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QUÍMICA FARMACÊUTICA I

(Apontamentos Teóricos 2007/2008)

Elaborado por:
Pedro Brandão (2º Ano)
QUÍMICA FARMACÊUTICA: DAS MOLÉCULAS AOS
FÁRMACOS
A Química Farmacêutica é uma ciência independente que se relaciona
intimamente com outras disciplinas, tratando-se portanto de uma ciência multi-, inter- e
transdisciplinar.

Química farmacêutica está relacionada com as seguintes áreas:


- Química, instrumentação, biologia celular, genética, biotecnologia, informática,
bioquímica, fisiologia, biologia molecular, proteómica, farmacologia.

Definição:

Área cientifica multidisciplinar que, tendo como base a química, estuda as


substancias biologicamente activas, o seu isolamento, invenção, descoberta, desenho,
identificação, preocupa-se em compreender a sua interacção com o mundo biológico a
nível molecular, o seu metabolismo, o estabelecimento de relações estrutura-
actividade e contribui para a sua utilização segura ao serviço do Homem, utilizando
para o efeito princípios orgânicos químicos e físicos, a análise farmacêutica e a
síntese química.

Moléculas naturais “Moléculas úteis”


ou sintéticas biologicamente activas

Aquelas que intervêm com a vida dos


seres vivos, não fazendo parte da
nutrição.
- Poluentes
- Pesticidas
- Semioquímicos
- Nutracêuticos
- Fármacos

Paul Ehrlich postula a existência de quimiorreceptores e refere a “bala mágica”


(composto direccionado apenas e só para um receptor).

Da molécula ao fármaco há 3 fases essenciais:


I. Descoberta
II. Desenho
III. Desenvolvimento

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Há 3 grandes períodos históricos na evolução deste tipo de ciência:

1. Até meados do séc. XX


- antes do séc. XIX: ervas e poções
- a partir de meados do séc. XIX: isolamento e purificação de substâncias
naturais activas
- elucidação de estruturas activas
- síntese de análogos
- nada se sabia sobre mecanismo de acção em termos moleculares.

2. 1950 – 1980
- menor contributo do acaso/sorte e maior racionalização
- cooperação entre químicos e biólogos
- maior preocupação em saber o que se passa a nível molecular
- a investigação sobre fármacos incide no composto Líder – o principio activo
isolado – o qual é modificado quimicamente até poder ser utilizado como fármaco
- metodologia: tentativa-erro.

Velho Paradigma (Fisiológico)

Substância Modelo animal da doença Efeito

Optimização Molecular

3. 1980 até à actualidade


- Estudo dos alvos terapêuticos (macromoléculas geralmente)
Ex: receptores, enzimas, hormonas e factores, canais iónicos,
receptores nucleares, ácidos nucleicos.
- Química computacional e combinatória
- Rastreio massivo

Novo Paradigma (Reducionista ou baseado no alvo)

A capacidade de identificar/validar um grande nº de alvos, de rastreio massivo


e automatização do processo de descoberta de novos fármacos, bem como a
possibilidade de formular requisitos simples e claros sobre a estrutura das moléculas
capazes de interagir com determinado alvo terapêutico, conduz a uma Selectividade,
maior potência e diminuição/eliminação dos efeitos laterais dos fármacos.
Ex: Inibidores da COX2 (anti-inflamatórios) - Celecoxib
Inibidores selectivos da recaptação de serotonina (antidepressivos) –
Fluoxetina
Inibidores da acetilcolinesterase (Alzheimer) – Donepezilo
Inibidores da Cinase da tirosina (anticancerígenos) – Imatinib

A produção de novos fármacos baseada neste novo paradigma, conduziu a


uma diminuição no número de fármacos realmente inovadores: os fármacos que
surgem actualmente não têm nenhuma “novidade terapêutica”, são apenas fármacos

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com o mesmo modo, ou semelhante, de tratar uma doença (esta envolve um conjunto
de mecanismos bioquímicos interdependentes, e este paradigma ao “dissociar-se” da
fisiologia, falha!)

Fármacos como Aspirina, Ibuprofeno, Cimetidina, Fluticasona e Budenosida


não seriam descobertos pela aplicação do novo paradigma.

Assim, há 2 abordagens na descoberta de fármacos:


- Baseada no alvo: desenvolve molécula que afecta determinado alvo ou
mecanismo.
- Baseada na função fisiológica: desenvolve molécula que produz um
determinado efeito biológico, independentemente do mecanismo de acção.

Interacção especifica
Substância Alvo/Mecanismo Selectividade

EFICÁCIA
TERAPÊUTICA

Substância Função fisiológica Normalização da função

Caso: Malária (pela técnica do alvo)

- em glóbulos vermelhos.
- produção de hematina mata o parasita; contudo este tem um mecanismo de
destoxificação que consiste em polimerizar a hematina, formando a hemozoína
(junção de dímeros).
- fármacos com actividade anti-malárica podem actuar a nível desta
polimerização (receptores putativos complementares ao potencial electrostático).
- as xantonas apresentam este tipo de complementaridade.

A História da quase totalidade dos fármacos começa com a identificação de


uma substância dotada de actividade biológica, mas que não pode ser usada como
fármaco – HIT (“Substância Activa”).

1. Descoberta
- encontrar hits
- gerar lideres a partir de hits.

2. Desenho
- optimizar hits até obter candidatos a fármacos (melhorar farmacocinética e
farmacodinâmica)

3. Desenvolvimento
- transformar um fármaco candidato num fármaco viável clinicamente (ensaios
clínicos, regulamentação)

A transformação de Hit a fármaco, passando pelos líderes é um processo “afunilado”.

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HIT seleccionado:

Estrutura molecular com potencial para ser optimizado (estrutura confirmada,


potência e selectividade adequadas, fiabilidade farmacocinética).
São eliminados HITs com aspectos estruturais proibidos (grupos reactivos ou
moléculas que apresentem toxicidade) ou HITs pouco específicos para um alvo (HITs
promíscuos).

“Drug-Like” HIT:

Conceito que tem de acompanhar todo o processo evolutivo de criação de um


fármaco, depende da via de administração e dos descritores utilizados na sua
avaliação.
Há 32 esqueletos-base para a quase totalidade dos fármacos e cerca de 20 a
30 grupos laterais diferentes.
É uma estrutura com características biológicas (ADMET) e físico-químicas
(solubilidade, estabilidade) consistentes com a eficácia clínica.
“Druglikeness” corresponde a um conjunto de propriedades comuns a uma
dada classe de fármacos (presença ou ausência de certos grupos estruturais e
funcionais; características bio-físico-químicas numa dada gama de valores).

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Regra de 5 de Lepinski

- para fármacos administrados por via oral (90%)


- PM < 500
- Log P < 5
- dadores de ligações de H < 5
- aceitadores de ligações de H < 10
- se uma molécula falhar um destes pressupostos é pouco provável ter a actividade
desejada em administração oral (o aspecto negativo da regra é que pode levar a uma
eliminação precoce de moléculas cuja capacidade terapêutica podia ser muito
importante)

Optimização de Farmacodinâmica e Farmacocinética:

Optimização
- A: construção de análogos estruturais;
- B: avaliação da actividade;
- C: determinação de parâmetros bio-físico-químicos.

A, B e C ocorrem quer na passagem de Hit a Líder, quer na passagem de Líder


a Candidato.

A optimização é multidimensional: os diferentes parâmetros para melhorar a


molécula são executados simultaneamente, e não um a um. Assim, com a
optimização, à medida que a toxicidade e os efeitos laterais vão diminuindo, a
selectividade, afinidade, potência e características de ADMET vão melhorando.

A. Optimização da farmacodinâmica (interacção com o alvo)


- estabelecimento de relações estrutura-actividade
- identificação do farmacóforo
- síntese de análogos (estratégias de modificação estrutural clássicas,
bioisósteros, “desenho de fármacos baseado na estrutura”, modelização molecular,
RMN).

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B. Optimização da farmacocinética (acesso ao alvo)
- melhorar a absorção (modificar polaridade e/ou pKa)
- inibir ou promover o metabolismo
- aumentar a selectividade
- utilizar pró-fármacos
- associar fármacos
- utilizar substâncias endógenas.

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QUÍMICA MEDICINAL
A Química Medicinal está relacionada com a invenção, descoberta, design,
identificação e preparação de compostos biologicamente activos, assim como com o
estudo do seu metabolismo, interpretação do seu modo de acção a nível molecular e o
estudo da relação estrutura-actividade.

Fármaco:
Fármaco é uma substância pura, quimicamente definida, extraída de fonte
natural ou obtida por síntese dotada de actividade biológica e que poderá ser
aproveitada pelos seus efeitos terapêuticos.

Medicamento:
Medicamento é toda a substância (ou mistura) fabricada, vendida, posta à
venda ou recomendada para tratamento, alívio, prevenção de sintomas ou diagnóstico
de uma enfermidade ou estado físico anormal e para o estabelecimento, correcção ou
modificação de funções orgânicas no Homem ou em animais.

Desenvolvimento de um fármaco:
1. Descoberta de uma nova molécula líder; ensaios in vitro (tenta recriar condições in
vivo)
2. Ensaios em animais
3. Ensaios clínicos (Fase 1: segurança e farmacocinética; Fase 2: dose-efeito; Fase 3:
eficácia comparada (placebo/produto de referencia))
4. Comercialização (Fase 4: farmacovigilância e fármaco-epidemiologia)
5. Patente

Todo este processo pode demorar entre 10 a 17 anos.

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O que se passa a nível celular e molecular?

Comunicação Intercelular

Comunicação química: Pequenas moléculas/Iões + Macromoléculas

Quando esta comunicação química é alterada, pode conduzir a estados


patológicos, que conduz à necessidade de definir os alvos a atingir para corrigir/curar
essa patologia.

ALVOS

A nível estrutural:

1 . Receptores:
- de membrana
- intracelulares
- nucleares
Não envolvem reacção química: o mensageiro liga-se ao local activo, há
alteração conformacional do receptor e a mensagem é passada, sendo que o receptor
saí deixando o receptor intacto.

2. Enzimas
Envolvem reacção química.

3. Canais Iónicos
Podem formar poros hidrofílicos e funcionar como alvos para anestésicos
locais.

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4. Transportadores
São muito usados como alvos de antidepressivos, porque bloqueando o
transportador que recoloca os neurotransmissores no neurónio pré-sináptico, vamos
conseguir aumentar a concentração destes na fenda sináptica.
A Glicoproteína P (Pgp) é uma bomba de efluxo para retirar compostos tóxicos
(e por vezes fármacos) do interior da célula pelo que o seu bloqueio é útil como
anticancerígenos.

5. Ácidos Nucleícos
(Doxorrubicina e Daunorrubicina, derivados da Idarubicina)

6. Mitocôndrias.
Ainda não é muito usado como alvo, mas poderá ser muito útil no tratamentos
de doenças tumorais, neurodegenerativas e prevenção de cardiopatias.

A nível molecular:

1. Proteínas
- Receptores
- Enzimas
- Transportadores
- Estruturais (tubulina) – a tubulina é um dos constituintes do citoesqueleto,
constituído por microtúbulos; em situações tumorais ou neurodegenerativas há
problemas na tubulina, pelo que está pode ser um alvo (Taxol estabiliza microtúbulos e
há morte celular – anticancerígeno; Vinblastina destabiliza os microtubulos e destrói
células tumorais)

2. Lípidos
Alvos para anestésicos gerais.

3. Carbo-hidratos
Glicoproteínas/Glicolípidos = Glicoconjugados
Funcionam como etiquetas à superfície da membrana, porque permitem o
reconhecimento.

4. Ácidos Nucleícos
No Homem, fármacos que actuam no DNA enquanto agentes antitumorais; em
bactérias fluoriquinolonas formam complexos com o DNA e topoisomerase.

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RECONHECIMENTO MOLECULAR

Pequenas moléculas:
- substrato
- ligandos
- fármacos

Para que o reconhecimento molecular seja eficaz, tem de haver


complementaridade de:
- Forma
- Tamanho
- Características electrostáticas

Quando o receptor é uma molécula quiral, e a pequena molécula se trata de


uma mistura de dois enantiómeros, apenas um destes se liga ao receptor.

Tipos de interacções:

1. Electrostáticas
- ião-ião
- ião-dipolo
- dipolo-dipolo

2. Ligações de H (dipolo-dipolo)

3. Hidrofóbicas
- entre duas cadeias apolares ou dois aromáticos.
- induzem dipolos instantâneos.

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4. Complexos de transferência de carga
- empilhamento ∏.
- depende dos substituintes (NO2 – retirador de densidade electrónica; CH3 –
dador)

- no empilhamento aresta-face o electrão do H é puxado pelo sistema ∏ do


outro anel.

Interacções não covalentes:

- As superfícies moleculares têm de estar próximas, dependendo as ligações


da distância.
- Interacções fracas
- Efeitos resultantes são reversíveis e a acção é limitada no tempo
- em estimulantes do SNC.

Interacções covalentes:

- Estabelecem-se com DNA ou algumas enzimas


- Ligações muito fortes
- Formação de complexo muito estável
- em anticancerígenos e fármacos suicidas.

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Mudanças Conformacionais

Estas mudanças conformacionais são importantes para que a macromolécula


ou a pequena molécula adquiram a conformação bioactiva.

Por exemplo, a progesterona encontra-se na conformação bioactiva quando


está em conformação de “meia-cadeira”.

Fármacos:

Fundamentalmente não são mais do que pequenas moléculas que modulam


patologias por ligação a proteínas alvo e nesse local alteram o comportamento destas
(por ex: agonistas, antagonistas). A proteína pode ser do organismo humano ou de um
organismo invasor.

HIT:

Estrutura não optimizada obtida a partir de um processo de screening numa


proteína alvo. Os compostos sujeitos ao screening podem ser de origem natural ou
sintética.
- Ensaios “clássicos”;
- Screening de alta eficiência (High-Throughput Screening=HTS)

Geralmente, o HIT ideal é aquele que consiste num ligando com uma ligação
não covalente, reversível, com alta afinidade e que depois poderá ser convertido num
bom líder, com grande probabilidade de optimização.

LÍDER:

Estrutura geralmente derivada de um HIT e, embora continue sem ser


optimizada, possui características apropriadas para ser percursor de um fármaco.
- Estrutura química definida;
- Actividade biológica/farmacológica pretendida – pode apresentar
características indesejáveis (toxicidade, insolubilidade, problemas metabólicos) pelo
que se efectuam modificações sintéticas, fazendo-se assim a optimização do
composto Líder.
Descoberta de um composto líder: identificação de novas entidades químicas
que, por subsequentes modificações químicas, podem ser transformados em
fármacos.

Assim, para se obter um fármaco:

- Extracção de compostos;
- Identificação;
- Ensaios in vitro;
- Selecção do HIT;
- Maior variedade estrutural;
- Determinação da REA (relação estrutura-actividade);
- O HIT tem de ser optimizado para chegar ao Líder (“filtros”);
- O Líder (que geralmente parte do HIT) ainda tem de ser optimizado para
chegar a fármaco

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O Ácido Salicílico

É um exemplo de um bom líder que é um mau fármaco, porque apresenta um


mau sabor e é tóxico para a mucosa gástrica.

Percurso de um fármaco no organismo

Absorção – passagem do local de administração para a corrente sanguínea


(etapa inexistente em administração endovenosa).
Tecido terapêutico = Local de acção terapêutica.

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Metabolização e Eliminação – após exercerem a sua actividade ou durante a
distribuição (a última etapa não é obrigatória).

No caso dos pró-fármacos, a metabolização ocorre antes do efeito terapêutico


pretendido.

O fígado é o principal órgão de metabolização. É nele que ocorre o efeito de


primeira passagem, que consiste na metabolização dos fármacos antes de estes se
dirigirem para locais alvo.

Existem duas fases:

1. Fase farmacocinética: Absorção, distribuição, biotransformação e eliminação;


2. Fase farmacodinâmica: Formação do complexo fármaco-receptor.

A intensidade da resposta biológica depende da:


- concentração do fármaco;
- afinidade do fármaco para o receptor.

Esta afinidade é expressa pela constante de dissociação KD.

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Quanto menor for o valor de KD maior será a afinidade do fármaco para o
receptor e maior a concentração do complexo F-R. Está relacionado com a Potência
do fármaco.

Factores que influenciam a acção dos fármacos:


- via de administração
- modo de administração
- período de latência (intervalo de tempo entre administração e efeito
terapêutico).

Fármaco Ideal

Implica o equilíbrio entre as propriedades bio-físico-químicas para o composto


atingir o local de acção no organismo, a uma dada concentração, durante uma
duração de acção necessária e com uma janela de segurança adequada para dar a
resposta terapêutica esperada.

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FACTORES QUE INFLUENCIAM A ACTIVIDADE DE FÁRMACOS

Influenciam a forma de interacção com o receptor (Fase Farmacodinâmica),


ADME, biodisponibilidade – proporção da dose do fármaco que efectivamente atinge a
corrente sanguínea (fala-se sobretudo na via oral, embora exista em todas as vias
excepto endovenosa) – e tempo de vida no organismo (Fase Farmacocinética)

1. Propriedade Físico-Químicas

1.1. Solubilidade (Lipofilicidade; Hidrofobicidade)


O organismo humano possui meios aquosos e meios não aquosos
(membranas), pelo que os fármacos têm de conseguir dispersar-se em ambos os tipos
de meios. Isto exige uma espécie de “equilíbrio” entre lipofilicidade e hidrofilicidade.

Hidrofilicidade:
É a tendência que um determinado composto exibe para ser solvatado pela
água (relaciona-se com ligações de H e ião-dipolo)

Hidrofobicidade:
Traduz-se pela associação de grupos ou moléculas não polares num ambiente
aquoso e que surge na tendência exibida pela água para excluir moléculas não
polares.

Lipofilicidade:
Representa a afinidade de uma molécula ou porção dela para um ambiente
lipofilico. É habitualmente medida pelo seu comportamento de distribuição num
sistema bifásico, seja líquido-líquido (ex: coeficiente de partilha em 1-octanol/água) ou
sólido-líquido (ex: retenção em HPLC ou num sistema de TLC).

Coeficiente de partilha (P)

P = [fármaco] óleo / [fármaco] água

- é difícil fazer in vivo


- realiza-se em ampolas (in vitro: n-octanol / tampão fosfato pH 7,4)

- Solubilidade (Lipofilicidade):
Log P = log [fármaco] óleo / [fármaco] água

1.2. Coeficiente de Ionização (pH, pKa)


- Maior parte dos fármacos são ácidos fracos ou bases fracas.

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- Apenas a forma não ionizada (sem carga) é que consegue atravessar as
membranas, já que a forma ionizada é solvatada pela água.
- Grande parte dos fármacos contém grupos amina.
- Forma ionizada facilita a distribuição em meio aquoso, bem como as interacções.

A pH fisiológico 7,4:

- Os fármacos ácidos encontram-se sobretudo na forma aniónica.

- Os fármacos básicos encontram-se sobretudo na forma catiónica.

O grau de dissociação é expresso pelo pKa:

pKa = pH + log [RCOOH] / [RCOO-]

pKa = pH + log [RNH3+] / [RNH2]

A constante de ionização afecta:


- a Farmacocinética: as formas ionizadas geralmente não atravessam as
barreiras lipídicas.
- a Farmacodinâmica: se os fármacos interagem com o receptor na forma
ionizada, o pKa e o pH afectam a sua actividade.

2. Topografia e Estereoquímica dos Fármacos

2.1. Isomeria Conformacional


Um fármaco pode possuir uma grande variedade de confórmoros e o receptor
apenas ligar-se a um deles (conformação bioactiva).

2.2. Isomeria Geométrica


Dietilestilbestrol (Honvan®)

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2.3. Quiralidade
Nos mamíferos, os aminoácidos que constituem os alvos são constituídos por
L-aa (quirais) pelo que podem actuar de forma diferente ou até mesmo discriminar
certos enantiómeros → Enantiosselectividade. Esta enantiosselectividade encontra-se
portanto muito presente em fenómenos enzimáticos, processos metabólicos e
interacções receptor-mensageiro/fármaco. A quiralidade neste contexto é então tida
como uma propriedade intrínseca das moléculas.
Os enantiómeros caracterizam-se por serem estruturas não sobreponíveis, que
são o objecto/imagem no espelho e por ausência de um plano de simetria.
É preciso ter em conta que existem moléculas quirais sem centros
estereogénicos (os designados atropisómeros – exemplo: 2 anéis aromáticos com 2
grupos volumosos em cada anel, que se encontram ligados por uma ligação simples,
não pode rodar totalmente).
Os enantiómeros apresentam propriedades físicas e físico-químicas idênticas
excepto na rotação específica.

O reconhecimento molecular, pelos motivos descritos, pode portanto ser mais


eficiente para um determinado enantiómero, o que é explicado pelo Modelo dos “3
pontos de ligação”, que afirma que um receptor pode diferenciar enantiómeros se
houver, pelo menos, 3 locais de ligação (ex: enantiómero R (-) da Epinefrina).

Actividade Biológica e Farmacológica

R ou S
- Situação ideal, contudo pouco comum.

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R=S
- Situação pouco comum (Prometazina é um anti-histamínico).

R≠S
- É o caso do Propoxifeno

- Da Cetamida e da Penicilamina

- E um dos casos mais divulgados é o da Talidomida, uma vez que foi comercializada
na forma racémica e depois descobriu-se que a (R)-(-)-Talidomida tinha uma acção
sedativa e a (S)-(+)-Talidomida uma acção teratogénica. A administração do
enantiómero R puro não é viável uma vez que à racemização reversível dos
enantiómeros no organismo.

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R<S/R>S
- Trata-se da situação mais comum, e os 2 enantiómeros têm o mesmo tipo de
acção terapêutica contudo um é muito mais activo – o Eutómero – em comparação
com o outro – o Distómero. Ou seja, só muda a acção em termos quantitativos.

- Dexclorfeniramina é um anti-histamínico em que o isómero (S) é 200 vezes mais


potente que o (R).

- Ciclofosfamida é um antineoplásico em que o enantiómero (S) tem actividade 2


vezes mais efectiva.

- Salbutamol é um broncodilatador em que o enantiómero (R) é 80 vezes mais activo.

- O Verapamil tem dois tipos de acção: cardio-depressora em que o enantiómero (R) é


8 a 10 vezes menos potente; vasodilatadora em que ambos os enantiómeros são
equivalentes na potência.

Razão Eudísmica = Potência (afinidade) do eutómero


Potência (afinidade) do distómero

Quanto maior a potência do eutómero, maior será esta razão.

Quando o centro estereogénico está localizado na região crítica de ligação ao


receptor verificam-se razoes eudísmicas elevadas; quando fora dessa região,
verificam-se razões baixas.

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Fármacos enatioméricamente puros patenteados nos últimos anos (“Quiral
Switching”):

Comercialização de racematos/misturas racémicas:


- Actividade semelhante nos 2 enantiómeros;
- Difícil síntese e resolução dos enantiómeros;
- Difícil isolar enantiómeros puros ou estes reconvertem-se;

Vantagens da comercialização de fármacos enantiomericamente puros:


- Doses menores;
- Produtos mais activos;
- Menos efeitos indesejáveis;
- Simplificação da monitorização do fármaco;
- Rapidez da relação dose-resposta.

Obtenção de enantiómeros puros:


- Abordagem Quiral: síntese enantiosselectiva.
- Abordagem racémica: separação da mistura racémica (mais fácil).

Resolução de enantiómeros

- Método Indirecto
A uma mistura de enantiomeros adicionamos reagente opticamente puro, que
origina uma mistura de diastereoisómeros (que têm propriedades físico-químicas
diferentes). De seguida, é efectuada uma separação convencional, por exemplo, por
cristalização, cromatografia, destilação, etc. Depois de separados os
diastereoisómeros, faz-se uma reconversão e obtemos então os enantiómeros
separados.
É um processo demorado e com muitos critérios. É preciso ter em atenção que
quando o reagente não apresenta 100% de pureza óptica, obtemos pares de
enantiómeros.

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- Método Directo
Trata-se de um processo cromatográfico, em que se efectua uma eluição por
coluna (não convencional), em que esta tem de ser quiral para separar os
enantiómeros – selector quiral (na fase estacionária ou móvel).
- Selector quiral + enantiómero = complexo diastereoisómerico (transitório).
Selector quiral: componente quiral do sistema de separação capaz de
interactuar de forma enantiosselectiva com os enantiómeros a serem separados.

HPLC (High Performance Liquid Chromatography)

Fases estacionárias quirais em HPLC disponíveis no Mercado:


Classificação das FEQs para HPLC baseada na formação do complexo analito-FEQ
(Wainer, 1993):

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FEQ Tipo I

Base da estratégia de Pirkle

Um anel aromático com substituintes retiradores de electrões designa-se π


ácido; quando possui substituintes dadores de electrões chama-se π básico.

Os trabalhos de Pirkle permitiram:


- Conhecer mecanismos responsáveis pela resolução enantiomérica;
- Desenvolvimento de FEQs para analítos específicos;
- Aumento da selectividade enantiomérica devido a aperfeiçoamento das FEQs
anteriormente concebidas.

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METABOLISMO

- Biotransformação de substancias endógenas;


- Mecanismo de defesa contra xenobióticos de baixo PM;
- Geralmente envolve processos enzimáticos (sobretudo de enzimas hepáticas);
- Facilita a excreção;

Xenobióticos:
Todos os compostos estranhos/exógenos ao organismo que não
desempenham funções fisiológicas, ou seja, após exercerem a sua acção têm de ser
excretados.

- Há cerca de 30 enzimas/sistemas enzimáticos responsáveis pela transformação dos


xenobióticos (enzimas promíscuas);
- Metabolitos são, por norma, mais hidrossolúveis, o que facilita a sua eliminação;
- Há contudo fármacos que são eliminados intactos.

As enzimas intervenientes no metabolismo de fármacos estão a concentrações


diferentes consoante o órgão:
- [ ] alta – Fígado;
- [ ] média – Pulmões, Rins, Intestino;
- [ ] baixa – Pele, Testículos, Placenta, Adrenais;
- [ ] muito baixa – Sistema Nervoso.

As alterações metabólicas conduzem a:


- aumento da polaridade, hidrossolubilidade e excreção renal;
- diminuição da actividade.

O metabolismo envolve 2 tipos fundamentais de reacções:

1. Reacções de Fase I
- São reacções de funcionalização;
- Aumentam a polaridade e alteram os grupos funcionais.

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1.1. Oxidação
- Envolve/exige presença de C, N ou S;
- Catalizada pela Citocromo P450 e por várias oxidases que promovem
reacções de hidroxilação ou epoxidação em vários substratos;
- Oxidases de função mista (requer O2 e NADPH – agente redutor).

Sistemas enzimáticos como a Flavina Monoxigenase, MAO A e B,


Prostaglandina Sintase, Aromatase, Xantina Oxidase são responsáveis por processos
oxidativos sobretudo em substâncias de origem endógena.

1.1.1. Oxidação Alquílica

- Origina álcoois e/ou ácidos carboxilicos.

1.1.2. Oxidação Olefínica

- Origina a formação de epóxidos, que são altamente reactivos e não raras vezes
tóxico/cancerígeno.

1.1.3. Oxidação Aromática

- Leva à formação de fenóis (intermediários: epóxidos).

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1.1.4. N-Oxidação

- Libertação de cetona ou aldeído;


- N-desmetilação / N-desalquilação oxidativa.

- Semelhante para fármacos com S (são raros).

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1.2. Redução
- Envolve/exige grupos carbonilo, nitro, azo ou sulfóxido.
- Catalizada por várias reductases e são reacções mais raras que as
oxidações.

- Cetorredutases: transformação de cetona em álcool.

- Azorredutases (no caso do Prontosil – 1º pró-fármaco): transformação de grupo azo


em grupo amina.

- Nitrorredutases (no caso do Cloranfenicol, que é um antibiótico): transformação de


grupo nitro em amina.

- Sulfóxidorredutases: transformação de grupo sulfóxido em tioéter.

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1.3. Hidrólise
- Envolve/exige ésteres ou amidas e as reacções são catalizadas por esterases
e amidases consoante o substrato (estas últimas promovem as reacções de uma
forma mais lenta).
- Os ésteres originam um álcool e um ácido carboxílico.
- As amidas originam uma amina e um ácido carboxílico.

2. Reacções de Fase II
- São reacções de síntese.
- São reacções de conjugação (da molécula do fármaco ou de um seu
metabolito da Fase I com uma molécula endógena polar (ácido glucurónico, sulfato,
aminoácidos, glutationa).
- Há fármacos que não precisam de fase I.
- Catalizadas por várias transferases.

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Substrato (xenobiótico) Reagente Endógeno Reacção de Conjugação
Ác. carboxílicos, álcoois,
Ác. glucurónico Glucuronidação
fenóis, aminas
Álcoois, fenóis, aminas Sulfato Sulfatação
Aminas Acetil-CoA Acetilação
Fenóis, aminas, tióis S-adenosinametionina Metilação
Ác. carboxilicos Glicina, glutamina
Epóxidos, óxidos de areno,
compostos clorados, glutationa
quinona-imina

2.1. Glucuronidação
- É das mais frequentes;
- Enzima: UDP-glucuronosiltransferase.

2.2. Sulfatação
- Enzima: sulfotransferase;
- Ocorre no ácido salicílico.

2.3. Acetilação

2.4. Metilação

Processos metabólicos são estereosselectivos

Consequências:
- Moléculas aquirais podem ser transformadas em metabolitos quirais;
- Dois enantiómeros podem dar origem a dois metabolitos diferentes, por
passos metabólicos diversos;
- Um racemato pode sofrer metabolismo como se se tratasse de 2
xenobióticos, em que cada enantiómero tem a sua farmacocinética e farmacodinâmica
própria.

29
Caso: Propanolol (quiral; racemato)

Por via oral, o produto final é o da via 2 (porque sofre metabolização de 1ª


passagem).
Via 2 é mais selectiva para enantiómero R; vias 1 e 3 são mais selectivas para
enantiómero S.

Locais de Metabolismo:
- Fígado;
- Rins e Intestinos (Fase II);
- Sangue e Plasma (hidrólise de amidas e ésteres).

Factores que afectam o metabolismo

1. Dose

- Dose exagerada – metabolitos tornam-se tóxicos (porque o conjugante


endógeno normal foi esgotado); ocorre um novo tipo de conjugação.
- No caso do Paracetamol, uma overdose conduz a uma saturação, em que a
formação de metabolitos tóxicos leva a hepatotoxicidade.

2. Via de Administração

- No caso da administração oral, por acção da microflora intestinal, das


enzimas digestivas e devido ao efeito da 1ª passagem no fígado leva a circulação
sistémica (baixa concentração).

Exemplo:

30
3. Idade

- A acção de algumas enzimas varia de acordo com a idade.

4. Certas Patologias

- Sobretudo patologias hepáticas;


- Dificuldades de previsão da influência na excreção de fármacos.

5. Interacções com outros fármacos

- Competição para o mesmo sistema enzimático;


- Muitos fármacos são capazes de inibir/induzir o metabolismo de outros
fármacos;
- Interacções fármaco-fármaco;
- Inibição do metabolismo (por destruição do citocromo P-450; por formação de
complexos inactivos com o citocromo P-450).

6. Factores Genéticos

- Diferenças individuais na expressão de isoenzimas (ex: 3A4 do Citocromo P-


450).

7. Espécie

- Variações quantitativas na Fase I (velocidade);


- Variações qualitativas na Fase II.

8. Sexo

- As enzimas metabólicas actuam de forma diferente em homens e mulheres


(alguns antibióticos, cardiotónicos, analgésicos),

31
DESCOBERTA DE UM COMPOSTO LÍDER…

Bioensaio

- Meio de determinar, num sistema biológico e em relação a um composto controlo, se


o composto em estudo possui Actividade desejada e qual a sua Potência;

Efeito biológico Dose do fármaco requerida para produzir


ou farmacológico um efeito específico de dada intensidade
pretendido quando comparado com um padrão de
referência.
Quanto maior a afinidade fármaco-alvo,
maior a potência

- Iniciados em testes in vitro, podendo também ser executados testes in vivo.

Metodologias para Obtenção de Novos Fármacos

1. Extracção a a partir de fontes naturais;


2. Síntese (ureia foi o 1º composto orgânico a ser sintetizado).

1. Produtos Naturais
- Origem vegetal (mais significativa);
- Origem marinha;
- Compostos de bactérias e fungos (ex: penicilina);
- Venenos e toxinas de origem animal.

Metabolitos secundários de origem vegetal

Usados tal e qual ou


servindo de modelo.

Extraído a partir da Vinca - (Catharantus roseus)

32
TAXOL
Actua a nível dos microtúbulos, apresentando act.
antitumoral.
Foi isolado em 1969 e introduzido na terapêutica
em 1994. Extraído a partir do Teixo (Taxus
baccata).

Metabolitos secundários de fungos

PENICILINA

Toxinas
(+) - Epibatidina é líder para analgésicos fortes. É obtida através de uma
espécie de rã.

Venenos
O veneno da jararaca (uma serpente), formado por péptidos, podem ser
usados enquanto agentes anti-hipertensores, tendo uma actividade inibitória sobre a
ECA.

Metabolitos secundários de origem marinha


As Briostatinas são lactonas macrocíclicas obtidas a partir de uma esponja
marinha. Em monoterapia não exercem actividade anti-cancerígena. Contudo,
associada ao Taxol, parece aumentar a actividade anti-cancerígena deste em certos
tipos de cancro, nomeadamente cancros da mama, ovário e pulmão.

33
Os produtos naturais podem portanto ajudar a resolver problemas no
reconhecimento molecular.

2. Síntese

Há 3 métodos sintéticos:

2.1. Síntese Clássica


Envolve vários passos e muito controlo das condições experimentais.

2.2. Síntese Biomimética


Visa mimetizar o que ocorre na natureza (fornecedora de blocos construtores
chave), envolvendo controlo mais brando das condições reaccionais, menos etapas e
maiores rendimentos.

Exemplo:
Kielcorinas (xantonolignóides) = Xantona + álcool
E nvolve reacções de acoplamento oxidativo.

De 10 kielcorinas iniciais, depois do bioensaio, foi obtido um composto “hit”,


que apresentava quiralidade, que por cromatografia, sofreu posteriormente bioensaio
quer do racemato, quer de cada enantiómero, para o estudo da inibição do
crescimento de linhas celulares tumorais humanas.

2.3. Síntese Combinatória


A química combinatória tem por finalidade a obtenção de bibliotecas de
compostos através da síntese de todas as combinações possíveis de um conjunto de
pequenas moléculas (blocos construtores). Podem ser aplicadas tecnologias de
robótica para química em fase sólida ou solução, assim como equipamento para de
alta eficiência (“high-throughput”) em purificação.

34
- Processo mais rápido e mais barato;
- Sabe-se a estrutura o que nem sempre ocorre em extractos naturais;
- A síntese em fase sólida usa resina insolúvel à qual se liga o produto final;
- Pode envolver síntese em conjunto ou em paralelo (individual mas
simultânea).

NOVOS FÁRMACOS

Serendipismo
- Descobertas “acidentais”.
- É o caso da descoberta das penicilinas, por contaminação de uma placa com
Staphylococcus aureus com Penicillium notatum.

Estratégias para Descoberta de Novos Fármacos

1. Clássicas
As estratégias clássicas usam moléculas naturais como modelo para novos
fármacos. É o caso da utilização da morfina, a sua conversão em Meperidina, entre
outros analgésicos opióides; e da cocaína, cuja conversão em Procaína leva à
obtenção de um anestésico local.
Pode ocorrer Screening de intermediários de síntese, que possuem
“semelhança molecular” com os compostos bioactivos e que são sujeitos a ensaios
biológicos e/ou farmacológicos. Ocorre por exemplo na conversão de quinazolina
(benzodiazepina) em clordiazepóxido, que é um tranquilizante. Deste composto foi
desenvolvido o Diazepam (Valium®).
Outra estratégia é a melhoria de fármacos já existentes, na qual, conhecendo-
se o princípio activo, se desenvolvem-se novas moléculas, tendo por principais
objectivos aumentar a potência, melhorar a especificidade e aumentar a segurança.
Geralmente há 3 tipos de intervenção que podem ser efectuadas em fármacos já
existentes:
1. Pequenas alterações – mascarar sabor, novas formas de administração,
aumento da duração da acção, aumento da potência (novas moléculas Pró-fármacos);
2. Exploração dos efeitos laterais – desenvolvimento de novas moléculas com
a mesma aplicação terapêutica e menos efeitos secundários ou a transformação de
um efeito secundário numa aplicação terapêutica útil;
3. Fase I das vias metabólicas – com origem de novos compostos bioactivos
(metabolitos activos).

O conceito de “Mee too drugs” surgiu pela utilização de fármacos


desenvolvidos por outras empresas farmacêuticas como compostos líder de série,
para o desenvolvimento de novos fármacos.

35
A exploração dos efeitos secundários levou ao aparecimento de inúmeros
fármacos, tal como a Tolbutamida (a partir da Carbutamida), de anti-hístaminicos H1
clássicos (Fenbenzamina, Prometazina, Difenidramina), assim como do Sildenafil
(Viagra). Este último foi inicialmente concebido como agente anti-hipertensor e
antianginoso inibidor da fosfodiasterase (PDE-5), contudo não mostrava os efeitos
desejados durante os ensaios clínicos.

Mecanismo de acção do Sildenafil:

O Viagra apresenta uma estrutura semelhante ao cGMP:

A utilização da Fase I de vias metabólicas como origem de novos compostos


bioactivos consiste na utilização dos metabolitos activos resultantes do metabolismo
de Fase I de um fármaco como origem de novos fármacos (é o caso de
antidepressivos tricíclicos Imipradina => Desipramina; e das benzodiazepinas).

36
2. Planeamento Racional
Este baseia-se na estrutura da pequena molécula ou na estrutura da
biomacromolécula, implicando o conhecimento a nível molecular dos processos
fisiológicos e bioquímicos associados a uma dada patologia e envolve ensaios in vitro
e in vivo adequados e fiáveis.

Só é possível devido a avanços em diferentes áreas, tais como a Biologia


Molecular, técnicas cristalográficas de alta eficiência, fontes de synchroton de alta
energia, RMN, Química Combinatória, screening de alta eficiência e Química
Computacional.

2.1. Planeamento racional baseado na pequena molécula


- Inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) como agentes anti-
hipertensores (veneno da jararaca).

37
Angiotensina II é o agente hipertensor e o veneno contém péptidos que
impediam a formação desta, nomeadamente o teprotide (9 aa). A ECA é uma
zincometaloproteinase difícil de isolar. Usando o teprotide como líder de série, chegou-
se ao fármaco Captopril, IECA de natureza não peptídica e o primeiro a poder ser
administrado por via oral.

2.2 Planeamento racional baseado na biomacromolécula


Este tipo de planeamento necessita de um conhecimento prévio da estrutura
tridimensional do alvo, para estudo da topografia das superfícies complementares dos
ligandos e das respectivas proteínas alvo, para assim ser possível sintetizar
compostos optimizados para formar melhores interacções, permitindo uma maior
potência e selectividade.

O planeamento racional levou ao desenvolvimento de antivirais baseados na


estrutura do ácido siálico, que fossem reconhecidos pela neuraminidase mas que a
bloqueasse, que levou à obtenção de fármacos como o Zanamavir (Relenza®) e o
Oseltamivir (Tamiflu®). O Zanamivir é administrado por inalação por ser muito polar.

O planeamento racional utiliza ferramentas como a Química Computacional, a


Cristalografia de Raios X e a RMN (permite saber se há interacção).

38
ESTRATÉGIAS E METODOLOGIAS
DE MODIFICAÇÃO MOLECULAR

Modificação Molecular:
Pode ser usada para:
- tornar um “hit” em líder;
- optimizar um líder;
- proceder a estudos de relação estrutura-actividade;
- contribuir para a identificação do farmacóforo;
- modular a actividade de um fármaco (aumentar a potência, alterar
sabor, modificar biodisponibilidade ou farmacocinética, etc).

Métodos de Modificação Molecular:


1. Simplificação
2. Associação
2.1. Adição Molecular
2.2. Replicação Molecular
2.3. Hibridação Molecular
3. Replicação Moduladora

1. Simplificação (variação estrutural disjuntiva)


- Moléculas de complexidade estrutural significativa, principalmente de origem
natural;
- Visa eliminar componentes que não interessam, não alterando o farmacóforo;
- Envolve muitas vezes a supressão de anéis.
Através da optimização molecular, podemos melhorar as propriedades de
compostos com baixa actividade e baixa selectividade.

2. Associação Molecular
- União de duas estruturas com uma determinada actividade com o objectivo de
a potenciar;
2.1. Adição Molecular
- Implica a associação de moléculas diferentes por ligações débeis, de
natureza electrostática.
2.2. Replicação Molecular
- Envolve a associação covalente de unidades idênticas.
2.3. Hibridação Molecular
- Associação covalente de duas ou mais unidades diferentes.

3. Replicação Moduladora
- É a estratégia mais frequente;
- Substituição ou introdução de determinados grupos, segundo critérios
determinados, tendo como base um composto líder;
- Alteração das propriedades físico-químicas dos compostos (pka, polaridade,
flexibilidade).

Critérios Clássicos para a Modificação Molecular


1. Abertura e formação de anéis;
2. Introdução de ligações duplas;
3. Homologia;
4. Introdução de grupos volumosos;
5. Isosterismo

39
No planeamento de análogos é importante considerar:
- Evitar introduzir demasiadas modificações na molécula líder simultaneamente;
- Alterações estruturais simples na molécula líder originam informação útil;
- A acessibilidade sintética das moléculas.

1. Abertura e formação de anéis

Uma cadeia fléxivel, por anelação, pode apresentar a mesma actividade, mas
está mais rígida.
A abertura de um anel geralmente leva a alteração da actividade.

2. Introdução de insaturações
- Aumento da rigidez molecular;
- Modificação das propriedades físico químicas;
- Possibilidade de alteração das propriedades farmacológicas.

Prednisona Complexo mais estável


com o receptor.

Princípio da Vinilogia
Dois substituintes (X e Y) unidos por uma cadeia vínilica, polivinílica ou anel
benzénico comportam-se, sob o ponto de vista electrónico, como se estivessem
unidos directamente.

O grupo vinilo ou combinações deste pode(m) transmitir os efeitos electrónicos


característicos de grupos conjugados – Efeito de Ressonância.

40
Quando a acção farmacológica está ligada ao efeito electrónico, a actividade
mantém-se nos vinílogos do composto de referência.

Interrupção da conjugação

3. Homologia
Série homóloga: uma série de compostos que diferem uns dos outros por uma
unidade repetida, geralmente um grupo metileno.

A actividade farmacológica pode ser alterada se a homologia afecta uma parte


da molécula que participa na união ao receptor.

4. Introdução de grupos volumosos


Relação Agonista Antagonista

- Há diminuição da potência, ligação com reconhecimento molecular mas não


vai elicitar a resposta biológica correspondente.

41
5. Isosterismo
Numa molécula activa, a substituição de um átomo ou grupo de átomos por outro que
apresente um arranjo electrónico e estérico comparável é baseada no conceito de
isosterismo.

Isosterismo Clássico:

O conceito de Langmuir (1919) – duas moléculas são consideradas isostéricas


se contêm o mesmo número de átomos e o mesmo número e arranjo de electrões,
apresentando propriedades físico-químicas semelhantes:
O2-, F-, Ne, Na+, Mg2+, Al3+ → 1 átomo, 8 electrões de valência.
ClO4-, SO42-, PO43- → 5 átomos, 32 electrões de valência.

Isósteros isoelectrónicos: -C=O e - N=N - ; CO2 e NO2

O conceito de Grimm (1925) – “Lei de Deslocamento de Hidreto” – um


determinado átomo será isóstero de uma espécie que resulta da adição de hidreto
(H: -) ao átomo que o precede no sistema periódico.

O conceito de Erlenmeyer (1932) – Expansão do conceito de isosterismo –


isósteros como “elementos, moléculas ou iões nos quais as camadas periféricas de
electrões pudessem ser consideradas idênticas”.

42
Expansões do conceito de isosterismo de Erlenmeyer:
- Todo o grupo de elementos presente numa dada coluna da tabela periódica;
- Grupos que, à primeira vista, parecem totalmente diferentes mas, que na
prática, possuem propriedades similares (-Cl, -CN, -SCN);
- Equivalentes anelares.

Conceito de Bioisosterismo
- Friedman: “Bioisósteros são compostos que correspondem à definição mais
larga de isóstero e têm o mesmo tipo de actividade biológica, mas que exibam
propriedades opostas (antagonistas)”.
- Thornber: “Bioisósteros são grupos de moléculas que têm semelhanças
químicas e físicas e produzem, de um modo geral, efeitos biológicos similares”.

Conceito actual de Isosterismo


O principal conceito para isosterismo é que duas moléculas isostéricas devem
apresentar volumes e formas semelhantes ou idênticas.
Os isósteros são muitas vezes mais semelhantes nas suas propriedades
biológicas que nas suas propriedades físicas e químicas.

Isosterismo “Não Clássico”:


Aspectos a ter em consideração:
- Posição relativa de certos grupos;
- Densidade electrónica;
- Acidez, solubilidade, capacidade de ligações de H;
- Tridimensionalidade.

Modificações Isostéricas mais frequentes


1. Substituição de átomos ou grupos univalentes

2. Substituição de átomos ou grupos bivalentes

Análodos de
Meperidina
(Hipnoanalgésico)

43
3. Substituição de átomos ou grupos trivalentes
- Antidepressivos tricíclicos

4. Equivalentes anelares
- Sulfonamidas antibacterianas

- Anti-histamínicos H2

5. Substituição por grupos com efeitos polares similares


5.1. Da função do ácido carboxílico

5.2. Da função éster


- Anestésicos locais

Procaína Procaínamida

44
5.3. De amidas e péptidos

5.4. Inversão da posição de grupos funcionais


- Anestésicos locais

45
Alterações resultantes de Substituições Isostéricas
1. Parâmetros Estruturais
Respeitantes à forma global da molécula, são importantes quando a porção da
molécula envolvida na substituição isostérica serve para manter determinados grupos
funcionais numa geometria particular.

2. Parâmetros Electrónicos

Relacionados com a natureza das interacções ligando-receptor alvo, através de


efeitos indutivos, polarizabilidade e capacidade de formar ligações de hidrogénio.

3. Parâmetros de Solubilidade
Quando o grupo funcional envolvido na mudança isostérica desempenha um
papel importante na absorção, distribuição e excreção da molécula activa, é preciso ter
em atenção os parâmetros hidrofilia-lipofilia.

Assim, a abordagem do isosterismo só tem interesse se tiver por consequência:


- Aumento da potência, selectividade e melhoria da disponibilidade e/ou;
- Diminuição da toxicidade e efeitos laterais indesejáveis.

Modificação Molecular – caso prático

HIT

46
Adição de grupos lipofílicos volumosos.

Formação de anéis melhora actividade e


ligações duplas contribuem para
aumentar a planaridade da molécula.

47
MODULAÇÃO FARMACOCINÉTICA

Ex: lipófilo em
solução aquosa.
Ex: acumulação
em tecidos não
terapêuticos.

Pró-Fármacos

Enzimática ou
Química (ex:pH)

Pró-fármaco é…
- qualquer composto que sofre biotransformação antes de exibir a respectiva
actividade farmacológica;
- considerado como fármaco contendo grupos “protectores” não tóxicos,
usados de uma forma transitória, para alterar ou eliminar propriedades indesejáveis da
molécula base.

Há 3 tipos fundamentais de objectivos - Farmacêuticos, Farmacocinéticos e


Farmacodinâmicos:

48
Melhor aceitabilidade

Melhor biodisponibilidade

Efeito de 1ª passagem.

Relaciona efeito terapêutico


com efeito tóxico.

Tipos de Pró-Fármacos
- Com Carregador
- Bipartido Mútuo
- Tripartido O fármaco é obtido in vivo
- Bioprecursores

Pró-Fármaco com Carregador


- Contém na sua constituição uma ligação temporária de um dado composto
activo com um grupo carregador, que leva a uma mlehoria das propriedades físico-
químicas ou farmacocinéticas, e que pode ser facilmente removido in vivo geralmente
por quebra hidrolítica.
- O carregador, por norma, não é tóxico, é quimicamente estável, de fácil
obtenção e transporta o fármaco até ao alvo adequado.

Exemplos:
- Prontosil;
- Estradiol;
Act. estrogénica

Maior duração da
acção porque há
aumento da lipofilia,
o que dificulta a
absorção.
49
- Cloranfenicol

Antibiótico

Melhor sabor porque


a cadeia alifática
diminui a dissolução
na saliva.

Pró-fármaco Mútuo
- Corresponde à associação numa única molécula de 2 fármacos, geralmente
sinergistas, em que um deles funciona como carregador para o outro e vice-versa.

Exemplos:
- Benorilato

Paracetamol
Ácido
Acetilsalicílico

Pró-fármaco Tripartido
- O carregador está ligado ao fármaco activo por uma ponte química. Ocorre
geralmente quando o carregador é demasiado estável ou demasiado frágil.

50
Pró-fármaco tripartido mútuo
Exemplo:
- Penicilina associada a um inibidor de β-lactamases

Pró-fármacos Bioprecursores
- Não implica ligação a um grupo carregador, mas resulta de uma modificação
molecular de um composto.
- Esta modificação gera um novo composto, com capacidade de ser
transformado metabólica ou quimicamente, sendo o composto resultante o próprio
composto activo.
Via oral Injectável

Apenas 15 a 20% do Pró-fármaco é 18x mais


fármaco seria absorvido hidrofílico.
(baixa biodisponibilidade).
Pró-fármaco aumenta a
absorção.

Obtenção de pró-fármacos

1. Pró-fármacos de ácidos carboxílicos, álcoois e fenóis

Ésteres (Esterases) Éteres (R-O-R)


Modulação da solubilidade Menor hidrofilicidade
e estabilidade

51
Exemplo:
Metilprednisolona (R=H)
- corticoesteróide;
- aumenta lipofilicidade com acetato (R=COCH3);
- aumenta hidrofilicidade com succinato sódico
(R=COCH2CH2COO- Na+).

Tamiflu
- anti-viral;
- pró-fármaco – éster;
- composto activo (g. carboxílico) – maior interacção com receptor.

2. Pró-fármacos de Aminas

→ Muito estáveis (formadas por N-acilação).

→ Envolve enzimas plasmáticas.

Exemplo:
Eritromicina
- tem sabor amargo e é alterada em pH ácido.
- o pró-fármaco, formado por esterificação, leva a um melhor sabor e maior
estabilidade em meio ácido, assim como a uma maior lipofilia, facilitando a absorção.

52
Progabide
- anticonvulsionante;
- pró-fármaco muito lipófilo porque precisa de atravessar a barreira
hematoencefálica.

3. Pró-fármacos de Aldeídos e Cetonas

Exemplo:
PGE2
- havia problemas no armazenamento, uma vez que o composto sólido se
liquefazia;
- a formação de um acetal origina um sólido estável.

Modulação Metabólica

- O metabolismo como base para o planeamento de fármacos menos tóxicos.

O metabolismo oxidativo (Hepático) conduz à formação de intermediários muito


reactivos (epóxidos, radicais livres) que são tóxicos.
Para evitar esta toxicidade há 2 tipos de estratégia:

- Suprimir o metabolismo:
- Fármacos de eliminação rápida; Fármacos “duros”/”Hard Drugs”
- Fármacos resistentes à metabolização.

- Promover metabolismo não oxidativo


Fármacos “brandos”/”Soft Drugs”

53
Obtenção de fármacos “duros”

A finalidade dos fármacos “duros” é obter uma molécula farmacologicamente


activa que seja resistente à biotransformação e excretada sem alteração.

Éster Amida Dificilmente são


hidrolizadas.

Obtenção de fármacos “brandos”

54
Uma forma de evitar/minimizar os problemas de toxicidade relacionados com o
metabolismo oxidativo é através da criação de fármacos activos com o metabolismo
controlável e previsível que originem metabolitos não tóxicos depois de produzir o
efeito farmacológico adequado.
Os fármacos “brandos” funcionam quase como o oposto dos pró-fármacos,
uma vez que o fármaco administrado está na sua forma activa e o metabolismo leva a
produtos não tóxicos.

“Antedrug” é definido como derivado sintético activo localmente que é


desenhado de forma a sofrer biotransformação para a forma inactiva eliminável assim
que entra na circulação sistémica, minimizando efeitos laterais.

55
QUIMIOTERAPIA

Definição:
Utilização de fármacos para combater (matar ou inibir o crescimento)
organismos estranhos (bactérias, parasitas, vírus, protozoários, metazoários) e células
aberrantes (células cancerígenas).
Baseado no princípio da quimioterapia, originalmente o conceito de “bala
mágica” de Ehrlich, sendo que os principais agentes quimioterápicos são:
- Antibacterianos;
- Antifúngicos;
- Anti-parasitários;
- Antivirais;
- Anticancerígenos;
- Imunomoduladores.

Geralmente actuam por inibição de enzimas específicas, intervenientes em


processos de:
- Deficiência/excesso de metabolito (ex: GABA, ácido úrico);
- Infecção por organismos estranhos;
- Crescimento de células aberrantes;
em que a normalização ou destruição da actividade provocam uma melhoria do estado
de saúde.

Assim, a actividade de um fármaco deveria ser de um inibidor “ideal”, capaz de


uma inibição selectiva. Como tal é difícil de encontrar, é necessário explorar as
diferenças entre o microrganismo e o hospedeiro:
- Enzimas únicas, que apenas existem no microrganismo;
- Enzimas compartilhadas, podemos aproveitar quando o hospedeiro possui
uma via alternativa, à qual este recorre quando a via afectada pelo fármaco é inibida,
resultando assim em diferenças qualitativas;
- Propriedades farmacológicas diferentes, resultantes por exemplo do facto de
a enzima ser igual mas o composto ter maior afinidade para a enzima do
microrganismo (diferenças qualitativas).

Estes três pontos são importantes para se entender a toxicidade selectiva,


baseada em diferenças qualitativas ou diferenças cinéticas (esta última ocorre, por
exemplo, nas células cancerígenas, que apresentam um maior metabolismo).

Assim, de acordo com estas características, um agente quimioterápico ideal


apresenta toxicidade selectiva para o parasita (especificidade total para uma enzima
alvo) e é simultaneamente inócuo para o hospedeiro.

As características do fármaco podem ser avaliadas através de:


Índice Quimioterápico = Dose máx. tolerada pelo hospedeiro/Dose mín. terapêutica

Índice Terapêutico = LD50(dose letal)/ED50(dose efectiva)

Os agentes quimioterápicos podem apresentar 2 tipos de efeito: o efeito cida(ex: β-


-lactâmicos) ou efeito stático(ex: sulfamidas, que podem ter efeito cida em doses mais
elevadas). O efeito apresentado depende de vários factores:
- Concentração do fármaco;
- Temperatura, pH;
- Espécie do organismo estranho;
- Fase do crescimento desse organismo.

56
Outro conceito a ter em conta é o conceito de “Reacções Adversas”, que podem ser:
- Alérgicas;
- Biológicas;
- Tóxicas.

Quanto ao Espectro de Acção, este pode ser largo ou estreito.

Para uma mesma dose de fármaco, que deveria ter actividade terapêutica, por vezes
verifica-se a ausência desta actividade. Isto indica que foram desenvolvidos
“Mecanismos de Resistência”, tais como:
- Alteração do uptake do fármaco que pode dever-se, por exemplo, a alteração
da carga da membrana;
- Overprodução ou alteração da enzima alvo;
- Produção de uma enzima destruidora do fármaco (ex: β-lactamases);
- Depleção da enzima que activa o pró-fármaco;
- Overprodução do substrato da enzima alvo (competição impede que o
fármaco iniba a enzima);
- Nova via de formação do metabolito para enzima alvo.

O uso simultâneo de dois fármacos pode levar a efeitos sinergistas, aditivos,


antagonistas, etc. No caso do sinergismo, este tem por principais mecanismos:
- Inibição da enzima destruidora do fármaco;
- Bloqueio sequencial;
- Inibição de enzimas em diferentes fases metabólicas;
- Uso de vários fármacos para o mesmo alvo.

SULFAMIDAS ANTIBACTERIANAS
Em termos históricos, a primeira sulfonamida foi obtida por Gerhard Domagk
em 1935, obtida a partir do Prontosil, utilizado para infecções estreptocócicas). Em
1948 já haviam sido identificadas 4500 novas sulfamidas.

Metabolismo do Prontosil

57
Síntese de Azocompostos

Síntese da Sulfanilamida
1º Passo:
I) Sulfonação da acetilanilida;
II) Formação do cloreto de p-acetamidobenzenosulfonilo.

2º Passo:
Síntese da p-acetamidobenzenosulfonamida.

3º Passo:
Síntese da p-aminobenzenosulfonamida.

58
Nomenclatura das Sulfamidas

Modificações Moleculares (obtenção de análogos)

Os objectivos das modificações moleculares são:


- Melhorar as propriedades farmacocinéticas;
- Aumentar a actividade;
- Diminuir a toxicidade;
- Alargar o espectro de acção;
- Conferir maior especificidade.

Relação Estrutura-Actividade

R1
- Grupo amino na posição para é essencial, pelo que não deve ser substituído;
- Quando num pró-fármaco este é substituído, in vivo tem de estar livre;
- Anel aromático e grupo sulfonamido, sendo que o anel só pode ser para-substituído.

R2
- Forma activa = ionizada;
- Substituição ↑ 2-6 X, monossubstituído por heterocíclicos e aromáticos;
- ↓ sulfona, carboxamida e cetona.

Apresenta um pKa = 6,6 – 7,4.

Análogo das Sulfonamidas

59
- De rápida acção ou acção intermédia (rapidamente absorvidas e eliminadas).

60
As sulfamidas de rápida eliminação são geralmente utilizadas em infecções urinárias.

- De longa duração (rapidamente absorvidas e lentamente excretadas)

- Grupos lipofílicos (metilos, alcoxilos, cloro);


- Não devem ser administrados a doentes com comprometimento renal pois pode
ocorrer cristalúria (formação de cristais nos tubos renais).

- Pró-fármacos (pouco absorvidas).

- Utilizados em infecções intestinais (acção local), colites ulcerosas e redução da flora


bacteriana.
A razão pela qual as sulfas em pró-fármacos são pouco absorvidas pode ser
explicada pelo que se passa com o Succinilsulfatiazol.

In vivo

Substituições no azoto amínico por


grupos benzoílo (hidrofobicidade).

61
Mecanismo de Acção

62
Há cofactores/coenzimas que são importantes para a síntese de piridina (dos
ácidos nucleicos), uma vez que estes transferem um átomo de carbono para a síntese
desta molécula. As sulfamidas vão inibir a produção destes cofactores.
A vantagem do uso destes compostos é que, como pode ser visto pelo
esquema anterior, o Homem apresenta uma via alternativa para sintetizar os
cofactores, pelo que as sulfamidas apresentam uma toxicidade selectiva, uma vez que
a enzima diidropteroato sintetase apenas existe nas bactérias. O
Metotrexato/Trimetropim actua numa enzima comum aos dois organismos, a
diidrofolato redutase, contudo apresenta maior afinidade para a das bactérias, pelo
que a sua acção se baseia em diferenças qualitativas.

O que as sulfamidas fazem é mimetizar o substrato natural (o ácido p-


aminobenzóico – PABA), bloqueando a enzima. Conseguem produzir este efeito
porque as estruturas, características electrónicas e distâncias são semelhantes como
vemos na imagem que se segue:

A imagem que se segue mostra exactamente a acção do composto no centro


activo da enzima diidropteroato sintetase, através do modelo do receptor:

63
Podemos então caracterizar as Sulfamidas Antibacterianas da seguinte forma:
- Antimetabolitos clássicos;
- Similares ao substrato (PABA);
- Inibidores Competitivos (inibição reversível);
- Toxicidade selectiva;
- Actividade bacteriosctática.

Antimetabolitos do ácido fólico:

As principais aplicações terapêuticas desta classe de fármacos são em


infecções urinárias, oculares, intestinais e das mucosas. Apresentam contudo
limitações ao uso, a nível de toxicidade, por provocar cristalúria, danos renais,
hematúria, hipersensibilidade e convulsões por hipoglicemia (teste sensibilidade).
Os principais mecanismos de resistência a este tipo de fármacos consistem no
aumento da produção do PABA, a síntese de diidropteroato sintetase mediada por um
plasmídeo menos sensível e o decréscimo da permeabilidade da membrana celular.

Os efeitos secundários das sulfamidas antibacterianas podem ser aproveitados


na terapêutica. A partir das convulsões por hipoglicemia, através de modificações
moleculares adequadas, foi possível produzir sulfamidas hipoglicemiantes. Por outro
lado, a partir do facto de produzirem alcalinidade da urina, aumentarem a diurese,
provocarem acidose sistémica e aumentarem [anidrase carbónica], e procedendo a
modificações moleculares adequadas, produziram-se sulfamidas diuréticas.

Anidrase Carbónica
Esta enzima é responsável pela manutenção do balanço iónico e aquoso entre
os tecidos e a urina e degrada o CO2.

64
Trata-se de uma metaloenzima, tendo o ião Zn2+ em 4 resíduos de histidina e
ainda uma molécula de água.

Nesta imagem vemos o que ocorre quando a enzima não é inibida. Neste caso,
o Na+ acompanha HCO3-, sendo que este último é reabsorvido, enquanto que o Na+ é
trocado por H3O+ ou K+.

65
Na imagem que se segue vemos o que ocorre quando a AC é inibida, que leva
a diminuição do H+ e HCO3-, sendo que tanto este último e o Na+ não são
reabsorvidos. Ocorre ainda excreção de Na+ (e K+) H2O em grandes quantidades
(efeito osmótico) aumentando portanto a diurese. O HCO3- é eliminado pela urina o
que leva à sua alcalinidade.

Assim, é importante reter que o grupo SO2NH2 livre é importante para a


actividade antidiurética. Por sua vez o grupo NH2 livre é importante para a actividade
antibacteriana.

Os compostos que se seguem são exemplos de sulfamidas inibidoras da AC:

As aplicações terapêuticas deste tipo de compostos são, por exemplo:


- o tratamento do glaucoma (diminuição do humor aquoso e da pressão intra-
ocular, por acção sobre a AC presente nos olhos).
- controlo de certas formas de epilepsia (em combinação com
anticonvulsionantes).

66
Este composto é a Carbutamida, que provoca convulsões por hipoglicemia.
Tornou-se então num composto líder que através de modificações moleculares foi
transformado em sulfamidas hipoglicemiantes (importantes no tratamento da diabetes
tipo II sobretudo).
Estas sulfamidas hipoglicemiantes são também designadas por sulfonilureias,
sendo que da sua metabolização origina a formação de compostos activos (não
administrar a doentes com problemas hepáticos). Dos compostos abaixo, verificou-se,
por exemplo, que a troca de CH3 por Cl aumenta o tempo do composto na corrente
sanguínea.

A relação estrutura-actividade (REA) indica que:


- a actividade máxima é atingida quando R’ contém uma cadeia entre 3 a 6
átomos de carbono;
- substituintes arílicos em R’ originam compostos tóxicos;
- substituintes em R influenciam sobretudo a duração da acção.

O Mecanismo de Acção destes compostos baseia-se na capacidade de


inibirem a saída de K+ e permitir a entrada de Ca2+, que a nível das células β do
pâncreas permite que o ATP passe a cAMP (aumento da relação ATP/ADP) por acção
dos receptores β2 e permite a libertação da insulina.

Actualmente há uma série de compostos em estudo, que são novos análogos


das sulfamidas, com actividade antitumoral e antiviral.

67
Antibióticos β-Lactâmicos
Por definição, os Antibióticos são compostos químicos específicos derivados de
organismos vivos ou produzidos por eles, bem como análogos estruturais obtidos por
síntese, capazes de inibir, em baixas concentrações, processos vitais de outros
microrganismos.

A Classificação dos antibióticos pode ser de duas formas:


1. Mecanismo de Acção:
- Inibidor da síntese da parede celular;
- Inibidores da síntese proteica;
- Inibidores na transcrição e replicação dos ácidos nucleicos;
- Antimetabolitos, como as Sulfonamidas (que são antimetabolitos do PABA e
bacteriostáticas).

2. Química:
- β-lactâmicos clássicos:
- Penicilinas; Estes compostos inibem a
- Cefalosporinas. síntese da parede celular
- β-lactâmicos não clássicos: bacteriana, sendo
- Tienamicinas; Bactericidas.
- Norcadicinas;
- Monobactâmicos;
- Ácido clavulânico.
- Aminoglicosídeos;
- Tetraciclinas;
- Macrólidos;
- Cloranfenicol;
- Quinolonas.

PENICILINAS Naturais

Esta molécula é o ácido 6-


aminopenicilânico (6-APA).
A sua síntese é muito difícil,
devido à existência de 3 C
estereogénicos e uma
grande tensão angular. Os
anéis condensados não são
coplanares (117º).
Contudo trata-se de uma
boa molécula a partir da
qual podem ser obtidos
análogos da penicilina.

68
As penicilinas possuem dois tipos de nomenclatura: sistemática e simplificada.

A influência da tensão anelar e torcional do anel β-lactama é muito importante


na grande reactividade destes compostos. Por exemplo, leva facilmente à abertura do
anel em meio ácido, o que inactiva o composto. Estes compostos apresentam uma
grande sensibilidade aos nucleófilos.

O grupo carbonilo da cadeia lateral é muito importante para a sensibilidade


demonstrada por estes compostos ao meio ácido, que ao sofrer alteração/inactivação
a pH baixo, justifica o facto destes compostos não poderem ser administrados por via
oral.

Assim, as principais reacções de inactivação das penicilinas são:

69
Síntese (ou semi-síntese) do 6-APA:

A benzilpenicilina é um composto de origem natural (penicilina G) que pode


sofrer semi-síntese. Neste processo usa-se a piridina para captar os protões, para que
o pH não desça e degradar o anel β-lactâmico. Ocorre por 4 passos fundamentais:
esterificação, cloração (para haver um bom grupo abandonador), metilação e posterior
hidrólise para obter o 6-APA. A hidrólise enzimática é um processo mais simples e
directo, contudo é menos executado porque tem baixo rendimento, exige a
manipulação de microrganismos potencialmente perigosos e demora mais tempo.

A partir do 6-APA podemos passar à semi-síntese da ampicilina:

Assim, o método químico de obtenção do 6-APA é vantajoso porque elimina a


manipulação de microrganismos, reduz a duração do processo e aumenta o
rendimento.
Em termos de REA, é importante o COOH livre, pois é o local onde se podem
obter pró-fármacos, já que se podem formar sais de ácidos (orgânicos e inorgânicos) e
ésteres.
As modificações moleculares que podem ser feitas para a obtenção de
análogos apresentam várias vantagens, tais como:

70
- diversificar a via de administração;
- melhorar as propriedades farmacocinéticas;
- aumentar a resistência ao pH ácido;
- aumentar a resistência às β-lactamases;
- alargar o espectro de acção.

Os grupos a introduzir em R para atingir


estes objectivos são sobretudo de 3 tipos:
1) Volumosos – por impedimento estérico,
aumentam a resistência às β-lactamases;
2) Electrofílicos – diminuem a reactividade do
carbonilo lateral, permitindo a administração
por via oral, pois aumenta a resistência ao pH baixo;
3) Hidrofílicos – permitem a passagem por canais de purina de Gram -, aumentando o
espectro de acção.

Para a sensibilidade da benzilpenicilina aos ácidos, a tensão do anel é


essencial, bem como o carbonilo altamente reactivo desse mesmo anel. A reactividade
do grupo carbonilo da cadeia lateral também é um factor importante.

A. Penicilinas de Administração Oral.

B. Penicilinas Resistentes às Penicilases (β-lactamases)

71
No caso da Meticilina, embora resistente às penicilases, não é resistente a pH ácido.

C. Penicilinas Resistentes às Penicilases e ao pH ácido

O espectro de actividade de cada penicilina é assim dependente de vários factores;


- estrutura;
- facilidade para atravessar membrana exterior das bactérias Gram -;
- susceptibilidade às enzimas β-lactamases;
- afinidade para a enzima alvo;
- velocidade com que é bombeada para fora da célula (Gram +).
O aumento da actividade contra Gram – é maior quanto o grupo hidrofílico
(NH2, OH, COOH) está ligado ao C7α do carbonilo da cadeia lateral.

Grupos hidrofílicos em C6 da cadeia lateral:

72
1) Aminopenicilinas (Penicilinas de largo espectro)
Estas penicilinas são resistentes a ácidos, não são tóxicas, são sensíveis às β-
lactamases e têm fraca absorção a nível intestinal.

Para melhorar a absorção intestinal são transformadas em pró-fármacos que


depois sofrem a acção de esterases. Não são usados ésteres muito pequenos porque
não impedem a acção de esterases por impedimento estérico em locais inadequados,
mais próximos dos anéis (o que ocorre com ésteres maiores).
Eis alguns exemplos de pró-fármacos da Ampicilina:

A hidrólise que estes pró-fármacos sofrem in vivo pelas esterases ocorre do


seguinte modo:

Os pró-fármacos da benzilpenicilina, caracterizam-se pela introdução de grupos


lipófilos, que diminuem a solubilidade em água:

2) Carboxipenicilinas (Penicilinas de Largo Espectro)


Quando vemos que ocorre a administração da Ticarcilina com o ácido
clavulânico, é porque este é um antibiótico não clássico que destrói as β-lactamases.

73
3) Ureídopenicilinas (também Penicilinas de Largo Espectro)

Em termos de Modificações Moleculares em C3, sabe-se que estas modificam a


Absorção e Libertação do fármaco e que são feitas sobretudo 2 tipos:
1) Sais
- Com bases inorgânicas (sódica e potássica):
- rapidamente absorvidas;
- Com bases orgânicas (procaína e benzaína):
- limitam a solubilidade em água;
- formas “depôt” ou de latenciação, isto é, o fármaco é libertado/usado
quando necessário.

2) Ésteres
- Obtenção de pró-fármacos por esterificação:
- hidrolisados enzimaticamente após absorção pela mucosa intestinal a
fármaco activo.

Em termos de efeitos laterais, aqueles que se verificam mais envolvem:


- reacções alérgicas;
- reacções de hipersensibilidade cutânea;
- toxicidade hepática;
- toxicidade renal;
- perturbações gastro-intestinais.

74
CEFALOSPORINAS
Trata-se do 2º maior grupo, e verificou-se que o composto sintetizado pelo
Cephalosporium acremonium, a Cefalosporina P1 (esteroídica) não tinha actividade
anti-bacteriana.
O segundo composto, a Cefalosporina N (Penicilina N) verificou-se que não
apresentava grande actividade anti-bacteriana.
Por sua vez, a Cefalosporina C, com cadeia lateral distinta das penicilinas, bem
como um anel diferente, embora apresentasse baixa actividade, tinha uma maior
resistência às lactamases a baixo pH, transformando-se no composto líder.

O núcleo mais importante, o 7-ACA, não é sintetizável.


As Cefalosporinas são compostos que apresentam uma tensão angular menor
que as penicilinas, bem como menor reactividade. Seguem um sistema de
nomenclatura semelhante às penicilinas.

As cefalosporinas podem sofrer vários tipos de reacções de inactivação:

75
No caso da inactivação por acção de H+/esterases, verifica-se a redução do
grupo acetoximetilo (bom abandonador), que leva à formação de um álcool ou cetona
(inactivos).

A síntese do 7-ACA e dos análogos de cefalosporinas ocorre do seguinte


modo:

O primeiro passo reaccional para a formação do grupo cloroimino ocorre do


seguinte modo:

A REA deste tipo de compostos indica que o átomo de enxofre não é essencial,
contudo é essencial:
- o anel β-lactama e o sistema biciclo;
- o grupo carboxilato ionizado na posição 4;
- a cadeia acilamino na posição 7;
- a estereoquímica dos grupos e do anel biciclo é importante (cis).

As modificações moleculares executadas nestes compostos têm por objectivos:


- diversificar a via de administração;
- melhorar as propriedades farmacocinéticas;
- aumentar a resistência a pH ácido;
- aumentar a resistência às β-lactamases;
- alargar o espectro de acção.

As substituições em R’’ afectam sobretudo a farmacocinética e metabolismo


dos compostos (r. nucleofílica ou r. de redução), havendo formação de sais e ésteres.
No caso da Cefalotina, a acção das esterases leva à inactivação do composto,
o que implica que hajam modificações moleculares em C3 (1):

76
- Carboiloximetilo
- aumenta a estabilidade metabólica e os níveis séricos.
- Metilo
- aumenta a estabilidade metabólica e a absorção oral.
- Metilpiridínio (Zweterião)
- aumenta a solubilidade em água, diminui a ligação as proteínas plasmáticas e
a absorção a nível intestinal.
- S-nucleófilos
- aumentam a duração da acção.

Podem haver ainda substituições em C7 da cadeia lateral (2):


- Fenilglicilo
- aumenta a absorção oral e resistência a pH ácido.
- Iminometoxilo (oximinocefalosporina)
- aumenta a estabilidade a algumas enzimas β-lactamases.

Há ainda substituições em C7α (3):


- Metoxilo (Cafamicinas)
- aumenta a resistência a algumas enzimas β-lactamases.

O sistema de Classificação das Cefalosporinas divide-as em 4 gerações, que


aumentam gradualmente o espectro de acção:
1) Cefalosporinas de 1ª Geração:

Estes compostos apresentam grande actividade contra Gram + mas mais baixa
para Gram -. A Cefapirina é solúvel em água, sendo administrada por via injectável. A
Cefazolina é usada em profilaxia (cirurgia, transplante).

2) Cefalosporinas de 2ª Geração:
Apresentam maior actividade contra Gram - e actividade variável contra cocos
Gram+.

77
Destes compostos, sabemos que o Cefaclor, por ter um bom abandonador,
pode ser administrado por via oral. Por sua vez, o Cefamandol, tem um bom
abandonador em R2 que confere resistência a esterases. A Cefuroxima, por ter um
furano na cadeia lateral, apresenta resistências às β-lactamases.

3) Cefalosporinas de 3ª Geração:

Em R1, o grupo aminotiazol fica com carga positiva a pH fisiológico, o que


favorece a passagem pelas paredes das Gram – e a afinidade a transpeptidases
também é aumentada. Apresentam ainda grupos que permitem passar canais de
porina em Gram-.

78
4) Cefalosporinas de 4ª Geração:
São compostos de largo espectro, com actividade contra cocos Gram + e
bactérias Gram- (pseudomonas e algumas enterobacteriaceas). Apenas se utiliza a
nível hospitalar. Para os compostos em estudo, é preciso ter em atenção que não
basta a facilidade em atravessar a parede das células por canais de porina, é também
preciso haver afinidade para as transpeptidases.

A Resistência às cefalosporinas está relacionada sobretudo com 3 factores:


- habilidade para atingir a enzima alvo;
- estabilidade para cada β-lactamase;
- afinidade das cefalosporinas para o alvo.

A imagem que se segue trata-se de um exemplo de um antibiótico β-lactâmico


com substituição alostérico, com largo espectro, resistência a β-lactamases e usado
no tratamento da meningite. O grupo metoxilo em C7 é importante na resistência as β-
lactamases. Vemos ainda que CH2 e O pode substituir o S no anel.

Terminamos aqui o estudo dos β-lactâmicos clássicos. A partir daqui entramos no


domínio dos antibióticos β-lactâmicos não clássicos.

1) CARBAPENENOS
São estruturalmente semelhantes às penicilinas, mas apresenta um C em vez
de um átomo de S no anel. Caracterizam-se por ter uma grande reactividade e tensão,
um enxofre na cadeia lateral (em C2 do anel). A estereoquímica dos H é diferente do

79
que ocorre nas penicilinas, sendo que nos carbapenenos é trans. De uma forma geral,
podemos ainda dizer que estes compostos apresentam:
- baixa toxicidade;
- resistência às β-lactamases;
- largo espectro;
- fraca estabilidade metabólica, química, sendo que não é absorvido no trato
gastro-intestinal (TGI).

A imagem que se segue representa a Tienamicina:

Para que os compostos apresentem maior estabilidade, mas preservem a


resistência às β-lactamases, as modificações que sofrem são sobretudo na cadeia
lateral de C2, ao contrário do que se passava nos clássicos.

O Imipeneno apresenta
resistência às β-lactamases e
um largo espectro. A
cilastatina é usada para
conferir resistência às
deidropeptidases.

O Meropenemo (Pseudomonas) apresenta


maior espectro que o composto anterior e é
resistente a deidropeptidases por si. A
especialidade farmacêutica, Meronem, é
utilizada no tratamento de pneumonia,
meningite, infecções intestinais e urinárias.

O Ertapenemo possui resistência às


deidropeptidases, e apresenta um maior
tempo de semi-vida.

2) MONOBACTÂMICOS
São compostos caracterizados pela ausência de biciclo, o que lhes confere
uma menor actividade. No caso da Nocardicina A, esta apresenta actividade

80
moderada, baixa toxicidade e um estreito espectro de acção. Por seu lado o
Aztreonamo é um composto de síntese total, estreito espectro de acção (Gram-
aeróbios) e não é nefro nem
ototóxico.

Uma molécula de grande importância e que é utilizada na terapêutica em


conjugação com vários antibióticos é o ÁCIDO CLAVULÂNICO.

Este composto actua como um “kamikaze”, na medida em que inibe


irreversivelmente as β-lactamases, e uma vez que não apresenta cadeia acilamino,
tem baixa actividade antibacteriana. Para tal existem alguns requisitos essenciais para
esta actividade anti-β-lactamase:
- tensão anelar;
- configuração da ligação dupla Z;
- não apresentar substituintes no C6;
- estereoquímica 2R, 5R;
- ácido carboxílico.

Outra classe de compostos utilizada à semelhante do anterior é a das


SULFONAS.

As sulfonas não apresentam cadeia lateral, têm um grupo sulfona em vez de


um átomo de O, permitem alargar o espectro de actividade e promover a sinergia com
antibióticos e são fortes inibidores irreversíveis de algumas enzimas β-lactamases.

Os esquemas e imagens seguintes mostram como actua o ácido clavulânico


com o centro activo da enzima-alvo.

81
A Penicilina é tão eficaz em inibir a transpeptidação que ocorre na formação
das paredes bacterianas porque mimetiza a D-alanil-D-alanina nessa reacção.

82
A 6-metilpenicilina é mais parecido com D-Ala-D-Ala que a penicilina, contudo
não tem actividade, o que é justificado com o facto de a penicilina não se ligar
directamente ao local activo mas próximo deste, “cobrindo-o”.

Os principais Mecanismos de Resistência aos antibióticos β-lactâmicos estão


relacionados com:
- Barreira física;
- Inactivação enzimática;
- Aumento da enzima;
- Afinidade da enzima alvo para a penicilina (PBP alteradas);
- Alteração da membrana exterior (Bomba de efluxo);
- Mutação genética.

Termina aqui o estudo dos β-lactâmicos (clássicos ou não).

83
TETRACICLINAS

A molécula representada acima é a Clortetraciclina (aureomicina) que


apresenta um largo espectro, sendo usada em profilaxia, infecções e como promotor
do crescimento em animais.

As características físico-químicas gerais referem que:

- derivado do octahidronaftaceno;
- vários centros estereogénicos;
- estabelecem ligações de H intra e intermoleculares;
- propriedades quelantes (quelatam ferro e cálcio, pelo que não se deve beber leite em
simultâneo);
- possuem dois grupos cromóforos (compostos cristalinos de cor amarelada);
- carácter anfotérico (3 constantes de dissociação);
- sensíveis à luz;
- formam sais de ácidos solúveis e estáveis;
- formam sais de bases solúveis e instáveis.

A existência de muitos grupos funcionais leva a uma instabilidade química e é


um ponto-chave para a actividade do composto, porque, por exemplo, a pH intermédio
pode ocorrer epimerização em C4 (tem um H e um grupo dimetilamino), fazendo com
que o composto natural se transforme em epitetraciclina, que tem uma actividade
diminuída (apresenta cerca de 5% de actividade) e ocorre em soluções envelhecidas.
Isto indica que a estereoquímica em C4 é importante para a actividade antibacteriana.

A inactivação de tetraciclinas com grupo OH em C6 pode ocorrer de duas


formas distintas: aromatização em meio ácido ou rearranjo do anel C em meio básico
como demonstra a imagem:

84
Em meio ácido, a aromatização ocorre pelo seguinte mecanismo:

Em meio básico, a inactivação ocorre pelo seguinte mecanismo:

Nas Tetraciclinas de curta duração (de origem


natural) verifica-se a presença de grupos polares e
hidrofílicos, que leva a uma curta duração e baixa
solubilidade lipídica. O Cl que algumas apresentam
funciona como retirador de electrões, o que aumenta a
actividade.

85
A obtenção destes compostos ocorre por fermentação feita por microrganismos
ou por semi-síntese a partir de compostos naturais, para assim obter análogos o que
leva a uma melhoria significativa das propriedades farmacocinéticas, tais como
permissão da administração oral (estabilidade a pH ácido) e aumento do tempo de
semi-vida, surgindo compostos de mais longa duração, classificados num novo grupo.
Todos estes compostos tratam-se de 6-
desoxitetraciclinas, que são mais apolares e
lipofílicas, o que confere estabilidade em meio ácido
e alcalino, faz com que sejam completamente
absorvidas por via oral e aumenta o tempo de semi-
vida.

O N(CH3)2 da Minociclina é um grupo lipófilo que faz com que este fármaco
atinja o SNC.

Em termos da REA das tetraciclinas vemos que tem um arranjo linear de 4


anéis, em que só o D é aromático:

O grupo N(CH3)2
é importante para
formar quelatos com o
Mg2+, importantes no
transporte das
tetraciclinas para o
interior das células.

A Sanciclina é o
grupo farmacóforo
mínimo das tetraciclinas
(6-desoxi-6-
desmetiltetraciclina),
que além dos quelatos
é importante para a
inibição da biossíntese
das proteínas.

86
A má solubilidade das tetraciclinas em água leva à necessidade de pró-
fármacos para administração parenteral e formar fármacos de latenciação, como por
exemplo a Limeciclina e a Rolitetraciclina, que apresentam grupos polares na cadeia
lateral:

As Gliciltetraciclinas são utilizadas em animais e levam à propagação de


resistência, pois embora a introdução de grupos nitro, amino ou hidroxilo em C9
originem compostos com menor actividade, a introdução de grupos N-alquilglicilamido
em C9 retém a actividade antibacteriana. Têm actividade contra bactérias portadoras
de genes responsáveis pelo efluxo dos fármacos e pela protecção ribossomal.

Este último fármaco, o tygacil, actua por ligação do derivado 9-t-butilglicilamido


da minociclina (grupo volumoso) ao ribossoma, mais concretamente à subunidade
30S. A ligação ocorre ou porque a molécula altera a sua conformação para entrar no
ribossoma, ou porque o ribossoma altera a sua conformação.

O Mecanismo de Acção das tetraciclinas deve-se sobretudo a:


- inibição da síntese proteica bacteriana;
- impedimento da associação do aminoacil-tRNA ao complexo ribossomal (subunidade
30S)/mRNA;
- inibição da interacção codão-anticodão no local A dos ribossomas;
- acção bacteriostática (ligaçao reversível ao ribossoma);
- toxicidade selectiva (aumento da concentração do fármaco preferencialmente em
células bacterianas que em células humanas).

Estes fármacos não devem ser administrados em grávidas nem crianças em


crescimento, pois apresenta as seguintes Reacções Adversas:
- irritação gastrointestinal;
- desmineralização óssea (devido aos quelatos que formam com o cálcio);
- hipoplasia da coroa e descoloração dos dentes;
- problemas no crescimento;
- super-infecções (destruição de bactérias da flora intestinal);
- hepatoxicidade;
- toxicidade renal.

87
No que diz respeito aos Mecanismos de Resistência às tetraciclinas:
- mecanismo efectivo de efluxo (por proteínas da membrana plasmática);
- alterações no ribossoma bacteriano provocando menor afinidade para as tetraciclinas
(sobretudo metilação ribossomal).

AMINOGLICOSÍDEOS

Tratam-se de açucares com grupos amino ou não, ligados entre si por ligações
glicosídicas.

A Estreptomicina foi o 1º aminoglicosídeo a ser usado na terapêutica.

As Propriedades Físico-Químicas dos Aminoglicosídeos são:


- apresentar características básicas;
- a pH fisiológico existem em policatiões;
- formam sais cristalinos de ácidos inorgânicos (sulfatos e cloridratos);
- não são absorvidos no TGI.

A Resistência a estes antibióticos está sobretudo relacionada com a actividade


de enzimas:

Assim, as 3 reacções mais prováveis de ocorrer são a O-fosforilação pela


fosfotransferase, a N-acilação pela aminoacetiltransferase e a O-adenilação pela
nucleotidiltransferase.

88
Os níveis de resistência dependem:
- microrganismos;
- estirpe individual;
- quantidade de enzima produzida;
- eficiência catalítica;
- tipo de aminoglicosídeo.
Contudo o que se verifica é que dos 3 tipos de enzimas, apenas as fosfotransferases
produzem níveis elevados de resistência.

Dentro desta classe de antibióticos temos as Canamicinas A, B (mais potente,


mas sujeita a todas as inactivações) e C (muito menor potência).

É um composto de origem natural, com aplicação tópica


(inf. pele) e administração oral (deprime flora entérica no
pré-operatório da cirurgia do cólon). Sofrem ainda ataque
das enzimas bacterianas.

Este último parágrafo pode


também ser aplicado a outro tipo de
fármacos que também se incluem nesta
classe de antibióticos, a Neomicina.

89
Existem ainda as Gentamicinas, que são mais resistentes a algumas enzimas,
uma vez que não possuem OH em C3 e C4 do anel I e têm um OH em posição axial
no anel III. São compostos de origem natural, utilizados em infecções sistémicas e
usados por aplicação tópica
(dermatologia e oftalmologia).

Os objectivos das Modificações Moleculares nestes compostos são:


- aumentar a actividade antibacteriana;
- diminuir a toxicidade;
- obter novos modelos moleculares resistentes às enzimas bacterianas
A estratégia para obter tais vantagens consiste em eliminar alguns dos grupos
funcionais sensíveis ao ataque enzimático e introduzir grupos que inibam algumas
dessas enzimas, nomeadamente por impedimento estérico.

A REA, baseada na comparação entre os AMG naturais e de semi-síntese, dita


o seguinte:

Importante relembrar que o Anel I era o que sofria mais ataques, e a acilação
no anel II tem por vantagem o impedimento estérico. Podemos então comparar dois
compostos, um de origem natural (Tobramicina), utilizado em infecções sistémicas e
aplicado topicamente e outro de semi-síntese (Netilmicina), utilizada também em
infecções sistémicas.

90
Na Netilmicina, o grupo etilamina impede inactivação por enzimas
(impedimento estérico).

A Amicacina é obtida por semi-síntese a partir da Canamicina A e utilizada em


infecções sistémicas. Sofre uma acilação em 1-NH2.

Um composto mais recente é a Isepamicina, ainda não comercializado em


farmácia comunitária, que é um aminoglicosídeo de largo espectro, com alto nível de
estabilidade às enzimas inactivantes, com baixa toxicidade a nível renal e do ouvido
interno e que só deve ser utilizado em infecções por microrganismos resistentes à
Amicacina (1 dose diária).

O Mecanismo de Acção desta classe de antibióticos deves-se às seguintes


características:
- inibidores da síntese proteica;
- a pH fisiológico têm carga positiva, que permite ligação iónica com o LPS que
vai deslocar iões Ca2+ e Mg2+, o que permite o rearranjo do LPS formando canais para
atravessar a membrana exterior;
- os aminoglicosídeos ligam-se à subunidade 30S ribossomal;
- induzem uma leitura errada da mensagem codificada no mRNA;
- formação de proteínas anómalas que se integram na membrana
citoplasmática bacteriana, alterando-lhe a sua permeabilidade;
- bactericida de largo espectro;
- toxicidade selectiva (sobretudo de diferenças qualitativas).

91
Os Mecanismos de Resistência desenvolvidos pelas bactérias são sobretudo:
- impermeabilização da membrana exterior das bactérias Gram-;
- impermeabilização da membrana citoplasmática (anaérobios estritos são
intrinsecamente resistentes);
- inactivação enzimática (menor afinidade para a subunidade ribossomal 30S);
- alvos ribossomais alterados (metilação ribossomal).

Os efeitos adversos mais comuns são nefrotoxicidade, ototoxicidade e rash


cutâneo. Pode também ocorrer febre, mas é muito mais raro. Por vezes utilizam-se
então formulações lipossomais.

MACRÓLIDOS

Tratam-se de lactomas
macrocíclicas com 12, 14, 15 ou 16
átomos:
- cetona em C1;
- 1 ou 2 aminoaçucares ligados
glicosidicamente ao anel macrocíclico;
- grupo dimetilamino ligado ao resíduo
de açúcar;
- um açúcar neutro ligado ao núcleo
lactónico.

As propriedades físico-químicas características desta classe de antibióticos são:


- sólidos cristalinos;
- bases fracas;
- baixa solubilidade em água;
- formam sais solúveis em água;
- sensíveis a ácidos (porque são bases e têm ligações glicosídicas que quebram);
- estáveis em soluções neutras.

A Eritromicina é utilizada em infecções do trato respiratório, por Legionela,


difteria e no tratamento (tópico) do acne. Trata-se de um composto natural (C 14), com
ef. gastrointestinais e que é usado como composto líder.

As Modificações Moleculares que este tipo de composto sofre têm sobretudo 2


objectivos: aumentar a solubilidade hidro ou lipofilica (administração IV) e aumentar a
estabilidade a pH gástrico (administração oral).

92
Para conferir resistência a pH gástrico, as formas farmacêuticas são revestidas
ou então de libertação prolongada; podem ainda ser formados sais, como o estearato,
com ligação do grupo dimetilamina com o ácido esteárico, e assim obtendo um pró-
fármaco com libertação a nível intestinal. Uma terceira hipótese é a formação de
ésteres, como o etilssuccinato, em que há esterificação do grupo hidroxilo com o ácido
etilssuccínico, formando-se assim um pró-fármaco, que é absorvido a nível
gastrointestinal e na distribuição sobre hidrólise, contudo os produtos desta
degradação aumentam o peristaltismo, apresentando assim efeitos gastrointestinais.

A Espiramicina é um composto de
origem natural, com 16 átomos no anel e 2
aminoaçúcares, que apresenta menor
intolerância gastrointestinal e tem a
particularidade de exibir elevadas
concentrações salivares, o que permite
uma extensa aplicação em infecções da
cavidade oral. É utilizado no tratamento
pré-natal da toxoplasmose.

Outro composto desta classe é a Miocamicina, também


com 16 átomos no anel, muito semelhante à espiramicina e
aplicada em infecções respiratórias e no acne. Este composto
apresente maior actividade contra anaeróbios estritos e contra S.
aureus.

As modificações moleculares podem conduzir aos Macrólidos de 2ª Geração,


que se caracterizam por:
- aumento da actividade antibiótica;
- melhoria das propriedades farmacocinéticas, tais como o aumento do tempo
de semi-vida e o aumento da estabilidade a pH gástrico.
- diminuição dos efeitos gastrointestinais
Estes compostos apresentam actividade reduzida para bactérias produtoras de
resistência a Macrólidos.

Através destas modificações obtiveram-se compostos como a Roxitromicina, com um


grupo oximino em C9 (-C=N-O-), utilizada em infecções do trato respiratório.
Apresenta melhor actividade mas espectro semelhante à Eritromicina, um tempo de
semi-vida de 12h (maior que o da Eritromicina), maiores concentrações séricas e
tecidulares e ainda menores problemas gastrointestinais.

93
A introdução de um átomo de azoto no anel lactónico leva a um aumento da
basicidade e é uma das características da Azitromicina. Este composto apresenta um
tempo de semi-vida de 24h, um espectro semelhante à Eritromicina mas actividade
superior para Gram-, com menores efeitos gastrointestinais. É utilizado no tratamento
de infecções do trato respiratório.

Na molécula da Eritromicina vemos um OH em C6, que permite a formação de


um cetal intramolecular (em meio ácido):

A Claritromicina não tem este OH, o


que impede a formação do cetal, porque há
uma introdução de grupo metoxilo em C6,
que aumenta a estabilidade a pH gástrico,
melhorando a absorção oral. Apresenta um
tempo de semi-vida de 12h e maior
estabilidade gastrointestinal, sendo
utilizada em infecções do trato respiratório
e tratamento de úlceras.

Uma vez que eram desenvolvidas muitas resistências, surgiu a necessidade de


criar um composto mais resistente a estas, como a Telitromicina (quetólido).

94
Este fármaco apresenta um tempo de semi-vida de 24h e é utilizado em
situações de pneumonia, bronquite e sinusite. É preciso ter em atenção os seguintes
pontos sobre esta molécula:
- a cladinose em C3 não é essencial para a actividade e parece ser responsável pela
indução de resistência aos macrólidos de 14 membros e pela bomba de efluxo;
- a introdução de C=O pode impedir a indução de resistência aos macrólidos e
activação da bomba de efluxo;
- estabilidade ao meio ácido (grupo OCH3 em C6) e maior espectro de acção;
- o grupo ciclocarbamato em C11 e C12 ligados à cadeia carbonada e anéis
aromáticos parecem dar resistência à metilação ribossomal, aumento de actividade e
das propriedades farmacocinéticas.

No que diz respeito ao Mecanismo de Acção, estes fármacos:


- são inibidores da síntese proteica;
- ligam-se reversivelmente à subunidade 50S dos ribossomas, bloqueando o local P e
prejudicando a transpeptidação;
- são bacteriostáticos.

Os Mecanismos de Resistência mais comuns a estes compostos são:


- impermeabilização da membrana exterior;
- mutação ribossomal;
- inactivação enzimática (hidrólise, glicosilação e fosforilação);
- alteração enzimática dos ribossomas;
- bomba de efluxo;
- protecção ribossomal.

Os Efeitos Secundários que se verificam mais são:


- náuseas, vómitos, diarreia;
- hepatoxicidade;
- perda de audição transitória (em altas doses);
- hipersensibilidade;
- colite pseudo-membranosa.

CLORANFENICOL

Trata-se de um composto de origem natural (isolado de


Streptomyces venezualae, com 2 centros estereogénicos na
cadeia acilaminopropanodiol e apenas e só o D-(-)-treo-
isómero é activo (levógiro).

Como apresenta 2 C*, apresenta 4 esteroisómeros, numa nomenclatura


semelhante aos açúcares (D ou L). E assim verifica-se que apenas um, o D-(-)-treo,
não tem actividade vestigial mas sim uma grande actividade antibacteriana.

95
A síntese do Cloranfenicol é um processo bastante complexo, que envolve
vários passos:

Algumas notas sobre este processo:


- após a monoacetilação (3º passo) vemos que se procedeu à protecção do
grupo amina, aumento da cadeia com o CH2OH, e no passo seguinte, a hidrogenação
selectiva, vai-se executar a redução do C=O;
- ao obter dois diastereoisómeros (treo e eritro) após o (passo 4), estes têm de
ser separados por cristalização ou cromatografia preparativa;
- a desacetilação (5º passo) é executada para remoção do grupo protector, e
antes de se obter o produto final, é obtida uma mistura racémica, o que exige a
passagem por uma fase estacionária quiral ou reacção com ácido opticamente activo,
para então obter diastereoisómeros, que podem ser separados pelos processos
anteriormente descritos.

O Cloranfenicol tem um largo espectro (Gram + e -, anaeróbios estritos) e é


utilizado em infecções oculares e febre tifóide. Existe sobre diversas especialidades
farmacêuticas (Clorocil, Fenoptic, Micetinoftalmina…) e nos efeitos adversos
destacam-se as alterações hemáticas (nomeadamente anemias aplásicas).

Em termos de Modificações Moleculares executadas neste fármaco, ocorrem


por exemplo no NO2, pois este confere sabor amargo e a sua redução a NO leva a
uma perda de potência (substituição por metilcetona e metilsulfonilo).

96
A formação de ésteres em C3 (não é em
C2 por impedimento estérico), permite mascarar
o sabor e melhorar as propriedades físico-
químicas, formando-se assim pró-fármacos
(formas latentes). Estes por aumento da lipofilia
diminuem a solubilidade em água, que leva a
uma diminuição da afinidade para os receptores
do sabor a nível oral. Sofrem ainda hidrólise no
TGI (por lipases pancreáticas).

Quanto ao Mecanismo de Acção, estes compostos actuam por:


- inibir a síntese proteica;
- ligar-se à subunidade 50S, inibir a transpeptidase e impedindo a transpeptidação;
- impedir a incorporação de aminoácidos na cadeia peptídica em formação;
- acção bacteriostática;
- inibição estereoespecífica (uma vez que só um dos enantiómeros se liga ao
receptor).

O mecanismo molecular de acção do cloranfenicol deve-se à inibição suicida


de enzimas fisiológicas importantes no ciclo evolutivo dos microrganismos e células do
hospedeiro, apresentando potencial toxicofórico (=citotóxico) dependente do
mecanismo de acção, só devendo ser usado portanto em situações de difteria e em
último recurso, uma vez que as enzimas são importantes para microrganismo e para o
Homem.

97
O farmacóforo assinalado a amarelo é instável, pelo que sofre hidroxilação
enzimática in vivo. A consequente formação de um cloreto de ácido leva a que este
ataque o nucleófilo do centro activo da enzima, havendo inibição.

Os Mecanismos de Resistência compreendem sobretudo:


- impermeabilização da membrana citoplasmática;
- mutação ribossómica;
- inactivação enzimática (acetiltransferases).

Os principais Efeitos Adversos verificados são:


- alterações hemáticas;
- hipersensibilidade;
- perturbações gastrointestinais.

QUINOLONAS

São compostos de síntese total, com algumas características, tais como a


existência de mais do que um anel ou o N ter de ser trissubstituído. Dos compostos
abaixo, o ácido nalidíxico é dos que tem maior importância, aplicado sobretudo em
infecções urinárias. Estes compostos levam rapidamente ao desenvolvimento de
resistência.

Como rapidamente são desenvolvidas resistências, as Modificações


Moleculares são essenciais:
- introdução de um átomo de F em C6 (aumento da actividade e passagem pela
membrana);
- introdução de um anel piperazínico em C7 (aumenta a absorção, actividade e
distribuição) (piperazinil, metilpiperazinil, dimetilpiperazinil).
Formam-se assim as 6-fluoroquinolonas, capazes de formar zwiterion que
passa facilmente a membrana. São compostos com largo espectro de acção
(aumentou potência contra Gram- e + e pseudomonas). Houve também melhoria da

98
farmacocinética, porque tornaram-se activas por via oral e são sobretudo usados em
infecções urinárias e sistémicas.

Eis alguns exemplos de 6-fluoroquinolonas:

Todos estes compostos são mais lentos a adquirir resistência. No caso da


Ciprofloxacina, o anel de 3C ajuda a alargar o espectro e o C no 2º anel em vez de um
átomo de N permite diminuir as reacções adversas e aumentar a actividade contra S.
aureus.
Outro composto semelhante é Moxifloxacina, utilizada em pneumonia,
bronquite e sinusite (Avelox e Proflox).

Há ainda um grupo designado de fluoroquinolonas de 3ª geração, que sofrem


sobretudo alterações nos substituintes.

99
O Mecanismo de Acção destes compostos baseia-se no facto de estes serem
inibidores da síntese de ácidos nucleícos, assim como inibidores da topoisomerase IV
e topoisomerase II do DNA bacteriano ou DNA Girase.
O fármaco forma um complexo não intercalante com enzima e DNA, formando
assim um complexo ternário que impede a separação das cadeias de DNA. Isto
conduz a uma diminuição do super-enrolamento, que impede a transcrição, impedindo
a síntese proteica e levando a uma rápida morte celular (Bactericida).

O complexo formado entre topoisomerase, DNA e fluoroquinolonas:

Em que a ligação a enzima pelo O- é por interacções iónicas, enquanto que


pelos R’s são de vários tipos.

Assim, o mecanismo de acção consiste em:


- Inibição da DNA Girase e Topoisomerase IV provoca:
- alterações no DNA;
- diminuição dos super-enrolamentos negativos;
- impossibilidade dos desencadeamentos do DNA circular;
- inibição da síntese de DNA;
- inibição da síntese de RNA e proteínas;
- acção bactericida (morte celular rápida).

Os principais Mecanismos de Resistência são:


- bomba de efluxo;
- alteração das enzimas topoisomerase, com diminuição de afinidade (rara);
- alteração dos canais de porina.

Os efeitos laterais mais verificados são:


- perturbações digestivas;
-rash cutâneo;
- estes compostos são geralmente bem tolerados.

100
ANTINEOPLÁSICOS

Muitas vezes estes compostos são também designados de citotóxicos ou


anticancerígenos, sendo que são utilizados como adjuvantes em cirurgia e
radioterapia.
Um Cancro, também designado de Neoplasma, é caracterizado pelo
crescimento celular anómalo, que apresenta um comportamento invasivo, originando
por vezes metástases.

Quanto à Origem do Neoplasma, estas podem ser de dois tipos principais:


- Externos:
- produtos químicos carcinogénicos no fumo, alimentação e ambiente;
- xenobióticos (fármacos, aromatizantes e antioxidantes);
- viroses;
- radiações e radioterapia.
- Internos:
- falhas genéticas:
- proto-oncogenes convertidos a oncogenes, que produzem proteínas
anormais que aceleram a proliferação celular;
- inactivação de genes supressores tumorais (TP53);
- predisposição genética;
- deficiências do sistema imunitário.

A descoberta de anticancerígenos pode ser empírica, racional ou por


serendipismo, contudo há um grande objectivo que é explorar as diferenças
(bioquímicas, biológicas e metabólicas), sobretudo cinéticas (porque quanto ao resto
as diferenças são mínimas), entre células normais e células cancerosas.
Um exemplo de uma descoberta por serendipismo é a
cis-platina, um antitumoral explorado porque verificou-se que
as células morriam com eléctrodos de platina em amónia,
apresentando propriedades semelhantes aos agentes
alquilantes.
O rastreio ao acaso consiste numa técnica em que
todos os compostos são testados em bioensaios
independentemente das suas estruturas.
O rastreio não casual é uma outra técnica de descoberta de novos fármacos,
em que são testados selectivamente compostos vagamente semelhantes a compostos
pouco activos revelados no rastreio ao acaso, ou então compostos contendo grupos
funcionais diferentes de um composto líder, sendo que este método tem vindo a
substituir o rastreio ao acaso. Pode-se testar ainda o mesmo composto em diferentes
linhas celulares.
Outro método muito importante é a aproximação racional, que parte do
conhecimento do processo fisiopatológico para permitir a escolha correcta do alvo
terapêutico. Para tal é preciso saber do que resulta a doença e os seus sintomas, que
normalmente têm origem no desequilíbrio de um determinado composto no organismo,
ou da invasão por um organismo estranho ou de um crescimento celular aberrante.
O alvo terapêutico, geralmente é um receptor (catalítico, não catalítico, DNA)
que apresenta uma estrutura tridimensional que pode ser conhecida, seguindo um
modelo de “receptor biológico” ou desconhecida, seguindo um modelo de “pequena
molécula endógena”.
O modelo “receptor biológico” compreende um conjunto de técnicas, tais como
a cristalografia de raios X, programas computacionais que tentam construir ligandos
para o receptor e bases de dados com centenas de milhar de compostos e verificar
quais os que se adaptam molecularmente.

101
Pela aproximação racional chegou-se a compostos como os inibidores da
Timilidato Sintetase:

(cofactor)

(composto natural)

Daqui foram obtidos compostos, que tanto podem ser análogos do substrato,
como cofactor.

De seguida foram feitos estudos de cristalografia de raios X do complexo


enzima-CB3717. Verificou-se que as interacções de ligação no local activo eram
sobretudo ligações de hidrogénio e que o anel pteridínico está localizado numa “bolsa
hidrofóbica”.

Foram então efectuadas alterações para criar inibidores não similares aos
substratos naturais, que apresentavam maior actividade e menos efeitos laterais,
devido à inibição de outras enzimas e receptores que usam estes ligandos naturais. A
imagem que se segue trata-se de um inibidor modificado:

102
Existem algumas Limitações da Quimioterapia:
- diferenças subtis entre as células normais e cancerosas;
- células tumorais não são totalmente estranhas ao hospedeiro, pelo que o sistema
imune não reage;
- desenvolvimento de resistência;
- deficiências de irrigação sanguínea na zona tumoral (perfusão no local melhora);
- antitumorais altamente tóxicos.

Contudo, por vezes, há desenvolvimento de Mecanismos de Resistência a este


tipo de fármacos:
- diminuição do uptake do fármaco pela célula;
- aumento da síntese da enzima alvo (não há ligação do fármaco à enzima);
- alteração da afinidade para a enzima alvo (mutação);
- diminuição da actividade do fármaco (pró-fármacos que não são activados);
- aumento da desactivação do fármaco;
- utilização de vias alternativas para a biossíntese de metabolitos (o fármaco
pode ser direccionado para uma só via);
- diminuição da necessidade de determinado produto metabólico;
- aumento da capacidade de reparação do DNA;
- mutações podem aumentar a expressão da glicoproteína (GP) P;
- diminuição de receptores hormonais.

Os Alvos para os anticancerígenos estão relacionados sobretudo com o ciclo


de vida celular:

De um modo geral, na fase G1 são utilizados antimetabolitos, na fase S


agentes alquilantes e nas fases G2 e M são usados inibidores de microtúbulos. É
preciso ter em conta que as células que entram em G0 tendem a ser mais resistentes
à terapia. O quadro seguinte sintetiza a acção dos diferentes tipos de agentes:

103
1) Fármacos com acção directa no DNA

- A Agentes alquilantes (por norma são compostos altamente electrofílicos);


- B Agentes intercalantes (formam ligações reversíveis com bases, alterando estrutura
terciária do DNA);
- C Agentes degradantes (radicais livres que conduzem à quebra do DNA).

A - Agentes Alquilantes:
- Mostardas nitrogenadas;
- Nitrosureias;
- Ésteres do ácido metanossulfónico;
- Mitomicina;
- Cisplatina e análogos (nem sempre considerados porque apenas se ligam
irreversivelmente, não fazem uma verdadeira alquilação).

O gás mostarda utilizado na guerra foi o ponto de partida, na medida em que


ele provocava leucopenia, aplasia óssea, dissolução do tecido linfóide e ulceração do
trato gastrointestinal, ou seja, actuava directamente em células em rápida divisão.
Começou por ser usada a mostarda sulfurada por injecção directa em tumores
humanos, mas apresentada uma elevada toxicidade para uso sistémico, o que levou
ao desenvolvimento de estudos com mostardas nitrogenadas (β-haloalquilaminas
menos reactivas).

A definição de agente alquilante é que este é um composto capaz de substituir


um átomo de hidrogénio por um grupo alquilo em condições fisiológicas (compostos
altamente electrofílicos). Na imagem está representado o mecanismo geral, em que X
é um bom abandonador:

Em baixo estão representados os principais grupos suscéptives a ser


alquilados, sendo que o tiol é o mais reactivo (mais nucleófilo). (recordo que SN1
envolve dois passos intermediários e SN2 apenas um passo).

104
Os locais de alquilação do DNA apresentam uma reactividade controlada por
diversos factores:
- efeitos estéricos (só as bases localizadas nos sulcos maior e menor podem
ser afectadas);
- efeitos electrónicos;
- ligações de hidrogénio (electrões de N ou O apresentam maior
nucleofilicidade, razão pela qual grupos amina das bases são facilmente alquilados).

As bases dos ácidos nucleícos são os locais nucleófilos mais facilmente


atacados, sendo que a N-7 guanina é o maior nucleófilo:

Os agentes alquilantes (bifuncionais) estabelecem ligações cruzadas com o


DNa de 3 formas diferentes: ligação cruzada intracadeia, ligação cruzada intercadeia,
ligação cruzada interhélices:

No que diz respeito às Mostardas Nitrogenadas, o seu mecanismo reaccional é:

105
O mesmo mecanismo pode ser apresentado sob a seguinte forma:

É importante ter em conta que a Mecloretamina tem uma ligação altamente


polarizada, sendo bifuncional, porque apresenta dois grupos cloroetino. Em contacto
com o DNA dá-se um ataque nucleofílico, pois o ião aziridínio é muito instável. Cada
molécula de Mecloretamina forma dois iões aziridínio. No final temos iões amónio
carregados positivamente.

A formação do ião amónio em N7 torna a guanina mais ácida, o que tem


consequências:
- desvia o equilíbrio a favor do tautómero enol;
- emparelhamento com a timina em vez da citosina;
- erros da replicação que levam a alteração na proteína.

A guanina alquilada em N7 é mais susceptível à hidrólise, havendo abertura da


ligação entre a posição 7 e 8, com destruição do núcleo da purina (desguanilação) ou
ruptura guanina-desoxirribose.
Ocorre a reacção dos grupos cloroetil com grupos tiol ou amina de proteínas,
havendo ligação cruzada DNA-proteína.

Assim, o efeito mutagénico e citotóxico deve-se à desguanilação, a erros de


emparelhamento e a funções do DNA comprometidas. Podemos dizer que há
toxicidade selectiva para células em proliferação rápida (selectividade limitada).

Uma das características mais importantes nas mostardas nitrogenadas é serem


agentes alquilantes bifuncionais, isto é, apresentam 2 locais electrofílicos, como já foi
visto. Isto faz com que estes fármacos promovam “cross-linking” do DNA intra e
intercadeias e que sejam mais eficazes que compostos monofuncionais. Contudo é

106
preciso ter em conta que a eficácia destes agentes alquilantes depende de factores
farmacocinéticos, tais como:
- solubilidade lipídica;
- habilidade de penetração no SNC;
- propriedades de transporte através das membranas;
- reacções de destoxificação;
- reacções enzimáticas específicas de reparação dos locais alquilados.

A REA destes compostos é também importante. O principal composto líder é a


Mecloretamina vista anteriormente:

Este composto é utilizado na doença avançada de Hodkgin (terapia de


combinação), apresentando toxicidade selectiva para o sistema linfóide). É instável à
hidrólise, formando um sal sólido seco de preparação extemporânea e perda de
fármaco até ao local de acção, ou seja, o composto alquila ao longo da administração
e distribuição, pelo que não pode ser tomado por via oral, mas sim por via intravenosa.
O fármaco pode então sofrer Modificações Moleculares, nomeadamente
substituindo o CH3 por um grupo retirador de electrões.
- Substituinte arilo;
- diminui nucleofilicidade de N, diminuindo a velocidade de formação do ião
aziridínio, diminuindo por consequência a reactividade;
- permite administração oral, porque a absorção e distribuição ocorre antes de
haver alquilação extensa;
- contudo, esta substituição baixa a solubilidade em água para administração
IV.

- Introdução de arilcarboxilatos (grupo com maior hidrofilia e mais ácido):


- efeito retirador de electrões, leva a diminuição da reactividade.

- Introdução de grupos metilenos entre carboxilato e fenilo (n=3):

- Fenilalanina
- como é precursor da melanina,
pensou-se que poderia ser usado no
tratamento de melanomas, o que não se
verificou;
- verificou-se que era activo oralmente para mielomas múltiplos (juntamente
com inibidores mitóticos), linfoadenoma, carcinoma dos ovários e da mama.

Outras mostardas nitrogenadas utilizadas na terapêutica são:

107
Existem ainda pró-fármacos deste tipo de compostos:

Esta molécula tem um núcleo semelhante ao estradiol, pelo que se difunde facilmente.

Para todos estes compostos, o facto de haver um elevado número de


fosfoamidases em certas células tumorais, explica a sua maior selectividade.
Relativamente à Ciclofosfamida (que não pode ser vista directamente como um
agente alquilante) podemos ver qual o seu mecanismo de acção:

O Cit P450 promove uma reacção de oxidação (adição do grupo OH ao anel).


A Mesna tem grupos sulfonilo o que é importante, porque a Acroleína é um metabolito
muito tóxico para rins e bexiga porque reage com sulfidrilos celulares e assim este tipo
de complicação é evitado.

Deixando as Mostardas Nitrogenadas, passamos a um outro tipo de composto,


a Mitomicina C. Este tipo de fármaco é obtido através das carbinolaminas, é um
antibiótico, e é utilizado em cancro da mama, estômago e bexiga, apresentando

108
contudo grande toxicidade. Sofre alquilação redutora (tumores hipóxicos) e a sua via
de administração é IV.

Quinona Hidroquinona

g. amida sofre nova alquilação do DNA


intercadeias.

A carbinolamina viniloga tem um anel aziridínio cuja importância já foi vista.


A imagem seguinte representa doutra forma o “cross-linking” do DNA pela
mitomicina C:

Um outro grupo de fármacos antineoplásicos alquilantes são os


Metanossulfonatos, que no caso do Bussulfano apresentado na imagem seguinte, é
bifuncional e apresenta um bom grupo abandonador (segue mecanismo SN2) e
promove ligação cruzada intercadeias.

109
Um outro tipo de fármacos alquilantes são as Nitrosoureias, cujo composto
líder é a N-metilnitrosoureia, que não apresenta grande actividade citotóxica:

Daí surgiu a necessidade de se criar análogos 2-cloroetilnitrosureias que


apresentam as seguintes características:
- lipofílicos, pelo que atravessam a barreira hematocefálica (BHE), sendo por
isso usados no tratamento de mielomas e tumores cerebrais;
- fazem alquilação intercadeias entre G-C ou G-G;
- apresentam toxicidade para a medula óssea, porque forma isocianatos que é
um agente carbamoilante.
Eis alguns exemplos destes análogos:

De seguida está representado o mecanismo de acção de uma nitrosoureia:

Um agente inorgânico que também intervém em reacções irreversíveis com o


DNA é a Cis-Platina, que se liga ao N7 da guanina, promovendo reacção cruzada
intracadeia, alterando a conformação do DNA, pois quebra ligações de hidrogénio,
levando ao desenrolamento local do DNA. Inibem ainda a transcrição e impedem a
acção de enzimas reparadoras de DNA, o que acaba por conduzir a uma quebra
permanente do DNA. É utilizado em monoterapia ou juntamente com outros fármacos.
Eis o seu mecanismo de acção:

A Cis-Platina é usada no tratamento de cancro dos ovários e testículos,


contudo apresenta efeitos laterais severos. Esta é a principal razão para terem sido
criados alguns derivados da platina:

110
Os principais efeitos adversos destes compostos envolvem depressão da
medula óssea, nefrotoxicidade, neurotoxicidade, náuseas e vómitos, sendo que são
menos pronunciados com a Carboplatina. No caso da Oxaliptatina, a ciclohexano
impede resistências, mas como torna o composto menos solúvel, houve necessidade
de se colocarem dois grupos carbonilo na molécula.

Outros grupos de compostos são as Dacarbazina e a Procarbazina, que são


pró-fármacos. A Dacarbazina é usada em terapia de combinação em linfoma de
Hodgkin, melanoma e sarcomas (marcada toxicidade). O seu mecanismo de acção é:

O ião metildiazónio que se forma não é citotóxico, sendo mesmo um


intermediário da síntese de bases.
A Procarbazina é utilizada na terapia de combinação de linfoma não Hodgkin,
melanoma maligno e doença avançada de Hodgkin. Os principais efeitos laterais são
náuseas e depressão da medula óssea.

Os Mecanismos de Resistência mais comuns contra os agentes alquilantes são:


- diminuição da entrada de fármaco nas células;
- aumento de enzimas metabólicas (glutationa-S-transferase);
- aumento da reparação do DNA (metiltransferases).

As principais Características dos Agentes Alquilantes são:


- inibidores irreversíveis;
- é possível uma grande variedade de alquilações no DNA/RNA;
- reagem com outras biomoléculas;
- muitos agentes alquilantes são mutagénicos e/ou carcinogénicos;
- geralmente bloqueiam a síntese do DNA;
- são monofuncionais ou bifuncionais (“cross-linkers”);
- os locais mais comuns de alquilação são o N7 da guanina e o N3 da guanina e da
adenina;
- actuam por mecanismo SN1 ou SN2;
- nas reacções SN1 a eliminação ocorre antes do ataque nucleofílico, a velocidade da
reacção é independente da concentração do nucleófilo;
- substituição nucleofílica bimolecular em SN2, em que Y é o nucleófilo e inclui o
complexo ternário activado.

A - Agentes Intercalantes:
Estes agentes intercalam-se sobretudo entre G e C, actuando sobretudo nos
sulcos, com reconhecimento por ligações de hidrogénio. Apresenta algumas
características próprias:
- no mínimo 3 anéis condensados (aromáticos ou heteroaromáticos);
- planares e cromofóricos;
- intercalam no DNA (inserção e acondicionamento entre os pares de bases da
hélice dupla.

111
São fármacos que actuam sobretudo na actividade de enzimas como a DNA
polimerase e topoisomerases.

Alguns destes compostos haviam sido agentes antibacterianos, mas foram


retirados da terapêutica dada a sua citotoxicidade:

Nas antraciclinas, é preciso ter em conta que o anel A forma um ângulo, não
sendo uma molécula totalmente plana.
Um outro composto é a Dactinomicina, de origem natural:

A Intercalação de que estes agentes são capazes, consiste na interacção não


covalente na qual o fármaco é retido perpendiculamente ao eixo da hélice. O
Reconhecimento Molecular que ocorre é por transferência de carga, estabilização por
ligações de hidrogénio, empilhamento π-π e outras ligações electrostáticas e

112
hidrofóbicas. A formação das ligações de hidrogénio é um processo energicamente
favorável (ocorre favoravelmente na sequência piridimidina-3’,5’-purina).
A separação vertical das bases (que geralmente não rompe ligações Watson-
Crick) distorce o esqueleto fosfato-açúcar, alterando a forma da dupla hélice, podendo
haver desenrolamento do DNA. A consequência imediata deste fenómeno é a
interferência com a ligação das enzimas ao DNA (DNA polimerase e Topoisomerase).
Assim, os principais agentes intercalantes são: Acridinas, Dactinomicina,
Antraciclinas e Mitoxantrona.

No que diz respeito às Acridinas, a sua evolução histórica provém dos produtos
laterais da síntese de corantes de anilina (agente antimalárico). Deste criou-se a
proflavina, um antibiótico local usado na 1ª GM (1). Na 2ª GM este havia sido alterado
para a aminoacridina, um antibiótico muito utilizado (2). Mais tarde, foram feitos testes
de análogos anilinossubstituídos da 9-aminoacridina (3) como antineoplásicos, e
verificou-se que um destes análogos, o derivado 3,4-diamino (4) apresentava alguma
actividade, contudo era muito instável (oxidação). Da REA deste composto percebeu-
se a necessidade de um dador de electrões, daí a adição de um grupo sulfonamida,
obtendo-se assim um composto líder (5), uma vez que este apresentava actividade
antineoplásica, ao mesmo tempo que a instabilidade foi ultrapassada.

5
1 4
2 3

Do composto 5, a REA levou a adição de um outro grupo dador de electrões,


um grupo metoxilo.

O Mecanismo de Acção deste composto consiste em o sistema tricíclico planar


e cromofórico intercala no sulco maior do DNA, enquanto que o grupo sulfonamida
intercala no sulco menor. Apresenta um log P, pKa, efeitos estéricos de grupos
volumosos que são importantes para a actividade. As ligações de reconhecimento
molecular mais importantes são hidrofóbicas, emparelhamento π-π, transferência de
carga e ligações de hidrogénio. A sua utilização é em leucemia aguda e linfomas,
contudo apresenta um espectro estrito e dificuldade de formulação, dada a reduzida
solubilidade em água, pelo que se procedeu a estudos de derivados com maior
solubilidade e largo espectro:

113
Outro tipo de agentes intercalantes são as Combilexinas, cujo desenvolvimento
teve por objectivo criar fármacos mais seguros e mais activos. As Combilexinas são
moléculas híbridas (ligandos), com sequência específica, que combina com agente
intercalante, que estabiliza o complexo DNA/combilexina e interfere com a
Topoisomerase.

As Estratégias de obtenção de agentes antitumorais dependem sobretudo do


reconhecimento molecular:
- interacções com as cadeias da dupla hélice;
- especificidade da ligação para as sequências de nucleotídeos;
- cinética associação/dissociação.

Como a neoplasia é uma doença que depende dos genes, os factores mais
importantes para o desenvolvimento de fármacos são:
- interacções fármacos/DNA/proteínas reguladoras do gene (factores de
transcrição e topoisomerases);
- estrutura da cromatina (modelo correspondente ao modelo DNA “in vivo”);
- a forma como as proteínas/DNA pode afectar a ligação (e o próprio
reconhecimento molecular).

Estes agentes, por norma, apresentam então um ligando do DNA no sulco


menor e um ligando cromóforo intercalante no DNA, pelo que podem ser consideradas
moléculas híbridas:
- Pseudopeptídicas:
- maior selectividade para sequências do DNA;
- facilitar a entrada nas células;
- formar complexos/DNA de dissociação lenta, pode mais eficientemente
bloquear as actividades das enzimas reguladoras do gene.
- Cromóforos intercalantes:
- maior afinidade na ligação ao DNA no sulco menor (TA);
- modular as actividades das topoisomerases.

No que diz respeito a uma outra classe, as Antraciclinas, podemos dizer que
são aminoglicosídeos de antraquinonas isolados de varias espécies de Streptomyces
– origem natural (relacionadas com os antibióticos tetraciclinas).
Quanto ao Mecanismo de Acção, o cromóforo tetracíclico orienta-se e intercala-
se no sulco maior nas sequencias de bases de C-G. No sulco menor os substituintes
no açúcar , nomeadamente grupos amina, ligam-se às bases próximas do local de
intercalação. Na forma ionizada estabelece ligações iónicas com as cargas negativas
dos grupos fosfato da desoxirribose, formando um complexo que é estabilizado por

114
transferência de carga e por ligações de hidrogénio (OH e carbonilo do anel A),
geralmente com C e G. Inibem assim a topoisomerase II, a replicação e transcrição
(complexo ternário-fármaco/DNA/topoisomerase).

O que fármacos como a Doxorrubicina fazem é, quando intercaladas com o


DNA, estabilizar o complexo enzima/DNA, quando a topoisomerase se encontra
covalentemente ligada ao DNA “quebrado”. O complexo ternário formado inibe então
processos como replicação e transcrição e quando estão num número excessivo,
resultam em quebras permanentes do DNA, que quando encontradas por DNA
polimerases e helicases envolvidas na replicação, desencadeiam a apoptose. A
imagem que se segue representa a acção normal da topoisomerase II e o 2º complexo
é aquele que é estabilizado pelo fármaco.

A quebra da cadeia de DNA pode ser induzida pela presença de radicais,


através de um mecanismo de transferência de um electrão.

115
Os radicais aniónicos formados, isto é, o superóxido e antraciclina, podem
originar radical hidroxilo, responsável por danos no DNA. Eis as reacções que levam à
formação dos radicais hidroxilo.

Para a actividade destes compostos, é preciso entender o mecanismo de


formação do complexo antraciclina-DNA-ião ferro:
- 1º O complexo férrico pode reagir com o superóxido para originar oxigénio e o
respectivo complexo ferroso:

- 2º Ocorre uma reacção de Fenton (ião ferroso reage com peróxido de


hidrogénio) que gera radicais hidroxilo:

Para haver ligação ao DNA, é preciso haver redução e eliminação do açúcar:

O importante destes fármacos é saber a relação com a topoisomerase, a


formação de radicais e a saída do açúcar e alquilação (mecanismo múltiplo).

A Mitoxantrona é um composto semelhante às antraciclinas, sem anel A (do


qual só tem relevo o OH e o carbonilo) nem açúcar (existe um NH na posição do
açúcar). Surgiu porque se concluiu que o grupo fenólico, o OH, o C=O e o NH é que
são importantes farmacóforos. Tem um mecanismo de acção semelhante às
antraciclinas, ou seja, inibe a topoisomerase.

116
São fármacos usados no tratamento de leucemia e linfomas, em terapia de
combinação no cancro avançado dos ovários e mama e apresentam menor
cardiotoxicidade.

Outro tipo de compostos é a Dactinomicina, com actividade antibacteriana, que


deriva do anel fenoxazona com duas cadeias lactónicas pentacíclicas simétricas. Esta
molécula apresenta elevada toxicidade e é utilizada no tumor testicular e no cancro
disseminado.
A molécula intercala-se no sulco menor e
faz ligação à dupla hélice do DNA. Dependendo
da concentração, pode inibir a síntese do DNA ou
a síntese do RNA, não impede no entanto a
iniciação da cadeia, bloqueando sim o
alongamento. Inibe ainda a topoisomerase.
Exibe fortes ligações de hidrogénio, entre
NH da valina com o C=O de outra molécula de
valina e entre o grupo 2-amino da G e o carbonilo
da treonina. Há ainda uma fraca ligação de
hidrogénio entre o grupo N3 da G e o N da
treonina. Estas ligações contribuem para a
dissociação lenta entre o DNA e a Dactinomicina.

Os principais Mecanismos de Resistência são:


- aumento da expressão da glicoproteína P MDR;
- aumento da actividade reparadora da enzima topoisomerase II;
- aumento da produção de glutationa.

117
Os Efeitos Laterais que se verificam com mais frequência são:
- náuseas, vómitos;
- depressão medular;
- alopéccia (queda de cabelo);
- cardiomiopatia;
- mucosite – formulações lipossomais.

As Bleomicinas são compostos que podemos dizer que são um misto de


intercalante e degradante. São moléculas muito grandes, com diferentes domínios,
que são antibióticos glicopeptídicos isolados de Steptomyces verticillus, mas é
utilizado em cancro de pele, carcinoma testicular e linfomas (terapias de combinação).

A activação do complexo ternário activado depende de uma reacção


enzimática dependente do heme.

118
A formação do complexo ternário activado pode ser iniciado pela transferência
de um electrão de uma segunda unidade do complexo ternário já formado ou pela
redução do NAD(P)H-citocromo P450 redutase.

A Bleomicina (BLM) cinde o DNA. O mecanismo reaccional de quebra do DNA.

A Bleomicina tem de ser activada para que o mecanismo radicalar ocorra e


cinda em C3’-C4’ da desoxirribose.

O Mecanismo de Acção consiste no facto de as Bleomicinas activadas


intercalarem o DNA e:
- originarem radicais hidroxilo;
- quebrarem de forma oxidativa as cadeias da ligação C3’-C4’ (DNA);
- inibirem a DNA ligase (enzima que actua na replicação e reparação do DNA).

A sua utilização é no cancro de pele, carcinoma testicular e linfomas, sendo


que apresente toxicidade elevada para pele e membranas mucosas (resiste às
inactivações metabólicas, contudo a toxicidade medular é menor (pelo que é menos
tóxica que compostos vistos anteriormente).
Na pele e nas membranas mucosas, há uma grande acumulação da
Bleomicina, devido à presença de uma enzima, a bleomicina hidrolase, que degrada
amida e grupo β-aminoalanina, originando ácido junto ao grupo NH2 que se liga ao

119
ferro. Alterando o pH junto deste grupo amina, a ligação com o ferro é enfraquecida,
havendo menor afinidade do ligante, o que conduz a uma menor activação da
Bleomicina.

Existe um Mecanismo de Resistência principal para este composto que


consiste na expressão da enzima referida anteriormente, a bleomicina hidrolase
(aminopeptidase que hidrolisa o grupo carboxamida do substituinte L-
aminoalanilcarboxamida), em que a bleomicina resultante é menos efectiva na
formação dos complexos de bleomicina activada (BLM-Fe(V)=O).

Há ainda compostos, designados de Agentes Não Intercalantes, como os


derivados de Podofilotoxina.

Quanto ao Mecanismo de Acção, estes compostos actuam à semelhança das


antraciclinas, mas não há intercalação:
- estabilizam o intermediário covalente formado entre o 5’- das cadeias de DNA
“quebrado”/Topoisomerase II;
- impedem a formação da ligação fosfodiéster;
- parece ocorrer mecanismo de formação de radical livre (grupo OH em C4’ e o
glucosídeo).

Quanto à Selectividade, estes compostos apresentam maior concentração da


enzima nas células cancerígenas. Os Mecanismos de Resistência são aumento da
expressão de bomba de efluxo e mutações na enzima topoisomerase II.

Deixando a classe de fármacos que danificam o DNA, passamos a um outro


tipo de fármacos:

Fármacos com intervenção na Síntese de DNA:


- Antimetabolitos

São fármacos que actuam sobretudo na fase G1 e S (específicos de fase).


Surgiram por planeamento racional, baseado nos substratos naturais. Apresentam
estruturas semelhantes a metabolitos normais que interferem com a biossíntese ou a
utilização de um metabolito celular normal.
O seu mecanismo de acção baseia-se no facto de serem inibidores
competitivos ou alostéricos, inibindo as enzimas envolvidas na síntese de metabolitos
importantes na biossíntese de DNA ou das purinas e pirimidinas. De uma forma geral,
o que ocorre é a incorporação de um falso bloco construtor em macromoléculas
essenciais.
Os efeitos adversos que podem advir do uso destes fármacos são a inibição da
replicação na medula óssea (depressão da MO) e a forma de obtenção destes
fármacos baseia-se em pequenas mudanças estruturais no metabolito.

120
Segue-se uma listagem do tipo de fármacos considerados antimetabolitos:
1 - Inibidores da enzima Diidrofolato Reductase:
- análogos do ácido fólico: Metotrexato, Aminopterina;
2 - Inibidores da enzima Amidofosforibosiltransferase:
- análogos da purina: 6-Mercaptopurina, 6-Tioguanina;
3 - Inibidores da enzima Timilidato Sintetase:
- análogos da pirimidina: 5-fluorouracilo;
4 - Inibidores da enzima DNA Polimerase:
- Citarabina, Fludarabina;
5 - Inibidores da enzima Ribonucleotido Reductase:
- Hidroxiureia, Gencitabina.

1 – Inibidores da Di-Hidrofolato Reductase (THFR)

Dada a similaridade estrutural, são designados de antimetabolitos do ácido


fólico.
Apresentam um largo espectro, sendo utilizados em cancro da mama, cabeça e
pescoço, bem como linfomas não-Hodgkin.
A sua toxicidade envolve depressão da MO, toxicidade gastrointestinal e
nefrotoxicidade.

O esquema acima representa o Ciclo do Folato. Dado q o dTMP é um substrato


natural, é fácil perceber que a acção do fármaco vai impedir a obtenção deste
composto que é precursor do DNA. O fármaco liga-se a um resíduo de aspartato27 da

121
DHFR, através de um grupo amina, tendo
uma afinidade cerca de 3000 a 100000
vezes maior que com o ácido fólico.
Seguindo o ciclo, percebe-se que isto vai
inibir a THF, inibindo a síntese de
cofactores, que inibe a transferência de um carbono na síntese da pirimidina e
consequentemente inibe a síntese de ácidos nucleicos.
Tratam-se de inibidores competitivos reversíveis (toxicidade selectiva), que
actuam na fase S e G1 do ciclo celular.

Quanto ao metabolismo, os poliglutamatos/metotrexato são acumulados no


interior da célula (glutamato para o interior da célula diminui o metabolismo do
composto).
Os principais mecanismos de resistência adquirida são:
- aumento dos níveis de glutamato;
- aumento da enzima DHFR com decréscimo da afinidade;
- diminuição do transporte através da membrana celular.

2 – Inibidores da enzima Fosforibosiltransferase (AFRT)

Os 2 fármacos representados (6-mercaptopurina e 6-tioguanina) são na


realidade pró-fármacos, que são activados pela HGPRT no interior da célula. Os
monofosfatos são então capazes de inibir a AFRT. As diferenças de acção destes
fármacos deve-se ao facto de a XO existir em menor quantidade nas células
cancerígenas (diferenças qualitativas).
O seu mecanismo de acção consiste na inibição da síntese dos nucleótideos
da purina, e incorporação nos ácidos nucleicos. O que os monofosfatos referidos
anteriormente permitem é:
- inibir a AFRT impedindo a biossíntese de purinas para o DNA;
- serem convertidos nas formas de di e trifosfato (pela guanina quinase), uma
vez que as bases têm de estar na forma trifosforilada e são então incorporadas no
DNA e RNA, como que “enganando-o”;
- pela xantina oxidase, formar os 8-hidroxiderivados, apresentando portanto
toxicidade selectiva.

122
Os principais análogos de
purinas são os representados nestas
imagens, sendo que o primeiro é
usado na leucemia não linfocítica
aguda, enquanto o outro é utilizado
na doença de Crohn, Colite ulcerosa
e Doenças autoimunes (psoríase).
A toxicidade destes
compostos revela-se a nível da
medula óssea, a nível
gastrointestinal e na nefrotixicidade. A resistência que se pode verificar deve-se a
diminuição da enzima HGPRT, que é necessária à activação das tiopurinas.

3 – Inibidores da enzima Timidilato Sintetase (TS)

Estes compostos são os análogos da Pirimidina. O composto mais importante é


o 5-fluorouracilo (FdUMP). É importante então ver onde intervém este composto para
impedir a síntese da dTMP. Para tal, voltamos ao ciclo do folato:

No ciclo está representado


onde actua o FdUMP e os
compostos inibidores da DHFR
vistos anteriormente.
O Mecanismo reaccional de
acção do dUMP é complexo:

123
É preciso ter em conta que, inicialmente há polarização do carbonilo e ataque
nucleófilico. De seguida liga-se um cofactor e forma-se um estado de transição
(enzima TS + cofactor + dUMP) e depois há uma oxidação e uma β-eliminaçao. No
final temos uma hidrólise e obtemos o dTMP (ou seja, o objectivo final deste
mecanismo é a adição de um grupo metilénico do cofactor para o dUMP).

Vimos o que ocorre numa situação normal. Agora é preciso verificar o que
ocorre com o FdUMP. Para tal é preciso ver como ocorre a bioactivação do 5-
fluoruracilo, um pró-fármaco (5-FU).

Agora que vimos como foi obtido o composto activado para inibir a timidilato
sintetase (FdUMP), é preciso verificar como é q ele substituí o dUMP numa situação
normal.

124
O complexo ternário (enzima+cofactor+substrato) numa situação normal sai H+,
com o fármaco teria se sair F carregado positivamente, o que não ocorre, pelo que a
inibição é irreversível.

Em termos de aplicação terapêutica, é vulgarmente aplicado em cancro do


sistema gastrointestinal, no carcinoma colorectal avançado (uso paliativo) e ainda em
cancro da mama, cabeça e pescoço. A adição de MTX (Metotexato) aumenta a
acumulação intracelular de 5-FU activo, podendo ser usado em cancro do ovário,
pâncreas e estômago.
A sua toxicidade ocorre sobretudo nas células de rápida divisão (medula óssea
e trato gastrointestinal). A toxicidade é selectiva, na medida em que é baseada em
diferenças cinéticas, uma vez que células cancerígenas apresentam actividade
aumentada da TS. É também baseada em diferenças qualitativas, uma vez que há
enzimas degradantes do 5-FU em maior quantidade nas células normais.

A resistência desenvolvida a este tipo de fármaco é devida a:


- aumento da síntese da enzima TS;
- afinidade alterada da TS para o monofosfato de deoxiuridilato (MFdU);
- diminuição das enzimas que activam o 5-FU a nucleotídeos;
- aumento do “pool” de monofosfato de desoxiuridilato;
- aumento do catabolismo do 5-Fluoruridilato.

Quanto à utilização:
- administração IV;
- tempo de meia-vida de alguns minutos;
- atravessa a BHE – atingindo o SNC;
- tumores sólidos: colorectal, mama, gástrico e pancreático;
- administração tópica: lesões da pele (queratose solar, carcinoma superficial das
células basais).

Outro tipo de compostos que actuam como inibidores da TS, são inibidores da
região de ligação ao cofactor, também designados de Antifolatos:

125
Fizeram-se estudos de cristalografia de raios X do complexo enzimaTS-
CB3717, em que é perceptível a importancia do núcleo pteridínico, localizado numa
bolsa hidrofóbica:

4 – Inibidores da enzima DNA Polimerase

A DNA Polimerase catalisa o alongamento da cadeia de DNA, pela adição de


novos nucleotídeos por ligação fosfodiéster.
Estes inibidores são pró-fármacos:

Tem arabinose (2OH em trans)


Epímero da ribose

A Ara-C é administrada por via IV e utilizada em leucemias agudas (em


coterapia com daunor, ou Idar., 6-tioG) e em linfomas não-Hodgkin (terapia de
combinação), apresentando toxicidade a nível da MO e GI.
A Fludarabina tem a mesma via de administração e é usada em linfoma de
células B e linfoma cutâneo de células T.

Sendo um pró-fármaco, é preciso ter em atenção a bioactivação, que consiste


principalmente na acção de cinases, para que o composto fique trifosforilado para
integrar o DNA. Actua na DNA polimerase por inibição competitiva com o substrato
natural:

126
O Mecanismo de acção destes compostos, quando estão na forma trifosforilada
(por acção de cinases nucleósideo pirimidina), consiste no facto destes compostos
serem:
- inibidores específicos da fase S;
- inibidores competitivos da DNA Polimerase;
- incorporam-se no DNA ou impedem a replicação do DNA modificado;
- terminadores de cadeia.
Levando assim à inibição da síntese do DNA e sua reparação.

No que à farmacocinética do Ara-C diz respeito, sabe-se que é um composto


com baixa absorção oral, com pouco tempo de semi-vida, devido à actividade da
citidina desaminase, que metaboliza o composto no fígado, rins e mucosa intestinal.

Quanto aos Mecanismos de Resistência, estes envolvem processos como:


- aumento de enzimas inactivantes (citidina desaminase e monofosfato de
desoxicitidina desaminase);
- aumento do “pool” da da TFdC (substrato natural), que diminui a inibição competitiva;
- diminuição da enzima de activação (desoxicitidina quinase);
- alteração da afinidade para DNA polimerase (diminuição da afinidade para o trifosfato
de Ara-C).

Estes compostos permitiram o desenho de novos antineoplásicos, análogos da


Citosina, como a Gencitabina, um pró-fármaco:

O seu mecanismo de acção depende da forma em que se encontra:


- na forma trifosforilada inibe competitivamente a DNA Polimerase;
- inibe a citidina sintetase (diminui a transformação de TFC a TFU);
- na forma difosforilada inibe a ribonucleotido redutase (diminui a síntese de difosfato
de desoxicitidina).

5 – Inibidores da enzima Ribonucleotido Redutase (RNR)

O fármaco que se destaca nesta classe é a hidroxicarbamida, que é específico


de fase, destabiliza o ião ferro (cofactor) ligado à RNR e requer bioactivação à forma
difosfato:

127
A utilização deste composto é sobretudo na leucemia granulocítica crónica
resistente ao Bussalfano, no cancro da cabeça, pescoço e cervical (terapia de
combinação). A resistência mais comum é aumento da expressão da enzima RNR.

Há ainda um 6º grupo, que são os Inibidores da Adenosina Desaminase, em


que se destaca a Pentostatina. Este é o mecanismo de desaminação da Adenosina:

O intermediário tetraédrico serviu de “modelo” para a criação


da Pentostatina, que é um isóstero do estado de transição.
É utilizado em leucemias, sendo então um poderoso inibidor
da Adenosina Desaminase, actuando como inibidor do estado de
transição, porque mimetiza o intermediário tetraédrico e inibe assim a
RNR.

Termina aqui o estudo dos antineoplásicos que têm por alvo o DNA.

2) Fármacos com acção no aparelho mitótico

Há dois grandes grupos, que são:


A - Vimblastina e análogos;
B - Taxol e análogos.

Estes compostos têm por acção ou inibir a polimerização ou inibir a


despolimerização, sendo que por qualquer destes processos, é desencadeada a morte
celular.

Fazendo uma breve revisão ao aparelho mitótico e aos microtúbulos:


- permitem movimento dos cromossomas na mitose;
- regulam a morfologia da célula;
- afectam secreção de hormonas;
- transporte entre diversos organelos intracelulares;
- “ancoradouro” dos receptores da membrana;
- mobilidade celular.
São formados quando as unidades de α e β tubulina copolimerizam.

128
A - Vimblastina e análogos
Estes compostos são alcalóides da Vinca (origem natural).

O problema é que estes compostos eram pouco específicos e tinham alta


toxicidade. Daí surgiu a necessidade da produção de análogos destes alcalóides. Por
remoção de um grupo OH com criação de uma ligação dupla no anel, criou-se a
Vinorelbina, um composto de semissintese, com menos toxicidade e um espectro mais
alargado:

A Vinorelbina é usada no tratamento de 1ª linha do cancro avançado da mama,


em 2ª linha no cancro da mama resistente a antraciclinas e também no cancro do
pulmão. A resistência que tende a ser desenvolvida é o aumento da expressão da
glicoproteína P, que está envolvida no transporte dos fármacos para fora da célula.
O seu Mecanismo de Acção consiste em ligar-se à tubulina impedindo a
formação dos microtúbulos e consequentemente a polimerização. Interrompem a
divisão celular na metáfase e alteram o transporte celular.

B - Taxol e análogos
O Taxol é um composto de origem natural, extraído da casca de uma árvore.
Apresenta uma estrutura complexa, com um núcleo taxano (19 átomos de C) e 9
centros estereogénicos), o que justifica a dificuldade da sua síntese total (30 passos).

129
A obtenção a partir da Taxus
brevifolia também apresentava um
rendimento muito baixo (0,6%), o que
implicaria o abate de muitas árvores, pelo
que foi necessário passar ao estudo de
outras espécies da família de Taxaceas.
O Taxol é utilizado em carcinomas
refractários e avançados do ovário e da
mama.

Do isolamento de compostos semelhantes, surgiu a 10-desacetilbacatina II, um


composto muito semelhante, mas sem a cadeia lateral em C13, que demonstrou ter
actividade 50x inferior. Isto serviu de indicador da importância na actividade desta
cadeia lateral em C13 quiral. Partiu-se então para a semi-síntese de vários análogos
do Taxol a partir da 10-desacetilbacatina II e respectivas REA.
Um dos compostos a que se chegou foi o Docetaxel, utilizado no cancro
avançado da mama:

A REA do Taxol a que se chegou está resumida na imagem seguinte:

130
O Mecanismo de Acção do taxóides, ao contrário do que se passava com a
Vimblastina, é a inibição da despolimerização dos microtúbulos, estimulando no
entanto a sua formação:

A inibição da despolimerização interrompe a dinâmica necessária à mitose,


induzindo a apoptose celular.

Os principais Mecanismos de Resistência que podem ocorrer são:


- mutações da tubulina;
- aumento da expressão da proteína de transporte GpP.

Há uma série de outros compostos naturais, como as epotilonas, eleuterobim e


discodermolide com estruturas diferentes que compartilham o mecanismo de acção
com os taxóides. Pelas REA e modelização molecular pode-se então chegar a
algumas conclusões:
- quanto ao farmacóforo, a Bacatina III deve servir como esqueleto rígido que
assegure a correcta orientação dos grupos C-2, C-3’ e C-3’N, obtendo-se assim uma
estrutura mais simples que retém muitas das características tridimensionais e sem a
complexidade estrutural. Isto permitiu partir para o design e síntese deste tipo de
esqueleto mais simples:

Pelas imagens é possível verificar que as distâncias e ângulos dos


substituintes em C5-C8 da indolizidina são semelhantes aos de C2-C13 na bacatina III
(e portanto nos taxóides em geral).

131
Fizeram-se então estudos de comparação de actividade destes compostos 2 e 3:

Tanto 2(H) como 3(H) revelam menor citotoxicidade e muito menor actividade,
o que sugere a importância da rigidez da molécula. Nos ensaios in vitro, 2 e 3 não
apresentam actividade; nas culturas de cancro da mama, apresentavam elevada
citotoxicidade, pelo que continuam a ser bons líderes. Pelos valores vê-se que 3 é um
pouco mais potente que 2, o que indica vantagem de ter uma cadeia mais flexível.
Destes líderes surgem então os Taxanos de 2ª geração:

Os análogos com grupo β-OH em C14 da desacetilbacatina III mostraram maior


solubilidade, maior disponibilidade e reduzida resistência, devido à hidrofobicidade.
Em termos de REA, os substituintes fenil em C-2, C-3’ e C-3’N não são essenciais À
citotoxicidade e ligação à tubulina. A substituição em C-3’ por grupos alquilos ou
alcenilos mais simples, aumentou a actividade para linhas celulares sensíveis e
resistentes aos fármacos.

O composto ao lado é um análogo


do Paclitaxel e é o primeiro anticancerígeno
activo por via oral, embora também possa
ser administrado por IV. É um derivado da
14β-OH da desacetilbacatina mas com
maior solubilidade e maior
biodisponibilidade. Apresenta reduzida
resistência devido à hidrofobicidade.
Em termos de vantagens, este
composto apresenta menor
neurotoxicidade, cardiotoxicidade
(toxicidade em geral); apresenta maior

132
citotoxicidade, tendo entre 50 a 80X a potência do Paclitaxel. Induz a apoptose em
linhas celculares de cancro da mama e leucemia e é activo contra cancros MDR
(resistentes a múltiplas drogas, que expressam GpP) e apresenta um excelente índice
terapêutico.

Há um sistema selectivo de libertação de fármaco, baseado no facto de células


tumorais expressarem determinados antigénios, o que permite utilizar na terapêutica a
interacção complementar antigénio-anticorpo.
É o caso do esquema seguinte da formação de um imunoconjugado Taxano-
MAb (anticorpo monoclonal):

Durante todo o trajecto o fármaco está na forma inactiva, e o imunoconjugado


anticorpo-fármaco vai actuar directamente e selectivamente nas células cancerígenas
(libertação selectiva).

Um outro conceito importante é o de TAP: Pró-fármaco de Tumor Activado.

133
Na terapia de cancro, as Terapias de Combinação são fundamentais, havendo
diversos esquemas, e assenta em algumas directrizes:
- cada fármaco deve ser activo contra o tipo de neoplasia quando administrado
individualmente;
- os fármacos em combinação devem ter diferentes mecanismos de acção;
- a resistência cruzada entre os fármacos deve ser mínima;
- a toxicidade dos fármacos deve ser diferente (os fármacos têm apresentar
diferentes efeitos tóxicos).

Termina aqui o estudo dos fármacos com acção no aparelho mitótico e de


outros conceitos da terapia das neoplasias.

3) Terapia baseada em hormonas

Há dois grandes grupos, que são:


- Glucocorticóides, Progestogénios, Estrogénios e Androgénios (QFII)
- Anti-estrogénios, Anti-androgénios, Inibidores da enzima Aromatase.

Este segundo grupo é alvo de estudo neste capítulo, devido a sua importância
nos cancros hormonodependentes. De um modo geral:
A – Antiestrogénios e inibidores da biossíntese de esteróides levam ao
bloqueio da acção hormonal mamária;
B – Antiandrogénio não esteróides e inibidores da biossíntese de esteróides
levam ao bloqueio da acção hormonal prostática;
C – Inibidores da Aromatase.

Antes de desenvolver cada tipo, é bom ter noção da estrutura dos percursores
das hormonas:

A – Antiestrogénios
Estes compostos bloqueiam a acção dos estrogénios, que assim não se ligam
ao receptor nem activam a proteína coactivadora que leva à produção de mRNA.

O citocromo P450 promove uma α-oxidação que


origina um carbocatião. Todos os compostos
apresentam isomeria cis-trans (trans=activo).

134
No Toremifeno, a presença de 2 Cl (retiradores de electrões) diminuem a α-
oxidação do farmacóforo.

Na imagem que se segue vemos o modo de ligação do Raloxifeno com o


receptor de estrogénio, em comparação com o ligando normal, o estradiol, o que
permite concluir que as estruturas semelhantes possuem interacções semelhantes:

Podemos dizer que o Raloxifeno é um antagonista, na medida em que possui


uma ligação extra no local activo do receptor não o activa e ainda impede a activação
pelo estradiol. (O grupo a amarelo fica protonado a pH fisiológico para promover então
a ligação de hidrogénio extra). Para a ligação a este receptor, há iões zinco que são
importantes quer na estabilização, quer na determinação da configuração da região de
ligação ao receptor.

135
A imagem seguinte representa a estrutura e o modo de ligação do receptor
intracelular e a ligação do complexo ao DNA para a transcrição, ou seja, o mensageiro
controla a expressão do gene a transcrever:

Nesta última imagem, vemos o modo normal de acção do estradiol. Quando se


usa o fármaco o que ocorre é que a ligação extra de hidrogénio entre grupo amino
protonado e resíduo de Asp-351, há impedimento da hélice H-12 “tapar” o local de
ligação, pelo que o factor de transcrição nuclear não é formado e não há transcrição.

B – Anti-Androgénios
Estes compostos(1 e 2) são antagonistas competitivos do receptor e inibem a
formação de androgénios por inibição do citocromo P450:

(agonista)

C – Inibidores da Aromatase
Para começar o estudo destes inibidores, é preciso ver a reacção que a
Aromatase catalisa. A Aromatase é uma enzima ligada à membrana constituída por
duas proteinias (Cit. P450 com heme (CYP19) que liga o substrato esteroidico e O 2 e
enzima redutase com NADPH como cofactor). A imagem que se segue mostra a
reacção em causa:

136
Os inibidores da aromatase principais são a Aminoglutetamida, o Anastrazol e
o Letrozol, sendo que estes dois últimos são inibidores irreversíveis. As imagens que
se seguem indicam a estrutura de cada um, e os azotos N-4 do triazol (a amarelo)
interagem com o heme (tem ferro!) da enzima aromatase e impedem assim a ligação
ao substrato esteroídico.

137
ANTIVIRAIS

Para introduzir os agentes antivirais é preciso ter em atenção o que é um vírus.


Os vírus são parasitas que dependem do hospedeiro para se replicarem. O seu
material genético consiste numa molécula de DNA ou RNA de cadeia simples ou dupla
cadeia. Quando contêm RNA, estes vírus podem ser RNA(+) ou RNA(-). Estes
codificam apenas algumas proteínas (nucleocápside, receptor, polimerase…) e para
proliferar, precisam de se encontrar na forma vírica completa, o Virião.

A Estratégia para a Descoberta de Agentes Antivirais resulta do conhecimento


combinado de várias áreas, tais como:
- conhecimento do ciclo replicativo dos vírus (Planeamento Racional);
- biologia molecular;
- engenharia genética;
- genoma viral (identificar genes que codificam proteínas com funções
similares).

Os fármacos usados como agentes antivirais têm diferentes Alvos de acção,


geralmente processos que eles são capazes de inibir:
- ligação do vírus à membrana exterior da célula hospedeira;
- transporte através da membrana celular;
- descorticação (fusão com libertação de material genético);
- replicação e transcrição (associação das macromoléculas e respectiva saída
para o exterior da célula);
- enzimas que se encontram em células infectadas e codificadas pelo vírus;
- libertação dos viriões

As proteínas usadas como alvo têm também algumas características:


- devem ser importantes para o ciclo de vida do vírus;
- poucas semelhanças com proteínas humanas (confere selectividade);
- devem ter uma região comum a uma variedade de vírus diferentes (região específica
tem de ser idêntica na sua composição em aa);
- devem ser importantes no início do ciclo de vida dos vírus.

De acordo com o que é desejado para um agente antiviral, foi possível


descobrir quais as características que um Agente Antiviral Ideal deve apresentar:
- entrada facilitada na célula afectada;
- possuir largo espectro;
- ter especificidade para as enzimas virais ou viral-induzidas;
- possuir potência suficiente para a inibição completa da replicação viral;
- não desenvolver resistências;
- exibir um mínimo de toxicidade para a célula hospedeira;
- não interferir com os mecanismos normais de defesa celular;
- não suprimir o processo normal de desenvolvimento da imunidade activa do
hospedeiro.

Os agentes antivirais podem ser divididos em 3 grupos principais:


1 - Análogos de Nucleosídeos – actuam por inibição de enzimas virais,
nomeadamente DNA polimerase, Protease; Transcriptase Reversa, Integrase;
2 – Não Nucleosídeos;
3 – Oligonucleotídeos – são pequenas cadeias de sequências de nucleotídeos.
Está na base da Terapia anti-sense que consiste na utilização de sequências de RNA
complementar ao RNAm viral, produzindo assim localmente uma cadeia de RNAmds
(dupla hélice), que actua como inibidor da tradução e síntese proteíca.

138
Quanto à Nomenclatura dos nucleosídeos:

Para serem incorporadas no DNA ou RNA, as bases/nucleosídeos têm de estar


trifosforilados (activa-os), o que ocorre através de cinases:

1 - Análogos de Nucleosídeos
A activação deste tipo de fármaco pode ser mediada por enzimas do
hospedeiro, que existem quer nas células infectadas quer nas não infectadas. Assim,
podem ocorrer diferentes situações:

139
Estes fármacos podem ainda ser activados por enzimas virais, o que facilita a
eliminação da toxicidade para o hospedeiro:

Os análogos de nucleotídeos
apresentam algumas características estruturais
que permitem a sua acção. Apresentam
unidades estruturais (3), que são um grupo
hidroximetilo (trifosfato), espaçador (um açúcar
na configuração cis), base púrica ou
pirimidínica. Destas 3 unidades estruturais, 2
são essenciais para o reconhecimento molecular pelas enzimas:
- trifosfato (polioxigenado, carregado), para ligação electrostática à enzima;
- base, com ligações de hidrogénio ao seu nucleótideo complementar na cadeia
do DNA.
A terceira unidade (o açúcar/espaçador) tem por função manter os dois grupos
essenciais na orientação correcta, podendo sofrer numerosas modificações mantendo
a actividade.
Quanto à nomeclatura, os açucares que têm o C anomérico em cis com o
hidroxilo são β, quando em trans, são α. Os açúcares naturais são D.

A síntese dos análogos de nucleosídeos processa-se do seguinte modo:

140
Nos análogos dos nucleosídeos, as modificações moleculares podem ocorrer
nos açúcares (ribose), base ou fosfato. Quanto a modificações nos açúcares, podem-
se obter diversas estruturas, algumas delas L,α, outras são mesmo acíclicas.
No que diz respeito a modificações nas bases, estas são muito limitadas, até
porque se trata de um grupo essencial à acção dos fármacos:

Nas modificações no fosfato, é de destacar que são alterações isostéricas no


oxigénio por um grupo ácido ou metilo. Algumas permitem a criação de pró-fármacos:

Vírus Herpes (Herpesvirinae):

Este tipo de vírus passa através de nervos sensoriais e fica como que
“adormecido” nos gânglios, sendo que situações de stress, por exemplo, podem
conduzir à sua reactivação.

141
Os principais alvos dos fármacos anti-herpéticos são enzimas: a DNA
Polimerase e a Timidinoquinase. Os fármacos mais utilizados são os análogos de
nucleosídeos e os não nucleosídeos.

Um dos fármacos mais utilizados no tratamento deste tipo de viroses é o


Aciclovir (análogo de nucleosídeos), cuja activação só ocorre em células infectadas,
porque em células não infectadas não há activação, na
medida em que a primeira fosforilação depende de uma
enzima viral, o que torna o fármaco pouco tóxico para as
células não infectadas do hospedeiro.
O Aciclovir é um inibidor competitivo da DNA
polimerase viral, cuja única diferença com o substrato normal
(dGTP) é que não possui o açúcar. Uma vez que não tem
grupo OH em C3’, funciona como um terminador de cadeia (toxicidade selectiva). A
imagem que se segue demonstra o mecanismo de obtenção e acção do trifosfato de
aciclovir, que é o fármaco activo.

Este composto foi o primeiro antiviral seguro, não tóxico, apresenta baixa
biodisponibilidade por via oral e tem uma utilização sistémica. O seu espectro de
acção envolve vários membros da família Herpes (HSV-1,HSV-2 e VZC), sendo
utilizado na terapêutica de encefalite, herpes genital e varicela zóster. O seu
mecanismo de acção deve-se ao facto de, como já foi dito, ser um derivado acíclico da
2’-desoxiguanosina, que é activo na forma TP, sendo que a primeira fosforilaçao é
feita pela timidinoquinase viral. A sua capacidade de inibir a replicação viral deve-se a
dois mecanismos: funciona como substrato da DNA Polimerase, liga-se a DNA
Polimerase viral, inibindo a replicação e o crescimento da cadeia (terminador de
cadeia).
Apresenta uma toxicidade celular muito reduzida, pois apresenta um efeito
estrito às células infectadas (selectiva) e porque as timidinoquinases celulares (ou

142
seja, do hospedeiro) têm uma baixa afinidade para a fosforilação do aciclovir. O
TFaciclovir possui uma acção cerca de 50X mais selectiva contra a DNA polimerase
viral face à DNA polimerase celular.

Há vários pró-fármacos que são pró-fármacos do próprio Aciclovir:

Continuando nesta classe de fármacos, mas mudando de base, vamos ver os


análogos da 2’-desoxitimidina:

143
O seu mecanismo de acção baseia-se na inibição competitiva da DNA
polimerase viral e celular. O facto de inibir as duas leva a que a sua administração seja
apenas tópica, porque são compostos pouco selectivos. Tanto o TFI e o TFT (formas
trifosforiladas dos fármacos) são fosforiladas pelas cinases quer celular quer viral, o
que faz com que os compostos tenham menor selectividade para as células
infectadas. Estes compostos TP incorporam-se no DNA viral e celular, mudando o
código e tornando-o incorrecto. Isto impede ou modifica a expressão da informação
genética, o que leva a formação de proteínas incorrectas. Embora com menos
selectividade, o seu espectro de acção é sobretudo HSV-1, VZV e CMV e está
indicado para a queratite herpética. A resistência a estes compostos deve-se a
estirpes virais desprovidas de timidinocinases ou com timidinocinases incapazes de
fosforilar os fármacos.

O mecanismo de acção destes 4 compostos baseia-se no facto de serem


inibidores selectivamente activados (trifosforilados) da DNA Polimerase viral. São bons
substratos para as cinases virais, nomeadamente as do vírus VZV (Zonavir é
altamente selectivo para este, sendo inactivo contra HSV-1 e HSV-2). O MPzonavir é
um excelente substrato para a 2ª fosforilaçao por enzima codificada pelo VZV. A sua
principal aplicação terapêutica é nas queratites herpéticas.
A activação do Zonavir ocorre pelo seguinte mecanismo, que torna clara a
especificidade para infecção por VZV:

144
No que diz respeito ao metabolismo dos análogos dos nucleosídicos:

As resistências desenvolvidas para estes fármacos resultam de mutações nas


enzimas timidinoquinase viral ou DNA polimerase viral. Quanto as reacções adversas
mais comuns para estes fármacos são náuseas, vómitos, diarreia, erupções cutâneas
e pode aumentar as reacções inflamatórias após administração IV.

2 – Não Nucleosídeo
Alguns destes compostos são inibidores da DNA Polimerase viral, como o caso
do Foscarnet Sódico e do Rebetol. O primeiro não requer
activação prévia e inibe especificamente a DNA polimerase
viral, interagindo provavelmente ao nível do local de ligação
desta com o grupo pirofosfato dos nucleosídeos
trifosforilados, não sendo então selectivo (tóxico). Inibe
ainda a transcriptase reversa dos retrovírus e é usado então
em infecções por CMV e em doentes imunossuprimidos,
bem como em infecções por HSV e VZV resistente so
Aciclovir. Quanto ao Rebetol, tem uma estrutura semelhante
aos nucleosídeos, mas baseada em benzimidazóis
glicosilados. Deve actuar em estágios mais tardios da
maturação viral do que os compostos vistos até agora
porque na forma TP não inibe a DNA Polimerase. Revela-se
um potente inibidor do CMV.

Vírus Influenza
Estes vírus apresentam proteínas virais na membrana que são importantes
para o processo infeccioso:

145
Tanto a HA como a NA existem na superfície exterior do virião podendo actuar
como antigénios. Uma vez que ocorrem muitas mutações nos aminoácidos presentes
nestas moléculas, os antigénios estão constantemente a mudar, pelo que a vacinação,
embora possível, não tem uma protecção tão elevada quanto desejável. Os vírus da
gripe são classificados em A, B e C, de acordo com as propriedades antigénicas,
sendo que as mutações são mais rápidas em A e parecem nem ocorrer em C.
Há 2 sub-tipos da classe A que são epidémicos em humanos (H1N1 e H3N2)
(H corresponde a HÁ e N a NA). Apesar de todas estas alterações, é possível o design
de fármacos antivirais eficientes para o vírus influenza A.
(O NA é importante porque para atravessar o muco, é preciso quebrar ligações
entre ácido siálico e glicoproteína.)

Tendo em conta o ciclo de vida do vírus influenza:

Vemos que uma determinada altura do ciclo passa pelo endossoma, que tem
baixo pH. Os Adamantanos são moléculas tricíclicas básicas, que inibem a descida do
pH no endossoma:

O mecanismo de acção destes compostos, como já foi referido, é que a


concentrações >50μg/mL, o seu carácter básico inibe a descida do pH na
descorticação, que é indispensável para uma activação enzimática eficaz, o que
provoca uma descorticação e replicação viral limitada. A concentrações <1μg/mL
inibem a replicação do vírus influenza A por bloqueio de uma proteína viral de canal
iónico (proteína M2).
O espectro de acção destes compostos limita-se ao influenza A, até porque na
B não existe proteína M2. São também usados para fins profiláticos, juntamente com a
vacina, em epidemias da gripe A, em indivíduos com doenças pulmonares,
cardiovasculares ou em imunossuprimidos.
As Resistências que surgem devem-se a mutações virais na presença da
amantadina, que criam variantes resistentes.
A reacção catalizada pela enzima Neuraminidase (NA) é:

146
A NA é uma glicoproteína tetramérica ancorada na membrana viral por uma
sequência de 29 aa, sendo que no local activo há uma sequência constante de 18 aa
que permite o estudo por cristalografia de raios X das interacções de ligações de
hidrogénio entre o ácido siálico e o local activo da NA:

O centro activo da NA apresenta 4 bolsas hidrofóbicas. O ácido siálico tem uma


forma em cadeira mais estável, que passa a pseudobarco, em que COOH e OH
passam de axial para equatorial e de equatorial para axial, respectivamente. O grupo
acetamida (circulo preto) é responsável pelo reconhecimento molecular, porque a
actividade da enzima é perdida se a Arg-152 for substituída por uma Lisina e o Glu-
227 por aspartato. Estes aminoácidos têm resíduos igualmente carregados mas um
menor comprimento de cadeia, o que os torna incapazes de ocupar a área necessária
para estabilizar o intermediário.

Foi proposto um mecanismo de hidrólise de 4 passos (reacção SN1):


- 1º ligação do A.S. à NA;
- 2º formação do catião silalosil endocíclico no E.T. (estado de transição-imagem);
- 3º formação do A.S.;
- 4º libertação do A.S..

Há vários compostos que podem ser usados como inibidores do estado de


transição do A.S.. Este estado apresenta um centro trigonal em C2, tendo sido

147
sintetizados análogos do A.S. contendo uma dupla ligação entre C2 e C3, para atingir
essa mesma simetria trigonal em C2 (perde-se um OH e consequentemente uma
interacção, mas a dupla faz com que não seja preciso alterar a conformação, o que
resulta num ganho energético).

Vendo agora as interacções de ligações entre o ião guanidínio e a enzima NA.

O grupo guanidino do Zanamivir (via inalatória) em C4 estabelece um maior


número de interacções de ligações de hidrogénio e de interacções de Van der Waals
mais favoráveis. Expulsa ainda uma molécula de água da zona de ligação, o que
contribui para um efeito entrópico benéfico.

Tamiflu

O aumento da biodisponibilidade oral deve-se a:


- substituição isostérica do oxigénio pró grupo metilénico (o oxigénio no anel não é
importante para a actividade). Asubstituiçao do átomo de O polar, pode aumentar
hidrofobicidade e biodisponibilidade oral.

148
- substituição do grupo glicerol (reduz a polaridade) e introdução do grupo hidroxilo (o
oxigénio tem efeito indutivo retirador de electrões na dupla ligação, diminui a
densidade electrónica e permitiu a síntese de éteres análogos para a introdução de
grupos hidrofóbicos).

Estes compostos semelhantes ao estado de transição têm uma eficácia


dependente de um diagnóstico precoce.

Família Retroviridae:
Lentivivirinae (Sub-família)

Na estrutura do virião HIV destacam-


se duas glicoproteínas transmembranares, a
gp120 e gp41 que são responsáveis pelo
processo infeccioso. Apresenta ainda
enzimas, como a protease, integrase e a
importante transcriptase reversa. O material
genético consiste em duas cadeias
RNA(+)ss.
Estes vírus afectam sobretudo
linfócitos T e o reconhecimento depende das
moléculas de CD4 que existem nestas
células, e na fusão das membranas também
são importantes as gp120 e gp41. A imagem
ao lado representa o ciclo de vida do vírus,
onde é preciso destacar que a transcriptase
reversa actua dependentemente da DNA
polimerase e a cadeia de DNAds que se
forma da sua acção é designado de DNA
pró-viral.

149
Como afecta células T, o curso da infecção por HIV é acompanhado pela
comparação entre os sintomas e a contagem de células CD4, sendo que o valor
normal é de 800-1200 CD4/mm3 de sangue.

Geralmente a carga viral após infecção tem um grande aumento durante as


primeiras 4 a 8 semanas, sendo que depois assume valores mais baixos nos 12 anos
seguintes, durante os quais os valores de CD4 vão descendo progressivamente. Ao
fim de cerca de 12 anos há um aumento drástico da carga viral e uma diminuição
acentuada de CD4, como é visível no gráfico:

No que diz respeito aos objectivos quimioterápicos, estes podem ser resumidos
na pirâmide da imagem seguinte, em que se conseguirmos cumprir os objectivos da
base, vamos conseguindo atingir o objectivo do topo.

É importante saber as diferentes etapas da replicação do HIV para se avaliar


os alvos. Numa primeira etapa a gp120 liga-se à proteína CD4 dos linfócitos T. A
gp120 sofre mudança conformacional e liga-se aos receptores CCR5 e CXCR4 da

150
célula do hospedeiro. A gp41 sofre mudança conformacional e funde-se com a
membrana.

Assim os Alvos para a quimioterapia anti-HIV principais são:


- Enzima Transcriptase Reversa – análogos de nucleosídeos e também não
nucleosídeos actuam como inibidores da transcriptase reversa;
- Enzima Protease;
- Inibidores para outros alvos (não são objecto do nosso estudo).
Quando ocorrem fenómenos de resistência, recorre-se a terapias de combinação.

As principais características dos Fármacos Anti-Retrovirais:


- ter uma alta afinidade para o alvo;
- ser efectivo na prevenção da multiplicação e disseminação viral;
- mostrar baixa actividade para cada alvo similar na célula do hospedeiro, ser seguro e
bem tolerado;
- deve ser activo tanto quanto possível contra uma grande variedade de isolados
virais;
- ter efeito sinérgico e compatível com outros fármacos usados para tratar as doenças
oportunistas;
- o fármaco deve manter-se acima dos níveis terapêuticos dentro das células
infectadas e em circulação;
- pode ser administrado por via oral, com a mínima frequência de doses;
- deve poder atravessar a BHE;
- não deve ser caro.

Quanto aos fármacos que actuam como inibidores da Transcriptase Reversa:

1 - Análogos de Nucleosídeos
Nos análogos da 2’-desoxitimidina (ao lado), destaca-se o
AZT, um dos mais importantes, e dos mais amplamente
utilizados.

É de relembrar que estes análogos necessitam de ser trifosforilados para


serem activados. As cinases responsáveis pelas fosforilações no caso do Herpes,
vimos que eram virais, razão pela qual eram um bom alvo. No caso dos retrovírus, as
cinases usadas são do hospedeiro.

151
Como dito anteriormente, o AZT é um dos fármacos mais utilizados. Ele é, na
realidade, um pró-fármaco.
O seu Mecanismo de Acção depende da sua difusão
na célula do hospedeiro, dentro das quais sofre
trifosforilações pelas timidinocinases celulares. O AZT
TP(trifosfosforilado) inibe competitivamente a incorporação
de TFT (trifosfotimidina - substrato natural) no DNA celular
pela acção da transcriptase reversa, reduzindo a síntese do
DNA viral.
O grupo azido (em vez de OH) impede a ligação 5’-3’
fosfodiéster e o crescimento da cadeia de DNA. O
MF de AZT decresce a replicação viral por inibição
da actividade da ribonuclease H (RNase). Sendo
um inibidor competitivo da timidilatocinase celular,
reduz os níveis celulares de TFT, o que conduz a
citotoxicidade e aumento do efeito antiviral (por
diminuição da competição para o TF AZT).
Selectividade antiviral devido à maior afinidade
para a transcriptase reversa do que para a DNA
Polimerase humana, embora baixas concetraçoes
inibam a γ-DNA Polimerase.

A resistência que pode ser desenvolvida ao AZT


deve-se a mutagénese do codão da TR. A nível
dos efeitos laterais os mais comuns são
granulocitopenia, anemia, dores de cabeça, naúseas e insónias. O risco de toxicidade
hematológica aumenta com o avanço da doença e consequente diminuição do número
de CD4 e altas doses de AZT (terapia prolongada). O uso terapêutico depende da
dosagem e é muito usado em terapia de combinação: usado no tratamento de
infecção por HIV com contagem de células CD4<500/mm3. Em doentes com SIDA e
ARC (CD4 200-500 mm3) o AZT está associado a um aumento da esperança de vida,
diminuição das infecções oportunistas, aumento de peso e aumento dos valores de
CD4.

Outro fármaco muito usado é a Estavudina cujo mecanismo de acção é


semlhante ao do AZT, sendo que a
única diferença é que este, na sua
forma de trifosfato inibe não só a γ-
mas também a β-DNA Polimerase
celular. O espectro de acção
envolve infecções avançadas por
HIV intolerantes a outra terapia e
em associação com outros anti-HIV. Os efeitos laterais mais comuns são pancreatites,
anemias e aumento das transaminases.

152
A Didanosina é um fármaco 10 a 100X mais potente que o AZT, que apresenta
um mecanismo de acção semelhante ao descrito para
o AZT, com difusão na célula do hospedeiro, sendo
metabolizada pela 5’-nucleotidase e posteriormente por
outras enzimas celulares ao derivado activo TFddI.
Este último composto inibe competitivamente a
transcriptase reversa, interrompendo a síntese do DNA
viral. A selectividade está relacionada com a maior afinidade 2’, 3’ – didesoxiinosina
para a transcriptase reversa (viral). O espectro de acção DIDANOSINA
são infecções avançadas por HIV em adultos e crianças com ddI (1988)
mais de 6 meses. Os efeitos laterais são neuropatias,
pancreatites, diarreia, distúrbios do SNC, incluindo dores de cabeça e insónias. Leva
ao aumento dos níveis de aminotransferase e ácido úrico.

A Zalcitabina tem por mecanismo de acção a difusão na célula do hospedeiro,


sendo fosforilada pela desoxicitidinocinase celular e
posteriormente metabolizada por outras enzimas celulares
ao seu metabolito activo 5’-trifosfatado (TFddC). Este
composto inibe competitivamente a transcriptase reversa e
é terminador da cadeia de DNA viral.
Inibe a DNA polimerase celular, causando uma inibição no
“pool” de TFdC intracelular o qual pode potenciar a actividade
antiviral. Inibe ainda a síntese de DNA mitocondrial (toxicidade
clínica) e a utilização terapêutica ocorre em adultos, em terapia
de combinação com AZT, em infecções avançadas de HIV e
valores de CD4<300/mm3. É usado em monoterapia em doentes
com intolerância ao AZT.

Os novos inibidores nucleosídeos da Transcriptase Reversa viral são:

2 – Inibidores Não Nucleosídeos da TR


São geralmente compostos hidrofóbicos que se ligam perto do local activo e
não no local nem num sítio contíguo a este, razão pela qual há muitas resistências.

153
A Nevirapina tem por mecanismo de acção ligar-se à transcriptase reversa num
local alostérico, hidrofóbico, próximo mas não contíguo ao local activo da TR, que
quando complexada com o DNA leva a uma mudança conformacional no local activo
da polimerase “bloqueando-a” numa conformação inactiva. Este local alostérico sofre
facilmente mutações e consequentemente surgem resistências. Para as impedir, estes
compostos devem ser combinados desde o início com INTR. Este fármaco é um
inibidor não competitivo e reversível e apresenta um grande selectividade para a TR
do HIV-1, sendo menos tóxica e com poucos efeitos laterais. O seu uso terapêutico
dá-se em terapias de combinação com análogos nucleosídeos em infecções por HIV.

A Delavirdina apresenta um mecanismo de acção semelhante ao descrito para


a Nevirapina. Tratando-se de uma molécula muito grande, parte dela fica fora do local
onde se liga para que haja a inibição. Trata-se de um inibidor não competitivo e
reversível. A resistência que ocorre deve-se a mutação no resíduo de Pró-236, mas a
substituição do indol por pirrol evita esta resistência. O seu uso terapêutico é em
terapia de combinação em infecções por HIV-1.

Apresenta um mecanismo de acção igual aos de 1ª geração, sendo um inibidor


não competitivo e reversível. Em termos de resistências, o Efavirenz apresenta
actividade contra muitas mutantes, mas para algumas variantes a actividade é menor.
O grupo ciclopropilo tem menos interacções com Tir-181 e 188 do que a Nevirapina.
Como se trata de uma molécula mais pequena do que esta última, o Efavirenz quando
ocorre uma mutação desloca a sua posição de ligação e forma uma ligação de
hidrogénio com o principal peptídeo do local de ligação. É usado em terapia de
combinação com infecções por HIV.

Quanto aos fármacos que actuam como inibidores da Protease do HIV:


A protease é uma enzima homodimérica em C2, em que cada unidade proteica
tem 99 aa. A actividade catalítica da Protease consiste em quebrar as ligações
Fenilalanina-Prolina de modo a formar proteínas funcionais (víricas). Uma vez que a
quebra da ligação peptidica entre estes 2 aa não ocorre com as proteases dos
mamíferos, esta é uma forma de selectividade para os fármacos inibidores da
Protease do HIV.

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Eis o mecanismo de acção da Protease:

Há um grupo de compostos, os isósteros do estado de transição, que devem


conter um grupo OH que mimetize um dos grupos OH do intermediário tetraédrico
normal, para se ligar ao resíduo de aspartato no local activo. A estereoquímica deste
grupo é importante, sendo preferida a configuração R.

Os inibidores devem ter um isóstero no estado de transição com um centro


tetraédrico estável à hidrólise. A imagem que se segue representa a ligação do inibidor
ao local activo da Protease do HIV:

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Listagem dos compostos utilizados como inibidores da protease:

Quanto ao Saquinavir, tem por mecanismo de acção ser inibidor competitivo da


protease com 100X mais selectividade para HIV-1 e HIV-2 do que para proteases
humanas. Este fármaco mimetiza o
estado de transição do peptídeo
fenilalanina-prolina impedindo a
formação de proteínas funcionais e
estruturais. Em monoterapia adquire
resistência muito rapidamente,
sendo que é mais usado em
terapias de combinação com
zidovudina e/ou zalcitabina.

Há outros fármacos com igual mecanismo de acção, como o Ritonavir, com


padrão de resistência similar ao
Indinavir mas diferente do
Saquinovir. Apresenta potente
actividade anti HIV-1 e HIV-2 e
apresenta boas propriedades
farmacocinéticas para
administração oral. Provoca uma diminuição da carga viral e um aumento das células
CD4 sendo usado em muitas terapias de combinação (zidovudina+lamivudina;
zalcitabina; saquinovir) e apresenta como efeitos adversos mais comuns as
gastroenterites e problemas neurológicos.

Os fármacos Indinavir e Nelfinavir têm o mesmo mecanismo de acção que o


Ritanovir e Saquinavir, sendo mais potentes que este último devido a melhores

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propriedades farmacocinéticas. São usados também em terapias de combinação em
infecções com HIV e as suas estruturas estão nas imagens que se seguem:

A imagem que se segue demonstra as principais mutações que ocorrem no


codao da transcriptase reversa, demonstrando que as associações terapêuticas são
importantes para redução da carga vírica, retardar a resistência e reduzir a toxicidade
medicamentosa.

O gráfico que se segue demonstra claramente a necessidade de terapias de


combinação (azul) para manterem os níveis de CD4 elevados e os níveis de carga
viral também reduzidos.

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