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Reflexões sobre “Estranhamento” e “Desnaturalização”: Conceitos ou objetos


da Sociologia?
Demétrio Cardoso Da Silva1

1. INTRODUÇÃO

O percurso do ensino de sociologia na Educação Básica brasileira foi sempre construído


de nítidas descontinuidades. A afirmação da sociologia enquanto ferramenta de conhecimento da
sociedade no ensino médio foi sempre marcado por percalços, influenciando consequentemente
na formação de jovens desalinhados ao seu projeto de vida, ao exercício da cidadania e com
liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade sobre a realidade social, frente aos
fenômenos sociais que os circundam.

Toda a base legal do Ministério da Educação, assim como todo compêndio didático-
pedagógico utilizado na fundamentação das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas na formação
do ensino médio, especialmente no ensino de sociologia, evidencia a falta de clareza pedagógica
na utilização de ferramentas didáticas que ofereçam efetividade na operacionalização dos
conhecimentos de sociologia, focados particularmente no desenvolvimento das capacidade e
habilidades do estudante para estabelecer diálogos entre indivíduos, grupos sociais e cidadãos de
diversas nacionalidades, saberes e culturas distintas.

Em verdade, não há que se negarem os avanços ocorridos desde a inserção da sociologia


na nova LDB, a partir de 1996, com o sentido de obrigatoriedade como disciplina integrante do
currículo do ensino médio. De fato, o ensino de sociologia exerce um papel fundamental na
formação política, sobretudo quando consagra no dispositivo legal (LDB nº 9.394/96, Art. 36, §
1o, III) a formação relacionada aos “conhecimentos de Sociologia” e “exercício da cidadania”.
Embora essa relação “não seja imediata, nem exclusiva da Sociologia”, nem se pode denegar a
“prerrogativa” pedagógica da ciência sociologia na preparação do cidadão.

O ensino das Ciências Humanas e Sociais deve ter como objeto principal o
desenvolvimento da compreensão de identidade, de sociedade, de cultura e de cidadania. Não
somente a partir da sociologia, mas a partir dos conhecimentos de História, Geografia,
Sociologia, Antropologia, Psicologia, Direito, entre outros. O ensino de sociologia, na

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Mestrando em Sociologia pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, matriculado na disciplina: Tópicos
em Metodologia de Ensino, com o Docente Ednaldo Ferreira Torres
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perspectiva de disciplina do ensino médio, tem o papel fundamental de formar a consciência


crítica e desenvolver a percepção da realidade social para o exercício da cidadania.

No entanto, no presente trabalho, elencaremos os pontos relevantes do ensino de


sociologia e faremos uma breve reflexão sobre procedimentos didático-metodológicos a partir
dos conceitos e teorias da ciência sociológica.

2. UM OLHAR SOBRE A SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO

Os Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio propõem que a formação do aluno


deve ter como alvo principal a aquisição de conhecimentos básicos, a preparação científica e a
capacidade de utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação. Especificamente
no que se refere às Ciências Sociais no ensino médio, o regramento está estabelecido na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), com alteração dada pela Lei nº
13.415/17, que instituiu as ciências humanas e sociais aplicadas, através do art. 35-A, e a
obrigatoriedade de estudos e práticas de sociologia, entre outras ciências.

Em um dos incisos do art. 35 da LDB, que não sofreu qualquer alteração desde sua
criação, estabelece que uma das finalidades do ensino médio é o aprimoramento do educando
como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual
e do pensamento crítico. Embora as alterações ocorridas pela Medida Provisória nº 746, de 2016,
tenha retirado a obrigatoriedade da sociologia, assim como outras disciplinas humanas e sociais,
a Lei nº 13.415/17 retornou essa obrigatoriedade, porém trouxe pouca clareza em relação aos
objetivos do ensino de sociologia no ensino médio. Essa objetividade da sociologia e da filosofia
no ensino médio ficou aberta a interpretações diversas, posto que a formação ética e o
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico não seria exclusividade da
sociologia ou da filosofia. Consideramos, portanto, que essas alterações na LDB foi um passo
atrás na definição da disciplina sociologia como instrumento formador de cidadania e
consciência crítica.

As Orientações Curriculares para o Ensino Médio, já defasada, em vista das últimas


alterações ocorridas na LDB, em 2016 e 2017, dedica um de seus capítulos aos conhecimentos
de sociologia, admitindo que as pesquisas sobre o ensino de Sociologia ainda são bastante
incipientes. Isso demonstra que não se tem claro o papel da disciplina sociologia na formação do
ensino médio, consequência da ausência métodos pedagógicos capazes de deslanchar a
operacionalização e debate dos conteúdos apropriados às finalidades das Ciências Sociais na
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educação básica, especialmente a sociologia como área de instrumentalização para a reflexão dos
fenômenos da realidade social dos alunos. Os autores da OCEM lembram que nem sempre a
Sociologia teve um caráter crítico e transformador, porém instrumentalizada como um discurso
conservador, integrador e até cívico.

As OCEM expõem como fundamento metodológico de que o papel central do


pensamento sociológico será o de realizar a desnaturalização, como via didático-metodológica
para explicar as relações sociais, as instituições, os modos de vida, as ações humanas, coletivas
ou individuais, a estrutura social, a organização política, etc. visto ser uma ferramenta importante
na desconstrução de argumentos naturalizadores das concepções ou explicações dos fenômenos
sociais. Outro papel da Sociologia, segundo os autores, para atingir os objetivos do ensino, não
somente da sociologia, mas de outras ciências, será a realização do estranhamento, posto ser a
sociologia a ciência de observação dos fenômenos sociais presentes na realidade social dos
alunos, vistos como ordinários, triviais, corriqueiros, normais, que nem sempre são percebidos
ou explicados a partir de categorias conceituais da própria sociologia.

Fica evidente que Orientações Curriculares para o Ensino Médio atribuem à sociologia
o papel de compreender ou explicar os fenômenos sociais, porém isso somente será possível na
medida em que estes fenômenos possam ser concebidos como objeto da Sociologia, a partir do
“processo de estranhamento”, quando são postos em questão para análise e problematizarão.
Outra questão levantada pelas OCEM desrespeito à forma de compreender os fenômenos a partir
do processo de estranhamento realizado sobre acontecimentos que dentro do senso comum não
necessariamente precisem ser explicados, numa perspectiva mais aprofundada.

Nesta lógica, as Orientações Curriculares do Ensino Médio sinalizam que a sociologia


como ciência teria o duplo papel de aplicar o processo de desnaturalização e estranhamento dos
fenômenos sociais, traduzidos como recortes, a partir de uma concepção de disciplina escolar.
Embora se reconheça que os limites da ciência Sociologia não coincidem com os da disciplina
Sociologia e, portanto, há a necessidade de aplicar a tradução e os recortes, movendo-se para a
adequação apropriada de linguagem, objetos, temas e reconstrução da história.

A disciplina sociologia, nesse propósito, tem um papel didático-metodológico


fundamental na formação do indivíduo crítico, consciente de sua função social, como dever de
exercer a cidadania; enquanto que o professor, assim como o cientista social, caberia o papel de
estranhar e desnaturalizar os fenômenos sociais através da mediação dos conteúdos e da
reflexão destes perante os alunos no seu caminhar de formação.
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3. A DESNATURALIZAÇÃO e O ESTRANHAMENTO: um problema


epistemológico

A autonomia da sociologia enquanto ciência constrói fundamentos e princípios


epistemológicos particularmente autônomos na concepção de suas teorias e metodologias
aplicadas a partir de conceitos originais. Dentro da razão de ser do conhecimento da sociologia
enquanto ciência da sociedade há que se buscar a adequação metodológica dos conhecimentos de
sociologia enquanto disciplina. Vejo então que colocar o estranhamento e a desnaturalização
dentro de um sistema coerente, em vista do ensino de sociologia como instrumento funcional do
quadro mais amplo da educação básica, impõe reflexões teóricas e epistemológicas sobre os
diversos conceitos da sociologia, enquanto ciência, e da disciplina escolar, enquanto ferramenta
pedagógica de conhecimentos de sociologia.

Nesse passo, as Orientações Curriculares reconhecem o estranhamento e a


desnaturalização dentro da categoria de conceitos das Ciências Sociais. Neste sentido, o dilema
seria construir esses dois conceitos enquanto categoria de objeto da sociologia ou talvez da
disciplina sociologia, em vista de soarem muito mais ao ajustamento e ao patamar de princípios
epistemológicos ou de princípios guias de procedimentos metodológicos que podem
perfeitamente assumir um status consagrado e inquestionável na elucidação dos fenômenos da
realidade social.

Partindo-se do princípio de que o cerne do estranhamento esteja posto como processo


didático, como caminho para se alcançar a “desacomodação” do aluno sobre o fenômeno social,
é possível então se admitir que o objeto de reflexão não pudesse ser o estranhamento, porém a
objetivação sobre o fenômeno social em análise pelo pesquisador. O estranhar residiria
justamente em questionar a tradição do objeto para verdadeiramente se construir um
conhecimento novo (LOPES e CAREGNATO, 2016).

Por outro lado, a desnaturalização conduz a um conceito de natureza, partindo-se da


noção de construção social da realidade. Isso nos leva para a compreensão de que se está à
frente de um procedimento que envolve a autonomia do indivíduo para refletir a realidade
fenomenológica, pois que o ser humano percebe a realidade social a partir de sua natureza, em
sincronia com movimento do fenômeno social em relação ao objeto de análise.

Por outro lado, o estranhamento é composto pelo “afetamento”, pela admiração e pelo
espanto, e, finalmente pelo assombro sobre o fenômeno em observação, o que não poderia ser o
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estranhamento objetivado sobre o outro objeto ou fato social em reflexão; já a desnaturalização


tem a ver com a imutabilidade do estado das coisas, com a “nãoaceitação” delas, com a natureza
como ente independente e “nãocausado”, o que estabelece arbitrariamente o que é normal
(LOPES e CAREGNATO, 2016). Neste sentido, a desnaturalização também não acomodaria a
concepção de objeto, pois se constitui o contrário do processo de objetivação.

O estranhamento e a desnaturalização estão postos então como via de processamento


para análise fenomenológica ou como ferramenta essencial para o início da problematizarão de
determinado fenômeno social, a partir das perguntas mediadas pelo professor ou pesquisador e
suscitadas pelo aluno. É oportuno, porém, alertar, que ambos os conceitos podem ensejar
preconceitos ou estereótipos sobre a diversidade humana, a partir de sua aplicação, caso não
sejam cuidadosamente trabalhados como princípios epistemológicos da ciência ou como
ferramentas didáticas da disciplina sociológica, quando trabalhada principalmente na perspectiva
de uma abordagem sistematizada sobre conceitos, teorias e temas ajustados ao conhecimento da
sociologia, levados para a compreensão e análise dos fenômenos sociais presentes na realidade
social do estudante do ensino médio.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro das conexões apresentadas, é possível perceber claramente o objeto da


sociologia, enquanto ciência, a partir de pressupostos metodológicos oferecidos pelas diferentes
correntes teóricas da sociologia clássica, mas não somente isso. É possível delinear o objeto da
sociologia na perspectiva epistemológica de cada campo de investigação. Os fenômenos sociais,
portanto, podem se constituir objeto a partir da intervenção do pesquisador, por ser o observador
dos fatos sociais presentes na sua linha de observação.

Enquanto disciplina, a meu ver, a sociologia tem outro papel fundamental na abertura
das cortinas que embream as problemáticas da realidade social, percebidas ou não percebidas
pelo estudante do ensino médio. Nesta perspectiva, há que se buscarem procedimentos ou
ferramentas didáticas capazes de elucidar os fenômenos sociais, sobretudo a partir da reflexão
sociológica dos alunos, porém norteada e estimulada pelo professor, dentro do lastramento da
concepção pedagógica de conceitos e teorias da sociologia, ainda que manejada de ciência para a
disciplina de formação da educação básica.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Estabelece as diretrizes e bases da


educação nacional. Biblioteca Digital da Câmara. 8. ed. Brasília, DF: Câmara dos Deputados.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L9394.htm

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da


educação nacional. Biblioteca Digital da Câmara. 8. ed. Brasília, DF: Câmara dos Deputados.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio.


Brasília, DF. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf

BRASIL. Ministério da Educação. Orientações Curriculares para o Ensino Médio.


Brasília, DF. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_03_internet.pdf

BRASIL. Ministério da Educação. Orientações Curriculares para o Ensino Médio.


Brasília, DF. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_03_internet.pdf

BRASIL. Ministério da Educação. Coleção explorando o ensino de Sociologia. Brasília,


DF. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=7843-2011-
sociologia-capa-pdf&category_slug=abril-2011-pdf&Itemid=30192

BRASIL. Ministério da Educação. Coleção Explorando o Ensino – Sociologia: ensino médio /


Coordenação Amaury César Moraes. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, 2010. (Coleção Explorando o Ensino; volume 15). Acesso:
https://escsunicamp.wordpress.com/2011/11/30/sociologia-no-ensino-medio-o-stranhamento-e-a-
desnaturalizacao-dos-fenomenos-sociais-na-pratica-pedagogica/

LOPES, Ricardo Cortez; CAREGNATO, Célia Elizabete. O estranhamento e a desnaturalização


por dentro: da educação autônoma para a educação autêntica. Revista Movimentação/Dossiê:
Conhecimento e Ensino de Sociologia. MovimentAção, Dourados, v. 3, nº. 5, p. 56-74, 2016. Acesso:
http://ojs.ufgd.edu.br/index.php/movimentacao/article/view/6720/3956

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