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O Ministério Público e as investigações

criminais

Ivan Luiz da Silva

Sumário:
1. Introdução. 2. Investigação criminal. 3. O
Ministério Público. 4. O Ministério Público e
as investigações criminais. 5. Conclusões.

1. Introdução
Ao Estado, em razão de ter assumido o
monopólio do jus puniendi, incumbe o dever
de assegurar a paz e segurança da socieda-
de. Assim, após a prática de um delito, o
interesse social exige que o Estado promova
as devidas investigações a respeito da ma-
terialidade e autoria do crime, para que, em
seguida, possa exercer seu direito de punir
sobre os responsáveis pela infração penal.
Nesse sentido, é oportuno o magistério de
Marcellus Polastri Lima (1998, p. 25): “Cabe
ao Estado a função e o dever de assegurar e
resguardar a liberdade individual, estando
autorizado, em nome da segurança social, a
proceder a apuração dos fatos ilícitos pe-
nais, punindo seus autores, o que se traduz
em defesa da paz social, em última instân-
cia, conseqüentemente, da liberdade, indi-
vidual”.
A investigação criminal é que irá ofere-
cer os elementos probatórios mínimos para
a instauração da ação penal na qual se pede
em juízo a aplicação da sanção criminal ao
Ivan Luiz da Silva é Procurador de Estado/
acusado pelo delito.
AL e Advogado, Mestre em Direito Público pela
UFPE, Pós-graduado em Direito pela ESMAPE Todavia, os altos índices de criminali-
(Escola Superior da Magistratura de Pernam- dade no Brasil, somados ao insignificante
buco), Professor da FAL (Faculdade de Alago- número de casos solucionados pela polícia,
as) e SEUNE, Ex- Procurador de Estado/SE. coloca o Estado na inafastável posição de
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buscar soluções para essa preocupante rea- te a propositura da ação penal sem a reali-
lidade. Diante desse quadro, O Estado deve zação do inquérito policial.
valer-se de todos os meios idôneos para a Podemos classificar as investigações em
melhoria e eficácia dos procedimentos de policiais e extrapoliciais. As investigações
investigação criminal (SÃO PEDRO, 2003, policiais são realizadas por meio de inqué-
p. 8). rito policial (procedimento administrativo
Nesse contexto, exsurge a problemática utilizado para a coleta de elementos proba-
de o Ministério Público realizar diretamen- tórios a respeito da materialidade e autoria
te investigações criminais, em concorrência do delito).
ou não com os órgãos policiais. As investigações criminais extrapolici-
ais, que neste momento nos interessam, são
2. Investigação criminal aquelas realizadas pelo Ministério Público
por meio de procedimento administrativo
A investigação criminal é a atividade de- interno para elucidar a responsabilidade
sempenhada pelos órgãos públicos compe- pelo delito praticado.
tentes para elucidação da responsabilida-
de pelo delito e fornecimento de elementos 3. O Ministério Público
probatórios mínimos ao Ministério Público
para o exercício da ação penal. O Ministério Público é uma instituição
Sobre o tema, preleciona Polastri Lima permanente e essencial à função jurisdicio-
(1998, p. 52): nal do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
“O sistema processual pátrio é ordem jurídica e dos interesses sociais in-
acusatório, com a acusação, em re- disponíveis. Assim, ao Parquet cabe, em li-
gra a cargo do Ministério Público, nhas gerais, a defesa em juízo da correta apli-
prevalecendo o princípio do contra- cação do Direito e a efetivação do interesse
ditório. público.
Entretanto, o processo é precedido Entre as funções institucionais do Mi-
pela fase de investigação, com caráter nistério Público, merece destaque sua titu-
sigiloso, onde não prevalece o contra- laridade privativa sobre a ação penal, colo-
ditório, possibilitando, assim, a eluci- cando-se, pois, como o órgão estatal encar-
dação do fato típico. regado de promover a persecução penal.
A investigação, portanto, não tem O poder conferido ao Parquet em relação
as formalidades processuais, poden- à ação penal deve ser entendido em sentido
do sim ter caráter de procedimento, no amplo. Com efeito, todas as atribuições que
caso de inquérito policial ou outro de algum modo interfiram ou contribuam
procedimento investigatório previs- para a persecução penal são de interesse do
to em lei. Ressalte-se que, para a pro- órgão ministerial (SÃO PEDRO, 2003, p. 41).
positura da ação penal, poderá até Para a promoção da ação penal, o Mi-
mesmo inexistir quaisquer atos pro- nistério Público necessita de elementos pro-
cedimentais, bastando a notícia-cri- batórios mínimos que indiquem a materia-
me ou peças de informação, caso os lidade e autoria do delito, colhidos ao longo
elementos necessários já estejam das investigações criminais. Portanto, em
presentes.” sede de investigações criminais, o inquérito
A Constituição Federal preconiza que as policial tem sido um importante instrumen-
investigações criminais incumbem, especi- to de coleta de elementos probatórios sobre
almente, aos órgãos policiais; contudo, dei- o delito praticado (SÃO PEDRO, 2003, p. 41).
xa implícita a possibilidade de o Ministério Não obstante a realização do inquérito
Público realizá-las também, quando permi- policial seja regra no cotidiano da persecu-

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ção criminal, a ação penal poderá ser pro- za que o Ministério Público pode expedir
posta sem sua realização, podendo o Parquet notificações com o escopo de requisitar as
obter dados probatórios necessários direta- informações de que necessitar para a me-
mente por meio de investigação criminal pró- lhor instrução de seus procedimentos ad-
pria. ministrativos. Como a norma constitucional
utilizou o termo “procedimentos adminis-
4. O Ministério Público e as trativos”, a interpretação é que o Ministério
investigações criminais Público pode realizar outros procedimen-
tos investigatórios, como o criminal, além
Em que pese o Parquet poder promover a do inquérito civil (SÃO PEDRO, 2003, p. 52).
ação penal sem a realização do inquérito Ainda o art. 129, após especificar as fun-
policial, há uma corrente de entendimento ções acometidas ao Parquet, dispõe expres-
no sentido de que o órgão ministerial deve samente, em seu inciso IX, que lhe compete
ser mero espectador na realização das in- “exercer outras funções que lhe forem con-
vestigações criminais. feridas, desde que compatíveis com sua fi-
Essa situação é a que se verifica na práti- nalidade, sendo-lhe vedada a representação
ca diária da persecução penal, na qual os judicial e a consultoria jurídica de entida-
órgãos policiais conduzem, exclusivamen- des públicas”.
te, as investigações criminais, enquanto o O exercício dessas outras funções exige
Parquet só toma conhecimento da existência três requisitos: 1- função seja definida em
dos autos de investigatórios quando lhe é lei; 2- seja compatível com a finalidade ins-
aberto vistas pela Justiça criminal. Nessas titucional do Parquet; 3- não seja representa-
circunstâncias, o Ministério Público tem de ção judicial ou consultoria jurídica de enti-
se contentar (e acatar) com o material pro- dades públicas.
batório colhido pela polícia. Tal situação Em sendo assim, a Lei Complementar n o
dificulta o sucesso da ação penal, haja 75/93, ao concretizar esse dispositivo cons-
vista o Parquet não ter qualquer contato titucional, estabeleceu, em seu art. 5 o, inciso
com a fase preliminar da persecução pe- VI, que compete ao Ministério Público “exer-
nal. Isso decorre do entendimento de fal- cer outras funções previstas na Constitui-
ta de legitimidade ao órgão ministerial ção Federal”.
para realizar investigações criminais Ao especificar o dispositivo acima, a LC
(SÃO PEDRO, 2003, p. 43). n o 75/93, em seu art. 8 o, inciso V, dispõe que,
São dois os argumentos utilizados para para o exercício de suas atribuições, o Mi-
afastar a aptidão funcional do Ministério nistério Público poderá, nos procedimentos
Público em realizar investigações criminais: de sua competência, realizar inspeções e
1- a suposta ausência de fundamento diligências investigatórias.
legal a respaldar tal atribuição funcional do Esses dispositivos legais, sem dúvida,
Ministério Público; autorizam o Ministério Público a promover
2- a alegada exclusividade – ou mono- outros procedimentos administrativos de
pólio – da polícia sobre a tarefa de investi- investigação, tais como o criminal, não se
gar a prática de delitos. restringindo ao inquérito civil. Assim, não
Ambos os argumentos, contudo, não re- há como se deixar de vislumbrar que a reali-
sistem a uma análise criteriosa, como ensi- zação de investigação criminal pelo próprio
nam Lênio Streck e Luciano Feldens (2003). Parquet tem embasamento constitucional e
Assim, vejamos. legal a auspiciá-lo.
O art. 129, inciso VI, da Carta Magna É força, portanto, reconhecer a concreti-
vigente, denominado fonte normativa das zação legislativa do dispositivo constituci-
funções institucionais do Parquet, preconi- onal, por meio da LC n o 75/93, autorizando

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legalmente o Ministério Público a realizar Esse também é o entendimento de Vicen-
investigações criminais. te Greco Filho (1993, p. 82):
No que tange à compatibilidade da rea- “Exceto o caso da Polícia Federal,
lização direta de investigação criminal com quanto à Polícia Judiciária da União,
sua finalidade institucional, fácil é sua de- o princípio que rege a atividade poli-
monstração. cial é o da não-exclusividade, ou seja,
Como o Ministério Público é o titular pri- admite-se que mais de um órgão apu-
vativo para promover a ação penal, enten- re infrações penais, o que, ademais, é
de-se que esse poder de persecução penal de interesse público.”
deve ser interpretado em lato sensu, para in- Das lições acima transcritas, exsurge pa-
cluir, também, a possibilidade de realiza- tente que as investigações criminais não são
ção de atos investigatórios que irão fornecer função privativa da polícia, uma vez que o
elementos para propositura da ação penal. Texto Magno não foi expresso em atribuir
Com efeito, nada é mais compatível entre si privatividade aos órgãos policiais sobre a
que a realização da fase preliminar de in- tarefa de investigar.
vestigação criminal por quem tem a titulari- Em sendo assim, nada obsta que o Mi-
dade privativa da ação penal. nistério Público realize diretamente investi-
O segundo óbice à legitimidade do Mi- gações criminais, mormente quando há ex-
nistério Público na realização de investiga- pressa autorização legal para o exercício de
ção criminal é o suposto monopólio dos ór- tal função ministerial.
gãos policiais sobre a tarefa de investigar a
prática de crimes. 5. Conclusões
A Carta Magna vigente, no art. 144 e seus
parágrafos, ao estabelecer que compete à Quando a Constituição Federal estabe-
polícia federal exercer, com exclusividade, leceu que a titularidade privativa da ação
a função de polícia da União e à polícia ci- penal cabe ao Ministério Público, trouxe im-
vil a função de polícia judiciária e a tarefa plícita, também, a autorização para que esse
de investigar a prática de infrações penais, realizasse atos investigatórios necessários
não atribuiu, porém, a esses órgãos polici- à persecução penal, sendo essa interpreta-
ais a privatividade sobre a função de inves- ção lato sensu reforçada pela possibilidade
tigar a prática de infrações penais. que tem o Parquet de oferecer denúncia pe-
A interpretação teleológica desse dispo- nal sem a realização do inquérito policial.
sitivo indica que a finalidade da norma cons- Em razão de as investigações criminais
titucional é estabelecer apenas o âmbito de terem como destinatário final o Ministério
atuação dos órgãos policiais federal e esta- Público, maior interessado nesses procedi-
duais no exercício da função policial. mentos preliminares de persecução penal,
Nesse sentido, é o magistério de Marece- não há motivos lógico-jurídicos para proi-
llus Polastri Lima (1998, p. 55): bir essa instituição essencial à prestação
“Destarte, a Constituição Federal jurisdicional estatal de realizá-las direta-
não dá às Polícias Civis dos Estados- mente para a propositura da respectiva ação
Membros a exclusividade de apura- penal.
ção das infrações penais, e nem mes- Nessa seara, impende ressaltarmos que
mo das atividades de Polícia Judiciá- o poder de investigação criminal do Minis-
ria, pois o que faz é dizer que incumbe tério Público não o autoriza a conduzir o
à Polícia Civil as funções de Polícia inquérito policial, uma vez que esse proce-
Judiciária e a apuração de infrações dimento investigatório é de atribuição ex-
penais, mas sem o caráter de privati- clusiva dos órgãos policiais.
vidade.”

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Bibliografia SÃO PEDRO, Ramirez de Almeida. A realização de
investigações criminais pelo ministério público. Maceió:
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. UFAL, 2003. Monografia de conclusão de curso.
São Paulo: Saraiva, 1993.
STRECK, Lênio; FELDENS, Luciano. Crime e consti-
LIMA, Marcellus Polastri. Ministério público e perse- tuição. Rio de Janeiro: Forense, 2003.
cução penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 1998.

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