IX Encontro de Alunos e Docentes do DCA/FEEC/UNICAMP (EADCA) Campinas, 29 e 30 de setembro de 2016

IX DCA/FEEC/University of Campinas (UNICAMP) Workshop (EADCA) Campinas, Brazil, September 29-30, 2016

Estudo de arquiteturas dos blockchains de Bitcoin e Ethereum

Antônio Unias de Lucena Marco Aurélio Amaral Henriques (Orientador)

Departamento de Engenharia de Computação e Automação Industrial (DCA)

Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
CEP 13083-852 – Campinas, SP, Brasil

{alucena, marco}@dca.fee.unicamp.br

Abstract – Since its appearance with the cryptocurrency Bitcoin, the concept of blockchain has called the attention due to its
property of providing protection against modification to elements in a chain. Now it is possible to see blockchains being used in
financial transactions and in other fields such as data storage, personal identifiers and electronic elections. Besides, there is a
great expectation about the use of blockchain and Internet of Things (IoT) together. This article presents a short introduction to
blockchain technology, the main problems faced by the blockchains of Bitcoin and Ethereum, and the guidelines to what we
consider would be an efficient blockchain.

Keywords – blockchain, Bitcoin, Ethereum, cryptocurrency, cryptography.

1. Introdução modificar alguns aspectos do modelo do

O blokchain surgiu com a criptomoeda
Bitcoin e tinha por objetivo ser um livro-razão
em que todas as transações financeiras de todos
os usuários de Bitcoin ficassem armazenadas de
forma a não ocorrer o problema de gasto duplo
(utilizacão de uma mesma quantia monetária em
transações financeiras diferentes) e não ser
necessário um órgão centralizador para validar
as transações financeiras efetuadas. Percebeu-se
que este conceito de um conjunto com os
elementos encadeados e fortemente protegidos
contra adulterações poderia ser interessante em
outras aplicações em que adulterações não são
desejadas: contratos e eleições digitais; em
aplicações em que é há elevada necessidade de
garantia contra erros e modificações:
armazenamento de dados; em aplicações com o
objetivo de garantir propriedade: distribuição de
mídias; e em aplicações em que é importante
garantir se determinado elemento pertence a um
conjunto: identificadores pessoais.
O conceito do blockchain é tão inovador
que o impacto previsto de sua utilização é
comparado com aquele causado pelo surgimento
da Internet e com o recente impacto ocasionado
pelas mídias sociais. Além disso, há um grande
expectativa quanto ao uso de blockchain
aplicado à Internet das coisas (IoT), outro
conceito inovador que está emergindo na
atualidade.
No entanto, para se aplicar o conceito de
blockchain em aplicações diferentes de
transações financeiras é necessário adaptar e
blockchain do Bitcoin e este é o foco deste
trabalho.
2. Blockchain
O blockchain foi proposto por Satoshi
Nakamoto como solução para o problema de
gasto duplo ao se utilizar a criptomoeda Bitcoin
[1]. Na forma proposta por Nakamoto, qualquer
transação financeira é visível a todos os
membros da rede Bitcoin e uma transação é
realizada mediante a transferência de valor de
um nó para outro da rede, sendo nó qualquer
ponto da rede previamente identificado.
Além disso, todas as transações são
armazenadas em uma lista encadeada de tal
forma a permitir que qualquer membro da rede
acesse o registro das transações e não seja
necessário um agente centralizador para
gerenciar, mediar e controlar as transações
realizadas entre os membros desta rede. Assim,
percebe-se que o blockchain surgiu para ser uma
espécie de livro-razão distribuído, disponível a
todos os usuários de uma rede, com o histórico
de todas as transações já realizadas.
Outra característica do blockchain proposto
por Nakamoto é que o mesmo deveria ser
robusto a adulterações e qualquer tentativa de
fraude no livro-razão existente seria facilmente
detectada por todos os usuários da criptomoeda
Bitcoin. Para se obter esta robustez a
modificações, os elementos do livro-razão são
ligados entre si, formando uma cadeia.
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Assim, pode-se definir o blockchain como
uma base distribuída de dados que mantém uma
lista encadeada com todos os registros dos
elementos de uma rede, bem como registros de
qualquer criação de novos elementos e
modificação destes, impossibilitando revisão e
adulteração dos mesmos. Seu funcionamento se
baseia nos seguintes princípios: funções de mão
única (normalmente funções hash), registro do
tempo da criação ou modificação do arquivo
(timestamp), assinatura digital do autor da
alteração do arquivo, rede descentralizada peer-
to-peer e mecanismo de geração de um novo
bloco do blockchain.
Função de mão única é aquela em que é
computacionalmente viável realizar operações
em um sentido, mas inviável no sentido oposto,
isto é, é praticamente improvável obter o valor
de entrada da função, conhecendo-se o valor de
saída desta. A função de mão única tem a
finalidade de tornar improvável qualquer
adulteração do arquivo digital que se encontra
no blockchain. Com este objetivo, o blockchain
faz uso de funções hash, que são funções que
mapeiam uma entrada de tamanho arbitrário em
um conjunto de bits de tamanho fixo e
totalmente dependentes da entrada. Além de ser
improvável obter a entrada a partir de seu hash,
obtêm-se valores totalmente diferentes para
qualquer alteração (mesmo que de apenas um
bit) na entrada.
O registro do tempo da transação
(timestamp) tem por finalidade armazenar o
instante em que qualquer alteração ocorreu no
blockchain e impedir qualquer fraude temporal.
A assinatura digital, por sua vez, visa garantir
que toda e qualquer alteração em algum
elemento pertencente a determinado nó da rede
blockchain foi realizada pelo proprietário do par
de chaves pública e privada daquele nó.
A rede descentralizada peer-to-peer, por sua
vez, é crucial para o funcionamento de um
blockchain, pois desta forma todas as alterações
(acréscimos) no mesmo podem ser conferidas e
aceitas (ou rejeitadas) pela maioria dos peers,
impossibilitando assim a inserção e
consolidação de informações incorretas.
A Figura 1 ilustra como é calculado o valor
hash de um novo bloco e como cada bloco é
inserido no blockchain do Bitcoin. Em um bloco
são reunidas uma ou mais transações e estas
transações são organizadas como se fossem uma
árvore (Merkle tree). Uma primeira transação
tem seu valor hash calculado; em seguida, a
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próxima transação em conjunto com o hash da
transação anterior também têm seu valor hash
calculado e este processo continua até a última
transação. O valor hash obtido ao final de todo
processo é denominado Merkle root. Desta
forma, é praticamente inviável alterar qualquer
transação sem que se quebre toda esta cadeia,
pois seus elementos estão fortemente ligados
por meio de seus valores hash. Por fim, é
calculado o valor hash do resultado final da
operação entre as transações, Merkle root, com
o valor hash do cabeçalho do bloco anterior do
blockchain. Desta forma, qualquer alteração em
uma transação ou em um bloco anterior é
facilmente detectada por qualquer peer da rede
blockchain.
Figura 1. Modelo simplificado do blockchain do
Bitcoin.
Por fim, um blockchain necessita do
processo de geração de novos blocos. Quando o
blockchain está atrelado a uma criptomoeda,
este processo pode estar ligado à criação de
novas moedas, o que é denominado mineração.
Tal processo é oneroso, por se basear na
resolução por força bruta de uma função
inversa, e é realizado simultaneamente por
vários membros da rede. Aquele que for o
primeiro a encontrar a solução da função
inversa, poderá criar um bloco, inserir (e
validar) as últimas transações dos usuários da
rede e receber uma recompensa pelo esforço
(alguma taxa e/ou um certo volume de
criptomoedas).
2.1 Aplicações de Blockchain
Inicialmente o conceito de blockchain era
voltado exclusivamente para transações
financeiras. Porém, percebeu-se que além de
atuar como o livro-razão de uma criptomoeda, o
blockchain poderia ter aplicações nas seguintes
áreas:
a) Sistema Financeiro
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Além de aplicações como livro-razão em
criptomoedas, o sistema financeiro tem prestado
especial atenção a arquiteturas utilizando
blockchain com o intuito de utilizá-lo como um
mecanismo de armazenamento e processamento
de transações financeiras, caso do protocolo de
pagamento Stellar [2].
b) Armazenamento de Dados
Com o advento da era digital, é cada vez
maior a necessidade de se armazenar de forma
confiável dados gerados por pessoas e empresas.
Por isso, a ideia de uma rede distribuída e
robusta a ataques e tentativas de fraude e
adulteração é bem interessante para o
armazenamento permanente e inalterável de
dados de qualquer natureza. Algumas propostas
têm surgido nesta linha [3] e será cada vez mais
comum encontrar no futuro sistemas de
armazenamento distribuídos baseados no
conceito de blockchain.
c) Distribuição de Mídias
A popularização da Internet provocou
grandes perdas financeiras à indústria
fonográfica, já que usuários da Internet
passaram a utilizar programas como Napster,
Kazaa e programas baseados no protocolo bit-
torrent para obter cópias de arquivos de músicas
e filmes, em vez de comprá-los. O uso de
blockchain na distribuição de conteúdo
multimídia poderá fazer com que qualquer
arquivo de música ou filme possa ser utilizado
apenas pelo dono de determinado nó,
impossibilitando a cópia e distribuição gratuita
do arquivo para outras pessoas. A venda de um
arquivo de mídia seria a transferência do mesmo
para o domínio de outra chave pública
pertencente a outro usuário dentro da rede
blockchain, de forma similar ao que ocorre com
a transferência de uma criptomoeda [4].
d) Votação eletrônica
Os principais modelos atuais de votações
eletrônicas são centralizados e a totalização dos
votos é normalmente realizada após a
transferência do conteúdo da memória de cada
urna para o órgão controlador da eleição. Assim,
abre-se espaço para a adulteração do resultado
dos votos antes de sua transferência para o
órgão controlador e, caso este órgão não seja
imparcial, ele mesmo poderá participar em uma
adulteração. Com o uso de urnas eletrônicas
configuradas como nós de uma rede blockchain,
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é possível conceber um sistema de votação
eletrônica em que adulterações em certas etapas
do processo se tornem muito mais difíceis ou
simplesmente impossíveis. Um modelo de
votação eletrônica usando blockchain já foi
proposto para ser utilizado na Ucrânia [5] e
espera-se que propostas similares apareçam pelo
mundo.
e) Identificadores Pessoais
É esperado que identificadores pessoais
(carteira de identidade, passaporte, carteira de
motorista, cartão de crédito, etc) alcancem outro
patamar de segurança, se a eles for aplicado as
características de um blockchain: elementos
fortemente resistentes a alterações e ligados
entre si [3].
2.3 Arquiteturas de blockchains
Uma arquitetura de um blockchain se difere
de outra principalmente através do processo de
criação de novos elementos do blockchain:
mineração. Uma arquitetura pode ser mais bem
sucedida em determinadas aplicações
dependendo do seu mecanismo de consenso. A
seguir são explicitados alguns dos principais
problemas das principais arquiteturas de
blockchain em uso na atualidade: Bitcoin e
Ethereum.
a) Bitcoin
A arquitetura do blockchain do Bitcoin tem os
seguintes aspectos negativos: alto intervalo
tempo para confirmação de transações
financeiras (aproximadamente 60 minutos),
necessidade de grande poder computacional, o
que leva o processo de mineração a se
concentrar cada vez mais nas mãos de poucos
usuários [6] e elevado gasto de energia elétrica.
O consumo do processo de mineração do
Bitcoin é tão elevado que estima-se que em
2020 a mineração do Bitcoin consumará tanta
energia quanto a Dinamarca [7].
b) Ethereum
Se o Bitcoin foi criado como uma
alternativa de moeda digital em relação ao
sistema monetário tradicional, o Ethereum, por
sua vez, foi concebido para ser uma rede peer-
to-peer de máquinas virtuais e foi criado como
uma plataforma para criar e executar smart
contracts ou aplicações descentralizadas sobre
blockchain [8]. Esta rede não é gratuita e para
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utilizá-la, o usuário do Ethereum necessita
adquirir sua criptomoeda, o Ether, que
atualmente é a segunda criptomoeda do mundo
em capitalização de mercado, atrás somente do
Bitcoin. Além de trazer a proposta de efetuar
serviços sobre blockchain, o Ethereum propôs
soluções para determinados problemas do
Bitcoin, tais como longo intervalo de
confirmação entre blocos e centralização da
mineração em torno de poucos usuários. O
blockchain de Ethereum surge, portanto, como
uma interessante e promissora alternativa às
limitações de Bitcoin. Entretanto, ele apresenta
um elevado nível de complexidade e isto poderá
trazer dificuldades à sua segurança e à sua
ampla adoção. Percebe-se a necessidade de
alternativas que reúnam o enorme potencial de
Ethereum com a simplicidade da arquitetura do
Bitcoin.
3. Proposta
O presente trabalho tem como proposta
contribuir no desenvolvimento de novas formas
de se realizar o processo de mineração em redes
baseadas em blockchain e bem como no
desenvolvimento de novas aplicações
utilizando-se blockchain. Após obter um
aprofundado conhecimento da arquitetura dos
dois principais sistemas de blockchain em uso
atualmente, esperamos trabalhar em propostas
que facilitem ainda mais a adoção desta nova
tecnologia em diferentes ramos de atividade.
4. Conclusões
O conceito de blockchain representa uma
área muito atraente para pesquisas e novas
aplicações, prometendo uma vasta gama de
possibilidades. É de se esperar que o blockchain
que (i) conseguir explorar todo o potencial da
nova tecnologia enquanto fornece uma resposta
ao elevado consumo de energia do blockchain
do Bitcoin, (ii) fornecer um mecanismo de
criação de novos blocos em que não haja
concentração de mineração na mão de usuários
com maior poder computacional e (iii) ser
escalável, permitindo milhões de transações por
segundo, se transforme no blockchain
dominante e conquiste o mercado de novos
serviços digitais, ditando o rumo deste mercado.
Sendo assim, o presente trabalho tem como
diretriz a proposta de pesquisar e buscar novas
aplicações para blockchains e soluções aos
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problemas que os mesmos enfrentam
atualmente.
Referências
[1] Nakamoto, Satoshi. "Bitcoin: A peer-to-peer
electronic cash system." (2008).
https://bitcoin.org/bitcoin.pdf (acessado em
03/04/2016).
[2] Mattila, Juri. The Blockchain Phenomenon.
http://www.brie.berkeley.edu/wp-
content/uploads/2015/02/Juri-Mattila-.pdf
(acessado em 30 de agosto de 2016).
[3] Swan, Melanie. Blockchain: Blueprint for a
new economy. " O'Reilly Media, Inc.",
2015.
[4] The future of the web looks a lot like
Bitcoin.
http://spectrum.ieee.org/computing/network
s/the-future-of-the-web-looks-a-lot-like-
bitcoin (acessado 30 de agosto de 2016).
[5] Ukraine Government Plans to Trial
Ethereum Blockchain-Based Election
Platform.
https://bitcoinmagazine.com/articles/ukraine
-government-plans-to-trial-ethereum-
blockchain-based-election-platform-
1455641691 (acessado em 3 de Julho de
2016).
[6] One Bitcoin group now controls 51% of
total mining power, threatening entire
currency’s safety.
http://www.extremetech.com/extreme/1844
27-one-bitcoin-group-now-controls-51-of-
total-mining-power-threatening-entire-
currencys-safety (acessado em 3 de Julho de
2016).
[7] Bitcoin Could Consume as Much Electricity
as Denmark by 2020.
http://motherboard.vice.com/read/bitcoin-
could-consume-as-much-electricity-as-
denmark-by-2020 (acessado em 1 de Julho
de 2016).
[8] Wood, G. (2014). Ethereum: A secure
decentralised generalised transaction ledger.
Ethereum Project Yellow Paper.