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biologia   Pablo Nogueira

O que nem
Darwin imaginava
Um século e meio
após a publicação
de A Origem das
Espécies, estudos
do genoma e do
impacto do ambiente
sobre ele desenham
uma Árvore da
Vida bem mais
complexa do que
imaginou seu autor

N
este novembro as comemorações diversifica. Observações feitas em novas
do bicentenário de nascimen- áreas de investigação, como a genômica
to de Charles Darwin (1809- e a epigenética, não encontram paralelo
1882) vão atingir seu ponto máximo. Foi no pensamento de Darwin. E há quem
neste mês, há 150 anos, que ocorreu a proponha que talvez seja necessária uma
publicação da primeira edição de A Ori- nova revolução conceitual na biologia.
gem das Espécies, o livro que inscreveu Na verdade, o que se ensina hoje sobre
o naturalista no hall dos grandes gênios evolução já é uma versão expandida e
da ciência. Embora ninguém questione melhorada do pensamento do naturalista
a grandiosidade do feito intelectual de inglês. Darwin não conhecia, por exem-
Darwin – afinal, conceitos como adap- plo, o trabalho do monge austríaco Gregor
tação, evolução e seleção são alguns dos Mendel (1822-1884), apesar de eles terem
fundamentos da biologia moderna –, são sido contemporâneos. Foi somente no iní-
cada vez mais expressivas as vozes que cio do século 20 que biólogos do Ocidente
defendem que A Origem... não é a última tiveram contato com os estudos de Mendel
palavra na tentativa de explicar os meca- sobre hereditariedade, o que levou ao con-
nismos pelos quais a vida se reinventa e se ceito de gene e ao surgimento da genética.

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A fusão das ideias propostas pelos dois acarretam para as sucessivas gerações. Isso anunciadas descobertas de genes supos- Elemento P
pensadores começou a ser elaborada na permite acompanhar a evolução passo a tamente responsáveis por originar as mais
década de 1930 e recebeu o nome de Sín- passo e testar modelos para refutá-los ou diversas características, do alcoolismo à
tese Evolutiva ou neodarwinista. Em suas confirmá-los. A pesquisa sobre evolução homossexualidade. O projeto chegou ao
elaborações, os biólogos neodarwinistas passa de um debate qualitativo e abstrato fim em 2003, e até 2008 resultados mais
reservaram para o gene um lugar central. para o âmbito da avaliação quantitativa.” acurados continuavam sendo divulgados.
Mutações na sua estrutura levariam ao A pesquisa genômica abriu os olhos dos Mas, ao longo desses anos, uma revira-
aparecimento da grande diversidade de pesquisadores para uma série de fenômenos volta aconteceu. Em vez dos cerca de 100
características dos seres vivos, sobre as de cuja existência nem Darwin nem seus mil genes estimados, os biólogos encon-
quais atua a seleção natural. A maior ou seguidores suspeitavam (veja os quadros traram menos de 30 mil. Descobriu-se que
menor vantagem adaptativa conferida ao na página ao lado e nas próximas). São me- mais da metade não codificava nenhuma
organismo por uma mutação resultaria na canismos como a transmissão horizontal proteína, sendo por isso batizada de “DNA
variação da frequência da mutação em de genes (THG), que consiste na troca de lixo”. E mesmo a parte “funcional” do ge-
uma população. Traços como o compor- sequências de bases e de pedaços intei- noma se comportava de modo estranho, Drosophila
tamento social e cooperativo em insetos, ros de genoma entre seres tão diferentes com alguns genes se mostrando capazes melanogaster
animais e até em humanos seriam apenas como vírus, bactérias, plantas e animais, de codificar mais de uma proteína. Hoje
esforços dos organismos para assegurar a incluindo o homem. Ou a metilação de sabemos que até a posição do gene pode
transmissão de suas fitinhas de DNA, man- DNA, que permite que indivíduos porta- influenciar sua capacidade de dar origem a
tendo elevadas as frequências daqueles dores das mesmas características genéticas uma proteína. E que o tal do DNA lixo tem
genes. Essa visão, que muitos taxaram de apresentem aspectos bem diferentes. Tam- o poder de regular os mecanismos de sín-
“genecêntrica”, foi radicalizada pelo inglês bém surpreendem as grandes diferenças tese proteica, estabelecendo os momentos
Richard Dawkins, que afirmou nos anos de arranjos na estrutura do genoma que e circunstâncias em que ela vai ocorrer.
1970 que a preservação das sequências podem ser observadas em espécies que, “Hoje os geneticistas falam na ação com-
de bases nitrogenadas “é a razão última evolutivamente falando, são muito próxi- binada de dezenas ou centenas de genes
de nossa existência”, e que todos os orga- mas. E, como se não bastasse todo esse que interagem simultaneamente para afetar
nismos são só grandes “máquinas de so- movimento, alguns geneticistas estão re- a expressão de uma única característica”,
brevivência” do próprio material genético. pensando até a própria definição de gene. escreve a bióloga israelense Eva Jablonka
Quando o Projeto Genoma Humano foi em seu livro Evolution in four Dimensions.
Papel dos genes iniciado, em 1990, acreditava-se que ele “Ficou para trás a época em que o geno-
Provêm justamente do estudo dos genes traria a chave para a compreensão do Ho- ma era visto como uma biblioteca de ge-
– mais especialmente da genômica, a dis- mo sapiens. “Na época havia a crença de nes individuais – unidades autônomas
ciplina que estuda os mecanismos do ge- que a maior parte dos genes se destinava que produzem sempre o mesmo efeito.
noma (o conjunto de genes) – as novidades a codificar proteínas. Por isso, uma vez E se o genoma é um sistema organizado,
que estão pondo em xeque algumas das descoberto esse código, esperava-se que em vez de apenas uma coleção de genes, Transmissão de genes
ideias mais tradicionais sobre evolução. seria possível prever o desenvolvimento então o processo que gera variação pode entre espécies diferentes
“Antes da genômica, havia poucas for- do indivíduo”, explica Gustavo Maia Sou- ser uma propriedade do próprio sistema, As moscas do gênero Drosophila estão entre
mas de pesquisar a evolução experimen- za, professor-colaborador da Unesp de que é regulada e modulada pelo genoma os animais mais pesquisados pelos cientistas,
talmente”, lembra Ney Lemke, professor Rio Claro. Ao longo dos anos 1990 foram e pela célula”, diz ela. sendo muito utilizadas nos estudos de
do Instituto de Biociências da Unesp de genética. As larvas dessas moscas são uma
Botucatu e pesquisador na área de redes Árvore redesenhada fonte de alimento para ácaros, que por essa Ácaro do gênero
biológicas. “Ficava-se restrito ao estudo Tais descobertas estão sendo lentamente razão costumam rondar os criadouros. Mas Proctolaelaps
de fósseis, a experimentos de reprodução assimiladas ao repertório de noções sobre a interação entre as duas espécies pode ser
dirigida e a pouca coisa mais.” evolução. Uma das primeiras formulações mais complexa. Uma pesquisa feita com a
Hoje há várias formas de observar em A descoberta de esboçadas é uma crítica à chamada “árvore Drosophila melanogaster encontrou no seu
tempo real o processo de variação e seleção mecanismos como a da vida” – o clássico gráfico que o inglês código genético o chamado “elemento P”,
que leva ao surgimento de novas varieda- transmissão horizontal esboçou para explicar seu pensamento. uma sequência de DNA que tem a propriedade
de genes abalou um
des de organismos, como exemplifica o Acontece que a colocação das espécies dis- de ser deslocada para diferentes posições
dos principais símbolos
pesquisador. “Alguns experimentos culti- do darwinismo, a Árvore tintas em “galhos” divergentes sugere uma do genoma. Os pesquisadores acreditam
vam colônias de bactérias tipo Escherichia da Vida, que ele transmissão de genes apenas da espécie que o elemento P encontrado ali estava
coli [comumente encontrada no intestino desenhou para ilustrar ancestral para a sucessora, pressupondo originalmente no código genético de ácaros
humano] em laboratório por décadas, mo- sua teoria de que todos um isolamento entre os organismos que do gênero Proctolaelaps. A exata maneira
nitorando o aparecimento das mutações os seres vivos provêm de não é compatível com o que sabemos ago- como ocorreu a transmissão de genes entre
no genoma e as consequências que elas um ancestral comum ra a respeito da troca horizontal de genes. uma espécie e outra ainda é desconhecida.

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“Com certeza, no primeiro bilhão de espécie diferente. “Também são comuns das moscas, ao se tornarem adultas, de-
anos após o surgimento da vida, a transfe- episódios onde se vê toda a reorganização monstravam uma diferença na aparência:
rência horizontal de genes era algo muito da estrutura de DNA de um organismo”, não apresentavam mais o característico
frequente entre os seres vivos”, explica diz Lemke. “A evolução embaralha o geno- desenho de veias nas asas. Waddington
Aldo Mellender, geneticista e professor de ma, reorganiza, faz rearranjos complexos então fazia com que as moscas com a mo-
História das Ideias sobre Evolução Biológi- que podem ser comparados a saltos. É um dificação cruzassem entre si, e submetia
ca na Universidade Federal do Rio Grande processo muito maior do que só o acúmulo a prole ao mesmo tratamento de exposi-
Triticum
do Sul. “E mesmo hoje continua havendo de pequenas mutações”, complementa. ção ao calor. A seguir, repetia o processo
turgidum
grande troca de material por essa via”, diz. Mellender afirma que mesmo a síntese de selecionar os espécimes sem sinais de
“Fenômenos como o aumento de resistência neodarwinista já falava na possibilidade veias e de fazê-los cruzar entre si.
entre bactérias do tipo E. coli se devem à de eventos rápidos de especiação. E a ge- O resultado é que, em cada etapa, cres-
capacidade que elas têm de trocar genes nômica só tem reforçado a possibilidade. cia o número de indivíduos que, embora
entre si”, complementa Lemke. “Um exemplo que vemos de salto é o fe- possuíssem a configuração genética para
“A transmissão horizontal de genes implica nômeno da poliploidia entre os vegetais”, tal, não exibiam veias. Em menos de 20
que certas características de um organismo explica. Ele cita o trigo. Os ancestrais da gerações, eles chegaram a constituir 90%
são oriundas de outras espécies que vivam planta tinham 14 cromossomos. Nas gera- da população. Mais impressionante foi
no mesmo ambiente. A ideia da árvore da ções seguintes, por problemas de divisão constatar que, a partir da 14ª geração, al-
vida não se sustenta”, diz. Mellender con- celular e hibridizações, acabaram surgindo gumas moscas começaram a apresentar a
Triticum corda: “A imagem da árvore [original] ficou indivíduos com 42 cromossomos, confi- modificação sem nem passarem pela expo-
monococcum Hibridação comprometida. Mais adequado é imaginar gurando uma espécie nova (veja ao lado). sição ao calor. Apenas pelo cruzamento, o
uma figura onde os vários galhos estejam Talvez a mudança conceitual mais sig- biólogo obteve uma população com quase
ligados uns aos outros.” A ilustração que nificativa esteja no papel desempenhado 100% dos indivíduos sem marcas nas asas.
Especiação rápida abre esta reportagem mostra à esquerda pelo ambiente no processo de evolução. Em outras palavras, um traço adquirido
A história do trigo mostra como novas espécies podem surgir subitamente. a árvore de Darwin e, à direita, a proposta Para Darwin, as condições ambientais atua- havia sido assimilado e incorporado pe-
Do cruzamento de gametas das espécies Triticum monococcum e Triticum para englobar a transmissão horizontal. riam como uma peneira sobre os seres lo mecanismo de hereditariedade, sem
searsii surgiu uma planta híbrida com 14 cromossomos, sete de cada “pai”. Outro conceito visado é o de que as trans- vivos em perpétua transformação, favo- que houvesse mutações nos genes. Há
Uma falha no processo de divisão celular do híbrido deu origem a formações nos organismos são gradativas. recendo algumas características surgidas ocorrências disso inclusive em humanos.
uma nova espécie, o Triticum turgidum, com 28 cromossomos. Em sete oportunidades, Darwin escreveu e descartando outras. Mas os estudos em
Esta espécie, por sua vez, cruzou com a Triticum tauschi, que natura non facit saltum (a natureza não epigenética têm mostrado que, além de “Reabilitação” de Lamarck
formando um novo híbrido. A falha na divisão celular dá saltos). Os seres vivos passariam por selecionar modificações em organismos, os Essas descobertas de certo modo reabi-
voltou a ocorrer, dando origem ao Triticum pequenas mudanças. Se elas conferissem fatores ambientais têm o poder de causá-las. litam ideias do francês Jean Baptiste de
aestivum, com 42 cromossomos, de três alguma vantagem adaptativa, seriam acu- Um dos primeiros defensores desta ideia Lamarck (1744-1829), que afirmava que
origens diferentes. muladas ao longo do tempo, e o processo foi o biólogo inglês Conrad Waddington características adquiridas por indivíduos
eventualmente levaria ao surgimento de (1905-1975), que cunhou o termo epige- em suas interações com o ambiente po-
novas espécies. Essa perspectiva foi ques- nética. Em série de experimentos feitos diam ser transmitidas à prole. Ele propu-
tionada ainda no século 19 por ninguém nos anos 1940, ele expôs larvas de mos- nha, por exemplo, que girafas têm pescoço
menos do que T. H. Huxley, na época o cas drosófilas a elevadas temperaturas. comprido porque seus pais tiveram de se
mais destacado defensor das ideias de Como resultado do choque térmico, 40% esticar para alcançar alimento nas árvores.
Darwin. Mas no século 20 o gradualismo Quando Darwin propôs que o ambiente
foi abraçado pela síntese neodarwinista. era apenas uma instância de seleção de
Somente nos anos 1970 o paleontólogo variações, Lamarck foi posto de escanteio.
americano Stephen J. Gould (1941-2002) O pensamento neodarwinista estabe-
chamaria a atenção para o fato de que há leceu uma profunda separação entre os
poucos fósseis que retratam a transição Talvez a mudança mais processos internos que geram o organis-
entre espécies. Ele procurou formular uma conceitual proposta pelas mo e o mundo exterior. Reunir esses dois
nova teoria, denominada Equilíbrio Pontu- novas pesquisas seja sobre elementos é o desafio para os teóricos da
o papel do ambiente no
ado, que sugere que o surgimento de novas evolução do século 21, que poderiam, num
processo evolutivo. Em vez
espécies ocorre de forma mais rápida. Hoje gesto surpreendente, adaptar algumas das
de atuar como mero filtro
o argumento fóssil de Gould é complemen- sobre as características, ideias lamarckistas para a era genômica.
Hibridação
tado pelas evidências genômicas. como proposto por “É possível que existam mecanismos la-
Triticum A transmissão horizontal faz com que Darwin, o ambiente teria marckistas que permitam a herança de
aestivum alguns seres vivos subitamente incorpo- o poder de causá-las mudanças genômicas induzidas por fa-
rem ao seu genoma genes inteiros de uma tores ambientais. Mas até recentemente

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a afirmação de que variações adquiridas nismos se baseiam em interações molecu- Quanto à árvore da vida, Rocha concor- Influência do ambiente
poderiam ser herdáveis constituía uma lares tão complexas que não poderiam ter da que a imagem não mais representa o Quando os radicais metil (agrupamentos de
heresia grave que não deveria ter lugar se formado gradualmente. Já teriam surgido conhecimento que temos hoje, embora Metil Metil átomos de carbono e de hidrogênio) se ligam a
na teoria evolutiva”, escreve Eva Jablonka. “prontos”. Dá-se a este argumento o nome ressalte que ela traduzia, e bem, o que se certas regiões do DNA (que ficam ao redor das
“Para o neodarwinismo, o organismo de complexidade irredutível. sabia na época em que foi proposta. Ele proteínas chamadas histonas), eles “trancam” os
era um sistema fechado. Tudo o que acon- Mas pesquisadores da genômica já conse- acredita que a principal contribuição trazida genes, impedindo que se expressem sob a forma
tecia nele era decorrência de um código guiram formar redes de interação metabóli- pelas pesquisas efetuadas nos últimos anos de proteínas. Um experimento realizado por
informacional, o genoma”, diz Gustavo cas altamente complexas, envolvendo mais é a possibilidade de compreender melhor pesquisadores da Universidade Duke, nos EUA,
Maia Souza. “A epigenética abre o sistema, de 20 mil proteínas. E elas foram formadas os mecanismos que levam à formação de analisou uma linhagem de camundongos agouti
pois reconhece que os seres vivos, mesmo por pequenos acréscimos e perdas, exata- novas espécies entre as várias formas de que tinha predisposição genética à obesidade e
possuindo uma base genética, dependem mente da maneira prevista pelo princípio seres vivos – um problema, aliás, que Dar- à pelagem clara. As duas características eram
também do contexto ambiental. O contexto da seleção natural. Lemke diz que mesmo win não chegou a solucionar, apesar do condicionadas por um gene. Uma fêmea obesa e
onde aquele genoma está vai refletir em a nossa visão sobre o funcionamento dos título de seu livro. “Estamos vendo que o de pelagem clara foi alimentada antes e depois da
leituras distintas daquela informação.” flagelos mudou. “A genômica mostra de processo de surgimento de espécies novas gravidez com uma dieta rica em radicais metil. Os
Souza acredita que as novas descobertas forma bastante clara que esse processo entre os vegetais é totalmente diferente do compostos chegaram até os fetos gerando uma prole
irão fazer crescer na biologia os estudos ocorreu ao longo de muito tempo. Temos que se pode observar em bactérias ou em majoritariamente de pele escura e magra. Quando
de sistemas complexos, justamente o te- inclusive uma ideia dos passos evolutivos. vírus. Essa nova variante da gripe suína, estes animais tiveram filhos, por sua vez, também
ma da disciplina que ele ministra em Rio No caso da E. coli, por exemplo, podemos por exemplo, surgiu da recombinação de Histona passaram essas características às gerações seguintes.
Claro. “Os estudos em epigenética chegam mostrar que as proteínas que compõem três espécies anteriores de vírus, através
a ser revolucionários”, avalia Mellender. o flagelo ocorrem em outras espécies de de um mecanismo que décadas atrás a
“Estão trazendo uma evidência tão forte bactérias, em muitos casos com funções gente nem sequer suspeitava que existisse.”
que é difícil negar. Talvez por fruto da he- levemente diferentes”, explica. “A ideia de Ele afirma que Darwin tinha mais inte-
rança de Darwin, tenhamos dado ênfase complexidade irredutível não encontra resse por Lamarck do que se pensa hoje
demais a uma visão do ambiente agindo comprovação empírica”, diz Mellender. em dia, mas contesta a visão de que a
apenas como um filtro. Não está sendo Há quem sustente, porém, que nenhuma epigenética possa levar a uma retomada
fácil aceitar que ele possa ter um papel grande revisão da síntese neodarwinista das ideias do francês. “Já se sabia antes
muito mais importante do que se pensava seja necessária, pelo menos por enquanto. que a expressão do genoma resulta da
anteriormente.” É o que pensa Guaracy Rocha, coordenador interação entre este e o ambiente. Mas as
Para Souza, a mudança que se avizinha do curso de Ciências Biológicas da Unesp mutações nos genes, que podem ou não
deverá ser ainda maior. “O pensamento em Botucatu, que há 20 anos ministra ser inibidas por fatores ambientais, não Cria
clássico via os genomas como sistemas a disciplina de evolução. “A essência do surgiram especificamente para atender a
fechados, é determinista e reducionista: tal pensamento darwinista consiste em afir- nenhuma função. Elas foram produzidas
gene gera tal proteína”, diz. “A epigenética mar que os organismos se modificam, e descartadas pela ação da seleção. E isso
mostra que os sistemas biológicos, mesmo que essas modificações acontecem por não é lamarckismo, é darwinismo”, diz.
tendo uma base genética, são dependentes um processo de seleção que atua entre as Para os defensores de uma revisão da
do contexto ambiental.” Com base nisso, diversas variantes e que essas variações teoria, o problema é que ainda há lacunas
ele defende a adoção de uma descrição não ocorrem com fins específicos. Nada a serem preenchidas, como afirma Souza: Metil

dos organismos na qual eles sejam vistos disso é contestado pelas descobertas fei- “Darwin demonstrou de uma forma muito
como sistemas autoorganizados, de modo tas na genômica e na epigenética”, diz. bonita que existe um processo evolutivo.
que a variabilidade de características dos A questão é se ele é geral. As evidências
seres vivos não se deveria à aleatorieda- da paleontologia demonstram isso. Agora
de, mas a propriedades físico-químicas como isso acontece é que é complicado. Metil
intrínsecas dos organismos. A seleção natural é um mecanismo forte,
mas não de criação de espécies”.
Apesar de proporem Metil
Ponto contra o criacionismo Diante dessa diversidade de visões, é de
É importante ressaltar que tais propostas algumas mudanças aos se esperar, pelos próximos anos, discussões
de revisão crítica das ideias de Darwin em preceitos de Darwin e seus vigorosas entre as várias correntes, que
seguidores, as críticas não Mãe
nada beneficiam adversários do pensamento talvez venham a culminar em uma teoria
dão suporte aos adversários
evolucionista como os adeptos do criacio- do evolucionismo, como os da evolução 2.0. Mas, independentemente
nismo ou do Design Inteligente. Muito pelo adeptos do criacionismo. de qual venha a se mostrar predominante
contrário. Mellender explica que um dos Pelo contrário, elas daqui a 20 ou 30 anos, tanto umas quanto
argumentos do DI é que fenômenos como reforçam as previsões outras, na verdade, são expressões do pro-
o movimento dos flagelos em micro-orga- da seleção natural fundo valor científico da obra de Darwin.

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