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“Os Direitos Humanos só servem para proteger bandido”. É com grande piedade,
pesar e profunda desolação que tenho ouvido pessoas falando esse absurdo
ultimamente. Outro absurdo é constatar que tal fala vem de indivíduos que
inadvertidamente considera os Direitos Humanos coisa de esquerda. Tanto a primeira
fala quanto a segunda, via de regra, é feita pelo mesmo perfil de pessoa; analfabeto
político, aqui me apropriando do conceito elaborado pelo dramaturgo alemão, poeta e
socialista, perseguido pelo nazismo Bertold Brecht: “O pior analfabeto é o analfabeto
político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o
custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o
peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a
prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.
Há 69 anos a ONU decretou para o mundo que “Artigo 3 - Todo ser humano tem
direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”. A edição da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, em 10 de dezembro de 1948 teve um propósito histórico, a saber,
demarcar que os seres humanos são redutos de paz e inviolabilidade. Isso se fez
emergente historicamente, pois o mundo acabava de sair de duas Grandes Guerras
Mundiais, um nazi-fascismo e duas bombas atômicas foram explodidas nas cidades
japonesa de Hiroshima e Nagasaki destruindo parte de sua cultura material, mas
sobretudo matando milhares de pessoas indiscriminadamente, tal como mulheres,
crianças e velhos e indefesos.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, nasce, então com o firme propósito
de garantir os Direitos primários e básicos do ser humano que são a dignidade; leia-se,
não pode haver nenhum tipo de discriminação, pois essa Carta Magna garante o
tratamento equinâmine em relação a justiça, da presunção de inocência, até que se prove
o contrário, garante ainda o direito de ir e vir, além de muitos outros Direitos Humanos
que uma pessoa inadvertida faz uso no seu dia a dia e ignora. Também como o direito
da liberdade de expressão, justa remuneração pelo seu trabalho, propriedade privada e
por ai segue conclamando todos os Direitos que as pessoas humanas precisam para bem
viver.
Parece-me que esse velho amigo de 69 anos de idade, anda meio cansado e,
sobretudo desacreditado. A ponto de muita gente achar que ele é um mero instrumento
de bandido ou de esquerdistas. Tanto num caso quanto no outro a ignorância é a mesma,
pois a ONU que publicou essa Lei Maior não defende bandido, muito menos
esquerdista (sem saber muito bem o que significa esse termo muito utilizado em tempos
obtusos).
Se não bastasse essa Lei ditatorial acima citada no ano seguinte em 13 dezembro de
1968, os militares, em um ato de golpe de estado (dentro do golpe), o ditador Castelo
Branco, fechou o Congresso desferiu o mais duro ataque nos trabalhadores e nos
intelectuais brasileiro e nos Direitos Humanos em geral, o Ato Institucional nº 5 (AI 5),
entre tantas desumanidades foi suspenso o habeas corpus, ou seja, o fim total dos
direitos humanos. Sem habeas corpus toda e qualquer acusação e os abusos dos
ditadores e seus aliados civis corriam solta nas prisões, torturas, exílio e assassinatos em
emboscadas armadas pelo regime militar antidemocrático. Segue uma informação de
suma relevância; a saber, a sociedade civil deu ampla cobertura, apoio e base de
sustentação para os ditadores militares agirem de forma desumana. Segue uma listinha
dos comparsas: FIESP, OAB, poderes legislativos municipais e estaduais, poderes
judiciários municipais e estaduais e quase todos os prefeitos e governadores, além de
outras ordens e sobretudo o Partido Político ARENA, esse foi a marionete por 21 anos,
no plano civil, para os ditadores militares cometerem todos os tipos de abusos no
Direitos Humanos. Por isso a historiografia aborda tal temática como ditadura civil-
militar. Cabe o registro aqui de que o partido político MBD, ainda que timidamente,
procurava fazer algum tipo de resistência aos ditadores militares. Com pesar registro
aqui o Poder Judiciário, esse mesmo que caça Lula como um animal feroz tendo na
figura de um policialesco Javert, o personagem da obra “os miseráveis”, sem a honra
dessa emblemática figura imortalizada por Hugo, travestido de toga e chamado de juiz.
Esses mesmos “podres poderes” que disse Veloso fez vistas grossas ao golpe contra
Dilma foi sutilmente conivente com a ditadura desumana militar e dela se valeu! Hoje
repete a dose, vide o aumento de 41,5% em suas remunerações logo após o golpe.
Diferente do que muitos desses confundem, os direitos humanos não são uma
agenda de esquerda ou de direita, mas é um pacto mínimo de convivência, baseado nos
valores liberais, lembrando que não há nada mais liberal do que a “mãe” dos Direitos
Humanos, a ONU. Por fim, acreditar que os Direitos Humanos só servem para proteger
bandido é uma atitude de analfabeto político.