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GRADUAÇÃO

Geopolítica, Regionalização
e Integração

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Geopolítica, Regionalização
e Integração
Autor: Prof. Enzo Fiorelli Vasques
Colaboradores: Profa. Claudia Ferretto Palladino
Profa. Raquel Niza Brandão
Prof. Flavio Celso Muller Martin
Professor conteudista: Enzo Fiorelli Vasques

Enzo Fiorelli Vasques é professor e coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Paulista (UNIP)
e coautor, entre outras obras, do Manual Prático de Comércio Exterior, publicado pela editora Atlas em 2010. Além
disso, desenvolve negócios internacionais atuando na inserção de produtos manufaturados brasileiros no mercado
mundial, principalmente de equipamentos do setor sucroalcooleiro no sudeste asiático, África e América Latina. É
mestre em educação sociocomunitária com o trabalho O ensino das Relações Internacionais no Brasil e membro da
National Geographic Society (Washington, District of Columbia).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Z13 Zacariotto, William Antonio

?
Informática: Tecnologias Aplicadas à Educação. / William
Antonio Zacariotto – São Paulo: Editora Sol.

il.

1.Informática e tecnologia educacional 2.Informática


3.Pedagogia I.Título

681.3

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor

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Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças

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Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Profa. Melissa Larrabure

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Simone Oliveira
Sumário
Geopolítica, Regionalização e Integração

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 Fundamentos das Relações Internacionais para a compreensão da
Geopolítica.............................................................................................................................................................9
1.1 Caráter e conceito das relações internacionais...........................................................................9
1.1.1 Precedentes históricos das teorias das relações internacionais............................................11
1.1.2 O mundo do século XX e as teorias das relações internacionais......................................... 16
2 A noção de cooperação no enfoque das principais teorias das relações
internacionais................................................................................................................................................. 18
2.1 A noção de cooperação para os teóricos idealistas e realistas........................................... 19
2.2 A noção de cooperação para os teóricos da interdependência......................................... 22
3 A Política Externa e os Interesses Nacionais: Instrumentos da Política
Estatal e da Geopolítica............................................................................................................................. 26
3.1 Introdução à política externa: conceitos e objetivos............................................................. 27
3.2 A ação e a interação dos Estados................................................................................................... 29
4 O Sistema Internacional........................................................................................................................ 43

Unidade II
5 A Geopolítica.................................................................................................................................................. 54
5.1 As relações entre sociedade, Estado, território e poder........................................................ 54
5.2 Geografia política e geopolítica...................................................................................................... 57
5.3 A evolução do pensamento em geopolítica............................................................................... 61
5.4 Geopolítica clássica.............................................................................................................................. 61
5.5 Geopolítica contemporânea............................................................................................................. 65
6 Aspectos da Geopolítica atual: fronteiras nacionais e internacionais,
a guerra e a paz de acordo com a geopolítica, o poder central e o poder
local e políticas territoriais................................................................................................................. 68
6.1 As fronteiras nacionais e internacionais...................................................................................... 69
6.2 A guerra e a paz de acordo com a geopolítica..........................................................................71
6.3 O poder central e o poder local....................................................................................................... 73
6.4 As políticas territoriais........................................................................................................................ 74
Unidade III
7 A Agenda da Geopolítica Moderna................................................................................................ 79
7.1 Comércio internacional e desenvolvimento econômico....................................................... 79
7.2 Alguns desafios para a inserção positiva dos países em desenvolvimento nas
relações de comércio internacional...................................................................................................... 80
7.3 O meio ambiente................................................................................................................................... 89
8 A Regionalização e A Integração.................................................................................................... 94
8.1 Aspectos teóricos e históricos de integração regional.......................................................... 94
8.2 Fases da integração.............................................................................................................................. 97
8.3 Principais sistemas de integração regional................................................................................ 98
8.3.1 Mercosul (Mercado Comum do Sul)................................................................................................ 98
8.3.2 Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta).......................................................108
8.3.3 União Europeia.......................................................................................................................................108
APRESENTAÇÃO

A disciplina Geopolítica, regionalização e integração insere‑se na formação do profissional como


uma importante ferramenta para o entendimento, a compreensão e a análise das novas interações e
tendências dos países no cenário global.

Ela faz uma abordagem contemporânea da geopolítica e oferece o estudo das macropolíticas e das
novas fronteiras nacionais, tratando do advento da regionalização e da integração.

Ao abordar os conceitos e objetivos da política externa e a ação e interação dos Estados, a disciplina
analisa a tendência do fim das fronteiras físicas e o surgimento de novos debates para a compreensão
das relações de poder, como as que envolvem questões relacionadas ao meio ambiente.

Assim, os objetivos da disciplina são:

• analisar os fundamentos das relações internacionais;

• analisar as teorias das relações internacionais;

• compreender as noções de cooperação;

• conhecer os conceitos e objetivos da política externa;

• entender a evolução do pensamento em geopolítica;

• identificar as relações entre sociedade, estado, território e poder;

• conhecer a agenda da geopolítica moderna;

• compreender os aspectos da integração regional.

INTRODUÇÃO

As relações internacionais ditas contemporâneas, especialmente no século XX, podem ser entendidas
pela transnacionalização das relações econômicas, sociais, políticas e culturais que ocorreram no mundo
e, consequentemente, acabaram por tornar indefinidas as fronteiras das políticas interna e externa dos
Estados.

O conjunto dessas relações vem passando por significativas transformações. O impacto mais
expressivo desse processo é a elevação sustentada do comércio internacional, percebida a partir da
última metade do século XX até os dias de hoje. Esse impacto se manifesta por meio de um progressivo
crescimento do comércio entre países, seguido nas mesmas proporções por um fluxo de capital, de
informações e de pessoas.

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Contudo, é evidente que os resultados desse movimento não são percebidos de forma equitativa
entre os países. O sistema internacional é composto por países heterogêneos, sobretudo no aspecto
econômico. Logo, é notável que a capacidade de alguns Estados para levar adiante seus interesses é
diferente da capacidade de outros.

Nota‑se, portanto, que a igualdade estabelecida pelo Direito Internacional – todos os Estados são
iguais entre si – não se aplica a todas as arenas das relações internacionais, o que faz com que, dentro
das possibilidades e constrangimentos presentes no sistema internacional, cada Estado busque ajustar
adequada e estrategicamente suas ações.

Diante dessa realidade, colocam‑se algumas questões sobre a ação internacional dos Estados:

• o que são os Estados e o sistema internacional? É possível entendê‑los a partir da compreensão


da organização interna de um Estado?

• como os Estados devem reivindicar seus interesses: de forma individual e com base em seus
atributos de poder ou de forma coletiva?

Essas questões só podem ser respondidas a partir da construção de um entendimento amplo do que
são os Estados (capacidades, estratégias, fraquezas etc.) e o meio no qual atua o sistema internacional
(constrangimentos, conflitos de interesses, possibilidades etc.).

Ao longo do curso, o estudo da geopolítica será realizado com uma abordagem histórica da
formação dos Estados e o elemento básico de sua atuação: a política externa. Uma análise do sistema
internacional e de suas possibilidades de cooperação e conflito será feita à luz das principais teorias das
relações internacionais.

Além disso, discutiremos também as motivações, dificuldades e experiências da formação dos blocos
econômicos regionais.

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Geopolítica, Regionalização e Integração

Unidade I
1 Fundamentos das Relações Internacionais para a compreensão
da Geopolítica

Introdução

As relações internacionais contemporâneas, especialmente no século XX, podem ser entendidas


pela transnacionalização das relações econômicas, sociais, políticas e culturais, que ocorreu no
mundo e, consequentemente, tornou indefinidas as fronteiras das políticas interna e externa dos
Estados.

Em plano equivalente, o fenômeno da diversidade de organizações internacionais adquire grande


relevância, sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial, em função de agora existir a necessidade de os
Estados dimensionarem coletivamente certas competências que antes pertenciam ao absoluto domínio
nacional. Baseados no multilateralismo e na diplomacia parlamentar, esses organismos representam
“um esforço civilizatório significativo no contexto das relações internacionais” (SEITENFUS, 1997, p. 21)
e têm o objetivo de dirimir as relações conflituosas oriundas do maior grau de interdependência das
relações entre os Estados.

Esse quadro retrata a evolução jurídica que acompanhou as transformações da sociedade internacional
e as interações nela estabelecidas. Isso significa dizer que as relações internacionais, incluindo‑se aqui
a geopolítica tal como estabelecida atualmente, podem ser consideradas eminentemente modernas.

Nesse sentido, o objetivo desta unidade, num primeiro momento, será o de analisar sucintamente
e a partir de uma abordagem histórica as bases sob as quais distintos indivíduos, comunidades,
cidades, cidades‑estados e Estados interagiam e estabeleciam suas relações em um período anterior ao
desenvolvimento das teorias das relações internacionais e da geopolítica moderna.

Em seguida e a partir da consolidação das relações internacionais como campo de estudo


Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
científico, veremos dentro de que contextos alguns dos principais discursos teóricos dessa nova
ciência se desenvolveram e, da mesma forma, observaremos como esses discursos abordam as
possibilidades de cooperação e o papel das organizações internacionais nas relações internacionais
contemporâneas.

1.1 Caráter e conceito das relações internacionais

Como pode ser observado nos veículos de comunicação, na sociedade em geral ou até mesmo nos
meios acadêmicos, a veiculação e o tratamento empreendidos à expressão relações internacionais
nem sempre produz um sentido claro ao que tal expressão deseja conferir.
9
Unidade I

A dificuldade em empregar um melhor significado à expressão é inerente, em parte, ao próprio termo


internacional, que, na evolução do modo de organização social, perdeu seu significado. Atualmente, a
expressão relações internacionais não significa interações entre nações, mas entre Estados, governos
e outros atores internacionais (GUIMARÃES, 2001).

No trabalho Relações internacionais como campo de estudos, Lytton Guimarães (2001) atribuiu o
emprego sensato da expressão relações internacionais a pelo menos duas dimensões. Numa primeira
análise, conferiu a ela um sentido mais amplo e a vinculou ao que “(...) se refere à gama de contatos
e interações de natureza diplomática, política, econômica, militar, social, cultural, étnica, humanitária,
que se processam entre atores internacionais, estatais e não estatais” (GUIMARÃES, 2001, p. 9). Numa
abordagem mais específica, o autor atribui sentido à expressão relações internacionais quando esta:

[...] refere‑se ao campo de estudos acadêmicos que enfoca as diversas


formas de interações anteriormente descritas, assim como outras questões
e fenômenos considerados relevantes para se compreender e explicar a
complexidade do cenário internacional (GUIMARÃES, 2001, p. 10).

Esta última atribuição diz respeito à ciência das relações internacionais que “a exemplo de
outros campos do conhecimento”, como a ciência política, a sociologia e a economia, “refere‑se
a um determinado conjunto de agentes (Estados, organizações internacionais, organizações não
governamentais, transnacionais etc.) instituições e processos específicos” (ROCHA, 2002, p. 28).

Ao desconsiderar o que aparentemente já está óbvio, ou seja, a gama de contatos e interações de


diversas naturezas que envolve tal conjunto de agentes, instituições e processos específicos, a expressão
relações internacionais pode ser traduzida de modo mais simplista por questões transnacionais. Logo,
são as questões transnacionais que compõem a ampla agenda internacional que, por sua vez, é o alvo
das ocupações dos estudiosos de relações internacionais.

Entretanto, por suas complexidades, interações e abrangências, já mencionadas anteriormente,


não temos a pretensão de analisar as relações internacionais em sua totalidade. Faz‑se necessário, tão
somente, esclarecer para o leitor o que se pode entender ou o que se pode explicar quanto ao emprego
da expressão relações internacionais dentro de diferentes contextos ou abordagens.

A consolidação das relações internacionais como ciência social é recente. Muito embora haja
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

traços na história da humanidade que apontam para uma preocupação com o fundamento político
de uma ordem social pacífica no mundo desde a Antiguidade1, o estudo das relações internacionais é
relativamente recente se comparado a outros campos das ciências sociais (CASTRO, 2001).

Numa perspectiva histórica dos fatos que antecedem a política internacional e sua teoria, Marcus Faro
de Castro argumenta que o estudo acadêmico das relações internacionais ganhou corpo e identidade

1
A obra A Guerra do Peloponeso, de Túcides (471 a.C.-400 a.C.), “é frequentemente citada como exemplo de
um dos primeiros esforços no sentido de analisar as relações conflituosas entre duas cidades-nação então poderosas”
(GUIMARÃES, 2001, p. 20).
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Geopolítica, Regionalização e Integração

própria somente no século XX, a partir do período entreguerras e com o desenvolvimento da teoria das
relações internacionais (TRI) (CASTRO, 2001).

Desse modo, podemos admitir que o surgimento dessa ciência tem as preocupações de como
estabelecer os modos de interação das diferentes sociedades ao longo dos séculos. Isso significa dizer que
tais interações, dados os interesses particulares de cada parte, geravam e geram situações conflituosas
ou de cooperação. Assim, será importante entendermos aqui como se organizavam as interações entre
diferentes sociedades ao longo de alguns séculos, ou seja, precisamos entender os precedentes históricos
das teorias das relações internacionais.

1.1.1 Precedentes históricos das teorias das relações internacionais

Na história da civilização ocidental, é possível observar que as relações entre comunidades distintas,
envolvendo o uso da força, existem desde os primórdios entre os diferentes povos e estão nas origens
política e econômica da sociedade moderna.

Entretanto, referente às relações entre comunidades distintas, tem‑se que:

[...] até o século XVII não havia um sistema de entidades políticas (estados)
exercendo autoridade suprema sobre territórios e detentoras do monopólio
sobre assuntos de guerra, o exercício da diplomacia e a celebração de
tratados (CASTRO, 2001, p. 7).

Anterior ao surgimento do Estado nacional, as unidades governamentais existiam em diferentes


épocas sob a forma de comunas, cidades‑estados e feudos, ao passo que “as unidades econômicas
formaram nesta ordem: a família, o feudo, a comunidade da vila, a cidade e a liga das cidades” (DIAS,
2004, p. 25).

Até então, a política se estruturava por meios totalmente independentes do território, tais como
laço sanguíneo e comunhão de valores religiosos, ao passo que, na Idade Média, a presença de uma
comunidade em um dado território não representava a existência de uma autoridade exercida sobre
uma área geograficamente circunscrita. À época, não havia a distinção entre as dimensões de autoridade
interna e externa ou de público e privado. Nesse sentido, o autor Spruyt (1994 apud CASTRO, 2001)
pondera:
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Ocupantes de um território espacial específico estavam sujeitos a uma


multiplicidade de autoridades superiores. Dada esta lógica ou organização,
é impossível distinguir entre atores conduzindo relações internacionais
daqueles envolvidos na política doméstica e operando sob a forma
hierárquica. Bispos, reis, senhores feudais e cidades assinavam tratados e
faziam guerra. Não havia um ator ainda com um monopólio sobre os meios
de coerção pela força. A distinção entre atores privados e públicos estava
ainda por ser articulada (SPRUYT, 1994 apud CASTRO, 2001, p. 8).

11
Unidade I

Assim, embora aparentassem, as relações entre imperadores, papas, reis, barões, cidades e outros agentes
das diferentes comunidades não caracterizavam relações internacionais no sentido moderno, pois elas não
se davam entre estados soberanos territoriais, se tratava apenas de relações entre pessoas e instituições.

Com efeito, o que antecedeu o estudo das relações internacionais como disciplina orientada para
determinar o fundamento político das relações entre pessoas de comunidades distintas foi o direto das
gentes (jus gentium).

Desde a Roma Antiga até o século XVII, os relacionamentos entre os povos eram estabelecidos a
partir do direito das gentes ou do direito das nações. Esse direito se desenvolveu nesse mesmo período
e era constituído por um conjunto de práticas e métodos intelectuais que se ocupou em gerar materiais
constitutivos do exercício da autoridade referente a tais relacionamentos.

Conforme Castro (2001), em Roma o chamado jus civile (direito civil) aplicava‑se somente aos romanos,
não a estrangeiros. Na medida que o Império Romano expandia‑se comercial e geograficamente, os
problemas para solucionar disputas entre estrangeiros e entre estes e os cidadãos romanos surgiam.

Com a finalidade de estabelecer parâmetros de mediação nas regiões sob o auspício de Roma, foi instituído
em 242 a.C. o praetor peregrinus. Em sua atuação, o praetor peregrinus lançava mão de partes do direito
romano e de normas estrangeiras (principalmente gregas). Essa fusão foi baseada nos princípios de equidade.

Esse modelo ficou conhecido como jus gentium, ou direito das gentes, pois, em todo o período no qual
“o direito romano que é apropriado e adaptado, e que se torna dominante, adquire caráter universalista,
de vocação “supranacional” e associado a valores cristãos, sendo aplicável a toda cristandade” (CASTRO,
2001, p. 9‑10), ele esteve voltado tão somente para as relações entre pessoas, uma vez que não se
tratava ainda de relações entre estados soberanos.

A partir do direito das gentes, materiais normativos que regulavam os relacionamentos estabelecidos
entre os distintos povos e sociedades foram desenvolvidos. Esses materiais abordavam tópicos como o uso da
força, as relações comerciais, entre outros. A respeito do uso da força, Castro (2001) salienta que tais normas:

[...] tratavam das formas de violências legítima e ilegítima; da isenção da


violência (formas de iniciar guerras, casos de guerra justa, técnicas de
combate, isenção de estrangeiros políticos ou comerciantes com relação à
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violência, prisioneiros de guerra etc.); das delegações de autoridade para


a conquista e dominação (autorizações papais); dos procedimentos para o
estabelecimento de isenções da violência (formas dos tratados, juramentos
etc.); e de procedimentos arbitrais (negociação de isenções da violência)
(CASTRO, 2001, p. 9‑10).

Holzgriffe (1989 apud CASTRO, 2001) ainda acrescenta que:

O direito mercantil e marítimo medieval, por exemplo, regulava o


comportamento de mercadores marítimos individuais, enquanto costumes
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Geopolítica, Regionalização e Integração

feudais relativos ao desafio formal, ao tratamento de arautos e prisioneiros, à


captura e resgate de reféns, à intimação de cidades e à observação de tréguas
aplicavam‑se a cavaleiros individuais. O direito eclesiástico sobre a santidade
dos contratos, a imunidade de agentes diplomáticos, a proibição de armas
perigosas, o tratamento de prisioneiros cristãos, a guerra justa e a “trégua de
Deus” aplicava‑se a cristãos individuais. As normas baseadas nos preceitos do
direito romano aplicavam‑se aos membros individuais das comunidades que
as aceitavam (HOLZGRIFFE, 1989 apud CASTRO, 2001, p. 10).

Dentro dessa de organização social, a existência das organizações internacionais não era possível
pelo fato de sua existência pressupor um acordo entre Estados iguais dispostos a renunciar a alguns
de seus diretos em prol da organização. Segundo Araújo, isso “era impossível naquela época em que as
guerras de conquista se sucediam e impérios se formavam e desapareciam na voragem do tempo e ao
entrechoque das ambições” (ARAÚJO, 2002, p. 5).

Já nos séculos XVI e XVII, começa a tomar corpo uma nova configuração institucional, resultado de
dinâmicas políticas e econômicas estabelecidas entre grupos sociais na Europa a partir do renascimento
do comércio no século XI e da competição política e econômica que se estabeleceu desde então entre
diversas possíveis trajetórias de desenvolvimento institucional, tais como ligas urbanas, cidades‑estados
e estados soberanos.

A partir dessa competição política e econômica das tendências de desenvolvimento institucional,


consolidou‑se uma organização em torno de governos capazes de garantir a vida dos indivíduos de uma
forma específica: a do Estado territorial soberano como responsável por organizar, regular e constituir
a vida social entre o conjunto de instituições (sociedade) que habitasse determinado território, sendo
elas parte de uma mesma nação.

A política passou então a ser determinada pelo território e institucionalizada de forma a ser possível
distinguir entre o direito interno – unidades políticas nas quais os príncipes adquiriram autonomia
política para adotar leis, princípios religiosos etc. – e o direito vigente entre unidades políticas distintas.

A exemplo disso, temos que:

[...] Francisco Suárez (1548‑1617) já distingue entre dois significados de jus


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gentium: (a) o direito que as diversas cidades ou reinos (civitates vel regna)
observam em si mesmos (intra se); e (b) o direito que todos os povos e nações
observam em suas relações recíprocas (inter se) (CASTRO, 2001, p. 11).

Na segunda metade do século XVII, com a chamada Paz de Westphalia, o direito das gentes se
modificou para atender as novas realidades correspondentes ao surgimento dos estados territoriais
soberanos: ele assumiu a condição de direito internacional.

A Paz de Westphalia é resultado de um conjunto de tratados diplomáticos firmados em 1648 entre


as principais potências europeias, que colocaram fim à Guerra dos Trinta Anos (1618‑1648). Esta última
13
Unidade I

consistiu num conflito generalizado entre países europeus (católicos versus protestantes) no qual razões
de ordem religiosa se misturavam com motivações políticas.

Nas palavras de Vizentini (2002a):

As potências católicas, especialmente a Espanha e a Áustria, governadas


pela dinastia Habsburgo, apoiavam o Sacro Império (também pertencente
à dinastia) e tentavam estabelecer uma hegemonia na Europa, criando um
Império Supranacional. De outro lado, as potências protestantes escandinavas
apoiavam as cidades comerciais e principados protestantes. Na iminência da
vitória do campo católico, a França, também católica, mas ferrenha inimiga
dos Habsburgos, entrou no conflito em apoio aos protestantes, salvando‑os
(VIZENTINI, 2002a).

Os tratados assinados em Westphalia legitimaram o status quo anterior ao conflito, que ainda
reconhecia uma sociedade de Estados fundada no princípio da soberania territorial, na qual todas as
formas de governo passaram a ser legítimas; na não intervenção em assuntos internos dos demais,
respeitando o princípio de tolerância e liberdade religiosa escolhida pelo príncipe (cuius régio, eius
religio: quem tem a região tem a religião); e na independência dos Estados, detentores de diretos
jurídicos iguais a serem respeitados pelos demais membros, uma vez que partes com direitos iguais não
têm capacidade para julgar seus semelhantes.

Como se vê, o modelo estabelecido em Westphalia instaurou condições de autonomia aos Estados
sem, no entanto, criar obrigações mútuas entre eles, o que motivou, a partir de então, preocupações
no sentido de gerar “estruturas de cooperação internacional capazes de constituir a base de processos
políticos mundiais para se atingir a paz duradoura, chamados projetos de paz perpétua” (CASTRO, 2001,
p. 12).

Entre os projetos mais conhecidos, está o de abbé de Saint‑Pierre (1658‑1743), que assegurava
que apenas acordos firmados entre os Estados não seriam capazes de estabelecer a paz. Para isso, era
necessário que os Estados se unissem em uma confederação, cujo órgão principal seria um Senado
formado por representantes de todos os Estados. Os conflitos seriam solucionados pela arbitragem e
sua decisão deveria ser acatada pelos envolvidos sem que recorressem à guerra, pois, se o fizessem,
estariam sujeitos a sanções decretadas pela organização que, para esse fim, possuiria um exército
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

próprio.

Apoiada sobre um direito internacional adaptado do jus gentium, a política internacional passou a
balizar os relacionamentos interestatais e, por conseguinte, possibilitou que um conjunto de práticas
diplomáticas “governado por um consenso das elites aristocráticas europeias, em cujas mãos haviam
permanecido os assuntos de política internacional e, portanto, as decisões, e sobre os objetivos e
oportunidades do uso da capacidade militar e diplomática das grandes potências” (CASTRO, 2001, p. 13)
resultasse no que ficou conhecido como concerto europeu, que pressupunha a igualdade entre estados
que cooperavam sob o direito internacional.

14
Geopolítica, Regionalização e Integração

O instrumento principal dessa aparente solidariedade política entre os Estados soberanos se dava
pela noção de equilíbrio de poder ou balança de poder, que regia as relações internacionais com o
objetivo de manter a correlação de forças históricas entre as potências europeias, já que se observava a
possibilidade de um ou outro Estado se reforçar mais rapidamente ou mesmo fazer anexações territoriais,
causando, assim, uma percepção de instabilidade de poder aos demais.

Tal como se estabelecia, a política refletia os aspectos descritos por pensadores como Maquiavel
(1469‑1527) e Hobbes (1588‑1679).

Realista e pragmático, Maquiavel, ao relatar o caos e a instabilidade política então existentes nos
conflitos entre as diferentes cidades‑estados da Itália, apontava para questões sobre poder, balança de
poder, formação de alianças e, sobretudo, para a segurança nacional, razão pela qual o príncipe poderia
perder seu estado caso não se preocupasse com as forças e ameaças internas e externas. O ápice das
teses de Maquiavel está na defesa do uso de quaisquer recursos ou métodos para que os interesses e a
segurança do Estado sejam preservados.

Não menos pessimista com relação à natureza humana, Hobbes deixa transparecer em seu livro
Leviatã que, na ausência de uma autoridade central, haveria uma situação permanente de guerra na
qual todos lutariam contra todos num estado de total anarquia. Neste, seriam inevitáveis a suspeita, a
desconfiança, o conflito e a guerra.

Nesse sentido, pode‑se atribuir como característica essencial da política internacional do modelo
westphaliano da segunda metade do século XVII até o início do século XX:

[...] um programa selvagem de exploração colonial e formação de alianças


secretas e acirradas rivalidades, num complexo jogo de interesses políticos
e econômicos, frequentemente destrutivo das sociedades colonizadas e
instigador de tensões políticas entre os países europeus (CASTRO, 2001, p.
14).

Mesmo gozando de uma relativa paz nesse período, a forma institucional da política internacional
– eminentemente moderna, apoiada no direito internacional e obtida a partir de Westphalia – não foi
capaz de evitar a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
O desastre da Primeira Guerra Mundial, o conflito mais destruidor até então, esboçou mudanças
na condução da política internacional. Um conjunto de propostas para adoção de várias iniciativas e
medidas cooperativas destinadas a prevenir a guerra e manter a paz foram apresentadas em 1918 pelo
presidente estadunidense Woodrow Wilson.

Ao tentarem estabelecer novas bases para a política internacional em busca de um mundo ideal, as
propostas de Wilson emergem como uma provável saída para as conflituosas e obscuras relações dos
países europeus. Assim, nascia o idealismo, que mais tarde viria a compor o primeiro grande debate
das relações internacionais como campo científico, cabendo aqui, portanto, somente mencionar sua
importância para a evolução das relações internacionais.
15
Unidade I

Lembrete

Até o século XVII, não havia um sistema de entidades políticas (estados)


que exerciam autoridade suprema sobre territórios e eram detentoras
do monopólio sobre assuntos de guerra, exercícios de diplomacia e
celebrações de tratados. Nesse período, as dinâmicas políticas e econômicas
estabelecidas entre as sociedades europeias se davam por meio do direito
das gentes (direito das nações), que estabeleceu o direito que diversas
cidades ou reinos observavam em si e em suas relações.

Figura 1 – O presidente americano Woodrow Wilson

Observação

Woodrow Wilson foi eleito presidente dos Estados Unidos da América


por dois mandatos seguidos, ficando no cargo de 1912 a 1921. Ele era
membro do Partido Democrata e recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1919.

1.1.2 O mundo do século XX e as teorias das relações internacionais


Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

O século XX foi marcado pelas duas maiores conflagrações mundiais, pelo conflito ideológico
(capitalismo versus socialismos), por revoluções e crises de todas as ordens, pela extraordinária expansão
econômica, por profundas transformações sociais, por impérios e hegemonias, entre outros relevantes
acontecimentos, como o vultuoso desenvolvimento tecnológico percebido desde a Primeira Guerra
Mundial. Somado ao encurtamento das distâncias2, esse desenvolvimento tecnológico abriu as portas

2
“[...] qualquer lugar do mundo, atualmente, está a menos de dois dias de distância de qualquer outro, por avião a
jato, e um míssil teleguiado vence qualquer distância a menos de quarenta minutos” (DEUTSCH, 1982, p. 10).
16
Geopolítica, Regionalização e Integração

para uma crescente transnacionalização das relações econômicas, sociais, políticas e culturais que
ocorreu no mundo e acabou por tornar indefinidas as fronteiras das políticas interna e externa dos
Estados.

Cada um a seu tempo e já a partir da Primeira Guerra Mundial, esses acontecimentos


começaram a imprimir uma nova configuração ao sistema internacional moldado no século XVII.
Além disso, o século XX também é marcado pela evolução da teoria das relações internacionais,
que se ocupa em analisar com mais clareza o emaranhado conjunto de relações que se processa
no mundo atual.

O conhecimento acumulado das relações internacionais até o início do século XX deu sustentação
para que novas proposições, agora com um caráter científico, fossem elaboradas na medida que a
política internacional dava rumos ao mundo mediante velhos e novos acontecimentos e se exigia,
portanto, explicações mais consistentes da realidade.

A teoria das relações internacionais se consolida tendo como objeto de estudo a política
internacional. Esta, por sua vez, se define como um conjunto de práticas que frequentemente
envolvem o uso da força efetiva ou ameaçada, forças estas por meio das quais os Estados se
relacionam.

Em relação ao que podemos considerar como política internacional por meio da história, Castro
(2001) acrescenta que:

[...] é preciso considerar que esta expressão se refere a uma forma específica
de institucionalização da política, que se tornou preponderante a partir do
século XVII na Europa, propagando‑se para praticamente todo o mundo
subsequentemente, e que hoje passa por transformações importantes
(CASTRO, 2001, p. 10).

Guimarães (2001) observa que, em sua fase inicial, os estudos acadêmicos sobre a teoria das
relações internacionais se ocupavam de questões de “natureza substantiva, como diplomacia, política
do poder ou problemas da paz e da guerra, alianças e intervenções militares, e refletiam frequentemente
preocupações prescritivas ou normativas” (GUIMARÃES, 2001, p. 10).
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
Contudo, a sofisticação teórica e metodológica que foi aos poucos empreendida na construção dos
estudos permitiu a apreciação de problemas mais analíticos e de relações entre dois ou mais fenômenos
de ordens diferentes, tais como a relação entre poder e segurança, entre poder econômico e militar,
entre organizações internacionais e estratégias de governos etc.

Como resultado dessa evolução acadêmica, podemos perceber a definição de algumas subáreas
de estudo dentro das relações internacionais, como política externa dos Estados, economia política
internacional, segurança internacional, proliferação e controle de armamentos, regimes e organizações
internacionais, integração regional, entre outras.

17
Unidade I

De modo mais abrangente, é perceptível que essas questões que agora compõem de forma
segmentada a agenda internacional extrapolem e transcendam o âmbito interno e até mesmo o controle
de um único Estado. Nesse sentido, Guimarães (2001) pondera que, para essas questões:

[...] o estudo e tratamento exigem cooperação internacional e frequentemente


multidisciplinar, como é o caso do narcotráfico, da poluição e degradação
do meio ambiente, questões amplamente debatidas na Rio 92; dos direitos
humanos, objetos da Convenção de Viena de 1993; do papel da mulher (ou
questão do gênero) no novo cenário internacional, debatido em Pequim em
1994; dos problemas relacionados com a população, examinados no Cairo
em 1995; da questão da habitação, analisada em Copenhague em 1996, e
outros (GUIMARÃES, 2001, p. 10).

No entanto, somente o conjunto de agentes e as questões que compõem a estrutura do estudo de


relações internacionais abordados até aqui não dão conta de explicar a evolução das teorias das relações
internacionais. É necessário considerar também que a análise do conjunto de agentes e suas interações
se processam por meio de teorias.

De acordo com Rocha (2002), as teorias resultam dos esforços intelectuais em produzir interpretações
científicas da realidade a partir da reflexão sistemática sobre agentes e processos no contexto das
relações internacionais.

Considerando a complexidade inerente ao sistema internacional, nenhuma teoria interpreta


individualmente e de forma cabal a realidade internacional, podendo, portanto, as teorias serem
consideradas “imperfeitas no sentido de que raramente são consideradas, mesmo por seus autores,
feitas, completas e acabadas” (ROCHA, 2002, p. 40).

Rocha (2002), na medida que reforça um entendimento óbvio nem sempre lembrado de que as
“teorias são construções humanas” (ROCHA, 2002, p. 40), pontua que o exercício mental de analistas
para produzir conhecimento sobre um mesmo fenômeno observável na realidade internacional acabou
por engendrar diferentes discursos teóricos no campo de estudo das relações internacionais.

Dito isso, podemos acrescentar que o campo de estudo das relações internacionais se caracteriza
por um pluralismo teórico, o que significa dizer que ele aceita a coexistência de vários discursos teóricos
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

nem sempre antagônicos, mas em sua grande maioria complementares, nos permitindo, assim, conferir
análises mais inteligíveis da realidade internacional.

2 A noção de cooperação no enfoque das principais teorias das


relações internacionais

Como abordado anteriormente, desde sua consolidação como campo de estudo, o pluralismo teórico
inerente às relações internacionais possibilitou o desenvolvimento de diferentes estudos e interpretações
da realidade internacional, dada a percepção dos fatos para cada analista e a dinâmica das relações
entre os agentes.
18
Geopolítica, Regionalização e Integração

Porém, não discutiremos aqui a validade lógica dos muitos discursos dos quais os analistas lançaram mão para
conferir sentido à realidade desde a primeira metade do século passado. Desse modo, nos ateremos tão somente
a identificar a visão de cooperação e de organizações internacionais a partir do prisma de dois importantes
debates das teorias das relações internacionais: idealismo e realismo e realismo e interdependência.

2.1 A noção de cooperação para os teóricos idealistas e realistas

Os resultados destruidores da Primeira Guerra Mundial, com o número de vítimas civis e militares, o
nível de violência e a extensão do conflito, impulsionaram o desenvolvimento das relações internacionais
como campo de estudo científico a partir da percepção de um mundo ideal, da qual pretendeu‑se pautar
as relações internacionais desde então. Essa percepção ficou conhecida como idealismo.

O idealismo é concebido como:

[...] um conjunto de princípios universais que defende a necessidade de


estruturar o mundo buscando o entendimento, através de condutas pacifistas,
onde a confiança e a boa vontade sejam os motores que movimentam a
história (MIYAMOTO et al., 2004, p. 15).

Ao vislumbrar a possibilidade de superação do “estado de natureza” em que se encontravam os


Estados – conflito armado e hostilidades – e a construção de uma nova ordem jurídica internacional,
o surgimento do idealismo contemporâneo se materializou por meio de uma espécie de pacto social
mundial nos famosos 14 pontos de Wilson.

Observação

Os famosos 14 pontos de Wilson, como ficaram conhecidos, marcam o


surgimento do idealismo contemporâneo, que vislumbrava a possibilidade
de superação do “estado de natureza” em que se encontravam os Estados
– conflito armado e hostilidades – e a construção de uma nova ordem
jurídica internacional por meio de uma espécie de pacto social mundial.

Na visão idealista, a ordem internacional no período pós Primeira Guerra deveria ser disciplinada
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
por organizações internacionais capazes de fazer prevalecer os princípios éticos e os preceitos morais,
refreando, assim, os nacionalismos exacerbados e a desconfiança generalizada. Por conseguinte,
“assegurar‑se‑iam a ordem e a paz entre as nações com a utilização de instrumentos jurídicos para
dirimir os conflitos de interesses” (BELLI, 1994, p. 14).

O objetivo dos idealistas era:

[...] que a cooperação internacional, através do direito internacional


repassado de um moralismo idealista, pudesse oferecer os meios para a
manutenção de uma paz duradoura (CASTRO, 2001, p. 14).
19
Unidade I

A Liga das Nações foi criada como uma tradução prática desse ideário. Tratava‑se de uma organização
política interestatal permanente que tinha por intuito oferecer garantias mútuas de independência
política, integridade territorial e preservação da paz. Entretanto, os fatos que se sucederam pareciam
contradizer as esperanças idealistas. Tem‑se que “a história conturbada [da Liga das Nações] não
demonstrou outra coisa senão o triunfo da desconfiança recíproca e dos nacionalismos exacerbados
sobre o idealismo wilsoniano” (BELLI, 1994, p. 15).

Em linhas gerais, as principais preocupações condensadas nos 14 pontos de Wilson passavam pela
“supressão da diplomacia secreta, liberdade dos mares, limitação dos armamentos, remoção das barreiras
comerciais, reajustamento dos territórios, fim da exploração colonial e criação de uma Sociedade das
Nações” (BELLI, 1994, p. 14).

Ao se concretizar algumas das ideias veiculadas nos “projetos de paz perpétua” dos séculos anteriores,
foi criada a “Liga das Nações”, uma organização política interestatal que oferecia garantias mútuas de
independência política, integridade territorial e preservação da paz, como mencionado anteriormente.

O idealismo encontra seu momento de maior aceitação no período entreguerras. Importantes


publicações de autores e estudos contribuíram para o desenvolvimento inicial da obra Relações
internacionais como campo de estudos, de Lytton L. Guimarães. Identificar as causas da guerra e buscar
caminhos para a paz eram preocupações iniciais que, posteriormente, estiveram voltadas também para
questões como os problemas de segurança, os desarmamentos, o imperialismo e suas consequências, a
negociação diplomática, a balança de poder, a geopolítica etc. (GUIMARÃES, 2001, p. 24).

Mesmo dominando os discursos políticos e acadêmicos nesse período, as propostas idealistas não
vieram a se concretizar, sendo a evidência fática disso um novo conflito mundial.

O fracasso iminente do idealismo na política internacional veio com a conflagração da Segunda Guerra
Mundial, em 1939, de proporções ainda maiores do que as da Primeira Guerra Mundial. O idealismo perdeu
então sua capacidade de persuasão e ficou exposto às críticas de intelectuais realistas. Ele “atingiu o que
se considerou o caráter ingênuo e normativo do idealismo” (BELLI, 1994, p. 15), sobretudo a partir do
momento em que foi publicado o livro The Twenty Years’ Crisis, 1919‑1939 (1939), de Edward H. Carr.

A partir dessa publicação, a visão teórica realista de política internacional ganhou força. A obra
de Carr tornou‑se referência e iniciou o debate entre as teorias idealista e realista. Conforme ressalta
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Castro (2001), essa obra emblematiza o começo do estudo científico das relações internacionais e marca
o começo da tradição da teoria das relações internacionais.

A deflagração da Segunda Guerra Mundial contrapôs o argumento realista às propostas idealistas


de cooperação por meio de instituições calcadas em princípios éticos e morais como base do convívio
internacional pacífico. O debate entre o idealismo e o realismo ocorreu entre o final da Segunda Guerra
Mundial e meados dos anos 1950.

Nas raízes remotas do pensamento realista, observam‑se as obras já citadas de Maquiavel (O


Príncipe) e Thomas Hobbes (Leviatã). No entanto, além de Carr, outros autores realistas se destacaram
20
Geopolítica, Regionalização e Integração

e constituem peças fundamentais para a consolidação do realismo nos anos que se seguiram à guerra,
como é o caso de Hans J. Morgenthau (1904‑1980) (GUIMARÃES, 2001, p. 44).

A visão realista de mundo postula os Estados como os principais agentes do sistema internacional e
sua interação consiste no mais importante processo em curso nas relações internacionais, o que permite
que se entenda, por conseguinte, que:

[...] todos os outros processos, assim como o comportamento de todos os


outros agentes, são influenciados, direta ou indiretamente, em maior ou
menor grau, pelas relações de poder existentes entre os Estados soberanos
no plano internacional (ROCHA, 2002, p. 266).

Dessa forma, as organizações internacionais e, consequentemente, a ideia de cooperação no


contexto realista são de menor de importância em virtude de estarem limitadas aos poderes dos Estados
e à supremacia da força militar.

O sistema internacional, por sua vez, é entendido como anárquico e conflituoso. Nele, nenhum
Estado reconhece em outro a capacidade de estabelecer regras e fazê‑las cumprir no plano internacional.
Ademais, o processo político era visto como uma luta pelo poder e pelo uso recorrente da força.

Nesse sentido, se atribuiu aos Estados um comportamento racional, capaz de estabelecer uma
hierarquia de objetivos coerente com os interesses nacionais. Segundo essa visão, havia uma preocupação
constante com a preservação da soberania e da segurança em detrimento das relações econômicas e das
ações de cooperação.

Dessa maneira, o realismo político compreende as relações internacionais como sendo determinadas
por elementos de segurança e militarização. No entender de Castro (2001), a característica preponderante
dessa visão é a justificação do uso da força, seja como condição inevitável da vida em sociedade, seja
como meio de se atingir a paz no mundo.

Em ascensão, o realismo passou a influenciar formuladores de política externa, sobretudo os da


política externa americana dos anos 1950. Isso se deu à medida que, segundo Belli (1994, p. 17), esse
realismo “(...) parecia refletir não uma conjuntura passageira ou um momento de tensão, mas toda a
história da humanidade marcada por conflitos armados e disputas variadas”.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Como se pode verificar, embora os primeiros pressupostos (clássicos) do realismo fossem


flexibilizados a partir de pensadores como Waltz e, posteriormente, como Gilpin – ambos autores
de uma linhagem neorrealista da década de 1970 –, com o decorrer do tempo as características
principais da política internacional defendidas pelo realismo – Estado como agente principal,
sistema internacional anárquico, processo político de luta pelo poder e uso sistemático da força
como meio de solução de conflito – começaram a ser questionadas, dando margem para que as
relações internacionais fossem analisadas como um conjunto mais complexo de novos atores e
processos.

21
Unidade I

Saiba mais

Para verificar uma discussão sobre o aperfeiçoamento da abordagem


realista, leia:

BELLI, B. Capítulo 1. In: Interdependência assimétrica e negociações


multilaterais: o Brasil e o regime internacional de comércio (1985 a 1989).
Dissertação de Mestrado, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 1994.

O realismo se mostra realmente frágil quando manifesta uma vaga noção de natureza humana
essencialmente egoísta e imutável que, na condição de crença, não se presta à comprovação científica.
Nesse sentido, refletindo as características fundamentais dos dois debates abordados até aqui, Belli
(1994) ressalta que:

Se é verdade que o idealismo enfatizou a possibilidade de cooperação e a


convergência em detrimento da dimensão do conflito, não é menos verdade
que os teóricos realistas clássicos desprezaram em suas análises a questão
da cooperação, deixando de lado uma dimensão igualmente importante das
relações internacionais (BELLI, 1994, p. 18).

Além disso, as transformações no cenário internacional do século XX tornaram inegáveis a


importância das grandes corporações transnacionais para as economias domésticas e a influência na
política internacional tanto das organizações internacionais de fórum multilateral como das organizações
não governamentais. Os Estados deixaram a condição de únicos e mais importantes atores da cena
internacional e passaram a dividir espaço com novos atores.

Da mesma forma, questões de segurança e militarização, que encabeçavam a agenda da política


internacional, foram aos poucos perdendo lugar na pauta para questões que ganharam papel de maior
relevo no cenário internacional contemporâneo, como é o caso das relações econômicas, financeiras,
sociais e culturais.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

2.2 A noção de cooperação para os teóricos da interdependência

A teoria da interdependência surge como uma tentativa de dar respostas mais satisfatórias a uma
realidade internacional em acelerado processo de transformação. Sem descartar a contribuição realista, os
precursores da teoria da interdependência, Robert O. Keohane e Joseph S. Nye, construíram um programa
de pesquisa mais abrangente no início dos anos 1970, com o livro Poder e interdependência (1988 [1977]).

Nesse programa, havia espaço para o desenvolvimento de análises que focalizavam agentes distintos
do Estado nacional e processos complementares ao problema da segurança, o que estabelecia, assim,
um contraste com a abordagem realista.
22
Geopolítica, Regionalização e Integração

Para essa análise, os autores partiram do que percebiam como transformações reais da política
internacional. Tais transformações seriam consequência de medidas adotadas pela política internacional
desde o período entreguerras. Mesmo antes do fim da Segunda Guerra Mundial, as potências vencedoras,
imbuídas de esforços de institucionalização da política internacional, desenvolveram uma rede de
organizações internacionais com vistas a promover a cooperação multilateral em diferentes áreas.

Entre as organizações mais importantes, figurava a Organizações das Nações Unidas (ONU) e outras
a ela relacionadas, como a FAO, a OIT, a OMS e as agências do chamado sistema Bretton Woods, ou
seja: o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (Bird) e, por fim, também em instância
multilateral de cooperação comercial, o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (General Agreement
on Tariffs and Trade – GATT), substituído em 1995 pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Desde então, outros complexos acordos foram sendo estabelecidos em áreas específicas de cooperação
internacional, como parcerias para administração de alta tecnologia e cooperação para uso de diversos
recursos naturais (CASTRO, 2001).

Saiba mais

O GATT foi instituído no momento em que o Congresso Americano não


ratificou a Carta de Havana, que estabeleceria a Organização Internacional
do Comércio (ITO). Para uma melhor discussão sobre o GATT e a OMC, leia
a seguinte obra:

RAMOS, R. J. S. A estrutura do comércio internacional. In: DIAS, R.;


RODRIGUES, W. (orgs.) Comércio exterior: teoria e gestão. São Paulo: Atlas,
2004, p. 147‑178.

O efeito desse processo foi um intenso fluxo de conhecimentos e informações que, no entender de
Castro (2001, p. 23), passou “em grande parte a balizar e distribuir autoridade e estruturar instâncias de
negociação, de maneira a influenciar extensamente o jogo da política e da economia internacionais”.

Da mesma maneira, também alteravam a realidade internacional o gigantesco aumento das


transações transfronteiriças (fluxo de capitais, bens, pessoas etc.) e a presença de atores não estatais,
como as transnacionais, as igrejas e as organizações não governamentais (ONGs), que participavam nos Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
processos políticos e econômicos internacionais.

Dessa forma, as sociedades criaram canais múltiplos de contato, fazendo com que alguns importantes
processos em curso nas relações internacionais contemporâneas nem sempre passassem pelo controle
estatal.

Os pressupostos realistas se revelaram insuficientes para explicar os complexos eventos que


dominavam a agenda política internacional contemporânea. Ao reconhecer tal insuficiência, mas sem
descartar totalmente o modelo realista, os autores Keohane e Nye (1988) conceberam uma agenda

23
Unidade I

internacional aberta, complexa e composta por uma ampla variedade de objetivos, sem estar, no entanto,
subordinada a uma hierarquia temática no sentido de a segurança militar ser vista, a princípio, como
tema mais relevante.

A agenda internacional é considerada aberta por admitir temas de diversas ordens e interesses e
complexa por estabelecer conexões variáveis, como entre questões de segurança nacional e econômicas
ou tecnológicas e entre questões de política interna e externa, podendo ocorrer diferentes coalizões
dentro e fora de governos ou instituições.

Os teóricos observaram também a existência de múltiplos canais de comunicação e influência entre


sociedades cujas interações vão desde a informalidade entre autoridade e atores privados até as relações
interestatais formais.

Desse modo, existe a necessidade de analisar o papel desempenhado por outros agentes que não o
Estado, por serem considerados determinantes em alguns processos em curso nas relações internacionais.
Em determinados casos, “dependendo da tecnicidade associada às decisões, tais agentes desempenham
papel tão relevante quanto o dos Estados” (ROCHA, 2002, p. 273).

Ao mesmo tempo que admite uma nova agenda e novos agentes, a teoria tem por base o conceito de
interdependência como resultado das transações entre agenda e agentes. A interdependência não se refere
simplesmente a uma interconexão, mas sim a uma dependência mútua ou a “uma situação em que atores
são afetados, de formas potencialmente custosas, pelas ações de outros” (KEOHANE, 1992, p. 167).

Dentro dos argumentos de Keohane e Nye (1988), existem duas dimensões da interdependência: a
sensibilidade e a vulnerabilidade, as quais os agentes ficam sujeitos no que concerne às mudanças.

A sensibilidade à mudança se refere aos ajustes realizados em políticas locais e em reflexos de


alterações de fatores externos. A vulnerabilidade corresponde a custos impostos por eventos externos
aos quais os agentes estão sujeitos mesmo depois de ter alterado políticas.

Segundo os autores dessa teoria, isso significa dizer que as relações interdependentes entre dois ou
mais agentes não necessariamente resultarão em vantagens a todos os envolvidos, uma vez que nada
assegura que as relações consideradas interdependentes sejam caracterizadas por benefícios mútuos,
“isso dependerá do peso dos atores e também da natureza da relação (KEOHANE, 1992, p. 167).
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Os diferentes agentes não possuem igual capacidade de influenciar a evolução dos acontecimentos
no plano internacional. Desse modo, a interdependência é essencialmente assimétrica à medida que
afeta os agentes de formas diferentes por estes não gozarem do “mesmo grau de desenvolvimento
socioeconômico e não controlarem os mesmos recursos naturais, geográficos, financeiros e militares”
(DI SENA JUNIOR, 2001, p. 25).

Tais assimetrias geram disputas entre os agentes nos diferentes processos em curso nas relações
internacionais. Os resultados desses processos não são determinados pelo poder militar e emprego da
força da visão realista, mas pela manipulação dos próprios fatores de interdependência.
24
Geopolítica, Regionalização e Integração

É a partir dessas assimetrias, ou seja, das sensíveis diferenças entre os agentes nas áreas militar,
econômica, industrial, entre outras, que Keohane e Nye opõem o conceito de interdependência ao
conceito realista de “poder”, essencialmente relacionado ao uso da força. Os autores afirmam que:

São “assimetrias” de dependência que mais provavelmente oferecerão


fontes de influência para os atores nas relações que estabelecem entre
si. Atores menos dependentes podem muitas vezes utilizar as relações de
interdependência como uma fonte de poder na negociação relativa a uma
questão e talvez para exercer influência em outros problemas [...]. Concluímos
que um início promissor nas análises políticas da interdependência
internacional pode ser o de conceber as interdependências assimétricas
como fontes de poder para os atores (KEOHANE; NYE, 1977 apud KEOHANE,
1992, p. 167).

O quadro mais complexo de agentes assimétricos e as novas fontes de poder percebidas pela
interdependência fazem com que diferentes agentes sejam capazes de controlar a evolução e o resultado
dos principais processos em curso no plano das relações internacionais.

Assim, em alguns casos, conforme o tema com o qual se estiver negociando, as organizações
internacionais (governamentais ou não), os agentes sociais e mesmo os representantes do setor privado
terão maior ou menor capacidade de inserir temas na agenda internacional, interferir na formulação
de política exterior dos Estados, controlar processos etc. Em outros casos, as decisões mais importantes
ficam por conta dos Estados.

Esse quadro fortaleceu a atuação de outros agentes nos processos em curso no plano
internacional, sobretudo dos Estados mais fracos e, principalmente, no âmbito das organizações
internacionais. Para os interdependentistas, as organizações internacionais estabelecem agendas,
induzem a formação de coalizões e funcionam como facilitadoras da ação política dos Estados
fracos.

A capacidade de eleger o foro adequado para um problema e de mobilizar votos é um importante


resultado político. As regras são negociadas sob a apreciação dos membros e, no processo de aprovação
e implementação destas, os Estados mais fracos, por meio de colisões, tentam fazer prevalecer seus
objetivos ou mesmo obter resultados menos custosos.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Por assim dizer, a teoria de interdependência dá melhores explicações à nova realidade internacional
e aos processos nela observados. Essa teoria nutri‑se da:

[...] valorização das organizações internacionais, de atores privados


participantes em processo de cooperação econômica, técnica ou política
e de processos políticos domésticos, que passaram a ser vistos como
relevantes para explicar as mudanças na política internacional (CASTRO,
2001, p. 24‑25).

25
Unidade I

É fundamental salientar que o estudo dessa teoria não se limita aos argumentos apresentados, haja
vista que sua apreciação – que valoriza os atores não estatais, as instituições (governamentais ou não),
a cooperação entre agentes e uma ampla agenda de relações internacionais – desemboca em outra
agenda de pesquisa: a dos regimes internacionais, dos quais não nos ocuparemos aqui.

Figura 2 – Presidente Dilma Rousseff durante encontro com o secretário‑geral


das Nações Unidas, Ban Ki‑Moon, na sede da ONU, em 2011

3 A Política Externa e os Interesses Nacionais: Instrumentos da


Política Estatal e da Geopolítica

Assim como o Brasil, outros países, ao estabelecerem suas formas de inserção internacional no
mundo globalizado, levam em consideração a importância de se definir necessidades e interesses
próprios atuais, baseando‑se na consciência coletiva de se ter uma presença e uma imagem
internacionais.

Reafirmando o que foi dito anteriormente, o modelo de estado‑nação eminentemente moderno,


fundado no princípio da soberania e forjado em Westphalia, outorga relativa independência na
formulação da estratégia que orienta a ação estatal no âmbito internacional. É por meio de suas receptivas
políticas externas e de seus recursos disponíveis que os países têm relativa autonomia para escolher
seus caminhos, seja para desenvolvimento econômico, capacitação tecnológica, maior participação no
comércio global, crescimento de índices sociais ideais, busca por poder etc.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Quando se pensa as relações internacionais de comércio como uma saída assertiva para países em
desenvolvimento, há que se recorrer à teoria de interdependência. Ela ajudará a entender as decisões
das políticas externas desses Estados, já que eles não gozam do mesmo grau de influência militar e
tecnológica e não têm o mesmo nível de desenvolvimento econômico. A conformação dos interesses
nacionais individuais indiscutivelmente geram oportunidades e constrangimentos recíprocos.

Porém, antes de tentar demonstrar que as relações internacionais de comércio podem consubstanciar
o desenvolvimento das nações, há que se entender o que é e quais são os objetivos da política externa
no contexto das relações internacionais.

26
Geopolítica, Regionalização e Integração

3.1 Introdução à política externa: conceitos e objetivos

As relações entre Estados, organizações internacionais, partidos políticos, organizações não


governamentais e outros atores situam‑se dentro de uma ordem ou sistema internacional e acabam por
configurar as relações internacionais. Podemos considerar sistema internacional como um:

[...] meio onde se processam as relações entre os diferentes atores que


compõem e fazem parte do conjunto das interações sociais que se
processam na esfera internacional, envolvendo seus atores, acontecimentos
e fenômenos (MERLE, 1981 apud PECEQUILO, 2004, p. 38).

O sistema internacional contemporâneo compreende uma sucessão de macroestruturas:


eurocentrismo, transição entreguerras, sucessão da Segunda Guerra Mundial com a Guerra Fria até
o multipolarismo. Dentre essas marcantes etapas da história contemporânea, houve ainda conflitos
generalizados, revoluções, flutuações econômicas e outras crises.

A importância de conhecer essas macroestruturas dá‑se pelo fato de que cada uma delas corresponde
a configurações específicas de poder. Contudo, os sistemas internacionais podem ser examinados sob o
ângulo de subsistemas, podendo ser divididos em ideologia, desenvolvimento, conflito e segurança.
Analisemos cada um deles:
• ideologia: tem irrefutável influência na política internacional e está ligada ao modo de organização
do país no que concerne à política externa;
• desenvolvimento: o nível de desenvolvimento de um país afeta diretamente sua capacidade de
ação internacional;
• conflito: situações de tensão aguda ou conflito aberto constituem oportunidades extremamente
ricas para análise da realidade internacional;
• segurança: os arranjos internacionais e os meios nacionais são instrumentos de segurança
externa, porém, não deve‑se pensar apenas nos instrumentos militares, mas também nos políticos,
econômicos e socioculturais.

Definido o ambiente de atuação estatal, o processo de concepção da política externa de um estado


é tratado pelos analistas das relações internacionais a partir de enfoques diferentes. Entretanto, o
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
entendimento geral acerca da política externa segue alguns traços comuns que sempre levam em
consideração as motivações internas e os constrangimentos externos.

Na definição de Seitenfus (2004, p. 84), a política externa é um “processo de percepção, avaliação,


decisão, ação e prospecção estatais, inclusive aquelas iniciativas tomadas no âmbito interno que possuam
uma incidência além‑fronteiras”. A política externa é de caráter dinâmico e ajustável, decorrente,
portanto, da:

[...] confrontação entre, de um lado, as aspirações internas traduzidas pelo


interesse nacional e os instrumentos de que dispõem para promovê‑lo e, de
27
Unidade I

outro, as oportunidades e limitação oferecidas pelo sistema internacional


(SEITENFUS, 2004, p. 84).

Em outras palavras e seguindo a mesma linha de análise, Larrañaga (2004) define política externa
como um:

[...] conjunto de parâmetros, instrumentos, limites e procedimentos que


orientam a tomada de decisões de autoridades de um país, referentes
às relações desse país com o restante do mundo, quanto à sua inserção
internacional e em função dos seus interesses (LARRAÑAGA, 2004, p. 198).

Ainda no campo das definições, a análise de Cervo e Bueno (2008) aponta a política exterior como
um instrumento governamental com o qual um Estado afeta o destino de seu povo, mantendo a paz,
fazendo guerras e induzindo o crescimento, o desenvolvimento, a riqueza ou o atraso, a dependência e
a pobreza.

Diante dessas percepções, é possível reconhecer que as diferentes atitudes ou posições de formulação
das políticas implementadas pelos Estados são reflexos do interesse nacional de cada Nação.

Assim, tem‑se que:

[...] o interesse nacional encontra‑se no âmago da política externa dos


estados e, por conseguinte, no centro das relações internacionais, [que por
meio dele os chefes de estado tomam as decisões quanto] às iniciativas
diplomáticas, os acordos comerciais, a constituição de blocos econômicos,
os votos nas instâncias multilaterais, as concessões de favores e a obtenção
de vantagens entre os Estados (SEITENFUS, 2004, p. 85).

Entretanto, diferentemente das proposições do realismo político, apresentadas anteriormente, muitas


vezes é um grande desafio delinear objetivos concretos para a política externa. Há que se pesar que o
conceito de interesse nacional é suscetível a um grande número de variáveis e pode provocar percepções
distintas e contraditórias. Nesse aspecto, as análises superficiais devem dar lugar ao ceticismo, pois “o
interesse nacional não existe por si mesmo”, mas existe “uma percepção majoritária dos responsáveis
pela orientação da política externa dos Estados” (SEITENFUS, 2004, p. 86).
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Alguns fatores podem ajudar a estabelecer parâmetros para balizar os contornos da inserção de
países no cenário internacional:

• fatores estáticos e permanentes (dimensão, localização e população);

• situações estruturais (regime político, sistema econômico, relações políticas e econômicas com o
mundo);

• comportamentos conjunturais (posição em debates e crises internacionais).


28
Geopolítica, Regionalização e Integração

O reconhecimento de tais diferenças é objeto de análise da política externa quanto a seus objetivos,
sua agenda, seus instrumentos e seu estilo de execução. Os objetivos são as metas, anseios ou intuitos
estratégicos estabelecidos como prioritários pelo governo de determinado país para defender, promover
e atingir seus interesses.

Para atingir os objetivos nacionais estabelecidos, o mesmo governo concebe um conjunto de


estratégias: é o que chamamos de agenda. Quanto aos instrumentos, estes compreendem os recursos
disponíveis e os necessários para implementação das estratégias nacionais estabelecidas. A maneira, a
forma, o modo, as práticas e os costumes que caracterizam a condução da política exterior determina
o estilo do governo em questão.

Em relação ao desenvolvimento, a pergunta que se faz é: como fazer das relações internacionais de
comércio uma agenda de inserção positiva? A resposta vem em linhas gerais. A inserção internacional
de um país e sua política externa devem considerar três campos fundamentais de atuação nas relações
internacionais:

• estratégico‑militar: no que diz respeito ao risco de guerra ou desejo de paz, o campo


estratégico‑militar representa o que o país significa ou pode vir a significar como aliado, protetor,
amigo ou inimigo;

• relações econômicas: indica o que o país representa para a comunidade internacional em termos
de mercado de fornecimento, consumo, alianças, parcerias e similares;

• valores: revela o que o país representa como modelo de sociedade (LARRAÑAGA, 2004).

3.2 A ação e a interação dos Estados

Todos os países do mundo possuem uma base territorial, mas, frequentemente, suas fronteiras exatas
são temas de discussão e até de guerras. A Palestina, por exemplo, não tinha uma base territorial até
conseguir um controle sobre a margem ocidental e sobre Gaza. Além disso, a Palestina obteve um status
de observadora no meio internacional.

Segundo Mingst (2009), há casos de comunidades (até nômades) que cruzam fronteiras sem que
as autoridades das nações percebam. Isso ocorre, por exemplo, com os povos masai do Quênia e da
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
Tanzânia. A maioria dos Estados possui alguma estrutura institucional para governança, mas é impossível
saber se a população a cumpre, principalmente pela ausência de informações. Um Estado necessita que
a maioria de seu povo reconheça a legitimidade de seu governo e não reconheça somente uma forma
de governo determinada.

Em 1997, por exemplo, o povo do Zaire (hoje República Democrática do Congo) não reconheceu
mais a legitimidade de seu governo, liderado por Mobutu Sese Seko. Isso levou o país a uma guerra
civil.

29
Unidade I

Para que um Estado seja reconhecido, ele deve cumprir quatro condições essenciais. São elas:

• o Estado deve ter uma base territorial e uma fronteira definida geograficamente;

• uma população estável deve morar dentro de suas fronteiras;

• deve existir um governo ao qual a população respeite;

• o Estado deve ser reconhecido diplomaticamente por outros Estados.

De acordo com Mingst (2009), na visão liberal o Estado é soberano, porém, ele não é um protagonista
autônomo. Os liberais enxergam o Estado como uma arena pluralista que possui a função de manter
as regras básicas do jogo.3 Muitas vezes, esses interesses competem entre si dentro de uma estrutura
pluralista.4

A visão liberal conceitua o Estado como sendo: a) um processo que envolve interesses concorrentes;
b) uma reflexão dos interesses governamentais e da sociedade; c) o repertório de vários interesses
nacionais que estão sempre mudando; e d) o possuidor das fontes fungíveis de poder.

Muitas pessoas entendem que a definição de Estado é a mesma de nação. Mas isso é um mero
engano. Uma nação é composta pelo povo, ou seja, um grupo de pessoas que possui um conjunto
de características comuns. Aqui, leva‑se em consideração o conhecimento disseminado por novas
tecnologias e pela educação. Na Nação, as pessoas devem fidelidade ao seu representante legal, ou seja,
o Estado. A imprensa é utilizada de maneira a difundir a língua nacional e os meios de transporte podem
colaborar para que se visualize as similaridades e diferenças entre os povos in loco.

Dinamarca e Itália são exemplos de nações que formaram os próprios Estados. De acordo com Mingst
(2009), a semelhança entre nação e Estado firma‑se como a essência para uma autodeterminação
nacional na qual o próprio povo define a melhor maneira para sua sobrevivência. Há nações que
estão espalhadas em mais de um Estado, como os curdos, que vivem no Iraque, no Irã e na Turquia;
e os somalis, que vivem no Quênia, na Etiópia, em Djibuti e na Somália. Há ainda os casos em que
um único Estado possui várias nações, como ocorre com a Índia, a Rússia e a África do Sul. Nestes,
nação e Estado não se confundem. Dentro dessa vasta gama, há aqueles povos que querem seus
próprios Estados (como os curdos) e os que almejam apenas uma representação adequada e justa
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dentro do Estado em que estão (como o povo basco na Espanha e na França). Dessa forma, o Estado
pós‑westphaliano pode assumir diversas formas: a) Estados‑nação, em que existe uma harmonia
entre eles; e b) Estado com várias nações.

A maior fonte de instabilidade e de conflito existente são as disputas de território por Estados e o
anseio de algumas nações de criarem seus próprios Estados. O conflito entre judeus e árabes tem sido

3
Essas regras garantem que vários interesses concorram com imparcialidade e efetividade no jogo da política.
4
Os interesses nacionais dos Estados mudam, o que reflete os interesses e as posições relativas de poder de grupos
concorrentes internos e, às vezes, também de fora do Estado.
30
Geopolítica, Regionalização e Integração

o mais intenso e rude nos últimos tempos.5 Assim, pode‑se afirmar que uma nação é mais do que uma
entidade histórica e o Estado é mais do que uma entidade jurídica.

Diante disso, é possível conceituar o Estado de diversas formas: a) O Estado é uma ordem normativa
munida de um símbolo e de crenças que unem o povo que vive dentro dele; b) é a entidade que
detém exclusivamente poder para uso da violência dentro da sociedade; e c) além de ser uma entidade
funcional, centraliza e unifica várias responsabilidades importantes.

A visão realista do Estado defende uma visão mais estatista, isto é, voltada para o Estado, que
passa a ser um protagonista autônomo restringido apenas pela monarquia estrutural do sistema
internacional. O Estado tem o poder para trabalhar com assuntos que se referem a problemas
internos que afetam sua população, sua forma de governo, sua economia e sua segurança. Ele tem
um conjunto consistente de metas, definido em termos de poder (poderio militar). Na visão realista,
o Estado é: a) um protagonista autônomo; b) circundado por uma estrutura de permanente conflito
e um sistema anárquico; c) é soberano; d) é guiado por um interesse nacional que é definido em
termos de poder.

Há ainda aqueles que identificam duas outras visões de Estado direcionadas a enfatizar o
papel do capitalismo e da classe capitalista em sua formação e funcionamento do Estado. A
visão marxista instrumental o considera como um agente executor da burguesia.6 A visão
marxista estrutural, por sua vez, o considera como aquele funciona dentro da estrutura do
sistema capitalista. Nesta, o Estado é levado a expandir‑se por causa dos imperativos do sistema
em questão. A visão radical de Estado marca que este é: a) o agente executor da burguesia;
b) influenciado por pressões da classe capitalista; e c) restringido pela estrutura do sistema
capitalista internacional.

Os construtivistas possuem uma visão diferente, pois estão em constante mudança e evolução no
que diz respeito a assuntos internos ou internacionais. Para eles, os Estados devem compartilhar diversas
metas e valores a partir dos quais a socialização lhes é sugerida por organizações não governamentais
e internacionais. Essas metas e valores podem influenciar e até mudar as preferências estatais. A
visão construtivista de Estado indica que este é: a) entidade construída socialmente; b) repositório de
interesses nacionais que mudam ao longo do tempo; c) moldado por normas nacionais que mudam
as preferências; d) influenciado por interesses nacionais que estão sempre mudando e que modelam e
remodelam as identidades; e e) socializado por OGIs e ONGs.
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Conforme Mingst (2009), os Estados possuem poder e têm a capacidade de influenciar os outros e
de controlar resultados. A relação de poder varia de Estado para Estado, isto é, o tamanho e a posição
geográfica são características de poder reconhecidas pelos especialistas de relações internacionais. Na
visão realista, o poder torna‑se a moeda de troca das relações internacionais.

5
Os conflitos entre judeus, cristãos, mulçumanos e bahais se manifestam por estes reclamarem e considerarem
sagrados alguns terrenos e monumentos, pela intensa oposição dos Estados árabes à existência do Estado de Israel e pela
gradual expansão do território de Israel desde sua fundação em 1948.
6
A burguesia reage às pressões diretas da sociedade, em especial às pressões da classe capitalista.
31
Unidade I

Ao mesmo tempo que uma grande extensão geográfica oferece poder ao Estado, ela pode trazer
sérios problemas, como os relacionados à invasão territorial. Além disso, a defesa de um território tem
um custo muito alto e também pode trazer problemas ao país.

No final da década de 1890, surgiram duas visões distintas referentes à importância geográfica em
relações internacionais. A primeira visão foi escrita pelo oficial da marinha e historiador Alfred Mahan
(1840‑1914), que destacou a importância de controlar o mar e afirmou que o Estado que conseguia
controlar as rotas consequentemente passaria a controlar o mundo. Em 1904, o geógrafo Halford
Mackinder (1861‑1947) contradisse essa versão e afirmou que o Estado que possuísse mais poder era
aquele que conseguiria controlar o “coração” geográfico da Eurásia.

É correto afirmar que os recursos naturais são fatores de restrição ou ampliação do potencial
geográfico de um país. O Catar, o Kuwait e os Emirados Árabes Unidos são países que possuem grandes
fontes de recursos naturais. Eles são pequenos em extensão territorial, mas são vistos como grandes
países exportadores de petróleo. Os Estados necessitam de petróleo e não se importam em pagar um
alto preço por ele. Se for necessário, eles também não hesitam em começar uma guerra para obter esse
recurso natural.

Segundo Mingst (2009), o fato de um país possuir uma grande quantidade de recursos naturais não
significa que ele está livre de ameaças. Ao contrário, ele se torna alvo de ações agressivas, como a que
ocorreu no Kuwait na década de 1990.

Além disso, o país que não possui recursos naturais não pode ser visto como desprovido de potencial.
O Japão, por mais que não seja rico em recursos naturais, é um país com capacidade para negociar
outros elementos, que o tornam uma nação poderosa na comunidade mundial.

Outra fonte de poder é a população. Países como China, Índia, EUA e Rússia são considerados grandes
potências de poder. Mesmo se uma grande população produzir uma vasta gama de bens e serviços, as
características dessa população podem servir como restrição ao poder do Estado, pois ela pode ter baixo
nível educacional e de serviços sociais. Em contrapartida, Estados que possuem alto nível educacional e
população pequena, como a Suíça, podem ocupar nichos econômicos e políticos diferenciados.

De acordo com a prática e o monitoramento da organização, essas fontes naturais de poder são
modificadas em fontes tangíveis e intangíveis, sendo utilizadas em especial para aprimorar, modificar
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ou restringir o potencial de poder.

De acordo com Mingst (2009), as fontes naturais de poder são a geografia, os recursos naturais e a
população. A fonte tangível de poder é o desenvolvimento industrial, considerado o mais crítico, visto
que as vantagens e desvantagens da geografia diminuem com uma capacidade industrial avançada7. Já
as fontes intangíveis são a imagem nacional – as pessoas residentes no país têm imagens do potencial
de poder de seu próprio Estado – e a percepção que os demais Estados possuem do apoio público e da

7
As viagens aéreas diminuem a influência da expansão geográfica como barreira para o comércio e, ao mesmo
tempo, as tornam frágeis.
32
Geopolítica, Regionalização e Integração

coesão de um Estado – este deve ter uma liderança com líderes carismáticos e visionários que consigam
alavancar o potencial de poder por meio de iniciativas audaciosas.

No âmbito diplomático, a interação dos Estados é o centro das relações internacionais. Diante
disso, é fundamental a investigação da natureza de um determinado Estado, isto é, qual a importância
de seu papel no contexto internacional, além de delimitar também a especificidade de suas relações
interestatais (SARDENBERG, 1982).

Um Estado é caracterizado por sua soberania8 e isso só foi possível definir a partir de uma
grande experiência jurídica e política que se iniciou na Europa. Observando‑se a definição
clássica de Estado, nota‑se que ela reflete fundamentalmente as vicissitudes da história europeia,
em especial nas eras moderna e contemporânea. Nos dias atuais, houve um crescimento da
política internacional e as limitações genéricas no conceito tradicional de Estado não devem ser
esquecidas.

Diante disso, é possível destacar dois conceitos essenciais: o do direito e o da força. No passado, a
estrutura da política europeia era vista como um sistema unificado, isto é, os Estados europeus possuíam
o mesmo poder e o mesmo direito. Hoje em dia, essa realidade é totalmente diferente, já que é possível
identificar em alguns países europeus a desigualdade de poder – no plano da política internacional – e
a igualdade soberana – no plano jurídico (SARDENBERG, 1982).

Nas últimas décadas, a interação entre os Estados tem aumentado e está cada vez mais intensa. Isso
só foi possível depois da globalização e do avanço da tecnologia, que possibilitaram aos Estados uma
maior aproximação e permitiram a travessia de fronteiras instransponíveis. A revolução nos meios de
comunicação proporcionou o relacionamento de diferentes etnias. De acordo com Sardenberg (1982):

Torna‑se, assim, cada vez menos provável a organização da ordem internacional


em termos hegemônicos, ou seja, de permanente sujeição (política, econômica)
de umas nações por outras (SARDENBERG, 1982, p. 22).

Os Estados permanecem como núcleos de ação política internacional, mas isso não quer dizer
que eles contêm somente os “requisitos de poder” – semelhante ao conceito utilizado pela Europa.
Independentemente de sua força, os núcleos são a forma dominante de organização política dos povos
e uma ferramenta para a expressão internacional. Dessa forma, os Estados conseguem se relacionar
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e adquirir oportunidades ímpares entre eles, além de manter as relações diplomáticas definidas pelo
reconhecimento mútuo entre os interlocutores.

A ordem internacional contemporânea é formada por meio da ação e interação dos Estados. Porém,
ela se alimenta da desigualdade e do desequilíbrio entre eles. Mesmo diferentes, os Estados são os
agentes elementares da política internacional, pois são centros de ação e de decisão.
Independentemente das inovações ocorridas em outros planos nas últimas décadas, ainda parece

8
Uma jurisdição excludente sobre determinado território e pelo monopólio do poder coercitivo legítimo sobre seus
habitantes.
33
Unidade I

existir uma estabilidade nos padrões semelhantes das relações internacionais, o que permite que elas
sejam conceituadas como relações interestatais. Evidentemente, essa estabilidade é enaltecida quando
estão em pauta questões primordiais para qualquer sociedade, como a paz, a guerra, a ideologia, a
segurança e o desenvolvimento. Por isso, o papel do Estado sempre foi decisivo diante de todas essas
questões9 (SARDENBERG, 1982).

Faz‑se necessário conhecer o processo de produção da política externa de um Estado, como


o que abrange o plano de interação entre Estados e as mudanças no processo político interno.
Usualmente se fazia uma distinção radical entre os planos interno e externo na análise dos Estados,
sendo que os internacionalistas privilegiavam o plano externo por este ser mais próximo de suas
preocupações. No entanto, nos dias atuais, essa separação se mostra mais tênue, o que naturalmente
obriga os analistas a redobrarem sua atenção para o nível interno de cada Estado (SARDENBERG,
1982).

Aliado a isso, existem formatos utilizados pelos Estados para fazerem prevalecer suas respectivas
soberanias no plano externo. Certamente, há casos em que a soberania de um Estado é como uma ficção
jurídico‑política, do mesmo modo como há casos em que os Estados desfrutam de preponderância
incontrastáveis. Ainda há quem visualize Estados fortes e fracos, causados pelo fenômeno da
interdependência, que é igualmente característico de outros níveis da interação dos Estados e opera em
três níveis diferentes:

• entre iguais ou quase iguais: existe uma teia de interesses de diversas ordens que tem como
base o sistema capitalista de produção e a democracia liberal como forma de organização política;

• entre competidores e quase adversários: esse nível de interdependência pode ser representado
pelo interesse comum na sobrevivência da humanidade;

• entre desiguais: se manifesta nas relações entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. A


teoria da interdependência global é uma oportunidade de integrar em um único contexto os eixos
leste‑oeste e norte‑sul da política mundial.

O processo de desenvolvimento dos países menos avançados não pode ser uma barreira para a
interdependência ou uma forma de prendê‑los a um insolúvel círculo vicioso socioeconômico. Tal
interdependência é caracterizada pela subordinação principalmente dos países menos desenvolvidos,
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que acabam como fornecedores de matérias‑primas para os mais desenvolvidos e consequentes


clientes de uma produção de maior densidade tecnológica, o que os impede de ascender para uma
genuína independência econômica. Busca‑se, enfim, substituir a interdependência vertical10 por uma

9
Independentemente de considerar o Estado como um agente do sistema internacional, não se pode levar ninguém
a considerar que suas políticas externas se iniciem neles mesmos ou em seus desejos e temores. Cabe ressaltar que a base
da política externa é o relacionamento e não se deve avaliar isoladamente o papel de um determinado agente.
10
Interdependência vertical: institucionalização da desigualdade e da dependência; processo de marginalização
econômica e política.
34
Geopolítica, Regionalização e Integração

interdependência horizontal11, baseada nos princípios de cooperação e de oportunidades econômicas


iguais.

Entretanto, com a crescente interconexão tanto nos níveis interno como externo da ação estatal,
os Estados têm a oportunidade de intervir diretamente nos processos decisórios de outro12, o que leva
a conflitos externos entre eles, já que todos os Estados são soberanos, ou seja, nenhum Estado tem o
direito de interferir na soberania de outro. Aliado a isso, outros fatores que exercem grande influência nas
relações entre as nações foram difundidos no contexto internacional, tais como entidades transnacionais,
partidos políticos com ramificações além das fronteiras de seu país, empresas multinacionais e grupos
de pressão econômica ou ideológica (SARDENBERG, 1982).

É importante mencionar que a interação dos países é processada em três níveis: bilateral, regional e
multilateral. Esses níveis não podem ser substituídos e cada um complementa o outro. Dependendo do
tipo de divergência internacional, uma nação deve ter opções e talvez buscar mais de um nível, com o
especial cuidado de evitar que uma ação em um dos níveis restrinja a liberdade de ação em outro nível
ou mesmo elimine essa possibilidade.

No período da Guerra Fria, o Estado nacional teve de enfrentar a deficiência de suas fronteiras. Isso
se deu não apenas devido à “chantagem nuclear”, mas também na área econômica e ideológica, nas
quais os Estados sofriam pressões. Os países industrializados pressionavam os países subdesenvolvidos
no intuito de tornar obsoleto o princípio de que cada Estado tem o direito à soberania sobre os recursos
naturais estabelecidos em seu próprio território. Como os países desenvolvidos dependiam diretamente
dos recursos de matéria‑prima encontrados somente nos países subdesenvolvidos, surgiu a ideia nos
Estados desenvolvidos de que, por meio do uso da força, o acesso a essas matérias‑primas poderia ser
contínuo (SARDENBERG, 1982).

As empresas multinacionais13 buscam regular suas operações mediante políticas de unificação


de mercados. Essas políticas não se limitam apenas às fronteiras nacionais, elas ultrapassam essas
barreiras com vistas à expansão dos negócios. As multinacionais contam com a tecnologia, uma
importante ferramenta que nos últimos tempos tem avançado cada vez mais. O aprimoramento
da tecnologia no campo da comunicação, por exemplo, proporcionou um rápido crescimento na
difusão das informações e das ideias, o que facilitou ainda mais a ação do Estado em determinadas
áreas.
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Os Estados podem ser uma organização social muito resistente, com tendência a subsistir
inclusive em condições desfavoráveis. A Rússia soviética, por exemplo, depois da Revolução Vermelha
(1917), conseguiu adaptar sua diplomacia e estratégia de acordo com as necessidades de convivência
interestatal, eliminando traços de uma revolução que havia definido o início de sua existência. Foram

11
Interdependência horizontal: igualdade e independência.
12
Essa intervenção acontece por meio de ideologias e da mobilização de setores interessados em questões
específicas daquele Estado.
13
Atores importantes pelo fato de se envolverem diretamente e darem apoio político aos Estados onde se encontram
suas sedes principais.
35
Unidade I

criados um estabelecimento diplomático tradicional e um exército regular no intuito de se suprir os


anseios estatais do regime revolucionário. Após 1945, essa forma estatal continuou a existir na União
Soviética.

Outro assunto pertinente à ação e interação dos Estados é a diplomacia. Por meio dela e da estratégia,
se dão todos os negócios que envolvem os Estados. A diplomacia e a estratégia se complementam e
estão subordinadas à política externa. Em termos mais claros, a estratégia poderia ser definida como a
arte de vencer e a diplomacia, como a arte de convencer.14 (SARDENBERG, 1982).

Segundo Sardenberg (1982):

Diplomacia e estratégia envolvem algo mais complexo do que as opções


da paz e da guerra, uma vez que a diplomacia continua a funcionar nos
tempos de guerra e as formas estratégicas de pensar e de agir subsistem
mesmo na ausência da guerra. Além disso, a diplomacia opera em vastas e
importantes áreas das quais se exclui, normalmente, a questão da guerra e
da paz ou, mais precisamente, em que se toma essa questão como um todo
dado a priori; é o campo, por exemplo, da diplomacia econômica e comercial
(SARDENBERG, 1982, p. 27).

Segundo Soares (2001), a palavra diplomacia vem do grego diploma e significa “documento dobrado
em dois”. Esse termo era utilizado para indicar os documentos importantes escritos em pergaminho15 e
colocados na forma de folhas dobradas e reunidas por uma barra de ferro usada para encadernação. O
cuidado na preparação de tais diplomas deixava claro que todas as informações contidas no documento
eram de extrema importância e precisavam ser conservadas.

De uma maneira geral, a diplomacia na atualidade significa:

• o serviço público de um Estado, que trabalha com as relações exteriores e tem como pontos de
referência outros Estados ou pessoas de Direito Internacional;

• um setor do serviço público, destinado às relações políticas entre governos ou com organizações
intergovernamentais (excluídos os serviços consulares);
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• por antonomásia, defeitos ou qualidades incorporados naqueles que exercem a diplomacia em


quaisquer das acepções anteriores.

Tais conceitos estão firmados num tipo histórico particular de organização das sociedades humanas,
o Estado moderno, que se refere ao “serviço público”, ou seja, às pessoas que ocupam funções e executam
tarefas em nome do Estado.

14
Entretanto, em diplomacia, deve-se almejar a persuasão, sem que o interesse de convencer seja claramente
demonstrado.
15
Esses documentos se diferenciavam de outros que não tinham tamanha relevância.
36
Geopolítica, Regionalização e Integração

Nas palavras de Soares (2001):

Num primeiro sentido, diplomacia seria sinônimo do conjunto das relações


que uma comunidade humana relativamente homogênea e diferenciada
de outras mantém com outras comunidades de idênticas características.
Numa perspectiva filosófica, seria um fenômeno ligado à “alteridade” de
uma sociedade, ou seja, ao relacionamento de uma “unidade política” com
outras unidades políticas (SOARES, 2001, p. 2).

A diplomacia nada mais seria do que o conjunto das relações exteriores dessas entidades, seus
relacionamentos com o outro (a alteridade), por oposição conceitual às relações internas e humanas,
presentes num universo totalmente fechado e unicamente nele considerado.

A diplomacia existe desde que o homem passou a se organizar em agrupamentos sociais que deram
início ao seu relacionamento. Mesmo que a relação entre os homens fosse de natureza bélica, em algum
momento houve a necessidade de tréguas, mesmo que fracassadas. Isso já era indício da manifestação
primitiva da arte da diplomacia (SARDENBERG, 1982).

Os egípcios e mesopotâmios já demonstravam uma grande atividade diplomática. É fato que as


civilizações da Antiguidade tinham tendência a se organizar de maneira autárquica, sem reconhecer
igualdades – eles apenas reconheciam os outros povos como vassalos ou bárbaros.

Entre essas civilizações, podemos citar o Império Romano e o Império do Meio (chinês), nos
quais as relações com os povos submetidos a seus poderes eram vistas como um problema de ordem
administrativa e diplomática. Além disso, as relações desses impérios com os povos que estavam fora do
perímetro imperial eram preponderantemente bélicas (exceto quando se tratava de trocas comerciais).

No caso da China, os bárbaros e os imperadores chineses recebiam os emissários britânicos16 como se


estes fossem seus vassalos e conduziam suas relações exteriores de forma a externar sua superioridade
cultural e política. Isso se deu até o momento em que, sob pressão ocidental, a China entrou em recessão
econômica, social e política (SARDENBERG, 1982).

Quanto aos romanos, havia princípios de igualdade e reciprocidade jurídica e comercial na condução de
suas relações internacionais, o que inclusive constava em tratados assinados com seus vizinhos. Porém, com
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a afirmação do império, alguns princípios foram abandonados durante a república romana. As obrigações
com os povos dependentes foram restringidas. As alianças e as regras que eram então estabelecidas tinham
interpretação exclusivamente romana e, a princípio, elas se aplicavam tanto aos romanos quanto a terceiros.

Somente com o aparecimento da era moderna é que começaram a surgir condições institucionais,
políticas e tecnológicas que contribuíram para o rápido desenvolvimento da diplomacia.17 Dessa forma,

16
Enquanto isso, os britânicos estavam dando os primeiros passos para a dissolução da sociedade tradicional da China.
17
Em 1455, houve a primeira missão diplomática de caráter permanente para representar os interesses do Duque
de Milão, Francesco Sforza, em Gênova.
37
Unidade I

aos poucos os Estados nacionais europeus aceitaram‑se como judicialmente iguais e as representações
diplomáticas ganharam mais intensidade. As comunicações mais frequentes se davam entre os
embaixadores e seus respectivos governos (SARDENBERG, 1982).

Segundo Sardenberg (1982), por meio da Paz de Westphalia, em 1648, houve uma nova era na
política internacional. A ordem mundial passou a ser regida pelo Papa e pelo Império, o que consagrou
um sistema internacional baseado na coordenação dos Estados, cada um com seu território definido.
Consequentemente, começou a se generalizar no continente a política do equilíbrio e a diplomacia
passou para um estágio mais moderno, com práticas protocolares provocadas por sucessivos congressos
que reuniam representantes das principais potências.

Lembrete

O modelo estabelecido em Westphalia, que encerrou a Guerra dos Trinta


Anos, estabeleceu condições de autonomia aos Estados sem, entretanto,
gerar obrigações comuns entre eles, o que motivou a geração de estruturas
de cooperação internacional para atingir a paz.

Durante os séculos XVII e XVIII, ficou consagrado o equilíbrio entre as potências no que diz respeito
à defesa da ordem internacional então vigente, isso mesmo com o cataclisma provocado pelos avanços
de Napoleão (França) – aqui, o equilíbrio internacional foi restabelecido pelo Congresso de Viena (1815).

O século XIX foi marcado por uma diplomacia que confrontou os ensinamentos da Santa Aliança18
e do Concerto Europeu.19 O espírito de nacionalidade tomou conta principalmente de nações como
Alemanha e Itália. Devido à impotência do Concerto Europeu em assimilar as ambições da Alemanha
unificada, deu‑se início a Primeira Guerra Mundial (SARDENBERG, 1982).

Diante desses fatos, pode‑se afirmar que a diplomacia nada mais é do que a síntese das atividades do
Estado no plano externo. Para se tornar eficaz, ela depende de um caminhar unificado na formulação e na
condução das relações exteriores da instituição que se ocupa delas profissionalmente. A multiplicidade
de representantes (porta‑vozes) na área externa pode certamente produzir descoordernação e redução
da capacidade de negociação, o que interfere inclusive no âmbito exterior do país.
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Existem duas distinções para diplomacia. A primeira é conhecida como pequena diplomacia,
voltada para o domínio econômico. A segunda é conhecida como grande diplomacia, relacionada
a questões de segurança. A questão econômica sempre esteve em pauta em assuntos políticos,
principalmente quando se trata de petróleo, que é um recurso natural limitado desejado por todas

18
A Santa Aliança foi um tratado político-religioso que surgiu depois da queda de Napoleão, numa tentativa da
Rússia, da Prússia e da Áustria garantirem a realização prática das medidas que foram aprovadas pelo Congresso de Viena
e no intuito de impedir o avanço nas áreas sob influência das ideias nacionalistas e constitucionalistas.
19
O Concerto Europeu foi um sistema de reuniões periódicas nas quais participavam as grandes potências europeias
em regime de representatividade soberana.
38
Geopolítica, Regionalização e Integração

as nações e que traz preocupações para os governantes que possuem esse recurso natural em seus
territórios, já que as autoridades devem se preocupar com a segurança nacional e internacional
(SARDENBERG, 1982).

Nas palavras de Sardenberg (1982), “a diplomacia de qualquer país tem por objetivo justamente
influir, tanto quanto lhe é possível, na evolução da realidade internacional” (SARDENBERG, 1982,
p. 32). O diplomata tem como uma de suas principais atribuições incorporar o conhecimento
intelectual recebido na universidade com as informações por ele acumuladas em seu trabalho
teórico e prático. Aliado a isso, deve‑se considerar sempre todo o vínculo com as ciências sociais
e políticas.

A diplomacia sempre será uma tarefa complexa tanto no plano operacional quanto no
cognitivo, afinal, não é fácil medi‑la e ela poderá por diversas vezes depender do empenho, da
disciplina e do talento individual do agente diplomático. É claro que há ainda circunstâncias
aleatórias que influenciam de forma decisiva, pois não são raros tanto os problemas que se
acumulam e se reforçam como os êxitos alcançados além do que se podia esperar (SARDENBERG,
1982).

No entanto, é na análise da interação dos Estados e na articulação de teorias da realidade


internacional que o conhecimento dos internacionalistas deve se basear. É fato que a reflexão
teórica sempre será importante para a criação de um programa diplomático, pois permite definir
a realidade atual, a evolução no decorrer do tempo e as perspectivas de desenvolvimento, ou seja,
é possível obter‑se uma visão integrada do cenário internacional em suas diferentes dimensões e
planos de abordagem. Em contrapartida, deve‑se sempre atentar para que os pressupostos teóricos
e doutrinários da política externa não sejam fixados de maneira abstrata ou arbitrária. É evidente
que, por estar em interação e choque com a diplomacia de outros Estados, a diplomacia não se
resume a um conjunto de ideias, ou seja, ela é aberta a críticas e definitivamente é uma atividade
concreta.

Conforme Soares (2001), a diplomacia bilateral é definida como a forma de ação dos países para a
adesão a seus relacionamentos com os demais países ou com outras entidades a eles vinculadas, como é
o caso das organizações internacionais intergovernamentais (OIGs). Os Estados podem receber em seus
territórios três tipos de representações estrangeiras permanentes: as repartições consulares, as missões
diplomáticas e as delegações de OIGs.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Durante toda a Antiguidade, o homem passou a enviar agentes20 para cuidar de assuntos pertinentes
a seus grupos societários. Já o envio de missões de representantes de governantes a outras nações ou
de exércitos sempre esteve presente na história da humanidade.21 Essas missões eram chamadas de
embaixadas.

20
Esses agentes tinham como missão colocar fim às hostilidades e às situações de guerra, como negociadores que
poderiam evitar situações de conflito.
21
Uma das primeiras missões de caráter de permanência foi a do Papa perante o Patriarca de Constantinopla, no
apogeu das relações das cidades-estados no norte da Itália.
39
Unidade I

O surgimento dos Estados modernos22 fez com que os Estados enviassem representantes pessoais
dos monarcas para outros Estados. Aos poucos, as normatizações que passariam a regulamentar
o trabalho diplomático foram instauradas: estabelecimento de uma missão, recebimento de
embaixadores e de seus privilégios e imunidades, princípios de boa‑fé e cessações dos Estados que os
recebia.

Nos dias de hoje, as atividades da diplomacia exercida nas missões diplomáticas permanentes são:
a) representar o Estado de maneira a comprometer o próprio Estado, pois este possui todos os direitos e
deveres decorrentes de acordo com o Direito Internacional Público; b) informar o Estado que os envia de
todos os fatos que possam lhe interessar, isto é, cabe ao Estado formular sua política exterior de acordo
com os dados e informações fornecidos pelos agentes; c) negociar, pois a missão se torna o único agente
em nome do Estado legitimado pelo Direto Internacional; d) promover relações amistosas, comerciais,
culturais, econômicas e cientificas e, dessa forma, fortalecer a relação entre o Estado acreditante e o
Estado acreditado (SOARES, 2001).

Outra diplomacia usada pelos Estados é a multilateral. Nela, são praticadas relações de reciprocidade
em situações coletivas. Assim, esse tipo de diplomacia pode se dar em encontros multilaterais nos
quais são discutidos assuntos de interesse comum dos Estados participantes. As pautas das reuniões
não seguem uma regra rígida e são essencialmente determinadas pelos Estados ou OIGs que as
convocam.

De acordo com Soares (2001), o traço mais forte das relações internacionais do século XX (e
provavelmente do século XXI também) é o valor crescente da diplomacia multilateral parlamentar. Nas
palavras de Mingst (2009):

A diplomacia tradicional acarreta necessariamente a tentativa de os Estados


influenciarem o comportamento de outros protagonistas por negociação,
agindo de um modo específico, abstendo‑se dessa mesma ação ou
conduzindo a diplomacia pública (MINGST, 2009, p. 105).

Uma diplomacia normalmente se inicia com uma barganha por comunicação direta ou
indireta com o intuito de obter um acordo sobre determinada questão. A barganha pode surgir
de maneira clara em negociações formais, afinal, os Estados, além de não perderem o foco em
suas próprias metas, possuem informações sobre seus “oponentes” e também sobre seu potencial
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

de poder.

Os países usam cada vez mais a diplomacia pública, que está conectada à comunicação. Essa
diplomacia visa criar uma imagem global que realce a capacidade de um Estado em alcançar seus
objetivos diplomáticos.

22
Esses Estados modernos surgiram na época no Renascimento.
40
Geopolítica, Regionalização e Integração

Figura 3 – O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, e a chanceler da Colômbia, María Angela Holgín, assinam
acordos de ajustes e bilaterais envolvendo tecnologia e inovação na área de biocombustíveis, educação, direitos humanos e combate
à violência, durante a II Reunião da Comissão Bilateral Brasil‑Colômbia, em Brasília, em 26 de outubro de 2011

Mingst (2009) destaca que os Estados recorrem ao poder econômico para influenciar os demais. As
sanções podem ser usadas positiva ou negativamente. A sanção positiva direciona o Estado de modo a
se obter um determinado rumo desejado. Geralmente, as sanções negativas são as mais utilizadas pelos
Estados. Por meio dela, os países buscam se resguardar e punir o Estado que se desloca em posições
não desejadas. Na década de 1990, os Estados passaram a congelar ativos e impor sanções a produtos
primários. Eles tinham na força uma arma para obrigar um Estado a fazer sanções.

Estudiosos econômicos e militares já desenvolveram métodos para se analisar escolhas e prováveis


resultados. A teoria dos jogos entende que cada Estado possui um interesse nacional único e é
protagonista unitário. Assim, o jogo é tratado como uma interação estratégica.

De acordo com Mingst (2009), a política externa possui modelos de tomada de decisões. O
modelo racional busca maximizar metas e objetivos estratégicos. O modelo organizacional prioriza
procedimentos padronizados de operação, mas não deixa de atentar para as decisões que precedem de
processos organizacionais. Já o modelo burocrático representa diferentes interesses, pois a decisão
final é estabelecida de acordo com a força relativa dos protagonistas. O modelo pluralista, por sua vez,
é vinculado à barganha, que é conduzida entre fontes internas (grupos de interesse, movimentos em
massa e empresas multinacionais). Em situações normais, até os grupos sociais podem desempenhar um
papel importante.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
É fundamental que a ação internacional do Estado e a interação dos Estados sejam identificadas
e colocadas em prática na perspectiva histórica. A ação diplomática deve partir de uma análise do
problema desde o presente até suas raízes no passado e perspectivas futuras (SARDENBERG, 1982).

A partir da contemplação do que já foi realizado, das limitações e oportunidades conjunturais e da


visão do que ainda se faz necessário, a diplomacia deve abordar uma visão completa e geral num único
momento. Ela deve almejar um senso de oportunidade no intuito de aproveitar o transitório e o fugaz a
fim de afetar seus interesses de longo prazo e adaptar as ações quando necessário (correções de curso).
Assim, a diplomacia adequa seus interesses às realidades que emergem.

41
Unidade I

A diplomacia não é efetivamente um domínio arbitrário e também não está presa à grande gama
de impulsos recebidos. O perfil diplomático de um país não é sustentado por dados mecânicos de sua
política interna ou por vagas análises de sua situação regional ou internacional. Os insumos externos
devem ser medidos conforme aqueles recebidos pela política interna, isso de acordo com o grau de
eficiência organizacional do estabelecimento diplomático e a capacidade na condução da política
externa por parte dos responsáveis.

Em nível geral e com uma programação específica, fica claro que um planejamento constante é
intrínseco quando nos referimos à interação dos Estados e aos diferentes planos da diplomacia. Mesmo
sendo um objetivo de difícil consecução, não é necessário que todos os momentos do programa sejam
elaborados formalmente. A permanente mutação das realidades dificulta em especial a formalização
constante (SARDENBERG, 1982).

Entretanto, esses não são os fatores que impedem efetivamente a criação e a elaboração
essenciais da programação diplomática. O programa deve contemplar no mínimo os seguintes
tópicos:

• teoria e evolução da realidade internacional;

• definição dos objetivos nacionais, inclusive no decorrer do tempo;

• articulação dos objetivos com os meios de execução da política externa;

• determinação de mecanismos de avaliação e correção política de acordo com o desempenho


obtido.

Deverá existir ainda uma interação constante, inclusive para se acompanhar de maneira ágil
a evolução da vida internacional e influenciá‑la de acordo com os objetivos e meios nacionais
(SARDENBERG, 1982).

Definitivamente, há uma grande diferença entre os países e as formas com as quais cada um
conduz o processo. De imediato, podemos especificar que há uma disparidade em termos de poder,
de desenvolvimento e de condicionamentos geográficos que refletem diretamente não somente nas
articulações e execuções dos programas diplomáticos, mas também no estabelecimento de políticas
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

externas.

O processo de planejamento da política externa vislumbra contatos internos e externos à nação


e deve se nutrir de insumos dos meios universitário, empresarial, midiático e de operações coerentes
de ação exterior. A política externa precisa se basear em atividades concretas e programadas, sem
abstrações.

A seguir, analisaremos como o sistema internacional se estabelece após a identificação da ação e da


interação dos Estados.

42
Geopolítica, Regionalização e Integração

Figura 4 – Sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília

4 O Sistema Internacional

Para um bom entendimento e análise das relações internacionais e da geopolítica moderna, é


importante não se prender apenas no plano de ação e interação dos Estados, abordado anteriormente.
É fundamental ir além, ou seja, é vital examinar todo o sistema internacional.

Mas o que significa o termo sistema quando aplicado às relações internacionais? Nesse contexto,
sistema é uma união de algum modo regular que se dá por meio do agrupamento de unidades, objetos
ou partes. Os sistemas reagem de modo constante e têm fronteiras separadas um do outro, sendo que
pode haver permuta de fronteiras (MINGST, 2009).

Na década de 1950, os eruditos chegaram a conceituar a política internacional de acordo com


a linguagem da teoria dos sistemas. Esses eruditos estavam influenciados por uma revolução
comportamental nas ciências sociais e partiram do pressuposto de que as pessoas têm atitudes regulares.
Para eles, a interação entre elas ocorreria dentro de um padrão habitual, realista e behaviorista, tendo a
política internacional como um sistema em que os protagonistas principais são os estados individuais.

O termo sistema se estabelece como centro da teoria geral dos sistemas e é influenciado pelas
escolas funcionalista e estruturista, pela análise input‑output – proposta por David Easton23 – e pelos
estudos baseados em teorias de comunicação e cibernéticas – de Karl Deutsch.24 De qualquer forma, Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
em todos os casos, o domínio político é considerado implícita ou explicitamente como um sistema
(SARDENBERG, 1982).

O criador da teoria geral dos sistemas, Von Bertallanfy, definiu o termo sistema como um conjunto
de elementos que mantêm interação. Outros cientistas classificam sistema como um conjunto de objetos
e das relações entre esses objetos e entre seus atributos. Além dessas definições, alguns especialistas
23
Ex-presidente da American Political Science Association, ficou conhecido pela aplicação da teoria de sistemas
para o estudo da ciência política.
24
Especializou-se no estudo da guerra, da paz, do nacionalismo, da cooperação e da comunicação.
43
Unidade I

consideram como sistema todo grupo de objetos que mantiverem relacionamento estrutural característico
e que interajam à base de processos característicos. Dessa forma, todas essas definições formam uma
ideia de grandeza metodológica do termo sistema, que pode ser aplicado tanto no campo social quanto
no das ciências naturais.

Para aplicar o conceito de sistema metodologicamente, é preciso que o objeto de análise possua:
a) limites claros e b) relacionamento com o meio ambiente por meio de insumos e produtos. Devido à
multiplicidade de fatos e atos, os limites da realidade internacional são indefinidos, ou seja, não é mais
nítida a linha que diferencia a política externa da interna (SARDENBERG, 1982).

O sistema internacional atual compõe‑se da sucessão de macroestruturas (eurocentrismo, período


entreguerras, Guerra Fria, descolonização, multipolarismo e a détente entre superpotências) marcadas
por dois conflitos generalizados, por revoluções e flutuações econômicas repletas de drama e por
hostilidades em maior ou menor escala.

À medida que as relações internacionais de poder eram alteradas, as macroestruturas internacionais


eram bem‑sucedidas. Quanto à operação do sistema internacional, ela sempre foi deficiente e cheia de
obstáculos e incoerências devido à sua historicidade e seu ineditismo sempre reformado. Esse sistema é
semelhante a um jogo de regras indefinidas e cambiantes (SARDENBERG, 1982).

Quando se dá ênfase à sucessão de macroestruturas, é possível encontrar vestígios de estabilidade e


permanência no sistema internacional. Como exemplos dessa permanência, podemos citar o desequilíbrio
postulado entre países ricos e pobres – mesmo com a descolonização e a propagação da ideologia do
desenvolvimento – e a continuidade da corrida armamentista internacional, inclusive com esforços para
impedi‑la durante o século XX.

O sistema internacional pode sofrer alterações apenas com a mudança do regime de uma de suas
principais potências, o que pode alterar o curso das relações internacionais. Na década de 1980, o
processo de globalização do sistema internacional deixou em questão sua unificação ou fragmentação.
A unificação desse sistema estava diretamente ligada ao status privilegiado que as duas superpotências
– Estados Unidos e União Soviética – desfrutavam e à possível hegemonia que uma delas poderia
conquistar. No caso da fragmentação, esta está diretamente ligada ao crescente número de Estados
desde a Segunda Guerra Mundial até os dias atuais (SARDENBERG, 1982).
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Muitas vezes, quando se menciona, em tom de elogio, a existência do


processo de globalização das relações internacionais contemporâneas, fica
subentendido que esse processo deverá levar a uma “desejável” unificação
do sistema (SARDENBERG, 1982, p. 43).

De acordo com Sardenberg (1982), a dinâmica da vida internacional pode ser classificada como em
permanente transformação, visto que os problemas duradouros do sistema internacional se alimentam
da oposição entre o velho e o novo, principalmente quando é mencionado o conceito de sistema
internacional como um encadeamento de macroestruturas.

44
Geopolítica, Regionalização e Integração

Um analista diplomático tem finalidade prática e sua análise da macroestrutura mundial não pode ser
simplesmente fria e científica em razão do atraso conceitual e experimental das disciplinas de relações
internacionais e pela contribuição na formulação ou execução da política externa, foco principal das
análises (SARDENBERG, 1982).

Conforme Sardenberg (1982), a legitimidade implica a aceitação da ordem internacional pelas


principais potências. Diante disso, a ordem internacional não garante o desaparecimento de todos os
conflitos, porém, limita seus propósitos. Um Estado pode afirmar que um conflito ocorreu devido à
estrutura existente e a paz será determinada pelo consenso geral e legítimo.

Segundo Mingst (2009), a concepção de sistema está interligada ao pensamento das três escolas
teóricas dominantes de relações internacionais: a liberal, a realista e a radical.

A escola liberal não vê o sistema internacional como centro de estudo, no entanto, conceitua três
pontos diferentes desse sistema:

• primeiro conceito: o sistema internacional não é uma estrutura, mas um processo que determina
diversas frentes de interação entre diferentes partes e vários protagonistas que interagem. Além
dos Estados, também estão entre os protagonistas as organizações governamentais internacionais
(OIGs) (como as Nações Unidas), as organizações não governamentais (como a Human Rights
Watch), as corporações multinacionais e os protagonistas subestatais (parlamentos e burocracias);

• segundo conceito: está relacionado à tradição inglesa de sociedade internacional. Os eruditos


Hedley Bull e Adam Watson, dois dos principais mentores dessa tradição, afirmavam que o
sistema internacional era compreendido por comunidades políticas independentes, enquanto
uma sociedade internacional, composta por vários protagonistas, se define pela comunicação,
pelos interesses e pelas regras comuns. Os liberais enxergam o sistema internacional como um
processo para interações positivas;

• terceiro conceito: é o do institucionalismo neoliberal, que visualiza o sistema internacional como


anárquico. Aqui, o Estado se comporta de acordo com seu próprio interesse. A interação entre
protagonistas é algo positivo para os liberais, pois instituições fundadas por interesses próprios
modelam o comportamento dos Estados de acordo com a percepção que obtêm por meio das
futuras interações com outros protagonistas.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

De acordo com Mingst (2009), os liberais aprovam alterações no sistema internacional e afirmam que
elas vêm de diversas fontes. Primeiramente, os desenvolvimentos tecnológicos exógenos resultam em
mudanças no sistema internacional, que ocorrem sem o controle e consentimento de seus protagonistas.
Temos, por exemplo, as mudanças em comunicação e transporte, que tiveram como consequência o
crescimento no nível de interdependência entre os Estados dentro do sistema internacional.

Outra mudança diz respeito às alterações na importância dada a determinadas áreas, como quando
as questões econômicas saíram de foco na virada de século e deram lugar a questões globalizadas, como
direitos humanos e meio ambiente.
45
Unidade I

A terceira mudança pode ocorrer conforme novos protagonistas (organizações não governamentais
ou corporações multinacionais) aumentam ou substituem Estados protagonistas, o que, segundo
pensadores liberais, pode impactar na estrutura global de poder entre os Estados.

Outra escola teórica dominante de relações internacionais é a escola realista, que acredita que a
política é governada por leis objetivas enraizadas na natureza humana. O conceito de realismo é o do
interesse definido como poder e não possui um significado inalterável. O realismo tem o conhecimento
do significado moral da ação política, mas não reconhece as aspirações morais de um Estado como
as leis morais que governam o universo. A escola leva em conta a política, uma esfera autônoma da
atividade humana.

Segundo Mingst (2009), os realistas definem o sistema internacional como um sistema


anárquico, isto é, o Estado é a única autoridade. No entanto, existem divergências entre os realistas
com relação ao grau de autonomia de um Estado no sistema internacional. Os mais tradicionais
acreditam que os Estados atuam sobre o sistema e o moldam, já os neorrealistas creem que os
Estados ficam restritos à estrutura do sistema. Ambos concordam em relação à anarquia como
princípio básico de ordenação e, por consequência, cada Estado deve zelar por seus interesses
dentro do sistema.

É pela dimensão da polaridade que os realistas diferenciam o sistema internacional. Existem três
tipos de polaridade:

• primeiro tipo: refere‑se a vários protagonistas influentes no âmbito internacional. Neste, haveria
um sistema de equilíbrio de poder ou multipolar;

• segundo tipo: é o bipolar, com um sistema baseado em alianças mais duradouras e em interesses
relativamente permanentes;

• terceiro tipo: esse último sistema é o unipolar, que aponta a existência de apenas um grupo ou
até mesmo um Estado, que detém o controle de influência no sistema internacional. Um grande
exemplo desse último sistema são os Estados Unidos pós Guerra do Golfo, em 1991, quando
os aliados mais próximos e praticamente todos os países em desenvolvimento começaram a se
preocupar porque o sistema internacional havia se tornado unipolar.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

De acordo com Mingst (2009), as mudanças no sistema internacional já são reconhecidas pelos
realistas. Ao final do século XIX, o então equilíbrio multipolar de poder se enfraqueceu e deu lugar a
um sistema de alianças com as Tríplice Aliança e Tríplice Entente, exemplo a partir do qual os realistas
atribuem a mudança no sistema por consequência da mudança de protagonistas.

Em termos gerais, as guerras sempre trazem grandes mudanças nas relações de poder. O melhor
exemplo é a Segunda Guerra Mundial, que trouxe a queda da Grã‑Bretanha e da França, além de
colocar fim às aspirações imperiais de Japão e Alemanha, que saíram com suas sociedade civil, exército
e infraestrutura arrasados.

46
Geopolítica, Regionalização e Integração

Mudanças exógenas também podem criar um desvio no sistema internacional. Os avanços


tecnológicos provocaram alterações nas fronteiras do sistema político internacional e expandiram as
fronteiras do espaço geográfico acessível. Os realistas acreditam que existem padrões de mudança no
sistema, mas discordam entre si quanto ao período de tempo que o sistema deve ser examinado para
que as transformações sejam estudadas.

A terceira escola teórica é a escola radical, que busca definir a estrutura em termos de estratificação.25
Assim, o sistema internacional seria estratificado conforme os recursos que cada Estado possui, como
poder econômico ou petróleo. A estratificação do poder e os recursos formam a divisão entre aqueles
que têm (Norte) e aqueles que não têm (Sul). Para se ter uma noção, as principais potências (EUA,
Japão, Alemanha, França, Rússia e Inglaterra) foram responsáveis por aproximadamente metade do PIB
mundial.

Em outras palavras, os radicais acreditam que há muitas diferenças econômicas dentro da estrutura
do sistema internacional e todas as ações são restritas por essa estrutura. Alguns teóricos enxergam uma
possibilidade dentro do sistema capitalista, uma mudança na semiperiferia e na periferia vinculadas à
medida que os Estados modifiquem suas posições relativas em face de outros. O capitalismo é uma força
dinâmica, afinal, assim como o colonialismo e o imperialismo, possui ciclos de crescimento e expansão,
seguidos de contração e declínio.

Já os denominados construtivistas desenvolveram ideias de como o sistema internacional é mutável,


ideias essas calcadas em alterações nas normas sociais, mesmo que algumas ainda não venham a ser
transformadoras. Os construtivistas buscam, singularmente, a especificação dos mecanismos pelos quais
ocorrem as mudanças (MINGST, 2009).

Em resumo, percebe‑se que todas as abordagens teóricas dão ênfase ao nível de análise do sistema
internacional. A diferença é percebida pela característica que define o sistema internacional, pois, para
os realistas, é a polaridade, para os radicais, é a estratificação. Mesmo assim, em ambas o sistema
internacional restringe o comportamento do Estado. Independentemente disso, realistas visualizam
essas restrições como positivas, de acordo com a distribuição do poder, já os radicais as veem como
negativas ou mais neutras, como uma arena e um processo de interação. Os construtivistas, por sua
vez, abordam uma teoria mais evolucionária, vinculada às mudanças de normas e ideias que modelam
o sistema. Eles não enxergam diferenças bruscas entre o sistema internacional e o sistema interno e
desprezam a importância dada à estrutura do sistema internacional.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

O professor Hans Morgenthau26 especificou que o poder internacional é a capacidade de influenciar


ou obrigar outros Estados a agirem de uma determinada maneira ou a deixarem de fazê‑lo. Já o professor
Raymond Aron27 classificou o poder como a imposição de uma unidade política sobre a vontade das
outras (SARDENBERG, 1982).

25
Estratificação: divisão desigual de recursos entre diferentes grupos de Estados.
26
Morgenthau nasceu na Alemanha e emigrou para os Estados Unidos em 1930. Ele foi professor da Universidade
de Chicago e pioneiro no campo de estudos da teoria das relações internacionais.
27
Aron foi filósofo, sociólogo e comentarista político francês.
47
Unidade I

Na concepção de Aron, a defesa consiste em salvaguardar a autonomia, manter o próprio estilo de


vida e não aceitar a subordinação de suas leis internas ou de sua ação externa aos desejos e decretos
dos outros. Em geral, as pequenas potências têm ambições defensivas e procuram sempre viver como
centros de decisões livres. Em contrapartida, as grandes potências almejam atuar sobre outras unidades
políticas a fim de convencê‑las ou constrangê‑las e sempre precisam tomar a iniciativa, fazer parcerias
e liderar coalizões. Caso um Estado de primeira posição opte por um poder defensivo, ele adotará uma
política de isolacionismo e desistirá de entrar em competições no sistema, manifestando, portanto, uma
vontade de ser deixado em paz.

Na medida que o poder é tido como único para definição do sistema internacional, não haveria
como objetar as pressões exercidas pelos Estados mais fortes no intuito de constranger os mais fracos
a determinados comportamentos. Pressões são normais e fazem parte do cotidiano. As pressões podem
surgir como forma de ameaça, no intuito de persuadir ou até mesmo de compelir sem usar a força
como ferramenta, ou seja, se valer de estratégias para evitar ser enganado ou aterrorizado. É importante
ressaltar que a força não está ligada apenas à violência, ela também pode ser definida como o poder
de barganha que um determinado país possui. Como exemplo, podemos citar o Brasil e a África do Sul,
grandes emergentes dos Brics que possuem essa força de negociação mediante as grandes potências.

O poder não é a única ferramenta usada no sistema internacional. A soberania dos Estados e os
benefícios que a acompanham, como a não intervenção e a integridade territorial, ajudam a garantir a
integridade do Estado (SARDENBERG, 1982).

Entender a realidade do contexto internacional requer uma análise profunda e apurada por parte
do analista. É importante ter uma visão macroglobal aliada à realidade interna dos países em questão.

A balança de poder é o modelo mais clássico da teoria das relações internacionais. Ela passou
a ser utilizada no momento do surgimento das cidades‑estados italianas, no século XIX (período do
Renascimento), e com a política de equilíbrio nas relações intraeuropeias. O equilíbrio de poder é
delimitado pela renúncia da possibilidade de um governo mundial – definido pelas ciências políticas
como uma monarquia – e pela pluralidade de atores.

A balança de poder tem uma grande densidade política e estratégica que chega ao ponto de a
própria noção de diplomacia ser confundida com a prática mais restrita da diplomacia do equilíbrio. Essa
confusão provém de uma notória preferência dos governos e dos teóricos das relações internacionais
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

em difundir suas opiniões relativas ao mundo em termos de equilíbrio ou de balança de poder, em


especial quando se beneficiam de situações de hegemonia ou preponderância (SARDENBERG, 1982).

Quando a palavra multipolaridade é mencionada, é importante entender que ela está ligada ao
conceito de que cada ator principal é considerado inimigo ou parceiro dos demais e as alianças são
temporárias, isto é, os países se relacionam com outros dependendo momentaneamente de seu interesse
ou necessidade interna ou externa. Assim, não há um líder em questão. Já o conceito de bipolaridade
é mais focado, ou seja, existem apenas dois atores importantes, que são inimigos por posição ou por
ideologia. Aqui, as alianças são mais duradouras do que no primeiro conceito e existe uma liderança que
varia de acordo com a origem dessa aliança.
48
Geopolítica, Regionalização e Integração

A bipolaridade possui três tipos de Estados: líderes de blocos, Estados dos blocos e aqueles que
não participam. Nela, os líderes buscam sua própria hegemonia e se dedicam a impedir ao máximo o
fortalecimento de seus adversários e a manter a integridade de seus próprios blocos (SARDENBERG,
1982).

Desde o pós‑guerra, a multipolaridade e a bipolaridade tiveram uma situação mais equilibrada,


porém, de natureza distinta. O bipolarismo da Guerra Fria (EUA e URSS) se difere de outras manifestações
por ter uma duração mais longa. Em macroestruturas internacionais (que resultaram da Primeira e da
Segunda Guerra Mundial), a bipolarização evidenciou claramente uma crise aguda em todo o sistema.
No entanto, mesmo com os vestígios de crise estratégica apresentados no bipolarismo durante a Guerra
Fria, a bipolaridade manifestava a existência de um grande risco à sobrevivência da própria humanidade.

Muitos especialistas viam o bipolarismo dessa época como frouxo, já que logo em seu início muitos
blocos que participavam dele entraram em processo de divisão e muitos Estados não quiseram ao menos
participar. Além disso, a ONU (Organização das Nações Unidas) substituiu o foro multilateral, mesmo
representando uma filosofia de organização internacional que pouco ou praticamente nada tem em
comum com o bipolarismo (SARDENBERG, 1982).

Diversos processos políticos contribuíram para a matização do bipolarismo e para a gradual


afirmação de certa multipolaridade política. Um desses processos políticos foi a descolonização, que
despertou em diversos países o interesse de preservar sua independência e enfrentar as tendências
neocolonialistas. Amplamente, o anticolonialista gerará um não alinhamento, direcionado inicialmente
para a medição entre dois blocos e, posteriormente, para a defesa dos interesses dos países do Terceiro
Mundo.

Outro processo foi a recuperação econômica e política da Europa Ocidental, na década de 1950,
que permitiu aos países – principalmente à França – uma atuação internacional menos limitada pelos
ditames do alinhamento com os EUA.

Vale ressaltar que, no contexto macroestrutural do pós‑guerra, não mais bastava descrever
a rivalidade política sob um olhar, se fazia necessário estudar outra maneira de entender o sistema
internacional. Esse modo é chamado de pirâmide mundial, uma estrutura mutante mais liberal no
âmbito das negociações e no entendimento entre Estados com diferentes formas de organização social
e política (SARDENBERG, 1982).
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Um dos legados da Guerra Fria no campo da análise das relações internacionais é a classificação
convencional dos Estados nacionais em uma escala hierárquica de acordo com seu poder e em sua
acepção inventarial. Nas palavras de Sardenberg (1982):

Assim, aceita‑se geralmente que dois Estados se encontrem no pináculo dessa


escala e que cerca de uma dúzia se situe em diferentes posições intermediárias,
enquanto os demais estariam necessariamente condenados aos degraus
inferiores da pirâmide do poder mundial. Essa visão, muito convencional, é
um diagnóstico com largo curso nos chamados centros mundiais de decisão,
49
Unidade I

que buscam consagrar essa pirâmide como a forma “normal” de organização


da sociedade internacional e afirmar a hierarquização verticalizada como
seu requisito fundamental (SARDENBERG, 1982, p. 61).

Segundo Schmidt (1994), mesmo com as evidências do fim da Guerra Fria ao longo dos anos, os
Estados demoraram para rever suas políticas externa e de defesa, assim como houve o retardamento no
fortalecimento das organizações de segurança regionais e internacionais.

Após o episódio no Iraque, pode‑se afirmar que o mundo futuro não será sem conflitos, que
poderão ser internos (grupos diferentes dentro de um mesmo país) ou por meio das fronteiras nacionais.
Além disso, as questões raciais e étnicas também continuarão em pauta. À medida que a sociedades
progredirem, as revoluções políticas irromperão e as disputas históricas sobre fronteiras certamente
continuarão, com diferenças econômicas incrementadas de acordo com o crescimento da revolução
tecnológica neste século XXI.

Saiba mais

Alguns filmes podem propiciar uma inter‑relação com os conteúdos


vistos nesta unidade:

O GRANDE ditador. Dir. Charles Chaplin. Estados Unidos. 1940. 124 min.

SYRIANA. Dir. Stephen Gaghan. Estados Unidos. 2005. 126 min.

DIAMANTE de sangue. Dir. Edward Zwick. Estados Unidos. 2006. 143 min.

Resumo

Nesta unidade, tivemos a oportunidade de perceber que a consolidação


das relações internacionais como ciência social é recente, muito embora
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traços na história da humanidade apontem que desde a Antiguidade já


existia uma preocupação com o fundamento político de uma ordem social
pacífica no mundo.

Desse modo, podemos admitir que o surgimento dessa ciência tem


em sua origem as preocupações, cada uma a seu tempo, de como se
estabelecer os modos de interação das diferentes sociedades ao longo dos
séculos. Isso significa dizer que tais interações geravam e geram situações
conflituosas ou de cooperação dados os interesses particulares de cada
parte. Ao estudarmos as teorias das relações internacionais, entendemos

50
Geopolítica, Regionalização e Integração

como se organizavam as interações entre diferentes sociedades ao longo


de alguns séculos.

Verificamos ainda o modelo estabelecido em Westphalia, que


encerrou a Guerra dos Trinta Anos e estabeleceu condições de autonomia
aos Estados sem, entretanto, gerar obrigações comuns entre eles, o que
motivou a geração de estruturas de cooperação internacional para atingir
a paz.

Observamos, por fim, que as teorias das relações internacionais se


consolidam tendo a política internacional como objeto de estudo e,
para um bom entendimento e análise das relações internacionais e da
geopolítica moderna, é importante não se prender apenas no plano de
ação e interação dos Estados, ou seja, é vital examinar todo o sistema
internacional.

Exercícios

Questão 1. (ABRIL, 2009) A charge a seguir foi publicada no site do escritor, dramaturgo e humorista
Millôr Fernandes:

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Para o autor do desenho, a globalização é um processo:

A) Assimétrico, pois permite uma melhor e mais justa distribuição da riqueza mundial.

B) Simétrico, pois permite uma maior interação econômica entre as mais distantes regiões do planeta.

C) Excludente, uma vez que aprofunda o abismo entre nações de diferentes níveis de desenvolvimento
econômico.

51
Unidade I

D) Integrador, uma vez que favorece os países pobres em detrimento das nações mais desenvolvidas.

E) Regional, já que fortalece a posição das nações do hemisfério sul e enfraquece geopoliticamente
as nações do hemisfério norte.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das alternativas:

Alternativa A: incorreta.

Justificativa: se as diferenças entre as nações são cada vez mais evidentes, seria contraditório
afirmarmos que há uma justa distribuição de renda.

Alternativa B: incorreta.

Justificativa: um processo no qual as diferenças são claras e crescentes não é um processo


simétrico.

Alternativa C: correta.

Justificativa: a globalização capitalista, fenômeno que teve início no final do século XX, trouxe
provavelmente um volume de riqueza e de avanços sociais e materiais sem precedentes, porém,
simultaneamente, as diferenças entre nações desenvolvidas e países em desenvolvimento cresceram
e ficaram mais evidentes, como as desigualdades no acesso a bens e a distância acumulada entre
os rendimentos produzidos por grupos sociais. Por isso, não podemos dizer que a globalização é um
processo integrador, assimétrico ou simétrico. Uma de suas consequências é a exclusão de partes da
população mundial do acesso a bens e a novas tecnologias produzidas, o que pode ser comprovado
pelo número de conflitos em diversas regiões do planeta e pelo crescente fluxo de imigrantes ilegais
das áreas mais pobres em direção às nações ricas do hemisfério norte, ao contrário do que nos aponta
a alternativa E.

Alternativa D: incorreta.
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Justificativa: problemas de distribuição de renda e diferenças acentuadas são elementos que


convergem exatamente para o lado oposto de uma integração.

Alternativa E: incorreta.

Justificativa: as nações do hemisfério norte são as mais ricas e, portanto, não haveria sentido
afirmarmos que estão enfraquecidas.

52
Geopolítica, Regionalização e Integração

Questão 2. (ABRIL, 2009) Analise o fragmento de texto com atenção:

“Uma das características do processo de globalização é a criação de uma rede de conexões, que
deixam as distâncias cada vez mais curtas, facilitando as relações culturais e econômicas de forma
rápida e eficiente”.

Tal aspecto do processo de globalização se enquadra mais especificamente dentro do conceito de:

A) Produção horizontal flexível.

B) Aldeia global.

C) Abertura comercial.

D) Integração regional.

E) Internacionalização do capital.

Resolução desta questão na Plataforma.

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53
Unidade II

Unidade II
5 A Geopolítica

Introdução

É comum a confusão entre os conceitos de geografia política e geopolítica. Embora sejam interligados,
ambos possuem diferentes objetos de estudo. Todavia, inicialmente as respectivas áreas se mesclavam
e não possuíam um enfoque definitivo que as diferenciasse de forma clara e objetiva. Assim, esta
unidade evidenciará a importância do pensamento de Ratzel e de outros teóricos da geografia política/
geopolítica para o entendimento das questões referentes à sociedade, à delimitação dos territórios, ao
conflito de poder entre os Estados e, principalmente, ao conceito de Estado‑nação e seu papel sistema
internacional de poder.

5.1 As relações entre sociedade, Estado, território e poder

A geopolítica é um tema contemporâneo que surgiu após o período da Guerra Fria e da


subsequente transformação do paradigma das relações internacionais – de bipolaridade para
multilateralidade. Esse tema trouxe um impacto nas interfaces sociais, políticas e econômicas. Todavia,
para compreender esse fenômeno, que está intrinsecamente ligado ao processo de globalização,
torna‑se essencial compreender três elementos básicos de uma nação e sua inter‑relação, são eles:
sociedade, espaço e poder.

Para diversos pensadores das ciências sociais e da política, como Hobbes, Locke e Rousseau,
a sociedade era definida e associada à criação do Estado, visto que suas concepções advinham do
pensamento e reflexão da natureza humana. Com sua obra Leviatã, Thomas Hobbes foi possivelmente
um dos primeiros dentre os demais filósofos políticos a enfatizar de uma maneira sistemática as
questões relativas à origem da sociedade. Entretanto, era fundamental distinguir o estado de natureza
e a sociedade para que se justificasse a livre associação entre os homens em uma espécie de “acordo
artificial”. Hobbes afirma que:
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O maior dos poderes humanos é aquele que é composto pelos poderes de


vários homens, unidos por consentimento numa só pessoa, natural ou civil,
que tem o uso de todos os poderes na dependência de sua vontade: é o caso
do poder de um Estado (HOBBES, 1988, p. 53).

Não obstante, observa‑se a importância do território como expressão legal e moral de um Estado,
sendo a união entre o solo e o povo que ali habita a constituição de uma sociedade. Essa definição,
dada por Friedrich Ratzel, refere‑se à associação da territorialidade a uma identidade específica –
seja de cunho cultural ou referente à proximidade geográfica –, de forma a não haver, teoricamente,
54
Geopolítica, Regionalização e Integração

contradições internas a um determinado Estado, que seria fixo em tempo e espaço, características que
só seriam alteradas por meio do uso da força (RATZEL, 1990).

Contudo, no decorrer dos últimos 20 anos, essa concepção de território recebeu um sentido diferente,
mais amplo, e abordou uma vasta gama de questões pertinentes ao domínio físico e/ou simbólico
de determinada área. Atualmente, denota‑se que as fronteiras que separam os indivíduos no século
XXI revelam uma pluralidade de diferenças que se estendem nas vertentes culturais, no alinhamento
político e nas associações regionais entre as nações. Assim, o estudo dos territórios ganhou novamente
importância devido ao fim da bipolarização, tanto do ponto de vista militar quanto econômico, e deu
espaço para o desenvolvimento de novos acordos federativos que legitimam as novas políticas e as
chamadas áreas de influência. Dessa forma, o estudo dos territórios serve como base para o entendimento
de fenômenos do mundo moderno, como a fragmentação e a regionalização.

No decorrer das décadas, nota‑se que esses conceitos foram se adaptando à realidade das nações
e do mundo e deram origem à ideia de Estado‑nação – apesar da diferença entre esses dois conceitos
– e seu respectivo papel no ordenamento político, econômico e cultural na conjuntura global. Assim,
segue‑se ainda a premissa de que um Estado, para ser reconhecido como tal, deve cumprir quatro
condições básicas: ter uma base territorial, ter fronteiras definidas geograficamente, ter uma população
e ter um governo reconhecido por essa população e pelos demais Estados independentes. A diferença
crucial entre o conceito de Estado e nação, portanto, recai sob o fato de que a nação é representada por
um grupo de indivíduos que compartilham do mesmo conjunto de características, ou seja, costumes,
linguagem e história (MINGST, 2009).

A denominação Estado‑nação se torna uma ferramenta de autodeterminação e criação da identidade


nacional, ferramenta esta soberana e que possui o poder de decidir as condições e ideais aos quais
se deve ou não submeter. Entretanto, os Estados estão constantemente envolvidos em conflitos para
(re)definirem questões territoriais, seja por litígios oriundos de problemas históricos, por tentativa de
expansão territorial de seus domínios ou por interesses econômicos e estratégicos.

Dessa forma, é possível dizer que:

Entre outros conceitos de Estado, figuram: o Estado é uma ordem normativa,


um símbolo para uma sociedade particular e as crenças que unem o
povo que vive dentro de suas fronteiras. Também é a entidade que tem o
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monopólio legítimo do uso da violência dentro de uma sociedade. O Estado
é uma unidade funcional que assume várias responsabilidades importantes,
centralizando‑as e unificando‑as [...] (MINGST, 2009, p. 96).

No entanto, numa perspectiva mais ampla, é possível reconhecer que a nova geopolítica das nações
na virada do século XXI tem demonstrado um grande movimento de mobilização social e política a favor
de transformações sociais e igualitárias de sociedades afetadas por alterações no sistema mundial.

Depois dos anos 1990, o mundo passou por uma era de conflitos ideológicos seguidos de uma
reafirmação do ideal liberal, aprofundando‑se cada vez mais em debates que envolvem, implícita
55
Unidade II

ou explicitamente, temas como poder e manutenção do status quo28 e da situação do sistema


internacional.

Portanto, o cenário global vivencia uma constante redefinição e reposicionamento dos players
no contexto socioeconômico e torna‑se impossível compreender essas relações de poder sem ter
conhecimento do real significado da palavra poder e de sua aplicação na geopolítica contemporânea.
Dessa forma, deve‑se ressaltar, a priori, a relevância dos pensadores clássicos e sua abordagem no campo
da ciência política, juntamente com o entendimento dos conceitos de realismo e idealismo, utilizados
constantemente para explicar os acontecimentos e a dinâmica internacional.

O estudo da geopolítica e das relações internacionais inevitavelmente envolve o estudo das relações
de poder entre os Estados. Todavia, poder é uma palavra que pode ser usada em diversos contextos
e de formas distintas. No campo geopolítico internacional, o mais importante a se compreender é
que a quantidade de poder que uma nação possui não representa, necessariamente, sua política ou
comportamento no cenário global.

Quando nações agem e fazem uso do poder para impor seus interesses – a exemplo de medidas
coercitivas – ou simplesmente se deixam ser influenciadas pelas outras, há uma instabilidade e surgem
descontinuidades na política entre os Estados. Há um confronto entre a manutenção do poder e o uso
efetivo da força. Uma das abordagens que define as questões de poder nas relações internacionais é a
descrita como realismo defensivo, caracterizado por Kenneth Waltz como a tendência que as nações
possuem de buscar o equilíbrio, dando origem ao termo balança de poder (VESENTINI, 2007).

Assim, a balança de poder, seja ela regional, global ou sistêmica, pode ser também unipolar, bipolar,
multipolar equilibrada ou multipolar desequilibrada:

• unipolar: quando uma potência hegemônica está presente, ou seja, quando um Estado possui
mais poder perante os demais que compõem o sistema;

• bipolar: dois Estados detêm a mesma quantidade de poder, mas são superiores aos demais que
compõem o sistema;

• multipolaridade equilibrada: três ou mais Estados dentro da balança de poder possuem poder
relativamente semelhante;
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• multipolaridade desequilibrada: há três ou mais Estados dentro da balança de Poder, mas


somente um deles possui mais poder que os demais.

Em um mundo globalizado, a balança de poder funciona como um eixo que norteia as decisões.
Esse eixo é composto por diversos países com pesos diferentes na política internacional. Em conjunto,
esses países conseguem fazer frente ou ao menos se destacar perante os chamados hegemons. O

28
Nas relações internacionais entre os Estados, o status quo define a manutenção da situação natural e/ou da
posição favorável na qual uma nação se encontra naquele período.
56
Geopolítica, Regionalização e Integração

poder na geopolítica é designado por meio de diversas interfaces, sejam elas econômicas, políticas
ou bélicas. Conjugadas, elas representam uma liderança, como a que há décadas é sustentada pelos
Estados Unidos.

Contudo, para John Mearsheimer, em sua obra The tragedy of great power politics (2001), o poder ou
a falta dele determina tanto a habilidade de influenciar quanto de ser influenciado. Essas demonstrações
de poder podem ser diferenciadas entre duas vertentes. A primeira é relacionada ao poder potencial,
que leva em conta os tamanhos da população e da riqueza do Estado em questão, os fatores que
sustentarão as forças. A segunda, relacionada ao poder concreto, ilustra o panorama contemporâneo
repleto de intervenções militares e guerras regionais, no qual se destaca o poderio bélico. Aqui, a ênfase
é dada às forças armadas e às forças terrestres, navais e aeronáuticas, sendo a principal delas a terrestre,
visto que, no caso de uma conquista territorial, é ela que controlará e ocupará a região.

Desse modo, pode‑se dizer que o realismo e a estrutura de poder do sistema internacional
contemporâneo são vistos como fenômenos e conceitos relativos aos interesses individuais de um
determinado Estado‑nação. Por sua vez, esses interesses estão diretamente interligados às relações de
poder. Na geopolítica das nações, não há espaço somente para alianças baseadas em médias estatísticas,
semelhanças culturais/sociais ou analogias históricas. As questões ideológicas e relacionadas ao poder
só se fazem eficazes quando coincidem com as necessidades e interesses dos países do ponto de vista da
segurança nacional e, principalmente, do desenvolvimento econômico/social. Devido às circunstâncias,
na geopolítica atual a expansão territorial e o imperialismo dos séculos anteriores perdem lugar para o
desenvolvimento intensivo da economia, visto que novos investimentos na indústria aumentam o poder
de barganha do Estado e elevam seu status.

Logo, uma economia forte não investe necessariamente apenas em armamentos e desenvolvimento
de tecnologias bélicas, mas sim sustenta e expande sua indústria para abranger e competir no mercado
internacional. Ao valer‑se dos recursos minerais e naturais, do petróleo e da tecnologia – grande
potencial e diferencial entre as nações que os detêm ou não –, a economia se torna uma das principais
fontes de poder e sinônimo de liderança global.

5.2 Geografia política e geopolítica

Desde sua institucionalização como um ramo à parte das ciências, a geografia se deparou com a
complexidade e a dificuldade de ter de compreender e atuar sobre a organização, a diferenciação e a
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produção de um determinando espaço. A multiplicidade do mundo contemporâneo, a diversidade dos
fatores atuantes sobre os indivíduos e os diversos temas que a disciplina propõe a discutir mostram
porque ela é vista como uma área complexa e dinâmica. Dessa forma, surge a concepção moderna
da geografia política como uma terminologia e/ou área específica de conhecimento consolidada nas
ciências sociais do final do século XIX.

Entre os temas por ela abordados, é recorrente a problemática da relação entre política e território,
elementos essenciais no processo histórico de formação das sociedades. De fato, as questões e os
conflitos de interesse surgem nas relações sociais e se materializam em disputas de território. As tensões
e os arranjos servem como base para uma abordagem e uma análise geográficas. Assim, pode‑se dizer
57
Unidade II

que é na relação entre a política e o território que surge a base material e simbólica de uma sociedade
(conceito que é definido na geografia política).

Ao contrário do que se presencia atualmente, em sua origem a geografia política se colocava


no compromisso de entender o modo pelo qual a política tinha relações e era influenciada pela
geografia. Durante décadas, tentou‑se demonstrar como a distribuição de continentes, oceanos,
montanhas e cadeias, dentre outras características do ambiente terrestre, afetava direta ou
indiretamente a humanidade e subdividia o mundo em Estados, gerando a competição e o conflito
entre eles.

Como afirma Costa (2008):

É sem sombra de dúvida que o surgimento da geografia política e, sobretudo,


da geopolítica é um produto de contexto europeu na virada do século XIX
para o XX, com F. Ratzel e R. Kjéllen, respectivamente. Num plano mais geral,
entretanto, não se pode esquecer que o interesse pelos fatores referentes
à relação entre espaço e poder também manifesta um momento histórico
que envolvia o mundo em escala global, caracterizado pela emergência
das potências mundiais e, com elas, o imperialismo como forma histórica
de relacionamento internacional. Em outros termos, as estratégias dessas
potências tornaram‑se, antes de tudo, globais, isto é, “projetos nacionais”
tenderam a assumir cada vez mais um conteúdo necessariamente
internacional (COSTA, 2008, p. 58).

Em nível de análise, Ratzel procurou elaborar uma teoria das relações entre a política e o espaço e
introduziu o conceito de sentido do espaço, o qual determina que certos povos devem possuir maior
capacidade de ordenar suas respectivas paisagens, de valorizar seus recursos minerais/naturais e de
se fortalecer a partir de sua própria fixação no território. Assim como as ciências sociais da época, o
modelo de Ratzel também foi inspirado na biologia, a ponto de refletir e buscar responder os problemas
que ocorriam na época, como as disputas territoriais e o fortalecimento e aparecimento do Estado
nacional como detentor do poder do povo e dos territórios dominados (RATZEL, 1990).

A geografia política, portanto, concentra os esforços nas relações externas e internas entre os
Estados. Todavia, ambas as categorias possuem suas respectivas problemáticas, visto que a geografia
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política é um campo de estudos que explica e leva os pesquisadores e interessados a encará‑lo de


duas formas: primeiramente, da perspectiva da geografia e dos efeitos dela na ação política, como
visto anteriormente, e, em segundo lugar, da relevância da geografia perante situações, problemas e
atividades de ordem política.

Atreladas a esses conceitos, estão as questões referentes ao poder e às estratégias de controle e


dominação de um Estado, que ficaram implícitas na agenda da geografia política nas primeiras décadas
do século XX e desencadearam um nível de análise nacional e global nas mais diversas áreas de estudos
da disciplina. Isso pode ser expresso nos contextos históricos do pós Primeira Guerra Mundial – visto
a nova redistribuição territorial e a redefinição de fronteiras – e da Segunda Guerra Mundial – a
58
Geopolítica, Regionalização e Integração

geopolítica alemã, fundamentada com os conceitos de Ratzel, forneceu justificativas intelectuais para o
autoritarismo alemão do Terceiro Reich e o expansionismo deste decorrente (VESENTINI, 2007).

Desse modo, o campo de estudo da geografia política dá importância fundamental às análises


das relações entre a comunidade e o ambiente físico que ela ocupa. Por sua natureza na estrutura
política mundial e pelo seu papel nas relações internacionais, os Estados, por sua vez, são vistos como
atores e estão intimamente ligados entre si por meio de uma integração frequente que põe à prova os
formuladores de política externa.

Entretanto, tal divisão proporciona de forma favorável uma abordagem e um tratamento analíticos.
Assim, o que se deve dizer sobre o aspecto da geografia política é que cada ambiente proporciona
determinadas oportunidades e que seus respectivos habitantes poderão ou não utilizá‑las. Isso definirá
o grau de desenvolvimento daquela sociedade e sua integração com as demais.

Essa grande variedade de ambientes geográficos está expressa em um vasto número de Estados, os
quais possuem três elementos fundamentais para sua configuração: povo, território e organizações.
Contudo, onde quer que as pessoas habitem num território e independentemente de qual for o sistema
político adotado, suas atividades constituem, pelo menos em parte, um reflexo de suas condições no
ambiente. Essas condições determinam limites e comprometem as atividades que ocorrem dentro do
território (HOBSBAWN, 1995).

Essa consideração básica em relação à geografia política demonstra que os Estados estão sujeitos
às mutações, que normalmente ocorrem durante os períodos de conflitos. Essa dinamicidade não se
restringe somente às condições internas do Estado, mas se estende às relações externas, principalmente
no período contemporâneo. Um dos diversos exemplos que ilustram essa mudança e dinâmica das
relações internacionais e da geopolítica é a divisão do leste europeu no período da Guerra Fria.

No período pós Guerra Fria, houve uma reestruturação do panorama político e territorial advinda
de diversos conflitos regionais, sociais e de cunho religioso, o que ocasionou uma nova configuração do
mapa geográfico da região.

Nota‑se que o poder e as estratégias de controle e dominação a partir do território de um Estado


nacional sempre foram foco na agenda da geografia política, principalmente quando se referem às
potências emergentes e à área de influência americana. Partindo dos pressupostos estabelecidos pelo
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ramo da ciência geográfica, a geopolítica surge como uma subdivisão ou derivação, que tem como
principal objetivo analisar as situações e relações estatais.

O pensamento geopolítico teve seu início com o jurista Rudolf Kjellén, que buscava expressar
suas concepções e pensamentos sobre as relações entre Estado e território. Para Kjellén, a geopolítica
consistia em um ramo independente da ciência política, distinguindo‑se da geografia política. Contudo,
pode‑se afirmar que em nenhum momento Kjéllen demonstra dúvidas em relação ao caráter restrito,
reducionista e ao mesmo tempo expansionista de sua teoria sobre os Estados, assim, ele deu origem
ao conceito geoestratégico, que tem como foco a investigação dos fenômenos desencadeados pelos
Estados soberanos (VESENTINI, 2007).
59
Unidade II

A diferenciação entre as vertentes geografia e política, portanto, pode ser feita por meio da simples
distinção entre uma área atrelada à geografia e outra estritamente ligada à ciência política. A geografia
política, tal como a geografia econômica, social e/ou cultural, fundamenta‑se nas observações estáticas
e de fatores naturais, como fronteiras, rios, planícies e planaltos, elementos que compõe e dividem as
regiões e os Estados e simbolizam um limite entre os territórios (VESENTINI, 2007).

Por outro lado, a geopolítica busca os acontecimentos e movimentos dinâmicos que ocorrem e
que utilizam os elementos geográficos para constituírem cenários políticos e estratégicos. Ratzel
norteou o pensamento geopolítico ao afirmar que o Estado não era somente algo estático ou um
limite físico preestabelecido, mas sim um organismo que se desenvolve de acordo com o sistema
internacional e varia com as ações e pressões externas e internas, o que consequentemente altera
seu território.

No entanto, com a globalização, torna‑se prático e rotineiro ver estudos relativos à formação
dos blocos regionais, à subdivisão do mundo em Estados com as mesmas religiões e conceitos que
compartilham o mesmo objetivo. O sistema internacional é estruturado em um ambiente anárquico
no qual, para evitar conflitos, busca‑se a cooperação por meio de instituições internacionais, como a
Organização das Nações Unidas (ONU). Entretanto, essa análise sucinta da realidade não expressa o viés
estratégico e por vezes esquece de enfatizar a importância do planejamento de uma política externa,
não só para fins econômicos e políticos, mas para utilizar‑se do conceito geopolítico de constante
mudança do Estado a fim de definir o cenário contemporâneo e suas constantes.

Por fim, deve‑se destacar ainda que os estudiosos da geografia política e da geopolítica operam
no vasto campo da ciência geográfica e política e, portanto, delimitam indagações por meio de zonas
fronteiriças entre a geografia e a política. Eles estão convencidos de que, ao aplicar seus respectivos
métodos e técnicas, poderão aprofundar a compreensão da ciência ao mesmo tempo em que contribuem
para o melhor entendimento da conjuntura. Pode‑se dizer, então, que o principal foco de ambas as
partes está na inter‑relação do território e/ou na localização espacial, que abrange uma análise da
sociedade, das relações de poder e dos Estados de uma forma politicamente organizada.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Figura 5 – A presidente Dilma Rousseff discursa na abertura da 66ª Assembleia Geral


da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2011

60
Geopolítica, Regionalização e Integração

5.3 A evolução do pensamento em geopolítica

Com o fim da Guerra Fria, há um processo de globalização e multipolarização política que fez com
que o hiato no debate geopolítico decorrente do fim da Segunda Guerra Mundial acabasse. Assim, teve
início uma fase de compreensão da conjuntura e de redefinição da política internacional. O processo de
descolonização de países africanos, as revoluções no leste europeu, a entrada de nações emergentes no
contexto internacional e a mudança no paradigma das relações internacionais alteraram o pensamento
geopolítico contemporâneo. O mundo não era mais regido somente pelo poderio econômico ou militar
das superpotências, mas por aproximações e afinidades culturais, sociais, étnicas e regionais, ocasionando
uma perspectiva ainda mais para a análise do sistema internacional.

5.4 Geopolítica clássica

O termo geopolítica adveio de um neologismo utilizado por Rudolf Kjellén e se tornou uma expressão
comum para explicar e sistematizar o pensamento contemporâneo relativo às relações entre os Estados
e a relevância do território‑nação. Apesar de haver uma incerteza quanto à época de utilização desse
termo, é fácil notar que o neologismo geopolítica é um produto direto do contexto histórico do período
de transição entre os séculos XIX e XX, vivido por Rudolf Kjéllen.

Na época, a Suécia via‑se dividida no debate referente à dissolução da União de Estados


Suécia‑Noruega, fato que acabou ocorrendo em 1905. Kjéllen representava um forte opositor da
independência da Noruega. Ele redigiu vários manuscritos (entre eles aquele no qual foi utilizada
pela primeira vez a palavra geopolítica, chamado Inledning till Sveriges Geografi) e praticou diversas
intervenções políticas contra a dissolução em questão (VESENTINI, 2007).

A repercussão do discurso conservador/autoritário/imperialista e do neologismo de Kjellén foi


significativa não somente na Suécia, mas também entre o público alemão e o público austríaco. As ideias
de Kjellén se tornaram mais populares principalmente no território germânico, visto que o neologismo
criado foi lá introduzido pelos trabalhos de Robert Sieger no início do século XX. A germanização da
geopolítica deveu‑se ainda ao fato de que Kjéllen tinha uma intensa admiração pelo modelo imperial da
Alemanha e, dessa forma, constituiria junto ao francês Joseph‑Arthur e ao britânico Stewart Chamberlain
o trio de pensadores não alemães que possuíam um alinhamento ao ideal (VESENTINI, 2007).

No entanto, a explicação do significado de geopolítica e de seu objeto de estudo foi elaborada por
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Kjellén em sua obra mais notável, Staten som Lifsform ou O Estado como forma e vida, escrita em 1916.
Nela, a geopolítica é apresentada como uma forma de ciência do Estado, que é visto da perspectiva de
um organismo geográfico e analisado a partir de sua manifestação e interação como país, território
ou até mesmo como império. Contudo, essa nova “ciência” tinha como objeto de estudo constante o
Estado unificado e almejava contribuir para o entendimento profundo de sua estrutura. Para Kjellén,
a geopolítica não era, portanto, um simples neologismo de compreensão subjetiva e de interpretação
duvidosa, como o era para muitos detratores e críticos, a geopolítica representava, antes, uma verdadeira
ciência autônoma que se utilizava de um objeto de estudo novo, diferentemente da geografia política,
criada por Ratzel no século XIX.

61
Unidade II

Assim, ligada diretamente à tradição novecentista alemã de estudos geográficos e também à


tradição histórica e nacionalista de Heinrich von Treitschke e Leopold Von Ranke, a geopolítica surgiu na
Alemanha no decorrer da segunda década do século XX, no que ficou conhecido como Escola Alemã de
Geopolítica ou até mesmo Escola de Munique.

Em 1924, foi fundada a Zeitschrift für Geopolitik ou Revista de Geopolítica, destinada diretamente
aos geógrafos profissionais e tendo em vista também a divulgação dos conteúdos escritos por diplomatas,
políticos, jornalistas e industriais. Porém, a principal contribuição e personalidade da revista era Karl
Haushofer, que possuía características de um militar acadêmico, ou seja, além dos conhecimentos
estratégicos inerentes à sua formação militar, também detinha credenciais acadêmicas significativas, o
que fez seus livros e publicações de artigos tornarem‑se populares no mundo rapidamente. Percebe‑se
ainda que seu sucesso deve‑se à sua experiência no exercício da carreira militar e do conhecimento
prático de diversas regiões da Ásia e do Pacífico, especialmente de países como o Japão, onde já havia
desempenhado funções de adido militar (VESENTINI, 2007).

Para compreender a ideia expressa nos trabalhos de Haushofer, faz‑se necessário compreender o
contexto histórico da época e perceber que o período era de redefinição política, econômica e social,
uma época extremamente conturbada na Alemanha do século XX. Contudo, a criação da Revista de
Geopolítica dinamizava e disseminava o tema, resultado esse obtido pelo esforço e união de competências
entre vários pensadores e importantes profissionais da área de política e geografia, especialistas em
relações internacionais e analistas do cenário global da época (VESENTINI, 2007).

É ainda relevante ressaltar que os trabalhos de Haushofer também foram influenciados


pelo grande debate que teve início nos anos de 1924 e 1925 entre os geógrafos alemães e os
defensores da geografia política clássica, na linha de Ratzel. Karl Haushofer foi um dos principais
protagonistas desse debate e publicou um famoso artigo intitulado Politische Erdkunde und
Geopolitik, ou Geografia política e geopolítica, em 1925, que sustentava a necessidade de difundir
o conhecimento da geopolítica como um saber estratégico tanto para a elite alemã e mundial
quanto para a população. Entretanto, para tal fazia‑se necessário romper com a tradição da
geografia clássica anteriormente proposta, pois, em sua essência, embora o dualismo da geografia
e os conceitos de Ratzel fossem estritamente importantes, eles se tornavam ultrapassados para
a época. Assim, traçou‑se uma distinção entre a geografia política, que estuda a distribuição do
poder estatal à superfície dos continentes e suas condições (solo, configuração, clima e recursos) e
a geopolítica em si, que tem como objetivo principal a atividade política de um determinado Estado
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num espaço natural (VESENTINI, 2007).

Além desse posicionamento liderado por Kjellén, que resultou no debate entre geógrafos e
geopolíticos, pode‑se encontrar ainda ideias e teses geopolíticas nos vastos trabalhos e publicações
que auxiliam na compreensão do pensamento e contextualizam todas as questões relevantes da época,
desde os problemas territoriais de expansionismo – principalmente alemão – até as zonas de influência
das grandes potências. O debate teve seu início principalmente por duas razões:

• primeira: a partir de questões acadêmicas, afirmavam e criticavam Kjellén por simplesmente


ter adaptado parte da obra de Ratzel e a chamada antropogeografia para uma perspectiva mais
62
Geopolítica, Regionalização e Integração

ampla e adequada à realidade, sem, no entanto, ter criado uma “ciência” nova que merecesse uma
desvinculação total da geografia já conhecida ou da geografia política;

• segunda: ele recaía sobre questões políticas e era reflexo do ambiente global conturbado e dos
problemas internos da Alemanha, que possuía uma visão equivocada da perspectiva de Kjellén e
afirmava que esta havia influenciado e causado parte da derrocada alemã por não contribuir nos
assuntos relacionados à definição das fronteiras nacionais (TUNADER, 2011).

Juntamente a esse intenso debate, surgem duas publicações de Haushofer, uma delas é Grenzen
in iher Geographischen und Politischen Bedeutung, ou As fronteiras e o seu significado geográfico e
político, e a outra é Geopolitik der Pan‑Ideen, ou Geopolítica das ideais continentalistas. Esta definiu um
novo conceito, chamado pan‑região, que se referia às quatro grandes regiões mundiais: a Euro‑África
(toda a Europa, o Médio‑Oriente e todo o continente africano), a Pan‑Rússia (a generalidade da ex‑União
Soviética, o subcontinente indiano e o leste do Irã); a Área de Coprosperidade da grande Ásia (toda a
área costeira da Índia e sudeste asiático, o Japão, as Filipinas, a Indonésia, a Austrália e a generalidade
das ilhas do Pacífico) e a Pan‑América (todo o território desde o Alasca à Patagônia e algumas ilhas
próximas do Atlântico e do Pacífico).

Estreitamente ligada à tese das pan‑regiões está a ideia dos Estados‑diretores, que consistia na
liderança de cada uma dessas áreas por um Estado forte, dinâmico, com grande população e recursos,
dotado de altos padrões econômicos e industriais e de uma posição geográfica que lhe permitisse
exercer um efetivo domínio sobre os demais. Os Estados melhores posicionados para exercerem essa
liderança seriam, segundo Haushofer, a Alemanha (Euro‑África), a Rússia (Pan‑Rússia), o Japão (Área de
Coprosperidade da grande Ásia) e os EUA (Pan‑América) (VESENTINI, 2007).

Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Figura 6 – As pan‑regiões de Haushofer

Apesar desse pensamento de zonas de influência, ao final da Segunda Guerra Mundial Halford Mackinder
criou o discurso geopolítico em sua publicação chamada The Geographical Pivot of History. Embora sem
mencionar a palavra geopolítica – vista por ele como um pensamento germânico –, o estudioso analisava
os acontecimentos históricos das principais áreas do mundo e afirmava que os mais decisivos e importantes
63
Unidade II

da história universal haviam ocorrido na planície asiática, ou seja, na Eurásia da Antiguidade. A partir desse
pressuposto, desenvolveu‑se uma designação para essa área – Heartland (coração da Terra) ou Pivot Area
(região pivô) – e sua inter‑relação com a dominação e/ou desequilíbrio de poder no continente euro-asiático.
A teoria do Heartland provocaria uma transformação das relações de poder no mundo.

Mackinder pronunciou em 1904, durante a conferência na Real Sociedade Geográfica de Londres, que
o poderio naval começaria a ser ameaçado pelo poderio terrestre, visto que os territórios da Alemanha
e da Rússia eram invulneráveis a uma invasão marítima. Segundo seu discurso, o domínio dessa região
representaria o domínio do mundo. Mackinder utilizava‑se do seguinte raciocínio: “quem controla a
Europa Oriental, domina a Terra Central; quem controla a Terra Central, domina a Ilha Mundial; e quem
controla a Ilha Mundial, domina o mundo”29. No decorrer das décadas, essa concepção permeou o
pensamento das nações vencedoras da Segunda Guerra Mundial de tal modo que se buscou o equilíbrio
de poder no continente por meio do isolamento da Alemanha e da Rússia e da vigília constante das
ações desses dois países.

Esse conceito de divisão do espaço geográfico e de influência das potências em territórios específicos
começa a ser ainda mais estudado no decorrer dos anos 1950 e 1960, a partir da concepção de Mackinder.
Assim, a teoria geopolítica contemporânea vem ao encontro do conceito de globalização e está
interligada aos acontecimentos e jogos de poder entre os players que compõem o sistema internacional.

Figura 7 – O mundo segundo Mackinder – o Heartland (coração da Terra)


Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Observação

Halford John Mackinder foi um geógrafo e estrategista britânico. Ele


estudou em Oxford e foi dirigente da London School of Economics and
Political Science de 1904 a 1908. Em 1904, publicou o paper The Geographical
Pivot of History, no qual apresentou a Teoria do Heartland, que influenciaria a
política externa das potências mundiais desde então.

29
A tradução da conferência de Mackinder para o castelhano está presente em RATTENBACH, A. B. Antología
geopolítica. Buenos Aires: Pleamar, 1975, pp. 65-81.
64
Geopolítica, Regionalização e Integração

Lembrete

Com base na teoria do Heartland, Mackinder demonstrava sua


preocupação com uma eventual aliança militar entre Rússia e Alemanha.
Segundo sua teoria, um entendimento internacional entre esses países
os tornaria ameaçadores do equilíbrio de forças no continente euro-
asiático, o que provocaria uma mudança das relações de poder no
mundo. Em última instância, quem dominasse essa região e dominasse
simultaneamente uma saída para mares abertos teria condições de
desenvolver um poder militar insuperável, dominar a Eurásia e decidir
o futuro do mundo.

5.5 Geopolítica contemporânea

Durante a Guerra Fria, a geopolítica desempenhou um papel central não somente no âmbito
acadêmico, mas também na esfera político‑militar. A formulação da política de contenção e da Otan
(Organização do Tratado do Atlântico Norte), ao final da década de 1940 – e seu desenvolvimento nas
últimas décadas –, ao lado do desenvolvimento de novas tecnologias e da corrida armamentista nas
décadas de 1970 e 1980 foram reflexos da estratégia adotada pelas potências por meio do estudo da
geopolítica clássica e do desenvolvimento de uma análise complexa.

Tais argumentos e concepções foram fundamentados por estudiosos como Halford Mackinder,
Nicholas Spykman, Colin Cinza e Zbigniew Brzezinski. No entanto, ao contrário do pensamento
norte‑americano, Kjellén e os geopolíticos alemães ressaltaram não somente as relações entre o
desenvolvimento tecnológico e seu impacto na geografia, mas também a conexão com as questões
étnicas e políticas que impactavam no ambiente global. A ciência política americana sem dúvidas herdou
conceitos importantes da tradição alemã, particularmente de Hans Morgenthau, assim como de Max
Weber e Carl Schmitt, mas os norte‑americanos possuíam também uma estratégia política individual e
construída em bases sólidas (VESENTINI, 2007).

O universalismo americano se opunha em termos ao culturalismo alemão ou contextualismo


– visto da perspectiva de que o contexto ou a época influencia diretamente na construção do
pensamento – e se mostrava mais voltado para a área estratégica. Contudo, atualmente não se pode
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
desvincular a análise geopolítica da interface étnica e cultural, já que a análise geopolítica tem um
profundo impacto nas decisões das nações. Apesar disso, Samuel Huntington debate o choque das
civilizações e afirma que a política se tornou muito mais próxima às ideias de Kjellén. A linha de
divisão geográfica que Huntington criou entre as civilizações do leste e do oeste é praticamente
idêntica a que Kjellén, 80 anos antes, havia ressaltado ser a grande linha cultural entre a Rússia e a
Europa (VESENTINI, 2007).

Entretanto, foi a geopolítica sueco‑alemã cosmopolita que provou ser precisa na descrição do futuro
da Europa contemporânea, principalmente nos anos de reestruturação e redefinição do paradigma
das relações internacionais. No período pós Segunda Guerra Mundial, o mundo presenciava uma luta
65
Unidade II

incessante pelo domínio ideológico e político de duas grandes potências, Estados Unidos e União
das Repúblicas Soviéticas (URSS), que utilizavam as zonas de influência como forma de proteção e
disseminação de seus respectivos ideais.

Com uma situação desfavorável e com a economia em ruínas, a Europa necessitava de capital
externo e investimentos que auxiliassem em sua reestruturação política e econômica, bem como na
reintegração com os demais países. Tendo em vista a ameaça soviética e a possível aliança com os países
do ocidente europeu – o que fortaleceria, por conseguinte, os conceitos do capitalismo –, os Estados
Unidos da América idealizaram um plano capaz de suprir as necessidades das nações devastadas pela
Segunda Guerra Mundial: o Plano Marshall. Inicialmente, os EUA pretendiam abranger com o plano
não só o ocidente europeu, mas também a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que
necessitava igualmente do auxílio. Contudo, as divergências ideológicas não permitiram um acordo, o
que determinou que o crédito seria concedido somente aos países europeus que compactuavam com as
políticas americanas e com a Doutrina Truman.

Em contrapartida, a URSS utilizou uma política de isolamento semelhante para aproximar as nações
comunistas e protegê‑las da invasão ideológica do capitalismo ocidental: era a Cortina de Ferro. Como
afirma Huntington (1997):

Em sua competição entre si, os Estados‑núcleos tentam congregar suas


legiões civilizacionais, fazer alianças com Estados de terceiras civilizações,
promover a divisão e defecções nas civilizações adversárias e empregar a
combinação apropriada de ações diplomáticas, políticas, econômicas e
clandestinas, bem como instigações por propaganda e forma de coerção,
para atingir seus objetivos [...] (HUNTINGTON, 1997, p. 261).

No entanto, a peculiaridade da Guerra Fria – ainda que houvesse o desentendimento entre as


potências e a divisão do mundo – residia no fato de que não existia um perigo iminente ou uma
ameaça definitiva de uma Terceira Guerra Mundial. Havia, na verdade, uma subdivisão advinda do final
da Segunda Guerra Mundial e do acordo entre Estados Unidos da América e URSS. Essa subdivisão
apontava que esses países exerceriam influência sob suas respectivas áreas sem utilizar a força militar.
Segundo Hobsbawn (1995):

A situação mundial se tornou razoavelmente estável pouco depois da guerra


Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

e permaneceu assim até meados da década de 1970, quando o sistema


internacional e as unidades que o compunham entraram em outro período
de extensa crise política e econômica [...] as duas superpotências aceitavam
a divisão desigual do mundo, faziam todo esforço para resolver disputas
de demarcação sem um choque aberto entre suas Forças Armadas [...]
(HOBSBAWN, 1995, p. 225).

O termo coexistência pacífica definia esse período de incertezas e de redefinições do sistema


internacional, no qual uma ainda frágil potência, a URSS – se vista por meio das mazelas sociais e das
revoluções internas –, via uma vasta oportunidade de manter sua hegemonia e domínio territorial,
66
Geopolítica, Regionalização e Integração

ao mesmo tempo que seus problemas econômicos, cada vez mais evidentes, aproximavam‑na mais
de seu fim.

Entretanto, as mudanças políticas no contexto da Guerra Fria transformaram o panorama


internacional, visto que não havia mais uma rivalidade entre a maioria das grandes potências –
principalmente entre as que foram derrotadas na Segunda Guerra Mundial. A maior parte delas se
encontrava em processo de reconstrução de sua política e economia. Pode‑se afirmar, assim, que houve
um congelamento da política internacional e que as questões levantadas em épocas de guerra se viam
abrandadas e inviáveis para serem colocadas em pauta novamente (HUNTINGTON, 1997).

Porém, no decorrer das relações da Rússia com os países contíguos após a “desestalinização”, houve
um constante desentendimento, o que fez com que a então imponência do exército vermelho tivesse
de ser mostrada novamente para que sua hegemonia regional fosse mantida. As divergências políticas,
diplomáticas e culturais eram fatores indispensáveis para analisar esses conflitos e conseguir compreender
a estrutura de cada província. Contudo, não somente o leste‑europeu, mas a África, marcada por uma
grande miscigenação e com mais de 50 países, sofreu com a dificuldade de abranger politicamente
todas as diferenças étnicas e culturais dentro de uma só nação. Como afirmou Huntington (1997):

A política mundial está sendo reconfigurada seguindo linhas culturais e


civilizacionais. Nesse mundo, os conflitos mais abrangentes, importantes e
perigosos não se darão entre classes sociais, ricos e pobres, ou entre outros
grupos definidos em termos econômicos, mas sim entre povos pertencentes
a diferentes entidades culturais. As guerras tribais e os conflitos étnicos irão
ocorrer no seio das civilizações [...] (HUNTINGTON, 1997, p. 21).

Durante a Guerra Fria, a teoria de Huntington foi comprovada especialmente com relação às nações
recém‑independentes do continente africano – Saara Ocidental e Somália – e com nações comunistas
do leste europeu. Entretanto, essa nova era da geopolítica mundial, que perdurou de 1947 a 1991, foi
marcada por um hiato ou crise da produção e discussão acadêmica referente aos temas geopolíticos.
Devido à dissolução da União Soviética e à crise do comunismo no mundo, o processo de desenvolvimento,
a predominância do capitalismo como modelo econômico e a conjuntura internacional reacenderam o
debate entre a década de 1980 e 1990.

Desse modo, as mudanças provocadas pelas constantes evoluções tecnológicas se tornaram cada
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
vez mais visíveis nas relações internacionais (como a Terceira Revolução Industrial). A superação de
distâncias geográficas e temporais e a troca de informações e de conteúdo em tempo real permitiram
o aprofundamento da globalização, a interdependência da economia mundial e a integração de várias
esferas da sociedade, o que intensificou os processos e modificou a geopolítica global.

Diante dessa crescente conectividade, verifica‑se a emergência de um sistema internacional cada


vez mais complexo, juntamente com uma economia global dinâmica e a subsequente ascensão de
novos atores (Estados e não Estados). A globalização, portanto, está fundamentada nos conceitos de
intercâmbio e interdependência entre as nações em aspectos mais abrangentes do que o econômico,
como os aspectos culturais, políticos e sociais.
67
Unidade II

Desde Ratzel, a geopolítica utiliza como ferramenta de estudo essas interfaces, a fim de conseguir
compreender e analisar as relações entre os Estados e as questões referentes ao expansionismo, à
distribuição dos territórios e aos conceitos de regionalização e de integração política, econômica e cultural,
que permeiam o estudo das relações internacionais. A lógica das disputas está submetida hoje não somente
às questões do comércio, mas principalmente às questões geoestratégicas, como a influência ideológica e a
utilização do soft power, essenciais para a manutenção da hegemonia das grandes potências.

Figuras 8 e 9 – Bandeiras dos Estados Unidos da América e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

Lembrete

A Guerra Fria é definida como um conflito que ocorreu apenas no campo


ideológico, sem que tenha existido um combate militar declarado e direto entre
Estados Unidos e União Soviética. A expressão paz armada explica muito bem
o período. Os dois países apoiaram uma corrida armamentista e espalharam
exércitos e armamentos em seus territórios e em países aliados. Enquanto
houvesse equilíbrio bélico e medo do ataque inimigo, a paz estaria mantida. O
período ainda alimentou conflitos em outros países, como na Coreia e no Vietnã.

6 Aspectos da Geopolítica atual: fronteiras nacionais e


internacionais, a guerra e a paz de acordo com a geopolítica, o
poder central e o poder local e políticas territoriais

Este tópico aborda itens cuja compreensão é indispensável para entender as práticas que envolvem o
cenário geopolítico atual. Os aspectos de cada item integram a dinâmica das atividades sociais, políticas
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

e econômicas da sociedade global. Esses itens atraem reflexões sobre as características conceituais
de fronteira, seja no âmbito nacional e/ou internacional; sobre a guerra e a paz, numa abordagem
estratégica na qual a geopolítica instrumentaliza as categorias de análise; e sobre o poder e as políticas
territoriais no que tange à soberania central e local.

Caberá ainda tratarmos aqui sobre o conceito de geopolítica, que nada mais é que uma análise das
interações políticas entre países em função de seus aspectos naturais. Da mesma forma que parece
simples caracterizar a geopolítica, tal conceito abarca dimensões sutis quando observamos as práticas
de soberania que atualmente são exercidas. A compreensão de território e os aspectos naturais que a ele
pertence determina a criação de fronteiras no contexto geopolítico.

68
Geopolítica, Regionalização e Integração

6.1 As fronteiras nacionais e internacionais

Primeiramente, é necessário entender o que uma fronteira representa dentro da estrutura de um país. As
fronteiras não representam apenas uma mera divisão e unificação de pontos diversos, elas determinam também
a área territorial precisa, a base física de um Estado. Assim, as fronteiras delimitam a soberania de um poder
nacional. Para que haja um Estado soberano de direito, é necessário que haja fronteiras estipuladas e respeitadas.30

A fronteira natural entre Portugal e Espanha é um rio. A marca divisória entre esses países ibéricos
está localizada no meio da ponte que corta o rio. Cada uma de suas margens pertence a um país, ou seja,
a fronteira segue o curso do rio. Como ambos os países do exemplo fazem parte da União Europeia, essa
fronteira serve apenas para a checagem de documentos.31

Diferentemente da União Europeia, a maioria dos países tem alguma forma de controle das fronteiras
para restringir ou limitar a circulação de pessoas, animais, plantas e mercadorias dentro ou fora de
seus territórios. Pelo direito internacional, cada país é livre para definir as condições que têm de ser
cumpridas por uma pessoa que pretende atravessar suas fronteiras por suas próprias leis e também para
impedir que tais pessoas atravessem a fronteira quando estiverem a violar tais leis.

Alguns ordenamentos jurídicos exigem a apresentação de passaportes e vistos ou de outros


documentos de identidade para atravessar fronteiras. Para ficar ou trabalhar dentro de um país, pessoas
estrangeiras podem ter a necessidade especial de documentos de imigração ou de licenças que as
autorizem a fazê‑lo. Mesmo com o visto e o passaporte em mãos, não é automaticamente garantido
que o estrangeiro poderá atravessar para o outro lado da fronteira.

Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Figura 10 – Pôster que apresenta o novo passaporte brasileiro

30
No Brasil, costuma-se definir o termo fronteira como as delimitações entre países, as divisas são as delimitações
entre estados federados e os limites são as delimitações dos municípios. Porém, o termo fronteira pode ser usado para
todos os casos citados.
31
O mercado interno da União Europeia (por vezes conhecido como Mercado Único e, antigamente, como Mercado
Comum) visa assegurar a livre circulação de bens, capitais, serviços e pessoas, as quatro liberdades da União Europeia.
69
Unidade II

Lembrete

O passaporte é um documento de identidade emitido por um governo


nacional que atesta formalmente a nacionalidade de um determinado Estado
e, em nome do soberano ou do governo emissor, requisita a permissão para
que o portador cruze a fronteira de um país estrangeiro. Passaportes estão
ligados ao direito de proteção legal no exterior e ao retorno do indivíduo a
seu país de origem.

Saiba mais

Para requerer seu passaporte, veja as condições e os documentos


necessários no site do Departamento da Polícia Federal do Brasil: <http://
www.dpf.gov.br/servicos/passaporte>. Acesso em: 2 fev. 2011.

O transporte de mercadorias por meio de uma fronteira muitas vezes exige o pagamento de
impostos de consumo, recolhidos por funcionários. Animais e, ocasionalmente, seres humanos
que atravessam as fronteiras podem precisar entrar em quarentena para evitar a propagação de
doenças exóticas ou infecciosas. A maioria dos países proíbe o porte de drogas ilegais ou de animais
ameaçados de extinção na passagem por suas fronteiras. A movimentação ilegal de bens, animais
ou pessoas por meio de uma fronteira sem que estes sejam declarados, a ausência de permissão
previamente solicitada ou o ato de iludir deliberadamente a inspeção oficial constitui ato de
contrabando.

Dentro de seu território, um Estado pode criar novas fronteiras com o intuito de melhorar a
eficácia de sua administração mediante a descentralização do poder. Essas fronteiras não possuem o
caráter restritivo que as fronteiras internacionais possuem, mas podem ter força jurídica e possibilitar
a existência de leis diferentes e até mesmo divergentes dentro de um mesmo país. A possibilidade para
que essa situação ocorra está no formato de governo. Na maioria dos estados federais32, as subdivisões
– que podem ser chamadas de estados33, províncias, departamentos, repúblicas, municipalidades ou
cantões – possuem autonomia para gerenciar vários aspectos da governabilidade dentro de suas
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

fronteiras.

32
Estados federais: também conhecidos como federação (do latim foedus, foederis = aliança), os estados federais
são um tipo de Estado soberano caracterizado por uma união de estados ou regiões parcialmente autorregulados e
gerenciados por um governo central (federal). Em uma federação, o regime de autonomia dos estados participantes é
normalmente constitucional e não pode ser alterado por uma decisão unilateral do governo central.
33
Neste caso, deve-se observar a diferença entre Estado (entidade soberana) e estado (unidade federativa): enquanto
no primeiro caso, a grafia da letra E é em letra maiúscula, no segundo caso, a letra e é escrita com letra minúscula.
70
Geopolítica, Regionalização e Integração

Figura 11 – Mapa múndi

É importante ressaltar que uma fronteira nacional não possui poder para fiscalizar, barrar ou proibir
a entrada e a circulação de bens, produtos, pessoas e animais, uma vez que estes estão dentro de um
território de um mesmo governo soberano, salvo em raríssimos casos nos quais as unidades federadas
gozam de um alto grau de autonomia (MACHADO, 2000).

Historicamente, mesmo antes de ser um Estado‑nação, o Brasil já tinha uma configuração territorial
delimitada pelos acordos de 1750 (Tratado de Madri) e de 1777 (Tratado de Santo Ildefonso), que visavam a
separação de terras entre Portugal e Espanha. Cabe lembrar que tais tratados colaboraram sobremaneira
para que, a princípio, não houvesse derramamento de sangue durante o processo de delimitação das
fronteiras brasileiras e de países vizinhos. Os diplomatas brasileiros estabeleceram nossas fronteiras
baseados em documentação cartográfica, no princípio de direito de posse e na história. Esse trabalho foi
concluído em meados do século XIX. Nos primeiros anos do século XX, alguns problemas relacionados à
fronteira surgiram e foram solucionados com grande habilidade pelo Barão de Rio Branco.

Atualmente sob a égide da Divisão de Fronteiras, sediada no Ministério das Relações Exteriores, duas
Comissões são responsáveis pelas atividades elaboradas para a manutenção da fronteira entre o Brasil
e seus vizinhos:

• Primeira Comissão Brasileira Demarcadora de Limites: sediada na cidade de Belém do Pará,


sua função é tratar das atividades fronteiriças do Brasil com o Peru, a Colômbia, a Venezuela, a Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
Guiana, o Suriname e a Dependência Francesa;

• Segunda Comissão Brasileira Demarcadora de Limites: sediada no Rio de Janeiro, é encarregada


das atividades entre o Brasil e o Uruguai, a Argentina, o Paraguai e a Bolívia.

6.2 A guerra e a paz de acordo com a geopolítica

Tanto os assuntos de guerra como os assuntos de paz estão extremamente relacionados com o
estudo da geopolítica, uma vez que ambos afetam o desenho político do sistema mundial.

71
Unidade II

Geopolítica e guerra são termos que se integram num processo dinâmico de soberania, sendo o
foco direcionado para o território e seu estabelecimento. Em certas circunstâncias, geopolítica, guerra
e paz sempre foram comparadas a gêmeos siameses ou até mesmo a amantes inseparáveis. Isso pode
ser comprovado por uma análise simples da importância do território e dos fatos históricos para a
compreensão desses conceitos. Além disso, é impossível discutir geopolítica, suas tendências e sua
evolução num único contexto e a partir de um ponto vista estratégico e prático. A gama de fatos
históricos e geográficos que o tema geopolítica inclui exigiria uma enciclopédia. Portanto, é insignificante
pensar e falar dos fenômenos da guerra e da paz sem a inclusão contextual da geopolítica.

Figura 12 – Placa indicativa de onde se localizava o Muro de Berlim

Observação

O Muro de Berlim foi erguido pela República Democrática Alemã


(Alemanha Oriental) durante a Guerra Fria. Esse muro, além de dividir a
cidade de Berlim ao meio, simbolizava a divisão do mundo em dois blocos.
De um lado, a República Federal da Alemanha, que participava do bloco
constituído pelos países capitalistas encabeçados pelos Estados Unidos,
e, de outro, a República Democrática Alemã, constituída pelos países
socialistas simpatizantes do regime soviético. O muro foi erguido no dia 13
de agosto de 1961 e começou a ser derrubado na noite de 9 de novembro de
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

1989, após 28 anos de existência.

Saiba mais

Visite o site <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/muro.


htm> para ver fotos e saber mais sobre o muro que dividiu a população de
Berlim entre 1961 a 1989.

72
Geopolítica, Regionalização e Integração

6.3 O poder central e o poder local

Nos últimos anos, os governos mundiais passaram por um processo transformador em sua gestão de
poder. Esse processo, conhecido como descentralização, já existia há séculos, embora já estivesse mais
solidificado desde a década de 1990. Nele, o poder central, que concentra as funções administrativas
de um território, delega poderes de decisão para outras entidades dotadas de capacidade jurídica para
administrar certa parte desse território. A intenção dessa delegação é melhorar a eficácia da gestão
governamental de um país.

No Brasil, a noção histórica de poder local está vinculada ao coronelismo, ao patrimonialismo e ao


personalismo no exercício do poder político. Porém, num regime democrático, o poder local deverá ser
visto sob outro ângulo, ou seja, a partir de noções de descentralização e participação da cidadania no
poder político.

Note‑se que essa visão inverte totalmente a dinâmica com a qual a categoria poder local é
analisada, pois agora ela é pautada na sociedade civil, nos movimentos sociais e em sua relação
com a sociedade política. Nesse sentido, num Estado democrático de direito, o poder local se
apresenta como um novo paradigma de exercício do poder político, paradigma esse fundado na
emancipação de uma nova cidadania e afastado das fronteiras burocráticas que separam o Estado
do cidadão. Assim, o poder local recupera o controle do cidadão em seu município por meio da
reconstrução de uma esfera pública comunitária e democrática e da conjugação de práticas de
democracia participativa no lugar da representação tradicional. Desse modo, os cidadãos, agindo
de forma conjunta com o poder público, passarão a ser responsáveis pelo seu destino e pelo destino
de toda a sociedade.

A positivação de mecanismos legitimadores da participação dos cidadãos na gestão da coisa


pública é uma tendência da gestão pública brasileira. Essa positivação pode se tornar um instrumento
eficaz de emancipação da cidadania no que diz respeito ao controle da atuação dos governantes
– verificando se estes estão procedendo de forma responsável em sua gestão – bem como na
definição conjunta das políticas públicas, a fim de que elas realmente reflitam os interesses da
comunidade.

Tendo em vista o divórcio entre as necessidades dos cidadãos e o conteúdo das decisões
sobre desenvolvimento econômico e social, o exercício da função pública e a administração do
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
dinheiro público têm suscitado amplas discussões. Muitos são os investimentos em projetos que
necessitam de grande dispêndio de dinheiro público e que não representam os interesses da
sociedade.34 Muitas são as obras inacabadas ou superfaturadas que prejudicam a sociedade como
um todo ao fazer o contribuinte arcar com as consequências da má gerência e da má aplicação
dos recursos públicos. Logo, a categoria do poder local mostra‑se eficaz como otimização da
gestão pública nacinal, capaz de aliar democracia representativa com democracia participativa
(SANTIN, 2007).

34
Esses projetos não são apenas de âmbito nacional – como o são o projeto nuclear, os investimentos para o
desenvolvimento da Amazônia e tantos outros, mas são principalmente projetos de âmbito local.
73
Unidade II

6.4 As políticas territoriais

As políticas territoriais podem ser entendidas como o campo das ações emanadas dos poderes
centrais, regionais e locais sobre os diversos territórios. Esse tipo especial de política pública –
que tem recebido um aporte mais tradicional do planejamento regional – está situado em plena
crise do Estado territorial moderno em cenários globais‑regionais, que passam por profundas
transformações. A década de 1990 e a crise dos Estados desenvolvimentistas periféricos
representam rupturas de paradigmas socioeconômicos e políticos com significados e alcances
tão ou mais profundos do que a própria constituição dos Estados nacionais sul‑americanos, no
século XIX.

A política territorial se configura pelo conjunto de enfoques estratégicos a médio e longo


prazo e pelas correspondentes formulações de atuação. Esse conjunto é dirigido a intervir sobre
o território a fim de que assuma as formas que sejam adequadas ao conjunto dos interesses que
controlam o poder político. Entende‑se também que as políticas territoriais extrapolam a noção
dos planos regionais de desenvolvimento. Elas abrangem toda e qualquer atividade que implique,
simultaneamente, uma dada concepção do espaço nacional, uma estratégia de intervenção ao
nível da estrutura territorial e mecanismos concretos que sejam capazes de viabilizar essas
políticas. Como enfoques estratégicos, as políticas territoriais estão submetidas às relações
de poder que supõem assimetrias na posse de meios e nas estratégias para o seu exercício. O
território, por sua vez, é tanto um meio como uma condição de possibilidade de algumas dessas
estratégias (CASTRO, 2005).

Resumo

A denominação geopolítica foi criada pelo cientista político


Rudolf Kjellén, no início do século XX, tendo com inspiração a obra
do alemão Friedrich Ratzel, Politische Geographie (Geografia Política),
de 1897.

Ratzel formulou o conceito de determinismo geográfico, que


está baseado na influência que as condições naturais exercem sobre
a humanidade, ou seja, o meio natural seria uma entidade que define a
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

sociedade. Sua obra demonstra o conceito de espaço como fonte de


sobrevivência dos Estados.

O sueco Rudolf Kjellén, com base no conceito de Ratzel, apresenta a


geopolítica como uma área de conhecimento que estuda a dominação dos
territórios, dando especial atenção à relação entre os Estados e o espaço
geográfico.

Nesse sentido, destacamos dois outros autores, Mackinder e Haushofen.


Mackinder apresentou teorias sobre a importância dos domínios das
74
Geopolítica, Regionalização e Integração

rotas marítimas e das áreas de influência de um país, principalmente


em relação aos mares e oceanos. Haushofen ofereceu à geopolítica um
sentido militar.

Na unidade, destacamos ainda que a geopolítica considera o


papel político internacional que as nações desempenham em função
das características geográficas delas. Essas características podem ser
mensuradas levando em consideração, por exemplo, o território, a
dimensão territorial, a presença de recursos naturais, o contingente
populacional, entre outras.

A geopolítica é um campo de estudos multidisciplinar, carregado de


ideologia e de estratégias e voltado às relações de poder. Ela se vale de
conhecimentos da geografia, da teoria política e da geologia para basear as
ações políticas dos Estados.

A Guerra Fria foi apresentada como um período histórico de conflitos


estratégicos de ordem política, social, ideológica, tecnológica e militar,
que compreendeu o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção
da União Soviética (1991). Os conflitos em questão foram indiretos e se
deram entre os Estados Unidos e a União Soviética e entre suas zonas de
influência.

Nos aspectos da geopolítica atual, destacamos as fronteiras nacionais


e internacionais que delimitam a área territorial de um Estado. Essas
demarcações físicas precisas de território delimitam a soberania de um
poder nacional. Para que haja um Estado soberano de direito, é necessário
que haja fronteiras estipuladas e respeitadas.

Saiba mais

A seguir, alguns filmes que podem propiciar uma inter‑relação com os


conteúdos da unidade: Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

IMPÉRIO do Sol. Dir. Steven Spielberg. Estados Unidos. 1987. 154 min.

SOLDADO anônimo. Dir. Sam Mendes. Estados Unidos. 2005. 125 min.

A REVOLUÇÃO não será televisionada. Dir. Kim Bartley e Donnacha


O’Briain. Irlanda. 2003. 74 min.

75
Unidade II

Exercícios

Questão 1. (ABRIL, 2009) Nos anos 1990, as maiores taxas de crescimento demográfico ocorriam
na África e na América Latina. De acordo com a tendência apresentada por diversas nações desses
continentes, pode se afirmar que:

A) Não há relação entre o crescimento natural da população e o nível de desenvolvimento econômico


de um país.

B) As taxas de crescimento natural da população de um país não interferem no seu desenvolvimento


econômico e social.

C) Quanto maior o desenvolvimento econômico de um país, maior será a taxa de crescimento natural
da população em função do melhor poder aquisitivo das famílias.

D) Quanto menor o desenvolvimento econômico de um país, menor será o crescimento natural de


sua população. Isso se dará em função da maior taxa de mortalidade decorrente das precárias
condições de vida.

E) O maior nível de desenvolvimento econômico fará a taxa de crescimento natural da população


diminuir, o que é fruto de melhores condições de saúde e educação.

Resposta correta: alternativa E.

Análise das alternativas:

Alternativa A: incorreta.

Justificativa: não pode ser uma afirmação correta porque o crescimento populacional e o
desenvolvimento econômico são dois fatores que estão sempre ligados.

Alternativa B: incorreta.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Justificativa: como afirmamos na alternativa anterior, não há maneira de desvincularmos o


crescimento populacional do desenvolvimento econômico. Este, por sua vez, é a principal referência
que temos para as questões sociais de um país.

Alternativa C: incorreta.

Justificativa: quando temos crescimento econômico, temos um aumento na renda do país e uma
melhoria na distribuição dessa renda. O crescimento populacional certamente é um empecilho para essa
distribuição.

76
Geopolítica, Regionalização e Integração

Alternativa D: incorreta.

Justificativa: o menor desenvolvimento ocorrerá exatamente pelo aumento populacional.

Alternativa E: correta.

Justificativa: o crescimento natural da população e o nível de desenvolvimento econômico de


um país estão intimamente relacionados. Ao assegurar um acesso mais fácil aos serviços de saúde e
educação, haverá a melhoria das condições de vida do país. Isso inevitavelmente implicará em redução
das taxas de crescimento demográfico, pois estamos diante de um maior desenvolvimento econômico e
social. Em todas as nações nas quais o IDH melhorou de maneira significativa, o crescimento natural da
população declinou nas décadas subsequentes.

Questão 2. (Enade, 2009, prova de Geografia) Observe a imagem a seguir:

Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Os dados anteriores se referem à Primavera Árabe, onda de levantes populares que começou na
Tunísia e se espalhou por vários países da região em 2011. Os fatos apontados impactam diretamente a
ordem mundial, levando a um olhar diferenciado na geopolítica do mundo. Nesse contexto, analise as
afirmações a seguir.

I – A instabilidade do mundo árabe representa preocupações para a Europa e há risco de caos


econômico em razão da possibilidade de migração de pessoas para o continente.
77
Unidade II

II – O contexto de instabilidade do mundo árabe, apresentado na figura valoriza a dimensão política


do espaço e do território, o que afeta o cerne dos pressupostos geopolíticos: o Estado e a estrutura
de poder mundial.

III – O fim dos governos de Ben Ali (Tunísia) e Mubarak (Egito), provocado pela Primavera Árabe, não
resultará no fim da ditadura desses países, pois existem interesses dos Estados Unidos em manter
sua hegemonia na região do petróleo.

IV – O contexto de instabilidade do mundo árabe, apresentado anteriormente, compromete a


hegemonia dos Estados Unidos frente à geopolítica mundial. Ainda assim, os Estados Unidos
reagem com prudência e pragmatismo, tentando manter a estabilidade de uma região crucial
para seus interesses e, ao mesmo tempo, apoiar as aspirações democráticas de suas populações.

É correto apenas o que se afirma em:

A) I e II.

B) II e III.

C) III e IV.

D) I, II e IV.

E) I, III e IV.

Resolução desta questão na Plataforma.


Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

78
Geopolítica, Regionalização e Integração

Unidade III
7 A Agenda da Geopolítica Moderna

Introdução

A globalização capitalista causou provavelmente mais riqueza material e progressos sociais do que jamais
ocorreu em fases precedentes da economia mundial. Ao mesmo tempo, visualizamos o crescente aumento das
diferenças entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento. Na era em que são as relações internacionais com
fins econômicos que movimentam a economia mundial, nenhum país deseja estar limitado a seu território.

Os interesses nacionais de cada país estão manifestados por meio de sua política externa e refletem
seus objetivos no que diz respeito a desenvolvimento econômico, capacitação tecnológica, maior
participação no comércio global, crescimento de índices sociais, busca pelo poder, entre outros. Seja qual
for o objetivo, em geral as ações do Estado estarão sujeitas à eventual influência de grupos de interesse
que apoiam suas decisões políticas no âmbito interno.

Nas questões de meio ambiente, o número de acordos ambientais internacionais e os acordos


voluntários cobrem grande parte das regiões e das questões globais. Além disso, os aspectos teóricos e
históricos da integração regional também estarão contemplados nesta unidade.

7.1 Comércio internacional e desenvolvimento econômico

Numa perspectiva histórica, a expansão do comércio internacional foi sustentada pelos contínuos
aumentos da produtividade e das produções agrícolas e industriais, pela especialização e divisão de
trabalho e pelas vantagens comparativas de troca. O comércio assume papel fundamental na expansão
da economia internacional a partir da revolução comercial industrial, sendo que sua importância é
plenamente admitida nos princípios da teoria clássica do comércio.

Na medida em que os meios de intermediação da riqueza mundial – baseada nas normas reguladoras
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
dos padrões metálicos – tornavam‑se inadequados, o comércio internacional se constituía como um
eficiente mecanismo de acúmulo de reservas internacionais, de meios internacionais de pagamento e
de orientação dos fluxos de capitais.

A balança comercial ganhou significativa importância na medida que impactou o equilíbrio dos
balanços de pagamentos nacionais, equilíbrio este dependente do acúmulo de recursos financeiros
gerado pelas transações de bens e serviços.

Conduzidas pelas motivações do lucro em função do próprio processo histórico, as crescentes


relações de comércio entre os países naturalmente provocaram a ampliação de mercados consumidores.
79
Unidade III

Juntamente com um maior número de fornecedores de insumos e de matérias‑primas e com as novas


possibilidades de atividades econômicas (novos produtos e serviços), essa ampliação estimulou a
produção em escala e obteve um consequente aumento da produtividade a partir da especialização,
tanto nas atividades agrícolas e extrativas quanto nas industriais e de serviços (CASSAR, 2004).

As novas tecnologias, as transferências tecnológicas, a utilização de mão de obra local e os diferentes


padrões de produção criaram novas alternativas de produção ao deslocar atividades para determinados
lugares, de modo que o processo completo se constituísse com base no trabalho de diferentes países
(CASSAR, 2004).

Da mesma forma, questões relativas ao fluxo monetário, tais como investimentos diretos e fluxo
financeiro internacional (capital especulativo), estão intrinsecamente relacionadas ao comércio exterior.
Juntos, esses elementos são responsáveis pelas transações correntes do país, o que afeta direta ou
indiretamente o crescimento econômico nacional.

As transações financeiras ampliaram o fluxo monetário entre países, gerando


crescimento e desenvolvimento recíproco. Tal movimento se caracteriza
com a troca de mercadorias, com as remessas de capital e de lucros, com
os investimentos produtivos internacionais ou mesmo com financiamentos
concedidos por fontes internacionais (CASSAR, 2004, p. 69).

Diante dessa percepção e em função do próprio processo de trocas, envolve‑se:

[...] toda uma comunidade pluralística e competitiva de exportadores e


importadores; grupos e órgãos especializados (tradings, consultorias e
associações de classe); bancos, instituições de crédito e companhias de
seguros, redes de transporte e sindicatos [...] (GRIECO, 1994, p. 208).

Os mercados são administrados dentro do marco de regulamentação governamental nos âmbitos


nacionais e pelo consenso nos foros multilaterais, estabelecidos e internacionalmente aceitos após a
Segunda Guerra Mundial.

Após o protecionismo dos anos 1930, o comércio internacional cresceu a um ritmo sustentado
no pós‑guerra, atuando como indutor de modernização tecnológica e de ganhos de competitividade.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

O advento da globalização econômica gerou uma produção de bens em maiores quantidades a


custos continuamente mais baixos (ALMEIDA, 2002). O fator preponderante da globalização é a
internacionalização da economia, ininterrupta desde a Segunda Guerra Mundial.

7.2 Alguns desafios para a inserção positiva dos países em desenvolvimento


nas relações de comércio internacional

A globalização capitalista percebida nas últimas décadas do século XX trouxe provavelmente


mais riqueza material e progressos sociais do que jamais ocorreu em fases precedentes da economia
mundial. Ao mesmo tempo, tem‑se o “aumento das diferenças entre nações desenvolvidas e países em
80
Geopolítica, Regionalização e Integração

desenvolvimento, assim como das desigualdades no acesso a bens e a distância acumulada entre os
rendimentos dos grupos sociais” (ALMEIDA, 2002, p. 57).

Diante desse paradoxo, há que se questionar quais são os desafios a serem superados pelos países
em desenvolvimento a fim de que alcancem maiores benefícios nas relações do comércio internacional.

Dois fatores centrais são percebidos nessa realidade. O primeiro tem a ver com a “deficiência de
crescimento e na administração das políticas econômicas nacionais e setoriais (políticas agrícola, industrial,
de ciência e tecnologia etc.)” (ALMEIDA, 2002, p. 57), que colocou as nações em desenvolvimento na
contramão da competitividade do capitalismo global. Há argumentos no sentido de que:

[...] a falta de um posicionamento social e político majoritariamente alinhado


com um modelo definido e conhecido gera problemas importantes para a
economia real e para o próprio desenvolvimento do país, aumentando os
riscos e reduzindo a produtividade econômica em geral e dos investimentos
em particular (PINHEIRO, 2004, p. 25).

Desse modo, em geral o descompasso com o desenvolvimento em alguns países tem a ver com:

[...] a estruturação material das sociedades e economias, seu substrato


humano (em termos de educação e capacitação profissional), o meio
ambiente institucional (estabilidade das regras, respeito aos contratos,
segurança dos direitos de propriedade contra práticas abusivas de “extração
de renda” pelo Estado ou por grupos de interesse) e a intensidade de vínculos
com a economia internacional, de onde provêm os estímulos à competição e
os ganhos de produtividade e know‑how, mediante transferências diretas e
indiretas de tecnologia (ALMEIDA, 2002, p. 57).

O segundo fator central está relacionado ao chamado intercâmbio desigual, estabelecido por meio
das assimetrias das relações internacionais de comércio, acentuadas na última metade do século XX
(ALMEIDA, 2002).

O período de paz observado entre os dois maiores conflitos bélicos de escala mundial foi marcado
por acirradas guerras comerciais, dados o acentuado protecionismo e a consequente deterioração das
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
relações econômicas internacionais entre as nações.

Após a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos emergiram como potência e tiveram significativa
participação na recuperação da economia mundial. No mesmo período, o país aumentou bruscamente
suas tarifas aduaneiras e, em 1930, com a aprovação de uma lei tarifária irresponsável, a Smoot‑Hawley
Act, houve uma significativa redução de seu comércio exterior. Existem fortes argumentos econômicos
de que a Smoot‑Hawley Act contribuiu para o agravamento da Grande Depressão dos anos 1930.

Essa medida teve um efeito dominó, pois levou os demais parceiros comerciais dos Estados Unidos a
adotar restrições ao fluxo de comércio na mesma ou em maiores proporções, a fim de salvaguardar suas
81
Unidade III

economias. Esses parceiros ainda lançaram mão da desvalorização cambial para enfrentar o problema
do balanço de pagamento. Isso tornava mais caro o produto de outros países, que, para recuperarem a
competitividade, também desvalorizavam suas moedas.

Ao final da Segunda Guerra Mundial, acentuaram‑se as características de interdependência no


sistema econômico internacional e, ao mesmo tempo, houve a necessidade de se reduzir o alto nível de
protecionismo ao comércio internacional. Estava evidenciado, “de forma inequívoca, a necessidade de
regras e instituições que permitissem aos países desenhar suas políticas de empregos e investimentos
sem desestabilizar a economia mundial” (DIAS, 1996, p. 63‑64).

De acordo com o que podemos constatar, a maior preocupação dos países da ordem capitalista no imediato
pós‑guerra residiam “na construção simultânea de um ambiente pacífico, favorável ao crescimento econômico
das nações, e de uma nova ordem capitalista capaz de trazer estabilidade política e econômica”, além de cercear
a expansão do “socialismo, que saiu fortalecido no período posterior ao conflito” (RAMOS, 2004, p. 148).

Menos elaborado que a Carta de Havana35, o GATT teoricamente não tinha status de organização
internacional, mas, na prática e na medida que ia sendo ampliado por meio de sucessivas rodadas de
negociação, ele passou a ser o único fórum multilateral de negociações comerciais, constituindo‑se
como base para as negociações de comércio internacional por quase 50 anos.

Contudo, ao se observar a dinâmica das relações internacionais de comércio no âmbito de


negociação do GATT, percebe‑se que, na prática, as premissas de livre comércio das teorias de comércio
internacional propaladas até os dias atuais pelas nações desenvolvidas não se estabeleceram no
comércio internacional. Uma ordem econômica liberal nas relações econômicas internacionais nunca
foi implantada nesse período. Por outro lado, ao se evocar a visão realista das relações internacionais,
conferimos que os interesses nacionais exacerbados dos países desenvolvidos ignoraram e ainda
ignoram as assimetrias econômicas estruturais, pois exigem, em determinado momento, livre comércio
e igualdade de oportunidade nas negociações.

O GATT criou as bases de um sistema de comércio internacional que pode ser melhor caracterizado
como administrado em vez de liberal. As regras do GATT nunca foram implementadas rigidamente
quando os interesses dos países industriais avançados estavam em risco. O fato é que, desde a criação
do GATT, os países em desenvolvimento “foram conscientemente discriminados no acesso ao mercado
dos países industriais” e assumiram o ônus da indiferença dos “países industrializados em promoverem
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

ajustes estruturais às mudanças no padrão de vantagens comparativas entre países” (DIAS, 1996, p. 68).

O GATT permitia a gestão das políticas nacionais de comércio com um mínimo de regras. Os dois
princípios básicos do acordo36 apresentavam um grande equívoco ao presumir que os parceiros comerciais
estavam em posições similares.

35
Documento que propunha a criação da Organização Internacional do Comércio, não ratificada pelo Congresso
Americano.
36
Esse acordo foi uma herança do sistema norte-americano de negociações tarifárias (cláusula da nação mais
favorecida – NMF – ou não discriminação e reciprocidade nas concessões) (PRADO, 1996).
82
Geopolítica, Regionalização e Integração

O agravante desse problema estava nos padrões de negociação a serem seguidos: “pelas regras
de negociação do GATT, as negociações deveriam iniciar‑se bilateralmente por requisição, e não
por oferta, ao passo que somente o maior importador poderia requisitar reduções tarifárias de
um país exportador” (PRADO, 1996, p. 57). A cláusula da nação mais favorecida se encarregava
de que as vantagens auferidas fossem estendidas aos demais membros. Regra fundamental de
negociação, o princípio da reciprocidade, por sua vez, penalizava os países em desenvolvimento
ao condicionar uma redução tarifária a um volume equivalente de importação. Dessa maneira
“os principais exportadores mundiais determinavam as prioridades e os limites das negociações”
(PRADO, 1996, p. 58).

Por conseguinte, a troca de concessões no GATT ocorria quase sempre entre economias desenvolvidas.
Essas concessões eram praticamente irrelevantes para as economias em desenvolvimento, que não
tinham as possibilidades de uma resposta de oferta.

No ambiente em que as relações internacionais se desenvolveram no pós‑guerra, o que chama


a atenção é o grau de complexidade que envolve os fluxos superpostos de bens, capital, trabalho e
informação tecnológica; o grande número de agentes econômicos heterogêneos; e, sobretudo, as
vultuosas práticas das grandes empresas multinacionais e transnacionais no comércio internacional,
que refletiram diretamente sobre a economia e a política interna das nações e tornaram indefinidas as
fronteiras de suas políticas interna e externa (RAMOS, 2004).

Tal complexidade funcionou como aval das ações de governos em prol de seus interesses nacionais
que, como pano de fundo, tinham a consolidação ou a melhora da posição de empresas deste ou
daquele país face a:

[...] um número cada vez maior de participantes no comércio internacional,


procurando ascender ao comércio de bens e serviços de maior valor
agregado, enquanto outros procuram manter ou expandir sua parte do
mercado desses bens e serviços (DIAS, 1996, p. 59).

Os interesses nacionais de cada país, manifestos por meio de sua política externa, refletem seus
objetivos quanto ao desenvolvimento econômico, à capacitação tecnológica, à maior participação no
comércio global, ao crescimento de índices sociais ideais, à busca pelo poder, entre outros. Seja qual for
o objetivo, em geral as ações do Estado estarão sujeitas à eventual influência de grupos de interesse que
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
o apoiam em suas decisões políticas no âmbito interno.

A esse respeito, o exemplo americano é ilustrativo:

A história da legislação comercial dos Estados Unidos, a partir da Lei de


Expansão do Comércio de 1962, passando pela Lei de Comércio de 1974, a Lei
de Comercio e Tarifas de 1984 e a Lei Omnibus de Comércio e Competitividade
de 1988, documenta a crescente participação de grupos de interesse na
definição da política comercial do país, a criação de instrumentos específicos
para responder às práticas desleais de comércio e a inclusão de um conjunto
83
Unidade III

indeterminado de regulamentações domésticas, práticas institucionais ou


políticas de governo que poderiam ser consideradas obstáculos ao comércio
“equitativo” (DIAS, 1996, p. 62).

O elevado nível de tarifas praticado pelos Estados Unidos desde os anos 1930 lhes imputou problemas
de conluios políticos (lobbies) quando o país se viu obrigado a negociar a redução das tarifas com
parceiros comerciais no pós‑guerra. O imbróglio consistia no fato de que:

[...] qualquer redução de tarifas teria a oposição dos membros do Congresso,


cujos distritos continham empresas que produziam bens concorrentes,
enquanto os benefícios seriam tão difundidos que poucos no Congresso
estariam mobilizados do outro lado (KRUGMAN; OBSTFELD, 1999, p. 241).

O comércio internacional do pós‑guerra seguiu padrões que não eram previstos pelas teorias de
comércio internacional. Os fluxos de comércio não levaram a especialização e a equalização dos preços
dos fatores internacionais.

Foi somente na década de 1960 que os esforços no sentido de buscar alternativas de negociações
ao GATT resultaram na Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento
(United Nations Conference on Trade and Development). Além disso, esses esforços também
resultaram no tratamento preferencial das exportações dos países em desenvolvimento nos
mercados das economias desenvolvidas, isso segundo o Sistema Geral de Preferências (SGP)
ou Generalized System of Preference, estabelecido no início dos anos 1970 (ABREU, 2001). De
certo modo, nesse cenário conseguia‑se o reconhecimento da aceitabilidade em determinadas
condições das demandas por uma discriminação positiva dos países em desenvolvimento (PRADO,
1996).

Contudo, a avaliação positiva deve ser vista com sérias restrições. Essa avaliação foi baseada na
redução expressiva das tarifas que se pode fazer no sistema multilateral de comércio, gerenciado pelo
GATT desde 1947 (quando teve sua primeira rodada em Genebra) até meados dos anos 1980, quando
acordos das negociações da Rodada Tóquio foram implementados.

Como já observado, as regras de negociação baseada na reciprocidade (sem levar em


consideração as assimetrias estruturais) faziam com que as trocas de concessões ocorressem quase
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

sempre entre economias desenvolvidas, nas quais os níveis de oferta eram maiores, diferentemente
das limitadas ofertas dos países em desenvolvimento. A liberalização do comércio, portanto, se
concentrou em indústrias caracterizadas pela especialização internacional intraindustrial, ou
seja:

[...] entre indústrias cuja natureza da competição não dependia apenas


de preço, mas de características estranhas à teoria pura do comércio
internacional, tais como diferenciação de produtos, tecnologia etc. (PRADO,
1996, p. 59).

84
Geopolítica, Regionalização e Integração

Assim, as concessões tarifárias eram praticamente irrelevantes para economias em desenvolvimento


que não tinham a possibilidade de uma resposta de oferta. Dessa forma, tem‑se que:

[...] a partir do quarto final do século XX, um terço, senão mais, do


comércio internacional é realizado entre as próprias firmas multinacionais,
geralmente num sentido norte‑norte, já que o comércio norte‑sul continua
a ser dominado por um padrão mais tradicional de trocas, envolvendo
matérias‑primas e commodities contra manufaturados e outros produtos
de maior valor agregado (ALMEIDA, 2002, p. 52).

Mesmo com uma atitude mais ativa dos países em desenvolvimento a partir dos anos 1960,
verifica‑se a partir dos resultados da Rodada Kennedy (1963‑1967) e da Rodada Tóquio (1973‑1979) que
as negociações continuaram dominadas pelas principais economias desenvolvidas. Na Rodada Kennedy,
a “redução nas tarifas médias para produtos de interesse dos países em desenvolvimento foi de 20%, ao
passo que, para produtos de interesse das economias desenvolvidas, foi de 35%‑40%” (ABREU, 2001, p.
91). Os resultados das negociações iniciadas em Tóquio não se mostraram diferentes, já que a redução
de tarifas para produtos do interesse de países desenvolvidos e em desenvolvimento ficaram em 33% e
26%, respectivamente.

Os ajustes impostos pelo mercado à especialização internacional, segundo a teoria de livre comércio,
deveriam ser assumidos pelos países para que o livre comércio se estabelecesse, o que permitiria que
consumidores e produtores usufruíssem das vantagens absolutas de todos. Em relação aos custos e
benefícios, Dias (1996) aponta que eles são percebidos diferentemente: os eventuais benefícios são
difusos, genéricos e percebidos a longo prazo e os custos são concretos, mensuráveis e percebidos
rapidamente. Assim, os custos são onerosos a empresas, trabalhadores, regiões etc.

Portanto, os custos geram maior preocupação dos países nas relações internacionais. Com base no
raciocínio desenvolvido até aqui, não é difícil entender que esses custos foram certamente debitados da
conta dos países em desenvolvimento. Dessa forma, é evidente que:

[...] os governos dos países industrializados procuraram transferir, para fora


de suas fronteiras os custos sociais resultantes de ajustes à diferenciação
funcional ou interindustrial, ou seja, da diferenciação derivada de
vantagens comparativas interindustriais, que beneficiariam países menos
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
industrializados (DIAS, 1996, p. 68).

Assim, verifica‑se que países industriais como Estados Unidos, Japão e o bloco econômico
União Europeia (a partir dos anos 1980), alheios às regras multilaterais, implementaram políticas
protecionistas pseudolegitimadas no argumento de que as disparidades de custos de trabalho eram
destrutivas à sua indústria, ignorando que “a especialização, devido a custos de fatores inicialmente
diferentes, é uma das características de uma ordem econômica liberal” (PRADO, 1996, p. 60). Essas
economias, portanto, transferiram tais custos sob a forma de imensos prejuízos comerciais aos países
menos desenvolvidos.

85
Unidade III

Assim, os esforços para a construção de uma ordem econômica liberal, que deveria ser implementada
por meio de negociações multilaterais, foram obstruídos pelos países desenvolvidos, que se recusavam
a aceitar regras liberais nos setores em que não eram competitivos.

Quanto a isso, pondera‑se que o neoprotecionismo dos países desenvolvidos – geralmente aplicado
ao setor agrícola ou a algumas indústrias tradicionais não competitivas, como siderúrgicas, têxteis e
de calçados – subtrai os benefícios que os países emergentes e em desenvolvimento poderiam retirar
do comércio exterior enquanto fator indutor de crescimento e de transformação estrutural de suas
economias (ALMEIDA, 2002).

Na década de 1950, por exemplo, mesmo ao apresentar uma balança comercial altamente favorável
em produtos agrícolas, o setor agrícola obteve dos Estados Unidos quotas à importação de produtos
como açúcar, queijo e carne (PRADO, 1996).

A partir do momento que países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia, passaram
a oferecer um número cada vez maior de produtos de melhor qualidade nos mercados mundiais,
surgiram obstáculos de caráter não tarifário, medidas não quantificáveis e exigências negociais.

Embora a importância do desenvolvimento tivesse sido relativamente reconhecida a partir da


discriminação positiva em favor dos países em desenvolvimento nos 1960 e 1970, na década de 1980
esses países foram constantemente taxados como beneficiadores da “ordem liberal”, sem, no entanto,
contribuir com ela no âmbito do comércio e sem fazer concessões no nível de interesse das grandes
nações.

Na leitura que as grandes nações fazem da ordem econômica internacional – ordem esta que as
levaram a introduzir exigências de maior reciprocidade ou maiores concessões por parte dos países em
desenvolvimento –, subentende‑se dois fatores distintos:

• primeiro: manifestação de maior poder relativo nas questões comerciais em prol de interesses
econômicos particulares e não em prol de um maior nível de liberalização comercial equitativa
que beneficiasse a todos;

• segundo: decorrente do primeiro fator, remete à ausência do princípio de que a igualdade de


condições opera de forma a aprofundar as desigualdades entre desiguais.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Consequentemente, a partir de então inúmeras medidas ilegais à luz do GATT foram adotadas
como forma de anular ou reverter os prejuízos causados pela ação ou inação de parceiros
comerciais. Direitos compensatórios e medidas de antidumping obtidos por meio de lobbies
setoriais nos Estados Unidos, a Política Agrícola Comum da União Europeia (implementada
por meio de mecanismos complexos de proteção à produção local) e restrições quantitativas
à importação (como cotas e picos tarifários) são apenas algumas das evidências de que o
acesso a mercados desenvolvidos se manteve e ainda se mantém regulado por mecanismos
discriminatórios e pouco transparentes.

86
Geopolítica, Regionalização e Integração

Concentradas na exportação de manufaturados intensivos em mão de obra, tais barreiras,


conhecidas com barreiras não tarifárias, cresceram ininterruptamente nas décadas de 1980
e 1990, sendo que, “em 1990, 17,5% do comércio mundial de todas as origens eram cobertos
por medidas não tarifárias” (PRADO, 1996, p. 51). Nesse caso, o contrassenso do ideário do livre
comércio é reforçado, mais uma vez, pelas assimetrias de poder na medida em que “para os
países em desenvolvimento, essa percentagem era muito maior, representando cerca de 23%
do comércio em 1990” (PRADO, 1996, p. 51). A implicação prática dessa constatação revela que
grandes segmentos do comércio internacional continuavam excluídos da liberalização alcançada
nesse período.

Ademais, no período compreendido entre 1947 e 1994, quando vigorou o GATT, não havia um corpo
sólido de regras e procedimentos no qual um Estado que julgasse estar sendo prejudicado pelas políticas
comerciais adotadas por qualquer outro pudesse se apoiar.

As soluções de controvérsia no âmbito do GATT eram reguladas por um processo de consultas,


seguido do estabelecimento de painéis de especialistas que elaboravam um relatório sobre a controvérsia.
Entretanto, as decisões eram obtidas por meio do consenso positivo (RAMOS, 2004). Bastava à parte
perdedora não aceitar o relatório para que todo o processo fosse bloqueado, o que afastava, assim, sua
adoção (SILVA, 2002). Essa era a principal fragilidade desse modelo, ao passo que o cumprimento das
regras estabelecidas ficaria de fato a cargo exclusivo da vontade das partes, já que o Estado infrator
sempre poderia impedir a adoção de qualquer medida em seu prejuízo, mesmo que sua imposição fosse
ilegítima. Para se ter uma ideia, nos 48 anos de atuação do GATT, apenas uma medida retaliatória foi
autorizada (FINGERS; WINTERS, 2002).

Toda essa estrutura desfavorável e a tentativa de introdução de novos temas37 no fórum internacional
de comércio por parte dos países desenvolvidos levou o Brasil e outros países em desenvolvimento a
rever sua posição defensiva frente ao GATT: eles passaram a “defender um sistema multilateral com o
predomínio do direito sobre o arbítrio de poder” (DIAS, 1996, p. 66).

A expectativa era de que um sistema mais abrangente de comércio, fundamentado no direito


internacional, gerasse uma estrutura normativa que trouxesse maior equilíbrio às negociações e maiores
restrições ao exercício de poder e às arbitrariedades.

Diferente de seu precursor, a Organização Mundial do Comércio (OMC) é uma organização


Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
permanente, com personalidade jurídica própria e com o mesmo status do Banco Mundial e do FMI.
Os compromissos assumidos no âmbito da OMC são absolutos e permanentes. Prevista na Ata Final da
Rodada Uruguai (1986‑1994), a substituição do GATT pela OMC em 1995 não significou, entretanto, o
fim das mazelas do comércio internacional discutidas até aqui.

Evidentemente, importantes evoluções podem ser percebidas, principalmente quanto à


estrutura normativa e ao sistema de solução de controvérsia. Em relação à estrutura normativa,
os acordos negociados são mais precisos e transparentes e apresentam maior rigorosidade, o

37
Direito de propriedade intelectual (Trips), medidas de investimento (Trims), meio ambiente, entre outros.
87
Unidade III

que permite uma redução da margem de arbitrariedades antes impostas mais facilmente pelos
parceiros comerciais.

Por sua vez, o atual Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) – mais efetivo, menos sujeito a
bloqueios, implementado pela Rodada Uruguai e previsto no Anexo II do tratado de Marrakesch38  –
alterou significativamente o processo de solução de controvérsias. Esse órgão é responsável pela
efetividade que pode ser atribuída à organização, pois ele assegura maior previsibilidade e segurança
nas relações jurídicas entre os Estados partes.

Diferentemente de seu antecessor, as decisões do Órgão de Solução de Controvérsias no âmbito


da OMC são tomadas com base no consenso negativo, ou seja, uma vez evidenciada uma infração das
regras estabelecidas pelos acordos da organização, o membro infrator ficará impune somente se todos
os membros votarem contra a decisão do conselho.

A maior previsibilidade e o estabelecimento de agendas dentro da OMC induzem à formação de


coalizões que podem funcionar como facilitadoras da ação política de Estados fracos. O exemplo
mais notável dessa mobilidade pode ser constatado nos resultados da V Rodada de Negociações no
âmbito da OMC, realizada em setembro de 2003 em Cancún, no México. O impasse das negociações
se concentrou na rejeição, por parte de um grupo de países em desenvolvimento, da proposta de
diminuição dos subsídios agrícolas, proposta esta defendida por EUA, União Europeia e Japão.
Segundo Ramos (2004):

[...] uma espécie de engenharia política, articulada pelo Brasil, China e Índia,
reuniu um grupo de 21 países em desenvolvimento que reúne os interesses
de mais de 55% da população mundial, negociou em pé de igualdade com
as economias desenvolvidas a liberação do comércio agrícola [...], alterando
sobremaneira a correlação de forças em grandes negociações internacionais
como nunca visto antes (RAMOS, 2004, p. 174).

Como observado, embora a nova base institucional das relações de comércio tenha melhorado
as condições negociais em alguns aspectos, não podemos ignorar as incertezas ainda presentes no
sistema internacional. A principal delas é se países desenvolvidos ajustarão adequadamente suas
políticas nacionais às normas, regras, princípios e procedimentos acordados multilateralmente.
O viés dessa análise passa pela questão da defesa da soberania estatal, que, nesses países, é
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

evocada na defesa dos interesses nacionais. Durante o período do GATT, isso impediu que acordos
multilaterais assumidos internacionalmente fossem cabalmente cumpridos. Logo, esses acordos
ficaram subordinados à legislação nacional, como foi o caso dos Estados Unidos, discutido
anteriormente.

Assim, o desafio maior da OMC consiste em impedir que países ou grupos de países desenvolvidos
tentem utilizar o poder de suas economias e de seus mercados de alta renda para o descumprimento de
obrigações multilaterais (DIAS, 1996, p.66).

38
Tratado constitutivo da OMC.
88
Geopolítica, Regionalização e Integração

Lembrete

O órgão de solução de controvérsias das OMC é considerado hoje um


dos principais fóruns de solução internacional de conflitos, sobretudo em
função da quantidade de contenciosos, de Estados e de valores envolvidos.
Ele procura destacar o cumprimento dos procedimentos previstos, a
originalidade dos mecanismos de estímulo à obediência das decisões, o
ganho de legitimidade do sistema com o tempo e as principais sugestões
de reforma em discussão.

Saiba mais

Fique por dentro dos principais casos de contenciosos no âmbito do órgão


de solução de controvérsias da OMC: <http://www.wto.org/spanish/tratop_s/
dispu_s/find_dispu_cases_s.htm#results>. Acesso em: 30 jan. 2012.

7.3 O meio ambiente

Mediante a vasta diversidade de temas que compõem a agenda das relações internacionais, a
ecopolítica e as questões ambientais ganharam destaque nas últimas décadas. O meio ambiente e
a política de desenvolvimento sustentável causaram discussões entre os Estados nos organismos
internacionais, o que promoveu ações e tentou minimizar os efeitos do aquecimento global. Ainda que
os Estados estejam no dilema entre soberania, crescimento econômico, interesses individuais e questão
ambiental, notamos que a ONU e as organizações não governamentais (ONGs) participam ativamente
do processo de conscientização.

O marco inicial dessas atuações data da reunião dos membros das Nações Unidas, realizada em 1972,
em Estocolmo. Nela, foi colocada a Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, que continha, dentre
seus princípios:

Todos os países, grandes e pequenos, devem ocupar‑se com espírito e Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

cooperação e em pé de igualdade das questões internacionais relativas à


proteção e melhoramento do meio ambiente. É indispensável cooperar para
controlar, evitar, reduzir e eliminar eficazmente os efeitos prejudiciais que
as atividades que se realizem em qualquer esfera possam ter para o meio
ambiente, mediante acordos multilaterais ou bilaterais ou por outros meios
apropriados, respeitados a soberania e os interesses de todos os estados [...].

Os recursos naturais da Terra, incluídos o ar, a água, o solo, a flora e a fauna


e, especialmente, parcelas representativas dos ecossistemas naturais, devem

89
Unidade III

ser preservados em benefício das gerações atuais e futuras, mediante um


cuidadoso planejamento ou administração adequados [...].

Os recursos não renováveis da Terra devem ser utilizados de forma a evitar


o perigo de seu esgotamento futuro e a assegurar que toda a humanidade
participe dos benefícios de tal uso [...].

Os países deverão adotar todas as medidas possíveis para impedir a poluição


dos mares por substâncias que possam pôr em perigo a saúde do homem,
prejudicar os recursos vivos e a vida marinha, causar danos às possibilidades
recreativas ou interferir com outros usos legítimos do mar [...].

É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais, dirigida


tanto às gerações jovens como aos adultos, e que preste a devida atenção ao setor
da população menos privilegiado, para fundamentar as bases de uma opinião
pública bem informada, e de uma conduta dos indivíduos, das empresas e das
coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade sobre a proteção e
melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão humana. É igualmente
essencial que os meios de comunicação de massa evitem contribuir para a
deterioração do meio ambiente humano e, ao contrário, difundam informação
de caráter educativo sobre a necessidade de protegê‑lo e melhorá‑lo, a fim de
que o homem possa desenvolver‑se em todos os aspectos [...].

Sem prejuízo dos critérios de consenso da comunidade internacional e das


normas que deverão ser definidas a nível nacional, em todos os casos será
indispensável considerar os sistemas de valores prevalecentes em cada
país e a aplicabilidade de normas que, embora válidas para os países mais
avançados, possam ser inadequadas e de alto custo social para países em
desenvolvimento (ONU, 1972).

A partir da década de 1970, portanto, houve uma mudança gradual no mundo das relações internacionais
no que tange às questões de meio ambiente. Ela foi expressiva principalmente a partir da publicação de
The limits of growth e A blueprint for survival39, que mostram as consequências do processo de exploração
e da industrialização/produção acelerada dos países e a degradação ambiental resultante do crescimento
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

populacional e da busca incessante por recursos naturais (CAMPOS e CORRÊA, 1998).

A dificuldade de conciliar e obter o consenso em uma política de desenvolvimento limpo torna


o debate sobre essa problemática cada vez mais constante. As nações desenvolvidas e as potências
econômicas continuam a emitir quantidades exorbitantes de gases nocivos à camada de ozônio e, ao
mesmo tempo, cobram das nações emergentes que reduzam seus níveis de emissão ainda que em longo
prazo, mesmo que essas nações ainda estejam em processo de industrialização e de boom econômico
(CAMPOS e CORRÊA, 1998).

39
Obras publicadas em 1972.
90
Geopolítica, Regionalização e Integração

No decorrer da segunda metade do século XX e principalmente ao final da Segunda Guerra


Mundial, grandes mudanças ocorreram nas interfaces econômicas, políticas e sociais do panorama
internacional. Houve um deslocamento dos centros de poderes políticos da Europa para os novos blocos
político‑econômicos das potências nucleares, respectivamente Estados Unidos e União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas.

A realidade desse período pós‑guerra colocou em cheque a economia e a política das nações, o que
impactou no crescimento econômico, nas questões sociais e nas diferenças regionais e locais entre os
Estados. As crises do petróleo e dos países da América Latina fizeram com que houvesse tanto uma
reorganização do pensamento social como o surgimento do tema ecopolítica, fruto de uma nova
percepção do meio e das estruturas de poder presentes.

Nos anos 1960, a comunidade internacional gradualmente deu maior relevância ao meio ambiente
e essa problemática deixou de ser apenas algo local e começou a ganhar nível internacional. Contudo,
os movimentos ambientalistas das nações desenvolvidas eram amplos e superavam os movimentos
civis, visto seu teor crítico em relação à industrialização e ao pensamento tecnológico. Para eles, era
necessário uma mudança no sistema de exploração da natureza e uma redução dos níveis de consumo
nas civilizações ocidentais.

Dessa forma, a forte presença do Estado como ator capaz de promover a regulação e limitar os
níveis de exploração se viu engessada por um impasse entre as nações e por uma descentralização nas
opiniões. No decorrer das últimas quatro décadas, as organizações sociais e internacionais tentam agir
como mediadoras, a fim de abranger nos debates os campos econômico, social e os referentes ao meio
ambiente e ao aquecimento global.

A Convenção‑Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, estabelecida em 1992, no Rio
de Janeiro, serviu como base para uma gradual evolução nas negociações e no consenso internacional
sobre a proteção ambiental. Até mesmo o maior emissor de poluentes na atmosfera, os Estados Unidos,
aderiram ao discurso ambiental, principalmente devido à evidência científica do aquecimento global e
de suas consequências para a humanidade.

Em 2002, numa notável mudança de postura pública, a administração de George W. Bush admitiu
que a mudança climática global representava uma ameaça real para o meio ambiente e aceitou o fato de
que a própria atividade humana a causava. Ainda assim, no entanto, dentre os representantes do mundo
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
desenvolvido, o presidente descartou qualquer compromisso com as metas juridicamente vinculativas
do Protocolo de Quioto para a redução das emissões de dióxido de carbono resultante da queima de
combustíveis fósseis. Na ocasião, ele afirmou que isso ocasionaria um custo de R$ 400 bilhões para a
economia e geraria impacto em 4,9 milhões de empregos.

Nesse período, a visão antropocêntrica de meio ambiente começou a ser dissuadida pelos pensadores
da ecopolítica. Desde a Primeira Revolução Industrial, com o advento da sociedade moderna, os recursos
naturais eram vistos como uma fonte indispensável para o desenvolvimento econômico e para o conforto
dos indivíduos, o que desencadeou um pensamento restrito (CAMPOS e CORRÊA, 1998).

91
Unidade III

Isso pode ser visto nas consequências da crise financeira de abril de 2008 e da recessão mundial que dela
se seguiu. Houve uma mudança radical nas prioridades dos países industrializados, que reuniram esforços
para criar políticas para o meio ambiente e a favor de um foco renovado sobre o crescimento econômico
sustentável. Antes da crise, as questões ambientais, especialmente o aquecimento global, foram bem-
estabelecidas nas discussões entre os Estados, ainda que, devido às necessidades do modelo e do mercado
capitalista, algumas nações tenham relutado em adotar as medidas “restritivas” ao desenvolvimento.

Entretanto, grande parte das nações desenvolvidas ainda afirma que o desenvolvimento e o
crescimento econômico são a chave para o progresso na interface ambiental, pois a nação que pode
pagar investimentos em novas tecnologias consegue gerar soluções. Todavia, no final de 2007, embora
ainda à parte de Quioto, os Estados Unidos aceleraram o processo decisório do Protocolo de Montreal, a
favor da eliminação progressiva de hidroclorofluorcarbonos (HCFC), hoje estimados em até 1,7 mil vezes
mais nocivos que o próprio dióxido de carbono.

Assim, nota‑se que a maioria das pautas da comunidade internacional relativas ao ambiente
internacional estão centradas sobre a noção e concepção de governança ou governaça global, seja em
sua forma neoliberal, institucionalista, tradicional e teórica, seja em sua forma transnacional.

Governança global é um termo genérico que abrange diferentes tipos de regulamentação


internacional ou transnacional ou até mesmo tipos referentes à institucionalização. Por exemplo, os
regimes e as instituições internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e as Nações
Unidas (ONU), são vistos como uma forma tradicional de governança global. Recentemente, formas
transnacionais de governança também foram incluídas nessa definição, como códigos globais de
conduta utilizados por corporações multinacionais ou o desenvolvimento de normas de uma “sociedade
civil global”. O número de instituições de governança global aumentou intensamente nos últimos 30
anos ou mais e, com o aumento da regulação do comércio e das finanças, essas áreas se abriram e
começaram a atuar em uma perspectival global (CAMPOS e CORRÊA, 1998).

No campo ambiental, o número de acordos ambientais internacionais e os acordos voluntários


cobrem grande parte das questões globais, que vão desde a então Convenção de Mudanças Climáticas
até problemas internos e fronteiriços referentes ao desmatamento florestal. Contudo, a partir da
perspectiva ecopolítica que se abrange nesta unidade, o ponto em questão não é somente a governança
ambiental em si, mas a relação entre as interfaces econômicas e as faltas de comprometimento das
nações e de poder dicisório das instituições para regulamentar as ações ambientais.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

De acordo com Campos e Corrêa (1998):

No plano externo, os governos passaram a privilegiar o tratamento de


problemas ambientais associados à produção no âmbito de acordos ambientais,
buscando assegurar o cumprimento de padrões multilateralmente negociados
para reduzir e prevenir danos de caráter global, recorrendo a restrições
comerciais, com o duplo objetivo de encorajar uma participação mais ampla
nos acordos e penalizar infratores. Engajaram‑se nos trabalhos preparatórios
à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
92
Geopolítica, Regionalização e Integração

e, posteriormente, com níveis bastante diferenciados na implementação dos


compromissos nela assumidos [...] (CAMPOS e CORRÊA, 1998, p. 19).

Na intenção de conseguir manter esse interesse dos Estados nas questões ambientais, o Tratado de
Quioto foi celebrado em 1997 e entrou em vigor em 2005. Nesse documento foi estipulada uma redução
mínima de 5,2% das emissões de gases que agravam o efeito estufa em relação aos níveis de 1990. Além
disso, o documento viria a ter uma nova meta após 2005 (CAMPOS e CORRÊA, 1998).

Mesmo com 175 países signatários, a adoção desse protocolo ainda vê impasses, que recaem
sob a questão dos Estados Unidos e da China, os maiores poluidores globais que querem continuar
a superaquecer suas economias. Ainda que os países emergentes tendam a crescer nos próximos 20
anos e, consequentemente, poluirão mais, eles não chegariam à porcentagem de emissão que essas
duas potências representam hoje. Atualmente, temos subcategorias de nações poluidoras que vão do
grupo de risco, que teria de adotar medidas severas para a redução, até o grupo dos países emergentes
– com exceção da China, que se encaixa no primeiro grupo – e o grupo de países que ainda estão
desenvolvendo sua economia ou passam por uma fase de transição.

Com a COP15 (Conferência de Copenhagen), foi reforçada a importância do desenvolvimento sustentável


e da preservação ambiental e a necessidade de cooperação dos mais diversos organismos e estados. Nações
como Brasil, Dinamarca e Índia fizeram propostas e assumiram o compromisso de fazer a diferença na
redução dos índices de carbono. De certa forma, esses países conseguiram auxiliar as negociações com as
outras nações, que ainda focavam em suas respectivas economias mesmo sabendo da gravidade do problema.

Como as questões ambientais são de natureza internacional e transnacional, elas não podem estar
somente interligadas à esfera dos Estados nacionais. Portanto, a definição das agendas e dos temas relativos
ao meio ambiente e a busca de soluções para problemas da atualidade requerem o comprometimento e
o envolvimento de outros agentes, que precisam buscar uma alternativa viável em conjunto com Estados,
instituições e com o próprio mercado. Devido a esse contato entre os diferentes atores da geopolítica e
da ecopolítica mundial, o cenário que pode ser percebido ao início do século XX é o de uma ausência de
fronteiras claramente definidas e o de uma sociedade e de um mercado em constante mudança.

Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Figura 13 – A capital federal ficou às escuras por uma hora durante a Hora do Planeta. A iniciativa faz parte de uma mobilização
mundial promovida pela organização não governamental World Wide Fund (WWF), com o objetivo de chamar a atenção da
população para a necessidade de preservação do meio ambiente

93
Unidade III

Saiba mais

Visite os sites: <http://www.meioambiente.gov.br> e <http://www.wwf.


org.br>. Acesso em: 1 fev. 2012.

8 A Regionalização e a Integração

No mundo globalizado, participar efetivamente das relações internacionais significa, essencialmente:

• manter um bom relacionamento comercial com os demais países ou blocos de países;

• participar efetivamente das negociações de acordos comerciais dos mais variados moldes;

• estar sempre atualizado em relação às mudanças de comportamento dos diversos atores.

A proliferação de acordos regionais marcou profundamente as relações internacionais a partir da


segunda metade do século XX, tanto no campo econômico como no campo político, e refletiu também no
desenvolvimento do próprio Direito Internacional. Os acordos regionais encontram apoio no artigo XXIV do
GATT, que dispõe sobre a criação e a formação das uniões aduaneiras e das zonas de livre comércio.

A justificativa para a formação de blocos era a de propiciar maior liberdade de comércio, mesmo que
discriminatória, com vistas ao aproveitamento das vantagens comparativas recíprocas. Acreditava‑se que
a integração contribuiria para gerar ganhos de comércio e, consequentemente, aumento do bem‑estar.

Nas negociações de acordos comerciais, os países buscam ampliar o acesso aos mercados externos,
sobretudo no que diz respeito à elevação das margens de preferência para seus produtos, preferência
esta que se dá por meio da redução das alíquotas do imposto de importação.

8.1 Aspectos teóricos e históricos de integração regional

O livre comércio é considerado pelos clássicos como a melhor forma de usar eficientemente todos
os recursos disponíveis para atingir o máximo de bem‑estar mundial. Mas só isso não é suficiente, pois,
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

como ocorre transferência de renda entre pessoas e nações, alguns ganham e outros perdem com a
liberdade de comércio.

Como na realidade não existem mecanismos capazes de compensar as perdas dos que são prejudicados
pelo livre comércio, os Estados intervêm publicamente para neutralizar os prejuízos resultantes das
trocas internacionais e alavancar o desenvolvimento econômico.

As consequências das decisões de uma nação sobre o comércio exterior naturalmente extrapolam
os limites de seu território. No século XX, o mundo passou por etapas de acirramento das práticas
protecionistas, desastrosas para muitos povos.
94
Geopolítica, Regionalização e Integração

O período entre as guerras mundiais foi marcado por acentuado protecionismo e por deterioração das
relações econômicas internacionais. Os Estados Unidos, que após a Primeira Guerra Mundial emergiram
como potência, aumentaram bruscamente suas tarifas aduaneiras.

Esse fato levou seus parceiros comerciais a impor retaliações e a disseminar guerras comerciais
acirradas. Por exemplo, para enfrentar um problema de balanço de pagamento, um país desvalorizava
sua moeda. Isso tornava mais caro o produto de outro país, que, para recuperar a competitividade,
também desvalorizava sua moeda, como já mencionamos anteriormente.

Assim, mesmo durante os conflitos, toda essa problemática motivou, a partir de Bretton Woods,
o surgimento do GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio). Com o objetivo de reduzir as barreiras
comerciais e aumentar a interdependência das nações, o princípio básico do GATT era: nenhum país
tinha obrigação de fazer concessões, mas se ele reduzisse suas barreiras à importação de determinado
produto, esse benefício seria automaticamente estendido aos demais membros. Além disso, esses países
precisariam também assumir o compromisso de não aumentar suas tarifas ou fazer outras restrições.
O GATT mostrou sua maior fraqueza na questão da solução de controvérsia e desrespeito às regras por
parte de seus signatários.

A ideia de que alguma liberdade de comércio, mesmo que seletiva, seria melhor que nenhuma passou
a fazer parte do discurso acerca da formação de blocos regionais, nos quais se esperava maior eficiência
na alocação de recursos e aumento de bem‑estar.

A partir da década de 1950, surgem as primeiras teorias sobre as uniões aduaneiras e as zonas de
livre comércio. Foi nesse período que o economista Jacob Viner (1950) publicou seus estudos centrados
nas condições sob as quais a alocação dos recursos mundiais é melhorada pela criação de acordos
regionais. Ele alertou para a possibilidade de se observar o saldo líquido negativo em decorrência da
manutenção do protecionismo em relação aos países não signatários do acordo.

Segundo Jacob (1950), há criação de comércio quando a produção doméstica, menos eficiente,
é substituída pela importação, mais barata devido à ausência de barreiras procedentes de um parceiro
comercial. Há desvio de comércio quando o produto socialmente mais barato em relação ao resto
do mundo é preterido em favor daquele produzido pelo país‑sócio. A ocorrência de criação ou desvio
de comércio depende dos preços dos produtos nos diferentes países e da dimensão das barreiras
alfandegárias.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Para que a união aduaneira possa beneficiar os participantes, a criação de comércio deve superar o
desvio de comércio, de modo que, no balanço, a formação da união desloque fontes de suprimento para
custos mais baixos mais do que para custos mais altos.

Um país eficiente e altamente especializado, porém diversificado em seus padrões de consumo,


pode sofrer pesadas perdas em desvio de comércio e ganhar pouco em criação de comércio, enquanto
uma economia multissetorial, comparativamente de alto custo, pode ganhar muito em criação de
comércio e perder pouco em desvio de comércio.

95
Unidade III

As vantagens dessa estratégia podem ser sintetizadas nos quatros argumentos a seguir:

• maior aproveitamento das vantagens comparativas regionais: pode ser obtido pela
especialização de cada país naqueles produtos cuja produção tenha menor custo unitário, dado
que, entre eles, vigore o livre comércio; pela especialização dentro da região, que permite a cada
membro proteger sua produção industrial com um custo menor do que se o fizesse isoladamente;
e pela integração, que possibilita também a complementaridade industrial, com ganhos para o
conjunto;

• criação de economias de escala: sabemos que há tamanhos mínimos de plantas industriais


para reduzir eficientemente, ou seja, com custos unitários menores. A união aduaneira, em um
contexto de complexidade industrial, resulta na formação de um mercado maior, o que pode
contribuir para reduzir o custo unitário de produção;

• possibilidade de ofertar maior variedade de produtos: se o mercado é pequeno e protegido,


a oferta de produtos diferenciados e/ou sofisticados revela‑se inviável porque implica a elevação
de custos. Na passagem para a união aduaneira, é possível explorar a escala proporcionada pelo
mercado ampliado, o que resulta em maior variedade, menores preços e aumento do bem‑estar
dos consumidores;

• maior concorrência intrarregional: a integração amplia o mercado e, quanto maior é o


mercado, maior a concorrência entre produtores, melhor a alocação de recursos, menor o grau
de concentração industrial (formação de oligopólios e monopólios) e menores os preços para o
consumidor final.

Assim, nessa conjuntura, algumas nações da Europa ocidental deram os primeiros passos em seu
processo de integração, o que resultaria na atual União Europeia.

Na Europa, a ideia de uma unidade política cresceu após os danosos efeitos da Segunda Guerra
Mundial, que corresponderam à destruição do aparato industrial, à ruína financeira e ao rebaixamento
do nível de vida, que reduziram a região, economicamente eficiente, a uma região limite entre duas
esferas de influência: a dos Estados Unidos e a da União Soviética.

Com o Tratado de Roma (1957), foi criada a Comunidade Econômica Europeia, que deu início a um
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

processo de integração que afetou paulatinamente diversos setores da economia europeia. Além disso,
o surgimento dessa comunidade abriu espaço para a criação de instituições supranacionais nas quais os
Estados membros cederam parte de sua soberania sobre determinadas competências. O resultado desse
processo foi celebrado no Tratado de Maastricht (1992), que criou a União Europeia.

O aparente sucesso de integração europeia no campo econômico motivou a Comissão Econômica para
a América Latina (Cepal) a propor uma integração econômica da América Latina, com o objetivo final de
desenvolver a região, o que seria alcançado em decorrência da implantação do modelo de substituição
de importações, com estímulo à produção local de bens industriais anteriormente importados.

96
Geopolítica, Regionalização e Integração

Nessa parte do continente americano, onde muitos países tinham um regime de política comercial
restritiva destinada a favorecer a industrialização para substituição de importações, o tamanho reduzido
dos mercados domésticos foi considerado um obstáculo ao desenvolvimento da indústria e um fator
limitador dos ganhos em eficiência das economias de escala. Diante disso, a alternativa regional era
vista sob a perspectiva de um mercado mais amplo, que possibilitaria o aumento da competitividade no
mercado mundial.

Figura 14 – A Ponte da Amizade liga Foz do Iguaçu (Brasil) à Cidade do Leste (Paraguai)

8.2 Fases da integração

No passado, a integração entre povos era realizada por invasões e conquistas e os exércitos eram o
principal instrumento de persuasão. Hoje, as nações independentes procuram se integrar por meio de
acordos firmados em função de seus interesses recíprocos. Há diversos tipos de integração econômica
que podem ser classificados segundo um grau crescente de interdependência:

• zonas de preferência: são acordos estabelecidos por países geograficamente próximos, com o
objetivo de promover desenvolvimento e aumento de suas produções interna e externa mediante
mecanismos de incentivo ao comércio intrarregional. Geralmente, são negociados acordos setoriais
e concessões tarifárias ou não tarifárias para todos os participantes, relacionando as mercadorias
e as respectivas margens de preferência;

• área de livre comércio: prevista no artigo XXIV do GATT, ela consiste na eliminação das barreiras
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
alfandegárias e outras restrições aos produtos produzidos dentro do grupo de dois ou mais países,
porém, mantêm‑se as políticas comerciais independentes em relação aos demais. Trata‑se de
um estágio de integração mais avançado do que a zona de preferência. O Nafta (Acordo de Livre
Comércio da América do Norte) é um exemplo desse modelo de integração regional;

• união aduaneira: também definida no artigo XXIV do GATT, refere‑se à substituição de dois
ou mais territórios aduaneiros por um só, com consequente eliminação de tarifas aduaneiras
e restrições ao comércio internacional dos países membros. A união aduaneira é consequência
da eliminação de todos os obstáculos às trocas internacionais. Os regulamentos aduaneiros
dos participantes da união devem ser semelhantes em relação ao comércio exterior com países
97
Unidade III

não participantes da união. Assim, os produtos adquiridos de países externos devem ter livre
circulação na união. Portanto, uma união aduaneira carece necessariamente da adoção de uma
tarifa externa comum e de uma política comercial em relação a produtos originários de terceiros
países. Como exemplo desse modelo de integração regional, podemos citar o Mercosul;

• mercado comum: consiste numa união aduaneira na qual os participantes se obrigam a


implementar a livre circulação de pessoas, de bens, de mercadorias, de serviços, de capitais e de
fatores produtivos, eliminada toda e qualquer forma de discriminação. As comunidades europeias
já passaram por esse estágio de integração;

• união econômica: nessa fase de integração, os acordos não se limitam aos movimentos de bens,
serviços e fatores de produção, mas buscam harmonizar políticas econômicas para que os agentes
possam operar sob condições semelhantes nos países constituintes do bloco econômico. A União
Europeia encontra‑se atualmente nesse estágio de integração;

• integração econômica total: esse estágio de integração implica livre deslocamento de bens,
serviços e fatores de produção, além de completa igualdade de condições para os agentes
econômicos, o que consiste na união econômica e política e na unificação dos direitos civil,
comercial, administrativo, fiscal etc., ambas administradas por autoridades supranacionais.

Saiba mais

Alguns filmes podem propiciar uma inter‑relação com os conteúdos


vistos até aqui:

UMA VERDADE inconveniente. Dir. Davis Guggenheim. Estados Unidos.


2006. 100 min.

TERRA. Dir. Alastair Fothergill e Mark Linfield. Alemanha/Estados Unidos/


Inglaterra. 2009. 96 min.

8.3 Principais sistemas de integração regional


Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

8.3.1 Mercosul (Mercado Comum do Sul)

As iniciativas de integração na América Latina devem ser observadas numa visão histórica, uma vez
que ela acolheu outras instituições importantes que antecederam todo o processo, como a Associação
Latino‑americana de Livre Comércio (Alalc), criada em 1962; o Pacto Andino, criado em 1969; e a
Associação Latino‑americana de Integração (Aladi), criada em 1980 como sucessora da Alalc.

Em 26 de março de 2011, completaram‑se 20 anos da assinatura do Tratado de Assunção (1991), acordo


criador do Mercosul que, originalmente, foi concebido para servir de instrumento do desenvolvimento

98
Geopolítica, Regionalização e Integração

econômico dos Estados‑membros. Esse desenvolvimento se daria inicialmente pelo livre‑comércio e,


posteriormente, pela integração dos mercados. A origem do Mercosul pode ser atribuída ao resultado
dos esforços feitos pelas políticas externa de Brasil e Argentina na década de 1980, quando ambos os
países assinaram vários acordos comerciais com o objetivo de integração.

Dentre os acordos assinados, o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento (1988) pode


ser considerado o instrumento que consolidou de fato as iniciativas de integração regional. Nesse
tratado, Brasil e Argentina demonstraram o desejo de constituir um espaço econômico comum no prazo
máximo de dez anos por meio da liberalização comercial. Na ocasião, foram assinados 24 protocolos
sobre diversos temas, tais como: bens de capital, trigo, produtos alimentícios industrializados, indústria
automotriz, cooperação nuclear, transporte marítimo, transporte terrestre (BRASIL, s. d.).

Sancionado pelo congresso brasileiro e argentino em agosto de 1989, o tratado em questão previa,
entre outras medidas, a eliminação de todos os obstáculos tarifários e não tarifários ao comércio de
bens e serviços e também a harmonização de políticas macroeconômicas.

No início dos anos de 1990, em função das mudanças introduzidas nos programas econômicos dos
governos brasileiro e argentino e da adoção de novos critérios de modernização e de competitividade,
os presidentes Collor e Menem firmaram a Ata de Buenos Aires. Nesse mesmo ano, Paraguai e Uruguai
juntaram‑se ao processo em curso, o que resultou justamente na assinatura do Tratado de Assunção
para a Constituição do Mercado Comum do Sul (Mercosul).

O Tratado de Assunção definiu os mecanismos destinados à formação de uma zona de livre comércio
e de uma união aduaneira e tinha como objetivo criar meios para aumentar as atuais dimensões dos
mercados nacionais, condição básica para ampliar o processo de desenvolvimento econômico com
justiça social.

Como mecanismo de implementação dessa agenda, o Tratado de Assunção estabeleceu, entre outros:

• um programa de liberalização comercial: consistia em reduções tarifárias progressivas, lineares


e automáticas, acompanhadas da eliminação de restrições não tarifárias (quotas, restrições
fitossanitárias etc.) ou medidas de efeito equivalente;

• uma tarifa externa comum: incentivaria a competitividade externa dos Estados e promoveria
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
economias de escalas eficientes;

• um regime geral de origem: era um sistema de solução de controvérsias e cláusulas de


salvaguarda.

A partir da assinatura do Protocolo de Ouro Preto, em 17 de dezembro de 1994, o Mercosul


passou a ter personalidade jurídica de direito internacional. O protocolo referendou ao bloco
competência para negociar, em nome próprio, acordos com demais países, grupos de países e
organismos internacionais.

99
Unidade III

No ano de 1995, a zona de livre comércio entre os países signatários converteu‑se em união aduaneira.
Ocorreu, portanto, a unificação das políticas comerciais por meio da adoção da Tarifa Externa Comum
(TEC), na qual os signatários passaram a praticar as mesmas alíquotas de importação com países não
membros. A partir desse ano, cerca de 90% das mercadorias produzidas nos países signatários passaram
a ser transacionadas com tarifas comerciais zeradas.

Com o status de personalidade jurídica ordenado pelo Protocolo de Ouro Preto, o Mercosul passou a
ter uma estrutura institucional básica, conforme indicada no quadro a seguir.

Quadro 1 – Estrutura institucional do Mercosul

É o órgão superior responsável pela condução política


do processo de integração e tomada de decisões para
assegurar o cumprimento dos objetivos estabelecidos no
Tratado de Assunção. Ele é constituído pelos ministros das
Conselho do Mercado Comum (CMC) Relações Exteriores e pelos ministros da Economia ou seus
equivalentes nos Estados partes. A presidência do Conselho
é rotativa, em ordem alfabética, pelo período de seis meses.
Ele pode se reunir quantas vezes achar oportuno, mas
deve fazê‑lo pelo menos uma vez por semestre, com a
participação dos presidentes dos Estados partes.
É o órgão executivo que toma as providências necessárias
ao cumprimento das decisões adotadas pelo Conselho e
fixa programas de trabalho que assegurem avanços para o
estabelecimento do Mercado Comum. Ele é integrado por
Grupo Mercado Comum (GMC) quatro membros, um de cada país do bloco. Entre esses
membros, deve haver obrigatoriamente representantes
dos ministérios das Relações Exteriores, dos ministérios da
Economia ou equivalentes e dos bancos centrais. O órgão
pode se reunir de forma ordinária ou extraordinária quantas
vezes se fizerem necessárias.
É o órgão encarregado de assistir o GMC, tendo dentre suas
competências a de velar pela aplicação dos instrumentos
de política comercial comum pelos Estados partes a fim de
que a união aduaneira funcione, bem como de acompanhar
Comissão de Comércio do Mercosul (CCM) e revisar assuntos relacionados com as políticas comerciais
comuns e com o comércio intra‑Mercosul e com terceiros
países. Essa comissão é integrada por quatro membros, um
de cada país do bloco, e coordenada pelos ministérios das
Relações Exteriores. Ela deve se reunir pelo menos uma vez
por mês ou sempre que solicitado pelo GMC.
É o órgão representativo dos parlamentos dos Estados partes
e procurará acelerar os procedimentos internos nestes para
a pronta entrada em vigor das normas emanadas dos órgãos
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Parlamento do Mercosul do Mercosul. Ele também poderá operar na harmonização


da legislação, tal como requerido no avanço do processo
de integração, e encaminhará suas recomendações por
intermédio do GMC e adotará seu regimento interno.
É o órgão de representação dos setores econômicos e
Foro Consultivo Econômico‑social (FCES) sociais. Tem função consultiva e manifestar‑se‑á mediante
recomendações ao GMC.
É o órgão de apoio operacional responsável pela prestação
Secretaria do Mercosul (SM) de serviços aos demais órgãos do Mercosul. Sua sede
permanente é em Montevidéu e, recentemente, passou a
desempenhar tarefas técnicas.

Fonte: BRASIL, s. d.

100
Geopolítica, Regionalização e Integração

Após sua institucionalização, o Mercosul passou por um processo de fortalecimento internacional e


se aproximou da comunidade Andina de Nações, com a assinatura de acordos de livre comércio. Estes
admitiram como Estados associados a Bolívia (1996), o Chile (1996), o Peru (2003), a Colômbia (2004) e o
Equador (2004).

A condição de Estado associado se estabelece por acordos bilaterais denominados Acordos de


Complementação Econômica, firmados entre o Mercosul e cada país associado. Nesse acordo, é definido
um cronograma para a implantação de uma zona de livre comércio com os países do Mercosul e uma
gradual redução de tarifas entre o bloco e os países admitidos. Além disso, os países associados podem
participar das reuniões dos organismos do Mercosul como convidados e efetuar convênios sobre
matérias comuns.

Há mais de cinco anos a Venezuela é “sócio pleno em estado de adesão”. Sua entrada foi aprovada
pelos parlamentos da Argentina, do Brasil e do Uruguai. Porém, o pedido de ingresso está parado no
senado paraguaio há três anos.

Quadro 2 – Composição do Mercosul

Estados partes Argentina Brasil Paraguai Uruguai Venezuela


(1991) (1991) (1991) (1991) (em processo de
adesão)

Estados Bolívia Chile Peru Colômbia Equador


associados (1996) (1996) (2003) (2004) (2004)

Fonte: Brasil, s. d.

A agenda de integração do Mercosul tem sido caracterizada pela centralidade dos temas
econômico‑comerciais. No entanto, a intenção é que a integração seja projetada para além da dimensão
econômica, tal como disposto no Tratado de Assunção.

Os primeiros anos do Mercosul foram marcados pelo aumento expressivo das relações econômicas
intrabloco. O crescimento do comércio intrabloco foi extremamente elevado, cerca de 400% em sete
anos (LAMPREIA, 1999). À época, a América do Sul tornava‑se, definitivamente, parte prioritária da Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

estratégia econômica internacional do Brasil.

101
Unidade III

Quadro 3 – Principais indicadores socioeconômicos do Mercosul (1990‑2008)

Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai)


Principais indicadores socioeconômicos
1990 / 2000 / 2005 - 2008
Indicador 1990 2000 2005 2006 2007(1) 2008(1)
Superfície total (mil km2) 11.867 11,867 11,867 11,867 11,867 11,867
População (em milhões de habitantes) 189,6 220,2 235,4 238,4 241,5 240,1
Densidade demográfica (hab. por km ) 2
16,0 18,6 19,8 20,1 20,4 20,2

PIB total, a preços correntes (US$ bilhões) 663,4 955,7 1.087,5 1.314,2 1.607,4 1.939,9
PIB, per capita, a preços correntes (US$) 3.499 4.340 4.620 5.513 6.656 8.080
Reservas internacionais (US$ bilhões) n.d 86,3 86,2 122,6 233,0 247,2
Dívida externa total (US$ bilhões) 191,8 383,7 297,2 294,0 366,2 378,1
Dívida externa por total (US$ mil) 1,01 1,74 1,26 1,23 1,52 1,57

Exportações totais (US$ milhões) 46.433 84.624 164.004 190.459 223.973 126.505
Importações totais (US$ milhões) 29.302 86.853 127.502 166.711 228.917 111.572
Balança comercial (US$ milhões) 17.131 –2.229 36.502 23.748 –4.944 14.933
Intercâmbio comercial (US$ milhões) 75.735 171.477 291.506 357.170 452.890 238.077
Exportações Intra-Mercosul (US$ milhões) 14.769 17.829 21.128 25.775 32.844 17.034

Exportações do Brasil para o Mercosul (US$ milhões) 1.320 7.740 11.746 13.986 17.354 21.737
Importações brasileiras do Mercosul (US$ milhões) 2.312 7.796 7.054 8.967 11.625 14.934
Balança comercial Brasil-Mercosul (US$ milhões) –992 –56 4.692 5.019 5.729 6.803
Intercâmbio comercial Brasil-Mercosul (US$ milhões) 3.632 15.536 18.800 22.953 28.979 36.671

Elaborado pelo MRE/DPR/DIC – Divisão de Informação Comercial, com base em dados das seguintes fontes:
Superfície total: EIU. The Economist Intelligence Unit, Country Profile 2008 (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).
População: Aladi – Mercosur: Indicadores Socioeconómicos 1990-2007 (www.aladi.org – acesso em 10/2/2009).
PIB total: Aladi – Mercosur: Indicadores Socioeconómicos 1990-2007 (www.aladi.org – acesso em 10/2/2009).
Reservas Internacionais : EIU. The Economist Intelligence Unit, Country Report (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai)
January 2009.
Dívida Externa: Aladi – Mercosur: Indicadores Socioeconómicos 1990-2007 (www.aladi.org – acesso em 10/2/2009) nos anos de
1990/2000/2005/2006. Os dados de 2007 e 2008 foram extraídos do EIU. The Economist Intelligence Unit, Country Report (Argentina,
Brasil, Paraguai e Uruguai) January 2009.
Exportações e importações totais: FMI. Direction of Trade Statistics, CD December 2008.
Comércio com o Brasil: MDIC/SECEX/Aliceweb.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

(1) Estimativa ou dados preliminares, exceto para superfície, comércio exterior e comércio com o Brasil.
(2) Dados extraídos do EIU, The Economist Intelligence Unit, Country Profile 2008 (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) ou do
Country Report January 2009.

Fonte: Brasil, 2009.

Mesmo com as dificuldades e crises que o Mercosul enfrentou em seu processo de implantação e
consolidação, o bloco foi responsável por resultados econômicos expressivos durante a maior parte da
década de 1990, dos quais o Brasil foi um dos grandes beneficiados.

102
Quadro 4 – Evolução do comércio exterior do Mercosul (1998‑2008)

Mercosul: Evolução do comércio exterior, por país


1998-2007 e 2008 (janeiro-junho)
(US$ milhões)
(1)
Argentina Brasil Paraguai Uruguai Mercosul
Anos
Exp Imp C. Glob Exp Imp C. Glob Exp Imp C. Glob Exp Imp C. Glob Exp Imp C. Glob
1997 25.372 30.285 55.657 52.994 59.747 112.741 1.400 3.952 5.352 2.730 3.715 6.445 82.496 97.699 180.195
1998 26.282 31.999 58.281 51.140 57.763 108.903 1.264 4.244 5.508 2.770 3.811 6.581 81.456 97.817 179.273
1999 22.884 25.518 48.402 48.013 49.302 97.315 1.014 2.887 3.901 2.237 3.579 5.816 74.148 81.286 155.434
2000 26.341 25.281 51.622 55.119 55.851 110.970 869 2.255 3.124 2.295 3.466 5.761 84.624 86.853 171.477
2001 26.543 20.320 46.863 58.287 55.602 113.889 990 2.188 3.178 2.058 3.048 5.106 87.878 81.158 169.036
2002 25.709 8.990 34.699 60.439 47.243 107.682 951 1.661 2.612 2.183 2.629 4.812 89.282 60.523 149.805
2003 29.566 13.834 43.400 73.203 62.836 136.039 1.242 2.052 3.294 2.197 2.190 4.387 106.208 80.912 187.120
2004 34.575 22.424 56.999 96.678 73.600 170.278 1.627 2.923 4.550 2.930 3.119 6.049 135.810 102.066 237.876
2005 40.384 28.695 69.079 118.529 91.351 209.880 1.688 3.577 5.265 3.403 3.879 7.282 164.004 127.502 291.506
2006 46.455 34.151 80.606 137.807 120.617 258.424 1.906 5.775 7.681 4.291 6.168 10.459 190.459 166.711 357.170
2007 54.814 42.348 97.162 160.649 173.197 333.846 3.424 5.963 9.387 5.086 7.409 12.495 223.973 228.917 452.890
Geopolítica, Regionalização e Integração

2008(2) 31.130 24.522 55.652 90.645 79.349 169.994 1.955 3.333 5.288 2.775 4.368 7.143 126.505 111.572 238.077
Elaborado pelo MRE/DPR/DIC – Divisão de Informação Comercial, com base em dados do FMI. Direction of Trade Statistics, CD December 2008.
Os dados das exportações estão apresentados na base fob e das importações, na base cif.
(1) Dados extraídos do MDI/SECEX/Aliceweb.
(2) janeiro-junho.

Fonte: Brasil, 2009.

103
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
Unidade III

O comércio intrabloco triplicou no período entre 2002 e 2007 e cresceu em valor mais do que o
comércio extrabloco (HOFFMANN et al., 2008).

Quadro 5 – Direção das exportações do Mercosul (2002‑2008)

Mercosul: Direção das exportações (intra e extrazona)


2002-2007 e 2008 (janeiro-junho)
Exportação Exportação Part. % na Exportação Part. % na
Anos total intrazonal exp. total extrazonal exp. total
2002 89.282 10.229 11,5% 79.053 88,5%
2003 106.208 12.731 12,0% 93.477 88,0%
2004 135.810 17.355 12,8% 118.455 87,2%
2005 164.004 21.127 12,9% 142.877 87,1%
2006 190.459 25.775 13,5% 164.684 86,5%
2007 223.973 32.843 14,7% 191.130 85,3%

2008 (jan-jun) 126.505 17.034 13,5% 109.471 86,5%

Elaborado pelo MRE/DPR/DIC - Divisão de Informação Comercial com base em dados do FMI,
Direction of Trade Statistics, CD December 2008.

Fonte: Brasil, 2009.

Contudo, o crescimento do comércio não ocorreu sem tropeços: evoluiu muito nos anos 1990,
com a abertura dos mercados promovida por seus países membros; contraiu‑se no início do século
XXI, em razão da desvalorização do Real em 1999 e da crise argentina em 2001‑02; e recuperou
a tendência de alta quando as nações restabeleceram o ritmo de crescimento econômico com o
avançar do século XXI.

Além da significativa aplicação nas relações comerciais já mencionadas – no comércio e em


investimentos –, outros fatores concorreram para a consolidação do bloco.

Fortalecido institucional e politicamente a partir de sua constituição como personalidade jurídica,


o Mercosul passou a representar seus membros nas negociações internacionais. Até então, essas
nações tinham de fazê‑lo sozinhas, sem contar com o poder que advém do peso do conjunto (HIRST,
2001).
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

A princípio, a ideia de um Mercosul como um instrumento geopolítico não foi objeto nem motivação
dos primeiros acordos entre os Estados membros. Esse caráter instrumental do bloco conveio aos
interesses da elite política brasileira, sempre em busca de meios e recursos que lhe conferissem maior
margem de manobra nas negociações com as potências do mundo desenvolvido (VIGEVANI et al.,
2008).

Parte da elite política e diplomática do Brasil, de orientação desenvolvimentista e autonomista,


vê no Mercosul um instrumento de afirmação do país como potência regional. Segundo essa

104
Geopolítica, Regionalização e Integração

elite, a ampliação paulatina do bloco viria a trazer os demais países sul‑americanos para a
esfera de influência política do Brasil e, além disso, abriria caminho para a criação de uma
grande zona de livre‑comércio, da qual muito se beneficiaria a economia do país (SARAIVA e
BRICEÑO, 2009).

Ao mesmo tempo, um Mercosul forte e coeso funcionaria como articulador de cooperação


Sul‑Sul entre blocos regionais e outros agrupamentos de países em desenvolvimento (SARAIVA
e BRICEÑO, 2009). A partir de 2000, quando é lançado o projeto de integração sul‑americana
com a Casa, futura Unasul, o Mercosul começa a aparecer no discurso diplomático brasileiro
como a plataforma que levará à realização daquele projeto maior (SANTOS, 2005).

À margem da Reunião Ministerial Grupo do Rio‑UE, em Luxemburgo, em abril de 1991


com os Estados Unidos (assinaturado Rose Garden Agreement ou Acordo 4+1), a primeira
Reunião de Chanceleres Mercosul‑UE, em junho de 1991, em Washington, já evidenciava que
um dos objetivos do bloco era o de obter reconhecimento de sua própria existência. Isso se
daria quando o bloco se credenciasse como interlocutor das principais potências e parceiros
econômico‑comerciais do mundo.

Mercosul: Direção das exportações


2007
Outros Intra-Mercosul
14,7% 14,7%

África
4,6%

União Europeia
Ásia 22,7%
15,5%

Aladi (exceto
Mercosul e México) Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
10,4% Nafta
17,4%

Figura 15 – Direção das exportações do Mercosul por região

Os relacionamentos extrarregionais do Mercosul surgiram paralelamente à sua própria


institucionalização e se consubstanciavam em torno de um raciocínio de natureza muito mais política e
estratégica do que propriamente comercial.

105
Unidade III

Mercosul: Origem das exportações


2007
Intra-Mercosul
15,3%
Outros
25,2%

União Europeia
16,6%
África
5,3%

Nafta
Ásia 14,9%
18,6%
Aladi (exceto
Mercosul e México)
4,1%

Figura 16 – Origem das importações do Mercosul por região

Em 1995, o Mercosul e a União Europeia assinaram em Madri um acordo visando aprofundar


as relações entre os dois blocos. O principal objetivo desse acordo foi “preparar o terreno” para as
negociações, com vistas à liberalização do comércio de bens e serviços até alcançar uma área de livre
comércio em conformidade com as disposições da OMC.

Em reunião realizada em Bruxelas em 1999, o Conselho de Cooperação decidiu criar o Comitê de


Negociações Bi‑Regionais, cujos principais objetivos no âmbito da negociação comercial foram:

• liberalização bilateral e recíproca do comércio de bens e serviços conforme as regras da OMC;

• melhora no acesso a compras governamentais nos mercados de produtos e serviços;

• promover uma abertura e um ambiente não discriminatório aos investimentos;


Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

• assegurar uma adequada e efetiva política de concorrência e um mecanismo de cooperação;

• assegurar adequadas e efetivas disciplinas no campo dos instrumentos de defesa comercial e


estabelecer um mecanismo efetivo de solução de controvérsias.

Para Cervo (2008):

[...] o espectro de negociações externas em andamento e os nexos já


concretizados fazem do sujeito internacional Mercosul um ente ativo

106
Geopolítica, Regionalização e Integração

e expressam dinamismo. Tal dinamismo se deve tributar aos avanços


institucionais que consolidam internamente o bloco e o dotam de meios de
ação na frente externa (CERVO, 2008, p. 12).

No âmbito da integração econômica e a despeito dos percalços provocados por crises financeiras, é
significativo que o Mercosul tenha sido desde sua criação um dos principais destinos das exportações
do Brasil e um de seus principais fornecedores. No aspecto geopolítico, o bloco vem articulando a
configuração de um espaço econômico e político sul‑americano no interior do qual o Brasil será a
principal potência.

Figura 17

Observação

O símbolo oficial do Mercosul foi adotado pelo Conselho do Mercado


Comum no 11º Encontro de Presidentes, em 1996, em Fortaleza. O logo
apresenta quatro estrelas formando a constelação do Cruzeiro do Sul
acima de uma curva verde representando o horizonte, com o nome
Mercosul abaixo. As estrelas representam as quatro bandeiras nacionais
dos membros fundadores do Mercado Comum: Brasil, Argentina, Paraguai
e Uruguai. Esse logotipo foi criado pelo desenhista gráfico argentino
Carlos Varau. O trabalho de Varau foi o ganhador entre 1412 trabalhos do
concurso patrocinado pelas agências de comunicação oficial em cada um
dos países‑membros.40 Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Saiba mais

Acesse a biblioteca oficial do Mercosul: <http://www.mercosur.int/pmb/


opac_css/>. Acesso em: 30 jan. 2012.

40
CERVO, A. L. O livro na rua: Mercosul. Brasília: Thesaurus Editora, 2008.
107
Unidade III

8.3.2 Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta)

Com o objetivo de promover a integração regional dos países da América do Norte, em 1989 entrou
em vigor o Acordo Comercial entre os Estados Unidos e o Canadá, com a finalidade de criar uma zona
de livre comércio.

Em 1992, com a inclusão do México, esse acordo recebeu o nome de Acordo de Livre Comércio da
América do Norte (Nafta), que entrou oficialmente em vigor a partir de 1994.

Um dos principais objetivos do Nafta é a eliminação gradual de tarifas e demais restrições aduaneiras
dentro de um prazo inicial de 15 anos. Essa eliminação abrange algumas exceções previstas em cláusulas
de salvaguarda, que assegurarão aos países membros que suas indústrias locais não serão prejudicadas
pelos produtos importados.

O Nafta detém características absolutamente próprias. A mais notável delas é a integração de três
países nos quais há uma profunda assimetria, sobretudo entre dois deles e o terceiro, ou seja, o México,
que entra nesse processo de integração de uma maneira distinta. Basta fazer uma comparação entre os
valores do PIB (Produto Interno Bruto) de cada um deles e verificar como são díspares.

Outra característica muito importante é que não existe a livre circulação de pessoas entre os países
membros do Nafta. O que o Nafta pretende criar em seu quadro tão diversificado é apenas uma zona de
livre comércio. Além disso, num prazo de 15 anos, ele gradualmente busca:

• eliminar as barreiras ao comércio de bens e serviços regionais nos três países;

• remover quaisquer restrições ao investimento inter‑regional;

• definir regras muito claras de propriedade industrial e meio ambiente (essa é uma exigência dos
Estados Unidos).

Os países membros do Nafta concederão aos demais o tratamento de nação mais favorecida, com
tarifas recíprocas aos bens deles originários. As restrições ao livre trânsito de mão de obra, principalmente
a oriunda do México, ainda permanecem, o que dificulta a transformação do Nafta em um mercado
comum, modelo de integração regional mais avançado. Desse modo, o Nafta deverá permanecer por
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

muito tempo apenas como zona de livre comércio.

8.3.3 União Europeia

A União Europeia é proveniente dos movimentos de integração regional da década de 1950, após
o final da Segunda Guerra Mundial e a partir da necessidade de reconstrução dos países do continente
europeu, devastados pela guerra.

O primeiro passo para a liberalização do comércio internacional no continente europeu foi a criação
em 1948 da Benelux, união aduaneira entre Bélgica, Holanda e Luxemburgo.
108
Geopolítica, Regionalização e Integração

Em 1958, os países membros da Benelux se uniram à França, à Itália e à Alemanha Ocidental e


constituíram a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, que eliminou restrições alfandegárias dos
produtos minerais para os países signatários e criou uma tarifa comum para os países externos.

O que iniciou a Comunidade Econômica Europeia (CEE) ou Mercado Comum Europeu foi o Tratado
de Roma, formalizado em 1957. Ele englobou os seis países da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço
e, em 1972, foram nele incluídos o Reino Unido, a Irlanda e a Dinamarca. Em 1981, se deu a inclusão da
Grécia e, em 1986, a de Portugal e a da Espanha.

As finalidades da Comunidade Europeia estabelecidas no Tratado de Roma foram:

• eliminação das tarifas aduaneiras e de outros tipos de restrições sobre importações e exportações
aos países signatários;

• criação de uma política comercial comum para os países membros;

• coordenação das políticas econômicas dos países membros;

• criação de uma política agrícola e de transportes comum aos países membros;

• criação de tarifas alfandegárias e de uma política comercial comum aos países não signatários;

• criação do Fundo Social Europeu e do Banco Europeu de Investimentos;

• eliminação de restrições de livre circulação de mercadorias, serviços, capitais e pessoas;

• aproximação das respectivas legislações até o pleno funcionamento do mercado comum;

• acordos para assegurar a concorrência leal dentro do mercado após a abolição das tarifas;

• associação de certos países e de territórios ultramar.

Em 1992, países da Comunidade Econômica Europeia firmaram o Tratado de Maastrich, que criou a
Comunidade Europeia e, assim, estabeleceu a livre circulação de mercadorias, serviços, capitais e pessoas
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012
entre os países membros.

Uma das bases institucionais do bloco é o Parlamento Europeu, que detêm o poder de veto no
processo de decisão comunitário. O parlamento em questão tem sempre que recusar uma proposta de
maneira absoluta nas decisões adotadas pelo Conselho Europeu, pela Comissão Executiva e pelo próprio
parlamento em si.

Para complementar essa base institucional, temos o Conselho Europeu, um órgão de administração
da Comunidade Europeia composto pelos dirigentes dos países membros, que regem as principais
funções administrativas.
109
Unidade III

Para o pleno funcionamento das estâncias de administração, a Comunidade Europeia conta ainda
com órgãos auxiliares:

• Banco Europeu para Investimentos (BEI);

• Comitê Econômico e Social (CES);

• Comitê das Regiões;

• Banco Central Europeu (BCE);

• Instituto Monetário Europeu (IME);

• Sistema Europeu dos Bancos Centrais (SEBC).

Embora ainda em crise, a União Europeia é uma das maiores potências comerciais do mundo,
representando 41,8% do volume total das importações e das exportações mundiais.

Quadro 6 – Evolução do Comércio Exterior da União Europeia

Evolução do comércio exterior da União Europeia


2006 - 2010
(Em US$ bilhões)
Var. %
DISCRIMINAÇÃO 2006 2007 2008 2009 2010 2006-2010
Exportações (fob) 4.567 5.352 5.929 4.583 5.143
Variação em relação ao ano anterior (%) 12,6% 17,2% 10,8% 0,4% -3,9% 12,61%
Part % nas exportações mundiais 38,1% 38,5% 37,0% 37,1% 41,5%

Importações (cif) 4.682 5.525 6.191 4.634 5.228


Variação em relação ao ano anterior (%) 14,2% 18,0% 12,1% -1,0% -5,4% 11,66%
Part % nas importações mundiais 37,9% 38,5% 37,5% 36,0% 42,2%

Intercâmbio comercial 9.249 10.877 12.120 9.217 10.371


Variação em relação ao ano anterior (%) 13,4% 17,6% 11,4% -0,3% -4,7% 12,13%
Part % no total do comércio exterior mundial 38,0% 38,5% 37,2% 36,5% 41,8%
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Saldo comercial -115 -173 -262 -51 -85 n.a

Fonte: Brasil, 2009.

Saiba mais

Para saber mais sobre a crise econômica na Europa, acesse: <http://veja.


abril.com.br/perguntas‑respostas/crise‑europa.shtml>. Acesso em: 30 jan. 2012

110
Geopolítica, Regionalização e Integração

Para saber mais sobre os indicadores econômicos da União Europeia,


acesse:

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Departamento de


Promoção Comercial (DPR) e Divisão de Informação Comercial (DIC).
Comércio exterior da União Europeia. Brasília, jul. 2010. Disponível em:
<http://www.brasilglobalnet.gov.br/ARQUIVOS/IndicadoresEconomicos/
ComExtUniaoEuropeia.pdf>. Acesso em: 30 jan. 2012.

Resumo

Atualmente, a economia mundial convive com dois fenômenos


aparentemente contraditórios: a globalização e a regionalização. Esta
unidade apresentou esse cenário internacional, com economias cada vez
mais interdependentes, o que caracteriza a globalização.

A globalização proporciona um aprofundamento da integração


econômica, social, política e cultural. A integração mundial decorrente da
globalização ocorreu devido aos avanços tecnológicos e ao aumento do
fluxo mercadorias, capitais e informações que atravessam as fronteiras
nacionais.

Analisamos ainda o surgimento de blocos econômicos supranacionais,


que, pela dinâmica de fluxos econômicos ou acordos diplomáticos,
incentivam a circulação de bens e capitais.

Por fim, apresentamos os tipos de integração econômica segundo o


grau crescente de interdependência: zonas de preferência, áreas de livre
comércio, união aduaneira, mercado comum, união econômica e integração
econômica total.

Exercícios Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Questão 1. (ABRIL, 2009) “A produção agrícola na China sofre com as variações climáticas e as
limitações de seu território”. A frase se reporta principalmente:

A) Ao fato de boa parte do território chinês ser coberto por uma camada de gelo em função de suas
altas latitudes.

B) Ao fato de a parte ocidental do território chinês ser dominada por grandes desertos, o que
inviabiliza a prática agrícola e há ainda os excessos de chuvas ocasionais na parte litorânea.

111
Unidade III

C) Ao fato de o clima de monções atingir todo o território chinês e provocar, via de regra, constantes
inundações.

D) À inexistência de rios com volume de água suficiente para a prática agrícola e a irrigação.

E) Ao fato de os rios chineses serem todos temporários em função das longas estiagens, o que
inviabiliza a prática agrícola nesses períodos.

Resposta correta: alternativa B.

Análise da alternativas:

Alternativa A: incorreta.

Justificativa: não corresponde à situação geográfica da China.

Alternativa B: correta.

Justificativa: a parte ocidental, ou leste, do território chinês é formada por desertos e o


sudoeste, pela Cordilheira do Himalaia, inviabilizando a prática agrícola em pelo menos 50%
do território chinês, ao passo que a parte ocidental (litorânea), ocasionalmente, sofre com
as enchentes e inundações dos excessos pluviométricos provocados pelo clima de monções.
Portanto a alternativa C não responderia a questão e as demais estão discrepantes com a situação
geográfica da China.

Alternativa C: incorreta.

Justificativa: as inundações são ocasionais em algumas partes do território chinês.

Alternativa D: incorreta.

Justificativa: não corresponde à situação geográfica da China.

Alternativa E: incorreta.
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

Justificativa: não corresponde à situação geográfica da China.

Questão 2. (ABRIL, 2009) Os conflitos recentes ocorridos no Irã em relação à reeleição de Mahmoud
Ahmadinejad, mais uma vez, provocaram profundas inquietações no mundo ocidental. A principal
preocupação que cerca o governo de Ahmadinejad é:

A) Sua incapacidade de implantar um regime democrático no Irã conforme compromisso assumido


em sua plataforma eleitoral.

112
Geopolítica, Regionalização e Integração

B) Pela sua postura de empreender reformas que levem à implantação de um governo marxista no
país, o que é vital para o abastecimento de petróleo ao Ocidente.

C) Pela possibilidade de o país acabar rompendo com a Opep a partir da redução de sua produção
petrolífera, o que poderia provocar um novo choque do petróleo.

D) Pela sua disposição de formalizar um tratado de paz e cooperação com a China em detrimento
das potências ocidentais.

E) Pelo projeto de levar adiante o programa nuclear do país, que fechou acordo com a Rússia para
fornecimento de urânio enriquecido, o que pode propiciar, no futuro, o acesso a armas nucleares.

Resolução desta questão na Plataforma.

Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

113
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

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Figura 3

FIÚZA, E. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e a chanceler da Colômbia, María
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na área de biocombustíveis, educação, direitos humanos e combate à violência, durante a 2ª Reunião
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iniciativa faz parte de uma mobilização mundial, promovida pela organização não governamental
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Figura 14

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Leste, onde vários paraguaios nutrem a esperança de um governo melhor após as eleições do próximo
domingo (20). Cidade do Leste (Paraguai). 2011. 1 fotografia. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.
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115
Figura 15

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Principais indicadores econômico‑comerciais do


Mercosul. Brasília, fev. 2009. Disponível em: <http://www.brasilglobalnet.gov.br/ARQUIVOS/
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Figura 16

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Principais indicadores econômico‑comerciais do


Mercosul. Brasília, fev. 2009. Disponível em: <http://www.brasilglobalnet.gov.br/ARQUIVOS/
IndicadoresEconomicos/PrincipaisIndEconComMERCOSUL.pdf>. Acesso em: 31 jan. 2012.

Figura 17

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SOLDADO anônimo. Dir. Sam Mendes. Estados Unidos. 2005. 125 min.

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TERRA. Dir. Alastair Fothergill e Mark Linfield. Alemanha/Estados Unidos/Inglaterra. 2009. 96 min.

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Exercícios

Unidade I

Questão 1

ABRIL. Guia do Estudante. Simulados: Geografia – Geopolítica – 10 questões. Questão


1. 2009. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/simulados/
simulado‑geografia‑geopolitica‑505013.shtml>. Acesso em: 22 fev. 2012.

121
Questão 2

ABRIL. Guia do Estudante. Simulados: Geografia – Geopolítica – 10 questões. Questão


2. 2009. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/simulados/
simulado‑geografia‑geopolitica‑505013.shtml?rs=p0uA4NvrP&pn=Q1p>. Acesso em: 22 fev. 2012.

Unidade II

Questão 1

ABRIL. Guia do Estudante. Simulados: Geografia – Geopolítica – 10 questões. Questão


8. 2009. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/simulados/
simulado‑geografia‑geopolitica‑505013.shtml?rs=p0uA4NvrPp1uA4NvrPp2uA3NvrPp3uA2NvrPp4uA1
NvrPp5uA4NvrPp6uA5NvrP&pn=Q7p>. Acesso em: 22 fev. 2012.

Questão 2

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Exame


Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2011: Geografia. Questão 15. Disponível em:
<http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2011/GEOGRAFIA.pdf>. Acesso em: 21
fev. 2011.

Unidade III

Questão 1

ABRIL. Guia do Estudante. Simulados: Geografia – Geopolítica – 10 questões. Questão


9. 2009. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/simulados/
simulado‑geografia‑geopolitica‑505013.shtml?rs=p0uA4NvrPp1uA4NvrPp2uA3NvrPp3uA2NvrPp4uA1
NvrPp5uA4NvrPp6uA5NvrPp7uA5NvrP&pn=Q8p>. Acesso em: 22 fev. 2012.

Questão 2

ABRIL. Guia do Estudante. Simulados: Geografia – Geopolítica – 10 questões. Questão


7. 2009. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/simulados/
simulado‑geografia‑geopolitica‑505013.shtml?rs=p0uA4NvrPp1uA4NvrPp2uA3NvrPp3uA2NvrPp4uA1
NvrPp5uA4NvrP&pn=Q6p>. Acesso em: 22 fev. 2012.

Sites

<http://www.dpf.gov.br/servicos/passaporte>

<http://www.educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/muro.htm>

122
<http://www.meioambiente.gov.br>

<http://www.mercosur.int/pmb/opac_css/>

<http://www.veja.abril.com.br/perguntas‑respostas/crise‑europa.shtml>

<http://www.wto.org/spanish/tratop_s/dispu_s/find_dispu_cases_s.htm#results>

<http://www.wwf.org.br>

123
Revisão: Simone - Diagramação: Verônica - 23-02-2012

124
Unidade III
125
126
127
128
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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