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Porto Alegre, 17 de abril de 2018

Querido Lula,

É com indignação e tristeza que lhe escrevo esta carta. Mas ela quer ser portadora de es-
perança e certeza de que a justiça reinará em breve. Sofremos com você por pertencer à classe
trabalhadora, por estar ao lado dos desfavorecidos desta sociedade capitalista que classifica
ricos e pobres, opressores e oprimidos, os que comem todos os dias e os que comem de vez
e outra. Desde muito tempo nos empenhamos para a superação das desigualdades sociais, de
modo especial lutando pelo direito à educação, básica e superior, para todos. Vimos isto acon-
tecer em boa media pelas políticas públicas construídas em seu Governo e de Dilma. E vimos
desaparecer estas políticas tão logo o Temer assumiu a presidência do País através do golpe
violento contra os trabalhadores, voltando-se somente para a classe dominante que detêm a
maior riqueza do país em suas mãos. Este governo golpista não vê o povo e ignora seu grito
de ordem: ninguém deve passar fome num país tão rico.

Temos certeza que você vai vencer mais esta batalha entre tantas já vencidas por uma
causa muito nobre, sabemos. Você é vítima e está na prisão em Curitiba, injustamente, e con-
tra a vontade do povo que clama por justiça em todos os recantos do país. Estamos em vigília
para que você tenha coragem, força e luz, e não esmoreça. A história contata pelos vencidos
e não pelos vencedores, nos faz lembrar a luta de Antônio Gramsci, Lênin, Che Guevara, Rosa
Luxemburgo, Olga Benário, Francisco Julião, Frei Betto, Paulo Freire, e tantos militantes, con-
denados injustamente ao exílio ou prisão em períodos históricos de acirrada luta de classes.
Estes homens e mulheres, num espaço confinado, sabiamente organizaram seu tempo, leram
livros importantes, escreveram cartas a parentes e amigos, como forma de registro e reflexão.
Hoje, estes escritos, são verdadeiros “romances de formação” ao nosso alcance. Eles nos dizem
o que pensavam, como viviam e como lutavam diariamente contra a solidão do cárcere. Para
muitos, a tortura era uma realidade vivida todos os dias, e para este momento também havia
preparação, na espera e incerteza do que iria acontecer. Pelas cartas já lidas destes lutadores,
o que nos marcou foi o medo que tinham de não mais encontrar àqueles/as que eles amavam.
Isto não vai acontecer com você Lula, de forma alguma, porque aqui fora há uma multidão lhe
esperando, ao mesmo tempo em que procura entender as razões que levaram você ao cárcere.
És condenado porque como Presidente do Brasil olhou e reconheceu os pobres, os simples, os
sem terra, construtores de humanidade? És condenado porque contrariou e retirou privilégios
dos poderosos? És preso porque tirou da “zona de conforto” os filhos dos ricos, cuja entrada
nas universidades se dá porque seus pais podem pagar?

Lula, você vai sair daí em breve do cárcere de Curitiba, sereno e confiante. Vai ainda
encontrar e abraçar multidões que o aguardam para marchar junto, construindo um Brasil
decente, com justiça social para todos. Vai perceber que sua prisão desacomodou e levou um
povo a erguer a cabeça, dar um passo à frente, e dizer “basta”, porque nosso projeto contra-
-egemônico está em jogo.

Lula, seu nome está em lugares não imaginados por você. Acredite Lula, que há mul-
tidões apostando em sua liberdade. São crianças, adolescentes, jovens e adultos que se al-
fabetizaram em seu governo, chegaram à universidade, conseguiram um emprego no serviço
público, e são eternamente gratos por isso. São aqueles que nasceram vendo os pais se ali-
mentando com alimentos saudáveis produzidos em seu lote, e muito cedo foram para a Ciranda
Infantil. Em seguida, na escola do campo, encontraram outros colegas, cuja bandeira dos pais,
comungava com o projeto da classe trabalhadora que você Lula defende desde sua participação
como sindicalista no ABC paulista na década de 1970. E de lá para cá você nunca mudou de
lado. Esta sua postura nos orgulha imensamente, e nos dá a certeza de termos um pai e mãe
junto na caminhada do povo.

Contudo, aqueles/as, pobres de espírito, que dizem não gostar de sua prática social e
de suas ideias, são em menor número. Eles são carentes de humanidade, de alegria, e de gra-
tidão. São pequenos diante da beleza do Criador, porque não acreditam na humanidade e não
sabem o que é acordar todos os dias e ir à luta. Isto para nós tem sentido, e para você também.
Por isso tudo, pedimos para você não desanimar. Assim como o sol se põe todas as tardes, to-
das as manhãs ele volta a brilhar, dando-nos a certeza de que o Criador é justo para com todas
as criaturas. Sem exigir nada de nós, nos aquece, nos ilumina e orienta a caminharmos sem
tropeços pelos caminhos da vida.

Que seu exemplo e coragem nos animem, nos dê a força necessária para lutar pelo me-
lhor do mundo.

Abraço fraterno,

Isabela Camini1

(1) Mestre e doutora em Educação pela UFRGS. É educadora no Setor de Educação do MST.

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