relataram que as contribuições desse trabalho oportunizaram um aprimoramento
conceitual e de experiências na área de Biologia, melhor conhecimento dos ecossistemas aquáticos
da região, considerando suas problemáticas, e dos organismos que habitam esses ambientes, com
destaque às Microalgas, sobre as quais se permitiu o estudo dos principais representantes, funções,
aplicações e importâncias.
Quando os alunos foram indagados sobre os momentos que mais gostaram, as duas escolas,
Colégio Estadual Wilson Gonçalves e Escola Teodorico Teles de Quental, em sua maioria,
expressaram as mesmas opiniões, ressaltando que as aulas onde puderam manusear o microscópio
foram surpreendentes, pois através da referida prática puderam conhecer uma das comunidades
aquáticas (as Microalgas), e que as atividades interativas com espaço de diálogo entre aluno e
professor passaram a ter mais importância para cada um, além da sensibilização ambiental, cujas
ações desenvolvidas, segundo os mesmos, transmitiram a lição de não poluir o meio ambiente,
particularmente, os ecossistemas aquáticos, e buscar o exercício de práticas cotidianas que se
voltem a protegê-los e a manter a biodiversidade, para assim, se usufruir dos múltiplos usos que
deles são decorrentes.

CONCLUSÃO

A partir das variadas ações educativas desenvolvidas junto à comunidade escolar, foi
possível instigar a percepção dos alunos para a necessidade do reconhecimento dos valores
ambientais e de sua relação de condicionamento da vida em suas diferentes formas, evidenciando
que para tanto, se requer um manejo responsável e comprometido com o bem estar de todos, para o
que se faz imprescindível a participação coletiva na definição e implementação de medidas
socioambientais de recuperação e/ou proteção, partindo-se sempre do pressuposto que é possível
transformarmos a realidade imersa de problemas ambientais se devidamente assumidas as atitudes
de cuidado e corresponsabilização, que ainda que sejam simples, o mais importante é que sejam
conscientes, efetivamente contínuas e multiplicadoras, bem como baseadas em princípios éticos, de
generosidade e do bem comum.

REFERÊNCIAS

BURLIGA, A. L. A utilização de microalgas na avaliação da qualidade da água. In: Os avanços da


Botânica no Início do Século XXI – Conferências Plenárias e Simpósios do 57º Congresso Nacional

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1080


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

de Botânica. MARIATH, J. E. A.; SANTOS, R. P. (Organizadores). Anais... Porto Alegre – RS:


Sociedade Botânica do Brasil, 2006. p. 252-257. 752 p.

GEORGIN, J.; OLIVEIRA, G. A. Práticas de conscientização ambiental em escolas públicas de


Ronda Alta/RS. Revista Monografias Ambientais - REMOA. v. 14, n. 3, mai-ago. 2014. p. 3378-
3382.

JACOBI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118,


março/2003, p. 189-205.

MEDEIROS, A. B.; MENDONÇA, M. J. S. L.; SOUSA, G. L.; OLIVEIRA, I. P.. A Importância da


educação ambiental na escola nas séries iniciais. Revista Faculdade Montes Belos, v. 4, n. 1, set.
2011. p. 1-17.

OLIVEIRA et al. Estudo das microalgas: um dos principais desafios para ações de monitoramento da
água. In: Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, 15., 2008. Natal – RN. Anais... Natal:
ABAS, 2008. p. 1-10.

RANGEL, A. J.; MELO, J. A.; LACERDA, S. R.; OLIVEIRA, E. C. C. Percepção de Alunos do


Ensino Médio Frente aos Assuntos de Natureza Ambiental, Crato – Ceará – Brasil. In: III
Congresso Nacional de Educação Ambiental & V Encontro Nordestino de Biogeografia, 4, 2013,
João Pessoa – PB. Anais Eletrônicos... João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba – UFPB,
2013. Disponível em: <https://www.cenea.com.br>. Acesso em: 19 de jul./2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1081


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

FIC SEM LIXO – PROJETO DE SENSIBILIZAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO


AMBIENTAL DESENVOLVIDO PELO PIBID DE GEOGRAFIA NA ESCOLA
ESTADUAL PROFESSOR FRANCISCO IVO CAVALCANTI EM NATAL/RN

André Elias de Oliveira NÓBREGA


Graduando do Curso de Gestão Ambiental do IFRN e professor de Geografia
andrenobrega999@gmail.com
Mayra Raiza de Figueiredo GONZALEZ
Graduanda do Curso de Licenciatura em Geografia do IFRN
mayra.ifrn@gmail.com
Elói TRIACA
Graduando do Curso de Licenciatura em Geografia do IFRN
eloitriaca@hotmail.com
Maria Cristina Cavalcanti ARAÚJO
Doutora em Recursos Naturais e docente do IFRN
cristina.cavalcanti@ifrn.edu.br

RESUMO
O presente artigo objetiva apresentar o projeto ―FIC sem lixo‖, desenvolvido na Escola Estadual
Professor Francisco Ivo Cavalcanti, em Natal-RN, pelos alunos-bolsistas do Programa Institucional
de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID – de Geografia do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Rio Grande do Norte – Campus Natal Central. O PIBID está presente na referida
escola desde 2009 e, em 2013, surgiu a intenção/necessidade de difundir, junto a alunos, professores
e funcionários, conhecimentos sobre ética, cidadania, meio ambiente, educação ambiental e
sustentabilidade, tendo como tema norteador a problemática do lixo. Através do projeto intitulado
―FIC sem lixo‖, propomos o desenvolvimento de um processo de sensibilização e conscientização
ambiental centrado na preocupação com as gerações futuras, visando proporcionar, a todos que
fazem parte da instituição, um ambiente escolar mais limpo e harmonioso. Para tanto, realizamos
um conjunto de ações e intervenções que mobilizaram a comunidade escolar para o despertar da
questão ambiental, fazendo-os repensar suas práticas diárias e tornando o recinto escolar mais
propício para a convivência harmoniosa com o meio ambiente. No que diz respeito à metodologia, o
projeto foi dividido em quatro etapas: observação da escola, na qual verificamos a necessidade de
realizar um projeto de sensibilização/conscientização ambiental; pesquisa bibliográfica acerca do
tema, para fundamentar a produção e aplicação de oficinas; aplicação das atividades/oficinas
planejadas em todas as turmas da escola e; sistematização e análise dos resultados obtidos. O
projeto é contínuo e permanece em realização, sendo possível observar os resultados positivos já
alcançados, como, por exemplo, um maior interesse por parte dos professores, educandos e
funcionários em manter os espaços comuns da escola mais limpos e agradáveis a todos, havendo
também um despertar para a conscientização ambiental.
Palavras-Chave: Geografia, PIBID, Educação Ambiental, Sensibilização, Conscientização
Ambiental.
ABSTRACT
This article aims to present the project "FIC sem lixo", developed at the State School ‖Professor
Francisco Ivo Cavalcanti‖, in Natal-RN, by the students of the Institutional Program of the Initiation

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1082


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

to Teaching Grant (PIBID) of Geography of the Federal Institute of Education, Science and
Technology of Rio Grande do Norte - Central Natal Campus. The PIBID has been present in the
mentioned school since 2009 and in 2013, the intention/necessity appeared to spread, with students,
teachers and employees, knowledge about ethics, citizenship, environment, environmental
education and sustainability, having as a guiding theme the problematic of trash. Through the
project "FIC sem lixo", we propose the development of a process of environmental sensibilization
and consciousness centered on the concern with future generations, aiming to provide a cleaner and
more harmonious school ambience for all those who are part of the institution. To do so, we
performed a set of actions and interventions that mobilized the school community to awaken the
environmental issue, making them rethink their daily practices and making the school environment
more conducive to harmonious coexistence with the environment. Regarding the methodology, the
project was divided into four stages: school observation, in which we verified the need to carry out
an environmental sensibilization/consciousness project; Bibliographic research on the subject, to
support the production and application of workshops; Implementation of planned
activities/workshops in all classes of the school; Systematization and analysis of the results
obtained. The project is continuous and remains in progress, and it is possible to observe the
positive results already achieved, such as a greater interest on the part of teachers, students and staff
to keep the common spaces of the school cleaner and more pleasing to all, an awakening to
environmental awareness.
Keywords: Geography, PIBID, Environmental Education, Sensibilization, Environmental
consciousness.

INTRODUÇÃO

Vivenciamos atualmente um período denominado por Milton Santos de técnico-científico-


informacional, caracterizado por grandes transformações sociais e ambientais iniciadas após a
Segunda Guerra Mundial e impulsionadas, a partir da década de 1970, pela crise do petróleo. Nessa
conjuntura, faz-se necessária a promoção, nas escolas, de uma prática educativa voltada para a
sensibilização e conscientização a respeito das questões ambientais e sociais que surgem como
desafios para a sociedade contemporânea.
Conforme Ramos e Ramos (2008, p. 1), ―os desafios da sociedade contemporânea são
complexos e exigem ações coletivas que possam redefinir nossas relações produtivas, cultural e
social oportunizando uma vivência mais sustentável‖. Nessa perspectiva, os alunos-bolsistas do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID, subprojeto Geografia, do
Campus Natal Central do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Norte – IFRN –, desenvolveram um projeto de cunho interdisciplinar abrangendo aspectos sobre
ética, cidadania, meio ambiente, educação ambiental e sustentabilidade na Escola Estadual
Professor Francisco Ivo Cavalcanti, localizada em Natal/RN.
O PIBID de Geografia atua na Escola Estadual Professor Francisco Ivo Cavalcanti desde o
ano de 2009 e oportuniza aos alunos do curso superior de Licenciatura em Geografia do IFRN um
momento no qual é possível unir teoria e prática, concretizando uma etapa fundamental na
formação docente. Em 2013, surgiu a intenção/necessidade de difundir, junto a alunos, professores

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1083


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

e funcionários da instituição, conhecimentos e reflexões acerca das questões ambientais, tendo


como tema norteador a problemática do lixo, visto que os espaços de convivência da escola estavam
permanentemente sujos devido à destinação incorreta dos resíduos sólidos produzidos diariamente
pelos estudantes.
O projeto intitulado ―FIC sem lixo‖, no qual a sigla ―FIC‖ advém da junção das iniciais do
nome da escola, propõe um processo contínuo de reeducação cidadã, fundamentada na ética
ambiental, de que devemos nos preocupar com aqueles que estão por vir. Para tanto, preocupamo-
nos em realizar um conjunto de ações e intervenções que mobilizaram a comunidade escolar para o
despertamento da questão ambiental, fazendo-os repensar suas práticas diárias e tornando o recinto
escolar mais propício para a convivência harmoniosa com o meio ambiente.

METODOLOGIA

A pesquisa que precedeu a produção deste artigo é de cunho qualitativo e utilizou como
ferramenta de coleta de dados a pesquisa bibliográfica e a elaboração de um projeto de
sensibilização e conscientização ambiental voltado para a comunidade escolar, objetivando
solucionar a problemática do lixo presente na instituição e, por consequência, tornar o ambiente
escolar mais limpo e harmonioso. A metodologia utilizada neste projeto foi desenvolvida através de
procedimentos realizados em quatro etapas. Na primeira etapa abordamos a situação problema a
partir da observação da escola campo de atuação, na qual verificamos a necessidade de realizar um
projeto de educação ambiental; concomitante, na segunda etapa, foi realizado um levantamento de
dados teóricos, que embasaram a estruturação do projeto, mediante uma seleção de textos, músicas,
vídeos, charges e poesias, assim como, a elaboração dos nossos instrumentos metodológicos, como
questionários, materiais de divulgação (jornal), material de apoio e planejamento das ações a serem
realizadas na etapa seguinte. A terceira etapa consistiu na realização das atividades/oficinas
planejadas em todas as turmas da escola, dentre as quais, cabe destacar a oficina de reciclagem, as
oficinas/aulas temáticas e as aulas de campo envolvendo meio ambiente e as disciplinas de
Geografia, História, Biologia, Educação Física, Língua Portuguesa, dentre outras. Na quarta e
última etapa, fizemos a sistematização e análise dos resultados obtidos com o projeto durante os
anos de 2014, 2015 e 2016, culminando com a produção deste artigo que tem como finalidade
apresentar/socializar o projeto e os resultados alcançados até então.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A proposta teórico-metodológica que embasou a elaboração do projeto ―FIC sem lixo‖ e,


subsequentemente, a produção deste artigo, se baseou na concepção de Sato (2002, p. 25), na qual a
autora frisa que:

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1084


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Há diferentes formas de incluir a temática ambiental nos currículos escolares, como


atividades artísticas, experiências práticas, atividades fora de sala de aula, produção de
materiais locais, projetos ou qualquer outra atividade que conduza os alunos a serem
reconhecidos como agentes ativos no processo que norteia a política ambientalista. Cabe
aos professores, por intermédio de prática interdisciplinar, proporem novas metodologias
que favoreçam a implementação da Educação Ambiental, sempre considerando o ambiente
imediato, relacionado a exemplos de problemas atualizados.

Nesse sentido, a educação ambiental pode ser incluída em todo o processo educacional cuja
finalidade é despertar a sensibilidade e a consciência dos alunos para um assunto que diz respeito a
ação humana em seu cotidiano.
Acerca disso, Narcizo (2009, p. 92) ressalta que:

Projetos impostos por pequenos grupos ou atividades isoladas, gerenciadas por apenas
alguns indivíduos da comunidade escolar – como um projeto de coleta seletiva no qual a
única participação dos discentes seja jogar o lixo em latões separados, envolvendo apenas
um professor coordenador – não são capazes de produzir a mudança de mentalidade
necessária para que a atitude de reduzir o consumo, reutilizar e reciclar resíduos sólidos se
estabeleça e transcenda para além do ambiente escolar. Portanto, deve-se buscar
alternativas que promovam uma contínua reflexão que culmine na metanoia (mudança de
mentalidade); apenas dessa forma, conseguiremos implementar, em nossas escolas, a
verdadeira Educação Ambiental, com atividades e projetos não meramente ilustrativos, mas
fruto da ânsia de toda a comunidade escolar em construir um futuro no qual possamos viver
em um ambiente equilibrado, em harmonia com o meio, com os outros seres vivos e com
nossos semelhantes.

Assim, o PIBID de Geografia implementou na escola momentos de reflexão e discussão


sobre a relação entre ética, cidadania e meio ambiente, promovendo noções de educação ambiental
e sustentabilidade em um sentido amplo e interdisciplinar. Dessa forma, buscamos o
desenvolvimento de um currículo escolar voltado para a questão ambiental, possibilitando a
participação de todos no processo de sua construção e execução.
Desse modo, quando pensamos em sensibilização, conscientização e educação ambiental,
devemos atentar que a prática do que se propõe não se dá por atividades pontuais, mas por toda uma
mudança de paradigmas que exige uma contínua reflexão e apropriação dos valores que remetem a
ela.

RESSULTADOS E DISCUSSÃO

A utilização dos recursos naturais de forma adequada e sustentável deve constituir uma
preocupação permanente ao se desenvolver toda e qualquer atividade humana. Nesse sentido, é
importante que sejam implementadas noções de meio ambiente e educação ambiental nas escolas,
atrelando-as a princípios sobre ética e cidadania que possibilitem a formação do aluno enquanto
sujeito-cidadão capaz de lidar de forma participativa com os problemas socioambientais que
desafiam o bem-estar da sociedade contemporânea.
Para isso, a escola deve fornecer mais do que conceitos/conteúdos e oportunizar aos alunos
vivências que os sensibilizem/conscientizem em prol da melhor convivência com o meio ambiente e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1085


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

com os recursos naturais renováveis e não renováveis que fazem parte dele. O tema Meio
Ambiente, nos Parâmetros Curriculares Nacionais, encontra-se integrado em quase todas as
disciplinas que compõe o currículo escolar, no entanto, ainda é abordado de maneira fragmentada.
Isto posto, faz-se necessário pensar/aperfeiçoar novas estratégias para trabalhar essa temática de
forma mais globalizada.
Nessa perspectiva, não é preciso modificar o currículo com a criação de novas disciplinas,
mas sim abordar, de forma integrada, os temas transversais relacionados às disciplinas já existentes,
sobretudo a Geografia.
Trabalhar a interdisciplinaridade atrelada à temática ambiental possibilita formar cidadãos
mais conscientes e críticos, capazes de refletir sobre suas ações e de identificar os problemas
presentes na sociedade, para que assim se alcance um futuro melhor para as gerações posteriores.
Logo, o PIBID de Geografia na Escola Estadual Professor Francisco Ivo Cavalcanti, buscou
referências em livros, artigos científicos e nos PCN‘s que subsidiassem a estruturação do projeto
―FIC sem lixo‖. Após o estudo realizado na escola, foram propostos os seguintes objetivos para o
projeto em questão:

Fortalecer ideias e valores que contribuem para a formação de um cidadão global;


Disseminar conceitos básicos sobre ética, meio ambiente, educação ambiental e
sustentabilidade;
Difundir conhecimentos acerca dos ecossistemas e biomas presentes na cidade de Natal/RN
e no território nacional, salientando a importância de preservá-los e conservá-los;
Desenvolver atividades interativas que buscam a melhoria do ambiente escolar.
Para alcançar estes objetivos, foram realizadas as seguintes ações:
Revitalização da entrada da escola, realizada pela direção;
Oficina temática sobre ética, cidadania, educação ambiental e sustentabilidade;
Oficina de reciclagem utilizando caixas de leite para produção de bolsas, realizada com as
mães dos alunos (Figura 1);

Figura 1: Oficina de reciclagem. Fonte: Própria.

Implantação de lixeiras ecológicas (Figura 2), as quais continham frases, elaboradas pelos
alunos, que expressavam o conteúdo exposto durante as oficinas temáticas. As frases elaboradas

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1086


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

foram selecionadas e adesivas nas lixeiras espalhadas inicialmente pelo pátio da escola e
posteriormente pelos demais espaços;

Figura 2: Lixeira ecológica. Fonte: Própria.

Oficinas com músicas/vídeos e momentos de reflexão sobre as práticas ambientais corretas;


Oficina sobre ecossistemas e biomas brasileiros;
Aula de campo, em parceria com o Projeto Barco Escola Chama Maré, no estuário do Rio
Potengi, em Natal/RN, na qual foi possível estudar e observar, in loco, o quão é importante a
preservação do ecossistema manguezal (Figura 3);

Figura 3: Aula de campo no estuário do Rio Potengi, em Natal/RN. Fonte: Própria.

Aula de campo (trilha) na unidade de conservação ambiental do Parque Estadual das Dunas,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1087


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

em Natal-RN, na qual foi possível estudar/observar as características e a importância da preservação


do ecossistema dunar e do Bioma Mata Atlântica (Figura 4);

Figura 4: Aula de campo no Parque Estadual das Dunas, em Natal/RN. Fonte: Própria.

Produção e divulgação do jornal Geografia do Ivo, abordando a problemática do lixo (Figura


5).

.
Figura 5: Jornal Geografia do Ivo. Fonte: Própria.

A seleção e elaboração das atividades realizadas durante o projeto teve como áreas de
interesse ações que conduzissem ao consumo consciente de energia e água dentro e fora do
ambiente escolar; a redução, reutilização e a reciclagem de resíduos, a partir da destinação e
tratamento correto do lixo; a manutenção das áreas verdes já existentes na escola e a sua ampliação;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1088


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

a preservação do meio ambiente, dos ecossistemas e biomas; a integração das práticas docentes de
forma interdisciplinar com objetivo de fornecer aos alunos momentos de reflexão e vivência.
Como exemplo de algumas de nossas atividades, iniciamos ações do projeto com a exibição
do documentário ―A História das Coisas‖ com o intuito de levar os alunos a refletirem sobre o
sistema vigente e a sociedade de consumo estabelecida desde a revolução industrial. Assim, eles
podem pensar e perceber as consequências que este ―progresso‖ causou, portanto, contribuímos
para a formação de uma nova mentalidade, apta a participar de forma consciente da construção do
ambiente em que vive.
Em outro momento, ainda dentro das ações do projeto, foi realizada uma oficina utilizando-
se o curta metragem de animação ―Garbage‖, o qual propõe a construção de um mundo global, onde
o homem faz parte da natureza e de todos os fenômenos a ela interligados, sejam estes sociais,
biológicos, culturais, políticos ou econômicos. Esta animação também trata da questão ambiental,
pois faz crítica ao modo de consumo contemporâneo, relacionando, portanto, às discussões que
vinham sendo realizadas já em outros momentos do projeto.
Desse modo, espera-se que o projeto, por meio da sensibilização e conscientização
ambiental, possibilite que o aluno seja um cidadão consciente de seus atos, preocupado com os
problemas associados ao meio ambiente, que identifique tais problemas em seu cotidiano e que
desenvolva ações individuais e coletivas tendo em vista solucioná-los. Assim, no decorrer do
projeto, os alunos foram estimulados a identificar os problemas ambientais da escola e propor
soluções, as quais são colocadas em prática. Como forma de incentivo foi definido que aqueles
alunos que apresentassem maior envolvimento com as atividades e quisessem se juntar ao grupo do
PIBID, seriam nomeados Embaixadores da Sustentabilidade e atuariam ―fiscalizando‖ o
comportamento dos demais alunos.
As práticas realizadas têm por finalidade fazer os alunos perceberem que o meio ambiente
corresponde à junção dos componentes físicos e sociais, desenvolvendo uma ética ambiental
democrática e solidária, na qual exista uma relação de respeito com a natureza e com o ambiente
construído em que eles convivem e que essas atitudes sejam extensivas ao cotidiano, seja no
convívio familiar ou social.
Neste caso, a mudança no ambiente escolar foi primordial para que se estabelecesse um
compromisso em que os jovens envolvidos possam levar suas ações para além do espaço escolar.

CONCLUSÕES

O projeto ―FIC sem lixo‖ foi uma iniciativa dos bolsistas do PIBID de Geografia do IFRN
na Escola Estadual Professor Francisco Ivo Cavalcanti, cujo objetivo principal foi despertar, na
comunidade escolar, a conscientização para com a questão ambiental, a partir de ações práticas nos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1089


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

espaços físicos da instituição de ensino visando melhorar a qualidade de vida dos alunos,
professores e funcionários por meio de atitudes ambientalmente corretas.
O projeto é contínuo e permanece em realização, sendo possível observar os resultados
positivos, como por exemplo, um maior interesse por parte dos professores, alunos e funcionários
em manter os espaços comuns da escola mais limpos e agradáveis a todos. Podemos perceber,
também, o quão importante é para os alunos um momento de socialização durante as atividades
realizadas, nas quais a integração de diversos saberes foi primordial, uma vez que não há
fragmentação do conteúdo por se tratar de um projeto interdisciplinar. Houve, também, o despertar
para uma conscientização ambiental que antes passava despercebida.
Dessa forma, a comunidade escolar pôde compreender que a partir de pequenas atitudes
contribui-se para fazer do mundo um lugar melhor e mais sustentável, partindo do local até atingir o
global. Almejamos com o projeto que os alunos possam ser multiplicadores dessa ideia e
reproduzam em seus ambientes de vivência pessoal – sua casa, sua rua e sua comunidade – todo o
aprendizado alcançado com as discussões.

REFERÊNCIAS

BORTOLOZZI, Arlêude; PEREZ FILHO, Archimedes. Diagnóstico da educação ambiental no


ensino de geografia. Cadernos de Pesquisa, n. 109, p.145-171, mar. 2000. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/cp/n109/n109a07.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2017.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação. Meio Ambiente. Brasília: Sem data.
MEC. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/meioambiente.pdf>. Acesso
em 17 jun. 2017.

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2015.

CORTINA, Adela. Cidadãos do mundo: para uma teoria da cidadania. São Paulo: Edições Loyola,
2005. 210 p.

JUNGES, José Roque. (Bio)ética ambiental. São Leopoldo: Unisinos, 2010. 144 p.

NARCIZO, Kaliane Roberta dos Santos. Uma análise sobre a importância de trabalhar educação
ambiental nas escolas. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, Rio Grande, v.
22, p.86-94, jun. 2009. Disponível em: <http://www.seer.furg.br/remea/article/view/2807/1583>.
Acesso em: 16 jun. 2017.

Panorama da educação ambiental no ensino fundamental. Secretaria de Educação Fundamental.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1090


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Brasília: MEC, SEF, 2001. 149 p. Disponível em


<http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/coea/panorama.pdf#page=17>. Acesso em 7 jun.
2017.

RAMOS, Margarete da Silva; RAMOS, Ronaldo da Silva. Educação ambiental e a construção da


sustentabilidade. Visões, Macaé, v. 1, n. 4, p.1-13, jun. 2008. Disponível em:
<http://www.fsma.edu.br/visoes/ed04/4ed_Educacao_Margarete_Ronaldo.pdf>. Acesso em: 6
jul. 2017.

SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos: Rima, 2002.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1091


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

MEIO AMBIENTE: UMA VISÃO DOS DISCENTES


SECUNDARISTAS DE ACOPIARA - CE

Beatriz Dias PINTO


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental do IFCE- Campus Juazeiro do Norte
beatrizdiazpt@gmail.com
Girlaine Souza da Silva ALENCAR
Profa. Dra. Orientadora e Titular em Ciências Ambientais do IFCE-Campus Juazeiro do Norte
girlainealencar@gmail.com
Francisco Hugo Hermógenes de ALENCAR
Prof. Dr. Orientador e Titular em Ciências Agrárias do IFCE- Campus Juazeiro do Norte
hugohermogenes@gmail.com

RESUMO
O uso de práticas de conscientização vem tomando destaque nos últimos anos, dessa forma a
Educação Ambiental vem contribuindo para chamar atenção sobre o esgotamento dos recursos
naturais e a má distribuição do seu acesso, envolvendo os cidadãos em ações que valorizam os
aspectos ligados ao seu uso consciente. O presente estudo tem como objetivo conhecer a visão sobre
o Meio Ambiente dos discentes secundaristas da rede Pública de Ensino de Acopiara-Ceará, sobre
conceitos, práticas ambientais e processos de degradação natural e antrópica. As variáveis
analisadas foram relativas aos impactos ambientais e suas consequências e a contribuição da
Educação Ambiental na preservação do meio ambiente. Foram aplicados questionários para 70
alunos com faixa etária entre 14 e 18 anos, do 1º ano do Ensino Médio de duas Escolas da rede
Estadual de Ensino. Os dados coletados sobre a temática Ambiental, evidenciaram que 42,9%
reconheceram que já haviam participado de alguma ação relacionada ao tema na Escola, porém,
42,9% dizem não lembrar. Quando questionados se desenvolviam alguma prática de conservação
ambiental, 77,1% afirmaram que sim. As práticas relatadas pela grande maioria são relativas à
economia de água e ao descarte adequado de resíduos sólidos, porém 22,9% não desenvolvem
nenhuma ação. Constatou-se que o maior problema dos discentes é a falta de informação ou o
desinteresse pela temática Ambiental. Neste contexto, as escolas deveriam abordar este tema através
de práticas transformadoras e conscientizadoras como feiras de ciências, palestras e documentários,
visando modificar esta realidade.
Palavras-chaves: Ensino Médio; Alunos; Educação Ambiental.
ABSTRACT
The use of awareness practices has been emphasized in recent years, so that Environmental
Education has contributed to draw attention to the depletion of natural resources and the low
distribution of their access, involving citizens in actions that value aspects related to their use
conscious. The present study aims to know the vision about the Environment of the high school
students of the Public School of Education of Acopiara-Ceará, on concepts, environmental practices
and processes of natural and anthropic degradation. The variables analyzed were related to the
environmental impacts and their consequences and to the contribution of Environmental Education
in the preservation of the environment. Questionnaires were applied to 70 students aged 14 to 18
years, from the first year of the Secondary School of two Schools of the State Teaching Network.
The data collected on the environmental theme showed that 42.9% acknowledged that they already
participated in some action related to the theme in the school, however, 42.9% said they did not

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1092


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

remember. When asked if some environmental conservation practice was developed, 77.1% said
yes. The practices reported by the vast majority are related to saving water and the adequate
disposal of solid waste, but 22.9% do not carry out any action. It was verified that the biggest
problem of the students is the lack of information or the lack of interest in the environmental theme.
In this context, schools must address this issue through transformative and conscientious practices,
such as scientific fairs, lectures and documentaries, to change this reality.
Keys-words: Secondary School; Students; Environmental Education.

INTRODUÇÃO

De acordo com os termos da Lei Nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, Meio Ambiente ―... é o
conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química, biológica, social,
cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.‖ Segundo
Carvalho (2006), a Educação Ambiental é uma prática de conscientização, capaz de chamar a
atenção para a má distribuição dos recursos naturais, assim como o seu esgotamento, envolver os
cidadãos em ações sociais e ambientais apropriadas. Para Lima (2004), a escola é um dos espaços
mais privilegiados e que possuem o maior acesso à informação, assim os alunos são estimulados a
estabelecer conexões e concepções.
Levando em consideração que 84,4% da população brasileira (IBGE, 2010) reside em áreas
urbanas, a degradação ambiental vem crescendo e afetando as condições de vida dos grandes
centros. Neste contexto, é necessário que se faça uma reflexão acerca de como agir no que se refere
às questões ambientais.
Para Leff (2001), é impossível resolver e reverter grandes problemas ambientais, se não
houver uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, valores e comportamentos gerados
pela dinâmica de racionalidade, fundada no aspecto econômico do desenvolvimento atual.
Jacobi (2003) mostra que há uma necessidade de abordar o tema da complexidade ambiental
decorrente da percepção e reflexão acerca das práticas existentes e das múltiplas possibilidades de,
ao pensar a realidade de modo complexo, defini-la como uma nova racionalidade e um espaço onde
se articulam natureza, técnica e cultura.
Neste contexto, o presente estudo tem como objetivo conhecer a visão sobre o Meio
Ambiente dos discentes secundaristas da rede Pública de Ensino de Acopiara-Ceará.

METODOLOGIA

Caracterização da Área de Estudo

O município de Acopiara localiza-se na região Centro- Sul do estado do Ceará. Sua extensão
territorial é de 2.253,8 Km² e possui 51.160 habitantes (IBGE, 2010). Na zona urbana há três

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1093


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

escolas de Ensino Médio, uma particular e duas públicas. Foram o objeto desta pesquisa somente as
Escolas públicas por seus gestores demonstrarem interesse pela temática.

Figura 1: Localização da área de estudo


Fonte: Dados do IBGE. Elaboração: Autor,2017.

Coleta de Dados

Para obtenção dos dados, inicialmente buscou entender os valores éticos sobre a temática,
para elaboração do questionário. Em seguida, os gestores e professores da Escola Estadual de
Educação Profissional Alfredo Nunes de Melo e no Liceu de Acopiara Deputado Francisco Alves
Sobrinho foram contatados para saber se tinham interesse em participar da pesquisa. Posteriormente
houve uma breve apresentação com os participantes da pesquisa.
A coleta de dados aconteceu no mês de junho de 2017. Utilizou-se um questionário
semiestruturado contendo questões subjetivas e objetivas com a finalidade de conhecer a visão dos
discentes, abordando o perfil dos participantes quanto faixa etária e grau de escolaridade, bem como
conceitos relativos a Impacto e Educação Ambiental e da participação em ações voltadas ao meio
ambiente. Ele foi testado e posteriormente algumas questões foram corrigidas. Durante a aplicação
do questionário, surgiram algumas dúvidas que foram sanadas.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1094


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

RESULTADOS

Foram estabelecidas duas categorias a serem analisadas: Impacto Ambiental e suas


consequências e a contribuição da Educação Ambiental na preservação ambiental.
A maioria(56%) dos entrevistados que responderam ao questionário foi do sexo
feminino(Figura 2).

Figura 2: Gênero dos participantes da pesquisa

Todos os alunos participantes da pesquisa cursam o 1º ano do Ensino Médio, 40% estudam
no turno da manhã e 60% em período integral, a maioria (72%) tem 15 anos de idade (Figura 3).

Figura 3: Faixa etária dos discentes

Quando indagados se já haviam participado de alguma atividade relacionada à Educação


Ambiental na escola, 42,9% falaram que sim e 14,2% que não, os outros 42,9% disseram não
lembrar, ou seja: se o tema foi abordado, não foi percebido pelos alunos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1095


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Em relação à informações relacionadas ao Meio Ambiente, 70% afirmou que obteve na


escola, em jornais e na internet e 30% que não haviam recebido nenhum tipo de informação sobre
o tema. Quando questionados como gostariam que o tema fosse abordado, 45% afirmou que seria
em forma de trabalhos, pesquisas e jogos educativos, 21% que seria através de vídeos, 19% em
palestras (Figura 4).

Figura 4: A melhor forma de assimilação do conteúdo

Em relação aos questionamentos sobre o que é Meio Ambiente e os problemas ambientais


em Acopiara, a maioria (83%) afirmaram que há, 16% que não sabem se existe problemas
ambientais na cidade e somente 1% afirma que não há problemas ambientais no município (Figura
5). Porém, quando questionados sobre os problemas mais recorrentes no município os mais citados
foram: os desmatamentos e as queimadas.

Figura 5: Problemas ambientais do município de Acopiara-CE

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1096


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Respostas dada pelos alunos podem ser comprovadas por uma matéria do Diário do
Nordeste no ano de 2010 que o município de Acopiara lidera o ranking de desmatamento no estado
do Ceará, no presente ano, assim como possui o maior índice de queimadas no verão.
De acordo com esses dados 91,4% dos participantes dizem que se incomodam com esses
tipos de problemas e consideram as pessoas como os principais responsáveis pelos problemas
ambientais e também os responsáveis para solucionar esses problemas.
Os alunos relataram o que consideravam como problemas ambientais e na sua grande
maioria destacaram a escassez, poluição das água, esgotos a céu aberto, fumaças de indústrias,
extinção e animais e espécies vegetais, no entanto destacaram buzinas, cartazes e gases emitidos
pelos automóveis, poluições sonora, visual e atmosféricas que são agressivas tão quanto as demais
relacionadas.
Quando questionados se desenvolviam alguma prática de conservação do meio ambiente
77,1% afirmou que sim, a grande maioria se envolve em ações relacionadas a economia de água e o
descarte adequado de resíduos sólidos, porém 2,9% não se desenvolve nenhuma ação.
Quando perguntados se sentem-se responsáveis pela qualidade ambiental do seu bairro, apenas
26,8% disseram sim. Em relação ao grau de satisfação do lugar onde moram, apenas 9% está muito
satisfeito (Figura 6). Estes resultados estão diretamente ligado à questões de limpeza, iluminação
pública e segurança levantados as questões posteriores.

Figura 6: Grau de satisfação do lugar onde moram

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatou-se que o maior problema dos discentes é a falta de informação ou o desinteresse


na temática Ambiental. Neste contexto, as escolas deveriam abordar este tema através de práticas

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1097


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

transformadoras e conscientizadoras como feiras de ciências, palestras e documentários, visando


modificar esta realidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, H. Acopiara lidera o ranking de desmatamento no CE(2010). Diário do Nordeste -


Online.Disponível em <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/acopiara-
lidera-o-ranking-de-desmatamento-no-ce-1.751166>

BRASIL. Lei Nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Política Nacional do Meio Ambiente.Disponível


em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938compilada.htm>. Acesso em: 04 jul. 2017.

CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 2.ed. São Paulo:


Cortez, 2006.

IBGE. Sinopse do censo demográfico 2010 Ceará. 2010. Disponível em

<http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?uf=23&amp;dados=11>

IBGE. População do censo demográfico. 2010. Disponível em

<http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=8>

JACOBI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. São Paulo: Cadernos de Pesquisa,


n. 118, março/ 2003.

LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001

LIMA, Waldyr. Aprendizagem e classificação social: um desafio aos conceitos. Forum Crítico da
Educação: Revista do ISEP/Programa de Mestrado em Ciências Pedagógicas. v. 3, n. 1, out.
2004.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1098


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

INVESTIGANDO A RELAÇÃO QUÍMICA-MEIO AMBIENTE POR MEIO DE UMA


METODOLOGIA CONTEMPORÂNEA

Bruno de Souza VASCONCELOS


Graduando do Curso de Licenciatura em Química do IFPB
bruno15gba@hotmail.com
Flávia Rhuana Pereira SALES
Graduada em Licenciatura em Química pelo IFPB
flavia.rhuana@outlook.com
Lucas Caetano de Oliveira CUSTÓDIO
Graduando do Curso de Licenciatura em Química do IFPB
lucascaetano95@hotmail.com
Alessandra Marcone Tavares Alves de FIGUEIRÊDO
Profa. Doutora do curso de Licenciatura em Química do IFPB
alessandratavaresfigueiredo@ifpb.edu.br

RESUMO
Esse estudo aborda a relação entre educação ambiental e o Ensino de Química, com o uso de uma
metodologia contemporânea, a partir de ferramentas didáticas como a contextualização,
problematização, experimentação e o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs),
buscando construir conhecimentos significativos e formar cidadãos responsáveis, atuantes e
conscientes de um mundo globalizado. A pesquisa foi desenvolvida numa Escola Estadual de
Ensino Fundamental e Médio, localizada na cidade de João Pessoa – Paraíba, com uma turma do 2°
ano do Ensino Médio, por meio de uma metodologia qualitativa, com caráter participativo junto a
uma abordagem quantitativa, que teve como objetivo avaliar o uso de uma metodologia
diferenciada para o conteúdo de ―Reações Químicas‖. Os resultados se mostraram satisfatórios,
pois com essa práxis, alcançou-se uma construção do conhecimento significativo por parte do
alunado.
Palavras chave: Ensino de Química, Educação Ambiental, Contextualização, Experimentação.
ABSTRACT
This study approaches the connexion between environmental education and Chemistry Teaching,
with the use of a contemporary methodology, from didactic tools such as contextualization,
problematization, experimentation and the use of Information and Communication Technologies
(ICTs). These didactics tools were used seeking to build meaningful knowledge and to form
responsible, active and conscious citizens of a globalized world. The research was developed in a
State School of Primary and Secondary Education, located in the city of João Pessoa - Paraíba, with
a class of the 2nd year of High School. The methodology used were qualitative with a participatory
and quantitative approach, whose objective was to evaluate the use of a differentiated methodology
for the content of "Chemical Reactions". The results were satisfactory, because with this project
activities, a construction of significant knowledge was achieved by the student.
Keywords: Chemistry Teaching, Environmental Education, Contextualization, Experimentation.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1099


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, uma preocupação se tornou cada vez mais crescente referente ao Ensino
de Química. Isto, porque a maioria dos estudantes expressa que esta disciplina é muito teórica e
abstrata, transfigurando-se em um estudo exaustivo. Entretanto, a problemática não está apenas
relacionada a essa Ciência, mas também na postura adotada pelo docente, bem como no tipo de
metodologia abordada. Atualmente, grande parte dos professores da educação básica permeiam a
educação bancária, a qual Freire (2011) afirma que o professor só age como um narrador,
incentivando que o aluno seja apenas um memorizador, ou um repetidor.
No entanto, existem meios com que se podem transmitir os conhecimentos de um conteúdo.
Entre eles, destaca-se a contextualização, principalmente quando se discorre ao Ensino de Química,
pois é um instrumento didático que possibilita propiciar a interligação do contexto científico com o
saber prévio do alunado. Machado (2005 apud WARTHA, et al., 2013, p. 86) informa que
―conhecer o contexto significa ter melhores condições de se apropriar de um dado conhecimento e
de uma informação‖. Em concernência, as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM),
definem que ―a contextualização permite que o aluno venha a desenvolver uma nova perspectiva: a
de observar sua realidade, compreendê-la e, o que é muito importante, enxergar possibilidades de
mudança‖ (BRASIL, 2006, p. 35).
A contextualização, assim como outras ferramentas didáticas, consente um processo de
ensinoaprendizagem diferenciado, ou seja, contrário ao ensino tradicional, que oportunizam a
percepção da importância do estudo da Ciência e seu envolvimento no mundo. Dentro dessa
abordagem, os estudantes conseguem perceber a relação Ciência-Sociedade, estimulando a
interação professor-aluno durante o processo educativo. Nesse sentido, discussões são erguidas e
debates são incentivados, tornando o âmbito escolar em um espaço ativo, rico de novas concepções
que são edificadas a partir dos conhecimentos prévios.
A Química, sendo uma Ciência que pode ser empregada em diversas situações e cenários,
possibilita a abordagem interdisciplinar com a educação ambiental, uma vez que essa tem como
princípio reescrever ações sociais e culturais de modo que as pessoas fiquem cientes de que são
responsáveis pelo mundo em que vive. Logo, esse tipo de abordagem interdisciplinar outorga a
construção de um conhecimento significativo, quando instruído de forma problematizadora,
enfatizando a conscientização na relação da tríade Ciência-Sociedade-Meio Ambiente. Dentro dessa
perspectiva, Ruscheinsky (2002, p. 55) reconhece que ―a própria ação sobre a realidade e sua
avaliação produzem e passam a exigir novos conhecimentos, justamente porque alteram a
conformação e a aparência da realidade, requerendo um novo pensar sobre ela‖.
A implantação do conceito de educação ambiental foi consolidada na década de 90 com os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), no qual foi estabelecido que é necessário que a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1100


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

educação ambiental seja adepta desde o início da escolarização, com o objetivo de construir uma
ponte escola-comunidade, para que o conceito e práticas da educação ambiental seja difundida pela
população. Segundo Sauvé (2005, p. 321):

A educação ambiental acompanha e sustenta de início o surgimento e a concretização de


um projeto de melhora da relação de cada um com o mundo, cujo significado ela ajuda a
construir, em função das características de cada contexto em que intervém. Numa
perspectiva de conjunto, ela contribui para o desenvolvimento de sociedades responsáveis.

Sendo assim, a educação ambiental associada a conceitos químicos de forma


contextualizada e problematizada permitem atribuir, ao método de ensino, uma característica
progressista, na qual o discente é parte ativa do processo de ensinoaprendizagem, desconstruindo o
modelo bancário. Freire (2011, p. 95) contribui informando que ―não seria possível à educação
problematizadora, que rompe com os esquemas verticais característicos da educação bancária,
realizar-se como prática da liberdade, sem superar a contradição entre o educador e os educandos‖.
Não tão obstante, é importante ressaltar a prática e a importância da utilização das
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), uma vez que consistem na utilização de
materiais midiáticos como vídeos, imagens, apresentação de slides, etc. De acordo com a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) (2017, n.p.),

as TICs podem contribuir com o acesso universal da educação, a equidade na educação, a


qualidade de ensino e aprendizagem, o desenvolvimento profissional de professores, bem
como melhorar a gestão, a governança e a administração educacional ao fornecer a mistura
certa e organizada de políticas, tecnologias e capacidades.

Assim como a contextualização e o uso das TICs, a experimentação é uma ferramenta


didática muito importante para contribuir com o enraizamento do conteúdo exposto teoricamente,
visto que viabiliza explorar os conceitos de forma prática. Nesse intuito, Guimarães (2009) noticia
que a experimentação abre portas para problemas vivenciados no dia a dia permitindo a
contextualização momentânea.
Sabe-se que a maioria das escolas públicas não possuem laboratórios adequados para
realização de experimentações, porém, nem sempre são necessários equipamentos e reagentes
sofisticados para representar na prática uma Ciência que está presente em nosso dia a dia. Com isso,
para realizar uma experimentação com enfoque na educação ambiental, deve-se ressaltar o uso de
materiais alternativos e de baixo custeio, com instruções de descartes apropriados e possibilidades
de reciclagem, destacando a importância dessas ações para o meio ambiente.
Portanto, os Parâmetros Curriculares Nacionais acrescentam que:

a perspectiva de ensinar Química ligada à sobrevivência e ao desenvolvimento sócio-


ambiental sustentável, oferece a oportunidade do não estabelecimento de barreiras rígidas
entre as assim chamadas áreas da Química. [...] Dessa perspectiva, elimina-se a
memorização descontextualizada do ensino da Química descritiva (BRASIL, 1999, p. 36).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1101


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Dentro dessa conjuntura, uma pesquisa foi realizada em uma turma de Ensino Médio da
educação básica, utilizando diversas ferramentas didáticas para o ensino de Química no conteúdo de
―Reações Químicas‖, junto à interdisciplinaridade com a educação ambiental, visando proporcionar
um ambiente escolar mais ativo, onde o alunado possa ser autor no processo de edificação do
conhecimento e consiga interpretar cenários e situações de modo mais crítico.

METODOLOGIA

A pesquisa foi desenvolvida por uma equipe do PDVL (Programa Internacional Despertando
Vocações para as Licenciaturas) em conjunto com o professor regente da turma do 2º ano A do
nível médio de ensino, de uma Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio, localizada na
cidade de João Pessoa - Paraíba. Para o desenvolvimento da mesma, foram necessárias um total de
nove (9) aulas, com duração de trinta (30) minutos cada, aplicadas com trinta e seis (36) estudantes
participantes.
O trabalho foi desenvolvido com base em uma pesquisa qualitativa, incentivando a interação
entre aluno e professor, norteando o rumo da pesquisa, na qual uma abordagem qualitativa ―trabalha
com valores, crenças, representações, hábitos, atitudes e opiniões. Ela aprofunda a complexidade de
fenômenos, fatos e processos; passa pelo observável e vai além dele ao estabelecer inferências e
atribuir significados ao comportamento‖ ( SILVA, 2010, p. 6). Além disso, teve uma abordagem
quantitativa, a qual é objetiva e mensurável, que analisa os dados com uma linguagem matemática (
SILVA, 2010). E ainda, uma pesquisa participante que qualifica ―a inserção de um pesquisador num
campo de investigação formado pela vida social e cultural de um outro, próximo ou distante, que,
por sua vez, é convocado a participar da investigação na qualidade de informante, colaborador ou
interlocutor‖ (SCHMIDT, 2006, p. 14).
No primeiro momento, nas duas aulas iniciais, foram apresentadas as propostas do programa
PDVL explanando os objetivos e o que se propunha com o desenvolvimento dessa pesquisa e,
ainda, foi entregue um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), para que os discentes
que desejassem participar pudessem coletar a assinatura do responsável, já que são menores de
idade. Ainda, um Questionário Inicial (QI) com cinco (5) questões foi aplicado, com o intuito de
avaliar o conhecimento prévio dos estudantes em relação ao conteúdo de ―Reações Químicas‖, de
acordo com o planejamento escolar do professor regente.
Na terceira e na quarta aulas, segundo momento, deu-se início ao conteúdo de reações
químicas, equações químicas e as diversas simbologias que podem ser encontradas, além das
transformações químicas e físicas que ocorrem na matéria, por meio de situações contextualizadas,
a partir de uma aula expositiva dialogada com uso de recurso visual, do quadro branco e lápis.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1102


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Na quinta e sexta aulas, terceiro momento, foram explanados os tipos de reações (síntese,
decomposição, simples troca e dupla troca), com definições e equações genéricas, por meio de
situações-problemas vivenciadas no dia a dia. Para esse momento, uma apresentação de slides foi
empregada, bem como o uso do quadro branco. Ao término, foram feitos exercícios para facilitar a
fixação dos conceitos.
No quarto momento, sétima e oitava aulas, foram exploradas as reações de oxirredução,
reações de precipitação e reações de salificação ou mais comumente conhecido como uma reação
entre um ácido e uma base, na qual o produto formado é um sal. A partir da classificação dessas
reações, foram empregados exemplos de reações químicas agressivas à saúde humana e ao meio
ambiente, a fim de incentivar a discussão e o debate sobre Educação Ambiental, tal como, levantar
possibilidades para preservação e/ou descarte apropriado.
Ainda nesse momento, foi realizado um experimento denominado: ―Em busca da proteína
do leite‖ que buscou corroborar o conceito de um dos tipos de reação química, a reação de
precipitação. Para isso, foram utilizados materiais de baixo custeio e presentes no dia a dia, tais
como: leite, vinagre e panela. Desse modo, foi separado duzentos e cinquenta (250) mililitros (mL)
de leite natural em uma panela, a qual foi levada ao fogo para que aquecesse um pouco. Em
seguida, o leite foi transferido para um bécker e, então, misturado com cerca de cinquenta (50)
mililitros (mL) de vinagre. Feito isso, a mistura foi colocada em um sistema de filtração simples
(com funil, papel de filtro, suporte universal e garra metálica).
Na nona aula, quinto momento, foi aplicado um Questionário Final (QF) a fim de avaliar, o
nível de conhecimento da turma após as aplicações. Tal questionário foi elaborado com cinco (5)
questões, tomando como base o desenvolvimento da turma no QI.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na primeira e segunda aulas, foi aplicado o Questionário Inicial, contendo cinco (5)
questões relacionadas aos conceitos de reações químicas, as quais foram elaboradas a partir de uma
perspectiva apontada pelo professor docente, o qual informou que a turma tinha dificuldade em
associar os conteúdos químicos com cada tipo de reação. O QI continha duas questões objetivas e
três subjetivas, em que uma delas interpelava: "O gás do fogão reage com o oxigênio do ar para
produzir o calor que utilizamos para cozinhar os alimentos. Será que a ferrugem também é uma
reação química? De qual tipo?".
Esse questionamento teve como intuito identificar o senso crítico do alunado, buscando
averiguar a capacidade deles de construir alternativas para explicar a situação. Ao avaliar as
respostas do QI, acerca dessa questão, puderam-se notar algumas respostas interessantes como: ―A
ferrugem uma reação química dada ao contato com a água e o oxigênio‖ e também ―É o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1103


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

‗desgastamento‘ do ferro com o tempo‖. Apesar de ainda não terem visto o conteúdo, os alunos
apresentaram explicações formuladas com um pouco do contexto químico e também com
conhecimento relacionado a vivência cotidiana.
No segundo momento, terceira e quarta aulas, foi ministrada a introdução do conteúdo de
reação química, o contexto de equações químicas explicando o que era uma equação, como era
composta, diferenciando os conceitos de reação com presença de luz, reação com presença de
catalisador ou aquecimento, bem como a simbologia adequada para cada uma. Assim como, as
transformações químicas e físicas que ocorrem na matéria, utilizando uma aula expositiva dialogada
com uso de recurso visual, do quadro branco e lápis, como ilustra a Figura 1. Para essa aula o
projetor estava indisponível, porém utilizou-se o notebook para ilustrar imagens de algumas reações
no decorrer das explicações e interações.

Figura 1. Momento da aula expositiva dialogada com o uso do quadro branco. Fonte: Própria.

Todas as definições foram associadas a situações do cotidiano, a fim de denotar um novo


significado ao conhecimento em sala de aula, possibilitando aos alunos uma aprendizagem mais
significativa, como recomenda os PCNs (BRASIL, 1999). Tais ações incentivaram a participação
dos discentes, com contribuições no compartilhamento de alguns casos da vivência deles.
No terceiro momento, quinta e sexta aulas, os tipos de reação foram abordados, nos quais
uma reação de síntese ocorre quando duas ou mais substâncias reagem produzindo uma única nova
substância, já a reação de decomposição ocorre quando uma substância composta se divide em duas
ou mais novas substâncias. A reação de deslocamento, substituição ou simples troca, acontece
quando uma substância simples reage com uma substância composta e dá origem a uma nova
substância simples e a reação de dupla troca é classificada quando duas substâncias compostas
reagem dando origem a dois novos compostos (ATKINS, 2012).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1104


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Todas as definições foram introduzidas a partir de várias situações-problemas que se pode


destacar no dia a dia, a exemplo de uma reação de decomposição: ―Por que quando colocamos a
água oxigenada ocorre efervescência?‖. Diante de tal questão os discentes sugeriram várias
hipóteses, em que se pode destacar a de um discente que afirma: ―É por que sofre uma reação de
decomposição liberando oxigênio‖. Tal resposta corrobora o conhecimento já discutido em aulas
anteriores, bem como a vivência diária dos alunos. A Equação I ilustra que realmente há liberação
de oxigênio nessa reação química.

H2O2(aq)  H2O(l) + O2(g) Equação (I)

Diversas situações foram repassadas com os estudantes, a fim de esclarecer e demonstrar a


presença do conteúdo de Química na vida cotidiana deles, pois é importante o ―reconhecimento de
aspectos relevantes do conhecimento químico e suas tecnologias na interação individual e coletiva
do ser humano com o ambiente‖ (BRASIL, 2006, p. 115). Durante todas as discussões, foram
enaltecidos alguns impactos ambientais gerados pelo ser humano, bem como a importância da
preservação do meio ambiente como um todo, estando de acordo com os Parâmetros Curriculares
Nacionais + (PCNs +), os quais anunciam que o aprendizado de Química “deve possibilitar ao aluno
a compreensão tanto dos processos químicos em si, quanto da construção de um conhecimento
científico em estreita relação com as aplicações tecnológicas e suas implicações ambientais, sociais,
políticas e econômicas‖ (BRASIL, 2002, p. 87). Ao fim desse momento, exercícios foram
respondidos contíguos aos estudantes com o intuito de reforçar o aprendizado compartilhado.
Na sétima e oitava aulas, quarto momento, foi dado continuidade à apresentação de slides,
relembrando a definição de reação química, que segundo Chang e Goldsby (2013, p. 71) é ―um
processo no qual uma substância (ou substâncias) se transformam em uma ou mais substâncias
novas‖, em que essas substâncias são classificadas como reagentes e produtos, organizados em tipos
de reações, como a reação de precipitação, por exemplo.
Chang e Goldsby (2013) afirmam que um dos tipos de reações mais comuns que ocorre em
solução aquosa é a reação de precipitação caracterizada pela formação de um produto insolúvel, ou
precipitado. Foram exemplificadas algumas reações, em que uma delas, de precipitação, foi citada
pela bibliografia de Chang e Goldsby (2013, p. 96) que dita: ―quando uma solução aquosa de nitrato
de chumbo [Pb(NO3)2] é adicionada a uma solução aquosa de iodeto de potássio (KI), ocorre a
formação de um precipitado amarelo de iodeto de chumbo (PbI2)‖.
A reação é bem ilustrativa, pois forma um precipitado de cor amarela, entretanto, esses tipos
de reações foram demostrados por meio de imagens, uma vez que a execução da reação em sala não
seria apropriada, pois a escola não possui os equipamentos de segurança requeridos e não há um
descarte apropriado para o chumbo.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1105


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

O chumbo é um metal pesado e seus ―sais solúveis, bem como o cloreto, nitrato e acetato de
chumbo são bastante venenosos causando dores abdominais, diarreia, náuseas, vômitos e câimbras‖
(GONÇALVES, 2010, p. 24). Além disso, foi esclarecido que ele é ―altamente tóxico e, como um
resultado das preocupações relacionadas com a saúde, a sua utilização em vários produtos como
gasolina, tintas e solda de tubulação, foi drasticamente reduzida nos últimos anos‖ (AMARAL
NETO, 2015, n.p.).
Frente a essa problemática, outros metais pesados e tóxicos foram debatidos, sendo
explanados os fatores prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, métodos de reciclagem e/ou próprio
descarte do material, visto que

é consenso planetário a necessidade de conservação e defesa do meio ambiente. Sendo


assim, não há outro caminho, os indivíduos precisam ser conscientizados e, para que esta
tomada de consciência se multiplique a partir das gerações presentes e passe para as futuras,
se faz vital o trabalho de educação ambiental dentro e fora da escola (CUBA, 2010, p. 29).

Dando prosseguimento, para demonstrar esse tipo de reação de precipitação e abordar outros
conceitos, um experimento chamado: ―Em busca da proteína do leite‖ foi realizado, o qual utiliza
materiais simples, que não agridem o meio ambiente. Antes do início da prática, foram apresentados
os materiais e reagentes já mencionados na metodologia.
Os alunos ao verem os reagentes indagaram: ―A aula de química vai virar aula de culinária,
professor?‖. E novamente foi reforçado que fenômenos químicos não acontecem apenas com
materiais e reagentes presentes em laboratório, mas também com produtos e alimentos presentes em
nossas casas. Vale salientar que a equipe do PDVL utilizou todos os equipamentos de proteção e
segurança necessários, tomando todos os cuidados possíveis, durante a realização da
experimentação.
Para a realização do experimento, o leite foi aquecido por cerca de dois minutos no fogão da
cozinha da escola, e depois foi colocado em um bécker. Feito isso, acrescentou-se o vinagre,
homogeneizou-se a mistura e foi pedido para que os estudantes observassem (Figura 2).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1106


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 2. Momento da experimentação. Fonte: Própria.

Logo, os discentes levantaram questões como: ―Professor, estragou o leite?‖; ―Porque está
se separando em duas fases?‖. Partindo desses questionamentos, o docente esclareceu o que havia
ocorrido no meio, baseado nos conceitos de reação de precipitação, visto que ao misturar os dois
reagentes, um dos produtos formado é insolúvel no meio. Em seguida, a mistura foi colocada em
um sistema de filtração simples para separar o precipitado da solução resultante.
Como os estudantes não conseguiram elaborar hipóteses coerentes para o ocorrido, o
docente explanou que o leite tem a caseína como principal proteína, a qual é bastante solúvel em
água, pois se apresenta na forma de um sal de cálcio. Entretanto, em um meio de pH ácido, ou seja,
com adição de ácidos (vinagre que contém ácido acético em sua composição), a estrutura da caseína
é alterada, bem como sua solubilidade, levando-a a precipitação. Deste modo, a presença do vinagre
permitiu que a caseína fosse isolada dos outros componentes do leite, sendo extraída por meio de
uma filtração simples (FREITAS FILHO, et al., 2012). Diante do exposto, foi esclarecido que
nenhum dos componentes utilizados poderia prejudicar o meio ambiente, se descartado
normalmente na pia da escola.
O experimento escolhido serviu para ilustrar e demonstrar qualitativamente que uma reação
de precipitação, presente no cotidiano do alunado, pode ser realizada através de materiais de baixo
custeio e que não são agressivos ao meio ambiente. Além disso, abriu espaços para discussões
relacionadas a produtos e materiais que prejudicam à saúde humana e o meio ambiente, assim como
demonstrou diversas possibilidades de auxiliar a minimizar o impacto ambiental destes,
colaborando na edificação de conhecimentos significativos e, consequentemente, contribuindo para
que o discente seja um ser mais crítico. Tais construções cognitivas foram estimuladas pela
Educação Ambiental que é

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1107


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

é um caminho possível para mudar atitudes e, por consequência, o mundo, permitindo ao


aluno construir uma nova forma de compreender a realidade na qual vive, estimulando a
consciência ambiental e a cidadania, numa cultura ética, de paz, de solidariedade, de
liberdade, de parceria e partilha do bem-comum, da habilidade, da delicadeza e do bom
senso (CUBA, 2010, p. 29).

No quinto e último momento, nona aula, um Questionário Final foi elaborado com base no
QI, buscando avaliar o conhecimento adquirido pelos discentes após o desenvolvimento das ações.
Logo, as questões requereram um nível maior de conhecimento quando comparado ao QI, sendo um
total de cinco questões. Duas delas eram referentes ao experimento desenvolvido em sala de aula,
que discorria: ―A respeito do experimento do leite, quais tipos de reações podemos constatar nessa
prática?‖; ―Por que foi utilizado o vinagre no experimento?‖.
Um dos alunos respondeu o primeiro questionamento: ―Podemos observar a reação de
dupla troca com precipitação‖. Outro estudante respondeu o segundo questionamento: ―O vinagre
foi usado para diminuir o pH e fazer com que a proteína ficasse insolúvel‖.
Os outros três questionamentos investigavam se os discentes conseguiam identificar os tipos
de reações, de acordo com equações químicas de reações que acontecem no dia a dia, e foi pedido
que eles escolhessem um tipo de reação e explicassem como os reagentes se comportam para
formar o produto.
Frente à análise das respostas, foi possível constatar que todos os estudantes conseguiram
alcançar notas maiores que sete (7,0), atribuindo um resultado positivo, já que no Questionário
Inicial a percentagem de acerto foi de 35%. Dentro dessa perspectiva, pode-se afirmar que o
conjunto de ações empregado pela equipe pesquisadora contribuiu para o desenvolvimento
cognitivo dos discentes em relação ao conteúdo estudado, propiciou um espaço privilegiado para
estabelecer conexões e informações quanto à temática ambiental, que foi direcionado a fim de
estimular os estudantes a terem concepções e uma postura cidadã, ciente de suas responsabilidades
como integrante do meio ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como a maioria das escolas públicas persiste em um modelo de ensino tradicional, novas
técnicas e ferramentas metodológicas devem ser abordadas com o intuito de modelar a visão da
Ciência Química dita abstrata, numa percepção de conhecimentos químicos presentes na vida, os
quais são relevantes para solução de diversas problemáticas. Desse modo, pode-se despertar a
curiosidade dos discentes e incentivá-los ao estudo de fenômenos e acontecimentos químicos.
Durante todo o processo, foi perceptível o déficit na elaboração de contextos sobre a
Educação Ambiental por parte dos discentes, o que reforça a importância e necessidade de se
relacionar os diversos conteúdos químicos com a temática ambiental. O debate sobre as questões
ambientais possibilitou que o alunado refletisse de modo crítico sobre a relação da natureza e os

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1108


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

fatores químicos relacionados a existência do homem, contribuindo para um aprendizado


construtivo e significativo.
A utilização das TICs contribuiu bastante neste processo, visto que propiciou ilustrações de
reações químicas que não poderiam ser realizadas em sala de aula, por conta da indisponibilidade de
reagentes, bem como o impacto ambiental que poderia ser gerado a partir de alguns deles. Com as
TICs foi possível concentrar a atenção dos estudantes e demonstrar de modo mais compreensível
alguns fenômenos microscópicos, por intermédio de imagens.
Não tão obstante, a experimentação com materiais simples, de baixo custeio e sem agressão
ao meio ambiente, permitiu discussões e debates de temáticas ambientais visando uma ação coletiva
do conhecimento. Vale salientar que a aproximação do estudante à sua realidade, proporciona não
somente uma melhor aprendizagem, mas também, coadjuva para uma participação mais efetiva
entre docente-discente e discente-discente, favorecendo uma forma de expressão mais crítica,
podendo cooperar para uma mudança de comportamento e atitudes.
Dentro desse contexto, o grupo do PDVL pretende continuar a pesquisa abordando
diferentes conteúdos de Química, utilizando essa proposta didática que executa uma metodologia
contemporânea, a fim de colaborar com o processo de ensinoaprendizagem dos estudantes e
despertar o interesse deles por essa Ciência.

REFERÊNCIAS

AMARAL NETO, R. F. A. Efeitos dos Metais Pesados na Saúde Humana, 2017. Disponível em:
<http://www.robertofrancodoamaral.com.br/blog/efeitos-dos-metais-pesados-na-saude-
humana/>. Acesso em: 20/jul/2017.

ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente.
5ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.

BRASIL. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. vol. 2 - Ciências da Natureza,


Matemática e suas Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, 2006.

_____. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Parâmetros


Curriculares Nacionais (PCNs). Brasília: MEC, 1999.

_____. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Parâmetros


Curriculares Nacionais + (PCN+) - Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Brasília: MEC,
2002.

CHANG, R.; GOLDSBY, K. A. Química. 11ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1109


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

CUBA, M. A. Educação ambiental nas escolas. Educação, Cultura e Comunicação, vol. 1, n. 2,


2010.

DA SILVA, G. C. R. F. O Método Científico na Psicologia: Abordagem qualitativa e quantitativa,


2010. Disponível em: <http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0539.pdf>. Acesso em:
29/jul/2017.

DE FREITAS FILHO, J. R. et al. Laboratório ambulante de química: instrumento de extensão


universitária. Revista Ciência em Extensão, v. 8, n. 1, p. 82-97, 2012.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 50ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.

GONÇALVES, J. C. Tabela Atômica Interdisciplinar. 34ª ed. Curitiba: Editora Atômica, 2010.

GUIMARÃES, C, G. Experimentação no Ensino de Química: Caminhos e Descaminhos Rumo à


Aprendizagem Significativa. Química Nova, vol. 31, n. 3, 2009.

MACHADO, N. J. Interdisciplinaridade e contextuação. In: Ministério da Educação, Instituto


Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM): fundamentação teórico-metodológica. Brasília: MEC; INEP, 2005.

RUSCHEINSKY, A. Educação Ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002.

SAUVÉ, L. Educação ambiental: possibilidades e limitações. Química Nova, vol. 31, n. 2, p. 317-
322, 2005.

SCHMIDT, M. L. S. Pesquisa participante: alteridade e comunidades interpretativas. Psicologia


USP, vol. 17, n. 2, 2006.

UNESCO. TIC na educação do Brasil, 2017. Disponível em:


<http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/communication-and-information/access-to-
knowledge/ict-in-education/>. Acesso em: 28/jul/2017.

WARTHA, Edson José; SILVA, EL da; BEJARANO, Nelson Rui Ribas. Cotidiano e
contextualização no ensino de Química. Química nova na escola, v. 35, n. 2, p. 84-91, 2013.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1110


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE CAPIM - PB: PROJETO


―ECOSABÃO‖ NA ESCOLA PROFESSORA EUNICE ALVES DOS SANTOS

Carla Soares BORBA


Bacharela em Ecologia-UFPB
carlasborba@gmail.com
Cláudia Érica Soares BORBA
Pós graduação em Neuropsicopedagogia e Licenciatura em pedagogia- UFPB
ericaborba@hotmail.com
Nadjacleia Vilar ALMEIDA
Professora Drª. Departamento de Engenharia e Meio Ambiente - UFPB
nadjageo@gmail.com

RESUMO:
As questões ambientais vêm sendo discutidas com frequência e, por meio da Educação Ambiental, é
possível levar esclarecimento às populações. Sabe-se que os recursos naturais estão cada vez mais
escassos, não só pela alta exploração, mas também pela poluição e contaminação dos mesmos, pois
a disposição inadequada de resíduos no ambiente gera focos de proliferação de doenças e de
contaminação. O óleo de cozinha quando descartado no meio ambiente apresenta alto poder de
contaminação. Esse resíduo líquido lançado nas redes de esgoto permanece nos rios, consumindo o
oxigênio como resultado do processo de decomposição se for descartado no solo provoca a
impermeabilização dos leitos e terrenos, o que possibilita a ocorrência das enchentes. Na maioria
das vezes esse problema ocorre pela falta de conhecimento da população sobre os impactos
ambientais que esse resíduo pode causar. Pensando nessa problemática, foi desenvolvido um
trabalho no município de Capim- PB, pela professora de ciências e pelos alunos do 7º e 8º ano da
Escola Professora Eunice Alves dos Santos (Distrito de Olho d‘ Água), com o objetivo de
sensibilizar os alunos da escola, e a população local à fazer o descarte correto do óleo de cozinha. O
trabalho foi dividido em quatro etapas: palestras na escola, panfletagem na comunidade e entrega do
recipiente de acondicionamento, coleta dos recipientes com óleo usado para produção do sabão
ecológico e a última etapa o uso do sabão ecológico na unidade escolar. Diante do objetivo
proposto, de sensibilizar a respeito dos danos causados ao meio ambiente pelo uso e descarte
inadequado de óleo vegetal, pôde-se concluir que o resultado esperado foi alcançado ao obter em
um mês 20 litros de óleo de cozinha usado, resultando em 10 kg de sabão ecológico, que foram
utilizados na própria unidade escolar.
Palavras Chaves: Interdisciplinaridade Escolar, Sabão Ecológico, Reciclagem, Educação
ABSTRACT
The environmental questions has been frequently discussed and, by means of through
environmental education, it is possible to take explanation to the populations. It is known that
natural resources are increasingly scarce, not only by high exploration, but also the pollution and
contamination the same, because your inadequate disposition in the environment create proliferation
focus and contamination diseases. The cooking oil when discarded in the environment present high
power of contamination. This liquid residue released in sewage networks remains in rivers,
consuming the oxygen and resulting in the decomposition process, if discarded in the soil causes the
waterproofing of beds and terrain, that enables the occurrence of floods. Most of the time this
problem occurs to lack of knowledge of the population about the environmental impacts that this
residue can cause. Thinking about this problem, was developed a work in the municipality of

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1111


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Capim- PB, by the science teacher and by the students of the 7th and 8th year of the School Teacher
Eunice Alves dos Santos (Olho d 'Água District), with the objective to sensitize the students of the
School, and the local population to make the correct disposal of cooking oil. The work was divided
in four stages: lectures in the school, pamphlet in the community and delivery of the packaging
container, collection of the containers with oil used to obtain the ecological soap and the last stage
the use of ecological soap in the school unit. In view of the proposed objective, to sensitize about
the damage caused to the environment by the use and inadequate disposal of vegetable oil, it was
conclued that the it was concluded that the desired result was achieved obtain in one month 20 liters
of used cooking oil, resulting in 10 kg ecological soap, which it was used in the school unit itself.
Keywords: Interdisciplinary School, Ecological Soap, Recycling, Education

INTRODUÇÃO

A evolução tecnológica, desde o século XX com a Revolução Industrial, até os dias atuais
tem levado o meio ambiente a um estado de desvalorização nunca visto anteriormente. A cada dia o
homem acredita que pode extrair o máximo proveito dos recursos naturais do planeta, sem sofrer as
consequências de seus atos e causar danos ao ambiente. O crescimento econômico geralmente
implica aumento em todos os setores – industrial, comércio, serviço e consumo, em outras palavras,
significa mais extração de recursos naturais, mais produção e mais coisas descartadas na terra na
forma de lixo (LEONARD, 2011).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) afirmam que a interdisciplinaridade é
fundamental ao desenvolvimento ligado ao meio ambiente, de forma a integrar os conteúdos em
várias disciplinas. O livro do PCN sobre o meio ambiente, da destaque para a explicitação de
indicadores para a construção do ensinar e do aprender em educação ambiental (EA), como
princípios a serem desenvolvidos nas escolas sobre as atividades humanas que geram impactos e
degradações nos meios físicos, biológicos e socioeconômicos, que afetam os recursos naturais, a
saúde humana e ambiental, no ar, nas águas, no solo e no meio sociocultural, dando ênfase que
algumas das formas mais conhecidas de degradação ambiental são a desestruturação física (erosão,
no caso de solos), a poluição e a contaminação (BRASIL, 1997).
De acordo com Ribeiro (1999, p. 37):

Os embates em nível mundial, quanto à situação de degradação ambiental do planeta Terra,


iniciados nos anos 60 pelos países desenvolvidos, repercutiram no Brasil, e de forma mais
intensa, após a "Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental" ou
"Conferência de Tbilisi", realizada em 1977, resultando na criação de programas, projetos e
cursos relacionados com a temática ambiental.

Sato (1997, p. 90) ressalta que a EA ―sustenta todas as atividades e impulsiona os aspectos
físicos, biológicos, sociais e culturais dos seres humanos‖. Sendo assim, apresenta-se como uma
peça importante no currículo escolar.
Narciso (2009, p.88) afirma:

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1112


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

A educação ambiental deve ser trabalhada nas escolas não por ser uma exigência do
Ministério da Educação, mas porque acreditamos ser a única forma de aprendermos e
ensinarmos que nós, seres humanos, não somos os únicos habitantes deste planeta, que não
temos o direito de destruí-lo, pois da mesma forma que herdamos a terra de nossos pais,
deveremos deixá-la para nossos filhos.

Uma das formas de sensibilizar crianças e adultos, em relação à reciclagem dos resíduos
sólidos e líquidos é através da EA, um processo de aprendizagem longo e contínuo que busca
formar e desenvolver atitudes racionais e responsáveis na perspectiva de criar um novo modelo de
relacionamento entre homem e meio ambiente (OLIVEIRA, 2005).
A educação ambiental é uma disciplina bem estabelecida que enfatiza a relação do homem
com o ambiente natural, as formas de conservá-lo, preservá-lo e de administrar seus recursos
adequadamente (UNESCO, 2005). Educação esta que deve ser iniciada na escola a partir do ensino
infantil, fazendo parte do dia a dia de crianças, jovens e adultos, para que aprendam a respeitar e
preservar ―a nossa casa comum‖ seja na convivência em casa ou com professores, diretores e
demais funcionários da escola.
O campo de atuação onde a EA possui mais enfoque é nas escolas, na perspectiva de formar
cidadãos conscientes das responsabilidades integrantes do meio ambiente, onde se pode criar
condições e alternativas que estimulem os alunos a terem concepções e posturas ecologicamente
corretas.
Assim, Lisboa (2012, p. 27) enfatiza:

A escola é um espaço fecundo ao trabalho no campo da EA, e os PCN oferecem aos


professores possibilidades concretas, pertinentes ao currículo escolar, pois estão atentos ás
contribuições de cada área do conhecimento. Esse trabalho pode iniciar-se na escola,
ampliando a comunidade local, ajudando na formação de cidadãos atuantes local e
globalmente.

Mas, quando se fala em EA logo pensamos em desenvolver atitudes que ajudem o ambiente.
Uma das principais fontes de poluição do ambiente natural são os resíduos sólidos ou líquidos, e
uma forma de diminuir esses resíduos, continua sendo a reciclagem e/ou reutilização, na tentativa
de ocupar menos espaço nos aterros, com resíduos que seriam lançados indevidamente no ambiente,
contribuindo para o entupimento de bueiros, propiciando condições de proliferação de vetores,
prejudicando a fauna e a flora, além de causarem impacto no aspecto estético. A partir da
reciclagem foi desenvolvida a política dos 3R‘s que consiste em três ações, reduzir, reutilizar e
reciclar, no intuito de sensibilizar a sociedade com relação ao acúmulo de resíduos.
Silva et al (2004, p. 01) definem a política dos 3R‘s onde:

Reduzir, no sentido de diminuir a quantidade de lixo produzido, desperdiçando menos e


consumindo só o necessário, sem exageros; Reutilizar, dando nova utilidade a materiais que
na maioria das vezes consideramos inúteis e jogamos no lixo, e Reciclar, no sentido de dar
―nova vida‖ a materiais a partir da reutilização de sua matéria-prima para fabricar novos
produtos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1113


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Tendo em vista que um dos recursos naturais mais preciosos que temos é a água e que a
mesma vem sofrendo ações antrópicas como: a poluição e contaminação dos mares, rios, lagos,
lençóis freáticos, entre outros, surge assim, a preocupação de buscar sensibilizar a comunidade
escolar sobre a importância da quantidade e qualidade da água, uma vez que as crianças são o futuro
do nosso planeta. O ato de contaminação dos corpos hídricos acontece todos os dias em milhares de
casas, uma ação realizada diariamente e que muitas vezes passa despercebida é o descarte do óleo
de cozinha na pia.
Lopes (2009, p. 1036) retrata a importância de reciclar o óleo de cozinha (resíduo líquido):

Por ser menos denso que a água, o óleo de cozinha forma uma película sobre a mesma, o
que provoca a retenção de sólidos, entupimentos e problemas de drenagem quando
colocados nas redes coletoras de esgoto. O óleo de cozinha jogado diretamente na pia pode
prejudicar o meio ambiente. Se o produto for para as redes de esgoto encarece o tratamento
dos resíduos em até 45% e o que permanece nos rios provocando a impermeabilização dos
leitos e terrenos, o que contribui para que ocorram as enchentes e desequilíbrios ecológicos.

O óleo doméstico usado e reutilizado repetidas vezes, em frituras, sofre degradação


acelerada pela alta temperatura do processo, tendo como resultado a modificação de suas
características físicas e químicas. Um litro desse óleo, quando descartado no ralo da pia, chega a
contaminar de uma só vez um milhão de litros de água, quantidade suficiente para a sobrevivência
de uma pessoa (desde banho, comida e consumo) por até 14 anos (SILVA, 2013).
Mesmo com a abundância dos recursos hídricos em alguns países, nosso planeta, não está
livre da ameaça de uma crise hídrica. A disponibilidade varia de uma região para outra. Entre as
principais causas da diminuição da água potável estão o crescente aumento do consumo, o
desperdício e a poluição das águas superficiais e subterrâneas por esgotos domésticos e resíduos
tóxicos provenientes da indústria e da agricultura.
Em diálogos na sala de aula com os alunos de uma escola da rede pública (Eunice Alves) no
município de Capim-PB, eles relataram que o óleo doméstico usado em suas casas é descartado no
ralo da pia ou no solo, e que não existe na comunidade um projeto para reciclagem desse resíduo
líquido.
Nesse contexto, o presente trabalho busca sensibilizar os alunos da Escola Professora Eunice
Alves dos Santos, e a população local à fazer o descarte correto do óleo de cozinha em suas casas
(armazenamento), destinando-o para a fabricação de sabão ecológico em barra e contribuindo para a
melhoria do meio ambiente. Com o óleo coletado objetiva-se produzir sabão para a unidade escolar,
com o intuito de promover a educação ambiental, dentro da escola.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

ÁREA DE ESTUDO

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1114


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

O trabalho foi realizado no Distrito de Olho d‘Água do Serrão, município de Capim-PB


localizado na mesorregião da Zona da Mata e na microrregião do Litoral Norte a aproximadamente
60 km da capital João Pessoa-PB (Figura 01). Foi desenvolvido na Escola Municipal do Ensino
Fundamental Professora Eunice Alves dos Santos (Figura 02), com os alunos do ensino
fundamental II do 7º e 8º ano.

Figura 01. Localização da área de estudo.

Figura 02. Escola Municipal Professora Eunice Alves dos Santos, Distrito de
Olho d‘Água do Serrão, Capim-PB.

Trata-se de um trabalho de natureza qualitativa socioambiental, que permite a troca de


conhecimentos entre os alunos e a sociedade. O trabalho foi dividido em 04 etapas (Figura 03).
Realizado com as turmas do 7º e 8º ano, onde os alunos foram motivados a coletar o óleo de
cozinha, nas casas da comunidade, como também nas suas residências.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1115


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 03. Etapas desenvolvidas.

No processo de sensibilização foram realizadas aulas expositivas na forma de palestras sobre


a importância de conservar e preservar os recursos hídricos que são fundamentais para a nossa
sobrevivência e importantes para a manutenção da vida e dos ecossistemas. Foram também
abordados temas como as formas de contaminações da água por meios de resíduos sólidos e
líquidos, e a política dos 3R‘s, reduzir, reutilizar e reciclar, as palestras foram desenvolvidas em
todas as turmas da escola.
Após a palestra todas as turmas ficaram responsáveis de coletar garrafas PET, para
reutilizar, como recipiente de armazenamento do óleo, alguns alunos coletaram as garrafas, jogadas
em terrenos, no lixo, na rua, e nas próprias casas.
Na segunda etapa, os alunos do 7ºe 8º ano foram às ruas da comunidade para panfletagem e
entregar o recipiente de coleta do óleo em um total de 50 casas. Os próprios alunos explicaram para
comunidade a importância de não descartar o óleo nos ralos da pia e no solo.
A terceira etapa consistiu em destinar o óleo coletado a uma empresa onde a mesma, recebe
o óleo usado para produzir o sabão ecológico com alta qualidade.
Na quarta e última etapa, foi realizada a utilização do EcoSabão, na unidade escolar.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

No início do trabalho quando se realizaram as palestras (Figura 04), perguntou-se aos alunos
sobre o conhecimento de alternativas para reciclar o óleo de cozinha, 95% dos alunos não souberam
responder sobre a existência de alguma maneira de se reciclar o óleo usado, apenas 5% dos alunos
responderam sobre alternativas de reciclagem do óleo (Figura 05).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1116


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 04. Palestras realizadas com os alunos da escola.

Reciclagem do óleo de cozinha usado


100

80

60

40

20

Tinha conhecimento Não tinha conhecimento

Figura 05. Conhecimento dos alunos com relação a reciclagem do óleo de cozinha usado.

Após um mês da data de entrega dos recipientes (garrafa PET) nas casas (Figuras 06 e 07),
os alunos voltaram as casas da comunidade para coletar o óleo usado. Das 50 casas onde foram
entregues, 70% devolveram os recipientes com óleo de cozinha utilizado, obteve-se um total de 20
litros de óleo de cozinha usado (Figura 08), rendendo10 kg de sabão ecológico (Figura 09).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1117


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 06. Coletores do óleo de cozinha usado Figura 07. Alunos nas ruas entregando panfletos e os
coletores.

Figura 08. Óleo de cozinha usado coletado.

Figura 09. Sabão ecológico produzido com óleo de cozinha coletado pelos alunos.
Fabricado pela Gestão Ambiental da Miriri Alimentos e Bioenergia. (Imagens.G. Soares)

Os alunos mostraram-se envolvidos e compromissados com o trabalho e com os problemas


do descarte incorreto do óleo de cozinha, obtendo-se que a reciclagem é uma forma muito atrativa
de gerenciamento, sensibilização e de promover a consciência limpa, reciclando esse resíduo

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1118


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

líquido, podemos transformar o lixo doméstico em insumos que podem ser reutilizados, trazendo
com isso, diversas vantagens ambientais.
Após a coleta foi realizado em sala de aula um debate para avaliar o aprendizado dos alunos,
onde os mesmos puderam expressar suas opiniões. A maioria dos alunos envolvidos no trabalho
reconheceram a importância do meio ambiente para a sua vida e a necessidade da sua preservação.
Deixaram evidente que o óleo de cozinha é muito utilizado nas residências, uma vez que é
necessário para culinária.
Conscientes que o descarte incorreto causa consequências negativas ao meio natural, os
alunos se motivaram a promover no futuro, a disseminação desse conhecimento nas diferentes ruas,
estabelecimentos e na sociedade, alertando sobre as consequências do óleo de cozinha descartado de
forma inadequada, como uma ação que pode causar danos ao meio ambiente, mostraram-se também
sensibilizados quanto a necessidade de reutilizar esse resíduo para a produção de sabão ecológico.
Dessa maneira, o óleo de cozinha usado, coletado pelos alunos para produção de sabão
ecológico, pode ser utilizado também pelos moradores locais em suas residências.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do presente trabalho, observou-se que a maioria das pessoas ainda não sabem o que
fazer com o óleo de cozinha usado e muitas desconhecem os prejuízos causados ao meio ambiente e
por esse motivo acabam descartando o resíduo no solo, ralo da pia, ou então descartam no lixo
comum. No entanto, é necessário orientar as pessoas, quanto ao impacto que o óleo usado causa no
ambiente e o que fazer com esse resíduo, neste caso, podendo ser usado o exemplo da fabricação de
sabão, que além de ser eficiente para a limpeza, pode gerar benefícios econômicos e ambientais.
Uma das ações mais importantes que se percebeu nessa experiência relatada, foi o quanto os
alunos se sentiram importantes em colaborar com o projeto. Ficou evidente, que a EA quando
praticada na comunidade escolar, faz a diferença, com o propósito de envolver os alunos, de modo
que eles se vejam como sujeitos atuantes no processo histórico de sua comunidade, pois assim a
educação se torna significativa para eles, e demonstra que o espaço físico educacional, está muito
além da sala de aula. Nesse momento a educação deixa de ser apenas uma teoria assistida, e passa a
ser uma experiência de vida, que fará parte do cotidiano do aluno fora da comunidade escolar.
Vale ressaltar que tal experiência, a partir da coleta do óleo de cozinha para reutilizar e fazer
o sabão ecológico não reeduca apenas os alunos, que veem na prática o que de fato significa os
3R‘s, mas também a comunidade em si, que passa por um processo de reeducação onde, alguns
ambientes domésticos não se tinham a prática no cotidiano de armazenar o óleo usado, e passam a
armazenar esse resíduo líquido para transformá-lo em um novo produto.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1119


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Sabe-se que esses 20 litros de óleo coletados, foram 20 litros a menos para poluir o solo e os
lençóis freáticos. A partir deste trabalho de reutilizar o óleo de cozinha usado, pretende-se realizar
na escola junto com os alunos, uma oficina para produção do sabão ecológico, como também tornar
um projeto fixo na comunidade, com a intenção de continuar levando o aprendizado a outras
pessoas e proteger o ambiente natural dos impactos causados pelo descarte incorreto do óleo.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente e Saúde. Secretaria de Educação


Fundamental. Brasília, 1997.

LEONARD, A. A história das Coisas: da Natureza ao Lixo, o que Acontece com Tudo que
Consumimos. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

LISBOA, C. P; KINDEL, E. A. I; KROB, A. J. D. [et al]. Educação Ambiental: da Teoria à


Prática. Porto Alegre: Mediação, 2012. p. 27.

LOPES, C. R; BALDIN, N. Educação Ambiental para a Reutilização do Óleo de Cozinha na


Produção de Sabão – Projeto ―EcoLimpo. III Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia.
Paraná, 2009. p. 1036.

NARCIZO, K. R. S. Uma Análise Sobre a Importância de Trabalhar Educação Ambiental nas


Escolas. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Rio Grande, 2009. p. 88.

OLIVEIRA, H. M. A. Perspectiva dos Educadores Sobre o Meio Ambiente e a Educação Ambiental

[Monografia]. Niterói: Universidade Federal Fluminense; 2005.

RIBEIRO, M. R. C; RAMOS, F. A. G. Educação Ambiental no Cotidiano Escolar: estudo de caso


etnográfico. São Luís, 1999. p. 37.

SATO, M. Educação Para o Ambiente Amazônico. [Tese] Universidade Federal de São Carlos.
1997. p. 90.

SILVA, José; GOMES, Antonia; DINIZ, Luciene; CATÃO, Maria. Reduzir, Reutilizar e Reciclar -
Proposta de Educação Ambiental para o Brejo Paraibano. Congresso Brasileiro de Extensão
Universitária, Belo Horizonte, 2004. p. 01.

SILVA, D. A. M. et al. Resíduo Sustentável: A Produção de Sabão Através do Óleo de Frituras. IX


Congresso de Iniciação Científica do IFRN. Currais Novos/ RN, 2013.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1120


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

UNESCO. Década das Nações Unidas da Educação para um Desenvolvimento Sustentável, 2005-
2014: documento final do esquema internacional de implementação. –Brasília: UNESCO, 2005.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1121


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DO CURSO TÉCNICO


DE MEIO AMBIENTE DO IFRN-IPANGUAÇU

Dan Lurie Tavares FONSÊCA


Estudante do curso técnico em meio ambiente do IFRN
danlurie@hotmail.com
Marcelo Aguiar TÁVORA
Professor orientador do curso técnico em meio ambiente do IFRN
marcelo.tavora@ifrn.edu.br

RESUMO
Este artigo teve como intuito analisar como os alunos do curso técnico integrado em Meio
Ambiente do IFRN- IPANGUAÇU entendem e se enquadram às concepções de Educação
Ambiental. Para isso foi aplicado um questionário contendo duas perguntas: ―Como você define
Educação Ambiental e qual sua importância?‖ e ―Em sua opinião, em que lugares a Educação
Ambiental poderá ser trabalhada/desenvolvida?‖. Para a classificação das respostas utilizou-se as
correntes citadas por SAUVÉ (2005). Foi possível encontrar uma grande amplitude de concepções,
assim descobrindo que os alunos não se prendem apenas a uma forma de educação ambiental e
podem trabalhar de forma mais ampliada uma das áreas de atuação do técnico em meio ambiente.
Palavras-chave: correntes de educação ambiental; meio ambiente; concepção

ABSTRACT
This article is meant to examine how the student's integrated technical course in Environment
IFRN- Ipanguaçu understand and fit the concepts of environmental education and how to fit the
same , for this we use the methodology of application of a questionnaire containing two questions: "
How do you define environmental education and what is its importance ? "And" In your opinion ,
which places environmental education can be worked / developed? " . For the classification of the
responses we use chains cited by SAUVÉ (2005). It was possible to find a great range of designs
thus discovering that students do not relate only to a form of environmental education and can work
more expanded form one of the technical areas of expertise in the environment.
Keywords: streams of environmental education; environmental; conception

INTRODUÇÃO

―Antes de definirmos a educação ambiental que queremos fazer precisamos ter claro que o
problema não está na quantidade de pessoas que existe no planeta e que necessita consumir
cada vez mais os recursos naturais para se alimentar, vestir e morar. ‖ (REIGOTA, 2009,
p.11).

A utilização de Reigota (2009) para a abertura desta pesquisa é para que se possa desde já
levantar uma questão: Educação ambiental está diretamente e unicamente ligada à conservação dos
recursos naturais? Corroborando com Carvalho (2001) também, caberia perguntar: existe uma
educação ambiental ou várias? Será que todos os que estão fazendo educação ambiental comungam
de princípios pedagógicos e de um ideário ambiental comum? Por ventura da aceleração da

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1122


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

degradação ambiental desde a primeira revolução industrial no século XIX, os recursos naturais
vêm diminuindo pela alta busca para utilização humana, na contemporaneidade muito se fala de
conservação e restauração do meio ambiente, a isto se agrega o termo educação ambiental, mas que
muitas vezes é tratado de uma única maneira, limitando o que ela é verdadeiramente, pois a
conservação de recursos naturais é apenas uma das várias correntes de educação ambiental.

―A visão mecanicista e reducionista do mundo tem sido precisamente uma das causas
fundamentais da crise imperante durante os últimos séculos, dando lugar a ciências
compartimentalizadas, fechadas sobre si mesma, para as quais a complexidade do mundo
físico e do mundo pessoal ou social tem sido reduzida a uma soma de pequenas parcelas
isoladas que se tomavam como objeto de estudo fechado em si mesmo‖ (SANTOS, 2015, p.
45)

Para CARVALHO (2001) no conjunto das práticas de Educação Ambiental (EA),


demarcamos pelo menos duas diferentes orientações que poderiam ser chamadas: EA
comportamental e EA popular. Sauvé (2005) mostra várias correntes e ainda exemplifica a forma de
atuação e relação como o meio ambiente. Buscando separadamente os termos ―educação‖ e
―ambiente‖ que juntos formam o conceito do foco desta pesquisa pode-se formular um conceito
teórico do que é educação ambiental, e segundo Mattos no Dicionário Júnior de língua portuguesa:

Educação: 1- Ação de educar. 2- Comportamento que obedece a ás regras da


sociedade.
Ambiente: 1- Que rodeia os seres vivos ou a coisas. 2- Lugar em que e faz alguma
coisa.

Logo pode se dizer de forma geral que educação ambiental é a ação de educar as pessoas a
se viver harmoniosamente com o meio, sem prejudica-lo ou degrada-lo, sem transgredir os limites
estabelecidos.
Este trabalho leva em consideração as correntes apresentadas por Sauvé (2005) para mapear
as concepções de educação ambiental da turma do segundo e terceiro anos do curso técnico em
meio ambiente na modalidade integrada ao ensino médio do Instituto Federal de Educação, Ciências
e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) do Campus Ipanguaçu no período letivo de 2016.2. O
critério para elencar as turmas supracitadas se deu pelo fato de uma delas – a turma do terceiro ano
– já ter cursado a disciplina de ―Educação Ambiental e Ecoturismo‖ enquanto que os estudantes da
turma de segundo ano ainda não cursaram. Portanto, considerou-se importante buscar compreender
as concepções à respeito de EA que os estudantes dessas duas turmas apresentam.
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi o conhecer como os estudantes do curso de
meio ambiente compreendem a educação ambiental, mapeando as correntes a que eles se
enquadram e assim analisando o quanto eles conhecem sobre as diferentes formas de educação

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1123


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ambiental. Para, além disso, buscou-se comparar como as duas turmas se manifestaram em suas
respostas tendo em vista que uma delas já cursou a disciplina de EA.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi à aplicação de um questionário para os estudantes das duas


turmas contendo duas perguntas: ―Como você define Educação Ambiental e qual sua importância?‖
e ―Em sua opinião, em que lugares a Educação Ambiental poderá ser trabalhada/desenvolvida?‖. As
respostas foram analisadas e agrupadas de acordo com a definição das correntes de educação
ambiental propostas por Sauvé (2005).

RESULTADOS E DISCUsSÕES

O questionário foi aplicado nas turmas de Meio Ambiente do segundo (trinta e um alunos) e
terceiro anos (dezessete alunos), do Campus Ipanguaçu.
A primeira questão ―Como você define Educação Ambiental e qual sua importância?‖ trouxe
os seguintes resultados:

MEIO AMBIENTE 2º ANO


7% Naturalista
19%
Recursista
Resolutiva
3%
3% Sistêmica
36%
3% Científica
3% Humanista
0%
Moral/Ética
13% 0% Biorregionalista
10% 3%

Figura 1 Meio ambiente, segundo ano.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1124


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

0%
MEIO AMBIENTE 3º ANO
6%
17%
6% Naturalista
Recursista
35% Resolutiva
0% Sistêmica
0% Científica
18% Humanista

6% Moral/Ética
12%
0% 0%

Figura 2 Meio Ambiente, terceiro ano.


De acordo com os dados obtidos, pode-se observar que houveram semelhanças entre as
respostas dos alunos das duas turmas, que puderam ser enquadrados na mesma corrente de
Educação Ambiental, porém, houveram algumas divergências, que pode ter sido ou não ocasionada
pela disciplina de Educação Ambiental e Ecoturismo, ofertada para os alunos do terceiro ano.
Entre as que estão em comum, a corrente Recursista se enquadrou bem nas respostas de
ambas as turmas, correspondendo a 36% em Meio Ambiente 2 e 17% em Meio Ambiente 3. Esse
seguimento tem como foco principal adotar medidas de conservação do ambiente, por isso também
pode ser chamada de Conservacionista, e trabalha com o desenvolvimento de práticas que
melhorem o meio natural, como os programas de educação centrados nos três ―R‖ já clássicos
(Redução, Reutilização e Reciclagem), com o intuito de garantir a vida com qualidade para as
gerações futuras. ―Encontramos aqui uma preocupação com a ‗administração do meio ambiente‘,
ou, melhor dizendo, de gestão ambiental‖ (SAUVÉ, 2005).
A corrente Humanista também está em comum nas duas turmas (13% em Meio Ambiente 2
e 18% em Meio Ambiente 3), tem como princípios o desenvolvimento de um estilo de vida que crie
o sentimento de pertencimento ao meio natural, sentimento este adquirido por intermédio do
conhecimento do ambiente vivido, tendo noção das limitações que este apresenta, e buscando
encontrar um equilíbrio. O enfoque é cognitivo, com análise e síntese do ambiente, convocando o
uso do sensorial, a sensibilidade afetiva e a criatividade, tudo em busca de conectar os aspectos
culturais com os naturais.
O termo Desenvolvimento Sustentável (DesSus) é cada vez mais frequente nos debates
acerca sobre o futuro do meio ambiente. Entretanto, esse mesmo termo também representa uma
corrente da educação ambiental, correspondendo a 35% das respostas de Meio Ambiente 3 e 3% em
Meio Ambiente 2, que diz que o desenvolvimento da sociedade só pode se dar de acordo com os
recursos disponibilizados pela natureza. Que o homem não pode explorar de forma indevida o meio

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1125


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ambiente, pois o desenvolvimento deve aliar as necessidades dos humanos com a disponibilidade de
recursos, e devem ser desenvolvidas técnicas para melhor aproveitar esses recursos.
A Ecoeducação, que se encaixou em 3% das respostas em Meio Ambiente 2 12% em Meio
Ambiente 3, é uma corrente da educação ambiental que tem como foco principal a criação de um
elo entre o homem e meio ambiente, aproveitando como caminho para um desenvolvimento
pessoal, para o fundamento de um atuar significativo e responsável. Ou seja, é o desenvolvimento
de uma interação, em que o ser humano seja educado para respeitar a natureza e viver de maneira
harmoniosa, sem causar impactos negativos ao meio.
A corrente Científica pôde ser observada em 10% das respostas, em Meio Ambiente 2, que
se manifesta adquirindo conhecimentos acerca das ciências ambientais (química, biologia etc.),
realizando pesquisas de campo e analisando os problemas existentes em determinada área, além
estudar a relação antrópica e como influenciaria a sociedade.
A corrente Naturalista, que se encaixou em 7% das respostas de Meio Ambiente 2, tem como
ideias a reconstrução da ligação homem-natureza. ―As proposições da corrente Naturalista com
frequência reconhecem o valor intrínseco da natureza, acima e além dos recursos que ela
proporciona [...].‖ (SAUVÉ, 2005), ou seja, essa visão compreende que a natureza deve ser algo
presente em todos os níveis de ensino, para desenvolver um sentimento de pertencimento ao meio, e
um senso de que devesse proteger o local que nos oferece as condições necessárias para
sobrevivência, e para isso deve haver um conhecimento acerca da natureza, para desenvolver
medidas para cuidar dela.
A visão Sistêmica, com 3% das respostas enquadradas nessa corrente (Meio Ambiente 2),
que de acordo com Sauvé ―é desenvolver o pensamento sistêmico: análise e síntese de um
pensamento global. Compreender as realidades ambientais, tendo em vista decisões apropriadas. ‖
(2005), ou seja, essa corrente analisa o ambiente como um todo, detectando os pontos positivos e
negativos, e toma decisões que não afetem negativamente no equilíbrio do meio ambiente.
A corrente Biorregionalista (3% das respostas em Meio Ambiente2) diz que o
desenvolvimento de medidas relacionadas ao ecodesenvolvimento deve ter uma amplitude local.
Que primeiramente, devem ser resolvidos os problemas ambientais da região em que está se
trabalhando, por meio de grupos comunitários que estejam engajados na manutenção do meio em
que vivem.
De acordo com a visão Práxica (na qual 3% das respostas se enquadram, de Mei Ambiente
2), a educação ambiental deve analisar o ambiente e estabelecer uma reflexão acerca das atitudes
antrópicas realizadas nos últimos 100 anos e como elas influenciaram na natureza. ―Aprender em,
para e pela ação‖ (SAUVÉ, 2005).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1126


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

A corrente de Educação Ambiental, denominada de Resolutiva, que se enquadrou em 6% das


respostas obtidas, em Meio Ambiente 3, ―agrupa proposições em que o meio ambiente é
considerado principalmente como um conjunto de problemas‖ (SAUVÉ, 2005), e traz os conceitos
que a UNESCO propôs em seu Programa Internacional de Educação Ambiental (1975-1995), que
traz a ideia de conhecimentos das problemáticas relacionadas ao meio ambiente e na busca por
maneiras de resolvê-los. No desenvolvimento dessa vertente, são necessários o estudo de caso e o
desenvolvimento de resolução de problemas, por meio da obtenção das habilidades necessárias; do
diagnóstico à ação.
A corrente Moral/Ética, encaixada em 6% do resultado total das respostas de Meio Ambiente
3, é uma corrente que visa estabelecer uma ordem na relação com o meio ambiente. É um conjunto
de valores que enfatizam o desenvolvimento dos valores ambientais, com uma análise e definição
de valores, que pode/deve partir do próprio sujeito que analisa, e deve escolher a melhor medida
ética para resolver tal problemática.
Entretanto, 19% das respostas obtidas em Meio Ambiente 2 não puderam ser enquadradas
em nenhuma das correntes conhecidas e disseminadas no meio científico. Respostas como ―De
extrema importância‖, não podem ser associadas a nenhuma corrente, pois não deixa explicito qual
a resposta e a real opinião do entrevistado em relação ao tema Educação Ambiental. E 6% das
respostas dadas em Meio Ambiente 3 se encaixam no mesmo caso, com respostas como ―É algo
essencial a todos e de extrema importância para que nós cuidemos melhor do nosso lar. ‖
A segunda parte da pesquisa incluía outra pergunta: ―Em sua opinião, em que lugares a
Educação Ambiental poderá ser trabalhada/desenvolvida? ‖. As respostas dadas foram relacionadas
abaixo:

MEIO AMBIENTE 2º ANO


Indeterminado
10%

Todos os
lugares Todos os lugares
29%
Escolas
Indeterminado

Escolas
61%

Figura 3 Meio Ambiente, segundo ano.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1127


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

MEIO AMBIENTE 3
Indeterminado
18%

Todos os lugares
Escolas
Indeterminado
Todos os
Escolas lugares
23% 59%

Figura 4 Meio Ambiente, terceiro ano.

Para facilitar a análise feita, as respostas obtidas foram englobadas em duas respostas mais
amplas, mas que abarcam 90% das respostas dadas pelos entrevistados em Meio Ambiente 2 e os
outros 10% constituem respostas vagas e/ou que não se encaixam na proposta da pergunta, foram
enquadradas na categoria ―Indeterminado‖. As duas grandes respostas foram: ―Escola‖ e ―Em todos
os lugares‖. A mesma perspectiva foi seguida na análise de Meio Ambiente 3, com 82% das
respostas enquadradas em ―Escola‖ e ―Em todos os lugares‖ e 18% indeterminadas.
A maioria dos entrevistados de Meio Ambiente 2 (61% das respostas), acreditam que
Educação Ambiental deve ser trabalhada majoritariamente na escola. Uma das respostas dadas,
pode explicar bem o porquê dessa opinião ter sido tão acentuada: ―Nas escolas, pois é da base que
deve ser trabalhado para que os que vão ficar em nossos lugares e, que, ‗creça‘ sabendo o correto e
fazendo o que é certo ao meio‖. A maioria das respostas dadas na entrevista tinha essa formatação,
com ―escola‖ sendo a palavra-chave da resposta. Essa opinião pode estar associada a corrente
Recursista, que também foi a corrente em que as respostas mais se enquadraram na primeira
pergunta. Escola também é o local em que a maioria das pessoas associa o conceito de educação,
por isso, a Educação Ambiental pode ser associada a isso, pois a função das instituições de ensino é
preparar os seus alunos para serem cidadãos capazes de mudar o meio. Já em Meio Ambiente, 23%
das respostas obtidas compreendem que Educação Ambiental deve ser trabalhada majoritariamente
na escola. Uma das respostas dadas, pode explicar bem o porquê dessa opinião ter sido tão
acentuada: ―Em sala de aula, palestras em diversas áreas que trabalhem esta disciplina de forma
transdisciplinar. ‖. A maioria das respostas dadas na entrevista tinha essa formatação, com ―escola‖
sendo a palavra-chave da resposta. Essa opinião pode estar associada a corrente de
Desenvolvimento Sustentável, que foi a corrente em que as respostas mais se enquadraram na
primeira pergunta. Escola também é o local em que a maioria das pessoas associa o conceito de
educação, por isso, a Educação Ambiental pode ser associada, pois a função das instituições de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1128


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ensino é preparar os seus alunos para serem cidadãos capazes de mudar o meio, como é evidenciado
em uma das respostas: ―[...] a escola é o ponto de partida, nós somos a linha transportadora.‖.
Com 21% das respostas de Meio Ambiente 2 enquadradas nesse quesito, a opção ―Em todos
os lugares‖ é bem mais ampla que determinar que Educação Ambiental deve ser somente trabalhada
na escola, mas abre precedentes para outros espaços, que vão além do ambiente que é considerado o
―local da educação e aprendizado‖. Esse quesito traz consigo a ideia de que Educação Ambiental
não é algo que deve ser usado só na teoria e conscientização, mas como prática que deve ser levada
para a vida em sociedade. ―Primeiramente na nossa casa, escola, cidades etc., pois as pessoas estão
precisando de uma ‗readucação‘ ambiental‖. Essa resposta dada mostra a chave da maioria das
respostas dadas que se encaixaram nesse quesito, pois mostra que a noção de Educação Ambiental
não está totalmente ligada a um conhecimento teórico, e sim a práticas que devem ser desenvolvidas
no maior número de espaços possíveis. Outra resposta que representa bem o que os entrevistados
quiseram expressar quando se enquadraram nessa opção é: ―A Educação Ambiental deve ser
inserida e desenvolvida em todos os espaços da sociedade, pois o conhecimento sustentável e
ambiental deve ser acessível a todos‖. Pode ser evidenciado nessa resposta a questão que nem todas
as pessoas tem acesso à educação na escola, mas que nem por isso elas devem ser excluídas do
plano de Educação Ambiental, mas que essa modalidade deve integrar-se em todos os espaços e
atingir o maior número de pessoas possível. Em Meio Ambiente 3, com 59% das respostas
enquadradas nesse quesito, idealiza a Educação Ambiental como algo que deve ser trabalhada por
toda a população, ―Escola, trabalho, em casa, em todos os lugares, pois o meio ambiente esta
presente me tudo, é dever nosso preserva-ló. ‖, esta respostas traz a ideia que a maioria das outras
enquadradas também querem passar, de que a Educação Ambiental pode encaixar-se em qualquer
espaço, basta a disposição da população. Outra resposta que representa bem o que os entrevistados
quiseram expressar quando se enquadraram nessa opção é: ―Em qualquer lugar, desde que se tenha
a iniciativa de desenvolver.‖, mostra que a Educação Ambiental é de extrema importância, mas é
necessário o interesse das pessoas em desenvolvê-la, tudo em prol de um bem maior.
As respostas que se encaixaram no quesito ―Indeterminada‖, se enquadram assim pois não
trazem consistência e/ou mostram falta de conhecimento sobre o assunto abordado.

CONCLUSÃO

―A missão da Educação Ambiental está assentada no caráter global e compreensivo de seus


objetivos, assim como suas inter-relações mútuas para atingir uma ética ambiental do
comportamento humano. ‖ (Martín-Molero, 1996, p. 15-17)

Nos dias atuais, está cada vez mais difícil de se definir algo como certo, uma verdade
universal. Para tudo existem diversas correntes e versões, e cada uma tem seus próprios princípios,
e nenhuma está errada. O mesmo ocorre com a Educação Ambiental: o que antes era visto apenas de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1129


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

uma maneira, agora tem diversas vertentes e cada uma tem suas próprias diretrizes e características,
entretanto não se pode estabelecer a ―mais correta‖ ou ―a certa‖, mas cada uma tem sua importância
para a construção da compreensão sobre o ambiente, e com essa variedade, pode atingir um número
maior de pessoas. ―A educação ambiental é uma das mais importantes exigências educacionais
contemporâneas não só no Brasil. Pode ainda ser considerada uma grande contribuição para a
educação em geral‖ (REIGOTA, 2009).
Diante disso, a Educação Ambiental deve ser trabalhada na transdisciplinaridade, pois deve
englobar o maior número de ciências que puderem contribuir para a disseminação desta, pois ―a
transdiplinaridade é uma teoria do conhecimento, é uma compreensão de processos, é um diálogo
entre as diferentes áreas do saber e uma aventura de espiríto‖ (SANTOS, 2015, p. 47).
Portanto, é de extrema importância analisar qual a visão das pessoas sobre Educação
Ambiental, e se essas diversas correntes estão cumprindo sua função precípua de levar o
conhecimento ambiental para o maior número de pessoa pois, apesar da grande influência da mídia
na sociedade atual, é necessário um reforço para o enfrentamento das questões ambientais. Foi
possível constatar que mesmo muitos não conhecendo as várias correntes de educação ambiental, há
um grande número de correntes em que as repostas se enquadraram, mostrando assim, que os
conhecimentos sobre EA não são mais limitados a corrente Recursista, mesmo ela sendo a mais
comumente difundida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, -


Porto Alegre, v.2, n.2, abr./jun. 2001

MARTÍN-MOLERO, Francisca. Educación Ambiental. Madrid, Editorial Síntesis, 1996

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental - São Paulo, ed. Brasiliense, 2012. 5º reimpressão
da 2º ed. de 2009

SANTOS, Elizabeth da Conceição., SILVA, Edson Vicente da., RODRIGUEZ, José Manuel Mateo.
Educação Ambiental e transdisciplinaridade: para repensar o desenvolvimento no combate à
crise planetária. In: Ramiro Camacho, Maria Torres, Rodrigo de Carvalho, João Rebouças,
Ismael de Melo (Orgs). Mossoró: UERN, 2015

SAUVÉ, Lucie. Uma cartografia das correntes em educação ambiental. In: Educação Ambiental:
pesquisa e desafios/Michele Sato, Isabel Cristina (Orgs.). Porto Alegre: Artmed, 2005

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1130


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

AMAZÔNIA VAI À ANTÁRTICA: FORMAÇÃO


36
DE MULTIPLICADORES AMBIENTAIS

Bruna Vidal OLIVEIRA


Discente do Ensino Médio de Tempo Integral da rede pública do Estado de Rondônia
vidalbruna54@gmail.com
Debora Castro PORTO
Discente do Ensino Médio de Tempo Integral da rede pública do Estado de Rondônia
deboraatt1@gmail.com
Celso KORTZ
Discente do Ensino Médio de Tempo Integral da rede pública do Estado de Rondônia
junior_kortz@hotmail.com
Willian F. MOZER
Discente do Ensino Médio de Tempo Integral da rede pública do Estado de Rondônia
willian8445018@gmail.com

RESUMO
A escolha da disciplina eletiva ―Amazônia vai a Antártica‖, oportunizada no projeto Escola de
Ensino Medio de Tempo Integral Cândido Portinari em Rolim de Moura – RO, propiciou a
correlaçao entre ambos ambientes. O conhecimento obtido se converteu uma ferramenta para uma
pesquisa-açao-participante, desenvolvida pelos autores do presente artigo, aplicada a 113 alunos de
ensino fundamental da mesma escola, a opçao das turmas contou com estatistica descriva
facilitando a escolha de quais iriam compor o projeto experimental. O processo de construçao do
conhecimento e multiplicaçao do mesmo trouxe reflexoes importantes sobre a urgencia de projetos
ambientais mais recorrentes nas escolas e o papel de jovens multiplicadores ambientais. Relatar essa
experiencia vivenciada se converte o principal objetivo desse artigo.
Palavras chaves: Educação Ambiental, Multiplicadores Ambientais, Antártica, Amazônia.
RESUMÉN
La elección de la disciplina electiva "Amazônia vai a Antártica", una oportunidad del proyecto
Escuela de Enseñanza Secundaria de Tiempo Integral Cándido Portinari en el municipio de Rolim
de Moura - RO, propició una correlación entre ambos ambientes. El conocimiento obtenido se
convirtió en una herramienta para investigación – acción - participante, desarrollado por los autores
del presente artículo, aplicada a 113 alumnos de enseñanza fundamental de la misma escuela, la
opción de las clases contó con encuesta y estadística descriptiva facilitando la elección de cuáles
iban a componer el proyecto experimental. El proceso de construcción del conocimiento y la
multiplicación del mismo trajo reflejos sobre una urgencia de proyectos ambientales más
recurrentes en las escuelas. Presentar esta experiencia vivida se convierte en el principal objetivo
del artículo.
Palabras claves: Educación Ambiental, Multiplicadores Ambientales, Antártica, Amazônia.

36
Orientando por Nubia CARAMELLO, Docente Secretaria de Educaçao do Estado de Rondônia – SEDUC / Doutora
em Geografia nubiacaramello@yahoo.com.br

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1131


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

Ao longo das últimas décadas as pesquisas voltadas sobre o meio ambiente tem se tornado
cada vez mais tecnológica, uma forma de ter acesso a informações não somente regional, mas
também de outras partes do mundo, pois a forma com que nosso planeta vem sendo degradado
preocupa muito e estimula cada vez mais se buscar pelo bem estar de toda a vida terrestre.
Entre os problemas ambientais identificados como preocupantes destaca-se o lixo, como um
dos principais causadores da poluição ambiental urbana e uma das maiores preocupações tanto por
gestores quanto pela sociedade. O lixo, hoje é tratado como resíduos sólidos e pode atingir os
corpos hídricos tanto fluviais como marítimo podendo chegar ao continente Antártico, ambos
ambientes são essenciais fonte de sobrevivência para uma significativa quantidade de espécies.
Neste sentido não se pode afirmar que ―o problema não é meu‖, sempre atribuindo ao
próximo à responsabilidade da construção de um panorama ambiental confortável.
Este fator agrava na região Amazônica onde grande parte da população endógena ou
exógena a ela possui a percepção de que há muitos recursos e estamos confortáveis ambientalmente,
um mito facilmente reconhecido se a escala de analise for o espaço vivido. A Amazônia conhecida
como ―pulmão do mundo‖ e sua rica biodiversidade repleta pela beleza de sua fauna e flora na qual
é cobiçada por outros países pelo sistema hídrico abundante, onde nos fornece o encanto da floresta
e suas plantas medicinais. Enquanto a Antártica um continente deslumbrante pelas suas belezas
naturais e seu vasto deserto de geleira onde e considerado o lugar mais frio, mais remoto e o mais
alto, sua temperatura pode chegar a -60C, e que possui a maior cobertura de gelo, sendo 98% do
continente coberto por uma camada em media de 2000m de espessura (ELIAS-PIERA, 2015).

Mas qual a relação entre esses dois lugares tão distintos?

Eles são os dois maiores reservatórios de agua doce do mundo, e não só no Brasil, mas todo
o clima mundial é influenciado pelo continente antártico (Videoconferência Dr. Elaine Alves),
também são ambientes frágeis e que necessitam de um maior compromisso na sua gestão territorial.
Mas infelizmente nos seres humanos não estamos sendo tão responsáveis com nosso planeta, pois o
derretimento das geleiras provocado pelo aquecimento global trata-se da consequência
antropogênica de como lidamos com os demais ambientes como, por exemplo, o amazônico que
sofre com queimadas das florestas e dos lixos (resíduos sólidos) devido à ausência de saneamento
básico predominando lixões a céu aberto como acontecia no município de Rolim de Moura no
Estado de Rondônia e os demais municípios da zona da mata.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1132


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Preocupações como as apresentadas até aqui, nos levaram a optar pela disciplina eletiva
―Amazônia vai a Antártica‖, uma proposta piloto desenvolvida na Escola Ensino Médio de Tempo
Integral do Estado de Rondônia Candido Portinari, localizada no município de Rolim de Moura.
Quando no inicio da disciplina eletiva foi questionado aos participantes da mesma, quantos
de nós alunos do ensino médio havíamos participado de algum projeto ambiental em nossa vida
escolar até aquele momento, apenas 47% informaram que em algum momento da vida escolar
haviam participado. Ao realizarmos a mesma pergunta as 9 (nove) turmas de ensino fundamental,
contemplando 249 alunos, 51% alegaram já terem participado. Ainda que seja um valor
significativo tanto em nível de ensino fundamental quanto de ensino médio, contribui para a
elevação dessa porcentagem se converteu uma das metas dos autores do presente artigo.
Porem a mudança deve ser vinda de cada um de nós, neste âmbito os autores do presente
artigo se preocuparam em saber como que nós aqui na Amazônia podemos influenciar a vida
presente em outro continente, neste caso a reflexão se realizou através do conhecimento obtido
durante o curso sobre o continente Antártico. A oportunidade de acesso à informação ocorreu no
primeiro semestre de 2017.
Na própria, foi desenvolvido atividades dentro e fora da sala de aula, onde incluímos
videoconferência com os investigadores Dr. Jackson Itikawa (Pós doutorando da Universidad
Autonoma de Barcelona), Dra. Francine Elias-Piera (Pós doutoranda da Universidade Autonoma de
Barcelona), Dra. Elaine Alves, presencialmente tivemos investigadores regional como a Ms. Arlene
Fujihara entre outros que se converteram a principal referencia de nossas citações. Como recurso
didático-pedagógico foi utilizado os vídeos do projeto Antártica ou Antártida? Desenvolvidos pela
Universidade do ABC-Paulista, coordenados pela Dra. Silvia Dotta, Dra. Francine Elias-Piera e
Dra. Erli Schneider.
Após estudarmos sobre os assuntos discutidos nos vídeos, elaboramos inicialmente
propostas para socializar as informações obtidas com outros grupos dentro da escola a qual estamos
inseridos, considerando que a modalidade de ensino é tempo integral. Por tanto, a nosso critério
ouve divisões de atividades entre os integrantes da disciplina, criando grupos de palestra, desenho e
jornalismo. Dentre esses, escolhemos como ferramenta para multiplicar as informações obtidas o
papel de palestrantes. Para o desenvolvimento do assunto discutido no grupo, foi feito uma pesquisa
quantitativa com alunos do ensino fundamental, objetivando identificar o perfil das turmas e assim
selecionar as que fariam parte do projeto experimental, fator que foi relevante na elaboração da
palestra que seria administrada.
Dentro do exposto o presente artigo tem como objetivo socializar a experiência obtida no
processo de multiplicação do conhecimento e o feedback recebido.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1133


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

METODOLOGIA

A inicialmente tem uma estrutura quantitativa, passando a ser qualitativa no processo da


pesquisa – ação – participante, que consiste em integrar o aprender – ensinar – avaliar
(THIOLLENT, 1985). O desenvolvimento da proposta compreende três momentos distintos (figura
1):

Formaçao dos multiplicadores

Videoconferências Palestras e pesquisas

Socialiazação do conhecimento

Pesquisa quantitativa e analise descritiva Palestra tematica: Amazônia

Análise do resultado

Pesquisa qualitativa Reflexão dos resultados

Figura 1: Fases da pesquisa. Fonte: Organizado pelos autores e autoras

A primeira parte: formação da equipe

Através do conhecimento adquirido com pesquisas virtuais, vídeos do projeto Antártica ou


Antártida, palestras, videoconferência (investigadores), obtivemos informação sobre o continente
antártico e a influencia que a Amazônia tem sobre ele e vice versa. Dados que não estão disponíveis
facilmente e com confiabilidade no meio virtual. O fato de o conhecimento recebido ser diretamente
da fonte trouxe uma credibilidade maior.
Construímos o desafio de tornarmos o conhecimento obtido em uma ferramenta, fator que
oportunizou aos participantes da eletiva a proporem uma arvore de sugestões de que forma seria
possível obter um produto executável. O método usado para organizarmos a palestras foram
reuniões por nos palestrantes juntamente com a coordenadora Dra. Nubia Caramello. Através disso
conseguimos adquirir informações novas sobre um continente pouco estudado nas escolas.
O lixo na Antártica foi um tema que chamou atenção junto a outros dados sobre esse
continente até então pensado como protegido. Foi possível ter um breve conhecimento também
sobre as aves que habitam o continente, onde podemos ver os períodos de reprodução e que essas,
muitas vezes sofrem de estresse com a presença humana ou com as mudanças ambientais. Também
conhecemos os bentos (além dos vídeos tivemos a oportunidade de conhecer a investigadora através

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1134


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

de videoconferência no qual falou um pouco sobre sua pesquisa juntamente com os vídeos cedidos
pela Universidade da ABC Paulista).
Além das videoconferências, conseguimos por interesse próprio ter uma visão ambiental do
nosso planeta, buscando novas leituras a partir das informações obtidas, alimentando assim nosso
desejo em multiplicar a aprendizagem vivenciada.
A segunda parte compreende o processo de socialização do conhecimento obtido, dividido em dois
momentos:

a) Delimitação do publico alvo e desenho da palestra: Entre a entrevista e a realização das


palestras compreenderam algumas etapas essenciais: Realização de entrevista fechada
composta de nove perguntas com 249 estudantes distribuídos em 9 (nove) turmas do ensino
fundamental de 6º ao 9º ano. Os dados foram tratados através da estatística descritiva com
uso do programa Excel, de forma que foi possível construir uma matriz de interação,
possibilitando a analise do conhecimento das 9 (nove) turmas, sendo escolhida 4 (quatro).
Dessa forma foi realizada uma reunião com a equipe das palestras para desenhar a linha de
diálogo necessária no processo de socialização da informação, considerando a faixa etária e
o conhecimento que já possuíam sobre a temática Antártica e Amazônica.
b) O conhecimento como ferramenta: A última etapa ocorreu Palestras sobre Amazônia dentro
dos dados obtidos. Foi priorizado os conteúdos: como ela é dividida (legal, internacional);
biodiversidade a fauna e a flora, e os impactos ambientais que vem ocorrendo
(desmatamento, biopirataria, queimadas e poluição).

RESULTADOS

A realização da entrevista com os 221 alunos, estudantes do 6º ao 9º ano do ensino


fundamental, matriculados no período da manha na Escola Candido Portinari, revelou o perfil de
conhecimento temático. A entrevista contou com 9 (nove) questões com alternativas fechadas
consistindo em ―sim ou não‖, destas somente 5 (cinco) serão utilizadas, em razão das demais não
estarem vinculadas ao objetivo do presente artigo (Fig. 2).
Foi considerado o total ―sim‖ de cada questão, possibilitou identificar que aproximadamente
67% dos alunos alegaram conhecer algum problema ambiental na região Amazônica. Ao serem
questionados se sabiam o que era um investigador e se conheciam algum que investigasse a região
amazônica, somente 14% dos 221 entrevistados informaram conhecer, ao retornar a entrevista com
os que realizaram essa informativa, foi possível identificar que estavam se referindo a antiga
professora de Ciências. A metodologia de obtenção de conhecimento através de videoconferência
foi uma experiência vivenciada por apenas 21% dos entrevistados.
Os que alegam ter participado de algum projeto ambiental na escola alcançaram 56%, a
ultima pergunta era chave principal para escolha da turma juntamente com a primeira questão.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1135


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Aproximadamente 81% dos entrevistados apresentaram interesse em participar de algum projeto ou


conhecer sobre as temáticas apresentadas.

35
1. Conhece os problemas
ambientais da região Amazônica?
30

25 2. Conhece algum investigador


Amazônico?

20
3. Já participou de uma
videoconferência?
15

10 4. Já participou de algum projeto


ambiental?

5
5. Gostaria de participar de um
projeto para conhecer os impactos
0 ambientais na região Amazônica e
6A 7B 7A 8A 8B 9A 9B 9C na Antártica?
Figura 2: Descrição estadística do conhecimento prévio a respeito do ambiente Polar e Amazônico.
Fonte: Banco de dados da disciplina eletiva ―Amazônia vai a Antártica‖.

As turmas 6ºA, 7ºA e B, 8ºA e B manifestaram acima de 70% de interesse em participar de


projetos envolvendo as temáticas em questão, enquanto as demais estiveram a abaixo de 70% de
interesse, apresentado o menor percentual de interesse o 9ºB com 57%. O percentual de alunos que
alegaram já ter algum conhecimento sobre a região Amazônica foi 53%, dentre os que apresentaram
o menor índice esta o 9ºB com 11% apenas de interesse.
Dentro dessas apenas quatro turmas foram selecionadas por virtude de ter menos
conhecimento sobre o tema Antártico (37% alegam ter ouvido falar, quando se solicita para
identificar diferença entre Antártica e o Ártico, menos de 1% sabiam correlacionar), ainda que
conhecimento sobre a Amazônia fosse maior que outras turmas, o índice de interesse em participar
foi decisivo, resultando na escolha das turmas: 6ºA, 7ºA e B, 8ºB.
Diante do diagnostico foi estruturado uma palestra a respeito da realidade ambiental da
região Amazônica, inserindo também informações a respeito da paisagem do município de Rolim
de Moura – RO, buscando demonstrar que as questões ambientais devem ser uma reflexão a todos
nos. Para isso foi organizado dois espaços cada um com duas turmas, enquanto um espaço tinha
palestra sobre a Amazônia o outro tinha sobre a Antártica (Fig. 3), totalizando duas palestras
realizadas no mesmo dia.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1136


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 03: Espaços das palestras e alunos participantes.


Fonte: Banco de dados da disciplina eletiva ―Amazônia vai a Antártica‖.

A participação foi maior do que esperávamos, ouve perguntas feitas baseada no assunto
abordado, 90% dos alunos participaram para o desenvolvimento do assunto. Entre tantas
colaborações uma se registra, ao perguntarmos quem já foi na Amazônia, somente uma aluna sabia
que Rolim de Moura, esta inserido no contexto amazônico. Algo que precisa ser tratado com
cautela, porque identificar o espaço em que vivemos é essencial em qualquer abordagem de ensino
de educação ambiental.
Um dos produtos era que os alunos através de desenho pudessem manifestar o conhecimento
adquirido através da palestra: Amazônia, onde abrangemos os temas: Amazônia legal e Amazônia
internacional; impactos ambientais nos quais foram abordado o desmatamento, queimadas e trafico
de animais; o bioma amazônico onde foi incluso a fauna e flora.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1137


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Desses temas a queimadas (19%), desmatamento e poluição (41%), foram representados em


60% dos desenhos realizados (Fig. 4). Os desenhos que integram os dois ambientes foram
correspondentes a 22% em queimadas e derretimentos enquanto mares e lixo alcançaram 19%.

25

20

15

10

0
Queimadas Queimadas e Mar + lixo Poluição +
derretimentos desmatamento

Figura 4: Distribuição dos temas dos desenhos


Fonte: Banco de dados da disciplina eletiva ―Amazônia vai a Antártica‖.

Retornarmos a sala de aula para identificar a relevância da proposta na perspectiva dos


alunos envolvidos, foi unanime a resposta de que eles gostariam de participar novamente de
palestras ambientais ou projeto envolvendo temas ambientais, ao questionarmos quem multiplicou a
informação obtida contando para os pais, amigos ou outros grupos ao qual participam obtivemos
um resultado maior do qual esperávamos, pois acima de 70% alegam ter comentado em seus
espaços de vivencia sobre a experiência na escola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a participação do projeto, adquirimos um grande conhecimento, no qual foi possível


está multiplicando esse aprendizado com crianças do ensino fundamental da escola Cândido
Portinari.
Palestrar foi muito gratificante porque além de adquirir conhecimento foi possível
disponibilizar para outras pessoas no qual o objetivo de cuidar do nosso planeta foi a maior meta de
nossa equipe, fazendo com que a preocupação ambiental se expanda para todos. O contato com
cientistas polares e amazônicos nos levou a descobrimos nosso interesse, que é passarmos nosso
conhecimento a diante, dentro disso foi possível aflorar o sentimento maior pelo planeta em que
vivemos e ter o interesse de investigar cada vez mais. Podendo nos tornar possíveis investigadores
locais e internacionais futuramente.
Nas palestras dividimos nossas informações para alunos que muitas vezes não tem acesso a
essas, nossa proposta daqui a diante seria levar tanto a informação polar quanto amazônica para

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1138


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

pessoas com menos meios de comunicação ou acesso a internet como as comunidades indígenas e
crianças e adolescentes da zona rural, com palestras mais extrovertidas na qual todos pudessem se
expor e se integrarem com os palestrantes, no qual a ideal fonte é implantar o conhecimento
ambiental em cada um.

AGRADECIMENTO

Aos gestores da Escola de Tempo Integral Cândido Portinari. Aos professores do ensino
fundamental que permitiram a realização do diagnostico de suas turmas para multiplicarmos o
conhecimento ambiental temático. Aos pesquisadores que presencialmente ou através da
videoconferência fizeram parte do processo de formação da equipe. A Universidade do ABC
Paulista pela disponibilização do material do projeto Antártica ou Antártida? Aos colaboradores
diretos e indiretos para nossa participação na V Congresso de Educação Ambiental e ao Governo do
Estado de Rondônia Confúcio Moura, que implantou a escola de tempo integral contribuindo para
vivenciarmos essa experiência.

REFERÊNCIAS

AVES ANTÁRICAS. Projeto de extensão Antártica ou Antártida? Universidade ABC-Paulista.


Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=urm3O_oSCEg Tempo de duração 2:34m.

BENTOS- VIDEOAULA TRADUZIDO PARA LIBRAS. Curso de extensão a distância Antártica


ou Antártida? Universidade Federal do ABC-Paulista. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=obCXrpVuIvY&list=UUwJwnV2VtBt-4k2mt-mbEfQ&inde
x= 62. Tempo de duração 7:13m.

ESTRESSE EM AVES. Projeto de extensão Antártica ou Antártida? Universidade ABC-Paulista


Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9cZOd59BW9M Tempo de duração 5:28m.

IMPACTO DOS MICROPLÁSTICOS EM AMBIENTES MARINHOS – LIBRAS. Projeto de


extensão Antártica ou Antártida? Universidade do ABC – Paulista. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Rb3graauQ8w tempo de duraçãoo 5:49m.

MIGRAÇÃO DAS AVES- TRADUZIDO LINBRAS. Curso de extensão a distância Antártica ou


Antártida? Universidade Federal do ABC- Paulista. Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=e5k8SASZAQc&index=39&list=UUwJwnV2VtBt-4k2mt-mbEfQ Tempo de
duração 4:19m.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo, Cortez, 1985.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1139


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

XADREZ QUÍMICO: O USO DA LUDICIDADE COMO FERRAMENTA


FACILITADORA DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA
DISCIPLINA DE QUÍMICA

Adriana Pinto FERREIRA


Graduanda do Curso de Licenciatura em Química do IFPB
adrianaquimicaufpb@hotmail.com
Rita de Cássia Silva Di PACE
Graduanda do Curso de Licenciatura em Química do IFPB
ritinhadipace@hotmail.com
Alessandra Marcone Tavares Alves de FIGUEIRÊDO
Doutora em Química do IFPB
alessandratavaresfigueiredo@ifpb.edu.br

RESUMO
A maioria dos alunos enxerga a disciplina de Química como de difícil assimilação, pelo fato de
conter fórmulas, cálculos e regras e, dessa maneira, criam automaticamente uma barreira e um
conceito de que essa Ciência é algo abstrato, monótono e complexo, o que faz com que esses
discentes não a integrem no cotidiano deles. Tendo esta problemática em vista, o professor,
enquanto mediador deve buscar novas estratégias de ensino que despertem e estimulem a
curiosidade e o interesse sobre tal disciplina. Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi desenvolver
e aplicar um jogo, denominado ―Xadrez Químico‖ no intuito de facilitar o processo de ensino e
aprendizagem sobre os seguintes conteúdos: vidrarias, regras e normas de segurança de laboratório.
É importante salientar que, para a confecção desse jogo, foram utilizados materiais alternativos
reciclados, a fim de iniciar uma conscientização ambiental nesses discentes. Com a utilização
desses materiais para a fabricação desse jogo, o professor além de conscientizar o aluno quanto à
questão ambiental, desenvolve e estimula também, com o uso da ludicidade, a atividade intelectual,
a qual ajuda no raciocínio lógico, produzindo excelentes resultados no desempenho escolar. Em
alusão ao procedimento metodológico, o trabalho foi desenvolvido e aplicado em duas turmas de 1º
Ano do Ensino Médio, de uma escola estadual, situada no município do Conde, no estado da
Paraíba. A metodologia utilizada foi baseada no método qualitativo, como também no quantitativo e
os resultados foram bastante positivos, com uma participação ativa e participativa dos alunos, a qual
discorreu em uma ótima compreensão do conteúdo químico explanado associado à temática
ambiental e à ludicidade.
Palavras-chave: aprendizagem, ludicidade, conscientização.
ABSTRACT
Most students see the discipline of chemistry as difficult to assimilate, because it contains formulas,
calculations, and rules and, in this way, automatically creates a barrier and a concept that science is
something abstract, monotonous and complex, which make these students do not integrate it into
their daily lives. Having this problematic in view, the teacher, as mediator, should seek new
teaching strategies that arouse and stimulate curiosity and interest in such discipline. Thus, the
objective of this work was to develop and apply a game called "Chemical Chess" in order to
facilitate the teaching and learning process on the following contents: glassware, rules and
laboratory safety standards. It is important to point out that, to make this game, recycled alternative
materials were used in order to initiate an environmental awareness in these students. With the use

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1140


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

of these materials to make this game, the teacher, in addition to making the student aware of the
environmental issue, also develops and stimulates, through the use of ludicity, the intellectual
activity, which helps in logical reasoning, producing excellent results in the school development. In
allusion to the methodological procedure, the work was developed and applied in two classes of 1st
Year of High School, of a state school, located in the municipality of Conde, in the state of Paraíba.
The methodology used was based on the qualitative method, as well as on the quantitative and the
results were very positive, with an active and participative participation of the students, which make
in an optimal understanding of the chemical content explained associated with the environmental
theme and playfulness.
Keywords: learning, playfulness, awareness.

INTRODUÇÃO

Na educação brasileira, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) do


Ensino Médio, a área das Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias correspondem à
etapa final da educação básica, enquanto complementação da aprendizagem (BRASIL, 1999). No
entanto, o que se vê descrito nos documentos oficiais, lamentavelmente, não ocorre na prática
educacional. O que se vislumbra, em grande parte das escolas, é uma metodologia arcaica, praticada
pela maioria dos docentes, não associada ao cotidiano dos alunos. Sendo assim, é necessário
recriar/mudar tal metodologia, voltada às competências e habilidades básicas desenvolvidas pelo
indivíduo, seja na aprendizagem, discussão de ideias, cidadania, entre outros, tornando-os mais
preparados e completos.
Dentro desse contexto, é na sala de aula que o indivíduo aprende a ter condições de
questionar, pesquisar, observar as formas realistas e, com os problemas apresentados, tentar
formular uma ideia em prol de resolver a questão aplicada. Esse é um dos objetivos dos PCNs,
tornar os estudantes capazes e transformadores do ambiente, identificando e interagindo, sendo
assim, estimulando a ter criatividade, intuição, desenvolvimento e pensamento lógico (BRASIL,
1999). Sob essa perspectiva, para corroborar que isto aconteça, o professor tem o desafio de buscar
novas metodologias para melhorar a visão do estudante, aprimorando o interesse e a busca pelo
aprendizado.
Em concernência ao ensino de Química, uma das formas de mudar a prática educacional
atual e fazer com que se tenha uma compreensão/atenção nos conteúdos químicos é ―abandonar‖ a
metodologia de ensino obsoleta, aplicada por grande parte dos docentes. Nesse sentido, fazer uso da
experimentação ou de jogos, visa uma mudança significativa no processo de ensino-aprendizagem,
de modo que o professor guie as ideias e o aluno constrói seu próprio pensamento e conhecimento.
Para tal, é de fundamental importância levar em conta o conhecimento prévio que cada aluno traz
consigo, pois aquele, aliado ao conhecimento científico, contribuirá para o fortalecimento da
aprendizagem. Na mesma direção, a teoria sociointeracionista baseada em Vygotsky (2007),

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1141


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

desenvolve o aprendizado do indivíduo de acordo com a interação aluno-aluno, aluno-professor.


Para ele, ―nós nos tornamos nós mesmos através dos outros‖ (VYGOTSKY, 1989, p. 56 apud
PINO, 2000, p. 54).
Então, é possível compreender por meio da teoria vygotskiana, que o conhecimento
desenvolvido pelo indivíduo é construído através da história de vida, incluindo valores,
experiências. Assim, ressalta-se o processo histórico-social, além da linguagem, pontos facilitadores
desse desenvolvimento. Para Vygotsky, o sujeito é interativo, possui seus conhecimentos a partir de
trocas com o meio e a partir do processo de mediação. Deste modo, o desenvolvimento e
aprendizagem parte do processo de interiorização de conceitos que é promovido pela aprendizagem
social. Efetivamente, é possível observar que o estudante é um ser pensante e a escola na qual está
inserido, é o espaço onde acontece o processo (VYGOTSKY, 1989, apud PINO, 2000).
E ainda segundo esse autor, de acordo com a teoria interacionista, um dos instrumentos
responsáveis para o desenvolvimento é a linguagem. Isto é, poder se comunicar e se expressar, de
forma que permita a compreensão no que se reflete na fala e pensamento. Decerto, a Zona do
desenvolvimento proximal, em que se hão trocas de influência, possibilita que o indivíduo tenha a
aprendizagem efetivada por alguém que possui uma estrutura cognitiva mais desenvolvida.
Tencionando a percepção do aluno com a estrutura cognitiva do momento a um aprendizado final
(VYGOTSKY, 1989, apud PINO, 2000).
O professor deve então, enquanto mediador, estabelecer esse desenvolvimento proximal,
pois, é a partir desse momento, que se tem a oportunidade de ensinar, estimulando a inteligência de
uma forma que se leve a aprendizagem.
Leontiev e sua teoria sociocultural dá continuidade ao pensamento de Vygotsky, mas agora,
com ênfase no conceito de atividade. Em outras palavras, é preciso saber o histórico, a cultura e o
local onde o indivíduo vive, para que assim, seja possível compreender o ponto de
desenvolvimento. E o conceito para compreender esse desenvolvimento é chamado de atividade.
Com base nisso, o professor precisa organizar seu trabalho educativo com foco na intencionalidade
do indivíduo, em resumo, guiando seu desenvolvimento (VYGOTSKY, 1989, apud PINO, 2000).
Em virtude dessa formação, os fundamentos teóricos e procedimentos metodológicos vêm sendo
analisados de forma que se possa afirmar qual o melhor caminho para o aprendizado do aluno em
relação aos conceitos de Química.
Portanto, experimentações, jogos e a percepção da Química no contexto social em que o
indivíduo está inserido, pode desenvolver o vínculo necessário do conteúdo que está sendo
abordado com o entendimento e a vivência do aluno. O indivíduo passa a ser o observador e
aplicador dos processos, saindo da deriva de apenas ser mais um receptor de informações, pois, a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1142


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

função desse método é servir como veículo para o desenvolvimento social, intelectual e emocional,
promovendo assim, o crescimento do aluno.

A LUDICIDADE NO ENSINO DE QUÍMICA

A Química é considerada uma disciplina de difícil entendimento por ser considerada


subjetiva e abstrata e, em muitas vezes, não é associada à realidade em que o indivíduo se encontra.
Diante do problema exposto, é preciso ter estratégias de ensino que motivem e despertem a
curiosidade dos discentes sobre determinado conceito aplicado em sala de aula. No processo de
ensino e aprendizagem dessa Ciência, um método que pode ser usado é a ludicidade, isto é, a
aplicação de jogos didáticos.
Dentre os diversos jogos existentes, destaca-se o Xadrez, que Segundo Vaz (2008), estimula
a atividade intelectual ajudando no raciocínio lógico, produzindo excelentes resultados no
desempenho escolar, com destaque particularmente notável nas disciplinas de Física e de
Matemática, podendo se estender à Química. Dessa forma, o uso do Xadrez, como ferramenta
pedagógica, tem sua importância na vida escolar, pois é através do jogo que o aluno conhece as
regras, raciocínio lógico e a socialização. Sob esse viés, para um melhor desempenho em um jogo, é
de extrema importância considerar a vivência do alunado, pois para Ausubel (2008), o
conhecimento prévio sobre determinado conteúdo determina uma aprendizagem significativa, para
tanto, é importante incorporar no jogo assuntos de conhecimento dos alunos.
Vale frisar que, as aulas expositivas exercem sua importância no processo de ensino e
aprendizagem e as ferramentas pedagógicas como o ―Xadrez Químico‖, não substitui essas aulas,
pois essas são primordiais. Nesse contexto, o uso de tal jogo ajuda também na melhora disciplinar
quando usado como um recurso auxiliar da aprendizagem, contribuindo para a ampliação dos
conteúdos químicos e de outras disciplinas, uma vez que ele pode ser jogo, brincadeira, esporte e
conscientizador do meio ambiente, dependendo dos tipos de materiais com que ele é confeccionado.
Diante do exposto, Bruner relata que o jogo infantil estimula a criatividade, não no sentido
romântico, mas na acepção de Chomsky, de conduzir à descoberta das regras (BRUNER, 1976,
1978, 1983, 1986, p. 124 apud KISHIMOTO, p. 124). Portanto, os jogos, como por exemplo, o
Xadrez, auxilia o aluno na compreensão do conteúdo que está sendo abordado pelo professor. Além
disso, corrobora numa interação efetiva entre os alunos para discutir, questionar e construir seu
pensamento com base no que está sendo aplicado, com isso, sendo possível, obter uma
aprendizagem significativa em relação ao conteúdo direcionado.
Portanto, esse trabalho teve o intuito de aplicar novas metodologias, como a ludicidade,
trazendo o jogo de ―Xadrez Químico‖, a partir de materiais alternativos reciclados, com a finalidade
de despertar a consciência ambiental dos alunos, tendo em vista os diversos problemas encontrados

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1143


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

no meio ambiente e, ainda, favorecer a aprendizagem. O conteúdo trabalhado nessa pesquisa está
elencado entre: vidrarias, regras e normas de segurança de laboratório.

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

A metodologia utilizada se embasou na quantitativa e qualitativa. A primeira, segundo


Oliveira (2008), diz respeito aos dados mensuráveis por meio da utilização de recursos e técnicas
estatísticas, enquanto que a segunda, enfoca a visão sistêmica do problema ou objeto de estudo, isto
é, tenta explanar toda realidade por intermédio do estudo da complexidade dos problemas
sociopolíticos, econômicos, culturais, educacionais, e segundo determinadas peculiaridades de cada
objeto de estudo.
A integração das abordagens quantitativa e qualitativa é válida, uma vez que, pesquisas na
área do ensino de Química possuem problemáticas que lhe são próprias. Dentro deste contexto, com
esta integração metodológica consegue-se obter dados sólidos (característicos da metodologia
quantitativa) e profundos e reais (característicos da metodologia qualitativa), o que
consequentemente, se obtém uma medida mais válida e fidedigna do fenômeno estudado (GRECA,
2002).
O trabalho foi aplicado em duas turmas do 1º ano do Ensino Médio, de uma escola estadual,
localizada no munícipio do Conde, no estado da Paraíba. Participaram da pesquisa 40 (quarenta)
alunos, sendo 25 (vinte e cinco) da turma A e 15 (quinze) da turma B. Foram necessárias 6 (seis)
aulas para aplicação das práxis, contendo 30 (trinta) minutos cada aula. Para tal, foram aplicados
dois questionários, um correspondendo ao questionário pré-jogo (diagnóstico) o qual constituía de 5
(cinco) questões e outro ao questionário pós-jogo, com 4 (quatro) questões.
O procedimento da pesquisa está elencado na seguinte ordem: nas duas primeiras aulas foi
aplicado o questionário diagnóstico e apresentado o conteúdo sobre: regras e normas de segurança
de laboratório e vidrarias, explicando a função de cada uma. Tais vidrarias substituíram as peças do
jogo de Xadrez. Nas três aulas seguintes, se desenvolveu a aplicação do jogo ―Xadrez Químico‖ e,
na última aula, aplicou-se o questionário pós, no intuito de avaliar a aprendizagem dos alunos.
Na sequência, será ilustrado como foi realizada a confecção das peças e do tabuleiro do jogo
―Xadrez Químico‖ e qual o procedimento utilizado:

CONFECÇÃO DAS PEÇAS E DO TABULEIRO DO JOGO ―XADREZ QUÍMICO‖:

Para a confecção das peças (vidrarias químicas) e do tabuleiro do jogo, foi preciso pesquisar
qual seria o melhor material de custo-benefício e de longa duração. Existiam duas possibilidades
que atendiam ao objetivo de utilizar materiais reciclados e de fácil acesso para a produção das
vidrarias: peças feitas de arame com papéis de jornal e peças de gesso feitas por meio de moldes de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1144


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

gelatina. Em virtude de não possuir a quantidade necessária de papel de jornal, foi optado pela
confecção das peças através de moldes de gelatina e de papelão, para a produção do tabuleiro.
Foram gastos, aproximadamente, R$ 35,00 (trinta e cinco reais) para a fabricação deste jogo (peças
e tabuleiro), ilustrando o baixo valor investido, para um recurso didático que poderá ser aplicado
durante diversos anos.

PROCEDIMENTO UTILIZADO PARA A FABRICAÇÃO DAS PEÇAS DO ―XADREZ


QUÍMICO‖:

Para a fabricação das peças do jogo ―Xadrez Químico‖, foram necessários os seguintes
materiais: gelatina sem sabor; glicerina; gesso; tinta guache (preta e branca); pincel; palito de dente;
massinha de modelar; copo descartável; fita adesiva; estilete.
Se fez necessário, primeiramente, fazer à mão o ―clone‖ da vidraria com massinha de
modelar (Figura 1), para então confeccionar o molde da peça e, consequentemente, obter sua forma
em gesso. Vale frisar que, foram produzidas seis vidrarias, são elas: balão volumétrico; bécker;
kitassato; funil de vidro; erlenmeyer; proveta graduada. Para fazer o molde de gelatina, para cada
peça, foram necessários os materiais arrolados: 2 pacotes de gelatina sem sabor; 10 colheres de sopa
de água; 3 colheres de glicerina.

Figura 1: ―Clone‖ da vidraria feito com massinha de modelar.

Com os materiais supramencionados, prosseguiu-se à produção das peças (vidrarias) do


jogo, com as etapas elencadas:
1. Misturou-se os três ingredientes citados anteriormente em um béquer de 150
mL (pode ser substituído por um copo grande);
2. Aqueceu-se em uma chapa aquecedora, (pode ser em micro-ondas) para que
todo o material se dissolvesse, por no máximo 1 minuto;
3. Esperaram-se alguns minutos até a gelatina esfriar um pouco;
4. Separou-se um palito de dente, fixou-o na massinha de modelar (a priori, já
moldada na forma desejada) juntamente com a base do copo de plástico, até ficar firme,
conforme demonstra a Figura 2;
5. Mergulhou-se o molde da massinha na gelatina ainda morna (como ilustra a
Figura 3) e prendeu-se o copo de plástico no béquer com o auxílio de uma fita adesiva, de
uma forma que não tocasse no fundo e nem nas bordas;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1145


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

6. Reservou-se este aparato na geladeira, por volta de 30 minutos;


7. Quando endureceu, retirou-se, com todo cuidado, o copo junto à massinha,
sem danificar o molde de gelatina;
8. Fez-se uma pasta de gesso colocando 3 (três) colheres cheias dele, mais 2/4
de água em um copo;
9. Quando o gesso ficou com uma consistência parecida com a da manteiga,
despejou-se, com cuidado, no molde de gelatina;
10. Reservou-se na geladeira, por 15minutos;
11. Desenformou-se o molde, com a ajuda de uma faca sem ponta, começando
pelas bordas e, com cuidado, retirou-se a peça de gesso;
12. Pintou-se, conforme a cor da peça, preta ou branca (como mostra a Figura 4).

Figura 2: Figura 3: Figura 4:


Massinha de modelar Molde da massinha Peça de gesso pintada
presa com um palito mergulhada na de branco.
a o copo descartável. gelatina ainda morna.
Com o intuito de fazer o reaproveitamento de materiais, para ajudar na preservação do meio
ambiente, pode-se reaproveitar o molde de gelatina feito para qualquer peça, como por exemplo, do
balão volumétrico, o qual pode ser reaproveitado apenas esquentando-o, pois com a presença de alta
temperatura, a gelatina voltará a ser líquida novamente e, a partir disso, servir de base para mais
outra peça do xadrez.

PROCEDIMENTO UTILIZADO PARA A CONFECÇÃO DO TABULEIRO DO ―XADREZ


QUÍMICO‖:

Para a fabricação do tabuleiro do jogo ―Xadrez Químico‖, foram necessários os seguintes


materiais: papelão medindo 30 cm x 30 cm; cartolina branca; caneta permanente preta; régua; fita
adesiva; estilete; cola branca.
Com os materiais supracitados, prosseguiu-se à produção do tabuleiro do jogo, com as
etapas descritas:
1. Cortou-se o papelão com a ajuda de um estilete, em duas partes iguais, com
aproximadamente, 30 cm x 30 cm; (conforme ilustrado na Figura 5);

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1146


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

2. Com uma fita adesiva (de preferência da mesma cor que o papelão) envolveu-
se os dois pedaços de papelão, no intuito de virar um só, incluindo as laterais (como
demonstra a Figura 6);
3. Com a ajuda da régua, se fez as medidas na cartolina, recortou-se e colou-se,
em todo o tamanho do papelão;
4. Com a caneta preta e a régua, fez-se a marcação dos quadrados do tabuleiro:
cada quadrado com 3,8 cm x 3,8 cm de comprimento (8 quadrados do lado horizontal e 8
do lado vertical, totalizando 64 quadrados compondo o tabuleiro);
5. Com os quadrados já marcados, pintou-se com caneta permanente, os
quadrados pretos (lembrando que no tabuleiro, existem quadrados pretos e quadrados
brancos, de forma alternada);
6. Após pintar os quadrados de preto, esperou-se secar.

Figura 5: Figura 6:
Papelão cortado em duas partes. Papelão com os dois pedaços
colados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas duas primeiras aulas, foi abordado o conteúdo supramencionado e entregue o


questionário diagnóstico. Tal questionário continha cinco questões. Os resultados desse seguem
descritos. O primeiro questionamento discorreu em: A Química pode ser definida como a ciência
que estuda a transformação da matéria. Com base nisso, a química está presente na sua vida?
Exemplifique. Para a turma do 1o ano A, dos 25 (vinte e cinco) alunos, 20 (vinte) responderam à
questão de forma significativa entre eles, 15 (quinze), especificaram a resposta com atividades do
cotidiano citando que: ―Encontravam a química na cozinha‖. E os 5 (cinco) alunos restantes, não
souberam responder. Por outro lado, na turma do 1o ano B, dos 15 (quinze) alunos, todos
responderam com exemplos encontrados no seu cotidiano. Em concernência à segunda indagação:
Você conhece as vidrarias de laboratório? Quais teve acesso? Na turma do 1o ano A, 20 (vinte)
alunos não conheciam as vidrarias, no entanto, 5 (cinco) citaram algumas, entre elas, (Becker,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1147


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

erlenmeyer, vidro de relógio e pipeta). Já na turma do 1o ano B, 11 (onze) alunos não conheciam as
vidrarias, 4 (quatro) citaram algumas, entre elas, (Becker, balão volumétrico e vidro de relógio). Em
alusão à terceira questão, a qual questionava: Quais as funções das vidrarias que você teve acesso?
Tanto os alunos do 1o ano A, como do 1o ano B, responderam que não conheciam as funções, até
mesmo àqueles que citaram conhecer algumas vidrarias. Em referência à quarta questão: Você
conhece as normas de segurança do laboratório? Todos os alunos das duas turmas não souberam
responder a essa questão. Em menção à quinta questão: Conhece ou já jogou xadrez? Na turma do
1o ano A, 15 (quinze) alunos conheciam o xadrez, mas não tinham jogado e 10 (dez) não conhecia o
jogo, enquanto que, na turma do 1o ano B, dos 15 (quinze) alunos, apenas 3 (três) conheciam e
sabiam jogar o xadrez.
Posteriormente, nas três aulas seguintes, foi aplicado o jogo ―Xadrez Químico‖. Durante
todo o jogo, os alunos se mostraram entusiasmados e empolgados em participar. Debateram e
discutiram sobre as vidrarias, regras e normas de segurança de laboratório. Este momento foi
gravado em áudio, deste foi transcrito algumas falas dos discentes, entre elas: ―Rapaz, tô ―sabido‘‘
demais! Estou sabendo o nome de todas as vidrarias‖; ―Qual o movimento do bispo? Não é bispo, é
o movimento do Kitassato. Esse é um Xadrez químico‖ (Figura 7); ―Qual a indumentária correta
para se estar no laboratório? - Calma! Calça comprida, jaleco, sapato fechado, luva, e (Em conjunto,
a maioria finaliza) cabelo preso! ‖ (Figura 8).

Figura 7: Figura 8:
Interação entres os alunos participantes Todos os alunos concentrados auxiliando o
a fim de obter a resposta correta do jogo membro de sua equipe com a resposta correta

Dando seguimento à aplicação, na última aula, foi aplicado o questionário pós jogo,
contendo 4 (quatro) questões. A primeira pergunta discorria em: 1) O que você achou do recurso
―Xadrez Químico‖ em relação a sua aprendizagem? Pouco satisfatório ( ) satisfatório ( ) muito
o
satisfatório ( ). Na turma do 1 ano A, 22 (vinte e dois) alunos responderam como muito satisfatório
e 3 (três) responderam satisfatório, no entanto, na turma do 1o ano B, todos os 15 (quinze) alunos
responderam como muito satisfatório. Com relação à segunda questão: 2) Quais as vidrarias usadas
no jogo ―Xadrez Químico‖? Na turma do 1o ano A, 20 (vinte) alunos souberam dizer o nome das

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1148


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

seis vidrarias usadas no jogo, enquanto que, 5 (cinco) lembraram o nome de apenas 3 (três)
vidrarias. Já na turma do 1o ano B, todos os 15 (quinze) respondentes souberam dizer o nome das
seis vidrarias usadas no jogo. Em citação à terceira questão: 3) Qual a função de cada vidraria usada
no jogo? Na turma do 1o ano A, 11 (onze) alunos souberam dizer as funções de todas as vidrarias, 7
(sete) disseram as funções de 4 (quatro), mais especificamente o bécker, a proveta, o balão
volumétrico e o erlenmeyer e o mesmo número de alunos (sete), não sabiam quais eram as funções.
No entanto, na turma do 1o ano B, 12 (doze) alunos souberam dizer as funções das 6 (seis) vidrarias
e 3 (três) não souberam responder. Em referência à quarta e última questão do questionário pós
jogo: 4) Cite até 3 normas de segurança do laboratório. Nas duas turmas, 1o ano A e 1o ano B, as
duas normas mais citadas pelos alunos foram: (a) a indumentária correta para uso no laboratório e
(b) como lavar corretamente as vidrarias de laboratório. Além disso, a turma A citou a norma: o que
fazer em caso de incêndio; a turma B: o descarte correto dos resíduos.
Com base nos resultados, é possível perceber que os alunos tiveram um aprendizado
significativo durante a aplicação do jogo e isso foi possível ser comprovado através do questionário
pós jogo e no decorrer de toda aplicação, pois os alunos se mostraram interessados em aprender e
participativos. Portanto, se pôde perceber que o Xadrez Químico é um ótimo recurso didático para
ser usado em sala de aula, pois faz com que os alunos aprendam de forma ―divertida‖ os conteúdos
da disciplina Química.

REFERENCIAS

A utilização de recursos materiais alternativos nas aulas de educação física: Um estudo de caso.
Disponível em: <https://revistas.ufg.br/fef/article/view/6766/5982> Acesso em 20 de agosto de
2017.

BRASIL. Ministério da Educação – Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros


Curriculares Nacionais: Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias.
Brasília: MEC/SEMTEC, 1999.

DE NASCIMENTO, Juciene Moura; RIBEIRO DO AMARAL, Edenia Maria. O PAPEL DAS


INTERAÇÕES SOCIAIS E DE ATIVIDADES PROPOSTAS PARA O ENSINO-
APRENDIZAGEM DE CONCEITOS QUÍMICOS. [S.l.: s.n.], 2012. 575-592 p.v. 18.

GRECA, Ileana Maria. Discutindo aspectos metodológicos da pesquisa em ensino de ciências:


algumas questões para refletir. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, Vol. 2,
no 1, p. 73 - 82, 2002.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1149


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Iberê Thenório – Clone seus brinquedos usando gelatina. Disponível em: <
https://youtu.be/rejFKiy-Wks>. Acesso em 30 de maio de 2017.

Importância dos jogos segundo Vygotsky. Disponível em:


<http://educador.brasilescola.uol.com.br/comportamento/a-importancia-dos-jogos-segundo-
vygotsky.htm> Acesso em 20 de agosto de 2017.

OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. 2a edição. Petrópolis, RJ: Vozes,
2008.

KISHIMOTO, Tizudo Morchida. O jogo e a Educação infantil. PERSPECTIVA. Florianópolis,


UFSC/CED, NUP, n.22, p.105-128.

Xadrez – Regras do Xadrez. Disponível em: <http://baquara.com/xadrez/index.htm> Acesso em 30


de maio de 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1150


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

DESENHO COMO INSTRUMENTO PARA ANÂLISE DA PERCEPÇAO AMBIENTAL


ADQUIRIDA PÓS PALESTRAS

Endryo J.V. LIMA


Discente do Ensino Médio de Tempo Integral da rede pública do Estado de Rondônia
Endryo_vieira188@outlook.com
Larissa S. SANTOS
Discente do Ensino Médio de Tempo Integral da rede pública do Estado de Rondônia
Larissaamaro440@gmail.com
Tatiane R .M. MARTINS
Discente do Ensino Médio de Tempo Integral da rede pública do Estado de Rondônia
tatianerayury03@outlook.com

Nubia CARAMELLO
Docente Secretaria de Educaçao do Estado de Rondônia – SEDUC / Doutora em Geografia
nubiacaramello@yahoo.com.br

RESUMO
O presente artigo objetiva analisar o desenho como um instrumento para identificar o interesse de
um determinado público sobre temáticas palestradas. As palestras em questão são fruto de uma
disciplina eletiva ministrada na escola integral de ensino fundamental e médio Candido Portinari
localizado em Rolim de Moura – Rondônia, em que os alunos do projeto optaram em multiplicar o
conhecimento obtido em forma de palestra aos alunos do 6º ao 8º ano. Após a palestra foi solicitado
que os alunos expressassem o que havia chamado atenção. As percepções apresentadas através da
arte visual foram alvo de uma analise minuciosa do conteúdo utilizando a estadística descritiva para
apoiar a apresentação dos dados. O resultado final oportunizou concluir que para nós alunos do
ensino médio analisar a percepção através dos desenhos trouxe uma interação maior entre o
conteúdo ministrado e o seu significado aos que o recebem.
Palavras chaves: Desenho, Analise de Conteúdo, Temas ambientais, Amazônia, Antártica.
RESUMEN
El presente artículo tiene como objetivo analizar el dibujo como un instrumento para identificar el
interés de un determinado público sobre temáticas orales. Las conferencias en cuestión son fruto de
una disciplina electiva impartida en la escuela integral de enseñanza fundamental y media Cândido
Portinari ubicado en Rolim de Moura - Rondônia, en que los alumnos del proyecto optaron en
multiplicar el conocimiento obtenido en forma de conferencia a los alumnos del 6º al. 8º año.
Después de la conferencia se pidió a los alumnos que expresaran lo que había llamado la atención.
Las percepciones presentadas a través del arte visual fueron objeto de un análisis de contenido
minucioso utilizando la estadística descriptiva para apoyar la presentación de los datos. El resultado
final oportunizó concluir que para los alumnos de la escuela secundaria analizar la percepción a
través de los dibujos trajo una interacción mayor entre el contenido ministrado y su significado a los
que lo reciben.
Palabra claves: Dibujo, Analise de contenido, Temas Ambientales, Amazônia, Antártica

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1151


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

O projeto Amazônia vai a antártica tem como intuito levar aos integrantes o conceito
antártico e amazônico por meio da multidisciplinaridade cientifica que estuda ambas as regiões.
Possibilitando o esclarecimento de resultados sólidos obtidos nas pesquisas dos pesquisadores
colaboradores do projeto. Infelizmente por mais importante que seja esses dados, eles não estão
disponíveis na abordagem escolar, foi necessário abordar a temática por meio de videoconferências
com cientistas especializados nas áreas polares, passando suas perspectivas diante do determinado
assunto.
Há Associação de Pesquisadores e Educadores em inicio de Carreira sobre o Mar e os Polos
- APECs-Brasil e a Universidade do ABC Paulista, através do projeto de extensão Antártica ou
Antártida? Possui em comum o objetivo de fomentarem uma nova geração de investigadores.
Correlacionar à informação anterior com o espaço amazônico vivido por nós, realizando pesquisas
em sala de aula, baseando em evidencias da Antártica vinculada com a região Amazônica brasileira
foi o objetivo da disciplina eletiva/optativa: Amazônia vai a Antártica, que consistiu no projeto
desenvolvido na escola de ensino médio e fundamental Cândido Portinari, em que participaram 30
estudantes do ensino médio do 1º ao 3º ano.
Por meio do conhecimento adquirido por integrantes da eletiva durante quatro meses, criam-
se estratégias do que fazer com esse conhecimento. Resultando no desenvolvimento de duas
palestras temáticas sobre Amazônia e a Antártica, aplicadas a estudantes de 6o ao 9o ano, o conteúdo
ministrado nestas foram avaliado identificando os elementos presentes na paisagem desenhadas por
eles, possibilitando analisar quais conteúdos os motivaram ou chamaram a atenção dos alunos.
De forma que o objetivo da presente investigação é identificar o papel do desenho como
instrumento de analise da percepção de conteúdo pós-palestras.

METODOLOGIA

A presente pesquisa trata-se de uma experiência vivenciada, na qual ao momento que


aprendemos multiplicamos o conhecimento obtido e reavaliamos esse processo, uma estratégia que
de acordo com as normas cientificas se encontra em pesquisa participante e pesquisa ação
(THIOLLENT, 1985). O publico alvo da analise, foram os alunos do 6º A, 7º A e B e o 8º B ano do
ensino fundamental, da Escola Estadual Cândido Portinari, localizada no município de Rolim de
Moura – Rondônia, somando 120 participantes. Estes foram escolhidos após aplicação de um
questionário que visava identificar o grau de conhecimento a respeito dos Biomas: Amazônico e
Antártico, e o interesse que estes tinham em participar de um projeto de multiplicação de
informação ambiental.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1152


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

O método utilizado para a produção dos desenhos foi à criatividade espontânea e expressiva
– desenho de livre escolha de acordo com a temática de interesse de cada aluno. O critério utilizado
para escolher a arte visual como instrumento para averiguar conteúdo de interesse se respaldo na
experiência adquirida no meio educacional onde o desenho é uma opção comum a ser utilizada
para se expressarem o conhecimento adquirido (COMPIANI, 2013; SANTOS et al 2016), no caso
do presente estudo o foco foi os obtidos pós as palestras, apresentadas por membros do projeto
Amazônia vai a Antártica, desenvolvido como uma disciplina semestral em que os integrantes
escolheram participar por livre escolha.
Através da analise do conteúdo (BARDIN, 2009) foi possível identificar as categorias que
consiste em 4 (quatro) estruturas de desenhos: Paisagem Antártica, Paisagem Amazônica, Paisagem
Integrada Amazônica e Antártica e desenho que classificamos como filosófico; desses foi possível
identificar subcategorias diferenciadas como os ambientes floresta, rios, mares, terra firme, polar e
seus estágios degradado ou conservado. Características que possibilitaram diagnosticar as temáticas
que foram opção no momento de expressarem o que chamou mais atenção.
As categorias em destaque, com quesito de atribuir elementos claros com fácil identificação
do conteúdo.

RESULTADOS

Os alunos envolvidos no projeto tiveram duas palestras ministradas por grupo de jovens
inseridos na eletiva, com o intuito de transmitir o conhecimento a respeito dos temas: Antártica e
Amazônia. Participaram da palestra aproximadamente 120 alunos dos quais e 35 alunos optaram
em apresentar suas percepções através de desenhos.
A analise dos desenhos (Figura 1) proporcionou classifica-los em categoria sendo elas:
desmatamento (19%), Mar + lixo (19%), Queimadas + derretimentos ( 22%) e Poluição +
desmatamento (41%).

Categoria: Desmatamento Categoria: Mar + lixo Categoria: Poluição +


desmatamento

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1153


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Categoria: Queimadas + derretimentos


Figura 1: Categorias de percepção identificadas
Fonte: Produção pós-palestras de alunos do 6º ao 8º ano do ensino fundamental da escola Candido Portinari
(banco de dados do projeto Amazônia vai a Antártica).

Uma reclassificação por serie possibilitou identificar o predomínio das categorias de cada
turma (Gráfico 1), na qual os 7º anos apresentaram como categoria predominante as queimadas e
suas consequências, enquanto o 8º ano teve a poluição e o desmatamento como foco, já o 6º ano se
distribuiu entre, mar com lixo e poluição e o desmatamento, predominando queimadas e
derretimento.

Gráfico 1. Categorias e percepção ambiental

6
6 ano
4
7 ano
2 8 ano
0
Queimadas Queimadas e Mar + lixo Poluição +
derretimentos desmatamento

Fonte: Desenvolvido pelos autores a partir do Banco de dados do projeto.

O 6º ano apresentou maior interesse pelos temas vinculados a Antártica e os impactos


ambientais antrópicos. O 7°ano teve o interesse voltado mais ao bioma amazônico e seus impactos,
enquanto o 8º ano ainda que predominando domínio sobre a Amazônia, semelhante ao 6º ano
também teve o tema polar como forte interesse.
A categoria Poluição foi organizada em subcategorias analisadas de forma que pudesse ser
identificado o ambiente em que chamou atenção durante as palestras o que resultou identificar de
forma geral que 38% se dedicaram ao ambiente marítimo, 25% ao ambiente atmosférico, 22%
ambiente terrestre e 16% dedicaram-se ao ambiente fluvial (Gráfico 2).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1154


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Gráfico 2. Subcategorias da poluição.

7
6
5
6 ano
4
7 ano
3
8 ano
2
1
0
Maritímo Atmosférico Terrestre Fluvial

Fonte: Desenvolvido pelos autores a partir do Banco de dados do projeto.

A produção por série proporcionou identificar que o 7º ano do ensino fundamental foi o que
apresentou maior preocupação com os ambientes atmosféricos, terrestre e fluvial. Enquanto que o
ambiente fluvial predominou no 6º ano do ensino fundamental, o 8° ano como pode ser observado
no gráfico 2 demonstrou uma certa preocupação no ambiente marítimo e um nivelamento nos
demais subtemas.
Foi identificado um olhar sobre o ambiente em que a sociedade estava exclusa,
predominando elementos totalmente naturais (Figura 02).

Figura 2: Paisagens preservadas


Fonte: Produção pós-palestras de alunos do 6º ao 8º ano do ensino fundamental da escola Candido Portinari
(banco de dados do projeto Amazônia vai a Antártica).

A essa característica foi criada a categoria da preservação ambiental, onde os participantes


colocaram em pratica sua percepção ambiental (Gráfico 3).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1155


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Gráfico 3. Categoria Preservação Ambiental

6 ano 7 ano 8 ano


24% 35%

41%
Fonte: Desenvolvido pelos autores a partir do Banco de dados do projeto.

Estatisticamente essa categoria apresentou maior destaque no 7° ano predominando 41% dos
resultados e dando a perceber que no quesito preservação ambiental tem dominância. Em seguida os
que apresentaram maior percentual sobre a categoria foi o 8°ano com 35% e por ultimo o 6° ano
com o restante dos resultados 24% .
Ainda que todos os desenhos manifestem a impressão das palestras e de certa forma registra
uma mensagem, optamos em criar a categoria Desenho filosófico seguindo o critério de uma
produção que seguiu junto ao desenho frases reflexivas ou o próprio desenho em si fugia ao padrão
identificado entre categorias anteriormente apresentadas (Figura 3).

Figura 3: Categoria desenhos filosóficos


Fonte: Produção pós-palestras de alunos do 6º ao 8º ano do ensino fundamental da escola Candido Portinari
(banco de dados do projeto Amazônia vai a Antártica).

O 8º ano do ensino fundamental, liderou 77% dessa categoria em unir desenho com frases
ou com uma estrutura que fugia a tentativa de uma reprodução da realidade, (Gráfico 4).

Gráfico 4. Desenhos filosóficos

6 ano 7 ano 8 ano

15%
8%

77%

Fonte: Desenvolvido pelos autores a partir do Banco de dados do projeto.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1156


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

O 6º e 7º anos, juntos não somam 30% de alunos que se enquadraram nessa categoria, sendo
esses alunos mais voltados a se expressar puramente com desenhos objetivos.

CONCLUSÃO
A partir desta analise perceba-se que o desenho é uma ferramentas relevante a ser aplicado
na educação ambiental, pois permite identificar quais informações ministradas durante uma palestra
foram mais impactantes para o publico alvo.
Também proporcionou aos palestrantes repensar o conteúdo ministrado e a própria
metodologia aplicada no processo de socialização. Com base na percepção ambiental apresentada
nas categorias foi possível quantificar que o ambiente amazônico e suas transformações foram os
temas com maior representatividade, contudo o ambiente marítimo e polar ainda que não faça parte
da realidade vivida foram tiveram elementos do ambiente representados por todas as series ainda
que com porcentagem menor que o tema amazônico.
O resultado final oportunizou concluir que para nós alunos do ensino médio analisar a
percepção através dos desenhos trouxe uma interação maior entre o conteúdo ministrado e o seu
significado aos que o recebem.

AGRADECIMENTO

Aos organizadores do V Congresso Nacional de Educação Ambiental e VII Encontro


Nordestino de Biogeografia, aos professores responsáveis pelas turmas que foram inseridas em
nossa atividade de intervenção, ao programa de ensino publico de tempo integral do estado de
Rondônia, aos gestores da Escola de Tempo Integral Cândido Portinari. Governo do Estado de
Rondônia Confúcio Moura que junto com parceiros de esfera federal, implantou o novo modelo de
escola, proporcionando que possamos aprender enquanto ensinamos, através da iniciação cientifica
no ensino médio.

REFERÊNCIAS

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2009.

COMPIANI, M. Narrativas e desenhos (imagens) no ensino fundamental com temas geocientíficos.


Ciênc. educ. (Bauru), Bauru , v. 19, n. 3, p. 715-737, 2013 . Available
from<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132013000300
013&lng=en&nrm=iso>. access on 12 Aug. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S151 6-
73132013000300013.

THIOLLENT, M. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo, Cortez, 1985.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1157


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

SANTOS, G. R.; ECKERT, N. O. S.; SANTOS, R. C. L. e COELHO, A. S. O uso do desenho e da


aula de campo na percepção ambiental de alunos do ensino fundamental II sobre a bacia
costeira I em Sergipe. Educação Ambiental & Biogeografia / Giovanni Seabra (Organizador).
Ituiutaba: Barlavento, 2016

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1158


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

A RELAÇÃO DOS ESTUDANTES NO CONTEXTO


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Erika Maria do Nascimento PONTES


Graduanda do Curso de Licenciatura em Ciências Agrárias da UFPB
eryka_pontes@hotmail.com
Maria José Soares de LIMA
Graduanda do Curso de Pedagogia UFPB
mariajosesoaresxx@gmail.com
Natali Estevão da CRUZ
Graduanda do Curso de Licenciatura em Ciências Agrárias da UFPB
nataliestevãocruz@hotmail.com
Maria do Socorro Lopes CAVALCANTI
Doutora em Engenharia de Processos
corritacg@uol.com.br

RESUMO
Este artigo tem como objetivo mostrar as atividades desenvolvidas levando o contexto de
―Educação Ambiental‖ na Escola de Ensino Fundamental Municipal Francisco Pedro da Silva,
município de Solânea-PB, levando e promovendo a relação das crianças com a temática abordada,
melhorando e agregando conhecimentos aos discentes de escolas públicas, fazendo uso de recursos
didáticos que possam melhorar a compreensão destes em sala de aula. Para um melhor
entendimento na temática de Educação Ambiental, e analisar a geração de resíduos sólidos, os
procedimentos da coleta seletiva e a pratica dos 4 R‘s. E com isso o desenvolvimento do projeto,
utilizaram-se aulas expositivas, reprodução de vídeos filmes, confecções de brinquedos com
reaproveitamento de materiais recicláveis, e finalizando com a distribuição de brindes em que foram
entregues canecas, com intuito de conscientizar e minimizar a utilização de copo descartáveis. Em
virtude do que foi dito percebemos que o projeto educação ambiental na escola mencionada, veio
contribuir e dar andamento no plano de ensino da escola, trazendo para essas crianças assuntos
presente nos seu cotidiano e apontando o caminho de conservação e preservação do meio ambiente.
Palavras-chaves: educação ambiental, escola, criança e preservação do meio ambiente.
RESUMEN
Este artículo tiene como objetivo mostrar las actividades desarrolladas llevando el contexto de
"Educación Ambiental" en la Escuela de Enseñanza Fundamental Municipal Francisco Pedro da
Silva, municipio de Solteira-PB, llevando y promoviendo la relación de los niños con la temática
abordada, mejorando y agregando conocimientos A los discentes de escuelas públicas, haciendo uso
de recursos didácticos que puedan mejorar la comprensión de éstos en el aula. Para un mejor
entendimiento en la temática de Educación Ambiental, y analizar la generación de residuos sólidos,
los procedimientos de la colecta selectiva y la práctica de los 4 R's. Y con ello el desarrollo del
proyecto, se utilizaron clases expositivas, reproducción de vídeos películas, confecciones de
juguetes con reaprovechamiento de materiales reciclables, y finalizando con la distribución de
regalos en los que se entregaron tazas, con el fin de concientizar y minimizar la utilización de
juguetes De acuerdo con la norma. En virtud de lo que se dijo percibimos que el proyecto educación
ambiental en la escuela mencionada, vino a contribuir y dar marcha en el plano de enseñanza de la

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1159


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

escuela, trayendo para esos niños asuntos presentes en su cotidiano y apuntando el camino de
conservación y preservación del medio ambiente.
Palabras clave: educación ambiental, escuela, niño y preservación del medio ambiente.

INTRODUÇÃO

A educação ambiental é um componente essencial da educação nacional, devendo estar


presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, destacando
no sentido de propiciar ao aluno uma melhor compreensão dessa temática. Segundo a Política
Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9795/1999, Art 1º, entendem-se por educação ambiental
os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente,
bem de uso comum do povo, essencial à qualidade de vida e sua sustentabilidade. De acordo com
Sato (2004):
O aprendizado ambiental é um componente vital, pois oferece motivos que levam os alunos
se reconhecerem como parte integrante do meio em que vivem e faz pensar nas alternativas para
soluções dos problemas ambientais e ajudar a manter os recursos para as futuras gerações.
Nessa perspectiva, o trabalho surge objetivando promover a relação das crianças com a
temática abordada, melhorando e agregando conhecimentos aos discentes de escolas públicas,
fazendo uso de recursos didáticos que possam melhorar a compreensão destes em sala de aula.
Buscando promover relativa compreensão a cerca dos conceitos sobre educação ambiental e
expandir o interesse e a motivação em apreender, almejando tornar este assunto mais elementar,
oportunizando as ideias de preservação, sustentabilidade e consciência ecológica. Felizmente, o
homem tem buscado respostas para os vários problemas ambientais. Com relação à problemática
dos resíduos sólidos o reaproveitamento é uma alternativa viável, entretanto, requer o processo
intensivo de sensibilização, e interação dos mesmos, pois para isso devem repensar as atitudes que
promovem a degradação ambiental e social (SILVA et al., 2014).
Este trabalho apresenta os resultados pelo Projeto PROLICEN 2016, intitulado Práticas
Pedagógicas de Educação Ambiental nas Escolas Públicas de Ensino Fundamental dos Municípios
de Bananeiras e Solânea/PB para Implantação da Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos.

METODOLOGIA

As atividades desenvolvidas neste trabalho foram realizadas na E.M.E.F. Francisco Pedro da


Silva com as turmas do 3º, 4º e 5º ano, contendo respectivamente 21 (vinte e um), 22 (vinte e dois)
e 25(vinte e cinco) alunos nos período da manhã e tarde, com faixa etária entre 08 (oito) a 11 (onze)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1160


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

anos de idade, localizada no distrito Fazenda Velha, na zona rural do município de Solânea – PB.
Onde foram trabalhadas atividades de acordo com cada série todas voltadas ao meio ambiente.
As atividades desenvolvidas compreenderam 04 momentos utilizando o mesmo método em
ambas as turmas. Sendo que no 1º (primeiro) momento foram realizadas as seguintes atividades:
Apresentação da Equipe e do Projeto. A apresentação foi realizada no primeiro contato com os
professores onde foi informado que eles já trabalhavam com o tema em questão. Desse modo
tivermos o primeiro contato com os discentes, que foi feito de forma breve e oralmente, para que
eles pudessem conhecer á equipe e ao projeto, e algumas perguntas sobre a temática do projeto,
possibilitando um diagnóstico sobre os conhecimentos dos educandos acerca da temática a ser
abordada.
No 2º(segundo) momento foram realizadas as seguintes atividades: No inicio de cada aula,
foram feitos exercícios de relaxamento infantil um método que desenvolve a noção corporal, assim
como proporciona momentos importantes de descontração. Os exercícios de relaxamento infantil
foram desenvolvidos para que, de forma calma e serena, as crianças pudessem ir relaxando,
diminuindo a inquietude e o estresse, além do que promover interação junto à equipe.
Posteriormente, foi organizado o espaço para em seguida formar uma roda em que todos
ficaram sentados no chão e a equipe promoveu uma dinâmica para conhecer os alunos, e tornar o
momento de apresentação dos alunos divertido, e proporcionar a socialização e a interação entre os
alunos. A dinâmica escolhida foi a ―Teia‖, com um cordão na mão cada um se apresentava e
lançava o cordão para o colega de modo que ao término da dinâmica teria se formado uma teia, a
qual chamamos a teia do conhecimento. Esta dinâmica foi realizada em todas as turmas. Após a
dinâmica foi realizada uma aula expositiva com uma breve introdução sobre o contexto histórico da
relação homem natureza, e evolução e dos problemas ambientais que foi ministrada oralmente,
utilizando como recurso didático computador e datashow, fazendo o uso apenas de imagens de
diferentes momentos históricos desde o ―descobrimento do Brasil‖ ate a atualidade mostrando os
problemas ambientais, discutindo sobre a evolução, criando questionamentos às crianças, do seu
dia-a-dia e da relação do homem com o meio em que ele vive.
Vale ressaltar que esses alunos já tinham tido um breve estudo repassado pela própria
professora de sala, os conceitos sobre os temas meio ambiente, coleta seletiva e reciclagem. Dessa
forma, foi feita questionamentos oral, acerca dos temas trabalhados, para podermos mensurar o
conhecimento dos mesmos.
Também foram apresentados vídeos da turma da Mônica abordando os problemas que o
meio ambiente enfrenta e o vídeo dos impactos das pilhas. Ainda foi trabalhado músicas como xote
ecológico (Aguinaldo Batista e Luiz Gonzaga) juntamente com as crianças com o intuito de fixação
dos conteúdos trabalhados. Em seguida, finalizando esse momento foi solicitado um registro aos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1161


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

discentes, sendo dividido em dois grupos, um destinado com tema da evolução e outro com os
problemas ambientais, para que os mesmos produzissem quadros explicativos e ou ilustrativos com
os referidos temas. E com isso podermos mensurar e dimensionar o conhecimento do que foi
entendido durante a aula.
No 3°(terceiro) momento foi organizado o espaço para posteriormente introduzir uma roda e
fazer o relaxamento seguindo de uma dinâmica de aproximação. Em seguida foi realizada a oficina
ecológica onde foi feito o reaproveitamento de materiais recicláveis para a fabricação de brinquedo,
Foram distribuídos os materiais para iniciar a produção dos brinquedos, os resíduos utilizados foram
papelão e garrafas pet, e os brinquedos produzidos foram tartarugas, borboletas, cofrinhos e vaivém.
Em seguida foram socializadas as produções mostrando os benefícios que esta simples atitude
poderá trazer para o meio em que vivermos.
No 4° (quarto) momento e último foi feito um resgate do que foi discutido em forma de um
filme, que teve com o procedimento de organização do espaço para em seguida introduzir uma roda
e fazer o relaxamento, iniciar a seção Eco filmes com o filme ―O Lorax-em busca da trúfula
perdida‖. Logo após tivermos a conversa sobre o filme e procedemos junto com as crianças ouvindo
a musica herdeiros do futuro, com posterior reflexão sobre analogia entre o filme e música.
Para finalizar foi realizada a distribuição de brindes em que foram entregues canecas, com
intuito de conscientizar e minimizar a utilização de copo descartáveis. Pois ao realizar esse ato
trazemos uma melhoria para nosso meio, onde sabemos que os copos descartáveis é um plástico não
é um material biodegradável, que o mesmo provém do petróleo onde há grande impacto ambiental
na extração do petróleo, e com essa atitude mencionada fazemos com que diminua o risco no
impacto ao meio ambiente e até mesmo a saúde do ser humano.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após as ações desenvolvidas pelo projeto, pode-se destacar a importância de realizar


trabalhos relativos a essa temática. Como a escola juntamente com os professores já haviam
trabalhado o tema em sala, a equipe ficou mais otimista em realizar suas atividades, identificando
que os professores tinham trabalhado com os conceitos dos seguintes temas, o que é meio ambiente,
as formulas dos R‘s, coleta seletiva.
Partindo desse pressuposto, foi sentida a necessidade de trabalhar uma oficina ecológica de
reutilização de materiais descartáveis para produção de brinquedos mostrando a eles que um
simples material queria seria descartado pode ser reutilizado, além disso, trabalhou-se a exibição de
um filme que aborda esta temática (Figuras 2 e 3), com estas ações identificou-se que as atividades
se tornaram mais proveitosas e os alunos interagiram melhor. Deu para perceber que as crianças

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1162


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

conseguiram compreender que estão realizando ações importantes para a preservação do meio
ambiente.
Resultados semelhantes foram obtidos por Cruz et al, (2016), que trabalhando com a mesma
temática na Educação de Jovens e Adultos (EJA), relatou que ―o tema EA ainda é muito pouco
discutido nas escolas. Por ser um tema bastante controverso, é tratado com uma importância
imensurável na teoria, mais quando partimos para a prática é que temos a verdadeira dimensão do
problema e quando se percebe que realmente precisa ser questionado e debatido‖. Diante disso
expressa-se a importância deste trabalho tanto em âmbito educacional como ambiental e na
formação cidadã dessas crianças.

Figura 1:Dinamica do conhecimento (teia de aranha)


Fonte: Silva M.S,2016.

Figura 2: Alunos na confecções dos brinquedos utilizando resíduos sólidos


Fonte: Pontes E.M.N.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1163


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 3: Sessão EcoFimes


Fonte: Pontes, E.M.N, 2016

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação Ambiental torna-se uma importante ferramenta na formação de um sujeito


crítico e responsável pelas suas atitudes em relação ao meio ambiente, além de contribuir para o
desenvolvimento de um cidadão pleno e participativo. Mas, para conseguir alcançar os objetivos
propostos pela Educação Ambiental é importante o papel do docente em sala, para que possa
contribuir na sensibilização dos sujeitos em relação às questões ambientais e promover ações de
sustentabilidade do meio ambiente.
Foi com grande satisfação que trabalhamos junto á escola com este projeto, no qual teve a
contribuição e o andamento para a formação de conhecimento sobre educação ambiental para esses
discentes. Em virtude do que foi relatado percebemos que o projeto educação ambiental na escola
mencionada, veio contribuir e dar andamento no plano de ensino da escola, trazendo para essas
crianças assuntos presente no seu cotidiano e apontando o caminho de conservação e preservação
do meio ambiente.

REFERÊNCIAS

Política de Educação Ambiental <http://www.mma.gov.br/educacao-ambiental/politica-de-


educacao-ambientala>Acesso em: 8/10/2016.

A Importância da Educação Ambiental nas Escolas<http://pedagogiaaopedaletra.com/a-


importancia-da-educacao-ambiental-nas-escolas/>Acesso em: 8/10/2016.

BERNA, V. (2001). Como fazer a educação ambiental. São Paulo. Annablume.

SATO, M. (2004). Educação Ambiental.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1164


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

São Carlos. Rima. ―O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida‖. Direção: Chris Renaud, Kyle
BaldaElenco: Julio Chaves, Cláudio Galvan, Gustavo Pereira.EUA.

SILVA, Robson Rogaciano Fernandes da et al. Reaproveitamento e sensibilização de uma


comunidade escolar: impactos ambientais causados pelos resíduos sólidos e solução encontrada
pelos alunos. Revista de Biologia e Farmácia e Manejo Agrícola,Campina Grande, v. 10, n. 1,
p.42-47, 2014.

CRUZ, Natalí Estevão Da et al. Relato de Experiências: Educação Ambiental na Educação de


Jovens e Adultos p. 134-141 in: Educação Ambiental & Biogeografia / Giovanni Seabra
(Organizador). Ituiutaba: Barlavento, 2016. Vol. I. 2360 páginas.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1165


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AOS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS EM


PEDRO DO ROSÁRIO (MA)

Euene Ribeiro da SILVA


Graduanda em Geografia – Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
eueneribeiro@hotmail.com
Allyson FRANÇA
Graduando em Geografia – Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
allysonn.f@hotmail.com
Regina Célia de Castro PEREIRA
Doutora em Geografia, Professora do mestrado e graduação da UEMA
rdecastropereira@yahoo.com.br

RESUMO
A proposta deste trabalho foi de desenvolver a educação ambiental em escolas de ensino
fundamental no município de Pedro do Rosário no estado do Maranhão. Desta forma tem-se por
objetivo promover a conservação ambiental e o entendimento de questões relativas à identidade
racial a partir de estratégias de educação ambiental formal. Para execução destas ações foram
realizadas oficinas de vivencias com discentes das series de 6º a 9º no Ensino fundamental.
Conclui-se com este trabalho que as atividades executadas foram de suma relevância no
acrescentamento dos conhecimentos do publico alvo, chegando-se a reflexão que este deve ser um
processo de continuidade.
Palavras chaves: Educação ambiental, Pedro do Rosário, vivência.
RESUMEN:
La propuesta de este trabajo fue de desarrollar la educación ambiental en escuelas de enseñanza
fundamental en el municipio de Pedro do Rosário en el estado de Maranhão. De esta forma se tiene
por objetivo promover la conservación ambiental y el entendimiento de cuestiones relativas a la
identidad racial a partir de estrategias de educación ambiental formal. Para la ejecución de estas
acciones se realizaron talleres de vivencias con discentes de las series de 6º a 9º en la Enseñanza
fundamental. Se concluye con este trabajo que las actividades ejecutadas fueron de suma relevancia
en la adición de los conocimientos del público objetivo, llegando la reflexión que éste debe ser un
proceso de continuidad.
Palabras claves: Educación ambiental, Pedro del Rosario, vivencia.

INTRODUÇÃO

A educação ambiental na escola é um processo para conscientização que vem se ampliando


através dos discursos dos movimentos socioambiental na década de 70. Que tem por finalidade a
sensibilização do indivíduo com a sociedade em prol de preservar os recursos naturais e a qualidade
de vida das pessoas. Com isso objetivou-se com este trabalho promover a conservação ambiental e
o entendimento de questões relativas à identidade racial a partir de estratégias de educação

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1166


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ambiental formal como uma ferramenta eficaz na mudança de hábito, e melhorar a qualidade de
vida.
A educação é uma palavra que provem do latim educere, com o significado de conduzir e
liderar. Entre muitas noções conceituais sobre a educação ambiental ressalta-se que a mesma,
constitui uma práxis educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos,
habilidades e atitudes que possibilitam o entendimento da realidade de vida e a atuação lúcida e
responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente (LOUREIRO, 2002, p.69).
Ao se mencionar aspectos como a construção de valores, conceitos e atitudes como
finalidade da educação ambiental, necessariamente, confronta-se tal ideia, com a demanda mundial
de transformar o quadro de crise ambiental em que se vive a partir da implementação de um padrão
civilizacional distinto do vigente, pautado numa noção ética da relação sociedade-natureza.
A educação ambiental é reconhecida no Art.225 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL,
1988) como necessária para assegurar o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Essa condição
foi evidenciada posteriormente, na Política Nacional de Educação Ambiental, Lei 9795/99, Decreto
4281 de 25 de junho de 2000 e no Programa Nacional de Educação Ambiental, elaborado em 2000
e reestruturado em 2005, a partir de consulta pública.
Contudo para o alcance dos objetivos propostos para educação ambiental em documentos
internacionais e nacionais, requer sua realização nas condições formal e não formal e a
implementação do Programa de Educação Ambiental em escala estadual e municipal.
A Educação Ambiental no Ensino Formal pode ser entendida como:

Art.9º [...] na educação escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de
ensino públicas e privadas sendo incluso os ensinos básicos; superior; especial;
profissional; jovens e adultos.

E se conceitua a Educação Ambiental não- formal com:

Art. 13. Entende-se por educação ambiental não formal as ações e práticas educativas
voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e
participação na defesa da qualidade do meio ambiente.

Objetiva-se então através da Educação Ambiental promover a conservação ambiental e o


entendimento de questões relativas à identidade racial a partir de estratégias de educação ambiental
formal.
O que deve estar disposto nos procedimentos a serem desenvolvidos na prática da educação
ambiental é a busca da transformação social, através da visão interdisciplinar buscando a
solidariedade, igualdade e respeito através das formas democráticas de discussão e diálogo, da
valorização das culturas, sobretudo as tradicionais, desenvolvendo uma consciência ética e cidadã.
A formação da cidadania passa por sua vez por esta concepção de conscientização das
pessoas, indicando cursos de ação, ou seja, diretrizes para desenvolver a consciência do sujeito de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1167


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

uma coletividade com direitos civis, políticos e sociais.

METODOLOGIA

Área de estudo localiza-se no município de Pedro do Rosário no estado Maranhão (Figura


1). O trabalho foi executado como proposta do Programa de projeto Mais Extensão desenvolvido
pela Universidade Estadual do Maranhão. – Campus Paulo VI. As atividades foram desenvolvidas
com estudantes do Ensino Fundamental matriculados nas escolas ―Centro Educacional Pedro Cunha
Mendes‖ e ―Centro Educacional Raquelme Martins‖, ambas localizadas na sede do referido
município.

Figura 1. Localização do município de Pedro do Rosário/MA

Fonte: Janse, 2017.

O município encontra-se na Baixada Maranhense região geográfica do estado do Maranhão


de predominância de população rural e negra, cujo histórico de ocupação está localizado na porção
noroeste do Maranhão. O público alvo das ações do projeto foi constituído de 573 discentes das
séries do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Sendo 268 da Escola Pedro Cunha Mendes e 305 da
Escola ―Centro Educacional Raquelme Martins‖. Para realização da operação ocorreram as
seguintes atividades.

1. Reuniões da equipe do projeto e sessões de estudo sobre os temas das oficinas.


2. Definição dos procedimentos e elaboração dos recursos que foram utilizados nas
ações, como uma maquete, teatro de bonecos, do software virtual (Google Erath)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1168


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

para observação e navegação na área do município e da bacia do Pericumã e


roteiro de aulas.
3. Reunião com gestores municipais em São Luís e na sede do município através
da viagem da coordenadora do projeto em fevereiro de 2017.
4. Viagem ao município para desenvolvimento das oficinas nas escolas pelos
alunos bolsistas e voluntários nas escolas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com a sensibilização inicial do projeto, os gestores e os docentes manifestaram aceitação


com as atividades planejadas para as escolas. Pois, atualmente o município desponta entre aqueles
com maior incidência de pobreza acima de 50% (IBGE, 2011), IDHm (Índice de Desenvolvimento
Municipal) é de 0,303, ocupando 202º posição no ranking estadual (IMESC, 2014), e Índice
Desenvolvimento Humano de 0,516 (IBGE, 2010), estando inserido no Programa Mais IDH 37 do
Governo do Estado do Maranhão (2010), estando inserido no Programa Mais IDH do Governo do
Estado do Maranhão. O mais IDH é o programa da Universidade Estadual do Maranhão que
fomenta ações extensionistas proporcionando a participação da comunidade acadêmica no
desenvolvimento de projetos que visem o crescimento dos municípios com o menor IDH no
maranhão.
São identificados no referido município problemas de caráter social como o acesso à
educação básica, ao saneamento, segurança e à renda, além daqueles relativos à problemática
ambiental, como as queimadas, o desmatamento, assoreamento de rios que afetam diretamente a
produtividade das atividades praticadas pela população.
A princípio as ações do projeto seriam desenvolvidas em escolas da zona rural do município,
contudo com o período chuvoso no mês de março, impossibilitou o deslocamento da equipe para as
referidas áreas, cuja estrada de acesso não são asfaltadas. Tal imprevisibilidade foi salutar, pois nas
escolas da sede o número de estudantes é maior. Por tanto deu-se inicio ao projeto pela zona urbana
podendo ser estendido também para a zona rural Equipe de trabalho composta de 10 discentes e 3
docentes com ressalta a figura 2.

37
MAIS IDH, programa formulado pelo atual Governo do Maranhão como uma estratégia desafiadora para enfrentar a
pobreza nessa unidade federativa.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1169


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 2: Equipe do Programa mais Extensão em uma das escolas de aplicação do projeto.

Fonte: Própria Extensão, 2017.

As ações foram realizadas nas seguintes etapas: vivência no ambiente; vivência da pessoa; e
vivência do território. A vivência das atividades desenvolvidas no município de Pedro do Rosário
(MA) será apresentado nos tópicos em sequência.

O AMBIENTE

O objetivo desta vivencia foi de promover o conhecimento e a compreensão dos alunos de


ensino fundamental sobre os aspectos ambientais e seus problemas do município onde vivem,
através da aplicação formal de oficinas de educação ambiental. Nesse sentindo foi desenvolvida
uma abordagem sobre a localização do município na Baixada Maranhense e na bacia do rio
Pericumã.
Através do software virtual (Google Earth) foi possibilitado que os estudantes navegassem
na área do município e a reconhecendo, identificando pontos conhecidos, seus bairros e as ruas da
cidade (Figura 3), Após a apresentação desses recursos, os bolsistas do Programa Mais Extensão,
com uso de uma maquete (Figura 4 e 5), abordou o funcionamento de uma bacia hidrográfica a
geração de problemas como a erosão e o assoreamento, a importância da cobertura vegetal e da
conservação dos rios. Com os recursos utilizados houve interesse e participação das turmas, o que
favoreceu a aprendizagem e a troca de informações entre os grupos envolvidos na experiência.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1170


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 3: Uso do software Google Earth

Fonte: Própria Extensão, 2017.

Figura 4: Maquete representando estrutura de funcionamento de uma bacia hidrográfica.

Fonte: Própria Extensão, 2017.

Figura 5: Estudo das bacias hidrográficas com uso de maquete.

Fonte: Própria Extensão, 2017.

Esses trabalhos foram realizados em diferentes turmas, alternadas entre as salas do 6° ao


9°ano. Após cada atividade cumprida, foi realizada uma avaliação da mesma, na perspectiva de
melhoria das oficinas seguintes e sempre discutindo sobre as dificuldades e os avanços
identificados.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1171


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

A PESSOA

O objetivo desta ação de vivencia que aborda a ―pessoa‖ foi de promover o conhecimento e
a compreensão dos alunos de ensino fundamental sobre os aspectos ambientais e seus efeitos diretos
sobre o bem estar das pessoas no local onde vivem, através da aplicação formal de oficinas de
educação ambiental.
Na perspectiva de incentivar nos alunos o conhecimento e o cuidado do ambiente,
desenvolveu-se uma abordagem sobre a necessidade de cuidado com o corpo, levando aos alunos
das séries iniciais do Ensino Fundamental as noções básicas de higiene pessoal, com uso de
fantoches (Figura 6), pois se acredita que para abordar a problemática ambiental, a adoção da
metodologia que vai do local ao global, é de fácil entendimento e aplicabilidade. Assim, inicia-se
esse plano de trabalho com os cuidados com o corpo, para, na sequência, cuidar da escola da cidade
e do ambiente.

Figura 6: Abordagem sobre cuidados com o corpo através de uso de fantoches.

Fonte: Própria Extensão, 2017.

Entre as turmas finais do Ensino Fundamental, abordagem sobre o cuidado com o corpo foi
direcionada a problemática das doenças originadas pela falta de higiene, doenças venéreas e alguns
tipo de câncer.

O TERRITÓRIO

A ação de vivência que discute o território tem o objetivo de promover o conhecimento e a


compreensão dos alunos de Ensino Fundamental sobre os aspectos históricos da territorialidade e
formação da população na região da Baixada maranhense.
Nessa perspectiva foi trabalhada através de exposição dialogada, a história da colonização
no Brasil, situando o período escravocrata e explicando suas consequências. A rodada de conversa

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1172


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

expunha sobre o processo da vinda dos africanos de forma forçada, por meio do tráfico negreiro,
para outro continente, diferente do de sua origem, quando foram colocados em regime de
escravidão (Figura 7).
No contexto de invisibilidade da história do povo negro, é nesse contexto, especialmente nos
livros didáticos, faz-se necessário inserir a verdade sobre a luta de resistência desse povo.

Figura 7: Desenvolvimento da colonização do Brasil e formação de população escrava.

Fonte: Própria da Extensão, 2017.

As experiências de vivências nas escolas do município de Pedro do Rosário que oportuniza


um contato com o campo pra estar próximo ao outro e compreendê-lo na sua diferença e na sua
necessidade, sensibilizar-se pelo respeito à sua trajetória e modo de vida. Os resultados destas ações
foram exitosos para os estudantes das escolas publico alvo e os acadêmicos da UEMA (Figura 8 e
9).

Figura 8 – Encerramento das atividades em turmas do Ensino Fundamental.

Fonte: Própria da extensão, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1173


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 9- Equipe de trabalho

Fonte: Própria da extensão, 2017.

CONCLUSÕES

A Universidade Estadual do Maranhão através do trabalho desenvolvido foi muito bem


recebida pelos gestores municipais, um resultado da presença da mesma em outras atividades no
município.
O desenvolvimento das ações do trabalho proporcionou aos graduandos bolsistas do projeto
um enriquecimento de sua formação acadêmica e de sua formação como pessoa, pois os colocou
diante de realidades distintas das vividas na capital do Estado, levando-os a refletir sobre seu papel
como futuros professores.
Os conteúdos trabalhados nas oficinas constituíram os seguintes: Aprendendo a cuidar do
corpo para depois cuidar do ambiente; Conhecendo a bacia hidrográfica do Pericumã; A história dos
afrodescendentes no Brasil e no Maranhão.
Durante as apresentações houve demonstração de curiosidades, interesse e participação dos
alunos. Nas séries finais do Ensino Fundamental a participação e questionamento foram mais
frequentes. Refletindo com isso que estas atividades são de suma relevância para o desenvolvimento
de conhecimento por meio da Educação Ambiental, e que este trabalho é de continuidade.

REFERENCIAS

BRASIL. Constituição Federal do Brasil de 1988, Artigo 225. Brasília, 1988

DIAS, G.F. Educação ambiental: Princípios e práticas. 3ªed. São Paulo: Gaia, 1994.

HOLANDA, F. de. Dinâmica da economia maranhense nos últimos 25 anos. São Luís: IMESC,
Cadernos do IMESC. n. 4, 2008. 42p.

IBGE. Estados. Disponível em: <www.ibge.gov.br.> Acesso em 03 de março 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1174


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

LOUREIRO, C.F.B. Educação ambiental e movimentos sociais na construção da cidadania


ecológica e planetária. In: LOUREIRO,C.F.B, PHILIPPE, P. L.CASTRO, R.S. (orgs). Educação
ambiental: repensando o espaço da cidadania. 2ªed. São Paulo: Cortez, 2002.

MARANHÃO, IMESC. Índice de Desenvolvimento Municipal. São Luís, v.4, p.1 – 119, 2014.

MENDONÇA, F. Geografia socioambiental. In: MENDONÇA, F., KOZEL, S. (orgs). Elementos


de Epistemologia da Geografia Contemporânea. Curitiba. Editora da UFPR, 2002.

MORAES, A.C.R. Meio ambiente e ciência humanas. São Paulo: Hucitec, 1994.

PEDROSA, 2011 PEDROSA, L.A.C. A questão agrária no Maranhão. Disponível em


<www.abda.com.br/texto/LuisACPedrosa.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2011.

PEREIRA, R.C.C. Caracterização das alterações ambientais segundo o uso dos recursos naturais
por trabalhadores rurais no alto curso do rio Pericumã/ Dissertação (Mestrado em
Sustentabilidade de Ecossistema). Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2006.

PEREIRA, R.C.C. As transformações históricas e a dinâmica atual da paisagem na alta bacia do


rio Pericumã. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e
Tecnologia. Presidente Prudente, 2012.

PEREIRA, R.C.C. As transformações históricas e a dinâmica atual da paisagem na alta bacia do


rio Pericumã. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e
Tecnologia. Presidente Prudente, 2012.

REIGOTA, M. Desafios à educação ambiental escolar. In: CASCINO, F. JACOBI, P. OLIVEIRA,


J. F. (Orgs). Educação, meio ambiente e cidadania. Reflexões e experiências. SÃO PAULO,
Secretaria de Estado do meio ambiente/Coordenadoria de Educação ambiental. São Paulo:
SMA/CEAM, 1998.

SABIÁ, I. R. A escola e educação ambiental. Relato de experiências. In: CASCINO, F. JACOBI, P.


OLIVEIRA, J. F. (Orgs). Educação, meio ambiente e cidadania. Reflexões e experiências. SÃO
PAULO, Secretaria de Estado do meio ambiente/Coordenadoria de Educação ambiental. São
Paulo: SMA/CEAM, 1998.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1175


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O CASO DA E. M. E. F. ARACY NOBREGA


MONTENEGRO – ALAGOA GRANDE - PB

Everson da Costa NUNES


Graduando do curso de Pedagogia na UEPB
everson-nunes@bol.com.br
Carlos Ovídio Lopes de Mendonça MELLO
Professor titular no CINTEP
carlosmnetto@hotmail.com

RESUMO
Trabalhar com Educação Ambiental nas escolas tem sido cada dia mais de fundamental
importância, levando em conta a necessidade de construir uma sociedade voltada para o
Desenvolvimento sustentável e consciente da preservação e manutenção do meio ambiente. Os
impactos ao meio ambiente são inevitáveis, mas através de um trabalho de sensibilização e
reeducação quanto à maneira de explorar os recursos naturais, podemos encontrar formas de
modificar a situação em que se encontram os ecossistemas ao redor do mundo. Com base no que se
sabe sobre a Educação Ambiental, não é tarefa difícil implantá-la em nossas atividades, seja por
meio de projetos temáticos (teóricos) ou pelo método empírico. Neste trabalho veremos como o
corpo docente da Escola Municipal de Ensino Fundamental Aracy Nóbrega Montenegro encontrou
meios de conscientizar o alunado e, consequentemente, a comunidade, com relação ao descarte e
tratamento dos resíduos daquela instituição de ensino.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Meio Ambiente, Escola, Desenvolvimento Sustentável.
ABSTRACT
Working with environmental education in schools has been every day more than fundamental, lift
into account the need to build a society geared to sustainable development and aware of the
preservation and maintenance of the environment. The environmental impacts are inevitable, but
through awareness-raising work and re-education as to how to exploit the natural resources, we can
find ways to change the situation they are in ecosystems around the world. Based on what is known
about environmental education, it is not difficult to deploy it in our activities, whether through
thematic projects (theoretical) or empirical method. In this work we will see how the faculty of the
School of Basic Education Aracy Nóbrega Montenegro found ways to educate the student body and
hence the community regarding the disposal and treatment of waste that educational institution.
Keywords: Environmental Education, Environment, School, Sustainable Developmen.

INTRODUÇÃO

O homem está diretamente ligado ao meio ambiente, mesmo com tantos avanços
tecnológicos o ser humano não conseguiu tornar-se independente dos recursos naturais. Desde os
primórdios da história, onde era nômade e dependia exclusivamente da natureza para sobreviver,
passando pelo sedentarismo com a aprendizagem e aplicação de técnicas de agricultura e pecuária,
mantendo ainda uma relação estreita com o meio utilizando-o como forma de sobrevivência. Com o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1176


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

passar do tempo as sociedades humanas desenvolveram-se mantendo um controle sobre a natureza,


evoluindo em uma relação harmoniosa.
Com a chegada da revolução industrial e tecnológica o homem começa a procurar romper à
dependência dos recursos naturais interferindo cada vez mais no meio ambiente, de acordo com
Mariano (2011) a procura em romper essa dependência com a natureza, ocasionou várias ações da
sociedade de forma não cíclica, mas contínua e/ou desordenada, introduzindo elementos estranhos
ou retirando elementos essenciais do meio, provocando os impactos ambientais.
Os impactos ambientais são inevitáveis em qualquer atividade a ser desenvolvida em que se
faça interferência no meio ambiente, seja ela com finalidade econômica ou social. O que deve ser
feito é tentar minimizar tais impactos e para isso, faz-se necessário a preparação de uma população
consciente dos problemas causados pelas ações humanas na natureza, onde entra em cena a
Educação Ambiental, na tentativa de criar uma ideologia de consumo consciente dos recursos.
Como a EA (Educação Ambiental) não é uma disciplina obrigatória dentro do currículo
escolar, a mesma pode ser aplicada em várias disciplinas como tema transversal, como prevê a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nº 9394 de 1996, ―A Educação Ambiental será
considerada na concepção dos conteúdos curriculares de todos os níveis de ensino, sem constituir
disciplina especifica, implicando desenvolvimento de hábitos e atitudes sadias de conservação
ambiental e respeito à natureza, a partir do cotidiano da vida, da escola e da sociedade‖. Mesmo não
sendo obrigatória, a EA deve ser aplicada em todos os ambientes onde se estabeleça a convivência
social, principalmente no cenário escolar, onde ocorre a formação do cidadão enquanto ser
pensante, com senso crítico e poder de transformação.
Nesse sentido os PCN‘s, desenvolvidos pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) com
o intuito de orientar professores no trabalho de transmitir conhecimentos, estabelecem que algumas
temáticas sejam discutidas no conjunto das disciplinas da escola através de projetos educativos, os
chamados temas transversais, onde se encaixa o tema deste trabalho, a Educação Ambiental.
Em todo o país se nota a presença de iniciativas voltadas para a EA, mesmo que singelas,
caminhando a passos pequenos e lentos. Assim se afirma nas seguintes palavras: ―A Educação
Ambiental encontra-se em um estágio embrionário no Brasil, e assim tem-se a concepção de que
está sendo postulada como um agente fortalecedor e catalisador dos processos da transformação
social‖ (Morais e Nóbrega, 2011). Os referidos autores enfatizam a necessidade de transformações
sociais em todas as esferas, não sendo diferente no estado da Paraíba, em que se fazem presentes
projetos na área ambiental, principalmente nas escolas.
O objetivo deste trabalho está voltado no relato de como se trabalha a educação ambiental na
sociedade, principalmente no ambiente escolar. Discutir sobre como atuam os profissionais que
trabalham com essa temática e os projetos aplicados, especificamente na Escola Municipal de

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1177


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Ensino Fundamental Aracy Nóbrega Montenegro, além de fazer um breve levantamento sobre
como o município em que a escola se localiza se porta com o tema em análise.

O MEIO AMBIENTE E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Em qualquer atividade que as pessoas exerçam no seu dia-a-dia, sempre será feita alguma
alteração no meio, seja ela imperceptível ou de maneira mais impactante aos olhos humanos. Com
isso surgem preocupações por parte de organizações e pesquisadores com relação aos danos
causados ao meio ambiente, fazendo-se necessários movimentos que nos orientem, mostrando
formas conscientes de trabalhar utilizando os recursos naturais de maneira responsável.
A partir dessa necessidade o Programa nacional de educação ambiental - ProNEA (2005)
nos mostra que os últimos 40 anos foram realizados encontros, conferências, tratados e convenções
voltadas para temática ambiental, porém, nunca se envolveu a capacidade de manutenção da vida,
indicando a necessidade de ações educacionais que contribuam para a construção de sociedades
sustentáveis.
Segundo Espinosa 1993, o modelo introduzido pela revolução industrial, uma produção
baseada no uso intensivo de energia fóssil, exploração exacerbada dos recursos naturais e uso do ar,
solo e água como depósitos de poluentes, é apontado como principal causa da atual degradação
ambiental.
Em todo o mundo é gritante a situação em que se encontra a degradação do meio ambiente
em decorrência da extração e utilização dos recursos naturais, seja na agricultura, pecuária ou
recursos retirados do solo, como os combustíveis fosseis e pedras preciosas. No Brasil essa situação
não é diferente, ainda utilizando as palavras de PRONEA, vemos que

No Brasil, a ameaça à biodiversidade está presente em todos os biomas, em decorrência,


principalmente, do desenvolvimento desordenado de atividades produtivas. A degradação
do solo, a poluição atmosférica e a contaminação dos recursos hídricos são alguns dos
efeitos nocivos observados. Na maioria dos centros urbanos, os resíduos sólidos ainda são
depositados em lixões, a céu aberto. (PRONEA, 2005, p17)

Seguindo essa linha de pensamento, vemos que as atividades econômicas e produtivas são
os principais fatores de degradação dos biomas em todas as regiões brasileiras. Para tanto é de suma
importância a conscientização da população para que se exerça sobre o meio o mínimo de impacto
possível e, nos casos em que não se obtenha êxito, alguma ação seja efetuada na área impactada, na
intenção reverter a degradação dos recursos utilizados.
Na perspectiva de promover tal conscientização, entra em cena a Educação Ambiental, com
a missão de disseminar ensinamentos voltados para o consumo responsável, baseado na
sustentabilidade, envolvendo crescimento econômico continuo através do tempo, que seja benigno

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1178


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ao ambiente. Para tanto faz-se necessário entender um pouco sobre Sustentabilidade e


Desenvolvimento sustentável, Vejamos abaixo definições das mesmas.
―Sustentabilidade pode ser definida como sendo a utilização do nosso entorno físico de tal
forma que suas funções vitais sejam indefinidamente preservadas‖. (HUETING, REJINDERS,1998
Apud MARCATTO, 2002).
Já Desenvolvimento Sustentável é aquele que ―atende às necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade de gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades‖.
(WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT, 1987 Apud
MARCATTO, 2002).

DEFINIÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Atualmente não se pode entender a Educação Ambiental no singular, como um único


modelo alternativo que apenas complemente uma educação convencional, que não é ambiental, ela
vem surgir como complemento para a formação de cidadãos conscientes, sendo trabalhada dentro
das disciplinas do currículo escolar. É importante frisar que se inicialmente era necessário dirigir
esforços para a inclusão da dimensão ambiental na educação (GUIMARÃES, 1995).
Vemos a necessidade de se criar uma ideologia onde, ―a Educação Ambiental não é neutra,
mas ideológica. É um ato político, baseado em valores para a transformação social‖ (SECAD,
2007).
Na própria Constituição Federal, vemos a contemplação da Educação Ambiental, sendo
enfatizada a sua difusão pelo poder público, onde temos:

―Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações...
1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...)
VI – Promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente...‖. (BRASIL,1988)

Regida por lei, a Educação ambiental, mesmo não sendo disciplina obrigatória deve ser
transmitida em todos os ambientes, ainda mais no ambiente escolar. Nesse sentido temos como
definição para a Educação Ambiental. No artigo 1º da Lei n. 9.795/99, que dispões sobre a
Educação ambiental, instituindo a Politica Nacional de Educação Ambiental, nos diz:

[...]entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1999).

Seguindo esse pensamento a UNESCO 1975, definiu a EA como sendo um processo que
visa;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1179


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

[...] formar uma população mundial consciente e preocupada com o meio ambiente e com
os problemas que lhe dizem respeito, uma população que tenha os conhecimentos, as
competências, o estado de espirito, as motivações e o sentido de participação e engajamento
que lhe permita trabalhar individualmente e coletivamente para resolver os problemas
atuais e impedir que se repitam (...). (citado por SEARA FILHO, 1987)

No mesmo aspecto podemos dizer que a ―Educação Ambiental seja um processo de


formação dinâmico, permanente e participativo, no qual as pessoas envolvidas passem a ser agentes
transformadores, participando ativamente da busca de alternativas para a redução de impactos
ambientais e para o controle social do uso dos recursos naturais‖. (MARCATTO, 2005).
A partir das definições acima podemos entender que a Educação Ambiental, mesmo não
sendo parte do currículo e não sendo obrigatória sua aplicação enquanto disciplina, pode ser
inserida como tema transversal, desencadeando um processo de conscientização da população e
modificação nas atuais ações, preocupando-se com as consequências do manejo dos recursos
naturais, objetivando a manutenção dos mesmos para que não se entre em colapso.
Ainda de acordo com o autor acima citado vemos a listagem dos princípios da Educação
Ambiental, onde se caracterizam:

―Considerar o ambiente em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos naturais e


artificiais, tecnológicos e sociais (econômico, politico, técnico, histórico-cultural e
estético); construir-se num processo continuo e permanente, iniciando na educação
infantil e continuando através de todas as fases do ensino formal e não formal;
empregar o enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo especifico de cada
disciplina, para que se adquira uma perspectiva global e equilibrada; examinar as
principais questões ambientais em escala pessoal, local, regional, nacional,
internacional, de modo que os educandos tomem conhecimento das condições
ambientais de outras regiões geográficas; concentrar-se nas situações atuais e
futuras, tendo em conta também a perspectiva histórica; insistir no valor e na
necessidade de cooperação local, nacional e internacional, para prevenir e resolver
os problemas ambientais; considerar, de maneira clara, os aspectos ambientais nos
planos de desenvolvimento e crescimento; fazer com que os alunos participem na
organização de suas experiências de aprendizagem, proporcionando-lhes
oportunidade de tomar decisões e de acatar suas consequências.‖ (MARCATTO,
2002, p. 21)

Baseando-se nos princípios discorridos pelo autor supracitado, pode-se desenvolver


atividades neles embasados, dando iniciativa a um processo que sensibilize as pessoas com relação
aos impactos causados pela ação humana ao meio ambiente, gerando cidadãos que se preocupem
com o que está sendo feito para reverter tal quadro.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS

A Lei n. 9.795/99, que dispões sobre a Educação ambiental, sancionada em 25 de junho de


2002, através do decreto nº 4.281 estabelece que a mesma é um direito de todos, onde se fala que a
Educação Ambiental deve ser ―um componente essencial e permanente da educação nacional,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1180


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal
e não formal‖(BRASIL,1988).
De acordo com Marcatto, 2002 o conhecimento da dimensão ambiental deve ser incluída
nos currículos de formação dos professores, onde os mesmos deverão receber formação
complementar. Assim permanecendo atualizados, mantendo as praticas sustentáveis da educação
ambiental dentro da sala de aula, mostrando aos alunos pequenas mudanças nos hábitos que podem
fazer a diferença no dia-a-dia.
A EA é um assunto altamente relevante em todos os níveis de educação, vemos professores
de educação infantil e até mesmo creches trabalhando a Educação Ambiental com as crianças. As
crianças tem facilidade em vivências ambientais, pois elas gostam, se emocionam e levam para casa
o que aprenderam na escola para ensinar aos pais. Ao chegar no ensino fundamental, pode-se
trabalhar questões como o que a humanidade faz e pode ser útil para melhorar a questão ambiental,
revertendo um pouco dos danos que vem sendo causados ao longo da história, podendo dar início a
pequenos projetos.
Já no ensino médio, os alunos são mais experientes, podendo estar muito mais ativos com
relação a tal questão. É interessante o desenvolvimento de projetos de intervenção, onde eles
mesmos podem descobrir os problemas, descobrir suas causas e consequências e assim desenvolver
medidas para ajudar a diminuir os impactos que causam tais problemas ao meio ambiente. Não
devendo ficar somente na teoria, acumulando informações, mas tornando protagonistas de seus
próprios estudos e desenvolvimento de soluções.
Vale salientar que a Educação Ambiental propriamente dita é praticamente, se não,
inexistente nas escolas, o que vemos são iniciativas de sensibilização sobre a questão ambiental.
Porém muito do que se desenvolve causa um certo efeito sobre a população alvo, gerando um ciclo
decorrente desse acumulo de informações baseadas na questão ambiental.

O MUNICÍPIO DE ALAGOA GRANDE

De acordo com Paiva Júnior (2006) o município de Alagoa Grande limita-se com os
municípios de Areia e Alagoinha ao Norte; com Serra Redonda ao Sul; com Gurinhém e Mulungu a
Leste; com os municípios de Alagoa Nova e Matinhas a Oeste, com Juarez Távora a sudeste e com
Massaranduba a sudoeste, como podemos ver no mapa 1. Situa-se no cruzamento das coordenadas
geográficas 07º09‘30‘‘ de latitude sul e 35º37‘48‘‘ de longitude oeste.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1181


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 1- Localização da cidade de Alagoa Grande no Estado da Paraíba

fonte: CPRM, 2005

Baseado em dados coletado junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),


O município abrange uma área de 320. 563 km² e possuía uma população de 28.479 habitantes
(CENSO 2010) com estimativa de 28.733 hab. para o ano de 2013, com densidade demográfica de
88,84 hab./km².
Existem dois distritos no município: Zumbi, sentido Juarez Távora e Canafístula, as margens
da rodovia PB 075 sentido Alagoinha. Possui ainda diversos assentamentos rurais da reforma
agrária, das quais podemos citar Margarida 1 e 2, Maria da Penha 1 e 2, Caiana, entre outros. Das
comunidades rurais que o município possui podemos destacar a comunidade de Caiana dos
Crioulos, remanescente de quilombo, alvo de diversas pesquisas em escala regional, com o objetivo
de preservar a cultura daquela comunidade afro descendente.

A EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE ALAGOA GRANDE

A cidade de Alagoa Grande dispõe de escolas de nível fundamental e médio, além de abrigar
um polo da Universidade Aberta do Brasil (UAB) regido pela Universidade Federal da Paraíba
(UFPB). Segundo o IBGE, em 2012 a educação do município estava distribuída em 40 escolas de
nível pré-escolar, 45 escolas de nível Fundamental, 4 de nível Médio e 1 de nível Superior, como
mostra o gráfico à seguir:

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1182


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Grafico 1:Distribuição do ensino na cidade de Alagoa Grande

nível fundamental
nível médio
pré escolar
ensino superior

fonte: Autor (2014)

Como pode ser observado no gráfico, a maioria dos estabelecimentos de ensino da cidade de
Alagoa Grande são de níveis pré-escolar e fundamental, pois são serviços oferecidos pela rede
municipal e privada. Em menor número estão as escolas de nível médio e superior, estas geridas
pelos governos Estadual e Federal respectivamente.
A Educação Ambiental no município de Alagoa Grande se faz presente de diversas
maneiras. De um modo mais abrangente, podemos citar ações de mobilização da sociedade no
geral, alertando para os perigos do mau descarte dos resíduos sólidos, mau uso da água e energia,
entre outros temas ligados a EA. Tais movimentos desenvolvidos pelo poder público fazem parte de
ações voltadas para a semana do meio ambiente que culmina no dia 5 de junho, dia mundial do
meio ambiente.
Além desses movimentos, as escolas desenvolvem seus próprios projetos, mais voltados
para a situação local, levando em conta a população atendida pelo estabelecimento escolar e a
situação social em que se encontra. Ainda pode ser citado o programa MAIS EDUCAÇÃO,
oferecido e mantido pelo governo federal, que atende diversas escolas do município, permitindo
através de oficinas como horta, a aplicação de conhecimentos sustentáveis na criação e manutenção
das plantas.

A ESCOLA ARACY NÓBREGA MONTENEGRO

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Aracy Nóbrega Montenegro se localiza no


distrito de Canafístula, pertencente ao município de Alagoa Grande. A estrutura conta com 05 salas
de aula, 08 banheiros, 01 secretaria e sala de professores, 01 cozinha, 01 almoxarifado, uma quadra
coberta e corredores largos. Em equipamentos a Escola possui Notebook, impressora, projetor,
ventiladores nas salas, além do que se considera necessário para a escola funcionar como, carteiras,
cadeiras, mesas, armários, geladeira, fogão, estantes e materiais de suporte (livros, material de
multimídia e material de cozinha).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1183


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

No que diz respeito ao ensino, ela atende alunos da própria comunidade e de comunidades
rurais vizinhas, como os sítios Quitéria, Belo Monte, Vertente e assentamento Monsenhor Luigi
Pescarmona, dispondo das séries do 6º ao 9º ano, funcionando apenas no turno da tarde, com nove
disciplinas (português, matemática, Ciências, História, Educação Física, Geografia, artes, Religião e
Inglês).
A Escola recebe recursos do PDDE e do programa ―Mais Educação‖, proporcionado pelo
Governo Federal, que funciona no turno da manhã, com o objetivo de dar suporte e aumentar a
qualidade do ensino, ou seja, elevar o índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).

A ESCOLA E O PROBLEMA DO LIXO

No ano de 2013 se identificou na E. M. E.F. Aracy Nóbrega Montenegro uma falta de


consciência ambiental na maneira de como os alunos e até mesmo o corpo docente da escola se
comportavam. Não existia a mínima preocupação de modo de descarte dos resíduos sólidos, onde
na maioria das vezes era jogado nos corredores e arredores da escola. O mesmo era notado na
comunidade em que a escola estava inserida, lixo jogado a céu aberto nas ruas, nas encostas e as
margens da rodovia, misturando-se com a paisagem natural, manchando a beleza da natureza,
atraindo diversos tipos de animais, inclusive peçonhentos, causando doenças aos seres humanos e
poluindo o ar, água e o solo.
A partir da identificação do problema pelo qual a escola estava passando, começou-se uma
mobilização para tentar reverter esse quadro. O corpo docente da escola deu início a um projeto
para conscientizar o alunado e fazer com que os próprios alunos assumissem esse papel, levando o
que aprenderam na escola para casa ensinando aos pais e pondo em pratica o conhecimento
adquirido em sala.
Tal ação teve como objetivo de culminância o dia mundial do meio ambiente (5 de junho),
onde seriam desenvolvidas atividades de sensibilização dos alunos com relação aos resíduos
descartados dentro da escola. Através de vídeo-aulas, palestras e atividades desenvolvidas dentro
das aulas, foi desenvolvido um trabalho onde os próprios alunos fizeram a limpeza do ambiente
escolar, recolhendo papeis, plásticos e todo o material descartado por eles mesmos. Ainda foram
aplicadas diversas outras atividades, dentro e fora da sala de aula, promovendo além de uma
conscientização a interação entre as diversas turmas na escola.
Durante a semana do meio ambiente, aliado aos eventos que estavam ocorrendo na cidade, a
escola também estava desenvolvendo uma serie de atividades com a temática ambiental. Além da
tentativa de construir uma ideia de Educação Ambiental nos alunos, mostrando a importância da
participação ativa dos mesmos em processos simples, porém de efeito redundante, como a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1184


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

separação do lixo por categoria, foram tomadas ações mais concretas e de longo prazo, como o
plantio de arvores dentro das áreas da escola.
Culminando no dia do meio ambiente se organizou uma ―caminhada educativa‖, onde os
alunos, já instruídos pelos professores, se mobilizaram com o corpo docente da escola e
organizaram um movimento pelas ruas da comunidade onde a escola se localiza. Durante a
caminhada os alunos visitaram as casas dos moradores, explicando através de folder‘s a importância
do tratamento correto do lixo, separando em recicláveis e não-recicláveis, dando o destino correto a
cada um deles. Ainda se mostrou como os resíduos recicláveis podem gerar renda, através do
artesanato.
Por todo o percurso os alunos também recolheram o lixo encontrado nas ruas, fazendo uma
sensibilização da comunidade através de carro de som, explicando a importância do descarte correto
do lixo domiciliar. Onde todo o lixo recolhido foi separado e destinado corretamente. Outro fator
importante foi a limpeza da barreira próxima a escola, que era utilizada como ―lixão‖. Com a ajuda
do governo municipal, foi feita a retirada do lixo com retroescavadeira e feito um plantio de árvores
nativas da região.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É de suma importância o papel da escola na formação de pessoas voltadas a buscar o


desenvolvimento econômico em harmonia com o meio ambiente, pois é no meio escolar que o
futuro profissional irá adquirir uma gama de conhecimentos que poderá utilizar na busca de meios
de conciliar progresso e preservação do ambiente.
Projetos desenvolvidos nos municípios e mais especificamente nas escolas, como o citado
neste trabalho, são passos importantes para a sensibilização dos cidadãos, iniciando com o corpo
docente e discente da escola e posteriormente com as comunidades no geral, promovendo um
choque imediato, mas com o passar do tempo, tais ações se tornarão hábitos dos mesmos.
Contribuindo na formação de uma sociedade sustentável, na medida do possível.
A Educação Ambiental deve crescer dentro de cada aluno como uma semente plantada, onde
mesmo com toda, ou grande da sociedade mostrando que não se pode chegar a uma EA definitiva,
não se deve desistir de chegar o mais perto possível dos objetivos a serem alcançados.
―Eu achei que... Eles pensando: a gente quebrando eles não vão plantar de novo, porque eles
vão desistir. Mas a gente não desistiu. Fomos à frente, plantamos mais uma vez.‖
Douglas Cabral Correia (aluno)

REFERENCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1185


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

______. Lei Ordinária n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 28 abr. 1999;

______. Ministério da Agricultura. Levantamento exploratório: reconhecimento de solos do estado


da Paraíba, I: interpretação para uso agrícola dos solos do Estado da Paraíba, II. Rio de
Janeiro, RJ 1972. 683p (Boletim técnico, 15. Série Pedologia,8);

_____. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos


parâmetros nacionais. Brasília: MEC, 1997. 126p;

CADERNOS SECAD: Educação Ambiental: aprendizes de sustentabilidade. Organização:


HENRIQUES, Ricardo; TRAJBER, Rachel; MELLO, Soraia; LIPAI, Eneida M.; CHAMUSCA,
Adelaide. Ministério da Educação, Brasília, 2007;

CPRM. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. Projeto Cadastro de Fontes de


Abastecimento de água subterrânea da Paraíba. Diagnóstico do município de Alagoa
Grande/PB. Outubro, 2005. 25p;

ESPINOSA, H.R.M.: Desenvolvimento e meio ambiente sob nova ótica. Ambiente, v7, n.1, p. 40-
44, 1993;

GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus, 1995;

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em www.ibge.gov.br acesso em


05/06/2015;

LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional : Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional [recurso eletrônico]. – 8. ed. – Brasília :
Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2013;

MARCATTO, Celso: Educação Ambiental: conceitos e princípios / Celso Marcatto-Belo


Horizonte: FEAM, 2002, 64p;

MARIANO, Z. F.; SCOPEL I.; PEIXINHO D. M.; SOUZA M. B: A RELAÇÃO HOMEM-


NATUREZA E OS DISCURSOS AMBIENTAIS, Revista do Departamento de Geografia – USP,
Volume 22 (2011), p. 158-170;

MORAIS, Lucas Andrade de; NÓBREGA, Monnizia Pereira: EDUCAÇÃO AMBIENTAL E


EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA UFCG: PRÁTICA DE CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL
NA CIDADE DE SOUSA-PB; João Pessoa, 2011;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1186


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

MUHRINGER, Sonia; POMPÉIA, Silvia. Educação Ambiental na Escola. Cedic. Belo Horizonte,
120 p;

PAIVA JÚNIOR, H. B. Efeitos do rompimento da Barragem de Camará na área urbana do


município de Alagoa Grande-PB. João Pessoa: UFPB, 2006. 98 p.;

PPP, Projeto Político Pedagógico - Escola Aracy Nóbrega Montenegro, 2013/2014;

Programa nacional de educação ambiental - ProNEA / Ministério do Meio Ambiente, Diretoria de


Educação Ambiental; Ministério da Educação. Coordenação Geral de Educação Ambiental. - 3.
ed - Brasília : Ministério do Meio Ambiente, 2005;

SEARA FILHO, G. Apontamentos de introdução à educação ambiental. Revista Ambiental, ano 1


v.1, p 40-44, 1987;

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1187


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

A PERCEPÇÃO DOS DOCENTES SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL


NO ENSINO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA ESCOLA DISNEY,
ALAGOA GRANDE – PB

Ginaldo Ribeiro da SILVA


Graduando do Curso de Geografia da UEPB
ginaldo.ribeiro@gmail.com
Carlos Antônio Belarmino ALVES
Prof. Titular Doutor em Geografia UEPB
c_belarminoalves@hotmail.com
Márcio Balbino CAVALCANTE
Profº. Mestre. Em Geografia FIP
marcio-balbino@hotmail.com

RESUMO
O nosso artigo tem como objetivo, diagnosticar a percepção do corpo docente sobre a educação
ambiental no ensino das 1ª séries de educação infantil na escola Disney – Alagoa Grande – Paraíba
- Nordeste do Brasil. A Percepção ambiental como uma representação científica e, como tal, tem
sua utilidade definida pelos propósitos que embalam os projetos do pesquisador. Aplicou-se 05
questionários com 06 perguntas abertas e entrevista semiestruturadas para obter os dados. No
município, a educação ambiental não é considerada uma prioridade no resgate a cidadania que
estimula o educando quando a opção ambiental está envolvida diretamente com a escola e o
envolvimento evidentemente, não se dará de forma linear ou rápida, mas ao longo de um processo
de treinamento que deve, não só envolver professores, mas também todos os demais profissionais
que valorizem a cooperação, e a participação coletiva.
Palavras-chaves: Percepção; Educação ambiental; Educação infantil.
ABSTRAT
Our article aims to diagnose the perception of the faculty on the teaching of environmental
education in the 1st series of children's education in school Disney - Alagoa Grande - Paraíba -
Northeast Brazil. The Environmental perception as a scientific representation and, as such, is
defined by its utility purposes that pack designs the researcher. Applied 05 questionnaires with 06
open questions and interviewed for semistructured data. In the city, environmental education is not
considered a priority in the rescue citizenship that encourages the student when the environmental
option is involved directly with the school and the involvement of course, will not happen in a
linear fashion or fast, but over a training process which should not only involve teachers, but also
all other professionals who value cooperation and collective participation.
Keywords: Perception, Environmental Education, Early Childhood Education.

INTRODUÇÃO

A percepção ambiental é uma representação científica e, como tal, tem sua utilidade definida
pelos propósitos que embalam os projetos do pesquisador. Como adverte Becker (1996), as

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1188


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

representações científicas são como mapas que ―fornecem um retrato parcial que é, todavia,
adequado a alguma proposta. Todos eles surgem em ambientes organizacionais, que restringem o
que pode ser feito e definem os objetivos a serem alcançados pelo trabalho‖ (BECKER 136op.cit,
1999).
A Educação Ambiental (EA), em função de suas múltiplas histórias em todo planeta e no
Brasil, é explicitada por distintas definições, linhas, tendências. No contexto deste trabalho o
conceito de educação ambiental é uma pequena adaptação daquele expresso no Tratado de
Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (Brasil, 2005),
documento produzido na Jornada Internacional de Educação Ambiental, durante o Fórum Global,
paralelo à Rio-92 e da missão e objetivos enunciados pelo Programa Nacional de Educação
Ambiental (PRONEA, 2005):

A educação ambiental consiste em processos permanentes, continuados, articulados e com a


totalidade dos habitantes de cada base territorial, de aprendizagem baseada no cuidado e
respeito com todas as formas de vida e na conservação, recuperação e melhoria do meio
ambiente e da qualidade de vida. Tal educação afirma valores e ações que contribuem para
a transformação humana e social e estimula a formação de sociedades sustentáveis, que
conservam entre si relação de interdependência e diversidade. Isto requer responsabilidade
individual e coletiva em nível local, nacional e planetário. (PRONEA. op.cit, 2005)

No Brasil, a educação ambiental passa a ser reconhecida como política pública pela
sociedade brasileira a partir de 1999 com a aprovação da Lei 9.795/99 que estabelece a Política
Nacional de Educação Ambiental – PNEA. A partir deste momento a educação ambiental passa a
requerer, assim como toda política pública, mecanismos para o seu financiamento.
A educação ambiental se constitui num ―novo ramo‖ de educação que se propõe para atingir
a todos os cidadãos através de um processo pedagógico participativo permanente que procura
despertar no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental compreendendo-se
como uma crítica a capacidade de captar a origem e a evolução de problemas ambientais segundo
Reigota (2004). Dessa forma, quando falamos em educação ambiental, entendemos com o resgate
da ética, da cultura, da política e da economia, já embutidos em qualquer forma de relação e
informação que implicam em educação. Os Parâmetros Curriculares Nacionais(2001) em suas
orientações sugerem que:

Essa consciência já chegou à escola e muitas iniciativas têm sido desenvolvidas em torno
desta questão, por educadores de todo país. Por essas razões vê-se a importância de se
incluir a temática do meio ambiente como tema transversal nos currículos escolares,
permeando toda prática educacional. (Brasil, 2001).

A EA na escola pública deve ter caráter conservacionista, biológica e crítica para uma
sociedade sustentável, para atuando com o aluno, a partir de seus conhecimentos, terem sucesso no
desenvolvimento da consciência crítica e autossustentável (ABÍLIO, 2005). Para tanto, deve-se

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1189


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

partir do currículo escolar, para inserir dentro das disciplinas informações que tragam mudanças de
atitudes e contribuam para a formação do cidadão.
No município de Alagoa Grande– PB a EA está envolvida diretamente com as escolas e, que
este envolvimento evidentemente, não se dará de forma linear ou rápida, mas ao longo de um
processo de treinamento que deve, não só envolver professores, mas também todos os demais
profissionais da escola. Por traz desta ideia, está o desenvolvimento de práticas que valorizem a
cooperação, igualdade de direitos, autonomia, democracia e participação coletiva.
A pesquisa objetiva diagnosticar a percepção do corpo docente sobre a educação ambiental
no ensino das 1ª séries de educação infantil na escola Disney, Alagoa Grande, estado da – Paraíba.
A civilização contemporânea vive uma profunda crise da racionalidade moderna que produz
inúmeros reflexos nos indivíduos e na sociedade, como a crise ambiental. Leff (2001) aponta que os
problemas ambientais são fundamentalmente problemas do conhecimento, tendo fortes implicações
em toda a política ambiental e para a educação escolar. Desta forma, este autor postula que se deve
aprender a aprender a complexidade ambiental, sendo um problema de aprendizagem do meio,
como compreensão do conhecimento sobre o mundo.
Neste contexto, Leff (2001) propõe que o aprendizado da complexidade deve ser mediante o
saber ambiental, pois trata-se de um conceito utilizado para assinalar os saberes que as populações
desenvolvem acerca de seu ambiente, construindo-o coletivamente através do tempo.
Ao propor um processo de treinamento que envolva todos, substitui-se de forma
significativa a hierarquia normalmente presente por um ambiente mais democrático, onde cada um
será estimulado a contribuir, tornando a escola um local de funcionamento mais orgânico
(RUSCHEINSKY, 2002).
Nesse sentido, as pesquisas quanto às ações educativas, pontuais ou processuais, formais ou
informais, no Brasil, indicam que as tendências de concepções e práticas são múltiplas e
multifacetadas, pois são situadas e contextualizadas local e globalmente. (JACOBI, 2005) Os
resultados desse pensamento e saberes são indicadores do avanço da consciência ecológica,
―ecopedagógica‖ e socioambiental das questões relacionadas ao macro e ao micro do meio
ambiente (GUATTARI, 2006). Atualmente, os nossos esforços para mudar a percepção do ser
humano e da sociedade perante o meio ambiente é universal com esforço de vários setores da
própria sociedade, tendo como foco a EA formal, a fim de sensibilizar cidadãos verdadeiramente
ativos, participativos para garantir a sobrevivência do ser humano nas próximas décadas (DIAS
1998).
A pesquisa objetivou diagnosticar a percepção do corpo docente sobre Educação Ambiental
no ensino das séries da Educação Infantil na Escola Disney – Alagoa Grande – Nordeste do Brasil.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1190


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Com isso, considera-se ser eficaz um projeto de Educação Ambiental em uma escola que
seja contemplada com uma metodologia tal que permita que ele seja continuado após o fim do
processo de treinamento, ou seja, de se tornar sustentável ou ainda parte da cultura da escola
(SANTOMÉ, 1998).

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo

A cidade de Alagoa Grande é um municípiobrasileiro do estado da Paraíba, localizado na


microrregião do Brejo Paraibano. De acordo com o censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) no ano 2010, sua população é de 28.482 habitantes. Área territorial de
320,558 km².Como cidade da Região do Brejo da Paraíba (isto é, uma região intermediária entre o
Litoral e o Sertão, situada na encosta da Serra da Borborema que recebe os ventos alísios úmidos do
Atlântico e tem uma cobertura vegetal de Mata Atlântica), era parte integrante do município de
Areia (cidade onde nasceu José Américo de Almeida, político e romancista, autor de A Bagaceira)
atémeados do século XIX, quando se tornou independente como cidade.
Distante da capital do estado a 103 km, o Município de Alagoa Grande, limita-se com Juarez
Távora, Areia, Alagoinha, Mulungu, Serra Redonda, Massaranduba, Gurinhém, Matinhas e Alagoa
Nova. Com altitudede 143 m tem seu clima quente e úmido, o município tem como coordenadas
07° 05´ 20´´S 35° 38´ 06´´(IBGE, 2010).
Esta uma região que cresceu muito no século XIX, através da agricultura baseada na cana-
de-açúcar (que destruiu a Mata Atlântica do lugar, desfigurando a cobertura vegetal) que utilizava
intensivamente a mão de obra escrava. Em seu centro ainda existem casarões que ainda hoje
testemunham esse momento de grandeza econômica do município e foram construídos por
escravos. Alguns desses casarões, que aparecem em frente à praça central e à matriz centenária da
cidade, são cobertos por azulejos importados de Portugal no século XIX.( IBGE2010).

Instituição Estudada

Na nossa pesquisa utilizamos os questionários com 06 perguntas abertas perfazendo 100%


da amostra dirigidos aos (as) professores (as) das 1º séries iniciais da Educação Infantil da Escola
Disney.

Segundo Parasuraman (1991), um questionário é tão somente um conjunto de questões,


feito para gerar os dados necessários para se atingir os objetivos do projeto. Embora o
mesmo autor afirme que nem todos os projetos de pesquisa utilizam essa forma de
instrumento de coleta de dados, o questionário é muito importante na pesquisa cientifica,
especialmente nas ciências sociais.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1191


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Em seguida foram usados formulários para entrevistas semiestruturadas obedecendo-se os


mesmos quantitativos do mesmo questionário. Segundo Manzini (1991 p.154),

A entrevista semiestruturada está focalizada em um assunto sobre o qual confeccionamos


um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questões inerentes às
circunstâncias momentâneas á entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista pode fazer
emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma
padronização de alternativas.

Os informantes da pesquisa foram os professores (as) que compõem o quadro docente da


escola em sua totalidade mulher.
O formulário utilizado na pesquisa abordaram perguntas especificas sobre percepção e
Educação Ambiental na ética de alunos das 1º séries iniciais.

RESULTADOS E DISCURSSÕES

A pesquisa tem uma importante contribuição na formação de qualquer profissional de nível


superior e até mesmo de nível médio e fundamental. Nesse trabalho foi avaliada a importância da
educação ambiental para os docentesda Escola Disney que lecionam a 1ª série de educação infantil,
assim foram avaliadas algumas variáveis no qual é composta por 6 questões.
1º Quais as temáticas, que você aborda na Educação Ambiental?
2º Em qual (ais) disciplina (s) você costuma trabalhar a temática Educação Ambiental?3º De
que forma você costuma trabalhar a Educação Ambiental?4ºA escola pretende realizar ou já realiza
algum projeto voltado à Educação Ambiental?5º A escola disponibiliza algum material para que os
professores possam trabalhar essa temática? Quais seriam esses materiais?6º Você já desenvolveu
ou desenvolve alguma estratégia (projeto) de Educação Ambiental?

Gráfico 01 – Quais as temáticas q/ você aborda na EA. Fonte: Autores, 2013

Quais as temáticas que você aborda na EA


Concientizar para
Preservar
17% Reciclagem,
Presevação o M.A
50%

Lixo, Preservação
do M.A
33%

Quando perguntados aos professores sobre quais as temáticas e conteúdos programáticos são
repassados aos alunos 50% dos professores afirmaram ser o tema relacionado a preservação e o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1192


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

meio ambiente, 33% disseram ser lixo e preservação e 17% mencionaram trabalhar com a
preservação e conscientização do meio ambiente.
De acordo com Dias (1998), Considerando toda essa importância da temática ambiental e a
visão integrada do mundo, no tempo e no espaço, sobressaem-se as escolas, como espaços
privilegiados na implementação de atividades que propiciem essa reflexão, pois isso necessita de
atividades de sala de aula e atividades de campo, com ações orientadas em projetos e em processos
de participação que levem à autoconfiança, a atitudes positivas e ao comprometimento pessoal com
a proteção ambiental implementados de modo interdisciplinar.

Gráfico 02 – Em quais disciplinas você costuma trabalhar a temática de EA

Em quais disciplinas você costuma trabalhar a temática de EA

17% Ciências

16%
Ciências e Geografia
67%
Ciências , Geografia ,
Português e História

Ao serem indagados sobre quais disciplinas que costumam trabalhar a temática Educação
Ambiental 67% falaram ciências e geografia, 17% disseram português e história e 16% relataram
ciências e geografia. A disciplina ciências atingiram maior índice, por ser uma disciplina que
facilita todos os temas e dinâmicas utilizadas.
Segundo PENTEADO (2007) a escola é um dos locais mais indicados para promover a
conscientização ambiental a partir da conjugação das questões socioculturais. As disciplinas são os
recursos didáticos através dos quais os conhecimentos científicos de que a necessidade já dispõe são
colocados ao alcance dos alunos através da interdisciplinaridade.

Gráfico 03 - De que forma você costuma trabalhar a EA

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1193


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Dias
comemorativos , De que forma você costuma trabalhar a EA
Problemas de
matemáticas Textos, poesias,,
abordando MA, Músicas, Palestras
Feiras de ciências e Filmes. 1ª e 6ª
17% Dias respostas
comemorativos, 33%
Feiras de ciências
17%
Textos, poesias,, Textos, poesias,,
Músicas, Palestras Músicas, Palestras
e Filmes. Dias e Filmes. Feiras de
comemorativos. ciências. oficina
Feiras de ciências de artes
17% 16%

Quando os sujeitos da pesquisa foram entrevistados sobre de que forma costuma


trabalhar a Educação Ambiental 33% relataram textos, músicas, palestras e filmes, 17%
citaram dias comemorativos, feiras de ciências, 17% afirmaram dias comemorativos, problemas de
matemática abordando meio ambiente, feiras de ciências, 17% falaram textos, poesias, músicas,
dias comemorativos, feiras de ciências e 16% disseram textos, poesias, músicas, palestras e filmes,
feira de ciências, oficina de artes.
Os resultados mostram que a forma que os professores costumam trabalhar a EA, atingiram
índices quase iguais.
A principal função do trabalho com a educação ambiental é contribuir para formação de
cidadãos conscientes, prontos para atuarem de modo comprometido em suas realidades
socioambientais. Para isso, é necessário que a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com
formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos que levem à
conscientização sobre a importância do Meio Ambiente (BRASIL, 1997).

Gráfico 01 – Quais as temáticas q/ você aborda na EA. Fonte: Autor, 2013

A escola pretende realizar ou realiza algum


projeto voltado á EA
Não
17%

Sim
83%

Quando perguntados aos professores sobre se a escola pretende realizar ou realiza algum
projeto voltado a Educação Ambiental 83% afirmaram que a escola pretende realizar projetos
voltados para Educação Ambiental e 17% responderam que não.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1194


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Para MININI (2000), a Educação Ambiental deve propiciar às pessoas uma compreensão
crítica e global do ambiente. Esclarecer valores e desenvolver atitudes que lhes permitam adotar
uma posição consciente e participativa dos recursos naturais, para a melhoria da qualidade de vida e
a eliminação da pobreza extrema e do consumismo desenfreado. MININI (2000).

Gráfico 05 – A escola disponibiliza de material para trabalhar a temática EA. Quais?

A escola disponibiliza de materias para trabalhar a temática EA? Qu ais?

Não, Faz pesquisa pela Internet,


17%
33%
reciclar materiais de sucatas
Sim, Faz reciclagem e usa 17%
materiais de sucatas
Foha de ofício, cartolina, tintas
guache.
33%
Cartolina, faz pesquisa na
internet, recicla materiais

Ao serem entrevistados sobre o que a escola disponibiliza algum material para que os
professores possam trabalhar essa temática quais seriam esses materiais 33% citaram que não fazem
pesquisa pela internet e usam materiais reciclados de sucatas, 33% relataram que sim e fazem
reciclagem e usam materiais de sucatas, 17% afirmaram que sim utilizando folha de ofícios,
cartolinas, tintas guaches e 17% mencionaram que sim e usam cartolina, fazem pesquisa pela
internet e recicla matérias.
A Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificações de
conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao
meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus
biofísicos, estando também relacionada com a prática e a ética, que conduzem para a melhoria da
qualidade de vida (GUARIM, 2002).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1195


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Gráfico 06 – Você já desenvolveu ou desenvolve algum projeto de EA?

Você já desenvolveu ou desenvolve algum projeto de EA

Não
17%

Sim
83%

Quando perguntados aos professores se já desenvolveram ou desenvolvem alguma estratégia


(projeto) de Educação Ambiental 83% disseram que relataram que sim e 17% falaram que não.
Segundo Travassos (2001), educar é uma tarefa de dedicação e envolve criação de planos de
ação considerando conceitos, teorias, reflexões e o uso do bom senso, incluindo também o repensar
dos currículos escolares.

CONCLUSÃO

A abordagem das temáticas ensinadas pelo corpo docente da Escola Disney, requer uma
restruturação para melhorar o ensino aprendizagem quanto aos conteúdos de Educação nas 1º séries
iniciais.
Ao indagar os professores (as) através da pesquisa vemos que repassam os conteúdos de
maneira que não conduz com os conceitos de percepção e Educação Ambiental trabalhado por
diversos autores e carecendo a capacitação do corpo docente e a inserção da Educação Ambiental
no seu projeto político pedagógico.
Percebe-se que apesar do uso de recursos audiovisuais oficinas, palestras, filmes, etc, tais
recursos não estão mudando o comportamento do corpo discente.
A escola propõe em realizar um projeto voltado a Educação Ambiental, mas, no entanto não
discute no seu planejamento e com o corpo docente trabalha projetos de Educação Ambiental, mais
não desenvolveu a assimilação por parte da criança.
Finalizando podemos concluir que usam apenas como recursos a internet e outros alegaram
não possuir materiais disponíveis para as oficinas e práticas da Educação Ambiental para as
oficinas.
Diante do exposto sugerimos treinamento e capacitação para o corpo discente a inserção da
Educação Ambiental no Projeto Político Pedagógico da Escola Disney de maneira multidisciplinar.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1196


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

REFERÊNCIAS

ABÍLIO, J. F. P. Pedagogia de projetos e a temática ambiental no ensino de ciências: formação


continuada de professores do ensino fundamental de Cabedelo. In: ABÍLIO, J. F. P. &
GUERRA, R. A. T. A questão ambiental no ensino de ciências e a formação continuada de
professores do ensino fundamental. João Pessoa: UFPB/FUNAP, 2005. p. 47-62.

BECKER, Howard S. Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais. 4ª edição. São Paulo: Hucitec,
1999.p. 136

BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981: Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário oficial da
União, Brasília, 02 de setembro de 1981.

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais. Apresentação do tema Transversais e ética. Brasília.


V.8 p.61 1997.

DIAS, G. F. Educação Ambiental: principio e prática 5ª Ed. São Paulo Gaia 1998.

DIAS, G. F. Os quinze anos da educação ambiental no Brasil – um depoimento. In: BRASÌLIA.


Educação Ambiental. Em Aberto, Ano X, n° 49. Brasília: MEC, 1991. p. 2-15

GUARIM, V.LM. Barranco alto: uma experiência em educação ambiental. Guiabá: UFMT, 2002
134p.

GUATTARI, Félix. As três ecologias. 17 ed. Campinas: Papirus, 2006. 56 p.

JACOBI, Pedro. Educação ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico, complexo


e reflexivo. Educ.Pesqui., v. 31, n. 2, pp. 233-250, 2005.

Leff E. Epistemiologia Ambiental. São Paulo: Cortez; 2001.240p.

MANZINI, E.J. Consideração sobre a Elaboração de Roteiro para Entrevista semiestruturadas.

MINIMI, apud Dias, G.F.D. Educação Ambiental – Principio e Práticas. São Paulo, Gaia 2000.

Política Nacional de Educação Ambiental. Brasília: Senado Federal, 1999. Acessado em:
21/08/2017, Disponível em:
http://www.embasa.ba.gov.br/novo/Legislacao/Legislacoes/pdf/Lei9795_99.pdf.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1197


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

PRONEA – Programa Nacional de Educação Ambiental. Ministério do Meio Ambiente, Diretoria


de Educação Ambiental; Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental. –
3 ed – Brasília: MMA, DF, 2004.

PARASUNAMAN, B. L. Serviço de Marketing: competindo através da qualidade. SÃO PAULO:


Malteses, 1995.

PENTEADO. H.D. Meio Ambiente e Formação de Professores 6ed. São Paulo: Cortez. 2007.

RUSCHEINSKY, Aloísio. Educação Ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed,


2002. 184 p.

TRAVASSOS. E.G.A educação ambiental nos currículos: dificuldades e desafios. Revista de


Biologia e Ciências da Terra, V.1, p.1-11. 2001.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1198


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONCEITOS E PRÁTICAS EM ESCOLAS PÚBLICAS DE


PAU DOS FERROS, RN

Hortência Pessoa Rêgo GOMES


Graduanda do Curso de Geografia da UERN
hortenciapessoa@bol.com.br
Prof. Dr. Cícero Nilton Moreira da SILVA
Docente do Curso de Geografia da UERN
ciceronilton@yahoo.com.br

RESUMO
O presente trabalho relata uma pesquisa desenvolvida em escolas públicas estaduais de Pau dos
Ferros, RN com o objetivo de analisar as práticas desenvolvidas pelos professores, no que se refere
à Educação Ambiental, a concepção de Educação Ambiental dos educadores e os referenciais
utilizados para essas ações. Para isso, buscamos os principais autores que abordam o tema como
Reigota (1994, 2008, 2011) Genebaldo Dias (1992) e Mauro Guimarães (1995, 2000, 2011, 2013),
principalmente na definição do conceito de Educação Ambiental e os referenciais que norteiam a
Educação Ambiental no Brasil. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: entrevista;
questionários semiestruturados; visitação; pesquisa bibliográfica. O crescimento e a difusão da EA
no contexto escolar são, ainda, incipientes. Muitas dificuldades e desafios no desenvolvimento de
ações de EA são relatados por professores e equipe pedagógica das escolas pesquisadas. A maioria
destes está consciente da importância de trabalhar as questões socioambientais no ambiente escolar.
No entanto, apresentam alguns obstáculos para efetivar ações sobre a temática. Entre elas: a própria
falta de formação específica na área; a ausência de infraestrutura como espaço físico, materiais
didáticos adequados e a falta de participação da comunidade escolar como um todo (além de
professores e alunos), também são apresentadas como desafios. Os referenciais teóricos
mencionados como orientadores no desenvolvimento das ações, como os PCN e os livros didáticos
dos componentes curriculares servem como norteadores para estas ações. Por último, tecemos
considerações acerca do trabalho desenvolvido e do tema abordado.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Escola. Crítica.
ABSTRACT
This paper reports a research developed in public schools of Pau dos Ferros,RN in order to analyze
the practices developed by teachers in regard to environmental education, the concept of
environmental education of educators and references used for these actions. For this, we seek the
main authors approached the subject as Reigota (1994, 2008, 2011) Genebaldo Dias (1992) and
Mauro Guimarães (1995, 2000, 2011, 2013), especially in the definition of Environmental
Education and the references that guide environmental education in Brazil. The instruments used for
data collection were: interviews; semi-structured questionnaires; visitation; bibliographic research.
The growth and spread of EA in the school context are still incipient. Many difficulties and
challenges in the development of EA actions are reported by teachers and teaching staff of the
schools surveyed. Most of these are aware of the importance of working social and environmental
issues at school. However, present some obstacles to carry out actions on the subject. Among them:
the very lack of specific training in the area; the lack of infrastructure such as physical space,
adequate learning materials and the lack of participation of the school community as a whole (as
well as teachers and students), are also presented as challenges. The theoretical framework
mentioned as advisors in the development of actions, such as the PCN and the textbooks of

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1199


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

curriculum components serve as guides for these last ações. Lastly, weave considerations about the
work and the topic discussed.
Keywords: Environmental Education. School. Critical

INTRODUÇÃO

Os problemas ambientais vêm aumentando gradativamente desde a ascensão da Revolução


Industrial. Com o desenvolvimento das tecnologias de exploração a partir deste período, a
interferência dos seres humanos na natureza vem intensificando a exploração dos recursos naturais.
A intervenção e exploração desordenadas nos ambientes naturais podem colocar em risco a
sobrevivência humana e das demais espécies do Planeta. Devido a esse aumento da exploração de
recursos, a preocupação com os problemas decorrentes desta exploração também vem se destacando
nas últimas décadas devido, principalmente, ao crescimento de movimentos ambientalistas. Estes
movimentos propõem o uso racional dos recursos naturais e/ou energéticos e a Educação Ambiental
das populações como umas das formas de minimizar os impactos decorrentes das ações sobre o
meio ambiente.
Assim, a Educação Ambiental (EA) vem crescendo e assumindo um papel muito importante
na busca da conscientização e sensibilização dos indivíduos sobre as questões ambientais. Essa
demanda surge em vários setores da sociedade, sejam empresas, instituições públicas, privadas,
governamentais e não-governamentais, educação formal e não formal.
Na educação formal, a EA é um tema muito complexo e que merece muito aprofundamento
para sua abordagem, também por ser uma área com estudos ainda em desenvolvimento. Além disso,
com tantos problemas ambientais percebidos no nosso planeta, são necessárias a conscientização e a
sensibilização dos indivíduos, principalmente dos jovens e crianças nas escolas. Para isso, é preciso
desenvolver a EA permanentemente, posto que não é algo que se alcance através de decretos ou leis
apenas, mas sim com ações educacionais de fato.
O presente trabalho relata uma pesquisa desenvolvida em escolas públicas estaduais de Pau
dos Ferros, RN com o objetivo de analisar as práticas desenvolvidas pelos professores, no que se
refere à Educação Ambiental, a concepção de Educação Ambiental dos educadores e os referenciais
teóricos e metodológicos utilizados para essas ações. Os instrumentos utilizados para a coleta de
dados foram: entrevista; questionários semiestruturados; visitação; pesquisa bibliográfica

A EA E A BASE LEGAL E CONCEITUAL

Sabemos que, apesar dos avanços na área de EA, como uma legislação que garante o acesso
à mesma, sua implantação está longe de ser efetivada. Essa legislação compromete os sistemas de
ensino a oferecê-la em instituições de ensino formal. Em tese, esse direito estaria assegurado.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1200


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Entretanto, não há garantias de sua efetivação, pois essa legislação não prevê penalidade para os
sistemas de ensino que não a cumprirem. Apenas o artigo 12 da Lei n° 9.795/99 prevê penalidade
para os estabelecimentos de ensino, públicos e particulares, sob a pena de não serem autorizados a
funcionar. Ainda é necessário que os educadores conheçam suas diretrizes e referenciais, através de
cursos específicos para a área ou em disciplinas que compõem a grade curricular de cursos
superiores e de pós-graduação.
Devido a esse entendimento a respeito da EA como tema transversal, os cursos de formação
de professores não são obrigados a incluir em suas grades curriculares, um componente curricular
de EA. No Artigo 10 da PNEA, diz-se que é facultada a criação de disciplina específica para ―os
cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da Educação
ambiental, quando se fizer necessário‖ e no Artigo 11, que ―a dimensão ambiental deve constar dos
currículos de formação de professores, em todos os níveis e todas as disciplinas‖. Um exemplo
dessa realidade é que as matrizes curriculares dos cursos de licenciaturas devem ofertar a disciplina
de Educação Ambiental como optativa, na formação dos futuros professores. Não deve ser
componente curricular obrigatório, apenas optativa. Ou seja, o futuro professor deve optar se quer
ou não cursar este componente curricular. Assim, faz-se necessário a formação continuada dos
educadores, para que conheçam a PNEA e possam efetivá-la nas salas de aula.
Dada a importância da educação no processo de humanização do indivíduo e de
transformação social, poderíamos associar o desenvolvimento da sociedade à evolução da educação.
Desta forma, surge a necessidade de sistematizá-la e organizá-la em função de determinados fins e
objetivos. A EA como parte do processo de educação, não pode ser pensada como sendo apolítica, e
nem tampouco a escola como um espaço neutro fora das divergências sociais.
Ao mesmo tempo que a EA tem a chance de estar presente em todas as disciplinas, de modo
interdisciplinar, por não ser obrigatoriamente uma disciplina do currículo, pode acabar sendo
deixada em segundo plano, em relação aos conteúdos disciplinares. Ou mesmo sendo tratada apenas
como uma forma de abordar os problemas ambientais de forma ingênua, isto é, sem levar em
consideração as questões sociais e econômicas relacionadas a estes. As problemáticas ambientais
são, antes de tudo, questões socioeconômicas, socioculturais e sociopolíticas que envolvem tomadas
de postura ideológica frente aos atores, interesses e concepções de mundo diferentes e que,
dependendo da abordagem adotada pelo professor, podem assumir direções conservadoras ou
emancipatórias.
Sem negar a existência da dimensão teórica da educação e da questão ambiental,
entendemos que a teoria é, e deve ser articulada à política e a critérios éticos na elaboração e
implementação de um currículo pedagógico. Entendemos que uma EA de ênfase somente teórica
reduz a complexidade do real, e o indivíduo se limita a conhecer os problemas existentes. Sendo

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1201


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

que as dimensões de conscientização e sensibilização não podem prescindir de uma atitude crítica,
participativa e comprometida com a ampliação da cidadania frente a este exercício de tomada de
postura político-ideológica.
Conhecer a realidade que nos cerca, entender a dimensão do que acontece e possuir os
conhecimentos básicos que permitam encaminhar as discussões em sala de aula torna-se
imprescindível, para a construção de práticas docentes que auxiliem na formação de sujeitos críticos
e desenvolvam competências e habilidades para a compreensão das problemáticas ambientais.
Segundo os PCN, a principal função da EA dentro da escola ―é constribuir para a formação
de cidadãos conscientes, aptos a decidirem e a atuarem na realidade socioambiental de modo
comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global‖
(BRASIL,1998, p. 21). Assim, o grande desafio para a educação é trabalhar atitudes, formação de
valores, habilidades e competências, não apenas com informações e conceitos. Tendo em vista que
comportamentos ambientalmente saudáveis são aprendidos na prática, no dia-a a dia da escola.
Nesta tarefa de formar cidadãos conscientes, outros componentes vêm se juntar à escola: a
sociedade, a família e a mídia. A sociedade, responsável pelo processo como um todo, os padrões
de comportamento apresentados pela família e as informações veiculadas pela mídia exercem
especial influência sobre as crianças e adolescentes em formação. Não apenas no que se refere à
área ambiental, mas em muitas áreas do conhecimento. Esse conhecimento, acumulado no dia-a-dia,
deverá ser trazido e incluído nos trabalhos da escola, para que se estabeleçam as relações entre esses
dois universos no reconhecimento dos valores que se expressam por meio de comportamentos,
técnicas, manifestações artísticas e culturais.
Os meios de comunicação de massa constituem grande fonte de informações que a maioria
dos educandos e das famílias possuem sobre o meio ambiente. Embora, muitas vezes, abordem os
assuntos relacionados ao meio ambiente de forma superficial, apenas apresentado o problema ou
equivocada, apresentando-os apenas como uso inadequado dos recursos naturais, a mídia vem
tratando de questões ambientais. Contrapondo o discurso dos mesmos meios de comunicação, que
incentivam o consumo cada vez maior de produtos e serviços. Assim, é importante que se trabalhe o
desenvolvimento de uma postura crítica diante da realidade, bem como não olvidando as
informações veiculados pela mídia, contrastando-as com os valores e atitudes trazidos de casa.
Para isso, o professor precisa conhecer o assunto, estar em permanente atualização; buscar
junto com seus alunos mais informações em publicações ou com especialistas, e fazê-lo junto com
os alunos representa excelente ocasião de, simultaneamente e pela prática, desenvolver
procedimentos elementares de pesquisa e sistematização da informação, medidas, considerações
quantitativas, apresentação e discussão de resultados. Visto que, juntos com os alunos, irão fazer o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1202


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

levantamento dos problemas, suas causas, efeitos e possíveis formas de resolução ou amenização
dos mesmos (BRASIL, 1998).
Assim, ao abordar as temáticas ambientais nas escolas devem ser levados em consideração
alguns aspectos. Um deles é considerar o meio ambiente em sua totalidade. Ou seja, entender que
todos os seres vivos (matéria orgânica) e matéria inorgânica estão relacionados entre si, formando
um todo, que dependem uns dos outros e interagem entre si. Neste aspecto, uma das principais
ênfases deve ser o entendimento do ser humano como parte integrante desse meio, não como um ser
à parte, superior às demais espécies. A construção de um processo permanente de EA pode
contribuir para a convivência mais racional entre os seres humanos e as demais espécies e a
exploração mais racional dos recursos naturais. Desse modo, aplicar um enfoque interdisciplinar
para a EA permite uma visão holística dos problemas e a busca por reflexões sobre estratégias
alternativas que reduzam os impactos das ações humanas sobre o ambiente.
Examinar as principais questões ambientais do ponto de vista local, regional, nacional e
internacional também ganha relevo no que se refere à abordagem socioambiental para a EA. Ao
tratar dessas temáticas, com os problemas mais próximos da comunidade escolar, localizados no
entorno da escola ou residências dos alunos (isso não significa que os problemas mais distantes, que
não afetem diretamente a comunidade escolar), não possam ser tratados primeiro, principalmente,
quando são noticiados pela mídia e causam comoção social. Assim, pode-se fazer o caminho
inverso, partindo do global ou nacional, para o local.
Concentrar-se nas questões ambientais atuais e, a partir destas, levar em conta uma
perspectiva histórica, demonstrando que os problemas ambientais têm um tempo e um contexto
histórico de surgimento e desenvolvimento. Insistir no valor e na necessidade da cooperação local,
nacional e internacional para prevenir os problemas ambientais, compreendendo que as atitudes
individuais influenciam diretamente na solução dos problemas é um caminho possível. No entanto,
ações isoladas de indivíduos, pequenos grupos ou comunidades não resolvem todos os problemas
relacionados ao meio ambiente. Mas, com atitudes individuais e cooperação das comunidades local,
nacional e internacional pode-se haver contribuições plausíveis, aos poucos ou gradativamente, para
isto.
Debater sobre os problemas ambientais nos planos de desenvolvimento dos países e
perspectivas de crescimento econômico, bem como promover a participação dos alunos na
organização de suas experiências local/regional, podem acabar contribuindo para que a
aprendizagem seja significativa e contribuir para o desenvolvimento de valores e atitudes,
competências e habilidades no pensamento/discussão sobre os problemas ambientais.
Estabelecer uma relação entre a sensibilização ao meio ambiente, a aquisição de
conhecimentos, atitudes para resolver problemas e clarificação de valores, procurando, sensibilizar

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1203


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

os mais jovens na sua própria comunidade, que multiplicarão esses conhecimentos para os demais
membros da comunidade torna-se, portanto, um viés salutar, valorizado no processo de ensino-
aprendizagem coletivo.
Ajudar os alunos a descobrirem os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais,
ressaltando a complexidade dos problemas ambientais e a necessidade de desenvolver o sentido
crítico e a refletirem a respeito das atitudes necessárias para resolvê-los, podem representar espaços
propícios, com a finalidade educativa, ressaltando, principalmente, as atividades práticas e as
experiências grupais e/ou atitudes pessoais frente ao desafio da problemática de EA.
Para tratar a EA numa abordagem mais crítica, é necessário o conhecimento dos
pressupostos teóricos metodológicos que embasam a mesma no Brasil e o mundo. Como
mencionamos anteriormente, a formação inicial dos professores pode não oferecer a possibilidade
de conhecimento desses pressupostos. Assim, para que a prática docente atenda às necessidades
educativas da comunidade e se adeque às mudanças sociais, é necessária uma formação
complementar. Esse processo permanente de construção do conhecimento e desenvolvimento
profissional, transcende os cursos de formação inicial e de qualificação.

EA E A FORMAÇÃO DOCENTE PERMANENTE

Essa proposta de formação continuada deve levar em consideração a EA ―como um processo


educativo que dialoga com valores éticos e regras políticas de convívio social, cuja compreensão
permeia as relações de causas e efeitos dos elementos socioambientais numa determinada época,
para garantir o equilíbrio vital dos seres vivos‖ (MENDONÇA, 2007, p.46).
Assim, a formação continuada, atrelada a este conceito, deve considerar a inserção da EA
com sua condição de transversalidade, contemplando o ideal de uma nova organização de
conhecimentos por meio de práticas interdisciplinares; abordar o conceito crítico de EA, para não
correr o risco de cair num leitura escamoteada e/ou pseudo-neutra, despolitizada; a mudança de
valores e atitudes nos indivíduos, preconizados pela EA não é suficiente para gerar mudanças
estruturais na sociedade, de um modo geral.
A mudança de postura político-ideológica individual ou de grupo, assume papel
preponderante como principal vetor para a mudança global; pode vir a representar, a princípio, uma
visão simplista do trabalho com as relações sociais e, por conseguinte, não sendo suficiente para
mudar o padrão de desenvolvimento; portanto, o processo de EA deve procurar incidir, ao mesmo
tempo, no individual e no coletivo. E, no caso da escola, isto pressupõe também um aprendizado
institucional. Dessa forma, os elementos conceituais que orientam a EA poderiam estar no ―núcleo
duro‖ da institucionalidade da educação, como nos PPP e na própria gestão escolar. Ao trabalhar

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1204


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

com movimentos individuais e coletivos, ao mesmo tempo, a EA torna-se um fenômeno político


(MENDONÇA, 2007).

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E AS COMUNIDADES ESCOLARES PESQUISADAS

A ideia que temos, considerando o apanhado em debate neste estudo, é que os professores, ao
abordarem as temáticas ambientais, não a realizam de maneira crítica, resumindo-se em realizar
atividades esporádicas e superficiais, muitas vezes restritas às disciplinas de Ciências Naturais e
Geografia no Ensino Fundamental e Geografia e Biologia, no Ensino Médio.
As principais dificuldades citadas pelos professores em relação ao desenvolvimento das
ações de EA, nas escolas pesquisadas, dizem respeito à mobilização da comunidade escolar, às
questões orçamentárias e estruturais, capacitação e compreensão do tema, visto que a maioria deles
não participou de nenhum curso de formação inicial ou continuada de EA. A participação em
projetos interdisciplinares é, na maioria das vezes, proposta pela equipe pedagógica das escolas.
Não surgem da necessidade ou sugestão dos alunos e professores, o que dificulta o engajamento da
comunidade escolar nestes projetos. Quando esses projetos surgem da necessidade de alunos e
professores, podem tornar as temáticas significativas e a busca por reflexões para os mesmos, como
um desafio não somente individual, mas também de caráter coletivo.
Para abordar as temáticas ambientais, percebemos que o livro didático (LD) ainda tem grande
influência sobre os conteúdos abordados pelos docentes, nos tipos de aulas que acontecem nas
escolas. Principal fonte de pesquisa de professores e alunos, o LD é utilizado como principal
referencial teórico e de abordagem metodológica para tratar das temáticas ambientais. Muitas vezes
retirando a autonomia dos professores sobre as temáticas e formas de abordagem dos conteúdos
curriculares, não apenas em relação à EA.
Também foram citados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que se constituem de uma
série de documentos publicados em 1997, para servir como referência de renovação e reelaborarão
da proposta curricular, em todo o território nacional, para orientar os professores diretamente no que
se refere aos objetivos, conteúdos e práticas em sala de aula.

EA E PARTICIPAÇÃO DAS COMUNIDADES NAS AÇÕES

A participação da comunidade escolar em projetos interdisciplinares, principalmente se


advirem de demandas da própria comunidade escolar, pode incentivar a uma maior participação da
mesma. Durante nossas visitas às comunidades escolares, pudemos presenciar algumas ações
desenvolvidas pela Escola B, cuja temática era a falta de água na Região Nordeste, principalmente,
na cidade de Pau dos Ferros, que passa por uma crise hídrica. Essas ações eram componentes de um
projeto interdisciplinar, que buscava a economia de água e reaproveitamento de materiais a esta

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1205


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

relacionados. A culminância do projeto era uma exposição com cartazes sobre a temática da água,
ainda favorecendo a confecção de roupas e objetos com materiais recicláveis. Aparentemente, havia
uma mobilização da comunidade escolar para o desenvolvimento do projeto. Visto que, neste dia,
todos os professores e alunos iriam participar da exposição. Ressaltamos que, quando de nossa
chegada na escola, o projeto já estava em andamento há duas semanas. Então, não temos como
mensurar a participação efetiva da comunidade escolar nesta ação. Assim como, também, não era
objetivo de nosso trabalho.
O desenvolvimento de atividades que possibilitem a participação da comunidade escolar
oportuniza a construção da identidade dos alunos como cidadãos e perceberem-se como membros
de uma comunidade e portanto, responsáveis pelo bem-estar desta.
Um outro aspecto que deve ser considerado é a saída do espaço escolar. A percepção dos
problemas socioambientais, no entorno da escola, permite uma visão mais apurada dos problemas
da comunidade e a avaliação crítica dos mesmos pelos alunos e professores pode ajudar na
compreensão dos fatores que os envolvem.
A visita a espaços que permitem a abordagem de aspectos ambientais relevantes para a
compreensão do mundo natural, e também dos problemas decorrentes da ação humana é um modo
de despertar a atenção para a temática. Para que se possa compreender a intensidade dos problemas
e vir a desenvolver valores e atitudes de respeito ao meio ambiente, é necessário conhecer as
qualidades desse ambiente, dessa natureza que se quer defender pois, geralmente, as pessoas tendem
a proteger aquilo que amam e valorizam. O que mais mobiliza os indivíduos a respeitar e conservar
o meio ambiente é o conhecimento das características, das qualidades da natureza; é perceber o
quanto ela é importante e entender-se parte dela, como os demais seres habitantes da Terra
(BRASIL, 1998). Assim, é ―também desejável que a escola possibilite a saída de seus alunos para
passeios e visitas a locais de interesse dos trabalhos em Educação Ambiental‖ (BRASIL, 1998, p.
53).
Assim, a falta de espaço físico na escola não impede a abordagem da EA nas escolas. A
estrutura física e a disponibilidade de equipamentos e recursos financeiros podem vir a representar
dificuldades também, mas não impedem o desenvolvimento de ações de EA.
Visita a parques, lagoas, aterros sanitários, lixões, sítios, praças, aquários e outros locais que
fiquem próximos à escola e possam ser visitados a pé, podem ser excelentes oportunidades para a
compreensão dos problemas ambientais e sociais. Muitas vezes, essas escolas ficam próximas a ruas
sem saneamento básico, com esgotos a céu aberto, lixo nas ruas, entre outros problemas ambientais
ou próximas a áreas de preservação como parques, lagoas e áreas de mangue.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1206


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Apesar de, aparentemente, desconhecerem os referenciais que norteiam a EA no Brasil e


suas abordagens teóricas e metodológicas, os educadores, de um modo geral, se esforçam para
efetivá-la no cotidiano das escolas pesquisadas.
Ainda que as ações desenvolvidas busquem uma introdução no currículo escolar dos
preceitos referentes ao tema, podemos perceber que as escolas ainda não praticam a EA na sua
essência, apresentada nos referenciais que a orientam no Brasil. A legislação pertinente prevê sua
implantação nas instituições de ensino, mas não há uma dotação orçamentária para formação dos
educadores ou implantação do Programa Nacional de Educação Ambiental. Os cursos de formação
de professores, em geral, não oferecem em suas grades curriculares uma disciplina específica sobre
o tema. Deve constar apenas como disciplina optativa. Somente os cursos de pós-graduação
oferecem cursos específicos na área. Mas, não quer dizer que alguns educadores esforçados não
estejam fazendo sua parte. Não podemos negar que a EA deu grandes saltos. Mas, é necessário
efetivar-se a PNEA, para garantir a formação dos educadores para atuarem nessa área, vencendo a
fragmentação dos conhecimentos, abordando os conhecimentos de forma interdisciplinar na busca
de um ambiente ecologicamente mais sustentável e socialmente mais justo.
Trabalhar como um tema, relativamente inovador e que não possui ainda estudos
consolidados, o estudo desta problemática torna-se bastante desafiador e, ao mesmo tempo,
prazeroso.
Devido a essa característica, a primeira dificuldade é definir qual a abordagem iremos
escolher como referência para os nossos estudos. Esta dificuldade é perceptível à medida que os
estudos avançam. Tivemos que modificar o texto inicial da pesquisa por diversas vezes, devido à
mudança de concepção do pesquisador sobre o papel da EA escolar.
Agora, imaginemos a dificuldade dos professores da educação básica para desenvolver uma
abordagem que atenda aos referenciais teóricos e metodológicos, bem como presentes na legislação
brasileira pertinente. Sendo que estes, em sua maioria, segundo a aplicação de nossa pesquisa de
campo, não participaram de cursos de formação inicial ou continuada sobre a temática.
Assim, muitas dificuldades e desafios no desenvolvimento de ações de EA são relatados por
professores e equipe pedagógica das escolas pesquisadas. A maioria destes está consciente da
importância de trabalhar as questões socioambientais no ambiente escolar.
No entanto, apresentam alguns obstáculos para efetivar ações sobre a temática. Entre elas: a
própria falta de formação específica na área; a ausência de infraestrutura como espaço físico,
materiais didáticos adequados e a falta de participação da comunidade escolar como um todo (além
de professores e alunos), também são apresentadas como desafios.
Os referenciais teóricos mencionados como orientadores no desenvolvimento das ações,
como os PCN e os livros didáticos dos componentes curriculares devem servir como norteadores

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1207


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

para estas ações. Mas, não devem ser as únicas fontes de pesquisa sobre a temática. Para uma visão
mais abrangente da problemática da importância da EA na escola e qual o viés de abordagem a ser
adotado, é necessário uma leitura mais profunda e crítica da literatura disponível sobre o tema.
Quanto às ações desenvolvidas nas escolas pesquisadas, percebemos que estas são
desenvolvidas de forma fragmentada e sem articulação entre as diferentes áreas do conhecimento.
Mesmo em projetos coletivos, cada professor trabalha os aspectos relacionados à sua área de
conhecimento. Apesar da orientação dos referenciais para uma abordagem interdisciplinar na EA.
Estes apresentam os problemas ambientais e os abordam de forma superficial, sem questionar as
causas destes processos e fenômenos adjacentes.
Também, a EA é apresentada como meio de resolução dos problemas ambientais e não
como um meio de conscientização destes, entorno de uma formação cidadã. Os problemas sociais
também costumam ser excluídos da abordagem ambiental. Não há uma relação entre a problemática
ambiental e social, como se estes temas estivessem separados e um não interferisse no outro. Ou
seja, a perspectiva socioambiental a respeito da realidade é olvidada.
No entanto, quando sabemos que ambas dimensões configuram problemática latente para a
relação natureza e sociedade e, entre esta e seus sujeitos coletivos que, (re)produzem as condições
de vida no modo capitalista de produção e consumo desenfreado, degradante e dissimuladamente
explorador, tanto dos recursos naturais como destrutivo dos modos de vida, calcados no cotidiano
protagonista de comunidades inteiras.
Apesar das dificuldades relatadas, é evidente que estas ações são apenas o começo do
trabalho com as ações de EA. Como dissemos anteriormente, é uma área do conhecimento ainda em
desenvolvimento. Na qual, os estudiosos da área estão desenvolvendo seus trabalhos e as pesquisas
estão ainda em consolidação.
Alguns exemplos dessa busca por consolidação associa-se ao que publicações disponíveis
em revistas eletrônicas e anais de eventos apresentam, isto é, a EA como uma forma de ―salvação
para o planeta‖ e a conscientização das crianças como forma de ―salvar as futuras gerações‖, por
exemplo.
Essa visão, romântico-idealizada de EA também não atende aos princípios propostos nos
referenciais estudados e mencionados neste trabalho. Isso também fica evidente na legislação sobre
a temática. As primeiras leis que orientam estas ações são recentes, têm menos de vinte e cinco
anos, a exemplo da LDB 9.394/96 e da PNEA 9.795/99. Somente a partir da década de 1990 é que
começaram a ser instituídas.
No entanto, essa falta de consolidação não deve ser usada como ―desculpa‖ para a ausência
de uma compreensão mais profunda do papel da EA escolar. Sua função é proporcionar a
compreensão dos problemas ambientais, analisando suas causas, efeitos e impactos sobre o meio

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1208


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ambiente e a sociedade, fazendo uma relação entre estes e o modo de produção capitalista, na busca
de desenvolver competências e habilidades para que os indivíduos, conscientes de seu papel
cidadão, possam propor meios de amenizá-los, quando for o caso – principalmente, se baseados em
suas realidades de vida cotidiana.

CONSIDERAÇÕES

Buscamos, com este trabalho, fazer um levantamento das concepções e práticas


desesenvolvidas em escolas estaduais na cidade de Pau dos Ferros sobre temáticas de Educação
Ambiental. Por ser uma área que carece de um trabalho interdisciplinar, requer a adesão da
comunidade escolar e o desenvolvimento de novas habilidades e saberes para lidar com essas novas
demandas, tornando a aprendizagem permanente parte importante da vida dos professores. Essa
abordagem interdisciplinar, possibilita aos professores buscarem formas de complementação de
seus saberes, analisando os pontos em comum entre as disciplinas e formas de transcendê-las.
Em razão disso, propomos a formação continuada dos professores, através da participação
em cursos presenciais no próprio ambiente escolar ou fora dele. Como também, em cursos na
modalidade EaD, pois permitem uma maior flexibilização dos horários de estudos. Além disso, o
uso de novas tecnologias de comunicação e informação na formação dos professores permite
maiores possibilidades de participação em cursos que não seriam possíveis em cursos presenciais.
A formação dos educadores para trabalharem com a aprendizagem através da metodologia
de projetos também se apresenta como caminho para uma visão holística dos problemas e o
envolvimento da comunidade escolar, na medida em que todos são convidados a participar do
planejamento e desenvolvimento destes.
Assim, para o desenvolvimento de ações de EA que possibilitem a formação de indivíduos
críticos e atuantes na sociedade, conscientes das causas, efeitos e impactos socioambientiais,
devemos levar em consideração os seguintes aspectos: formação continuada de professores sobre a
temática; abordagem interdisciplinar; aprendizagem através da metodologia de projetos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n° 9795/99. Disponível em: <http://www.planalto.g ov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm>.


Acesso em: 22 de set. 2016.

______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 22 de set. 2016.

_______. Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999. In PRONEA, Programa Nacional de Educação


Ambiental. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htmAcesso em: 27

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1209


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

de set. 2016.

_______. Ministério do Meio Ambiente. Programa Nacional de Educação Ambiental - PRONEA.


Disponível em: http://www.mma.gov.br/images/arquivo/80221/pronea_4edicao_web-1.pdf
Acesso em: 20 de ago. 2016.

________. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental.


Temas Transversais: meio ambiente. Brasília: MEC; SEF, 1998.

DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 1992.

GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus, 1995.

___________. Educação ambiental: no consenso um embate? Campinas: Papirus, 2000.

___________. A formação de educadores ambientais. 8. Ed. Campinas: Papirus, 2012.

___________. (Org.). Caminhos da Educação Ambiental: da forma à ação. 5. ed. Campinas:


Papirus, 2013.

MENDONÇA, P. R. Políticas de formação continuada de professores e professoras em educação


ambiental no Minist rio da Educação. In: Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em
educação ambiental na escola. Brasília: MMA, Departamento de Educação Ambiental, 2007.

REIGOTA, M. O que educação ambiental. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

___________. A floresta e a escola: por uma educação ambiental pós-moderna. 4. Ed. São Paulo:
Cortez Editora, 2011.

REIGOTA, M. PRADO, B. H. (Orgs.). Educação Ambiental: utopia e práxis. São Paulo: Cortez,
2008.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1210


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

VAMOS CUIDAR DA SALA DE AULA? ATIVIDADES PSICOPEDAGÓGICAS


APLICADAS NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Isabelly Santana de MEDEIROS


Graduanda em Psicopedagogia UFPB
isabellysantanamedeiros@gmail.com
Luana Vanessa Soares FERNANDES
Graduada em Psicopedagogia UFPB
psicopedagogalua@hotmail.com
Pollyana Verissimo de ARAÚJO
Graduada em Psicopedagogia UFPB
polly-14@hotmail.com
Viviany Silva Araújo PESSOA
Professora Doutora do curso de Psicopedagogia da UFPB
viviany.pessoa@gmail.com

RESUMO
A sala de aula exerce um importante papel na formação do sujeito, já que é via para o crescimento
cognitivo, social e afetivo. Tal importância coloca esse tipo de espaço em destaque e mostra como a
relação pessoa-ambiente pode interferir na formação do sujeito. Defende-se também a importância
deste espaço por favorecer o aprendizado e prática de princípios, a exemplo do cuidado com os
ambientes, sejam naturais e construídos. Por isso, é importante considerar as características do
cuidado que os usuários têm com a sala de aula, discutindo sobre noções de conscientização e de
responsabilidade. Sinaliza-se também a necessidade de compreensão do conceito de cuidado
ambiental como ferramenta fundamental a ser aplicada nessa análise. Dessa forma, o presente
estudo buscou como objetivo geral promover princípios básicos de cuidado com o ambiente da sala
de aula, a partir de um instrumental psicopedagógico. Para tanto, foram realizadas atividades de
intervenção que contou com a participação de 25 crianças do 1º ano do ensino fundamental, de uma
escola pública de uma capital nordestina. A intervenção foi realizada através de atividades de
dinâmicas, vídeos, jogos, brincadeiras e produções artísticas contextualizadas com a temática em
questão, a partir de um viés psicopedagógico. Com base nessas atividades, foi identificado no
decorrer do processo uma maior sensibilização e ligação com o cuidado com a sala de aula. Diante
disso, foi possível notar um melhoramento do conhecimento e interesse sobre a temática,
proporcionando um processo de conhecimento mais contextualizado, como também um processo de
sensibilização e de apego pela temática do cuidado com a sala de aula, elementos fundamentais para
a promoção de atitudes, valores e comportamentos pró-ambientais aplicados para outros espaços.
Palavras-chave: Cuidado ambiental. Sala de aula. Psicopedagogia.
ABSTRACT
The classroom has an important role in the individual‘s formation, since it is a place for cognitive,
social, and effective development. Such importance puts this space in the spotlight and shows how
the relation person-environment can effect a person‘s formation. It is also argued the importance of
this environment in relation to its facilitation of the learning process and as a place to practice
principles such as environmental care, regarding both natural and built environments. Therefore, it
is important to consider the characteristics of the care students show with the classroom, discussing
the level of awareness and responsibility. It is also highlighted the need for a comprehension of the

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1211


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

concept of environmental care as a fundamental tool to be applied in this analysis. Hence, the
present study aimed to promote basic principles of care for the classroom environment, based on
pedagogic instruments. For that, intervention activities were carried out counting with the
participation of 25 children in primary school of public school of a state capital in Northeast. The
intervention was based on dynamic activities, videos, plays, and artistic productions contextualised
with the theme, with a psychopedagogical approach. Based on these observations, it was possible to
identify an improvement in knowledge and interest about the theme, which allowed a more
contextualised improvement of knowledge, and a process of sensitization and attachment for caring
the classroom, which is fundamental to promote attitudes, values and pro-environmental behaviours
applied to other spaces.
Keywords: environmental care, classroom, psychopedagogy.

INTRODUÇÃO

A escola é um espaço de troca de conhecimentos, entre docentes e discentes, onde esse


processo envolve vários aspectos para que ocorra, como, a boa convivência estabelecida entre
professores e alunos, a flexibilidade diante de dificuldades encontradas, a adequação da
metodologia segundo as necessidades dos alunos, o ambiente como favorecedor de aprendizagens.
Contudo, de acordo com Silva (2010), se uma dessas dimensões for afetada, é possível que o ato do
aprender não aconteça satisfatoriamente.
Nesse sentido destacamos um estudo feito por Beltrame e Moura (2009), realizado através
de uma observação feita em vários espaços de uma escola, puderam observar que aqueles que
estavam com as condições físicas precárias influenciavam negativamente na aprendizagem e no
desenvolvimento pleno dos alunos. Sendo assim, a importância de se trabalhar o cuidado ambiental
no contexto escolar, como a sala de aula, é de grande relevância.
Cuidado é uma palavra bastante usada no senso comum. As pessoas falam sobre ter cuidado
com os filhos, com objetos pessoais, com plantas e animais. Por extensão, o termo cuidar também
tem sido empregado no contexto de atividades como educação ambiental, para se referir à postura
ética e prática que devemos adotar e manter em relação à natureza, ao ambiente, à espaçonave
Terra, em acepção bastante semelhante à de proteger, em seu sentido de proteção ambiental (BOFF,
1999; Ministério da Educação, 2005).
É possível perceber um momento favorável para a Educação Ambiental (EA). Onde por
meio dela pode-se atuar na transformação de valores que prejudicam o uso dos bens comuns da
humanidade, promovendo assim, ações conscientes e de cuidado. Deve-se incutir na criança,
principalmente em idade escolar, noções de sustentabilidade e que o cuidar hoje, gera bons frutos,
tanto no cuidado ambiental geral como em locais específicos, como a sala de aula.
Assim, a EA vem sendo valorizada como uma ação educativa que deve estar presente, de
forma transversal e interdisciplinar, articulando o conjunto de saberes, formação de atitudes e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1212


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

sensibilidades ambientais. Essas preocupações foram ratificadas pela Política Nacional de Educação
Ambiental, aprovada em 1999 e regulamentada em 2002, em que a EA é instituída como obrigatória
e considerada um componente urgente e essencial da educação fundamental. Através da educação
voltada para cuidado ambiental um novo sujeito pode ser desenvolvido, o sujeito ecológico, que
porta o ideário ecológico, compreendendo o mundo segundo uma ótima diferenciada
(CARVALHO, 2012). Para investigar e intervir em questões que relacionam pessoa-ambiente é
necessário conhecer ambas as partes. Para tanto busca-se respaldo conceitual e técnico na
Psicologia Ambiental por focar nos estudos da ação humana sobre o ambiente, bem como também o
efeito deste ambiente sobre o homem (ARAGONÉS; AMÉRIGO, 2000). Já a Psicopedagogia traz
uma contribuição a partir de conceitos sobre aprendizagem, técnicas de intervenção e análise que
enriquecem a promoção sobre as formas adequadas de conhecer (SANTOS, 2016; SILVA, 2010) e,
consequentemente, agir de forma pró-ambiental. Justifica-se, portanto, a importância da realização
do estudo, para que se construam dinâmicas no ambiente da sala de aula que favoreça a
conscientização sobre a importância do cuidado ambiental, o bem-estar social e, consequentemente,
aprendizagens significativas.
Diante do exposto, o presente estudo buscou como objetivo geral promover princípios básicos de
cuidado com o ambiente da sala de aula, a partir de um instrumental psicopedagógico. De modo específico,
buscou-se verificar a percepção do professor frente aos princípios básicos de cuidado com o ambiente da sala
de aula e comparar a qualidade de conhecimento que os estudantes apresentam antes de depois das
sessões de intervenção.

COMPORTAMENTO DE CUIDADO COM A SALA DE AULA

A escola é uma organização social inserida em um contexto cultural e territorial específico.


Ao mesmo tempo em que se insere na comunidade, é também parte dela. Trata-se de um ambiente
que depende de seus, e que repercute na vida destes, principalmente dos estudantes, definindo parte
do que poderão vir a ser no futuro. A esse respeito, Cavaliere (2002) comenta que o papel assumido
pelas escolas foi ampliado, arcando com responsabilidades e compromissos educacionais bem mais
amplos do que os tradicionalmente atribuídos. Cabe à escola também instruir os alunos no que diz
respeito a sua formação moral, papel este que outrora era cumprido pelos pais (TIBA, 2002).
O contexto escolar é comprovadamente uma peça-chave para a formação do ser humano
(ELALI, 2003). Esse ambiente possui a capacidade de interferir no desenvolvimento didático e
psicossocial dos alunos. A sala de aula, por sua vez, é um espaço de permanência diária dos alunos,
que possibilita a criação dos vínculos afetivos e do desenvolvimento biopsicossocial na vida das
pessoas.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1213


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

No estudo realizado por Beltrame e Moura (2009) no qual foram observados diferentes
espaços de uma escola, as autoras constataram que as precárias condições físicas das edificações
influenciavam negativamente o processo de aprendizagem e de formação plena dos seus estudantes.
Assim, é preciso considerar as características da relação que as pessoas que frequentam esse espaço
têm com os elementos ambientais, sejam esses constituintes de um ambiente físico ou ambiente
natural. Por conta disto, pesquisadores da psicologia ambiental têm mostrado interesse nas atitudes
e percepções das crianças em relação ao ambiente, especialmente por considerarem esse período
importante na formação de pensamentos e condutas que poderão se manter ao longo do ciclo da
vida (RAQUEL; GALLI; BEDIN, 2015).
Neste sentido, é possível entender que a formação dessa consciência pode ser produto de
valores éticos e morais de caráter universal, da valorização da autoestima, da formação do
autoconceito, assim como, do entendimento do conceito de cuidado com o ambiente, uma vez que
estes elementos estimulam os educandos a apresentarem atitudes de comportamentos pró-
ambientais (PASCARELLI FILHO, 2011). Por isso, faz-se necessário compreender o conceito de
cuidado ambiental como ferramenta fundamental a ser aplicada no contexto da sala de aula. A
propósito, as ações de cuidado ambiental podem ser definidas como ética e prática que devemos
adotar e manter em relação à natureza, ao ambiente, em seu sentido de proteção (BOFF, 1999;
BRASIL, 2005).
Para tanto, Pessoa (2008) adverte que a relação pessoa-ambiente apresenta um quadro com
consequências cada vez mais preocupante, devido a comportamentos humanos mal adaptados.
Comportamentos coerentes com uma relação pessoa-ambiente equilibrados precisam ser aprendidos
e apresentados pelas pessoas nos mais diferentes espaços de interação e precisam ser capazes de se
multiplicarem em outros comportamentos associados até que o planejamento e a execução de ações
pró-ambientais se tornem um padrão de conduta da pessoa diante do mundo. Para isso, faz-se
necessário aumentar a consciência e reforçar determinados aspectos psicológicos, a exemplo das
normas sociais (CORRAL-VERDUGO, 2001; MORENO; POL, 1999).

PSICOPEDAGOGIA NO CONTEXTO ESCOLAR

Compreendendo que a aprendizagem é envolvida por vários aspectos, como: a afetividade


no ato educativo; a metodologia empregada na escola; e as interações com o contexto escolar
(SANTOS, 2016), quando uma dessas interfaces é afetada a aprendizagem não se efetiva como
esperado (SILVA, 2010). Diante disso, faz-se necessário um olhar preciso e preocupado com as
questões que estão direta e indiretamente envolvidos com a aprendizagem no ambiente escolar.
O Psicopedagogo no contexto escolar é o profissional que vê a instituição a partir de uma
visão ampla, buscando compreender as situações específicas, assim tem mais chance de tomar

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1214


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

decisões assertivas quanto às problemáticas da escola (SANTOS, 2016). A esse respeito, entende-se
a importância da Psicopedagogia institucional na discussão sobre cuidado com a sala de aula, já que
o psicopedagogo trabalha com os processos de aprendizagem do sujeito, considerando a escola
como propiciadora de costumes e atitudes (ABIDOYE; ONWEAZU, 2010). Dessa forma, o mesmo
deverá ampliar seu olhar e estar atento na relação entre os atos de cuidado para com a escola e a
aprendizagem; intervindo junto à gestão, professores e alunos, sempre que for necessário.
Segundo Oliveira (2009) a proposta de intervenção psicopedagógica tem como objetivo
desenvolver ao máximo a capacidade de ensinar dos profissionais e a capacidade de aprender dos
alunos, ciente de que há um complexo contexto formado por aspectos estruturais e organizacionais
e as configurações relacionais intra e extrainstituições que estão intimamente ligadas. Sendo assim,
o psicopedagogo na escola pode ser o responsável pela ampliação das aprendizagens, onde além dos
conteúdos do currículo escolar, conhecimentos e saberes diversificados, por exemplo, o
comportamento pró-ambiental, também possa estar presente.

METODOLOGIA

Delineamento

O estudo tem caráter descritivo direcionado à intervenção. Para tanto, foi adotado uma
variável de interesse, a saber: cuidado ambiental. Os dados coletados da observação e a entrevista
realizada com a professora serviram de base para as ações de intervenção.
Participantes
Participaram do processo interventivo, uma professora polivalente e 25 crianças da rede
pública de ensino do Município de João Pessoa, do 1º ano do ensino fundamental.
Instrumentos e materiais.
Para o desenvolvimento da pesquisa, foram utilizados instrumentos e materiais necessários
para o processo interventivo, como: vídeos, recortes, gravuras, cartolinas, lápis, cola, caixa de
papelão e materiais recicláveis. As atividades interventivas de caráter psicopedagógico estão
descritas a seguir.
Procedimento
Inicialmente realizou-se o contato com a direção da escola para solicitar a permissão de
ingresso e da realização das intervenções, em que foi esclarecido que o nome da instituição, assim
como dos alunos, seria mantido em sigilo. Dada à permissão, foi agendado, junto à professora
responsável pela turma, o dia e o horário para realização das atividades propostas. Após isso, a
responsável pelo estudo agradeceu a escola pela autorização para que realizasse as ações
interventivas. A execução da ação ocorreu em três momentos-chave desenvolvidos, sendo eles: 1) a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1215


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

observação da turma a ser trabalhada; 2) a realização das intervenções realizadas com os alunos
com duração de 2 (dois) meses e; 3) a avaliação da eficácia da ação por meio da observação e
aplicação de uma entrevista com o professor responsável pela turma.

Resultados das intervenções realizadas com os alunos

As ações foram desenvolvidas num total de oito encontros, sendo estes uma vez na semana,
com média de duração de 60 minutos. As ações de intervenção ocorridas nos oitos encontros estão
descritas a seguir:

 1° Encontro – A planta da sala de aula


Objetivo: Desenvolver uma interação entre a turma e verificar o conhecimento das crianças
acerca do cuidado com a sua sala de aula.
Para a primeira atividade de intervenção foi feita uma explicação prévia de como seria a
execução da ação. Em seguida, foram entregues as crianças uma planta baixa da sala de aula
contendo elementos como: lixo no chão, cadeiras limpas e riscadas, lixeira, livros na cadeira e no
chão, janela, quadro, estante, porta e lápis; devidamente identificados por uma legenda. Assim
como, lápis nas cores amarela (para identificar o que eles julgavam ser positivo no desenho) e
vermelho (para identificar o que eles julgavam ser negativo no desenho).
A atividade foi subdividida em duas etapas, sendo a primeira etapa a solicitação de respostas
orais, referente ao que eles viam no desenho e a segunda etapa a solicitação de identificação por
meio de pinturas com lápis coloridos. Desenvolvimento da atividade (etapa 1): Foi explicado o que
significava cada símbolo e, em seguida, as crianças foram questionadas sobre os pontos positivos e
negativos presentes na planta baixa entregue anteriormente, por exemplo: ―Esses rabisco nas
cadeiras, são legais ou não são legais?‖, ―A lixeira é legal ou não é legal?‖.
Por meio dessa etapa foi visto que a maioria das crianças do grupo, ao serem indagadas
sobre o que seria bom ou não no desenho para manter a sala de aula organizada, responderam que
seria ruim: cadeiras riscadas e coisas no chão como livros, lápis e lixo. Por outro lado, responderam
como coisas positivas para a sala de aula: estante arrumada, cadeiras limpas, livros em cima da
mesa e ter janelas e portas.
Desenvolvimento da atividade (etapa 2): Foram entregues lápis de cores (amarelo e
vermelho), para que as crianças pudessem, a partir de seus próprios julgamentos, identificar
com um X vermelho o que ―não é legal‖ e com um círculo amarelo o que é ―legal‖ na
figura. Foi percebido que, por meio da possibilidade de identificação por cores, a maioria das
crianças conseguiram identificar com clareza os pontos positivos e negativos presentes na planta
baixa da sala de aula. No entanto, algumas crianças mesmo ao terem afirmados os pontos negativos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1216


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

de forma oral, quando deveriam marcar com a cor vermelha (referente a negativo) não
identificaram.
Discussão: Após a realização das duas etapas da atividade, pode-se perceber que a mesma
contribuiu para que as crianças passassem a enxergar o que era positivo ou não para o contexto da
sala de aula e para o seu processo de aprendizagem. Assim, foi oferecida uma oportunidade das
crianças se perceberem como responsáveis pelo estado da sala de aula que o ocupam.

 2° Encontro – Ações ―legais e não legais‖ para com a sala de aula


Objetivo: Discutir e refletir, junto às crianças, ações de cuidado ou descuido existentes na
sala de aula.
Desenvolvimento da atividade: Para a realização da atividade foram utilizadas imagens
contendo ações positivas (jogar lixo no lixo, apagar o quadro, organizar as cadeiras) ou negativas
(jogar lixo no chão, riscar paredes, riscar cadeiras) direcionadas à sala de aula. As imagens foram
sorteadas entre os grupos previamente organizados, que após escolher a imagem deveria discernir se
aquela era uma ação ―Legal‖ ou ―Não Legal‖ para a sala de aula, concluindo com a colagem da
imagem no lado do quadro referente à mesma.
Discussão: Diante disso, percebeu-se uma facilidade das crianças em discernir de forma
correta as ações ―legais‖ e as ―não legais‖. No entanto, diversas vezes remetem à culpa as outras
turmas ou aos outros colegas, raramente se colocaram responsáveis pelos atos de descuido com o
ambiente da sala de aula. Dessa forma, foi visto a contribuição dessa atividade na conscientização
das crianças.

 3° Encontro - Inspetores da Limpeza


Objetivo: Relembrar os alunos das ações positivas e negativas para com a sala de aula e
expandir o olhar das crianças para o contexto escolar como um todo.
Desenvolvimento da atividade: Foram utilizados coletes para as crianças, onde estava escrito
―Inspetores da Limpeza‖ e fichas onde as crianças deveriam marcar o que foi observado de positivo
e negativo na escola. A turma foi dividida em cinco grupos, cada um contendo cinco crianças, após
isso, realizou-se um passeio com um grupo por vez, coordenando as crianças para que observassem
e marcassem os pontos presentes na ficha entregue anteriormente. Por fim, houve uma discussão
com todos os grupos sobre o que foi observado de positivo e negativo para eles.
Discussão: No desenvolver da atividade, as crianças se mostraram empolgadas ao usarem o
colete e também pela autonomia e responsabilidade que lhes foi proporcionado. A maioria
conseguiu identificar com clareza os pontos positivos e negativos presentes na ficha de observação
e no contexto da escola. Na discussão em grupo, as crianças compartilharam o que foi visto na
escola, mas ainda não se colocaram como responsáveis pelas ações, apenas colocavam a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1217


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

responsabilidade dos atos, julgados como negativos por eles, em outros alunos. Dessa forma, a
atividade contribuiu para conscientizar as crianças que também é responsabilidade delas cuidar e
zelar pela escola. Portanto, a atividade ofereceu as crianças informações, ou seja, conhecimento,
com o intuito final de através do conhecimento prático, obter mudanças positivas no
comportamento de cuidado com o âmbito escolar.

 4º Encontro – Vídeo ―Um plano para salvar o planeta‖


Objetivo: Ampliar o conhecimento das crianças sobre a temática ―Cuidado Ambiental‖.
Desenvolvimento da atividade: Para a execução da atividade foram necessários data Show,
computador e papel. Assim, primeiramente foi passado o vídeo e em seguida foram realizadas
perguntas.
Discussão: Por meio dessa atividade foi notado um bom entendimento por parte das crianças
a respeito do cuidado com o meio ambiente e as consequências que nossas más condutas para com o
ambiente causam no nosso planeta. Também foi realizada uma discussão sobre o que as más
condutas para com o ambiente da sala de aula interferem na aprendizagem. Durante a discussão da
temática as crianças mostraram compreender o que as ações de descuido com o ambiente podem
causar, tanto no ambiente da sala de aula, quanto no meio ambiente em geral. No entanto, foi
observado, por parte das crianças uma preocupação maior com os aspectos necessários para uma
boa sobrevivência: a saúde, a falta de água limpa para beber e alagamentos.

 5° Encontro – Tapete da coleta seletiva


Objetivo: Sanar a dificuldade dos alunos de utilizarem as lixeiras de coleta seletiva presentes
na sala de aula.
Desenvolvimento da atividade: Foi reforçado o conceito dos 3Rs (reduzir, reutilizar,
reciclar) apresentando às crianças imagens dos lixeiros de coleta seletiva e explicado o que cada cor
se refere e o que deve ser jogado em cada um. Após se certificar que as crianças haviam assimilado
o conteúdo, deu-se início a atividade ―Tapete da reciclagem‖. A atividade consistiu em os alunos
sortearem um papel que continha tipos de lixo (ex: revista velha), e a partir disso o mesmo
selecionava no tapete a cor da coleta seletiva referente ao lixo sorteado (nesse caso o azul), e pulava
na casa azul existente no tapete.
Discussão: Através disso, foi observado que os alunos tiveram dificuldade ao selecionar a
cor da coleta referente ao lixo sorteado, alguns conseguiram apenas com ajuda de outros colegas, e
outros se negaram a realizar a atividade alegando não saber. No entanto, a atividade se mostrou
importante para que as crianças iniciassem a assimilação do conceito de reciclagem.

 6° Encontro – Roleta da coleta seletiva em sala de aula

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1218


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Objetivo: Reforçar o conhecimento das crianças sobre coleta seletiva, para que as mesmas
exerçam na sala de aula.
Desenvolvimento da atividade: Antes de dar início a atividade colocou-se sobre a mesa da
professora os materiais que seriam utilizados, como: imagens de tipos de lixo, potes e a roleta com
as cores da coleta. Em seguida, foi pedido as crianças, que uma a uma, elas fossem até a mesa,
girassem a roleta e escolhessem uma imagem referente a cor selecionada na roleta e colocassem no
pote (que representava o lixeiro).
Discussão: Durante a realização da atividade já foi possível notar um maior conhecimento e
segurança das crianças sobre a separação do lixo, diferente do que foi observado nas atividades
anteriores. As crianças que não quiseram participar da atividade 5º alegando não saber, na atividade
6 mostraram-se empolgadas e envolvidas, além de mostrarem que assimilaram o conteúdo
oferecido. Portanto, foi percebido que a presente atividade ofereceu uma melhor assimilação das
crianças em relação ao conteúdo oferecido.

 7° Encontro – Oficina: Reutilizando as sobras


Objetivo: Fazer com que as crianças tenham contato direto com a reciclagem, através de
uma atividade de colagem com materiais recicláveis utilizados na própria sala de aula.
Desenvolvimento da atividade: Os materiais utilizados foram: sobras de materiais (pontas de
lápis, bolinha de papel, folhas de revistas, caixa de papelão e papel de presente usado), cola e folhas
de ofício com letras de forma vazadas, em que juntas formavam a seguinte frase ―Reciclar é
respeitar o planeta‖. Assim, foram entregues a cada aluno uma folha de oficio que continha uma
letra, explicando para as crianças que as mesmas deveriam preencher a letra com os materiais
oferecidos. Após a conclusão da colagem, com a ajuda das crianças, as letras foram colocadas no
varal, formando a frase ―Reciclar é respeitar o planeta‖.
Discussão: As crianças demonstraram surpresa ao saber que os materiais eram sobras de
materiais utilizados em sala de aula, o que muitas vezes eram jogados fora, já no decorrer da
colagem se mostram atenciosos e caprichosos. Ao terminarem a colagem foi pedido que formassem
a frase e depois foi realizada uma reflexão, fazendo a seguinte pergunta: porque reciclar é respeitar
o planeta? Durante a reflexão as mesmas responderam com frases como ―Porque temos que cuidar
do planeta, e se não jogarmos lixo ele não ficará doente‖, ―Reciclando não jogaremos garrafas no
rio e os peixes não morreram, assim o planeta ficará bem‖.
Através dessas frases pode-se perceber que houve uma compreensão das crianças sobre o
cuidado com o meio ambiente, elas não mais apenas respondiam que não podem jogar lixo no chão
porque simplesmente não podem, elas começaram a compreender o porquê de não maltratar o
planeta. Sabe-se, que a compreensão é o primeiro passo para uma mudança no comportamento.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1219


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

 8º Encontro – Conclusão das atividades


Objetivo: Ouvir das crianças o aprendizado adquirido ao longo das atividades, assim como,
investigar o conhecimento da professora acerca da temática cuidado ambiental.
Desenvolvimento da atividade: As crianças tiveram a oportunidade de falarem sobre o
processo de intervenção: seus aprendizados, descobertas e dificuldades. Além da realização de uma
entrevista com a professora responsável pela turma.
Discussão: Ao ouvir as crianças, foi percebido uma mudança positiva nas falas apresentadas,
quando as comparamos com as falas apresentadas no início da intervenção. Dessa forma, foi
facilmente notado um maior conhecimento dos alunos sobre o cuidado com a sala de aula, com a
escola e com os ambientes em geral. Vendo assim, que houve um despertar das crianças para o
aprendizado e a execução dos princípios básicos de cuidado com a sala de aula.

Resultados relativos à avaliação da eficácia da ação por meio da observação e aplicação de uma
entrevista com o professor responsável pela turma

Por fim, foi realizada uma entrevista com a professora responsável pela turma, em que foram
feitas perguntas como: Quem é responsável pela limpeza da escola? Com que frequência costuma
apanhar o lixo? Como é trabalhado com as crianças o cuidado ambiental? Por meio das respostas
fornecidas pela professora, foi visto um interesse na realização dessas atividades. Além disso, a fala
da professora mostrou uma clara colocação de que a mesma gostaria de se apropriar mais do
assunto, para assim colocar as ações em prática no dia a dia da sala de aula.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, o objetivo de promover princípios básicos de cuidado com o ambiente da


sala de aula, foi alcançado. Analisando os resultados das ações foi possível considerar que a meta de
comparar a relação pessoa-ambiente (ambiente escolar, de sala de aula), foi atendida, o que sugere
que as ações de intervenção foram ricas para o processo de formação. Visto que ao final das
atividades propostas, foi notado através das falas apresentadas pelas crianças, um maior
conhecimento acerca da temática cuidado com a sala de aula. Além de mudanças de
comportamentos, relatado pela professora, que afirmou notar um cuidado maior dos alunos para
com o material escolar, e com a manutenção da limpeza da sala de aula. Essa formação de
consciência corrobora com o que Pascarelli Filho (2011) afirma, que determinados elementos
estimulam os indivíduos a apresentarem atitudes de comportamentos pró-ambientais, no presente
trabalho, esse estímulo se deu através das atividades de intervenção.
Mesmo que o objetivo tenha sido alcançado, algumas limitações foram encontradas para a
realização das ações. Dentre elas, a inconstância na frequência dos alunos, o que dificultou a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1220


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

continuidade das atividades, e o pouco espaço de tempo para a realização da ação. Dessa forma,
para uma melhor eficácia nas ações de intervenção, seria ideal um maior tempo para a realização
das atividades, a fim de intensificar ocasiões que proporcione às crianças um maior conhecimento
acerca da temática cuidado com a sala e aula, tendo em vista que a EA é obrigatória e urgente para a
formação das crianças na educação fundamental segundo a Política Nacional de Educação
Ambiental.
Para que ações de cuidado sejam enraizadas e promovam mudanças duradouras nas ações
das crianças, é necessário que tenha um reforço diário, onde o professor pode ser um grande aliado,
já que o mesmo se encontra todo o tempo com as crianças em sala de aula. Esse profissional irá
contribuir para a formação do sujeito ecológico, como foi citado por Carvalho (2012). Portanto,
sugere-se que além das ações interventivas com as crianças, sejam realizadas ação de
conscientização junto aos professores, já que de forma consciente ou inconsciente os mesmos
interferem na forma de pensar e de agir dos alunos frente à realidade, de modo específico, na
realidade do cuidado ambiental.

REFERÊNCIAS

ABIDOYE, S; ONWEAZU, O. O. Indiscipline Among the Female Secondary School Students in


Selected Rural Communities of Rivers State in Nigeria: Causes and Effects on Academic
Performance. Journal of Education and Practice, v. 1, n.1, 2010.

ARAGONÉS, J. I.,; AMÉRIGO, M. Psicologia Ambiental. España: Ediciones Pirâmide, 2000.

BELTRAME, M. B.; MOURA, G. R. S. Edificações escolares: infra-estrutura necessária ao


processo de ensino e aprendizagem escolar. Editora: Travessias. Revista Unioeste, v.3, n.2.
2009.

BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela Terra. Petrópolis: Vozes, 1999.

BRASIL. Ministério da Educação. Educação Ambiental. 2005. Disponível em <http://portal.mec >


Acesso em: 23 julho 2017.

CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico – 6. Ed. – São Paulo:


Cortez, 2012.

CAVALIERE, A. M. V. Educação integral: Uma nova identidade para a escola brasileira?


Educação e Sociedade, v. 23, n. 81, p. 247-270, dez. 2002.

CORRAL-VERDUGO, V. Comportamiento pro ambiental: Una introducción al estudio de las


conductas protectoras del ambiente. Santa Cruz de Tenerife: Resma, 2001.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1221


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ELALI, G. A. O ambiente da escola – o ambiente na escola: uma discussão sobre a relação escola-
natureza em educação infantil. Estudos de Psicologia, v. 8, n.2, p. 309-319, 2003.

Ministério da Educação/MEC (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e


Diversidade/SECAD – Coordenação Geral de Educação Ambiental/CGEA).

Educação Ambiental; disponível em http://portal.mec.gov.br/secad/index.php. (2005).

MORENO, E.; POL, E. Nociones psicossociales para la intervención y la gestión ambiental.


(Monografias Socio-Ambientales, n 14). Barcelona: Universitat de Barcelona, 1999.

OLIVEIRA, M. A. C. Psicopedagogia: a instituição educacional em foco. Curitiba: IBPEX, 2009.

PASCARELLI FILHO, N. Educando para a preservação da vida. 1º ed. Rio de Janeiro: Wak
Editora, 2011.

PESSOA, V. S. Conhecimento sobre energia eólica: Um estudo exploratório a partir das redes
semânticas naturais de estudantes da cidade de Natal-RN. 2008. 110 f. Dissertação de Mestrado,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil, 2008.

SANTOS, W. S. Explicando comportamentos socialmente desviantes: Uma análise do


compromisso convencional e afiliação social. Tese de Doutorado, Departamento de Psicologia,
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2008.

SANTOS, M. B. Quem é o psicopedagogo institucional numa instituição de nível superior?


Disponível em: <C:\Users\HP\Desktop\Psicopedagogia\Quem é o psicopedagogo institucional
numa instituição de nível superior. Mht> Acesso em: 26 de Julho de 2016.

SILVA, M. C. A. Psicopedagogia – a busca de uma fundamentação teórica. 2.ed. Rio de Janeiro:


Paz e Terra, 2010.

TIBA, I. Quem ama educa. São Paulo: Editora Gente, 2002.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1222


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

EXTRAÇÃO DE AREIA: CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL EM DUAS ESCOLAS


PÚBLICAS LOCALIZADAS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Janiele Cruz SANTOS


Graduanda do curso de Ciências Biológicas UFCG
Janielly28@gmail.com
Adriana Lemos PORTO
Professora Dra. Engenheira de Minas IFPB
adrianalemosporto@hotmail.com
Marcus José Conceição LOPES
Professor Dr. Ciências Biológicas UFCG
Marcusjclbr@yahoo.com.br

RESUMO
Desde o início da humanidade o ser humano necessitou apropriar-se dos recursos minerais para seu
usufruto, e a extração de areia é um exemplo disto. Sua extração em grande escala pode acarretar
vários impactos ambientais, tornando-se assim uma problemática ambiental. A partir deste contexto,
o presente trabalho tem como objetivo promover uma conscientização ambiental sobre a
problemática da extração de areia em duas escolas da rede pública, localizadas no estado do Rio
Grande do Norte. O presente estudo foi desenvolvido com alunos da 3ª série do ensino médio nas
escolas estaduais professora Teresinha Carolino de Souza em Jaçanã/RN e João Henrique Dantas
em Carnaúba dos Dantas/RN. A metodologia aplicada foi de natureza qualitativa e quantitativa, que
foram desenvolvidas em quatro etapas: aplicação de questionário, palestra, entrega de folders,
aplicação de um segundo questionário. Diante os resultados obtidos foi possível perceber que as
ações propiciaram uma possível conscientização ambiental que não existia antes da realização das
intervenções pedagógicas. Percebe-se assim, que há necessidade, de serem desenvolvidas atividades
pedagógicas que propicie aos alunos à conscientização ambiental sobre a extração de areia, devido
ser uma questão ambiental que envolve suas cidades e seu estado.
Palavras chaves: Educação ambiental, recursos minerais, exploração de recursos.
ABSTRACT
From the beginning of humanity the human being needed to appropriate the mineral resources for
his usufruct, and the extraction of sand is an example of this. Its large-scale extraction can lead to
several environmental impacts, thus becoming an environmental problem. From this context, the
present work aims to promote an environmental awareness about the problem of sand extraction in
two schools of the public network, located in the state of Rio Grande do Norte. The present study
was developed with Teresinha Carolino de Souza in Jaçanã / RN and João Henrique Dantas in
Carnaúba dos Dantas / RN. The methodology applied was qualitative and quantitative, which were
developed in four stages: questionnaire application, lecture, folders delivery, application of a second
questionnaire. Given the results obtained, it was possible to perceive that the actions provided a
possible environmental awareness that did not exist before the pedagogical interventions were
carried out. It is thus perceived that there is a need to develop pedagogical activities that provide
students with environmental awareness about the extraction of sand, because it is an environmental
issue that involves their cities and their state.
Keywords: Environmental Education. Mining resources. Exploitation of resources

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1223


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO
Segundo Moroni (2015), ―desde o início da humanidade o ser humano necessitou apropriar-
se dos recursos minerais para seu usufruto, a extração de areia, um agregado da construção civil, é
um exemplo disso‖. A areia é um sedimento clástico inconsolidado formado por fragmentos de
rochas granulares de dimensões entre 0,05 e 5 mm (PORMIN, MINISTÉRIO DE MINAS E
ENERGIA, 2016; PORTO, 2008).
Atualmente a exploração dos recursos minerais é preocupante para sociedade, pois na
maioria das vezes, as extrações deles acontecem de forma ilegal. No caso da extração de areia, ela
vem sendo cada vez mais retirada de forma informal, o que acarreta ainda mais os impactos
socioambientais, tais como desmatamento, erosão, assoreamento dos rios, compactação do solo,
poluição das águas, a fuga da fauna entre outros. Segundo Santos (2012), um alto índice de
ilegalidade desse bem mineral é apresentado no Estado do Rio Grande do Norte, cerca de 90% da
extração de areia é informal. E uma das alternativas para diminuição desses impactos
socioambientais é a Educação Ambiental (EA).
Desta forma, o presente trabalho procura desenvolver atividades pedagógicas em duas
escolas situadas no estado do Rio Grande do Norte. As escolas estaduais professora Teresinha
Carolino de Souza, localizada na cidade de Jaçanã e João Henrique Dantas localizado na cidade de
Carnaúba dos Dantas, com intuito de promover ações educativas que possibilite a conscientização
ambiental sobre a problemática da extração de areia, para alunos da 3ª série do ensino médio.

IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS CAUSADOS PELA EXTRAÇÃO DE AREIA

Segundo Silva (2007), a areia é um dos agregados de emprego direto para construção civil,
considerado um bem mineral de uso social, porém o alto índice de ilegalidade da retirada desse
recurso é preocupante, e vêm acarretando impactos ambientais de grandes proporções.
De acordo com Souza et al., (2001), Vieira e Resende (2015), apesar da extração de areia é
necessária, ela é responsável por impactos ambientais. Assim, deve ser extraída de forma
consciente, que minimize a degradação ambiental, que tem sido causada por essa excessiva retirada.
Os principais impactos socioambientais causados pela extração de areia são: Desmatamento das
áreas de preservação permanente (APP), alteração dos cursos de rios e o seu assoreamento, A
compactação do solo, perturbação a população vizinha, a poluição das águas, poluição sonora e a
fuga da fauna.

CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS

Segundo Marinho et al., (2014), todos os dias aparecem nos jornais, revistas e programas de
TV, reportagens que alertam sobre alguns dos problemas ambientais atuais, os quais variam entre

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1224


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

poluição das águas, do solo, desmatamento, erosão dos rios, esgotamento dos recursos naturais,
dentre outros, que estão cada vez mais presentes em nossa realidade. Ainda para Marinho et al.,
(2014), o mundo tem mudado constantemente e essas mudanças têm ocorrido principalmente no
âmbito do meio ambiente. Por tanto, há uma necessidade que aconteça mudanças de hábitos na
sociedade. Para tal mudança é necessário que surja a conscientização ambiental, por meio de uma
prática chamada de educação ambiental.
Para Souza et al., (2009), a Educação Ambiental deve ser vista como um método de
constante aprendizagem, de forma que valorize as diversas formas de conhecimento e a formação
de cidadãos com consciência local. Ela é responsável pela construção do pensamento consciente e
de mudanças no comportamento do ser humano com relação ao meio ambiente. Quando aplicado
em estabelecimentos de ensino como em escolas é capaz de despertar nos alunos a consciência, de
que eles fazem parte do meio ambiente onde vivem (SOUZA et al., 2009). Fazendo com que eles
comecem a refletir sobre as problemáticas ambientais e procurem interagir junto com a sociedade,
buscando soluções para elas, tendo assim responsabilidades com a natureza, procurando agir de
forma sustentável que a preserve.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada com duas turmas da 3ª série do ensino médio regular, das Escolas
Estaduais Professora Terezinha Carolino de Souza, Jaçanã/RN e E.E.E. Fundamental e Médio João
Henrique Dantas, Carnaúba dos Dantas/ RN.
O presente estudo tem natureza qualitativa e quantitativa, os dados coletados foram obtidos
através de questionário semiestruturado e escala de satisfação do tipo Likert, adaptada. ―A escala de
Likert é composta por um conjunto de enunciados que funciona como estímulo para o indivíduo
expressar seu grau de concordância ou discordância em relação a um objeto atitudinal, dentro de um
continuo de cinco pontos‖ (TANAKA, p.73, 2007).
As estratégias didáticas deste trabalho foram baseadas em quatro etapas: (1) aplicação de um
instrumento de coleta de dados, (2) palestra, (3) entrega de folder, (4) aplicação de um segundo
instrumento de coleta de dados. Para proteger a identidade dos participantes da pesquisa, as escolas
foram identificadas pelas letras A e B, a escola (A) Escola Estadual professora Teresinha Carolino
de Souza e (B) Escola de Ensino Estadual João Henrique Dantas. Na escola (A) os alunos foram
codificados e identificados por letra em seguida de números (A1, A2) continuamente, como
também na escola B os alunos foram codificados e identificados por letra seguida de números (B1,
B2) sucessivamente.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1225


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Este primeiro instrumento é composto por um questionário semiestruturado composto por


seis questões referentes ao tema da extração de areia, onde foi respondido por 22 alunos da escola A
e 24 alunos da escola B, da 3ª série do ensino médio regular, a partir dos seus conhecimentos
prévios. Cada pergunta foi analisada e discutida separadamente entre as duas escolas, para se obter
uma melhor compreensão.
A primeira pergunta do questionário trata-se de uma interrogação relacionado aos
conhecimentos prévios dos alunos sobre a extração de areia em sua cidade ou região (Gráfico 1).

Você conhece alguma extração de areia em sua cidade


ou região ? ( 1 )
82% 67%
18% 33%

Sim Não Sim Não


Escola A Escola B

Gráfico 1. Respostas dos alunos das escolas A e B, referente à primeira questão do instrumento de coleta de
dados 1. Você conhece alguma extração de areia em sua cidade ou região? Sim, onde____ ( ) Não. (Fonte:
Dados da pesquisa, 2016)

Dos 18% da escola A, que responderam sim, disseram que conhecem extração de areia nas
cidades de Natal, Coronel Ezequiel e Jaçanã, localizadas no estado do Rio Grande do Norte. Na
escola B, se obteve um número maior de alunos que responderam sim, contrapondo a escola A.
Onde 33% dos alunos da escola B responderam sim, o que pode ser justificado devido essa extração
de areia que acontece no rio da cidade de Carnaúba dos Dantas. Em se tratando de um estado que
tem números significativos na produção e no consumo de areia, a maioria dos alunos não tem
conhecimento sobre essa retirada em suas cidades, pertencentes a esse estado, como é possível
perceber diante os dados obtidos.
Com relação à segunda pergunta do questionário, para que serve a areia?(Quadro 1 e 2).

Numero de alunos Ideias centrais Exemplo de expressões chaves

A 9: ―Para construção de casas.‖


20
Construção civil A 4: ― Para construção de obras, etc.‖

A 15: ―Fazer cimento e etc.‖


2 Como composto

Quadro 1. Idéias centrais e expressões chave das respostas dos alunos da escola A, referente à segunda
questão do instrumento de coleta de dados 1. Para que serve a areia?(Fonte: Dados da pesquisa, 2016)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1226


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Número de alunos Ideias centrais Exemplos de expressões chaves

B 9: ―Para construção de casas.‖


22
Construção civil B 22: ―Serve para ajudar na construção de casa,
prédios e entre outras coisas.‖

2 B 23: ―Bom, em síntese serve para compor


Como composto alguns produtos, tais como cimento, argamassa
e compostos.‖
Quadro 2. Idéias centrais e expressões chave das respostas dos alunos da escola B, referente á segunda
questão do instrumento de coleta de dados 1. Para que serve a areia? (Fonte: Dados da pesquisa, 2016).

Diante das falas dos alunos é notório que a grande maioria dos alunos consegue identificar a
aplicação da areia no nosso dia-a-dia. De acordo com a ANEPAC (2016), a areia é um agregado de
emprego imediato na indústria da construção ou incorporado a produtos, no qual depende da sua
granulometria para cada devido uso. Desta forma Cavalcanti; Parahyba (2012) relatam que a areia
pode ser utilizada: na construção civil, na indústria de transformação para fabricação de vidros,
cimento, cerâmica, refratários entre outros. Mostrando assim a grande importância da areia para a
população, tendo em vista o seu nível de utilidade. Atendendo a necessidade habitacional da
sociedade, contribuindo desde as pequenas obras de habitação até as mais elaboradas.
No que diz respeito à terceira questão, onde os alunos foram perguntados se sabiam de onde
se extrai a areia? (Gráfico 2).

Você sabe de onde se extrai a areia ? (3)


63% 58%
18% 5% 5% 9% 25% 8% 4% 4%
Rochas
Não sabem

Prais

Solo
Não sabem

Solo
Rios

Ruas

Praias
Rios

Escola A Escola B

Gráfico 2. Respostas dos alunos das escolas A e B, referente à segunda questão do instrumento de coleta de dados 1.
Você sabe de onde se extrai a areia? (Fonte: Dados da pesquisa, 2016)

É possível observar, que a maioria dos alunos das duas escolas responderam que a areia é
extraída dos rios. Diante do exposto pode perceber que grande parte deles tem uma noção de onde
ela é extraída.
Segundo Gonçalves (2016), as areias são normalmente extraídas de reservas recentes e
sub-recentes de canais e terraços fluviais, em geral de idade pleistocênica.
No Brasil, os depósitos de areias usados como materiais em construção civil geralmente são

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1227


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

provenientes de sedimentos fluviais recentes e sub-recente de paleocanais e terraços de rios


próximos ou mesmo no interior dos grandes centros urbanos.
Na quarta questão, você conhece alguém que trabalha extraindo areia? Fale um pouco sobre
(Gráfico 3).

Você conhece alguém que trabalha extraindo areia? Fale um


pouco sobre. (4)
5% 90% 5% 17% 83%

Sim

Sim
Não opinou
Não

Não
Escola A Escola B

Gráfico 3. Respostas dos alunos das escolas A e B, referente à quarta questão do instrumento de coleta de
dados 1. Você conhece alguém que trabalha extraindo areia? Fale um pouco sobre. (Fonte: Dados da
pesquisa, 2016)

Foi possível perceber que apenas os alunos da escola B conheciam alguém que trabalhava
com esse tipo de extração. Porém não sabem de certeza como essas pessoas trabalham extraindo
essa areia. Neste contexto é possível identificar alguns exemplos abaixo através das falas deles.

 Sim, essa pessoa faz essa extração como forma de trabalho e sustento da família. (B21)
 Sim, tenho um tio que trabalha há anos com tal produto, porém não sei ao certo como ele
extraí. (B24)
Diante disto percebe-se que a extração de areia gera emprego e renda, garantindo o sustento
de muitas famílias, também é evidente como essa prática acontece informalmente, pois eles relatam
que conhecem alguém que trabalha, mas não sabem como ela é retirada e nem para onde ela é
destinada.
Para Vieira; Resende (2015), a extração de areia necessita de licenciamento ambiental, que
se conecta com algumas leis e definições. Apesar disto o índice de clandestinidade dessa atividade é
relevante e preocupante, tendo em vista que os impactos ambientais provocados são abundantes e
descontrolados.
Com relação à quinta questão onde os alunos foram perguntados sobre o que causa no
ambiente, a extração desenfreada da areia? (Quadros 3 e 4).

Número de alunos Ideias centrais Exemplos de expressões chaves


A 3: ―Causa uma mudança no local, porque
quando se extrai a areia automaticamente irá
mudar a paisagem.‖

20 Degradação ambiental A 10: ―Transformação da paisagem,


modificação do solo.‖

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1228


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

2 Não sabem A 8 e 16: ― Não sei.‖


Quadro 3. Idéias centrais e expressões chave das respostas dos alunos da escola A, referente à quinta questão
do instrumento de coleta de dados 1. O que causa no ambiente, a extração desenfreada da areia?
(Fonte: Dados da pesquisa, 2016)

Número de alunos Ideias centrais Exemplos de expressões chaves

B 6: ―Eu acho que causa algum problema no


solo, talvez impedindo a formação dos rios.‖

17 Degradação ambiental B 17: ―Desertificação‖

7 Não sabem B 10, 11, 12, 13, 18, 21: ―Não sei.‖
Quadro 4. Idéias centrais e expressões chave das respostas dos alunos da escola B, referente à quinta questão
do instrumento de coleta de dados 1. O que causa no ambiente, a extração desenfreada da areia?
(Fonte: Dados da pesquisa, 2016)

De acordo com as falas dos alunos, quando perguntados o que causa no ambiente, a extração
desenfreada da areia, percebe-se que nas duas escolas a maioria deles afirma que causa degradação
ambiental, modificando assim o meio ambiente, porém alguns não sabem o que causa, confirmando
assim, que eles não conseguem associar as verdadeiras alterações que essa extração excessiva causa
ao meio ambiente. Para Figueiredo e colaboradores (2008), a maior deficiência de conhecimento
dos alunos está associada aos impactos socioambientais que essa extração causa ao meio ambiente e
como acontece este processo.
Para Marinho e colaboradores (2014), a sociedade necessita de mudanças de hábitos, e isso
pode acontecer através da Educação Ambiental. A EA é responsável pelo pensamento consciente e
mudança de comportamento, devendo ser aplicada em ambientes escolares de forma que desperte a
sensibilidade dos alunos, gerando reflexão dos problemas ambientais, capacitando-os, onde eles
possam buscar soluções, e ajam de forma sustentável (SOUZA et al., 2009).
Sobre a sexta questão, você conhece algum lugar onde a extração de areia destruiu a
paisagem? Se sim, onde? (Gráfico 5 ).

Você conhece algum lugar onde a extração de areia


distruiu a paisagem? Se sim, onde? (6)
95% 88%
5% 12%

Não Não Sim, no Não


opinou rio da
cidade
Escola A Escola B

Gráfico 5. Respostas dos alunos das escolas A e B, referente à sexta questão do instrumento de coleta de
dados 1. Você conhece algum lugar onde a extração de areia destruiu a paisagem? Se sim, onde? (Fonte:
Dados da pesquisa, 2016)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1229


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Diante do exposto, é perceptível que a maioria dos alunos da escola A e B não conhecem um
lugar onde há extração de areia destruiu a paisagem. Onde apenas 12% dos alunos da escola B
responderam que conhecem esse lugar onde se encontra destruído, que é o próprio rio da cidade,
confirmando assim que a maioria dos alunos, das duas escolas, não possui informação sobre essa
problemática ambiental local. Identificando que tal problema ambiental não é trabalhado em sala de
aula juntamente com a disciplina de educação ambiental.
Silva (2008) e Santos e colaboradores (2015), dizem que é por meio da EA nas escolas, que
os alunos podem entender que a areia, é um dos recursos minerais mais significativos na sociedade
e que sua retirada compromete os rios, a flora e a fauna. Inferindo, que a retirada de areia é uma
preocupação ambiental de grande importância para a humanidade, onde a educação ambiental
orienta e conscientiza os alunos sobre a produção e utilização dos recursos minerais. É através da
EA que se faz a conscientização dos alunos. Conscientizando-os acerca da importância da
preservação dos recursos naturais e dos efeitos danosas que a degradação do meio ambiente pode
trazer para a sociedade (MARINHO et al., 2014).

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS 2

O segundo instrumento de coleta de dados foi do tipo likert e foi respondido por 15 alunos
na escola A e 24 na escola B. Por meio das respostas dos alunos neste instrumento, foi possível
perceber que após o desenvolvimento da palestra e entrega de folders, os alunos conseguiram
compreender o assunto que foi trabalhado durante as práticas pedagógicas, obtendo assim uma
possível conscientização sobre a problemática ambiental da extração da areia.
Desta forma, as práticas pedagógicas aplicadas no desenvolvimento desse trabalho foram
satisfatórias, os alunos da 3ª série do ensino médio, se mostraram curiosos, participativos e
surpresos diante o assunto. Sendo assim, fica claro que o uso de diferentes práticas provoca o aluno
a demonstrar e ter interesse sobre assuntos que envolva o meio ambiente.

Na avaliação de satisfação das práticas pedagógicas aplicadas na escola A e B, (Quadro 5).

Escola A Escola B
(15 alunos) (24 alunos)
60% 55,2%
38,5% 42,2%
1,5% 2%
0 0
0 0
Quadro 5. Escala do tipo likert para avaliar a satisfação dos alunos enquanto as atividades desenvolvidas,
nas escolas A e B. (Fonte: Dados da pesquisa, 2016)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1230


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

É possível identificar que as atividades desenvolvidas tiveram resultados promissores e


satisfatórios, indicando que as atividades pedagógicas desenvolvidas foram positivas. Os alunos
gostaram do tema, demonstraram que nunca tinha sido mostrado algo relacionado a essa
problemática ambiental a eles, foi notório perceber que eles não tinham consciência da importância
que a areia tem para a sociedade, muitos deles jamais tinham parado pra pensar nesta questão, e se
surpreenderam diante as práticas realizadas.
Isto também é possível constatar por meio das falas dos alunos abaixo, quando escreveram
um pouco sobre o que acharam da palestra.

 Muito proveitosa, adquirir um grande conhecimento sobre tal assunto. Assim, me


conscientizando sobre as ações causadas a natureza com a extração de areia. (A 7)
 Eu achei a palestra bem interessante, me alertou sobre problemas que a retirada da areia
gera, e também com isso percebi a importância da areia na nossa vida, essa palestra foi
proveitosa e de suma importância para nós jovens. (B 1)
Percebe-se que as práticas pedagógicas juntamente com alguns recursos didáticos como:
data show (slides) e folders ajudaram aos alunos ficarem possivelmente consciente sobre os fatores
que a extração de areia em excesso pode causar ao meio ambiente.
Para Greice e colaboradores (2013), é por meio de um processo educativo que nasce uma
nova consciência, trazendo sustentabilidade na relação homem e natureza. O esclarecimento de
problemáticas ambientais a jovens e crianças torna-se eficaz para que eles criem novas ações
educativas, preservando o meio onde eles vivem o que significa preservar a natureza, a saúde,
economia, emprego, entre outros.
Com isso é importante que se insira nas escolas práticas de conscientização ambiental sobre
as problemáticas ambientais locais, como a extração de areia. Fazendo com que os alunos
desenvolvam, aprofundem seu conhecimento e pensamento crítico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o desenvolvimento deste trabalho buscou-se aplicar diferentes práticas pedagógicas com a
intenção de promover uma conscientização ambiental sobre a problemática da extração de areia em
duas cidades do estado do Rio Grande do Norte.
Este trabalho foi de suma importância para os alunos da 3ª série do ensino médio regular, pois no
decorrer da pesquisa foi perceptível que se conseguiu chamar a atenção destes com este tema, com
isso, as atividades desenvolvidas tiveram resultados bastante satisfatórios.
Desta forma, percebe-se que as práticas pedagógicas desenvolvidas possivelmente propiciaram a
conscientização ambiental dos alunos sobre a extração de areia em suas cidades e estado. O que
torna evidente que a problemática da retirada dos recursos minerais, mais especificamente a
extração de areia são trabalhados de maneira superficial ou não são abordadas em sala de aula.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1231


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

REFERÊNCIAS
ANEPAC, Associação Nacional das Entidades de Produtores de Agregados para Construção Civil.
Disponível em: <http://www.anepac.org.br/agregados/areia-e-brita>. Acesso em 20 de novembro
de 2016.

CAVALCANTI, V; PARAHYBA, R. A indústria de Agregados para Construção Civil na Região


Metropolitana de Fortaleza. Fortaleza: DNPM, 2012.

FIGUEIREDO, A. O; ALVARENGA, F. M; AQUINO-SILVA, M. R. Degradação Ambiental vs


Educação Ambiental, Cavas de areia como objeto de estudo, 2008.

GONÇALVES, S. P. Gênese e formação da areia. Disponível em:


<http://www.grupoescolar.com/pesquisa/areia.html>. Acesso em 21 de novembro de 2016.

GREICE, C. B. SANTOS; ANDREA, S. L; LUIZ A. V. F. MIRANDA, Jr. P. Ensino de Química:


atividades envolvendo a extração mineral com uma abordagem CTS, 2013.

MORONI, A. Y. A Sustentabilidade da Extração da areia: Um estudo de caso sobre a Cooperativa


Catareia, Dom Pedrito – RS, 2015.

MARINHO, A. A; MARQUES, M. L. A. P; SILVA, A.F; ARAUJO, J. E. Q; QUEIROZ, T. H. S;


ALMEIDA, I. D. A. A educação ambiental na formação da consciência ecológica. Caderno de
Graduação-Ciências Exatas e Tecnológicas-Unit-Alagoas, v. 1, n. 1, p. 11-18, 2014.

PORMIN, MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA. Agregados Minerais para Construção Civil:


Areia Brita e Cascalho.
<http://www.redeaplmineral.org.br/pormin/noticias/mineraiserochasdescricaoaplicacaoeocorrenc
ias/agregadosmineraispropiedadesaplicabilidadeocorrencias.pdf>>. Acesso em 20 de novembro
de 2016.

PORTO, A. L. Aspectos Legais e Econômicos Para Extração de Areia no Estado da Paraíba, 2008.

SOUZA, D. F. U. I. R; SAKUNO-UNIR, TAGUCHI, I. Y. ; A importância da preservação dos


recursos naturais para viver bem, 2009.

SILVA, F. V. P. A educação ambiental na formação da cidadania. Belo Horizonte, 2008.

SANTOS, J; SILVA, A. de A. G; ALVES, S. G. de S; OLIVEIRA, R. G; CAMBOIM, A. F. de L.


Concepção de educação ambiental e sua relação com a prática pedagógica de professores do
ensino médio. Ciência & Desenvolvimento-Revista Eletrônica da FAINOR, v. 8, n. 1, 2015.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1232


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

SANTOS, J. Nível de Informalidade na Extração de Areia no Estado do Rio Grande do Norte,


2012.

SILVA, J. P. S. Impactos ambientais causados por mineração, 2007.

SOUZA, P. A; VENTURIN, N; MACEDO, R. L. G; ALVARENGA, M. I. N; SILVA, V. F.


Estabelecimento de espécies arbóreas em recuperação de área degradada pela extração de
areia. Cerne, v. 7, n. 2, p. 043-052, 2001.

TANAKA, E. D. O. O desenvolvimento de uma escala de atitudes sociais em relação ao trabalho


da pessoa com deficiência. 06 de fevereiro de 2007. 198f. Tese (doutorado em educação) –
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Marília – SP. 2007.

VIEIRA, E. G; REZENDE, E. N. Mineração de areia e meio ambiente: é possível harmonizar?


Revista do Direito Público, v. 10, 2015.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1233


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UTILIZAÇÃO DE VÍDEO, SIMULADOR E


PALAVRA CRUZADA COMO FERRAMENTAS METODOLÓGICAS NO
ENSINO DA COLETA SELETIVA

João Paulo Ferreira LIMA


Graduando no curso de Licenciatura em Química pela UFCG/CFP
joaopfl67@gmail.com
Edilson Leite da SILVA
Prof. UACEN/CFP/UFCG, Mestrando em Sistemas Agroindustriais CCTA/UFCG
souedilsonleite@gmail.com
Egle Katarinne Souza da SILVA
Licenciada em Química pela UFCG/CFP, Mestranda em Sistemas Agroindustriais CCTA/UFCG.
eglehma@gmail.com
Luislândia Vieira de FIGUEIREDO
Licenciada em Química pela UFCG/CFP
luislandia.figueredo@gmail.com

RESUMO
Os resíduos sólidos, quando descartados inadequadamente no ambiente, provocam danos aos
recursos naturais, como solo, água e ar, prejudicando assim qualquer forma que dependam de
condições ambientais perfeitamente adequadas para sobrevivência. Diante desta realidade a
Educação Ambiental pode ser utilizada para manter os alunos informados dos problemas ambientais
ocasionados na maioria das vezes pelo próprio homem. A presente pesquisa objetiva proporcionar
uma aprendizagem significativa sobre a temática Coleta Seletiva a 15 alunos matriculados no
primeiro ano do ensino médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor
Crispim Coelho, localizada em Cajazeiras- PB. Como recurso metodológico utilizou-se um vídeo
informativo do Portal dos Resíduos Sólidos, um simulador do Banco Internacional de Objetos
Educacionais e uma palavra cruzada desenvolvida no Hot Potatoes. Classifica-se como uma
pesquisa bibliográfica, pesquisa-ação, e descritiva, sendo os dados analisados de maneira
quantitativa. Para coleta de dados aplicou-se um questionário prévio e uma palavra cruzada com o
para analisar se houve construção do conhecimento com a sequência didática executada. Diante dos
resultados, afirma-se que inicialmente a maioria dos alunos respondeu de forma errônea as questões
especificas sobre a Coleta Seletiva, isso se evidencia quando 40% dos alunos afirmaram que o
coletor de plástico tem cor amarela, 40% afirmaram ser azul, 13,33% marrom e apenas 6,67%
respondeu certo, vermelho. Após a sequência didática, 100% dos alunos conseguiram responder a
palavra cruzada, embora alguns alunos tenham respondido em um intervalo de tempo maior que
outros.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Aprendizagem Significativa; Sequência didática; Coleta
Seletiva.
ABSTRACT
Solid waste, when improperly disposed of in the environment, damages natural resources such as
soil, water and air, thus damaging any form of life that depends on environmental conditions
perfectly adequate for survival. Faced with this reality, Environmental Education can be used to
keep students informed of the environmental problems most often caused by humans. The present

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1234


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

research aimed to provide a meaningful learning on the subject Selective Collection to 15 students
enrolled in the first year of high school of the State School of Primary and Secondary Education
Professor Crispim Coelho, located in Cajazeiras - PB. As a methodological resource was used an
informative video of the Solid Waste Portal, a simulator of the International Bank of Educational
Objects and a crossword developed in Hot Potatoes. It is classified as a bibliographic, action
research, and descriptive research, in which the data were quantitatively analyzed. For data
collection a previous questionnaire and a crossword was applied to analyze if there was construction
of the knowledge with the executed didactic sequence. In view of the results, it is stated that
initially the majority of the students answered in an erroneous way the specific questions about the
Selective Collection. This is evidenced when 40% of the students stated that the plastic collector is
yellow, 40% said to be blue, 13.33% brown and only 6.67% answered right, red. After the didactic
sequence, 100% of the students were able to respond to the crossword, although some students
responded in a longer time frame than others.
Keywords: Environmental Education; Significant Learning; Following teaching; Selective collect.

INTRODUÇÃO

Com a chegada e expansão da revolução industrial capitalista, os recursos naturais passaram


a ser objeto de exploração intensa. Para época acreditava-se ou queriam acreditar que os recursos
naturais eram ilimitados, é importante ressaltar que a exploração de alguns recursos naturais já era
feita bem antes da revolução industrial, porém só veio tomar proporções catastróficas a partir da
mesma. Segundo Cunha e Guerra (2009, p. 17):

A Compreensão tradicional das relações entre a sociedade e natureza desenvolvidas até o


século XIX, vinculadas ao processo de produção capitalista, considerava o homem e a
natureza pólos excludentes, tendo subjacente a concepção de uma natureza objeto, fonte
ilimitada de recursos à disposição do homem.

No decorrer dos anos ao perceber que a maiorias das fontes de recursos naturais são
limitadas, durante a década de 1970, alguns países industrializados preocupados com a conservação
e preservação do meio ambiente, começaram a se articular quanto à implantação de leis voltadas
para as questões ambientais. (NETO et al. 2009). A partir desta época as questões ambientais
começam a emergir na sociedade.
Neste contexto o meio ambiente passa por inúmeras transformações, algumas dessa ocorrem
ou vem ocorrendo ao longo do tempo por ações naturais decorrente da própria natureza, por outro
lado, o homem com sua capacidade destrutiva em prol do capital e da vaidade conseguem em tempo
acelerado desestabilizar todo um sistema denominado de meio ambiente.
Meio ambiente é o espaço no qual existe a interação entre o homem e a natureza. Esta
definição varia entre diversos autores, sendo muito próximo uma da outra. O Conselho Nacional do
Meio Ambiente na resolução 306 de 2002 define meio ambiente como sendo: ―conjunto de
condições, leis, influência e interações de ordem física, química, biológica, cultural e urbanística,
que permite abrigar e rege a vida em todas as suas formas‖. (BRASIL, 2002).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1235


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

No ano de 1920, o pau-brasil uma das principais riquezas do Brasil é considerado extinto. A
extração desenfreada de pau-brasil durante muito tempo foi a principal fonte de renda do país, por
ser realizada sem nenhum controle e sem preocupação com as questões ambientais a extração dessa
madeira representou o fator determinante para sua extinção. Após 14 anos da extinção do pau-
brasil, é que ―em 1934 o Decreto 23.793 transforma em lei o anteprojeto do Código Florestal de
1931. Em decorrência, é criada a primeira unidade de conservação do pau-brasil, o parque Nacional
do Itatiaia.‖ (DIAS, 1991, p. 31).
Nos dias atuais a legislação brasileira disponibiliza diversos órgãos regidos por leis que
atuam em prol da conservação e preservação do meio ambiente tentando coibir e inibir as mais
diversas formas de agressão ao meio ambiente. A agressão ao meio ambiente não está restrita
somente as grandes indústrias que muitas das vezes utilizam os recursos naturais em grande escala,
sem nenhuma preocupação ambiental, de forma que essas atividades tende a modificar o espaço
físico e a extinção desses recursos; os cidadãos muitas das vezes sem perceber, com pequenos atos
rotineiros agridem o meio ambiente sem precedentes.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) Lei Nº 12.305 de 02 de agosto de 2010, foi
elaborada com a intenção de dispor sobre os princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre
as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os
perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos
aplicáveis. (BRASIL, 2010).
Entre os inúmeros objetivos e pretensões que a PNRS pretende alcançar, está o
desenvolvimento sustentável; proteção da saúde pública e da qualidade ambiental; gestão integrada
de resíduos sólidos; estímulo à logística reversa; estímulo à implantação da Coleta Seletiva;
substituição de lixões por aterro sanitário; são alguns dos elementos fundamentais encontrados nesta
Lei. (BRASIL, 2010).
Os resíduos sólidos podem ser encontrados em diversos estados físicos e sua composição
pode ser bem diversificada, dependendo do agente gerador. Quanto à definição de resíduo sólido
alguns autores divergem, porém existem alguns aspectos em comum. A definição feita pela PNRS é
considerada uma das mais completas, definindo resíduo sólido como:

Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em


sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a
proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e
líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos
ou em corpos d‘água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis
em face da melhor tecnologia disponível. (BRASIL, 2010).

Com relação à Coleta Seletiva (CS), e de acordo com sua proposta, a mesma desempenha
um importante papel no setor ambiental, social e econômico caso colocado em prática de forma
plena. Apesar de não atuar diretamente na preservação no meio ambiente, porém ao final do ciclo

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1236


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

desta atividade sua contribuição é de grande importância para a manutenção do meio ambiente. A
PNRS define Coleta Seletiva como a ―coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme
sua constituição ou composição‖. (BRASIL, 2010).
É importante que todos os setores da sociedade desde as grandes empresas ao cidadão civil
tenham consciência quanto a suas responsabilidades frente à CS. Com relação à responsabilidade
individual, o início da coleta seletiva acontece no momento em que os resíduos gerados no ambiente
familiar e de acordo com suas composições são previamente separados e posteriormente dispostos
para destinação final ambientalmente adequada. Nesse contexto é importante que a sociedade seja
educada para realização de tal atividade e ao mesmo tempo tenha consciência da importância da
mesma para o meio ambiente.
A escola pode e deve desenvolver atividades de caráter ambiental/educativo, pois a escola é
o lugar mais apropriado para debater e conscientizar quanto à preservação e conservação do meio
ambiente e demais atividades desenvolvidas pelo homem voltado diretamente ou indiretamente para
o meio ambiente. Pelicioni (1998) destaca que os objetivos da educação ambiental é formar
cidadãos uma consciência capaz de mudar seu comportamento ambiental com investimentos nos
recursos e processos ecológicos.
A educação ambiental (EA), como tema transversal pode ser trabalhada em qualquer área e
nível de ensino, de modo geral a mesma trabalha as questões socioambientais e seu equilíbrio. Não
é de hoje que esta temática veio a ser incorporada no currículo escolar, a portaria 678 homologada
em 14 de maio de 1991 assegura ―que os sistemas de ensino, em todas as instâncias, níveis e
modalidades, contemplem, os seus respectivos currículos, entre outros, os temas/conteúdos
referente a educação ambiental‖. DIAS (2004, p.49).
Trigueiro (2003) define a Educação Ambiental como:
Processo em que se busca despertar a preocupação individual e coletiva para a questão
ambiental, garantindo o acesso à informação em linguagem adequada, contribuindo para o
desenvolvimento de uma consciência crítica e estimulando o enfrentamento das questões
ambientais e sociais. Desenvolve-se num contexto de complexidade, procurando trabalhar
não apenas a mudança cultural, mas também a transformação social, assumindo a crise
ambiental como uma questão ética e política.

Diante da era tecnológica uma metodologia que pode ser adotada na EA são os recursos
digitais de apoio ao ensino. Uma destas ferramentas podem ser os Objetos Virtuais de
Aprendizagem que segundo Spinelli (2007, p. 7), são:

Um objeto virtual de aprendizagem é um recurso digital reutilizável que auxilia na


aprendizagem de algum conceito e, ao mesmo tempo, estimula o desenvolvimento de
capacidades pessoais, como por exemplo, imaginação e criatividade. Dessa forma, um
objeto virtual de aprendizagem pode tanto contemplar um único conceito quanto englobar
todo o corpo de uma teoria. Pode ainda compor um percurso didático, envolvendo um
conjunto de atividades, focalizando apenas determinado aspecto do conteúdo envolvido, ou
formando, com exclusividade, a metodologia adotada para determinado trabalho.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1237


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Esses objetos podem ser encontrados em alguns repositórios de uso ilimitado e público. O
Banco Internacional de Objetos Educacionais (BIOE) apresenta-se como um dos bancos de dados
mais completos e bem organizados, disponibilizando objetos em diversos formatos como:
simuladores; vídeos; experimentos práticos; hipertextos e etc. Quanto à organização em níveis de
ensino, Silva et. al. (2016, p. 1668) destacam que: ―esses objetos são divididos e organizados por
Nível de Ensino, sendo eles: Educação Infantil, Educação Superior, Ensino Fundamental, Ensino
Médio, Educação Profissional, Educação Superior e Modalidades de Ensino‖.
Referente à abordagem da temática Resíduos Sólidos existe o Portal dos Resíduos Sólidos
que ―divulga gratuitamente as notícias mais importantes do setor assim como princípios e
funcionamento de equipamentos, máquinas e usinas para o tratamento de resíduos sólidos.‖
Baseado na PNRS esse portal disponibiliza vídeos informativos, bem como oferece cursos
particulares e gratuitos online, funcionando como um grande panfleto digital da PNRS. (PORTAL
DOS RESÍDUOS SÓLIDOS, 2017).
A presente pesquisa objetiva proporcionar uma aprendizagem significativa sobre a temática
Coleta Seletiva a 15 alunos matriculados no primeiro ano do ensino médio da Escola Estadual de
Ensino Fundamental e Médio Professor Crispim Coelho, localizada em Cajazeiras- PB. Como
recurso metodológico utilizou-se um vídeo informativo do Portal dos Resíduos Sólidos, um
simulador do BIOE e uma palavra cruzada desenvolvida no Hot Potatoes.

METODOLOGIA

Com o objetivo de inovar a abordagem da temática Coleta Seletiva, elaborou-se uma


sequencia didática para 15 alunos do primeiro ano do ensino médio da Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Professor Crispim Coelho, localizada em Cajazeiras- PB.
Inicialmente aplicou-se um questionário com o objetivo de identificar o embasamento
teórico que os mesmos apresentavam sobre a temática. Em seguida os alunos acessaram o Portal
dos Resíduos Sólidos, clicaram no ícone Tecnologia e escolheram a opção Coleta, onde
encontraram o vídeo intitulado: O que é a coleta Seletiva? Com duração de 07:10 min, disponível
em: http://www.portalresiduossolidos.com/coleta-seletiva/. Este vídeo aborda definições inerentes a
CS, bem como esclarece a responsabilidade do poder público e da pessoa civil, enfatizando a
coletividade necessária para que esse tipo de atividade venha a de fato se estabelecer como efetiva,
gerando renda e diminuindo consequentemente a quantidade de Resíduo Sólido a ser encaminhada
para os aterros sanitários.
Posteriormente os alunos acessaram o BIOE e utilizaram o Objeto Virtual de Aprendizagem
da categoria Animação/Simulação intitulado: Movimentando e Reciclando, disponível em:
http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/11595. O simulador no primeiro momento

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1238


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

estimula o aluno a confeccionar um boneco de materiais recicláveis, depois o aluno recebe a tarefa
de coletar vários resíduos que estão dispostos de maneira inadequada, poluindo o meio ambiente e
leva-los até os coletores da Coleta Seletiva, após esta etapa é testado o conhecimento do aluno sobre
a CS em um jogo de cartas que relaciona o objeto reciclado e o tipo de material utilizado para
confecção do respectivo objeto.
Por último como forma de avaliar o conhecimento adquirido pelo alunado com a sequência
didática, aplicou-se uma palavra cruzada formulada com 10 indagações sobre a temática trabalhada
e desenvolvida no Hot Potatoes.
Quanto aos procedimentos técnicos classifica-se como uma pesquisa bibliográfica, e
pesquisa-ação. Para o referencial teórico utilizou-se documentos já publicados como livros, leis e
periódicos para o embasamento teórico. Para Boccato (2006, p. 266): ―a pesquisa bibliográfica
busca a resolução de um problema (hipótese) por meio de referenciais teóricos publicados,
analisando e discutindo as várias contribuições científicas.‖.
A pesquisa-ação é realizada com o intuito coletivo, onde o pesquisador e os participantes da
pesquisa se envolvem na resolução de um determinado problema. Thiollent (1998, p. 14), destaca
que a pesquisa-ação é uma: "[...] pesquisa social com base empírica que é concebida em estreita
associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e
os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo
ou participativo‖.
Quanto aos objetivos é uma pesquisa descritiva, esse tipo de pesquisa é utilizado quando o
pesquisador tem a finalidade de conhecer as anuências de um determinado objeto de estudo, procura
entender suas propriedades, valores e dificuldades, etc. Para Gil (2008) as pesquisas descritivas,
delineiam as características de determinadas populações e/ou fenômenos.
Os dados foram analisados de maneira quantitativa. Segundo Richardson (1999) a pesquisa
quantitativa é distinguida da qualitativa pelo emprego da quantificação, na coleta de informações e
pela interpretação dos dados com tratamento de técnicas estatísticas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Formulou-se o questionário prévio com 10 indagações. No quadro I observa-se a resposta


representativa de 06 alunos sobre a definição de Coleta Seletiva. Dos 15 alunos envolvidos na
pesquisa, 80% definiram a CS, embora essa definição esteja incompleta se comparada à literatura,
percebe-se que alguns alunos relacionaram a Coleta Seletiva ao ato de separar lixo, outros
mencionaram a reciclagem e ainda houve quem afirmasse que é uma forma de não poluir o meio
ambiente. Porém 20% correspondendo a 03 alunos não souberam ou não quiseram responder
deixando o questionamento em branco.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1239


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Questão 01- Defina Coleta Seletiva.


Fala Representativa, Aluno 01. Fala Representativa, Aluno 02. Fala Representativa, Aluno 06.
―É a coleta e separação do lixo: ―Um gesto nobre de não poluir o ―Para mim coleta seletiva é o separamento
papel, metal, vidro, plástico e ambiente como também o mundo‖. dos recipientes coletados pelos coletores,
restos de alimento‖. tipo uma coisa de vidro se põe no lixo de
vidro, plástico no plástico, papel no papel
e metal no metal‖.
Fala Representativa do Aluno 09 Fala Representativa do Aluno 11 Fala Representativa, Aluno 12.
―Coleta de lixo produzido, onde ―É a coleta de resíduos‖. ―É a separação do lixo que pode servir
é selecionada a divisão certa‖. para reciclagem‖.
Quadro I: Definição da Coleta Seletiva. Fonte: Próprios Autores, 2017.

Na figura I, o percentual de 86,67% dos alunos afirmou a existência da Coleta Seletiva em


sua cidade e 13,33% destes afirmaram que não existe a CS. Quando questionados se já haviam
visualizado algum tipo de coletor para CS, na figura II, 60% responderam que sim, citando que
visualizaram nas ruas, escola e associações da cidade. Porém 40% dos alunos afirmaram não ter
visto nenhum coletor. Comparando esse dado com o do questionamento anterior, existe uma
contradição, pois alguns dos alunos que afirmaram a existência da CS em seu município também
afirmaram nunca ter visto os coletores da Coleta Seletiva.

Figura I: Existe CS no Município? Figura II: Já visualizou algum coletor?


Fonte: Próprios Autores, 2017.

Quando questionados como é feito o acondicionamento do lixo produzido em suas


residências, no quadro II, a fala representativa de 06 alunos demonstra que a maioria dos alunos e
seus familiares não separam os resíduos produzidos em suas residências, apenas um aluno afirmou
que a separação é feita algumas vezes. Comparando estes dados com a segunda indagação onde a
maioria de 86,67% dos alunos afirmou a existência da CS no seu munícipio fica notória mais uma
vez a contradição das respostas, pois se de fato houvesse a Coleta Seletiva conforme a maioria
respondeu que havia então eles mesmos e suas famílias deveriam separar os resíduos gerados em
suas casas.
Diante das contradições observadas nas respostas das questões 02, 03 e 04 pode-se levantar
a hipótese de que a maioria dos alunos confundiu Coleta Seletiva com o serviço de coleta de lixo
feito pela prefeitura de seu município. Visto que todos os alunos residem na cidade de Cajazeiras e

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1240


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

que este município não trabalha com a segregação dos resíduos sólidos, encontrando-se entre os
municípios brasileiros inadimplentes quanto com a disposição ambientalmente adequada dos
resíduos sólidos. Segundo Holzer (2012, p. 16):

A Coleta Seletiva deveria ser implantada em todas as cidades como uma das possibilidades
de redução do problema com Lixo. Desta forma, é importante que ela seja praticada
corretamente, pois grande parte do nosso Lixo é considerado inútil e na verdade a maioria
pode ser reaproveitado, desde que seja selecionado e armazenado adequadamente.

Questão 4- Na sua residência é feita a separação do lixo? Ou todo o lixo produzido é acondicionado no
mesmo recipiente?
Fala Representativa, Aluno 07. Fala representativa, Aluno 08. Fala Representativa, Aluno 06.
―No mesmo recipiente‖. ―Não, a gente separa‖. ―Não. Todo lixo no mesmo local‖.
Fala Representativa, Aluno 09. Fala Representativa, Aluno 12. Fala Representativa, Aluno 14.
―Só separamos o lixo orgânico dos ―Todo lixo produzido é ―As vezes sim e outras vezes não,
demais‖. acondicionado no mesmo quando esquecemos de separa a maioria
recipiente‖. das vezes acho que sim‖.
Quadro II: Acondicionamento dos Resíduos nas residências. Fonte: Próprios Autores, 2017.

Na figura III, apenas 40% dos alunos acertaram quando responderam que a cor do recipiente
coletor de papel é azul. Outros 40% responderam vermelho e 20% disseram verde, portanto 60%
dos alunos envolvidos na pesquisa responderam de maneira errônea este questionamento. Visto que
segundo a resolução de número 275, de abril de 2001 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) o recipiente para coleta de papel/papelão é azul. (BRASIL, 2001, p.80).
Na figura IV a grande maioria dos alunos contabilizando 93,33% respondeu de maneira
errada a cor do recipiente de coletar plástico, com percentuais iguais de 40% disseram
respectivamente amarelo e azul, outros 13,33% falaram marrom e apenas 6,67% equivalente a um
aluno respondeu vermelho. Segundo o CONAMA a cor do recipiente coletor de plástico é
vermelha.

Figura III: Cor do recipiente de Papel. Figura IV: Cor do recipiente de Plástico.
Fonte: Próprios Autores, 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1241


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Na figura V, a maioria de 53,33% respondeu certo ao afirmar que a cor do recipiente coletor
de vidro é verde, pois esta resposta está de acordo com a resolução do CONAMA. Outros 26,67%
responderam azul, 13,33% vermelho e 6,67% amarelo. Relacionando as questões 5, 6 e 7 pode-se
afirmar que a maioria dos alunos não soube relacionar a cor do recipiente da Coleta Seletiva com o
tipo de resíduo a ser descartado no mesmo.

Figura V: Cor do recipiente de Vidro. Fonte: Próprios Autores, 2017.

Quando questionados se existe alguma relação entre lixo, meio ambiente e qualidade de
vida, no quadro III, todos os alunos afirmaram que existe essa relação. Alguns citaram palavras
como coleta; poluição; lixo; saneamento básico e plantas em suas repostas, fato positivo, pois
embora, nem todos tenham conseguido responder certo os questionamentos sobre a Coleta Seletiva,
todos apresentam conhecimento sobre a relação entre lixo, meio ambiente e qualidade de vida.

Questão 08- Na sua opinião existe alguma relação entre lixo, meio ambiente e qualidade de vida?
Fala Representativa, Aluno 04. Fala Representativa, Aluno 05. Fala Representativa, Aluno 07.
―Sim, pois se não houver a coleta vai ―Sim, pois a poluição pode ―Sim, até porque se não cuidarmos bem
prejudicar o meio ambiente e claro a causar danos a nossa saúde e a do meio ambiente iremos ter uma
vida‖. natureza‖. qualidade de vida péssima‖.
Fala representativa, Aluno 10. Fala Representativa, Aluno 12. Fala Representativa, Aluno 13.
―Com certeza. Pois muito lixo ―Sim, pessoas que moram em ―Sim, pois se não colocarmos o lixo no
acumulado e jogado em lugar ruas que não tem saneamento lugar certo acaba o meio ambiente no
inapropriado acaba com o meio básico são mais propensas a qual acaba as plantas e por fim nossa
ambiente, que atinge na qualidade de ficarem doentes‖. vida‖.
vida‖.
Quadro III: Relação entre Lixo, Meio Ambiente e Qualidade de Vida. Fonte: Próprios Autores, 2017.

No quadro IV os alunos participantes da pesquisa citaram os problemas ambientais


ocasionados pelo descarte inadequado do lixo. Entre os citados: Morte de plantas e animais;
poluição de rios, lagos e aguas subterrâneas; doenças como dengue e zika. Para Oliveira, Melo e
Vlach (2005, p. 134) ―Do ponto de vista da degradação ambiental o lixo representa mais que
poluição. Significa também, muito desperdício de recursos naturais e energéticos‖.

Questão 09- Cite problemas ambientais ocasionados pelo descarte inadequado do lixo.
Fala Representativa, Aluno 01. Fala Representativa, Aluno 03. Fala Representativa, Aluno 06.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1242


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

―Primeiro mau cheiro, depois ―Morte de plantas, doenças; a ―Poluição de rios e lagos, mortes de
cachorros podem passar e rasgar a poluição das águas subterrâneas animais, etc.‖.
sacola sujando tudo e causando a e muitos outros problemas
poluição‖. ambientais‖.
Fala Representativa, Aluno 08. Fala Representativa, Aluno 11. Fala Representativa, Aluno 15.
―Poluição, transmissão de doenças, ―Poluição dos rios, da natureza ―Doenças causadas pelos mosquitos que
destruição da natureza e dos e até morte de animais‖. se dar através do lixo descartado
animais‖. inadequado. Ex: dengue, zika e outros‖.
Quadro IV: Problemas Ambientais pelo descarte inadequado do Lixo. Fonte: Próprios Autores, 2017.

No quadro V, observa-se as respostas representativa de 06 alunos, onde os mesmos de certa


maneira se consideram agentes poluidores do meio ambiente, citando o fato de jogar lixo na rua, no
chão como um hábito errado e causador de poluição para o meio ambiente. Para Carvalho e Orsine
(2011, P. 1108) ―A geração e o destino dos resíduos sólidos resultantes das atividades domiciliares
e urbanas é um dos principais problemas ambientais identificados nos pequenos, médios e
principalmente nos grandes centros urbanos‖.

Questão 10- Você se considera um agente poluidor do meio ambiente? Por quê?
Fala Representativa, Aluno 02. Fala Representativa, Aluno 05. Fala Representativa, Aluno 07.
―Nem tanto, pois eu tento jogar lixo ―Sim. Por causa das pequenas ―Sim, porque mesmo as vezes tomando
no lixo, evito jogar nas ruas‖. coisas, como jogar na rua papeis cuidado, a gente acaba jogando algo no
de bombom, caixinhas de suco‖. chão, ou no lugar errado‖.
Fala Representativa, Aluno 09. Fala Representativa, Aluno 10. Fala Representativa, Aluno 13.
―As vezes, porque nem sempre eu ―As vezes, quando jogo o lixo ―Muita das vezes sim, mais tento
jogo o lixo no seu devido lugar‖. no chão‖. diariamente tirar o habito de jogar lixo
no chão‖.
Quadro V: Concepção sobre ser um Agente Poluidor. Fonte: Próprios Autores, 2017.

Aplicou-se a palavra cruzada com o objetivo de verificar o conhecimento adquirido pelos


alunos sobre a Coleta Seletiva após a sequência didática trabalhada. A figura VI representa a
palavra cruzada que os alunos responderam após assistirem o vídeo e usarem o simulador. Ao
analisar a cruzada respondida pelos alunos, pôde-se constatar que todos eles acertaram todas as
respostas, alguns conseguiram responder em menor tempo, outros precisaram de mais tempo para
responder.
Diante da análise e partindo do fato de todos terem conseguido compreender as indagações e
respondê-las corretamente, pode-se afirmar de modo geral que os alunos tiveram uma aprendizagem
significa sobre a temática abordada na sequência didática executada. Visto que algumas das
indagações da palavra cruzada foram trabalhadas no questionário prévio e a maioria dos alunos
respondeu de forma errônea.
Para Silva e Silva-Forsberg (2009, p.05) ―A utilização das palavras cruzadas como
ferramenta didática procura criar oportunidades onde o desafio e a curiosidade são favorecidos,
facilitando o trabalho de construção do conhecimento‖. Além de funcionar como apoio didático é
uma ferramenta eficaz no desenvolvimento da ortografia, criando assim um elo interdisciplinar entre a
Ciências/Educação Ambiental e Língua Portuguesa.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1243


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura VI: Palavra Cruzada Coleta Seletiva. Fonte: Próprios Autores, 2017.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados aferidos nesta pesquisa pode-se afirmar que a sequência didática
aplicada contribuiu de maneira significativa na construção do conhecimento do público envolvido
sobre a temática Coleta Seletiva, isto fica evidenciado quando 100% dos alunos conseguiram
resolver a palavra cruzada.
Reafirma-se com esta pesquisa que os recursos digitais favorecem de maneira significativa
para o processo de ensino/aprendizagem, pois estes aproximam os alunos dos conteúdos
trabalhados, diminuindo o distanciamento entre teoria e prática.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOCCATO, V. R. C. Metodologia da pesquisa bibliográfica na área odontológica e o artigo


científico como forma de comunicação. Rev. Odontol. Univ. Cidade São Paulo, São Paulo, v. 18,
n. 3, p. 265-274, 2006.

BRASIL. Lei 12.305, de 02/08/2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Brasília, 2010.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm.
Acessado em: 10 de jul. de 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1244


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

________. Resolução CONAMA. nº 275, de 25 de abril de 2001. Disponível em:


http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=273 Acesso em 14 jul. 2017.

_________. Resolução CONAMA. nº 306, de 5 de julho de 2002. Disponível em:


http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=306 . Acessado em 10 de jul. de
2017.

CARVALHO, J. C. B. de; ORSINE, J. V. C. Contaminação do meio ambiente por fontes diversas e


os agravos à saúde da população. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer. Goiânia,
vol.7, N.13; 2011.

CUNHA, S. B. da.; GERRA, A. J. T. A questão ambiental: diferentes abordagens. 5º. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil,250 p. 2009.

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9º. ed. São Paulo: Gaia, 551 p. 2004.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

HOLZER, G. dos S. A. Lixo: coleta seletiva e reciclagem. Monografia de Especialização Ensino de


Ciências, Medianeira,2012.

NETO, A. S.; CAMPOS, L. M. S. do.; SHIGUNOV, T. Fundamento da Gestão Ambiental. Rio de


Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda., 295 p. 2009.

OLIVEIRA,M. G. R.;MELO, E. O.;VLACH, V. R. F. A implantação da coleta seletiva de lixo em


escolas do município de Araguari (MG): equívocos e perspectivas.2005.

PELICIONI, M. C. F. Educação Ambiental, qualidade de vida e sustentabilidade. Saúde e


Sociedade, v. 7, n. 2, p. 19-31, 1998.

PORTAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS. Disponível em: http://www.portalresiduossolidos.com/


Acesso em: 14 jul. 2017.

RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

SILVA, E. K. S da; et al. Aquecimento global: caracterização dos objetos de aprendizagem


disponibilizados pelo BIOE. Anais do Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental e
Sustentabilidade - Vol. 4: Congestas. ISSN 2318-7603, 2016.

SILVA, K. N. da.; SILVA-FORSBERG, M. C. Palavras-cruzadas na educação ambiental: recurso


didático de abordagem da coleta seletiva. 2009. Disponível em:
http://posgrad.fae.ufmg.br/posgrad/viienpec/pdfs/1569.pdf Acesso em: 14 jul. 2017.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1245


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

SPINELLI, W. Os objetos virtuais de aprendizagem: ação, criação e conhecimento. 2007.


Disponível em: http://www.lapef.fe.usp.br/rived/textoscomplementares/textoImodulo5.pdf.
Acesso em: 12 jul. 2017.

THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 8. ed. São Paulo: Cortez, 1998.

TRIGUEIRO, A. (Coord.). Meio Ambiente no Século 21. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2003.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1246


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL: TRILHAS


INTERPRETATIVAS

Isabella Ferreira dos SANTOS


Estudante de Licenciatura em Ciências Naturais da Faculdade Unb Planaltina
isabellaferreirads@gmail.com

Joaquim Ferreira LOPES


Estudante de Licenciatura em Ciências Naturais da Faculdade Unb Planaltina
joaquimferreira1996@bol.com.br

Maria Lúcia Alves de Oliveira das CHAGAS


Estudante de Licenciatura em Ciências Naturais da Faculdade Unb Planaltina
mariakarateca@yahoo.com.br

Matheus CASTILHO
Estudante de Licenciatura em Gestão do Agronegócio da Faculdade Unb Planaltina
castih4.unb@gmail.com

RESUMO
O artigo trata como as trilhas ecológicas podem impactar positivamente para os participantes e
alunos do ensino fundamental, apresentar como é caracterizado uma trilha ecológica interpretativa e
como a metodologia é dada para o público em geral, trazendo percepções e despertar a curiosidade
acerca do parque sucupira para a promoção da educação ambiental e do meio ambiente, através da
participação ativa da escola próxima a Faculdade Unb Planaltina e moradores locais da região.
Discutir como a apreensão desse conteúdo é dada de forma interdisciplinar e como os estudantes de
graduação atuantes do projeto efetuam seu procedimento acerca do evento, além de praticar o
exercício de outras atividades como seminários, palestras, oficinas como tema central a própria
unidade de preservação e o meio ambiente delimitada nos temas estudados de cada integrante do
projeto, e escutando com muita atenção, analisando as questões que os participantes da trilha
colocam para melhorar e aprofundar sustentavelmente com o objetivo que eles saiam da trilha
levando algo diferente, reflexivo e motivador divulgando nos meios de comunicação sua mudança
na relação entre ser humano e natureza.
Palavras Chave: Educação Ambiental, Trilhas Interpretativas, Interdisciplinaridade, Parque
Sucupira.
RESUMEN
El artículo trata cómo las sendas ecológicas pueden impactar positivamente para los participantes y
alumnos de la enseñanza fundamental, presentar como se caracteriza un sendero ecológico
interpretativo y cómo la metodología es dada al público en general, trayendo percepciones y
despertar la curiosidad acerca del parque sucupira para el parque sucupira para el público La
promoción de la educación ambiental y del medio ambiente, a través de la participación activa de la
escuela próxima a la Facultad Unb Planaltina y habitantes locales de la región. Discutir cómo la
aprehensión de ese contenido es dada de forma interdisciplinaria y cómo los estudiantes de
graduación actuantes del proyecto efectúan su procedimiento sobre el evento, además de practicar el
ejercicio de otras actividades como seminarios, conferencias, talleres como tema central a la propia
unidad de preservación y El medio ambiente delimitado en los temas estudiados de cada integrante
del proyecto, y escuchando con mucha atención, analizando las cuestiones que los participantes del

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1247


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

sendero ponen para mejorar y profundizar sostenidamente con el objetivo que ellos salgan de la
pista llevando algo diferente, reflexivo y motivador divulgando Los medios de comunicación su
cambio en la relación entre ser humano y naturaleza.
Palabras clave: Educación Ambiental, Rutas Interpretativas, Interdisciplinaridad, Parque Sucupira.

INTRODUÇÃO
Denominado ―Educação Ambiental no Parque Sucupira‖, um Projeto de Extensão de Ação
Contínua (PEAC), que foi criado em 2010 na Faculdade UnB Planaltina, com a iniciativa e
organização das professoras e coordenadoras Olgamir Amancia e Regina Coelly, veio da
necessidade de constituir uma relação intrínseca e sensitiva entre o homem e o meio ambiente na
cidade de Planaltina-DF.
O projeto busca evidenciar que a relação entre ser humano e natureza partiu da necessidade
entre ambas as partes, da comunidade local e a faculdade, que por meios de atividades educativas
onde estimulam a participação e interação dos moradores e colaboradores do parque, tenham
consciência que o espaço se designa como uma unidade de preservação e que deve ser valorizada no
seu âmbito bio-social em relação ao seu patrimônio ambiental.
O projeto visa sensibilizar a comunidade quanto à necessidade de preservação e valorização
do Parque através de ações educativas como promoção da biodiversidade por meio de trilhas
ecológicas dentro do Parque Sucupira. Desde sua criação, a partir das conquistas consolidadas, o
projeto obteve seu viés abordado em alguns programas de televisão local. O projeto conta com o
suporte e empenho da comunidade local como os moradores e simpatizantes do parque, e
acadêmica, como professores e estudantes universitários que atuam na FUP (Faculdade UnB
Planaltina).
A presença dos professores (as) e estudantes da FUP dos cursos de Licenciatura em Ciências
Naturais, Gestão Ambiental e Gestão do Agronegócio são cruciais para que tenha uma comunicação
entre os cursos e a comunidade. Também interagem por meio do projeto estudantes e professores
(as) de escolas públicas do Centro de Ensino Fundamental 04 (CEF04) e do Centro de Ensino N.
Sra. De Fátima (CENSFAT), a Estação Ecológica de Águas Emendadas e a rádio comunitária
parceira do projeto, a Utopia FM 98.1.
A Comunidade que mora próxima ao parque interage nos eventos, sendo incluso na Semana
Universitária em atividades tais como: trilhas interpretativas, rodas de conversas, seminários de
promoção e preservação do ambiente, além de ser disponibilizados os trabalhos produzidos no site
oficial e página do facebook. O objetivo desse artigo é apresentar de forma técnico-metodológica
sua atuação do projeto dentro do parque, detalhar seus planejamentos, atividades e ações com
enfoque nas trilhas ecológicas interpretativas realizadas.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1248


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

A justificativa da produção do mesmo é mostrar que o trabalho realizado das trilhas


interpretativas nos intermédios do parque, elas têm seu potencial e são a partir das respostas,
comentários da comunidade e dos alunos envolvidos nas propostas melhoram nosso trabalho e
refletem na consciência dos pequeninos em temas relacionados à: preservação, meio ambiente,
sustentabilidade e conscientização, dando uma visão global sobre o meio ambiente.

TRILHAS INTERPRETATIVAS: UMA ABORDAGEM METODOLÓGICA NO PARQUE


ECOLÓGICO SUCUPIRA

Quando falamos em Educação Ambiental, temos que se lembrar da importância que ele é
abordado e como ele deve ser tratado, baseamos nosso pensamento acerca de Educação Ambiental
nos Parâmetros curriculares Nacionais (2001, p.181):

A preocupação em relacionar a educação com a vida do aluno – em seu meio, sua


comunidade – não é novidade. Ela vem crescendo especialmente desde a década de 60 no
Brasil (...). Porém, a partir da década de 70, com o crescimento dos movimentos
ambientalistas, passou-se a adotar explicitamente a expressão ―Educação Ambiental‖ para
qualificar iniciativas de universidades, escolas, instituições governamentais e não
governamentais por meio das quais se busca conscientizar setores da sociedade para as
questões ambientais. Um importante passo foi dado com a Constituição de 1988, quando a
Educação Ambiental se tornou exigência a ser garantida pelos governos federal, estaduais e
municipais.

Por intermédio de iniciativas educativas como as trilhas ecológicas interpretativas, locuções


de rádio e mídias sociais, os componentes do projeto e a comunidade quanto à aplicação e utilidade
de preservação é prestigiar sua aplicabilidade em ser um local de aprendizado. Nada melhor que a
natureza para nos ensinar. Também atuam para manter que o espaço do parque seja diversificado a
ser utilizado pela população, numa relação balanceada entre comunidade e natureza.
A metodologia de investigação na formulação do conhecimento é definida nas realizações
do projeto. As trilhas ecológicas interpretativas permitem a interlocução entre universitários de
graduação e educação básica a racionalização sobre assuntos relacionados a avanço social e
econômico, assim como dúvidas acerca das características do parque sucupira. Ela é aplicada em
diversas vertentes, tendo o tema central a Educação Ambiental, pois no projeto temos diversas
formas de comunicação entre os integrantes e os participantes do projeto. No site e na página do
facebook, publicamos matérias, artigos, fotos, eventos e atividades que promovam a interação deles
e que encurtam a comunicação entre nós e o usuário. Na rádio Utopia, planejamos encontros
semanais onde os alunos podem dar suas opiniões sobre o parque e trazemos assuntos de forma que
acomode a todos os tipos de público, além de participações especiais como professores e pessoas
públicas que se interessam pelo programa.
Mas antes de aprofundarmos em como é que funciona a trilha interpretativa, primeiro
precisamos saber qual é a importância de uma trilha interpretativa, seu potencial é importante pois o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1249


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ambiente e o humano se conectam e começam a perceber características a partir da percepção num


ponto de vista crítico.Segundo De Paiva e De França (2007, pg 112), é dada dessa forma:

A interpretação ambiental potencialmente pode traduzir-se em atividade educativa, com


destaque para o contato direto com o recurso que se está interpretando. Esse contato
viabiliza novas experiências, além de revelar significados com o uso de objetos originais.
Assim, as trilhas são instrumentos a serem utilizados de maneira multidisciplinar,
articulando diversas áreas do saber – biologia, geografia, psicologia, educação, educação
física etc. –, propiciando abordagens transversais da temática ambiental, bem como a
conscientização dos sujeitos envolvidos. Um dos objetivos da interpretação deve ser
sensibilizar os visitantes para a importância de preservar os recursos a serem interpretados.
Isso porque o aumento do número de pessoas que buscam o contato com práticas lúdicas
com os ambientes naturais, segundo Guimarães (2003), tem crescido na mesma proporção
em que se agrava a necessidade de adequação dessas práticas com a conservação do lugar,
haja vista o número de grupos que são formados, tanto comercialmente como
voluntariamente, para vivenciar esse tipo de atividade.

Nas trilhas interpretativas, temos um grupo fechado numa rede social com os/as
professores/as da escola CENSFAT e o projeto Parque Sucupira em si e definimos as reuniões
dentro da escola, que são quinzenais, definindo que turmas irão ao parque e como será dividida a
tarefa para cada integrante do projeto. Cada pessoa que participa do projeto tem um tema de estudo
sobre o parque e eles abordam temas que são importantes, pois instigam o participante a olhar com
um pensamento mais consciente e ativo com a natureza, por exemplo: Fitofisionomia, Flores,
Insetos, Pequenos animais, a poluição e degradação do espaço do parque (por exemplo, a
cascalheira) todos relacionando o ambiente em questão juntamente com o conhecimento
introdutório do cerrado para os participantes. Segundo Carvalho (et al) (2013, pg 3), é importante
abordar esses parâmetros para os alunos, pois a trilha interpretativa aplicada fora da escola tem o
efeito de:

A educação ambiental tem o importante papel de formar sujeitos críticos que tenham
acapacidade de entender os processos e relações existentes no seu meio. Vimos também
que a mesma deve proporcionar integração entre as outras áreas do conhecimento de forma
interdisciplinar compreendendo as transformações que ocorrem na sociedade. É preciso
reconhecer que ela é fundamental para a sobrevivência do ser humano na terra. Mas, ainda
é necessário que ocorram mudanças no que diz respeito aos aspectos educacionais que
envolvem a formação continuada do professor e o envolvimento da sociedade, levando em
consideração que isso é algo imprescindível para a formação crítico sócio/ambiental do
individuo.

Nas trilhas que realizamos, aplicamos a atividade nas turmas de 3°, 4° e 5° anos do ensino
fundamental. As trilhas duram em média de 2h, escolhemos sempre o período da manhã, pois
facilita a chegada dos alunos e a emissão de radiação solar está baixa, portanto não terão problemas
com calor, recomendamos sempre levarem boné e uma garrafa d‘água para que estejam bem
hidratados durante a atividade. Inicialmente reunimos todos os alunos e participantes da trilha e
formamos um círculo, em seguida fazemos uma dinâmica simples para ―quebrar o gelo‖, onde um
integrante do projeto traz uma pessoa qualquer dentro do círculo humano, venda essa pessoa e
chama outra pessoa que ela conhece e ela tem que descobrir quem é essa pessoa apenas ouvindo sua

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1250


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

voz, se acertar todos batem palmas, se não acertar, paga uma prenda, por exemplo: dar três pulos.
Após da dinâmica, perguntamos aos alunos o que eles sabem sobre o parque, se eles já
frequentaram e se frequentaram, o que fizeram dentro do parque ou o que acharam de interessante
ou estimulante que eles fossem para lá. As respostas são muito sinceras, visto que algumas vão para
brincar de bola, outros para conversar, outros para soltar pipa, enfim, alguns não tinham a
percepção ambiental que esperávamos que soubessem, mas outros nos surpreenderam identificando
algumas árvores dentro do parque e observando os animais que eles viam costumeiramente.
Continuamos a trilha dividindo os participantes em grupos, na última trilha que efetuamos
no CENSFAT, cada integrante ficou com uma turma por volta de 15 alunos, acompanhado pelo
integrante do projeto e a professora regente, com a participação das coordenadoras do projeto.
Abordamos a parte histórica e política explicando que o parque não tinha tanto interesse
governamental e que com a luta dos moradores e do projeto, conseguimos abrir espaço e cercar o
parque com grades e ter mais segurança para melhorar a experiência do usuário. É explicado o
porquê do nome do parque ser batizado na popular árvore Sucupira e mostrar pontos relevantes da
sua abordagem dentro do seu aspecto ambiental. Cada componente do grupo discute e indaga com
os alunos como poderiam ser melhoradas e evidenciadas a importância de preservar o parque e não
acumular entulho e sujeira, pois o espaço não é destinado para tal fim.
Durante a atividade eles fazem uma série de perguntas, abordam questões sobre experiências
prévias e o cotidiano que eles tiveram em viagens ou em passeios que participaram, tendo em vista
que muitos já ajudaram o parque de alguma forma, seja sinalizando algum problema interno para o
guarda ou atividades ilegais de outros moradores que prejudicam o bom funcionamento do mesmo.
Assim que falamos sobre o que é o cerrado, como ele se comporta no Brasil e qual é a
interação e importância do parque nesse contexto com a experiência dos componentes do projeto
em explicar sua especialidade, voltamos para o ponto de encontro do parque, realizamos uma
pequena pesquisa com eles sobre o que eles acharam de mais importância no parque e o que eles
refletem acerca do tema ou se antes de participar da trilha, eles tiveram essa visão de pensar que o
parque é mais que um espaço somente para brincar e se divertir, que existe uma comunidade de
seres que modificam o ambiente e contribuem para que tenha sua essência preservada, pois uma
unidade de preservação que tenha o caráter ambiental deve ser considerada um modelo a seguir do
que deve ser o habitat natural da fauna, da flora, recursos minerais e ecológicos em geral.
Todos os dados e informações coletadas, vão para a sala do projeto onde catalogamos e
analisamos para que nas próximas trilhas ecológicas interpretativas, possamos melhorar a
experiência e interações dos envolvidos de forma que não apenas conscientize que o parque deve
ser preservado, mas que sensibilizem e atuam como seres pró-ativos e colaboradores do espaço.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1251


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Os resultados obtidos a partir da pesquisa de opinião que procurou reter a percepção da


comunidade sobre o parque têm demonstrado ações efetivas, pesquisas importantes sobre essa
percepção e pontos essenciais sobre o nível de conscientização das dos frequentadores que
permeiam no parque.

RESULTADOS E DISCUSSÕES ACERCA DA TRILHA INTERPRETATIVA

De acordo com a prática finalizada e com as ideias e percepções obtidas, percebemos que
boa parte dos alunos levam para suas casas a aprendizagem e reflexão que tiveram durante a trilha,
muitas das professoras durante a reunião quinzenal relatam casos para conosco e demonstra que a
proposta da atividade obteve êxito na sua aplicação.
Inclusive, a escola CENSFAT baseia bastante suas atividades de acordo com o cotidiano e o
conhecimento prévio dos alunos, as professoras sempre colocam exemplos palpáveis que os alunos
possam apreender e ramificar o conteúdo de forma mais simplificada e efetiva estimulando o
entendimento dos alunos, entretanto isso é possível através dos conceitos construídos nas trilhas,
pois faz uma analogia como uma sala de aula ao ar livre, onde podemos observar tirar hipóteses
sobre os assuntos acerca, refletir e analisar sobre pontos que remetem e o que os jornais televisivos
locais e nacionais retratam sobre Educação ambiental, meio ambiente e sociedade, atuando na
forma de ensino interdisciplinar, pois integra disciplinas como: Biologia, Ecologia, Química,
Matemática (Economia, Impacto Ambiental) e Português, quando eles fazem redação sobre o tema..
Seus aspectos socioambientais e educativos demonstram pontos importantes sobre o
aprendizado dos alunos, pois compreendem o que o meio ambiente pode oferecer a eles além de um
espaço onde parece ser imóvel, desinteressante e desmotivador, guarda muitos segredos e revela
que a atividade pode estimular a imaginação e novas ideias para melhorar o ambiente que
frequentam, com novas ações e possivelmente se interessar e ingressar para contribuir nas
intervenções do projeto.
Segundo De Paiva e De França (2007), participar de uma trilha interpretativa faz com que
descubramos até onde podemos intervir na natureza, reconhecer nossos limites e fazer com que
pensemos mais nas relações humanas, buscando meditar sobre as mudanças que o tempo
contemporâneo não permite mostrar. Proporciona a grandeza da cooperação, da solidariedade, do
especial e limitante, convivendo com a diversidade e contradições de pensamentos entre si. Cada
um leva consigo algo diferente depois da experiência, seja um novo olhar sobre o que vive, seja um
impacto, um sentimento novo, coisas que na escola tradicional não é possível realizar de forma
significativa. Portanto, a trilha é um instrumento pedagógico muito forte e que com a comunhão de
diversas disciplinas, pode proporcionar a observação e capacidade de ampliar seu campo de estudo
através de práticas investigativas.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1252


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

CONCLUSÃO
O objetivo desse artigo é evidenciar que a prática e atuação do projeto em relação ao projeto
parque sucupira por meio das trilhas interpretativas têm prosperado bastante e progrediu de forma
angular. Acreditamos que o projeto tenha seu papel muito importante dentro do parque pois foi ele
que revitalizou e deu outra perspectiva em relação ao espaço, permitiu-se criar uma proteção através
deste pois o parque servia de entulho e lixo para os carroceiros e alguns moradores da região, que
não tinham como depositar no local correto para que não seja invadido por pessoas de cunho
duvidoso e que impeça de o parque se desenvolver.Tanto que uma área do parque está degradada,
no caso a cascalheira, não pode ser plantado nada no espaço por causa da invasão de pessoas que
tinham poder aquisitivo e queriam dominar o que é da população local, acabaram denegrindo o
terreno, ficando impróprio para o plantio.
Por mais que o trabalho do parque seja efetivo e animador, ainda não tem um espaço que
garantam um ambiente sadio para desenvolver atividades públicas abertas além da trilha ecológica
de forma que atenda a população inteira e que promova ações diárias e transformadoras para
usufruir de lazer, de aprendizagem e reflexão.
A percepção da comunidade e dos professores são positivas e acreditam que o projeto deve
continuar e demonstrar que suas ações deram frutos e que esses frutos devem continuar e germinar
para novas regiões, novos parques, até que todas as pessoas possam se conscientizar e sensibilizar
sobre a percepção do que é um parque e que ele deve ser preservado com todos os envolvidos.
As práticas que o projeto oferece ajudam a desenvolver cognitivamente os alunos, pois
temos resultados e melhoramento das discussões quando efetuamos seminários, oficinas para
promoção do meio ambiente, palestras e conversas informais com os envolvidos.
Como BRITO (2015), é moradora de Planaltina DF e acredita que é necessário persistir na
luta de melhorar o espaço que transmita condições que todos os usuários possam ter um ambiente
saudável para praticar qualquer atividade no parque, e que sintam acolhidos com o local, os
administradores precisam agir para tomar, nas palavras dela, ―é formentar a falta de ação‖.

REFERÊNCIAS

BRITO, Sabrina L. Parque sucupira e o direito humano ao meio ambiente em Planaltina - DF


Disponível em:<http://bdm.unb.br/handle/10483/14189> Acesso em: 26 agosto 2015.

CARVALHO, Katia Gomes et al. A Importância da Educação Ambiental na Escola.

Brasil, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de educação Fundamental. Parâmetros


Curriculares Nacionais: Meio Ambiente e Saúde Temas Transversais. 3ª. ed. Brasília, 2001.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1253


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

DE PAIVA, Andréa Carla; DE FRANÇA, Tereza Luiza. Trilhas interpretativas: reconhecendo os


elos com a educação física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 28, n. 3, 2007.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1254


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

GINCANA ECOLÓGICA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL E INTERDISCIPLINARIDADE


NO ESPAÇO ESCOLAR

Juliclécia kelly da SILVA


Graduanda em Ciências Biológicas da UFRN
juliclecia_kelly@hotmail.com
Aleson da Silva FONSECA
Graduando em Ciências Biológicas da UFRN
fonseca.aleson@gmail.com
Giulianna P. V. de Andrade SOUZA
Doutora em Ciências Biológicas. Professora da UFRN
giulipaiva@yahoo.com.br

Ivaneide Alves Soares da COSTA


Orientadora. Doutora em Ecologia e Recursos Naturais. Professora da UFRN
iasoaresc@gmail.com

RESUMO
O objetivo desse trabalho é divulgar os resultados obtidos em uma Gincana Ecológica realizada
com o intuito de comemorar de forma lúdica o dia mundial do meio ambiente, visando sensibilizar
os alunos sobre a cultura de Reduzir, Reciclar e Reutilizar, promovendo um espaço para a geração
de ideias e o despertar de uma nova postura crítica e participativa, à frente das questões
socioambientais. A ação foi elaborada e aplicada em uma escola pública da cidade do Natal/RN, por
licenciandos bolsistas do curso de Ciências Biológicas do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência (PIBID Biologia). Participaram alunos do 6º ano ao 9º ano do Ensino
Fundamental, compreendendo 12 turmas do período vespertino, atendendo em média 380 pessoas,
entre alunos, professores e funcionários da instituição. Essa ação foi dividida em 3 etapas: (I)
Elaboração e Divulgação da Gincana na escola; (II) Divisão das turmas por equipes e Execução das
atividades prévias; (III) Dia ―D‖: Gincana Ecológica. Para cada etapa foram necessárias 4 horas,
divididas ao longo de uma semana. Evidenciou-se grande empenho e participação dos alunos da
Gincana Ecológica, lavrado no discurso durante a execução das provas. Destaca-se a compreensão
dos alunos acerca dos elementos fundamentais para minimizar os desafios dos resíduos sólidos.
Concluímos que os alunos possuem a noção de totalidade, ou seja, compreende que o Homem como
agente do meio é responsável pelas transformações, seja do ponto de vista benéfico ou principal
causador dos problemas ambientais.
Palavras-chave: Resíduos sólidos. Responsabilidade socioambiental. PIBID.
ABSTRACT
The objective of this work is to disseminate the results obtained in an Ecological Gymkhana, carried
out with the purpose of celebrating in a playful way the world day of the environment, in order to
sensitize students about the culture of Reduce,Recycle and Reuse and promoting a space for the
generation of ideas and the awakening of a new critical and participative posture, ahead of the
socio-environmental issues. The action was elaborated and applied in a public school of the city of
Natal / RN, by licenciandos scholars of the course of Biological Sciences of the Institutional
Program of Initiatives to Teaching Grants (PIBID Biology). Students from the 6th to the 9th year of
elementary school, comprising 12 classes from the afternoon period, attended on average 380
people, among students, teachers and employees of the institution. The initiative was divided into

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1255


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

three stages: (I) Elaboration and Dissemination of Gymkhana at school; (II) Division of teams by
teams and Execution of previous activities; (III) Day "D": Ecological Gymkhana. For each stage it
took 4 hours, divided over a week. There was evidence of great commitment and participation of
the students of the Ecological Gymkhana, written in the speech during the execution of the tests. It
highlights the students' understanding of the fundamental elements to minimize the challenges of
solid waste. We conclude that students have the notion of totality, that is, they understand that man
as an agent of the environment is responsible for the transformations, either from the beneficial
point of view or the main cause of environmental problems.
Keywords: Solid waste. Socio-environmental responsibility. PIBID.

INTRODUÇÃO

A revolução industrial deixou marcas profundas do ponto de vista socioambiental, uma vez
que antes, usávamos os recursos naturais sem alterar tão significativamente o meio ambiente.
Entretanto, com o passar dos anos, os intensos avanços tecnológicos veio acompanhado de
desmatamentos, utilização de combustíveis fósseis e geração de resíduos sólidos, deixando marcas
profundas na natureza. O fato é que a revolução industrial mudou diretamente a dinâmica ambiental
(ROMEIRO, 2011).
Costa (2012) reafirma essa preposição, pois ele enfatiza que estamos vivenciando um
momento de transição no que diz respeito às conjunturas socioambientais, onde as ações antrópicas
alteram a paisagem, a partir da exploração dos recursos naturais. Esse uso não racional tem como
consequência a alteração da dinâmica dos ecossistemas. Em contrapartida, Educação Ambiental
(EA) surge como um campo do conhecimento que veio questionar o papel humano dentro deste
processo. Além disso, a EA tem como propósito o reconhecimento, valorização, planejamento e
mudanças do caráter socioambiental da humanidade (CHAGAS, 2011).
Effting (2007) destaca a EA como instrumento para minimizar os efeitos do homem sobre o
meio, buscando o desenvolvimento do pensamento crítico dos sujeitos para o empoderamento e
desenvolvimento de estratégias políticas públicas voltadas para conservação dos recursos naturais, a
fim de estalar a ―Ética Ecológica‖.
A EA é uma base metodológica, pautada em princípios norteadores para a construção crítica
e sistêmica dos valores morais e éticos para com o meio ambiente, possibilitando a compreensão do
sujeito como indivíduo formador e principal agente de transformação ambiental (MORALES et al.,
2012).
De acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental, todas as instituições de ensino
devem trabalhar conceitos socioambientais dentro de seus currículos de modo interdisciplinar
(BRASIL, 1999). Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s) reconhece o tema Meio Ambiente
como tema transversal, e sendo assim, demanda a fundamentação em diferentes áreas do

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1256


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

conhecimento (BRASIL, 1997). E interdisciplinaridade, portanto, garante um maior engajamento


para promover a sensibilização.
A sensibilização ambiental deve ser entendida como um processo contínuo de compreensão
da natureza e suas conexões, a fim de se atingir a conscientização, que seria o ponto auge da
compreensão dos efeitos humanos sobre a natureza.
Refletir e agir são duas palavras marcantes que se destaca como indispensável dentro dos
objetivos de uma proposta de caráter socioambiental, refletir a ação humana sobre a natureza. E daí
surge o ―agir‖, à medida que você reflete sobre o homem envolvido com o meio, é possível
perceber onde estamos errando e de que maneira podemos resolver a situação.
Diante desta perspectiva de ―pensar e agir‖, se observa que os objetivos básicos da EA estão
sendo contemplados (CONRADO; CHAGAS; SILVA, 2016), mas não se pode abandonar o
individuo que passou pela sensibilização, pois a conscientização não é atingida de imediato. A
formação ecológica deve persistir, até a conscientização ser de fato atingida. Isto acontece por que a
conscientização é algo intrínseco do ser humano, e demanda tempo para que o sujeito possa agir
pautado na ―ética ecológica‖ destacada por Effting (2007).
A literatura nos mostra diferentes formas para trabalhar com esta temática. A união de
elementos lúdicos com conceitos em EA torna a aprendizagem mais interessante para os alunos.
Chagas (2011, p. 29) destaca que ―a presença do elemento lúdico significa o desencadear de um
processo de conscientização, através de ações recreativas, incorporando a crítica e a criatividade‖.
Assim, o objetivo desse trabalho é divulgar os resultados obtidos em uma Gincana
Ecológica, realizada com o intuito de comemorar de forma lúdica o dia mundial do meio ambiente,
visando sensibilizar os alunos sobre a cultura de Reduzir, Reciclar e Reutilizar e promovendo um
espaço para a geração de ideias e o despertar de uma nova postura crítica e participativa, à frente
das questões socioambientais.

METODOLOGIA

A proposta da Gincana Ecológica foi aplicada na semana do Meio Ambiente, no ano de 2015.
A ação foi realizada na Escola Municipal Celestino Pimentel, localizada na cidade do Natal/RN,
conveniada ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID Biologia), da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
A proposta foi realizada com alunos do 6º ano ao 9º ano do Ensino Fundamental,
compreendendo 12 turmas do período vespertino, atendendo em média 380 pessoas entre alunos,
professores e funcionários da instituição (Figura 1).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1257


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 22. Alunos participantes da Gincana Ecológica.

O projeto foi dividido em três etapas: (I) Elaboração e Divulgação da Gincana na escola; (II)
Divisão das turmas por equipes e Execução das atividades prévias; (III) Dia ―D‖: Gincana
Ecológica. Para cada etapa foram necessárias 4 horas, divididas ao longo de uma semana.
Na etapa (I), foram elaboradas as provas que foram aplicadas dentro da gincana. As tarefas a
serem cumpridas foram divididas em dois momentos: atividades prévias, que ocorreu antes da
gincana e os desafios do ―Dia D‖. A divulgação da gincana à comunidade escolar foi realizada pelos
licenciandos do PIBID Biologia, os bolsistas foram divididos por turmas, munidos de cartazes da
Gincana Ecológica que continha as informações básicas sobre o evento (local, hora, data, início das
atividades).
Na etapa (II) as 12 turmas do turno vespertino foram divididas em seis equipes, cada uma
com 60 alunos em média, supervisionados por dois professores da escola e um licenciando do
PIBID Biologia, as equipes foram denominados: marrom, vermelho, amarelo, verde, azul e branco,
fazendo alusão às cores da coleta seletiva (SILVA; JOIA, 2008). E posteriormente, foi exposto para
os estudantes, que eles deveriam produzir alguns materiais como atividades prévias.
Para estas atividades, foram necessários três dias, onde duas equipes eram atendidas pelos
bolsistas para darem início à confecção dos materiais, sendo eles (Quadro 1). Para esse momento,
todas as equipes foram divididas em grupos menores, a fim de facilitar a produção de todos os
materiais dentro do tempo de quatro horas. Enquanto isso, as outras turmas estavam em aula.
Na etapa III foi realizada a Gincana Ecológica (Dia ―D‖). As turmas foram orientadas a irem
para o pátio da escola e formarem as equipes, uma equipe por vez foi sendo encaminhada para a
quadra onde já teria um local pré-estabelecido para cada equipe, indicados por um painel produzido
pelos alunos, com a cor da equipe.
Quadro 16. Tarefas elaboradas para a Gincana Ecológica.
TAREFAS DA GINCANA ECOLÓGICA
Atividades Prévias Orientações
Produção de uma paródia ou poema A paródia deveria ser uma releitura de uma música

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1258


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

atual e o poema uma produção original. Ambas


sendo supervisionadas pela professora de português
de forma a auxiliá-los quanto a ortografia e
concordância textual.
Confecção de um brinquedo reciclável O objeto teria que ser confeccionado com materiais
Elaboração de um material de decoração oriundos do lixo. Este sendo supervisionado pelo
professor de artes.
Arrecadação de pilhas e baterias Cada equipe teria que trazer de suas casas ou passar
nas residências próximas à escola para recolher o
maior número de pilhas e baterias. Cujo objetivo era
sensibilizar quanto a importância do descarte correto
destes materiais.
Construção de um varal ecológico a partir As imagens recortadas deveriam fazer alusão ao
de recortes de revistas meio ambiente. Com o objetivo de saber o que estes
entendem por meio ambiente.
Grito de Guerra O grito de guerra deveria ser curto, e mencionar a
cor da equipe. Cujo intuito era promover a
integração das equipes e a criatividade dos
estudantes.
Elaboração de um painel O painel deveria ser de TNT, na cor da equipe. Além
disso, deveria conter uma frase em alusão ao dia do
meio ambiente.
Atividades do Dia ―D‖ Orientações
Cada um no seu quadrado Colocar todos os membros da equipe dentro de 2
metros quadrados.
Fazendo a coleta seletiva na escola Os alunos deveriam sair pela escola recolhendo os
resíduos sólidos e separando-os dentro das sacolas
na cor correspondente a natureza do material. Esta
teve como objetivo promover a reflexão dos alunos
quanto ao descarte inadequando dos resíduos sólidos
bem como avaliar os alunos quanto a compreensão
da coleta seletiva em relação a composição dos
materiais e o coletor adequado ao seu descarte.
Fonte: Elaboração própria.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1259


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Depois que ocorreu a chegada de todas as equipes à quadra, as atividades foram iniciadas
expondo para os alunos propósitos da Gincana Ecológica, explicando a importância da EA para
adoção de uma nova postura frente as demandas e necessidades de uma sociedade consumista. Logo
após, foi apresentado à mesa julgadora, formada pelo Diretor da escola, uma representante da
coordenação pedagógica, dois licenciandos do PIBID Biologia que atuam em outra escola.

Inicialmente, a Gincana Ecológica começou com a exposição das atividades prévias (Quadro
1), onde cada equipe teria que enviar um representante para explicar os materiais produzidos por
eles, à medida que eles iam explicando, os revisores da mesa julgadora iriam pontuando, em uma
escala de 0 a 10. Depois que ocorreu a apresentação das atividades prévias, iniciou os desafios do
―Dia D‖.

A primeira prova foi denominada ―Cada um no seu quadrado‖, essa prova consistia em dois
metros quadrados demarcado no chão por fita adesiva, e o mediador das provas explicava que
àquele espaço representava o local necessário para que tivesse arborização, ou seja, era uma forma
de sensibilizar os estudantes para que eles compreendessem que deveria existir um espaço verde de
dois metros quadrados para cada 60 pessoas. Pontuava a equipe que cumprisse a prova, colocando
todos os alunos dentro de sua respectiva área em um tempo de três minutos.

O próximo desafio consistia em juntar o maior número de materiais sólidos dentro da escola.
Para essa prova foi entregue seis sacolas confeccionadas pelos bolsistas do PIBID, usando TNT,
divididas nas cores correspondentes a coleta seletiva. Pontuaram as equipes que mais recolheu lixo
da escola e depositaram nas sacolinhas correspondentes a cada material, foi necessário um tempo de
cinco minutos para o seu cumprimento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com o término da Gincana ecológica, recolhemos todos os materiais produzidos pelos


alunos e a partir da explicação do por que eles produziram, foi possível identificar que eles
conseguiram absorver o real significado das palavras Reduzir, Reciclar e Reutilizar, isso ficou claro
a partir da explicação de uma aluna do 7º ano ocorrido durante a apresentação do produto de
decoração de sua equipe (Figura 2): ―Esse jarro de flores reflete a nossa postura para a diminuição
do lixo gerado em nossas casas. Enfeitando qualquer ambiente com uma ideia simples e fácil de
produzir, reutilizando uma garrafa pet e flores‖ (Aluna do 7º ano da equipe Verde).
Esse fragmento representativo da fala da aluna revela que ela entende a cultura dos ―3 R´s‖.
Além disso, esta atividade visava estimular a criatividade dos alunos, pois assim é possível que isso
diminua o descarte dos resíduos sólidos a parir da reutilização do material. Para Breda e Picanço

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1260


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

(2011) o descarte de resíduos sólidos está ligado ao modelo de sociedade consumista, exigindo
medidas para o reaproveitamento e consequentemente, diminuição dos resíduos gerados.

Figura 23. Jarro de flores produzidas por alunos da equipe verde.

Para Giesta (2010, p. 193) ―o significado social atribuído, histórica ao lixo, como algo que
se deve manter distância, dificulta uma mudança cultural que envolva a população em uma ação
conjunta que reverta a atual lógica de descarte‖. No entanto, com esse tipo de atividade é possível
desmistificar esse tipo de concepção entre os estudantes.
As paródias ou poemas e os gritos de guerras traziam uma letra que falava dos cuidados
necessários com a natureza (Figura 4). No entanto, das seis equipes, apenas uma conseguiu juntar as
pilhas e baterias, com 300 gramas desse material, para que fizéssemos o descarte correto.
Os painéis produzidos pelos estudantes obedeceram ao critério básico, e como eram
esperados, os alunos citaram a proteção da natureza, os cuidados e algumas possíveis causas de
problemas ambientais decorrentes da ação humana sobre o meio. Isso fica evidente na Figura 3. A
que mostra as ilustrações coerentes com a frase, de modo que a equipe amarela chama a atenção do
descarte correto do lixo. Outro ponto marcante, que deve ser citado é que dos seis painéis
produzidos, cinco deles citavam o futuro de forma implícita ou explicita, justificando que os atuais
desafios ambientais serão agravados com o tempo e tornando cada vez mais complicado solucionar
ou minimizá-los, enquanto que na equipe vermelha aponta que para a solução de todas as atuais
dificuldades só será possível com a união (Figura 3.B).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1261


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 24. Painéis produzidos pelos alunos: Equipe Amarela (A); Equipe Vermelha (B).

Na apresentação dos painéis, uma aluna da equipe verde destacou que para a nossa
existência precisamos de alimentos oriundos da natureza: ―Retiramos tudo o que precisamos do
meio ambiente (...) água, alimentos e matéria-prima e para que isso continue no futuro devemos
cuidar bem do nosso planeta‖ (Aluna do 8º ano da equipe Verde).
A Educação Ambiental, segundo Reigota (1991) tem como objetivo a formação de cidadãos
críticos, reflexivos e atuantes em uma educação política, social, cultural e educacional. O indivíduo
ao compreender as ações cotidianas e enxergar a EA como uma ação global, torna-se capaz de traçar
mecanismos para modificar o meio que estar inserido de forma consciente e humanística. Dessa
forma, a EA vai além da preservação da natureza. Neste sentido, Silva e Joia (2008), afirma que a
EA é um método transformador e sensibilizador, que tem o propósito de interferir de forma direta
nos valores dos cidadãos.
De modo geral, as concepções dos estudantes sobre o meio ambiente são caracterizadas pelo
sentimento de preservação da natureza. Além disso, consideram que a educação ambiental faz parte
do ensino de Ciências e Biologia, provavelmente por experênciar mais frequentemente nestas áreas
de conhecimento. Segundo Maknamara (2009), em sua pesquisa com professores de uma escola
pública, revela que os professores possuem concepções alternativas quanto ao significado do termo
EA, remetendo o meio ambiente como sinônimo da relação homem-natureza e esta última, como
fonte de recursos que os beneficiam.
Isto leva um desencontro à EA, pois não devemos preservar a natureza apenas por
necessitarmos dela, mas por fazer parte da mesma. Sentir responsáveis pelo mundo em que vive em
todas suas instâncias, agindo de forma crítica e reflexiva para temas sociais, econômicos e políticos
(REBOLLAR, 2009). Assim, a Educação Ambiental deveria ser abordada nas diversas áreas de
ensino provocando a superação das concepções alternativas sobre EA nos estudantes e propiciando
uma reflexão e ação sobre seus diferentes aspectos e dimensões, com vistas a formação de um
cidadão crítico.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1262


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 4. Alunos da equipe Vermelha recitando o poema.

Em suma, a proposta da Gincana Ecológica se mostrou eficiente na compreensão da


problemática ambiental do lixo, na cultura dos ―3 R´s‖ bem como sua importância econômica,
social e ambiental e os elementos fundamentais para minimizar os desafios dos resíduos sólidos.
Mas a gincana por si só, não foi eficaz em desmistificar as concepções alternativas sobre o meio
ambiente, onde se percebe a relação restrita à dimensão ecológica

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação Ambiental por se tratar de um eixo transversal da educação brasileira deveria


ser praticada com mais frequência e em todas as áreas do conhecimento científico e tecnológico.
Provendo estratégias que possibilite ao estudante desenvolver a criatividade, as interpretações, a
compreensão de conceitos científicos e de problemas ambientais em discussão. A produção de
novas propostas envolvendo EA poderá sanar a formação deficitária dos estudantes, além de
estimular a participação destes no que diz respeitos as problemáticas ambientais, com ênfase na
incorporação efetiva dos aspectos sócio-econômicos-culturais.
A Gincana nos revela que esse exemplo de iniciativa gera um total significado na vida dos
alunos, já que as lembranças desse momento ficaram fixadas na mente de todos que participaram. E
como toda iniciativa que gera significado, fica como sugestão essa ideia da gincana e que possa ser
ampliada, melhorada e adaptada para outros temas de grande relevância no campo educacional e
social, por que ela permite que o aluno se torne o principal ator e protagonista de todo processo de
ensino-aprendizagem. Dessa forma, promover a discussão de diversos temas ambientais de forma a
desenvolver nas futuras gerações um pensamento crítico e reflexivo frente as problemáticas
ambientais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei Federal Nº 9.795, de 27 de abril de 1999: Dispõem sobre a educação ambiental,
institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=321>. Acesso em: 27 ago. 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1263


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências naturais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

BREDA, T. V.; PICANÇO, J. L. A educação ambiental a partir de jogos: aprendendo de forma


prazerosa e espontânea. Anais... In: Simpósio de Educação Ambiental e Transdisciplinaridade,
Goiânia, Mai. 2011.

CHAGAS, K. K. N. Por uma educação ambiental corporalizada: a emoção em trilhas


interpretativas. Natal: IFRN editora, 2011.

CONRADO, L. M. N.; CHAGAS, M. M.; SILVA, V. H. Educação Ambiental e


interdisciplinaridade: conceitos e diálogos na formação de professores. Natal: Offsert Editora,
2016.

COSCRATO, et al. Utilização de atividades lúdicas na educação em saúde: uma revisão


integrativa da literatura. ACTA, Guaíra- SP, 23(2):257-63, 2010.

COSTA, M. S. F. Percepção de estudantes de ensino m dio sobre meio ambiente e a crise


socioambiental. Campina Grande, PB, 2012. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação
Licenciatura em Ciências Biológicas) – Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade
Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2012.

EFFTING, T. R. Educação Ambiental nas Escolas Públicas: Realidade e Desafios. Marechal


Cândido Rondon, 2007. Monografia (Pós-Graduação ―Latu Sensu‖ Planejamento Para o
Desenvolvimento Sustentável) – Centro de Ciências Agrárias, Universidade Estadual do Oeste
do Paraná – Campus de Marechal Cândido Rondon, 2007.

GIESTA, L. C.; LEITE, R. A. Responsabilidade social e Gestão Ambiental. Mossoró: EDUFRN,


2010.

MAKNAMARA, M. Educação Ambiental e ensino de ciências em escolas públicas alagoanas.


CONTRAPONTOS, v. 9, n, 1, jan/abr 2009.

MORALES et al. Educação Ambiental e o Multiculturalismo. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2012.

REBOLLAR, P. M. Educação Ambiental e os termos meio ambiente e impacto ambiental na visão


de alunos do ensino superior da região da grande Florianópolis – SC . Revista Biotemas, v. 22,
n.2), junho de 2009.

REIGOTA, M. O que educação ambiental. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1264


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ROMEIRO, A. R. Economia ou economia política da sustentabilidade? Texto para Discussão.


Campinas: IE/UNICAMP, 2001.

SILVA, M. S. F.; JOIA, P. R. Educação Ambiental: a participação da comunidade na coleta seletiva


de resíduos sólidos. Revista Eletrônica da Associação dos Geógrafos Brasileiros, Três lagoas-
MS, n. 7, Mai. 2008.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1265


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ABORDAGEM DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESTRUTURA CURRICULAR DAS


DISCIPLINAS PELOS PROFESSORES DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO PROGRESSISTA BOM
JESUS PARA OS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DOIS

Laysa de Araújo Marques ANTERO


Graduanda do curso de Engenharia Ambiental da UFPB
laysa0512@hotmail.com
Amanda Gondim Cabral QUIRINO
Graduanda do curso de Engenharia Ambiental da UFPB
amandagcq@hotmail.com
Shara Sonally oliveira de SOUSA
Graduanda do curso de Engenharia Ambiental da UFPB
sharaoliveirassos@gmail.com
Thamires Kelly Nunes CARVALHO
Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente
carvalhotkn@gmail.com

RESUMO
Após a Conferência de Tibilisi (1977) e com o acelerado avanço da tecnologia aliado com o
aumento do consumo pela sociedade atual, torna-se cada vez mais imprescindível que a temática
ambiental venha a ser inserida no cotidiano das pessoas. O presente estudo é referente à realização
de um projeto de Educação Ambiental no colégio Sistema de Educação Progressista Bom Jesus,
situado no município de Bayeux no estado da Paraíba onde se podem observar graves problemas
ambientais e de infraestrutura. Foram escolhidos os alunos do ensino fundamental dois, pois se
notou que não havia a abordagem da Educação Ambiental nas disciplinas do currículo escolar,
ficando evidente a necessidade da realização do trabalho. O estudo teve como propósito a
transmissão de metodologias que contribuam para que os professores insiram a temática ambiental
em suas aulas, independente da disciplina ministrada. Durante a prática do trabalho foi executado
uma reunião com a diretoria e um encontro com os professores da escola, questionários com os
alunos e professores. Com as respostas obtidas pôde-se concluir que a grande maioria dos
estudantes foram muito receptivos e que os mesmos demonstraram grande interesse que esta prática
permanecesse e se expandisse para as demais disciplinas.
Palavras-chave: Transdisciplinaridade, Ensino básico, Meio ambiente.
ABSTRACT
After a Conference of Tibilisi (1977) and with the accelerated technology allied with the increase of
consumption by the current society, it becomes increasingly essential that the environmental theme
be inserted without people's daily lives. The present study is related to the realization of an
Environmental Education project at the Bom Jesus Progressive Education System college, located
in the Bayeux municipality in the state of Paraíba, where it can observe environmental and
infrastructure problems. Primary school students were chosen, they are not an approach to
Environmental Education in the disciplines of the school curriculum, being evident the need to
carry out the work. The purpose of the study was to transmit methodologies that contribute to
teachers inserting an environmental theme in their classes, regardless of the discipline taught.
During the practice of the work a meeting was held with a board and a meeting with teachers of the
school, questionnaires with students and teachers. With the answers obtained for a large number of

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1266


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

students and much more receptive and that they show great interest for this practice to remain and
expand to the other disciplines.
Keywords: Transdisciplinarity, Elementary education, Environment.

INTRODUÇAO

A questão ambiental foi abordada inicialmente no livro Primavera Silenciosa de Rachel


Carson, em 1962. Após isso, foram promovidas discussões internacionais na forma de conferências,
sendo a Conferência de Tbilisi (1977) um marco histórico importantíssimo no âmbito da Educação
Ambiental, pois foram definidos conceitos, finalidades, objetivos, princípios e estratégias, onde a
temática ambiental foi inserida definitivamente na agenda de alguns países. De acordo com
VASCONCELLOS (2002), a educação ambiental pode ser compreendida como um processo que
abrange novos conhecimentos, habilidades, experiências e valores, na procura de modos de vida
sustentáveis.
Conforme o artigo 2º da Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, ―a educação ambiental é um
componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma
articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não
formal.‖ No art. 3o é disposta a responsabilidade do poder público de promover a educação
ambiental em todos os níveis de ensino e às instituições educativas a responsabilidade de promovê-
la de maneira integrada aos programas que desenvolverem. De maneira complementar, no Art. 10º
fica posto que a educação ambiental deverá ser desenvolvida como uma prática educativa
ambientada, contínua e permanente em todos as categorias e modalidades do ensino formal,
informando que não deve ser implantada uma disciplina própria no currículo de ensino.
Desta forma, a educação ambiental é um processo de reconhecimento de valores e
clarificação de conceitos, que objetiva o desenvolvimento das habilidades e modifica as atitudes em
relação ao ambiente e, por conseguinte, a compreensão as inter-relações entre os seres humanos,
suas culturas e seus meios biofísicos. A educação ambiental também está relacionada com a prática
das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida (Conferência
de Tbilisi, 1977).
O município de Bayeux está entreposto na Microrregião de João Pessoa, localizada na
região central da Mesorregião da Mata do Estado da Paraíba, distando apenas quatro quilômetros da
Capital, à qual se associa através de dois eixos de circulação: a BR 230/101 e a Avenida Liberdade
(PB 004). Tem como limites as cidades de João Pessoa a leste e Santa Rita a oeste. O município
possui uma área de 31.784 km² e é um dos menores do estado. A população do município, segundo
o Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010 é de 99.758 habitantes.
(PLHIS, 2013).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1267


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

O município de Bayeux está localizado nos domínios da bacia hidrográfica do Rio Paraíba,
com 60% de seu território ocupado por manguezal, tendo como principais tributários os rios
Paroeira, Sanhauá, Manhaú e Marés, além do Rio do Meio, que são frequentemente contaminados
por esgotos industriais e domésticos e por resíduos sólidos descartados de maneira incorreta pela
população. Além disso, diversos problemas ambientais e de infraestrutura podem ser observados
dentro dos limites do município, e que são agravados pela ausência de planejamento urbano e o
constante aumento da densidade populacional (COSTA, 2013).
Um exemplo é a problemática é questão da Mata do Xenxém, com 183 hectares,
transformada em Parque Estadual pelo Decreto 21.262/2000 e, apesar de ser uma Unidade de
Conservação, se encontra em situação de descaso, com grandes áreas desmatadas, contendo plantio
de frutas, construção de residências pela expansão da cidade, com acumulo resíduos sólidos em seu
entorno. Também nos deparamos como o esgoto do conjunto Mariz que atravessa toda Colônia
Getúlio Vargas e vai desembocar no Açude do Xenxém em pleno berço da mata. No Sistema de
Educação Progressista Bom Jesus, situado na cidade de Bayeux, no bairro Jardim Aeroporto,
próximo a Mata do Xenxém, não há a abordagem da educação ambiental nas disciplinas do
currículo escolar do ensino fundamental dois. Dessa forma, fica evidente a necessidade de aplicação
de um projeto de educação ambiental com os professores, para que eles comecem a abordar temas
relacionados ao meio ambiente nas suas disciplinas e, assim, melhor instruir os estudantes para
cuidarem dos recursos naturais existentes na cidade.
CARDOSO et al., ao analisar a percepção de professores e alunos sobre o mangue,
concluíram que era necessário maior tempo de intervenção dentro do espaço escolar para que a
aprendizagem sobre o tema ambiental proposto fosse considerada satisfatória. Considerando a não
implantação de uma disciplina específica de educação ambiental em escolas e universidades, a
única forma de tratar da esfera ambiental é introduzindo o tema em cada disciplina de forma a
integrar e interligar todas as disciplinas e garantir a transdisciplinaridade da temática ambiental em
todas as suas peculiaridades.
Portanto, sabendo-se que os professores são uma importante via de acesso ao conhecimento
que os alunos têm e verificando no colégio que a deficiência na exposição da temática ambiental
está no próprio professor, o público alvo para este estudo. Desta maneira, o conhecimento alcançará
os alunos de forma ainda mais didática, visto que este profissional é especializado nesta esfera.
Diante da situação exposta, o objetivo deste estudo de educação ambiental foi introduzir a
temática ambiental nos conteúdos definidos pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), de
forma que eles sejam abordados nas disciplinas que usualmente não exploram essa vertente.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1268


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

METODOLOGIA

Inicialmente foi realizada uma reunião com a Diretoria da escola, a qual permitiu que os
professores do Ensino Fundamental Dois participassem da pesquisa. A partir disso a etapa seguinte
consistiu na realização de um encontro com os oito professores que compõem o corpo docente do
Ensino Fundamental Dois da referida escola. Dos oito professores das oito disciplinas (Matemática,
Português, Inglês, Geografia, Artes, Educação Física, Ciências e História), apenas dois professores
(das disciplinas Artes e História) aceitaram participar da pesquisa.
Para escolha dos participantes, foi estabelecido que 75% dos alunos, no mínimo,
apresentarem uma melhora na percepção do meio ambiente e seus fenômenos e todos os 8
professores que lecionam disciplinas no ensino fundamental dois abordarem a temática ambiental
no conteúdo programático das suas disciplinas.
Os professores das disciplinas Artes e História aplicaram, então, um questionário inicial, o
qual indaga os estudantes sobre quais disciplinas eles estudam assuntos na temática ambiental e se
eles gostariam que isso fosse expandido para as demais.
Após a aplicação do questionário inicial dos alunos, os professores passaram a abordar
temas relacionados ao meio ambiente em suas aulas. A professora de Artes realizou a dinâmica dos
balões, onde cada aluno recebeu um balão e começava a joga-lo para o alto, mas não poderia deixar
cair no chão, e a professora foi indicando os alunos, de forma aleatória, para saírem da dinâmica, os
alunos restantes deveriam tentar manter os seus balões, e o dos colegas que já haviam saído da
brincadeira, no ar. Porém, à medida que os alunos eram retirados da dinâmica, observava-se uma
grande dificuldade dos alunos remanescentes conseguirem realizar tal tarefa. Essa dinâmica fez uma
analogia ao que ocorre nos ecossistemas: os alunos seriam as espécies e os balões o ecossistema, ou
seja, cada vez que uma espécie é retirada do ecossistema, torna-se mais difícil para o ecossistema
manter seu funcionamento normal, e nem sempre as espécies que restam conseguem trabalhar de tal
maneira para suprir o papel das outras. Já o professor de História abordou a temática ambiental no
âmbito dos conteúdos que estavam sendo ensinados em cada turma, quais sejam: a) 6º ano –
Mesopotâmia, b) 7º ano – África, c) 8° ano – Expansão Marítima e d) 9º ano – Segunda Guerra
Mundial.
Realizadas essas atividades, os alunos foram submetidos a responderem o segundo
questionário, com o intuito de analisar se os alunos haviam obtido, de forma relevante, uma
aprendizagem, dentro destas disciplinas, na temática ambiental.
Após a aplicação dos questionários com os alunos, foi realizado um segundo questionário
com os professores, para averiguar como eles responderam ao projeto e se pretendiam prosseguir
inserindo o conteúdo ambiental em suas aulas.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1269


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a aplicação dos primeiros questionários com os alunos, obtiveram-se as seguintes


respostas:

1. Na escola, você aprende assuntos relacionados ao meio ambiente?

Quadro 1: Respostas do questionário inicial pelos alunos.


6 º Ano 7 º Ano 8 º Ano 9 º Ano
Sim 23 33 29 17
Não 0 0 0 0

2. Se a resposta anterior foi ―Sim‖, marque as disciplinas nas quais você aprende os assuntos
relacionados ao meio ambiente.

Alunos 6º ano Alunos 7º ano

28
21 22
21
17
15

5
0 1 0 1 0 0 0 0 0

1 2

Alunos 8º ano Alunos 9º ano

28
17
22
13

4 4 3 2
0 0 0 0 1 0 1 0

3 4
Imagem 1 – Resultados do questionário inicial

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1270


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

3. Você gostaria que a temática ambiental fosse inserida nas aulas de cada disciplina, de maneira
que os temas relacionados ao meio ambiente fossem abordados nos assuntos de cada uma delas.

Quadro 2: Respostas do questionário inicial pelos alunos


6 º Ano 7 º Ano 8 º Ano 9 º Ano
Sim 18 31 28 16
Não 5 2 1 1

Após a realização das atividades pelos professores de Artes e História, foi executado o
segundo questionário com os alunos, onde os resultados estão dispostos a seguir:

4. Em quais disciplinas você aprendeu assuntos relacionados ao meio ambiente durante o mês de
maio/2016?

Alunos 6º ano
Alunos 7º ano
23 23 33 33

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

5 6

Alunos 9º ano Alunos 8º ano

17 17 29 29

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

8 7
Imagem 2 – Resultados do questionário final
5. Você gostou de ter aprendido assuntos relacionados ao meio ambiente dessa forma?

Quadro 3: Respostas do questionário final pelos alunos

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1271


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

6 º Ano 7 º Ano 8 º Ano 9 º Ano


Sim 21 32 26 15
Não 2 1 3 2

6. Você gostaria que os professores continuassem a adotar essa prática nas disciplinas?

Quadro 4: Respostas do questionário final pelos alunos


6 º Ano 7 º Ano 8 º Ano 9 º Ano
Sim 21 32 26 15
Não 2 1 3 2

Segue os gráficos de ―pizza‖ com a porcentagem das respostas dos alunos nas perguntas 2 e
3 do questionário final:

6° Ano 7° Ano
8,7 3,1

Sim Sim

91,3 Não Não


96,9

8° Ano 9° Ano
10,3 11,76

Sim Sim
Não Não
89,6 88,24

Imagem 3 – Resultados em porcentagem das perguntas 2 e 3 do questionário final


Com o segundo questionário realizado com os professores, foram obtidas as seguintes
respostas:

 Disciplina que ministra: História


1- Você gostou de ter participado desse projeto de inserção da Educação Ambiental na
estrutura curricular das disciplinas? Por quê?
Sim. Pois foi uma forma de poder transmitir novas informações para os alunos e fazer com
que eles criem respeito pela natureza.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1272


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

2- Você pretende continuar utilizando esse modelo de abordagem proposto pelo projeto em
suas disciplinas? Justifique.
Sim, pretendo continuar com o projeto de educação ambiental no colégio, fazendo
dinâmicas e mostras culturais com os trabalhos dos alunos.
3- Você observou alguma objeção por parte dos alunos para participarem das atividades e/ou
dinâmicas propostas, ou eles reagiram naturalmente?
Não, todos reagiram naturalmente ao projeto.

 Disciplina que ministra: Artes


1- Você gostou de ter participado desse projeto de inserção da Educação Ambiental na
estrutura curricular das disciplinas? Por que?
Sim. Pois é uma forma de cuidar da dádiva de Deus, que é a natureza.
2- Você pretende continuar utilizando esse modelo de abordagem proposto pelo projeto em
suas disciplinas? Justifique.
Sim.
3- Você observou alguma objeção por parte dos alunos para participarem das atividades e/ou
dinâmicas propostas, ou eles reagiram naturalmente?
Não. Todos reagiram de forma participativa nas dinâmicas propostas pelo grupo.

As principais dificuldades encontradas para a execução do estudo foram a pouca


disponibilidade de tempo por parte dos professores para que as dinâmicas e atividades fossem
realizadas em suas aulas, e o atraso dos professores para cumprirem os prazos para entrega dos
questionários respondidos, tanto os dos alunos quanto os deles mesmos.
A principal facilidade encontrada foi a receptividade dos alunos para com as dinâmicas e
para com os assuntos programáticos sendo explicados, também, através da perspectiva ambiental.
Em relação à concretização da meta de, no mínimo, 75% dos alunos apresentarem uma
melhoria na percepção do meio ambiente e seus fenômenos foi alcançada, conforme pode ser
observado nos gráficos na imagem 2 com os resultados da aplicação do segundo questionário em
porcentagem. No tocante, a meta de todos os oito professores participarem do projeto não foi
atingida, visto que apenas dois deles aceitaram participar do projeto.
A partir de conversas com os estudantes e com os resultados obtidos durante a pesquisa,
podemos constatar a necessidade de melhorar a percepção ambiental dos estudantes, pois, dessa
forma, eles poderão contribuir para o melhor funcionamento dos ecossistemas locais.

CONCLUSÃO

Pode-se concluir que os professores ainda não concedem a importância devida à Educação
Ambiental como sendo parte integrante dos assuntos de suas disciplinas, mas sim um assunto

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1273


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

extracurricular, esta questão pode estar relacionada pela deficiência desta temática durante a
formação acadêmica dos docentes.
É possível se observar que o estudo poderia ter sido mais bem-sucedido caso os professores
aceitassem participar de forma mais ativa, pois os alunos mostraram grande interesse na temática da
Educação Ambiental e, em sua maioria, possuem o desejo que os demais professores participem e
que a pesquisa continue no colégio.
Em suma, é necessária a compreensão dos professores da importância de inserir a temática
ambiental em suas aulas, independendo da disciplina ministrada, e de como esta prática pode
transformar seus alunos em pessoas com uma melhor percepção ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. LEI No 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui
a Política Nacional de Educação Ambiental e das outras providências. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil. Brasília, 27 de abril de 1999; 178o da Independência e 111o da
República.

CARDOSO, Rossana Barros; CARDOSO, Thiago Augusto Lima; CAMAROTTI, Maria de Fátima.
Educação ambiental nos anos iniciais do ensino fundamental: abordagem e percepção do
ecossistema manguezal. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. v 29.

COSTA, Cháliton Ferreira. Análise geoespacial dos problemas socioambientais urbanos da zona de
manguezal do município de Bayeux – Pb e dos casos de hanseníase de 2001 a 2011. Dissertação
de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana e Ambiental. Universidade
Federal da Paraíba. 2013.

Ecolibra.PLHIS - Plano Local de Habitação de Interesse Social – Bayeux / PB, 2013.

História do município de Bayeux. Disponível em: <www.bayeux.pb.gov.br/> Acesso em


19/04/2016.

SATO, Michèle. Educação Ambiental. São Carlos: Rima Artes e Textos, 2002. 66p.

São Paulo (Estado) Secretaria do Meio Ambiente / Coordenadoria de Educação Ambiental. Roteiro
para Elaboração de Projetos de Educação Ambiental. Texto Caroline Vivian Gruber; Denise
Scabin Pereira; Rachel Marmo Azzari Domenichelli. São Paulo: SMA/CEA, 2013. 40p. ISBN –
978-85-62251-21-4.

VASCONCELLOS,J.M.O. Educação Ambiental e Interpretação: O Fortalecimento das Pilares das


UC. In: Congresso de Unidades de Conservaçao, 3, 2002, Fortaleza. Anais. Fortaleza: Rede

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1274


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Nacional Pro-Unidade de conservação: Fundação Boticário de Proteção à Natureza: Associaçao


Caatinga, 2002. p. 869-870.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1275


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

PERCEPÇÃO DO CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE E EDUCAÇÃO


AMBIENTAL POR DISCENTES DO ENSINO FUNDAMENTAL DO
COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA UFPE

Luana Cândido dos SANTOS


Graduanda em Geografia pela UFPE
luanacandidodossantos@gmail.com
Gabriel Marques dos RAMOS
Graduando em História pela UFPE
Currentsacrifice@gmail.com
Itállo Fernando da SILVA
Graduando em Geografia pela UFPE
itallogeoterra@gmail.com
Vanice Santiago Fragoso SELVA (orientadora)
Professora adjunta da UFPE
vanice.ufpe@gmail.com

RESUMO:
O alcance do desenvolvimento sustentável configura-se como um dos principais desafios da
humanidade, sendo a Educação Ambiental (EA) uma ferramenta imprescindível para a instauração
de novos mecanismos para esse desenvolvimento. Com base nesses pressupostos, o presente artigo
objetiva verificar o entendimento e percepção de estudantes da educação básica do Colégio de
Aplicação da UFPE, acerca dos conceitos básicos que permeiam a sustentabilidade e a Educação
Ambiental na contemporaneidade. Para o alcance de tal objetivo, realizou-se inicialmente um
levantamento bibliográfico em torno de conceitos-chave essenciais para a fundamentação da
pesquisa, tais como: Educação Ambiental, Sustentabilidade e ensino. Além disso, foram realizadas
aulas expositivas concernentes aos temas de EA e desenvolvimento sustentável, e, por fim, a
aplicação de questionários relativos aos temas abordados nas aulas expositivas aos discentes da
instituição. A partir disso, os resultados evidenciaram que os alunos do Colégio de Aplicação
enxergam temas relativos à problemática ambiental como essencias para a sua formação enquanto
sujeitos éticos e cidadãos, e , sobretudo , se mostraram dispostos a colaborar para a construção de
uma sociedade mais sustentável e igualitária.
Palavras-chaves: Educação ambiental; Sustentabilidade; Ensino.
ABSTRACT:
The achievement of sustainable development is one of the main challenges of humanity, and the
Environmental Education (EE) is an essential tool for the establishment of new mechanisms for this
development. Based on these assumptions, the present article aims to verify the students‘
understanding and perception of basic education in the Application School at UFPE about the basic
concepts that permeate sustainability and Environmental Education in contemporary times. In order
to reach this goal, a bibliographic survey was carried out around the essential key concepts to have
the beginning of the research, such as: Environmental Education, Sustainability and Teaching. In
addition, the exposing classes were given by involving themes related to EE and sustainable
development. And, finally, the application of questionnaires related to the topics covered in the
lectures to the students of the Institution. From this, the results showed that the students of the

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1276


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Application School see themes related to environmental issues as essential for their formation as
ethical subjects and citizens, and they have shown themselves willing to collaborate in the
construction of a more sustainable and equalitarian society.
Keywords: Environment education; Sustainability; Teaching.

INTRODUÇÃO

O presente artigo traz como tema o entendimento que os alunos do ensino fundamental têm
sobre a educação ambiental e sustentabilidade, enquanto conceitos fundamentais para processos de
ensino que busquem a interdisciplinaridade e a compreensão da realidade. O artigo resulta de
análise da percepção acerca dos conceitos de Educação Ambiental e Sustentabilidade dos alunos do
6º ano do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco. A referida instituição tem
uma proposta de ensino que possibilita a abordagem de temas relativos às questões ambientais em
caráter multidisciplinar nas diversas áreas de conhecimento, articulando o conhecimento à realidade
social atrelada à problemática ambiental nos processos de ensino-aprendizagem.
O tema de Sustentabilidade, associado à educação ambiental, configura-se como um assunto
de extrema relevância entre os mais diversos níveis acadêmicos. Em 1987, o termo sustentabilidade
foi colocado no relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CMMAD) da Organização das Nações Unidas (ONU), coordenada pela ex-ministra da Noruega,
Gro Harlem Brudtland.
De acordo com a Comissão, a sustentabilidade pode ser definida como a capacidade de
satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
satisfazer suas próprias necessidades. (Comissão... 1998, P. 9). Dessa forma, surge a necessidade de
se propor ações que objetivem a compatibilidade entre a melhoria nos níveis de qualidade de vida e
conservação ambiental alinhada ao desenvolvimento sustentável.
Nessa perspectiva, o fomento às práticas centradas na sustentabilidade, por meio da
educação ambiental (EA), pode ser utilizado como um eficiente mecanismo para a conservação
ambiental e obtenção de valores como igualdade, justiça, cidadania. A EA desempenha papel na
aquisição desses valores na medida em que pode ser definida como um processo que visa formar
uma população consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas que lhe dizem
respeito, assim como uma sociedade que tenha os conhecimentos, as competências, o estado de
espírito, as motivações e o sentido de participação e engajamento que lhe permita trabalhar
individualmente e coletivamente para resolver os problemas atuais e impedir que se repitam. (
SEARA FILHO, 1987).
Para tornar possível a concretização da EA enquanto um processo de sensibilização e
conscientização na sociedade brasileira, a Carta Magna Nacional, promulgada em 1988, dedicou-se

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1277


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

à criação de um importante capítulo que trata especificamente de questões ambientais, objetivando


assegurar direitos e determinar obrigações, prioridades e competências relativas dos indivíduos
sociais para com o Meio Ambiente.
Aliado a isso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Nº 9394, de dezembro de 1996,
reafirma os princípios referentes à Educação Ambiental, previamente definidos na Constituição. A
Lei afirma que a EA será considerada na concepção dos conteúdos curriculares de todos os níveis
de ensino . Essa consideração implica no desenvolvimento e na adoção de hábitos e atitudes sadias
de estímulo à conservação e preservação ambiental, objetivando o respeito sobretudo ao meio
ambiente, a partir do cotidiano da vida, da escola e da sociedade .
Na década de 1990, foram elaborados e divulgados os novos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) para o ensino básico. Os PCN foram desenvolvidos pelo Ministério da Educação
(MEC) com o intuito de fornecer e disponibilizar orientações para os docentes. Estes, enfatizam a
interdisciplinaridade e o desenvolvimento da cidadania entre os educandos. Para tal, temáticas
concernentes a educação ambiental e desenvolvimento sustentável tornam-se imprescindiveis para a
promoção de valores sociais. Dessa maneira, temas denominados como transversais, tais como:
meio ambiente, assim como saúde, ética, orientação sexual e pluralidade cultural, devem ser
discutidos pelo conjunto das disciplinas da escola, não constituindo-se em disciplinas específicas.
Contudo, ainda há a necessidade de uma crescente difusão de temas referentes á questões
ambientais. Embora questões relativas a preservação e conservação do meio ambiente estejam
respaldados na legislação brasileira, segundo Chiavenato (1997, apud LEITE, 2011), isto não
significa a diminuição dos problemas ambientais no Brasil. Pois ainda é um país mundialmente
conhecido pela devastação das florestas, de difícil controle pelas instituições fiscais de uso e
regulamentação dos recursos naturais brasileiros.
Ainda no contexto do ensino, educação ambiental, em suas mais variadas facetas e
possibilidades, abre um estimulante espaço para repensar as práticas sociais e o papel dos docentes
como mediadores e transmissores de um conhecimento. Isso se faz necessário para que os
estudantes adquiram uma base adequada de compreensão essencial do meio ambiente em escala
global e local. Além disso, a EA respalda a importância da responsabilidade de cada um para
construir uma sociedade planetária mais igualitária e ambientalmente sustentável.
Baseado no exposto, o presente estudo objetiva verificar o entendimento e percepção dos
conceitos básicos que permeiam a sustentabilidade e a Educação Ambiental, de modo a contribuir
para a compreensão geral dos alunos quanto a problemática ambiental. Além disso, objetiva-se
salientar e promover a conscientização acerca da relevância da adoção de práticas ambientais
sustentáveis para a manutenção do equilíbrio ambiental.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1278


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

MATERIAIS E MÉTODOS

Para atender o objetivo proposto foi elaborado um projeto para obtenção de dados sobre os
conceitos de EA e sustentabilidade tendo como base uma pesquisa qualitativa, foram selecionadas
duas turmas de 6 ano para entender como os discentes percebem os conceitos, considerando que o
colégio explora os processos de ensino que possibilitam tais percepções.
O projeto compreendeu duas etapas: a primeira correspondeu a uma pesquisa bibliografica, e
a segunda à apresentação e discussão dos conceitos em sala de aula com posterior avaliação do
resultado sobre os conceitos.
Para o desenvolvimento do artigo, realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre
sustentabilidade e educação ambiental, com a finalidade de fundamentar a elaboração e execução de
instrumentos de exposição e recolhimento de informações precisas, concernentes aos temas
abordados na pesquisa. A partir daí, foi possível realizar uma avaliação da percepção de
sustentabilidade e EA, de modo a averiguar de maneira direta o efeito da educação ambiental como
tema transversal na educação básica.
A execução do projeto na sala de aula correspondeu a execução de 10 aulas expositivas
dialogadas, sendo 5 em cada uma das turmas selecionadas. Para seleção das turmas foi feito um
contato inicial com a coordenação do Colégio de Aplicação e a docente de geografia. Após
conhecer a proposta, disponibilizou seus horários das aulas. Estas foram realizadas no intuito de
trazer e salientar para os estudantes, em uma linguagem adequada, conceitos relativos à educação
ambiental e à sustentabilidade atrelados a vivências e percepções dos próprios estudantes.
As aulas foram planejadas de modo a tratar a Educação Ambiental e a Sustentabilidade
como temas transversais e aplicáveis às mais diversas áreas do conhecimento. Com o uso de slides,
Foram estabelecidas relações desses temas com a cidade, bairro, e tudo o que envolve a importância
do planejamento dos espaços/ambientes para o desenvolvimento sustentável.
Após a conclusão das 10 aulas, foi aplicada uma avaliação sobre a compreensão se
sustentabilidade e educação ambiental através da elaboração de um questionário relativo aos temas
abordados nas aulas expositivas. O questionário foi elaborado com questões fechadas de modo a
verificar o que se contribuiu a partir dos temas abordados na aula expositiva. Além disso, o
questionário também se mostrou útil para possibilitar ao corpo discente, em algumas questões, a
exposição de seus pensamentos e opiniões, visando a prática ilustrada dentro da escola acerca dos
temas.
Posteriormente, após a aplicação do questionário, as respostas foram computadas no
software Microsoft Excel 2011. Com base nos resultados, foi efetuada uma análise das respostas
que levou em consideração o conhecimento prévio do estudante, alinhado ao grau de conhecimento
adquirido frente ao conhecimento exposto.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1279


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O campo de estudo abordado foi composto ao todo por 60 alunos das duas turmas de 6º ano
do ensino fundamental, sendo uma do turno matutino e outra do vespertino no Colégio de Aplicação
da UFPE. A participação dos alunos se deu de forma dinâmica, com constantes intervenções para
sanar dúvidas, buscar esclarecimentos ou fazer observações baseadas em suas percepções pessoais.
De acordo com os questionários aplicados em relação à percepção dos alunos acerca do
termo educação ambiental (figura 1), constatou-se que grande parte dos estudantes abordados
(76%) restringe o conhecimento concernente à EA ,primordialmente, ao descarte correto do lixo e à
adoção de medidas que não poluam o meio ambiente, como não jogar qualquer tipo de resíduo nos
rios, bueiros e ruas. No mais, os outros 34% dos discentes consideraram a EA como uma
ferramenta pratica de conscientização gradual, que visa mitigar os impactos antrópicos causados ao
meio ambiente. Segundo eles, tais impactos só poderiam ser reduzidos através da prática de
medidas sustentáveis na sociedade a qual estão inseridos. Com isso, pode-se inferir que há um
desafio em formular uma educação ambiental, a partir do ensino básico, que seja emancipatória e
crítica. Assim a EA deve ser vista, acima de tudo, como um processo contínuo voltado para a
transformação da sociedade (SORRETINO, 1998).

0 0

34% 76% dos estudantes


acharam que a EA se
resumia a descarte correto
do lixo
34% dos estudantes
76% acharam que a EA era uma
prática de conscientização
contínua

Figura 1 – Noções de educação ambiental dos alunos do 6º ano do Colégio de Aplicação da UFPE

Quanto a noção sobre sustentabilidade (figura 2), 59% dos discentes compreende que a
sustentabilidade é a capacidade de se relacionar, se integrar com o meio no presente de maneira a
colaborar com o futuro. Foram citados como exemplos de práticas de sustentabilidade: a economia
de água, o consumo contínuo de alimentos orgânicos e o reflorestamento de áreas verdes na
Amazônia.
Ademais, os outros 41% não souberam definir o termo. Contudo, salientaram que já haviam
ouvido falar de tal nomenclatura atráves de veículos de comunicação como os jornais impressos, e
programas educativos. No que tange o espaço escolar, os alunos afirmaram que as abordagens

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1280


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

concernentes ao tema sustetabilidade são feitas majoritariamente em disciplinas como ciências e


geografia. Com isso, eles também salientaram que questões relativas à problemática ambiental são
imprescindíveis para a sua formação enquanto estudantes e cidadãos.

00

41%
Discentes que deram uma
definição de sustentabilidade
59% Discentes que não souberam
definir sustentabilidade

Figura 2 – Noções de sustentabilidade dos alunos do 6º ano do Colégio de Aplicação da UFPE

A partir disso, fica nítido, de acordo com MAZZARINO (2012, p. 59), que a escola precisa
trabalhar com atitudes e com o desenvolvimento de valores como a ética e cidadania. Isso,
certamente, não é aprendido pelo estudante dentro de quatro paredes. A prática, a constatação, a
observação e, principalmente, a emoção levam à mudança de conceitos e à criação de novas formas
de pensar e agir em relação ao meio ambiente. Dessa forma, o educador ambiental na escola
necessita, assim como o educando, apreciar e valorizar o trabalho que está se propondo a realizar,
buscando formação, informações, publicações acerca do assunto, sentindo-se parte integrante do
processo.
Outrossim, verificou-se que em ambas as turmas os discentes não realizam rotineiramente
práticas sustentáveis imprescídiveis para a manutenção e equilíbrio do meio ambiente, embora já
tivessem consciência, total ou parcial da importância do ser sustentável. Não obstante, a grande
maioria mostrou-se predisposta a adotar de forma contínua medidas imprescíndiveis e solidárias
para a preservação e conservação dos recursos naturais essencias para a manutenção da vida na
Terra de tal modo a assegurar consequentemente o desenvolvimento sustentável das atuais e futuras
gerações.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1281


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que os temas educação ambiental e sustentabilidade abordados nos processos de


ensino-aprendizagem promovem um olhar de desenvolvimento que busca estimular uma nova
forma de pensar e agir sobre o meio ambiente. Estes temas devem estar diretamente ligados a
promoção do diálogo entre saberes, à cooperação, aos valores éticos e morais como primordiais
para o fortalecimento e compreensão a complexa integração e relação entre a sociedade e natureza.
Nessa pespectiva, o papel dos docentes torna-se essencial para estimular as transformações de um
processo educativo que assuma um compromisso com a formação de valores de sustentabilidade,
como parte de um processo coletivo e integrador.
Cabe salientar que o processo de exposição e resgate de conhecimentos concernentes a EA e
a sustentabilidade no Colégio de Aplicação, trouxe contribuições diretas para a edificação e
promoção do desenvolvimento de uma consciência ética e crítica sobre todas as formas de vida
existentes ao meio ambiente no qual o estudante está inserido. Pois, temas como estes configuram-
se em processos e práticas contínuas, permanentes que devem ser abordados em nível pré-escolar e
estender-se por todas as etapas da educação formal e não formal.
Contudo, pode-se perceber que ainda há uma necessidade de melhor compreensão da
problemática ambiental, pois esta ainda se apresenta como um saber em construção. Este saber
demanda empenho e esforço da comunidade academica para o fortalecimento de olhares
integradores que, com enfase no desenvolvimento, potencialize uma reflexão sobre a diversidade e
a construção de sentidos em torno das mais diversas relações indivíduos-natureza.
Por fim, pode-se afirmar que a sustentabilidade alinhada à educação ambiental configuram-
se em processos de estímulo para a edificação da cidadania. Esses temas representam uma
oportunidade de conscientizar e sensibilizar os indivíduos atuantes em uma sociedade, em sujeitos
que transformem as diversas formas de participação em potenciais caminhos de integração social,
além de concretizar uma proposta de afabilidade, baseada na educação como mecanismo de
participação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTI, C. et al. (Org.). Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade


sustentável. Recife, Brasil: Instituto de Pesquisas Sociais – INPSO; Fundação Joaquim Nabuco
FUNDAJ; Ministério de Educacão, 1994. 262 p. Disponívelem: . Acessoem: 20 fev. 2007.

LEITE, J.J. (). Desenvolvimento sustentável para todos. In: KUPSTAS,

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO - CMMAD.


Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Fundação= Getúlio Vargas, 1988.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1282


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

DRUMMOND, J. A. Desenvolvimento sustentável: debates em torno de um conceito problemático.


História, Ciências, Saúde, v. 5, n. 3, p. 755-761, 1999

BRASIL. Lei no . 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação


Nacional). Diário Oficial da União, ano CXXXIV, no 248, de 23.12.96, pp. 27833-27841.

M. Ecologia em debate. (org.). São Paulo: Moderna, 1997.

MAZZARINO, J.M.; MUNHOZ, A.V.; KEIL, J.L. Currículo, Transversalidade e Sentidos em


Educação Ambiental. REVBEA, Rio Grande, v.7, n.2, p.51-61.2012.

SORRENTINO, M. De Tbilisi a Tessaloniki, a educação ambiental no Brasil. In: JACOBI, P. etal.


(orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo:SMA.1998.
p.27-32.

SEARA FILHO,G. Apontamentos de introdução à educação ambiental. Revista Ambiental, ano 1,


v. 1, p. 40-44, 1987.

MEC/SEF (Secretaria da Educação Fundamental/MEC). Parâmetros Curriculares Nacionais:


Temas Transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1283


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

VIVÊNCIA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE NA ESCOLA: UMA


POSSIBILIDADE DE TRABALHAR A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Maria Carla Dinis dos PASSOS


Graduanda do Curso de Geografia da UPE
carladiniz13@hotmail.com
Helena Paula de Barros SILVA
Professora do Curso de Licenciatura em Geografia – UPE
helena.silva@upe.br

RESUMO
O Brasil é um país de dimensões continentais, sendo o maior país da América Latina, no seu
território abriga-se uma diversidade em área física e populacional. Com essas dimensões, são
presentes biomas, que são ambientes que apresentam um nível alto de homogeneidade em suas
características específicas: vegetação, clima e solo, por exemplo. Devido ações antrópicas, os
biomas sofrem constantemente com modificações, gerando os problemas ambientais, observando
isso a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB- lançou a Campanha da Fraternidade
com o tema: ―Fraternidade: biomas brasileiros e a defesa da vida", desse modo, o objetivo geral
desse trabalho é, descrever a vivência da campanha da fraternidade 2017 na escola, como uma
possibilidade de trabalhar a Educação Ambiental. Fundamenta-se em pesquisas em livros, artigos e
sites e na realização do projeto na escola. Como resultados encontramos experiências de
aprendizagem com interdisciplinaridade que efetivaram a Educação Ambiental, atentando para o
conhecimento e sensibilização da escola e comunidade.
Palavras-Chave: Biomas, Campanha da Fraternidade, Educação Ambiental, vivência,
interdisciplinaridade.

ABSTRACT
Brazil is a country of continental dimensions, being the largest country in Latin America, in its
territory is sheltered a diversity in physical and population area. With these dimensions, biomes are
present, which are environments that present a high level of homogeneity in their specific
characteristics: vegetation, climate and soil, for example. Due to anthropic actions, the biomes
constantly suffer with changes, generating environmental problems. Noting this, the National
Conference of Bishops of Brazil (CNBB) launched the Fraternity Campaign with the theme:
"Fraternity: Brazilian biomes and the defense of life". In this way, the general objective of this work
is to describe the experience of the 2017 fraternity campaign in the school, as a possibility to work
in Environmental Education, based on researches in books, articles and websites and in the
realization of the project in school. We found learning experiences with interdisciplinarity that
made the Environmental Education effective, paying attention to the knowledge and awareness of
the school and community.
Keywords: Biomas, Fraternity Campaign, Environmental Education, experience, interdisciplinarity.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1284


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

O Brasil é considerado um país continental, ou seja, um país que abriga dimensões físicas de
proporções continentais. O território detêm cerca de mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados
de extensão, sendo o maior país da América do Sul. Registra-se em relação a essas dimensões em
área física vários tipos de solos, relevo, climas e de potencialidades para produções diversificadas e
em relação a questões populacional disparidade de classes, crenças e expressões culturais.
Observada a dimensão do território brasileiro e suas diversidades é também esperado fauna e flora
com características distintas.
Formado por biomas diferentes: Floresta equatorial úmida (Amazônia), Caatinga, Cerrado,
Floresta Tropical (Mata atlântica), Pampa e complexo do Pantanal, ou seja, o Brasil abriga
Vegetação e Fauna que difere de local a local, em todo o seu espaço geográfico. Segundo Coutinho
(2006, Pag.18):

[...] considera-se que um bioma é uma área do espaço geográfico, com dimensões
de até mais de um milhão de quilômetros quadrados, que tem por características a
uniformidade de um macroclima definido, de uma determinada fitofisionomia ou
formação vegetal, de uma fauna e outros organismos vivos associados, e de outras
condições ambientais, como a altitude, o solo, alagamentos, o fogo, a salinidade,
entre outros.
Os biomas são ambientes que apresentam um nível alto de homogeneidade em suas
características específicas, isto é, esses ecossistemas são semelhantes e estão dispostos, na maioria
das vezes, em uma mesma região, por sua vez, influenciado por um mesmo processo de formação,
como por exemplo, latitude, clima e solos.
Considerados relicários de vida, os biomas, sofrem constantemente com modificações
causadas pelos seres humanos, norteadas pelo um sistema capitalista e uso de tecnologias de formas
erradas, prejudicando assim, a um montante de espécies, algumas até endêmicas. Observando esse
dilema, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB- lançou a Campanha da Fraternidade
2017 com o tema: “Fraternidade: biomas brasileiros e a defesa da vida", tendo com um dos
objetivos aplicar os apelos da carta encíclica do Papa Francisco Laudato Si‘.
Desse modo, surge a importância do presente artigo, tendo como objetivo geral, descrever a
vivência do Projeto da Campanha da Fraternidade 2017 na escola, como uma possibilidade de
trabalhar a Educação Ambiental (EA), identificando a interdisciplinaridade como um método de
ensino para a EA e quais possibilidades e desafios nortearam esse trabalho.
A metodologia aplicada foi pautada em base qualitativa, buscando se aprofundar nos
resultados gerados pelo o uso da Campanha da Fraternidade como forma de trabalhar a educação
ambiental em uma Escola da Rede Municipal de ensino, localizada no Sítio Serra de Capoeira, na
Zona Rural de Orobó, um munícipio situado no planalto da Borborema, no Agreste de Pernambuco.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1285


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Participaram do projeto cerca de 90 alunos do turno matutino do ensino Fundamental II, o que
corresponde a 36% dos estudantes.
Sobre o método usado Creswell (2007, p. 184) nos esclarece da seguinte maneira:

A investigação qualitativa emprega diferentes alegações de conhecimento,


estratégias de investigação e métodos de coleta e análise de dados. Embora os
processos sejam similares, os procedimentos qualitativos se baseiam em dados
de texto e imagem, têm passos únicos na análise de dados e usam estratégias
diversas de investigação.
Diferente do método quantitativo, a pesquisa qualitativa voltou a se apegar as informações
presentes na interdisciplinaridade que ocorreu nas disciplinas abordadas, nas diversas atividades
realizadas que foram desenvolvidas, trabalhos de pesquisas, levantamento de dados, jogral, paródia
e músicas sobre conservação e preservação dos biomas brasileiros, dessa maneira, esse modo de
pesquisar estimulou os participantes a pensarem livremente acerca do tema abordado, construindo
dessa forma o conhecimento.
Para a construção do trabalho foram realizadas pesquisas bibliográficas, em livros e artigos,
que por sua vez, deram subsídio acerca do tema debatido. As pesquisas em sites e blogs, foram de
grande importância e por fim, a vivência do projeto na escola deu um aporte maior para a redação
do artigo de maneira geral.

CAMPANHA DA FRATERNIDADE UM SUBSÍDIO PARA O A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A Campanha da Fraternidade do Ano de 2017 aborda como tema: ―Biomas Brasileiros e


defesa da vida‖ e como Lema: ―Cultivar e guardar a Criação‖ (Gn 2,15), tendo como objetivo geral,
cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações
fraternidades com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho.
Segundo Ministério da Educação (1999), o conceito de Educação Ambiental é entendido e
formado por processos que devem levar o indivíduo e a coletividade a construir valores sociais,
habilidades e até mesmo atitudes voltadas para a conservação do meio ambiente, pensando no uso
comum dos seres humanos, qualidade de vida e sustentabilidade.
A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nos informa que:

Art. 2o A educação ambiental é um componente essencial e permanente da


educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis
e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal. (BRASIL,
Lei 9795/99, 27 de abril de 1999)
Desse modo, podemos entender que a Educação Ambiental deve fazer parte de todas as
disciplinas, não ficando apenas a cargo das ciências naturais e humanas, devendo está presente
independente dos níveis e modalidades dos processos educacionais abordados.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1286


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Quando se analisa às categorias de objetivos da Educação Ambiental (DIAS, 2004, p. 111) é


possível destacar:

Consciência:... ajudar os indivíduos e grupos sociais a sensibilizarem-se e a adquirirem


consciência do meio ambiente global e suas questões;
1. Conhecimento:... a adquirirem diversidade de experiências e compreensão
fundamental sobre o meio ambiente e seus problemas;
2. Comportamento:... a comprometerem-se com uma série de valores, e a sentirem
interesse pelo meio ambiente, e participarem da proteção e melhoria do meio ambiente;
3. Habilidades:... adquirirem as habilidades necessárias para identificar e resolver
problemas ambientais;
4. Participação: proporcionar... a possibilidade de participarem ativamente das tarefas
que têm por objetivo resolver os problemas ambientais.
Quando se analisa os objetivos da EA e os objetivos específicos da Campanha da
Fraternidade podemos notar que existe uma complementação de informações, permitindo assim o
desenvolver da campanha como projeto escolar, pois é instituido a busca pela a consciência,
aprofundação do conhecimento, comportamentos prudentes, o desenvolver de habilidades para que
se resolva os problemas ambientais e se conserve o que há de bom e o engajamento constante na
participação construção de um pensamento ecológico.

VIVÊNCIA DO PROJETO NA ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA INTERDISCIPLINAR COM A


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Esse projeto foi desenvolvido com 100% dos alunos, do ensino fundamental II, no mês de
abril do ano corrente, da Escola Municipal, localizada no Sítio Serra de Capoeira, na Zona Rural de
Orobó, um munícipio situado no planalto da Borborema, com latitude 07º44'42" sul e a
uma longitude 35º36'08" oeste, no Agreste de Pernambuco. Participaram do projeto cerca de 90
alunos do turno matutino.
O projeto foi sugerido pela Secretaria de Educação, justificando-se como um trabalho que
tem como missão construir valores para o fortalecimento do diálogo entre os participantes,
buscando mostrar a importância das pessoas no cuidado nos elementos da natureza, ou seja, a
sensibilização pela educação, colocando em ênfase o estudo dos Biomas Brasileiros.
De início, aconteceu a apresentação do projeto a equipe gestora e de ensino, havendo a
divisão das temáticas por turmas. A metodologia abordada todo momento foi pautada no ver, julgar
e agir, assim objetivou-se também o conhecimento da realidade da comunidade. Os professores
aceitaram e desenvolveram suas sequências didáticas acerca da referida temática recebida, esses
conjuntos de passos articulados foram planejados com intenção de atingir o determinado objetivo
didático, para um trabalho efetivo e de qualidade para o ensino-aprendizagem dos discentes.
Contudo, deve-se ressaltar que inúmeras dificuldades aconteceram durante a execução do projeto,
uma delas é a resistência sobre a educação ambiental, pois a mesma é vista como um tema que só

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1287


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

pertence a geografia e ciências, esse olhar é carregado desde as formações da maioria dos
licenciados e repassada quando se está em sala de aula.
Durante o projeto, foram desenvolvidas várias atividades, que ser realizaram de forma
conjunta com os professores das diversas disciplinas, apoiando assim a interdisciplinaridade, dessa
maneira, os docentes e discentes entenderam que é necessário o estabelecimento de ações e políticas
públicas para que aconteça a conservação e preservação dos biomas.
As diversas práticas realizadas foram desenvolvidas, com base em trabalhos de pesquisas e
levantamento de dados. Os professores das diversas áreas desenvolveram métodos para efetivar o
ensino e conseguir atingir o objetivo proposto pela a Campanha da Fraternidade como jogral,
gráficos, paródias e músicas sobre conservação e preservação dos biomas brasileiros, onde
houveram as apresentações por turmas dos resultados obtidos na culminância do projeto.
Dentre as atividades que foram desenvolvidas, foi realizada com uma das turmas, uma aula
de campo, uma metodologia que permite aos alunos um contato direto com os aspectos amplos da
sociedade e meio ambiente, havendo a possibilidade de percepção de fenômenos existentes. Durante
a aula, os alunos observaram que, as ruas da comunidade não tem quase árvores, onde isso também
acontece na escola, por fim, foi feita uma visita a academia da saúde (Figura 1) para se debater
sobre a situação que encontraram, neste local, os alunos apresentaram a sua visão sobre a situação
da realidade que estão inseridos.
A aula de campo é apenas um dos exemplos de atividades que foram desenvolvidas que nos
ajuda a entender que a aprendizagem deve ocorrer além dos muros da escola. Dessa forma,
Penteado (2003) nos afirma, que ler sobre o meio ambiente e ficar informado é diferente de
observar o meu meio ambiente e entrar em contato, analisando assim os diferentes grupos sociais
presentes. As observações feitas do ambiente no qual o aluno está inserido e das relações que ali são
existentes é mais importante, na maioria das vezes, do que leituras e aulas realizadas em sala de
aula.
Figura 1: Alunos em frente a academia da Saúde após aula de Campo.

Fonte: Passos, Maria (2017)

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1288


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Para a realização de um gesto que concretizasse o projeto em si, a escola realizou a compra e
o plantio de algumas árvores na academia da saúde para a arborização, buscando também a
revitalização, com essa ação os alunos ganharam a missão de plantar as árvores (Figura 2), cuidar e
acompanhar o crescimento delas com o passar das semanas.
O gesto foi entendido que o projeto não finalizou com as práticas desenvolvidas pelos
professores, mas sim continuaria constantemente com a atitude, despertando também para a
população que o cultivo de uma planta é um ato simples para guardar e cuidar da nossa casa comum
que é o nosso planeta.
Com essa vivência, se teve como resultado além de conhecimentos sobre os Biomas
Brasileiros, mas também a construção e o resgate de valores e atitudes, que geram, dessa maneira,
um planeta mais humano, através principalmente do exercício da conservação e preservação do
meio ambiente e acontecendo a busca pela sustentabilidade, para uma melhor qualidade de vida,
proporcionando dessa forma, a oportunidade do ensino da Educação Ambiental e a
interdisciplinaridade.
Figura 2: Alunos fazendo o plantio de uma das árvores.

Fonte: Passos, Maria (2017)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho presente demonstrou grande importância para a comunidade escolar, pois


proporcionou aos discentes e docentes o conhecimento e uma experiência de aprendizagem com a
interdisciplinaridade e a Educação Ambiental tanto na escola, como em outros espaços que fazem
parte da comunidade, onde a instituição está localizada, motivando também a população. As
atividades desenvolvidas proporcionaram uma melhor aprendizagem, em relação aos
conhecimentos dos biomas, transformando ideias e sensibilizando ações pertinentes que os alunos
carregam em si.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1289


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

REFERENCIAS

BRASIL, Lei 9795/99, Art. 1º Disponível em: http://www.mma.gov.br/educacao-


ambiental/politica-de-educacao-ambiental acesso: 23/07/2017

BRASIL, Lei 9795/99, 27 de abril de 1999 Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm acesso: 25/07/2017

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2017: BIOMAS BRASILEIROS E A DEFESA DA VIDA


Disponível em: https://www.greenme.com.br/viver/costume-e-sociedade/5117-campanha-da-
fraternidade-2017 acesso: 24/07/2017

CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 2. ed. São Paulo:


Cortez, 2006.

CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativos, quantitativos e misto. Trad. de


Luciana de O. da Rocha. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

COUTINHO, Leopoldo Magno. O conceito de bioma. Acta botanica brasílica, v. 20, n. 1, p. 13-23,
2006. Acesso http://www.scielo.br/pdf/abb/v20n1/02/pdf

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004.

PENTADO,Heloísa D. Meio Ambiente e Formação de Professores, 5 ed. São Paulo, 2003

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1290


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

MEIOS DIFUSORES DE PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS: ESTUDO DE CASO DO


PROJETO MANDALA ESCOLA JOSÉ MARIA DO TOMÉ

Maria Lucineide Gomes da SILVA


Graduanda do curso de Engenharia Ambiental do IFCE- campus Juazeiro do Norte
lucineidegmd@gmail.com
Rudá Peixoto TELES
Graduando do curso de Engenharia Ambiental do IFCE- campus Juazeiro do Norte
telesruda@gmail.com
Brenda Manuele da Rocha LIMA
Graduanda do curso de Engenharia Ambiental do IFCE- campus Juazeiro do Norte
manuele.brenda@gmail.com
Viviane Brito VIANA38
Docente do IFCE- Campus Juazeiro do Norte
viviane.ifcejn@gmail.com

RESUMO
A procura pela remediação dos impactos causados pela agricultura tradicional, tornou necessário a
busca por alternativas sustentáveis que promovam a produção de alimentos sem danificar o meio
ambiente. Nesse contexto destacamos o Sistema Mandala, uma alternativa idealizada por Willy
Pessoa no estado da Paraíba, sistema produtivo de baixo custo, desenvolvido com o intuito de
melhorar a produção de alimentos, baseado nos estudos científicos, na linha da Agroecologia e da
Permacultura. Através deste trabalho busca-se avaliar o papel do Projeto Mandala Escola José
Maria do Tomé, localizado no município de Juazeiro do Norte, na disseminação das práticas
sustentáveis e agroecológicas. Realizado por meio de pesquisas bibliográficas para aprofundamento
no tema de estudo e visitas de campo para levantamento e anotações de dados, bem como registro
fotográfico e georreferenciamento da área de estudo. Constatou-se que o projeto tem conseguido
alcançar seus objetivos principais, atuando como semente disseminadora dos ideais de
desenvolvimento de sistemas de produção agroecológicas sustentáveis na região. Nota-se impacto
do projeto tanto em alunos da rede de ensino fundamental como, professores, técnicos e estudantes
de cursos superiores do IFCE - Campus Juazeiro do Norte. Além disso, o projeto é pioneiro na
região em relação a adoção de um sistema de irrigação movido por fonte de energia renovável
(energia solar fotovoltaica). Este projeto se apresenta portanto com relevância para os setores de
produção agroecológica e sustentável na região do semiárido brasileiro, além de funcionar como
disseminador da educação ambiental através das atividades promovidas.
Palavras-chave: Sistema Mandala. Agroecologia. Sustentabilidade. Educação Ambiental. Alimentos
orgânicos.
ABSTRACT
The search for remediation of the impacts caused by traditional agriculture has made it necessary to
search for sustainable alternatives that promote the production of food without damaging the
environment. In this context we highlight the Mandala System, an alternative idealized by Willy
Pessoa in the state of Paraíba, a low cost production system, developed with the aim of improving
food production, based on scientific studies in Agroecology and Permaculture. This paper aims to

38
MsC. em Desenvolvimento Regional Sustentável pela UFC

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1291


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

evaluate the role of the José María do Tomé School Mandala Project, located in the municipality of
Juazeiro do Norte, in the dissemination of sustainable and agroecological practices. Made through
bibliographical research to deepen the subject of study and on-site visits for survey and data
annotations, as well as photographic record and georeferencing of the study area. It was verified
that the project has managed to reach its main objectives, acting as seed disseminator of the ideals
of development of sustainable agroecological production systems in the region. The impact of the
project is felt in both the elementary school students as well as teachers, technicians and students of
higher education at the IFCE - Campus Juazeiro do Norte. In addition, the project is a pioneer in the
region in relation to the adoption of a irrigation system driven by a renewable energy source
(photovoltaic solar energy). This project is therefore of relevance for the sectors of agroecological
and sustainable production in the Brazilian semi-arid region, as well as working as a disseminator of
environmental education through the promoted activities.
Keywords: Mandala System. Agroecology. Sustainability. Environmental education. Organic food.

INTRODUÇÃO

Em todo o nordeste brasileiro, encontra-se disseminado um modelo de agricultura baseado


em roças sucessivas, sem levar em consideração a necessidade de repouso do solo. Este modelo
associado à criação de gado, acabou provocando uma aceleração no processo de desertificação de
certas áreas (PAULO, 2015). Buscando remediar os impactos causados pela agricultura tradicional,
tornou-se necessário a busca por alternativas sustentáveis que promovam a produção de alimentos
sem danificar o meio ambiente.
Observa-se que no decorrer do século XX para o século XXI, ocorreu uma organização da
sociedade civil, a partir do desenvolvimento de ideias em prol de uma mudança paradigmática no
que se refere ao semiárido brasileiro; o conceito de convivência passa a se tornar a palavra de
ordem desde então (SILVA, 2006). A desconstrução da ideia no combate a seca para a construção
da ideia na convivência com o semiárido assumiu o aspecto de quebra de paradigmas.
Com isso, as práticas agroecológicas passam a ser pensadas levando em consideração os
elementos próprios das comunidades, assentamentos ou territórios, analisando os valores culturais,
sociais, econômicos e ambientais daquela realidade. Na busca para se alcançar a convivência, a
opção é de criar ou até mesmo adaptar soluções já existentes de baixo custo, as quais possam
colaborar com a melhoria de unidades produtivas que já existam.
Nesse contexto destacamos o sistema Mandala, uma alternativa idealizada por Willy Pessoa
no estado da Paraíba, constituído por um sistema produtivo de baixo custo, desenvolvido com o
intuito de aprimorar a produção de alimentos, baseado nos estudos científicos, na linha da
Agroecologia e da Permacultura. Assumindo as experiências tradicionais da comunidade atendida,
o objetivo deste sistema é produzir variados tipos de culturas, de forma simplificada, com baixo
custo operacional e econômico, promovendo assim alimentos nutritivos e essenciais para a
sobrevivência das famílias, como também um aumento na produção destes alimentos, que poderão

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1292


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ser comercializados, complementando a renda familiar (FIASCHITELLO, 2014).


Em termos práticos, a mandala, tem inspiração no sistema solar, sendo formado por nove
círculos concêntricos, possuindo ao centro um reservatório de água, representando o sol, astro
principal do sistema solar, e de onde parte o sistema de irrigação. Seguindo têm-se os três círculos
internos, denominados Círculos de Melhoria da Qualidade de Vida Ambiental, onde deve se
cultivar produtos da própria alimentação como hortaliças e plantas medicinais em consórcio com
bananeiras, batatas, café, mamão, etc. Os próximos cinco círculos, chamados de Círculos da
Produtividade Econômica, visam à produção em escala para o sistema associativo de
beneficiamento voltado para o mercado. O último círculo, o do Equilíbrio Ambiental, apresenta-se
com cercas vivas e quebra ventos como forma de melhorar a produtividade (ABREU et al, 2010
apud BRANDÃO, 2016).
Este sistema alternativo para agricultura visou à diminuição do desperdício de água na
irrigação das plantações, especialmente em regiões atingidas pela seca. Sua origem está voltada
para a subsistência de famílias, principalmente, em regiões com baixo Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH). Tendo em vista que a irrigação integrada ao sistema Mandala desempenha um
papel importante no semiárido, garantindo à atividade agrícola e promovendo a sustentabilidade
econômica (SOUZA, 2014).
No estado do Ceará, essa tecnologia chegou através da Cáritas e CPT no ano de 2004. Após
conhecerem a experiência desenvolvida na Paraíba, essas entidades começaram a realizar
capacitações em municípios da diocese de Crateús, dentre eles, Independência, Tauá, Crateús e
Tamboril. Ocorreu a divulgação dessa tecnologia através de materiais informativos produzidos, por
essas entidades entre os anos 2004 a 2008, com intuito de orientar os camponeses do sertão
cearense (CPT, 2006).

Projeto Mandala Escola José Maria do Tomé

O Projeto Mandala Escola José Maria do Tomé teve seu início em junho de 2016 idealizado
pelos membros do time Enactus IFCE Juazeiro do Norte, o mesmo possui sua sede localizada no
próprio campus da instituição. O objetivo do projeto é promover a produção de alimentos saudáveis
de forma agroecológica e sustentável, além de disseminar práticas de convivência com o semiárido
brasileiro, acreditando na replicabilidade do projeto em diversas áreas e situações sociais. Nesse
contexto, o espaço ocupado pela Mandala Escola José Maria do Tomé é visto como um campo
experimental utilizado para pesquisas de novas técnicas em adaptação de sistemas de produção
orgânica, para serem implantados em comunidades que o time Enactus venha desenvolver
atividade. A área também constitui um espaço interdisciplinar de aprendizagem, onde se
desenvolvem atividades de práticas agroecológicas, desenvolvimento sustentável, aproveitamento

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1293


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

da energia solar, interação com o meio ambiente e educação alimentar, incentivando os visitantes do
espaço com a criação dos quintais produtivos, ou outros modelos de hortas orgânicas, conforme a
necessidade e disposição dos espaços de cada um. Busca-se dessa maneira a produção de alimentos
de qualidade, e o estímulo ao trabalho com a terra, trazendo uma cultura de cuidado com o solo e
água, tornando os envolvidos nessas atividades proativas na dispersão de boas práticas com o meio
ambiente.
Diante disso, a presente pesquisa teve como objetivo avaliar o papel do Projeto Mandala
Escola José Maria do Tomé na disseminação das práticas sustentáveis e agroecológicas, assim como
sua contribuição na formação ético-social das pessoas impactadas diretamente pelo projeto.

METODOLOGIA

A área de estudo compreende o espaço da Mandala Escola José Maria do Tomé (Figura 1),
localizada dentro do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), no município de
Juazeiro do Norte, extremo sul do estado do Ceará sob as coordenadas geográficas 7°14'46.62"S e
39°18'20.33"O.
De acordo com o IPECE, o clima no vale do Cariri é do tipo tropical quente subúmido, com
precipitação média anual de aproximadamente 1.090 mm. As chuvas são irregulares e se distribuem
entre os meses de dezembro a maio.

Figura 1 - Localização da Mandala Escola José Maria do Tomé.

Para realização desta pesquisa inicialmente foi realizado o levantamento bibliográfico sobre
o Sistema Mandala e agricultura orgânica e sustentável buscando embasamento teórico sobre o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1294


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

tema de estudo. As pesquisas bibliográficas se deram em artigos científicos, dissertações de


mestrado e sites oficiais.
O desenvolvimento da pesquisa de campo se deu através de visita a área para levantamento e
anotações de dados, registro fotográfico das atividades desenvolvidas na Mandala Escola e do
espaço em si, além do georreferenciamento da área de estudo. As pesquisas de campo e
bibliográficas ocorreram ao longo do primeiro semestre de 2017.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O Projeto Mandala Escola José Maria do Tomé possui cerca de 1 ano, e impactou 152
pessoas diretamente, as quais participaram de capacitações e receberam apoio e instruções do
projeto. Nas capacitações são abordados temas como: compostagem, cobertura do solo, manejo
sustentável de recursos naturais, produção de mudas, reutilização de materiais recicláveis, utilização
de fontes de energias renováveis como a energia solar. No decorrer do primeiro ano do projeto,
obteve-se melhoria na gestão do mesmo, assim como aumento na área de produção da mandala,
incremento do entorno com a construção de um viveiro para as mudas, reservatório de água e a
criação de espaços de convivência (Figura 2).

Figura 2 - Imagem da Mandala Escola José Maria do Tomé no início de implantação no ano de 2016 (à
esquerda). À direita imagem da Mandala Escola nos dias atuais (2017).

A partir da organização do espaço da mandala passou-se a receber visitantes os quais eram


capacitados no mesmo local. O visitantes obtinham instruções teóricas e em seguida trabalhavam na
prática parte do que aprendiam através de pequenas oficinas com a produção de mudas e tratos com
o solo (Figura 3). Dentre esses visitantes destacam-se as escolas de ensino fundamental da rede
pública do município EEF Zila Belém e EMEF Tabelião Expedito Pereira.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1295


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 3 - Capacitação e oficina com estudantes do ensino fundamental.

Ressalta-se que a escola EEF Zila Belém, a partir da visita ao espaço já deu início a
implantação da sua própria horta orgânica em um pequeno espaço disponível na escola (Figura 4), o
alimento produzido deverá ser utilizado na própria merenda dos alunos. A escola EMEF Tabelião
Expedito Pereira está desenvolvendo o projeto de implantação da sua horta em parceria com os
idealizadores do projeto Mandala Escola José Maria do Tomé. Para o segundo semestre do ano de
2017, espera-se expandir o número de visitações, atingindo escolas do ensino médio de nível
profissionalizante do município vizinho, o qual já demonstrou interesse em fixar parceria com o
Time Enactus IFCE Juazeiro do Norte. Estudantes do curso de engenharia ambiental, do IFCE-
Juazeiro do norte, ao cursarem a disciplina de projetos sociais, buscaram junto aos membros do
time conhecimento sobre sistemas produtivos agroecológicos, e desenvolveram projeto de hortas
urbanas a serem implantadas nas cidades de Barbalha e Juazeiro do Norte.

Figura 4 - Estudantes da EEF Zila Belém no início de implantação da horta orgânica da escola.

Outra replicação do projeto se deu com a implantação de uma horta orgânica pelos membros
do projeto junto a comunidade envolvida na Paróquia da Igreja Santo Expedito localizada na
comunidade Sertãozinho no município de Crato-CE. A horta será mantida com cultivo orgânico

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1296


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

pelos moradores locais e contou com a organização de quatro leiras para o cultivo inicial de
coentro, cebolinha, maxixe, tomate e algumas plantas medicinais (Figura 5), produtos estes que
serão destinados a Pastoral da Criança, organismo de ação social que tem como objetivo a
promoção do desenvolvimento integral de crianças até os 6 anos de idade, em seu ambiente familiar
e sua comunidade.

Figura 5 - Horta orgânica implantada na comunidade Sertãozinho.

A partir da construção do viveiro de mudas, a produção de hortaliças no espaço da Mandala


Escola aumentou de 10 kg para 20 kg produzidos mensalmente. As principais hortaliças produzidas
atualmente são coentro, cebolinha, couve manteiga, rúcula, pimentão, pimentinha, quiabo, alface e
tomate, algumas plantas medicinais como capim santo e boldo, além de árvores frutíferas como
cajueiro além de plantas adaptadas às condições climáticas da região, como feijão andu e palma
forrageira (Figura 6).

Figura 6 - Variedade de alimentos produzidos pela Mandala Escola.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1297


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Com o intuito de divulgar os ideais do projeto e promover uma destinação adequada para as
hortaliças produzidas criou-se o Clube Mandalas, o qual é constituído por um grupo de associados
formado por professores, estudantes e profissionais terceirizados da instituição que doam sementes,
materiais recicláveis e quantias monetárias significativas para a manutenção do projeto, recebendo
em troca as hortaliças produzidas de forma orgânica (Figura 7).

Figura 7 - Associada do Clube Mandalas recebendo hortaliças orgânicas.

Através dessas ações o projeto ganhou visibilidade na região e obteve parceria com os
Multiplicadores Solares Greenpeace, e assim possibilitou a implantação do sistema de irrigação da
mandala a partir do aproveitamento da energia solar (Figura 8) com a instalação de placas
fotovoltaicas para captação da energia proveniente do sol e bomba de aspersão; a irrigação do solo é
feita por meio de microaspersores. Em decorrência da instalação desse sistema, os membros do
projeto receberam treinamento adequado para realizar a manutenção do mesmo, através de parceria
com a empresa que é pioneira na região na instalação de placas fotovoltaicas para uso de energia
solar.

Figura 8 - Sistema de irrigação da Mandala Escola a partir do uso de energia solar fotovoltaica.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1298


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

A implantação deste sistema de irrigação funcionando a partir do aproveitamento da energia


solar, aborda a utilização uma fonte de energia renovável a qual é muito abundante na região, assim
como em todo o semiárido brasileiro.
O nordeste brasileiro, se encontra em destaque em relação às demais regiões do mundo,
sendo considerada a região com o maior potencial de energia solar. Nesta região assim como no
semiárido brasileiro, se encontram os melhores índices por radiação incidente por ano, com valores
típicos de 1.752 a 2.190 kWh/m² (PACHECO, 2006).
De modo geral em todo território brasileiro vamos ter uma grande incidência solar, tornando
assim o país rico nesse potencial energético, sendo de extrema importância o desenvolvimento de
mecanismos que impulsionam o uso desse tipo de energia, tornando-a acessível e contribuinte no
processo de desenvolvimento econômico do país (GIAMPIETRO, 2010).

CONCLUSÕES

Diante do exposto, durante o primeiro ano de trabalho do Projeto Mandala Escola José
Maria do Tomé, observa-se a consagração do projeto como semente disseminadora dos ideais de
desenvolvimento de sistemas de produção agroecológicas sustentáveis na região.
Acredita-se que em virtude da localização privilegiada da Mandala Escola, dentro do IFCE
campus Juazeiro do Norte, e por esse ser um espaço aberto, de livre acesso promovendo uma maior
interação entre todos os estudantes, professores, técnicos administrativos e profissionais
terceirizados que trabalham na instituição, ocorreu uma maior viabilização das ações do projeto,
mobilizando tanto a comunidade interna como externa da instituição.
Observa-se uma grande diversidade, dentre as pessoas impactadas pelas ações do projeto,
apresentando desde crianças e pré-adolescentes, oriundas das escolas do ensino fundamental do
município de Juazeiro do Norte, como também discentes do curso de engenharia ambiental,
professores e outros alunos da instituição. Destaca-se a dimensão de disseminação dessas ações que
já se espalham entre os municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, sendo essas as três
principais cidades que compõem a região metropolitana do cariri cearense.
O grande diferencial do projeto atualmente está relacionado ao sistema de irrigação movido
por energia solar fotovoltaica, o qual incrementou as ações do projeto, sendo esse um modelo a ser
seguido e reproduzido em outras comunidades e regiões do país. Faz-se necessário estudos
detalhados sobre este tipo de sistema e os benefícios que este possa proporcionar para os
agricultores e comunidades em geral.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1299


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, A. L., & Barbosa, D. V. Mandala X Agrofloresta: Estudo Conceitual Para Os


Agricultores Familiares De Mambaí–Go. 2016.

CPT-CE. Projeto Mandala: Uma proposta de produção familiar em harmonia com a natureza.
Fortaleza: CPT, 2006.

FIASCHITELLO; Alberto. Sistema Mandalla: Um Projeto Autossustentável promissor para o


Brasil. AGÊNCIA MANDALLA – DHSA. Epoch Times. 2014. Disponível em:<
http://nucleomandalla.blogspot.com.br/>. Acesso em 15 de jun. de 2017.

GIAMPIETRO, Ulisses; RACY, José Caio. Viabilidade econômica da Energia Solar nas áreas
rurais do nordeste brasileiro. Jovens Pesquisadores-Mackenzie, v. 1, n. 1, 2010.

IPECE – Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará. Perfil Básico Municipal, 2016.

Disponível em: <http://www.ipece.ce.gov.br>. Acesso: Junho/2017.

SOUSA, F. S. Uma Análise sobre o Projeto Mandalas Implantado na Comunidade Assentamento


Acauã no Município de Aparecida–PB. 2014.

PAULO, S. B. D. Caminhos para a convivência com o semiárido: agricultura camponesa e


segurança alimentar no sertão de Quiterianópolis–Ceará (Doctoral dissertation). 2015.

PACHECO, Fabiana. Energias Renováveis: breves conceitos. Conjuntura e Planejamento, v. 149,


p. 4-11, 2006.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1300


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

CINÉTICA QUÍMICA E O MEIO AMBIENTE: ADAPTAÇÃO DE UMA PRÁXIS


EDUCATIVA PARA UMA TURMA DA EJA

Flávia Rhuana Pereira SALES


Graduada em Licenciatura em Química pelo IFPB
flavia.rhuana@outlook.com
Mayzza Márcia Araújo do NASCIMENTO
Graduanda em Licenciatura em Química do IFPB
mayzzaaraujo.quim@hotmail.com
Niely Silva de SOUZA
Profa Espc. Em Educação do IFPB
niely.jc@gmail.com
Alessandra Marcone Tavares Alves de FIGUEIRÊDO
Profa. Doutora do curso de Licenciatura em Química do IFPB
alessandratavaresfigueiredo@ifpb.edu.br

RESUMO
Esse trabalho descreve os resultados de uma práxis desenvolvida e aplicada para discentes da
modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), contextualizando o conteúdo Cinética Química
com questões socioambientais. Dentro do contexto do ensino de Química, uma das temáticas
sugeridas por documentos oficiais como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e as
Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) é a abordagem ambiental. Nesse sentido,
essa proposta teve como base a interdisciplinaridade e a contextualização ambiental. Sob essa
perspectiva, a Educação Ambiental (EA) constitui-se como uma estratégia que possibilita mudanças
de atitudes, permitindo ao discente construir uma consciência ambiental e uma cidadania. Dessa
forma, o objetivo dessa aplicação foi promover uma metodologia adaptada e inovadora de ensino,
no contexto químico e ambiental, visto que se trata de um público que possui particularidades que
diferem dos estudantes pertencentes ao Ensino Regular. Para isso, dentro de uma abordagem
qualitativa, quantitativa e participativa, se fez uso de recursos didáticos como a experimentação e as
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), a fim de despertar o interesse do alunado pela
Ciência e facilitar a aprendizagem dessas pessoas jovens e adultas.
Palavras-chave: Ensino de Química, Educação de Jovens e Adultos, Educação Ambiental,
Interdisciplinaridade, Experimentação.

RESUMEN
Este trabajo describe los resultados de una praxis desarrollada y aplicada para los estudiantes de la
modalidad Educación de Jóvenes y Adultos (EJA), contextualizando el contenido de Cinética
Química con cuestiones socioambientales. En el contexto de la enseñanza de la Química, uno de los
temas sugeridos por documentos oficiales como los Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) y las
Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) es el enfoque ambiental. En este sentido,
esta propuesta se utilizó de la interdisciplinariedad y de la contextualización ambiental. En esta
perspectiva, la Educación Ambiental (EA) se constituye como una estrategia que posibilita cambios
de actitudes, permitiendo al estudiante construir una conciencia ambiental y una ciudadanía. Por lo
tanto, el objetivo de esta aplicación fue promover una metodología adaptada, desde la perspectiva
de innovación educativa, en el contexto químico y ambiental, una vez que se trata de un público que
posee particularidades que difieren de los estudiantes que pertenecen a la escuela regular. Para ello,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1301


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

dentro de un enfoque cualitativo, cuantitativo y participativo, se utilizó de recursos didácticos como


la experimentación y las Tecnologías de la Información y la Comunicación (TICs), con el intuito de
despertar el interés del alumnado por la Ciencia y facilitar el aprendizaje de esas personas jóvenes y
adultas.
Palabras Clave: Enseñanza de la Química, Educación de Jóvenes y Adultos, Educación Ambiental,
Interdisciplinariedad, Experimentación.

INTRODUÇÃO

O homem sempre buscou aprimorar os conhecimentos e desenvolver novas tecnologias,


usufruindo da natureza, modificando o equilíbrio dos ecossistemas sem a conscientização de que os
recursos naturais são finitos. Isso vem gerando uma problemática ambiental que vem ganhando
mais espaços nas discussões de políticas públicas entre vários segmentos sociais. Nas últimas
décadas o debate sobre temática ambiental vem sendo enaltecido e ―na década de 90, o debate sobre
a disciplinarização da educação ambiental ganha um desfecho final com os Parâmetros Curriculares
Nacionais – PCNs‖ (RUSCHEINSKY, 2002, p. 49).
Os PCNs adotam a questão ambiental como um tema transversal, o qual deve ser abordado
em todas as escolas com o intuito de ―contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos
para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com
o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global‖ (BRASIL, 1997, p. 25).
Não obstante, o ensino de Química é umas das ciências que permite trabalhar facilmente
com a temática ambiental, de forma interdisciplinar, pois os impactos ambientais gerados pelas
indústrias e/ou outros setores, sempre possuem um contexto químico envolvido, visto que a
Química está diretamente envolvida com tudo. Nesse sentido, Sato (2002, p. 24) informa que ―o
ambiente não pode ser considerado um objeto de cada disciplina, isolado de outros fatores. Ele deve
ser abordado com uma dimensão que sustenta todas as atividades e impulsiona os aspectos físicos,
biológicos, sociais e culturais dos seres humanos‖.
Tal abordagem respalda uma educação construtivista, aquela que foge da abordagem
tradicional que trata o discente como um mero receptor de informações, as quais devem memorizar
e armazenar em seu consciente. Freire (2011, p. 80) denomina essa prática como modelo bancário,
no qual ―a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos,
guardá-los e arquivá-los‖. Essa abordagem, ainda é repercutida pela maioria das escolas públicas,
principalmente no ensino de Química; disciplina julgada pela maioria dos discentes como
incompreensível e abstrata.
Quando direcionamos a atenção para a modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), o
cenário é mais agravante, pelo fato de que se trata de um público singular, caracterizado por homens
e mulheres com pouca escolarização que por algum motivo foram evadidos da escola regular,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1302


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

acarretando em uma defasagem no arcabouço teórico em diversas áreas de conhecimentos


(GUIMARÃES, et al., 2008). Entretanto, esses indivíduos possuem diversas experiências e
conhecimentos empíricos que podem ser explorados na construção de um conhecimento
significativo.
Nesse sentido, o uso da contextualização é essencial no processo de ensinoaprendizagem da
disciplina Química para esses sujeitos, visto que a explicação do conhecimento científico partindo
de um cenário ou uma situação da realidade dos discentes evidencia a importância do estudo dessa
ciência, bem como estimula a interação docente-discente. Tal interação propicia um ambiente
escolar mais ativo, sendo uma relação indispensável no âmbito educacional. Em concernência,
Freire (2011, p. 109) informa que ―o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em
que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e
humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem
tampouco tornar-se simples troca de ideias‖.
Dentro dessa conjuntura, o ensino de Química contextualizado e o uso da
interdisciplinaridade com a Educação Ambiental permite a visualização da relação ciência-
sociedade-ambiente, de modo que propicia a compreensão da história, podendo desvelar a
edificação de uma ação transformadora promovendo a busca do conhecimento por parte desse
público de jovens e adultos. Além disso, recursos didáticos como a experimentação e as
Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), também facilitam uma construção do
conhecimento. Com isso, a fim de esclarecer os conceitos de forma mais compreensível e visual, as
TICs se mostram como uma ótima ferramenta didática, capaz de ilustrar e demostrar
macroscopicamente o que acontece na íntegra de uma reação química, por exemplo. De acordo com
Leite (2015, p. 240),

o desenvolvimento de materiais didáticos multimídicos tem papel fundamental no processo


de ensino e aprendizagem, sendo uma ferramenta didática que permite a passagem de
diversas formas de linguagem (textos, imagens, sons, etc), facilitando uma construção do
conhecimento por parte do aprendiz, respeitando-se a individualidade cognitiva de cada
indivíduo.
Dentro dessa perspectiva, outro instrumento didático indispensável no ensino de Química é a
experimentação, já mencionada anteriormente, visto que é uma forma de despertar no aluno a
curiosidade e um maior interesse, desde que seja propriamente executada com um intuito científico
e possibilidades de promover investigações e discussões. Tal instrumento é fundamentalmente
importante no processo de ensino e aprendizagem, pois é sabido que a Química é uma ciência
experimental, que possui diversas explicações baseadas em atividades microscópicas. Segundo
Silva (2016), ―a experimentação pode ser uma estratégia eficiente para a produção de explicações
para problemas reais que permitam uma contextualização, e dessa maneira estimular
questionamentos que encaminhem à investigação‖.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1303


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Diante do exposto, a equipe pesquisadora idealizou uma práxis educativa com o uso das
ferramentas didáticas supramencionadas numa turma da EJA, para o conteúdo de Cinética Química
com uma abordagem contextualizada, vislumbrando estreitar a relação da tríade ciência-sociedade-
ambiente, por meio da interdisciplinaridade com a Educação Ambiental.

METODOLOGIA

O desenvolvimento da pesquisa ocorreu em uma turma do ciclo VII (2º ano do Ensino
Médio) da modalidade de Educação de Jovens e Adultos numa Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio, localizada na cidade de João Pessoa, Paraíba. Para aplicação do estudo,
foram necessários (3) três encontros, totalizando (6) seis aulas de (45) quarenta e cinco minutos
cada, com 15 (quinze) estudantes participantes.
A metodologia utilizada para a pesquisa foi a qualitativa, a qual ―se desenvolve numa
situação natural; é rica em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade
de forma complexa e contextualizada‖ (LAKATOS; MARCONI, 2004, p. 271). Ainda, uma
pesquisa participante, em que ―os sujeitos da pesquisa são considerados coprodutores de
conhecimento‖ (STRECK, 2016, p. 538). E também, uma abordagem quantitativa que ―caracteriza-
se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações quanto no
tratamento delas por meio de técnicas estatísticas‖ (LAKATOS; MARCONI, 2004, p. 269).
Além disso, dois questionários foram empregados como técnica de pesquisa, os quais
correspondem como uma ótima ferramenta de avaliação. Todas as aulas foram registradas em áudio
e transcritas pela equipe pesquisadora, a fim de atribuir maior confiabilidade à interpretação dos
discentes e ao uso dos dados.
No primeiro encontro, o qual contou com duas aulas, foram elucidados os objetivos da
pesquisa junto à entrega de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual
confirmava ou não a participação voluntária dos discentes durante as ações. Um Questionário de
Sondagem (QS) sobre o conteúdo de Cinética Química foi entregue aos discentes. Tal instrumento
de avaliação foi apropriado para investigar o que os discentes tinham compreendido acerca da aula
introdutória ministrada pelo professor regente da turma sobre o contexto. A temática foi escolhida
de acordo com o cronograma escolar desse professor.
Para o segundo encontro (duas aulas) foi ministrada uma aula expositiva-dialogada
contextualizada e problematizada com caráter interdisciplinar, da temática a ser estudada, com o
uso do quadro branco e das TIC‘s, em que teve apresentação de slides e reprodução de vídeos. Ao
fim desse encontro, foi entregue um material sobre a parte histórica da conservação de alimentos
elaborado pela pesquisadora, em que havia três questionamentos que solicitava, na resolução, o
conhecimento da parte teórica abordada em sala.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1304


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Para finalizar a aplicação, no terceiro encontro (duas aulas), aplicou-se uma aula
experimental enfocando a parte teórica explanada com o uso de materiais alternativos reciclados e
discussão sobre o descarte apropriado de reagentes e de resíduos sólidos, bem como os impactos
ambientais envolvidos em situações cotidianas. Para isso, foram realizados dois experimentos, que
elucidaram dois fatores que afetam a velocidade de uma reação química.
O primeiro fator estudado foi a concentração, em que foi utilizado bicarbonato de sódio,
vinagre, bexigas, garrafas PET e medidor de cozinha. Para o segundo fator, temperatura, utilizou-se
os seguintes reagentes e materiais: água fria, água quente, efervescentes adquiridos em farmácia e
copos descartáveis. Por último, um Questionário Final (QF) foi entregue buscando deslindar o
conhecimento construído pelo alunado após o desenvolvimento das ações.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No primeiro encontro, com o consentimento de todos os estudantes para participação do


estudo atribuídos por meio do TCLE, processou-se uma avaliação do QS que continha quatro
questões subjetivas, buscando averiguar o que os estudantes conheciam acerca do conteúdo de
Cinética Química. A priori, fazendo uma análise geral, 20% do grupo de discentes deixaram três
questões em branco, 53,33% deixaram duas questões em branco, 20% deixou uma questão em
branco e apenas 6,67% conseguiu responder todas as questões.
Vale salientar que na semana anterior ao início da aplicação, os discentes tiveram uma aula
introdutória sobre o conteúdo de Cinética, com o professor da turma, sob uma postura de educador
bancário, o qual afirma Freire (2011, p. 80) ―o educador faz comunicados e depósitos que os
educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem‖.
Uma das questões indagava: ―O que é necessário para que ocorra uma transformação
química?‖ Nesta, apenas houve uma resposta coerente, entre os quinze alunos, em que o discente
respondeu ―Precisa da menor quantidade de energia para formar a nova substância‖. Ele retrata a
energia de ativação definida por Chang e Goldsby (2013, p. 591) como ―energia mínima necessária
para que se inicie uma dada reação química‖, obtendo uma resposta coerente para o
questionamento. Em outra questão foi interrogado: ―O que determina que uma transformação
química seja lenta ou rápida?‖ Nesta, nenhum dos estudantes conseguiu formular uma resposta
coerente, além de ter sido uma das questões que não apresentava tentativa de resposta.
Sendo assim, por intermédio de uma análise qualitativa e quantitativa dos dados, a turma
não demonstrou possuir uma boa compreensão do conteúdo de Cinética Química. Logo, um
planejamento didático foi elaborado visando trabalhar o conhecimento científico a partir do que eles
vivenciam diariamente, uma vez que não responderam bem a uma abordagem tradicional, a qual
busca instruir indivíduos acríticos, pois segundo Freire (2011, p. 85) ―na educação de adultos, não

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1305


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

interessa a esta visão bancária propor aos educandos o desvelamento do mundo, mas, pelo
contrário‖.
Sob esse viés, no segundo encontro foram ministradas duas aulas expositivas dialogadas
com uso da contextualização e das TICs, subsidiando uma prática educativa progressista. Nesse
intuito, com o auxílio da apresentação de slides, uma breve reflexão foi feita sobre: ―O que vem a
ser Cinética Química?‖, em que quatro imagens foram ilustradas com quatro tipos de reações
diferentes, as quais foram: fermentação da uva para produção de vinho, formação de cavernas,
queima de um cigarro e explosão de dinamites.
Frente às imagens foi questionado: ―Das reações ilustradas, qual fator que elas possuem em
comum?‖ Os discentes não conseguiram formular uma resposta e então a docente explanou que o
segredo era a velocidade, pois cada reação possui uma velocidade diferente da outra. A formação
das cavernas ocorre em milhões de anos (ARAÚJO, 2011), a fermentação da uva ocorre em meses,
a queima do cigarro acontece em minutos, enquanto a explosão de dinamites ocorre
instantaneamente, podendo ser classificadas, respectivamente, como reação: muito lenta, lenta,
rápida e muito rápida.
Dentro desse contexto, a docente informou que iria reproduzir uma sequência de quatro
vídeos curtos para que os discentes pudessem classificá-los em diferentes tipos de reação: muito
lenta, lenta, rápida e muito rápida. Os vídeos reproduzidos foram: (i) corrosão de uma placa de
ferro; (ii) acionamento do airbaig; (iii) formação do petróleo e (iv) apodrecimento de uma fruta; em
que alguns destes foram editados, sendo acelerados e adicionados a duração real da reação.
Feito isso, após algumas discussões e debates entre os estudantes, eles conseguiram
classificar corretamente, de modo qualitativo, o tempo de velocidade de cada reação, sendo a
formação do petróleo mais lento, a corrosão do metal como lento, o apodrecimento da fruta como
rápido e o acionamento do airbag como muito rápido. Logo, partiu-se para quantificação da
velocidade, em que se indagou: ―Como podemos calcular essa velocidade, tendo em vista que
apenas determinamos qualitativamente através da comparação de situações?‖.
Como não se obteve nenhuma resposta, foi feito uma nova indagação: ―Como a velocidade
de um carro é mensurada?‖, em que os discentes afirmaram: ―Quantidade da distância dividida
pelo tempo do percurso‖. Logo, utilizou-se tal contribuição para afirmar que a velocidade de uma
reação é mensurada pelo mesmo princípio, porém ao invés da distância percorrida, utiliza-se a
quantidade de matéria em mol.L- dividido pelo tempo de formação do produto em questão
(ATKINS; JONES, 2012).
Dando continuidade, foi realizado um breve resumo sobre reação química com definições
junto à representação genérica de uma equação química, para que reflexões fossem propostas
quanto à velocidade x tempo de uma reação. Para tal, nessa prática educativa sucedeu vários

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1306


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

questionamentos, como por exemplo: ―O que acontece com a concentração dos produtos no
decorrer de uma reação?‖. Partindo desse princípio, gráficos foram ilustrados a fim de expressar o
que acontece com a concentração dos reagentes e produtos em relação ao tempo, bem como a
velocidade de reação.
Após essa discussão, a parte microscópica de uma transformação química foi evidenciada a
partir da definição da Teoria das Colisões, a qual Atkins e Jones (2012, p. 594) afirmam que ―uma
reação só ocorre se as moléculas reagentes colidem com uma energia cinética no mínimo igual à
energia de ativação e se elas o fazem com a orientação correta‖. Desse modo, várias ilustrações e
animações foram apresentadas por meio dos slides (Figura 1), com o intuito de proporcionar uma
melhor compreensão do contexto, sempre buscando mostrar os porquês de cada acontecimento.

Figura 1. Ilustrações das colisões das moléculas numa reação química. Fonte: Própria.

Portanto, na construção desse conhecimento, de acordo com a Figura 1, que expõe na


primeira situação uma colisão efetiva com formação de um produto diferente e na segunda situação
aborda um contato que não é efetivo, ou seja, em que não ocorreu formação de um novo produto,
várias analogias foram feitas para que o alunado pudesse associar o conhecimento científico ao
conhecimento empírico.
Faz-se deveras relevante a busca dessa associação com a realidade dos estudantes, pois o
público da EJA apresenta características singulares, ―pelo motivo de as estruturas cognitivas
permanecerem muito tempo inconscientes, tais sujeitos, por vezes, além de desconhecerem a razão
de certos saberes, não compreendem a amplitude da aplicação de seus conhecimentos‖
(SCHEIBEL, et al., 2010, p. 42). Nesse sentido, demonstrou-se o quão é importante a energia para
o ser humano, refletindo-se a partir do próprio corpo, pois o mesmo necessita de energia para
realizar atividades. Logo, afirmou-se que tudo precisa de energia para acontecer,
independentemente do tipo, até mesmo as reações químicas.
Assim, partiu-se para definição de energia de ativação, comumente associada à barreira de
ativação, a qual é a energia mínima requerida para que a reação aconteça (ATKINS; JONES, 2012).
A pesquisadora utilizou de diversas analogias para que os estudantes conseguissem compreender a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1307


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

definição. Uma vez que foi estabelecida a relevância da energia num processo de transformação
química, explicaram-se as fases dos acontecimentos contíguos a gráficos que abordavam a energia x
caminho da reação (Figura 2), tais como: colisão dos reagentes, formação do complexo ativado e
constituição do produto com propriedades diferentes em relação aos reagentes iniciais.

Figura 2. Exemplificação do comportamento numa reação endotérmica e exotérmica. Fonte: Própria.

A parte teórica foi sempre associada ao recurso audiovisual, com o uso de ilustrações,
gráficos, vídeos, animações em flash, pois conforme Leite (2015, p. 34) é ―preciso entender que a
maioria das tecnologias é utilizada como auxiliar no processo educativo. As tecnologias são
importantes, pois ampliam o conceito de aula, de espaço e tempo, de comunicação audiovisual e
estabelece novas referências entre o presencial e o virtual [...]‖, principalmente quando abordamos a
Química, a qual é considerada pela maioria dos discentes como uma disciplina de contexto abstrato.
Na sequência, introduziram-se os fatores que alteram a velocidade de uma reação, a saber:
concentração, temperatura, superfície de contato e catalisador. Todos os fatores foram discorridos
buscando sempre um momento problematizador que incentivasse o pensamento crítico do discente,
pois ―faz-se necessário embasar-se na realidade do educando, transpondo o ensino e aprendizado
como meio de relacionamento sólido e eficaz na sua formação educacional, levando o mesmo a ser
crítico, reflexivo, tendo um novo olhar para o meio que o cerca‖ (SILVA; MOURA, 2013, p. 34).
Para finalizar esse encontro, foi entregue aos discentes um material impresso elaborado pela
pesquisadora. Tal material contabilizou como um trabalho pesquisado, em que nele foi
abordado/elucidado um contexto histórico dos meios de conservação de alimentos utilizados pelo
homem desde a descoberta do fogo até os dias atuais e, ainda, em seu final, apresentava três
questões. As informações contidas nessa atividade buscaram reconhecer e compreender ―a ciência e
a tecnologia químicas como criação humana, inseridas, portanto, na história e na sociedade em
diferentes épocas‖ (BRASIL, 2006, p. 115).
Durante toda a aplicação, buscou-se conceber o conhecimento partindo da realidade do
alunado, enaltecendo o papel significativo da Química no desenvolvimento de diversas áreas, bem
como, algumas de suas consequências geradas para o meio ambiente. Na discussão sobre como a
concentração afeta a velocidade de uma reação, por exemplo, foi discutido sobre os metais pesados,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1308


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

tais como: mercúrio, cádmio, chumbo e cromo. Nesse sentido, foi dito que os metais pesados são
bastante nocivos à saúde humana, de modo que pode haver consequências seríssimas dependendo
do nível de contaminação.
Um dos metais mais abordados foi o Cádmio (Cd), bastante utilizado em baterias e pilhas
recarregáveis, presente na fumaça do cigarro, sendo o tabagismo a principal fonte de exposição e,
até poucos anos atrás, este metal era utilizado como amálgama pelos dentistas. Segundo Amaral
Neto (2017, n. p.), ―o cádmio pode acumular-se no corpo humano e induzir disfunção renal,
doenças ósseas e deficiência na função reprodutora, não se podendo excluir a possibilidade de atuar
como agente cancerígeno no ser humano‖.
Diante do exposto, foi retratada a necessidade de se ter um descarte apropriado de baterias e
pilhas, em que nunca deve ser despejado junto ao lixo doméstico, pois irá provavelmente
contaminar os solos e possíveis corpos d‘água. Também foi conscientizado sobre a prática do fumo,
sendo enfatizado que quanto maior a concentração dos metais, maior será a velocidade com que irá
prejudicar o corpo humano.
Vários outros contextos foram empregados no intuito de elucidar a importância dos
descartes apropriados, do sistema de reciclagem, das maneiras que podemos preservar o meio
ambiente de modo geral, visto que ―é necessário buscar uma sociedade democrática e socialmente
justa, desvelar as condições de opressão social, praticar uma ação transformadora intencional e
promover a contínua busca do conhecimento‖ (RUSCHEINSKY, 2002, p. 58).
No terceiro e último encontro, foi realizada a experimentação juntamente à aplicação do QF,
o qual continha seis questões, em que foi feito uma pequena revisão sobre o contexto teórico,
relembrando as discussões relacionadas ao meio ambiente onde foi dito que, partindo de um
princípio ambientalista, utilizar-se-ia materiais alternativos reciclados sólidos e reagentes que
poderiam ser descartados na pia sem nenhuma preocupação. Desse modo, o primeiro experimento
realizado abordou o efeito da concentração na velocidade de uma reação, o qual operado com os
materiais alternativos reciclados sólidos (garrafas PET, seringa de 60mL, bexigas de ar e medidor
de cozinha) e os reagentes (bicarbonato de sódio (NaHCO3) comprado em farmácia e vinagre
(CH3COOH)).
Para o desenvolvimento deste, foi solicitado o auxílio de um voluntário (Figura 3), o qual
ficou responsável de inserir a mesma quantidade de bicarbonato de sódio em três bexigas diferentes,
com o auxílio de um medidor de cozinha. Enquanto isso, a pesquisadora inseriu três medidas de
volumes diferentes de vinagre, com uso da seringa, nas garrafas PET, as quais foram: 5mL, 10mL e
20mL.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1309


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 3. Momento da execução do primeiro experimento. Fonte: Própria.

Feito isso, as bexigas foram conectadas a entrada das garrafas, de modo que o bicarbonato
ainda permanecesse fora de contato com o vinagre. Após a organização dos sistemas, foi pedido
para que outro voluntário pudesse auxiliar na execução, uma vez que para percepção do efeito da
concentração na velocidade, dever-se-ia levantar todas as bexigas ao mesmo tempo e observar a
reação. Sendo assim, a pesquisadora e os dois voluntários ergueram as bexigas ao mesmo tempo
para que todos pudessem observar a reação química (Equação I):

NaHCO3(s) + CH3COOH(l)  CH3COONa(aq) + H2O(l) + CO2(g) (I)

Logo, foi questionado aos estudantes qual foi o sistema mais rápido e por qual motivo.
Todos os estudantes responderam que a garrafa que continha os 20mL de vinagre, foi a reação que
encheu a bexiga mais rapidamente, porque era a que tinha maior quantidade de vinagre. Com isso, a
docente completou que o vinagre apresenta ácido acético em sua composição que reage com o
bicarbonato de sódio para formar acetato de sódio (CH3COONa), água e gás carbônico como ilustra
a Equação I.
Portanto, a solução com maior volume de vinagre, apresenta maior concentração de ácido
acético e reage mais rapidamente, visto que a quantidade de bicabornato de sódio permaneceu
constante em todos os três sistemas. Os sistemas foram isolados, pois a reação química gera gás
carbônico (CO2), o que é possível perceber pela expansão da bexiga após o contato do bicarbonato
de sódio (sal) com o vinagre. Após a execução do experimento, os cenários ambientais discutidos
nas aulas anteriores foram relembrados e associados ao que foi presenciado com a reação química, a
fim de enfatizar a importância da educação ambiental no processo de ensinoaprendizagem.
Dando prosseguimento a práxis, outro experimento foi realizado, com o intuito de
demonstrar a influência da temperatura na velocidade de uma reação. Então, utilizaram-se materiais
alternativos reciclados sólidos (copos descartáveis) e reagentes (água fria, água morna e
comprimidos efervescentes (Sonrisal) adquiridos em farmácia). Para a execução deste, foi pedido
para que os discentes se aproximassem e com a ajuda de um voluntário, a pesquisadora e o

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1310


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

estudante soltaram um efervescente na água fria e quente, respectivamente. Posteriormente, foi


questionado em qual dos copos o comprimido foi dissolvido mais rapidamente e o alunado
respondeu que o copo que continha água quente dissolveu o comprimido mais rapidamente,
confirmando que quanto maior for a temperatura, mais rápido se procederá a reação. Para finalizar
esse encontro, entregou-se o Questionário Final.
Os resultados do QF foram avaliados e todos os discentes conseguiram acertar mais que
70% dos questionamentos, o que foi bastante positivo comparando-se com os dados obtidos no QS.
Sob esse viés, pode-se constatar que uma metodologia adaptada com uso de recursos didáticos que
abrangem a realidade dos estudantes, aliado a um tema gerador como a Educação Ambiental, pode
contribuir de forma progressista no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que possibilita a
formação de seres críticos, capazes de edificar um conhecimento significativo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As fragilidades atualmente vivenciadas no ensino, principalmente no tocante à Educação de


Jovens e Adultos, revelam a necessidade de práticas inovadoras e motivacionais em sala de aula,
sendo de suma importância a busca por novos conhecimentos, novas ferramentas e estratégias para
despertar o interesse do alunado no estudo das Ciências, particularmente da Química.
Nessa práxis, se pretendeu compreender as diferentes formas de pensar desse público
jovem/adulto, as limitações, de que maneira pode-se contribuir na aprendizagem desses estudantes
que se encontram tanto tempo fora da sala de aula e na formação crítica, agregando saber científico
às suas vivências.
Percebe-se que ao se trabalhar com o estudante da EJA é importante que se faça um
planejamento contextualizado, pois este possibilita uma visão palpável da ciência e, principalmente,
quando se versa para o ensino de Química, se faz necessário à utilização de ferramentas didáticas
como a experimentação e as TICs, as quais corroboram numa melhor promoção e entendimento dos
conteúdos químicos. Não obstante, a proposta aqui explorada teve por objetivo promover uma
consciência ambiental nos discentes, uma vez que, a pesquisadora optou por utilizar materiais
recicláveis e de baixo custeio e, ainda, durante a aplicação, fatores como o correto descarte de
reagentes e a importância da reciclagem foram enfatizados.
Nessa aplicação explorou-se o conteúdo de Cinética Química coadunado com a Educação
Ambiental, pois se seguiu o plano de estudo do professor regente, porém, outros conteúdos serão
abordados por essa equipe de pesquisa, utilizando uma proposta didática instigadora, fazendo uso
de uma metodologia diferenciada motivacional, na busca contínua de contribuir no
desenvolvimento cognitivo desses discentes.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1311


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

REFERÊNCIAS

AMARAL NETO, R. F. A. Efeitos dos Metais Pesados na Saúde Humana, 2017. Acesso em:
20/07/2017. Disponível em: <http://www.robertofrancodoamaral.com.br/blog/efeitos-dos-
metais-pesados-na-saude-humana/>

ARAÚJO, T. Como se forma uma caverna? Revista Mundo Estranho, 2011. Acesso em:
18/06/2017. Disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br/geografia/como-se-forma-uma-
caverna/

ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente.
5ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.

BRASIL. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. vol. 2 - Ciências da Natureza,


Matemática e suas Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, 2006.

_____. Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente, saúde. Secretaria de Educação


Fundamental. Brasília, 1997.

CHANG, R.; GOLDSBY, K. A. Química. 11ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 50ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.

GUIMARÃES, J.; et al. Educação Ambiental na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Synergismus
scyentifica UTFPR, vol. 3, n. 2, n.p., 2008.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia Científica. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2004.

LEITE, B. S. Tecnologias no Ensino de Química: teoria e prática na formação docente. 1ª ed.


Curitiba: Appris, 2015.

RUSCHEINSKY, A. Educação Ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002.

SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos: Rima, 2002.

SCHEIBEL, M. F.; et al. Saberes e singularidades na educação de jovens e adultos. 2ª ed. Porto
Alegre: Mediação, 2010.

SILVA, H. T. R.; MOURA, T. M. S. Educação de Jovens e Adultos – EJA: Desafios e Práticas


Pedagógicas. Interdisciplinar. Revista Eletrônica Univar, vol. 3, n. 9, p. 31-36, 2013.

SILVA, V. G. A importância da experimentação no ensino de química e ciências. Trabalho de


Conclusão de Curso – TCC. Universidade Estadual Paulista. Bauru, 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1312


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

STRECK, D. R. Metodologias participativas de pesquisa e educação popular: reflexões sobre


critérios de qualidade. Revista Interface: Comunicação, Saúde, Educação, vol. 20, n. 58, p. 537-
547, 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1313


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

HORTA ORGÂNICA ESCOLAR COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO PARA A


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Pietra Rolim Alencar Marques COSTA


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UFPB
pietramrqs@gmail.com
Luiz Henrique Liberato MOREIRA
Graduando do Curso de Ciências Biológicas da UFPB
henrique_lmoreira@hotmail.com
Antonia Arisdelia Fonseca Matias Aguiar FEITOSA
Professora Adjunta da UFPB
arisdelfeitosa@gmail.com

RESUMO
A implantação de hortas orgânicas em unidades de ensino, além de oferecer aos professores e
alunos uma experiência de laboratório vivo, consiste em oportunizar a criação de um espaço
pedagógico voltado à produção de conhecimentos científicos, orientação para novos hábitos em
relação ao meio ambiente e à reeducação alimentar. O objetivo deste trabalho foi promover
Educação Ambiental, por meio da implantação de uma horta orgânica vertical com enfoque
interdisciplinar, fazendo uso dos recursos naturais disponíveis para despertar a importância de uma
alimentação saudável. A pesquisa orientou-se pela abordagem da pesquisa qualitativa, tendo a
pesquisa-ação como estratégia metodológica. A observação e enquetes foram os instrumentos de
obtenção de dados, bem como diálogos informações junto à comunidade escolar. Como primeira
etapa, foram aplicadas duas enquetes: uma destinada às auxiliares da cantina e outra aos estudantes,
para investigação do conhecimento prévio destes grupos acerca das hortas orgânicas; na segunda
etapa, foi realizada uma palestra introdutória formativa abordando o tema e gerando competências
cognitivas relacionadas à agricultura orgânica; a terceira etapa consistiu na produção de uma horta
vertical associada ao semeio das hortaliças com a participação de estudantes. Foram positivas as
expectativas dos estudantes quanto à implantação de uma horta orgânica escolar, além da disposição
em participarem ativamente. Foi evidente o envolvimento de professores e auxiliares de cantina
com a proposta, manifestando o interesse em cooperar com a manutenção e expansão da horta
escolar. Ressalta-se, ainda, o valor didático-pedagógico e instrumental desta iniciativa para
melhoria do ensino na educação básica.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Horta Escolar; Sustentabilidade.
ABSTRACT
The implementation of organic vegetable gardens in educational units, besides offering teachers and
students a living laboratory experience, it consists of opportunizing the creation of a pedagogical
space aimed at the production of scientific knowledge, orientation towards new habits in relation to
the environment and to the reeducation of food. The objective of this work was to promote
Environmental Education through the implementation of a vertical organic garden with an
interdisciplinary approach, making using the the available natural resources to awaken the
importance of a healthy diet. The research was guided by the qualitative research approach, with
and action research as a methodological strategy. The observation and surveys were the instruments
for obtaining data, as well as dialogues information with the school community. As a first step
initially, two polls were applied: one for the assistants of the canteen and another for the students, to
investigate the prior knowledge of these groups about the organic gardens; In the second stage, an

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1314


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

introductory lecture was given on the about the topic and generating cognitive skills related to
organic agriculture; The third stage consisted in the production of a vertical garden associated with
the sowing of vegetables with the participation of students. The expectations of the students
regarding the implementation of an organic school garden and the willingness to participate actively
were positive. It was evident the involvement of teachers and canteen assistants with the proposal,
expressing the interest in cooperating with the maintenance and expansion of the school garden. It is
also worth mentioning the didactic-pedagogical and instrumental value of this initiative to improve
teaching in basic education.
Keywords: Environmental Education; School Vegetable Garden; Sustainability.

INTRODUÇÃO

A trajetória do homem na Terra é marcada por uma intensa relação com a natureza.
Inicialmente, seu objetivo era a busca por alimento, e, devido esse fato, desenvolveu-se como
nômade, explorando vários lugares, e a total dependência da caça, coleta e da pesca. No período
paleolítico, as comunidades extraiam da natureza apenas o necessário para a sua sobrevivência,
entretanto, no período seguinte, o neolítico, houve a transição do modo de vida coletor-caçador para
um agrícola estabelecido em locais fixos (SCHUSSEL, 2004). Esse período de transição ficou
conhecido como Revolução Neolítica ou Revolução Agrícola, e, pelo seu caráter, permitiu o
crescimento populacional das vilas e uma transformação da organização social (MAZOYER;
ROUDART, 2008).
No início dessa transição, as populações de plantas e animais ainda conservavam
características selvagens. Contudo, devido ao extenso cultivo e criação, estas adquiriram novos
caracteres específicos de espécies domesticadas (MAZOYER; ROUDART, 2008). Aos poucos, a
agricultura se estendeu para a maior parte das regiões do mundo, proporcionando ao agricultor uma
relação íntima com a terra e seu local de morada.
Em meados do século XVIII, a Revolução Industrial surgia ressignificando as relações de
poder e uso do espaço pelo homem. À medida que as cidades e empresas cresciam, os espaços antes
utilizados como lavouras davam lugar às ferrovias, casas e indústrias, distanciando o homem, cada
vez mais, dos centros de produção do alimento. Nos anos de 1960, a industrialização dos alimentos
a partir do desenvolvimento da agricultura mecanizada, permitia uma perspectiva mais produtiva e
lucrativa para os grandes produtores: produzir muito com baixos custos de mão-de-obra. Para
alcançar um número cada vez mais crescente de produção, cultivaram-se grandes áreas de
monocultura, e, para otimização deste tipo de cultura, fertilizantes, inseticidas, herbicidas e
fungicidas também se valiam de utilização (CARTOCCI; NEUBERGER, 2009).
É nesse cenário que se instala a Revolução Verde, com a difusão de tecnologias agrícolas e a
promessa de acabar com a fome no mundo. Ganhos consideráveis foram acrescidos à produção

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1315


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

agrícola, em contrapartida, esses ganhos foram associados à degradação ambiental e transferência


do lucro intensivo resultante da atividade agrícola à agroindústria em detrimento do produtor rural
(OCTAVIANO, 2010). Dentre os impactos gerados no ambiente, podemos citar como exemplos a
erosão, contaminação de solos e mananciais hídricos, desequilíbrios biológicos e crescente
resistência de pragas à agrotóxicos. Sendo assim, é necessária uma mudança desse modo de
produção que prioriza a quantidade em detrimento da qualidade, e cada vez mais um distanciamento
da população das fontes produtoras dos alimentos comumente consumidos, para estratégias de uma
agricultura conservacionista pautada em valores, e não só na economia (VIDAL, 2011).
Nesse contexto, a ciência agroecológica atende essa nova ótica sobre o modo de produção
agrícola, associando preservação ambiental, atividade produtiva e sistemas sociais (SANTOS,
2013) baseando-se em princípios científicos que gerem a menor dependência possível de insumos
externos à unidade de produção agrícola e a conservação dos recursos naturais (AQUINO; ASSIS,
2007). Uma das mudanças práticas, fundamentada nessa ótica, é a agricultura orgânica. Saraiva
(2009) a define como o conjunto de técnicas agrícolas, agropecuárias e de preservação ambiental,
adaptadas à realidade local de acordo com princípios de desenvolvimento sustentável e de qualidade
de vida, maximizando os benefícios sociais e garantindo a autossustentação.
Os sistemas orgânicos inspiram um novo modo de estruturação da agricultura, baseado em
processos ecológicos e utilização eficiente dos recursos naturais permitindo a sua resiliência e
desenvolvimento das potencialidades dos ecossistemas locais e regionais (VIDAL, 2011), além de
promover também maior qualidade dos alimentos consumidos e contribuições positivas aos atores
envolvidos nesta atividade (AQUINO; ASSIS, 2007).
A agricultura orgânica permite ainda a promoção de ações de educação ambiental, visto que
os envolvidos no processo estarão lidando diretamente com questões sobre preservação e
permeabilização do solo, tipos de cultura e reaproveitamento de resíduos orgânicos (GONÇALVES;
MALHEIROS; CAMPOS, 2013). Em espaços educativos, a horticultura como exemplo de
agricultura orgânica, mediado pela educação ambiental, constitui-se como ferramenta propícia para
o processo de conscientização à mudança de hábitos e atitudes do homem e sua relação com o
ambiente, visto que requer reconhecimento do caráter social como valores, cultura, saúde, noções
de cidadania e outros (CRIBB, 2010), além de oferece ao professor e aos alunos uma experiência de
laboratório em espaço físico aberto e vivo para a realização de aulas práticas, tornando o processo
de ensino-aprendizagem dinâmico e próximo à natureza. Utilizando do plantio de hortaliças, pode
se reforçar nas crianças a importância de uma alimentação equilibrada, explicando o valor
nutricional dos legumes e verduras, as vantagens de se levar para mesa produtos sustentáveis e
livres de insumos químicos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1316


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

O presente estudo teve como objetivo promover Educação Ambiental por meio da
implantação de uma horta orgânica, com enfoque interdisciplinar, proporcionando aos alunos um
espaço aberto de contato com a natureza para a construção de conhecimentos, fazendo uso dos
recursos naturais disponíveis para despertar a importância de uma alimentação saudável.

METODOLOGIA

A pesquisa foi desenvolvida no período de maio a julho de 2017, na Escola Municipal


Professor Luiz Mendes de Pontes localizada no município de João Pessoa/PB, no bairro do Cristo
Redentor, com os alunos do 8º ano. Pretendeu-se implementar uma horta orgânica no espaço escolar
a ser utilizada como espaço pedagógico para a produção de conhecimentos científicos, orientação
de novos hábitos em relação ao meio ambiente e à reeducação alimentar.
O estudo orientou-se pela abordagem da pesquisa qualitativa, na qual ―o pesquisador
procura aprofundar-se na compreensão dos fenômenos que estuda (ações dos indivíduos, grupos ou
organizações em seu ambiente e contexto social) interpretando-os segundo a perspectiva dos
participantes da situação enfocada, sem se preocupar com representatividade numérica,
generalizações estatísticas e relações lineares de causa e efeito‖ (NEVES, 1996).
Como estratégia metodológica adotou-se a pesquisa-ação que favorece a participação ativa
dos membros do grupo, envolvendo professores, pesquisadores e/ou alunos (RICHARDSON,
2003). As ações foram realizadas em três etapas sequenciais e complementares:
Como etapa inicial, foram aplicadas enquetes junto às auxiliares de cantina e
estudantes do 8º ano do ensino fundamental, para investigação do conhecimento prévio destes
grupos sobre as tendências de adesão à proposta e sobre os conhecimentos acerca das hortas
orgânicas. A equipe das auxiliares da cantina foi consultada para informar sobre as principais
hortaliças que são consumidas nas refeições dos alunos, para que as mesmas sejam plantadas e
aproveitadas na própria escola.
Na segunda etapa foi realizada uma palestra introdutória sobre o assunto a fim de despertar
nos alunos o conhecimento de questões relacionadas à agricultura orgânica e sanar possíveis
dúvidas. A fim de fomentar discussões sobre o tema, além de uma apresentação em Datashow,
foram entregues aos alunos fichas com nove afirmativas que retratavam sobre o custo benefício e as
vantagens de se produzir alimentos de forma orgânica, a utilização de insumos químicos em
hortaliças, o tempo disponível para cuidar de uma horta, a sua adoção na merenda escolar e o seu
aproveitamento no espaço escolar. Cada aluno deveria ler em voz alta e dizer se a afirmativa era
verdadeira ou falsa e justificar. A partir das respostas dos alunos, iniciava-se um debate dialogado.
A terceira etapa consistiu no semeio das hortaliças a partir de exposição teórica e
demonstração para a produção de uma horta vertical e os materiais necessários para sua construção.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1317


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Durante a exposição teórica, também foram expostas as hortaliças que seriam utilizadas no plantio,
seguido de informações nutricionais e benefícios à saúde. Foram planejados as datas e os horários
de regas dos canteiros, e distribuídos entre os grupos. As bandejas empregadas para o plantio das
sementes continham um total de 98 células de 57 cm de comprimento e 28 cm de largura, contendo
volume de 30 ml cada. A terra utilizada para o plantio das mudas foi doada pela Prefeitura
Universitária do Campus I da UFPB. Cinco culturas foram selecionadas, de acordo com o que era
utilizado no preparo das refeições dos alunos, para o plantio nas bandejas: alface, cebolinha,
coentro, rúcula e salsinha. Vale salientar que para cada cultura dividiu-se a bandeja em três colunas,
colocando em cada uma das colunas uma placa para indicar qual hortaliça estava plantada. A marca
de sementes selecionada foi a HORTIVALE – Sementes do vale Ltda, com 10g cada unidade.
Para a implantação da horta vertical e suspensa foi pedido que os alunos levassem as
garrafas pet para a escola que foram utilizadas para a construção da estrutura, a partir de modelos
construídos previamente. Atividades complementares como limpeza do pátio em volta da horta
foram realizadas pela EMLUR - Autarquia Municipal Especial de Limpeza Urbana, por meio de
uma solicitação enviada pela direção da escola à Prefeitura Municipal de João Pessoa.

RESULTADOS

Enfatizamos que o público alvo relacionado às auxiliares de cozinha caracterizou-se como


sendo unanimemente feminino com média de idade de 47 anos e com ensino fundamental II
completo. Em relação aos discentes do 8º ano caracterizou-se como sendo em sua maioria do sexo
feminino com média de 13 anos de idade.

Conhecimentos e Percepções Mobilizadas entre os Grupos Entrevistados (Auxiliares de Cantina e


Estudantes)

Ao serem abordadas acerca das possibilidades de produção de hortaliças na escola, as


auxiliares de cozinha evidenciaram a necessidade de ter alguém que ―ajudasse‖ e se ―interessasse‖
por isso. Relacionado à colaboração em relação às atividades com a horta, todas se mostraram
interessadas. Contudo, afirmaram que a carga horária de trabalho não as permitiria serem
diretamente responsáveis pela horta, mas que poderiam sim colaborar com os cuidados. As
principais hortaliças utilizadas nas refeições dos alunos informadas pelas auxiliares foram alface,
alho, batata inglesa, beterraba, cebola, cenoura, coentro, pimentão e tomate.
No que diz respeito ao consumo de hortaliças, cerca de 87% dos alunos responderam que
consomem hortaliças em suas refeições diárias, entre elas: alface, batata, batata inglesa, berinjela,
beterraba, cebola, cenoura, coentro, couve-flor, feijão, pepino, pimentão e tomate. Com relação às

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1318


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

hortaliças 7% dos alunos disseram comer, mas não especificaram. Para os alunos que não comem
nenhum tipo de hortaliças o percentual foi de 6%.
Tendo em vista a construção da horta orgânica e a manutenção das hortaliças pelos alunos,
foi preciso indagá-los quanto à possibilidade de produção de hortaliças na escola e de que forma
poderia ser feita. O ―método de plantio‖ foi o mais representativo com 23%, enquanto que ―falta de
espaço‖, correspondido por 3%, foi o que apresentou a menor em valores percentuais,
demonstrando boa parte dos alunos concorda ser viável a produção de hortaliças na escola como
observado nas respostas ―Sim, montando uma horta‖ e ―Se fazendo uma horta‖. A proporção de
alunos que expressou ―não ser viável‖ a produção de verduras e legumes na escola correspondeu a
18% do restante obtido, fazendo deste, o segundo maior apontamento na análise percentual.
Os alunos, quando questionados se auxiliariam na manutenção de uma horta na escola,
responderam, em maioria, afirmativamente à contribuição com os cuidados que uma horta requer.
Alguns alunos justificaram a escolha demonstrando afinidade com a natureza, com a escola e ações
solícitas como visto nas respostas ―Sim, porque gosto muito da natureza‖, ―Ajudaria porque eu
gosto muito da escola‖ e ―Com toda certeza! Quanto mais ajuda, melhor‖.
Concernente aos conteúdos que poderiam ser trabalhados utilizando uma horta orgânica no
espaço escolar como recurso didático, grande parte associou às disciplinas como Geografia,
Biologia, Educação Física, Ciências e em menor número, a conteúdos específicos, como Botânica,
Saúde, Alimentação e Agronomia. Uma pequena parte afirmou não saber que conteúdos poderiam
ser trabalhados.

Fortalecendo Percepções acerca da Agricultura Orgânica e Conhecimentos Associados

Foi realizado um momento de discussão sobre o tema Agricultura Orgânica através de


afirmativas referentes aos limites e possibilidades de uma horta orgânica no espaço escolar a fim de
provocar nos alunos o pensar crítico. Na sequência, foi abordada a estrutura da horta suspensa em
garrafa pet, os materiais necessários e como seria construído, além das hortaliças que foram
escolhidas para cultivo, seguido de informações nutricionais e benefícios à saúde. A palestra foi
finalizada com o convite aos alunos para plantarem nas bandejas (em sala de aula), as sementes
disponibilizadas (Figura 2A). Esta etapa foi marcada pela visível participação e entusiasmo por
parte dos alunos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1319


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 2 – Alunos plantando as sementes de hortaliças na bandeja para plantio em sala de aula.

A B
Fonte: Dados da Pesquisa, 2017.

Realizado o plantio das sementes de hortaliças nas bandejas (Figura 2B), foi esperado que as
sementes germinassem até o período de transplante para as garrafas pet. Cerca de 30 a 45 dias.

Horta Vertical – Uma Construção Coletiva

A estrutura da horta vertical foi construída no decorrer do mês de junho. As garrafas foram
organizadas em cinco colunas, contando cada uma com seis garrafas pet em disposição vertical. Ao
total, foram utilizadas 30 garrafas pet de 2 litros (Figura 3).

Figura 3 – Estrutura da horta orgânica vertical implantada na área externa da escola.

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Durante este período as hortaliças receberam os cuidados de rega e exposição ao sol, pelos
estagiários. A primeira a germinar foi a rúcula com 03 (três) dias após o plantio, seguido pela
alface, cebolinha, salsinha e por último o coentro.
Na primeira quinzena do mês de julho foi o momento de cumprir a etapa do ―transplante‖
das mudas (Figura 4). Durante a aula de Ciências os alunos juntamente com o professor responsável
pela disciplina se deslocaram para a área externa da escola, aonde seria implantada a horta vertical.
Todo material necessário para realizar o transplante das mudas das bandejas para as garrafas foi
levado para a escola e disponibilizado aos alunos. Para que todos os alunos participassem dessa
etapa, foram formados cinco grupos contendo seis alunos. Cada grupo ficou responsável pelo
plantio de uma cultura orgânica. Ao final, foi deixada a responsabilidade por cada grupo formado
realizar a manutenção da horta.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1320


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 4 – Alunos realizando o transplante das hortaliças para a estrutura da garrafa pet.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2017.

DISCUSSÃO

Diversos trabalhos tratam da horta orgânica em espaço escolar (MARTINS et al, 2012;
CAJAIBA, 2013; MORGADO, 2008, e outros), retratando suas possibilidades como ferramenta
para educação ambiental e alimentar.
Pimenta e Rodrigues (2011) afirmam que a horta permite a integração de conteúdos de
forma interdisciplinar. Em matemática pode ser trabalhado questões relativas às grandezas e
medidas, gráficos e cálculos diversos; em história e geografia conteúdos como relações sociais,
natureza e terra, extensão rural, transformações tecnológicas e seus impactos, ambiente urbano,
indústria e modo de vida e segurança alimentar; em ciências conteúdos como vida e ambiente, ser
humano e saúde, meio ambiente e educação ambiental, relações entre os seres vivos; em português
a produção de textos e linguagem científica como o latim; em língua estrangeira, temas
relacionados à variação linguística e importação de termos estrangeiros e inclusão no vocabulário
popular; para artes a produção de teatro e artes visuais (como a pintura de garrafa pet para
confecção da horta); educação física conhecimentos sobre o corpo (BRASIL, 1998).
A implantação de uma horta escolar favorece um ambiente diverso e sensibilizado para o
uso sustentável dos recursos, além de possibilitar o aumento do consumo de frutas e hortaliças
colaborando para a construção de um hábito alimentar com vista em uma dieta mais saudável
(MUNIZ; CARVALHO, 2007; SANTOS, 2014). Cajaiba (2013) ao investigar as contribuições da
horta orgânica em uma escola pública rural no município de Uruará-PA, identificou através dos
depoimentos dos alunos, que a horta além de oferecer uma alimentação saudável, promoveu um
contato com o meio ambiente, servindo também como recurso prático para exemplificar processos
relacionados à adubação e decomposição, e auxiliou no processo de ensino aprendizagem como
promotora de aulas de fácil entendimento.
Essa situação de aprendizado pode ser justificada pela expectativa de mudança no estímulo
da situação de aprendizagem, passando de uma abordagem tradicional frequentemente encontrada
nas salas de aula que, segundo Leão (1999) fundamenta-se no significado de inteligência como a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1321


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

capacidade de armazenar informações, considerando o aprendizado positivo quando o aluno


―expande‖ o seu intelecto através do armazenamento do maior número de informações possíveis,
para uma abordagem construtivista, que segundo Becker (1993) considera que o conhecimento não
é algo terminado, mas sim, fruto da interação do indivíduo com o meio físico e social.
Ocupar-se do exercício de ensino aprendizagem através de uma posição construtivista
permite exercer uma educação ambiental que considera e problematiza as nossas próprias condutas
individuais e coletivas em relação ao meio ambiente. Não em uma tentativa de ―salvar o mundo‖,
mas sim, de recordar a própria identidade humana entre os demais seres vivos, e a responsabilidade
de ser, saber e agir, que só é alcançada através de uma educação que leve em consideração as
múltiplas facetas da relação homem-ambiente (SAUVÉ, 2005).
No contexto da horta escolar, Pimenta e Rodrigues (2011) ressaltam a importância da
educação ambiental no fomento a uma nova cultura alimentar nas escolas, propiciando aos alunos
conhecer a importância, processos de higienização e valor nutritivo dos alimentos, além de
incentivar nos pais, alunos e toda a comunidade escolar, a reflexão crítica da qualidade dos
alimentos comumente consumidos e da excessiva propaganda sobre eles a fim de estimular o
consumo apenas pela atração visual, como os industrializados e os fast-food. Morgado (2008)
afirma que a aceitação e entendimento sobre uma alimentação adequada para as crianças, tornam-se
menos distante quando as mesmas têm a oportunidade de acompanhar o crescimento do próprio
alimento, o que é proporcionado através da horta orgânica.
Entretanto, apesar de todo o potencial de uma horta orgânica escolar, a mesma também
enfrenta desafios relacionados à manutenção. É explícita nas respostas das merendeiras, em relação
à contribuição com os cuidados da horta, a assertividade em ajudar, porém, a carga horária não
permite que elas sejam as principais responsáveis pelo processo, além de indicarem a contratação de
um jardineiro para essa função. Em consonância a essa constatação, Iared et al (2009) indica ainda,
através da fala dos entrevistados da comunidade escolar participantes do projeto da horta orgânica,
dificuldade quanto à orientações técnicas sobre manejo de canteiros e controle de pragas. Além da
objeção da manutenção, o transporte de recursos também indicado pela autora, como a terra
adubada, por exemplo, é outra dificuldade encontrada no desenvolvimento de atividades desse tipo,
pois, muitas vezes a escola não conta com transporte devido à grande demanda, ficando o
desenvolvedor do projeto encarregado de estabelecer parcerias ou buscar outros meios para esse
fim.

CONCLUSÃO

Após a análise dos questionários, foi possível observar que é mínima a quantidade de alunos
que reconhece a horta como método de produção de hortaliças na escola. Entretanto, um número

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1322


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

considerável de alunos acredita que a implantação de uma horta orgânica escolar seja uma boa
iniciativa. Depreende-se das respostas também que há pouca familiaridade com a produção orgânica
dos alimentos, indicando assim que a participação dos alunos na construção da horta permite que os
mesmos aprendam sobre técnicas de cultivo e plantio, e ainda a respeito da origem dos alimentos
vegetais.
Como prática educativa, a horta orgânica possibilita o desenvolvimento de conteúdos
diversos, oportuniza um ensino teórico–prático bem como despertar no aluno o sentimento de
responsabilidade. Além de promover situações de educação ambiental, o acompanhamento e a
participação nos processos de implementação da horta, incentivam o desejo pelo consumo de
alimentos de origem vegetal, levando a educação alimentar para a escola, através do sentimento de
valoração do próprio trabalho. Sendo assim, podemos previamente afirmar que essa prática
educacional, contribui para o exercício da sustentabilidade, a seguir pela reutilização de materiais
recicláveis.
A horta implantada demonstrou ter grande relevância para a escola ao possibilitar processos
educativos voltados à união das áreas educativas e ser capaz de atuar como um instrumento
facilitador de aprendizagem, a partir de uma atividade dinâmica e prazerosa. Espera-se com a
prática que os alunos passem a adotar novos hábitos alimentares e que a proposta envolva toda a
comunidade escolar (famílias), a fim de promover vivências integradoras.

REFERÊNCIAS

AQUINO, A. M.; ASSIS, R. L. Agricultura orgânica em áreas urbanas e periurbanas com base na
agroecologia. Ambiente & Sociedade. Campinas v. X, n. 1, p. 137-150, jan.-jun. 2007.

BECKER, F. O que é construtivismo. Idéias. São Paulo: FDE, n.20, p.87-93, 1993.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e


quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais /
Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1998.

CAJAIBA, R. L. Horta orgânica escolar como contributo para desenvolvimento da educação


ambiental em uma escola pública rural no município de Uruará,PA. In: Congresso Brasileiro de
Gestão Ambiental, 4, 2013. Resumos... Salvador: IBEAS – Instituto Brasileiro de Estudos
Ambientais, 2013.

CARTOCCI, C. M.; NEUBERGER, S. B. Produção e industrialização de alimentos. Brasília:


Universidade de Brasília, 2009. 88 p. p. 22.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1323


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

IARED, V. G. et al. O projeto hortas orgânicas comunitárias e pedagógicas na rede municipal de


São Carlos (SP): Um estudo de caso. In: Encontro Pesquisa em Educação Ambiental, 5, 2009.
Anais... São Carlos, 2009.

GONÇALVES, C. S.; MALHEIROS, R. CAMPOS, A. C. A utilização da horta orgânica como


instrumento de educação ambiental nas escolas. In: Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental,
4, 2013. Resumos... Salvador: IBEAS – Instituto Brasileiro de Estudos Ambientais, 2013.

LEÃO, D. M. M. Paradigmas contemporâneos de educação: escola tradicional e escola


construtivista. Cadernos de Pesquisa, nº 107, julho/1999.

MARTINS, A. C. A.; SILVA, T. B. D.; CUNHA, G. L.; WANDERLEY, M. J. A. 2012. Horta


orgânica como proposta curricular em escola do município de Bananeiras, PB. Hortic. bras., v.
30, n. 2, julho 2012. p. S972-S978.

MAZOYER, M.; ROUDART, L. Revolução agrícola neolítica. In: MAZOYER, M.; ROUDART,
L. (Org). Histórias das agriculturas no mundo: do neolítico à crise contemporânea. São Paulo:
Editora UNESP, 2008. cap. 2, p. 105.

MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001,
p 22-25.

MORGADO, F. S.; SANTOS, M. A. A. A horta escolar na educação ambiental e alimentar:


experiência do projeto horta viva nas escolas municipais de Florianópolis. Revista Eletrônica de
Extensão, Santa Catarina, v. 5, n. 6, 2008.

MUNIZ, V. M.; CARVALHO, A. T. National School Feeding Program in a municipality of Paraíba


state: a study under the viewpoint of those who benefit from the Program. Revista de Nutrição, v.
20, n. 3, p. 285–296, jun. 2007.

NEVES, J. L. Pesquisa qualitativa: características, usos e possibilidades. Cadernos de Pesquisas em


Administração, São Paulo, v. 1, n.3, 2º sem., 1996.

OCTAVIANO, C. Muito além da tecnologia: os impactos da Revolução Verde. ComCiência,


Campinas, n. 120, 2010.

PIMENTA, J. C.; RODRIGUES, K. S. M. Projeto horta escola: ações de Educação Ambiental na


escola Centro Promocional Todos os Santos de Goiânia (GO). In: II SEAT – Simpósio de
Educação Ambiental e Transdisciplinaridade, 2, 2011. Resumos... Goiânia, 2011.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1324


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

RICHARDSON, R. J. Como fazer Pesquisa-Ação? In: RICHARDSON, R. J. Pesquisa-Ação:


princípios e métodos. João pessoa: Editora Universitária – UFPB, 2003.

SANTOS, E. J. Educação ambiental e agricultura familiar: uma análise do povoado de Lagoa das
Flores em Vitória da Conquista, BA. 2013. 45 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Especialização) - Polo UAB do Município de Mata de São João-Bahia, Modalidade de Ensino a
Distância, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Medianeira, 2013.

SAUVÉ, L. Educação Ambiental: possibilidades e limitações. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.


31, n. 2, p. 317-322, maio/ago. 2005.

SCHUSSEL, Z. G. L. O desenvolvimento urbano sustentável – uma utopia possível?.


Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 9, p. 57-67, jan./jun. 2004.

VIDAL, M. C. Cultivo Orgânico de Hortaliças. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE


OLERICULTURA, 51, 2011. Anais... Viçosa: ABH, 2011. p. S5964-S5968.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1325


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE


SERPENTES EM UMA ESCOLA DA REDE PUBLICA DE PERNAMBUCO

Rafaela Cavalcante de BARROS


Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas - UFRPE
rafabaarros7@gmail.com
Victor LEANDRO-SILVA
Graduando em Licenciatura em Ciências Biológicas - UFRPE
leo.silva.vls@gmail.com
Jonathas Lins de SOUZA
Mestre em Ecologia Pela UFRPE
jonathas_lins@yahoo.com.br

RESUMO
A importância da educação ambiental e da sensibilização é bastante discutida, diversas trabalhos em
diversos ambientes foram realizados ao longo dos anos. Este estudo foi elaborado com alunos de
uma escola estadual no estado de Pernambuco e os dados foram coletados no período de março e
abril de 2016. Um total de 109 alunos participou do trabalho, sendo 51 do sexo masculino e 58 do
sexo feminino. A faixa etária dos discentes variou de 12 a 14 anos, no qual responderam a um
questionário antes e depois da realização de uma aula dialogada e uma atividade utilizando uma
serpente viva. Cerca de 90% dos alunos mencionaram ter medo de serpentes, número que foi
reduzido para 55% após a atividade. Os alunos também responderam de forma positiva sobre a
importância desses animais para o meio ambiente, resultados que demostraram um sucesso na
ressignificação das serpentes para esses alunos.
Palavras chave: Educação ambiental. Sensibilização. Serpentes. Interdisciplinar.
ABSTRACT
The importance of environmental education and awareness is much discussed, several works in
several environments have been carried out over the years. This study was carried out with students
from a state school in the state of Pernambuco and the data were collected in the period of March
and April 2016. A total of 109 students participated in the study, 51 males and 58 females. The age
range of the students ranged from 12 to 14 years old, in which they answered a questionnaire before
and after a dialogue and an activity using a live snake. About 90% of the students reported being
afraid of snakes, which was reduced to 55% after the activity. The students also responded
positively about the importance of these animals to the environment, results that demonstrated a
successful re-signification of snakes for these students.
Keywords: Environmental education. Awareness. Serpents. Interdisciplinary.

INTRODUÇÃO

O homem, desde os primórdios de sua existência, buscou formas de influir e manejar o meio
ambiente, com fins de transformá-lo, buscando atender às suas necessidades, mesmo que, muitas
dessas transformações tenham se mostrado desfavoráveis (NUNES, 2009). No contexto ambiental

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1326


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

dentro da sociedade, envolve-se um grande conjunto de atores, dentro de uma perspectiva dos
educadores, faz-se necessário a potencialização e o engajamento dos diversos sistemas de
conhecimento, profissionais da educação, sociedade e a comunidade universitária numa perspectiva
interdisciplinar (JACABI, 2003).
A importância da educação ambiental e da sensibilização é bastante discutida, diversos
trabalhos em diversos ambientes foram realizados ao longo dos anos, trabalhos como ANDREU
(2000), VASCONCELOS E SOUTO (2003), SILVA et al (2012) UHMANN E ZANON (2013),
são exemplos dessa discussão, contudo, poucas ações pelos poderes públicos, são realmente
tomadas de fato, com isso, a manutenção e preservação da biodiversidade do planeta é um dos
objetivos mais importante da conservação (ZUG et al, 2001) e a educação ambiental vem
justamente na tentativa de sensibilizar as pessoas dessa importância.
O Brasil apresenta uma grande riqueza de fauna e flora, dentre esse grande biodiversidade,
encontramos os grupos das serpentes, que são cerca de 386 espécies no Brasil, das quais, 55 dessas
são peçonhentas (BÉRNILS e COSTA, 2012), como isso, apenas 14% das serpentes encontradas no
território nacional produzem veneno e possuem algum mecanismo para inocular tal substancia. As
serpentes podem ser classificadas em dois grupos: as peçonhentas, que são aquelas que possuem
aparelho especializado para inocular seu veneno, e as não peçonhentas, que não possuem presas
inoculadoras para introduzir a peçonha (FUNASA, 2001).
As serpentes, geralmente despertaram medo, curiosidade ou fascínio nas pessoas,
principalmente crianças e jovens. A presença desses animais em histórias folclóricas, provérbio e
mitos que são transmitidos ao longo das gerações fortalece a ideia de serem animais perigosos
(ALVES et al, 2014). Com isso, temos um grande problema, não só social como também ambiental.
O grupo sofre perseguições em decorrência do medo e desconhecimento da população (ALVES et
al, 2014).
As serpentes no imaginário humano ocidental são vistas como a representação do mal sendo
diversas vezes associadas a adjetivos ruins e pejorativos (ARAÚJO, 1978). Dentro de conhecimento
popular, as serpentes têm sido conhecidas apenas como animais perigosos devido aos casos de
acidentes ofídicos letais, entretanto esses répteis apresentam um importante papel na manutenção do
equilíbrio no sistema ecológico do ambiente (ZUG et al, 2001). Conjuntamente, a peçonha
produzida por esses animais vem sendo bastante estudado devido ao seu elevado potencial
farmacológico (HESS E SQUAIELLA-BAPTISTÃO, 2012).
Segundo BARRAVIEIRA (1999), as serpentes foram vistas durante muito tempo como
animais ameaçadores, o que tem ocasionado o declínio da diversidade das mesmas. Com isso,
objetivou-se obter informações sobre a percepção dos alunos com relação às serpentes, além de
ressignificar o conhecimento dos discentes sobre esses animais.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1327


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

METODOLOGIA

O trabalho foi realizado com alunos da Escola Estadual Dom Bosco, localizada na cidade de
Recife no estado de Pernambuco. As coletas dos dados foram efetuadas no período de março e abril
de 2016. Os alunos, que variaram de 14 a 16 anos, responderam a um questionário (Quadro 1) sobre
as serpentes. Foi aplicado um questionário semiestruturado com perguntas abertas, sendo o
questionário inicial realizado apenas com as cinco primeiras questões. Essa atividade busca
compreender a percepção que esses adolescentes tinham a respeito das serpentes. Os alunos não
sabiam de que se tratava a atividade, nem tiveram contato visual com a serpente antes, para não
influenciar suas respostas. No questionário, foi utilizada o nome ―Cobras‖ como sinônimo de
serpentes, visto que as serpentes são popularmente mais conhecidas como ―Cobras‖.
Logo em seguida aos alunos responderem ao questionário, foi realizada uma aula dialogada
entre os alunos, onde receberam informações acerca da biologia das serpentes, sua importância
ecológica e médica. Os alunos foram colocados em contato com uma serpente da espécie Boa
constrictor, legalizada. Ao termino do contato com os alunos, eles foram novamente submetidos ao
questionário, dessa vez com todas as seis questões (Quadro 1), a fim de verificar as mudanças e
eficácia da atividade pedagógica.

Questionário

1: Qual animal você tem mais medo?

2: Você tem medo de cobras?

3: Você já matou ou mataria uma cobra? Por qual motivo?

4: Alguém da sua família já matou cobra?

5: Você sabe qual a importância das Cobras? Se sim, quais?

6: O que fazer em caso de mordidas de cobras?


Quadro 1: Quadro mostrando as questões respondidas pelos alunos
antes e depois da atividade dialogada e o contato com a serpente.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Um total de 109 alunos participaram da pesquisa, respondendo os questionários, sendo 51 do


sexo masculino e 58 do sexo feminino, todos responderam o questionário duas vezes, antes e depois
da atividade dialogada e do contato com a serpente. Quanto a primeira questão, foi mencionado
pelos alunos 11 animais como sendo animais que os despertavam medo, no qual as serpentes foram
responsáveis por cerca de 56% das respostas dos alunos, conforme vemos na figura 1.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1328


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Gato Pato Insetos Ser humano Pombo Escorpião Aranha Cobras Leão barata Rato

61

9
9

8
6

5
3

2
2

2
1

Figura 1: Animais mencionados pelos alunos quanto a animais que despertam medo e
quantidade de alunos que citaram cada animal.

Quanto à segunda questão, cerca de 90% (n = 98) dos alunos mencionaram que tem medo de
cobras (Figura 2), sendo que nem sempre é o animal que mais tem medo, como mostrado nas
respostas da primeira questão. Segundo Cosendey e Salomão (2016), o medo que as pessoas têm
sobre serpentes, tem diversos motivos, segundo relatos dos mesmos, esse medo muitas vezes vem
de mitos e lendas sobre esses animais. Vital Brazil já trata dessas lendas que são mencionadas no
seu livro sobre ofícios (BRAZIL, 1911).
Outro ponto a ser considerado, é um fator psicológico envolvido, onde o medo é mais
evidente quando o animal é visto ou quando é mencionado o nome do animal. Muitas das crianças
afirmaram ter medo de serem envenenadas pelas serpentes, segundo Vizzoto (2003), existe uma
tendência por parte da população brasileira em classificar as serpentes como peçonhenta ou como,
mencionadas por eles, venenosas. Para Cobern (1994), as pessoas têm grandes influências do
contexto social e cultural a qual estão inseridas, isso faz com que as mesmas carreguem
conhecimento e visões pré-definida, que guiam sua maneira de sentir, pensar e agir.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1329


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

120

98
100

80

60

40

20
9
2
0
1

Sim Não Não respondeu

Figura 2: Respostas dos alunos para a segunda questão.


Mostrando o medo das serpentes é quase unanimidade dentre os alunos.

Quanto a terceira questão, cerca de 86% (n = 94) dos alunos responderam que já mataram ou
mataria uma serpente, caso encontra-se o animal em seu caminho. Diversas respostas foram dadas
pelos alunos na tentativa de justificar o fato, como exemplo, temos: "Sim, cobra mata os outros,
então temos que matar elas" - Julia, 15 anos.
Já a quarta questão respondida, aproximadamente 59% (n = 65) deles afirmaram que alguém
da sua família já matou uma serpente. Segundo Sandrin et al (2005), as pessoas tendem a ter essa
reação devido ao seu psicológico querer eliminar o objeto que lhe causa ameaça. Feitosa e Abílio
(2012) comprova esse fato em seu trabalho realizado com alunos de biologia e futuros professores.
Na questão cinco, 82% (n = 90) não sabia informar a importância das serpentes, nem
ecologicamente, como também social e/ou médica. Aproximadamente 13% dos alunos afirmaram
conhecer a importância das serpentes no ambiente, justificativas como "Comer os ratos", foram
dadas pelos alunos como resposta para a importância das serpentes.
No contato com a serpente, após a atividade dialogada, muitos dos alunos tiveram repulso
no primeiro momento, mas com o passar da atividade foram perdendo o medo do animal. Notamos
que os alunos foram encorajados por outros alunos que já tinham tocado no animal. Perguntas como
―Ela é venenosa? ‖, foram as mais feitas durante a atividade.
Foi perceptível que o contato com o animal foi muito mais interessante para os alunos do
que apenas a conversa sobre a importância das serpentes. Nas respostas dos questionários, após a
atividade, o número de alunos que responderam ter medo ou continuar com medo caiu de cerca de
90% (n = 98) para cerca de 55% (n = 60) como podemos ver (FIGURA 3). O número de alunos que
não respondeu também aumentou.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1330


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

120

100

80

60

40

20

0
Sim Não Não respondeu

Antes Depois

Figura 3: Comparação das respostas do questionário antes e depois para a pergunta 2.

Também foi possível notar que os alunos passaram a assimilar a importância desses animais
no meio ambiente, não só nele, mas a importância dele também para a sociedade, como mostra a
frase de Fábio, 15 anos: ―Minha avó só está viva por conta das cobras!‖. Frase mencionada devido
ao fato do remédio para pressão alta de sua avó ter sido viabilizado devido a peçonha de uma
espécie de serpente.

120

100

80

60

40

20

0
Sim Não Não respondeu

Antes Depois

Figura 4: Comparação entre o antes e o depois nas respostas do questionário para a pergunta 5.

A prática utilizando um animal vivo pareceu ser bem eficiente na sensibilização das crianças
quanto aos animais, principalmente, pelo fato de quase todas as crianças nunca terem visto uma
serpente de verdade. Diversos estudos com esse enfoque têm ganhado cada vez mais espaço em
várias áreas, com a finalidade de sensibilizar a sociedade para uma reflexão sobre a valorização da
natureza e da biodiversidade (JERONIMO, 2013).

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1331


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relação conflituosa entre humanos e serpentes tem origem nas transmissões de mitos e
lendas entre as gerações, no afastamento do meio natural e na absorção de informações distorcidas
por meio das mídias e filmes. Tendo como ponto principal o temor, que este por sua vez causa
atitudes inadequadas para a conservação das espécies e da cadeia alimentar animal. Essa má
informação também gera condutas prejudiciais em caso de ataques.
A prática realizada nesse trabalho com a aula dialogada sobre serpentes e o contato com o
animal vivo se mostrou bem proveitosa, evidenciando nos questionários que os alunos passaram a
compreender e reconhecer mais a importância dos ofídios na natureza após a didática e o medo
foram diminuídos a partir desse contato. A aproximação transforma medo do desconhecido em
curiosidade e admiração.
As intervenções interdisciplinares no ambiente escolar são de suma importância, uma vez
que os próprios alunos são seres interdisciplinares. Essa complexidade precisa ser acatada, pois se
não houver a abordagem de temas transversais, como educação ambiental, não haverá
sensibilização. Realizando assim, a formação de cidadãos com pouco posicionamento crítico e sem
autonomia de reflexão sobre meio em que estão inseridos.

REFERÊNCIAS

ANDREU, G.C. Mytos, leyendas y realidades de los Reptiles de Mexico. Ciencia Ergo Sum v. 7, n.
3, 286–291, 2000.

ARAÚJO, M. E. L. Serpentes: Sua influência na imaginação popular. Lendas, Crendices e Fatos.


Natureza em Revista. v.5, p. 30-34, 1978.

BARRAVIERA, B. Ofídios, estudo clínico dos acidentes. Rio de Janeiro: ed. EPUB 1999.

BRAZIL, V. A defesa contra o ophidismo. São Paulo: Pocai & Weiss, 1911

COBERN, W. W. World View, Culture, and Science Education. In: Science Education
International, v. 5, nº 4, p. 5-8. 1994.

COSENDEY, B. N. SALOMÃO, S. R.. Mídia e educação: Os ofídios por trás das câmeras–répteis
ou monstros? Revista Eletrônica de Educação, v. 10, n. 3, p. 251-265, 2016.

FEITOSA, R. A. e ABÍLIO, F. J. P.. Dizendo cobras e lagartos: uma experiência de educação


ambiental com futuros professores de biologia Experiências em Ensino de Ciências. v.7, n. 3,
2012.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1332


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

FUNASA, Secretaria de Vigilância em Saúde, Acidentes Por Animais Peçonhentos. Revista de


Biologia e Ciências da Terra. v. 12, n. 2. Brasília. p.24, 2001.

JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, p.


189-205, 2003.

JERONIMO, B C. A educação ambiental na preservação de serpentes. Trabalho de conclusão de


curso (bacharelado – Ciências Biológicas) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de
Biociências de Botucat, 2013.

HESS P.L. & SQUAIELLA-BAPTISTÃO C.C. Toxinas animais: Serpentes da família Colubridae
e seus venenos. Estudos de Biologia, Ambiente e Diversidade, v. 34, n. 83, 135-142, 2012.

NUNES, I. R. A avaliação do ciclo de vida como ferramenta para a educação ambiental: o uso da
redução do desperdício e do aumento da produtividade como indicadores. 2009. 277 f.
Dissertação (Mestrado em Ciências Área de Tecnologia Nuclear). Instituto de Pesquisas
Energéticas e Nucleares. Autarquia Associada à Universidade de São Paulo. São Paulo.

SILVA, M.A.S.; SOARES, I.R.; ALVES, F.C. & SANTOS, M.N.B. Utilização de Recursos
Didáticos no processo de ensino e aprendizagem de Ciências Naturais em turmas de 8º e 9º anos
de uma Escola Pública de Teresina no Piauí. VII - Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e
Inovação, 2012.

VASCONCELOS, S. D.; SOUTO, E. O livro didático de ciências no ensino fundamental –


proposta de critérios para análise do conteúdo zoológico. Ciência & Educação, v. 9, n. 1, 93-
104, 2003.

UHMANN, R. I. M.; ZANON, L. B. Diversificação de estratégias de ensino de ciências na


reconstrução dialógica da ação/reflexão docente com foco na educação ambiental. Ensaio
Pesquisa em Educação em Ciências, v. 15, n. 3, 2013.

VIZOTTO, L.D. 2003. Serpentes: lendas, mitos, superstições e crendices. Plêiade, São Paulo.

ZUG, G.R.; VITT, L.J. & CALDWELL, J.P. Foraging Ecology and Diets. In Zug, G.R.; Vitt, L.J.
& Caldwell (Ed.), Herpetology: An Introductory Biology of Amphibians and Reptiles. 2ed.
Califórnia: Academic Press, 2001.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1333


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

ALTERNATIVAS LÚDICAS PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS DO


ENSINO FUNDAMENTAL DO RN

Rosany Rossi Pereira GOMES


Graduanda do curso de Gestão Ambiental da UERN
rosanygms@gmail.com
Jessica Jessiana Ferreira ALVES
Graduanda do curso de Gestão Ambiental da UERN
jessica_jessiana@hotmail.com
Marcela Marques de QUEIROZ
Graduanda em Psicologia da UFPB
mm.queiroz1@gmail.com
Yáskara Fabíola de Monteiro Marques LEITE
Professora Dra. Orientadora e Adjunta ao Departamento de Química da UERN
ya.marques2@gmail.com

RESUMO
Com a crescente sensibilização a cerca da problemática ambiental vivenciada atualmente pela
humanidade, decorrentes das várias atividades causadoras de degradação do meio ambiente, através
do consumo exacerbado dos recursos naturais, assim como a geração de resíduos em grande escala
em todos os ramos de atividades desenvolvidas pela sociedade. Sendo assim, a Educação Ambiental
surge como um componente essencial para a formação do senso crítico de cada indivíduo em
relação às questões ambientais. Com isso, o presente trabalho objetiva apresentar a implementação
da Educação Ambiental na Escola Municipal Alcides Manoel de Medeiros, localizada na cidade de
Mossoró/RN, mas precisamente aos alunos do 4º e 5º Ano, onde foi apresentada de forma prática e
dinâmica a importância de se cuidar do ambiente em que se vive através da reciclagem, coleta
seletiva e reaproveitamento de resíduos.
Palavras Chave: Educação Ambiental, Reciclagem, Reúso, Coleta Seletiva.
RESUMÉN
Con la creciente sensibilización a cerca de la problemática ambiental vivida actualmente por la
humanidad, derivadas de las diversas actividades causantes de degradación del medio ambiente, a
través del consumo exacerbado de los recursos naturales, así como la generación de residuos a gran
escala en todas las ramas de actividades desarrolladas por la sociedad. Siendo así, la Educación
Ambiental surge como un componente esencial para la formación del sentido crítico de cada
individuo en relación a las cuestiones ambientales. Con ello, el presente trabajo tiene como objetivo
presentar la implementación de la Educación Ambiental en la Escuela Municipal Alcides Manoel de
Medeiros, ubicada en la ciudad de Mossoró / RN, pero precisamente a los alumnos del 4º y 5º Año,
donde se presentó de forma práctica y dinámica la importancia de se debe cuidar el ambiente en que
se vive a través del reciclaje, recolección selectiva y reaprovechamiento de residuos
Palabras Clave: Educación Ambiental, Reciclaje, Reutilización, Recolección Selectiva.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1334


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas observa-se uma forte preocupação a respeito da responsabilidade


individual e coletiva para com o meio ambiente, como também a percepção de uma grande crise
socioambiental vivenciada pela humanidade, advinda principalmente pelo processo de produção
industrial e inconscientes formas de consumo, através dessa sensibilização diversos setores da
sociedade se mobilizaram em busca de soluções e mudanças.
Diante dos debates realizados mundialmente acerca das questões ambientais em busca de
soluções e ações relacionadas à sustentabilidade que pudesse ser aplicada à sociedade
contemporânea, destaca-se a importância da inserção da Educação Ambiental, que surgiu com o
preceito de despertar e construir um senso crítico em relação às questões ambientais e as
problemáticas enfrentadas atualmente (Jacobi, 2005).
Segundo Cuba (2011) a Educação Ambiental caracteriza-se por adotar a gestão ambiental
como princípio educativo do currículo e por centrar-se na ideia da participação dos indivíduos na
gestão dos seus respectivos lugares: seja a escola, a rua, o bairro, a cidade, enfim, o lugar das
relações que mantém no seu cotidiano. Entendemos que o papel principal da educação ambiental é
contribuir para que as pessoas adotem uma nova postura com relação ao seu próprio lugar.
Sorrentino et al. (2005, p. 289), destaca que:

A Educação Ambiental nasce como um processo educativo que conduz a um saber


ambiental materializado nos valores éticos e nas regras políticas de convívio social e de
mercado, que implica a questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do
uso da natureza. Ela deve, portanto, ser direcionada para a cidadania ativa considerando seu
sentido de pertencimento e co-responsabilidade que, por meio da ação coletiva e
organizada, busca a compreensão e a superação das causas estruturais e conjunturais dos
problemas ambientais. (SORRENTINO et al., 2005, p. 289)

Ela surge como uma dimensão de extrema importância para a adoção de práticas que visem
a sustentabilidade e a diminuição de qualquer impacto negativo que as atividades humanas causem
no ecossistema. Sua sedimentação como área do conhecimento multidisciplinar de forma legal se
deu em 27 de Abril de 1999, quando a Educação Ambiental tornou-se lei, pela Lei N° 9.795, onde
em seu Art. 2º determina que: ―A educação ambiental é um componente essencial e permanente da
educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades
do processo educativo, em caráter formal e não-formal‖.
A inserção da Educação Ambiental nos currículos da Educação Básica e da Educação
Superior, segundo a Resolução Nº 2, de 15 de junho de 2012, que estabelece as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (Brasil, 2012), a educação ambiental pode
ocorrer através da transversalidade; como conteúdo dos componentes já constantes do currículo;
pela combinação dos pontos citados acima. Em conformidade com a Lei nº 9.795, de 1999, reafirma
que:

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1335


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Art. 7º A Educação Ambiental é componente integrante, essencial e permanente da


Educação Nacional, devendo estar presente, de forma articulada, nos níveis e modalidades
da Educação Básica e da Educação Superior, para isso devendo as instituições de ensino
promovê-la integradamente nos seus projetos institucionais e pedagógicos.
Art. 8º A Educação Ambiental, respeitando a autonomia da dinâmica escolar e acadêmica,
deve ser desenvolvida como uma prática educativa integrada e interdisciplinar, contínua e
permanente em todas as fases, etapas, níveis e modalidades, não devendo, como regra, ser
implantada como disciplina ou componente curricular específico. Parágrafo único. Nos
cursos, programas e projetos de graduação, pós-graduação e de extensão, e nas áreas e
atividades voltadas para o aspecto metodológico da Educação Ambiental, é facultada a
criação de componente curricular específico.
Art. 10. As instituições de Educação Superior devem promover sua gestão e suas ações de
ensino, pesquisa e extensão orientadas pelos princípios e objetivos da Educação Ambiental.
Art. 11. A dimensão socioambiental deve constar dos currículos de formação inicial e
continuada dos profissionais da educação, considerando a consciência e o respeito à
diversidade multiétnica e multicultural do País. Parágrafo único. Os professores em
atividade devem receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o
propósito de atender de forma pertinente ao cumprimento dos princípios e objetivos da
Educação Ambiental.

Dessa forma, a Educação Ambiental se torna necessária para uma completa formação de um
indivíduo em diversos níveis de ensino, sendo trabalhada de forma que se desenvolva uma
consciência crítica capaz de entender que a espécie humana não é a única espécie que habita o
planeta Terra, não possuindo o direito de causar tantos impactos negativos que levam a diversas
problemáticas (Narcizo, 2009).
Mesmo as questões ambientais estando cada vez mais presentes no cotidiano da sociedade,
contudo, a educação ambiental é de total modo essencial em todos os níveis dos processos
educativos, em especial nas séries iniciais da escolarização, pois, é ali onde se inicia o processo de
socialização das crianças, tornando mais fácil a sua conscientização. (MEDEIROS et al., 2011)
É de suma importância que todos os níveis de ensino se trabalhe a Educação Ambiental, que
poderá trazer diversos benefícios tanto para os alunos como para o meio ambiente. Porém, ao fazer
a implementação da mesma, são encontrados obstáculos que devem ser superados para que
ensinamentos ambientalmente corretos sejam repassados para os alunos. Segundo Andrade (2000),
tais obstáculos estão relacionados a fatores como, o tamanho da escola, número de alunos e de
professores, predisposição destes professores em passar por um processo de treinamento e vontade
da diretoria de realmente implementar um projeto ambiental que vá alterar a rotina na escola.
Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo apresentar a Educação Ambiental na
Escola Municipal Alcides Manoel de Medeiros, através de práticas e dinâmicas que mostrassem aos
alunos a problemática vivenciada atualmente acerca da geração de resíduos sólidos, bem como
trabalhar a importância da Coleta Seletiva e da Reciclagem.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1336


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi realizado na Escola Municipal Alcides Manoel de Medeiros, localizada na


cidade de Mossoró/RN. Nesta escola funciona o ensino de alfabetização e fundamental, sendo o
público alvo alunos do 4º e 5º ano.
Inicialmente, foi aplicado um questionário com o propósito de avaliar o conhecimento dos
alunos sobre meio ambiente, reciclagem, coleta seletiva, dentre outras abordagens. Logo em
seguida, aplicou-se uma palestra (Figuras 1 e 2) sobre as questões tratadas no questionário, tendo
como objetivo principal, esclarecer as dúvidas dos alunos e permitir que fossem passadas
informações ainda desconhecidas por estes. O mesmo questionário foi aplicado após a palestra,
desta vez afim de verificar se o conteúdo exposto na palestra havia sido compreendido e fixado.

Figura 1 - Momento da apresentação da palestra. Fonte: Rosany Gomes, 2016.

Figura 2 - Momento da apresentação da palestra. Fonte: Dalila Duarte, 2016.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1337


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Após isso, foi proposta a primeira gincana do projeto que consistia no recolhimento de
rolinhos de papel higiênico, onde estes seriam matéria prima para a confecção de um brinde com
tema infantil a ser entregue para a turma vencedora, como também, matéria prima para a oficina, no
qual seria ensinado como confeccionar o brinde que a eles foi dado.
Um segundo questionário foi aplicado com o intuído de medir o envolvimento dos alunos no
projeto, e em seguida foi proposta a segunda gincana que se baseou no recolhimento de garrafa pet
para a produção do ―Cantinho Verde‖ da escola, proporcionando um espaço arborizado aos alunos e
produzido com o material por eles arrecadado. O mesmo questionário foi também reaplicado após a
construção do Cantinho Verde, para que fosse avaliado o aprendizado dos envolvidos a partir dessa
atividade prática.
Por fim, a última etapa do projeto consistiu na recapitulação de todo o conteúdo teórico
trabalhado no decorrer do projeto, através de uma nova palestra, que enfatizou a importância da
reciclagem como forma de diminuição para o lixo no planeta, apresentando os 5R‘s (Reutilizar,
Reciclar, Reduzir, Recusar e Repensar), sendo-lhe da mesma forma aplicado questionários antes e
depois de cada atividade realizada. Nesse caso, a terceira e ultima oficina proposta foi a confecção
de Jogos Recreativos a partir de materiais, como: caixa de leite/suco e tampinhas de garrafa pet.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a aplicação dos questionários antes e depois das atividades realizadas com os alunos do
4º e 5º Ano, foram obtidos dados onde foi possível a construção dos gráficos a seguir. Na aplicação
do primeiro questionário na turma do 4º Ano antes da apresentação da palestra, foram obtidos
74,1% de acertos, 22,3% de erros e 3,6% de perguntas não respondidas (Gráfico 1) em relação a
questionamentos como, o que seria meio ambiente para os mesmos, qual seria a destinação correta
dos resíduos sólidos e questões sobre reciclagem. Sendo o conceito de meio ambiente entendido de
maneiras diferenciadas para cada grupo social ou profissional, grande parte dos acertos em relação
ao questionamento do que seria meio ambiente para os alunos, foi de que os mesmos o entendem
como um espaço físico (florestas, lagos) ou ação (cuidar das plantas, não jogar lixo no chão). Após
a apresentação da palestra, houve uma nova aplicação do mesmo questionário, obtendo-se dados
ainda mais positivos, onde 85,5% acertaram, 11,8% erraram e 2,7% não responderam (Gráfico 1),
sendo perceptível a fixação dos conhecimentos repassados para os alunos.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1338


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Primeiro Questionário - 4º Ano


ACERTARAM ERRARAM NÃO RESPONDEU

85,50%
74,10%

22,30%
11,80%
3,60% 2,70%

ANTES DEPOIS

Gráfico 1 – Dados do primeiro questionário aplicado no 4º Ano.

Da mesma forma, a turma do 5º ano demonstrou um bom entendimento acerca das questões
abordadas, tendo na primeira aplicação do questionário um total de 76,1% de acertos, 22,3% de
erros, e 3,6% de perguntas não respondidas (Gráfico 2). Já na segunda aplicação do mesmo
questionário, os resultados obtidos foram bastante equiparados aos resultados da turma do 4º ano, o
que também quer dizer que houve um bom entendimento do conteúdo exposto na palestra para os
alunos do 5º ano. O resultado foi de 85,60% de acertos, 11,10% de erros, e 3,30% de perguntas não
respondidas.

Primeiro Questionário - 5º Ano


ACERTARAM ERRARAM NÃO RESPONDEU
85,60%
76,10%

21,80%
11,10%
2,10% 3,30%

ANTES DEPOIS

Gráfico 2 – Dados do primeiro questionário aplicado no 5º Ano.

Para o segundo questionário também foram realizadas duas aplicações em ambas as turmas.
A primeira aplicação ocorreu quinze dias após a primeira etapa de o trabalho ser concluído, onde já
havia sido realizada a primeira oficina com a turma vencedora da gincana (Figura 3-B). Nesta
oficina foi realizada a confecção de um boneco, sendo o Olaf (personagem do filme Frozen),

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1339


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

juntamente com a turma, utilizando o material por eles arrecadado durante a gincana, que no caso
foram os rolinhos de papel higiênico (Figura 3-A).
Os dados tabulados da primeira aplicação na turma do 4º ano mostram percentuais positivos,
com 86,1% de acertos, 13,6% de erros, e 0,3% de perguntas não respondidas (Gráfico 3). Depois de
aplicado o questionário, foi anunciada a segunda gincana para recolhimento do material que foi
utilizado na criação do ―Cantinho verde‖ na própria escola (Figura 3-C). Durante a criação desse
espaço, os alunos da turma vencedora, que no caso foram os alunos do 4º ano, puderam participar
da construção desse espaço entendendo melhor e de forma prática a reciclagem (Figura 3-D).

Figura 3 – Boneco Olaf (A); construção do boneco Olaf com a turma vencedora (B); ―Canto Verde‖
construído na escola (C); e plantação de mudas com os alunos (D).

Após a criação do Cantinho Verde, foi reaplicado o segundo questionário, onde os


resultados se mantiveram positivos, com o percentual de 87,7% de acertos, 12,0% de erros, e 0,3%
de questões não respondidas (Gráfico 3). Apesar de pouca a diferença entre as duas aplicações, é
possível perceber que o aprendizado adquirido ao longo do trabalho foi fixado com sucesso, pois os
alunos puderam reforçar aquele conhecimento que já haviam obtido através da etapa anterior do
mesmo, bem como, pela efetiva participação para o engajamento dos alunos durante esta segunda
etapa do projeto.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1340


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Segundo Questionário - 4º Ano


ACERTARAM ERRARAM NÃO RESPONDEU

86,10% 87,70%

13,60% 12,00%
0,30% 0,30%

ANTES DEPOIS

Gráfico 3 – Dados do segundo questionário aplicado no 4º Ano.

Os resultados de ambas as aplicações do segundo questionário na turma do 5º ano também


foram valores praticamente iguais, no entanto bastante positivos, onde os acertos foram de 97,5%, e
apenas 2,5% de erros (Gráfico 4), tendo como diferença 0,1% de acréscimo nos valores da segunda
aplicação. Mesmo a turma não tendo ganhado a segunda gincana, seus resultados comparados aos
da turma do 4º ano foram melhores, mostrando que o objetivo do trabalho vinha sendo alcançado
em ambas as turmas.

Segundo Questionário - 5º Ano


ACERTARAM ERRARAM NÃO RESPONDEU

97,50% 97,60%

2,50% 0,00% 2,40% 0,00%

ANTES DEPOIS

Gráfico 4 – Dados do segundo questionário aplicado no 5º Ano.

Na terceira e ultima etapa do projeto houve a realização de mais uma palestra, que se baseou
em uma revisão sobre todo o conteúdo teórico explanado ao longo de todo o trabalho realizado,

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1341


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

bem como o ressalve a importância da reciclagem para o meio ambiente. A aplicação dos
questionários se deu da mesma forma às anteriores, sendo a primeira aplicação antes da palestra e
da gincana e a segunda após a conclusão dessas etapas.

Figura 4 – Apresentação da Terceira Palestra

A proposta da terceira gincana foi a confecção de jogos a partir de materiais recicláveis


arrecadados pelos alunos, desta vez, sendo: caixas de leite/suco e tampas de garrafa pet. Os
vencedores dessa ultima gincana foram os alunos do 5º ano, pois conseguiram arrecadar uma maior
quantidade do material. Neste caso, esses alunos puderam participar da ultima oficina realizada na
escola, aprendendo a utilizar estes materiais que outrora podiam vir a ser descartados de maneira
inadequada no meio ambiente, transformando-os em um novo material que pode contribuir para um
momento de recreação no próprio ambiente escolar.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1342


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Figura 5 – Momento da entrega dos Jogos recreativos

Em análise aos últimos questionários, que abordavam tanto questões explicadas na palestra
como questões relacionadas a opinião dos alunos com relação a importância do projeto na escola,
como já observado ao longo de todo o trabalho desenvolvido, os resultados se destacam pela
positividade em comprovar o aprendizado dos aluno quanto a temática. Como apresentado no
Gráfico 5, os alunos do 4º ano mantiveram seus acertos maiores sempre após a realização das
oficinas e palestras, onde na primeira aplicação teve-se um total de 82% de acertos, 16% de erros e
2% de perguntas não respondidas, aumentando para 93% de acertos e diminuindo para 7% na
segunda aplicação do mesmo questionário.

Terceiro Questionário - 4º Ano


ACERTARAM ERRARAM NÃO RESPONDEU
93,00%
82,00%

16,00%
2,00% 7,00%
0,00%

ANTES DEPOIS

Gráfico 5 – Dados do terceiro questionário aplicado no 4º Ano.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1343


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Da mesma maneira os alunos do 5º ano mantiveram seus resultados também positivos,


demonstrando melhores respostas após a palestra e a oficina, na qual venceram. Tendo um total de
86, 40% de acertos, 12,50% de erros e 1,10% de perguntas não respondidas na primeira aplicação
do questionário (Gráfico 6). Já em sua segunda aplicação, os resultados de acertos aumentaram para
91, 80%, e os erros diminuíram para 8,20%. Pode-se assim avaliar que mesmo ambas as turmas já
possuindo algum conhecimento sobre os temas ambientais, o desenvolvimento do projeto
proporcionou uma maior relevância quanto à importância de se trabalhar a Educação Ambiental
desde as séries iniciais.

Terceiro Questionário - 5º Ano


ACERTARAM ERRARAM NÃO RESPONDEU

91,80%
86,40%

12,50%
8,20%
1,10% 0,00%

ANTES DEPOIS

Gráfico 6 – Dados do terceiro questionário aplicado no 5º Ano.

CONCLUSÃO

Levando em consideração a problemática atualmente vivenciada com relação ao alto grau de


consumo, bem como a grande geração de resíduos que são descartados em sua grande maioria de
forma inadequada, é de grande importância à disseminação de conhecimentos no que diz respeito à
reciclagem, coleta seletiva e ao reaproveitamento de resíduos, principalmente nos primeiros níveis
de ensino, para que as crianças cresçam e desenvolvam um senso crítico em relação às questões
ambientais. Por isso, torna-se extremamente importante o crescimento e a difusão da Educação
Ambiental.
A partir dos resultados obtidos, torna-se possível analisar que os alunos já apresentavam um
conhecimento prévio sobre a temática trabalhada ao longo de todo o projeto, onde este
conhecimento foi somado ao conteúdo repassado nas palestras e nas oficinas, proporcionando
melhores resultados principalmente nos questionários que sucediam as atividades, comprovando a

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1344


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

importância de se trabalhar a Educação Ambiental na sala de aula desde as séries iniciais para uma
boa construção desse conhecimento.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, D. F. (2000). Implementação da Educação Ambiental em escolas: uma reflexão. In:


Fundação Universidade Federal do Rio Grande. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação
Ambiental, v. 4.out/nov/dez.

BRASIL. (1999). Política Nacional de Educação Ambiental, Lei 9795. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 abr. Recuperado de
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm.

CUBA, Marcos Antônio. Educação ambiental nas escolas. Educação, Cultura e Comunicação, v. 1,
n. 2, 2011.

JACOBI, P. R. (2005). Educação ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico,


complexo e reflexivo. Revista Educação e pesquisa, 31, 233-250.

MEDEIROS, Aurélia Barbosa de et al. A Importância da educação ambiental na escola nas séries
iniciais. Revista Faculdade Montes Belos, v. 4, n. 1, p. 1-17, 2011.

SORRENTINO, Marcos et al. Educação ambiental como política pública. Educação e pesquisa, v.
31, n. 2, 2005.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1345


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

PERCEPÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO


FUNDAMENTAL SOBRE OS RESÍDUOS SÓLIDOS39

Larissa Cristina Ferreira CAVALCANTI


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UPE
laricavalcantti@hotmail.com
Manuela Rocha de MENEZES
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UPE
manurmenezes@gmail.com
Suéllen Pedrosa da SILVA
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UPE
suellenpedrosasilva@gmail.com
Thaiane Berdine Santos SILVA
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UPE
thaiane.berdine@gmail.com

RESUMO
A gestão de resíduos sólidos é um problema atual, mundialmente discutido e que atinge toda a
população. A Educação Ambiental tem o papel de promover reflexões e discussões relacionadas aos
problemas ambientais, dentre eles destaca-se o destino dos resíduos sólidos. O presente estudo
envolveu 23 estudantes do ensino fundamental do 3º e 5º anos, com uma faixa etária de 9 a 11 anos,
da Escola Municipal Cidadão Hebert de Souza, na cidade do Recife-PE. O objetivo principal foi
contribuir para ampliar o conhecimento sobre destino do lixo dos alunos, proporcionando um
melhor entendimento sobre o tema. As atividades desenvolvidas foram: desenho avaliando o
conhecimento prévio dos alunos; exibição de dois curtas-metragens e uma conversa breve sobre o
tema, e, por fim, um desenho e/ou redação para avaliar o conhecimento dos alunos após as
atividades. Tudo isso foi executado ao longo de três encontros em cada turma participante do
projeto. Os resultados foram satisfatórios, visto que os alunos se mostraram conscientes de que
ações antrópicas podem degradar o meio ambiente, compreendendo conceitos relacionados a esta
temática e demonstrando evolução em seu nível de compreensão sobre destinar corretamente os
resíduos sólidos.
Palavras chave: Educação Ambiental, Educação Infantil, Resíduos Sólidos.
ABSTRACT
The solid waste control is a current issue, discussed in the whole world and reaching the global
population. The environmental education has the objective of promoting reflections and dabates
regarding environmental problems. Among these debates, the solid waste destination is emphasized.
This study involved 23 students from the 3rd and 5th degree of elementary school, age ranging from
9 to 11 years old, in the Cidadão Hebert de Souza School, Recife, PE. The main point was to
contribute to spread the knowledge regarding the destination of the waste of the students, providing
a better understanding about the subject. It was developed activities such as drawing to evaluate the
students‘ prior knowledge, an exhibition of two short films, a short conversation about the subject,
and, finally, a picture and/or text to evaluate the students‘ knowledge after the activities. The results
was satisfactory, and all the students revealed themselves aware that human actions can degrade the

39
Mariana Guenther SOARES, orientadora.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1346


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

environment, understanding concepts related to this subject and improving their knowledge about
the correct destination of the solid waste.
Keywords: Environmental Education, Child Education, Solid Waste.

INTRODUÇÃO

Os problemas ligados ao lixo cresceram concomitantemente com o avanço da sociedade, já


que em épocas remotas, o homem desempenhava o nomadismo e com isso, todo o lixo produzido
em determinada localidade tinha tempo suficiente para ser decomposto, uma vez que os resíduos
eram, apenas, orgânicos, diferente da atualidade, o que torna o lixo doméstico um problema a ser
solucionado (EIGENHEER, E. M., 2009).
A sociedade moderna, por sua vez, encontra-se totalmente inserida em um sistema
econômico capitalista desde o século XVIII, marcado pela Revolução Industrial. Este modelo
introduziu o conceito de exploração dos recursos naturais sem a preocupação com seu esgotamento,
com a produção de materiais com tempo de vida útil curta que são, posteriormente, lançados no
meio ambiente. Esse contexto favoreceu o surgimento de cidades mal planejadas, problema que se
intensificou com o passar dos anos e com o aumento da população mundial (REIGADA, C., 2004).
Com isso, foi notório o crescimento de impactos negativos trazidos para o homem através dos
resíduos sólidos: aumento no número de poluição nos rios e de doenças, assim como alterações
ambientais e do meio (FERNANDEZ, 2004).
O acúmulo de resíduos sólidos em ambientes urbanos é um grande problema para a saúde
pública, pois proporciona ambientes atrativos para organismos transmissores de doenças. Sendo
assim, o dever do estado juntamente com a população é preservar a salubridade ambiental, ou seja,
manter a higienização do mesmo. Isso faz com que endemias e epidemias vinculadas pelo ambiente
sejam evitadas, tornando-o propício ao bem estar da população (GUIMARÃES, CARVALHO e
SILVA, 2007). A oferta de saneamento básico é uma das grandes soluções, além de ser direito do
cidadão e fazer parte do conceito de saúde proposto pela OMS (organização mundial de saúde)
desde 1986. O exemplo mais comum de doença associada ao lixo é a diarreia, com mais de 4
bilhões de casos por ano, a qual acomete, principalmente, crianças de baixa renda (GUIMARÃES,
CARVALHO e SILVA, 2007).
Sendo assim, o destino adequado e o tratamento do lixo é uma demanda social, e o
crescimento da sociedade acaba aumentando a quantidade desses resíduos. Segundo o Panorama de
Resíduos Sólidos no Brasil de 2015 realizado pela ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas
de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) foram produzidos, nesse mesmo ano, cerca de 79,9
milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos do lixo no Brasil. Aproximadamente 1,2kg de lixo

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1347


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

por habitante por dia é produzido, segundo o IBGE, e apenas 33% dos resíduos sólidos são
reciclados.

Neste cenário, a Educação Ambiental (EA) vem exercer um papel fundamental de


sensibilização e conscientização das pessoas, quanto às práticas atuais de consumo,
utilização dos recursos naturais e descarte de resíduos. Presente em todos os setores da
sociedade e possível para todas as faixas etárias, religiões, etnias e classes sociais, a
Educação Ambiental se mostra extremamente eficiente no ensino básico (SILVA, 2014, p.
413).

Por esse motivo, o atual projeto foi realizado no ambiente escolar a fim de prestar esse
serviço num local onde as práticas educativas são sistematizadas e formais. A temática ambiental já
é um dos temas transversais do currículo escolar, sendo assim, sua abordagem é obrigatória nas
escolas. Cada dia mais, as demandas ambientais estão presentes no cotidiano, sendo necessário que
as crianças sejam conscientizadas acerca dessa problemática, considerando que o processo de
conscientização nos anos iniciais é mais fácil de realizar do que quando o indivíduo já alcançou a
idade adulta (MEDEIROS et al, 2011). Este trabalho objetivou contribuir para que essa finalidade
fosse alcançada na escola onde o projeto foi executado.

METODOLOGIA

As imagens e os textos foram o principal objeto de estudo do presente trabalho, para que
possa ser extraído, e avaliado, o conhecimento de cada aluno. Já que o desenho é a forma mais
antiga de comunicação não-verbal na qual revela sentimentos, imaginação e representa o
pensamento do indivíduo sem precisar fazê-lo dizer. A partir do desenho, as crianças organizam o
conhecimento, retratam experiências e delatam o aprendizado (GOLDBERG, L.G., 2005).
O presente estudo foi realizado com alunos da Escola Municipal Cidadão Herbert de Souza,
localizado na R. Arnóbio Marques, 310, Santo Amaro, com as turmas do 3º ano B e 5º ano do turno
da tarde. Foi desenvolvido a partir da aplicação de técnicas metodológicas de sistemas de
representação (desenhos e escrita) com os alunos de 9 a 11 anos de rede pública da região
metropolitana do Recife. Dividiu-se em três momentos: desenho de conhecimento prévio sobre o
destino do lixo (pré-sensibilização), exposição de filmes e desenhos/redação sobre o destino do lixo
(pós-sensibilização).

Desenho de conhecimento prévio (pré-sensibilização)

Os desenhos foram realizados pelas crianças a partir da seguinte pergunta: ―para onde vai o
lixo?‖, de acordo com a imaginação de cada uma delas, no dia 29 de setembro com o 3º ano B, e no
dia 6 de outubro com o 5º ano. As crianças das turmas desenharam individualmente, sem ajuda de
terceiros, a fim de serem analisados posteriormente pela presença de elementos que o compõe, ou
seja, tais elementos foram listados, quantificados e representados em forma de quadro expositivo.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1348


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Sensibilização ambiental

A sensibilização ambiental ocorreu no dia 30 de setembro para o 3º ano B, e 7 de outubro


para o 5º ano. Dois curtas-metragens foram exibidos: ―Tá limpo‖ (disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=mVnX2ZGlo3k.) e ―Lixo?‖ (disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=3zAsyYgSaxU), e em seguida foi realizada uma roda de
conversa sobre o destino correto do lixo. Abaixo, a descrição dos dois curtas:
Tá limpo. Rio de Janeiro: Produção de Época 10 Comunicações, 1991, 12 min, son., color.
A animação ―Tá limpo‖ apresenta um panorama socio-ambiental da problemática do lixo. Além de
trazer à tona as consequências do descarte mal realizado de resíduos sólidos para o meio ambiente,
realiza uma reflexão sobre as implicações para a saúde pública em comunidades que são
desfavorecidas economicamente. Desenvolve também uma discussão sobre como as ações
comunitárias podem ser instrumento de transformação e contribuírem para a solução de problemas
ambientais e de saúde pública.
Lixo?. São Paulo: Produção do Instituto Cinco Elementos, 2015, 4 min, son., color.
De caráter informativo, a animação ―Lixo?‖ resume como os resíduos sólidos são destinados
e quais os fins mais sustentáveis e adequados para cada tipo de resíduo. Descreve como os resíduos
devem ser separados e descartados e a importância do envolvimento da sociedade nesse processo.

Desenho e redação (pós-sensibilização)

Após a realização destas atividades, solicitamos aos alunos que elaborassem um desenho e
uma redação com o mesmo tema proposto na etapa de pré-sensibilização: ―para onde vai o lixo?‖.
No dia 06 de outubro no 5º ano, e no dia 27 de outubro de 2016 com o 3º ano B. As crianças das
turmas elaboraram suas atividades individualmente, sem ajuda de terceiros. Esses desenhos foram
comparados aos desenhos de conhecimento prévio através da mesma metodologia, uma avaliação
quali-quantitativa dos elementos presentes nas artes. O objetivo da produção de redações é gerar
uma avaliação mais precisa do conhecimento que os alunos adquiriram durante a exposição.
Esperamos que aqueles alunos que anteriormente não sabia qual era destino correto do lixo tenham
adquirido o conhecimento após a sensibilização ambiental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As atividades foram realizadas de forma satisfatória. Foi perceptível a apreensão de


conceitos novos e a participação dos estudantes nas atividades desenvolvidas. A metodologia, de
forma geral, se tornou eficaz em viabilizar a participação dos alunos no processo e possibilitou a
avaliação e o desenvolvimento destes ao longo das atividades.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1349


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

Pré-sensiblização

A análise dos dados foi realizada, de forma mais ampla, pela presença de elementos que
compuseram os desenhos/redações elaborados pelos estudantes. Em uma observação geral, os
componentes que apareceram com maior frequência foram listados e, posteriormente, quantificados.
Tais elementos listados foram: ―lata de lixo‖, ―caminhão de lixo‖, ―lixão‖, ―lixo presente no
esgoto‖, ―lixo presente no ambiente‖, ―reciclagem‖. Cada vez que um estudante representou algum
desses elementos em suas produções (desenho e/ou redação), contabilizamos uma unidade.
Algumas crianças representaram mais de um elemento em suas produções, nenhum aluno deixou de
representar ao menos um destes.
De forma geral, os alunos do 3º ano desenharam latas de lixo ou caminhões de lixo enquanto
a reciclagem foi representada em apenas dois dos desenhos. Os alunos do 5º ano também
desenharam latas de lixo e caminhões. Entretanto, foram identificadas novas representações, como
o descarte do lixo no esgoto.
Apesar da diferença de idades entre as crianças das duas turmas analisadas, grande parte dos
elementos foi identificada nas produções de ambas, como demonstra a tabela abaixo:

Elementos 3º ano 5º ano


Latas de lixo 6 2
Caminhão de lixo 4 4
Lixão 3 3
Lixo no ambiente 0 1
Esgoto 0 1
Reciclagem 1 0
Tabela 1: Contagem de elementos nas produções pré-sensibilização dos alunos de 3º e do 5º ano.

Figura 1: Desenhos de alunos do 3º ano na etapa de pré-sensibilização

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1350


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

No 3º ano B, foi notória a percepção de que no momento anterior aos filmes, apenas uma
criança tinha a noção de reciclagem e representou uma máquina reciclável em sua produção. As
demais não mostraram conhecimento sobre reciclar e desenharam que o lixo seguia para as latas e
caminhão do lixo em sua maioria, enquanto uma parcela menor desenhou lixões.

Sensibilização

O 3º ano B, durante a apresentação ―Tá limpo‖, demonstrou certa agitação, enquanto o 5º


ano, grande interesse em relação ao curta. Após a exibição, abriu-se um espaço para breves
discussões e comentários, e neste momento foi perceptível que os alunos conseguiram associar o
descarte incorreto de resíduos no ambiente ao aparecimento de doenças, exemplificando com ações
incorretas vistas diariamente (jogar lixo no chão, jogar lixo pela janela do ônibus). Conceitos como
reciclagem e coleta seletiva, porém, ainda não estavam muito bem compreendidos no 3º ano, mas
no 5º foi absorvido.
Além disso, esse primeiro curta-metragem tinha, como cenário, uma comunidade carente
com lixos expostos nas ruas e canais, e mostra a relação desses resíduos no local inadequado com a
presença de doenças, e após esse momento, uma criança concluiu que ―lixo dá verme‖. O curta
chamou a atenção dos alunos provavelmente por ser um desenho animado, considerando que os
alunos possuem idades entre 8 e 9 anos.
Na exibição do curta-metragem ―Lixo?‖, os estudantes de ambas as turmas encontraram-se
dispersos. Alguns fatores como o tempo que já estavam em sala de aula; o formato do curta-
metragem, que é uma animação estática com cortes bruscos e a forma que as informações foram
apresentada de forma direta e organizada, influenciou diretamente o declínio do interesse dos alunos
nesse segundo momento. Apesar da clara dispersão, os estudantes conseguiram preencher as
lacunas de conceito que foram percebidas na primeira discussão com o 3º ano. No 5º ano, o
conceito foi consolidado.
Após a exibição de ―Lixo?‖, os estudantes demonstraram um entendimento melhor do que
seria coleta seletiva, reciclagem, reutilização e a importância do papel do coletor de resíduos, dando
até mesmo exemplo de suas vivências relacionadas a essas temáticas. Aqui, foi possível visualizar
certa confusão para a diferenciação de ―reciclagem‖ e ―reutilização.‖ A mistura desses conceitos é
comum e foi constatada no debate coletivo.
A reutilização de um material implica no seu reaproveitamento sem, no entanto, necessitar
de uma alteração física ou química na sua composição, como por exemplo, a reutilização de
embalagens de vidro de alimentos para acondicionar conservas, molhos, geleias, etc. A reciclagem
consiste na transformação do produto, seja de forma artesanal ou industrial, como, por exemplo, a
reciclagem de papel, que pode ser feita manualmente, ou a reciclagem de latas de alumínio ou

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1351


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

garrafas PET, que requer um processamento mais completo. A reciclagem consiste em uma forma
de reutilização do material que compõe o produto, mas é diferente da reutilização daquele produto.
Esses conceitos foram esclarecidos na roda de conversa e a confusão inicial entre eles foi sanada.
No mesmo dia, perguntas como ―o que é reciclar?‖ foram realizadas e algumas crianças
responderam que era ―não botar lixo no chão‖, ―guardar embalagem na bolsa‖ e até mesmo
―limpar‖. Após os filmes, foi possível definir ―reciclagem‖ de uma forma mais próxima da
realidade, e foi concluído pela turma que era como ―transformar coisas velhas em coisas novas‖ a
partir de uma ―máquina reciclável‖, a qual foi representada em grande parte dos desenhos e
redações após a sensibilização.

Pós-senbilização

No 3º ano B, quatro estudantes fizeram apenas a atividade pré-sensibilização; um estudante


somente a pós-sensibilização, enquanto doze realizaram ambas as atividades; no 5º ano, quatro
estudantes fizeram unicamente a pré-sensibilização, três estudantes somente a pós-sensibilização e
onze realizaram ambas as atividades. Somente as atividades produzidas por aqueles que realizaram
pré e pós-sensibilização foram consideradas em nossos resultados.
Na pós-sensibilização, foi solicitado que os alunos, novamente, produzissem um desenho
e/ou redação, com o mesmo tema: ―para onde vai o lixo?‖
Em uma rápida análise dos gráficos abaixo, é notório que, antes do momento de
sensibilização, a maioria dos estudantes não lembrou que a reciclagem é um possível destino para
os resíduos sólidos. Em seu imaginário, estava mais presente os elementos comuns em suas
vivências: lata de lixo, caminhão de lixo e lixão. O aparecimento desses elementos cai no segundo
momento (exceto o do lixão) e o elemento ―reciclagem‖ aumenta drasticamente, demonstrando que
os estudantes apreenderam esse conceito, ainda que não de forma plena, mas descobriram ser essa
uma nova possibilidade para o destino do lixo e uma possibilidade de menor impacto para o meio
ambiente. A principal ideia de reciclagem que os estudantes apresentaram foi a de ―transformação
de coisas velhas em coisas novas‖ sempre com um enfoque positivo.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1352


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

12
Resultados 3º Ano
10
8
6
4
2
0

Pré Sensibilização Pós Sensibilização

Figura 2: Gráfico representando os elementos identificados nas produções pré-sensibilização e pós-


sensibilização dos alunos do 3º ano.

No 5º ano, dois estudantes associaram o descarte de lixo nas ruas às doenças, associação que
não tinha sido realizada nos desenhos que foram produzidos antes do momento de sensibilização.
Tal associação mostra que os alunos prestaram atenção na animação ―Tá limpo‖ e adquiriram
conhecimento das consequências da poluição por resíduos sólidos.

Resultados 5º Ano
8
6
4
2
0

Pré Sensibilização Pós Sensibilização

Figura 3: Gráfico representando os elementos identificados nas produções pré-sensibilização e pós-


sensibilização dos alunos do 5º ano.

Três estudantes falaram, exclusivamente, de reciclagem como destino final do lixo. Um


estudante, ainda citou apenas o lixão. Estudantes citaram ainda o esgoto como destino do lixo,
demonstrando sua vivência em relação ao descarte de resíduos em corpos d‘água e um estudante,
ainda, incentivou o cuidado com o meio ambiente.
Vale ressaltar que quase todos os desenhos apresentaram pessoas poluindo e destruindo
meio ambiente representado por árvores e gramas, mostrando certa consciência de que o homem é
quem degrada a natureza.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1353


Educação ambiental: ecopedagogia e sustentabilidade dos recursos naturais

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos que as crianças participantes do projeto da escola Municipal Cidadão Hebert de


Souza foram sensibilizadas, afinal, após filmes e explicações sobre reciclagem e sobre o destino do
lixo a maioria dos elementos representados em suas produções da pós-sensibilização foram
relacionados a reciclar. Nenhum dos alunos citou a palavra ―reciclagem‖ no texto, mas falaram
sobre ―transformar coisas velhas em coisas novas‖.
A maioria dos estudantes compreendeu a importância do descarte correto de resíduos
sólidos, as consequências negativas que são provocadas por uma ausência deste e, ainda, a
relevância de destinar o lixo de forma sustentável.

REFERÊNCIAS

BIAGIO, F.G. et al. A ecologia industrial dentro do contexto empresarial. Meio ambiente.
Setembro, 2007.

EIGENHEER, E. M. A história do lixo: a limpeza urbana através dos tempos. Porto Alegre:
Gráfica Palloti, 2009.

FERNANDEZ, F. A. dos S. O poema imperfeito: crônicas de biologia, conservação da natureza, e


seus herois. 2. ed. Curitiba: UFPR, 2004.

GOLDBERG, L.G. et al. O desenho infantil na ótica da ecologia do desenvolvimento humano.


Psicologia em Estudo, Maringá, v. 10, n. 1, p. 97-106, jan./abr. 2005.

JARDIM, N. S.; WELLS, C. (Org.). Lixo municipal: manual de gerenciamento integrado. São
Paulo: IPT: CEMPRE, 1995.

REIGADA, C. et al. Educação ambiental para crianças no ambiente urbano: uma proposta de
pesquisa-ação. Ciência & Educação, v. 10, n. 2, p. 149-159. 2004.

SILVA, E. A.; OLIVEIRA, C. A. M.; CUNHA, R. R. C. A.; SOARES, R. V. S.; TEIXEIRA, V. D.;
GUENTHER, M. Educação ambiental voltada para a reutilização e reciclagem dos resíduos
sólidos no ambiente escolar: um estudo de caso no ensino fundamental em recife, pe. Revista
Brasileira de Educação Ambiental (Online), v. 9, p. 406-417, 2014.

MEDEIROS, A. B. DE; MENDONÇA, M. J. DA S. L.; SOUSA, G. L. DE; OLIVEIRA, I. P. DE. A


importância da educação ambiental na escola nas séries iniciais. Revista Faculdade Montes
Belos, v. 4, p. 2-16, 2011.

ISBN: 978-85-68066-54-6 Página 1354

Potrebbero piacerti anche