Texto por Peter Bartl, da World Socionics Society.
Caio Júlio César foi um aristocrata, político, autor líder militar e Ditador romano atuante nas últimas décadas da República Romana, no primeiro século antes de Cristo. Seu impacto na história ocidental é enorme: ele foi o principal responsável pela incorporação da Gália (França moderna), no mundo mediterrâneo, ou Império Romano, assim como foi indiretamente responsável para a incorporação da Bretanha. O calendário moderno, baseado num ano de 365 dias com um ano bissexto a cada quatro anos e contendo doze meses é essencialmente o mesmo que foi criado à partir de suas instruções. O mês ‘Julho’ foi nomeado em sua honra logo após a sua morte, a partir do nome do seu clã “Julius”. Seu nome de família “César”, se tornou eventualmente sinônimo para ‘imperador’, sobrevivendo até o século XX como ‘Kaiser’ e ‘Czar’ ou ‘Tzar’. Ele também é geralmente lembrado como um dos maiores líderes militares, sendo suas batalhas objeto de estudo até a atualidade. Apesar de pertencer à mais alta nobreza por ancestralidade - o seu clã ‘Julius’ alegou ter direta ancestralidade com Enéias e por conseguinte também ancestralidade da deusa Vênus – a família de César estava razoavelmente empobrecida na época em que nasceu em 100 a.C. No ultracompetitivo, caro e de alto risco mundo da política romana de sua época, isso significa que César teve que adotar meios não convencionais de ação para conseguir sua ascensão política. Especialmente se considerarmos suas circunstâncias financeiras de nascimento, a carreira política de César foi uma carreira extraordinariamente bem sucedida, com sua rápida escalada até o topo desbancando até mesmo os seus contemporâneos que tinham melhores condições financeiras e melhores conexões pessoais. Falando de forma simples, toda a carreira de César progrediu em estratégias que ofereciam grande risco e o resultado era tudo ou nada. Na política eleitoral, isso pode ser demonstrado em grandes gastos maior do que o seu orçamento permitia, o levando a se tornar um devedor quase ao ponto de ser responsabilizado legalmente - mas que era sempre resgatado pelo seu sucesso eleitoral e militar. Falhar, a qualquer momento, significaria falência, desgraça e até mesmo exílio. E então, notoriamente na idade de 37 anos ele apostou tudo para vencer as eleições de Pontífice Máximo, dizendo à sua mãe no dia da eleição que ou ele venceria ou teria que ser exilado. Do mesmo modo, como um líder militar, seu estilo militar era o de colocar ele e seus homens em situações militares bastante complicadas como inferioridade numérica, logística pobre, exploração de territórios desconhecidos/hostis, etc. E prontamente se utilizando de uma astúcia tática genial e improvisação se livrando daquela situação militar desfavorável – também com uma suprema auto confiança em suas habilidades e, algo que ele mesmo chamava de “a sorte de César”. Ao fazer isso, César basicamente reinventou as táticas de guerra em situações em que ele não tinha nenhuma experiência prévia, como na guerra de cerco na Alésia, na guerra urbana em Alexandria ou em batalhas mais convencionais como na batalha de Farsalos. Isso também significou que combatentes mais cautelosos e conservadores em suas táticas de guerra foram sobrepujados por César mesmo em casos em de vantagem tática e numérica. César obviamente confiava na sua percepção tática imediata de improvisação e frequentemente negligenciou o acúmulo de inteligência estratégica, como foi na sua primeira expedição à Bretanha, região da qual ele não tinha quase ou nenhum conhecimento prévio. Isso quase o levou ao desastre já que as marés do Canal da Mancha eram muito mais fortes do que as do mediterrâneo. A busca incessante e talvez até mesmo imprudente busca pelo poder de César, assim como sua habilidade natural de comandar as forças no campo de batalha e usá-las naquele momento imediato de forma decisiva aponta fortemente um F como uma função Valorizada e Forte, sendo de fato uma função do Ego. Isso também é confirmado pela sua total falta de medo fisiológico mesmo em situações muito desvantajosas, como quando ele foi mantido prisioneiro por piratas e tripudiava deles dizendo que ele os crucificaria assim que ele se tornasse livre, e foi o que ele fez. Como líder de homens, César era notório por não se importar em impor disciplina em seus homens sobre forma de regras explícitas: o que ele se importava era com lealdade, obediência, competência e confiança, como a disponibilidade para segui-lo em situações aparentemente irremediáveis. Sua liderança era baseada não apenas em que ele era o seu superior hierárquico e social, mas que ele era melhor do que eles como líder e realmente merecia ser seguido. Isso evidencia que sua liderança era baseada em F+R em vez de F+L. O foco de César em R pode ser evidenciado quando ele se gabava de fazer amizades com chefes gauleses (e reclamava daqueles que não podem ser confiados). Isso pode ser visto também na sua abordagem em relação a inimigos políticos: César era tão confiante na sua capacidade de ganhar a confiança daqueles que ele havia vencido que ele preferia perdoá-los e recebê-los como amigos. A aspiração de César por poder e riqueza, além de ser baseada em operações de alto risco, era também baseada em ignorar convenções e regras, até mesmo leis. Sua abordagem era a de conquistar seus objetivos e só depois se preocupar com tais “detalhes legais”. O problema é que sua contínua ilegalidade o fez estar passível de responsabilização legal por meio de ação penal dos seus adversários – precisamente significando que o único caminho possível era em direção ao topo: mesmo um breve período de tempo fora de cargo significaria que ele seria processado legalmente. Assim como suas quase desastrosas situações militares, houve uma situação pessoal na qual ele se encontrou, talvez, sem perceber, que não deixou nenhuma outra alternativa a não ser apostar todas as suas fichas. Que foi a invasão ilegal da Itália com suas legiões, dizendo “que joguem os dados”, deixando que as coisas acontecessem. Uma controversia histórica é a de se Júlio César sempre planejou ser um líder em Roma (por exemplo, como um líder revolucionário) – ou então, como ele mesmo afirmou - ter se tornado Ditador de Roma por que ou era isso que aconteceria ele teria de encarar sua própria ruína pessoal por endividamento e ilegalidade de suas ações. A primeira interpretação sugeriria que ele fosse algum tipo da Quadra Beta, como um Benito Mussolini (SLE) ou um Vladimir Lenin (SLE), a segunda versão já indica que ele seria da Quadra Gama, em vez de Beta. Tendo chegado (ilegalmente) ao controle total do poder romano através do puro poderio militar, César estava preocupado em legalizar a sua situação, mas ele o fez de modo extremamente pontual, se tornando primeiro Ditador por apenas alguns dias, e então sendo apenas cônsul, e logo após Ditador novamente em uma variedade de situações. Quanto às suas campanhas militares, tudo foi feito de modo improvisado e ajustado de acordo com a situação, com pouca ou nenhuma preocupação com estrutura ou consistência. Isso confirma, junto com as afirmações acima, um foco muito baixo em L. Apesar de estar essencialmente concentrado em concretizar a sua vitória em relação a seus inimigos políticos durante o seu período como Ditador, César se envolveu em uma série de reformas isoladas: a renegociação de dívidas de indivíduos extremamente endividados, uma reforma urbana em Roma, a reforma do então caótico calendário romano (dando início ao calendário moderno), reforma no subsídio de cereais, etc. Todas essas reformas foram implementadas energicamente e em um breve período de tempo, mas como uma de uma série de medidas isoladas focadas em resolver problemas específicos de forma pragmática, não como uma grande “reestruturação” dos fundamentos da sociedade de Roma ou sua constituição. Apesar de que de fato sua situação se tornou essencialmente extra-constitucional, César não demonstrava nenhum preocupação aparente (ou idéia) de como ajustar a constituição de acordo com suas reformas. Na época de sua assassinato seu plano era o de começar outra enorme campanha militar contra a Pártia (Pérsia). O que foi dito acima demonstra um pragmatismo característico de Gama, com nenhuma preocupação, nem mesmo pelo aspecto formal, legal e estrutural das coisas. Júlio César era um homem mais focado, hábil e confiante em assuntos F de ascensão social e de carreira e de explorações e conquistas militares. Mas, de um certo modo desastrosa em seus empreendimentos, em que o a apostas de alto risco eram a regra, tendo César pouca ou nenhuma estratégia ou visão de longo prazo dos acontecimentos. Isso demonstra um foco muito menos em T do que em F. Seu foco em L parece não ter sido existente, seja na sua abordagem em relação às questões militares ou em sua posição legal, ou em qualquer ‘ideologia’ visível (exceto aquela de sua ascensão ao topo). Sua abordagem em relação a P era ambígua: em campanhas militares era bastante precária, mas em posse de poder político ele se expressava de melhor forma. Finalmente, além de ser confiante em sua habilidade de ganhar respeito e confiança dos indivíduos, e sendo reconhecidamente um político perfeito quando se trata de saber se utilizar bem da propaganda e sendo capaz de exercer carisma pessoal quando desejava. Tudo o que foi descrito acima se encaixa bem com o ordenamento funcional do SEE de F1, R2, L4, T5, P6, S7 e E8, além de se encaixar no tema mais geral relacionado a SEEs de independência pessoal e carreirismo improvisado e oportunista. Leituras recomendadas e fontes: “A Guerra das Gálias” (The Gallic Wars), que são os próprios registros de César na Gália, estão disponíveis online em inglês. As biografias de Plutarco e Suetônio sobre ele, relatos de contemporâneos como Cícero e Salusto sobre o período de sua vida. Minha biografia pessoal predileta é a de Adrian Goldsworthy “César, A Vida de Um Soberano”.