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Aula 01
“(…).
A propriedade brasileira sofreu forte influência do colonizador. Nasceu sob o
signo do capitalismo europeu. O Brasil passou, então, a fazer parte das colônias que forneciam
matérias-primas às metrópoles européias. O colonizador queria tão-somente aquele produto
que lhe proporcionasse grandes lucros, como forma de justificar e consolidar sua permanência
nas terras da Colônia e a posse delas. Como ele não encontrasse, de imediato, as riquezas
minerais que ambicionava e procurava, em 1530 introduziu-se o plantio da cana-de-açúcar,
isto porque Portugal já possuía grande experiência no cultivo e na industrialização dessa
planta tropical proveniente das atividades na Ilha da Madeira e Cabo Verde, e, também, pelo
alto valor comercial do açúcar no mercado europeu.
Portugal experimentou dias difíceis com a profunda recessão que sobre
ele abateu, e a fórmula encontrada foi a exploração do açúcar e dos minérios em todo o
território da Colônia, a fim de que a metrópole pudesse sair da crise em que se encontrava.
O rei concedia aos donatários grandes extensões de terras para o plantio da cana-de-açúcar,
resultando no fim da relação amistosa entre índios e portugueses. A terra coletiva dos índios
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passa a ser dominada por estrangeiros, o que gerou violentos embates como os que ocorreram
contra os Tupiniquins, na Bahia, no século XVI, e os Guerén, no século XVII, dentre tantos
outros, promovendo a destruição das aldeias, o extermínio dos povos e a escravidão.
A experiência brasileira, que se iniciara com a implantação do primeiro
engenho de cana-de-açúcar em 1506, era incipiente, e somente se desenvolveu depois da
implantação dos engenhos de São Vicente em 1532, fundada que fora, a Vila, em 22 de
janeiro daquele ano.
Em 1535, fundada a Vila de Olinda, em Pernambuco, nasce aí o primeiro
engenho para produção em escala comercial, fazendo explodir o comércio para a Colônia,
superando em muito o que produziam os engenhos de São Vicente.
A exploração comercial do solo brasileiro criou outros tantos problemas,
merecendo destaque a fuga de indígenas para as terras da Amazônia, provocando rebelião
sangrenta em várias partes como em Ilhéus, com os Tupinambá.
Em 1652, registra-se o pico da exportação de açúcar, em decorrência de uma
produção jamais verificada em todo o período colonial. Essa superprodução provocou euforia
na órbita governamental; entretanto, no seio do povo, a fome despontava a ponto de forçar
o governo, oito anos mais tarde, em Carta Régia, a proibir a instalação de novos engenhos
no território da Colônia. Em 1701, para que houvesse um ameno combate a esse horrível
fantasma, a Carta Régia concedeu aos escravos o sábado livre para que pudessem cuidar do
seu sustento, trabalhando na lavoura de subsistência.
A legislação da época, toda ela calcada no Direito Canônico, pouco regrava
ou disciplinava a posse e o uso da terra, daí a força do direito consuetudinário herdado do
conquistador romano, de quem Portugal guardou fortes reminiscências. Privilégios só os
possuíam a Igreja Católica e o Estado.
A legislação regulava o instituto da compra e venda tanto dos bens de raiz,
quanto dos escravos e demais bens móveis e semoventes, consoante se poderá ver do Livro
IV das Ordenações Filipinas. Para a compra e venda dos bens de raiz muito pouco se regrava,
exigindo-se, apenas, que se estipulassem de modo expresso a condição, a cautela e o pacto,
sob pena de nulificação. Exigência maior, no entanto, se fazia quanto à compra e venda
de escravos, em cujos documentos o vendedor poderia deixar estipulado que o comprador
concederia ou não a liberdade ao escravo, bem como vendê-lo para fora do Império. Essas
condições somente foram supressas a partir de 1769, em virtude da pressão religiosa e política
que contra isso se formou.
A avidez do lucro levou à preocupação incessante de somente se plantar
cana-de-açúcar, deixando para plano secundário a produção de gêneros alimentícios de
subsistência, que eram produzidos por pequenos agricultores em terras arrendadas e pelos
escravos em seus tempos livres.
À medida que o preço do açúcar aumentava no mercado internacional, a
lavoura de subsistência diminuía, já que toda a força de trabalho estava concentrada na lavoura
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das Ordenações, as Filipinas de 1603, com a definição seguinte, no Título 43 do Livro IV:
Sesmarias são propriamente as dadas de terras casaes e pardieiros que foram ou são de alguns
senhorios, e que já em outro tempo foram lavradas e aproveitadas e agora o não são'.
De acordo com essa base jurídica, nasce o primeiro instituto jurídico no Brasil.
Segundo FERREIRA MARQUES,
'as sesmarias não se adequavam ao Brasil, pelo menos com o sentido que tinham
naquele outro país. Aqui as terras eram virgens, enquanto lá já haviam sido aproveitadas e
lavradas. Outro aspecto diferenciador residia na natureza jurídica das sesmarias em Portugal.
Ali, eram consideradas um verdadeiro confisco, enquanto no Brasil, guardavam perfeita
similitude com o instituto da enfiteuse, pois só se transferia o domínio útil. Os poderes
outorgados ao colonizador Martim Afonso de Sousa, pelo rei D. João III, que o nomeou
Governador-geral, permitiam-lhe conceder terras às pessoas que consigo viessem e quisessem
aqui viver e povoar, inclusive com efeito de transmissão causa mortis'.
Como o plano de colonização, através dos Governos-gerais, tivesse gerado
insatisfações, resolveu D. João III dividir a Colônia em capitanias hereditárias, mas
continuando com a concessão de sesmarias. O Rei de Portugal instituiu, então, o sistema
donatarial. Tal sistema, de acordo com vários autores, transferia aos donatários o domínio
pleno da terra da capitania.
No entanto, a realidade demonstrava outra situação. Os capitães recebiam
como patrimônio individual apenas uma área de dez léguas, e as cinqüenta léguas restantes
continuavam a pertencer ao Reino. O Rei ordenava que os capitães donatários doassem tais
terras a quaisquer pessoas, desde que fossem cristãs. Caso não as cultivassem, deveriam
devolvê-las à Coroa para que fossem redistribuídas a outros interessados. Surge aí o termo
devolutas, significando devolvidas.
Conclui-se então que o dar terras não significava que o recebedor adquiriria o
seu domínio pleno, mas tão-somente o domínio útil.”
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Vemos, pois, que outra não fora o destino desta partilha utilizada, porquanto a
sua “extinção (...), em 1822, pela Carta Régia de 17 de julho, aliada à agitação geral causada
pela independência naquele ano, que provocaria uma vacatio legis, isto é, a ausência de uma
legislação definida sobre terras no País, estimularam, consideravelmente, o aparecimento de
pequenos produtores rurais”. De efeito, “meses depois da vigência da Resolução de 17 de
julho, que extinguiu o sistema sesmarialista, não se cuidou de um Código nacional, na nova
era, propriamente brasileira. O ato da Assembléia Constituinte - Lei de 20.10.1823 - apenas
recomendou a sua elaboração, determinando que continuassem a vigorar, aqui, as mesmas
Ordenações Portuguesas, bem como as demais leis, regimentos, alvarás, decretos e resoluções
com que se governava o Brasil, até 25.04.1821, e enquanto não fossem eles especialmente
alterados”.
que, através da simples posse, produzia principalmente culturas de subsistência como feijão,
mandioca, pequenas criações domésticas, cuja mão-de-obra se resumia à família do posseiro
(entidade familiar).
Referida lei ainda dispunha “(...) sobre as terras devolutas do Império e sobre
as que eram possuídas por títulos de sesmarias, sem preenchimento das condições legais, bem
como por simples títulos de posse mansa e pacífica. Instituía, ainda, que, demarcadas as terras
devolutas, fossem elas cedidas a título oneroso, tanto para empresas particulares, como para
o estabelecimento de colônias, assentando, principalmente os imigrantes. Esse ato legislativo
integra um conjunto de leis promulgadas no período entre 1840 e 1850, responsáveis pela
nova ordem social instaurada durante o processo de consolidação do Estado Imperial”.
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confundiram estas com as federais, com as de outros estados, com os terrenos de marinha,
concedendo as ordine juris non servato e até admitindo superposição de concessões, corrigíveis
em posterior medição compensatória reclamada pelo prejudicado.
Esse dispositivo representou a vitória dos republicanos teóricos na Assembléia
Constituinte da Primeira República, uma vez que desejavam dar à organização político-
administrativa do Brasil uma feição idêntica à dos Estados Unidos da América, onde as
antigas colônias, antes independentes entre si, resolveram contratar uma vida política em
comum, na Constituição de 1789.
Foi grande a celeuma levantada, sustentando, os mais veementes imitadores
da América do Norte, que a Federação ou Regime Federativo implicava, de qualquer modo,
a autonomia estadual, devendo ser obedecido fielmente o modelo norte-americano, porque as
províncias tinham sido elevadas à categoria de Estados.
Nos Estados Unidos da América do Norte prevaleceu o princípio de pertencerem
aos Estados as terras devolutas, e, se hoje aquela União se acha no domínio delas, é porque
as houve por compra ou conquista aos índios, por cessão dos Estados, gratuita ou onerosa.
Segundo LINHARES DE LACERDA, "verdadeiro condomínio está
estabelecido nas terras devolutas, entre a União e os Estados", tendo em vista que pertencem
àquela as terras necessárias à defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e
estradas de ferro. "Nessa situação, é muito comum haver atrito de direitos, porque a União
pretende efetuar discriminações, administrativas ou judiciais, do seu domínio, e porque os
Estados, alegando sua autonomia, resolvem titular as terras devolutas de seus territórios às
pessoas que as desejem adquirir".
Assim, é muito difícil dizer, em tese, se o titular de domínio outorgado em
título do Estado estará garantido quando a União manifestar o seu direito expresso na CF.
Observa o autor citado que "nas legislações de posses e nas revalidações das
antigas concessões, as províncias, pelos seus governos, tinham atuação saliente, cabendo-
lhes a execução da maior parte dos processos de terras".
Por essas razões, "quando foi proclamada a República e o domínio das terras
devolutas passou para os Estados, estes já estavam afeiçoados ao processo das legitimações,
segundo normas vigentes para toda a Nação, de modo que a legislação de terras de cada
unidade da Federação passou a ser modelada na Lei Federal, transplantando desta os princípios
dominantes a respeito do assunto".
Entretanto, o próprio autor admite que algumas leis estaduais descem a
peculiaridades regionais. A transferência das terras devolutas existentes em seus territórios
para os Estados, nos termos do art. 64 da CF de 1891, não mereceu aplausos unânimes dos
juristas. Tal transferência se baseou na doutrina segundo a qual se deve outorgar aos Estados
Federados brasileiros todo e qualquer poder ou direito a eles não negado por cláusula expressa
ou implicitamente contida em cláusula expressa da CF.
A Constituição de 1891, de modo geral, permitiu que os Estados organizassem
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a) conceituação jurídica;
b) apuração física; e
c) legítima titulação de seus possuidores.
proprietário o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, e de reavê-los do poder de quem
injustamente os possua".
Esse artigo fornece subsídios para a formulação dos conceitos: "Propriedade
é o direito que tem uma pessoa de tirar diretamente da coisa toda a sua utilidade jurídica". E
ainda "o poder assegurado pelo grupo social à utilização dos bens da vida psíquica e moral".
Os elementos que constituem a propriedade correspondem ao jus utendi, fruendi
et abutendi e à rei vindicatio. A propriedade não é, entretanto, a soma desses elementos e,
sim, "é um direito que compreende o poder de agir diversamente em relação ao bem, usando,
gozando ou dispondo dele". Esses atributos podem concentrar-se num só indivíduo, caso
em que a propriedade é plena, ou desmembrar-se, quando se transfere a outrem um de seus
atributos, como na constituição do direito real de usufruto, em que o proprietário tem o
domínio eminente, embora o uso da coisa passe ao conteúdo patrimonial.
É importante ressaltar que o CC hora nenhuma faz referência à função social da
propriedade. Tutela a propriedade como um direito exclusivo do proprietário, conceituando-a
como um direito individual e absoluto. Não permite a exata compreensão da noção de
direito de propriedade rural, porque não considera a natureza específica da terra, seu caráter
sociológico e sua função social, desconsiderando o cumprimento da destinação natural da
terra que visa ao atendimento das necessidades sociais e econômicas de um conjunto de
pessoas e não apenas de seu titular. Reafirma ser a terra um bem de valor e estar em seu título
a salvaguarda do direito do proprietário.
Em suma, a visão de propriedade estabelecida pelo Código de 1916, não
acompanhava o aspecto sociológico da propriedade rural, estando em descompasso com
o Direito Agrário que assegura uma nova dimensão, pois tem a propriedade rural apoio
na doutrina da função social, que entende ser a terra um bem de produção e, como tal, a
propriedade é condicionada pelo bem comum, de forma a atender o interesse da coletividade.
O Novo Código Civil, em seu art. 1.228, diz, que o proprietário tem a
faculdade de usar, gozar e dispor da coisa e o direito de reavê-la do poder de quem quer que
injustamente a possua, ou detenha. No entanto, em seu § 1º, promove alterações no sentido
de implementar que o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais, de modo a preservar o equilíbrio ecológico e o patrimônio
histórico e artístico.
derrogado.
O citado conceito apresenta quatro importantes elementos que devem ser por nós
estudados:
a) Princípio da justiça social - trata-se de princípio que tem por objetivo primar e
garantir as mínimas condições necessárias à sobrevivência da pessoa com dignidade. O poder
público necessita dar condições que o mesmo se implemente , pois o mesmo passa por uma
necessidade de distribuição de terras para que quem estiver na sua posse consiga torná-la
produtiva.
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com tal ramo do Direito principalmente no que concerne ao instituto da desapropriação por
interesse social para fins de reforma agrária (art. 184 da Carta Federal), que é urna das formas
de intervenção do Estado na propriedade particular. Pertinência lógica entre as duas matérias
reside ainda na questão do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA),
como uma autarquia federal responsável pela implementação da política de reforma agrária
e realização do ordenamento fundiário nacional, contribuindo para o desenvolvimento rural
sustentável.
III. Direito Agrário e Direito Civil: o Direito Agrário utiliza-se subsidiariam ente
de diversos institutos peculiares ao Direito Civil, tais como: posse, propriedade, enfiteuse,
princípios gerais do direito contratual, entre outros. Muitos dos institutos atinentes aos
contratos rurais de arrendamento e parceria são abordados à luz de institutos do Direito Civil.
Ademais, estuda-se a propriedade rural e seus consectários à luz dos conceitos vaticinados
pela legislação civil. Não podemos olvidar que o Código Civil de 2002, de forma expressa
ou implícita, trouxe a lume a sistemática da função social da propriedade, notadamente no
tocante aos contratos e à propriedade. Concatena-se aos institutos típicos do Direito Agrário.
IV. Direito Agrário e Direito Tributário: Relaciona-se com o Direito Agrário nas
regras relativas à imunidade de propriedades destinadas à reforma agrária (art. 184, § 52, da
CF/88) e Imposto Territorial Rural.
VIII. Direito Agrário e Direito Empresarial: O ponto em comum atinente aos dois
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ramos do Direito ora em comento pode se revelar por meio do tratamento, diferenciado e
favorecido, dispensado pelos arts. 970, 971 e 984 do Código Civil de 2002 tanto ao empresário
rural como às empresas rurais.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
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