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GERENCIAMENTO

DE RISCOS AMBIENTAIS

autora
MARJOLLY PRISCILLA BAIS SHINZATO

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2016
Conselho editorial  solange moura; roberto paes; gladis linhares; karen bortoloti;
marcelo elias dos santos

Autora do original  marjolly priscilla bais shinzato

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  gladis linhares

Coordenação de produção EaD  karen fernanda bortoloti

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  amanda carla duarte aguiar

Imagem de capa  nexus7 | dreamstime.com - risk photo

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

S556g Shinzato, Marjolly Priscilla Bais


Gerenciamento de riscos ambientais / Marjolly Priscilla Bais Shinzato
Rio de Janeiro : SESES, 2016.
152 p. : il.

isbn: 978-85-5548-179-6

1. Impactos ambientais. 2. Prevenção de riscos. 3. Análise de riscos.


4. Desenvolvimento sustentável. I. SESES. II. Estácio.
cdd 363.7

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 5

1. Meio Ambiente e Riscos Ambientais 7


1.1  Homem, meio ambiente e poluição 9
1.1.1  Lições sobre os desastres ambientais 15
1.1.2  Conscientização ambiental 25
1.2  Riscos ambientais 29
1.2.1  Introdução aos estudos de riscos ambientais 34

2. Reconhecimento de Produtos Perigosos e


Acidentes Severos 39

2.1  Transformação dos ambientes naturais 41


2.1.1  Levantamento de aspectos e impactos ambientais 43
2.2  Acidentes severos 46
2.3  Legislação ambiental para prevenção de
acidentes com produtos perigosos 48

3. Introdução a Análise Qualitativa e


Quantitativa de Riscos Ambientais 63

3.1  Estimativa de riscos ambientais 65


3.1.1  Estimativa qualitativa de riscos ambientais 65
3.1.2  Estimativa quantitativa de riscos ambientais 68
3.1.2.1  Risco social 69
3.1.2.2  Risco individual 73
3.1.2.3  Periculosidade, elementos de risco e vulnerabilidade 74
3.2  Percepção de riscos e planos de contingência 78
3.2.1  Percepção ambiental 79
3.2.2  Culpa e confiabilidade ambiental 82
3.2.3  Modelagem ambiental aplicada 83
3.2.4  Elementos de um plano de contingência 85

4. Metodologias para Estudos de


Riscos Ambientais 89
4.1  Técnicas de análise e avaliação de riscos 91
4.1.1  Análise preliminar de perigos (app) 91
4.1.2  Análise de perigos e operabilidade (hazop) 98
4.1.3  Análise de modos de falhas e efeitos (AMFE) 106
4.1.4  Análise por árvore de falhas (AAF) 111
4.2  Índices de risco 117

5. Prevenção de Riscos Ambientais 123

5.1  Gerenciamento de riscos ambientais para prevenção 125


5.1.1  Programa de prevenção de riscos ambientais (PPRA) 127
5.1.2  Considerações gerais sobre programas auxiliares ao PPRA 131
5.2  Estratégias para gerenciamento de riscos ambientais 136
5.2.1  Programas ocupacionais que podem ser
incorporados na prevenção dos riscos ambientais 138
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),

Este livro busca apresentar a você, aluno(a) ou profissional da área de meio


ambiente, uma orientação sobre o gerenciamento de riscos ambientais. Trata-
se de um tema de extrema importância, bastante usado na gestão ambiental,
pois estudos de riscos ambientais mantêm uma íntima relação com estudos de
EIA/RIMA e com processos de licenciamento ambiental.
Durante o desenvolvimento desta disciplina você poderá usar este livro para
compreender melhor seu conteúdo on-line. Esperamos que ao concluir a disci-
plina você esteja capacitado a participar de trabalhos sobre riscos e a escolher as
técnicas mais adequadas para análise e gerenciamento de riscos ambientais. Os
métodos apresentados neste livro são fundamentados basicamente em normas
regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego, e em dois documentos
sobre análise de riscos, um da CETESB e outro da FEPAM, órgãos de referência
para a gestão ambiental no Brasil. Mas no caso de você precisar fazer projetos que
envolvem riscos ambientais, favor verificar se seu estado e município possuem
documentos específicos sobre análise de riscos. Procure também sempre se atu-
alizar sobre a legislação ambiental, a qual é alterada constantemente.
O livro é dividido em 5 capítulos e em todos eles há sugestões de leitura para
orientá-los sobre detalhes ou temas adicionais que complementarão os assun-
tos aqui abordados. O capítulo 1 discute conceitos sobre impactos ambientais
e riscos ambientais, apresentando inclusive uma linha histórica de desastres
ambientais, os quais estimularam a criação de ferramentas para prever e gerir
riscos ambientais. O capítulo 2 tem um foco especial a substâncias perigosas,
as quais são frequentemente objeto de interesse nos estudos de riscos am-
bientais. O capítulo 3 faz uma introdução a análise qualitativa e quantitativa
de riscos ambientais, apresentando etapas importantes para a elaboração e a
execução de um plano de contingência. O capítulo 4 e o capítulo 5 apresentam
algumas das principais técnicas de análise de riscos que podem ser usadas
quanto aos aspectos industriais, trabalhistas e ambientais, fazendo uma refle-
xão sobre a importância de um plano de gerenciamento de riscos ambientais
para prevenção de acidentes e de danos à vida e ao meio ambiente.

Bons estudos!

5
1
Meio Ambiente e
Riscos Ambientais
Caro(a) aluno(a), neste capítulo abordaremos conceitos e definições essenciais
para estudos sobre riscos ambientais, fazendo uma ligação entre as histórias
dos grandes acidentes ambientais e a criação do gerenciamento de riscos am-
bientais no Brasil e no mundo. Aproveitando este embasamento histórico, dis-
cutiremos como o gerenciamento de riscos ambientais contribui com os prin-
cípios do desenvolvimento sustentável.

OBJETIVOS
Espera-se que após a leitura e prática das atividades propostas neste capítulo, o aluno possa:
•  Definir e contextualizar meio ambiente, poluição, passivo ambiental e desenvolvimen-
to sustentável;
•  Estabelecer uma linha histórica dos principais acidentes que resultaram no surgimento do
gerenciamento de riscos ambientais;
•  Introduzir conceitos de acidente, segurança, perigo, risco e gerenciamento;
•  Expor tipos de análise e de gerenciamento de riscos ambientais;
•  Contextualizar o gerenciamento de riscos e o desenvolvimento sustentável.

8• capítulo 1
1.1  Homem, meio ambiente e poluição
O meio ambiente muitas vezes é tratado apenas como a natureza, mas esta
abordagem restringe bastante o real significado do termo. Dependendo do
contexto, meio ambiente pode ter significados diversos, como pode ser verifi-
cado na tabela 1.1. Contudo, para definição nesta disciplina, meio ambiente ou
ambiente será tudo o que cerca o ser vivo, que o influencia e que é indispen-
sável à sua sustentação, incluindo o meio sociocultural e sua relação com os
modelos de desenvolvimento adotados pelo homem.

CONTEXTO DEFINIÇÃO

Tudo o que afeta diretamente o metabolismo ou o com-


portamento de um ser vivo ou de uma espécie, incluindo
ECOLOGIA a luz, o ar, a água, o solo ou os outros seres vivos que
com ele coabitam.

Parte do mundo natural que as pessoas julgam impor-


POLÍTICA tante ou valiosa por alguma razão (econômica, estética,
filosófica, sentimental etc.).

Conjunto de elementos observados na paisagem terres-


tre, ou seja, a topografia, a vegetação, obras humanas
GEOGRAFIA de dimensão considerável, corpos de água, a luz, a
fauna, a sociedade humana etc.

Espaço territorial ou mental de uma individualização, de


PSICOLOGIA uma relação ou de um conjunto dinâmico. Espaço de
interação de um sujeito.

Cultura em que um indivíduo vive ou onde foi educado


LITERATURA e, conjunto das pessoas e instituições com quem ele
interage.

capítulo 1 •9
Condições sociais ou psicológicas que afetam as fun-
EMPRESA ções dos integrantes da empresa.

Tabela 1.1  –  Definição de meio ambiente ou ambiente em diferentes contextos

Analisando a figura 1.1, a maior parte da população considera que apenas a


imagem da natureza verde com águas cristalinas é meio ambiente. Talvez isso
seja um reconhecimento do nosso subconsciente do que seria um ambiente
ideal e agradável à nossa vida. Paisagens que retratam a natureza, pouco ou
não alteradas, são tão raras nos ambientes urbanos que viraram local de desejo
para busca de paz e de uma vida saudável. Mas pela definição, não importa se a
paisagem é natural ou urbana, qualquer local que cerca o homem é considera-
do meio ambiente, com todo o seu conteúdo físico, químico e biológico.

Figura 1.1  –  Paisagens natural e urbana que cercam os seres vivos, ambas são considera-
das meio ambiente ou ambiente por definição.

Após definir o termo meio ambiente, é bastante importante dissertar sobre


a relação do homem com o meio ambiente no cotidiano e ao longo da história.
Você sabia que todas as atividades da sociedade humana refletem impac-
tos ao meio ambiente? Qualquer atividade humana ou usa recursos naturais

10 • capítulo 1
(matéria prima extraída da natureza) ou produz e descarta rejeitos (sólidos, lí-
quidos, gasosos) para o meio. Por exemplo, o simples fato do homem se ali-
mentar para sobreviver já acarreta grandes impactos, por exemplo, as altera-
ções ocasionadas pela agricultura, pela pecuária, pela indústria de alimentos e,
outro exemplo mais peculiar, os rejeitos do próprio organismo humano (urina
e fezes) também podem causar consideráveis impactos à qualidade ambiental.
Na figura 1.2 é retratado um exemplo de uma comunidade sem sistema de cole-
ta de esgoto, o qual é lançado à céu aberto em canais de drenagem, tornando-se
fonte potencialmente poluidora de águas superficiais, de águas subterrâneas e
do solo. Adicionalmente, essa maneira de despejo do esgoto doméstico cria am-
bientes propícios para disseminação de doenças e para proliferação de vetores.

Figura 1.2  –  Exemplo de uma destinação inadequada de esgoto doméstico, contendo rejei-
tos do próprio organismo humano que degradam o meio ambiente, com grandes possibilida-
des de danos à saúde pública.

capítulo 1 • 11
PERGUNTA

Quais são os impactos que suas atividades cotidianas causam ao meio ambiente? Explique
como cada uma dessas ações impactam o meio ambiente. Faça um levantamento de pelo
menos 5 impactos ambientais negativos.

Após esta breve discussão sobre como nossa simples existência é capaz de
causar tantos impactos ambientais, é indispensável que toda população mun-
dial reflita e se conscientize que suas atividades estão diretamente ligadas a
degradação da qualidade do meio ambiente, principalmente se realizadas in-
discriminadamente sem preocupação ambiental.
Além de estar ciente sobre os impactos que o homem está causando no
meio ambiente, é interessante saber que as alterações na qualidade da água, do
solo e do ar por ações, produtos ou resíduos das atividades humanas tem acom-
panhado a espécie humana desde o início das civilizações. Na tabela 1.2 são

12 • capítulo 1
citados alguns momentos importantes da história, levantados por Lora (2002),
responsáveis também por episódios de poluição ambiental.

TIPO DE POLUIÇÃO ATIVIDADE POLUIDORA

A primeira forma de poluição originou-se do ato


de defecar. A presença de bactérias na água
POLUIÇÃO DA ÁGUA potável foi a primeira forma de poluição da
água e causa de doenças para o homem.

O domínio do uso do fogo, há meio milhão de


POLUIÇÃO DO AR anos, criou a primeira fonte significativa de
poluição do ar.

A agricultura dos sumérios (entre 3500 e 1800


POLUIÇÃO DO SOLO a.C.) declinou por causa da salinização do solo
causada pela irrigação de terras planas.

Nuvem de pó de carvão sobre Londres em


POLUIÇÃO DO AR 1650.

Epidemia de cólera na América do Norte e na


CONTAMINAÇÃO DA ÁGUA Europa em 1830.

E por fim, como um marco na história da


poluição, na metade do século XIX, a revolução
POLUIÇÃO DE AR, ÁGUA industrial intensificou os problemas ambien-
E SOLO, DESASTRES tais devido ao crescimento urbano desorga-
AMBIENTAIS nizado associado ao crescimento industrial
desenfreado.

Tabela 1.2  –  Primeiras atividades humanas reconhecidas por causar impactos ambientais.

capítulo 1 • 13
A busca pelo progresso da sociedade nunca teve como objetivo poluir o
meio ambiente. Por outro lado, ao longo da evolução do ser humano, a ideia
de desenvolvimento se confundiu com uma progressiva dominação e transfor-
mação da natureza. E antes da conscientização ambiental ser despertada na
população, o desenvolvimento tecnológico e industrial somado à ausência de
programas eficazes de gestão ambiental resultaram em diversos eventos de po-
luição ambiental e contaminação ambiental espalhados pelo mundo.

CONCEITO
Poluição ambiental pode ser definida de maneira simplificada como a alteração das ca-
racterísticas naturais (físicas, químicas e biológicas) do ambiente (solo, ar, água) que afeta
negativamente a saúde, a sobrevivência e as atividades de organismos vivos.
Contaminação ambiental pode ser definida de maneira simplificada como a presença
de seres patogênicos ou de substâncias em concentração nociva para o ser humano.

A identificação de poluição ambiental não é tão direta e simples como se


pode pensar, podemos exemplificar ao questionar quais são os impactos am-
bientais que a revolução industrial gerava no século XIX? Como pode ser visto
na figura 1.3, o cenário de poluição ambiental a princípio se restringe a imagem
de fumaça saindo das chaminés das fábricas, que representava o aumento do
consumo de carvão nos processos produtivos, devido a intensificação das ati-
vidades industriais. Entretanto, a poluição atmosférica não foi a única forma
de poluição decorrente deste período marcante. Logo, enfatiza-se que muitas
vezes, a poluição ambiental acontece de maneiras que nossos olhos não podem
ver. Um exemplo bastante simples é o caso do lançamento de produtos quími-
cos perigosos em corpos d’água, provenientes de efluentes industriais que não
alteram a cor da água.

14 • capítulo 1
Figura 1.3  –  Ilustração da poluição atmosférica, exemplo mais comum para a população
sobre questões de poluição ambiental.

Assim, o aprofundamento sobre aspectos ambientais e impactos ambien-


tais é essencial para profissionais que participam dos processos que envolvem
gestão ambiental e gerenciamento de riscos ambientais. Aumentar sua percep-
ção ambiental é muito importante para que nenhum impacto ambiental passe
desapercebido. O levantamento de aspectos e de impactos ambientais será tra-
tado de forma mais específica no capítulo 2 e o processo de percepção ambien-
tal será detalhado no capítulo 3.
A seguir, eventos de poluição ambiental de grande magnitude (desastres
ambientais), alguns associados a acidentes, serão apresentados para inserir
você no caos que o mundo seria se a preocupação com o meio ambiente não
tivesse sido despertada.

1.1.1  Lições sobre os desastres ambientais

O período pós revolução industrial colocou a população mundial em estado de


alerta sobre o desenvolvimento tecnológico e seus impactos. Este período foi
marcado por uma série de acidentes industriais graves e derrames de conside-
ráveis quantidades de petróleo no mar que impactaram drasticamente o meio

capítulo 1 • 15
e a vida de milhares de pessoas, além dos problemas ambientais locais como
inversão térmica, SMOG, chuva ácida, poluição indoor, e dos problemas am-
bientais globais como as mudanças climáticas associada a intensificação do
efeito estufa e a destruição da camada de ozônio estratosférico. O impacto do
ser humano no meio ambiente se tornou mais reconhecido e debatido pela so-
ciedade de uma forma geral.

CONCEITO
Inversão térmica é um fenômeno meteorológico natural que acontece quando uma camada
de ar quente se sobrepõe à uma camada menos quente e impede seriamente a mistura dos
gases da atmosfera por movimentos de convecção das camadas de ar, fazendo com que
poluentes sejam acumulados na camada de ar aprisionada junto à superfície terrestre.
SMOG é a combinação das palavras smoke (fumaça) e fog (nevoeiro) que consiste em
um fenômeno atmosférico que diminui a visibilidade do ambiente em função do alto nível de
emissão de poluentes.
Chuva ácida é um fenômeno de devolução da poluição sobre a superfície terrestre. Para
formação das chuvas é necessário vapor d’água e núcleos de condensação (NDC). Quando
os NDC são constituídos de poluentes que reagem com a água formando ácidos, tornam o
pH da chuva mais baixo, precipitando uma chuva ácida.
Poluição indoor é um fenômeno associado a Síndrome do Edifício Doente (SED), que é
causada pela liberação de poluentes (em concentrações críticas ou que acumulam devido a
problemas de circulação de ar) para ambientes internos, os quais provocam efeitos adversos
à saúde e ao conforto das pessoas que circulam, trabalham, habitam esses ambientes.
Efeito estufa é um fenômeno natural que sempre existiu e que sempre foi regulado a
temperatura do planeta. O fenômeno acontece a partir da entrada da luz solar pela atmosfera,
uma camada de gases do efeito estufa (GEE) aprisiona parte dessas radiações solares em
seu interior para devolver essas radiações como forma de calor para a atmosfera. Sem o efei-
to estufa com certeza as temperaturas médias da Terra seriam muito baixas, o que dificultaria
a existência de muitas formas de vida.
Mudanças climáticas é o termo atribuído aos impactos ambientais globais que o in-
cremento do efeito estufa vem causando no planeta. O efeito estufa tem se tornado cada
vez mais intenso devido à poluição ambiental provocada pelo homem (principalmente pela
queima de combustíveis fósseis e de outros tipos de matéria orgânica, bem como pelo lan-
çamento de grandes quantidades de GEE no ambiente). Este efeito estufa indesejável, tem
alterado consideravelmente a temperatura do planeta.

16 • capítulo 1
Camada de ozônio estratosférico é uma camada formada pelo pelo gás ozônio (O3)
que envolve o planeta em altitudes elevadas (na altura da estratosfera, aproximadamente na
porção entre 15 e 50 km da superfície terrestre) para filtrar os raios ultravioleta (UV) emitidos
pelo sol. Essa camada é de extrema importância para a manutenção da vida terrestre, pois
sem ela, as plantas teriam sua capacidade de fotossíntese reduzida e casos de câncer de
pele, catarata, alergias aumentariam consideravelmente.
Buraco na camada de ozônio estratosférico é um impacto ambiental global ocasio-
nado pelo lançamento de poluentes que reagem e destroem o ozônio estratosférico, tornan-
do esta camada mais fina e aumentando a deficiência dessa proteção natural que o planeta
tem contra os raios UV. Os principais poluentes que destroem a camada de ozônio são:
gases clorofluorcarbonos (CFC), óxidos nítricos e nitrosos, dióxido de carbono (CO2) etc.
Observação: apesar da camada de ozônio e do efeito estufa estarem relacionados aos
raios UV, os fenômenos associados aos mesmos são diferentes. É importante entender bem
a diferença entre o efeito estufa e a proteção da camada de ozônio. A camada de ozônio filtra
os raios UV, deixa apenas uma pequena porcentagem dos raios do sol entrar na atmosfera.
O efeito estufa age apenas com essa parcela de raios UV que a camada de ozônio deixou
passar e por reações químicas mantém parte dessa radiação próxima à superfície para for-
necer e manter o calor na Terra.

Quando a população começou a reconhecer os impactos ambientais decor-


rentes das suas atividades, iniciou-se uma preocupação por evitar casos de po-
luição ambiental. O pesquisador Antônio Fernando Silveira Alves, matemático
por formação, realizou um levantamento sobre a origem de estudos de análise
de riscos, os quais passaram a ser ferramentas essenciais para a prevenção de
impactos ambientais e de casos de poluição ambiental. De forma resumida,
partes importantes deste levantamento são apresentadas a seguir:

•  Nas primeiras décadas nos anos 90, mais precisamente a partir da dé-
cada de 1920, a indústria alimentícia dos Estados Unidos da América (EUA)
manifestou interesse sobre às possíveis falhas e perigos oriundos de suas ati-
vidades, onde observaram que essas falhas poderiam causar perda de vida e
de propriedade;
•  a década de 1930, pesquisadores de laboratórios de toxicologia, no setor
industrial, iniciaram avaliações das propriedades tóxicas de produtos poten-
cialmente perigosos;

capítulo 1 • 17
•  Em 1931, o pesquisador H. W. Heinrich efetuou uma pesquisa sobre os
custos de um acidente em termos de “seguro social” e introduziu, pela primeira
vez, a filosofia de “acidentes com danos à propriedade. A partir desse momen-
to, diversos estudos sobre acidentes industriais com danos à propriedade mul-
tiplicaram-se, com o objetivo de estimar os custos derivados das perdas;
•  No final dos anos 1960 surgiram vários relatórios sobre segurança nas
plantas das indústrias químicas na Grã-Bretanha, tais como a Safety and
Management (sobre o gerenciamento de elementos de segurança no ambien-
te de trabalho com foco no trabalhador), pela Association of British Chemical
Manufactures em 1964, e a Safe and Sound (sobre o gerenciamento adequa-
do de substâncias químicas para segurança à saúde humana e ao ambiente,
mas também com foco no trabalhador), pelo British Chemical Industry Safety
Council em 1969. Também, nos Estados Unidos, Frank Bird Jr. fundamentou
sua teoria de “Controle de danos” em 1966, a partir da análise de uma série de
acidentes ocorridos numa empresa metalúrgica americana.
•  O desenvolvimento das tecnologias utilizadas pelas indústrias resultou
em grandes mudanças nas indústrias químicas e petroquímicas, tais como al-
terações nas condições de pressão e de temperatura, tendo como consequência
um aumento na energia armazenada nos processos (representando um peri-
go maior). Ao mesmo tempo, as instalações de processo começaram a crescer,
quase dez vezes mais, em tamanho. Também, começaram a operar em fluxo
contínuo, aumentando o número de interligações com outras plantas, para a
troca de subprodutos, tornando, dessa forma, os processos mais complexos.
Simultaneamente, outros temas (como a poluição ambiental) emergiram no
contexto social e começaram a se tornarem motivos de preocupação para o pú-
blico e para os governos. Como consequência, a indústria foi obrigada a exami-
nar os efeitos de suas operações sobre o público externo e, em particular, a ana-
lisar mais cuidadosamente os possíveis perigos decorrentes de suas atividades.
•  Até o início da década de 1970, o foco principal em relação à segurança nas
indústrias centrava-se na segurança dos equipamentos e do projeto em ques-
tão. Assim, a ênfase concentrava-se na produção, em detrimento dos aspectos
de saúde e de segurança. A preocupação ambiental era praticamente ignorada
e esse tema quase não era mencionado nas discussões de investimentos das
empresas. Também não havia interferências externas, seja do poder público ou
da população. Os governos não impunham grandes exigências de controle de
poluição ambiental.

18 • capítulo 1
•  A partir da década de 1970, devido à grande repercussão das consequên-
cias dos acidentes industriais que causaram a morte de milhares de pessoas e
impactos de grandes dimensões ao meio ambiente, esse tema veio à tona de
forma mais contundente, mobilizando os governos e a população. No Canadá
em 1970, John A. Fletcher propôs o estabelecimento de programas de controle
total de perdas, objetivando reduzir ou eliminar todos os acidentes que pudes-
sem interferir ou paralisar um sistema.
•  Em 1972, criou-se uma nova mentalidade baseada nos trabalhos desen-
volvidos pelo engenheiro Willie Hammer, especialista em segurança de siste-
mas, o qual empregou a experiência adquirida na Força Aérea e nos progra-
mas espaciais norte-americanos para desenvolver diversas técnicas a serem
aplicadas na indústria, a fim de preservar os recursos humanos e os recursos
materiais dos sistemas de produção. Em paralelo, a indústria nuclear come-
çou a desenvolver atividades na área de confiabilidade e as demais categorias
industriais passaram a adotar estas técnicas desenvolvidas pelas autoridades
de energia atômica na avaliação de riscos maiores e na estimativa de taxas de
falhas de instrumentos de proteção. O especialista Norman Carl Rasmussen
foi contratado pelo Departamento de Engenharia Nuclear do MIT (Instituto
de Tecnologia de Massachusetts – nos EUA) e desenvolveu o documento Wash
1400 com estudos probabilísticos sobre segurança nuclear. Suas publicações
foram reconhecidas como um marco sobre as metodologias de análise de risco
em termos de segurança.

Aproveitando o supracitado embasamento histórico, é importante citar


brevemente alguns dos grandes eventos de poluição ambiental, ocasionados
por acidentes nacionais e internacionais, ocorridos a partir dos anos 1950. A
gravidade e os impactos gerados por estes episódios de desastres ambientais
levaram à implementação das primeiras leis e normas baseadas em análise de
riscos ambientais, com o objetivo de minimizar o potencial de acidentes am-
bientais e suas consequências:

•  Poluição com mercúrio na Baía de Minamata (Japão/1956): descarga de


efluentes industriais contendo sulfato de mercúrio desde 1920, originando a
doença de Minamata. O mercúrio é uma neurotoxina com efeitos teratogênicos
que se acumula no tecido dos peixes e afeta o sistema neurológico de quem os
consomem como alimento. Como consequência deste fenômeno milhares de

capítulo 1 • 19
animais e pessoas foram severamente afetadas, incluindo casos de morte e de
crianças com alterações congênitas. Este episódio foi marcado por fortes mo-
vimentos ambientalistas que pressionaram a indústria responsável pelo lança-
mento do poluente a solucionar o problema e a responder pelas consequências.

MULTIMÍDIA
Para entender melhor este desastre ambiental assista o vídeo Desastre de Minamata. Dis-
ponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_zMG0MsyIQ0&feature=youtu.be>.

•  Acidente do navio petroleiro Torrey Canyon (Inglaterra/1967): o navio


com bandeira da Libéria afundou com mais de 100 mil toneladas de petróleo.
Devido a quantidade derramada, este foi o primeiro vazamento de óleo cru a
atrair a atenção do público e da ciência. Este episódio também foi marcado por
fortes movimentos ambientalistas que pressionaram o responsável para solu-
cionar o problema e responder pelas consequências.

MULTIMÍDIA
Para entender melhor este desastre ambiental assista o vídeo Torrey Canyon Oil Spill Disas-
ter. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GvrnbG_kzeM>.

•  Explosão em Flixborough (Inglaterra/1974): a explosão ocorreu devido


ao vazamento de ciclohexano, causado pelo rompimento de uma tubulação
temporária instalada como by-pass devido à remoção de um reator para a rea-
lização de serviços de manutenção. O vazamento formou uma nuvem de vapor
inflamável que entrou em ignição, resultando uma violenta explosão seguida
de um incêndio que destruiu a planta industrial.

MULTIMÍDIA
Para entender melhor este desastre ambiental assista o vídeo Acidente da Planta Industrial
de Flixborough. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3W2i30gXGyw>.

20 • capítulo 1
•  Acidente do Tarik na Baia de Guanabara (Brasil/1975): vazamento de
aproximadamente 6 milhões de litros de petróleo após colisão do navio Tarik
na Baia de Guanabara, Rio de Janeiro. Causou impactos negativos aos animais,
às atividades da pesca, do extrativismo e do turismo e contaminação de praias,
costões, manguezais, unidades de conservação e patrimônio histórico. Este
episódio foi um marco para a empresa Petrobrás, que admitiu o erro e passou a
investir em auditorias ambientais.
•  Vazamento de dioxinas em Seveso (Itália/1976): um reator de uma in-
dústria farmacêutica liberou uma nuvem tóxica de dioxina sobre mais de 1.000
hectares de terra, afetando e matando milhares de pessoas e animais da região.
Este acidente ficou mundialmente famoso e chamou atenção sobre a questão
da periculosidade dos produtos químicos.

MULTIMÍDIA
Para entender melhor este desastre ambiental assista o vídeo Desastre Ambiental em Se-
veso, Itália, 1976. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Zk2_mLcJ6jY>.

•  Acidente do navio petroleiro Amoco Cadiz (Inglaterra/França/1978): o


navio se partiu em dois e lançou mais de 200 mil toneladas de petróleo no mar.
O óleo deste navio era mais tóxico que o óleo do Torrey Canyon.

MULTIMÍDIA
Para entender melhor este desastre ambiental assista o vídeo AMOCO CADIZ derrame.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fH9ho9TEI_8>.

•  Acidente na central nuclear de Three Mile Island (EUA/1979): uma falha


da bomba do sistema de resfriamento do reator nuclear ocasionou a abertura
da válvula de alívio de pressão, liberando gases radioativos na atmosfera.

capítulo 1 • 21
MULTIMÍDIA
Para entender melhor este desastre ambiental assista o vídeo Acidente da Usina Nuclear
de Three Mile Island. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=m7ocVzJ2tXs>.

•  Acidente com pó da China (Brasil/1982): um carregamento de pó da


China (pentaclorofenato de sódio) chegou ao Brasil em embalagens não pa-
dronizadas ou não identificadas. A transferência do produto foi realizada por
vários homens vestidos apenas com calções, sem qualquer equipamento de
proteção individual, num dia de 40ºC de calor. Os sacos foram armazenados
juntamente com arroz em um galpão do Mercado São Sebastião, Rio de Janeiro.
Alguns sacos com pó da China se romperam e levaram a morte de 7 pessoas que
fizeram o carregamento, provocando tumultuo na população local. Felizmente,
a defesa civil atuou a tempo de identificar o poluente e tomar as medidas neces-
sárias para evitar mais mortes e contaminações.
•  Acidente de Bhopal (Índia/1984): vazamento do gás tóxico isocianato de
metila na planta de pesticidas da empresa americana Union Carbide. Houve
mortes imediatas de milhares de pessoas e outras milhares sofreram com da-
nos à saúde. Este acidente isolou muitos territórios e a partir deste episódio foi
criada uma metodologia de avaliação de riscos chamada Auditoria Ambiental
de Saúde e de Segurança nas Instalações Industriais, publicada pela editora
MacGraw Hill.

MULTIMÍDIA
Para entender melhor este desastre ambiental assista o vídeo Acidente em Bhopal. Dispo-
nível em: <https://www.youtube.com/watch?v=4xW2Rf71w5w>.

•  Tragédia na Vila Socó (Brasil/1984): milhares de litros de gasolina, proce-


dentes de um vazamento numa das tubulações da Refinaria Artur Bernardes,
incendiaram a Vila São José (Vila Socó – em Cubatão/SP). Os números oficiais
de destruição, mortos e feridos são noticiados como subestimados. Neste
episódio, o tempo de resposta e a eficiência dos planos de emergência fo-
ram questionados.

22 • capítulo 1
MULTIMÍDIA
Para entender melhor este desastre ambiental assista o vídeo A Verdade Apagada - Incên-
dio da Vila Socó. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3vTmLLGIbpM>.

•  Explosão em San Juanico (México/1984): ocorreu a explosão de uma nu-


vem de vapor e uma série de BLEVE na base de armazenamento e distribuição
de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) da empresa PEMEX, localizada no bairro de
San Juanico, Cidade do México. A catástrofe iniciou-se com o vazamento de gás
devido à ruptura de uma tubulação de 8 polegadas de diâmetro que transporta-
va o gás de uma das esferas para os reservatórios cilíndricos. As consequências
desse acidente foram trágicas: morte de 650 pessoas, mais de 6.000 feridos e
destruição total da base.

CONCEITO
BLEVE é uma abreviação de um termo da língua inglesa Boiling Liquid Expanding Vapor
Explosion. Fenômeno decorrente da explosão catastrófica de um reservatório, quando um
líquido nele contido atinge uma temperatura bem acima da sua temperatura de ebulição à
pressão atmosférica com projeção de fragmentos e de expansão adiabática.

MULTIMÍDIA
Para entender melhor este desastre ambiental assista o vídeo EXPLOSIONES EN SAN
JUANICO 1984. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=nngeCe8Kni8>.

•  Acidente na central nuclear de Chernobyl (Rússia/1986): explosão de um


reator nuclear que descarregou combustível nuclear de urânio em uma nuvem
de 7,5 quilômetros de altura. Houve milhares de mortes; milhares de pessoas
sofreram com danos à saúde; a contaminação nuclear se alastrou por uma vasta
área territorial. Este acidente resultou em uma comoção mundial, principal-
mente na Europa, originando as normas BS que deram origem as normas ISO-
14000, usadas hoje para auditorias ambientais.

capítulo 1 • 23
MULTIMÍDIA
Para entender melhor este desastre ambiental assista o vídeo Entenda o acidente nuclear
de Chernobyl. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=9-uDPiNVBlA>.

•  Acidente radiológico de Goiânia com Césio-137 (Brasil/1987): um apare-


lho de radioterapia de uma clínica médica abandonada foi encontrado como
lixo e desmontado para venda de sucatas. A caixa radioativa chamou atenção
por sua luminosidade e foi passada de mãos em mãos pela população curiosa.
Houve mortes e pessoas que sofreram com sequelas da contaminação radioló-
gica. Este episódio revitalizou a Comissão nacional de Energia Nuclear (CNEN)
e ativou as ações de fiscalização de atividades que utilizam material radioativo
no Brasil.

MULTIMÍDIA
Para entender melhor este desastre ambiental assista o vídeo Filme - Césio 137, O Pesadelo
de Goiânia (1990). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=G9vaVoYK4i8>.

•  Acidente do navio petroleiro Exxon Valdez (EUA/1989): o navio afundou


no banco de areia de Bligh, no Alasca, com a liberação de mais de 30.000 tonela-
das de petróleo. Grande parte do ecossistema local foi afetado e exigiu técnicas
de biorremediação em grande escala.

MULTIMÍDIA
Para entender melhor este desastre ambiental assista o vídeo Pior desastre ambiental no
Alasca (1989). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_BUeKiJX_Tw>.

24 • capítulo 1
A principal lição desses desastres ambientais é que não são apenas animais
e plantas que sofrem com a poluição causada pelo homem. Mesmo que aciden-
talmente, o próprio homem pode ser lesionado direta ou indiretamente (mor-
tes, doenças, perdas materiais, perdas econômicas etc.) em decorrência de suas
falhas, ações ou omissões. Logo, todos estes acidentes serviram de motivação
para o desenvolvimento de tecnologias e de metodologias para prevenção de
riscos ambientais e para proteção da população e do meio ambiente.

1.1.2  Conscientização ambiental

Depois de ler tantos casos de desastres ambientais podemos imaginar que a


natureza, pelo menos a parte que detém a vida, é muito frágil. Mas não se enga-
ne, saiba que a natureza possui um poder de recuperação natural, chamado de
capacidade de autodepuração ou de resiliência como será visto no Capítulo 2. E
então como as atividades humanas geram tantos impactos ruins para animais,
plantas e pessoas? É que algumas vezes, o consumismo desenfreado da popula-
ção atual acarreta na geração e no descarte de grandes quantidades de rejeitos
de qualidades variadas, que em alguns casos ultrapassam a capacidade natural
de recuperação do meio ambiente. Nestes casos, o homem pode e deveria auxi-
liar na recuperação do ambiente afetado pela poluição ou contaminação.
Alguns casos de poluição que o homem intervém são minimizados ou re-
solvidos em curtos e médios períodos de tempo, outros em longos períodos
de tempo. Porém, alguns casos de degradação do meio ambiente podem cau-
sar danos irreversíveis, transformando estas áreas degradadas em uma amea-
ça para o meio ambiente e para a saúde pública por tempo indeterminado.
Detalhes sobre áreas degradadas serão abordados no capítulo 2.
As áreas que sofreram danos ambientais e não foram recuperadas (ou por
descaso ou por impossibilidade técnica) tornam-se passivos ambientais, sem-
pre sob a responsabilidade de um indivíduo ou de uma pessoa jurídica. Um
exemplo muito comum de passivo ambiental são áreas utilizadas como depósi-
tos de resíduos (figura 1.4). Os resíduos aterrados, perigosos ou não, produzem
e liberam efluentes (principalmente líquidos e gasosos) constantemente para o
meio ambiente e, até o momento, não se sabe quando eles deixam de ser uma
ameaça para o ecossistema onde foram inseridos e para a saúde pública.

capítulo 1 • 25
Animais Lençol
Metano
e Insetos Freático

Chorume

Figura 1.4 – Esquema simplificado da poluição do ar, do solo e da água causada por depó-
sitos de resíduos aterrados. Como os resíduos (agente poluidor) permanecem no local e não
se sabe quando o lançamento de efluentes líquidos e gasosos é encerrado, estes locais de
armazenamento de resíduos tornam-se passivos ambientais por tempo indeterminado.

Esquema simplificado da poluição do ar, do solo e da água causada por de-


pósitos de resíduos aterrados. Como os resíduos (agente poluidor) permane-
cem no local e não se sabe quando o lançamento de efluentes líquidos e gaso-
sos é encerrado, estes locais de armazenamento de resíduos tornam-se passivos
ambientais por tempo indeterminado.

LEITURA
Uma dica de leitura para melhorar o entendimento sobre passivos ambientais é o artigo: Passi-
vo ambiental: revisão teórica de custos na indústria do petróleo. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65132004000100006>.

Atualmente, a maioria dos casos de poluição ambiental que afetam ecossis-


temas ou que afetam a população são noticiados e levantam questões ambien-
tais pela população, gestores e comunidade científica. Como decorrência do
despertar desta conscientização ambiental globalizada, muitos eventos foram
promovidos e acordos internacionais foram criados para minimização da po-
luição mundial e para a busca do desenvolvimento sustentável.

26 • capítulo 1
Como principais documentos e eventos internacionais estão: a criação da
EPA - Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (1970); a Conferência
de Estocolmo (1972) que reconheceu a qualidade ambiental como direito huma-
no e a necessidade do uso racional dos recursos naturais; o Relatório Brundtland
(1987), documento onde o termo desenvolvimento sustentável é criado e defini-
do; o Protocolo de Montreal (1987) que limitou e proibiu o uso de CFC que des-
trói a camada de ozônio; criação do IPCC - Painel Intergovernamental sobre as
Mudanças Climáticas (1988) que propõe pesquisas de causas e efeitos do incre-
mento do efeito estufa no planeta; a Convenção da Basiléia (1989) que firmou
regras para movimentação e eliminação transfronteiriça de resíduos perigosos;
a Conferência Rio 92 (1992) e o Protocolo de Kyoto (1997) onde foi firmado um
tratado internacional para redução da emissão de gases estufa.
Apesar dessa evolução de ações em prol do meio ambiente, vale lembrar que
a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, um dos documentos
mais antigos sobre os direitos do homem, já colocava o meio ambiente como
um bem de direito de todos e como um bem que todos devem cuidar.

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coleti-
vidade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”

Repare que na própria constituição já existia uma motivação para o desen-


volvimento sustentável. Conclui-se que esta busca pelo desenvolvimento sus-
tentável já ocorre há algumas décadas. Historicamente, a discussão global do
modelo sustentável de desenvolvimento começou na década de 1970 e conti-
nua até os dias atuais.

LEITURA
Uma dica de leitura para melhorar o entendimento sobre desenvolvimento sustentável é o
Caderno de debate Agenda 21 e sustentabilidade. Disponível em: <http://www.mma.
gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/CadernodeDebate_07.pdf>.

capítulo 1 • 27
Como reflexão positiva, percebe-se que esta responsabilidade e este direito de
qualquer indivíduo se preocupar com o presente e com o futuro da humanidade é
um dos grandes avanços que a sociedade atual adquiriu ao longo de um histórico
de transformações do meio onde vivemos. E por isso, o gerenciamento de riscos
ambientais surge como uma importante ferramenta de controle das atividades
humanas para evitar a poluição acidental e para minimizar os efeitos da poluição
quando imprevistos ou acidentes acontecerem. Esta ferramenta contribui para
melhorias na qualidade do planejamento das mudanças necessárias nos atuais
sistemas de produção, na organização da sociedade humana e do uso de recursos
naturais. É importante ressaltar que o objetivo não é interromper o crescimento
econômico ou o desenvolvimento da sociedade, mas sim garantir que a geração
atual supra suas necessidades sem comprometer a possibilidade das gerações
futuras de suprir as suas (figura 1.5). Este é o caminho por um desenvolvimento
sustentável e todos podem contribuir com esta busca.

Figura 1.5  –  Imagem que representa muito bem um exemplo de um ambiente com foco no
desenvolvimento sustentável e de um ambiente sem preocupações com a sustentabilidade,
a população foi ou está sendo conscientizada de que é possível suprir nossas necessidades
atuais sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de suprir as suas.

REFLEXÃO
Apesar da correria da vida moderna, deve haver ações do seu cotidiano que você faz, mesmo
que inconscientemente, para preservar o ambiente que será passado para seus filhos, netos
etc. Reflita e enumere quantas ações você faz que auxiliam na busca pelo desenvolvimen-
to sustentável.

28 • capítulo 1
A seguir você será introduzido ao mundo dos riscos ambientais. Espero que
o conteúdo exposto seja proveitoso para você, aluno(a) ou profissional do meio
ambiente, se torne “mais um” na busca pelo desenvolvimento sustentável.

1.2  Riscos ambientais


Primeiramente é importante que você saiba que a abordagem trabalhista abor-
da os riscos ambientais de uma maneira mais restrita que a abordagem am-
biental. Ao decorrer dos capítulos deste livro você poderá perceber que o foco
do gerenciamento dos riscos ambientais para o Ministério do Trabalho e Em-
prego, por exemplo, é diferente do foco para as agências ambientais. Contudo,
independente do foco, as metodologias a serem usadas nos estudos de riscos
ambientais podem ser as mesmas para ambas as abordagens.
O risco ambiental na abordagem trabalhista está restrito ao ambiente de
trabalho (ambiente interno aos limites do empreendimento) e possui foco na
preservação da integridade do trabalhador. A definição de riscos ambientais
neste caso é “agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes
de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e
tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador”. Já
o risco ambiental na abordagem ambiental é ampla e contempla os ambientes
interno e externo dos limites do empreendimento, mas inevitavelmente o foco
é direcionado a preservação do meio ambiente. A definição de riscos ambien-
tais neste caso não é pronta, mas pode ser obtida através da reflexão de vários
conceitos sobre o tema. Ressalta-se que esta disciplina e este livro tem o objeti-
vo de trabalhar riscos ambientais no seu sentido mais amplo, visando a mitiga-
ção de impactos ambientais e de danos à saúde pública.
A primeira consideração a se fazer é que “risco ambiental não é a mesma coi-
sa que impacto ambiental”. Assim como toda ação tem uma reação, o impacto
ambiental é a reação de alguma ação humana. O impacto ambiental é percep-
tível e altera as características naturais do ambiente. Já o risco está associado
ao termo probabilidade, que representa certa chance de algo acontecer. Neste
sentido, quando algum fato parece certo ou tem grande chance de acontecer
considera-se risco elevado, por outro lado quando existem chances mínimas
desse fato ocorrer considera-se risco baixo. Para melhorar o entendimento,

capítulo 1 • 29
vamos definir os termos perigo, risco, acidente, e logo após, os conceitos e as
relações sobre gerenciamento e segurança.
O primeiro termo a ser definido é “PERIGO” que é uma fonte ou uma si-
tuação com potencial para provocar danos em termos de lesão, doença, dano
à propriedade, dano ao meio ambiente, ou uma combinação destes (definição
da BS 8800, hazard). Já o termo “RISCO” é a combinação da probabilidade de
ocorrência e da consequência de um determinado evento perigoso (definição
da BS 8800, risk). Atenção! Risco não é sinônimo de perigo. Um exemplo ge-
nérico para você concordar que risco não é a mesma coisa que perigo é: o ato
de descer uma escada representa um risco real de acidente, mas seria um tanto
exagerado chamar este ato de perigoso.

ATENÇÃO
PERIGO ≠ RISCO
Perigo, de uma forma mais explicativa, é uma característica de uma atividade ou de uma
substância que expressa a sua condição de causar algum tipo de dano a pessoas, a instala-
ções ou ao meio ambiente.
O perigo consiste em uma situação ou condição que tem potencial de acarretar conse-
quências indesejáveis. É a propriedade intrínseca de uma substância perigosa ou de uma
situação física de poder provocar danos à saúde humana e/ou ao ambiente.
Risco, de uma forma mais informal, é uma medida da capacidade que um perigo tem de
se transformar em um acidente.
O risco está relacionado com a chance de ocorrerem falhas que “libertem” o perigo e da
magnitude dos danos gerados por esta “libertação”.
Em outras palavras, risco é uma contextualização de uma situação de perigo, ou a possi-
bilidade da materialização do perigo ou de um evento indesejado ocorrer.

A adequada composição dos fatores “frequência esperada” e “magnitude


das consequências” possibilita estimar os riscos ambientais de um empreendi-
mento. Com esta estimativa realizada em uma análise de riscos, é possível com-
parar as formas de expressão do risco com padrões previamente estabelecidos,
fazendo-se então a avaliação dos riscos ambientais, tornando possível inclusive
discutir a viabilidade ambiental de um empreendimento.

30 • capítulo 1
Após esta discussão sobre os termos perigo e risco, podemos definir o termo
“risco ambiental”. A definição a ser usada durante esta disciplina: risco am-
biental é a possibilidade da ocorrência de uma alteração adversa das caracte-
rísticas do meio ambiente em virtude da atividade antrópica. Apesar do risco
ambiental também estar associado a eventos naturais, que o homem não parti-
cipa, o foco do gerenciamento de riscos ambientais será sobre uma reflexão dos
impactos causados pelas atividades humanas, uma vez que os estudos de aná-
lise de riscos com foco no meio ambiente acontecem durante o licenciamento
ambiental de fontes potencialmente geradoras de acidentes ambientais.

CONCEITO
Antrópico é um termo usado em ecologia que se refere a tudo aquilo que resulta da atuação
humana. Por exemplo: ação antrópica é a ação do homem sobre o habitat e as modificações
dela resultantes.
Licenciamento ambiental é um procedimento administrativo pelo qual o órgão ambien-
tal competente licencia a localização, instalação, modificação, ampliação e a operação de em-
preendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais, consideradas efetivas ou
potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar a degradação
ambiental, considerando as disposições legais e as normas técnicas aplicáveis ao caso.

Cabe agora comentar sobre o termo “acidente” que é um evento inesperado


e quase sempre indesejável, que resulta em algum tipo de dano (pessoal, so-
cial, material, ambiental, entre outros). Nos séculos passados, alguns casos de
poluição ambiental aconteceram em decorrência de alguma ação intencional,
mas sem o conhecimento das consequências desta ação (que é o exemplo do
Desastre de Minamata no Japão). Outros casos aconteceram devido a falhas de
diversas naturezas que levaram a algum acidente. Neste sentido, estes desas-
tres ambientais retratam casos de poluição acidental. Seja de origem natural ou
antropogênica, os acidentes representam grande ameaça ao desenvolvimento
sustentável, uma vez que alguns organismos vivos ou elementos naturais pre-
ciosos podem ser perdidos para sempre como, por exemplo, o caso de extinção
de espécies animais. Neste contexto, após todos os desastres ambientais docu-
mentados, os empreendedores se viram obrigados a identificar os riscos am-
bientais decorrentes de suas atividades e a propor medidas que controlassem

capítulo 1 • 31
estes riscos e que evitassem acidentes, a fim de garantir segurança para a popu-
lação e para o meio ambiente.
O termo “gerenciamento” surgiu então como o conjunto de normas, de
procedimentos e de meios, humanos e materiais, que aplica métodos capazes
de permitir a administração da empresa na rota dos objetivos fixados. No caso
do termo “Gerenciamento de Riscos”, o objetivo fixado é prevenir, controlar
e reduzir os riscos existentes, de modo a torná-los toleráveis. Podemos definir
o termo “Gerenciamento de Riscos Ambientais” como um conjunto de nor-
mas e procedimentos que permite o desempenho normal da atividade ou do
empreendimento para prevenir, controlar e reduzir os riscos existentes, a fim
de garantir a segurança da população (incluindo trabalhadores) e do meio
ambiente. Portanto, qualquer programa de gerenciamento de riscos ambien-
tais deve contemplar os potenciais riscos da atividade ou do empreendimento,
identificando os prováveis impactos ambientais, bem como as medidas de mi-
tigação dos mesmos.
Observa-se que nesta contextualização sobre o gerenciamento de riscos am-
bientais, o termo “segurança” apareceu. A segurança está relacionada à prote-
ção contra riscos que podem ocorrer ao longo de um gerenciamento. Garantir
segurança é garantir tranquilidade ao indivíduo e à coletividade, geralmente
através de um conjunto de medidas preventivas que minimizam a ocorrência
de acidentes.
Você pode pensar em qualquer atividade ou empreendimento que produ-
za benefícios no nível pessoal, social, tecnológico, científico ou industrial. Em
qualquer empreendimento haverá um elemento de risco indispensável. Se to-
dos os perigos e riscos tivessem que ser eliminados antes de aprovar a ativida-
de, nenhum avião poderia voar, nenhum automóvel se mexer e nenhum navio
poderia sair ao mar. Logo, o importante não é eliminar os riscos e sim gerenciá
-los de maneira satisfatória para permitir que as atividades humanas aconte-
çam em segurança. Entretanto, alguns empreendimentos de alto risco (devido
a um conjunto de fatores) devem sempre ser cautelosos e rigorosamente avalia-
dos, desde a etapa de projeto (antes do início da sua instalação). Pois a simples
escolha do local de instalação de alguns empreendimentos já levanta riscos
ambientais de grandes proporções, por exemplo, escolher instalar uma usina
de álcool (que produz grandes quantidades de vinhaça) no meio do Pantanal
(ecossistema único de grande biodiversidade que pode ser visto na figura 1.6) é
com certeza uma decisão de alto risco. Você pode instalar os melhores sistemas

32 • capítulo 1
de gerenciamento de riscos e de mitigação de impactos ambientais, mas o risco
de acontecer algum evento perigoso que vá impactar o ambiente nunca deixará
de existir. E no caso de vazar vinhaça acidentalmente para o meio pode ocasio-
nar um grande desastre ambiental.

Figura 1.6  –  Imagens do Pantanal no Brasil, um ecossistema único no planeta com grande
biodiversidade. Local com alta sensibilidade a impactos ambientais, que elevam a magnitude
dos riscos ambientais de muitos empreendimentos.

Assim análise de riscos, avaliação de riscos, monitoramento de riscos, ge-


renciamento de riscos surgiram como importantes ferramentas para prevenir
desastres ambientais e para mitigar os impactos ambientais das atividades
antrópicas ou dos eventos de poluição decorrentes de acidentes. Vale ressal-
tar aqui que os termos análise de riscos e avaliação de riscos são metodolo-
gias diferenciadas no estudo sobre riscos ambientais. Segundo a Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), “ANÁLISE DE RISCOS” é o estudo
quantitativo de riscos numa instalação, baseado em técnicas de identificação
de perigos, estimativa de frequências e consequências, análise de vulnerabili-
dade e na estimativa do risco. Os principais resultados de uma análise de ris-
cos são a identificação de cenários de acidentes, suas frequências esperadas
de ocorrência e a magnitude das possíveis consequências. Já a “avaliação de
riscos” é o processo pelo qual os resultados da análise de riscos são utilizados

capítulo 1 • 33
para a tomada de decisão, através de critérios comparativos de riscos, para defi-
nição da estratégia de gerenciamento dos riscos e aprovação do licenciamento
ambiental de um empreendimento.

1.2.1  Introdução aos estudos de riscos ambientais

Toda metodologia existente sobre estudo de riscos é baseada na experiência ad-


quirida a partir do histórico de acidentes, que infelizmente tiveram que ocorrer
para que o gerenciamento surgisse. As ferramentas de estudos de riscos am-
bientais consistem em duas linhas gerais: análise de riscos ambientais e ge-
renciamento de riscos ambientais. As demais ferramentas como avaliação de
riscos ambientais, monitoramento de riscos e outras entram como consequên-
cia destas duas linhas, assim como mostra o mapa conceitual apresentado na
figura 1.7.

Gerenciamento de Riscos Ambientais

Análise de Risco Gerenciamento do Risco

Histórico e Conceitos
Programas de Prevenção de Riscos

Risco e Pengo

Elaboração de Mapas de Risco


Risco Individual Risco Social

Programa de Condiçõse e Meio


Classificação Risco
Ambiente do Trabalho (PCMAT)

Análise de Risco Industrial


Modelos de Gestão de Risco
Frequências de probabilidades
do Risco
Planos de Emergência
Análise Preliminar Riscos Estudo perigos e
(APR) Operabilidade (HAZOP)
Estudo de Casos Práticos

Figura 1.7  –  Exemplo de um mapa conceitual sobre as etapas de um estudo de riscos am-
bientais (a figura é do conteúdo on-line, portanto eu gostaria que o pessoal da imagem refi-
zesse esta figura com cores e mais legível)

34 • capítulo 1
As principais etapas da 1ª linha de estudo (análise de riscos ambientais) são
análise de riscos e avaliação de riscos. Estas duas etapas incluem resumidamente
a identificação do perigo e do risco, estudo de toxicidade, estudo de exposição,
caracterização, classificação e quantificação do risco. Aqui entram algumas me-
todologias bastante conhecidas na área de riscos: Análise Preliminar de Riscos
(APR) ou Análise Preliminar de Perigos (APP), Estudo de Perigos e Operabilidade
(HAZOP), Análise do Modos de Falha e Efeitos (AMFE), Análise de Árvore de
Falhas (AAF) etc. Algumas destas técnicas serão explicadas no capítulo 4.
A análise de riscos é a primeira ferramenta utilizada no estudo sobre riscos
ambientais, parece ser natural e obrigatória, uma vez que a previsão de eventos
indesejáveis possíveis de ocorrer no futuro pode trazer vantagens, ou no mínimo
atenuar grandes prejuízos. Apenas para distinguir, existem três principais tipos
de análise de riscos (tabela 1.3) com focos diferenciados: análise de riscos de se-
gurança; análise de riscos para a saúde humana e análise de riscos ecológicos.

TIPO DE ANÁLISE
FREQUÊNCIA E MAGNITUDE CARACTERÍSTICAS GERAIS
DE RISCOS
Efeitos agudos imediatos (impactos elevados em
curto espaço de tempo)
Baixa probabilidade Acidentais
SEGURANÇA Consequência de magnitu- Tempo de resposta crítico
de elevada Relações causa/efeito óbvias
Foco: segurança humana e patrimonial (essencial-
mente dentro do espaço de trabalho)
Efeitos crônicos retardados (impactos gerados por
exposições contínuas cujos efeitos podem não se
Elevada probabilidade
manifestar por longos períodos de tempo)
SAÚDE Consequência de baixa
Relações causa/efeito difíceis de estabelecer
magnitude
Foco: saúde humana (essencialmente fora do local
de trabalho)
Efeitos complexos (avalia alterações nas interações
entre populações, comunidades e ecossistemas ao
Baixa ou eleva- nível micro e macro)
da probabilidade Relações causa/efeito difíceis e com gran-
ECOLÓGICO Consequência de baixa ou des incertezas
elevada magnitude Foco: equilíbrio dos ecossistemas (podem se
manifestar bem distantes das fontes geradoras do
impacto)

Tabela 1.3  –  Principais tipos de análise de riscos usados em estudos de riscos ambientais

capítulo 1 • 35
As principais etapas da 2ª linha de estudo (gerenciamento de riscos am-
bientais) são controle de riscos e monitoramento de riscos. Estas duas etapas
incluem resumidamente a determinação de critérios e ações para controlar os
riscos, programas de monitoramento e revisão (auditorias) e ações sistemáti-
cas a serem acionadas em curto, médio e longo prazos para os casos de aci-
dentes (planos de contingência). Aqui entram algumas metodologias bastante
conhecidas na área de riscos: Mapas de Risco, Programa de Condições e Meio
Ambiente de Trabalho (PCMAT), Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
(PPRA), O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), Plano
Ação de Emergência (PAE) etc. Algumas destas metodologias serão explicadas
no capítulo 5.
Os programas de monitoramento de riscos devem ser continuamente apli-
cados nos processos e precisam ser realistas o suficiente ao adotarem níveis
de sensibilidade que produzam alertas. Uma das maneiras de delinear essas
estratégias de monitoramento é simular uma situação específica que se deseja
evitar e, então, avaliar se, com os erros é possível, pelo monitoramento, evitar a
situação indesejável prevista. Existem três tipos principais de monitoramento
de riscos:
1) De recomendação: monitoramento feito para acompanhar os planos
de ação (Recomendação);
2) De riscos ou vulnerabilidades: monitoramento que possibilita revisões
periódicas e auditorias internas (Revisões periódicas);
3) Do programa de gerenciamento de riscos: monitoramento que acom-
panha o processo como um indicador de performance (Indicadores).

De maneira geral, o termo gerenciamento de riscos ambientais pode ser


usado como um termo mais amplo, o qual incluirá as duas etapas dos estu-
dos de riscos ambientais (análise e gerenciamento de riscos ambientais).
Resumidamente, para garantir a segurança dos processos ou das atividades,
os principais passos a seguir em um Planejamento e Gerenciamento de Riscos
(PGR) são apresentados na tabela 1.4.

IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS A quais riscos o meio está sujeito?


ANÁLISE DE RISCO
QUANTIFICAÇÃO DOS RISCOS Quais impactos ambientais serão causados e qual sua magni-
AVALIAÇÃO DE RISCO tude? Quem será afetado?

36 • capítulo 1
TRATAMENTO DOS RISCOS Quais são as medidas que vão mitigar os riscos?
CONTROLE DE RISCO
MONITORAÇÃO DOS RISCOS Quais ações servirão para acompanhar o risco e seu
MONITORAMENTO DE RISCO desenvolvimento?

Tabela 1.4  –  Passos a seguir em um Planejamento e Gerenciamento de Riscos (PGR)

A delimitação destas etapas ajuda a compreender melhor o foco do geren-


ciamento para um acompanhamento mais efetivo de processos e atividades, ba-
seado na prevenção. É muito importante que todas as etapas sejam acompanha-
das de perto, com avaliação da ação e da sua resposta, possibilitando mudanças
de planos ao longo do tempo para um melhor resultado do gerenciamento.

ATIVIDADES
01. A ideia de desenvolvimento sustentável tem sido cada vez mais discutida junto às ques-
tões que se referem ao crescimento econômico. De acordo com este conceito marque F para
para a(s) afirmação(ões) falsa(s) e V para a(s) afirmação(ões) verdadeira(s):
a) ( ) o meio ambiente é fundamental para a vida humana e, portanto, deve ser intocável.
b) ( ) os países subdesenvolvidos são os únicos que praticam esta ideia, pois, por sua
baixa industrialização, preservam melhor o seu meio ambiente do que os países ricos.
c) ( ) ocorre uma oposição entre desenvolvimento e proteção ao meio ambiente e, portan-
to, é inevitável que os riscos ambientais sustentem o crescimento econômico dos povos.
d) ( ) deve-se buscar uma forma de progresso socioeconômico que não comprometa
o meio ambiente sem que, com isso, deixemos de utilizar os recursos nele disponíveis.
e) ( ) são as riquezas acumuladas nos países ricos, em prejuízo das antigas colônias duran-
te a expansão colonial, que devem, hoje, sustentar o crescimento econômico dos povos.

02. Faça uma pesquisa sobre alguns acidentes nucleares e comente suas consequências
para a população e o meio ambiente.

REFLEXÃO
Neste capítulo, resumidamente você foi exposto a uma série de eventos históricos de polui-
ção ambiental e poluição acidental; foi alertado sobre a importância de ações que contribuem
para o desenvolvimento sustentável; familiarizou-se com termos técnicos sobre segurança e

capítulo 1 • 37
risco e; por fim, compreendeu o papel dos estudos de riscos ambientais no contexto da pre-
venção de desastres ambientais e da preservação do meio ambiente para gerações futuras.

LEITURA
ALVES, Antonio Fernando Silveira. Avaliação de riscos ambientais (apostila). Vitória: Editora UNISA,
2015. p. 107. Disponível em: <http://unisa.br/conteudos/9123/f1258221175/apostila/apostila.
pdf>. Acesso em: 14 jun. 2015.
BRILHANTE, Ogenis Magno; CALDAS, Luiz Querino de A. (coord.). Gestão e avaliação de risco em
saúde ambiental. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999. p. 155.
DAGNINO, Ricardo de Sampaio; CARPI JUNIOR, Salvador. Risco Ambiental: Conceitos e Aplicações.
Climatologia e Estudos da Paisagem, Rio Claro, v. 2, n. 2, jul. dez. 2007, p.51.
SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE DESASTRES AMBIENTAIS. Desastres ambientais. Seminário
realizado em 7 e 8 de novembro de 2000, Brasília: O CONFEA, 2001.p. 424.
TOMINAGA, Lídia Keiko; SANTORO, Jair; AMARAL, Rosangela do (Organizadores). Desastres
naturais: conhecer para prevenir. São Paulo: Instituto Geológico, 2009. p. 196.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2015. p. 107. Disponível em: <http://unisa.br/conteudos/9123/f1258221175/apostila/apostila.
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LORA, Electo Eduardo Silva. Prevenção e controle da poluição nos setores energético, industrial
e de transporte. 2 ed, Rio de Janeiro: Interciência, 2002. p. 481.
SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE DESASTRES AMBIENTAIS. Desastres ambientais. Seminário
realizado em 7 e 8 de novembro de 2000, Brasília: O CONFEA, 2001. p. 424
TOMINAGA, Lídia Keiko; SANTORO, Jair; AMARAL, Rosangela do (Organizadores). Desastres
naturais: conhecer para prevenir. São Paulo: Instituto Geológico, 2009. p. 196.

38 • capítulo 1
2
Reconhecimento
de Produtos
Perigosos e
Acidentes Severos
Caro(a) aluno(a), neste capítulo você será introduzido ao processo de levanta-
mento de aspectos e impactos ambientais para ampliar sua visão sobre preven-
ção de acidentes. Serão apresentadas algumas considerações sobre substâncias
perigosas, objeto de estudo da maioria das análises de riscos ambientais, uma
vez que são caracterizadas por acidentes severos e acidentes ampliados. Você
poderá também imergir numa breve discussão sobre a evolução da legislação
ambiental, a qual será trabalhada aqui com ênfase no manejo e no transporte
de produtos perigosos.

OBJETIVOS
Espera-se que após a leitura e a prática das atividades propostas neste capítulo, você possa:
•  Identificar os processos da transformação dos ambientes naturais;
•  Iniciar um levantamento dos aspectos e impactos ambientais em estudos de ris-
cos ambientais;
•  Explicar e identificar acidentes severos e acidentes ampliados;
•  Familiarizar-se com as classes de riscos ambientais e com a legislação brasileira para o
transporte de produtos perigosos.

40 • capítulo 2
2.1  Transformação dos ambientes naturais
Conforme discutido no Capítulo 1, o homem vem transformando os ambientes
naturais ao longo de sua existência. O ecossistema de um ambiente natural era
completamente diferente do ecossistema existente atualmente nos locais habi-
tados pelo homem.
Mas você sabe me dizer o que é um ecossistema?
Definir ecossistema é importante, pois ele é o objeto alvo dos estudos de
riscos ambientais, já que é ele que sofrerá diretamente os danos causados pelas
atividades antrópicas. Assim, é essencial saber o significado e limitar o objeto
a ser avaliado em estudos de riscos ambientais. A definição adotada nesta dis-
ciplina será a definição ecológica, ecossistema é qualquer unidade que abranja
todos os organismos que funcionam em conjunto numa dada área, interagindo
com o ambiente físico de tal forma que um fluxo de energia produza estruturas
bióticas claramente definidas e uma ciclagem de materiais entre as partes vivas
e não vivas.
Continuando a linha de raciocínio sobre as transformações que o homem
faz no meio ambiente, eu te pergunto: Será que qualquer modificação do ecos-
sistema traz consequências ruins?
A resposta para esta pergunta é simples: não, a transformação dos ambien-
tes naturais nem sempre acarretam danos ao ecossistema local. Quando o am-
biente natural é remodelado para atender as necessidades humanas com os
devidos cuidados de mitigação de impactos ambientais, cria-se um ambiente
modificado, porém considerado um ambiente adequado (estes seriam os am-
bientes modificados dentro das diretrizes do desenvolvimento sustentável).
Mas então, porque será que sempre associamos as atividades antrópicas a
grandes impactos negativos?
Esta associação acontece porque a maioria das transformações que já acon-
teceram, principalmente antes do despertar da conscientização ambiental,
não tinha planejamento e não tinha preocupação com os impactos ambientais.
Portanto, essas alterações realizadas pelo homem culminaram em danos am-
bientais, que em alguns casos comprometeram a estabilidade do ecossistema
antigo e criaram ambientes modificados degradados (figura 2.1).

capítulo 2 • 41
Ambiente
Adequado

Transformação
Ambiente Ambiente
dos Ambientes
Natural Modificado
Naturais

Ambiente
Degredado

Figura 2.8  –  Esquema simplificado para demonstrar que a transformação dos ambientes
naturais pode resultar em ambientes modificados adequados ou degradados (esta figura é
do conteúdo on-line, peço ao pessoal da imagem para melhora-la, padronizando a fonte e o
tamanho da fonte)

Uma vez que identificamos um dano ambiental, pode-se concluir que ha-
verá alguma modificação das características biológicas, físicas e químicas na
área afetada. E será que estes danos são reversíveis ou eles duram para sempre?
Cabe aqui abrir um parêntese para explicar dois conceitos interessantes
“pertubação ambiental” e “degradação ambiental”.
Geralmente, as alterações afetam diretamente o ecossistema local. A forma
como o meio ambiente alcança o reequilíbrio é o que define se o dano causou
perturbação ou degradação ambiental. Portanto, haverá perturbação sempre
que o local afetado retornar à condição original ou à outra condição dinamica-
mente estável sem ação antrópica, mas isso considerando que a fonte do dano
tenha cessado. Já a degradação acontecerá quando a resiliência e a estabilidade
do local forem perdidas, originando uma área degradada. Estas áreas degrada-
das, fruto da ação antrópica, somente retornarão a uma condição estável se o
próprio homem intervir ativamente sobre as mesmas.

CONCEITO
Área degradada é aquela que perdeu ou reduziu significativamente sua capacidade de resi-
liência (estabilidade do ecossistema), tornando-se improdutiva para o homem.
Destruição ou remoção de vegetação, expulsão ou extinção da fauna, perda de solo por
erosão, assoreamento e contaminação de corpos d’água são alguns exemplos de conse-
quências dos impactos ambientais que podem originar áreas degradadas.

42 • capítulo 2
Portanto, muitas atividades do homem que transformaram o meio ambien-
te são responsáveis pela criação de ambientes problemáticos nas áreas habita-
das pelo próprio homem. Se considerarmos isso em regiões metropolitanas,
que envolvem escalas de milhões de pessoas, esta situação se agrava ainda
mais, pois unimos isso às falhas dos sistemas urbanos atuais (gestão ineficien-
te das 4 esferas do saneamento – água, esgoto, resíduos, drenagem – que acar-
reta problemas para a saúde pública e para o meio ambiente). Neste contexto,
a identificação de aspectos e impactos ambientais tornam-se essenciais para
tornar a gestão dos empreendimentos e das cidades mais harmoniosa, com be-
nefícios sociais, ecológicos e econômicos.

2.1.1  Levantamento de aspectos e impactos ambientais

Agora você sabe que qualquer atividade humana altera as características do


meio ambiente e que algumas delas são responsáveis pela deterioração da qua-
lidade ambiental. Você também aprendeu que é possível controlar estas altera-
ções para criar ambientes modificados adequados, principalmente se conse-
guirmos identificar quais são as atividades ou empresas que danificam o meio
ambiente. Ou se pudermos levantar quais aspectos ambientais e impactos am-
bientais são inerentes a estas atividades ou empresas.
Diante desta necessidade de reconhecer quais atividades oferecem mais ou
menos riscos ambientais, surgiu a Resolução CONAMA nº 001, de 23/01/1986, a
qual publicou uma lista de atividades potencialmente poluidoras (ou por serem
grandes extratores e produtores, ou por manusear produtos e resíduos perigo-
sos) e ainda passou a exigir a realização do Estudo de Impacto Ambiental (EIA)
e do respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para o licenciamento
destas atividades modificadoras do meio ambiente. Esta exigência sobre a con-
fecção do EIA/RIMA acontece conforme o porte do empreendimento ou se o
empreendimento é caracterizado como um agente poluidor de alto risco.
Estudos de riscos ambientais passaram a ser incorporados nos processos de
licenciamento ambiental para trabalhar aspectos relacionados com a identifi-
cação, a prevenção e a mitigação da poluição crônica e da poluição acidental.
Assim, um Estudo de Análise de Risco (EAR) por exemplo passou a ser exigido
com o objetivo principal de prevenir acidentes no empreendimento que pos-
sam causar severos impactos ambientais. Se você precisar elaborar um EAR,
use as orientações do Manual de Orientação para a Elaboração de Estudos de

capítulo 2 • 43
Análise de Riscos da CETESB. Aqui vamos focar no levantamento dos aspectos
e impactos ambientais, que servirá como ponto de partida para estes estudos
de riscos ambientais.

EXERCÍCIO RESOLVIDO
Você saberia dizer por que é importante levantarmos os aspectos ambientais e os impactos
ambientais para um programa de gerenciamento de riscos?
Resposta: reconhecer aspectos e impactos ambientais é importante para a identifica-
ção das atividades que causam impacto ao meio ambiente; a determinação da significância
destes impactos; o atendimento aos requisitos legais e normativos; a determinação de pro-
gramas de controle operacional; a conscientização sobre a importância do gerenciamento
adequado de resíduos; o estabelecimento de objetivos e metas de um programa de geren-
ciamento de riscos ambientais; a determinação de ações de monitoramento e de medição
(auditorias); a elaboração de planos de ação de emergência.

CONEXÃO
Você pode acessar um estudo de análise de risco (EAR) completo feito para a Usina Ter-
melétrica de Tefé, situada no Amazonas. Disponível em: <http://www.ipaam.am.gov.br/arqui-
vos/download/arqeditor/RIMA/ANEXO%20XII%20-%20EAR.pdf>.

Cada atividade ou processo produtivo possui características particulares


que devem ser interpretadas nos estudos de riscos. Logo, não existe uma abor-
dagem única para se identificar aspectos ambientais e impactos ambientais.
Mas alguns aspectos ambientais nunca poderão ser esquecidos em uma ava-
liação, tais como: emissões atmosféricas, lançamentos de substâncias em cor-
pos d’água, lançamentos de substâncias no solo, uso de matérias-primas, uso
de energia, emissão de energias (calor, radiação, vibração), geração e descarte
de resíduos. Partindo destes aspectos, é possível relacionar algumas causas e
efeitos de impactos ambientais relacionados. Um exemplo desta relação cau-
sa e efeito é apresentado na tabela 2.1, a qual pode ser utilizada como mode-
lo de levantamento de aspectos e impactos ambientais de qualquer atividade
ou empreendimento.

44 • capítulo 2
ASPECTOS AMBIENTAIS IMPACTOS AMBIENTAIS (EFEITO)
(CAUSA)

EMISSÃO ATMOSFÉRICA Alteração da qualidade do ar

LANÇAMENTOS EM CORPOS Alteração da qualidade da água


D’ÁGUA
Alteração das propriedades físicas, químicas e
LANÇAMENTOS NO SOLO biológicas do solo

USO DE MATÉRIAS-PRIMAS Redução de recursos naturais

Redução de recursos naturais e alteração da


USO DE ENERGIA qualidade ambiental

EMISSÃO DE ENERGIAS
(CALOR, RADIAÇÃO, Alteração da qualidade ambiental
VIBRAÇÃO)
GERAÇÃO E DESCARTE DE Desequilíbrio dos ecossistemas
RESÍDUOS
Tabela 2.5  –  Relações de causa e efeito sobre os aspectos e impactos ambientais

Observa-se que em geral, os aspectos ambientais acarretam impactos am-


bientais, os quais podem gerar riscos à saúde humana e riscos à diversas co-
munidades bióticas (fauna e flora). Entretanto, todos os aspectos ambientais
levantados podem ser gerenciados de forma a minimizar os impactos ambien-
tais. Você poderia pensar em alguma forma de gerenciar os aspectos ambien-
tais da tabela 2.1 para mitigar seus efeitos?
Apenas para auxiliar, posso indicar algumas ações a serem incorporadas no
gerenciamento das atividades, a fim de prevenir acidentes e de diminuir seu
potencial poluidor:

•  Optar por fontes de energia mais limpa e renovável;

capítulo 2 • 45
•  Buscar métodos de produção que sejam compatíveis com o racionamento
de recursos naturais;
•  Investir em pesquisas e buscar alternativas de matérias-primas no lugar
de recursos raros e não-renováveis;
•  Reciclar, reusar e reaproveitar os resíduos gerados pelas atividades, dimi-
nuindo o volume de material descartado;
•  Sempre optar por programas de gerenciamento de resíduos que poluem
pouco ou não poluem o meio ambiente, respeitando as regras de manuseio,
tratamento, acondicionamento, transporte e disposição final;
•  Trabalhar sempre em conformidade com os instrumentos da legislação
ambiental, trabalhista etc.

Apesar de conseguirmos fazer o levantamento dos aspectos e impactos am-


bientais, e de existir muitas possibilidades para gerenciamento das causas e
mitigação dos efeitos, infelizmente devemos sempre lembrar que nenhum pro-
cesso é 100% seguro. Logo, sempre teremos que trabalhar com a possibilidade
da ocorrência de acidentes. Uma vez que reconhecemos isto, é muito impor-
tante levantar os possíveis acidentes e suas consequências. Isto com certeza
servirá para elaborar bons planos de emergência para contenção da poluição
acidental.
Dentre os diversos acidentes que podem acontecer nos empreendimentos,
os acidentes severos chamam mais atenção, devido ao seu alto grau de magni-
tude. Por isso, identificar os acidentes severos antes de acontecerem é essencial
para a elaboração de planos de emergência eficazes.

2.2  Acidentes severos


Eventos de muita probabilidade de ocorrência geralmente tem baixa magnitu-
de, e vice-versa. Acidentes severos podem ser reconhecidos como eventos que
tem pouca possibilidade de ocorrer, mas seus danos são de elevada magnitude.
Este é o caso de desastres nucleares e acidentes com produtos químicos, que
tem baixa probabilidade de ocorrência, mas produzem consequências gravís-
simas. Especialistas na área de risco sabem que a probabilidade de ocorrer um
acidente nuclear é de um a cada 10 mil ou 100 mil anos, mas também sabem
que pode ocorrer todos os dias, pois cada evento é independente do outro.

46 • capítulo 2
Existem algumas considerações a serem levantadas sobre os aciden-
tes severos:

•  A maior parte dos acidentes severos registrados até hoje aconteceu em


países em processo de industrialização, que hoje em dia é característico de paí-
ses em desenvolvimento (portanto, o Brasil está incluído na lista atual);
•  Os países em desenvolvimento normalmente não possuem políticas
consistentes de segurança industrial (ou por falta de legislação ou por falta
de fiscalização);
•  Países sem organização territorial (falta de zoneamento urbano) permi-
tem ou não conseguem evitar a ocupação ao redor dos empreendimentos de
risco, não tem respeito aos limites das áreas de risco;
•  A falta de gestão dos recursos humanos e da integração entre população
e indústrias fazem com que as informações sobre os riscos sejam restritas aos
funcionários, deixando a população desorientada diante da ocorrência de aci-
dentes, dificultando inclusive a execução dos planos de emergência.

Você saberia reconhecer um acidente severo que já aconteceu?


Qualquer um dos desastres ambientais citados no capítulo 1 podem ser inter-
pretados como acidente severo. Dentre eles, estão os acidentes que envolveram
substâncias químicas, como por exemplo o vazamento de dioxinas em Seveso
(Itália/1976) e o vazamento de ciclohexano em Flixborough (Inglaterra/1974).
Estes, por sua vez, são reconhecidos e tratados pelos especialistas como aciden-
tes ampliados, que são acidentes envolvendo sustâncias químicas perigosas re-
lacionados a alguma fase do ciclo produtivo (extração, produção, transporte,
armazenamento, uso ou descarte). Estes acidentes causam explosões, incên-
dios e emissões com substâncias perigosas, podendo causar danos à saúde dos
grupos expostos e ao meio ambiente. O adjetivo “ampliado” é usado principal-
mente no sentido espacial e temporal do acidente, pois os danos associados
atingem além dos limites do empreendimento e por períodos indeterminados.

CONEXÃO
Uma dica de leitura para melhorar o entendimento sobre o termo acidente ampliado é o
artigo Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/rsp/article/viewFile/24155/26120>.

capítulo 2 • 47
Após a ocorrência de diversos acidentes químicos ampliados, a legislação
ambiental que trata de substâncias perigosas consolidou-se, auxiliando assim
a fiscalização de quem manipula produtos ou resíduos caracterizados como
perigosos.

2.3  Legislação ambiental para prevenção de


acidentes com produtos perigosos

A legislação ambiental entra na prática do direito com o objetivo de tomar as


medidas administrativas para prevenir e reparar os danos ambientais, exercen-
do o controle público por meio de estudo prévio de impacto ambiental; licen-
ciamento ambiental; monitoramento e auditoria ambientais; e aplicação das
penalidades administrativas. A criação de instrumentos reguladores e cobra-
dores, como normas, resoluções e leis, reduz a prática de crimes ambientais.
A princípio, segundo a Constituição Federal, todos são responsáveis pela
manutenção de um ambiente equilibrado e saudável. Como ponto de partida, a
esfera nacional estabeleceu diretrizes fundamentadas na Política Nacional do
Meio Ambiente, criada a partir da Lei Federal nº 6.938, de 31/08/1981, e na Lei
de Crimes Ambientais, criada a partir da Lei Federal nº 9.605, de 12/02/1998.
Esses códigos estabelecem definições claras para o meio ambiente, qualifica as
ações dos agentes modificadores, provê mecanismos para assegurar a proteção
ambiental, institui o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e cria o
crime de poluir. Toda legislação ambiental, a qual está em constante alteração
e aperfeiçoamento, fortaleceu a necessidade de implantação de planos de ge-
renciamento ambiental, forçando as empresas a cumprirem regras para miti-
gar os impactos ambientais provenientes de suas atividades e para evitar casos
de poluição acidental.

LEITURA
Dicas de leitura do acervo de legislação ambiental para melhorar o entendimento sobre a
evolução do direito ambiental no Brasil:
Lei Federal nº 4.771, de 1965 (revogada) - Institui código florestal.
Lei Federal nº 5.197, de 1967 - Dispõe sobre a proteção à fauna e dá outras providências.

48 • capítulo 2
Lei Federal nº 6.938, de 1981 (alterada) - Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.
Resolução Conama nº 001, de 1986 - Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais
para a avaliação de impacto ambiental.
Lei Federal nº 7.804, de 1989 - Altera a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que
dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e
aplicação, a Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, a Lei nº 6.803, de 2 de julho de 1980,
e dá outras providências.
Lei Federal nº 9.433, de 1997 - Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art.
21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que
modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.
Resolução Conama nº 237, de 1997 - Dispõe sobre licenciamento ambiental; com-
petência da União, Estados e Municípios; listagem de atividades sujeitas ao licenciamento;
Estudos Ambientais, Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental.
Lei Federal nº 9.605, de 1998 - Dispõe sobre as sanções penais e administrativas deri-
vadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
Lei Federal nº 9.795, de 1999 - Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política
Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências.
Lei Federal nº 9.985, de 2000 - Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da
Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
e dá outras providências.
Resolução Conama nº 302, de 2002 - Dispõe sobre os parâmetros, definições e li-
mites de Áreas de Preservação Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso
do entorno.
Resolução Conama nº 303, de 2002 - Dispõe sobre parâmetros, definições e limites
de Áreas de Preservação Permanente.
Resolução Conama nº 357, de 2005 - Dispõe sobre a classificação dos corpos de
água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições
e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências.
Resolução Conama nº 430, de 2011 - Dispõe sobre as condições e padrões de lan-
çamento de efluentes, complementa e altera a Resolução no 357, de 17 de março de 2005,
do CONAMA.
Lei Federal nº 12.651, de 2012 - Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as
Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de
22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754,

capítulo 2 • 49
de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá
outras providências.

A estrutura burocrática do SISNAMA é responsável pela cobrança e fiscaliza-


ção das atividades poluidoras e segue a seguinte ordem:

•  Órgão superior: conselho de governo;


•  Órgão consultivo e deliberativo: Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA);
•  Órgão central: Ministério do Meio Ambiental (MMA);
•  Órgão executor: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA);
•  Órgãos seccionais: órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela exe-
cução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capa-
zes de provocar a degradação ambiental;
•  Órgãos locais: órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo contro-
le e pela fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições.

CURIOSIDADE
Na esfera estadual, 3 órgãos merecem destaque: a CETESB de São Paulo; a Fundação
Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (FEPAM) do Rio Grande do Sul e o
Instituto Estadual do Ambiente (INEA) do Rio de Janeiro.

A articulação coordenada de todos os órgãos de saúde pública, saneamento


e meio ambiente culminou na elaboração das principais normas, resoluções e
diretrizes para proteção ambiental. Por exemplo, a definição das substâncias
perigosas e a divisão de classes de risco de produtos perigosos pela Organização
das Nações Unidas (ONU) trouxeram grandes avanços nos estudos de riscos
ambientais.
Liberações acidentais de algumas substâncias no meio ambiente, depen-
dendo de suas características, originam diferentes tipos de impactos, cau-
sando danos à saúde pública, ao meio ambiente, à segurança da população e

50 • capítulo 2
ao patrimônio público e privado. E uma das primeiras ações a ser executada
em um cenário acidental envolvendo o transporte de produtos perigosos, é a
pronta identificação das substâncias envolvidas. O acesso às informações so-
bre as características do produto irá subsidiar as medidas de controle, redu-
zindo os riscos para a comunidade, aos próprios atendentes da ocorrência e
ao meio ambiente. Portanto, esta classificação dos produtos perigosos (tabela
2.2) permitiu a diferenciação nas formas de armazenar, manusear, transportar
e descartar variados tipos de substâncias perigosas. É importante ressaltar que
produtos relacionados às classes 3, 4, 5 e 8 e da subclasse 6.1 classificam-se,
para fins de embalagem, segundo três grupos, conforme o nível de risco que
apresentam: embalagem tipo I (alto risco); embalagem tipo II (médio risco)
e embalagem tipo III (baixo risco). As embalagens devem obedecer aos crité-
rios estabelecidos pela Resolução nº 420 da Agência Nacional de Transportes
Terrestres (ANTT, 2004).

CLASSIFICAÇÃO SUBCLASSE DEFINIÇÕES


1.1 Substância e artigos com risco de explosão em massa.
Substância e artigos com risco de projeção, mas sem risco de
1.2
explosão em massa.
Substâncias e artigos com risco de fogo e com pequeno risco de
CLASSE 1 1.3 explosão ou de projeção, ou ambos, mas sem risco de explosão
EXPLOSIVOS em massa.
1.4 Substância e artigos que não apresentam risco significativo.
1.5 Substâncias muito insensíveis, com risco de explosão em massa;
Artigos extremamente insensíveis, sem risco de explosão em
1.6
massa.
Gases inflamáveis: são gases que a 20°C e à pressão normal são
inflamáveis quando em mistura de 13% ou menos, em volume,
2.1
com o ar ou que apresentem faixa de inflamabilidade com o ar de,
CLASSE 2 no mínimo 12%, independente do limite inferior de inflamabilidade.
GASES Gases não-inflamáveis, não tóxicos: são gases asfixiantes, oxidan-
2.2
tes ou que não se enquadrem em outra subclasse.
Gases tóxicos: são gases, reconhecidamente ou supostamente,
2.3
tóxicos e corrosivos que constituam risco à saúde das pessoas.
Líquidos inflamáveis: são líquidos, misturas de líquidos ou líquidos
CLASSE 3 que contenham sólidos em solução ou suspensão, que produzam
LÍQUI- -
vapor inflamável a temperaturas de até 60,5°C, em ensaio de vaso
DOS INFLAMÁVEIS fechado, ou até 65,6ºC, em ensaio de vaso aberto, ou ainda os
explosivos líquidos insensibilizados dissolvidos ou suspensos em
água ou outras substâncias líquidas.

capítulo 2 • 51
CLASSIFICAÇÃO SUBCLASSE DEFINIÇÕES
Sólidos inflamáveis, substâncias auto reagentes e explosivos
sólidos insensibilizados: sólidos que, em condições de transporte,
CLASSE 4 sejam facilmente combustíveis, ou que por atrito possam causar
SÓLIDOS INFLAMÁ- 4.1 fogo ou contribuir para tal; substâncias auto reagentes que
VEIS; SUBSTÂNCIAS possam sofrer reação fortemente exotérmica; explosivos sólidos
SUJEITAS À COM- insensibilizados que possam explodir se não estiverem suficiente-
BUSTÃO ESPONTÂ- mente diluídos.
NEA; SUBSTÂNCIAS Substâncias sujeitas à combustão espontânea: substâncias sujei-
QUE, EM CONTATO 4.2 tas a aquecimento espontâneo em condições normais de transpor-
COM ÁGUA, EMITEM te, ou a aquecimento em contato com ar, podendo inflamar-se.
GASES INFLAMÁVEIS Substâncias que, em contato com água, emitem gases inflamá-
veis: substâncias que, por interação com água, podem tornar-se
4.3
espontaneamente inflamáveis ou liberar gases inflamáveis em
quantidades perigosas.
Substâncias oxidantes: são substâncias que podem, em geral pela
CLASSE 5 5.1 liberação de oxigênio, causar a combustão de outros materiais ou
SUBSTÂNCIAS contribuir para isso.
OXIDANTES E PERÓ- Peróxidos orgânicos: são poderosos agentes oxidantes, conside-
XIDOS ORGÂNICOS 5.2
rados como derivados do peróxido de hidrogênio, termicamente
instáveis que podem sofrer decomposição exotérmica auto
acelerável.
Substâncias tóxicas: são substâncias capazes de provocar morte,
CLASSE 6 6.1 lesões graves ou danos à saúde humana, se ingeridas ou inaladas,
SUBSTÂNCIAS TÓ- ou se entrarem em contato com a pele.
XICAS E SUBSTÂN- Substâncias infectantes: são substâncias que contém ou possam
CIAS INFECTANTES 6.2 conter patógenos capazes de provocar doenças infecciosas em
seres humanos ou em animais.
CLASSE 7 Qualquer material ou substância que contenha radionuclídeos, cuja
MATERIAL - concentração de atividade e atividade total na expedição (radia-
RADIOATIVO ção), excedam os valores especificados.

CLASSE 8 São substâncias que, por ação química, causam severos danos
SUBSTÂNCIAS - quando em contato com tecidos vivos ou, em caso de vazamento,
CORROSIVAS danificam ou mesmo destroem outras cargas ou o próprio veículo.

CLASSE 9
SUBSTÂNCIAS E São aqueles que apresentam, durante o transporte, um risco não
ARTIGOS PERIGO- -
abrangido por nenhuma das outras classes.
SOS DIVERSOS

Tabela 2.6  –  Classificação dos riscos de produtos perigosos conforme a Organização das
Nações Unidas

52 • capítulo 2
A partir do momento que foi identificada a necessidade de gerenciar ade-
quadamente e separadamente as substâncias perigosas, muitas vezes envol-
vendo transporte para locais não muito próximos, percebeu-se a necessidade
da criação de normas para que isso ocorra da forma mais segura possível. O
Decreto Federal nº 96.044, de 18/05/1988, aprova o regulamento para o trans-
porte rodoviário de produtos perigosos e ressalta a proibição do transporte
destas substâncias juntamente com animais; alimentos ou medicamentos des-
tinados ao consumo humano ou animal, ou com embalagem de produtos des-
tinados a estes fins; e outro tipo de carga, salvo se houver compatibilidade en-
tre os diferentes produtos transportados. A legislação vigente, incluindo a NBR
7.500 (ABNT, 2004), determina que todos os veículos que transportam produtos
perigosos devem portar informações que facilitem a identificação dos produ-
tos transportados e de seus respectivos riscos.
A NBR 7.500 (Identificação para o transporte terrestre, manuseio, movi-
mentação e armazenamento de produtos) propõe sinalização na carga através
de rótulo de risco e painel de segurança.
O painel de segurança, sinalização obrigatória para produtos perigosos, se
baseia em placas retangulares (medindo 30 cm de altura e 40 cm de largura) de
cor laranja, afixadas nos veículos de transporte de produtos perigosos, possuin-
do na parte superior o número de risco e na parte inferior o número ONU, de
identificação do produto, com inscrições de cor preta.
Já o rótulo de risco é uma etiqueta afixada externamente nas embalagens
(medindo 10 cm por 10 cm) e em placas no afixadas nos veículos (medindo 30
cm por 30 cm), com forma de um quadrado apoiado por um de seus vértices.
Estas sinalizações apresentam, através de símbolos e/ou expressões emol-
duradas, informações claras e objetivas, referentes à natureza do produto peri-
goso, forma de manuseá-lo e dados de sua identificação. Os símbolos e núme-
ros usados nestas sinalizações podem ser verificados na figura 2.2.

capítulo 2 • 53
Placas de Sinalização das Classes de Produtos

Classe 1 1.4 1.5 1.6 1.6


Explosivos
1 1 1 1 1

Classe 2
Gases 2 2 2 2 2
Subclasse 2.1 Subclasse 2.2 Subclasse 2.2
Gases Inflamáveis Gases não-inflamáveis, não tóxicos Gases tóxicos

Classe 3
Líquidos
inflamáveis 3 3

Classe 4 4 4 4 4
Subclasse 4.1 Subclasse 4.2 Subclasse 4.3
Sólidos inflamáveis Substâncias sujeitas a Substâncias que em contato com
combustão espontânea a água emitem gases inflamáveis

Classe 5 5.1 5.2 5.2


Subclasse 5.1 Subclasse 5.1
Substâncias oxidantes Peróxidos orgânicos

Classe 6
6 6
Subclasse 6.1 Subclasse 6.2
Substâncias tóxicas Substâncias infecciosas

Classe 7
Materiais
Radioativos 7 7 7 7

Classe 9
Classe 8
Substâncias
Corrosivos
8 8 perigosas diversas 9

Figura 2.9  –  Placas de sinalização das nove classes de produtos perigosos. Fonte: http://
www.marica.rj.gov.br/defesa/placas.php#topo

LEITURA
Uma dica de leitura para melhorar o entendimento sobre os termos referentes ao transporte
de substâncias perigosas é a NBR 7.501 - Transporte terrestre de produtos perigosos -
Terminologia.

54 • capítulo 2
Além das placas de sinalização, toda carga de substâncias perigosas ou de
resíduos perigosos deve estar acompanhada de uma ficha de emergência e en-
velope para o transporte terrestre de produtos perigosos. A NBR 7.503 (ABNT,
2013) especifica as características e as dimensões para a confecção da ficha de
emergência e do envelope para o transporte terrestre de produtos perigosos,
bem como as instruções para o preenchimento da ficha e do envelope.
A ficha de emergência (Figura 2.4) deve ser confeccionada em papel branco,
tamanho A4 (210 mm x 297 mm), carta (216 mm x 279 mm) ou ofício (216 mm x
355 mm), com gramatura de 75 g/m2 a 90 g/m2. A ficha de emergência deve ser
impressa em uma única folha, não podendo ser plastificada. Toda a impressão
deve ser na cor preta, com exceção da tarja, que deve ser na cor vermelha, com
largura mínima de 5 mm e comprimento mínimo de 250 mm. O padrão da cor
da tarja está estabelecido na NBR 7.503. A largura mínima entre as faixas deve
ser de 188 mm. A impressão deve ser feita em fonte legível, similar à Arial, cor-
po mínimo 10, sendo que os títulos Ficha de Emergência, Riscos e Em Caso de
Acidente devem estar em letras maiúsculas (caixa-alta). Estes requisitos não se
aplicam à impressão da logomarca da empresa. Os campos discriminados na fi-
cha devem conter no mínimo as informações estabelecidas na NBR 7.503, con-
forme instruções fornecidas pelo fabricante ou importador do produto trans-
portado contidas na Ficha de Informação de Segurança de Produtos Químicos
(FISPQ), conforme a NBR 14.725/Parte 4 (ABNT, 2012). Estas informações de-
vem ser impressas em gráfica ou em impressora de computador. O idioma deve
ser o português oficial do Brasil. Não é permitido o uso de etiquetas na ficha
de emergência. Pode haver variação na pontuação dos textos, desde que não
seja comprometido o entendimento das informações. É admitido somente o
modelo de ficha de emergência, conforme a figura 2.3. Não é necessário que as
linhas divisórias horizontais, que devem ter as dimensões mínimas definidas
na figura A.1 (da NBR 7.503), estejam encostadas às tarjas laterais. As linhas
horizontais de início e final da ficha de emergência são opcionais.

capítulo 2 • 55
FICHA DE EMERGÊNCIA
Expedidor Nome apropriado Número de Risco:
para o embarque Número de ONU:
Endereço Classe ou subclasse de risco:
Tel.: Descrição da classe ou
subclasse de risco:
Grupo de embalagem

Aspecto:

EPI de uso exclusivo da equipe de atendimento a emergência:

RISCOS
Fogo:
Mínimo 250 mm

Saúde:
Meio ambiente:

EM CASO DE ACIDENTE

Vazamento:

Fogo:

Poluição:

Envolvimento
de pessoas:

Informações
ao médico:

Observações:

5 Mínimo 188 mm 5

Figura 2.10  –  Exemplo de um modelo de ficha de emergência, a ser transportado dentro


de um envelope específico junto ao motorista, para transporte de produtos perigosos. Sua
confecção deve seguir critérios estabelecidos pela NBR 7.503 (ABNT, 2013). Fonte: http://
www.crq4.org.br/sms/files/image/fichaemergencia.jpg e http://www.inmetro.gov.br/painel-
setorial/palestras/GeraldoFontoura.pdf

A ficha de emergência relativa ao produto que está sendo transportado deve


estar dentro do envelope para transporte. Deve haver no mínimo um envelope
para cada expedidor, contendo as fichas de emergência dos produtos expedidos
por ele. A unidade de transporte compartimentada, transportando ao mesmo
tempo mais de um dos seguintes produtos: etanol (álcool etílico), óleo diesel,
gasolina ou querosene, a granel, deve portar fichas de emergências correspon-
dentes a cada produto transportado. As fichas de emergência elaboradas para
produtos não perigosos (não obrigatórias) podem ter qualquer formato. Pode
também ser usado o modelo especificado da figura 2.4, omitindo-se os dados
de 4.3.2-c e incluindo-se a frase: "Produtos não enquadrados na resolução em
vigor sobre transporte de produtos perigosos".

56 • capítulo 2
O envelope (figura 2.4) deve ser confeccionado em papel produzido pelo
processo Kraft ou similar, nas cores ouro (pardo), puro ou natural, com grama-
tura mínima de 80 g/m2 e tamanho de 190 mm x 250 mm com tolerância de ±
15 mm. Toda impressão do envelope deve ser na cor preta. A logomarca da em-
presa pode ser impressa em qualquer cor. Não é permitido o uso de etiquetas
no envelope. Pode haver variação na pontuação dos textos, desde que não seja
comprometido o entendimento das informações.

ESTE ENVELOPE CONTÉM INFORMAÇÕES IMPORTANTES.


LEIA-AS CUIDADOSAMENTE ANTES DE INCIAR A SUA VIAGEM
45 mm
EM CASO DE EMERGÊNCIA, ESTACIONE, SE POSSÍVEL EM ÁREA VAZIA, AVISE À POLÍCIA (190)
AOS BOMBEIROS (193) E AO(S) TELEFONE(S) DE EMERGÊNCIA No __________________

Logotipo do expedidor
e/ou razão social
90 mm±15

Telefones dos pontos de apoio

Redespacho:

Tranportador: 15 mm

250 mm ±15

OUTRAS PROVIDÊNCIAS
• usar EPI.
• isolar a área afastando os curiosos.
• sinalizar o local do acidente.
• eliminar ou manter afastadas todas as fontes de
ignição.
• entregar a(s) ficha(s) de emergência aos socorros
públicos, assim que chegarem.
• avisar imediatamente ao transportador, ao expedidor
do produto, ao corpo de bombeiros e à polícia.
avisar imediatamente ao(s) órgão(s) ou entidade(s) de
trânsito.
(OUTRAS INFORMAÇÕES JULGADAS NECESSÁRIAS)

Figura 2.11  –  Exemplo da frente e do verso do envelope para ficha de emergência, a ser
transportado junto ao motorista, para transporte de produtos perigosos. Sua confecção deve
seguir critérios estabelecidos pela NBR 7.503 (ABNT, 2013). Fonte: http://www.crq4.org.
br/sms/files/image/fichaemergencia.jpg e http://www.inmetro.gov.br/painelsetorial/pales-
tras/GeraldoFontoura.pdf

capítulo 2 • 57
É admitido somente o modelo de envelope conforme critérios da NBR 7.503,
para impressão em gráfica ou impressora de computador. O envelope deve
conter a ficha de emergência apenas do produto acondicionado na unidade de
transporte. No caso de transporte de ácido fluorídrico, o guia de tratamento
médico e o guia para primeiros socorros, previstos na NBR 10.271 (ABNT, 2012),
devem estar também dentro do envelope, acompanhando a ficha de emergên-
cia. O envelope também pode conter laudos técnicos dos produtos, documen-
tos fiscais ou outros documentos relacionados aos produtos transportados.
O envelope deve ser usado para as fichas de emergência com tarja verme-
lha, podendo também ser usado para produto não classificado como perigoso
(ficha com tarja verde). Esta ficha deve conter título, informar as características
do produto; listar as atitudes quanto à segurança pública; e descrever o plano
de ação de emergência (conforme NBR 7.503).
Quando for o caso, o veículo transportador deve portar o conjunto de equi-
pamentos para situações de emergência indicado pela NBR 9.735 (ABNT, 2000)
ou, na inexistência desta, os equipamentos recomendados pelo fabricante do
produto. Exemplos desses equipamentos: equipamentos de proteção indivi-
dual (EPI); equipamentos para sinalização, isolamento da área de ocorrência;
extintores de incêndio.
No caso de você participar da elaboração de rótulos de risco, painéis de sina-
lização de risco, fichas de emergência, também é importante consultar outras
normas e resoluções da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e
da Associação Brasileira de Normas técnicas (ABNT).

ATIVIDADES
01. Quais os principais aspectos e impactos ambientais de uma Estação de Tratamento
de Esgoto (empreendimento com alto potencial de risco para poluição ambiental) que você
indicaria para o estudo de riscos ambientais?

02. Qual a relação entre estudo de impacto ambiental (EIA) e gerenciamento de ris-
cos ambientais?

03. Relacione os números de risco aos significados correspondentes e assinale a sequên-


cia correta:

58 • capítulo 2
( ) radioatividade.
( ) inflamabilidade de líquidos (vapores) e gases ou líquido sujeito a auto-aquecimento.
( ) emissão de gás devido a pressão ou reação química.
( ) efeito oxidante (favorece incêndio).
( ) inflamabilidade de sólidos, ou sólidos sujeito a auto-aquecimento.
( ) corrosividade.
( ) toxidade.

a) 8, 6, 7, 2, 9, 4, 5.
b) 5, 4, 3, 8, 7, 6, 8.
c) 7, 3, 2, 5, 4, 8, 6.
d) 4, 8, 6, 7, 3, 2, 5.
e) 6, 9, 8, 5, 7, 4, 2.

REFLEXÃO
Neste capítulo, resumidamente você recebeu dicas de como iniciar um levantamento de as-
pectos e impactos ambientais para o gerenciamento de riscos; foi alertado sobre acidentes
severos e acidentes ampliados; familiarizou-se com alguns instrumentos importantes da le-
gislação ambiental, incluindo a classificação de produtos perigosos e; por fim, compreendeu
a importância da identificação dos produtos perigosos e dos veículos que os transportam no
contexto dos planos de emergência e mitigação dos impactos ambientais

LEITURA
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7.500 - Identificação para o transporte
terrestre, manuseio, movimentação e armazenamento de produtos, de 19/04/2013.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7.503 - Transporte terrestre de produtos
perigosos - Ficha de emergência e envelope - Características, dimensões e preenchimento, de
10/06/2013.
CETESB - COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL (CETESB). Manual
(P4.261): orientação para a elaboração de estudos de análise de riscos. São Paulo: CETESB,
2003. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/sites/11/2013/11/P4261-
revisada.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2015.

capítulo 2 • 59
DAGNINO, Ricardo de Sampaio; CARPI JUNIOR, Salvador. Risco Ambiental: Conceitos e Aplicações.
Climatologia e Estudos da Paisagem, Rio Claro, volume 2, n.2, julho/dezembro/2007, p.51.
FEPAM - FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃO AMBIENTAL HENRIQUE LUIZ ROESSLER.
Manual de análise de riscos industriais. Porto Alegre: FEPAM, 2001. Disponível em: <http://www.
fepam.rs.gov.br/central/formularios/arq/manual_risco.pdf>. Acesso em 20 jun. 2015.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9.735 - Conjunto de equipamentos para
emergências no transporte rodoviário de produtos perigosos, de 25 maio 2012 (versão corrigida
2:2014).
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7.500 - Identificação para o transporte
terrestre, manuseio, movimentação e armazenamento de produtos, de 19 abr.2013.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7.503 - Transporte terrestre de produtos perigosos
- Ficha de emergência e envelope - Características, dimensões e preenchimento, de 10 juh. 2013.
ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres. Resolução nº 420, de 12/02/2004. Aprova as
Instruções Complementares ao Regulamento do Transporte Terrestre de Produtos Perigosos. 2004.
ALVES, Antonio Fernando Silveira. Avaliação de riscos ambientais (apostila). Vitória: Editora UNISA,
2015. 107p. Disponível em: <http://unisa.br/conteudos/9123/f1258221175/apostila/apostila.pdf>.
Acesso em 14 jul.2015.
BRASIL. Lei Federal nº 6.938, de 31/08/1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. 1981.
BRASIL. Decreto Federal nº 96.044, de 18/05/1988. Aprova o Regulamento para o Transporte
Rodoviário de Produtos Perigosos e dá outras providências. 1988.
BRASIL. Lei Federal nº 9.605, de 12/02/1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. 1998.
BRILHANTE, Ogenis Magno; CALDAS, Luiz Querino de A. (coord.). Gestão e avaliação de risco em
saúde ambiental. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999. p. 155.
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 001, de 23 de janeiro de 1986. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 17 fev. 1986. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/
res86/res0186.html>. Acesso em: 30 maio 2013.
CETESB - COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL (CETESB). Manual
(P4.261): orientação para a elaboração de estudos de análise de riscos. São Paulo: CETESB,
2003. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/sites/11/2013/11/P4261-
revisada.pdf>. Acesso em 01 jun. 2015.

60 • capítulo 2
DAGNINO, Ricardo de Sampaio; CARPI JUNIOR, Salvador. Risco Ambiental: Conceitos e Aplicações.
Climatologia e Estudos da Paisagem, Rio Claro, v. 2, n.2, julho/dezembro/2007, p.51.
FEPAM - FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃO AMBIENTAL HENRIQUE LUIZ ROESSLER.
Manual de análise de riscos industriais. Porto Alegre: FEPAM, 2001. Disponível em: <http://www.
fepam.rs.gov.br/central/formularios/arq/manual_risco.pdf>. Acesso em 20 jun. 2015.
FONTOURA, Geraldo André Thurler. Base normativa: Normas brasileiras para o transporte
terrestre de produtos perigosos. Painel Setorial Inmetro. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/
painelsetorial/palestras/GeraldoFontoura.pdf>. Acesso em 20 jul. 2015.
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Coletânea de
legislação do direito ambiental federal e do estado de Mato Grosso do Sul. IBAMA, Gerência
Executiva em MS. Campo Grande, MS, 2004.p. 250.
SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE DESASTRES AMBIENTAIS. Desastres ambientais. Seminário
realizado em 7 e 8 de novembro de 2000, Brasília: O CONFEA, 2001. p. 424.

capítulo 2 • 61
62 • capítulo 2
3
Introdução a
Análise Qualitativa
e Quantitativa de
Riscos Ambientais
Caro(a) aluno(a), neste capítulo serão introduzidos conceitos, aspectos e fer-
ramentas para análise qualitativa e quantitativa de riscos ambientais. Classes
dos riscos ambientais serão apresentadas para identificação da natureza dos
mesmos, visando facilitar os trabalhos de percepção dos riscos, de análise de
vulnerabilidade e de modelagem ambiental. Aproveitando todo este conteúdo,
discutiremos condutas essenciais para a elaboração e a execução de um plano
de contingência, que definirá o sucesso das ações quando um evento aciden-
tal acontecer.

OBJETIVOS
Após o estudo deste capítulo, espera-se que você seja capaz de:
•  Classificar os diferentes riscos ambientais para análise qualitativa;
•  Reconhecer e diferenciar acidentes naturais e acidentes tecnológicos;
•  Elaborar um estudo qualitativo de riscos ambientais em função da frequência e consequência;
•  Apontar fatores de percepção ambiental e princípios de culpa e confiabilidade;
•  Explicar os processos de modelagem ambiental e de planos de contingência.

64 • capítulo 3
3.1  Estimativa de riscos ambientais
Como já foi visto nos capítulos anteriores, a identificação dos riscos ambientais
auxilia na previsão de possíveis danos à saúde humana ou aos ecossistemas.
Esta identificação é um dos primeiros passos em estudos de riscos ambientais.
Dentre os diferentes tipos de riscos ambientais é importante classificá-los con-
forme a natureza do risco. Esta classificação faz parte da análise qualitativa dos
riscos ambientais e permite limitar o objeto afetado e os estudos de causa e efeito.
Adicionalmente, avaliar os eventos causadores dos danos ambientais em
função do espaço e do tempo permite uma análise quantitativa dos riscos am-
bientais, sendo importante para a sensibilização das pessoas sobre a relevância
de ações preventivas para evitar a poluição ambiental crônica e a poluição aci-
dental. Pode-se dizer que expressar os riscos em formatos visíveis e quantificá-
veis (através de números, escalas, mapas etc.) é o jeito mais eficiente de expli-
car causas e efeitos dos fenômenos avaliados e de convencer as pessoas sobre a
existência dos riscos e sobre a importância da prevenção.

3.1.1  Estimativa qualitativa de riscos ambientais

O reconhecimento da natureza dos riscos culmina na classificação dos riscos


ambientais e é importante para avaliar causas e efeitos. As classes são divididas
conforme as situações potenciais de perdas e os danos ao homem e ao meio
ambiente. A primeira separação de classe dos riscos ambientais é: riscos natu-
rais e riscos antrópicos (figura 3.1).

Riscos
Ambientais

Riscos Riscos
Naturais Antrópicos

Riscos Riscos Riscos Riscos


Biológicos Físicos Sociais Tecnológicos

Figura 3.12  –  Divisão de classes de riscos ambientais.

capítulo 3 • 65
Riscos naturais são associados a fenômenos e a desequilíbrios da natureza
que atuam independentemente da ação humana. Entretanto, deve-se levar em
consideração que alguns acidentes naturais podem ser iniciados, acelerados
ou intensificados por alguma ação do homem. Em geral, os desastres naturais
são consequência destes riscos naturais, originados por algum fenômeno natu-
ral de grande intensidade, como por exemplo (figura 3.2): chuvas intensas pro-
vocando inundações, erosão e escorregamentos, tornados, furacões, tsunamis,
maremotos, terremotos, vulcanismo etc.

Figura 3.13  –  Ilustrações de dois fenômenos naturais associados a riscos ambientais natu-
rais e a acidentes naturais: furacão e terremoto.

LEITURA
O livro Desastres naturais – Conhecer para prevenir é uma ótima dica de leitura para
você se aprofundar sobre riscos naturais e acidentes naturais. O livro digital está disponível
em: <http://www.igeologico.sp.gov.br/downloads/livros/DesastresNaturais.pdf>.

Riscos antrópicos são associados a ações ou a omissões humanas. Em geral,


os desastres antrópicos são consequência destes riscos antrópicos, originados
por atividades do homem, como por exemplo: acidentes de trânsito, incêndios
urbanos, contaminação de rios, rompimento de barragens etc.
Voltando na categoria dos riscos naturais existe a subdivisão em: riscos
biológicos e riscos físicos. Os riscos biológicos são divididos em 2 grupos: ris-
cos associados à fauna e riscos associados à flora. Os riscos associados à fauna
estão relacionados à atuação de agentes vivos, como organismos patogênicos:

66 • capítulo 3
dengue, febre amarela, picadas de animais, doenças provocadas por vírus e
bactérias, pragas (roedores, gafanhotos etc.), epidemias de gripe etc. Os riscos
associados à flora estão relacionados a doenças provocadas por fungos, pragas,
ervas tóxicas e venenosas etc. Já os riscos físicos são associados aos processos
do meio físico, sendo divididos em 3 grupos: riscos atmosféricos (ar), riscos
geológicos (solo e rocha) e riscos hidrológicos (água).
Do outro lado, na categoria dos riscos antrópicos existe a subdivisão em: ris-
cos sociais e riscos tecnológicos. Os riscos sociais podem ser causados pela socie-
dade ou são riscos com consequências para a sociedade humana, como assaltos,
guerras etc. Já os riscos tecnológicos são aqueles cuja origem está diretamente
ligada à atividade humana (figura 3.3), como vazamentos de produtos tóxicos ou
inflamáveis, radioativos, quedas de aviões, colisão de automóveis etc.

Figura 3.14  –  Ilustrações de duas atividades antrópicas associadas a riscos ambientais an-
trópicos e a acidentes tecnológicos: geração de resíduos radioativos e condução de com-
bustível por gasodutos.

Os riscos tecnológicos a princípio podem ser considerados mais graves,


mas ao mesmo tempo podem ser considerados os mais fáceis de gerenciar e
mitigar. Portanto, os riscos tecnológicos são os mais detalhados e os mais co-
muns nos estudos de riscos ambientais. A abordagem do risco tecnológico deve
levar em conta três fatores indissociáveis: o processo de produção (recursos,
técnicas, equipamentos, maquinário); o processo de trabalho (relações entre
direções empresariais e estatais e assalariados); e a condição humana (exis-
tência individual e coletiva, ambiente). Onde for encontrado pelo menos um
desses fatores, haverá o risco tecnológico ou a probabilidade de um problema
causado por tal risco.

capítulo 3 • 67
3.1.2  Estimativa quantitativa de riscos ambientais

Estudos de frequências relativas (observadas ou modeladas) como um meio de


especificar probabilidades, são modos de revelar, evitar ou modificar as cau-
sas que levaram àqueles efeitos. Estes estudos e previsões, independente se são
referentes a um ambiente natural ou a um ambiente modificado, ajudam na
preservação do meio ambiente.
Dentro dos estudos quantitativos de riscos, deve-se realizar uma estimativa
das frequências de ocorrência de falhas de equipamentos ou das atividades em
análise, bem como uma estimativa de probabilidades de erro humano, e por
fim deve-se considerar frequências de eventos indesejados causados por tercei-
ros ou por agentes externos ao sistema em estudo, como fenômenos naturais
(enchentes, deslizamentos de solo, terremotos etc.), queda de aeronaves, entre
outros. Todo este conjunto de dados é normalmente difícil de ser estimado, em
função da indisponibilidade de informações desse tipo. Logo, para calcular as
frequências de ocorrência dos cenários acidentais podem ser utilizadas algu-
mas técnicas: análise histórica de falhas decorrentes de acidentes, através de
pesquisas em referências bibliográficas ou em banco de dados de falhas; aná-
lise de árvores de falhas (AAF); análise de árvores de eventos (AAE). Algumas
dessas técnicas serão detalhadas no capítulo 4.
Como dica, é importante citar que dados referentes às falhas de equipa-
mentos normalmente podem e devem ser disponibilizados pelos fabricantes,
uma vez que estes fazem testes de confiabilidade nas linhas de fabricação. Da
mesma forma, algumas indústrias mantêm seus próprios bancos de dados com
vistas a não só aperfeiçoar a especificação de seus equipamentos, mas também
prevenir acidentes e, principalmente, subsidiar programas de manutenção. Por
outro lado, sobre informações de erros humanos, os dados de confiabilidade ou
probabilísticos de falhas devem ser utilizados com muita cautela, uma vez que
diversos fatores influenciam nesse processo, como por exemplo: tipos de falha;
condições ambientais; características dos sistemas envolvidos; tipos de ativi-
dade ou operações realizadas; capacitação das pessoas envolvidas; motivação;
disponibilidade e qualidade de normas e procedimentos operacionais; tempo
disponível para execução de tarefas. Um fator que deve ser levado em consi-
deração na análise do erro humano durante a realização de uma determinada
operação diz respeito aos erros de manutenção, os quais são responsáveis por
cerca de 60 a 80% das causas de acidentes maiores envolvendo erro humano.

68 • capítulo 3
CONCEITO
Erro humano é considerado como ações indesejáveis ou omissões decorrentes de proble-
mas de sequenciamento, tempo, conhecimento, interfaces e/ou procedimentos, que resultam
em desvios de parâmetros estabelecidos ou normais e que colocam pessoas, equipamentos
e sistemas em risco.

A estimativa quantitativa dos riscos de um empreendimento depende de


uma série de variáveis, as quais, muitas vezes, são pouco conhecidas e, por isso,
os resultados estimados podem apresentar diferentes níveis de incerteza. Isto
é inevitável, uma vez que se reconhece que há escassez de informações nesse
campo e que não é possível determinar todos os riscos existentes ou possíveis
de ocorrer numa instalação.
Os riscos a serem avaliados devem contemplar o levantamento de possíveis
vítimas fatais, bem como os danos à saúde da comunidade existente nas circun-
vizinhanças do empreendimento e os danos aos ecossistemas dentro da área de
alcance. Assim, nos estudos de análise de riscos submetidos à agência ambien-
tal do estado de São Paulo (CETESB), os riscos devem ser estimados e apresen-
tados nas formas de risco social e risco individual, uma vez que os cenários aci-
dentais extrapolam os limites do empreendimento e podem afetar pessoas e o
meio ambiente. A seguir, apresenta-se um método para o cálculo de riscos, que
incluem estimativas de riscos sociais e de riscos individuais, importantes para
uma análise de vulnerabilidade ambiental. Os conceitos e as equações podem
ser visualizados com maiores detalhes no Manual (P4.261): orientação para a
elaboração de estudos de análise de riscos.

3.1.2.1  Risco social

O risco social é o risco que atinge um determinado número ou agrupamento


de pessoas expostas aos danos decorrentes de um ou mais cenários acidentais.
A apresentação do risco social deverá ser feita através da curva F-N, obtida por
meio da plotagem dos dados de frequência acumulada do evento final e seus
respectivos efeitos representados em termos de número de vítimas fatais. A es-
timativa do risco social num estudo de análise de riscos requer as seguintes
informações: tipo de população (residências, estabelecimentos comerciais,

capítulo 3 • 69
indústrias, áreas rurais, escolas, hospitais etc); efeitos em diferentes períodos
(diurno e noturno) e respectivas condições meteorológicas, para o adequado
dimensionamento do número de pessoas expostas; características das edifica-
ções onde as pessoas se encontram, de forma que possam ser levadas em con-
sideração eventuais proteções.

CONCEITO
Curva F-N é uma curva referente ao risco social determinada pela plotagem das frequên-
cias acumuladas de acidentes com as respectivas consequências expressas em número de
fatalidades.

Diferentes distribuições ou características das pessoas expostas podem ser


consideradas na estimativa dos riscos por intermédio de simplificações ou uso
de dados médios. Entretanto, essas generalizações podem acarretar erros sig-
nificativos na estimativa dos riscos, razão pela qual esses procedimentos de-
vem ser tratados com os devidos cuidados. É importante que você saiba que
os dados oriundos de censos de densidade demográfica em áreas urbanas não
devem ser utilizados para a estimativa da população exposta numa determina-
da área.
A seguir um exemplo do Manual P4.261 (CETESB, 2003) e as discussões do
matemático Alves (2015). O autor cita que para cada tipo de acidente, deverá ser
estimado o número provável de vítimas fatais, de acordo com as probabilidades
de fatalidades associadas aos efeitos físicos e em função das pessoas expostas
nas direções de vento adotadas, considerando-se velocidades médias de vento
correspondentes aos períodos diurno e noturno para cada uma dessas direções.
A estimativa do número de vítimas fatais poderá ser realizada considerando as
probabilidades médias de morte, aplicando-se a probabilidade de 75% para as
pessoas expostas entre a fonte do vazamento e a curva de probabilidade de fata-
lidade de 50% e; aplicando-se a probabilidade de 25% para as pessoas expostas
entre as curvas com probabilidades de fatalidade de 50% e 1%. Um esquema
explicativo destas considerações é apresentado na figura 3.4.

70 • capítulo 3
Região 1 Região 2
Aplicar Aplicar
probabilidade probabilidade
0,75 0,25

Fonte de Vazamento
Curva de 50% Curva de 1%
de probabilidade de probabilidade
de fatalidade de fatalidade

Figura 3.15  –  Esquema explicativa da estimativa do número de vítimas para o cálculo do


risco social

Portanto, o número de vítimas fatais para cada um dos eventos finais pode-
rá ser estimado pela equação 3.1.

Nik = Nek1 . 0,75 + Nek2 . 0,25 (Equação 3.1)


Onde:
Nik = número de fatalidades resultante do evento final;
Nek1 = número de pessoas presentes e expostas até a distância delimitada
pela curva correspondente à probabilidade de fatalidade de 50%;
Nek2 = número de pessoas presentes e expostas até a distância delimitada
pela curva correspondente à probabilidade de fatalidade de 1%.

Para o caso de flashfire, o número de pessoas expostas é o correspondente a


100% do número das pessoas presentes dentro da nuvem, até o limite da curva
correspondente ao Limite Inferior de Inflamabilidade (LII); representado pela
equação 3.2.

Nik = Nek (Equação 3.2)


Onde:
Nik = número de fatalidades resultante do evento final i;
Nek = número de pessoas presentes no quadrante k até a distância delimita-
da pela curva correspondente ao LII.

capítulo 3 • 71
CONCEITO
Flashfire é um incêndio de uma nuvem de vapor em que a massa envolvida não é suficiente
para atingir o estado de explosão. É um fogo extremamente rápido em que todas as pessoas
que se encontram dentro da nuvem recebem queimaduras letais.
Limite Inferior de Inflamabilidade (LII) é a mínima concentração de gás que, mistura-
da ao ar atmosférico, é capaz de provocar a combustão do produto, a partir do contato com
uma fonte de ignição. Concentrações de gás abaixo do LII não são combustíveis, pois, nessa
condição, tem-se excesso de oxigênio e pequena quantidade do produto para a queima. Essa
condição é denominada “mistura pobre”.

Para cada um dos eventos considerados no estudo, deve ser estimada a


frequência final de ocorrência, considerando-se as probabilidades correspon-
dentes a cada caso, como, por exemplo, a incidência do vento no quadrante e a
probabilidade de ignição, entre outras. Assim, tomando como exemplo a libe-
ração de uma substância inflamável, a frequência de ocorrência do evento final
i poderá ser calculada pela equação 3.3.

Fi = fi . pk . pi (Equação 3.3)
Onde:
Fi = frequência de ocorrência do evento final i;
fi = frequência de ocorrência do evento i;
pk = probabilidade do vento soprar no quadrante k;
pi = probabilidade de ignição.

O número de pessoas afetadas por todos os eventos finais deve ser determi-
nado, resultando numa lista do número de fatalidades, com as respectivas fre-
quências de ocorrência. Esses dados devem, então, ser trabalhados em termos
de frequência acumulada, possibilitando assim que a curva F-N seja construí-
da; através da equação 3.4.

FN = ∑ Fi (Equação 3.4)

Para todos os efeitos decorrentes do evento final i para os quais Ni ≥ N

72 • capítulo 3
Onde:
FN = frequência de ocorrência de todos os eventos finais que afetam N ou
mais pessoas;
Fi = frequência de ocorrência do evento final i;
Ni = número de pessoas afetadas pelos efeitos decorrentes do evento final i.

3.1.2.2  Risco individual

O risco individual pode ser definido como o risco para uma pessoa presente na
vizinhança de um perigo, considerando a natureza do dano que pode ocorrer
e o período de tempo em que este dano pode acontecer. Os danos às pessoas
podem ser expressos de diversas formas, embora as injúrias sejam mais difíceis
de serem avaliadas, dada a indisponibilidade de dados estatísticos para serem
utilizados em critérios comparativos de riscos. Assim, o risco individual deverá
ser estimado em termos de danos irreversíveis ou fatalidades.
Este tipo de risco pode ser estimado para aquele indivíduo mais exposto a
um perigo, para um grupo de pessoas ou para uma média de indivíduos presen-
tes na zona de efeito. Para um ou mais acidentes, o risco individual tem diferen-
tes valores. A apresentação do risco individual deverá ser feita através de curvas
de iso-risco, uma vez que estas possibilitam visualizar a distribuição geográfica
do risco em diferentes regiões. Assim, o contorno de um determinado nível de
risco individual deverá representar a frequência esperada de um evento capaz
de causar um dano num local específico.

CONCEITO
Curva iso-risco é uma curva referente ao risco individual determinada pela intersecção de
pontos com os mesmos valores de risco de uma mesma instalação industrial. Também co-
nhecida como “contorno de risco”.

Para o cálculo do risco individual num determinado ponto da vizinhança de


uma planta industrial, pode-se assumir que as contribuições de todos os even-
tos possíveis são somadas. Dessa forma, o risco individual total num determi-
nado ponto pode ser calculado pelo somatório de todos os riscos individuais
nesse ponto, conforme a equação 3.5.

capítulo 3 • 73
n
RIx,y = ∑ RIx,y,i (Equação 3.5)
i=1
Onde:
RIx,y = risco individual total de fatalidade no ponto x,y (chance de fatalidade
por ano (ano-1))
RIx,y,i = risco de fatalidade no ponto x,y devido ao evento i (chance de fatali-
dade por ano (ano-1))
n = número total de eventos considerados na análise.

Os dados de entrada na equação 3.5 são calculados a partir da equação 3.6.

RIx,y,i = Fi . pfi (Equação 3.6)


Onde:
RIx,y,i = risco de fatalidade no ponto x,y devido ao evento i (chance de fatali-
dade por ano (ano-1))
Fi = frequência de ocorrência do evento final i;
pfi = probabilidade que o evento i resulte em fatalidade no ponto x,y, de
acordo com os efeitos resultantes das consequências esperadas.

3.1.2.3  Periculosidade, elementos de risco e vulnerabilidade

Outra forma de estimativa de riscos ambientais é considerada para casos me-


nos específicos. Para esses casos, existem 3 termos fundamentais a serem in-
corporados em uma avaliação de riscos: periculosidade, elementos de risco e
vulnerabilidade.
A periculosidade pode ser entendida como a probabilidade de ocorrência
(avaliada qualitativa ou quantitativamente) de um fenômeno com uma deter-
minada magnitude (a que está associado um potencial de destruição), num
determinado período de tempo e numa dada área. Os elementos de risco ou
elementos vulneráveis são representados pela população, equipamentos, pro-
priedades e atividades econômicas vulneráveis num território. E por fim, a vul-
nerabilidade é correspondente ao grau de perda de um elemento ou conjunto
de elementos vulneráveis, resultante da ocorrência de um fenômeno (natural
ou induzido pelo homem) com determinada magnitude ou intensidade.

74 • capítulo 3
Aqui se assume o termo risco como uma medida de perda econômica e/ou
danos à vida humana (neste caso, fatalidades), e seguindo os princípios da de-
finição do risco apresentada no capítulo 1, e é resultante da combinação entre
a frequência de ocorrência de um evento indesejável e a magnitude das perdas
ou danos (consequências). Esta definição de risco permite um cálculo do risco
associado a cada evento danoso (Equação 3.7).

Ri = ∑ Fi . Ci (Equação 3.7)
Onde:
Ri = Risco associado para o evento i
Fi = frequência de ocorrência do evento i
Ci = magnitude da consequência desse evento i

CONCEITO
Para ilustrar de uma forma mais clara estes conceitos e já utilizando os conceitos de risco
individual e social, vejamos este estudo de caso de análise de vulnerabilidade, feito na Cidade
de Cabo Frio (Rio de Janeiro).
Dados de entrada:
150.000 visitantes por ano
150 ocorrências de afogamento por ano
1 morte por afogamento a cada 10 ocorrências

Cálculo da frequência de afogamentos:


Fi = 150 ocorrências/ano
Cálculo da magnitude da consequência morte por afogamento:
Ci = 1 morte / 10 ocorrências = 0,1 morte/ocorrência
Cálculo do risco social:
Ri (social) = 150 ocorrências/ano x 0,1 morte/ocorrência = 15 mortes/ano
Cálculo do risco individual:
Considerando o resultado do risco social e o número de visitantes (pessoas expostas ao
risco de morte por afogamento) igual 150.000 pessoas
Ri (individual) = (15/150.000) = 0,0001 mortes/ano

capítulo 3 • 75
Estas análises qualitativas e quantitativas dos riscos ambientais permitem
o diagnóstico e a delimitação de áreas de risco, auxiliando análises de vulnera-
bilidade ambiental. A identificação das vulnerabilidades permite entender as
carências que uma área ou uma comunidade possuem, pois, a abordagem da
vulnerabilidade pode acontecer em diferentes escalas (individual x social) e/ou
a partir de diferentes temas (social x socioambiental). Destaco que a busca por
segurança e por qualidade ambiental é crescente pela população mundial. Para
isso, é preciso conhecer o funcionamento dos fenômenos perigosos e avaliar as
consequências dos mesmos nas áreas de estudo, mas com prioridade nas áreas
mais vulneráveis a desastres ambientais (áreas de risco).

LEITURA
Uma dica de leitura sobre riscos sociais e ambientais é o artigo intitulado por Vulnerabili-
dade socioambiental no estado do Acre: riscos sociais e ambientais na microbacia
hidrográfica do Igarapé Fundo. Disponível em: <http://www.anppas.org.br/encontro5/
cd/artigos/GT11-300-215-20100903164828.pdf>.

Um exemplo bastante visto de áreas de risco, são áreas povoadas (tanto para
fins residenciais quanto comerciais) às margens de rios ou córregos que sofrem
problemas de inundações e alagamentos (figura 3.5). Os danos ambientais, ma-
teriais, econômicos, sociais, patrimoniais, entre outros são muitas vezes imen-
suráveis, dependendo da magnitude da chuva e da inundação. Como são danos
decorrentes de um fenômeno natural, o risco é classificado como risco natural
físico e hidrológico. Contudo, como abordado no item 3.3.1, alguns acidentes
naturais podem ser iniciados ou intensificados por alguma ação antrópica, que
é o caso das frequentes inundações das áreas urbanas.

76 • capítulo 3
Figura 3.16  –  Exemplificação de áreas de risco para problemas ambientais relacionados a
inundações e alagamentos.

Apenas para contextualizar o problema da urbanização, ela pode ser vista


como uma das modificações mais severas que o homem faz nos ambientes
naturais. Além de povoar e distribuir atividades produtivas sem planejamento
(que é o que acontece ou aconteceu com a maioria das cidades), as superfícies
das bacias hidrográficas são impermeabilizadas, alterando seu ciclo hidroló-
gico natural, resultando no aumento do volume de água a ser drenado pela
bacia e no aumento dos episódios de cheias, inundações e alagamentos. Para
este exemplo, a realocação das comunidades moradoras e/ou trabalhadoras é
a principal medida de mitigação de impactos sociais e ambientais que deve ser
contemplada em planos de contingência. E de uma maneira mais estratégica,
deve-se buscar alterações nas características da bacia hidrográfica urbana para
aumentar a infiltração e diminuir o escoamento superficial das águas. Para
isso, é necessário empregar ações de gestão e de alterações estruturais sob o
ponto de vista da drenagem sustentável, definida por ser um manejo das águas
pluviais que busca o restabelecimento do equilíbrio do ciclo hidrológico natu-
ral, buscando sistematicamente reverter o impacto da urbanização sobre a ba-
cia hidrográfica.

capítulo 3 • 77
CONCEITO
Cheia ou enchente é o aumento temporário do nível da água no canal de drenagem (cór-
regos ou rios) devido a um aumento na vazão, atingindo a cota máxima do canal, mas sem
transbordamento de água.
Inundação é o transbordamento das águas de um canal de drenagem, atingindo as
áreas marginais (planícies de inundação ou áreas de várzea).
Alagamento é o acúmulo de água nas superfícies de ruas e calçadas, por problemas
de drenagem.
Bacia hidrográfica é uma unidade territorial formada por superfícies vertentes que cap-
tam e drenam a água das chuvas por cursos de água que confluem até resultar em um único
ponto de saída (o exutório da bacia).
Ciclo hidrológico é o movimento contínuo da água, alimentado pela força da gravidade
e pela energia do sol, que provocam a evaporação, a precipitação e a movimentação das
águas entre oceanos, continentes (superfície, solo e rocha) e atmosfera.

Além dos exemplos supracitados, existem muitas áreas de risco, as quais


podem ser identificadas sob diferentes aspectos ambientais. Vale ressaltar que
as alterações realizadas no meio ambiente provocam diferentes impactos am-
bientais e as reações destes podem se somar (por efeitos sinérgicos e reações
em cadeia) e produzir consequências inesperadas. Este somatório de reações
geralmente dificulta a percepção de riscos ambientais, que é a base para a ela-
boração de planos de contingência.

3.2  Percepção de riscos e planos de


contingência

Uma das maiores dificuldades nas atividades relativas à gestão de riscos é o en-
tendimento da dinâmica do ambiente com o qual se trabalha e por isso traba-
lhamos bastante com métodos de modelagem ambiental, independentemente
se é um ambiente natural, pouco modificado ou muito alterado. Para se iniciar
uma modelagem ambiental é necessário traçar planos, baseados em fatores de

78 • capítulo 3
percepção de riscos para melhor compreender e gerenciar uma determinada
área.
Entender o processo de percepção de riscos, os conceitos de culpa e confia-
bilidade, e as etapas de uma modelagem ambiental, são etapas essenciais para
elaborar um plano de contingência, que nada mais é do que a representação do
estado de preparação dos atores envolvidos de uma ocorrência acidental.

3.2.1  Percepção ambiental

A percepção ambiental pode ser definida como a captação, seleção e organiza-


ção das modificações do meio ambiente, orientada para uma tomada de deci-
são que torna possível a prevenção de episódios acidentais e a elaboração de
planos de contenção para gerenciar problemas já existentes.
Existe uma variedade de formas de percepção dos riscos, a qual deve ser res-
peitada e trabalhada em coletividade. Muitas vezes as comunidades, mesmo
formada por pessoas com pouca instrução, conseguem diagnosticar fatores de
riscos que o especialista, o acadêmico ou o profissional podem não perceber.
Isto acontece porque quem vive ou trabalha na área avaliada tem um olhar acos-
tumado com os ritmos e as sutilezas das modificações ambientais. Portanto, a
percepção ambiental construída coletivamente (por comunidades, gestores,
fiscalizadores, pesquisadores e especialistas) pode representar um importante
ponto de partida para reverter e controlar os riscos ambientais.
Os componentes do processo perceptivo que se encaixam nessa aborda-
gem correspondem à intuição, à experiência coletiva e à experiência pessoal.
Enquanto cada cientista trata a paisagem sob certo enfoque, conforme seus ob-
jetivos, o processo perceptivo, ao contrário, tenta apreender a paisagem com
uma visão integrativa, colocando em evidência a imagem que o habitante faz
de sua paisagem.
O risco é um aspecto da percepção ambiental. A identificação de riscos
ambientais depende muito da percepção das pessoas em relação ao ambiente
onde estão inseridas. Assim, qualquer levantamento de aspectos, impactos e
riscos ambientais deve ser elaborado de forma adaptada a cada realidade local,
conforme a dimensão territorial, os vínculos das pessoas com a área em estudo,
o adensamento populacional, as características das atividades desenvolvidas
na área, o nível de organização social dessa população etc. São esses fatores de
risco que influenciam as pessoas a se darem conta de sua existência e serem

capítulo 3 • 79
conscientes da vulnerabilidade, o que vai determinar a noção de cautela. Só
para lembrar, vale a pena mencionar novamente que o risco em si não se consti-
tui num desastre, mas sim num fator que propicia a eminência de um desastre.
Para efeito de exemplificação, apresento aqui um roteiro de identificação
de riscos ambientais publicado por Dagnino & Carpi Junior (2007). Trata-se
de uma proposta de estudos preliminares de riscos ambientais bastante in-
teressante, a qual foi desenvolvida pelo Prof. Dr. Oswaldo Sevá Filho, docen-
te da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, e o Dr. Carlos Eduardo
C. Abrahão, médico sanitarista da Coordenadoria de Vigilância Sanitária de
Campinas. Este roteiro consiste no delineamento de 6 situações ambientais ur-
banas que podem oferecer riscos para moradores e trabalhadores na cidade de
Campinas/SP:
1. Situações de acidentes graves: quedas de aeronaves, de balões, de tor-
res altas e linhas de transmissão de alta voltagem; desmoronamentos, desaba-
mentos de edifícios, de pontes e viadutos, de casas, de galpões; vazamentos e
emanações de produtos voláteis, inflamáveis, contaminantes, nuvens tóxicas;
rompimento de tubulações de petróleo ou derivados, e de gás; incêndios, explo-
sões, principalmente envolvendo estoques de compostos perigosos; acidentes
de trânsito com cargas perigosas, inflamáveis, radiativas, e de risco biológico;
2. Ocasiões de chuvas fortes e períodos chuvosos prolongados: afogamen-
tos; o nado forçado e percursos dentro d’água; enxurradas contaminadas com
dejetos, material orgânico, produtos químicos; disseminação de resíduos e
produtos arrastados pela área inundada; vazamentos de fossas por saturação,
extravasamento de valas e de córregos canalizados; deterioração mais rápida de
gêneros, alimentos, embalagens, medicamentos por causa de umidade e mul-
tiplicação de fungos; quedas de postes, fiação, andaimes e tapumes, muros,
telhados;
3. Exposição à atmosfera poluída: emissões e emanações constantes e
picos de aumento, em fábricas, caldeiras e motores diesel de compressores e
geradores (poeiras, material particulado e gases CO; CO2, NOx; SO2; hidrocar-
bonetos, compostos clorados, fluorados, amoniacais), além das vias de maior
tráfego e dos pontos de estacionamento numeroso, garagens, frotas; participa-
ção ou proximidade de acidentes operacionais e de estocagem de produtos quí-
micos contaminantes ou de seus compostos precursores, e de vazamentos de
cargas químicas em veículos ou vagões ferroviários;

80 • capítulo 3
4. Períodos prolongados de calmaria, de secura no ar e de inversão térmi-
ca: menor dispersão de poluentes atmosféricos, maior demanda de água pelos
seres vivos; aumento provável de concentração de gás ozônio nas horas mais
luminosas do dia; acúmulo de poeiras e fumaça em toda a camada baixa da
atmosfera; maior risco de fogo, com propagação mais rápida;
5. Riscos pelo uso e pela ingestão de água contaminada: item que pode ser
dividido em duas partes. A primeira trata da água de poço raso ou meio raso (até
20 m em áreas mais elevadas), e abrange: proximidade de fossas, bota-foras,
pilhas de lixo, sucata e resíduos industriais; proximidade de áreas com aplica-
ção de herbicidas, fungicidas, inseticidas; proximidade de criações de animais.
Observando-se que, mesmo a água de poços profundos e artesianos, 100 m ou
mais deve ter sua composição química e biológica analisada sistematicamen-
te, pois embora a probabilidade de contaminação seja bem menor do que nos
casos acima, ela não é zero, e pode mudar ao longo do tempo, em uma região
com os solos bastante contaminados como a de Campinas, SP. A segunda par-
te desse item trata do caso da água canalizada da empresa de saneamento lo-
cal: as fontes de onde se capta água bruta são o rio Atibaia, em Souzas, ao lado
da via Dom Pedro, pista sentido Campinas (aproximadamente 3.600 L/s) e o
rio Capivari, ao lado da rodovia dos Bandeirantes, sentido SP, após o trevo da
rodovia Santos Dumont (aproximadamente 400 L/s); a poluição dos dois rios
é muito variável, e nunca é zero nesses dois pontos, pois os rios já chegam aí
com um bom volume de esgotos não-tratados, de descargas industriais e com
algum teor de resíduos de agroquímicos. Se o sistema de alerta da companhia
de saneamento não funcionar com precisão, os contaminantes entrarão como
a água bruta nas estações de tratamento de água (ETA), e poderão ser retira-
dos ou não pelos tratamentos adotados. Durante o tratamento, a adição de
produtos químicos também pode atingir dosagens arriscadas de compostos
organohalogenados (de cloro, de flúor etc.); possibilidade de contaminação da
água durante seu trajeto nas adutoras, nos reservatórios dos bairros, nas caixas
d’água residenciais e canalizações internas dos prédios e até nos potes e garra-
fas onde é guardada pelos usuários.
6. Focos de risco sanitário pela proximidade, convivência, ou passagem
eventual em locais explicitamente arriscados: depósitos de entulho, lixo e re-
síduo industrial, atividades de separação e reciclagem ou reaproveitamen-
to; locais com fossas saturadas, valetas e córregos com água servida e esgoto;

capítulo 3 • 81
ribeirões e rios com esgoto bruto, cavas inundadas, lagoas, açudes; especial-
mente pontos de lançamento de grande volume, de coletividades, de indústrias.
Enfim, este roteiro pode ser utilizado como referência para levantamentos
de situações de riscos ambientais, principalmente em ambientes urbanos. Mas
lembre-se que toda abordagem de riscos deve sempre ser adaptada às condi-
ções de cada local estudado.

3.2.2  Culpa e confiabilidade ambiental

Após levantamentos da percepção ambiental e identificação dos riscos ambien-


tais é necessário avaliar os resultados obtidos juntamente com dois fatores: a
culpa e a confiabilidade.
Confiabilidade é uma dessas palavras que falam por si. Na compreensão co-
mum, concluímos que uma pessoa é confiável quando sabemos que é possível
contar com ela; quando acreditamos que ela fará o que prometeu. Mas o termo
não é aplicado apenas a pessoas, mas também a instrumentos, equipamentos,
processos etc. Neste sentido, a confiabilidade é a probabilidade de um compo-
nente ou sistema cumprir uma função requerida, sob determinadas condições,
por um período de tempo especificado.
A confiabilidade ambiental está relacionada ao grau de probabilidade de
falha que um processo (atividade, sistema, empreendimento) possui e que
pode ocasionar poluição do meio ambiente, entre outros danos. Um sistema
altamente confiável apresenta um baixo nível de falha. Para analisar esse grau
de confiabilidade ou seu inverso (grau de probabilidade de falha) é necessário
analisar se o processo: (1) possui natureza probabilística; (2) depende do crité-
rio de sucesso/falha; (3) depende de outras condições; (4) varia em função do
tempo.
Para acreditar na confiabilidade de um processo é extremamente necessá-
rio atentar-se para a validade dos insumos e a vida útil dos equipamentos. Pode
ser que os insumos não percam suas propriedades funcionais após o prazo de
validade ou que os equipamentos continuem funcionando após a vida útil, mas
a probabilidade de ocorrência de acidentes com esses recursos aumenta bas-
tante, quando comparada com a probabilidade dentro do período especificado
pelos fabricantes.
Apenas para exemplificar, a culpa por uma falha ocorrida dentro do prazo
especificado pode ser atribuída ao fabricante, já a culpa por uma falha ocorrida

82 • capítulo 3
após este prazo será atribuída aos responsáveis pelo processo (operador, técni-
co de segurança, proprietário etc.).
Mas qual o sentido da palavra culpa? É necessário culpar algo ou alguém
nos casos de poluição ambiental?
A palavra culpa tem como definições no dicionário popular: ato repreensí-
vel praticado contra a lei ou a moral; falta, crime, delito, pecado. Acidentes ope-
racionais muitas vezes estão associados a atos inseguros, que devem ser ava-
liados para determinação e punição dos culpados, os quais são encaminhados
para programas de reciclagem pessoal ou para demissão, quando for o caso.
No entanto, a culpa ambiental envolve aspectos mais amplos. A culpa no
âmbito do direito ambiental não precisa necessariamente estar relacionada a
um ato contra lei. Para a legislação ambiental, incluindo o direito à qualidade
ambiental para toda coletividade, a culpa está inserida na teoria do risco: aque-
le que através de sua atividade cria um risco de dano para terceiros (pessoas,
animais ou meio ambiente), deve ser obrigado a repará-lo, ainda que sua ativi-
dade e o seu comportamento sejam isentos de culpa. Isto é, uma determinada
empresa pode estar obedecendo todos os limites de poluição legalmente es-
tabelecidos, mas mesmo assim ser responsabilizada pelos danos causados ao
meio ambiente, isto porque sua responsabilidade deriva do risco assumido no
desenvolvimento da sua atividade. Portanto a culpa ambiental não precisa ser
comprovada, uma vez que se comprova a existência do dano e seu nexo causal,
já se configura a responsabilidade por danos ambientais.

3.2.3  Modelagem ambiental aplicada

Os resultados da percepção ambiental e da identificação dos riscos ambientais


avaliados conjuntamente com a confiabilidade ambiental e a culpa ambiental
são dados importantes para a modelagem ambiental. A figura 3.6 expõe um
exemplo de uma modelagem ambiental aplicada. Perceba que o processo en-
volve diferentes etapas, incluindo fases de obtenção de dados, de gestão, de
trabalho com os dados e de fabricação de resultados visíveis das informações
(mapas, gráficos, tabelas, relatórios etc.). A modelagem ambiental permite a
previsão de acidentes ambientais (incluindo a análise da situação atual, a ca-
racterização dos cenários acidentais e a determinação de áreas vulneráveis) e a
elaboração de planos de contingência.

capítulo 3 • 83
Fenômeno de Interesse

Observação + Medição

Modelo Conceptual

Modelo Matemático

Modelo Físico Modelo Numérico Modelo Analítico Modelo Analógico

Pré-processamento: Montagem, Base de Dados, Definição de Parâmetros, etc.


(Modelagem de Dados - Condições de Contorno e Forçantes)

Medição Modelo Computacional Cálculo Cálculo ou Medição

Pré-processamento
(Modelagem de Resultados)
Calibração e Validação
Mapas, Gráficos e Tabelas Confere com Não
Observação + Medição
Relatório com Mapas, Gráficos e Tabelas, Para Sim
Auxílio em Processo de Tomada de Decisão

Figura 3.17  –  Exemplo das fases de uma modelagem ambiental aplicada.

O processo de modelagem ambiental é aquele no qual as relações entre os


compartimentos de um ecossistema são identificadas e descritas. Como visto
anteriormente, dados sobre acidentes ambientais ainda são escassos e por isso
pode-se empregar métodos de simulação ambiental para obtenção de informa-
ções e dados de entrada.
Todos os modelos de avaliação ambiental são inerentemente incertos. É
preciso ter em mente, que no fundo os dados de saída se constituem em aproxi-
mações dos processos que acontecem no meio. A substituição de hipóteses con-
servativas por outras de caráter mais realista, sem a devida avaliação das incer-
tezas, poderá acarretar aumento da probabilidade de subestimação. Devemos
lembrar, no entanto, que a especificação do problema (constituição do fenô-
meno de interesse) é o aspecto mais relevante em uma modelagem ambiental.

LEITURA
Para verificar exemplos da aplicação de modelagem ambiental, vale a pena consultar
A tese de doutorado intitulada por Modelagem ambiental com tratamento de incer-
tezas em sistemas de informação geográfica: o paradigma geoestatístico por indica-
ção. Disponível em: <http://mtc-m05.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/deise/2001/08.03.12.35/
doc/publicacao.pdf>.
A dissertação de mestrado intitulada por Gerenciamento de recursos hídricos em
bacias hidrográficas: modelagem ambiental com a simulação de cenários preserva-

84 • capítulo 3
cionistas. Disponível em: <http://cascavel.cpd.ufsm.br/tede/tde_arquivos/21/TDE-2007-
10-23T190934Z-922/Publico/ANDERSONRUHOFF.pdf>.

3.2.4  Elementos de um plano de contingência

Compreendidos os tópicos anteriores, podemos elencar algumas informações


importantes sobre os planos de contingência.
Os planos de contingência são documentos que tem como objetivo prin-
cipal a identificação das atividades a serem realizadas quando um acidente
acontecer. Ele deve esclarecer bem as funções e as responsabilidades para dife-
rentes níveis. Cada plano de contingência tem que obedecer às peculiaridades
da região, à sensibilidade dos ambientes, às demandas socioeconômicas e ao
histórico de acidentes. A expectativa é que a existência e a execução de planos
de contingência eficientes aumentam as chances de salvar um maior número
de vidas, de patrimônio e de minimizar demais impactos da poluição acidental.
Por isso, este plano deve ser composto de:

•  Estudo de análise de riscos: instrumento norteador dos procedimentos


para as atividades que gerem risco à sociedade e ao ambiente;
•  Plano de gerenciamento de riscos: instrumento que visa reduzir quanto
possível o risco de acidentes;
•  Plano de ação de emergência (PAE): documento que estabelece a estru-
tura necessária para o atendimento adequado em uma situação emergencial.

O PAE deve se basear nos resultados obtidos no estudo de análise e avalia-


ção de riscos, quando realizado, e na legislação vigente, devendo também con-
templar no mínimo os seguintes conteúdos:

•  Introdução;
•  Estrutura do plano;
•  Descrição das instalações envolvidas;
•  Cenários acidentais considerados;
•  Área de abrangência e limitações do plano;
•  Estrutura organizacional, contemplando as atribuições e responsabilida-
des dos envolvidos;

capítulo 3 • 85
•  Fluxograma de acionamento;
•  Ações de resposta às situações emergenciais compatíveis com os cenários
acidentais considerados, de acordo com os impactos esperados e avaliados no
estudo de análise de riscos, considerando procedimentos de avaliação, contro-
le emergencial (combate a incêndios, isolamento, evacuação, controle de vaza-
mentos etc.) e ações de recuperação;
•  Recursos humanos e materiais;
•  Divulgação e integração com outras instituições e manutenção do plano;
•  Tipos e cronogramas de exercícios teóricos e práticos (simulações), de
acordo com os diferentes cenários acidentais estimados;
•  Documentos anexos: plantas de localização da instalação e layout, incluindo
a vizinhança sob risco, listas de acionamento (internas e externas), listas de equipa-
mentos, sistemas de comunicação e alternativos de energia elétrica, relatórios etc.

Vale destacar que a resposta sempre começará na localidade do acidente,


portanto, deve-se assegurar a capacidade de resposta inicial a esse nível. Para
que seja eficiente no momento de sua real aplicação, todo o plano de contin-
gência deve seguir algumas premissas básicas:

•  Manter uma relação de contatos de instituições parceiras e de especialis-


tas na área ambiental ou na área específica do agente causador de danos;
•  Manter uma relação de contatos atualizada dos profissionais das coordena-
ções do Ministério da Saúde e dos Ministérios da Defesa e da Integração Nacional,
para o possível acionamento do protocolo de ações que visa ao estabelecimento
de ações integradas e complementares de resposta em situações de desastres;
•  Treinar equipes de trabalho com a frequência adequada e fazer simulações
de acidentes para treinamento das equipes e interação com as comunidades;
•  Ter os melhores sistemas de comunicação em todos os níveis de governo
e no setor privado;
•  Desenvolver e manter atualizados os protocolos e os procedimentos ope-
racionais necessários para a realização das ações para o manejo da resposta
por emergência;
•  Identificar fontes de equipamentos e de recursos adicionais para a reali-
zação das ações do plano;
•  Prover meios para a garantia da continuidade das ações, incluindo o reve-
zamento dos responsáveis por posições-chave.

86 • capítulo 3
As simulações de acidentes são essenciais para nortear e integrar a equipe de
profissionais acionada para atender o acidente e a comunidade. Os exercícios
simulados devem: ter objetivos claros, realísticos e mensuráveis; ser simples
e mais frequentes; contar com pessoal experiente e competente; reconhecer e
gratificar quando um exercício for bem-sucedido e dar feedback aos participan-
tes da simulação. Se você analisar cada acidente severo citado no Capítulo 1
quanto aos planos de contingência, planos de ação de emergência e os tempos
de resposta das ações, pode-se perceber que quanto maior é a demora e maior
é o despreparo dos recursos humanos, maiores são os desastres ambientais.
Conclui-se que todas as fases dos estudos ambientais são importantes, mas
apesar de existir ferramentas de análise e gerenciamento dos riscos ambientais,
os acidentes podem acontecer. Pode-se dizer então que os estudos ambientais
auxiliam a previsão de acidentes e a elaboração dos planos de contingência. Na
prática, uma correta execução dos planos de contingência, em tempo rápido de
resposta é o que determinará o sucesso da mitigação dos impactos do acidente
e da poluição acidental, salvando vidas, ecossistemas (meio físico e meio bióti-
co) e bens materiais.

ATIVIDADES
01. Conforme a classificação dos riscos ambientais, epidemias de doenças são considera-
dos riscos naturais, na subclasse de riscos biológicos. Embora esta classificação esteja cor-
reta, podemos afirmar que algumas epidemias são ocasionadas ou intensificadas por ações
antrópicas. Explique como e exemplifique.

02. Qual é a relação do tempo de resposta do plano de ação de emergência com a magni-
tude dos danos ambientais? Contextualize sua resposta explicando um pouco do caso do pó
da China no Rio de Janeiro (1982).

REFLEXÃO
Neste capítulo você compreendeu a diferença entre acidentes naturais e tecnológicos; foi
introduzido a temas básicos para análise qualitativa e quantitativa de riscos ambientais, in-
cluindo estudos de frequência e consequência; diferenciou os cálculos para determinação
do risco social e do risco individual, inclusive por análise de vulnerabilidade; foi exposto a as-

capítulo 3 • 87
pectos importantes para percepção de riscos ambientais; tratou sobre os princípios da culpa
e confiabilidade; e por fim aprendeu elementos importantes para uma modelagem ambiental
e para a elaboração de planos de contingência.

LEITURA
ALVES, Antonio Fernando Silveira. Avaliação de riscos ambientais (apostila). Vitória: Editora UNISA,
2015. 107p. Disponível em: <http://unisa.br/conteudos/9123/f1258221175/apostila/apostila.pdf>.
Acesso em: 14 jul. 2015.
BRILHANTE, Ogenis Magno; CALDAS, Luiz Querino de A. (coord.). Gestão e avaliação de risco em
saúde ambiental. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999. p. 155.
CETESB. Norma técnica P4.261 - Manual de orientação para a elaboração de estudos de
análise de riscos. São Paulo, 2003. p. 122
DAGNINO, Ricardo de Sampaio; CARPI JUNIOR, Salvador. Risco Ambiental: Conceitos e Aplicações.
Climatologia e Estudos da Paisagem, Rio Claro, v. 2, n.2 , julho/dezembro/2007, p.51.
TOMINAGA, Lídia Keiko; SANTORO, Jair; AMARAL, Rosangela do (Organizadores). Desastres
naturais: conhecer para prevenir. São Paulo: Instituto Geológico, 2009. p. 196.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Antonio Fernando Silveira. Avaliação de riscos ambientais (apostila). Vitória: Editora UNISA,
2015. 107p. Disponível em: <http://unisa.br/conteudos/9123/f1258221175/apostila/apostila.pdf>.
Acesso em 14 jul. 2015.
BRILHANTE, Ogenis Magno; CALDAS, Luiz Querino de A. (coord.). Gestão e avaliação de risco em
saúde ambiental. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999. p. 155.
CETESB. Norma técnica P4.261 - Manual de orientação para a elaboração de estudos de
análise de riscos. São Paulo, 2003. p. 122.
DAGNINO, Ricardo de Sampaio; CARPI JUNIOR, Salvador. Risco Ambiental: Conceitos e Aplicações.
Climatologia e Estudos da Paisagem, Rio Claro, v. 2, n.2, julho/dezembro/2007, p.51.
TOMINAGA, Lídia Keiko; SANTORO, Jair; AMARAL, Rosangela do (Organizadores). Desastres
naturais: conhecer para prevenir. São Paulo: Instituto Geológico, 2009. p. 196.

88 • capítulo 3
4
Metodologias para
Estudos de Riscos
Ambientais
Caro(a) aluno(a), neste capítulo você vai estudar as metodologias mais usadas
em análise e avaliação de riscos ambientais: Análise Preliminar de Perigos
(APP), Análise de Perigos e Operabilidade (HAZOP), Análise de Modos de Fa-
lha e Efeitos (AMFE), Análise de Árvore de Falhas (AAF). Também aprenderá as
equações e conceitos necessários para calcular índice de risco de instalações
ou atividades.

OBJETIVOS
Após o aprendizado deste capítulo, espera-se que você consiga:
•  Identificar qual a melhor metodologia de análise de risco é melhor a ser aplicada em dife-
rentes casos de estudos ambientais.
•  Compreender o processo da árvore de falhas que é bastante útil na compreensão das
causas dos riscos.
•  Calcular massa de referência, fator de perigo, fator de distância, salvaguardas e índice
de risco.

90 • capítulo 4
4.1  Técnicas de análise e avaliação de riscos
No meio científico, não existem investigações teóricas nem científicas sem um
processo criterioso e metodológico de classificação, que define as ferramentas
necessárias à seleção e ordenação dos fenômenos que o pesquisador precisa
estudar. Sob esse ângulo, não existe uma só organização social na qual os cri-
térios para todos os tipos de risco tenham já todos sidos estabelecidos. Apesar
disso, todos os conceitos de risco têm um elemento em comum: a distinção
entre realidade e possibilidade. A partir dessa afirmação, temos o compromis-
so de propor metodologias e análises de perigo, ainda não pensadas, para um
melhor gerenciamento de riscos ambientais.
E quais metodologias para estudos de riscos já existem? Como podem ser
aplicadas no contexto dos riscos ambientais?

4.1.1  Análise preliminar de perigos (app)

A Análise Preliminar de Perigos (APP), também conhecida como Preliminary


Hazard Analysis (PHA), muitas vezes é chamada também de Análise Prelimi-
nar de Riscos (APR). Foi desenvolvida para o programa de segurança militar
do Departamento de Defesa dos EUA. Trata-se de uma metodologia indutiva
estruturada para identificação precoce de situações indesejadas, isto é, dos po-
tenciais perigos, nas etapas de planejamento de projetos (instalação de novas
unidades ou de novos sistemas, principalmente se existir previsão de operação
com materiais perigosos). Logo, esta técnica possibilita a adequação do projeto
antes que recursos de grande monta tenham sido comprometidos e por isso é
indicada pelos órgãos ambientais CETESB e FEPAM para fazer parte do EIA/
RIMA. Contudo, a APP também pode ser usada em unidades que já estejam em
operação, permitindo, nesse caso, a realização de uma revisão dos aspectos de
segurança existentes.
Falhas intrínsecas de equipamentos, de instrumentos e de materiais, bem
como erros humanos são estudados sob as ópticas de causa e efeito e das ca-
tegorias de severidade nas quais se enquadram. Os resultados são apresenta-
dos em planilhas onde para cada perigo identificado são levantadas as possí-
veis causas, seus efeitos potenciais, as categorias de frequência e severidade,
bem como as recomendações básicas de controle aplicáveis (preventivas ou

capítulo 4 • 91
corretivas). A APP pode ser usada apenas como uma etapa preliminar, seguida
de outras ferramentas de análise em um mesmo estudo de riscos ambientais.
Como os estudos de riscos ambientais envolvem conhecimentos em diver-
sas áreas, a equipe responsável pela elaboração da APP deve ser formada por
integrantes de diferentes formações (equipe multidisciplinar), os quais devem
ser mencionados no documento do estudo, com suas respectivas funções no
grupo e na empresa. Preferencialmente, a equipe que realizará a APR deverá
ser composta de: um especialista em análise de riscos, que deve explicar aos
demais membros do grupo como se faz a aplicação da técnica e conduzir as
reuniões; um membro da gerência da planta; um engenheiro de projeto; um
engenheiro ou técnico ligado à produção; um engenheiro de instrumentação;
um técnico envolvido nas rotinas operacionais do setor avaliado; um secretário.
Enfim, a elaboração da APP compreende as seguintes etapas:

•  Definição dos objetivos e do escopo da análise;


•  Definição das fronteiras do processo (instalação);
•  Coleta de informações sobre a região, a instalação e os perigos envolvidos;
•  Subdivisão do processo (instalação) em módulos;
•  Realização da APP com o preenchimento da planilha com os da-
dos levantados;
•  Elaboração das estatísticas dos cenários identificados por categorias de
risco, utilizando as tabelas de frequência e severidade;
•  Análise dos resultados.

Alguns dados e informações são essenciais para o início do desenvolvimen-


to da APP (tabela 4.1).

Dados demográficos.
REGIÃO Dados climatológicos.

Premissas do projeto.
Especificações técnicas de projeto.
INSTALAÇÃO Especificações de equipamentos.
Layout da instalação.
Descrição dos principais sistemas de proteção e segurança.

92 • capítulo 4
Propriedades físico-químicas.
SUBSTÂNCIAS Características de periculosidade (inflamabilidade, toxicidade
etc).

Tabela 4.7  –  Dados de entrada para uma análise preliminar de perigos

Ainda no processo de levantamento dos dados para uma APP, pode-se usar
uma planilha simples que relaciona dados gerais sobre cada perigo identifica-
do (um modelo desta planilha é apresentado na tabela 4.2).

CATEGORIA DE OBSERVAÇÕES E
PERIGO CAUSA EFEITO
SEVERIDADE RECOMENDAÇÕES

Tabela 4.8  –  Modelo de planilha para elaboração de uma APP

Após o levantamento dos dados preliminares e preenchimento da tabela


4.2, estes dados são avaliados e mensurados, resultando uma planilha final da
APP (tabela 4.3) que mostra os perigos identificados, as causas, o modo de de-
tecção, efeitos potenciais, categorias de frequência e severidade e risco, as me-
didas corretivas/preventivas e o número do cenário.

ANÁLISE PRELIMINAR DE PERIGOS (APP)


COMPANHIA: SUBSISTEMA: REFERÊNCIA: DATA:
Recomen- Identifi-
Modo de
Perigo Causa Efeito Frequência Severidade Risco dações e cador do
detecção
observações cenário

Tabela 4.9  –  Modelos de planilhas para apresentação final da APP

Mas como preencher esta última planilha com os resultados da APP?


A seguir, detalha-se o preenchimento de cada coluna da tabela 4.3.

•  1ª coluna (Perigo): esta coluna contém os perigos identificados para


o módulo de análise em estudo. De uma forma geral, os perigos são eventos

capítulo 4 • 93
acidentais que têm potencial para causar danos às instalações, aos operadores,
ao público ou ao meio ambiente. Portanto, os perigos referem-se, por exemplo,
a eventos como a liberação de material classificado como perigoso;
•  2ª coluna (Causa): as causas de cada perigo são discriminadas nesta co-
luna. Essas causas podem envolver tanto falhas intrínsecas de equipamentos
(vazamentos, rupturas, falhas de instrumentação etc.) quanto erros humanos
de operação e manutenção;
•  3ª coluna (Modo de detecção): os modos disponíveis na instalação para
a detecção do perigo identificado na primeira coluna devem ser relacionados
nesta terceira coluna. A detecção da ocorrência do perigo tanto pode ser realiza-
da através de instrumentação (alarmes de pressão, de temperatura etc.) quanto
através de percepção humana (visual, odor etc.);
•  4ª coluna (Efeito): os possíveis efeitos danosos de cada perigo identifica-
do são listados nesta quarta coluna. Os principais efeitos dos acidentes envol-
vendo substâncias perigosas, por exemplo, incluem: incêndio em nuvem, ex-
plosão de nuvem, formação de nuvem tóxica;
•  5ª coluna (Categoria de frequência do cenário): no âmbito da APP, um
cenário de acidente é definido como o conjunto formado pelo perigo identi-
ficado, suas causas e cada um dos seus efeitos. Como exemplo de cenário de
acidente possível, podemos exemplificar uma grande liberação de substância
inflamável devido à ruptura de tubulação, podendo levar à formação de uma
nuvem inflamável e tendo como consequência incêndio ou explosão da nuvem.
De acordo com a metodologia de APP adotada, os cenários de acidentes foram
classificados em categorias de frequência, as quais fornecem uma indicação
qualitativa da frequência esperada de ocorrência para cada um dos cenários
identificados, conforme indicado a seguir, na tabela 4.4.

CATEGORIA DE
DENOMINAÇÃO DESCRIÇÃO
FREQUÊNCIA
Cenários que dependem de falhas múltiplas dos sistemas de
proteção e/ou de danos físicos nos equipamentos e estrutu-
A Muito improvável
ras, portanto são extremamente improváveis de acontecerem
durante a vida útil do processo/instalação.

Cenários que dependem de falhas múltiplas dos equipamen-


B Improvável tos e/ou erros humanos, mas sua ocorrência não é esperada
dentro da vida útil do processo/instalação.

94 • capítulo 4
CATEGORIA DE
DENOMINAÇÃO DESCRIÇÃO
FREQUÊNCIA
Cenários que dependem de uma única falha (ou dos equipa-
C Ocasional
mentos, ou erros humanos).

Cenários com pelo menos uma ocorrência esperada ao longo


D Provável
da vida útil do processo/instalação.

Cenários com várias ocorrências esperadas ao longo da vida


E Frequente
útil do processo/instalação.

Tabela 4.10  –  Classificação das categorias de frequência dos cenários para APP.

•  6ª coluna (Categoria de severidade): os cenários de acidentes devem ser


classificados em categorias de severidade, as quais fornecem uma indicação
qualitativa do grau de severidade das consequências de cada um dos cenários
identificados. O grau de severidade pode ser dividido em 4 categorias, confor-
me apresentado na tabela 4.5;

CATEGORIA DE
DENOMINAÇÃO DESCRIÇÃO
SEVERIDADE
I Desprezível Nenhum dano ou danos não mensuráveis.

II Marginal Danos irrelevantes ao meio ambiente e à comunidade externa.

Possíveis danos ao meio em razão da liberação de substâncias


III Crítica
químicas tóxicas ou inflamáveis.

A liberação de substâncias perigosas que leva a morte ou


IV Catastrófica lesões graves à população exposta e impactos ao meio am-
biente com tempo de recuperação elevado.

Tabela 4.11  –  Classificação das categorias de severidade a serem usadas em APP.

•  7ª coluna (Categoria de risco): combinando-se as categorias de frequên-


cia (tabela 4.4) com as de severidade (tabela 4.5) obtém-se a matriz de riscos
(tabela 4.6), o qual fornece uma indicação qualitativa do nível de risco de cada
cenário identificado na análise;

capítulo 4 • 95
SEVERIDADE
MATRIZ DE RISCOS
I II III IV

E 3 4 5 5

D 2 3 4 5

FREQUÊNCIA C 1 2 3 4

B 1 1 2 3

A 1 1 1 2

LEGENDA
Categorias de frequência Categorias de severidade Categorias de risco
A: muito improvável I: desprezível 1: desprezível
B: improvável II: marginal 2: menor
C: ocasional III: crítica 3: moderado
D: provável IV: catastrófica 4: sério
E: frequente 5: crítico

Tabela 4.12  –  Matriz de classificação dos riscos em APP.

•  8ª coluna (Medidas/observações): esta coluna contém as medidas que


devem ser tomadas para diminuir a frequência ou severidade do acidente ou
quaisquer observações pertinentes ao cenário de acidente em estudo. No caso
das medidas já executadas, indicar com a letra E (existente) dentro desta coluna;
•  9ª coluna (Identificador do cenário de acidente): esta coluna contém um
número de identificação do cenário de acidente. Deve ser preenchida sequen-
cialmente para facilitar a consulta a qualquer cenário de interesse.

EXERCÍCIO RESOLVIDO
Este exemplo revela como iniciar uma APP: Considere um processo que utilizará H2S líquido
bombeado. O analista de APP só dispõe da informação de que esse produto será usado no
processo e nenhum outro detalhe do projeto.

O analista sabe que o H2S é tóxico e identifica sua liberação como um perigo. Assim é
necessário levantar as causas que levarão a liberação desta substância perigosa: (1) se o
cilindro pressurizado vazar ou romper; (2) se o processo não consumir todo H2S; (3) se as
linhas de alimentação de H2S apresentarem vazamento ou ruptura; (4) se ocorrer um vaza-
mento durante o recebimento do H2S na planta.

96 • capítulo 4
O analista determina, então, o efeito dessas causas. Nesse caso, havendo liberações
maiores, poderão ocorrer mortes. A tarefa seguinte consiste em oferecer orientação e crité-
rios para os projetistas aplicarem no projeto da planta, reconhecendo cada um dos mecanis-
mos de liberação em potencial significativos. Por exemplo, para o primeiro item, vazamento
no cilindro, o analista poderia recomendar:

•  estudar um processo que armazene substâncias alternativas de menor toxidez, capazes de


gerar o H2S de acordo com as necessidades da operação;
•  instalar um sistema de alarme na planta;
•  minimizar o armazenamento local do H2S, sem excesso de manuseio ou de entregas, como,
por exemplo, armazenamento das necessidades de produção para um período de duas se-
manas a um mês;
•  desenvolver um procedimento de inspeção de cilindros;
•  estudar um recipiente cilíndrico dotado de um sistema de inundação disparado por um
detector de vazamentos;
•  instalar o cilindro de maneira a facilitar o acesso por ocasião das entregas, mas distante do
tráfego de outras plantas;
•  sugerir o desenvolvimento de um programa de treinamento para todos os empregados, a
respeito dos efeitos do H2S e das práticas de emergência, a ser entregue a todos os empre-
gados, antes da ativação inicial da planta e, subsequentemente, a todos os novos emprega-
dos, junto com um estudo de um programa semelhante para os vizinhos da planta.

O resultado final de um exemplo da avaliação do primeiro cenário é apresentada a seguir:

ANÁLISE PRELIMINAR DE PERIGOS (APP)


Modo Recomendações
PERIGO Causa
detecção
Efeito Frequência Severidade Risco
e observações
Identificador

Vaza- Não a) Instalar siste-


Possíveis
mento no existe D III 4 ma de alarme;
mortes
cilindro ainda b) Minimizar
LIBERAÇÃO armazenamento
Cenário 1
DE H2S Não no local;
Sobra de Possíveis c) Projetar
existe D III 4
H2S mortes sistema coletor
ainda
de sobras.

capítulo 4 • 97
4.1.2  Análise de perigos e operabilidade (hazop)

A Análise de Perigos e Operabilidade ou Estudos de Perigos e Operabilidade,


também conhecida como Hazard and Operability Study (HAZOP), é uma das
técnicas mais utilizadas no processo de identificação dos riscos. Foi desenvolvi-
da em 1964 para melhorar um projeto de uma fábrica de produção de fenol. Os
especialistas envolvidos examinaram detalhadamente todos os diagramas de
linha da planta, encontrando muitos perigos potenciais e problemas operacio-
nais que não haviam sido previstos no projeto. Portanto, o objetivo da técnica
que era “encontrar alternativas” foi modificado para “identificar desvios”, sur-
gindo assim a técnica HAZOP.
HAZOP é uma técnica que realiza uma revisão da instalação para identifi-
car perigos potenciais e problemas de operabilidade. Os perigos levantados são
aqueles que podem gerar acidentes nas diferentes áreas de instalação e os pro-
blemas de operabilidade estão relacionados a anomalias ou a descontinuidade
dos processos que afetam a qualidade de operação e/ou do produto. A parti-
cularidade nesta análise é que os estudos permitem tanto a identificação de
incidentes previsíveis, como também é capaz de identificar as mais sutis com-
binações que levam a eventos pouco esperados. Enfim, os principais resultados
obtidos de HAZOP são: assimilação de desvios que conduzem a eventos inde-
sejáveis; identificação das causas que podem ocasionar desvios do processo;
avaliação das possíveis consequências geradas por desvios operacionais; reco-
mendações para a prevenção de eventos perigosos ou minimização de possíveis
consequências. A tabela 4.7 apresenta um exemplo de planilha utilizada para o
início do desenvolvimento de HAZOP.

OBSERVAÇÕES E
PALAVRA-GUIA PARÂMETRO DESVIO CAUSAS EFEITOS
RECOMENDAÇÕES

Tabela 4.13  –  Modelo de planilha para a elaboração de HAZOP.

Reuniões com uma equipe multidisciplinar de profissionais permitem


uma avaliação mais eficiente dos processos e dos riscos, os quais podem ser
decorrentes da má operação e do mau funcionamento de equipamentos. Esta
equipe pode ser composta de 5 a 7 membros, embora um contingente menor

98 • capítulo 4
possa ser suficiente para a análise de uma planta pequena. Ressalta-se que uma
equipe com um número maior de integrantes pode diminuir o rendimento dos
estudos. Para a análise de um novo projeto, a equipe pode ser composta por:
engenheiro de projeto; engenheiro de processo; engenheiro de automação; en-
genheiro eletricista; e líder da equipe. Alguns projetos necessitarão da inclusão
de diferentes disciplinas, como, por exemplo, engenheiro civil e farmacêutico-
bioquímico, entre outros. O líder da equipe deve ter experiência na condução
de estudos de HAZOP e que tenha em mente fatores importantes para assegu-
rar o sucesso das reuniões, como: não competir com os membros da equipe, ter
o cuidado de ouvir a todos, não permitir que ninguém seja colocado na defensi-
va, manter o alto nível de energia, fazendo pausas quando necessário.
Embora o objetivo geral consista na identificação dos perigos e problemas
de operabilidade, a equipe deve se concentrar em outros itens importantes
para o desenvolvimento do estudo, tais como:

•  Averiguar a segurança do projeto;


•  Verificar os procedimentos operacionais e de segurança;
•  Melhorar a segurança de uma instalação existente;
•  Certificar-se de que a instrumentação de segurança está reagindo da me-
lhor forma possível;
•  Constatar a segurança dos empregados;
•  Considerar perda da planta ou de equipamentos;
•  Ponderar perdas de produção;
•  Segurança pública;
•  Impactos ambientais.

Como característica deste método, como pode ser visto na tabela 4.7, deter-
minadas palavras-guia são usadas para identificar desvios ou afastamentos da
normalidade. Observe, a seguir, alguns exemplos de palavras-guia, parâmetros
de processo e desvios usados em HAZOP (tabelas 4.8 e 4.9).

capítulo 4 • 99
PALAVRA-GUIA SIGNIFICADO

Não Negação da intenção de projeto

Menor Diminuição quantitativa

Maior Aumento quantitativo

Parte de Diminuição qualitativa

Bom como Aumento qualitativo

Reverso Oposto lógico da intenção de projeto

Outro que Substituição completa

Tabela 4.14  –  Significados das palavras-guia usadas em HAZOP.

PALAVRA-GUIA PARÂMETRO DESVIO

Fluxo Nenhum fluxo


Nenhum
Reação Nenhuma reação

Não Fluxo Sem fluxo

Fluxo Mais fluxo


Pressão Pressão alta
Mais / Alto / Maior
Temperatura Alta temperatura
Nível Nível baixo

100 • capítulo 4
PALAVRA-GUIA PARÂMETRO DESVIO

Fluxo Menos fluxo


Pressão Pressão baixa
Menos / Baixo / Menor
Temperatura Baixa temperatura
Nível Nível alto

Reverso Fluxo Fluxo reverso

Material errado
Outros Produto Presença de
contaminantes

Mais Reação Mais reação

Tabela 4.15  –  Modelos de palavras-guia, desvios e parâmetros usados em HAZOP.

A seguir, alguns exemplos de desvios e suas possíveis causas são apresenta-


dos na tabela 4.10.

DESVIOS POSSÍVEIS CAUSAS

Erro de alinhamento, válvula de retenção instalada incorreta-


NENHUM mente, vazamento, falha do sistema de controle, diferencial
FLUXO de pressão.

Passagem por válvula de retenção, bloqueio parcial, efeito


FLUXO sifão, diferencial de pressão incorreto, alívio de emergência,
REVERSO operação incorreta, entrada de equipamento normalmente em
reserva.

capítulo 4 • 101
DESVIOS POSSÍVEIS CAUSAS

Tubulação parcialmente entupida, válvula restringida, bloqueio


MENOS FLUXO em filtro, bomba defeituosa, mudança de densidade ou visco-
sidade do fluido, placa de orifício parcialmente bloqueada.

Saúda isolada, entrada maior que a saída, falha de controle,


NÍVEL ALTO falha de medidor de nível, presença de espumante.

Geração de vácuo, condensação, dissolução de gás líquido,


MENOS linha de sucção de bomba/compressor restringida, despres-
PRESSÃO surização de gás liquefeito, falha de controle.

Condições ambientais, redução de pressão, tubos de tro-


MENOS cadores entupidos ou defeituosos, perda de aquecimento,
TEMPERATURA despressurização de gás liquefeito, falha de controle.

Vazamento através de válvulas de isolamento, vazamento


MUDANÇA DE em tubos de trocadores, mudança de fase, especificação
COMPOSIÇÃO incorreta de matéria-prima, controle de qualidade, formação
de produtos intermediários.

Tabela 4.16  –  Exemplos de desvios e possíveis causas de uma análise HAZOP.

A equipe procura identificar as causas de cada desvio e, caso sejam consta-


tadas consequências consideradas relevantes, ou seja, as de elevada probabili-
dade ou magnitude, os sistemas de proteção são avaliados para determinar se
estes são suficientes para controlar essas situações. Se a equipe considerar que
outras medidas ou dispositivos de segurança são necessários, então são escri-
tas as respectivas recomendações. A técnica é então repetida até que cada se-
ção do processo ou equipamento de interesse tenha sido revisado. A principal

102 • capítulo 4
vantagem dessa discussão é que ela estimula a criatividade e gera ideias. Essa
criatividade resulta da interação da equipe com diferentes formações.
A melhor ocasião para a realização de HAZOP é a fase em que o projeto se
encontra razoavelmente consolidado, pois o método requer consultas a P&IDs
(diagramas de tubulação e instrumentação), fluxogramas de processo e balan-
ço de materiais, plantas de disposição física da instalação, desenhos isométri-
cos, memorial descritivo do projeto, folha com os dados dos equipamentos,
planos de atividades no caso de operadores fisicamente envolvidos em alguns
processos, diagrama lógico de intertravamentos juntamente com a descrição
completa, entre outros documentos. Nesta fase, o projeto está definido, o que
permite a formulação de respostas expressivas às perguntas do estudo. Além
disso, nesse ponto ainda é possível alterar o projeto sem grandes despesas.
Do ponto de vista de custos, esta análise é ótima quando aplicada a novas
plantas, no momento em que o projeto está estável e documentado, ou para
plantas existentes no caso de necessidade de um remodelamento.
Entre os benefícios resultantes de uma análise HAZOP, podem ser citados:

•  Revisão sistemática e completa: pode produzir uma revisão completa do


projeto de uma instalação e sua operação;
•  Avaliação das consequências dos erros operacionais: embora o HAZOP
não substitua uma análise completa de erro humano, ele pode auxiliar na iden-
tificação de cenários nos quais os operadores podem errar, originando sérias
consequências, justificando medidas adicionais de proteção;
•  Prognóstico de eventos: o HAZOP pode ser efetivo na descoberta de inci-
dentes previsíveis, mas também pode identificar sequências de eventos raros
que possam acarretar incidentes que nunca ocorreram;
•  Melhoria da eficiência da planta: além da identificação dos perigos, o
HAZOP pode descobrir cenários que levam a distúrbios na planta, como blo-
queios não planejados, danos a equipamentos, produtos fora de especificação,
bem como melhorias básicas na maneira pela qual a planta é operada;
•  Melhor compreensão dos engenheiros e operadores com relação às ope-
rações da planta: uma série de informações detalhadas do projeto e da opera-
ção surge e é discutida durante uma análise HAZOP bem-sucedida.

capítulo 4 • 103
Entre as deficiências, pontos fracos ou dificuldades que podem ser encon-
tradas durante a aplicação do HAZOP, destacam-se:

•  Pouco conhecimento dos procedimentos de aplicação do HAZOP e dos


recursos requeridos;
•  Inexperiência da equipe: um HAZOP realizado por equipes inexperientes
pode não atingir os objetivos desejados quanto à identificação dos perigos, ou
ainda gerar recomendações não pertinentes;
•  Líder inexperiente ou não adequadamente treinado: o líder de HAZOP
precisa ser tecnicamente forte e experiente na técnica, de forma a extrair os co-
nhecimentos de todos os participantes;
•  Falha em se estabelecer um ambiente “seguro” para os membros da equi-
pe: um HAZOP deve ser uma troca livre de informações a respeito de como a
planta realmente é operada. A menos que os membros da equipe estejam li-
vres de recriminação e possam fazer declarações do tipo “aquele sistema de
bloqueio não foi testado em dois anos”, o HAZOP não cobrirá algumas falhas
sérias de projeto ou de operação da planta;
•  Acreditar em medidas de proteção desnecessárias: é fundamental que o
líder force a equipe a avaliar a eficácia de cada medida de proteção antes de
requerê-la;
•  Atualização deficiente dos P&IDs: em muitos casos, os P&IDs de instala-
ções existentes não foram mantidos atualizados, podendo causar atraso e au-
mento nos custos. A equipe pode falhar em identificar perigos importantes se
os P&IDs ou outros documentos estiverem imprecisos ou desatualizados;
•  Aplicação inadequada do HAZOP para determinados sistemas: para al-
guns sistemas, outras técnicas de identificação de perigos podem ser mais apro-
priadas. Num estágio inicial de um novo projeto, antes que os P&IDs estejam
estabelecidos, uma APP, ou mesmo um “What if”, poderá ser mais adequada;
•  Extensas sessões de HAZOP: na pressa pela conclusão do HAZOP, as ses-
sões são algumas vezes planejadas para cinco dias consecutivos ou mais, em
período integral, levando a equipe ao extremo cansaço. Para HAZOP que duram
o dia todo, a eficiência da equipe cai drasticamente. Na prática, para estudos
que duram mais do que uma semana, um HAZOP de cinco horas por dia poderá
ser melhor executado, sem o cansaço da equipe.

104 • capítulo 4
CONCEITO
What if é um método de análise geral, qualitativa, cuja aplicação é bastante simples e útil
para uma abordagem em primeira instância na detecção exaustiva de riscos, tanto na fase
de processo, projeto ou pré-operacional, não sendo sua utilização unicamente limitada às
empresas de processo.

EXERCÍCIO RESOLVIDO
Considere, como um exemplo simples, o processo contínuo onde o ácido fosfórico e a amô-
nia são misturados, produzindo uma substância inofensiva, o fosfato de diamônio (DAP).
Se for acrescentada uma quantidade inferior de ácido fosfórico, a reação será incom-
pleta, com produção de amônia. Se a amônia for adicionada em quantidade inferior, haverá
produção de uma substância não perigosa, porém indesejável. A equipe de HAZOP recebe a
incumbência de investigar “os perigos decorrentes da reação”.

A seguir apresenta-se o desenho da unidade de produção de DAP (figura 4.1):

Ácido Fosfórico

Nodo 1
B Nodo 2

Amônia C Nodo 3

Fosfato de Diamônio

Figura 4.18  –  Esquema simplificado da unidade de produção de DAP.

A seguir apresenta-se um exemplo da planilha preenchida para uma análise HAZOP.

capítulo 4 • 105
UNIDADE DE PROCESSO: PRODUÇÃO DE DAP (NODO 1)
Observações e
PALAVRA-GUIA Parâmetro Desvio Causas Efeitos
recomendações
Válvula “A” Excesso Fechamento
fechada, de amônia automático da
Estoque de rea- no reator, válvula “B” na
Nenhuma gentes esgotado, Liberação falta de vazão de
NENHUM Vazão
vazão Entupimento de amônia ácido fosfórico
ou ruptura da para área de
tubulação de trabalho.
alimentação.
Válvula “A” parcial- Excesso Fechamento
mente fechada, de amônia automático da
Entupimento par- no reator, válvula “B” no
MENOS Vazão Menos vazão cial ou vazamento Liberação caso de reduzir
na tubulação de de amônia a vazão de ácido
alimentação. para área de fosfórico.
trabalho.
Excesso de
ácido fosfó-
rico degrada
MAIS Vazão Mais vazão o produto.
Nenhum peri-
go para área
de trabalho.
Fornecedor Excesso Sempre verificar
entrega produ- de amônia a concentra-
Ácido fosfó- to com me- no reator, ção do ácido
EM PARTE Vazão rico menos nor concentração, Liberação fosfórico após
concentrado Erro no enchimen- de amônia preenchimento
to do tanque de para área de do tanque.
ácido fosfórico. trabalho.

Tabela 4.17  –  Planilha resultante após análise HAZOP.

4.1.3  Análise de modos de falhas e efeitos (AMFE)

A Análise de Modos de Falha e Efeitos (AMFE), do inglês Failure Modes and


Effects Analysis (FMEA), é um método qualitativo de análise de riscos que es-
tabelece, de forma sistemática, uma lista de falhas com seus respectivos. A
técnica consiste em identificar falhas de componentes individuais e avaliar os
efeitos que elas podem causar no comportamento de um determinado siste-
ma. A AMFE não considera falhas operacionais ou erros humanos. Na forma

106 • capítulo 4
mais rigorosa desta análise, realiza-se um sumário do conhecimento de como
um produto ou um processo é desenvolvido, incluindo uma análise de itens
que poderiam falhar, baseado na experiência e em assuntos passados. Assim,
a aplicação da técnica AMFE, em sistemas ou plantas industriais, permite: (1)
analisar como diferentes equipamentos/processos que podem falhar e, (2) defi-
nir melhorias de projetos que irão aumentar a confiabilidade dos sistemas em
estudo, ou seja, diminuir a probabilidade da ocorrência de falhas indesejáveis.
Alguns exemplos de falhas são: falha durante operação (ex.: exaustor para
de funcionar; rompimento de tubulação); falha sob demanda (ex.: bomba de
incêndio não parte; válvula não fecha); atuação indevida (ex.: abertura de válvu-
la de segurança).
Uma variação da AMFE é a AMFEC (Análise de Modos de Falhas, Efeitos e
Criticidade), cuja diferença fundamental consiste em considerar, na análise
das falhas identificadas, uma graduação do nível de criticidade dos efeitos de-
correntes dessas falhas. Portanto, a AMFEC, além dos objetivos e resultados ob-
tidos com a aplicação da AMFE, propicia também a avaliação comparativa das
diferentes falhas identificadas, em termos de importância ou prioridade para a
definição do estabelecimento de modificações ou ações de gerenciamento das
possíveis anormalidades.
A AMFE pode ser utilizada nas etapas de projeto, construção e operação. Na
etapa de projeto, a técnica é útil para a identificação de proteções adicionais,
que possam ser facilmente incorporadas para a melhoria e o aperfeiçoamento
dos aspectos de segurança dos sistemas. Na fase de construção, a AMFE pode
ser utilizada para a avaliação das possíveis modificações que possam ter surgi-
do durante a montagem de sistemas, o que é bastante comum; por fim, para
instalações já em operação, a técnica é útil para a avaliação de falhas indivi-
duais que possam induzir a acidentes potenciais.
Diferente das técnicas descritas anteriormente, a aplicação da AMFE pode
ser realizada por dois analistas que conheçam perfeitamente as funções de
cada equipamento ou sistema, assim como a influência destes nas demais par-
tes ou sistemas de uma linha ou processo. Em sistemas complexos, o número
de analistas é, normalmente, incrementado, de acordo com a complexidade e
especificidades das instalações.
De forma geral, para se garantir a efetividade na aplicação da técnica, de-
ve-se dispor de lista dos equipamentos e sistemas; conhecimento das funções
dos equipamentos, sistemas e planta industrial; fluxogramas de processo e

capítulo 4 • 107
instrumentação (desenhos, P&IDs etc.); diagramas elétricos, entre outros docu-
mentos e informações, de acordo com a instalação ou processo a ser analisado.
Na aplicação da AMFE, devem ser contempladas as seguintes etapas:

•  Determinar o nível de detalhamento da análise a ser realizada;


•  Definir o formato da tabela e informações a serem apontadas;
•  Definir o problema e as condições de contorno;
•  Preencher a tabela da AMFE;
•  Apontar as informações e recomendações.

O nível de detalhamento da análise a ser realizada dependerá, obviamente,


da complexidade da instalação a ser analisada, bem como dos objetivos a serem
alcançados; assim, se a análise tiver por finalidade definir a necessidade ou não
de proteções ou sistemas de segurança adicionais (redundâncias), certamente
a análise deverá ser mais detalhada e criteriosa, podendo haver a necessidade
de estudar cada equipamento, acessórios, interfaces, intertravamentos etc.
O formato da tabela a ser utilizado está também associado ao tipo de análise
e nível de detalhamento desejado; na sequência estão apresentados dois tipos
de tabelas (tabelas 4.12 e 4.13), sendo o segundo um exemplo de tabela para a
aplicação da AMFEC.

Empresa: Unidade:
Referência: Data:
Analistas: Página:
OBSERVAÇÕES E
ITEM COMPONENTE MODE DE FALHA EFEITOS
RECOMENDAÇÕES

Tabela 4.18  –  Modelo de planilha para a elaboração de AMFE

Empresa: Unidade:
Referência: Data:
Analistas: Página:
MÉTODOS DE OBSERVAÇÕES E
COMPONENTE MODE DE FALHA EFEITOS SEVERIDADE
DETECÇÃO RECOMENDAÇÕES

Tabela 4.19  –  Modelo de planilha para a elaboração de AMFEC

108 • capítulo 4
A definição do problema e das condições de contorno deve contemplar a de-
terminação prévia do que efetivamente será analisado; assim, de forma geral,
como elementos mínimos devem ser considerados:

•  A identificação da planta e/ou dos sistemas a serem analisados;


•  O estabelecimento dos limites físicos dos sistemas, o que implica normal-
mente a utilização de fluxogramas de engenharia;
•  O reconhecimento das informações necessárias para a identifica-
ção dos equipamentos e suas relações como os demais sistemas da planta a
ser analisada.
Um exemplo de classificação da severidade em uma análise AMFEC é apre-
sentado na tabela 4.14.

EFEITO SEVERIDADE
A falha não acarreta nenhum dano ou gera um dano não mensurável. 1
A falha não resulta numa degradação maior do sistema, não requerendo a parada
2
do processo.
A falha pode degradar o sistema representando riscos às instalações, pessoas e
3
meio ambiente. Requer a parada programada do processo.
A falha pode produzir severa degradação do sistema, podendo resultar em perdas
e impactos significativos, lesões ou até morte das pessoas expostas. Requer a 4
paralisação do processo em regime emergencial.

Tabela 4.20  –  Categorias de severidade para AMFEC.

EXEMPLO
A figura 4.2 representa, de forma simplificada e esquemática, uma caixa d’água de uso do-
miciliar, para a qual foi desenvolvida uma AMFE, de forma a se estudar as possíveis perdas
decorrentes de falhas de seus componentes.

Entrada de água Válvula de alívio (“Ladrão”)

Válvula de entrada
Bóia

Saída d’água

Reservatório

Figura 4.19  –  Esquema simplificado de uma caixa d’água domiciliar

capítulo 4 • 109
Na sequência, a planilha resultante da aplicação da técnica AMFE para a caixa d’água é
apresentada na tabela 4.15.

Empresa: Residência Unidade: Caixa d’água


Referência: Esquema da Figura 4.2 Data: 07/07/2015
Analistas: Caio Bais Página: 1/1
OBSERVAÇÕES E
ITEM COMPONENTE MODE DE FALHA EFEITOS
RECOMENDAÇÕES
Inspeção periódica
Válvula de entra-
da bóia,
da abre;
Cortar água se
1 Bóia Falhar em flutuar Transbordamento
identificado consumo
(perdas, aumento
excessivo ou perdas
consumo).
até o reparo da bóia.
Inspeção periódica
Falha aberta da válvula,
Transbordamento
(quando o nível Cortar água se
(perdas, aumento
de água atinge o identificado consumo
consumo).
máximo) excessivo ou perdas
Válvula de
2 até o reparo da válvula.
entrada
Inspeção periódica
Falha fechada da válvula,
Bóia fica suspensa
(não abre quando Providenciar suprimen-
(falha de falta d’água).
o nível desce) to externo de água até
o reparo da válvula.
Inspeção periódica
da válvula,
Providenciar lim-
Só causará falha signi-
peza em caso
ficativa se combinada
Válvula de Falha fechada de entumpimento.
3 com outra falha (ex.:
alívio (ladrão) (entupimento) Inspeção periódica
combinação com a
da válvula,
falha da bóia).
Providenciar lim-
peza em caso de
entumpimento.
Inspeção periódica da
integridade da caixa,
Cortar água se
Perda significativa
identificado consumo
Caixa do Rachadura de água,
4 excessivo ou perdas
reservatório (colapso) Alagamento,
até a troca da caixa,
Falta d’água.
Providenciar suprimen-
to externo de água até
a troca da caixa.

Tabela 4.21  –  Planilha resultante da análise AMFE.

110 • capítulo 4
4.1.4  Análise por árvore de falhas (AAF)

A Análise de Árvore de Falhas (AAF), também conhecida como Failure Tree


Analysis (FTA), foi desenvolvida por H. A. Watson, nos anos 1960, para os La-
boratórios Bell Telephone, no âmbito do projeto do míssil Minuteman, sendo
posteriormente aperfeiçoada e utilizada em outros projetos aeronáuticos da
Boeing. A AAF é um método excelente para o estudo dos fatores que poderiam
causar um evento indesejável (falha) e encontra sua melhor aplicação no estu-
do de situações complexas.
É uma das principais técnicas dedutivas de avaliação de confiabilidade dos
sistemas e consiste na construção de um diagrama lógico, chamado de árvo-
re de falhas que, partindo de um evento (evento topo), identifica as possíveis
causas do evento e as combina até atingir as causas raízes que originaram o
evento estudo.
A AAF é uma das principais técnicas dedutivas de avaliação de confiabilida-
de dos sistemas. Tem por objetivo identificar as causas potenciais de acidentes
e de falhas (eventos indesejáveis) num determinado sistema. Consiste na cons-
trução de um processo lógico dedutivo que, partindo de um evento indesejado
predefinido (hipótese acidental), busca as suas possíveis causas. Um evento é
considerado um desvio, indesejado ou esperado, do estado normal de um com-
ponente do sistema. O evento indesejado é comumente chamado de “evento-
topo”. Combina as falhas dos diversos componentes do sistema e permitir a
estimativa da probabilidade ou frequência de ocorrência de uma determinada
falha ou acidente (obtenção da probabilidade de ocorrência do evento indese-
jado). Portanto, é um método que possibilita uma análise quantitativa e quali-
tativa. O processo segue investigando as sucessivas falhas dos componentes até
atingir os eventos básicos (falhas básicas), que não podem ser desenvolvidos, e
para as quais existem dados quantitativos disponíveis. A construção do proces-
so lógico dedutivo é efetuada com o auxílio da álgebra Booleana.

CONCEITO
Álgebra Booleana: ramo da matemática que descreve o comportamento de funções lineares
ou variáveis binárias: on/off; aberto/fechado; verdadeiro/falso. Todas as árvores de falhas
coerentes podem ser convertidas numa série equivalente de equações “booleanas”. Para
proceder ao estudo quantitativo da AAF, é necessário conhecer e relembrar algumas defi-

capítulo 4 • 111
nições da Álgebra de Boole. A Álgebra Booleana foi desenvolvida pelo matemático George
Boole para o estudo da lógica.

A diagramação lógica da árvore de falhas com bifurcações sucessivas é feita


utilizando-se símbolos e comportas lógicas, indicando o relacionamento entre
os eventos considerados. As duas unidades básicas ou comportas lógicas en-
volvidas são os operadores “E” e “OU”, que indicam o relacionamento casual
entre eventos dos níveis inferiores que levam ao evento-topo. As combinações
sequenciais desses eventos formam os diversos ramos da árvore. A relação lógi-
ca entre os eventos-topo, intermediários e básicos é representada por símbolos
lógicos, cujos principais são apresentados na tabela 4.16.

SÍMBOLO DENOMINAÇÃO DESCRIÇÃO

Comportas lógicas: forma de relaciona-


Comporta “OU”
mento lógico entre os eventos de en-
trada (input-lower) e o evento de saída
(output-higher). Esses relacionamentos
lógicos são normalmente representados
Comporta “E” como portas E (AND) ou OU (OR).

Evento indesejado ou hipótese acidental.


Localizado no topo da árvore de falhas, é
desenvolvido até que as falhas mais bá-
Evento-topo sicas do sistema sejam identificadas, por
meio de relações lógicas que estabele-
cem as relações entre as falhas. Ocorre
por causa de um ou mais eventos.

112 • capítulo 4
SÍMBOLO DENOMINAÇÃO DESCRIÇÃO

Evento que propaga ou mitiga um even-


Evento to iniciador (básico) durante a sequência
intermediário do acidente. Ocorre por causa de um ou
mais eventos.

Um evento é considerado básico,


quando nenhum desenvolvimento a
Evento básico
mais é julgado necessário e não requer
nenhum desenvolvimento adicional.

Evento que não pode ser desenvolvido


Evento não
porque não há informações disponíveis
desenvolvido
ou por não haver interesse em julgá-lo.

Tabela 4.22  –  Principais símbolos lógicos usados em AAF.

Para a construção da árvore de falhas, a partir de um determinado “even-


to-topo”, 3 perguntas são consideradas fundamentais para a identificação dos
eventos intermediários e básicos e de suas relações lógicas: (1) Que falhas po-
dem ocorrer?; (2) Como essas falhas podem ocorrer?; (3) Quais são as causas
dessas falhas? Pode-se também determinar caminhos críticos, sequências de
eventos com maior probabilidade de levar ao evento indesejado (denominado
evento-topo, por situar-se no topo, ou no tronco de uma árvore invertida, cujas
bifurcações são as raízes). Ressalta-se que a AAF pode ser realizada em diferen-
tes níveis de complexidade e que sua análise qualitativa já oferece ótimos resul-
tados. Como dica, esta análise combina bastante com a AMFE.
De forma geral, a sequência para o desenvolvimento de uma árvore de fa-
lhas contempla as seguintes etapas:

•  Seleção do evento indesejável ou falha, cuja probabilidade de ocorrên-


cia deve ser determinada. Seleção dos evento-topo, eventos primários e inter-
mediários (na aplicação em estudos de análise de riscos, normalmente estes

capítulo 4 • 113
eventos são definidos a partir de uma hipótese acidental, são reconhecidos
como os riscos mais críticos em função da maior probabilidade de ocorrência,
identificados pelas técnicas APP, HazOp, AMFE etc.);
•  Revisão dos fatores intervenientes: ambiente, dados do projeto, exigên-
cias do sistema etc., determinando as condições, eventos particulares ou falhas
que possam vir a contribuir para ocorrência do evento-topo selecionado;
•  Construção da árvore de falhas, determinando os eventos que contri-
buem para a ocorrência do evento-topo, estabelecendo as relações lógicas entre
os mesmos;
•  Montagem, através da diagramação sistemática, dos eventos contribuin-
tes e falhas levantadas na etapa anterior, mostrando o inter-relacionamento
entre esses eventos e falhas, em relação ao evento-topo. O processo inicia com
os eventos que poderiam, diretamente, causar tal fato, formando o primeiro
nível – o nível básico;
•  Seguir esse procedimento para os eventos intermediários até a identifica-
ção dos eventos básicos em cada um dos “ramos” da árvore;
•  À medida que se retrocede, passo a passo, até o evento topo, são adiciona-
das as combinações de eventos e falhas contribuintes. Desenhada a árvore de
falhas, o relacionamento entre os eventos é feito através das comportas lógicas;
•  Realizar uma avaliação qualitativa da árvore elaborada, dando especial
atenção para a ocorrência de eventos repetidos;
•  Através de álgebra Booleana são desenvolvidas as expressões matemáti-
cas adequadas, que representam as entradas da árvore de falhas. Cada compor-
ta lógica tem implícita uma operação matemática, podendo ser traduzidas, em
última análise, por ações de adição ou multiplicação;
•  Aplicação das probabilidades ou frequências nos eventos básicos;
•  Cálculo das frequências dos eventos intermediários, de acordo com as re-
lações lógicas estabelecidas, ou seja, determinação da probabilidade de falha
de cada componente;
•  A probabilidade de ocorrência do evento-topo será investigada pela com-
binação das probabilidades de ocorrência dos eventos que lhe deram origem.

114 • capítulo 4
Um exemplo de estrutura de uma árvore de falhas é apresentado na figura
4.3.

Falha do sistema ou acidente


(evento-topo).

A árvore de falhas consiste em sequências de


eventos que levam à falha ou ao acidente.

As sequências de eventos são construídas


com auxílio de comportas lógicas (E - OU).

Os eventos intermediários (eventos-saída) são representados


por retângulos, com o evento descrito dentro do mesmo.

As sequências levam finalmente a falhas primárias (básicas) que


permitem calcular a probabilidade de ocorrência do evento-topo.
As falhas básicas são indicadas por círculos e representam o limite
de resolução da árvore de falhas.

Figura 4.20  –  Exemplo de uma estrutura de árvore de falhas.

Entre os principais benefícios do uso da AAF em estudos de análise de riscos


pode-se destacar:

•  Conhecimento detalhado de uma instalação ou sistema;


•  Estimativa da confiabilidade de um determinado sistema;
•  Cálculo da frequência de ocorrência de uma determinada hipótese
acidental;
•  Identificação das causas básicas de um evento acidental e das falhas mais
prováveis que contribuem para a ocorrência de um acidente maior;
•  Detecção de falhas potenciais, difíceis de ser reconhecidas;
•  Tomada de decisão quanto ao controle dos riscos associados à ocorrência
de um determinado acidente, com base na frequência de ocorrência calculada
e nas falhas contribuintes de maior significância.

capítulo 4 • 115
EXERCÍCIO RESOLVIDO
A falha catastrófica de uma luminária é: “Falha da luminária em acender”; logo, esse será o
“evento-topo” da árvore de falhas. Considerando que os componentes desse sistema (lumi-
nária) são, de forma simplificada, a lâmpada, o fio, o interruptor e a corrente elétrica.
O analista deve procurar identificar cada uma das possíveis causas (falhas) desses com-
ponentes, de forma a estabelecer uma relação lógica entre elas para subsidiar a elaboração
da árvore de falhas; assim, as possíveis causas (falhas) que podem levar ao evento-topo (fa-
lha da luminária em acender) incluem: (1) falha da lâmpada em ascender: lâmpada queimada
ou não há lâmpada na luminária; (2) falta de corrente elétrica: falha do interruptor, luminária
desconectada do interruptor, não há energia elétrica na tomada; (3) fio cortado; (4) fusível
queimado; (5) não há energia elétrica na residência.
Tomando por base a identificação desses eventos (falhas), podemos estruturar a árvore
de falhas para o evento-topo definido, conforme mostra a f|gura 4.4.

Falha da luminária
em acender

Falha da luminária Falta de corrente


em acender elétrica

+ +

Não há Não há energia na


Lâmpada Falha do
lampada na luminária
queimada interruptor
luminária
+

Falta de
Fio
energia na
cortado
residência

Fusível
queimado

Figura 4.21  –  Exemplo de uma árvore de falhas para a falha de uma luminária.

116 • capítulo 4
LEITURA
Uma dica de leitura sobre os métodos APP e HAZOP é a apostila intitulada por Metodolo-
gias de análise de riscos APP e HAZOP. Este material inclusive possui mais exemplos prá-
ticos dos métodos. Disponível em: <http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/
arquivosUpload/13179/material/APP_e_HAZOP.pdf>.

4.2  Índices de risco


Recapitulando os conceitos explicados nos capítulos anteriores, um risco é a
avaliação de um perigo associado a probabilidade de ocorrência de um evento
indesejável (incidente ou acidente) e a gravidade de suas consequências. Em
qualquer processo sempre haverá riscos ambientais que são óbvios, tanto pela
natureza do processo, quanto pelos produtos envolvidos. Por exemplo, o ma-
nuseio de líquidos classificados como produtos perigosos tem um aspecto am-
biental associado como a possibilidade de um derrame acidental que leva a um
impacto de contaminação do solo e/ou da água. O conhecimento e a determi-
nação de índices que facilitem o manuseio das informações dos riscos se torna
fundamental para o processo de gerenciamento de riscos ambientais, facilitan-
do sua execução e acompanhamento.
Em uma análise ambiental, o índice de risco (IR) consiste no conhecimento
da razão entre o fator de perigo (FP) e o fator distância (FD), conforme a equa-
ção 4.1. Este índice serve de base para a classificação das instalações/atividades
em categorias de risco conforme mostrado na tabela 4.17.

IR = FP (Equação 4.1)
FD
Onde:
IR é o índice de risco
FP é o fator de perigo
FD é o fator de distância.

capítulo 4 • 117
O fator de perigo é definido como o quociente entre duas grandezas de mas-
sa (equação 4.2).
FP = MLA (Equação 4.2)
MR
Onde:
FP é o fator de perigo, que representa uma medida da intensidade da fonte
de risco. Quanto maior for a quantidade de material que puder ser liberada aci-
dentalmente, maior será o perigo e, portanto, maior será o risco.
MLA é a massa de substância perigosa liberada acidentalmente (em quilos)
MR é a massa de referência da substância perigosa (em quilos).

CONCEITO
Massa Liberada Acidentalmente (MLA) é a maior quantidade de material perigoso ca-
paz de participar de uma liberação acidental de substância perigosa devido a vazamento ou
ruptura de tubulações, componentes em linhas, bombas, vasos, tanques, etc. ou por erro de
operação ou de reação descontrolada ou de explosão confinada, nas instalações em licen-
ciamento. Na ausência de informações mais precisas, a MLA deve ser considerada como
igual a 20% (vinte por cento) da massa de material estocado ou em processo. Havendo
sistemas de segurança automáticos ou procedimentos que justifiquem o uso de um tempo
de vazamento menor do que o necessário para vazar menos do que 20% (vinte por cento) da
massa do material considerado, a MLA poderá ser estimada com base neste tempo desde
que devidamente justificado. Substâncias perigosas que possam ter origem em outro tipo
de acidente tais como produtos de decomposição em reação descontrolada ou gerados por
combustão devem também ser devidamente considerados.
Massa de Referência (MR) é definida em quilos (kg) para cada substância perigosa
(conferir Apêndice 1 do Projeto de manual de análise de riscos n.º 01/2001 da FEPAM).
Esta massa pode ser entendida como a menor quantidade da substância capaz de causar da-
nos a uma certa distância do ponto de liberação. Ressalta-se que nem todas as substâncias
perigosas possuem massa de referência no apêndice da FEPAM, neste caso, deve-se com-
binar algumas características da substância (pressão de vapor, ponto de fulgor, explosividade
etc.) e na dúvida consultar o órgão ambiental.

118 • capítulo 4
O fator distância é definido como o quociente entre duas distâncias (equa-
ção 4.3).

FD = 1ª distância = 1ª distância (Equação 4.3)


2ª distância 50

Onde:
FD é o fator distância em metros
1ª distância é a menor distância entre o ponto de liberação e o ponto de
interesse onde estão localizados os recursos vulneráveis
2ª distância é a distância de 50 metros.

ÍNDICE DE CATEGORIA DESCRIÇÃO


RISCO DE RISCO

Podem ser consideradas como de risco


desprezível por terem quantidades muito
IR ≤ 1 1
pequenas (ou não terem) de substâncias
perigosas em processo ou armazenagem.

Podem causar danos significativos em


1 < IR ≤ 2 2
distâncias de até 100m do local.

Podem causar danos significativos em


2 < IR ≤ 4 3
distâncias entre 100m e 500m do local.

Podem causar danos significativos em


IR> 4 4
distâncias superiores a 500m do local.

Tabela 4.23  –  Classificação das instalações/atividades com base no índice de risco (IR)

As exigências ou isenções, relativas à análise de riscos, para obtenção de li-


cenças junto à órgãos ambientais no Brasil, geralmente, são feitas com base em
uma classificação das instalações (ou atividades) definida a partir deste índice

capítulo 4 • 119
de risco. O risco industrial está diretamente ligado à intensidade de perigo e
inversamente a quantidade de salvaguarda (equação 4.4).

Risco = Perigo (Equação 4.4)


Salvaguardas

O “perigo” da equação 4.3 pode ser representado pela quantidade de ma-


terial perigoso capaz de ser liberado acidentalmente para o meio. Já o termo
“salvaguardas” são combinações de fatores que tendem a minimizar os efeitos
danosos de liberações acidentais, por exemplo o fator distância (um dos prin-
cipais fatores capazes de reduzir os efeitos danosos de liberações acidentais de
substâncias perigosas). Portanto, o principal fator de salvaguarda que deverá
ser considerado para fins de classificação são distância entre o ponto de libe-
ração do material perigoso e a população. Quanto maior for a distância entre
a fonte de perigo e o ponto onde se localizam os recursos vulneráveis, menor
deverão ser os danos e por tanto os riscos.
É importante ressaltar que os recursos tipicamente vulneráveis a serem
considerados são pessoas e recursos ambientais (Figura 4.5). Assim, áreas re-
sidenciais ou públicas devem ser consideradas como pontos contendo recur-
sos vulneráveis. Mananciais, pontos de coleta de água para consumo humano,
mangues etc. são pontos a considerar quando o foco for recursos ambientais.

Recursos Vulneráveis

Pessoas Recursos ambientais

Rios, tomadas d’água para


Áreas residenciais
consumo humano.
e públicas
Mangues

Figura 4.22  –  Recursos vulneráveis em estudos de riscos ambientais.

120 • capítulo 4
Estas equações e classificações sobre o índice de risco descritas neste livro
são da agência ambiental estadual do Rio Grande do Sul, a FEPAM. Pode ser
que outros estados tenham metodologias próprias para classificação das insta-
lações/atividades em categorias de risco.

ATIVIDADES
01. Quais os principais objetivos visados na utilização das técnicas de análises de riscos?

02. Faça uma pesquisa sobre outras metodologias de estudos de análises de riscos que
existem, sem contar com as técnicas explicadas neste livro.

REFLEXÃO
Neste capítulo você se deu conta de algumas metodologias de trabalho a serem usadas em
estudos de riscos ambientais. Além disso, aprendeu a calcular índice de risco e os compo-
nentes de sua fórmula para classificar os riscos de uma instalação ou atividade.

REFLEXÃO
AMORIM, Eduardo Lucena C. Curso completo de análise de risco. Notas de Aula. Maceió, 2013.
Disponível em: <www.ctec.ufal.br/professor/elca>. Acesso em: 30 maio 2013.
BRILHANTE, Ogenis Magno; CALDAS, Luiz Querino de A. (coord.). Gestão e avaliação de risco em
saúde ambiental. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999. p. 155.
DAGNINO, Ricardo de Sampaio; CARPI JUNIOR, Salvador. Risco Ambiental: Conceitos e Aplicações.
Climatologia e Estudos da Paisagem, Rio Claro, v. 2, n.2, julho/dezembro/2007, p.51.
FEPAM - FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃO AMBIENTAL HENRIQUE LUIZ ROESSLER.
Manual de análise de riscos industriais. Porto Alegre: FEPAM, 2001. Disponível em: <http://www.
fepam.rs.gov.br/central/formularios/arq/manual_risco.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2015.
SEVÁ FILHO, A. O. No limite dos riscos e da dominação: a politização dos investimentos industriais
de grande porte. 1988. Tese (Livre-Docência) – Instituto de Geociências, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 1988.

capítulo 4 • 121
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Antonio Fernando Silveira. Avaliação de riscos ambientais (apostila). Vitória: Editora UNISA,
2015. 107p. Disponível em: <http://unisa.br/conteudos/9123/f1258221175/apostila/apostila.pdf>.
Acesso em: 14 jul. 2015.
AMORIM, Eduardo Lucena C. Curso completo de análise de risco. Notas de Aula. Maceió, 2013.
Disponível em: <www.ctec.ufal.br/professor/elca>. Acesso em: 30 maio 2013.
BRILHANTE, Ogenis Magno; CALDAS, Luiz Querino de A. (coord.). Gestão e avaliação de risco em
saúde ambiental. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999. p. 155.
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 001, de 23 de janeiro de 1986.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 fev. 1986. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/
conama/res/res86/res0186.html>. Acesso em: 30 maio 2013.
CETESB - COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL (CETESB). Manual
(P4.261): orientação para a elaboração de estudos de análise de riscos. São Paulo: CETESB, 2003.
Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/sites/11/2013/11/P4261-
revisada.pdf>. Acesso em: 01 jun.2015.
DAGNINO, Ricardo de Sampaio; CARPI JUNIOR, Salvador. Risco Ambiental: Conceitos e Aplicações.
Climatologia e Estudos da Paisagem, Rio Claro, volume 2, n.2, julho/dezembro/2007, p.51.
FEPAM - FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃO AMBIENTAL HENRIQUE LUIZ ROESSLER.
Manual de análise de riscos industriais. Porto Alegre: FEPAM, 2001. Disponível em: <http://www.
fepam.rs.gov.br/central/formularios/arq/manual_risco.pdf>. Acesso em: 20 jun.2015.
IBAMA - INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS. Manual de procedimentos para o licenciamento ambiental federal, documento
de referência. Brasília, DF: IBAMA, 2002. Disponível em: <http://www.em.ufop.br/ceamb/petamb/
cariboost_files/manual_20de_20licenciamento_20ibama.pdf>. Acesso em: 20 jun.2015.
SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo, Oficina de
Textos, 2006.
SEVÁ FILHO, A. O. No limite dos riscos e da dominação: a politização dos investimentos industriais
de grande porte. 1988. Tese (Livre-Docência) – Instituto de Geociências, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 1988.

122 • capítulo 4
5
Prevenção de
Riscos Ambientais
Caro(a) aluno(a), este capítulo apresenta aspectos essenciais para a elaboração
de um plano de gerenciamento de riscos ambientais. Você aprenderá a identi-
ficar e priorizar os riscos conforme os agentes de riscos ambientais Dicas sobre
tratamento de riscos ambientais, reconhecimento e gerenciamento de riscos
ambientais também podem ser encontradas neste capítulo.

OBJETIVOS
Após o estudo deste último capítulo você deverá:
•  Reconhecer um gerenciamento de riscos ambientais;
•  Definir agentes de risco e sua classificação;
•  Analisar o programa de prevenção de riscos ambientais (PPRA);
•  Explicar como é feito o tratamento dos riscos no PPRA;
•  Definir as etapas de reconhecimento de riscos;
•  Reconhecer um fluxograma causal e de prevenção.

124 • capítulo 5
5.1  Gerenciamento de riscos ambientais
para prevenção

O avanço da tecnologia verificado nas últimas décadas proporcionou e vem pro-


porcionando um nível de vida com bastante conforto, com aumento de expec-
tativa de vida, com impulsos consumistas (características nunca antes vistas
na história da humanidade). No entanto, este desenvolvimento trouxe certas
incertezas relativas à possibilidade de ocorrência de acidentes graves como foi
refletido no capítulo 1. As atividades antrópicas que envolvem grandes quanti-
dades de energia e de substâncias possuem alto potencial para provocar danos
para o homem e para o meio ambiente. Deste modo, o reconhecimento dos ris-
cos ambientais (visto nos capítulos 2, 3 e 4) e seu gerenciamento (assunto deste
capítulo) possibilita a minimização dos perigos e riscos associados a estas ativi-
dades, principalmente para prevenir riscos e controlar acidentes.
O gerenciamento de riscos então pode ser definido como o processo de con-
trole de riscos, compreendendo a formulação e a implantação de medidas e de
procedimentos técnico-administrativos que têm por objetivo prevenir, reduzir
e controlar os riscos, bem como manter uma instalação operando dentro de
padrões de segurança considerados toleráveis ao longo de sua vida útil.
O gerenciamento sempre começa após a identificação dos riscos (figura
5.1), logo atua na redução da frequência (prevenindo novos riscos) e na redução
da consequência (controlando os riscos e protegendo o ambiente).

Risco

Redução da Frequência Redução da Consequência

Prevenção Proteção

Gerenciamento do Risco

Figura 5.23  –  Esquema resumido da atuação do gerenciamento do risco.

capítulo 5 • 125
Para que o gerenciamento ocorra, é necessário estruturar conceitualmente
as prioridades conforme a exposição humana e os efeitos na saúde (Figura 5.2).
A exposição humana (número de pessoas) pode ser estimada por volumes de
produção, emissões, concentrações ambientais, entre outros tipos de dados.
Os efeitos na saúde podem ser estimados através de testes de toxicidade, dados
epidemiológicos, entre outros tipos de avaliação e de dados. Entenda a relação
desses fatores e o grau de priorização dos riscos: no caso de um alto grau de
exposição humana e de um alto grau de efeitos na saúde, surge uma alta prio-
ridade para este risco. Já um baixo grau de exposição humana e um alto grau
de efeitos na saúde (ou o contrário, um alto grau de exposição humana e um
baixo grau de efeitos na saúde), caracteriza-se como uma média prioridade. Por
fim, um baixo grau de exposição humana e um baixo grau de efeitos na saúde,
designa uma baixa prioridade.

Exposição Humana
Alta Baixa

Alta Média
Efeitos na Saúde

Alta
Prioridade Prioridade

Média Baixa
Baixa
Prioridade Prioridade

Figura 5.24  –  Priorização dos riscos conforme grau de efeitos na saúde e grau de exposi-
ção humana.

No âmbito do licenciamento ambiental, um Plano de Gerenciamento de


Riscos (PGR) é parte integrante do processo de avaliação do estudo de análise de
riscos ambientais. Dessa forma, as empresas em avaliação pelo órgão ambiental
deverão apresentar um relatório contendo as diretrizes do PGR, no qual deverão
estar claramente relacionadas as atribuições, as atividades e os documentos de
referência, tais como normas técnicas, leis, resoluções, relatórios, entre outros.
Um dos principais documentos para o gerenciamento de riscos ambientais é o
PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais), que você já deve ter ouvido
falar e agora aprenderá um pouco sobre seus componentes e suas etapas.

126 • capítulo 5
5.1.1  Programa de prevenção de riscos ambientais (PPRA)

O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) é um documento exigi-


do em muitos processos burocráticos no Brasil, como por exemplo, em proces-
sos ambientais e em processos trabalhistas. É exigido e estruturado pela NR-9
do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), primeiramente com foco na pre-
servação da saúde e da integridade dos trabalhadores. O PPRA é parte integran-
te do conjunto mais amplo das iniciativas que a empresa oferece em prol dos
trabalhadores, devendo estar articulado com o disposto nas demais normas re-
gulamentadoras, normas técnicas, leis e resoluções. Este programa deve estar
em sintonia especial com o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacio-
nal (PCMSO), previsto na NR-7. Esta preocupação evidencia que o primeiro foco
do PPRA é mesmo o TRABALHADOR, tanto que os riscos ambientais conside-
rados em PPRA de empresas geralmente incluem apenas os riscos ambientais
internos a unidade física da instalação (ambiente de trabalho), esquecendo por
vezes a análise dos riscos ambientais externos, que afetam o meio ambiente e a
população. Entretanto, esta falha tem sido corrigida ao longo dos anos, princi-
palmente com o aumento da conscientização ambiental. Assim, como segundo
foco, o PPRA visa fazer avaliações qualitativas (através de observação e análise
de exposição) e quantitativas (medição dos agentes quantificáveis) sobre os ris-
cos que o ambiente é exposto, considerando a proteção do meio ambiente e dos
recursos naturais.

CURIOSIDADE
O foco prioritário da NR-9 é o trabalhador, tanto que a definição de riscos ambientais neste
documento é “agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho
que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são
capazes de causar danos à saúde do trabalhador”. Não é errado trabalhar com este foco no
gerenciamento de riscos ambientais, entretanto é um equívoco não contemplar riscos refe-
rentes ao meio ambiente nos processos de análise e de gerenciamento de riscos ambientais.
Portanto, o PPRA deve ser abrangente, pode-se deixar o detalhamento sobre os riscos am-
bientais que podem afetar o trabalhador para o Programa de Condições e Meio Ambiente
de Trabalho (PCMAT), estabelecido na NR-18, ou por programas mais específicos como o
PPR (Programa de Proteção Respiratória) ou o PCA (Programa de Conservação Auditiva).

capítulo 5 • 127
A elaboração de um PPRA contemplando os riscos ambientais, no seu senti-
do mais amplo, pode ser dividido em 6 etapas (figura 5.3).

Etapa 1
Política e Introdutória

Etapa 3 Etapa 2
Estrutura Organização
Desenvolvimento Descrição
PPRA Trabalho

PPRA
Etapa 5
Etapa 4
Implementação
Riscos Ambientais
Plano de Ação

Etapa 6
Registro e Metas
PPRA

Figura 5.25  –  Exemplo da divisão das etapas para elaboração de uma PPRA para proteção
do trabalhador, do meio ambiente e da população.

As três primeiras etapas são necessárias principalmente para a organização


da elaboração deste documento. Analisar e gerenciar os riscos ambientais en-
volvem muitos fatores, processos e etapas, como foi visto nos capítulos ante-
riores. Por isso, a organização dos dados e das formas de obtenção, preparação
e análise dos dados é importante na elaboração de um bom PPRA. Na etapa 4
devem constar: antecipação e reconhecimentos dos riscos ambientais; estabe-
lecimento de prioridades e metas de avaliação e controle; avaliação dos riscos
e da exposição aos trabalhadores, meio ambiente e população. A etapa 5 deve
considerar o monitoramento da exposição aos riscos e a implantação de medi-
das de controle. Por fim, a etapa 6 deve conter critérios e mecanismos de avalia-
ção de sua eficácia (incluindo controle médico da saúde previsto na NR-7), bem
como o registro e a divulgação dos dados.
A estrutura para um PPRA exigida pela NR-9 deve contemplar pelo menos
os seguintes itens:
a) planejamento anual com estabelecimento de metas, prioridades
e cronograma;
b) estratégia e metodologia de ação;
c) forma do registro, manutenção e divulgação dos dados;

128 • capítulo 5
d) periodicidade e forma de avaliação do desenvolvimento do PPRA.
Ressalta-se que pelo menos uma vez ao ano, ou sempre que se julgar neces-
sário, uma análise global do PPRA deve ser efetuada para avaliação do seu de-
senvolvimento e realização dos ajustes necessários e estabelecimento de novas
metas e prioridades. A elaboração, a avaliação e a alteração do documento po-
derão ser feitas pelo Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em
Medicina do Trabalho (SESMT) ou por pessoa ou equipe de pessoas que, a cri-
tério do empregador, tenham atribuição para tal. Todas as versões do PPRA de-
vem ser apresentadas na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA),
no caso de existir, conforme recomendação da NR-5. Este documento e suas al-
terações deverão estar sempre disponíveis, de modo a proporcionar o imediato
acesso às autoridades competentes.
A avaliação dos agentes de risco (físicos, químicos e biológicos) é essencial
em um PPRA. Agentes físicos são definidos como “as diversas formas de ener-
gia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações,
pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações
não ionizantes, bem como o infrassom e o ultrassom”. Agentes químicos são
“as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo
pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou
vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato
ou ser absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão”. E agentes
biológicos são “as bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, en-
tre outros”. Esses agentes possuem uma classificação em categorias conforme
o seu grau de risco (tabela 5.1).

GRAU DE CATEGORIA SIGNIFICADO


RISCO

Fatores do ambiente ou elementos materiais que


0 Insignificante não constituem nenhum incômodo e nem risco
para a saúde ou integridade física.

capítulo 5 • 129
GRAU DE CATEGORIA SIGNIFICADO
RISCO

Fatores do ambiente ou elementos materiais que


1 Baixo constituem nenhum incômodo sem ser uma fon-
te de riscos para a saúde ou integridade física.

Fatores do ambiente ou elementos materiais que


2 Moderado constituem um incômodo podendo ser de baixo
risco para a saúde ou integridade física.

Fatores do ambiente ou elementos materiais que


constituem um risco para a saúde ou integridade
3 Alto ou sério física do trabalhador, cujos valores ou importân-
cias estão notavelmente próximos dos limites
regulamentares.

Fatores do ambiente ou elementos materiais que


Muito alto ou constituem um risco para a saúde ou integridade
4
crítico física do trabalhador, com uma probabilidade de
acidente ou doença, elevada

Tabela 5.24  –  Classificação das categorias dos agentes físicos, químicos e biológicos con-
forme grau de risco

As responsabilidades do PPRA são divididas e diferenciadas entre o empre-


gador e o trabalhador. Ao empregador cabe estabelecer, implementar e assegu-
rar o cumprimento do PPRA, como atividade permanente da empresa ou insti-
tuição. Ao trabalhador cabe colaborar e participar na implantação e execução
do PPRA; seguir as orientações recebidas nos treinamentos oferecidos dentro
do PPRA; informar ao seu superior hierárquico direto ocorrências que, a seu
julgamento, possam implicar riscos à saúde dos trabalhadores.
As tendências de um PPRA são: a própria sustentabilidade das empresas;
a cultura da comunicação do risco; e a criação de mais meios de geração de

130 • capítulo 5
valores financeiros. Portanto, dentre os diversos benefícios da adoção deste
plano estão: garantia do bem-estar dos trabalhadores; maior produtividade e
qualidade em função da queda do número de acidentes; redução do número
de processos trabalhistas de indenização; diminuição do absenteísmo e afas-
tamento por doenças do trabalho; diminuição de custo na contratação e trei-
namento de novos funcionários; redução dos custos com monitoramento am-
biental através da adoção de medidas de controle coletivo.
Para finalizar este tópico, algumas considerações gerais sobre o PPRA são
feitas:

•  Sempre que vários empregadores realizem simultaneamente atividades


no mesmo local de trabalho terão o dever de executar ações integradas para
aplicar as medidas previstas no PPRA visando a proteção de todos os trabalha-
dores e do meio ambiente;
•  O conhecimento e a percepção que os trabalhadores têm do processo de
trabalho e dos riscos ambientais presentes, incluindo os dados consignados no
Mapa de Riscos, previsto na NR-5 e na NR-9, deverão ser considerados para fins
de planejamento e execução do PPRA em todas as suas fases;
•  O empregador deverá garantir que, na ocorrência de riscos ambientais
nos locais de trabalho e fora dos limites da instalação, que coloquem em situa-
ção de grave e iminente risco os trabalhadores, o meio ambiente e a população,
as atividades sejam interrompidas; que o fato seja comunicando para a tomada
das devidas providências.

LEITURA
Recomenda-se a leitura do PPRA da metalúrgica Albe Ltda Facas Ginete. Disponível em:
<http://www.jfrs.jus.br/sjrs/smaadm/pericias/LA_150.pdf>.

5.1.2  Considerações gerais sobre programas auxiliares ao PPRA

No tópico 5.1.2 muitos termos usados nos ambientes trabalhistas foram


mencionados. Alguns deles podem ser importantes em alguma das fases de

capítulo 5 • 131
análise ou de gerenciamento de riscos ambientais. Este tópico então aborda
considerações gerais sobre PCMSO, PCMAT, SESMT, CIPA e mapa de riscos.
O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), previsto
na NR-7, surgiu quando um médico em época de guerra, no século XVII, cha-
mado Bernardino Ramazzini percebeu que muitos soldados ficavam impos-
sibilitados de batalhar ou até mesmo morriam devido a doenças relacionadas
ao trabalho. Este médico incluiu em suas consultas a pergunta “Qual o seu
trabalho?” e então ele percebeu que cada atividade ou função gerava algumas
doenças específicas. Mas o PCMSO não é tão simples como esta pergunta. Este
programa tem o objetivo de promover e preservar a saúde dos trabalhadores,
bem como, prevenir, rastrear e diagnosticar precocemente os problemas de
saúde que os trabalhadores possam desenvolver devido às suas atividades pro-
fissionais, inclusive quando o indivíduo doente não apresenta nenhum sinal
ou sintoma aparente. Segundo a NR-7, o PCMSO é um programa obrigatório a
todas as empresas e instituições que admitem trabalhadores contratados, as-
sim como o PPRA. E também há um padrão e diretrizes mínimas a serem segui-
das. Como foi mencionado anteriormente, o PCMSO e o PPRA são programas
intimamente ligados um ao outro. O médico do trabalho depende do PPRA da
empresa para saber os riscos que cada colaborador está exposto. A NR-7 deter-
mina que a responsabilidade de fornecer as informações sobre os riscos que
os colaboradores estão expostos, ou seja, o PPRA, é do empregador. Acabando,
assim, com a necessidade do médico do trabalho de ir até a empresa e avaliar o
ambiente e processo do trabalho de cada colaborador. O PCMSO deve incluir,
entre outros, a realização obrigatória dos exames médicos admissionais, perió-
dicos, de retorno ao trabalho, de mudança de função e demissionais. Vale des-
tacar que a NR-7 aponta também a necessidade de que todo estabelecimento
esteja equipado com material de primeiros socorros, o qual deve ficar sob os
cuidados de uma pessoa treinada em primeiros socorros.
O Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho (PCMAT) está esta-
belecido na NR-18. O PCMAT deve garantir, por ações preventivas à integridade
física e à saúde do trabalhador, funcionários terceirizados, fornecedores, con-
tratantes, visitantes etc. Enfim, às pessoas que atuam direta ou indiretamente
na realização de um serviço da empresa. A elaboração do PCMAT se dá pela an-
tecipação dos riscos inerentes às atividades da empresa. De modo semelhante
à confecção do PPRA, métodos e técnicas são aplicados para o reconhecimento,

132 • capítulo 5
avaliação e controle dos riscos encontrados nas atividades e processos laborais.
A partir deste levantamento, são tomadas providências para eliminar, minimi-
zar e controlar estes riscos, através de medidas de proteção coletivas ou indivi-
duais. É importante que o PCMAT também tenha sólida ligação com o PCMSO.
Este programa é elaborado a princípio pelo próprio Serviço Especializado em
Segurança e Medicina do Trabalho - SESMT da empresa ou instituição. Caso o
empregador esteja desobrigado de manter um serviço próprio, ele deverá con-
tratar uma empresa especializada em assessoria em segurança e medicina do
trabalho para elaborar, implementar, acompanhar e avaliar o PCMAT.
O Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho (SESMT) estabelecido pela NR-4 e a Comissão Interna de Prevenção
de Acidentes (CIPA) estabelecida pela NR-5 foram criados como dois grupos
importantes para a garantia da integridade dos trabalhadores. A CIPA é um gru-
po de trabalhadores – que não precisam ser necessariamente especialistas no
assunto – eleito pelos próprios trabalhadores para realizar uma série de ações
para descobrir e identificar os possíveis riscos aos funcionários e eliminar estes
riscos por meio de ações eficazes, baseadas na lei trabalhista. Já o SESMT é um
grupo de especialistas em alguma área de medicina ou engenharia do trabalho
que atua dentro das empresas para garantir a integridade física e mental dos
trabalhadores, durante suas atividades dentro da empresa. Existe um número
mínimo de especialistas do SESMT que devem estar dentro das empresas e este
número é determinado por meio do dimensionamento do SESMT, que é feito
com base no grau de risco da atividade exercida pela empresa, relacionado ao
número de funcionários que ela possui. Estes dois grupos devem trabalhar em
conjunto por um objetivo comum que é evitar que os trabalhadores sofram le-
sões decorrentes do seu trabalho.
Os mapas de riscos são representações gráficas dos riscos presentes em
cada unidade da instalação. São obrigatórios em empresas com grau de risco
e número de empregados que exijam a constituição de uma CIPA. Estes mapas
devem ser fixados nos diferentes ambientes de trabalho e mostrar claramente
todos os riscos ambientais levantados (inerentes ou não ao processo produti-
vo). Os mapas são elaborados pela CIPA em colaboração com o SESMT, quan-
do houver. O mapeamento ajuda a criar uma atitude mais cautelosa por parte
dos trabalhadores diante dos riscos identificados e graficamente sinalizados.

capítulo 5 • 133
Desse modo, contribui para a eliminação ou controle dos riscos detectados,
como também permite a identificação de pontos vulneráveis na sua planta.
No mapa de riscos, círculos de cores e tamanhos diferentes mostram os lo-
cais e os fatores que podem gerar situações de perigo pela presença de agentes
físicos (cor verde), químicos (cor vermelha), biológicos (cor marrom), ergonô-
micos (cor amarela) e mecânicos ou de acidentes (cor azul). Riscos físicos são
provocados por agentes físicos como ruídos, vibrações, radiações ionizantes
e não ionizantes, pressões anormais, temperaturas extremas, iluminação de-
ficiente, umidade etc. Riscos químicos são provocados por agentes químicos
como poeiras, fumos névoas, vapores, gases, produtos químicos em geral, ne-
blina etc. Riscos biológicos são provocados por agentes biológicos como vírus,
bactérias, protozoários, fungos, bacilos, parasitas, insetos, cobras, aranhas etc.
Riscos ergonômicos são provocados por trabalho físico pesado, posturas in-
corretas, treinamento inadequado/inexistente, trabalhos em turnos, trabalho
noturno, atenção e responsabilidade, monotonia, ritmo excessivo etc. Riscos
mecânicos ou de acidentes são decorrentes de arranjo físico inadequado, má-
quinas e equipamentos sem proteção, ferramentas inadequadas ou defeituo-
sas, iluminação inadequada, eletricidade, probabilidade de incêndio ou ex-
plosão, armazenamento inadequado, animais peçonhentos, outras situações
de risco que poderão contribuir para a ocorrência de acidentes. Os símbolos e
cores usados na elaboração dos mapas de riscos são apresentados na figura 5.4.
Observe que o tamanho dos círculos varia de acordo com o tamanho do risco
no local.

SIMBOLOGIA DAS CORES Risco Químico Leve Risco Mecânico Leve

No mapa de risco, os riscos Risco Químico Médio Risco Físico Médio


são representados e
indicados por círculos
coloridos de três tamanhos
Risco Químico Grande Risco Físico Elevado
diferentes, a saber:

Risco Biológico Leve Risco Ergonômico Leve Risco Físico Leve

Risco Ergonômico
Risco Biológico Médio Risco Físico Médio
Médio

Risco Ergonômico
Risco Biológico Grande Risco Físico Elevado
Elevado

Figura 5.26  –  Símbolos e cores para representação dos principais riscos ambientais em ma-
pas de riscos.

134 • capítulo 5
Apenas para exemplificar um mapa de risco de um layout de uma empresa
é apresentado na figura 5.5.

Administração CPD Almoxarifado BWC

Jardim

Refeitório
Linha de Montagem

Cozinha
Dispensa
Tornearia e Soldagem Depósito

Figura 5.27  –  Exemplo de um mapa de riscos de um layout de uma empresa genérica.

Assim como o PPRA, os mapas de riscos também podem ser estendidos a


riscos ambientais referentes ao ambiente externo (limites fora das instalações
industriais ou até mesmo de uma bacia hidrográfica, uma região). Um exem-
plo disso é um trabalho de mapeamento de riscos ambientais referentes a es-
corregamentos na área urbana em Minas Gerais, um artigo de 2003 da revista
Geografia.

LEITURA
Sugestão de leitura do artigo Mapeamento de riscos ambientais à escorregamentos na
área urbana de Juiz de Fora, MG. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.
php/geografia/article/view/6710/6054>.

capítulo 5 • 135
5.2  Estratégias para gerenciamento de
riscos ambientais

O gerenciamento ambiental e o gerenciamento de riscos ambientais acabam


repercutindo positivamente sobre a variável ambiental de um sistema. Atual-
mente, se preocupar com as questões ambientais é se preocupar com o sucesso
dos negócios a longo prazo. Só para exemplificar, os setores industrial e comer-
cial reconheceram que investir na prevenção de riscos e impactos ambientais
acaba ficando mais barato que pagar pelo controle da poluição e recuperação
de áreas degradadas, o que colocaria risco a viabilidade de um negócio. Portan-
to, você profissional do meio ambiente tem que planejar e executar estes geren-
ciamentos unindo sempre o melhor para o meio, a viabilidade das condutas e a
disponibilidade de recursos, sempre se apoiando nas diretrizes do desenvolvi-
mento sustentável e reforçando a todos os setores produtivos que a preocupa-
ção com o meio ambiente é uma questão de sobrevivência para as companhias.
Como visto ao longo dos capítulos deste livro, sabemos que os riscos ambientais
podem ser associados a uma ou mais condições de uma variável com o potencial
necessário para causar impactos ambientais. Depois de identificados, avaliados e
mensurados, deve-se definir qual o tratamento que será dado aos riscos. Como já
mencionado, na prática, a eliminação total dos riscos é impossível. Nesse contexto,
a elaboração de um mapa de avaliação de riscos (tal como o esboçado na figura 5.6)
apoia a priorização e visa direcionar os esforços relativos a novos projetos e planos
de ação elaborados, a fim de minimizar os eventos que possam afetar adversamen-
te e maximizar aqueles que possam trazer benefícios para a empresa.

Catastrófica Transferir Transferir Transferir/Intervir Transferir/Intervir


SEVERIDADE

Grave Transferir Transferir Transferir/Intervir Transferir/Intervir


Significativa Transferir Transferir Transferir/Intervir Transferir/Intervir
Leve Reter Reter Transferir Intervir
Inexpressiva Reter Reter Transferir Intervir

Razoavelmente
Inexpressiva Remota Provável
Provável
PROBABILIDADE

Figura 5.28  –  Atitudes a serem tomadas sobre os riscos ambientais quando se associa a
probabilidade ao grau de severidade do risco.

136 • capítulo 5
A alta administração (proprietários, sócios, profissionais superiores) pode-
rá determinar seu posicionamento frente aos riscos, considerando seus efeitos,
grau de aversão e resposta, complementada por uma análise de custo-benefí-
cio. As várias alternativas para tratamento dos riscos são descritas abaixo, ini-
ciando-se pelo dilema básico: evitar ou aceitar o risco (tabela 5.2).

TRATAMENTO DOS DESCRIÇÃO


RISCOS

Decisão de não se envolver ou agir de forma a


EVITAR se retirar de uma situação de risco.

Manter o risco no nível atual de impacto e


Reter
probabilidade.

Atividades que visam reduzir o impacto e/ou a


probabilidade de ocorrência do risco através da
transferência ou, em alguns casos, do comparti-
Transferir
lhamento de uma parte do risco.
ou
ACEITAR Compartilhar
A transferência do risco não necessariamente
elimina todas as potenciais perdas e, por isto,
é necessário dispor de um adequado plano de
contingência.

Intervir
Ações são tomadas para minimizar a probabili-
ou
dade e/ou o impacto do risco.
Reduzir

Tabela 5.25  –  Descrição de alguns processos de tratamento de riscos

Sabe-se que o tratamento dos riscos ambientais é relativo à vários fatores,


e que a severidade e a probabilidade estão relacionadas diretamente a ações
de transferir, intervir e reter os riscos, como explicado na tabela 5.2. Um exem-
plo de cada uma destas ações será exposto para melhorar o entendimento de

capítulo 5 • 137
suas diferenças: (1) Evitar o risco: uma organização decide se desfazer de uma
unidade de negócios; (2) Aceitar e reter o risco: a diretoria da empresa decide
nada investir em melhorias, assumindo que os riscos são toleráveis; (3) Aceitar
e transferir o risco: uma concessionária de energia elétrica identificou e ava-
liou os riscos de falhas naturais com danos elétricos em seus equipamentos
turbo-geradores e de potência de grandes usinas. Após analisar a melhor es-
tratégia a ser adotada no que tange às despesas, constitui-se um seguro destes
equipamentos junto ao mercado, transferindo este risco operacional categori-
zado como de alto impacto e baixa frequência, inerente ao processo de opera-
ção e manutenção; (4) Aceitar e intervir no risco: uma organização financeira
identificou e avaliou o risco de seus sistemas permanecerem inoperantes por
um período superior a três horas e concluiu que não aceitaria o impacto dessa
ocorrência. A organização investiu no aprimoramento de sistemas de autode-
tecção de falhas e de backup para reduzir a probabilidade de indisponibilida-
de do sistema. Além disso, depende também de fatores pessoais (cooperação)
e organizacionais (controle, comunicação, equipamentos e matérias-primas,
ambiente de trabalho) para que o planejamento e a execução do tratamento de
riscos ambientais sejam bem-sucedidos.

5.2.1  Programas ocupacionais que podem ser incorporados na


prevenção dos riscos ambientais

O Ministério do Trabalho e Emprego exige programas ocupacionais específi-


cos e abrangentes em suas normas regulamentadoras (NR). Quase 100% des-
ses documentos são focados na proteção do trabalhador. Mas mesmo assim,
muitos deles podem ter seus objetivos ampliados para atender a proteção do
trabalhador, do meio ambiente e da população. O importante nesta etapa de
ampliação dos objetivos é definir qual(is) programa(s) atenderá(ão) a todos os
requisitos dos estudos de riscos ambientais que você está participando. Portan-
to, uma comparação simples dos programas pode ser bastante útil para efetuar
esta escolha.
Para exemplificar, demonstra-se uma comparação entre um PPRA
(Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) e um PPR (Programa de
Proteção Respiratória) na tabela 5.3.

138 • capítulo 5
ITEM COMPARADO PPRA PPR
Visa a preservação da saúde Visa o controle de doenças
e da integridade do trabalha- ocupacionais provocadas pela
OBJETIVO dor, através da antecipação, inalação de poeiras, fumos,
avaliação e controle de riscos névoas, fumaças, gases e
ambientais. vapores.
Planejamento anual com o Administração do programa.
estabelecimento de metas, Procedimentos operacio-
prioridades e cronograma. nais escritos.
Estratégia e metodologia Limitações fisiológicas e
de ação. psicológicas dos usuários
ESTRUTURA Forma de registro, manutenção de respiradores.
e divulgação dos dados. Critérios para seleção
Periodicidade e forma de de respiradores.
avaliação do desenvolvimento Treinamento.
do PPRA.
Identificação do risco. Determinar os contaminantes.
Determinação e localização Verificar existência de da-
das fontes. dos toxicológicos.
Identificação das trajetórias Verificar se existe risco poten-
e propagação. cial de deficiência de oxigênio.
Identificação das funções e Medir ou estimar
trabalhadores expostos. a concentração.
RECONHECIMENTO DE RISCOS Dados indicativos de possíveis Determinar estado físico
comprometimentos da saúde. dos contaminantes.
Verificar se pode ser absorvido
pela pele.
Gás e vapor, verificar se
possuem boas propriedades
de alerta.
Estabelecer, implementar e Fornecer respirador apropriado.
assegurar o cumprimento do Ser responsável pelo PPR.
RESPONSABILIDADE DO PPRA, como atividade perma- Permitir que o usuário deixe
EMPREGADOR nente da empresa. a área de risco por qualquer
motivo relacionado com o uso
do respirador.
Colaborar e participar na Usar o respirador conforme
implantação e execução instruções recebidas.
do PPRA. Guardar o respirador enquanto
Seguir orientações recebidas. não estiver em uso.
RESPONSABILIDADE DO Informar ocorrências que Deixar a área de risco, se per-
TRABALHADOR possam implicar riscos à saúde ceber que o respirador não está
dos trabalhadores. funcionando adequadamente.
Comunicar qualquer alteração
em seu estado de saúde ao
responsável.

Tabela 5.26  –  Comparação entre PPRA e PPR.

capítulo 5 • 139
Conclui-se, através dessa análise, que a melhor defesa contra contribuições
indevidas dos riscos ambientais é um PPRA bem feito, que é mais abrangen-
te. Outra dica para efetuar o reconhecimento dos riscos ambientais é fazer um
check list com o levantamento de informações necessárias, por exemplo: a de-
terminação e a localização das possíveis fontes geradoras; trajetórias e meios
de propagação; caracterização das atividades e do tipo de exposição; identifi-
cação das funções e determinação do número de pessoas expostas ao risco; ob-
tenção de dados existentes no lugar; indicativos de possível comprometimento
da saúde decorrentes do trabalho; possíveis danos à saúde relacionados aos
riscos identificados.
Um fluxograma causal é exemplificado na figura 5.7, entenda como funcio-
na o reconhecimento de riscos ambientais usando este fluxograma.

Erro Incidente

Falha Acidente

Figura 5.29  –  Exemplo de um fluxograma causal para reconhecimento de riscos ambientais.

Analisando a “falha” da figura 5.7, quanto às causas, pode-se levantar hipó-


teses ou relações referentes a falhas nas máquinas, nos métodos e processos,
na matéria-prima, falha do meio ambiente, falha humana, falhas políticas (fi-
gura 5.8). E analisando o “erro”, pode-se relacionar a erros gerados por atitudes
impróprias, incompatibilidade de personalidades, falta de treinamento e falta
de supervisão (figura 5.9).

140 • capítulo 5
Máquinas

Métodos e Processos

Matéria Prima
FALHA
Meio Ambiente

Humana

Políticas

Figura 5.30  –  Possíveis relações de causas referente a falhas no fluxograma causal da


figura 5.7.

Atitudes
Impróprias

Personalidade

ERRO

Falta de
Treinamento

Falta de
Supervisão

Figura 5.31  –  Possíveis relações de causas referente a erros no fluxograma causal da


figura 5.7.

Ainda analisando os itens da figura 5.7, sobre incidentes e acidentes, de-


ve-se analisar evitabilidade/falhas, expectativa/probabilidade, intenção/erros
(figura 5.10).

capítulo 5 • 141
Incidentes

Evitabilidade/
Falhas

Expectativa/
Probabilidade

Intenção/
Erros

Acidentes

Figura 5.32  –  Possíveis relações de causas referente a incidentes ou a acidentes no fluxo-


grama causal da figura 5.7.

Perceba que mesmo utilizando roteiros preestabelecidos e o fluxograma


causal, a todo momento o empregador e o trabalhador são dependentes de
muitas variáveis. A partir desta análise, pode-se elaborar também um fluxogra-
ma da prevenção, que fecha o estudo no gerenciamento de riscos ambientais
(figura 5.11).

1. Gerenciamento 2. Controle 3. Proteção

Erro Incidente

Risco/Perigo

Falha Acidente

Figura 5.33  –  Exemplo de fluxograma de prevenção para levantamento de dados para pro-
jeto de gerenciamento de riscos ambientais.

142 • capítulo 5
Após a elaboração do projeto de gerenciamento de riscos ambientais, mui-
tas questões ainda devem ser levadas em consideração para sua implementa-
ção, tais como: aspectos ambientais; conformidade legal; consistência; emer-
gência e gerenciamento dos fornecedores. As três afirmações mais óbvias, mas
igualmente as que mais são esquecidas na hora de se iniciar um projeto, são:
1º Leia a norma cuidadosamente e nos mínimos detalhes, observe os itens
que constam "você deverá";
2º Inicie o processo com base no que você tem e tente ao máximo evitar
a burocracia;
3º Leia a norma em uma das duas línguas oficiais, pois algumas traduções
apresentam problemas.

Finalizando a disciplina, é importante que você perceba que a prática de


gerenciar riscos ambientais não é uma opção para as empresas, mas sim algo
necessário e pela legislação vigente. O gerenciamento de riscos ambientais é
uma etapa indispensável para o empreendedor que pretende manter seu ne-
gócio no mercado a longo prazo e se desenvolver com o tempo. Você pode usar
todas essas argumentações para convencer que os estudos de riscos ambientais
são importantes e necessários. Convencer o proprietário ou qualquer outro res-
ponsável pelo empreendimento não é uma tarefa fácil, mas também pode ser
incluída em nossas atribuições (profissionais do meio ambiente).
Eu sou Engenheira Ambiental, com mestrado em Tecnologias Ambientais
e doutorado em Ciências e ao longo da minha carreira vi muitos casos em que
foi preciso convencer pessoas sobre a importância de preservar o meio ambien-
te. Como dica sempre uso a estratégia de apontar os impactos econômicos ou
impactos que resultam em lesões graves ou em mortes. Parece um apelo muito
forte, mas muitas pessoas ainda enxergam a gestão ambiental como supérfluo
e não conseguem enxergar a ligação que esta ferramenta tem sobre a saúde pú-
blica e sobre a economia.
Boa sorte para você que está iniciando nesta área de gestão ambiental e de
gerenciamento de riscos ambientais. Espero que você se apaixone pelos temas
ambientais, assim como eu, e seja “mais um” no grupo pela busca do desenvol-
vimento sustentável.

capítulo 5 • 143
ATIVIDADES
01. Qual a norma regulamentadora (NR) que rege o PPRA e qual o objetivo visado
pela mesma?

02. O que é mapa de riscos, qual seu objetivo e qual a NR que atribui a sua execução?

REFLEXÃO
Neste capítulo você se deu conta sobre aspectos importantes a serem considerados em
projetos de gerenciamento de riscos ambientais. Aprendeu sobre os agentes de risco, classi-
ficação e priorização. Atentou para o uso de documentos de prevenção de riscos ambientais,
como o PPRA. Atentou para como é feito o tratamento dos riscos no programa de prevenção
de riscos ambientais. Aprendeu sobre as etapas de reconhecimento de riscos ambientais e
como usar fluxogramas de causas e de prevenção.

LEITURA
ALVES, Antonio Fernando Silveira. Avaliação de riscos ambientais (apostila). Vitória: Editora UNISA,
2015. p. 107. Disponível em: <http://unisa.br/conteudos/9123/f1258221175/apostila/apostila.
pdf>. Acesso em: 14 jul. 2015.
AMORIM, Eduardo Lucena C. Curso completo de análise de risco. Notas de Aula. Maceió, 2013.
Disponível em: <www.ctec.ufal.br/professor/elca>. Acesso em: 30 maio 2013.
ATLAS. Segurança e Medicina do Trabalho. 52 ed. São Paulo: Equipe Atlas (Ed.). Editora Atlas S.A.,
2003. p. 715. (Manuais de legislação Atlas).
DAGNINO, Ricardo de Sampaio; CARPI JUNIOR, Salvador. Risco Ambiental: Conceitos e Aplicações.
Climatologia e Estudos da Paisagem, Rio Claro, v. 2, n.2, julho/dezembro/2007, p.51.
FEPAM - FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃO AMBIENTAL HENRIQUE LUIZ ROESSLER.
Manual de análise de riscos industriais. Porto Alegre: FEPAM, 2001. Disponível em: <http://www.
fepam.rs.gov.br/central/formularios/arq/manual_risco.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2015.

144 • capítulo 5
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Antonio Fernando Silveira. Avaliação de riscos ambientais (apostila). Vitória: Editora UNISA,
2015.p. 107. Disponível em: <http://unisa.br/conteudos/9123/f1258221175/apostila/apostila.
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MORIM, Eduardo Lucena C. Curso completo de análise de risco. Notas de Aula. Maceió, 2013.
Disponível em: <www.ctec.ufal.br/professor/elca>. Acesso em; 30 maio 2013.
ATLAS. Segurança e Medicina do Trabalho. 52 ed. São Paulo: Equipe Atlas (Ed.). Editora Atlas S.A.,
2003. p. 715. (Manuais de legislação Atlas).
RILHANTE, Ogenis Magno; CALDAS, Luiz Querino de A. (coord.). Gestão e avaliação de risco em
saúde ambiental. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999. p. 155.
ETESB - COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL (CETESB). Manual
(P4.261): orientação para a elaboração de estudos de análise de riscos. São Paulo: CETESB, 2003.
Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/sites/11/2013/11/P4261-
revisada.pdf> Acesso em: 01 jun. 2015.
DAGNINO, Ricardo de Sampaio; CARPI JUNIOR, Salvador. Risco Ambiental: Conceitos e Aplicações.
Climatologia e Estudos da Paisagem, Rio Claro, volume 2, n. 2, julho/dezembro/2007, p.51.
FEPAM - FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃO AMBIENTAL HENRIQUE LUIZ ROESSLER.
Manual de análise de riscos industriais. Porto Alegre: FEPAM, 2001. Disponível em: <http://www.
fepam.rs.gov.br/central/formularios/arq/manual_risco.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2015.

GABARITO
Capítulo 1

01. F – F – F – V – F
02. Os quatro acidentes nucleares podem ser:
(1) Goiânia, no Brasil, em setembro de 1987, exposição à radiação ionizante, resultou em
4 mortos, 129 contaminados e a geração de 13,4 toneladas de lixo contaminado com Cé-
sio-137.
(2) Chernobyl, na Rússia, em abril de 1986, com explosão em usina nuclear, com missão
de Urânio e 135.000 pessoas evacuadas. O acidente contaminou radioativamente uma área
de aproximadamente 150.000 km² (corresponde a mais de três vezes o tamanho do estado
do Rio de Janeiro), sendo que 4.300 km² possuem acesso interditado indefinidamente. Até

capítulo 5 • 145
180 quilômetros distantes do reator situam-se áreas com uma contaminação de mais de 1,5
milhões de Becquerel por km², o que as deixa inabitáveis por milhares de anos.
(3) A falha de resfriamento pode ser causada por erros humanos, impacto de catástrofes
naturais ou ataques terroristas. Foram falhas de funcionários no caso do acidente da usina
Three Mile Island perto de Harrisburg, Pensilvânia, EUA, que levou à destruição completa do
reator e ao vazamento de substâncias radioativas com mais de 1,6 • 1015 Bq no dia 28 de
março de 1979 (nível 5 na escala INES).
(4) Um terremoto da 8,9 na escala Richter e o subsequente tsunami levou ao acidente
nuclear de Fukushima I (nível 7 na escala INES). A falha de resfriamento fez os níveis de
água nos tanques de arrefecimento baixar, provocando aquecimento dos combustíveis e a
formação de hidrogênio em 4 dos 6 blocos da central. As seguintes explosões destruíram os
prédios e causaram vazamentos em contêineres de segurança com liberação de materiais ra-
dioativos.

Capítulo 2

01. Principais aspectos e impactos ambientais associados a uma Estação de Tratamento de


Esgoto (ETE)

ASPECTOS AMBIENTAIS (CAUSA) IMPACTOS AMBIENTAIS (EFEITO)


Emissão atmosféricas (mau odor) Alteração da qualidade do ar
Lançamentos em corpos d’água (se o tratamento
do esgoto não for eficiente ou se alguma etapa Alteração da qualidade da água (diminuição de
do tratamento falhar, o esgoto in natura ou produ- oxigênio dissolvido, aumento de DBO, alteração
tos químicos poderão ser lançados diretamente do pH etc.)
nos corpos d’água)
Lançamentos no solo (vazamento de esgoto ou Alteração das propriedades físicas, químicas e
de produtos químicos) biológicas do solo
Uso de matérias-primas Redução de recursos naturais
Redução de recursos naturais e alteração da
Uso de energia
qualidade ambiental
Geração e descarte de resíduos (resíduos dos
produtos químicos e geração de lodo proveniente Desequilíbrio dos ecossistemas
do tratamento)

02. Um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) com seu respectivo Relatório de Impacto Am-
biental (RIMA) é obrigatório para todas as atividades potencialmente poluidoras (ou por se-
rem grandes extratores e produtores, ou por manusear produtos e resíduos perigosos) e
um dos itens principais a ser incluído no EIA/RIMA é um estudo de riscos ambientais (por

146 • capítulo 5
exemplo um Estudo de Análise de Risco - EAR) para se trabalhar aspectos relacionados
com a identificação, a prevenção e a mitigação da poluição crônica e da poluição acidental.
03. C

Capítulo 3

01. Os casos de epidemia de cólera por exemplo estão diretamente relacionados a falta de
destinação e tratamento adequado das excretas humanas. Os casos de epidemia de dengue
estão associados a maus hábitos humanos que permitem o acúmulo de água em diversos
locais, criadouros dos vetores.
02. O tempo de resposta a um acidente ou a um episódio de risco está intimamente ligado
a magnitude dos danos associados. Quanto mais demorada a tomada de decisão ou o início
das ações de emergência, mais tempo o fenômeno tem para se espalhar e para fazer efeito.
Um exemplo de um tempo de resposta rápida foi no caso da contaminação com o produto
químico pentaclorofenato de sódio, conhecido popularmente como pó da China. Este epi-
sódio foi reconhecido como uma sequência de erros e negligência quanto aos riscos do
produto, o qual não tinha identificação e nenhuma restrição ou menção de cuidados para
transporte e manuseio. Aconteceu dia 13 de janeiro de 1982 no mercado São Sebastião
no Rio de Janeiro (RJ). Apesar do processo de manuseio e transporte ter sido todo errado,
e dos responsáveis não possuírem planos de contingência, a defesa civil agiu rapidamente,
em tempo suficiente para prevenir o espalhamento da contaminação e evitar uma catástrofe
ambiental com mortes. No total houve 3 mortes dos funcionários que entraram em contato
direto com o produto. O plano de ação da defesa civil neste caso foi muito elogiado e após
este episódio, o Governo Federal percebeu a complexidade que é lidar com produtos perigo-
sos e ordenou a elaboração imediata de normas específicas.

Capítulo 4

01. Os principais objetivos visados na utilização das técnicas de análises de riscos são: (1)
relacionar todos os riscos, avaliando-os qualitativamente e quantitativamente, e (2) implantar
medidas para controlar e eliminar os riscos de acidentes.
02. Outras técnicas que podem ser usadas para estudos de riscos ambientais são:
- Técnica de Incidentes Críticos (TIC);
- What-If (WI);
- Brainstorming;
- Check-List ou Lista de verificações;

capítulo 5 • 147
- Análise de Árvores de Eventos (AAE);
- Análise por Diagramas de Blocos (ADB);
- Análise de Causas e Consequências (ACC);
- Management Oversight and Risk Tree (MORT);
- Análise Comparativa;
- Análise pela Matriz de Interações;
- Inspeção Planejada;
- Registro e Análise de Ocorrências (RAO).

Capítulo 5

01. A NR-9 que rege o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA). O objetivo
visado pela mesma é o da preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através
da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos
ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente do trabalho, tendo em considera-
ção a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais.
02. Mapa de riscos é um mapa constituído de uma vista em planta do ambiente de trabalho,
na qual estão indicados, através de círculos coloridos, os diversos tipos de riscos existentes
naquele ambiente do trabalho. Ele deve ser colocado num quadro e num lugar bem a vista
de todos aqueles que trabalham naquele ambiente. O objetivo deste mapa é indicar todos os
riscos existentes no ambiente de trabalho, de modo a orientar, prevenir e a evitar possíveis
acidentes. O mapa de riscos é atribuído pela NR-5 (Anexo IV).

148 • capítulo 5
ANOTAÇÕES

capítulo 5 • 149
ANOTAÇÕES

150 • capítulo 5
ANOTAÇÕES

capítulo 5 • 151
ANOTAÇÕES

152 • capítulo 5

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