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A universidade, os jovens e o poder público na construção

do Plano Municipal de Juventude de Alfenas, Minas Gerais


Luís Antonio Groppo1, Evandro Carvalho Rocha2, Isabella Batista Silveira3, Maria Cesione
Damasceno4, Lívia Furtado Borges5, Junior Roberto Faria Trevisan6, Enzo Michel Felipe
Correia dos Santos Goussain7

Resumo

Os autores, participantes da redação do anteprojeto do Plano Municipal de


Juventude de Alfenas, Minas Gerais, descrevem o processo de construção
das propostas do Plano e a sua metodologia de trabalho. Apresentam-se os
referenciais teóricos desta metodologia: a juventude como sujeito social e ator
político relevante no tempo presente; as possibilidades de participação e os
limites das recentes políticas públicas de juventude; a valorização do diálogo
intergeracional, no qual, jovens e adultos, de forma horizontal, livre e aberta,
possam debater questões públicas relevantes. São descritas as propostas e
principais elementos do Plano Municipal de Juventude, os quais versam sobre
“Organização e Diálogo com o Governo”, “Desenvolvimento Integral”, “Território
e Mobilidade”, “Qualidade de Vida”, “Diversidade, Sexualidade e Respeito às
Diferenças” e “Vida Segura”. Como resultados, destacam-se os esforços para
implementar os direitos sociais dos jovens, a partir do diálogo com as demandas
das juventudes atuais e seus movimentos, mas também alguns de seus limites,
como a celeridade da sua construção.

Palavras-chave

Políticas Públicas. Juventude. Plano Municipal de Juventude. Extensão Universitária.

1. Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas; professor adjunto da Universidade
Federal de Alfenas, Minas Gerais, Brasil; coordenador do projeto de extensão “Grupo de Estudos sobre a
Juventude de Alfenas”; pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. E-mail:
luis.groppo@gmail.com.
2. Graduando em Letras na Universidade Federal de Alfenas, Minas Gerais, Brasil; membro do projeto de extensão
“Grupo de Estudos sobre a Juventude de Alfenas” (2014-2016). E-mail: evandrorochat@gmail.com.
3. Mestranda em Educação na Universidade Federal de Alfenas, Minas Gerais, Brasil; membro do projeto de
extensão “Grupo de Estudos sobre a Juventude de Alfenas” (2017); Conselheira Municipal de Juventude de
Alfenas. E-mail: isabellasilveira48@gmail.com.
4. Graduanda em Ciências Sociais na Universidade Federal de Alfenas, Minas Gerais, Brasil; Membro do projeto
de extensão “Grupo de Estudos sobre a Juventude de Alfenas”, desde 2014. E-mail: cesidamas@gmail.com.
5. Graduada (Bacharelado) em Ciências Sociais na Universidade Federal de Alfenas, Minas Gerais, Brasil; Membro
do projeto de extensão “Grupo de Estudos sobre a Juventude de Alfenas”, desde 2014. E-mail: liviafurtadob@
yahoo.com.br.
6. Mestrando em Educação na Universidade Federal de Alfenas, Minas Gerais, Brasil; membro do projeto de
extensão “Grupo de Estudos sobre a Juventude de Alfenas” desde 2014. E-mail: juniortrevisansk8@hotmail.com.
7. Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Alfenas, Minas Gerais, Brasil; membro do projeto
de extensão “Grupo de Estudos sobre a Juventude de Alfenas” (2014-2016). E-mail: michel.goussain@hotmail.
com.

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The university, youth and public power in the construction
of the Municipal Youth Plan of Alfenas, State of Minas
Gerais, Brazil
Luís Antonio Groppo*, Evandro Carvalho Rocha**, Isabella Batista Silveira***, Maria Cesione
Damasceno****, Lívia Furtado Borges*****, Junior Roberto Faria Trevisan******, Enzo Michel
Felipe Correia dos Santos Goussain*******

Abstract

The authors, participants in the drafting of the preliminary project of the Municipal
Youth Plan of Alfenas, State of Minas Gerais, Brazil-MG, describe the process of
construction of the proposals of the Plan and its methodology of work. The theoretical
references of this methodology are presented: youth as a social subject and relevant
political actor in the present time; the possibilities of participation and the limits of
the recent public policies of youth; the appreciation of intergenerational dialogue,
in which young people and adults, in a horizontal, free and open way, can debate
relevant public issues. The proposals and main elements of the Municipal Youth
Plan are described, which deal with “Organization and Dialogue with Government”,
“Integral Development”, “Territory and Mobility”, “Quality of Life”, “Diversity, Sexuality
and Respect for Differences” and “Safe Life”. As a result, stresses the efforts to
implement the social rights of young people, which dialogue with the current youth
and its movements, but also some of its limits, such as the speed of its construction.

Keywords

Public Policies. Youth. Municipal Youth Plan. University Extension.

* PhD in Social Sciences, Campinas State University, State of São Paulo, Brazil; assistant professor at Federal
University of Alfenas, Minas Gerais, Brazil; coordinator of the extension project “Study Group about Youth of
Alfenas” since 2014; researcher at the National Council for Scientific and Technological Development. E-mail:
luis.groppo@gmail.com.
** Undergraduated student in Letters, Federal University of Alfenas, State of Minas Gerais, Brazil; member of the
extension project “Study Group about Youth of Alfenas” (2014-2016). E-mail: evandrorochat@gmail.com.
*** MSc student in Education, Federal University of Alfenas, State of Minas Gerais, Brazil; member of the extension
project “Study Group about Youth of Alfenas”; Municipal Councillor Youth of Alfenas. E-mail: isabellasilveira48@
gmail.com.
****Undergraduated student in Social Sciences, Federal University of Alfenas, State of Minas Gerais, Brazil;
member of the extension project “Study Group about Youth of Alfenas” since 2014. E-mail: cesidamas@gmail.
com.
*****Graduate (Bachelor degree) in Social Sciences, Federal University of Alfenas, State of Minas Gerais, Brazil;
member of the extension project “Study Group about Youth of Alfenas” since 2014. E-mail: liviafurtadob@yahoo.
com.br.
****** MSc student in Education, Federal University of Alfenas, State of Minas Gerais, Brazil; member of the
extension project “Study Group about Youth of Alfenas” since 2014. E-mail: juniortrevisansk8@hotmail.com.
*******Graduate in Social Sciences, Federal University of Alfenas, State of Minas Gerais, Brazil; member of the
extension project “Study Group about Youth of Alfenas” (2014-2016). E-mail: michel.goussain@hotmail.com.

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Introdução
No segundo semestre de 2016, o Grupo com uma revisão bibliográfica sobre políticas
de Estudos sobre a Juventude de Alfenas, públicas de juventude e participação, além da
projeto de extensão da Universidade Federal recuperação de debates teóricos e conceituais
de Alfenas (Unifal-MG), teve uma singular que têm marcado o Grupo de Estudos sobre
experiência: a redação do anteprojeto do Plano a Juventude desde suas origens, presentes
Municipal da Juventude de Alfenas. O convite nos próprios eixos do Plano Municipal
partiu da Secretaria Municipal de Juventude, da Juventude. Também, com a consulta e
Esporte e Lazer, que solicitou ao grupo que análise dos documentos preparatórios do
sistematizasse nesse documento as demandas Plano, como os relatórios da 2a Conferência
das juventudes do município, manifestadas em Municipal de Juventude realizada em 14 de
Conferências e Fórum Municipais de Juventude. setembro de 2013, da 3a Conferência, em
O presente trabalho busca descrever 15 de agosto 2015, e do 1o Fórum Municipal
e analisar o processo de construção desse da Juventude, em 08 de julho de 2016.
anteprojeto, tratando especialmente das Enfim, foram revistos os materiais produzidos
articulações entre a universidade – por meio durante a criação do Plano, como versões
de seu projeto de extensão –, os sujeitos preliminares e atas das reuniões do Grupo de
jovens – por meio de sua participação em Estudos e do Conselho Municipal de Juventude.
Conferências, Fórum e Conselho Municipal Em sua primeira parte, debate-se o
de Juventude –, e o poder público municipal referencial teórico desse trabalho, com conceitos
– por meio da Secretaria de Juventude, Esporte como sujeito social, diálogo e participação. As
e Lazer e da Câmara de Vereadores. Faz isso a partes seguintes tratam da construção do Plano
partir de uma breve reflexão teórica e histórica Municipal da Juventude de Alfenas e refletem
acerca das políticas públicas de juventude e sobre os eixos que o compõem, analisando
dos mecanismos de participação política e tanto suas possibilidades quanto seus limites.
social dos jovens no Brasil contemporâneo.
O município de modesto porte, mas em Juventude, participação e diálogo
expansão, no sul do estado de Minas Gerais,
conseguiu amadurecer uma interessante A noção do jovem como sujeito social,
proposta de política pública para os jovens, no segundo Juarez Dayrell (2003), tem sido um
mesmo momento em que a situação política importante fundamento teórico para o Grupo
e econômica geral do país aponta para graves de Estudos sobre a Juventude. O autor critica as
retrocessos. Essa condição dilemática marca imagens limitadas sobre os jovens, reducionistas
o estágio atual das ações governamentais em e às vezes até caricatas e preconceituosas, mas
favor dos direitos das juventudes no Brasil, que ainda têm grande influência nas políticas de
em geral, em Alfenas, em particular. Aponta juventude: a transitoriedade (desvalorizando a
os limites da efetivação do Plano, tanto condição presente dos jovens e focando apenas
quanto o papel de resistência de sujeitos e a futura condição adulta); a visão romântica
instituições nessa localidade. Há esperança (reduzindo a condição juvenil apenas ao
de que o Plano Municipal da Juventude de hedonismo, irresponsabilidade e lazer); e a
Alfenas seja mais do que mero fruto temporão visão da juventude como crise (atribuindo os
das políticas públicas de juventude no Brasil. problemas dos jovens apenas a uma suposta
Como metodologia, este trabalho contou baixa autoestima ou a conflitos pessoais e/ou com

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a família). Existe, ainda, a imagem da juventude Já não é possível, no campo democrático,
como problema, focalizando sobremaneira o conceber e fazer política pública de
juventude reiterando discursos que enxergam
envolvimento dos jovens com a criminalidade, nos jovens, notadamente nos populares,
as drogas e a gravidez precoce, entre outros, somente problemas sociais que precisam de
imagem recorrente quando se faz referência equacionamento pela via do controle social
aos jovens das camadas populares, alvo de todo e da tutela de tempos e espaços. (CARRANO,
2011, p. 235).
tipo de estereótipos, tantas vezes trazidos às
políticas sociais (SPOSITO; CARRANO, 2007).
Mas também, e Carrano (2011) referenda,
Em contraponto, Dayrell (2003) vem
não bastam concepções igualmente idealizadas
definir a juventude como uma condição social
de juventude, como a do “protagonismo juvenil”
marcada pela diversidade das formas de viver
ou “agente de desenvolvimento”, que enfileira
esse momento da vida, diversidade dada pelas
jovens em funções decisórias secundárias
condições sociais, culturais, de gênero, entre
dentro de projetos ou políticas “preconcebidos
outros. A condição juvenil tem seu início marcado
por lógicas adultas” (CARRANO, 2011, p. 241).
por um momento de mudanças corporais
Limitam, ainda, as possibilidades de
e afetivas e de alargamento das referências
efetiva participação dos jovens nas políticas
sociais – a adolescência –, mas não deve ser
públicas, o fato delas serem largamente baseadas
concebida como uma transição linear a estágios
nas orientações de agências supranacionais de
seguintes, supostamente mais desenvolvidos: desenvolvimento, em especial ligadas à ONU
“Entendemos a juventude como parte de um (Organização das Nações Unidas) e ao Banco
processo mais amplo de constituição de sujeitos, Mundial – de onde se origina, por exemplo,
mas que tem especificidades que marcam a a noção do jovem como protagonista ou
vida de cada um” (DAYRELL, 2003, p. 42). A como “agente de desenvolvimento”. Tem-
juventude importa a si mesma, tanto quanto se um paradoxal fenômeno, a evocação do
promove um conjunto de mudanças que serão jovem como “protagonista” em documentos
carregadas para o resto da vida dos indivíduos. que já trazem, de antemão, diagnósticos e
Enfim, o jovem deve ser tratado como prognósticos acerca desses jovens, que deveriam
um sujeito social, ou seja, como ser aberto ao ser os “sujeitos sociais” e ter suas vozes ouvidas
mundo –ainda que inicialmente ocupe dada antes das principais decisões (SOUZA, 2009).
origem e condição social –, singular e ativo, Ao analisar as políticas públicas de
agindo “no e sobre o mundo”, produzindo a si juventude, iniciadas nos governos de Fernando
mesmo e sendo produzido ao mesmo tempo, Henrique Cardoso (1994-2002), e mais
por meio de suas relações com os outros e marcantes nos governos Lula (2003-2010) e
com seu entorno (DAYRELL, 2003, p. 43). Dilma (2010-2016), encontramos, em menor
Cabe à sociedade ou ao contexto político- ou maior porção ou em combinação, essas
econômico que cercam os jovens, valorizarem imagens limitadas ou idealizadas de juventude
ou permitirem a realização desse potencial de mesmo sob discursos e intenções de superá-las
serem sujeitos sociais em plenitude, sob o risco (GROPPO, 2016). Tem sido um desafio permitir
da desumanização dos seres em autoconstrução. que os espaços de participação dos jovens, como
As políticas públicas voltadas às juventudes, os Conselhos de Juventude (nacional, estaduais
considerando os jovens como sujeitos sociais, não e municipais), sejam realmente lugar de fala
poderiam partir daquelas visões limitadas citadas livre e profícua de jovens, ou de fértil diálogo
acima, as quais cerceiam a sua participação. intergeracional, ou, ainda, lugar de decisões

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impactantes para o cotidiano das juventudes. anteprojeto do Plano Municipal de Juventude,
Outros espaços de democracia cujo processo será relatado abaixo.
participativa, oriundos da Constituição de
1988, têm sido construídos ao longo das últimas A construção do anteprojeto do Plano
décadas, em especial na forma de Conselhos Municipal de Juventude
– os de juventude foram precedidos pelos da
criança e adolescente, saúde, idoso, mulher Um momento chave para a história das
e de assistência social – mas que não foram Políticas Públicas de Juventude no Brasil foi o ano
suficientes para que as vozes, especialmente de 2005, quando o governo federal, presidido
as juvenis, sentissem-se realmente ouvidas, por Luís Inácio Lula da Silva, em seu primeiro
muito menos atendidas, o que em parte mandato (2003-2006), instituiu a Secretaria
explica a potência das Jornadas de Junho de Nacional de Juventude (SNJ), o Conselho
2013, que inauguraram um ciclo de protestos Nacional de Juventude (Conjuve) e o Programa
sociais que tiveram continuidade mais genuína Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem).
nos movimentos de ocupações de escolas e Essas instituições e programa nasceram a partir
universidades, em 2015 e 2016. de recomendações de um Grupo de Trabalho
As universidades têm promovido algumas Interministerial, criado em 2003, bem como das
iniciativas em prol do diálogo com os jovens, orientações das agências supranacionais. Outra
em especial na forma de “Observatórios”, institucionalidade criada foram as Conferências
como aqueles em que participaram autores Nacionais de Políticas Públicas de Juventude,
aqui já citados, Juarez Dayrell – Observatório tendo sido a primeira realizada em 2008.
da Juventude da UFMG (Universidade Análises indicam modesto papel do
Federal de Minas Gerais)8 – e Paulo Carrano Conjuve e das Conferências na revisão dessa
– Observatório Jovem da UFF (Universidade estrutura organizacional ou mesmo do ProJovem.
Federal Fluminense)9. Houve mudanças, mas elas partiram antes de
Na Unifal-MG, o empreendimento talvez demandas internas ao governo federal ou de
tenha sido mais modesto, e na forma de um diretivas das agências supranacionais (GROPPO,
projeto de extensão: o Grupo de Estudos sobre 2016). Contudo, essas instituições e políticas
a Juventude de Alfenas, criado em setembro de nacionais tiveram relevante caráter indutor,
2014. Fundamentado na horizontalidade e na em nível estadual e local. Em 2011, o Conjuve
abertura às vozes dos jovens e seus coletivos, identificou 105 conselhos municipais e estaduais
o Grupo tem realizado reuniões para estudos e de juventude no Brasil. Já as Conferências
debates, além de organizado seminários sobre a Nacionais de Políticas Públicas de Juventude
juventude e promovido uma pesquisa sobre as foram precedidas por Conferências, em nível
organizações juvenis atuantes na universidade10. local e estadual, que elegeram delegados para
Esse projeto de extensão, em especial durante as reuniões nacionais e propuseram debates a
o ano de 2016, buscou reforçar suas atividades partir de eixos temáticos e textos-base propostos
e vínculos com a sociedade e o poder público pela SNJ. Porém, segundo Souza (2011), não
local, destacando-se a participação do Grupo basta apenas abrir tais espaços, já que, na falta
na realização do 1o Fórum Municipal de de estrutura e recursos, estes podem se tornar
Juventude, em julho de 2016, e a redação do apenas vitrines de governos ou se esvaziarem.

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Em Alfenas, o caráter indutor das políticas o anteprojeto, o coordenador do Grupo
de juventude nacionais se viu presente, de Estudos, Luís Antonio Groppo, e cinco
primeiro, na criação do Conselho Municipal estudantes da Unifal-MG: Evandro Carvalho
de Juventude, em 2009, e na realização da 1a Rocha (que também era o superintendente
Conferência Municipal de Juventude, em 2010. de Juventude do município), Maria Cesione
Segundo avaliação da gestão da Secretaria Damasceno, Lívia Furtado Borges, Junior
Municipal da Juventude, Esporte e Lazer Roberto Faria Trevisan e Enzo Goussain. O
(2016), esses espaços, apesar de abertos, por superintendente de Juventude trouxe a proposta
possuírem temáticas preestabelecidas por meio dos eixos temáticos, que se baseavam nas
de diretrizes macros (demandas nacionais), mesas e grupos de trabalho das Conferências e
não conseguiram contemplar algumas do Fórum, acatada pelo Grupo, a saber: Eixo
especificidades da juventude alfenense, nem I – Organização e Diálogo com o Governo;
realizar o acúmulo de discussões pontuais. Por Eixo II – Desenvolvimento Integral (Educação,
isso, buscou-se reforçar essas instituições, com Cultura, Comunicação e Expressão); Eixo III –
a criação da Secretaria Municipal de Juventude, Território e Mobilidade; Eixo IV – Qualidade
Esporte e Lazer, em 2013, da realização da 2a de Vida; Eixo V – Diversidade, Sexualidade e
e 3a Conferências Municipais de Juventude, Respeitos às Diferenças; Eixo VI – Vida Segura.
respectivamente em 2013 e 2015, a revitalização O Plano prevê que suas propostas sejam
do Conselho Municipal de Juventude, em efetivadas até 2022, podendo ser revisadas a cada
2015, a realização do 1o Fórum Municipal dois anos pelos Fóruns Municipais de Juventude.
de Juventude, em 2016, e a proposição de O Eixo IV – Qualidade de vida foi o único
ativação do Fundo Municipal de Juventude. não redigido com a colaboração do Grupo de
No final de julho de 2016, o Grupo de Estudos sobre a Juventude. Ele foi elaborado por
Estudos sobre a Juventude foi convidado pela técnicos da Secretaria Municipal de Saúde, com
superintendência da Juventude do município a revisão do superintende de Juventude. Em
para colaborar na sistematização do Plano relação aos demais eixos, cada um dos redatores
Municipal da Juventude. Formalizada a parceria do Grupo de Estudos se incumbiu de uma ou
com a Secretaria Municipal de Juventude, mais tarefas, como fazer a primeira versão de
Esportes e Lazer, buscou-se construir a um Eixo e revisar um ou mais Eixos. Nas semanas
metodologia de trabalho, a partir do seguinte seguintes, os redatores se reuniram em duplas ou
princípio: redigir o anteprojeto do Plano a em conjunto para organizar, debater e avaliar os
partir das resoluções e demandas das 2a e 3a textos. Também, nas reuniões gerais do Grupo
Conferências Municipais de Juventude e do de Estudos sobre a Juventude, os resultados
1o Fórum Municipal de Juventude. As atas e provisórios do documento que daria origem
documentos construídos por essas reuniões ao Plano foram compartilhados e debatidos.
traziam diversas propostas para as políticas Cabe ressaltar que uma das principais
públicas municipais de juventude. Algumas dificuldades encontradas no processo de
dessas demandas, entretanto, ou possuíam estruturação dos textos para os Eixos foi a de
forma ainda incipiente ou eram expressas de conseguir concentrar, em um único registro, as
modo difuso. Na tarefa de interpretá-las, o diversas representações juvenis que emergiram
Grupo norteou-se pelo princípio de buscar nas Conferências e no Fórum Municipal.
a expressão mais progressista possível dos Encontrar o fio condutor e o espírito juvenil que
desejos e interesses dos jovens de Alfenas. emanavam dos registros documentais não foi
Se voluntariaram para a tarefa de redigir tarefa fácil. Sposito (2008) destaca que muitas

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das políticas públicas voltadas à juventude da Associação de Proteção e Assistência ao
falham em abrir espaços de comunicação Condenado de Alfenas – APAC) para o Eixo VI.
e de parcerias que admitam a importância Cada Eixo é composto por um texto
da participação juvenil no desenvolvimento, introdutório geral de especialista e por
na implementação e na avaliação de suas artigos que trazem propostas. Cada artigo
definições. Neste sentido, houve, durante a estruturado da seguinte forma: Introdução,
organização do anteprojeto do Plano, todo Objetivo, Meio de Implantação, Previsão
um cuidado para que as vozes da juventude de Implantação e Agentes Envolvidos.
alfenense fossem ouvidas com dedicada atenção. O anteprojeto foi levado para as reuniões
Outra dificuldade foi a de organizar do Conselho Municipal de Juventude, realizadas
as propostas de implantação e a definição em outubro de 2016, nas quais os membros do
dos agentes envolvidos. Aqui, o então Grupo de Estudo puderam ter presença e voz, ao
superintendente de juventude do município, lado de outros jovens participantes de coletivos
Evandro Rocha, foi de grande auxílio. Evandro, juvenis atuantes na cidade. Nas reuniões,
por meio de sua experiência com a questão, grande parte do texto foi preservado ao lado
conseguiu articular com alguns juristas as partes de pequenas modificações que deram ainda
de implantação e de delimitação dos agentes mais qualidade e caráter progressista ao Plano.
envolvidos com as propostas desenvolvidas no O Projeto de Lei, com o Plano Municipal
Projeto de Lei. Tal reforço permitiu uma maior de Juventude, que foi entregue para a Câmara
harmonização das demandas, não só com Municipal de Vereadores, em 31 de outubro de
referência às questões jurídicas resguardadas 2016, tem quatro mensagens que precedem os
pela Constituição Federal de 1988, pelo Eixos: da Prefeitura Municipal; da Secretaria de
Estatuto da Juventude (Lei nº 12.852, de 5 de Juventude, Esporte e Lazer; da Superintendência
agosto de 2013) e pela legislação municipal, de Juventude; e do Grupo de Estudos sobre
como também sistematizou a viabilidade a Juventude. Trata-se de um documento, o
política de implantação dessas demandas. Plano, com 83 páginas11. O Projeto de Lei foi
Em um segundo momento, foram aprovado por unanimidade, sem modificações
convidados especialistas, vindos da ou ressalvas, pelos vereadores, em dezembro de
universidade, do poder público ou de 2016, tornando-se Lei Municipal de n. 4.704,
organizações não governamentais do de 19 de dezembro de 2016.
município, para redigir o texto introdutório A nova gestão municipal eleita declarou-
de cada eixo: Luís Antonio Groppo (Unifal- se favorável à implementação do Plano12.
MG), para o Eixo I; Wesley Silva (Unifal-MG), No início de 2017, a nova Superintendente
para o Eixo II; Evânio dos Santos Branquinho da Juventude, ex-estudante da Unifal-
(Unifal-MG), para o Eixo III; Maurício Durval MG, contatou o Grupo de Estudos sobre a
de Sá (Secretário Municipal de Saúde) para o Juventude para continuar a parceria com o
Eixo IV; Daniela Roberta Antônia Rosa (Núcleo poder público e colaborar na implementação
de Consciência Negra e Materna Alfenas) para do Plano Municipal de Juventude de Alfenas.
o Eixo V; e José Eduardo Silvério (presidente O convite foi imediatamente aceito, inclusive

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porque o Grupo já desejava dar continuidade respeitando o processo de auto-organização e
a esse interessante diálogo com o município. amadurecimento político dos adolescentes em
Relatos de membros do Conselho cada local; e) União Municipal dos Estudantes
Municipal de Juventude e da nova gestão do Ensino Médio – busca-se garantir a
municipal têm indicado possíveis dificuldades construção dessa instituição civil no município,
de implementação do Plano, principalmente gerida por estudantes secundaristas e vinculada
pela falta de recursos para implantar as à União Brasileira dos Estudante Secundaristas
propostas no prazo estabelecido. Para tanto, (UBES); f) Câmara Jovem – propõe-se um
tem se discutido principalmente a necessidade espaço de formação e acompanhamento das
de efetivar o Fundo Municipal de Juventude. atividades legislativas municipais, destinado
principalmente à representação de estudantes
Eixos do Plano Municipal de Juventude das escolas públicas de ensino médio; g) Centro
Municipal de Referência das Juventudes –
O Eixo I – Organização e Diálogo com previsto como a “casa das juventudes”, para
o Governo – tem por finalidade sistematizar ser espaço de formação profissional e política e
a participação dos jovens em espaços acolhimento de atividades artísticas e culturais
governamentais e da sociedade civil, a fim de diversas dos jovens; h) Cursos de Formação
proporcionar fóruns para debates e espaços de Política – proposta de cursos em que militantes
construção de Políticas Públicas de Juventude de organizações juvenis atuantes no município
(PPJs). Os órgãos e ações previstas buscam possam trazer suas experiências para outros
garantir a defesa, discussão e construção de adolescentes e jovens, contribuindo para
políticas e precisam estar organizados em uma formação política dialógica e autogerida,
uma estrutura viável e harmônica. O grande baseada no princípio de que os jovens
foco é a garantia dos direitos das juventudes, são sujeitos ativos políticos já no presente.
sob o princípio da capacidade do adolescente O Eixo II – Desenvolvimento Integral
e do jovem, dentro das especificidades (Educação, Cultura, Comunicação e Expressão)
do momento que vivem no ciclo da vida, – se baseia no ideal de uma formação integral
atuarem como sujeito social e político. que contemple pontos comumente entendidos
Os subtemas do Eixo I descrevem, como essenciais para o pleno desenvolvimento
primeiramente, os órgãos de governo e de intelectual e social dos jovens. Os elementos
representação da sociedade civil em âmbito desse eixo apareceram como uma das
municipal: a) Secretaria Municipal de Juventude principais preocupações das entidades e grupos
– para qual se planejou uma nova estrutura, envolvidos na construção deste Plano Municipal
específica, separando-a da pasta de Esporte e de Juventude, além, é claro, de representar
Lazer; b) Conselho Municipal de Juventude – as próprias demandas encaminhadas pelos
consolidando a sua reconstrução já garantida jovens do município nos diferentes momentos
por lei municipal, descrita acima; c) Fórum de debates e discussões entre juventudes,
Municipal de Juventude – considerada como a sociedade civil e poder público, momentos estes
principal plenária das juventudes, destinada à que serviram de base para a composição desse
discussão, construção e reformulação do Plano; documento. Concebe-se a formação integral
d) Grêmios Estudantis – objetiva-se garantir a como uma formação que não esteja limitada
aplicação da Lei Federal 7.398/10/85, por meio apenas aos aspectos curriculares tradicionais
do incentivo e da promoção da criação de da escola e aos espaços físicos das instituições
grêmios nas escolas públicas de ensino médio, de educação formal, mas que também se faça

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em outros espaços e que opere por outros grupos de congada, teatro, dança, entre outros.
vetores, como a “cultura” e a “comunicação”, Ainda concernente ao Eixo II, no que
esta entendida como liberdade de expressão diz respeito à Comunicação, intenta-se
artística e política – segmentos componentes garantir espaços fixos de debate e momentos
da vida social e que, embora não sejam de discussão e expressão direta das ideias e
exclusivos da juventude, parecem dialogar opiniões dos jovens acerca de assuntos diversos,
diretamente com ela ou mesmo traduzi-la em principalmente, aqueles pertinentes à juventude,
aspectos fundamentais. Diante dessa dupla e o desenvolvimento de ações de integração
demanda, surgiu a proposta do eixo temático e conscientização digital, visto que as novas
de “Desenvolvimento Integral”, proposição que tecnologias e as redes sociais de interação virtual
articula Educação, Cultura e Comunicação, têm se mostrado como importantes espaços para
polos essenciais e indissociáveis para a formação o diálogo e para a busca de compreensão das
plena dos jovens alfenenses. mais variadas formas de ser da juventude. Nesta
Em síntese, no que se refere à Educação, esteira, pretende-se realizar periodicamente
o Eixo II apresenta propostas que buscam a eventos como fóruns e seminários para debater
valorização e otimização da qualidade de ensino junto com os jovens as temáticas próprias
em todo o município, bem como medidas das juventudes e incentivar a integração da
pontuais para melhorar a qualificação dos tecnologia como meio de busca e construção
jovens, tanto para o acesso ao ensino superior dos conhecimentos na escola, promovendo a
quanto para a entrada no mundo do trabalho. inclusão digital e a conscientização dos espaços
Essas ações se dariam por meio de parcerias que virtuais como espaços de direitos e deveres,
envolveriam as equipes pedagógicas de Alfenas, essenciais para o exercício da cidadania.
as instituições de ensino superior e as entidades O Eixo III – Território e mobilidade – tem
de formação técnica e profissional assentadas na um texto introdutório de autoria de Evânio
cidade, oferecendo ações de acompanhamento dos Santos Branquinho, que destaca Alfenas
educacional, cursinhos populares e cursos como uma microrregião que tem vivenciado
técnicos profissionalizantes aos jovens constante crescimento demográfico e urbano,
da rede pública e das classes populares. principalmente pelo avanço local nas áreas da
No que concerne à cultura, o Eixo II propõe saúde e educação, o que fez com que a cidade
ações que visam a democratização dos espaços passasse a experimentar problemas diversos,
públicos, o fomento às práticas culturais juvenis como o crescimento não planejado, o monopólio
e incentivo às manifestações locais em todos os do transporte individual, a segregação espacial e
bairros do município. A partir da parceria entre sociocultural, entre outros. Também amparado
poder público, iniciativas privadas e entidades por esse diagnóstico, o Eixo Temático III foi
da sociedade civil, juntamente com os vários organizado em 4 tópicos, quais sejam: Direito
agrupamentos juvenis de Alfenas, será buscada à Cidade, Campo, Transporte e Meio Ambiente.
a desburocratização de acesso aos espaços Esses tópicos objetivam: a) a garantia do direito
públicos já existentes e a criação de novos e do acesso ao território considerando os
espaços para o desenvolvimento de eventos e valores socioculturais e a diversidade juvenil do
práticas culturais (juvenis e tradicionais), assim município, assim como o desenvolvimento de
como a criação de políticas de valorização políticas públicas que estimulem e ampliem a
cultural e histórica e a busca por incentivos e experiência juvenil por meio da democratização
investimentos para as produções locais e para e promoção dos diversos espaços que integram a
os diversos grupos culturais existentes, como os cidade; b) o desenvolvimento de estratégias que

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contemplem e valorizem o intercâmbio entre a O eixo V – Diversidade, Sexualidade
cidade e o campo, bem como o reconhecimento e Respeito às Diferenças – propõe um plano
das peculiaridades e necessidades dos jovens de ação que objetiva contar com diversos
campesinos que compõem o município; c) a setores da estrutura administrativa municipal,
conservação e ampliação da mobilidade dos mas também envolver movimentos sociais de
jovens, por meio da garantia de condições diversos segmentos e instituições de ensino
que observem diferentes categorias de e pesquisa da cidade. O intuito de envolver
deslocamento, com ênfase no transporte variadas organizações é de assegurar que as
público gratuito e sustentável; d) o fomento de condições propostas se desenvolvam realmente
ações socioambientais que garantam a melhoria e que possam a atender a negros/as, mulheres,
da qualidade da vida juvenil presente e futura. jovens e demais diversos grupos sociais que se
Consideramos que a composição encontram em situação de vulnerabilidade ou
do Eixo III conseguiu atingir sua meta de em negação de seus direitos.
repensar questões, que conferem aos jovens As propostas do Eixo V abordam,
alfenenses o direito ao território e à mobilidade, primeiramente, o combate ao racismo. Citam-
situando suas necessidades específicas sem se dados acerca do grande número de mortes
se afastar das deliberações postuladas nos violentas de jovens negros, cerca de duas vezes
diversos documentos oficiais e nos espaços de e meia maior que a de jovens brancos. Para que
participação juvenil estadual e nacional. Além esse problema seja solucionado, é necessário
disso, e mesmo com as limitações verificadas, reconhecer as desigualdades existentes em
a possibilidade de revisão do Plano a cada dois nosso país. É indispensável denunciar o racismo
anos abre espaço para que novas propostas e reconhecer que os estigmas e o preconceito
sejam inseridas no projeto aprovado. contra a população negra se fazem presentes.
O Eixo IV – Qualidade de Vida – como Fica evidente a necessidade de promover
já foi dito, é o único que não teve seu texto ações que favoreçam o debate sobre questões
redigido pelo Grupo de Estudos sobre a raciais. Destaca-se a necessidade de tratar do
Juventude. Contudo, o Grupo analisou e avaliou risco de exposição à violência, maior entre os
as propostas antes de inclui-lo no anteprojeto do jovens negros. É essencial dar visibilidade a
Plano Municipal. O Eixo IV busca as garantias à esse problema, combatendo o que parece se
saúde das juventudes alfenense, utilizando-se de configurar como um verdadeiro extermínio de
estrutura já estabelecida, oferecendo pequenas jovens negros.
adequações para contemplar a atenção integral O Eixo V também trata do direito do
à saúde do jovem e adolescente, ressaltando o jovem à diversidade e igualdade de direitos e de
bem-estar físico, mental e social. Também se oportunidades, e a garantia de que ele não será
propôs a ampliação da rede de atendimento discriminado por meio de etnia, raça, cor de pele,
e melhor qualificação dos profissionais para cultura, origem, idade, sexo, orientação sexual,
integrar e garantir o acesso das juventudes religião e deficiência. Para tanto, destacam-se
à saúde. Dentre as principais ações, estão propostas para incluir o tema da diversidade nas
contempladas adequações às demandas de práticas e na composição dos grupos de trabalho
saúde nos serviços dos Postos de Saúde da de cultura e educação, promovendo debates
Família (PSFs) e escolas e a construção de uma que viabilizem de modo concreto a inclusão.
agenda para ações específicas, como: drogas, É tratado também o tema “orientação
gravidez na adolescência, doenças sexualmente sexual”, considerado como tema transversal
transmissíveis e AIDS. que permite a discussão de conhecimentos a

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partir das realidades vivenciadas. Propõe-se educação, saúde, lazer, cultura e trabalho.
que a escola deve informar sobre os diversos A promoção de medidas socioeducativas
pontos de vista, tabus e valores existentes eficientes para adolescentes em conflito com a
na sociedade, dessa forma seria ideal uma lei deve visar evitar a reincidência. A proposta
intervenção dos profissionais da educação, é de que os grupos intersetoriais discutam
complementando a educação dada por estratégias de promoção do direito à justiça
seus responsáveis. Outro tema, oriundo das aos jovens, incluindo a criação de um Juizado
Conferências Municipais, afirma a importância Especial, bem como a proposição de projetos
da sexualidade (que envolve não só o corpo, de lei a serem apreciados pelo poder legislativo.
mas também a cultura, os sentimentos e as Este sexto eixo propõe cursos aos
relações afetivas) na adolescência, propondo agentes de segurança pública, explicitando
campanhas específicas de saúde sexual para que as ações deles devem ser primordialmente
trabalhar com a conscientização e a prevenção preventivas e não repressivas. Espera-se que
de DSTs e gravidez. o poder público crie e apoie iniciativas que
Enfim, o Eixo V destaca a situação das promovam o desarmamento, incentivando
jovens mulheres, considerando inicialmente a “cultura da paz”, imprescindível aos
o avanço de políticas relativas aos direitos das direitos humanos, considerando que os
mulheres por meio da construção coletiva de custos humanos e econômicos envolvidos na
movimentos sociais, de mulheres e feministas. repressão são muito maiores e menos eficazes.
A desigualdade de gênero é considerada um O programa de minimização de danos
fator de grande impacto em suas vidas, por causados pelas drogas demonstra a preocupação
isso faz-se necessária a transversalidade em deste Eixo com relação aos problemas trazidos
algumas ações, como a promoção de melhores às juventudes pelo uso e tráfico de drogas. Não
condições de vida e saúde, garantindo direitos se considera adequada a abordagem repressiva,
e assistência. Na verdade, o Eixo V possui, em pautada pelo paradigma da “guerra às drogas”.
suma, uma só proposta: criar ações que reflitam Em contrapartida, adota-se a perspectiva da
sobre a diversidade e combatam preconceitos promoção da saúde, por meio de medidas
e discriminação contra grupos vulneráveis. socioeducativas que protejam adolescentes e
O Eixo VI – Vida Segura –, assim como jovens do assédio do mundo do crime. O Eixo VI
os demais eixos desse Plano, buscou deixar entende que as internações longas, via medidas
clara a importância do jovem como sujeito socioeducativas ou presídios, fragmentam laços
social, contemplando demandas propostas por familiares e sociais. Também, que a reinserção
jovens nas Conferências e Fórum Municipal de social da juventude que se encontra no sistema
Juventude. Embora a situação de vulnerabilidade prisional é fundamental para que a reincidência
social e de conflito com a lei de jovens seja um diminua. Essa reinserção pode ser promovida
desafio para muitos segmentos da sociedade, por programas sociais e projetos, como Primeiro
aspectos como o trabalho, família, educação, Emprego e Jovem Aprendiz.
saúde, educação, moradia, cultura, lazer e
respeito às diversidades precisam ser desvelados Considerações finais
para a construção de uma sociedade saudável.
É preciso buscar constantemente, por meio Podemos afirmar que participar da
da intersetorialidade, propostas e projetos construção de um Plano Municipal de Juventude,
socioeducativos que contemplem necessidades com ênfase na organização e sistematização de
dos jovens e suas famílias, como habitação, políticas públicas propostas por grupos juvenis

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da cidade, se mostrou um desafio. Esse plano, espaços mais profícuos para uma consciência
com origem nos importantes movimentos de de si, por meio de discussões, rodas e debates,
mediação política entre o poder público e a tanto em espaços institucionais como a sala
juventude, se apresenta para nós como uma de aula, quanto os espaços não institucionais,
possibilidade real de fazer com que a Universidade como as ocupações das escolas nos mostraram.
seja inserida em um processo social do qual Ainda vale ressaltar a mudança de
também faz parte, afinal, a ciência também tem perspectiva no que diz respeito ao que é chamado
funções políticas, no seu sentido mais amplo. de “drogadição” por muitos setores até hoje. O
A mediação intergeracional em todos Eixo VI perpassa a linha essencial de redução de
os processos de construção do anteprojeto danos e tratamento da questão por meio de um
foi determinante para que se apresentasse novo modelo de saúde pública. É importante,
uma real aplicabilidade política das propostas, para além desse aspecto, o não tratamento moral
além, é claro, da característica dialógica de e criminalizador do uso e tráfico de drogas,
construção favorecer constantes trocas entre tratamento que tem amparado muitas políticas
professores, o governo local e a juventude. públicas de segurança alcunhadas na repressão,
Podemos considerar que esses fatores foram violência e deslegitimação da juventude
fundamentais para que o Plano avançasse na como categoria, por meio de instituições
consolidação dos direitos sociais dos jovens, do Estado como as polícias militarizadas. O
fazendo com que ele contemplasse as pautas de desenho de uma concepção preventiva que
coletivos juvenis politicamente organizados, o perpasse por todos os agentes públicos – não
Conselho Municipal de Juventude e, na troca de apenas os policiais, mas também os escolares,
gestão do município, o novo grupo à frente dos assistenciais, de saúde e planejamento – é
trabalhos de juventude da cidade, que também fundamental para uma concepção mais
participou do processo de construção do Plano. humana no tratamento desses jovens.
Esse empenho se evidencia em propostas Entre os limites que se apresentaram na
que deixam de olhar a juventude pelo foco do construção deste Plano, se destaca o tempo
risco ou mesmo da criminalização, uma vez que relativamente pequeno de trabalho para a
o Plano considera que os jovens são sujeitos construção do anteprojeto do Plano Municipal
sociais e atores políticos, capazes de realizar suas de Juventude. O processo acompanhou os
próprias escolhas e propor políticas públicas. últimos meses de uma gestão municipal. Outro
Políticas que partem de necessidades reais para elemento limitador foi a falta de mecanismos
a vivência plena da cidade, como aquelas que que pudessem dar conta de uma real
tratam da participação política dos jovens e a mobilização da juventude para a participação
mobilidade urbana no Plano Municipal, ao fazer política para além das Conferências e do Fórum,
ressoar as recentes lutas contra os aumentos das durante a própria construção do anteprojeto.
tarifas do transporte público. Ainda, como as Há ainda uma dificuldade relacionada
propostas que efetivam o direito à diferença e às propostas do Plano, que têm demasiada
coíbem preconceitos de gênero e raça, há uma amplitude, como as do Eixo II, cuja
evidente presença do posicionamento político aplicabilidade política precisa ser refletida por
de coletivos juvenis que rechaçam qualquer gestores e técnicos da área a partir do que está
tipo de política educacional que desconsidere claro serem os interesses e intenções dos grupos
a possibilidade dos jovens vivenciarem novas juvenis. Evidenciamos ainda a necessidade de
relações sexuais e novas relações de gênero. divulgação do Plano, partindo da perspectiva
Os jovens têm, no campo escolar, um dos de que ele tem total legitimidade representativa

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e propositiva para funcionar como orientação município que conta atualmente com pouco
política da atual e das próximas gestões. Esse é mais de 79 mil habitantes, segundo o IBGE13.
um dos critérios para que ele seja implementado Nesse sentido, a principal contribuição
de forma democrática, uma vez que parece desse texto, como desejamos, é inspirar
ser compromisso da nova gestão municipal outras iniciativas de construção de políticas
do município dar continuidade a essa política públicas locais de juventude, as quais podem
de juventude iniciada na gestão anterior. ser de grande valia, inclusive para o processo
A nova administração municipal, com de formação política dos jovens, ao mobilizá-
quem o Grupo de Estudos sobre a Juventude los para debates públicos em Conferências
tem mantido o diálogo, tem feito esforços e Fóruns. Essas políticas públicas podem,
para implementar o Plano Municipal de enfim, ser valiosos guias para gestores e
Juventude. Mas esse artigo não tem o objetivo sociedade civil na implementação de ações
de analisar essa implementação, inclusive que efetivem os direitos sociais dos jovens,
porque foi escrito coletivamente ainda no atentas para as especificidades das aspirações
início da atual gestão. Seu principal objetivo foi e dilemas desses sujeitos em cada localidade,
apresentar e refletir sobre o processo dialógico ainda que na contramão das atuais tendências
e participativo de construção de uma política regressivas – em matéria da garantia dos direitos
pública de juventude de caráter local, em um sociais – do executivo e legislativo federal.

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