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Direito - Direito Agrário - Robson Moraes dos Santos - UNIGRAN

Aula 01

Dando início aos trabalhos atinentes ao direito agrário, veremos, através


dos celebres apontamentos dos professores Ismael Marinho Falcão e Gláucia Maria
Teodoro Reis que a propriedade agrária, por ocasião da descoberta do Brasil, sofreu fortes
modificações, considerando que era desempenhada por nações indígenas que possuíam-na
por direito próprio e originário, usufruindo de suas vantagens, de sua riqueza, sobretudo a
caça, a pesca e os frutos, na qualidade de povos coletores.

Para o entusiasta professor, ao comentar o surgimento do direito agrário, em


artigo jurídico nominado “Direito Agrário no século XVI e o desenvolvimento rural brasileiro
atual”, ensina que o mesmo “(...), remonta aos primórdios da humanidade e ninguém mais tem
dúvida de que suas primeiras raízes foram fincadas com o início do aparecimento do homem
sobre a face da terra, pensamento esse que encontra guarida nas lições de Del Veccio quando
afirma que 'a agricultura é contemporânea, se não do homem, mas certamente da civilização
humana' e, prosseguindo, diz o mestre que 'quem diz agricultura, diz também direito agrário',
por isso o homem jamais pode ser dissociado desse ramo da ciência do direito, constituindo-
se no seu objetivo primeiro”.

Nesse contexto reflexivo, pondera com muita propriedade que “o direito


agrário, pois, inquestionavelmente, está ligado diretamente à atividade agrária, à agricultura,
para dizer melhor, que é a ação exercida diretamente pelo braço humano sobre a terra a fim de
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que ela produza os gêneros alimentícios indispensáveis à sobrevivência mesma do homem”.


Ademais, sustenta que “não se pode compreender direito agrário sem que a primeira figura
que nos venha à mente seja a agricultura, logo, para que se tenha um direito agrário vivo,
atuante, realista, cogente e coercitivo, temos que ter uma agricultura forte, pujante, viva,
dinâmica, assistida e bem sustentada técnica, econômica e financeiramente, do contrário
haverá o fracasso, a falta de alimentos, a miséria, enfim, a fome – senhora soberana de todas
as desgraças”.

Caros alunos, de pronto verificamos que se trata de ponderações fortes e


sinceras, ao ponto de o professor afirmar categoricamente que “ninguém sobrevive na face
da terra sem a agricultura. Ela é básica, fundamental, para a sobrevivência humana. Nenhum
rei, nenhum imperador, nenhum papa, nenhum governante, enfim, nenhum ser, pensante ou
irracional, conseguirá sobreviver na face deste globo terrestre sem uma agricultura sustentável.
E foi essa atividade, que retira da terra o sustento de todos os seres humanos, que levou o
homem a instituir o conceito de propriedade, pois aonde estava o homem lavrando, aí estaria
a sua propriedade, conceito que se alargou ao longo do tempo até chegar aos nossos dias,
não mais como um produto de mero deleite pessoal, de status de grandeza entre os iguais,
mas como autêntico bem de produção, regrado, assim, pelo princípio da função social da
propriedade”, que doravante estudaremos.

Na mesma linha de conhecimento e paixão pela matéria, trilha a Professora


Gláucia Maria Teodoro Reis, a qual descrevendo como se deu a ocupação do território
brasileiro diz:

“(…).
A propriedade brasileira sofreu forte influência do colonizador. Nasceu sob o
signo do capitalismo europeu. O Brasil passou, então, a fazer parte das colônias que forneciam
matérias-primas às metrópoles européias. O colonizador queria tão-somente aquele produto
que lhe proporcionasse grandes lucros, como forma de justificar e consolidar sua permanência
nas terras da Colônia e a posse delas. Como ele não encontrasse, de imediato, as riquezas
minerais que ambicionava e procurava, em 1530 introduziu-se o plantio da cana-de-açúcar,
isto porque Portugal já possuía grande experiência no cultivo e na industrialização dessa
planta tropical proveniente das atividades na Ilha da Madeira e Cabo Verde, e, também, pelo
alto valor comercial do açúcar no mercado europeu.
Portugal experimentou dias difíceis com a profunda recessão que sobre
ele abateu, e a fórmula encontrada foi a exploração do açúcar e dos minérios em todo o
território da Colônia, a fim de que a metrópole pudesse sair da crise em que se encontrava.
O rei concedia aos donatários grandes extensões de terras para o plantio da cana-de-açúcar,
resultando no fim da relação amistosa entre índios e portugueses. A terra coletiva dos índios
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passa a ser dominada por estrangeiros, o que gerou violentos embates como os que ocorreram
contra os Tupiniquins, na Bahia, no século XVI, e os Guerén, no século XVII, dentre tantos
outros, promovendo a destruição das aldeias, o extermínio dos povos e a escravidão.
A experiência brasileira, que se iniciara com a implantação do primeiro
engenho de cana-de-açúcar em 1506, era incipiente, e somente se desenvolveu depois da
implantação dos engenhos de São Vicente em 1532, fundada que fora, a Vila, em 22 de
janeiro daquele ano.
Em 1535, fundada a Vila de Olinda, em Pernambuco, nasce aí o primeiro
engenho para produção em escala comercial, fazendo explodir o comércio para a Colônia,
superando em muito o que produziam os engenhos de São Vicente.
A exploração comercial do solo brasileiro criou outros tantos problemas,
merecendo destaque a fuga de indígenas para as terras da Amazônia, provocando rebelião
sangrenta em várias partes como em Ilhéus, com os Tupinambá.
Em 1652, registra-se o pico da exportação de açúcar, em decorrência de uma
produção jamais verificada em todo o período colonial. Essa superprodução provocou euforia
na órbita governamental; entretanto, no seio do povo, a fome despontava a ponto de forçar
o governo, oito anos mais tarde, em Carta Régia, a proibir a instalação de novos engenhos
no território da Colônia. Em 1701, para que houvesse um ameno combate a esse horrível
fantasma, a Carta Régia concedeu aos escravos o sábado livre para que pudessem cuidar do
seu sustento, trabalhando na lavoura de subsistência.
A legislação da época, toda ela calcada no Direito Canônico, pouco regrava
ou disciplinava a posse e o uso da terra, daí a força do direito consuetudinário herdado do
conquistador romano, de quem Portugal guardou fortes reminiscências. Privilégios só os
possuíam a Igreja Católica e o Estado.
A legislação regulava o instituto da compra e venda tanto dos bens de raiz,
quanto dos escravos e demais bens móveis e semoventes, consoante se poderá ver do Livro
IV das Ordenações Filipinas. Para a compra e venda dos bens de raiz muito pouco se regrava,
exigindo-se, apenas, que se estipulassem de modo expresso a condição, a cautela e o pacto,
sob pena de nulificação. Exigência maior, no entanto, se fazia quanto à compra e venda
de escravos, em cujos documentos o vendedor poderia deixar estipulado que o comprador
concederia ou não a liberdade ao escravo, bem como vendê-lo para fora do Império. Essas
condições somente foram supressas a partir de 1769, em virtude da pressão religiosa e política
que contra isso se formou.
A avidez do lucro levou à preocupação incessante de somente se plantar
cana-de-açúcar, deixando para plano secundário a produção de gêneros alimentícios de
subsistência, que eram produzidos por pequenos agricultores em terras arrendadas e pelos
escravos em seus tempos livres.
À medida que o preço do açúcar aumentava no mercado internacional, a
lavoura de subsistência diminuía, já que toda a força de trabalho estava concentrada na lavoura
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canavieira, daí rarear a produção de gêneros alimentícios e a fome assolar assustadoramente,


sobretudo no seio da população escrava. A produção de alimentos básicos, nesse período, foi
tão reduzida que a metrópole teve de intervir com uma legislação que tornava obrigatório ao
proprietário de terras destinar uma parte de seu domínio ao plantio de gêneros alimentícios
de subsistência. É nessa época que surgem os pequenos produtores dedicados à agricultura
de subsistência praticada em terras não doadas pela Coroa, mas cuja posse era ilegal dentro
dos critérios oficiais. Nasce, assim, a pequena propriedade rural no Brasil, como autênticos
apêndices da grande propriedade”.

Nesse prisma, podemos ver que a propriedade, depois do descobrimento,


sofreu, por óbvio, forte influência do colonizador, principalmente pelo fato de o mesmo
“querer” a todo custo um produto que rendesse ávidos lucros. Contudo, verificou-se que essa
experiência iniciada de forma tímida teve o seu apogeu contrastando com outras culturas de
subsistência, necessárias ao desenvolvimento da população.

Não bastasse o incansável interesse no lucro da Coroa, em desprestígio daqueles


que trabalhavam na terra, a legislação existente privilegiava, tão-somente, os poderosos, razão
pela qual acabou por fazer fracassar o regime de divisão das terras, tidas como sesmarial.

É o que a professora Gláucia Maria aponta. Vejamos:

Com o objetivo de povoar as terras e implantar um processo produtivo,


implantou-se o sesmarialismo como a primeira forma de organização político-administrativa
da terra no Brasil.
O regime sesmarial foi instituído em Portugal pela Lei Régia em 16.06.1375,
sob o reinado de D. Fernando, o Formoso, que objetivava corrigir distorções no uso e posse
de terras rurais, com o intuito de promover o aumento na produção de alimentos e diminuição
do acentuado êxodo rural.
Em que pesem as diferenças das condições e circunstâncias encontradas aqui
no Brasil, Portugal, receando as investidas estrangeiras nas novas terras e na tentativa de
uma exploração mais eficiente do solo, decidiu por implantar aqui o mesmo processo de
distribuição de terras”.
De acordo com RAIMUNDO LARANJEIRA:
'Os propósitos de povoar as terras e fazê-las produzir se estamparam na primeira
das Ordenações do Reino, as Afonsinas de 1446; e as regras que se lhes correspondiam
puderam também se conter, depois - ao tempo da empresa colonizadora inicial para o
Brasil, a de Martim Afonso -, já nas ordenações Manuelinas, de 1512, cujo Título 67, §
3º do Livro IV serviu de escopo à implantação do sesmarialismo entre nós, bem como de
suporte à continuidade do sistema até 1822, preservado que ele ficara sendo com a última
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das Ordenações, as Filipinas de 1603, com a definição seguinte, no Título 43 do Livro IV:
Sesmarias são propriamente as dadas de terras casaes e pardieiros que foram ou são de alguns
senhorios, e que já em outro tempo foram lavradas e aproveitadas e agora o não são'.
De acordo com essa base jurídica, nasce o primeiro instituto jurídico no Brasil.
Segundo FERREIRA MARQUES,
'as sesmarias não se adequavam ao Brasil, pelo menos com o sentido que tinham
naquele outro país. Aqui as terras eram virgens, enquanto lá já haviam sido aproveitadas e
lavradas. Outro aspecto diferenciador residia na natureza jurídica das sesmarias em Portugal.
Ali, eram consideradas um verdadeiro confisco, enquanto no Brasil, guardavam perfeita
similitude com o instituto da enfiteuse, pois só se transferia o domínio útil. Os poderes
outorgados ao colonizador Martim Afonso de Sousa, pelo rei D. João III, que o nomeou
Governador-geral, permitiam-lhe conceder terras às pessoas que consigo viessem e quisessem
aqui viver e povoar, inclusive com efeito de transmissão causa mortis'.
Como o plano de colonização, através dos Governos-gerais, tivesse gerado
insatisfações, resolveu D. João III dividir a Colônia em capitanias hereditárias, mas
continuando com a concessão de sesmarias. O Rei de Portugal instituiu, então, o sistema
donatarial. Tal sistema, de acordo com vários autores, transferia aos donatários o domínio
pleno da terra da capitania.
No entanto, a realidade demonstrava outra situação. Os capitães recebiam
como patrimônio individual apenas uma área de dez léguas, e as cinqüenta léguas restantes
continuavam a pertencer ao Reino. O Rei ordenava que os capitães donatários doassem tais
terras a quaisquer pessoas, desde que fossem cristãs. Caso não as cultivassem, deveriam
devolvê-las à Coroa para que fossem redistribuídas a outros interessados. Surge aí o termo
devolutas, significando devolvidas.
Conclui-se então que o dar terras não significava que o recebedor adquiriria o
seu domínio pleno, mas tão-somente o domínio útil.”

Ambos doutrinadores são concordes em dizer que o regime sesmarial fracassou,


apontando cada um ao seu modo as fases em que se deram no Brasil.

a) Inicialmente, as cartas ou dadas de sesmarias podiam ser outorgadas pelos


capitães-mores, sendo que uma de suas obrigações era explorar a capitania, pagando os
dízimos correspondentes à exploração do pau-brasil, aos produtos da caça, da pesca, além do
quinto incidente sobre a produção mineral, especiarias e drogas;
b) Num segundo período, o direito de outorgar as sesmarias passou para os
governadores-gerais, registrando-se um aumento no número de concessões;
c) Por último, a Coroa, através de prepostos, escolhia os sesmeiros e concedia-
lhes as respectivas Cartas.

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Entretanto, aponta a professora, “o regime adotado na Colônia, diferentemente


do que ocorria em Portugal, além de em nada ter contribuído para o crescimento da agricultura,
não trouxe qualquer desenvolvimento à agricultura de subsistência, considerando que essa
atividade muito pouco representava em termos de rendimento econômico para os grandes
senhores de terras, daí ter a aristocracia colonial passado do cultivo da cana-de-açúcar, no
início do século XVIII, para o cultivo intensivo da lavoura do café, que apresentava fabulosos
lucros, aliada à atividade mineradora. Com o tempo, a mineração acabou estimulando o
desenvolvimento do setor agrícola de subsistência, não só com a participação do pequeno
produtor, mas também com a atuação do grande proprietário”.

Por conseguinte, “o regime sesmarial, tal como concebido na Corte, guardava


em si a grande preocupação do Monarca em fazer com que as terras do seu reinado fossem
produtivas, para não faltarem legumes e gêneros alimentícios nas mesas de todos os povos,
consoante disso cuidou minuciosamente o Título XLIII do Livro IV das Ordenações Filipinas,
a ponto de ficar autorizada a concessão da terra de quaisquer Grandes e Fidalgos a quem as
quisesse trabalhar e nelas produzir. Mas isso era viável em Portugal, onde as áreas dadas
em sesmaria eram relativamente pequenas, e bem mais fácil de serem cultivadas, o que não
acontecia nas bandas brasileiras, onde as sesmarias eram descomunais, tendo de frente 10
(dez) léguas para o mar e para os fundos”.

Vemos, pois, que outra não fora o destino desta partilha utilizada, porquanto a
sua “extinção (...), em 1822, pela Carta Régia de 17 de julho, aliada à agitação geral causada
pela independência naquele ano, que provocaria uma vacatio legis, isto é, a ausência de uma
legislação definida sobre terras no País, estimularam, consideravelmente, o aparecimento de
pequenos produtores rurais”. De efeito, “meses depois da vigência da Resolução de 17 de
julho, que extinguiu o sistema sesmarialista, não se cuidou de um Código nacional, na nova
era, propriamente brasileira. O ato da Assembléia Constituinte - Lei de 20.10.1823 - apenas
recomendou a sua elaboração, determinando que continuassem a vigorar, aqui, as mesmas
Ordenações Portuguesas, bem como as demais leis, regimentos, alvarás, decretos e resoluções
com que se governava o Brasil, até 25.04.1821, e enquanto não fossem eles especialmente
alterados”.

Assim, somente “em 1824, a primeira das nossas constituições prescreveu


que se organizasse um Código Civil, que foi elaborado muito tempo depois e trouxe uma
regra básica, fundamental para a modelagem do Direito Agrário: a garantia do direito de
propriedade e a viabilidade de cessão desta para "uso ou emprego destinado ao bem público,
mediante indenização" (art. 22)”.

Portanto, passados “dois séculos de sesmarialismo, caracterizado por favores


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oficiais, gigantismo das doações e multiplicações de todos os defeitos da Coroa, deixaram


marcas indeléveis na estrutura agrária brasileira, gerando os enormes latifúndios e uma
mentalidade retrógrada voltada apenas para a monocultura”, que hoje tanto causa desconforto
entre aqueles que estão na posse da terra daqueles que buscam ter acesso à mesma.

Apontam os professores Ismael e Gláucia Maria que “a partir da proibição


imperial da concessão de sesmarias, iniciou-se o regime da Posse de Terrenos Devolutos em
1822, prolongando-se até 1850, com a promulgação da primeira Lei de Terras no Brasil”.
E que “entre a revogação da legislação sesmarial, que se deu no ano de 1822, e a vigência
da Lei de Terras, houve, portanto, um vazio legal. Este período recebeu o nome de período
extralegal ou das posses. Inexistia então uma legislação específica para a questão agrária no
País. Não se concediam mais sesmarias”.

O fator diferencial encontrado nesse momento histórico deveu-se ao fato de o


posseiro poder explorar a terra e, posteriormente, poder obter do Estado a devida legalização,
diferentemente do caso do sesmeiro que, primeiro, recebia o título para depois trabalhar a
terra. Com efeito, nessa nova fase era estabelecido um vínculo entre “produção e trabalho”,
propiciando ao agricultor a sua mantença através do trabalho familiar.

Todavia, ensinam os professores que o trabalho familiar, característica da


pequena propriedade instalada no Brasil logo foi tendo outra conformação territorial, segundo
o doutrinador Fernando Pereira Sodero, que citado por eles, observava que “a humilde posse
com cultura efetiva, cedo, entretanto, se impregnou do espírito latifundiário, que a legislação
das sesmarias difundira e fomentara. E ainda: a tendência para a grande propriedade estava já
definitivamente arraigada na psicologia de nossa gente”.

Interessante que, “mesmo nos últimos anos de vigência da legislação sesmarial,


muitos passaram a ocupar terras aparentemente sem dono, para não se submeterem ao processo
burocrático de obtenção de uma carta de sesmaria”. Parece até que essa moda ainda existe,
porquanto à época, “resultava às pessoas, então, em ocupar uma determinada área e torná-
la produtiva, esperando que o direito viesse algum dia legalizar-lhes as posses, o que veio a
acontecer com o advento da Lei n.º 601/1850, posteriormente regulamentada pelo Decreto-
Lei n.º 1.318, de 30.01.1854”.

A aludida ocupação salientam os historiadores, acabou por originar duas


formas de se explorar a terra, muitas vezes contadas através da literatura e telenovelas,
quando encenam a grande propriedade latifundiária que, monocultora, explorou inicialmente
a produção de cana-de-açúcar e, posteriormente, o café, o cacau e a borracha, utilizando
infelizmente como mão-de-obra o trabalho escravo; de outro lado, a propriedade familiar
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que, através da simples posse, produzia principalmente culturas de subsistência como feijão,
mandioca, pequenas criações domésticas, cuja mão-de-obra se resumia à família do posseiro
(entidade familiar).

Como consequência da exploração da terra, o quadro fundiário do Brasil


resultou em ocupações desordenadas, cujas características deram-se através das sesmarias
concedidas e totalmente regularizadas; sesmarias simplesmente concedidas, faltando aos
concessionários cumprir as exigências legais; terras sem ocupação não concedidas ou já
revertidas ao Poder Público por não-atendimento às regras contidas no sistema de sesmarias;
e, por fim, glebas ocupadas mas sem um título legal capaz de gerar direitos aos ocupantes, o
que forçou o Império a dotar o País de sua primeira Lei Orgânica de Terras no Brasil.

Essa heterogeneidade na ocupação no meio rural acabou por causar certa


instabilidade que ensejou a apresentação de um projeto de Lei de Terras que propunha uma
reforma à legislação de sesmarias, e a instituição de normas que disciplinavam o problema
da colonização no País, tendo sido sancionada em 18.09.1850, foi conhecida como a primeira
Lei de Terras (Lei n.º 601), pois tratava sobre as terras devolutas do Império e sobre as
titularizadas pelas sesmarias ainda não legalizadas, proibindo a aquisição daquelas por outro
título que não fosse o da compra, por simples títulos de posse mansa e pacífica.

Referida lei ainda dispunha “(...) sobre as terras devolutas do Império e sobre
as que eram possuídas por títulos de sesmarias, sem preenchimento das condições legais, bem
como por simples títulos de posse mansa e pacífica. Instituía, ainda, que, demarcadas as terras
devolutas, fossem elas cedidas a título oneroso, tanto para empresas particulares, como para
o estabelecimento de colônias, assentando, principalmente os imigrantes. Esse ato legislativo
integra um conjunto de leis promulgadas no período entre 1840 e 1850, responsáveis pela
nova ordem social instaurada durante o processo de consolidação do Estado Imperial”.

Em relação às terras possuídas, que não tinham um título formal de propriedade,


a Lei propiciava a sua legitimação mediante registro do terreno possuído na freguesia, mas
exigia-se a moradia do pretendente e o respectivo cultivo da terra, ponto esse de muita relevância
que transcende o tempo, ou seja, havia a imposição de o campesino utilizar adequadamente
o imóvel, situação regulamentada através do Decreto n.º 1.318/1854 e também pelo registro
paroquial de terras, oriundos das anotações e legitimações de propriedade feitas pela Igreja.

As normas acima referidas, especialmente a Lei de Terras, previram a reserva


de terras devolutas para a imigração, que propiciou a distribuição de lotes aos colonos italianos
no Rio Grande do Sul, e a instituição do regime da pequena propriedade.

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Num contrassenso, houve um obstáculo no que pertine ao crescimento da


pequena propriedade destinada à agricultura para produção de alimentos, vez que ao tempo
em que favoreceu o grande proprietário rural (pois somente ele tinha recursos financeiros
para efetuar a compra de grandes áreas), o simples colono e o escravo não possuíam dinheiro,
razão porque aquele, além desse favorecimento, contava, ainda, com a força de trabalho do
imigrante, submetido à condição de servidão nas grandes lavouras de café.

A Lei de Terras manteve-se atuante até a promulgação da Constituição


Republicana de 1891, que concedia autonomia legislativa aos Estados da Federação.
Entretanto, no que diz respeito às leis agrárias os estados, exceto por alterações muito
superficiais, acabaram por endossar os princípios e normas da Lei de Terras.

Caros alunos, essa compilação da evolução histórica ocorrida em relação


ao meio rural, mostra que para a época houve certa evolução, contudo, se houvesse maior
sensibilidade do legislador, e não detrimento aos vocacionados que trabalhavam a terra,
haveria hoje uma pacificação no meio rural. Mas, veremos mais adiante uma crescente
evolução de acesso à propriedade rural.

No que toca ao período de vigência da primeira Constituição Republicana no


Brasil, ocorrida entre 1891 a 1930, a sua principal característica deu-se no aspecto agrarista,
pois as terras devolutas da União passaram para o domínio dos Estados. Vejamos o artigo 64:
“pertencem aos Estados as minas e terras devolutas situadas em seus respectivos territórios,
cabendo à União somente a porção do território que for indispensável para a defesa das
fronteiras, fortificações, construções militares e estrada de ferro federais”.

Sobre a aludida carta magna, o Código Civil de 1916 e o de 2002, o professor


Ismael comenta que:
“Em virtude dessa transferência de competência, coube, então, aos Estados
legislarem sobre a matéria, ressalvando-se a competência privativa do Congresso sobre as
terras de propriedade da União, e na adoção de um modelo mais conveniente de segurança
para as fronteiras.
Nessa Constituição, o direito de propriedade continuava intangível. O § 17 do
art. 72 mantinha esse instituto em sua plenitude, ressalvando a desapropriação por necessidade
ou utilidade públicas, sempre sob indenização prévia. A terra se concentrava cada vez mais
nas mãos de uma aristocracia agrária que não permitia a reformulação da estrutura da terra no
País.
O texto do art. 64 da Lei Maior de 1891 possibilitou as soluções mais díspares
e os abusos mais flagrantes que se podem imaginar. No elenco do gênero "terras públicas",
nem todos os Estados souberam distinguir a espécie "terras devolutas". Houve Estados que
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confundiram estas com as federais, com as de outros estados, com os terrenos de marinha,
concedendo as ordine juris non servato e até admitindo superposição de concessões, corrigíveis
em posterior medição compensatória reclamada pelo prejudicado.
Esse dispositivo representou a vitória dos republicanos teóricos na Assembléia
Constituinte da Primeira República, uma vez que desejavam dar à organização político-
administrativa do Brasil uma feição idêntica à dos Estados Unidos da América, onde as
antigas colônias, antes independentes entre si, resolveram contratar uma vida política em
comum, na Constituição de 1789.
Foi grande a celeuma levantada, sustentando, os mais veementes imitadores
da América do Norte, que a Federação ou Regime Federativo implicava, de qualquer modo,
a autonomia estadual, devendo ser obedecido fielmente o modelo norte-americano, porque as
províncias tinham sido elevadas à categoria de Estados.
Nos Estados Unidos da América do Norte prevaleceu o princípio de pertencerem
aos Estados as terras devolutas, e, se hoje aquela União se acha no domínio delas, é porque
as houve por compra ou conquista aos índios, por cessão dos Estados, gratuita ou onerosa.
Segundo LINHARES DE LACERDA, "verdadeiro condomínio está
estabelecido nas terras devolutas, entre a União e os Estados", tendo em vista que pertencem
àquela as terras necessárias à defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e
estradas de ferro. "Nessa situação, é muito comum haver atrito de direitos, porque a União
pretende efetuar discriminações, administrativas ou judiciais, do seu domínio, e porque os
Estados, alegando sua autonomia, resolvem titular as terras devolutas de seus territórios às
pessoas que as desejem adquirir".
Assim, é muito difícil dizer, em tese, se o titular de domínio outorgado em
título do Estado estará garantido quando a União manifestar o seu direito expresso na CF.
Observa o autor citado que "nas legislações de posses e nas revalidações das
antigas concessões, as províncias, pelos seus governos, tinham atuação saliente, cabendo-
lhes a execução da maior parte dos processos de terras".
Por essas razões, "quando foi proclamada a República e o domínio das terras
devolutas passou para os Estados, estes já estavam afeiçoados ao processo das legitimações,
segundo normas vigentes para toda a Nação, de modo que a legislação de terras de cada
unidade da Federação passou a ser modelada na Lei Federal, transplantando desta os princípios
dominantes a respeito do assunto".
Entretanto, o próprio autor admite que algumas leis estaduais descem a
peculiaridades regionais. A transferência das terras devolutas existentes em seus territórios
para os Estados, nos termos do art. 64 da CF de 1891, não mereceu aplausos unânimes dos
juristas. Tal transferência se baseou na doutrina segundo a qual se deve outorgar aos Estados
Federados brasileiros todo e qualquer poder ou direito a eles não negado por cláusula expressa
ou implicitamente contida em cláusula expressa da CF.
A Constituição de 1891, de modo geral, permitiu que os Estados organizassem
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como entendessem o seu governo e administração. Em matéria de alienação de terras devolutas


os Estados não se regiam pelas leis da União, mas pelas que livremente adotassem, salvo as
restrições constitucionais.
A partir dessa Constituição, os Estados passaram a legislar sobre as suas terras
devolutas, dispondo sobre os seguintes principais pontos:

a) conceituação jurídica;
b) apuração física; e
c) legítima titulação de seus possuidores.

Quanto ao problema da titulação dos possuidores de terras devolutas,


MESSIAS JUNQUEIRA nota que, apesar das peculiaridades de cada Estado-membro, todos
eles compreenderam perfeitamente a finalidade de todas as leis de terras, que é "titular todo
aquele que mantém no solo devoluto posse manifestada pelos dois modos clássicos, exigidos
tradicionalmente na L. 601: cultura efetiva e morada habitual".
Conforme foi dito, cada Estado desenvolveu sua política de concessão de terras.
O Rio Grande do Sul, por exemplo, promulgou sua Lei de Terras Públicas, estabelecendo
módulos de 25 a 50 hectares com o intuito de promover a colonização. São Paulo também
editou suas leis, criando núcleos rurais em distintas regiões e concedendo gratuitamente
glebas de terras.
Essas medidas legislativas não tiveram grandes resultados, pois, mesmo
baseadas no princípio do federalismo, não tinham como objetivo central a reestruturação da
propriedade agrária. A multiplicação de atos legislativos e a adoção em cada Estado de uma
política própria de colonização favoreceram o surgimento de minifúndios.
Com o poder legislativo deslocado para os Estados da Federação, iniciam-se,
segundo JOSÉ DE SOUZA MARTINS, 10 transferências maciças de propriedades fundiárias
para grandes fazendeiros e grandes empresas de colonização imobiliária.
Na vigência dessa CF, foi instituído o CC, L. 3.071/1916, ainda em vigor na
legislação brasileira. O Código não contempla como matéria exclusiva a questão agrária ou
agrícola, embora faça referências ao arrendamento rural e à parceria agrícola e pecuária.
Inclui em seu Livro II, referente ao direito das coisas, nos Títulos I e II, dois institutos que
são a verdadeira base do Direito Agrário: a posse e o direito de propriedade.
O Código, preliminarmente em seu art. 1º, regula os direitos e obrigações de
ordem privada concernentes às pessoas, aos bens e às suas relações. Não faz distinção entre
as pessoas rurais e civis, nem entre a propriedade urbana e a rural.
O CCB, diversamente do francês e de outros diplomas que o seguiram, não
define a propriedade. Prefere, simplesmente, enunciar os poderes de que dispõe o proprietário
sobre seus bens, deixando à doutrina o encargo de sua conceituação.
Assim, o art. 524 descreve o conteúdo, ao prescrever: "a lei assegura ao
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proprietário o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, e de reavê-los do poder de quem
injustamente os possua".
Esse artigo fornece subsídios para a formulação dos conceitos: "Propriedade
é o direito que tem uma pessoa de tirar diretamente da coisa toda a sua utilidade jurídica". E
ainda "o poder assegurado pelo grupo social à utilização dos bens da vida psíquica e moral".
Os elementos que constituem a propriedade correspondem ao jus utendi, fruendi
et abutendi e à rei vindicatio. A propriedade não é, entretanto, a soma desses elementos e,
sim, "é um direito que compreende o poder de agir diversamente em relação ao bem, usando,
gozando ou dispondo dele". Esses atributos podem concentrar-se num só indivíduo, caso
em que a propriedade é plena, ou desmembrar-se, quando se transfere a outrem um de seus
atributos, como na constituição do direito real de usufruto, em que o proprietário tem o
domínio eminente, embora o uso da coisa passe ao conteúdo patrimonial.
É importante ressaltar que o CC hora nenhuma faz referência à função social da
propriedade. Tutela a propriedade como um direito exclusivo do proprietário, conceituando-a
como um direito individual e absoluto. Não permite a exata compreensão da noção de
direito de propriedade rural, porque não considera a natureza específica da terra, seu caráter
sociológico e sua função social, desconsiderando o cumprimento da destinação natural da
terra que visa ao atendimento das necessidades sociais e econômicas de um conjunto de
pessoas e não apenas de seu titular. Reafirma ser a terra um bem de valor e estar em seu título
a salvaguarda do direito do proprietário.
Em suma, a visão de propriedade estabelecida pelo Código de 1916, não
acompanhava o aspecto sociológico da propriedade rural, estando em descompasso com
o Direito Agrário que assegura uma nova dimensão, pois tem a propriedade rural apoio
na doutrina da função social, que entende ser a terra um bem de produção e, como tal, a
propriedade é condicionada pelo bem comum, de forma a atender o interesse da coletividade.
O Novo Código Civil, em seu art. 1.228, diz, que o proprietário tem a
faculdade de usar, gozar e dispor da coisa e o direito de reavê-la do poder de quem quer que
injustamente a possua, ou detenha. No entanto, em seu § 1º, promove alterações no sentido
de implementar que o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais, de modo a preservar o equilíbrio ecológico e o patrimônio
histórico e artístico.

A INTRODUÇÃO AO DIREITO AGRÁRIO

O Surgimento do Direito Agrário.se dá com a Emenda Constitucional de 1964 à


Constituição de 1946, que incluiu na Constituição a desapropriação para fins de reforma
agrária. A regulamentação do Direito Agrário se deu com o Estatuto da Terra (Lei nº.
4.504/64), porém a sua importância é meramente conceitual, já que, atualmente, está muito
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derrogado.

Conceito de Direito Agrário segundo o jurista Christiano Cassetari (2012:05):


“Direito Agrário é o conjunto de princípios e normas de direito público e de direito privado
que visa disciplinar as relações emergentes da atividade agrária, com base na função social
da propriedade”

O citado conceito apresenta quatro importantes elementos que devem ser por nós
estudados:

a) Conjunto de Princípios e Normas: Direito Agrário é ramo autônomo. Essa


autonomia pode ser estudada sobre diferentes prismas:

I. Autonomia Legislativa - Existe esta autonomia no Direito Agrário em razão


do mesmo ter leis específicas que regulamentam os assuntos a ele pertinentes. Exemplos:
Estatuto da Terra, LC n. 76/93 e Lei n. 8.629/93;
II. Autonomia Científica - Ela existe já que o Direito Agrário contém institutos
próprios, específicos, tais como o ITR, os contratos agrários, a desapropriação para fins de
reforma agrária, dentre outros.

IMPORTANTE: Não há no Direito Agrário Autonomia Jurisdicional, mesmo com


o art. 126 da Constituição Federal determinando a criação de Varas especializadas para a
solução de conflitos agrários. Esse tipo de autonomia exige a criação de uma Justiça Agrária.

b) Direito Público e Direito Privado: A dicotomia direito público e privado foi


superada pelo processo de constitucionalização que passa o direito privado. Verifica-se no
Direito Agrário a mescla de público e privado existente nos seus institutos. Por exemplo,
o ITR (direito público), os contratos agrários (direito privado), a desapropriação (direito
público) e a usucapião (direito privado);

c) Atividade Agrária: É o denominador comum do Direito Agrário, porque deve


estabelecer a chamada segurança alimentar. A segurança alimentar se dá pela estabilidade
no país da produção de alimentos para a população, sem necessidade de importação, que irá
estabelecer uma proteção à agricultura.
d) Função Social da Propriedade: É o elemento central do Direito Agrário, que
faz do imóvel um bem de produção de alimentos e de matéria-prima.
Obs: o primeiro diploma legal a menc:ionar, explicitamente, o termo "função social
da propriedade" foi o Estatuto da Terra.
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Princípios de Direito Agrário

Os princípios do Direito Agrário são:

a) Princípio da justiça social - trata-se de princípio que tem por objetivo primar e
garantir as mínimas condições necessárias à sobrevivência da pessoa com dignidade. O poder
público necessita dar condições que o mesmo se implemente , pois o mesmo passa por uma
necessidade de distribuição de terras para que quem estiver na sua posse consiga torná-la
produtiva.

b) Princípio da função social da terra - trata-se de princípio que deriva do art.


2º do Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64), que assegura a todos a oportunidade de acesso à
propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista na lei. Como
vimos a função social da propriedade rural é exerci da quando cumprido os requisitos do art.
186 da Constituição Federal.
c) Princípio da permanência na terra - trata-se de princípio que busca proteger e
resguardar a pessoa que tornou a terra produtiva com seu trabalho e de sua família, ou seja,
que exerce posse-trabalho (também chamada de pró-labore). Por conta disso é que o poder
público se utiliza dos institutos da desapropriação e usucapião para permitir a permanência
de quem contribuiu para a função social da propriedade nos imóveis improdutivos.
d) Princípio do acesso à propriedade da terra trata-se de princípio pelo qual, por
meio da desapropriação para fins de reforma agrária, o Estado busca permitir o acesso à
propriedade aos agricultores que não possuem meios de adquiri-la, para que o produtor rural
possa produzir.

Destaca-se que o rol acima mencionado não é taxativo, mas exemplificativo.

Interdisciplinaridade (relações do Direito Agrário com outros


ramos do Direito)

I. Direito Agrário e Direito Constitucional: o Direito Constitucional e o Direito


Agrário mantêm autêntica relação de dependência; enquanto o primeiro cuida da fixação
da estrutura do Estado e dos seus fins, sendo estático, o segundo trata de instrumentalizar
determinados mecanismos presentes naquele, tais como os presentes nos arts, 5º, XXIIa
XXIV(direito fundamental à propriedade, função social e desapropriação); 5º, inciso XXVI
(impenhorabilidade da pequena propriedade rural trabalhada pela família);

II. Direito Agrário e Direito Administrativo: O Direito Agrário se relaciona

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com tal ramo do Direito principalmente no que concerne ao instituto da desapropriação por
interesse social para fins de reforma agrária (art. 184 da Carta Federal), que é urna das formas
de intervenção do Estado na propriedade particular. Pertinência lógica entre as duas matérias
reside ainda na questão do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA),
como uma autarquia federal responsável pela implementação da política de reforma agrária
e realização do ordenamento fundiário nacional, contribuindo para o desenvolvimento rural
sustentável.

III. Direito Agrário e Direito Civil: o Direito Agrário utiliza-se subsidiariam ente
de diversos institutos peculiares ao Direito Civil, tais como: posse, propriedade, enfiteuse,
princípios gerais do direito contratual, entre outros. Muitos dos institutos atinentes aos
contratos rurais de arrendamento e parceria são abordados à luz de institutos do Direito Civil.
Ademais, estuda-se a propriedade rural e seus consectários à luz dos conceitos vaticinados
pela legislação civil. Não podemos olvidar que o Código Civil de 2002, de forma expressa
ou implícita, trouxe a lume a sistemática da função social da propriedade, notadamente no
tocante aos contratos e à propriedade. Concatena-se aos institutos típicos do Direito Agrário.

IV. Direito Agrário e Direito Tributário: Relaciona-se com o Direito Agrário nas
regras relativas à imunidade de propriedades destinadas à reforma agrária (art. 184, § 52, da
CF/88) e Imposto Territorial Rural.

V. Direito Agrário e Direito do Trabalho: Sua relação com nossa disciplina


mostra-se principalmente no caput do art. 7º da Constituição Federal de 1988 ao elencar um
rol de direitos sociais cujos destinatários são os trabalhadores urbanos e rurais (historicamente
submetidos a regime especial: regidos por lei própria e não pela Consolidação das Leis do
Trabalho); nos contratos de falsa parceria que encobrem verdadeiras relações empregatícias
e sindicalismo rural.

VI. Direito Agrário e Direito Ambiental: Luís Paulo Sirvinskas (2007:27), ao


partir de uma concepção antropocêntrica do Direito Ambiental, assim o define: "[...] é a
ciência jurídica que estuda, analisa e discute as questões e os problemas ambientais e sua
relação com o ser humano, tendo por finalidade a proteção do meio ambiente e a melhoria
das condições de vida no planeta".

VII. Direito Agrário e Direito Previdenciário: Encontramos a relação entre estes


dois ramos do Direito principalmente no que concerne às regras especiais de Previdência
Rural, atinentes ao trabalhador rural.

VIII. Direito Agrário e Direito Empresarial: O ponto em comum atinente aos dois
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ramos do Direito ora em comento pode se revelar por meio do tratamento, diferenciado e
favorecido, dispensado pelos arts. 970, 971 e 984 do Código Civil de 2002 tanto ao empresário
rural como às empresas rurais.

IX. Direito Agrário e Direito Processual Civil: Em várias ações observa-se


a conexão existente entre o Direito Agrário e o Direito Processual Civil: desapropriação,
usucapião, ação civil pública, ação popular, mandado de segurança, ações petitórias (cuja
causa de pedir é o direito de propriedade), ações de despejo e ações possessórias. Em
especial, vale ressaltar a Lei Complementar n. 76/93, que estabelece disposições acerca do
procedimento especial para desapropriação de imóveis rurais por interesse sociais para fins
de reforma agrária.

X. Direito Agrário e Direito Internacional Privado: Em dois pontos principais


observamos a conexão entre o Direito Internacional Privado (DIP) e o Direito Agrário:
na aquisição de imóveis rurais por estrangeiros (regulada pelo art. 190 da CF/88 e Lei nº
5.709/71) e na colonização de terras brasileiras por pessoas estrangeiras (art. 60 do Estatuto
da Terra).

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil - Nº 17 - Mai-Jun/2002 -


ESTUDOS JURÍDICOS
FALCÃO, Ismael Marinho. Direito Agrário no século XVI e o desenvolvimento
rural brasileiro atual. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 38, 1 jan. 2000. Disponível em:
<http://jus.uol.com.br/revista/texto/1666>. Acesso em: 25 jul. 2011.

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