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Resumo
O estudo em questão possui caráter teórico e tem como objetivo compreender as práticas de
letramento na escola e a percepção desta enquanto ambiente de letramento e valorização cultural,
tendo como abordagem metodológica a análise de conteúdo. Essas reflexões serão efetivadas
visando o letramento como uma perspectiva dos indivíduos se perceberem construtores do seu
espaço nas esferas – políticas, sociais e culturais. Os principais referenciais utilizados foram o Mapa
do Analfabetismo no Brasil, Soares, Fontes do IBGE, os PCNS de Língua Portuguesa, Araújo,
Kleiman, entre outros. Assim como resultado podemos refletir a linguagem como fator social e cultural
dependente de seus grupos. Por isso a importância dos profissionais da educação perceberem esse
fator de formas distintas, visto que cada grupo pensa e se comporta de acordo às demandas
socioculturais em que estão inseridos.
Introdução
O analfabetismo no Brasil possui uma longa história, marcada por profundos
contrastes sociais. Desde os tempos da Colônia essa problemática permeia o
contexto educacional, social e cultural do país. Essa situação perpetua-se até os
dias atuais em que o analfabetismo torna-se reflexo de uma sociedade excludente
que precisa ser transformada, fazendo uso de diferentes formas e métodos
pedagógicos, no contexto educativo.
Obstante a isso, surgem ao longo das décadas, diversos programas que têm
por intuito a erradicação do analfabetismo. Mesmo assim, no Brasil, cerca de 35%
da população analfabeta já freqüentaram a escola, de acordo com o Mapa do
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Nesse texto não serão utilizados os termos letramento e alfabetização como discrepantes, mas
partindo do entendimento que são indissociáveis e simultâneos.
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SOARES, Magda. Letramento: Um tema em três gêneros. 2ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004,
p. 07.
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IBGE/Censo demográfico 2009
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicso
ciais2010/SIS_2010.pdf. Acesso em: 02 de outubro de 2011.
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milhões de pessoas”341.
TABELA 1. Taxa de Analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais idade,
por situação de rendimento mensal, segundo as Grandes Regiões – 2009
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IBGE/Censo demográfico 2009
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicso
ciais2010/SIS_2010.pdf. Acesso em: 02 de outubro de 2011.
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FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. 25ª Ed. São Paulo, Cortez, 2010, p.33.
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FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. 25ª Ed. São Paulo, Cortez, 2010, P. 38.
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FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 47. Ed. – São
Paulo, Cortez, 2006.
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outras medidas tomadas pelos governos, os números são bem menores. Isso só
reafirma a grande indústria que se constitui o sertão nordestino, bem como a
constante migração de analfabetos e iletrados que só retroalimentam a cultura de
estigmatização e inferiorização de nordestinos em relação a sulistas no Brasil.
Nesse sentido é que, na perspectiva do letramento, o indivíduo se modifica
social e culturalmente, se colocando e se mostrando de forma diferenciada daqueles
iletrados. Discutem e se envolvem de forma política e dinâmica no mundo de forma
temporal e contextualizada. Isso possibilitará uma transformação da realidade vivida
por ele e por seus pares. Por esse motivo que Paulo Freire, segundo GIROUX, trata
da alfabetização como um processo de empoderamento, em que homens e
mulheres reconstituem suas relações com a sociedade
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FREIRE, Paulo & MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura da palavra leitura do mundo. 4ª Ed.
Rio de Janeiro – Paz e Terra: 1990, p. 7.
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FREIRE, Paulo & MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura da palavra leitura do mundo. 4ª Ed.
Rio de Janeiro – Paz e Terra: 1990, p. 7.
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Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua
portuguesa /Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: 1997, p. 21.
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MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 19ª Ed. – São Paulo: Brasiliense, 1994 – Coleção
Primeiros 74 primeiros passos, p. 37.
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SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004,
p. 45.
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FREIRE, Paulo & MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura da palavra leitura do mundo. 4ª Ed.
Rio de Janeiro – Paz e Terra: 1990, p. 35.
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ensino. Concordando como Freire, pensar uma pedagogia crítica é o mesmo que se
inquietar diante das problemáticas. É repensar práticas de ensino, inserindo a
dinâmica da sala de aula num todo contextualizado para uma releitura do cotidiano.
Assim, a escola deve preparar um ambiente alfabetizador em que estejam
privilegiadas discussões acerca do cotidiano das crianças, bem como a utilização da
língua escrita nesse contexto. O letramento dá a possibilidade de acesso a novos
conhecimentos, tendo em vista que, para que isso ocorra, é necessária a valorização
de significados anteriores, resultados de processos contínuos dentro de uma
diversidade de interações para que haja maiores construções e interpretações sobre
a realidade351.
Desse modo, refletimos que, mesmo com o passar dos anos, com os
investimentos governamentais, privados e de movimentos sociais, em relação aos
altos índices de analfabetismo, essas ações ainda não foram suficientes para
resolver o problema do analfabetismo e alfabetismo funcional. Da necessidade de
repensar práticas e até mesmo conceitos, emergem uma nova função da educação:
correlacionar o cotidiano das crianças, fazendo-as perceber a função social da
leitura e da escrita e perceber a importância de significados culturais e possíveis
formas de utilização social que envolvem o ato da leitura e da escrita.
351
GERALDI, João Wanderley. O ensino e as diferentes instâncias de uso da linguagem. In: Em
Aberto, Brasília, ano 10. n.52. out./dez. 1991, p. 8.
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SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação,
jan – abr, nº 25. São Paulo, 2004, pp. 5 – 17: p. 16.
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teriam sido as responsáveis por introduzir o letramento como termo técnico no léxico
dos campos da Educação e Linguística. Mais tarde, a própria Ângela Kleiman
publicaria um livro sobre a temática.
Para um entendimento do termo letramento, Soares aponta para a
necessidade de se pensar em outros dois termos: estado e condição. Segundo a
autora, uma pessoa letrada se encontra em condição diferenciada daquela que não
é. Formas de ver e estar no mundo, de se relacionar com os outros, de participar de
diferentes contextos são proposições de mudança de estado ao qual o letramento
está atrelado. “Há a hipótese de que tornar-se letrado é também cognitivamente
diferente: a pessoa passa a ter uma forma de pensar diferente da forma de pensar
de uma pessoa analfabeta, iletrada”353.
Enquanto que, ao contrário, o estado ou condição de analfabeto se
caracteriza por aqueles que não dispõem da tecnologia do ler e escrever e é definido
por [...] “aquele que não pode exercer em toda a sua plenitude os seus direitos de
cidadão, é aquele que a sociedade marginaliza, é aquele que não tem acesso aos
bens culturais de sociedades letradas e, mais que isso grafocêntricas”354.
Segundo Kleiman, estudos apontam que há uma diferenciação entre grupos
letrados e não letrados no que concerne a resolução de problemas de classificação,
raciocínio lógico e outras características cognitivas. De acordo as reflexões da
autora a respeito dessas pesquisas, os sujeitos que tem contato com a alfabetização
e práticas de leitura conseguem organizar seus pensamentos e conhecimentos de
forma muito mais elaborada. Mas isso não se faz regra, pois em outra situação,
indivíduos não alfabetizados, porém letrados revelaram estratégias eficientes e uma
ampla concepção de mundo e da sua cultura. Kleiman explica que
353
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004,
p. 37.
354
Idem, p 20.
355
KLEIMAN, Angela B. (org.). Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola.
IN: Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. São Paulo:
Mercado de Letras, 2005, p. 25-6.
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Refletindo sobre essa discussão, podemos pensar que uma pessoa pode ser
analfabeta, mas fazer uso social da leitura em seu contexto, utilizando-a para
melhorar sua vida em seu grupo social, ou seja, ela pode ser, ao mesmo tempo,
analfabeta e letrada. Se ela consegue interpretar situações, assistir uma reportagem
e perceber seu conteúdo, ditar uma carta e fazer associações com a língua escrita,
ela está entendendo a função da linguagem que é a comunicação social e cultural.
Nesse sentido, faz-se necessário problematizar os conceitos dos processos
de Letramento e de Alfabetização. Em outro trabalho, Soares propõe uma
“indissociabilidade desses dois processos – alfabetização e letramento, tanto na
perspectiva teórica quanto na perspectiva da prática pedagógica”356.
O surgimento do termo letramento demonstra a necessidade de repensar as
novas demandas em relação à leitura e à escrita tendo como objetivo seu uso e
prática social e cultural. Enquanto anteriormente o importante era a aquisição dos
sinais gráficos, agora o imprescindível é como esses sinais serão utilizados para
uma formação cidadã em diferentes contextos.
Na prática pedagógica e social, o letramento envolve dois fenômenos: a
leitura e a escrita. Soares defende que são fenômenos distintos, com suas
particularidades e multiplicidades de habilidades, comportamentos e conhecimentos,
e Kleiman aponta para o fato de estudiosos trabalharem com a associação dos dois
fenômenos. Esta propõe que as habilidades da oralidade e da escrita são um
contínuo e tem suas relações, de acordo com a função de cada uma delas.
Assim, a partir dessas duas reflexões, podemos perceber a língua escrita
como fator social e cultural dependente de seus grupos. São formas distintas de se
envolver com as práticas cotidianas, visto que cada grupo pensa e se comporta de
acordo às demandas socioculturais em que estão inseridos, mas que deveriam
aparecer no contexto escolar como elementos partilhados no sentido de que
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SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004,
p. 5.
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KLEIMAN, Angela B. (org.). Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola.
IN: Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. São Paulo:
Mercado de Letras, 2005, p. 30.
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SODRÉ, Muniz. A verdade seduzida: Por um conceito de cultura no Brasil. 3ª Ed. – Rio de janeiro:
DP&A, 2005, p. 37.
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sentido, a escola deve preparar seus profissionais para se articularem nas situações
e demandas do cotidiano, demonstrando-os a importância de perceber o ambiente
alfabetizador com reflexões mais profundas no que concerne à
alfabetização/letramento de crianças de classes populares, possibilitando que essas
construam o sentido da escrita.
O ambiente alfabetizador deve ser como um todo articulado e
pedagogicamente multidisciplinar. Dessa forma, surge a necessidade dos
professores entenderem o sentido da prática de alfabetizar para a cidadania,
principalmente quando se trata de crianças de classes populares, que são sujeitos
sociais, que em sua maioria, possuem seus direitos negados social e historicamente.
É preciso atuar pedagogicamente no âmbito do seu cotidiano, seus interesses, suas
culturas e seu desenvolvimento psico-socio-cultural.
Por isso, o fazer docente necessita estar pautado em práticas convidativas e
totalmente recheadas de elementos cotidianos para que esses alunos tenham
contato com todas as formas de textos. Com isso, a escola pode trabalhar aguçando
as seguintes reflexões: por que ler? Para que serve a leitura? Quais as funções da
escrita na minha vida? O que posso criar com as práticas da leitura e da escrita?
Segundo Mairce Araújo, é necessário se pensar um ambiente alfabetizador
como algo não universal, mas sim histórico. Deve se adequar aos contextos e
necessidades de cada local, incorporando a atualidade cultural das crianças, ou
seja, que pense nas diversidades e não tente homogeneizar os grupos sociais.
Relendo Paulo Freire, ambientes alfabetizadores que possam englobar na sala de
aula leituras de mundo e da palavra.
Pensemos a escola como local de interação, sociabilidade, troca, conflitos e
tantas outras sensações, imprescindíveis para o desenvolvimento do sujeito em
sociedade. Para tanto, é indispensável que a escola valorize os conhecimentos,
brincadeiras, ações que a criança, ao chegar nesse ambiente tão enriquecedor, traz
consigo. Se a (o) professora (o) estiver com um olhar atento a essas possibilidades
tornará muito mais fácil a interação entre leitura de mundo – da vida cotidiana dos
alunos, em casa, na rua, nas brincadeiras – e leitura da palavra – nos diversos tipos
de textos escritos que os alunos muitas vezes não entram em contato, mas que deve
fazer parte da vida dos alunos como forma de co-relacionar as culturas.
Não basta que a escola copie ambientes alfabetizadores, no sentido de jogar
vários textos na sala de aula pensando que dessa forma os alunos aprenderão ler os
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ARAÚJO, M. S.. Ambiente alfabetizador: a sala de aula como entre-lugar de culturas. In: Regina
Leite Garcia. (Org.). Novos olhares sobre a alfabetização. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2004, p. 148.
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jan – abr, nº 25. São Paulo, 2004, pp. 5 – 17, p. 14.
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Referências
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mundo. 4ª Ed. Rio de Janeiro – Paz e Terra: 1990
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