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ISBN: 978-85-09-00186-5
16-00178 CDD-363.73
Índices para catálogo sistemático:
Este novo estudo, viabilizado pela parceria entre nais das áreas tecnológicas compreendendo uma
IPT, AESAS (Associação das Empresas de Consul- leitura ampla e envolvendo os diversos aspectos:
toria e Engenharia Ambiental) e CETESB, ampliou econômico, técnico/tecnológico, inovação, regula-
aquele primeiro estudo realizado com o objetivo ção e ambiental.
de criar este Panorama da Cadeia Produtiva de
Gerenciamento de Áreas Contaminadas no Brasil. A equipe formatou o estudo utilizando diversas
Além de mapear as áreas contaminadas existen- fontes de informações, tanto secundárias quan-
tes nas bases de dados e nos estudos já reali- to primárias, e seguiu um método de trabalho.
zados no país, esse estudo também retrata as As principais atividades desenvolvidas e as
tecnologias que são aplicadas, as oportunidades fontes de informações coletadas estão descritas
de desenvolvimento, a forma de ação dos órgãos no Quadro 1.
ambientais e a estrutura técnica e o montante de
negócios que são gerados pelas empresas que Por meio das fontes secundárias foi possível
atuam no setor. levantar as informações de mercado existentes,
estudos correlatos já realizados, identificar os
atores que atuam nesse mercado, as legisla-
As diferentes visões dos profissionais tornaram ções relevantes para a cadeia, tanto no mercado
possível uma compreensão mais ampla sobre a internacional quanto nacional, mapear os órgãos
dinâmica e relevância econômica da cadeia pro- reguladores em cada Estado e as áreas contami-
dutiva de gestão de áreas contaminadas, porém nadas por regiões.
sem perder a perspectiva técnica e de desenvolvi-
mento tecnológico necessários para o desenvolvi- Com base nessas informações secundárias, foi
mento atual e futuro desse mercado. possível realizar as coletas em fontes primárias.
Foram formatados instrumentos de coleta de
Diversos estudos econômicos de setores e de ca- informações para abordar três principais agentes
deias produtivas são conduzidos por profissionais desse mercado: empresas, órgãos reguladores
da área econômica e de outras áreas correlatas, e detentores de áreas contaminadas. Os instru-
tais como administração, geografia econômi- mentos utilizados foram os questionários com
ca, sociologia, entre outros, sem envolvimento perguntas abertas e fechadas. O Quadro 2 traz os
direto de profissionais de áreas técnicas, o que principais temas abordados nos questionários.
torna menos intensa, e, muitas vezes, estilizada e
simplista a leitura das dificuldades, dos gargalos
e das necessidades técnicas e tecnológicas dessas
cadeias e setores.
2. Levantamento dos atores • Banco de dados da Associação Brasileira das Empresas de Consultoria e
Fontes secundárias do mercado Engenharia Ambiental - AESAS para mapeamento de empresas de consul-
toria, remediação, entre outros
• Portal de inovação
• Busca pela internet por meio de palavras-chaves de informações na
forma de questionário presencial e on-line
3. Reuniões com especialistas • Realização de reuniões para discussão das informações levantadas
do setor nas buscas secundárias e a preparação da lista de empresas dos
diferentes elos e dos órgãos a serem abordados no levantamento de
informações primárias.
• Elaboração dos questionários para aplicação nos diferentes agentes
da cadeia
4. Aplicação dos questioná- • Utilização de programa específico de coleta de informações on-line para
rios aplicação do questionário
• Envio de e-mails para os atores da cadeia identificados solicitando pre-
enchimento do questionário
6. Realização de evento para • Realização de evento com os atores da cadeia produtiva para apresentar
Fontes primárias divulgação dos resultados e discutir os resultados obtidos e também as dificuldades de coleta de
informações
9. Realização de novo evento • Evento para apresentação do resultado final do estudo, com a presença
para divulgação dos re- das empresas e atores relevantes da cadeia
sultados e distribuição da
publicação
• Número de servidores/colaboradores de sua institui- • Origem do capital controlador (nacional, internacional • Origem do capital controlador (nacional, internacional ou ambos).
ção. ou ambos).
• Atividade econômica predominante CNAE.
• Servidores/colaboradores por categoria de profis- • Atividade econômica predominante CNAE.
sional (estagiários, auxiliar, técnico, administrativo, • Número de empregados na empresa/instituição.
graduação, mestrado e doutorado). • Número de empregados na empresa/instituição.
• Distribuição dos empregados/colaboradores nas categorias de profissionais (estagiários, auxiliar, técnico, administrativo, graduação, mestrado e doutorado).
• Há setor responsável pelo tema Áreas Contaminadas. • Ramo de atividade da empresa (indústria, agricultura,
governo, petróleo & gás, postos de gasolina, imobiliá- • Elo da cadeia produtiva que se enquadra a empresa (laboratório de análises, instituto de pesquisa/ensino, fundação, consultoria, órgão financiador, fornecedor,
• Número de funcionários ligados ao tema Áreas Conta- rio, comércio, etc.). empresa de sistemas de remediação, escritório de advocacia, entre outros).
minadas.
• Problemas /obstáculos para contratar serviços de • Serviços oferecidos pela empresa (gestão de contratos, avaliação preliminar, investigação confirmatória e detalhada, análise de risco, plano de intervenção, son-
• Número de funcionários que exercem a função de gestão de áreas contaminadas. dagem, geofísica, amostragens, análises químicas ou físicas, ensaios de tratabilidade, piloto de campo, tecnologias de remediação).
fiscalização.
• Setor da empresa que é responsável pelo geren- • Tecnologias utilizadas pela empresa em seus serviços (oxirredução química, bombeamento, remediação térmica, biorremediação, extração multifásica, extração
• Banco de dados com as informações das áreas poten- ciamento de áreas contaminadas (meio ambiente, de vapores do solo, atenuação monitorada, contenção, escavação, barreiras, air sparging, lavagem do solo, entre outros).
cialmente contaminadas¹ e seu formato (word, excel, segurança, engenharia, administrativo, jurídico, dentre
access, papel, entre outros). outros). • Três técnicas/serviços mais demandados pelos clientes.
• Orçamento do setor de áreas contaminadas nos últi- • Há contratação de serviços ambientais para áreas • Setores dos clientes que a empresa atende (indústria, agricultura, governo, petróleo &gás, postos de gasolina, imobiliário, comercio, consultoria, outro).
mos três anos (2012-2014). contaminadas.
• Faturamento da empresa nos últimos três anos (2012 a 2014).
• Lixões são tratados como áreas contaminadas e sua • Número de áreas em processo de gerenciamento que
quantidade no Estado. estão sob responsabilidade da empresa. • Expectativa de faturamento para 2015.
• Há ação legal ou evento que desencadeou o cadastro • Valor (R$) investido para o gerenciamento de áreas • Lucro líquido anual nos últimos três anos (% de faturamento). Forma de declaração (real ou presumido).
de áreas contaminadas no Estado, especificar. contaminadas nos anos de 2012, 2013, 2014 e 2015.
• Investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), em relação ao faturamento total relacionadas às áreas contaminadas.
• Serviços oferecidos relacionados com áreas contami- • Fatores decisivos para a contratação do serviço (preço,
nadas (identificação/mapeamento de áreas contami- qualidade, prazo e confiança). • Utilização de recursos de agências de fomento (BNDES, FINEP, FAPs, CNPQ, Leio do Bem, recursos próprios, recursos internacionais, entre outros) para os projetos
nadas; definição de critérios, procedimentos e ações PD&I.
de investigação de contaminações; processo de gestão
de áreas contaminadas; fiscalização e autuação; • Modalidades de fomento utilizadas (subvenção econômica, auxílio à pesquisa, bolsa de pesquisa, FUNTEC, Inova empresa, Horizon 2020 – Comunidade europeia,
cursos e treinamentos; disseminação de Informações; outros).
disponibilização de Cadastro de Áreas Contaminadas)
• Parcerias com outras empresas/instituições/universidades em atividades em PD&I.
• Aspectos (legais, financeiros, tecnicos, dentre outros) que
consideram que necessitam de ajustes e implementação • Origem da tecnologia utilizada pela empresa (desenvolvimento interno ou origem externa).
no tema.
• Problemas /obstáculos relacionados a áreas contaminadas para atuação no setor.
• Quantidade de processos referentes a áreas contami-
nadas que foram avaliados nos últimos três anos (2012, • Acreditação nas normas ISO 9001, 14001, 18000, 17025 pelo INMETRO ou outra.
2013 e 2014).
• Motivação do cliente na contratação dos serviços da empresa (preço, qualidade, prazo e confiança).
• Banco de dados com as informações das atividades
potencialmente poluidoras². • Legislação aplicada estimula a recuperação de áreas contaminadas.
• Problemas /obstáculos do tema áreas contaminadas. • Implementações necessárias para que o setor seja mais dinâmico.
3 4
HISTÓRICO, MOTIVAÇÃO MAPEAMENTO DAS ÁREAS
E LEGISLAÇÃO PARA A CONTAMINADAS NO BRASIL
DINÂMICA DO GAC NO BRASIL p. 65
p. 47
5 6
CADEIA PRODUTIVA DE GAC E CADEIA DE CONHECIMENTO DE
DESEMPENHO ECONÔMCO ÁREAS CONTAMINADAS
p. 85
p. 117
7 8
DESAFIOS E OPORTUNIDADES À LUZ CONSIDERAÇÕES FINAIS
DAS TENDÊNCIAS MUNDIAIS p. 140
p. 131
1
CONCEITOS NORTEADORES
Cláudia Echevenguá Teixeira, Flávia Gutierrez Motta, Sandra Lúcia de Moraes,
Ana Paula Queiroz, Rodrigo César de Araújo Cunha
Um dos grandes desafios da sociedade moderna que fornecem tais bens e serviços de descontami-
é lidar com os passivos ambientais gerados pela nação e recuperação de áreas.
oferta de bens e serviços para a sociedade.
A desativação e o abandono de instalações indus- Os países em desenvolvimento, com alguns anos
triais e a disposição inadequada de resíduos cau- de defasagem do início das ações em relação aos
sam impactos adversos ao ambiente (solo e água) países mais desenvolvidos, também iniciaram as
e à saúde humana que precisam ser mitigados. ações estipulando políticas e regulações de pro-
teção, preservação, conservação e recuperação do
A partir dos anos 1970, os governos dos países meio ambiente. Dessa forma, a cadeia produtiva
desenvolvidos passaram a estabelecer políticas de Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC)
envolvendo proteção ao meio ambiente, sendo passou a se desenvolver nesses países, como é o
uma das ações o estabelecimento de multas e caso do Brasil.
taxas para as atividades econômicas que degra-
davam o meio ambiente (AGÊNCIA BRASILEIRA Este estudo tem por objetivo compreender a
DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, 2012). Para dinâmica e a forma com que a cadeia produtiva
cumprir com as obrigações impostas, as indústrias de GAC foi se desenvolvendo e se organizando no
poluidoras passaram a demandar equipamentos, Brasil, e delinear a forma com que as regulações
produtos, sistemas e processos que tratassem das e a atuação das agências ambientais influenciam,
contaminações presentes nos locais, o que esti- seja impulsionando ou desacelerando o desenvol-
mulou a constituição de empresas especializadas vimento dessa cadeia produtiva.
16 CONCEITOS NORTEADORES
Este estudo, em um primeiro momento, buscou inovação que estão sendo realizados, gastos em
compreender como aconteceu o desenvolvi- P&D ou outros gastos e a importância dos diver-
mento das regulações e do mercado de algumas sos tipos de inovação.
experiências de países desenvolvidos que são
referências no tema. Esse panorama internacional Para definir e delimitar com exatidão quais ativi-
foi traçado para ter uma base para comparar, com- dades e empresas constituem essa cadeia, algu-
preender boas práticas e identificar gargalos e mas definições prévias são necessárias.
problemas que podem ser enfrentados pelo Brasil.
Um primeiro conceito relevante é o de áreas
O mercado brasileiro foi então caracterizado e contaminadas, que é o alvo das ações das em-
analisado a partir de três enfoques diferentes: presas que constituem o setor em análise. Se-
agências reguladoras, cadeia produtiva e cadeia gundo a Companhia Ambiental do Estado de São
de geração de conhecimento. Paulo (CETESB), uma área contaminada pode ser
definida como uma área, local ou terreno onde
As ações das agências reguladoras foram anali- há comprovadamente poluição ou contaminação
sadas a partir de levantamento de como estão causada pela introdução de quaisquer substân-
organizadas, como registram, sistematizam, cias ou resíduos que nela tenham sido deposi-
disponibilizam as informações das áreas sob tados, acumulados, armazenados, enterrados ou
suspeitas e com contaminação confirmada, ma- infiltrados de forma planejada, acidental ou até
peando as regulamentações e outras medidas de mesmo natural. A contaminação desses terrenos
regramento que foram geradas e a forma como ocorre por substâncias químicas que são res-
atuam para estimular e pressionar pelas ações ponsáveis por ações adversas à saúde e ao meio
de descontaminação. ambiente, quando disseminadas indiscriminada-
mente. Substâncias nocivas, tais como organo-
A cadeia produtiva foi caracterizada buscando clorados, as bifenilas policloradas, os compostos
identificar atores, suas formas de inter-relação, a fenólicos, os hidrocarbonetos de petróleo, os
dinamização e articulação do mercado, e o perfil metais tóxicos, entre outros se destacam nesses
de especialização das empresas. Foi realizado processos de contaminação.
levantamento de informações primárias com as
empresas do setor para traçar o perfil atual da Um segundo conceito importante é o de Geren-
cadeia, as tendências recentes de desenvolvimen- ciamento de Áreas Contaminadas que é definido
to das empresas em termos técnico e econômico, pela Companhia de Tecnologia de Saneamento
o investimento em geração de novas tecnologias, Ambiental (2013) como sendo o conjunto de me-
as oportunidades e ameaças enfrentadas. didas a serem tomadas para conhecer as caracte-
rísticas das áreas contaminadas, definir medidas
A cadeia de geração de conhecimento foi carac- de intervenção mais adequadas e minimizar ou
terizada para identificar os atores, os esforços de eliminar o risco e os danos à população e ao meio
CONCEITOS NORTEADORES 17
Todo esse tecido produtivo e de conhecimento, grande aglomerado de setores relacionados com
composto de diferentes empresas e instituições os Bens e Serviços Ambientais.
está sob orientação e pressão das agências re-
guladoras ambientais que regulam, fiscalizam e Diversos órgãos internacionais e nacionais têm
determinam a forma, o ritmo e a intensidade com estudado o mercado de Bens e Serviços Ambien-
que as atividades de recuperação/remediação das tais pela relevância e crescente importância que
áreas contaminadas acontecem, além do minis- organismos governamentais, formuladores de
tério público, importante agente que pressiona e políticas e setores econômicos têm dado para a
pune ações não adequadas em relação à legisla- proteção do meio ambiente para garantir a sus-
ção, e outros órgãos ambientais que estimulam e tentabilidade do acesso aos recursos naturais das
executam ações voltadas para a promoção, valo- gerações atuais e futuras. OCDE, OMC, Eurostat,
rização e proteção do meio ambiente e da ação Unctad são alguns desses órgãos, sendo que cada
responsável e sustentável da sociedade. um adota uma definição própria que ainda não é
comum, porém em todas elas o setor de remedia-
Quanto mais eficiente for esse sistema de re- ção de áreas aparece como um subsetor ou uma
gulação, pressão, fiscalização e valorização/mo- subcategoria.
tivação, para que as áreas contaminadas sejam
identificadas, tratadas e remediadas, maior será
a demanda por equipamentos, produtos e servi-
ços e, portanto, maior será o desenvolvimento
das empresas do setor.
A OCDE define o Setor de Bens e Serviços Am- atuar nos desequilíbrios ambientais. Segundo
bientais como envolvendo quatro categorias: a OCDE, este grupo de atividades é passível de
tratamento da poluição – bens que contribuem quantificação sem maiores problemas, desde que
para controlar a poluição do ar, tratar os resíduos haja um sistema de contabilidade econômica que
sólidos e líquidos, reduzir ruídos e vibrações e seja compatível com sua identificação.
facilitar o monitoramento ambiental; produtos e
tecnologias limpas – bens intrinsicamente limpos No Brasil não há uma identificação clara e fácil
ou mais eficientes no uso dos recursos; gestão de da atividade de GAC. A Classificação Nacional de
recursos – bens usados para controle da polução Atividade Econômica (CNAE), a qual as empre-
interna, fornecimento de água ou para manejo sas identificam a atividade econômica alvo de
sustentável de florestas; produtos ambientalmen- sua atuação, apresenta uma classe de atividade
te preferíveis - bens que causam menos impacto denominada Descontaminação e outros serviços
ambiental em algum estágio de seu ciclo de vida. de gestão de resíduos (3900), porém as empre-
sas que atuam nesse setor apresentam as mais
A cadeia produtiva de GAC estaria contida no diferentes atividades econômica principais, como
grupo de tratamento da poluição que é composta representadas na Tabela 1. Este estudo identi-
por produtos e serviços voltados para gestão da ficou, por meio de várias fontes, 172 empresas
poluição, que envolvem desde a identificação, ca- que atuam no setor, e, destas empresas, apenas 4
racterização, controle, monitoramento e tratamen- declarou sua atividade principal no grupo de 39.0
to, sendo principalmente processos que buscam classe 39.00. A maior parte das empresas
20 CONCEITOS NORTEADORES CONCEITOS NORTEADORES 21
que declarou ter como sua atividade principal ao setor são mais complicadas de serem obtidas,
a consultoria ambiental, registra sua principal dado que as informações econômicas oficiais são
atividade econômica no grupo 71.7 - Arquitetura, de difícil visualização por estarem dispersas em
Engenharia e Outras Atividades Correlacionadas. diferentes classes de atividade econômica. Na
Tabela 1, está identificada a atividade principal
Esta dispersão das empresas em diferentes CNAEs das empresas que atuam com GAC e sua respecti-
torna mais trabalhoso o estudo da cadeia produti- va identificação CNAE (Grupo). O Quadro 2 traz a
va vinculada a GAC. A avaliação e a compreensão descrição dos grupos do CNAE das empresas.
do desenvolvimento das empresas vinculadas
Consultoria Ambiental 1 2 2 2 1 1 1 4 1 1 1 39 1 1 1 1 2 1 12 75
Equipamento 1 1 2
Geofísica 1 1 1 3
Insumos Químicos 1 1 1 2 5
Laboratório 10 1 1 1 13
Remediação 1 1 3 2 7
Sondagem 1 1 1 3
Sem Identificação 1 1 1 3 1 1 1 1 1 1 1 1 2 19 2 1 1 4 1 1 1 18 64
GRUPO DESCRIÇÃO
INTRODUÇÃO
ÁREAS CONTAMINADAS NOS EUA aparecido como um dos novos fatores de estímulo
do mercado de remediação. Entidades do setor
As áreas contaminadas podem ser divididas em público têm modificado regulamentos e processos
sete segmentos de mercado dependendo de qual para aumentar a colaboração com o setor priva-
agência ambiental/legislação é responsável pela do para a recuperação de áreas contaminadas,
remediação: Superfund, RCRA Corrective Action, de forma a aumentar a geração de empregos e a
Underground Storage Tanks (UST), Departamento arrecadação.
de Defesa, Departamento de Energia, Agências Fe-
derais Civis e Estados e Agentes Privados (UNITED As legislações concernentes à remediação de áre-
STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY, as contaminadas nos EUA datam principalmente
2004). A Figura 4 apresenta o número estimado do final das décadas de 1970 e 1980, sendo,
de áreas contaminadas nos EUA e seu custo de portanto, bastante antigas. Na falta de novas
remediação no período de 2004 a 2033. legislações ambientais, os incentivos econômicos
têm se tornado cada vez mais importantes na
A EPA estimou que, em 2006, havia, aproximada- determinação da direção das receitas no mercado
mente, 290.000 áreas nos EUA que necessitavam de remediação estadunidense. Estima-se que a
de remediação, que incluíam indústrias abando- evolução da regulação federal e estadual para um
nadas, terrenos costeiros e imóveis comerciais, sistema em que as metas de remediação ba-
com um custo de mais de $200 bilhões. Do total seiam-se no uso futuro pretendido para uma área
de 527 áreas contaminadas presentes na lista do estimulará grandes projetos ambientais e suprirá
Superfund, apenas 40 atingiram o estágio final os interesses públicos e privados na revitalização
de remediação, que envolve a remoção de solo de brownfields (UNITED STATES INTERNATIONAL
contaminado residual, remoção de poluentes TRADE COMMISSION, 2004).
da água subterrânea ou construção de barreiras
para impedir o espalhamento da contaminação
ORÇAMENTO DESTINADO ÀS
(UNITED STATES INTERNATIONAL TRADE COM-
MISSION, 2013). ÁREAS CONTAMINADAS E PRO-
GRAMAS DE FINANCIAMENTO
O lento progresso a nível federal é resultado de
uma diminuição nos financiamentos, proveniente Dentre os programas federais de remediação, os
da expiração de taxas sobre grandes indústrias que disponibilizam a maior parte do financia-
utilizadas para os esforços de remediação. Em mento são aqueles do Departamento de Defesa
consequência, as áreas do Superfund têm se (como o Base Realignment and Closure (BRAC)
tornado cada vez mais contaminadas e com maior Environmental Cleanup e o Defense Environ-
custo de tratamento (UNITED STATES INTERNA- mental Restoration Program); do Departamen-
TIONAL TRADE COMMISSION, 2013). Nesse cená- to de Energia e o Superfund (UNITED STATES
rio, a revitalização voluntária de brownfields tem ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY, 2015a;
LEGENDA
NPL: National Priorities List ou Superfund;
RCRA- CA: Resource Conservation and Recovery Act Corrective
Action program;
UST: Underground Storage Tanks;
DOD: Department of Defense
DOE: Department of Energy;
AGÊNCIAS CIVIS: agências federais excluindo o DOD e DOE;
ESTADO E PRIVADOS: áreas públicas de remediação obrigatória,
voluntária ou brownfields e áreas privadas
Figura 4. Número estimado de áreas contaminadas
nos EUA e custo de remediação previsto para o
período de 2004 a 2033.
Fonte: adaptado de United States Environmental
Agency (2004).
CONTEXTO INTERNACIONAL 31
INSTALAÇÕES LISTAGEM
ÁREAS FEDERAIS DOCKET
INSTALAÇÕES TRIAGEM
ÁREAS NÃO FEDERAIS PRÉ-CERCLIS
ADIÇÃO AO INVENTÁRIO
ATIVO DO CERCLIS
INSPEÇÃO DA ÁREA
VOCs haloge- VOCs haloge- Produtos de Metais, VOCs, Contaminantes VOCs, SVOCs
nados, BTEX, nados, metais petróleo, cons- SVOCs, explosi- radioativos (PAHs e PCBs),
VOCs não e VOCs não tituídos por vos e contami- (urânio, trítio, solventes e
halogenados, halogenados. BTEX, PAH, cre- nantes radioa- tório e plutô- produtos de
hidrocarbone- sóis e fenóis. tivos. nio), metais petróleo.
tos aromáticos (chumbo,
policíclicos berílio, mercú-
(PAHs), SVOCs rio, arsênio e
não haloge- cromo), PCBs,
nados, fenóis, hidrocarbone-
pesticidas, bi- tos e outros
fenilas policlo- produtos de
radas (PCBs), petróleo e TCE.
arsênio, cromo
e chumbo.
Fonte: adaptado de United States Envi-
ronmental Protection Agency (2004).
significativos na busca de metodologias mais mulado, em partes, pelo SARA, que dá preferên-
eficientes e efetivas para a remediação de áreas cia à “permanência e ao tratamento” ao invés de
contaminadas. O programa Superfund tem se escavação e remoção dos meios contaminados
destacado na seleção e aplicação de novas tecno- (EPA, 2004). As principais técnicas de remediação
logias de caracterização e remediação de menor utilizadas nas áreas do Superfund no período de
custo e mais efetivas, influenciando a seleção de 1982 a 2002 são apresentadas na Figura 6.
tecnologias em outros segmentos de mercado. O
desenvolvimento de novas tecnologias foi esti-
Figura 6. Principais tecnolo-
gias de remediação utiliza-
das nas áreas do Superfund
no período de 1982 a 2002
Fonte: adaptado de United
States Environmental Pro-
tection Agency (2004).
CONTEXTO INTERNACIONAL 35
CARACTERÍSTICAS DO
MERCADO DE REMEDIAÇÃO
Neste processo evolutivo, podemos pontuar gran- Neste mesmo período, foi criada a European
des eventos que causaram inflexões na adminis- Environment Agency (1993), tomando força em
tração pública e nas legislações. O primeiro deles 1994, e o Concerted Action on Risk Assessment for
foi o Clube de Roma (realizado em 1968), primeira Contaminated Sites – CARACAS (criado em 1996),
grande discussão europeia que envolveu questões grupo composto por cientistas e especialistas
ambientais, além de economia e polícia interna- em políticas. Foram trabalhados sete tópicos
cional, sendo realizada por um grupo de especia- bases para estudo: toxicologia humana; avaliação
listas das mais diversas áreas, sendo seguido de de risco ecológico; destinação e transporte de
diversos outros, tais como Estocolmo (realizado contaminantes; análise e investigação; modelos;
em 1972), ECO 92 (realizado em 1992), Protocolo screening e valores orientadores e metodologias
de Quioto (realizado em 1997). de avaliação de risco.
Como reflexo do aumento das discussões sobre o A maior contribuição do CARACAS foi a publica-
ambiente, em 1972, durante o encontro dos che- ção de dois livros; o primeiro (1998), com base
fes de Estado e de Governo da Comunidade Eco- científica para a avaliação de risco, gerenciamen-
nômica Europeia (CEE), foi discutido e proposto a to e investigação, baseado nos tópicos bases. O
primeira EAP (Environmental Action Programmes) segundo (1999), com avaliações autorizadas das
na qual foram apresentadas as primeiras pro- políticas e práticas em matéria de avaliação de
postas da política ambiental da União Europeia, riscos de áreas contaminadas, incluindo detalhes
sendo adotada em 1973 e criada a Direção Geral de políticas de base, legislação, abordagens técni-
do Ambiente, juntamente com o European Soil cas utilizadas para a avaliação de risco, principais
Chapter, com as primeiras diretrizes sobre manejo documentos de orientação técnica, e detalhes de
de solo e sua conservação (HEY, 2005). contato para a política e especialistas técnicos
em cada país, servindo como referência e adotado
Desde então, foram criadas mais seis EAP em 1977, pelos países que fazem parte da União Europeia.
Figura 8. Linha do tempo da evolução das discussões ambientais na Europa e
a criação de legislações para áreas contaminadas.
Fonte: adaptado de Fergunson (1999); Hey (2005); Rodrigues et al (2009).
CONTEXTO INTERNACIONAL 39
grandes mercados para tais serviços, devido aos Quadro 2. Principais empresas atuantes no
danos ambientais gerados na “era Comunista” e mercado europeu
das decorrentes obrigações ambientais referen-
tes a adesão de muitos países a União Europeia
(BAUMERT et al., 2004). Mas ainda representam EMPRESA PAÍS
uma pequena fatia. A CEE movimentou apenas
8 % ($700 milhões) do mercado europeu, en- Antea Group Holanda
quanto a Europa Ocidental movimentou os 92 % Arcadis Holanda
restantes ($7.9 bilhões) durante o ano 2000. ASA Abfall Service AG (subsidiaria da EDF) França
Backhus Alemanha
Os principais países que movimentam o mercado Baure und Mourik Alemanha
são a Alemanha (25 %), seguido pela Dinamarca Biogenie França
(21 %) e Holanda com 14 %, justificados pela Bouygues França
quantidade de sites contaminados. A Alemanha, CH2M Hill EUA
em 1999, contava com cerca de 360.000 áreas Duke Engineering EUA
contaminadas e a França com mais de 300.000, Environmental Resources Management Reino Unido
representando 58 % de todas as áreas investiga- Geoprobe Environmental Technologies EUA
das da Europa (BAUMERT et al., 2004). As princi- Group URS EUA
pais empresas atuantes no mercado europeu são Marius PedersEN Dinamarca
apresentadas no Quadro 2. Polyfelt GmbH Alemanha
Ramboll ENVIRON Reino Unido
RWE AG (RWE Umwelt AG) Alemanha
Sondalp França
Sprying Systems Deutschland Alemanha
Suez SA (SITA) França
Veolia Environnement França
Vivendi Environnement França
BAUMERT, J. et al. Remediation and nature and landscape RODRIGUES S. M. et al. review of regulatory decisions for en-
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A questão da contaminação do solo e da água se, Compensation, and Liability Act (CERCLA) aprova-
subterrânea ocorre desde o surgimento do setor da em 1980, que inclui, dentre suas ferramentas, o
industrial. No Brasil e em outros países, essa pro- Superfund (SÁNCHEZ, 2001).
blemática passou a ser reconhecida depois que
casos emblemáticos, como, por exemplo, o Love No Brasil, o primeiro caso noticiado foi o das
Canal (Estados Unidos) e as Indústrias Reunidas Indústrias Reunidas Matarazzo, localizada na
Matarazzo (Brasil), foram noticiados, os quais cidade de São Caetano do Sul no estado de São
evidenciaram os riscos a saúde pública e ao meio Paulo. Em 1975, o complexo industrial começou
ambiente que esse tipo de contaminação pode a ser desativado devido ao reconhecimento do
ocasionar (SÁNCHEZ, 2001). poder público da existência de séria contami-
nação provocada pelo manejo inadequado dos
O caso do Love Canal, da década 70 nos Estados resíduos provenientes do processo produtivo de
Unidos, mostrou a complexidade e a gravidade diversos produtos químicos, tais como ácido sul-
desse tipo de contaminação, ocasionado pela dis- fúrico, acido clorídrico e hexaclorociclohexano.
posição irregular de resíduos industriais ao longo Depois desse fato, outros casos de contamina-
de 30 anos. Historicamente, uma das primeiras leis ção do solo e da água subterrânea ocorridos no
sobre áreas contaminadas surge em decorrência Brasil passaram a ter notoriedade pública, como
desse fato, a Comprehensive Environmental Respon- mostra o Quadro 1.
48 HISTÓRICO, MOTIVAÇÃO E LEGISLAÇÃO PARA A DINÂMICA NO MERCADO BRASILEIRO
Toponímia
Georreferenciamento
Ativas e inativas
Causa da contaminação
CARACTERÍSTICAS DAS FONTES POLUIDORAS
Disposição de resíduos
Produção industrial
Da área
Do entorno
Ação em curso
Ação pretérita
MEIOS AFETADOS CONTAMINANTES
Meios afetados
Contaminantes
Por agrupamentos
Concentração de contaminantes
Descrição de bens a proteger e distância da fonte poluidora
Formas de intervenção
Fonte: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (2015).
Quadro 2. Casos de poluição de solo e água subterrânea no Brasil que vieram a público.
Em 1993, o Estado de São Paulo, por meio da PAM e do Conselho Estadual de Recursos Hídricos
sua Companhia Ambiental (CETESB), firmou uma (CERH), que estabeleceu procedimentos para a
cooperação técnica com o governo alemão para proteção da qualidade do solo e gerenciamento
a capacitação de recursos humanos e desenvolvi- ambiental de áreas contaminadas por substâncias
mento de ferramentas de gestão de áreas conta- químicas (CONSELHO ESTADUAL DE POLÍTICA
minadas, o que resultou em diversas ações do go- AMBIENTAL, 2010). 2
verno do estado como o cadastramento de áreas
contaminadas e a introdução de novos requisitos O Estado do Rio de Janeiro começou a atuar de
legais (SÁNCHEZ, 2004; SÃO PAULO, 2009; 2013). maneira mais efetiva após a aprovação da Reso-
lução nº 420/2009 do CONAMA, quando o INEA,
O Estado de São Paulo foi o primeiro estado a deu início ao cadastramento de áreas contami-
aprovar uma lei específica para áreas contamina- nadas publicado em 2013 e atualizado em 2014.
das quando sancionou a Lei nº 13.577 em 2009. Em 2012, o Conselho Estadual do Meio Ambiente
Essa Lei estabeleceu procedimentos para a pro- (CONEMA) aprovou a Resolução nº 44 que dispôs
teção da qualidade do solo e o gerenciamento de sobre a obrigatoriedade da identificação de even-
áreas contaminadas, dentre outras providências tual contaminação ambiental do solo e das águas
correlatas. Posteriormente, esta Lei foi regulamen- subterrâneas por agentes químicos, no processo
tada pelo Decreto nº 59.263/2013.1 de licenciamento ambiental estadual (CONSELHO
ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE DO RIO DE JANEI-
O Estado de Minas Gerais também avançou na RO, 2012; INSTITUTO ESTADUAL DO AMBIENTE,
gestão dessas áreas aprovando a Deliberação 2014). 3
Normativa n° 116 do Conselho Estadual de Políti-
ca Ambiental (2008), que dispôs sobre a declara- Outro Estado que vem realizando ações para
ção das informações relativas às áreas suspeitas a gestão de áreas contaminadas é o Estado de
de contaminação e contaminadas por substâncias Pernambuco que aprovou em 2014 a Instrução
químicas no Estado e desde 2007 vem atualizan- Normativa n° 7 da Agência Estadual de Meio
do a seu cadastro de áreas contaminadas (FUN- Ambiente de Pernambuco (CPRH), que estabe-
DAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE, 2013). lece valores de referência de qualidade do solo
Em 2010, foi instituído o Programa Estadual de (VQR) do Estado quanto à presença de substân-
Gestão de Áreas Contaminadas, por meio da Deli- cias químicas para o gerenciamento ambiental
beração Normativa Conjunta nº 02/2010 do CO- de áreas contaminadas.
No Brasil, o termo brownfields, também tem sido A obrigatoriedade de recuperar e/ou indenizar os
utilizado nesse mesmo contexto. Entretanto, para danos causados ao meio ambiente e a respon-
Sánchez (2004), brownfield esta inserido no uni- sabilização civil foi imposta ao poluidor pela Lei
verso de áreas ocupadas, como mostra a Figura nº 6.938/1981, que instituiu a Política Nacional
4. Parte desse universo abrange áreas contami- do Meio Ambiente (PNMA) (BRASIL, 1981). A
nadas, enquanto outra parte constituí o conjunto PNMA estabeleceu, dentre outros instrumentos,
de brownfield. Portanto, Sánchez (2004) afirma a recuperação da qualidade ambiental, visando
que alguns brownfields são áreas contaminadas, assegurar condições ao desenvolvimento so-
enquanto nem toda área contaminada é um cioeconômico, aos interesses da segurança e à
brownfield, como é o caso de áreas situadas em proteção da vida humana e, como um dos seus
indústrias ativas princípios, a racionalização do uso do solo e a
recuperação de áreas degradadas. Ela regulou
também a estrutura administrativa de proteção
e planejamento ambiental – o Sistema Nacional
do Meio Ambiente (SISNAMA), conforme Qua-
dro 5 (BRASIL, 1981).
4 - O princípio do poluidor pagador significa que os custos advindos da utilização dos recursos ambientais devem ser suportados pelo
seu real utilizador, não deixando que esses custos sejam suportados pelos Poderes Públicos, nem por terceiros. Para Paulo Affonso
Leme Machado (2015) “[...] o princípio usuário-pagador contém também o princípio poluidor-pagador, isto é, aquele que obriga o polui-
dor a pagar a poluição que pode ser causada ou que já foi causada”.
HISTÓRICO, MOTIVAÇÃO E LEGISLAÇÃO PARA A DINÂMICA NO MERCADO BRASILEIRO 59
De acordo com a sistemática legal vigente no A Constituição Federal (CF) de 1988 inovou com
nosso país, onde se consagra o princípio do po- a criação de um único capítulo sobre o meio
luidor pagador4, atualmente é exigido do respon- ambiente. Além disso, ela estabeleceu os pilares
sável pela contaminação ou o proprietário do para disciplinar as ações de interesse ambiental
terreno atingido, nas hipóteses em que é possível no Brasil. Ao Poder Público, dentre outras respon-
o gerenciamento da área contaminada, a identi- sabilidade, ficou a de promover a preservação e a
ficação, a remediação e monitoramento da área restauração dos processos ecológicos essenciais
contaminada. Porém, existem situações em que o devendo exigir, de empreendimentos potencial-
gerenciamento dessas áreas não é possível, uma mente causadores de significativa degradação,
vez que o poluidor pode não dispor de recursos estudo prévio de impacto ambiental. Além disso,
econômicos suficientes necessários. Dessa for- o Poder Público também deve controlar o empre-
ma, cria-se uma situação ainda mais complexa, go de substâncias que provoquem riscos à saúde
pois os recursos públicos destinados à realização pública e ao meio ambiente. Caso haja condutas
desse gerenciamento, quando existem, como no e atividades consideradas lesivas ao meio am-
caso do Estado de São Paulo5, são escassos e, biente, a CF estabeleceu aos infratores a tríplice
tampouco há legislação especifica a esse respeito responsabilidade ambiental, em que as pessoas
em âmbito nacional. físicas ou jurídicas serão sujeitas a sanções penais
e administrativas, independentemente da obriga-
Para esses casos, a Lei Federal nº 7.347/1985, ção de reparar os danos causados (BRASIL, 1988;
disciplinou a ação civil pública, que estabeleceu a SPÍNOLA, 2011).
responsabilização por danos morais e patrimoniais
causados ao meio ambiente, o que inclui danos ao Tal como já mencionado, os mecanismos jurídicos
solo. Esta Lei também previu a possibilidade de os em vigor não têm sido suficientes para resolver
interessados, como Ministério Público, Defensoria problemas históricos de contaminação. É preciso
Pública, União, Estados e Distrito Federal, autar- que sejam definidas diretrizes para gestão de
quias, empresas públicas, fundações ou sociedades áreas consideradas críticas, seja pelo porte da
de economia mista, bem como as associações que contaminação envolvida, seja pela diversidade de
atendam os requisitos da legislação referida, poder atores correlatos.
tomar do poluidor o compromisso de ajustamen-
to de sua conduta as exigência legais, mediante
imposições firmadas, por exemplo, no Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC) (BRASIL, 1985).
5 - No âmbito do Estado de São Paulo, a Lei Estadual n.º 13.577/2009 estabelece no seu artigo 30 e nos seguintes a criação do Fundo
Estadual para Prevenção e Remediação de Áreas Contaminadas (“FEPRAC”), que é um fundo de investimento vinculado à Secretaria do Meio
Ambiente e destinado à proteção do solo contra alterações prejudiciais às suas funções, bem como à identificação e à remediação de áreas
contaminadas (SÃO PAULO, 2009).
60 HISTÓRICO, MOTIVAÇÃO E LEGISLAÇÃO PARA A DINÂMICA NO MERCADO BRASILEIRO
ARES )
ÓRGÃO DEFINIÇÃO FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL
SÃO PAULO
Superior Reúne todos os ministérios e a Casa Civil da Presi- Conselho de
dência da República na função de formular a polí- Governo
tica nacional de desenvolvimento do País, levando - -
em conta as diretrizes para o meio ambiente
Consultivo e Formado por representantes dos diferentes seto- CONAMA (1) CONSEMA(2) CADES(3)
Deliberativo res do governo (em âmbitos federal, estadual e
municipal), do setor produtivo e da sociedade civil.
Assessora o Conselho de Governo e tem a função de
deliberar sobre normas e padrões ambientais.
Legenda do Quadro 5
1.CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente - instituí- 6.IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
do pela Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Recursos Naturais Renováveis, criado em 22 de fevereiro de
Meio Ambiente, regulamentada pelo Decreto nº 99.274/90. 1989, por meio da promulgação da Lei nº 7.735.
O CONAMA é composto por Plenário, Grupos Assessores, Câ- 7. ICMBIO – Instituto Chico Mendes de Conservação da
maras Técnicas e Grupos de Trabalho. O Conselho é presidido Biodiversidade, criado em 28 de agosto de 2007 pela Lei
pelo Ministro do Meio Ambiente e sua Secretaria Executiva é 11.516/07.
exercida pelo Secretário-Executivo do MMA.
8.FNMA – Fundo Nacional de Meio Ambiente – Criado há 25
2.CONSEMA – Conselho Estadual do Meio Ambiental (SP), anos, é o mais antigo fundo ambiental da América Latina.
criado em 1983, faz a avaliação e o acompanhamento da O FNMA é uma unidade do Ministério do Meio Ambiente
política ambiental, no que se refere à preservação, conserva- (MMA), criado pela lei nº 7.797 de 10 de julho de 1989, com
ção, recuperação e defesa do meio ambiente, passando pelo a missão de contribuir, como agente financiador, por meio da
estabelecimento de normas e padrões ambientais participação social, para a implementação da Política Nacio-
nal do Meio Ambiente.
3.CADES – Conselho Municipal do Meio Ambiente e De-
senvolvimento Sustentável – CADES, instituído nos termos 9.CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo,
do artigo 22 da Lei nº. 11.426, de 18 de outubro de 1993, criada em 24 de julho de 1968, pelo Decreto nº 50.079 (São
é disciplinado pela Lei 14.887, de 15 de janeiro de 2009. O Paulo)
CADES é um órgão consultivo e deliberativo no território do
Município de São Paulo. Seu funcionamento foi regulamenta- 10. FEPRAC – Fundo Estadual para Prevenção e Remediação
do pelo Decreto nº 52.153/2011. de áreas Contaminadas, criado pela Lei nº 13.577
(São Paulo)
4.SMA – Secretaria do Meio Ambiente, órgão central e é
composto por coordenadorias, institutos, fundações, Cetesb e 11.DECONT – Departamento de Controle da Qualidade Am-
Polícia Militar Ambiental. biental, parte integrante da estrutura hierárquica da SVMA,
planejar, ordenar, coordenar e orientar as atividades de con-
5.SVMA – Secretaria Municipal do Verde e do Meio trole, monitoramento e gestão da qualidade ambiental.
Ambiente, criada na década de 1990, por meio da Lei Nº
11.426/1993 e reorganizada por meio da Lei nº 14.887/09.
Possui atribuições de planejar, ordenar e coordenar as ativi-
dades de defesa do meio ambiente.
62 HISTÓRICO, MOTIVAÇÃO E LEGISLAÇÃO PARA A DINÂMICA NO MERCADO BRASILEIRO
A rede europeia Concerted Action on Brownfield nal, para o sucesso dos projetos. A rede cita que
and Economic Regeneration Network (CABERNET) os obstáculos para implementação de políticas
congrega especialistas de 21 países da Europa e de revitalização de brownfields, resumidamente,
possui um foco de estudo e discussão visando à são apresentadas na Figura 2 (CONCERTED AC-
problemática de áreas contaminadas e brownfiel- TION ON BROWNFIELD AND ECONOMIC REGENE-
ds, afirma que a atuação do governo local consti- RATION NETWORK, 2006; SPÍNOLA, 2011).
tui uma questão chave, sob a dimensão institucio-
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4
MAPEAMENTO DAS ÁREAS
CONTAMINADAS NO BRASIL
Tatiana Tavares, Marcela Rissardi, Ana Cândida Melo Cavani
Cunha1 (informação verbal) ressalta que o cenário titucional do IPT formalizando suas intenções e o
desejado para o gerenciamento de áreas conta- pedido de preenchimento, para um funcionário de
minadas ainda não foi implementado no País. Em cada órgão ambiental estadual que estivesse apto
relação aos órgãos ambientais, poucos são aque- a responder questões relacionadas ao tema.
les que tratam a questão como prioridade ou que
tenham se estruturado minimamente para fazer As questões tratam principalmente da existência
frente às demandas surgidas e para cumprir as de um setor responsável pelo GAC no órgão e
obrigações fixadas em nível federal pela Resolu- a quantidade de funcionários ligados ao tema;
ção Conama n.º 420, de 2009. existência de um banco de dados que sistematiza
as informações das AC’s ou fontes potencialmente
Araújo (2014) concluiu que o maior nível de poluidoras e sua disponibilidade para consulta
gerenciamento foi encontrado na região Sudeste pública; problemas e obstáculos enfrentados pelo
e encontra-se em evolução na região Sul. Nos órgão que impeçam a evolução do setor; aspec-
outros estados, a situação é alarmante, já que tos que necessitam de ajustes e implementação,
após 05 anos da publicação da Resolução CONA- dentre outras que serão detalhadas a seguir.
MA 420/09, o GAC em outros estados é incipien-
te e em muitos deles a industrialização está em Como esperado, os únicos estados que enviaram
franco crescimento, como nos estados da Bahia, lista de áreas contaminadas cadastradas foram
Ceará e Pernambuco. São Paulo (CETESB), Rio de Janeiro (INEA) e Minas
Gerais (FEAM). Nesse caso, as informações dispo-
Buscando conhecer melhor a situação do GAC no níveis são mais explícitas e foram detalhadas e
Brasil, o IPT iniciou um estudo no ano passado, e comentadas a seguir. Já para os outros estados do
por meio dele foi verificado a identificação das Brasil, os órgãos ambientais ainda não dispõem
áreas contaminandas cadastradas ou de alguma dessas informações sistematizadas, deixando uma
forma registradas no país. Visando a divulgação lacuna a ser necessariamente preenchida, que é a
desse trabalho, este capítulo tem a finalidade de criação de infraestrutura para GAC nesses esta-
gerar um panorama da situação atual do geren- dos. Portanto, as áreas dos outros estados foram
ciamento das áreas contaminadas pelos órgãos cadastradas através da consulta de referências
ambientais dos Estados e mostrar um primeiro bibliográficas variadas, como artigos técnicos e
mapeamento de como os órgãos se estruturam notícias na internet.
para desempenhar o papel de identificar, mapear
e gerenciar as áreas contamidas. Assim sendo, a Figura 1 apresenta o número total
de AC’s identificadas por região do país, e mostra
Para tanto, foi formulado um questionário on-line a concentração das áreas contaminadas na região
e enviado por e-mail como link de uma carta Ins- sudeste, principalmente em São Paulo (80 %),
dada a atuação pioneira da CETESB no gerencia- também contam com um número relativamente
mento de áreas contaminadas. grande de áreas, tornando a região nordeste um
mercado potencial, como citado por Araújo (2014).
Os outros estados com maior quantidade de Os demais totalizam pouco mais de 1 % das áreas
AC’s são Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio contaminadas (Figura 1).
Grande do Sul e Santa Catarina. Paraíba e Sergipe
Ainda que todos os contaminantes possam gerar O setor de resíduos responde com 3,1 % das ACs.
risco à saúde humana e devam ser geridos de for- Os aterros sem classificação compõem 105 ACs,
ma adequada, os solventes halogenados merecem os aterros sanitários 33 ACs e os aterros indus-
atenção especial devido à sua alta mobilidade em triais 14 ACs. O setor de serviços, responsável por
água subterrânea e alta toxicidade. 2,4% das ACs, tem como principal segmento o
MAPEAMENTO DAS ÁREAS CONTAMINADAS POR REGIÃO 69
MAPEAMENTO DA ESTRUTURA
DOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS
Buscou-se identificar os órgãos ambientais que Foram levantado 11 critérios sobre o que poderia
possuem um sistema de licenciamento ambiental ser um problema ou obstáculo para que o órgão
sistematizado e eficiente, considerando o tipo ambiental realizasse um ideal GAC em seu Estado,
de atividade potencialmente poluidora segundo que poderiam ser julgados em 4 níveis de impor-
a Resolução Conama nº 237/97. A maioria dos tância: Crítico, Alto, Médio e Baixo. Os Estados que
Estados já possui esse sistema, no entanto, não responderam a essa questão foram: RS, SC, PR,
fornecem informações sistematizadas. Nesse caso, MG, RJ, ES, BA, RN e PI.
foram classificados “atende parcialmente”. Os Es-
tados que não atendem esse requisto são: MT, AL Os resultados resumidos no Quadro 1 mostram
e RR, que contam apenas com um sistema interno que a maior parte dos Estados considera os eleva-
ainda precário. Nenhum contato foi conseguido dos custos de investigação/remediação e serviços
com os órgãos do AC, AP e RO para buscar essa relacionados, bem como a falta de pessoas qua-
informação. lificadas no órgão que atuem no tema, como os
Elevados custos de aplicação das técnicas de investigação/remediação Questões consideradas com nível de
Elevados custos da prestação de serviço (análises químicas, ensaios de importância alto/crítico em 90% dos
tratabilidade, entre outros) Estados que responderam o questionário.
≤ 5.000 RR, AP, AC, TO, SE, AL, PI, MA ≤ 500 RR, AP, AC, TO, SE, DF
5.000 a 10.000 MS, PB, RN, DF, MG, PA de 500 a 1.000 RO, AL, RN, MS, AM, ES, PB, PI e PA
de 10.000 a 30.000 ES, PE, CE, BA, GO, RJ de 1.000 a 2.000 MG, MA, PE, CE e GO
de 30.000 a 50.000 SC e PR de 2.000 a 3.000 SC e PR
de 50.000 a 100.000 RS e MG de 3.000 a 5.000 RS e MG
> 100.000 SP > 5.000 SP
Mapear a dinâmica e estimar o tamanho do mer- O desenvolvimento das empresas que fazem
cado da cadeia de gerenciamento de áreas conta- parte da cadeia produtiva de Gerenciamento de
minadas é o objetivo principal desse capítulo. Áreas Contaminadas é decorrente da influência
direta de diversas Instituições, públicas ou pri-
Para ter uma visão geral do funcionamento dessa vadas, que se conectam com a cadeia produtiva
cadeia, utilizou-se o conceito de visão sistêmica. principal desempenhando papéis de suporte ao
desenvolvimento e a regulação.
Um conjunto de partes interdependentes é
representado para que se possa compreender o As instituições de regulação são as agências re-
seu funcionamento. Essas partes, embora inde- guladoras ambientais (estaduais e federais), o Mi-
pendentes, integram e interagem por atende- nistério Público e os Órgãos Públicos Ambientais.
rem a objetivos comuns ou por partilharem de Estas Instituições definem as normas e regras, fis-
mesmo contextos ou ambientes (CASTRO; LIMA; calizam, punem jurídica/legalmente os agentes e
CRISTO, 2002). promovem ações ambientais sustentáveis no sis-
tema. Essas ações podem gerar mobilização das
O retrato do Sistema de Instituições que permeia empresas que atuam com gerenciamento de áreas
a Cadeia Produtiva de Gerenciamento de Áreas contaminadas, ou desmobilização, dependendo de
contaminadas está representado na Figura 1. quão rígidas são as regras e como as fiscalizações
AGÊNCIAS MINISTÉRIO ÓRGÃOS
REGULADORAS PÚBLICO AMBIENTAIS
INSTITUIÇÕES DE REGULAÇÃO
EMPRESA DE
GEOFÍSICA E
INVESTIGAÇÃO DE
ALTA RESOLUÇÃO REPRESENTANTES
LEGAIS
DAS ÁREAS
FORNECEDOR DE EMPRESA DE
CONTAMINADAS
EQUIPAMENTOS SONDAGEM
EMPRESA DE ASSESSORIA
FORNECEDOR DE COLETA DE TÉCNICA
OUTROS INSUMOS AMOSTRAS
CONSULTORIA
LABORATÓRIO DE
JURÍDICA/
ANÁLISES
TÉCNICA
CADEIA AMBIENTAIS MERCADO FINAL
PRODUTIVA
BANCOS DE
FUNDOS PÚBLICOS
DESENVOLVIMENTO
INSTITUTOS DE
UNIVERSIDADES
PESQUISA
AGÊNCIAS
BANCOS
DE FOMENTO
e punições são aplicadas. O ritmo econômico do de áreas contaminadas que não possuem respon-
desenvolvimento dos negócios dessa cadeia, em sáveis legais identificados, mas que representam
grande parte, depende da atuação dos órgãos de grande risco para saúde das pessoas e para o
regulação. meio ambiente.
EMPRESA DE
GEOFÍSICA E
INVESTIGAÇÃO DE
ALTA RESOLUÇÃO REPRESENTANTES
LEGAIS
DAS ÁREAS
FORNECEDOR DE EMPRESA DE
CONTAMINADAS
EQUIPAMENTOS SONDAGEM
EMPRESA DE ASSESSORIA
FORNECEDOR DE COLETA DE TÉCNICA
OUTROS INSUMOS AMOSTRAS
CONSULTORIA
LABORATÓRIO DE
JURÍDICA/
ANÁLISES
TÉCNICA
CADEIA AMBIENTAIS MERCADO FINAL
PRODUTIVA
CONSULTORIAS AMBIENTAIS
amplo mercado tanto em termos de tipos de tado e ainda têm-se as áreas órfãs contaminadas
produtos fabricados quanto em termos de que são locais cujos responsáveis não podem ser
setores atendidos, que envolvem produtores identificados ou individualizados, como no caso
de alimentos, cosméticos, produtores de óleo de massas falidas de empresas ou áreas abando-
e gás, construção civil, entre outros. Este nadas cuja identificação da contaminação e a sua
mercado é oligopolizado com a presença de recuperação não ocorreu antes da desvinculação
algumas franjas em mercados específicos de do responsável pela área.
especialidades químicas, mas, de maneira
geral, por ser uma indústria que produz em
volume obtendo seus ganhos pela escala,
este mercado de áreas contaminadas é mar- INSTITUIÇÕES DE SUPORTE E
ginal nos negócios destes grandes produto- DE DINAMIZAÇÃO DA CADEIA
res químicos. Mesmo para as empresas que PRODUTIVA
atuam com especialidades, o foco específico
para mercado ambiental não existe pelo A cadeia produtiva ofertante de bens e serviços de
baixo volume de insumos requeridos. GAC para os representantes legais das áreas con-
taminadas é dinamizada por três fatores principais
• Produtores e distribuidores de outros in- que influem no ritmo da demanda destes serviços,
sumos – carvão ativado, filtros, pré-filtros, sendo altamente dependente das ações de regula-
entre outros. mentação e de incentivos governamentais:
grado e gerenciamento integrado e sustentável da área de GAC estava relacionado com a falta de
produção o que, ao final, afeta a demanda por GAC. pessoal qualificado e deficiência para aplicar e
fiscalizar a lei.
Resta compreender em que nível, para quais ativi-
dades econômicas e de que forma será o impacto O Estado de São Paulo se destaca com a legisla-
e a demanda por ações de GAC. Será que ocor- ção mais avançada que atribui aos proprietários
rerá uma diminuição da demanda, dado o maior de terras e aos outros agentes que causaram
cuidado e planejamento voltado para a geração contaminação a corresponsabilização pela pre-
de resíduos e contaminações, ou será mantida a venção, identificação e remediação, e que seja
demanda mesmo com tais ações em curso? implementado um programa de remediação.
Porém, como já apontado, há um número grande
Vale destacar que a adoção de inovações ambien- de áreas não identificadas.
tais pelas empresas nem sempre ocorre de manei-
ra voluntária, pois envolvem custos. Elas são ado- O Ekos, uma organização sem fins lucrativos,
tadas quando as empresas conseguem vislumbrar aponta que existem 30 mil áreas potencialmente
oportunidades tecnológicas e de mercado que contaminadas apenas no Estado de São Paulo
justifiquem o investimento, ou quando precisam (AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO
ser adotadas para atender a regulações impostas. INDUSTRIAL, 2012). O levantamento do cenário
Este é o ponto inicial destacado neste capítulo, do potencial poluidor dos Estados no capítu-
as regulações são essenciais para dinamização do lo 4 aponta para este como sendo o Estado de
mercado de bens de serviços em GAC e sem estas mais crítico em termos de nível de poluição, por
regras e imposições o setor não avançará. apresentar o maior parque industrial do país das
empresas que apresentam risco de poluição. Os
Conforme já apontado pela Agência Brasileira outros Estados devem apresentar um quadro de
de Desenvolvimento Industrial (2012), na maior áreas potencialmente contaminadas de menor
parte dos estados do Brasil a legislação especí- número, mas bastante acima do que está identi-
fica para lidar com as áreas contaminadas ainda ficado atualmente, dado que tais Estados são os
é limitada. São poucos os órgãos ambientais que mais carentes para ações nessa área.
priorizam a questão das áreas contaminadas em
suas ações e que se estruturam minimamente Esta mensuração da demanda potencial para a
para atuar e cumprir os requisitos da legislação cadeia produtiva de GAC no estado de São Pau-
federal (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AM- lo indica a oportunidade para dinamização da
BIENTE, 2009). A pesquisa realizada de mapea- cadeia, caso houvesse uma maior pressão para
mento das estruturas dos órgãos evidenciou esta que a legislação fosse aplicada com maior rigor.
questão claramente, sendo um dos pontos mais Para avaliar de forma mais adequada o montante
relevantes levantados pelos órgãos ambientais de áreas contaminadas no Brasil, seria necessá-
como sensíveis para estruturar suas ações na rio promover um programa para coleta de dados
CADEIA PRODUTIVA DE GERENCIAMENTO DE ÁREAS CONTAMINADAS E DESEMPENHO ECONÔMICO 97
envolvendo todos os Estados, e cujas informações bilhões e $ 61,7 bilhões. Esta grande variação é
alimentassem uma base única para registro com decorrente das diferentes definições de mercado
homogeinização das solicitações e que fosse dis- de Gerenciamento de Áreas Contaminadas ado-
tribuído para que cada Estado inserisse os dados tadas por cada estudo. Dentre as quatro fontes,
na base da plataforma, semelhante à plataforma a que usa o escopo mais restrito é o estudo da
do European Enviroment Information and Observa- Environmental Analyst ao passo que, as análises da
tion Network for soil (EIONET – SOIL). BCC Research e da US International Trade Comission
tendem a ser mais amplas. Entretanto, o estudo
da BCC Research não especifica com precisão os
DADOS GERAIS DE MERCADO E meios (solo, água, ar, etc.), ao passo que o estudo
PESQUISA COM EMPRESAS da US International Trade Comission tem o deta-
lhamento dos meios e das áreas que são escopo
do trabalho. Este último possui relação de maior
O mercado do Brasil, em especial o Estado de proximidade com o estudo desenvolvido neste
São Paulo, possui estrutura produtiva capaz de trabalho e foi considerado para levantar os dados
lidar com os solos contaminados, principalmente em relação ao mercado brasileiro.
referentes à contaminação por postos de gasoli-
na, mas carece de soluções de baixo custo para
tratamento e recuperação das áreas com contami-
nantes complexos.
Tecnologias de remediação
BCC Research (meio a ser tratado não especificado) $ 61,7 bi Global 2015
UnitedStates Depart-
ment of Commerce Remediação e serviços industriais $ 14,1 bi Estados Unidos 2015
Serviços de descontaminação de
construções, minas, solos, águas
subterrâneas, tratamento de gases
United States Interna- e efluentes líquidos, gestão de
tional Trade Comission resíduos, dentre outros $ 37,7 bi Estados Unidos 2015
Sistemas de Remediação 13
As empresas analisadas nesta amostra possuem O estudo do faturamento per capita pode ser uma
uma média de 68 funcionários, com variação entre forma efetiva de se realizar estimativas em análi-
dois e 500 funcionários. Com base nesses dados ses de dados de empresas que não possuem dados
e nas informações sobre faturamento das respon- disponíveis sobre faturamento, fato comum entre
dentes, foram feitas estimativas do faturamento empresas organizadas sobre a forma de Ltda.,
per capita da amostra considerando portes de EIRELI, OS e S/A de capital fechado.
empresas, dados de funcionários das empresas,
obtendo-se os índices da Tabela 4. Em relação às perspectivas de crescimento no
faturamento, quase metade das empresas (48,5 %)
Para a composição do agrupamento de empresas esperam crescimento, 24,2 % têm expectativa de
em função do porte, foi considerada a classifica- redução e o restante (27,3 %) acredita que fatura-
ção de comércio e serviços, conforme critérios do mento se manterá estável nos próximos anos.
SEBRAE (2013). As empresas de grande porte têm Ao verificar o faturamento das empresas nos
um faturamento per capita 81 % maior do que as últimos três anos, 30,3 % obtiveram crescimento,
microempresas. 45,5 % se mantiveram estáveis e 6,1 % tiveram
retração entre 2012 e 2014. Em 18,2 % dos casos,
Fonte:
1- Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2015)
2 - Elaborado pelos autores
CADEIA PRODUTIVA DE GERENCIAMENTO DE ÁREAS CONTAMINADAS E DESEMPENHO ECONÔMICO 103
não foi possível estimar a variação de faturamen- A Cadeia Produtiva de GAC contribui com 23 % de
to no período analisado. É possível depreender impostos sobre o faturamento, com variação de
que as empresas possuem boas expectativas alíquotas entre 10 % e 50 %. 39 % das empresas
em relação ao potencial econômico do setor. No são optantes do regime de tributação pelo lucro
entanto, esse é um tipo de informação opinativa, real, mais complexa, de maior rigidez financeira e
que pode sofrer vieses em função do momento com tendência de gerar maiores despesas contá-
em que a coleta do dado é realizada, devido a beis para as empresas adotantes desse regime. As
fatores conjunturais, tais como economia, variação empresas da amostra desta pesquisa optantes por
de emprego e desemprego, e aspectos políticos, lucro real têm faturamento médio maior (R$ 24
principalmente quando afetam diretamente as milhões/ ano) do que as empresas que optam
atividades das organizações entrevistadas. pelo regime de lucro presumido ou pelo Simples
Nacional (R$ 7 milhões/ ano). Esses são resultados
A lucratividade média das empresas gira em torno esperados, já que a amostra tem grande incidência
de 8,9 %, com índices que variam entre 0 % e de empresas de micro e pequeno porte (tendência
31,7 %. A maior parcela (61 %) das organizações a optar pelo Simples) e também pelo fato de que
da amostra forneceu informações sobre lucro nos o lucro presumido ser uma fórmula de tributação
últimos três anos. A Figura 6 mostra a lucratividade simplificada e mais difundida do que a tributação
por elo principal de atuação das organizações que pelo lucro real (PORTAL TRIBUTÁRIO, 2016).
atuam em GAC.
104 CADEIA PRODUTIVA DE GERENCIAMENTO DE ÁREAS CONTAMINADAS E DESEMPENHO ECONÔMICO
4.7 %
De acordo com o levantamento, 14 % das em- Conforme mostrado na Figura 7, a indústria (de
presas que não investem em P&D neste setor maneira geral) é o maior cliente das empresas
pretendem instituir a atividade internamente em contidas na amostra, responsável por mais de
suas organizações. Uma das razões para este fato, 50 % do faturamento de 1/3 das organizações.
consiste na utilização de tecnologias estrangei- As três empresas que não atendem o setor são
ras em suas atividades. Dentre as empresas que exclusivamente dedicadas ao atendimento de
investem em P&D, 70 % desejam expandir as organizações que atuam na área de consultoria
atividades de P&D internas e os 30 % manter as ambiental. Além de indústria e consultoria am-
atividades de P&D realizadas. biental, somente os setores de mineração, postos
de gasolina e governo representam mais de 50 %
Ainda em relação às empresas que investem em dos clientes de, pelo menos, uma das empresas
P&D, o uso de fontes externas de fomento é apli- analisadas.
cável para 23 % das empresas, que usam recursos
de agências, tais como a FINEP, BNDES, Funda-
ções de Amparo à Pesquisa, de seus respectivos SERVIÇOS PRESTADOS
estados e órgãos internacionais. Nesse caso, 77 %
das empresas utilizam recursos próprios em suas
Os serviços identificados como parte da cadeia
atividades. As 26 empresas que investem em P&D
produtiva do Gerenciamento de Áreas Contamina-
atuam junto às universidades em 31 % dos casos,
das são: Amostragem de solo/ água/ sedimento/
laboratórios privados em 19 % e institutos de
ensaios em campo, Análises químicas, Avaliação
pesquisa em 8 %; os casos restantes são de orga-
confirmatória, Ensaios de tratabilidade, Gestão
nizações que desenvolvem P&D internamente.
de contratos, Investigação detalhada e análise
Sobre o uso de tecnologias estrangeiras, 36 % das
de risco, Investigação preliminar, Piloto de cam-
empresas e centros de pesquisa utilizam equi-
po, Plano de intervenção, Sondagem geofísica e
pamentos e insumos do exterior, sendo Estados
Tecnologias de remediação. A Figura 8 apresenta
Unidos, Alemanha, Canadá, Japão, Holanda, China
a porcentagem de empresas que oferecem ao
e Inglaterra os principais países fornecedores de
mercado cada um dos serviços em Gerenciamento
tecnologias para as organizações brasileiras.
de Áreas Contaminadas.
AJUSTES E IMPLEMENTAÇÕES
NECESSÁRIAS PARA
DINAMIZAÇÃO DO SETOR DE • maior punição para os donos de áreas
SERVIÇOS EM REMEDIAÇÃO DE contaminadas;
• eliminação de conflitos entre órgãos am-
ÁREAS CONTAMINADAS
bientais;
• maior atendimentos dos requisitos impostos
Nesta seção, foram avaliados os principais aspec- pelas ações judiciais;
tos que devem ser observados para dinamização • obrigatoriedade de contabilização dos passivos
do setor. Na pesquisa, foram considerados os nos balanços contábeis das empresas.
seguintes itens:
A Figura 13 apresenta o grau de importância de
• celeridade dos órgãos ambientais; cada um dos itens, na visão de 32 empresas do
• maior fiscalização; setor de Gerenciamento de Áreas Contaminadas.
114 CADEIA PRODUTIVA DE GERENCIAMENTO DE ÁREAS CONTAMINADAS E DESEMPENHO ECONÔMICO
BARBOSA, V. 25 empresas lideram mercado verde bilionário UNITED STATES INTERNATIONAL TRADE COMMISSION.
de consultoria. Revista Exame Negócios, São Paulo, 14 jan. Environmental and related services. Washington D.C.: USITC,
2015. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/negocios/ 2013. 148 p. (Publication 4389).
noticias/25-empresas-lideram-mercado-verde¬-bilionario-
de-consultoria>. Acesso em: 24 jan. 2015.
A busca no Portal Inovação foi realizada a partir de outubro/2015 apontou a existência de 2110
do termo – áreas contaminadas - recuperan- especialistas em áreas contaminadas distribuídos
do, portanto, especialistas que têm atividades em 52 áreas de titulação pertencentes a 26 uni-
técnico-científicas ligadas ao tema. A listagem dades da federação.
dos especialistas é decrescente e ordenada em A Figura 1 apresenta os especialistas que atuam
função da quantidade de ocorrências do termo no em áreas contaminadas por Estado e segundo a
currículo Lattes. Nessa listagem aparece o nome titulação máxima. Os dados indicaram um predo-
do especialista, a instituição em que trabalha, sua mínio, aliás, esperado, das regiões mais desenvol-
formação e (se houver) titulação, além das pala- vidas do país. O Estado de São Paulo conta com
vras-chave de seu currículo. 611 especialistas; seguido por Rio de Janeiro, com
257; Rio Grande do Sul, com 231; Minas Gerais,
O Portal Inovação oferece filtros predeterminados com 190; e Paraná, com 189. As regiões Sudeste
na pesquisa, permitindo restringir a busca de es- e Sul responderam por, aproximadamente, 75 %
pecialistas por unidade federativa (UF), titulação do total de especialistas. Deve ser ressaltado que
máxima, tipo de organização e área de titulação. 4 especialistas não informaram a unidade da
A pesquisa realizada no Portal Inovação no início federação e 30 especialistas não declararam sua
formação/titulação.
Quanto ao nível de titulação, os dados indicam Convém ressaltar que, pelo Portal Inovação, o ter-
que a grande maioria dos especialistas no cam- mo “especialista” não é claramente definido. Esta
po de áreas contaminadas possui doutoramento observação é devido à dificuldade de justificar
(69 %). Isso provavelmente decorre de cerca de a presença de 578 especialistas em remediação
71 % dos especialistas estarem ligados a ICTIs, desenvolvendo atividades associadas a Núcleos
onde a valorização da titulação se deve, em parte, de Inovação Tecnológicas. Ressalta-se também
a requisitos legais, que contribuem para maiores que neste levantamento do portal, não é possível
salários e perspectivas na carreira, conforme mos- identificar com clareza especialistas atuando dire-
trado na Tabela 1. tamente no setor produtivo, uma vez que apenas
um especialista apresentou-se em uma empresa.
ARES )
TIPO DE ORGANIZAÇÃO ESPECIALISTAS % DO TOTAL
UF INSTITUIÇÕES UF INSTITUIÇÕES
BA Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)
ES Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ)
RJ
GO Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF)
Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-RJ) Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Universidade Federal de Lavras (UFLA) RN Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
MG
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
MS Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
SC
MT Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC)
PB Universidade Federal Campina Grande (UFCG) Instituto de Botânica de São Paulo (IBOT)
Figura 3 parte A
(B)
INSTITUIÇÕES
Figura 3 parte B
Figura 3. (A) Estados e (B) Instituições que mais formaram mão-de-obra pós-graduada
relacionadas ao tema áreas contaminadas no Brasil.
Fonte: elaborado pelos autores.
124 CADEIA DE CONHECIMENTO DE ÁREAS CONTAMINADAS
(B)
(A)
GRUPOS DE
INSTITUIÇÕES
PESQUISA
Universidade Federal do Rio Energia e Meio Ambiente Gerenciamento de resíduos sólidos e re-uso
de Janeiro Gestão de de resíduos e áreas contaminadas
RJ GETRES
Recuperação de Áreas Contaminadas
Universidade Federal do Sustentabilidade e Economia Avaliação de Impactos Ambientais, Tratamento de Resíduos e
Estado do Rio de Janeiro Criativa - SEC Tecnologias aplicadas ao Estudo de Impactos no Meio Ambiente
e Recuperação de Áreas Degradadas.
continua...
Continuação
dades ao longo de décadas. Em situação similar industriais. O deslocamento das indústrias das
encontram-se as áreas ocupadas pelas empresas áreas centrais, verificado no país na década de
estatais e órgãos que desenvolvem atividades 1980, em razão da recessão econômica, provocou
com potencial de contaminação dos solos e das o êxodo industrial das metrópoles em direção
águas subterrâneas. Na maioria das vezes, os das cidades do interior de São Paulo e Estados
programas de investigação são iniciados somen- com menor tradição industrial (GÜNTHER, 2006).
te após terem sido demandados pelos órgãos No entanto, tal migração trouxe à tona a proble-
ambientais. mática das áreas contaminadas provocada pelas
instalações industriais ou comerciais abandona-
Cunha (2013) ressalta que o cenário desejado das, os brownfields. Estes locais contaminados
para o gerenciamento de áreas contaminadas interferem diretamente na dinâmica do setor
ainda não foi implementado no País e não se de construção civil e do mercado imobiliário,
tem conhecimento de que algum estado tenha em razão da escassez de áreas disponíveis para
estabelecido políticas relativas à gestão das áre- construção na cidade de São Paulo (RAMIRES;
as contaminadas, além de São Paulo. Em relação RIBEIRO, 2011). Por outro lado, o boom imobi-
aos órgãos ambientais, poucos são aqueles que liário ocorrido em São Paulo a partir de 2010
tratam a questão como uma prioridade ou que criou um cenário favorável para as empresas que
tenham se estruturado minimamente para fazer atuam no ramo de remediação (AGÊNCIA BRA-
frente às demandas surgidas e para cumprir as SILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL,
obrigações fixadas em nível federal pela Resolu- 2012), o que justifica o setor de construção civil
ção CONAMA N° 420, de 2009. ser o segundo principal cliente das empresas de
remediação, conforme apresentado no Capítulo 5
O estado que possui regulação mais efetiva desta publicação.
- com exigências maiores e atuação institucio-
nal de fiscalização e punição mais intensa - é o Outros órgãos ambientais com atuação destaca-
Estado de São Paulo, por meio da Companhia da são a FEAM (MG), INEA (RJ), IAP (PR), FATMA
Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). (SC) e FEPAM (RS), cujas iniciativas para orienta-
Como reflexo, as empresas que apresentam ção e controle do mercado de gerenciamento de
maior atuação e maturidade são as empresas áreas contaminadas têm contribuído para mini-
que atuam neste estado. mizar o risco à saúde humana e ao meio ambien-
te associado à utilização de tais áreas.
Outro fato importante neste contexto é que,
assim como nos grandes centros urbanos de
países, tais como a China e Estados Unidos, no
Brasil a cidade de São Paulo sofreu o processo
de desconcentração industrial promovido na
década de 1950 pela criação de vários polos
DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR À LUZ DAS TENDÊNCIAS MUNDIAIS 133
O montante de recursos movimentado pelo mer- com grande destaque para o número de grupos
cado brasileiro de remediação se apresenta mo- atuantes em São Paulo.
desto em relação ao valor movimentado pelos
dois maiores mercados mundiais, Estados Unidos Destaca-se, neste contexto, a importância do
e União Europeia, respectivamente, conforme poder público como ente que deve estimular e fo-
mostra a Figura 1. Com um mercado de cerca de 1 mentar a inovação neste setor, fator este que tem
bilhão de dólares americanos praticado em 2014, o impacto direto no desenvolvimento da competiti-
Brasil aparece movimentando cerca de 7% do que vidade industrial e na sustentabilidade ambiental.
o mercado de remediação dos Estados Unidos é
capaz de movimentar neste mesmo ano, ainda que
tenha empresas atuando em quase toda a cadeia DESAFIOS E OPORTUNIDADES DA
do gerenciamento de áreas contaminadas. CADEIA
Tal situação pode ser explicada pelo fato de se
tratar de um setor ainda em desenvolvimento no O Brasil surge no contexto do gerenciamento
país, mas que tende a amadurecer, visto que as de áreas contaminadas como um país detentor
empresas atuantes no setor procuram investir em de uma legislação, ainda que recente, robusta
pesquisa e desenvolvimento, buscando ampliar quando comparada com os grandes mercados
e melhorar a qualidade dos serviços prestados. mundiais. No entanto, fatores importantes travam
Outro fator importante neste contexto, é a de- a implementação do cenário almejado e freiam a
terminação posta no Decreto no 59.263 (SÃO dinâmica do mercado, os quais podem ser enten-
PAULO, 2013) que dá preferência por aplicação de didos como desafios e oportunidades impostos a
tecnologias que promovam o tratamento, isto é a este setor e são resumidos no Quadro 1.
descontaminação, o qual incentiva a ampliação de
oferta de tecnologias de remediação.
Os principais desafios do setor estão relacionados Além disso, as exigências legais dos órgãos de
com fatores que poderiam dinamizar a atuação regulação tendem a incorporarem um padrão de
das empresas do setor, mas que têm se tornado qualidade técnica mais elevado para as soluções
limitantes para sua atuação. ofertadas no mercado. Essa oportunidade, junta-
mente com as fontes de financiamento voltadas
A qualificação da mão de obra é uma questão para P&D, pode estimular a geração de inovação
que ainda necessita de desenvolvimento para a e de novos conhecimentos para a área e, aumen-
cadeia. As pessoas que trabalham no tema care- tando as possibilidades para realização de inves-
cem de maior profissionalização e poucos são os timentos, para o de desenvolvimento da indústria
cursos ofertados para tal tema. Isso se reflete na nacional. As principais carências de desenvolvi-
qualidade do serviço que é prestado pelo setor, mento são para contaminantes complexos, que
que, muitas vezes, carece de qualidade técnica. ainda não problemas que não apresentam solu-
Junta-se a este fator, a falta de aplicação das ção simples e fácil.
normas que estão presentes nas legislações
atuais, mas que pela falta de estrutura dos órgãos Outro importante aspecto dessa cadeia é a
reguladores, ou pela falta de interesse em uma importância das atividades voltadas para desen
fiscalização mais rígida acaba por desestimular volvimento de tecnologia e inovação. Quanto
investimentos mais consistentes no setor e as tec- maiores forem os investimentos em inovação no
nologias que de ponta que são aplicadas acabam setor, maiores as possibilidades de se desenvolver
sendo técnicas importadas, nem sempre adapta- soluções que sejam mais baratas e cuja aplicação
das para as condições brasileiras. Como as exigên- possa ser realizada de maneira massiva.
cias/fiscalizações são inconstantes, o volume de
negócios movimentado pela cadeia é baixo, não O estudo realizado identificou que tem aumenta
há ganhos expressivos com escala de aplicação do a expectativa de investimento em atividades
e o setor ainda dispõe de tecnologias caras e de de P&D das empresas do setor, tanto no que se
acesso difícil, principalmente em se tratando de refere à realização de atividades voltadas para
contaminantes mais complexos. essa finalidade, quanto no montante declarado
de recursos investidos. As atividades de P&D são
As oportunidades que se abrem no mercado bra- alicerces para que as empresas saibam o que
sileiro de GAC estão relacionados com a necessi- fazer e como fazer e, assim, obter um alto nível de
dade, pela legislação, dos responsáveis legais de confiança e qualidade dos serviços prestados,
áreas contaminadas terem a obrigação de revita- Este é uma importante informação para enfrentar
lizarem áreas degradadas para sua devolução ao as dificuldades que ocorrem no setor pela presen
Estado. Esta cobrança, quando corretamente rea- ça de empresas não idôneas que atuam com perfil
lizada pelos órgãos controladores, pode ser fator de postergação e continuidade de prestação de
positivo para dinamizar e aumentar os volumes serviço, com o foco em manter o cliente e contra
de negócios gerados pela cadeia. tos ativos em detrimento de finalizar o serviço e
136 DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR À LUZ DAS TENDÊNCIAS MUNDIAIS
CONCLUSÕES
Esta publicação teve por objetivo retratar eco- dade. Há pouca especialização na prestação do
nomicamente a Cadeia de Gerenciamento de serviço e um grande número de empresas que
Áreas Contaminadas. O mercado de GAC é suprido para sobreviver tentam atender ao mercado final
por uma cadeia produtiva que envolve três elos com a maior gama de bens e serviços possível. O
fornecedores, sendo as Consultorias Ambientais o mercado restrito, a falta de uma rota tecnológica
elo articulador da cadeia. dominante e a cobrança errática dos órgãos regu-
ladores quanto a aplicação da legislação referen-
A estrutura de mercado desta cadeia produtiva te ao tema contribuem para um setor de baixa
caracteriza-se por ser baseada em modelo con- demanda e pouco dinâmico.
correncial com grande número de empresas de
menor porte que competem em um mercado de É esperado que, à medida que as regulações do
baixas barreiras à entrada e a saída sem domínio setor amadureçam, tornem-se mais rígidas e se-
tecnológico de uma rota ou de um conjunto de jam aplicadas de maneira mais efetiva. Dado que
poucas empresas que se sobrepõe e dominam o esse é o principal motivador das ações de reme-
setor. As empresas disputam mercado e aplicam diação de áreas contaminadas, a maior cobrança
tecnologias de diferentes graus de complexi- pelo cumprimento e pela execução das leis já
Este é uma importante informação para enfrentar Outra limitação do estudo consiste na discrepân-
as dificuldades que ocorrem no setor pela presen- cia de elos da cadeia produtiva entre as empre-
ça de empresas não idôneas que atuam com perfil sas identificadas nas conversas com especialis-
de postergação e continuidade de prestação de tas em relação aos respondentes da survey. Tal
serviço com o foco em manter o cliente e contra- desalinhamento pode ter influenciado em alguns
tos ativos em detrimento de finalizar o serviço e resultados sobre o perfil de atuação da empre-
buscar efetividade das ações empreendidas. sas, visto que empresas que atuam em Sistemas
de remediação e prestação de serviços especia-
Uma limitação deste estudo é o tamanho da lizados correspondem a cerca de 6 % do setor
amostra de empresas respondentes. Constatou-se mapeado, mas configuram 1/3 dos respondentes
que é necessário realizar esta pesquisa com um da pesquisa. De maneira análoga, Laboratórios
maior número de respondentes. Com uma maior de Análises podem corresponder a quase 20 %
quantidade de empresas respondendo ao ques- do mapeamento do setor, mas somente 3 % dos
respondentes da amostra.
2 - Idem nota 1
REFERÊNCIAS
Esse panorama é uma primeira tentativa de se AESAS e a CETESB, sem aporte financeiro direto
fazer uma leitura da cadeia de gerenciamento entre as Instituições, mas com a união dos esfor-
de áreas contaminadas no Brasil, destacando-se ços para criar condições necessárias para se ter
sua estrutura, seus atores, elos, serviços, produtos, uma base de dados que fosse possível mapear o
suas formas de relacionamento e seus recursos desempenho e desenvolvimento da cadeia.
financeiros movimentados. As instituições que se
relacionam com essa cadeia são os órgãos regula- Além desses atores articuladores principais, o
dores que propõem e implementam leis, normas estudo contou com o apoio de diferentes empre-
e regulações; as instituições de suporte financeiro sas e instituições que atuam na cadeia e que se
e de fomento, para o desenvolvimento das em- envolveram atendendo entrevistas específicas
presas e das pesquisas; e os atores da cadeia de ou respondendo ao questionário online formu-
conhecimento vinculados ao tema também foram lado para coleta de informações. Esse apoio foi
considerados. O mercado internacional foi utiliza- essencial para a produção das informações que
do como forma de comparar e balizar a atuação e estão materializadas nessa publicação. Embora
a maturidade do mercado do Brasil. o levantamento de informações alcançado ainda
mereça uma ampliação, este estudo é uma pri-
Este estudo foi viabilizado por meio de ins- meira aproximação que permite traçar uma proxy
trumentos de cooperação envolvendo o IPT, a da cadeia e de sua relevância econômica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 141
Vale ressaltar que os primeiros resultados obtidos Dessa forma, esta edição contém informações que
com esse esforço conjunto das três instituições são representativas ao recorte realizado até o
articuladoras foram apresentados oralmente, em ano de 2014 para os dados financeiros e demais
dezembro de 2015 durante o evento “Mercado informações até 2015. Os dados referentes a dis-
Ambiental Brasileiro 2015: Panorama do Se- tribuição de áreas contaminadas pelo Brasil e por
tor de Gerenciamento de Áreas Contaminadas”, segmentos industriais foram levantados por meio
realizado nas dependências do IPT e que contou de informações disponíveis nos sistemas dos ór-
com a participação de 145 participantes, sendo gãos ambientais e por publicações científicas de
74 empresas, 6 instituições e 3 outros vínculos base de dados de artigos. Não foi possível obter
institucionais. Nesse evento, o levantamento de dados primários direto dos representantes legais
informações com os atores da cadeia ainda não ti- pelas áreas contaminadas. Nessa primeira versão
nha se encerrado e contava com 72 % da amostra do panorama, não foi possível viabilizar parcerias
final obtida. O evento foi utilizado também como com entidades de segmentos industriais e produ-
um canal para convidar mais empresas e institui- tivos potencialmente e historicamente geradores
ções a participarem do levantamento. de áreas contaminadas e que pudessem auxi-
liar na obtenção de informações sobre as áreas
Após esse evento, algumas empresas que ainda contaminadas sob sua responsabilidade. Esse é
não haviam respondido o questionário online o fi- um ponto a ser aprimorado em próximos estudos,
zeram. O prazo de coleta estendeu-se até abril de ampliar a base de informações e a percepção das
2016. No entanto, vale ressaltar que, mesmo com dificuldades e obstáculos para aplicação e desen-
a divulgação da forma como os resultados esta- volvimento de tecnologias de remediação.
vam sendo tratados, algumas empresas continu-
aram não participando. As informações contidas O IPT é o responsável pelos questionários e pelas
no capítulo 5 são o resultado da atualização e bases de dados que contém as respostas obtidas
revisão com a inclusão das respostas adicionais com empresas e órgãos ambientais, sendo o único
recebidas após o primeiro evento. Contudo, os a ter acesso aos dados primários fornecidos. É
dados financeiros e outras informações solicita- relevante ressaltar que nenhum uso comercial, e
das, tanto na primeira rodada, quanto no prazo de nenhuma extração ou acesso às informações for-
extensão, são relativos aos anos de 2012 a 2014. necidas pelos respondentes são disponibilizadas
a qualquer solicitante. As informações coletadas
Este estudo por ser um panorama não só foram tratadas de maneira agregada sem identifi-
estrutural, mas também conjuntural da cadeia cação das empresas ou órgãos individualmente.
produtiva, sofre influência, conforme apresentado,
de mudanças no arcabouço legal, de conjuntura Ressaltamos que todas as opiniões, interpretações
econômica, e de nível de desenvolvimento tecno- e afirmações expressas nesse estudo são de única
lógico absorvido e aplicado pelos seus atores, ne- e exclusiva responsabilidade de seus autores
cessitando de revisões e atualizações periódicas. e que qualquer omissão ou mau entendimento
142 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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