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AS PRATICAS PROFISSIONAIS
E OS MODELOS
'DE ENFERMAGEM
JOÃO MANUEL GALHANAS MENDES
Prof. Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de S. João de Deus - Évora

com o modelo biomédico e com


RESUMO: os modelos de enfermagem.
Recorremos a uma breve descri-
ção da evolução do papel sócio-
este artigo analisam-se profissional da enfermeira no
as práticas profissio- contexto prestação de cuidados,
nais no exercício de caracterizámos os modelos refe-
enfermagem e estabe- ridos estabelecendo a ligação
lece-se a sua ligação com as práticas profissionais.

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AS PRÁTICAS PROFISSIONAIS E OS NlODELOS DE ENFERNlAGENl

Tendo em consideração a movimento de profissional iza- prescrito pelas regras conven-


actual tendência das práticas ção daprofissão de enfermeira tuais, que ditam as condutas e
profissionais, torna-se importan- (COLLlERE, 1989). os comportamentos da mulher
te incentivar a análise crítica Desde os primeiros tempos consagrada;
dessas mesmas práticas pelos que a prática dos cuidados era
seus actores. totalmente exercida por mulhe- - A identificação da prática de
res, daí o peso da imagem femi- cuidados com a mulher auxili-
nina que sempre acompanhou e ar do médico, do princípio do
ainda hoje acompanha o exerci- séc. XX até aos anos sessenta.

1. A EVOLUÇÃO cio da enfermagem (COLLlERE


1989; SIMEAO 1990).
O papel de Enfermeira ao lai-
cizar-se, influenciado pelo
DO PAPEL SOCIO- É uti Iizado frequentemente desenvolvimento da técnica
nas produções escritas sobre reveste-se de dois aspectos: o
-PROFISSIONAL esta área de conhecimentos o papel moral e o papel técnico.
DA ENFERMEIRA termo enfermeira quando se Quer a formação, quer o reco-
refere o profissional de enferma- nhecimento jurídico da activi-
A enfermagem continua a gem independentemente do dade centra na pessoa da
desempenhar uma função social sexo, por influência da história enfermeira a definição da pró-
de primordial importância na desta profissão e por tratar-se pria profissão.
área da saúde, função que ao ainda hoje de um grupo profis-
longo dos anos se veio consol i- sional predominantemente Segundo COLLlERE (1989)
dando e diferenciando como feminino (RIBEIRO, 1995). os efeitos das descobertas do
resultado de uma actividade Para COLLlERE (1989) consi- fim do séc. XIX, no domínio da
que tem trazido grandes benefí- dera-se necessário interrogar a física e da química, ao aplica-
cios ao homem nos momentos historia, e em particular a histó- rem-se à medicina permitem a
mais difíceis da existência da ria das mulheres que prestam evolução desta em processos
humanidade. As grandes diver- cuidados, para se compreender mais complexos de diagnosticar
gências de pensamento sobre a prevalência do papel da enfer- e de tratar as doenças. Foi a
aquilo que é a essência da práti- meira no acto de prestação de partir daqui que a concepção
ca profissional, são o resultado cuidados de enfermagem. dos cuidados se modificou radi-
das circunstâncias que têm É a partir da história das prá- calmente, dada a necessidade
acompanhado a evolução desta ticas de cuidados, vividas e dos médicos passarem a delegar
profissão ao longo da história transmitidas pelas mulheres que algumas tarefas que habitual-
da humanidade. E uma activida- se construiu o papel social de mente executavam. A delega-
de hereditária de um passado cuidar. Ao longo dos tempos ção dessas tarefas caíu na enfer-
cheio de trad ições, regras encontramos três grandes meira que adquire a partir dessa
morais, deveres, representações modos de identificação do altura o papel de auxiliar do
e rituais que emerge hoje envol- papel da mulher que presta cui- médico.
ta num processo de simbiose da dados e que constituem três Começou assim a despertar
tradição e da modernidade, grandes marcos para o estudo um novo modelo (COLLlERE,
onde os seus actores viveram e da evolução das práticas profis- 1989), o de auxiliar de médico,
continuam a viver experiências sionais (COLLlERE, 1989): preparando o material necessá-
únicas de práticas profissionais. rio à prática médica, asseguran-
Este reencontro de tradição num -Identificação da prática de do os cuidados prescritos e as
contexto de modern idade, cuidados com a mulher, des- tarefas delegadas e assim foi a
assim como o papel cognitivo de os tempos mais recuados pouco e pouco entrando em
das dinâmicas de recriação e de da história da humanidade, contacto com o conhecimento
reconstrução das representações até à idade média, na socieda- médico.
das práticas profissionais, origi- de ocidental. O papel seria a Não se abandonou no
nam concepções diferentes expressão das práticas de cui- entanto o modelo antigo, vindo
sobre o efectivo papel da enfer- dados elaboradas a partir da da mulher consagrada, assistin-
meira na sociedade actual. fecundidade e moldadas pela do-se no entanto à coexistência
A história da enfermagem herança cu Itu ral da mu Iher dos dois modelos. A prática de
faz parte integrante da história que ajuda; enfermagem passa a emergir
das sociedades ao longo dos através de duas fontes que estão
tempos; contudo, foi com a for- - Identificação da prática de cui- em interacção recíproca a que
mação em Escolas de Enfer- dados com a mulher consagra- COLLlERE (1989) chama uma
magem desde 1878 que a enfer- da, desde a idade média até dupla filiação: a filiação con-
meira se tornou o pivot do ao fim do séc. XIX. O papel era ventual e a filiação médica.

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AS PRÁTICAS PROFISSIONAIS E OS .N\ODELOS DE ENFERNlAGE.N\

Durante todo este percurso na, universo prestigioso que ceptuais que nos dão indicações
na prática da enfermagem, che- para o leigo conserva o seu muito precisas sobre os concei-
gámos ao mome,nto em que mistério". tos que caracterizam a enferma-
segundo COLLlERE (1989), Foi neste contexto da história gem (cuidados de enfermagem,
emergem duas ideologias distin- da enfermagem que surgiu a pessoa, saúde e ambiente),
tas que serviram de base às aderência das enfermeiras ao assim como as relações que se
questões relacionadas com a modelo bio-médico, dado que estabelecem entre eles porque
identidade profissional; estas rapidamente começaram a isolados não são suficientes para
- a ideologia que se inspira nas desejar um modelo de identifi- caracterizar e esclarecer a con-
motivações profissionais, for- cação muito próximo do mode- tribuição da enfermeira nos çui-
temente ligadas a uma con- lo médico. dados de saúde.
cepção idealizada e baseada Refere no entanto RI BEIRO
em valores tais como voca- (1995), que, de Nightingale a
ção, dever, dedicação, cari- Henderson, a busca da especifi-
nho, caridade. Num estudo de
1967 em que COLLI ERE se
cidade do conteúdo da enfer-
magem sempre atravessou duas 2. os MODELOS
baseou para diferenciar as vertentes essenciais, uma relaci- CONCEPTUAIS
onada com a necessidade de
ideologias refere-se que nesta
um conhecimento e saber técni-
DE ENFERMAGEM
época um terço das enfermei-
ras diz ter escolhido esta pro- cos próprios e a outra com a
Os modelos, segundo STEELE
fissão por ideal. Atraída pela exigência de competências rela-
(1992) podem definir-se como
beleza moral desta actividade cionais, ti das como essenciais:
esquemas estruturais compostos
ou por uma vocação; uma atitude de ajuda e substi-
por conceitos organizados e
tuição do utente.
- a ideologia que deriva da tec- relacionados; são "representaçõ-
nicidade, que se encontra Pensamos ser na junção des- es simbólicas que mostram os
ligada às circunstâncias do tas duas componentes que se aspectos mais simplificados de
desempenho profissional e ao projecta uma prática profissio- um conceito ou de conceitos
crescente interesse por con- nal com autonomia para que o considerados relevantes para a
textos onde os cuidados assu- contributo social e económico medição dos resultados específi-
dos cuidados de enfermagem cos de uma disciplina".
mem grande complexidade
seja relevante para a sociedade. Para PEARSON e VAUG-
como por exemplo cuidados
intensivos, urgências hospita- Defende COLLIERE (1989) HAN (1992) um modelo de
lares e outros. A enfermeira que a chave da evolução da enfermagem é "uma imagem ou
assume-se neste campo como profissão parece ser a clarifica- representação do que a enfer-
uma profissional que domina ção da identidade dos cuidados magem é na realidade, repre-
cada vez mais o corpo de de enfermagem, não só pelo senta a verdadei ra mercadoria
conhecimentos próprios da período do que o enfermeiro é, que é fornecida ao cliente".
medicina. "A ideologia que deve fazer ou se deve tornar, Nem todas as concepções
vem do aspecto técnico do mas principalmente pela identi- s ão modelos conceptuais
ofício representa uma das ficação da natureza, a razão de (KEROUAC, (1994), porque
mais importantes fontes de ser, a significação, a estimativa pelo facto de qualquer enfer-
satisfação". Para a enfermeira social e económica da presta- meira ter uma concepção mais
não importa apenas o saber ção de cuidados oferecida aos ou menos clara do serviço que
fazer, o que lhe agrada é tam- uti Iizadores. presta, não se pode afirmar que
bém utilizar completamente Vários autores de enferma- tenha constituído um modelo
os conhecimentos aprendidos gem como OREM (1971), HEN- conceptual. Foi a necessidade
na escola e acompanhar os DERSON (1969); ROPER (1987) de clarificar a especificidade
doentes que necessitam de entre outros, apontam para dife- dos desempenhos profissionais
muitos cuidados e vigilância. rentes concepções sobre a que levou algumas enfermeiras,
Agrada-lhe acompanhar o enfermagem como formas dife- sobretudo americanas, a elabo-
médico na visita porque assim rentes de conceber um serviço rar modelos conceptuais para a
pode compreender melhor a específico que as enfermeiras profissão.
afecção de que o doente prestam à sociedade. Estes modelos servem de
sofre. A enfermeira "afirma-se Refere KÉROUAC (1994) que guia à prática, à formação, à
assim como uma pessoa qua- quando uma concepção deste investigação e à gestão dos cui-
lificada, que domina o seu tra- tipo é completa e explícita é dadosdeenfurmagem.
balho e que é iniciada numa chamada de modelo con- Segundo ADAM (1994),
ciência complexa, a medici- ceptual. São os modelos con- considera-se modelo con-

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AS PRÁTICAS PROFISS10I'&AIS E OS N'lODELOS DE ENFERNlA.GENl

ceptual sempre que se verifique - o ser humano é um ser bioló-


uma concepção de enfermagem
completa, isto é, se engloba
3. O OOELO gico constituído por partes;

todos os elementos essenciais a BIO-MÉDICO - a pessoa é considerada como


um sujeito passivo no proces-
um modelo conceptual e expli- so de cuidar, não sendo de
cita se tudo estiver enunciado São vários os autores que se
têm pronunciado sobre o mode- forma alguma estimulada a
de modo formal, contudo qual- sua participação;
quer modelo conceptual só é lo biomédico (COLLlERE, 1989;
útil à disciplina para a qual foi PEARSON e VAUGHAN 1992) - a homeostasia biológica é
concebido. Esta mesma autora como o modelo que tem guiado igual a saúde, pelo que as
citando JOHNSON a partir de ao longo dos tempos o exercí- alterações na homeostasia
(RIEHL e ROY, 1980), refere que cio da enfermagem, e como biológica são sinónimo de
as componentes essenciais de sendo tradicionalmente a base doença;
um modelo conceptual são: "Os do exercício da medicina no
- A intervenção profissional está
postulados que sustentam o mundo ocidental nos últimos
de acordo com o diagnóstico
todo, os valores que justificam o cem anos. Neste modelo, o
médico ou com rotinas e nor-
todo, os elementos que são: o homem é considerado apenas
mas da instituição;
objectivo (ideal e delimitado), o um ser biológico composto por
utente, o papel profissional, a células que formam os tecidos e - o critério do sucesso dos cui-
origem da dificuldade sentida estes formam os órgãos que por dados é a cura, privilegiando-
pelo utente, a intervenção do sua vez vão formar os sistemas. se o cumprimento das tarefas
profissional e as consequências Os sistemas devem comunicar e em detrimento da comunica-
da actividade profissional". interagir de forma a existir har- ção;
monia e equilíbrio, um estado
- a pessoa é como uma máqui-
chamado homeostasia. A
na, existindo a necessidade de
homeostasia biológica é consi-
diversos especialistas para
derada como sendo a saúde.
reparar as partes da máquina.
Apesar da profissão de enfer-
magem ter desde sempre os - são valorizados os aspectos
seus próprios valores a subordi- objectivos da situação dos
nação ao modelo bio-médico, utentes e são desvalorizados
em que a cura é a qualidade os aspectos subjectivos e os
máxima, tem norteado não só a seus sentimentos face às situa-
formação dos enfermeiros como ções que estes estão a viver.
a organização e a prestação de
cuidados. Este modelo reducionista
Segundo PEARSON e repercute-se no aparecimento
VAUGHAN (1992), alguns tra- de profissionais especializados
balhos de investigação em no tratamento de diferentes par-
enfermagem relatam que nesta tes do corpo doente. Quanto às
perspectiva as enfermeiras con- repercussões deste modelo na
tinuam a "considerar os doentes prática profissional verifica-se,
como seres físicos, com um que é dado ênfase aos cuidados
papel passivo no processo de físicos, às prescrições médicas e
cuidados, dando pouca atenção à rotinização do trabalho, exis-
às características mais latas da tindo quase sempre nas enfer-
natureza humana. Sugerem ain- meiras a preocupação de deixa-
da que os objectivos de enfer- rem as rotinas de cada turno
magem são frequentemente vis- concluídas, e são muito valori-
tos como dirigidos para a cura". zadas as enfermeiras que conse-
Existem vários modelos con- Diversos autores (PEARSON guem deixar as tarefas concluí-
ceptuais descritos; no entanto, é e VAUGHAN, 1992; RIBEIRO, das antes da passagem do turno.
nos postulados que se verifica 1995) afirmam que o modelo
Neste modelo, a intervenção do
alguma divergência nas diversas bio-médico tem as seguintes
profissional é norteada pelo
concepções existindo no entan- características:
diagnóstico e tratamento da
to, uma concordância nos valo- - o objectivo da actividade profis- doença sendo o papel principal
res assim como na maior parte sional centra-se no diagnóstico e da enfermeira a execução exac-
dos seus elementos (ADAM, no tratamento tentando atingir-se ta da prescrição médica. Dado
1994). um objectivo final "a cura"; que este modelo se centra sobre

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AS PRÁTICAS PROFISSIONAIS E OS MODELOS DE ENFERMAGEM

as pessoas como seres físicos, A divisão do utente dos ser- meira e o sentimento de mal
também as enfermeiras que o viços de saúde em aparelhos e estar instalado na profissão,
seguem centram a sua activida- órgãos tem resultado num cada sobretudo a partir de meados do
de nas necessidades físicas do vez maior número de especiali- séc. XX e mais concretamente a
doente. zações (RIBEIRO, 1995) o que partir dos anos 60, têm levado
Para PEARSON e VAUGHAN entre nós se tem reflectido nos alguns autores (COLLlERE, 1989;
(1992) as enfermeiras que sucessivos currículos dos Cursos ADAM, 1982; MARRINER,
seguem as orientações deste de Enfermagem e continua a 1989; RIBEIRO, 1995, entre
modelo, valorizam acima de verificar-se nos actuais Cursos outros), a produzir reflexões
tudo a realização das tarefas visí- Superiores de Enfermagem, sobre a enfermagem e sobre a
veis associadas a cuidados físi- assim como nos Cursos de necessidade de se seguirem
cos, às rotinas e pouco ou Especialização em Enfermagem, modelos orientadores para a prá-
nenhum tempo é deixado para os correndo o risco de se poder vir tica, formação e investigação.
aspectos personalizados dos cui- também a verificar nos Cursos
dados. Todos os autores que se de Estudos Superiores Especia-
referem a este modelo lizados em Enfermagem, já que
(COLLlERE, 1989; WATSON, alguns continuam a adoptar o
1989; PEARSON e VAUGHAN, nome de especialidades médi-
1992) apontam como meta privi- cas (Enfermagem médico-cirúr-
legiada a cura da doença e por gica, Enfermagem obstétrica,
isso as enfermeiras que nele se Enfermagem pediátrica etc.).
baseiam também procuram esse O modelo bio-médico tem
resultado. As enfermeiras que tra- sido ultimamente alvo de críti-
balham em unidades onde os cas dos enfermeiros que têm
doentes não podem recuperar ou reflectido sobre enfermagem
restabelecer-se completamente (RIBEIRO, 1995; WATSON,
como sejam as unidades de inter- 1989; COLLlERE, 1989) entre
namento de doentes do foro psi- outros, propondo-se um aban-
quiátrico, em unidades de defici- dono deste modelo na prática
entes físicos, ou com pessoas que profissional e o encaminhamen-
se encontram perante as situaçõ- to para modelos próprios de
es actuais de doença para a qual enfermagem que valorizem a
não se conhece a cura, confron- intervenção profissional orienta-
tam-se permanentemente com a da para o cuidar.
incapacidade de conseguirem O apareçimento de novas
obter resultados positivos a partir doenças, como seja a SI DA, Estes modelos, denominados
dos cuidados que julgam ade- onde a cura ainda não é possí- modelos de enfermagem, apoiam-
quados para a cura. vel e uma nova estrutura da se em teorias sobretudo oriundas
A organização da prática dos população imposta pelo aumen- das ciências sociais e humanas
cu idados nesta perspectiva to da esperança de vida, trouxe- (RIBEIRO, 1995) e têm em comum
reflecte o papel de auxiliar do ram novos problemas a que o uma perspectiva de cuidados cen-
médico, pois a actividade profis- modelo biomédico não respon- trada na pessoa como sujeito activo
sional assenta em cumprimento de (RIBEIRO, 1995). Afirma desses mesmos cuidados e uma
de prescrições, rotinas estandar- mesmo esta autora que nestas relação de parceria entre quem
dizadas e relacionadas com o circunstâncias "o cuidar é um presta e quem recebe cu idados
diagnóstico feito pelo médico, imperativo imposto pela falên- (COLLlERE,1989).
sendo a importância desta activi- cia do tratar devendo estar pre- Todos os modelos em qual-
dade profissional centrada no sente ao longo do tratamento". quer disciplina têm a sua ori-
cumprimento das prescrições gem em teorias e conceitos. Três
médicas. Os cuidados de enfer- grandes teorias são reconheci-
magem segundo STUSSI (1985) das como sendo relevantes para
ficam reduzidos a uma série de a enfermagem (PEARSON e
actividades e de tarefas que
"indiciam que os profissionais de
4. os MODELOS DE VAUGHAN, 1992): a teoria dos
sistemas, a teoria do desenvolvi-
enfermagem perderam a noção
ENFERMAGEM mento e a teoria da interacção.
do seu papel como auxiliares da Alguns modelos centram-se
pessoa ou do grupo social e A análise das práticas profis- principalmente sobre uma des-
mesmo da concepção do sionais na tentativa de clarifica- tas teorias, alguns associam
homem como ser humano" . ção do papel social da enfer- duas delas ou todas as três, mas

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AS PRÁTICAS PROFISSIONAIS E OS NlODELOS DE ENFERNlAGENl

todos os modelos incluem em si características: "a unicidade do referida por PEARSON e VAUG-
a essência de todas elas, de indivíduo, o significado e a fina- HAN (1992), quando defendem
uma forma ou de outra. lidade das vidas humanas com que "todos os doentes deviam
Apesar de cada modelo de prioridade sobre as verdades possuir a liberdade de identifi-
enfermagem estar mais Iigado a relativas a todo o universo e ao car as suas próprias necessida-
esta ou àquela teoria, existe no seu funcionamento, e a liberda- des e de decidir como estas
entanto uma perspectiva mais de do indivíduo poder escolher". deveriam ser satisfeitas".
ou menos uniforme que assenta Para o existencialismo esta é a O conceito de autonomia
na visão holística da pessoa, na característica humana de maior não pode no entanto ser inter-
visão humanista da pessoa, na valor, dado que ao indivíduo é pretado de uma forma tão sim-
autonomia de doentes e clientes reconhecida a liberdade para plificada, dado que na prática
e na necessidade de se estabele- poder dirigir a sua própria vida, da prestação dê cuidados a falta
cer uma relação produtiva e escolher os seus pontos de vista de informação dos utentes, a
terapêutica entre os que pres- e comportamentos. situação de saúde ou a proble-
tam cu idados de enfermagem e O existencialismo humanista mática contextual da situação
aqueles a quem são prestados é definido por BEVIS (1978) que poderão estar a viver
(PEARSON e VAUGHAN, como a natural filosofia rnatura- podem ser de tal forma comple-
1992). No entanto, são vários os cional da enfermagem. De facto xas que o utente tem por vezes
autores que apontam para que existem, dentro da filosofia do impedimentos para o exercício
os conceitos chave dos modelos existencialismo hurnanista, mui- dessa mesma autonomia.
sejam: os conceito de pessoa, tas ideias que as enfermeiras Relativamente à problemáti-
de saúde, de ambiente e de debatem actualmente, tais ca da autonomia e da relação
enfermagem. como o valor do ser humano, a entre prestador e receptor de
Alguns dos modelos podem sua unicidade como indivíduo, cuidados (PEARSON e VAUG-
classificar-se segundo o seu a qualidade de vida e a liberda- HAN (1992) referem que a mai-
principal centro de referência de de escolha. or parte dos modelos de enfer-
teórico; a maioria deles em Uma das características da magem preconizam que se deve
representação da complexidade maioria dos modelos de enfer- dar aos utentes o poder de deci-
da enfermagem, incluem ele- magem é a crença de que os direm eles próprios como que-
mentos teóricos que predomi- clientes ou doentes são indiví- rem ser tratados, o que pode ter
nam noutros. Em quase todos duos que têm o direito de ser como consequência o utente
aparecem a i nteracção, o envolvidos nas tomadas de escolher certas maneiras espe-
desenvolvimento, o auto-cuida- decisão esclarecidas sobre si ciais de perfazer as actividades
do, o stress e a adaptação. mesmo e sobre o seu futuro. de vida diária ou de decidir dar
As duas correntes de pensa- Esta crença é frequentemente a responsabilidade das tomadas
mento que estão na base dos chamada de autonomia do indi- de decisão à enfermeira, porque
modelos de enfermagem são o víduo. É desta forma que os não se sente bem e está incapaz
holismo e o humanismo (PEAR- indivíduos têm um papel activo de decidir por si mesmo. Esta
SON e VAUGHAN (1992): o no processo de cu idados. Para última ideia torna-se necessário
hol ismo refere-se ao estudo do isso é necessário que estejam e importante ser valorizada,
organismo como um todo, ou informados sobre si e sobre o porque dar autonomia ao doen-
de sistemas completos. seu futuro e que sejam envolvi- te não significa necessariamente
Subjacentes à visão holística da dos efectivamente nas tomadas que ele seja obrigado a tomar
pessoa existem duas premissas de decisão, dentro do limite das sempre decisões, mas significa
ou crenças básicas: "O indiví- suas competências. apenas que tem o poder sufici-
duo reage sempre como um A crença na autonomia do ente para escolher se quer deci-
todo unificado; o indivíduo, doente/cliente, inerente a mui- dir ele mesmo ou permitir que
como um todo, é diferente de, e tos modelos de enfermagem, os outros decidam por ele.
mais do que a soma das partes". baseia-se no facto de que, se a Verificámos as caracteristicas
PEARSON e VAUHGAN responsabilidade pela vida sã e principais dos modelos de
(1992) associam de forma parti- pelos cu idados de saúde fôr enfermagem, vejamos então
cular o humanismo ao existen- dada ao indivíduo em questão e como se podem estes classificar.
cialismo, quando afirmam que não ao profissional, a saúde e a Existem várias classificações
"a corrente filosófica humanista recuperação têm maior probabi- que derivam essencialmente das
assenta no valor do ser humano, lidade de ocorrer (PEARSON e teorias em que os modelos se
na existência e na qualidade VAUGHAN,1992). apoiam para a explicitação dos
dessa existência". O existencia- Do que foi exposto é lógico seus conceitos chave (homem,
lismo dá primazia ao ser huma- que uma conclusão terá que saúde, ambiente e enfermagem)
no individual e apresenta três sobressair, conclusão que é e das relações entre estes.

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AS PRÁTICAS PROFiSSIONAIS E OS Nt.ODELOS DE ENFERN'lAGENt.

Segundo MARRINER (1989), disciplina de enfermagem sujeito dos cuidados e a enfer-


em Modelos y teorías de enfer- segundo seis escolas: meira assumem uma primordial
mería, podemos referir a seguin- importância no contexto dos
te classificação, para as várias - Escola das necessidades cuidados de enfermagem.
correntes de teorias ou modelos (Virginia Henderson, Doro- Referimos o que caracteriza
de enfermagem, assim como as thea Orem e Faye Abdellah): essencialmente os modelos de
autoras que as integram: - Escola da interacção (Hilde- enfermagem e sobretudo aque-
gard Peplau, Ida Orlando, les aspectos muito semelhantes
- Centradas na corrente huma- josephine Paterson e Loretta que os torna modelos de cuidar.
nista: Virgínia Henderson, Zderad, Ernestine Wieden-
Dorothea Orem, Evelyn bach, Imogene King e joyce
Adam, jean Watson, Rose- Travelbee);
marie Parse entre outras; - Escola dos efeitos desejados 5.AS PRÁTiCAS
(Callista Roy, Lydia Hall,
- Centradas nas relações inter-
Dorothy johnson, Betty
PROFISSIONAIS
pessoais: Hildegard Peplau,
Ida Orlando, Imogene King Neuman e Myra Levine): COMO OBJECTO
entre outras; - Escola da promoção da saúde DE ESTUDO
(Moyra Allen):
- Centradas na teoria dos siste-
- Escola do ser humano unitário A análise das práticas profis-
mas: Callista Roy, Dorothy
(Martha Rogers; Rosemarie sionais por diferentes autores
johnson e Betty Neuman;
Parse e Margaret Newman); revela que, desde há alguns
- Centradas na teoria dos cam- anos e na actualidade, o papel
- Escola do «caring» (Jean
pos de energia: Myra Levine, do enfermeiro não reune o con-
Watson, Madeleine Leininger).
Martha Rogers, joyce senso no interior da profissão,
Fitzpatrich e Margareth A. de tal forma que ADAM (1982),
Para RIBEIRO (1995), a pro-
Newman. referindo-se à função social da
liferação de teorias e modelos
enfermeira, aponta para uma
de enfermagem são "um sinto-
divergência de opiniões sobre a
ma de uma fase pré-paradigmá-
PEARSON e VAUGHAN enfermagem nos meios profis-
tica em que se evidencia a von-
(1992) no seu livro Modelos para sionais, onde esta é vista como
tade de criar escolas de
o exercício da enfermagem, refe- uma profissão autónoma ou
pensamento no âmbito da disci-
rem uma classificação dos vários poeticamente descrita como as
plina de enfermagem, factor
modelos segundo os seus autores: mãos do médico.
importante para a afirmação da
enfermagem como profissão Porque esta nossa análise
- Modelo de enfermagem de tem como orientação as práticas
com um corpo próprio de
actividades de vida (Roper, profissionais e os modelos de
conhecimentos".
Logan e Tierney, 1980); enfermagem, procurámos
Nas várias abordagens apre-
sentadas pelos vários modelos de alguns estudos que identifica-
- Modelo de enfermagem de
cuidar, a acção da enfermeira é ram formas diferentes de posici-
auto-cu idado (Dorothea
orientada de modos ligeiramente onamento dos enfermei ros
Orem, 1980);
diferentes, tendo em conta sobre- perante a enfermagem.
- Modelo de enfermagem de tudo as teorias de suporte dos As conclusões a que vários
adaptação (Calista Roy, 1960); próprios modelos, mas sempre autores chegaram sobre as
tendo em conta as necessidades diversas perspectivas de visão
- Modelo de enfermagem de da profissão (GANDARA e
do utente e os problemas decor-
sistema de cuidados de saúde
rentes do seu desequilíbrio ou LOPES, 1992; ALBERDI CAS-
(Betty Neuman, 1981); TELL, 1988; BASTO, 1991 e
instabilidade e as dificuldades da
- Modelo de enfermagem de sua adaptação a situações de FRADE, 1995), apontam para
interacção (King, 1971); stress (RIBEIRO, 1995). que a expectativa do que é ser
Todos os modelos apontam, enfermeira, do que são cuida-
- Modelo de enfermagem de no entanto, para intervenções dos de enfermagem e do que
desenvolvimento (Peplau, individualizadas da enfermeira, são os contextos profissionais,
1969) centradas na pessoa que recebe não sejam vistos de uma forma
cuidados e nas suas necessida- uniforme no interior do grupo
des, em que o receptor de cui- profissional e existam mesmo
KÉROUAC (1994), em La dados é visto numa perspectiva divergências significativas na
pensée intirmiêre, refere as prin- holística e como sujeito activo e concepção das práticas profis-
cipais concepções actuais da em que as relações entre o sionais.

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AS PRÁTICAS PROFISSIONAIS E OS IV\ODELOS DE ENFERIV\AGEIV\

GÂNDARA e LOPES (1992) magem na técnica e numa provavelmente num determina-


descrevem o posicionamento grande perícia; do espaço e num determinado
dos enfermeiros face à profissão - O enfermeiro que se preocupa tempo, dividido por turnos
em três categorias, pelo facto de em desempenhar somente (manhã, tarde, noite).
não existir uma única visão da tarefas".
profissão: Uma situação muito seme-
Emergem desta classificação lhante foi encontrada por BAS-
- O enfermeiro que enfatiza o formas distintas de conceber o TO (199n quando numa refe-
cuidar, pondo a tónica dos papel da enfermeira na prática rência à situação do nosso país,
cuidados na interacção; profissional: um papel relacio- no que se refere ao modo como
- O enfermeiro hipertecnicista nal, um papel técnico ou instru- os enfermeiros estão na profis-
ou tecn icista - aquele que mental e um outro indefinido são, descreve três tipos de situa-
valoriza os cuidados de enfer- centrado nas tarefas a rea Iizar ções (quadro 1).

QUADRO 1 - Tipo de situações encontradas em alguns Serviços de Saúde que caracterizam a forma
como os enfermeiros estão na profissão

ALGUMAS RELAÇÃO FORMA DE HIPÓTESES


TIPOS DE SERViÇO DOS PROBLEMAS
CARACTERíSTICAS IDENTIFICAÇÃO DE SOLUÇÃO
DE SAÚDE E FUNÇÕES DOS ENFERMEIROS
PRINCIPAIS DOS PROBLEMAS A CONSIDERAR
DOS ENFERMEIROS COM O CONTEXTO
DA SITUAÇÃO DOS ENFERMEIROS PELA AUTORA
DA PRÁTICA
Serviço onde as O trabalho termina Os problemas Como desempenhar Melhorar as
equipas são quando as tarefas estão dos enfermeiros todas as tarefas, o mais condições
caracterizadas por completas. Os relacionam-se com as correctamente possível, de trabalho
enfermeiros para quem enfermeiros não condições de trabalho, em tempo útil. e reflectir, a nível
está claro que o seu discutem o que são com o cansaço da equipa, sobre
trabalho consiste numa cuidados de enfermagem e desprazer no que o que se acha
série de tarefas, da ini- fazem e não com o que que são cuidados
ciativa e responsabili- é e para o que estão a de enfermagem.
dade do médico. fazer.

Serviços onde as equi- Os enfermeiros sentem- Neste tipo de condições Como demonstrar que o Organizar o trabalho de
pas seguem o modelo se descontentes com os os enfermeiros estão trabalho que o enfermei- forma a que cada enfer-
biomédico ou seja, cuidados que prestam, descontentes com o que ro realiza é indispensá- meiro esteja mais tempo
centram os cuidados pensam no que poderá fazem e querem mostrar vel e diferente do traba- junto do doente para,
no tratamento da ser feito para melhorar os que têm um papel lho dos outros técnicos. conhecendo-o bem,
doença, no curar, cuidados, comparam o importante na equipa de poder melhorar os
numa parte co corpo que fazem com o que saúde. cu idados que presta e
e não na pessoa na sua sabem que se faz transmitir e discutir com
totalidade, quaisquer noutros serviços ou é os médicos os cuidados
que sejam as razões do ensinado nas escolas e de saúde de que
seu mal estar. querem demonstrar que a pessoa carece.
é possível mel horar os
cuidados de enfermagem

Serviços onde na equí- Os enfermeiros sabem: Estudam vários Como identificar e valo- - Analisar os modelos
pe predominam enfer- - que a sua actuação conceitos rizar o que é feito, em teóricos já divulgados,
meiros que sabem que leva os utentes a senti- de enfermagem, relação ao que os teóri- para o que é indispensável
prestar cuidados de rem-se melhor, a uma o processo cos de enfermagem já aplicá-los, pelo menos
enfermagem é uma mais elevada qualidade de enfermagem clarificaram ou seja, a um número limitado
actividade criativa e de vida, a um maior e modelos teóricos será que se está a segu ir de casos;
científica própria dos bern-estar., e apesar disso não um modelo teórico já - decidir adoptar um
enfermeiros, distinta de - distinguir as suas actu- relacionam o que fazem existente ou um modelo deles;
outros técnicos. ações independentes com os valores, próprio? - utilizar o processo de
das interdependentes, premissas e teorias enfermagem de acordo
perante os problemas do que estão na base com o modelo adoptado.
cliente; da sua prática. Estão
- explicar o como e o descontentes e têm
porquê da sua actuação; dificuldade em explicar
- registar a sua actua- o como e o porquê da
ção, valorizando a for- enfermagem.
ma como comunicam
com o cliente;
- utilizar um raciocínio
lógico

Adaptado de: BASTO, Maria Lima - Cuidados de enfermagem em Portugal. O como e o porquê. p. 77-78

SERVIR-VOl.NO. AS-N°. 1
AS PRÁTICAS PROFISSIONAIS E OS NlODELOS DE ENFERNlAGENl

o primeiro grupo de enfer- to organizacional que não ope- Emergem destas conclusões
meiros desempenha uma activi- racionalizam a enfermagem por duas orientações da prática pro-
dade profissional quase inteira- essa via. fissional: uma mais de acordo
mente dependente da Parecem-nos emergir desta com os pressupostos do modelo
actividade profissional do médi- análise dos cuidados de enfer- bio-rnédico e outra que se enca-
co e as tarefas que não decor- magem duas formas também minha para uma futura prática
rem das prescrições médicas diferentes de conceber a orien- profissional de acordo' com os
são consideradas tarefas meno- tação da prática profissional: modelos de enfermagem, mas
res (cuidados com a higiene, uma orientação para o tratar (na que é o resultado dos discursos
vestir, despir, alimentação etc.) primeira e segunda situação) e das teóricas de enfermagem e
a comunicação decorre das res- uma orientação para o cuidar dos professores e não resu Ita de
tantes tarefas, os registos são (na terceira situação). uma experiência vivida e reflec-
tarefas incómodas e desagradá- Num estudo aprofundado tida.
veis. (tese de doutoramento) sobre o Uma outra autora que anali-
O segundo grupo centra processo de mudança dos com- sou as práticas profissionais das
toda a sua prática numa pers- portamentos profissionais das enfermeiras em Espanha,
pectiva do modelo bio-rnédico enfermeiras, FRADE (1995) che- ALBERDI CASTELL (1988), dis-
e os enfermeiros consideram gou à conclusão de que "as tinguiu três formas diferentes de
uma utopia orientar a activida- perspectivas das enfermeiras perceber a profissão em resulta-
de profissional segundo um sobre o seu trabalho inclui um do da existência de perspectivas
modelo de enfermagem. conflito de papéis, de funcioná- de exercício profissional muito
No grupo restante, os enfer- ria e de profissional. Este último distintas: «as enfermeiras cuida-
meiros estão em condições de papel, simbolizado pelo discur- doras; as enfermeiras tecnológi-
guiar a actividade profissional so profissional utilizado por teó- cas e as enfermeiras ATS (auxili-
de acordo com um modelo de ricas de enfermagem e por pro- ares técnicas de saúde). Os
enfermagem, uma vez que fessoras. Como funcionárias as dados estão agrupados num
entendem a natureza dos cuida- enfermeiras actuam essencial- quadro que apresentamos a
dos de enfermagem e provavel- mente de acordo com os valo- seguir, para que melhor se dife-
mente será mais por um contex- res dos médicos". renciem as ideias da autora.

QUADRO 2 - As concepções de Enfermeira segundo Alberdi Castell

TAXINOMIA
ENFERMEIRAS CUIDADORAS ENFERMEIRAS TECNOLÓGICAS ENFERMEIRAS ATS
ELEMENTOS

NÚCLEO DO TRABALHO As necessidade do doente. O diagnóstico e o tratamento da doença'. O trabalho médico.

OBjEGIVO A satisfação das necessidades do doente Conseguir o diagnóstico e o tratamento O maior rendimento do trabalho do
DO TRABALHO mais eficaz. médico,

ÁREA DE AGUAÇÃO - Enfermarias gerais. - Cuidados intensivos. - Qualquer área onde o médico
MAIS ADEQUADA - Serviços de saúde pública. - Urgências. necessite de ajuda.
- Enfermarias de doentes crónicos - Bloco operatório.
- Serviço de queimados.

ÁREAS DE FORMAÇÃO Especializações baseadas nas necessida- Especializações de acordo com Modelo de formação que mais se asse-
PÓS-BÁSICA des do indivíduo ao longo do ciclo vital. as especializações médicas. melha ao modelo de formação médica,

FINALIDADE DO DISCURSO - Formular claramente uma identidade - Definir áreas de responsabilidade Nota:
PROFtSSIONAL diferenciadora, redefinindo as áreas de actuais. As enfermeiras ATS ao conceberem-se
responsabilidade actuais. - Assumir as novas áreas de actuação como ajudantes não necessitam definir o
- Demonstrar a necessidade do seu con- que surgem à volta do diagnóstico e seu contributo específico nos cuidados
tributo específico para o sistema de do tratamento, adaptando as funções de saúde.
saúde. da enfermeira a essas especialidades.

DIFICULDADES Reverter a finalidade do sistema Devem conquistar um lugar dentro de Nota:


NA CONSTRUÇÃO de saúde, contrariando o poder máximo uma estrutura já estabeleci da em que as Não têm dificuldades, porque não têm
DO DISCURSO atribuído ao médico na determinação responsabilidades estão rigidamente necessidade de construir um discurso
das necessidades do indivíduo. delimitadas e as novas tendem profissional
a ser distribuídas a outras profissões.

Adaptado de: ALBERDI CASTELL, Rosa 'Maria - Sobre las conceptiones de la enfermeria. p. 25-30

14 SERVIR-VOL. N°. A5N. 1


AS PRÁTICAS PROFISSIONAIS E OS NlODELOS DE ENFERNlAGENl

As diferentes concepções enfermeiros do exercício clínico - MARRINER, Ann - Modelos y teo-


propostas por ALBERDI CAS- e que se assegurasse nos contex- rías de enfermería. Barcelona, Ed.
TELL, apontam igualmente para tos das práticas profissionais Rol, 1989, 345 p.
duas formas de orientação das tempo e espaço para a análise
- MORDACQ, Catherine.-
práticas profissionais: a prática crítica e para o pensamento
Pourquoi des intirmiêrest Paris,
profissional baseada no modelo reflexivo.
Éditions du Centurion, 1972,
bio-médico com orientação
112 p.
para tratar (pelas enfermeiras
tecnológicas e pelas enfermeiras - PARROT, Anny - L'image de
ATS, e uma prática profissional l'intirmiere dans la societé. Paris,
mais consentânea com modelos REFERÊNCIAS Le Centurion, 1973. 120p + ane-
de enfermagem e orientada para xos
o cuidar, assumida pelas enfer- B IBLIOG RÁF ICAS
meiras cuidadoras. - PEARSON, Alan; VAUGHAN,
Estas reflexões sobre as vári- - ADAM, Evelyn - Ser enfermeira. Barbara - Modelos para o exercí-
as concepções do papel social Lisboa, Instituto Piaget, 1994, cio de enfermagem. Lisboa,
da enfermei ra apontam, em 267 p. ACEPS, 1992, 178 p.
nosso entender, para que as - ALBERDI CASTELL, Rosa María - - RIBEIRO, Lisete Fradique - Cuidar
enfermeiras tenham uma cons- Las enfermeras para el tercer mil- e tratar: formação em enfermagem
ciência diversificada (de grupos lenio. "Revista Rol de e desenvolvimento sócio-moral.
isolados) das funções profissio- Enfermería", Barcelona, 16 (178) Lisboa, Educa, 1995, 109 p.
nais mais do que para uma [un. 1993, p. 43-50.
consciência colectiva do seu - RIEHL-SISCA, Joan - Modelos
grupo profissional. - ALBERDI CASTELL, Rosa María - conceptuales de enfermería.
Sobre las conceptions de Ia enfer- Barcelona, Doyma, 1992, 407 p.
Podemos verificar que: mería. "Revista Rol de
Enfermería", Barcelona, 11(115) - ROPER, Nancy; LOGAN,
- Não há uma forma uniforme Mar 1988, p. 25-30. Winifred W. ;TIERNEY,Alison J. -
de conceber a enfermagem. The elements of nursing - a model
~ BASTO, Marta Lima - Cuidados for nursing based on a model of
- De todas as produções escri- de enfermagem em Portugal: o living, 3rd. Edimburgh, Churchill,
tas pelos diferentes autores, como e o porquê? "Servir", Living Stone, 1990, 361 p.
parece-nos predominar uma Lisboa, 39 (2) Mar/Abr 1991, p.
orientação para a prática pro- 75-80. - SIMEÃO, Maria José - A ciência e
fissional decorrente do mode- a arte. "Servir", Lisboa, 41 (3)
lo bio-médico onde parecem - CANALS, Josep - La imagen feme- Mai/Jun. 1993, p. 114-117.
dominar a execução de tarefas nina de la enfermería. "Revista
decorrentes das prescrições Rol de enfermería", Barcelona, 15 - SIMEÃO, Maria José - Processo
(172) Dic.1992, p. 29-33. de enfermagem. O que é e como
médicas.
aplicá-lo. "Servir", Lisboa, 38 (2)
- Existe no entanto um grupo - COLLlERE, Marie Françoise - Mar/Abr. 1990, p. 56-67.
que pretende questionar uma Autonomia da profissão de enfer-
forma diferente de conceber a magem. "Boletim Sindical: - STUSSI, Elisabeth - Enfermagem
enfermagem. Será o início de Sindicato dos Enfermeiros na Europa: seu desenvolvimento
uma orientação para a auto- Portugueses", Lisboa, 11 (3/4) e perspectivas de futuro.
nomia profissional? Mai/Ag 1990, p. 43-90. "Enfermagem", Lisboa, (1)
Jan./Mar. 1985, p. 71 3.
- Não se vislumbra em nenhum - COLLlERE, Marie Françoise -
dos grupos a necessidade do Promover a vida. Lisboa, - VALERIANO: M. J. - Os enfermei-
questionar a experiência Sindicato dos Enfermeiros ros e as representações de enfer-
(reflectir e analisar as práticas Portugueses, 1989, 385 p. magem: algumas ideias e factos.
profissionais), pela parte do "Servir", Lisboa, 41 (4) Jul./Ag
- ESCOLA DE ENFERMAGEM PÓS-
conjunto do grupo profissio- 1993, p. 171-176.
BÁSICA DE LISBOA - Modelos
nal.
teóricos de enfermagem. Lisboa, - WATSON, Iean - Nursing: human
s. ed., 1985, 87 f. science and human care: a theory
Em conclusão, podemos
of nursing. New York, National
referir que seria importante - GÂNDARA, M. M. e outros - Os
League for Nursing, 1998, 11 p.
começar por eliminar a actual e modelos teóricos e a crise de
tendencialmente crescente bar- identidade da enfermagem portu- - WENNER, Micheline - Comment
reira ideológica que existe entre guesa. "Servir", Lisboa, 40 (3) e pourquoi devient'on iniitmiêre.
os enfermeiros professores e os Mai/Jun, 1992, p. 115-127. Paris, Lamarre, 1988, 215 p. [SJ

SERVlR-YOl. N°. 45-N°. 1 15

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