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1. O documento é uma resposta a uma ação possessória movida por Ademir Salvalágio contra Paulo Henrique da Silva Ramalho e outros.
2. Os réus alegam que estão acampados na área em questão para pressionar o INCRA a desapropriar a terra por interesse genérico e assentar os camponeses.
3. Eles alegam que o autor não cumpriu a função social da propriedade ao destruir a mata nativa e explorar os recursos de forma predatória.
1. O documento é uma resposta a uma ação possessória movida por Ademir Salvalágio contra Paulo Henrique da Silva Ramalho e outros.
2. Os réus alegam que estão acampados na área em questão para pressionar o INCRA a desapropriar a terra por interesse genérico e assentar os camponeses.
3. Eles alegam que o autor não cumpriu a função social da propriedade ao destruir a mata nativa e explorar os recursos de forma predatória.
1. O documento é uma resposta a uma ação possessória movida por Ademir Salvalágio contra Paulo Henrique da Silva Ramalho e outros.
2. Os réus alegam que estão acampados na área em questão para pressionar o INCRA a desapropriar a terra por interesse genérico e assentar os camponeses.
3. Eles alegam que o autor não cumpriu a função social da propriedade ao destruir a mata nativa e explorar os recursos de forma predatória.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA PRIMEIRA
VARA CÍVEL DA COMARCA DE JARU, ESTADO DE RONDONIA.
Proc. 7003946-67.2017.8.22.0003 AÇÃO POSSESSÓRIA Autor – Ademir Salvalágio Réu(s) – Paulo Henrique da Silva Ramalho e outros
PAULO HENRIQUE DA SILVA RAMALHO, brasileiro,
camponês, portador da cédula de identidade RG. 1083832-SESDEC/RO e inscrito no CPF/MF 005805692-75; GILMAR REIS SANTOS, brasileiro, agricultor, portador da cédula de identidade RG. 529295-SSP/PR e inscrito no CPF/MF 569355922-68; JUCELEI DE JESUS, brasileiro, agricultor, portador da cédula de identidade RG. 3911866 –SSP/GO e inscrito no CPF//MF 56443161-87, e os demais camponeses componentes do ACAMPAMENTO FIDEL CASTRO 1 incrustados no TD.ASSUNÇÃO município de Theobroma/RO e comarca de Jarú, Estado de Rondônia relacionados nominalmente junto ao INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA e cadastrados no CAD ÚNICO , residentes e domiciliados na R0000000000000000000 133 – linha 605 – sentido Vale do Anarí, km 48-Travessão 12 – km 12 Lote 119 – Gleba Rio Jarú, nos autos em epígrafe, por seu advogado, in fine assinado, ut instrumento de mandato incluso vem mui respeitosamente ante a presença honrosa de V.Exa. responder a epigrafada possessória , o que faz alegando e requerendo no final o seguinte: 1- Os réus e as famílias acampadas no ACAMPAMENTO MONTE CRISTO localizado em área contígua à da autora se encontram no final da linha 203 municipio de Vale do Paraíso -RO com a finalidade de pressionar o órgão gestor da política agrária nacional , o INCRA Regional a encaminhar o pedido de DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE GENÉRICO da área objeto material da lide, com base na Lei 4.132/62, para realizar no local um ASSENTAMENTO ou permitir a regularização fundiária dos acampados nas parcelas que funcionalizarem a posse, considerando que a autora descumpriu as leis ambientais cortando as árvores castanheiras da mata nativa para transformar em tábuas,caibros, vigas, ripas, enfim industrializou madeiras de Lei cujo corte sempre foi proibido. 2- A ganancia da autora em explorar os recursos naturais da área com fito único e exclusivo de obter lucro é notório e evidente a qualquer um que esteja no local com para observar este lado da propriedade. Descumpriu a função sócio-ambiental da área e a propriedade é meramente documental quando não cumpriu a função ambiental por ter totalmente destruído o meio ambiente. A parte de pastagens também não se observa qualquer cuidado com a preservação do meio ambiente já que a área de mata que era para compensar o desmatamento fui desvastada. 3 – A AUTORA mantém a área meramente para fins de especulação imobiliária tanto que no decorrer destes últimos anos não se preocupou em respeitar a função ambiental da terra e retirou as madeiras cujo corte é proibido no Projeto de Manejo cortando as castanheiras que por Lei é proibido .
4 – Este tipo de propriedade
meramente documental não deve mais subsistir frente ao princípio da função social ambiental da propriedade da qual a funcionalização da posse é um sub-princípio. 5- Os réus estão com as famílias na área e pretendem funcionalizar a posse. 6 – Há que se compreender melhor a evolução do Direito de propriedade no Brasil e entender que o conceito de função social tanto da propriedade como da posse não mais condiz com o conceito antigo de propriedade meramente documental que respaldava no passado a “grilagem” de terras públicas, diga-se INVASÃO DE TERRAS PÚBLICAS em várias modalidades que serviram muito mais para a reconcentração imobiliária como no caso. 7 – O clamor do povo é por um pedaço de terra para nela plantar e sobreviver com os alimentos ali produzidos e não o contrário como no caso onde fica um só em cima de quase 5000 alqueires de terras onde ao longo dos anos não fez mais do que desvastar o meio ambiente degradando-o com pastagens e cortando arvores sementeiras que em qualquer projeto de manejo mesmo naqueles irregulares, diga-se, "frios" como parece acontecer no caso tem que formalmente estar demonstrado a proibição do corte destas árvores. 8 – Areas ocupadas e reconcentradas na região como esta demonstram à evidencia que não cumprem a função social da terra porque provavelmente parte foram desmatadas sem licenciamento ambiental e é fato notório que a propriedade deve reverter à União Federal/INCRA que deve manifestar se tem ou não interesse para cumprir o rigor das prescrições legais do artigo 5 º da Lei 9.469, de 10 de julho de 1997, como já dito na modalidade de DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE GENÉRICO, na conformidade da Lei 4.132/62. 11 – Camponeses grassam por todo País aglomerados em acampametnos que é um fato jurídico e o Poder Público não deve simplesmente transformar em caso de polícia a situação fática de famílias acampadas em busca de um pedaço de terra para dela sobreviver quando os órgãos do Governo Federal como o INCRA e o Programa Terral são muito burocráticos e procrastinam a propalada REFORMA AGRÁRIA, agora 12 – Os camponeses requeridos querem terra para trabalharem e dela tirar seu próprio sustento. 13 – É sabido e consabido que uma das grandes finalidades da POSSE AGRÁRIA é a fixação do homem à terra, o que se faz, basicamente, pelo acesso à propriedade sobre o imóvel quer pelo usucapião, pela legitamação, pela regularização ou pela preferência pela aquisição, pelo usucapião coletivo do artigo 1228, §4º e 5º do Código Civil Brasileiro. 14 – Inegável, todavia, que esta fixação do homem do campo à terra que cultiva também se assegura , e até com mais imediatidade, pelo direito de defesa da posse, acaso ameaçada, turbada ou esbulhada. 15 – A atividade agrária é um complexo de comportamentos que se interpenetram, completam e aperfeiçoam. Não há como imaginar , por exemplo, o cultivo da terra, atividade de produção, sem a necessária complementação com o respeito aos recursos naturais renováveis, ou por meio de ações preservativas e ou conservativas. 16 – Não cumprindo a função social da terra “ o proprietário se sujeita a diversas sanções, numa escala progressiva, a culminar com a caracterização do imóvel objeto do direito de propriedade como latifúndio; que o deixa na linha de fogo da desapropriação por interesse social para finalidade de reforma agrária, transferindo-se a propriedade do mesmo a outrem que tenha mais consciência da verdadeira designação social do bem. Isto para não se falar do usucapião agrário”. 17 – “Os bens de produção – propriedade agrícola não podia ficar , como não ficaram, sujeitos a finalidades estranhas ao seu atributivo específico. Não se admite, no que respeita a este bens, o exercício do direito dominial com o escopo especulativo, ou qualquer outro que venha desfigurar a natureza deste bens substanciais”. Stefaninni, L. Lima. A Propriedade no Direito Agrário, p. 103. 18 – A conclusão é irretorquível A POSSE AGRÁRIA é que legitima a PROPRIEDADE AGRÁRIA. 19 – Em exposições feitas durante o ensino da disciplina DIREITO AGRÁRIO COMPARADO , Román José Duque Corredor mostrou que Direito Agrário põe em relevo a utilização da terra, seja na configuração da propriedade, seja na posse concluindo ser a posse agrária a legitimadora da propriedade – Anotações em aula – Direito Agrário Comparado, Universidade Federal de Goiás , outubro de 1987. 20 – Os documentos juntados com a inicial não se prestam para justificar a função social da posse e quando muito a posse civil que está em desprestígio em relação à POSSE AGRÁRIA garantida pela Constituição Federal. 21 – Vê-se portanto que , sem prejuízo, das disposições preexistentes no Estatuto da Terra, a propriedade se vê exigida, quanto ao desempenho de sua função social, podendo-se dizer que a atividade agrária se impõe como verdadeira necessidade para que a propriedade agrária se veja credora da garantia que a Constituição lhe assegura. 22 – A análise, ainda que rápida, das exigências constitucionais e estatutárias para que a propriedade atinja sua destinação social demonstra que tal é absolutamente impossível sem que sobre o bem imóvel se realize a atividade agrária e esta sem dúvida corporifica a POSSE AGRÁRIA. Daí a afirmação de que a POSSE AGRÁRIA é que dá legitimidade ao direito de propriedade, não sendo verdadeira a recíproca. 23 – Dir-se-ia, então que o direito de propriedade deveria ser abolido? Não. Evidentemente não! 24 – Ele é necessário. Se assim não fosse, não teria a posse sobre o bem imóvel, dentre os seus principais reflexos, estes que são conducentes à aquisição da propriedade plena: o usucapião, a legitimação e regularização da posse e o direito de preferência, e o usucapião coletivo do artigo 1228, § 4º e 5º do Código Civil Brasileiro. 25 – “No sistema agrário registrário vigente no País, a titulação instrumental ainda é referência importante. Todavia, inegável é inescondível é que a propriedade não mais se demonstra defensável em razão do registro do proprietário rural, os sem terra, o governo e igualmente os habitantes das grandes cidades que restam inchadas em virtude do êxodo rural, todos, sem exceção, colaboraram para que em um país gigantesco como o Brasil, e cheio de fazendeiros endividados que querem vender as suas terras, exista um contingente tão grande de miseráveis no campo. Por sinal, nosso país é tão gigantesco que nos permitimos cogitar, inclusive que a existência de alguns latifúndios, desde que produtivos, não seria fator necessariamente impeditivo a que todos tivessem acesso à terra...”. 26 – A citada fonte ao aludir sobre – As invasões de terras e o Direito Penal no item 2 aduz que – “ O direito penal, estático e rígido, há que estar sempre em sintonia com a realidade humana e por isso imutável, bem como os direitos e garantias fundamentais que vão continuamente e aos poucos, se revelando no tempo daí não serem taxativos os direitos e garantias fundamentais elencados em nossa Magna Carta a teor do seu art.5º. § 2º...”. 27 – E é essa a árdua tarefa de nossos Tribunais, ou seja, de adaptar a Lei ordinária à nova realidade constitucional e, também, aos direitos sociais e individuais, revelados na prática, respeitando-se ao mesmo tempo, o primado da segurança jurídica. 28 – Nesse contexto, é de se questionar se a invasão de terras com o objetivo de chamar atenção do Governo para que a sua desapropriação seja efetuada, configuraria algum ilícito penal. 29 – Alípio Silveira cita que Henri de Page ao tratar da chamada interpretação sociológica, afirma que “ a interpretação das leis não deve ser formal, deve ser, antes de tudo , real , humana, e socialmente útil. O entendimento do sentido da função social da propriedade deve ser extraída cientificamente em cotejo com a função social da posse, e o julgamento dos casos que envolvam conflitos fundiários desencadeados pelos movimento sociais multitudinários deve qualificar-se, antes de mais nada, por um amplitude na base de compreensão do FATO JURÍDICO buscando subsidio na jurística sociológica, sociologia jurídica, macro sociologia jurídica, estática e dinâmica social, como facilmente se detecta no conceito excertado da fonte aludida: “ Em fim, os órgãos do Poder Judiciáriao , o MP e os advogados, todos, devem estar atentos a este outro conflito social - o da miséria – que é muito mais profundo e relevante do que as aparentes, só aparentes, violações do Código Penal, parte dos integrantes do MST que invadem fazendas improdutivas, com o único objetivo de pressionar o governo e acelerar a implementação da REFORMA AGRÁRIA , nos limites aqui traçados”. 30 – A Carta Magna ao tratar dos direitos e garantias individuais no capítula 1 – referente aos direitos e deveres individuais e coletivos dispõe no artigo 5º, inciso XXII o seguinte: “ Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à PROPRIEDADE, nos seguintes termos: XXIII – A PROPRIEDADE ATENDERÁ A SUA FUNÇÃO SOCIAL. 31 – No artigo 170, inciso III a Constituição Federal dispõe sobre os princípios gerais da atividade econômica prescreve o seguinte: “ A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna , conforme os ditames da Justiça Social, observando os seguintes princípios: III - FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE. 32 – Em Pluralismo Jurídico – Fundamentos de uma nova cultura do Direito de Antonio Carlos Volkmer – Ed. Alfa Omega com acurada visão crítica e científica sobre a ineficácia instrumental do Poder Judiciário constata às pags. 94 que: “ Mesmo que se reconheça que uma das causas dos conflitos coletivos poder ser encontrada, como foi mencionado anteriormente, na negação ou ausência de Direitos às necessidades vitais, sócio-políticas e culturais, presentemente privilegiar-se-ão conflitos relacionados às necessidades materiais, corporificadas no direito à posse, à moradia, ao solo urbano, e à propriedade agrícola. Deste modo, ainda que seja crescente a Sociedade Brasileira a confluência de conflitos de natureza essencial (saúde, saneamento básico, transporte etc), de teor trabalhista, ecológico e de consumo, nenhum alcança o grau de extensão, intensidade e violência dos conflitos do campo e dos centros urbanos relativamente à propriedade da terra. 33 – No mesmo diapasão segue afirmando que: “ Ressalta-se, por conseguinte, a falência de um modelo jurídico estatal que , através de seu ordenamento positivo (Código Civil e Código de Processo Civil) e de seu órgão jurisdicional de decisão (Poder Judiciário), está limitado a tão somente regulamentar conflitos interindividuais/patrimoniais e não sociais de massa, ou seja, não consegue garantir uma correta regulamentação de tensões coletivas que abrangem o acesso à terra (invasão de terras públicas e privadas improdutivas) e o conseqüente processo de ocupação nas áreas rurais e urbanas. De fato, legislação privada e as políticas legais importadas pelo Estado não conseguiram , até hoje, enfrentar e solucionar adequadamente as agudas questões estruturais da sociedade Brasileira, como a concentração da riqueza nas mãos de poucos, as abissais desigualdades sociais e a crescente exclusão para milhões de pessoas da moradia e da posse da terra. É paradoxal e inconcebível que um dos países de maior extensão territorial do mundo possua como um dos seus cruciais e quase insolúveis problemas os conflitos coletivos de natureza fundiária, causadores de grande parcelas em desuso do território nacional, e uma grande massa construída por milhões de despossuídos sociais dos “sem terra” e dos “sem teto”. 34 – Afirma o conceituado autor que o confronto envolvendo disputa pela posse, uso e distribuição da terra, desenrola-se no contexto de uma estrutura agrária de privilégios e injustiças, assentada na dominação política autoritária e clientelística, nos intentos capitalistas especulativos e discriminadores e na produção do legal comprometimento com os interesses das tradicionais elites agrárias. 35 – Conclui, afirmando que: “ Ora, se todo fundamento deste arcabouço jurídico de teor lógico-formal e liberal –burguês, montado em 1916, para assegurar as condições da aristocracia rural, veio privilegiar, de modo exclusivo, inatacável e absoluto, o direito individual de propriedade, tudo induz a crer que a solução da presente agudização político-social desloca-se para a relevância de um “ novo” Direito, o DIREITO SOCIAL DA POSSE. O aspecto absoleto, estático e excludente das instituições normativas oficiais (tanto a nível da legislação positiva quanto ao Poder Judiciário), que acarreta uma precária eficácia da legalidade dominante e uma profunda crise de legitimidade, abre espaço para os movimentos sociais marginalizados e despossuídos – os “ sem – teto e os sem-terra” – que, sem acesso à justiça oficial (via de regra lenta e onerosa) utilizam-se de práticas jurídicas paralelas dos movimentos sociais definem nos horizontes do que a ordem legal vigente chama de “ilegalidade”, um novo espaço instituinte de cujas relações e rupturas, calcadas no binômio “legal/ ilegal”, emergem direitos igualmente reconhecidos que acabam não só legitimando a “ilegalidade”, mas edificando um “outro Direito” sob formas de legitimação”. 36 – Na aludida fonte citada, Antonio Carlos Volkmer, trata no capítulo denominado “O Espaço da Crise Contemporânea” – A JUSTIÇA NO CAPITALISMO – dos conflitos coletivos no Brasil: algumas experiências como marco histórico-políticos no item 2.3 registra o estudo de 3 situações de conflitos, constando a caracterização do conflito enquanto conflito por solo urbano e conflito pela propriedade da terra, o tipo de resposta do Poder Judiciário aos movimentos sociais e o procedimento adequado que permitem a solução do conflito, cita que: “trata-se de um dos raros casos em que, via de regra, determina a explusão dos invasores. Em maio de l988, o Juiz Victor Sant Anna de Souza Filho, da comarca de Alvorada na grande Porto Alegre, valendo-se de uma interpretação baseada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão ( art. XXXV: “ Quando o governo viola os direitos do povo, a insurreição é, para o povo, o mais sagrado dos Direitos e o mais indispensável dos deveres”), negou o pedido de liminar de reintegração de posse feito pelas empresas proprietárias das 44 unidades dos conjuntos habitacionais de Vila São Carlos e Jardim Porto Alegre. No seu bem fraturado despacho, o Juiz de Alvorada assinalou, com propriedade, que “ (...) milhões de desgraçados brasileiros passam fome, vivendo, uns na mais degradante miséria, os trabalhadores com seus ganhos cada vez mais defasados, sem ter onde morar dignamente, enquanto ows conjuntos habitacionais, construídos com recursos de suas contribuições para FGTS, permanecem desabitados, inconclusos, se deterioram”. Em consequência, entendendo que não houve esbulho possessório, o magistrado indefere a liminar argumentando que “ (...) o Poder Judiciário nesta hora tem que ter sensibilidade, evitando medidas de força que “ (...) povo, em nome do qual se exerce o poder, não se submete ao ordenamento legal, tal o descompasso entre suas aspirações e o Direito”. Reportando-se no aludido estudo da afirmação de Dalmo de Abreu Dallari , em o Brasil formal contra o Brasil justo, o faz nos seguintes termos: “ Na verdade, as lutas sociais dos “sem teto e dos “sem – terras” transcendem aos meros conflitos por direito à propriedade pois abrangem um amplo espectro reivindicatório de direito à vida digna para os “sem teto” na periferia das grandes cidades é o direito de ter com segurança uma moradia, e vida digna para os agricultores “sem terra”, alijados do processo de produção, é o direito de possuir e assegurar uma porção de terra, almejando produzir alimentos para sua sobrevivência. A compreensão do fenômeno social e político das invasões de propriedade urbana e rural, geradora dos mais violentos conflitos de massa em sociedade periférica, deve ser apreciada à luz da privação das necessidades materiais essenciais e da negação absoluta da vida com dignidade. Neste contexto afirma se: “ Esta problemática não passa despercebida para alguns “juristas orgânicos”, com Dalmo de A. Dallari, para quem “ (...) milhões de brasileiros (...) vivem com suas famílias em terras invadidas, nos campos e nas cidades. Seu fundamento é o mais antigo dos direitos (...) é o direito que nasce da necessidade de ter uma família e um abrigo para ela, da necessidade de ter alimento para a sobrevivência do corpo e um mínimo de dignidade na convivência para preservação da condição humana. (...) Existe um direito acima da lei formal e o Brasil já está vivendo situações em que a necessidade faz prevalecer esse direito”. Nilson Marques – em A LUTA DE CLASSE NA QUESTÃO FUNDIÁRIA – afirma que : “ o abandono do Direito Oficial e a intensificação de práticas normativas não-estatais de teor informativo, articulado por meio da pressão e da luta dos novos agentes agregadores de interesses. Igualmente, a reflexão que se pode extrair, tendo em conta as inúmeras experiências histórica-concretas inerentes à realidade brasileira, é a de que a legalidade estatal liberal-individualista não consegue absorver satisfatoriamente os novos conflitos sociais de massa. Por conseqüência, urge pensar num referencial normativo compatível com as condições das sociedades periféricas que se encaminham para o final do século XX. Isso representa a decisiva opção e o estabelecimento de novos conceitos e princípios, de um “outro” paradigma do Direito que não mais leve em consideração a regra abstrata, o título e o registro, mas o fato emergencial, as necessidades e as carências cotidianas. Trata-se, por conseguinte, de definir uma nova legalidade que tenha o seu núcleo central não na concepção abstrata do que se convencionou chamar de “função social da propriedade”, mais na prática real do que seja “função social da posse”. Da Bahia, a voz do emérito Dr.Joaquim Calmon de Passos, em "A QUESTÃO DAS LIMINARES E O PERECIMENTO DO DIREITO" - 1955 - com acurado senso de justiça diz que "Para mim só há um valor, e é este que me comove e que me compromete: o homem. Não acredito no homem sem cara, sem história e sem biografia; não acredito na massa. Conheço pessoa físicas, que tem a consciência nítida de que essa vida é muito curta, aquelas em que há uma exigência muito forte de felicidade e cujo projeto de vida cada qual de nós está comprometido em ferir o menos possível. Um ser precioso, que nasceu e vai morrer, e a respeito do qual nada sbemos, que é um mistério , cuja intimidade, se ele não se abrir para nós não revelar, nunca atingiremos. Só creio nisso. Sou muito bronco para chegar até interesses difusos e coletivos, metas individuais altíssimas, conheço pessoas, criatura em cujo olhos você pode olhar, estar junto, amar, odiar, seja lá o que for." Então, só consigo pensar em Direito comprometido com alguém que é real que não é um conceito, um princípio, e sim uma realidade, o social não é mais do que isso. "O social não é mais do que essa capacidade de termos sensibilidade e percepção do que é comum a essas várias criaturas, cuja dignidade pessoal precisa ser respeitada e protegida". Reiterando em JUSTIÇA E CONFLITO - Os juízes em face dos novos movimentos sociais - José Eduardo Faria - ao tratar no capítulo 1 denominado " Os dilemas judiciários; racionalidade jurídica e conflituosidade social" - no item 1.1 sobre " Os novos movimentos sociais e os conflitos da crise de hegemonia e a crise de legitimação converge para a crise de matriz organizacional do Estado brasileiro num processo que agetou profundamente as estrutura sócio-econômicas do país, gerando acentuadas desiguldades setoriais e regionais em seu interior, intensas alterações em suas hierarquis políticas e uma explosão da litigiosidade que, assumindo inúmeras configurações, terminou por cortar tanto horizontal quando verticalmente as fronteiras da estratificação social. Neste diapasão afirma que : "Eis ai o "momento maquiavélico" no qual emergiu não só um governo , em l987. Trata-se de um tenso período histórico marcado por uma ampla e profunda crise organizacional do Estado, o que fora convertido numa ampla e desarticulada arena de conflitos sociais. Esses conflitos, por serem cada vez menos absorvido pelos canais tradicionais de representação política e pelos mecanismo judiciais em vigor, tal a dificuldade do formalismo jurídico em conjugar mudança e permanência de modo a colocar em perspectiva democrática os fenômenos sócio-econômicos recentes, exigiram soluções institucionais inovadoras e criativas nos domínios da relação entre capital e trabalho, da estrutura fundiária da eliminação a nobreza do equacionamento da violência da reorganização da produção e da vida comunitária etc. O que todos esses problemas entreabrem é o paradoxo entre uma crescente demanda de justiça por parte de eficácia e de operacionalidade dos mecanismos institucionais de gestão das tensões e dos antagonismos de interesses". E continua afirmando o conceituado autor às págs. 21 e segs.do aludido livro - JUSTIÇA E CONFLITO - ipsis litteris que " O que as invasões de terra as ocupações de edifícios públicos ou privados e os acampamentos de protestos passaram a revelar ao longo dos últimos anos da década de oitenta, é neste sentido uma infinidade de relações desprezadas pelas instituições políticas e jurídicas. Preparado para resolver questões inter-individuais, mas nunca as coletivas o direito oficial não alcança os setores mais desfavorecidos e marginalização jurídica que foram condenados esses setores nada mais é do que subproduto de sua marginalização social e economica. Diante da extrema complexidade técnica dos dilemas econômicos inerentes a inflação no déficit público a dívida interna externa por um lado e do alargamento do conceito de participação política no processo de capacitação social do movimento sindical e dos setores populares, por outro, as tensões e os dilemas inerentes as crises de hegemonia e legitimação do regime vinham sendo até o início da "Nova República", em 1985, parcialmente neutralizados mediante formas para legais de negociação, mediação e arbitragem. Apesar da crise organizacional dos Estados, ou por causa dela os novos modos de racionalidade formal dos ordenamentos tradicionais, ao mesmo tempo em que também consolidada substantiva dos novos interesses de classe em confronto".
A proteção à posse se impõe e em sede doutrinária FRANCISCO RAITANE
trazendo a lume lição de Maria Guimaraes, diz em seu livro PRATICA DE PROCESSO CIVIL, 17a Edição - Ed. Saraiva 1990 - que: "Protegendo a posse, a lei protege o trabalho, a economia, previdência. Não foram os proprietários de latifúndios, foram os possuidores ou posseiros,na linguagem do povo que transformaram o sertão inculto de São Paulo, habitado pelos índios e infestado pela maleita em requissimas zonas cafeeiras onde pompeiam as lavouras florescentes dia a dia. Não pode pois o possuidor que contrbui para a riqueza social ficar à mercê do proprietário nativo. A sua posse merece amparo. Considerada afinal entre o direito daquele, mas na reivindicatória onde se lhe facilita a oportunidade para alegar benfeitorias permitir que o proprietário por ter o domínio o expulse sem tir-te nem guar-te é abrir a parta para largos abusos”. (Mario Guimarães). Ao tratar os direitos e garantias individuais no capítulo I referente aos direitos e deveres individuais e coletivos a nossa LEX FUNDAMENTALIS dispõe no artigo 5º , inciso XXII o seguinte: “ Todos sãos iguais perante a Lei sem distinção de qualquer natureza garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida à liberdade, à igualdade, a segurança e a propriedade nos seguintes termos: XXII – A PROPRIEDADE ATENDERA À SUA FUNÇÃO SOCIAL. No artigo 170, inciso III a Constituição Federal dispões sobre princípios gerais da atividade econômica prescreve o seguinte: “ A ordem econômicas fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da JUSTIÇA SOCIAL, observados os seguintes princípios> III – FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE. O eminente presidente do TFR – Min . Fernando da Costa Tourinho Neto em entrevista à revista ISTO É de 10 de maio de 2000 ao justificar a invasão de terras improdutivas no Brasil afirma que: “ A Justiça deve solucionar e não adiar conflitos, não pode mascarar uma solução tem que resolver. O Juiz deve ter opinião porque não há justiça neutra. O Juiz é um cidadão comum decide a favor da classe dominante ou dos oprimidos. O fundamental é a imparcialidade mas juiz neutro não existe, não existirá nem nunca existiu. Ele é fruto de uma sociedade que o influenciou. O mal do nosso juiz começa no ensino preconceituoso orientado para dar guarida a teses de classes dominantes. Veja o exemplo do Códgio Civil, ele é perfeito tecnicamente, mas lá vale mais a propriedade e a riqueza do que a necessidade dos homens no código da classe dominante”. Aduz que muita coisa precisa mudadr. “O Código Civil, por exemplo dá mais valor à propriedade da terra, quando o essencial é a sua posse, e não o documento. O fundamental é a produção de que adianta um latifúndio documentado se o dono nada produz? Essa terra tem que ser ocupada por alguém que vá produzir. Isso é que faz a riqueza do País. O mesmo ocorre com um sem terra para que recebe um lote e nada produz. Ele também tem que deixar para outro assentado que vai plantar”. Sobre o respeito à propriedade o eminente ministro diz que : “ defender a propriedade apenas porque está documentada por alguém, sem posse é crime contra o povo. Se a terra não está produzindo o que adianta? Nada. Esta prejudicando a todos. Mas se o proprietário está trabalhando, a terra sendo utilizada e produzindo adequadamente, não pode ser ocupada. Não defendo a repartição da terra para dividi-la com quem não tem”. Caio Mario da Silva Pereira ao teorizar sobre o ius possessionis ensina que : “é o direito originado da situação jurídica da posse e independe da preexistência de uma relação. Aquele que encontra um objeto e o utiliza , não tem o ius possessionis, embora lhe falte um tiítulo para possuir. O que cultiva uma gleba de terra abandonada tem ius possessionis, embora lhe falte o ius possindendi. Outras vezes aliada a posse a outros requisitos que compõem o usucapião, a Lei converte o ius possessionis em propriedade que a sua turno gera ius possidendi sobre a mesma coisa”. A conceituda jurista Marina Mariani de Macedo Rabahie, ensina que: “ função social da propriedade não pode ser entendida como simples fundamento do Poder de Polícia do Estado. O princípio se relaciona diretamente como evolução do significado do direito de propriedade qualificando-o, transformando-o” . Schmoller em significaticos comentários sobre a propriedade afirma que : “ O direito de propriedade é como que o núcleo e o cventro de todo direito em todo caso de todo DIREITO PRIVADO. Todos os direitos desta natureza e uma parte do direito de família e do direito de sucessão não passam de um anexo do direito de propriedade. Parte considerável do direito das obrigações e do direito penal não representam senão um meio para atingir os fins que são os direitos de propriedade”. Os ROMANOS que apresentam a propriedade em cada uma de suas épocas possuíam inúmeras formas de propriedade, tais como a quiritária, bonitária sobre fundos provinciais dos peregrinos. FALTA DE INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Ficou ausente no tramite processual a intimação do MP, na conformidade do artigo 82, inciso III, do CPC, que inquina de nulidade a LIMINAR DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE expedida por este D.Juízo . Ausente a intervenção, nula é a decisão liminar. Resolução CDH-ONU 1993/77, e seu comentário Geral N.4 – States parties “recognize the right of everyone to an adequate standard of living for himself and his family, including adequate food, clothing and housing, and to the continous improvement of living conditions”. The human right to adequate housing, which is thus derived from the right to an adequate standard of living, is of central importance for the enjoyment of all economic, social and cultural rights. (…) Dispeti the fact that the international community has frequently reaffirmed the importance of full respect for the right to adequate housing, there remains a disturbingle large gap between the standards set in article 11 (1) of the Convenant and the situation prevailing in many parts of the world. ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO – inciso III, art.1º da Constituição Federal. MARIA GURGEL DA COSTA – especialista em direito privado e assessora técnica do Tribunal de Justiça de Alagoas, na Revista do Ministério Público de Alagoas nº 14 – janeiro/junho 2005, dissertando sobre a função social da posse : “ A POSSE COMO ELEMENTO CONCRETIZADOR DOS VALORES E OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 – diz que: “ O discurso levado a efeito pela teoria romanista da propriedade não contempla os objetivos fundamentais da sociedade pós-industrial matizada pela pluralidade e complexidade de seus elementos alcançada pela inversão de valores protagonizada pelo modelo do Estado de Bem Estar Social, em superação do Estado absenteísta burgês”. RICARDO ARONNE , aquilatando a natureza principiológica da função social e apontando a função social da posse como princípio que melhor realiza o telos da função social da propriedade, sem com ela se confundir, reverbera: “ Toca na matéria possessória, com tanta expressividade quanto no âmbito da propriedade, contrato e empresa, o princípio da função social erigido à condição de direito fundamental, indiscutivelmente dotado de eficácia direta e horizontal, bem como norteador vinculante da ordem econômica do Brasil. O princípio da função social da propriedade é densificado pelo princípio da função social da posse, sem descuido da devida autonomia, mas sem desleixo da notável e classicamente reconhecida inter-relação”. LUIZ EDSON FACHIN, rememora a Conferência proferida pelo Professor Roman J. Duque Corredor sobre “La posesión civil e La posesio agrária” no 1º Encontro Internacional de Jus-Agraristas, realizado em maio de 1981, em Belém, diz que: “ Em diversos países, a mera titularidade decaiu em importância em favor do trabalho e realização humanos, na medida em que a posse aliada ao trabalho como matrizes do aproveitamento racional da natureza traduzem expressões naturais da necessidade humana , como mecanismos de satisfação individual e catalizador de vantagens ao bem comum”. Com base num relatório do Programa de Assentamentos Humanos da ONU (HABITAT) o Jornal O GLOBO de 07/10/03 ensaia uma posição das conseqüências oriundas do crescimento desordenado das cidades e do avanço da pobreza no mundo cunhado como “urbanização da pobreza”. Traduz prognóstico escabroso e estarrecedor “o número de pessoas (...) até 2050 estimamos que a população mundial seja de nove bilhões (38%) estarão vivendo em favelas se não fizermos alguma coisa radical para resolver esse problema (...) . É uma bomba relógio. No 2º fórum Urbano Mundial – Barcelona – setembro/2004 – reeditado em Porto Alegre nos dias 24/25 de janeiro de 2005, com a participação de 180 prefeitos e representantes de cidades da Europa, América Latina e África abordando a temática do direito de autodeterminação dos povos de estreita conexão com a questão dos assentamentos humanos nos Comentários Gerais da ONU nº 12 do COMITÊ DOS DIREITOS DO HOMEM asseguram o direito de todo cidadão não serem privados de meios de prover a própria subsitência, implicando no dever dos Estados em criar, mediante seus mecanismos institucionais, o ambiente propício à observância deste direito e de informar à comunidade internacional dos obstáculos à sua realização. SENÃO VEJAMOS : “5.Paragrafh 2 affirms a particular aspecto of the economic content of the right of self-determination, namely the right of peoples, for their own ends, freely to “dispose of their natural weath on resources without prejudice to any obligations arising out of international economic cooperation, based upon the principie of mutual benefit, and international Law. In no case may a people he deprived of its own means of subsistence”. This right entails corresponding duties for all States and the international community. States shoul indicate any factors or difficulties which prevente the free disposal on their natural weath and resources contrary the provisions of the paragrafh and to what extent that affects the enjoyment of other rights set forth in the Convenant . In Comentários Gerais da ONU nº 12 do Comitê dos Direitos do Homen. O Colendo STJ posiciona-se sobre a ausência de esbulho em caso de acampamento de sem terras com o brilhante voto do Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, proferido no julgamento do HC 4399-SP , 96/0008845, 6ª Turma, unânime j. 13/12/2013, afirmando que a luta pela reforma agrária não se confunde com esbulho, 184 usque 191. Evidente essa norma tem destinatário e como “INVOQUE-se a Constituição da República, especificamente o Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira – cujo capítulo II registra como programa a ser cumprido a REFORMA AGRÁRIA (art.destinatário, titular do direito “pelo menos interesse”) à concretização da mencionada reforma. A demora (justificada ou injustificada) da implantação gera reações, nem sempre cativas à extensão da norma jurídica. A conduta da pessoa com interesse na reforma agrária (...) No esbulho possessório, o agente dolosamente, investe contra a propriedade alheia, afim de usufruir um de seus atributos (uso), ou alterar os limites do domínio para enriquecimento sem justa causa. No caso dos autos, ao contrário, diviso pressão social para concretização de um direito (pelo menos interesse). No primeiro caso, o contraste de legalidade compreende aspectos material e formal. No segundo, substancialmente, não há ilícito algum. Formalmente, e só nesse nível, poder-se-á debater o modus faciedi”. (Sem grifos no original). Como disse o Min. Cernicchiaro, a REFORMA AGRÁRIA é um direito constitucional, sendo os trabalhadores rurais em terra os destinatários desse direito. Sua conduta, portanto, é a tentativa de exercício desse direito, não havendo o ânimo de esbulhar para enriquecer em justa causa, mas apenas a defesa do interesse de ter um lugar para morar e obter trabalho e renda através da produção de alimentos. De modo semelhante, decidiu o eminente Juiz da 8ª Vara Federal de Minas Gerais em ação de reintegração de posse proposta pelo DNER contra um grupo de trabalhadores rurais sem terra: “ ... quando a lei regula as ações possessórias, mandando defenestrar os invasores (arts. 920 e segs.do CPC) , ela, COMO TODA LEI – tem em mira o homem comum, o cidadão médio, que , no caso, tendo outras opções de vida e de moradia diante de si, prefere assenhorear-se do que não é dele, por esperteza, conveniência, ou , qualquer outro motivo que mereça a censura da Lei e , sobretudo, repugne a consciência e o sentido do justo que os seres da mesma espécie possuem. Mas este não é o caso no presente processo. Não estamos diante de pessoas comuns, que tivessem recebido do Poder Público razoáveis oportunidades de trabalho e de sobrevivência dignas. Não, os “invasores” (propositadamente entre aspas) definitivamente não são pessoas comuns, como não são milhares de outras que “habitam” as pontes, viadutos e até redes de esgotos de nossas cidades. São párias da sociedade (hoje chamados de excluídos , ontem de descamisados). Resultado perverso do modelo econômico adotado pelo país. Contra este exército de excluídos, o Estado (aqui através do DNER) não pode exigir a rigorosa aplicação da Lei (no caso, reintegração de posse) enquanto ele próprio – o Estado não se desincumbir, pelo menos razoavelmente da tarefa que lhe reservou a Lei Maior. Ou seja, enquanto não construir – ou pelo menos esboçar – “uma sociedade livre, justa e solidária (CF, art.3º, I), erradicando “a pobreza e a marginalização” (art.1º, III), assegurando “a todos existência digna, conforme os ditames da Justiça Social” (artigo 5º, XXIII, e 170, III), dando à família, base da sociedade “especial proteção” (art.226) , e colocando a criança e o adolescente “ a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, maldade e opressão (art.227), enquanto não fizer isso, elevando os marginalizados à condição de cidadãos comuns, pessoas normais, aptas a exercerem sua cidadania,o Estado não tem autoridade para deles exigir – diretamente ou pelo braço da Justiça – o reto cumprimento da Lei”. Com efeito, não poderá o Estado exigir ainda mais paciência e passividade dos trabalhadores rurais enquanto o mesmo não tiver, pelo menos, o esboço de uma política para os pequenos agricultores, de um programa de segurança alimentar para as famílias em situação de indigência (a minoria está nas zonas rurais) e de um plano nacional de reforma agrária voltados para “erradicação da pobreza e da marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”. O PROCESSO NÃO PODE SERVIR PARA AGRAVAMENTO DOS CONFLITOS, MAS SIM PARA O ENCAMINHAMENTO DE SUAS SOLUÇÕES. O concreto enquadramento político do processo conduz à insuficiência da determinação de um escopo da jurisdição e mostra a inadequação de todas as posturas meramente jurídicas. Assim, já segundo a lição de Cândido Rangel Dinamarco (A Instrumentalidade do Processo, 2ª. Ed. São Paulo, RT, 1990). Em relação ao escopo político do processo, destaca-se a proteção da liberdade e limitação do poder. Da mesma maneira como o processo é instrumento para a solução do litígio, fazendo com o Estado afirme seu poder, fazendo justiça, ele também é um instrumento de garantia para as partes interessadas. Se a solução do litígio não é, desde logo, simples e amigável, ele só poderá ser resolvido através do devido processo legal, com ampla instrução probatória. Frente à amplitude e gravidade do litígio ora em tela, há que se privilegiar a ampla participação e mediação dos Poderes constituídos e da sociedade civil. É extremamente importante que haja intensa participação das pessoas nas decisões que são tomadas pelo Estado. No processo civil, é basicamente através do contraditório que se verifica esta participação, assegurando-se as partes a ampla defesa. O reconhecimento da responsabilidade e repercussão social dos despejos, ainda que decorrente de ordens liminarmente concedidas, fez com que em 07/09/1995, o Presidente da República anunciasse que o Governo Federal e a Sociedade Civil elaboraram um PLANO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS.