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PODER JUDICIÁRIO

Gabinete do Desembargador Olavo Junqueira de Andrade


5ª Câmara Cível

APELAÇÃO CÍVEL Nº 25683-69.2014.8.09.0051 (201490256830)


COMARCA GOIÂNIA
APELANTE JÉSSICA VIEIRA DA SILVEIRA CARVALHO
RELATOR DR. DELINTRO BELO DE ALMEIDA FILHO
JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO EM
SEGUNDO GRAU
REDATOR DES. OLAVO JUNQUEIRA DE ANDRADE

VOTO PREVALECENTE

Sustentação oral do n. Advogado Dr. João


Batista Fagundes, pela Apelante.

Na sessão realizada no dia 29/09/2016, o


eminente Relator, Dr. Delintro Belo de Almeida Filho, MM. Juiz de
Direito Substituto em Segundo Grau, em substituição ao em. Des.
Geraldo Gonçalves da Costa, proferiu brilhante Voto, como lhe é
peculiar, no que foi acompanhado pelo em. Revisor, Des. Francisco
Vildon José Valente, na Sessão realizada no dia 13/10/2016, no
sentido de conhecer e desprover o recurso de apelação: “Ante o
exposto, conheço do recurso de apelação e nego-lhe provimento, mantendo, por

consequência, inalterada a sentença.”

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Ante a complexidade das questões em


debate, pedi vista, para melhor exame; e, agora, estou a declarar o
meu voto.

Com a máxima vênia ao entendimento do


em. Relator, Dr. Delintro Belo de Almeida Filho, MM. Juiz de Direito
Substituto em Segundo Grau, ouso dele divergir; ressaltando, que,
na Sessão realizada no dia 03/11/2016, fui acompanhado pelo em.
Revisor, Des. Francisco Vildon José Valente, que refluiu de seu
posicionamento anterior.

Ante a divergência, o processo foi incluído na


pauta desta data (15/12/2016), conf. artigo 942 do CPC/15 e extrato
da respectiva ata, tendo sido sorteado para integrar a Turma, o em.
Des. Norival Santomé.

Divergiu, pelo desprovimento da apelação, o


Dr. Delintro Belo de Almeida Filho, MM. Juiz de Direito Substituto
em Segundo Grau, em substituição ao em. Des. Geraldo Gonçalves
da Costa.

Presentes os pressupostos de
admissibilidade recursal, conheço da apelação.

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Conf. relatado, trata-se de recurso de


apelação (fls. 66/71) interposto, em 10/05/2016, por JÉSSICA
VIEIRA DA SILVEIRA CARVALHO da sentença (fls. 54/63)
prolatada, em 27/04/2016, pelo MM. Juiz de Direito da 3ª Vara de
Família e Sucessões desta Comarca de Goiânia, Dr. William
Fabian, nos autos da “ação de retificação de registro civil”, julgando
improcedente o pedido: “Ao teor do exposto, JULGO IMPROCEDENTES os
pedidos formulados na inicial, extinguindo o presente feito com resolução do mérito, com
base no artigo 487, I, do NCPC.”

A controvérsia consiste em verificar a


viabilidade da Apelante/A. retificar seu registro civil, alterando o
sexo, de feminino para masculino, bem como seu prenome,
independentemente, da cirurgia de transgenitalização.

Ressai das razões da Apelante/A. que ela


não se identifica como pessoa do sexo feminino, sendo reconhecida
no âmbito de suas relações interpessoais como Gabriel; ressalta,
que passa por constrangimento toda vez que tem que se identificar
com o nome que lhe foi dado: “A manutenção da identificação feminina nos
documentos da Requerente representa constrangimento. A mudança de nome pleiteada

previne que a transexual seja desrespeitada, ou seja, alvo de preconceito.” (F. 03.)

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Como dito, in casu, a Apelante/A. sofre


desconforto, pelo fato de ser obrigada a adotar identidade feminina,
em razão do seu sexo anatômico, o que destoa de sua identidade
de gênero psicológica.

Com a máxima vênia ao entendimento do


em. Relator, Dr. Delintro Belo de Almeida Filho, MM. Juiz de Direito
Substituto em Segundo Grau, ouso dele divergir, porquanto entendo
ser imperioso à autorização para o transexual promover a alteração
do nome e do sexo constante em seu registro civil, ainda que não
tenha realizado a cirurgia de transgenitalização.

Esta situação peculiar é explicada como "O


Transtorno de identidade de gênero é um transtorno de ordem psicológica e médica, segundo
a maioria dos autores, sendo uma condição em que a pessoa nasce com o sexo biológico de
um sexo, mas se identifica com os indivíduos pertencentes ao gênero oposto, e considera isso
como desarmônico e profundamente desconfortante. É um desejo de viver e ser aceito

enquanto pessoa do sexo oposto.” (VIEIRA, Tereza Rodrigues. Nome e sexo:


mudanças no Registro Civil, São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2008:221.)

Através da Portaria nº 1.652/02,


notadamente, art. 3º, o Conselho Federal de Medicina fixou as
seguintes características mínimas para enquadrar alguém como

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transexual: a) desconforto com o sexo anatômico natural; b) desejo


expresso de eliminar as genitálias, de perder as características
primárias e secundárias do próprio sexo e de ganhar aquelas do
sexo oposto; c) permanência desses distúrbios de forma contínua e
consistente pelo prazo de dois anos, no mínimo; d) ausência de
outros transtornos mentais.

Na hipótese, discute-se o sexo jurídico da


Apelante/A., hoje constante como feminino. Cediço que as
possibilidades de alteração de registro previstas pela Lei n.º
6.015/73, são restritivas e excepcionais, visando preservar o
princípio da segurança jurídica.

O art. 58 da Lei de Registros Públicos


dispõe: “Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por

apelidos públicos notórios.” Contudo, o art. 57 da Lei de Registros Públicos

permite a alteração do nome, desde que seja feita “por exceção e

motivadamente, após audiência do Ministério Público.”; o parágrafo único deste

dispositivo, prevê: “A substituição do prenome será ainda admitida em razão de


fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime, por
determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Público.”

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Destarte, a Lei de Registros Públicos prevê a


possibilidade de alteração do registro civil nas hipóteses de
transtornos e situações vexatórias. Dessa forma, a mera
discordância com o sexo anatômico (natural) não é, por si só,
elemento suficiente a amparar pedido de retificação de designação
do sexo e do prenome constante no registro civil.

Contudo, a importância do nome decorre do


fato de que é através dele que todo e qualquer indivíduo se
identifica, além de ser a forma em que é individualizado na
sociedade.

Cediço que a igualdade de tratamento


encontra-se esculpida no caput do art. 5º da Constituição Federal:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.”

Ademais, a promoção do bem de todos, sem


preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação, constitui objetivo fundamental da
República Federativa do Brasil (Art. 3º, inc. IV, CF).

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De igual sorte, a preservação da dignidade


humana é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil,
conf. previsão do art. 1º, inc. III, da Constituição Federal.

O princípio da igualdade proíbe o tratamento


discriminatório; daí, inegável que, no exercício de sua liberdade, o
transexual busque o seu direito à liberdade e à dignidade
consistente na retificação do seu nome e sexo.

Ora, indiscutível que o transexual enfrenta


diversos constrangimentos, no seu cotidiano; não podendo o Poder
Judiciário ignorar tal situação, sob pena de fechar o olhar para
nítida violação ao princípio da dignidade humana.

A propósito, em caso análogo, elucidou a em.


Ministra Nancy Andrighi:

“(…) A afirmação da identidade sexual, compreendida pela


identidade humana, encerra a realização da dignidade, no que
tange à possibilidade de expressar todos os atributos e
características do gênero imanente a cada pessoa. Para o
transexual, ter uma vida digna importa em ver
reconhecida a sua identidade sexual, sob a ótica
psicossocial, a refletir a verdade real por ele vivenciada e
que se reflete na sociedade. (…) Em última análise, afirmar
a dignidade humana significa para cada um manifestar
sua verdadeira identidade, o que inclui o reconhecimento
da real identidade sexual, em respeito à pessoa humana

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como valor absoluto. (…) - Assegurar ao transexual o


exercício pleno de sua verdadeira identidade sexual consolida,
sobretudo, o princípio constitucional da dignidade da pessoa
humana, cuja tutela consiste em promover o desenvolvimento
do ser humano sob todos os aspectos, garantindo que ele não
seja desrespeitado tampouco violentado em sua integridade
psicofísica. Poderá, dessa forma, o redesignado exercer, em
amplitude, seus direitos civis, sem restrições de cunho
discriminatório ou de intolerância, alçando sua autonomia
privada em patamar de igualdade para com os demais
integrantes da vida civil. A liberdade se refletirá na seara
doméstica, profissional e social do recorrente, que terá, após
longos anos de sofrimentos, constrangimentos, frustrações e
dissabores, enfim, uma vida plena e digna.” (REsp
1008398/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 15/10/2009, DJe 18/11/2009.) Negritei.

Sobre a matéria, leciona Edvaldo Souza


Couto:

"(…) existem diferentes conceitos de transexualidade. Eles


têm em comum a incompatibilidade da conformação genital
com a identidade psicológica no mesmo indivíduo. O
transexual é aquele que recusa totalmente o sexo que lhe foi
atribuído civilmente. Identifica-se psicologicamente com o
sexo oposto, embora biologicamente não seja portador de
nenhuma anomalia. Geralmente possui genitália perfeita,
interna e externa, de um único sexo mas a nível psicológico
responde a estímulos de outro. Costumam considerar-se um
'erro da natureza'. Segundo a Associação Paulista de
Medicina, transexual é o indivíduo com identidade
psicossexual oposta a seus órgãos genitais externos, com o
desejo compulsivo de mudança destes. Neste quadro, as
principais características da transexualidade são: a) a

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convicção de pertencer a outro sexo; b) aversão pelos


atributos genitais dados pela natureza e c) o interesse pela
adequação dos genitais." (in: Transexualidade - o corpo em
mutação, Salvador: Editora GGB, 1999, p. 26.)

Acrescenta Elizabeth Zambrano:

“(...). O senso comum considera que uma pessoa, ao ser


classificada como homem ou mulher (sexo biológico), terá,
naturalmente, o sentimento e o comportamento masculino ou
feminino (identidade/papel de gênero) e o seu desejo sexual
será dirigido para pessoas do sexo e/ou gênero diferente do
seu (orientação heterossexual). Esses três elementos – sexo,
gênero e orientação - são pensados, em nossa cultura, como
estando sempre combinados de uma mesma maneira - homem
masculino heterossexual ou mulher feminina heterossexual. É
possível, entretanto, inúmeras combinações entre eles. Uma
delas é a homossexualidade, termo referente a pessoas que
praticam sexo com pessoas do mesmo sexo. Essas pessoas
têm orientação sexual diferente da esperada para o seu sexo e
gênero, mas isso, não necessariamente, indica uma mudança
de 'identidade de gênero'. Elas não se percebem nem são
percebidas pelos outros como de um gênero (masculino ou
feminino) diferente do seu sexo (homem ou mulher), mesmo
com comportamentos considerados ambíguos (homem
afeminado ou mulher masculinizada). Já homens que fazem
uso de roupas e modificações corporais para se parecer com
uma mulher, sem buscar uma troca de sexo cirúrgica são
considerados travestis. Travestis, aceitando seu corpo
biológico de homem (embora modificado, às vezes, pelo uso
de hormônios femininos e/ou implantes de silicone) e se
percebendo como mulheres, reivindicam a manutenção dessa
ambigüidade corporal, considerando-se, simultaneamente,
homens e mulheres; ou se vêem 'entre os dois sexos' nem

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homens, nem mulheres. Todos, porém, se percebem como


tendo uma identidade de gênero feminina. Outra combinação
possível diz respeito aos transexuais, pessoas que afirmam ser
de um sexo diferente do seu sexo corporal e fazem demanda
de 'mudança de sexo' dirigida ao sistema médico e judiciário.
É muito comum homossexuais, travestis e transexuais serem
percebidos como fazendo parte de um mesmo grupo, numa
confusão entre a orientação sexual (homossexualidade,
heterossexualidade, bissexualidade) e as 'identidades de
gênero' (homens masculinos, mulheres femininas, travestis,
transexuais femininos e masculinos, entre outras). Todos os
indivíduos que reivindicam um gênero que não apoiado no
seu sexo podem ser chamados de 'transgênero'. Estariam
incluídos aí, além de transexuais que realizaram cirurgia de
troca de sexo, travestis que reconhecem seu sexo biológico,
mas têm o seu gênero identificado como feminino; travestis
que dizem pertencer a ambos os sexos/gêneros e transexuais
masculinos e femininos que se percebem como homens ou
mulheres mas não querem fazer cirurgia. A classificação de
suas práticas sexuais como homo ou heterossexuais estará na
dependência da categoria que estiver sendo considerada pelo
indivíduo como a definidora de sua identidade (o sexo ou o
gênero). (in Lima, Antônio Carlos de Souza (org.),
Antropologia e Direito: Bases Para um Diálogo
Interdisciplinar; Brasília, Associação Brasileira de
Antropologia, 2007.)

Nesta análise, visando amoldar a situação


vivenciada pela Apelante/A. aos paradigmas acima citados, valho-
me de bem-postos apontamentos do i. Psicólogo, Dr. Wadson
Arantes Gama, CRP09/1523, quando da conclusão do laudo
psicológico de fls. 41/42:

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“Percebe-se no momento que a referida paciente apresenta-se


este conflito de gênero e identidade sexual demonstrando
claras características da transexualidade. Diante da avaliação
presente, entende-se que a troca do nome trará conforto
psicológico e maior congruência em sua vida intima e social.”

Ressalte-se, que a foto constante no


documento “RG” da Apelante/A., conf. se vê à f. 07, evidencia
traços masculinos, corroborando a necessidade de alteração do
prenome e do designativo de sexo, visando evitar possíveis
circunstâncias vexatórias e constrangedoras ao ter que se
apresentar como “mulher”.

Deveras: “O reconhecimento judicial do direito dos


transexuais à alteração de seu prenome conforme o sentimento que eles têm de si mesmos,
ainda que não tenham se submetido à cirurgia de transgenitalização, é medida que se
revela em consonância com o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.
Presentes as condições da ação e afigurando-se indispensável o regular processamento do
feito, com instrução probatória exauriente, para a correta solução da presente controvérsia,

impõe-se a cassação da sentença.” (TJ-MG, Ap. Cív. 1.0521.13.010479-2, Rel.


Des. Edilson Fernandes, 6ª Câmara Cível, Publicado em
07/05/2014.) Negritei.

A propósito, jurisprudências do eg. Tribunal


do Rio Grande do Sul:

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“APELAÇÃO CÍVEL. REGISTRO CIVIL. ALTERAÇÃO.


MUDANÇA DE PRENOME E DE SEXO. CIRURGIA DE
TRANSGENITALIZAÇÃO. DESNECESSIDADE.
PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. SENTENÇA
MANTIDA. É cabível a alteração do prenome e do
designativo de gênero/sexo no registro civil,
independentemente de realização de cirurgia de
transgenitalização, quando comprovada cabalmente a
identidade de gênero diferente do denominado quando do
nascimento. Identificação psicológica que se sobrepõe à
morfológica, em atenção ao comportamento e à identificação
existentes, e em afirmação à dignidade da pessoa humana.
Precedentes do STJ e desta Corte de Justiça. APELAÇÃO
DESPROVIDA.” (Apelação Cível Nº 70069514883, Oitava
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo
Moreira Lins Pastl, Julgado em 30/06/2016.) Negritei.

“Apelação. Retificação de registro civil. Transexualismo.


Travestismo. Alteração de prenome independentemente da
realização de cirurgia de transgenitalização. Direito à
identidade pessoal e à dignidade. A demonstração de que as
características físicas e psíquicas do indivíduo, que se
apresenta como mulher, não estão em conformidade com as
características que o seu nome masculino representa coletiva
e individualmente são suficientes para determinar a sua
alteração. A distinção entre transexualidade e travestismo não
é requisito para a efetivação do direito à dignidade. Tais fatos
autorizam, mesmo sem a realização da cirurgia de
transgenitalização, a retificação do nome da requerente
para conformá-lo com a sua identidade social. Deram
provimento.” (TJRS, AC 70030504070, 8ª C. Cív., Rel. Des.
Rui Portanova, j. 29/10/2009.) Negritei.

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No mesmo sentido, precedentes dos


egrégios Tribunais de Justiça de São Paulo e do Distrito Federal:

"APELAÇÃO CÍVEL. Ação de retificação de registro civil.


Autor transexual almeja que seu nome social feminino
substitua o nome masculino oficialmente registrado. Sentença
de extinção do feito, por falta de interesse processual, a exigir
submissão a procedimento cirúrgico de redesignação de sexo,
como condição para alteração do registro civil. Apelo do
autor. Conjunto probatório apto a demonstrar tratar-se de
pessoa transexual, não identificada com o sexo masculino,
que aguarda fila para realização de cirurgia de mudança de
sexo. Não apenas tem a pessoa natural direito ao nome que
lhe é dado no momento do nascimento para identificá-la,
como também tem direito ao nome com o qual se identifique,
e do qual não advenham constrangimentos. Apego às regras
estanques da imutabilidade e indisponibilidade do nome não
podem servir de justificativa para limitar direito fundamental
do indivíduo transexual à fruição plena de sua cidadania, sob
pena de violação ao princípio da dignidade da pessoa
humana. Se, por prevalência de princípio constitucional,
admite-se a relativização das normas registrais, não se pode
condicionar esta relativização à realização de procedimento
cirúrgico de transgenitalização, o que significaria a instituição
de requisito discriminatório, a forçar indivíduos a realizar
interferências cirúrgicas no próprio corpo, nem sempre
desejadas. Precedentes desta Câmara e Tribunal. Sentença
reformada, para permitir a alteração do registro civil e
substituição do prenome masculino. Recurso provido." (TJSP,
APL 00013606920148260457 SP 0001360-
69.2014.8.26.0457, Relatora: Viviani Nicolau, 3ª Câmara de
Direito Privado, julgado em 11/08/2015.)

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“CONSTITUCIONAL. REGISTRO CIVIL DE


NASCIMENTO. ALTERAÇÃO. DESIGNATIVO. SEXO.
TRANSEXUAL. NÃO SUBMETIDO À CIRURGIA DE
REDESIGNAÇÃO SEXUAL. DIGNIDADE. PESSOA.
HUMANA 1. Os direitos e garantias fundamentais são
desdobramentos imediatos dos princípios fundamentais,
previstos na Magna Carta. O art. 5º, X, da Constituição
Federal elenca os direitos que compõem a integridade moral
que deve ser respeitada assim como as demais características
da pessoa. 2. O reconhecimento judicial do direito dos
transexuais à alteração de seu prenome e da designação
sexual constante de seus assentos de registro civil, conforme
o sentimento/entendimento que possuem de si mesmos, ainda
que não tenham se submetido à cirurgia de transgenitalização,
é um meio de garantir o cumprimento e a efetividade do
princípio da dignidade da pessoa humana, da intimidade, da
personalidade e da cidadania, além de ser uma forma de
integrá-lo à sociedade. 3. Conclui-se com facilidade que os
elementos identificadores do sexo não podem ser limitados à
conformação da genitália do indivíduo ou ao sexo
eminentemente biológico, pois outros fatores devem ser
considerados, como: o psicológico, cultural e social, para a
correta caracterização sexual. 4. Recurso conhecido e
provido.” (TJDF, APC 20130710313876, Relatora: Maria de
Lourdes Abreu, 5ª Turma Cível, julgado em 02/09/2015.)

Inclusive, esta é a orientação do em.


Corregedor do c. Conselho Nacional de Justiça, Ministro João
Otávio de Noronha, conf. notícia extraída do sitio do aludido Órgão:

“O corregedor nacional de Justiça, ministro João Otávio


de Noronha, entende que não é exigida cirurgia de
mudança de sexo para alterar o nome no registro civil,
como já decidiu o CNJ em julgamentos passados. A

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afirmação foi feita em decisão desta terça-feira (4/10) ao


pedido liminar da Defensoria Pública da União que afirma
que magistrados e cartórios estão condicionando a retificação
do registro civil à realização da cirurgia de redesignação
sexual.
Dessa forma, o corregedor nacional determinou que as
corregedorias dos Tribunais de Justiça dos estados e do
Distrito Federal e os cartórios têm até 15 dias para
informarem expressamente se a não exigência da cirurgia já
foi objeto de regulamentação, bem como se está havendo
problemas quanto a isso, como alega a Defensoria Pública da
União.” (http:www.cnj.com.br/noticias/cnj/83610-cirurgia-
para-mudar-sexo-em-registro-civil-nao-e-necessaria-diz-
corregedor.) Acesso em 26/10/2016. Negritei.

Aqui, reporto-me ao bem-posto Parecer (fls.


80/89) da lavra da d. Procuradoria-Geral de Justiça, por seu n.
Representante, Dr. Wellington de Oliveira Costa; transcrevendo a
seguinte parte; incluindo-a, nesta fundamentação, com a devida
vênia desse i. Subscritor:

“Ora, os elementos identificadores do sexo não podem ser


limitados à conformação da genitália do indivíduo, haja
vista a importância que o nome e a designação sexual têm no
âmbito de aspectos evidentemente mais importantes, como o
equilíbrio psicológico da pessoa, a sua saúde, as suas
relações culturais e sociais, a formação de sua personalidade,
dentre outros.
Observa-se, assim, que a alteração do prenome e do
designativo de sexo no registro civil da pessoa transexual
representa meio de se efetivar o princípio da dignidade da
pessoa humana. (…)

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Verifica-se, ainda, que não pesa em desfavor do Apelante


qualquer investigação ou processo criminal, o que demonstra
que o interesse na alteração dos registros civis não possui
fins de ocultação.” (Fls. 86/87.)

Recentemente, em 11.p.p. (11/10/2016), o


em. Ministro Luís Felipe Salomão, do colendo STJ, votou a favor da
possibilidade de um transexual mudar o sexo registrado em sua
identidade civil, sem necessidade de realizar uma cirurgia de
mudança de sexo. O julgamento deste recurso foi interrompido ante
o pedido de vista do em. Ministro Raul Araújo.
(http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2016/10/transexual-
pode-mudar-sexo-no-rg-mesmo-sem-cirurgia-defende-relator.html.
Acesso em 26/10/2016.)

Nesse toar, tramita, no excelso STF, o RE nº


670.422, que, igualmente, trata da possibilidade de alteração de
gênero, independentemente, da realização de cirurgia de
redesignação de sexo; cujo Relator, em. Ministro Dias Toffoli,
destacou: "As matérias suscitadas no recurso extraordinário, relativas à necessidade ou
não de cirurgia de transgenitalização para alteração nos assentos do registro civil, o conteúdo
jurídico do direito à autodeterminação sexual, bem como a possibilidade jurídica ou não de se
utilizar o termo transexual no registro civil, são dotadas de natureza constitucional, uma vez
que expõe os limites da convivência entre os direitos fundamentais como os da personalidade,
da dignidade da pessoa humana, da intimidade, da saúde, entre outros de um lado, com os

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princípios da publicidade e da veracidade dos registros públicos de outro."

Concluo, pois, que, no caso, não permitir a


mudança do sexo e do prenome no registro civil com fundamento,
unicamente, na ausência de cirurgia de transgenitalização, à
evidência, viola os princípios da dignidade e da liberdade.

Do exposto, conhecido do recurso de


apelação, discordando do entendimento do em. Relator, voto pelo
provimento da apelação, para, reformando a r. sentença, julgar
procedente a pretensão da Apelante/A., alterando-se o designativo
de sexo, de “feminino” para “masculino”, e do prenome, de
“JÉSSICA” para “GABRIEL”, constantes em seu assento de
nascimento.

É o voto.

Goiânia, 15 de dezembro de 2 016.

Des. Olavo Junqueira de Andrade


Redator

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APELANTE JÉSSICA VIEIRA DA SILVEIRA CARVALHO
RELATOR DR. DELINTRO BELO DE ALMEIDA FILHO
JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO EM
SEGUNDO GRAU
REDATOR DES. OLAVO JUNQUEIRA DE ANDRADE

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE


RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL.
TRANSEXUAL. ALTERAÇÃO DE SEXO E DE
PRENOME. AUSÊNCIA DE CIRURGIA DE
REDESIGNAÇÃO. OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS
DA DIGNIDADE, INTIMIDADE E LIBERDADE. 1. O
reconhecimento judicial do direito do transexual promover à
alteração do prenome e da designação sexual constante de
seus assentos de registro civil, conforme sua identidade de
gênero psicológica, ainda que não tenha se submetido à
cirurgia de transgenitalização, visa garantir o cumprimento e
a efetividade dos princípios da dignidade, intimidade e
liberdade. 2. Ademais, os elementos identificadores do sexo
não podem ser limitados ao sexo anatômico (biológico),
havendo de serem considerados outros fatores, como: o
psicológico, cultural e social, objetivando refletir a verdade
real vivenciada pelo transexual, integrando-o na sociedade.
APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA. SENTENÇA
REFORMADA.

ACÓRDÃO
VISTOS, relatados e discutidos os presentes

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autos de APELAÇÃO CÍVEL Nº 25683-69.2014.8.09.0051


(201490256830).

ACORDAM os integrantes da Quarta Turma


Julgadora da Quinta Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça do
Estado de Goiás, por maioria, em CONHECER DO RECURSO E
PROVÊ-LO, nos termos do voto do Relator.

VOTARAM, além do Relator, o Desembargador


Francisco Vildon José Valente, o Redator, o Desembargador Alan S. de
Sena Conceição e o Desembargador Norival Santomé.

Presidiu a sessão o Desembargador Alan S. de


Sena Conceição.

Presente o Procurador de Justiça Dr. Wellington


de Oliveira Costa.

Goiânia, 15 de dezembro de 2 016.

Des. Olavo Junqueira de Andrade


Redator

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