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Pilar do agronegócio
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Maria Aparecida
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Letícia Rodrigues da Silva Marques da Rocha
Ano XI A luta pela reavaliação de agrotóxicos Bolsas universitárias: um processo
04.07.2011 no Brasil de inclusão ilusório
ISSN 1981-8769
Agrotóxicos. Pilar do agronegócio
Enquanto uma área de floresta amazônica, do tamanho de 180 campos de futebol, é destruída pela
ação de herbicidas, uma parcela da população brasileira grita “agrotóxicos, nunca mais!” Entender o
contexto do uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras brasileiras e seus efeitos diversos é o obje-
tivo do tema de capa da IHU On-Line desta semana. É possível cultivar alimentos sem o uso de herbi-
cidas? Em busca desta e de outras respostas, nossos entrevistados refletem também sobre os rumos da
agricultura no Brasil e sobre o modelo de agronegócio empregado no país.
O engenheiro agrônomo Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib, considera possível desenvolver uma
agricultura sustentável por meio do manejo ambiental, sem utilizar agrotóxicos. Enquanto isso, o mé-
dico Wanderlei Pignati alerta que não existe uso seguro de agrotóxicos, e que é impossível estar
imune a esses produtos. Por sua vez, o professor de Economia e Administração da USP, José Juliano
de Carvalho, é enfático quando afirma que “o uso de agrotóxicos no Brasil é abusivo, exagerado e
incontrolável”.
Quem também contribui com o debate é o agrônomo Rubens Nodari, para quem “é preciso descons-
truir essa concepção criada de que a produção agrícola dependia do uso de agrotóxicos”.
Leia nesta edição uma entrevista com o pesquisador Erick Felinto, que avalia como as tecnologias
modificaram e impactaram a sociedade nos últimos anos.
Maria Aparecida Marques da Rocha, professora do curso de Serviço Social da Unisinos, fala sobre
seu livro recém lançado Processo de Inclusão Ilusória: a condição do jovem bolsista universitário (Jun-
diaí: Paco Editora, 2011).
“Os contornos e nuances de uma mídia regulamentada: um caminho mais democrático” é o tema do
artigo de Aléxon Gabriel João.
O jornalista e professor da Unisinos, Ronaldo Henn, conta aspectos sobre sua trajetória de vida e
profissional.
A próxima edição da revista IHU On-Line será publicada no dia 01 de agosto de 2011.
A todas e a todos uma boa semana, um ótimo mês de julho e uma excelente leitura!
IHU On-Line é a revista semanal do Instituto Humanitas Unisinos – IHU – Universidade do Vale do
Rio dos Sinos - Unisinos. ISSN 1981-8769. Diretor da Revista IHU On-Line: Inácio Neutzling (ina-
Expediente
A. Tema de capa
» Entrevistas
PÁGINA 05 | Wanderlei Pignati: Não existe uso seguro de agrotóxicos
PÁGINA 08 | José Juliano de Carvalho: “O uso de agrotóxicos no Brasil é abusivo, exagerado e incontrolável”
PÁGINA 10 | Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib: Agricultura brasileira é deficiente
PÁGINA 12 | Letícia Rodrigues da Silva: A luta pela reavaliação de agrotóxicos no Brasil
PÁGINA 15 | Rubens Nodari: Agroecologia: um modelo agrícola sustentável
B. Destaques da semana
» Entrevista da Semana
PÁGINA 18 |Erick Felinto: A era da memória total e do esquecimento contínuo
» Livro da Semana
PÁGINA 22 |Maria Aparecida Marques da Rocha: Bolsas universitárias: um processo de inclusão ilusório
» Coluna do Cepos
PÁGINA 26 |Aléxon Gabriel João: Os contornos e nuances de uma mídia regulamentada: um caminho mais democrático
» Destaques On-Line
PÁGINA 28 | Destaques On-Line
C. IHU em Revista
» IHU Repórter
PÁGINA 30 | Ronaldo Henn
I
ntoxicações crônicas que, em longo prazo, resultam em câncer, descontrole da tireoide, do sistema
neurológico em geral, surdez, diminuição da acuidade visual e até mesmo Mal de Parkinson são pos-
síveis problemas de saúde causados pelos agrotóxicos. De acordo com o médico sanitarista Wanderlei
Pignati, quem trabalha com saúde pública não deixa de se perguntar onde foram parar os conteúdos dos
temíveis frascos de agrotóxicos. Produtos banidos pela União Europeia continuam a ser usados no Brasil,
país do mundo que mais emprega pesticidas em suas lavouras. Por que razão isso continua a ser permitido,
questiona Pignati. Onde está o comprometimento com o ambiente, como um todo? A situação é tão grave
que, além de serem encontradas nos alimentos, na água, no solo, no ar, essas substâncias foram detectadas,
inclusive, no leite materno. Conforme Pignati, na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line, “vários
tipos de agrotóxicos se depositam na gordura e muitos deles, como os clorados, nunca mais saem dela. É o
caso do endosulfan. Quando a mulher produz o leite para amamentar seu filho, esse líquido terá agrotóxico
em sua composição. Isso porque o leite é composto por 2 a 3% de gordura”. Como se isso não fosse assustador
o bastante, o médico é categórico ao afirmar que é impossível um uso totalmente seguro dos agrotóxicos.
Mesmo que sejam usados equipamentos de proteção individual pelos trabalhadores que fazem as aplicações
nas lavouras, “esses produtos penetram pela mucosa de pele, do olho, da orelha das pessoas, e inclusive
pela respiração”.
Wanderlei Pignati é graduado pela Universidade de Brasília – UnB, especialista em Saúde Pública pela
Universidade de São Paulo – USP, mestre em Saúde e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Mato Gros-
so – UFMT e doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Fundação Oswaldo Cruz com a
tese Os riscos, agravos e vigilância em saúde no espaço de desenvolvimento do agronegócio no Mato Grosso.
Estuda a contaminação das águas e as bacias, além de participar de uma pesquisa no município de Lucas do
Rio Verde, no Mato Grosso do Sul, onde há cinco anos houve um grande acidente de contaminação por agro-
tóxicos por pulverização. Atualmente, leciona na UFMT. Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quais são as principais falando do agrotóxico diluído. Um li- síduos na água potável ou na água dos
consequências do uso de agrotóxi- tro de herbicida comprado nesses es- rios, córregos e do Pantanal, inclu-
cos para as águas, no caso, os rios e tabelecimentos é diluído em 100 litros sive. Isso terá impactos na saúde dos
suas nascentes, bacias e os lençóis de água para fazer a calda e pulveri- animais e dos seres humanos.
d’água? zar. Isso tem um destino, e parte vai O grande problema, na verdade,
Wanderlei Pignati – A água é um dos para combater aquilo que se costuma não são as embalagens vazias de agro-
componentes ambientais para onde chamar de “pragas da lavoura”. São tóxicos. Claro que o ideal é que elas
os resíduos de agrotóxicos vão. Com o insetos e ervas classificadas como da- sejam recolhidas, pois em sua maio-
uso intensivo de agrotóxicos na agri- ninhas, como os fungos. Uma parte vai ria são feitas de plástico. Mas quem
cultura brasileira isso vem se agra- para o solo, outra evapora e vai para se preocupa com a saúde pública e
vando. No ano passado, foram usados o ar. Uma outra condensa e vai para a ambiente como um todo se pergunta
cerca de um bilhão de litros de agro- chuva, e outra ainda vai para o lençol Sobre o tema, confira a edição 345 da revis-
tóxicos em nosso país, do tipo que se freático. Essa ida dos agrotóxicos para ta IHU On-Line, de 27-09-2010, intitulada O
Pantanal em alerta, disponível em http://bit.
compra em agropecuárias. Não estou o lençol freático é o que irá deixar re- ly/jZtTqu. (Nota da IHU On-Line)
“O
cos e pela vida. A primeira audiência
pública aconteceu dia 7 de abril, Dia s agrotóxicos são usados sem nenhum controle pela so-
Mundial da Saúde, no Congresso Nacio- ciedade brasileira. Seu uso está sob os interesses do
nal. que se chama de agronegócio”. Essa é a ideia principal
defendida pelo professor José Juliano de Carvalho, na
IHU On-Line – Podemos falar em “uso
entrevista a seguir, concedida por telefone para a IHU
seguro dos agrotóxicos”?
On-Line. Professor da Faculdade de Economia e Administração da Universida-
Wanderlei Pignati – Não. Essa é outra
discussão que precisa ser desmistifica- de de São Paulo – USP, Carvalho tem percebido a destruição e a inviabilização
da. O uso totalmente seguro dos agro- da agricultura familiar não apenas pelo agrotóxico, mas pelo conjunto do
tóxicos é impossível. Os agrotóxicos modelo do agronegócio. “É preciso que se institua a regulação do agronegó-
penetram pela mucosa de pele, do cio. Senão, pega-se um investimento público feito para a agricultura familiar
olho, da orelha das pessoas, inclusive ou para áreas de assentamento e deixa-se que essa área seja dominada por
pela respiração. Se o trabalhador que monoculturas ligadas ao agronegócio, com uso de agrotóxicos, transgênicos,
aplicar esse produto estiver vestido prejudicando assim todas as pessoas que ali estão”.
como um astronauta (porque é assim José Juliano de Carvalho Filho possui graduação e doutorado em Economia
que se parecem os EPIs criados para pela Universidade de São Paulo, e pós-doutorado pela Ohio State University. Além
proteger os trabalhadores da contami- de professor, integra a Associação Brasileira de Reforma Agrária – Abra. Confira a
nação por esses produtos), ele quase
entrevista.
não será atingido ou contaminado. Isso
porque a eficiência do filtro químico é
de 80 a 90%, e com as moléculas dos IHU On-Line – Qual sua opinião em re- tóxicos no Brasil, que chega a 5,7
novos agrotóxicos essa eficiência dimi- lação ao uso de agrotóxicos no Brasil? litros de veneno por habitante, es-
nui mais ainda, pois há algumas delas José Juliano de Carvalho – Minha tão ligados a esse modelo. Isso tudo
que penetram no filtro de agrotóxicos atividade de pesquisa junto das po- está dentro de uma questão maior,
da máscara e prejudicarão quem está pulações camponesas durante mui- a questão agrária, que se caracteri-
realizando a aplicação. O efeito pode tos anos pôs-me em contato com os za aqui no Brasil pela concentração
levar de cinco a dez anos para ser sen- efeitos do agrotóxico. Mas o que im- fundiária, que está crescendo. Os
tido. Pode não haver um impacto ime- porta é discutir esse modelo que se agrotóxicos são usados sem nenhum
diato. Mas e a segurança do ambiente, chama de agronegócio. Não se trata controle pela sociedade brasileira.
como fica? Será colocado EPI nos pei- de uma simples técnica. É um mode- Seu uso está sob os interesses do que
xes, bois, cachorros e plantas que não lo com efeitos perversos para a eco- se chama de agronegócio. Olhando
se quer afetar? Não existe, portanto, nomia nacional, que nos faz voltar para o campo, veremos que há um
uso seguro de agrotóxicos. O ambiente ao passado em relação à exportação mecanismo que torna o governo re-
será poluído com substâncias cujo ob- de produtos primários e, o pior, com fém dos ruralistas. Neste mecanismo
jetivo é matar as “pragas” da lavoura a dependência de poucas empresas está embutida a própria questão ma-
mas, com isso, cria-se todo um ônus multinacionais. O agrotóxico, evi- croeconômica, que tem um déficit
ambiental. dentemente, está ligado à questão crescente em contas correntes. Isso
Sobre a Campanha, confira mais detalhes no das patentes e dos transgênicos. E os implica em pressão para se exportar
link http://bit.ly/e6YOfT. (Nota da IHU On- efeitos do enorme consumo de agro- mais commodities e o governo acaba
Line)
M
ohamed Ezz El Din Mostafa Habib assinou, juntamente com outros pesquisadores, um relatório
que acusa a Monsanto de saber, há mais de 30 anos, que o herbicida Roundup provoca anoma-
lias congênitas. O professor da Unicamp estuda os efeitos dos agrotóxicos na saúde e no meio
ambiente desde a década de 1970 e afirma que testes feitos com o glifosato, princípio ativo do
Roundup, “mata qualquer criatura de origem vegetal, (...) causa problemas de desenvolvimen-
to embrionário, atinge células de tecidos do corpo humano e prejudica o desenvolvimento das crianças”.
Em entrevista à IHU On-Line por telefone, Mostafa Habib menciona ainda que a transgenia, outro ramo
de atividades de empresas que produzem agrotóxicos, também causa impactos à saúde humana. “Realizamos
testes em animais de laboratório com a ração fabricada a partir da soja transgênica e soja não transgênica. Ob-
servamos impactos negativos no desenvolvimento dos ovários e do sistema reprodutor dos animais”, relata.
Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib é graduado em Engenharia Agronômica e mestre em Entomologia (Con-
trole Biológico) pela Universidade de Alexandria, Egito, e doutor em Ciências Biológicas (Entomologia) pela
Unicamp. Além de lecionar na instituição, ele é pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O senhor assina, junta- O glifosato, diferentemente do que o mundo precisa conhecer a realidade
mente com outros pesquisadores, o a Monsanto vem dizendo e diferente- da soja transgênica e as origens do gli-
relatório de pesquisa que acusa a mul- mente daquilo que a Comissão Técnica fosato. Realizamos testes em animais
tinacional de agroindústria e biotecno- Nacional de Biossegurança – CTNBio de laboratório com a ração fabrica-
logia Monsanto de saber, desde 1980, entendeu quando aprovou a produção da a partir da soja transgênica e soja
que o herbicida Roundup – cujo princí- e a comercialização, é um produto de não transgênica. Observamos impac-
pio ativo é o glifosato – provocaria ano- largo espectro tóxico, ou seja, mata tos negativos no desenvolvimento dos
malias congênitas. Pode nos dar mais qualquer criatura de origem vegetal. ovários e do sistema reprodutor dos
detalhes sobre o relatório? Como esta Ele ainda é tóxico para o ser humano e animais. Portanto, a soja transgênica
pesquisa foi realizada? causa problemas de desenvolvimento precisa ser retirada do mercado ime-
Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib embrionário, atinge células de tecidos diatamente. As pesquisas de transge-
– Minha carreira começou em 1964. do corpo humano e prejudica o desen- nia precisam continuar a desenvolver
Portanto, tenho 47 anos de experiên- volvimento das crianças. técnicas mais seguras para a saúde e o
cia. Nesse período, pesquisei os efei- Todas as pesquisas e levantamen- meio ambiente.
tos negativos do agrotóxico na saúde e tos científicos feitos concluíram que Também é preciso rever o impacto
no meio ambiente de países agrícolas. CTNBio: instância colegiada multidisciplinar, do glifosato. Quando o Brasil não cul-
criada através da lei nº 11.105, de 24 de mar-
A Monsanto, dona e produtora do ço de 2005, cuja finalidade é prestar apoio
tivava transgênico e estabelecia, pela
defensivo Roundup, sempre trabalhou técnico consultivo e assessoramento ao Go- lei, o máximo de 0,2 partes por milhão
para dominar o mercado. Portanto, o verno Federal na formulação, atualização e de glifosato na soja, a Monsanto pres-
implementação da Política Nacional de Bios
investimento da empresa em transge- segurança relativa à OGM, bem como no esta
sionou o governo e quis, numa primei-
nia é justamente para fazer do Roun- belecimento de normas técnicas de segurança ra instância, mudar a lei para permitir
dup um produto a ser vendido no e pareceres técnicos referentes à proteção até 100 partes por milhão. Entretanto,
da saúde humana, dos organismos vivos e do
mundo inteiro. meio ambiente, para atividades que envolvam
em função das pressões da sociedade,
Roundup: pesticida fabricado pela Monsan- a construção, experimentação, cultivo, mani a lei permitiu ter 10 partes por milhão
to cuja base é o glifosato. Estudos indicam que pulação, transporte, comercialização, consu de glifosato nos grãos da soja. Isso sig-
mesmo em pequenas quantidades o pesticida mo, armazenamento, liberação e descarte de
pode ser nocivo à saúde humana. (Nota da IHU OGM e derivados. Mais informações em www.
nifica 50 vezes mais o valor que era
On-Line) ctnbio.gov.br. (Nota da IHU On-Line) permitido anteriormente.
10 SÃO LEOPOLDO, 04 DE JULHO DE 2011 | EDIÇÃO 368
Os grãos da soja de hoje têm um “As companhias dizem contra os interesses nacionais. Minha
teor de glifosato superior àquele que preocupação é com a interferência e
existia antes. Portanto, mesmo com a que os transgênicos a influência das multinacionais nos ór-
introdução da transgenia, o Brasil não gãos públicos. A CTNBio é pró-multina-
ganhou nada. consomem menos cionais e 2/3 da instituição trabalham
em prol das multinacionais. Isso é
IHU On-Line – Além do uso de agrotó- agrotóxicos, mas assustador porque a sociedade confia
xicos, que outras medidas podem ser nessas organizações que trabalham na
tomadas para o controle biológico acontece o contrário. contramão dos interesses nacionais.
das lavouras?
Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib – O Os transgênicos IHU On-Line – O Brasil é o maior con-
controle biológico é uma das medidas, sumidor de agrotóxicos do planeta e
mas nós podemos trabalhar para que consomem mais ainda permite a utilização de produ-
haja um manejo ambiental do próprio tos banidos em diversos países. Como
ecossistema e da lavoura. Por meio do agrotóxicos do que a entender essa cultura pró-agrotóxi-
manejo ambiental é possível cultivar cos em nosso país?
a diversidade vegetal. Cada vez que cultura convencional Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib – O
se tem diversidade na composição da que a academia e certos meios de comu-
flora, consegue-se ter uma riqueza na anterior” nicação estão fazendo é o início de um
diversidade faunística. A partir disso, processo, ou seja, temos de continuar
alcança-se o equilíbrio ecológico natu- conscientizando a sociedade. A trans-
para definir o zoneamento agríco-
ral, que acaba automaticamente man- genia veio para enganar a população.
la brasileiro e verificar quais são as
tendo as populações das pragas sob o As companhias dizem que os transgêni-
condições agrícolas de cada região do
nível ou abaixo do nível que poderia cos consomem menos agrotóxicos, mas
país. Dentro desse zoneamento, é pre-
causar algum dano econômico. acontece o contrário. Os transgênicos
ciso ter um plano governamental para
A ciência mostrou que o conceito de consomem mais agrotóxicos do que a
otimizar as condições de cada região.
agricultura convencional de monocultu- cultura convencional anterior.
Não é possível plantar soja desde o Rio
ra, de tirar do mapa toda a complexida- Precisamos sair em campanhas nas
Grande do Sul até o Amazonas; isso é
de vegetal que existia e substituí-la por ruas dizendo: “Agrotóxicos nunca mais!”.
ridículo. Portanto, cada região do Bra-
uma única cultura, não é sustentável. Com isso, podemos pressionar para que
sil deve identificar a sua vocação, a
Hoje, o mundo procura uma agri- as multinacionais comecem a pesquisar
sua coerência e ver como ela se mani-
cultura sustentável e este novo mo- e desenvolver produtos alternativos. As
festa na cultura local.
delo não pode ficar dependente de empresas não aceitam as propostas das
fertilizantes, agrotóxicos. É preciso universidades porque jogar veneno nas
IHU On-Line – Como vê a atuação de
investir em uma produção mais sau- lavouras é mais fácil. Elas ainda insistem
órgãos responsáveis pela regulação
dável para o meio ambiente e para o em chamar o agrotóxico de defensivo
de agrotóxicos em todo o mundo?
homem que cultiva e que consome. agrícola, de remédios. Temos que abra-
Quais os maiores dilemas dessas ins-
Nesse sentido, é possível fazer uso de çar essa campanha contra os agrotóxicos
tituições?
métodos de controle biológico natural, porque é muito complicado continuar-
Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib
aproveitando a riqueza da fauna. Nós mos desse jeito.
– Não tenho reclamação dos órgãos re-
temos de preservar o ambiente para
guladores que liberam e autorizam o
que os inimigos naturais (pragas) que IHU On-Line – Qual a origem e a ne-
uso dos agrotóxicos. O problema não
ocorrem naturalmente no ambiente cessidade de utilizar agrotóxicos no
está nesses órgãos e, sim, no outro
possam estar seguros na propriedade Brasil?
lado, que pressiona o trabalho de-
para trabalhar a favor da agricultura. Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib
les. As multinacionais que produzem
Também é possível utilizar o con- – O uso de agrotóxicos se disseminou
agrotóxicos desrespeitam a sociedade
trole biológico aplicado, ou seja, é pelo mundo em função da pressão das
brasileira e o futuro desse país. Elas
possível liberar os inimigos naturais multinacionais. Quando cheguei ao
utilizam o Brasil para ter retorno fi-
para fazer o controle microbiano apli- Brasil, em 1972, pude perceber o que
nanceiro e, hoje, trabalham para re-
cado, aplicando bactérias, fungos. as vendedoras de agrotóxicos faziam:
tirar da Agência Nacional de Vigilância
Igualmente, existe o conceito de pre- contratavam agrônomos brasileiros
Sanitária (Anvisa) o poder de opinar
servação e de investimento cada vez para receber um salário por meio de
sobre os agrotóxicos, que são os maio-
maior na diversidade biológica da pro- comissão, assim, quanto mais eles
res inimigos da saúde brasileira.
priedade rural. É preciso partir para vendiam, maior era o rendimento fi-
A academia não tem força para
rotações agrícolas, policultivos nas nanceiro. Esse comportamento, além
enfrentar as pressões das multinacio-
propriedades para ter uma estabilida- de ser antiético, é um crime.
nais. As empresas têm um lobby fortís-
de econômica maior. Antigamente, as multinacionais
simo no Congresso e estão trabalhando
É fundamental realizar pesquisas não tinham influência no governo fe-
A
animal. Se esse setor fosse um pouco
mais inteligente, poderia produzir a ra- reavaliação de agrotóxicos no Brasil ainda faz parte de um processo
ção no Brasil e exportar o produto com lento, frágil e nebuloso. Produtos que receberam a certificação de
um valor agregado. Já estou cansado uso da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa, Ibama e do
de ver o Brasil exportando matéria-pri-
Ministério da Agricultura somente são reavaliados novamente quan-
ma e chamar isso de agronegócio; isso
do estudos internacionais apontam para riscos à saúde humana.
é agroburrice, ignorância. Países que
buscam o seu desenvolvimento não po- Segundo Letícia da Silva, um dos motivos que dificulta este procedimento é a
dem exportar matéria-prima, energia inexistência de investimento para linhas de pesquisa sobre o tema.
e, muito menos, água. O Brasil está “As pessoas que trabalham nos órgãos governamentais têm feito o possível
fazendo exatamente isso. E depois, o e o impossível para avaliar, regular e controlar esses produtos. Entretanto, te-
brasileiro vai para o exterior e volta mos várias fragilidades”, desabafa, em entrevista à IHU On-Line concedida por
com dois presentes: um pacote de café telefone. Entre as dificuldades, ela aponta o quadro deficitário de funcionários
solúvel da Alemanha, que não planta responsáveis pelo procedimento de reavaliação dos agrotóxicos. “Nos EUA, que
nenhum pé de café em seu território; é o segundo maior mercado de agrotóxicos do mundo, as agências de proteção
e chocolate suíço, o melhor chocolate ambiental têm 800 funcionários para avaliar produtos agrotóxicos. No Brasil, por
do mundo, feito à base de cacau. A Su- outro lado, se reunirmos todos os técnicos do Ibama, do Ministério da Agricultura
íça não cultiva nenhum pé de cacau.
e da Anvisa, não somamos o total de 80 técnicos”.
O Brasil vende essas matérias-primas
Letícia Rodrigues da Silva é especialista em Regulação e Vigilância Sanitária,
para ambos.
O que acontece no Brasil é uma gerente de normatização e reavaliação da Anvisa e responsável pelas reavalia-
atividade agrícola extremamente defi- ções toxicológicas dos agrotóxicos. Confira a entrevista.
ciente, que precisa evoluir. O grão de
soja nunca é superior a um real e para
produzi-lo, o país gastou no mínimo IHU On-Line – Como e por que a in- 1975. Nesta época foi desenvolvido
200 litros de água. O Brasil já perdeu dústria de agrotóxicos se proliferou o Plano Nacional de Defensivos Agrí-
95% da Mata Atlântica, mais de 80% do no Brasil? colas, que incentiva o uso de agro-
cerrado e 20% da Floresta Amazônica. Letícia Rodrigues da Silva – O uso de tóxicos e, inclusive, disponibilizava
Será que está valendo a pena vender agrotóxicos no mundo começou com créditos para produtores rurais que
energia e chamar agroenergia de bioe- a Revolução Verde ocorrida na déca- quisessem utilizar esta tecnologia.
nergia para enganar o povo brasileiro? da de 1970 e, no Brasil, por volta de Indústrias também receberam incen-
Não se produz bioenergia com a cana- tivos para se instalarem no Brasil. A
Revolução Verde: refere-se à invenção e partir disso, se fortaleceu e se disse-
de-açúcar e com a soja. Já estou can- disseminação de novas sementes e práticas
sado desse tipo de tática enganosa. agrícolas que permitiram um vasto aumento minou o uso de agrotóxicos no país.
Dizem que este é o setor que mais na produção agrícola em países menos de- Nos anos 1990, houve um movimen-
senvolvidos durante as décadas de 1960 e to mundial de reestruturação dessas
cresce, mas também é o setor que mais 1970. É um amplo programa idealizado para
destrói o país. É um setor que precisa aumentar a produção agrícola no mundo empresas e, no final dos anos 2000,
trabalhar com mais inteligência, mais por meio do “melhoramento genético” de aconteceram muitas fusões, incorpo-
sementes, uso intensivo de insumos indus- rações em função do esgotamento da
ciência e mais tecnologia. triais, mecanização e redução do custo de
manejo. (Nota da IHU On-Line) matriz petroquímica.
12 SÃO LEOPOLDO, 04 DE JULHO DE 2011 | EDIÇÃO 368
Desde então, muitas dessas empre- to, os estudos dos efeitos de agrotóxi- houve desde 1989 até hoje foram para
sas químicas começaram a atuar no cos são feitos em condições ideais de afrouxar a legislação de agrotóxicos e
ramo de sementes transgênicas e aí uso, de temperatura, clima e, quando não para torná-la mais rígida ou res-
teve a consolidação de outro tipo de esse produto passa a ser utilizado no tritiva.
mercado: as empresas que eram gran- campo, apresenta efeitos diferentes:
des ficaram ainda maiores ao adquiri- às vezes se mostra ser mais tóxico, tem IHU On-Line – Quais as principais fra-
rem empresas pequenas. Por volta de efeitos que não aparecem nos animais gilidades da legislação brasileira em
2007 em diante, passou a se ter a en- de experimentação, mas aparecem relação à regulação e a reavaliação
trada de empresas chinesas no merca- nos seres humanos posteriormente ao de agrotóxicos? Como vê a posição
do de agrotóxicos. Essas indústrias têm uso. Então, há uma limitação cientí- do Brasil em relação ao rigor do uso
fábricas na China e trazem grande par- fica neste processo. Por mais que se desses produtos?
te de seus produtos de lá em função da busquem situações realistas de uso, Letícia Rodrigues da Silva – As pes-
redução do custo de mão de obra e dos outros fatores podem interferir na ex- soas que trabalham nos órgãos go-
custos de produção desses produtos. posição de agrotóxicos. vernamentais têm feito o possível e
Atualmente, seis empresas são res- o impossível para avaliar, regular e
ponsáveis por 105% do mercado brasi- IHU On-Line – Como e com que fre- controlar esses produtos. Entretanto,
leiro e, dessas, três são responsáveis quência são feitas as reavaliações temos várias fragilidades e uma delas
por 90% do mercado nacional. Isso se toxicológicas dos agrotóxicos no Bra- é o número de técnicos envolvidos na
repete no âmbito mundial, onde o sil? Como avalia o processo de rea- avaliação dos agrotóxicos. Nos EUA,
mercado é ainda mais concentrado: valiação dos agrotóxicos no país? Ele que é o segundo maior mercado de
seis empresas são responsáveis por ainda é dependente de pesquisas in- agrotóxicos do mundo, as agências de
70% do mercado. ternacionais? proteção ambiental têm 800 funcioná-
Letícia Rodrigues da Silva – As rea- rios para avaliar produtos agrotóxicos.
IHU On-Line – Quais são os critérios valiações são feitas sempre que há No Brasil, por outro lado, se reunirmos
adotados no Brasil para registrar agro- detecção de estudos que apontam todos os técnicos do Ibama, do Minis-
tóxicos? E qual a participação do setor para riscos à saúde, quer dizer, quan- tério da Agricultura e da Anvisa, não
de saúde pública neste processo? do outros países começam a efetuar somamos o total de 80 técnicos. Esse
Letícia Rodrigues da Silva – O regis- proibições, restrições e quando orga- é um número pequeno de pessoas en-
tro de agrotóxicos é um ato comparti- nizações internacionais alertam para volvidas na regulação e hoje o Brasil é
lhado entre Ministério da Agricultura, riscos. Ainda existe um número peque- o maior consumidor de agrotóxicos do
Anvisa e Instituto Brasileiro do Meio no de pesquisas sobre produtos agro- mundo. Essa é a primeira fragilidade,
Ambiente - Ibama. O Ministério da tóxicos feitas no Brasil, especialmente que chamaria de fragilidade de recur-
Agricultura faz a avaliação de eficácia estudos epidemiológicos, de exposição sos humanos.
agronômica dos produtos agrotóxicos; com trabalhadores. Inexistem linhas de A outra fragilidade é que a lei que
o Ibama faz a avaliação do impacto financiamento de pesquisa para isso e, rege a questão dos agrotóxicos não
ambiental desses produtos; e a Anvi- quando se faz pesquisa, encontram-se determina nenhum prazo para a reno-
sa analisa o impacto desses produtos efeitos relacionados ao uso de agrotó- vação de seu registro, diferentemen-
à saúde humana. São exigidos estudos xicos, a ingredientes ativos específicos te do que ocorre com os registros de
para todas essas avaliações e, na Anvi- ou a vários tipos de produtos ou gru- medicamentos que, a cada cinco anos,
sa, são realizados estudos com animais pos químicos diferentes e efeitos gra- são renovados. Na área de agrotóxicos,
de experimentação para verificar que ves à saúde humana. Várias pesquisas uma vez que o registro foi concedido,
efeitos esses produtos podem causar à estão sendo desenvolvidas no sentido ele fica concedido para todo o sempre
saúde humana. Quando os três órgãos de apontar efeitos de depressão, de e a única medida feita ao longo do
dizem que o produto tem condições transtornos psiquiátricos em popula- tempo é a reavaliação.
aceitáveis para saúde, para o ambien- ções expostas a agrotóxicos. A reavaliação tem se demonstrado
te e eficácia agronômica, é concedido Ao fazer a reavaliação de um pro- um processo lento e demorado porque
o registro. Se um dos três órgãos mani- duto, utilizamos todas as pesquisas o órgão governamental é único res-
festa posição contrária, o produto não feitas em relação a ele. Nesse senti- ponsável pela reavaliação. Cabe a ele
pode ser registrado no país. do, a reavaliação é uma salvaguarda. juntar todas as informações para fazer
A lei 7802, de 1989, estabelece Por outro lado, ela também joga para a reavaliação, publicar uma nota téc-
alguns requisitos e assegura que são o órgão público a responsabilidade de nica, onde são elencados os estudos
proibidos registros de agrotóxicos que juntar os dados dos danos que esses que demonstram as inseguranças as-
tenham características mutagênicas, produtos estão causando. Esse proces- sociadas ao produto, observar o devi-
teratogênicas e que causem efeitos so inverte o princípio da precaução, já do processo legal, deixar as notas em
hormonais, danos ao aparelho repro- que as empresas deveriam assegurar consulta pública e, depois, ficar susce-
dutor etc. Quer dizer, a lei determina que seu produto apresenta todas as tível a pressões políticas e à judiciali-
alguns critérios para proibir o registro condições de segurança. zação do processo. A Anvisa colocou 14
de substâncias inadequadas. Entretan- Aliás, todas as manifestações que ingredientes ativos em reavaliação no
SÃO LEOPOLDO, 04 DE JULHO DE 2011 | EDIÇÃO 368 13
ano de 2008 e até agora conseguimos “Todos os anos surgem Nesse sentido houve uma manifesta-
concluir seis dessas reavaliações, com ção da sociedade.
cinco ações judiciais. Embora o pro- pelo menos dois ou três
cesso já tenha sido concluído do ponto IHU On-Line – Como o cidadão pode
de vista administrativo, ele continua projetos de lei para identificar produtos contaminados
sendo discutido do ponto de vista ju- por agrotóxicos?
dicial. Então, os técnicos da Anvisa tirarem as competências Letícia Rodrigues da Silva – Frutas,
têm de ficar fazendo notas técnicas, verduras e legumes produzidos na es-
dar suporte técnico para a defesa e da Anvisa e do Ibama” tação tendem a ter menos agrotóxicos
a contestação. É um processo muito do que aqueles produzidos em estufas.
desgastante. Sempre que possível, o consumidor
Por isso é importante que haja o pode tentar descobrir se os produtos
controle social dos agrotóxicos. Os es- programa para verificar os agrotóxi- possuem rastreabilidade, quer dizer,
tudos da Fiocruz e de diversas univer- cos falsificados? saber onde o alimento foi produzido.
sidades demonstram que a contami- Letícia Rodrigues da Silva – Não, Em várias redes de supermercados já
nação não afeta apenas o trabalhador porque apenas conseguimos saber a existe esse sistema de rastreabilida-
rural, mas se dissemina entre os con- especificação do produto registrado. de. Na gôndola onde o produto está,
sumidores. Todos os anos os resultados Não temos como saber quais são as há um número ou uma etiqueta para
do Programa de Análise de Resíduos de substâncias que existem nos produtos identificar a sua origem. Quando se
Agrotóxicos demonstram a contamina- que entram no país por meio do con- verifica uma irregularidade, é possível
ção dos alimentos vendidos nos super- trabando ou são fabricados no fundo encontrar quem produziu aquele ali-
mercados, a contaminação ambiental de quintal. mento. Também é importante variar a
feita por meio da água, do ar. Muitas Temos feito fiscalizações nas fábri- alimentação e consumir alimentos que
vezes as áreas onde estão inseridas as cas e, de 13 empresas fiscalizadas, 11 possuam certificação de produção or-
cidades são muito próximas das áreas tinham alterado as formulações sem a gânica.
de lavouras. Então, por vento e dife- autorização da Anvisa. Elas registra-
rentes formas de contaminação, toda vam uma formulação e depois substi- IHU On-Line – Até 2012 a Anvisa pre-
a população acaba sendo exposta a es- tuíam componentes daquela formula- tende proibir a produção e comer-
ses produtos. ção e produziam produtos com outra cialização de agrotóxicos que con-
classe toxicológica. tenham o ativo metamidofós. Quais
IHU On-Line – Segundo notícias da im- os riscos deste ativo? E qual sua ex-
prensa, no próximo mês, a Anvisa divul- IHU On-Line – Que atores sociais mais pectativa em relação a essa possível
gará os resultados anuais do Programa pressionam a Anvisa para regular de- proibição?
de Análise de Resíduos de Agrotóxicos, terminados produtos? Letícia Rodrigues da Silva – O me-
que em 2010 apontou irregularidades Letícia Rodrigues da Silva – Nós quase tamidofós está com um programa de
em 30% das amostras de produtos agrí- não recebemos pedidos por parte da descontinuidade de uso estabelecido
colas. Pode adiantar algo? sociedade ou de organizações e movi- para quase todas as empresas. Apenas
Letícia Rodrigues da Silva – O Progra- mentos para que os órgãos do governo uma indústria está recorrendo judi-
ma de Análise de Resíduos Agrotóxicos controlem de forma mais rigorosa es- cialmente e outra está produzindo o
é coordenado pela Anvisa e feito por sas substâncias. Recebemos frequen- produto no país. As demais já cance-
todos os estados da federação. Ele temente pedidos para liberação do laram as fabricações e a importação
funciona da seguinte forma: os esta- produto X, Y, Z, de diferentes atores também foi cancelada. A comerciali-
dos coletam amostras de 18 culturas como, por exemplo, cooperativas, sin- zação deste ativo ainda está permitida
alimentares (batata, banana, cebola dicatos, prefeituras, parlamentares, até 2012, ficando mais um prazo para
etc.) no supermercado; essas amostras empresas. Praticamente, inexiste o uso e, posteriormente, o uso não será
são enviadas para laboratórios e eles número de pleitos onde pudéssemos mais permitido. Esse cronograma de
analisam se os alimentos estão conta- dizer que existe um controle social. descontinuidade foi estabelecido para
minados por agrotóxicos, por qual tipo Costumamos dizer que é preciso que que não se tenha estoque remanes-
e em que quantidade. a sociedade se aproprie deste tema e cente do produto e nem incremento
Não sei dizer qual foi o resultado diga que risco ela está disposta a cor- de uso legal.
do plano de 2010, mas esses dados de- rer em face da produtividade. O metamidofós está associado à
monstram, de modo contínuo, conta- Todos os anos surgem pelo menos desregulação endócrina, a efeitos
minação de algumas culturas por agro- dois ou três projetos de lei para tira- imunotóxicos, e prejuízos ao desen-
tóxicos. No ano passado, foi detectado rem as competências da Anvisa e do volvimento embriofetal. Ele está proi-
que agrotóxicos não autorizados no Ibama. Este ano, tramitou pelo Senado bido em países da África, da China, da
Brasil estão sendo utilizados. um projeto de lei que propunha que Indonésia, do Japão e do Paquistão.
a avaliação dos agrotóxicos fosse feita
IHU On-Line – A Anvisa tem algum apenas pelo Ministério da Agricultura.
O
Brasil se tornou o maior consumidor de agrotóxicos e o principal incentivador desta prática
é o governo, diz Rubens Nodari à IHU On-Line em entrevista por telefone. “As políticas go-
vernamentais favorecem o uso de agrotóxicos porque o governo incentiva a utilização desses
produtos quando, no financiamento, exige dos agricultores o uso de tecnologias. Ocorre que,
para o governo, uso de tecnologias subentende utilização de sementes, fertilizantes químicos,
agrotóxicos”, reitera.
Rubens Nodari é graduado em Agronomia pela Universidade de Passo Fundo – UPF, mestre em Agronomia (Fi-
totecnia) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFGRS e doutor pela University Of California At Davis.
Atualmente, é professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Confira a entrevista.
IHU On-Line – Que relações podemos demonstram que a maioria deles usa sendo assim, sempre será prejudicial.
estabelecer entre a transgenia e o esses produtos. Não há hipótese em que a aplicação de
uso de agrotóxicos? Produtos trans- agrotóxicos não cause efeitos secundá-
gênicos ainda exigem o uso de agro- IHU On-Line – O uso de agrotóxicos rios. O uso dessas substâncias sempre
tóxicos? pode prejudicar ou alterar a diversi- acarretará em efeitos adicionais não
Rubens Onofre Nodari – Sim. Nos dade biológica? desejados.
EUA, houve uma diminuição no uso de Rubens Onofre Nodari – Os agrotóxi-
agrotóxicos, mas, após a liberação da cos atuam de maneira diferente nas IHU On-Line – Intensificou-se o uso
transgenia, o consumo de herbicidas espécies: umas sofrem mais e outras de agrotóxicos nas florestas brasilei-
aumentou. No Brasil não foi diferente: menos. Então, algumas espécies po- ras. Quais os riscos desses produtos
depois da liberação do uso de transgê- dem ser diminuídas, como os anfíbios, para as áreas florestais?
nicos, o uso de agrotóxicos cresceu e o que são suscetíveis a esses produtos. Rubens Onofre Nodari – Algumas es-
país passou a ser o maior consumidor Além de extinguir algumas espé- pécies serão prejudicadas porque os
de agrotóxicos do mundo. Isso também cies, o uso de agrotóxicos irá afetar os agrotóxicos têm a função de inibir
ocorreu na Argentina e onde mais hou- processos ecológicos do meio ambien- enzimas ou bloquear processos ana-
ve liberação de transgênicos. te. As funções ecológicas são mantidas bólicos e metabólicos em organismos
por dois componentes: a presença dos vivos. Como nós temos uma biodiversi-
IHU On-Line – Quais são as razões que organismos vivos e o processo ecoló- dade imensa e ainda não conhecemos
levam o Brasil a ser o maior consumi- gico em si. Então, quando se rompe a todas as espécies que vivem nas flores-
dor de agrotóxicos? cadeia trófica, rompem-se também os tas, não sabemos quais serão os danos
Rubens Onofre Nodari – As políti- serviços ambientais que estão no ecos- a essas espécies.
cas governamentais favorecem o uso sistema. Portanto, quando o agrotóxi-
de agrotóxicos porque o governo in- co cai no rio e atinge a cadeia trófica, IHU On-Line – Que impactos ambien-
centiva a utilização desses produtos o rio perde a capacidade de ciclar nu- tais o uso de agrotóxicos já causou
quando, no financiamento, exige dos trientes. Essa situação também ocorre no Brasil?
agricultores o uso de tecnologias. no solo, no ar. Rubens Onofre Nodari – Nós não te-
Ocorre que, para o governo, uso de mos trabalhos globais para demonstrar
tecnologias subentende utilização IHU On-Line – É possível utilizar agro- os impactos do uso de agrotóxicos no
de sementes, fertilizantes químicos, tóxicos na medida certa? país. Os estudos realizados abordam
agrotóxicos. Dificilmente um banco li- Rubens Onofre Nodari – Por definição, os impactos de um tipo específico de
bera recursos para o custeio agrícola o agrotóxico tem a função de inibir ou agrotóxicos em uma espécie determi-
sem atender a esses critérios. Estudos diminuir o desenvolvimento de seres nada. Os EUA desenvolvem mais estu-
realizados com pequenos agricultores vivos. Portanto, ele é um veneno e, dos. Nós sabemos que aumentou o uso
Data: 24/8/2011
Horário: das 14h à 17h
Informações em www.ihu.unisinos.br
N
a opinião do pesquisador Erick Felinto, “vivemos uma era da ‘memória total’, já que a digitalização
dos suportes trouxe capacidades inauditas de armazenagem de informação”. Por outro lado, existe
um excesso de informação e uma rapidez que produzem “esquecimento contínuo e um apagamento
do passado. O que acontece, também, é que todos os ‘arquivos’, toda nossa memória, estão as-
sumindo a forma do digital”. Estas ponderações fazem parte da entrevista a seguir concedida por
e-mail à IHU On-Line. Felinto critica o fato de as relações “face a face” serem consideradas mais autênticas do
que aquelas mediadas tecnologicamente, classificadas por vezes como “ilusórias”: “Isso é de uma ingenuidade
absurda. O ser humano é uma criatura simbólica. Suas relações com o mundo são, desde sempre, ‘mediadas’.
Minhas relações sociais nas redes podem ser tão ou mais intensas (ou superficiais) quanto minhas conexões
‘presenciais’”. Sobre as tecnológicas que pretensamente teriam revolucionado o mundo, é enfático: “Todas as
tecnologias foram de algum modo ‘revolucionárias’, especialmente no contexto histórico de sua emergência. O
desenvolvimento da escrita é tão (ou possivelmente mais) ‘revolucionário’ que o surgimento da internet”.
Erick Felinto é graduado em Comunicação Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, mes-
tre em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, e doutor em Letras pela UERJ, onde
atualmente leciona. Cursou pós-doutorado na Universidade de Kunst, em Berlim, Alemanha. Com Ivana Bentes
escreveu Avatar: o Futuro do Cinema e a Ecologia das Imagens Digitais (Porto Alegre: Sulina, 2010). Outras de
suas obras são A religião das máquinas: ensaios sobre o imaginário da cibercultura (Porto Alegre: Sulina, 2005);
Silêncio de Deus, Silêncio dos Homens: Babel e a Sobrevivência do Sagrado na Literatura Moderna (Porto Ale-
gre: Sulina, 2008) e A Imagem Espectral: Comunicação, Cinema e Fantasmagoria Tecnológica (São Paulo: Ateliê,
2008). Confira a entrevista.
IHU On-Line – Em seu ponto de vista, está exaustivamente estudado como a cem acontecer em ondas históricas de
quais são as tecnologias que revolu- retórica popular sobre a invenção tec- desenvolvimento, o que põe em che-
cionaram o mundo? nológica repete os mesmo chavões de que o discurso de “novidade radical”
Erick Felinto – O termo “revolucioná- um período histórico ao outro: o que com que as tecnologias costumam ser
rio’ é próprio de uma abordagem tipica- se fala hoje sobre a internet é muito apresentadas. Isso não significa que
mente marqueteira e propagandística semelhante ao que se falou sobre o te- não existam novidades nem mutações
que caracteriza boa parte da literatu- légrafo no século XIX. Nesse sentido, radicais, mas elas são um traço contí-
ra não acadêmica (e também, infeliz- procuro evitar expressões como essa, nuo da história humana – quiçá mesmo
mente, acadêmica) sobre o tema das que produzem uma cegueira histórica da história natural. A instauração das
tecnologias comunicacionais. Todas as danosa aos estudos de comunicação e tecnologias digitais nos apresenta, po-
tecnologias foram de algum modo “re- tecnologia. Contudo, se em vez disso rém, um traço interessante e singular.
volucionárias”, especialmente no con- falarmos em transformações culturais Eles produziram uma espécie de ce-
texto histórico de sua emergência. O tecnologicamente motivadas, então sura histórico-tecnológica, no sentido
desenvolvimento da escrita é tão (ou teremos, antes de qualquer coisa, que em que todo tipo de informação – ima-
possivelmente mais) “revolucionário” atentar para o caráter cíclico dessas gética, sonora, textual – passou a ser
que o surgimento da internet. E já mudanças. Essas “revoluções” pare- constituído em modo digital.
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sempre microscópico, incapaz de en- nos últimos anos (com origem na Ale-
xergar os problemas numa dimensão manha) é a chamada “arqueologia
panorâmica). A função de pensadores da mídia” (Archäologie der Medien).
do “risco” – ou “proféticos”, como os Creio que ela representa um antído-
define um amigo meu – é buscar esse to importante contra a amnésia his-
olhar panorâmico que muitas vezes tórica que caracteriza boa parte da
nos falta. Esses pensadores (Flusser pesquisa sobre os meios hoje, mas
é um bom exemplo) assumem muitos pouquíssima gente no Brasil sabe se-
riscos e podem certamente cometer quer de sua existência.
muitos erros. Contudo, até mesmo
seus erros são frequentemente inte- IHU On-Line – O que pensa sobre a
ressantes e reveladores. Bruno Latour, crítica de alguns teóricos que consi-
um pensador a quem muito admiro, deram que as redes sociais promo-
escreveu com Antoine Hennion um vem uma ilusão de contato?
texto sobre Walter Benjamin no qual Erick Felinto – Não creio que se tra-
critica radicalmente o famoso ensaio te de ilusão. Aliás, por que razão de-
A obra de arte na época de sua repro- vemos dizer que as relações “face a
dutibilidade técnica. O����������������
texto é sinto- face” são “autênicas” e as mediadas
maticamente intitulado How to make tecnologicamente (nas redes sociais,
mistakes at so many things at once por exemplo) são “ilusórias”? Isso é de
– and become famous for this. ������
Mesmo uma ingenuidade absurda. O ser hu-
concordando com algumas das repri- mano é uma criatura simbólica. Suas
mendas dos autores a certas teses de relações com o mundo são, desde sem-
Benjamin no ensaio, considero o arti- pre, “mediadas”. Minhas relações so-
go de Latour equivocado. Se Benjamin ciais nas redes podem ser tão ou mais
cometeu muitos erros – e ficou famoso intensas (ou superficiais) quanto mi-
por causa deles –, foi porque assumiu nhas conexões “presenciais”. E meus
grandes riscos em seu pensar. E esses contatos e relações fundamentais no
riscos e seus equívocos abriram o ca- dia a dia se dão tanto com seres huma-
minho para vários pensadores e teóri- nos quanto com os aparatos e objetos
cos depois dele. Como diz a célebre que me cercam. Está mais do que na
sentença de Bernardo de Chartres, hora de revermos o humanismo rastei-
“somos anões nos ombros de gigan- ro e o antropocentrismo ingênuo que
tes, mas por isso enxergamos melhor operam, muitas vezes, no fundo das
e mais longe”. nossas interpretações do mundo. Ser
No Brasil, a pesquisa e o texto humano é ser profundamente artificial
acadêmico no campo da comunicação e ter, desde sempre, uma relação vis-
vêm assumindo uma feição tecnicis- ceral com a tecnologia.
“O
s jovens alunos bolsistas não vivenciam a vida acadêmica em sua totalidade, devido às
injunções pertinentes à sua condição socioeconômica cultural que impedem que isso acon-
teça na realidade concreta. O processo de inclusão acadêmica, mesmo para os alunos que
têm bolsa de estudos na universidade, não se dá de forma completa. Por isso, entendemos
que a sua permanência na formação superior é intranquila e que o processo de inclusão é
ilusório, diferentemente do que o sistema de ensino superior brasileiro preconiza e defende, isto é, que o jovem
bolsista, por ter uma bolsa de estudos, tem assegurada sua total inclusão acadêmica na universidade comuni-
tária”. As conclusões fazem parte da entrevista a seguir, concedida por Maria Aparecida Marques da Rocha na
entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line, sobre seu livro Processo de Inclusão Ilusória: a condição do
jovem bolsista universitário (Jundiaí: Paco Editora, 2011).
Maria Aparecida é graduada, especialista, mestre e doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS com a tese que acaba de ser convertida em seu presente livro. É autora de
Creche para crianças de até dois anos: o que pensar (Porto Alegre: Da Casa Editora, 1997). Atualmente, leciona
na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Confira a entrevista.
IHU On-Line – A partir da sua pesqui- a sua permanência na formação supe- recursos financeiros, para manterem-
sa, quais suas conclusões em relação rior é intranquila e que o processo de se estudando.
ao acesso e permanência do jovem inclusão é ilusório, diferentemente Além disso, ao olharmos o ensino
bolsista no ensino superior? do que o sistema de ensino superior superior brasileiro e o segmento ju-
Maria Aparecida Marques da Rocha brasileiro preconiza e defende, isto venil, fica uma certeza: falta muito
– As conclusões são sempre prelimina- é, que o jovem bolsista, por ter uma ainda para que políticas públicas mais
res; não são um ponto final. Signifi- bolsa de estudos, tem assegurada sua amplas possam ocorrer no sentido de
cam um arremate num determinado total inclusão acadêmica na univer- açambarcar essas outras necessidades
tempo e espaço. Com base nos dados sidade comunitária. Compreendemos que se mostram como impeditivos de
analisados do estudo, concluímos que que tal premissa se dê aparentemente uma plena inclusão acadêmica.
os jovens alunos bolsistas não viven- de forma simplista, havendo a neces-
ciam a vida acadêmica em sua totali- sidade de se fazer uma leitura crítica IHU On-Line – Como avalia as bol-
dade, devido às injunções pertinentes sobre essa situação que reflete uma sas universitárias como Filantropia
à sua condição socioeconômica cultu- das expressões da questão social. Ter e o Programa Universidade para To-
ral que impedem que isso aconteça bolsa de estudos não constitui para dos, ProUni? Elas são compreendidas
na realidade concreta. O processo o jovem bolsista um “porto seguro” como um processo de inclusão ou in-
de inclusão acadêmica, mesmo para para permanecer na universidade, clusão ilusória?
os alunos que têm bolsa de estudos haja vista os discursos dos estudantes Maria Aparecida Marques da Rocha
na universidade, não se dá de forma que revelam em cada pronunciamen- – Entendo que o acesso ao ensino su-
completa. Por isso, entendemos que to a necessidade que têm de buscar perior via o sistema de bolsas de es-
Entrevistas especiais feitas pela IHU On-Line e disponíveis do Programa de Justiça Econômica de Amigos da Terra In-
nas Notícias do Dia do sítio do IHU (www.ihu.unisinos.br) ternacional
de 28-6-2011 a 03-6-2011. Confira nas Notícias do Dia de 30-06-2011
Acesse no link http://bit.ly/jI0VCl
Quanto vale um retuite? Ao promover e financiar a energia suja, o Banco Mundial
Entrevista especial com Gabriela Zago, jornalista, doutoran- é colocado como um dos principais culpados pela crise
da em Comunicação e Informação pela UFRGS climática global pelo ativista ambiental. “O Banco Mundial
Confira nas Notícias do Dia de 28-06-2011 é, ao impor seu pacote paradigmático de soluções, um dos
Acesse no link http://bit.ly/kmLBiF principais envolvidos nas mudanças climáticas em nível glo-
Ao encarar o ato de retuitar como uma moeda de troca na bal”.
rede social, a jornalista aponta que existe uma economia
do retuite que busca determinados valores, geralmente as- ‘’O Código Florestal cria o caminho ‘legal’ para concluir a
sociados a bens privados. grilagem da terra’’
Entrevista especial com Mauricio Torres, professor de Ge-
Militares ameaçam religiosos em Goiás ografia na USP
Entrevista especial com Tomás Balduíno, bispo emérito da Confira nas Notícias do Dia de 01-07-2011
diocese de Goiás e conselheiro permanente da Comissão Acesse no link http://bit.ly/iLm4HM
Pastoral da Terra, e Geraldo Labarrère Nascimento, padre “Entendo que a pesquisa nas situações de conflito não pode
jesuíta, diretor da Casa da Juventude de Goiânia, mem- se limitar ao modelo onde o pesquisador ocupa o papel de
bro do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Ad- sujeito, como agente das ações de perguntar e registrar, e o
olescente e do Conselho Municipal de Assistência Social, grupo estudado se limita a ser objeto da pesquisa”, acentua
ameaçado de morte. o pesquisador.
Confira nas Notícias do Dia de 29-06-2011
Acesse no link http://bit.ly/lP4sgH O caso Dom Morris e a tensão entre liberdade e obediência
Assassinatos sem fundamento, um grande número de de- Entrevista especial com Paul Collins, historiador e escritor
saparecidos e uma infinidade de pessoas agredidas sem australiano
motivo. Todos esses abusos têm sido praticados pela polícia Confira nas Notícias do Dia de 03-07-2011
de Goiás. Alvo de denúncias tanto por parte da população Acesse no link http://bit.ly/jfbhVC
quanto por parte da Igreja local, os militares têm não ap- A diocese de Toowoomba na Austrália abrange uma área de
enas defendido sua forma violenta de atuar como também 488.000 quilômetros quadrados, quase uma vez e um terço
têm criado estratégias de ameaças que vão desde plantar o tamanho da Alemanha. Sua população é de 244.000 pes-
informações inexistentes quanto pressionar bispos para soas, das quais 26% são católicos. Seu pastor, D. William M.
transferirem os religiosos que têm defendido as vítimas da Morris, buscava soluções para equilibrar a balança entre o
polícia. déficit de vocações e as grandes dimensões geográficas e
populacionais de sua diocese. Mas foi removido pelo Vati-
Banco Mundial: o principal financiador da crise climática cano em maio deste ano por defender saídas consideradas
global extremas, como a ordenação de mulheres e de homens
Entrevista especial com Sebastian Valdomir, coordenador casados.
www.ihu.unisinos.br
Ronaldo Henn
Por Graziela Wolfart | Foto Arquivo Pessoal
“S
ou curioso e um tímido espalhafatoso, como diz a canção do Cae-
tano Veloso”. É desta forma que se autodefine o professor Ronaldo
Henn, do PPG em Ciências da Comunicação da Unisinos. Nascido
em Caxias do Sul-RS, teve a infância marcada por fortes experi-
ências, que contribuíram para a formação de sua personalidade.
Leia, a seguir, aspectos da trajetória de vida deste pesquisador que adora caminhar,
ir ao cinema e estar com os amigos.
Origens e lembranças da infância – prio dinheiro. Adorava ir ao cinema e minha vida vivi na situação de poder só
Nasci em Caxias do Sul. Minha mãe era precisava dinheiro para isso. Então, estudar. Conclui o mestrado em 1994 e
operária da indústria têxtil e meu pai vendia pastéis nas portas de fábrica, em 1996 voltei para a PUC-SP para fa-
era funcionário da CEEE. Éramos uma vendia picolés e ainda catava material zer o doutorado. Eu já trabalhava na
família humilde, com poucos recursos. reciclável. Mas esses trabalhos nunca Unisinos e havia um incentivo da uni-
Meu pai faleceu muito cedo, quando prejudicavam meus horários de estu- versidade de que seus professores se
eu tinha apenas dois anos, vítima de dos. Quando eu estava na 8ª série do capacitassem. Então, fui beneficiado
um acidente. A morte do meu pai foi ensino fundamental, consegui um em- por isso e pude fazer meu doutorado
uma marca muito profunda na minha prego de office-boy e passei a estudar financiado pela própria universidade.
infância. Além da perda, teve também à noite.
o impacto econômico. Minha mãe teve Jornalismo e carreira profissional
que dar conta de sustentar a mim e a Formação – Iniciei meus estudos – Como eu gostava de ler jornal, com
minha irmã mais velha. Mesmo nesse em escola pública, em Caxias do Sul, 12 anos de idade fiz uma assinatura do
contexto sempre aprendemos que se- na época em que o ensino público era Correio do Povo, com o dinheiro que eu
ria muito importante que estudásse- de qualidade. Lembro que a professo- ganhava vendendo as coisas que con-
mos. Lembro-me que havia um senso ra nos levava para a biblioteca da es- tei. Eu tinha aquele idealismo de que
comunitário entre os vizinhos, de soli- cola, para ficarmos lendo, o que me o Jornalismo poderia mudar o mundo.
dariedade entre as pessoas do bairro. estimulou o gosto pela leitura. Estudei Isso me fez escolher o curso. Ainda du-
Outra questão marcante da minha in- em Caxias até parte do ensino médio. rante a faculdade comecei a trabalhar
fância é que sou da primeira geração Depois me mudei para São Leopoldo e no Jornal VS. Também fiz freelancer na
que cresceu tendo um televisor den- terminei o ensino médio no Colégio São revista Contigo e IstoÉ. Quando termi-
tro de casa. Mesmo assim, as pessoas Luís. Então, fiz a graduação em Jor- nei os créditos do mestrado, voltei de
se reuniam em volta da mesa ou nos nalismo na Unisinos e tive aulas com São Paulo, me instalei em Porto Alegre
pátios para contarem histórias. Outro professores admiráveis da área das ci- para concluir a dissertação, e comecei
elemento muito presente dessa época ências humanas que foram muito im- minha carreira no ensino acadêmico.
é o rádio. Ouvíamos a Rádio Princesa, portantes na minha formação. Quatro Fui contratado pela Ulbra, para a pri-
com uma programação musical de al- anos depois que me formei, em 1988, meira turma de Jornalismo, onde fui
tíssima qualidade. Muito do meu gosto decidi fazer mestrado e escolhi a PUC- professor até 1994. Nesse meio tempo
musical veio com essa matriz. SP que abrigava um pensamento sobre também entrei na Unisinos como pro-
comunicação muito instigante. Conse- fessor, onde estou até hoje. Na época
Trabalho desde cedo – Ainda quan- gui uma bolsa integral da Capes, que do meu ingresso, recém havia sido im-
do criança, de 8 a 12 anos, tive que me pagava o curso e também me ga- plementado na universidade o mestra-
trabalhar para poder ter meu pró- rantia um salário. Pela primeira vez na do que, na ocasião, era de semiótica e
e Companheiros – IHU
Informações em www.ihu.unisinos.br
Destaques
Notícias do Dia
Nas Notícias do Dia você confere matérias, artigos, entrevistas e reportagens veiculadas na mídia do
Brasil e do mundo, em uma seleção preparada pela equipe do IHU em parceria com o Centro de Pesquisa
e Apoio do Trabalhador – Cepat, de Curitiba. Elas são publicadas diariamente, de segunda a segunda, no
sitio do IHU. E são atualizadas a partir das 7h da manhã. Antes das 9h é expedida a ‘newsletter’. Para
recebê-la, basta clicar no ‘cadastre-se’ na primeira página do sítio do IHU.
Entrevista do Dia
A Entrevista do Dia é uma produção especial do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em parceria com
o Centro de Pesquisa e Apoio do Trabalhador – Cepat, de Curitiba. Diariamente, o sítio do IHU publica
uma entrevista inédita, de segunda a segunda, debatendo temas atuais.
Conjuntura da Semana
Semanalmente, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU publica uma conjuntura de temas atuais, redigida em
fina sintonia com o Centro de Pesquisa e Apoio do Trabalhador Cepat, parceiro estratégico do IHU. A análise
da conjuntura da semana é uma (re) leitura das “Notícias do Dia” publicadas diariamente no sítio do IHU.