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B) A pobreza crescente das massas sob o capitalismo (levando ao colapso da família da classe
trabalhadora e ao aumento da homossexualidade).
3. Esta contradição somente pode ser resolvida em uma sociedade onde a liquidação do
desemprego e o constante crescimento do bem-estar material dos trabalhadores promovam
condições em que as pessoas que são normais no sentido sexual possam se casar.
5. A existência desta minoria insignificante não é uma ameaça à sociedade sob a ditadura do
proletariado.
9. A lei de 7 de março é absurda e injusta do ponto de vista da ciência, que provou a existência
de homossexuais inatos e não tem meios a sua disposição para mudar a natureza sexual
dos homossexuais.
A lei recentemente promulgada sobre responsabilidade criminal por sodomia, que foi
confirmada pelo Comitê Central Executivo da URSS em 7 de março deste ano, aparentemente
significa que os homossexuais não podem ser reconhecidos como dignos do título de cidadãos
soviéticos. Consequentemente, devem ser considerados ainda menos dignos de serem
membros do AUCP(b).
Uma vez que tenho interesse pessoal nesta questão, na medida em que sou homossexual,
dirigi esta pergunta a vários dos camaradas da OGPU e do Comissariado do Povo para a
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Justiça, a psiquiatras e ao camarada Borodin, o editor em chefe do jornal onde trabalho .
Tudo o que consegui obter deles foi um certo número de opiniões contraditórias que mostram
que entre esses camaradas não há uma compreensão teórica clara do que pode ter servido de
base para a aprovação de tal lei. O primeiro psiquiatra de quem busquei ajuda duas vezes com
esta questão assegurou-me (depois de verificar isto junto ao Comissariado do Povo para a
Justiça) que se eles são cidadãos honestos ou bons comunistas, seus pacientes podem
organizar suas vidas pessoais como melhor lhes pareça. O camarada Borodin, que disse que
ele pessoalmente tinha uma visão negativa da homossexualidade, ao mesmo tempo declarou
que me considera como um comunista bastante bom, que poderia ser de confiança e que eu
poderia levar minha vida pessoal como eu quisesse. Um pouco antes, quando a prisão de
homossexuais tinha apenas começado, o camarada Borodin estava bastante indisposto em me
ver como um delinquente potencial; ele não me considera um mau comunista, e isto foi
confirmado pelo fato de que me promoveu no trabalho nomeando-me chefe da equipe editorial,
que é a posição de supervisão mais elevada, à exceção dos membros do comitê editorial. Algo
mais tarde, quando a versão de 17 de dezembro da lei já existia, mas antes do decreto de 7 de
março, entrei em contato com a OGPU em conexão com a prisão de certa pessoa com quem
eu tive relações homossexuais. Disseram-me que não havia nada que me incriminasse.
Todas estas declarações produziram a impressão de que os órgãos de justiça soviéticos não
processam a homossexualidade como tal, apenas alguns homossexuais socialmente
perigosos. Se este é realmente o caso, então há necessidade de uma lei geral?
No entanto, por outro lado, depois que a lei foi emitida em 7 de março, eu tive uma conversa na
OGPU na qual me disseram que a lei se aplica estritamente a todos os casos de
homossexualidade que sejam trazidos à luz.
Em relação à falta de claridade que existe nesta matéria, dirijo-me a você na esperança de que
você encontrará tempo para me dar uma resposta.
Em primeiro lugar, gostaria de assinalar que vejo a condição dos homossexuais que são de
origem operária ou mesmo trabalhadores como análoga à condição das mulheres sob o regime
capitalista e das raças de cor que são oprimidas pelo imperialismo. Esta condição também é
similar em muitos aspectos à condição dos judeus sob a ditadura de Hitler, e em geral não é
difícil ver nisto uma analogia com a condição de qualquer camada social submetida à
exploração e perseguição sob domínio capitalista.
Para o segundo tipo, a questão se resolve de forma relativamente simples. Pessoas que se
tornam homossexuais em virtude de sua depravação em geral pertencem à burguesia, vários
de cujos membros tomam este caminho de vida depois de se sentirem saciados com todas as
formas de prazer e perversidade que estão disponíveis nas relações sexuais com mulheres.
Entre aqueles que levam esta forma de vida por considerações econômicas, encontramos
membros da pequena burguesia, do lumpenproletariado e (por mais estranho que possa
parecer) do proletariado. Em consequência da escassez material, particularmente agravada
durante períodos de crise, estas pessoas são forçadas temporariamente a se voltar para este
método de satisfazer seus impulsos sexuais na medida em que a falta de meios lhes priva da
possibilidade de casar ou pelo menos de contratar os serviços de prostitutas. Existem também
aqueles que se tornam homossexuais não para satisfazer seus impulsos, mas para ganhar seu
sustento através da prostituição (este fenômeno se espalhou particularmente na moderna
Alemanha).
Assim como as mulheres da classe burguesa sofrem em grau significativamente menor das
injustiças do regime capitalista (você naturalmente se lembra do que disse Lênin a respeito),
também os homossexuais natos da classe dominante sofrem muito menos da perseguição do
que os homossexuais do meio operário. Deve-se dizer que mesmo dentro da URSS há
condições que complicam as vidas cotidianas dos homossexuais e que frequentemente os
colocam em situação difícil. (Tenho em mente as dificuldades para se encontrar um parceiro
para o ato sexual, na medida em que os homossexuais constituem uma minoria da população,
uma minoria que é forçada a esconder suas verdadeiras inclinações em um grau ou outro).
Naturalmente, a atitude da burguesia para com a questão homossexual é pura hipocrisia. Leis
estritas são causa de poucos incômodos para o homossexual burguês. Quem estiver
familiarizado com a história interna da classe capitalista sabe dos escândalos periódicos que
surgem a este respeito: além do mais, membros da classe dominante envolvidos nestes
assuntos sofrem em grau insignificante. Posso citar um fato pouco conhecido a este respeito.
Vários anos atrás, um dos filhos do Lord e Lady Astor foi condenado por homossexualidade. A
imprensa inglesa e americana se omitiu de informar sobre isto, com a exceção do Morning
Advertiser. Este jornal é de propriedade de fabricantes de cerveja, e era de seu interesse
comprometer Lord e Lady Astor, que tinham agitado pela introdução da proibição. Assim, o fato
da [condenação de Astor] tornou-se conhecido graças às contradições dentro da classe
dominante.
Graças a sua riqueza, a burguesia pode evitar a punição legal que desce com toda a sua
severidade sobre os trabalhadores homossexuais com exceção dos casos em que estes
últimos se prostituíram com membros da classe dominante.
Esta contradição se refletiu no fato de que o fascismo, que empregava o pederasta [Marinus]
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van der Lubbe como arma em sua provocação, ao mesmo tempo em que suprimia
brutalmente o movimento da intelligentsia liberal de “libertação” dos homossexuais, dirigido
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pelo Dr. Magnus Hirschfeld . (Ver o Brown Book, que cita o caso de Hirschfeld como um
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exemplo da barbárie anti-cultural dos fascistas) .
Outro reflexo desta contradição é a figura de André Gide, escritor homossexual francês,
dirigente do movimento antifascista e ardoroso amigo da URSS. O público em geral na França
sabe da homossexualidade de Gide porque ele escreve sobre isto abertamente em seus livros.
E, no entanto, sua autoridade entre as massas como um companheiro de viagem do partido
comunista na França não foi abalada. O fato de Gide ter-se juntado ao movimento
revolucionário não impediu seu crescimento ou o apoio das massas à liderança do partido
comunista. Na minha opinião, isto demonstra que as massas não são intolerantes com os
homossexuais.
Elogiando a “pureza da raça” e os valores familiares, o fascismo adotou uma posição ainda
mais dura contra a homossexualidade do que o governo pré-Hitler. Contudo, porque o fascismo
destrói a família da classe trabalhadora e promove o empobrecimento das massas, ele
estimula essencialmente o desenvolvimento do segundo tipo de homossexualidade que
descrevi – isto é, [a homossexualidade] em casos de necessidade.
Não tinha nenhuma intenção de transformar isto em um problema, de colocar esta questão
teoricamente e de buscar uma opinião definitiva sobre esta questão do Partido. Contudo, no
momento, a própria realidade me obrigou a colocar esta questão, e considero que seja
essencial alcançar um esclarecimento geral sobre este tema.
O camarada Borodin indicou-me que o fato de que eu ser homossexual de forma alguma
diminui meu valor como revolucionário. Ele demonstrou grande confiança em mim, indicando-
me como chefe de redação. Então, ele não me trata como alguém que pode se tornar ou que
foi um criminoso condenado. Ele também me indicou que minha vida pessoal não era algo que
pudesse prejudicar até mesmo no menor grau minha condição de membro do Partido e do
trabalho editorial.
Quando apresentei a ele a questão das detenções, ele mais uma vez (e a OGPU através dele)
assegurou-me que no caso dado as razões [para as detenções] eram de natureza política, e de
forma alguma de natureza social ou moral, embora a variante de 17 de dezembro da lei já
existisse então. Depois de fazer a solicitação correspondente à OGPU, me disseram: “Não há
nada de incriminador contra você”. Quando soube da variante de 17 de dezembro da lei, recebi
respostas de tipo similar de certo número de pessoas. É verdade que o camarada Degot, do
Comissariado do Povo da Justiça, disse que a razão para a lei era que o homossexualismo era
uma forma de degenerescência burguesa.
O especialista em psiquiatria com quem eu falei sobre este tema se recusou a acreditar na
existência de tal lei até que mostrei uma cópia para ele.
Sou capaz de compreender que a alteração das circunstâncias também requer certas
mudanças parciais na legislação, na aplicação de novas medidas para a defesa da sociedade,
mas não posso entender como a alteração das circunstâncias pode nos forçar a mudar um de
[nossos] princípios básicos.
Visitei dois psiquiatras em busca de uma resposta à questão de saber se era possível “curar” a
homossexualidade – talvez você vá achar isto surpreendente. Admito que isto foi oportunismo
de minha parte (desta vez, talvez, isto pode ser perdoado), mas fui motivado a fazer isto pelo
desejo de encontrar algum tipo de solução para este maldito dilema. E menos ainda quero
contradizer a decisão do governo soviético. Eu estava preparado para fazer qualquer coisa
somente para evitar a necessidade de me encontrar em contradição com a lei soviética. Dei
este passo apesar do fato de não saber se os pesquisadores contemporâneos foram bem-
sucedidos em estabelecer a verdadeira natureza da homossexualidade e a possibilidade de
converter homossexuais em heterossexuais – isto é, em pessoas que participam do ato sexual
somente com membros do sexo oposto. Se essa possibilidade fosse um fato estabelecido,
então tudo seria muito mais simples, naturalmente.
Mas, falando francamente, mesmo que esta possibilidade fosse estabelecida, eu ficaria incerto
de todos os modos sobre se seria desejável de fato converter homossexuais em
heterossexuais. Naturalmente, pode haver certas razões políticas que poderiam tornar isto
desejável. Mas imagino que a necessidade de tal procedimento de nivelação deva estar
motivada por razões inusitadamente fortes.
Sem dúvida é desejável que a maioria das pessoas sejam normais no sentido sexual. Temo,
contudo, que isto nunca será o caso. E penso que meus temores são confirmados pelos fatos
da história. Penso que se pode dizer com certeza que a maioria das pessoas deseja e
continuará a desejar uma vida sexual normal. No entanto, duvido muito da possibilidade de que
todas as pessoas se tornem completamente idênticas em termos de suas inclinações sexuais.
Gostaria de lembrar que os homossexuais constituem meros dois por cento da população.
Você também deve se lembrar que entre estes dois por cento havia pessoas excepcionalmente
talentosas como Sócrates, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Shakespeare e Tchaikovsky.
Estes são aqueles sobre os quais sabemos que eram homossexuais. Mas quantas de muitas
outras pessoas talentosas existem entre homossexuais que esconderam suas verdadeiras
inclinações? Não tenho nenhuma intenção de defender a teoria absurda de que os
homossexuais pertencem a uma raça de super-homens, que homossexualidade e genialidade
são sinônimos, que os homossexuais chegarão algum dia, como se alega, a tomar sua
vingança sobre a sociedade por seus sofrimentos unindo-se para conquistar heterossexuais.
“Teorias” desta laia já foram condenadas com desprezo considerável (como merecem ser) por
Engels em sua carta a Marx de 22 de junho de 1869. Nesta carta, Engels escreve sobre
“teoria” proposta por uma camarilha de homossexuais burgueses alemães que tinham formado
sua própria e especial organização. Engels classifica todo esse assunto com o epíteto de
“porcarias” (schweinerei).
Que foi precisamente a “teoria” política da organização, e não a orientação sexual específica
de seus membros, o que despertou a ira de Engels, pode ser visto em sua carta a [Friedrich]
Sorge de 8 de fevereiro de 1890. Engels escreve:
Assumo que certos tipos de talento (em particular, o talento no âmbito das artes) são de forma
surpreendente frequentemente combinados à homossexualidade. Isto deve ser levado em
conta, e me parece que se deve pesar cuidadosamente os riscos da nivelação sexual
precisamente neste ramo da cultura soviética, no momento ainda não possuímos uma
explicação suficientemente científica da homossexualidade.
Quando ambos os psiquiatras a quem visitei foram forçados por minhas insistentes perguntas a
confessar que existem casos de homossexualidade incurável, finalmente estabeleci minha
própria atitude sobre a questão.
Deve-se reconhecer que existe tal coisa de homossexualidade inextirpável – ainda não
encontrei fatos que refutem isto – e, portanto, parece-me, em consequência, que se deve
reconhecer como inevitável a existência desta minoria na sociedade, seja uma sociedade
capitalista ou mesmo uma sociedade socialista. Neste caso, não se pode encontrar qualquer
justificativa em declarar essas pessoas penalmente responsáveis por seus traços distintivos,
traços estes por cuja criação não carregam nenhuma responsabilidade e que são incapazes de
mudar mesmo que quisessem.
Saudações comunistas
Harry Whyte
o
Meu endereço: Bolshoi Afanasievskii, n 5, apt, 11; telefone: 3-34-33
o
Endereço profissional: Petrovskii pereulok, n 8, “Moscow Daily News”, tel: 2-58-71, 3-33-26.
Informação sobre o autor da carta
Whyte, Harry. 27 anos de idade. Nascido em Edimburgo, Escócia. Filho de um pintor da classe
trabalhadora, que recentemente adquiriu seu próprio negócio. Ensino secundário. Profissão:
jornalista. Trabalhou para jornais burgueses até 1932. Trabalhou em seu tempo livre para o
jornal da Sociedade de Amigos da URSS, Rússia Hoje (de 1931 a 1932). Juntou-se ao Partido
Trabalhista Independente em 1927; ao Partido Comunista da Grã-Bretanha em 1931.
Participou da organização de células do partido e organizações distritais em Fleet Street, o
centro da imprensa britânica. Em 1932, foi contratado para a equipe do Moscow News
(Moskovskie Novosti). Em 1933, foi nomeado chefe da equipe editorial deste jornal. Foi
assinalado como o melhor trabalhador de vanguarda. A promoção ao AUCP(b) do Partido
Comunista da Inglaterra [sic] foi adiada até o total expurgo do partido.
NB. Os argumentos expostos na carta anexa foram originalmente formulados por mim em uma
carta ao Camarada Borodin, chefe de redação do Moscow Daily News, na esperança de que
ele dirigiria à atenção do camarada Stalin a questão que abordo. Contudo, ele considerou
impossível fazer isto. Além do assinalado na presente carta, a carta endereçada ao camarada
Borodin também contém certos fatos que me preocupam pessoalmente e que não têm, em
geral, grande incidência sobre a questão em consideração, mas que, no entanto, considerei
necessário trazer a sua atenção. Uma cópia desta carta foi apresentada à OGPU a seu pedido,
na medida em que informei a um camarada da OGPU sobre esta carta.
AP RF [Arquivo do Presidente da Federação Russa], f. 3, op. 57, d. 37, I. 29-45; cópia
notariada.