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Xangai E mais:
O estudo das Tríades
“Carícia” de Jacob do Bandolim
Cantadô e violero Viola caipira e a prosa com pássaros
de verdade
Saltos na digitação
O compositor Douglas Lora
4 20
Você na V+ Conexão
Internacional
6 26
Em Pauta Mundo
51
Siderurgia
54
Em Grupo
10 59
Retrato Viola Caipira
18 62
No Player Iniciantes
30 44 67
Xangai Sete Cordas De Ouvido
48
40 Como 72
História Estudar Coda
4 • VIOLÃO+
você na violão+
VIOLÃO+ • 5
EM PAUTA
CONSAGRAÇÃO INTERNACIONAL
O compositor e violonista piauiense Josué Costa ganhou o prêmio Andrés
Segovia de melhor violonista do Curso de Guitarra de Santiago de Compostela,
na Espanha. O curso tem 55 anos de tradição e um dos fundadores foi Segovia,
expoente do violão clássico no século 20. Josué Costa concorreu ao prêmio com
oito violonistas de países como México, Argentina, Espanha, Colômbia e Estados
Unidos. Dentre estes, o músico foi eleito o melhor e ainda ganhou uma bolsa para
voltar ao curso, com duração de cinco anos.
6 • VIOLÃO+
EM PAUTA
Inédito
Expoente da criação do choro no
violão, João Pernambuco (1883-1947),
uma das fontes e inspirações de Villa-
Lobos, ainda tem pedaços de sua obra
encontrados em velhos baús. É o caso
de um choro inédito, composto a quatro
mãos com o parceiro Alfredo Medeiros
(1893-1961) e apresentado em um
sarau em Ipanema, em 5 de novembro
de 1958. A gravação em áudio dura
dois minutos. O choro da dupla, de
título desconhecido, foi localizado pelo
pesquisador Alexandre Dias, pianista e
diretor do Instituto do Piano Brasileiro
e foi disponibilizado recentemente
no Acervo Digital do Violão Brasileiro
(www.violaobrasileiro.com.br).
A primeira
Foi um escândalo quando Nair de Teffé
(1886-1981), esposa do presidente
Hermes da Fonseca, promoveu, no
Palácio do Catete, um sarau de música
popular, até então algo inimaginável
para a elite. A primeira dama era tida,
até agora, como a primeira mulher a
tocar violão no Brasil. Mas descobertas
recentes da violonista e musicóloga
Márcia Taborda mostram que,
aproximadamente cem anos antes,
a Imperatriz Leopoldina (1797-1826)
tocou violão no bairro de São Cristóvão.
“Trata-se de um marco na história da
introdução do violão no Brasil”, diz o
historiador José Murilo de Carvalho.
VIOLÃO+ • 7
EM PAUTA
8 • VIOLÃO+
RETRATO Por Luis Stelzer
Marcelo Kayath
O retorno de um
GRANDE TALENTO
Volta? Sim, mas diferentemente do que se podia
esperar, sem muitos concertos, turnês longas e
agendas lotadas. Marcelo não quer nada disso. Só
quer (ainda bem!) gravar e tocar o que quiser, na
hora que quiser
10 • VIOLÃO+
RETRATO
Marcelo Kayath foi uma espécie de passa a enxergar a vida de outro jeito.
cometa do violão. Em meados dos anos Naturalmente, comecei a pensar o violão
1980, aparece de maneira contundente e a minha música de maneira diferente,
para a comunidade violonística, a começar pela própria concepção
vencendo, em um mesmo ano, os maiores sonora e a escolha de instrumento. Hoje,
concursos do mundo. É aclamado pela quando pego para tocar alguma coisa,
crítica internacional. Salas de concerto, a música parece que “canta” para mim,
gravações, recitais pelo mundo todo! De me dizendo o que tem que ser feito,
repente, não se ouve mais falar dele. enquanto que, nos velhos tempos, eu não
Professores comentam que Marcelo enxergava as coisas com tanta clareza.
abandonou a carreira, foi trabalhar no Muita coisa que tocava, eu o fazia sem
mercado financeiro. Várias coisas passam convicção, por absoluta indecisão sobre
na cabeça de seus contemporâneos, o que fazer com a música, e acabava
todos tentando assimilar esse fato me guiando pelo meu instinto. Existe
raro: um músico de grande sucesso e um processo de amadurecimento que
projeção simplesmente sai de cena, por ocorre naturalmente, com o instrumento
vontade própria. Depois de muitos anos, em mãos ou não. Ouvi isso de todos os
Marcelo Kayath foi se reaproximando: meus professores e mentores quando eu
um masterclass daqui, outro dali, e era adolescente, ficava inconformado,
surge um novo trabalho, maravilhoso mas hoje vejo que é verdade. Pouca
como sempre, maduro como nunca. coisa pode ser feita para acelerar o
Com gravações emocionantes, seu CD processo, a não ser dar tempo ao tempo.
é sucesso. E tempo para refletir foi o que não me
faltou nos últimos 25 anos. Obviamente,
Violão+: Por que voltar ao violão? o fato de tudo estar mais claro na minha
Dei o meu último recital na sala St John’s cabeça não significa que todo mundo
Smith Square em Londres em abril vai gostar, mas o importante é que me
de 1990, e, logo na semana seguinte, sinto tocando com mais convicção e
gravei o meu CD Barrios/Ponce Latin segurança das minhas ideias musicais.
American Vol 2. Em 1991, ainda arrumei Sobre a escolha do repertório desse CD,
tempo para gravar em Londres um CD a coisa foi simples: No passado, várias
de ¨Favorites for Guitar¨. Depois disso, vezes tive que gravar o que a gravadora
parei completamente as atividades queria. Dessa vez, escolhi o que eu
musicais. Na verdade, nunca abandonei mais tinha vontade de tocar, e pronto.
o violão, apenas me afastei da carreira Além disso, ouvindo meus CDs antigos,
de músico professional. Nessa minha notei que, na maioria das vezes, acabei
fase de muda, mesmo passando longos gravando peças isoladas. Pensei então
períodos longe do instrumento, senti que que deveria preencher essa lacuna na
amadureci como músico. Não porque minha produção artística gravando só
estava estudando muito, ao contrário. Suítes e Sonatas inteiras. E são quatro
Na verdade, o que aconteceu é que fui compositores que adoro, e de quem
ficando mais velho e, com a idade, a gente nunca havia gravado nada em nenhum
VIOLÃO+ • 11
RETRATO
CD no passado. Por último, eu queria público por todo o incentivo para que
de qualquer maneira gravar uma Suíte esse projeto acontecesse e chegasse a
de Bach! Aliás, foi assim que nasceu o bom termo.
projeto todo. Uma vez, perguntaram ao
grande violoncelista espanhol Pablo Seu começo de carreira foi arrasador.
Casals porque ele tocava Bach todos os Grandes concursos, recitais nos
dias da vida dele, e sempre antes do café grandes teatros do mundo, discos
da manhã. A resposta singela e certeira gravados... Qual foi sua trajetória até
foi: “o sol é sempre o sol¨. Uma coisa que chegar a esse ponto?
gostaria de mencionar é sobre a parte Minha mãe era professora de piano, e eu
técnica da gravação. A equipe técnica ganhei um violão aos dez anos de idade.
da GuitarCoop não deixa nada a dever a No entanto, nessa época, eu não tinha
nenhuma equipe que utilizei em Londres nenhum interesse em estudar violão
no passado. Pelo contrário. A técnica a sério. Isso só ocorreu aos 13 anos,
de som é do grande Ricardo Marui e a quando comecei a estudar com o Léo
montagem e edição é praticamente toda do Soares na Pró-Arte do Rio de Janeiro.
excepcional Henrique Caldas, sem o qual O Léo foi muito importante na minha
nada disso teria sido possível. Ao Sergio formação, incutindo em mim o gosto pela
Abreu, amigo de todos os momentos, música, em tocar com um som bonito,
principalmente nas muitas vezes que em buscar aquele ¨algo mais¨ em tudo
pensei em desistir, faço o agradecimento que eu tocasse. Depois, completei os
12 • VIOLÃO+
RETRATO
meus estudos formais de violão com o do Garoto. A partir daí, resolvi gravar
Jodacil Damaceno e com Turíbio Santos. quatro faixas da música de Garoto,
O Jodacil teve uma grande importância revisando todas as partituras a partir
em aperfeiçoar a minha técnica e a das gravações do próprio compositor.
posição das mãos, principalmente a Isso me deu muita satisfação! Fiquei tão
direita. Turíbio foi crucial para que eu feliz com o resultado que, anos depois,
recebesse um polimento final e desse gravei duas peças de Garoto no meu CD
o salto que eu precisava para poder Guitar Favorites. Cabe ressaltar que,
fazer os concursos internacionais. Ele realmente, não tínhamos as facilidades
também foi muito importante para que virtuais do mundo de hoje, mas tínhamos
eu aprendesse o significado de ser o Ronoel Simões, que era a maior
um artista e músico profissional. Além enciclopédia viva do mundo para violão,
desses mestres formais, sempre tive com um arquivo inigualável de músicas
a ajuda constante dos irmãos Sérgio e e gravações.
Eduardo Abreu, ao longo de toda a minha
trajetória. Os dois irmãos foram cruciaisVocê tinha violões incríveis nessa
para me abrir a cabeça, me mostrando época. Eles ainda estão com você?
caminhos novos e atalhos para que eu Quais violões utiliza atualmente e por
superasse as dificuldades técnicas e que os escolheu?
musicais. Desde a minha adolescência, sempre
tive interesse em formar uma pequena
Seu repertório, em meados dos coleção de instrumentos de ponta.
anos 1980, tinha, além dos clássicos Ao longo dos anos, tive a felicidade
e contemporâneos conhecidos, de aproveitar várias oportunidades
também lançamentos e repertório excelentes e hoje tenho uma coleção de
brasileiro, como Garoto, por exemplo, instrumentos que me satisfaz, que me
hoje muito revisitado, mas nem tanto proporciona enorme prazer e alegria.
naquela época. Como esse repertório
chegava até você sem as facilidades
virtuais de hoje?
Quando eu estudava com o Turíbio, no
Rio de Janeiro, ele tocava muita coisa
da MPB, como Pernambuco etc. Quando
a gravadora 3M/RCA me procurou, em
1986, para gravar um disco de Villa-
Lobos antes do fim daquele ano, hesitei,
porque não tinha o repertório para
encher um LP inteiro com Villa-Lobos.
Nessa época, o Paulo Belinatti estava
começando a tocar e divulgar as obras
de Garoto, e o Ronoel Simões tinha
me dado um cassete com gravações Marcelo Kayath, Sergio Abreu e Leo Brower
VIOLÃO+ • 13
RETRATO
Na minha primeira fase, utilizei um o violão inteiro, dá oportunidades ao
Fleta maravilhoso, de 1981, em quase violonista de mostrar a que veio, todos
todas as gravações e concertos. Nesse os movimentos são muito bons, enfim,
CD ¨Suítes & Sonatas¨, eu estava com é uma grande peça e eu estou muito
outro ideal sonoro na cabeça, então feliz de ter tido a chance de gravá-la.
usei dois violões Hauser I. Na Suíte O segundo e o terceiro movimentos
de Bach e na Sonata de Castelnuovo- são maravilhosos, ao passo que os
Tedesco, utilizei um Hauser I de 1948 movimentos da ponta abrem e fecham
que, aliás, foi o violão que usei quando a sonata de maneira magistral. De
toquei Granados na Masterclass de toda a gravação, talvez a Sonata seja
Andrés Segóvia, em 1986. Para a Suíte onde o som do Hauser se apresenta
de Weiss e a Sonata de Sor, usei um por inteiro em toda a sua majestade,
Hauser I de 1930, que foi do grande principalmente nos baixos pesados que
violonista argentino Cacho Tirao. O só um violão antigo possui.
Cacho usou bastante esse Hauser na
carreira dele, inclusive na gravação No auge do sucesso como concertista,
pioneira que ele fez do “Adiós Nonino”, você se retira do meio, parte para uma
na década de 1970. Essa sonata de atividade completamente distinta do que
Tedesco, para mim, é uma das melhores fazia. Muita gente não entende, até hoje.
peças do repertório. Ela tem tudo! Usa O que te levou a fazer essa escolha?
14 • VIOLÃO+
RETRATO
As coisas aconteceram naturalmente.
Na época em que ganhei os concursos
internacionais e desenvolvi intensa
atividade de concertista, eu também
era estudante do curso de engenharia
eletrônica na UFRJ. Em 1987, quando
me formei, tinha tido três anos
espetaculares na música, além de
vários trabalhos já gravados, que iriam
repercutir ao longo de dois ou três anos.
Estava um pouco cansado de toda como louco nas horas vagas? Pegava
aquela atividade musical, então resolvi no violão de uma maneira mais leve,
que, dado que eu tinha um diploma de já que não tinha uma agenda de
engenharia duramente conquistado (o concertista a cumprir? Ou guardou o
curso na UFRJ era pesado), deveria violão no estojo?
experimentar fazer outra coisa por um Durante os anos 1990, eu estava
ou dois anos, até para ver como era bastante ocupado com o meu trabalho
¨o outro lado¨ e, até mesmo, firmar no mercado financeiro. Nessa época,
minha convicção de que realmente realmente sobrava pouco tempo para
queria ser músico professional. Foi tocar. Nos anos 2000, na medida em
só nesse momento que eu senti que que fui progredindo em minha atividade
ser violonista era uma coisa e ser profissional, comecei a ter um pouco
músico profissional era outra coisa mais de liberdade. Aos poucos, fui
completamente diferente. Descobri que começando a tocar com mais frequência,
o que eu realmente gostava de fazer ainda assim só nos finais de semana.
era de tocar e de ser violonista, mas Nesses anos, aprendi uma lição muito
não de ser músico profissional. Foi importante, que era de aproveitar e fazer
essa a opção que fiz: nunca abri mão de render ao máximo o pouco tempo que
tocar e de ser violonista, mas, naquele eu tinha. O meu estudo, quando existia,
momento, decidi que não queria ser um era muito focado e voltado a resolução
profissional da música. Se a música ia de problemas e tocar músicas inteiras,
ser uma profissão, preferi desenvolver mesmo que eu errasse bastante e
uma atividade profissional em outra estivesse com os dedos enferrujados.
área, ficando apenas com o lado bom Aprendi a tocar mais com a cabeça e
da música, que é tocar. Nunca me menos com os dedos, o que fez toda a
arrependi. Até acho que, ao desenvolver diferença a partir de 2011, quando resolvi
uma outra profissão, me ajudou a ver o que queria tocar de novo de maneira
mundo de outra maneira e amadurecer mais efetiva.
na música também.
Como surgiu a ideia da volta? Quanto
Nesse período de afastamento, qual foi tempo precisou estudar para sentir o
a sua relação com o violão? Estudava domínio do instrumento?
VIOLÃO+ • 15
RETRATO
Abismo de Rosas
Houve um tempo em que ouvir Dilermando Reis era
considerado brega no meio violonístico. Era uma
época cheia de preconceitos, com certeza. Mas, será
que estamos livres disso?
18 • VIOLÃO+
NO PLAYER
Destinos (maravilhoso, por sinal) - não
estão mostrando disposição para fazer
homenagens como ele merece.
Quem tem na família alguém que toque
ou aprecie o violão solo e que esteja
na considerada terceira idade, sabe
muito bem quem é Dilermando Reis e
já ouviu “Sons de Carrilhões”, “Abismo
de Rosas”, “Marcha dos Marinheiros”
e tantos outros hits (isso mesmo, hits,
um amante do violão à antiga conhece
essas interpretações décor!). Durante
muito tempo, ouvi meus tios falando,
ao me ouvir tocando as primeiras
notas: já toca “Abismo de Rosas”? E
“Sons de Carrilhões”? Ou “Marcha dos
Marinheiros”? Ainda não? Então, ainda
não está bom, não quero nem ouvir! copiar. Mas me emociona.
Lógico que eu não gostava, pois o peso Sugiro, a quem não conhece, uma
era grande. Tinha que logo me igualar passada por Dilermando. O disco
ao ídolo deles, o que fez com que me Abismo de Rosas, da gravadora
afastasse desse repertório. Continental, do final dos anos 1950, é
Felizmente, o tempo passa, a gente uma boa escolha. Está bem gravado,
vai deixando os preconceitos pelo embora tenha um reverb um pouquinho
caminho (se quiser, é claro!), e pude exagerado, mas nada que atrapalhe. A
me reaproximar desse trabalho, que é quem conhece, o convite a uma nova
lindo. E bem tocado por Dilermando. audição, em homenagem aos cem anos
Realmente, não é um som que eu queira de nascimento do mestre.
VIOLÃO+ • 19
CONEXÃO INTERNACIONAL Por Luis Stelzer
Nelson Machado
20 • VIOLÃO+
CONEXÃO INTERNACIONAL
Lá e cá
O paulistano Nelson Machado já tinha uma carreira em
pleno desenvolvimento, tanto como violonista popular
quanto no Flamenco. Ainda muito jovem, teve a chance
de tocar na Itália. Foi, gostou, foi ficando e passou 24
anos lá! Depois de conhecer vários palcos europeus,
lançar trabalhos autorais, estudar com grandes
mestres, aprender a cantar, perceber e valorizar a
repercussão da música popular brasileira, está de
volta ao Brasil, compartilhando toda essa vivência em
projetos socioculturais. E conta para nós um pouco
desta bela história
O Shamisen
(seda musical)
O Shamisen, humildemente, além de manifestar uma
cultura, se dá ao luxo de ser o crisol onde se conjugam
seres de todos os âmbitos em sua construção, na sua
interpretação e inspiração
26 • VIOLÃO+
mundo
Um pouco de historia
Reza a lenda que na antiga China
existiram oito tipos de instrumentos:
Metal, Pedra, Seda, Bambu, Abóbora,
Argila, Couro e Madeira. O Shamisen,
instrumento em questão neste artigo, se
classifica de Seda, pelas suas cordas. Ele
surgiu no século 13, na China (dinastia
Yuan), quando era chamado de saxian,
e foi introduzido nas ilhas pelo Sudoeste
(Okinawa) formalmente no século 16,
chegando para acompanhar o teatro
kabuki em Osaka tempos depois, com
o interprete Takata Hyoshiro. No início,
o instrumento esteve só ao alcance dos
nobres (chamados Ryükyüan), sendo
popularizado no século 19.
Os três estilos musicais do shamisen são:
• Uta-mono (estilo cantado)
• Katari-mono (estilo narrativo)
• Minyo (canções folclóricas)
O estilo mais antigo se denomina
samishem–kumuita ou Ji-uta, que
consistia em canções locais da área
da Kamigata, mas o Katari-mono é o
estilo mais difundido e característico da
música desse instrumento
O instrumento
O Shamisen japonês é construído com
quatro peças de madeira e se recobre
com pele de cachorro ou gato. Se diz
que, antigamente, era feito com pele
de serpente píton trazida da Índia, mas
na escassez, isso foi alterado. Tanto
assim que, logo após a Segunda Guerra Suas três cordas são feitas de seda, e
Mundial, era construído com latas e o plectro com o qual são tocadas tem
tecido de paraquedas, chamando-se forma de machado. Ele é feito de carey,
kankara sashin. Seu braço, de um metro material translúcido extraído da carcaça
de comprimento aproximadamente, das tartarugas marinhas. Este plectro é
atravessa o corpo do instrumento e chamado de Bachi, e há quem diga que
sobressai ligeiramente no extremo oposto. também é feito de chifre de búfalo.
VIOLÃO+ • 27
mundo
As afinações modernas
28 • VIOLÃO+
matéria de capa
Verda
Por Luis Stelzer
adeiro
xangai
Violão+: Vamos começar por esse O que aconteceu?
trabalho que você está apresentando, Ele fez um desafio que eu cheguei a
o lançamento deste CD com seu nome. gelar: que eu tocasse e cantasse tudo! O
Como foi esse processo? Como surgiu resultado está aí. É um disco modesto,
esse disco especificamente? mas é uma verdade gravada. Porque eu
Esse disco não saiu do jeito que eu sei que, se tivesse o violão dele, estaria
queria. Há vinte e tantos anos eu conheci musicalmente muito mais bem realizado,
o Mario Ulhoa, que é um violonista isso é uma verdade. Não sou de ficar
extraordinário da Costa Rica. Pra você mentindo, enfiando conversa fiada... Na
ter uma ideia, ele foi por anos e anos, e hora, ele falou: “você já fez algum disco
ainda é, considerado, se fizéssemos um só você tocando? Você tocar violão e
ranking, talvez entre os cinco melhores cantar, do seu jeito?”. Interessante. Não
do mundo. Ganhou vários concursos é modéstia, mas sempre desconfio que
quando estudou na Alemanha. Hoje, é o meu violão não é perfeito, como um
doutor em música. Quando o conheci, a violonista de verdade deve tocar. Mas,
gente se encantou um pelo outro, um pela para mim, me serve muito. Acredito que
arte do outro, eu pelo seu toque, ele pelo tem uma magia nisso. As pessoas dizem
meu jeito de cantar. Então propusemos isso, gostam muito. E ele, inclusive, o
um ao outro fazermos um disco juntos, mestre. Ele disse: “vamos fazer assim,
ele tocando e eu, cantando. O tempo e ainda você vai ganhar prêmio!”. E o
passou, até que chegou a hora de eu disco foi indicado como melhor álbum.
poder fazer esse disco com ele Falamos: E ainda ganhei esse prêmio de melhor
“Vamos?” “Vamos!” Tudo combinado e cantor... Eu não vejo esse cantor todo,
tal, fomos para o lugar combinado...e mas... (risos).
não tem uma nota sequer do violão dele
nesse disco. Mas tem muita gente que concorda
com ele!
A gente gravou isso em um sítio, está
dito em um pequeno comentário que
eu faço no encarte, o Sítio da Ponta da
Torta, que é de um compadre meu, perto
de Feira de Santana, no município de
São Gonçalo. Um lugar muito calmo,
muito agradável, com a natureza nos
proporcionando inspiração.
lá Gilberto Gil, Elomar, Geraldo Azevedo, “Serás recebido como um rei” (voltando
Baden Powell, Paulinho da Viola, ao português). E eu fui, mesmo. O lugar
uma plêiade de músicos brasileiros onde fui melhor tratado do que esta vez,
extraordinários. Brouwer me viu cantando em Cuba, só quando eu mamava no peito
na casa do produtor daquele festival. Ele da minha mamãe (risos). Fui muito bem
tamborilava na mesa assim (faz como tratado lá, foi maravilhoso. Ele me pôs
que um trêmolo com os dedos a, m e para encerrar o festival, dividindo o palco
i, os violonistas vão me entender!). Ele com Silvio Rodrigues e Pablo Milanês.
havia sofrido um acidente, tinha rompido Então, Leo me tem um grande carinho,
o tendão de um dos dedos, então ficava mesmo. Já faz tempo que não falo com
toda hora tamborilando assim; Aí, peguei ele, mas estou com muito saudade.
um violão. Depois que o Geraldinho Pretendo em breve visitá-lo.
(Azevedo) tocou uma música, passou o
violão para mim. Eu cantei uma música, e E isso foi nos anos 1990?
ele, imediatamente, disse: “estas invitado Ah, tem um tempão, já.
por mi festival!”. Fiz cara de surpresa.
Ele continuou: “porque tienes la voz Mas é sensacional o violonista
mas insólita que já tenga ouvido” (tento, clássico, o maestro, acompanhando
aqui, reproduzir o portunhol de Xangai). a música de um cantador de um país
VIOLÃO+ • 33
xangai
que não é o seu, de uma língua que por perto. O pai do meu pai também tocava.
não é a sua... E minha irmã formou-se em acordeon.
E a música do Brouwer é diferente, Mas sempre tive certo acanhamento,
considerado por muitos, junto de talvez pela criação. Minha mãe, cheia
Villa-Lobos, um dos mais importantes de meninos para dar conta, tinha certa
compositores do século 20. Você austeridade: “Menino, não mexe aí...”,
conhece este instrumento? (me passa senão, seríamos uns cabras muito
seu violão, um Suguiyama). Esse violão safados também. O que não faltava era
parece um piano! O disco foi gravado peraltice de menino. Então, eu não tinha
com ele. coragem de pegar em instrumento algum
do meu pai. Com 19 anos, peguei um
O contato com o violão, vem desde violão pela primeira vez! Mas eu já fazia
quando? serenata para as namoradas dos meus
Rapaz, que interessante. Eu, desde irmãos antes mesmo de ter namorada.
criancinha, canto. Quando fui ficando Dos meus irmãos e dos meus amigos.
maiorzinho, meu pai, que, além de Eu é que cantava as modas da época.
vaqueiro, peão, pequeno fazendeiro, era Voltando ao violão, um amigo ensinou os
tocador de sanfona e tinha sempre uma primeiros acordes. Por isso digo que não
34 • VIOLÃO+
xangai
sou um violonista, mesmo. Tinha alguns tive que me virar. E comecei a compor
acordes que eu estava treinando, meu as músicas, já tinha uma veia de poesia.
pai passou na sala, viu e disse assim: “tá Sempre fui um apreciador de música
querendo aprender a tocar violão?”. Eu boa. Se tenho uma qualidade mesmo,
disse: “é, pai”. Ele: “Mario Dantas, meu não é de tocar nem de cantar. É que me
amigo, diz que violão não é para ficar considero uma espécie de filtro, porque
batendo assim, violão é pra dedilhar!”. quando se vai coar o café, o coador não
Aquilo veio para mim e, veja que coisa pode ter rasgo, para não passar borra.
interessante: a maneira correta de tocar Então, no meu repertório, não tem borra!
um violão (enquanto toca um acorde de É assim que vejo a música, é assim que
7a menor com brincadeiras nos baixos) tenho uma filtragem, primeiro, para mim
é com o polegar e esses três dedos mesmo, para o meu próprio deleite,
(indicador, médio e anular). Eu tive para o meu próprio gosto. Depois, pela
uma dificuldade: por não ter professor, responsabilidade que tenho diante de
comecei a dedilhar usando o dedo quem me dá valor, entende? Então,
mindinho (mínimo) também. Uso até tenho o melhor público do Brasil! E não
hoje. Então, sou um autodidata. Descobri sou eu só, não. Tem uma casta pequena
um jeito de tocar, o meu jeito, porque de autores, de compositores. Sabe quem
VIOLÃO+ • 35
xangai
tem também o melhor público? Renato Ao que me parece, ele já estava na
Teixeira, Elomar, Caetano Veloso, faculdade em Salvador. Ele vinha todo
Paulinho da Viola... Por que? Porque começo de setembro para treinar a
a obra que eles fazem é verdadeira. É escola, havia uma competição do melhor
desse jeito que eu me posiciono: como desfile escolar do 7 de setembro. E eu
um filtro. Minha melhor qualidade. Não é era louco para tocar. Ficava com aqueles
exaltação. É apenas para que se entenda “zóião”, medroso... Mas eu sabia que
como eu me vejo dentro desse cenário, sabia (risos). Alguma coisa me dizia
dentro dessa coisa toda. que eu precisava tocar. Elomar então
vinha pra ensaiar os meninos. Quando
E esse encontro com Elomar e com ele chegava, já pedia pro pessoal ir
outros tantos, começou a se dar tocando, ia dividindo os instrumentos.
quando? Todos eram maiores do que eu, então
O Cantoria? (lendário LP de 1984, da não sobrou nada para mim. Na caixa
Kuarup discos, com Xangai, Elomar, clara (tarol), estava o primo dele, que
Vital Farias e Geraldo Azevedo). Conheci não se saiu bem e foi tirado. Para o
o Elomar quando tinha 10 anos. Eu lugar, ele perguntou quem tocava aquilo.
estudava na escola de Tia Rosália, irmã Daí eu disse: “eu, eu toco!”. Ele deu a
de tia Eurídice, que é a mãe dele. Se ordem, fui no ritmo, deu tudo certinho.
chamava Educandário Judêncio Terra. Elomar disse: quem sabe, já nasce feito!
36 • VIOLÃO+
xangai
38 • VIOLÃO+
xangai
com Elomar. Ele me fez esse convite para E tem explicação essa magia de você
eu fazer uma espécie de participação. pegar uma música que não é sua e
Vital e Geraldo eu também já conhecia. fazer uma coautoria?
Geraldo é muito amigo meu também. Eu já ouvi mais de uma vez, Milton
Então, legal, vamos fazer! Chegamos lá Nascimento, Chico Buarque, falando a
no Castro Alves sem ensaiar. respeito de Elis Regina e Ney Matogrosso:
são compositores! Eu não conheço
Sem ensaiar? nenhuma música de Elis nem de Ney. Eu
Sim, sem ensaiar! Cada um cantou o que digo: por que? Eles respondem: porque
quis. E, como eu tinha uma proximidade eu faço uma música assim e eles fazem
com o Elomar, com o Geraldo e mesmo ela virar uma outra coisa. Quer ver um
com o vital Farias, no Rio de Janeiro, compositor, ou melhor, dois? Música de
eu sabia cantar algumas canções deles. Milton Nascimento e Chico Buarque, “Cio
Também fiz vocalizes, sendo um meio da Terra”. Pena Branca e Xavantinho
de ligação entre todos. O bacana é fizeram uma nova música. No dia em que
que foi um concerto tão espontâneo, e eu ouvi, falei: que coisa estranha! Achei
honesto, e verdadeiro, que se tornou feio. Depois, fui ouvindo... É a melhor
essa maravilha. Quem ouve tudo aquilo interpretação, não deixando de gostar das
tá vendo que tem um fundo real, de outras. Mas Pena Branca e Xavantinho
verdade. pegaram a música para eles, direto para
o coração do povo, de uma maneira tão
Não dá para acreditar que vocês singela, tão bonita... Outra, do Caetano,
fizeram esse trabalho praticamente que eles cantam, chamada “O Ciúme”,
sem ensaiar... também está demais. São parceiros.
Praticamente, não, sem ensaiar. Sem
ensaio nenhum! Hoje recebi uma ligação E você?
de um jornalista do Correio Braziliense, Eu vou “respostar” para você, com o
perguntando quando íamos ensaiar. Nós máximo de honestidade, de verdade. Eu
nunca ensaiamos. Não chega a ser um suspeito que isso ocorre sabe por quê?
jazz, mas são três violonistas excelentes. Porque não tenho competência para
O que se aproxima mais do clássico são fazer a música do jeito que tinha que
o Elomar e o Vital. Geraldinho é de uma ser! Então, tenho que dar o meu jeito,
habilidade fantástica no pop. É uma magia criar uma maneira. A música era de um
para tocar, encanta a todo mundo, encanta jeito que não sei fazer, mas sei como
a mim, com certeza. O meu violão é mais é a música, ela está dentro de mim, aí
modesto, mas quem bota a voz sou eu, ela começa a sair de dentro de mim.
em todas as cantigas. Todos fazem muito Essa é a maneira que eu gosto de fazer.
bem o seu trabalho, ora como atacante, Às vezes, me chamam para fazer uma
ora como zagueiro. Digamos que sou o gravação, sem tempo de maturar, de a
meia de ligação (risos). Tudo encaixou, música entrar nas moléculas da gente.
foi uma coisa que marcou para o público Então, fica bom, mas não tanto. É outra
e para cada um de nós. coisa quando a música sai de dentro.
VIOLÃO+ • 39
história Por Rosimary Parra
A arte da canção
acompanhada Parte V
O século 18 foi um período de transição na trajetória dos instrumentos
da família das guitarras
A guitarra barroca, que até o início do por exemplo, na forma de tocar que
século 18 teve grande êxito no ambiente privilegiava o uso do estilo rasgueado,
musical cortesão, passa a ter papel com ênfase na execução de acordes e
menos importante para o gosto musical ritmos bem marcados pela mão direita.
da época, sendo aos poucos substituída Assim, o estilo punteado, de grande
por instrumentos como o cravo e a harpa. refinamento melódico e muito valorizado
Esse novo papel influenciará em nas décadas anteriores, saiu de cena.
questões técnicas do instrumento como, Foi durante o século 18 que aconteceram
40 • VIOLÃO+
história
muitas transformações na organologia
do instrumento quanto a dimensões, ao
número de ordens, à mudança do uso de
cordas em pares para cordas simples, ao
mosaico central aberto, à decoração mais
sóbria e padronização da afinação com o
uso da 6ª corda. Dessa forma, chegamos
ao instrumento conhecido como guitarra
romântica, já muito próximo do violão
moderno, com o mesmo número de
cordas e mesma afinação.
Todos esses acontecimentos propiciaram
o ressurgimento da guitarra no século
19. O instrumento voltou a brilhar nos
salões europeus, nas mãos de grandes
virtuoses, como Fernando Sor, Dionísio
Aguado, Mauro Giuliani, Matteo Carcassi
e Ferdinando Carulli.
Entre 1820 e 1840, a guitarra estava
na moda, principalmente em Paris, e
falava-se dessa motivação guitarrística Fernando Sor - “Nel cor più non mi siento”
como sendo a guitaromanie. Publicado
em Paris, o livro “La guitaromanie”, de o caso da canção “Adelaide, Op. 46”,
Charles Marescot, retrata muito bem de Beethoven, editada em 1807, com
esse momento, mostrando o ambiente transcrição para canto e acompanhamento
dos salões musicais da época. de guitarra de Wenzel Matiegka.
Apesar da grande presença da
guitarra como instrumento solista no Sor e Giuliani
repertório do século 19, seu viés como Fernando Sor (1778-1839) e Mauro
instrumento para acompanhamento Giuliani (1781-1829) são duas
continuou se desenvolvendo. Algumas importantes referências para o gênero
publicações confirmam tal fato: na de canto acompanhado desse período.
revista La Giulianad, publicada entre Publicadas em 1813, As Seguidillas, de
1833 e 1836, há fragmentos de obras Sor, reúnem peças para canto e guitarra
vocais de Mozart, Schubert e Paisiello, que têm como base melodias muito
com acompanhamento de guitarra. Em conhecidas e ouvidas na Espanha em
La Lira de Apolo, periódico editado na princípios do século 19. Encontramos
Espanha, há canções de Moretti e Sor. elementos rítmicos dos bailes da
Outros compositores escreveram obras época dialogando com o canto em um
com acompanhamento de guitarra, como discurso musical refinado, valorizando
Ignaz Pleyel, Johann Nepomuk Hummel as possibilidades contrapontísticas do
e Carl Maria von Weber. Há, também, instrumento.
VIOLÃO+ • 41
história
Sor também compôs uma série de Ariette – poesia de Metastasio Op. 95,
Ariettas, seguindo a tradição do bel canto com acompanhamento de piano forte
e indo ao encontro do gosto da burguesia ou guitarra; Sei Cavatine Op. 39, com
por árias italianas. Tais peças tinham acompanhamento de guitarra ou piano.
acompanhamento de piano forte, mas Essas peças não exibem o virtuosismo
duas delas – Lagrime mie e Nel cor più de suas obras para guitarra solista, mas
non mi siento – têm os acompanhamentos desenvolvem acompanhamento simples
originais de Sor em seu método de 1830. e delicado, em harmonia de poucos
Mauro Giuliani compôs Cavatinas e acordes, com arpejos que apoiam e dão
Ariettas para canto e guitarra: Sei graça e liberdade ao canto.
Para ouvir
Fernando Sor - Cinco Seguidillas
Referências bibliográficas
COELHO, Victor Anand. Performance on lute, guitar and vihuela.
Cambridge University Press, 1977.
CUOGHI, Francesco. Guitar especial – la chitarra barocca. Rasgueado
della intavolature al Novecento. Rosimary Parra
GARCIA BLANCO, Paulino. Texto do encarte do CD Las Mujeres Violonista com mestrado em Música pela Universidade
y Cuerdas – Songs and guitar pieces from Spain na Italy, c. 1800. Estadual Paulista (UNESP). Professora de violão clássico na
Glossacabinet. Fundação das Artes de São Caetano do Sul (FASCS).
42 • VIOLÃO+
classif icados
Cursos de
Harmonia
Arranjo
Percepção
Leitura Musical
Violão
Contrabaixo
Reinaldo Garrido Russo
Maestro regente e arranjador
(11) 5562.8593
(11) 9.9251.2226
Valéria Diniz
Revisão de textos
Mtb 66736
(11) 3862.9948
(11) 9.9260. 4028
dinizvaleria70@gmail.com
VIOLÃO+ • 43
sete cordas
Acompanhamento
de “Carícia”
Cleber Assumpção
cleberassumpcao@gmail.com
Jacob do Bandolim
44 • VIOLÃO+
sete cordas
“Carícia”
Jacob do Bandolim
VIOLÃO+ • 45
sete cordas
46 • VIOLÃO+
sete cordas
www.teclaseafins.com.br
Teclas & Afins é compatível com
& AFINS
Prelúdios de
Villa-Lobos Parte 6
Breno Chaves
brechaves@gmail.com
48 • VIOLÃO+
como estudar
Na digitação indicada acima, as semínimas do segundo
acorde não terão a duração exata proposta pelo compositor.
A melodia ficará mais ligada caso a digitação siga o exemplo
que segue:
Parte B (Meno)
Muita atenção no andamento na parte B! Na parte A, o
indicado pelo compositor era Poco Animato. Na nessa
seção B, ele pede Meno. Geralmente, o que se observa
nessa seção é que ou a pulsação permanece a mesma, ou
é executada em um andamento ainda superior ao da parte
A. Deve-se prestar atenção na proporção!
VIOLÃO+ • 49
como estudar
50 • VIOLÃO+
siderurgia
Estudos de
Tríades
Eduardo Padovan
edupadovan@gmail.com
Exercício 1
Utilizo o acorde de Sol Maior como base e transponho esse
formato de acorde para tocar os acordes de Lá Maior e
também para Si Maior.
Exercício 2
O acorde utilizado como referência é o Lá Maior. Transponho
para o acorde Si Maior e depois o acorde Dó Sustenido Maior.
Exercício 3
Parto do formato do acorde Dó Maior. Seguindo o mesmo
formato, vou para Ré Maior e para Mi Maior.
Exercício 4
Nesse exercício o acorde Ré Maior dá origem aos acorde Mi
Maior e Fá Sustenido Maior.
Exercício 5
No último exercício dessa série, uso como referência o
acorde Mi Maior e passo para os acordes Fá Sustenido Maior
e depois Sol Sustenido Maior.
Observem que nos exercícios as tríades são executadas
tanto no sentido ascendente quanto no descendente.Espero
que aproveitem. Grande abraço!
52 • VIOLÃO+
Tríades Maiores siderurgia
A B
Ex. 1
4 G
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4
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3 3
3 3
3
6
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3
Ex. 2.
A B C♯
3
9
3 3
3
3 3
3 3
14
3
3 3
3 3
3 3
3
Ex. 3.
C D E
3
16
3
3 3
20
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3
3
3
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F♯
Ex. 4.
D E
3
22
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27
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3 3
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Ex. 5.
29
E
F♯
G♯
3 3
3 3
3 3 3 3
34
3 3
3
3
3 3 3 3
VIOLÃO+ • 53
em grupo
Douglas Lora
Thales Maestre
Douglas Lora figura entre os grandes artistas brasileiros. thalesmaestre@gmail.com
Por meio de seu trabalho como violonista e compositor,
podemos ter certeza de que a música brasileira está muito
bem representada mundo afora. Sua sólida e premiada
carreira internacional ilustra bem o que estou dizendo. É
referência para todo violonista e isso se estende também
para quem trabalha com educação musical.
O trabalho de todo grande músico é constantemente
mencionado em salas de aulas e auxilia o professor nos
momentos em que é preciso oferecer aos alunos exemplos de
bons referenciais estéticos, domínio técnico, possibilidades
de carreira. Essa “presença” indireta proporciona aos
estudantes e professores imensa contribuição.
Douglas Lora
54 • VIOLÃO+
em grupo
Mas existem artistas que, além dessa contribuição indireta,
têm a sensibilidade de trazer o olhar para o trabalho
pedagógico. Entendem a sua importância na construção
da cena musical, pois sabem que é ali que fervilha o
ambiente de formação, ambiente este que colabora para
a aquisição de valores e que proporciona uma bagagem
cultural aos envolvidos. Ambiente que prepara futuros
músicos e forma público.
Douglas Lora tem demonstrado ser um desses artistas.
É sobre ele e sua peça original para camerata de violões
que a coluna desta edição irá tratar. Assim, seguimos
com o propósito, iniciado na edição anterior de Violão+,
de apresentar as obras e os compositores que criaram
para a Camerata de Violões Infantojuvenil do Programa
Guri Santa Marcelina, com base nos parâmetros por ela
estabelecidos. Uma produção de extrema relevância,
tendo em vista que obras originais para esse tipo de
agrupamento são escassas.
Em meio à sua agenda apertada, Douglas nos visitou
espontaneamente. Tivemos a honra de recebê-lo em um
dos nossos ensaios e também em um dos concertos na
época da estreia da peça. A alegria foi enorme, pois os
alunos tiveram a chance de ver um de seus grandes ídolos
do mundo violonístico ali, em seu ambiente de ensaio e na
plateia, prestigiando seu trabalho. Um valioso estímulo e,
sem dúvida, uma grande honra.
Na ocasião de sua visita, recebemos preciosas orientações
acerca da interpretação de sua peça, e, depois, ele
concedeu uma entrevista para os integrantes da camerata,
momento registrado em vídeo, um bate-papo no qual conta
sobre sua carreira, sua visão acerca dos programas de
educação musical e a importância de seus professores.
Também oferece conselhos para a turma, dicas de estudo,
e explica como compôs a peça para a camerata. Esse
registro, a exemplo do publicado na edição anterior, está
sendo divulgado pela primeira vez aqui.
A estreia da peça se deu em 2013 e figurou no programa
do grupo durante a temporada 2014. A obra em questão
é o “Baião Guri”, na qual o compositor valoriza a cultura
musical brasileira. Segundo ele, assim que recebeu o
convite para compor para o grupo, logo estabeleceu um
pré-requisito a si mesmo: um gênero brasileiro deveria ser
VIOLÃO+ • 55
em grupo
contemplado, de preferência uma dança. E assim nasceu
o “Baião Guri”. Construída para cinco blocos de naipes,
distribuídos em vinte e cinco violões, “Baião Guri” tem a
sua primeira seção desenvolvida dentro do característico
Ré Mixolídio, presente em diversas manifestações
musicais do Nordeste brasileiro. Os elementos típicos
do baião e a inspiração nos trios de forró são evidentes.
Os naipes 4 e 5 iniciam a peça reproduzindo o padrão
rítmico do baião. Um naipe complementa o outro como
se um fosse a baqueta que fere a pele superior da
zabumba, e o outro, o “bacalhau”, que fere a pele inferior.
Ao mesmo tempo, esses naipes são responsáveis pela
condução harmônica, enquanto os demais iniciam seus
fraseados com motivos rítmicos que são repetidos ao
longo da peça, transitando entre os naipes por toda
a seção. Já os fraseados se apresentam por meio de
claros “diálogos” entre esses naipes. Dessa forma, os
executantes de cada naipe têm em sua linha elementos
musicais atrativos e desafiadores. Não há, portanto,
um naipe que poderia ser descartado sem prejuízos
para a peça, tal como ocorre em muitos trabalhos
pedagógicos. Pelo contrário, a orquestração é pensada
para que todos os naipes assumam um protagonismo.
Isso, aliado à disposição espacial do grupo, resulta
num rico jogo sonoro.
Douglas Lora não se prende às características do baião
por toda a peça. A segunda seção é contrastante. Está
56 • VIOLÃO+
em grupo
em Lá menor e destaca uma melodia lenta e muito
expressiva, ora feita pelo naipe 1, explorando a região
média do violão, e depois pelo naipe 5, onde a região
grave é explorada. Como pano de fundo, uma belíssima
orquestração com recursos de técnica expandida
produz um efeito por meio da esfregação dos dedos
sobre as cordas, do uso de pizzicatos com articulações
determinadas em staccato e naipes que se colocam
em contraponto com a linha melódica que estava em
destaque. Depois, ocorre a retomada dos elementos
apresentados na seção A e a inserção de vinte compassos
que anunciam o caminho para o final da peça, como que
numa grande Coda que culmina em um acorde feito por
todos os naipes. “Baião Guri” prova que é possível fazer
música séria para grupos pedagógicos!
O compositor
O interesse de Douglas Lora pelo violão se deu a partir dos
sete anos de idade. Era seu brinquedo favorito. Aprendeu
os primeiros acordes com sua mãe e passava o tempo
“tirando” suas músicas favoritas “de ouvido”. Ouvia muito
rock. Raul Seixas, Titãs, Legião Urbana, o rock brasileiro
dos anos 1980 e 1990.
Esse interesse o levou a procurar por aulas de guitarra.
Tocou o instrumento por alguns anos. Um roqueiro legítimo
até que, por volta dos quinze anos, decidiu retomar o violão.
Pela necessidade de dominar a técnica do instrumento,
optou pelo violão clássico e passou a ter aulas com Floriano
Gomes, que lhe proporcionou o embasamento necessário
para ingressar na Faculdade de Artes Alcântara Machado
(FAAM), onde foi orientado pelo professor Henrique Pinto.
Douglas considera Henrique o seu professor da vida.
Foram cerca de dezesseis anos de convivência com esse
mestre, que se tornou um dos grandes responsáveis pela
sua maneira de pensar o violão. Em 2006, concluiu seu
mestrado na Universidade de Miami (EUA).
Na FAAM, conheceu seu parceiro de duo, João Luiz
Rezende, com quem forma o consagrado Brasil Guitar
Duo. A formação do duo aconteceu na aula de música
de câmara da faculdade, com o fundamental incentivo de
Henrique Pinto. Eis um belo exemplo do que pode surgir
como consequência de uma disciplina obrigatória da
VIOLÃO+ • 57
em grupo
faculdade ser levada a sério.
Lora e Rezende confirmam a tradição brasileira de formar
grandes duos de violões, e certamente são, ao lado do
Duo Siqueira Lima, nossos maiores representantes dessa
formação, depois dos Irmãos Abreu e dos Irmãos Assad.
Já são dezoito anos de intensa carreira, com inúmeros
prêmios, nacionais e internacionais, participações nos mais
importantes festivais do mundo, parcerias com músicos
consagrados, obras dedicadas ao duo, concertos com
orquestras, estreias de obras e gravações contundentes.
Douglas Lora transita entre a música popular e a erudita
com maestria. Optar por um desses seguimentos, segundo
ele, não o faria feliz. Essa versatilidade se evidencia em
sua obra e em seus trabalhos de conjunto. O Brasil Guitar
Duo desenvolve um repertório equilibrado entre o clássico
e o popular. Paralelamente ao duo, Lora toca choro,
samba, maracatu, maxixe, entre outros ritmos nacionais,
com o seu Trio Brasileiro, ao lado de seu irmão, Alexandre
Lora, na percussão e do bandolinista Dudu Maia. As obras
dos nossos geniais compositores desses gêneros ganham
interpretações refinadas nas mãos do trio, que também
realiza trabalho autoral. Na linha do samba e do choro, e no
melhor estilo roda de choro, Lora atua no grupo Caraivana,
formado por seis instrumentistas de diferentes estados
que se conheceram na cidade de Caraíva, na Bahia. E
mantém um primoroso trabalho com a cantora Irene
Atienza, unindo Brasil e Espanha por meio do cancioneiro
popular de ambos os países. Ao leitor que não o conhece,
sugiro que se deleite com seus sofisticados trabalhos. A
voz de Irene, por exemplo, é de nos deixar, como definiu
bem o próprio Lora, “embasbacados”! São boleros, valsas,
bossas, sambas e tangos em interpretações arrebatadoras.
E embasbacados ficamos também com o Lora! Não só
pela grande arte que nos oferece, mas também pela sua
generosidade, humildade e simplicidade. A forma amável
como se apresentou diante do nosso trabalho, dos nossos
alunos e da nossa equipe, ficará marcada em nossas
memórias como exemplo de grandeza proveniente de
alguém que carrega consigo elevados valores morais.
É isso, meus caros! Não se esqueçam de acessar os links
indicados! Assistam ao vídeo com a entrevista! Assistam
ao vídeo com a peça “Baião Guri”, e até a próxima!
58 • VIOLÃO+
VIOLA caipira
Proseando
com pássaros Fábio Miranda
www.fabiomirandavioleiro.com
VIOLÃO+ • 59
VIOLA caipira
Mais do que exercitar técnicas por meio de exercícios
para tocar músicas prontas, o aprendiz de violeiro que não
desenvolve essa audição criativa com sua viola corre o risco
de perder o que há de mais fantástico no seu aprendizado:
a capacidade de conversar com os animais.
VIOLÃO+ • 61
iniciantes
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44
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62 • VIOLÃO+
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Nesta edição, 1 4 1 4 1 4 1 4 4 1 4 1 4 1 4 1
a progressão
1
1 II44 V vista
1
1 4na edição
4 1
1 4 anterior,
4 1
1 4 mas com
4 4
4 1acordes
1 4
4
1
1
4
4
1
1
4
4
1
1
que usam sétimas (7), nonas (9), nonas menores (9b),
décimas-terceiras (13) e décimas-terceiras menores (13b).
O que conversamos na edição passada com relação aos
Shapes – desenhos das posições – continua valendo, e
muito. Reparem nos acordes mais abaixo e percebam que
acordes com o mesmo tipo, como menor com sétima e
nona (m7/9) ou com sétima e décima terceira (7/13), por
exemplo, têm o mesmo formato, mudando apenas de casa
para execução.
VIOLÃO+ • 63
iniciantes
A música desta edição é “A Rã”, composição de João Donato
em parceria com Caetano Veloso. Vamos aprender o ritmo
da melodia dessa bossa, que tem uma extensão melódica
de quarta justa, sendo a nota mais grave um Ré e a nota
mais aguda um Sol, passando pelo Mi e pelo Fá. A melodia
está dentro da tonalidade de Dó Maior.
A seguir estão as células rítmicas, que dão a sensação de
vaivém do salto de uma rã. A música começa em anacruse
na melodia, que significa um impulso, um movimento para
cairmos no tempo forte do próximo compasso.
Acordes
64 • VIOLÃO+
iniciantes
Batida básica de bossa-nova para acompanhar o
playback no vídeo ou em MIDI
P P
I I I
M M M
A A A
A Rã
(João Donato e Caetano Veloso)
VIOLÃO+ • 65
A RÃ
A RÃ JOÃO DONATO/CAETANO VELOSO
iniciantes A RÃ 7/13 JOÃO DONATO/CAETANO VELOSO
A RÃG
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Donato VELOSO
7/9 e Caetano Veloso
2
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G 7/13 G 7/13
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21
Ouvir
tonalmente Parte 6
Reinaldo Garrido Russo
www.musikosofia.com.br
duemaestri@uol.com.br
Zoltan Kodaly
Exercício 1
Cante a escala de Dó algumas vezes.
Agora cante acompanhando o que vem a seguir:
A escala menor
Mesmo não tendo chegado ao aprendizado ideal do
solfejo nas canções fáceis em tonalidade maior, vamos
estudar a escala menor, pois o ajudará a entender as
diferenças existentes na qualidade intervalar.
Antes de qualquer novo tópico, vamos fazer um
exercício importante.
VIOLÃO+ • 69
de ouvido
Exercício 2
Cante a escala de Dó ascendente e descendente,
repetidamente:
Exercício 4
Todos os exercícios que fizemos até agora para cantar e
ouvir a escala de Dó, repita-os na Escala Menor de Lá.
Lá Si Dó Ré Mi Fá Sol Lá Sol Fá Mi Ré Do Si Lá
1 2 3 4 5 6 7 8 7 6 5 4 3 2 1
VIOLÃO+ • 71
coda
Lembranças
que vem e vão
Luis Stelzer