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de 14 a 18 de novembro de 2017
ANAIS
www.confaeb.art.br ISSN 2525-880X
Campo Grande/MS - Brasil
DE 14 A 18 DE NOVEMBRO DE 2017
www.confaeb.art.br | Anais 2525-880X
XXVII CONGRESSO NACIONAL DA FEDERAÇÃO DE ARTE/EDUCADORES DO BRASIL
V CONGRESSO INTERNACIONAL DOS ARTE/EDUCADORES
II SEMINÁRIO DE CULTURA E EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL
“Enquanto esse velho trem atravessa...”:
outros caminhos na experimentação e na formação docente em Arte
1. Arte – Estudo e ensino – Brasil – Congressos. I. Lima, Caciano Silva. II. Fernandes, Vera
Lúcia Penzo. III. Associação Sul-Mato-Grossense de Arte Educadores. IV. Federação de
Arte/Educadores do Brasil. V. Congresso Internacional dos Arte-Educadores (5. : 2017 : Campo
Grande, MS). VI. Seminário de Cultura e Educação de Mato Grosso do Sul (2. : 2017 : Campo
Grande, MS).
COMISSÃO ORGANIZADORA
COMISSÃO CIENTÍFICA
Profa. Ma. Aline Sesti Cerutti - UFMS
Profa. Ma. Amanda Siqueira Torres Cunha - UFPR
Profa. Ma. Ana Del Tabor Vasconcelos Magalhães - UFPA
Profa. Dra. Ana Lúcia Gaborim Moreira - UFMS
Profa. Dra. Ana Luiza Ruschel Nunes - UEPG
Profa. Dra. Analice Dutra Pillar - UFRGS
Prof. Esp. Caciano Silva Lima - FCMS
Profa. Dra. Carla Juliana Galvão Alves - UEL
Profa. Dra. Carminda Mendes André - UNESP
Profa. Ma. Christiane Guimarães Araújo - UEMS
Profa. Dra. Clarissa Lopes Suzuki - Instituto Arte na Escola
Profa. Ma. Claúdia Carnevskis Mello - UFAM
Profa. Dra. Constança Maria Lima de Almeida Lucas - UFMS
Profa. Dra. Cristina Maria Susigan Almeida - Mackenzie
Prof. Me. Daniel Bruno Momoli - UNIARP
Profa. Dra. Dora de Andrade Silva - UEMS
Profa. Dra. Lucia Gouvêa Pimentel - UFMG
Prof. Me. Edson Macalini - UNIVASF
Profa. Dra. Eliane Aparecida Andreoli - ASSOAPI
Profa. Ma. Eliane de Fátima Vieira Tinoco - PMU
Profa. Dra. Elsieni Coelho da Silva - UFU
Profa. Dra. Eluiza Bortolotto Ghizzi - UFMS
Profa. Dra. Eneila Almeida dos Santos - UEA
Profa. Ma. Estela Maria Oliveira Bonci - Mackenzie
Profa. Dra. Fabiana Souto Lima Vidal - UFPE
Prof. Dr. Fernando Antônio Gonçalves de Azevedo - UFRPE
Prof. Me. Fernando Freitas dos Santos - SEMED/CG
Profa. Ma. Flávia Janiaski Vale - UFGD
Profa. Ma. Francine Carla Rojas - UFMS
Prof. Dr. Francione Oliveira Carvalho - UFJF
Profa. Dra. Gabriela Salvador - UEMS
Profa. Dra. Gerda Margit Schütz Foerste - UFES
Profa. Dra. Gisela Reis Biancalana - UFSM
Profa. Ma. Gisele Miyoko Onuki - UNESPAR
Profa. Dra. Graziela Correa de Andrade - UFMS
Prof. Dr. Gustavo Rodrigues Penha - UFMS
Prof. Me. Helder Fabricio Brito Ribeiro - UNAMA
Prof. Dr. Isaac Antônio Camargo - UFMS
Profa. Dra. Isabel Maria Carneiro de Sanson Portella - UFRJ
Profa. Dra. Isabela Nascimento Frade - UFRJ
Profa. Dra. Janedalva Pontes Gondim - UNIVASF
Prof. Dr. Jardel Dias Cavalcanti - UEL
Prof. Me. João Marcos Dadico - UFGD
Prof. Dr. José Eliézer Mikosz - UNESPAR
Profa. Ma. Juliana Amélia Paes Azoubel - UFMG
Profa. Dra. Prof. Keyla Andrea Santiago Oliveira - UEMS
Profa. Dra. Lara Seidler Oliveira - UFRJ
Profa. Ma. Laura Bauermann - UFRGS
Profa. Dra. Laura Pronsato - UFV
Prof. Me. Leandro Costa Vieira - UFMS
Profa. Dra. Leda Maria de Barros Guimarães - UFG
Prof. Me. Leonardo Feichas - UFAC
Profa. Dra. Lígia Losada Tourinho - UFRJ
Profa. Dra. Lilian Ucker Perotto - UFG
Profa. Dra. Lívia Marques Carvalho - UFPB
Profa. Dra. Lúcia Maria Salgado dos Santos Lombardi - UFSCar
Prof. Dr. Luis Felipe de Oliveira - UFMS
Prof. Dr. Marcilio de Souza Vieira - UFRN
Prof. Dr. Marcos Antônio Bessa-Oliveira - UEMS
Diagramação
Lennon Godoi
lennon.godoi@gmail.com
_______________________ _______________________
Sumário
Apresentação __________________________________________ 7
Trem do Pantanal _____________________________________ 10
Programação _________________________________________ 11
Oficinas ______________________________________________ 14
Comunicações - ensalamento___________________________ 16
Mesas-Redondas ______________________________________ 35
Comunicações Orais
GT 1 ______________________________________________319
Fundamentos em Artes Visuais,
Dança, Música e Teatro
GT 2 ______________________________________________724
Poéticas em Artes Visuais,
Dança, Música e Teatro
GT 3 _____________________________________________1148
Ensino de Artes Visuais,
Dança, Música e Teatro
de debates, comunicações e ações artísticas e culturais, com vistas a congregar ações que
possibilitem uma produção científica significativa referente aos temas do ensino de arte
na educação básica e no ensino superior.
• Propiciar o diálogo sobre as políticas educacionais, em especial as que estão voltadas
para o Ensino de Arte.
• Propiciar reflexões sobre o conhecimento do ensino de arte no Brasil e na América Lati-
na.
• Debater a formação docente em arte em Artes Visuais, Dança, Música e Teatro.
• Pensar o ensino de arte em espaços formais, informais e não-formais.
• Contribuir para o fomento da expansão de mediação e experimentação artística na con-
temporaneidade.
Considerando a definição temática e os objetivos apresentados, a Comissão Organizadora
previu a organização de 8 mesas-redondas, cada uma com 4 palestrantes (1 de artes visuais, 1
de dança, 1 de música e 1 de teatro). A temática de cada mesa-redonda foi definida a partir das
possibilidades de reflexão sobre outros caminhos para a experimentação e formação docente
em consonância com a letra da música que compõe a temática do evento, e que nos trazem
reflexões sobre caminhos... Caminhos que nos movem, que se modificam, que se estruturam,
caminhos que nos aproximam ou que nos distanciam. Assim, apresentamos a temática de cada
uma: Mesa-redonda 1 – Caminhos da FAEB: ações políticas no ensino de arte (assembleia da
FAEB); Mesa-redonda 2 – Desvelando caminhos: a formação docente em arte; Mesa-redonda
3 – Caminhos cruzados: ensino de arte em espaços formais, informais e não-formais; Mesa-re-
donda 4 – Camiños hermanos: o ensino de arte na América Latina; Mesa-redonda 5 – Caminhos
inesquecíveis: memória e história no ensino de Arte; Mesa-redonda 6 – Caminhos rompidos:
Pensamento descolonial no ensino de Arte; Mesa-redonda 7 – Abrindo caminhos: mediação e ex-
perimentação artística na contemporaneidade; Mesa-redonda 8 – Caminhos e atravessamentos:
perspectivas para pensar o ensino de arte na contemporaneidade.
Acreditamos que a estrutura das mesas-redondas nos permitirá ter um painel significativo
sobre o ensino de arte no Brasil e na América Latina, resguardadas as devidas proporções, per-
mitindo diálogos reflexivos entre práticas e as concepções do ensino de artes visuais, música,
teatro e dança. Essa perspectiva relacional e interdisciplinar apresenta-se como uma necessidade,
sobretudo devido às mudanças nas políticas educacionais que apontam para perigosos rumos
para o ensino de arte, diante da atual realidade no Brasil e na América Latina.
Considerando os objetivos do evento, sua relevância para a comunidade específica no que
tange à licenciatura e ao ensino de arte, além do desenvolvimento epistemológico que se pre-
tende alcançar durante todas as atividades do evento, entre as quais aquelas compartilhadas nas
sessões de comunicação oral, a Comissão Científica apresenta aos participantes a organização
dos Grupos de Trabalho em função de três eixos:
Comissão Organizadora
Trem do Pantanal
(composição: Paulo Simões e Geraldo Roca)
PROGRAMAÇÃO
“Enquanto esse velho trem atravessa...”:
outros caminhos na experimentação e na formação docente em Arte
14 a 18 de novembro de 2017
Local: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Campo Grande - Mato Grosso do Sul
OFICINAS SELECIONADAS
ARTES VISUAIS
A EXPRESSÃO FOTOGRÁFICA COMO PROPOSTA PARA UMA
NOVA PERSPECTIVA AO OLHAR
Mariana Arndt de Souza
15 participantes
A fotografia está presente no cotidiano, porém, será que há uma reflexão neste fazer? Essa expressão traz aparatos sufi-
cientes para a construção de uma nova perspectiva ao olhar, mas necessita estar fundamentada em estudos fotográficos
e de composição. Essa oficina estimula a produção fotográfica partindo de uma reflexão, trazendo bases para que os
professores trabalhem a temática em sala de aula.
DANÇA
PETITS FILMES DE DANÇA
Marcilio de Souza Vieira
26 participantes
A proposição consiste em criar vídeo-danças a partir da captação do aparelho celular como possibilidade de vivência e
criação em dança na/para escola. A vivência prática permitirá aos participantes o exercício interpretativo-criativo, valori-
zando a criação em dança a partir da improvisação como linguagem e possibilidade dramatúrgica em tempo real e virtual
tendo o aparelho celular como dispositivo para a criação de vídeo-dança. Tal prática está dividida em trabalhos em dupla,
em trio e em quadruplo possibilitando criações de partituras coreográficas a partir da improvisação; práticas de composi-
ção e mapas de filmagem; filme corte seco. A proposição teórica parte da apreciação de vídeo-danças, a saber: Serpentine
Dance, Variations on a dance theme, Abacadraba, Cetait bien, Octopus, DV8, Blush Under, Hologram Dance e Versus.
TEATRO
POÉTICAS E MORADAS: PENSANDO O PATRIMÔNIO NA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Bárbara Lopes Henriques
25 participantes
Esta oficina tem como público alvo professores da rede básica de ensino, e tem por objetivo pensar as colaborações da arte
educação à educação patrimonial, subsidiadas por práticas teatrais. Tendo em vista a fragmentação de conteúdos nos am-
bientes formais de ensino, propomos uma ação educativa que integre diversas áreas do conhecimento sob uma ótica poética.
PEDAGOGIA DO TEATRO:
ENTRELAÇAMENTOS DA MEDIAÇÃO TEATRAL
Roberta Cristina Ninin
25 participantes
Vivenciar e refletir sobre procedimentos da mediação teatral e seus desdobramentos no ensino de arte em espaços formais
e não-formais, relacionando artística e pedagogicamente as produções teatrais - ora assistidas ora criadas pelos próprios
participantes da oficina - às elaborações sensíveis e expressivas enquanto espectadores.
MÚSICA
VIVÊNCIA RÍTMICA
Francisco Tiago Simão
20 participantes
O objetivo geral dessa oficina é proporcionar uma atividade musical na linguagem da percussão. Realizar uma vivência
prática tendo o corpo como elemento principal. Desenvolver habilidades motoras, ritmo, conhecimento de timbres cor-
porais, jogos musicais e improvisação. Essa é uma atividade em grupo que visa privilegiar a musicalidade, a noção de
coletividade, cooperação, paciência, desenvolvimento cognitivo, empatia, percepção individual e coletiva, superação,
expressão corporal e também a auto expressão.
COMUNICAÇÕES ORAIS
ENSALAMENTO
Obs: Arquivo atualizado em 27/10/2017, sujeito a novas atualizações
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XQDQiOLVLV\XPGLVFXUVRFUtWLFR/DKLVWRULDSHUPDQHFHODPHPRULDYDGHPDVLDGRUiSLGR/D
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pensamiento de Freire, en la renovada mirada liberadora de la finalidad de la educación en
la contemporaneidad. Las apuestas dialógicas del pensamiento freireano, y de algunos de sus
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seguidores, esa tendencia de la pedagogía ecológica, es decir esa dimensión ecológica de la
escuela que argumenta, por ejemplo, Moacir Gadotti, y que quizá resultase benéfica enlazar
con el concepto de Boaventura de Sousa de ecología de saberes (2010)”.
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PRGDOLGDGHVHQTXHSXHGDGDUVHpVWHHLQFOXVRHQODVLQILQLWDVPRGDOLGDGHVGHSUiFWLFDVRFLDO
GRQGHQRVHDFRVWXPEUDDLGHQWLILFDUVXSUHVHQFLDLUHQVXKDOOD]JR3XHVFRPRDUJXPHQWD
6RXVDODHFRORJtDGHVDEHUHVFRPLHQ]DFRQODDVXQFLyQGHTXHWRGDVODVSUiFWLFDVGHUHODFLRQHV
HQWUHORVVHUHVKXPDQRVDVtFRPRHQWUHORVVHUHVKXPDQRV\ODQDWXUDOH]DLPSOLFDQPiVGH
XQDIRUPDGHFRQRFLPLHQWR
&XDQIXHUWHVHYXHOYHQHVWDVWHQVLRQHVHQHOUHFRQRFLPLHQWRGHVDEHUHVDOSRUWDUOHJDU
UHFRQRFHUHVFXFKDU\GDUVHQWLGRDSDUWLUGHODIXHU]DGHOHGXFDGRUSRUHODUWHTXHVHLQVWDXUD
QRFRPRSRUWDGRUGHOVDEHUVLQRFRPRPHGLDGRUGHVDEHUHVLQVWDODGRVHQHOFRQWH[WRGHOTXH
KDFHSDUWHVXODERUSHGDJyJLFD
(V SRVLEOH TXH DXQ FRQWHPRV FRQ DOJXQRV PRGHORV LQVWDODGRV TXH DSXHVWHQ SRU
SHUVSHFWLYDVPRGHUQLVWDV\FRORQLDOLVWDVGHODHQVHxDQ]DGHODUWHHVWUXFWXUDGDVREUHOH\HV\
SULQFLSLRV TXH RUJDQL]DQ GLVFLSOLQDUPHQWH ORV VDEHUHV WpFQLFRV SUiFWLFRV \ WHyULFRV \ TXH
GHVGHDOOtUHPDUFDQFXUUtFXORVFRQIDVHVUHJXODWRULDVKRPRJHQL]DQWHV\YDVWDJHQHUDOL]DFLyQ
HVDSOLFDGDDODDUWHVHQODHGXFDFLyQVXSHULRUHQHVSHFLDOHQODIRUPDFLyQGHGRFHQWHVGHDUWH
GRQGHDSDUWLUGHXQFRQFHSWRWUDGLFLRQDOGHDUWH\GHPRGDOLGDGHVDUTXHWtSLFDVGHDSUHKHQVLyQ
GH FDUiFWHU SHUFHSWLYR PRUIROyJLFR HVWLOtVWLFR WpFQLFR R KLVWyULFR VH UHIXJLD GH PDQHUD
H[SOtFLWDXQDUtJLGDPDWUL]GHOGHEHUFRQWHQHGRUGHWHPDV\DVXQWRVHVWDEOHFLGRVDSDUWLUGH
KHFKRVILJXUDV\REUDVTXHWUDQVLWDQSRUXQDOtQHD~QLFDGHWLHPSRDYHFHVSRUDFDVRFRQWDQGR
FRQHQFDGHQDPLHQWRGHVXFHVLRQHVRVXSHUDFLRQHV
'HVGHHVWHPDUFRGHUHODFLRQHVHOSURFHVRGHHQVHxDQ]DDSUHQGL]DMHVHHVWUXFWXUDD
SDUWLUGHORTXHIXHREMHWRGHDSUHQGL]DMH\SRUWDQWRJDUDQWL]DXQPRGHORJHQXLQRGHFHUWH]D
GRQGHHOPDHVWURSRUWDODYHUGDG\HOHVWXGLDQWHVXLJQRUDQFLD
+R\ HQ GtD QXHVWUR FDPLQR KD HVWDGR LQWHUSHODGR SRU H[SHULHQFLDV TXH DWUDYLHVDQ
OXJDUHV YLYRV TXH DFWLYDQ RWUDV OyJLFDV SHGDJyJLFDV GRQGH HO VDEHU GHO HVWXGLDQWH \ GHO
PDHVWUR VH XQHQ SDUD DIURQWDU OD LQFHUWLGXPEUH GRQGH HO DSUHQGL]DMH FRQVWLWX\H \D QR XQ
PRGHOR~QLFRGHHQVHxDQ]DVLQRP~OWLSOHGHRUGHQGLDOyJLFRTXHVHDXWRFRQWLHQH\SRUWDQWR
SURYRFDQXHYDVFRQH[LRQHV\UHODFLRQHVDFWLYDQGRORVSHQVDPLHQWRVDUWtVWLFR\HVWpWLFRHQHO
HVWXGLDQWH\HOPDHVWURGHPDQHUDFRQWLQXDGD\FUtWLFD
8QDYLVLyQSRVWPRGHUQDGHODVDUWHVHQODHGXFDFLyQSURSHQGHSRUJHQHUDUFRQGLFLRQHV
GHDJHQFLDPLHQWR\JHVWLyQGHFRQRFLPLHQWRVLWXDGRGRQGHHOUDFLRFLQLRGHORLQFLHUWRGHOR
LQGHWHUPLQDGRGHODGXGDODYDJXHGDG\ODLPSUHFLVLyQVHPiQWLFDFRQVWLWX\HQXQRGHORVPiV
VHJXURVDWULEXWRVGHOOHQJXDMHDUWtVWLFR'RUIOHV(FR/RWPDQ
(VJUDFLDVDODJHQFLDPLHQWR\YDORUDFLyQVRFLDOGHODVDUWHVHQODHGXFDFLyQGHGRQGH
HPHUJHQ FXDOLGDGHV VXVWDQWLYDV TXH SRQHQ GH UHOLHYH OR TXH HQ OD SHGDJRJtD IUHLUHDQD VH
LGHQWLILFDFRPRORLQpGLWRYLDEOHUHVXOWDGRGHODHGXFDFLyQFRPRVLWXDFLyQJQRVHROyJLFD\
GRQGHDIORUDQFRPRUHTXLVLWRVXQDSUHVHQFLDFXULRVDGHORVVXMHWRVIUHQWHDOPXQGR(VJUDFLDV
D HVWD SHUVSHFWLYD TXH GHFLGLPRV DGHQWUDUQRV HQ PRGRV GH FRQRFLPLHQWR GRQGH HO DUWH
WUDVFLHQGHHODFWRGHLQWHUSUHWDUKDFLDODDFFLyQGHDFWLYDUUHFRQRFHU\WUDQVIRUPDUXQDDFFLyQ
WUDQVIRUPDGRUDVREUHODUHDOLGDGXQDE~VTXHGDFRQVWDQWHTXHLPSOLFDLQYHQFLyQ\UHLQYHQFLyQ
\ XQD UHIOH[LyQ FUtWLFD VREUH HO DFWR GH FRQRFHU \ FRPR HO DUWH SURPXHYH HO SHQVDPLHQWR
HVWpWLFR
6HKDQWUDQVIRUPDGRORVSURGXFWRVRDUWHIDFWRVDFRQVWUXFWRVJQRVHROyJLFRVGRQGHOD
SUiFWLFD DUWtVWLFD FRQVWLWX\H H[SHULHQFLDV SOHQDV GH SRVLELOLGDGHV HQ LQWHUDFFLyQ WHUULWRULR
PHPRULDVHLGHQWLGDGVHQWLGRVVLHPSUHHQSURFHVRODHGXFDFLyQDWUDYpVGHODUWHHVREMHWR\
VHFRQFUHWDHQVXKDFHUHQVXFRPSUHQVLyQ\HQVXORFXVHQODGLPHQVLyQGHXQLQpGLWRYLDEOH
DSDUWLUGHWH[WRVGRQGHODSRpWLFD\ODPHWiIRUDFRQVWLWX\HQVXVSURSLRVREMHWRV\QRFRSLDQ
DOJRTXH\DH[LVWHFDUHQWHVSRUHVWDUD]yQGHODGHWHUPLQDFLyQSOHQDGHORVREMHWRVUHDOHV(V
SUHFLVDPHQWHHOHOHPHQWRGHODLQGHWHUPLQDFLyQHOTXHLQGXFHHOWH[WRD³FRPXQLFDUVH´FRQHO
RWUR HQ HO VHQWLGR GH TXH OR LQGXFH D SDUWLFLSDU DFWLYDPHQWH HQ OD SURGXFFLyQ \ HQ OD
FRPSUHQVLyQGHODLQWHQFLyQGHOKHFKRDUWtVWLFR
'HHVWHPRGRODVSUiFWLFDVDUWtVWLFDVLQLFLDQSURGXFFLRQHV´UHDYLYDQODLPDJLQDFLyQ
GHOGRFHQWHGHDUWHHQGRQGHDFFHGHDODYDORUDFLyQGHOFRDXWRUFRSDUWtFLSHGHODFUHDFLyQ
GHREUD7DOHVDUJXPHQWRVUHVXOWDGRVGHXQHQIRTXHGHODUWHGHVGHODVWHRUtDVGHODUHFHSFLyQ
QRSXHGHQGHMDUGHHVWDUSUHVHQWHVHQODHGXFDFLyQSRUHODUWHHQODPLVPDPHGLGDTXHGHVGH
)UHLUHHQSHGDJRJtDUHVDOWDPRVODHGXFDFLyQFRPROHFWXUDGHOPXQGRSDUDVXWUDQVIRUPDFLyQ
(ODUWHVHSUHVHQWDFRPRSRVLELOLGDGGHPRYLOL]DUFUHDWLYDPHQWHODVUDtFHVODWUDGLFLyQ
\HOWHUULWRULRDWHQGLHQGRODOHFWXUDGHOSUHVHQWH(VWXGLDQWH\PDHVWURFRDXWRUHVTXHPHGLDQ
\SURYRFDQ
(ODFWRGHLQWHUDFFLyQGLDOyJLFDGHOHGXFDGRUGHDUWHFRQVXVHGXFDQGRVVHUHDOL]DUi
SRU PHGLR GH XQ FRQWHQLGR GRQGH OD FRDXWRUtD \ OD FRSDUWLFLSDFLyQ HQ OD SHUFHSFLyQ \
HQWHQGLPLHQWR GHO DUWH LPSOLFDUi TXH HO FRQWHQLGR GHO DUWH VH FRQYLHUWD HQ XQ FRQWHQLGR
HQFDUQDGRLQFOXVRGHVGHHOVXSXHVWRGHOHUURUHPRFLyQLQWHQFLyQ\GHFLVLyQWUDQVLWDQKDFLD
ODSUiFWLFDDUWtVWLFDHQPRGRVGHKDFHUQXHYDVUHODFLRQHVPDWHULDOHV'RQGHHODUWHVHKDFHVH
FRQWUDVWD\VHOHHFRPRPHQFLRQD%DUERVD
'HODVWHQVLRQHVTXHHPHUJHQHQORVGLIHUHQWHVHVFHQDULRVSHGDJyJLFRVHQWRUQRDOD
SHGDJRJtDGHODLQFHUWLGXPEUHHPHUJHODSUHJXQWD¢3XHGHHOHUURUUHVXOWDUXQDSODWDIRUPDGH
FRQRFLPLHQWRHQODHGXFDFLyQDUWtVWLFD"
(O SURSRVLWLYR H LQXVXDO HQIRTXH TXH DSOLFD HO DUWLVWD \ WHyULFR XUXJXD\R /XLV
&DPQLW]HUSDUDHVWXGLDUHODUWHODWLQRDPHULFDQRGHODV~OWLPDVGpFDGDVORFRQGXFHDUHYHODU
ODQHFHVLGDGGHXQDSDUDWRFRQFHSWXDOSURSLR\FRQWUDVWDUGHVGHODGLPHQVLyQGHOSHQVDPLHQWR
\ GHO FRQWH[WR ODWLQRDPHULFDQR HQ TXp PHGLGDOR TXHSDUD(XURSDR 1RUWHDPpULFD KD VLGR
HQMXLFLDGR GHVGH OD OyJLFD GHO GLVFXUVR GHO DUWH \ OD HVWpWLFD SDUD /DWLQRDPpULFD HO VHVJR
SROtWLFR\VRFLDOKDVLGRHOFRPSRQHQWHSULPDULRGHHVWUXFWXUDFLyQGHORTXHQRGHMDGHYHU
FRPRDUWH«&DPQLW]HU
(VWD VHUtD XQD PXHVWUD PiV GH FyPR ORV GRFHQWHV SXHGHQ KDFHU HO HVSDFLR GH OD
HGXFDFLyQSRUHODUWHVLJXLHQGRXQUHFRUULGRTXHQRUHVSHWDXQDFDUWRJUDItDGHODVLGHQWLGDGHV
GHORVSDVDMHVFRQVDELGRVGHODUWH\GHORVDUWLVWDVVLQRXQDFDUWRJUDItDGHODUHVLVWHQFLDTXH
JXtD HO WUiQVLWR SRU FDPLQRV LQVRVSHFKDGRV LUUHFRQRFLEOHV SDUD OR TXH WUDGLFLRQDOPHQWH VH
HVWXGLD HQ ORV FXUUtFXORV VREUH DUWH SHUR TXH GHVSLHUWD OD PLUDGD \ OD FRQFLHQFLD GH HVDV
PLUDGDVGHVGHORLPSUHGHFLEOHKDFLDVXHQWRUQRPiVLQPHGLDWR
1XHVWURVFDPLQRVQRSXHGHQGHVFRQRFHUHOSULQFLSLRDUWLFXODGRUHQWUH$UWH\3ROtWLFD
SHUVSHFWLYDVDUJXPHQWDOHVTXHUHEDVDQODVSUiFWLFDVDUWtVWLFDVKDFLDODDVXQFLyQGHODUWHHQOD
HGXFDFLyQFRPRGHUHFKRFXOWXUDODGHQWUDUQRVHQODWHQVLyQTXHSURPXHYHHODFFHVRUHYHODGRU
GHSURYHHGRUGHODYHUGDGKDFLDODSURYRFDGRUDUHODFLyQGHODUWHHGXFDGRUTXHFRPSUHQGHOD
GHPRFUDFLD FXOWXUDO VXEYLHUWH OD FRQFHSFLyQ GH GHPRFUDFLD FXOWXUDO UHVHPDQWL]DQGR
FRQFHSWRV GH DJHQFLDPLHQWR HVWpWLFR LGHQWLGDGHV PHPRULDV H KLVWRULDV D SDUWLU GH OD
HQVHxDQ]DGHODUWHHQODHGXFDFLyQGHVGHSUDFWLFDVDUWtVWLFD\FXOWXUDOHVVLWXDGDVGHLQWHUDFFLyQ
FRQODHFRORJtDGHVDEHUHVFXOWXUDOHV
(V DVt FRPR ORV QXHYRV FDPLQRV HQ FRQVWUXFFLyQ SRWHQFLDQ OD GRFXPHQWDFLyQ \
VLVWHPDWL]DFLyQ D SDUWLU GH OHFWRUHV GH ORV FRQWH[WRV FXOWXUDOHV KDFD OD UHFXSHUDFLyQ GH OD
H[SHULHQFLDHQODVDUWHVGLVSRQHQQXHYDVUHODFLRQHVGHPHGLDFLyQ\DJHQFLDPLHQWRGHQXHYRV
DSUHQGL]DMHV D SDUWLU GH ODV PLUDGDV SURYRFDGRUDV GH HVWpWLFD UHODFLRQDO GLVORFDQGR ORV
FRQFHSWRV GH HQVHxDELOLGDG \ HGXFDELOLGDG SRU DPELHQWHV GH DSUHQGL]DMH SOXUDOHV
LQWHUFXOWXUDOHV\SRWHQFLDGRUHV
&DGD WHUULWRULR WLHQH DJHQWHV WLHQH YR] SURSLD WLHQH GHUHFKRV PRGHOD HVSDFLRV
DXWRFRQWHQLGRVGRQGHHOIUDFDVRVHUtDVXDXVHQFLDUHIOH[LYD/DIRUWDOH]DGHORVQXHYRVFDPLQRV
GH OD HQVHxDQ]D GHO DUWH HV OD DXWRYDORUDFLyQ VLWXDGD D SDUWLU GH LPiJHQHV \ UHIHUHQWHV TXH
PRYLOL]DQ\DEUHQODVLQWHUDFFLRQHVGHVXMHWRVSOXUDOHVHLQWHUFXOWXUDOHVYLYLILFDQGR\DFWLYDQGR
ODPHPRULDGHODFUHDFLyQHQSUHVHQWHDSDUWLUGHPDWHULDV\PDWHULDOHVSOXUDOHVGRQGHHOWHDWUR
OD GDQ]D OD P~VLFD OR YLVXDO \ DXGLRYLVXDO VH YLVOXPEUDQ FRPR HVSDFLRV \ SODWDIRUPDV GH
LQWHUFDPELRDSDUWLUGHODSXHVWDHQYDORUGHQXHYRVFRQWH[WRVWH[WRVHLQWHUWH[WRVHQODVTXH
VHFRQILJXUDQQXHYDVIRUPDVGHH[SUHVLyQGHOGHVDUUROORKXPDQRGHVGHODVSHUVSHFWLYDVGHDUWH
HGXFDFLyQVLQLPSURQWDVSUHGHWHUPLQDGDVSXHVODQXHYDUXWDHVWiDODQGDUVHKDFHKLVWRULD
VLQJXODUDOUHIOH[LRQDUORTXHDFRQWHFHHQODH[SHULHQFLDGHDXODVXYDORUDFLyQ\WUDVIRUPDFLyQ
VRFLDO HVWD HYLGHQFLDGD HQ OD IRUPD GH ORJUDU OD SDUWLFLSDFLyQ \ OD FRDXWRUtD GHO PRGR GH
SURYRFDUQXHYDVFRQH[LRQHVGHODUWHHQODYLGDFRWLGLDQD
*UDFLDV
5HIHUHQFLDV
%RJRWi,QVWLWXWR'LVWULWDOGHODV$UWHV
'RUIOHV*LOOREl devenir de la crítica0DGULG(VSDVD&DOSH6$
75,17$$126'$)('(5$d2'($57(('8&$'25(6'2%5$6,/)$(%
75$0$6'(80$5('(28'26&$1726'((;3(5,Ç1&,$6&20202'2
'(&$572*5$),$'(/87$6(5(6,67Ç1&,$6
/HGD*XLPDUDHV)$(%
6LGLQH\3HWHUVRQ)$(%
5HVXPR
(VWHWH[WRHVFULWRQRFROHWLYRWHPFRPRREMHWLYRUHVVDOWDUDVSHFWRVGDPHPyULDGD)HGHUDomR
GH$UWH(GXFDGRUHVGR%UDVLO±)$(%QHVWHDQRHPTXHVHFRPSOHWDDQRVGHVXDFULDomR
7RPDQGR D PHWiIRUD GD UHQGD GH ELOUR SHUJXQWDPRV 4XHP VmR HVVDV SHVVRDVSULPHLURV
DOILQHWHVTXHGHUDPLQtFLRjWUDPD"4XDORGHVHQKRGHEDVHSDUDTXHDWUDPDFRPHoDVVHDVHU
WHFLGD"4XDLVRVSULPHLURVPRYLPHQWRVTXHGHUDPRULJHPjVSULPHLUDVIRUPDV"&RPRRVILRV
VHHQFRQWUDPHPQyVHDPSOLDPRGHVHQKRLQLFLDO"(SRUILPFRPRHVVDWUDPDVHHQFRQWUD
KRMH"3DUDDFRQVWUXomRGRWH[WRUHFRUUHPRVDPXLWDVYR]HVHQWHQGLGDVDTXLFRPRILRVGHVVD
QDUUDWLYD8PDHVSpFLHGHPDSDGD)$(%WHQWDQGRUHVVDOWDUDVSHVVRDVTXHDIL]HUDPTXHD
ID]HP R HVSLULWR TXH QRV DQLPD DV OXWDV TXH WHPRV HQIUHQWDGR QRVVDV GLYHUVDV QDUUDWLYDV
HQWUHPHDGDVGHDSUHQGL]DJHQVGHGHVORFDPHQWRVGHOXJDUHVGHIDODGHFDPSRVGHDWXDomRGH
PDUFRVUHIHUHQFLDLVHWF1RVVDPHPyULDpQRVVDKLVWyULD
3DODYUDVFKDYH)$(%+LVWyULD0HPyULDV/XWDV3ROtWLFDVHGXFDFLRQDLV&RQVWUXo}HVDUWH
HGXFDWLYDV
,QWURGXomR
“Me gusta pensar que cuando se inventó el arte como la cosa que
hoy aceptamos que es, no fue como un medio de producción sino
como una forma de expandir el conocimiento. (Luiz Caminitzer)
6REUH XPD DOPRIDGD GXUD FRPR EDVH WHPRV GLVSRVWR XP SDSHO GH XP WRP ODUDQMD
TXDVHFRUGHWHUUDEDWLGD$RV SRXFRVWXGRFRPHoDDDFRQWHFHUDSDUWLUGHDOJXQVDOILQHWHV
TXH GHPDUFDP R SDSHO H DR PHVPR WHPSR RULHQWDP R FDPLQKR 3HODV PmRV OLQKDV VmR
FUX]DGDV QXP H[HUFtFLR TXH UHTXHU SUHFLVmR H DR PHVPR WHPSR ILUPH]D H DJLOLGDGH SDUD
ID]HU FRP TXH DV SHoDV FHQWUDLV GHVVDWUDPD SRVVDP GDU IRUPD DR WRGR e DVVLP TXH QHVWH
DUWLJR UHFRUUHPRV j LPDJLQDomR EXVFDQGR HYLGHQFLDU DOJR TXH VH PDWHULDOL]D D SDUWLU GH
WUDPDVGHOLFDGDVVXWLVFRPRDSURGXomRGDUHQGDGHELOUR
7UDGLomR DUWHVDQDO RULXQGD GR 3RUWXJDO DOLDGD D XPD WUDGLomR GH ]RQDV SHVTXHLUDV (VWH WLSR GH UHQGD p
SURGX]LGDSHORFUX]DPHQWRVXFHVVLYRRXHQWUHPHDGRGHILRVWr[WHLVH[HFXWDGRVREUHRSLTXHHFRPDDMXGDGH
)217(,PDJHPSXEOLFDGDSHOR0LQLVWpULRGR7XULVPR
3LQWHUHVW3URGXomRGHUHQGDGHELOURDUWHVDQDWRGRPXQLFtSLRGH5DSRVD0DUDQKmR
3HQVDU QD KLVWyULD GD )HGHUDomR GH $UWH(GXFDGRUHV GR %UDVLO )$(% p SHQVDU
WDPEpP QRV FUX]DPHQWRV H HQWUHFUX]DPHQWRV VXFHVVLYRV RX HQWUHPHDGRV GH ILRV TXH QDV
XUGLGXUDV QDV WUDPDV VH HQFRQWUDP QRVQyVe SHQVDUQHVVHOXJDUGHDo}HVGHWUDPDVTXH
VXUJLXWULQWDDQRVDWUiVXQLQGRSHVVRDVGHVHMRVLQWHQo}HVTXHVWLRQDPHQWRVHLQTXLHWDo}HVQR
FDPSRGD$UWH(GXFDomR
7RPDQGR D PHWiIRUD GD UHQGD GH ELOUR SHUJXQWDPRV 4XHP VmR HVVDV
SHVVRDVSULPHLURV DOILQHWHV TXH GHUDP LQtFLR j WUDPD" 4XDO R GHVHQKR GH EDVH SDUD TXH D
WUDPDFRPHoDVVHDVHUWHFLGD"4XDLVRVSULPHLURVPRYLPHQWRVTXHGHUDPRULJHPjVSULPHLUDV
IRUPDV"&RPRRVILRVVHHQFRQWUDPHPQyVHDPSOLDPRGHVHQKRLQLFLDO"(SRUILPFRPR
HVVDWUDPDVHHQFRQWUDKRMH"
DOILQHWHVHGRVELOURV2SLTXHpXPFDUWmRQRUPDOPHQWHSLQWDGRGDFRUDoDIUmRSDUDIDFLOLWDUDYLVmRSRUSDUWHGD
UHQGLOKHLUD RQGH VH GHFDOFD XP GHVHQKR 1R %UDVLO HVVH VDEHU ID]HU p HQFRQWUDGR HP YiULRV HVWDGRV 3LDXt
&HDUi0DUDQKmR6DQWD&DWDULQDGHQWUHRXWURVHVSHFLDOPHQWHHP]RQDVOLWRUkQHDV
'LDQWH GHVVDV SHUJXQWDV XUGLGRUDV GH KLVWyULD IDODUHPRV GH VXMHLWRV GDV EDVHV
WHyULFDVIXQGDQWHVHGRFRQWH[WRGDpSRFDGHFRPRDFRQWHFHUDPjVSULPHLUDVPRYLPHQWDo}HV
SDUD D IRUPDomR GD )HGHUDomR GH $UWH(GXFDGRUHV GR %UDVLO )$(% H ILQDOPHQWH
SRQWXDUHPRVRVDYDQoRVGHVVDWUDMHWyULD
&KHJDPRV DRV WULQWD DQRV GD )HGHUDomR GH $UWH(GXFDGRUHV GR %UDVLO )$(%
FRPHPRUDGRV HP &DPSR *UDQGH QR ;;9,, &RQ)$(% HP &RQJUHVVR HVWH TXH WHP
FRPR WHPD “Enquanto esse velho trem atravessa...” outros caminhos na experimentação e
na formação docente em Arte8PDWHPiWLFDTXHQRVLPSXOVLRQRXDHVFULWDGRSUHVHQWHDUWLJR
HP TXH WHPRV FRPR REMHWLYR VXEOLQKDU HP UHWURVSHFWLYD QHVVHV WULQWD DQRV GH WUDMHWyULD GD
)$(% SHVVRDVSURIHVVRUHV GH DUWH RX DLQGD µDOILQHWHV¶ H VHXV FDQWRV GH OXWDV FDQWRV GH
YLWyULDVFDQWRVGHUHVLVWrQFLDVHRVHFRVGHVVHVFDQWRVQDDWXDOLGDGH
6DEHPRVTXHQHVVHVWULQWDDQRVD)$(%MiFRQJUHJRXFHQWHQDVGHDVVRFLDGRVDOILQHWHV
RXWURV TXH GHUDP FRQWLQXLGDGH DR SURFHVVR GH WHVVLWXUD GHVVD WUDPD GH OXWDV H UHVLVWrQFLDV
PDV WDPEpP VDEHPRV TXH QRYRV HVWXGDQWHV H SURIHVVRUHV DJRUD FKHJDP H VmR PXLWR EHP
YLQGRVSRLVDWUDPDQmRpIL[DVHPSUHH[LJHQRYRVPRYLPHQWRVQRYRVILRV&RQVLGHUDQGRR
H[SRVWR LQLFLDPRV HVWH WUDEDOKR VLWXDQGR D )$(% GHVGH D VXD FULDomR FRQWH[WXDOL]DQGR R
PRPHQWR SROtWLFR HFRQ{PLFR H HGXFDFLRQDO H LGHQWLILFDQGR RV SULQFLSDLV REMHWLYRV GD
)HGHUDomRGH$UWH(GXFDGRUHVGR%UDVLO)$(%HPTXDQGRIRLFULDGDHQDDWXDOLGDGH
8PDWUDPDTXHVHID]QRHFRPRWHPSRFDQWRVVREUHDFULDomRGD)$(%
eGDLPSUHVFLQGLELOLGDGHGHXPGHEDWHFRQFHLWXDOHGDHVWUXWXUDomRGHIRUoDVTXHGH
DFRUGR FRP ,YRQH0HQGHV 5LFKWHUVXUJHR0RYLPHQWRGH$UWH(GXFDomRQR%UDVLO
8PGHEDWHQHFHVViULRSULQFLSDOPHQWHSHORFRQWH[WRGHFULVHSHORTXDOSDVVDYDDHGXFDomRQR
%UDVLOSHODSURPXOJDomRGD/'%GHHPSOHQDYLJrQFLDGDGLWDGXUDPLOLWDU
2 WHUPR $UWH(GXFDomR TXH Mi YLQKD VHQGR XWLOL]DGR QR kPELWR GR 0RYLPHQWR
(VFROLQKDV GH $UWH 0($ p UHFXSHUDGR QDTXHOH PRPHQWR FRPR IRUPD GH GLIHUHQFLDomR
FRQIRUPH DSRQWD ,YRQH 0HQGHV 5LFKWHU da nomenclatura “educação artística”
utilizada pela LDB H FRP R LQWXLWR GH aglutinar as pessoas com formação nas diferentes
linguagens artísticas em torno de uma bandeira comum: a defesa da qualidade no ensino da
arte e a luta contra a chamada “polivalência”5,&+7(5SJULIRVGDDXWRUD
$R UHYROYHU R SDVVDGR YHULILFDPRV TXH QDTXHOH PRPHQWR GLIHUHQWHV Do}HV IRUDP
HPSUHHQGLGDV QR VHQWLGR GH GHEDWHU TXHVW}HV VREUH WHPDV LPSRUWDQWHV WDLV FRPR DSUySULD
/'% D IRUPDomR GH SURIHVVRUHV GH $UWH D SROLYDOrQFLD $ H[HPSOR GHVVDV Do}HV D
6HPDQDGH$UWHH(QVLQRRUJDQL]DGDSRUXPJUXSRGHSURIHVVRUHVHHVWXGDQWHVFRRUGHQDGRV
SHOD SURIHVVRUD $QD 0DH %DUERVD H SURPRYLGD QD (&$863 HQWUH RV GLDV H GH
VHWHPEURGH
'HDFRUGRFRPRWH[WRHVFULWRSHODSURIHVVRUD$QD0DHHGLYXOJDGRQDHGLomRGH
GH DEULO GH GR MRUQDO Folha de São Paulo2 D 6HPDQD GH $UWH H (QVLQR WLQKD FRPR
REMHWLYRGLVFXWLUVREUH
$UHIRUPD(GXFDFLRQDOGH>TXH@WRUQRXRHQVLQRGDDUWHREULJDWyULRQRJUDX
)RLXPDGHFLVmRTXHDSULQFLSLRHQWXVLDVPRXRVDUWHHGXFDGRUHV(QWUHWDQWRGHSRLV
GH TXDVH XPD GpFDGD GH $UWH REULJDWyULD QD HVFROD SULYDGD H S~EOLFD TXH
VXSRVWDPHQWHDOFDQoDWRGDVDVFODVVHVVRFLDLVD$UWHFRQWLQXDDVHUYLUFRPRPHLRGH
SHUSHWXDomR GD RUGHP VRFLDO YLJHQWH IXQFLRQDQGR FRPR VtPEROR GH GLVWLQomR GDV
FODVVHV SULYLOHJLDGDV %$5%26$ WUHFKR GH UHSRUWDJHP SXEOLFDGD QR MRUQDO )ROKD
GH6mR3DXOR
3RUWDQWR$QD0DH%DUERVDTXHVWLRQDYD
4XH ID]HU SDUD YHQFHU D HVWHUHRWLSLD H D PHGLRFUL]DomR GR HQVLQR GD $UWH" &RPR
OHYDU QRVVDV FULDQoDV D XWLOL]DUHP D IXQomR HVWpWLFD FRPR LQVWUXPHQWR GH PXGDQoD
GH TXDOLGDGH GH YLGD" &RPR OHYDU QRVVRV DOXQRV D VH DSURSULDUHP GD $UWH FRPR
XVXIUXWR LQWURMHWDGR LQGHSHQGHQWH GD SRVVH" &RPR FRQYHQFHU DV DXWRULGDGHV
HGXFDFLRQDLV H QRVVRV FROHJDV GH RXWUDV iUHDV GD LPSRUWkQFLD GR GHVHQYROYLPHQWR
GR SHQVDPHQWR YLVXDO" 3UHFLVDPRV QRV UHXQLU SDUD EXVFDU VROXo}HV %$5%26$
WUHFKRGHUHSRUWDJHPSXEOLFDGDQRMRUQDO)ROKDGH6mR3DXOR
'XUDQWHVXDUHDOL]DomRD6HPDQDGH$UWHH(QVLQRTXHFRQWRXFRPSDOHVWUDVGH3DXOR
)UHLUH $ORtVLR 0DJDOKmHV 1RrPLD 9DUHOD $UDF\ $PDUDO H :DOWHU =DQLQL HQWUH RXWURV
DFRQWHFHXFRQIRUPHDQDOLVD,YRQH0HQGHV5LFKWHUFRPXPDparticipação nunca antes
vista de cerca de três mil professores que debateram os problemas propostos e buscaram
%$5%26$6HPDQDGH$UWHH(QVLQR-RUQDO)ROKDGH6mR3DXOR&DGHUQR,OXVWUDGDGHDEULOGH
)217($FHUYRSHVVRDOGDSURIHVVRUD$QD0DH%DUERVD
soluções5,&+7(5S'HVVHHQFRQWURVHJXLQGRRKLVWyULFRHODERUDGRSRU,YRQH
0HQGHV5LFKWHU
6XUJLXDGHFLVmRGDFULDomRGHXPDDVVRFLDomRHVWDGXDOTXHUHSUHVHQWDVVHRVDUWH
HGXFDGRUHV HP VXDV QHFHVVLGDGHV H DVSLUDo}HV H TXH IRVVH WDPEpP ORFDO SDUD D
GLVFXVVmR H DSHUIHLoRDPHQWR GR HQVLQR GD DUWH )RL RUJDQL]DGR XP 1~FOHR 3Uy
$VVRFLDomR GH $UWH(GXFDGRUHV GH 6mR 3DXOR FRP D ILQDOLGDGH GH FULDomR GD
DVVRFLDomR H HP IRL IXQGDGD D $VVRFLDomR GH $UWH(GXFDGRUHV GR (VWDGR GH
6mR3DXOR$HVS5,&+7(5S
$ LQLFLDWLYD GH FULDomR GD $(63 ORJR WHYH HFRV HP RXWURV (VWDGRV GR %UDVLO
principalmente através das palestras realizadas por Ana Mae Barbosa, conclamando os
professores a se organizar em associações5,&+7(5S1DHVWHLUDGDFULDomR
GD$(63IRLFULDGDHPD$VVRFLDomR1RUGHVWLQDGH$UWH(GXFDGRUHV$1$57(XPD
$VVRFLDomRTXHVHJXQGR)HUQDQGR$$]HYHGRVGWHPVXDKLVWyULD
LQVHULGD QHVWH FRQWH[WR PDLV DPSOR j PHGLGD TXH HVWD DVVRFLDomR QDVFHX QR
PRPHQWR HP TXH VH FULWLFDYD D SURSRVWD RILFLDO GHQRPLQDGD (GXFDomR $UWtVWLFD
1D GpFDGD GH FRPHoRX D VH SHUFHEHU FRP FODUH]D TXH RV SURIHVVRUHV GH DUWH
SUHFLVDYDP GH XPD PHOKRU IRUPDomR H TXH D $UWH QmR HUD XPD PHUD DWLYLGDGH QD
HVFROD$H[HPSORGRTXHYLQKDRFRUUHQGRHP6mR3DXORRVSURIHVVRUHVGHDUWHGR
1RUGHVWHFRPHoDUDPDVHXQLUHPIDYRUGDPHOKRULDGDVFRQGLo}HVGHWUDEDOKRGH
UHVSHLWR SDUD FRP D $UWH QD HVFROD H DVVLP FRPHoDUDP D EXVFDU XPD IRUPDomR
PDLV DSURIXQGDGD 1HVWH FOLPD /DtV $GHUQH MXQWDPHQWH FRP RXWURV SURIHVVRUHV
FULRX QD 3DUDtED 8)3% XP FXUVR GH HVSHFLDOL]DomR HP $UWH(GXFDomR
SDUWLFLSDUDP GHOH SURIHVVRUHV GH YiULDV FLGDGHV QRUGHVWLQDV H HVWHV LQGLJQDGRV
GLDQWH GR DEVXUGR TXH HUD R (QVLQR GD $UWH FRQVLGHUDGD DSHQDV FRPR XPD PHUD
DWLYLGDGH UHVROYHUDP FULDU XPD DVVRFLDomR SDUD GHIHQGHU RV LQWHUHVVHV GD FODVVH
$VVLPVXUJHD $1$57(HP(ODQDVFHXSULPHLURFRPRVHWRU UHJLRQDO TXH
SURSXQKDDSDUWLUGHVWHDFULDomRGHQ~FOHRVHVWDGXDLV3DUWLFLSDUDPGHVWHHQFRQWUR
QR 7HDWUR /LPD 3HQDQWH HP -RmR3HVVRD QR GLD GH IHYHUHLUR GR DQR GH
FRPRUHSUHVHQWDQWHVGRVHVWDGRVQRUGHVWLQRVRVVHJXLQWHVSURIHVVRUHVVySDUDFLWDU
DOJXQV D SURIHVVRUD $QD 0DULD 3RUWR &HDUi &DUORV $OEHUWR 6i 0DUDQKmR
$QW{QLR GH 6RX]D )LOKR 3LDXt 9HUD 5RFKD 5LR *UDQGH GR 1RUWH 7HUH]D
&DUPHP 'LQL] 3HUQDPEXFR 9HUD /~FLD 0DFKDGR 6DPSDLR $ODJRDV 0DULD
'RORUHV&RQ\&DPSRV%DKLD$=(9('2VG
1RPHVPRDQRGHpFULDGDD$VVRFLDomR*D~FKDGH$UWHGXFDomR$*$TXH
FRQIRUPH DSRQWD ,YRQH 0HQGHV 5LFKWHU VHJXLX XP processo inverso ao das demais
Associaçõesque surgiram nas capitais e depois se estenderam para as cidades do interior.
$=(9('2)HUQDQGR$*20RYLPHQWRSHUQDPEXFDQRQDIDVHGRSRUTXr"'LVSRQtYHOHP
KWWSZZZJHRFLWLHVZVLKFDUXVDQDUWHKWPO
As cidades de Bagé, Santa Maria e Rio Grande criaram seus núcleos municipaisHVyHQWmR
foi fundada a AGA como entidade estadual5,&+7(5S
3DUD PLP D $*$ IRL D SULPHLUD SUiWLFDGH FRQVFLrQFLD SROtWLFD TXH HX WLYH $FKR
TXHHVVDIUDVHUHVXPHWXGR'HTXHHXWLQKDTXHVDLUGRPHXHVSDoRUHVWULWRTXHHUD
D HVFROD H SDUWLU SDUD EXVFDU FRQGLo}HV GH WUDEDOKR TXH SXGHVVHP UHDOPHQWH
SURSLFLDU TXH D DUWH IRVVH YDORUL]DGD QD HGXFDomR ( TXH HOD IRVVH SUDWLFDGD SHODV
SHVVRDV QmR Vy QXP QtYHO GR DUWLVWD YDPRV GL]HU H[FHSFLRQDO PDV QR QtYHO
FRWLGLDQRDVVLPOLJDGRjYLGDeHVVDDLGHLDTXHDJHQWHWLQKDTXDQGRDJHQWHFULRX
D $*$ (QWmR HOD HYRFD LVVR HP PLP PXLWR IRUWH XPD FRQVFLrQFLD SROtWLFD
'¶2/,9(,5$3
1RV DQRV VHJXLQWHV QRYDV $VVRFLDo}HV IRUDP FULDGDV HQWUH HODV D $VVRFLDomR GH
$UWH(GXFDGRUHVGR'LVWULWR)HGHUDO$6$(')IXQGDGDHPGHDEULOGHHTXHIRL
IXQGDPHQWDO SRU VXD DWXDomR GXUDQWH RV WUDEDOKRV GD $VVHPEOHLD &RQVWLWXLQWH TXH
FXOPLQDUDPFRPDSURPXOJDomRGD&RQVWLWXLQWHGH5,&+7(5
&RPD6HPDQDGH$UWHH(QVLQRHDFULDomRGHGLIHUHQWHV$VVRFLDo}HVQDGpFDGDGH
GLIHUHQWHV UHXQL}HV IRUDP UHDOL]DGDV GHVVHV HQFRQWURV PXLWRV GRFXPHQWRV IRUDP
HODERUDGRV FRPR IUXWR GRV GHEDWHV RFRUULGRV GXUDQWH HVWDV UHXQL}HV 'HQWUH RV PDLV
LPSRUWDQWHV,YRQH0HQGHV5LFKWHUGHVWDFD
'RFXPHQWR GD $QDUWH GH 'RFXPHQWR GD $HVS GH 0DQLIHVWR GH
'LDPDQWLQDGHGHMXOKRGHTXHUHVXOWRXGRVGHEDWHVUHDOL]DGRVGXUDQWHR,
(QFRQWUR 1DFLRQDO GH $UWH(GXFDomR FRPR SDUWH GR )HVWLYDO GH ,QYHUQR
SURPRYLGRSHOD8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGH0LQDV*HUDLV'RFXPHQWRGR(QFRQWURGDV
$VVRFLDo}HV)81$57(UHDOL]DGRQR5LRGH-DQHLURHP(QFRQWUR(QVLQRGDV
$UWHVHP%UDVtOLDHP&DUWDGH6mR-RmR'HO5H\GR,,(QFRQWUR1DFLRQDOGH
$UWH UHDOL]DGR QR )HVWLYDO GH ,QYHUQR GD 8)0* HP &DUWD 3URWHVWR GH
%UDVtOLD GH GH]HPEUR GH FRQWUD D 5HVROXomR &)( Q 'RFXPHQWR
6tQWHVHGR3HQVDPHQWRGH(GXFDGRUHVH3DUODPHQWDUHVVREUHDPHVPD5HVROXomRH
3DUHFHU%UDVtOLDPDUoRGH0DQLIHVWR$OHUWD$PDUWHGH'RFXPHQWRGH
$UWH(GXFDGRUHVGH5RUDLPDGH'RFXPHQWRGH3RoRVGH&DOGDVGHMXOKRGH
HODERUDGR SRU RFDVLmR GR ;; )HVWLYDO GH ,QYHUQR GD 8)0* 5,&+7(5
S
0XLWRVGHVVHVGRFXPHQWRVFRQIRUPHSRGHPRVREVHUYDUIRUDPHODERUDGRVQRDQRGH
H HP FRQVRQkQFLD FRP RV GHPDLV DQWHULRUHV H SRVWHULRUHV WLQKDP FRPR ILQDOLGDGH
UHTXHUHUWUDQVIRUPDo}HVQRTXHFRQFHUQHDRFDPSRGHHQVLQRGHDUWHVQDOHJLVODomRYLJHQWH
5HLYLQGLFDYDP DLQGD, a extinção dos cursos de Licenciatura Curta e da polivalência, a
criação de uma comissão nacional para a reformulação dos currículos em artH cursos de
Licenciatura plena nas linguagens específicasGHDUWHVYLVXDLVP~VLFDWHDWURHGDQoDcursos
de especializaçãoHGHmestrado nas linguagens específicas5,&+7(5S
(VVHVGRFXPHQWRVHRVGHEDWHVTXHIRUDPEDVHSDUDHODERUDomRGRVPHVPRVQDYLVmR
GH /DtV $GHUQH IRUDP GHVHQYROYLGRV D SDUWLU GD preocupação com a formação do cidadão
brasileiro e os destinos do país nas questões de educação e cultura$'(51(S
(VVHV GRFXPHQWRV VHJXLQGR R SHQVDPHQWR GH /DtV $GHUQH UHLYLQGLFDYDP WDPEpP D
QHFHVVLGDGHGHXPIRUWDOHFLPHQWRGDV$VVRFLDo}HVMiFULDGDVQRSDtVEHPFRPRDFULDomRGH
QRYRV Q~FOHRV H $VVRFLDo}HV HP UHJL}HV RQGHDLQGD QmR H[LVWLDP $'(51( 1HVVH
VHQWLGR GL] ,YRQH 0HQGHV 5LFKWHU D LGHLD GH XPD UHSUHVHQWDomR QDFLRQDO foi se tornando
cada vez mais forte, à medida que os eventos sobre o ensino da arte aconteciam a nível
nacional e mais associações e núcleos estaduais se estruturavam5,&+7(5S
2V HIHLWRV GHVVHV PRYLPHQWRV GH RUJDQL]DomR GRV SURIHVVRUHV GH DUWHV QR %UDVLO
WURX[HUDP WDPEpP D QHFHVVLGDGH GR DVSHFWR GD IRUPDomR FRQWLQXDGD SDUD R FDPSR GD
$UWH(GXFDomR SRLV DR PHVPR WHPSR HP TXH IRUWLILFRX SROLWLFDPHQWH RV DUWHHGXFDGRUHV
GHIODJURXDQHFHVVLGDGHGHIRUPDomRHDSULPRUDPHQWRQDiUHD$VVLPQRLQtFLRGRVDQRVGH
IRLFULDGDQR3URJUDPDGH3yV*UDGXDomRHP$UWHVGD(VFRODGH&RPXQLFDo}HVH$UWHV
GD8QLYHUVLGDGHGH6mR3DXOR(&$863DOLQKDGHSHVTXLVDHP$UWH(GXFDomRFRQVWDQGR
GH'RXWRUDGR0HVWUDGRH(VSHFLDOL]DomR
9HPRVTXHDGpFDGDGHUH~QHGDWDVIDWRVTXHVmRPDUFRVWDQWRGDFRQVWLWXLomR
TXDQWRGRDPDGXUHFLPHQWRGDQRVVDKLVWyULDGD$UWH(GXFDomRQR%UDVLOeQHVVHFHQiULRTXH
HPpFULDGDD)HGHUDomRGH$UWH(GXFDGRUHVGR%UDVLO)$(%8PD)HGHUDomRSHQVDGD
H FULDGD SRU SURIHVVRUHV FRP GLVWLQWDV IRUPDo}HV DOJXQV UHFpPIRUPDGRV QDV OLFHQFLDWXUDV
FXUWDV SURIHVVRUHV TXH YLQKDP WDPEpP GD IRUPDomR RIHUHFLGD QDV (VFROLQKDV GH $UWH
HVSDOKDGDV SHOR %UDVLO HQWUH RXWUDV IRUPDo}HV 0DV TXDLV RV REMHWLYRV GD )$(% QDTXHOH
PRPHQWR"&RPRVHPRGLILFDUDPDRORQJRGDKLVWyULDHRTXHOHYRXDHVVDPXGDQoD"
2 SURIHVVRU $UmR 3DUDQDJXi GH 6DQWDQD WHVWHPXQKD FRPR YLYHQFLRX HVVDV
WUDQVIRUPDo}HV
>@ e LQWHUHVVDQWH OHPEUDU TXH HQWUH R ILQDO GRV >DQRV@ VHWHQWD H LQtFLR GD GpFDGD
VHJXLQWH FRQVROLGRXVH HQWUH RV DUWHHGXFDGRUHV XP FHUWR HVStULWR FRPEDWLYR
PDQLIHVWDGRHPYiULDVIUHQWHVTXHIL]HUDPHPHUJLUXPDSRVWXUDFUtWLFDGHUHS~GLRj
SROLYDOrQFLD2VXUJLPHQWRGD)$(% IDYRUHFHXDRUJDQL]DomRGHVVH PRYLPHQWRR
TXDOQmRVHOLPLWRXDRHVSDoRGDOXWDSROtWLFDFRQWDPLQDQGRDVXQLYHUVLGDGHVDFHUFD
GDXUJrQFLDGDSHVTXLVDLQIOXHQFLDQGRRSRGHUS~EOLFRHDFRQVWUXomRGD/'%DOpP
GH SURYRFDU QRV DUWHHGXFDGRUHV R LQWHUHVVH SHOR DSHUIHLoRDPHQWR SURILVVLRQDO
6$17$1$SJ
$$*$IRLXPHVSDoRGHIRUPDomRSDUD$OLFH%HPYHQXWLTXHDLQGDPXLWRMRYHPTXDQGR
HVWXGDQWHGHJUDGXDomRLQTXLHWDFRPD/'%TXHWUDPLWDYDQR&RQJUHVVRFRPDSRVVLELOLGDGH
GDUHWLUDGDGDDUWHGDHVFRODUHHUJXHD$*$FULDQGRR1~FOHRGH6mR/HRSROGRHVWLPXODQGR
LJXDOPHQWH3HORWDVH6DQWD0DULDSDUFHLUDVLPSRUWDQWHVFRP$OEHUWR&RHOKRH'RQDOG.HUU
-U *R\ 4XHULD FRQKHFHU D HVWUXWXUDGD )$(% H PXLWR UiSLGR DVVXPHFRPR 3UHVLGHQWH GD
)HGHUDomR QR &RQ)$(% HP &DPSLQDV MXQWDPHQWH FRP D 5REHUWD 3XFFHWWL FRPR 9LFH (OD
OHPEUDTXHRTXH³HVWiYDPRVHQIUHQWDQGRHUDDVDtGDGDDUWHQDHVFRODRTXHQRVDOLPHQWDYD
HUD PDQWHU %UDVtOLD DFRUGDGD TXH H[LVWLD SURIHVVRUHV GH DUWH H TXH R HQVLQR GH DUWH HUD
LPSRUWDQWH QD HVFROD´ 8VDYDVH RV PHLRV GLVSRQtYHLV QD pSRFD WHOHJUDPDV FDUWDV H SRU
WHOHIRQHV HWF 1D VXD IDOD $OLFH GHL[D FODUR TXH HVVD SRVWXUD SROtWLFD QDVFLD GH
HQFDQWDPHQWRV H p SRWHQWH SHQVDU QHVVH IDWRU FRPR IRPHQWR j XPD )$(% TXH FUHVFLD QRV
DQRVFRPDFKHJDGDGHJHQWHPDLVMRYHPFRPRDHQWmRMRYHP$OLFHHPXPDMRYHP)$(%
FRPRHODOHPEUDTXDQGRDVVXPLXD)HGHUDomRFRPSOHWDYDDQRVGHH[LVWrQFLD
2TXHSHUFHELHHXQmRWLQKDFODUH]DQDpSRFDHUDTXHDVSHVVRDVPHHQFDQWDYDP
H PH HQFDQWDYDP IRUWHPHQWH FRPR UHIHUrQFLD HP DUWHHGXFDomR H HQJDMDPHQWR
SROtWLFRHXGL]LDSDUD/XFLPDU±HXWHXFKHLURPHHQFDQWDPHLOXPLQDPHLQVSLUD
D0LULDP&HOHVWHDQGHLDQRVREVHUYDQGRHVHJXLQGRRVPRYLPHQWRVGHODQR5LR
*UDQGH GR 6XO DV SHVVRDV VDELDP TXH HX H[SHULPHQWDYD D LPHQVLGmR GRV GHVDILRV
TXHHODSURSXQKDHLVVRHUDWmRSUHVHQWHQDPLQKDYLGDSRUTXHHUDHQFDQWDPHQWR(X
LDD6mR3DXORHVWXGDUFRP0LULDQHODYLQKDDR5LR*UDQGHGR6XOHXDVVLVWLDWUrV
TXDWUR YH]HV D PHVPD SDOHVWUD ± QmR PH FDQVDYD QXQFD WXGR HUD QXWULomR HUD
DTXHFLPHQWRGHLGHLDVHUDIRUWDOHFLPHQWRSDUDROXJDUGHFULDomRQRHQVLQRGDDUWH
(HVVDVSHVVRDVHUDPWRGDVHQJDMDGDVSROLWLFDPHQWHHQWmRIRLQDWXUDOHXVHQWLUTXH
PHX OXJDU HUD DTXHOH SRU TXH KDYLD DXWRQRPLD QmR SUHFLVDYD SHGLU D EHQomR D
QHQKXPD LQVWkQFLD FDSLWDOLVWD DOL WRGDV HUDP GHGLFDGDV RXVDGDV SLRQHLUDV
DPRURVDV H WLQKD FODUH]D GD DomR SROtWLFD WUDPDGD FRP R HQVLQR (QWmR FRPHFHL D
YLDMDU H SURFXUDU DV SHVVRDV QR 5LR *UDQGH GR 6XO HX TXHULD FRQKHFHU TXHP HUD
&OHXVD 3HUDOWD TXHP HUD ,YRQH 5LFKWHU HQWmR LD DWUiV DWp QD FDVD GDV SHVVRDV
FRQKHFL%UDVtOLDDVVLP)XLID]HUXPDHVSHFLDOL]DomRHP8EHUOkQGLDHGHFLGLTXHHX
SUHFLVDYDFRQKHFHU%UDVtOLDHGLYXOJDURUHQDVFLPHQWRGD$*$HDRPHVPRWHPSR
DUWLFXODU FRP D $6$( ') (QWmR HX ILTXHL QD FDVD GD 0DULD &pOLD &HOLQKD DV
3UHVLGHQWHGD)$(%QRVDQRVGH&RRUGHQRXR;;,&RQ)DHEHP6mR/XtVGR0DUDQKmReDWXDO
0HPEURGR&RQVHOKRGD)$(%)217(6LWHGD)$(%KWWSIDHEFRPEUGLUHWRULDVKWPO
3UHVLGHQWHGD)$(%QRVDQRVGH)217(6LWHGD)$(%KWWSIDHEFRPEUGLUHWRULDVKWPO
SHVVRDVWLQKDPHVVDUHGHGHXPDFXPSOLFLGDGHGHXPDSRWrQFLDLQDFUHGLWiYHOTXH
HUDSHUFHELGDQRROKRQmRWLQKDHVWUHOLVPRV0DVHVVHVHQFDQWDPHQWRVHUDSHUFHEHU
TXHHVVDVSHVVRDVHUDPSRWHQWHVSROLWLFDPHQWHTXHHODVHVWDYDPID]HQGRIRUPDomR
GH SURIHVVRUHV PDV TXH HVVD IRUPDomR WLQKD XPD FODUH]D GR OXJDU TXH VH
RFXSDYDFRPRDUWHHGXFDGRUHVHHXDFKRTXHpHVVHROXJDUGD)$(%ROXJDUGDV
DVVRFLDo}HV e XPD FRLVD SDUD VH GLVFXWLU PDLV SRUTXH KRMH R FRQWH[WR p RXWUR D
VLWXDomR H RXWUD DV GLILFXOGDGHV VmR RXWUDVPDV VH HP XPD VLWXDomR HX LGHQWLILFR
DOJXpP GD )$(% RX GH DOJXPD DVVRFLDomR«Mi ILFD PXLWR PDLV SUy[LPR Mi PH
VLQWR HP FDVD SRUTXH D JHQWH UHFRQKHFH D LQTXLHWDomR H RV DFROKLPHQWRV HQWmR
HVVHVDIHWRVFKHLRGHLQWHJULGDGHHLGHQWLGDGHVmRIXQGDPHQWDLV1DPLQKDVHJXQGD
GLVVHUWDomRGHPHVWUDGRGHIHQGLGDHPPXVHRORJLDQRVDJUDGHFLPHQWRVHXWHQKRXP
SDUiJUDIR GHGLFDGR DRV DUWHHGXFDGRUHV GLQRVVDXURV LQFOXVLYH IXL TXHVWLRQDGD
TXDQGR HX LD RSWDU SRU VDLU GD DUWH )LTXHL FRP D SHUJXQWD GRLV GLDV DFRUGDGD HP
PLPIRLTXDQGRHPXPSDLQHORUJDQL]DGRSHOD/XFLDQD/RSRQWHPHHQFRQWUHLFRP
/XFLPDUH0DUFRV9LOOHOD$LYLTXHGHQWURGHPLPDDUWHHGXFDomRJULWDSRUTXHp
SDUWHFRPRRTXHPHFRQVWLWXLHRXYLQGR/XFLPDUIDODUFRQFOXL1mRWHPFRPR
VDLU GH XPD FRLVD TXH HX VRX %(09(187, HQWUHYLVWD FRQFHGLGD D /HGD
*XLPDUDHVHPGHRXWXEURGHJULIRVQRVVRV
5HFRUUHPRVWDPEpPFRPRMiFRQYRFDPRVDSURIHVVRUDHSULPHLUDYLFHSUHVLGHQWHGD
)$(% ,YRQH 0HQGHV 5LFKWHU H $UmR 3DUDQDJXi jV SHVVRDV SURIHVVRUHV Faebianas GH
GLIHUHQWHV JHUDo}HV SDUD QRV DMXGDU D FRPSUHHQGHU H D WHQWDU UHVSRQGHU DV TXHVW}HV
OHYDQWDGDV DVVLP FRQIRUPH DQDOLVD 0DULD GDV 9LWyULDV 1 GR $PDUDO D )HGHUDomR GH
$UWH(GXFDGRUHV GR %UDVLO VH FRQVWLWXL na primeira entidade civil para-acadêmica voltada
para a pesquisa, o ensino, a extensão e as mais diversas ações e experiências dos campos
artísticos- artes visuais, dança, música e teatro- em âmbito nacional $0$5$/ 6,/9$
SJULIRGDDXWRUD
6HJXQGRDSURIHVVRUD/~FLD3LPHQWHO
$ )$(% GHVGH VXD FULDomR FXPSUH IXQo}HV TXH SRGHULDP VHU FRQVLGHUDGDV
SDUDGR[DLV PDV VmR FRHUHQWHV FRP D YLGD GH TXHP D FULRX $ SULPHLUD p GH
FRQJUHJDU SHVVRDV TXH WrP FRPR REMHWLYR FRPXP WUDEDOKDU SHOD $UWH(GXFDomR
1mR XPD $UWH(GXFDomR XQtYRFD GH XPD IDFH RX XPD YHUWHQWH DSHQDV PDV XPD
$UWH(GXFDomR SOXUDO TXH DJUHJXH IRUoDV QD GLYHUVLGDGH H SRVVD DVVLP DEUDQJHU
,VWRDJUHJDFRQIURQWRVLQWHUQRVTXHVmRVDXGiYHLVQDPHGLGDHPTXHKiGLVFXVV}HVH
FRPSDUWLOKDPHQWRV $ VHJXQGD p GH FRODERUDU FRP DV SROtWLFDV S~EOLFDVQRVHQWLGR
GH LQVHULU QR FRQWH[WR HVFRODU R HQVLQRDSUHQGL]DJHP GH $UWH H WHQWDU JDUDQWLU VXD
FRQWLQXLGDGH 3,0(17(/ GHSRLPHQWR FRQFHGLGR D /HGD *XLPDUDHV HP GH
MXQKRGH
2XWURDVSHFWRTXHDSURIHVVRUD/~FLD3LPHQWHOFKDPDDWHQomRpSDUDRWHRUGDOXWDHP
FDGDpSRFDSRLV
3UHVLGHQWHGD)$(%QRVDQRVGH)217(6LWHGD)$(%KWWSIDHEFRPEUGLUHWRULDVKWPO
6H QR LQtFLR GH VXD FULDomR R FRQIURQWR HUD FODUDPHQWH FRP RV yUJmRV
JRYHUQDPHQWDLVSULQFLSDOPHQWHHPUHODomRj/'%TXHHVWDYDHPGLVFXVVmRFRPR
WHPSR WLYHPRV TXH DJLU WDPEpP HP UHODomR D HPSUHVDV SULYDGDV TXH LQYHVWLUDP
QHVVHFDPSR$WHUFHLUDpGHEDWDOKDUFRQVWDQWHPHQWHHFDGDYH]PDLVQHVWHWHPSR
GH JROSHV ± SHOR GLUHLWR j $UWH(GXFDomR GH TXDOLGDGH SROtIRQD GLYHUVD
PXOWLFXOWXUDO H UHVSRQViYHO FRQWUD GHFUHWRV PHGLGDV SURYLVyULDV SURMHWRV GH
HPHQGD j &RQVWLWXLomR TXH SULYDWL]DP FDGD YH] PDLV D (GXFDomR D WRUQDP
IXQGDPHQWDOLVWD QHROLEHUDOLVWD H FRPHUFLDO 3,0(17(/ GHSRLPHQWR FRQFHGLGR D
/HGD*XLPDUDHVHPGHMXQKRGHJULIRQRVVR
2SURIHVVRU-RVp$IRQVR0HGHLURVGH6RX]DGD8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGR3DUiIRLXP
GRVSLRQHLURVQDFULDomRGHDVVRFLDo}HVHVWDGXDLVHIDODGRVHXHQFRQWURFRPD)$(%
0HXSULPHLURHQFRQWURFRPD)$(%IRLHPHP63XPDQRGHSRLVGHWHUPRV
IXQGDGRD$((3$HP%HOpP1DTXHOHVFRPHoRVWtQKDPRVXWRSLDVSUDJPiWLFDVHP
UHGHTXHFRQWULEXtUDPVREUHPDQHLUDQmRVySDUDDUHYDORUL]DomRGRHQVLQRGDDUWH
HP WRGRV RV QtYHLV FRPR FRQWULEXtPRV ILUPHPHQWH GHQWUR GDV QRVVDV
HVSHFLILFLGDGHV SDUD D KLVWyULD UHFHQWH GD DUWH QR %UDVLO 6H RV WHPSRV DWXDLV VmR
QHEXORVRVSDUDDHGXFDomREUDVLOHLUDHPJHUDOHSDUDDDUWHHGXFDomRHPSDUWLFXODUH
VH Mi QmR WHPRV PDLV DTXHOH HQWXVLDVPR MXYHQLO DLQGD VRPRV PRYLGRV SHOR PDLV
SXURHVStULWRGHUHVLVWrQFLDHGHGLFDomR628=$HPGHSRLPHQWRFRQFHGLGRD/HGD
*XLPDUDHVHPGHMXQKR
-RVp$IRQVR0HGHLURVGH6RX]DTXHSDUWLFLSRXGHGXDVGLUHWRULDVVREDSUHVLGrQFLDGH
,YRQH 5LFKWHU H $UmR 3DUDQDJXi DWHQWD SDUD R HVVH HVStULWR TXH
HQJHQGURXHVXVWHQWDD)$(%TXHpRGHVHJXLUPRVOXWDQGR
2SURIHVVRU-RVH0DXUR%DUERVD5LEHLURQRVIDODGHXPPRPHQWRSHFXOLDUTXDQGRDVVXPLXD
SUHVLGrQFLDGD)$(%
&RQWUDGLo}HV FULVHV PXGDQoDV IRUDP VHPSUH RV FHQiULRV HP TXH D )$(% HVWHYH
LQVFULWDGHVGHDVXDJrQHVH$RDVVXPLUFRPRVHXSUHVLGHQWHHPHVWiYDPRV
HP SOHQD HIHUYHVFrQFLD GR JRYHUQR /XOD $SURYHLWDQGR HVWH PRPHQWR GH
HVSHUDQoDVUHDOL]DPRVQR5LRGHMDQHLURR;9&21)$(%FRPXPDSDXWD
GH GHEDWHV VLWXDGD HQWUH GRLV ROKDUHV R SDVVDGR UHFHQWH SRLV HVWiYDPRV
FRPSOHWDQGR DQRV GH H[LVWrQFLD H OXWD YLWRULRVD FRP QRVVD DWXDomR GHFLVLYD QD
LQFOXVmR GD $UWH QD QRYD /'% ± /HL GH 'LUHWUL]HV H %DVHV GD (GXFDomR 1DFLRQDO
H R SUHVHQWH TXH VH DSUHVHQWDYD GHVDILDGRU LQFHQWLYDQGRQRV QD
IRUPXODomR GH QRYRV SHQVDUHV DUWH SHGDJyJLFRV TXH R LQLFLDGR JRYHUQR /XOD
DSRQWDYD QR KRUL]RQWH GDV SROtWLFDV S~EOLFDV (P UHDOL]DPRV QRVVR
&21)$(% HP 2XUR 3UHWR RQGH FHQWUDPRV QRVVD SDXWD GH GHEDWHV QR
9LFH3UHVLGHQWHGD)$(%QRSHUtRGRGHHGLUHWRUGH5HODo}HV,QWHUQDFLRQDLVHQWUHH
)217(6LWHGD)$(%KWWSIDHEFRPEUGLUHWRULDVKWPO
3UHVLGHQWHGD)$(%QRVDQRVGHHDWXDOPHQWHSDUWLFLSDGR&RQVHOKRGH5HSUHVHQWDQWHV
)217(6LWHGD)$(%KWWSIDHEFRPEUGLUHWRULDVKWPO
DSURIXQGDPHQWRGDVTXHVW}HVWHyULFDVPHWRGROyJLFDVHGHSROtWLFDVS~EOLFDVDFHUFD
GRVSURFHVVRVGHHQVLQRDSUHQGL]DJHPQDGLYHUVLGDGH1RDQRGHUHDOL]DPRV
XP HYHQWR VLPEyOLFR HP )ORULDQySROLV HP TXH FHOHEUDPRV QRVVRV DQRV GH
+LVWyULD RQGH DSURYHLWDPRV SDUD KRPHQDJHDU QRVVRV DV OtGHUHV KLVWyULFRV DV
YLVDQGR DILUPDU QRVVD WUDMHWyULD GH OXWDV H LQFHQWLYDU R DSDUHFLPHQWR GH QRYDV
OLGHUDQoDV 1R DQR GH GHFLGLPRV DPSOLDU H GHPRFUDWL]DU QRVVD iUHD GH
GHEDWHVFRPDLQWHULRUL]DomRGR&21)$(%HUHDOL]DPRVQR&DULUL&UDWR±&HXP
HYHQWR GH UHOHYDQWH SDUWLFLSDomR GRFHQWH HP TXH GLVFXWLPRV $UWH(GXFDomR
FRQWHPSRUkQHDQDUUDWLYDVGRHQVLQDUHDSUHQGHUDUWHV3RUWDQWRHPWRGRVHVVHVDQRV
FLWDGRV SURFXUDPRV R GHVDILR GH QRV DQWHFLSDUPRV DV PXGDQoDV QR VHQWLGR GH
SURSRUPRV QRYRV FDPLQKRV SDUD R HQVLQR GH $UWHV DWUDYpV GD RUJDQL]DomR GRV
&21)$(%VHPTXHVHPSUHGHVWDFDPRVDVSUiWLFDVFRPSDUWLOKDGDVHRUHVSHLWR
D GLYHUVLGDGH GH LGHLDV 5,%(,52 HP GHSRLPHQWR FRQFHGLGR D /HGD *XLPDUDHV
HPGHMXQKRGHJULIRQRVVR
1RVVDOHLWXUDQDFRQWHPSRUDQHLGDGHpDGHTXHD)HGHUDomRGHVGHVXDFULDomRSRGH
VHU FRPSUHHQGLGD FRPR XP FROHWLYR GH SURIHVVRUHV GH DUWHV FRP VXDV $VVRFLDo}HV H
5HSUHVHQWDQWHV(VWDGXDLVVyFLRVLQGLYLGXDLVPDVFRPRPDQWHUDFHVDDFKDPDGRGHVHMRGH
HVWDU H[LVWLUPRV HUHVLVWLUPRV MXQWRV"(VVHpXP GHVDILRSUHVHQWHQDVUHIOH[}HVGD$QD'HO
7DERU 9 0DJDOKmHV SURIHVVRUD GD 8)3$ SUHVHQWH HP WRGRV RV PRPHQWRV QDV OXWDV
)DHELDQDV
(X OHPEUR TXH QD PLQKD JHVWmR DV OXWDV HUDP IRFDGDV QD TXHVWmR GD /'% QD
SHUPDQrQFLD H REULJDWRULHGDGH GR HQVLQR GD DUWH WRGDV DV Do}HV HUDP YROWDGDV SDUD
LVVR /HPEUR WDPEpP TXH KDYLD XPD SUHRFXSDomR IL] DWp XPD DSUHVHQWDomR VREUH
LVVR QR &RQIDHE GH &DPSLQDV VREUH TXDO p D GLPHQVmR H[HFXWLYD GD )$(%" &RPR
HVWiDTXHVWmRGR&13-"'DVTXHVW}HVGHLQVFULomRQREDQFR"7HUtDPRVTXHWHUXPD
PHPyULDGHVVHWHPSRHPTXHWtQKDPRVTXHVW}HVGHVVDQDWXUH]DSDUDVHUHPUHVROYLGDV
2XWURDVSHFWRpTXHVHQGRGLUHWRULDDJHQWHILFDYDPXLWRVyVHUHVXPLDjSUHVLGrQFLD
H UHYHU LVVR DR ORQJR GHVVHV DQRV HX SHQVR TXH VHMD QHFHVViULR (Q[HUJR D )$(%
FRPR XPD HQWLGDGH UHDOPHQWH DWXDQWH QHVVDV TXHVW}HV SROtWLFDV HQWUHWDQWR WDPEpP
UHIOLWR TXH DLQGD QmR FRQVHJXLPRV D H[HPSOR GR TXH GL] D $QD 0DH XPD
FRQVFLrQFLDSROtWLFDGDPDLRULDGRVQRVVRVDVVRFLDGRVILFDDLQGDDWUHODGRDGLUHWRULD
SRGHPRV YHU LVVR QDV UHFODPDo}HV IHLWDV QR IDFHERRN VHPSUH WRFDQGR QR TXH D
GLUHWRULDWHPTXHID]HUHVVHPRGHORKLVWyULFRVHPSUHHVSHUDQGRSRUDOJXpPDVYH]HV
DSHVVRDYDLIDODUPDVWHUPLQDQmRFRQWULEXLQGRHPQDGDQDFRQVWUXomRGHVVHID]HU
SROtWLFR0$*$/+(6 HP GHSRLPHQWR FRQFHGLGR D /HGD *XLPDUDHV HP GH
RXWXEURGH
8PODGRGDSUHRFXSDomRGH$QD'HO7DERUIRLUHVROYLGD1DJHVWmRGDSURIHVVRUD$QD
/XL]D 5XVFKHO 1XQHV D VLWXDomR MXUtGLFD GD )$(% IRL UHJXODUL]DGD WHPRV &13- H FRQWD
EDQFiULD $ RXWUD SRQWD GD SUHRFXSDomR SHUPDQHFH FRPR VHU )$(% SDUD DOpP GH XPD
3UHVLGHQWHGD)$(%QRVDQRVGHHDWXDOPHQWHSDUWLFLSDGR&RQVHOKRGH5HSUHVHQWDQWHV)217(
6LWHGD)$(%KWWSIDHEFRPEUGLUHWRULDVKWPO
GLUHWRULD" 4XDQWR DRV DVVRFLDGRV GH IDWRWHPRVTXHVHU )$(%QmR DSHQDVQRPRPHQWRGH
SDUWLFLSDUGR&RQIDHE
2XWUR DVSHFWR GHVVD SHUJXQWD p SHQVDU TXH R FRQMXQWR GH DUWHHGXFDGRUHV WHP VH
GLYHUVLILFDGR HP RXWUDV DVVRFLDo}HV UHODWLYDV j VXDV iUHDV GH IRUPDomR RX GH DWXDomR DUWHV
YLVXDLVP~VLFDWHDWURHGDQoD$VVLPWHPRVD$VVRFLDomR%UDVLOHLUDGH(GXFDomR0XVLFDO
FULDGD HP YLQFXODGD j$VVRFLDomR1DFLRQDOGH3HVTXLVD H3yV*UDGXDomRHP0~VLFD
$1320 H PHPEUR GD ,60( ,QWHUQDWLRQDO 6RFLHW\ IRU 0XVLF (GXFDWLRQ $VVRFLDomR
%UDVLOHLUD GH 3HVTXLVD H 3yV*UDGXDomR HP $UWHV &rQLFDV $%5$&( FULDGD HP
$VVRFLDomR1DFLRQDOGH3HVTXLVDGRUHVHP$UWHV3OiVWLFDV$13$3FULDGDHPHDPDLV
MRYHPGHWRGDVD$VVRFLDomR1DFLRQDOGH3HVTXLVDGRUHVHP'DQoD$1'$FULDGDHP
$OpP GHVVDV DVVRFLDo}HV PDLV HVSHFtILFDV HP IRL DSURYDGR R *UXSR GH 7UDEDOKR
³(GXFDomR H $UWH´ *7 QD $VVRFLDomR 1DFLRQDO GH 3yV*UDGXDomR H 3HVTXLVD HP
(GXFDomR $13(' $QWHV GH VH FRQVROLGDUFRPRXP*7HVVHHVSDoRIRLSUHFHGLGRSRUXP
*(*UXSRGH(VWXGRFULDGRHPMXVWRQRDQRHPTXHD$13('FRPSOHWDYDDQRV
/XFLDQD /RSRQWH UHVVDOWD TXH HVVH HUD ³XP HVSDoR Ki PXLWR WHPSR GHVHMDGR SRU
SHVTXLVDGRUHVDWXDQWHVSULQFLSDOPHQWHHP)DFXOGDGHVGH(GXFDomR
$iUHDGHSHVTXLVDFLUFXQVFULWDjLQWHUIDFH(GXFDomRH$UWHYHPVHDPSOLDQGRQRV
~OWLPRVDQRVQDPHGLGDHPTXHFUHVFHRQ~PHURGHQRYRVPHVWUHVHGRXWRUHVFXMD
IRUPDomR WHP DFRQWHFLGR SULQFLSDOPHQWH HP 3URJUDPDV GH 3yVJUDGXDomR HP
(GXFDomRLQFOXVLYHFRPOLQKDVGHSHVTXLVDHVSHFtILFDV+iWDPEpPXPLQFUHPHQWR
GH*UXSRVGH3HVTXLVDFDGDVWUDGRVQR&13THTXHSULYLOHJLDPGHDOJXPPRGRHVWD
WHPiWLFD 1HVWH VHQWLGR VHQWLDVH Ki PXLWR WHPSR D DXVrQFLD GH XP HVSDoR
HVSHFtILFRSDUDHVWDVGLVFXVV}HVQD$13(G/23217(S
1R VLWH GD $QSHG R *7 DSDUHFH SHOD SULPHLUD YH] QD 5HXQLmR $QXDO HP
&D[DPEX0* QR SHUtRGR GH D GHRXWXEUR GH FRP R WHPD FHQWUDO ³6RFLHGDGH
FXOWXUDHHGXFDomRQRYDVUHJXODo}HV"´2*(³(GXFDomRH$UWH´DSRLRXR;9,,&21)$(%
±&RQJUHVVRGD)HGHUDomRGH$UWH(GXFDGRUHVGR%UDVLO,9&ROyTXLRVREUH(QVLQRGH$UWH
)H]SDUWHGD'LUHWRULDGD)$(%HPFRPRVHJXQGDWHVRXUHLUDHIRLYLFHSUHVLGHQWHQD
'LUHWRULDHP)217(6LWHGD)$(%KWWSIDHEFRPEUGLUHWRULDVKWPO
UHDOL]DGR QD 8)6&8'(6& HP )ORULDQySROLV6& HP PRVWUDQGR R LQWHUFkPELR GRV
SHVTXLVDGRUHVQRVHYHQWRVGDiUHD
7RGDV FXPSUHP XP SDSHO IXQGDPHQWDO QHVVD WUDMHWyULD GR HQVLQR H GD SHVTXLVD GRV
FDPSRVDUWtVWLFRVPDVD)$(%pD~QLFDDUHXQLUWRGDVDViUHDVVREXPPHVPROHPDGDOXWD
SHOD $UWH(GXFDomR $OpP GLVVR D )$(% p ILOLDGD GR ,QWHUQDWLRQDO 6RFLHW\ IRU
(GXFDWLRQWKURXJK$UW ,Q6($ ± IXQGDGD HP H GR &RQVHMR /DWLQRDPHULFDQR GH
(GXFDFLyQSRUHO$UWH&/($
(PXPDUiSLGDUHYLVmRKLVWyULFDREVHUYDPRVTXHGHVGHKiHVSDoRGHGHEDWHVGR
&/($ QR &21)$(% 3DUD OHPEUDU DOJXQV HP SRU RFDVLmR GR ;,;&21)$(% HP
%HOR+RUL]RQWHHP;;,9&21)$(%HP3RQWD*URVVDHP;9&21)$(%
HP )RUWDOH]D (P D GLUHWRULD )$(% EXVFDQGR HVWUHLWDU R GLiORJR H R GHEDWH FRP R
&/($ H DVVLP FRP DUWHHGXFDGRUHVGD$PpULFD /DWLQDSDUWLFLSRXGDHGLomRGR&/($ QD
*XDWHPDOD H DWUDYpV GH VHXV UHSUHVHQWDQWHV /HGD 0DULD GH %DUURV *XLPDUmHV 6LGLQH\
3HWHUVRQ H 0DULD GDV 9LWyULDV 1 GR $PDUDO WHYH RSRUWXQLGDGH GH DSUHVHQWDU D )$(%
GLVFXWLUVREUHDDWXDOVLWXDomRGRHQVLQRGHDUWHVQR%UDVLOHGLVFXWLUVREUHDQHFHVVLGDGHGH
DPSOLDU R GLiORJR FRQVLGHUDQGR R HQVLQR GH DUWH QD $PpULFD /DWLQD 'HVWD HGLomR
SDUWLFLSDUDP RXWUDV )DHELDQDV FRPR $QD 0DH %DUERVD H 5HMDQH *DOYmR &RXWLQKR
FRQVHOKHLUDV GR &/($ /XFLPDU %HOOR )UDQJH H 0LULDQ &HOHVWH 0DUWLQV 3DUD R ;;9,,
&21)$(%SHQVDPRVHPXPDPHVDGR&/($FRPRPHVPRSURSyVLWRFRQKHFHUPDLVVREUH
RHQVLQRGHDUWHVDVSHVTXLVDVRHVWDGRGRHQVLQRGHDUWHVQD$PpULFD/DWLQD9HPRVTXHD
FRQWHPSRUDQHLGDGH DSUHVHQWD XP SDQRUDPD PDLV FRPSOH[R HP UHODomR DRV PRYLPHQWRV
DVVRFLDWLYRV TXH H[LJH GH QyV P~OWLSORV SHUWHQFLPHQWRV H WUkQVLWRV GLYHUVLILFDGRV VHU
DVVRFLDGRGD$QSDS)$(%,Q6($H&/($SRUH[HPSOR
$QD /XL]D 5XVFKHO 1XQHV SDUWLFLSD GD )HGHUDomR GHVGH TXH IRL FULDGD )RL GD
'LUHWRULDGD1~FOHR5HJLRQDOGH$UWH(GXFDomRGDFLGDGHGH6DQWD0DULD56MXQWRFRP/LD
&HFKHOOD $FKXWLH %HDWUL] 3LSSL 0HPEUR DVVRFLDGD GD $*$56 GHVGH VXD FULDomR e QD
$QD0DH%DUERVDIRLSUHVLGHQWHGR,16($HQWUHRVDQRVGHD
/HGD*XLPDUmHVDWXDOSUHVLGHQWHGD)$(%IH]SDUWHGR&RQVHOKR0XQGLDOGR,Q6($HPD
3UHVLGHQWHGD)$(%QRVDQRVGHHYLFHSUHVLGHQWHHP5HSUHVHQWDQWHGD)$(%QR
&RQVHMR/DWLQR$PHULFDQRGH(GXFDFLyQSRUHO$UWH&/($HPHPEURGR&RQVHOKRGH5HSUHVHQWDQWHGD)$(%
QRSHUtRGRD)217(6LWHGD)$(%KWWSIDHEFRPEUGLUHWRULDVKWPO
DWXDOLGDGH YR]TXH H[SUHVVD WULOKDV WHFLGDV GH ILRV H HQWUH ILRV GDVWUDPDV GHVVH FRQWH[WR
KLVWyULFRGDGLUHWRULDGD)$(%TXHHODVHSRVLFLRQD
4XDQGRDVVXPLDGLUHWRULDGD)$(%GHQRPRPHQWRQmRLPDJLQDYDR
FRQWXUEDGRSHUtRGRTXHWHULDD)$(%SDUDWULOKDUWHFHUHUHWHFHUDWUDPDMiWHFLGDH
HP SURFHVVR 8PD LQWHQVDOXWD SROtWLFD TXH QXPD FRQFHSomR GHPRFUiWLFD H
FRODERUDWLYD D GLUHWRULD SHUFHEHX TXH PDLV XPD YH] D )$(%
HQIUHQWDULDSROLWLFDPHQWHDo}HVJRYHUQDPHQWDLVGLDQWHGRFRQWH[WRDWXDOHVHSURSRU
D FRODERUDU FRP DV SROtWLFDV S~EOLFDVH PDQLIHVWDU D SHUPDQrQFLD GR GLUHLWR DR
HQVLQR H DSUHQGL]DJHP GDV $UWHV QR FRQWH[WR HVFRODU FXMDV FRQTXLVWDV KLVWyULFDV
HVWmRDH[LJLUFRQWLQXLGDGHVHUXSWXUDVSDUDXPDILQDPHQWRHPFRQVRQkQFLDFRPRV
DYDQoRV QHFHVViULRV5HOHPEUR GR UHFHQWH WDPDQKR GR HPEDWH TXH D )$(% VH
HQYROYHXHIRLµHQYROYLGD¶GLDQWHGRVGHVFDODEURVSURSRVWRVSHODVSROtWLFDVS~EOLFDV
HPWRGDVDVVXDVP~OWLSODVGLPHQV}HV'HVWDFRVHQVLYHOPHQWHRVLJQLILFDGRTXHIRLD
DJUHJDomRHSDUWLFLSDQWHGRVDUWHHGXFDGRUHVSDUDFRODERUDUFRPDVTXHVW}HVTXHVH
DSUHVHQWDUDPSDUD HQVLQR GDV$UWHV QDHVFRODH QDVXQLYHUVLGDGHV$)$(%HVWDYD
HP DOHUWD H HQYROYLGD FRPSURPHWLGD UHVSRQVDYHOPHQWH 4XDQGR D WUDPD
SHQViYDPRV HVWDYD TXDVH WHFLGD RXWURV QyV D QRV GHVDILDU H VHJXLU WHFHQGR 1RV
GHSDUDPRV TXDVH TXH FRQFRPLWDQWHPHQWH FRP PXLWDV IUHQWHV
LQVWLWXFLRQDOL]DGDVSURPRYHQGR UHGLPHQVLRQDPHQWRV GDV 3ROtWLFDV 3~EOLFDV GD
(GXFDomR 7RGDV WHQFLRQDYDP H DLQGD WHQFLRQDP D TXHVWmRGH FRQFHSo}HV H
FRQKHFLPHQWRGRFDPSRGDÈUHDGDV$UWHVHVHXHQVLQRQDRUJDQLFLGDGHPDLVDPSOD
H FRPSOH[D GDV SROtWLFDV S~EOLFDV GD (GXFDomR TXH SRU GHFRUUrQFLD HQWURX HP
TXHVWmRRHQVLQRGDV$UWHVQDVGLVFXVV}HVGH3ROtWLFDV3~EOLFDVSDUDXPVLVWHPDGH
(GXFDomRHQmRPHQRVLPSRUWDQWHVTXHHUDPR3ODQR1DFLRQDOGH(GXFDomR31(
GLVFXVVmR H FRQVWUXomR GRV 3ODQRV (VWDGXDLV GH (GXFDomR 3((
1RV PRELOL]DPRV FRP D SDUWLFLSDomR GRV UHSUHVHQWDQWHV GD )$(% QDV
DXGLrQFLDVS~EOLFDVQRVHVWDGRVHHPHVWXGRVGDUHDOLGDGHDWXDOGRHQVLQRGDVDUWHV
HP FDGD HVWDGR SURSRVWR SHOD 'LUHWRULD H DSUHVHQWDGRV QR &RQ)$(% HP
)RUWDOH]D H QRYDPHQWH QR &RQ)$(% HP 5RUDLPD R GHEDWH SHUPDQHQWH GD
%DVH 1DFLRQDO &RPXP &XUULFXODU ± %1&& HP H FRP D UHDOL]DomR GH
HVWXGRVFRPSDUWLFLSDomRGHSURIHVVRUHVGH$UWHV9LVXDLV'DQoD0~VLFDH7HDWUR
FRRUGHQDGR SHOD GLUHWRULD GD )$(% H DSUHVHQWDGR QR &RQ)$(% GH HP
)RUWDOH]D&( $ SDUWLFLSDomR QD GLVFXVVmR GDV QRYDV 'LUHWUL]HV &XUULFXODUHV
1DFLRQDO SDUD D )RUPDomR LQLFLDO H FRQWLQXDGD GRV SURILVVLRQDLV GR 0DJLVWpULR GD
(GXFDomR%iVLFD'&1VGDVFRQFHSo}HVHRVGHVDILRVDSUHVHQWDGRVSDUDRV
&XUVRV GH /LFHQFLDWXUD QR SDtV FXUVRV GH $UWHV 9LVXDLV 'DQoD 0~VLFD H 7HDWUR
$LQGD HQIUHQWDPRV D DPHDoD GH H[FOXVmR GHVVDV iUHDV QR 3URJUDPD 3,%,' 3RU
LQIOXrQFLDGD%1&&KRXYHDWHQWDWLYDGHH[FOXLUDViUHDVGDVDUWHVHPHGLWDODEHUWR
LQVHULQGRDVDUWHVFRPRSUDWLFDVHGXFDWLYDGDiUHDGDV/LQJXDJHQVHSRUGHFRUUrQFLD
QmRPDLVKDYHULDFRRUGHQDGRUHVGDVÈUHDVGDV$UWHV$VFDUWDVGH0DQLIHVWDomRSHOD
)$(%HSHOR)yUXPQDFLRQDOHUHJLRQDLVGR3,%,'HDXGLrQFLDS~EOLFDQD &kPDUD
GRV 'HSXWDGRV IRL UHYRJDGR R SUHVHQWH HGLWDO SXEOLFDGR 7LYHPRV RV&RQ)$(%V
H RUJDQL]DGRV SHOD )$(% H ,(6 SDUFHLUDV 1HVWHV HYHQWRV QmR
KDYLD RXWUD SRVVLELOLGDGH VHQmR D GH WHU FRPR WHPiWLFD DV³3ROtWLFDV 3~EOLFDV H R
HQVLQRGDV$UWHV9LVXDLV'DQoD0~VLFDH7HDWUR´1HVVHFRQWH[WR$)$(%QmRVH
DEDORXH FRPR HP RXWURV PRPHQWRV KLVWyULFRV IRL D OXWD FRP Do}HVH HVWUDWpJLDV
SROtWLFDV TXH GHPDUFRX PXLWRV GLiORJRVH HPEDWHV GH LGHLDV H GHFLV}HV FRP
LQWHUYHQo}HV QRV yUJmRV JRYHUQDPHQWDLV FRORFDQGR D 'LUHWRULD H DVVRFLDGRV HP
HVWDGRGHYLJLOkQFLDSHUPDQHQWHFRPRVDUWHHGXFDGRUHVGR%UDVLOHQFRUDMDQGRXP
FROHWLYR FRODERUDWLYR H[SDQGLGR FRP R &RQVHOKR GD 'LUHWRULD GD )$(% RV
5HSUHVHQWDQWHV GD )$(% HP FDGD (VWDGR LQVWLWXtGR H DSURYDGR HP QR
&RQ)$(% DV DVVRFLDo}HV GH DUWH (GXFDGRUHV UHJLRQDLV H RV )yUXQV GH
&RRUGHQDGRUHV GRV &XUVRV GH /LFHQFLDWXUDV HP $UWHV 9LVXDLV 'DQoD 0~VLFD H
7HDWUR GHVVH LPHQVR %UDVLO (VWDSDUWLFLSDomR H D DJUHJDomR GHVVHV )DHELDQRV DV
SDUFHLURVGHOXWDTXHIRUDPHVmRPHGLDGRUHVHSURWDJRQLVWDV±UHHQFDQWDUDPDDomR
SROtWLFDGHSDUWLFLSDomRHQmRQRVFXUYDPRVGLDQWHGDVOXWDVHGRVGHVDILRV5HVVDOWD
VH DLQGD R FRQYLWH D WRGDV DVVRFLDo}HV FLHQWLILFDV GH SHVTXLVDGRUHV HP DUWHV HGD
HGXFDomR HP DUWHV SDUD FRPSDUWLOKDPHQWRV H FRUHODomR GH IRUoDV QD WHVVLWXUD GD
OXWDFRPPXLWDUHVLOLrQFLDSRLVFRPSUHHQGLDVHTXH QmRVHULDIiFLOHQDHVSHUDQoD
HVWiYDPRV DV $VVRFLDo}HV $13$3 $%(0 $1'$ ( $%5$&( H IL]HUDP
SUHVHQWHV QXPD OXWD FRQMXQWD GH IRUoDV SROtWLFDV DR GLiORJR H QD LQWHQomR GH
FRODERUDU QR HQIUHQWDPHQWR HP WHPSRV GH PXGDQoDV GDV 3ROtWLFDV 3~EOLFDV H RV
GLOHPDV H Do}HV QD FRQWHPSRUDQHLGDGH HP UHODomRDR HQVLQR GDV $UWHV 9LVXDLV
'DQoD 0~VLFD H 7HDWUR )RUDP HVWXGRV H SRVLo}HV IXQGDPHQWDLV SRU FRPLVV}HV H
GLVFXVVmR HP JUXSRVRUJDQL]DGRV SHOD )$(% WHQGR HP YLVWD R FRQWH[WR KLVWyULFR
TXH DLQGD HVWDPRV YLYHQGR HP Mi YLYLGRV HP RXWURV WHPSRV H RXWUD YH] D
)$(%HVWDYDSURQWDSDUDRGLiORJRHDEXVFDGHDOWHUQDWLYDVHPWHPSRVGHJROSHDR
GLUHLWRDV$UWHVHDV &XOWXUDVQDHVFRODGLUHLWRLQDOLHQiYHODVVHJXUDGRSHOR(VWDGR
'HPRFUiWLFRGH'LUHLWRHPTXHD$UWHFRPRXPGRVSULQFtSLRGD&RQVWLWXLomRGH
HP TXH WUDJR QD OHPEUDQoD TXDQGR HVWLYH SUHVHQWH FRP XPD FDUDYDQD GD
)$(% SDUWLFLSDQGR QD $VVHPEOpLD 1DFLRQDO &RQVWLWXLQWH QD &kPDUD GRV
'HSXWDGRVGHPDUFDQGRDVUHLYLQGLFDo}HVGRVDUWHHGXFDGRUHVDVHUFRQWHPSODGDV
QD &DUWD 0DJQD GH $ OXWD H D FRQTXLVWD GD DSURYDomR GR 3URMHWR GH /HL
GH] DQRV IRL SHOD LQFDQViYHO OXWD GD 'LUHWRULD GD )$(% IRUDP GRLV
DQRV H DOWHURX D /'% 1 VHQGR VDQFLRQDGD SHOD 3UHVLGHQWH 'LOPD
5RXVVHII VDQFLRQDGD HP PDLR GH D /HL Q DOWHUDGR D
GR $UW GD /'% HP YLJRU $ FRQTXLVWD GD VROLFLWDomR GD )$(% GD
DOWHUDomR GD GHQRPLQDomR GH iUHD GH DYDOLDomR GD &$3(6 DSURYDGD
HP GD GHQRPLQDomR GD ÈUHD 0~VLFD$UWHV SDUD D
GHQRPLQDomR DWXDO GH ÈUHD GH $UWHV &$3(6 3RUWDULD Q $VVLP p
SRVVtYHOSHUFHEHURWDPDQKRWHFLGRQHVVDVWUDPDVGHPXLWDVIUHQWHVHHPFDGDXPD
HVWDYDOiDGLUHWRULDQmRSDUDQHJDULQFDQViYHOQDOXWDSROtWLFDGD)$(%FRPWRGDV
DVDVVRFLDo}HVHUHSUHVHQWDomRQDFLRQDOGRVDUWHHGXFDGRUHVGR%UDVLOGRDSRLRGR
&OHDH,16($$VOXWDVQmRDFDEDUDPHH[LJHPXPDVLVWHPDWL]DomRGDVFRQTXLVWDV
SHUGDV D DFKDGRV GDV Do}HV WHFLGDV ±QD WHVVLWXUD GR SRVVtYHO VHP SHUGHU DV
HVSHUDQoDV *UDWD DRV DUWHHGXFDGRUHV SHODV OXWDV GRV DQRVGD )$(% YDPRV
VHJXLQGR 586&+(/ HP GHSRLPHQWR D /HGD *XLPDUDHV GH RXWXEUR GH
*ULIRGDDXWRUD
$IDODGH$QD/XL]DFRUURERUDRTXHHQFRQWUDPRVQR%ROHWLP)$(%HPUHODomR
jVDUWLFXODo}HVGD)$(%HGHPDLVDVVRFLDo}HVHPSUROGDOXWDGRHQVLQRGHDUWHQR%UDVLO1D
FRQVWUXomRGD%DVH1DFLRQDO&XUULFXODU&RPXPD%1&&±IRLQHFHVViULRUHXQLUIRUoDVSDUD
TXHDVQRVVDVYR]HVSXGHVVHPH[LVWLUQRSURFHVVR
HVWHYHDUHODomRGD%1&&FRPDYDORUL]DomRGDIRUPDomRHVSHFtILFDGRVSURIHVVRUHV
QDV OLQJXDJHQV GDV $UWHV 9LVXDLV 'DQoD 0~VLFD H 7HDWUR )RUDP PXLWDV DV
FRQWULEXLo}HVDPSODVDVGLVFXVV}HVHSURIXQGDVDVDQiOLVHVHUHIOH[}HV'DVFHQWHQDV
GH HPDLOV WURFDGRV SHOD GLUHWRULD H VyFLRV DWp DV WUDWDWLYDV QR ;;9 &RQIDHE
&RQJUHVVRGD)HGHUDomRGH$UWH(GXFDGRUHVGR%UDVLOSDVVDQGRSHORJUXSRIHFKDGR
GR)DFHERRN)$(%%1&&LQDXJXUDGRHPSDUDIRPHQWDURPDWHULDOSDUD
DPHVDGR&RQIDHEVREUHRWHPD2SURFHVVRVXEVLGLRXDYLVmRHPRELOL]RXD)$(%D
FRQVLGHUDU DV OLPLWDo}HV GD IHUUDPHQWD GH FRQVXOWD H D VROLFLWDU DR 0LQLVWpULR GD
(GXFDomRSDUWLFLSDomRQDIRUPDGHFRQVWUXomRFROHWLYDGRWH[WRGD%1&&SDUDD$UWH
QDVXDYHUVmRGHILQLWLYD%2/(7,0)$(%S
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causa certa5,&+7(5S
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Resumo
Os cursos de Licenciatura em Música, assim como qualquer outra licenciatura, têm três anos para se
adaptar à Resolução N.2, de 1º de Julho de 2015, a contar da data de sua publicação. Muitas são as
concepções e desafios propostos para repensar a formação dos profissionais da educação, destacando-
se a colaboração interdisciplinar como solução para se ultrapassar as fronteiras disciplinares. Assim,
torna-se imprescindível buscar bases teóricas e metodológicas para que seja possível elaborar
programas curriculares para os cursos de licenciatura em música com uma abordagem integrada de
resolução de problemas no domínio do ensino e da pesquisa. Nesse sentido, a Metodologia da
Problematização e a Aprendizagem Baseada em Problemas podem ser alternativas como metodologias
de ensino e organização curricular, respectivamente. Importante destacar os conhecimentos inerentes à
profissão docente, isto é, o conhecimento pleno da matéria, no caso, a música e o conhecimento
pedagógico do conteúdo. Além disso, os modelos de formação que têm sido adotados no ensino
superior apresentam características específicas nos modos de organizar os conhecimentos musicais e
pedagógicos, resultando, assim, em diferentes perfis profissionais: músicos, arte-educadores e
pedagogos com ênfase em educação musical. As diferentes concepções filosóficas dadas à música
também são pontos de partida para se compreender os processos de formação e profissionalização do
professor de música.
Palavras-chave: Modelos de formação. Conhecimento profissional. Modos de aprender e ensinar.
Introdução
Falar sobre formação docente em música me remete a pensar em vários temas que
poderiam subsidiar reflexões para desvelar alguns caminhos. Um deles seria falar sobre a
escola, pois falar sobre formação de professores2 é pensar em primeiro lugar na escola como
espaço de atuação profissional. Os conhecimentos profissionais e os modelos de formação são
temas que têm ocupado um lugar privilegiado em meus estudos, pois considero fundamental
compreender os objetivos de um curso de formação docente e suas perspectivas curriculares.
Assim, irei apresentar a relação entre conteúdo e pedagogia na formação do professor de
música e as características dos cursos de Licenciatura em Música concebidos em diferentes
1
Doutora em Educação – Educação Musical pela Universidad del País Vasco. Professora Associada no curso de
Licenciatura em Música e Programas de Pós-Graduação, Mestrado em Música e Mestrado em Artes, do Centro
de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Líder e pesquisadora do Grupo de Pesquisa
Educação Musical e Formação Docente (CNPq). E-mail: teresa.mateiro@udesc.br.
2
Utilizarei o genérico masculino “professor” para me referir a ambos os sexos, estando ciente que essa decisão
poderá despertar polêmicas.
momentos históricos. Por fim, falarei sobre a aprendizagem a partir de problemas como uma
alternativa para a formação docente, dando exemplos a partir do projeto de pesquisa que
coordeno.
Semana passada, uma aluna que concluiu, recentemente, o curso de Licenciatura em
Música, comentou quase em um ato de confissão: “eu tenho, assim, uma aversão à escola,
tenho medo, não quero ter de enfrentar alunos me desafiando e, ainda, ter um salário ruim”.
Fiquei sem palavras e me pus a pensar em argumentos como: espaço público e democrático,
espaço social de reprodução de ideologias, tempo e lugar para o conhecimento em prol do
conhecimento, modelos de escolas, contexto e momento histórico como fatores
determinantes, a educação e a utopia de Paulo Freire.
Defender a escola soa, nos dias de hoje, um tanto fora de moda, pois a crítica à escola
tornou-se um lugar comum. Entretanto, o ataque há escola é de longa data, como afirmam
Masschelein e Simons (2015), pois sempre houve tentativas de domar a sua dimensão
democrática. Escolas continuam sendo construídas e os programas de formação de
professores têm estado em alta. A última Resolução do CNE (CP Nº2) entrou em vigor em
julho de 2015 e com uma significativa alteração na carga horária mínima das licenciaturas que
passou de 2.800 para 3.200 horas. Além disso, outros desafios estão postos para repensar a
formação dos profissionais da educação, destacando, entre eles, a colaboração interdisciplinar.
Os cursos de Licenciatura em Música, assim como qualquer outra licenciatura, têm
três anos para se adaptar à Resolução N.2, de 1º de Julho de 2015, a contar da data de sua
publicação. Os Projetos Pedagógicos dos Cursos deverão considerar também as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Básica (Resolução Nº 4/2010), as Diretrizes
Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Música (Resolução CNE/CES Nº 2, de
8/2004) e o Plano Nacional de Educação (Lei Nº 13.005/2014). O corpo docente dos diversos
cursos de licenciatura está revendo os programas curriculares vigentes a fim de elaborar novas
propostas para atender a nova resolução. Conhecer os diversos modelos de formação é uma
forma de compreender a construção das concepções que temos hoje acerca da seleção e
organização dos conteúdos, assim como dos processos de ensino e aprendizagem. Parece-me
que o maior dilema está entre o conhecimento musical e outros conhecimentos como os
pedagógicos, psicológicos, culturais e sociológicos. Ainda que o objeto da tarefa de qualquer
Modelos de formação
Olhando para os diferentes modelos de formação docente identificam-se programas
que privilegiam os conhecimentos musicais por entender que o conhecimento base de um
professor é o conhecimento pleno da matéria, ou seja, a música. A concepção desses
currículos está centrada na música enquanto fenômeno, atividade e objeto de estudos e, por
isso, as disciplinas de conteúdo musical ocupam mais de 50% do total de horas da grade
curricular (ver MATEIRO, 2009; RODRIGUES; SOARES, 2014; PIRES, 2015). Esse
desenho curricular sugere uma posição privilegiada para o conhecimento técnico musical em
detrimento de conhecimentos, habilidades e competências técnicas e pedagógicas para a
profissão docente. A identidade do músico se sobrepõe à identidade do professor.
Com características conservatoriais, as licenciaturas em música mantém uma estrutura
curricular organizada em disciplinas isoladas, com aulas centradas no conteúdo e no professor
(MATEIRO, 2009; 2015; PEREIRA, 2012). As disciplinas pedagógicas e, principalmente, os
estágios curriculares supervisionados, nesse modelo, aparecem ao final do curso, seguindo a
ideia de aplicar na prática os conhecimentos teóricos adquiridos durante a formação. Primeiro,
o estudante adquire o conhecimento estabelecido a priori, como o mais adequado para a
formação de um professor. Essa formação é sistematizada a partir de teorias, de normas de
atuação, de certas competências de comportamentos, de recursos e de estratégias pensadas
para obter um resultado eficaz durante a prática pedagógica. Adquiridas tais ferramentas
técnicas, o estudante, por meio do estágio, prova e comprova seus conhecimentos acadêmicos.
Talvez o modelo de formação que propõe de modo integrado o estudo entre música e
pedagogia seja aquele que está se buscando oferecer em nossas universidades desde a
implementação da LBD 9.304/96. São as Licenciaturas em Música que procuram equilibrar e
relacionar os conhecimentos técnicos musicais com os conhecimentos didáticos e
pedagógicos, deixando para trás as dicotomias entre bacharelado e licenciatura, teoria e
prática, música e educação. É uma variante do modelo anterior, porém com mais disciplinas
voltadas ao desenvolvimento do conhecimento pedagógico e à autonomia profissional. Para a
prática pedagógica foram estabelecidas 800 horas, 400h de prática e 400h de estágio
curricular supervisionado, conforme a Resolução do CNE/CP 2/2002. O estágio curricular
inicia na metade do curso, ou seja, está distribuído ao longo dos últimos quatro semestres do
curso.
Esses dois modelos são posteriores àqueles com ênfase em artes. Os cursos de
Licenciatura em Educação Artística surgidos na década de 70, como consequência da
introdução da disciplina de Educação Artística nos currículos escolares de primeiro e segundo
graus – hoje denominados de ensino fundamental e ensino médio, tinham como foco o ensino
das artes. Esses cursos ampliavam os conhecimentos gerais dos diferentes campos artísticos e
introduziam disciplinas relacionadas à literatura, filosofia e técnicas necessárias para
desenvolver um trabalho específico na área de artes. Assim, a Licenciatura Plena, de duração
de cinco anos, era a combinação da habilitação geral em Educação Artística, denominada de
Licenciatura de 1º grau ou Licenciatura Curta, com duração de três anos, e a habilitação
específica em uma das áreas – Artes Plásticas, Artes Cênicas, Música e Desenho – com
duração de dois anos. O estudante depois de ter uma noção geral sobre as diferentes
linguagens escolhia uma para se especializar. A abordagem integrada das diversas linguagens
artísticas, a polivalência e o predomínio do enfoque mecânico-tecnicista são características
essenciais dessa formação (ver PENNA, 2008).
Um único professor deveria trabalhar com as diferentes linguagens artísticas e essa era
a ideia de integração, marcada pela experimentalismo. Raynaut (2014, p.184) afirma: “o
cientista interdisciplinar seria aquele que teria o conhecimento suficiente de um amplo leque
de disciplinas diversificadas para poder produzir, por si só, um modelo explicativo sintético
de uma realidade complexa”. O leque de disciplinas eram as disciplinas da área de artes, mas
mesmo assim, conforme Raynaut é duvidoso que profissionais possam tratar assuntos
diversos com igual competência. A consequência, como destaca Penna (2008), foi o
esvaziamento dos conteúdos próprios de cada linguagem artística. O estágio curricular nesse
modelo também era um componente curricular situado ao final do curso sendo concebido
como uma instância complementar à formação teórica.
Outros programas de formação são aqueles onde o componente pedagógico é central
enfatizando não somente o conhecimento do conteúdo (o quê), mas, sobretudo, o
a forma sequencial, lógica e linear. Ademais, os alunos são responsáveis por seu
desenvolvimento profissional, além do comportamento ético com professores, colegas e
sociedade (MASETTO, 1996). Entretanto, conforme Berbel (1998, p.149), “os problemas são
cuidadosamente elaborados por uma Comissão especialmente designada para esse fim. Deve
haver tantos problemas quantos sejam os temas essenciais que os alunos devem estudar para
cumprir o Currículo, sem os quais não poderão ser considerados aptos para exercer a
profissão”.
O meu interesse em apresentar essas propostas está em trazer para a área da educação
musical uma alternativa para a formação de professores. Não encontrei na literatura brasileira
trabalhos que tenham utilizado uma dessas metodologias. Entretanto, Fink-Jensen (2013),
professora de música e pesquisadora dinamarquesa, ao buscar compreender como a teoria
pode contribuir para o desenvolvimento da prática e como a relação entre a teoria e a prática
na formação do educador musical pode ser abordada, propõe a implementação de uma
estratégia de ensino denominada de “práticas surpreendentes”. Embora essa estratégia
compreenda a introdução de teorias pedagógicas e psicológicas, tem como o ponto central de
partida um problema que se tornou evidente em uma situação prática de ensino.
Essa estratégia foi introduzida como um exercício em uma disciplina do mestrado em
educação musical em uma universidade da Dinamarca. A pesquisa foi realizada por meio de
relatórios, entrevistas, diários de campo e pesquisas avaliativas preenchidas após a aplicação
da estratégia. A parte prática das “práticas surpreendentes”, centrada na observação
participante, consiste em cinco fases: preparação, observação, coleta de dados, análise e
apresentação. O primeiro desafio para o estudante é ser capaz de “ver” um problema. Esse
desafio está relacionado: ao sentimento de surpresa ou perplexidade de um fenômeno; aos
diferentes níveis da observação e consequentes interpretações; ao uso do conhecimento
teórico em três níveis – prática e experiência cotidianas, prática e conhecimentos
profissionais, e prática e conhecimentos científicos. Fink-Jensen concluiu que a capacidade
dos estudantes de ter uma atitude aberta como um observador participante pareceu depender
do seu grau de experiência como professores de música.
Projeto de Pesquisa
Está em andamento um projeto de pesquisa, coordenado por mim, que tem como
objetivo introduzir o estudo de situações problema vivenciadas durante o estágio curricular
supervisionado em música. A situação-problema, segundo Perrenoud (2000, p.31), “obriga a
transpor um obstáculo graças a uma aprendizagem inédita, quer se trate de uma simples
transferência, de uma generalização ou da construção de um conhecimento inteiramente
novo”. Deparar-se com o obstáculo é enfrentar a ausência de soluções e imaginar que jamais
se encontrarão soluções.
Durante o período de imersão nos campos de estágio, referendados como campos de
trabalho, os estudantes identificam questões ou situações que exigem uma solução. Essas
situações estão sendo registradas, por escrito ou em vídeo, de forma independente no
dispositivo móvel. A identificação dessas questões ou situações está relacionada à
importância da observação na ação, reconhecendo qual foi o momento específico que gerou
estranhamento ao estudante (FINK-JENSEN, 2013).
Posteriormente, o estudo dos problemas ocorre de forma colaborativa em grupo para
que os estudantes possam expressar suas ideias e obter diferentes visões sobre um mesmo
problema. Dessa forma, o conhecimento é produzido a partir da reciprocidade social
(BRUNER, 1973) para se alcançar um mesmo objetivo. Essa ideia das relações sociais como
um fator importante na construção do conhecimento é denominada por Wenger (1998) de
comunidade de prática. Para o autor, a prática é o significado de uma experiência da vida
cotidiana, sendo fundamental associar o conceito de prática à formação da comunidade. O
engajamento mútuo, o desejo de contribuir e um repertório compartilhado são as três
dimensões relacionadas à prática e que a torna coerente com a definição de comunidade de
prática.
A reflexão individual e coletiva pode implicar em uma abordagem interdisciplinar que,
conforme Torres Santomé (1998), é sustentada por diversas razões: obter mais pontos de vista
acerca de um mesmo problema; considerar os limites entre as distintas disciplinas e
organizações do conhecimento; alcançar níveis mais elevados com a unificação do saber;
reorganizar e reagrupar os âmbitos do saber para não perder a relevância e o significado dos
problemas que deverão ser detectados, investigados, controlados e solucionados; compreender
Considerações finais
Repensar a formação dos profissionais da educação é sempre um desafio no que tange
à relação entre o contexto da educação básica e do ensino superior, à superação da dicotomia
teoria e prática, aos moldes tradicionais de ensinar e aprender, ao estágio curricular
supervisionado, à organização disciplinar dos conhecimentos e à implantação de modelos
interdisciplinares. Quanto aos programas curriculares das Licenciaturas em Música
acrescenta-se, ainda, a superação do modelo conservatorial de ensino presente nas salas de
aula da universidade e na concepção formativa do professor de música.
É preocupante saber que estudantes terminam o curso e não querem atuar como
professores de música em escolas públicas de educação básica. É fato que os modelos de
formação têm priorizado os conhecimentos musicais em detrimento dos pedagógicos. É
perceptível a necessidade de se buscar por alternativas para um ensino superior inovador. Não
sei qual será o melhor caminho3, se a Metodologia da Problematização como metodologia de
ensino, de estudo e de trabalho, se propostas curriculares fundamentadas na Aprendizagem
3
Parafraseando a letra da música Trem do Pantanal, composta por Paulo Simões e Geraldo Roca.
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(VWD H[SHULrQFLD YHUVD VREUH XPD SURSRVWD GH FXUVR QR TXDO DV DWLYLGDGHV GH
SUHSDUDomR GR FRUSR QmR WLQKD DSHQDV R REMHWLYR GH DTXLVLomR GH KDELOLGDGHV PRWRUDV SDUD
$V GLVFLSOLQDV ³/DERUDWyULR GR FRUSR H GD YR]´ WRWDOL]DP XP FRQMXQWR GH GLVFLSOLQDV VHPHVWUDLV FRP
FRQWH~GRVDEUDQJHQWHVSDUDDIRUPDomRGRDUWLVWDGXUDQWHREDFKDUHODGRHP$UWHV&rQLFDVQR,QVWLWXWRGH$UWHV
GD81(636RXXPDGDVSURIHVVRUDVUHVSRQViYHLVSRUHVWDGLVFLSOLQDFRPFDUJDKRUiULDGHKRUDVVHPHVWUDLV
GXUDQWH RV RLWR VHPHVWUHV GHFXUVR GH JUDGXDomR 1HVWH DQR GHGLYLGL R FXUVR FRP D 3URID 'UD :kQLD
6WRUROOLUHVSRQViYHOSHODiUHDGHYR]HFDQWR
PRYHUVHHGDQoDUHUDPFRPSRQHQWHVGDVHQVLELOLGDGHHGDDomRFULDGRUD2ID]HUHRFULDU
HVWLYHUDPLQWHUOLJDGRVQRWHFLGRFRQVWUXWRUGDDXOD
23URMHWR-RUQDO
(VWDH[SHULrQFLDRFRUUHXGXUDQWHRGHVHQYROYLPHQWRGHXPSURMHWRGHDXODUHDOL]DGR
FRP MRYHQV FRP LGDGH HQWUH D DQRV DOXQRV GH DUWHV FrQLFDV RFRUULGR QR VHJXQGR
VHPHVWUHGH
0XLWRV EUDVLOHLURV OHPEUDPVH TXH QR DQR GH D HFRQRPLD EUDVLOHLUD HVWDYD
DEDODGD: A inflação aumentara o preço da luz e dos produtos, aliados ao crescimento de
desemprego. No meio ambiente, instaurou-se uma crise da água com baixas nos reservatórios
que restringiu o uso de consumo de água em grandes cidades. Uma catástrofe ambiental
assombrara o país com o rompimento da barragem da mineiradora Samarco, em Minas
Gerais. A política brasileira iniciava uma série de conflitos com crises partidárias, acusações
e denúncias com julgamento de políticos inclusive na Presidência da República.
(PSOHQRFXUVRSHQViYDPRVFRPRWRGRVHVWHVIDWRVLQWHUIHULULDPRXQmRHPQRVVR
FRWLGLDQR GHWUDEDOKR ( HX SHQVDYD FRPRFRQVLGHUDUDDWXDOLGDGHFLUFXQGDQWHQRPHXID]HU
FRPRSURIHVVRUDDUWLVWDSHVTXLVDGRUDGHQWURGRVHVWXGRVGRFRUSRHPQRVVDVDXODV
1RFDQWRGDVDODGHDXODDOJXQVMRUQDLVHPSLOKDGRVHQWUDUDPQDFRQYHUVD)DODPRV
VREUH DV QRWtFLDV TXH WRGRV RV GLDV VXUSUHHQGLDP H QRV DEDODYDP $V IRWRJUDILDV LPSUHVVDV
QRVMRUQDLVQRVIL]HUDPUHIOHWLUVREUH DH[SUHVVLYLGDGHGDVLPDJHQVFRQJHODGDVQRWHPSR2
MRUQDO GH EDL[R FXVWR IDFLOLGDGH GH DTXLVLomR H UHFLFOiYHO VH LQFRUSRURX DR SURMHWR GH
WUDEDOKRGDGLVFLSOLQD
Notícias novas, notícias antigas, o tempo e as repetições, o tempo e as mudanças,
tudo estava impresso nas folhas de jornal. A tinta da folha se misturou ao suor dos corpos em
movimento.
$ PDWHULDOLGDGH GR MRUQDO HQWURX HP FRPSRVLomR FRP D PDWHULDOLGDGH GRV FRUSRV
&RUSRV HVWXGDUDP VXSRUWH LQVWiYHO DR DQGDU VREUH SLOKDV GH MRUQDLV MRUQDLV IRUDP UDVJDGRV
SHORV GHGRV GRV SpV H WUDQVIRUPDGRV HP YHVWLPHQWDV FKDSpXV IORUHV FRPLGD SiVVDURV H
DEULJRGXUDQWHDVSURSRVWDVDUWtVWLFDVGHDXOD
2 FRUSR SHUFHELGR SRU GHQWUR H FRQHFWDGR FRP R DPELHQWH H[WHUQR HVWDEHOHFHX
UHODo}HVGHDWUDYHVVDPHQWRFRPRLQWHULRUHH[WHULRUGRFRUSR$VVLPDVH[SHULrQFLDVGHVDOD
GHDXODRIOX[RGRFRUSRHPPRYLPHQWRVHDEULXSDUDDH[WHULRULGDGHGRPXQGRFLUFXQGDQWH
2 SHVR GRV FRUSRV VREUH D WH[WXUD ILQD GR MRUQDO R SXOVR UtWPLFR GR PRYLPHQWR
FRQMXQWR HVSDOKDQGR DV QRWtFLDV DV IROKDV VH WUDQVIRUPDQGR HP ILJXULQRV H DFHVVyULRV DV
YR]HVUHSURGX]LQGRWH[WRVGHPDQFKHWHVHSHUVRQDJHQVVXUJLUDPQHVWDVUHODo}HV
1R HQFHUUDPHQWR GR VHPHVWUH OHWLYR RV DOXQRV DSUHVHQWDUDP XPD LPSURYLVDomR
FrQLFDHVWUXWXUDGDFRPRVHOHPHQWRVWUDEDOKDGRVHPVDODGHDXODDLQWLWXODUDP³6XRUERUUDGR
SHODVQRWtFLDV´XPSURMHWRFROHWLYRFRPDSUR[LPDGDPHQWHDOXQRV
)LJ,PDJHPGDHQFHQDomRSuor borrado pelas notícias
)RQWHDDXWRUD
)LJ,PDJHPGDHQFHQDomRSuor borrado pelas notícias
)RQWHDDXWRUD
(VWHSURMHWRWDPEpPFRQWRXFRPDFRODERUDomRGLUHWDGDSURID'UD:kQLD6WRUROOLQDFRQVWUXomRGHSDLVDJHQV
VRQRUDVHWUDEDOKRYRFDOGRVMRYHQV
&RPR SURIHVVRUDDUWLVWD VHPSUH PH TXHVWLRQR VREUH RV PRGRV GH UHDOL]DU XPD
IRUPDomR DUWtVWLFD QR WUDEDOKR FRP MRYHQV $VVLP SHQVR HP PDQHLUDV GH SURSLFLDU
H[SHULrQFLDV DUWtVWLFDV TXH QmR VHMDP DSHQDV SURFHGLPHQWRV SDUD DTXLVLomR GH KDELOLGDGHV
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GHVLHGRPXQGRTXHYHUVDDPRWLYDomRDUWtVWLFD
1RVVR ID]HU FrQLFR DSRLDGR QDV SUHPLVVDV GD GDQoD FRQWHPSRUkQHD SURGX]LX
FRQKHFLPHQWR QR FDPSR VHQVtYHO GDV Do}HV GR FRUSRVXMHLWR FRPR PDQHLUDV GH ³OHU R
PXQGR´HGHQHOHDWXDU
)LQDOL]RHVWHUHODWRFRPXPGHSRLPHQWRGHXPDMRYHPSDUWLFLSDQWH
Achei muito refinado o projeto sobre o tema jornal. Surgiram imagens e
explorações belíssimas, mas chego ao final do trabalho com a sensação de que
apreendi o conteúdo mais por vias sensoriais do que racionais. Talvez não
conseguisse elencar em tópicos todas as lições que aprendemos, mas as tenho
gravadas em mim. Encaro o semestre como uma vivência, um grande processo de
sensibilização e de tomada de contato íntimo. 0DULDQD0DULQKR 2015
&216,'(5$d®(6),1$,6
$VREUDVHPGDQoDFRQWHPSRUkQHDWUD]HPDSRpWLFDGRPRYLPHQWRHDHVSHFLILFLGDGH
GRXVRGDVSDUWHVGRFRUSRQRHVSDoRFRPSHVRYDULDo}HVGHWHPSRHLQWHQVLGDGHVGHIOX[R
FRP YDULDGRV PpWRGRV GH FRPSRVLomR WHQGR FRPR SRQWR GH SDUWLGD SDUD R DOXQRDUWLVWD R
GHVHQYROYLPHQWRFrQLFRGHXPSURSyVLWRHVSHFtILFRRXXPWHPD
2 SURSyVLWR RX WHPD LQYHVWLJDWLYR HP GDQoD SRGH YDULDU HQWUH JUXSRV GH DOXQRV H
SURIHVVRUHVDUWLVWDV SRLV D UHDOL]DomR GH XP WUDEDOKR FRQWHPSRUkQHR GH GDQoD GHSHQGH GD
KLVWyULDPHPyULDYLVmRGHPXQGRHYDORUHVHVWpWLFRVGHFDGDFULDGRUQmROLJDGDjSDGU}HVH
WpFQLFDV UtJLGDV SUpHVWDEHOHFLGRV 'HQWUR GDV TXHVW}HV SHUWLQHQWHV DR ID]HU DUWtVWLFR
2HGXFDGRU3DXOR)UHLUHQRVLQVWLJDDDERUGDURFRUSRFRPRser histórico ao pronunciar o mundo)5(,5(
3DUD HVWH HGXFDGRU RVXMHLWR KLVWyULFR SURQXQFLD R PXQGR DR FRQVWUXLU VHX GLVFXUVR 1R QRVVR FDVR R
GLVFXUVRQRPXQGRVHULDDSUySULDFHQDDUWtVWLFD2FRUSRHPHVWDGRGHDUWHSURGX]XPGLVFXUVRSUySULRGHVXD
PDWHULDOLGDGHHPEXVFDGHVHQWLGRVVREUHDYLGDHWDPEpPFRPRXPPRGRGHUHFULDUDUHDOLGDGH$SDUWLUGHVWH
GLVFXUVRFHQDQRPXQGRRFRUSRVXMHLWR±³DSUHQGHDHVFUHYHUVXDYLGDFRPRDXWRUHDVVLPVHH[LVWHQFLDOL]DUQD
H[SHULrQFLDGHFRQVWUXLUDVXDKLVWyULD”)5(,5(HFRPHODVHLQVHULUQRPXQGRDRGLDORJDUFRPHOH$V
SURSRVWDVGH3DXOR)UHLUHVmRSURYRFDGRUDVSRUQRVLQVWLJDUDOHURPXQGRSDUDSRGHUWUDQVIRUPiOR
FRQWHPSRUkQHR HVWmR FRQWLGRV LQWHUHVVHV LQGLYLGXDLV HRX SHUJXQWDV FROHWLYDV LQWHUOLJDGDV D
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FRQWHPSRUkQHDSRGHGHVHQYROYHUDDSURSULDomRGHVLHQTXDQWRFRUSRVQRPXQGRFRUSRVTXH
ID]HPHEXOLURVPDWHULDLVGDILVLFDOLGDGHH[SUHVVLYDVXUJLGRVGDH[SHULPHQWDomRGHGHVFREULU
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IRUoDGDH[SHULrQFLDSHUIRUPDWLYD
1DDWXDOLGDGHGRVDSDUHOKRVFHOXODUHVWDEOHWHVHUHGHVYLUWXDLVGHVRFLDOL]DomRDGDQoD
FRQWHPSRUkQHDSRGHULDFRQGX]LUXPDDomRWUDQVIRUPDGRUDGRDPELHQWHHGXFDFLRQDOQRTXDO
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$IXQomRHGXFDWLYDGDGDQoDFRQWHPSRUkQHDFRODERUDULDSDUDTXHRMRYHPFRQVWUXtVVH
XPD UHGH GH IRUPDomR DUWtVWLFD QD TXDO D SHVTXLVD GRV WHPDV GD DWXDOLGDGH QR VHX FRUSR
FULDGRU HVWHMDOLJDGDjSHVTXLVDGHVLPHVPRHQTXDQWRFRUSRVVXMHLWRVQRPXQGR3RUWUD]HU
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GR PXQGR H VLP FRQVFLHQWH H DWLYR GH VHX SDSHO FULDGRU SHUWHQFHQWH DR FROHWLYR D TXH VH
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5(,6 *OyULD Cidade e palco: Experimentação, transformação e permanências. %HOR
+RUL]RQWH(GLo}HV&XDWLDUD
6,/9$(OLDQD5RGULJXHVDança e pós-modernidade6DOYDGRU('8)%$
9,/(/$ /LOLDQUma vida em dança: Movimentos e percursos de Denise Stutz.6mR3DXOR
$QQDEOXPH
6LWHKWWSVWUDQFKDQZRUGSUHVVFRP$FHVVRHPGHRXWXEURGH
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3(5)250$7,9,'$'((&$572*5$),$6$872(712*5È),&$6
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9LQtFLXVGD6LOYD/tULR 8)0*
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$ VLVWHPDWL]DomR R UHJLVWUR R SHQVDPHQWR H DV SUiWLFDV LPSOLFDGRV QR HQVLQR GH 7HDWUR WrP
FRQILJXUDGRDVSHFWRVSUREOHPiWLFRVFRQVWDQWHVQRVSURFHVVRVIRUPDWLYRVGHSURIHVVRUHVQHVVHFDPSR
GDV $UWHV GD &HQD HVSHFLDOPHQWHQRVHVSDoRVUHJXODUHVGHHQVLQR(VVDVFRQVLGHUDo}HVHHVVHWH[WR
QDVFHUDP GDV H[SHULrQFLDVTXH YrP VHQGRYLYHQFLDGDVSHORDXWRUHQTXDQWRGRFHQWHFRPDOXQRV GH
OLFHQFLDWXUDV HP 7HDWUR GHVGH R TXH VH DFHQWXD FRPR LQYHVWLJDomR QR VHX DWXDO FRQWH[WR GH
DWXDomRQD8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGH0LQDV*HUDLVQDVGLVFLSOLQDVGH(VWiJLR,,,H,91HVVHVHQWLGR
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GRV SURFHVVRV FULDWLYRV H SHGDJyJLFRV GHVVHV VXMHLWRV HP VHXV XQLYHUVRV GH HVWiJLR SRGHP
SRWHQFLDOL]DUDHVWUXWXUDomRDFULDomRGHXPDPHPyULDHDDWXDOL]DomRGHWDLVSHUFXUVRVLQFOXVLYHQR
SUySULR DWR GH FRPSDUWLOKDPHQWR GHVVHV PDSDV VXEOLQKDQGR GHVVH PRGR VHX FDUiWHU SHUIRUPDWLYR
(VWDHVFULWDWDQWRTXDQWRDVLQYHVWLJDo}HVDFDGrPLFDVHSHGDJyJLFDVTXHDGHIODJUDUDPpIUXWRGHXP
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GLVFXVV}HV TXHVWLRQDPHQWRV UHIOH[}HV H IHQGDV SDUD SHQVDU SHGDJRJLDV H SRpWLFDV SRVVtYHLV Mi HP
FRQVWUXomR H GHVHQYROYLPHQWR GR 7HDWUR QD HVFROD 5HFRQKHFHVH DTXL HVVHV PDSDV
DXWRHWQRJUiILFRV FRPR UHFXUVRV SRWHQFLDLV SDUD VLVWHPDWL]DU SHQVDU UHJLVWUDU H DWXDOL]DU SUiWLFDV
SHGDJyJLFDVHFULDWLYDVQRHQVLQRGR7HDWUR
3DODYUDVFKDYH&DUWRJUDILDVGHSRpWLFDV(WQRJUDILD$XWRHWQRJUDILD3HGDJRJLDVGR7HDWUR
,QWURGXomR
'HVGHTXHLQLFLHLQDGRFrQFLDHP$UWHVHHVSHFLDOPHQWHQRFDPSRGR7HDWURYHQKR
PH DXWRSURYRFDQGR TXDQWR D GHVFREHUWD GH FDPLQKRV SHGDJyJLFRV TXH UHYHOHP R FDUiWHU
LQHUHQWHGHSRpWLFDTXHDWUDYHVVDYDDTXHOHVXQLYHUVRV±RXTXHGHYHULDDWUDYHVVDU%XVFDYDD
SDUWLU GD PLQKD SUySULD H[SHULrQFLD SHUFHEHU QRV SURFHVVRV GH HQVLQRDSUHQGL]DJHP R
PHVPR SULQFtSLR TXH IXL UHFRQKHFHQGR VHU GD DUWH ³>@ XP tal fazer que, enquanto faz,
inventa o por fazer e o modo de fazer´ 3$5(<621 S H SRU FRQVHJXLQWH RV
HQWUHFUX]DPHQWRVGHVVHVOXJDUHVGHFULDomRHGHDSUHQGL]DJHP
'RXWRUH0HVWUHHP$UWHV&rQLFDVSHOD8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGD%DKLD8)%$3URIHVVRU$GMXQWRQRVFXUVRV
GH /LFHQFLDWXUD HP 7HDWUR GD (VFROD GH %HODV $UWHV H GH 3HGDJRJLD GD )DFXOGDGH GH (GXFDomR DPERV GD
8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGH0LQDV*HUDLV(PDLOYLQLFLXVOLULR#JPDLOFRP
$VVLPQRGHFRUUHUGDPLQKDWUDMHWyULDFRPRSURIHVVRUDUWLVWDHSHVTXLVDGRUGDV$UWHV
GD&HQDIXLFRPSUHHQGHQGRDGHPDQGDGHDUUDQMRVWUDQVYHUVDLVHQWUHDH[SHULrQFLDHVWpWLFDH
R DWR SHGDJyJLFR HP HVSDoRVWHPSRV GLDOyJLFRV LQWHJUDQWHV H LQWHJUDGRUHV HP GLQkPLFDV
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(VVHHQWHQGLPHQWRWHPGHIODJUDGRXPDVpULHGHLQTXLHWDo}HVTXHPRELOL]DPWDPEpP
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RV TXDLV PH LQFOXR ± VXEOLQKRX R TXH DVVLQDOD *XLQVEXUJ TXDQWR D LPSRUWkQFLD GH
HVWDUPRVFRQVWUXLQGRPDWHULDLVHOXJDUHVGHHVWXGRGHLQYHVWLJDomRGHSUREOHPDWL]DomRGDV
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SHVTXLVDGRUHVSURIHVVRUHVHPHVPRDOXQRVHQYROYLGRVFRPRHQVLQR±HSRUTXHQmRFRPD
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EXVFDVHHPEUHQKDUSRUHQWUHRXQLYHUVRGDVDODGHDXODQDTXHOHMRJRFRPHSRUHQWUHVHXV
VXMHLWRVLQWHJUDQGRVHFDYDQGRSLVWDVWDWHDQGRRQRFKmRGDTXHOHFDPSRGHVXEMHWLYLGDGHV
H SRWHQFLDOLGDGHV SDUD HQWmR GLDORJLFDPHQWH LQWHUYLU SURSRU DUWLFXODUVH H
UHLQYHQWDUVH
3DUWDPRV GHVVH SULQFtSLR GH XPDDEHUWXUDSDUDSHUFHEHURVVXMHLWRVVXDVGHPDQGDV
VHXV GHVHMRV VXDV DIHFo}HV 'HQWUH HOHV WDPEpP HVWRX FRPR SDUWH GHVVH OXJDU IURQWHLULoR
TXH YHP FRQVWLWXLQGR PLQKDV SUiWLFDV SHGDJyJLFDV QD PHGLGD HP TXH GH XP ODGR HOH p
HVSDoRWHPSR GHVWDV LQYHVWLJDo}HV H LQWHUYHQo}HV XQLYHUVR GHVWH HVWXGR GR UHJLVWUR GDV
UHIOH[}HVHVLVWHPDWL]Do}HVWUD]LGDVHGHRXWURHQWUHFUX]DQGRVHDRPHVPRWHPSRHPTXH
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'Dt R SRUTXr JUDIDU H IDODU HP ³DXWRSURYRFDo}HV´ SRU HODV VH FRQVWLWXtUHP FRPR YHWRUHV
TXHVHGHVGREUDPGHGLIHUHQWHVOXJDUHVHVXMHLWRVGRVDOXQRVSDUDVLGHOHVSDUDPLPGHPLP
SDUDHOHVHSDUDPLPPHVPRGRFRQWH[WRHGRVVXMHLWRVGDHVFRODSDUDQyVGHQyVSDUDHOHV
HQWUHRXWUDVUDPLILFDo}HVTXHDLQGDHVWmRSRUVHDWXDOL]DUHPQHVVDWUDPD
$VVLP HVWDU DEHUWR VHQVtYHO SRURVR j HVFXWD LPSOLFD UHFRQKHFHUD GLPHQVmR GDTXLOR
TXH QRV DWUDYHVVD GRV DIHWRV $V H[SHULrQFLDV GRFHQWHV TXH YHQKR FRQVWUXLQGR HFRDP HP
VXDV SRpWLFDV H SURFHVVRV SHGDJyJLFRV D SHUVSHFWLYDGH *LOOHV 'HOHX]H S
VHJXQGRDTXDO
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HVWDGR GH XP FRUSR TXH WHQKD VRIULGR D DomR GH XP RXWUR FRUSR >@
&RQKHFHPRV QRVVDV DIHFo}HV SHODV LGHLDV TXH WHPRV VHQVDo}HV RX
SHUFHSo}HV VHQVDo}HV GH FDORU GH FRU SHUFHSomR GH IRUPD H GH GLVWkQFLD
>@$DIHFomRSRLVQmRVypRHIHLWRLQVWDQWkQHRGHXPFRUSRVREUHRPHX
PDV WHP WDPEpP XP HIHLWR VREUH PLQKD SUySULD GXUDomR SUD]HU RX GRU
DOHJULD RX WULVWH]D 6mR SDVVDJHQV GHYLUHV DVFHQV}HV H TXHGDV YDULDo}HV
FRQWtQXDVGHSRWrQFLDTXHYmRGHXPHVWDGRDRXWURVHUmRFKDPDGRVDIHWRV
>@
&RPLVVRQRKRUL]RQWHUHFRQKHoDPRQRV
'HVGH TXDQGR LQLFLHL PHX SHUFXUVR FRPR SURIHVVRU QR (QVLQR 6XSHULRU QR
FXUVR GH /LFHQFLDWXUD HP $UWHV &rQLFDV GD 8QLYHUVLGDGH (VWDGXDO GR 0DWR *URVVR GR 6XO
8(06HQWUHRXWUDVDWXDo}HVYHQKRGHVHQYROYHQGRXPWUDEDOKRFRPVXMHLWRVHPIRUPDomR
GRFHQWHSULQFLSDOPHQWHQDVGLVFLSOLQDVTXHLQFOXHPRV~OWLPRVHVWiJLRVHP7HDWURGRFXUVR
(VVH p WDPEpP R OXJDU SRU RQGH WUDQVLWR DWXDOPHQWH QD /LFHQFLDWXUD HP 7HDWUR GD
8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGH0LQDV*HUDLV8)0*RQGHHVWRXGHVGH
1HVVHVFRQWH[WRVXPDTXHVWmRTXHVHPSUHYHPVHDSUHVHQWDQGRSDUDPLPGL]UHVSHLWR
DRPRGRFRPRHVVHVVXMHLWRVFRQVHJXLULDPSHQVDUVHXVSHUFXUVRVGHQWURGRHVWiJLRLVWRpVHX
SURFHVVRSHGDJyJLFRIRUPDWLYRFRPRSURIHVVRUGHSRLVFRPRHOHVVHWRUQDULDPFDSD]HVGH
DQDOLVDU H LQWHUSUHWDU R TXH IL]HUDP H D SDUWLU GLVVR FULDU XP UHJLVWUR GD VXD SUiWLFD
SHGDJyJLFDTXHQRFDVRGR7HDWURWDPEpPVHFRQVWLWXHPFRPRSURFHVVRVFULDWLYRV
$SULRULRIRUPDWRTXHVHDSUHVHQWDYD±DLQGDTXHQmRGHIRUPDQRUPDWLYDPDVTXH
PH SDUHFLDP FRPXQV QHVVH WLSR GH GLVFLSOLQD SRU YH]HV H[SOtFLWR HP HPHQWDV RXWUDV SRU
UHODWRV GH DOXQRV H DWp PHVPR D SDUWLU GDV PLQKDV H[SHULrQFLDV HQTXDQWR DOXQR GD
/LFHQFLDWXUDHP7HDWURQD(VFRODGH7HDWURGD8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGD%DKLD8)%$±HUD
RVHJXLQWHRDOXQRHODERUDXPSURMHWRGHHQVLQRSDUDSHQVDURVXDDWXDomRGXUDQWHRHVWiJLR
VHJXLGRGHSODQRVGHDXODKiDOJXQVHQFRQWURVQRVTXDLVVHUHODWDRTXHHVWiVHQGRSODQHMDGR
HGHVHQYROYLGRHSDUDVLVWHPDWL]DUDH[SHULrQFLDUHGLJHVHXPUHODWyULRQRILQDOGRSHUFXUVR
(QWmRQDVPLQKDVSULPHLUDVH[SHULrQFLDVFRPRGRFHQWHHPDPEDV8QLYHUVLGDGHVR
DOXQRWLQKDXPDFULVHQRLQtFLRGRHVWiJLR±FRPRDLQGDWHP±LQWHUURJDQGRVHFRPRpTXHHX
YRX ID]HU LVVR VHP FRQKHFHU RV DOXQRV D HVFROD DV SHVVRDV H VXDV UHODo}HV QDTXHOH OXJDU"
&RPRpTXHYRXFULDUHVVHSODQR"+iDLQGDDOJXpPTXH³MRJD´RVHXSURMHWRVREUHPLPSRLV
MiWHPXPSURIHVVRUUHJHQWHQDHVFROD&RPROLGRFRPHVVDUHODomRYHUWLFDO"(PXLWDVYH]HV
Ki DLQGD GLYHUVDV OLPLWDo}HV GD LQVWLWXLomR HVFRODU RUD LPSRVWDV SRU RXWURV VXMHLWRV RUD GH
RUGHPLQIUDHVWUXWXUDLV
'HSRLVGHSDVVDUSRUHVVHSURFHVVRPDLVTXHVW}HVVXUJHPFRPRpTXHHXVLVWHPDWL]R
WRGRHVVDH[SHULrQFLDQRILPGRVHPHVWUHFRPWRGDVDVGHPDQGDVLPSOLFDGDVQHVVHPRPHQWR
OHWLYR"-XQWRWRGDVDVDQRWDo}HVFULRDTXHOHFRQMXQWRGHGDGRVDTXHODFROFKDGHUHWDOKRVGH
LQIRUPDo}HVRUJDQL]RQXPDSRVVtYHOHVWUXWXUDHHQWUHJRQXPDHVSpFLHGHUHODWyULR"
$ SULQFtSLR GH XP ODGR UHSURGX]LQGR RV IRUPDWRV GDV GLVFLSOLQDV GH HVWiJLR TXH
FXUVHL H GH RXWUR VHJXLQGR PRGRV GH RUJDQL]DomR VXJHULGRV VHJXL HVVH PRGR GH
RUJDQL]DomR&RPRUHVXOWDGRUHFHELDUHODWyULRVFRPGDGRVHVWUXWXUDLVPHUDPHQWHGHVFULWLYRV
VLVWHPiWLFRVPXLWRVFRPFUtWLFDVjVSUiWLFDVGRFHQWHVGRVSURIHVVRUHVUHJHQWHVGDVWXUPDVQDV
TXDLVRVHVWDJLiULRVDWXDUDPTXDVHQHQKXPFRPDOJXPDDQiOLVHGDVXDSUySULDSUiWLFDVHMD
SRVLWLYDRXQHJDWLYD
(UD HVVH R TXDGUR TXH VH DSUHVHQWDYD DOXQRV HP FULVH FRQVWDQWH VRIUHQGR FRP XP
SURFHVVR TXH GHYHULD VHU LQVWLJDGRU HVWLPXODQWH SURYRFDGRU H WUDQVIRUPDGRU (VVHV
SURIHVVRUHV HP IRUPDomR QmR YLDP HVWH FRPR XP SURFHVVR FULDWLYR GH PDQHLUD TXH VXD
SHUFHSomRHSRUFRQVHJXLQWHVXDSUiWLFDQmRHUDPDWUDYHVVDGDVSRUXPSHQVDPHQWRSRpWLFR
4XHHIHLWRLVVRHVWiWUD]HQGRSDUDHVVHVXMHLWRSDUDVXDIRUPDomRGRFHQWHHSDUDVHX
WUDEDOKR GHQWUR GD VDOD GH DXOD" &RPR GHVHQYROYHU XP SURMHWR SDUD TXH HVWD HWDSD H
RSRUWXQLGDGH HP VHX SHUFXUVR IRUPDWLYR QmR VH WRUQHP XP PHUR WUDEDOKR VLVWHPiWLFR H
QRUPDWLYR"2TXHDWpHQWmRHUDRTXHHVWDYDDFRQWHFHQGR
'LDQWH GLVVR XPD SULPHLUD DXWRSURYRFDomR VXUJLX FRPR DQLPDU GHVGH R SULQFtSLR
XPPRYLPHQWRFULDWLYRTXHH[SUHVVDVVHDVYR]HVGDTXHOHVVXMHLWRVHTXHDRPHVPRWHPSRMi
DSUHVHQWDVVH XPD SRVVtYHO SHUVSHFWLYD H MXVWLILFDWLYD FRQFHLWXDO PHWRGROyJLFD H SHGDJyJLFD
SDUDVXDVLPHUV}HVHLQWHUYHQo}HVQDHVFROD"
1HVVH VHQWLGR YHQKR LQYHVWLJDQGR XPD SRVVtYHO DERUGDJHP DFHUFD GH SURFHVVRV GH
HQVLQRHDSUHQGL]DJHPHP7HDWURFRQVLGHUDQGRPLQKDVH[SHULrQFLDVQHVVDiUHDFRPRDUWLVWD
SHVTXLVDGRUHSURIHVVRURTXHPHOHYRXHQWUHDQiOLVHVHDWXDOL]Do}HVDRTXHWHQKRFKDPDGR
GH³SRpWLFDVGDVDODGHDXOD´/Ë5,2S
(VVD H[SUHVVmR p GHVGREUDPHQWR GD FRPSUHHQVmR GH TXH PH SDUHFH UHGXQGDQWH
DERUGDU SURFHVVRV FULDWLYRV H GH HQVLQRDSUHQGL]DJHP VHSDUDGDPHQWH FRPR UHGHV
GLVVRFLDGDVTXHVHFRQVWLWXHPHPHVSDoRVWHPSRVHGLQkPLFDVGLVWLQWDV3HUFHSomRHVWDTXHp
IUXWR GH VHJPHQWDo}HV H GLFRWRPLDV FRQYHQFLRQDLV REVROHWDV HQWUH D SUiWLFD DUWtVWLFD H D
SHGDJyJLFD 1HVVH SDVVR FRPSUHHQGL TXH UHVJXDUGDGDV DV HVSHFLILFLGDGHV WRGD SRpWLFD p
SHUPHDGD SRU XP YHWRU SHGDJyJLFR RX GHYHULD VHU H GR PHVPR PRGR WRGD VLWXDomR GH
HQVLQRHDSUHQGL]DJHPpDWUDYHVVDGDSRUXPSURFHVVRGHFULDomR
&RPSDUWLOKDU HVVD SHUVSHFWLYD FRP RV DOXQRVHVWDJLiULRV DFDERX SRU DQLPDU QRYRV
ROKDUHVSDUDVXDVSUiWLFDVQDVDODGHDXODSDUDRHQVLQRGH7HDWURHSDUDQyVPHVPRVSDUDD
PDQHLUD FRPR LUtDPRV QRV HQ[HUJDU H QRV SHUFHEHU VHP D RQWROyJLFD VHSDUDomR HQWUH R
SURIHVVRUHRDUWLVWD(VVDGLYLVmRpDOJRTXHPHLQFRPRGDYDHVREUHRTXrPHTXHVWLRQDYD
GHVGH TXDQGR HUD DOXQR GD JUDGXDomR HTXH IRL DWUDYHVVDQGR PHX FDPLQKR QDGRFrQFLD HP
$UWHVH7HDWURQD(GXFDomR%iVLFD
/DQoDGD HVVD IDJXOKD SURYRFDGRUD UHWRUQHL DR SUREOHPD FHQWUDO GRV FRQWH[WRV GH
HVWiJLR H GHVVD HVFULWD XPD DXWRSURYRFDomR HP SRpWLFD FRPR LQVWLJDU FDPLQKRV H
SRWHQFLDOL]DUDDQiOLVHDHVWUXWXUDomRRUHJLVWURHDDWXDOL]DomRGRVSURFHVVRVFULDWLYRVHGH
HQVLQR H DSUHQGL]DJHP VHP GHL[iORV HVFDSDU DRV GHGRV QRHP SURFHVVR" ( DLQGD FRPR
HQFRQWUDUXPDDERUGDJHPPHWRGROyJLFDTXHIRVVHDRPHVPRWHPSRFULDomRVLVWHPDWL]DomR
HXPDHVFULWXUDXPDPHPyULDHPSURFHVVRHPPRYLPHQWR"
3UHFLViYDPRVGHXPRXWURWLSRGH³HVFULWD´(QFRQWUDUXPDIRUPDGHUHJLVWURGLQkPLFD
H TXH SXGHVVH DEULJDU WHPSRV HVSDoRV LQWHUDo}HV WHRULDV YR]HV H WUDQVIRUPDo}HV
([SHULPHQWDPRV D FRQVWUXomR GH ³QXYHQV SLFWyULFDV´ ³QXYHQV GH SDODYUDVFKDYH´ ³PDSDV
FRQFHLWXDLV´ PDV HOHV DLQGD HUDP UtJLGRV OLPLWDGRV GH PRGR TXH QmR GDYDP FRQWD GD
GLQkPLFDFDyWLFD±SRUYH]HVHVTXL]RIUrQLFD±GHXPDSRpWLFD1HVVHFHQiULRIRLTXHVXUJLX
SDUDQyVDFDUWRJUDILD
5HVROYLHQWmREXVFDUDOJRTXHXQLVVHWXGRLVVRHTXHSXGHVVHVHUFRQVWUXtGRHQTXDQWR
RVIHQ{PHQRVHVWDYDPDFRQWHFHQGRQDTXHODVSRpWLFDVHHOHVPHVPRVJHUDQGRRXQLYHUVRGH
DQiOLVHVHLQWHUSUHWDo}HVFDUWRJUDILDVGHSRpWLFDV'HVVHPRGRFKHJDPRVDXPOXJDUTXHpGH
DEUDoRDRPRYLPHQWRjGLQkPLFDDRSURFHVVRYLYRHDQyVPHVPRVFRPRVXMHLWRVGHVWH
)OX[RVHUXSWXUDVHnós³RPDSDWDPEpPHVWiQRPHXFRUSR´
'HVVHSRQWRFRPHFHLDLQYHVWLJDUFRPRVDOXQRVGRVHVWiJLRVHVSHFLDOPHQWHDSDUWLU
GR VHJXQGR VHPHVWUH GH R TXH WHQKR FKDPDGR GH ³FDUWRJUDILDV GH SRpWLFDV´
PDSHDPHQWRV GH SURFHVVRV FULDWLYRV TXH VmR GHVHQYROYLGRV HQTXDQWR HVWHV RFRUUHP HP
PRYLPHQWRGLQkPLFDHLQWHUDo}HVGLYHUVDVUHFRQKHFHQGRIOX[RVUXSWXUDVHnós±HQTXDQWR
HQWUHODoDPHQWRGHYHWRUHVVXDVDUWLFXODo}HVGHXPODGRHDJHQWHVXMHLWRVGHWDLVXQLYHUVRV
GHRXWUR±DSDUWLUGHSURYRFDo}HVDXWRHWQRJUiILFDV1RFDVRGRVHVWiJLRVTXHWrPVLGRRV
FRQWH[WRVGHIODJUDGRUHVGHVVDLQYHVWLJDomRHGHVWHFRQFHLWRHVVDVDERUGDJHQVPHWRGROyJLFDV
DWUDYHVVDPDIRUPDomRHDSUiWLFDGHVVHVSURIHVVRUHVHVWDJLiULRV
(QWmR XP SULPHLUR HQWHQGLPHQWR TXH FRPHoDPRV D WHU IRL TXH QmR SRGHUtDPRV
FRPHoDUXPSURFHVVRSHGDJyJLFRHWDPSRXFRXPDFULDomRWUDEDOKDQGRDSDUWLUGHPRGHORV
SURQWRV'HXPDIRUPDRXXPSODQRTXHHXFRPRSURIHVVRURULHQWDGRUGRHVWiJLRHQWUHJDULD
HGLULDHVVHpRPRGHOR$JRUDYRFrYDLSDUDDVDODGHDXODHRH[HFXWD
,VVRSRUWHUHPPHQWHHFRQFRUGDUFRPXPHQWHQGLPHQWRWUD]LGRSRU3DUH\VRQ
DR HOHQFDU DOJXPDV FRQFHSo}HV GD ³DUWH FRPR IRUPDWLYLGDGH´ FRPSUHHQGHQGR TXH HVWD
LPSOLFD FULDomR LQYHQomR GH PRGR TXH QmR OKH EDVWDULD DSHQDV D H[HFXomR D SURGXomR D
UHDOL]DomRHRID]HU,VVRWDPEpP0DVpSUHFLVRFRQVLGHUDURSULQFtSLRGHTXH
HOD QmR p TXDOTXHU FRLVD Mi LGHDGD UHDOL]DomR GH XP SURFHVVR SURGXomR VHJXQGR
UHJUDV GDGDV RX SUHGLVSRVWDV >@ $ DUWH p XPD DWLYLGDGH QD TXDO H[HFXomR H
LQYHQomR SURFHGHP pari passu VLPXOWkQHDV H LQVHSDUiYHLV 1HOD FRQFHEHVH
H[HFXWDQGRSURMHWDVHID]HQGRHQFRQWUDVHDUHJUDRSHUDQGR>@,ELGS
(QWmRDQWHVGHSHQVDUDIRUPDTXHVHULDVHJXQGRHVVHILOyVRIRDREUDHPVHXFDUiWHU
³RULJLQDO H LUUHSHWtYHO´ EXVFDPRV QRV FRQFHQWUDU QR SURFHVVR GH VXD FRQVWLWXLomR QR
³IRUPDU´ QD DWLYLGDGH DUWtVWLFD LVWR p ³>@ QXP H[HFXWDU SURGX]LU H UHDOL]DU TXH p DR
PHVPRWHPSRLQYHQWDUILJXUDUGHVFREULU´FRPRVLQDOL]D3DUH\VRQSTXDQWRDR
TXHHOHFRQFHLWXDFRPRVHQGRD³IRUPDWLYLGDGH´
¬ OX] GHVVD FRPSUHHQVmR LQYHVWLPRV HQWmR QXPD SRpWLFD TXH EXVFD R FDUiWHU
IRUPDWLYR GD FULDomR TXH SRU VXD YH] ³>@ FRQFHEH DV REUDV GH DUWH FRPR RUJDQLVPRV
YLYHQGR GH YLGD SUySULD H GRWDGRV GH OHJDOLGDGH LQWHUQD >@´ ,ELG S 1mR SRU DFDVR
HVVDSHUVSHFWLYDFRLQFLGHFRPSULQFtSLRVTXHDWUDYHVVDPDDERUGDJHPFDUWRJUiILFDWDQWRQR
FDUiWHUSHUIRUPDWLYRTXDQWRQRHQWHQGLPHQWRGDH[SHULrQFLDFRPRXP³>@XPVDEHUID]HU
LVWRpXPVDEHUTXHYHPTXHHPHUJHGRID]HU´3$6626%$5526S
6HQGR DVVLP QmR SRGtDPRV GHFDOFDU RXWURV PRGHORV FRPR QRV VLQDOL]D 'HOHX]H H
*XDWWDUL DR VH UHIHULU DR UL]RPD FRPR PDSD H QmR FRPR GHFDOTXH 'H PRGR TXH
FRQVLGHUDQGR HVVD OLQKD GH SHQVDPHQWR TXH DGPLWH D P~OWLSODV HQWUDGDV GH XP PDSD HP
RSRVLomR DR GHFDOTXH TXH VHULD VHPSUH XP UHWRUQR ³DR PHVPR´ tDPRV PDSHDU R QRVVR
SUySULR PRGHOR /RJR HQWHQGHPRV TXH QmR VHULD SRVVtYHO UHSURGX]LU PRGRV GH RSHUDU
&RPSUHHQGHPRV TXH LVVR QmR p FRHUHQWH FRP D FULDomR HP DUWH H QHP FRP RV SURFHVVRV
SHGDJyJLFRVQDHVFROD(QWmRDJHQWHSUHFLVDYDFRQVWUXLUPRGRVGHVHUHVWDUQDTXHOHOXJDU
(VVHWLSRGHFRPSUHHQVmRQRVOHYRXDUHFRQKHFHUTXHDQRVVDSURSRVWDFRQVLGHUDQGR
R PDSHDPHQWR FRPR IHUUDPHQWD H SURFHGLPHQWR SDUD VLVWHPDWL]DomR DWXDOL]DomR H UHJLVWUR
DFRQWHFHULD HP H[SHULPHQWDomR HQTXDQWR R SURFHVVR RFRUULD HP UHODomR FRP DTXHOD
UHDOLGDGHFRPXQLYHUVRHDVGLQkPLFDVLPSOLFDGDVQDHVFROD
'LDQWH GLVVR DLQGD HUD SUHFLVR FODUHDU HRX VXEOLQKDU DOJXPDV TXHVW}HV 3DUD TXr
PDSHDUHVVDVSRpWLFDVGDVDODGHDXOD"4XDLVRVSURFHGLPHQWRVHSULQFtSLRVGHVVDDERUGDJHP"
2TXHVHULDFRQVLGHUDGRQHVVDFDUWRJUDILD"
3DUWLPRVGHXPROKDUSDUDRPDSDFRPRDOJRTXH
>@ p DEHUWR p FRQHFWiYHO HP WRGDV DV VXDV GLPHQV}HV GHVPRQWiYHO UHYHUVtYHO
VXVFHWtYHOGHUHFHEHUPRGLILFDo}HVFRQVWDQWHPHQWH(OHSRGHVHUUDVJDGRUHYHUWLGR
DGDSWDUVH D PRQWDJHQV GH TXDOTXHU QDWXUH]D VHU SUHSDUDGR SRU XP LQGLYtGXR XP
JUXSRXPDIRUPDomRVRFLDO'(/(8=(*8$77$5,S
'Dt UHFRQKHFHPRV TXH HVVD HVWUXWXUDHDERUGDJHPGLQkPLFDVWRUQDULDSRVVtYHOR
DFRPSDQKDPHQWR GH SHUFXUVRV SRpWLFRV H SHGDJyJLFRV R VHX HQJHQGUDPHQWR SHUFHEHU
GHVHQYROYHU H GHVGREUDU FRQH[}HV HP UHGH QR XQLYHUVR GD HVFROD H VXDV LPSOLFDo}HV QR
SURFHVVR GH FULDomR FULDU XP SODQR GH FRPSRVLomR TXH FRQVLGHUDVVH HOHPHQWRV
KHWHURJrQHRV RULXQGRV GH GLYHUVDV OXJDUHV H D VXD IXQomR QD JrQHVH WDPEpP PDUFDGD SRU
PXOWLSOLFLGDGHVGRSURFHVVRFULDWLYRHGHHQVLQRHDSUHQGL]DJHPSURYRFDUSUREOHPDWL]DU
HFULDU DEHUWXUDVSDUDSHQVDUFULDUSHGDJRJLDVHSRpWLFDVSRVVtYHLVQRHQVLQRGH7HDWURH
FULDUXPDPHPyULDYLYDGHSRpWLFDVGDVDODGHDXOD
3DUD WDQWR FRPHoDUtDPRV SHOR PDSHDPHQWR GDV YR]HV H DIHWRV GRV VXMHLWRV QR FDVR
GRV HVWiJLRV RV SURIHVVRUHV GH 7HDWUR HP IRUPDomR RV DOXQ[V GD LQVWLWXLomR HVFRODU R
GRFHQWHUHJXODU±TXHSRGHULDVHU$UWHV±HHXTXHWDPEpPLQWHJURHVVHSURFHVVR
,VVRFRPHoDHPnós±HPDPERVVHQWLGRVTXHDTXLVHDSUHVHQWDP±PDSHDQGRQRVVRV
GHVHMRVQRVVDVLQTXLHWDo}HVSUREOHPDWL]Do}HVSRVVLELOLGDGHVGHLQWHUYHQomRFRQKHFLPHQWRV
SUpYLRV DFHUFD GDV SHGDJRJLDV GR 7HDWUR GH SURFHGLPHQWRV UHODFLRQDGRV j FULDomR
DXWRSURYRFDQGRQRVHDVVLPVXEOLQKDQGRQRVVROXJDUFRPRVXMHLWRVGHVVDVSRpWLFDV1HVVH
ROKDUDRPHVPRWHPSRSHUFHEHPRVYiFXRVTXHQRVGL]LDPTXHQmRpUDPRVRV~QLFRV
$VVLP R SUy[LPR SDVVR IRL D LPHUVmR H LQWHUDomR FRP R XQLYHUVR GD HVFROD SDUD D
FRQVWUXomR GH HWQRJUDILDV TXH LPSOLFDYD LGDV H YLQGDV QXPD GLQkPLFD TXH GXUDULD WRGR R
SHUFXUVR QDTXHOH OXJDU LQFOXLQGR REVHUYDo}HV GRV HVSDoRVWHPSRV GD HVFROD HVFXWD
UHJLVWURV VLVWHPDWL]Do}HV DQiOLVHV H UHWRUQR j HVFXWD HP IOX[RV TXH DRV SRXFRV j PHGLGD
TXHVHQWLGRVLDPVHDXWRGHVPRQWDQGRHVHUHPRQWDQGRDWXDOL]DQGRVHHPGHYLU
(QWmR R HVWiJLR FRPHoD FRP HVVD REVHUYDomR FRQVWUyLVH XP UHJLVWUR DWUDYpV GD
FULDomR GH GLiULRV GH ERUGR TXH SRVWHULRUPHQWH HP VLVWHPDWL]Do}HV DQiOLVHV H
LQWHUSUHWDo}HV DOLPHQWDP RV PDSDV (QWmR YROWDVH D HVFXWDU HVVH SURFHVVR H VHX XQLYHUVR
,VVRWXGRVHQGRUHJLVWUDGR(VVHROKDUSDUDDHVFRODpIXQGDPHQWDOSDUDLGHQWLILFDUTXHPVmR
DTXHOHVVXMHLWRVVXDVLQWHUUHODo}HVHGHPDQGDVQDTXHOHOXJDU
(VVH H[HUFtFLR HQTXDQWR HWQRPHWRGRORJLD QmR VH UHIHUH WDQWR DR PpWRGR PDV DR
FDPSR GHLQYHVWLJDomR FRPR UHVVDOWD$QGUpLVWRpXP ROKDUSDUDRPRGRFRPRRV
VXMHLWRV HVWUXWXUDP H FRPSUHHQGHP VHX GLDDGLD H VXDV SUiWLFDV FRWLGLDQDV OHJLWLPDQGR
DVVLPDVIRUPDVGHFRPSUHHQVmRDGYLQGDVGHVVHFRQWH[WRGRVHQVRFRPXPWHQGRSRUIRFR
WDLVSUiWLFDVHDVDWLYLGDGHVTXHDWUDYHVVDPDYLGDGDTXHOHVVXMHLWRV
1HVVH VHQWLGR D HWQRJUDILD EXVFD FRPSUHHQGHU R VLJQLILFDGR TXH HVVDV Do}HV H RV
IHQ{PHQRV GHODV JHUDGRV WrP SDUD DTXHODV SHVVRDV TXH IRUMDP VLVWHPDV FRPSOH[RV GH
VLJQLILFDomR TXH RUJDQL]DP DV GLQkPLFDV GDTXHOH DJUXSDPHQWR SDUD TXH FDGD VXMHLWR VH
HQWHQGDDOLHRXSDUDGDUVHQWLGRjTXHOHXQLYHUVR(VVHVVLVWHPDVFRQVWLWXtUDPSDUDD$QGUp
D VXD FXOWXUD $ HWQRJUDILD VHULD HQWmR ³>@ D WHQWDWLYD GH GHVFULomR GD FXOWXUD´
,ELGSXPDWRGHGHVFUHYHUGHQVRFRQVLGHUDQGRDVP~OWLSODVLQWHUSUHWDo}HVGDYLGD
1R FDVR GD HVFROD R H[HUFtFLR LQYHVWLJDWLYR GH QDWXUH]D HWQRJUiILFD D SDUWLU GH XP
FRQWDWRGLUHWRGDTXHOHTXHRGHVHQYROYH
>@ SHUPLWH UHFRQVWUXLU RV SURFHVVRV H DV UHODo}HV TXH FRQILJXUDP D H[SHULrQFLD
HVFRODU GLiULD >@ GHVYHODU HQFRQWURV H GHVHQFRQWURV TXH SHUPHLDP R GLDDGLD GD
SUiWLFDHVFRODUGHVFUHYHUDo}HVHUHSUHVHQWDo}HVGRVVHXVDWRUHVVRFLDLVUHFRQVWUXLU
VXD OLQJXDJHP VXDV IRUPDV GH FRPXQLFDomR H RV VLJQLILFDGRV TXH VmR FULDGRV H
UHFULDGRVQRFRWLGLDQRGRVHXID]HUSHGDJyJLFR>@FRORFDUXPDOHQWHGHDXPHQWR
QD GLQkPLFD GDV UHODo}HV H LQWHUDo}HV TXH FRQVWLWXHP R VHX GLDDGLD >@
LGHQWLILFDQGRDVHVWUXWXUDVGHSRGHUHRVPRGRVGHRUJDQL]DomRGRWUDEDOKRHVFRODUH
FRPSUHHQGHQGR R SDSHO H D DWXDomR GH FDGD VXMHLWR QHVVH FRPSOH[R LQWHUDFLRQDO
RQGH Do}HV UHODo}HV FRQWH~GRV VmR FRQVWUXtGRV QHJDGRV UHFRQVWUXtGRV RX
PRGLILFDGRV,ELGS
$VVLP UHFRQKHFHQGR HVVDV SRWHQFLDOLGDGHVFRPRIRLGLWRXPDGDVSULPHLUDVHWDSDV
GHVVDLPHUVmRQDHVFRODFRQVLVWHHPREVHUYDURVHVSDoRVWHPSRVDOLFULDGRVVXDVGLQkPLFDV
VHXV VXMHLWRV H DV LQWHUDo}HV FRQVWUXtGDV HQWUH HOHV H GHOHV FRP DTXHOH OXJDU FRP DTXHOH
DJUXSDPHQWR3ULPHLURDSHQDVHP]RQDVIRUDGDVDODGHDXODHSRVWHULRUPHQWHWDPEpPQHOD
'HVVD REVHUYDomR VmR IHLWRV UHJLVWURV GHVFULWLYRV GDTXLOR TXH VH Yr GR Pi[LPR SRVVtYHO
FRQVLGHUDQGRHQWmRDVSUiWLFDVLPSOLFDGDVQRH[HUFtFLRHWQRJUiILFR
,QYHVWLPRV SDUD WDQWR QD FULDomR GH GLiULRV GH ERUGR TXH VHULDP R
UHFXUVRSURFHGLPHQWRSDUDRGHVHQYROYLPHQWRGHDXWRHWQRJUDILDVFRPSUHHQGHQGRDVFRPR
XPD³SUiWLFDGHVFULWLYDFXOWXUDOVHQVtYHOHDSUHQGHQWH´0$&('2'(6ÈS(VVD
SHUVSHFWLYD DWUDYHVVD WDQWR R SURFHVVRGHVVDHVFULWDTXDQWRDTXHOH FRP RVDOXQRVGRFHQWHV
HPIRUPDomRGXUDQWHRVHVWiJLRV
$ SDUWLU GLVVR FUX]DPRV YLYrQFLDV DV DQiOLVHV H LQWHUSUHWDo}HV UHFRQKHFHQGR RV
IHQ{PHQRVDOLLPSOLFDGRVQXPHVIRUoRGHWHRUL]DomRIUXWRGDVH[SHULrQFLDVQDHVFROD±TXH
QmRHUDPH[WHUQDVHIUXWRGHDEVWUDo}HVRXGHRXWURVFRQWH[WRV±HGHSRLVGHVVHLQYHVWLPHQWR
WHQVLRQiYDPRVHHQWUHFUX]iYDPRVHVVDVVLVWHPDWL]Do}HVFRPRXWURVHVWXGRVHWHRULDV
(QWHQGLQHVVHFDPLQKRFRPRSRQWXD6DQWLDJRDSXG2/,172SDR
QRV FRQYLGDU j OLEHUDomR GDV VHQVLELOLGDGHV GLDQWH GD DUWH TXH R ³EODEODEOi WHyULFR QmR p R
EDVWDQWH´ SDUD GDU FRQWD GDV P~OWLSODV GLPHQV}HV H DWUDYHVVDPHQWRV TXH FRQVLGHUDQGR DV
HVSHFLILFLGDGHVVmRGRID]HUDUWtVWLFRHSHGDJyJLFRHGDSURGXomRGHFRQKHFLPHQWR
'LDQWH GLVVR UHFRUUHPRV WDPEpP j ³DUWH DXWRHWQRJUiILFD´ ,ELG S 2
PRYLPHQWRGHVLVWHPDWL]DomRHUHJLVWURQRVHVWiJLRVHUDHQWmRPDUFDGRSHODVDXWRQDUUDWLYDV
GRV DOXQRVHVWDJLiULRV VHQGR HVWDV UHIOH[R GR VHX SURFHVVR GH IRUPDomR GRFHQWH H GD VXD
H[SHULrQFLD FRP R HQVLQR GH 7HDWUR QDHVFROD ,VVRLPSOLFDYDSDUDDOpPGHXPDGHVFULomR
GHVHQYROYHU DQiOLVHV H LQWHUSUHWDo}HV GRV SURFHVVRV FULDWLYR H GH HQVLQRDSUHQGL]DJHP
HQTXDQWRSURIHVVRUHDTXHOHVIRUPDWLYRV(VVHPRYLPHQWRDQDOtWLFRHLQWHUSUHWDWLYRpEDVLODU
SDUDTXHWDODERUGDJHPVHFRQVWLWXDHQTXDQWRXPDDXWRHWQRJUDILD
&RQVLGHUDGD SDUWH GD PHWRGRORJLD HWQRJUiILFD HVVH PRGR GH DERUGDU RV QRVVRV
ID]HUHV GHVGH R SULQFtSLR IH]VH RSRUWXQR SHOD ³]RQD GH IURQWHLUD´ 5((''$1$+$<
QD TXDO QyV VXMHLWRV GH WDLV SURFHVVRV HVWiYDPRV ORFDOL]DGRV H QXPD SHUVSHFWLYD
PDFUR RQGH VH VLWXDP RV VXMHLWRV SRU HQWUH SRpWLFDV GHVHQYROYLGDV HP RXWURV FRQWH[WRV
SHGDJyJLFRV
1RVHVWiJLRVHQWUHRFDPSRGHIODJUDGRUGHVVDVUHIOH[}HVDVGLVFLSOLQDVPHGLDGDVSRU
PLP R XQLYHUVR VRFLRFXOWXUDO HVWXGDGR DV HVFRODV VXDV GLQkPLFDV H R SUySULR HVWiJLR H
DLQGDRVSURFHVVRVSHGDJyJLFRVLPSOLFDGRVHPDPERVRVFDVRV(VVHOXJDUIURQWHLULoRVXUJH
QR SUySULR DWR LQYHVWLJDWLYR H j PHGLGD TXH R SHVTXLVDGRU DR LQYHVWLU QR UHJLVWUR H QD
VLVWHPDWL]DomRUHDOL]DVXDVDXWRQDUUDWLYDVDQDOLVDHLQWHUSUHWDRVIHQ{PHQRVUHFRQKHFLGRVQR
XQLYHUVRHPHVWXGR
(QVDLDVH QHVVH SDVVR R TXH 2OLQWR S HQWHQGH FRPR ³>@ XPD GLItFLO
WUDYHVVLDHQWUHJHVWRVVXEMHWLYRVDWRVHPStULFRVHRSo}HVGHVXDGHVFULomRHWHRUL]DomR6HPD
WHQWDomR XVXDO GH UHGX]LU D FRPSOH[LGDGH GRV VHXV REMHWRV GH DQiOLVH >RX XQLYHUVRV SHOR
FDUiWHUGLQkPLFR@SHORVULWXDLVGHJHQHUDOL]DomR´
(VVDFRPSUHHQVmRVXUJHSDUDQyVSRUUHFRQKHFHUPRVFRPRVLQDOL]HLQRLQtFLRGHVVD
HVFULWD XPD GHPDQGD GH GDUPRV HVFXWD jV QRVVDV TXHVW}HV QR SHUFXUVR GH FRQVWUXomR GH
QRVVDVSRpWLFDVHPEDUDoDGDVjSURFHVVRVGHHQVLQRHDSUHQGL]DJHPHVSHFLDOPHQWHQDHVFROD
DUWLFXODQGRDVFRPDFRPSOH[LGDGHGRVXQLYHUVRVQRVTXDLVHVWDPRVSRUQRVLQVHULU
'L] UHVSHLWR SRLV D SHUFHEHU R TXH 3HOOHJULQL S UHFRQKHFH FRPR XPD
³OLomRIXQGDPHQWDO´DRLQWURGX]LUROLYUR³$GDQoD´TXHWUD]RFDPLQKRGH.ODXVV9LDQDD
SDUWLUGHXPH[HUFtFLRGHVWHDUWLVWDHSURIHVVRURTXDOWDPEpPFRQVLGHURDXWRHWQRJUiILFR³D
FULDomR KXPDQD QmR LPSRUWD TXDO VHMD QmR SRGH SUHVFLQGLU GD YLYrQFLD DWHQWD KRQHVWD H
SDFLHQWH GD UHDOLGDGH ( D UHDOLGDGH FRPHoD QR FRWLGLDQR QDV FRLVDV PDLV VLPSOHV H
DSDUHQWHPHQWHVHPLPSRUWkQFLD>@´
(QWmR SDUD DOpP GH UHODWRV GHVFULWLYRV D DERUGDJHP GHVVDV DXWRQDUUDWLYDV TXH
HPHUJHP GDYLGD FRWLGLDQD SHOR SURIHVVRUGH7HDWUR±LQFOXLQGRDTXHOHVHPIRUPDomRTXH
HVWmRHQWUHRVSURYRFDGRUHVGHVVHHVWXGR±HQYROYHXPD³>@SHUFHSomRFRPSOH[DHGLQkPLFD
TXH WHP GH VXD SUySULD VXEMHWLYLGDGH HGDTXHODVGHVHXVLQWHUORFXWRUHVHGDSUySULDUHODomR
TXHVHHVWDEHOHFHHQWUHDVXEMHWLYLGDGHFRPSOH[DGRSURGXWRUGHFRQKHFLPHQWRHDSURGXomR
GHREMHWRVGHHVWXGRWHRULDVHVDEHU´9(56,$1,S
¬OX]GHVVDSHUVSHFWLYDpTXHID]VHQWLGRDFRPSUHHQVmRGHXPDGDVDOXQDVGDWXUPD
GH(VWiJLR,9GRSULPHLURVHPHVWUHGHTXHDRID]HUXPDDXWRDQiOLVHGRVHXSURFHVVR
FDUWRJUiILFR FRPSDUWLOKRX XP ROKDU GH TXH HVVH WLSR GH HODERUDomR HUD DWUDYHVVDGD SRU
IRUPXODo}HVGHSDODYUDVH³PLFURVHQWHQoDV´DUWLFXODGDVDWRGRXPXQLYHUVRTXHHVWDYDDOLSRU
WUiV ± HX FRPSOHWDULD GL]HQGR TXH SRU entre $VVLP FRQFOXLX D DOXQD . WUDGX]LQGR VHX
HQWHQGLPHQWRGDTXHOHSURFHVVR³o mapa também está no meu corpo´
(VVD OHLWXUD QRV PRVWUD R UHVXOWDGR GD FRQVWUXomR GH XP HPDUDQKDGR GH YHWRUHV GH
PDWHULDLV GH GHVHMRV GH GLQkPLFDV ± GD YRQWDGH GH GDQoDU GH VH GLYHUWLU GLVVH HOD ± TXH
DIHWDPRVVXMHLWRVQDFRQVWUXomRGHVXDVSRpWLFDVQDVDODGHDXOD$TXLRXWURDVSHFWRPHUHFH
VHU UHVVDOWDGR HVVH outro VXMHLWR RV QRVVRV LQWHUORFXWRUHV DTXHOHV FRP TXHP FULDPRV
WURFDPRV TXH HVWmR HQYROYLGDV QR DWR FULDWLYR H SHGDJyJLFR TXH SRVVXHP H SURGX]HP
FRQWLQXDPHQWHVXEMHWLYLGDGHV
&RQVLGHUDQGRR HQWHQGHPRV FRPR VXJHUH %RXUULDXG S TXH ³>@ D
VXEMHWLYLGDGHVySRGHVHUGHILQLGDSHODSUHVHQoDGHXPDRXWUDVXEMHWLYLGDGHHODVHFRQVWLWXL
XPµWHUULWyULR¶DSDUWLUGHRXWURVWHUULWyULRVTXHHQFRQWUD>@HODVHPROGDSHODGLIHUHQoDTXH
D FRQVWLWXL HP SULQFtSLR GH DOWHULGDGH´ 'HILQLomR HVVD TXH UHFRQKHFH R FDUiWHU SOXUDO H
SROLI{QLFR GHVWD H ORJR GR DJUXSDPHQWR GH LQGLYtGXRV H HQUHGDPHQWR GH YHWRUHV TXH
DWUDYHVVDPRVHVSDoRVWHPSRVSHGDJyJLFRVHGHFULDomR
/RJR ³>@ SRGHUtDPRV SHQVDU HP DXWRHWQRJUDILDV FRPR HVSDoRV FRPXQLFDWLYRV H
GLVFXUVLYRV DWUDYpV GRV TXDLV RFRUUH R µHQFRQWUR GH VXEMHWLYLGDGHV¶ D LQWHUDomR GH
VXEMHWLYLGDGHV HP GLiORJR´ 9(56,$1, S 'HVVH PRGR R PDSD HVWi VLP QR
FRUSRGDTXHODDOXQDHGHFDGDXPGHVHXVLQWHUORFXWRUHVLVWRpGDTXHOHVTXHRFULDPGRVTXH
VmRYHWRUHVHPGHVXDFULDomRHGDTXHOHVTXHFRPHOHVHUHODFLRQDP
'HVWDUWH GLVSDUiYDPRV D FRQVWUXomR GH DXWRQDUUDWLYDV RX XPD QDUUDWLYDV
DXWRELRJUiILFDV TXH WUD]LDP j WRQD D VXEMHWLYLGDGH GH PRGR ³WUDQVSHVVRDO´ DUWLFXODQGR
PHPyULD SHVVRDO H FROHWLYD QXPD HVFULWD TXH VH GHVGREUD QXPD VXEMHWLYLGDGH
FRQWH[WXDOL]DGDFRPRQRVVLWXD9HUVLDQL$SDUWLUGLVVRFRQIRUPHSURS}HHVVDDXWRUD
DYDQoiYDPRV QRVHQWLGRGHGHVHQYROYHUXPH[HUFtFLRDXWRUUHIOH[LYRFRQVWDQWHSRUPHLRGR
TXDOSRGHUtDPRVHVWDEHOHFHUXPROKDUFUtWLFRHDQDOtWLFRTXDQWRDRQRVVRXQLYHUVRGHDWXDomR
DRVSURFHGLPHQWRVUHDOL]DGRVHDRVSULQFtSLRVTXHDWUDYHVVDUDPQRVVDVSUiWLFDV
(VVD OLQKD GH SHQVDPHQWR OHYDPH D UHFRQKHFHU H D FRQFRUGDU TXH D ³DUWH
DXWRHWQRJUiILFD´H[LJHGRSHVTXLVDGRUQRQRVVRFDVRSURIHVVRUDUWLVWDSHVTXLVDGRU
>@ XPD SRVWXUD DOWDPHQWH DXWRUHIOH[LYD SRLV HVVHV SUHVVXSRVWRV R FRQYLGDP D
UHSHQVDU VHX SDSHO GH SURGXWRU GH FRQKHFLPHQWR H VXD SUySULD VXEMHWLYLGDGH TXH
WDPEpPVHFRQVWUyLLQWHUDWLYDPHQWHHHVWiFLUFXQVWDQFLDGDSRUVXDVLQJXODUWUDMHWyULD
LQWHOHFWXDO H SHVVRDO SRU VXD LQVHUomR HP GLIHUHQWHV JUXSRV VRFLRFXOWXUDLV SRU
LQWHUHVVHVHFXULRVLGDGHVWHyULFDVDVVRFLDGDVDHVFROKDVUDFLRQDLVVLPPDVWDPEpP
DIHWLYDVHDWpPHVPRFDVXDLVHFRQWLQJHQFLDLV>@9(56,$1,S
$VVLPpTXHDVLQIRUPDo}HVREWLGDVQHVVDVH[SHULrQFLDVSHGDJyJLFDVQDVSRpWLFDVGR
HVWiJLRVHJXLGDVGDTXHODVRULXQGDVGDDQiOLVHHLQWHUSUHWDomRGDVPHVPDVIRUDPDUWLFXODGDV
jTXHODVSULPHLUDV UHGHV GHGDGRVDGYLQGRVGRVDOXQRVHVWDJLiULRVHGRVVXMHLWRVGRXQLYHUVR
GDHVFRODVHXVGHVHMRVVXDVYLYrQFLDVVXDVYR]HV(VVDWUDPDIRLWHQVLRQDGDHHPEDUDoDGD
DRV HVWXGRV YROWDGRV SDUD PHWRGRORJLDV GR HQVLQR GH $UWH H GH 7HDWUR H SDUD D FULDomR GH
H[SHULrQFLDV HVWpWLFDV H VHQVtYHLV (VVD UHGH IRL HQWmR GHIODJUDGRUD H DUWLFXODGRUD GDV
FDUWRJUDILDV GH SRpWLFDV ± DR PHVPR WHPSR TXH Mi VH FRQVWLWXtDP HQTXDQWR WDLV ± TXH VmR
FRQVWUXtGDV GXUDQWH WRGR R SHUFXUVR QR HVSDoRWHPSR SHGDJyJLFR QR FDVR GR HVWiJLRV
HVFRODU
$ SRUWD DEHUWD Ki VHPSUH XP QRYR PDSHDPHQWR RX D SHUIRUPDWLYLGDGH GD DUWH GH
FDUWRJUDIDU
³Eu tô viva!´ JULWRX SDUDVL DDOXQDHVWDJLiULD /DRUHFRQKHFHUQRPDSHDPHQWRGR
VHXSURFHVVRDVSRWHQFLDOLGDGHVHUHYHUEHUDo}HVGHVXDVSUiWLFDVFRPR7HDWURQDHVFROD(VVD
SHUFHSomRID]HFRDRSULQFtSLRTXH.ODXV9LDQQDSGL]WrORHQFDPLQKDGRjGDQoD
³>@DDUWHpDQWHVGHWXGRXPJHVWRGHYLGD´
(VVHROKDUDOpPGHUHLQWHJUDURFDUiWHULQHUHQWHGDUHODomRDUWHYLGDVXEYHUWHQGRXPD
VHJPHQWDomRTXHIRLVHQGRKLVWRULFDPHQWHFRQVWUXtGDPDVTXHQmRpGDQDWXUH]DDUWtVWLFDWUD]
j WRQD R FDUiWHU GH PRYLPHQWR GH SUHVHQoD GH GHVFREHUWD GH XP VHUHVWDU HP FRQVWDQWH
DWXDOL]DomRTXHpGHWHUPLQDQWHQDSRpWLFDHQRH[HUFtFLRFDUWRJUiILFRSRUHQWUHDPHVPD
2HVWDJLiULR/(UHFRQKHFHXLVVRQDVXDFDUWRJUDILDILJXUDDRFRQVWUXLUXPPDSD
TXH LQWHJUDYD UDVWURV GH SURFHVVR UDVFXQKRV QRWDV HVFULWDV GRV VHXV DOXQRV UHJLVWUR GH
UHFHSomR GD REUD FULDGD JHUDQGR XPDLPDJHPTXHUHYHODYDVXDSURSRVWDSUpYLDGHHVWiJLR
VHXSURFHVVRFULDWLYRHDGUDPDWXUJLDFULDGDQDTXHOHSHUFXUVR
&RQVHJXLPRV YLVXDOL]DU DOL XPD SRpWLFD PDUFDGD SHOR FDRV XPD HVSpFLH GH
HVTXL]RIUHQLD TXH HUD UHIOHWLGD QDTXHOD FRPSRVLomR FDUWRJUiILFD HVWUXWXUDGD H
UHHVWUXWXUDQGRVHQRFRPSDUWLOKDUGHVWD6REUHHVVHHVFROKDGHFRPRFRPSRUHOHVLQWHWL]RX
³não posso organizar numa linha o que não é linha´2TXHHOHFRPSOHWRXFRPDIDODGHXPD
GHVXDVDOXQDV³o que a gente está fazendo é a vida!´(HODHVWiORQJHGHVHUOLQHDUJXLDGD
SRUXPHL[RGHIRUPDFRQWtQXDRUJDQL]DGDHDFDEDGD
)LJ±&DUWRJUDILDGHSRpWLFDSDUDFULDomRGUDPDW~UJLFD
)RWR9LQtFLXV/tULR
(P FRQWH[WR VHPHOKDQWH DTXHOD DOXQD / TXH VH UHFRQKHFHX ³YLYD´ GXUDQWH RV
(VWiJLRV ,,, H ,9 VLPXOWDQHDPHQWH HP VLQWHWL]RX VXD UHODomR FRP HVVD DERUGDJHP
VXEOLQKDQGR TXH R PDSD SRVVLELOLWRX D HOD YLVXDOL]DU D SUiWLFD R VHX SURFHVVR GRFHQWH
FRQVWLWXLQGRVH FRPR XP RXWUR WLSR GH ³HVFULWD´ TXH WRUQD SRVVtYHO YHU H SHUFHEHU HVVH
FDPLQKRGHGHQWURFRPWRGRVRVVHXVDWUDYHVVDPHQWRV
(VVH HQWHQGLPHQWR ID] HFR DR TXH VXJHUHP 3DVVRV H %DUURV S DR
DILUPDUHPTXH³DGLUHWUL]FDUWRJUiILFDVHID]SRUSLVWDVTXHRULHQWDPRSHUFXUVRGDSHVTXLVD
VHPSUH FRQVLGHUDQGR RV HIHLWRV GR SURFHVVR GR SHVTXLVDU VREUH R REMHWR GD SHVTXLVD R
SHVTXLVDGRUHVHXVUHVXOWDGRV´6HQGRDVVLPRPDSDVHFRQVWLWXLQRQRVVRFDVRFRPRXPD
UHGH LPDJpWLFD VLVWHPDWL]DGRUD H QRUWHDGRUD SDUD DQiOLVH H PRELOL]DomR GDV SUiWLFDV
GHVHQYROYLGDV H UHJLVWUDGDV SHORV GRFHQWHV HP H D SDUWLU GH VHXV SURFHVVRV FULDWLYRV H
SHGDJyJLFRV
(P GLiORJR FRP HVVHV WUDoRV XP GRV PDSDV HVVH QR FRQWH[WR GH XP HVWiJLR QR
(QVLQR0pGLRUHPRQWDFDPLQKRVFRQVWUXtGRVHUHFRQVWUXtGRVDSDUWLUGDFRQMXQWXUDGDTXHOH
PRPHQWR(VVHSURFHVVRIRLDWUDYHVVDGRSHORPRYLPHQWRGHRFXSDomRGDVHVFRODVSRUDOXQRV
± Do}HV TXH RFRUUHUDP QR SDtV LQWHLUR QR VHJXQGR VHPHVWUH GH ± R TXH H[LJLX GRV
VXMHLWRV DWXDOL]Do}HV GH XPD SRpWLFD TXH HVWDYD VHQGR DWUDYHVVDGD SRU FRQWLQJrQFLDV
GHIODJUDGRUDV GH RXWUDV GHPDQGDV SDUD DOpP GDTXHODV UHFRQKHFLGDV LQLFLDOPHQWH SHOR
HVWDJLiULR,VVRpRTXHIRLFDUWRJUDIDGRQRPDSDDVHJXLUHORJRGHVHQYROYLGRQRHVWiJLR
)LJ&DUWRJUDILDGHXPDSRpWLFDHPRFXSDomR±FRUSRRFXSDQWHHRFXSDGR
)RWR9LQtFLXV/tULR
(VWDEHOHFHXVH DOL XP SURFHVVR GLDOyJLFR HP SOHQD FRQVRQkQFLD FRP D GLUHWUL]
FDUWRJUiILFD TXH FRPR OHPEUD &DQGHLDV S VXJHUH ³FULDU XP µSODQR GH
H[SHULrQFLD¶´ 1R QRVVR FDVR XPD HVWUDWpJLD FRP DTXHOH HVSDoRWHPSR H VHXV VXMHLWRV
DSUR[LPDQGRVH GHOHV H QHVVD LQWHUDomR SHUPLWLQGRVH DRV DWUDYHVVDPHQWRV P~WXRV SDUD
HQWmRFRQVWUXLURSURFHVVRDTXLDVXDSRpWLFD
-XQWRDHVVDLQWHUSUHWDomRRVPDSHDPHQWRVTXHYrPVHQGRGHVHQYROYLGRVQRVHVWiJLRV
WrP VLGR HVWUXWXUDGRV H GHVGREUDGRV FRQVLGHUDQGR SULQFtSLRV GR PpWRGR FDUWRJUiILFR FRPR
SURSRVWRSRU'HOHX]HH*XDWWDUL¬OX]GLVVRHGRPRGRFRPRHVVHVPDSDVIRUDPVH
UHYHODQGRHDRPHVPRWHPSRDWXDOL]DQGRVHUHFRQKHFHPRVVXDIRUoDSHUIRUPiWLFDDEHUWRj
LQFRUSRUDomRGRVVDEHUHVHID]HUHVGRVDIHWRVHDWUDYHVVDPHQWRVGRVSURFHVVRVGHIODJUDGRUHV
GHVVDLQYHVWLJDomRHGHVHXVVXMHLWRV
&RPLVVRHPPHQWHGLDORJXHPRVFRPDLPDJHPDVHJXLU
)LJ±&DUWRJUDILDGHSRpWLFDSRUHQWUHXPYpX
)RWR9LQtFLXV/tULR
2 PDSHDPHQWR D TXH HVVD LPDJHP VH UHIHUH LQFOXtD RV VHJXLQWHV HOHPHQWRV
VRQRULGDGHV LQWHUIHULQGR H VHQGR PRELOL]DGRUDV GHDomR DRSDVVRTXHVHFRQVWLWXtDPFRPR
XPYHWRUQRPDSDHDGYLQKDPGHXPDPRQWDJHPFRPRP~VLFDVSURGX]LGDVSHORVDOXQRVGD
LQVWLWXLomR HVFRODU DWUDYHVVDPHQWRV WHPDV HFRQFHLWRVTXHSHUPHDUDP D SRpWLFDGR (VWiJLR
,9GDDOXQD.QRSULPHLURVHPHVWUHGHDGPLVVmRGHLQWHUIHUrQFLDVH[WHUQDVGRRXWUR
± QR FDVR VHXV FROHJDV H HX ± QXP PRYLPHQWR GH GHVFRQVWUXomR UHPRQWDYD XPD DomR
SHUIRUPiWLFD GD HVWDJLiULD QR LQtFLR GR VHX SHUFXUVR TXH UHYHODYD D SRVWXUD LQHUWH GH VHXV
DOXQRV R TXH SDUD QyV VXUJLX VRE XP YpX TXH VHJXQGR HOD ID]LD UHIHUrQFLD DR SHUFXUVR
QHEXORVRTXHIRLRVHXHVWiJLR
(VVD FDUWRJUDILD UDGLFDOL]DYD D IDOD GHVVD PHVPD DOXQD DR VXEOLQKDU TXH R PDSD
HVWDYD WDPEpP QR VHX FRUSR -XQWR D LVVR D OHLWXUD GHVVH PDSHDPHQWR SRVVLELOLWRX SDUD
PLPDSHUFHSomRGLUHWDGHVVHWUDoRSHUIRUPiWLFRTXHpLQHUHQWHDRH[HUFtFLRFDUWRJUiILFRQR
DWRGHFRPSDUWLOKDUHVVDVLVWHPDWL]DomRHVVHUHJLVWURDVPHPyULDVDOLYLYDVHPPRYLPHQWR
QXPD DQiOLVH LQWHUSUHWDomR H OHLWXUDVTXHDWXDOL]DPHVVDWUDPDHQTXDQWRQDTXHOHPHVPR
PRPHQWRFULDYDPVHHQUHGDPHQWRVRXWURV
,VVR UHIOHWH R TXH )pUDO S DSRQWD FRPR XPD GDV LGHLDV GD REUD
SHUIRUPDWLYDQDPHGLGDHPTXH
>@ WRPD OXJDU QRUHDOHHQIRFD HVVD PHVPD UHDOLGDGH QD TXDO VH LQVFUHYH
GHVFRQVWUXLQGRD MRJDQGR FRP RV FyGLJRV H DV FDSDFLGDGHV GR HVSHFWDGRU
>QRQRVVRFRQWH[WRFRPROHLWRUHV@>@7DOGHVFRQVWUXomRSDVVDSRUXPMRJR
FRPRVsignos que se tornam instáveis, fluidos>@,QVWDODDDPELJXLGDGHGH
VLJQLILFDo}HVRGHVORFDPHQWRGRVFyGLJRVRVGHVOL]HVGHVHQWLGR7UDWDVH
SRUWDQWRGHdescontruir a realidade, os signos, os sentidos e a linguagem
7HPRVHQWmRXPPDSDGHQWUHRXWURVTXHIRUDPFRQVWUXtGRVTXHDWLYDPRSRWHQFLDO
GH³>@WUDQVIRUPDUHPSRHVLDWDOFRWLGLDQR´,ELGS3RUHVVDVSRWHQFLDOLGDGHVpTXH
HVVDDERUGDJHPHQWUDHPGLiORJRHID]VHQWLGRQRFRQWH[WRGDVSRpWLFDVGDVDODGHDXOD$DUWH
FDUWRJUiILFD±UHVROYLDGRWDUHVVDH[SUHVVmR±UHIRUoDRVHXFDUiWHUSHUIRUPiWLFRSRULQVWDXUDU
SRUHQWUHDVXDFRQVWUXomRWDWHDQWHDEHUWDHLQVWiYHOTXHVHHVWHQGHQRDWRGHFRPSDUWLOKDU
Do}HVTXHVHFRQVWURHPem situaçãoQXPDHVSpFLHGH³mise en situation´RSFLW(VWDSRU
VXD YH] p PDUFDGD SHOD LQWHUUHODomR TXH HVWDEHOHFH XP HOR HQWUH R SURIHVVRUDUWLVWD
SHVTXLVDGRU RV REMHWRV H RV FRUSRV $VVLP QmR Ki XP VHQWLGR GHILQLGRH HQFHUUDGR PDV D
LQVWDODomR GH PDLV XP HPEDUDoDPHQWR GH OHLWXUDV VLJQLILFDo}HV LQWHUSUHWDo}HV H
PDSHDPHQWRV
'HVVHPRGRIRLTXHQR GHVHQYROYHUGHVVDVSUiWLFDVFDUWRJUiILFDVFRPRVDOXQRVGRV
HVWiJLRVYHQKRUHFRQKHFHQGRHHQWHQGHQGRQDH[SHULrQFLDSUiWLFDRTXH'HOHX]HH*XDWWDUL
S Mi QRV VLQDOL]DP ³R PDSD p XPD TXHVWmR GH SHUIRUPDQFH´ ,ELG S (OH
HQWUHFUX]DSURFHVVRVHSURFHGLPHQWRVTXHVHGHVHQYROYHPHVHDWXDOL]DPHPPRYLPHQWRLVWR
pSDUWHGRSUySULRPRPHQWRGDDomRTXHRGHIODJUDHHPSDUDOHORDTXHODTXHRFRQVWLWXLQR
SUHVHQWHHTXHYDLVHWUDQVIRUPDQGRjPHGLGDTXHYDLDFRQWHFHQGR
(VVH WUDoR SRGH VHU SHUFHELGR HP RXWUDV FDUWRJUDILDV FRQVWUXtGDV WDPEpP QRV
HVWiJLRV8PDGHODVFRQVWLWXLXVHFRPRXPDFDUWRJUDILDGLQkPLFDDUWLFXODQGRQRSUySULRDWR
GHFRPSDUWLOKDPHQWRDVXDFRQVWUXomRHXPSODQRGHLQWHUDo}HVYLYRDVHUUHWRPDGRDFDGD
QRYDVLWXDomRGHVRFLDOL]DomR
(VWDIRLUHIOH[RGHXPDSRpWLFDWDPEpPQR(QVLQR0pGLRQRFRQWH[WRGDGLVFLSOLQD
$UWH QR TXDO D HVWDJLiULD LQYHVWLX HP FRQVWUXLU XP SHUFXUVR TXH FRQWH[WXDOL]DVVH RV
FRQWH~GRV HQULMHFLGRV GR FXUUtFXOR HVWDEHOHFHQGR HORV FRP DV UHIHUrQFLDV H TXHVW}HV
VRFLRFXOWXUDLV GRV DOXQRV GLPHQV}HV SROtWLFDV GD DUWH H FRQWHPSRUDQHLGDGH ,VVR FXOPLQRX
QXPD SURSRVWD GH LQWHUYHQomR XUEDQD HP HVSDoRV GH FRQYLYrQFLD FROHWLYD TXH H[HUFLDP
DOJXPWLSRGHRSUHVVmRHRXSURYRFDYDPRVHQWLPHQWRGHIDOWDGHSHUWHQFLPHQWRQRVDOXQRV
VHQGRHOHVDIUREUDVLOHLURVHRXGHFODVVHVGHVIDYRUHFLGDVHFRQRPLFDPHQWH
$VVLP FRPR GHVGREUDPHQWR HVVH PDSD IRL FRQVWUXtGR WDPEpP QXPD LQWHUYHQomR
QRVHVSDoRVGHLQWHUDomRGD8QLYHUVLGDGHQRFDVRQD)DFXOGDGHGH(GXFDomRGD8)0*SRU
RQGH tDPRV QRV GHVORFDQGR H GHL[DQGR UDVWURV SHOR SHUFXUVR 8P GHOHV VH UHIHUH
PHWDIRULFDPHQWHjDomRGHVHQYROYLGDQDHVFRODFRPXP³MRJRGDYHOKD´QRTXDOFDGDSHoD
³RFXSDRVHXTXDGUDGR´WDOTXDORVVXMHLWRVGDTXHODSRpWLFDTXHEXVFDYDPOHJLWLPDURVVHXV
OXJDUHVHPGLIHUHQWHVHVSDoRVGDFLGDGHHQXPDHVFDODPDFURQRPXQGR
)LJ5DVWURVGRPDSDHPLQWHUYHQomRSHUIRUPiWLFDFDGDXPQRVHXTXDGUDGR
)RWR9LQtFLXV/tULR
([HUFtFLRV FRPR HVVH p TXH PH OLJDUDP j LPDJHP GD ³SRUWD DEHUWD´ TXH VXUJLX
SHUIRUPDWLYDPHQWHFRPRPHXSUySULRPDSDGLDQWHGDVFDUWRJUDILDVFRPSDUWLOKDGDVQDWXUPD
(VWiJLR,,,QRSULPHLURVHPHVWUHGH$TXHOHHVSDoRGHWUkQVLWRGHP~OWLSODVHSRVVtYHLV
HQWUDGDVUHYHORXVHQRPHXH[HUFtFLRFDUWRJUiILFRHPWRUQRGRVSURFHVVRVTXHDWUDYHVVDUDP
DTXHOH SURFHVVR IRUPDWLYR GH GRFrQFLD H GH FULDomR FRP DTXHOH VXMHLWRV HVSHFtILFRV /L D
SRUWD TXH SHUPDQHFHX DEHUWD GXUDQWH WRGRV RV PDSHDPHQWRV DOL GHIODJUDGRV H VRFLDOL]DGRV
FRPR HVVH OXJDU LQWHUVWLFLDO GR FULDU FRPR LPDJHP GH SRWHQFLDLV PDSHDPHQWRV TXH FRPR
FULDomRUHWRPDQGRRVSULQFtSLRVGD³IRUPDWLYLGDGH´HGD³SHUIRUPDWLYLGDGH´QmRVHIHFKDP
&RQVLGHUDo}HVRXDLQGDUDVWURVGHXPDSRpWLFDHPGHYLU
,QVFUHYLQHVVDV~OWLPDVSiJLQDVDOJXPDVUHIOH[}HVDLQGDHPPRYLPHQWRUHPRQWDQGR
UDVWURV GH XPD SRpWLFD WDPEpP DTXL QXP PDSHDU D SDUWLU GH H[HUFtFLRV FDUWRJUiILFRV
GHVHQYROYLGRVSRUHQWUHRVHVSDoRVLQWHUVWLFLDLVGDIRUPDomRGHSURIHVVRUHVHGDVSHGDJRJLDV
GR7HDWUR7UDJRQHVWDHVFULWDXPDUHGHGHGLVFXVV}HVHSURYRFDo}HVHPSURFHVVRHPGHYLU
FXMRV IOX[RV H YHWRUHV DGYLQGRV GH SHUFXUVRV FULDWLYRV H SHGDJyJLFRV YrP VHQGR WDWHDGRV
HQTXDQWRRVPHVPRVVmRSHUFRUULGRV
'HVVD PDQHLUD DVVLP FRPR WDLV SRpWLFDV GD VDOD GH DXOD IRUDP VHQGR FRQVWUXtGDV
QHVVHVFDPLQKRVFRPRpGHVXDQDWXUH]DWDPEpPRIRUDPVXDVFDUWRJUDILDV&ULDPRVHQWUH
HHPTXDWURWXUPDVGHHVWiJLRYLQWHPDSDVHHVWDPRVFRPRXWURVRQ]H
HP FULDomR &DGD XP GHOHV UHIOH[R GH SURFHVVRV HVSHFtILFRV FRP VHXV DWUDYHVVDPHQWRV
UHIHUrQFLDV YR]HV PHPyULDV H DIHWRV (VVH WUDoR WURX[H GLQkPLFD SDUD DV HVFROKDV GH
PDWHULDLV GH DUWLFXODo}HV HQUHGDPHQWRV H FRPSDUWLOKDPHQWRV H SRWHQFLDOL]RX R
HQWHQGLPHQWRGDTXHODVLVWHPDWL]DomRHUHJLVWURWDPEpPFRPRXPSURFHVVRFULDWLYR$OJRTXH
YLHPRVEXVFDQGRGHVGHRSULQFtSLR
(VVHV PDSDV UHIOHWHP HQWmR DUWLFXODo}HV WHyULFDV FRP RV GHVDILRV H VROXo}HV
HQFRQWUDGDV QR FRQWH[WR GH GLYHUVDV LQVWLWXLo}HV HVFRODUHV FRP GLQkPLFDV H VXMHLWRV GD
PHVPD IRUPD P~OWLSORV &RP HVVDV GHVFREHUWDV p SRVVtYHO HQFRQWUDU SRQWHV SDUD
FRQWH[WXDOL]DomR LGHQWLILFDU GHPDQGDV SDUD LQWHUYHQo}HV H DR PHVPR WHPSR FRQVWUXLU XP
FDPLQKRGLDOyJLFRGHDomRLQWHJUDomRLQWHUUHODomRHFULDomR
(VWDPRVGHVFREULQGRHFDUWRJUDIDQGRRTXHID]HUHPRGRVGHID]HUHQTXDQWRID]HPRV
&RQVLGHURHVWDDGLQkPLFDGHXPDSRpWLFDDRPHVPRSDVVRTXHVHFRQVWLWXLWDPEpPFRPR
XPD GLUHWUL] FDUWRJUiILFD $PEDV VmR GH QDWXUH]D SURFHVVXDLV H FRPR WDLV HP FRQVWDQWH
DWXDOL]DomR
'HVVH FRQMXQWR GH SUiWLFDV H DQiOLVHV p TXH FKHJDPRV j FRPSUHHQVmR GH TXH D
FDUWRJUDILD QRV FDVRV GDV SRpWLFDV HP $UWHV GD &HQD QD VXD FRQVWLWXLomR H TXDQGR
FRPSDUWLOKDGD DFDED VHQGR SHUIRUPDWLYDGHPRGRDJHUDUVHPSUHXP QRYRDFRQWHFLPHQWR
XPDQRYDWUDPDRXVHMDDHQVDLDUXPQRYRPDSHDPHQWR
1HVVH VHQWLGR VXEOLQKDVH R WUDoR SHUIRUPiWLFR GR PRYLPHQWR GH PDSHDU
WUDQVIRUPDQGR R VHX SUySULR DWR FULDWLYR QR TXH HQWHQGL FRPR XPD ³SRUWD DEHUWD´ WHPRV
UDVWURV PDSHDGRV HP SURFHVVR H XP PDSD TXH VH DWXDOL]D D FDGD QRYR DFHVVR D FDGD
PRYLPHQWRGHLUHYLUGHDWUDYHVVDPHQWRVHIOX[RVDFDGDFRPSDUWLOKDU
(VVH ROKDU SDUD D DUWH GD FDUWRJUDILD WrP VH FRQVWLWXtGR SDUD PLP FRPR XP QRYR
YHWRUGHLQYHVWLJDomRQRTXHFRQFHUQHjVXDSUiWLFDGHXPODGRFRPRUHFXUVRSRWHQFLDOSDUD
VLVWHPDWL]DU SHQVDU H DWXDOL]DU SUiWLFDV SHGDJyJLFDV H FULDWLYDV QR HQVLQR GR 7HDWUR H GH
RXWUR GH PRGR DUWLFXODGR HQTXDQWR DERUGDJHP PHWRGROyJLFD SDUD SHVTXLVD HP WRUQR GH
SRpWLFDVGDV$UWHVGD&HQD
5()(5Ç1&,$6
$1'5e0DUOL(OL]D'DOPD]R$IRQVRGH(WQRJUDILDGDSUiWLFDHVFRODUDHG&DPSLQDV
3DSLUXV
%2855,$8'1LFRODV(VWpWLFDUHODFLRQDO6mR3DXOR0DUWLQV)RQWHV
&$1'(,$6 0DQXHO /HY\ $ FDUWRJUDILD FRPR SRVVLELOLGDGH SDUD XPD DSUR[LPDomR HQWUH
SURGXomR DUWtVWLFD FUtWLFD H DFDGHPLD ,Q 5HYLVWD 0RULQJD $UWHV GR (VSHWiFXOR -RmR
3HVVRD8)3%YQMDQMXQS
'(/(8=(*LOOHV *8$77$5,)pOL[0LOSODW{V&DSLWDOLVPRHHVTXL]RIUHQLD6mR3DXOR
(GLWRUD
'(/(8=(*LOOHV&UtWLFDHFOtQLFD6mR3DXOR(GLWRUD
)e5$/-$OpPGRVOLPLWHVWHRULDHSUiWLFDGRWHDWUR6mR3DXOR3HUVSHFWLYD
*8,16%85* -DFRE (VWH /p[LFR ,Q .28'(/$ , ' $/0(,'$ -81,25 - 6 GH
2UJVLéxico de pedagogia do teatro6mR3DXOR3HUVSHFWLYDS
/Ë5,2 9LQtFLXV GD 6LOYD 3RpWLFDV GD VDOD GH $XOD SURFHVVRV GH FULDomR H DSUHQGL]DJHP
HQWUHRWHDWURHDSHUIRUPDQFH,Q7HDWUR&ULDomRH&RQVWUXomRGH&RQKHFLPHQWRYQ
QRY S 'LVSRQtYHO HP
KWWSVVLVWHPDVXIWHGXEULQGH[SKSWHDWURFDUWLFOHYLHZ $FHVVR HP IHY
0$&('2'(6È6LOYLD0LFKHOH3RYRVLQGtJHQDVHPDILUPDomRFDPLQKRVHWQRJUiILFRV
DSUHQGHQWHV H D FRPSUHHQVmR FXOWXUDO GH IHQ{PHQR DSUHQGHU ,Q 0$&('2 5REHUWR
6LGQHL A etnopesquisa implicada: SHUWHQFLPHQWR FULDomR GH VDEHUHV H DILUPDomR %UDVtOLD
/LEHU/LYURS
2/,172 +HLGUXQ .ULHJHU $UWH DXWRHWQRJUiILFD ,Q 9(56,$1, 'DQLHOD %HFFDFFLD
Autoetnografias: FRQFHLWRV DOWHUQDWLYRV HP FRQVWUXomR 5LR GH -DQHLUR OHWUDV S
3$5(<621/XLJL2V3UREOHPDVGD(VWpWLFD(G6mR3DXOR0DUWLQV)RQWHV
3$6626(GXDUGR%$55265HJLQD%HQHYLGHV$FDUWRJUDILDFRPRPpWRGRGHSHVTXLVD
LQWHUYHQomR ,Q 3$6626 (GXDUGR .$67583 9LUJtQLD (6&Ï66,$ /LOLDQD GD RUJV
Pistas do método da cartografia: 3HVTXLVDLQWHUYHQomR H SURGXomR GH VXEMHWLYLGDGH 3RUWR
$OHJUH6XOLQDS
3(//(*5,1,/XtV,QWURGXomR,Q9,$11$.ODXVA dança6mR3DXOR6XPPXV
S
5((''$1$+$<'HERUDK$XWRHWKQRJUDSK\UHZULWLQJWKHVHOIDQGWKHVRFLDO2[IRUG
%HUJ
9(56,$1,'DQLHOD%HFFDFFLD$XWRHWQRJUDILDVFRQFHLWRVDOWHUQDWLYRVHPFRQVWUXomR5LR
GH-DQHLUROHWUDV
9,$11$.ODXV$GDQoD6mR3DXOR6XPPXV
3$125$0$%5$6,/(,52'$6/,&(1&,$785$6(0$57(6
9,68$,6'$'26$3$57,5'22%6(59$7Ï5,2'$)250$d2
'(352)(6625(6'($57(6
0DULD&ULVWLQDGD5RVD)RQVHFDGD6LOYD±8GHVF
5HVXPR
2SUHVHQWHDUWLJRGL]UHVSHLWRjPHVDGHWUDEDOKRUHDOL]DGDQR&RQIDHE±QD8QLYHUVLGDGH)HGHUDO
GH0DWR*URVVRGR6XO8)06LQWLWXODGD'HVYHODQGRFDPLQKRVDIRUPDomRGRFHQWHHPDUWH2V
HVWXGRV GHVHQYROYLGRV SHOR SURMHWR ELODWHUDO HP UHGH 2EVHUYDWyULR GD )RUPDomR GH 3URIHVVRUHV QR
ÆPELWRGR(QVLQRGH$UWHVHVWXGRVFRPSDUDGRV%UDVLO$UJHQWLQDIRUDPHQWmRDSUHVHQWDGRVDSDUWLU
GH XP UHFRUWH GR JUXSR GH SHVTXLVD GD 8GHVF FRP R REMHWLYR GH GLVVHPLQDU RV HVWXGRV DFHUFD GDV
OLFHQFLDWXUDV HP $UWHV 9LVXDLV QR %UDVLO GLVSRQLELOL]DQGR RV GDGRV Mi VLVWHPDWL]DGRV H DR PHVPR
WHPSRLGHQWLILFDQGRQRYDVSUREOHPiWLFDVGHLQYHVWLJDomR2SURMHWRQDVFHXGDDEVROXWDIDOWDGHGDGRV
VLVWHPDWL]DGRV H UH~QH QD DWXDOLGDGH XP FRQMXQWR H[SUHVVLYR GH LQIRUPDo}HV H GH LQVWLWXLo}HV
DVVRFLDGDV 8P GRV WHPDV TXH HPHUJLX D SDUWLU GHVVD FROHWD GH GDGRV IRL D RIHUWD GD IRUPDomR QD
PRGDOLGDGHDGLVWkQFLDLQFOXLQGRVHTXDORLPSDFWRGHVVDPRGDOLGDGHQDIRUPDomRGRVHVWXGDQWHVHQD
RIHUWDGRVFXUVRVSUHVHQFLDLV2XWURDVSHFWRUHOHYDQWHpDORFDOL]DomRGRVFXUVRVRIHUWDGRVQROLWRUDO
QHJOLJHQFLDQGRVHDRIHUWDGHSURIHVVRUHVQDVHVFRODVGRLQWHULRUGRSDtV
3DODYUDVFKDYH2EVHUYDWyULR)RUPDomRGHSURIHVVRUHV/LFHQFLDWXUDV$UWHVYLVXDLV
$RIHUWDGHFXUVRVGHOLFHQFLDWXUDQR%UDVLO
2V HVWXGRV GR SURMHWR GH SHVTXLVD HP UHGH 2EVHUYDWyULR VHomR 8GHVF OHYDQWDUDP
HQWUHRVDQRVHGDGRVTXDQWLWDWLYRVUHODWLYRVjRIHUWDGHOLFHQFLDWXUDVSUHVHQFLDLVQD
iUHD GH DUWHV YLVXDLV (VWXGRV GH DSRQWDUDP D GLYHUVLGDGH GH WHUPRV XWLOL]DGRV SHOR
,QVWLWXWR1DFLRQDOGH(VWXGRVH3HVTXLVDV(GXFDFLRQDLV$QtVLR7HL[HLUD,QHSTXHXWLOL]DYD
WUrV WHUPRV GLIHUHQWHV SDUD QRPLQDU RV FXUVRV GH JUDGXDomR HP $UWHV 9LVXDLV TXDLV VHMDP
$UWHV 9LVXDLV $UWHV (GXFDomR $UWtVWLFD H $UWHV 3OiVWLFDV (VVHV WHUPRV VXUJLUDP GR
SUHHQFKLPHQWRTXHDVLQVWLWXLo}HVGHHQVLQRVXSHULRUID]LDPGRVGRFXPHQWRVHQYLDGRVSDUDR
0LQLVWpULR GD (GXFDomR 0(& 2EVHUYRXVH TXH DV GHPDQGDV GH FUHVFLPHQWR GRV GDGRV
DQDOLVDGRVHQWUHHQmRVHJXLDPXPDRUGHPSDXODWLQDGHFUHVFLPHQWRSRUH[HPSOR
GHDKiXPYHUWLJLQRVRDXPHQWRGRVFXUVRVGH$UWHV9LVXDLVQDSURSRUomRGH
ÒOWLPRVHQVRSXEOLFDGRDWpDSUHVHQWHGDWD
HP UHODomR DRV GHPDLV DQRV 1R JUiILFR D VHJXLU TXH IRL SXEOLFDGR SRU )RQVHFD GD 6LOYD
$OYDUHQJDH3HUDHDWXDOL]DGRSRU$OYDUHQJDHPVLQWHWL]DPVHRVSHUFHQWXDLVGH
FUHVFLPHQWR
*UiILFR±&UHVFLPHQWRGHFXUVRVGH$UWHV9LVXDLV
)RQWH)RQVHFDGD6LOYD$OYDUHQJDH3HUD
9rVH TXH HQWUH RV DQRV GH H KRXYH XPD PXGDQoD DVVLQWRPiWLFD QR
FUHVFLPHQWRGRVFXUVRV2VGH(GXFDomR$UWtVWLFDTXHHPFRQWDYDPFRPOLFHQFLDWXUDV
HPSDVVDUDPDILJXUDUFRPHHPKRXYHXPFUHVFLPHQWRSDUDFXUVRV2VGH
$UWHV3OiVWLFDVTXHVRIUHUDPSHTXHQDVYDULDo}HVHQWUHHDXPHQWDUDPGHSDUD
HP H EDL[DUDP SDUD HP +i WDPEpP QDV OLFHQFLDWXUDV HP $UWHV 9LVXDLV XPD
GLVVRQkQFLDHPSRLVREVHUYDVHXPDPXGDQoDQRULWPRGHFUHVFLPHQWRVLQFURQL]DGR(P
FRQWDYDVHFRPXPSDWDPDUGHFXUVRVQRHQWDQWRHPHVVHSDWDPDUSDVVRXSDUD
FXUVRVFKHJDQGRDDWLQJLUHPOLFHQFLDWXUDVHP$UWHV9LVXDLV2TXHJHURXHVVD
PXGDQoD"$KLSyWHVHTXHVHGHIHQGHDTXLpDGHTXHHPDSyVDDSURYDomRGDVGLUHWUL]HV
FXUULFXODUHVSDUDDV$UWHV9LVXDLV5HVROXFࡤDRѺ QGHGHMDQHLURGHPXLWRVFXUVRVGH
FDUiWHUSROLYDOHQWHSDVVDUDPDRSWDUSHODiUHDGH$UWHV9LVXDLV
$VDQiOLVHVGRSURMHWR2EVHUYDWyULRFRQVLGHUDUDPDFRQMXQWXUDSROtWLFRHFRQ{PLFDGR
%UDVLOQRSHUtRGRLQYHVWLJDGRHLGHQWLILFRXVHRXWURDVSHFWRTXHDODYDQFRXRFUHVFLPHQWRGDV
OLFHQFLDWXUDVHP$UWHVDLQIOXrQFLDGDVPXGDQoDVSROtWLFDVGR*RYHUQRGH/XL],QiFLR/XODGD
6LOYDHQWUHRVDQRVGHH1HVVHSHUtRGRKRXYHXPDDEHUWXUDPDLRUSDUDDFULDomRGH
FXUVRV GH IRUPDomR VXSHULRU LQFOXVLYH FRP D FULDomR GH XP Q~PHUR H[SUHVVLYR GH
XQLYHUVLGDGHV GLIHUHQWHPHQWH GR TXH DFRQWHFHX QR *RYHUQR GH VHX DQWHFHVVRU )HUQDQGR
+HQULTXH&DUGRVR)+&HQWUHHHPTXHRHQWmRSUHVLGHQWHFRQJHORXRSURMHWRGH
FUHVFLPHQWRGDVXQLYHUVLGDGHVS~EOLFDVLQFOXVLYHGLILFXOWDQGRDPDQXWHQomRGDVLQVWLWXLo}HVMi
H[LVWHQWHV
1DDWXDOL]DomR GR *UiILFR RFRUULGDHPIRUDP LQVHULGRVRVGDGRVGHH
VHQGRSRVVtYHOREVHUYDUTXHGHDKRXYHXPDFUHVFHQWHDPSOLDomRGHFXUVRV
GHOLFHQFLDWXUDHP$UWHV9LVXDLVQR%UDVLOPDVTXHQRHQWDQWRGHSDUDFRPHoRX
DRFRUUHUXPGHFUpVFLPRGHVVDRIHUWD'XDVKLSyWHVHVSRGHPVHUHOHQFDGDVSDUDMXVWLILFDUHVVH
PRYLPHQWRRLQtFLRGDFULVHHFRQ{PLFDGR*RYHUQRGH'LOPD5RXVVHIIHRXDDPSOLDomRGD
RIHUWDQDPRGDOLGDGHDGLVWkQFLDTXHSRGHULDLQIOXLUQRIHFKDPHQWRGHFXUVRVSUHVHQFLDLV
&RQVLGHUDQGR DV UHIOH[}HV VREUH D iUHD GH $UWHV HQWHQGHVH TXH D PXGDQoD GH
QRPHQFODWXUD HVWi YLQFXODGD D XPD FRQFHSomR GH IRUPDomR TXH SUHWHQGH VXSHUDU R HQVLQR
SROLYDOHQWHHPTXHRSURIHVVRUpKDELOLWDGRSDUDHQVLQDUGLIHUHQWHVOLQJXDJHQVGDVDUWHVFRPR
P~VLFDDUWHVYLVXDLVGDQoDHWHDWUR$RORQJRGRVDQRVGHDWpRVGLDVDWXDLVDSRQWDPVH
HP HVWXGRV DV GHILFLrQFLDV GH DSUHQGL]DJHQV GHFRUUHQWHV GD SURSRVWD SROLYDOHQWH FRPR IRL
H[SUHVVDGRSRU%DUERVD5RVDH)HUUD]H)XVDUL
1RTXDGURJHUDOREVHUYDGRQR*UiILFRYrVHTXHDPDLRULDGRVFXUVRVGHOLFHQFLDWXUD
RSWRXSHODIRUPDomRGHSURIHVVRUHVSRUXPDGDVOLQJXDJHQVPDVRPRGHORSROLYDOHQWHSHUVLVWH
HPPHQRUJUDX1RPRGHORGHIRUPDomRHPXPD~QLFDOLQJXDJHPROLFHQFLDQGRDSURIXQGD
VHXVFRQKHFLPHQWRVHSRUFRQVHTXrQFLDDGTXLUHPDLRUKDELOLGDGHHPUHODomRDRVFRQFHLWRVH
jVXDSHUVSHFWLYDHGXFDFLRQDORIHUWDQGRjHVFRODXPHQVLQRPDLVTXDOLILFDGR
$ WUDMHWyULD GH FUHVFLPHQWR GDV OLFHQFLDWXUDV HP $UWHV 9LVXDLV FRQGL] FRP R
FUHVFLPHQWRGDSURGXomRLQWHOHFWXDOGDiUHDFDUDFWHUL]DGDSHODGHIHVDGR(QVLQRGH$UWHSRU
SURIHVVRUHVHVSHFLDOLVWDVHQmRSRUSURIHVVRUHVSROLYDOHQWHVFRPRHUDPSUHSDUDGRVQRPRGHOR
GH (GXFDomR $UWtVWLFD FRQIRUPH D /HLQ HGHDJRVWRGH $DSURYDomRGDV
'LUHWUL]HV&XUULFXODUHV1DFLRQDLV'&1VGH$UWHV9LVXDLVMiPHQFLRQDGDVQRLQtFLRGRWH[WR
UHIRUoD D FRQFHSomR GH IRUPDomR SRU OLQJXDJHP HVSHFtILFD DUJXPHQWR FRPSURYDGR SHOR
GHFUpVFLPRGHFXUVRVDSDUWLUGH2EVHUYDVHTXHHPKDYLDFXUVRVFXMRQRPHHUD
(GXFDomR$UWtVWLFDIRUPDomRSROLYDOHQWHQ~PHURTXHFDLSDUDHP1RWDVHWDPEpP
XPDFUpVFLPRQRVFXUVRVGH$UWHV3OiVWLFDVTXHSDVVDPGHHPSDUDHP
2 DQR GH FRQILJXURXVH FRPR XP GLVVHQVR SRLV RV FXUVRV GH $UWHV 3OiVWLFDV
GLPLQXtUDP GH SDUD RV GH(GXFDomR$UWtVWLFDDXPHQWDPGHSDUDHRVGH$UWHV
9LVXDLV GH VXELUDP SDUD (P RFRUUHUDPSHTXHQDVYDULDo}HVPDVRVFXUVRV GH
(GXFDomR $UWtVWLFD FRQWLQXDUDP D FUHVFHU H VRPHQWH HP ~OWLPR DQR GLVSRQtYHO QRV
UHODWyULR GR VHQVR GR HQVLQR VXSHULRU D TXHVH WHYH DFHVVR RV FXUVRV GH(GXFDomR $UWtVWLFD
GLPLQXtUDP R Q~PHUR GH FXUVRV VHQGR TXH HP KDYLDP SROLYDOHQWHV GH (GXFDomR
$UWtVWLFD H HP HVVH Q~PHUR EDL[RX SDUD VLQWRQL]DQGRVH XP SRXFR PDLV FRP D
SROtWLFDGHIRUPDomRYLJHQWHQRSDtVRXVHMDFRPDV'LUHWUL]HV&XUULFXODUHVSDUDD)RUPDomR
HP$UWHV9LVXDLV
$OJXPDV UHODo}HV SRGHP VHU HVWDEHOHFLGDV D SDUWLU GRV GDGRV DSUHVHQWDGRV WRGDV
FRQMHFWXUDVSRLVQmRKiQHPSRUSDUWHGR,QHSQHPSRUSDUWHGRVSHVTXLVDGRUHVGDiUHDXP
TXDGURGHPRQVWUDWLYRGDVPHWRGRORJLDVXWLOL]DGDVSDUDFROHWDHDQiOLVHGHGDGRVHVSHFtILFRVGD
iUHDGHDUWHV$QDOLVDQGRRFUHVFLPHQWRVRPDQGRVHWRGRVRVGDGRVGDVOLFHQFLDWXUDVQDVWUrV
QRPHQFODWXUDV XWLOL]DGDV SHOR ,QHS REVHUYRXVH R PHVPR PRYLPHQWR Mi GHPRQVWUDGR QRV
GDGRVHVSHFtILFRVHPFDGDXPDGDVQRPHQFODWXUDVXWLOL]DGDV
&XUVRV
$QR
4XDGUR±7RWDOGHFXUVRViUHDGH$UWHV9LVXDLV
)RQWHGDGRVGRREVHUYDWyULR
8P~OWLPRDVSHFWRGRSDQRUDPDGHFXUVRVPDVQmRPHQRVLPSRUWDQWHGL]UHVSHLWRDR
DXPHQWRGHYDJDVQDVLQVWLWXLo}HVGHHQVLQRVXSHULRUSULYDGDV2EVHUYDQGRVHRVGDGRVGR,QHS
VREUHLVVRGHVWDFDVHRFUHVFLPHQWRGHGDVPDWUtFXODVQRHQVLQRVXSHULRUHQWUHRVDQRV
GH H 'HVVDV QRYDV PDWUtFXODV VmR QDV LQVWLWXLo}HV SULYDGDV 5HVWD VDEHU R
SHUFHQWXDOGHFXUVRVGHDUWHVQHVVDFDWHJRULDGDGRVDVHUHPVLVWHPDWL]DGRVSHORREVHUYDWyULR
$IRUPDomRDGLVWkQFLDGDGRVSUHOLPLQDUHV
5HVVDOWDVH SULPHLUDPHQWH TXH D RIHUWD GD PRGDOLGDGH GH (D' QRV FRQWH[WRV
HPHUJHQFLDLVSUHFLVDFRQVLGHUDUTXHQDDWXDOFRQMXQWXUDKiXPFUHVFLPHQWRGHVRUGHQDGRGR
RIHUHFLPHQWR GD PRGDOLGDGH (D' MXQWR DR VHWRU SULYDGR 2 VHJXQGR DVSHFWR D UHVVDOWDU GL]
UHVSHLWRDRIHFKDPHQWRGHFXUVRVSUHVHQFLDLVHPIXQomRGDEDL[DSURFXUDSRUYDJDV(RWHUFHLUR
DVSHFWRpUHODWLYRDRPRGHORGHIRUPDomRHjVRSRUWXQLGDGHVGLIHUHQFLDGDVHQWUHRVHVWXGDQWHV
TXH RFXSDP DV YDJDV GH IRUPDomR HP XQLYHUVLGDGHV S~EOLFDV H RV TXH DV RFXSDP HP
XQLYHUVLGDGHVSULYDGDV(VVHVWUrVHL[RVSUHFLVDPHVWDUFRPRSDQRGHIXQGRTXDQGRVHGHEDWH
D(D'QDIRUPDomRGHSURIHVVRUHV
$R FRQVXOWDU D WHVH GH 6DPSDLR WLWXODGD SHOD 863 TXH GHVHQYROYHX VHX
GRXWRUDGRVDQGXtFKHMXQWRDR2EVHUYDWyULRGD)RUPDomRGH3URIHVVRUHVQRkPELWRGR(QVLQR
GH$UWHVHVWXGRVFRPSDUDGRV%UDVLO$UJHQWLQDHQFRQWUDPVHPXLWDVUHVSRVWDVDSHUJXQWDVTXH
VmRGLULJLGDVjPRGDOLGDGH(D'SRLVHVVHHVWXGRDSURIXQGRXDFROHWDGHGDGRVDFHUFDGDRIHUWD
HWDPEpPDQDOLVDDVSROtWLFDVS~EOLFDVQR%UDVLODHVVHUHVSHLWR&RQVLGHUDQGRRVGDGRVWUD]LGRV
SRU 6DPSDLR SHUFHEHXVHTXH DDXWRUDSDUWLXGHSUHVVXSRVWRVTXHFRQVLGHUDPTXH D
(D'QmRSRGHVHUWUDWDGDFRPRVHWRGRVRVPRGHORVIRVVHPLJXDLV
$OJXPDV FUÕғWLFDV DҒ (D' UHIHUHPVH DҒ (D' FRPR IDWDOPHQWH QHJDWLYD SRU
SURPRYHURDXWRGLGDWLVPR8PROKDUFXLGDGRVRSHUFHEHTXHHVVDVFUÕWғ LFDVVH
GLULJHPHPHVSHFLDODRVSURFHVVRVTXHPHVPRUHFHEHQGRRQRPHGH(D'
QDRѺ YDRѺ DOHғP GH SURGXFࡤDRѺ H GLVWULEXLFࡤDRѺ GH PDWHULDO GLGDғWLFR VHP TXH QR
HQWDQWR KDMD XPD PHGLDFࡤDRѺ FRQVLVWHQWH GRSURFHVVR (QVLQR DSUHQGL]DJHP
6$03$,2S
1DV SDODYUDV GD DXWRUD SDUD TXH H[LVWD TXDOLGDGH p SUHFLVR R FRPSURPLVVR FRP D
DWLYLGDGHHGXFDWLYDFRPRSDSHOGHPHGLDGRUFRPDSDUWLFLSDomRGRSURIHVVRUPHVPRTXDQGR
RSURFHVVRGHHQVLQRDSUHQGL]DJHPHVWiQXPDUHODomRDVVtQFURQDLVWRpHPWHPSRVHORFDLV
GLIHUHQFLDGRVGHDFHVVRDRVFRQWH~GRV
'HIDWR D (D' p XP PRGHOR TXHQmRGHYHULDFRQFRUUHUFRPRPRGHOR SUHVHQFLDO H
GHYHULD MXVWLILFDUVH SDUD DV iUHDV JHRJUiILFDV GH GLItFLO DFHVVR SDUD TXH R SRGHU S~EOLFR
SXGHVVHRIHUHFHUHGXFDomRJUDWXLWDHGHTXDOLGDGHHPSURJUDPDVHVSHFLDLVQDPDLRUSDUWHGDV
UHDOLGDGHVFRPRXPDSULRULGDGH
2 PRGHOR GLVVHPLQDGR SRU XPD SDUFHOD GH LQVWLWXLo}HV WRUQD SUHFiULR R SURFHVVR GH
IRUPDomRGROLFHQFLDGRGLPLQXLQGRDVRSRUWXQLGDGHVGHDSUHQGL]DJHPHDSHUFHSomRGRSDSHO
GDDUWHQDVRFLHGDGH0XLWDVYH]HVRDOXQRQHVVHVLVWHPDpSUHSDUDGRVREDSHUVSHFWLYDGHXPD
IRUPDomRLQVWUXPHQWDOYROWDGDDRGHVHQYROYLPHQWRGHWDUHIDVSUHVFULWLYDV1HVVHPRGHORR
SURIHVVRUHPIRUPDomRSHUGHDSRVVLELOLGDGHGHDFHVVDURFRQKHFLPHQWRGHIRUPDPDLVDPSOD
ILORVyILFDVRFLROyJLFDHDUWLVWLFDPHQWH1RFDVRGDIRUPDomRHPDUWHVYLVXDLVDLQGDKiSRXFDV
RSRUWXQLGDGHVGHH[SHULPHQWDomRGRID]HUDUWtVWLFRGDFRPSUHHQVmRGDGLPHQVmRSUiWLFDGRV
VDEHUHVGDVDUWHVYLVXDLVHGDFRPSUHHQVmRGRSDSHOGDVDUWHVQDFRQMXQWXUDDWXDO
&RPRIRUPDGHDWUDLUQRYRVDOXQRVDVSURSDJDQGDVGH(D'SURPHWHPXPFXUVRSDUD
SHVVRDVTXHWrPSRXFRWHPSRRTXHVHFRQVWLWXLHPXPHQJRGRSRLVHVVDPRGDOLGDGHUHTXHU
XPWHPSRGHIRUPDomRWHFQROyJLFDXPWHPSRSDUDRGHVHQYROYLPHQWRGRHVWXGRSURSRVWRH
XPWHPSRGHDSURIXQGDPHQWRJHUDQGRPXLWDVYH]HVJUDQGHVtQGLFHVGHGHVLVWrQFLD
7DEHOD±2IHUWDGHFXUVRVGHJUDGXDomRQR%UDVLOHQWUHH
)RQWH&HQVRGD(GXFDomR6XSHULRU,QHS'HHG
1RWDQmRLQFOXLiUHDEiVLFDGHLQJUHVVR$%,
1D7DEHOD TXH DSUHVHQWD D HYROXomRGRQ~PHURGH FXUVRVGH JUDGXDomRQR %UDVLO
HQWUH RV DQRV GH H REVHUYDVH D DPSOLWXGH GH YDJDV QD HGXFDomR SUHVHQFLDO QR
HQWDQWRRXWUDVDQiOLVHVGR,QHSDSUHVHQWDPXPFUHVFLPHQWRQDPRGDOLGDGHDGLVWkQFLD(PVXD
DQiOLVHR,QHSGHVWDFDRFUHVFLPHQWRGHGDPRGDOLGDGH(D'TXHHPHUDGH
FXUVRVHHPSDVVRXSDUD
-iQD7DEHODDVHJXLUHVVHVGDGRVVmRDSUHVHQWDGRVSRUiUHDGRFRQKHFLPHQWRHR
LWHP+XPDQLGDGHH$UWHVGHILQHRQ~PHURGHPDWUtFXODVGRVFXUVRVQDiUHDGHDUWHVHPERUD
QmRVHWHQKDDGLVFULPLQDomRSRUVXDVGLIHUHQWHVOLQJXDJHQV$UWHV9LVXDLV'DQoD0~VLFDH
7HDWUR
7DEHOD±1~PHURGHFXUVRVGHJUDGXDomRSRUiUHDGHFRQKHFLPHQWRRIHUHFLGRVQR%UDVLOHP
)RQWH&HQVRGD(GXFDomR6XSHULRU,QHS'HHG
$7DEHODUHYHODDLQGDTXHRQ~PHURGHXQLYHUVLGDGHVTXHSRVVXHPFXUVRVGHDUWHVp
PDLRU QDV LQVWLWXLo}HV SULYDGDV WRWDOL]DQGR GR TXH QDV S~EOLFDV 'HVWD IRUPD
FRQVLGHUDVH TXH D IRUPDomR HP DUWHV QD PRGDOLGDGH GH (D' HVWi FRQFHQWUDGD HQWUH DV
XQLYHUVLGDGHVSULYDGDV
0DODQFKHQ DQDOLVDQGR D IRUPDomR QD (D' QR %UDVLO HOHQFDXP FRQMXQWR GH
FUtWLFDVIHLWDVDRPRGHORGHIRUPDomRLQLFLDOPDVVLILFDGRHjFRPHUFLDOL]DomRGDIRUPDomRD
GLVWkQFLD DOpP GD IRUPDomR DFUtWLFD SDUD R XVR GDV 7,&V FXMR REMHWLYR p SURGX]LU QRYRV
FRQVXPLGRUHV DPSOLDQGRVH D FLUFXODomR H FRPpUFLR GDV 7,&V 2XWUR DVSHFWR TXH D DXWRUD
FULWLFDpRSUHGRPtQLRGDVSHGDJRJLDVGRDSUHQGHUDDSUHQGHUHGDQRomRGHFRPSHWrQFLDV±
FDSDFLWDomRPHUDPHQWHLQVWUXPHQWDOHDIDVWDGDGDSUiWLFDVRFLDOSULYLOHJLDQGRDH[SHULrQFLD
HPGHWULPHQWRGDWHRULDHGDUHHODERUDomRGRFRQKHFLPHQWRKLVWRULFDPHQWHFRQVWUXtGR
2XWURDVSHFWRGHVWDFDGRSRU0DODQFKHQGL]UHVSHLWRDRVLQWHUHVVHVLGHROyJLFRV
H HFRQ{PLFRV GRV RUJDQLVPRV LQWHUQDFLRQDLV H yUJmRV JRYHUQDPHQWDLV DR IRUPDUHPVH
SURILVVLRQDLVIOH[tYHLVHDGDSWiYHLVHYLWDQGRFRQIURQWRVTXHDPHDFHPRVREMHWLYRVGRFDSLWDO
$ IRUPDomR LQVWUXPHQWDO H DOLJHLUDGD HVWLPXOD HVVH PRGHOR DGHTXDQGR RV LQGLYtGXRV DR
PHUFDGR GH WUDEDOKR H SURPRYHQGR D OyJLFD PHUFDGROyJLFD GR FDSLWDOLVPR VHP YLVDU D
HPDQFLSDomRKXPDQD
(PERUDR 3ODQR 1DFLRQDO GH (GXFDomR 31(WHQKD FRPRSULRULGDGHD IRUPDomRGH
SURIHVVRUHVRJRYHUQREUDVLOHLURWHUFHLUL]DHVVDIRUPDomRSDUDDVXQLYHUVLGDGHVSULYDGDVGH
PRGRJHUDOQDRIHUWDGH(D'YLDELOL]DQGRRPRGHORGHPHUFDQWLOL]DomRGDHGXFDomRTXHDOLQKD
D HVFROD j HPSUHVD H RV FRQWH~GRV jV H[LJrQFLDV GR PHUFDGR FRP REMHWLYR HVWULWR GH
FUHVFLPHQWRHFRQ{PLFR
$VOLFHQFLDWXUDVHP$UWHV9LVXDLVPDSDVLQLFLDLV
2VGDGRVFROHWDGRVVHUmRDTXLGHVFULWRVDSDUWLUGHFDGDHVWDGREUDVLOHLURLGHQWLILFDQGR
VHDVUHODo}HVFRPDVOLFHQFLDWXUDVHPDUWHVYLVXDLVeQHFHVViULRGHVWDFDUTXHRREVHUYDWyULR
VHPSUHWUDUiLQIRUPDo}HVLQFRQFOXVDVRXGDGRVGLVSHUVRVSRUTXHDUHDOLGDGHpGLQkPLFDWRGRV
RVGLDVRVGDGRVGHVDWXDOL]DPVHPHVPRDVVLPFRQWLQXDPRVHPPRYLPHQWRHHVVDGLQkPLFD
UHTXHUXPROKDUFXLGDGRVRGROHLWRUQRVHQWLGRGHHOHSHUFHEHURVtQGLFHVFRPRXPGRVHOHPHQWR
GR SURFHVVR QHFHVVLWDQGR GHVVH PRGR GH RXWUDV IRUPDV GH DQiOLVH SDUDOHOD 3RUWDQWR QRV
SUy[LPRV WySLFRV DERUGDPVH GDGRV FRQFOXtGRV H GDGRV TXH HVWmR VHQGR FRQVWUXtGRV QD
DWXDOLGDGHSHODHTXLSHGRREVHUYDWyULRGD8GHVF
6DQWD&DWDULQD
'8$57(FULWLFDDWHRULDGDVFRPSHWrQFLDVLQVHULGDQDSHGDJRJLDGRDSUHQGHUDDSUHQGHU
2SULPHLURWUDEDOKRTXHLQYHVWLJRXDVOLFHQFLDWXUDVHP6DQWD&DWDULQDPXLWRDQWHVGD
FULDomRGR2EVHUYDWyULRIRLDGLVVHUWDomR$IRUPDomRGHSURIHVVRUHVGH$UWHGLYHUVLGDGHH
FRPSOH[LGDGH SHGDJyJLFD GHVHQYROYLGD QR 3URJUDPD GH 3yV*UDGXDomR HP (GXFDomR QD
8)6&HSXEOLFDGDHPOLYURQRDQRGHSHODSURIHVVRUD'RXWRUD0DULD&ULVWLQDGD5RVD
)RQVHFDGD6LOYD(VVHHVWXGRPDUFRXDSULPHLUDDQiOLVHGHPDWUL]HVFXUULFXODUHVQDiUHDGH
DUWHVYLVXDLVQR%UDVLOGHVHQYROYLGDHQWUHRVDQRVGHH1ROLYURSXEOLFDGRHP
DPSOLRXVH D DQiOLVH GHEUXoDQGRVH VREUH RV SURMHWRV SROtWLFRV SHGDJyJLFRV GR FXUVR GH
(GXFDomR$UWtVWLFDGD8GHVFGHVGHDVXDFULDomRDWpDUHIRUPDGRDQRGH
'HSRLV WHPVH D GLVVHUWDomR 6RDUHVLQWLWXODGD&RQFHSo}HVSHGDJyJLFDVQRV
FXUUtFXORVGH$UWHV9LVXDLVGH6DQWD&DWDULQDTXHDERUGRXDVHPHQWDVHELEOLRJUDILDVGDV
GLVFLSOLQDVSHGDJyJLFDVGRVFXUVRVGH$UWHV9LVXDLVQR(VWDGR
1D VHTXrQFLD 0DWWH DSUHVHQWRX R VHX HVWXGR LQWLWXODGR $ IRUPDomR GR
SURIHVVRUHPDUWHVYLVXDLVHVXDVLQWHUIDFHVFRPDHGXFDomRLQFOXVLYDTXHVHWUDWDGHXPD
DQiOLVHGDVPDWUL]HVFXUULFXODUHVGRVFXUVRVGH$UWHV9LVXDLVEXVFDQGRFRPSUHHQGHUFRPRRV
FXUVRVGH6DQWD&DWDULQDDERUGDYDPQDTXHOHSHUtRGRRWHPDGDLQFOXVmR
(P DQR GH LQtFLR GDV DWLYLGDGHV GH SHVTXLVD GR 2EVHUYDWyULR FULRXVH XP
TXHVWLRQiULRDVHUDSOLFDGRFRPWRGRVRVFRRUGHQDGRUHVGHFXUVRGDVOLFHQFLDWXUDVQR%UDVLO
&RQVLGHUDQGRVHRDPSORHVSHFWURGHSHVTXLVDRIRUPXOiULRTXHIRLHQYLDGRSRUe-mailREWHYH
SRXTXtVVLPR UHWRUQR &RP LVVR SDUWLXVH SDUD HVWXGRV PDLV UHJLRQDLV FRP D LQWHQomR GH
DSURIXQGDU RV GDGRV TXDOLWDWLYRV H EXVFDQGRVHXPDDSUR[LPDomRFRPRVFRRUGHQDGRUHV GH
FXUVR
$SULPHLUDGLVVHUWDomRGHIHQGLGDQR33*$98'(6&HYLQFXODGDDR2EVHUYDWyULRGDWD
GHHIRLUHDOL]DGDSRU*LRYDQD%LDQFD'DUROW+LOOVKHLP2WUDEDOKRLQWLWXODGR8PROKDU
SDUD DV SHVTXLVDV TXH DERUGDP D IRUPDomR GH SURIHVVRUHV GH DUWHV YLVXDLV FDPLQKRV
SHUFRUULGRV HDSHUFRUUHU FROHWRXWHVHVHGLVVHUWDo}HVFXMRWHPDIRVVHDVOLFHQFLDWXUDV HP
$WXDOPHQWHHVVDSHVTXLVDGRUDpSURIHVVRUDGR,)6&FDPSRV;DQ[HUrDWXDFRPRGRFHQWHQR3URIDUWHV8GHVFH
ILQDOL]DUiHPVXDWHVHGHGRXWRUDGRLQWLWXODGD2HPEULFDPHQWRHQWUHDUWHPHUFDGRHDUWHHQVLQRTXHVW}HV
ODWHQWHVQRFDSLWDOLVPRFXOWXUDOHVXDUHSHUFXVVmRQDIRUPDomRGRSURIHVVRUGH$UWHV9LVXDLV
$UWHV 9LVXDLV H HP VXD DQiOLVH EXVFRX VLVWHPDWL]DU RV HVWXGRV HQFRQWUDQGR UHODo}HV H
DIDVWDPHQWRVHQWUHHOHV
2XWUDSHVTXLVDUHDOL]DGDQRVSULPHLURVDQRVGH2EVHUYDWyULRIRLHODERUDGDSRU,VDGRUD
*RQoDOYHVGH$]HYHGRQRDQRGHLQWLWXODGD2OXJDUGD$PpULFD/DWLQDQDIRUPDomR
LQLFLDO GH SURIHVVRUHV GH DUWHV YLVXDLV QR %UDVLO H QD $UJHQWLQD 1HVVH HVWXGR D DXWRUD
LQYHVWLJRXFRPR R WHPD GD DUWH ODWLQRDPHULFDQDDSDUHFLDPQDV HPHQWDV HELEOLRJUDILDVGDV
GLVFLSOLQDVGHKLVWyULDGDDUWHHPGXDVXQLYHUVLGDGHVQD$UJHQWLQDHWUrVQR%UDVLO(VVHWUDEDOKR
IRLXPGRVSULPHLURVTXHVHGHEUXoRXGHIDWRVREUHRVDVSHFWRVUHODWLYRVDRHQVLQRGH+LVWyULD
GD$UWH
(PXPVHJXQGRPRPHQWRRVFRRUGHQDGRUHVGHFXUVRVGH6DQWD&DWDULQDUHWRUQDUDPRV
TXHVWLRQiULRVHQYLDGRVFRPRUHODWDGRSRU)RQVHFDGD6LOYDH3HUD,QLFLDOPHQWHDSDUWLU
GRVGDGRVREWLGRVGHVHQKRXVHXPPDSDVLWXDQGRDRIHUWDGHFXUVRGHDUWHVYLVXDLVSUHVHQFLDLV
H QRPHV VLPLODUHV FRPR VHUi DSUHVHQWDGR D VHJXL 2EVHUYDVH TXH Ki XPD GLVWULEXLomR
KRPRJrQHD GH FXUVRV H[FHWXDQGRVH D UHJLmR GR SODQDOWR VHUUDQR HP TXH KRXYH R
HQFHUUDPHQWRGHFXUVRSUHVHQFLDO
$SyV D FROHWD GH GDGRV FRP RV FRRUGHQDGRUHV GH FXUVR SDVVRXVH D DSURIXQGDU DV
HVSHFLILFLGDGHV GRV GDGRV FROHWDGRV 8P GRV DVSHFWRV HOHQFDGRV QHVVD HVSHFLILFDomR GL]
UHVSHLWRDRIHFKDPHQWRGHDOJXQVFXUVRVTXHUHDOL]DYDPDIRUPDomRGHSURIHVVRUHVGH$UWHV
9LVXDLVHP6DQWD&DWDULQDFRPRRFRUUHXQD8QLYHUVLGDGHGR3ODQDOWR&DWDULQHQVH8QLSODF
QDUHJLmRVHUUDQDGH6DQWD&DWDULQD
3URIHVVRUDGH$UWHV9LVXDLVGDUHGHHVWDGXDOGHHQVLQRGH6DQWD&DWDULQD
)LJXUD±&XUVRVSUHVHQFLDLVGH$UWHV9LVXDLVHP6&
)RQWHDFHUYRGDDXWRUD
$UHGHGHHQVLQRVXSHULRUGH6DQWD&DWDULQDSRGHVHUFRQVLGHUDGDEDVWDQWHVLQJXODUVH
FRPSDUDGDDRVGHPDLVHVWDGRVEUDVLOHLURV(ODpIRUPDGDSRUXPDXQLYHUVLGDGHS~EOLFDHVWDGXDO
8GHVFXPDXQLYHUVLGDGHS~EOLFDIHGHUDO8)6&±TXHQmRRIHUHFHFXUVRGHOLFHQFLDWXUDHP
DUWHV YLVXDLV H SHOR VLVWHPD IXQGDFLRQDO RUJDQL]DGR SHOD $VVRFLDomR &DWDULQHQVH GDV
)XQGDo}HV(GXFDFLRQDLV$FDIH±TXHUH~QHLQVWLWXLo}HVRUJDQL]DGDVFRPRIXQGDo}HVS~EOLFDV
FULDGDVSHORPXQLFtSLRPDVTXHVmRGHGLUHLWRSULYDGR([FHWRD8GHVFTXHWDPEpPSDUWLFLSD
GR VLVWHPD $FDIH WRGDV DV LQVWLWXLo}HV IXQGDFLRQDLV FREUDP PHQVDOLGDGHV H SRUWDQWR
FRQFRUUHPFRPRVLVWHPDGHXQLYHUVLGDGHVQDPRGDOLGDGHGH(D'±QHVVHFDVRUHODWLYDPHQWH
DRVFXUVRVGHDUWHV
2VGDGRVVLVWHPDWL]DGRVSHORJUXSRGHSHVTXLVDGD8GHVFDFHUFDGDVOLFHQFLDWXUDVHP
$UWHV9LVXDLVQDPRGDOLGDGHGH(D'RIHUHFLGDVHP6DQWD&DWDULQDVHUmRPRVWUDGRVDVHJXLU
4XDWURLQVWLWXLo}HVRIHUHFHPDIRUPDomRQDPRGDOLGDGHGH(D'8QLQWHU8QLDVVHOYL
8QLSH H 8QRSDU -XQWDV HVVDV LQVWLWXLo}HV GH HQVLQR VXSHULRU ,(6 SRVVXHP SRORV QD
PRGDOLGDGH D GLVWkQFLD 2EVHUYRXVH TXH WRGDV HVVDV LQVWLWXLo}HV VmR SULYDGDV H SRXFDV
LQIRUPDo}HVHVWmRGLVSRQtYHLVVREUHRVFXUVRVQRVVHXVsites
$QDOLVDQGRDJRUDRPDSDGD)LJXUDDVHJXLUpSRVVtYHOREVHUYDUDFREHUWXUDGHSRORV
GHQWUR GR (VWDGR GH 6DQWD &DWDULQD TXH DWHQGH D GLIHUHQWHV GHPDQGDV HP UHJL}HV TXH QmR
DSUHVHQWDP GLILFXOGDGH GH DFHVVR JHRJUiILFR H TXH QHP DR PHQRV VmR GLVWDQWHV GH FXUVRV
SUHVHQFLDLV1RHQWDQWRUHVVDOWDVHDHVFDVVH]GHFXUVRVSUHVHQFLDLVS~EOLFRVQDiUHDGHDUWHV
VHQGRD8GHVFDWXDOPHQWHD~QLFDDRIHUWiORV
)LJXUD±3RORVGHFXUVRVGH$UWHV9LVXDLVHP6&
)RQWHHODERUDGRSRU&LEHOHGD6LOYD5LEHLUREROVLVWDGH,&±8GHVF
2XWURDVSHFWRVXUJHGDVDQiOLVHVIHLWDVSHOR2EVHUYDWyULRHGL]UHVSHLWRjIRUPDomRGRV
FRRUGHQDGRUHVGRVFXUVRVSUHVHQFLDLV'HPRGRJHUDOHVVHVSURILVVLRQDLVDSUHVHQWDPIRUPDomR
GHSyVJUDGXDomRHVRPHQWHXPGHOHVQmRDSUHVHQWDIRUPDomRQDiUHDHVSHFtILFDGHDUWHV-iQD
PRGDOLGDGHGH(D'KiQHFHVVLGDGHGHRSURILVVLRQDOFRRUGHQDUPDLVGHXPFXUVRHGHPRGR
JHUDORVSURILVVLRQDLVQmRSRVVXHPIRUPDomRHVSHFtILFDQDiUHDGHDUWHVYLVXDLV
3DUDQi
2V GDGRV GDV DQiOLVHV IHLWDV DFHUFD GDV OLFHQFLDWXUDV GR 3DUDQi HVWmR GLVSRQtYHLV QD
GLVVHUWDomRGH$OYDUHQJDUHDOL]DGDQR3URJUDPDGH3yV*UDGXDomRHP$UWHV9LVXDLV
HQWUHRVDQRVGHDHLQWLWXODGD)RUPDFࡤDѺRLQLFLDOGRSURIHVVRUGHDUWHVYLVXDLV
$WXDOPHQWHDSHVTXLVDGRUDpSURIHVVRUDGDUHGHHVFRODUGR3DUDQiHUHDOL]DGRXWRUDGRQDOLQKDGHHQVLQRGDV
DUWHVYLVXDLVGDQGRFRQWLQXLGDGHjVXDGLVVHUWDomRHFRPSURMHWRYLQFXODGRDR2EVHUYDWyULRHjUHGH/DLIRSD(P
UHIOH[}HV VREUH RV FXUVRV GH OLFHQFLDWXUD QR (VWDGR GR 3DUDQDғ (P VHX HVWXGR D
SHVTXLVDGRUDORFDOL]RXDVOLFHQFLDWXUDVQHVVH(VWDGRHPIRUPDWRGHPDSDHLGHQWLILFRXWUrV
SUREOHPiWLFDVGHDQiOLVHSUHVHQWHVQDRIHUWDGHGLVFLSOLQDVQRVFXUVRVGHOLFHQFLDWXUDHP$UWHV
9LVXDLV H VHXV QRPHV FRUUHODFLRQDGRV $ SULPHLUD SUREOHPiWLFD GL] UHVSHLWR j RIHUWD GH
GLVFLSOLQDVTXHDSRUWHPD/HLQGHGHPDUoRGHUHODWLYDjLQFOXVmRREULJDWyULD
QRFXUUtFXORRILFLDOGDUHGHGHHQVLQRGDWHPiWLFD+LVWyULDH&XOWXUD$IUR%UDVLOHLUDH,QGtJHQD
DVHJXQGDID]UHIHUrQFLDVj/HLQGHGHGHDEULOGHVREUHD/LEUDVHjLQFOXVmR
GH SHVVRDV FRP GHILFLrQFLD H ILQDOPHQWH D SUREOHPiWLFD DFHUFD GH FRPR DV WHFQRORJLDV
FRQWHPSRUkQHDVID]HPSDUWHGRFXUUtFXOR
6HJXQGR $OYDUHQJD RLWR LQVWLWXLo}HV S~EOLFDV RIHUHFHP GLVFLSOLQDV
FRQWHPSODQGRDVWHFQRORJLDVFRQWHPSRUkQHDVRTXHVHUHIOHWHQDLQVHUomRGDVWHFQRORJLDVQD
SURGXomRDUWtVWLFDDWXDO-iRVFRQWH~GRVGH+LVWyULDH&XOWXUD$IUR%UDVLOHLUDH,QGtJHQDRX
/LEUDVHDLQFOXVmRGHSHVVRDVFRPGHILFLrQFLDHPERUDWHQKDPOHLVHVSHFtILFDVTXHREULJXHP
D VXD LQFOXVmR QRV FXUUtFXORV HOHV DLQGD UHFHEHP SRXFD RX QHQKXPD DWHQomR 6RPHQWH D
PHWDGH GDV LQVWLWXLo}HV S~EOLFDV GHPRQVWUDUDP SUHRFXSDomR FRP RV WUrV SRQWRV DQDOLVDGRV
DSUHVHQWDQGRPXLWDVYH]HVPDLVGHXPDGLVFLSOLQDSDUDFDGDWHPD-iDRXWUDPHWDGHFRQWD
FRP XP Q~PHUR VLJQLILFDWLYR GH GLVFLSOLQDV VREUH DV WHFQRORJLDV FRQWHPSRUkQHDV H SRXFR
FRQWHPSODRVGHPDLVSRQWRV
2XWUDVFROHWDVGHGDGRVGR2EVHUYDWyULRHRXWURVHVWXGRVGDiUHDFRPRRVGH)RQVHFD
GD 6LOYD 3HULQL H %HOOp WDPEpP DSRQWDP R GHVFDVR FRP D IRUPDomR
SROtWLFDLGHROyJLFDHFRPDVSUREOHPiWLFDVFXOWXUDLV
5LR*UDQGHGR6XO
2VHVWXGRVGR5LR*UDQGHGR6XOIRUDPGHVHQYROYLGRVSHODSURIHVVRUD0HVWUD0DULVWHOD
0XOOHUTXHUHDOL]RXVXDGLVVHUWDomRMXQWRDR33*$9GD8GHVFHQWUHRVDQRVGHH
2WUDEDOKRLQWLWXODGR$SHVTXLVDQDIRUPDomRGHSURIHVVRUHVXPDDQiOLVHFXUULFXODUGDV
OLFHQFLDWXUDVHPDUWHVYLVXDLVQR5LR*UDQGHGR6XOSUREOHPDWL]RXDVUHODo}HVHQWUHDDUWHH
DPERVRVHVWXGRVDSHVTXLVDGRUDWHPFRPRRULHQWDGRUDDSURIHVVRUD'RXWRUD0DULD&ULVWLQDGD5RVD)RQVHFDGD
6LOYD33*$98GHVF
DSHVTXLVDQDVOLFHQFLDWXUDVQHVVH(VWDGR08//(56,/9$6$1726,QLFLDOPHQWH
DDXWRUDUHDOL]RXRPDSHDPHQWRGRVFXUVRVH[LVWHQWHVFRQVWUXLQGRRPDSDDVHJXLU
)LJXUD±,(6SULYDGDVTXHIHFKDUDPFXUVRVSUHVHQFLDLVGHDUWHVYLVXDLV56
)RQWH0XOOOHUH6DQWRV6LOYD
1RPDSDSRGHPVHUREVHUYDGRVRVFXUVRVGHDUWHVH[LVWHQWHVQR5LR*UDQGHGR6XOQR
DQRGHHRVFXUVRVTXHIRUDPIHFKDGRV&RQIRUPHWDPEpPRFRUUHXHPRXWURVHVWDGRVD
RIHUWDVHGiSULQFLSDOPHQWHQDVUHJL}HVOLWRUkQHDVRTXHLPSOLFDXPDFDUrQFLDGHIRUPDomRQDV
UHJL}HVFHQWUDOHQRURHVWHTXHQmRVmREHQHILFLDGDVSRUGHPDQGDGHSURIHVVRUHVDGYLQGRVGH
UHJL}HVSUy[LPDV
1DFROHWDGHGDGRVGH0XOOHUIRLSRVVtYHOLGHQWLILFDUDVLQVWLWXLo}HVTXHRIHUWDP
FXUVRV GH (D' H SHUFHEHU TXH DOJXPDV GDV LQVWLWXLo}HV TXH DWHQGHP DR 5LR *UDQGH GR 6XO
WDPEpP DWHQGHP 6DQWD &DWDULQD $ DXWRUD SHVTXLVRX SULQFLSDOPHQWH FRPR D IRUPDomR GR
SHVTXLVDGRU DSDUHFH QDV PDWUL]HV FXUULFXODUHV GRV FXUVRV GH OLFHQFLDWXUD HP $UWHV 9LVXDLV
&RPR UHVXOWDGR R HVWXGR LGHQWLILFRX D FRPSOH[LGDGH GR WHPD DSRQWDQGR D QHFHVVLGDGH GH
DSURIXQGDPHQWRGRHVWXGRDSDUWLUGHVHXGRXWRUDPHQWR
$PD]RQDV
2(VWDGRGR$PD]RQDVIRLRSULPHLURTXHGHSRLVGH6DQWD&DWDULQDFRRUGHQDomRGR
2EVHUYDWyULRODQoRXLQVWLWXFLRQDOPHQWHQD8QLYHUVLGDGHGH3DULQWLQVXPDVHomRGRSURMHWR
HPUHGH&RRUGHQDGRSHODSURIHVVRUD&ODXGLD&DUQHYVNLVR2EVHUYDWyULRPDSHRXRVFXUVRV
H[LVWHQWHVQDUHJLmRQRUWHHPVXDWHVHTXHVHLQLFLRXHPFRPSUHYLVmRGHWpUPLQRHP
VHQGR DWXDOPHQWH UHDOL]DGD QR 33*$98GHVF 2 HVWXGR LQWLWXODGR )RUPDomR GH
SURIHVVRUHVGHDUWHVYLVXDLVQDVXQLYHUVLGDGHVS~EOLFDVGD5HJLmR1RUWHFXOWXUDHDUWHQR
FXUUtFXORGDVOLFHQFLDWXUDV PDSHRXFRPRRWHPDGDDUWHHFXOWXUDVmRGLVSRQLELOL]DGRVQDV
PDWUL]HV FXUULFXODUHV GRV FXUVRV GH OLFHQFLDWXUD 3DUD WDQWR D SHVTXLVDGRUD VLVWHPDWL]RX DV
OLFHQFLDWXUDV GD UHJLmR QRUWH LQFOXVLYH LGHQWLILFDQGR DOJXQV FXUVRV TXH DSUHVHQWDP
QRPHQFODWXUDV GLIHUHQFLDGDV FRPR SRU H[HPSOR D OLFHQFLDWXUD HP $UWH QR &DPSR $V
GLVWkQFLDVJHRJUiILFDVHQWUHRVFXUVRVYmRDRHQFRQWURGDVGLILFXOGDGHVGHVXSULUDGHPDQGDGR
HVWDGRHGHKDYHUXPPDLRUHQWURVDPHQWRHQWUHHOHV
2HVWXGRGHGRXWRUDPHQWRGH&ODXGLD&DUQHYVNLVHVWiIRFDGRSRUWDQWRQDDPSOLWXGH
GRWHPDGDDUWHHFXOWXUDHPXPDUHJLmRPXLWRDPSODFRORFDQGRVHVRERGHVDILRGHPDSHDUD
RIHUWDGHFXUVRVGHDUWHVYLVXDLV-iDSHVTXLVDGHPHVWUDGRWDPEpPHPFRQVWUXomRGH/XFDV
3UHVWHVWHPFRPRIRFRRFXUVRGHOLFHQFLDWXUDHPDUWHVYLVXDLVHVSHFLILFDPHQWHGD8QLYHUVLGDGH
)HGHUDOGR$PD]RQDV8IDPDILPGHLGHQWLILFDUDVDERUGDJHQVPHWRGROyJLFDVXWLOL]DGDVSHORV
SURIHVVRUHVQRFXUVRGHIRUPDomRHVXDUHODomRFRPDYLQGDGHUHOLJLRVRVTXHGLVVHPLQDUDPD
IRUPDomRDUWtVWLFDGDUHJLmR
(VWXGRVGDUHJLmR1RUGHVWH
1DUHJLmR1RUGHVWHR2EVHUYDWyULRFRQFHQWUDVXDVDQiOLVHVHPGRLVHVWXGRV2SULPHLUR
p D GLVVHUWDomR SURSRVWD SRU &ODULVVD 6DQWRV 6LOYD $UWH WHFQRORJLD H IRUPDomR GRFHQWH
UHYHUEHUDo}HV QRV FXUUtFXORV GDV OLFHQFLDWXUDV HP DUWHV YLVXDLV GD UHJLmR 1RUGHVWH,
GHVHQYROYLGRHQWUHRVDQRVGHHMXQWRjOLQKDGHSHVTXLVDHQVLQRGDV$UWHV9LVXDLV
GR33*$9±8GHVF(VVHHVWXGRWHPFRPRREMHWLYRPDSHDURVFXUVRVH[LVWHQWHVQR1RUGHVWH
7HVHHPHODERUDomRSRU&ODXGLD&DUQHYHVNLFRPSURSRVWDGHFRQFOXVmRSDUDMXOKRGH
DQDOLVDQGRVXDVPDWUL]HVFXUULFXODUHVDILPGHLGHQWLILFDUDVFRQWULEXLo}HVSDUDDIRUPDomRGH
SURIHVVRUHVGHDUWHVYLVXDLVQRWRFDQWHDRWHPDGDDUWHHGDWHFQRORJLD
2VHJXQGRHVWXGRWDPEpPYLQFXODGRDR33*$9±8GHVFTXHHVWiVHQGRGHVHQYROYLGR
QR(VWDGRGR0DUDQKmRWHPFRPRWtWXOR2EVHUYDWyULRGDIRUPDomRGHSURIHVVRUHVRFDVR
GR&XUVRGH$UWHV9LVXDLVGD8)0$ D/HLQ. ,QLFLDGRHPHVVHHVWXGR
DLQGDpEDVWDQWHUHFHQWHHSRGHUiVRIUHUDOWHUDo}HVDRORQJRGRSURFHVVR
1R HVWXGR GH 6DQWRV6LOYD D DXWRUD DSUHVHQWD XP PDSD TXH GHOLQHLD DV
OLFHQFLDWXUDVHPDUWHVYLVXDLVQDPRGDOLGDGHSUHVHQFLDOGLVSRQtYHLVQDUHJLmR1RUGHVWH
)LJXUD±/LFHQFLDWXUDVHPDUWHVYLVXDLVSUHVHQFLDVQR1RUGHVWH
)RQWHDFHUYRGDDXWRUD
3RGHVHSHUFHEHUTXHDPDLRULDGRVFXUVRVHVWiVLWXDGDQDUHJLmROLWRUkQHDHHVVDpXPD
GDVFDUDFWHUtVWLFDVGDGLVWULEXLomRGRVFXUVRVQR%UDVLO$OJXQVSURJUDPDVHVSHFtILFRVFRPR
3DUIRU H 5H~QH WLYHUDP FRPR FDUDFWHUtVWLFD LQWHULRUL]DU R RIHUHFLPHQWR GH IRUPDomR GH
SURIHVVRUHV GH DUWHV SDUD DOpP GRV FXUVRV QDV FDSLWDLV H UHJL}HV OLWRUkQHDV 2XWUR DVSHFWR
DSRQWDGR SHOD DXWRUD GL] UHVSHLWR j SHTXHQD TXDQWLGDGH GH FXUVRV H YDJDV SDUD DWHQGHU j
GHPDQGDWHUULWRULDOHSRSXODFLRQDOH[LVWHQWH
6DQWRV6LOYD DSUHVHQWD R OHYDQWDPHQWR GDV GLVFLSOLQDV SUHVHQWHV QDV PDWUL]HV
FXUULFXODUHV GRV FXUVRV GH DUWHV YLVXDLV H GH RXWURV FRP QRPHV FRQJrQHUHV VLWXDGRV
JHRJUDILFDPHQWHQDUHJLmR1RUGHVWHHQDPRGDOLGDGHSUHVHQFLDO+iLQVWLWXLo}HVS~EOLFDV
IHGHUDLVHHVWDGXDLVQDPRGDOLGDGHSUHVHQFLDO2VFXUVRVHVWmRGLVWULEXtGRVHPFLGDGHVGD
UHJLmRVHQGRTXH6mR/XL]H7HL[HLUDGH)UHLWDVUHFHEHPGRLVFXUVRVGHOLFHQFLDWXUDHP$UWHV
9LVXDLVSDUDXPWRWDO GHPXQLFtSLRVGDUHJLmR1RUGHVWH(PERUDXPFXUVRDWHQGDD
PXLWRVPXQLFtSLRVDGLVWULEXLomRpSHTXHQDVHVHFRQVLGHUDUDQHFHVVLGDGH(PUHODomRjFDUJD
KRUiULD REULJDWyULD DDXWRUDLGHQWLILFRXTXHLVVR RVFLODHQWUHUHODWLYRDRFXUVRFRPD
PHQRUFDUJDKRUiULDHUHODWLYRDRFXUVRFRPDPDLRUFDUJDKRUiULDPDVTXHVHJXQGRR
OHYDQWDPHQWRGH6DQWRV6LOYDQmRRIHUWDTXDOTXHUGLVFLSOLQDYLQFXODGDH[SOLFLWDPHQWH
DRWHPDGDDUWHHWHFQRORJLD
3HUFHEHVH TXH GRLV FXUVRV QmR DSUHVHQWDP GLVFLSOLQD QHVVD WHPiWLFD FLQFR FXUVRV
DSUHVHQWDPXPDGLVFLSOLQDQRWHPDFLQFRDSUHVHQWDPGXDVGLVFLSOLQDVHGRLVFXUVRVDSUHVHQWDP
WUrVGLVFLSOLQDVQRWHPD2WUDEDOKRGH&ODULVVD6DQWRV6LOYDDSUHVHQWRXVXDVFRQFOXV}HVHP
MXOKRGH
&RQVLGHUDo}HVILQDLV
(VWDpDDSUHVHQWDomRGHXPDVtQWHVHDQDOtWLFDGRVGDGRVFROHWDGRVSHOR2EVHUYDWyULR
TXH FRQVLGHUD DV FROHWDV SURGX]LGDV SRU SDUWLFLSDQWHV HVWXGDQWHV GH LQLFLDomR FLHQWtILFD GH
PHVWUDGRHGRXWRUDGRTXHHVWmRYLQFXODGRVDRSURMHWRGHSHVTXLVDHPUHGH2EVHUYDWyULRGD
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Introdução
Gostaria de iniciar minha contribuição agradecendo o convite para participar na mesa
“Caminhos cruzados: ensino de arte em espaços formais, informais e não-formais”. Penso
que, paulatinamente, estamos ganhando flexibilização no diálogo entre as artes, tais como as
artes visuais, a dança, o teatro e a música em conversa no próprio ensino para crianças e
jovens. Falar sobre as possibilidades dos hibridismos é um dos meus motes de trabalho –
aqui-agora, bem como no curso de Licenciatura em Teatro da UFMG e na pós-graduação em
Artes da Cena na mesma universidade.
Algo muito significativo aconteceu na minha caminhada profissional: ter ganho o
prêmio do Concurso Mário Pedrosa (2011-2012), promovido pela FUNDAJ / Fundação
Joaquim Nabuco (Recife, Pernambuco) com o ensaio intitulado “Fenomenologia de Merleau-
Ponty e as relações entre educação, arte e vida na pequena infância: rumo a uma Abordagem
Espiral no ensino de arte”. Foi de extrema importância pois tinha me mudado para Belo
Horizonte, para trabalhar na UFMG, e o valor em dinheiro do prêmio possibilitou montar a
casa nova. Mas a importância intelectual e artística, por assim dizer, foi a possibilidade de
1
Marina Marcondes Machado é doutora em Psicologia da Educação com pós-doutorado em Pedagogia do
Teatro. É docente na Licenciatura em Teatro da UFMG e do curso de pós-graduação em Artes, na linha Artes da
Cena, na mesma universidade. Mantém o site-blog www.agachamento.com e seu email é
agachamento@gmail.com
organizar meu pensamento, durante a escrita do ensaio premiado; parti dos dezesseis anos de
prática de ensino de arte para crianças na EMIA-SP (Escola Municipal de Iniciação Artística
de São Paulo), dando continuidade ao texto entretecendo meus estudos no campo da
psicanálise inglesa e da fenomenologia da criança. O ensaio premiado permanece inédito e
quero, aqui, retomar brevemente seus eixos norteadores, para contribuir para o debate na
nossa mesa dos “caminhos cruzados”.
A EMIA-SP existe desde o ano de 1980 e funciona em um parque muito bem situado
no bairro do Jabaquara, zona sul de São Paulo. Sua espacialidade, bem como a continuidade
da existência do projeto da escola, certamente influenciam a realidade de como ali é um lugar
especial: três casas térreas de uma escola muito diferente, na qual crianças entre cinco e treze
anos convivem e fazem arte, e ali estão por sua escolha (não se trata de uma escola regular, e
é ligada à Secretaria de Cultura).
Antes de começar a trabalhar na EMIA-SP, o que aconteceu em 1989, fui iniciada, no
campo da arte e educação, por Ilo Krugli – artista, diretor teatral e dramaturgo responsável
pelo Grupo Ventoforte, referência no teatro para todas as idades e no trabalho com atores, em
uma maneira cuidadosa para prepará-los para o teatro infantil. São esses meus lugares de
origem. Assim introduzo e mostro meu lugar de fala.
Ilo chamava a mistura das artes de “arte integrada”. A EMIA-SP tem por hábito dizer
“integração de linguagens”. Discutirei a arte concebida como “linguagem” mais para frente,
neste texto.
Meu pensamento-e-ação afinam-se com a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty
e com a psicanálise tal como pensada por D. W. Winnicott, há muitos e muitos anos. Hoje,
busco a simplicidade para falar dos conceitos e dos princípios de meus “autores de
cabeceira”, pois desejo que muitas pessoas possam compreender do que se trata. Por isso, vou
abrir mão do modo academicista – seja do uso de muitas citações destacadas estrito senso,
seja das homenagens e dos ritos/riscos do levantamento bibliográfico.
Farei apenas uma pequena visita a Winnicott e a Merleau-Ponty. O conceito do
espaço potencial (que para Winnicott é um lugar psíquico onde acontecem brincadeira e
jogo, inicialmente, e, mais tarde, lugar de tudo que se situa entre realidade e fantasia, entre o
mundo compartilhado e a subjetividade) e os três modos de ser e estar no mundo da criança
pequena nomeados por Merleau-Ponty – a saber, o polimorfismo (grosso modo, a
plasticidade do corpo e das percepções e apreensões das crianças pequenas), o onirismo
(mistura entre realidade e fantasia, com grande simplicidade e verossimilhança) e a não-
representacionalidade (impossibilidade de ver por pontos de vista, o que impede que o
A criança performer
No ano de 2009 realizei uma pesquisa, em nível de pós-doutoramento e sob
supervisão da professora Maria Lúcia de Souza Barros Pupo (ECA-USP / bolsa FAPESP),
intitulada “Territórios do Brincar”. A construção da noção de “criança performer” é parte do
resultado daquele processo, publicado em 2010 na Revista Educação & Realidade (ver
referências). A pesquisa teve a duração de um ano; por um semestre, observei crianças em
situação de espera na cidade de São Paulo. Entenda-se por “situação de espera”: filas dos
mais diferentes tipos, tempos-espaços em terminais de ônibus, rodoviária e aeroporto, saída
da escola e entrada nas peruas escolares... A partir de meus estudos da fenomenologia da
criança e do pensamento do filósofo Maurice Merleau-Ponty acerca da primeira infância,
compreendi que os tempos de espera das crianças entre zero a cinco anos de idade são... a
vida mesma! Conclui que não há diferença significativa, do ponto de vista da criança
pequena, entre estar à espera ou não; não haveria como nem porque a criança ser e estar
diferente nessas situações, uma vez que ela se vê acolhida por adultos, e permanece na chave
de sua experiência imediata. A isso o filósofo Merleau-Ponty (1990) nomeou um tempo
atemporal – modo de apreensão e de relação com o tempo da criança pequena. Também a
noção de espaço da criança entre zero a cinco ou seis anos, para Merleau-Ponty, é diferente
da do adulto; a criança está sempre implicada, ou seja, vive sempre “dentro” das situações,
sendo impossível distanciar-se (para ter uma “visão de mundo”, por exemplo). Por estar
mergulhada no mundo e em suas experiências, o filósofo afirma que as crianças são
mundocentradas.
Ao observar as experiências imediatas do tempo de espera das crianças na cidade de
São Paulo, percebi que poderia ser interessante e valioso nomear a criança como “performer”
– performer de si, com o outro no mundo. Obviamente não uso a palavra no sentido artístico-
profissional do termo, mas sim em seu sentido sociológico: performar os modos de ser e
estar, e relacionar-se com o outro, no mundo compartilhado.
Improviso
Encontrei em um livro de Walter Kohan (2007) tematizando o ensino de filosofia para
crianças uma excelente definição para a metodologia da improvisação, aquém e além do
fenômeno cênico, teatral ou coreográfico:
artes, como possibilidade do humano. Do bebê ao idoso. Desenhei essa expressão ao longo de
um tempo bastante dilatado: de meu Trabalho de Conclusão de Curso na Psicologia (1997)
até meu pós-doutoramento em Pedagogia do Teatro (2009).
Quero também afirmar que, se a infância é improviso, o adulto há que empenhar-se
como um improvisador: para conversar com as crianças, e propor coisas, especialmente no
lugar relacional das artes.
Abordagem espiral
Agora o terreno encontra-se arado para que eu introduza a vocês a noção de
abordagem espiral. Inspirada em alguns autores do meu campo de conhecimento, criei no ano
de 2015 um glossário, publicado na Revista Rascunhos, de trinta termos, alguns de autores
eleitos e outros termos criados por mim. Lá eu defino a abordagem espiral do seguinte modo:
(...) passei a utilizar “abordagem espiral” como algo que designa um (anti)método,
um modo de fazer adulto no ensino de arte, maneira que busca o hibridismo e
estabelece um contraponto ao paradigma das “linguagens artísticas: trata-se de
misturar, propositalmente, o que pode ser teatro, dança, artes visuais e música, nos
primeiros anos de vida, na pretensão de des-escolarizar estes processos: teatralidade,
corporalidade, espacialidade e musicalidade são âmbitos artístico-existenciais de
todos nós, experienciados ao longo da primeira infância – mesmo na vida daqueles
que não foram à escola formal. /grifo da autora/ (MACHADO, 2015, p.54)
mundos de vida da criança, em espiral, como num escorregador ou tobogã que sobe.
(MACHADO, idem).
Referências Bibliográficas
BARBOSA, A. M.; CUNHA, F. P. (0rgs). Abordagem Triangular no ensino das artes e
culturas visuais. São Paulo: Cortez, 2010.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz & Terra, 1996.
FREIRE, N. Inédito viável. In STRECK, D. R., REDIN, E., ZITKOSKI, J. J. (Orgs)
Dicionário Paulo Freire. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.
KOHAN, W. O. Infância, estrangeiridade e ignorância: Ensaios de filosofia e educação.
Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
MACHADO, M. M. A criança é performer. Educação & Realidade. FACED/UFRGS. Porto
Alegre, v.35 n.2. maio/ago. 2010. P. 115-137.
MACHADO, M. M. Só rodapés / Um glossário de trinta termos definidos na espiral de minha
poética própria. Revista Rascunhos. Uberlândia: UFU. v.2 n.1 p.53-67 jan/jun 2015.
MACHADO, M. M. Fenomenologia de Merleau-Ponty e as relações entre educação, arte e
vida na pequena infância: rumo a uma Abordagem Espiral no ensino de arte. Concurso Mário
Pedrosa. Recife: FUNDAJ / Fundação Joaquim Nabuco, 2011. Texto inédito.
MERLEAU-PONTY, M. Merleau-Ponty na Sorbonne. Resumo de Cursos /
Psicossociologia e Filosofia. Campinas: Papirus, 1990.
WINNICOTT, D. W. Playing and reality. New York: Routledge, 1994.
(16,12'('$1d$(175(/$d$5126',)(5(17(6(63$d26
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HVFRODFRPRFRQWULEXLomRSDUDDPHOKRULDGRHQVLQRQDHGXFDomRIRUPDOHYLFHYHUVD
3DODYUDVFKDYHV'DQoD(QVLQR7UDEDOKR(VSDoRVHGXFDWLYRV
'RXWRUDHP(GXFDomRPHVWUHHP$UWHV/LFHQFLDGDHEDFKDUHOHP'DQoDSHOD81,&$033URIHVVRUD
DGMXQWRQD/LFHQFLDWXUDH%DFKDUHODGRHP'DQoDHFRODERUDGRUDGD/LFHQFLDWXUDHP(GXFDomRGR&DPSR
GD8QLYHUVLGDGHIHGHUDOGH9LoRVD(PDLOOSURQVDWR#XIYEU
32/Ç0,&$61$65('(662&,$,6'(,;$0&/$52&202$
)250$d2(062%5($57()$=)$/7$
-XOLDQD*RXWKLHU0DFHGR 8)0*
5HVXPR
(VWHWH[WRWHPFRPRSUHVVXSRVWRDFRQFHSomRGHTXHDDUWHDHGXFDomRHRVHVSDoRV±VHMDPHVWHV
IRUPDLVQmRIRUPDLVRXLQIRUPDLV±VmRHVVHQFLDOPHQWHSROtWLFRV3DUWLQGRGRGHVDILRGHVHSHQVDURV
FDPLQKRVFUX]DGRVHQWUHHVVHVGLIHUHQWHVFRQWH[WRVDLGHLDIRLSURFXUDUID]HUXPSHUFXUVRDSDUWLUGH
GRLVDVSHFWRVRSULPHLURpRIDWRGHTXHDDUWHPHVPRFRPLPSRUWDQWHVDYDQoRVQRV~OWLPRVWHPSRV
DLQGDHVWiORQJHGHWHUXPDSUHVHQoDHIHWLYDHH[SUHVVLYDQDHGXFDomRIRUPDORXPHVPRQmRIRUPDO
,VVRVHHYLGHQFLDSRUH[HPSORHPXPDDYDOLDomRGLDJQyVWLFDUHDOL]DGDFRPHVWXGDQWHVGHSHGDJRJLD
FRQVLGHUDQGRTXHDPDLRULDWUD]UHIHUrQFLDVGDDUWHGRVHQVRFRPXPFRPRDOJRERQLWRHEHPIHLWRH
FRP ILQV GHFRUDWLYRV $V UHVSRVWDV TXH QmR ILFDP UHVWULWDV D HVVD SHUFHSomR RX SUy[LPDV GHOD VmR
SRXFDVHWRGDVGHSHVVRDVTXHWLYHUDPDOJXPDH[SHULrQFLDVLJQLILFDWLYDFRPDDUWHHPVXDHGXFDomR
IRUPDORXQmRIRUPDO2VHJXQGRDVSHFWRTXHHQWUDQHVVHFUX]DPHQWRVmRRVUXtGRVHTXHVWLRQDPHQWRV
DFHUFD GRV OLPLWHV H SDSHO GD DUWH QD VRFLHGDGH H jV GLIHUHQWHV UHDo}HV jV UHFHQWHV SROrPLFDV H
WHQWDWLYDVGHFHQVXUDjVH[SRVLo}HVHSURSRVLo}HVDUWtVWLFDVHQYROYHQGRTXHVW}HVVREUHVH[XDOLGDGHH
UHOLJLmR HQWUH WDQWDV RXWUDV &RQVLGHUDQGR TXH HVWD RQGD VH LQVFUHYH QRV SURFHVVRV GH VRFLDOL]DomR
TXHVHJXQGR*RKQVmRRVHVSDoRVRQGHDFRQWHFHPDHGXFDomRLQIRUPDORGHVDILRSRVWRSDUDDOpP
GD FRQVWDWDomR GH FRPR D DUWH ID] IDOWD QD HGXFDomR p R GD QHFHVVLGDGH GH Do}HV GLDOyJLFDV H
SUREOHPDWL]DGRUDVSURSRVWDVSRU3DXOR)UHLUHDQFRUDGDVQDVSURSRVLo}HVDUWtVWLFDVGH+pOLR2LWLFLFD
$o}HVHPWRGRHTXDOTXHUHVSDoRHGXFDWLYRSHQVDQGRHVVHVFUX]DPHQWRVFRPRFDWDOL]DGRUHVSDUDD
FRQVWUXomRGHXPDFRQVFLrQFLDFUtWLFDHGHXPGHEDWHHIHWLYRHPHVREUHDUWH
3DODYUDVFKDYH$UWHH(GXFDomR(VSDoRVIRUPDLVQmRIRUPDLVHLQIRUPDLV$omRGLDOyJLFD
3RQWRGH3DUWLGD
1HVVHV WHPSRV GLItFHLV GH XPD SHUSOH[LGDGH TXH WHP QRV GHL[DGR QXPD quase-
paralisiaRFRQYLWHDGHVHQYROYHUHFRPSDUWLOKDUXPDUHIOH[mRWUD]LQWUtQVHFRRGHVDILRGH
HVWDEHOHFHU XPD UHODomR FRP R TXH HVWDPRV YLYHQFLDQGR $VVLP HPHUJH FRPR SULPHLUD
TXHVWmRSHQVDURWHPDGRGHEDWHµ&DPLQKRVFUX]DGRVHQVLQRGHDUWHHPHVSDoRVIRUPDLV
LQIRUPDLVHQmRIRUPDLV¶jOX]GHXPPRPHQWRXPWDQWRTXDQWRREVFXURFRPRRDWXDO
&RPR SRQWR GH SDUWLGD R HVFDSH j LGHLD GH HQVLQR RX HQVLQRDSUHQGL]DJHP GH DUWH
SDUD QDYHJDU QXPD SURSRVLomR PDLV DPSOD QD UHODomR HQWUH D HGXFDomR H D DUWH 6HP
SUHWHQGHUQHJOLJHQFLDURXGLOXLUDSRWrQFLDGHVVHFDPSRHGDVVXDVLPSRUWDQWHVVLQJXODULGDGHV
'RXWRUD HP $UWHV SHOD 8)0* 3URIHVVRUD DGMXQWD GD )DFXOGDGH GH (GXFDomR GD 8QLYHUVLGDGH )HGHUDO GH
0LQDV*HUDLVQRVFXUVRVGH3HGDJRJLDHGH/LFHQFLDWXUDHP$UWHV9LVXDLV(PDLOMJRXWKLHU#XIPJEU
QRHQVLQDUDSUHQGHUQRPRPHQWRHPTXHVHDFHQDPOLPLWHVSDUDDDomRGRFHQWHUHVVDOWDUD
QRomR PDLV HVSHFWUDO GR OXJDU GR HGXFDGRU GH DUWH p SUHPHQWH QXP FRQWH[WR GH GHIHVD GD
HGXFDomRFRPRHVVHQFLDOPHQWHSROtWLFDFRPRDSRQWD3DXOR)UHLUH
1mRKiQHPMDPDLVKRXYHSUiWLFDHGXFDWLYDHPHVSDoRWHPSRQHQKXPGHWDO
PDQHLUD QHXWUD FRPSURPHWLGD DSHQDV FRP LGHLDV SUHSRQGHUDQWHPHQWH
DEVWUDWDV H LQWRFiYHLV ,QVLVWLU QLVVR H FRQYHQFHU RX WHQWDU FRQYHQFHU RV
LQFDXWRVGHTXHHVVDpDYHUGDGHpXPDSUiWLFDSROtWLFDLQGLVFXWtYHOFRPTXHVH
SUHWHQGH DPDFLDU D SRVVtYHO UHEHOGLD GRV LQMXVWLoDGRV 7mR SROtWLFD TXDQWR D
RXWUDDTXHQmRHVFRQGHSHORFRQWUiULRSURFODPDVXDSROLWLFLGDGH)5(,5(
S
&RPDDUWHWDPEpPQmRpGLIHUHQWH&RPDUHVVDOYDTXHVHX FDUiWHUSROtWLFRQmRVH
YLQFXODQHFHVVDULDPHQWHDRVWHPDVTXHDERUGDQRFDPSRGDDUWHQmRKiQHXWUDOLGDGHFRPR
GHVWDFD0RDFLUGRV$QMRV
(VWDPRV PHQRV LQWHUHVVDGRV QD DUWH TXH FRPHQWD D SROtWLFD H RV FRQIOLWRV H
PDLVLQWHUHVVDGRVQDDUWHTXHSRUHODPHVPDSHORHIHLWRTXHHODSURGX]HP
QyV QRV PRYH H WUDQVIRUPD 7RGRV Mi WLYHPRV H[SHULrQFLDV GHVVDV QD YLGD
RXYLU XPD P~VLFD YHU XPD FRUHRJUDILD YHU XP ILOPH RX XP TXDGUR SRGH
PDUFDUQRVGHXPDPDQHLUDLUUHPHGLiYHOSRUTXHDOJRPXGDHDOJRVHTXHEUD
eQHVVHVHQWLGRTXHDDUWHpSROtWLFD$1-26VS
9ROWDQGR DR WHPD SURSRVWR WHQGR D DVVXQomR GHVVH FDUiWHU SROtWLFR FRPR XP GRV
SRQWRV GH SDUWLGD SDUD R GHEDWH QHVVHV caminhos cruzados HQWUH DUWH H HGXFDomR RQGH R
HQVLQR VH LQVFUHYH DR VH FRQVLGHUDU DV LQWHUVHo}HV HQWUH HVSDoRV IRUPDLV LQIRUPDLV H QmR
IRUPDLV RXWUD QRomR TXH PHUHFH DWHQomR p D GH HVSDoR ,QGHSHQGHQWHPHQWH GD VXD
FDWHJRUL]DomRFRPRIRUPDOQmRIRUPDORXLQIRUPDOVHJXLQGRDSURSRVLomRGH$QW{QLR9LxDR
)UDJR
R HVSDoR MDPDLV p QHXWUR HP YH] GLVVR HOH FDUUHJD HP VXD FRQILJXUDomR
FRPRWHUULWyULRHOXJDUVLJQRVVtPERORVHYHVWtJLRVGDFRQGLomRHGDVUHODo}HV
VRFLDLVGHHHQWUHDTXHOHVTXHRKDELWDP2HVSDoRFRPXQLFDPRVWUDDTXHP
VDEHOHURHPSUHJRTXHRVHUKXPDQRID]GHOHPHVPR8PHPSUHJRTXHYDULD
FRPFDGDFXOWXUDTXHpXPSURGXWRFXOWXUDOHVSHFtILFRTXHGL]UHVSHLWRQmR
Vy jV UHODo}HV LQWHUSHVVRDLV ± GLVWkQFLD WHUULWyULR SHVVRDO FRQWDWRV
FRPXQLFDomR FRQIOLWRV GH SRGHU ± PDV WDPEpP j OLWXUJLD H ULWRV VRFLDLV j
VLPERORJLDGDVGLVSRVLo}HVGRVREMHWRVHGRVFRUSRV±ORFDOL]DomRHSRVWXUDV
jVXDKLHUDUTXLDHUHODo}HV9,f$2)5$*2S
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1HVVH VHQWLGR QmR Ki FRPR JHQHUDOL]DU HVVHV HVSDoRV XPD YH] TXH FDGD XP HP
GLIHUHQWHV FRQWH[WRVHFXOWXUDVWUD]VXDV SHFXOLDULGDGHV TXHDIHWDPVHX PRGRGHUHODFLRQDU
FRP D DUWH HDHGXFDomR&RPHVVDUHVVDOYD ID]VHQHFHVViULRGHL[DU FODURTXHDGLVWLQomR
FRQFHLWXDOHQWUHHVVHVFDPSRVHGXFDWLYRVDTXLSURSRVWDVHJXHDVFRQFHSo}HVGH*RKQ
TXH FLUFXQVFUHYH D HGXFDomR IRUPDO DRV SURFHGLPHQWRV HVFRODUHV HQYROYHQGR FRQWH~GRV
SUHYLDPHQWHGHILQLGRVHDQmRIRUPDOFRPRXPDDUWLFXODomRHQWUHDIRUPDOHDLQIRUPDOVH
GLIHUHQFLDQGRGHVWDSHODLQWHQFLRQDOLGDGHHHODERUDomRGHDo}HVSDUDVXDHIHWLYDomR0HVPR
FRQVLGHUDQGR TXH Ki TXHP QmR GLIHUHQFLH D QmRIRUPDO GD LQIRUPDO D DXWRUD SHQVD D
HGXFDomRLQIRUPDO
FRPR DTXHOD TXH RV LQGLYtGXRV DSUHQGHP GXUDQWH VHX SURFHVVR GH
VRFLDOL]DomR ± RFRUUHQGR HP HVSDoRV GD IDPtOLD EDLUUR UXD FLGDGH FOXEH
HVSDoRVGHOD]HUHHQWUHWHQLPHQWRQDVLJUHMDVHDWpQDHVFRODHQWUHRVJUXSRV
GH DPLJRV RX HP HVSDoRV GHOLPLWDGRV SRU UHIHUrQFLDV GH QDFLRQDOLGDGH
ORFDOLGDGH LGDGH VH[R UHOLJLmR HWQLD VHPSUH FDUUHJDGD GH YDORUHV H
FXOWXUDV SUySULDV GH SHUWHQFLPHQWR H VHQWLPHQWRV KHUGDGRV *2+1
S
*RKQ DR UHVVDOWDU TXH D HGXFDomR LQIRUPDO SRU VXD YH] ³SRGHUi WHU RX QmR
LQWHQFLRQDOLGDGHV´ H[HPSOLILFDQGR FRP SURFHVVRV HGXFDWLYRV TXH VmR RULHQWDGRV ³SRU
SUHFHLWRV GH XPD UHOLJLmR´ S WUD] j WRQD SURFHVVRV GH DSDJDPHQWRV TXH SRU VXD
YH]VHUHODFLRQDPFRPDLGHLDGHFXUUtFXORRFXOWRVLQWHWL]DGDSRU0RUHLUDH&DQGDX
6HJXQGRHVWHVDXWRUHVRFXUUtFXORRFXOWR
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&UX]DQGRFDPLQKRV
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FRJQLWLYR´FRPRDSRQWD$QD0DH%DUERVDSTXHRVLQWHWL]DFRPRXPPRYLPHQWR
TXH ³DILUPD D HILFLrQFLD GD $UWH SDUD GHVHQYROYHU IRUPDV VXWLV GH SHQVDU GLIHUHQFLDU
FRPSDUDU JHQHUDOL]DU LQWHUSUHWDU FRQFHEHU SRVVLELOLGDGHV FRQVWUXLU IRUPXODU KLSyWHVHV H
GHFLIUDU PHWiIRUDV´ S 2X VHMD D GHVSHLWR GH DYDQoRV LPSRUWDQWHV FRQTXLVWDGRV FRP
PXLWDOXWDKiDLQGDTXHVHHQIUHQWDUDSHUVLVWrQFLDGHHVWHUHyWLSRVQRimaginário popular HP
UHODomRjDUWHTXHDeducação informalSDUDGR[DOPHQWHDOLPHQWDDQFRUDGDWDPEpPQDDLQGD
IUiJLO SUHVHQoD GD DUWH QD HGXFDomR EiVLFD )UiJLO SRUTXH DLQGD UHFHQWH QRV FXUUtFXORV VH
FRPSDUDGD DRV RXWURV FDPSRV GR FRQKHFLPHQWR H SRU VXD SUHVHQoD DLQGD UHGX]LGD QRV
FXUUtFXORV 6RPDVH D HVVH TXDGUR R IDWR GH VHU XP FDPSR TXH YHP VHQGR FRQVWDQWHPHQWH
DPHDoDGR GH H[FOXVmR FRPR QDV SDXWDV UHFHQWHV GD UHIRUPD GR HQVLQR PpGLR GD %DVH
1DFLRQDO &XUULFXODU &RPXP H GH UHIRUPXODo}HV GR 3URJUDPD ,QVWLWXFLRQDO GH %ROVD GH
,QLFLDomRj'RFrQFLD3,%,'
&RPHVVDVSUHPLVVDVILFDHYLGHQWHTXHQRVHVSDoRVGHHGXFDomRIRUPDOHQmRIRUPDO
ERDSDUWHGRVGHVDILRVSRVWRVDRVDUWHHGXFDGRUHVSDVVDSHODQHFHVVLGDGHGHVHSUREOHPDWL]DU
DVUHIHUrQFLDVFRQVWUXtGDVQDHGXFDomRLQIRUPDOTXHDIHWDQmRVyRVHVWXGDQWHVPDVWRGDD
FRPXQLGDGH HVFRODU (QWUH DV UHIHUrQFLDV PDLV UHFRUUHQWHV TXH D D DYDOLDomR GLDJQyVWLFD
DSRQWD HVWmR D LGHLD GH DUWH FLUFXQVFULWD D GHVHQKR SLQWXUD H HVFXOWXUD D XP TXDGUR
HPROGXUDGR QD SDUHGH GH SUHIHUHQFLD UHWUDWDQGR XPD SDLVDJHP EXFyOLFD RX DR µGHVHQKR
SHUIHLWR¶7DPEpPDSDUHFHPDVVRFLDo}HVj³TXDOTXHUFRLVD´RXDLQGDFRPRXPFDPSRSDUD
RVWDOHQWRVRVRXVHUHVLOXPLQDGRVRXDLQGDSULYLOHJLDGRVHFRQRPLFDPHQWH1RFRQWUDSRQWR
WDPEpPDFROKHRVOXQiWLFRVHµGHVDMXVWDGRV¶(TXDQGRUHODFLRQDGRDRFRQKHFLPHQWRDDUWH
JDQKD DOJXP GHVWDTXH SRU JDUDQWLU XP status cultural D TXHP D DSUHQGH WUDGX]LGR HP
RSRUWXQLGDGHGHVHVDEHUQRPHVGHDUWLVWDVHGHVHUHFRQKHFHUHVWLORVHREUDVIDPRVRV
(VVDVHRXWUDVWDQWDVTXHVW}HVGHQWURGHFRQWH[WRVHPTXHKi LQWHQomRHGXFDWLYD
QmRSRGHPVHULJQRUDGDVRXGHVFRQVLGHUDGDVPDVHQIUHQWDGDVFRPROHJtWLPDVFRPRQRVGL]
3DXOR)UHLUHGHQWURGDVXDSURSRVLomRGLDOyJLFDTXHGHILQHDVtQWHVHFXOWXUDOFRPRXPDGDV
VXDVFDUDFWHUtVWLFDVTXH³QmRQHJDDVGLIHUHQoDVHQWUHXPDYLVmRHRXWUDSHORFRQWUiULRVH
IXQGDQHODV2TXHHODQHJDpDLQYDVmRGHXPDSHODRXWUD2TXHHODDILUPDpRLQGLVFXWtYHO
DSRUWHTXHXPDGijRXWUD´S
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0DVDILQDOLVVRpDUWH"
6H QmR Ki SRUTXH OHYDU D VpULR RV SROtWLFRV TXH DQGDP VH YDOHQGR GH XPD RQGD
PLGLiWLFDKiTXHVHSHQVDUFRPRQmRFDLUQHVVDVDUPDGLOKDVHIRPHQWDUGLiORJRVFRQVLVWHQWHV
DFHUFDGDDUWHFRPRVLQWHWL]DRFLHQWLVWDSROtWLFRHMRUQDOLVWD/HRQDUGR6DNDPRWR
$ FRQVWUXomR GRV WH[WRV TXH DOLPHQWDP HVVDV SROrPLFDV p VHPHOKDQWH j
IDEULFDomR GDV FKDPDGDV
QRWtFLDV IDOVDV
SHGRILOLD
VH[R
FULDQoD
KRPHP
QXGH]
DUWH
LPRUDO
HVTXHUGLVWDV
'HXV
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5HWRPDQGR D 3DXOR )UHLUH DJRUD YLD $QD 0DH %DUERVD TXH DJUHJD -RKQ
'HZH\H(OOLRW(LVQHUDLPSRUWkQFLDGHH[SHULrQFLDVVLJQLILFDWLYDHPDUWHJDQKDFRUSXV3DUD
HODpQD
YDORUL]DomR GD H[SHULrQFLD TXH RV WUrV ILOyVRIRV HRX HSLVWHPyORJRV VH
HQFRQWUDP 6H SDUD 'HZH\ H[SHULrQFLD p FRQKHFLPHQWR SDUD )UHLUH p D
FRQVFLrQFLDGDH[SHULrQFLDTXHSRGHPRVFKDPDUGHFRQKHFLPHQWR-i(LVQHU
GHVWDFDGDH[SHULrQFLDGRPXQGRHPStULFRVXDGHSHQGrQFLDGHQRVVRVLVWHPD
VHQVRULDO ELROyJLFR TXH p D H[WHQVmR GR QRVVR VLVWHPD QHUYRVR DR TXDO
6XVDQQH/DQJHUFKDPDGHµyUJmRGDPHQWH¶%$5%26$S
$VVRFLDQGRQRYDPHQWHHVVHVWUrVDXWRUHV%DUERVDYDLDOpPFKDPDQGRDDWHQomRSDUD
RTXHHPVtQWHVHHOHVGHVWDFDPVREUHDLPSRUWkQFLDGDDUWHQDHGXFDomRTXHVHWUDGX]HP
µQRVSHUPLWLUDWROHUkQFLDjDPELJXLGDGHHDH[SORUDomRGHP~OWLSORVVHQWLGRVHVLJQLILFDo}HV´
S2XVHMDRGHEDWHTXHYHPVHWUDYDQGRQRkPELWRGRTXHVHFRQILJXUDFRPRHGXFDomR
LQIRUPDO p XP UHIOH[R HVFDQFDUDGR GD IDOWD GH XPD GLVFXVVmR PDLV VLVWHPDWL]DGD H
DSURIXQGDGD HP UHODomR j DUWH FRPR WDPEpP REVHUYD 6DNDPRWR DR DILUPDU TXH
³DSURYHLWDQGRVH GD IDOWD GH LQIRUPDomR GH XPD JUDQGH SDUWH GD SRSXODomR H UHFRUUHQGR D
VHXV PHGRV H WDEXV DQFHVWUDLV HVVHV JUXSRV GLVWRUFHP R VLJQLILFDGR GH PDQLIHVWDo}HV
DUWtVWLFDV´6$.$0272VS
$RFRQFOXLUVHXDUWLJRDILUPDQGRTXH³QmRpDDUWHVREUHDVH[XDOLGDGHPDVDIDOWD
GR WLSR GH UHIOH[mR SRU HOD SURPRYLGD TXH IDFLOLWD FRP TXH
KRPHQV H PXOKHUHV TXH VH
LQWLWXODP FRPR GH EHP
FRQWLQXHP VHQGRDOJR]HV GH FULDQoDV´ 6DNDPRWR WUD] LPSOtFLWD D
FRQVWDWDomR GR OXJDU GD DUWH 6H DLQGD Ki TXHP HQWHQGD ± H GHIHQGD D DUWH RX PHVPR
TXDOTXHU FDPSR GH FRQKHFLPHQWR HQFLFORSpGLFR FRPR FROHWkQHD GH LQIRUPDo}HV R TXH VH
HYLGHQFLD p XPD GHPDQGD GH UHIOH[mR TXH D DUWH SRGH ± H GHYH SURYRFDU UHYHODQGR VXD
SRWrQFLDLQFOXVLYHKLVWyULFDHPSURSRVLo}HVHVWpWLFDVSRpWLFDVHPGLIHUHQWHVFRQWH[WRVPDV
HVWUHLWDPHQWH LPEULQFDGD FRP R WHPSR FRQWHPSRUkQHR HQIUHQWDQGR VXDV LQHUHQWHV WHQV}HV
(PRXWUDVSDODYUDVVHLQVFUHYHFRPRXPFDPSRSDUDHQWHQGHURPXQGR±HQWUHWDQWRVRXWURV
QmRPHQRVLPSRUWDQWHV±HQHVVHVHQWLGRJHUDGRUGHFRQVFLrQFLDFUtWLFD
9ROWDQGR D 3DXOR )UHLUH QD SHUVSHFWLYD GH SUREOHPDWL]DU DV GLVFXVV}HV GR
SDSHO GD DUWH H DV WHQWDWLYDV GH FHUFHiOD HP QRPH GH SUHFHLWRV PRUDLV H UHOLJLRVRV RV
FDPLQKRV FUX]DGRV TXDQGR VH Ki XPD LQWHQomR HGXFDWLYD FODUD VHMD IRUPDO RX QmRIRUPDO
SRGHPVHUFRQVWUXtGRVDSDUWLUGDYDORUL]DomRGHVVHVUXtGRVTXHLPSHUDPQRVHQVRFRPXP
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VHQGRTXHHVWHSRGHVHUDERUGDGRFRPRIUXWRGDHGXFDomRLQIRUPDOSULQFLSDOPHQWHSRUWHUVH
WRUQDGR XP UHOHYDQWH IRFR GH GLVFXVVmR QR FRWLGLDQR GD PDLRULD GDV SHVVRDV 4XDQWR DR
FDUiWHUeducativoGHIDWRRXQmRpRXWUD±HERD±GLVFXVVmR
0DVDYDORUL]DUHVVHVUXtGRVQmRQRVHQWLGRGHOHJLWLPiORVSDVVDSHODQHFHVVLGDGH
GHHVFXWiORVQDWHQWDWLYDGHSURFXUDUHQWHQGHUSRUTXHWmRVLJQLILFDWLYRVSDUDWDQWDJHQWH(
QHVVHSURFHVVRFRPRGL])UHLUH
LPSOLFDRUHVSHLWRDRVHQVRFRPXPQRSURFHVVRGHVXDQHFHVViULDVXSHUDomR
TXDQWRRUHVSHLWRHRHVWtPXORjFDSDFLGDGHFULDGRUDGRHGXFDQGR,PSOLFDR
FRPSURPLVVR GD HGXFDGRUD FRP D FRQVFLrQFLD FUtWLFD GR HGXFDQGR FXMD
³SURPRomR´ GD LQJHQXLGDGH QmR VH ID] DXWRPDWLFDPHQWH )5(,5(
S
( HVVH SURFHVVR GH VXSHUDomR H QmR GH UXSWXUD FRPR GHVWDFD R DXWRU VH Gi ³QD
PHGLGD HP TXH D FXULRVLGDGH LQJrQXD VHP GHL[DU GH VHU FXULRVLGDGH SHOR FRQWUiULR
FRQWLQXDQGRDVHUFXULRVLGDGHVHFULWLFL]D´S8PSURFHVVRTXHSRUVXDYH]VHEDVHLD
QDDomRGLDOyJLFDGH3DXOR)UHLUHHVVHQFLDOPHQWHKRUL]RQWDORXVHMDVHPKLHUDUTXLDV
IXQGDGR QmR HP VLVWHPDV SUHFRQFHELGRV PDV HP SRVVLELOLGDGHV GH UHODo}HV PXLWDV YH]HV
FDUUHJDGDVGHWHQV}HV8PSURFHVVRHPTXHTXHVW}HVTXHSDVVDPSHODWHQWDWLYDGHUHGX]LUD
DUWH D PRGHORV H SDGU}HV TXH QmR OKH FDEHP SULQFLSDOPHQWH VH FLUFXQVFULWRV D WHPDV
SHUPLWLGRV RX QmR RX RXWUDV FODVVLILFDo}HV FRQVWUXtGDV HP QRPH GR LQWHUHVVH GD KRUD VH
HVYD]LDP(FRPRFRQWUDSDUWLGDDEUHVHSDUDRFDUiWHUQmRH[FOXGHQWHHDRPHVPRWHPSR
TXHVWLRQDGRU GH FHUWH]DV GD DUWH TXH VHJXQGR %DUERVD D FRORFD FRPR ³YDOLRVD QD
HGXFDomR´ XPD YH] TXH ³HP DUWH QmR Ki FHUWR RX HUUDGR PDV VLP R PDLV RX PHQRV
DGHTXDGRRPDLVRXPHQRVVLJQLILFDWLYRRPDLVRXRPHQRVLQYHQWLYR´S
5XtGRVVREUHYLYHQWHVQXPDTXDVHSDUDOLVLD
1D WHQWDWLYD GH VH EXVFDU DOWHUQDWLYDV j SHUSOH[LGDGH H DRV LQF{PRGRV GHVVD TXDVH
SDUDOLVLD LQVWDXUDGD p SRVVtYHO DLQGD XPD DQDORJLD FRP DV LGHLDV GH +pOLR 2LWLFLFD FRP
FDPLQKRVVHPSUHHQWUHFUX]DGRVFRPRQDSURSRVLomRGRTXDVHFLQHPDQDTXDOWUD]QRquase
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V CONGRESSO INTERNACIONAL DOS ARTE/EDUCADORES
II SEMINÁRIO DE CULTURA E EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL
“Enquanto esse velho trem atravessa...”:
outros caminhos na experimentação e na formação docente em Arte
7HFHQGR UHODo}HV HQWUH R SHQVDPHQWR GH 2LWLFLFD H R SUHVVXSRVWR GD FRQVFLrQFLD GR
LQDFDEDPHQWRTXH3DXOR)UHLUHWDPEpPHYRFDFRQVLGHUDQGRTXH³RIHFKDPHQWRDRPXQGRH
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µH[HUFtFLRH[SHULPHQWDOGDOLEHUGDGH¶
5()(5Ç1&,$6
$1-260RDFLU Entrevista de Moacir dos Anjos à Teresa Pearce de Azevedo – Artecapital
- 1 de julho de 2010 - 'LVSRQtYHO HP KWWSZZZDUWHFDSLWDOQHWHQWUHYLVWDPRDFLU
GRVDQMRV$FHVVRGH]
%$5%26$$QD0DHRUJArte/Educação Contemporânea: consonâncias internacionais
6mR3DXOR&RUWH]
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)5(,5(3DXORPedagogia da Autonomia.5LRGH-DQHLUR3D]H7HUUD.
)5(,5(3DXOR3HGDJRJLDGDHVSHUDQoDXPUHHQFRQWURFRPDSHGDJRJLDGRRSULPLGR5LR
GH-DQHLUR3D]H7HUUD
)5(,5( 3DXOR Pedagogia dos Sonhos Possíveis. )UHLUH $QD 0DULD $RUJ 6mR 3DXOR
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0$&('2 -XOLDQD *RXWKLHU Identidades forjadas em Brancos: Ensino de Arte e
interculturalidade. 7HVH'RXWRUDGR HP$UWHV±(VFRODGH%HODV$UWHV8QLYHUVLGDGH
)HGHUDOGH0LQDV*HUDLV%HOR+RUL]RQWH0*
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cultura: indagações sobre currículos. %UDVtOLD 0LQLVWpULR GD (GXFDomR6HFUHWDULD GH
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6$.$0272/HRQDUGRDo antipetismo ao falso moralismo: Como manter a influência pelo
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5(63267$63529,6Ï5,$6',$/2*$1'2&20('8$5'20285$
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(GXFDomR$UWtVWLFD7UDQVIRUPRXRSUpGLRGR0LQLVWpULRHPXP&HQWUR&XOWXUDOYHUWLFDOSDUD
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IXQFLRQDQGRSDUDDVFULDQoDVEULQFDUHPXPDVDODGHRXYLUHVWyULDVHPFROFKmRFRQIRUWiYHOH
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&XUUtFXORH)RUPDomRLQLFLDOGRFHQWHHP$UWHV9LVXDLVQD$PpULFD/DWLQD
&RQKHoRSRXFRVFXUVRVTXHSURPRYDPXPDIRUPDomRGRFHQWHQDSHUVSHFWLYDGHVFRORQLDOH
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DXWRYDORUL]DPRV$81,&$03WHPXP0HVWUDGRHP+LVWyULDGD$UWHQmR+HJHP{QLFDD
863WHPR352/$0TXHpRPrograma de Pós-graduação em Interação
LatinoamericanaKWWSZZZSURODPXVSEUTXHDFHLWDWHVHVVREUH$UWHH$UWH(GXFDomR
PDVQmRWHPXPDOLQKDHVSHFtILFDGHSHVTXLVDQRWHPDDVVLPFRPRQmRWHPOLQKDGHSHVTXLVD
HP$UWH(GXFDomRRPrograma de Doutorado em Estudos Culturais Latino-americanosGD
8QLYHUVLGDGH$QGLQD6LPyQ%ROtYDUQR(TXDGRUTXHp&RRUGHQDGRSRU&DWKHULQH:DOVK
KWWSZZZXDVEHGXHFRIHUWDDFDGHPLFD"GRFWRUDGRHQHVWXGLRVODWLQRDPHULFDQRV
(GXDUGRDFDEDGHPHLQIRUPDUTXHID]'RXWRUDGRQR
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HPQR,9(QFRQWUR,QWHUQDFLRQDOGD5HGH.,386IDFHjQHFHVVLGDGHGHVHH[SDQGLUQD$PpULFD/DWLQD
FXUVRVGHSyVJUDGXDomRTXHSXGHVVHPIRUPDUGRXWRUHVFRPFDSDFLGDGHGHSURGXomRWHyULFRPHWRGROyJLFD
DSWRVDDQDOLVDULQWHUSUHWDUHLQIOXLUQDVUHDOLGDGHVHGXFDWLYDVGRVSDtVHVGD$PpULFD/DWLQD$HODERUDomRGR
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SURILVVLRQDLVGD81(6&2(PRFRUUHXDDVVLQDWXUDGR$FRUGRGH&RRSHUDomR,QWHUQDFLRQDOHQWUH
81(6&2,(6$/&±25($/&5('.,386HDV8QLYHUVLGDGHV/DWLQR$PHULFDQDV6mRHODV3HGDJyJLFD
1DFLRQDOGH&RO{PELD3HGDJyJLFD([SHULPHQWDO/LEHUWDGRU9HQH]XHOD3HGDJyJLFD1DFLRQDO0p[LFR
3HGDJyJLFD1DFLRQDO+RQGXUDV0HWURSROLWDQDGH&LHQFLDVGHOD(GXFDFLyQ&KLOH&DUGHQDO6LOYD+HQUtTXH]
&KLOHGHO%tR%tR&KLOH3RQWLILFLD8QLYHUVLGDG&DWyOLFD3HU~7HFQROyJLFD6DQ$QW{QLRGH0DFKDOD
(FXDGRUGHOD)URQWHUD&KLOH)HGHUDOGH0LQDV*HUDLV%UDVLO´
(VWHSURJUDPDWDPEpPQmRWHPOLQKDGHSHVTXLVDHP(GXFDomR$UWtVWLFDHPERUDDFHLWHWHVHV
VREUHRDVVXQWR
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FRPD+LVWyULDHD&XOWXUD$PD]{QLFD2&KLOHSUHFLVDVHUPHOKRUHVWXGDGRSRLVpFDPSHmR
GH$UWH(GXFDomR&RPXQLWiULDHILFLHQWHHVLJQLILFDWLYD3UHFLVDUtDPRVWHUXP0XVHXGD
'LWDGXUDFRPRHOHVWrPR0XVHXGD0HPyULDHGRV'LUHLWRV+XPDQRVRXFRPR,VUDHOTXH
WHPR0XVHXGD'LiVSRUDSDUDVHUPRVPDLVFRQVFLHQWHVVREUHQRVVD+LVWyULD6HPFRQKHFHUD
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PDQLIHVWRSLFWyULFRSyVFRORQLDOLVWD23yV0RGHUQLVPRQRVFRQYHQFHXGHTXHQmRKiXPD
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(PDLOGH(GXDUGR0RXUDSDUD$QD0DH%DUERVDGLD
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&ULDomRH,QRYDomRXPDHVFRODGHIRUPDomRFRQWLQXDGDGHSURIHVVRUHVQR0p[LFRDWUDYpVGH
SULQFtSLRV LQWHUFXOWXUDLV WHQGH DR GHVFRORQLDOLVPR )RL FULDGDHP SRU /XFLQD -LPHQH]
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FRRUGHQDGRUDDFDGrPLFDH0DUL&UX]-LPHQH]FRRUGHQDGRUDGH'LIXVmR1DHQWUDGDGROLQGR
HGLItFLR GRV LQtFLRV GR VpFXOR ;; TXH DEULJDYD D SULPHLUD VXEHVWDomR GH HQHUJLD SDUD RV
ERQGHVKDYLDXPDIDL[DGL]HQGR´%HPYLQGD$QD0DH´
/XFLQD HVWDYD QD &RO{PELD &RQKHFLD XQV VHLV DQRV DWUiV DWUDYpV GD 2(, (VWRX
FRQYHQFLGDGHTXHKiSRXFDVSHVVRDVTXHUH~QHPWmREHPVROLGH]WHyULFDFRQVFLrQFLDVRFLDO
H HQHUJLD SDUD D DomR 1R PRPHQWR GDPLQKDYLVLWDXPFRQMXQWRPXVLFDOGHMRYHQVDGXOWRV
HVWDYDHQVDLDQGRGXUDQWHDVHPDQDHOHVWHPDXODVLQGLYLGXDLVGHLQVWUXPHQWRV
)LJ$XODHP/D1DQD
$XODHP/D1DQD)RQWHZZZFRQDUWHP[
2 /D 1DQD DWHQGH DR EDLUUR H WHP SURMHWRV GH $UWH HP RQ]H HVFRODV S~EOLFDV HP
FRQYHQLRFRPD6HFUHWDULDGH(GXFDomR$WHQGHPPDLVRXPHQRVFULDQoDVQDVHVFRODVH
SHVVRDVLQGLYLGXDOPHQWHSRUDQR-iIRUPRXGLUHWRUHVGHFRURVQRSDtV
3DUDRVSURIHVVRUHVVmRGDGRVFXUVRVJUDWXLWRVQRYHUmRGHFDQWRHVWUDWpJLDVDUWtVWLFDV
HDWXDOL]DomR
7DPEpPGmRFXUVRVGHIRUPDomRGHSURIHVVRUHVHPFLGDGHVGRLQWHULRU
3DUDRVDUWLVWDVTXHTXHUHPHQVLQDUKiFXUVRVGHGDQoDP~VLFDIRWRYtGHR&ODVVHVGH
VDOVD HGDQoD GH VDOmR VmR GDGDV j WDUGHQDWHUoDIHLUDSDUD DFRPXQLGDGHGRHQWRUQRTXHp
PXLWRSREUH7DPEpPKiFXUVRVSDJRVFRPRRGHKLSKRSHPWRUQRGHGyODUHVSRUPrV
3DUDRVYL]LQKRVVHID]GHGHVFRQWR
+i XPD VDOD LQWHUFXOWXUDO FRP WH[WRV H OLYURV GH OHLWXUD HP YiULDV OtQJXDV )D]HP
OHLWXUDVGHSRHPDVQXPPHUFDGRSUy[LPRHGHWH[WRVHVFROKLGRVSHORVSUySULRVWUDEDOKDGRUHV
GRPHUFDGR2HUXGLWRHRSRSXODUVHPLVWXUDPQR/D1DQDeGDGDJUDQGHrQIDVHj+LVWyULDH
j&XOWXUDORFDO
&RQVHJXHPyWLPDFRPXQLFDomRFRPRVPHLRV+iWUrVSURJUDPDVGH79TXHFREUHP
R TXH ID]HP e R MRUQDOLVPR FRODERUDWLYR TXH GHVDSDUHFHX QR %UDVLO $R PH GHVSHGLU
SHUJXQWHL DTXHODV PXOKHUHV JXHUUHLUDV TXH REMHWLYRV R /D 1DQD Mi DWLQJLX *DUFtD
FRRUGHQDGRUDWpFQLFDGRSURJUDPDUHVSRQGHXFULDUXPDQRYDJHUDomRYDORUL]DGDSHORVSDLVH
SHODVRFLHGDGH
0DUL &UX] IDORX GH ³&RQYLYrQFLD FRQWUD D YLROrQFLD´ H 0DUFHOD DILUPRX FRP
VHJXUDQoD
³(VWDPRV FULDQGR RSRUWXQLGDGH SDUD WRGRV GH FULDU H[SUHVVDUVH H FRQYLYHU ´ (X FRQFRUGR
FRPHODHTXHURUHVVDOWDUTXHID]HPWXGRLVWRFRPDSHQDVPHPEURVHVWiYHLVWUDEDOKDQGR
MXQWRVQR/D1DQD
7HUPLQR FRP XPD IUDVH GH /XFLQD PXLWR DSURSULDGD SDUD D OHLWXUD GH QRVVRV
GHSXWDGRVHVHQDGRUHV
1LQJXQD HVWUDWHJLD GH GHVDUUROOR HFRQyPLFR XUEDQR HGXFDWLYR VRFLDO PHGLR DPELHQWDO
WHFQROyJLFRRFRPXQLFDFLRQDOSXHGHVHJXLULJQRUDQGRODLPSRUWDQFLDGHODGLPHQVLyQFXOWXUDO
QLORVGHUHFKRVFXOWXUDOHVGHODFLXGDGDQtD/XFLQD-LPpQH]´
'LVFXWLQGRDKLSyWHVHGH(GXDUGR
3DUD(GXDUGRVXDSHVTXLVDWUDWDGH³SHQVDURVSURFHVVRVIRUPDWLYRVSDUDGRFrQFLDHP
$UWHV 9LVXDLV SHOD YLD GH OHJLWLPDomR GRV FRQKHFLPHQWRV HSUREOHPDWL]DomR GDV KLHUDUTXLDV
HP UHODomR DRVjV SURGXWRUHVDV H j SURGXomR DUWtVWLFD ODWLQRDPHULFDQD 4XDO D VXD YLVmR
VREUHHVVDSHUVSHFWLYD"´
(X GLULD TXH SUREOHPDWL]DU DV KLHUDUTXLDV p VHPSUH VDXGiYHO 0DV DYLVHP DRV
FXUDGRUHV EUDVLOHLURV TXDVH WRGRV KHJHP{QLFRV TXH HOHV QmR VmR HXURSHXV QHP QRYD
LRUTXLQRV 9LYD &DPQLW]HU H WUDQVIRUPHPRV QRVVRV PXVHXV 2V PRGHUQLVWDV IRPHQWDQGR R
HVWXGR GR %DUURFR %UDVLOHLUR IL]HUDP PXLWR HP IDYRU GH QRVVR HJR FXOWXUDO RV
FRQWHPSRUkQHRV LQVLVWLQGR HP YDORUL]DUR 0RGHUQLVPR FRQWUD R 3yV0RGHUQLVPR HVWmR QRV
FULVWDOL]DQGR HQJHVVDQGR FRQJHODQGR 2V 0XVHXV GH $UWH EUDVLOHLURV VmR SUHSRWHQWHV
SHGDQWHVHYDORUDPRFRQVHUYDGRULVPRGR³PRGHUQR´FOHDQHKHJHP{QLFR9LYDRPXVHXGH
WXGR 2 0XVHX GH 7XGR p PXVHX YLDMDQGR R PXQGR SDUD SHVTXLVDU H GLYXOJDU DUWLVWDV
GHVFRQKHFLGRVQmRLQWHQFLRQDLVLQH[SHULHQWHVHLQFODVVLILFiYHLVQRWHPSRFRQWHPSRUkQHR
'HVGH D VXD IRUPDomR HP R 0XVHX GH 7XGR KLEULGR H FLUFXODQWH Mi UHFHEHX
PDLVGHPLOYLVLWDQWHVSDUDDVVXDVLQVWDODo}HVHPWRGDD(XURSDeRSULQFLSDOGHIHQVRU
GD KLVWyULD DOWHUQDWLYD GD $UWH 2 0XVHX GH 7XGR SURPRYH VHXV DUWLVWDV IXQFLRQDQGR WDQWR
FRPRXPDUTXLYRHXPH[SRVLWRU2PXVHXWDPEpPSURGX]VXDVSUySULDVSXEOLFDo}HVILOPHV
HXPDPDUFDGHYDUHMRSUHPLDGD
$R FRQWUiULR QRVVRV PXVHXV RSHUDP HP UHODomR FRP D VRFLHGDGHFRP VXEVHUYLrQFLD
WRWDODRFDSLWDOLVPRjEXUJXHVLDTXHGRPLQDRVFROHWLYRVGLULJHQWHVHj$UWH+HJHP{QLFD(P
UHODomR FRP D HVFROD DJHP FRP SUHWHQVDVXSHULRULGDGHUHYHODGDQDIDOWDGHGLiORJRFRP RV
SURIHVVRUHVHQDVLPSRVLo}HVGHURWHLURV
&RQVLGHUDo}HV
(VWRX RUJDQL]DQGR XP &RQJUHVVR SDUD R SULPHLUR VHPHVWUH GH R &RQJUHVVR
LQWLWXODGR 'HVFRORQL]DQGR $UWH(GXFDomR QD $PpULFD /DWLQD 2 REMHWLYR GR FRQJUHVVR VHUi
UHXQLUHVWXGLRVRVGD$UWHHGD$UWH(GXFDomRGD$PpULFD/DWLQDSDUDGLVFXWLUHPRVGHVDILRV
TXHHQIUHQWDPRVSDUDFRQFLOLDURVFRQWH~GRVDFDGrPLFRVFRPDSUiWLFDSURILVVLRQDOHSURSRU
XPD ³GHVFRORQL]DomR GRV HVTXHPDV´ FRP TXH RUGHQDPRV R PXQGR VHP UHFHLWDV VHP
SUHFRQFHLWRVHVHPyGLRV
3RU TXH FRQWLQXDPRV D YDORUL]DU DSHQDV RV PRGHORV GH HGXFDomR DUWtVWLFD DV
PHWRGRORJLDV GR HQVLQR GDV $UWHV DV Do}HV FXOWXUDLV DV PHGLDo}HV HQWUH $UWH H 3~EOLFR
RULXQGDVGD(XURSDHGRV(VWDGRV8QLGRV"
4XH PXGDQoDV RSHUDPRV QHVWHV PRGHORV SDUD UHVSRQGHU DV UHDOLGDGHV GH QRVVRV
SDtVHV GH QRVVD FXOWXUD" 4XH WLSR GH FRQWH[WXDOL]DomR RSHUDPRV QRV PRGHORV WRPDGRV GH
HPSUpVWLPR"
3RUTXHFXOSDURVFRORQL]DGRUHVGRPRPHQWRHPYH]GHHVWXGDUPRVQRVVDKLVWyULDH
WRPDUPRVFRQVFLrQFLDGHTXHJHUDPRVDWUDYpVGRVWHPSRVPRGHORVSUySULRVTXHSRGHPQRV
DSRQWDUFDPLQKRVKRMH"
1mR VH WUDWD GH DEDQGRQDU R GLiORJR LQWHUQDFLRQDO PDV UHDOPHQWH GLDORJDU FRP RV
FRORQL]DGRUHVHFRPYDORUHVHSUiWLFDVTXHWUDQVIRUPDPRVDRORQJRGRWHPSRHVHWRUQDUDP
QRVVRV
3UHFLVDPRVHQIUHQWDUR)$17$60$GR1HRFRORQLDOLVPR
e SUHFLVR QmR HVTXHFHU TXH DGHVWUXLomR FRORQL]DGRUD IRL VHPSUH IHLWD HP QRPH GD
FLYLOL]DomR GR FULVWLDQLVPR GDTXHOHV TXH VH DFKDYDP RV VXSHULRUHV RV HVFROKLGRV H
FRQWLQXDVHQGRSRUDTXHOHVTXHSHQVDPVHUHPPDLVLQWHOLJHQWHVHPDLVViELRV
3DGUH$QWRQLR9LHLUDHPXPVHUPmRGLVVHDRVSREUHVTXHQmRODPHQWDVVHPDIRPHSRUTXH
PDJURV VHULDP PHQRV GHYRUDGRV SHORV YHUPHV H GHIHQGLD D HVFUDYLGmR GRV QHJURV TXH
GHYHULDPVHUJUDWRVSHORFDWLYHLURTXHRVUHWLUDYDGDVEUHQKDVGDJHQWLOLGDGHHPTXHYLYLDP
SDUDVHUHPLQVWUXtGRVQDIpVHJXURVGDVDOYDomRHWHUQD$JORULDGHOHVHVWDYDQDFRQGLomRGH
HVFUDYRV
2GLiORJRLQWHUQDFLRQDOVyVHGiTXDQGRQRVYHPRVFRPRLJXDLVQHPFRPRDTXHOHTXH
VDOYDQHPFRPRRTXHSUHFLVDVHUVDOYR
3KLOLSSH6WDUNHPSDOHVWUDHP6mR3DXORHPPDLRGHQR&&%%63GLVVHDOJRTXHPH
SUHRFXSRX³9RFrVEUDVLOHLURVWHPDJRUDXPDUHVSRQVDELOLGDGHTXHQmRWLQKDPDQWHV$JRUDR
PXQGR SUHVWD DWHQomR HP YRFrV YRFrV FRQWDP SDUD R UHVWR GR PXQGR H SRUWDQWR WHP
UHVSRQVDELOLGDGH FRP D FXOWXUD GH YRFrV H FRP D FULDWLYLGDGH GH VHX SRYR $FUHGLWR TXH
GHSRLVGRVDFRQWHFLPHQWRVGHHOHQmRGLULDPDLVLVWR
DOLYLDUSRUXPWHPSRDSUiWLFDGRFRORQLDOLVPRLQGLUHWRWDOYH]HXHVWHMDVHQGRLQJrQXD0DV
$OHPDQKDH(VSDQKDYHPFRORFDQGRR%UDVLOQRHSLFHQWURGHVXDSROtWLFDQHRFRORQL]DGRUDD
$OHPDQKDDWUDYpVGD&LrQFLDHD(VSDQKDDWUDYpVGD&XOWXUD
$QHJDomRGD+LVWyULDGRRXWURpXPVLQWRPDGRFRORQL]DGRHHVWDQHJDomRFRPHoDD
DIHWDUWRGDD(GXFDomRHDWpRHQVLQRGD$UWHQR%UDVLO
6DEHPRV TXH D GHVWUXLomR GD KLVWyULD p HVVHQFLDO SDUD GRPLQDomR GH XPD QDomR SRU RXWURV
SRYRV1D$PpULFDGR6XORVFRORQL]DGRUHVGHVWUXtDPDVREUDVGHDUWHLQGtJHQDVGHUUHWHQGR
XPDRXULYHVDULDULTXtVVLPD2UHFDGRHVWDYDGDGRYRFrVQmRYDOHPQDGDRRXURVLP2RXUR
GH KRMH p R PHUFDGR HGLWRULDO D LQG~VWULD FXOWXUDO D LQG~VWULD FULDWLYD R FRPHUFLR
XQLYHUVLWiULR D LQG~VWULD GDV FRPXQLFDo}HV D LQG~VWULD EDQFDULD R VLVWHPD HGXFDFLRQDO H D
FXOWXUDHWF@
7HQKRJUDQGHVDPLJRVLQWHOHFWXDLVQD(XURSDHQRV(VWDGRV8QLGRVQRVTXDLVFRQILR
LGHRORJLFDPHQWHHVHLTXHQmRYmRVXEPHWHUPHXVDOXQRVDXPSURFHVVRGHODYDJHPFHUHEUDO
DUHVSHLWRGHQRVVDKLVWyULDID]HQGRRVPHQRVSUH]DUROXJDUGHRQGHYLHUDPHTXHPVmR
7DPEpPpLPSRUWDQWHDSURYHLWDUDVSRVVLELOLGDGHVTXHRVSDtVHVULFRVQRVRIHUHFHPGH
EROVDV SDUD ID]HU QRVVRV DOXQRVGLDORJDUHP LQWHUQDFLRQDOPHQWH PDV PDQGDQGRRV SDUD
HQGHUHoRVFHUWLILFDGRVSHODGHPRFUDFLD
1mR QRV LQWHUHVVD WRUQDU QRVVDV 8QLYHUVLGDGHV H 3URJUDPDV GH 3yV*UDGXDomR HP
ILOLDLVGH8QLYHUVLGDGHVHVWUDQJHLUDV3LRUDLQGDpHQWUHJDURVLVWHPDHGXFDFLRQDOGR%UDVLOD
SDtVHVWUDGLFLRQDOPHQWHFRORQL]DGRUHV
8P HVSDQKRO GHFLGLX R FXUUtFXOR QDFLRQDO GR %UDVLO HP TXDQGR 3DXOR )UHLUH
DLQGD HUD YLYR &ySLDV HGXFDFLRQDLV QXQFD GHUDPERQV UHVXOWDGRV SDUD RV HVWXGDQWHV QR
%UDVLO$SHQ~OWLPDUHIRUPDGD(GXFDomRQR%UDVLOKDYLDVLGRIHLWDSHOD8QLYHUVLGDGHGH6DQ
'LHJR QRV (VWDGRV 8QLGRV H IRL XP IUDFDVVR 3LRUSDUDQyV PHOKRUSDUD R FRORQL]DGRUTXH
FRQWLQXDOLGDQGRFRPSHVVRDVIDFLOPHQWHPDQLSXOiYHLV
3RUWXGRLVWRRIXWXURGR%UDVLOPHDVVXVWD&RQVHJXLUHPRVHYLWDUQRVWUDQVIRUPDUPRV
HPQHRFRORQL]DGRUHV"
&RPRFRQYLYHUHPLJXDOGDGH"
'XUDQWHVpFXORVIRPRVH[SORUDGRVLQGLUHWDPHQWHSHOD,QJODWHUUDGHSRLVSHORV(VWDGRV
8QLGRV ( DJRUD TXHP YDL VHU R FRORQL]DGRU GD YH]" &RPR HYLWDU VHUPRV FRORQL]DGRV VHP
YLUDU [HQyIRERV R TXH VHULD VXLFtGLR" &RPR SUDWLFDU R LQWHUQDFLRQDOLVPR VHP QRV
VXEPHWHUPRV"7HPRVRTXHDSUHQGHUPDVWDPEpPRTXHHQVLQDU
(VWHV H RXWURV SUREOHPDV DOpP GD TXDOLGDGH GR HQVLQR GD $UWH TXH TXHUHPRV HP QRVVRV
SDtVHVpRTXHSUHWHQGHPRVGLVFXWLU
1yVVRPRVXPSDtVULFRSRUpPPDODGPLQLVWUDGRHFRQWLQXDUHPRVDVHUDVVLPVHQmR
QRVHGXFDUPRV
5()(5Ç1&,$6
ZZZFRQDUWHP[&OLFDUHP/D1DQD
('8&$&,Ï1325(/$57(81$&$572*5$)Ë$)5$*0(17$'$
'(&$0,126+(50$126
5DPyQ&DEUHUD6DORUW
,QVWLWXWR6XSHULRUGH$UWH
5HVXPHQ
$ WUDYpV GH XQ ERFHWDGR UHFRUULGR KLVWyULFR SRU GLYHUVDV UHJLRQHV GH QXHVWUD $PpULFD VH GLEXMD XQ PDSD
IUDJPHQWDGR GH FRQIOXHQFLDV SURJUHVLYDV SURWDJRQL]DGR WDQWR SRU DUWLVWDV FRPR SRU HGXFDGRUHV HQ OR TXH
OOHJDUiDVHUODHGXFDFLyQSRUHODUWHKDVWDDUULEDUDOUHFRQRFLPLHQWRGHVXQDWXUDOH]DH[SDQGLGDHQODDFWXDOLGDG
\ODPXOWLSOLFLGDGGHDJHQWHVTXHODKDFHQUHDOLGDGWHQLHQGRHQFXHQWDDGHPiVFRPRODSURSLDSUiFWLFDDUWtVWLFD
FRQWHPSRUiQHD DEXQGD HQ HMHPSORV GRQGH VH IXQGH DO FDPSR SHGDJyJLFR (O SDQRUDPD GHVFULWR ILQDOL]D
LQYLWDQGRDOGHEDWH\DODQiOLVLVFUtWLFRGHFXiQWDVLQILQLWDVPRGDOLGDGHV\HVSDFLRVSXHGHQUHFRQRFHUVHFRPRGH
HGXFDFLyQSRUHODUWH\GHFXiQYDULDGRVRUtJHQHVVXVSURWDJRQLVWDV(VWRUHVXOWDHVHQFLDOSDUDQXHVWUD$PpULFDDO
IRUWDOHFHUXQDLGHDGHDUWH\GHHGXFDFLyQHQH[SDQVLyQVLQROYLGDUSRUHOORHOSURWDJRQLVPRTXHORVHGXFDGRUHV
\ODHVFXHODWLHQHQFRPRUHVSRQVDELOLGDGVRFLDOHQWDQLQJHQWHWDUHD\FyPRHOHGXFDGRUGHODUWHSDUDVHUWDOQR
SXHGHGHMDUGHVHUXQDUWLVWDH[SDQGLGR
3DODEUDVFODYH$UWLVWDHGXFDGRUHGXFDFLyQSRUHODUWH
8QSULPHUWHVWLPRQLR
Para mim a história é um instrumento muito importante
na tomada de consciencia das minorías, e nós somos una
minoría no sistema educacional$QD0DH%DUERVD
La música, la poesía, el teatro, los títeres, todo el arte
-como toda la vida humana- tienen que entrar plena y
decisivamente en la escuela y por la puerta mayor
/XLV)LJOHVLDV
(Q XQ DQWHULRU HVFULWR PtR GHGLFDGR D OD QHFHVLGDG GH KLVWRULDU QXHVWUDV H[SHULHQFLDV HQ
HGXFDFLyQ SRU HO DUWH \ VXV DQWHFHGHQWHV KDEtD VHxDODGR FyPR H[LVWtDQ WH[WRV TXH GDEDQ
FXHQWD GH IDFHWDV KLVWyULFDV GH HVWR GHVGH UHIHUHQWHV PHWURSROLWDQRV FXDO VL GHVGH HOORV VH
HVWXYLHVH RIUHFLHQGR XQ SDQRUDPD XQLYHUVDO 9DOH OD SHQD DSXQWDU TXH LQFOXVR HVRV WH[WRV
KDFHQ XQD OHFWXUD GHVGH DUULED GHVGH ODV ILJXUDV GHVFROODQWHV PDV HQ HOODV QR DSDUHFHQ ORV
VLPSOHV PDHVWURV GH HVFXHOD TXH GH XQ PRGR X RWUR KDFHQ SRVLEOH YLVLELOL]DU WDOHV
H[SHULHQFLDVQRFRPRLQVyOLWDV\DLVODGDVUHDOLGDGHVGHQDWXUDOH]DWHyULFDRLGHDOVLQRFRPR
0H UHILHUR D ³(GXFDFLyQ SRU HO DUWH QHFHVLGDG GH &OtR´ HQ Indagaciones sobre arte y educación
0RQWHUUH\8$1/)DFXOWDGGH$UWHV9LVXDOHVSS±
WHQGHQFLDV GH UHDOHV FULVWDOL]DFLyQ HVFRODU 'HVWDFD HQ HVWH SDQRUDPD OD QHFHVLGDG GH XQD
PLUDGDDUWLFXODGDWDQWRGHVGHDEDMRFRPRGHVGHODLPDJLQDFLyQORTXHLPSOLFDUHFRQRFHUHO
YDORUTXHWDQWRFRPRHQIRTXHTXHFRPRXQDPRGDOLGDGGHKLVWRULDDOFDQ]DQDPERVFRQFHSWRV
%85.( 'H LJXDO PRGR MXVWR HV GHVWDFDU XQ VHQWLGR JDGDPHULDQR GH KLVWRULD SDUD
TXHVHDHQWHQGLGDGHVGHXQKXPDQLVPRKHUPHQpXWLFR*$'$0(56LELHQHQQXHVWUD
$PpULFDHVSRVLEOHGDWDUEXHQDSDUWHGHODVPHMRUHVH[SHULHQFLDVGHVGHiPELWRVHVFRODUHVOD
FDUWRJUDItDTXHSXHGHWUD]DUVHHVD~QIUDJPHQWDGD\HVFDVDPHQWHUHFRQRFLGDHQHOSDQRUDPD
FXOWXUDO\HGXFDWLYRGHQXHVWURVUHVSHFWLYRVSDtVHVTXHLQFOXVRKR\GtDVHSUHVHQWDUHEDVDQGR
ORVHQWRUQRViXOLFRVGHVGHQXHYRVVLJQRVGHpSRFD
(VWD FDUHQFLD DGYHUWLGD VLJQD XQD GH ODV SULQFLSDOHV YHUWLHQWHV LQYHVWLJDWLYDV GH FXDOTXLHU
SODQHDFLyQTXHVHSLHQVHVREUHHODUWHHQODHGXFDFLyQ1RSRUFDVXDOLGDGXQDLQYHVWLJDGRUD
GH OD WDOOD GH $QD 0DH %DUERVD HQ %UDVLO FRPSURPHWLGD FRQ HO DUWH \ OD HGXFDFLyQ VXSR
GHVGH VXV LQLFLRV TXH OD SULPHUD WDUHD D DFRPHWHU HUD GH LQGDJDFLyQ KLVWyULFD %$5%26$
5HVSRQGHU VDWLVIDFWRULDPHQWH ODSUHJXQWD GHGyQGHYHQLPRVHVODERUDUGXDHQSDtVHV
FRPR ORV QXHVWURV DTXHMDGRV GH DPQHVLD \ SOHRQH[LDHVWUXFWXUDO /R KHFKR KR\ \D PDxDQD
FRPLHQ]DDHFKDUVHHQHOROYLGR\GHPRGRPiVHQIiWLFRDOWUDWDUVHGHOFDPSRHGXFDWLYRXQR
GHORViPELWRVPHQRVSUHVWLJLDGR\YDORUDGRGHQWURGHOFDPSRLQWHOHFWXDOSXHVSUHVXSRQHDO
SURFHVR HGXFDWLYR GRPLQDGR SRU OD PDQVHGXPEUH GH OD UHSHWLFLyQ \ OD UXWLQD LQFOXVR KDVWD
WUDWiQGRVHGHDUWH\SRUHOORDORVPDHVWURVFRPRVLPSOHVRILFLDQWHVGHORTXHKDQSHQVDGR
RWURV
7UDVODIXQGDFLyQGHODSULPHUD)DFXOWDGGH(GXFDFLyQ$UWtVWLFDHQ/D+DEDQDUHVXOWy
WHPD GRPLQDQWH GH ORV WUDEDMRV GH FRQFOXVLyQ GH HVWXGLRV DVXQWRV UHODWLYRV D ILJXUDV \
H[SHULHQFLDVUHOHYDQWHVGHODUWHHQODHGXFDFLyQ/DKLVWRULDUHFODPDEDVXSULPDFtDSDUDSRGHU
DYDQ]DU HQ FRQVLGHUDFLyQ D ORJURV GHO SDVDGR \ SODXVLEOHV FRQWLQXLGDGHV GH OR FRQWUDULR
SRGtDPRVLQFXUULUHQQXHYRVHUURUHVGHSDVDGDGDWDRHQFUHHUTXHODVH[SHULHQFLDVGHYDORU
VLHPSUHQRVYHQtDQGH³IXHUD´XQDIXHUDFDVLVLHPSUHPHWURSROLWDQR
/DDXVHQFLDGHLQIRUPDFLyQKLVWyULFDVLVWHPDWL]DGDVREUHHODUWHHQODHGXFDFLyQKL]RTXHHQ
PLWHVLVGRFWRUDOVREUHHOGHVDUUROORGHODFDSDFLGDGFUHDGRUDGHORVHVFRODUHVDWUDYpVGHORV
3DUDHOSVLFyORJRFXEDQR$OIRQVR%HUQDOGHO5LHVJRHOWpUPLQRDOXGHDODIDOWDGHDFXHUGRHQWUHODVSDUWHV&I
Cuestiones futuras de la enseñanza cubana/D+DEDQD(GLFLRQHV-LJXDPD\~
SURJUDPDVGH$UWHV3OiVWLFDVHQODHQVHxDQ]DSULPDULD0RVF~KLFLHUDXQDLQGDJDFLyQ
VREUHHVHDVXQWRORTXHDODSRVWUHUHVXOWyHOSULPHUFDStWXORGHODPLVPD'HDTXtSDUWLyOR
TXHOXHJRKHSXEOLFDGRFRQVXFHVLYDVUHYLVLRQHVFRPRHQVD\RLQGHSHQGLHQWH\GHVGHGRQGHVH
GHULYDURQSRVWHULRUPHQWHRWUDVLQGDJDFLRQHVUHODWLYDVQRVRORDWDOHVDVXQWRVGHVGHODUHDOLGDG
GHPLSDtV&XEDVLQRH[SDQGLGDDQXHVWUD$PpULFD
(VWDLQGDJDFLyQGHVGH&XEDSURQWRKL]RHQFRQWUDUPHFRQQH[RV\UHODFLRQHVTXHVHH[WHQGtDQ
PiVDOOiGHPLSDtV\TXHPHOOHYDEDQHQVXVPRPHQWRViOJLGRVQRWDQWRD(XURSDR(VWDGRV
8QLGRV FRPR D QXHVWUD $PpULFD VLQ TXH HOOR LPSOLFDUD ROYLGR DOJXQR GH ORV UHIHUHQWHV
PHWURSROLWDQRV (VWR DO SDVR GHO WLHPSR QR KD VLGR PiV TXH OD FRQVWDWDFLyQ GHO SHVR TXH
DOFDQ]DQ ORV VRFLRDPELHQWHV HQ RWRUJDUOH XQ VHVJR GLVWLQWLYR D QXHVWUDV H[SHULHQFLDV
HGXFDWLYDVDUWtVWLFDV'HOPLVPRPRGRORTXHLQLFLDOPHQWHVHFRQVWUHxtDDODDVLJQDWXUDGH
'LEXMR \ ORV HVWULFWRV SUHGLRV GH ORV FXUUtFXORV HVFRODUHV IXH FREUDQGR SRFR D SRFR XQD
GHQRPLQDFLyQQRH[SOLFLWDGD\XQDOFDQFHQRGHOLPLWDGRDOLQLFLRFRPRHGXFDFLyQSOiVWLFDR
DUWtVWLFD\OXHJRPiVFDEDOPHQWHHGXFDFLyQSRUHODUWH1DFtDDVtODFRPSUHQVLyQGHTXHORV
DUJXPHQWRV OHtGRV HQ (GXFDFLyQ SRU HO $UWH GH +HUEHUW 5HDG \D KDEtDQ FREUDGR DQWHV
UHDOLGDG HQ QXHVWURV SDtVHV HQ ODV H[SHULHQFLDV HGXFDWLYDV GHO FRQR VXU GH -HVXDOGR ODV
KHUPDQDV &RVVHWWLQL \ /XLV ) ,JOHVLDV \ TXH UHVXOWDEDQ DQWHFHGHQWHV LQQHJDEOHV GH HOOR HQ
WDQWRDUJXPHQWRVGHFDPELRSDUDODHVFXHODORTXHSURSXJQDEDHOSLQWRUDUJHQWLQR0DUWtQ$
0DOKDUUR D SDUWLU GHO PpWRGR LQWXLWLYR FRQ HO UHFRQRFLPLHQWR GHO GLEXMR GHO QDWXUDO \ HO
GLEXMR OLEUH R OR TXH HQ LJXDO VHQWLGR DUJXPHQWDED GHVGH &XED $UWXUR 0RQWRUL R HO
PRYLPLHQWRGHODVHVFXHODVGHSLQWXUDDODLUHOLEUHHQHO0p[LFRGHODUHYROXFLyQ'HODPLVPD
PDQHUD RWUDV H[SHULHQFLDV \ ILJXUDV DFRPSDxDQ HVWD FDUWRJUDItD GH FDPELR HQ OR TXH KH
LQGDJDGR (O PH[LFDQR 9tFWRU 0 5H\HV FRQ VX 3HGDJRJtD GHO GLEXMR \ HO HVSDxRO
*DEULHO*DUFtD0DURWRFRQVXSURSXHVWDGH$FFLyQ3OiVWLFD3RSXODUGHVHQYXHOWDWDQWR
HQ 0p[LFR FRPR HQ &XED OXHJR WDPELpQ XQD ILJXUD FRPR OD HGXFDGRUD \ SRHWD 5DIDHOD
&KDFyQ 1DUGL HQ &XED D SDUWLU GH OD GpFDGD GHO GHO SDVDGR VLJOR 8Q YDVWR SDQRUDPD
YLUJHQ LQYLWD D SURVHJXLU GHVEUR]DQGR OR TXH SRU HOOR GHQRPLQDPRV FRPR FDUWRJUDILD
IUDJPHQWDGD
&I³0DOKDUUR\ODHQVHxDQ]DGHOGLEXMRHQ&XED´HQIndagaciones sobre arte y educaciónSS
1DWXUDOH]DHLQWXLFLyQ
(OYDORUFRQFHGLGRSDUHMDPHQWHDODQDWXUDOH]D\ODLQWXLFLyQWDQWRHQ0DOKDUURFRPRHQORV
DUJXPHQWRV GH 0RQWRUL R HQ ODV HVFXHODV GH SLQWXUD DO DLUH OLEUH TXH SXGLHVHQ DGVFULELUVH
XQLODWHUDOPHQWH DO PRYLPLHQWR SLFWyULFR LPSUHVLRQLVWD FREUD HQ WRGRV HVWRV FDVRV XQ
DVFHQGLHQWHPiVFHUFDQDPHQWHOLJDGRDOUHFRQRFLPLHQWRGHORSURSLRDWUDYpVGHODQDWXUDOH]D
\DOHQWHQGLPLHQWRGHHVHUHFRQRFLPLHQWRQRSRUYtDLQWHOHFWXDOWHRUL]DGRUDORSURSLRGHORV
PpWRGRVDOJRUtWPLFRVGHFRSLDVLQRSRUPHGLRGHXQDLQWHOHFFLyQDIHFWLYD
0DOKDUUR VHQWHQFLDUi TXH HO GLEXMR HV SDUD HO QLxR ³XQ PHGLR QDWXUDO GH LQVFULELU
LQWXLWLYDPHQWHORYHRORTXHGHVHDRORTXHUHFXHUGD´SiJ\FRQHVWRVHGHVWDFDHO
PRGRHQTXHORQDWXUDOVHDVRFLDDOVHQWLGRGHORTXHHVSURSLRGHORTXHQDFHGHVt3XGLHUD
OHHUVHFRPRXQPHGLRSURSLR(VWDFXDOLGDGGHORQDWXUDOPDUFDGDPHQWHUHIHULGRDORSURSLR
DOFDQ]DUi UHVRQDQFLDV TXH OXHJR OH VHUiQ FRQIHULGDV DO FRQFHSWR GH FRQWH[WR HQ ODV
H[SHULHQFLDV SRVWHULRUHV GHO FRQR VXU HQ 9tFWRU 0 5H\HV R *DUFtD 0DURWR KDVWD OOHJDU
LQFOXVRDQXHVWURVGtDVFRQHOHQIRTXHWULDQJXODU
(OSUHGRPLQLRFRPRWHPDRPRGHORGHODQDWXUDOH]DRORQDWXUDOHQODHQVHxDQ]DGHOGLEXMR
HVWi D OD YH] YLQFXODGR D OD LPSRUWDQFLD FRQFHGLGD D OD REVHUYDFLyQ 8QD REVHUYDFLyQ
FLPHQWDGD HQ UHDOLGDGHV FRQFUHWDV PiV ULFDV \ DWUD\HQWHVGHYHODGDV DWUDYpVGHODLQWXLFLyQ
GHVSOHJDGDVSUHIHUHQWHPHQWHDQWHSDVDMHV\REMHWRVQDWXUDOHV
/DV(VFXHODVGH3LQWXUDDO$LUH/LEUHGHO0p[LFRGHODUHYROXFLyQWHQGUiQHQODQDWXUDOH]D\
HQ VX REVHUYDFLyQ DFXFLDGD GRV GH VXV PRWLYRV GRPLQDQWHV GH ORV FXDOHV VX DOXPQDGR
PD\RULWDULDPHQWH LQGtJHQD \ SRSXODU H[WUDHUi XQ VLQJXODU VHQWLGR GH ODV IRUPDV \ VX
FRPSRVLFLyQ 9LVLyQ VLJQDGD SRU OD KXHOOD GH OD HVSRQWDQHLGDG \ OD LQWXLFLyQ VHUi HVD OD
FXDOLGDGGLVWLQWLYDHQTXHODQDWXUDOH]DGDUiGHVtORSURSLRGHXQDSOiVWLFDPH[LFDQDOHMDQDGH
ODVSUiFWLFDVDFDGpPLFDV
(VWH VHQWLGR GH OR QDWXUDO VHUi DO GHFLU GH $OIUHGR 5DPRV 0DUWtQH] HO IXQGDGRU GH ODV
(VFXHODV GH 3LQWXUD DO $LUH /LEUH XQ VRUSUHQGHU ³SRU FXDQWRV PHGLRV VHD SRVLEOH OD
QDWXUDOH]D OD YLGD´ /R YLWDO OR YLYR VH UHFRQRFH HQ OR QDWXUDO \ OR QDWXUDO FRQGXFH D OR
SURSLR D OR TXH VH GHQRPLQD QXHVWUR QDFLRQDO (QWHQGLGRV WDOHV FRQFHSWRV ~OWLPRV HQ VXV
LPSOLFDFLRQHV GH pSRFD 'HVGH WDOHV LPSOLFDFLRQHV DFWXDURQ FRPR UHDOLGDG LPDQWDGD HQ ODV
H[SRVLFLRQHVLWLQHUDQWHVGHODVHVFXHODVTXHUHFRUULHURQ(XURSD\TXHDVXOOHJDGDD0DGULGVH
FRQYLUWLHURQHQDFLFDWHSURIXQGRTXHFDXWLYyD*DEULHO*DUFtD0DURWR\ORPRWLYyDYLDMDUH
LQDXJXUDUOXHJRVXLQpGLWDH[SHULHQFLDGH$FFLyQ3OiVWLFD3RSXODU
1DWXUDOH]D H LQWXLFLyQ HQWUHWHMHQ XQD XUGLPEUH TXH FRQGXFH D OR FRQWH[WXDO HQ OD PLVPD
PHGLGD TXH FDOLILFD OR TXH UHVXOWD SURSLR GH ODV H[SUHVLRQHV JUiILFDV LQIDQWLOHV \ SURSLR
WDPELpQ GHO SHQVDPLHQWR SRU LPiJHQHVDQDOyJLFR \PHWDIyULFRGHOiPELWRGHORDUWtVWLFR \
TXHFRUUHVSRQGHDODYH]FRQHOPRPHQWRGHGHVDUUROORHQTXHVHHQFXHQWUDHOTXHDSUHQGH\
HO SURFHVR PHQWDO GRPLQDQWH HQ ODV DFFLRQHV FUHDWLYDV 3RU VXSXHVWR HVWR QR TXHGD
UHFRQRFLGRGHOPRGRHQTXHORDUJXPHQWRHQHVWHLQVWDQWHSHURQRHVSRVLEOHGHMDUGHDSXQWDU
HVWDVUD]RQHVTXHTXHGDQH[SUHVDGDVFRQHOWHVDXURSURSLRGHVXWLHPSRDXQTXHVXVFHSWLEOHV
GHDFWXDOL]DFLyQDUJXPHQWDWLYD
3HGDJRJtDGHOGLEXMR\$FFLyQ3OiVWLFD3RSXODU
&XDQGROHtHQODSRODFD,UHQD:RMQDUHOGHVDUUROORVREUHODVLGHDVGHODHQVHxDQ]DGHO
GLEXMR D SDUWLU GH VXV &RQJUHVRV HQ (XURSD GHVGH LQLFLRV GHO SDVDGR VLJOR HVWDED OHMRV GH
LPDJLQDUTXHDQWHV\FRPRWHVWLJRSUHVHQFLDOGHXQRGHWDOHV&RQJUHVRVHO9,,,FHOHEUDGRHQ
3DUtV HQ XQ PH[LFDQR 9tFWRU 0 5H\HV KDEtD GDGR FXHQWD GH ODV LGHDV \ GHEDWHV
VRVWHQLGRV VREUH HVWR HQ FDGD XQR GH WDOHV HYHQWRV KDVWD HO PRPHQWR GH SXEOLFDFLyQ GH VX
OLEUR3HGDJRJtDGHO'LEXMRSiJV
(Q HVWH OLEUR VX\R DO GHFLU GH -HVXDOGR VX SURORJXLVWD VH UHVXPtD KLVWRULD SVLFRORJtD \
SUiFWLFD PHWRGROyJLFD OD KLVWRULD DERUGDGD WDQWR D WUDYpV GH FDGD XQR GH ORV &RQJUHVRV
,QWHUQDFLRQDOHVGH'LEXMRFRPRGHXQDERFHWDGDFDUDFWHUL]DFLyQGHODHQVHxDQ]DGHOGLEXMR
HQ 0p[LFR OD SVLFRORJtD WUDWDGD HQ OD VHJXQGD SDUWH GH VX OLEUR WLWXODGD ,QWHUSUHWDFLRQHV
SVLFROyJLFDVGHODH[SUHVLyQJUiILFDLQIDQWLOFRQHVSHFLDODWHQFLyQDODLQYHVWLJDFLyQTXHKDFH
VREUHHVWHSDUWLFXODUHQORVQLxRVPH[LFDQRVDPSOLDPHQWHLOXVWUDGD\SRU~OWLPRODWHUFHUD
SDUWHGHGLFDGD DRIUHFHU FRQVLGHUDFLRQHVPHWRGROyJLFDVVREUHODHQVHxDQ]DGHO'LEXMRHQOD
HVFXHODSULPDULD
'HQWURGHODVH[SHULHQFLDVPH[LFDQDVGHODpSRFD5H\HVMX]JDFUtWLFDPHQWHHOPpWRGRGH%HVW
0DXJDUG DOVHJXLUGHXQODGRODLGHRORJtDPRGHUQLVWDGRPLQDQWHGHODOLEUHH[SUHVLyQ \ GH
RWUR D UD]RQHV SVLFRSHGDJyJLFDV DWHQGLEOHV (Q WDO VHQWLGR H[SUHVy FyPR GH ORV VLHWH
HOHPHQWRV GHFRUDWLYRV GHVJDMDGRV GH OD FXOWXUD SOiVWLFD GH OD DQWLJHGDG PH[LFDQD
IXQGDPHQWRV GH VX PpWRGR ³QXQFD SXGLHURQ QL SXHGHQ VHUYLU FRPR EDVH GH OD H[SUHVLyQ
VLQFHUD\HVSRQWiQHDGHORVQLxRVTXHQRFRPLHQ]DQSRUODGHRUDFLyQSRUTXHQDGDWLHQHQTXH
GHFRUDUVLQRGLEXMDQGRVXV³PRQLJRWHV´TXHUHSUHVHQWDQXQOHQJXDMHRPHGLRGHH[SUHVLyQ
JUiILFD 3RU HVWR OD EXHQD LQWHQFLyQ ³SDWULyWLFD´ GHO DXWRU GHO PpWRGR VH HVWUHOOy DQWH HO
GHVFRQRFLPLHQWRGHODSVLFRORJtDGHOGLEXMRLQIDQWLO´SiJV
0iV DGHODQWH DGYHUWLUi GHVGH XQD FRQFHSFLyQ HYROXWLYD SDLGROyJLFD ³HO QLxR FRPLHQ]D
GLEXMDQGROtQHDVGHVSXpVVXSHUILFLHVHQVHJXLGDLPLWDHOPRYLPLHQWR\SRU~OWLPRLQWHUSUHWD
HO YROXPHQ HV GHFLU VLJXH HQ VX H[SUHVLyQ JUiILFD XQ SURFHVR HYROXWLYR D OD LQYHUVD GHO
SUHFRQL]DGRSRU HOPpWRGR%HVW´SiJ3HURDODSDUUHFRQRFHUiHQHOiPELWRGH
XQD UHYROXFLyQ GH FRUWH QDFLRQDOLVWD OR TXH HO PLVPR VLJQLILFy FXDQGR H[SUHVy ³WXYR HO
PpULWRGHVHUFRPRGLMLPRVDOFRPLHQ]RGHOHVWXGLRKLVWyULFRGHODHQVHxDQ]DGHOGLEXMRHQ
0p[LFRHO~QLFRTXHQRKDVLGRGHLPSRUWDFLyQQLGHLQIOXHQFLDH[WUDQMHUD´SiJ
$QWHULRUPHQWHKDEtDUHFRQRFLGRFyPR³%HVWFUHyXQVLVWHPDSURSLRGHH[SUHVLyQGHFRUDWLYD
TXH ORJUy JXVWDU HQ 0p[LFR SRU VX GLQDPLVPR \ FURPDWLFLGDG \ VREUH WRGR SRU HVWDU PiV
FHUFD GH QXHVWUD HPRWLYLGDG TXH HO ³DUW QRXYHDX´ LPSRUWDGR SRU HVRV DxRV (Q (VWDGRV
8QLGRVJXVWyWDPELpQSRUVXH[RWLVPR´SiJ
(Q OD LQYHVWLJDFLyQ GHO GLEXMR GHO QLxR PH[LFDQR VL ELHQ UHFRQRFH 5H\HV TXH DOJXQRV
SHGDJRJRVPH[LFDQRVDQWHVTXHpOVHKDQRFXSDGRGHFROHFFLRQDUGLEXMRVGHQLxRVFRQHOILQ
GHHVWXGLDUORVSVLFROyJLFDPHQWHHVRVHVWXGLRVFDUHFtDQGHODRUJDQL]DFLyQ\IXQGDPHQWDFLyQ
SVLFRSHGDJyJLFDTXHSDUDODpSRFDDOFDQ]yORLQGDJDGRSRUpO\TXHGDEDDUJXPHQWRVDFHUFD
GH ODV IRUPDV PiV UHSUHVHQWDGDV HQ ORV GLEXMRV ODV FDUDFWHUtVWLFDV PiV UHFRQRFLGDV \
IUHFXHQWHV GH ORV HOHPHQWRV GH OD JUiILFD LQIDQWLO GH ORV DSXQWDGRV SRU 5RXPi OD HGDG
DSUR[LPDGDHQTXHVHHYROXFLRQDGHOUHDOLVPRLQWHOHFWXDODOYLVXDOGLIHUHQFLDVDGYHUWLEOHVHQ
ODH[SUHVLyQJUiILFDGHDFXHUGRFRQHOPHGLRHQTXHVHGHVHQYXHOYHHOQLxR
(Q XQ VXPDULR GH ORV UHVXOWDGRV REWHQLGRV OOHJDED HQWUH RWUDV D ODV VLJXLHQWHV
FRQVLGHUDFLRQHVODH[LVWHQFLDGHXQDPDUFDGDGLIHUHQFLDHQODHYROXFLyQGHOGLEXMRHQWUHORV
QLxRVGHOFDPSR\GHODFLXGDGDOLJXDOTXHVHJ~QHOPHGLRVRFLDOHQTXHYLYHQTXHHQORV
QLxRV PH[LFDQRV FRPR HQ HO GH ORV QLxRV GH WRGR HO PXQGR VH UHFRQRFHQ WRGDV ODV
FDUDFWHUtVWLFDV GHO GLEXMR LQIDQWLO D VDEHU HMHPSODULGDG WUDQVSDUHQFLD DEDWLPLHQWR \ TXH
pVWDVVHKDOODQHQFRUUHVSRQGHQFLDFRQODHGDGTXHODVIRUPDVPiVHPSOHDGDVSRUORVQLxRV
PH[LFDQRV HQRUGHQ GH IUHFXHQFLD HUDQ FDVD iUEROILJXUDKXPDQD IORU VROEDQGHUD DYHV
QXEHV PRQWDxDV \ DGHPiV HQ ORV YDURQHV HO DHURSODQR HO DXWR HO EDUFR HO IHUURFDUULO
PLHQWUDVHQODVQLxDVHOGLEXMRGHFRUDWLYRSiJV±
(QFRUUHVSRQGHQFLDFRQWRGRORDQWHULRURIUHFtDFRPRSURSXHVWDXQSURJUDPDGHDFWLYLGDGHV
JUiILFR SOiVWLFDV SDUD OD HQVHxDQ]D SULPDULD PH[LFDQD HQ DWHQFLyQ D JUDGR HVFRODU HGDG
DSUR[LPDGD HQ FRUUHVSRQGHQFLD HWDSDVHYROXWLYDVGHO JUDILVPRLQIDQWLO WDUHDVSHGDJyJLFDV
DSOLFDFLyQ D OD HQVHxDQ]D \ WpFQLFDV GH H[SUHVLyQ D HPSOHDU SiJV ± $ OR
ODUJR GH WRGR HO WH[WR PiV GH XQ FHQWHQDU GH GLEXMRV LQIDQWLOHV GH QLxRV PH[LFDQRV
FRQVWLWX\HQ HOHPHQWRV GHPRVWUDWLYRV GHORVMXLFLRVVXVWHQWDGRVSRU9tFWRU5H\HV \DGHPiV
XQ WHVWLPRQLR LQYDOXDEOH GHO YDORU GH ODV LPiJHQHV HQ HVWXGLRV GH HVWD QDWXUDOH]D \ XQD
ELWiFRUDYLVXDOGHODH[SUHVLyQJUiILFDGHORVQLxRVPH[LFDQRVGHODpSRFD
'H HVWD REUD GH 5H\HV UHFRQRFHUi /XLV ) ,JOHVLDV ³(VD PDJQtILFD REUD SURORJDGD SRU
-HVXDOGR HV HO UHVXOWDGR GH XQ GHWHQLGR WUDEDMR GH LQYHVWLJDFLyQ \ H[SHULHQFLD \ UHVSRQGH
SOHQDPHQWHDVXWtWXOR\DTXHDGHPiVGHHVWXGLDUHQGHWDOOHFDGDWHPDGHOGLEXMR\HOFRORUHQ
UHODFLyQFRQODLQIDQFLD GDODVSDXWDVGLGiFWLFDVQHFHVDULDVSDUDFRQGXFLUHOSURFHVRDQLYHO
HVFRODU´SiJ
/D 3HGDJRJtD GHO GLEXMR HVWi OHMRV GH VHU XQ WH[WR GH HGXFDFLyQ SRU HO DUWH VLQ HPEDUJR
FRQVWLWX\H XQ UHIHUHQWH LQHOXGLEOH GHO DUWH HQ OD HGXFDFLyQ HQ QXHVWUD $PpULFD SRU OD
SUROLMLGDG FRQ TXH DERUGy \ VLVWHPDWL]y ODV SULQFLSDOHV YHUWLHQWHV KLVWyULFDV SHGDJyJLFDV \
SVLFROyJLFDVGHOGLEXMRLQIDQWLODHVFDODLQWHUQDFLRQDO\FRQDMXVWHVDOFRQWH[WRPH[LFDQR'H
DKt TXH GHED LQVFULELUVH FRPR XQ SDVDMH REOLJDGR GH OR TXH D~Q UHVXOWD VHU XQD FDUWRJUDItD
IUDJPHQWDGDHQSURFHVRGHVXSHUDFLyQ
/DH[SRVLFLyQLWLQHUDQWHGHODVH[SHULHQFLDVGHODV(VFXHODVGH3LQWXUDDO$LUH/LEUHYDDVHU
PRWLYRGHLQVSLUDFLyQSDUDTXHHOHVSDxRO*DEULHO*DUFtD0DURWRSURQXQFLHXQDFRQIHUHQFLD
HQ0DGULGHQGHGLFDGDDHOODEDMRHOWtWXORLa Joven Pintura Mexicana: una Lección.
(QHOODH[SUHVDUiHQWUHP~OWLSOHVMXLFLRVODXGDWRULRV³&LHQWRVGHQLxRVPH[LFDQRVLQGLRVR
PHVWL]RVODPD\RUSDUWHWHMHQKR\HQHOVXHORGH0p[LFRXQDDPRGRGHUHGVXWLOTXHWLHQGHD
FDSWDU FRQ FXLGDGR OD HQRUPH ULTXH]D H[SUHVLYD SUHQGLGD HQ OD OX] \ HQ ODV IRUPDV´
3DUD PiV DGHODQWH UHFRQRFHU HQ HVWD ODERU GLULJLGD SRU $OIUHGR 5DPRV 0DUWtQH] ORV
QRPEUHVGHPXUDOLVWDVFRPR'LHJR5LYHUD\-RVp&OHPHQWH2UR]FR\FRQHVWRLGHQWLILFDUXQ
KHFKRHVWpWLFRGHFDXFHFRP~QTXHLGHQWLILFDFRPR³PRYLPLHQWRUHFREUDGRUDILUPDGRUTXH
ODUD]DOOHYDHQODVKRQGXUDVGHVXHQWUDxD´SiJ
(VWDV (VFXHODV VHUiQ SDUD 0DURWR HQ HO UHFRQRFLPLHQWR GH OD SUHVHQFLDGHO WUDEDMR LQWXLWLYR
FRQ OD QDWXUDOH]D \ ORV PRGHORV QDWXUDOHV TXH LGHQWLILFDUi SRVWHULRUPHQWH FRPR SURSyVLWR
HGXFDWLYR GHO ³LQVWLQWR DFXFLDGR´ ³XQ DQWLFLSR JOREDO GH ODV DVSLUDFLRQHV PD\RULWDULDV \
HVHQFLDOHV TXHUHSUHVHQWD $FFLyQ 3OiVWLFD3RSXODU´SiJ(QHVHVHQWLGRHUDTXH
FRQVLGHUDEDTXHHQWUHODVREUDVLQPHGLDWDVTXH$FFLyQ3OiVWLFDGHELHUDUHDOL]DUVHKDOODEDOD
UHYLVLyQ FUtWLFD \ YDOLRVD GH ODV WDUHDV OOHYDGDV D FDER SRU ODV (VFXHODV GH 3LQWXUD DO $LUH
/LEUH
/D H[SHULHQFLD PH[LFDQD UHVRQDUi HQ ODV (VFXHODV 3RSXODUHV GH %HOODV $UWHV HQ (VSDxD \
OXHJR \D HQ 0p[LFR FRQ LQWHQFLyQ GH FRPSHQHWUDUVH H LQGDJDU PiV VREUH ODV (VFXHODV GH
3LQWXUD DO $LUH /LEUH DVLVWH D VX GHVFHQVR D OD HWDSD GH VX GLVROXFLyQ /XHJR YHQGUi VX
DYHQWXUD FXEDQD GH ODV (VFXHODV GH $FFLyQ 3OiVWLFD 3RSXODU FRQ VXV DOXPQRV GH &DLPLWR
&DLEDULpQ 5HPHGLRV \ &LHQIXHJRV &DOLILFDUi FRQFHSWXDOPHQWH HO SURSyVLWR GHO VLJXLHQWH
PRGR³$LUH/LEUH$FFLyQ$UWtVWLFD<DxDGLUHPRV$FFLyQ6RFLDO(QHVWHSURJUHVLYRRUGHQ
³$LUH /LEUH´ VLJQLILFD OLEHUWDG QDWXUDO IUHQWHD OD QDWXUDOH]DSXUD LQWXLFLyQ DEVROXWD
SUHYLD VLQ RWUD FODVH GH SUHVLyQ TXH OD TXH H[LMD HO SURSLR LQVWLQWR IUHQWH DO PRWLYR
SUHIHUHQWH´SiJ
(V LQHYLWDEOH UHFRUGDU OD KRQGXUD FRQ TXH YXHOYHQ D KDFHU VX DSDULFLyQ ORV FRQFHSWRV GH
QDWXUDOH]D H LQWXLFLyQ \ ORV QXHYRV PDWLFHV FRQIHULGRV GRQGH OD OLEHUWDG DVXPH XQ FRWR
0DURWRORLQGLFDUiFXDQGRHQXPHUD³/LEHUWDGGLVFLSOLQDLQWHUYHQFLyQGDFLyQWRWDOSRUHVWH
RUGHQ´\DUHQJOyQVHJXLGRHVSHFLILFDUi³QRGHMHPRVDOQLxRVROR\DODLUHOLEUH
HQWUHJDGR DQiUTXLFDPHQWH D OD DQDUTXtD GLVJUHJDGRUD $OLpPRQRV D pO SDUD VHUYLUOH FRQ
HILFDFLD HQ OR PiV HVHQFLDO \ VX\R´ SiJ < HVWD FRQIHUHQFLD FLWDGD SRU 0DURWR
GLFWDGD D ILQHV GH OD GpFDGD GHO UHFXHUGD OR TXH OXHJR OHHPRV HQ +HUEHUW 5HDG HQ VX
Educación por el arteDFHUFDGHQRGHMDU³TXHHOQLxREDWDVXVDODVHQHOYDFtR´
(Q&XEDODLQIOXHQFLDGHODV(VFXHODVGH3LQWXUDDO$LUH/LEUHHVWDUiSUHVHQWHHQHO(VWXGLR/LEUHGH3LQWXUD\
(VFXOWXUD
SiJ\GHODFRQFHSWXDOL]DFLyQGHODOLEHUWDG\ODLQGHSHQGHQFLDFRPRXQFDPLQRFRPR
XQDUHVSRQVDELOLGDG
/RSHFXOLDUGHVXH[SHULHQFLDHUDHODOFDQFHTXHGHVHDEDLPSULPLUOHDVXDFFLRQDUKDFLpQGROR
H[WHQVLYRDWRGRHOiPELWRVRFLDO\SRURWURODGRFyPRORHQFDUDEDFRPRODSURVHFXFLyQGH
ODV (VFXHODV GH 3LQWXUD DO $LUH /LEUHTXHUHFRQRFtDYLQFXODGDVWDPELpQ FRQHOPRYLPLHQWR
GHO PXUDOLVPR \ FRQ FLHUWD YDQJXDUGLD SOiVWLFD GH DVFHQGLHQWH VRFLDO 0DURWR HUD XQ DUWLVWD
FX\D REUD VH KDOODED D PHGLR FDPLQR HQWUH HO LPSUHVLRQLVPR \ HO SRVWLPSUHVLRQLVPR FRQ
DOXVLRQHV WHPiWLFDV FHUFDQDV D FLHUWR YHULVPR VRFLDO 6X SURJUDPD SHGDJyJLFR GH $FFLyQ
3OiVWLFD3RSXODUQDFtDGHLJXDOPRGRHQFDUQDGRHQODSRpWLFDYLVXDOGHVXKDFHUDUWtVWLFR
3HGDJyJLFDPHQWHVXVSURFHGHUHVHQFRQWUDEDQDEULJRHQODVLGHDVGRPLQDQWHVGHO0RYLPLHQWR
GHOD1XHYD(GXFDFLyQFHQWUDGRHQHOLQWHUpVODDFWLYLGDGHOYDORUGHODVLPiJHQHVHQODYLGD
GHO KRPEUH 3HUR WHQGUi FRPR SHFXOLDULGDG GLVWLQWLYD TXH VX $FFLyQ 3OiVWLFD 3RSXODU XQD
RUJiQLFDSURSXHVWDGHDOIDEHWL]DFLyQSOiVWLFDVHGLULJtDWDQWRDQLxRV\MyYHQHV\HQJHQHUDO
DOSXHEORGHWRGDVODVHGDGHVWDQWRSDUDiPELWRViXOLFRVFRPRIXHUDGHORVHVSDFLRVHVFRODUHV
\TXHDEULJDEDDVSLUDFLRQHVGHPD\RUDOFDQFHHQUHODFLyQFRQODV$UWHV3OiVWLFDV
(OWH[WRTXHHVFULEH0DURWRGRQGHGDFXHQWDGHORVSURSyVLWRV\DOFDQFHVGHVXH[SHULHQFLD
GHVGHVXSURSLRWtWXOR\VXEWtWXORAcción Plástica Popular. Educación y aprendizaje a escala
nacional VHxDOD FRPR UHYLVWH XQD GLPHQVLyQ VRFLDO TXH DSXQWD D WRGR 0p[LFR \ VH GLULJH
WDQWR D HGXFDGRUHV D DUWLVWDV FRPR D SROtWLFRV HVWRV ~OWLPRV IUDQFRV GHFLVRUHV GH KDFHU
UHDOLGDG OR TXH HGXFDGRUHV \ DUWLVWDV SURSXJQDQ (QHOtQGLFHGHOOLEURYDDVHxDODUHOYDORU
GHPRVWUDWLYRGHODVLPiJHQHVEDMRODGHQRPLQDFLyQGH³*UiILFDVGHLQWHUpV´\DUJXPHQWDUiHO
SRUTXp GH HOOR GHO VLJXLHQWH PRGR ³8Q OLEUR GH HVWDV FDUDFWHUtVWLFDV GHEH VHU GH PDQHUD
FRPSOHPHQWDULD XQ JXLyQ TXH RULHQWH \ GHILQD TXH YDORULFH HQ SOiVWLFD ODV LQWHQFLRQHV \
GHILQLFLRQHVGHOWH[WR3RUHOORHQWUHVDFDPRV \VXEUD\DPRVDOJXQRVHMHPSORVJUiILFRVDORV
TXHVXSRQHPRVFRQLQWHUpVDXWpQWLFR´SiJ2WURWDQWRKDUiGLULJLGRDORVDUWLVWDV
EDMR HO WtWXOR GH ³6XEUD\DGRV SDUD ORV SOiVWLFRV´ FRQ HO VHxDODPLHQWR GH SiJLQD \ SiUUDIR
GRQGHKDOODU HOFRQWHQLGRYDOLRVRDFHUFDGHWHPDV\SUREOHPDVH[SXHVWRV3DUDORVSROtWLFRV
UHVHUYDUi RWUR DFiSLWH QRPEUDGR ³5HFDGRV SDUD ORV SROtWLFRV´ FRQ LGpQWLFR VHxDODPLHQWR GH
SiJLQD\SiUUDIRDOHHU3RU~OWLPREDMRODGHQRPLQDFLyQGH³8UJHQFLDV´VHxDODSDUDWRGRV
HOORV ±DUWLVWDV HGXFDGRUHV \ SROtWLFRV XQ FRQMXQWR GH SiJLQDV SDUD PHGLWDU ³FRQ VHQWLGR
VRFLDO GH OR DFWLYR´ LELG SiJ SXHV VHUi HVD XQD GLPHQVLyQ TXH FLPHQWD WRGD VX
SURSXHVWD
$FFLyQ 3OiVWLFD 3RSXODU UHVXOWD VHU XQD H[SHULHQFLD FRQFHELGD FRPR Q~FOHR LUUDGLDGRU GH
SULQFLSLRV GH XQ PiV YDVWR SODQ TXH UHEDVD ODV SRVLELOLGDGHV OLPLWDGDV GH HVWH SXQWXDO
DERUGDMH \ TXH PHUHFH XQD LQGDJDFLyQ UHIOH[LYD \ FUtWLFD GH PiV ODUJR \ GHWHQLGR DQiOLVLV
FRPR FRQWULEXFLyQ QHFHVDULD SDUD XQD FDUWRJUDItD FLHUWD GHHGXFDFLyQ SRU HO DUWH HQ QXHVWUD
$PpULFD \ GH SDOSLWDQWH DFWXDOLGDG SRU HO PRGR HQ TXH SURSXHVWDV VLPEyOLFDV GHO FDPSR
DUWtVWLFRKR\GtDVHPXHVWUDQDWUDYHVDGDVRFHQWUDGDVHQORSHGDJyJLFR
8QDWUtDGDGHOH\HQGD
(Q HO FRQR VXU VH ORFDOL]DQ WUHV H[SHULHQFLDV TXH WDQWR SRU VXV DVSLUDFLRQHV FRPR SRU VXV
ORJURV SXGLHUDQ FDOLILFDUVH GH OH\HQGD FRPR -HVXDOGR XQR GH VXV SURWDJRQLVWDV FDOLILFy OD
VX\DFXDQGROHIXHHQWUHJDGRHO3UHPLR³$QtEDO3RQFH´HQ%XHQRV$LUHVWDQLQVyOLWDHQORV
SUHGLRV HVFRODUHV GH HQWRQFHV FRPR OR SXHGH VHU D~Q GH DKRUD \ GH WDQ UHQGLGRV \ KRQGRV
IUXWRVTXHWRGRVDTXHOORVTXHODYLYLHURQODJXDUGDQFRPRXQWHVRURGHVXH[LVWHQFLD
/DV KHUPDQDV 2OJD \ /HWLFLD &RVVHWWLQL -HVXDOGR \ /XLV ) ,JOHVLDV VRQ ORV PDHVWURV TXH
HQFDEH]DQWDOHVH[SHULHQFLDV\VREUHORVFXDOHVKHLQGDJDGRPDVFRQODVHJXUDSUHVXQFLyQGH
DXQTXH QRWDEOHV QR VHUtDQ ORV ~QLFRV ,JOHVLDV QRV KDEODUi GH ,VROLQD 0DIILD HQ OD (VFXHOD
1RUPDO GH /RPDV TXLHQ GHVDUUROOD XQD ODERU HGXFDWLYD YLYLGD GH SURIXQGRV DOFDQFHV GH
³FDUiFWHU SUHFXUVRU HQ HO FDPSR GH ODV FRUULHQWHV LQQRYDGRUDV SRU HO DOLHQWR TXH ODLQVSLUD
PiVTXHSRUVXWpFQLFD´,*/(6,$6SiJ/HWLFLD&RVVHWWLQLVHUHIHULUiD$PDQGD
$ULDVFRPRXQDHGXFDGRUDTXHPDUFDSRVLWLYDPHQWHDVXKHUPDQD2OJDHQVXVIXWXURVLGHDOHV
GHLQQRYDFLyQHVFRODUGHVGHOD(VFXHOD1RUPDO³'RPLQJRGH2UR´GHODFLXGDGGH5DIDHOD
SURYLQFLDGH6DQWD)HHQOD$UJHQWLQD
,QVFULWDV GHQWUR GH OR TXH SXGLHUD FDOLILFDUVH FRPR PXHVWUDV FLPHUDV GHO PRYLPLHQWR GH OD
QXHYD HGXFDFLyQ HQ QXHVWUD $PpULFD JDQDQ HQ SDUWLFXODULGDG GLVWLQWLYD FRPR HMHPSORV GH
(GXFDFLyQSRUHODUWHHQODPLVPDPHGLGDTXHODVH[SUHVLRQHVDUWtVWLFDV\HVWpWLFDVDWUDYLHVDQ
VXDFFLRQDUHGXFDWLYR\ORKDFHQGHVGHXQVHQWLGRGHQDWXUDOH]DHLQWXLFLyQTXHUHFRQRFHQHQ
ORVHVFRODUHVDOKDFHUSDUWLUHOSURFHVRGHHQVHxDQ]DGHHOORV\GHVXViPELWRV\DODSDUDO
UHFRQRFHUHOYDORUGHODLQWXLFLyQHQODLQWHOHFFLyQ\HOVHQWLPLHQWRGHOPXQGR\GHODYLGD
1DWXUDOH]D HQMXLFLDGD FRPR iPELWR QDWXUDO FRQWUDULR D OR DUWLILFLRVR \ IDOVR SRU HOOR GLUi
,JOHVLDV ³ (V HQ OD HVFXHOD GRQGH GHEH DSUHQGHUVH D YHU QDFHU \ FUHFHU QDWXUDOPHQWH OD
H[SUHVLyQHQWRGDVVXVIRUPDVFRPRXQDQHFHVLGDGGHDSUHKHQVLyQ\FRPXQLFDFLyQGHFXDQWR
VHVLHQWHRVHSLHQVDSRUVtPLVPR(VWHHVHOPHMRUSXQWRGHSDUWLGDSHGDJyJLFR\HOPDHVWUR
QXQFDGHELHUDROYLGDUOR´SiJ
(Q XQD H[SHULHQFLD SULPLJHQLD GH -HVXDOGR DQWHULRU D &DQWHUDV GH 5LDFKXHOR YLYLUi WDOHV
UHVXOWDGRVGHXQKDFHUODHVFXHODGHVGHHODIXHUDGHVGHODFDOOH1RVGLFH³WHQJRXQDVROD
FODVHHQXQDHVFXHODGHSUiFWLFDSHURQRPHDVXVWR\HPSLH]RDKRUDGDUGLVFLSOLQDVPpWRGRV
HQFDUFHODPLHQWRV GH WRGD QDWXUDOH]D HQ EXVFD GHO DLUH HQ EXVFD GHOD ³RWUDFRVD´ GHO RWUR
FDPLQR\PRGR\HQWRQFHVFRQSHUPLVR\DYHFHVVLQpOVDOLPRVDODFDOOH\FRPHQ]DPRVD
UHFRUUHUOD´SiJ'HWDOHVUHFRUULGRVVDOGUiXQDSUHQGL]DMHYHUGDGHURTXHLQWHUHVDD
WRGRV HO ORJUR GH XQ DSUHQGL]DMH VLJQLILFDWLYR DQWHV GH TXH $XVXEHO WHRUL]DUD VREUH pO \ OD
FHQWUDOLGDGGHODH[SUHVLyQDQWHVGHTXH5HDGHVFULELHVHVX(GXFDFLyQSRUHO$UWH
7RGDV HVWDV H[SHULHQFLDV JXDUGDUtDQ HQ FRP~Q HVWDU FHQWUDGDV HQ OD H[SUHVLyQ \ HQ OD
HODERUDFLyQ GH FXDGHUQRV GH FODVHV FRQFHELU DO DOXPQR \ VX DSUHQGL]DMH GHVGH XQ VHVJR
DFWLYR\SURWDJyQLFRWUDQVLWDGRVLHPSUHSRUODIDFLOLWDFLyQGHH[SHULHQFLDVFRPSUHQGHUHVRV
DSUHQGL]DMHVDWUDYHVDGRVDVXYH]SRUORHVWpWLFR\SRUDFWLYLGDGHVGHH[SUHVLyQDUWtVWLFDLUHQ
E~VTXHGDGHVRFLDOL]DFLyQGHORVDSUHQGL]DMHVHQiPELWRVFRPXQLWDULRVUHFRQRFHUDODHVFXHOD
FRPR FHQWUR GH LUUDGLDFLyQ GH FRQRFLPLHQWRV \ HQWHQGHUOD SRU WDQWR FRPR HVFXHOD
H[SDQGLGDHVFXHODDIXHUD6LQHPEDUJRODHQXPHUDFLyQKHFKDQRGHEHKDFHUQRVSHQVDUTXH
IXHVHQ H[SHULHQFLDV LGpQWLFDV FDUHQWHV GH VLQJXODULGDG HQ HVSHFLDO OD VLQJXODULGDG TXH
SUHVWDUDSDUDFDGDFDVRHOFRQWH[WR
(O UHFRQRFLPLHQWR GH OD QDWXUDOH]DSURSRVLWLYDGHOFRQWH[WRUHDOL]DGRSRUORVHGXFDGRUHV HV
XQDGHODVFXDOLGDGHVGLVWLQWLYDVGHWDOHVH[SHULHQFLDVFRPRSDUWHGHOPRYLPLHQWRGHODQXHYD
HGXFDFLyQHQQXHVWUD$PpULFD\ODPLUDGDH[WHQVLYDGHODH[SUHVLyQFRPRXQDQHFHVLGDGGHO
FRQWH[WRWDQWRHOGHORVHVFRODUHVFRPRHOGHVXVFRPXQLGDGHVODTXHODVKDFHFREUDUVHQWLGR
FRPRH[SHULHQFLDVGHHGXFDFLyQSRUHODUWH
/RPDQLILHVWRQRGHEHHQWHQGHUVHFRPRVLHVWDVH[SHULHQFLDVVRORQDFLHUDQGHVtDXVHQWHVGHO
REOLJDGR YtQFXOR TXH SXGLHUDQ JXDUGDUFRQHOSHQVDPLHQWRSHGDJyJLFRGHYDQJXDUGLDGHVX
PRPHQWR2OJDORH[SUHVDUiHQEl niño y su expresión³1XHVWUDVREVHUYDFLRQHVGLDULDVHQOD
HVFXHOD QR KDQ KHFKR VLQR FRQILUPDU OR TXH VRVWLHQHQ SVLFyORJRV \ SHGDJRJRV HPLQHQWHV
FRPR &OHSDUqGH %DUWK )HUULqUH -DPHV 5LERW ´ ,JOHVLDV HQ VX
Didáctica WDPELpQ UHDOL]DUi LGpQWLFR UHFRQRFLPLHQWRDORODUJRGHWRGDHOODWDQWRDOFLWDUXQ
DXWRUFRPRDOUHIHUHQFLDUORTXHGH~WLO\DSOLFDEOHWLHQHORH[SUHVDGRSRUDOJXQRGHHOORVHQ
UD]yQ GH IRUWDOHFHU ORV DUJXPHQWRV GH VX H[SHULHQFLD (Q OD FRSLRVD REUD GH -HVXDOGR RWUR
WDQWRSXHGHDQRWDUVH
(OUHFRQRFLPLHQWRGHWRGRVHVWRVHGXFDGRUHVGHUHIHUHQWHVGHYDQJXDUGLDGHVXpSRFDQRORV
FRQYLHUWH HQ VLPSOHV UHSOLFDGRUHV GH VXV LGHDV SXHV PiV DOOi GH HOOR DO VDEHU VDELDPHQWH
DGHFXDUODV D VXV UHVSHFWLYRV FRQWH[WRV \ DO UHIOH[LRQDU FUtWLFDPHQWH HO GtD D GtD GH VX
UHDOL]DFLyQ HQ WH[WRV GH GLYHUVD QDWXUDOH]D GLDULRV SULPHUR \ OXHJR HQ HQVD\RV WHPiWLFRV
UHODWLYRV D UD]RQHV GLYHUVD GH OD HQVHxDQ]DR IDFHWDV GHO GHVDUUROOR LQIDQWLO SDUWLFXODUPHQWH
GHVGH OD H[SUHVLyQ \ OD FUHDWLYLGDG &266(77,1, -(68$/'2
,*/(6,$6JDQDEDQHQFXDOLGDGHVGLVWLQWLYDVODVTXHKDFHQSRVLEOH
TXH KR\ ORV YHDPRV QR VROR FRPR UHSUHVHQWDQWHVGHOPRYLPLHQWRGHODQXHYDHGXFDFLyQ HQ
QXHVWUD$PpULFDVLQRFRPRDXWpQWLFRVSURWDJRQLVWDVGHODHGXFDFLyQSRUHODUWH
8QR GH ORV PRGRV PiV SDOPDULRV HQ TXH HO HQWRUQR VRFLDO DIORUD FRPR SDUWH VXVWDQWLYD GHO
FRQWH[WR GRQGH TXHGD LQVHUWR WDPELpQ HO iPELWR SVLFROyJLFR \ HVSLULWXDO GHO QLxR VH
PDQLILHVWD HQ HVWDV H[SHULHQFLDV HQ ORV SDVHRV R H[FXUVLRQHV (VH LU HVFXHOD DIXHUD GHO FXDO
GLUi -HVXDOGR HQ DSUHWDGD VtQWHVLV ³ VDOLPRV D OD FDOOH \ FRPHQ]DPRV D UHFRUUHUOD <
IXLPRV D ODV IiEULFDV D ODV REUDV HQ FRQVWUXFFLyQ D ORV PHUFDGRV D ORV SXHUWRV D ORV
FRPHUFLRVDORVDSUHQGL]DMHVHQORVWDOOHUHV\HQORVYHQWRUULOORV´SiJ8QDHVFRODU
GHODH[SHULHQFLDGHODV&RVVHWWLQLWDPELpQRIUHFHRWUDGLPHQVLyQGHOPRGRHQTXHODHVFXHOD
VHH[SDQGtDFXDQGRGLFH³/DHVFXHODVDOtDGHVXSURSLDHVFXHODSDUDHQYROYHUDOEDUULRFRQXQ
SRFRGHVDEHU/DHVFXHODWLHQHTXHXQLUVHDOSXHEORHOEDUULRWLHQHTXHVHURWURSHGD]R
GHHVFXHODPiV´SiJV\$VtDODSDUTXHGHODUHDOLGDGHQWRUQRVHH[WUDtDQ
ORVDVXQWRVTXHOXHJRLUtDQDVHULQGDJDGRVHQELEOLRWHFDSDUDFRQFOXLUHQHOVDOyQGHFODVHV
GHOFRQRFLPLHQWRSUHYLRGHODVQHFHVLGDGHVGHHVHHQWRUQRQDFtDHQWRQFHVHORWURPRGRHQ
TXHODHVFXHODVDOtDGHVtDKRUDFRPRH[WHQVLyQGHVXDFFLyQHGXFDWLYD
(QODVH[SHULHQFLDVGH-HVXDOGR\ODV&RVVHWLQLFDGDHVFRODUFRQVWUXtDVXFXDGHUQRGHFODVHV
'HPRGRTXHKDEUtDWDQWDYDULHGDGGHHOORVFRPRHVFRODUHVWXYLHVHXQDFODVH(QODHVFXHOD
UXUDO XQLWDULD GH OD H[SHULHQFLD GH ,JOHVLDV VH WUDEDMDUtD EDMR OD SURSXHVWD GH ORV JXLRQHV
GLGiFWLFRV \ D WUDYpV GH HOORV VH SURSLFLDED GH LJXDO PRGR HVD SHUVRQDOL]DFLyQ GHO
FRQRFLPLHQWR /DUHDOL]DFLyQJUiILFDGHWRGRVHVRVWHVWLPRQLRVGHODSUHQGL]DMHHUDQDODSDU
PRWLYRGHXQDSUHVHQFLDWUDQVYHUVDOWDQWRGHODGLPHQVLyQSOiVWLFDFRPROLWHUDULD \FRQHOOR
PDQLIHVWDFLyQ GH ODH[SUHVLyQ HQFDUQDGD HQHOSURFHVRPLVPRGHOFRQRFHUTXHHUDWDPELpQ
SRUORPLVPRYLYHQFLDHVWpWLFD
3DUWLFXODU UHOHYDQFLD DGHPiV OH FRQFHGtD ,JOHVLDV D OR TXH GDED HQ OODPDU &XDGHUQRV GH
SHQVDPLHQWR D SDUWLU GH FyPR ORV QRPEUDURQ ORV QLxRV GH VX H[SHULHQFLD < DQRWD GHO
VLJXLHQWHPRGRHVWHKHFKRTXHPXHVWUDKDVWDTXpSXQWRORVHVFRODUHVFREUDEDQFRQFLHQFLDGH
OD QDWXUDOH]D GH VX KDFHU ³< QXQFD VDEUHPRV HQ TXp FLUFXQVWDQFLDV \ SRU TXp UD]RQHV ORV
SURSLRVDXWRUHVGLHURQHQOODPDUORVHVFULELpQGRORVHQODVSULPHUDVOtQHDVGHODSiJLQDLQLFLDO
D PDQHUD GH WtWXOR Cuadernillos de pensamientos propios´ ,*/(6,$6 SiJ /R
TXHDUHQJOyQVHJXLGROHKDFHVHQWHQFLDUD,JOHVLDVXQDYHUGDGHGXFDWLYDLUUHIXWDEOH³HQWRGR
QLxR TXH DSUHQGH HQ OD HVFXHOD D PDQHMDU VXV SHQVDPLHQWRV SURSLRV VH DQXQFLDQ ODV
SRVLELOLGDGHVGHXQKRPEUHOLEUH´
(QODH[SHULHQFLDGHODHVFXHOD³*DEULHO&DUUDVFR´GHODV&RVVHWWLQLHOODVLQVLVWtDQHQHOKHFKR
GHTXHVHFDUHFtDGHSURIHVRUHVHVSHFLDOL]DGRVHQDUWH\DODYH]UHFRQRFtDQTXHODPLVLyQGH
HOODV HUD OD GH FUHDGRUHV QR OD GH DUWHVDQRV (VWR HV FXDOLGDG FRP~Q DGYHUWLEOH HQ ODV WUHV
H[SHULHQFLDV \ RWUR PRWLYR PiV SDUD UHVDOWDU VX DFWXDOLGDG \ FXiQWR SXHGH DVRFLDUVH D OD
HQVHxDQ]DSURIHVLRQDOGHODUWHFRQWHPSRUiQHR
/DVLQJXODULGDG\DODSDUODVLPSDWtDTXHJXDUGDQHQWUHVtHVWDVH[SHULHQFLDVVHDVLHQWDQHQ
XQD YHUGDGHUD FDUWRJUDItD GH OD GLVLGHQFLD HQ OD PLVPD PHGLGD TXH VX GLDULR GH UXWDV VH
WUD]DEDGHVGHHOYLYLUFRWLGLDQRGHXQDHVFXHODTXHFRPRUHFRQRFH/HWLFLD³QHFHVLWDEDGHOD
EHOOH]D SDUD FXPSOLU VX LGHDO HGXFDWLYR´ SiJ \ SRU HOOR DVLVWLGD GH XQD
SHGDJRJtDGHODLQFHUWLGXPEUH\ODVRUSUHVD
Rafaela de Cuba
/D SRHWD \ HGXFDGRUD 5DIDHOD &KDFyQ 1DUGL HV GHXGRUD LGHRHVWpWLFD GHO (VWXGLR /LEUH GH
3LQWXUD \ (VFXOWXUD GH DO LJXDO TXH GH ODV H[SHULHQFLDV GH XQ 0DWHR 7RUULHQWH HQ
&LHQIXHJRV DOUHGHGRU GH OD (VFXHOD /LEUH GH $UWHV 3OiVWLFDV -DJXD R GH OD $FDGHPLD GHO
%HMXFR (Q WDO VHQWLGR VX LGHDO SHGDJyJLFR VH KDOODED FHQWUDGR HQ OD H[SUHVLyQ WDO FXDO OR
VXVWHQWDED-HVXDOGR6XVHQVLELOLGDGSRpWLFDYDDPDQLIHVWDUVHHQVXPDJLVWHULRGHPRGRTXH
FRQYLHUWHWRGRVXDFFLRQDUSHGDJyJLFRHQXQDPXHVWUDGHHGXFDFLyQSRUHODUWH$VtUHVXOWDUi
GHVGH TXH D LQLFLRV GH ORV SDUWLFLSH DO IUHQWH GH XQD H[SHULHQFLD VLQJXODU FRQ OD
LQWURGXFFLyQGHOD$SUHFLDFLyQGHODV$UWHV9LVXDOHVHQODHQVHxDQ]DVHFXQGDULDGHOSDtV/RV
IROOHWRV GH HVWXGLR HODERUDGRV SDUD HO FDVR FRPSUHQGtDQ ORV DVXQWRV FHQWUDOHV TXH GHVGH OD
KLVWRULD \ ORV FRPSRQHQWHV DSUHFLDWLYRV DMXVWDGRV D VX PHGLR GHEtD OOHJDU D GRPLQDU HO
HVWXGLDQWHDPpQGHFRQWDUFRQXQDQH[RGHDPSOLDFLyQGLULJLGRDOSURIHVRUGHODPDWHULD/D
SDUWHFRUUHVSRQGLHQWHDOFRPSRQHQWHSURGXFWLYRGHODV$UWHV3OiVWLFDVVHFRPSOHPHQWDEDFRQ
OD SUHVHQFLD GH WDOOHUHV GH GLEXMR GRQGH VH DVSLUDED D REWHQHU FRQRFLPLHQWR WpFQLFR \
GHVDUUROORH[SUHVLYR
/XHJRDPHGLDGRVGHORVLQDXJXUDUiVXH[SHULHQFLDGHPiVODUJDGDWDFRQODIXQGDFLyQGHO
*UXSR GH ([SUHVLyQ &UHDGRUD FRQVWLWXLGR SRU QLxRV GH ODV PiV YDULDGDV HGDGHV GH GRQGH
GHVJDMDUi XQ LGHDULR FHQWUDGR HQ HO IXQGDPHQWR GHODH[SUHVLyQ \ HQXQDDFFLRQDUGLGiFWLFR
GRQGHVHGDEDQFLWDRWUDVDUWHVSDUDDYLYDUODLPDJLQDFLyQYLVXDOGHVXVQLxRVHQHVSHFLDOOD
OLWHUDWXUD \ GRQGH FRPSUREDED WDPELpQ GH TXp PRGR ODV UHDOL]DFLRQHV SOiVWLFDV LQIDQWLOHV
UHJLVWUDEDQ GH PDQHUD VLQJXODU HO FRQWH[WR KLVWyULFR VRFLDO HQ TXH VH KDOODEDQ LQVHUWRV VXV
QLxRV'HHVDIHFKDGDWDVXWUDEDMRDOIUHQWHGHOHTXLSRGH(GXFDFLyQ$UWtVWLFDHQFDUJDGRGHOD
IRUPDFLyQGHOPDJLVWHULRHQHVHiPELWR\ODSXEOLFDFLyQGHVXOLEURExpresión plástica infantil
GRQGHH[SXVRODVLGHDVTXHVXVWHQWDEDVREUHODJUiILFDLQIDQWLO\ODLPSRUWDQFLDGHVX
GHVDUUROORFRQYLVWDVDTXHORVIXWXURVPDHVWURVSULPDULRVUHFRQRFLHUDQHOYDORUIRUPDWLYRGH
ODVLPiJHQHVFUHDGDVSRUORVQLxRV\ODSRWHQFLDUDQVXODERUPDJLVWHULDO
(QORVFOXEHV81(6&2GHOHFWXUDGHORVFXDOHVVHUiVXGLUHFWRUDYROYHUiDPDQLIHVWDUVHHVH
DIiQGH UHXQLUOLWHUDWXUD \ DUWH \GRQGHDODYH]UHXQLUtDQLxRVFLHJRV \GHYLVLyQQRUPDODO
LJXDOTXHKDEtDKHFKRFRQVX*UXSRGH([SUHVLyQ&UHDGRUDORVUHVXOWDGRVVHUtDQQRWDEOHV\
GHLQGXGDEOHYDOtD\HQHOORVHPSOHyVXFDSDFLGDGSRpWLFDFRQVXOLEURGHSRHPDVDGLYLQDQ]DV
Carrusel
-HVXDOGRYLVLWDUi&XEDHQORVLQLFLRVGHOD5HYROXFLyQ\HQ/D+DEDQDVHSXEOLFDUiXQOLEURVX\RMetodología
de la Expresión.
,QVWLWXWR6XSHULRUGH$UWHHQFXHQWURGHFDPLQKRV
Pienso que el artista que no se preocupa por el efecto
de su arte en el público se limita a hacer auto-terapia,
y que el educador que no es creativo no debiera enseñar.
El buen artista y el buen educador en realidad están en la
misma profesión, solamente utilizando medios distintos.
/XLV&DPQLW]HU
0L DUULER DO ,QVWLWXWR 6XSHULRU GH $UWH KDFH \D GRV GpFDGDV IXH OD FRQILUPDFLyQ GH OD
FDUWRJUDItDGLEXMDGD(OWUDQVFXUULUGHPLH[SHULHQFLDWDQWRHQORVFXUVRVGHSUHJUDGRFRPRGH
SRVJUDGRVHQOD/LFHQFLDWXUDHQ(GXFDFLyQ$UWtVWLFDHQOD0DHVWUtDGH(GXFDFLyQSRUHO$UWH
HVWD ~OWLPD HQ VXV LQLFLRV HQ OD 8QLYHUVLGDG 3HGDJyJLFD \ DO ILQDO HQ HO SURSLR ,QVWLWXWR
6XSHULRU GH $UWH DPpQ GH PLV PDHVWUtDV HQ 0p[LFR \ HQ &RORPELD \ GH PLV FXUVRV GH
LQYHVWLJDFLyQHQORVSURFHVRVDUWtVWLFRVUHDILUPyPLLGHDGHTXHHO~QLFRPRGRYHUGDGHURGH
HQVHxDUDUWHHVFRQDUWH(QHOSRVJUDGRGH'LGiFWLFDGHOD,PDJHQGHOD0DHVWUtD\RH[SRQtD
\FRQWUDVWDEDFRQPLVHVWXGLDQWHVODLGHDGHTXHSDUDQRWUDLFLRQDUODLGHQWLGDGGHORTXHVH
HQVHxDEDQRHUDSRVLEOHHQVHxDUDUWHFDUHFLHQGRGHDUWH(VRDODYH]PHHUDFRQILUPDGRDQWHV
HQ OD PLVPD 0DHVWUtD FXDQGR HQ HO FXUVR GH 7HRUtD \ WHyULFRV GH HGXFDFLyQ SRU HO DUWH R
SRVWHULRUPHQWH HQ HO 6HPLQDULR GH (GXFDGRUHV ODWLQRDPHULFDQRV GH HGXFDFLyQ SRU HO DUWH
FREUDED UHDOLGDG OD FDUWRJUDItD IUDJPHQWDGD H[SXHVWD UHVXOWDGR GH PLV LQGDJDFLRQHV
SHUVRQDOHV
8QDYH]JUDGXDGRVPLVSURSLRVHVWXGLDQWHVGHOD/LFHQFLDWXUDHQ$UWHV3OiVWLFDVPHRIUHFtDQ
REVWLQDGRV HMHPSORV TXH HQJURVDEDQ FRPR SUXHED LUUHIXWDEOH PiV DOOi GH ODV GLIHUHQFLDV DO
XVR HO FRQMXQWR GH FRLQFLGHQFLDV TXH SRGtDQ WHQGHUVH HQWUH OD HGXFDFLyQ SRU HO DUWH \ OD
HQVHxDQ]D SURIHVLRQDO GHO DUWH \ FyPR LQFOXVR HQ ORV SUR\HFWRV GHVHQYXHOWRV SRU XQ MRYHQ
DUWLVWDPDHVWURGHODIDFXOWDGGHQWURGHVXVGHQRPLQDGRV7DOOHUHVGH$UWH\([SHULHQFLDTXH
FRQIRUPDUtDQOXHJRSDUWHGHVXWHVLVGHPDHVWUtD7255(6GHVHQYROYLyXQRGHHOORV
HQ XQ /LFHR DOHPiQ GRQGH WDQWR SRU VXV SURSyVLWRV FRPR SRU VXV UHVXOWDGRV HVWiEDPRV HQ
SUHVHQFLDGHXQDFFLRQDUHGXFDWLYRGHHGXFDFLyQSRUHODUWH
-XOLR 5XVOiQ 7RUUHV /H\YD TXH HUD HO QRPEUH GH HVH MRYHQ PDHVWUR GHVDUUROOy XQ WDOOHU
GHQRPLQDGR (QHUJtD VRFLDO FRQ HO iQLPR GH FUHDU XQ HVSDFLR GRQGH VH GHVDUUROODUDQ
H[SHULHQFLDVGHYtQFXORHQWUHORVSDUWLFLSDQWHV\HOFRQWH[WRGHODFLXGDG&RQYLVWDVDHVRVH
FRQIRUPDURQJUXSRVGHWUDEDMRDSDUWLUGHXQVRFLRJUDPDDSOLFDGRSRUHOPDHVWUR/DFLXGDG
OXHJR GH XQ UHFRUULGR SRU VXV SDUDMHV PiV VLJQLILFDWLYRV IXH LQWHUYHQLGD SRU SUR\HFWRV GH
DFFLRQHVHItPHUDVGHGLYHUVDQDWXUDOH]DOLEUHPHQWHFRQFHELGRVSRUFDGDJUXSRDVDEHUXQR
WUDEDMyHOVHQWLGRGHVRUSUHVDHQHOHQWRUQRGHXQSDUTXHRWURSURSXVRKDFHUYLGDSULYDGDHQ
S~EOLFRRHQXQSXHQWHSHDWRQDOGHJUDQDIOXHQFLDGHWUDQVH~QWHVDGHWHUPLQDGDVKRUDVGHOGtD
HQWRUSHFHUVXSDVRFRQFLQWDVGHSURKLELFLyQRSURSRQHUVHGRUPLUHQHVSDFLRVS~EOLFRVFRPR
KDFHQ ORV KDELWDQWHV VLQ FDVD HQ XQD FLXGDG(O UHVXOWDGRILQDOQRVHKL]RHVSHUDUWRGRVORV
SDUWLFLSDQWHVVLQWLHURQTXHKDEtDQGHVFXELHUWRPiVSURIXQGDPHQWHORTXHHUDVXFLXGDGKDVWD
HVHPRPHQWRGHVFRQRFLGDSDUDHOORV FRQODKRQGXUD\HODIHFWRLQXVLWDGRFRQTXHODKDEtDQ
YLYLGR
(OUHVWRGHORVHVWXGLDQWHVGHO/LFHRTXHDVLVWLHURQDODPXHVWUDILQDOGHORUHDOL]DGRGLVSXHVWD
HQ HO iUHD FHQWUDO GH OD HVFXHOD PDQLIHVWDURQ HVSRQWiQHDPHQWH VX GHVHR GH SDUWLFLSDU GH
H[SHULHQFLDVGHWDOQDWXUDOH]D(QORVGLEXMRVUHDOL]DGRVSRUORVSDUWLFLSDQWHVGHOWDOOHUFRQXQ
PDUFDGR DVFHQGLHQWH SULPLWLYR FRPR FRUUHVSRQGH D HVWXGLDQWHV FDUHQWHV GH LQVWUXFFLyQ
SOiVWLFD TXH IRUPDURQ SDUWH GH OD PXHVWUD VH HYLGHQFLDED PiV DOOi GH HOOR HO PRGR HQ TXH
IXHURQ VLJQLILFDWLYDPHQWH DWUDLGRV SRU OD WDUHD TXH KL]R D HOORV FREUDU FRQFLHQFLD FRPR
FLXGDGDQRV DFWLYRV \ FRQVFLHQWHV GH VX HQWRUQR KHFKR TXH FRQWDJLDED DO UHVWR GH ORV
HVWXGLDQWHVTXHQRKDEtDQSDUWLFLSDGR\TXHGDEDQSUHQGDGRVGHODDYHQWXUDYLYLGDGRQGHOR
DUWtVWLFRQRUHVLGtDHQQLQJXQDVXHUWHGHKDELOLGDGJHVWiOWLFDRWpFQLFDWUDGLFLRQDOVLQRHQOD
LGHDGHGHVSHUWDUQXHYRVPRGRVGHYHU\VHQWLUVXVUHODFLRQHVFRQODFLXGDGGHVGHSUR\HFWRV
GH LQWHUYHQFLyQ XUEDQD 5XVOiQ VXPDED HVWH WDOOHU DO FRQMXQWR GH VXV 7DOOHUHV GH $UWH \
([SHULHQFLD\DODSDUMXQWRDPtFRPSUREyFyPRKL]RHQHVWDRFDVLyQHGXFDFLyQSRUHODUWH
(Q XQD WHVLV GH PDHVWUtD UHFLHQWHPHQWH ILQDOL]DGD HQ DVXQWRV GH 'LGiFWLFD GH ODV $UWHV
9LVXDOHVSDUDHVWXGLDQWHVXQLYHUVLWDULRGHDUWHVTXHWXWRUpXQDLGHDFHQWUDOTXHVXVWHQWDPRVVH
DVHQWDEDHQHODVHUWRGH TXHODSURSLDSUiFWLFDDUWtVWLFDHVWXGLDQWLOHUDSDUWHVXVWDQWLYDGHVX
SUiFWLFD GLGiFWLFD SXHV GHVGH HOOD DSUHQGtDQ D DSUHQGHU VREUH DUWH 025$ /D
GLGiFWLFD DVt FRQFHELGD QR HPHUJtD WDQWR GHVGH IXQGDPHQWRV SHGDJyJLFRV DLVODGRV GHO DUWH
FRPRGHVGHODVSURSLDVSRpWLFDVGHVXVDUWLVWDVPDHVWURV\DVtHOUHFRQRFLPLHQWRGHOIOXLUGH
XQDSRpWLFDKDFLDORVDSUHQGL]DMHV\ORTXHHVWDVPLVPDVSRpWLFDVSRGtDQFRQWHQHUHQFDUQDGR
GHSHGDJyJLFR
(OFDPLQRUHFRUULGRPXHVWUDKDVWDTXpSXQWRFXDQGRDUWLVWDVWHyULFRVRFXUDGRUHVKDEODQKR\
HQ GtD HQ QXHVWUD $PpULFD GH WUDQVSHGDJRJtD R GH SHGDJRJtD HQ HO FDPSR H[WHQGLGR
+(/*8(5$FRQPRWLYRGHODYD%LHQDOGHO0HUFRVXUSRGHPRVDODYH]SHQVDUHQ
HGXFDFLyQ SRU HO DUWH DXQTXH HO SURSLR +HOJXHUD DO UHIHULUVH DO DUWH FRPR LQVWUXPHQWR GH
HGXFDFLyQ OR GHQRPLQD VHJ~Q VX DUJXPHQWR ÝD IDOWD GH PHMRU WpUPLQR HO DUWH FRPR
FRQRFLPLHQWRGHOPXQGRʿ+(/*8(5$SiJ
(StORJR
/DFDUWRJUDItDGLEXMDGDVLELHQIUDJPHQWDGDWUD]DUXWDV\FDPLQRVGHPX\YDULDGDHVSHFLH\
GHPX\GLYHUVRVDJHQWHVGHQWURGHOFDPSRLQWHOHFWXDOORTXHHYRFDHQPtDODUULEDUDOHVSDFLR
DFDGpPLFR GH XQD XQLYHUVLGDG GH DUWH OD SRVLELOLGDG GH YLYLU HQ HO SODQR GH OD SUiFWLFD
DUWtVWLFD HQ XQ LQLFLR OD SRVLELOLGDG GH LQVHUWDU FRPR SUR\HFWR DUWtVWLFR HO SURSLR SURFHVR
SHGDJyJLFRGHHVDSUiFWLFD\OXHJRHOFRQYHQFLPLHQWRGHTXHHVDPLVPDSUiFWLFDHUDDODSDU
TXH DUWtVWLFD SHGDJyJLFD 5HJUHVD YtYLGR D PL PHPRULD OR KHFKR SRU *DUFtD 0DURWR FRQ VX
$FFLyQ 3OiVWLFD 3RSXODU HVH WRPD \ GDFD QDWXUDO HQWUH DUWH \ HGXFDFLyQ GRQGH VDOHQ
HQULTXHFLGRVDPERV
(VWRGDSLpDUHFRQRFHUXQVHQWLGRH[SDQGLGRGHOFRQFHSWRGHDUWHHGXFDGRUTXH\DODKLVWRULD
HQ MLURQHV TXH KDEtD LQGDJDGR PH PRVWUDED \ TXH UHVXOWDED UHDILUPDGD HQ HO iPELWR
DFDGpPLFR XQLYHUVLWDULR GH OD IRUPDFLyQ GH XQ SURIHVLRQDO GH OD LPDJHQ HQ ORV SUHGLRV GHO
,QVWLWXWR6XSHULRUGH$UWH&XDOTXLHUDJHQWHGHOFDPSRFXOWXUDOQRVRORHOHGXFDGRUFRPRWDO
TXH VH HQWLHQGD DQWH WRGR FRPR XQ FRPXQLFDGRUWUDQVIRUPDGRU GH H[SHULHQFLDV VHQVLEOHV \
FRJQLWLYRVLPEyOLFDVVHDDUWLVWDFXUDGRUDQLPDGRUJHVWRUVHUiSDUDPtXQHGXFDGRUGHODUWH
(VWR OHMRV GH GHELOLWDU OD QHFHVDULD ODERU GH ORV HGXFDGRUHV GHO DUWH OD H[SDQGH D WUDYpV GH
HVWRV RWURV YDOLRVRV FRODERUDGRUHV FRQYHUWLGRV WDPELpQ HGXFDGRUHV DO LJXDO TXH ORV
HGXFDGRUHVQRSRGUiQGHMDUGHVHUDUWLVWDVHQH[SDQVLyQSDUDFXPSOLUSOHQDPHQWHVXPLVLyQ
(Q FRUUHVSRQGHQFLD FRQ HO FRQYHQFLPLHQWR GH HVH VHQWLGR H[SDQGLGR GH ORV SRWHQFLDOHV
DJHQWHVGHODHGXFDFLyQSRUHODUWHHVWDUiHQWRQFHVODFRPSUHQVLyQGHTXHORVPRGRVHQTXH
HOODSXHGDGHVHQYROYHUVHVHLQVFULEHHQDFFLRQHVWRWDOL]DGRUDVWDQWRLQVWLWXFLRQDOHV\IRUPDOHV
FRPRQRLQVWLWXFLRQDOHVHLQIRUPDOHVFRQFRQWHQLGRVTXHSXHGHQUHVSRQGHUDUHTXHULPLHQWRV
DUWtVWLFRV UHJXODUL]DGRV FXUULFXODUPHQWH R QR TXH HO DUWH HQ WDQWR GHWRQDGRU FXOWXUDO
FRJQLWLYRVHQVLEOH DVLHQWD VXV DUJXPHQWRV HQ XQ FUHFLPLHQWR KXPDQR UHIOH[LYR FUtWLFR
OLEHUDGRU $Vt OD HGXFDFLyQ SRU HO DUWH GHEHUi REOLJDGDPHQWH HVWDU HQ OD HVFXHOD FRPR VX
iPELWRQDWXUDO\RULJLQDULRSHURDODSDUVHH[SDQGLUiUL]RPiWLFD\VDOXGDEOHPHQWHSRUWRGRHO
FDPSRFXOWXUDO
5HIHUrQFLDV
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%XHQRV$LUHV(GLFLRQHV3HGDJyJLFDV
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aprendizaje. %XHQRV$LUHV(GLFLRQHV3HGDJyJLFDV
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9HQH]XHOD
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*$'$0(5 +DQV*HRUJH Verdad y método. Fundamentos de una hermeneútica
filosófica6DODPDQFD(GLFLRQHV6tJXHPH
*$5&Ë$0DURWR*DEULHOAcción plástica popular. 0p[LFR6HFUHWDUtDGH(GXFDFLyQ
3~EOLFD
0$/+$552 0DUWtQ $ El dibujo en la escuela primaria %XHQRV $LUHV &DEDXW \
&LD(GLWRUHV
021725,$UWXUR³/DHQVHxDQ]DGHOGLEXMRHQQXHVWUDVHVFXHODV´HQUHYLVWDCuba
Pedagógica6HSWLHPEUHRFWXEUH/D+DEDQD
025$0DUFHOR$EHOPropuesta de abordaje triangular en la Didáctica de las Artes
Visuales: los procesos de lectura y contextualización de la creación artística 7HVLV GH
0DHVWUtD HQ 3URFHVRV IRUPDWLYRV GH ODV $UWHV 9LVXDOHV /D +DEDQD )DFXOWDG GH $UWHV
9LVXDOHV,QVWLWXWR6XSHULRUGH$UWH
5($'+HUEHUWEducación por el arte%XHQRV$LUHV(GLWRULDO3DLGyV
5(<(69tFWRU0Pedagogía del Dibujo0p[LFR6HFUHWDUtDGH,QVWUXFFLyQ3~EOLFD
7255(6/H\YD-XOLR5XVOiQInvestigación, arte y experiencia7HVLVGH0DHVWUtDHQ
$UWH/D+DEDQD)DFXOWDGGH$UWHV3OiVWLFDV,QVWLWXWR6XSHULRUGH$UWH
:2-1$5,UHQHEstética y pedagogía0p[LFR)RQGRGH&XOWXUD(FRQyPLFD
1XHYDVUXWDVHQODHGXFDFLyQGHODUWH
GHOD8QLYHUVLGDG,EHURDPHULFDQD
/XLVD'XUiQ\&DVDKRQGD7RUDFN±8QLYHUVLGDG,EHURDPHULFDQD&LXGDGGH0p[LFR
5HVXPHQ
/DOtQHDGHLQYHVWLJDFLyQHQArte y EducaciónGHOD8QLYHUVLGDG,EHURDPHULFDQDKDH[LVWLGRGHVGHHO
6LQ HPEDUJR HQ HO DWUDYHVy XQD UHVWUXFWXUDFLyQ WHyULFD HQ OD TXH VH EXVFy XQD PD\RU
DILQLGDGPHWRGROyJLFDFRQORVHVWXGLRVFXOWXUDOHV\ORVHVWXGLRVSRVFRORQLDOHV8QRGHORVSUR\HFWRVTXH
HPHUJLHURQDSDUWLUGHHVWDUHFRQILJXUDFLyQIXHXQWDOOHUSDUDDGROHVFHQWHVOODPDGR³'HDTXtSDUDDOOi\
DOUHYpVPDSDVSDUDODYLGD´FX\RPpWRGRPXOWLGLVFLSOLQDULQFOX\HODVDUWHVSOiVWLFDVGHVGHODSLQWXUD
\ODHVFXOWXUDODJHRJUDItDGHVGHORVPDSDVGH0HUFDWRUKDVWDODSVLFRJHRJUDItD\ODSVLFRORJtDFRPR
HO SVLFRGUDPD \ HO WHDWUR HVSRQWiQHR &RQ HO WDOOHU VH SUHWHQGH TXH ORV DGROHVFHQWHV SDUWLFLSDQWHV
SODVPHQSRUPHGLRGHODVUHSUHVHQWDFLRQHVFDUWRJUiILFDVHVWDVLQFOX\HQPDSDVHVSDFLDOHVVRQRURV\R
HVFpQLFRVVXPHGLRDPELHQWHHVGHFLU³VXVHVSDFLRV´(OREMHWLYRHVSURPRYHUHOUHFRQRFLPLHQWRGH
ORSURSLRLGHQWLILFDUORVOtPLWHV\ODVIURQWHUDVHQWUHOR³PtR´\OR³WX\R´HLQLFLDUHOGLiORJRHQWUHHO
³\R´\HO³W~´\SRVLEOHPHQWHHO³QRVRWURV´SRUPHGLRGHODYDULHGDGGHGLVFLSOLQDV\WpFQLFDVTXH
FRQIOX\HQHQHOWDOOHU(Q~OWLPDLQVWDQFLDVHSUHWHQGHTXHODSURGXFFLyQFDUWRJUiILFDVHQVLELOLFHDORV
DGROHVFHQWHV HQ OD LGHQWLILFDFLyQ GH ORV HVSDFLRV SULYDGRV \ S~EOLFRV \ HQ OD LPSRUWDQFLD GH FUHDU
FRPXQLGDGDSDUWLUGHHVWRV3DODEUDVFODYHDUWHHGXFDFLyQLGHQWLGDGFDUWRJUDItD
$QWHFHGHQWH
/DOtQHDGHLQYHVWLJDFLyQArte y educaciónVHFUHyGHQWURGHOPDUFRGHOD0DHVWUtDHQ
(VWXGLRV GH $UWH 0($ GH OD 8QLYHUVLGDG ,EHURDPHULFDQD EDMR OD WXWHOD GH 0DUtD (VWHOD
(JXLDUWH6DNDUHQHODxR(QHVHHQWRQFHVODGLVFLSOLQDHUDD~QPX\MRYHQHQ0p[LFR\
VyORXQFRQWDGRQ~PHURGHDFDGpPLFRVVHDYHQWXUDURQDIRUPXODUSUR\HFWRVLQVWLWXFLRQDOHVTXH
OOHYDUDQDODVDXODVSURJUDPDVGHGLFDGRVDODLQWHJUDFLyQGHODVDUWHVSDUDODIRUPDFLyQGHORV
QLxRV\GHORVMyYHQHVFX\RVYDORUHVLQFOXtDQHOUHVSHWRSRUORVVHPHMDQWHVHOHQWRUQRVRFLDO\
HOHFROyJLFR/DIRUPXODFLyQGHHVWDOtQHDGHLQYHVWLJDFLyQHQOD,EHURVHGHELyHQSDUWHDOD
SUHRFXSDFLyQGHOD0WUD(JXLDUWHSRUFUHDUXQDHGXFDFLyQDUWtVWLFDLQWHJUDOTXHVXVWLWX\HUDORV
SURJUDPDVREVROHWRVHODERUDGRVSRUOD6HFUHWDUtDGH(GXFDFLyQ3~EOLFD6(33RUIRUWXQDOD
,EHURQRIXHOD~QLFDTXHLQLFLyFRQSUR\HFWRVVLPLODUHVHLJXDOPHQWHH[LWRVRV'XUDQWHHVWH
SHULRGRWDPELpQRWURVYLHURQODOX]FRPRConArteLPSXOVDGRSRUOD'UD/XFLQD-LPpQH]\
Arte y educación en valoresEDMRODGLUHFFLyQGHO'U$QWRQLR3DROL
'RFWRUDHQ+LVWRULDSRUOD8QLYHUVLGDG,EHURDPHULFDQDFXHQWDDGHPiVFRQHVWXGLRVHQ+LVWRULDGHODUWH
)LORVRItD&LHQFLDV7HROyJLFDV\(VWXGLRV0HGLHYDOHV(QODDFWXDOLGDGHVFRRUGLQDGRUDGHOD/LFHQFLDWXUDHQ
+LVWRULDGHO$UWHGHOGHSDUWDPHQWRGHDUWHGHOD,EHURGRQGHDGHPiVFRRUGLQDODOtQHDGHLQYHVWLJDFLyQHQ$UWH\
(GXFDFLyQFRQHOSUR\HFWRRecuperación de la memoria e identidad cultural a través de la Educación Artística
6XHVSHFLDOLGDGHVODFDUWRJUDItDPHGLHYDO
'HVGHHVHHQWRQFHVHQOD,EHURHPHUJLHURQYDULRVSUR\HFWRVWDOHVFRPRApropiación
del patrimonio cultural a partir del aprendizaje significativo Arte, educación y
diversidad cultural Arte y educación: formación del pensamiento creativo
\Arte y educación en la diversidad: Derecho a la educación y responsabilidad social de
las instituciones (QWUH ORV PpULWRV FROHFWLYRV ORJUDGRV SRGHPRV QRPEUDU OD
FRQVROLGDFLyQ GH ODOtQHDHQHO iPELWR DFDGpPLFR \PXVHtVWLFRGHOD&LXGDGGH0p[LFR DVt
FRPRODSXHVWDHQSUiFWLFDGHHVWUDWHJLDVHQGLIHUHQWHVFDPSRVGHODHGXFDFLyQHQORVTXHHO
DUWH FXPSOtD XQD IXQFLyQ PHGLDGRUD FRPR PHGLR GH DSUHQGL]DMH VLJQLILFDWLYR DO IDYRUHFHU
SUHFLVDPHQWHHOGHVDUUROORGHXQSHQVDPLHQWRFUHDWLYR\GLYHUJHQWHFRQEDVHHQHOGHVDUUROOR
GH FRPSHWHQFLDV SDUD OD YLGD /RV UHVXOWDGRV VH GHVDUUROODURQ HQ HO FDPSR GH OD HGXFDFLyQ
IRUPDOHLQIRUPDODVtFRPRHQLQVWLWXFLRQHVFXOWXUDOHVS~EOLFDV\SULYDGDV
5HSODQWHDPLHQWRVWHyULFRV
3HVHDHVWRVDYDQFHVVLJQLILFDWLYRVHQHOODOtQHDIXHUHYLVDGD\UHFRQWH[WXDOL]DGD
SDUD VDWLVIDFHU WDQWR D XQD QXHYD JHQHUDFLyQ GH MyYHQHV PDHVWUDQWHV FRPR D XQD QXHYD
JHQHUDFLyQ GH S~EOLFRV GHQRPLQDGR millennials /D LQWHQFLyQ IXH EXVFDU XQD PD\RU
VHQVLELOL]DFLyQKDFLDWHPDVFRPRODWROHUDQFLDODLGHQWLGDG\HOUHVSHWRKDFLDHORWURSRUPHGLR
GHODSHUFHSFLyQODUHFHSWLYLGDG\ODFUHDWLYLGDGHQ>ODSUiFWLFDGH@ODVDUWHV\HODQiOLVLVFUtWLFR
GHODVPLVPDV
8QRGHORVREMHWLYRVSULQFLSDOHVGHHVWDQXHYDUHYLVLyQIXHJHQHUDUQXHYDVPHWRGRORJtDV
HQ WRUQR DO DUWH \ D OD HGXFDFLyQ SHUWLQHQWHV DO FRQWH[WR ODWLQRDPHULFDQR HQ SDUWLFXODU DO
PH[LFDQR&RQDQWHULRULGDGODEducación artística basada en las artes ROD'%$(VHJ~QVXV
VLJODVHQLQJOpVGHODGetty FundationUHVXOWDEDPX\SRSXODUHQWUHORVMyYHQHVPDHVWUDQWHV
PH[LFDQRV SRU GRV UD]RQHV /D SULPHUD IXH JHRJUiILFD OD FHUFDQtD FRQ ORV (VWDGRV 8QLGRV
SHUPLWtD XQ PD\RU DFHUFDPLHQWR D OD FXOWXUD \ HO FRQWH[WR HVWDGRXQLGHQVH /D VHJXQGD SRU
WUDWDUVHGHXQDPHWRGRORJtDTXHDEDUFDEDPXFKDVIDFHWDVGHOTXHKDFHUDUWtVWLFRUHVXOWDEDPX\
DWUDFWLYDDTXLHQHVLQLFLDEDQFRQHVWDGLVFLSOLQD6LQHPEDUJRFRQHOSDVRGHODVJHQHUDFLRQHV
VH KLFLHURQ QRWDU FDGD YH] PiV ODV JUDQGHV GLVWDQFLDV FXOWXUDOHV HQWUH HVWD PHWRGRORJtD
HVWDGRXQLGHQVH\ORVFRQWH[WRVPH[LFDQRV3RUHOORVHEXVFyXQDDOWHUQDWLYDTXHVHDSHJDUD
PiVDQXHVWURVFRQWH[WRVSUREOHPiWLFDV\VHQVLELOLGDGHV(OHQIRTXHGHHVWDUHYLVLyQSRUOR
WDQWR JLUy VREUH ORV HVWXGLRV FXOWXUDOHV OD FXOWXUD YLVXDO \ ORV HVWXGLRV SRVFRORQLDOHV SRU
WUDWDUVH GH DFHUFDPLHQWRV PXOWLGLVFLSOLQDUHV TXH SXGLHUDQ FRQFLHQFLDU ODV PLUDGDV KDFLD OD
SURPRFLyQGHODPHPRULD\ODLGHQWLGDGGHODVFRPXQLGDGHVSRUPHGLRGHODVPDQLIHVWDFLRQHV
DUWtVWLFDVWDQWRGH³ODVJUDQGHVREUDVPDHVWUDV´FRPRGHDTXHOODVSURGXFFLRQHVFXOWXUDOHVGH
FRQVXPR FRWLGLDQR X RUGLQDULR 3RU HOOR HVWDV RWUDV PDQLIHVWDFLRQHV WDPELpQ GHEHUtDQ VHU
FRQWHPSODGDVSDUDKDFHUOOHJDUDORVS~EOLFRVODLGHDGHTXHSRUPHGLRGHODSURGXFFLyQFXOWXUDO
HVSRVLEOHFUHDULGHQWLGDG\PHPRULD
3RURWURODGR FRQ HVWRVDFHUFDPLHQWRV WDPELpQ VHSUHWHQGHQFUHDUQXHYDVIRUPDVGH
hacerFRPXQLGDG\GHserFRPXQLGDGDSDUWLUGHORVREMHWRVRIHQyPHQRVSURGXFLGRVSRUODV
PLVPDVVRFLHGDGHV/RVQXHYRVJUXSRVGHLQWHUpVGHODOtQHDGHLQYHVWLJDFLyQVRQDTXHOORVHQ
ORVTXHODHGXFDFLyQIRUPDORLQIRUPDOD~QSXHGHWUDQVIRUPDUVXVSDUDGLJPDVRHVWUXFWXUDV
VRFLDOHV\FXOWXUDOHVSDUDODFUHDFLyQGHLQGLYLGXRVPiVOLEUHV\WROHUDQWHVDVDEHUQLxRVGH
HVFRODULGDGEiVLFD\PHGLDVXSHULRU/DPRWLYDFLyQODHQFRQWUDPRVHQODVSDODEUDVGH3DXOR
)UHLUH TXLHQ SURPRYLy OD WUDQVIRUPDFLyQ GH OD HGXFDFLyQ ³EDQFDULD´ SRU XQD
³SUREOHPDWL]DGRUD´HQODTXHODSHUVRQDFRQVWDQWHPHQWHVHKXPDQL]DDWUDYpVGHODHGXFDFLyQ
UHYHODVXSURSLDULTXH]DFXOWXUDO\GHYHODODUHDOLGDGFRQHOREMHWRGHLQWHUYHQLUFUtWLFDPHQWHHQ
HOOD)UHLUHS(VSRUHVWRTXHXQRGHORVFDPLQRVPHWRGROyJLFRVHVODSURSXHVWDGH
$QD0DH%DUERVDSXHVWRTXHODE~VTXHGDGHODLGHQWLGDGODWLQRDPHULFDQDQRSXHGHVHUOLQHDO
%DUERVDSVLQR³WULDQJXODU´(VGHFLUXQDTXHGHSHQGDGHXQHQWUHWHMLGRFRPSOHMR
\GLDOpFWLFRHQWUHYDULRVOHQJXDMHVFXOWXUDOHV(VWDSURSXHVWDUHVXOWDOODPDWLYDSRUTXHSHUPLWH
HQWHQGHUTXHHQHOHVWUHFKRHQWUHFUXFHGHODGLYHUVLGDGFXOWXUDOHVSRVLEOHFUHDU\IRPHQWDUXQD
HGXFDFLyQOLEUH\GHPRFUiWLFD3HURSDUDQRVRWURVHVWRQRVLJQLILFDFRQIURQWDU³ORHXURSHR´
FRPRDQWtWHVLVGH³ORODWLQRDPHULFDQR´3HQVDPRVTXHVHGHEHQLQFOXLUWDPELpQDORVHXURSHRV
FRPR HVSHFLDOLVWDV R OR HXURSHR FRPR LGHQWLGDGHV SDUD TXH HO HMHUFLFLR GH E~VTXHGD \
GHILQLFLyQGHLGHQWLGDGHV\ODFRQYHUVDFLyQVHDQPiVFRPSOHWRV(OPRVWUDUQRV\SRGHUGLDORJDU
FRQWRGRDTXHOORTXHVLHPSUHVHKDFUHtGRTXHQRVDSRFDSXHGHVHUXQDIRUPDGHDYDQ]DUHQ
SUR GH XQD FRQYHUVDFLyQ LQFOXVLYD GHPRFUiWLFD \ UHVLJQLILFDGD 'HELpUDPRV VHU FDSDFHV GH
EXVFDUQXHYRVFRQFHSWRVSDUDGLDORJDUFRQORHXURSHR/DOtQHDSRUORWDQWREXVFDFRQHVWH
HQIRTXH TXH ORV REMHWRV ³DUWtVWLFRV´ VHDQ GHWRQDGRUHV HQ ORV S~EOLFRV SDUD LQGDJDU VREUH VX
SURSLDUHDOLGDGHLGHQWLGDG$OFRPSUHQGHUHORULJHQODUD]yQGHVHUGHOREMHWR\VXSRVLEOH
YLQFXODFLyQFRQODUHDOLGDGDFWXDOVHSUHWHQGHTXHORVS~EOLFRVSXHGDQHODERUDUVXVSURSLDV
SURSXHVWDV GH LGHQWLGDG (O REMHWLYR XOWHULRU HV FUHDU XQD QXHYD FRQFLHQFLD HQ ODV QXHYDV
JHQHUDFLRQHVVREUHFyPRKHPRVVLGR\FyPRVRPRVRFyPRQRVLGHQWLILFDPRV'HHVWHPRGR
(ODERUGDMHWULDQJXODULQFOX\HODFRQWH[WXDOL]DFLyQKLVWyULFDHOTXHKDFHUDUWtVWLFR\ODDSUHFLDFLyQDUWtVWLFD
ODE~VTXHGDGHQXHVWUDLGHQWLGDG\GHQXHVWUDPHPRULDVyORSXHGHQKDFHUVHGHVGHORVFRQFHSWRV
GHPXOWLFXOWXUDOLGDG\ODGLYHUVLGDGFXOWXUDO\VyORDVtGHVDSDUHFHUiHO³HJR´FXOWXUDO%DUERVD
S
/RVWUDEDMRVHLQYHVWLJDFLRQHVTXHVHKDQGHVDUUROODGRDSDUWLUGHHVWHUHSODQWHDPLHQWR
KDQVLGRGHGLYHUVDtQGROHGHELGRDORVP~OWLSOHVLQWHUHVHV\FRQWH[WRVGHQXHVWURVPDHVWUDQWHV
6LQHPEDUJRSRGHPRVFDWDORJDUORVHQGRVDSDUWDGRVGLVWLQWRV3RUXQODGRVHKDQJHQHUDGR
SUR\HFWRVSDUDJUXSRVIRFDOHV\DVHDHQIRUPDGHWDOOHUHVLQGHSHQGLHQWHVRGHFRUWHFXUULFXODU
SDUD JUXSRV HVFRODUL]DGRV (VWRV SURSRQHQ FUHDU YtDV SDUD OD HGXFDFLyQ SURVSHFWLYD OD
FRQVWUXFFLyQGHQXHYDVKDELOLGDGHV\HOXVRGHQXHYDVKHUUDPLHQWDVGHHQVHxDQ]D7DPELpQ
VRQXQLQWHQWRSRUHQFRQWUDUXQDWUDQVIRUPDFLyQHQODSHUFHSFLyQ\ODFRJQLFLyQHQHOiPELWR
HGXFDWLYR<SRU~OWLPRRWURVEXVFDQORVFDPELRVTXHODWHFQRORJtDDSRUWDDODWUDQVIRUPDFLyQ
GHORVSURFHVRVGHHQVHxDQ]D\DSUHQGL]DMHHQORVVHUHVKXPDQRVHQSDUWLFXODUDSDUWLUGHOD
LQWHOLJHQFLDDUWLILFLDO(QRWUDVSDODEUDVHVWHJUXSRGHWUDEDMRVEXVFDQHVWXGLDUORVUHWRVGHOD
HGXFDFLyQDUWtVWLFDHQHOVLJOR;;,\HOLPSDFWRHQODFUHDFLyQ\UHFHSFLyQGHOFRQRFLPLHQWR
GHO DUWH HQ HVWDV QXHYDV JHQHUDFLRQHV DVt FRPR UHFRQRFHU HO YDORU VRFLDO GHO DUWH HQ OD
HGXFDFLyQ
3RUHORWURODGR HOVHJXQGRJUXSRGHLQYHVWLJDFLRQHV JLUDDOUHGHGRUGHODQiOLVLV \OD
SHUWLQHQFLDGHODVEXHQDVSUiFWLFDV\ODVSROtWLFDVS~EOLFDVHQWRUQRDODDGPLQLVWUDFLyQGHOD
FXOWXUD\HODUWHHQOD&LXGDGGH0p[LFR(VWRVHVWXGLRVWDPELpQSUHWHQGHQLGHQWLILFDUORVWLSRV
GH S~EOLFRV ODWLQRDPHULFDQRV TXH FRQVXPHQ ORV IHQyPHQRV DUWtVWLFRV HQ ORV PXVHRV H
LQVWLWXFLRQHVFXOWXUDOHV
7DOOHUDe aquí para allá y al revés: mapas para la vida
(QFXDQWRDOSULPHUJUXSRGHHVWXGLRVXQRGHORVHMHUFLFLRVTXHODOtQHDKDWRPDGRSDUD
YROFDUHVWDVPHWRGRORJtDVSRVFRORQLDOHVDODSUiFWLFDHVDWUDYpVGHXQWDOOHUHQHOFXDOVHEXVFD
ODFUHDFLyQGHUHSUHVHQWDFLRQHVFDUWRJUiILFDVSRUSDUWHGHORVSDUWLFLSDQWHVSDUDSURPRYHUDVt
HOUHFRQRFLPLHQWRGHORSURSLRHLQLFLDUHOGLiORJRHQWUHHO³\R´\HO³W~´1RVKDSDUHFLGRTXH
HVWHJpQHURDUWtVWLFRSXHGHGHPDQHUDHILFD]PDUFDUORVOtPLWHV\IURQWHUDVHQWUHOR³PtR´\OR
³WX\R´HQHVSHFLDOHQWUHORV\ODVDGROHVFHQWHV3DUDHOORHQHOWDOOHUVHKDHPSOHDGRXQDEDQLFR
YDULRSLQWR GH GLVFLSOLQDV FX\DV WpFQLFDV VH FRPSOHPHQWDQ GH PDQHUD RUJiQLFD SDUD TXH ORV
MyYHQHV LQLFLHQ HO GLiORJR TXH EXVFDPRV &RPR HMHPSOR SRGHPRV PHQFLRQDU ODV SOiVWLFDV
GHVGH OD SLQWXUD \ OD HVFXOWXUD ODV JHRJUiILFDV GHVGH ORV PDSDV GH 0HUFDWRU KDVWD OD
SVLFRJHRJUDItD \ ODV SVLFROyJLFDV FRPR HO SVLFRGUDPD \ HO WHDWUR HVSRQWiQHR FRPR
GHWRQDGRUHVSDUDPDUFDUODVSDXWDVHQWUHHO³\R´HO³W~´\SRVLEOHPHQWHHO³QRVRWURV´(VWH
WDOOHU PXOWLGLVFLSOLQDU WDPELpQ WLHQH FRPR REMHWLYR SURPRYHU HO GLQDPLVPR \ OD FUHDWLYLGDG
HQWUHORVMyYHQHVSRUTXHKR\VHUHFRQRFHTXHODFUHDWLYLGDGHVWiYLQFXODGDGHPDQHUDHVWUHFKD
DORVSURFHVRVPHQWDOHVTXHSURPXHYHQODUHFRQVWUXFFLyQ\ODWUDQVIRUPDFLyQGHORVLQGLYLGXRV
HQHVSHFLDOQLxRV\DGROHVFHQWHV
/D PRWLYDFLyQ KDFLD HVWH SDUWLFXODU DFHUFDPLHQWR QDFLy SULPHURGH PL LQWHUpV HQ ODV
UHSUHVHQWDFLRQHV FDUWRJUiILFDV PHGLHYDOHV XQ WHPD FLHUWDPHQWH PX\ DOHMDGR GH HVWD
LQYHVWLJDFLyQ6LQHPEDUJRDOLQWHJUDUPHDODOtQHDGHArte y Educación,GLVWLQJXtODViUHDVGH
RSRUWXQLGDGTXHPLHVSHFLDOLGDGSRGtDDSRUWDUDHVWDIDFHWDGHOTXHKDFHUHGXFDWLYRSRUTXHHQ
UHDOLGDGORVPDSDVSXHGHQVHUHQWHQGLGRVQRFyPRLPiJHQHVGHXQDUHDOLGDGREMHWLYDVLQR
FRPRSRGHURVRVLQVWUXPHQWRVYLVXDOHVHQGRQGHVHH[SUHVDQHQPXFKDVRFDVLRQHVORVGHVHRV
ORVWHPRUHV\ODVSUR\HFFLRQHVGHVXVFUHDGRUHV
3RURWURODGRWDPELpQPHLQVSLUpHQRWURVSUR\HFWRVFRQLQWHUHVHVVLPLODUHVFRPRORV
SUR\HFWRVPXVHtVWLFRVGHOGLVHxDGRUQHR\RUTXLQR-DNH%DUWRQHQHVSHFLDODTXHOORVTXHXWLOL]DQ
ORVPDSDVFRPRIRUPDVYLVXDOHVSDUDFRQHFWDUDODJHQWHRDODVFRPXQLGDGHVHQWUHVt.U\JLHU
S2HOSUR\HFWRGHRULJHQEULWiQLFRThe Parish Maps ProjectsFX\RREMHWLYRIXH
hacerFRPXQLGDGSRUPHGLRGHODSURGXFFLyQGHPDSDVHQSHTXHxRVDVHQWDPLHQWRVUXUDOHVHQ
ORVDOUHGHGRUHVGH/RQGUHVHQSURGHODVDOYDJXDUGLDFXOWXUDOGHODUHJLyQ\HQFRQWUDGHOLQWHUpV
JXEHUQDPHQWDOSRUIUDFFLRQDUHOWHUUHQRSDUDGHVDUUROODUJUDQGHVFRPSOHMRVGHYLYLHQGD\TXH
SRQtDQHQSHOLJURHODPELHQWHGHOFDPSRLQJOpV:RRGS
(OWDOOHUWLWXODGRDe aquí para allá y al revés: mapas para la vidaVHHQFXHQWUDD~Q
HQVX HWDSD LQLFLDOSRUORTXHORV UHVXOWDGRVVRQ WRGDYtDPX\SUHOLPLQDUHV(VSHUDPRV TXH
GXUDQWHORVVLJXLHQWHVPHVHVODVVHVLRQHVSXHGDQUHQGLUIUXWRVWDQWRSDUDQXHVWUDVSHVTXLVDV
FRPRSDUDORVMyYHQHVSDUWLFLSDQWHV/DVUHXQLRQHVVHOOHYDQDFDERFDGDTXLQFHGtDVHQXQD
FDVD KRJDU FX\RV KDELWDQWHV VRQ QXHYH DGROHVFHQWHV YDURQHV GH HQWUH \ DxRV TXH
SURYLHQHQGHVLWXDFLRQHVGHYLROHQFLDIDPLOLDU\TXHSRUDOJXQDXRWUDUD]yQIXHURQWUDVODGDGRV
DHVWH HVSDFLR GH UHIXJLR ItVLFR \ HPRFLRQDO $GHPiVGHORV MyYHQHV HQODFDVDKDELWDXQ
DGPLQLVWUDGRU XQD FRFLQHUD \ XQ SVLFyORJR TXLHQHV DWLHQGHQ ODV QHFHVLGDGHV GH ORV
DGROHVFHQWHV1XHVWUDSURSXHVWDQRSUHWHQGHLQGDJDUVREUHVXVLWXDFLyQSVLFROyJLFDVLQRGDUOHV
KHUUDPLHQWDV D ORV MyYHQHV SDUD TXH HOORV SXHGDQ FUHFHU \ GHVDUUROODUVH PHMRU D WUDYpV GHO
WUDEDMRO~GLFRFRQHODUWHHQRWUDVSDODEUDVHOWDOOHUQRSUHWHQGHVHUXQHVSDFLRGHDUWHWHUDSLD
VLQR XQR GH UHFUHDFLyQ HGXFDWLYD 'H FXDOTXLHU PRGR VX VLWXDFLyQ IDPLOLDU QR KD VDOLGR D
FRODFLyQHQQLQJXQDGHQXHVWUDVDFWLYLGDGHV\QRVRWURVWDPSRFRODKHPRVDERUGDGR
(O HTXLSR GH FRRUGLQDFLyQ HVWi FRPSXHVWR SRU GRV KLVWRULDGRUDV GHO DUWH (UpQGLUD
'HUEH]&DPSRV\ODDXWRUDGHHVWDFRQIHUHQFLDXQDSVLFyORJDHVSHFLDOL]DGDHQSVLFRGUDPDOD
0WUD$ULDGQD $ULDV 0DUWtQH] \OD0WUD$PDULO\V7RUUDGR5DPRVWDPELpQSVLFyORJD FRQ
HVSHFLDOL]DFLyQ HQ DUWH \ HGXFDFLyQ /DV FXDWUR KHPRV WUDEDMDGR HQ SDUDOHOR LQWURGXFLHQGR
GHVGHQXHVWUDVWULQFKHUDVDSRUWHVFUHDWLYRVDOWDOOHUDGHPiVTXHKHPRVURWDGRHQORVUROHVGH
FRRUGLQDGRUDVFRRUGLQDGRUDVDVLVWHQWHV\REVHUYDGRUDV(OGHVDUUROORGHOWDOOHUKDVXSXHVWRXQD
LJXDOGDGGLVFLSOLQDUHQGRQGHQLQJXQDKDWHQLGRXQSUHGRPLQLRHQSDUWLFXODU3RUHOORQRSXHGR
HQEXHQDFRQFLHQFLDDWULEXLUPHORVORJURVGHHVWHWDOOHU(VPHQHVWHUFRPSDUWLUORFRQPLVRWUDV
WUHVFRPSDxHUDV
&RPR\DPHQFLRQpFRQDQWHULRULGDGHOWDOOHUVHHQIRFDSULQFLSDOPHQWHHQODSURGXFFLyQ
GHPDSDVSDUDODYLGD(VGHFLUPDSDVSHUVRQDOHVHtQWLPRVHQORVTXHORVDGROHVFHQWHVSXHGHQ
SODVPDUVXVSHUFHSFLRQHVWDQWRItVLFDVJHRJUiILFDVFRPRHPRFLRQDOHV(Q~OWLPDLQVWDQFLDVH
SUHWHQGHTXHHQHVWRVPDSDVORVMyYHQHVWDPELpQSXHGDQDSURSLDUVHGHVXHQWRUQRHLGHQWLILFDUVH
FRQHOORVPLVPRV\VXFRPXQLGDG\SRUHQGHFUHDU\IRUWDOHFHUVXFRPXQLGDG
$ORODUJRGHHVWDHWDSDLQLFLDOORVSDUWLFLSDQWHVKDQHPSOHDGRXQVLQQ~PHURGHWpFQLFDV
\UHFXUVRVFRQODILQDOLGDGGHFRPSOHPHQWDUVXVH[SHULHQFLDV3DUDHOWHDWURHVSRQWiQHRVHKDQ
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Resumo
O texto traz uma reflexão sobre a disciplina de Desenho no contexto da história do ensino de Artes
Visuais no Brasil a partir das pesquisas de Ana Mae Barbosa (1978, 2015) e tem como referência um
breve programa de ensino de Desenho do artista e educador Theodoro Braga de 1920, a partir do qual
se estabelece uma livre interpretação das possibilidades desse programa a partir de alguns desenhos da
coleção de desenhos infantis do Acervo Mário de Andrade da mesma época, buscando dar corpo a
possíveis metodologias de ensino do passado que podem inspirar reflexões sobre a presença/ausência
do desenho no contexto do ensino de artes na contemporaneidade.
Palavras-chave: Ensino de desenho. História do ensino de artes. Theodoro Braga. Mário de
Andrade.
1
Doutora em Artes pela ECA/USP. Professora no curso de Artes Visuais Licenciatura e Bacharelado; do
Programa de Pós-graduação em Artes e do Programa de Mestrado Profissional em Artes – Profartes, do Instituto
de Artes da Universidade Estadual Paulista – UNESP. Líder e pesquisadora do Grupo de Pesquisa sobre
Imagem, História e Memória, Mediação, Arte e Educação – GPIHMAE, CNPq/UNESP. E-mail:
rejanegcoutinho@gmail.com.
traçado, outras pesquisas veem aprofundando temas transversais, como, por exemplo, as
pesquisas de Azevedo (2000), Coutinho (1997, 2002), Nascimento (2005), Bredariolli (2004,
2009) e Lima (2014) para citar algumas mais próximas, que têm procurado ampliar esta
cartografia.
Desde o final da década de 1980, quando fui afetada por uma certa concepção de
história em meu processo de formação inicial, descobrindo que a consciência histórica me
fazia sujeito histórico, capaz de vislumbrar uma compreensão do mundo em que vivo, me
instrumentando para questionar e quiçá transformar esse mundo, uma citação de Ana Mae
Barbosa, retirada do texto de abertura do livro História da Arte-Educação, tornou-se epígrafe
para minha atuação como educadora/formadora:
O que me assustou foi descobrir que o professor de arte se pensa sem História e
História é importante instrumento de auto identificação. Não é por acaso que os
colonizadores procuraram destruir a História dos povos colonizados. Ignorância da
própria História torna os povos mais facilmente manipuláveis. (BARBOSA, 1986,
p.10)
A pesquisadora chama nossa atenção para o poder da História (com maiúscula) e para
como esse poder está atrelado aos processos colonizadores aos quais estivemos (e ainda
estamos?) submetidos. Com inspiração em seu mestre Paulo Freire, desde essa época, Ana
Mae vem exercitando uma práxis descolonizadora, nos incitando a perceber a colonialidade
das práticas artísticas e educativas, em seus entrelaçamentos.
início do século XIX, antes mesmo da chegada da Missão Francesa que vem com a
incumbência de criar uma Academia de Belas Artes na capital colonial do reino de Portugal.
A instituição do ensino artístico em território brasileiro ao longo do século XIX
através dos preceitos neoclássicos trazidos pela turma da Academia, veio somar reforços a
necessidade da incluir uma disciplina de Desenho, tanto na educação primária, quanto no
segmento da educação secundária. Foi um reforço para os republicanos que defendiam uma
necessária e qualificada educação da classe trabalhadora e operariado para colocar o país nos
trilhos da industrialização.
Neste primeiro livro (1978), Ana Mae tece uma complexa rede de argumentação, com
vasta pesquisa documental, para nos fazer entender como este ensino de Desenho foi pautado
por diferentes tendências que inicialmente se contrapunham, sobretudo entre os liberais e os
positivistas, e que acabam se articulando no início do século XX em programas distintos para
fins também distintos. Segundo a pesquisadora:
possibilidades de ensino, sobretudo, a imaginar como esse tipo de ensino resultaria nas salas
de aula.
Já neste primeiro livro de 1978, Ana Mae nos apresenta ao paraense Theodoro Braga
(1872-1953), introduzindo-o como um dos artistas brasileiros mais engajados no ensino da
Arte ... (p. 79), ... vindo a ensinar no Rio e em São Paulo, tendo sido inclusive o organizador
do ensino profissional do Distrito Federal em 1923 (p. 84). No livro mais recente, de 2015,
ela dedica um vasto capítulo a este personagem, inclusive nos brindando com a reprodução de
alguns de seus artigos publicados em jornais em defesa de um ensino de desenho muito
próximo ao design. Ela explica:
Ele foi um dos mais assíduos e veementes batalhadores contra o ensino do Desenho
baseado em cópia. Introduziu o desenho simplificado de formas da natureza,
estabelecendo nas escolas a metodologia art nouveau de desenho que aprendeu na
Europa, recomendando sua aplicação na decoração e nas artes gráficas, porém com
motivos nacionais. Podemos considerar um caso de antropofagia cultural ou
hibridismo avant la lettre. (BARBOSA, 2015, p.104-105)
Importante aqui remarcar que entre as décadas de 1920 e 1930, enquanto Theodoro
Braga difundia e defendia suas ideias sobre o ensino do Desenho, os ventos do movimento
modernista sopravam na elite intelectual e artística brasileira, sobretudo na paulistana. Em
meio a esse arejamento, os olhares se ampliavam para algumas produções artísticas antes
vistas como marginais, como as produções de culturas ditas primitivas, de artistas ditos
autodidatas, dos loucos e das crianças. O intercâmbio de informações entre os países do
hemisfério Norte que desenvolviam pesquisas no campo científico, educacional e cultural,
ativam movimentos que passam a ser cobiçados pelo hemisfério Sul. Os trânsitos de ideias se
dão, sempre em intensidades desiguais. Os artistas e intelectuais brasileiros que querem se
atualizar e se aproximar das ideias modernistas, passam a ler, ver e consumir o que lhes
chega.
Neste bojo está Mário de Andrade (1893-1945), com sua percepção aguçada e crítica,
seu interesse pela Arte, com maiúscula, e pelas artes menores, inseridas na cultura e
praticadas na vida. Desde 1920 até o início da década 1940, Mário de Andrade revela
interesse pelo desenho da criança e do adolescente, tendo em sua biblioteca alguns dos
autores e pesquisadores mais importantes sobre o assunto, como os europeus Georges Rouma
(1913) e George-Henri Luquet (1927), os brasileiros Nereo Sampaio (1929) e Sylvio Rabello
(1935), e ainda desenvolvendo um especial interesse por essa produção a ponto de constituir
uma coleção. A coleção de desenhos infantis do acervo Mário de Andrade se constitui de
2.160 desenhos e 93 documentos a estes relacionados, e se encontra hoje no Instituto de
Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, IEB/USP.
Nesta coleção há alguns poucos desenhos de crianças de 3 a 6 anos; uma grande
concentração de desenhos de crianças que frequentavam a escola com 7 a 9 anos; e em menor
proporção desenhos de jovens de 10 a 16 anos. Quase metade dos desenhos da coleção
tiveram como origem um concurso de desenho implementado por Mário de Andrade em
1937, com as crianças e jovens que frequentavam os Parques Infantis e a Biblioteca Infantil
quando ele era diretor do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo, órgão que ajudou
a criar e implementar. A outra metade dos desenhos da coleção são oriundos do contexto
escolar e foram doados a ele por amigas e colegas professoras. Esses desenhos são, portanto,
fruto dos processos de ensino de Desenho que vinham sendo postos em prática no ensino
primário e secundário nas primeiras décadas do século XX.
Segundo Ana Mae Barbosa, em 1920, Theodoro Braga propõe o seguinte programa de
Desenho para o ensino primário:
decorativos, sobretudo pautados pela observação da flora e fauna brasileira. Ainda observa
que este programa levava pouco em consideração os conhecimentos que se divulgavam na
época sobre a importância do estímulo e valoração da imaginação na escola (BARBOSA,
1978, p.94). Conhecendo o histórico combativo de Theodoro Braga e a dinâmica das políticas
educacionais da época, esta análise é pertinente. Entretanto, em nossa interpretação,
concordando que há um explícito alinhamento com as tendências geometrizantes da época,
estas breves indicações programáticas, seguem uma gradação e respeitam minimamente as
capacidades de representação gráfica das crianças. Para ilustrar nossa consideração, usaremos
alguns desenhos da Coleção Mário de Andrade, numa livre associação, buscando dar corpo a
essas orientações.
Este exemplo da figura 1, poderia ter sido feito por uma aluna do primeiro ou segundo
ano, diante da solicitação de desenhar de imaginação objetos que conheçam bem. Aqui vale a
pena observar que a tendência decorativa já estava instalada na prática dessa criança. Ao
delimitar as margens do papel para centralizar o desenho, ela fez todo um esforço decorativo,
inclusive escolhendo a folha como elemento para decorar a moldura, estabelecendo uma
relação direta com o tema central.
O uso da moldura desenhada no papel era uma prática comum ao longo de todo o
século XX, que denotava um momento de preparação, cuidado e organização do espaço dado
acaso, visto que neste breve programa de Theodoro Braga, há duas menções ao termo
decoração e duas ao termo ornamentação. Do total de desenhos catalogados na coleção, 65%
possuem algum tipo de moldura e deste total, 56% são molduras decoradas. A moldura
simples, traçada com lápis grafite, delimita o espaço dado a desenhar. A moldura adornada
torna-se um elemento decorativo que pode ou não dialogar com a imagem central.
Observamos inclusive que em alguns desenhos o trabalho dedicado à decoração do espaço é
maior, mais elaborado, do que o trabalho dedicado à imagem central.
Fig. 4. Desenho n. 1389, Orminda Stella de Menezes, 8 anos, Grupo Escolar Moraes de Barros, 1929.
Voltando ao programa de Theodoro Braga, aqui temos dois exemplos que poderiam
ser resultantes de aulas para desenvolver desenhos para decoração com motivos de
imaginação, como indicado para o terceiro ano. Na nota explicativa que acompanha ambos os
desenhos, na margem esquerda inferior, as autoras evidenciam que são estudos para papel de
parede de sala de jantar, realizado de imaginação.
Sobre o programa para o quarto ano, que sugere desenvolver trabalhos com
instrumentos para construir ornatos geométricos e também estimular o desenho a mão livre de
objetos mais complexos, o desenho a seguir, da figura 7, poderia ser resultante de aula com
esta orientação.
Para o quinto ano, o programa de Theodoro Braga se estende com várias orientações:
trabalhar com desenhos geométricos a mão livre; armada composição decorativa;
ornamentação do prisma e da rosácea; e desenho geométrico com instrumentos. Todas essas
possibilidades poderiam ser relacionadas com os desenhos selecionados da coleção aqui em
análise.
Fig. 8. Desenho 1732, Maria de Lourdes Jorge, s/local, 1937
REFERÊNCIAS
LIMA, Sidiney Peterson Ferreira. Escolinha de Arte de São Paulo: instantes de uma
história. Dissertação de mestrado, São Paulo: IA/UNESP, 2014.
NASCIMENTO, Erinaldo Alves do. Mudança nos nomes da arte na educação: Qual
infância? Que ensino? Quem é o bom sujeito docente? Tese de doutorado, São Paulo:
ECA/USP, 2005.
ROUMA, Georges. Le langage graphique de l’enfant. Paris: Misch & Thorn, 1913.
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PDFURVLVWHPDVSUHIHULGRVSHORVFRPSrQGLRVGLGiWLFRVGHKLVWyULDGDP~VLFD
3DODYUDVFKDYH+LVWyULDGDP~VLFD&ULVHQRHQVLQR6ROXo}HV
,QWURGXomR
'HVGH TXDQGR GR LQtFLR GHPLQKDDWLYLGDGH FRPR SURIHVVRU GHFXUVRV OLYUHV H
GLVFLSOLQDV UHODFLRQDGDV j KLVWyULD GD P~VLFDHP IDFXOGDGHV GH6mR 3DXOR HGHVGH QR
,QVWLWXWR GH $UWHV GD 81(63 SUHVHQFLHL XPD VHQVtYHO WUDQVIRUPDomR GR VLJQLILFDGR GHVVD
GLVFLSOLQD MXQWR DRV HVWXGDQWHV GH P~VLFD R TXH JHURX QD DWXDOLGDGH XPD VLWXDomR PXLWR
GLIHUHQWHGDTXHYLYLFRPRHVWXGDQWHGHVVDPDWpULDQRVDQRV
$V WUDQVIRUPDo}HV IRUDP UiSLGDV H SURIXQGDV QmR VHQGR IiFLO HVWDEHOHFHU DV
GLIHUHQoDVHQWUHRSDQRUDPDGDV~OWLPDVGpFDGDVGRVpFXOR;;HDVGXDVSULPHLUDVGRVpFXOR
;;, HP SDUWH SRU FRQWD GH VXD FRPSOH[LGDGH PDVWDPEpPGHYLGRjSHTXHQDSURGXomRGH
WUDEDOKRVEUDVLOHLURVDUHVSHLWR
'RXWRU HP +LVWyULD 6RFLDO SHOD ))/&863 3URIHVVRU QRV FXUVRV GH 0~VLFD *UDGXDomR 0HVWUDGR H
'RXWRUDGRGR,QVWLWXWRGH$UWHVGD81(63/tGHUHSHVTXLVDGRUQR1~FOHRGH0XVLFRORJLD6RFLDOGR,QVWLWXWR
GH$UWHVGD81(63(PDLOFDVWDJQD#STFQSTEU
7HQKR WUDEDOKDGR FRP WUrV KLSyWHVHV EiVLFDV H FRQVHJXLQGR UHXQLU HOHPHQWRV SDUD D
FRPSURYDomR GH DOJXQV GH VHXV DVSHFWRV SRUpP HVVH p XP WHPD TXH UHTXHU HVIRUoRV GRV
SURILVVLRQDLV GD iUHD SDUD VH FKHJDU D FRQFOXV}HV VXILFLHQWHPHQWH FODUDV H TXH SHUPLWDP D
WRPDGDGHGHFLV}HVVHJXUDVHIXQGDPHQWDGDVQRPHLRDFDGrPLFRPXVLFDO
$ SULPHLUD GDV KLSyWHVHV FRP DV TXDLV YHQKR WUDEDOKDQGR ± H D PDLV IiFLO GH VHU
GHPRQVWUDGD ± p R HVWDEHOHFLPHQWR QR %UDVLO GH VLVWHPDV GH HQVLQR PXVLFDO FHQWUDGRV QD
IRUPDomRWpFQLFDFRPXPSDSHOUHVWULWRSHULIpULFRHGHSHTXHQRGHVWDTXHSURILVVLRQDOSDUD
RVVHXVDVSHFWRVLQWHOHFWXDLVHREYLDPHQWHFRPLPSDFWRQHJDWLYRQDHILFiFLDGDVGLVFLSOLQDV
GH IRUPDomR LQWHOHFWXDO (VVH DVSHFWR TXH Mi HUD IUHTXHQWHPHQWH GLVFXWLGR SRU 0iULR GH
$QGUDGH QmR SDUHFH WHU PXGDGR VXEVWDQFLDOPHQWH GD GpFDGD GH SDUD D DWXDOLGDGH
WUDQVIHULQGRVHGRVFRQVHUYDWyULRVSDUDDVXQLYHUVLGDGHVHDTXLDFDUUHWDQGRXPDSHUFHSWtYHO
GLYLVmRHQWUHRVSURILVVLRQDLVHDOXQRVTXHVHGHGLFDPSULQFLSDOPHQWHjVDWLYLGDGHVPXVLFDLV
WpFQLFDV H DTXHOHV TXH PDQLIHVWDP LQWHUHVVH SHORV DVSHFWRV LQWHOHFWXDLV GD iUHD UHDOL]DQGR
SHVTXLVDV GH LQLFLDomR FLHQWtILFD LQJUHVVDQGR QD SyVJUDGXDomR H SXEOLFDQGR WUDEDOKRV
FLHQWtILFRVHQWUHRXWURV
$VHJXQGDKLSyWHVHpRLPSDFWRQRDPELHQWHGDVDODGHDXODDFDUUHWDGRSHORFRQWtQXR
DXPHQWRGDSURFXUDGHHQVLQRVXSHULRUSRUSDUWHGHDOXQRVLQWHUHVVDGRVHPGLVWLQWDViUHDVGD
P~VLFDSRSXODU 5DURV QR SHUtRGR DQWHULRUjGpFDGDGHHVVH JUXSRGHDOXQRVFUHVFHX
PXLWRQDWUDQVLomRGRVpFXOR;;SDUDR;;,HVHXQ~PHURKRMHWHQGHDRHTXLOtEULRFRPRGH
DOXQRV LQWHUHVVDGRV QD P~VLFD GH FRQFHUWR 2 DXPHQWR GH VXD SUHVHQoD IRUWDOHFHX RV
TXHVWLRQDPHQWRV D UHVSHLWR GD WHQGrQFLD GH DERUGDJHP H[FOXVLYD GR UHSHUWyULR GH FRQFHUWR
QDVGLVFLSOLQDVGHKLVWyULDGDP~VLFDHVSHFLDOPHQWHFRPRYLQKDVHQGRSUDWLFDGDQR%UDVLOQR
GHFRUUHU GR VpFXOR ;; DSHVDU GH Mi H[LVWLU ELEOLRJUDILD TXH FRQWHPSOH RXWURV XQLYHUVRV
PXVLFDLV 3RU FRQWD GHVVD WHQGrQFLD D IDOWD GH PXGDQoDV VXEVWDQFLDLV QDV GLVFLSOLQDV GH
KLVWyULDGDP~VLFDDFDERXJHUDQGRGLPLQXLomRRXSHUGDGHLQWHUHVVHSRUSDUWHGHVVHJUXSRGH
DOXQRVFRPDFRQVHTXHQWHGLPLQXLomRGDHILFLrQFLDGRWUDEDOKRHPVDOD
$ WHUFHLUD KLSyWHVH p D H[LVWrQFLD GH XPD VHJUHJDomR RX LVRODPHQWR FXOWXUDO QD
IRUPDomR GRV FXUVRV EUDVLOHLURV YROWDGRVjP~VLFDGHFRQFHUWRDRORQJR GRVpFXOR;;TXH
DLQGD FRQWRX FRP D KHUDQoD HVFUDYRFUDWD H VHJUHJDFLRQLVWD UDFLDO GRV VpFXORV DQWHULRUHV GH
QRVVDKLVWyULD(VVHLVRODPHQWRTXHQmRDFDUUHWRXDJHUDomRGHLQWHUHVVHRXHQUDL]DPHQWRGD
P~VLFD GH FRQFHUWR QDV FDPDGDV VRFLDLV H[WHUQDV j HOLWH HPERUD WHQKD DFRPSDQKDGR R
GHVHQYROYLPHQWRGHVVHWLSRGHP~VLFDDWpPHDGRVGRVpFXOR;;HQWURXHPFRODSVRQRILQDO
GHVVH SHUtRGR TXDQGR DOXQRV RULXQGRV GH FODVVHV GH EDL[R SRGHU DTXLVLWLYR FRPHoDUDP D
LQJUHVVDU HP FXUVRV VXSHULRUHV GH P~VLFD HP Q~PHUR FDGD YH] PDLRU 6HP LGHQWLILFDomR
FXOWXUDOFRPRUHSHUWyULRHDVFRQYHQo}HVGDP~VLFDGHFRQFHUWRPXLWDVYH]HVSUDWLFDQWHVGH
PRGDOLGDGHVPXVLFDLVH[WHUQDVjGDVVDODVIUHTXHQWDGDVSHODHOLWHFRPRRFRUUHHPHVFRODVGH
P~VLFDSRSXODUHPWUDGLo}HVORFDLVEDQGDVLJUHMDVHWFHIUHTXHQWHPHQWHPDLVLQWHUHVVDGRV
QDDVFHQVmRVRFLDOSURSRUFLRQDGDSHORLQJUHVVRQRPHLRGHFRQFHUWRGRTXHQRFXOWLYRGHVVH
UHSHUWyULR WDLV DOXQRV QmR UHFRQKHFHUDP VHXV REMHWLYRV SHVVRDLV QR HVWXGR GH KLVWyULD GD
P~VLFDHDPDWpULDIRLSDUDHOHVSHUGHQGRVHXVVLJQLILFDGRVRULJLQDLVHVHWRUQDQGRFDGDYH]
PDLV XPD GLVFLSOLQD GH EDL[R LQWHUHVVH DVHU³HOLPLQDGD´ RX VHMD FXPSULGDGD IRUPD PDLV
HFRQ{PLFD H FRP R PHQRU HQYROYLPHQWR SRVVtYHO GR TXH D IRQWH GH XP FRQKHFLPHQWR
HVVHQFLDOSDUDVXDIRUPDomR
(P XPD WHQWDWLYD GH HQIUHQWDU R SUREOHPD DFLPD UHODWDGR H FRP EDVH QHVVDV WUrV
KLSyWHVHV WHQKR SXEOLFDGR UHIOH[}HV H SHVTXLVDV VREUH R HQVLQR GH KLVWyULD GD P~VLFD H
DUULVFDGRDOJXPDVVROXo}HVSUiWLFDVHPVDODGHDXODTXHSDVVRDUHODWDUQRVSUy[LPRVWySLFRV
5HIOH[}HVVREUHRHQVLQRGHKLVWyULDGDP~VLFD
(PXPDUWLJRLQWLWXODGR³'LILFXOGDGHVUHIOH[}HVHSRVVLELOLGDGHVQRHQVLQRGDKLVWyULD
GDP~VLFDQR%UDVLOGRQRVVRWHPSR´&$67$*1$RUJDQL]HLPDWHULDORULJLQDOPHQWH
HVFULWR GRLV DQRV DQWHV SDUD XP SURMHWR GHVWLQDGR D VROLFLWDUD UHHVWUXWXUDomR FXUULFXODU GDV
GLVFLSOLQDVGHKLVWyULDGDP~VLFDQR,QVWLWXWRGH$UWHVGD81(63&$67$*1$(VVD
UHHVWUXWXUDomRQmRIRLDSURYDGDQDRFDVLmRGDPDQHLUDFRPRIRLSURSRVWDSRUpPSURVVHJXLX
HP GLVFXVVmR QRV DQRV VHJXLQWHV H JHURX XP QRYR SURMHWR GH UHHVWUXWXUDomR GHVWD YH]
HQFDEHoDGRSHOR&RQVHOKRGRV&XUVRVGH%DFKDUHODGRH/LFHQFLDWXUDHP0~VLFDDSUHVHQWDGR
j5HLWRULDGD81(63HPHDJXDUGDQGRRVWUkPLWHVHGHOLEHUDo}HVILQDLV
1HVVHDUWLJRGHTXHVWLRQHLLQLFLDOPHQWHDGLVFUHSkQFLDHQWUHRWtWXORWRWDOLWiULR
GD GLVFLSOLQD KLVWyULD ³GD´ P~VLFD IUHQWH DR FRQWH~GR SULQFLSDOPHQWH YROWDGR j P~VLFD
HXURSHLD GH FRQFHUWR SDUD LVVR XWLOL]DQGR HQWUH RXWURV DUJXPHQWRV D EDL[D YHQGDJHP GR
UHSHUWyULR ³FOiVVLFR´ QR %UDVLO RVFLODQWHHQWUH H GR WRWDO QR SHUtRGR GH D
2VHJXQGR DVSHFWR DERUGDGR QHVVHWH[WR pR SDUDGR[DOPHQWHSHTXHQRFRQWH~GRGH
KLVWyULD GD P~VLFD QRV FRPSrQGLRV FRP HVVH WtWXOR H D SUHGRPLQkQFLD GD DSUHFLDomR GD
P~VLFD GH FRQFHUWR SRU PHLR GH H[HPSORV PXVLFDLV FRPHQWiULRV H DQiOLVHV GDV
SDUWLFXODULGDGHV GHVVH UHSHUWyULR 2 WHUFHLUR DVSHFWR UHIHUHVH DR TXH &DUO 'DKOKDXV
GHQRPLQDYD ³VXMHLWRV´ GD KLVWyULD GD P~VLFD TXH QRV FRPSrQGLRV FOiVVLFRV VmR
SUHGRPLQDQWHPHQWH RV FRPSRVLWRUHV H FXMR HVWXGR SURYRFD R HVWUDQKDPHQWR SRU SDUWH GR
DOXQR RULXQGR GH XPD SUiWLFD PXVLFDO Ki PXLWR WHPSR QmR PDLV FRPDQGDGD SRU
FRPSRVLWRUHV2TXDUWRH~OWLPRDVSHFWRFRQVLGHUDGRQHVVHWH[WRpDWHQGrQFLDHYROXFLRQLVWD
TXHDLQGDSUHGRPLQDQRVFRPSrQGLRVGHKLVWyULDGDP~VLFDFRPDFRQVHTXHQWHPDQXWHQomR
GDVHJUHJDomRFXOWXUDOHSRUGHFRUUrQFLDWDPEpPVRFLDOTXHDIHWDSDUWLFXODUPHQWHRPHLR
GHP~VLFDGHFRQFHUWRQR%UDVLO
$SyVDDERUGDJHPGHVVHVTXDWURDVSHFWRVTXHDRPHXYHUHVWmRQDEDVHGDIDOWDGH
HILFiFLD GDV GLVFLSOLQDV GH KLVWyULD GD P~VLFD QD DWXDOLGDGH SDVVHL D DERUGDU QR DUWLJR GH
DOJXPDVSRVVtYHLVVROXo}HVDVHUHPDSOLFDGDVHPVDODGHDXODFRPRDDPSOLDomRGRV
DVVXQWRVDERUGDGRVDUHDOL]DomRGHDQiOLVHVKLVWyULFDVHVRFLDLVPDLVSURIXQGDVHPOXJDUGD
H[FOXVLYDDQiOLVHGRUHSHUWyULRDDGRomRGHGLVFLSOLQDVRSWDWLYDVDRODGRGDVREULJDWyULDVHD
GLVFXVVmRGDHVWUXWXUDFXUULFXODUYLVDQGRQRYDVHPDLVHILFD]HVGLVFLSOLQDVHSODQRVGHHQVLQR
TXHOHYDVVHPHPFRQVLGHUDomRRVDVSHFWRVDFLPDDSUHVHQWDGRV
5Dt]HVGDFULVHQRHQVLQRGHKLVWyULDGDP~VLFD
(VFULWR SRU VROLFLWDomR GH 0yQLFD 9HUPHV FRRUGHQDGRUD GD VHomR GH KLVWyULD GD
P~VLFD GR OLYUR Ensino de Teoria e de História da Música D VHU ODQoDGR SHOD $VVRFLDomR
1DFLRQDO GH 3HVTXLVD H 3yV*UDGXDomR HP 0~VLFD $13320 SRVVLYHOPHQWH DLQGD QHVWH
DQR R WH[WR ³5Dt]HV GD FULVH QR HQVLQR GH KLVWyULD GD P~VLFD R FDVR GH 6mR 3DXOR´
&$67$*1$ UHVXOWRX GH XPDSHVTXLVDKLVWyULFDGHVWLQDGDDHVFODUHFHUDRULJHPGH
DOJXQVDVSHFWRVTXHSDUWLFLSDUDPGDGLPLQXLomRRXSHUGDGRVLJQLILFDGRGRHQVLQRGHKLVWyULD
GD P~VLFD QDV ~OWLPDV GpFDGDV H SRUWDQWR IXQGDPHQWDU Do}HV GHVWLQDGDV D JHUDU QRYRV
³$SHVDU GD SUiWLFD PXVLFDO GD DWXDOLGDGH QmR VHU PDLV SUHGRPLQDQWHPHQWH PRYLGD SRU FRPSRVLWRUHV D
ELEOLRJUDILDGRJrQHURDLQGDRVDSUHVHQWDFRPRRVSURSXOVRUHVGDP~VLFDGRSUHVHQWHRTXHHVWLPXODYLV}HVH
SRVLFLRQDPHQWRVXPWDQWRLOXVyULRVSRUSDUWHGRVHVWXGDQWHVTXHQmRVHUmRFRUUHVSRQGLGRVQDSUiWLFDDRPHQRV
IRUDGRkPELWRDFDGrPLFR´&$67$*1$S
VLJQLILFDGRVSDUDHVVDGLVFLSOLQDRXPHVPRDFULDomRGHGLVFLSOLQDVPDLVHILFD]HVHDGDSWDGDV
jV VLWXDo}HV FRP DV TXDLV FRQYLYHPRV QD DWXDOLGDGH 3DVVR QRV SUy[LPRV SDUiJUDIRV D
UHVXPLUDVSULQFLSDLVFRQVWDWDo}HVQRVLWHQVFHQWUDLVGHVVDSHVTXLVD
1. Recepção da história da música 1HVVH LWHP H[DPLQR RV SDUkPHWURV DGRWDGRV QR
HVWDEHOHFLPHQWR GHVVD GLVFLSOLQD HP FRQVHUYDWyULRV H LQVWLWXLo}HV GH HQVLQR VXSHULRU
EUDVLOHLUDV SULQFLSDOPHQWH HP 6mR 3DXOR &RPR GHPRQVWUDP DV IRQWHV SUHGRPLQDUDP D
DERUGDJHP GRV ³JUDQGHV PHVWUHV´ H GDV ³JUDQGHV REUDV´ R HQVLQR WpFQLFR H D FRQVHTXHQWH
SRVLomRSHULIpULFDGDVGLVFLSOLQDVGHVWLQDGDVDRGHVHQYROYLPHQWRLQWHOHFWXDO
2. História da música para que?1HVVHLWHPGLVFRUURVREUHRVDVSHFWRVGRHQVLQRGH
KLVWyULD GD P~VLFD TXH UHIOHWHP D SHTXHQD DWHQomR GRV FXUVRV VXSHULRUHV GH P~VLFD j
GLYHUVLGDGHFXOWXUDOHjFRPSOH[LGDGHVRFLDOHHFRQ{PLFDEUDVLOHLUDIUHQWHDRPDLRULQWHUHVVH
GHWDLV LQVWLWXLo}HVQDGHIHVDGDPXVLFDGHFRQFHUWRFRPDFRQVHTXHQWHPDQXWHQomRGHVHX
LVRODPHQWRFXOWXUDOHPUHODomRjPDLRUSDUWHGDSRSXODomR
3. História ou apreciação?1HVVHLWHPFLWRREVHUYDo}HVGHYiULRVDXWRUHVEUDVLOHLURVH
LQWHUQDFLRQDLV GD VHJXQGD PHWDGH GR VpFXOR ;; VREUH DV GLIHUHQoDV HQWUH KLVWyULD H
DSUHFLDomR H VREUH DV LPSOLFDo}HV GH XPD GLVFLSOLQD TXH HPERUD LQWLWXODGD ³KLVWyULD GD
P~VLFD´VHMDSULQFLSDOPHQWHGHYRWDGDjDSUHFLDomRGRUHSHUWyULRHXURSHXGHFRQFHUWR
4. Qual história? 1HVVH LWHP IDoR UHIHUrQFLD DR GHVFRQWHQWDPHQWR GH YiULRV DXWRUHV
EUDVLOHLURV H LQWHUQDFLRQDLV DR ORQJR GR VpFXOR ;; D UHVSHLWR GH PpWRGRV JHUDOPHQWH
FURQROyJLFRV ELRJUiILFRV H GHVFULWLYRV GH IDWRV H REUDV GR UHSHUWyULR HXURSHX GH FRQFHUWR
$SHVDU GDGHIHVD H PLOLWkQFLD GHYiULRVDXWRUHV SRUKLVWyULDVVRFLDLVGDP~VLFDHSRUYLV}HV
PDLV UHODFLRQDGDV jV GLYHUVLGDGHV GD SUiWLFD PXVLFDO GH WRGRV RV WHPSRV R H[DPH GRV
FRPSrQGLRV GLVSRQtYHLV GHPRQVWUD XPD GLILFXOGDGH GH DYDQoR HP WDLV GLUHo}HV H D
FRQVHTXHQWHWUDQVIHUrQFLDGHVVHSUREOHPDSDUDRVSURIHVVRUHVGHVVDGLVFLSOLQD
5. História da música para quem? 1HVWH LWHP DSUHVHQWR GDGRV UHIHUHQWHV DR
SUHGRPLQDQWH FRQVXPR GH ELEOLRJUDILD UHODFLRQDGD j P~VLFD SHOR S~EOLFR IUHTXHQWDGRU GH
FRQFHUWRVGRTXHSHORVHVWXGDQWHVGHP~VLFDRTXHDIHWDDSURGXomRHGLVWULEXLomRGHOLYURV
VREUH KLVWyULD GD P~VLFD H RV FRORFD HP VHJXQGR SODQR HP UHODomR D GLFLRQiULRV
HQFLFORSpGLDVDWODVHJXLDVGHUHSHUWyULR
6. História de qual música?1HVWHLWHPH[DPLQRDYLVmRHYROXFLRQLVWDGDP~VLFDTXH
SUHGRPLQRXQRVFRPSrQGLRVSXEOLFDGRVDRORQJRGRVpFXOR;;RTXHJHURXDLGHLDPXLWR
GLIXQGLGD QR PHLR PXVLFDO EUDVLOHLUR GH TXH RV UHSHUWyULRV H LQVWUXPHQWRV HYROXHP GH
YHUV}HV SULPLWLYDV D HODERUDGDV UHVXOWDQGR QXP XQLYHUVR PXVLFDO VXSRVWDPHQWH VXSHULRU D
VHUFXOWLYDGR HP GHWULPHQWR GH RXWURLQIHULRU&RQFHQWUDQGRVH HQWmRQDVPDQLIHVWDo}HV GH
FDUiWHUPRQXPHQWDODVKLVWyULDVGDP~VLFDTXDVHVHPSUHLJQRUDUDPRVUHSHUWyULRVSRSXODUHV
HQmRHXURSHXVWUDWDQGRRVIUHTXHQWHPHQWHDSHQDVFRPRIRQWHVWHPiWLFDVSDUDDP~VLFDGH
FRQFHUWR
7. História da música por quem? 1HVWH LWHP GLVFXWR R VLJQLILFDGR GD SHTXHQD
TXDQWLGDGH GH OLYURV GH KLVWyULD GD P~VLFD H SHVTXLVDV D UHVSHLWR SXEOLFDGDV SRU DXWRUHV
EUDVLOHLURV H D FRQVHTXHQWH DGRomR GH FRPSrQGLRV LQWHUQDFLRQDLV SDUD HVVD GLVFLSOLQD TXH
REYLDPHQWHGHVFRQVLGHUDPQHFHVVLGDGHVHVSHFtILFDVGRVHVWXGDQWHVGDVQRVVDVXQLYHUVLGDGHV
8. História da música brasileira? 1HVWH LWHP UHILUR DXWRUHV TXH HVWXGDUDP RV
FRPSrQGLRV GH ³KLVWyULD GD P~VLFD EUDVLOHLUD´ RX GH ³KLVWyULD GD P~VLFD QR %UDVLO´ H VXD
SUHGRPLQDQWH WHQGrQFLD HYROXFLRQLVWD H FRORQLDOLVWD HVWD ~OWLPD EDVHDGD QD FUHQoD GH XPD
FRORQL]DomR VHP FRQIOLWRV UHVXOWDQWH GD YLWyULD GR PRGHOR HXURSHX GH FLYLOL]DomR VREUH D
VXSRVWDEDUEiULHGDVSRSXODo}HVORFDLVHRXHVFUDYL]DGDV&RPLVVRWDOOLWHUDWXUDHOHJHXFRPR
EDVH D P~VLFD GH FRQFHUWR FRPSRVWD SRU DXWRUHV EUDVLOHLURV QD WHQWDWLYD GH IL[DomR GH XP
³FkQRQH´RXUHSHUWyULRQDFLRQDORILFLDO2LWHPWDPEpPH[DPLQDDSHUGDGHLQWHUHVVHSRUHVVD
YLVmRWRWDOLWiULDDSDUWLUGDGpFDGDGHHDGLYHUVLILFDomRGRVLQWHUHVVHVGHDXWRUHVTXH
HVFUHYHUDP VREUH DV WUDGLo}HV PXVLFDLV SUDWLFDGDV QR %UDVLO FRP SUHGRPtQLR GRV DVVXQWRV
UHODFLRQDGRVjVFXOWXUDVSRSXODUHV
9. História ou patrimônio musical?1HVWHLWHPGLVFXWRDFRQVWDWDomRGHTXHERDSDUWH
GRVWH[WRVHSHVTXLVDVVREUHKLVWyULDGDP~VLFD³QmRYHUVDH[DWDPHQWHVREUHKLVWyULDPDVVLP
VREUH R SDWULP{QLR PXVLFDO HVSHFtILFR GH GHWHUPLQDGD WUDGLomR´ UHODFLRQDGR j VXD
SUHVHUYDomR HVWXGR H GLIXVmR $ LPSOLFDomR GHVVD GLIHUHQoD SDUD R FDVR EUDVLOHLUR p TXH
IDOWDQGR HGLo}HV FDWiORJRV JUDYDo}HV ILQDQFLDPHQWR D SURMHWRV ELEOLRJUDILD DWXDOL]DGD
WUDWDPHQWR H GLVSRQLELOL]DomR GH DFHUYRV j SHVTXLVD D HVFULWD GD KLVWyULD GH DXWRUHV
UHSHUWyULRVHWUDGLo}HVPXVLFDLVWRUQDVHVHFXQGiULDHPXLWDVYH]HVSUDWLFDPHQWHLQYLiYHO
10. História ou produto?1HVWHLWHPDERUGRDFRQVWDWDomRGHTXHDSDUWLUGDGpFDGD
GHDKLVWyULDGDP~VLFDIRLWUDWDGDPDLVFRPRXPUDPRGHQHJyFLRVGRTXHFRPRXPD
QHFHVVLGDGH SHGDJyJLFD R TXH DIHWRX FXUVRV SURJUDPDV GH UiGLR H 79 JUDYDo}HV
SXEOLFDo}HV RX FRQFHUWRV H IRUWDOHFHX D YLVmR GRV FXUVRV FRPR SURGXWRV H GR DSUHQGL]DGR
FRPRFRQVXPR&RPRFRQVHTXrQFLDDREWHQomRGRGLSORPDWRUQRXVHHPPXLWRVFDVRVPDLV
LPSRUWDQWHGRTXHDDTXLVLomRGRFRQKHFLPHQWR
6ROXo}HVDGRWDGDVQRHQVLQRGHKLVWyULDJHUDOGDP~VLFD
)UHQWH jV FRQVWDWDo}HV DFLPD HPERUD DOJXPDV GHODV UHFHQWHV WHQKR SUDWLFDGR Ki
DOJXQV DQRV VROXo}HV DOWHUQDWLYDV QDV GLVFLSOLQDV GH KLVWyULD GD P~VLFD TXH PLQLVWUR QR
,QVWLWXWR GH $UWHV GD 81(63 HP XPD WHQWDWLYD GH FRQWtQXD DGDSWDomR j UHDOLGDGH GRV
HVWXGDQWHV$SULPHLUDGHODVIRLDDGRomRGHLQRYDo}HVGLGiWLFDVHWHFQROyJLFDVLQLFLDOPHQWH
RV slides H WUDQVSDUrQFLDV RV YtGHRV HP 9+6 H RV &'V DWp RX DV DXODV HUDP
SULQFLSDOPHQWH LOXVWUDGDV FRP H[HPSORV PXVLFDLV HP /3V H ILWDV FDVVHWH VHJXLGDV SHODV
SURMHo}HV HP power point H HP QRYRV VLVWHPDV H[HPSORV iXGLRYLVXDLV HP PS PS H
RXWURV IRUPDWRV HOHWU{QLFRV EHP FRPR R XVR GH SiJLQDV H EDQFRV GH GDGRV QD LQWHUQHW $
DTXLVLomRGHDQWRORJLDVGHiXGLRVHSDUWLWXUDVEHPFRPRDREWHQomRGHQRYRVFRPSrQGLRVH
UHSHUWyULRVLJQLILFDWLYRSDUD DVDXODV FRPSOHWRXHVVDDWXDOL]DomRGLGiWLFDHWHFQROyJLFD1RV
DQRVGHDHQWUHWDQWRIXLSHUFHEHQGRTXHPHVPRFRPWRGRVRVUHFXUVRVGLGiWLFRV
H WHFQROyJLFRV TXH IRL SRVVtYHO REWHU DV DXODV DWLQJLUDP XP OLPLWH TXH GHQXQFLDYD D
QHFHVVLGDGHGHPXGDQoDVPDLVSURIXQGDVQDFRQFHSomRGDVGLVFLSOLQDV
3DVVHL HQWmR D SDUWLU GH FRLQFLGHQWHPHQWHDSyV DWUDQVIHUrQFLDGR ,QVWLWXWRGH
$UWHV SDUD R DWXDO FDPSXV GD %DUUD )XQGD TXDQGR SRUGRLV RX WUrV DQRV KRXYH XP FOLPD
JHUDOGHRWLPLVPRQDLQVWLWXLomRDGLVFXWLUPDLVIUHTXHQWHPHQWHFRPRVHVWXGDQWHVDVSHFWRV
KLVWyULFRVHVRFLDLVQmRDERUGDGRVQRVFRPSrQGLRVGLGiWLFRVDOpPGHHQIDWL]DUDQHFHVVLGDGH
GH FRPSUHHQVmR GR VLJQLILFDGR GHVVDV GLVFLSOLQDV SDUD R SURILVVLRQDO GD iUHD GH P~VLFD
JHUDOPHQWHSRU PHLR GH SHUJXQWDV HSURSRVLomR GHDWLYLGDGHV HWUDEDOKRV3URJUHVVLYDPHQWH
DXPHQWHL D SDUWLFLSDomR GRV DOXQRV QR HVWXGR DSUHVHQWDomR H GLVFXVVmR GRV FRQWH~GRV H
WUDEDOKRV GR FXUVR DIDVWDQGRPH FDGD YH] PDLV GR VLVWHPD GH DXODV H[FOXVLYDPHQWH
H[SRVLWLYDVHGDFREUDQoDGHVXDPHPRUL]DomRHPSURYDV$GLVFXVVmRVREUHDQHFHVVLGDGHH
DSOLFDomR RX QmR GR FRQKHFLPHQWR GH KLVWyULD GD P~VLFD QD DWXDOLGDGH EHP FRPR R
TXHVWLRQDPHQWR VREUH DV EDVHV WHyULFDV GHVVD GLVFLSOLQD WrP VLGR FRQVWDQWH HP WRGDV DV
PLQKDV DXODV GHVGH SHOR PHQRV H R HQYROYLPHQWR GRV DOXQRV SDUHFH WRUQDUVH PDLV
RUJkQLFRDQRDDQRDSHVDUGDSRVVtYHOLOXVmRRFDVLRQDGDSHODREVHUYDomRGRSRQWRGHYLVWD
GRSUySULRVXMHLWRGHVVDVDo}HV
8PDGDV~OWLPDVH[SHULrQFLDVSUDWLFDGDVQDVGLVFLSOLQDVGHKLVWyULDGDP~VLFDWHPVLGR
RHVWXGRGDKLVWyULDJHUDOHFRQYHQFLRQDOGDP~VLFDDSDUWLUGRVFRPSrQGLRVGLVSRQtYHLVQDV
ELEOLRWHFDVHOLYUDULDVSRUpPDFUHVFLGRjSHVTXLVDGDKLVWyULDGDP~VLFDHPRXWURVSRYRVHHP
RXWUDVFXOWXUDVGRPXQGRGDQGRVHDRVHVWXGDQWHVDOLEHUGDGHGHHOHJHUHPRVH[HPSORVQmR
HXURSHXV D VHUHP SHVTXLVDGRV 1HVVH VHQWLGR p VROLFLWDGR DRV DOXQRV R H[DPH GDV
SDUWLFXODULGDGHV GD SUiWLFD H SURGXomR PXVLFDO VHOHFLRQDGD R HVWXGR GRV VLJQLILFDGRV GD
P~VLFD DERUGDGD D LQYHVWLJDomR GDV IXQo}HV VRFLDLV GD P~VLFD HP TXHVWmR H XPD UiSLGD
FRPSDUDomRFRPDSUiWLFDHSURGXomRPXVLFDOGHRXWUDVUHJL}HVGRPXQGRQRPHVPRSHUtRGR
2~OWLPRLWHPUHIHULGRpXPGRVDVSHFWRVPDLVPRWLYDGRUHVHDRPHVPRWHPSRLQXVLWDGRVGR
WUDEDOKRQDPHGLGDHPTXHUHYHODXPDTXDQWLGDGHGHDVSHFWRVWmRHjVYH]HVPDLVQRYRVH
LQWHUHVVDQWHVSDUDRVDOXQRVTXDQWRDTXHOHVUHIHUHQWHVjP~VLFDHXURSHLD
3RUILPWHQKRDGRWDGRHPVDODRHVWXGRGHWH[WRVVREUHWHRULDGDKLVWyULDGDP~VLFD
HVSHFLDOPHQWH GH &DUO 'DKOKDXV H H :DUUHQ 'ZLJKW $OOHQ (P WDLV
RSRUWXQLGDGHV GRX rQIDVH j GLVFXVVmR GRV OLPLWHV WHyULFRV FXOWXUDLV JHRJUiILFRV H VRFLDLV
GHVVDGLVFLSOLQDGDVGLIHUHQoDVHQWUHKLVWyULDHDSUHFLDomRHFRPRLQLFLHLKiTXDVHDQRV
GRVLJQLILFDGRGDKLVWyULDGDP~VLFDSDUDRVHVWXGDQWHVEUDVLOHLURVGRSUHVHQWH
6ROXo}HVDGRWDGDVQRHQVLQRGH³KLVWyULDGDP~VLFDQR%UDVLO´
$ GLVFLSOLQD GH ³KLVWyULD GD P~VLFD QR %UDVLO´ RX ³KLVWyULD GD P~VLFD EUDVLOHLUD´ p
SDUWLFXODUPHQWH SUREOHPiWLFD QD PHGLGD HP TXH JHUD PXLWDV H[SHFWDWLYDV JHUDOPHQWH QmR
DWHQGLGDV SRU SDUWH GRV DOXQRV TXH SRVVXHP LQWHUHVVH QDV FXOWXUDV SRSXODUHV EUDVLOHLUDV
IUHQWH D XPD ELEOLRJUDILD TXH FRPR YLPRV HQIDWL]D D SURGXomR QDFLRQDO FDQ{QLFD GH
FRQFHUWR 3RU HVVH PRWLYR D HODERUDomR GH DOWHUQDWLYDV SDUD HVVD GLVFLSOLQD IRL EHP PDLV
WUDEDOKRVD TXH QR FDVR GD KLVWyULD JHUDO GDP~VLFD WHQGR GHPDQGDGR D DGRomR GH VROXo}HV
OLPtWURIHVHQWUHKLVWyULDHVRFLRORJLDGDP~VLFD
8PDGDVDo}HVDSOLFDGDVRPHQWHjVWXUPDVGH/LFHQFLDWXUDHP(GXFDomR0XVLFDOIRL
DGLVFXVVmRGHWUDEDOKRVFRPXPDYLVmRPDLVDPSODDUHVSHLWRGDKLVWyULDHFXOWXUDGRVJUXSRV
KXPDQRV IRUPDGRUHVGR %UDVLO TXH RVDQWLJRVFRPSrQGLRVGHKLVWyULDGD P~VLFDEUDVLOHLUD
8OWLPDPHQWH YHQKR DGRWDQGR R OLYUR O povo brasileiro GH 'DUF\ 5LEHLUR FXMR
FRQWH~GR VROLFLWR DRV HVWXGDQWHV UHODFLRQDU D DVSHFWRV PXVLFDLV GDV FXOWXUDV H SRSXODo}HV
HVWXGDGDVSRUHVVHDXWRU(PERUDRUHVXOWDGRVHMDPDLVSUy[LPRDRGRVWUDEDOKRVUHDOL]DGRV
QDVGLVFLSOLQDVGHHWQRPXVLFRORJLDDSHUPDQHQWHDGRomRGHDVSHFWRVKLVWyULFRVSRUSDUWHGRV
DOXQRV H GR SURIHVVRU HVWDEHOHFH XPD IRUPD GH KLVWyULD TXH VH DIDVWD GD DERUGDJHP
PRQXPHQWDOLVWD RX VHMD GDV JUDQGHV REUDV GH JUDQGHV DXWRUHV GDV JUDQGHV FDSLWDLV
SURFXUDQGR FRPSUHHQGHU D JrQHVH KLVWyULFD GD GLYHUVLGDGH PXVLFDO EUDVLOHLUD H DVVLP
FRQWULEXLUSDUDVXDYDORUL]DomRQRPHLRDFDGrPLFRPXVLFDO
3DUDOHODPHQWH SDUD DV WXUPDV GH %DFKDUHODGR SURSRQKR XP HVWXGR GD KLVWyULD HGR
UHSHUWyULR GH DJUXSDPHQWRV RX GH WLSRV GH DJUXSDPHQWRV PXVLFDLV EUDVLOHLURV DVVXQWR TXH
FDXVDPDLVUHVVRQkQFLDSDUDHVVHVDOXQRVGRTXHSDUDRVOLFHQFLDQGRVHPP~VLFD7DOWUDEDOKR
FRQVLVWH HP XP OHYDQWDPHQWR VREUH D SUiWLFD H R UHSHUWyULR PXVLFDO EUDVLOHLUR GH GLYHUVDV
IRUPDo}HVYRFDLVHRXLQVWUXPHQWDLVDRORQJRGDKLVWyULDLQFOXLQGRXPDDSUHVHQWDomRFUtWLFD
VREUH R GHVHQYROYLPHQWR GH FDGD XPD GHODV EHP FRPR DV SDUWLFXODULGDGHV SUREOHPDV H
GHVDILRV TXH H[LVWHP SDUD FDGD FDVR &RPR JXLD VmR DSUHVHQWDGDV DV VHJXLQWHV RSo}HV D
VHUHP HVFROKLGDV SRU JUXSRV GH DOXQRV SRUpP FRP D OLEHUGDGH GH HVFROKDV H[WHUQDV D HVVD
OLVWD
x 5HSHUWyULR EUDVLOHLUR RUTXHVWUDO SDUD RUTXHVWUD GH FRUGDV RX VLQI{QLFD FRP RX VHP
VROLVWDV
x 5HSHUWyULR GH EDQGDV GH VRSURV H JUXSRV UHJLRQDLV GH FKRUR RX GH P~VLFD SRSXODU
EUDVLOHLUDGDSULPHLUDPHWDGHGRVpFXOR;;
x 5HSHUWyULRGHJUXSRVGH03%RXGHP~VLFDSRSXODUEUDVLOHLUDGDVHJXQGDPHWDGHGR
VpFXOR;;HLQtFLRGR;;,
x 5HSHUWyULREUDVLOHLURFDPHUtVWLFRTXDLVTXHUIRUPDo}HV
x 5HSHUWyULR EUDVLOHLUR FRUDO a cappella FRP DFRPSDQKDPHQWR LQVWUXPHQWDO RX
RUTXHVWUDO
x 5HSHUWyULRPLGLiWLFRHGHJUXSRVPXVLFDLVEUDVLOHLURVFRQWHPSRUkQHRV
x 5HSHUWyULRGHbig bandsHRUTXHVWUDVDWXDLVGHP~VLFDSRSXODUEUDVLOHLUDRXGHP~VLFD
EUDVLOHLUDWUDGLFLRQDO
x 5HSHUWyULRVGHRXWUDVIRUPDo}HVPXVLFDLVSUDWLFDGDVQR%UDVLO
3DUD D SHVTXLVD GHVVHV WySLFRV SURSRQKR WDPEpP DV VHJXLQWHV SHUJXQWDV FXMDV
UHVSRVWDVWRUQDPVHDEDVHGDVDSUHVHQWDo}HVGRVJUXSRV
x 4XDLV VmR RV WLSRV H TXDQWLGDGHVDSUR[LPDGDVGHREUDV FRPSRVWDVQR%UDVLORXSRU
DXWRUHVEUDVLOHLURVSDUDHVWDIRUPDomR"
x 4XDLVVmRRVDXWRUHVHVWLORVHSHUtRGRVKLVWyULFRVUHSUHVHQWDGRVQHVVHUHSHUWyULR"
x 4XDO p D TXDQWLGDGH RX SRUFHQWDJHP DSUR[LPDGD GH HGLo}HV H JUDYDo}HV GHVVH
UHSHUWyULR"
x 4XDO p D TXDQWLGDGH RX SRUFHQWDJHP DSUR[LPDGD GH HGLo}HV H JUDYDo}HV GHVVH
UHSHUWyULRGLVSRQLELOL]DGDQDLQWHUQHW"
x 4XDOIRLRVLJQLILFDGRHLPSDFWRGHVVHUHSHUWyULRQR%UDVLOHQRH[WHULRUDRORQJRGD
KLVWyULDHTXDOpRVHXVLJQLILFDGRHLPSDFWRQDDWXDOLGDGH"
x 4XDLVVmRRVSUREOHPDVHGHVDILRVUHODFLRQDGRVDHVVHUHSHUWyULRQRSUHVHQWH"
x 4XDOIRLHTXDOpRS~EOLFRIUHTXHQWDGRUGHVVHWLSRGHIRUPDomRHUHSHUWyULR"
x 4XDLVVmRDVSHUVSHFWLYDVIXWXUDVSDUDHVVHWLSRGHIRUPDomRHUHSHUWyULR"
3DUD WRGRV RV FXUVRV SURSRQKR WDPEpP XP WUDEDOKR LQGLYLGXDO FXMRV UHVXOWDGRV VmR
GLVFXWLGRVFROHWLYDPHQWHDSyVVXDFRQFOXVmRLQWLWXODGR³KLVWyULDSHVVRDOGDP~VLFD´7UDWD
VH GH XP WH[WR HODERUDGR LQGLYLGXDOPHQWH H HP QHQKXP PRPHQWR OLGR SHORV FROHJDV
UHIHUHQWH jV SULQFLSDLV OLQKDV KLVWyULFDV TXH SDUWLFLSDP RX SDUWLFLSDUDP GRV YiULRV DVSHFWRV
GDV DWLYLGDGHV PXVLFDLV GH FDGD HVWXGDQWHSRUWDQWRSHVVRDO7DLVOLQKDVGHYHPVHUGHGRLV
WLSRVDVOLQKDVKLVWyULFDVUHFHELGDVHDVOLQKDVKLVWyULFDVWUDQVPLWLGDVDVTXDLVHQYROYHPDV
SUHIHUrQFLDV UHSHUWyULR PDQHLUDV GH WRFDU RX FDQWDU RV LQVWUXPHQWRV TXH R DOXQR GHFLGLX
HVWXGDURVOXJDUHVRQGHWUDEDOKRXHWF
3DUDDHODERUDomRGHVXDKLVWyULDSHVVRDOGDP~VLFDFDGDDOXQRHVFROKHGHQWUHDV
OLQKDVLGHQWLILFDGDVDRORQJRGHVXDYLGDVHQGRUHFHELGDVHWUDQVPLWLGDVHGHVFUHYHXPD
DXPDDPDQHLUDFRPRHODFKHJRXDWpRHVWXGDQWHHDPDQHLUDFRPRHOHDWUDQVPLWLXRXDHVWi
WUDQVPLWLQGR6RPHQWHSDUDDVOLQKDVUHFHELGDVpVROLFLWDGRDRVDOXQRVLQYHVWLJDUSHORPHQRV
XPDGDVHWDSDVDQWHULRUHVjVXDUHFHSomRRXVHMDGHTXHPDQHLUDHVVDOLQKDFKHJRXjSHVVRD
JUXSR LQVWLWXLomR RX FLUFXQVWkQFLD TXH D WUDQVPLWLX DR DOXQR 7UDWDVH SRUWDQWR GH XPD
LQYHVWLJDomRHPGRLVQtYHLVSDUDDVOLQKDVUHFHELGDVHGHXPQtYHOSDUDDVOLQKDVWUDQVPLWLGDV
$UHGDomRGHVVHWUDEDOKRTXHMiYHQKRSURSRQGRKiDQRVJHUDOPHQWHSURSRUFLRQD
GHDFRUGRFRPRGHSRLPHQWRGRVSUySULRVHVWXGDQWHVDWRPDGDGHFRQVFLrQFLDGHDOJXPDV
GDVHWDSDVGHXPSHTXHQRFRQMXQWRGHQWUHDVLQ~PHUDVOLQKDVKLVWyULFDVTXHIRUDPUHFHELGDV
HWUDQVPLWLGDVHTXHSDUWLFLSDUDPRXSDUWLFLSDPGDVDWLYLGDGHVPXVLFDLVGRVHVWXGDQWHV$R
ILQDOGRSURFHVVRRVDOXQRVWRPDPFRQWDWRFRPXPDHVSpFLHGHPLFURKLVWyULDGDP~VLFDGD
TXDO ID]HP SDUWH LGHQWLILFDQGR RV PHFDQLVPRV EiVLFRV TXH WDPEpP H[LVWHP QD PDFUR
KLVWyULD PHFDQLVPRV TXH SRXFRV DOXQRV DQWHV GHVVH H[HUFtFLR KDYLDP REVHUYDGR HP
RSHUDomRWDPEpPHPSHVVRDVFRPXQVDOpPGRV³JUDQGHV´FRPSRVLWRUHVGRSDVVDGR
2XWURWUDEDOKRSURSRVWRDWRGRVRVFXUVRVpDDGDSWDomRHQVDLRHH[HFXomRHPVDOD
GH REUDV YRFDLV HRX LQVWUXPHQWDLV EUDVLOHLUDV RX UHODFLRQDGDV DR %UDVLO 7UDWDVH GH XP
H[HUFtFLR PXVLFROyJLFR H SUiWLFR FRP IRQWHV KLVWyULFRPXVLFDLV EUDVLOHLUDV SULPiULDV
UHDOL]DGR HP JUXSR H DSUHVHQWDGR HP VDOD FRP HODERUDomR GH SDUWLWXUDV H UHGDomR GH
FRPHQWiULRVVREUHDVREUDVHVREUHRWUDEDOKRUHDOL]DGR3DUDDUHDOL]DomRGHVVHWUDEDOKRVmR
FULDGRVJUXSRVFRPIRUPDomRYRFDOHRXLQVWUXPHQWDODOHDWyULDHDFDGDXPGHOHVpVROLFLWDGR
VHOHFLRQDU H DGDSWDU SDUD VXD IRUPDomR XP GHWHUPLQDGR Q~PHUR GH REUDV YRFDLV HRX
LQVWUXPHQWDLV FRPSRVWDV HP GLVWLQWRV SHUtRGRV GD KLVWyULD PXVLFDO EUDVLOHLUD $V REUDV VmR
REWLGDV QDV ELEOLRWHFDV GR ,QVWLWXWR GH $UWHV H HP RXWURV DFHUYRV PXVLFDLV GD FLGDGH RX
PHVPRHPSiJLQDVGDLQWHUQHWGDVTXDLVVmRLQGLFDGDVSHORSURIHVVRU
2 UHVXOWDGR GR WUDEDOKR DFLPD GHVFULWR p LPSRUWDQWH QD PHGLGD HP TXH JHUD D
RSRUWXQLGDGHGH SHVTXLVDGHUHSHUWyULRSRUSDUWHGRVDOXQRVLQFOXLQGRDFRQVXOWDGHIRQWHV
PXVLFDLVKLVWyULFDVDLQGDTXHSULQFLSDOPHQWHDTXHODVMiGLJLWDOL]DGDVHGLVSRQtYHLVonlineHD
QHFHVVLGDGHGHVXDDGDSWDomRSDUDIRUPDo}HVQmRFRQYHQFLRQDLVHTXDVHVHPSUHLQH[LVWHQWHV
QDpSRFDGHFRPSRVLomRGDVREUDVVHOHFLRQDGDV2PDLRULQWHUHVVHGRWUDEDOKRQRHQWDQWRp
GHPRQVWUDUTXHTXDOTXHUREUDHVFULWDQR%UDVLOSRGHVHUDGDSWDGDDTXDOTXHUWLSRGHIRUPDomR
DWXDOFRPUHVXOWDGRVLQWHUHVVDQWHVHFULDWLYRVSHUPLWLQGRSRUWDQWRTXHTXDLVTXHUJUXSRVRX
LQVWUXPHQWLVWDV H[SORUHP H DSUHVHQWHP DRV VHXV S~EOLFRV FRPSRVLo}HV PXVLFDLV KLVWyULFDV
EUDVLOHLUDV(VVHWUDEDOKRGLVVROYHSRUWDQWRDLGHLDGHUHVWULQJLURUHSHUWyULRPXVLFDOKLVWyULFR
jVVXDVIRUPDo}HVRULJLQDLVHSULYLOHJLDRLQWHUHVVHGRS~EOLFRDWXDOQRFRQWDWRFRPRSDVVDGR
PXVLFDOGRSDtV
3RUILPDGRWRWDPEpPHPWRGDVDVWXUPDVKiTXDVHDQRVXPDSHVTXLVDHPJUXSR
UHIHUHQWH j VLWXDomR DWXDO GD P~VLFD QR PHUFDGR EUDVLOHLUR 1RYDPHQWH OLPtWURIH HQWUH D
KLVWyULD H D VRFLRORJLD HVWH WUDEDOKR p GHVWLQDGR D LQYHVWLJDU D VLWXDomR DWXDO GD SUiWLFD H
SURGXomRPXVLFDOHPYiULRVVHWRUHVGRPHUFDGRGDQGROXJDUSRUpPjSHVTXLVDKLVWyULFDGDV
VROXo}HV DGRWDGDV HP FDGD FDVR $ LQYHVWLJDomR ILQDO VDWLVID] XPD QHFHVVLGDGH EiVLFD GRV
HVWXGDQWHV ± FRPSUHHQGHU R IXQFLRQDPHQWR GH XPD SDUWH GR PHUFDGR GH WUDEDOKR ± H DR
PHVPRWHPSRWUDWDRDVVXQWRDSDUWLUGHXPDDERUGDJHPKLVWyULFDHFUtWLFD
3DUD VXD UHDOL]DomR FDGD JUXSRV HVFROKH XP GHQWUH RV WHPDV DEDL[R HVSHFLILFDGRV
VHQGRVHPSUHSRVVtYHOGHVGREUDUDOJXPGHVVHVWHPDVDGRWDUDSHQDVDOJXQVGHVHXVDVSHFWRVH
PHVPRSURSRUXPWHPDQRYR
x 0~VLFDHPFRQFHUWRVS~EOLFRVEUDVLOHLURV
x 0~VLFDQRPHUFDGREUDVLOHLURGHJUDYDo}HV&'V'9'VstreamingHRXWURV
x 0~VLFDQRFLQHPDHHPPLQLVVpULHVGH79QR%UDVLO
x 0~VLFDQRUiGLR$0)0HLQWHUQHWEUDVLOHLUR
x 0~VLFDHPWHPSORVHDPELHQWHVUHOLJLRVRVEUDVLOHLURV
x 0~VLFDQDSXEOLFLGDGHUiGLR79HLQWHUQHWEUDVLOHLUD
x 0~VLFDHPQRYHODVEUDVLOHLUDV
x 0~VLFDHPFDPSDQKDVSROtWLFDVEUDVLOHLUDV
x 0~VLFDHPVKRZVHSURJUDPDVGHDXGLWyULRQD79EUDVLOHLUD
x 0~VLFDDRYLYRHPEDUHVHFDVDVGHGDQoDEUDVLOHLUDV
x 0~VLFDQDVXQLYHUVLGDGHVEUDVLOHLUDVHQVLQRSHVTXLVDHGLYXOJDomR
x 0~VLFDQRHQVLQREiVLFRQR%UDVLO
x 0~VLFDGHUXDQR%UDVLO
x 0~VLFDGH&DUQDYDOQR%UDVLO
x RXWURWHPDGHILQLGRSHORJUXSR
(VWH WUDEDOKR HQYROYH XPD PHWRGRORJLD SULQFLSDOPHQWH HPStULFD H PXLWDV YH]HV D
SHVTXLVD GH FDPSR RV FRPSRQHQWHV GR JUXSR H[DPLQDP D P~VLFD TXH FLUFXOD QRV PHLRV
DFLPD LQGLFDGRV QD DWXDOLGDGH H UHJLVWUDP DV REVHUYDo}HV SHUWLQHQWHV SDUD GHSRLV IRUPXODU
XPD FRPSUHHQVmR JHUDO GD VLWXDomR DWXDO GD P~VLFDUHIHUHQWHDR WHPD HVFROKLGR (PERUD R
SRQWRGHSDUWLGDGHVVHWUDEDOKRVHMDUHODFLRQDUDVREVHUYDo}HVDRVSUREOHPDVHIHQ{PHQRVGD
DWXDOLGDGH VHPSUH TXH SRVVtYHO p UHDOL]DGD XPD SHVTXLVD KLVWyULFD SDUD D GHWHUPLQDomR GH
VXDV PXGDQoDV DR ORQJR GR WHPSR EHP FRPR VXD UHODomR FRP D KLVWyULD GR %UDVLO H GD
DWLYLGDGHPXVLFDOQR%UDVLOHQRPXQGRFRPSUHHQGHQGRRIHQ{PHQRSRUWDQWRDSDUWLUGDV
YLV}HVVLQFU{QLFDHGLDFU{QLFD
2DVSHFWRPDLVLPSRUWDQWHGHVWHWUDEDOKRpSRVVLELOLWDUDRVFRPSRQHQWHVGRJUXSRHD
WRGDDFODVVHDFRPSUHHQVmRGRVIDWRUHVTXHSDUWLFLSDUDPRXSDUWLFLSDPGDDWXDOVLWXDomRGD
DWLYLGDGH PXVLFDO VHOHFLRQDGD SDUD R WUDEDOKR HVWLPXODQGR XPD SRVLomR DWLYD GRV DOXQRV
QHVVH VHQWLGR R TXH QRUPDOPHQWH QmR RFRUUH QRV FXUVRV FRQYHQFLRQDLV GH P~VLFD
SULQFLSDOPHQWHYROWDGRVjIRUPDomRWpFQLFDGRVDOXQRV3DUDOHODPHQWHRWUDEDOKRSURSRUFLRQD
XP FRQWDWR FRP XPD SDUWH VXEVWDQFLDOGDGLYHUVLGDGHEUDVLOHLUDGRPHUFDGRGHWUDEDOKRHP
P~VLFD URPSHQGR FRP D IUHTXHQWH LGHLD QR PHLR DFDGrPLFRPXVLFDO GH TXH DV ~QLFDV
SRVVLELOLGDGHV GH WUDEDOKR SDUD R P~VLFR VmR D GRFrQFLD H D SDUWLFLSDomR HP FRQMXQWRV
PXVLFDLVJHUDOPHQWHHTXLSDPHQWRVGHP~VLFDGHFRQFHUWRFRPVXEVtGLRS~EOLFRHDMXGDQGR
DGLJQLILFDUHYDORUL]DURGHVHQYROYLPHQWRGHRXWUDVIRUPDVGHWUDEDOKR
&RQVLGHUDo}HVILQDLV
)UHQWH jV JUDQGHV PXGDQoDV QR PHLR PXVLFDO H QR SHUILO GRV DOXQRV GH P~VLFD QDV
~OWLPDV GpFDGDV QmR ID] VHQWLGR PDQWHUPRVQDDWXDOLGDGHDVPHVPDVIRUPDVGHHQVLQRGH
KLVWyULD GDP~VLFDHGH YiULDV RXWUDVGLVFLSOLQDVXVDGDVDRORQJRGRVpFXOR;;3HUSHWXDU
XP HQVLQR EDVHDGR QD GHIHVD GD P~VLFD HXURSHLD GH FRQFHUWR H HP VXD VXSHULRULGDGH HP
UHODomR jV GHPDLV PRGDOLGDGHV GH SUiWLFD PXVLFDO p XP DQDFURQLVPR TXH SURYDYHOPHQWH
DXPHQWDUiRGHVLQWHUHVVHGRVDOXQRVSRUHVVDHSRURXWUDVGLVFLSOLQDVGRVFXUVRVVXSHULRUHVGH
P~VLFDeSUHFLVRSRUWDQWRDQDOLVDUHVVDVPXGDQoDVHFRPSUHHQGHUPHOKRUDUHDOLGDGHDWXDO
SDUDSODQHMDUGLVFLSOLQDVTXHDSUHVHQWHPPDLRUVLJQLILFDGRSDUDDUHDOLGDGHGRVDOXQRV
1HVVHVHQWLGRpIXQGDPHQWDOFRPSUHHQGHUDVQHFHVVLGDGHVGRVHVWXGDQWHVGHP~VLFD
GDDWXDOLGDGHSDUDDGDSWDUDHODVRVREMHWLYRVHPpWRGRVGRHQVLQRGHKLVWyULDGDP~VLFDHP
OXJDUGHWUDQVPLWLUGHIRUPDDXWRPiWLFDHDFUtWLFDRFRQWH~GRGRVFRPSrQGLRVLQWHUQDFLRQDLV
VREUHRDVVXQWR
$OpP GH SHVTXLVDV GHVWLQDGDV D FRPSUHHQGHU RV SUREOHPDV UHODFLRQDGRV j SHUGD GR
VLJQLILFDGR H GR LQWHUHVVH SHOD KLVWyULD GD P~VLFD SDUHFHPH IXQGDPHQWDO DUULVFDU
H[SHULrQFLDVHVROXo}HVGHHQVLQREDVHDGDVHPYLV}HVFRPSDWtYHLVFRPDGLYHUVLGDGHFXOWXUDO
GRVHVWXGDQWHVHPDLVUHODFLRQDGDVjVVXDVQHFHVVLGDGHVUHDLVDLQGDTXHQmRKDMDVXILFLHQWH
ELEOLRJUDILDVREUHRDVVXQWR
+LVWyULDGDP~VLFDQmR pSRUSULQFtSLRXPDGLVFLSOLQDDOKHLDjVDWLYLGDGHVPXVLFDLV
GRV HVWXGDQWHV GD DWXDOLGDGH HPERUD WHQKD VH DIDVWDGR GHVVD SURSRVWD SRU FRQWD GD
PDQXWHQomRGHREMHWLYRVUHODFLRQDGRVjVVRFLHGDGHVGRSDVVDGR&DEHDQyVSURIHVVRUHVXVDU
RPpWRGRKLVWyULFRHDVRSRUWXQLGDGHVRIHUHFLGDVSHODVGLVFLSOLQDVDFDGrPLFDVSDUDDXPHQWDU
DHILFLrQFLDGRHVWXGRGDP~VLFDSHUPLWLUDFRPSUHHQVmRFDGDYH]PDLRUGRVHXVLJQLILFDGR
VRFLDOHDXPHQWDURVHXSDSHOWUDQVIRUPDGRUQDUHDOLGDGHDWXDO
5()(5Ç1&,$6
&$67$*1$3DXOR'LILFXOGDGHVUHIOH[}HVHSRVVLELOLGDGHVQRHQVLQRGDKLVWyULDGDP~VLFD
QR%UDVLOGRQRVVRWHPSRArteriais: Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes da
Universidade Federal do Pará%HOpPDQRQSIHY'LVSRQtYHOHP
JRRJO%WG8N!$FHVVRHPVHW
BBBBBBBBBB3URMHWRSDUDDVXEVWLWXLomRGDVGLVFLSOLQDV³+LVWyULDGD0~VLFD,H,,´H³+LVWyULD
GD0~VLFD%UDVLOHLUD´SHODGLVFLSOLQD³0~VLFD+LVWyULD&XOWXUDH6RFLHGDGH,H,,´6mR
3DXORRXWXEURGH'LVSRQtYHOHPJRRJO(D1$.!$FHVVRHPVHW
BBBBBBBBBB5Dt]HVGDFULVHQRHQVLQRGHKLVWyULDGDP~VLFDRFDVRGH6mR3DXOR,Q
9(50(60yQLFDRUJEnsino de Teoria e de História da Música6mR3DXOR$13320
QRSUHOR
È*8$6'(0(1,12
9,9$&,'$'(&8/785$/(-867,d$&2*1,7,9$(080352-(72
'(('8&$d2'()81'2'(48,17$/
5HQDWDGH/LPD6LOYD8)*
-RVp/XL]&LUTXHLUD)DOFmR8)*
5HVXPR
(VWHDUWLJRH[S}HVtQWHVHVFRPSUHHQVLYDVGDH[SHULrQFLDFRP&DSRHLUD$QJRODGHVHQYROYLGD
QR3URMHWRGH([WHQVmRÁguas de Menino,YLQFXODGRj8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGH*RLiV8)*
$VDWLYLGDGHVGRSURMHWRDFRQWHFHPQRIXQGRGHTXLQWDOHPXPEDLUURQDFLGDGHGH*RLkQLD
'LVFXWH DVSHFWRV UHODFLRQDGRV FRP RV IXQGDPHQWRV GD HGXFDomR QmRIRUPDO DSUHVHQWD
HOHPHQWRV TXH DFLRQDP D YLYDFLGDGH FXOWXUDO H FRQWHPSOD SURFHGLPHQWRV H FRQFHLWRV TXH
FRQWULEXHPSDUDDSURPRomRGDMXVWLoDFRJQLWLYD
3DODYUDVFKDYH&DSRHLUD$QJROD(GXFDomRGH)XQGRGH4XLQWDO-XVWLoD&RJQLWLYD
,QWURGXomR
1]DPELXPGHXVVXSUHPRFULRXQDWHUUDXPJUDQGHULRFKDPDGRÈJXDVGH0HQLQR
TXH FRUULD UiSLGR H DEXQGDQWH 'H XP ODGR GR ULR 1]DPEL FRORFRX XP JUDQGH H
IURQGRVREDREiHQDRXWUDPDUJHPXP,SrFRPOLQGDVIORUHVDPDUHODV
0HVPRVHSDUDGRVSRUXPLPHQVRULRHOHVVHDSDL[RQDUDP2,SrJRVWRX GR %DREi
SRUTXHHOHHUDIRUWHHFRUDMRVR2%DREiJRVWRXGR,SrSRUVXDEHOH]DHJHQWLOH]D
0DVRULRLPSHGLDTXHHOHVSXGHVVHPVHDSUR[LPDU
(QWmR HOHV SHGLUDP DR ÈJXDV GH 0HQLQR DMXGD SDUD SRGHUHP VH HQFRQWUDU 2 ULR
UHVROYHXDMXGDUPDVFRPDFRQGLomRGHID]HUSDUWHGHVVHDPRU$VVLPRULRSHUPLWLX
TXHDVUDt]HVGDViUYRUHVVHHQFRQWUDVVHPHPEDL[RG¶iJXD
$VUDt]HVGDVGXDViUYRUHVFRPHoDUDPOHQWDPHQWHDFUHVFHUHPGLUHomRXPDGDRXWUD
HDHQIUHQWDUFRPSDFLrQFLDHUHVLVWrQFLDRIOX[RLQWHQVRGDViJXDV'HSRLVGHPXLWRV
DQRV FUHVFHQGR DV UDt]HV GR ,Sr H GR %DREi ILQDOPHQWH VH HQFRQWUDUDP ( QHVVH
PRPHQWRDOJRVXUSUHHQGHQWHDFRQWHFHXVXUJLXQRPHLRGRULRXPQRYDiUYRUHTXH
QLQJXpPMDPDLVKDYLDYLVWRQDIDVHGDWHUUDR,SHREi
'RXWRUDHP$UWHVSHOD8QLFDPS3URIHVVRUDDGMXQWRGRFXUVRGH'DQoDGD8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGH*RLiV/tGHU
H SHVTXLVDGRUD QR 1~FOHR GH 3HVTXLVD H ,QYHVWLJDomR &rQLFD &ROHWLYR 1X3,&& (PDLO
UHQDWD]DEHOH#JPDLOFRP
'RXWRUHP(GXFDomRSHOD8)%$3URIHVVRUDVVRFLDGRGD)DFXOGDGHGH(GXFDomR)tVLFDH'DQoDGD8QLYHUVLGDGH
)HGHUDO GH *RLiV 3HVTXLVDGRU QR 1~FOHR GH 3HVTXLVD H ,QYHVWLJDomR &rQLFD &ROHWLYR 1X3,&& (PDLO
MOFIDOFDR#JPDLOFRP
2,SHREiWLQKDIORUHVDPDUHODVDEHOH]DHDJHQWLOH]DGR,Sr(WDPEpPDIRUoDD
FRUDJHPHDVDEHGRULDGDSULPHLUDiUYRUHFULDGDQRPXQGRR%DREi0DVRTXHGH
IDWRGLVWLQJXLDDTXHODQRYDiUYRUHGHWRGDVDVRXWUDVpTXHXPLJDUDSpFRUULDEHPQR
PHLRGHODSRLVÈJXDVGH0HQLQRIH]TXHVWmRGHID]HUSDUWHGHVWHDPRU$25,*(0
'2,3(2%È$UTXLYRÈJXDVGH0HQLQR
2OKDU R YHOKR WUHP DWUDYHVVDQGR H HQTXDQWR LVVR SHQVDU RV FDPLQKRV URPSLGRV SHOR
SHQVDPHQWRGHVFRORQLDOQRVGiDSRVVLELOLGDGHGHEULQFDUGHYDGLDUGHJLQJDUHGHEXVFDUQR
HQFDQWDPHQWRRILRFRQGXWRUGHXPDSURSRVWDSHGDJyJLFDDUUDLJDGDHPYDORUHVDQFHVWUDLV
'iOLFHQoDPHXVLQK{GiOLFHQoDPLQKDVLQKiQyVDTXLYLHPRVYDGLDU³Vamos vadiá,
vamos vadiá, capoeira de angola, hora vamos vadiá”. 3RGHUtDPRVFRPHoDUHVVHDUWLJRGL]HQGR
TXHHVVDQDUUDWLYDDFLPDGHVFULWDIRLUHFROKLGDGRSRYR'RJRQTXHKDELWDXPDUHJLmRUHPRWD
GD ÈIULFD 2ULHQWDO D OHVWH GR 5LR 1tJHU HQWUH R 0DOL H D %XUNLQD )DVR 0DV VHULD PXLWD
WUDTXLQDJHPGHQRVVDSDUWHSRLVHVVDKLVWyULDIRLLQYHQWDGDHPXPIXQGRGHTXLQWDOTXDOTXHU
GHXPVHWRUTXDOTXHUGHXPDFLGDGHTXDOTXHU%HPPDVKiGHVHFRQVLGHUDUTXHHPDOJXP
PRPHQWRDVQDUUDWLYDVPtWLFDVGRV'RJRQVWDPEpPIRUDPLQYHQWDGDV
*UDQGHSDUWHGDVFXOWXUDVDIULFDQDVRUJDQL]DVXDVDEHGRULDDSDUWLUGHPLWRVTXHSRGHP
VHUHQWHQGLGRVFRPRQDUUDWLYDVTXHQmRVHJUHJDPDVHVIHUDVGRYLYHULVWRpUHOLJLmRSROtWLFD
pWLFD FRQKHFLPHQWR ³2 PLWR p XP GLVFXUVR FRVPRJ{QLFR´ XPD IRUPD GH ³VHGXomR GD
UHDOLGDGH´ ³WXGR TXH R PLWR ID] p GLVSRUGRUHSHUWyULRGHXPD FXOWXUDHDRPHVPRWHPSR
VLJQLILFiOD2/,9(,5$S'LVSRUGHXPUHSRUWyULRGHXPDFXOWXUDHDRPHVPR
WHPSRVLJQLILFiODGHPDQHLUDHQFDQWDGRUD
2SRYRGRÈJXDVGH0HQLQRFULDQDUUDWLYDVPtWLFDVFRPRHVVDDFLPDFLWDGDPDVQmR
VmR'RJRQVHQHPDRPHQRVGHVFHQGHPGHOHVHPERUDXPDDQFHVWUDOLGDGHDIULFDQDKHUGDGDH
WDPEpP LPDJLQDGD SXOVHQHVVD FRPXQLGDGHTXHDEHPGDYHUGDGHQmR pXPSRYRHPERUD
IDOHPDPHVPDOtQJXDHQWUHVLHWHQKDPFRVWXPHVHLQWHUHVVHVVHPHOKDQWHVFRPRSRUH[HPSOR
RDWRGHFRORFDUDFDEHoDSDUDEDL[RHDVSHUQDVSDUDRDU
$KLVWyULDGR ,SHREiIRLFULDGDSRUSHVVRDVHQYROYLGDVQRSURMHWRÈJXDVGH0HQLQR
SDUDHQFDQWDUDH[LVWrQFLDGHXPDiUYRUHPiJLFDTXHKDELWDROXJDU
2ROKDUHQFDQWDGRQmRFULDRPXQGRGDVFRLVDV2PXQGRGDVFRLVDVpRMiGDGR2
ROKDUHQFDQWDGRUHFULDRPXQGRSRUTXHYrRPXQGRFRPROKRVGHHQFDQWReXPD
PDWL]GHGLYHUVLGDGHGRVPXQGRV(OHQmRLPDJLQDHOHFRQVWUyLPXQGRVeTXHFDGD
ROKDUFRQVWUyLVHXPXQGR0DVLVVRQmRpDOHDWyULR,VVRQmRVHGiGRQDGD'iVHQR
LQWHULRU GD IRUPD FXOWXUDO >@ R HQFDQWDPHQWR p XPD DWLWXGH GLDQWH GR PXQGR
2/,9(,5$S
ÈJXDVGH0HQLQRpHQWmRXPDDomRHXPOXJDU8PDDomRHGXFDWLYDWHUULWRULDOL]DGDQD
WUDGLomR GD GLiVSRUD DIULFDQD SRU PHLR GD&DSRHLUD $QJROD HGR FRUSR HP PRYLPHQWR'R
FRUSR TXH VH WUDQVILJXUD HP IRUPDV H TXH VH UHPHWH D XPD DQFHVWUDOLGDGH ( DTXL FRUSR H
DQFHVWUDOLGDGHVmRHOHJLGRVFRPRSODWDIRUPDVSDUDVHSHQVDUDHGXFDomRQXPDSHUVSHFWLYDSyV
FRORQLDO3yVRTXr"3yVFRORQLDOGHVFRORQLDOXPD(SLVWHPRORJLDGR6XO&RQYHUVD$JHQWH
FKDPD GHVVH MHLWR SDUD ILFDU PDLV ERQLWR H DFHLWR DFDGHPLFDPHQWH PDV DTXL IDODQGR
IUDQFDPHQWHÈJXDVGH0HQLQRpHGXFDomRGHIXQGRGHTXLQWDO
eXPOXJDUXPOXJDUGHHQFRQWURFRQYLYrQFLDHPHPyULDXPOXJDURQGHVHID]KLVWyULD
VHFULDKLVWyULDVVHOHPEUDKLVWyULDVHVHFRQWDKLVWyULDV(QILPXPOXJDURQGHVHYLYHDKLVWyULD
$KLVWyULDTXHVHID]
$LGHLDDTXLQmRpODQoDUXPQRYRFRQFHLWRHQHPVHDUULVFDUHPQRYRVSDUDGLJPDVSDUD
DDUWHHGXFDomREUDVLOHLUD2QRVVRLQWHQWRpWmRVRPHQWHRGHIRPHQWDUXPDSUREOHPDWL]DomR
DFHUFDGDYLYDFLGDGHFXOWXUDOHGDSRWrQFLDHPEXWLGDQDVWURFDVFRPSDUWLOKDGDVQRFRWLGLDQRD
SDUWLUGHH[SHULrQFLDVVLJQLILFDWLYDVFRPPDQLIHVWDo}HVFXOWXUDLVFXOWLYDGDVQXPDSHUVSHFWLYD
FROHWLYLVWDFRPXQLWiULDHQmRIRUPDO
3DUD HVVD FKDPDGD DR GHEDWH WUD]HPRV DTXL VtQWHVHV FRPSUHHQVLYDV GHULYDGDV GD
H[SHULrQFLDGRÈJXDVGH0HQLQRXPDDomRHGXFDWLYDTXHVHSDVVDHPXPIXQGRGHTXLQWDOQR
TXHSRGHPRVFKDPDUGHEDUUDFmRRXHQWmRGHDYDUDQGDGR
Meu cazuá tem varanda
Varanda pra vadiar
Meu cazuá tem varanda
Varanda pra vadiar
0HVWUH3HUQDORQJD
0DV SRU TXH XP IXQGR GH TXLQWDO OLPLWDGR HP TXH D JHQWH WHP TXH VH UHYH]DU SDUD
OHYDQWDU D SHUQD FRP WDQWR HVSDoR QD XQLYHUVLGDGH H QDV HVFRODV SRU Dt" 3DUD LU DOpP GRV
HVSDoRVLQVWLWXFLRQDOL]DGRVHIRUPDLVGHHGXFDomRHDSRVWDUQDSRWrQFLDGDFRPXQLGDGHHGD
FXOWXUDSRSXODU2TXHQmRVLJQLILFDGHPDQHLUDDOJXPDQHJDUDLPSRUWkQFLDGDHVFRODPDVVLP
GHUHFRQKHFHUDVVXDVOLPLWDo}HVQDIRUPDomRKXPDQDLQWHJUDO
1HVVH VHQWLGR DLQGD p LPSRUWDQWH FRQVLGHUDU TXH HPERUD D HVFRODUL]DomR WHQKD
DOFDQoDGRXPJUDXGHXQLYHUVDOL]DomRQXQFDYLVWRDQWHVRVHVSDoRVQmRIRUPDLVGHHGXFDomR
YrPVHQGRFULDGRVHUHFRQKHFLGRVFRPRSRWHQWHVFRQWH[WRVHGXFDFLRQDLVVREUHWXGRSHODVXD
FDSDFLGDGHGHUHIRUoDURFRQWDWRFRPRFROHWLYRDSDUWLUGHODoRVGHDIHWLYLGDGHGHFRQWDUFRP
DSDUWLFLSDomRYROXQWiULDFRQVLGHUDQGRDVYRQWDGHVHQHFHVVLGDGHVGRVHQYROYLGRVSURPRYHU
HQFRQWURVLQWHUJHUDFLRQDLVEHPFRPRLQYHVWLUQXPDHGXFDomRGRVHQVtYHOSRUPHLRGRFRUSR
HPPRYLPHQWR
$LGHLDGHIXQGRGHTXLQWDOHVWiVLPOLWHUDOPHQWHDVVRFLDGDDXPHVSDoRDWUiVGDFDVD
0DV D H[SUHVVmR QmR UHPHWH DSHQDV D XP OXJDU (OD FDUUHJDWDPEpP D LGHLD GHPRYLPHQWR
FXOWXUDOFRQVWUXomRGHSURFHVVRVLGHQWLWiULRVH[HUFtFLRGHVROLGDULHGDGHHWURFDVGHVDEHUeR
OXJDUGHEULQFDGHLUDVGHIHVWDVGHFHOHEUDo}HV8PHVSDoRItVLFRHVLPEyOLFRTXHGiYLYDFLGDGH
jDUWHGRID]HUSRSXODU8PERPH[HPSORGLVVRIRLD&DVDGH7LD&LDWDHGHRXWUDVEDLDQDVTXH
DEULDPVHXVTXLQWDLVHFR]LQKDVQRVPRUURVFDULRFDVSDUDVHID]HUDKLVWyULDGRVDPEDDFXOWXUD
GRVDPEDDpWLFDGRVDPEDDHVFRODGHVDPED
7DOFRPRRVDPEDDFDSRHLUDWDPEpPS{GHIORUHVFHUQRIXQGRGHTXLQWDOSRLVDQWHV
GHSDVVDUSHORXPGHWHUPLQDGRSURFHVVRGHIRUPDOL]DomRRFXSDQGRHVSDoRVGHDFDGHPLDVH
FHQWURV HVSRUWLYRV HOD DFRQWHFLD RQGH HUD SRVVtYHO« QDV UXDV QDV SUDoDV QDV IHLUDV QRV
WHUUHLURVHQRIXQGRGHTXLQWDO$PELHQWHVHVVHVHPTXHDFDSRHLUDHRVDPEDVHHQWUHODoDYDP
)RLSRUH[HPSORQR³FD]XiGH6HX%HQHGLWR´TXH0HVWUH3DVWLQKDXPGRVSULQFLSDLV
JXDUGL}HV GD &DSRHLUD $QJROD GHX VHXV SULPHLURV SDVVRV QD FDSRHLUDJHP (P VXD
DXWRELRJUDILD 0HVWUH 3DVWLQKD FRQWD TXH TXDQGR JDURWR DSDQKDYD GH XP PHQLQR GH QRPH
+RQRUDWR'DMDQHODXPQHJURGH$QJRODREVHUYDYDDFHQDHXPGLDRFKDPRXHGLVVHOKH
³9RFrQmRSRGHEULJDUFRPDTXHOHPHQLQR$TXHOHPHQLQRpPDLVDWLYRGRTXHYRFr$TXHOH
PHQLQRpPDODQGUR9RFrTXHUEULJDUFRPHOHQDUDoDPDVQmRSRGH2WHPSRTXHYRFrYDL
SDUDFDVDHPSLQDUUDLDYRFrYHPDTXLSURPHXFD]Xi´085,&<3DVWLQKDDFHLWRXR
FRQYLWHGRYHOKRTXHSHJRXDOKHHQVLQDUFDSRHLUD
3RLVEHPpQXPOXJDUFRPRHVVHXPIXQGRGHTXLQWDOTXHDFRQWHFHDDomRFXOWXUDO
ÈJXDVGH0HQLQRSDXWDGDQXPDHGXFDomRHVWpWLFDHSDUDDVUHODo}HVpWQLFRUDFLDLVTXHWHPD
LQWHQomRGHIRPHQWDUDSUiWLFDFRUSRUDOHFXOWXUDOGD&DSRHLUD$QJROD
'HVWDUWHFRPSUHHQGHPRVD&DSRHLUD$QJRODFRPRLGHQWLGDGHQHJUDHPPRYLPHQWR
FRPRSHUIRUPDQFHTXHLQVFUHYHQRWHPSRHQRHVSDoR³DIURJUDILDVGDPHPyULD´0$57,16
FRPR H[SUHVVmR DUWtVWLFD DIUREUDVLOHLUD HP TXH R FRUSR GUDPDWL]D D SRpWLFD GD
DQFHVWUDOLGDGHWRWDOPHQWHDUUDLJDGDQDVWHQV}HVHQDOXWDVRFLDOHPTXHVHGiDUHVLVWrQFLDGR
SRYRQHJURQRVROREUDVLOHLUR
Mãe África engravidou em Angola, partiu de Luanda e de
Benguela, chegou e pariu a capoeira, no chão do Brasil
verde e amarela, É de Angola... Camará que meio essa
cantiga. De Luanda… É um jogo, uma dança, uma rima. De
Benguela… Do quilombola da Serra da Barriga.
De Aruanda… Capoeira chegou com a caravela.
7RTXHGH%HQJXHOD3DXOR&pVDU3LQKHLUR.
2OLYHLUD HP VXD )LORVRILD GD $QFHVWUDOLGDGH QRV DMXGD D GHILQLU D &DSRHLUD
$QJRODHQIDWL]DQGRRHQFDQWDPHQWRTXHFRPRYLPRVpSUySULRGDVPDQLIHVWDo}HVH[SUHVVLYDV
DIUREUDVLOHLUDV
2VRORGD&DSRHLUD$QJRODpRlócusGHRQGHHPHUJHDVHPLyWLFDGRHQFDQWDPHQWRe
RHVSDoRDQFHVWUDORQGHXPUHJLPHGHVLJQRVVHRUGHQDSDUDQmRDSHQDVYHUDFDSRHLUD
PDVYHUGHVGHDFDSRHLUDeHSLVWHPRORJLDGDUHPDQGLRODSHGDJRJLDGRPRYLPHQWR
ILORVyILFR TXH GDQoD e FXOWXUD HVFXOSLGD QR FRUSR e VDEHGRULD GR FRUSR TXH JLQJD
2/,9(,5$S
(QILPD&DSRHLUD$QJRODpXPDVtQWHVHFXOWXUDOHPTXHHOHPHQWRVGHGDQoDGHMRJR
GH OXWD GH EULQFDGHLUD GD P~VLFD H GH FHOHEUDomR VH LQWHUSHQHWUDP SRWHQFLDOL]DQGR D
YLYDFLGDGH FXOWXUDO 2X VHMD D YLGD SXOVDQGR HP VHX HVSOHQGRU SDUD DOpP GRV IHQ{PHQRV
ELROyJLFRV H QDWXUDLV FRP GLQkPLFDV IUHTXHQWHPHQWH SHUWXUEDGRUDV H SURYRFDGRUDV TXH
DILUPDP WDQWR D GLIHUHQoD FRPR GLIHUHQWHV PDQHLUDV GH VHU $ DSURSULDomR VLVWHPiWLFD H
HQJHQKRVD GRV VHXV IXQGDPHQWRV VH Gi QR ÈJXDV GH 0HQLQR SHODV DVWXWDV H LQRSLQDGDV
H[SHULrQFLDVFRWLGLDQDVTXHPDQWpPYLYRRHVStULWRFROHWLYR(PVtQWHVHD&DSRHLUD$QJROD
DEDUFD XP FRQMXQWR GH ³UHPLQLVFrQFLDV GXUiYHLV´ )$5,$6 0,5$ VDJUDGDV HRX
SURIDQDV YLYHQFLDGDV H H[SHULPHQWDGDV QR FRWLGLDQR HP UHODomR LQWHUGHSHQGHQWH FRP D
FRPXQLGDGHHFRPRFRQWH[WRHPTXHDH[SHULrQFLDpGHVHQYROYLGD
1R ÈJXDV GH 0HQLQR PDLV GR TXH XPD &DSRHLUD $QJROD ³HP VL´ H[HUFLWDVH XPD
&DSRHLUD $QJROD ³SDUD VL´ PDWHULDOL]DGD SRU PRGRV FROHWLYRV GH ³ID]HU´ FRP GLIHUHQWHV
REMHWLYRVIHVWLYRVFHOHEUDWLYRVHVSLULWXDLVO~GLFRVDJRQtVWLFRVHWFQXPDGLPHQVmRSUiWLFD
GH DILUPDomR GH SURYRFDomR H GH FRQWHVWDomR 2V IXQGDPHQWRV GD &DSRHLUD $QJROD VmR
IRUWHPHQWHDSRLDGRVQDRUDOLGDGHHPTXHVHSULYLOHJLDRID]HUFRPRRXWURHPFRQWUDSRVLomRDR
ID]HUSDUDRRXWUR
2ÈJXDVGH0HQLQRHVWiFDGDVWUDGRFRPRSURMHWRGHH[WHQVmRGD8QLYHUVLGDGH)HGHUDO
GH *RLiV PDV GHVORFDVH GR PHLR XQLYHUVLWiULR SDUD RFXSDU XP IXQGR GH TXLQWDO
FDUDFWHUL]DQGRVH FRPR XPD LQLFLDWLYD SHGDJyJLFD QmRIRUPDO TXH QmR Vy HVWHQGH R
FRQKHFLPHQWRSURGX]LGRQDXQLYHUVLGDGHSDUDDVRFLHGDGHPDVWDPEpPFRQVLGHUDRVVDEHUHV
FRQVWUXtGRVSDUDDOpPGRVVHXVPXURV
3DUD9RQ6LPVRQHWDOS
$HGXFDomRQmRIRUPDOSRUSRGHUOLGDUFRPRXWUDOyJLFDHVSDoRWHPSRUDOSRUQmR
QHFHVVLWDUVHVXEPHWHUDXPFXUUtFXORGHILQLGRa priori RXVHMDFRPFRQWH~GRVWHPDV
HKDELOLGDGHVDVHUGHVHQYROYLGRVHSODQHMDGRVDQWHULRUPHQWHSRUGDUHVSDoRSDUD
UHFHEHUWHPDVDVVXQWRVYDULHGDGHVTXHLQWHUHVVHPRXVHMDPYiOLGRVSDUDXPS~EOLFR
HVSHFtILFR QDTXHOH GHWHUPLQDGR PRPHQWR H TXH HVWHMD SDUWLFLSDQGR GH SURSRVWDV
SURJUDPDV RX SURMHWRV QHVVH FDPSR ID] FRP TXH FDGD WUDEDOKR H H[SHULPHQWDomR
VHMDP~QLFRV
2 SURMHWR VH LQLFLD D SDUWLU GR DQVHLR GH XPD PXOKHU PmH H FDSRHLULVWD GH GDU
FRQWLQXLGDGH j VXD SUiWLFD FRP &DSRHLUD $QJROD H DR PHVPR WHPSR FULDU R VHX ILOKR QD
FDSRHLUDJHP2PHQLQRMiKDYLDVHLQLFLDGRQDSUiWLFDQDHVFRODGRPHVWUHGHVXDPmHHPTXH
VXUSUHHQGHQWHPHQWHDSUHQGLDRMRJRGHPDQGLQJDHQTXDQWRFRUULDHEDJXQoDYDDRUHGRUGDURGD
FRPRXWUDVFULDQoDV$PmHDIOLWDWHQWDYDFKDPDUDDWHQomRGDFULDQoDPDVDFDEDYDHODVHQGR
DGYHUWLGDSHORPHVWUH- Renatinha, deixa os erê solto.
+DYLD DOL XP FRQFHSomR GH HGXFDomR GDTXHODV FULDQoDV EDVHDGD QD OLEHUGDGH H TXH
DSRVWDYDQDDXWRQRPLDGHODVSDUDDSUHHQGHURXQmRDTXHOHFRQWH[WR0DVFRPRSRXFDJHQWH
VXSRUWDHPXPHVSDoRIHFKDGRWDQWDOLEHUGDGHDOKHLDDPmHFRQVHJXLXID]HUXPFRPELQDGR
FRP R PHQLQR DVVLVWLU XP MRJR MRJDU H GHSRLV DVVLVWLU PDLV XP MRJR $VVLP R erê HVWDULD
OLEHUDGRSDUDEULQFDU8PDQWHVSDUDDSUHQGHUMRJDUSDUDYLYHQFLDUHXPGHSRLVSDUDFRQWULEXLU
FRPDURGD(HVVHFRPELQDGRIXQFLRQRXPXLWREHPSRLVQmRFRQWUDULDYDRPHVWUHHDVVHJXUDYD
TXHRPHQLQRIRVVHDVVLPLODQGRDOJXQVFyGLJRVGDPDQLIHVWDomR&RPLVVRWDPEpPJDUDQWLD
jPmHXPHVSDoRGHSHUPDQrQFLDQRFRQWH[WRGD&DSRHLUD$QJRODSRLVYDOHDSHQDUHVVDOWDU
TXHPXLWDVPXOKHUHVSDVVDPSHODFDSRHLUDHQmRSHUPDQHFHP
&XPSUHQRWDUTXHDFDSRHLUDDSHVDUGHVXDSURSRVWDFROHWLYDSRGHVHFRQILJXUDUFRPR
XP HVSDoR RQGH DV PDOKDV GR SRGHU DJHP GH PRGR D QmR JDUDQWLU HTXLGDGH GH DFHVVR H
SHUPDQrQFLDSDUDDVPXOKHUHV
$VVLPSURSRUHHIHWLYDUXPHVSDoRSDUDFDSRHLUDJHPHPTXHPXOKHUHVHPmHVSRGHP
MXQWDPHQWHFRPVHXVILOKRVHILOKDVVHUHDFRQWHFHUSRUPHLRGDFDSRHLUDpTXHVWLRQDUDKLVWyULD
HUHHVFUHYrODQXPDRXWUDSHUVSHFWLYD
1DWUDMHWyULDVRFLDOHSROtWLFDGDKXPDQLGDGHFROHWLYRVVRFLDLVVHPSUHH[LVWLUDPTXLoi
VHPSUH H[LVWLUmR SRLV UHSUHVHQWDP IRUoDV VRFLDLV RUJDQL]DGDV TXH DJOXWLQDP SHVVRDV “não
como força-tarefa de ordem numérica, mas como campo de atividades e experimentação
social, e essas atividades são fontes geradoras de inovações socioculturais” *2+1
S
eQHVVHVHQWLGRTXHHQWHQGHPRVRÈJXDVGH0HQLQRQmRDSHQDVFRPRXPDDomRUHDWLYD
DRUDFLVPRRXDRPDFKLVPRPDVVREUHWXGRXPDDomRFULDWLYDQRVHQWLGRGHFULDUDWLYLGDGH
GHSURSRUHSURPRYHURHQFRQWURFRPRDomRHGXFDWLYDSROtWLFDO~GLFDHVHQVLELOL]DGRUDSRU
PHLRGDHGXFDomRGRVVHQWLGRVGRFRUSRHPPRYLPHQWR«0RYLPHQWRQHJUR
$SHVDU GH VHU XPD DomR DLQGD PXLWR MRYHP H WtPLGD QR VHQWLGR GH DWHQGHU XPD
FRPXQLGDGHUHVWULWDHQmRWHUXPDOFDQFHVRFLDOH[SUHVVLYRRTXHWDOYH]VHMDXPDFDUDFWHUtVWLFD
GHXPDSURSRVWDHGXFDFLRQDOGHIXQGRGHTXLQWDODUHOHYkQFLDVRFLDOGRÈJXDVGH0HQLQRVH
Gi HQWUH RXWUDV UD]}HV SHOR IDWR GH HVWDU HVFUHYHQGR D VXD KLVWyULD FRP SDUWLFLSDomR GDV
PXOKHUHVQRFRQWH[WRGDFDSRHLUD
(PFHUWDRFDVLmRXPDGDVDXWRUDVGHVWHDUWLJRHWDPEpPUHVSRQViYHOSHORÈJXDVGR
0HQLQRROKDQGRHDQDOLVDQGRFRPDVFULDQoDVDVIRWRJUDILDVH[SRVWDVQDSDUHGHGRHVSDoRTXH
PDUFDPXPFRPSURPLVVRFRPDPHPyULDGRVPDLVYHOKRVDQFHVWUDLVHLUPmRVGHFDSRHLUD
SDVVDUDPSRUXPTXDGURHPTXHKDYLDPQRYHUHQRPDGRVPHVWUHVHDSHQDVXPDFRQWUDPHVWUD
1D FRQGLomR GH WUHLQHO FRQVLGHURX R PRPHQWR RSRUWXQR SDUD SUREOHPDWL]DU R OXJDU GDV
PXOKHUHVQDFDSRHLUD7HQWRXH[SODQDUDOJRVREUHDGLILFXOGDGHGHSHUPDQrQFLDGHPXOKHUHV
QHVVHFRQWH[WRHGRDFHVVRDOXJDUHVGHUHSUHVHQWDWLYLGDGH$VFULDQoDVVHHQWUHROKDUDPFRP
FDUDGHVXUSUHVDHXPDGHODVH[FODPRXNossa, que maldade!1DTXHOHPRPHQWRSHUFHEHXVH
TXHHVVDGLVFXVVmRHPERUDSUHFLVDVVHVHUIHLWDHPDOJXPPRPHQWRHODHVWDYDVHQGRUHDOL]DGD
GHPDQHLUDDILUPDWLYDQmRUHVVDOWDQGRRSUREOHPDPDVHGXFDQGRQDVROXomR(VVHVPHQLQRV
HPHQLQDVGHÈJXDVDSUHQGHPHHQVLQDPFDSRHLUDFRPPXOKHUHV
$KLVWyULDTXHTXHUHPRVFRQWDU
&RPR R FRUSR p XP WH[WR GLQkPLFR H D WUDGLomR GH PDWUL] DIULFDQD XP GLQkPLFR
PRYLPHQWRpQRPRYLPHQWRGRFRUSRTXHYLVOXPEURDSRVVLELOLGDGHGHXPDOHLWXUDGR
PXQGRDSDUWLUGDPDWUL]DIULFDQDRTXHLPSOLFDHPGHFRGLILFDUXPDILORVRILDTXHVH
PRYLPHQWDQRFRUSRHXPFRUSRTXHVHPRYLPHQWDFRPRFXOWXUD2/,9(,5$
S
1D&DSRHLUD$QJRODFRPRWDPEpPQR-RQJRQR%DWXTXHQR7DPERUGH&ULRXODHHP
WDQWDV RXWUDV PDQLIHVWDo}HV H[SUHVVLYDV DIUREUDVLOHLUDV ³D FXOWXUD p R PRYLPHQWR GD
DQFHVWUDOLGDGH´ FRQIRUPH DVVHYHURX 2OLYHLUD S 1R HQWDQWR p LQWHUHVVDQWH
REVHUYDUDPDQHLUDFRPRHVVHPRYHUVHQDDQFHVWUDOLGDGHSRGHJDUDQWLUDLQGDDOpPGHXPD
FRQH[mRFRPXPSDVVDGRTXHVHDWXDOL]DSDUDDPDQXWHQomRGHXPDLGHQWLILFDomRXPHVWDGR
GHLQYHVWLJDomRSHVVRDOSURSRUFLRQDGRSHORMRJR2MRJRGHFRUSR
&DSRHLUD p MRJR TXH VH MRJD FRPVHXSUySULRFRUSRDRGHVDILiORDPRYHUGHIRUPD
SURSRVLWLYDQRHVSDoReMRJRTXHVHMRJDFRPRRXWURWHVWDQGRRVOLPLWHVHQWUHHQIUHQWiOR
UHVSHLWiOR VDFDQHiOR H VH GLYHUWLU FRP HOH 7UDWDVH GR PRYLPHQWR GH LU H YLU DWDFDU H
GHIHQGHUQHJDUHDFHLWDUGRVLPHGRQmROh sim sim, Oi não não… 'HYHURPXQGRGHSHUQDV
SDUDRDUde encarar o medo e dosar bem a coragem 0HVWUH7RQ\9DUJDV .
( PDLV GR TXH LVVR DOJR TXHWDOYH]VHMDLQWHUHVVDQWHSDUDVHUHVVDOWDUQRkPELWRGDV
GLVFXVV}HV VREUHDUWHHGXFDomR D FDSRHLUDpXPHVSDoRWHPSRHPTXHGDQoDP~VLFDMRJR
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não abre um lá nos seu bairro, no fundo do seu quintal. 4XHRULRÈJXDVGH0HQLQRFRUUD
GHVYDLUDGR H TXH HQFKDUTXH RXWURV TXLQWDLV Quinta-feira tem roda no Águas de Meninos,
quinta-feira tem roda no Águas de meninos. Eu vou vadiá, no Águas de menino, Eu vou vadiá,
no Águas de menino.
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)$5,$6(6GHH0,5$0&,QWURGXomRPHQVDJHQVGRSyVQDFLRQDOSRSXODU,Q
)$5,$6(6GHH0,5$0&)DFHVFRQWHPSRUkQHDVGDFXOWXUDSRSXODU2UJV
-XQGLDt3DFR(GLWRULDO
*2+10*0RYLPHQWRVVRFLDLVQDFRQWHPSRUDQHLGDGHRevista Brasileira de Educação,
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GLVFULPLQDFࡤDRѺ Hғ IDYRUHFHU D DPSOLDFࡤDRѺ GD IRUPDFࡤDRѺ Hғ DPSOLDU DV SRVVLELOLGDGHV GH DFࡤDRѺ
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FRQKHFLPHQWRVHQDRѺ GH³WUDQVPLVVDRѺ ´DGHTXDQGRVHDRVQRYRVWHPSRV´
1R GRFXPHQWR GR FRPSOHPHQWR VHJXL DUJXPHQWDGR TXH DFUHGLWDYD TXH RV SRQWRV
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EUDVLOHLUDQDVDWLYLGDGHVSHGDJRғJLFDVHDUWÕғVWLFDVGD(VFRODLQFOXLQGRRDXPHQWRGRQ~PHUR
GHSURIHVVRUHVQHJURVPHUHFLDPDLVrQIDVHQDTXHOHVGLDVTXHVHULDPGHFLVLYRVSDUDDHVFROKD
GRIXWXURJHVWRU
$UJXPHQWDYDFRQWXGRTXHRVWUHFKRVGRSURMHWRGHPHWDVDFLPDUHSURGX]LGRVHQWUH
DVSDV HUDP H[SUHVVRѺHV JHQHUDOL]DQWHV H TXH ID]LDVH QHFHVVDғULR GHEUXFࡤDUVH VREUH HVWHV
SRQWRVHPVXDVHVSHFLILFLGDGHV(QWmRVHJXLFRPRVDUJXPHQWRV
1D FRQGLFࡤDRѺ GH SURIHVVRU GD OLFHQFLDWXUD TXH SRVVXL XP QXғPHUR PDLRU GH
HVWXGDQWHVQHJURVGRTXHREDFKDUHODGRHFRPRFDQGLGDWRDRFDUJRGHGLUHWRUHQWHQGRTXHDV
TXHVWRѺHVUHODFLRQDGDVDҒ DERUGDJHPGDFXOWXUDDIUREUDVLOHLUDWHPHQFRQWUDGRQHVWHFXUVRXP
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HVWHV HVWXGDQWHV GHYHP H[HUFHU TXDQGR VDRѺ FRQYLGDGRV D HVFROKHU XP WHPD SDUD RV VHXV
7UDEDOKRV GH &RQFOXVDѺR GH &XUVR 7&&V SDUD DV VXDV SUDғWLFDV DUWÕғVWLFRSHGDJRғJLFDV
5HODFLRQR DSHQDV DOJXQV WÕғWXORV H DXWRUHV SDUD HIHLWR GH H[HPSOLILFDFࡤDRѺ PDV RXVDULD GL]HU
TXH YLD GH UHJUD D TXHVWDRѺ LGHQWLWDғULD ID]VH SUHVHQWH QDV DERUGDJHQV GH PXLWÕғVVLPRV
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RVHVWDғJLRVHQFRQWUDPOXJDU1RDQRGH(QVLQRGRWHDWURHLGHQWLGDGHFXOWXUDOXPD
SURSRVWD PHWRGRORғJLFD GHVHQYROYLGD QR SDUTXH 6DѺR %DUWRORPHX GH *HVVHғ $OPHLGD
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HQFHQDFࡤDѺR QD &DVD GR 6RO HP &DMD]HLUDV 6DOYDGRU ± %DKLD GH 8ELUDMDUD $]HYHGR GRV
6DQWRV)LOKR(P1RғVQDFLGDGHXPDLQWHUDFࡤDѺRHQWUHWHDWURHGXFDFࡤDѺRHLGHQWLGDGH
GH9DOGÕғULD6DQWRVGH6RX]D2HQVLQRGRWHDWURHRFXPSULPHQWRGD/HLDWUDYHғV
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5RFKD Areը HQFUX]LOKDGDV GD PLQKD SHOH Metodologia de ensino do Teatro NegrR GH
-KRLOVRQ GH 2OLYHLUD (P 9DORUL]DQGRHDILUPDQGRDLGHQWLGDGHFXOWXUDOGRQHJUR
QR SURFHVVR GH HQVLQR DSUHQGL]DJHP GR WHDWUR GH 7DÕғQD $VVLV 6RDUHV (P 2 VHU
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2ORGXPKiDQRV0DVFDUUHJDYDFRPLJRDTXHODVXVSHLWDGHTXHDUHDOLGDGHGDFLGDGHQmR
VHUHIOHWLDGHPRGRGHWHUPLQDQWHQD(VFROD
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(78)%$ GH XPD PRQWDJHP TXH VHULD UHDOL]DGD SHOD &LD GH 7HDWUR GD 8)%$ H IDULD XPD
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&RP D GUDPDWXUJLD H GLUHomR GH 7RP &RQFHLomR HP FRQMXQWR FRP D
FRODERUDomRFROHWLYDGRHOHQFRQDFRQVWUXomRWH[WXDODSURGXomRWUDoDXPD
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PXOKHUHV GD ,UPDQGDGH GD %RD 0RUWH QDV IHLUDV OLYUHV H QR 6DPED GR
$FHVVDGRHPDWUDYpVGHKWWSVIRUXPQHJURHWXIEDZRUGSUHVVFRP
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5HF{QFDYR H SDVVD SRU 6DOYDGRU QD GpFDGD GH H[SRQGR PDUFRV GD
DVFHQVmRHGDGHUURFDGDGH0iULR*XVPmRQDVDUWHVGDFHQDDWpDVXDPRUWH
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+,672ғ5,$±/RQGULQD
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0HVD³&DPLQKRVURPSLGRV3HQVDPHQWRGHVFRORQLDOQRHQVLQRGH$UWH´
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GR 3HQVDPHQWR 'HVFRORQLDO )URQWHLULoR ± BioJHRJUiILFR ± WUDWDU GD GHVWLWXLomR GR ser, sentir, saber
HPDUWHVSDUDGLVFXWLURDWXDOFHQiULRGR(QVLQRGH$UWHVGRser, sentir, saberFRPRDWUDYHVVDPHQWRVH
H[SHULrQFLDV RXWURV QR (QVLQR GH $UWHV GR ser, sentir, saber SDUD URPSLPHQWR GR 3HQVDPHQWR
0RGHUQR QR(QVLQR GH $UWHV QR %UDVLO 3DUD WXGR LVVR WRPR GRlócus HQXQFLDWLYR bioJHRJUiILFR GH
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FUtWLFDDSURGXomRHRHQVLQRORFDLV±DILPGHVXVWHQWDUTXHFDPLQKRVGHYHPVHUURPSLGRVSDUDVH
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SUDWLFDUFDPLQKDUpSUHFLVRDQWHVser, sentir, saberbioJHRJUDILDV
3DODYUDVFKDYH;;9,,&21)$(%'HVFRORQLDOLGDGHBioJHRJUDILDV
(VWHWUDEDOKRpSDUWHGHXPDSHVTXLVDPDLRUTXHRDXWRUYHPGHVHQYROYHQGRGHVGHYLQFXODGDDR3URMHWR
GH3HVTXLVD³$UWHH&XOWXUDQDFrontera³3DLVDJHQV´$UWtVWLFDVHP&HQDQDV³3UiWLFDV&XOWXUDLV´6XO0DWR
*URVVHQVHV´FDGDVWUDGRQD3523380(6
'RXWRUHP$UWHV9LVXDLViUHDGHFRQFHQWUDomR)XQGDPHQWRV7HyULFRVSHOR,$8QLFDPS3URIHVVRU'(7,QD
&DGHLUD GH $UWHV 9LVXDLV QR &XUVR GH $UWHV &rQLFDV H 3URIHVVRU 3HUPDQHQWH GR 352)('8& QD 8(06
8QLYHUVLGDGH(VWDGXDOGH0DWR*URVVRGR6XO±88&*e/tGHUGR*UXSRGH3HVTXLVD1$9U(±1~FOHRGH
$UWHV 9LVXDLV HP UH9HULILFDo}HV (SLVWHPROyJLFDV ± &13T8(06 0HPEUR GR 1(&& ± 1~FOHR GH (VWXGRV
&XOWXUDLV &RPSDUDGRV ± 8)06 H GR 1~FOHR GH 3HVTXLVD (VWXGRV 9LVXDLV ± 81,&$03 (PDLO
PDUFRVEHVVD#JPDLOFRP
,QWURGXomR
'H DQWHPmR p ERP VLWXDU DR OHLWRU GH TXH PLQKD UHIOH[mR QHVWH WUDEDOKR WRPD GD
FRQVWUXomR GH FRQKHFLPHQWRV DWUDYpV H D SDUWLU GD $UWH FRPR SURGXWRUD GHVVHV 1mR
H[FOXVLYDPHQWH FRPR GLVFLSOLQD PDV FRPR DUWHIDWR FXOWXUDO SURPRWRU GH FRQKHFLPHQWRV D
SDUWLUGRVFRQKHFLPHQWRVTXHWRGDDUWHFXOWXUDHFRQKHFLPHQWRVSURGX]HP4XHURGL]HUTXH
WRPR GD $UWH GLVWDQWH GH UyWXORV H FRQFHLWRV PRGHUQRV HRX FOiVVLFRV GH $UWH 2 0RGHUQR
DTXL p UHFRQKHFLGR QD H D SDUWLU GD HGLILFDomR GR 3URMHWR 0RGHUQR (XURSHX GH
KRPRJHQHL]DomRGHPXQGRVHPWRUQRGRVVpFXORV;9H;9,FRPDFRORQL]DomRTXHSDVVDD
VHSDUDU WXGR HP ELQ{PLRV JrQHURV UDoDV H FODVVHV PDV WDPEpP DUWHV FXOWXUDV H
FRQKHFLPHQWRV(FOiVVLFRWHPDFRPSUHHQVmRDSDUWLUGDQRomRGHTXHRPXQGRRFLGHQWDOQmR
QDVFH~QLFRHH[FOXVLYDPHQWHQD*UpFLDeSUHFLVRQRVOHPEUDUGHTXHLJXDOPHQWHDRVJUHJRV
RXWUDVFXOWXUDVWDPEpPH[LVWLUDPQRSODQHWD3RUFRQVHJXLQWHPLQKDVDUJXPHQWDo}HVWDPEpP
QmR HVWDUmR VXVWHQWDQGR QHQKXPD QRomR GH KRPRJHQHLGDGH 3yVPRGHUQD LQVWDXUDGD SHOR
3URMHWRGH*OREDOL]DomRQRUWHDPHULFDQR'RPHVPRMHLWRQmRVXVFLWRFRPRmodus operandi
SDUD HVWDV SiJLQDV R FRQFHLWR GH $UWH &XOWXUD H &RQKHFLPHQWRV LJXDOPHQWH R FRQFHLWR GH
(VWpWLFD H 'LVFLSOLQD TXH VXVWHQWDP D LGHLD GH SURGXomR GH FRQKHFLPHQWRV FRP GDWD ORFDO
EDVHDGRVHPOtQJXDVHVSHFtILFDVHGRPHVPRMHLWRHPEDVDGRVQRGLUHLWRGHGHWHUPLQDGRVH[R
IiOLFR GH FRU EUDQFD PDUFDGRV SRU VLVWHPDV TXH SDUD LQFOXLU SRXFRV H[FOXL PXLWRV 3RU
~OWLPR HQWmR PLQKDV QRo}HV GH $UWH &XOWXUD H &RQKHFLPHQWRV HVWmR HPEDVDGDV HP $UWH
&XOWXUDH&RQKHFLPHQWRVEXJUHVFRV
7DLV UHIOH[}HV DTXL HVWDUmR DVVHQWDGDV HP WUrV GLUHo}HV TXH IRUDP HVWLPXODGDV SHOR
SUySULR ;;9,, &21)$(% 1HQKXPD GHODV WHP VHQWLGR GH 1RUWH SRUTXH FRPR Mi GLVVHUD
7RUUHV*DUFtDo sul é nosso norteSRULVVRQmRLQFUHPHQWRQHQKXPDLGHLDGHLPSRUWDomRVHP
$QRomRGH$UWH&XOWXUDH&RQKHFLPHQWRV%XJUHVFRVYHPVHQGRGHVHQYROYLGDDRORQJRGRV~OWLPRVDQRVD
ILP GH DOFDQoDU XPD HSLVWHPRORJLD TXH HPHUJH GH VXMHLWRV OXJDUHV HQXQFLDWLYRV H JUDILDV ± SRU FRQVHJXLQWH
bioJHRJUDILDV ± RXWURV TXH QmR IRUDP HVWmR RX VHUmR XP GLD LQVFULWRV FRPR SURGXWRUHV GH $UWH &XOWXUD H
&RQKHFLPHQWRV SHODV QRo}HV GH (VWpWLFD H 'LVFLSOLQD VLWXDGDV QRV SHQVDPHQWRV &OiVVLFR RX 0RGHUQR ¬V
IRUPXODo}HV DQWHULRUHV WLQKD QRPLQDGRDV GH ³(VWpWLFD %XJUHVFD´ RX ³(VWpWLFD RX QmR %XJUHVFD´ ± HP GRLV
HQVDLRV SXEOLFDGRV QRV &DGHUQRV GH (VWXGRV &XOWXUDLV (G 8)06 ± SRUTXH QmR WLQKD WHUPR PHOKRU SDUD
LOXVWUDUDVGLVFXVV}HVTXHFRQVHJXLVVHDOFDQoDURHQWHQGLPHQWRGRWHUPR³(VWpWLFD´QDFXOWXUD2FLGHQWDO0DVGR
DQR SDVVDGR SDUD Fi GD SDUWLFLSDomR HP XP HYHQWR HP )ORULDQySROLV IXL LQGDJDGR GR SRUTXH DLQGD XVDU XP
WHUPRWmRWUDGLFLRQDODRUHIHULUVHDSUiWLFDVTXHTXHULDPH[DWDPHQWHUHGLVFXWLOR"3RUWDQWRQHVWHDQRGH
DR SDUWLFLSDU GH XPD %DQFD GH 'HIHVD GH 0HVWUDGR QD 8)06 FKHJXHL j FRQFOXVmR GR PHOKRU WHUPR H WHQKR
SURSRVWRSHQVDUHP³&XOWXUD%XJUHVFD´HP0DWR*URVVRGR6XOVXEVWLWXLQGRDVVLP³(VWpWLFD´SRU³&XOWXUD´
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transWUDGXomR0DVFRPRGDVGLUHo}HVLQGDJRTXDORFDPLQKRSDUDR(QVLQRGH$UWHVQR
%UDVLO GLDQWH GR GHVPRQWH SURSRVWR SHOD %1&& ± %DVH 1DFLRQDO &RPXP &XUULFXODU ±
³VXJHVWmR´ GR JRYHUQRDL LPSRVWR" $LGHLD TXH SDUHFHX VHU DPSODPHQWH GLVFXWLGD LPS}H
GHVWLWXLomRGDiUHDGHFRQKHFLPHQWR$UWHSDUDWRUQiODFRQWH~GRHQTXDQWRRGHVHMRDQWLJRHUD
GLYLGLOD QR PtQLPR HP TXDWUR OLQJXDJHQV FRPR iUHDV GH FRQKHFLPHQWRV $UWHV 3OiVWLFDV
'DQoD 0~VLFD H 7HDWUR 3HUJXQWR WDPEpP FRPR GLUHomR GDV GLVFXVV}HV TXDLV RV
DWUDYHVVDPHQWRV H H[SHULrQFLDV QR (QVLQR GH $UWHV caminhos outros GHVFRORQLDLV SRU
H[HPSOR SRGHP SURSRUFLRQDU" ,QWHUURJR VREUH LVVR H[DWDPHQWH SRUTXH GHVGH RV
H[HUFtFLRVGLGiWLFRPHWRGROyJLFRVQR(QVLQRGH$UWHVGRV-HVXtWDVj$ERUGDJHP7ULDQJXODU
HQIUHQWDPRVSUREOHPDVSRULQYHVWLGDVUHDOL]DGDVSRUFDPLQKRVWRUWXRVRV12VLQXRVRVQR
(QVLQRGH$UWHV3RU~OWLPRDGLUHomRGDVUHIOH[}HVHVERoDDLQGDJDomRGHTXDLVVmRRV
FDPLQKRVTXHVHURPSHPGRHVWDGRGHFRQVFLrQFLDGRser, sentir e saberGHXPSHQVDPHQWR
GHVFRORQLDO QR (QVLQR GH $UWHV" 'HVWD DLQGD TXH VXFLQWR VHMD R HVSDoR SDUD D DERUGDJHP
SURSRQKR D UHIOH[mR FRPR FDPLQKR outro H[DWDPHQWH SRUTXH GLVFXWR $UWH &XOWXUD H
&RQKHFLPHQWRV outros FRPR SRVVLELOLGDGHV HSLVWrPLFDV SDUD R (QVLQR GH $UWHV 3RUWDQWR
WRPRGHQRo}HVGH$UWH&XOWXUDH&RQKHFLPHQWRVGRVHUVHQWLUHVDEHUSDUDDFRQVWUXomRGH
XPD SURSRVWD HSLVWrPLFD QR (QVLQR GH $UWHV DQFRUDGD QDV bioJHRJUDILDV bioVXMHLWR JHR
HVSDoRJUDILDVQDUUDWLYDVTXHHPHUJHPGRVGLIHUHQWHVVXMHLWRVHVSDoRVHSUiWLFDVDUWtVWLFDV
0LQKDV UHIOH[}HV HVWmR WHQWDQGR VXSHUDU D LGHLD GH XP SXUR SHQVDPHQWR GHVFRORQLDO
FRPRUHSURGXomRGHSDUDGLJPDVWHyULFRVPLJUDQWHV2XVHMDTXHURMiWRPDUSDUDDVUHIOH[}HV
DTXL SURSRVWDV D SDUWLU GH XP 3HQVDPHQWR 'HVFRORQLDO PDV DJRUD )URQWHLULoR ± TXH YHQKR
FKDPDQGRGHBioJHRJUiILFR±SRLVpVLWXDGRHPXPOyFXVHQXQFLDWLYRHVSHFtILFRSDUDWUDWDU
GDVTXHVW}HVDSDUWLUGDQRomRGHTXHVHPSUHQR(QVLQRGH$UWHVIH]VHDGHVWLWXLomRGRser,
sentir, saber HP DUWHV SDUD SURGXomR GH FRQKHFLPHQWR H TXH SRU LVVR WHPRV HQWmR R DWXDO
FHQiULR GR (QVLQR GH $UWHV $ LGHLD GH BioJHRJUDILD DQFRUDVH QRbioVXMHLWR JHRHVSDoR H
JUDILDQDUUDWLYDV DUWtVWLFDV DTXL SULRUL]DGDV TXH SRU FRQVHJXLQWH HVWmR UHODFLRQDGDV jV
QRo}HV GR ser, sentir, saber R PXQGR FRPR DWUDYHVVDPHQWRV H GH FDPLQKRV H H[SHULrQFLDV
RXWURV QR (QVLQR GH $UWHV GH SHUVSHFWLYD GHVFRORQLDO IURQWHLULoD 3RLV WRPDQGR GDV
6REUH D $ERUGDJHP 7ULDQJXODU FDEH XP DGHQWUR SRLV GHVGH D VXD FRQVWLWXLomR DWp D DWXDOLGDGH QD JUDQGH
PDLRULDYrVHRHPSUHJRGHVWDFRPRPpWRGRDQFRUDQGRDLQGDRVFRQWH~GRVKLVWyULFRVFRPR~QLFDVIRUPDVGH
³FRQWH[WXDOL]DUDSUHFLDUSUDWLFDU´DUWHV
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SRVVLELOLGDGHVGHSURPRomRDRVXMHLWRGRser, sentir, saberVREUHVXDVSUySULDVbioJHRJUDILDV
±LGHQWLGDGHVHVSDoRVHQDUUDWLYDV±SURPRYHUHPRVRURPSLPHQWRGR3HQVDPHQWR0RGHUQR
QR (QVLQR GH $UWHV QR %UDVLO TXH HVWi GHVGH VHPSUH GR 'HVFREULPHQWR j
FRQWHPSRUDQHLGDGH QR FRQWLQXtVPR PHWRGRORJLVPR QD FURQRORJLD QD HVFROiVWLFD
KLVWRULFLVWDV SRU QDWXUH]D LPSRVWD SRU FRQVHJXLQWH HP XP ~QLFR HVSDoR WHPSR H OtQJXD
FRPR FRQVWLWXLGRUHV GH VDEHUHV KHJHP{QLFRV FRQVHTXHQWHPHQWH HXURSHX EUDQFR H
KHWHURVVH[XDOPHQWHIiOLFR
$ DERUGDJHP GH WRGDV HVVDV TXHVW}HV DSRQWDGDV SDUWH GR PHX SUySULR lócus
HQXQFLDWLYRbioJHRJUiILFR0DWR*URVVRGR6XOFRQWUDGL]HQGRTXDOTXHULGHLDLQLFLDOGHSUiWLFD
GH LPSRUWDomR GH WHRULDV GH SUiWLFDV DUWtVWLFDV GH PHWRGRORJLDV RX GRV UHIHUHQFLDLVVHP QR
PtQLPRDJHQFLDPHQWRGHXPDtransWUDGXomRMiTXHpGHVWHOXJDUGHIURQWHLUDVLQWHUQDFLRQDLV
± %UDVLO3DUDJXDL%ROtYLD ± H OLPLWHV QDFLRQDLV ± 0DWR *URVVR GR 6XO0LQKDV *HUDLV6mR
3DXOR3DUDQi*RLiVH0DWR*URVVRGHVWH~OWLPRGHTXHPIRUDVHSDUDGRSROtWLFRHFRQ{PLFR
HFXOWXUDOPHQWHHP±RlócusGHRQGHIDORSHQVRSURGX]RHHQVLQRHP$UWHV9LVXDLV
$LQGDTXHQmRSXGHVVHVHUGLIHUHQWHDQFRURHVWDVUHIOH[}HVHPHSLVWHPRORJLDVWHyULFRFUtWLFDV
RXWUDVFXOWXUDLVSyVFRORQLDLVVXEDOWHUQLVWDVHGHVFRQVWUXWLYLVWDVDILPGHPHOKRUDEDUFDUR
REMHWRGDVTXHVW}HVR(QVLQRGH$UWHVQDFRQWHPSRUDQHLGDGHVHPSULVPDVHVFROiVWLFRVHRX
GH LPSRUWDo}HV GH GLGiWLFDV SUiWLFDV PHWRGRORJLDV RX WHRULDV 'R PHVPR PRGR WRGD D
GLVFXVVmRWRPDGDDWXDOHWDPEpPKLVWyULFDVLWXDomRGD$UWHHP0DWR*URVVRGR6XO±WHQGR
DVWHRULDVDVFUtWLFDVDVSURGXo}HVHRHQVLQRORFDLVFRPRDJrQFLDSDUDSHQVDUnaSURGXomR
RXem UHSURGXomRGHDUWHFXOWXUDHFRQKHFLPHQWRVQRORFDO±DILPGHVXVWHQWDUTXH~QLFDH
H[FOXVLYDPHQWH FDPLQKRV TXH YLVDP D WUDGLomR FkQRQHV H R XQLYHUVDO WRGRV FRQFHLWRV
IRUPXODGRV SHORV GLVFXUVRV KHJHP{QLFRV GHYHP LPHGLDWDPHQWH VHUHP URPSLGRV SDUD TXH
QRVVD SURGXomR H WUDQVPLVVmR GH FRQKHFLPHQWRV DWUDYpV H FRP D $UWH SRVVDP HQWUDU QRV
³WULOKRV GR WUHP´ 3RLV GHYHVH SDUD LVVR LQLFLDOPHQWH VXSHUDU D QRomR GH situação H ID]HU
2FXSRDWXDOPHQWHD&DGHLUDGH$UWHV9LVXDLVQRFXUVRGH$UWHV&rQLFDVQD8(06±8QLYHUVLGDGH(VWDGXDOGH
0DWR*URVVRGR6XO±PLQLVWUDQGRDVGLVFLSOLQDVGH³$UWHV9LVXDLV´H³+LVWyULDGD$UWH´QRDQR³,WLQHUiULRV
&LHQWtILFRV,,,´H³$UWH(GXFDomR´QRDQRGRFXUVRH³,WLQHUiULRV&LHQWtILFRV,9´H³$UWHH&XOWXUD5HJLRQDO´
SDUDRDQR7DOVLWXDomRDFDEDSRUPHSURPRYHUTXHVW}HVGLVFXWLGDVHGLVFXWtYHLVQR(QVLQRGH$UWHQR%UDVLO
D QHFHVVLGDGH GH XPD SUiWLFD GH HQVLQR WUDQVGLVFLSOLQDU D GHIHVD HRX GHVWLWXLomR GDV OLQJXDJHQV H iUHDV GRV
VDEHUHV HP $UWH )RUPDomR GH 3URIHVVRUHV GH $UWHV H D SHUVSHFWLYD SRU PLP PDLV DERUGDGD GH SURIHVVRU
DUWLVWDSHVTXLVDGRU VHP VHU QHFHVVDULDPHQWH QHVWD RUGHP 0DV HVWHV SRQWRV WrP TXH ILFDU SDUD XPD RXWUD
RSRUWXQLGDGHRXVHUHPEXVFDGRVHPOHLWXUDVGHRXWURVWUDEDOKRVRQGHRVGHVHQYROYRPHOKRU
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HYLGHQFLDU D QRVVD condição GH VXMHLWRV FRORQLDLV TXH WHP QDV FRLVDV DTXL SURGX]LGDV
DWUDYHVVDPHQWRV FXOWXUDLV P~OWLSORV PDV TXH PDUFDP SDUD R EHP RX SDUD R PDO DV
bioJHRJUDILDV H QHVWH FDVR QR (QVLQR GH $UWHV QmR R p GLIHUHQWH 3RLV SDUD H[SHULPHQWDU
IUXLUIRUPDUSUDWLFDUFDPLQKDUFULWLFDUWHRUL]DU±TXDOTXHUTXHVHMDRLPSHUDWLYR±pSUHFLVR
HQHFHVViULRDQWHVFRQVHJXLUser, sentir, saberbioJHRJUDILDV±VXMHLWRVHVSDoRVHQDUUDWLYDV
±SUySULDVSDUDH[SHULHQFLDUDVDOKHLDV
3RU~OWLPRSDUDVLWXDUDVUHIOH[}HVDSDUWLUGHVWDLQWURGXomRDRVWUDEDOKRVIDORDJRUD
GDV GXDV TXHVW}HV IDYRUiYHLV TXH PH FKDPDUDP D DWHQomR SDUD D FRQVWUXomR GH WRGD HVWD
UHIOH[mRDTXLHPFRQVWDQWHUHIRUPXODomRGDSULPHLUDD7HPiWLFDGHVWH;;9,,&21)$(%
TXH JUDVVD QD UXEULFD GD IUDVH ³³(QTXDQWR HVVH YHOKR WUHP DWUDYHVVD´ TXH PH SHUPLWH
VXJHULU TXHVmR RV DWUDYHVVDPHQWRV P~OWLSORV LQVWiYHLV H DJLOtVVLPRV GD FRQWHPSRUDQHLGDGH
VREUHQRVVDVLGHQWLGDGHV±QRFDVRGH0DWR*URVVRGR6XOOLWHUDOPHQWHRVDWUDYHVVDPHQWRVGH
WUiIHJRHWUiILFR±TXHFRQVWURHPDVH[SHULrQFLDVKLVWyULDVPHPyULDVVXMHLWRVHVSDoRVHSRU
FRQVHJXLQWH QDUUDWLYDV RXWURV TXH R GLVFXUVR PRGHUQR HXURSHX H SyVPRGHUQR QRUWH
DPHULFDQRORJUDUDPHORJUDPVHPSUHDSDJDU3RLV³RXWURVFDPLQKRVQDH[SHULPHQWDomRHQD
IRUPDomR GRFHQWH HP $UWH´ VmR HPHUJrQFLDV H XUJrQFLDV D ILP GH PDQXWHQomR GH QRVVRV
PHLRVGHVREUHYLYrQFLDSHODHDWUDYpVGDDUWHHGRVVDEHUHVbioJHRJUiILFRVHP$UWH
2 UHODWR GD PRGHUQLGDGH FRP VXD FDUJD VHPkQWLFD H UHWyULFD GH SURJUHVVR
LPSXOVLRQDRFRQVXPRHVIRUoDVHSRUPDQWHUDLGHLDGHTXHDKLVWyULDp~QLFDHOHYD
jRQWRORJLDTXHDLGHLDGHPRGHUQLGDGHFRQVWUyLGHVORFDHFRPSOHPHQWDDIHOLFLGDGH
FULVWm FRP D IHOLFLGDGH WHUUHQD GR FRQVXPR e SRU LVVR TXH R SURSyVLWR p D
SHUSHWXDomR GDV GHYRWDV H PRGHUQDV VXEMHWLYLGDGHV GR FRQVXPR FXMD ~QLFD
OLEHUGDGH FRQVLVWH HP HOHJHU REULJDWRULDPHQWH RV JRYHUQDQWHV TXH VXFXPELUmR
VXEPHWHQGROKHVDLGHLDGHTXHDHFRQRPLDpDFLrQFLDGRTXHH[LVWHGRTXHKiH
TXHRVLQDOGHUHDOL]DomRGHXPDYLGDPRUDOHEHPVXFHGLGDpRDF~PXORGHULTXH]D
commoditiesHSURSULHGDGHV
3DUDWUrVTXDUWRVGHSDUWHVGRPXQGRRPHUFDGRQmRpXPOXJDURQGHVH³FRQVRPH´
R VDOiULR PDV VLP XP OXJDU GH HQFRQWUR GH VRFLDELOLGDGH GH LQWHUFkPELR GH
FRPXQLGDGHV RQGH VH WUDEDOKD SDUD YLYHU H TXH QmR VH YLYH SDUD WUDEDOKDU H
FRQVXPLU0,*12/2S7UDGXomROLYUHPLQKD
³(OUHODWRGHODPRGHUQLGDGFRQVXFDUJDVHPiQWLFD\UHWyULFDGHSURJHVRLPSXOVDHOFRQVXPRVHHVIXHU]DSRU
PDQWHQHUODLGHDGHTXHODKLVWRULDHV~QLFD\GHVHPERFDHQODRQWRORJtDTXHODLGHDGHPRGHUQLGDGFRQVWUX\H
GHVSOD]D\FRPSOHPHQWDODIHOLFLGDGFULVWLDQDFRQODIHOLFLGDGHWHUUHQDOGHOFRQVXPR3RUHVRHOSURSyVLWRHVOD
SHUSHWXDFLyQ GH VXEMHWLYLGDGHV PRGHUQDV GHYRWDV GHO FRQVXPR FX\D ~QLFD OLEHUWDG FRQVLVWH HQ HOHJLU
REOLJDWRULDPHQWHDORVJREHUQDQWHVTXHVXJXLUiQVXMHWiQGRORVDODLGHDGHTXHODHFRQRPtDHVODFLHQFLDGHOR
H[LVWHQWH GH OR TXH KD\ \ TXH HO VLJQR GHO FXPSOLPLHQWR GH XQD YLGD PRUDO \ H[LWRVD HV OD DFXPXODFLyQ GH
ULTXH]DPHUFDQFtDV\SURSULHGDGHV
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-i GD VHJXQGD TXHVWmR TXH PH GHVSHUWDUD D DWHQomR UHIHUHVH DR 7tWXOR GD 0HVD
5HGRQGDTXHVHVLWXDQDLGHLDGH³&DPLQKRVURPSLGRV3HQVDPHQWRGHVFRORQLDOQRHQVLQR
GH $UWH´ SRVVLELOLWDPH WUD]HUOKHV XPD UHIOH[mR GH FXQKR DXWRELRJUiILFR SRUTXH FRPR Mi
GLVVHIDORSHQVRHSURGX]RGHVVHOXJDUGDV$UWHV9LVXDLVHWDPEpPSRUTXHPHDOHJUDSRUQmR
WRPDUPRVGDLGHLDGHUXSWXUDGHFDPLQKRV1DSHUVSHFWLYDHSLVWrPLFDGDVUHIOH[}HVTXHDTXL
exSRQKR GD UXSWXUD SUHH[LVWH XPD LGHLD GH DQWHFHGrQFLD H p WRPDGD SDUD R SHQVDPHQWR
PRGHUQR HXURSHX TXH D HQWHQGH FRPR SHUGD GH VXDV IRUoDV H GD VXD YR] SRU FDXVD GR
QDVFHGRXUR GH RXWUDV YR]HV TXH QXQFD SXGHUDP IDODU EDOEXFLDU JULWDU ± ser, sentir, saber
YR]HVTXH QXQFD VHTXHUIRUDPRXYLGDVRXWLYHUDP OLFHQoDGHVHUHPUHFRQKHFLGDV3RUTXH R
GLVFXUVR KHJHP{QLFR FRQVWLWXtGR QR 3URMHWR 0RGHUQR GR 0XQGR (XURSHX QmR RXYH YR] GH
TXHP QmR p EUDQFR PDVFXOLQR HXURSHX H IiOLFR 3RLV p DVVLP TXH VH FRQVWLWXL D LGHLD GH
2FLGHQWH DVVHQWDGD HP GLYLVmR GH JrQHUR UDoD HWQLDV FODVVHV FRUUHV VDERUHV IRUPDV
OXJDUHVGDWDVOtQJXDVKLVWyULDVHPHPyULDVHXURSHLDV
&RPR VLQDOL]DGR DWp DTXL WRUQDVH LPSRVVtYHO TXH D GLVFXVVmR VREUH D PLQKD
SHUVSHFWLYD GHVFRORQLDO IURQWHLULoD ± bioJHRJUiILFD ± GR (QVLQR GH $UWHV QmR SDVVH SHOD
SURGXomRSHVTXLVDHQVLQRGH$UWHVLJXDOPHQWHWDQJHQFLHDWHRULDSUiWLFDDUWtVWLFDHSHVTXLVD
VREUHSURFHVVRVGDV$UWHVGRPHVPRMHLWRpLPSUHVFLQGtYHOTXHHVVDVIRUPXODo}HVVREUHser,
sentir, saber SDUD R (QVLQR GH $UWHV QmR VH GLVWDQFLHP GH DOJXPD GDV GHPDLV OLQJXDJHQV
DUWtVWLFDV ( SRU FRQVHJXLQWH H QmR SRGHULD VHU GLIHUHQWHV p FRQGLomR SDUD TXH WXGR LVVR
DFRQWHoD GH PDQHLUD FRHUHQWH TXH HVVDV UHIOH[}HV DUWLFXOHPVH GD DUWH GD FXOWXUD H GRV
FRQKHFLPHQWRV JHUDGRV SHODV FXOWXUDV DSDJDGDV SHORV GLVFXUVRV KLVWRULFDPHQWH H
FRQWHPSRUkQHRV KHJHP{QLFRV $Wp SRUTXH HODERUR GHVGH VHPSUH WRGD D PLQKD GLVFXVVmR
DVVHQWDGRQDLGHLDGRDUWLVWDSURIHVVRUSHVTXLVDGRUFRPRVXMHLWRGDVDo}HVHP$UWHVSHQVDGR
3DUD WUHV FXDUWDV SDUWHV GHO PXQGR HO PHUFDGRQR HV XQ OXJDU GRQWH VH FRQVXPH HO VDODULR VLQRXQ OXJDUGH
HQFXHQWURGHVRFLDELOLGDGGHLQWHUFDPELRHQFRPXQLGDGHVGRQGHVHWUDEDMDSDUDYLYLU\QRVHYLYHSDUDWUDEDMDU
\FRQVXPLU´0,*12/2S
GH PRGR LQGLVVRFLiYHO 3RUWDQWR WUDWR GH XPD HSLVWHPRORJLD TXH WRPD GD LGHLD EDVLODU GD
JHUDomR GH FRQKHFLPHQWR D SDUWLU GRV FRQKHFLPHQWRV GRV SUySULRV VXMHLWRV SDUD RV TXDLV
SUHWHQGHPRVWUDWDUGHHVREUH$UWHV1HVVHVHQWLGRpSULPRUGLDOSDUWLUWRGDDHSLVWHPRORJLD
GRVVXMHLWRVbiosHVSDoRVJHRVJUDILDVQDUUDWLYDVVXVFLWDQGRRVSUySULRVVXMHLWRVHQYROYLGRV
QD GLVFXVVmR 3RLV HVWD VH WRUQD D ~QLFD IRUPD GH ID]HU GDU VHQWLGR jV SURGXo}HV GH $UWH
DOKHLDV ± IDOR DJRUD GDV SURGXo}HV KLVWRULFDPHQWH FRQVLGHUDGDV SHORV GLVFXUVRV GDV $UWHV ±
DRV FRQWH[WRV VRFLRFXOWXUDLV GHVVHV VXMHLWRV WUD]HQGR VHQWLGR SULPHLUR DWUDYpV GDV VXDV
SUySULDVSURGXo}HVDUWtVWLFRFXOWXUDLV(QWmRSDUDHVWDEHOHFHUHVWDRUGHPGHWUDEDOKRFRPD
$UWH pQHFHVViULRDQWHVGHWXGR GHVSLUVHGHTXDOTXHULGHLDSUHFRQFHELGDGH $UWH&XOWXUDH
&RQKHFLPHQWR LJXDOPHQWH GHVWLWXLUVH GDV LGHLDV GH FkQRQHV FOiVVLFRV WUDGLomR H PRGHORV
JHUDGRV SRU DOJXpP OXJDU RX OtQJXDV HVSHFtILFRV WRPDGRV FRPR VXSHULRUHV SULPiULRV
PHOKRUHV SXURV RX PRGHORV GD XQLYHUVDOL]DomR TXH RV GLVFXUVRV KHJHP{QLFRV FRQVHJXHP
LQVLVWHQWHPHQWHYLUSURGX]LQGRSRUPDLVGHGH]VpFXORVHTXHVmRreSURGX]LGRVQDVFXOWXUDV
SHULIpULFDV SHOR SUySULR VXMHLWR H[FOXtGR GHVVHV GLVFXUVRV TXH VH LQVFUHYHP QRV LPDJLQiULRV
GHVVHVFRPRSUySULRV
e QHVWH VHQWLGR SRU H[HPSOR TXH DV SUiWLFDV DUWtVWLFDV DV WHRULDV H PHVPR D FUtWLFD
QDV $UWHV WrP LPSRUWkQFLD QD PLQKD LGHLD GH FRQVWUXomR GH XP (QVLQR GH $UWHV GH
SHUVSHFWLYD GHVFRORQLDO SHULIpULFD bioJHRJUiILFD 3RLV WRGRV DUWLVWD SURIHVVRU SHVTXLVDGRU
VmR HP VLWXDo}HV GLVWLQWDV H ILQDOLGDGHV LJXDLV SURGXWRUHV IRUPDGRUHV H HVWXGLRVRV GDV
SURGXo}HV GDV SHVTXLVDV H GDV SRVVLELOLGDGHV PHWRGROyJLFDV GH (QVLQR HP $UWHV 2X VHMD
DUWLVWD SURIHVVRU H SHVTXLVDGRU WrP FDGD XP QD VXD HVSHFLILFLGDGH XP SDSHO GH SHVTXLVDU
HQVLQDUHSUiWLFDHP$UWH3RUFRQVHJXLQWHWRGRVWrPREULJDo}HVLJXDLVHPUHODomRj$UWHjV
&XOWXUDVHDRV&RQKHFLPHQWRVTXHSRGHPJHUDURXLPSRVVLELOLWDUDJHUDomRGHFRQKHFLPHQWRV
6REUHHVWDTXHVWmRFDEHDOHLWXUDGRPHXWH[WR³$UWLVWDSURIHVVRUSHVTXLVDGRUXPDPDWpULDHPTXHVWmRSDUD
DVDUWHV´DSUHVHQWDGRHSXEOLFDGRQRV$QDLVGD,9-$57±-RUQDGDGH$UWHV&rQLFDVGRFXUVRGH$UWHV&rQLFDV
GD8(06±
7DOYH] DTXL VH HVWDEHOHoD XP GRV SURFHVVRV PDLV GLItFHLV SDUD D JUDQGH PDLRULD GRV SURIHVVRUHV DUWLVWDV H
SHVTXLVDGRUHV GDV $UWHV WUDEDOKDU LQYHUVDPHQWH DRV SURFHVVRV FXUULFXODUHV H GLVFLSOLQDUHV HVWDEHOHFLGRV SHOR
DWXDOVLVWHPDHVFRODUDRLQYpVGHSDUWLUGDFURQRORJLDKLVWyULFDGHVGHD3Up+LVWyULDSRUH[HPSORDWpFKHJDUj
$UWH0RGHUQD±TXHpRPi[LPRDWpRQGHRFXUUtFXORSHUPLWHFKHJDUFRPPXLWRERDYRQWDGHGRSURIHVVRU±RV
VXMHLWRVTXHSURGX]HPFRQKHFLPHQWRVFRPHDWUDYpVGD$UWHGHYHPLQVWLWXLURSHUFXUVRFRQWUiULR'RFRQWH[WR
FRQWHPSRUkQHRPXQGRGR$OXQRSDUDVHFULDUDVUHODo}HVFRPRSDVVDGRKLVWyULFRGDHQD$UWHGHVHQYROYLGD
HPRXWURVOXJDUHVGRPXQGR0DVQmRpSDUWLUGHVVHFRQWH[WRGRDOXQRFRPSDUDQGRRj+LVWyULDGD$UWH,VVRpR
PHVPRTXHWUDWDU~QLFDHH[FOXVLYDPHQWHGDDUWHSURGX]LGDQDDWXDOLGDGHVRPHQWHSRUTXHGLDORJDFRPDTXHOD
DWUDYpVGDVSUySULDVYLGDV±ser, sentir, saber±GRVVXMHLWRVDRVTXDLVHVWmRLQVHULGRV1HVWD
TXHVWmRWDPEpPWRUQDVHXPGHVVHUYLoRSRUH[HPSORRSDSHOGRDUWLVWDGRSHVTXLVDGRUGR
SURIHVVRU LJXDOPHQWH GR FUtWLFR TXH UHSURGX]HP FRQFHLWRV KLVWyULDV PHPyULDV H
LJXDOPHQWH SURGXo}HV DUWtVWLFDV &OiVVLFDV HRX 0RGHUQDV QD SURGXomR DUWtVWLFD UHFRQKHFLGD
FRPR&RQWHPSRUkQHDRXQDSURGXomRUHFRQKHFLGDFRPRREUDVGD$WXDOLGDGHHSLRUDLQGD
QDVSUiWLFDVFXOWXUDLVGDVFXOWXUDVTXHVmRIRUoDGDPHQWHHVEUDQTXLoDGDVSHODVXSODQWDomRGH
VXDVP~OWLSODVFRUHVSHORVGLVFXUVRVKHJHP{QLFRVQDVVXDVSUySULDVFXOWXUDVSHULIpULFDVFRP
SHQVDPHQWRVPRGHUQRVFRQVWUXtGRVID]VpFXORVSHOR3URMHWR0RGHUQR(XURSHX
$ WRPDGD GRV GLVFXUVRV GD WHRULD GD FUtWLFD GD SURGXomR DUWtVWLFD SDUD SHQVDU QD
SURSRVWDbioJHRJUiILFDGH(QVLQRGH$UWHV±do ser, sentir e saber±HVWiUHODFLRQDGDWDPEpP
DRIDWRGHTXHWRGRVHVVHVVXMHLWRVDVVLPFRPRRSURIHVVRUSURGX]HPGLVFXUVRVHRSLQL}HV
VREUH $UWH 2X VHMD VH p SDSHO GD FUtWLFD FULWLFDU D SURGXomR DUWtVWLFD ± KLVWyULFD RX
FRQWHPSRUkQHD±DILPGHSURGX]LUGLVFXUVRVREUHDVSUiWLFDVDUWtVWLFDVGRPHVPRPRGRRp
SDSHOGDVWHRULDVLQGLVWLQWDPHQWHGDGLVFLSOLQDTXHQRVYDOKDPRVGHOD SDUDSHQVDUDV$UWHV
VXEVLGLDU DV UHIOH[}HV GR DUWLVWD GR SHVTXLVDGRU HRX GR SURIHVVRU SDUD TXH HVVHV VXMHLWRV
SURGX]DPFDGDXPDVHXPRGRGLVFXUVRVVREUHD$UWHTXHJHUDPFRQKHFLPHQWRVDSDUWLUGDV
$UWHV(SRU~OWLPRQHVWDSHUVSHFWLYDRDUWLVWDPDLVDLQGDQDFRQWHPSRUDQHLGDGHQmRHVWi
SURGX]LQGR $UWH SRU FRQVHJXLQWH QDUUDWLYDV GLVFXUVLYDV FRP VXDV REUDV GLVVRFLDGDV GH
UHIOH[}HV HSLVWHPROyJLFDV VREUH LGHQWLGDGHV OXJDUHV HVSDoRV PHPyULDV KLVWyULDV WHPSRV
HQWUH PXLWDV RXWUDV FRLVDV WHPDV TXH QmR HVWHMDP VHQGR WUDWDGRV WDPEpP SHOD FUtWLFD SHOD
WHRULDRXSHORSURIHVVRUGH$UWHV3RUWDQWRIDODUGH(QVLQRGH$UWHVDSDUWLUGHXPDSURSRVWD
HSLVWHPROyJLFDGHVFRORQLDOIURQWHLULoD±bioJHRJUiILFD±WHPTXHREULJDWRULDPHQWHOHYDUHP
FRQVLGHUDomRTXHRSURIHVVRUHVWiWDPEpPSURGX]LQGRFUtWLFDUHIOH[mRHWUDEDOKRVDUWtVWLFRV
SRULVVRGLVFXUVRVFRPHDSDUWLUGDV$UWHV'HVVHPRGRRVXMHLWRWHPWRWDOUHVSRQVDELOLGDGH
SHORGLVFXUVRTXHSURGX]TXHURGL]HURSURIHVVRUSRUH[HPSORSRGHSURGX]LUFRQKHFLPHQWR
FRPDHDSDUWLUGDVSUiWLFDVDUWtVWLFRFXOWXUDLVGRVSUySULRVVXMHLWRVRXSRGHGHXPDYH]SRU
WRGDGHVWLWXtODGHSURGXomRGHDUWHFXOWXUDHFRQKHFLPHQWRV±DVVLPFRPRYHPDFRQWHFHQGR
$VGLVFXVV}HVHIRUPXODo}HVGRSHQVDPHQWRGHVFRORQLDOIURQWHLULoRGHbioJHRJUDILDQmRVHFRQFHQWUDQR(QVLQR
GH $UWHV H[FOXVLYDPHQWH $ LGHLD p WRPDGD SDUD R (QVLQR D 3HVTXLVD H D 3URGXomR HP $UWHV GH SHUVSHFWLYD
GHVFRORQLDO4XHURGL]HUTXHVHWUDWDGHXPDHSLVWHPRORJLDTXHTXHUUHYHULILFDUGHsituaçãoSDUDcondiçãoD
QRVVDFXOWXUDGHSyVFRORQL]DGRVLPSRVWDSHORSURMHWRHSHQVDPHQWRKHJHP{QLFRVHXURSHXDLQGDLPSHUDQWHV
GHVGH TXH R %UDVLO IRL GHVFREHUWR QD JUDQGH PDLRULD GDV YH]HV ± DVVRFLDQGR WXGR TXH VH
SURGX]QDPDUJHPDRVFHQWURVDILPGH reSURGX]LUXPDFUtWLFDXPDWHRULDHXPHQVLQRGH
$UWHVHWDPEpPXPD$UWHTXHQmRSHUWHQFHDRFRQWH[WRVRFLRFXOWXUDOGRDOXQR
3DUD XPD DomR GHVWD QDWXUH]D ± DJRUD D QmR LPSRVWD FRPR situação ± PDV FRPR
condição SyVFRORQLDO REULJDQRV DUJXPHQWDU D SDUWLU GDV QRo}HV GH diferenças
sensibilidades H diversalidades 'R PHVPR MHLWR WRUQDVH IXQGDPHQWDO WUDWDU GDV LGHLDV GH
(VWpWLFD H GRV UyWXORV TXH WHPRV LPSRVWRV GH $UWH &XOWXUD &RQKHFLPHQWRV &LrQFLD
(GXFDomR H SRU FRQVHJXLQWH FRORFDUPRV HP VXVSHQVmR RV FRQFHLWRV FRQVWUXtGRV H
FRQVWLWXtGRVTXHLPSHUDPPHVPRQDVFXOWXUDVIRUDGRVHL[RV'DVdiferençasGHYHPRVWRPi
ODV ORQJH GD LGHLD GH PXOWLFXOWXUDOLVPR LQWHUFXOWXUDOLGDGH RX KLEULGLVPR FRPR HVWmR
VROLGLILFDGRVHVSHFLDOPHQWHQRHQVLQRGHPRGRJHUDO±QD(GXFDomRSDUDVHUPDLVFODUR±TXH
QmR IRJH j UHJUD R (QVLQR GH $UWHV 3RLV DWp KRMH HVVHV FRQFHLWRV VmR WRPDGRV HP SUiWLFDV
GLGiWLFRPHWRGROyJLFDV TXH ID]HP H[SRVLomR GDV GLIHUHQoDV GH PXLWRV HP FRQWUDSRVLomR j
TXDOLGDGH GH GRLV HXURSHXV H QRUWHDPHULFDQRV 1DV (VFRODV QDV *DOHULDV QRV (VSDoRV
([SRVLWLYRVHDWpQDV8QLYHUVLGDGHVLJXDOPHQWHQDSURGXomRDUWtVWLFDQDWHRULDRXQDFUtWLFD
GHDUWH±HVWRXVLWXDQGRDVTXHVW}HVWRGDVDTXLGLVFXWLGDVDSDUWLUGH0DWR*URVVRGR6XO±DV
GLIHUHQoDVVmR WRPDGDV GD LGHLD GHFRPSDUDWLYLGDGH HTXLYRFDGD TXH VXVWHQWD DV UHODo}HV GH
TXDOLGDGHHPGHWULPHQWRjTXDQWLGDGHGHGLIHUHQoDV1HVVHVHQWLGRQmRPHGHL[DPHQWLUSRU
H[HPSOR R FXUUtFXOR HVFRODU DLQGD KRMH negar FXOWXUDV VXEDOWHUQDV DIULFDQDV LQGtJHQDV H
PXLWDVRXWUDV±H[SORUDQGRDVHPGDWDVFRPHPRUDWLYDVVHPDQDLVHRXSRUXPGLDGRVTXDVH
RXWURVGLDVDQXDLVGHVSHQGLGRVjFXOWXUDEUDQFDOHWUDGDHKHWHURVVH[XDOIiOLFD±FRPRVH
HVWLYHVVH R FXUUtFXOR HVFRODU WUDEDOKDQGRDV SRU DERUGDJHQV FXOWXUDLV 4XDQGR QD JUDQGH
YHUGDGH QmR ID]HP QDGD DOpP GH FRPSDUDomR GH GLIHUHQoDV³FRLVDV´ DOLiV DV GLIHUHQoDV
FXOWXUDV H FRQKHFLPHQWRV TXH QmR VmR FRPSDUiYHLV HP EXVFD GH VHPHOKDQoDV GDV LGHLDV
IRUPDWDGDVHFDGXFDVGHDUWHFXOWXUDHFRQKHFLPHQWRVJHUDGRVHPOXJDUHVKLVWyULDVHDWUDYpV
GHOtQJXDVHVSHFtILFRV
-iGDTXHVWmRGDVVHQVLELOLGDGHVQHVWDDERUGDJHPGHVFRORQLDOIURQWHLULoDLQVFUHYHVH
WDPEpP D TXHVWmR GD FUtWLFD ELRJUiILFD TXH WHP SRVVLELOLWDGR D DPSOLDomR GD LGHLD GR ser,
1ROLYUR(QVLQRGH$UWHV;(VWXGRV&XOWXUDLVSDUDDOpPGRVPXURVGDHVFRODMiIL]XPDGLVFXVVmR
PDLV DPSOD VREUH D TXHVWmR GRV FRQFHLWRV GH PXOWLFXOWXUDOLVPR LQWHUFXOWXUDOLGDGH RX KLEULGLVPR WUDWDGRV
HTXLYRFDGDPHQWHQDVDXODVGH$UWHV
sentir e saber GHSHUVSHFWLYDGXSODSDUDSHQVDUDVSUiWLFDVHP$UWHVQmRH[FOXVLYDPHQWHQR
(QVLQR GH $UWHV 2X VHMD WDQWR GR VXMHLWR TXH SUDWLFD TXDQGR GR VXMHLWR TXH REVHUYD DV
SUiWLFDVHP$UWHVSRUFRQVHJXLQWHDTXLSHQVDQGRQR(QVLQRGH$UWHV±RSURIHVVRUHRDOXQR
± DV WUDQVIHUrQFLDV GH FRQKHFLPHQWRV TXH QmR WHP QHQKXPD UHODomR FRP WUDGLomR GH
FRQKHFLPHQWRVPDVGHFRQKHFLPHQWRVWUDGLFLRQDLVRFRUUHPVLPXOWDQHDPHQWHHVmRWRPDGDV
DVH[SHULrQFLDVYLYLGDVGHDPERVSDUDDFRQVWUXomRGHVVHVDEHUTXHpJHUDGRDSDUWLUGHVXDV
SUiWLFDVH[SHULrQFLDVKLVWyULDVHPHPyULDVSRUH[HPSORFRWLGLDQDVFRPRVPXQGRVHPTXH
YLYHP'HVVDIRUPDRXWURH[HPSORDVH[SHULrQFLDVGLiULDVpTXHPVmRWRPDGDVH[DWDPHQWH
RQGHHODVRFRUUHP3RUWDQWRDVHQVLELOLGDGHDTXLpHQWHQGLGDFRPRVHQVLELOLGDGHELRJUiILFD
HVWi LQVFULWD QD SHOH HQTXDQWR VHQVDomR FRP R PXQGR GR TXDO QyV SDUWLFLSDPRV YLYHPRV H
WURFDPRV FRQKHFLPHQWRV TXH QmR GLIHUHQWHPHQWH DFDEDP SRU SURPRYHU D LGHLD GH
bioJHRJUDILD SRLV FDGD VXMHLWR p ~QLFR FDGD HVSDoR p RFXSDGR GH IRUPD ~QLFD H DLQGD p
PLJUDQWH H SRU TXHVW}HV yEYLDV DV JUDILDVQDUUDWLYDV QmR SRGHULDP QmR SRGHP H QXQFD
SRGHUmRVHGDUQRVPHVPRVVHQWLGRVTXHLQVLVWHHPGL]HUTXHYHPVHGDQGRD+LVWyULDGD$UWH
TXHpVHPSUHFRQWDGDSHORGLVFXUVRKHJHP{QLFRHXURSHX
3RU~OWLPRGDFRQVWUXomRGDVLGHLDVTXHIRUPXODPHVWHHQWHQGLPHQWRGRser, sentir e
saber FRPR DOWHUQDWLYD RXWUD ± TXH WHQKR FKDPDGR GH bioJHRJUiILFD D ILP GH SURPRYHU D
DPSOLDomR GR ³FRQWH[WXDOL]DU DSUHFLDU SUDWLFDU´ QR (QVLQR GH $UWHV ± SHQVR DJRUD HP
diversalidades $ LGHLD HVWi DQFRUDGD DLQGD QD SRVVLELOLGDGH GH FRPSUHHQVmR GDV P~OWLSODV
GLIHUHQoDV PDV DJRUD QD LGHLD GD GLIHUHQoD FRPR GLYHUVR QmR GLIHUHQoD FRPR GLYHUJrQFLD
FRPR p JUDVVDGD QR FRQFHLWR GH GLYHUVLGDGH 'R FRQFHLWR GH GLYHUVLGDGH FRQVWLWXtGR QR
SURMHWRHXURFrQWULFRDSDUWLUGRSHQVDPHQWRHFRQGLomRGHVFRORQLDLVDLQGDVHFRPSUHHQGHDV
GLIHUHQoDV DQFRUDGDV HP XP SDQRUDPD GD YHUWLFDOLGDGH 2X VHMD DV GLIHUHQoDV FXOWXUDLV
pWQLFDVVRFLDLVGHJrQHURVUDoDVFRUFUHGRVHWFVmRDSUHVHQWDGDV±QRQRVVRFDVRQDHVFROD
QDV DXODV GH $UWHV ± GH SHUVSHFWLYD FRPSDUDWLVWD HP UHODomR jV FXOWXUDV EUDQFDV OHWUDGDV
HXURSHLDV H KHWHURVVH[XDLV IiOLFDV 3RUWDQWR RV FXUUtFXORV FRQWHPSODP HVVDV GLIHUHQoDV
UHVVDOWDQGR RV H[RWLVPRV DV SDUWLFXODULGDGHV DV SDLVDJHQV H DV LGHQWLGDGHV GHVVDV FXOWXUDV
FRPRH[WUDYDJkQFLDVYLVWDVDRVROKRVGRVGLVFXUVRVGRVEUDQFRV3RULVVRQyVWHPRVRVGLDV
HVSHFtILFRVSDUD³FHOHEUDU´GHWHUPLQDGDVFXOWXUDVGLIHUHQWHVGLYHUJHQWHVQDVHVFRODV3RUWDQWR
RFRQFHLWR GHGLYHUVLGDGHHVWiPDLVDVVRFLDGRQHVWDDERUGDJHPDSDUWLUGRHQWHQGLPHQWRGH
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GLYHUJrQFLD HQWUH DV GLIHUHQoDV TXH VmR VXEPHWLGDV PXLWDV GHVVDV FXOWXUDV GLIHUHQWHV Ki
SRXFDV FXOWXUDV UHFRQKHFLGDV FRPR SURGXWRUDV GH $UWH &XOWXUD H &RQKHFLPHQWRV SRUTXH
DPERVHVWmRDQFRUDGRVQRSHQVDPHQWR0RGHUQR(XURSHX
-i GDV GLIHUHQoDV TXDQGR WRPDGDV GR FRQFHLWR GH GLYHUVDOLGDGH DV FXOWXUDV VmR
DSUHVHQWDGDV ± DLQGD WRPR GD LGHLD GR FXUUtFXOR SDUD LOXVWUDU D TXHVWmR ± GH IRUPD
KRUL]RQWDOL]DGD4XHURGL]HUFRPLVVRTXHRFRQFHLWRGHGLYHUVDOLGDGHQmRWRPDWDPEpPGD
LGHLD GH JUXSRV HVSHFtILFRV FRPR FDUDFWHUtVWLFDV GH GLIHUHQoD ± KHWHURVVH[XDLV ELVVH[XDLV
KRPRVVH[XDLV /*%77 LQGtJHQDV DIULFDQRV QHJURV SREUH rappers IXQNHLURV
JUDILWHLURV SLQWRUHV VXMHLWRV VLWXDGRV HP GHWHUPLQDGRV OXJDUHV HVSHFtILFRV HQWUH PXLWRV
RXWURVQmRFRQVLGHUDGRVFDWHJRULDVSDUDRVGLVFXUVRVKHJHP{QLFRV±SDUDWUDWDUGHTXHVW}HVGH
$UWH&XOWXUDH&RQKHFLPHQWRV2XVHMDDRDERUGDUDVGLIHUHQoDVQRFXUUtFXORGRFRQFHLWRGH
GLYHUVDOLGDGH HVVDV GHYHP VHU WUDWDGDV QR GHFRUUHU GR FXUUtFXOR FRPR XP WRGR VHP GDWDV
HVSHFtILFDV SRLV WRGD YH] TXH DGDSWDPRV DOJXPD FRLVD p SRUTXH DTXHOH VXMHLWR SDUD D
DGDSWDomR QmR IRUD FRQVLGHUDGR QD FRQVWUXomR GHVVD ³FRLVD´ FRQVWUXtGD ± QR QRVVR FDVR R
FXUUtFXORGH$UWHV'RPHVPRMHLWRRFRQFHLWRGHGLYHUVDOLGDGHWUDWDGDVGLIHUHQoDVDQFRUDGDV
QDLGHLDGHGLYHUVRXPGLYHUVRTXHQmRVHFRPSDUDTXHQmRVHLJXDODHTXHQmRVHSURMHWDHP
XP FRUSR OXJDU RX QDUUDWLYD ~QLFRV D ILP GH SDUWLFLSDU GH GHWHUPLQDGRV GLVFXUVRV
KHJHP{QLFRVFRQVWUXtGRVHPOXJDUWHPSRHOtQJXDHVSHFtILFRV(pQHVVHVHQWLGRTXHWRGRH
TXDOTXHUOXJDUVXMHLWRHOtQJXDYmRSURGX]LU$UWH&XOWXUDH&RQKHFLPHQWRVGLIHUHQWHV12
SURGXo}HV GLIHUHQWHV WRPDGDV FRPR GLYHUJHQWHV GDV SURGXo}HV KLVWyULFDV SRUTXH QmR VmR
VXMHLWRVOXJDUHVHOtQJXDVTXHQmRWrPFXOWXUD0DVSRUTXHVmROXJDUHVTXHSURGX]HP$UWH
&XOWXUDH&RQKHFLPHQWRV1$GLIHUHQoD
$ PRGHUQLGDGH SURGX] IHULGDV SDWULDUFDLV H FRORQLDLV QRUPDV H KLHUDUTXLDV TXH
UHJXODP R JrQHUR H D VH[XDOLGDGH H UDFLVWDV QRUPDV H KLHUDUTXLDV TXH UHJXODP D
HWQLD SURPRYH R HQWUHWHQLPHQWR EDQDO H QDUFRWL]D R SHQVDPHQWR 3RUWDQWR D
WDUHIDGHID]HUSHQVDUHVHUGHVFRORQLDOpDFXUDGDIHULGDHDFRPSXOVmRFtQLFDSDUD
TXHUHUWHUOLYUDUVHGDVQRUPDVHGDVKLHUDUTXLDVPRGHUQDVpRSULPHLURSDVVRSDUD
(P GRLV DUWLJRV DSUHVHQWDGRV QR (QFRQWUR GD $13$3 ± &DPSLQDV 63 ± D GLVFXVVmR VREUH R
FRQFHLWR GH diversalidade HVWi PDLV H[SDQGLGD $OL WDPEpP DV GLVFXVV}HV GR FRQFHLWR GH ELRJHRJUDILD FRPR
PRGRVGHSHQVDUDVSUiWLFDVDUWtVWLFDVHRHQVLQRGHDUWHVWDPEpPWLYHUDPOXJDU
UHID]HU$SUHQGHUDGHVDSUHQGHUDUHDSUHQGHUGHRXWUDIRUPDpRTXHQRVHQVLQRXD
ILORVRILDGH$PDZWD\:DVL0,*12/2S7UDGXomROLYUHPLQKD
1HVVDRUGHPGDVGLVFXVV}HVRFRQFHLWRGH(VWpWLFDEHPFRPRRV³UyWXORV´PRGHUQRV
GH $UWH &XOWXUD &RQKHFLPHQWR &LrQFLD H (GXFDomR WHQGR HP YLVWD TXH WUDWR DTXL
HVSHFLILFDPHQWH GR (QVLQR GH $UWHV DFDEDP FDLQGR SRU WHUUD QD SHUVSHFWLYD GH DERUGDJHP
bioJHRJUiILFD GR VXMHLWR GD DUWH GD FXOWXUD H GRV FRQKHFLPHQWRV SURGX]LGRV GHHPSRU ±
GLIHUHQWHPHQWH GHVVHV SURGX]LGRV SRU DOJXpP SDUD HVVHV DOJXQV 3ULPHLUR SRUTXH DFDEDPRV
SRUSHUFHEHUQLWLGDPHQWHTXHVmRWRGDVIRUPXODo}HVLPSRVWDVSHORVGLVFXUVRVKHJHP{QLFRV
SURGX]LGRVQRSDVVDGRPDLVORQJtQTXR ±QDFRQVWLWXLomRGRSURMHWRKHJHP{QLFRHXURSHXGH
H[SDQVmR GRV FRQFHLWRV GH 0XQGRV 2FLGHQWDO H 2ULHQWDO ± TXH HUURQHDPHQWH VXVWHQWDP D
(VWpWLFD EDVHDGD HP EHOH]D H QmR HP VHQVDomR FRPR aiestheses $ GLIXVmR GHVVH HUU{QHR
HQWHQGLPHQWR VXVWHQWD DR ORQJR GRV PDLV GH YLQWH VpFXORV QR FDVR GR %UDVLO H GH WRGRV RV
RXWURVOXJDUHVODWLQRV±ODWLQLGDGHDJRUDHQWHQGLGRFRPRFRQFHLWRGHH[FOXVmRGRTXHQmRp
HXURSHXEUDQFRHKHWHURVVH[XDOPHQWHIiOLFR±DLGHLDGHTXHQRVVDVSURGXo}HVDUWtVWLFDVQmR
VH DQFRUDP QD EHOH]D SRU QDWXUH]D LPSRVWD SRUTXH VRPRV YLVWRV FRPR RSRVWRV DR VLVWHPD
0RGHUQR HXURSHX GH PXQGR SUHWRV SREUHV JRUGRV EDL[RV RX DOWRV GHPDLV QmR
KHWHURVVH[XDOPHQWH IiOLFRV tQGLRV HQWUH RXWUDV FDWHJRULDV GH inumanos ± ³VXMHLWRV´ TXH QmR
H[LVWHPSRUTXHQmRFRUUHVSRQGHPDRFRQFHLWRGHKRPHPFLYLOL]DGRHULJLGRSHORSHQVDPHQWR
PRGHUQRHXURSHX
'DVQRo}HVSRVWDVGH$UWH&XOWXUD&RQKHFLPHQWR&LrQFLDH(GXFDomRVmRQDHVWHLUD
GH :DOWHU 0LJQROR HPHUJHQFLDLV aprender a desaprender WXGR R TXH FRQKHFHPRV 3RLV RV
FRQFHLWRVGH$UWHH&XOWXUDSRUH[HPSORDQFRUDPVHQDLGHLDGHTXHVRPHQWHDVSURGXo}HV
UHDOL]DGDVSHODVFXOWXUDVHXURSHLDVVmRYLVWDVHWUDWDGDVFRPRSURGXo}HVGH$UWH'RPHVPR
PRGR FXOWXUD WHP H p DTXHOD TXH HPHUJH QRV OXJDUHV FRP KLVWyULD WHPSR SDVVDGR HP
OtQJXDV HVSHFtILFDV H FRQVWLWXtGD QD JUDQGH PDLRULD SRU VXMHLWRV GH ³FRU´ EUDQFD ( QmR
PXLWR GLIHUHQWH GLVVR WXGR D QRVVD QRomR GH &LrQFLD HVWi DQFRUDGD QR FRJLWR FDUWHVLDQR
³/D PRGHUQLGDG SURGXFH KHULGDV FRORFLDOHV SDWULDUFDOHV QRUPDV \ MHUDUTXtDV TXH UHJXOHQ HO JpQHUR \ OD
VH[XDOLGDG \ UDFLVWD QRUPDV \ MHUDUTXtDV TXH UHJXOHQ OD HWQLFLGDG SURPXHYH HO HQWUHWHQLPLHQWR EDQDO \
QDUFRWL]DHOSHQVDPLHQWR3RUHOORODWDUHDGHOKDFHUSHQVDU\HVWDUVLHQGRGHVFRORQLDOHVODVDQDFLyQGHODKHULGD
\ GH OD FLFLRVD FRPSXOVLyQ KDFLD HO TXHUHU WHQHU GHVSUHQGHUQRV GH ODV QRUPDV \ MHUDUTXtDV PRGHUQDV HV HO
SULPHUSDVRKDFLDHOUHKDFHUPRV$SUHQGHUDGHVDSUHQGHUSDUDUHDSUHQGHUGHRWUDPDQHUDHVORTXHQRVHQVHxy
ODILORVRILDGH$PDZWD\:DVL´0,*12/2S
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penso, logo existoTXHUHSURGX]QDFRQVFLrQFLDKXPDQDHinumana13DVLGHLDVGHTXHWRGRV
RV RXWURV OXJDUHV VXMHLWRV H OtQJXDV QmR SURGX]HP $UWH &XOWXUD H &RQKHFLPHQWR 6HULDP
HVVHV QmRKXPDQRV QR Pi[LPR FRQWLQXLGDGHV GDTXHOHV ± TXH p FRPR VRPRV UHFRQKHFLGRV
SHORVQRVVRVSUySULRVSDUHVSHULIpULFRVTXHLQVLVWHPHPQRVVXEVFUHYHUHPXPOXJDUHPXPD
LGHQWLGDGHRXHPXPDOtQJXDGRVTXDLV(X0DUFRV$QW{QLR%HVVD-2OLYHLUDSURIHVVRUDUWLVWD
SHVTXLVDGRUSHULIpULFRHOLWHUDOPHQWHPDUJLQDOGDIURQWHLUDGH06QXQFDTXLVRFXSDU
&RPR WHQWDWLYD GH LOXVWUDU WRGD HVWD HSLVWHPRORJLD SDUD XPD DWLYLGDGH SUiWLFD QR
(QVLQR GH $UWHV p QHFHVViULR HQWHQGHU TXH QmR DGLDQWD ³FRQWH[WXDOL]DU DSUHFLDU SUDWLFDU´
LQGLVWLQWDPHQWHGDIRUPDRXVLWXDomRFRPRHVVHVWUrVLPSHUDWLYRVVHGmR8PDQWHVRXGHSRLV
TXHRXWUR3RLVHQTXDQWRSUiWLFDHSLVWrPLFDTXHpYDOLGDGDSHORGLVFXUVRGD+LVWyULDGD$UWH
D $ERUGDJHP 7ULDQJXODU QD SUiWLFD GD VDOD GH DXOD FRQWLQXDUi H[FOXLQGR DV SUiWLFDV
bioJHRJUiILFDV ± GHVHQYROYLGDV SRU VXMHLWRV SUDWLFDGDV HP HVSDoRV H FRQVWUXLQGR QDUUDWLYDV
RXWUDV±TXHQmRHVWHMDPFLUFXQVFULWDVQDVKLVWyULDVKHJHP{QLFDVFRQVWUXtGDVSHORVP~OWLSORV
GLVFXUVRV KLVWyULFRV HRX FRQWHPSRUkQHRV GH $UWH &XOWXUD H &RQKHFLPHQWRV ,JXDOPHQWH RV
DOXQRV FRQWLQXDUmR QR Pi[LPR SURGX]LQGR UHOHLWXUDV GH LPDJHQV GD *UDQGH 2EUD GH $UWH
SURSRVWDV SRU SURIHVVRUHV TXH DSHQDV WUDEDOKDP D DERUGDJHP GD 3URSRVWD 7ULDQJXODU GH
SHUVSHFWLYD KLVWRULFLVWD 3RUWDQWR FRQWLQXDUmR LQVFUHYHQGR RV LQGtJHQDV DIULFDQRV DV
LGHQWLGDGHVP~OWLSODVTXHFRPS}HPDFXOWXUDEUDVLOHLUDDSDUWLUGRHTXLYRFDGRHQWHQGLPHQWR
GRVFRQFHLWRVGHPXOWLFXOWXUDOLVPRLQWHUFXOWXUDOLGDGHRXKLEULGLVPRDSDUWLUWDPEpPGDLGHLD
GHGLIHUHQoDFRPRGLYHUJrQFLDGDVFXOWXUDVHXURFrQWULFDVSRUTXHVRPHQWHDTXHODVVmRGLJQDV
GHVHUHPWRPDGDVFRPRSURGXWRUDVGH$UWH&XOWXUDH&RQKHFLPHQWRVTXHVH FRQVWLWXtUDPH
VHFRQVWLWXHPDRORQJRGRVVpFXORVUHYHUEHUDQGRSDUDRUHVWRGRPXQGRTXHGHYHQRPi[LPR
FRSLiODVHUHVSHLWiODVDOpPGHUHSURGX]LODVad eternum
'HVFRORQL]DU R ser, o sentir e o saber HP 0DWR *URVVR GR 6XO SDUD DV SUiWLFDV
DUWtVWLFRFXOWXUDLVHVWiUHODFLRQDGRDVH YROWDUSDUDDVIURQWHLUDVTXHRFXSDPDexterioridade
GRSHQVDPHQWRPRGHUQRHXURSHXSDUDYLVOXPEUDURTXHHVWiSRUGHQWURGDVbioJHRJUDILDVTXH
QRVSHUPLWHPYHURTXHVHPSUHIRUDFRORFDGRSDUDIRUDGDVFRQVWLWXLo}HVGH$UWH&XOWXUDH
$LGHLDGHinumanoDVVRFLDVHjVQRo}HVGHEiUEDURVRXVXMHLWRVQmROHWUDGRVHGHKRPHPQmRFLYLOL]DGRV
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&RQKHFLPHQWR GH OXJDUHV FRP HVVD QDWXUH]D LPSRVWD &DUDFWHUtVWLFD GD DUWH H GD FXOWXUD
GHVVH OXJDU TXH VH VLWXD QD PDUJHP 2V SURIHVVRUHV GH $UWHV QD FRQWHPSRUDQHLGDGH
QHFHVVDULDPHQWH SUHFLVDP UHFRQKHFHUVH QD FXOWXUD FRQWHPSRUkQHD SDUD SURSRUFLRQDU DRV
DOXQRV D GHVFRORQL]DomR GRV ID]HUHV GRV FRQKHFHUHV H GR KLVWRULDU DWUDYpV GDV DUWHV H GDV
FXOWXUDV GR PXQGR SDUD SURSRUFLRQDU DRV DOXQRV FRQVHJXLUHP VHU FRQKHFHU H VHQWLU VHXV
SUySULRV PXQGRV $ FRQWHPSRUDQHLGDGH LQVLVWH HP PRVWUDUQRV FRWLGLDQDPHQWH TXH QmR p
ID]HQGR D RFLGHQWDOL]DomR GRV DOXQRV FRP D YHOKD +LVWyULD GD $UWH ± TXH ILQJH LQVHULU
FRQWH~GRFRQWHPSRUkQHRHFXOWXUDODRIDODUGH&XOWXUD$IUREUDVLOHLUDRXGH&XOWXUD,QGtJHQD
QRVFXUUtFXORVUHIHUHQGDGRVQRSDVVDGRILFDDGLFDDRVSURIHVVRUHVTXHSUHIHUHPQmRWUDWDUGR
WHPSRGRViJRUDV±TXHDVDXODVGH$UWHVWRUQDUVHmRIRUPDGRUDVGHcidadãos/ãs ativos/as e
críticos/as, membros solidários e democráticos de uma sociedade solidária e democrática
3RUWDQWR GHVFRORQL]DU R ser, o sentir, o saber WHP UHODomR WDPEpP FRP UHIRUPXODUPRV RV
FXUUtFXOR PDV QmR FRPR HVWmR WHQWDQGR SURPRYHU FRP D %1&& H ID]HU HPHUJLU
HSLVWHPRORJLDVSDUDWUDWDUGHSHUVSHFWLYDRXWUDRVFRQWH~GRVGH$UWHV
3RU ILP LQIHOL]PHQWH QmR EDVWD ³FRQWH[WXDOL]DU´ ³DSUHFLDU´ H ³SUDWLFDU´ 3URSRVWD
7ULDQJXODU GH $QD 0DH %DUERVD ILJXUD VHP descolonizar/desocidentalizar RV VHUHV RV
VHQWLUHV H RV VDEHUHV SDUD ID]HU conhecer sentir pensar H ser XP VXMHLWR JHRJUiILFR
ELRJUiILFR H FXOWXUDO GHHP 0DWR *URVVR GR 6XO QDV SUiWLFDV HP $UWHV 2X VHMD D
SURSRVLomRWUDQVIHUrQFLDGHFRQKHFLPHQWRGRVFRQKHFLPHQWRV±KLVWyULFRVRXFXOWXUDLV±TXH
SURSRQKR HVWi DVVHQWDGD QD LGHLD GH TXH VHP ser, sentir, saber VREUH VHX SUySULR PXQGR
DOXQRVHSURIHVVRUHVQmRDGLDQWDFRQWH[WXDOL]DUDSUHFLDUSUDWLFDUQHQKXPDRXWUDSURGXomR
DUWtVWLFDRXFXOWXUDGHTXDOTXHURXWUR³0XQGR´2FRQMXQWRGHLPDJHQVSRVWDVQDOHJHQGDGH
ILJXUD WHQWD LOXVWUDU HVVD LGHLD PDLV FODUDPHQWH (QWHQGDDV RFRUUHQGR WDPEpP VHP
QHQKXPD VHTXrQFLD HRX RUGHP SUpHVWDEHOHFLGDV Mi TXH WUDEDOKR FRP D LGHLD GH
HVSHFLILFLGDGHV GH FDGD VXMHLWR e SUHFLVR VHU D contextualização VHU R apreciar H VHU R
praticarVHQWLUDcontextualizaçãoVHQWLURapreciarVHQWLURpraticarSDUDDVVLPVDEHUR
contextualizar VDEHU R apreciar H VDEHU R 6(8 fazer $SHQDV D SDUWLU GHVVD LGHLD p TXH D
$UWHD&XOWXUDHRV&RQKHFLPHQWRVSURGX]LGRVHP0DWR*URVVRGR6XOSRUH[HPSORTXHVmR
2FXSDU D exterioridade GR SHQVDPHQWR KHJHP{QLFR HXURSHX p R PHVPR TXH SURGX]LU $UWH &XOWXUD H
&RQKHFLPHQWRVHPGHWULPHQWRGRDYDOGRSHQVDPHQWR0RGHUQR(XURSHXFRPRYDOLGDGRUGHVVHV
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WmRHVSHFtILFRVQDVVXDVGLIHUHQoDVGLYHUVDVDVVLPFRPRRVmRDVGLIHUHQoDVGDVRXWUDVPXLWDV
SURGXo}HVDUWtVWLFDVHFXOWXUDVQRPXQGRSRGHUmRWRUQDUVHFRPSUHHQGLGRVFRPRFXOWXUDGR
ser, sentir e saber H SRU FRQVHJXLQWH VHUmR UHFRQKHFLGRVDSUHFLDGRV SHORV DOXQRV
UHFRQKHFLGRVWUDQVPLWLGRV SHORV SURIHVVRUHV FRPR $UWH &XOWXUD H &RQKHFLPHQWRV GRV
P~OWLSORVOXJDUHVTXHFLUFXQGDPDVIURQWHLUDVHOLPLWHVGHVVHVVXMHLWRVOXJDUHVJUDILDV±GDV
%,2JHRJUDILDV
)LJ'LDJUDPDLOXVWUDWLYRGD³3URSRVWD7ULDQJXODU´%$5%26$SDUDR(QVLQRGH$UWHV9LVXDLV
)RQWH2DXWRU
)LJ'LDJUDPDLOXVWUDWLYRGD3URSRVWDBIOJHRJUDILD±GHVFRORQL]DURsersentirHsaberSDUDDWUDQVPLVVmRGR
FRQKHFLPHQWR QDV$UWHV9LVXDLV
)RQWH 2DXWRU
2 GLDJUDPD WHQWD LOXVWUDU YLVXDOPHQWH D LGHLD HVFULWD GR FRQFHLWR GH (QVLQR GH $UWH 'HVFRORQLDO SRU
FRQVHJXLQWH GD $UWH 'HVFRORQLDO H GD 7HRULD GD $UWH 'HVFRORQLDO TXH p SUHFLVR VHU D contextualização VHU R
apreciar H VHU R praticar VHQWLU D contextualização VHQWLU R apreciar VHQWLU R praticar SDUD DVVLP VDEHU R
contextualizarVDEHURapreciarHVDEHUR6(8fazer
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UHVSRVWD ILUPH SDUD QyV VHMD UHFRQKHFHU HVWH OXJDU FRPR R GD VXEDOWHUQLGDGH RX R
GRVGRPLQDGRVVDEHQGRTXHHVWDPRVLPHUVRVHPXPDUHGHFRPSOH[DHKHWHURJrQHD
GHUHODo}HVVRFLDLVHTXHHPDOJXPDVFRQMXQo}HVRXHPDOJXQVHVSDoRVQmRVRPRV
GRPLQDGRVPDVSRVVLYHOPHQWHHVWDPRVPDLVSHUWRGRVGRPLQDGRUHVGRTXHjVYH]HV
TXHUHPRVUHFRQKHFHU48,17(52S7UDGXomROLYUHPLQKD
5()(5Ç1&,$6
%(66$2/,9,5$0DUFRV$QW{QLR³$UWLVWDSURIHVVRUSHVTXLVDGRUXPDPDWpULDHP
TXHVWmRQDVDUWHV´,Q$&$'Ç0,&26'2$126$/9$'25*DEULHOD$1'5$'(
'RUD2UJV,9-$57±-RUQDGDVGH$UWHV&rQLFDV±³2DUWLVWDGRFHQWH´&XUVRGH
$UWHV&rQLFDVH'DQoD8QLGDGH8QLYHUVLWiULD&DPSR*UDQGH±88&*8QLYHUVLGDGH
(VWDGXDOGH0DWR*URVVRGR6XO±8(065HDOL]DGDQRVGLDVHGHMXQKRGHDS
%(66$2/,9,5$0DUFRV$QW{QLR(QVLQRGH$UWHV;(VWXGRV&XOWXUDLVSDUDDOpPGRV
PXURVGDHVFROD6mR&DUORV3HGUR -RmR(GLWRUHV
%(66$2/,9(,5$0DUFRV$QW{QLR³BIOJHRJUDILD±GHVFRORQL]DURsersentir Hsaber
SDUDWUDQVPLVVmRGRFRQKHFLPHQWRQDV$UWHV9LVXDLV´&RPXQLFDomR$SUHVHQWDGDQR
(QFRQWURGD$13$3&DPSLQDV63S1R3UHOR
³$ YHFHV HV PX\ GLItFLO SHQVDU FXiO HV nuestro lugar HQ HO PXQGR 7DO YH] OD ~QLFD UHVSXHVWD ILUPH SDUD
QRVRWURVVHDUHFRQRFHUHVHVOXJDUFRPRHOGHODVXEDOWHUQLGDGRHOGHORVGRPLQDGRVDVDELHQGDVGHTXHHVWDPRV
LQPHUVRVHQXQDWUDPDFRPSOHMD\KHWHURJpQHDGHUHODFLRQHVVRFLDOHV\TXHHQDOJXQDVFR\XQWXUDVRHQDOJXQRV
HVSDFLRVQRVHDPRVGRPLQDGRVVLQRTXHSRVLEOHPHQWHHVWHPRVPiVFHUFDGHORVGRPLQDGRUHVGHORTXHDYHFHV
TXHUHPRVUHFRQRFHU´48,17(52S
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BBBBB³$SURGXomRDUWtVWLFDFRQWHPSRUkQHDGH0DWR*URVVRGR6XOUHVJDWHGH
³0HPyULDVHLQYHQW$d®(6´DUWtVWLFDV´&RPXQLFDomR$SUHVHQWDGDQR(QFRQWURGD
$13$3&DPSLQDV63S1R3UHOR
%(66$2/,9(,5$0DUFRV$QW{QLR³BIOJHRJUDILDV2FLGHQWDLV2ULHQWDLVLPLJUDo}HV
GRbios HGDVHSLVWHPRORJLDVDUWtVWLFDVQRfront´,Q&DGHUQRVGH(VWXGRV&XOWXUDLV
2FLGHQWH2ULHQWHPLJUDo}HVYQ&DPSR*UDQGH06(G8)06MDQMXQS
'(55,'$-DFTXHV$HVFULWXUDHDGLIHUHQoD>WUDGXomR0DULD%HDWUL]0DUTXHV1L]]DGD
6LOYD3HGUR/HLWH/RSHVH3pURODGH&DUYDOKR@HG6mR3DXOR3HUVSHFWLYD
(VWXGRVGLULJLGDSRU-*XLQVEXUJ
*Ï0(=025(123HGUR3DEOR0,*12/2:DOWHU(VWpWLFDVGHFRORQLDOHV>UHFXUVR
HOHFWUyQLFR@3HGUR3DEOR*yPH]:DOWHU0LJQROR%RJRWi8QLYHUVLGDG'LVWULWDO)UDQFLVFR
-RVpGH&DOGDV
0,*12/2:DOWHU'³3UHIDFLR´,Q3$/(502=XOPD3DUDXQDSHGDJRJLDGHFRORQLDO
HG&LXGDG$XWyQRPDGH%XHQRV$LUHV'HO6LJQRS(OGHVSUHQGLPHQWR
:DOWHU0LJQROR
0,*12/2:DOWHU'³+DELWDUORVGRVODGRVGHODIURQWHUDWHRUL]DUHQHOFXHUSRGHHVD
H[SHULHQFLD´,Q5HYLVWD,;&+(/9RO~PHQ,6DQ-RVp&RVWD5LFDS
'LVSRQtYHOHP
KWWSZZZUHYLVWDL[FKHORUJDWWDFKPHQWVB+DELWDUORVGRVODGRVDUWB
:DOWHU0LJQRORGRFSGI!±DFHVVDGRHPGHPDLRGH
0,*12/2:DOWHU'+LVWyULDVORFDLVSURMHWRVJOREDLVFRORQLDOLGDGHVDEHUHV
VXEDOWHUQRVHSHQVDPHQWHOLPLQDU7UDGXomR6RODQJH5LEHLURGH2OLYHLUD%HOR+RUL]RQWH
(GLWRUD8)0*
3$/(502=XOPD3DUDXQDSHGDJRJLDGHFRORQLDOHG&LXGDG$XWyQRPDGH%XHQRV
$LUHV'HO6LJQRS(OGHVSUHQGLPHQWR:DOWHU0LJQROR
6$1720e-XUMR7RUUHV³$VFXOWXUDVQHJDGDVHVLOHQFLDGDVQRFXUUtFXOR´,Q6,/9$
7RPD]7DGHXGD2UJ$OLHQtJHQDVQDVDODGHDXODXPDLQWURGXomRDRVHVWXGRVFXOWXUDLV
HPHGXFDomR3HWUySROLV5-9R]HV&ROHomRHVWXGRVFXOWXUDLVHP(GXFDoDRS
48,17(523DEOR3$/(502=XOPD³/DPDWUL]FRORQLDOGHSRGHUHQGLiORJR´,Q
3$/(502=XOPD3DUDXQDSHGDJRJLDGHFRORQLDOHG&LXGDG$XWyQRPDGH%XHQRV
$LUHV'HO6LJQRS(OGHVSUHQGLPHQWR:DOWHU0LJQROR
$(;3$162'$6/,&(1&,$785$6(0'$1d$0(',$d2(
(;3(5,0(17$d2$57Ë67,&$$%5,1'2&$0,1+23$5$
6$%(5(6'26(16Ë9(/1$$57(('8&$d2
/tJLD/RVDGD7RXULQKR 8)5-
5HVXPR
eDWUDYpVGHQRVVDFRUSRUHLGDGHTXHH[LVWLPRVQRPXQGR6RPRVFRPSOH[RVGLYHUVRVHFXOWXUDLV2
FRUSR p QRVVR SULPHLURHVSDoRSROtWLFR GHDomRHDWXDomR2VVDEHUHVGDFRUSRUHLGDGHVmRP~OWLSRV
HP UHGH H VH DQFRUDP QR VHQVtYHO QXPD WHLD VRPiWLFD GH H[SHULrQFLDV $V SUiWLFDV FRUSRUDLV HP
HVSHFLDO D 'DQoDVmR HVVHQFLDLV SDUDD IRUPDomRGHLQGLYtGXRVSDUDRGHVHQYROYLPHQWRGHVDEHUHV
KDELOLGDGHVSHQVDPHQWRVpWLFDOD]HUVD~GH'HVGHRVSULPHLURVWHPSRVDGDQoDHVWHYHSUHVHQWHQD
EDVH GDV GLIHUHQWHV FXOWXUDV $WUDYpV GHOD DILUPDPRV QRVVRV JHVWRV VXEOLQKDPRV QRVVRV DIHWRV H
GDPRVIRUPDDIRUoDVLQWDQJtYHLVSUHVHQWHVHPQRVVDFXOWXUD$SDUWLUGDH[SDQVmRGDV/LFHQFLDWXUDV
HP'DQoDHPWRGRRWHUULWyULRQDFLRQDOSURS}HVHUHIOHWLUVREUHFRPRDVGLVWLQWDVSUiWLFDVHSURFHVVRV
GH HQVLQR H DSUHQGL]DJHP YHP VH WUDQVIRUPDQGR FRP D DPSOLDomR GHVWH QRYR FRUSR SURILVVLRQDO
&RPR D GLYHUVLGDGH JHRJUiILFD H D DPSOLDomR GD FDSDFLWDomR SURILVVLRQDO GRV PXOWLSOLFDGRUHV GD
'DQoD WHP UHYHUEHUDGR QRV FDPSRV IRUPDO LQIRUPDO H QmR IRUPDO GH DWXDomR" $ SDUWLU GRV GDGRV
SUHVHQWHV QR 0DSHDPHQWR 1DFLRQDO GD 'DQoD SHVTXLVD GH GLDJQyVWLFR TXH LGHQWLILFRX DJHQWHV GD
GDQoD LQGLYtGXRV JUXSRV H LQVWLWXLo}HV TXH DWXDP QDV iUHDV GH IRUPDomR H SURGXomR DUWtVWLFD
SURS}HVHSHQVDUVREUHFRPRDH[SDQVmRGDV/LFHQFLDWXUDVHP'DQoDWHPDIHWDGRRGHVHQYROYLPHQWR
GD$UWH(GXFDomRQR%UDVLO&RPRWHPVHGDGRRGLiORJRFRPDVRXWUDVOLQJXDJHQVDUWtVWLFDVFRPDV
GHPDLViUHDVHFRPRDPHGLDomRHH[SHULPHQWDomRHPGDQoDWHPDEHUWRFDPLQKRSDUDDYDORUL]DomR
GRVVDEHUHVGRVHQVtYHOQRVFDPSRVHGXFDFLRQDLV"
3DODYUDVFKDYH'DQoD(GXFDomR6DEHUHVGRVHQVtYHO(GXFDomR6RPiWLFD
&RQVLGHUDo}HVVREUHR&RUSRD'DQoDHD(GXFDomR
1RVVD H[LVWrQFLD p FRUSRUDO QRVVD LGHQWLGDGH HVWi FHQWUDGD QHVWD FRQFUHWXGH H QD
H[SHULrQFLD³7XGRRTXHVHLGRPXQGRPHVPRGHYLGRjFLrQFLDRVHLDSDUWLUGHPLQKDYLVmR
SHVVRDO RX GH XPD H[SHULrQFLD GR PXQGR VHP D TXDO RV VtPERORV GD FLrQFLD QDGD
VLJQLILFDULDP´ 0(5/($83217< S$YLGDpFRQWRUQDGDSHODFRUSRUHLGDGHe
DWUDYpV GHOD TXH H[LVWLPRV )RUD GR FRUSR HVWi R HQLJPD R LQGL]tYHO R TXH QmR VDEHPRV
'RXWRUDHP$UWHVSHOD81,&$033URIHVVRUDDGMXQWRQRVFXUVRVGH'DQoDH'LUHomR7HDWUDOGD8QLYHUVLGDGH
)HGHUDO GR 5LR GH -DQHLUR ± 8)5- /tGHU H SHVTXLVDGRUD GR *UXSR GH3HVTXLVD HP 'UDPDWXUJLDV GR &RUSR H
LQWHJUDQWH GR /DERUDWyULR GH &UtWLFD H GR *UXSR GH 3HVTXLVD ,QYHVWLJDo}HV GR &RUSR &rQLFR *3,&& GR
'HSDUWDPHQWRGH$UWH&RUSRUDO'$&8)5-(PDLOOLJLDWRXULQKR#JPDLOFRP
0$726 /~FLD 1866%$80(5 *LVHOH 2UJ0DSHDPHQWRGD 'DQoD GLDJQyVWLFR GH RLWR FDSLWDLV HP
FLQFRUHJL}HVGR%UDVLO6DOYDGRU('8)%$
6RPRV FRPSOH[RV GLYHUVRV HFXOWXUDLV2FRUSRpQRVVRSULPHLURHVSDoRSROtWLFRGHDomRH
DWXDomR
³1RVVR FRUSR H WRGD D VHQVLELOLGDGH TXH HOH FDUUHJD FRQVLVWH SRUWDQWR QD IRQWH
SULPHLUDGDVVLJQLILFDo}HVTXHYDPRVHPSUHVWDQGRDRPXQGRDRORQJRGDYLGD´'8$57(
-5 S 2V VDEHUHV GD KXPDQLGDGH VmR H[SHULrQFLDV GD FRUSRUHLGDGH RV
DSUHQGL]DGRVGHQRVVDH[LVWrQFLDVXUJHPGHQRVVDSRVVLELOLGDGHGHH[SHULPHQWDURPXQGRGH
XPDSUHQGL]DGRGRVHQVtYHOHGRVVHQWLGRV
HP WRUQR GD SDODYUD sentido FRQVWHODVH XP ERP QXPHUR GH UHIHUrQFLDV j
FDSDFLGDGH KXPDQD GH DSUHHQGHU D UHDOLGDGH GH PRGR FRQVFLHQWH VHQVtYHO
RUJDQL]DGR H GLUHFLRQDGR RX LQWHQFLRQDGR FRPR GLULDP RV IHQRPHQyORJRV (P
TXH SHVH D GXSOLFLGDGH GH WHUPRV FRQYpP PHVPR QRWDU TXH HP QRVVD YLGD H[LVWH
SULPRUGLDOPHQWH XP VHQWLGR QR VHQWLGR Ki XP saber sensível LQHOXWiYHO
SULPLWLYRIXQGDGRUGHWRGRVRVGHPDLVFRQKHFLPHQWRVSRUPDLVDEVWUDWRVTXHHVWHV
VHMDP XP VDEHU GLUHWR FRUSRUDO DQWHULRU jV UHSUHVHQWDo}HV VLPEyOLFDV TXH
SHUPLWHP RV QRVVRV SURFHVVRV GH UDFLRFtQLR H UHIOH[mR ( VHUi SDUD HVVD VDEHRULD
SULPRUGLDO TXH GHYHUHPRV YROWDU D DWHQomR VH TXLVHUPRV UHIOHWLU DFHUFD GDV EDVHV
VREUH DV TXDLV UHSRXVDP WRGR H TXDOTXHU SURFHVVR HGXFDFLRQDO SRU PDLV
HVSHFLDOL]DGRTXHHOHVHPRVWUH'8$57(-5S
2VVDEHUHVGDFRUSRUHLGDGHVmRP~OWLSRVHPUHGHHVHDQFRUDPQRVHQVtYHOQXPDWHLD
VRPiWLFD GH H[SHULrQFLDV 2 WHUPR ³VRPiWLFR´ GHULYD GR JUHJR H SRGH VHU WUDGX]LGR SRU
³FRUSRYLYR´2FDPSRGDHGXFDomRVRPiWLFDIRLLQDXJXUDGRSHORILOyVRIR7KRPDV+DQQDH
VXUJHFRPRXPDDERUGDJHPWHyULFDHSUiWLFDVREUHRFRUSREDVHDGDQDFRQVFLrQFLDFRUSRUDO
QDUHFXSHUDomRHPDQXWHQomRGDVD~GHGHVHXVSUDWLFDQWHVHQDH[SHULrQFLDSRpWLFDGRFRUSR
HP PRYLPHQWR WHQGR FRPR REMHWLYR SULQFLSDO DV SRWrQFLDV GH VH PRYHU $ (GXFDomR
6RPiWLFDVH GHGLFD D WUDEDOKDU D FRUSRUHLGDGHOHYDQGRHPFRQWDDVFDUDFWHUtVWLFDVHOLPLWHV
LQGLYLGXDLV
VXJHULU PRGRV DGLFLRQDLV GH SHUFHEHU D VL PHVPR RXWUDV SHVVRDV H
UHODFLRQDPHQWRV FRP R PXQGR HP WRUQR GH XP LQGLYtGXR XVDQGR R FRUSR YLYR
WRWDOPHQWH FRUSRPHQWHVHQWLPHQWR FRPR XPD FKDYH SDUD OLGDU FRP R PHLR
DPELHQWH 2 TXH p FUtWLFR SDUD D FRPSUHHQVmR GHVVD SHUFHSomR p TXH VHMDP
HQWHQGLGRV FRPR XP WRGR VHP IUDJPHQWDomR $ PXGDQoD HP TXDOTXHU DVSHFWR
DOWHUD WRGD D FRQILJXUDomR 2EYLDPHQWH D H[SHULrQFLD GR HX FRPR XP WRGR
WUDQVFHQGHDFRQVFLrQFLDGHSDUWHVHVSHFtILFDVPDVDFRPSUHHQVmRGDVSDUWHVDMXGD
DFULDURWRGRDQLPDUDVXDPRELOLGDGHHMRJDUKDUPRQLRVDPHQWHFRPXPDPELHQWH
HPFRQVWDQWHPXGDQoD%$57(1,())S[
$V SUiWLFDV FRUSRUDLV VRPiWLFDVHPHVSHFLDODVH[SHULrQFLDVTXHHQYROYHPD'DQoD
VmRHVVHQFLDLVSDUDDIRUPDomRGHLQGLYtGXRVSDUDRGHVHQYROYLPHQWRGHVDEHUHVKDELOLGDGHV
SHQVDPHQWRVpWLFDOD]HUVD~GH'HVGHRVSULPHLURVWHPSRVDGDQoDHVWHYHSUHVHQWHQDEDVH
GDV GLIHUHQWHV FXOWXUDV $WUDYpV GHOD DILUPDPRV QRVVRV JHVWRV VXEOLQKDPRV QRVVRV DIHWRV H
GDPRVIRUPDDIRUoDVLQWDQJtYHLVSUHVHQWHVHPQRVVDFXOWXUD$VH[SHULrQFLDVVRPiWLFDVQmR
VXUJHPFRPRXPDQRYDWpFQLFDXVDGDSDUDVXEVWLWXLURVWUHLQDPHQWRVWpFQLFRVHPGDQoDPDV
SDUDDPSOLiOR$H[SHULrQFLDGD'DQoDDOX]GD(GXFDomR6RPiWLFDSRVVLELOLWDXPSURFHVVR
GHDXWRFRQKHFLPHQWRHGHGHVHQYROYLPHQWRGRVVDEHUHVGRVHQVtYHO
1D YHUGDGH VHULD LQFRPSUHHQVtYHO VH D FRQVFLrQFLD GH PLQKD SUHVHQoD QR PXQGR
QmR VLJQLILFDVVH Mi D LPSRVVLELOLGDGH GH PLQKD DXVrQFLD QD FRQVWUXomR GD SUySULD
SUHVHQoD &RPR SUHVHQoD FRQVFLHQWH QR PXQGR QmR SRVVR HVFDSDU j
UHVSRQVDELOLGDGH pWLFD QR PHX PRYHUPH QR PXQGR 6H VRX SXUR SURGXWR GD
GHWHUPLQDomR JHQpWLFD H FXOWXUDO RX GH FODVVH VRX LUUHVSRQViYHO SHOR TXH IDoR QR
PRYHUPHQRPXQGRHVHFDUHoRGHUHVSRQVDELOLGDGHQmRSRVVRIDODUHPpWLFD,VWR
QmRVLJQLILFDQHJDURVFRQGLFLRQDPHQWRVJHQpWLFRVFXOWXUDLVVRFLDLVDTXHHVWDPRV
VXEPHWLGRV 6LJQLILFD UHFRQKHFHU TXH VRPRV VHUHV condicionados PDV QmR VRPRV
determinados 5HFRQKHFHU TXH D +LVWyULD p WHPSR GH SRVVLELOLGDGH H QmR GH
determinismoTXHRIXWXURSHUPLWDVHPHUHLWHUDUpproblemáticoHQmRLQH[RUiYHO
)5(,5(S
$ H[SHULrQFLD GD GDQoD SRWHQFLDOL]D D FRQVFLrQFLD VREUH R PRYHUVH QR PXQGR $
'DQoD VH Gi D SDUWLU GH XPD RUJDQL]DomRPHWRGROyJLFDGHVDEHUHVGR FRUSRGD H[SHULrQFLD
FULDWLYD VREUH R JHVWR D DomR R PRYLPHQWR GD H[SHULPHQWDomR GH SURFHVVRV GH FULDomR H
DWXDo}HVSHUIRUPiWLFDV
³&RQKHFLPHQWRpXPSURFHVVR$RLQYpVGHWUDQVIHULURFRQKHFLPHQWRH[LVWHQWHp
QHFHVViULRFRQYLGDUDFRQVFLrQFLDSDUDDVVXPLUDSRVWXUDDWLYDVHPDTXDOpLPSRVVtYHOFULDU
FRQKHFLPHQWR´)5(,5(S&RPDVSHGDJRJLDVFRQVWUXWLYLVWDVRSDSHOGRFRUSR
/LYUHWUDGXomRGRWUHFKR³WRVXJJHVWDGGLWLRQDOPRGHVRISHUFHLYLQJRQHVHOIRWKHUSHRSOHDQGUHODWLRQVKLSVWR
WKHZRUOGDURXQGRQHXVLQJWKHOLYHERG\WRWDOO\±ERG\PLQGIHHOLQJ±DVDNH\WRFRSLQJZLWKWKHHQYLURQPHQW
« :KDW LV FULWLFDO WR FRPSUHKHQVLRQ RI WKHVH SHUFHSWLRQ LV WKDW WKH\ EH XQGHUVWRRG DV D ZKROH ± ZLWKRXW
IUDJPHQWDWLRQ &KDQJH LQ DQ\ DVSHFW FKDQJHV WKH ZKROH FRQILJXUDWLRQ 2EYLRXVO\ WKH H[SHULHQFH RI VHOI DV D
ZKROHWUDQVFHQGVWKHFRQVFLRXVQHVVRIVSHFLILFSDUWVEXWXQGHUVWDQGLQJWKHSDUWVKHOSRQHWRFUHDWHWKHZKROHWR
HQOLYHQLWVPRELOLW\DQGWRSOD\KDUPRQLRXVO\ZLWKDFRQWLQXRXVO\FKDQJLQJHQYLURQPHQW
QDHGXFDomRWRUQRXVHXPIDWRUGHH[WUHPDUHOHYkQFLD$OpPGHWUDEDOKDURFRUSRGHPDQHLUD
tPSDU D GDQoD VH XWLOL]D GD VHQVLELOLGDGH HVWpWLFD H GR ID]HU FULDWLYR SURGX]LQGR PRGRV
VLQJXODUHVGHSRVLWLYDUDHGXFDomRHDFRQVWLWXLomRH[LVWHQFLDOGRVVXMHLWRV$'DQoDDLQGDp
XPD PDQLIHVWDomR DUWtVWLFD PXLWR SHFXOLDU SRLV R REMHWR GH FULDomR H VHQVLELOL]DomR p R
SUySULRFRUSRGRVVXMHLWRVTXHYLYHQFLDPRVSURFHVVRVFULDWLYRV
'DQoDUpXPD H[SHULrQFLDFRPSOH[DTXHHQYROYHGHVFREHUWDVSURFHVVRGHFULDomR H
VtQWHVHDH[SHULrQFLDGDSHUIRUPDQFHGDDWXDomRDUWtVWLFD$VH[SHULrQFLDVSHUIRUPiWLFDVGD
'DQoDFRQWrPHPVHXSURFHVVRDH[SHULrQFLDSHGDJyJLFDHSURFHVVXDO'DPHVPDIRUPDD
'DQoD HP XP FRQWH[WR GH H[SHULrQFLD SHGDJyJLFD HGXFDWLYD WDPEpP LPSUHVFLQGH GD
H[SHULrQFLD SHUIRUPiWLFD 2 ID]HU GD GDQoD HVWi LPEULFDGR QR GLiORJR HQWUH D H[SHULrQFLD
SHGDJyJLFDHDUWtVWLFDHQWUHDDUWHHDGRFrQFLD
$SDUWLUGDVSURSRVLo}HVFrQLFDVTXHDVVHJXUDPDRGDQoDULQRVHXSDSHOGHDUWLVWD
RV DOXQRV QmR VmR GHL[DGRV QR LQILQLWR GH VHX LVRODPHQWR FULDWLYR LQGLYLGXDO 6mR
FRQYLGDGRV D WUDoDU UHODo}HV P~OWLSODV H FUtWLFDV HQWUH D DUWH D HGXFDomR H D
VRFLHGDGHRTXHDVVHJXUDDRDUWLVWDVHXSDSHOGHHGXFDGRU$VSURSRVLo}HVFrQLFDV
QmR DQWHYHQGR XPD ILQDOLGDGH FRQYLGDP RV DOXQRV DR ID]HU UHIOH[LYR H VHQVtYHO
GHPRFUDWL]DQGRDDUWHVHPFRQWXGREDQDOL]iOD2SURFHVVRGLDOyJLFRHQWUHDUWLVWD
GRFHQWHHDOXQRVWRUQDVHDVVLPYLYRSDOSiYHOHIDFWtYHO$RFRQKHFLPHQWRJHUDGR
SRU HVWD FRPXQLFDomR VXEMD] XPD UHGH GH VLJQLILFDGRV H VLJQLILFDo}HV WHFLGD QDV
LQWHUUHODo}HVHQWUHDUWHHVRFLHGDGH0$548(6S
2GHVHQYROYLPHQWRGHSURFHVVRVHGXFDFLRQDLVTXHHVWLPXODPRVDEHUVHQVtYHODWUDYpV
GD GDQoD FRQYLGDP R LQGLYtGXR D WRPDUFRQVFLrQFLDVREUHVHXPRYLPHQWRQRPXQGRVREUH
VXD H[LVWrQFLD $ FRQVFLrQFLD VREUH R FRUSR H VXDV SRWrQFLDV VREUH R FRUSR H[LVWHQFLDO H
SROtWLFRVREUHRFRUSRFRPRH[SHULrQFLDHHVFROKDHGLILFDRSURFHVVRGHXPDHGXFDomRSDUDD
DXWRQRPLD)5(,5((VWLPXODXPDHGXFDomRSDUDDOLEHUGDGHFRPEDVHHPSUiWLFDV
QmRYLROHQWDVGHFRQYtYLRHGHFRODERUDomR
$ HGXFDomR VRPiWLFD p IXQGDPHQWDO H IXQGDQWH GHVWH SURFHVVR GH YDORUL]DomR GDV
VLQJXODULGDGHV H GDV H[SHULrQFLDV $ 'DQoD p XPD iUHD GH VDEHU JHUDGRUD GD SURGXomR GH
FRQKHFLPHQWR H TXH XUJH HP VH GHVHQYROYHU H VH HVWUXWXUDU SHOD QHFHVVLGDGH GHDWXDomR QR
FDPSR HGXFDWLYR H GH YDORUL]DomR GH SDWULP{QLR LPDWHULDO QR FHQiULR QDFLRQDO $ GDQoD
HQTXDQWROLQJXDJHPDUWtVWLFDpIXQGDPHQWDOQDIRUPDomRKXPDQDHQDWUDQVIRUPDomRVRFLDO
1mR LPSRUWD VH VRPRV FRQVFLHQWHV RX QmR FRPR HGXFDGRUHV QRVVD SUiWLFD RX VHUi
SDUD D OLEHUWDomR GR KRPHP ± VXD KXPDQL]DomR RX SDUD XVD GRPHVWLFDomR ± VXD
GRPLQDomR ([DWDPHQWH SRU FDXVD GLVVR p PXLWR LPSRUWDQWH GHL[DU FODUR DV
GLIHUHQWHV IRUPDV GH DomR QR FDPSR HGXFDFLRQDO SDUD WRUQDU SRVVtYHLV QRVVDV
YHUGDGHLUDVRSo}HVHHVFROKDV)5(,5(S
3DUDLVWRQmRKiKXPDQL]DomRHOLEHUGDGHVHPLQYHVWLPHQWRQRVVDEHUHVGRVHQVtYHOGR
FRUSRQXPHQWHQGLPHQWRGHTXHHVWDVSUiWLFDVHGLILFDPRVHUHRFRUSRFRPRHVSDoRSROtWLFR
1mRKiOLEHUGDGHVHPDFRQVFLrQFLDGHFRPRPHPRYRQRPXQGRHVHPDFODUH]DGHTXHHVWH
pXPGRVDVSHFWRVHVWUXWXUDQWHVGDHGXFDomRKXPDQD
&RQVLGHUDo}HV VREUH R HQVLQR REULJDWyULR GH $UWH H D H[SDQVmR GDV /LFHQFLDWXUDV HP
'DQoDQR%UDVLO
2HQVLQRREULJDWyULRGH$UWHQR%UDVLOIRLGHWHUPLQDGRHPFRPDQRYD/HLGH
'LUHWUL]HVH%DVHV/'%(PIRUDPSXEOLFDGRVRV3DUkPHWURV&XUULFXODUHV1DFLRQDLV
3&1TXHLQFOXHPSHODSULPHLUDYH]QDKLVWyULDGRSDtVDGDQoDHPVHXUROGHGLVFLSOLQDV
(P WHQGR FRPR PHWD D HUUDGLFDomR GR DQDOIDEHWLVPR D PHOKRULD GD TXDOLGDGH GD
HGXFDomRDOpPGDYDORUL]DomRGRVSURILVVLRQDLVGHHGXFDomRIRLFULDGRR3ODQR1DFLRQDOGH
(GXFDomR 31( /HL Q $ SDUWLU GR 31( VXUJH D %DVH 1DFLRQDO &RPXP
&XUULFXODU %1&& TXH GHILQH RV REMHWLYRV GH DSUHQGL]DJHP SDUD D HODERUDomR GR SURMHWR
SHGDJyJLFR GD HVFROD H R FXUUtFXOR GDV DXODV GH HGXFDomR LQIDQWLO HQVLQR IXQGDPHQWDO H HQVLQR
PpGLR
$~OWLPDYHUVmRGD%1&&IRLVXEPHWLGDjFRQVXOWDS~EOtFDSUpYLDHDFODVVHGD'DQoDVH
PRELOL]RXSDUDVROLFLWDUDWHUDo}HVHPVXDUHGDomR(VVDVDOWHUDo}HVIRUDPHQYLDGDVSHODSODWDIRUPD
GR 0LQLVWpULR GD (GXFDomR 0(& H DWUDYpV GH FDUWDV HQGHUHoDGDV DR 0LQLVWUR GD (GXFDomR
*UDQGHSDUWHGDVUHLYLQGLFDo}HVTXHVWLRQDYDPDSUHVHQoDGRVFRQWH~GRVGHGDQoDQRkPELWRGD
(GXFDomR)tVLFD FRQVLGHUDQGR SULQFLSDOPHQWHTXHDH[SDQVmRXQLYHUVLWiULDGRVFXUVRVGHGDQoD
UHGLPHQVLRQDUDPHVWHSDQRUDPDDOpPGRIDWRGHDGDQoDQmRVHUPDLVGLVFLSOLQDREULJDWyULDQD
PDLRU SDUWH GRV FXUUtFXORV GH (GXFDomR )tVLFD QR %UDVLO 6HQGR DVVLP TXDO R VHQWLGR GRV
FRQWH~GRVGHGDQoDSHUWHQFHUHPDXPDiUHDTXHVHTXHUDUHFRQKHFHFRPRFRQWH~GRREULJDWyULR
HPVXDHVWUXWXUDFXUULFXODU"
$RUHYLVLWDUPRVDVSULQFLSDLVUHLYLQGLFDo}HVGDGDQoDQRTXHGL]UHVSHLWRDVXDDWXDomRQD
HGXFDomRQD~OWLPDGpFDGDHPHVSHFLDODVSUHVHQWHVHPWH[WRVSXEOLFDGRVSHODVSULQFLSDLVDXWRUDV
GD'DQoD(GXFDomRGHVWDFDPRV0iFLD6WUD]]DFDSSDH,VDEHO0DUTXHVSHUFHEHPRVDLQGDHVWDPRV
QRVGHSDUDPRVFRPDVPHVPDVTXHVW}HVUHLYLQGLFDGDVDQWHULRUPHQWHjH[SDQVmRXQLYHUVLWiULDHDR
31(FRPRDVFLWDGDVDVHJXLU
$$UWH(GXFDomRDLQGDSULRUL]DRHQVLQRGDV$UWHV9LVXDLV
$'DQoDFRQWLQXDIUDJPHQWDGDHQWUHGXDViUHDVD'DQoDHD(GXFDomR)tVLFD
$ 'DQoD DLQGD p H[FHVVLYDPHQWH DVVRFLDGD jV IHVWLYLGDGHV PHVPR FRP WRGDV DV
FRQTXLVWDVGDiUHDHPUHODomRDYDORUL]DomRGHVXDUHDOHVVrQFLDTXHpRSURFHVVR
$ H[SDQVmR GD HGXFDomR VXSHULRU D SDUWLU GR 3URJUDPD GH $SRLR D 3ODQRV GH
5HHVWUXWXUDomRH([SDQVmRGDV8QLYHUVLGDGHV)HGHUDLV5HXQLIRLLQLFLDGDHPHWLQKD
FRPRSULQFLSDOREMHWLYRDPSOLDURDFHVVRHDSHUPDQrQFLDQDHGXFDomRVXSHULRU$VDo}HVGR
SURJUDPDFRQWHPSODUDPRDXPHQWRGHYDJDVQRVFXUVRVGHJUDGXDomRDDPSOLDomRGDRIHUWD
GHFXUVRVQRWXUQRVDSURPRomRGHLQRYDo}HVSHGDJyJLFDVHRFRPEDWHjHYDVmRHQWUHRXWUDV
PHWDV TXH WLQKDP R SURSyVLWR GH GLPLQXLU DV GHVLJXDOGDGHV VRFLDLV QR SDtV
2 5HXQL SURPRYHX D H[SDQVmR ItVLFD DFDGrPLFD H SHGDJyJLFD GD UHGH IHGHUDO GH HGXFDomR
VXSHULRUHRVQD'DQoDWUDQVIRUPDUDPVLJQLILFDWLYDPHQWHDiUHD
$QWHV GR 5HXQL H[LVWLDP FXUVRV GH GDQoD HP FLQFR LQVWLWXLo}HV S~EOLFDV 8)%$
81,&$0381(63$58)5-H8%5$1DTXHODpSRFDWDPEpPH[LVWLDPFXUVRVGHGDQoD
HP LQVWLWXLo}HV SULYDGDV FRPR QD DQWLJD 8QLYHUVLGDGH GD &LGDGH 5- )DFXOGDGH $KHPEL
0RUXPEL 63 38& 6mR 3DXOR H QD )DFXOGDGH $QJHO 9LDQQD 5- +RMH D UHDOLGDGH GD
'DQoD HVWi FRPSOHWDPHQWH WUDQVIRUPDGD 6mR FXUVRV GH QtYHO VXSHULRU HP 'DQoD
FDGDVWUDGRV QR H0(& %DFKDUHODGRV /LFHQFLDWXUDV H XP WHFQyORJR XP PHVWUDGR
HVSHFtILFRQDiUHDR0HVWUDGRHP'DQoDGD8)%$
$ FLGDGH GR 5LR GH -DQHLUR GHVWDFDVH SRU VXD LQWHQVD H GLYHUVD FHQD GH 'DQoD
6RPHQWH QR 5LR H[LVWHP WUrV LQVWLWXLo}HV GH HQVLQR TXH RIHUHFHP FXUVRV GH /LFHQFLDWXUD H
%DFKDUHODGR QD iUHD QD 8)5- QD )DFXOGDGH $QJHO 9LDQQD H QD 8QLYHUVLGDGH &kQGLGR
0HQGHV $ 8)5- WDPEpP DSURYRX HP D FULDomR GR VHJXQGR PHVWUDGR DFDGrPLFR QD
(VWD UHODomRGHLQVWXWLo}HVSRGHQmRDEDUFDUDWRWDOLGDGHGHFXUVRVGHJUDGXDomRHPGDQoDHPLQVWLWXLo}HV
SULYDGDVQRSHUtRGRDQRGH
iUHD FRP XPD OLQKD GH SHVTXLVD LQWLWXODGD 'DQoD(GXFDomR 2 SURMHWR HVWi HP IDVH GH
DSURYDomRQD&DSHV
$ H[SDQVmR GDV /LFHQFLDWXUDV HP 'DQoD HP WRGR R WHUULWyULR QDFLRQDO UHIOHWH R
IRUWDOHFLPHQWR GD iUHD H VXD UHYHUEHUDomR QD (GXFDomR (VWH DUWLJR TXH p XPD FRQIHUrQFLD
GRFXPHQWDGD VH SURS}H D UHIOHWLU VREUH FRPR DV GLVWLQWDV SUiWLFDV H SURFHVVRV GH HQVLQR H
DSUHQGL]DJHPYHPVHWUDQVIRUPDQGRFRPDDPSOLDomRGHVWHQRYRFRUSRSURILVVLRQDO
$ H[SDQVmR GD 'DQoD VH GHX HP WRGR R WHUULWyULR QDFLRQDO H KRMH GH IRUPD LQpGLWD
WHPRV /LFHQFLDWXUDV HP 'DQoD HP WRGDV DV UHJL}HV GR %UDVLO 'LDQWH GR H[SRVWR ODQoDPRV
RXWUD LQGDJDomR &RPR D GLYHUVLGDGH JHRJUiILFD H D DPSOLDomR GD FDSDFLWDomR SURILVVLRQDO
GRVPXOWLSOLFDGRUHVGD'DQoDWHPUHYHUEHUDGRQRVFDPSRVIRUPDOLQIRUPDOHQmRIRUPDOGH
DWXDomR" &RPR WHP VH GDGR R GLiORJR FRP DV RXWUDV OLQJXDJHQV DUWtVWLFDV FRP DV GHPDLV
iUHDVHFRPRDPHGLDomRHH[SHULPHQWDomRHPGDQoDWHPDEHUWRFDPLQKRSDUDDYDORUL]DomR
GRVVDEHUHVGRVHQVtYHOQRVFDPSRVHGXFDFLRQDLV"
,QGLFDGRUHV VREUH D IRUPDomR GRV DUWLVWDV GD 'DQoD SDUDOHORV H UHIOH[}HV VREUH D
DWXDomRGDGDQoDQDHGXFDomR
$ SDUWLU GRV GDGRV SUHVHQWHV QR 0DSHDPHQWR 1DFLRQDO GD 'DQoD SHVTXLVD GH
GLDJQyVWLFRTXHLGHQWLILFRXDJHQWHVGDGDQoDLQGLYtGXRVJUXSRVHLQVWLWXLo}HVTXHDWXDPQDV
iUHDV GH IRUPDomR H SURGXomR DUWtVWLFD SURS}HVH SHQVDU VREUH FRPR D H[SDQVmR GDV
/LFHQFLDWXUDV HP 'DQoD WHP DIHWDGR D GHVHQYROYLPHQWR GD $UWH(GXFDomR QR %UDVLO
$SUHVHQWDPRVDVHJXLUDOJXQVLQGLFDGRUHVOHYDQWDGRVSHODSHVTXLVDFRPRLQWXLWRGHLQLFLDU
XPDUHIOH[mRDSDUWLUGHVVDVQRYDVEDOLVDV
1R TXH GL] UHVSHLWR j DWXDomR GRV SURILVVLRQDLV GD iUHD HP DFDGHPLDV IXQGDo}HV
DVVRFLDo}HV QR VHUYLoR S~EOLFR H QR SULYDGR D IXQomR PDLV GHFODUDGD SRU SDUWH GRV
SURILVVLRQDLVGDGDQoDIRLDGHSURIHVVRU
1RTXHWDQJHDҒ HVFRODULGDGHHIRUPDFࡤDRѺ HPGDQFࡤD7DEHODSUHYDOHFHTXH
SRVVXHP QÕғYHO VXSHULRU FRPSOHWR RX LQFRPSOHWR H[FHWR GDQFࡤD HQVLQR
PHғGLRFRPSOHWRHHVSHFLDOL]DFࡤDRѺ FRPSOHWDRXLQFRPSOHWDH[FHWRGDQFࡤD1D
IRUPDFࡤDRѺ HVSHFÕғILFD HP GDQFࡤD GRV UHVSRQGHQWHV SRVVXHP QÕғYHO VXSHULRU
FRPSOHWR RX LQFRPSOHWR HP GDQFࡤD SRғVJUDGXDFࡤDRѺ stricto sensu ± DWHғ GRX
WRUDGR FRPSOHWR HP GDQFࡤD WHࡂP FXUVR SURILVVLRQDOL]DQWH HP GDQFࡤD H RXWURV
0$726/~FLD1866%$80(5*LVHOH2UJOp. Cit.
HVSHFLDOL]DFࡤDRѺ FRPSOHWD RX LQFRPSOHWD HP GDQFࡤD &RQVLGHUDQGR R TXDQWL
WDWLYR HVSHFÕғILFR GH UHVSRQGHQWHV GH FDGD FDSLWDO QRWDVH TXH GXDV FLGDGHV DSUH
VHQWDPSHUFHQWXDLVPDLVVLJQLILFDWLYRVQDIRUPDFࡤDRѺ HVSHFÕғILFDHPGDQFࡤD6DOYDGRU
FRP GRV UHVSRQGHQWHV FRP JUDGXDFࡤDRѺ HP GDQFࡤD FRP GRXWRUDGR FRP
SHVTXLVD HP GDQFࡤD H FRP FXUVR SURILVVLRQDOL]DQWH QD DғUHD H 5LR GH
-DQHLURFRPGRVUHVSRQGHQWHVFRPJUDGXDFࡤDRѺ QDDғUHDFRPGRXWRUDGR
FRPSHVTXLVDHPGDQFࡤDHFRPFXUVRSURILVVLRQDOL]DQWHHPGDQFࡤD
$VVLP YHULILFDVH TXH RV SHUFHQWXDLV GH IRUPDFࡤDRѺ HVSHFÕғILFD HP GDQFࡤD QR TXH
WDQJH DҒ JUDGXDFࡤDRѺ DLQGDVDRѺ EDL[RV&RPUHODFࡤDRѺ DҒ IRUPDFࡤDRѺ R3ODQR6HWRULDOGD
'DQFࡤD 36' S QR HL[R ,,, ± ³'R DFHVVR´ QR VXELWHP DSRQWD
FRPR DFࡤDRѺ ³DSRLDU D LPSODQWDFࡤDRѺ GH FXUVRV GH JUDGXDFࡤDRѺ H GH SRғVJUDGXDFࡤDRѺ QDV
LQVWLWXLFࡤRѺHV SXғEOLFDV´ WHQGR FRPR PHWD D ³FULDFࡤDRѺ GH SHOR PHQRV XP FXUVR GH
JUDGXDFࡤDRѺ HP FDGD (VWDGR H 'LVWULWR )HGHUDO REVHUYDQGR R FULWHғULR GH
GHVFHQWUDOL]DFࡤDRѺ ´ 0HVPR FRP DYDQFࡤRV REWLGRV QR DࡂPELWR IHGHUDO SRU PHLR GD
DEHUWXUD GH QRYRV FXUVRV GH GDQFࡤD YLD SURJUDPD IHGHUDO GR 5HHVWUXWXUDFࡤDRѺ H
([SDQVDRѺ GDV8QLYHUVLGDGHV)HGHUDLV5(81,HRXRXWURVTXHIRUDPDEHUWRVYLDD
PRELOL]DFࡤDRѺ GD FODVVH GH GDQFࡤD FRP UHLYLQGLFDFࡤRѺHV DSUHVHQWDGDV MXQWR D RғUJDRѺ V
SXғEOLFRVFRPRIRLRFDVRGRFXUVRGD8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGH3HUQDPEXFR8)3(
VDEHVHTXHDTXDQWLGDGHGHFXUVRVGHJUDGXDFࡤDRѺ HPGDQFࡤDDLQGDQDRѺ DWLQJHWRGRVRV
HVWDGRV ([LVWHP FDGDVWUDGRV QR VLVWHPD (0(& FXUVRV GH JUDGXDFࡤDRѺ
HPLQVWLWXLFࡤRѺHVGHHQVLQRVXSHULRUVHQGROLFHQFLDWXUDVEDFKDUHODGRVHXP
WHFQRғORJR $ UHJLDRѺ 1RUGHVWH WHYH XPD VLJQLILFDWLYD DPSOLDFࡤDRѺ QD RIHUWD HVWDQGR
FRPFXUVRVHPVHWHGHVHXVHVWDGRVHDUHJLDRѺ 6XOGRSDÕғVPDLVHVSHFLILFDPHQWHR
5LR*UDQGHGR6XOHғRHVWDGRTXHSRVVXLRPDLRUTXDQWLWDWLYRGHFXUVRVQRLQWHULRU
0HVPRFRPHVVDH[SDQVDRѺ SHUFHEHVHTXHDPHWDDSRQWDGDQR36'DLQGDQDRѺ IRL
DOFDQFࡤDGD H YHULILFDVH XPD QHFHVVLGDGH GH DPSOLDFࡤDRѺ GRV FXUVRV GH GDQFࡤD
SULQFLSDOPHQWHGHOLFHQFLDWXUDHPHVWDGRVHPTXHRVPHVPRVVDRѺ LQH[LVWHQWHVHHP
FLGDGHV GR LQWHULRU GR SDÕғV YLVDQGR XPD GHVFHQWUDOL]DFࡤDRѺ 0$726
1866%$80(5SHH
$ SDUWLU GRV GDGRV DSUHVHQWDGRV DFLPD ILFD HYLGHQWH FRPR D SUHVHQoD GH FXUVRV GH
JUDGXDomRHSyVJUDGXDomRHPGDQoDHPXPDGHWHUPLQDGDORFDOLGDGHSRWHQFLDOL]DDIRUPDomR
HVSHFtILFD GRV DUWLVWDV GD iUHD GHVWD UHJLmR $ H[HPSOR DSUHVHQWDPVH RV LQGLFDGRUHV GH
6DOYDGRUH5LRGH-DQHLURFLGDGHVFRPXPTXDQWLWDWLYRGHFXUVRVGHGDQoDQDXQLYHUVLGDGH
TXH VH GHVWDFDP TXDQGR FRPSDUDGRV jV GHPDLV ORFDOLGDGHV 'HVWDFDVH D LPSRUWkQFLR GD
FRQWLQXLGDGHQDLPSOHPHQWDomRGDVPHWDVGHILQLGDVSHOR31'UHVVDOWDQGRDLPSRUWkQFLDHP
VHDPSOLDUDFDSDFLWDomRGRFHQWHQDVGHPDLVUHJL}HV
1R EORFR GH SHUJXQWDV LQWLWXODGR ³SHUILO SURILVVLRQDO´ GH UHVSRQGHQ
WHV GHFODUDP DWXDU HP RXWUDV DғUHDV DOHғP GD GDQFࡤD H DV PDLV FLWDGDV 7DEHOD
QXPDTXHVWDRѺ GHPXғOWLSODVDOWHUQDWLYDVVDRѺ DUWHVFHࡂQLFDVHGXFDFࡤDRѺ
VDXғGHHGXFDFࡤDRѺ IÕғVLFDFXOWXUDFRPXQLFDFࡤDRѺ DGPLQLV
WUDFࡤDRѺ PXғVLFDSUDғWLFDVHWHUDSLDVFRUSRUDLVHFRPHUFLDO$VGHPDLV
DғUHDVGHDWXDFࡤDRѺ GHFODUDGDVDSUHVHQWDPSHUFHQWXDLVLQIHULRUHVDHGDV
UHVSRVWDVQDRѺ VHDSOLFDPDҒTXHVWDRѺ 0$7261866%$80(5S
$SDUWLUGRVUHVXOWDGRVGHVWDFDGRVDFLPDSHUFHEHVHFRPRDGDQoDWHPGLDORJDGRFRP
DVGHPDLVOLQJXDJHQVDUWtVWLFDVHiUHDV&RQVWDWDVHDWUDYpVGRDOWRtQGLFHGHDJHQWHVGDGDQoD
TXH WDPEpP DWXDP QD HGXFDomR D SUHVHQoD GH SURILVVLRQDLV FDSD]HV GH WUDQVLWDU QDV GXDV
iUHDVHFRPLVVRRVLJQLILFDWLYRWUkQVLWRHQWUHD$UWHHD'RFrQFLD,GHQWLILFDPRVFRPLVVRD
UHODomRLPEULFDGDHQWUHDH[SHULrQFLDGHDXODVGHGDQoDHDGDSURGXomRDUWtVWLFD
&RQVLGHUDQGR DTXHOHV UHVSRQGHQWHV TXH DWXDP QDV LQVWLWXLFࡤRѺHV GH HQVLQR SXғEOLFR
H QDV LQVWLWXLFࡤRѺHV GH HQVLQR SULYDGR UHVVDOWDVH TXH D PDLRULD HQVLQD
GDQFࡤDHTXHQRVSURғ[LPRVDQRVHVVHFRQWLQJHQWHGHYHUDғ VHUDPSOLDGRHPYLUWXGHGD
DSURYDFࡤDRѺ GD /HL QR D TXDO PRGLILFD D /HL GH 'LUHWUL]HV H %DVHV GD
(GXFDFࡤDRѺ H LQFOXL D GDQFࡤD DOHғP GDV DUWHV YLVXDLV PXғVLFD H WHDWUR QRV
FXUUÕғFXORVGDHGXFDFࡤDRѺ EDғVLFD(VVDOHLUHVXOWDQWHGDDFࡤDRѺ GHYDғULDVDVVRFLDFࡤRѺHVHGH
DQRVGHOXWDQDDғUHDYHPDRHQFRQWURGDPHWDSUHYLVWDQR3ODQR6HWRULDOGD'DQFࡤD
TXH DR DERUGDU R DFHVVR DSRQWD D QHFHVVLGDGH GD GDQFࡤD HVWDU FRPR
OLQJXDJHPDUWÕғVWLFDQDHGXFDFࡤDR Ѻ EDғVLFDFRPRIRUPDGHXQLYHUVDOL]DFࡤDRѺ (YLGHQFLD
VH TXH D /HL QR HVWDEHOHFH R SUD]R GH FLQFR DQRV SDUD TXH R VLVWHPD
XQLYHUVLWDғULR SURPRYD D IRUPDFࡤDRѺ GH SURIHVVRUHV SDUD HVVD ILQDOLGDGH &RPR IRL
YLVWRQRSHUILOGRVLQGLYÕғGXRVUHVSRQGHQWHVGHVWDSHVTXLVDKDғ DQHFHVVLGDGHGHXPD
DPSOLDFࡤDRѺ GR QXғPHUR GH OLFHQFLDGRV HP GDQFࡤD SDUD TXH DTXHOHV TXH WHQKDP
LQWHUHVVH SRVVDP YLU D H[HUFHU D GRFHࡂQFLD QD HGXFDFࡤDRѺ EDғVLFD DPSOLDQGR DVVLP R
SURғSULRPHUFDGRGHWUDEDOKRGDDғUHD
$LQGD HP UHODFࡤDRѺ DRV LQGLYÕғGXRV TXH DWXDP QDV LQVWLWXLFࡤRѺHV GH HQVLQR SULYDGR
DSHQDV GHFODUDP WHU SURGXFࡤRѺHV DUWÕғVWLFDV QHVVHV ORFDLV 4XDQWR DRV WLSRV GH
SURGXFࡤRѺHV DUWÕғVWLFDV GHFODUDGDV HP TXHVWDRѺ DEHUWD DSRғV FDWHJRUL]DGDV DV
UHVSRVWDV 7DEHOD DSUHVHQWDVH D VHJXLQWH SUHGRPLQDࡂQFLD SURGX]HP
HVSHWDғFXORVHDSUHVHQWDFࡤRѺHVGHGDQFࡤDIHVWLYDLVHHVSHWDғFXORVGHILQDOGHDQR
FRUHRJUDILDV PRVWUDV H IHVWLYDLV H GDV UHVSRVWDV QDRѺ VH
DSOLFDPDҒ TXHVWDRѺ 1DVHJXQGDFDWHJRUL]DFࡤDRѺ 7DEHODFRPUHVSRVWDV
ID]HP FRUHRJUDILDV SDUDshows H HYHQWRV HVSHWDғFXORV H DSUHVHQWD FࡤRѺHV GH
GDQFࡤDHPRVWUDVHIHVWLYDLV0$7261866%$80(5S
$SDUWLUGRVGDGRVSUHVHQWHVQR0DSHDPHQWR1DFLRQDOGD'DQoDYHULILFDVHFRPRRV
DJHQWHVGD'DQoDDWXDPGHPDQHLUDGLDOyJLDFRPD(GXFDomR)LFDHYLGHQWHWDPEpPDUHODomR
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processo e ciberespaço: o ensino do teatro em campo expandido GHIHQGLGD QR DQR GH QR
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“Enquanto esse velho trem atravessa...”:
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VKRHVRIVRPHRQHHOVHDQGH[SORULQJDVLWXDWLRQWKURXJKWKDWSHUVRQ
VH\HV+DYLQJVHOHFWHGDGUDPDWLFFRQWH[W
WKHILFWLRQDOFLUFXPVWDQFHVRIWKHGUDPDWKHWHDFKHUZLOOQRZQHHGWR
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FKRRVHVDUHIRXQGLQWKHWLPHDQGSODFHRIWKHFRQWH[WDQGZLOOKDYHDQDSSURSULDWH
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Campo Grande/MS - Brasil
DE 14 A 18 DE NOVEMBRO DE 2017 275
www.confaeb.art.br | Anais 2525-880X
XXVII CONGRESSO NACIONAL DA FEDERAÇÃO DE ARTE/EDUCADORES DO BRASIL
V CONGRESSO INTERNACIONAL DOS ARTE/EDUCADORES
II SEMINÁRIO DE CULTURA E EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL
“Enquanto esse velho trem atravessa...”:
outros caminhos na experimentação e na formação docente em Arte
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DQRVHUDFRPXPVHFRQYRFDURVTXHWRFDYDPDOJXPLQVWUXPHQWRSDUDDFRPSDQKDURVGHPDLV
TXHFDQWDYDPHPJUXSR(VVDpXPDORQJDKLVWyULDTXHQmRYDLSRUpPVHUDTXLFRQWDGDSRLV
RHVSDoRTXHVHRFXSDQmRWUDWDHVSHFLILFDPHQWHGRRQWHPPDVGDFRQWHPSRUDQHLGDGH
0DV PHVPR TXH GHPDQHLUD OLJHLUDpSUHFLVRGL]HUTXHFRPDVUHIRUPDVGHHQVLQR
EUDVLOHLUDV D SDUWLU GH D P~VLFD SHUGHX VHX HVSDoR H[FOXVLYR H MXQWRXVH D RXWUDV
OLQJXDJHQV R TXH SURYRFRX QR PHLR PXVLFDO FHUWD UHYROWD PDV VREUHWXGR XPD IRUWH
LQFRPSUHHQVmR H XPD JUDQGH GLILFXOGDGH GH DGDSWDomR DR QRYR PRGHOR $R PHVPR WHPSR
TXH DV $UWHV &rQLFDV H DV $UWHV 3OiVWLFDV FHOHEUDYDP R OXJDU FRQTXLVWDGR QD IRUPDomR GH
FULDQoDV H MRYHQV D 0~VLFD VH ODPHQWDYD GR HVSDoR SHUGLGR FRQTXLVWDGR QDFLRQDOPHQWH j
pSRFD GH 9LOOD/RERV (VVD H[LVWrQFLD FRQMXQWD GDV OLQJXDJHQV DUWtVWLFDV FRQWLQXRX FRP D
DWXDO/'%(1GHTXHVHSRUXPODGRUHVWLWXLXDHODVRVWDWXVSHUGLGRGHFRPSRQHQWH
FXUULFXODU SHOR RXWUR PDQWHYH R DUUDQMR GD /HL DQWHULRU GH PDQWrODV XQLGDV QXP ~QLFR
KRUiULR GR FURQRJUDPD HVFRODU (PERUD HVVHV IDWRV QHP VHPSUH VHMDP FRQKHFLGRV p
LPSRUWDQWHTXHVHMDPOHPEUDGDVDVFLUFXQVWkQFLDVKLVWyULFDVTXHIL]HUDPD0~VLFDVHHQFROKHU
H WHU GLILFXOGDGH GH VH OLJDU jV RXWUDV iUHDV )HOL]PHQWH Ki PXLWRV LQGtFLRV GH TXH HVVD
TXHVWmRHVWiVHQGRVXSHUDGD
0DVDOpPGHVVHKDYLDDLQGDRXWURIDWRUTXHLPSHGLDD0~VLFDGHVHGHVHQYROYHUQR
kPELWR GD HGXFDomR EiVLFD ± R IDWR GHR Q~PHUR GH SURIHVVRUHV OLFHQFLDGRV HP 0~VLFD QR
%UDVLOVHUGUDPDWLFDPHQWHLQIHULRUjGHPDQGDRTXHPRVWUDDLQGDKRMHXPGpILFLWSURIXQGR
QDSUHVHQoDGHVVDOLQJXDJHPDUWtVWLFDQDHVFRODDQmRVHUDTXHODLQIRUPDOHHVSRQWDQHDPHQWH
WUD]LGDSRURXWURVSURIHVVRUHVTXHGHFLGHPFRORFiODHPVXDVDXODVPHVPRTXHYHQKDPGH
RXWUDIRUPDomRWHQKDPRXWUDHVSHFLDOLGDGH
(VVH FRQMXQWR GH FLUFXQVWkQFLDV DSRQWD SDUD D QHFHVVLGDGH GH VH HVFODUHFHU R TXH VH
HQWHQGH SRU P~VLFD TXDO p D VXD LPSRUWkQFLD QD HVFROD HP WRGRV RV QtYHLV GD HGXFDomR
EiVLFD TXH SDSHO SRGH GHVHPSHQKDU QR FRQWH[WR HGXFDFLRQDO TXHVW}HV IXQGDPHQWDLV FMDV
UHVSRVWDVSRGHPDSRQWDUSDUD R IRUWDOHFLPHQWRGD0~VLFDQDHVFROD0DVQHVVHVHQWLGRD
FODVVH GRV SURIHVVRUHV GH 0~VLFD WHQGH DLQGD D SDWLQDU SRLV DWp FHUWR SRQWR GHPRUD D
SHUFHEHUDLPSRUWkQFLDGDGLVFXVVmRDFHUFDGDVOLQJXDJHQVDUWtVWLFDVQDHVFROD(VHSRXFRV
P~VLFRV FRQVHJXHP HQ[HUJDU HVVDV TXHVW}HV FRP FODUH]D FRPR HVSHUDU TXH RV GHPDLV
SURILVVLRQDLVGRHQVLQRDVDXWRULGDGHVHVFRODUHVHDSUySULDVRFLHGDGHFRPSUHHQGDPRTXHD
P~VLFDSRGH ID]HU SHOR GHVHQYROYLPHQWRGRVHUKXPDQR"&RPRSURSRUDWLYLGDGHVIDFWtYHLV
TXHOHYHPDRUHFRQKHFLPHQWRGDVFRQGLo}HVGDGDVHIDoDPRVSURIHVVRUHVVHVHQWLUHPFDSD]HV
GHUHLQYHQWDUDVDXODVGH0~VLFD"
(QTXDQWR LVVR RFRUUH QR LQWHULRU GD HVFROD WHPVH KRMH FRPR SDQR GH IXQGR XPD
VLWXDomR EDVWDQWH SHFXOLDU KRMH p PXLWR GLItFLO HQFRQWUDUVH DOJXpP TXH QXQFD WHQKD WLGR
FRQWDWR FRP D P~VLFD SRLV HOD SRYRD R DPELHQWH HP TXH VH YLYH PHVPR TXH GH PRGR
LQIRUPDO1mRKiXPVyOXJDUTXHVHIUHTXHQWHTXHQmRWHQKDP~VLFD0DVHVVDP~VLFDpHP
JUDQGHSDUWHGDVYH]HVUHVXOWDGRGHLQWHUHVVHVFRPHUFLDLVGLYXOJDGDQDPtGLDHOHWU{QLFDHP
SURJUDPDV GH UiGLR H WY RX HP VKRZV H YmR UDSLGDPHQWH VH DOWHUDQGR HP IXQomR GH
LQWHUHVVHV RXWURV EHP GLVWDQWHV GRV LQWHUHVVHV GD DUWH 1D YHUGDGH D P~VLFD VH WRUQRX
SULRULWDULDPHQWH SURGXWR GH FRQVXPR REMHWR GH FRELoD GD LQG~VWULD FXOWXUDO H HP JUDQGH
SDUWHGDVYH]HVYLVWDXQLFDPHQWHFRPRIRQWHGHOD]HUHHQWUHWHQLPHQWR(VVHFRQFHLWR~QLFR
p FRP IUHTXrQFLD WUDQVSRVWR SDUD D HVFROD TXH PXLWDV YH]HV WHQGH D DGRWDU D LGHLD GH
P~VLFD H[FOXVLYDPHQWH FRPR GLYHUVmR H SDVVDWHPSR 1mR p LQFRPXP TXH VH SURSRQKD DRV
HVWXGDQWHV RXYLU P~VLFD GHSRLV GH XPD LPSRUWDQWH DXOD GH RXWUR FRPSRQHQWH FXUULFXODU GH
)tVLFDRX0DWHPiWLFDSRUH[HPSORSDUDTXHSRVVDPHQILPGHVFDQVDUHJR]DUGHPRPHQWRV
GHGHVFRQWUDomR(KiDVIHVWDVTXHVHPSUHSUHFLVDPWHUP~VLFD0DLVGLYHUVmRTXHHPJHUDO
UHSURGX] RV PRGHORV HQFRQWUDGRV QRV PHLRV GH FRPXQLFDomR H HP VKRZV TXH D LQG~VWULD
FXOWXUDO SURPRYH (VVH PRGHOR QmR FKHJD DR HQWHQGLPHQWR GD P~VLFD FRPR OLQJXDJHP H
SRUWDQWR QmR D Yr FRPR XP 'LUHLWR GR FLGDGmR ,PS}H PRGHORV ~QLFRV VRE RV TXDLV VH
HVFRQGHPLQWHUHVVHVFRPHUFLDLV
0DVD0~VLFDYDLPXLWRDOpPGRHVSDoRFRPHUFLDOTXHDLQG~VWULDFXOWXUDOOKHGHVWLQD
(ODpXPDOLQJXDJHPTXHDWpPXLWRSRXFRWHPSRDWUiVHVWDYDHVSRQWDQHDPHQWHSUHVHQWHHP
WRGRV RV VHJPHQWRV GD VRFLHGDGH H HPHVWUHLWDFRUUHVSRQGrQFLDFRPVHXVDQVHLRV HYDORUHV
(OD DWHQGLD DRV LQWHUHVVHV GH SHVVRDV GHWRGDV DV LGDGHV H FRQGLo}HV VRFLDLV 1mR TXH HVVDV
PDQLIHVWDo}HVWHQKDPGHL[DGRGHH[LVWLUPDVKRMHVHPRVWUDPHQIUDTXHFLGDHPXLWDVGHODV
QHPPDLVVmRHQFRQWUDGDV2DWXDODUWLILFLDOLVPRHGLUHFLRQDPHQWRQDGLYXOJDomRGDP~VLFD
HPSREUHFH D SRSXODomR HP JHUDO H PXLWDV YH]HV D SULYD GH SDVVDU SRU H[SHULrQFLDV
VLJQLILFDWLYDVHPVXDYLGD
3UHRFXSDVDEHUTXHHPERUDLPSRUWDQWHHVVDTXHVWmRUDUDPHQWHVHMDWUDWDGDQDHVFROD
WDOYH] SRU QHP VHTXHU VHU FRQKHFLGD SHORV PHPEURV GD FRPXQLGDGH HVFRODU 0DV PHVPR
TXDQGR pSRU VHUQDWXUDOL]DGD SRXFDVYH]HVVHWRUQDREMHWRGHUHIOH[mR eDVVLPSRUTXHp
DVVLPHQDGDVHSRGHID]HUDHVVHUHVSHLWR6HULDGHVHMiYHOTXHHVWDVTXHVW}HVIRVVHPYLVLWDGDV
HSHQVDGDVSHOD HVFRODHSRUVHXVPHPEURVGRFHQWHVHGLVFHQWHVSDUDTXHDLPSRUWkQFLDGD
P~VLFDSDUDRVHUKXPDQRIRVVHUHFRQKHFLGDHDVVLPOKHIRVVHDVVHJXUDGRHVSDoRHIHWLYRQR
FXUUtFXOR 2 SDSHO GD 0~VLFD QD HVFROD QmR p IRUPDU LQVWUXPHQWLVWDV PDV FRQWULEXLU SDUD D
IRUPDomRGHFLGDGmRVVHQVtYHLVDRVRPHjP~VLFD(ODWHPRSRGHUGHIDFLOLWDURGLiORJRFRP
DFRPXQLGDGHHVFRODUH SHUPLWLUTXHSRUVHXLQWHUPpGLRVHDWXHQDGLYHUVLGDGHUHILQHPVH
SHUFHSo}HV DSXUHPVH VHQVLELOLGDGHV UHVSHLWHPVH PXWXDPHQWH JUDQGHV SDVVRV SDUD TXH D
0~VLFDXOWUDSDVVHLQWHUHVVHVLPHGLDWRVHVHMDYLVWDFRPRDUWH
2 SURSyVLWR GDV DXODV GH0P~VLFD QD HGXFDomR EiVLFD SRUWDQWR p FRQWULEXLU SDUD D
IRUPDomRHRGHVHQYROYLPHQWRGRVHVWXGDQWHVDSXUDUVXDHVFXWDVHQVtYHODEULUSRUWDVSDUDD
H[SUHVVLYLGDGH DSHUIHLoRDU VXD FDSDFLGDGH GH FRPXQLFDomR IDYRUHFHU D LQWHJUDomR QD
VRFLHGDGHHRFXOWLYRGDOLEHUGDGHHGDDXWRULD
&DQWDU EDWHU SDOPDV RX SpV WUDEDOKDU SURFHGLPHQWRV GH HVFXWD GR
DPELHQWHVRQRURFRQVWUXLULQVWUXPHQWRVPXVLFDLVGHPDQHLUDDUWHVDQDOJUDYDU
HYHQWRVVRQRURVGDHVFRODRXGRHQWRUQRPDQLIHVWDo}HVDUWtVWLFDVWtSLFDVGHVHX
WHPSRHHVSDoRUHIOHWLUHDWXDUGHPRGRDXWRUDOVmRDo}HVTXHFRQWULEXHPSDUD
D DPSOLDomR GR UHSHUWyULR PXVLFDO SHUPLWLQGR jDR HGXFDQGDR FRQKHFHU H
DSURIXQGDU VXDV UHIHUrQFLDV PXVLFDLV H FRQVWUXLU SURMHWRV LQWHUGLVFLSOLQDUHV
TXH GLDORJXHP FRP RXWUDV OLQJXDJHQV H iUHDV GH FRQKHFLPHQWR 6mR 3DXOR
60(3RUWDO
$SUHQGHUP~VLFDQmRpSRUWDQWRDSUHQGHUDWRFDUXPLQVWUXPHQWR1HPOHUQRWDVQD
SDXWD ± QmR TXH LVVR QmR VHMD LPSRUWDQWH PDV HP VHX GHYLGR WHPSR H HP VLWXDo}HV PXLWR
HVSHFtILFDV 3DUD DSUHQGHU P~VLFD QmR p WDPSRXFR GHVHMiYHO TXH R SURIHVVRU GH P~VLFD
GHVSHMHIULRVFRQFHLWRVGH7HRULDGD0~VLFDH+DUPRQLDQDFDEHoDGRHVWXGDQWHGHXPDFODVVH
HVFRODU1mRpHVVHRSURSyVLWRGD0~VLFDQDHVFROD$0~VLFDQDHVFRODpPXLWRPDLVGRTXH
LVVR VHX SDSHO pSHUPLWLU TXH RV HVWXGDQWHVHDFRPXQLGDGHHVFRODUWHQKDPHVWUHLWRFRQWDWR
FRP HVVD DUWH p SURSRUFLRQDUOKHV RFDVL}HV GH ID]HU P~VLFD p SRVVLELOLWDU TXH WRGRV GD
FRPXQLGDGH±HVWXGDQWHVSURIHVVRUHVIXQFLRQiULRVSDVVHPSHODH[SHULrQFLDWUDQVIRUPDGRUD
GDP~VLFD
&RPR R ULR GD PHWiIRUD GHVWH WH[WR D P~VLFDSHUFRUUH PXLWRV FDPLQKRV H pDIHWDGD
SRU GLIHUHQWHV IHQ{PHQRV H DFLGHQWHV GH SHUFXUVR WDQWR SRVLWLYRV TXDQWR QHJDWLYRV 6mR
PXLWRVRVREVWiFXORVDIDOWDGHSURIHVVRUHVGH0~VLFDHPQ~PHURVXILFLHQWHQDVHVFRODVpXP
GHOHV R IDWR GHR DFHVVR jP~VLFDSHODSRSXODomRHPJHUDO VHUPHGLDGR SHORVLQWHUHVVHVGD
LQG~VWULD FXOWXUDO p RXWUR H R IDWR GH DV /HLV TXH UHJXODP D RUJDQL]DomR GR HQVLQR QD
HGXFDomREiVLFDVHUHPOLGHUDGDVSRUSROtWLFRVHHTXLSHVTXHSRXFRRXQDGDVDEHPGH$UWHH
GH VXD LPSRUWkQFLD SDUD R VHU KXPDQR p DLQGD PDLV XP REVWiFXOR D VH WUDQVSRU 3RU HVVH
PRWLYR GHVWDTXHVH DTXL D LPSRUWkQFLD GH yUJmRV GH FODVVH FRPR D &21)$(% SRU
H[HPSORTXHDTXLVHUH~QHHGRVHYHQWRVTXHSURPRYHPSDUDDMXGDUDWRUQDUHVVDVTXHVW}HV
DPSODPHQWH FRQKHFLGDV SRLV PXLWR GRV REVWiFXORV VH GHYHP j LJQRUkQFLD GRV YHUGDGHLURV
IXQGDPHQWRVGDDUWHTXHVHFRQKHFLGRVWDOYH]SXGHVVHPDPHQL]DUDVVLWXDo}HVDGYHUVDVFRP
TXHQRVGHSDUDPRV
0~VLFD p DUWH P~VLFD p H[SUHVVmR P~VLFD p OLQJXDJHP 3RU TXH p LPSRUWDQWH TXH
HVVD FRQGLomR VHMD UHDILUPDGD" 2 TXH UHDOPHQWH VH TXHU GL]HU TXDQGR VH FRQVLGHUD D
0~VLFDFRPRDVGHPDLV$UWHVXPDOLQJXDJHP"2TXHLVVRVLJQLILFD"4XHLPSOLFDo}HVWUD]"
$R FRQVLGHUiOD OLQJXDJHP VH DFHLWD D LGHLD GH TXH D P~VLFD p XP SURFHVVR GH
FRPXQLFDomRWLSLFDPHQWHKXPDQRSURIXQGRHIOH[tYHOTXHVHPDQLIHVWDGHPRGRSHFXOLDUj
UDoD j FXOWXUD RX j pSRFD +i P~VLFD SDUD GLYHUVDV RFDVL}HV H SURSyVLWRV ± GLYHUWLPHQWR
UHOLJLRVLGDGHSDWULRWLVPR(HODSURYRFDPXLWRVHIHLWRVHPTXHPDRXYHRXSUDWLFD3DUDFDGD
PRPHQWR FDGD FLUFXQVWkQFLD GD YLGD FDGD RFDVLmR Ki XP WLSR GH P~VLFD FRQVLGHUDGR
DGHTXDGR SRU GHWHUPLQDGD FRPXQLGDGH RX JUXSR VRFLDO &RQVLGHUDU D DGHTXDomR RX QmR GD
P~VLFDDGHWHUPLQDGDVFLUFXQVWkQFLDVpSUySULRGDFXOWXUDHPTXHHVWiLQVHULGD
2XWUD TXHVWmR D VHU GHVWDFDGD p D FUHQoD DLQGD FRPXP QR ³GRP PXVLFDO´ e
LPSRUWDQWH TXH D HVFROD QmR VH GHL[H OHYDU SHOR KiELWR DLQGD GLIXQGLGR GH HVFROKHU SDUD
DWLYLGDGHV PXVLFDLV DSHQDV RV HVWXGDQWHV TXH VHMDP UHFRQKHFLGRV SRU HVVH ³GRP´ 'XUDQWH
PXLWRWHPSRIRLFRPXPDFUHGLWDUTXHRID]HUPXVLFDOHUDUHVWULWRDSRXFRVTXHWLQKDPWDOHQWR
HVSHFLDO SDUD D P~VLFD HUDP SRUWDGRUHV GH XP ³GRP HVSHFLDO´ (VVD FUHQoD IRL KHUGDGD GR
SHUtRGR URPkQWLFR H DLQGD HVWi EHP SUHVHQWH HP PDQLIHVWDo}HV GR VHQVR FRPXP QD
VRFLHGDGHHQDHVFROD'HDFRUGRFRPHVVHPRGRGHSHQVDUVyGHYHULDHVWXGDUP~VLFDTXHP
WLYHVVHVLGRDJUDFLDGRSRUWDO³GRP´$RFRQWUiULRGLVVRRTXHVHGHIHQGHDTXLpTXHRDFHVVR
jP~VLFDpXP'LUHLWRGHWRGRVGLUHLWRTXHDHVFRODSUHFLVDJDUDQWLU
2XWUD LGHLD EDVWDQWH FRPXP p D TXH DOLD R HVWXGR GH P~VLFD DR GH XP LQVWUXPHQWR
PXVLFDO XPD LGHLD LPSHGLWLYD TXH GLILFXOWD D VXD SUiWLFD HP DPELHQWHV GH HQVLQR QmR
HVSHFLDOL]DGRHPP~VLFDGLDQWHGDSUHFDULHGDGHGHUHFXUVRVGDHVFRODQR%UDVLO4XDQGRVH
LQYHVWHQDLGHLDGHVHID]HUP~VLFDDSDUWLUGHXPDFROHWLYLGDGHDPSOLDPVHDVSRVVLELOLGDGHV
GH PDWHULDOL]iOD H SRU FRQVHJXLQWH GH PDQWHU D VXD SUHVHQoD QDTXHOH JUXSR 1HVVD
FROHWLYLGDGHRPDLVLPSRUWDQWHpDWURFDGHVDEHUHVGHH[SHULrQFLDVGHLGHLDV1mRKiXPVHU
TXHHQVLQDHPXLWRVTXHDSUHQGHPSHORFRQWUiULRWRGRVHQVLQDPHWRGRVDSUHQGHPVR]LQKRV
FRP DOJXpP TXH RV OLGHUD RX XQV FRP RV RXWURV e D ³FRPXQLGDGH GH DSUHQGL]HV´ GHTXH
WUDWD6FKDIHU
2 WUDEDOKR PXVLFDO GH XPD FRPXQLGDGH GH DSUHQGL]HV QD HVFROD QmR SRGH VHU
UHSOLFDGR SRUTXH p SUySULR GRV PHQLQRV H PHQLQDV TXH ID]HP SDUWH GH XP GHWHUPLQDGR
JUXSRGDPHVPDFODVVHRXGRPHVPRSURMHWRHGRSURIHVVRUUHVSRQViYHORTXHJDUDQWHQmR
DSHQDV DFHLWDomR PDV UHFRQKHFLPHQWR GH TXH R TXH DOL IRL JHUDGR SRGH VHU IUXtGR H
FRPSDUWLOKDGRSRUVHUDXWrQWLFRVLJQLILFDWLYRHSHUWHQFHUjKLVWyULDGHYLGDGRJUXSR
8P WUDEDOKR GH P~VLFD FRPHoD FRP D HVFXWD R VRP p D PDWpULD SULPD GD P~VLFD
(QWmRpSUHFLVRDSUHQGHUDRXYLUFRPSRUPHQRUHVFRPFDSDFLGDGHDYDOLDWLYDFRPVXWLOH]D
SDUD SRGHU HVWDEHOHFHU SDUkPHWURV TXH SHUPLWDP DOpP GH FRQKHFHU H UHFRQKHFHU R VRP
GHWHUPLQDU VXD IRQWH SURGXWRUD R TXDQWR HOH GXUD TXDQGR DFDED TXH SHUPLWD WDPEpP
SHUFHEHU VH R VRP HVFROKLGR p IRUWH RX IUDFR FXUWR RX ORQJR DOWR RX EDL[R ± H[SUHVV}HV
SRSXODUHV TXH GHVLJQDP RV WHUPRV DJXGR H JUDYH ( WDPEpP TXH Gr FRQGLo}HV GH VH
FRQKHFHU GH TXH PRGR RV VRQV HVWDEHOHFHP UHODo}HV XQV FRP RXWURV FRPR VH FRQHFWDP
FRPRVHFRQWUDS}HPFRPRVHFRQWHVWDPFRPRVHLPLWDPFRPRFDPLQKDPODGRDODGRFRPR
VRPHPGHUHSHQWHSDUDYROWDUPDLVDOpP
7XGR LVVR p SRVVtYHO ID]HU QD HVFROD HDLQGD PDLV VH VHUHIOHWLU DHVVH UHVSHLWR H VH
SURSXVHU GLiORJRV FRP SURIHVVRUHV GH RXWUDV iUHDV 3HOR IDWR GH D P~VLFD HVWDU SUHVHQWH QD
YLGD p SRVVtYHO HQFRQWUDU PXLWRV FDPLQKRV SDUD VH FXUVDU QmR PDLV VR]LQKRV PDV FRP
FROHJDV SRUH[HPSORVHJXLUSRUXP WHPSRRPHVPRFDPLQKRGRSURIHVVRUGH+LVWyULDGR
SURIHVVRUGH*HRJUDILDGRSURIHVVRUGH0DWHPiWLFDGRVSURIHVVRUHVGDVOLQJXDJHQVDUWtVWLFDV
&DGDXPGHVVHVFDPSRVGHVDEHUVHUHODFLRQDGHDOJXPPRGRFRPD0~VLFD
&RPR LVVR SRGH VH GDU" 8P H[HPSOR HQWUH PXLWDV SRVVLELOLGDGHV R SURIHVVRU GH
0~VLFD SRGH DX[LOLDU R GH +LVWyULD D HQFRQWUDU D P~VLFD TXH GHWHUPLQDGD VRFLHGDGH HP
GHWHUPLQDGD pSRFD H ORFDO SURGX]LD H ID]LD 3RGHVH FDQWDU RX WRFDU HVVD P~VLFD FRP RV
DOXQRVJUDoDVDHVVDSDUFHULDFRPRSURIHVVRUGH0~VLFD0DVWDPEpPSRGHVHOHYDUSDUDD
FODVVHJUDYDo}HVGHVVHUHSHUWyULRGHpSRFDSDUDRVHVWXGDQWHVRXYLUHP2XWURH[HPSORpRGR
SURIHVVRU GH *HRJUDILD TXH DR DQDOLVDU XPD GHWHUPLQDGD UHJLmR HVFROKD HQWUH WDQWDV
FDUDFWHUtVWLFDVXPDIHVWDSRSXODUWtSLFDGRJUXSRVRFLDOTXHOiKDELWDSDUDVHUYLVWDHRXYLGD
HPDXOD(WDOYH]FRPRDX[tOLRGRSURIHVVRUGH0~VLFDHGRGHRXWUDVOLQJXDJHQVDUWtVWLFDV
HVVD PDQLIHVWDomR SRVVD VHU UHFULDGD FDQWDGD WRFDGD UHSUHVHQWDGD RX GDQoDGD SHORV
HVWXGDQWHV([LVWHPPXLWDVPDQHLUDVGHVHFRQKHFHUDP~VLFDGHGLIHUHQWHVJUXSRVVRFLDLV
GH TXDOTXHU UHJLmR GR 3DtV RX GR PXQGR (VVHV VmR DSHQDV H[HPSORV PXLWDV RXWUDV
DWLYLGDGHV LQWHUGLVFLSOLQDUHV SRGHP VHU FULDGDV H DSHUIHLoRDGDV 2 PDLV LPSRUWDQWH p
UHFRQKHFHU TXH H[LVWHP FDPLQKRV TXH SRGHP VHU WUDoDGRV VH KRXYHU SHVVRDV GLVSRVWDV D
H[SORUDURHVSDoRGDH[SUHVVmRVRQRUDRXVRGRFRUSRDLQWHUUHODomRHQWUHDVOLQJXDJHQV
0XLWDFRLVDDLQGDSRGHULDVHUGLWDDHVVHUHVSHLWR0DVSHQVRTXHpKRUDGHHQIDWL]DUD
H[SHULrQFLDYLYDTXHSRGHGDUPDLVVHQWLGRDRTXHIRLDTXLWUD]LGR
2FDPLQKRHVFROKLGRpRGDUHODomRHQWUHGXDVDUWHVDSRHVLDHDP~VLFD2SRHPD
LQVSLUDGRU pGR HWHUQR SRHWD GH&DPSR*UDQGH0DQRHOGH%DUURV(DHVFROKDGHYHVHDR
IDWR GH VHU 0DQRHO GH %DUURV R SRHWDFULDQoD GHVPRQWDGRU GH SDODYUDV FULDGRU GH
GHVFRLVDV &RP VHXV SRHPDV HQVLQD D UHFXSHUDU D FULDQoD LQWHULRU GH FDGD XP TXH YLYH
HVFRQGLGDPXLWDVYH]HVVHPTXHVHVDLED$SRHVLDpGROLYURCantigas por um passarinho à
toa %$5526 H R DQLPDO]LQKR HVFROKLGR p D &LJDUUD SRLV FRPR WUDWDPRV GH VRP
SDUHFHXLQWHUHVVDQWHRFXSDUQRVGHXPLQVHWRTXHID]WDQWREDUXOKR
Ouvi de perto no final do dia
A algazarra das cigarras.
Elas fizeram farra
Até morrer.
Elas estouram dentro dos sons.
Manoel de Barros
7UDWDVH GH XP SRHPD FDQWDGR SHODV SHVVRDV SUHVHQWHV QR (QFRQWUR 2 REMHWLYR p
DMXGDUFDGDXPDDFRUGDURVHUFULDQoDTXHPXLWDVYH]HVDGRUPHFLGRQmRVHOHPEUDGHDWXDU
EULQFDU ID]HUGHFRQWD FDQWDU 8P SURIHVVRU TXH WHQKD DFRUGDGR VXD FULDQoD LQWHUQD
FRQVHJXH WDPEpP DFRUGDU D GH VHXV HVWXGDQWHV H GH VHXV FROHJDV R TXH UHSUHVHQWD XP
JUDQGH JDQKR (VVD p XPD H[SHULrQFLD WUDQVIRUPDGRUD H VLJQLILFDWLYD &ULD VHQWLGRV H
FRQWULEXLSDUDTXHD$UWHQXPVHQWLGRDPSORVHMDFRPSUHHQGLGDSHORYDORUTXHWHPHSHOR
HQRUPH SRWHQFLDO TXH UHSUHVHQWD SDUD R GHVHQYROYLPHQWR GR VHU KXPDQR e PHX GHVHMR
LQWHQVR H HVSHFLDO TXH HVWH WLSR GH H[HUFtFLR H R HVIRUoR SDUD FRPSUHHQGHU TXHD P~VLFD p
PXLWR PDLV GR TXH QRWDV QD SDXWD GHGLOKDU XP LQVWUXPHQWR RX FRQKHFHU D FODYH GH VRO
PRVWUHP j HVFROD DRV SURIHVVRUHV DRV HVWXGDQWHV H VHXV IDPLOLDUHV R YDORU H R SRGHU
WUDQVIRUPDGRU GD 0~VLFD 3DUD R EHP GH WRGRV H WDPEpP GHVVH ULRFDPLQKR SDUD TXH HOH
YHQoDREVWiFXORVLQWHUQRVHH[WHUQRVHVHWRUQHQDYHJiYHOHDFROKHGRUTXHVRHHUHFHEDVRQV
PXLWRVVRQVDWHQWRDRDPELHQWHHDWRGRVTXHQHOHKDELWDPRXTXHGHOHGHSHQGHPSDUDYLYHU
)D]HUP~VLFDHPFRQMXQWRpGHL[DUDIORUDURVHUFULDQoDTXHYLYHHPWRGRVQyV
5()(5Ç1&,$6
%$5526 0DQRHO $ DOJD]DUUD GDV FLJDUUDV ,Q &DQWLJDV SRU XP SDVVDULQKR j WRD 5LR GH
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)217(55$'$0DULVDH%$55260DQRHO$DOJD]DUUDGDVFLJDUUDV3DUWLWXUDQS
62 3$8/2 60( 'LiORJRV LQWHUGLVFLSOLQDUHV D FDPLQKR GD DXWRULD &DGHUQR GH $UWH
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$VREVHUYDo}HVTXHSUHWHQGRUHDOL]DUHPPLQKDSDUWLFLSDomRQHVVH&RQJUHVVRDQFRUDPVHQDV
SURGXo}HV WHyULFRFRQFHLWXDLV UHDOL]DGDV SRU PLP HP SHVTXLVD UHFHQWH EHP FRPR HP
DOJXPDV FRQFHSo}HV HSLVWHPROyJLFDV jV TXDLV PH ILOLR FRPR RV (VWXGRV &XOWXUDLV HP
(GXFDomRHR3yV(VWUXWXUDOLVPR(PSULPHLUROXJDUDUJXPHQWDUHLVREUHRHQFRQWURWHyULFR
FRP R SHQVDPHQWR GH %DXPDQ H[SHULrQFLDV YLQFXODGDV jV WUDMHWyULDV GLVFHQWHV H GRFHQWHV
(P VHJXQGR SDVVDUHL DR HQFRQWUR GR SUy[LPR LQWHUORFXWRU FRQYRFDGR SDUD GLVFXVVmR
)RXFDXOW $V WH[WXDOLGDGHV H[SRVWDV WrP FRPR PDWUL] D FRPXQLFDomR GLJLWDO H[HUFLGD SHODV
MXYHQWXGHVFRQWHPSRUkQHDV2DUJXPHQWRFHQWUDOpGHTXHDVMXYHQWXGHVFRQWHPSRUkQHDVVmR
FRQVWDQWHPHQWH HGXFDGDV SRU GLIHUHQWHV DUWHIDWRV FXOWXUDLV GDV PtGLDV GLJLWDLV HP OXJDUHV
FRQYHQFLRQDGRV GH FRPXQLFDomR HP UHGHHVWHFRQFHLWRpDSUHVHQWDGRDRORQJRGHVWHWH[WR
1HVVHVHQWLGRWRUQDPVHSURGXWLYDVDVDo}HVTXHSRGHPRVUHDOL]DUGHQWURGHXPDSHUVSHFWLYD
DOLDGD DRV (VWXGRV &XOWXUDLV TXH FRPSUHHQGD ± HVVH DWUDYHVVDPHQWR ± TXH PDUFD DV
LGHQWLGDGHVMXYHQLVGRVpFXOR;;,HSRUFRQVHTXrQFLDR(QVLQRGH$UWH
3DODYUDVFKDYH-XYHQWXGHV$UWHIDWRV&XOWXUDLV%DXPDQ)RXFDXOW
$VSHFWRVLQLFLDLV
UHDOL]DU HP PLQKD SDUWLFLSDomR QHVVH &RQJUHVVR DQFRUDPVH QDV SURGXo}HV WHyULFR
FRQFHLWXDLV UHDOL]DGDV SRU PLP HP SHVTXLVD UHFHQWH EHP FRPR HP DOJXPDV FRQFHSo}HV
HSLVWHPROyJLFDV jV TXDLV PH ILOLR FRPR RV (VWXGRV &XOWXUDLV HP (GXFDomR H R 3yV
(VWUXWXUDOLVPR
(P SULPHLUR OXJDU DUJXPHQWDUHL VREUH R HQFRQWUR WHyULFR FRP R SHQVDPHQWR GH
%DXPDQH[SHULrQFLDVYLQFXODGDVjVWUDMHWyULDVGLVFHQWHVHGRFHQWHV(PVHJXQGRSDVVDUHLDR
HQFRQWUR GR SUy[LPR LQWHUORFXWRU FRQYRFDGR SDUD GLVFXVVmR )RXFDXOW $V WH[WXDOLGDGHV
H[SRVWDVWrPFRPRPDWUL]DFRPXQLFDomRGLJLWDOH[HUFLGDSHODVMXYHQWXGHVFRQWHPSRUkQHDV
2 DUJXPHQWR FHQWUDO p GH TXH DV MXYHQWXGHV FRQWHPSRUkQHDV VmR FRQVWDQWHPHQWH HGXFDGDV
SHORVDUWHIDWRVFXOWXUDLVGDVPtGLDVGLJLWDLVQRVOXJDUHVFRQYHQFLRQDGRVGHFRPXQLFDomRHP
UHGHHVWHFRQFHLWRpDSUHVHQWDGRDRORQJRGHVWHWH[WR1HVVHVHQWLGRTXDLVVHULDPDVSUiWLFDV
HGXFDWLYDV FRQYHUJHQWHV DRV WHPSRV OtTXLGRVPRGHUQRV%$80$1GDHGXFDomRQD
LQWHUORFXomRFRPRVDUWHIDWRVFXOWXUDLVGDFXOWXUDFRQWHPSRUkQHD"2TXHFRPSDUWLOKDPRVDV
MRYHQV H FRPR VH FRPXQLFDP" 'H TXDLV UHSUHVHQWDo}HV VRFLDLV H FXOWXUDLV TXH FLUFXODP
HVVHVDVMRYHQVVHYDOHPQDFRQVWUXomRGHVXDVLGHQWLGDGHVMXYHQLV"
)LQDOPHQWH p SUHFLVR SRQWXDU TXH HQWHQGR D DPSOLDomR GRV HVSDoRV GH SURGXomR GR
FRQKHFLPHQWR D SDUWLU GD QRomR GH self GH (OL]DEHWK (OOVZRUWK TXDQGR j DXWRUD GL] TXH p
QHFHVViULR³SHQVDUHPSHGDJRJLDQmRHPUHODomRDRFRQKHFLPHQWRFRPRXPDFRLVDIHLWDPDV
DR FRQKHFLPHQWR HP FRQVWUXomR´ S (VWD QRomR FRPSUHHQGH TXH D PtGLD H RV
HVSDoRV TXH FRPS}H DV FLGDGHV UHSHUFXWHP QD ³DXWRDSUHQGL]DJHP´ GH FDGD VXMHLWR &RP
LVWR Mi HVWRX DUJXPHQWDQGR HP IDYRU GHVWD H[SODQDomR GLVFRUUHU VREUH R FRPSOH[R
DSUHVHQWDGRWUDWDVHGHXPH[HUFtFLRDWHQWRGHQWURGDVHVFRODVLQVWLWXLo}HVGRFLEHUHVSDoRH
GHSURFHVVRVFXOWXUDLVDSDUHQWHPHQWHWmRGLYHUVRVHORFDOL]DGRVQRVPDLVGLIHUHQWHVOXJDUHVH
DUWHIDWRVH[LVWHQWHVQDFXOWXUDFRQWHPSRUkQHD
(QFRQWURVWHyULFRFRQFHLWXDLV
9LVWR GD SHUVSHFWLYD GH XP SiVVDUR R PXQGR GH KRMH SDUHFH XP DUTXLSpODJR GH
GLiVSRUDV3RUVXDQDWXUH]DDVGLiVSRUDVFRORFDPXPJUDQGHSRQWRGHLQWHUURJDomR
VREUHRVSUHVVXSRVWRVDWpDTXLQmRTXHVWLRQDGRVUHIHUHQWHVjLQHYLWiYHOFRUUHODomR
GH LGHQWLGDGH H FLGDGDQLD RX KiELWDW GH HVStULWR H OXJDU GH XP VHQWLGR GH
SHUWHQFLPHQWRHGHWHUULWyULR%$80$1S
$SHVTXLVDHVWiGHWDOKDGDQDVHomRLQWLWXODGD$VSHFWRVPHWRGROyJLFRVGDSHVTXLVDFRQWHPSODGDQHVWHDUWLJR
3URFXUDQGR HVWDEHOHFHU XP GLiORJR HQWUH RV SULPHLURV FDPLQKRV WULOKDGRV FRPR
SURIHVVRUDH SHVTXLVDGRUD p GLItFLO LQLFLDUVHP %DXPDQ$PHWiIRUD HPSUHJDGDQDHStJUDIH
GHVWDVHomRIDODVREUHDSHUVSHFWLYDGRPXQGRQDYLVmRGHXPSiVVDUR1RPHX7UDEDOKRGH
&RQFOXVmR GH &XUVR GHVHQYROYLGR QD JUDGXDomR HP $UWHV 9LVXDLV /LFHQFLDWXUD GD
8QLYHUVLGDGH )HGHUDO GR 5LR *UDQGH ± )85* UHFRUUL j SRHVLD SDUD H[SOLFDU PLQKD
DSUR[LPDomRFRPRVRFLyORJR=\JPXQW%DXPDQRQRPHDQGRPHWDIRULFDPHQWHFRPRÈJXLD
GD3RO{QLD)DoRHVVDUHODomRSRUTXHHVWDVDYHVPDMHVWRVDVUHLQDPQRVFpXVDOFDQoDPDOWXUDV
LQLPDJLQiYHLVSRVVXHPYLVmRSULYLOHJLDGDHVmRFDSD]HVGHDGDSWDUVHDDPELHQWHVDGYHUVRV
FRQTXLVWDU HVSDoRV H ID]HUHPVH SUHVHQWHV HP GLIHUHQWHV SDUWHV GR PXQGR 7DLV DVSHFWRV
SRVVXHP VLQJXODU VLPLODULGDGH FRP D YLGD H D REUD GR VRFLyORJR HP TXHVWmR FXMD SUySULD
WUDMHWyULDOKHSHUPLWLXHQ[HUJDUDRORQJHYLVOXPEUDQGRDFRPSOH[LGDGHSUHVHQWHQDVUHODo}HV
GDVRFLHGDGHGHOLQHDQGRSRVVtYHLVWUDQVIRUPDo}HVVRFLDLVQDFRQWHPSRUDQHLGDGH
1DVDVDVGDKLVWyULDHQFRQWUDPVHH[SUHVVLYRVbeija-floresRVTXDLVPHVPRSDLUDQGR
VREUHcanteiros de jardim7, FRPH[WUHPR]HORFXLGDGRVSHOREstado Jardineiro8HQFRQWUDP
PDQHLUDVGHURPSHURVVLVWHPDVGHSODQHMDPHQWRHFRQWUROHEXVFDQGRDUXSWXUDGDRUGHPSUp
HVWDEHOHFLGDHDDEHUWXUDDQRYRVKRUL]RQWHV(VWHVEHLMDIORUHVVmRRVDV$UWH(GXFDGRUHVDV
'H DFRUGR FRP %DXPDQ S R DWULEXWR FUXFLDO TXH FDUDFWHUL]D R
FRQWHPSRUkQHRWDOYH]VHMDDUHODomRFDPELDQWHHQWUHWHPSRHHVSDoR
*UDoDV D VXD IOH[LELOLGDGH H H[SDQVLYLGDGH UHFHQWHPHQWH DGTXLULGDV R WHPSR
PRGHUQR VH WRUQRX DQWHV H DFLPD GH WXGR D DUPD QD FRQTXLVWD GR HVSDoR 1D
PRGHUQDOXWDHQWUHWHPSRHHVSDoRRHVSDoRHUDRODGRVyOLGRHLPSDVVtYHOSHVDGRH
='5$'(. $QD &DUROLQD 6DPSDLR O ensino de arte em interlocução com as mídias digitais DOJXPDV
UHIOH[}HVjOX]GDPRGHUQLGDGHOtTXLGD7UDEDOKRGH&RQFOXVmRGH&XUVRI*UDGXDomRHP$UWHV9LVXDLV±
8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGR5LR*UDQGH±)85*5LR*UDQGH>2ULHQWDGRUD3URID'UD,YDQD0DULD1LFROD
/RSHVH&RRULHQWDGRUD3URID'UD-RLFH$UD~MR(VSHUDQoD@
1R DQR GH DFRQWHFHX R HYHQWR (GXFDomR RUJDQL]DGR SHOR MRUQDO 2 *ORER QR 5LR GH -DQHLUR
3DUWLFLSHL GR HVSDoRHSXGHFRQKHFHUSHVVRDOPHQWH =\JPXQW%DXPDQ PRPHQWRQRTXDORDXWRUUHDOL]RXXPD
OHLWXUDEUHYHGRPHXPDWHULDOGHSHVTXLVD$FRQIHUrQFLDPDJQD³'HVDILRVOtTXLGRVPRGHUQRVSDUDDHGXFDomR´
IRLSURIHULGDQHVWHGLDSRU%DXPDQ
%DXPDQ FRQIHUH DR (VWDGR D IXQomR GH Jardineiro, R TXDO WUDQVIRUPRX D FXOWXUD PRGHUQD HP XP LPHQVR
canteiro de jardimjHVSHUDGHFXOWLYRHSURWHomR$o}HV TXHLQFOXHP QHVWHFXLGDGR D HOLPLQDomR GDV SODQWDV
LQ~WHLV WUD]HQGR SDUD D VRFLHGDGH D LGHQWLILFDomR H UHWLUDGD GH WXGR DTXLOR TXH IRVVH estranho DR SODQR H
VXSHUYLVmRGREstado Jardineiro $/0(,'$*20(6%5$&+7S
0HWiIRUDXWLOL]DGDSRU=\JPXQW%DXPDQSDUDGHILQLURLQWHOHFWXDOFDUDFWHUL]DQGRVHXSDSHOQDFRQVWUXomRGD
ordem como tarefa na modernidade $/0(,'$*20(6%5$&+7S
LQHUWH FDSD] DSHQDV GH XPD JXHUUD GHIHQVLYD GH WULQFKHLUDV ± XP REVWiFXOR DRV
DYDQoRVGRWHPSR2WHPSRHUDRODGRGLQkPLFRHDWLYRGDEDWDOKDRODGRVHPSUHQD
RIHQVLYDDIRUoDLQYDVRUDFRQTXLVWDGRUD$YHORFLGDGHGRPRYLPHQWRHRDFHVVRD
PHLRV PDLV UiSLGRV GH PRELOLGDGH FKHJDUDP QRV WHPSRV PRGHUQRV j SRVLomR GH
SULQFLSDOIHUUDPHQWDGRSRGHUHGDGRPLQDomR%$80$1S
%DXPDQ DSOLFRX D PHWiIRUD GD VROLGH] SDUD H[SULPLU RV WUDoRV GD PRGHUQLGDGH QDV
SULPHLUDV GpFDGDV GR VpFXOR ;; 8P WHPSR QR TXDO RV YDORUHV H DV WUDGLo}HV HUDP
FRQVWUXtGRV SDUD VHUHP GXUiYHLV UtJLGRV DOPHMDYDVH TXH D HGXFDomR SURIHULGD QDV
LQVWLWXLo}HVIRVVHOHYDGDSDUDDYLGDLQWHLUD,GHLDVHFRQFHLWRVTXHSDVVDYDPGHJHUDomRSDUD
JHUDomR VHP VHU TXHVWLRQDGRV RX FRORFDGRV jSURYD3DUDFRPSUHHQGHU PHOKRUDVLGHLDV GH
%DXPDQQRTXHVHUHIHUHjVROLGH]GRVYDORUHVHGDVWUDGLo}HVLPXWiYHLVSRUJHUDo}HVSHQVR
TXH QD YLDJHP GR WHPSR D EDJDJHP H D PDOD VHFRQIXQGLDP IXVLRQDYDPVH QmR H[LVWLDP
XPD VHP D RXWUD 2 TXH XPD JHUDomR FRQVWUXtD H DFUHGLWDYD HUD HQWUHJXH D SUy[LPD VHP
QHQKXPDHVSpFLHGHPXGDQoDWXGRSHUPDQHFLDVyOLGR3RUpPHVWHVVyOLGRVIRUDPGHUUHWHQGR
VHSRXFRDSRXFRWDOFRPRJHORVHPFRQWXGRUHWRUQDUHPDRHVWDGRDQWHULRU$DQWLJDPDOD
QmR VHUYH PDLV D EDJDJHP H[SDQGLXVH DGTXLULX QRYDV IRUPDV RX PHOKRU IRUPDV TXH VH
PRELOL]DP H HVWmR HP FRQVWDQWH PXGDQoD $ EDJDJHP RV FRQFHLWRV DV FUHQoDV H RV
FRQVWUXFWRVVRFLDLVHVWmRSURQWRVSDUDRFXSDUPDODVFDL[DVcasesYDVLOKDPHVPXOWLIRUPHV
QmRPDLVUHWRUQDUiDVROLGH]LQLFLDO$JRUDpIOXtGDLVVRpDOLTXLGH]
)RLFRPRVHXPFRQYLWHPHWLYHVVHVLGRIHLWRXPFRQYLWHDWUDQVSRUD³UHDOLGDGH´HDV
SUiWLFDVGRFHQWHVSRUPLPREVHUYDGDVHYLYHQFLDGDVQDHVFRODTXLVDOFDQoDUDOWXUDVSDUDDOpP
GRVPXURVTXHOLPLWDYDPRVKRUL]RQWHVGRVDVHVWXGDQWHVGHVHMHLYRDU$SHVDUGRULJRUHGDV
IRUPDOLGDGHV SUHVHQWHV QD LQVWLWXLomR HVFRODU DLQGD FRQVLGHUDGD SRU PXLWRV FRPR LQVWkQFLD
SHGDJyJLFD H HGXFDWLYD VXSUHPD IL] XVRGHGLVSRVLWLYRVHHVWUDWpJLDVTXHPHSRVVLELOLWDUDP
WUDEDOKDUFRPRVDVHVWXGDQWHVXPDUWHIDWRFXOWXUDOGDPtGLDGLJLWDOTXHQmRID]SDUWHKDELWXDO
GDVSURSRVWDVFXUULFXODUHVIRUPDLVRVLWHGDUHGHVRFLDOFacebook2FRQWDWRFRPRDUWHIDWR
FacebookHUDSRVVLELOLWDGRDSDUWLUGRFHOXODUHGDFRQH[mRFRPDLQWHUQHWSUHVHQWHQHVWHQR
UHIHULGRHVSDoRUHDOL]HLXPDH[SRVLomRWRWDOPHQWHonlineHPyYHOFRPHVWXGDQWHVGRDQR
GH XPD LQVWLWXLomR S~EOLFD D H[SRVLomR IRL SRVVtYHO SRU LQWHUPpGLR GD hashtag
6LWHGHUHGHVRFLDOIXQGDGRHPFRPVHGHQRV(VWDGRV8QLGRV2VLQWHUQDXWDVEUDVLOHLURVHVWmRHQWUHRVTXH
PDLV XWLOL]DP R Facebook QR PXQGR 6HXV SULQFLSDLV VHUYLoRV VmR SRVWDJHQV FRPSDUWLOKDPHQWRV FULDomR GH
HYHQWRVFULDomRGHSiJLQDVFRPHUFLDLVRXGHWySLFRVHVSHFtILFRVUHODFLRQDGRVDYiULRVVHJXLPHQWRVHQWUHRXWURV
3URIHWD*HQWLOH]D $ SHVTXLVD DERUGDGD QD VHTXrQFLD GHVWH WH[WR IRL SRVVtYHO SRUTXH
H[LVWLUDP HVWDV H[SHULPHQWDo}HV LQLFLDLV FRP UHODomR DR HVSDoR online GH SURGXomR GR
FRQKHFLPHQWR
$R LQJUHVVDU QR PHVWUDGR DPSOLHL DOJXQV HQWHQGLPHQWRV UHODFLRQDGRV jV MXYHQWXGHV
HQTXDQWRFRQVWUXo}HVKLVWyULFDVHVRFLDLV5HILURPHDTXLjVGLVFXVV}HVYLQFXODGDVDRFDPSR
GRV(VWXGRV&XOWXUDLVHP(GXFDomR&RQIRUPH6KLUOH\6WHLQEHUJDVFRQWULEXLo}HVGRV
(VWXGRV &XOWXUDLV SHUPLWHP D SUREOHPDWL]DomR GRV HIHLWRV GDV SHGDJRJLDV FXOWXUDLV QD
IRUPDomRGDVLGHQWLGDGHVVXDSURGXomRHOHJLWLPDomRGRFRQKHFLPHQWRRXVHMDVHXFXUUtFXOR
FXOWXUDO3DUD7RPD]7DGHXGD6LOYDSH[LVWHPDOJXPDVTXHVW}HVTXHGLVWLQJXHP
RV(VWXGRV&XOWXUDLVGHRXWURVFDPSRVGHVDEHUVmRHODVDDQiOLVHFXOWXUDOHQWHQGLGDFRPR
IRUPD JOREDO GH YLGD H FRPR ³H[SHULrQFLD YLYLGD GH XP JUXSR VRFLDO´ H WDPEpP D
FRPSUHHQVmR GH TXH D FXOWXUD p FRQFHELGD FRPR FDPSR GH OXWD HP WRUQR GDV VLJQLILFDo}HV
VRFLDLV$FRQFHSomRGRV(VWXGRV&XOWXUDLVDGRWDGDSDUWHGDYHUWHQWHSyVHVWUXWXUDOLVWDFRPR
PHQFLRQHLDQWHULRUPHQWHDTXDOGHVFRQILDGHPXLWRVSUHVVXSRVWRVGDPRGHUQLGDGHWDLVFRPR
D OLQHDULGDGH KLVWyULFD D FLrQFLD FDUWHVLDQD H D QRomR GH SURJUHVVR 9(,*$1(72
(QWHQGHVH TXH QmR H[LVWH XP OXJDU SULYLOHJLDGRHTXHVLUYDGHPRGHOR SDUD DSURGXomRGR
FRQKHFLPHQWR
1HVVH FRQWH[WR SDUD DGHQWUDUPRV QR SHQVDPHQWR GR VHJXQGR DXWRU p LPSRUWDQWH
PHQFLRQDU TXH )RXFDXOW TXHULD VDEHU ³TXDLV DV IRUPDV GH UDFLRQDOLGDGH TXH VH ID]HP
GRPLQDQWHV HP FHUWDV pSRFDV H OXJDUHV´ ),6&+(5 S 3RUWDQWR SDUD ID]HU
DYDQoDU R OHJDGR IRXFDXOWLDQR VH SRGH FRPSUHHQGHU TXH SDUD HOH QmR H[LVWH QDGD RFXOWR H
QHPSRUEDL[RGHWDSHWHVRTXHH[LVWHPVmRHQXQFLDo}HVTXHRVGLIHUHQWHVGLVFXUVRVFRORFDP
HP IXQFLRQDPHQWR GHVVD PDQHLUD DOLPHQWDP DV HQJUHQDJHQV GH GLYHUVRV VDEHUHV )RXFDXOW
SPHQFLRQD
6RQKR FRP R LQWHOHFWXDO GHVWUXLGRU GDV HYLGrQFLDV H GDV XQLYHUVDOLGDGHV TXH
ORFDOL]DHLQGLFDQDVLQpUFLDVHFRDo}HVGRSUHVHQWHRVSRQWRVIUDFRVDVEUHFKDVDV
OLQKDVGHIRUoDTXHVHPFHVVDUVHGHVORFDQmRVDEHH[DWDPHQWHRQGHHVWDUiRXRTXH
SHQVDUiDPDQKmSRUHVWDUPXLWRDWHQWRDRSUHVHQWHTXHFRQWULEXLDROXJDUHPTXH
HVWiGHSDVVDJHP>@
&RPDLQWHQomRGHID]HUXPDKLVWyULDGRSUHVHQWHGHVHQYROYLDOJXQVDUJXPHQWRVFRP
UHODomR j H[LVWrQFLD GH HVSDoRV LPDWHULDLV GH DXWRVHTXHVWUR GR VXMHLWR VHTXHVWUR HVWH
PHWDIyULFRRTXDODFRQWHFHSRUPHLRGDVXEMHWLYDomRTXHFDSWXUDVXDDWHQomRHLQWHUHVVHSDUD
RXWUROXJDU1HVWDFRPSUHHQVmRVHXFRUSRSHUPDQHFHQROXJDUHPTXHHVWiQRFDUURFDVDRX
TXDOTXHU RXWUR DPELHQWH (QWUHWDQWR HVWHVXMHLWR HVWiHPRXWUROXJDUQRTXHVHUHIHUHjVXD
DWHQomRHSDUWLFLSDomR(OHHVWiLQWHUDJLQGRQRVlugares convencionados de comunicação em
rede ='5$'(.DWUDYpVGHVXDLPDJHPYLUWXDOGHVHXSHUILOGHVHXlogin. ,QVSLUDGD
QDV FRQGLo}HV GHVFULWDV SRU 0LFKHO )RXFDXOW HP 9LJLDU H 3XQLU VXJLUR TXH D
FRQWHPSRUDQHLGDGH VHJXH SURGX]LQGR FRUSRV GyFHLV H ~WHLV DJRUD FRP WHFQRORJLDV DLQGD
PDLVDSULPRUDGDVQDVLQVWkQFLDVYLUWXDLVGHFRPXQLFDomR
$OyJLFDTXHLPSHUDYDQDVLQVWLWXLo}HVGHVHTXHVWURPDWHULDLVH[SORUDGDVSRU)RXFDXOW
QRVpFXOR;;RTXDUWHODSULVmRRKRVSLWDODHVFRODHWFWDPEpPRSHUDQRVpFXOR;;,HP
LQVWLWXLo}HV LPDWHULDLV QDV TXDLV p SRVVtYHO LGHQWLILFDU DV FLQFR RSHUDo}HV )28&$8/7
S TXH DWXDYDP QD SURGXomR GRV FRUSRV GyFHLV 6mR HVWDV D HVWDEHOHFHU XP
FDPSR GH FRPSDUDomR E FULDU XP HVSDoR GH GLIHUHQFLDomR F HVWDEHOHFHU SULQFtSLRV GH
UHJUDVDVHUHPVHJXLGDVGGLIHUHQFLDURVLQGLYtGXRVHPUHODomRXQVDRVRXWURVHHPIXQomR
GDVUHJUDVGHFRQMXQWRHPHGLUHPWHUPRVTXDQWLWDWLYRVHKLHUDUTXL]DUHPWHUPRVGHYDORUH
FDSDFLGDGHVRQtYHOHQDWXUH]DGRVLQGLYtGXRV&RQIRUPHRDXWRU
$GLVFLSOLQD³IDEULFD´LQGLYtGXRVHODpDWpFQLFDHVSHFLILFDGHXPSRGHUTXHWRPDRV
LQGLYtGXRV DR PHVPR WHPSR FRPR REMHWRV H FRPR LQVWUXPHQWRV GH VHX H[HUFtFLR
1mRpXPSRGHUWULXQIDQWHTXHDSDUWLUGHVHXSUySULRH[FHVVRSRGHILDUVHHPVHX
VXSHUSRGHULR p XP SRGHU PRGHVWR GHVFRQILDGR TXH IXQFLRQD D PRGR GH XPD
HFRQRPLD FDOFXODGD PDV SHUPDQHQWH +XPLOGHV PRGDOLGDGHV SURFHGLPHQWRV
PHQRUHV VH RV FRPSDUDUPRV DRV ULWXDLV PDMHVWRVRV GD VREHUDQLD RX DRV JUDQGHV
DSDUHOKRV GR (VWDGR ( VmR HOHV MXVWDPHQWH TXH YmR SRXFR D SRXFR LQYDGLU HVVDV
IRUPDV PDLRUHV PRGLILFDUOKHV RV PHFDQLVPRV H LPSRUOKHV VHXV SURFHVVRV
)28&$8/7S
1DFRQWHPSRUDQHLGDGHSHUFHERTXHRHVSDoRGLIHUHQFLDGRFRQVWLWXLVHQRVDSOLFDWLYRV
DORFDGRVQRVFHOXODUHVTXHIXQFLRQDPFRPRRSRUWDOSDUDHVWHOXJDUGHFRQYHQomRDUHJUDD
VHJXLU p FRPSRVWD SHOR PDQXDO GH FRQGXWD GR XVXiULR PHGLDQWH DFHLWDomR GRV WHUPRV GH
FRPSURPLVVR D GLIHUHQFLDomR GRV LQGLYtGXRV VH Gi SHOR PDUFDGRU GH FHOHEULGDGH XPD
YHULILFDomRSDUDSHVVRDVFRQVLGHUDGDVLPSRUWDQWHVSHODPtGLDDUHODomRGRVDWRVVXEPHWLGRV
DR FRQMXQWR SRGH VHU GHWHUPLQDGD SHORV MRUQDOLVWDV FLGDGmRV XP IDWRQRWtFLD JDQKD
GHWHUPLQDGD SURSRUomR H DOFDQFH SRUTXH R PHLR YLUWXDO SURSDJD H GLVVLSD D QRWtFLD QD
$V RSHUDo}HVIRUDPUHIHUHQFLDGDVFRQIRUPHROLYUR9LJLDU3XQLUQDVFLPHQWRGDSULVmRGH0LFKHO)RXFDXOW
FDStWXOR,,LQWLWXODGR³2VUHFXUVRVSDUDXPERPDGHVWUDPHQWR´
&RQFHLWRGHVHQYROYLGRSRU&RUUrD(6H0DGXUHLUD)SDUDH[SOLFDURSDSHOGDTXHOHLQGLYtGXRTXH
GLYXOJDXPDQRWtFLDSRUpPQmRWHPIRUPDomRDFDGrPLFDHPMRUQDOLVPR
YHORFLGDGH GD OX] DV KLHUDUTXLDV HP WHUPRV GH YDORU H FDSDFLGDGHV VH HQFRQWUDP QRV
DSOLFDWLYRV TXH SHUPLWHP R DFHVVR UHVWULWR GH DOJXPDV SHVVRDV PHGLDQWH SDJDPHQWR RX
IXQFLRQDOLGDGHSURGXWLYDGDPHVPD
$VSHFWRVPHWRGROyJLFRVGDSHVTXLVD
PDLRULDGRVDVMRYHQVHUDPHVWXGDQWHVXQLYHUVLWiULRV$FRPSRVLomRILQDOGRJUXSRIRLGH
LQWHJUDQWHV XP Q~PHUR SHTXHQR FRQVLGHUDQGR R OLPLWH GH SHVVRDV GLVSRQLELOL]DGR SDUD
JUXSRV GR WhatsApp e LPSRUWDQWH PHQFLRQDU TXH R SODQHMDPHQWR GRV HQFRQWURV IRL
UHDOL]DGRQRGHFRUUHUGROHYDQWDPHQWRGRPDWHULDOHQWHQGLGRFRPRdisparador de discussão
PDWHULDO TXH VXVFLWRX GLiORJRV HQWUH R JUXSR QR DSOLFDWLYR PyYHO WhatsApp. 6REUH D
SRVVLELOLGDGH GH OHYDQWDU XPD GLVFXVVmR D SDUWLU GH XP DUWHIDWR FXOWXUDO )HOLSH H *XL]]R
S FRUURERUDP GL]HQGR TXH H[LVWH D ³SRVVLELOLGDGH GH VH SURPRYHU JUXSRV GH
FRQYHUVD D SDUWLU GH DUWHIDWRV ± FRPR SURSDJDQGDV EULQTXHGRV ILOPHV ± TXH VLUYDP FRPR
³GHIODJUDGRUHV´ H XPD SRVVtYHO GLVFXVVmR QR JUXSR´ 5HVVDOWR TXH SRU TXHVW}HV pWLFDV RV
QRPHV GRVDV SDUWLFLSDQWHV IRUDP XWLOL]DGRV DSHQDV FRP VXDV LQLFLDLV H FRP R Q~PHUR
FRUUHVSRQGHQWHDLGDGHDRODGR7RGDSURGXomRHPStULFDIRLXWLOL]DGD³~QLFDHH[FOXVLYDPHQWH
SDUDILQVGHGLYXOJDomRFLHQWtILFD´6$/(6S
2V PDWHULDLV HVFROKLGRV SDUD IXQFLRQDUHP FRPR GLVSDUDGRUHV GH GLVFXVV}HV
FRQVLVWLUDPHPDUWHIDWRVFXOWXUDLVGDVPtGLDVGLJLWDLVVHOHFLRQDGRVSUHYLDPHQWH3DUDUHIRUoDU
XPDQRomRMiH[SOLFLWDGDDQWHULRUPHQWHpYDOLGRGL]HUTXHRVDUWHIDWRVFXOWXUDLVGDVPtGLDV
GLJLWDLV VmR DV SURGXo}HV GD FXOWXUD HP QtYHO GLJLWDO 2 DSDUHOKR FHOXODU p XPD WHFQRORJLD
SRUpPDVRSHUDo}HVHRVDSOLFDWLYRVGLVSRQtYHLVQHOHHDSDUWLUGHOHVmRRVDUWHIDWRVFXOWXUDLV
GDVPtGLDVGLJLWDLVDVP~VLFDVRVMRJRVDSOLFDWLYRVHWF(VWHVDUWHIDWRVSURGXo}HVFXOWXUDLV
IRUDPpostadosQRJUXSRGRVDVMRYHQVRUJDQL]DGRQRWhatsAppRTXDOFRORTXHLRQRPHGH
)DOD*XUL]DGDSDUDID]HUUHODomRFRPXPDH[SUHVVmRGRVXOGR%UDVLO
$UWHIDWRV&XOWXUDLVQDOyJLFDGRVlugares convencionados de comunicação em rede
“Hoje em dia até a pessoa mais bela do mundo vai se achar algum defeito” (D_17,
participante do grupo Fala Gurizada).
2OLPLWHGHSHVVRDVSRUJUXSRQRDSOLFDWLYRWhatsApppGHSHVVRDV(VWDLQIRUPDomRpGRDQRGH
-RJRVDSOLFDWLYRVPyYHLVYtGHRFOLSHVHWF
LPDJHPXPDFRQRWDomRSOiVWLFD2VSURJUDPDVGHHGLomRGHLPDJHQVVHSRSXODUL]DUDPFRPD
YLUDGDGRPLOrQLRSRUpPDFULDomRGHVWHDSOLFDWLYRQmRID]LDFRPTXHDVSHVVRDVHGLWDVVHP
SRVWHULRUPHQWHVXDVIRWRVHVWDVID]LDPDHGLomRHPWHPSRUHDOLQVWDQWkQHRFRPRRSUySULR
LPSHUDWLYR GD YHORFLGDGH TXH FDUDFWHUL]D D VRFLHGDGH FRQWHPSRUkQHD $R GLVSDUDU HVWH
DSOLFDWLYR QR JUXSR )DOD *XUL]DGD D SDUWLFLSDQWH 'B VH SRVLFLRQRX PHQFLRQDQGR D IUDVH
TXHDEUHHVWDVHomRGHPRQVWUDQGRDLQVDWLVIDomRFRQWHPSRUkQHDFRPRSUySULRFRUSRFRUSR
HVWHYLVLELOL]DGRHSURGX]LGRSRUPHLRGHLPDJHQVIRWRJUiILFDVQRFLEHUHVSDoR
1HVVH VHQWLGR D DOWHUDomR GRV FRQWH~GRV QR FDVR DV LPDJHQV IDYRUHFH XPD FXOWXUD
TXH FRQVWLWXL H PRGLILFD DV YLV}HV GR VXMHLWR GH VL PHVPR H GRV RXWURV RX VHMD VREUHVHXV
SUySULRVFRUSRVHRSUySULRFRQFHLWRGHEHOH]D2VUHWRTXHVSRVVLELOLWDGRVDWUDYpVGRSURFHVVR
GHHGLomRGHLPDJHQVGLJLWDLVH[WUDSRODPDVPDQHLUDVFRQKHFLGDVQRPXQGRItVLFRSRUTXHR
PHFDQLVPR GH VLPXODomR H R FDUiWHU O~GLFR GD H[SHULPHQWDomR GR DSOLFDWLYR DPSOLD QRD
XVXiULRD R GHVHMR GH PRGLILFDU DTXLOR TXH HP VL QmR OKH DJUDGD LQFLWDQGR R FRQVXPR GH
FRVPpWLFRVPDTXLDJHQVHSURFHGLPHQWRVHVWpWLFRVDWpPHVPRFLU~UJLFRV$SDUWLUGRGLiORJR
DVHJXLUGR*UXSR)DOD*XUL]DGDpSRVVtYHOYLVXDOL]DUHWHQVLRQDUHVWHVDVSHFWRV
1B%RDWDUGH(XDGRURHVVHDSOLFDWLYRSRUTXHWHQKR08,7$ROKHLUDHPDUFDVGHDFQHJHUDOPHQWHQDV
IRWRVHQJDQDXPSRXFRPDLVTXDQGRWiPXLWRH[DJHUDGRHXDGPLWRTXHMiXVHLRDSOLFDWLYRSRUpPQmRWRGD
KRUDDWpSRUTXHTXHP PHFRQKHFHVDEHFRPRVRXSHVVRDOPHQWHHQmRKiQHFHVVLGDGHGHTXHUHUPRVWUDU
XPDFRLVDTXHQmRVRX(XVHPSUHJRVWHLGHPDNHGHVGHSHTXHQD
9B0XLWDVSHVVRDVTXHPHFRQKHFHUDPSULPHLURSRUIRWRTXDQGRSHVVRDOPHQWHQRVYLPRVVHPSUHPH
DFKDUDPTXHHXVHULDPDLVDOWDULVRV8PDGDVFRLVDVTXHIRWRQmRUHSUHVHQWD
/(B(XQmRJRVWRPXLWRGHVVHDSOLFDWLYRGHL[DDVSHVVRDV³IDOVDV´0DVFRQKHoRSHVVRDVTXHXVDP
HOH
3HVTXLVDGRUD7LQKDXPWHPSRQDLQWHUQHWTXHQLQJXpPFRORFDYDDIRWRTXDVHXVDYDPDYDWDUHVPDVLVVR
ID]PXLWRWHPSR6HUiTXHLVVRYROWDRXDVSHVVRDVGHVHMDPVHUYLVWDVFDGDGLDPDLV"
/(B+RMHHPGLDPXLWDVSHVVRDVHVWmRSRVWDQGRIRWRVVySDUDJDQKDUFXUWLGDV6HMDXVDQGR<RX&DP
RXQmR
1B3RLVpWDPEpPDFKRLVVR3LRUpRVTXHSHGHPLQER[³FXUWHPLQKDIRWR"´
/(B9HUGDGHNNNNDVYH]HVHXWHQKRYRQWDGHGHFRPHQWDUQDIRWR³7DDLDFXUWLGDTXHYRFrPHSHGLX
LQER[´
4XDQGRSURYRTXHLRJUXSRFRPDSRVVLELOLGDGHGRUHWRUQRGH³DYDWDUHV´FRPRIRUPD
GH UHSUHVHQWDomR GR LQGLYtGXR QRV OXJDUHV FRQYHQFLRQDGRV GH FRPXQLFDomR HP UHGH
='5$'(. RVDV SDUWLFLSDQWHV WURX[HUDP QRYDPHQWH D LPSRUWkQFLD TXH DV SHVVRDV
DWULEXHP HP JHUDO D VXD SUySULD LPDJHP QD UHGH 6REUH R TXH RXVR SUREOHPDWL]DU VH D
rQIDVH DR HVSHOKDPHQWR DSULPRUDGR GH VL PHVPR SRWHQFLDOL]DGD SHOD SODVWLFLGDGH GDV
LPDJHQV QDV PtGLDV GLJLWDLV HVWDULD FULDQGR RXWUD HVSpFLH GH DYDWDU TXH VHULD R UHIOH[R
SHUIHLWRGHVLPHVPRRFRPRRVXMHLWRTXHUVHUYLVWRRTXHHOHGHVHMDPRVWUDUGHVL
3RULVVRQmRQRVHQJDQDPRVHSHQVDPRVVDEHPRVTXHQmRYHPRVRTXHTXHUHPRV
YHUPDVVLPDTXLORTXHQRVID]HPYHURTXHGHVFHQWUDDSUHRFXSDomRSRUSURGX]LU
VLJQLILFDGRV H D GHVORFD SDUD LQGDJDU D RULJHP ± RV FDPLQKRV GH DSURSULDomR GH
VHQWLGR±DSDUWLUGRVTXDLVYLHPRVDSUHQGHQGRDFRQVWUXLURVVLJQLILFDGRVRTXHQRV
OHYDDH[SORUDUDVIRQWHVGDVTXDLVVHQXWUHQmRDSHQDVQRVVDPDQHLUDGHYHUROKDU
PDV RV VLJQLILFDGRV TXH ID]HPRV QRVVRV H TXH IRUPDP SDUWH GH RXWURV UHODWRV H
UHIHUrQFLDVFXOWXUDLV+(51È1'(=S
2 DXWRU HP VXDV SURSRVLo}HV SDUD R FDPSR GD &XOWXUD 9LVXDO ODQoD XPD YLVmR
UHIOH[LYD D UHVSHLWR GDV IRQWHV TXH QXWUHP RV ROKDUHV FRQWHPSRUkQHRV IRQWHV HVWDV TXH
SRVVXHP UHIHUrQFLDV DQFRUDGDV HP XPD SDLVDJHP VRQRUD YLVXDO FHQWUDOPHQWH WHFQROyJLFD
9LYHPRV URGHDGRVDV HP WRUQR GH ³WHFQRLPDJHQV SURGXWR FDUDFWHUtVWLFR GD FXOWXUD
FRQWHPSRUkQHD XP UHFXUVR SRWHQFLDO FRP FDUiWHU P~OWLSOR GH UHODo}HV TXH UHSUHVHQWD
GHVDILRV QDV SURSRVWDV LGHQWLWiULDV FRQFHLWXDLV DUWtVWLFDV H HVWpWLFDV ./(0 H 0$57,16
S´
2V VXMHLWRV GDV GpFDGDV GH H LQtFLR GRV DQRV SURMHWDYDP LPDJHQV QR
FLEHUHVSDoR TXH JDQKDUDP R QRPH GH avatar QHP VHPSUH HUDP IRWRJUDILDV VXDV H VLP
VtPERORV H SHUVRQDJHQV FRP R TXDO VH VHQWLVVH UHSUHVHQWDGR 1D IOXLGH] FRQWHPSRUkQHD R
VXMHLWR WRUQDVH SRU PHLR GDV ³WHFQRLPDJHQV´ R VHX SUySULR DYDWDU ./(0 H 0$57,16
eSRVVtYHOYLVOXPEUDUHVVDTXHVWmRQDRSLQLmRH[SUHVVDSRU0BVREUHDWHPiWLFDGRV
DYDWDUHV
0B$QWHVQyVXViYDPRVDYDWDUHV+RMHVyHPDOJXQVSRXFRVOXJDUHVFRPRIyUXQVVHPDQWHPHVVDSUiWLFD
eUDPRV PDLV R QLFNQDPH R DSHOLGR ,VVR GL]LD PDLV VREUH R LQGLYtGXR QR PXQGR YLUWXDO +RMH p VREUH DV
IRWRVGRTXHYRFrHVWiYHVWLQGRFRPHQGRYLVLWDQGR
2 DXWRU /LSRYHWVN\ S FKDPD GH FRQVXPR YLVXDO H KHGRQLVWD R TXH RD
YLVLWDQWH GH XP PXVHX GH DUWH ID] TXDQGR DGHQWUD R HVSDoR FRP UDSLGH] H HQYROYHVH HP
PDOKDVGHFRQVXPRTXHJLUDPHPWRUQRGRPHUFDGRGHDUWLJRVHsouveniresGLVSRVWRVQHVVHV
HVSDoRV ³R YLVLWDQWH GH PXVHX QmR EXVFD D H[SHULrQFLD HVWpWLFD ³SXUD´ PDV DQWHV GH PDLV
QDGD HVWtPXORV UHQRYDGRV HPRo}HV LQVWDQWkQHDV TXH FULHP XP WHPSR UHFUHDWLYR´ (VWD
FRORFDomRGRDXWRUVHUHODFLRQDFRPDIDODGRSDUWLFLSDQWH0BRTXDOVHUHIHUHDRDWRGRV
VXMHLWRV GR FLEHUHVSDoR SRVWDU IRWRV GH VL HP OXJDUHV TXH HVWmR YLVLWDQGR VHP DWULEXtUHP
LPSRUWkQFLD VLJQLILFDWLYD DR ORFDO RX DR TXH HVWH UHSUHVHQWD H VLP DR VWDWXV FRQFHGLGR SRU
HVWDUQHVWHORFDOHSHORSURFHVVRGHKLSHUYDORUL]DomRGDSUySULDLPDJHPGLYXOJDGDQRVOXJDUHV
FRQYHQFLRQDGRVGHFRPXQLFDomRHPUHGH ='5$'(.
6HJXLQGRRUXPRWUDoDGRSHODSHVTXLVDQHWQRJUiILFD6$/(6DTXDOFRQVLVWH
QDREVHUYDomRDWHQWDGRFLEHUHVSDoRFRQWH[WXDOL]RRH[FHUWRGRDXWRUHDIDODGRSDUWLFLSDQWH
FRP XPD LQWHUYHQomR FUtWLFR UHIOH[LYD FULDGD SHOR DUWLVWD H HVFULWRU 6KDUDN 6KDSLUD QR VLWH
KWWS\RORFDXVWGHQHVWHHVSDoRHOHSXEOLFRXGR]HIRWRVH[WUDtGDVGHGLIHUHQWHVUHGHVVRFLDLV
QDV TXDLV DV SHVVRDV PRVWUDYDPVH HP SRVHV FRPHPRUDWLYDV GHQWUR GR 0HPRULDO GR
+RORFDXVWR HP %HUOLP (P XPD PRQWDJHP DR ODGR GD IRWRJUDILD RULJLQDO R DUWLVWD FRORFRX
MXGHXVPRUWRVHVSDOKDGRVHPYROWDGDSHVVRDTXHWLURXDIRWR
$LQWHUYHQomRFUtWLFRUHIOH[LYDUHDOL]DGDQDVIRWRJUDILDVSHORDUWLVWDLVUDHOLWDIXQFLRQRX
FRPRXPDGHQ~QFLDSDUDRPXQGRHOHDILUPDTXHRVLWHFULDGRIRLYLVXDOL]DGRSRUPDLVGH
PLOK}HVGHSHVVRDVHWRGDVDVGR]HSHVVRDVTXHDSDUHFLDPQDVIRWRVHQWUDUDPHPFRQWDWRFRP
HOH SHGLQGR GHVFXOSDV $WXDOPHQWH QR VLWH VH HQFRQWUDP GLVSRVWRV RV HPDLOV GHGHVFXOSD H
QmRVHHQFRQWUDPPDLVDVPRQWDJHQV
2 PDQLIHVWR Yolocaust FULDGR SRU 6KDUDN PH ID] UHIOHWLU VREUH DV SDODYUDV GR
HVWXGLRVR6WXDUW+DOOSRTXDOUHLWHUDTXH³DFRPSUHHQVmRGRVKRUL]RQWHVHVSDoR
WHPSRHPXPPXQGRJOREDOL]DGRTXHRULJLQD³XPDJHRJUDILD´³VHPOXJDU´GDLPDJHPHGD
VLPXODomR FULD XP PXQGR GH LQVWDQWDQHLGDGH H VXSHUILFLDOLGDGH´ (VWD VXSHUILFLDOLGDGH
DWULEXtGD SRU +DOO DOLDGD DR KHGRQLVPR GHVFULWR SRU /LSRYHWVN\ UHLYLQGLFDP DWHQomR GD
VRFLHGDGHFRQWHPSRUkQHDHGDVLQVWLWXLo}HVSDUDTXHVHMDFULDGDXPDDWPRVIHUDUHVSHLWRVDTXH
DWULEXDKLVWRULFLGDGHDRVHVSDoRVeSUHFLVRSUREOHPDWL]DURVPRGRVFRPRjVMXYHQWXGHVHVWmR
VHQGRHGXFDGDVSRLVRDQVHLRSRUWRUQDUVHFpOHEUHWHQGRVXDLPDJHPYDORUL]DGDSDUHFHHVWDU
VREUHSRVWRDTXDOTXHURXWURDVSHFWRPHVPRTXHFRPRQRFDVRFLWDGRHVWHHVSDoRVHMDXPD
UHIHUrQFLD KLVWyULFD GH XPD GDV JUDQGHV GRUHV H YHUJRQKDV YLYLGDV SHOD KXPDQLGDGH ±
+RORFDXVWR-XGHX
)LJXUD±$GDSWDGRGHKWWSZZZWXGRLQWHUHVVDQWHFRPEUDUWLVWDFULDPRQWDJHQVFKRFDQWHV
FRQWUDIRWRVGHWXULVWDVQRPHPRULDOGRKRORFDXVWRKWPO$FHVVRHP
$V LPDJHQV TXH DSUHVHQWR D VHJXLU HVWmR GLVSRVWDV HP XPD FDWHJRULD H DX[LOLDP D
SURMHWDUDOJXPDVFRPSUHHQV}HVVREUHRVDUWHIDWRVFXOWXUDLVYLYHQFLDGRVSRUXPDSDUFHODGDV
MXYHQWXGHV 2 FRQMXQWR ODQoD FRQWRUQRV DFHUFD GHVWHV OXJDUHV FRQYHQFLRQDGRV GH
FRPXQLFDomRHPUHGHRVTXDLVSURSRUFLRQDPRDXWRVHTXHVWURGDVMXYHQWXGHV
&DWHJRULD
Sequência de imagens sobre jogos digitais (The Sims, Guitar Hero, Poker Stars e Just
Dance Now). Captura de imagens do Instagram, Facebook e WhatsApp. Captura de
imagens de peças publicitárias da campanha Fanta Leva na Boa e Deu Match? Se joga
no escuro.
'LDQWHGHVWH FHQiULR XELTXLWiULRpLPSRUWDQWHDFRQWULEXLomRKLVWyULFRFXOWXUDODFHUFD
GDVMXYHQWXGHV6HJXQGR0DULD5LWD.HKOS³RSUHVWtJLRSHODMXYHQWXGHQR%UDVLO
pUHFHQWH´$WUDYpVGDVSDODYUDVGDDXWRUDSRGHPRVFRPHoDUDGHVHQKDUDFRQVWUXomRVRFLDOH
KLVWyULFD GR FRQFHLWR GH MXYHQWXGH QR %UDVLO GD PRGHUQLGDGH VyOLGD .HKO DERUGD R
(VWHWH[WRIRLSURGX]LGRFRPRREMHWLYRGHXPDH[SRVLomRRUDOQDPHVDUHGRQGD3DUDHVWDIRLSUHYLVWDXPD
DSUHVHQWDomRDXGLRYLVXDO1DLPSRVVLELOLGDGHGHWUD]HUWRGRVRVHOHPHQWRVLPDJpWLFRVQRVOLPLWHVGHVVHWH[WR
GHVFUHYRRVSDUDPHQFLRQDUGRTXHVHWUDWDP
SHQVDPHQWRGH1HOVRQ5RGULJXHVTXDQGRHVWHHVFUHYHXHPXPDFU{QLFD³2%UDVLOGH
HUDXPDSDLVDJHPGHYHOKRV´,VWRSRUTXHQHVWHVDQRV
8P KRPHP GH DQRV Mi SRUWDYD R ELJRGH D URXSD HVFXUD H R JXDUGDFKXYD
QHFHVViULRVSDUDLGHQWLILFiORHQWUHRVKRPHQVGHHQmRHQWUHRVUDSD]HVGH
+RPHQVHPXOKHUHVHUDPPDLVYDORUL]DGRVDRLQJUHVVRQDIDVHSURGXWLYDUHSURGXWLYD
GD YLGD GR TXH TXDQGR DLQGD KDELWDYDP R OLPER HQWUH LQIkQFLD H D YLGD DGXOWD
FKDPDGR GH MXYHQWXGH RX FRPR VH WRUQRX KiELWR GHSRLV GD GpFDGD GH GH
DGROHVFrQFLD.(+/S
1D VRFLHGDGH FRQWHPSRUkQHD GH XP PXQGR OtTXLGR PRGHUQR %$80$1
DOJXPDV UDFLRQDOLGDGHV IRUDP PRGLILFDGDV H GLDQWH GLVVR FRQIRUPH DSRQWD D DXWRUD RVDV
MRYHQV TXH DQWHV HUDP S~EHUHV H GHVHMDYDPVDLU UDSLGDPHQWHGROLPERHQWUHLQIkQFLDHIDVH
DGXOWDSDVVDUDP DVHU HQWHQGLGRVDVFRPRVXMHLWRVLQWHJUDQWHVGHXPDIDL[DSULYLOHJLDGDGDV
VRFLHGDGHVLQGXVWULDLV
2WHPSRSUHVHQWHWHPVLGRPDUFDGRSRUDPELYDOrQFLDVHQHVWDUHGRPDHQFRQWUDPVH
DOJXPDV EUHFKDV SDUD HQWHQGHU FRPR RVDV MRYHQV SDVVDUDP D VHUHP FRQVLGHUDGRVDV
FRQVXPLGRUHVDV OXFUDWLYRV SDUD DV HPSUHVDV .HKO DQDOLVD TXH R DXPHQWR GR SHUtRGR GH
IRUPDomR HVFRODU D FRORVVDO GLVSXWD GRV PHUFDGRV GH WUDEDOKR QRV SDtVHV FDSLWDOLVWDV H D
UHFHQWHHVFDVVH]GHHPSUHJRVGHVWLQDRDMRYHPDGXOWRDDYLYHUXPORQJRWHPSRQDSRVLomR
GH DGROHVFHQWH GHSHQGHQWH HFRQRPLFDPHQWH GD IDPtOLD H VHSDUDGR GDV UHVSRQVDELOLGDGHV
VHQGRDVVLPLQDSWRSDUDGHFLGLUHWRPDUFRQWDGDVXDYLGD
(P FRQWUDSDUWLGD RXWUD QRomR GH MRYHP SDVVD D VHU IDEULFDGD $ manutenção da
juventude, DGYLQGD GRV GLVFXUVRV GD FXOWXUD GD PtGLD FRPHoD D VHU JHVWDGD SDUD VREUHSRU D
DQWLJDIDVHGROLPERVHUHQFDUQDGDFRPRDPHOKRUIDVHGDYLGDGHXPVHUKXPDQR
6HU MRYHP YLURX VORJDQ YLURX FOLFKr SXEOLFLWiULR YLURX LPSHUDWLYR FDWHJyULFR ±
FRQGLomR SDUD VH SHUWHQFHU D XPD FHUWD HOLWH DWXDOL]DGD H YLWRULRVD $R PHVPR
WHPSRD³MXYHQWXGH´VHUHYHODYDXPSRGHURVtVVLPRH[HUFLWRGHFRQVXPLGRUHVOLYUHV
GRVIUHLRVPRUDLVHUHOLJLRVRVTXHUHJXODYDPDUHODomRGRFRUSRFRPRVSUD]HUHVH
GHVOLJDGRVGHTXDOTXHUGLVFXUVRWUDGLFLRQDOTXHSXGHVVHIRUQHFHUFULWpULRVTXDQWRDR
YDORU H j FRQVLVWrQFLD GLJDPRV H[LVWHQFLDO GH XPD HQ[XUUDGD GH PHUFDGRULDV
WRUQDGDVGDQRLWHSDUDRGLDHVVHQFLDLVSDUDDQRVVDIHOLFLGDGH.(+/S
>JULIRVGDDXWRUD@
'HVVD PDQHLUD p SRVVtYHO FRPSUHHQGHU DOJXPDV LQWHUIDFHV GR HQWHQGLPHQWR GHVWDV
MXYHQWXGHVTXHVHPROGDPFRQWLQXDPHQWHQDYHORFLGDGHIOXLGDGDVLQIRUPDo}HVTXHSRYRDP
RVentre-lugares HPTXHGUDSHMDPDHGXFDomRRWUDEDOKRHDFXOWXUD
1RVpFXOR;;,DFRPSUHHQVmRGHMXYHQWXGHHYHOKLFHDVVXPHPFRQWRUQRVTXHRXWURUD
VHULDPLQDFHLWiYHLV3DUHFHPHSRVVtYHOGL]HUTXHQDDWXDOLGDGHRVLQGLYtGXRVFRQVLGHUDGRV
FRPR DGXOWRV QmR PDLV VHJXHP GH PRGR WmR OLQHDU FRPR RXWURUD RV SDGU}HV GH
FRPSRUWDPHQWR DWp HQWmR HVSHUDGRV SRLV RSWDP SRU SHUSHWXDU XP GHWHUPLQDGR LGHiULR GD
MXYHQWXGHRTXDODODUJDVHXHQWHQGLPHQWR9LYHVHXPWHPSRHXPHVSDoRHPTXHPDUFDo}HV
HQWUHJHUDo}HVHQFRQWUDPVHHVPDHFLGDVGHIRUPDDHQWUHFUX]DUHPVH
&RQIRUPH .HKO S DRGDUVHHODVWLFLGDGHDRFRQFHLWRFRQVLGHUDVHTXHQR
HVSDoRGHWHPSRHQWUHRVHDQRV³WRGRVRVDGXOWRVVmRjovens´(VWHDODUJDPHQWRQmR
PDLV WHP UHODomR FRP D H[SHFWDWLYDGHYLGDXPDYH]TXHQRVGLDVDWXDLVDPpGLDGHYLGD
SDLUD HP WRUQR GRV DQRV KRMH PDLV GR TXH XP LQWHUYDOR GH WHPSR DV MXYHQWXGHV
WRUQDPVH ³XP HVWDGR GH HVStULWR XP MHLWR GH FRUSR XP VLQDO GH VD~GH H GLVSRVLomR p XP
SHUILO GR FRQVXPLGRU XPD IDWLD GR PHUFDGR RQGH WRGRV TXHUHP VH LQFOXLU´ .(+/
S
2VDV KDELWDQWHV GR PXQGR FRQWHPSRUkQHR DGRWDUDP XP VLQ{QLPR PHQRV DJUHVVLYR
SDUDDYHOKLFHa terceira idadePLQLPL]DQGRDVFDUDFWHUtVWLFDVGHVWDIDVHGDYLGD1DPHGLGD
HP TXH HVWH WHUPR WRUQDVH QDWXUDOL]DGR QD FXOWXUD XP ³GDQR FRODWHUDO´ %$80$1
HOHYDVH VLOHQFLRVDPHQWH R HVYD]LDPHQWR GR HVSDoR H WHPSR GR LQGLYtGXR DWp HQWmR
FRQVLGHUDGRDGXOWR6HDLQIkQFLDSHUPDQHFHFRQVLGHUDGDDSULPHLUDIDVHGDYLGDHDYHOKLFH
SDVVD D VHU D WHUFHLUD HWDSD R LQWHUYDOR HQWUH DV GXDV SDVVD D VHU RFXSDGR SHOD QRomR GH
MXYHQWXGHTXHJUDGDWLYDPHQWHGHUUHWHDIDVHDGXOWDDTXDOVHGLOXLQRLGHDOGHSHUSHWXDomRGR
TXH PXLWRVDV FRQVLGHUDP R PHOKRU WHPSR GD YLGD 1R FDPLQKR GH DQiOLVHV GH DXWRUHVDV
FRPR&RVWD%HDWUL]6DUOR1HLO3RVWPDQH%DXPDQHQFRQWUDP
VH LQGtFLRV GD GHVHVWDELOL]DomR GDV KLHUDUTXLDV JHUDFLRQDLV 1HVVH FHQiULR R Youtube SRVVXL
JUDQGH LQIOXrQFLD H VREUH LVVR RV SHVTXLVDGRUHV -HDQ %XUJXHV H -RVKXD *UHHQ S
PHQFLRQDP
2 IDVFtQLR GD LPDJHP DWLQJH VHX iSLFH TXDQGR QyV VRPRV D SUySULD PHQVDJHP
7DOYH]SRULVVRR<RX7XEHVHMDXPLUUHVLVWtYHOORFDOGHVVDHQRUPHiJRUDYLUWXDOTXH
LQGHSHQGHQWHPHQWHGRVVHXVSUREOHPDVHIRUPDWRVSHUPLWHDFDGDXPVHUDSUySULD
PtGLDFHOHEULGDGHVGRQRVVRFRWLGLDQR%85*(66*5((1S
'H DFRUGR FRP SHVTXLVDV UHDOL]DGDV SHOR,%*(±,QVWLWXWR %UDVLOHLUR GH *HRJUDILD H (VWDWtVWLFD 'LVSRQtYHO
HP KWWSJJORERFRPFLHQFLDHVDXGHQRWLFLDH[SHFWDWLYDGHYLGDGRVEUDVLOHLURVVREHSDUD
DQRVGL]LEJHKWPO$FHVVRHP
1HVVH FHQiULR QR TXDO RD MRYHP FRQWHPSRUkQHR
SRGH VHU D SUySULD PHQVDJHP p
LPSRUWDQWHDSUREOHPDWL]DomRVREUHDVFRQH[}HVWUDYDGDVSHORVVXMHLWRVQDVUHGHVVRFLDLVDV
TXDLV5HFXHURSFKDPDGHFRQH[}HVHQWUHRVDWRUHVGDUHGH
(QTXDQWRRVDWRUHVUHSUHVHQWDPRVQyVRXQRGRVGDUHGHHPTXHVWmRDVFRQH[}HV
GHXPDUHGHVRFLDOSRGHPVHUSHUFHELGDVGHGLYHUVDVPDQHLUDV(PWHUPRVJHUDLVDV
FRQH[}HV HP XPD UHGH VmR FRQVWLWXtGDV GRV ODoRV VRFLDLV TXH SRU VXD YH] VmR
IRUPDGRV DWUDYpV GD LQWHUDomR VRFLDO HQWUH RV DWRUHV 'H XP FHUWR PRGR VmR DV
FRQH[}HVRSULQFLSDOIRFRGHHVWXGRGDVUHGHVVRFLDLVSRLVpVXDYDULDomRTXHDOWHUD
DVHVWUXWXUDVGHVVHVJUXSRV
6HJXQGRDDXWRUDVmRHVWDVFRQH[}HVTXHLPSRUWDPVHUSUREOHPDWL]DGDVSRUTXHHVWDV
FRQH[}HV UHPHWHP D LQWHQVLGDGHGRV ODoRVVRFLDLVHQWUHRVDWRUHVQDUHGH$DXWRUDDOLFHUoD
VXDVSURSRVLo}HVHP0DUN*UDQRYHWWHURTXDOSXEOLFRXDWHVHGHGRXWRUDGRLQWLWXODGD
³$IRUoDGRVODoRVIUDFRV´1HVVDSHVTXLVDRDXWRUDQDOLVRXHSUREOHPDWL]RXRPRGRFRPR
VH FRQVWLWXtDP HVVDV FRQH[}HV EHP FRPR D VXDUHOHYkQFLD QDFRPSUHHQVmR GDV UHODo}HV QD
FRQWHPSRUDQHLGDGH 5HODo}HV FXMD HVWUXWXUDomR p DWUDYHVVDGD YHOR] H LQWHQVDPHQWH SHODV
UHGHV GH UHODFLRQDPHQWR H[LVWHQWHV QR FLEHUHVSDoR 5HFXHUR S DGMHWLYD FRPR
VHPLQDLV SDUD D FRPSUHHQVmR GHVVD WHPiWLFD DV FRORFDo}HV GR DXWRU VREUH R TXH WHFH DV
VHJXLQWHVFRQVLGHUDo}HV
/DoRV IRUWHV VmR DTXHOHV TXH VH FDUDFWHUL]DP SHOD LQWLPLGDGH SHOD SUR[LPLGDGH H
SHODLQWHQFLRQDOLGDGHHPFULDUHPDQWHUXPDFRQH[mRHQWUHGXDVSHVVRDV2VODoRV
IUDFRV SRU RXWUR ODGR FDUDFWHUL]DPVH SRU UHODo}HV HVSDUVDV TXH QmR WUDGX]HP
SUR[LPLGDGHHLQWLPLGDGH/DoRVIRUWHVFRQVWLWXHPVHYLDVPDLVDPSODVHFRQFUHWDV
SDUDDVWURFDVVRFLDLVHQTXDQWRRVODoRVIUDFRVSRVVXHPWURFDVPDLVGLIXVDV
2V ODoRV VHMDP IRUWHV RX IUDFRV VmR HVWUXWXUDGRUHV GD UHGH VRFLDO D LQWHQomR GH
5HFXHURUHODFLRQDVHDSUREOHPDWL]DomRGHVWDVIRUPDVGHFRQH[mRHQmRjYDORUDomRGHTXDLV
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=DKDU
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SHVTXLVDHPHGXFDomR5LRGH-DQHLUR/DPSDULQD
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BBBBBB0LFKHO2TXHVmRDVOX]HV",Q0277$0DQRHO%DUURVGDRUJMichel Foucault
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8QLYHUVLWiULD
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BBBBBB(XVRXXPSLURWpFQLFR,Q32/'52,75(GMichel Foucault entrevistas5LR
GH-DQHLUR*UDDO
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+$5$:$<'RQQD0DQLIHVWRFLERUJXHFLrQFLDWHFQRORJLDHIHPLQLVPRVRFLDOLVWDQRILQDO
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.(+/ 0DULD 5LWD $ MXYHQWXGH FRPR VLQWRPD GD FXOWXUD ,Q 129$(6 5HJLQD
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3DUWLFLSDomR6mR3DXOR3HUVHX$EUDPR
./(0 'LOPD 0DUTXHV 6LOYHLUD 0$57,16 $OLFH )iWLPD ,PDJHQV GLJLWDLV FRQVWUXomR
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8QLYHUVLGDGH(VWDGXDOGH0RQWHV&ODURV
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(VWHUPDQQ 3$5$Ë62 0DUOXF\ $OYHV 2UJV Metodologias de Pesquisas Pós-Críticas em
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0DUOXF\ $OYHV 2UJV Metodologias de Pesquisas Pós-Críticas em Educação %HOR
+RUL]RQWH0D]]D
6$5/2%HDWUL]Cenas da vida pós-moderna5LRGH-DQHLUR(GLWRUD8)5-
6,/9$7RPD]7DGHXGDDocumentos de Identidade: XPDLQWURGXomRjVWHRULDVGRFXUUtFXOR
%HOR+RUL]RQWH$XWrQWLFD
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67(,1%(5* 6KLUOH\ .,1&+(/2( -RH / 6HP 6HJUHGRV FXOWXUD LQIDQWLO VDWXUDomR GH
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HP(GXFDomR5LR*UDQGH33*('8)85*
2&83$d®(6$57Ë67,&$6'$&,'$'(5()/(;®(6$&(5&$'$
3(648,6$(148$17235È7,&$3('$*Ï*,&$1$
81,9(56,'$'(5(*,21$/'2&$5,5,
&HFtOLD/DXULW]HQ-iFRPH&DPSRV 85&$
0HVDUHGRQGD±&DPLQKRVHDWUDYHVVDPHQWRVSHUVSHFWLYDVSDUDSHQVDURHQVLQRGHDUWHQD
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VXSHULRUEHPFRPRGHLQFOXLURVHVSDoRVS~EOLFRVGDFLGDGHHQTXDQWROXJDUHVGDSHVTXLVDHGDSUiWLFD
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7HDWUDO SHOD 8QLYHUVLGDGH )HGHUDO GD 3DUDtED H DWXDOPHQWH FXUVD R 'RXWRUDGR HP 7HDWUR SHOD
8QLYHUVLGDGH GR (VWDGR GH 6DQWD &DWDULQD 7HP H[SHULrQFLD QD iUHD GDV SUiWLFDV FRUSRUDLV GR DWRUSHUIRUPHU
FRP rQIDVH QD LQYHVWLJDomR GR HVSDoR XUEDQR 3DUWLFLSRX GR *UXSR GH7HDWUR GH 5XD 4XHP 7HP %RFD p 3UD
*ULWDU 3DUDtED H GR &ROHWLYR 0DSDV H +LSHUWH[WRV 6DQWD &DWDULQD FXMDV SURGXo}HV LQYHVWLJDP DV iUHDV GD
GDQoDGRWHDWURGDVDUWHVYLVXDLVHGDSHUIRUPDQFHHPVXDVSRVVtYHLVUHODo}HVeSURIHVVRUDHIHWLYDGR&XUVRGH
/LFHQFLDWXUD HP 7HDWUR GD 8QLYHUVLGDGH 5HJLRQDO GR &DULUL &RRUGHQDGRUD GR 3URJUDPD GH ([WHQVmR &XUWDV
&HQDV H GR 3URMHWR GH 3HVTXLVD 2FXSDo}HV DUWtVWLFDV GD FLGDGH centornos e entralidades (PDLO
FHFLOLDFDPSRV#XUFDEU
6XUJH HQTXDQWR JUXSR GH SHVTXLVD QR DQR GH OLGHUDGR SHODV SURIHVVRUDV $QGUpLD 3DULV H &HFtOLD
/DXULW]HQ DPEDV ORWDGDV QR 'HSDUWDPHQWR GH 7HDWUR GR &HQWUR GH $UWHV 5HLWRUD 0DULD 9LROHWD $UUDHV GH
$OHQFDU*HUYDLVHDXGD8QLYHUVLGDGH5HJLRQDOGR&DULUL85&$
IRUPDomR (VWpWLFR$UWtVWLFR GR &XUVR GH /LFHQFLDWXUD HP 7HDWUR PDV VH UDPLILFD H VH
HVSDOKDQDVSHVTXLVDVSDUWLFXODUHVGHQWURHIRUDGDXQLYHUVLGDGH2JUXSRWHPFRPRREMHWLYRV
IRPHQWDUDJUHJDUHVWLPXODUHYDORUL]DUSHVTXLVDVSUiWLFDVHWHyULFDVTXHWrPFRPRQ~FOHRGH
LQYHVWLJDomR SRpWLFDV OLQJXDJHQV H VXEMHWLYLGDGHV GDV DUWHV GD SUHVHQoD GR WUDEDOKR GH
SUHSDUDomR GR DWRUperformer, EHP FRPR RV OXJDUHV GR S~EOLFR QD FHQDFRQWHPSRUkQHD GDV
GLYHUVDV DUWHV FrQLFDV WHDWUR GDQoD FLUFRWHDWURGHDQLPDomRH DUWHVSRSXODUHV'RLVHL[RV
JXLDP R JUXSR Práticas do Ator-Atriz4 H Poéticas Citadinas5 OLQKD TXH WHP FRPR IRFR D
LQYHVWLJDomR GDV SUiWLFDV FrQLFDV SHQVDGDV para H UHDOL]DGDV na FLGDGH 3DUDWDQWR OHYD HP
FRQVLGHUDomRRVDVSHFWRVHVWpWLFRVHSROtWLFRVLPSOLFDGRVQDHVFROKDGRHVSDoRXUEDQRFRPR
locus GH DWXDomR DUWtVWLFD $ GLVFXVVmR VREUHD QRomR GHFLGDGHFRQVWLWXL SDUWH IXQGDPHQWDO
SDUDRGHVHQYROYLPHQWRGRVSURMHWRVTXHFRPS}HPHYHQKDPDFRPSRUHVWDOLQKD
$V H[SHULrQFLDV DTXL UHODWDGDV YLQFXODPVH DR JUXSR FLWDGR SRUpP GH PRGR PDLV
HVSHFtILFRDRSURMHWRGHSHVTXLVD2FXSDo}HV$UWtVWLFDVGD&LGDGHcentornos H entralidades
TXH LQLFLRX VXDV DWLYLGDGHV HP IHYHUHLUR GH 2 SURMHWR WHP FRPR REMHWLYR D
SUREOHPDWL]DomR GDV QRo}HV GH FHQWUR FHQWUDOLGDGH PDUJHP H HQWRUQR SRU PHLR GH
LQYHVWLJDo}HV TXH DQDOLVHP RV HVSDoRV XUEDQRV RFXSDGRV SRU SUiWLFDV WHDWUDLV
FRQWHPSRUkQHDVEHPFRPRVREUHRHVSDoRGRFRUSRFRPROXJDUna/daFLGDGH$SDUWLUGHXP
PDSHDPHQWRGRVHVSDoRVXVXDOPHQWHXWLOL]DGRVSDUDDSUHVHQWDo}HVDUWtVWLFDVLQLFLDOPHQWHQR
WULkQJXOR&UDMXEDURSURMHWRUHIOHWHDFHUFDGDVQRo}HVGHHVSDoRS~EOLFRS~EOLFRHQGyJHQR
HH[yJHQRHSHGHVWUHHVSHFWDGRU
$RSomRSRURFXSDUDUWLVWLFDPHQWHGHWHUPLQDGRVHVSDoRVS~EOLFRVGDVFLGDGHVDLQGDp
YLVWD DWXDOPHQWH FRPR XPD QmRDOWHUQDWLYD UHDOL]DGD SRU DTXHOHV TXH GHVHMDULDP SRVVXLU
DFHVVR DR HGLItFLR WHDWUDO FRQYHQFLRQDO 6DEHPRV TXH D TXHVWmR GD LQIUDHVWUXWXUD QDV
1R WRFDQWH j IRUPDomR LQLFLDO GR DUWLVWDSURIHVVRUSHVTXLVDGRU R 3URMHWR 3ROtWLFR 3HGDJyJLFR GR &XUVR GH
/LFHQFLDWXUD HP 7HDWUR GD 85&$ DVVXPH XPD RUJDQL]DomR FXUULFXODU HP SURFHVVR H GH IRUPD DUWLFXODGD QD
FRQILJXUDomR GH TXDWUR 1~FOHRV GH )RUPDomR (VSHFtILFR (VWpWLFR$UWtVWLFR 3HGDJyJLFR 'LGiWLFR
3HGDJyJLFR&RPSOHPHQWDUH2SWDWLYR
&XMR SURMHWR DWXDO LQWLWXODVH O Ritmo no Trabalho do Ator e da Cena Teatral FRRUGHQDGR SHOD SURIHVVRUD
$QGUpLD$SDUHFLGD3DULV
$OLQKDGHSHVTXLVDYLVDIRUWDOHFHUDLQYHVWLJDomRRGHEDWHHDSUiWLFDHPWRUQRGDVDUWHVFrQLFDVGHUXDTXDQWR
D VXD SURGXomR DVSHFWRV HVWpWLFRV H SROtWLFRV H GLIXVmR DVSHFWRV XUEDQtVWLFRV HFRQ{PLFRV H HGXFDFLRQDLV
DPSOLDQGR H HVWDEHOHFHQGR UHODo}HV WUDQVGLVFLSOLQDUHV HQWUH R FDPSR DUWtVWLFR H R XQLYHUVR FLWDGLQR GD
FRQWHPSRUDQHLGDGH
2 WULkQJXOR &UD-X%DU GHVLJQD SRSXODUPHQWH D UHJLmR PHWURSROLWDQD GR &DULUL HP VXDV WUrV PDLRUHV FLGDGHV
&UDWR-XD]HLURGR1RUWHH%DUEDOKD
XQLYHUVLGDGHVS~EOLFDVEUDVLOHLUDVHPHVSHFLDODVHVWDGXDLVpFUtWLFDSRLVGHL[DRVFXUVRVGH
PRGRJHUDOIXQFLRQDQGRFRPPtQLPDVFRQGLo}HV1RHQWDQWRDUXDHQTXDQWRlocusGHSUiWLFD
DUWtVWLFD QmR FRQILJXUD QR FDVR GR QRVVR SURMHWR XPD fuga GRV HVSDoRV VXFDWHDGRV GD
XQLYHUVLGDGH TXH RFXSDPRV PDV XPD busca SRU UHFRQKHFHU D FLGDGH TXH KDELWDPRV H TXH
QRV KDELWD HQFRQWUDU S~EOLFRV TXH XVXDOPHQWH QmR FRPSDUHFHP DRV OXJDUHV GD DUWH
WUDGLFLRQDOPHQWHLQVWLWXtGRVHDPSOLDUSRVVLELOLGDGHVLQYHVWLJDWLYDVWHDWUDLVTXHFRQWULEXDPQD
IRUPDomRGRSURIHVVRUDUWLVWDSHVTXLVDGRU
,QLFLDOPHQWHDVDWLYLGDGHVGRSURMHWRGHEUXoDUDPVHHPOHLWXUDVGROLYURPesquisa em
Artes Cênicas7 RUJDQL]DGR SHOR SURIHVVRUHSHVTXLVDGRU1DUFLVR /DUDQMHLUD7HOOHV2JUXSR
GHDOXQRVUHXQLGRHPWRUQRGRSURMHWRDSUHVHQWDYDXPTXDGURGLYHUVLILFDGRWDQWRQRTXHVH
UHIHUH j WUDMHWyULD GHQWUR GR FXUVR FRPR HP UHODomR jV H[SHULrQFLDV IRUD GD XQLYHUVLGDGH
1HVVH VHQWLGR VHQWLPRV D QHFHVVLGDGH GH HQWHQGHU XP SRXFR PHOKRU R TXH HVWiYDPRV
LQLFLDQGR HQTXDQWR SURMHWR R TXH GH IDWR SRGHUtDPRV FRPSUHHQGHU HQTXDQWR SHVTXLVD HP
WHDWUR GLDQWH GH WRGDV DV FRQYHUVDV FRP RXWUDV iUHDV JHRJUDILD XUEDQLVPR DUWHV YLVXDLV
GHQWUHRXWUDVTXHRSURMHWRGHPDQGDULD(PXPVHJXQGRPRPHQWRSDUWLPRVSDUDHQFRQWURV
WHyULFRSUiWLFRVHPTXHH[SORUiYDPRVRHVSDoRGRFRUSRQRFRUSRGRHVSDoRHPGLiORJRFRP
OHLWXUDVHGHEDWHVVREUH DREUDA natureza do espaço8GRJHyJUDIREUDVLOHLUR0LOWRQ6DQWRV
7UDEDOKDPRVFRPRVDSRLRVFRUSRUDLVFRUSRFKmRFRUSRHVSDoRFRPRXPWRGRFRUSRFRUSR
GRRXWURFRUSRDPELHQWHH[WHUQRSULQFLSDOPHQWHDSDUWLUGHXPDH[SORUDomRGDVDODYDQFDV
yVVHDV LQYHVWLJDQGR HTXLOtEULRGHVHTXLOtEULR EHP FRPR PRGRV GH LU DR FKmR H YROWDU j
YHUWLFDOLGDGH ,JXDOPHQWH YHULILFDPRV SRVVLELOLGDGHV GHVVHV DSRLRV JHUDUHP HVWDGRV
PRPHQWRV GH FDUUHJDU R RXWUR H VHU FDUUHJDGR LQYHVWLQGR HP GHVORFDPHQWRV QR HVSDoR
XUEDQR TXH SXGHVVHP FDXVDU DOJXPD PXGDQoD QD OyJLFD KDELWXDO GR FDPLQKDU 2XWUR
SURFHGLPHQWRTXHLQYHVWLPRVHQTXDQWRH[SORUDomRHVSDFLDOWDQWRQRkPELWRLQWHUQRTXDQGR
H[WHUQR GR &HQWUR GH$UWHVIRL D 'HULYDSUiWLFDRULJLQDGDSHORPRYLPHQWR6LWXDFLRQLVWD
TXHQRVSHUPLWLXPDSHDUPRGRVGLYHUVLILFDGRVGHHVWDUOHURXYLUHSHUFHEHUQRVVRHQWRUQR
7(//(61DUFLVR3HVTXLVDHP$UWHV&rQLFDVWH[WRVHWHPDV5LRGH-DQHLUR(SDSHUV
6$1726 0LOWRQ $ 1DWXUH]D GR (VSDoR 7pFQLFD H 7HPSR 5D]mR H (PRomR 6mR 3DXOR (GLWRUD GD
8QLYHUVLGDGHGH6mR3DXOR
³$V 'HULYDV FRUUHVSRQGHP DR SHQVDPHQWR XUEDQR GRV VLWXDFLRQLVWDV XPD FUtWLFD UDGLFDO DR XUEDQLVPR TXH
WDPEpP GHVHQYROYHX D QRomR GH GHULYD XUEDQD GD HUUkQFLD YROXQWiULD SHODV UXDV SULQFLSDOPHQWH QRV WH[WRV H
Do}HVGH'HERUG9DQHLJXHP-RUQRX&RQVWDQW´-$&48(6S
¬ PHGLGD TXH R SURMHWR LD VH GHVHQYROYHQGR SXGHPRV SHUFHEHU TXH JHUPLQDYD D
FULDomR GH XPD HVWUXWXUD TXH DLQGD QmR WLQKD R GHVHMR GH VH FRQILJXUDU HQTXDQWR XPD
PRQWDJHP WHDWUDO $ FULDomR YLQKD GDV SUySULDV DVVRFLDo}HV TXH tDPRV FULDQGR GRV GHVHMRV
LQGLYLGXDLV H FROHWLYRV GH H[SDQGLU RV FRQFHLWRV H WRUQDU RV H[HUFtFLRV GH FHUWR PRGR
FRPSDUWLOKiYHLV SDUD R S~EOLFR GD UXD DTXHOH TXHQRV QXWULDFRP D SUySULD YLGD GDFLGDGH
(PSDUDOHORDHVVHSURFHVVRGHFLGLPRVQRVLQVFUHYHUSDUDSDUWLFLSDUGD,,5HXQLmR$UWtVWLFR
&LHQWtILFDGR*UXSRGH7UDEDOKR$UWHV&rQLFDVQD5XDGD$VVRFLDomR%UDVLOHLUDGH3HVTXLVDH
3yV*UDGXDomRHP$UWHV&rQLFDV$%5$&(TXHQHVWHDQRDFRQWHFHXQDFLGDGHPLQHLUDGH
6mR -RmR 'HO5HL 8QLPRV R GHVHMR GH FULDU XP GHVGREUDPHQWR GD SHVTXLVD DR DFHLWH QR
HYHQWRHLQYHVWLPRVQDFULDomRGDLQWHUYHQomRDUWtVWLFDTXHLQWLWXODPRVDeseNcorpo
'HVH1FRUSR
$ LQWHUIHUrQFLD DUWtVWLFD DeseNcorpo GLVFXWH R WHPD GDV LQWHUDo}HV HQWUH RV FRUSRV
FHQWUDLVHRVFRUSRVSHULIpULFRVQDFLGDGH$GRWDQGRDLGHLDGHTXHRFRUSRQDFLGDGHWDPEpP
FRQVWLWXLRFRUSRGDFLGDGHDLQWHUIHUrQFLDSDUWHGHUHIOH[}HVDFHUFDGDVFHQWUDOLGDGHVHGRV
HQWRUQRV WDQWR GD FLGDGH HQTXDQWR HVSDoR ItVLFR TXDQWR GRV FRUSRV TXH QHOD KDELWDP
HQTXDQWR DJHQWHV H FRQVWLWXLQWHV GHVWH PHVPR HVSDoR $GRWDQGR LJXDOPHQWH D QRomR GH
FLQHVIHUD FRPR DTXHOD TXH FRPSUHHQGH R GHVHQKR QDWXUDO LQGLYLGXDO GRV FRUSRV QRV
SHUJXQWDPRVVREUHRVUHGLPHQVLRQDPHQWRVTXHDFLQHVIHUDVRIUHTXDQGRLQWHUDJHFRPHVSDoRV
GH QDWXUH]DV GLYHUVDV FHQWUDLV H SHULIpULFRVQD FLGDGH 1HVVHVHQWLGR QRV TXHVWLRQDPRV D
SDUWLUGHTXHPRPHQWRHXLQYDGRDFLQHVIHUDGRRXWUR"4XDLVVmRRVOXJDUHVGHHVWUDQKDPHQWR
FRUSRUHLGDGHV HVWUDQKDV QD FLGDGH H QR HVSDoR UXUDO" &RPR RV UHGLPHQVLRQDPHQWRV GD
FLQHVIHUD VmR FDSD]HV GH SURGX]LU DMXVWDPHQWRV GLYHUVRV H FRPR HVVHV PHVPRV SRGHP VH
WRUQDUSURSXOVRUHVGHDo}HVSRpWLFDV"
$,QWHUQDFLRQDO6LWXDFLRQLVWD,6IRLXPPRYLPHQWRLQWHUQDFLRQDOGHFXQKRSROtWLFRHDUWtVWLFRDWLYRQRILQDO
GDGpFDGDGHDVSLUDQWHSRUJUDQGHVWUDQVIRUPDo}HVSROtWLFDVHVRFLDLV$WHVHFHQWUDOVLWXDFLRQLVWDHUDDGH
TXHSRUPHLRGDFRQVWUXomRGHVLWXDo}HVVHFKHJDULDjWUDQVIRUPDomRUHYROXFLRQiULDGDYLGDFRWLGLDQD
$V UHXQL}HV GR *7 $UWHV &rQLFDV QD 5XD DFRQWHFHP D FDGD GRLV DQRV VXD SULPHLUD HGLomR IRL UHDOL]DGDQD
FLGDGHGH3RUWR9HOKR5RQG{QLDHFRQWRXFRPRDSRLRGR6HVFHGD8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGH5RQG{QLD±81,5
1HVWHDQRDUHXQLmRDFRQWHFHXHPSDUDOHORDR,QYHUQR&XOWXUDOLPSRUWDQWHIHVWLYDOUHDOL]DGRSHOD8QLYHUVLGDGH
)HGHUDOGH6mR-RmR'HO5HL±8)6-HQTXDQWRSURJUDPDGHH[WHQVmR
&ULDPRV DeseNcorpo QD SHUVSHFWLYD GH GHVHQYROYHU XP DFRQWHFLPHQWR TXH VH
LQILOWUDVVHDRVSRXFRVQRVIOX[RVGRVHVSDoRVGDFLGDGH$LQWHUYHQomRWHPHPVXDWUDMHWyULD
XPDVpULHGHILJXUDVTXHHQFRQWUDGDVQRVH[HUFtFLRVGH'HULYDRFXSDPDUXDHUHSUHVHQWDP
XPD SDUFHOD GD GLYHUVLGDGH GH FRUSRV TXH GLYLGHP R HVSDoR GD FLGDGH &DGD ILJXUD
HQFRQWUDGD SRU FDGD DOXQR/performer12 SDVVRX D H[SHULPHQWDU Do}HV SRVVtYHLV GH VHUHP
UHDOL]DGDV QR HVSDoR XUEDQR FRQYRFDQGR D SDUWLFLSDomR GRV SHGHVWUHVHVSHFWDGRUHV RX QmR
(QFRQWUDPRVDVVHJXLQWHVILJXUDV$PXOKHUFRPDJDOLQKDGHHVWLPDomR8PDIXQFLRQiULDGD
OLPSH]DS~EOLFD8PYHQGHGRUGR&DULULGD6RUWHXPDORWHULDGHSUrPLRVSRSXODUQDUHJLmR
8PD HQWUHYLVWDGRUD TXH TXHVWLRQD R S~EOLFR DFHUFD GR TXH p FHQWUDO H SHULIpULFR 8P
GDQoDULQR GH IRQHV GH RXYLGR TXH GLVWULEXL UHIULJHUDQWH H WHQWD DUUHFDGDU VRUULVRV H 8P
H[HFXWLYRTXHWXGRIDUHMD
)LJXUD'HVH1FRUSR6mR-RmR'HO5HL)RWR-RmR-XVWLQR
)RQWH$XWRUD
(PVXDIRUPDomRLQLFLDODLQWHUYHQomRIRLIRUPDGDSHODSURIHVVRUD&HFtOLD/DXULW]HQHSHORVDOXQRV$QGUp]LR
6RXVD-HVXDOGR-~QLRU-RHOPD)HUUHLUD/XFDV*DOGLQR7DLRPDUD3HUHLUDH7D\QDULD5RPmR
(PDeseNcorpoVRPRVYiULRVP~OWLSORVLQGLYtGXRVTXHRFXSDPRVPHVPRVHVSDoRV
SHULIpULFRVHFHQWUDLVQDFLGDGH$RORQJRGRDFRQWHFLPHQWRGHSRLPHQWRVVmRDFROKLGRVSHOD
ILJXUDGDHQWUHYLVWDGRUDHGHSRLVGLYXOJDGRVHPDOWRVRPFDUWD]HVFRPUHVSRVWDVjVPHVPDV
SHUJXQWDVWDPEpPVmRFRODGRVQRHVSDoRFRPRPRGRGHIL[DUPRPHQWDQHDPHQWHRTXHDOLVH
GHVHQURORX(PXPGDGRPRPHQWRDVILJXUDVVRPHPUHVWDQGRDSHQDVRVREMHWRVDJDOLQKDH
DVTXHVW}HVHVWDPSDGDVQRHVSDoR
$SHVTXLVDHVHXVGHVGREUDPHQWRVLab/or/atórioHBeijo na boca é coisa do passado
$ TXHVWmR GD LQGLVVRFLDELOLGDGH HQWUH RV HL[RV TXH QRUWHLDP R HQVLQR VXSHULRU WDLV
VHMDPHQVLQRSHVTXLVDHH[WHQVmRpGHLQHJiYHOUHOHYkQFLDTXDQGRSHQVDPRVDFHUFDGRSDSHO
GDXQLYHUVLGDGHQDIRUPDomRGHSURILVVLRQDLVTXDOLILFDGRVEHPFRPRQDVXDUHVSRQVDELOLGDGH
HP UHODomR DR HQWRUQR RX VHMD j UHJLmR RQGH VH LQVHUH &RQWXGR D SUiWLFD GLiULD GR
SURIHVVRUDXQLYHUVLWiULRDFRPXPHQWHDFDEDSRUID]HURSWDUSHODGHGLFDomRDXPGRVHL[RV
FRQKHFLGRV&pVDUH[SOLFDTXHXPGRVIXQGDPHQWRVGHVVDUHDOLGDGHSRGHVHUDWULEXtGR
DR JUDX GH HVSHFLDOL]DomR GRV GRFHQWHV OLPLWDQGR VHX FDPSR SULRUL]DQGR HP HVSHFLDO D
SHVTXLVDQDSyVJUDGXDomRFRPRVHDVWUrVDWLYLGDGHVQmRSXGHVVHPFRH[LVWLU'LDQWHGHVVD
SUREOHPiWLFD YLVXDOL]DPRV D QHFHVVLGDGH GH EXVFDU HORV GH LQWHJUDomR HQWUH D SHVTXLVD
GHVHQYROYLGDHDVLQVWkQFLDVGRHQVLQRHGDH[WHQVmR3DUDWDQWRFRPSDUWLOKDPRVRXWUDVGXDV
H[SHULrQFLDVDUWtVWLFDVTXHVXUJLUDPFRPRGHVGREUDPHQWRVGRSURMHWR2FXSDo}HV$UWtVWLFDVGD
&LGDGH H TXH DSRQWDP D SRVVLELOLGDGH GH HIHWLYDPHQWH UHIOHWLUPRV DFHUFD GH XPD
DWXDomRIRUPDomRSOXUDOQRHQVLQRVXSHULRU
$SHUIRUPDQFHLab/or/atório VXUJHLPSXOVLRQDGDSHORFXUVRGRFRPSRQHQWHFXUULFXODU
/LQJXDJHP &RUSRUDO9RFDO GXUDQWH R VHJXQGR VHPHVWUH GR DQR GH TXDQGR DLQGD VH
RUJDQL]DYDHQTXDQWRH[HUFtFLRDVVRFLDGRDDOJXQVIUDJPHQWRVGHFHQD7HUPLQDGRRDQRDSyV
YLYHUPRV XPD LQWHQVD RFXSDomR HVWXGDQWLO GXUDQWH SDUWH GR UHIHULGR VHPHVWUH XP GRV
DOXQRV PDQLIHVWRX VHX LQWHUHVVH HP FRQWLQXDU H[SORUDQGR DTXHOHV H[HUFtFLRV H IUDJPHQWRV
$GLVFLSOLQDDJUHJDRLWRFUpGLWRVKDHHVWiORFDOL]DGDQRVHJXQGRVHPHVWUHGR&XUVRGH/LFHQFLDWXUDHP
7HDWURGD85&$
2 UHIHULGR DOXQR VH FKDPD -HVXDOGR -~QLRU GR 1DVFLPHQWR QDWXUDO GH &DULULDoX FLGDGH GD UHJLmR
PHWURSROLWDQDGR&DULUL&HDUHQVH
LQLFLDGRVGXUDQWHDGLVFLSOLQD¬TXHODDOWXUDRPHVPRMiID]LDSDUWHGRJUXSRGHSHVTXLVDIRL
TXDQGRFRQFRUGDPRVHPDEULJDUVXDFULDomRGDQGRFRUSRjVTXHVW}HVTXHRPRWLYDYDP&RP
IRUWHFDUiWHUDXWRELRJUiILFRDSHUIRUPDQFHLab/or/atório JDQKRXHVSDoRMXQWRjSHVTXLVDQR
HQWDQWR DERUGDQGR R HVSDoR S~EOLFR GH PRGR LQWLPLVWD GLIHUHQFLDQGRVH GD SURSRVWD
DeseNcorpo
)LJXUD/DERUDWyULR6mR-RmR'HO5HL)RWR-RmR-XVWLQR
)RQWH$XWRUD
$LQWHUIHUrQFLDDUWtVWLFDLab/or/atórioVHSURSXQKDDH[SHULPHQWDURGHVHQYROYLPHQWR
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OXJDUHVGRFRUSRHQTXDQWRLQVWUXPHQWRGHWUDEDOKRQDDUWHHQRFRWLGLDQR3DUWLQGRGDLGHLDGH
TXHRFRQKHFLPHQWRpFRUSyUHR0(<(5DSHUIRUPDQFHWRPRXFRPRPDWUL]HVSDUDD
FULDomR R WUDEDOKR FRP P~VLFDV WUDQVPLWLGDV SRU IRQHV GH RXYLGR H R UHVJDWH GH ULWXDLV
GLiULRVSUySULRVGRperformerHPVXDFDVDGXUDQWHXPDURWLQDPDWLQDO$SDUWLUGRWUDEDOKR
VREUH DV GHVFULo}HV SRVVtYHLV GH XP FRUSR TXDQGR HVWi DIHWDGR SRU XPD P~VLFD IRUDP
H[SHULPHQWDGDV GLYHUVDV FRUSRUHLGDGHV 9HVWLUVH GH DIHWRV YHVWLUVH GH XP FRUSR SDUD R
WHDWURYHVWLUVHGHXPD³URXSDGHFRUSR´SDUDWUDEDOKDU'DVLQWHUVHo}HVHQWUHHVVHVHVWDGRV
VXUJLXDLGHLDGHGLVFXWLURFRUSRFRPROXJDUGHFXOWLYRTXHVWLRQDPHQWRHFRQWHPSODomRGR
ODERULab/or/atóriopXPDSHUIRUPDQFHTXHFRQYLGDDRUHFRQKHFLPHQWRGRULJRUSUHVHQWHQRV
ULWXDLVGLiULRVHQRWUDEDOKRGHODERUDWyULRFRUSRUDO
$WHUFHLUDH[SHULrQFLDTXHDSRQWDPRVWUDWDGDSHUIRUPDQFHBeijo na boca é coisa do
passadoLJXDOPHQWHFRPSDUWLOKDGDQRkPELWRGDUHXQLmRGRJUXSRGHWUDEDOKRGD$EUDFHHGR
,QYHUQR&XOWXUDO
)LJXUD%HLMRQD%RFDpFRLVDGR3DVVDGR6mR-RmR'HO5HL)RWR5DQLHOOH/HVVD
)RQWH$XWRUD
,PSXOVLRQDGRV SHORV H[HUFtFLRV GH H[SORUDomR FRP RV DSRLRV FRUSRUDLV UHDOL]DGRV
MXQWR DR SURMHWR GH SHVTXLVD DVVRFLDGR DR GHVHMR GH GHQXQFLDU D VLWXDomR DWXDO HQIUHQWDGD
SHORPRYLPHQWR/*%7 HPHVSHFLDOQRTXDGUREUDVLOHLURGRLVDOXQRVperformers16SURMHWDP
/*%7RX /*%777 p D VLJOD GH /pVELFDV *D\V %LVVH[XDLV 7UDYHVWLV7UDQVH[XDLVH7UDQVJrQHURV TXH
FRQVLVWHPHPGLIHUHQWHVWLSRVGHRULHQWDo}HVVH[XDLV
(ODERUDGD SHORV DOXQRV 7KLDJR *RPHV H /XFDV *DOGLQR 7DQWR HP Lab/or/atório TXDQWR QD UHIHULGD
SHUIRUPDQFHYLVXDOL]DPRVDLPSRUWkQFLDGRLQFHQWLYRGDSURGXomRDXW{QRPDGDH[SHULPHQWDomRFRPFROHWLYRV
JUXSRVHDUWLVWDVLQGHSHQGHQWHVGDUHJLmRXPDYH]TXHQmRSHUGHURYtQFXORFRPDFRPXQLGDGHDUWtVWLFDWRUQDVH
HVVHQFLDODRDSUHQGL]DGRWHDWUDOQDDOLPHQWDomRGDQmRVHSDUDomRWHRULDSUiWLFD
$ P~VLFDpXPDFRPSRVLomRGRFuracão 2000XPDSURGXWRUDHJUDYDGRUDFDULRFDTXHSURGX]FROHWkQHDVH
VKRZVGHIXQNFDULRFDGHVGHRVDQRV
HQTXDQWR IRUPDGRUHV GH S~EOLFR PHVPRTXHHPXP ORQJRSUD]R0DFKDGRSRUVXD
YH]GHFODUDTXHVXDVSHVTXLVDVVHDEUHPSDUDRFDPSRGDVGUDPDWXUJLDVGRHVSDoRLQVHULQGR
VH
>@HPXPFDPSRIpUWLOSDUDSHQVDUDSRWrQFLDGDWHDWUDOLGDGHHQFRQWUDGDHP
OXJDUHVFRWLGLDQRVRUGLQiULRVEHPFRPRH[WUDFRWLGLDQRV±QRHQWDQWR QmR
SURJUDPDGRV SDUD R DFRQWHFLPHQWR WHDWUDO HVWULWR VHQVR WDO FRPR SHQVDGR
FODVVLFDPHQWH QDV HVWUXWXUDV SDOFRSODWHLD H FXMR FHUQH WHQGH D VHU R WH[WR
3HQVDUDWHDWUDOLGDGHGRVHVSDoRVHQFRQWUDGRVpRXVDUSURSRUXPDHVSpFLHGH
µQmRWHDWUR¶±QDFKDYHGDQmRDUWHWDOFRPRGHVHQKDGDSRU$ODQ.DSURZ±
D VHU FRPSOHWDGR SHORV RXWURV VHMDP HOHV SURWDJRQLVWDV FRDGMXYDQWHV RX
DQWDJRQLVWDV PHUJXOKDGRV QD VLWXDomR YLYLGD RX GLVWDQFLDGRV PDV WRGRV
SDUWH GD SDLVDJHP FRPSDUWLOKDGD RX VHMD DWXDQWHV GD FHQD UHODFLRQDO
0$&+$'23
(P XP FDPLQKR VHPHOKDQWH GR SRQWR GH YLVWD LGHROyJLFR &DEUDO S
DILUPD TXH ³D EXVFD GR HVSDoR GD FLGDGH GHFRUUHX GH H HVWHYH DVVRFLDGR j EXVFD GH XP
HVSDoRItVLFRXPHVSDoRGHLQVHUomRVRFLDOXPHVSDoRGHLQWHUDomRlugar-história-memórias
XP HVSDoR GH DPSOLDomR GH S~EOLFR´ 1HVVH VHQWLGR D SHVTXLVD HP GHVHQYROYLPHQWR TXHU
LQVWUXPHQWDOL]DURVDOXQRVSDUDDVSRVVLELOLGDGHVGHFRPSRVLomRGRHQVLQRWHDWUDOQRVHVSDoRV
S~EOLFRVGDFLGDGHGLPHQVLRQDQGRVHXGHYLGRFDUiWHUSROtWLFRSRUTXHGHVDILDDVQRUPDVGH
XVR SUpHVWDEHOHFLGDV GD FLGDGH DWXDOPHQWH 9HULILFDPRV R TXmR ODWHQWH p D SHUFHSomR GR
SRWHQFLDO GD HGXFDomR QRV HVSDoRV LQIRUPDLV TXDQGR RV DOXQRV YLYHQFLDP H[SHULrQFLDV QRV
SUySULRVHVSDoRVH[HUFLWDQGRDUWLFXODUDVHVWUDWpJLDVGHFULDomRDVDERUGDJHQVDRS~EOLFRHD
UHIOH[mRDFHUFDGRIHQ{PHQRFrQLFR
$R GHEUXoDUPRV QRVVR ROKDU VREUH D FLGDGH QRV VHXV HVSDoRV FHQWUDLV H SHULIpULFRV
EXVFDPRVWDPEpPHQ[HUJDUHPXPDHVFDODPDFURDVUHDOLGDGHVLPSUHVVDVQDHVFDODPLFURTXH
RV HVSDoRV IRUPDLV GH HQVLQR DEULJDP e QHFHVViULR TXHH[HUFLWHPRV QRVVR VHUFLGDGmR VHU
DUWLVWDV FLGDGmRV HVWDUPRV FRQVFLHQWHV GR SRWHQFLDO DUWtVWLFR TXH Ki QRV HVSDoRV HP WRGDV
VXDVFRQWUDGLo}HV&RPRGHVHQYROYLPHQWRGHSHVTXLVDVFDGDYH]PDLVLQWHJUDGDVDRHQVLQRH
j H[WHQVmR RIHUHFHUHPRV D SRVVLELOLGDGH GHVVDV H[SHULrQFLDV VH PXOWLSOLFDUHP QD HVFROD
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7(//(61DUFLVR3HGDJRJLDGRWHDWURHRWHDWURGHUXD3RUWR$OHJUH(GLWRUD0HGLDomR
S
Resumo
Este artigo é uma abordagem sobre a espontaneidade na cena a partir da metodologia desenvolvida por
Keith Johnstone, professor e criador de práticas teatrais difundidas por vários países, também
conhecidas pelo nome Sistema Impro. Trata-se de uma reflexão sobre a importância da espontaneidade
na ação cênica, seja na improvisação ou não, e sobre mecanismos comportamentais que impedem o
ator de ser espontâneo na cena. A fundamentação é apoiada sobre a perspectiva de outros autores que
trabalharam a espontaneidade na cena, e sobre a contribuição que Johnstone trouxe para a
improvisação a partir da década de 1950. A espontaneidade é tratada como habilidade inata, mas que
foi embotada pelas instituições culturais e sociais. Este trabalho demonstra a importância de se
desenvolver a espontaneidade para que a cena adquira potenciais mais ativos. Considera-se que a
espontaneidade e a imaginação são inibidas pela cultura e comportamento ocidental, que incutem uma
noção de que as ideias têm que seguir padrões preestabelecidos, como a originalidade, por exemplo.
Esses padrões estimulam o medo de errar e o medo de parecer psicótico ou obsceno, os quais
Johnstone sinaliza como obstáculos para a espontaneidade. O medo é abordado como emoção presente
no ator e Johnstone propõe mecanismos práticos para que o ator possa se divertir em cena, lidando
com o medo e explorando as possibilidades que a espontaneidade oferece. O artigo apresenta reflexões
sobre as perspectivas que se abrem quando se é espontâneo na cena.
Palavras-chave: Johnstone. Impro. Ação cênica.
Introdução
1
Especialista em Planejamento Educacional e Políticas Públicas pela Faculdade Unyleya. Bacharel em
Interpretação Teatral e licenciado em Teatro pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professor municipal de
Teatro na rede pública de Belo Horizonte, Minas Gerais. Ator e diretor teatral. E-mail: vinipeito@hotmail.com.
Espontaneidade
[...] O Sistema Impro é uma abordagem à formação do ator e prática teatral que
incentiva a espontaneidade, a criação colaborativa usando a intuição, as respostas
imaginativas sem censura dos participantes. [...] tenho me referido ao processo de
Keith como um sistema porque [...] a funcionalidade ideal depende de todos os
componentes trabalhando harmoniosamente [...]3 (2013, p. 1).
2
Tradução nossa: “[…] groundbreaking teacher, theorist, and creator of contemporary theatre practices used
worldwide […]”.
3
Tradução nossa: “[...] Keith’s theories, pedagogy, techniques, exercises, games, and terminology [...] The
Impro System is an approach to actor training and theatre practice that encourages spontaneous, collaborative
creation using the intuitive, uncensored imaginative responses of the participants. [...] I have been referring to
Keith’s process as a “system” because [...] optimal functionality depends on all components working
harmoniously [...]”.
A maioria das crianças pode operar de modo criativo até os onze ou doze anos, mas
logo perdem sua espontaneidade e fazem imitações da arte adulta. [...] Muitos
professores pensam que as crianças são adultos imaturos. Talvez pudéssemos
alcançar um ensino melhor e mais ético se pensássemos que os adultos são crianças
atrofiadas. Muitos adultos ‘bem adaptados’ são amargurados, não criativos,
temerosos, não imaginativos e mais hostis, [...] poderíamos considerá-los como
pessoas afetadas por sua educação e formação 5 (JOHNSTONE, 2003, p. 69-70).
Pensando a espontaneidade como uma capacidade inata que foi perdida, é possível nos
reeducarmos para recuperá-la. Essas percepções de Johnstone suscitam também
possibilidades de pesquisa diversificadas, como por exemplo: de que forma ocorre essa
quebra com os processos criativos da criança? Há relação entre essa quebra e os processos de
socialização, escolarização e de ‘adestramento’ às regras sociais? Como a perda da
espontaneidade aumenta com o passar dos anos? Para Johnstone, esse processo de aculturação
que ocorre desde a infância, explica a falta de habilidade das pessoas em praticar a
espontaneidade.
O estilo de pensar e a cultura ocidental favorecem que nos comportemos de modo
defensivo e não espontâneo. Preferimos nos manter seguros em nosso comportamento social a
nos arriscar com a espontaneidade. Johnstone remete a Schiller6, que menciona a respeito de:
[...] ‘um observador nas portas da mente’, que examina as ideias com demasiada
atenção. [...] No caso da mente criativa, ‘o intelecto expulsou a seu observador de
4
Tradução nossa: “[...] la educación puede ser un proceso destructivo [...]”.
5
Tradução nossa: “La mayoria de los niños pueden operar en forma creativa hasta los once o doce años, luego de
pronto pierden su espontaneidad y hacen imitaciones del ‘arte adulto’ [...] Muchos profesores piensam que los
niños son adultos inmaturos. Quizás podríamos lograr una enseñanza mejor y más ‘respetuosa’ si pensáramos
que los adultos son niños atrofiados. Muchos adultos ‘bien adaptados’ son amargados, no-creativos, temerosos,
no-imaginativos y más bien hostiles [...] podríamos considerarlos como personas dañadas por su educación y
formación”.
6
“[...] Johann Christoph Friedrich Von Schiller, um dos maiores literatos alemães do século XVIII [...] grande
poeta, dramaturgo, filósofo e historiador [...]”(SCHILLER, 2017).
Essas noções sinalizam que este observador nas portas da mente (que não está fora,
pois somos nós mesmos) filtra, transforma ou adultera nossas ideias de modo que se tornem
convenientes ao meio social. Trata-se de uma necessidade de aceitação social. Ser espontâneo
torna-se arriscado, pois revelamos nosso eu perante os demais. O modo como este eu será
percebido pelos outros causa temor. Se esse comportamento temeroso ocorre no
relacionamento social, em uma cena de improvisação, na qual precisamos reagir com
respostas rápidas, também ficamos inibidos pelo medo de nos expor. Johnstone fez uma
autorreflexão sobre sua experiência escolar:
Esse risco de ser espontâneo e incorrer em alguma ideia estranha aos olhos dos outros
cerceia a nossa espontaneidade. Em uma cena de improvisação, o ator acaba tendo dificuldade
em ser espontâneo, sempre esbarrando nestas estruturas mentais que nos inibem para que não
pareçamos psicóticos. Parece lógico que as pessoas temam quem é imprevisível. Se em nosso
7
Tradução nossa: “[...] un ‘observador en las puertas de la mente’, que examina las ideas con demasiada
atención. [...] en el caso de la mente creativa, ‘el intelecto ha expulsado a su observador de las puertas y las ideas
corren en desorden y sólo entonces revisa e inspecciona la multitud’. [...] las personas no-creativas ‘se
avergüenzan de la locura momentánea por la que atraviesan los verdaderos creadores’... una idea puede ser
bastante insignificante y aventurada en extremo si se la mira en forma aislada, pero puede adquirir importancia a
partir de la idea que la sigue; quizás en conjunto con otras ideas que parecen igualmente absurdas, pueda
proporcionar una conexión muy útil [...]”.
8
Tradução nossa: “[...] En el colegio era probable que cualquier acto espontáneo me produjera problemas.
Aprendí a no actuar nunca en forma impulsiva y a rechazar la primera idea que se mi ocurriera en pro de ideas
mejores. Aprendí que mi imaginación no era suficientemente ‘buena’. Aprendí que la primera idea era
insatisfactoria porque era (1) sicótica; (2) obscena; (3) no-original.”
trato cotidiano estamos acostumados a não demonstrar nosso eu de modo total, é deveras
natural que em uma cena de improvisação utilizemos as mesmas defesas psicológicas.
Se tememos demonstrar que temos ideias psicóticas, é normal que queiramos também
demonstrar que nossas ideias são politicamente corretas. A sociedade observa o tempo todo o
modo de agir de seus sujeitos. Ninguém quer demonstrar seus preconceitos, todos querem
parecer serem tão éticos quanto possível. Por mais treinamento que o ator possua, quando é
requerido que seja espontâneo na cena, isso se torna difícil, pois exercitamos esse observador
das portas da mente no nosso cotidiano.
A necessidade de ser original e a vontade de fazer algo não pensado antes seriam
realmente importantes? Johnstone diz que quando um artista se inspira, ele está sendo óbvio
(2003, p. 80). Para Keith, “ser original e ser estúpido é, frequentemente, a mesma coisa [...]9”
(1999, p. 69). Essa tentativa de ser original acaba se tornando mais um empecilho para sermos
espontâneos na ação cênica. Ser espontâneo não requer esforço, é natural. Esses artifícios
mentais, anteriormente referidos, absorvem nossa atenção e nossa presença no aqui e agora,
mas que podem ser recuperadas através da espontaneidade.
Johnstone observou vários comportamentos nos atores que ou atrapalhavam ou em
nada contribuíam para o desenvolvimento da cena. Sua técnica simplifica meios para nos
tornarmos espontâneos cenicamente. “Improvisação é sobre a espontaneidade, eu digo.
Portanto, deixe a mente em branco, e se ideias ocorrerem a você, deixe-as flutuar em um
ouvido e sair pelo outro10” (JOHNSTONE, 1999, p. 305).
A espontaneidade e o medo
9
Tradução nossa: “Being 'original' and being 'stupid' are often identical […]”.
10
Tradução nossa: “Improvisation is about spontaneity, I say. So keep a blank mind, and if ideas occur to you,
let them float in one ear and out of the other”.
O medo é uma emoção complexa de se controlar. Damásio coloca que “[...] o medo, a
felicidade, a tristeza, a simpatia e a vergonha visam à regulação da vida, direta ou
indiretamente [...]” (2004, p. 25). Nessa perspectiva, a resistência a ser espontâneo na cena se
torna algo muito sutil. A espontaneidade pode estar reprimida pelas instituições culturais e
escolares, pelo medo de parecer estranho aos demais e pelo medo de errar. Como diretora,
Muniz pôde “[...] observar a dificuldade que os atores tinham de aceitar as próprias propostas
e as dos demais. Esse fator é prejudicial para qualquer processo criativo, pois trava as
improvisações e não permite a descoberta em cena [...]” (2016, p. 150).
[...] Todo mundo defende a si mesmo na vida. Não temos que nos defender no palco.
A personalidade está sempre atrapalhando, é obstáculo para a cena: a questão é sacar
sua personalidade do caminho. [...] Temos que entrar no cenário antes de estarmos
prontos. O público vai gostar da gente, pois vai perceber que estamos em apuros.
[...] O público nos ama quando falhamos e nos mantemos felizes. [...] O real
objetivo destes jogos é dar uma boa sensação para o público. Vamos dar ao público
o que ele quer, vamos perder com alegria. [...] O medo é a condição humana que nos
mantém vivos. [...] Quanto mais você tenta ajudar seu companheiro, menos medo
você tem. [...] Não esconda seu medo, nem espere que ele passe, mostre-o. Entre na
cena e veja o que acontece. [...] O segredo da atuação é tirar seu medo, entender o
que está fazendo e fazê-la feliz. Você tem que querer fazer o que está fazendo. [...]
Seja positivo na improvisação. Seja feliz e coisas boas acontecem. [...] Estamos no
palco nos divertindo, apenas isso. [...] Abra a porta do comportamento feliz antes de
subir no palco [...]13 (JOHNSTONE, 2016).
11
Tradução nossa: “[...] This workshop is about having a good time on the stage. It is about you have a good
feeling on the stage, and offer a good time for your partner [...]”.
12
“[...] Frank tem sido um colega e amigo do pedagogo do teatro e autor, Keith Johnstone, desde 1976. Ele é
uma das poucas pessoas recomendadas por Johnstone, por seus conhecimentos e abordagem teatral. [...] Tem
mestrado em direção teatral [...] e trabalha na Keith Johnstone Workshops Inc., como produtor [...]”. Tradução
nossa: “[...] Frank has been a colleague and friend of theatre pedagogue and author Keith Johnstone since 1976.
He is one of few people who are recommended by Johnstone regarding his knowledge and approach to the
theatre. [...] He has a Master’s degree in directing […] and works with Keith Johnstone Workshops Inc. as a
producer […]”(TOTINO, 2017).
13
Tradução nossa: “[...] Everyone defends himself in life. We haven’t to defend ourselves on the stage.
Personality is always disturbing, it’s an obstacle to the scene: the question is pull out your personality the way.
[...] We have to climb on the stage before we are ready. The audience will like us, because will realize that we
are in trouble. [...] The public loves us when we fail and keep happy. [...] The real objective of these games is to
give a good feeling for the audience. Let's give the public what they wants, we will lose with joy. [...] Fear is the
human condition that keeps us alive. [...] The more you try to help your partner, less fear you have. [...] Don’t
hide your fear or expect to pass, show it. Climb on the stage and see what happens. [...] The secret of acting is
pull out your fear, understand what you are doing and make it happy. You have to want to do what you're doing.
Johnstone remete ao óbvio de se entender o que está fazendo, de querer fazer o que se
está fazendo, de ser positivo e se divertir. O medo, entretanto, é um fantasma na condição
humana, que nos frustra de fazer o que queremos, inclusive o ator de atuar de modo pleno e
consciente do que quer. Ademais, esse campo do medo vem sendo amplamente explorado na
psicologia. “As emoções acompanham o comportamento, seja de modo consciente ou não, e
tingem as ações, dando-lhes tons específicos e particulares [...]” (RIBEIRO, 2012, p. 77).
Após essas percepções, surge o questionamento sobre se tais conceitos, técnicas e a
pedagogia teatral desenvolvidos por Johnstone, podem trazer as respostas necessárias e
suficientes para que o ator consiga ser espontâneo na cena de modo pleno e consciente. Vera
Cecilia Achatkin, pesquisadora do Sistema Impro, acredita que sim:
Conclui-se então que o questionamento abre janelas e promove a reflexão. Este artigo
busca estimular a reflexão sobre a importância do desenvolvimento da espontaneidade, e os
argumentos abordados neste trabalho possivelmente trarão inquietude ao leitor para a
pesquisa sobre o Sistema Impro de Johnstone, assim como suas técnicas e exercícios práticos.
Considerações
[...] Be positive in improvisation. Be happy and good things happen. [...] We are on the stage having some fun,
that's all. [...] Open the happy behavior door before you going on the stage [...]”.
para a cena. O frescor e a vida que surgem quando o ator é espontâneo e a dimensão que a
cena ganha quando surgem respostas novas, óbvias, naturais e dentro do círculo de
probabilidades que ela propõe, tornam o teatro um campo rico de possibilidades, tratando-se
de improvisação ou não.
Qual o potencial que a espontaneidade traz para o teatro? A pesquisa de Johnstone e a
influência que esse autor instigou no trabalho de outros pesquisadores podem ser encaradas
como uma janela que abre novas perspectivas sobre a atuação cênica e sobre o ensino de
teatro, marcada pelo dinamismo e pela capacidade que essa arte tem de transformar o ser
humano e de provocar reflexões.
REFERÊNCIAS
JOHNSTONE, Keith. Impro for storytellers, Theatresports and the art of making things
happen. London, England: Faber and Faber Limited, 1999.
_________________. One week with Keith Johnstone in Canada, February 22-28, 2016.
Workshop for Colectivo Teatral Mamut. 22 fev. 2016 a 28 fev. 2016. Calgary, Canadá.
Arquivos em áudio gravados com autorização da produção. 33 arquivos formato mp3, com
duração total de 29º 8’ 32’’.
MORENO, Jacob Levy. The philosophy of the moment and the Spontaneity Theatre.
Sociometry, [S.l.: s.n.], v. 4, n. 2, 1941.
SCHILLER, Johann Christoph Friedrich Von. In: Infoescola. Disponível em: <
http://www.infoescola.com/biografias/friedrich-schiller/ >. Acesso em: 26 jul. 2017.
TOTINO, Frank. In: Frank Totino. Disponível em: < http://www.franktotino.com/cv >.
Acesso em: 26 jul. 2017.
Resumo
Introdução
1
Graduada em Educação Física (UEG) e graduanda em Teatro (UFT). Mestranda do PPPG em Educação, da
UFT; Especialista em Dança e Consciência Corporal (UGF) e Docência Universitária (CEULP/ULBRA);
Professora do Balé Popular do Tocantins (SEDUC –TO) e Colégio COC Palmas.
2
Doutora em Educação. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Programa de Pós-
Graduação em Língua e Literatura da Universidade Federal do Tocantins.
que estamos presenciando, bem como à amplitude das mudanças e à velocidade em que estão
acontecendo. A transição pela qual estamos passando refere-se à queda do paradigma
newtoniano-cartesiano (tradicional) e ascensão do emergente.
O paradigma tradicional, que prima pela objetividade, linearidade, causalidade,
fragmentação, levando o Homem a buscar o domínio da natureza, passa a ser questionado
pelo paradigma emergente, que preza uma visão transdisciplinar do mundo, calcada na “(...)
consideração de uma realidade multidimensional, estruturada em múltiplos níveis,
substituindo a realidade unidimensional, com um único nível, do pensamento clássico”
(NICOLESCU, 1999, p.55).
No modelo em declínio, a educação é vista de maneira fragmentada, como afirma
Moraes: “A política educacional é fragmentada, desarticulada, descontínua e
compartimentada, e as três esferas do poder público não se entendem” (MORAES, 1997, p.
86).
Dentro do pensamento emergente o ser humano passa a ser visto sem dicotomias, de
maneira integrada, “(...) e há um tecido interdependente, interativo e inter-retroativo entre o
objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre
si” (MORIN, 2006, p.38).
Sendo assim, a dança passa por um processo de adaptação a um novo pensamento,
diferente do tradicional. No entanto, como estamos em um momento de transição, percebe-se
que ainda não há uma uniformidade no que se refere à dança, existindo ainda ranços de um
modelo mecanicista.
O presente artigo abordará, por meio de uma revisão bibliográfica, a dança nessa
transição paradigmática, tendo em vista que a missão da arte mudou: é “(...) abrir perspectivas
para uma compreensão do mundo de forma mais flexível, mais poética, mas sensível e mais
significativa” (STRAZZACAPPA, 2006, p.71). Assim, percebe-se que para novos tempos,
precisa-se de uma nova dança.
A transição de paradigmas
O paradigma tradicional
Esse paradigma teve início por volta dos séculos XVI e XVII, denominados pelos
historiadores de Idade da Revolução Científica. A visão do mundo orgânico, com a
interdependência dos fenômenos espirituais e materiais, e a ciência medieval, baseada na
razão e na fé, buscando apenas compreender o significado das coisas (não o seu controle), por
meio da teologia e ética cristã, foram substituídas pelo paradigma tradicional. "A noção de um
universo orgânico, vivo e espiritual foi substituída pela noção do mundo como se ele fosse
deste último século sofreu um avanço científico-tecnológico surpreendente, mas não foi
seguido por uma evolução da consciência. Isso tem acarretado uma presente ameaça à vida, já
que o ser humano vem destruindo sistematicamente seu habitat em busca de "um bem-estar
para todos". Nada é tão paradoxal, já que ao destruir a natureza, o Homem está se
autodestruindo.
Essas contradições encontradas no paradigma vigente, bem como suas falhas e
anomalias, têm contribuído para sua derrocada, auxiliadas por novas respostas a antigas
perguntas, que começam a surgir com a física quântica e o pensamento emergente.
O paradigma emergente
Percebe-se que a física moderna, ao contrário da física newtoniana, não busca estudar
um universo separado em partes e sim, um todo, onde todos os eventos se relacionam e são
dinâmicos. Nada é estático e imutável. A relação do observador com o objeto observado deixa
de ser neutra e passa a influenciá-lo. Isso porque não há uma realidade que possa ser analisada
de forma independente da mente do observador.
As perspectivas do paradigma emergente podem ser sintetizadas, de acordo com Brian
Swimme, físico norte-americano e diretor do Instituto de Cultura e Espiritualidade Criativa,
na Califórnia (CREMA, 1989): nenhum elemento possui real identidade e existência fora do
seu entorno total; os nossos conhecimentos são provenientes de nossa própria participação e
interação nos processos do universo; além da análise, a síntese é central na compreensão do
mundo: conhecer algo implica em saber sua origem e finalidade; e o universo é uma realidade
auto-organizante: é total e inteligente.
Sendo assim, a educação, nesta perspectiva, baseia-se na integração dos
conhecimentos da humanidade, relacionando ciência moderna com a tradição. Essa nova
maneira de educação "(...) transcende o enfoque disciplinar e reata a ligação entre os ramos da
ciência com caminhos vivos de espiritualidade, implicando a imprescindível e já referida
interação hemisférica" (CREMA, 1989, p.96).
O Homem nesse novo paradigma não é um ser fragmentado, e sim, um ser único, total,
onde corpo, alma e mente não se dissociam: relacionam-se. O Homem, ainda, só o é quando
considerado dentro do contexto em que vive, não havendo como existir por si só, pois faz
parte do meio, assim como o meio faz parte dele também. Segundo Moraes, o Homem é o
agente de sua realidade: “Um sujeito, então, já não mais solitário, ou seja, um sujeito sempre
solidário, mestiço, pensante, proativo, consciente do inacabamento e da provisoriedade de sua
história, de seus talentos e potencialidades” (MORAES, 2015, p.61)
Este paradigma que está emergindo aponta para caminhos que minimizem a crise que
a humanidade e todo o sistema está passando. O paradigma tradicional ainda está incrustado
na nossa realidade, mas o pensamento emergente vem aos poucos encontrando seu lugar.
Este paradigma, surgido por volta do século XVI, é caracterizado pela busca da
ordem, da racionalidade, da previsibilidade e da regularidade. Assim, a sociedade
passou a necessitar de uma arte que pudesse ser codificada, quantificada e
sistematizada, para atender à lógica deste paradigma, que nos influencia ainda hoje.
Com a dança não podia ser diferente: surgiu a necessidade de uma técnica que
pudesse ser analisada objetivamente, com movimentos estereotipados e pré-concebidos.
Surgiu, assim, o balé clássico, que foi a transformação das danças da corte e
folclóricas, com seus movimentos mais espontâneos, em uma técnica rígida e
praticamente previsível. Não é coincidência que o surgimento do balé se deu
juntamente com a ascensão do paradigma newtoniano-cartesiano: o segundo estruturou
o primeiro.
Desde o século XVI até o fim do século XIX, o balé era a única linguagem
de dança valorizada no mundo ocidental europeu, e era caracterizado por ser " (...) uma
arte puramente visual, sem nenhuma participação humana" (GARAUDY, 1980, p.37).
Seguindo as características do paradigma no qual se fundou, o balé deu importância à
objetividade e clareza dos movimentos, seguidos por uma rigidez na sua execução.
Essa dança, que tinha como meio e fim a técnica, atendia bem à visão do
mundo como uma máquina. Um bailarino só é considerado bom se consegue executar
tecnicamente bem os movimentos. Esse tecnicismo foi uma das causas da decadência
do balé, que não conseguiu acompanhar as mudanças da sociedade. "Centrar-se na
técnica representa o suicídio da originalidade" (CREMA apud BRITO, 1996, p.53).
Os movimentos da dança clássica são estudados separadamente, não havendo
um "todo", e sim, um amontoado de passos específicos. Essa fragmentação estende-se
ao bailarino, que dança, movimenta, apenas o seu corpo, não havendo lugar para a
abstração. Isso porque uma coreografia consiste de passos impostos e exteriores a ele,
sendo pré-concebidos. O bailarino se enquadra na dança, inclusive o seu biótipo.
O balé clássico existiu como forma de entretenimento apenas. As temáticas que
envolviam as apresentações buscavam uma fuga da realidade, com suas bailarinas nas
pontas dos pés, parecendo flutuar. Essa alienação, falta de conhecimento do contexto
social, é marcante em todas as áreas do paradigma tradicional, onde cada especialista
se preocupa apenas com seu campo de atuação. Assim, não há porque questionar a
realidade através do entretenimento, já que este serve apenas para divertir.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BRITO, Carmem Lúcia Chaves. Consciência corporal: repensando a educação física. Rio
de Janeiro: Sprint, 1996.
CREMA, Roberto. Introdução à visão holística: breve relato de viagem do velho ao novo
paradigma. São Paulo: Summus, 1989.
MARQUES, Isabel. Linguagem da dança: arte e ensino. São Paulo: Digitexto, 2010.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF: UNESCO, 2006.
Resumo
Este artigo apresenta uma discussão em função da formação docente em artes visuais, tendo por base
reflexões a partir da experiência com as práticas de ensino e o processo de formação desenvolvido no
curso de Artes Visuais Licenciatura, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Considerando a
escolha como uma possiblidade para a prática docente, e a curiosidade epistemológica que emerge da
aproximação entre discentes e docentes em relação ao percurso da formação, o trabalho objetiva
apresentar um recorte de uma investigação elaborada em função das escolhas acadêmicas para o
desenvolvimento de suas monografias. Elaborado em forma de um ensaio, o artigo aponta questões de
ordem constitutiva para a sustentação da prática docente.
Palavras-chave: Formação em artes visuais. Epistemologia. Práticas de Ensino.
Introdução
Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não poder ser
neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição.
Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha entre isto e aquilo. Não posso ser
professor a favor de quem quer que seja e a favor de não importa o quê. (FREIRE,
1996, p.102).
No sentido dado por Paulo Freire e apresentado no excerto acima, também abordado
por outras autoras e autores que, fenomenologicamente, posicionam-se a respeito das práticas
docentes que consideram o comprometimento das pessoas envolvidas com a Educação, de
modo que esta seja capaz de promover transformações no mundo, este artigo se propõe a tecer
algumas reflexões a partir da relevância de uma escolha significativa para o desenvolvimento
de projetos na formação docente em artes visuais. Nos diálogos que estruturam o referencial
teórico desta discussão, além de autoras e autores que colaboram para o exercício reflexivo,
encontram-se excertos de trabalhos monográficos de dois acadêmicos 2 do curso de Artes
Visuais Licenciatura da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
1
Doutor em Educação pela UFSCar/São Carlos - SP. Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, Cursos de Artes Visuais – Licenciatura e Bacharelado. Líder e pesquisador do Núcleo de
Investigação de Fenomenologia em Artes (NINFA/UFMS). Pesquisador Associado da Sociedade de Pesquisa
Qualitativa em Motricidade Humana (SPQMH) da Universidade Federal de São Carlos. E-mail:
paulo.antonini@ufms.br.
2
Este artigo, na forma de um ensaio, apresenta em consequência do número limitado de páginas, o recorte de um
trabalho maior, realizado com seis discentes e apresentado fenomenologicamente, no contexto de uma pesquisa.
Ao dialogar sobre o processo ontológico que envolve a postura docente, Paulo Freire
(1962) destaca o sentido da criação humana para sua concretude, nos lembrando que o ser
humano, consciente de suas potencialidades e da possibilidade de transcender, inventando e
reinventado sua presença no mundo, constitui-se cultural e historicamente nas práticas sociais
que vivencia.
É relevante abordar neste momento, mesmo considerando que a expressão já foi
utilizada anteriormente no corpo desse texto, a compreensão que se dá para prática social,
pois, na abordagem aqui utilizada, é fundamental que o pano de fundo das reflexões reunidas
seja interpretado sem equívocos conceituais, na expectativa de garantir o sentido que se busca.
Desse modo, para Oliveira et al. (2014):
3
Em acordo com a Resolução nº 1, de 16 de janeiro de 2009 do Conselho Nacional de Educação (MEC, 2009),
os Trabalhos de Conclusão de Curso de Artes Visuais – Licenciatura, devem contemplar, além da monografia,
um projeto de curso, na temática desenvolvida na monografia, voltado para a Educação Básica. No curso de
Artes Visuais Licenciatura da UFMS, esse projeto de curso deve contemplar dez horas/aula.
escolher, agir em função de sua escolha. Nessa gama de possibilidades, se encontra a faixa
etária, o gênero, a raça e a etnia, a orientação sexual, a experiência, a escolaridade, a classe
social, as relações econômicas, e quaisquer outros aspectos que condicionam o ser humano
em um recorte situado dos outros e do mundo em que se encontra inserido. Como pontua
Merleau-Ponty (2006):
[...] escolher é escolher algo em que a liberdade vê, pelo menos por um momento,
um emblema de si mesma. Só há escolha livre se a liberdade se compromete em sua
decisão e põe a situação que ela escolhe como situação de liberdade. Uma liberdade
que não precisa realizar-se porque está adquirida não poderia engajar-se assim: ela
sabe muito bem que o instante seguinte a encontrará, de qualquer maneira,
igualmente livre, igualmente pouco fixada. A própria noção de liberdade exige que
nossa decisão se entranhe no porvir, que algo tenha sido feito por ela, que o instante
seguinte se beneficie do precedente e, sem ser necessitado, seja pelo menos
solicitado por este. Se a liberdade é liberdade de fazer, é preciso que aquilo que ela
faz não seja desfeito em seguida por uma liberdade nova. (p.585-586).
4
É importante que se observe que a abordagem de Paulo Freire à liberdade ultrapassa os muros da escola,
considerando a presença do ser humano no mundo em todas as suas relações. A relação apresentada aqui respeita
a discussão deste autor no que tange à formação e ao papel do docente.
5
Em reflexão sobre essa questão, Paulo Freire diz que: “É interessante observar como, de modo geral, os
autoritários consideram, amiúde, o respeito indispensável à liberdade como expressão de incorrigível
espontaneísmo e os licenciosos descobrem autoritarismo em toda manifestação legítima de autoridade. A posição
mais difícil, indiscutivelmente correta, é a do democrata, coerente com seu sonho solidário e igualitário, para
quem não possível autoridade sem liberdade e esta sem aquela”. (FREIRE, 1996, p.108).
Nas teorias que sustentam a formação de docentes em artes visuais, desde os autores e
as autoras que escrevem a respeito dos fundamentos para a área, sobre as poéticas e práticas
em artes visuais, e especificamente aquelas e aqueles que apresentam reflexões sobre o ensino
de arte, existe o consenso de que se respeite o saber e a cultura do público discente. Nesse
material, com os quais licenciandas e licenciando têm contato desde seu primeiro semestre de
formação, existe uma preocupação latente para que sua capacitação seja fundamentada para a
futura prática docente.
Com base nas reflexões sobre a fundamentação necessária para prática docente,
constituída também por ações e atividades fora dos muros da universidade e tendo como parte
de seu processo de conclusão no curso, uma investigação envolvendo a produção monográfica
do curso de Artes Visuais Licenciatura entre 2013 e 2016, o acadêmico Israel Zayed pondera,
em interlocução com Paulo Freire, que:
Essa relação de ensino e aprendizagem deve ocorrer por via de mão dupla,
educadores ensinam e aprendem e educandos aprendem e ensinam. É um exercício
complexo e inesgotável, tanto por parte do arte-educador quanto do educando. A
responsabilidade e o rigor exigem mais do que o saber conteudista, exigem um saber
global do que é ser-humano. (SILVA JUNIOR, 2016, p.29).
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino [Fala-se hoje, com insistência,
no professor pesquisador. No meu entender o que há de pesquisador no professor
não é uma qualidade ou forma de ser ou de atuar que se acrescente à de ensinar. Faz
parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O de que se
precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e se assuma,
porque professor, como pesquisador]. Esses que-fazeres se encontram um no corpo
do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco,
porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando
intervenho, intervindo busco e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não
conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 1996, p.29).
Considerações
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Educação como prática da Liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 1992.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo:
Editora UNESP, 2000.
OLIVEIRA et al. Maria W.; SILVA, Petronilha B. G.; GONÇALVES JUNIOR, Luis;
GARCIA-MONTRONE, Aída V.; JOLY, Ilza Z. Processos educativos em práticas sociais:
reflexões teóricas e metodológicas sobre pesquisa educacional em espaços sociais. In:
OLIVEIRA, Maria W.; SOUSA, Fabiana R. (Org.) Processos Educativos em Práticas
Sociais: pesquisas em Educação. São Carlos: EdUFSCar, 2014. p.29-46.
SILVA JUNIOR, Israel A. Mediação cultural e ensino de artes visuais: um olhar para as
relações entre teoria e prática. 2016. 68 f. Monografia (Licenciatura em Artes Visuais) Centro
de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo
Grande, 2016.
Resumo
Estudos baseados na semiótica peirciana podem contribuir para a compreensão de diversas linguagens.
O presente trabalho utiliza o conceito de signo indicial peirciano e estudos referentes à fotografia-
expressão e à fotografia impressa em fine art para considerar a hipótese de que a materialidade e a
forma com as quais a fotografia é apresentada ao espectador podem influenciar em sua semiose. Em
um mundo onde a fotografia se tornou quase totalmente digital, a impressão fotográfica se tornou um
pouco rara e sem muita atenção para a sua qualidade, a fotografia em forma física e palpável acabou
sendo deixada de lado pela sociedade. Esse trabalho traz argumentos para demonstrar a importância da
fotografia impressa em alta qualidade demonstrando, também, a importância de se utilizar diversos
materiais artísticos que contém qualidade estética e de alta durabilidade para a observação dessas
fotografias como objeto de arte. Para desenvolver essa ideia, trazemos uma análise de uma fotografia
impressa originalmente em fine art do artista Bruno Veiga que foi observada pessoalmente no Museu
de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul, na cidade de Campo Grande. O trabalho também tem
como objetivo contribuir para uma reflexão sobre a importância de se observar a obra de arte original
ao invés de apenas as suas reproduções e como isso pode afetar no ensino das Artes Visuais.
1. Introdução
1
Mestranda em Estudos de Linguagens pela UFMS e bolsista da CAPES. Especialista em História e Cultura dos
Povos Indígenas – UFMS. Formada em Técnico em Processos Fotográficos – SENAC/MS. Licenciada em Artes
Visuais pela UFMS. E-mail: mariana_arndt@hotmail.com.
2
Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP.
Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Uniderp. E-mail: eluizabortolotto.ghizzi@gmail.com
Para os devidos fins, o trabalho utiliza, na primeira parte, para falar sobre o icônico,
o indicial e o simbólico na fotografia Dubois (1993). Na segunda parte, para compreender a
mudança da fotografia-documento para a fotografia-expressão, utiliza Rouillé (2009) e
Santaella (2016). Já na última parte, para realizar uma análise de duas obras de Bruno Veiga,
utiliza Ostrower (2014), Bittencourt (2015), Villegas (2017), Salles (2013), Losada (2010).
2. Desenvolvimento
Dubois (1993), analisando as teorias da fotografia, separa três fases: a das teorias
que entendem a fotografia como espelho do real (discurso da mimese); a das teorias da
fotografia como transformação do real (o discurso do código e da desconstrução); a das
teorias da fotografia como traço do real (o discurso do índice e da referência).
A fotografia vista como um espelho do real é considerada uma imitação da
realidade. Dentro dessa concepção, tem relevância a sua capacidade mimética (mímesis: do
latim imitatio, que significa imitação ou cópia). A fotografia, aqui, é tida como um ícone3 do
real. Nessa fase, desconsidera-se o gênio artístico, já que o fotógrafo é tomado apenas como
um “operador da máquina”. Para Dubois (1993), a fotografia, nessa abordagem, não é
considerada uma obra de arte, mas, uma documentação da realidade.
3
O ícone se reporta ao seu objeto por similaridade. Pode ser uma imagem (similaridade por aparência), um
diagrama (similaridade por relações internas) ou uma metáfora (similaridade por significado). (SANTAELLA,
2016)
4
O símbolo, que é um legi-signo, é construído a partir de leis ou convenções sociais.
5
Quando se fala em índice, o seu fundamento é sua existência concreta. (SANTAELLA, 2016)
construção de imagens. Aquela imagem-ação, que tinha um contato direto com o mundo real
como registro, documento, acaba por se modificar.
A partir dessa modificação de posição, surgem obras fotográficas que tinham como
referência não mais o mundo real, mas outras imagens. “Se a fotografia-documento era
conhecida por imitar as coisas por contato, tais obras imitam somente outras imagens [...] os
elos com o mundo se distenderam, rompeu-se o contato físico com as coisas” (ROUILLÉ,
2009, p. 145). Já com o aparecimento de fotografia de celebridades, há uma perda de
consistência com o mundo, a partir da ficção.
A fotografia-documento acaba por ignorar os dados extra fotográficos, ao contrário
da fotografia-expressão. A primeira traz uma impressão direta, já a segunda uma impressão
indireta. A primeira traz um ideal de verdadeiro e proximidade, já a segunda traz inúmeras
possibilidades e distanciamento. Apesar de uma ter nascido a partir da outra, há uma
diferenciação. E essa mudança de perspectiva traz uma nova configuração dentro da
fotografia.
O regime da fotografia-expressão caracteriza, segundo o mesmo autor, “o elogio da
forma, a afirmação da individualidade do fotógrafo e o dialogismo com os modelos”
(ROUILLÉ, 2009, p 161). Ela não recusa totalmente a documentação, mas propõe outras vias
que estão relacionadas ao mundo mais indiretamente. Neste âmbito aconteceu a Missão
Fotográfica da Datar - em 1983, na França - que tinha como características de elogio à forma
e individualidade do fotógrafo. Foi um momento em que o objetivo não era mais documentar,
mas, buscar uma nova paisagem em meio ao caos: uma unidade imaginária que traria
visibilidade ao que não era notado.
A moda e a publicidade contribuem para que a expressão se torne ainda mais
contundente. O sonho, a partir de “corpos-objetos perfeitos e inacessíveis” (ROUILLÉ, 2009,
p. 166), torna-se ainda mais potente que a realidade, já que o comércio necessita ser
alimentado. Acaba-se, então, por produzir uma imagem, a partir da realidade, que constrói um
ideal. E, nessa perspectiva, o sentido não é registrado, como na fotografia-documento, mas é
produzido e expresso.
Rouillé (2009) coloca Robert Frank como um dos fotógrafos mais importantes para
a definição da fotografia-expressão, pois ele acaba rompendo com a concepção perspectiva do
fundamentais para o conhecimento em arte. Porém esse trabalho trata mais dessa primeiridade
do “ver”, do contato com a obra.
Quando observamos uma pintura de um artista como Monet, em um livro didático, a
nossa relação com ela será diferente daquela que teríamos ao visitar essa mesma obra em um
museu e vê-la fisicamente. No museu enxergamos a obra com todas as suas cores e texturas; e
são essas características que talvez não sejam fiéis em uma reprodução. Outro detalhe é o
tamanho da obra: se o quadro possui 2m x 2m, por exemplo, no livro veremos apenas uma
miniatura, o que impossibilita apreciar todos os detalhes da obra. E, mesmo se realizarem uma
impressão da obra em tamanho real, de alta qualidade e com as cores fiéis, ainda assim, não
estaríamos enxergando a totalidade da materialidade do quadro. Não apreenderíamos a
textura, já que na impressão há uma falsa ideia de textura; não apreenderíamos a
individualidade dos materiais utilizados: se a tinta é fosca ou brilhosa, se posso ver a marca
das cerdas do pincel, se consigo ver um pedacinho da tela aparecendo. Portanto, a forma com
que o signo em si é apresentado é importante para gerar determinados efeitos na mente do
intérprete (interpretante dinâmico). Por outro lado, em imagens digitais, às vezes, podemos ter
acesso a detalhes que talvez não víssemos a olho nu. Cabe ao professor encontrar os melhores
meios para apresentar as obras aos alunos. Utopicamente, seria incrível se todos os alunos
tivessem contato pessoalmente com as obras estudadas, porém, como poderíamos levar a
turma em uma exposição no Louvre em Paris? Porém, constantemente há exposições
acessíveis e é primordial ao ensino de arte que os alunos tenham essa experiência de contato
direto com produções.
Quando se trata de fotografia impressa acontece o mesmo que na pintura. A forma
com que ela é apresentada modifica nossa relação sígnica com ela. Isso se deve ao fato de que
quando um fotógrafo resolve imprimir sua obra, ele escolhe todas as características que ela
deverá conter: tipo de impressão, tipo de papel (e qual é a sua textura), tamanho, qualidades
dos materiais, se irá emoldurar e em qual moldura (formato, cor, tamanho etc), como irá expor
a imagem: se pendurada em uma parede, deitada no chão, suspensa no ar etc. Todas essas
escolhas partem do fotógrafo e não são aleatórias. Tudo parte do processo criativo do artista e
de como ele pretende que a obra chegue até o observador.
O processo criativo do artista depende de toda a experiência de vida que ele traz
consigo. Segundo Ostrower (2014, p. 10) “Intuitivos, esses processos se tornam conscientes
na medida em que são expressos, isto é, na medida em que lhes damos forma.” Esses
processos se dão a partir de um ser consciente-sensível-cultural. A parte sensível seria a parte
do inconsciente ligada à sensibilidade. A parte cultural representa toda a construção em
sociedade. Já a parte consciente seria mais ligada à percepção.
Já quando se fala da interpretação da obra, a forma com que a informação é
apresentada para nós é importante para a geração de significado. Segundo Salles “É
importante ressaltar que o próprio processo, por vezes, carrega marcas da futura presença do
receptor como, por exemplo, escolhas que sejam convincentes (a alguém), preocupação com
clareza e desejo de sedução.” (SALLES, 2013, p. 54) A maneira com que processamos a
semiose depende também da maneira com que os signos chegam à nossa mente, como
lidamos com esse signo. E a maneira com que eles chegam à nossa mente, está muito
relacionado às nossas experiências de vida, à natureza do signo, entre outras coisas. Portanto,
o signo e o intérprete são essenciais para analisar o interpretante.
Segundo Ostrower, as imagens referenciais seriam ordenações internalizadas. Na
percepção, há uma seletividade, e, segundo a autora, “perceber é, de certo modo, ir ao
encontro do que no íntimo se quer perceber.” (OSTROWER, 2014, p. 65). Fazendo um
paralelo com Peirce, quando ele explica que o objeto não pode ser apreendido em sua
totalidade, pode-se entender que cada parcela de características do signo apreendida por nós
depende da experiência particular de cada pessoa.
A fotografia em fine art é um tipo de fotografia-expressão associada à materialidade
e de impressão altamente especializada, escolhida pelo fotógrafo devido às suas intenções.
Losada (2010), citando Iser e Gombrich, fala sobre o repertório para o artista poder atingir seu
público e suas respectivas estratégias:
Quanto às estratégias, Iser afirma que – envolto por suas próprias referências
contextuais – o artista produz sua obra dirigindo-se a um receptor imaginário que ele
denomina como ‘leitor implícito’. O que interessa para Iser é o fato de que, enquanto
objeto físico, a obra constitui apenas uma ‘estratégia’, isto é, um conjunto de
‘instruções’ formuladas pelo artista para provocar certos efeitos no receptor. Para se
tornar efetivamente um ‘objeto estético’, a obra precisa então ser ‘realizada’, ser
complementada em suas ambigüidades, por meio da ‘participação do observador’;
aspecto esse que Gombrich também destaca em sua teoria. (LOSADA, 2010, p. 243).
[...] o termo fine art também categoriza um estilo de fotografia, que não apenas se
preocupa com a estética na criação da obra, ou seja, não leva em consideração
somente a forma com que a imagem é apresentada, mas valoriza principalmente seu
caráter artístico (BITTENCOURT, 2015, p. 21 e 22).
O atual trabalho aborda a fine art como tipo de impressão fotográfica de alta
qualidade com foco nas questões da impressão e dos tipos de papel. Duas características
principais dessa impressão são a qualidade e a durabilidade. Dentro dessa produção, percebe-
se a importância dada ao tipo de material utilizado: pigmentos minerais, papéis de algodão e
de alta qualidade com PH neutro que faz com que a impressão dure até 250 anos. Até mesmo
a qualidade do impressor (fine art printer) é considerada ao se produzir uma obra. Algumas
pessoas utilizam o termo “impressão fine art”, outras utilizam o termo francês “giclée”, que
significa “jato de tinta”. (VILLEGAS, 2010)
Como já foi dito, em fine art, a forma com que a obra é apresentada é importante
para a sua observação. Escolhemos, então, um artista cuja obra pudemos ver pessoalmente,
com atenção para a impressão de seus trabalhos. No caso, foi uma exposição que aconteceu
no Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande - Mato Grosso do Sul (MARCO/MS),
em Junho de 2016. A série exposta no MARCO/MS se chama “Subúrbio”.
das cores, associado ao papel quase faz lembrar uma pintura hiperrealista, entre outros,
porque temos um realismo fotográfico associado a uma mancha pictórica que assume
qualidades próximas à da pigmentação obtida com tintas usadas pelos pintores..
Observando essa obra no formato digital ou impressa em impressoras comuns, não
se percebe a totalidade da obra em si. Apesar das imagens impactarem por si só, mesmo
observadas digitalmente, quando as observamos impressas em fine art o efeito que causa se
intensifica, e acaba-se compreendendo a importância do material para a produção fotográfica.
O efeito de realidade se torna maior dessa forma. Portanto, pode-se considerar que a semiose
foi modificada a partir do signo indicial.
3. Considerações finais
também: quais cores utilizar, quais formatos, a forma com que a fotografia será apresentada,
onde será exposta etc. Ou seja: tudo o que é relacionado a sua materialidade é importante.
Quando transpomos essa importância ao ensino de arte, começamos a entender a
relevância em observar uma obra pessoalmente e propor idas à exposições de arte com os
alunos. Pretendemos, com esse trabalho, sensibilizar os educadores para novas práticas no
ensino de arte.
REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, Dany. Fotografia Fine Art. Santa Catarina: iPhoto Editora, 2015.
DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. Trad. Marina Appenzelier. Campinas,
SP: Papirus, 1993.
PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica, trad. José Teixeira Coelho Neto. São Paulo:
Perspectiva, 1977.
PROENÇA, Graça. História da Arte. 17ª Edição. São Paulo: Editora Ática, 2010.
SALLES, Cecília Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo:
intermeios, 2013.
SANTAELLA, Lúcia; NÖTH, Winfried. Imagem: Cognição, semiótica, mídia. 1ª edição, São
Paulo: Iluminuras, 1997. 9ª reimpressão, 2015.
VILLEGAS, Alex. O que é esse tal de fine art?. Disponível em: <
https://www.iif.com.br/photomag/arte-o-que-e-esse-tal-de-fineart/> Acesso em: 31/07/2017,
às 17:30h.
O presente trabalho tem como objetivo explanar algumas conceituações filosóficas sobre a palavra
estética, demonstrando a reverberação e importância das suas ações práticas e efetivas em sala de aula
como construtor crítico e social. A pesquisa tem como base teórica os estudos de Jorge Larrosa,
Marcos Villela e a Poética de Aristóteles como estimulador a questionamentos e propulsor de
vivências que venham auxiliar na ligação intrínseca pensamento/corpo. Como proposta prática na sala
de aula, realizamos uma construção escultural da deusa de Willendorf em sabonetes junto de leituras
dos autores citados acima, seguido de debates sobre as sensações, os saberes construídos ou
desconstruídos e demais percepções obtidas, mesmo sendo elas negativas. As aulas foram realizadas
na EEEP Dona Creusa do Carmo Rocha com os alunos de primeiro ano do curso técnico de
Administração. O título do trabalho demonstrado como Observ (ação) nos remete a esta constante
busca do observar o outro, a si, a observar as sensações que perpassam pelo corpo e principalmente
agir diante daquilo que lhe é proposto. É uma ação diante daquilo que se fez parado. Para-se para
melhor absorver; e age-se como resposta ativa daquilo que se foi absorvido, sentido. Esta inicial
pesquisa nos revelou necessária quanto a novas ressignificações, olhares e principalmente novo sentir,
tendo em vista que a estética é exatamente esse momento de pausa para sentir e compreender o que
estamos sentindo.
Palavras-chave: Estética. Saberes. Sentir.
1
Doutor em Artes Cênicas pelo PPGAC - Universidade Federal da Bahia. Professor adjunto do Instituto de
Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará Curso de Teatro-Licenciatura; Mestrado em Artes; ProfArtes.
Coordena o Laboratório de Poéticas Cênicas e Audiovisuais (LPCA), no qual atualmente desenvolve o Projeto
de Pesquisa Do corpo da cena: cena, alegoria e escritura no teatro contemporâneo, dentro do Instituto de Cultura
e Arte da UFC. E-mail: hectorbriones@ufc.br
2
Mestranda em Artes pela UFC- Universidade Federal do Ceará. Especializando em Arte educação e Cultura
Popular pela Darcy Ribeiro. Licenciada em Teatro pelo IFCE – Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará. Graduanda em Educação Física pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Professora
efetiva de Artes da Escola Estadual de Ensino Profissionalizante Creusa do Carmo Rocha. Proponente e criadora
do grupo de dança e estudos folclóricos Aicó Ybitãtãn e pesquisadora sobre Mimesis Corpórea. E-mail:
biancarh29@hotmail.com
3
Graduando em Educação física pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Criador e professor da escola
Batuque & Dança que tem como proposta a investigação e criação cênica no âmbito da dança afro-cubana e
dança de salão. E-mail: luc.siqueiraa@hotmail.com
Introdução
A palavra estética desde que foi usada dentro do vocabulário filosófico4, que se tem
noticia, sofreu várias ressignificações passando pela vertente da objetividade-subjetividade, da
beleza como busca pela verdade, utilidade, da representação do real, dentre outras.
Atualmente a palavra estética vem sendo atrelada a lógica capitalista dos quais se
criam clínicas estéticas que se referem á beleza exterior, comerciais de propagandas que
circulam no nosso meio afirmando que para ser algo você necessita ter algo e que isto lhe
torna belo e atraente. Então seria a estética o retorno á beleza como utilidade? E se sim, qual
aspecto de utilidade que ela se refere? Baseia-se no ter ou na construção do ser?5 E de quais
formas essa nova visão da estética influência no dia a dia e na própria educação?
Se atentarmos, encontraremos clinicas para deixar os cabelos de tal forma, malhação
para adquirir tal corpo, numa constante representação e repetição da lógica do ter e não do já
ser. Processo que massacra e dilacera o sentido de corpo e da mente. Reinventa-se novos
corpos, novos pensamentos como se o homem fosse um objeto que precisa constantemente
mudar pra se fazer interessante numa prateleira á venda. Esta mudança não está pautada no
livre pensar ou na própria mudança interna que se faz necessária, e sim, numa imposição
ideológica que se vai adentrando no conceito de belo/útil de forma (in) consciente.
Esta lógica também nos acompanha no molde educacional onde toda a estrutura se
baseia para que os educandos adquiram mais conhecimentos, independentemente de serem
estes aprendidos realmente ou só memorizados como garantia de pontuações numéricas sobre
o pensar. Poucas são as escolas que se trabalham se atentando para o que os educandos
possuem dentro de si. É uma lógica mercantilista de sempre adquirirem mais. Tais ideologias
aparecem também sobre os meios midiáticos onde trazem consigo a necessidade de absorção
4
De acordo com estudos bibliográficos a palavra estética foi introduzida por Alexander Baumgarter em 1750 e
se referia ao conhecimento sensível.
5
O ser aqui precede aquilo que se é através das e com as escolhas que se faz. É o sujeito que existe do que o
mundo proporciona (exterior) interligado com as suas escolhas (interior). É o diálogo com sua essência numa
constante interação entre o interior e exterior na transformação social e de si. Este ser pode ser influenciado por
objetos e ideologias do ter, vindo o ser a sofrer alterações por este, por isso da importância de se deixar
descobrir-se e de ser responsáveis pelas escolhas tomadas, tendo consciência dos “ter” que é apresentado ao ser.
de informações e opiniões. Foi pensando nisto, que iniciamos o processo de estudo sobre os
conceitos atrelados a palavra estética e como esta poderia nos auxiliar no processo
educacional.
A pesquisa aqui apresentada é apenas parte dela, já que continuaremos a estudar e a
propiciar vivências que possam nos auxiliar quanto a esta temática. Buscaremos apresentar
aqui os conceitos da palavra estética sobre os olhares de Jorge Bondía Larrosa, Marcos Villela
Pereira e a tradicional Poética Aristotélica. Citaremos outros autores que buscarão dialogar
sobre a temática e o traremos nesta primeira etapa do trabalho diante de uma vivência
realizada na EEEP Dona Creusa do Carmo Rocha onde os educandos do primeiro ano do
Curso Técnico Administrativo tiveram espaço para dialogar sobre a estética e vivenciar uma
construção da escultura da Venus de Willendorf em sabonete. Foi uma ferramenta encontrada
para associar a sociedade matriarcal e sua representatividade na fertilidade, bem como a
diferença estrutural da estética associada ao conceito de beleza da nossa atualidade.
A Aisthetiké/Estética
vazio do ‘entre-ser’, a palavra estética se lançou no que se refere ao conceito de beleza, e esta
por sua vez se abrangeu em mais significados temporais/culturais, passando pelo encontro de
beleza a algo que era bom; de beleza como sinônimo do bem em relação ao espírito; e dentre
outros. O fato é que a estética (aisthetiké) se estruturou como o estudo do que é belo na arte
ou manifestações artísticas e como Filosofia da Arte. Lembremos que toda ela se estrutura
sobre uma base concreta: o sujeito que sente e observa.
È desta forma que Larrosa6 começa a destrinchar que para haver a estética é necessário
se permitir a vivenciar, utilizando a mesma palavra que ele, a experimentar. Villela7 descreve-
nos que antes do experimentar há o se permitir a desenvolver uma atitude estética que é dada
de maneira desinteressada, tal atitude estética requer do espectador, do criador ou até mesmo
do crítico, que não deixa de ser espectador, uma posição de pertencimento, de permissão a se
deixar ser tocado por tal vivência. Larrosa (2002) nos lembra de que a todo o momento
podemos viver e mesmo assim não ser atingidos por sentimento nenhum, de acordo com ele:
“Depois de assistir a uma aula ou a uma conferência, depois de ter lido um livro ou
uma informação, depois de ter feito uma viagem ou de ter visitado uma escola,
podemos dizer que sabemos coisas que antes não sabíamos que temos mais
informação sobre alguma coisa; mas, ao mesmo tempo, podemos dizer também que
nada nos aconteceu, que nada nos tocou, que com tudo o que aprendemos nada nos
sucedeu ou nos aconteceu.”
(LARROSA, 2002, p.22)
É notório averiguar que em pleno século XXI e diante de um sistema capitalista, cada
vez mais somos cobrados a sabermos de algo. A cada dia que passa mais crianças e
adolescentes assumem responsabilidades e são impedidas de brincar, conversar, ter momentos
de ócio criativo, de socializar. O mesmo se passa com os adultos que recebem diariamente
através de comerciais seja em televisões, rádios, banner e etc, anúncios subjetivos que
determinam o ser com o ter e que para ser precisam ter cada vez mais, impossibilitando-os o
livre acesso ao sentir voluntário, desinteressado, como cita Villela (2012). Até os idosos são
6
Ver Larrosa, Jorge Bondía. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de
Educação, Campinas-SP. Jan/Fev/Mar/Abr 2002 Nº 19.
7
Pereira, Marcos Villela. O limiar da experiência estética: contribuições para pensar um percurso de
subjetivação. Pro-Posições, Campinas, v. 23, n. 1 (67), p. 183-195, jan./abr. 2012.
impedidos de ter uma experiência estética completa, se é que existe a completude em tal ato,
pois são renegados e lançados á beira da sociedade em local de esquecimento na sua grande
maioria. Sobrevivem em meio ao tempo corrido onde tudo se passa, mas quase nada se sente,
pois não há o tempo/espaço necessário a cada individuo de sentir conforme a sua
singularidade. Complementando este pensamento junto ao que Villela (2012) declara quanto à
atitude estética, veremos que “A atitude estética é uma atitude desinteressada, é uma abertura,
uma disponibilidade não tanto para a coisa ou o acontecimento “em si”, naquilo que ele tem
de consistência, mas para os efeitos que ele produz em mim, na minha percepção, no meu
sentimento.” (Villela, 2012, p.186). Se percebermos o Marketing estuda como o cérebro
humano capta informações e a toma para si, desta forma, estamos aberto a algo e somos de
certa forma, absorvidos por ela ou a absorvemo-las, mas isto não implica dizermos que
estamos tendo uma atitude estética, pois ela não se resume meramente a estar aberto a e sim
ao efeito ocorrido pela abertura a ... Quando Larrosa nos expõe o que foi citado acima,
podemos interpretar, dentre tantas outras possibilidades, exatamente a exclusão da experiência
estética, mesmo que esta se der de forma inconsciente. E esta possibilidade de exclusão se dá
inclusive através do processo escolar, como modelo educacional onde se preza o ter sobre o
ser. O mesmo padrão estipulado pelo sistema capitalista. Proporciona-se nas escolas, óbvio
que não generalizado, pois cada ser absorve, sente e interpreta diferente, o acúmulo de
conteúdos, de informação em prol da experiência/sentido como se este não fizesse parte da
construção significativa do saber. É diante disto que Duarte Júnior (1981) propõe a construção
significativa do saber pelo viés do sentir, levantando questionamentos mais uma vez sobre a
funcionalidade da Arte na escola. Ele esclarece que já que a estética é visto como o estudo da
beleza na Arte, esta deve ser incluída sobre esta vertente. Para ele a Arte dentro do meio
escolar tem um papel essencial: o papel de humanizar. Cita que:
que o banqueiro e o fabricante de armas, o que sem duvida provocará sorrisos tanto
nos vencedores quanto nos vencidos. (PREFÁCIO, 1981, p. 09)”
Ele nos demonstra que o ter se tornou tão importante que parece simplesmente que
esquecemos respeitos básicos de qualquer um com o outro, consigo e com o meio no qual está
inserido, e isto pode ser visto pela óptica, inclusive da questão escolar, no qual se insere mais
conteúdos e que interpelam o educando ao sentir e ao refletir sobre suas ações. Ações estas
que estão pautadas no pilar do eterno vencer, independente do custo, e de quais derrotas que
ocasionara certa crueldade com outrem e consigo para se alcançar aquilo que foi almejado. É
nesta perspectiva que se propõe a arte no intuito de despertar, resgatar a beleza novamente,
lembrando que esta está atrelada a estética, ao grande experimentar e sentir da vida.
Larrosa (2002) também cita esta visão, que ele não atrela necessariamente ao sistema
capitalista, mas interliga-a, explicando que o sujeito de hoje está intrinsecamente ligado á
informação e a grande necessidade de opinião. De tudo deve-se saber um pouco e dele extrair
uma opinião. Se, por algum acaso, o sujeito se pôr em frente a uma obra de arte e é
extremamente tocado por ela por tal sensação que pra ele até o momento é inexplicável, este,
pode-se se ver oprimido pela sociedade ou inclusive pelo que aprendeu dela por não saber
descrever tais sensações, por não ter a opinião formada. O narcisismo ai toma parte da
sociedade. Estamos tão firmes em nossa opinião que não abrimos espaço ao novo, ao simples
gesto de ouvir o outro e tentar entender. Somos levados a sempre falar e reproduzir
informações que em grande maioria acreditamos ser a nossa própria. Preenchemos o vazio do
ócio com palavras na internet, com palavras lançadas ao outro, porém pouco repensadas.
Cortamos ou recusamos o tempo de reverberação do simples ‘vazio’ de uma palavra á outra.
Tantas informações não deixa tempo para combinações e compreensões de modo geral. Se
não temos tempo de sentir/experimentar como criar? Como reinventar a atualidade? Se não
somos capazes de sentir, de viver o aqui e o agora, o que nos passa8, assemelha-se ao podar-
se enquanto sujeito humano capaz de transformação a si e ao meio no qual está inserido.
Assemelhamo-nos ao robótico, aos corpos dóceis9, fáceis de serem comandados por
8
Grifo nosso para lembrar que o que nos passa e/ou o que nos acontece se refere a experimentar, a estética de
forma dita.
9
Ver Michel Foucault. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 37 ed. Petropólis, RJ: Vozes, 2009.
ideologias que nos são implantadas, por incrível que pareça, por meio da informação. Como
cita Foucault não há manipulação provinda de um senhor rico, mas de uma cadeia de pessoas
pobres, ricas, padres, professores, família, políticos, enfim, das linhas de interesses e de poder
que regem a sociedade. Se pularmos esta etapa do se permitir, de se ter uma atitude estética
significa que estamos a pular também a ação da reflexão, da busca pelo nosso eu e pelo sentir,
pela nossa própria abertura á transformação. Sem nada que nos atinja, que aconteça, que
toque, nos tornamos seres que vagueiam sobre a terra nomeando-a de vida. É necessário
romper com este ciclo e interromper esta sequência. É necessário
“(...) parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar,
olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar,
demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a
vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir
os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar
aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e
espaço.” (LARROSA, 2002, p.22).
A pausa para o sentir e refletir são bem vindas. A fala está atrelada ao corpo, faz parte
do corpo. Não se deve ignorá-la, porém não se deve se prender exclusivamente a ela como
refúgio ao não sentir. Ela faz parte e é sincera, verídica se esta está atrelada a comentar o que
nos acontece, pois ai ela é via de acesso ao sentir, ao experimentar, a viver. A opinião é diante
daquilo que experienciamos e não em cima de algo que julgamos. Se nos pomos no lugar dos
juízos, do automatismo, da opinião já pronta, estamos a tirar de nós a oportunidade de provar
o novo, de nos encantar que nem criança que visualiza tudo como se fosse a primeira vez.
Podemos assistir a uma aula, fazer uma viagem, visitar escola, e mesmo que não seja a
primeira vez, ainda assim ser tocado por, ser sentido, desde que nos coloquemos nessa
postura da atitude estética. Nessa local de abertura a e ao efeito ocorrido pela abertura a.
Já foi citado acima que a palavra estética se tornou referência à beleza e seu
direcionamento quanto a Filosofia da Arte. Aristóteles também a analisou sobre essa vertente
artística. Atrelou a ela dois princípios realistas: a teoria da imitação, muito debatida e tida por
alguns estudiosos como mal interpretada, e a catarse.
Para ele a estética que é atrelada a beleza residia na extensão e ordem. Na sua
harmonia e proporção, revelando sua grandeza. Essas qualidades encontravam-se na arte
enquanto imitações. Não imitação literalmente da vida, mas imitações das coisas das “(...)
quais podiam acontecer, possíveis no ponto de vista da verossimilhança ou da necessidade”
(Aristóteles, 1997, p.28). Eram ações de algo e que poderiam ser reproduzidas pelo ser
humano, e se este poderia fazer coisas ruins, também poderiam fazer ações boas.
A arte teria ai uma função de melhorar o ser humano por viés da catarse. Se há a
imitação de ações ruins, estas deveriam ocorrer para causar piedade ou medo para que o ser
humano aprendesse com as ações observadas e não as cometessem. Há aí a purgação de si. A
estética nesse parâmetro de mimesis não seria meramente a imitação tal qual como a palavra é
colocada, mas a representação de ações que podem gerar transformações em si e no meio no
qual está inserido.
Quanto a analise de beleza Aristóteles tem grandes contribuições no que se diz a
respeito do ponto de vista do espectador. Por aquele que é observador e que se deixa
perpassar pelas sensações do objeto observado. Aqui encontraremos ressignificações com o
que Larrosa colocava sobre deixar que aconteça algo a si. Suassuna esclarece que:
Enquanto alguns se atentavam ao objeto, ações e/ou ideia de beleza. Aristóteles foi
mais além e percebeu que a beleza, mesmo com seus padrões estabelecidos que a definissem,
essa seria relativa perante o olhar do observador e que este ao ser pego pelos sentidos pela
coisa observada era atingido de maneira gratuita, nada forçada, numa atitude desinteressada.10
É através desse olhar que ele esclarece o prazer que o ser humano sente em ver e aprender
com o que é visto, por isso de colocar a arte teatral dentro de uma estrutura que pudesse
10
Lembrando que este termo foi visto dentro dos estudos de Marcos Villela já citados aqui.
‘educar’ de forma indireta, e não necessariamente utilizada por ele dentro desse termo, por
viés da purgação. É o momento que a arte assume papel transformador.
É importante salientar que ele também coloca o grotesco na perspectiva do belo ao se
referir à cena grotesca no qual sentimos prazer em observar. Na nossa atualidade e diante das
tecnologias, hoje isto fica mais claro de ser observado. Enquanto a televisão noticia tragédias,
pessoas ficam em volta a olhar e a fazer caretas, mas ainda assim, a observar. Para isto,
Aristóteles fala que o prazer estar ligado à satisfação de perceber que o ocorrido foi com outra
pessoa e não com você, e que ali estar à representação de algo que poderia ter ocorrido com
qualquer um. É esta representação que Aristóteles define como imitação. Esta é a imitação de
ações que são reproduzidas por pessoas agindo. Portanto, a beleza para ele não ficava no local
do intocável como proponha Platão, e sim no local do possível, do real e no qual o ser
humano aprenderia através e com ela. A beleza não se resumia meramente a visualização do
belo, mas a satisfação e prazer de ser tocado por algo que é observado, mesmo que este esteja
classificado como grotesco.
Saber da experiência
No inicio deste artigo trouxemos de forma breve alguns olhares de Larrosa sobre a
palavra estética e que esta estava atrelada a outro conceito que ele determinou de Saber da
Experiência. Não basta a experiência, é necessário tomar ‘proveito’ dela. Se a vivenciamos, se
fomos tocados por algo, que este algo nos seja singular no processo de aprendizado. É como
ele coloca:
Este é o saber da experiência: o que se adquire no modo como alguém vai
respondendo ao que vai lhe acontecendo ao longo da vida e no modo como vamos
dando sentido ao acontecer do que nos acontece. No saber da experiência não se
trata da verdade do que são as coisas, mas do sentido ou do sem-sentido do que nos
acontece. (LARROSA, 2002, p.27).
Falamos que é necessário estarmos aberto a recebermos algo, a sermos tocados por
algo, mas que isto só fará sentido se nos apropriarmos disto como experiência pra vida.
Muitas coisas não passam pelo nosso entendimento, mas passamos por aquilo, aquilo
significou algo, marcou pra alguma coisa, mesmo que não saibamos pô-las em palavras. O
saber da experiência não está necessariamente atrelado á explicação, mas ao processo prático
de resposta a como você lhe dar com aquela situação.
Quando inserimos a vivência dentro da escola da qual já citamos aqui, na disciplina de
arte, esta vivência reproduziu alguma coisa em alguns educandos, principalmente no sexo
feminino. Ao fazerem suas esculturas em sabonetes11 da Venus de Willendorf, que é uma
deusa gorda, distorcida perante o olhar atual da nossa sociedade em relação ao seu corpo (de
modo geral). As meninas começaram a compreender a importância daquela deusa para aquele
determinado período e cultura na qual a escultura estava inserida. Algumas trouxeram á fala
de: “professora tudo é relativo, né? Essa mulher aqui, gorda desse jeito é a representação de
beleza daquela época, né?”, enquanto outra respondia: “tá vendo como somos bonitas e a
12
nossa sociedade atual diz que não?” . No meu ponto de vista elas se permitiram vivenciar
aquilo não sobre o olhar da obrigatoriedade, mas do prazer de fazer, de criar algo e de ser
tocado por aquilo que criavam ao mesmo tempo em que reproduziam a tentativa real da
imagem da Venus impressa.
No canto da sala, meninos riam e olhavam pras suas esculturas distorcidas e diziam
como ela estava bonita. Percebiam que a beleza ia bem mais além do que aquilo que a mídia
nos colocava. Analisavam-na sobre o olhar estético de que sente prazer ao ver algo que se
criou e que ao mesmo tempo foi criado pela coisa. Pela mistura das sensações, pelo poder da
arte de já não saber quem é o quê, mas o que são.
Se compreendêssemos e se soubéssemos como trabalhar a educação sobre o viés da
beleza como Duarte Júnior propusera, talvez teríamos o que Aristóteles colocava e Larrosa
que citava:
“(...) O saber da experiência é um saber que não pode separar-se do indivíduo
concreto em quem encarna. (...) mas somente tem sentido no modo como configura
uma personalidade, um caráter, uma sensibilidade ou, em definitivo, uma forma
humana singular de estar no mundo, que é por sua vez uma ética (um modo de
conduzir-se) e uma estética (um estilo). Por isso, também o saber da experiência não
pode beneficiar-se de qualquer alforria, quer dizer, ninguém pode aprender da
experiência de outro, a menos que essa experiência seja de algum modo revivida e
tornada própria.” (LARROSA, 2002, p.27).
11
Optamos utilizar este material por ser ele de fácil acesso á todos e de manuseio simples.
12
Não a identificaremos aqui, pois para a pesquisa não é relevante saber a identidade real das jovens.
Considerações Finais
O titulo deste artigo “Observ (ação)...” não foi despropositadamente. Ele nos sugere o
observar que está em olhar o outro, olhar a si mesmo, pois como Aristóteles nos dizia em sua
Poética, aprendemos também através do olhar. Mas só olhar não é suficiente. Isto é um lugar
de passividade, por mais que haja uma atitude do sujeito em olhar. Mas aqui sugerimos o
observar regado de ação. Ação de perceber o outro, ação de propor vivencias educacionais
que possam gerar a estética. Ação do sujeito observador de se por numa atitude propicia para
receber algo, para sentir algo. O que levamos como sugestão foi algo simples, mas
engrandecedor. Colocarmos-nos numa atitude estética, nos permitirmos desamarrar do ‘não se
permitir pra não sofrer’ é construir um ser mais rico em saberes estético. Concluímos esta
primeira etapa do trabalho afirmando e propondo a construção de vivencias no âmbito escolar
que sejam capazes de trazer a estética no sentido mais amplo dela, independente de dar certo
ou não, pois até isso é relativo diante de sujeitos diferentes que absorvem e compartilham de
maneiras diversas. O que vale é se permitir e analisar os frutos dessa permissão quanto sua
positividade e negatividade, atentando-se ao saber da experiência, pois uma vez que se
aprende não se esquece e supostamente não comete a falha que por você foi determinado
como falha.
REFERÊNCIAS
Aristóteles, Horácio, Longino. A poética clássica. Introdução 7. Ed. Por Roberto de Oliveira
Brandão. São Paulo: Cultrix, 1997.
Foucault, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 37 ed. Petropólis, RJ: Vozes, 2009.
Larrosa, Jorge Bondía. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista
Brasileira de Educação, Campinas-SP. Jan/Fev/Mar/Abr 2002 Nº 19.
Pereira, Marcos Villela. O limiar da experiência estética: contribuições para pensar um
percurso de subjetivação. Pro-Posições, Campinas, v. 23, n. 1 (67), p. 183-195, jan./abr. 2012.
Suassuna, Ariano. Iniciação á estética. -9ª Ed. – Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.
Resumo
O presente trabalho problematiza a conjuntura das primeiras publicações didáticas destinadas à
Educação Artística, pari pasu com a análise das prescrições legais para a formação profissional de
educadores pelas licenciaturas específicas, a partir da Lei 5.692/71. Ancorado na Historiografia da
Educação, o estudo lança luz ao contexto político e legislativo para a produção de materiais didáticos
naquela década no Brasil. Situa a produção de livros em coedição com Governo brasileiro na ação da
Fundação Nacional de Material Escolar (FENAME), além da produção independente desse regime,
responsável pela maioria de livros circulantes destinados à área. Enfim, o objetivo principal do estudo é
tensionar tal gênero de publicação com as prescrições legais para a formação do educador no período
da lei. Assim, dialogamos com autores que analisam aspectos da reforma da Educação pela lei de 1971
(GONÇALVES e RANZI, 2012), bem como, como da história dos impressos escolares no Brasil
(BATISTA, 1999; BOMENY et al, 1984, BITENCOURT, 2003). No conjunto das fontes, selecionamos
documentos oficiais para a reforma, como os pareceres do MEC e as Indicações do Conselho Federal
sobre a formação dos professores da área e a produção de matérias escolares, além d e livros didáticos
para o ensino da arte produzidos no período, a exemplo da coleção da Editora FTD e da Editora LÊ. O
estudo apresenta confluências e divergências entre a formação do professor pela legislação e as
tendências gerais dos impressos voltados ao ensino da arte ao público escolar. Enfim, interessa-nos
levantar aquele período de instituição da obrigatoriedade do ensino da arte e questioná-lo, aliás, em um
tempo presente de debate sobre o espaço e objetivo do ensino da arte na escola. Desse modo,
problematizamos a própria constituição de nosso campo de formação no Brasil, enquanto educadores
em arte.
Palavras-chave: Livro Didático. Formação de Educadores. História da Educação. Educação Artística.
Introdução
Esta pesquisa tem o objetivo destacar relações entre a produção de livros escolares para
a Educação Artística e as propostas legais para a formação de educadores na área, mediante
1
Doutoranda em Educação na Universidade Federal do Paraná (UFPR) na Linha História e Historiografia em
Educação. Mestre em Educação pela mesma Linha de Pesquisa. Graduada em Artes Visuais (UFPR). Integrante
do Grupo de Pesquisa História da Educação: Instituições, Intelectuais e culturas escolares no Paraná (séculos XIX
- XX). E-mail: amanda.siqueria.torres@gmail.com.
2
Doutora em Educação e Professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do
Paraná. Coordenadora, junto ao CNPq, do GPHIE – Grupo de Pesquisa História Intelectual e Educação.
3
O Grupo de Trabalho foi instalado em 15 de junho de 1970, na Faculdade de Educação da Universidade de
Brasília. Era composto por 9 membros: Valnir Chagas (relator), padre José de Vasconcelos (presidente), Aderbal
Jurema, Clélia de Freitas Capanema, Magda Soares Guimarães, Eurides Brito, Geraldo Bastos da Silva, Gildásio
Amado e Nise Pires (SAVIANI, 1987).
parte comum do currículo de conteúdos mais gerais. Já na licenciatura plena, cursariam também
a parte diversificada formada por conteúdos específicos. Essas licenciaturas teriam em comum
os seguintes teores gerais: Fundamentos da Expressão e Comunicação Humanas e Folclore
Brasileiro, Estética e História da Arte e Forma de Expressão e Comunicação Artística: Artes
Plásticas, Arte Cênicas, Música e Desenho (BRASIL, MEC, 1973).
Já a parte diversificada, presente na licenciatura longa, contava com habilitação
específica em uma das quatro grandes áreas: Artes Plásticas, Música, Artes Cênicas ou
Desenho. A exemplo disso, na habilitação em Artes Plásticas o licenciando contaria com os
seguintes conteúdos na parte diversificada: Evolução das Artes Visuais, Fundamentos da
Linguagem Visual, Análise de Exercícios de Técnicas e Materiais e Técnicas de Expressão
(BRASIL, MEC, 1973). Independente da escolha por licenciatura curta ou longa, de modo
genérico, era previsto para esses cursos:
A parte comum deverá revestir a tríplice função de, (a) na modalidade de curta
duração, constituir-se um núcleo suficiente ao professor orientador de Educação
Artística para suas atividades de ensino, sondagem de aptidões e iniciação ao trabalho;
(b) na de duração plena, formar este mesmo núcleo e servir de base à escolha e ao
cultivo das habilitações específicas; e (c) em ambas as modalidades, situar o curso no
campo mais amplo de Comunicação e Expressão. Para atender-se esta última função,
indicam-se estas duas matérias – Fundamentos da Expressão e da Comunicação
Humanas e Folclore Brasileiro – de duas outras para a segunda: Estética e História da
Arte e, sobretudo, Formas de Expressão e Comunicação Artística. Convenientemente
reunidas e integradas, as quatro devem cumprir a primeira função, configurando o
mínimo indispensável ao preparo do mestre polivalente que alcance, ou não, os níveis
das habilitações específicas (CHAGAS, 1976, p. 34, grifo nosso).
4
A noção de polivalência não era inaugural, pois, retomada por Valnir Chagas em 1971, o termo já fora empregado
pelo Conselheiro do CFE Newton Sucupira (1920-2007) nos anos de 1969, quando propôs licenciaturas compotas
pelas áreas de Letras, Estudos Sociais e Ciências.
Artística “deveria ser integrada à educação geral e abranger uma gama variada de formas de
arte” (MEC, 1977, p. 6-7).
Entretanto, a ausência de possíveis reprovações, não significa que os participantes do
Encontro aprovavam a polivalência, pois devemos considerar que, naquele momento, a recente
conquista da área no currículo possivelmente resultou em entusiasmo para os professores que
batalhavam pelo ensino obrigatório da arte na escola. Além disso, aqueles anos, marcados pela
ditadura civil-militar5, não possibilitavam liberdade ampla para contestações advindas dos
setores sociais. Além da polivalência, a formação também previa o estudo de Folclore Nacional,
o estudo de Estética e de conteúdos da História da Arte. Mediante esse currículo, os livros
didáticos específicos seriam considerados próprios se formulados a partir de uma visão de
polivalência, apresentando os conteúdos das áreas de modo não hierárquico, mas integrado,
como previam os documentos oficiais.
Tal conjuntura sugere o quanto os livros para a Educação Artística se tornariam
instrumentos mediadores e suportes significativos de saberes e práticas para aqueles novos
educadores e alunos. Afinal, é possível que muitos desses professores fossem inábeis nas
exigências previstas pela recente legislação. Não obstante, provavelmente havia, da parte deles,
intenção de ensinar artes nas escolas sob a égide da nova lei, que antecipava ainda que quando
a oferta de professores legalmente habilitados não bastasse às demandas ensino, permitir-se-ia
que lecionassem, em “caráter suplementar e a título precário”, do seguinte modo:
5
Esta expressão, conforme é designada por Nadia Gonçalves e Sirlei Ranzi é aqui adotada por se entender: “[...]
que grande parte da população brasileira, além de empresários, políticos, religiosos estudantes e sindicatos,
participaram – apoiando diretamente e/ou omitindo-se – dos governos desse período” (GONÇALVES E RANZI,
2012, p. 7).
O nascimento de dois livros: entre o impresso público e o privado para o ensino da arte
do Livro Didático. Apesar disso, não ocorreu a diminuição dos custos para as famílias, como
propunha o parecer. O período foi marcado por denúncias parlamentares e propostas políticas
a respeito da necessária padronização do livro didático, estabelecendo-se um certo tempo para
seu uso e para seu valor comercial, o que tropeçava nos interesses econômicos das editoras
(BOMENY, 1984). Por fim, a padronização dos livros escolares não ocorreu. Em 1976, o INL
foi extinto e a Fundação Nacional de Material Escolar (FENAME)6 passou a ter a
responsabilidade de distribuir livros didáticos para as crianças carentes da rede oficial de 1.º
grau, contando com a contrapartida financeira. Os livros coeditados deveriam ser
comercializados a preços módicos, em espaços que não atingidos pelas editoras particulares,
tendo uma circulação complementar à das editoras privadas.
O interesse das editoras em se acomodarem aos desejos do MEC para coeditar livros
com a FENAME ocasionaram o aumento da produção e circulação de livros didáticos das mais
várias áreas. Como exemplo dessas publicações, localizamos o livro “Artes Plásticas II” (1980)
da coleção “Biblioteca Educação é Cultura”, produzido em uma parceria entre o MEC, a
FENAME e a Editora Bloch. A figura 1 reproduz a capa e uma de suas páginas desse material.
Fig. 1. Capa e página do Livro Artes Plásticas da coleção Biblioteca Educação e cultura, 1980.
6
Criada pelo Decreto nº 59.355/66, a Fundação decorria da Campanha Nacional de Material de Ensino (CNME),
instituída ainda durante o Governo de Juscelino Kubitschek em 1956, tendo sua atuação alargada a partir de 1971.
A obra reproduzida na Fig. 1 foi desenvolvida para o professor, não sendo localizado o
livro público para o aluno. Encadernado em formato brochura, esse tipo de impresso era
produzido em dimensões diminutas, se comparado aos padrões atuais7, uma vez que os
materiais da FENAME eram produzidos em extensões de apenas 17,5 cm x 13
,0 cm. Impressos em preto sobre papel branco esses livros apresentam apenas as capas
coloridas, como é possível notar também pela figura1, que mostra uma das 64 páginas do livro,
nesse caso, abordando assuntos sobre desenho e gravura.
Nesses materiais também predominavam pequenos textos e ofereciam imagens
impressas em preto, a exemplo do estudo de Cândido Portinari na figura anterior. Além disso,
não apresentam exercícios didáticos, mas, conteúdos sobre diversos temas, como gravura,
pintura, desenho, escultura, artes do fogo, porcelana, história da arte. Esses aspectos ilustram,
portanto, o espírito do livro considerado público para a formação do professor em arte.
A despeito disso, destacava-se a vasta produção de livros para os estudantes, desde
1970, por editoras que não estavam em regime de coedição com o MEC, a exemplo das Editoras
FTD, LÊ, Companhia Nacional e Scipione, que publicaram títulos para o ensino de Desenho e
de Educação Artística. Naquele contexto, o setor do livro escolar se destacava pelo crescimento
do mercado de materiais didáticos no Brasil. Em especial, tal crescimento ocorria desde os
primeiros incentivos financeiros pelos acordos MEC/USAID8 nos anos de 1960, marcados
também pela ampliação do público escolar com a LDBEN/61, que estendia o ensino a um
número maior de estudantes.
Afinal, para que o material didático se tornasse o produto de maior consumo da cultura
escolar, foi essencial a cooperação entre o setor editorial com o Estado brasileiro, pois, “[...]
estabeleceram-se entre ambos tramas, por intermédio das quais o livro didático disseminou-se
no quotidiano escolar, transformando-se no principal instrumento do professor na transmissão
do saber (BITTENCOURT, 1993, p. 78). Assim, por um lado, empresas se associavam ao
7
Batista ressalta que os livros produzidos antes da década de 1970 possuíam dimensões físicas em torno de 17,5
x 20, 5 cm. Para efeito de comparação, lembramos que as dimensões dos livros atuais têm em torno de 27, 5 x 20,5
cm (BATISTA, 2004).
8
Os acordos que ficara conhecidos como MEC-USAID tratavam-se de parcerias entre a agência USAID - Agência
Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional e Ministério da Educação brasileiro. Os acordos
interessavam tanto ao governo do Brasil, pelos recursos injetados pela USAID, como também, interessava à
política dos Estados Unidos, que estava preocupada em manter laços com o novo regime político estabelecido em
1964 no Brasil, com o intuito de impedir a circulação de doutrinas comunistas na América (BOMENY, 1984).
Estado, produzindo um livro direcionado aos professores munido de poucos recursos visuais,
como as reproduções coloridas, em especial.
Por outro lado, havia um segundo tipo de livro na produção independente das parcerias
com o governo. Estas companhias não recebiam valores para coedição, mas, buscavam
convencer o público de que seguiam as proposições legais na produção do material, como
destacam os editores no texto de abertura da coleção “Educação Artística”, publicada entre os
anos de 1975 e 1978:
De toda forma, essa produção buscava criar laços com o discurso oficial, seja por
convicções sobre os modos como se entendia o ensino de arte, seja, em especial, pelo interesse
em responder as demandas desse mercado, ancoradas no discurso oficial. Esses livros de
editoras privadas, como será discutido na sequência, apontavam para uma apresentação material
inovadora, na medida em que investiam sobremaneira no uso da imagem e das cores, além de
outros recursos visuais para chamar a atenção de seu público.
Como é possível perceber, há ênfase na qualidade e cores das imagens, como aspecto
marcante naquelas novas publicações, inclusive, para a recém-inaugurada área de Educação
Artística, se comparado ao livro da FENAME (Figura 1). Em um momento de entrada oficial
das imagens de obras de arte como conteúdos escolares, isso significaria ainda mais vantagens
na qualidade das reproduções, como a Figura 2 demonstra pelas obras de Jan Deckers e Álvaro
Apocalipse. A modernização gráfica destacava-se como uma tendência geral dos livros
destinados aos alunos, devido ainda à propulsão das técnicas de impressão, como o offset9, que
facilitavam a velocidade na produção de livros em policromia.
Além da renovação material, estes livros direcionavam-se à concepção mais ativa do
estudante, assumindo discursos mais próximos destes. Um dos livros da coleção “Comunicação
9
Esse processo acontecia a partir de etapas que se iniciava na preparação dos originais, que necessitava de vários
profissionais, como os autores, os ilustradores, os capistas e os copidesques. Em seguida, passava-se à composição
das páginas e por fim, a preparação das matrizes antes da impressão final. Cada vez menos artesanais, os processos
de impressão passavam a ser feitos por meio do auxílio de chapas de offset, contando com a ajuda de equipamentos
eletrônicos, ao invés da linotipia, enquanto meio de impressão considerado, até então, mais habitual.
pela Arte” (1977), da Editora FTD, exemplifica isso quando, em tom íntimo, indicava ao aluno:
“Você já fez modelagem sem saber, quando fazia bonequinho de barro, casinha, etc. Aí você já
começa a ser um artista...” (FLEITAS, 1977, p 95). Além do tom pueril, como estratégia retórica
de aproximação, os livros apresentavam personagens como de histórias em quadrinhos,
destacados como mediadores entre os conteúdos textuais e os alunos.
Tais materiais tendiam, ainda, a serem organizados em forma de estudos dirigidos,
pretendendo interferir nos conteúdos e em sua distribuição no tempo escolar. Em uma
progressão de unidades, assumiam a voz do professor, o que é possível perceber, inclusive, nos
direcionamentos práticos das atividades, como o seguinte exemplo da mesma coleção, que
sugeria: “Pegue a argila e amasse-a bem. Esparrame-a numa altura de meio cm. Corte a massa
em forma retangular usando uma faca [...]” (FLEITAS, 1977, p 95). Tais enunciados são
caracterizados pelo modo verbal no imperativo, assumindo um tom prescritivo na mensagem.
Assim, é possível admitir que o tom adotado seria dirigido ao estudante, mas, também remete
à organização de um plano de aula docente. Colocavam-se como textos dirigidos aos alunos
como leitores últimos, mas ainda aos professores, mediadores dessa primeira relação.
Além disso, com a polivalência prevista, os livros deveriam apresentar conteúdos desejados
pelos documentos oficiais. Entretanto, essas fontes sugerem tendência destacada por Maria José
Subtil (2012), ao mencionar a polarização dos conteúdos entre Música e Artes Plásticas nos
livros de Educação Artística do contexto da Lei 5.692/71. Os demais conteúdos concernentes à
Artes Cênicas não tomavam com um espaço proporcional, pois, não apareciam nos livros com
o mesmo destaque. Esse é o caso de alguns dos livros analisados nesse estudo. Isso pode ser
observado em outra parte do texto de abertura da coleção “Educação Artística”, que, dirigindo-
se ao aluno anuncia: “Para ajudar você nesta aprendizagem, fizemos esta obra, apresentando
os elementos básicos de Educação Artística. [...] E para completar, seu professor vai orientar
atividades especiais, coordenando todos estes setores e mais o teatro, em colaboração com os
professores de Língua portuguesa”. (VIEIRA e MOURA, 1975, p. 07, grifo nosso).
Quando os editores apontam para os “elementos básicos” da área, deixam entrever que
caberia ao professor complementar estes elementos com o ensino de teatro, o que colabora para
a interpretação de polarização dos conteúdos relativos à Artes Plásticas e Música. Esses livros
perpassam ainda os conteúdos de História da Arte, inclusive, pela presença de imagens desse
gênero, bem como de Folclore brasileiro, conforme tendência prevista para a formação de
educadores.
Considerações Finais
A reforma pela Lei 5.692/71 é parte do movimento de mudanças no quadro educacional da
segunda metade do século XX. Entre as transformações, tornava-se obrigatório o ensino da
arte na escola de 1º e 2º graus. Por consequência, foram criados cursos de nível superior
específicos para a formação de educadores, bem como, uma vasta produção de matérias
voltados à nova área. Esses materiais eram produzidos pelo Estado em regime de parceria com
empresas particulares, ou por editoras privadas. Isso gerava um duplo gênero de livro didático
para a Educação Artística, que se destacavam por suas disparidades materiais. Enquanto o livro
da FENAME se distinguia pela simplicidade formal, os livros voltados ao mercado privado se
sobressaíam pelos modernos recursos gráficos.
As demandas da legislação promoviam a produção e circulação desses materiais, que
tendiam a se tornar suportes relevantes nas práticas dos novos professores. Com a formação de
educadores polivalentes, os livros não tendiam a seguir as prescrições oficiais ao elegerem as
áreas de Música e de Artes Plásticas, em detrimento do estudo de Artes Cênicas. A despeito da
desobediência às proposições legais, estes se sobressaíam por sua aparência modernizada e
pelas estratégias de aproximação com o público escolar. Tais aspectos apontam para o livro
como mercadoria alinhada aos interesses de um negócio competitivo, que lançava mão de
estratégias diversificadas para ganhar atenção de seu púbico.
É possível ainda perceber os movimentos ora de aproximações, ora de distanciamentos
entre as prescrições legais e as efetivas práticas de apropriação e resistência dos agentes na
produção de materiais escolares, o que confirma como os textos legais podem ser reconstruídos
de modos diversos nas atuações sociais pois, a despeito das imposições, os sujeitos sociais
irrompem em suas próprias práticas.
Enfim, o livro, a formação e sobretudo o ensino da educação em arte permanecem no tempo
presente, como resultados das proposições da legislação vigente, mas, ainda como reflexos de
uma conquista da permanência do ensino da arte na escola pelos educadores do campo. Em
tempos de ameaças da obrigatoriedade do ensino da arte nos currículos da Educação Básica,
REFERÊNCIAS
BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Um objeto variável: textos, impressos e livros didáticos.
In: ABREU Márcia. (Org.) Leitura, história e história da leitura. Campinas, São Paulo:
Associação de Leitura do Brasil: FAPESP, 1999.
BITTENCOURT. Circe Maria Fernandes. O livro didático não é mais aquele. In: Revista Nossa
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BOMENY, Helena Maria Bousquet. O livro didático no contexto da política educacional. In:
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AQUI É UM LUGAR DE PAZ
- reflexões sobre o discurso pedagógico de uma cidade em guerra
e desejos vinculados à docência em arte
Resumo
O texto destaca e analisa elementos discursivos e imagéticos da campanha perpetrada em 2017 pela
Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro que envolve toda a rede de escolas da cidade sob
o mote "A Escola é um lugar de Paz", registrando as expressões das classes docente e discente e
comunidade escolar mais ampla que se vê dividida em adesão ou rejeição a esse "chamado". Vivendo
um período de extrema violência, a cidade busca recuperar um equilíbrio nas relações de convívio e
civilidade. Neste contexto, a prefeitura promove a campanha nas escolas, atingindo a mídia televisiva
e impressa. Refletimos a escolha do uso da rede escolar para ser seu agente disseminador e ampliamos
essa análise para o campo pedagógico da formação docente, vendo ali a repressão contínua e o
silenciamento e ocultação dos que discordam, dos que indagam e dos que criam: Educadores "devem",
"precisam", "tem de fazer isso" ou "aquilo" e, juntos, como funcionários dóceis, arrebanhar também,
seus alunos sob o comando regulador da Lei. Destacamos imagens, palavras, atitudes, significantes
que acompanham as formas performativas desenvolvidas nas arenas escolares e nas ruas da cidade em
uma dita "situação de guerra". O resultado do levantamento e análise apresenta o sentido de controle
centralizador que pode ser detectado pelo modo como esses elementos discursivos e imagéticos se
conformam. Refletimos que, ao serem questionados em sua natureza e origem, e em fazê-lo de forma
socialmente implicada, podemos abrir novos espaços para uma escola plural, humana, não reificada e
purificada.
Palavras-chave: violência urbana, campanhas escolares, formação docente.
Docente no Departamento de Ensino de Arte e Cultura Popular do IARTES/UERJ. Líder do GP CNPQ
Observatório de Comunicação Estética. E-mail: isabelafrade@gmail.com
2
Arte educadora e museóloga. Doutoranda em Arte e Cultura Contemporânea PPGARTES/UERJ/FAPERJ.
Pesquisadora do GP/CNPQ Observatório de Comunicação Estética. E-mail: danieledesaalves@gmail.com
3
Arte educadora. Doutoranda em Arte e Cultura Contemporânea PPGARTES/UERJ. Integrante do grupo de
pesquisa Observatório de Comunicação Estética/UERJ/CNPq. E-mail: rodrigues.vania@gmail.com
4
Mestre em Arte e Cultura Contemporânea. Professora de Artes Visuais na E.M.José Aparecido do Prado Sarti,
Pesquisadora do GP/CNPQ Observatório de Comunicação Estética. E-mail: clarice.duarte.rangel@gmail.com
5
Mestranda em Arte e Cultura Contemporânea PPGARTES/UERJ/, integrante do Grupo de Pesquisa
Observatório de Comunicação Estética (OCE) - CNPq. Professora de Artes Visuais do Colégio Pedro II. E-mail:
monisicasica@gmail.com
Introdução
Pensar no estado constante de violência pelo qual atravessa a cidade do Rio de Janeiro
e que nesse momento, em particular, explode em agonia, é refletir sobre a dinâmica de corpos
em constante estado de alerta. Violência e corpo: Como expressar esse sentimento ou como
ocultá-lo é o dilema de um sistema educacional dividido entre diferentes sentimentos,
pensamentos, ideias e opiniões de muitos que estão empenhados diretamente nesse processo
de “educar/aprender” que envolve governantes, professores, pais e alunos, enfim, toda a
comunidade escolar carioca que se vê atingida por esta condição, um complexo jogo de forças
que transforma a cidade num campo de guerra.
A questão gritante que atravessa essa situação é a imposição do “Chamado de Paz”
convocado pelo governo municipal que não permite voz a todos, manipulando esses corpos
em cena nas escolas e espaços públicos, ocultando suas angústias, medos, opressões, não
deixando ver suas diversas formas de existir e sentir. Como é possível aos alunos, pais e
professores se expressarem nesse processo que abre uma frente de mão única para a paz?
Como é possível educar para a paz calando corpos no que querem desejar? Nessa
perspectiva, recorremos a Foucault (2004) e seu conceito de biopolítica, onde trata do
controle de Estado na administração da vida e do corpo da população. A instituição Escola é
um dos espaços de produção desse controle, que nesse momento se apresenta como
encarregada de “condução da paz”.
A quem e como se conduz para a paz? Como professores e artistas, corpos sensíveis,
entendemos como caminho possível, uma atitude educadora que possibilite olhar e falar da
“guerra”, admiti-la em primeira instância e, principalmente, procurar pelas suas causas, pois
buscamos desesperadamente a paz quando estamos em “guerra”. Não podemos alcançar
resultados em direção `a paz tornando dóceis os corpos em guerra onde, num “passe de
mágica”, não nos remetemos mais a ela, apesar de a vivenciarmos corporalmente no
cotidiano. Ao invés disso, o Estado utiliza como possibilidade o apelo forçado de símbolos
estereotipados de paz, produzindo silêncio nesses corpos apaziguados.
Retomando Foucault em uma outra obra, Vigiar e Punir (1999), podemos entender
aqui a questão da docilidade automática, como se ela mesma produzisse a paz, onde “(...) o
corpo está preso no interior de poderes muito apertados, que lhe impõem limitações,
proibições ou obrigações” (p.118). Sermos mansos, assim, é como se estivéssemos
acomodados, mas isso não significa o sentimento de paz. Essa condição nos impede de
expressar, individualmente e coletivamente, sobre o que vivemos, impregnando os corpos
com um discurso vazio, que causa letargia diante da violência. Novamente, nos vem a questão
de como fazemos a paz. Por começar, deixar de segui-la como um comando e, na liberdade de
habitar sensivelmente a si mesmo, abrir-se ao expressar o que se vive como desejo. Como
cada um em seu sentido singular e plural e, desde intimamente consigo mesmo, com a ação
vivenciada e depois compartilhada pode, em íntegra voluntariedade, formular as possíveis
alternativas em direção a um genuíno desejo de paz.
6
A proposta do “Ato da Paz” foi agendada e cancelada por outras duas datas anteriores; a princípio, o ato
aconteceria em um domingo no Aterro do Flamengo/RJ. Foi proposto um evento de grandes proporções,
reunindo as comunidades extensas de toda a Rede Municipal de Ensino.
Fala do atual Secretário de Educação do Rio de Janeiro Cesar Benjamin: “Na quinta-feira, 30 de março, nossa
aluna Maria Eduarda Alves da Conceição, de treze anos, foi baleada e morta nas dependências da escola
Jornalista Daniel Piza, em Acari. Não resta dúvida de que os assassinos foram policiais militares que, de uma
violência, morta dentro da escola durante um intenso tiroteio entre a polícia e criminosos. A
gestão prossegue na distribuição de impressões com a afirmação “Aqui é um lugar de Paz” a
ser colocado em todas as portas existentes nos espaços escolares. Faixa registram “Aqui é um
lugar de paz” na entrada da maioria das escolas públicas cariocas. O lema que está presente
também nas capas das apostilas didáticas dos estudantes.
Imagem1: Apostila didática das escolas da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro, 2017.
distância de cerca de 250 metros, decidiram alvejar com tiros de fuzil dois homens que transitavam armados.
Atrás desses homens, dentro da escola, nossos alunos praticavam voleibol. Ficaram, pois, na linha de fogo.
Maria Eduarda recebeu quatro tiros fatais”. Disponível em: http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2017-04-03/um-
dos-projeteis-que-atingiu-corpo-de-maria-eduarda-e-de-fuzil.html
Trecho de uma entrevista concedida para o jornal El País, em dois de julho de 2017. Disponível na íntegra:
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/21/politica/1498079260_522993.html
cidade que estão morrendo, às 19h30 não tem ninguém na rua, as pessoas estão
trancadas em casa. Eu estou fazendo um chamamento à reação da cidade.
Arendt afirma que as nossas respostas a uma situação dada devem seguir para além de
uma situação pré-concebida,
Uma crise só se torna um desastre quando respondemos a ela com juízos pré-
formados, isto é, com preconceitos. Uma atitude dessas não apenas aguça a
crise como nos priva da experiência da realidade e da oportunidade por ela
proporcionada à reflexão. (ARENDT, 2011, p.223)
Assim, avaliamos a necessidade de espaços de encontros para a troca e reflexão entre a equipe
pedagógica e a ampla comunidade escolar no enfrentamento da realidade ou incorremos no
risco de, na tentativa de proteção excessiva, que poderá se tornar abafadora, esgarçarmos as
relações interpessoais e provocarmos a perda do senso de comunidade (BAUMAN, 2003).
O equilíbrio entre segurança e liberdade se alcança numa condição de ir além de uma
situação pré-concebida, analisando o processo não diretamente focados na objetivada solução
projetada à distância, mas pela detecção de falhas e erros cometido durante o processo de
construção de propostas, atitudes e medidas administrativas e pedagógicas no contexto
escolar.
Começaremos pelas nossas escolas, dizendo em toda a rede que “Aqui é um lugar de
paz”. Cada escola está chamada a rever seus valores e práticas, para que seja, de
fato, um espaço de convivência sadia entre todos os que a frequentam.
Queremos uma escola sem violência, sem humilhações, sem racismo, sem
preconceitos, sem drogas, em que todos se sintam bem. Levaremos o
movimento à sociedade, pedindo paz e justiça social. O Rio de Janeiro está
cansado de uma guerra que ameaça e prejudica todos os seus moradores.
A difícil situação que vivemos hoje foi construída ao longo de muitos anos.
Não terminaremos com ela da noite para o dia. Será uma longa caminhada.
Mas somos muitos: 1.537 escolas, 650 mil alunos, 65 mil professores e
funcionários, mais de 1 milhão de pais e responsáveis.
Unidos, formamos uma força poderosa. Pela paz. Junte-se a nós. (...)
(Folheto da Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Lazer da cidade
Rio de Janeiro)
Uma crise só se torna um desastre quando respondemos a ela com juízos pré-
formados, isto é, com preconceitos. Uma atitude dessas não apenas aguça a
crise como nos priva da experiência da realidade e da oportunidade por ela
proporcionada à reflexão. (ARENDT, 2011, p.122)
Além disso, suspeitamos de algo mais nestas mensagens, ao percebermos sua forma
global se apresentando em uma linguagem próxima do messianismo evangelizador, um
pensamento nos assola neste percurso: A pedagogia é um credo? Ela explora a boa fé - das
crianças e dos professores - na sua sociedade? Há um projeto para o domínio dos nossos
espíritos? Seria mera coincidência nosso Prefeito, sendo um Pastor Evangélico, nos convocar
como cordeiros?
Governador pôs o Estado em alerta. A gravidade desta situação requer momentos de profunda
reflexão, tarefa que não objetivamos neste momento, mas será importante tocar nestes
aspectos que configuram a situação vivida em sua inteireza, para tratar do complexo de
violência a que nos referimos.
Depois de termos estado por mais de uma década sob a égide da Pacificação
promovida pela Secretaria de Segurança do Estado, que instaurou as UPPs (Unidade de
Pacificação) em muitos morros e mangues cariocas e que hoje fracassa em sua missão de
controlar a crise de violência nas favelas, agora passamos para um discurso menos agressivo,
mas que ainda tem como foco as classes menos favorecidas. Agora são suas crianças, alunos
das escolas públicas, aquelas que são as potenciais vítimas dos tiroteios diários, os porta-
vozes dessa Nova Pacificação. Percebam que são as mesmas crianças estigmatizadas pela
pobreza e abandono social a que se impõe a tarefa de apaziguar a cidade.
O trauma maior se refere à morte da já citada menina Eduarda que levou um tiro no
pátio da escola. A partir deste fato, que identificamos deflagrador da disposição de atuar como
agente pacificador, a Secretaria de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro constitui a
campanha para estabelecer uma “Cultura de Paz” a ser proferida pelas escolas. O raciocínio
lógico dessa frente faz seguir a correlação de oposição presente na construção do pensamento
que habilita ao discurso pela Paz a ser proferido pela comunidade vitimizada; porém, jamais
será capaz de abranger os problemas que acometem as áreas fluminenses mais atingidas.
Sendo a violência um sintoma, resultado de um complexo de forças, reúne diferentes fatores
que devem ser analisados de forma sistêmica. É necessário elencar e refletir sobre os fatores
que causam a violência enfrentada dentro e fora das escolas.
Pela paz que eu não quero seguir admitindo! Narrativas reflexivas cariocas
Na manhã do dia 17 de agosto de 2017, o Estádio Mário Filho – o famoso estádio
Maracanã - recebeu alunos e professores das escolas municipais da região administrativa da
Grande Tijuca para uma manifestação coletiva referente à campanha proposta pela prefeitura:
“Aqui é um lugar de Paz”.
das áreas de Geografia e História, assim como pela garantia do recreio, pelo papel higiênico
no banheiro e pelo fim do Livro Preto. Indagando ao menino e a mãe o que seria o Livro
Preto, eles disseram ser um livro de ocorrências, onde ficam registradas as faltas mais graves
das crianças. Uma advertência escrita, ela nos disse. E indaga: “a cultura do medo” x “a
cultura da responsabilidade”... qual temos que fomentar?
Imagem 3: Sobre olhar e não ver, manifesto de mãe e aluno permaneceram invisibilizados: “Não admito: falta
de material,falta de uniforme, falta de profissionais, falta de história e geografia, falta de
responsabilidade”. Rio de Janeiro, 17 de agosto 2017, Maracanã.
educandos como sujeitos históricos, autores de seu próprio tempo. Capazes de dizerem suas
diferentes vozes, em diálogos constantes, aptos a pronunciarem o mundo para compreendê-
lo, entendendo a história como possibilidade e não como algo determinado. Para Freire
(2011, p.81) “Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente,
permanente que os homens fazem do mundo, com o mundo e com os outros. Busca
esperançosa também.”. Pois ainda é segundo Freire, é imprescindível que a escola instigue
constantemente a curiosidade do educando ao invés de amaciá-la ou domesticá-la.
por trás da imposição de uma situação adversa ao que se vive? Sua imposição em alvura plena
significando o vazio, enquanto a urbe carioca é atropelada pela impaciência, a intolerância e o
desrespeito tanto na esfera social quanto política. E segue o imperativo “Aqui é um lugar de
paz” mecanicamente reproduzido e colado pelas portas escolares.
Na contramão disso tudo, várias metodologias contemporâneas da educação e de
formação docente apontam para a valorização das experiências de vida, da escrita de si, do
método autobiográfico na construção do conhecimento e do reconhecimento de cada um -
aluno e professor - como sujeitos históricos e protagonistas do processo educacional que
existe e faz sentido na sua perspectiva relacional, evidenciando ainda, a obra de Paulo Freire
(Op. cit.) neste contexto. Entre estes podemos destacar, também, a pesquisa da antropóloga
Marie-Christine Josso intitulada Caminhar para si (2010) que evidencia as narrativas de vida
como disparadoras do processo de tomada de consciência de si enquanto sujeito em formação.
Nesta perspectiva o conhecimento é construído a partir da ativação das histórias e memórias
dos sujeitos e, para tal, a valorização da diversidade e o fortalecimento das identidades
afirmam a necessidade da vez, da voz e da escuta do outro como fundamentais no processo. A
paz proposta será advinda da igualdade de corpos? E por que só a alguns é imposta a tarefa de
clamar por ela?
REFERÊNCIAS
Resumo
O presente estudo tem por objetivo discutir como as características/fragmentos da cultura local alteram
a produção artística. Para tanto, duas coisas marcam as especificidades desta investigação: da cultura
local tomaremos de Mato Grosso do Sul; da produção artística trataremos da obra escultórica de
Conceição dos Bugres. A pesquisa surgiu da inquietação dos estudos das Disciplinas de “Artes
Visuais” e “Arte e Cultura Regional” do curso de licenciatura em Artes Cênicas e Dança da
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UUCG -, nas quais objetiva-se conhecer e
compreender a plástica como linguagem para praticar técnicas relacionadas às Artes Cênicas e como
essas linguagens artísticas estão relacionadas à cultura. Logo, o estudo abordará uma pesquisa
bibliográfica, crítico-biográfica mais precisamente, da artista-escultora sul-mato-grossense Conceição
dos Bugres, fundamentada em textos de Bessa-Oliveira, Nolasco, entre outros, para investigar a
relação obra-vida ou a vida como obra artística. Por conseguinte, a pesquisa evidenciará como se deu a
relação cultural local de MS com a produção artística da escultora, não surpreendente, investigando a
relação entre as diferentes linguagens da arte com a cultura, a pesquisa estará evidenciando a produção
artística local de Mato Grosso do Sul de uma perspectiva epistêmica contemporânea outra. Por fim,
objetiva-se com o trabalho investigativo oferecer aos artistas (plásticos, atores, dançarinos),
acadêmicos, professores, pesquisadores da arte local uma reflexão teórico-crítico-cultural do processo
criativo nas linguagens artísticas que tomam da vida e da cultura local como poética de construção.
Palavras-chave: Artes Cênicas. Linguagens Artísticas. Esculturas Identitárias.
Introdução
1
Este trabalho é parte de uma pesquisa que a primeira autora vem desenvolvendo como TCC – Trabalho de
Conclusão de Curso – do curso de Artes Cênicas e Dança da UEMS, sob a orientação do segundo autor, cujo
título é: “ARTE E CULTURA LOCAIS: CÊNICA E PLÁSTICA (AUTO)BIOGRÁFICAS DE CONCEIÇÃO
DOS BUGRES”.
2
Graduada em Artes Visuais e Acadêmica do 4º ano do curso de Artes Cênicas e Dança da UEMS. E-mail:
jsouza89@hotmail.com.
3
Doutor em Artes Visuais, área de concentração em Fundamentos Teóricos pelo IA/Unicamp. Professor DE/TI
na Cadeira de Artes Visuais no Curso de Artes Cênicas e Professor Permanente do PROFEDUC na Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul – UUCG. É Líder do Grupo de Pesquisa NAV(r)E – Núcleo de Artes Visuais
em (re)Verificações Epistemológicas – CNPq/UEMS. Membro do NECC – Núcleo de Estudos Culturais
Comparados – UFMS e do Núcleo de Pesquisa Estudos Visuais – UNICAMP. marcosbessa2001@gmail.com.
quarto anos do curso de licenciatura em Artes Cênicas e Dança da UEMS, considerando essa
hibridez nas linguagens artísticas, realiza-se a interdisciplinaridade deste (cênicas) com “Artes
Visuais” e com “Arte e Cultura Regional”. Relação que acaba nos colocando a indagação se a
cultura local convém como subsídio para a legitimação da arte visual? E também se arte está
tomando mesmo da vida para fazer obra ou vice-versa? Logo surge a concepção de pesquisar
a cultura local como fonte para a criação plástica. Nas artes plásticas pressupõem-se o estudo
de técnicas e instrumentos para o fazer artístico. E ocorre, nesse sentido, a indagação de como
a cultura, seja esta local, regional, híbrida, fronteiriça, relaciona-se na produção artística em
Mato Grosso do Sul? E também como os artistas desse lócus geoistórico estão tratando a vida
na obra e, portanto, tomando da cultura local e suas experiências para produzirem arte?
Diante destas questões, a crítica biográfica surge como epistemologia para proposição
de investigações da relação entre vida obra a fim de sustentar que, cada vez mais, as
produções têm tomado dos acontecimentos da vida para constituírem-se. E, não diferente,
avançando as discussões biográficas até hoje propostas, a crítica biográfica amplia os estudos
tomando da vida/abordagens do investigador para complementar as investidas feitas da vida
do investigado. Nesse sentido, a crítica biográfica pensada neste estudo não possui caráter de
dados empíricos exclusivamente biográficos documentais, mas sim de examinar informações
de amizades, filiações, apadrinhamentos, diálogos que inspiraram o processo criativo do
artista investigado. Ou seja, temas ignorados pela biografia tradicional, estabelecendo uma
relação entre autor e obras, dentro de uma perspectiva de arte, construída a partir de
fragmentos biográficos, passam a tomar relevância investigação da crítica biográfica.
A partir do estudo crítico-biográfico pretende-se esclarecer como a cultura específica
dos sujeitos, por exemplo, perpassa a produção da artista Conceição dos Bugres – artesã
indígena gaúcha radicada sul-mato-grossense, considerada como uma das principais artistas
escultoras do estado. Seu trabalho plástico desenvolvido inicialmente na raiz de mandioca,
mas consagrado na madeira revestido com cera, atribui uma identificação cultural em seus
bugres particularmente local. Nosso estudo teórico será pautado em pesquisas acerca da
cultura de MS, para investigar como essa se apresenta na expressão do artista local.
Nesse sentido, o foco inicial volta-se para a realização de uma leitura crítico-
biográfica da obra-vida da artista visual escultora Conceição dos Bugres, ou seja, uma prática
crítico-reflexiva a partir das suas obras a fim de compreendê-las melhor enquanto objetos
artísticos que emergem da cultura como arte, cultura e conhecimentos sobre essa cultura. E já
no segundo momento da pesquisa sucederá o estudo crítico-biográfico permeado à
compreensão da cultura local a partir dos “bugrinhos”4 da artista.
A ideia da pesquisa motivou-se de inquietações sobre a identidade cultural de MS,
tendo em vista sua hibridez com fronteiras internacionais e limites nacionais. Mediante
também da interdisciplinaridade das áreas pedagógicas, teóricas e práticas das linguagens
Teatro e Dança com as disciplinas que abordam “Arte e Cultura Regional” e “Artes Visuais”,
que permeiam estudos específicos a partir de um panorama transdisciplinar, para assim
explanar acerca da cultura local e das produções artísticas de Mato Grosso do Sul de prismas
epistêmicos outros. Pois, normalmente, as áreas de conhecimentos apresentam-se
segmentadas na forma de ensino, pesquisa e prática artística na grade curricular dos cursos
universitários. Não foge à regra a grade do curso de Artes da UEMS que possui áreas de
conhecimentos das linguagens artísticas e pedagógica pensadas separadas por muitos. Dentro
dessa sistematização, a interdisciplinaridade mostra-se como uma possibilidade de associar a
cultura local à produção artística da escultora Conceição não do modo evidenciado até hoje
pelas poucas leituras da obra da artista, mas perfazendo um estudo das relações entre as
disciplinas estudadas na graduação relacionando-as agora aos sujeitos (escultura e leitor) das
obras – plástica e teórica. Motiva essa pesquisa a identificação das relações entre a cultura do
estado de MS e a ideia de construir a biografia crítica da artista dos Bugres.
Tendo tudo isso a pesquisa consistirá em um estudo teórico sobre a cultura local,
delimitando-se na figura artística de Conceição dos Bugres e em seus “Bugres” esculpidos ao
longo de muitos anos, para pensar a cultura local como modos de concepção de produção
artística e vice-versa, já que vida se obra e obra se faz da vida quando pensadas na
contemporaneidade. Por fim, com a realização da pesquisa quero oferecer aos artistas
plásticos, atores, dançarinos, acadêmicos, professores e pesquisadores em Mato Grosso do
Sul, ao menos, um panorama da extensão da cultura nas linguagens artísticas. Pois, tomar da
cultura local crítico-biograficamente não é exatamente a mesma coisa que se valer das
4
Bugrinho é como são carinhosamente reconhecidas as esculturas da artista na atualidade e no contexto geral de
Mato Grosso do Sul.
“paisagens” exóticas do lugar para construir uma arte regional ou regionalista como ainda
preferem muitos dizer em relação não apenas às esculturas de Conceição dos Bugres, mas da
grande maioria dos artistas que produzem mesmo na atualidade.
investigação, o que acaba tornando esse campo epistêmico de pesquisa com um tanto de
imbricamentos incomuns e sem estrutura definida para sua conclusão.
Pensando assim, a partir de uma proposição de pesquisa sobre a cultura local que se
pautará nos estudos disciplinares (tendo em vista as disciplinas e áreas do curso de Artes
Cênicas e Dança), identificando uma complexidade para estabelecer conceitos sobre a
temática cultural, já que em alguns casos preferem os termos regional e/ou regionalista para se
referir às esculturas da artista, por exemplo, e outros saberes sustentam que ambos os
conceitos são reducionistas, advindo de diversas “metodologias” para proceder com a
pesquisa, resta-nos e devemos esclarecer que a pretensão de ressaltar a cultura local proposta
nesta pesquisa usufruirá de epistemologias para registrar enquanto produção de conhecimento
aqueles “Bugres”, e não empregar teorias para ilustrar acerca da cultura local, mais
especificamente na produção artística da artista Conceição dos Bugres, inscrevendo-a em
contextos estilísticos, movimentistas ou civilizatórios como muitos o fazem.
Dessa ótica, sem nenhum sentido pejorativo, os “Bugres” das esculturas da artista
acabam por aproximarem-se sobremaneira às identidades dos indígenas que estão sempre com
o mesmo semblante de desespero dos talhos feitos a facão na obra da artista. Se por um lado
os bugrinhos hoje ocupam espaço de destaque nas identidades sul-mato-grossenses, graças
aos reconhecimentos feitos pela crítica tradicional do Estado, por outro lado, muito mais
perverso, os “bugres” indígenas continuam sendo rechaçados da cultura local – ou melhor,
dos seus lugares de direito – porque o Estado-nação, além de não reconhecer seus direitos,
ainda lhes tira o que é devido e o pouco que os restam. Dessa ótica, obra e vida se aproximam
apenas para quem tiver a coragem de ver tal aproximação.
O estudo acerca do lócus periférico e fronteiriço apresenta especificidades que os
centros não detêm conhecimento para tratar. A crítica do centro reflete um apagamento das
características culturais periféricas, compreendendo a problemática da produção artística e da
cultura fora do eixo. Reconhecer as esculturas da artista baseadas em obras do passado,
prática da crítica local que acaba por levar a crítica de fora desenvolver o mesmo
procedimento, não faz da obra da artista menos local. Assim, o papel da crítica periférica é
trabalhar tornando visível a periferia em relação ao centro, a produção de conhecimento
periférica, subalterna, que evidencia uma nova epistemologia, que busca descolonizar-se da
crítica intelectualizada, que se julga pensar saber do fora do eixo. Somente um crítico fora do
eixo pensa do local do objeto, pois está incluso como próprio objeto de estudo.
Nolasco embasa em Mignolo, em Histórias locais/Projetos globais, para pensar que o
lócus geoistórico Mato Grosso do Sul apresenta a fronteiralidade com Paraguai e Bolívia e
por isso demanda uma episteme outra para pensar obras e artistas desse lócus. A
transculturação do conhecimento do centro se dispersa na realidade fora do eixo, e
[...] compete a este tipo de intelectual (crítico) não embarcar acriticamente nas
epistemologias ancoradas numa tradição do centro. Essa via de mão única que
traduz o modo como a crítica subalterna recebe e hospeda a crítica do centro não
permite que se discuta a relação, por exemplo, entre produção do saber e o local
geoistórico. [...] O problema reside quando elas (teorias) não são transculturadas,
como acontece e vem acontecendo com a crítica do centro e de fora que aportam
nesse lado da fronteira-sul. (NOLASCO, p. 38, 2011)
Como havia exposto antes, a “análise” da vida e obra a partir da Crítica Biográfica
embasada por Eneida Souza retrata a artista local Conceição dos Bugres situada no seu lócus
a fim de fazer emergir características outras distintas das já demonstradas pela crítica
tradicional. Nesse sentido, para Nolasco (2009), realiza-se uma compreensão da
subalternidade que os artistas, afastados dos grandes centros artísticos, fazem emergir em seus
lugares epistêmicos. Tanto que Conceição dos Bugres tornou-se uma consagrada escultura de
Mato Grosso do Sul, mesclando sua peculiaridade de autodidata em sua prática artística com a
observação de seu contexto social. Não é possível dizer o contrário a esse respeito. Cabe
ressaltar que isso não fez da artista mais ou menos importante no cenário artístico dos centros.
O que faz dessa artista um ícone nas artes plásticas do Estado são as impressões
percebidas pela escultura, cada bugre esculpido modela-se a sua identidade racial, cultural,
sul-mato-grossense. Cada peça é distinta uma da outra. Afastando-a do lugar de artesã e
aproximando a mulher, pobre, marginalizada e índia do discurso artístico dos centros. De
origem humilde, a artista inicialmente realizava pinturas, mas ao notar em uma cepa de
mandioca traços humanos, fez surgir o bugre, que posteriormente passou a ser esculpido em
madeira a fim de não murcharem como a raiz e durarem mais tempo. Sua arte atendia à sua
criatividade e assegurava sua sobrevivência. Hoje ainda fala-se nisso, mas comumente tomam
da aura artística para subjugar a mulher-indígena sul-mato-grossense no cenário nacional.
Nesse início percebemos como a transculturação dá-se em sua obra, a mandioca que
originalmente fez surgir o bugre “feio e enrugado”, apresenta caráter semelhante na cultura
indígena, com a Lenda de Mani, como parafraseando Magalhães (p. 7, 1935), que narra a
história de uma índia que era filha do chefe, e esta um dia apareceu grávida. O chefe buscou
punir o feitor dessa desonra à sua filha que permaneceu inflexível, pois dizia que não havia
relacionado com nenhum homem. O chefe ordenou que matasse sua filha, entretanto em seu
sonho um homem branco apareceu e revelou que a mesma dizia a verdade. Passados os meses
nasce uma linda menina de pele branca, uma nova raça, este fato único promoveu espanto da
tribo e nações vizinhas. A criança recebeu o nome de Mani e desenvolveu a fala e o andar
precocemente e faleceu por volta de um ano, por costume de seu povo foi enterrada em sua
própria oca e diariamente regavam-na sua sepultura. Com o tempo brotou uma nova planta
que floresceu e deu frutos, que ao serem consumidos pelos pássaros os tornavam
embriagados. Depois a terra rachou-se e, portanto identificaram um fruto que possuía a cor do
corpo de Mani, e assim foi aprendido o uso da mandioca como alimento. Essa reflexão
demonstra que cada cultura possui aspectos específicos a determinados conceitos.
Uma sociedade possui diversas culturas, e cada uma dessas apresenta uma crença
religiosa, sendo que a artista Conceição dos Bugres se considerava espírita, era uma
frequentadora desde sua adolescência de Centros Espíritas. Percebe-se que a crença religiosa
da artista se aproxima da concepção indígena, acerca da noção de vida após a morte e que
toda a existência possui uma mãe. O que então podemos relacionar ao nascimento dos bugres
à figura feminina, mulher, Conceição. A artista que numa espécie de concepção de um
autorretrato em uma mandioca recria algo que possui feições humanas e que no decorrer do
tempo tomou as feições de coisa velha com aspectos enrugados, velhos. Nolasco (2009)
percebe que ambos, artista e obra são rudes, puros e simples. Que são frutos de machadadas
em madeiras de uma artista popular. O que evidencia que seus bugres dão origem à uma nova
raça, sem ser a indígena ou a portuguesa, considerando assim a colonização brasileira.
A artista expõe uma nova identidade racial em evidência, o bugre, que tem origem a
partir da subalternidade de uma sociedade hegemonia racial branca. Para explanar acerca
dessa denominação “[...] é preciso delimitar o espaço territorialmente falando (o que aqui é
denominação de local) e situar o local de onde os sujeitos envolvidos, inclusive a crítica,
proferem seus discursos[...]” (NOLASCO, p. 12, 2009). O fato é que por aproximação
cultural, preconceitos históricos, os termos índio e bugre foram caracterizados como único.
Percebe-se que desde o processo de colonização o índio foi “construído” como uma sociedade
subalterna, colonizada, impondo ao mesmo caráter pejorativo pela perspectiva colonizadora.
A existência de preconceitos culturais internos dentro de uma grande sociedade, como
a brasileira, acaba por caracterizar os indivíduos que são excluídos do projeto social moderno
como marginalizados, subalternos. O que se denota aos bugres de Conceição a caracterização
pela expressão artística dos subalternos de Mato Grosso do Sul. Os estudos pós-coloniais
descoloniais visam atribuir voz aos subalternos latino-americanos, entretanto, somente quem
pertence à subalternidade pode possuir propriedade para falar sobre sua subalternidade, pois
infelizmente o discurso hegemônico academicista modernista ignora a cultura outra, para
privilegiar e manter a história “verídica” do civilizador.
Considerações finais
delimitando a localidade brasileira de Mato Grosso do Sul. Por conseguinte, os sujeitos e suas
identidades acabam por serem (re)verificados. Este Estado pode definir-se de modo
transcultural devido à mistura única de culturas que aqui se mesclaram, tornando assim
possível identificar características diversas numa prática cultural outra. Logo, a artista
Conceição dos Bugres em seus bugrinhos conseguiu apresentar nas esculturas a diversidade
cultural de MS. Seus bugres enaltecem a identidade do povo subalterno, marginalizado que
não pertence à sociedade hegemônica moderna para quem eles são literalmente vendidos.
REFERÊNCIAS
_________. “Crítica fora do eixo: onde fica o resto do mundo”. In: Cadernos de Estudos
Culturais: Eixos periféricos. Campo Grande, MS, v. 3, n. 6, jul/dez. 2011, p. 27-41.
MAGALHAES, General Couto de. O selvagem. 3 ed. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1935.
ORTIZ, Fernando. Contrapunteo cubano del tabaco y el azúcar. Havana: ed. Ciencias
Sociales, 1991.
Resumo
Este apontamento apresenta uma discussão sobre a história da dança do xaxado e a presença
dessa dança nas escolas de ensino formal em algumas regiões do Nordeste do Brasil, o que se
constitui como material de uma pesquisa em andamento num mestrado em Artes
(PROFARTES/UFPB). Há uma referência nas escolas e em grupos de danças populares
nessas regiões que remontam passos da dança como algo tradicional que conserva uma
memória de um acontecimento popular, criado no tempo do cangaço por Virgulino Ferreira, o
Lampião. O xaxado é envolto de uma estética própria, cuja reprodução é estimulada nos
eventos de folguedos, onde há a sua espetacularização. As questões teóricas reúnem
discussões acerca do que se denomina de tradição, cultura popular e história, juntamente com
o ensino da dança e a inserção da criação no ambiente do ensino de danças tradicionais. A
prática de campo está sendo realizada em uma escola de educação básica, a partir da
experimentação de uma lógica criativa em contraponto ao modo como ocorre o ensino dessa
dança que geralmente é desenvolvida por meio da repetição dos passos tradicionais. Nessas
experimentações utiliza-se os princípios da Educação Somática e da Improvisação, como
mecanismos que fortalecem uma atenção especial para o corpo e como uma forma de
contribuir com o desencadeamento de padrões de movimentos advindos do xaxado.
Palavras-chave: Cultura popular. Ressignificação. Arte Educação.
Introdução
1
Aluno do Programa de Mestrado Profissional em Artes – PROFARTES/UFPB – que realiza pesquisa sobre
ressignificações da cultura popular em ambientes educativos formais e tem como orientadora a professora
doutora Carolina Dias Laranjeira (UFPB). Atua como professor de História e de Artes no espaço em que a
pesquisa acontece: a EEEFM Bernardino José Batista, em Triunfo – Paraíba. É especialista em História das
Artes (UFCG 2011) e licenciado em História (UFCG 2009).
sobre quem recai uma aura mitológica reforçada por um conjunto de detalhes de sua
existência que habitam o imaginário coletivo (SILVA 2009), o ritmo preferido pelos
cangaceiros era o xaxado. Bebiam e dançavam quando venciam seus combatentes,
transfigurando para o rifle a imagem da mulher, que até certo momento não existia no
cangaço, e arrastando as sandálias de couro no chão para comemorar as vitórias
(VALLADÃO; FIDELIS 2011). O nome “xaxado” viria justamente da onomatopeia
produzida por esse arrastar da sandália de couro pelo solo seco (CASCUDO 1978;
BENJAMIN 1989).
Há uma forte ideia no interior dos grupos populares de que o xaxado é proveniente da
época do cangaço e de que a sua origem está em grupos de cangaceiros. A forte ligação entre
xaxado e cangaço é o motivo pelo qual a estética dessa dança continua fortemente vinculada à
estética desse movimento brasileiro de sublevação. Uma comum apresentação de xaxado é
basicamente uma representação de cangaceiros trajados dançando armados e tendo as figuras
de Lampião e Maria Bonita como protagonistas.
O sertão nordestino é repleto de histórias (e estórias) sobre cangaceiros. Não é difícil
encontrar quem ainda possa testemunhar sobre as façanhas, os atos de atrocidades e até
mesmo os de heroísmos destes grupos paramilitares que surgiram nessa parte do Brasil entre o
fim do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Segundo Darcy Ribeiro (1995), o
cangaço foi uma forma de banditismo típico do sertão pastoril, em que cada integrante do
bando tinha uma justificativa moral para afiliar-se ao movimento. E, para Souza (2006), a
justificativa para Virgulino Ferreira, o Lampião, entrar para o cangaço foi o de vingar a morte
do pai, precisamente dois dias após o assassinato dele, em 1920. Para a coordenadora de
danças populares do grupo Cabras de Lampião, de Serra Talhada, Pernambuco, Cleonice
Maria de Souza, a figura de Lampião no espetáculo de xaxado é a porta-voz do grito de ordem
contra a injustiça social pelo fato dele próprio ter sido vítima do sistema coronelista que
vigorava à época em que ingressou no cangaço.
popular, assim como é necessário entender como que ele se torna legitimado pela comunidade
e se transforma em algo típico, tradicional.
Algumas abordagens acerca da cultura popular, como a de Carlos Rodrigues Brandão,
em seu livro “A educação como cultura” (1985)2, pressupõe uma necessidade de conhecer o
processo de politização da cultura pelos movimentos de cultura popular no Brasil, a partir dos
anos 60, para compreender que alguns processos não são inteiramente construídos com
efetiva participação do povo. Esses movimentos3 que tiveram a intensa participação de
estudantes universitários, artistas e outras categorias de intelectuais participantes, como por
exemplo Paulo Freire (1921-1997)4, tinham por meta construir uma cultura popular com base
numa verdadeira cultura de classe, em que o povo, consciente, participasse do processo crítica
e politicamente, tornando-se “capaz de transformar tanto os símbolos que se representa e ao
seu mundo, quanto a sua própria realidade material. ” (BRANDÃO, 1985, p. 15). O projeto
foi, nas palavras do autor, “metade imaginário e metade real”, apesar de ter sido intenso e
criador como poucos.
2
Nesse livro, Brandão faz uma diferenciação entre “cultura popular” e “Cultura Popular”, numa referência de
que a cultura popular (com as iniciais minúsculas) é justamente a distância, o intervalo entre o conhecimento
popular e o erudito que, para ele, é mais do que diferença de níveis e estilos, e sim, de relações entre classes,
poderes, interesses. Cultura Popular (com iniciais maiúsculas) seria um processo acionário que não pode estar
desligado do povo, é construído com ele e para ele, conscientemente. Dessa forma, o povo se opõe à prática não-
refletida e não-crítica da cultura tradicional (imposta) dos subalternos. E a luta política através de processos
culturais acontece com uma intenção pedagógica.
3
Esses movimentos são os que Brandão se refere como Movimentos de Cultura Popular, grupos de ação
pedagógica que mais tarde algumas pessoas vieram a chamar de “teoria da Cultura Popular”. Para ele, os mais
significativos eram: Ação Popular, Centro Popular de Cultura, Movimentos de Cultura Popular, Movimento de
Educação de Base e Campanha de Pé no Chão também se Aprender a Ler.
4
Segundo o Portal Instituto Paulo Freire, Paulo Freire foi um professor que pôs em prática um autêntico trabalho
de educação que identifica a alfabetização com um processo de conscientização, capacitando o oprimido tanto
para a aquisição dos instrumentos de leitura e escrita quanto para a sua libertação. (Acesso em 26/05/2017)
percepção do corpo no mundo onde dança. E, dessa forma, deve se dar de forma crítica e
articulada para que permita também a se abrir para leituras possíveis de mundo.
Sob os princípios da educação somática fortemente difundida por Klauss Viana,
Jussara Miller (2012) traz em seus apontamentos sobre o corpo que dança a teoria do corpo
sensível como resultado de uma cinestesia que se desenvolve de forma que o aluno acessa o
corpo que dança através da percepção do seu entorno na sala de aula, mas também fora dela.
A técnica Klauss Viana, segundo Miller, propõe uma vivência em estado exploratório e não
uma vivência do corpo mecânico que somente adquire e acumula habilidades. Os
procedimentos técnicos da educação somática que culminaram em ações pedagógicas é,
portanto, uma prática também de improvisação. Sem esse caráter improvisacional, sem essa
atitude de levar o aluno a refletir sobre o seu corpo no seu entorno, dificilmente os saberes de
dança isolados entre as quatro paredes das salas de aula impregnarão de sentido nossos atos
cotidianos (MARQUES 2010).
Um cuidado latente na prática do ensino de dança recai sobre a questão da reprodução
mecânica de passos e movimentos. Quando o processo criativo está centrado na cópia pela
cópia exclui-se do aluno dançante a oportunidade de dar significação ao que pratica. As aulas
de danças brasileiras são um exemplo de como o processo de criação muitas vezes se restringe
à memorização de uma coreografia, no máximo fazendo uma relação com a historicidade que
permeia tais manifestações. Para Marques (2010), aprender coreografias é importante,
principalmente as de cultura local, mas se o que se almeja é educar leitores de mundo não
podemos reduzir esse aprendizado a cópias mecânicas.
“O processo técnico é enfatizado não como repetição mecânica, mas como repetição
sensível, como desenvolvimento de percepções, vivências e aptidões. É, portanto,
um processo qualitativo, e não um treinamento quantitativo para o acúmulo de
habilidades em cadência linear a partir da repetição mecânica. É a busca do corpo
sensível que não se encontra na imagem corporal refletida no espelho da sala de aula
de dança, mas na experiência do corpo vivenciado com suas limitações, seus desejos
e com todo o histórico do indivíduo em ação investigativa. ” (MILLER, 2012, p. 65)
contexto e a totalidade do aluno, o ensino de dança que preza também por uma metodologia
de repetição mecânica tende também a se tornar um fracasso na experiência escolar do aluno,
no sentido de não ser algo transformador ou que proporcione uma aprendizagem que possa
efetivamente contar como importante e levar para a vida além da sala de aula ou do palco em
que se apresentará.
Torna-se necessário evidenciar que mesmo as danças populares são passíveis de serem
transformadas através de um processo de ressignificação. Após a significação da dança
popular, que consiste basicamente num estudo sobre o seu percurso histórico e social, sobre
os padrões de movimentos que a caracteriza e sobre a ligação que possui com a cultura local,
é preciso estender para o entendimento de como esses percursos, padrões e ligações
atravessam o ser dançante, como esses símbolos cristalizam-se nos movimentos e como isso
pode se tornar um novo passo de dança. Valoriza-se assim o protagonismo, através do
encadeamento de possibilidades de movimentos a partir de um movimento padrão. Isso
significa basicamente promover leituras de dança/mundo, após um forte impulso de estímulo
à criatividade.
Os contextos culturais atravessados nos corpos que dançam marcam profundamente a
forma, a intenção, o encadeamento de cada um: o movimento não é uma ilusão, sugere
Marques (2010). Esses contextos darão outra dimensão ao movimento humano que não o da
mera reprodução, da cópia, da execução silenciada. Dessa forma, os corpos dos alunos
dançantes são permeáveis aos fluxos culturais. Se não permitirmos que eles entrelacem e
ramifiquem suas emoções, suas realidades, suas vivências cotidianas, estaremos solicitando-
lhes que se mexam sem sentir, sem vivenciar o que se dança.
Possibilitar a ressignificação da dança popular é valorizá-la ainda mais. Se há uma
ideia, mesmo que constante apenas nas resoluções que tratam das alçadas educacionais, de
que um dos papeis da escola é o de aproximar-se cada vez mais das comunidades, como bem
retrata Lucio Sanfilipo (2011), ressignificar o que é próprio da cultura popular é colocá-la em
absoluta evidência. É desnudá-la, entendê-la e tornar um indivíduo apto a encontrar
alternativas para sua transformação sem que isso se constitua numa negação ou num
rebaixamento.
Considerações finais
Uma aula que começa pautada numa sistemática de cópia começa dando aos alunos
uma ideia de descrédito sobre a existência de potencial criativo. A ligação entre estimular a
criatividade e dar possibilidades de fazer algo novo é extremamente forte, sem contar que uma
metodologia de aula de dança que torne os estudantes protagonistas de um processo criativo
pode deixá-los muito mais à vontade e muito mais propícios a se envolverem plenamente na
atividade.
Trago novamente Isabel Marques (2010) para lembrar-nos de que cada aluno tem um
potencial criativo transformador e que, quando protagonistas de processos transformadores
em dança, a possibilidade de transformar relações é permitida. “Processos transformadores
incentivam alunos a dialogar com referências externas, que dão rumo e ordenam seus
processos criativos”, sugere ela. No estudo das danças populares brasileiras é preciso focar na
busca por estabelecimento de relações, pois essas manifestações dizem muito a respeito das
tramas sociopolítico-culturais estabelecidas historicamente no país.
Uma escolha que o profissional de dança, de qualquer outra linguagem artística ou
mesmo de qualquer outro componente curricular pode fazer é o de, em sala de aula, promover
a prática de ensinar e aprender sem compromisso com processos que desconstruam, desvelem
e desnudem construções sociais implícitas ou pôr em evidência que os entrelaçamentos de
tensões sociais, gênero, etnia, etc. podem ser lidos a partir de vários pontos de vista. E se é
(somente) da alçada do artista docente provocar a reflexão e o estímulo à criatividade na
escola convencional, talvez não. Mas o que sabemos é que nos apropriando dessa necessidade
podemos tirar muitos alunos da zona de passividade e dar a oportunidade de muitos deles se
emanciparem significativamente. E tornarem-se (mais) criativos.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Carlos Henrique. A educação como cultura. São Paulo: Brasiliense, 1985.
MARQUES, Isabel A. Linguagem da dança: arte e ensino. São Paulo: Digitexto, 2010.
MILLER, Jussara. Qual é o corpo que dança? São Paulo: Summus, 2012
RIBEIRO, Darcy. O Brasil sertanejo. In: O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SILVA, Amanda Camylla Pereira. BRITO, Eleonora Zicari Costa de. Xaxado: a construção
da identidade e da memória social do cangaço. Anais do III Congresso Internacional de
História da UFG/ Jataí, 2012. Disponível em: <<
http://www.congressohistoriajatai.org/anais2012/Link%20(48).pdf. >> Acesso em
07/03/2017.
SOUZA, Anildomá Willans. Lampião: nem herói, nem bandido… A história. Serra Talhada:
GDM, 2006.
Resumo
As memórias, assim como as coisas, vão e vêm! Memórias, história e experiências têm, em cada
sujeito, passado, presente e futuros diferentes. A produção em arte na contemporaneidade faz vir à
tona o “tempo heterogêneo e contínuo, capaz de propor saltos sociais, culturais, políticos” através dos
objetos artísticos e assim fazer “inventAÇÕES” da “pluralidade e perspectivas narrativas” do passado
no presente. Igualmente existem objetos na arte na atualidade que fazem reproduções de memórias,
histórias e experiências alheias como suas. Desta circunstância, este trabalho quer discutir as
perspectivas das quais as produções em artes plásticas de Mato Grosso do Sul (contemporâneas e
objetos edificados na atualidade) que têm (re)inventariado ou apenas reproduzido as memórias e
histórias (clássicas e modernas da produção artística) no local cultural na contemporaneidade desde
sua divisão de Mato Grosso em 1977. Para tanto, serão tomadas as argumentações teóricas de Jacques
Derrida sobre a desconstrução das teorias estruturalistas; Anne Cauquelin que reinventa inclusive a
noção tradicional de paisagem na atualidade; entre outras discussões de cunho filosófico como a
tradicional ideia de tempo do agora, entre outros autores nacionais, estrangeiros e locais, que discutem
as memórias, arquivos, histórias, experiências e a própria contemporaneidade na produção de
narrativas na atualidade.
Palavras-chave: Fronteira-sul. Memória. Biogeografias.
Duas questões são devem ser esclarecidas antes de iniciar a discussão da qual se
pretende: o tema posto pelos termos “produção artística contemporânea” e “lócus geoistórico
enunciativo” onde circunscrevem a discussão, Mato Grosso do Sul, sugeridos no título! A
primeira refere-se ao recorte artístico tratarei: a produção artístico-plástica e artistas inscritos
sob o rótulo de arte contemporânea e da produção plástica e de artistas que estão trabalhando
no presente. Ora mais, ora menos, privilegiarei características de uma arte contemporânea ou
de uma arte desenvolvida na contemporaneidade, bem como de artistas, para ilustração das
1
Doutor em Artes Visuais, área de concentração em Fundamentos Teóricos pelo IA/Unicamp. Professor DE/TI
na Cadeira de Artes Visuais no Curso de Artes Cênicas e Professor Permanente do PROFEDUC na Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul – UUCG. É Líder do Grupo de Pesquisa NAV(r)E – Núcleo de Artes Visuais
em (re)Verificações Epistemológicas – CNPq/UEMS. Membro do NECC – Núcleo de Estudos Culturais
Comparados – UFMS e do Núcleo de Pesquisa Estudos Visuais – UNICAMP. marcosbessa2001@gmail.com.
discussões que serão expostas. Pois, a ótica de (tempo) contemporâneo aqui concorda com
Katia Canton ao afirmar que:
O outro ponto das discussões toma Mato Grosso do Sul como cenário pela demanda
necessária de pensarmos essas produções e artistas que estão emergindo no local cultural e
geoistórico na margem de fronteira entre Brasil-Paraguai-Bolívia. A priori, se a discussão
parece centrada em um lócus enunciativo por mera predileção geográfica, cabe dizer que a
demanda de tais situações (históricas e/ou geográficas) são ainda emergente nesse lócus.
Antes, porque acompanho o desenvolvimento artístico-local sul-mato-grossense a mais de 10
anos. (BESSA-OLIVEIRA, 2012) Segundo porque algumas produções e artistas estão
seguindo as mudanças dos tempos, já outros só continuam resgatando memórias e histórias
sem proposição de (re)inventação ao/no presente artístico local. Para Canton memórias e
histórias biográficas mantêm em suspensão e prolongamento obras “na” contemporaneidade:
Nesse sentido o que se entende por contemporâneo, história e por memória não estão em
reproduções de histórias, memórias, paisagens e arquivos do passado sem resignificações no
presente – tanto em relação à arte, aos artistas e mais em relação aos sujeitos e suas
identidades multíplices –, seja visando a manutenção de discursos, seja com ideias de
inscrição das produções locais em “lugares” (tempos, histórias e memórias) não posicionados
nos seus muitos presentes (agoras). Essas duas questões ressaltadas farão emergir outras tão
importantes quanto. Ou seja: a situação sobre as políticas públicas das artes no Estado; sobre
as ocupações dos espaços expositivos do/no Estado; a situação do mercado artístico do
Estado; a formação de professores e o ensino das artes locais; além de teorias emergentes
sobre as produções artísticas em Mato Grosso do Sul. Mas, tomando como ponto
fundamental, discutirei a inscrição desse lugar enunciativo como produtor de arte –
contemporânea e na contemporaneidade – o que acaba por tomar o discurso da e a crítica de
arte local sobre as produções, artistas e sujeitos das artes sul-mato-grossenses. Fatos que
acabam por esbarrar em questões estruturadas em discursos metodológicos, epistêmicos das
pesquisas e discussões da crítica de arte local: se contemporânea ou apenas críticos/históricos
– como disse Derrida em relação às análises estruturalistas – que reproduzem discursos na
contemporaneidade.
Faz exatos 40 anos (1977-2017) uma série de pinturas inaugurou na produção artística
local a temática do bovinoculturismo como “estilo” de toda a produção artística local. A Série
de pinturas “Divisão de Mato Grosso”, realizadas entre 1978 e 1979 (ilustrada na figura 1), do
artista plástico Humberto Espíndola2, retratou o ato histórico da criação de Mato Grosso do
Sul na divisão geográfica e política de Mato Grosso. Tratadas como “Bovinocultura”, o artista
já era reconhecido por outra “série” nominada como tal, as obras da “Divisão de Mato
Grosso” apresentaram à produção artística local o que tornou o “estilo artístico” para as
práticas artísticas locais em quase todas as linguagens e até para a produção crítica sobre a
arte local que sempre a endossou como obras do boi.
Fig. 1. Humberto Espíndola O nascimento de MS, 1979 – Óleo sobre tela – 144 X 124 cm. Acervo Museu de
Arte Contemporânea — MARCO, Campo Grande, MS.
Todos passaram a usar a imagem do boi como estilística da produção sobre e na arte local
como forma de situá-la nesse “novo” lugar político e geográfico. A inauguração do boi com a
“Série...” na produção artística de Mato Grosso do Sul, assim como toda uma produção
artística local (artes plásticas, música, audiovisual, teatro, dança, literatura, performances etc),
2
Imagens disponíveis em: http://www.humbertoespindola.com.br/001-index_frameset.htm - acesso em 21/07/17.
na crítica de arte e no ensino de arte no Estado, passam obrigatoriamente pelo registro visual
(imagético e real) da aura do boi na arte: validando discursos históricos e hegemônicos.
Ora avalizados pelo Poder Público local – via as Secretarias e Fundações de Culturas
(Estadual e Municipal) –, ora pelos discursos críticos que endossam a presença do boi como
estilo artístico, não como repertório cultural de arquivos e memórias locais assentados em
questões e fatos sociais, políticos, culturais e até econômicos (“Agro é Tech, Agro é Pop,
Agro é tudo”), o bovinoculturismo é cultuado como Estilo Artístico das artes locais. Em quase
todas as linguagens da arte local percebe-se a “imagem” do boi como ícone da cultura sul-
mato-grossense; como se essa arte estivesse totalmente assentada nessa única forma de
construção de narrativas na atualidade. As produções artísticas, partindo do princípio de
produzir arte local, inscrevem-se em estilos e movimentos artísticos construídos pela História
da Arte europeia como única forma de (re)produzirem narrativas artísticas na atualidade.
Essas questões fazem esboçam com mais evidente o propósito deste trabalho de
mostrar os caminhos que os artistas, das artes plásticas, por exemplo, têm tomado em Mato
Grosso do Sul para produzirem narrativas artísticas na atualidade. Se por um lado vários deles
tomam das “impressões” (DERRIDA) como fardos do passado, outros, por sua vez, têm
trabalhado na contramão da mera manutenção de narrativas históricas como repertórios
artísticos. Dos primeiros, a exemplo do artista da “Série” mostrado, têm trabalhos que
ressaltam estilísticas de movimentos artísticos e artistas históricos como as únicas formas de
produzir pinturas, por exemplo, na atualidade. Portanto, temos na pintura da
contemporaneidade sul-mato-grossense uma maioria de artistas que resgatam as memórias
renascentistas, impressionistas, fovistas, entre tantos outros estilos/movimentos, atestando
estarem produzindo memórias e arquivos atuais para arte local.
Ainda sobre esses “artistas” pintores que resgatam as histórias, memórias e arquivos
alheios como forma de produção artística, têm no Estado grupos concentrados em reproduzir
as paisagens naturais do local. Pois, iguais ao boi, as paisagens exóticas do Pantanal, índios,
aves e animais silvestres ilustram grande parte das pinturas desses “artistas” locais.
Igualmente ao patrocínio e “crítica” dos promotores do Estado e da crítica local quando se
trata da imagem do boi, as paisagens (naturais, índios locais) ganham destaque porque
suscitam a ideia de promoção turística do local. Ou seja, igualmente ao bovinoculturismo
3
Matéria completa em: http://blogdoalexfraga.com.br/2017/05/16/entrevistapedroguilherme/ - acesso em 17 de
maio de 2017.
representada por uma “única narração”. (BESSA-OLIVEIRA, 2012) Nesse grupo de artista,
vários produzem “gatinhos”, cachorrinhos, ipês, aves coloridas, pântanos, índios, matas,
pinturas rupestres, declamam poesias românticas, como se tudo fosse “flores” na história do
Estado, sustentam discursos paisagísticos e políticos – comercializados pelo Estado-nação
dentro e fora do local – estruturando a produção artística em um lugar da história alheia como
nossa.
As telas que vi dele são todas inspiradas por um tema: o boi. O boi não como o
pachorrento ruminante dos currais ou de outras cenas bucólicas, mas o boi na
sociedade, isto é, o boi-dinheiro, o boi, símbolo de riqueza de Mato Grosso. Um de
seus quadros se intitula: Glória ao boi nas alturas; um outro: Boi & society; e o
terceiro: Boi alado nas asas do dinheiro. Simpatizei com esses títulos, pois indicam
que o autor deles tem seqüência nas idéias. Não seria, então, um improvisador, um
seguidor de modas. Felizmente, também, não é aposentado como mais um desses
“primitivos” que chegam dos cafundós do Brasil para regalo do burguês enfastiado
da metrópole. (PEDROSA, 1967, s/p)
Já no segundo caso, bovinoculturismo aqui entendida como estilismo artístico, visa dar
continuidade e inscrição de reproduções artísticas às ideias de arte, cultura e conhecimentos
migrados para o local entendidos como tal (pós-divisão de MT (1977) à contemporaneidade).
Vários artistas, “sugerindo” evidenciar aquele “boi-dinheiro”, “primitivo” e tardio ressaltado
por Pedrosa, seguem ilustrando obras com imagem e ícones bois. E, neste segundo caso ainda,
há, claramente, a contribuição dos poderes políticos e/ou econômicos sustentando essa ideia
de “cultura do boi” como estilo, a fim da manutenção dos criames do gado e plantios de grãos
para validação desse lócus – Mato Grosso do Sul – como a “maior” terra da soja e do boi.
Ilustra ainda uma passagem de Edgar Nolasco que evidencia a dificuldade de
conceituar “puro e simplesmente” o lugar de “fronteiras” atravessadas, contrabandeadas e
transculturadas. “Lugares” que demandam a desconstrução de tudo que já fora (im)posto
pela História da Arte que alguns insistem em dizer ter uma “[...] nossa arte [do] Brasil
Central, pantaneira e genuína [...]” (GARCIA, 2017, p. 2) ou alguns outros que a percebem
como uma arte de “cor local” estabilizada e exclusivista. A ideia é que vários desses artistas,
que usurpam a imagem do boi e uma suposta ideia de iconografia exclusivamente local,
acabam por evidenciar com seus trabalhos quase primários, ou primitivos como ressaltou
Pedrosa, uma identidade estável que faz muito tempo não corrobora mais pensar o sujeito e
sua individualidade; pensemos então no caso de um Estado da Federação.
As coisas encontram-se aqui numa condição de contrabando cultural sem origem,
sem começo, nem fim. Nessa importação clandestina de mercadorias culturais
estrangeiras e sem fiador, contrabando é sinônimo de transferência, transculturação,
transformação, lugar por excelência de um sujeito-transeunte em trânsito. Eterno
entre-meio, entre-espaço, entre-tempo, constituindo uma existência espacial cujo
espaço é antes existencial: por ele as gentes passam, as manifestações culturais são
geradas, e ambas atravessadas por uma apologia do afeto que marca a diferença
cultural do bio do sujeito e da cultura localistas, como a uma pele de boi marcada a
ferro-e-fogo. Não por acaso entendemos que o que é da ordem da especificidade de
uma cultura passa por uma afetividade (Canclini) da nação localista, e cujo
sentimento é também, por sua vez, de ordem cultural. (NOLASCO, 2012, p. 30)
Quero dizer com isso que há aparatos político e econômico que fazem a manutenção
do bovinoculturismo para insistência e inscrição de uma suposta característica local (na arte,
na cultura e no conhecimento), repertório e repositório de arte, cultura e conhecimentos
externos trazidos e não traduzidos no local. Ilustram essas questões o conjunto de imagens
(figura 02) que apresentam artefatos que miram inscrição no local.
Fig. 2. Imagens de trabalhos expostos em feiras populares na cidade de Campo Grande, MS promovidas por uma
Confraria de Artistas denominada de Confraria Sociartista.
Esses sujeitos reproduzem artes, culturas e conhecimentos que não são do local, mas
são implantados como “do” local. Esta última questão faz ressaltar que alguns artistas e
supostos críticos locais são mantidos para promoverem um discurso artístico que ancora a
ideia da arte, da cultura e do conhecimento que obrigatoriamente passam pela imagem do boi.
É possível dizer que há nessa relação o continuísmo dos sistemas hegemônicos que
promovem os “mesmos” artistas e críticos, sustentando a ex-posição desses “artistas” e
“críticos” que impõem a situação. Forma-se um círculo vicioso na produção local que mantêm
o boi, a paisagem e ícones extra-vagantes como legítimas nas reproduções locais. Sem critério
de ajuizamento de relação na cultura à qual dizem inscreverem-se, essas “entidades”
arrebanham inúmeros artífices do boi.
Esses fatos, de certa forma, ajuda questionar: é possível individualizar para tornar local como
quer o sistema (político e econômico) e alguns artistas apoiam? Ou, como devemos tratar as
Por que precisamos de pensar a partir da fronteira? Onde isso vai levar?
Epistemologias descoloniais na fatura como ponto zero. O pensamento de fronteira
prevê, em princípio, tipos diferentes de atores teóricos e princípios do conhecimento
que deslocam a modernidade europeia (que articulou o conceito da teoria das
ciências sociais e humanas) e capacita àqueles que foram epistemologicamente
enfraquecidos pela teo e pelo conhecimento ego-política. (MIGNOLO, 2009, p. 3)
Pensar as fronteiras para além das ideias de limites estabelecidos por discursos hegemônicos
políticos e econômicos, que engessam e aprisionam os discursos de arte, cultura ou
conhecimento de lugares periféricos, que dicotonizam tudo que representa os lugares,
evidencia características implícitas nas práticas, sujeitos desses lugares. Implícitas, mas não
enxergadas pelos olhos dos críticos e artistas que emolduram os lugares não ex-postos, pois
esses estão voltam os olhos para o lado oposto às fronteiras culturais de Mato Grosso do Sul.
Algumas conclusões
Ao expor essas mazelas da produção pictórica local (nas plásticas, na grande maioria),
não quero parecer contribuir para o fracasso dessa e reforço do que vem de fora: deixo isso
para a crítica que está posta hoje no Estado. Contrariando esse desejo comum de artistas e
críticos locais, a intenção é ressaltar problemas persistentes que precisam emergencialmente
ser tratados nas produções artísticas locais. Se por um lado a falta de organização de uns
artistas faz evidenciar fragilidades desses, por outro a organização deve embasar-se em
reformulações que se voltam para o local cultural. Não adianta estrutura societária ancorada
em proposições (artísticas, teóricas, críticas e pedagógicas) sem analogia ao local. Ver o
passado romanticamente não faz a contemporaneidade perfurar espaços (CANTON, 2009).
Portanto, tomando essas ideias que emergenciam discussões, este trabalho discutiu acerca da
“cultura do boi” na tríplice fronteira como repositório cultural e como reprodutório de
culturas como controle da cultura local sul-mato-grossense geoistórico e geopolítico
(Brasil/Paraguai/Bolívia), a partir das biogeografias como episteme da arte descolonial. Ou
seja, todo lugar geográfico faz emergir arte, cultura e conhecimento, a partir do sujeito-bio,
que não são melhores nem piores que outras práticas, sujeitos e lugares, mas diferentes em
suas especificidades. (BESSA-OLIVEIRA, 2016) O mesmo que tratar de diversalidades.
Diversalidade é entendida por Mignolo como possibilidade mais ampla que diversidade tão
amplamente difundida na cultura nacional. Do conceito de diversidade instaura uma relação
de diferenças com ideias de verticalização entre as culturas diferentes. Diverso sugere que a
diferença de um sobreponha às diferenças de muitos outros que não pactuam dos conceitos
preestabelecidos de arte e cultura, por exemplo. Tomei de afazeres artísticos e teóricos para
efetivar a proposta de discutir as produções artísticas e as biogeografias da fronteira-sul; na
arte com suas identidades múltiplas que habitam e produzem arte e conhecimento entre os
espaços, tomando da “imagem” – simbólica ou real – do boi, para produção ou emersão
desse/nesse espaço. Dabate ainda os trabalhos, sujeitos e artistas cooperam a reprodução de
arte, cultura e conhecimentos vindos além-mar, sem preocupação epistêmica com o local
cultural sul-mato-grossense. Essa é a terra da “cultura boi”! Mas do “boi” bovinocultura ou
bovinoculturismo?
REFERÊNCIAS
CANTON, Katia. Tempo e memória. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.
[Coleção temas da arte contemporânea]
GARCIA, Pedro Guilherme. “Pedro Guilherme Garcia: “Governo e prefeitura não adquirem
nossas obras””. Entrevista postada em 16 de maio de 2017. In: FRAGA, Alex. Blog do Alex
Fraga. Disponível em: http://blogdoalexfraga.com.br/2017/05/16/entrevistapedroguilherme/ -
acessado em: 17 de maio de 2017, p. 1-7.
MIGNOLO, Walter D.. “Habitar los dos lados de la frontera/teorizar en el cuerpo de esa
experiencia”. In: Revista IXCHEL. Volúmen I, San José, Costa Rica, 2009, p. 1-22.
Disponível em:
http://www.revistaixchel.org/attachments/047_Habitar%20los%20dos%20lados%20art_%20
Walter%20Mignolo.doc%29.pdf – acessado em 30 de maio de 2013.
Resumo
O movimento anarquista chegou ao Brasil graças ao intenso fluxo imigratório estimulado já
no final do século XIX, sobretudo com a chegada de portugueses, espanhóis e italianos. Com
a gradativa reconfiguração da economia brasileira, que aos poucos se industrializava, uma
classe de trabalhadoras e trabalhadores começava a surgir nos centros urbanos do Brasil,
sobretudo em São Paulo. As péssimas condições de vida desses trabalhadores passaram a ser
denunciadas por este grupo imbuído com o pensamento anarquista e propuseram inúmeras
ações de resistência. Uma dessas ações foi a fundação das escolas libertárias, influenciadas
pelas escolas já existentes na Europa. Este trabalho tem como principal objetivo refletir sobre
essas escolas, mas com especial atenção as Escolas Modernas n.1 e n.2 fundadas na cidade de
São Paulo em 1913, procurando investigar a presença do ensino de artes nesses espaços. Artes
porque as Escolas Modernas se propunham a buscar uma “educação artística intelectual e
moral” e despertar o “sentimento do belo, do verdadeiro e do bom” através “das ciências e das
artes”. Além disso, as histórias das Escolas Modernas permanecem marginalizadas da história
oficial e encontra dificuldade em penetrar na história da educação e da arte/educação. Ainda
que não possamos falar em arte/educação nesse período, os documentos da época nos
mostram a existência de disciplinas como desenho e música em suas atividades pedagógicas.
Para a realização deste trabalho, está sendo realizada uma pesquisa em documentos como
jornais e periódicos anarquistas do período do funcionamento das Escolas, além da consulta
da bibliografia referente ao pensamento anarquista e da educação libertária.
Palavras-chave: Educação libertária. Ensino de artes. História da arte/educação.
Introdução
1
Mestrando em Arte/Educação na linha de pesquisa em processos artísticos, experiências educacionais e
mediação cultural pelo programa de pós-graduação do Instituto de Artes da UNESP (Campus São Paulo).
Graduado em Licenciatura em Música pela mesma instituição. Integrante do GPIHMAE (Grupo de Estudo e
Pesquisa em Imagem, História, Mediação, Arte e Educação). E-mail: levi.papageno@gmail.com
já nos anos de 1911, onde o anarquismo ainda era algo novo no Brasil: seu pensamento
começou a ser amplamente divulgado pelas trabalhadoras e trabalhadores europeus que
chegaram ao país no final do século XIX. O movimento anarquista no Brasil desenvolveu um
papel importante na luta da classe proletária ainda em formação na então recém república,
como veremos a seguir.
O preconceito a respeito do anarquismo já não era novidade. Pode-se dizer que
também foi importado do reacionarismo europeu. Essa associação a desordem e bagunça
nasce da própria etimologia da palavra. Na quarta edição do jornal anarquista chamado A
Vida, no ano de 1915, há um artigo a respeito da definição da palavra e do movimento
anárquico:
Segundo a sua etimolojia, a palavra Anarquia significa estado dum povo que não
tem governo. Um prejuízo bastante dezenvolvido, consistentente [sic] em crer que
um estado tal deve forçozamente enjendrar a revolta e a confuzão nas relações
sociais, tem feito com que comumente se adotasse a palavra Anarquia, como
sinônimo de dezordem. [...] Anarquia, em filozofia pozitiva, è a concepção dum
estado social em que o indivíduo, dono e soberano de sua pessoa, se dezenvolveria
livremente e no qual as relações sociais se restabeleceriam entre os membros da
sociedade segundo as suas simpatias, as suas afeições e as suas necessidades sem
constituição de autoridade política. Numa palavra, a Anarquia é a negação do
Estado, sob qualquer fórma que se apresente, substituído pela iniciativa individual
ezercendo-se diversamente e harmonicamente (A VIDA, 1915).2
Os anarquistas também são reconhecidos como libertários, uma vez que a liberdade é a
principal bandeira do movimento. Para estes, a liberdade é uma construção social e
contrapõem-se a ideia de liberdade como algo natural. Não nascemos livres, mas nós a
construímos na medida em que convivemos com o outro. Por isso, a educação desempenha
um papel fundamental para os anarquistas: a escola é esse lugar em potencial que permitiria,
através do compartilhamento do conhecimento, o desenvolvimento integral e racional dos
seres humanos e em conjunto, ou seja, através de um sentimento de solidariedade –
sentimento base na sociedade ideal anarquista.
Algumas escolas declaradamente libertárias nascem no século XIX trazendo novos
olhares e reflexões sobre educação e que chegaram a antecipar algumas questões que serão
temas de pesquisa de educadores e pedagogos não anárquicos na terceira década do século
2
Para o presente trabalho, optamos por preservar a grafia da época.
XX, como o movimento Escolanovista e o Construtivismo nos anos de 1960. Sébastien Fauré
desenvolveu e aplicou o conceito de educação integral na experiência da “A Colmeia”, já
abordado por Proudhon e Bakunin em obras relacionadas a educação. Francisco Ferrer y
Guardia, anarquista espanhol, defendia o conceito da educação racional e aplicou na Escuela
Moderna de Barcelona. Em ambas as experiências podemos identificar outras formas de
pensar a educação das crianças, a importância da psicologia no processo pedagógico e o papel
do jogo como ferramenta de aprendizado (MARCONI; NETO, 2011). Além disso, conteúdos
relacionados as artes estavam igualmente presentes nas propostas anarquistas, já que ela tem
igual importância no processo de ensino integral e racionalista defendido por esses dois
militantes que inspiraram as experiências educacionais libertárias no Brasil. As Escolas
Modernas de São Paulo proclamavam uma “educação artística intelectual e moral”. As
escolas públicas de então defendiam o ensino de desenho e de música, mas estavam
fortemente impregnadas pelos ideais positivistas (BARBOSA, 2012). Como a arte se
configurava no contexto das Escolas Modernas de São Paulo? Havia uma contraposição as
práticas institucionais vigentes?
Para a realização deste trabalho, além da pesquisa em livros referentes ao assunto,
pesquisamos também os periódicos anarquistas que circulavam na época e que se encontram
no Centro de Documentação e Memória da UNESP (CEDEM), localizado na praça da Sé.
No final do século XIX, a sociedade brasileira viu-se diante dos novos ares políticos
que, em princípio, parecia modernizar suas instituições num contexto em que se mantinha
atrasado em relação aos seus vizinhos. Exemplo disso é o fato do Brasil ter sido o último país
da América Latina a abolir o sistema de escravidão, em 1888. No ano seguinte, em 1889,
finalmente o ideal republicano ganha seu espaço até que se estabelece o que conhecemos hoje
como Primeira República ou República Velha. A proclamação da República gerou
desdobramentos em níveis políticos, econômicos e sociais. Segundo Nagle, a “imigração foi
elemento importante na alteração do mercado de trabalho e das relações trabalhistas, e
representou uma nova modalidade de força de trabalho, qualitativamente diferente daquela
formada nos quadros da produção escravagistas” (1974, p.24).
Nesse sentido, a crítica que se faz na época é justamente quais mudanças foram
trazidas com o Governo Provisório republicano. Porém, nos anos subsequentes haveriam
reformas na educação sempre influenciadas pelas forças ideológicas que disputavam seu lugar
no novo cenário político, ou seja, o liberalismo e o positivismo. Destaco no presente trabalho
as mudanças ocorridas no ensino de música e em desenho, sendo que ainda não é possível
falarmos em arte/educação, uma vez que o desenho era disciplina artística. O ensino de
música já era presente nas escolas públicas brasileiras desde 1854, por um decreto que definia
a prática musical no espaço escolar através de “exercícios de canto”, o que possivelmente
asseguraria algumas “noções de música”. Possivelmente, uma vez que o documento não traz
nada mais informações do que isso. Porém, com a República “foi dado outro passo em
direção ao ensino de música na escola” pois, pela primeira vez se passou a exigir a formação
de profissionais de música, mas isso não representou o desenvolvimento e fortalecimento da
área (FONTERRADA, 2008, p. 210). Assim como no ensino de desenho que, em 1901, com a
reforma da educação e amparada pelo código Epitácio Pessoa – reforma fortemente liberal –,
conseguiu instituir uma diretriz para o desenho na escola secundária (BARBOSA, 2015).
É importante destacar também que o acesso à educação, de forma geral, sobretudo ao
ensino público, contava em sua grande maioria pela classe média, como atesta o relato de
Paschoal Lemme:
As poucas escolas públicas existentes nas cidades eram frequentadas pelos filhos das
famílias de classe média. Os ricos contratavam preceptores, geralmente estrangeiros,
que ministravam aos seus filhos o ensino em casa, ou os mandavam a alguns poucos
colégios particulares, leigos ou religiosos, funcionando nas principais capitais, em
regime de internato ou semi-internato [...] (LEMME apud GHIRALDELLI JR,
2009, p. 36)3.
3
Ghiraldelli, ao utilizar-se mais amplamente dessa fala de Lemme, traz uma informação significativa a respeito
do autor. Essa citação faz parte do livro de Memórias (1988).
Nesse contexto, o Estado de São Paulo, que era considerado o mais rico da época, não
conseguia dar acesso a todos nas escolas. Ghiraldelli mostra que em 1920, São Paulo “não
atingia mais que 28% da população em idade escolar; para cada quatro crianças em idade
escolar, uma era analfabeta”. É nesse quadro que o anarquismo enquanto movimento de luta
social ganha espaço também na educação. A Escola Moderna de Ferrer y Guardia, inaugurada
em 1901 em Barcelona, claramente libertária e fundada nos princípios da educação racional4,
chegou ao Brasil e, por consequência, desdobrou-se na abertura de inúmeras escolas
libertárias em várias regiões do país5.
4
O ensino racional está fortemente ligado fortemente ao ensino das ciências e de todos os conhecimentos já
produzidos pela humanidade. É uma proposta pedagógica “fortemente calcada nas ciências naturais (com
profunda influência, pois, da filosofia positivista), mas atenta aos problemas sociais (o que, por sua vez, a
afastava daquela ideologia) [...]. Um processo que eduque pela razão, para que cada ser humano seja capaz de
raciocinar por si mesmo, conhecer o mundo e emitir seus próprios juízos de valor, sem seguir nenhum mestre,
nenhum guia. Não pense, porém, que ele defendia um racionalismo extremado. Para ele, o ser humano não é
apenas razão, mas um composto de razão, vontade, desejo e afeto, e um processo pedagógico não pode
negligenciar nenhum desses aspectos” (GALLO apud GUARDIA, 2014, p. 13).
5
Carmen Sylvia Vidigal (2013) chama-nos a atenção para essas escolas a partir do levantamento realizado por
Edgar Rodrigues (1992): “Uma primeira ocorrência [das escolas libertárias aqui no Brasil] foi a Escola União
Operária, fundada no Rio Grande do Sul em 1895, provavelmente originária da iniciativa dos ex-integrantes da
Colônia Cecília, como indica Rodrigues, seguida da criação, também naquele estado, na cidade de Porto Alegre,
de uma outra escola fundada em homenagem a Élisée Reclus, a Escola Élisée Reclus, local que o militante
anarquista teria visitado em sua passagem o Brasil. E, São Paulo, a Escola Libertária Geminal surgiu em 1903, e
seguia o método da Escola Moderna de Barcelona. Na cidade de Santos, a União Operária dos Alfaiates teria
fundado, em 1904, a Escola Sociedade Internacional, e a Federação Operária, a Escola Noturna, em 1907”.
O Inicio, publicação dos alumnos desta escola, que devia hoje reapparecer, ficou
substituido pelo Boletim da Escola Moderna, em virtude de não ser possível a
publicação dos dous jornaes, que embora pequenos, accarretar-nos-iam despezas
além das possibilidades no momento actual.
Isso, porém, não impede de tornar a fazer-se a publicação d’O Inicio, mais tarde,
quando a s cousas melhorarem.
E é esse o nosso desejo, porque entendemos que os alumnos tambem precisam de
exercitar-se na imprensa, afim de se habilitarem para a luta do pensamento na sua
cooperação para ao progresso moral e intelectual da Humanidade.
Ahi fica, pois, a explicação (BOLETIM DA ESCOLA MODERNA, 1918).
alunos6, na qual falaremos adiante. As festas e quermesses eram sempre divulgadas nos
jornais através do programa das atividades. Ao considerarmos esses eventos como forma de
divulgarem suas atividades para os pais, podemos observar que, no campo do ensino de
música, é forte o indício do canto coral. Na construção de uma cronologia das representações
de teatro nos espaços libertários elaborado por Edgar Rodrigues (1992), chamou-nos a
atenção o convite para a “Grande Festa Escolar e Quermesse” que foi realizada em janeiro de
1914:
O que nos chamou a atenção nesse anúncio foi a quantidade de hinos alternados a
recitação de poema. Nota-se que os hinos são executados “pelos alunos”, ou seja,
possivelmente na formação coral. Mas não é só este programa que constam a execução de
hinos. Há também notícias em outros jornais anarquistas que se referem a outros eventos: na
edição de n. 214 (25 de outubro de 1913) do periódico A Lanterna, numa pequena reportagem
sobre a inauguração das Escolas Modernas, sabe-se que as crianças encerraram o evento com
canto de hinos. Atualmente, sabe-se que chegou a existir um “Hinário da Escola Moderna nº
1”, que pertencia ao aluno César Cavassi, mas só restou o seu sumário.
A segunda evidência que marca o indício da presença de música na escola está
registrada em uma atividade descritiva de um dos alunos. Como dito anteriormente, as
6
Pouco restou da biblioteca e do museu, mas algumas das peças e obras de ambos encontram-se no Centro de
Memória da Educação (CME/USP) e na Unidade Especial de Informação e Memória (UEIM/UFSCAR), sendo
que esse último tem um acervo exclusivo do material de João Penteado.
Fig.1. Anúncio dos cursos de artifices e música na Escola Moderna n.1 e seus respectivos professores.
Cabe reforçar ainda que as práticas relacionadas ao ensino de artes, em geral, não
estavam restritas a sala de aula, mas se abriam a outros espaços nas quais os alunos,
professores e também a família poderiam transitar para as mais diversas modalidades. Como
dito anteriormente, as escolas contavam com um museu próprio e também com uma
biblioteca que oferecia uma vasta literatura e nos mais diversos assuntos. Além disso, João
Penteado contava também com um Cine Educativo e que continuou mesmo após o fim das
Escolas Modernas, na Academia Saldanha Marinho, que preservou basicamente todas as
propostas pedagógicas desenvolvidas nas antecessoras (MORAES, 2013).
A presença do teatro social como ferramenta de divulgação e propaganda do ideal
libertário parece indicar a presença do teatro como disciplina escolar. Porém, não é o
propósito deste trabalho desenvolver maiores detalhes a respeito do cinema e do teatro nesses
espaços, mas é importante destacar que, enquanto componentes da arte, elas estavam
presentes e com propósitos bem definidos.
Conclusão
Não há dúvidas que o ensino de artes esteve presente nas Escolas Modernas de São
Paulo. Mas, até o presente momento não foi encontrado registros ou descrições das aulas de
desenho e música que pudessem vir contribuir para reflexões de suas práticas até mesmo para
efeito de comparação em relação ao ensino oficial. Ou seja, em que medida essas disciplinas
nas escolas libertárias conseguiram romper com as práticas já vigentes na época?
Vimos que a República Velha foi marcada pela confluência do pensamento liberal e
positivista que, inclusive, no ano de 1911 – dois anos antes da abertura das Escolas Modernas
de São Paulo – houve uma nova reforma na educação que “radicalizou as propostas
positivistas e tornou vitoriosa a tese da descentralização completa do ensino, política
defendida pelos positivistas desde a proclamação da República [...]” (BARBOSA, 2012, p.
86). Destacamos porque o pensamento de Ferrer, que tanto influenciou as Escolas Modernas
de São Paulo, ao estruturar o que chamou de “ensino racionalizado” mantinha pontos de
contato com o positivismo. Por isso, um dos questionamentos que nos fica é: em que medida a
ideologia positivista, ainda que em menor grau, não influenciou especificamente a forma de
como os conteúdos de artes foram desenvolvidos nas Escolas Modernas de São Paulo? No
caso do desenho, não encontramos algo que pudesse indicar os conteúdos desenvolvidos
nesses espaços, mas em música encontramos evidências na qual pudemos supor que era
trabalhado através do canto, prática que não diferia muito das escolas normais.
Encerramos este trabalho com a esperança de que ele possa servir de estímulo para
reflexões relacionadas não só a educação libertária, mas também para gerar novos olhares
REFERÊNCIAS
Periódicos
A Lanterna – 1913
A Vida – 1915
Boletim da Escola Moderna – 1918
O Início – 1916
Resumo
Esta pesquisa surgiu para suprir a demanda da disciplina de História da Arte do curso de Artes
Cênicas/UEMS-UUCG, em que foram introduzidas bibliografias de diferentes historiadores
para estudos dos períodos históricos da arte mundial, com viés de caminhos e evolução; para
compreensão e debate sobre os mesmos; ainda culminando em uma pesquisa de campo na qual
pudéssemos ilustrar e melhor compreender os momentos históricos, relacionando-os, a partir de
fotografias, a elementos das artes plásticas na atualidade. Tais como: pintura, escultura, desenho
e arquitetura fazendo referência direta aos estudos das bibliografias listadas ao longo da
disciplina. Na medida em que foram iniciadas as pesquisas, surgiu a ideia de voltá-la para o
cenário artístico-urbano da cidade no Estado onde moramos: Campo Grande – Mato Grosso do
Sul – e exaltar os vestígios históricos arcaicos que perduraram no contemporâneo. Com esta
pesquisa pudemos fazer uma análise comparativa entre traços presentes na arquitetura e obras
artísticas da cidade, esculturas e obras plásticas de artistas regionais, que remetem a conceitos
impressos em diferentes períodos e diferentes lugares de origem; até mesmo alguns elementos
que expressam deveras similitudes aos movimentos: no caso aqui tratado, o clássico –
salientando que nossa Cidade/Estado também é munida de cultura, passado histórico, e tem
relevância no cenário artístico nacional. Na busca por essa “identidade histórica” da arte sul-
mato-grossense, foram levantadas fotografias de visitas dos mais diversos locais da cidade,
visitas a museus da capital e exposições de arte, a fim de conectar transversalmente a arte no
contexto histórico – passado – e cultural – contemporâneo.
Palavras-chave: História da Arte. Plásticas Sul-Mato-Grossenses. Identidade artística
histórica.
1
Este trabalho foi desenvolvido a partir de uma pesquisa de campo realizada durante o curso da disciplina
de História da Arte, ministrada pelo Prof. Dr. Marcos Antônio Bessa-Oliveira no curso de Artes Cênicas
da UEMS, em que os acadêmicos devem observar na cidade as impressões dos movimentos históricos da
Arte.
2
Graduando do 1º ano do curso de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul –
UUCG. E-mail: thiagohenrique102@gmail.com.
3
Doutor em Artes Visuais, área de concentração em Fundamentos Teóricos pelo IA/Unicamp. Professor
DE/TI na Cadeira de Artes Visuais no Curso de Artes Cênicas e Professor Permanente do PROFEDUC na
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UUCG. É Líder do Grupo de Pesquisa NAV(r)E –
Núcleo de Artes Visuais em (re)Verificações Epistemológicas – CNPq/UEMS. Membro do NECC –
Núcleo de Estudos Culturais Comparados – UFMS e do Núcleo de Pesquisa Estudos Visuais –
UNICAMP. marcosbessa2001@gmail.com.
Introdução
“Nada existe realmente a que se possa dar nome Arte. Existem somente artistas.”
(GOMBRICH, 2012, p. 15) Na introdução do livro A história da arte o autor critica o
conceito estabelecido por alguns sobre a Arte dizendo: “Arte com ‘A’ maiúsculo não
existe. Na verdade, Arte com A maiúsculo passou a ser algo como um bicho-papão e de
um fetiche”. (GOMBRICH, 2012, p.15) Dessa forma, fica claro que o endeusamento da
arte é algo que só trás malefícios aos artistas e a qualquer pessoa que contemple alguma
obra artística.
Para se gostar de uma determinada obra não há razões erradas ou certas tomando
do discurso do autor. Uma obra pode tocar uma pessoa por vários motivos, contudo,
deveríamos ser criteriosos numa avaliação negativa. Aversão baseada em preconceitos
pode nos privar de prazeres inestimáveis que o “feio” também oferece. Com isso,
chegamos à conclusão que há razões erradas e certas para não se gostar ou gostar de
uma obra artística.
A Arte deve ser analisada além de sua beleza aparente, embora apreciar a beleza
aparente não seja um erro. A expressão do artista deve ser capitada e analisada para o
entendimento da obra de maneira mais abrangente possível – do belo, mas do feio igual.
Algumas obras têm beleza direta, visível, e outras precisam ser degustadas – ver
o invisível. Todas as obras possuem o seu valor. A beleza do artista não está em sua
pericia em reproduzir o mundo como ele é, mas sim em transmitir toda a magia e
sentimento envolvidos naquelas cenas que Gombrich ressalta:
possuírem o mesmo valor simbólico, (e porque não monetário)? Bem, defrontados por
perguntas como essas aprofundamos estudos históricos da arte em detrimento da
desvalorização artística regional. Sendo assim, buscamos contrapor os fatos analisando
e comparando obras aqui produzidas – Campo Grande-MS –, com os padrões estéticos e
movimentos artísticos ocorridos em períodos anteriores, tangenciando assim uma
margem que permeia ambas as produções e mostrando que essas produções locais
também beberam da fonte clássica 4, moderna ou contemporânea; talvez não de maneira
restrita, mas sim livremente aperfeiçoando-a e utilizado o que lhe convém.
Segundo Ernst Gombrich em sua obra A história da arte, uma das publicações
mais completas da área, o despertar da arte foi em aproximadamente 520 a 420 anos
a.C, em meados do final do século V a.C o artífice passa a ter consciência de seu poder
e mestria e o publico também. Artesãos passaram a ser reconhecidos por seus trabalhos
de arte como obras e não mais apenas por funções e/ou fins religiosos ou políticos.
Surge nessa época o conceito de escolas de arte que utilizam de estilos e padrões
na técnica imprimida na pintura, e é normal que ocorresse competições entre eles, as
quais os estimulavam para esforços sempre maiores e ajudavam a criar variedades;
posteriormente admiradas na arte grega.
A criação de colunas na arquitetura grega, por sua vez, era utilizada quase como
viés de classe social; dentre estas temos o estilo Dórico, a mais antiga, era simples, sem
base e cilíndrica com 20 linhas verticais, mais usadas para divindades masculinas; as
Jônicas, eram maiores, com 24 linhas verticais aspirais e rotundas nas extremidades e
mais utilizadas para divindades femininas; e Coríntio, mais luxuosas, presença de
folhagens de louros no capitel e aspirais de 24 linhas verticais e muitos detalhes.
É notória a mudança de gosto dos gregos no sentido da delicadeza e do
refinamento; num intervalo de paz entre o período de guerra com Esparta viu-se que as
4
Este artigo é um fragmento de uma pesquisa maior, enquanto aqui trazemos uma amostra da relação
entre a arte local e o período clássico, a pesquisa maior levanta dados desde à pré-história até a
contemporaneidade, ainda visando às artes visuais e englobando também vertestes com as artes cênicas –
Teatro e Dança.
Fig. 1. Estatua da Deusa Themis, símbolo da justiça, Tribunal do Júri. Campo Grande-MS. Inspirada no
Período Helenístico.
Os gregos foram exímios escultores, dando forma até hoje ao “padrão de beleza”
nas esculturas. Exaltaram tanto uma forma de corpos esculturais, de modo que nenhuma
de suas esculturas tinha qualquer traço considerado feio ou assimétrico – o corpo grego
é considerado na escultura o corpo perfeito. “Os gregos deram ao mundo formas
insuperáveis de materializar os deuses sob o disfarce de homens”. (JANSON, 2009, p.
74)
A figura 4 apresentada nos mostra a ideia de escultura grega ainda que não
diretamente esculpida a partir das ordens gregas. Apesar de não ser de fato apegada a
anatomia corporal como as obras dos gregos, a imagem ainda assim nos remete à ideia
de movimento que os escultores gregos apresentavam. A arte nesse momento atingira
um ponto em que o típico e o individual eram colocados num novo e delicado
equilíbrio.
Sobre tudo vale resaltar que a escultura grega é dividida em três períodos, sendo
eles: Período Arcaico (século VIII a VI a.C.); Período Clássico (século V a IV a.C.);
Período Helenístico (século III a II a.C). O Arcaico tendo como características o
idealismo do corpo, sem realismo, formas simples, estatuaria rígida, frontalismo. O
Clássico realismo, corpos com padrões de beleza, anatomias proporcionais e
movimento. Já o Helenístico, perda das bases, a base agora não era mais usada no
intuito de sustentação, totalmente realísticos, dramático, trágico e doloroso, mas
representam com erotismo.
Fig. 2. Antonio Burgos, s/t, s/d. Museu de Arte Contemporânea – MARCO. Arcaico.
Sendo assim, pode-se finalizar com a figura 7, como uma ideia de pintura de
afresco grego, no qual não possuía perspectiva linear, representação naturalista, fazia-se
uso da têmpera e da encáustica. Tratava-se de apresentação de cenas figurativas, retratos
da natureza, representações sutis de luz e sombra e justaposição de cores nos murais.
mantêm a ideia aperfeiçoada pelos Greco romanos agora possibilitando o uso desses
como uma “parede vazada”.
Fig. 10 Agencia Bancária, Av: Afonso Pena / semi abóboda de berço, Campo Grande/MS
Sendo assim, podemos expressar que foi não só de grande valia fazer tal
pesquisa, como também possibilitou-nos um conhecimento maior e mais aprofundado
de nossa própria localidade; assim como Walter Benjamim menciona ao falar do sujeito
andarilho, do “botânico do asfalto”, encarnamos o próprio Flâneur nessa grande
empreitada em busca de sobrepor a arte eurocêntrica com nossos feitos regionais.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
GOMBRICH, E. H.. A história da arte. Trad. Álvaro Cabral. [reimpr.]. Rio de Janeiro:
LTC, 2012.
Resumo
O presente artigo busca analisar o trabalho das fotógrafas Diane Arbus e Paula Sampaio, ambas
mulheres das américas, que empenharam grande parte de seus esforços na construção de um trabalho
estético conceitual, tendo no retrato fotográfico a instalação do outro, seja a em Arbus com seus
personagens grotescos, ou em Sampaio com seu fotojornalismo poético, é a partir da concepção de que
fotografias, principalmente quando constituídas em série, podem conter uma potência estética e crítica
da sociedade que representam, vivenciam e ficcionalizam, requerendo uma construção de sentidos
para além do simples retrato que revela a efigie, mas não imprime sobre o suporte fotográfico a
máscara, a identidade oculta de todo o ser, sua alteridade inviolável. A partir de uma viagem ao início
da criação da imagem, pelo uso da imaginação como forma de abstrair a realidade tempo-espaço nas
dimensões do plano, chegamos ao entendimento da imagem-técnica, que é aquela produzida pelo
aparelho assim como a fotografia, nesse caminho aprendemos a não confiar plenamente na fotografia,
pois esta representa uma falha incontestável quando comparada a realidade, pois suprime a
profundidade e o tempo, o corte/enquadramento e o lapso temporal, são as abstrações que permitiram
a Arbus e Sampaio construir um universo imagético próprio e um constructo poético que de forma
acida representam a realidade pelo viés da observação crítica e imposição de um olhar, que é indicial
de um realidade que ambas cuidadosamente selecionam e deslocam, construindo uma unicidade
visual, a partir de uma diversidade de sujeitos nas quais nos foi possível encontrar sentidos.
Palavras-chave: Representação. Habitus. Alteridade.
1
Mestre em Artes pela UFPA. Professora no curso de Artes Visuais e Tecnologia da Imagem da Universidade da
Amazônia - UNAMA. Professora da Fundação Escola Bosque. Produtora e artista visual residente do Casulo
Cultural. E-mail: renata_rar@yahoo.com.br
2
Mestre em Artes pela UFPA. Professora no curso de Artes Visuais e Tecnologia da Imagem da Universidade da
Amazônia - UNAMA. Professora da Secretaria Estadual de Educação. E-mail: simoneoliver2@hotmail.com
homens foi denominada por Flusser de “idolatria” (1985, p. 9). Idolatrando, o homem se torna
incapaz de decifrar as imagens, já não consegue reconstruir as dimensões abstraídas no seu
processo de construção, e passa a acreditar que imagem corresponde à realidade.
Com o surgimento da escrita o homem “rasga” as imagens e sua idolatria, e passa a
abstrair todas as dimensões da realidade, menos uma, a dimensão da conceituação, que vai lhe
permitir codificar e decodificar textos. Portanto, ao invés de se aproximar do mundo concreto,
da experiencia e da vida, o homem se afastou ainda mais deste, pois conceitos significam
ideias não fenômenos. Nesse afastamento conceitual que a escrita propôs no início da história,
temos uma ativação da imaginação que imagina todas as dimensões que o texto abstraiu para
a dimensão do conceito.
Imagens e textos coexistem, imagens atravessam textos para “remagicizá-los”
enquanto textos explicam imagens para “rasga-las”. Essa dialética nos permite então
reivindicar a potência conceitual de imagens que acabam se transcrevendo em textos visuais
através de narrativas imaginativas entre imagem e texto, que juntamente abstraem ainda mais
a realidade do mundo, não são explicações, não transcrevem realidades, dão espaço
interpretativo, para reconstruir as dimensões que faltam; codificar, intuir, não concluir.
A fotografia é também uma imagem, está incluída nos fenômenos e implicações
descritas, porém é imagem técnica, aquela produzida pelo aparelho; estes produtos da técnica,
técnica: texto científico aplicado na construção de imagens. Essas são condições decisivas
para decifra-la. Em outras palavras, a fotografia imagina o texto (conceito) que cria imagens
sobre (re-corte) o mundo.
As imagens técnicas se tornam opacas, por parecer que não precisam ser decifradas,
nos enganam quando pensamos que não existem camadas a serem desvendadas por sob a
densa superfície, há a falsa sensação de que a realidade se apresenta ali, automaticamente
impressa no suporte fotográfico “Graças a sua natureza fisioquímica – e hoje eletrônica – de
registrar aspectos (selecionados) do real, tal como esses fatos se parecem” (KOSSOY, 2000,
p. 19). Nos esquecemos que esta natureza cientifica é texto aplicado que cria imagem e
portanto afasta ainda mais nosso olhar da realidade.
O que se dá na superfície fotográfica é preciso perceber a partir de sua transparência
de imagem técnica que é, codifica processos em cenas. Cenas são constituídas de camadas,
quando mais profundamente penetrarmos nelas (camadas históricas, sociais, de sentido, etc.)
mais nos defrontamos com os processos necessários à sua transcodificação, para reconstruir
as dimensões abstraídas no ato fotográfico: A interrupção temporal causa um congelamento
no tempo, a paralização da cena; a fotografia perde, então, o contexto temporal, abstrai a
passagem do tempo e seleciona um único momento, um gesto fixo, que na realidade poderia
se desdobrar em vários outros.
Como se vê, o princípio de uma separação simultânea no tempo e no espaço, de uma
falha irredutível entre signo e referente é realmente fundamental. Vem sublinhar
radicalmente que a fotografia, como índice, por mais vinculada fisicamente que seja,
por mais próxima que esteja do objeto que ela representa e do qual ela emana, ainda
assim permanece absolutamente separada dele. (DUBOIS, 2001, p. 93).
As fotografias de Arbus causam no expectador, ainda que chocado, uma distância, não
havendo nelas espaço para a compaixão. Essa distância baseia-se na solicitação que faz ao
espectador, de perceber nesses retratos o outro – o diferente. O espectador está numa relação
de privilégio àquelas pessoas, assim o projeto de Arbus se serviu a mostrar que o outro existe.
Essa construção de um projeto de imagens que dialogam com um intertexto cria uma narrativa
conceitual que vai permeando a obra fotográfica e criando um discurso percebido nas
camadas sobrepostas do tecido fotográfico.
Arbus era por profissão fotógrafa de moda, mantinha com seu marido – também
fotógrafo - um estúdio fotográfico onde desenvolvia seus trabalhos comerciais. Se
contrapondo a este universo de “uma fabricante da mentira cosmética que mascara as
intratáveis desigualdades de nascimento, de classe e de aparência física” (SONTAG, 2004,
p.57), criou esse universo de revolta moralista contra uma cultura da vida bem-sucedida, num
espetáculo de horror em contraponto ao tédio da vida anestesiada de classe de privilégios, da
fama e da celebridade (ironicamente?) proposta por seu contemporâneo Andy Warhol.
Em Arbus é a busca pelas experiências dolorosas do outro que lhe motiva, se arrisca
em busca desses personagens, onde ao encontra-los projeta sua própria estranheza, o que
talvez tenha colocado a fotografa em um jogo de ficção e traição difícil de sustentar tendo
Arbus tem sua carreira abruptamente interrompida por seu suicídio em 1971, no ano seguinte
Um desses projetos autorais: Antônios e Cândidas tem sonhos de sorte que vem
sendo realizado desde a década de 1990 nas rodovias, Transamazônica e Belém-Brasília,
documenta as histórias dos homens e mulheres que a partir da década de 1970 iniciaram um
processo de migração e ocupação da Amazônia, estimulados por perspectivas de
desenvolvimento e integração que o governo ditatorial de Médici proclamava.
Sampaio nos leva a uma reflexão através das imagens mostrando esvaziada a ideia de
classificação das comunidades quilombolas como reduto de negros fugidos, passamos a ver
esses personagens como o que de fato são: pessoas com suas vidas e características próprias
de identidades diversas e complexas formatadas dentro de uma comunidade isolada e de
passado histórico e memórias compartilhasdas. Para Sampaio o que interessa é o que cada
pessoa tem a dizer de sua história como individuo ou como comunidade tornando o trabalho
fotográfico desta artista expressivo de um determinado habitus ao mesmo tempo que descreve
histórias e contextos do indivíduo, nas suas andanças Paula Sampaio parece dar novo
significado a memória e a identidade das duas diferentes comunidades aqui tratadas
(moradores da transamazônica e quilombolas), e ainda criar uma memória visual através da
fotografia, constituindo novos universos de histórias e realidades.
Fonte: http://paulasampaio.com.br/projetos/refugio/
Utilizando o fotojornalismo para criar uma linguagem poética que informa: o outro
existe e pode narrar suas comunidades, suas histórias, mas principalmente criando uma
imagem que funciona como instrumento de subversão de discursos minorizantes e
excludentes, desconstruindo as bases do discurso único – o poder da imagem – não somente
para si ou para indivíduos fotografados, mas para qualquer um que entre em contato com estas
imagens veiculadas pela mídia.
Formada por uma paisagem diferenciada, onde a natureza e a ação humana se fazem
desmedidas – a fotografia das últimas décadas no Pará é permeada por uma identidade
particular da produção local contemporânea. É nesse sentido que se compreende apropriado
falar sobre uma moderna tradição amazônica, discutida por Fábio Castro em seu livro “Entre
o Mito e a Fronteira” (2011), dotada de um sentir específico que influencia até hoje a
produção fotográfica local. Nas décadas finais do século XX muitos outros fotógrafos foram,
retornaram e continuam indo e vindo à procura de uma visibilidade e de uma visualidade
amazônica conectora desse processo de construção da representação do lugar, sem considerar
esse lugar de forma estereotipada e nem dicotômica: natureza x urbanidade. A partir desse
olhar, compreendemos o discurso sobre as especificidades amazônicas e a sua representação
não estereotipada pela fotógrafa, em contraposição à imagem amplamente aceita e bem quista
pela mídia, que trata a Amazônia como exótica ou selvagem lugar sobre o qual se fala, mas
que não fala de si.
REFERÊNCIAS
ARBUS, Diane; ISRAEL, Marvin. an Aperture Monograph. New York: Aperture, 1997.
CASTRO, Fabrio Fonseca de. Entre o Mito e a Fronteira: estudo sobre a figuração da Amazônia na
produção artística contemporânea de Belém. Belém: Edição do Autos, 2011.
DUBOIS, Philippe. O Ato Fotográfico e outros ensaios. 5. ed. São Paulo: Papirus, 2001.
FABRIS, Annateresa. Identidades Virtuais: uma leitura do retrato fotográfico. Belo Horizonte:
UFMG, 2004.
FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. São
Paulo: Hucitec, 1985.
KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 1999.
MOKARZEL, Mariza (Coord.); LIMA, Janice; MOURA, Simone. Rios de Terras e Aguas: Navegar
é Preciso. Belém: UNAMA, 2009.
PAIM, Claudia. Táticas de artistas na América Latina: coletivos, iniciativas coletivas e espaços
autogestionados. Porto Alegre: Panorama Crítico, 2012.
Resumo
Este trabalho discorre sobre as oficinas de cerâmica como atividade de Educação não formal,
realizadas com membros da Associação de Familiares, Amigos e Usuários do Serviço de Saúde
Mental do Município de Blumenau, a ENLOUCRESCER. Trata-se do projeto de extensão
universitária “Incubação de Empreendimentos Econômicos Solidários no Segmento da Saúde Mental
nos Municípios de Blumenau e Região”. Desenvolvido pela Incubadora Tecnológica de Cooperativas
Populares – ITCP/FURB (com recursos dos Editais PROPEX 2017/PROEXT 2015 / Ações
Integradas) em parceria com o curso de Artes Visuais da Universidade Regional de Blumenau
(FURB). O objetivo principal das oficinas é o ensinar a arte do fogo (cerâmica) por meio da Educação
não formal, proporcionar saúde e bem estar aos usuários através da prática de atividades artísticas
ecologicamente sustentáveis e promover geração de renda seguindo os princípios da Economia
Solidária. Como destaque deste trabalho, temos a incorporação do mamífero Capivara (Hydrochoerus
hydrochaeris) nas oficinas de cerâmica; uma forma de discutir a questão social e ambiental
relacionadas a animal típico da fauna blumenauense. Assim, com este trabalho, busca-se uma reflexão
1
Acadêmica do curso de Artes Visuais da Universidade Regional de Blumenau – FURB. Bolsista do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID. Extensionista voluntária no projeto Extensão Incubação
de Empreendimentos Econômicos Solidários no segmento da cadeia produtiva do artesanato no município de
Blumenau e região – ITCP/FURB. E-mail: kalinkaccaetano@gmail.com
2
Acadêmico de Psicologia da Fundação Universidade Regional de Blumenau e acadêmico de Ciência Política da
Universidade de Buenos Aires. Servidor da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares – ITCP/FURB.
Aluno visitante da Universidade de Harvard. Extensionista voluntário no projeto Extensão Incubação de
Empreendimentos Econômicos Solidários no segmento da cadeia produtiva do artesanato no município de
Blumenau e região – ITCP/FURB. E-mail: and10.dias@gmail.com
3
Professora do Departamento de Artes da Universidade Regional de Blumenau – FURB. Membro da Incubadora
Tecnológica de Cooperativas Populares – ITCP/FURB. Atua com pesquisa e extensão na área de cultura,
artesanato e artefato indígena (Fontes Financiadoras PROEXT, PROPEX/FURB e FUMDES).Coordenadora do
projeto de Extensão Incubação de Empreendimentos Econômicos Solidários no segmento da cadeia produtiva do
artesanato no município de Blumenau e região. E projeto de pesquisaExtração, processamento e uso de fibras
naturais na terra indígena Ibirama-La-Klãnõ E-mail: luc_sanches@hotmail.com
4
Acadêmico do curso de Artes Visuais da Universidade Regional de Blumenau – FURB. Bolsista do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID. Integrante do Grupo de Pesquisa em Formação de
Professores e Práticas Educativas. Extensionista voluntário no projeto Extensão Incubação de Empreendimentos
Econômicos Solidários no segmento da cadeia produtiva do artesanato no município de Blumenau e região –
ITCP/FURB. E-mail: pedro.gottardisc@gmail.com.
acerca da relação no campo da Psicologia com o intuito de analisar as relações entre os elementos
culturais presentes no ambiente e o sujeito, de forma que seja possível compreender o impacto destas
relações em seu cotidiano e em suas expressões artísticas.
Introdução
Este texto relata uma experiência sobre a cerâmica como atividade de Educação não
formal realizada com membros da Associação de Familiares, Amigos e Usuários do Serviço
de Saúde Mental de Blumenau, a ENLOUCRESCER (figura 01). Trata-se do projeto de
extensão universitária Incubação de Empreendimentos Econômicos Solidários no Segmento
da Saúde Mental nos Municípios de Blumenau e Região. Este projeto é desenvolvido pela
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Regional de Blumenau –
ITCP/FURB. Com recursos dos Editais PROPEX 17/PROEXT 2015 / Ações Integradas, em
parceria com o curso de Artes Visuais da FURB.
Figura 01: Associação ENLOUCRESCER na abertura de uma exposição de trabalhos na Fundação Cultural de
Blumenau.
Fonte: Os autores.
promover a geração de renda (que acontece através da venda das cerâmicas em feiras e
eventos) seguindo os princípios da Economia Solidária.
Com este texto busca-se uma reflexão acerca da relação no campo da Psicologia com o
intuito de analisar as relações entre os elementos culturais presentes no ambiente e o sujeito,
de forma que seja possível compreender o impacto destas relações em seu cotidiano e em suas
expressões artísticas.
A arte é desde o principio da história um dos meios pelo qual o ser humano se
expressa. Esta condição da arte como meio de expressão se mantém como uma constante no
decorrer da história. Novas possibilidades de técnicas e materiais vão se somando para a
poética das artes visuais. Sejam estas manifestações individuais ou coletivas, profissionais ou
amadoras.
Pelos anos 1987, Fischer escreve que a sociedade, dividida em níveis e grupos sociais,
procura colocar a arte para representar e servir aos propósitos de cada grupo em particular
como uma voz coletiva. No que diz respeito às oficinas de cerâmica, realizadas com membros
da ENLOUCRESCER, a questão central é a promoção da saúde através da inclusão social,
atividade que só se torna possível através da educação não formal. Neste processo, o trabalho
é desenvolvido por professores e acadêmicos bolsistas que atuam com processos avaliativos,
registrados em relatórios. Estes não conferem nota e não objetivam passar de um nível para
outro, mas sim de fazer da arte um meio para a promoção do bem estar social de pessoas em
situação de sofrimento psíquico.
Ana Mae Barbosa destaca que:
Tudo isto vem confirmando que Arte não é apenas uma mercadoria como querem os
capitalistas, nem quadro para pendurar na parede, como dizem com menosprezo os
preconceituosos que acham que Arte é um luxo sem o qual um país endividado
como o nosso pode passar. É através das Artes, através do estimulo à criação, que
ONGs com muito menos dinheiro do que o Ministério da Educação vêm gastando
em Educação, conseguem educar melhor e combater muito mais eficientemente a
exclusão e a violência. (BARBOSA, 2005, p. 293).
Não há como passar pela Avenida Beira Rio, uma das ruas principais próxima ao
centro da cidade, sem se deparar com ao menos uma capivara nas margens do rio.
sustentáveis para se produzir arte. Por meio da arte, a cerâmica cumpre papel vital na
construção de um modo de fazer arte que sirva como forma de resistência ao modelo
capitalista, que na maioria de suas produções, implica na degradação do meio ambiente.
A partir desta experiência, pode se confirmar a hipótese que foi levantada ao iniciar o
trabalho com cerâmica em 2011: de que a arte possui importantíssimo papel na construção de
uma consciência sustentável, pois, como visto até aqui, estimula a criatividade e a inclusão,
valores fundamentais para uma sociedade mais justa. E ainda, busca desenvolver com os
portadores de sofrimento psíquico atividades de ensino não formal através das quais torna-se
possível ampliar e sistematizar conhecimentos.
Esta ideia, aliada ao objetivo de produzir saberes que possam ser aplicados na vida
cotidiana e possivelmente profissional são fundamentais para a busca por uma melhor
qualidade de vida. São fatores que fazem com que o ensino da Arte se estenda de forma não
formal em projetos inovadores de tecnologia social. (BORK; SANCHES, 2015)
Para a compreensão do fenômeno aqui analisado, utilizaremos como base a
perspectiva da Psicologia Histórico-cultural, tendo como referência a obra do psicólogo russo
Lev Semenovitch Vygotsky. Vygotsky “buscou a Psicologia para compreender a criatividade
artística e sua permanência na história da humanidade, apesar das poderosas determinações
sociais bloqueadoras” (SAWAIA, B. B.).
O ser humano, de acordo com a Psicologia Sócio-Histórica, é constituído no ambiente
social em que habita, de forma que seu desenvolvimento ocorre através da relação dialética
entre o sujeito e a sociedade. Dessa forma, os conceitos construídos são comuns aos sujeitos
inseridos em uma mesma sociedade, uma vez que consideramos os processos dialéticos como
“[...] interpsíquicos, isto é, são partilhados entre pessoas” (LURIA, 1988, p. 27).
Assim, desde criança nos apropriamos de uma reserva de significados constituídos
socialmente e que aprendemos com as outras crianças e com os adultos; este acúmulo é
passado de forma que as respostas mais básicas, geralmente relacionadas aos processos
biológicos sejam substituídos por processos psicológicos instrumentais mais complexos
transmitidos pelos adultos (Idem, Ibidem). Esses significados são transmitidos pela
linguagem, do qual depende a constituição do pensamento. Assim, a constituição de um
significado para uma palavra é um fenômeno tanto verbal como intelectual que é construído
socialmente. (VYGOTSKY, 1996).
Dessa forma, a incorporação do mamífero Hydrochoerus hydrochaeri - popularmente
conhecido como capivara (figuras 01 e 04) - na cultura dos habitantes da região do Vale do
Itajaí acontece no sentido de uma construção que parte de um contexto geográfico. Deriva da
ocupação compartilhada da mesma região por parte do humano e da capivara. Relação, na
qual a capivara é significada pelo humano como constituinte da própria identidade da região e
dos que nela habitam.
Figura 03: Processo de modelagem das capivaras em argila I
Fonte: Os autores.
Fonte: Os autores.
Fonte: Os autores.
fixas, o que permite os múltiplos "jogos de sentido" que caracterizam a fala. [...]
Falando do "jogo simbólico" (jogo do faz-de-conta), ele mostra, com rara
habilidade, como o signo linguístico (a palavra) se organiza [...]. (PINO, 1993, p.
20-21)
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BORK, Mari Ellen Tamara; SANCHES Lucineia. Fontes de criatividade para entender e
produzir arte: Uma experiência do projeto de extensão universitária ITCP/FURB e curso de
Artes Visuais com portadores de sofrimento psíquico. In, Anais do Congresso Nacional da
Federação de Arte/Educadores: Congresso Internacional da Federação dos de
Arte/Educadores, 5 a 9 de novembro de 2015 / José Maximiano Arruda Ximenes de Lima;
Maria de Lourdes Macena de Souza (Organizadores). – Fortaleza : – IFCE, 2015.
GOHN, Maria da Glória. Et al. Educação não formal: campos de atuação (Pedagogia de A a
Z; Vol. 11)/Ligia A. Vercelli (org.). Jundiaí, Paco Editorial; 2013.
GOHN, Maria da Glória. Educação não formal e o educador social (livro eletrônico): a
atuação no desenvolvimento de projetos sociais. 1. ed. São Paulo. Cortez, 2013.
OSTERMANN, Valther. Coisa (só) nossa. Blumenau, 29 de mai. 2013. Disponível em:
http://wp.clicrbs.com.br/valtherostermann/2013/05/29/coisa-so-
nossa/?topo=52,2,18,,159,e159 Acesso em: 25 de jul. 2017.
SAWAIA, Bader Burihan. Psicologia e desigualdade social: uma reflexão sobre liberdade e
transformação social. Psicologia & Sociedade, v. 21, n. 3, p. 364-372, 2009.
Resumo
Infelizmente a violência tange hoje diversos aspectos de nossas vidas, e não seria diferente no universo
das artes visuais. A presente pesquisa analisa desde do primeiro contato do pesquisador com a obra
artística até o processo de produção da mesma. Berna Reale, artista visual paraense aqui pesquisada, se
divide entre seus afazeres como perita criminal e sua carreira artística. O corpo é a ferramenta principal
em suas performances que se apresentam como ato gerador de reflexão a respeito da violência
e demonstra que ela pode ir muito além daquela somente vista sobre a pele. Com o uso metodológico
da crítica genética pautada no conceito de Cecília Salles, este trabalho visa ilustrar através da análise de
documentos e falas da artista como ocorre seu processo criativo e reflexivo e auxilia na discussão entre
criação e criador, problematizando pela perspectiva pós-moderna de Michel Foucault a respeito do corpo
e da violência. Esta pesquisa perpassa pelas produções iniciais da artista apresentando assim, sua relação
com a violência e mostrando brevemente outros artistas paraenses que também tem seus trabalhos
voltados para a mesmo conjunto de questões fazendo deste modo uma ponte entre a tensão e
problemática da violência na atualidade com o contexto social e político contemporâneo da cidade de
Belém.
Palavras-chave: Arte. Performance. Belém.
Introdução
O primeiro contato que tive com o trabalho e com a artista Berna Reale foi no ano de
2012, por meio da mediação cultural no Salão Arte Pará que é realizado em Belém anualmente,
sempre no mês de outubro para coincidir com os festejos do Círio de Nazaré, época em que a
cidade recebe milhões de turistas, vindos de várias cidades brasileiras e de diferentes
municípios do Pará. E foi durante esse período que convidaram a artista para participar do
Salão, tendo uma sala exclusiva para a exibição de seu vídeo Palomo.
Partindo deste primeiro contato, comecei a produzir no ano de 2013, uma
investigação sobre as poéticas da artista paraense Berna Reale. O título da primeira pesquisa
foi Berna Reale: Corpo e Violência, desenvolvida para a bolsa do projeto de iniciação
científica dentro do Núcleo de Comunicação, Linguagem e Cultura (UNAMA). Sob
1
Bacharel e Licenciado em Artes Visuais e Tecnologia da Imagem. Tecnólogo em Design Gráfico pela
Faculdades Integradas Ipiranga-PA. E-mail: ademilton18jr@gmail.com
orientação da Profª Drª Marisa Mokarzel, pesquisei o processo de criação de Berna Reale no
decorrer de sua trajetória. Diante deste contexto, passei a analisar e coletar dados sobre os
trabalhos de Berna Reale, sempre com um olhar para o seu processo de produção.
O arcabouço que tinha desenvolvido para estudar o trabalho de Berna Reale serviu de
matriz e foi ampliado visando a pesquisa de conclusão de curso. Desta forma, a partir das
pesquisas realizadas, e dos caminhos perpassados, procurei compreender de forma mais
detalhada como se construiu o processo de criação dos trabalhos de Berna Reale.
A princípio me detive na análise do processo de criação das obras desenvolvidas com
a temática da violência. O intuito era desenvolver uma pesquisa que demostrasse de forma
mais clara o processo criativo da artista e os dispositivos usados por ela para construção de
suas obras; visava-se entender as conexões artísticas com o contexto social contemporâneo.
Para a construção desta pesquisa no que tange ao caráter metodológico deste trabalho,
Cecília Salles auxilia com uma discussão em que o processo criador, é observado a partir de
documentos e falas da artista. Segundo Salles “a crítica genética utiliza-se do percurso da
criação para desmontá- lo, em seguida, colocá-lo em ação novamente” (SALLES, 2000.p.31-
32). Referindo- se a relação entre o processo educativo e os estudos concernentes à crítica
genética, Cecília Salles considera que:
Para dar suporte a esta pesquisa iniciei a coleta de dados no começo de 2012, quando
comecei a acompanhar a artista nas redes sociais, recolhendo entrevistas na internet,
catalogando notícias de sites, jornal e revistas, além de usar caderno de anotações para
registro de ideias que surgiam durante a pesquisa. Tive o cuidado de registrar passo a passo
todos os caminhos escolhidos para o desenvolvimento deste trabalho.
Desenvolvimento
Neta de um marceneiro que tocava violino, talvez dele tenha herdado o poético
do mundo, a percepção aguçada do entorno: terra, pessoas. O barro foi a
matéria primeira que moldou e transformou em objeto, inserindo- o no universo
artístico. Quando afirma: “o que me encantou na argila foi […] sua capacidade
de adaptar-se aos sonhos”, pode-se deduzir que ali encontrara o ponto inicial
de seu trabalho, que a conduziria a caminhos diversos.
seja tanto física/corporal quanto a psicológica de natureza silenciosa. A arte para Reale
funciona como um instrumento de ataque à impunidade.
A artista evidencia suas reflexões sobre o corpo e a violência em meados de 2006,
durante a 25ª Edição do Arte Pará, com a intervenção Cerne realizada no Mercado de Carne de
Belém, localizado no complexo do Ver-O-Peso. Pouco tempo depois Reale causa desconforto
quando expõe na capela desativada do Museu Histórico do Pará, o resultado de sua pesquisa
realizada no Instituto Médico Legal – isso antes de se tornar Perita Criminal, em 2010. Segundo
Mokarzel (2015),
A artista já havia exposto antes no Museu do Estado do Pará, onde fez uma
intervenção na fachada do prédio, denominando de Presença-Ausência. Após consultas aos
arquivos do Departamento do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Estado do Pará -
DPHAC que continham fotografias da restauração do museu, usou as imagens e por
intermédio de plotagens, as reproduziu como se fossem as entranhas do prédio. Berna Reale
trouxe para a fachada o que comumente não se costuma ver, que são as estruturas que estão
por baixo da tinta e se encontram ocultas aos nossos olhos e só surgem quando a edificação
deixa emergir o seu estado de quase abandono. Nesta intervenção Reale faz referência à
violência dirigida ao patrimônio arquitetônico que muitas vezes encontra-se abandonado ou
em situação de descaso.
Figura 1 – Registro fotográfico da performance A Sangue Frio, 2010.
Seu convívio diário com cenas de crimes trouxe à tona outro tipo de violência que
teve impacto profundo no desenvolvimento de suas obras, tal como embasa suas produções.
“Com a perícia, fui fortalecendo a pesquisa sobre os símbolos da violência” diz a artista em
entrevista ao Jornal Diário do Pará3, pouco antes de sua performance A sangue frio, realizada
no entorno Palácio Lauro Sodré, na Praça D.
Pedro II, Cidade Velha, que demonstra de forma evidente a crítica às instituições, tanto
municipal como estadual, como observa Gil Vieira Costa.
Durante a apresentação, que deve durar cerca de duas horas, Berna mostra ao
espectador um cenário angustiante: já não bastasse estar usando um vestido
confeccionado especialmente para a performance com panos que as famílias
ou comunidades costumam cobrir os corpos estirados sobre o chão, ela carrega
ainda um colar de quatro metros de comprimento feito de cápsulas de projéteis
calibres 32, 38 e 40, comumente encontrados nos cadáveres. A cada 12
minutos, Berna dará uma volta no colar, no próprio pescoço, para simbolizar o
intervalo entre cada assassinato, segundo as estatísticas brasileiras.
2
Disponível em: < http://www.orm.com.br/plantao/imprimir.asp?id_noticia=503497 > Acesso em jun. de
2017
3
Disponível em: < http://www.diarioonline.com.br/noticia-122273-artista-plastica-discute-a-banalizacao.html >
Acesso em jun. de 2017
museus. Desta maneira, vemos uma conexão entre política e arte, e o posicionamento crítico
da artista.
Depois de trabalhar com o barro Berna passou a se dedicar as performances, que
muitas vezes exigiam muito de seu corpo, caso da obra intitulada Limite Zero. Durante a
performance, Berna ficou pendurada em um mastro de metal, sem roupas, presa somente pelas
mãos e pelos pés, e foi conduzida por vários bairros da cidade de Belém, com auxílio de dois
homens vestidos de carregadores de carne, que com ela, entravam e saiam de um caminhão
frigorifico. A pesquisadora Christine Greiner (2005), criadora da expressão “corpo artista”,
afirma que a potência da performance está na maneira em como ela auxilia a humanidade a se
alimentar de conhecimentos com base na desestabilização de antigas certezas.
Em outra performance, Berna Reale foi contemplada com o prêmio principal do Arte
Pará 2009, concedido por este consolidado salão de arte contemporânea que ocorre
anualmente em Belém. Quando todos calam foi uma performance voltada para fotografia,
realizada em um dos mais famosos pontos turísticos da cidade: o Ver-o-Peso, tendo
repercussão nacional.
A ação performática foi apresentada como uma cerimônia ritualística que lembra os
4
Disponível em: < http://galeriamillan.com.br/pt-BR/ver-obra/serie-quando-todos-calam > Acesso em dez.
2014.
primórdios das performances e Happening, de meados dos anos 1960. Vê-se um corpo
estendido, uma oferenda, como uma espécie de maculação purificadora ou pacificadora, uma
tragédia física, semelhante ao sacrifício da princesa etíope Andrômeda5, porém sem
perspectiva de ser salva pelo herói Perseu, pois ela mesma é a heroína que se sacrifica em
pró de uma causa.
Nesta performance a artista traz o drama ritualístico da violência ou da oferenda que
nos acompanha desde as tragédias gregas. Nos anos 2000 este ritual de sacrifício e violência
encontra-se banalizado, esteja ele presente no corpo ou na alma. Um dos objetivos do
trabalho da artista que trabalha o corpo como matéria para a sua produção: é combater o que
se tornou um ritual comum e íntimo da sociedade, todavia parece ser um desafio de titã.
Berna Reale afirma: “Não sei se a arte pode muito, só sei que é o único instrumento que tenho
para protestar contra o que eu penso ser injusto.” Em entrevista à revista Dasartes em
novembro de 20036. E para alcançar êxito neste desafio o corpo funciona como meio do
artista se comunicar com o público, sendo assim o corpo se firma como expressão que pode
decorrer de outras manifestações artísticas. De acordo com Douglas Negrisolli.
5
A princesa Andrômeda Segundo a mitologia grega era filha de Cefeu rei dos etíopes, que fora
aconselhado por um oráculo, a sacrificar a filha para apaziguar as divindades marinhas. BULFINCH,
Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia. 26. ed. Rio de janeiro, 2012. p. 146.
6
Este depoimento consta da entrevista concedida a revista Dasartes, ano 5, nº 30, out/nov de 2003.
museu em Nova York até percorrer a muralha da China para se despedir de seu amor, o artista
Ulay que também foi seu parceiro de trabalho, durante muitos anos.
Em entrevista à revista Vogue (03 de maio de 2015), Reale desabafa:
Helena Freddi em seu artigo Violência e Arte: algumas reflexões7, evidencia que: “A
violência enquanto ato de coerção, estende-se a todas as instâncias humanas. Sua aparição na
arte é, portanto, resultante de sua própria relação com a existência humana e da compreensão
que temos dela." Dessa forma, não se trata apenas de um tema contemporâneo, e sim de um
ato de coerção constante em todas as instâncias humanas e consequentemente na história da
arte. A violência no campo artístico pode ser exemplificado em inúmeros períodos, a começar
pelas pinturas rupestres datadas de 15000 – 10000 a.C., quando eram representados rituais
de caça e de guerra. Com a civilização grega, a violência encontrada na natureza e nos
homens foi representada na forma de artefatos que traziam imagens dos imponentes e
vingativos deuses mitológicos pagãos.
Durante o período Romano a arte se relacionava com a violência sob forma de marcos
de conquistas, realizadas através da construção de estatuas e monumentos que simbolizavam
as vitórias do seu exército. No Cristianismo, por sua vez, as igrejas utilizavam a violência em
obras de arte para passar suas mensagens de respeito, controle e poder sobre o povo. E assim,
no decorrer dos séculos, a violência transcorre causando fascínio ou aversão na arte.
Benjamin (1993) observa que as obras de arte do Dadaísmo, movimento do início do século
XX, causaram um estranhamento devido à transgressão voluntária que, em nome da arte,
provocavam no observador sobre uso da violência e da moral.
Desta forma, vemos como a violência no contexto artístico vai da representação ao
7
São Paulo: Revista Espaço Belas Artes. Disponível em: <http://www.belasartes.br/espaco/capa
/capa8.html> Acesso em: 10 dez. 2013).
é o artista, na medida em que retrata seus gestos. De uma certa forma, seu modo
de ação deixa registros ou inscreve-se nestes locais, assim como acontece em
suas caminhadas. Cada artista escolhe seus instrumentos de trabalho e,
principalmente, o modo como estes podem ser acessados. [...] Podemos assim,
compreender o modo como o artista relaciona-se com esse espaço como uma
forma de obtenção de conhecimento sobre a obra em construção, sobre aquilo
que o artista quer e sobre ele mesmo, pois nesse sentido o espaço pode ser visto
como uma exteriorização da subjetividade. (SALLES, 2000, p. 54).
Em pesquisa publicada em abril de 2017, Belém foi eleita a 11ª cidade mais violenta
do mundo contando cerca de 67,41homicídios/100 mil habitantes, conclusão de um estudo
feito pela organização não governamental (ONG) mexicana Conselho Cidadão para a
Segurança Pública e Justiça Penal.
Não é à toa que a arte produzida em Belém reproduza com frequência a temática da
violência, diante desse contexto, encontramos, além da Berna Reale, outros artistas paraenses
que já trabalharam com essa temática, caso do pintor Flávio Araújo, que dialoga em suas obras
Head Pixel I, II e III com a banalidade da violência presente de forma maciça nos meios de
comunicação. O fotógrafo Alberto Bitar, por sua vez, expõe em sua série de fotografias Corte
Seco a realidade subversiva das baixadas da cidade de Belém. O mesmo ocorre com Wagner
8
Feitas com materiais perecíveis, como lixo, papel higiênico, detritos humanos e carne putrefata.
Almeida, que em sua série fotográfica Livrai-nos de todo o mal, retrata o lado devoto de
criminosos que gravam em seu corpo tatuagens de figuras religiosas. São essas figuras que
Almeida destaca quando fotografa os cadáveres de vítimas da violência urbana, assim como
Éder Oliveira que tem um trabalho de pintura voltado ao diálogo da identidade, seus retratos
têm como foco o homem amazônico destatacados do caderno policial dos jornais impressos
da cidade de Belém, onde são apontados como criminosos apreendidos pela polícia, e expostos
como trófeus antes mesmo de qualquer julgamento. Portanto, este tema acaba sendo recorrente
na temática artística paraense. Precisamos reconhecer os objetos estéticos da violência na sua
relação com o processo geral de simbolização da realidade social, já que participam, de
maneira vital e constitutiva, desta mesma realidade, Assim afirma Schollhammer, 2007.
Como foi dito, o corpo foi eleito por Berna Reale como instrumento de manifestação
artística, para representar a violência. Para Foucault (1999), o corpo está sempre sujeito a
interpretações, o entendimento que temos de corpo sempre dependerá de como o mesmo é
visto. Esta visão não dependerá única e exclusivamente do sujeito que o visualiza, e sim de
toda uma complexa estrutura na qual o olhar estará inserindo em inúmeras outras variáveis,
9
e assim se relacionará com o poder. No artigo de Sérgio Murilo Rodrigues em que se debate
“A relação entre o corpo e o poder em Michel Foucault”, o autor afirma que:
Observa-se que o corpo no mundo contemporâneo muitas vezes encontra-se por trás
do culto à beleza e à saúde que junto traz o interesse de caráter econômico. Para Katia Canton
(2009) nas obras contemporâneas, o corpo assume os papéis concomitantes de sujeito e
objeto, que aparecem mesclados de forma a simbolizar a carne e a crítica, misturadas. O
corpo é banalizado, violentado, explorado de todas as maneiras.
9
Filósofo, Mestre em Filosofia pela UFMG, Doutor pela Universidade Complutense de Madrid, professor
da PUC Minas.
O corpo como elemento artístico é uma instância que compreende toda a presença do
ser humano na terra, Cristine Greiner, em seu livro O corpo - Pistas para estudos
indisciplinares (2008), afirma que o corpo volta a ser ouvido após séculos de esquecimento.
Berna, e outros performers contemporâneos, ao se valer do corpo como ferramenta artística
retoma então um diálogo quase apagado, reascendendo uma discussão pertinente de
experiências aparentemente individuais, mas que na verdade são de um coletivo. Thais Raquel
da Silva Paz (2011) afirma que neste sentido que o corpo foi e continua sendo apresentado por
meio de símbolos e vestígios, nas mais diversificadas linguagens. Falar do corpo é falar da
própria história da arte, porque ela sempre tratou do corpo dos que a constituíram. (PAZ, 2011,
p. 3).
Com a discussão sobre corpo e violência pôde-se perceber como Berna Reale se detém
em símbolos específicos para representar a violência em sua obra através do seu próprio corpo
e este acaba sendo uma peça fundamental para questionar a violência presente, em especial,
na sociedade brasileira. Banalidade, sofrimento e indignação, são alguns dos sentimentos
despertados em suas obras, sentimentos estes que nos levam a uma reflexão profunda de como
se constitui a sociedade contemporânea.
Considerações finais
A pesquisa de Berna Reale traz infinitas possibilidades de estudos, tendo início pelo
campo artístico e se expandindo pelos campos sociais e antropológicos. Esta
interdisciplinaridade possibilita pontos de vista diversificados sobre um mesmo assunto, e
esta relação entre as ciências sociais e arte torna possível a leitura de arranjos que ocorrem
entre as produções estéticas e seus contextos culturais e sociais nas quais estão inseridas.
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: Obras
Completas. São Paulo: Brasiliense, 1993.
BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia. 26. ed. Rio de janeiro, 2012. p. 146.
FREDDI, Helena. Violência e Arte: algumas reflexões. São Paulo: Revista Espaço Belas
Artes. Disponível em: <http://www.belasartes.br/espaco/capa/capa8.html> Acesso em: 10
dez. 2013.
GIUSTI, Dominik. Paz sem voz não é paz. Diário do Pará. Belém, 01 de dezembro de 2010.
(Disponível em: http://www.diarioonline.com.br/noticia-122273-artista- plastica-discute-
abanalizacao.html Acesso em 03 de janeiro de 2011. Acesso em: 26 jul. 2012).
GREINER, Christine. O corpo: pistas para estudos indisciplinares. São Paulo: Annablume,
2005.
PAZ, DIEHL. Thais Raquel da Silva, Viviane. O corpo nas artes visuais: entrecruzamentos
na formação inicial em educação especial. Revista Digital Laboratório de Artes Visuais.
Cascavel, UFMS, 2011.
RUSH, Michael. Novas Mídias na Arte Contemporâneas. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
SALLES, Cecília Almeida. Crítica Genética: uma nova introdução. Fundamentos dos
estudos genéticos sobre o processo de criação artística. 2. ed. São Paulo: EDUC, 2000.
SCHOLLHAMMER, Karl Erik. Breve mapeamento das relações entre violência e cultura
no Brasil contemporâneo. In: DALCASTAGNÈ, Regina (org.). Ver e imaginar o outro:
alteridade, desigualdade, violência na literatura brasileira contemporânea. São Paulo:
Horizonte, 2008.
Resumo
O trabalho pretende elaborar reflexões acerca do lugar do estudo de performances tradicionais no
âmbito das artes cênicas, na perspectiva do entendimento de um Outro Teatro, que de acordo com
Ligiéro (2015) se refere a um tipo de teatro não eurocêntrico que funciona à parte das culturas
hegemônicas e que se apresenta de formas distintas em países da África, América Latina e Ásia, e que
em diversas maneiras são assimiladas por companhias ocidentais. O artigo utiliza como mote para a
reflexão a proposta de estudo de doutoramento, que vem sendo realizada junto ao programa de
Pós-Graduação em Artes Cênicas da Unirio, articuladas às reflexões elaboradas no exercício da prática
da pesquisa acadêmica e da prática docente, tendo em vista as estranhezas que a presença destes
estudos ainda causa à medida que a lógica de pensamento que ainda estrutura a academia segue uma
perspectiva eurocêntrica.
Palavras-chave: pesquisa, ensino, história do teatro
Introdução
As elaborações que constituem este trabalho giram em torno de reflexões acerca do
lugar do estudo de performances tradicionais no âmbito das artes cênicas na perspectiva do
entendimento de um Outro Teatro (LIGIÉRO: 2015), utilizando como disparador da
discussão, a proposta de estudo de doutoramento - que vem sendo realizada junto ao
programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Unirio - articulada à inquietude na docência
no ensino superior – na Licenciatura em Teatro do IFFluminense - mediante a estranheza que
a ideia destes outros teatros ainda geram.
Em sua tese titular, Ligiéro (2015) propõe pensar o teatro como um fenômeno que
pertence a toda a humanidade, e não apenas um legado ocidental a partir da Grécia, e que
1
Mestra e Doutoranda em Artes Cênicas pelo PPGAC – UNIRIO. Professora (EBTT) no curso de
Licenciatura em Teatro; Coordenadora dos projetos Processos Formativos de Docentes-Artistas na
Contemporaneidade: O ensino do Teatro para aplicação da lei 10.639/03 e Coletivo Artístico Saravá:
Processos formativos em performance para as relações étnico-raciais e diversidades - Instituto Federal
Fluminense, Campus Campos Centro. E-mail: alissan.ms@gmail.com.
2
Ligiéro (2011, p.107-108) propõe o conceito de motrizes culturais aplicado às práticas performativas de
origens africanas na diáspora americana em que “procura apontar para a existência não apenas de uma 'matriz
africana', mas sobretudo de 'motrizes' desenvolvidas por africanos e seus descendentes na diáspora, presentes nas
celebrações festivas e ritualísticas no continente americano independentemente dos limites territoriais e ou
linguísticos dos seus habitantes”.
hegemônicas nos currículos de todas as áreas de conhecimento desde a Educação Básica até a
Superior. A perspectiva eurocêntrica, evolucionista e linear de tempo que localiza diferentes
culturas não ocidentais como primitivas no eixo temporal da pré-história e dão a ideia de que
lá permaneceram congeladas, ainda é bastante presente na lógica estrutural do ensino em
diversos segmentos, pois aqueles que lá atuam, em sua grande parte, construíram-se a partir
deste pensamento e não percebem necessidades de mudanças, pois em grande parte aqueles
conhecimentos os contemplam. E reconstruir essas lógicas estruturantes requer vontade
política para colocar em tensão as linhas do pensamento abissal, de modo que possam
provocar abalos sísmicos nos quadros de manutenção das relações de poder e, para tal, é
necessário certo esforço atitudinal, procedimental e, sobretudo, epistemológico (SANTOS,
2010).
[…] proponho uma reflexão não apenas sobre o fato de negros, índios em
consequentemente, pobres terem o direito de acesso ao ensino público e gratuito,
mas sobretudo, poderem ser considerados como produtores de conhecimento e
sujeitos da ação histórica que construiu a nossa nação. Proponho que suas culturas
ancestrais sejam incorporadas no currículo acadêmico de escolas do primeiro e
segundo grau, bem como na agenda das universidades brasileiras de forma plena e
irrestrita, tanto como disciplinas no eixo curricular, como da pesquisa institucional.
(LIGIÉRO, 2011, p.271.)
A luta pela presença, visibilidade e articulação destes conhecimentos, bem como pela
garantia de diversas políticas públicas e direitos vêm sendo travadas ao longo da história,
entretanto é relativamente “recente” a conquista de muitos desses direitos. O que faz com que
a conquista esteja ainda atrelada à vigilância e cobrança de uma efetiva aplicação dos
mesmos. Nesse sentido, de um modo geral, as universidades não trilharam caminhos muito
diferentes. Não basta apenas anteder legislações sem reformular-se epistemologicamente
como espaço de construção de conhecimento, mas proporcionar efetivo espaço e condições
para que os sujeitos se reconheçam e produzam também a partir de si próprios.
Chamo a atenção para que essa polêmica (cotas) possa estar escamoteando uma
realidade mais complexa de segregação de uma história e a destruição de bancos de
conhecimentos milenares pela simples ignorância da sua existência. Na medida em
que o exercício da cidadania vislumbrado por essa política contempla o indivíduo
afrodescendente e os indígenas com acesso irrestrito às universidade, mas como, em
uma segunda travessia do atlântico, eles são obrigados a deixar seus pertences, suas
tradições, suas línguas e saberes do outro lado umbral da academia, percebo que
uma política de homogeneização pode muito bem ser uma forma de, em nome de
uma justificada justiça social, dar continuidade a uma destruição em massa de
culturas e conhecimentos negados pela ação sistemática de governos que têm
anulado as diferenças em nome de uma pretensa cidadania brasileira que
reconhecemos como sendo eurocêntrica.( LIGIÉRO, 2011, p.277).
Por isso, por mais que sejam interessantes e ricos estudos na seara das performances
afro-ameríndias há por diversas vezes no discurso de muitos dos pares, a solicitação dessa
“defesa” para que estas sejam merecedoras de estarem inseridas no âmbito do ensino e da
pesquisa em Arte. Essa tal defesa, na maioria das vezes, está baseada na capacidade do
pesquisador estar pronto a dissertar sobre a utilidade do seu estudo para o trabalho do ator, do
diretor e/ou para a construção de uma encenação teatral, por mais performática ou
performativa que ela seja. O que de antemão, precisamos refletir é que esse tipo de defesa,
que não prevê o entendimento da conjuntura cultural a qual a performance em questão está
inserida, mas sim baseada em comparações e serventias para o exercício das artes cênicas
pautadas pelo entendimento eurocêntrico, ao invés de certificar sua importância, reforça sua
submissão. E desta forma se deixa de enxergar as formas artísticas presentes na natureza
dessas performances quando estas não estão “à serviço” da cena teatral, sobretudo a cena
teatral ocidental.
Contudo, há tensões no próprio campo da performance que podem colaborar para nosso
entendimento em relação às tais estranhezas supramencionadas.
De acordo com Schechner (2003, p.28), para que determinado evento seja considerado
performance a chave deste processo está no comportamento restaurado. Um comportamento
nunca estaria sendo executado pela primeira vez, mas duplamente exercido. Uma
recombinação de pedaços de comportamento, como numa ilha de edição, que faz com que
aquele determinado comportamento não seja totalmente novo, nem totalmente original, mas
novo no sentido de que os rearranjamentos destes pedaços estão sendo restaurados em
infinitas possibilidades pelo indivíduo, a partir do coletivo que este integra. Desta forma, a
medida que parte do comportamento, o conceito de performance se torna amplo e engloba
diversos âmbitos como possibilidades de prática, estudo e análise para além das performances
vistas como puramente artísticas.
Performances ocorrem em oito tipos de situações, algumas vezes distintas, outras
vezes sobrepostas: 1. na vida diária, cozinhando, socializando-se, apenas vivendo. 2.
nas artes. 3. nos esportes e outros entretenimentos populares. 4. nos negócios. 5. na
tecnologia. 6. no sexo. 7. nos rituais – sagrados e seculares. 8. na brincadeira. Essa
lista não esgota as possibilidades. Se examinadas rigorosamente como categorias
teóricas, essas oito não são comensuráveis. A vida diária pode englobar todas as
outras 7 situações. As artes retiram seus conteúdos de todas as coisas e todos os
lugares. Ritual e brincadeira estão presentes não só como gêneros de performance,
mas em todas as outras situações como qualidades, inflexões ou ambiências. Eu listo
estas oito para indicar o largo território coberto pela performance. Alguns desses
itens – aqueles que ocorrem nos negócios, tecnologia e sexo – não são normalmente
analisados como os outros 5, que têm sido objeto das teorias da performance
artística. E o processo de criação de categorias de performance, tais como as 8
supra-referidas, resulta num tipo particular de pensamento, que está longe de ser
universal. (SCHECHNER, 2003, p. 30).
Na busca por redefinir o teatro que se faz hoje e explorar o conceito de teatro
performativo, Féral (2008) identifica a necessidade de investir-se primeiramente numa
incursão em direção à noção de performance, buscando explicitar a performance concebida
como forma artística – a performance art – e a performance, em suas palavras, concebida
como ferramenta teórica do fenômeno teatral, atribuindo a Schechner a popularização deste
conceito. Em sua análise, valorosa para o entendimento das singularidades destes dois
principais eixos da performance, a ampliação do conceito de performance - simbolizada na
figura de Schechner - se deu dentro de um contexto político da década de 80 nos Estados
Unidos, quando o “fim” de um modelo de teatro específico era defendido e a ampliação do
conceito de performance para a vida cotidiana se fazia necessária a aquele discurso.
Entretanto, aponta que ao mesmo tempo que a definição do que pode recobrir a noção de
performance vai se afinando, se torna cada vez mais abrangente, incluindo todos os domínios
da cultura para além do domínio artístico, e questiona: Uma inclusão tão vasta suscita, sem
dúvida um problema importante. Por tanto querer abarcar, não nos arriscamos a diluir a
noção de sua eficácia teórica? Esta é a primeira questão que vem ser colocada (FÉRAL,
2002, p.199).
Embora não se pretenda contestar o valor de suas análises e aparentes objeções,
tenta-se perceber nas entrelinhas deste discurso, que ao questionar a eficácia desta noção de
performance, a produção estética e elaboração artística que podem estar contidas nestas são
sutilmente esvaziadas pelas negações realizadas, e ainda destacadas pelo uso de travessões,
em contraposição a termos como “puramente”: […] desta vez sob uma perspectiva
puramente artística – e não sociológica e antropológica - […]. ). E, mais uma vez, quando
trata da performance arte enfatiza, agora no seu reverso, o antropológico não contido no
artístico: Sua visão trata da performance no seu sentido puramente artístico – e não
antropológico (FÉRAL, 2008, p.199).
Mesmo que esteja declarado o desejo pela não priorização de um eixo em relação a
outro, a performance que não estaria esvaziada esteticamente - porque é “essencialmente” - é
aquela que vigora nos departamentos - ao qual inclui-se no discurso pelo termo “nossos” - das
artes do espetáculo: Ele (Hyussen) se coloca numa visão essencialmente estética que continua
a dominar na maior parte de nossos departamentos das artes do espetáculo. A performance,
no seu sentido, é a performance arte, uma arte que abalou nossa visão de arte nas décadas de
70 e 80 (FÉRAL, 2008, p.199).
Compreensível, à medida que, segundo o próprio Schechner (2003, p.30): Até mesmo
noções de história e cultura são culturalmente específicas, jamais universais. É impossível
tomar um objeto para estudo, sem partir da própria origem cultural do observador. Afinal, é
isto que também se busca salientar aqui: a tentativa de tecer compreensões que corroborem
para o entendimento da existência de elaborações estéticas também na seara das performances
culturais, mesmo que não estejam dentro da noção de “espetáculo” pautada por uma visão
específica. Embora que se difira nos entendimentos sobre pureza e a crença do não
esvaziamento em nenhum dos dois principais eixos da performance em seus possíveis
alargamentos. Até mesmo porque a performance está localizada no entretempo e não no
estático.
[…] - uma herdada da vanguarda e da arte da performance (a de Huyssen e de tudo
que poderei chamar, para ser breve, de tradição europeia dos países latinos), a outra
herdada de uma visão antropológica e intercultural com a qual Schechner contribui
fortemente para sua difusão – os dois grandes eixos a partir dos quais podemos
pensar o teatro – e, mais amplamente, as artes – hoje. (FÉRAL, 2008, p. 200).
É interessante perceber que Féral (2008) apresenta uma delimitação geográfica para os
campos epistemológicos que se estabelecem entre as duas noções de performance
apresentadas, em que é localizada mais uma vez na noção de performance arte como
“puramente” estética presente em seu próprio campo de atuação (escolas de formação artística
no Canadá), atrelada à ideia de “preservação”: em nossas universidades [...] nas escolas de
formação que buscam preservar uma visão puramente estética da arte ( FÉRAL, 2008, p.
200).
Estas demarcações, cartografias epistemológicas (SANTOS, 2010, p.38), que
preservam as ditas purezas, se desenvolvem de certa forma como afirmação de linhas de
pensamento abissal (SANTOS, 2010), à medida que se configuram como linhas de divisão de
uma disputa territorial epistemológica entre as verdades do conhecimento. Pela divisão
geográfica dos conhecimentos apresentada, à primeira vista, podemos não perceber quem
estaria sendo submetido ao abismo, afinal são correntes de pensamento em performance de
duas consideradas potências: de um lado a corrente de pensamento sobre performance arte,
que vigora mais na Europa, sobretudo a França – cujo idioma também é falado em Quebéc, no
Canadá; e de outro lado, a de tradição de países anglo-saxões, tendo Schechner como
principal percursor, sendo ele proveniente dos Estados Unidos.
Embora nenhuma das duas vertentes estaria dentro dos territórios considerados
invisíveis, ouso afirmar que o que acarreta o esvaziamento do estético, a ideia de uma
preservação dos pressupostos de um teor artístico que se perde no alargamento do conceito de
performance cultural, tornando-a puramente antropológica é exatamente a possibilidade de
englobamento dos conhecimentos dos territórios coloniais, tornando visível o “outro” lado
da linha e suas epistemologias do sul (SANTOS, 2010, p. 31- 48).
(sobre Schechner) Em sua abordagem, a performance dizia respeito tanto aos
esportes quanto às diversões populares, [tanto] ao jogo [quanto] ao cinema, [tanto]
ao ritos dos curandeiros ou de fertilidade [quanto] aos rodeios ou cerimônias
religiosas. Em seu sentido mais amplo, a performance era “étnica e intercultural,
histórica e a-histórica, estética e ritualística, sociológica e política'. (FÉRAL, 2008,
p198.)
criação.
Estes elementos “pré-modernos” destinavam-se a ser substituídos no futuro por
Estados-Nação-como-na Europa. A Europa é civilizada. A Não-Europa é primitiva.
O sujeito racional é Europeu. A Não-Europa é objeto de conhecimento. Como
corresponde, a ciência que estudará os Europeus chamar-se-á “sociologia”. A que
estudará os Não-Europeus chamar-se-á “etnografia”. (QUIJANO, 2010, p.112)
re-elaboradas por um artista em sua criação? E essa criação deixa de ser puramente estética,
para ter alta concentração antropológica? E que lugar estas construções ocupam no processo
de ensino-aprendizagem do Teatro, tanto na Educação Básica, quanto na formação dos
profissionais que nela atuarão?
O reconhecimento da persistência do pensamento abissal é, assim, a conditio sine
qua non para começar a pensar e a agir além dele. Sem este reconhecimento, o
pensamento crítico permanecerá um pensamento derivativo que continuará a
reproduzir as linhas abissais, por mais anti-abissal que se autoproclame. Pelo
contrário, o pensamento pós-abissal é um pensamento não-derivativo, envolve uma
ruptura radical com as formas ocidentais modernas de pensamento e ação. No nosso
tempo, pensar em termos não-derivativos significa pensar a partir da perspectiva do
outro lado da linha, precisamente por o outro lado da linha ser o domínio do
impensável na modernidade ocidental. (SANTOS, 2010, p.53).
Considerações
No caso específico da pesquisa que está sendo realizada no processo de doutoramento,
o universo do candomblé se faz um terreno delicado e complexo à medida que se circunscreve
no Brasil pelo senso comum apenas como território religioso. Entretanto, as motrizes culturais
africanas que estruturam essas experiências não as compartimentaliza como arte, política, fé,
família etc . Nesse sentido, o ritual público – a festa - do candomblé é também constituído de
gestos codificados que contam histórias míticas numa estrutura que combina música, dança,
canto, vestimentas, comidas, estrutura espacial circular que seguem padrões estéticos de
beleza específicos estabelecidos, revividos e apreendidos por todos os adeptos durante suas
vivências no cotidiano da tradição. Uma cultura de presença que existe e segue através dos
tempos como rachaduras dentro de uma outra lógica hegemônica, e por isso também, acaba
sendo uma suspensão temporária no dito “mundo real” onde seus adeptos podem existir quem
são como parte da natureza integrante de uma cosmovisão.
Embora, não seja a intenção aqui traçar defesas para este tipo de pesquisa no campo
das Artes Cênicas, mas justamente trabalhar na intenção da não precisão da defesa, visto que
– além de não ser nenhuma atividade pioneira, tendo em vista somente as pesquisas que já
3
foram realizadas dentro desta temática junto aos dezesseis anos de existência do NEPAA -
3
NEPAA – Núcleo de Estudos da Performance Afro-Ameríndia – UNIRIO.
quando trabalhamos com a ideia de defesa já estamos, de certa forma, legitimando a não
presença. Procuraremos seguir nestas linhas finais, em acordo com Santos (2010), com a
noção do estabelecimento da copresença. A noção da copresença seria a primeira condição
para o desenvolvimento de um pensamento pós-abissal com vista a produção de uma ecologia
de saberes:
O pensamento pós-abissal pode ser sumariado como um aprender com o Sul usando
uma epistemologia do Sul. Confronta a monocultura da ciência moderna como uma
ecologia de saberes. É uma ecologia, porque se baseia no reconhecimento da
pluralidade de conhecimentos heterogêneos (sendo um deles a ciência moderna) em
em interações sustentáveis e dinâmicas entre eles sem comprometer sua autonomia.
A ecologia de saberes baseia-se na ideia de que o conhecimento interconhecimento.
[…] A copresensação radical significa que práticas e agentes de ambos os lados da
linha são contemporâneos em termos igualitários. A copresença radical implica
conceber simultaneidade como contemporaneidade, o que só pode ser conseguido
abandonando a concepção linear de tempo. (SANTOS,2010, p.53)
REFERÊNCIAS
FEIX, Tania Alice. Diluição das fronteiras entre linguagens artísticas: a performance como
(r)evolução dos afetos. Disponível em: http://taniaalice.com/
FÉRAL, Josette Féral. Por uma poética da performatividade: o teatro performativo. In:
Revista Sala Preta: 2008. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/57370
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de Presença, O que o sentido não consegue
transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2010.
LIGIÉRO, Zeca. Do Ritual à performance. Tese apresentada ao departamento de
direção/Escola de Teatro Unirio como requisito parcial à obtenção da progressão a Professor
Resumo
Ao tratar das interrogativas acerca do corpo – que terá aqui neste artigo uma maior investigação
proposta no corpo e suas possibilidades cênicas que abarcam o Teatro e a Dança – por vezes,
predominantemente é trazido a uma primeira leitura imagética de corpo, o corpo atrelado aos
conceitos de “belo” e “perfeito” do que nos fora posto/imposto como o corpo ideal – hegemônico,
eurocêntrico e primeiro-mundista. Mas se nem mesmo meu corpo se “enquadra” em um conceito de
corpo “ideal”, poderia este meu corpo ter uma tomada de consciência para tratar do que é a arte do
movimento, que abrange tanto à Dança quanto ao Teatro enquanto linguagens artísticas do
movimento? Poderia meu corpo, tão fora do eixo ecoar amiúde, sussurros que são ouvidos por corpos
localizados igualmente fora do eixo, quando tratamos no âmbito do que se refere à arte, a investigação
do corpo e suas possibilidades cênicas? A reflexão aqui trazida é para justamente propor um pensar o
corpo e as dicotomias que cercearam o corpo ao longo dos tempos, ancorados pelo pensamento
Moderno, de um corpo “belo” e “perfeito”, e ainda propomos pensar como a ideia de fragmentar
corpo/mente, razão/emoção contribuíram para que na contemporaneidade as disciplinas ofertadas no
Ensino escolar/acadêmico ainda sejam tratadas como algo compartimentado. A ideia é fazer dessas
duas linguagens – Teatro e Dança – possibilidades, ao trazê-las retroalimentadas, para a construção do
corpo cênico, numa visão derridaiana, ancorados no corpo “desconstruído”, executando o trabalho de
movimentos e gestos voltados para as práticas cênicas indistintamente de linguagem artística.
Palavras-chave: Corpo. Dicotomia(s) corporal(is). Composições cênicas.
1
Este trabalho é parte de uma pesquisa maior que a autora desenvolve como TCC – Trabalho de Conclusão de
Curso – do Curso de Artes Cênicas e Dança da UEMS sob a orientação do segundo autor.
2
Acadêmica do 4º ano do Curso de Artes Cênicas e Dança da UEMS. E-mail:
rafaela.oliveira.cardoso@outlook.com.
3
Doutor em Artes Visuais, área de concentração em Fundamentos Teóricos pelo IA/Unicamp. Professor DE/TI
na Cadeira de Artes Visuais no Curso de Artes Cênicas e Professor Permanente do PROFEDUC na Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul – UUCG. É Líder do Grupo de Pesquisa NAV(r)E – Núcleo de Artes Visuais
em (re)Verificações Epistemológicas – CNPq/UEMS. Membro do NECC – Núcleo de Estudos Culturais
Comparados – UFMS e do Núcleo de Pesquisa Estudos Visuais – UNICAMP. marcosbessa2001@gmail.com.
Derrida pontua inclusive que operar essa inversão, ou essa fase de inversão,
"significa ainda operar no terreno e no interior do sistema desconstruído", assim, ao
procurar decompor os discursos com os quais opera, revelando seus pressupostos,
suas ambiguidades, suas contradições, a Desconstrução se apresentará como um
trabalho no interior dos discursos sustentadores do pensamento metafísico ocidental,
já que esta seria, então, a melhor forma de abordá-los, desestabilizá-los e, por
conseguinte, ampliar seus limites ou limiares. Diante disso, não nos causará
estranhamento que a Desconstrução, ao interrogar incansavelmente os diferentes
discursos que pretende decompor, operará, muitas vezes, no terreno da
ambivalência, da duplicidade e da dubiedade, pois não incorrerá em reducionismo
4
Não estamos pensando em separar as linguagens (Teatro e Dança), mas elas são as mesmas coisas quando se
refere ao corpo em movimento. Queremos pensar as linguagens trabalhadas juntas, tendo a mesma ideia de corpo
e movimento cênicos, para ofertar aos corpos de alunos, nosso foco primeiro de investigação na pesquisa maior
que desenvolvemos, melhores relações entre seus corpos e os múltiplos movimentos cotidianos a partir de uma
percepção não disciplinada quando pensados para a cena artística em si.
5
Outra orientação importante consta da necessidade em dizer que nas escolas, geralmente, as linguagens
artísticas são trabalhadas separadamente e também os corpos dos alunos são manipulados por professores da
Arte distintamente quando a cena dar-se-á para a Dança ou para o Teatro. Ao contrário do que dizem, a questão
sobre essa relação entre o corpo do Teatro ou corpo para a Dança não parece resolvida, já que muitos (artistas,
professores ou pesquisadores) ainda os separam.
diante das oposições binárias com as quais a metafísica ocidental está acostumada a
operar, sobretudo se considerarmos que será frequente, nos trabalhos
desconstrutivistas empreendidos por Jacques Derrida e seus seguidores, o emprego
de termos como "nem um... nem outro", "ao mesmo tempo", "por um lado... por
outro...", longe de se apresentarem como sinônimos de indecisão e/ou imprecisão, o
que o emprego desses termos coloca em destaque é a necessidade de se pensar as
oposições dialéticas numa oposição horizontal e paritária, não em escalas
hierárquicas, como a metafísica o fazia (PEDROSO JUNIOR, 2010, p.11).
Se até mesmo o corpo está ancorado por discursos que permitem segregar, ou ainda,
para melhor ilustrar o pensamento Moderno “engavetar” cada coisa em seu lugar – sendo o
corpo um palco de disputas, tais quais os dualismos razão/emoção; sagrado/profano; “belo”/
“feio”–, a ideia derridaiana de “desconstrução” possibilita tratar o corpo, e, por conseguinte a
arte do movimento, de maneira a pensar suas possibilidades como corpo “desconstruído”.
Ideia que para nós se faz na retroalimentação das linguagens do Teatro e da Dança, para
ampliar os limites postos/impostos daquilo que seria o corpo “aceito” pelo modelo de corpo
Moderno. Trata-se justamente de pensar o corpo contemporâneo inversamente ao corpo do
pensamento Moderno. Essas outras possibilidades – o Teatro e a Dança trabalhados juntos na
construção do corpo cênico –, se voltam para o corpo, munido de aportes que agem fora de
hierarquias unilaterais, em que os estudos em relação à arte do movimento alicerçados a
técnicas já bastante difundidas quando se trata do Teatro e da Dança, podem ganhar nova
re(configuração). Todo corpo tem memória, história e experiência diversas que demandam
reconhecimentos outros nos modos de investigação e, mais ainda, autoconhecimento avesso
ao cotidiano mecânico de sobrevivência, para, pelo contrário, fazer da consciência desse
corpo mododevida.
Voltar o pensamento para as fragmentações do corpo nos leva a pensar como estão
inseridas as linguagens de Teatro e Dança em contextos artísticos que as diferencia dado os
moldes do pensamento da dicotomia (Descartes). As linguagens do Teatro e da Dança com
suas especificidades podem ser pensadas como linguagens que se retroalimentam – uma busca
e dá para a outra, ciclicamente. As confluências de uma linguagem para a outra se
complementam e as aproximações entre Teatro e Dança permitem configurar corpo com
potencial criativo maior. Seria então, o corpo – um mesmo corpo –, pensado igualmente no
Teatro e na Dança, desconstruído? Propor novas epistemes para se pensar o corpo,
desconstruir como quis Derrida, possibilita pluralizar o(s) corpo(s) e tudo aquilo que se volta
para esse corpo, sem tratá-los a partir da ideia de “belo” e “perfeito” – e até então linear e
hierárquico – tão naturalmente difundidos pelo pensamento Moderno. A integração das
linguagens artísticas, Teatro e Dança retroalimentadas, configura-se em interfaces dialógicas
para a construção da arte do movimento do sujeito, ancorando na corporalidade a dissolução
das fronteiras, que desterritorializa as linguagens, para depois amalgamar as duas,
executando-as (Teatro e Dança) de forma retroalimentadas.
O trabalho corporal exigido nas práticas cênicas propõe movimentações e exercícios
que servem para atores e para bailarinos. O corpo para ambos é o próprio meio para se chegar
a uma presença cênica que reverbera em uma composição artística “final”. O trabalho
corporal se constitui no processo, com traços culturais que percorrem o corpo e sua
historicidade, e recorre a elementos para ampliar a elaboração dos movimentos e gestos, que
advém das contribuições do Teatro e da Dança. As experiências teatrais e dançantes
possibilitam esse diálogo das linguagens do Teatro e da Dança, e tal comunicação se faz no
próprio corpo. Klauss Vianna sempre pesquisou o movimento, como um “provocador
corporal”, exercitando em seus alunos a expressão corporal de atores e bailarinos e em
pessoas que interessavam-se em seus estudos. Cada corpo possui tempo e emoção internos
diferentes e respondem potencialmente, portanto, de modo singular.
Cássio Eduardo V. Hissa focaliza ao leitor conceitos para falar dos limites, das fronteiras de
um povo a outro, de disciplinas, das contaminações que surgem do contato entre culturas:
Os limites estão voltados para o interior dos corpos e envolvidos pelas fronteiras
que, por sua vez, estão voltadas para o exterior. Leituras sumárias do
comportamento dos limites e das fronteiras permitem associações entre eles, os
corpos e as imagens que deles emanam. Se os limites dissimulam ou obstruem, as
fronteiras exteriorizam imagens de corpos que, por sua vez, são reflexos dos olhos
do mundo. Há corpos teóricos. Territórios disciplinares são corpos teóricos
constituídos pelos objetos conceituais e metodológicos que concedem visibilidade
aparentemente autônoma aos campos específicos do conhecimento. Tais corpos
teóricos são também feitos de limites e de fronteiras que sugerem obstruções e
aberturas. A despeito dos impedimentos que produzem, os limites dos corpos
teóricos disciplinares deixam vazar, através de fronteiras, as margens teóricas e
metodológicas dos referidos corpos (HISSA, 2008, p. 20).
6
“O estético em arte diz respeito, dentre outros aspectos, à compreensão sensível-cognitiva do objeto artístico
inserido em um determinado tempo/espaço sociocultural. Todavia, a experiência estética pode ser mais ampla e
Os tentáculos que ora sufocam ora impulsionam as estratégias para a criação do corpo
em movimento tendem a reverberar no espectador. As composições cênicas potencializam-se
e (re)significam quando ganham continuidade no espectador. As confluências de emissor
(corpo em movimento) com receptor (corpo-espectador) proporcionam uma sinestesia7,
ampliando aquilo que o artista cênico inaugura a priori em si. O corpo em movimento emite
uma “percepção de realidades”. O corpo em movimento emite uma “percepção de
realidades”. “Corpo e mundo estão num fluxo constante e incessante, tornando-se difícil a
demarcação das fronteiras do “dentro e fora”. As ações expressivas do ator e do bailarino se
organizam na fronteira entre seu organismo e o meio.” (LOBO; NAVAS, 2008, p. 110).
Aquilo que chega ao espectador por meio de conexões corpóreas das práticas cênicas
de cada artista assistido é muito particular, pois cada corpo-sujeito lê à sua maneira o que lhe
atravessa o corpo a partir do corpo cênico do outro. O artista do corpo introjeta em seus
movimentos uma série de sensações que são criadas por meio de mecanismos que o ajudarão
a acionar e aguçar seus sentidos. Essas provocações possibilitarão ao artista do corpo se
aproximar dos estados de mudança8 e a se colocar em escuta. Há um diálogo entre seus
processos mentais e a organização físico-corporal para dar vida a seus movimentos. Para dar
vazão a amplitude e melhoria do gesto, “[...] é preciso atingir todas as suas dimensões,
inclusive o pré-movimento que somente o acesso ao imaginário permite tocar”. (GODARD,
2001, p. 19).
Os diversos modos de relação com o mundo poderão fazer díspares leituras de mundo.
A relação espectador versus artista do corpo imprime várias interpretações daquilo que se
não necessariamente derivada da arte, embora a arte seja uma de suas principais fontes de aplicação”. (apud
FUSARI e FERRAZ, 2001, p. 56)
7
Entendemos que a sinestesia está ancorada na ideia de que a obra formula outros significados pela própria obra
no intervalo entre a obra/artista que emite algum sentido e o receptor desses sentidos que, por conseguinte, acaba
por gerar mais sentidos.
8
Esses estados de mudança são aqui entendidos como a relação da retroalimentação entre as linguagens da
Dança e do Teatro. Quer dizer, é o artista permitir apropriar-se das linguagens, ora uma, ora outra, colocando-se
em escuta das especificidades dessas linguagens para reverberá-las retroalimentadas.
observa. Há uma empatia sinestésica do sujeito que vê para o que é visto, e a produção de
sentido que se expressa por meio do gesto, é recebida pelo espectador de forma singular. Os
sentidos provocados pelo artista do corpo são proporcionados por meio dos atravessamentos
que o constituem como indivíduo e que ativados, reverberam as inúmeras sensações que
chegam ao outro. Para chegar ao outro há a princípio a busca de conectar-se a si, de “chegar-
se”, para que sejam possibilitadas as conexões corpóreas/imagéticas com o espectador. As
fronteiras que avançam e “derrubam as cercas” quando pensamos o corpo, e, portanto o
Teatro e a Dança, tornam possíveis as retroalimentações de ambas as linguagens já que se
contaminam e rompem com discursos dicotômicos disciplinares e artísticos impostos pelo
pensamento moderno dualista. O movimento corporal age tanto no Teatro quanto na Dança e
potencializa a construção do corpo cênico. Salvador contribui sobre o corpo em movimento e
as contaminações do Teatro e Dança que abarcam a retroalimentação aqui discutida:
O corpo é o “lugar” por onde ocorre o trânsito entre ações pensadas e impensadas.
“[...] É a partir do expressado no e pelo corpo que organizamos as informações, imagens e
conteúdos” (LOBO; NAVAS, 2008, p. 138). (Grifos das autoras). As interações entre Teatro e
Dança propiciam, por meio de sua retroalimentação, a mobilidade e contaminação entre as
linguagens que possibilitam por meio de sua confluência a arte do movimento.
falamos das linguagens de Teatro e Dança separadamente as mesmas podem ser pensadas
com similitudes e diferenças isso, obrigatoriamente, precisa ficar claro. Há em cada uma
dessas linguagens artísticas raízes com princípios próprios, mas que confluem quando
propomos pensar o movimento e as contribuições para a construção do corpo cênico.
Transmuta-se a linguagem de Teatro e/ou Dança e (re)configura-se em um “lugar”
transdisciplinar (artístico e/ou acadêmico e investigativo), contrapondo assim o pensamento
moderno hegemônico europeu, pensando as linguagens de maneira disciplinar acadêmicas,
onde tudo precisa estar em um lugar específico antes determinado, quando, na verdade, pode
ocupar lugares outros variados. As fronteiras do corpo são, por assim dizer, os lugares outros
em que ocorrem o trânsito e a contaminação daquilo que chega e daquilo que vai, do que
aproxima, do que se distancia.
Pensar entre (fronteiras, corpos, espaços, narrativas, sujeitos), por conseguinte os
múltiplos “entre-lugares”, um (vários) espaço que media “lados”, permite segundo Homi K.
Bhabha (1998) [...] redescrever nossa contemporaneidade cultural; reinscrever nossa
comunalidade humana, histórica; tocar o futuro em seu lado de cá. [...] o espaço intermédio
“além” torna-se um espaço de intervenção no aqui e no agora (BHABHA, 1998, p. 27).
Os limites impostos pela Ciência Moderna, reforçam sobremaneira que aquilo que não
se pareça ou que não se enquadre nos seus preceitos disciplinares sofrerá de exclusões e
apagamamentos, e isso se vê historicamente nas díspares culturas que fazem fronteira com a
noção de ciência moderna construída. Nas palavras de Hissa (2008) tal pensamento pode ser
melhor ilustrado, quando o autor reflete sobre o pensamento moderno em que a Ciência
Moderna [...] edificou territórios do conhecimento, codificou significados de objetos, separou
palavras, construiu a primazia de discursos, legitimou diversas formas de apartheid entre os
homens, sociedades e culturas (HISSA, 2008, p. 19). Encontramos o Teatro e a Dança
inseridos também nesses limites ex-postos. Porém, os limites entre uma e outra linguagem são
imprecisos se tomadas de uma perspectiva, por exemplo, transdisciplinar - retroalimentadas.
Quando propomos pensar o corpo, tendo o Teatro e a Dança como partícipes na
construção do corpo cênico, tratamos ambas as linguagens nos “entre-lugares” que as
configuram (aproximando e distanciando-as ao mesmo tempo). A retroalimentação do Teatro
e da Dança se faz na “invasão” territorial de uma para com a outra que acontece
Tratados como a melhor opção para os mundos dos quais estavam/estão situados os
não-corpos, os projetos europeu e norte-americano, ainda tomam para si na
contemporaneidade as noções produzidas sobre educação, corpo e movimento.
Ambos, cada qual no seu momento histórico e geográfico particulares, planejam e
confabulam para o “resto do mundo” a manutenção e os continuísmos daquelas
ideias suas como únicas verdades possíveis. E, favorecendo tudo aquilo pelos
centros construídos, lugares, sujeitos e produções periféricos ex-cêntricas, seja na
educação, sejam como seus muitos corpos, cores, ritmos e sabores, acabaram por
repetir exacerbadamente tudo aquilo imposto e, por isso, mantiveram e sustentam as
ideias de corpos e movimentos ambíguos daqueles até hoje em si próprios (BESSA-
OLIVEIRA, 2017, p. 5).
REFERÊNCIAS
BESSA-OLIVEIRA, Marcos Antônio. “O corpo que habito: esse não é o corpo da sala de
aula, dos museus, nem o corpo da academia!” In: Acervo do autor. Campo Grande, MS,
2017, p. 1-15. (Texto no prelo).
BHABHA, Homi K. “Introdução – Locais da cultura”. In: _____. O local da cultura. Trad.
Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis, Gláucia Renate Gonçalves. 4ª Reimpressão.
Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. (Pág. 19 a 42).
FERRARI, Solange dos Santos Utuari. Por toda parte: volume único/Solange dos Santos
Utuari Ferrari... – 1. Ed – São Paulo: FTD, 2013.
FUSARI, Maria Felisminda de Rezende; FERRRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo. Arte
na educação escolar/ Maria Felisminda de Resende e Fusari. Maria Heloisa Corrêa de
Toledo Ferraz. – 2 º ed. – São Paulo, SP: Cortez, 2001. (Coleção Magistério 2º grau. Série
formação geral). P. 53-65
GODARD, Hubert. “Gesto e Percepção”. In: PEREIRA, Roberto; SOTER, Silvia (Orgs.).
Lições de Dança 3. Rio de Janeiro: Ed. UniverCidade, 2001, p. 11-35.
Resumo
Este trabalho propõe algumas reflexões sobre o estudo da paisagem, através da produção de pinturas
como forma de compreender a paisagem contemporânea. Como metodologia, utilizou-se inicialmente
coletas de imagem em campos diversos e de fotografias pessoais antigas na praia, para compor novas
representações da percepção do olhar, experimentar novos procedimentos com pintura em aquarela,
que trazem um valor intrínseco de subjetividade. Nesse processo, foi trabalhada imagens em série, ou
seja, a mesma imagem foi trabalhada de formas diferentes, investigando procedimentos com diferentes
materiais para experimentação destas imagens. De forma a buscar alguns conceitos que possam
embasar teoria e prática para obter uma melhor metodologia, processos artísticos e interpretação da
paisagem foi utilizando como referencial teórico: Maria Amélia Bulhões, Anne Cauquelin, Leticia
Castilhos Coelho e o estudo das paisagens imaginárias de Guinard. Como resultado, a desconstrução
da imagem, trouxe novas percepções de como olhar a paisagem. Além disso, os exercícios resultaram
em um portfólio, que remeteu a reflexões sobre o processo de criação e de produção dos trabalhos em
aquarela, em que se analisa o seu processo e desenvolvimento. Sendo assim, os procedimentos
experimentados contribuíram para um novo olhar sobre a pintura, quando desconstruída, em relação
ao que se vê, ao que se percebe e ao que é retratado.
Palavras-chave: Processo artístico. Pintura. Metodologia.
1. Introdução
1
Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Fortaleza (2016), graduanda do curso de
Licenciatura em Artes Visuais do Instituto Federal do Ceará. E-mail: raiannymelo@hotmail.com
² Graduada em Estilismo e Moda pela Universidade Federal do Ceará (2006). Também graduada em Ciências
Contábeis pela Universidade Federal do Ceará (1998). Foi coordenadora do Curso de Design de Moda e de
design gráfico da Estácio-FIC. Graduanda do curso de Licenciatura em Artes Visuais do Instituto Federal do
Ceará. E-mail: collyerivy@yahoo.com.br
paisagem brasileira e da paisagem cearense. Esta ementa tem como enfoque a pesquisa em
Artes Plásticas, destacando a produção pictórica, o diário de campo e a análise documental.
Dentre outros, os objetivos da disciplina são desenvolver a observação e a
interpretação de paisagens urbanas em pintura; pesquisar as variantes do cenário urbano
contemporâneo relacionando-as com as produções pictóricas do modernismo brasileiro;
desenvolver uma prática de pesquisa em Artes Visuais, agregando as atividades de campo, a
pintura de ateliê, e a análise documental; implementando as habilidades de raciocínio verbais
e escritos do aluno e visando à redação de um relatório técnico.
Sendo assim, os exercícios realizados contribuíram na construção de um portfólio
pessoal, que tem relevância profissional e que serve para apresentar trabalhos artísticos
realizados além do currículo. O conteúdo do portfólio pode ser organizado de forma
cronológica e é utilizado para mostrar as competências adquiridas através de tarefas
realizadas.
2. Referencial Teórico
A pintura através de fotos antigas trouxe uma nova experiência de vida que
estabeleceu uma relação de espaço/tempo. Obteve-se novas interpretações, a partir da
memória, construindo assim novas histórias e novas formas de representações desse espaço.
3. Metodologia
Para uma melhor base teórica e artística foi feito um seminário a partir da leitura do
artigo A paisagem como dimensão simbólica do espaço de Leonardo Fígoli (2004). Este
artigo foi de grande influencia para os exercícios que se seguiram posteriormente. Fígoli
estuda as paisagens do pintor mineiro Alberto da Veiga Guinard (1896-1962) que é
constituída por várias paisagens imaginárias. Poderia ser até um mapa, uma vez que ele insere
várias paisagens no mesmo quadro.
Guinard não retratava a paisagem real que se vê, ele combinava paisagens em uma
única pintura, reorganizava e agrupava elementos arquitetônicos, se utilizando da topografia,
de altos e baixos, criando planos, criando assim sua própria visão da realidade, que instaurava
representações pictóricas, históricas e ricas de cotidiano.
A Figura 1 é uma construção feita a partir das cores ardósias utilizando o primeiro
procedimento a partir de uma imagem concebida antes. Nesta pintura foi possível abstrair os
seus elementos, de forma a reposicioná-los, pensando-se em uma nova forma de composição.
Foi importante utilizar uma nova cartela de cores, pois era de costume utilizar apenas a as
cores prontas dos tubos de tinta da caixa de aquarela, o que propiciou experienciar
procedimentos que apresentaram novas formas de representação e de significação.
Pôde-se perceber que a aquarela é uma cor quando está no godê, e outra quando
aplicada no papel e ainda outra quando seca. Posteriormente, foram trabalhados os
procedimentos de velatura e de transparência. Notou-se que o branco pode ser a própria cor
do papel e que na aquarela não é convencionado pintar com cores chapadas como se faz com
a tinta guache, pois é importante deixar a pintura respirar e trabalhar a luz.
Na outra aula trabalhou0se com uma nova imagem utilizando os ocres que é a mistura
de violeta (vermelho+ azul) com laranja (amarelo + vermelho), tendo uma maior incidência
da cor vermelho e sendo a cor complementar verde. Utilizando das mesmas técnicas citadas
acima, escolheu-se uma nova imagem das então coletadas para a construção de uma nova
paisagem, trabalhando a partir da relação entre cor, mancha e sobreposição de manchas sobre
o papel, com novas composições e misturas de cores.
Nesta aula, houve um amadurecimento do que pode ser pintura, do que pode ser
representação e do que pode ser aquarela. Tentou-se abstrair mais a paisagem da foto da praia.
As pedras se tornaram manchas de forma que a pintura foi construída a partir da percepção da
autora, experiências de vida e fruto do olhar, expressando com manchas os elementos ali
vistos, revelando a construção e desconstrução da obra (ver Fig. 2)
Criar séries, estabelecendo regras para estabelecer recorrências, é uma das formas de
estruturar o processo criativo, assim como estruturar conceitos formais e materiais. A
repetição de um trabalho a partir do que foi visto, depois a partir do que foi lembrado e a
desconstrução das imagens utilizando de procedimentos de pinturas gerou um processo de
repetição, um conjunto de obras recorrentes, em que estas obras se complementam e se
acrescentam umas às outras, de forma que todas as pinturas se diferenciam entre si. Contudo,
se interligam por terem uma mesma origem, seja pelo mesmo lugar da coleta, pelos materiais
ou mesmo pelos procedimentos.
Segundo Melo (2010) apud Cattani (2004), “repetições, nas artes plásticas,
são todos os processos que de alguma forma repetem o processo já existente na
questão de formas ou procedimentos que estabelecem sistemáticas recorrentes e que
permitem poucas variações. São, também, os processos cumulativos, em que os
elementos se acrescentam uns aos outros. "As práticas repetitivas são múltiplas e
diferenciadas, envolvendo o jogo, o acaso, as lógicas combinatórias e as
serialidades"
3. Considerações Finais
5. Referências
CAUQUELIN, Anne. A invenção da Paisagem. São Paulo. Livraria Martins Fontes Editora
Ltda. 2007.
MELO, Maria Aline Portela de. Entre Linhas e Manchas: o Desenho como Exercício do
Desejo. Porto Alegre. Universidade Federal do Rio Grande Sul. Instituto de Artes. 2010.
Resumo
Esse artigo se insere dentro do contexto da história do ensino de arte no Brasil, mais especificamente,
em relação ao Movimento Escolinhas de Arte (MEA). O objetivo é destacar a experiência em arte
ocorrida na Escolinha de arte do CTA (EA/CTA), em São José dos Campos/SP, nas dependências do
Centro Técnico Aeronáutico (CTA), entre meados da década de 1960 e final da década de 1980. O
texto encontra-se organizado em duas partes: A primeira traz questões como as motivações que
conduziram a essa pesquisa e contextualizações históricas acerca do MEA. Já, a segunda parte, aborda
a construção dessa experiência desenvolvida em São José dos Campos/SP, utilizando como fontes
depoimentos e documentos pertencentes à Escolinha, situando-a no contexto do MEA.
Palavras-chave: Escolinha de arte, São José dos Campos, CTA, arte/educação, história do ensino de
arte.
A memória revisitada
Este trabalho é um revisitar, uma retomada de algo que aguardava esse reencontro.
Pois, foi durante o período de 2007-2009, quando realizei o curso de graduação em
Licenciatura em Artes Visuais, na Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) e, mais
especificamente, durante o período destinado à pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC), que tive o primeiro contato e conhecimento acerca da existência da Escolinha de Arte
do CTA (EA/CTA), na cidade de São José dos Campos/SP.
1
Mestrando em Artes pelo Programa de Mestrado Profissional – Prof-Artes. Professor de Arte da Rede de
Ensino Municipal de São José dos Campos/SP e da Rede Estadual de Educação do Estado de São Paulo/SP.
Membro do GPIHMAE – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Imagem, História e Memória, Mediação, Arte e
Educação. Email: luisprof.arte@gmail.com
2
Doutora em Artes pela Universidade de São Paulo e Pós-doutorado pela Universidade Pública de Navarra,
Espanha (2011/2012). É professora do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista, UNESP, onde atua
na Licenciatura em Artes Visuais e na Pós-Graduação em Artes, área de Arte e Educação. Coordenadora do
Mestrado Profissional em Artes, Prof-Artes, do Instituto de Artes da UNESP. Tem desenvolvido pesquisas com
foco na história do ensino de artes e na formação de arte/educadores e mediadores culturais.
__
3
No dia 02 de março de 2004, foi firmado convênio entre a Câmara Municipal de São José dos Campos, a
Fundação Cultural Cassiano Ricardo (FCCR) e a Fundação Vale paraibana de Ensino (FVE), mantenedora da
Universidade do Vale do Paraíba (Univap).
A parceria entre as instituições visava, dentre outras coisas, promover a recuperação, a preservação e a
disponibilização da história do município de São José dos Campos por meio do Núcleo de Pesquisa Pró-
Memória, instituído pelo Decreto Legislativo nº 32/2003, de 02 de Outubro de 2003. Disponível em:
http://www.camarasjc.sp.gov.br/promemoria/. Acesso em 02/09/2017.
Em 1971, conforme relata Ana Mae Barbosa (2012) havia 32 Escolinhas de Arte no
Brasil, sendo grande parte mantida pela iniciativa particular, atendendo em seus cursos de arte
crianças e adolescentes, assim como, promovendo cursos de formação em arte-educação para
professores. De acordo com Sidney Lima (2012), de 1961 a 1981, foram formados diversos
arte/educadores no Brasil, a partir da criação do CIAE: Curso Intensivo de Arte na Educação,
coordenado por Noêmia Varella e com o apoio de Anísio Teixeira, Helena Antipoff e Léa
Elliot. Ressalta inclusive que durante muitos anos, essa se constituiu na única possibilidade de
formação docente nessa área, destinando-se a preparar professores, artistas, estudantes de arte,
psicólogos, professores pedagogos e atender Faculdades de Educação.
A cidade de São José dos Campos, de acordo com Nilda Oliveira (2012), era uma das
menos importantes da região, durante o período colonial e imperial. No entanto, a partir do
século XX houve algumas mudanças nessa posição, destacando a construção de fábricas e
sanatórios para tratamento de pacientes com tuberculose, devido ao seu reconhecimento como
clima favorável ao tratamento dessa enfermidade. Já, nas primeiras décadas do início do
século XX, as indústrias se destacam nos segmentos de têxteis, de laticínios e de cerâmicas.
Mas, foi a partir da década de 1950 que a cidade passa a apresentar um novo ciclo de
desenvolvimento econômico, conforme destaca Oliveira (2012, p. 101):
A ideia de que a construção do CTA impulsionou o processo de industrialização da
cidade é muito recorrente, sendo que, no mesmo período, em 1951, foi inaugurada a
Rodovia residente Dutra, ligação entre o Rio de Janeiro e São Paulo, passando por
São José dos Campos. Houve doação de terrenos às margens da rodovia, onde se
instalaram diversas fábricas, impulsionando, também, a industrialização da cidade.
(OLIVEIRA, 2012, p.101)
Instalado em uma área total de 14 milhões de metros quadrados, na área central de São
José dos Campos, o CTA funciona como uma pequena cidade e é considerado, hoje, um dos
mais importantes centros de ensino, pesquisa e desenvolvimento aeroespacial do mundo.
Oliveira (2012) destaca ainda que, ao ser instalado e durante toda a década de 1950, havia
uma grande dificuldade de acesso até a entrada do CTA, visto que esse se constituía outra
cidade, conforme declara:
Antigos moradores de São José dos Campos e do campus do CTA, como se fossem
cidades distintas, já relataram isolamento, e, também certo estranhamento entre os
habitantes das “duas cidades”. No campus do CTA, além dos Institutos de Ensino e
Pesquisa, existem clubes, hotéis, supermercados (antigo Reembolsável), capela,
escolas, além de residências, ou seja, o campus possuía quase toda a infraestrutura
necessária para que seus habitantes permanecessem dentro dele, sem maiores
contatos com a “Cidade”. (OLIVEIRA, 2012, p.100)
Otília Antipoff, vale destacar era casada com Daniel Iretzky Antipoff, filho da
educadora e psicóloga russo-brasileira Helena Antipoff e do jornalista e escritor russo Viktor
Iretzky e residiam no CTA, desde 1963, quando vieram de Belo Horizonte para São José dos
Campos, onde Daniel Antipoff assumiu as funções de Chefe da Divisão de Alunos do
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), passando a exercer funções de psicólogo, no
atendimento aos alunos dos cursos de engenharia daquele instituto. No entanto, em 1964,
regressou à Minas Gerais, fixando-se novamente em Belo Horizonte.
4
WEIS,S.Da Escolinha de Arte do CTA,1987.Documento Datilografado. Acervo pessoal Suzi Weis.
Uma comunidade, o CTA era uma coisa assim muito família, todo mundo junto e
pra..., ninguém fez reunião oficial pra montar a Escolinha de Arte; minha mãe
sentou com a vizinha, a Otília Antipoff era vizinha dela, a dona Marita Octani era
esposa de um outro professor, eu me lembro que ela era tesoureira, dona Alba
esposa do médico, Dr. Ivan, era secretária, alguma coisa assim. Então eles se
juntaram e resolveram fazer..., e a Otília Antipoff dando material, a minha mãe
lendo sempre, e montaram uma escolinha para..., a ideia era um espaço para as
crianças se divertirem, brincarem para fazer arte. (WEIS, S., 1987, p.3)
Portanto, foi a partir desse contato que surgiu a experiência que ficaria conhecida
como Escolinha de Arte do CTA (EA/CTA), a partir do ano de 1964.
Ao longo da sua existência a Escolinha, ocupou quatro diferentes instalações dentro
do Centro Técnico Aeronáutico (CTA) até 1987, conforme relatado em documento por
Ivonne Weis,6 indicando a sua primeira localização em um antigo depósito de material de
construção, o qual fora reformado para uso da Escolinha.
Na memória de Suzi Weis7, essa imagem está presente:
[...] é uma coisa muito forte, por causa do cheiro do cinamomo e que toda vez, e
durante toda a vida, quando passava perto de um cinamomo, sentindo o cheiro, sua
mãe falava “lembra desse cheiro? [...] eu lembro da música, no dia em que o
Augusto Rodrigues veio para São José, em baixo do cinamomo, brincando de roda”.
Eu lembro dessa música que era... e cantarola: “oh preto, preto, lá de Lisboa, jogar
as cartas[...] Era uma sala grande, umas janelas baixas, azuis, que você abre assim,
essas..., a Escolinha começou lá. Muito do material, quase todo o material da
Escolinha foi angariado, juntado,... e os cavaletes eram cavaletes de obra que foram
reformados, restaurados..., depois eles conseguiram outras coisas, mas começou
num galpão de obra. (WEIS, S.1987, p.2)
Num segundo momento, a Escolinha fora deslocada para o Grupo Escolar do CTA,
onde hoje se encontra a Escola Estadual Mariotto Ferreira.
No início da década de 1980, houve a construção do Jardim da Infância Pequenópolis
e a Escolinha passou, então, a ocupar nesse espaço, uma sala de aula. Segundo consta nas
narrativas de Suzi Weis e Vera Furtado,8 havia nesse período, a possibilidade de fechamento
da Escolinha e toda vez que se realizava a troca de comando do CTA, tornava-se necessário
5
WEIS,S.Depoimento Suzi Weis, 09/04/2014. Laboratório de História. IP&D/UNIVAP.
6
Ibid.,p.1.
7
Ibid.,p.2
8
Ibid. p.2
que a professora Ivonne Weiss, fosse lá, junto ao general, explicar o motivo da existência
daquela escola ali, no interior da instalação militar, atendendo àquelas crianças:
E sempre foi uma guerra muito grande. Cada vez que mudava a política, mudava o
brigadeiro, precisava ir lá contar a história para o brigadeiro, prá que não fechasse.
Então, e todas às vezes, a partir dos meus dez, onze, doze anos, eu me lembro que na
primeira série do grupo escolar, já brincava de dar aula para o... era uma coisa meio
assim. Minha mãe ia conversar com o brigadeiro e eu ia junto. [...] a Vera Furtado
vai com a minha mãe negociar com o brigadeiro e o brigadeiro promete que não vai
fechar..., não sei quem era o brigadeiro na época, o brigadeiro promete que não vai
fechar e que vai construir um novo prédio junto do Pequenópolis que era o jardim de
infância do CTA. Nessa época..., Vera diz: “posso corrigir? Ele diz que essa escola
seria construída prá nós, só prá escola de arte. E aí,... a politicagem lá nos tomou e
não deu um ensaio (?) (WEIS, 2014, p.3)
Uma escolinha de arte sem fins lucrativos, dentro do CTA, era uma coisa que as
pessoas não entenderam direito o que era aquilo lá. Porque... as professoras
ganhavam super mal, não ganhavam, todo mundo trabalhava por amor a arte
sempre, minha mãe nunca ganhou um tostão daquela escola, ao contrário ela sempre
9
Ibid., p.3.
10
Ibid.,p.2
O que é uma escolinha de arte? Ensina Arte? A criança vem para uma escola sem
uniforme, sem carteiras, onde a professora não é tia, mas usa o nome que faz de cada
um uma pessoa única. A lousa e o giz não são os materiais mais importantes, não há
um programa fechado, não há notas, nem reprovação, as faixas etárias convivem no
mesmo horário, e o professor não ensina. Então o que encontra e o que vem fazer?
Ela vem descobrir, explorar, manipular, observar, experimentar diferentes materiais,
diferentes formas de comunicação – ela vem tocar o mundo com suas mãos,
alimentando suas percepções, enriquecendo seus conceitos, estimulando a sua
imaginação. Ela vem sentir e aprender. Aprender e sentir. Ela vem despertar suas
aptidões.
Ela vem, espontaneamente, descobrir que o universo pode ser classificado,
comparado, medido e transformado. Por isso ela tem contato com guache, aquarela,
anilina, barro, madeira diferentes cores e textura de papel e fazenda, com folhas,
com pedras, com areia. Fará pintura, colagens. Fará teatro, com bonecos, com os
companheiros. Deverá cantar dançar, pular. Sozinha ou em grupo vai brincar.
Aprender regras aprender a repartir aprender a esperar. Tudo sem pressa, sem
pressão. A professora cuida, interfere pouco, impõe nada. A disciplina é a do
trabalho, do interesse, da motivação. E a aprendizagem ocorre. (WEIS, I, p.4)
Esse pensamento relacionado à livre expressão, ainda de acordo com Azevedo (2000),
encontra suas raízes na experiência desenvolvida por Franz Cizek na criação da Escola de
Artes e Ofícios de Viena, em 1897, o que foi, posteriormente, enfatizado por Herbert Read, no
seu livro Educação através da Arte.
Para Azevedo (2000), essa concepção de educação pela arte encontrará sua
representação no MEA, que a adotou e a colocou em prática. Segundo ele, Noêmia Varela,
nome importante no desenvolvimento dessa concepção dentro do MEA, também difundia essa
ideia de que arte não se ensina, devendo o professor interferir o menos possível no processo
12
FURTADO,V. Depoimento Vera Furtado 07/05/2014. Laboratório de História – IP&D, UNIVAP.
[...] os métodos de Cizek eram inferidos de seus slogans e não de sua ação
pedagógica. Uma má interpretação de suas práticas difundiu a idéia de que, para
desenvolver a expressão infantil o professor deve impedir influências externas e
prevenir a contaminação. Tal atitude é completamente antinatural de acordo com
Dewey, porque não há germinação espontânea na vida mental. Se ela (a criança) não
receber a sugestão do professor, irá receber de alguém ou de alguma coisa, em casa
ou na rua, ou daquilo que algum colega mais vigoroso estiver fazendo. (2008, p.82)
depoimentos de duas arte-educadoras, as professoras Suzi Weis e Vera Furtado que atuaram
na EA/CTA, e documentos relacionados a essa experiência.
Portanto, esse trabalho tem como fonte a utilização de material secundário,
identificados como entrevistas, coletadas em forma de depoimentos biográficos, transcritas e
que se encontram registrados nos arquivos da Câmara Municipal de São José dos Campos/SP,
como parte integrante do projeto Pró-Memória. Esses depoimentos não foram editados, tendo
sido gravados em áudio e, posteriormente, transcritos na íntegra, sem edição, sendo fiel às
narrativas compartilhadas. Após esse procedimento as transcrições foram enviadas às
entrevistadas para leitura, possíveis alterações e assinatura de termo de anuência.
Outros documentos também se juntam para ampliar a visão acerca das ideias e
procedimentos adotados pela Escolinha. São textos datilografados pela professora Ivonne
Weis e pertencentes ao acervo pessoal de Suzi Weis.
Portanto, o procedimento metodológico utilizado, diz respeito à análise documental e
visa possibilitar o levantamento de dados e informações a respeito das condições e situações
experienciadas, durante o processo criativo em arte, na EA/CTA.
O uso dos depoimentos registrados e transcritos representa a constituição de um
documento, conscientemente, elaborado cuja finalidade é tornar fonte de pesquisa. Porém, é
preciso ressaltar que esse tipo de narrativa (depoimentos) não representa uma verdade dos
fatos, considerando, sobretudo, que o (a) entrevistado (a) produz a sua versão, a partir da
subjetividade como um dos seus elementos característicos, reinterpretando e ressignificando
os acontecimentos. Por isso, esses temas são confrontados com outras fontes de dados, como
documentos escritos e a partir de outros autores, a fim de se realizar a contextualização do
assunto tratado.
com a colaboração de muitas pessoas que viram nessa iniciativa uma nova maneira de se
conceber o contato da criança com a arte, dentre elas Suzi Weis e Vera Furtado.
Portanto, essa experiência se configura como um campo incipiente de pesquisa, tendo
como viés múltiplas questões como do campo histórico, filosófico, metodológico e social,
dentro das abordagens relacionadas ao ensino de arte no Brasil, considerando ainda a
possibilidade de se reencontrar e colher outras narrativas com as professoras aqui citadas
como depoentes, alunos que freqüentaram a Escolinha, ou ainda, uma análise mais acurada
dos documentos originais ainda preservados da Escolinha.
Com isso, encerro esse texto sem finalizá-lo, deixando-o em aberto para o próximo
reencontro, para a próxima retomada, num contínuo processo de busca e de valorização das
experiências artísticas dentro de um contexto local fértil e enriquecedor, no qual se abre para
uma perspectiva mais ampla, identificada com o Movimento das Escolinhas de Arte (MEA).
Acrescenta-se também, a possibilidade de trazer essa reflexão para o campo do ensino de arte,
estimulando o diálogo, a pesquisa e compreensão da importância em se reconhecer iniciativas
importantes referentes à História do ensino de arte no Brasil, contribuindo dessa forma para o
o processo de formação profissional dos professores de arte.
REFERÊNCIAS
Artigo
LIMA, S.P. Escolinha de arte do Brasil, Movimentos e desdobramentos. In: ENCONTRO
ANPAP, 21, 2012, Instituto de Artes da UERJ. Anais. Disponível em:
<http://www.anpap.org.br/anais/2012/pdf/simposio3/sidiney_peterson_lima.pdf>
Acesso em: 30/07/2016.
Depoimentos escritos
WEIS, S. Depoimento Suzi Weis. Laboratório História- IP&D – Univap, 09/04/2014.
Escolinha de Arte do CTA/SJCAMPOS-SP por Profª. Papali, Profª. Maria Angélica, Fred
Papali. Disponível em:
http://www.camarasjc.sp.gov.br/promemoria/2016/04/01/escolinha-de-arte-do-cta/.
Acesso em: 02/09/2017.
FURTADO, V. Depoimento Vera Furtado. Laboratório História- IP&D – Univap,
07/05/2014. Escolinha de Arte do CTA/SJCAMPOS-SP por Profª. Papali, Profª. Valéria
Zanetti, Fred Papali. Disponível em:
http://www.camarasjc.sp.gov.br/promemoria/2016/04/01/escolinha-de-arte-do-cta/.
Acesso em: 02/09/2017.
Documentos
WEIS, I. Relatório produzido por Ivonne Weis, em 1987. Acervo particular Ivonne Weis.
Disponibilizado pela filha, Suzi Weis.
Resumo
1
Mestre em Estudos de Linguagens pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul 2014. Graduação em
Artes Visuais Licenciatura – UFMS 2006. Gestor de Artes e Cultura na Fundação de Cultura de Mato Grosso do
Sul. E-mail: alexandresogabe@gmail.com.
2
Especialista em Arte e Educação -UNIC, Museologia – EMBAP e História da Arte – CLARETIANO.
Graduação em Artes Visuais Bacharelado e Licenciatura – UFMS/ Uniasselvi 2003/ 2011. Gestor de Artes e
Cultura na Fundação de Cultura de MS. E-mail: cacianolima@gmail.com.
3
Especialista em Artes Visuais: Cultura e Criação – Senac/MS 2008. Graduação em Artes Visuais Bacharelado
– UFMS 2003. Graduação em Arquitetura e Urbanismo – UFMS 2016. Profissional de Promoção Cultural –
Secretaria Municipal de Cultura e Turismo/ Campo Grande MS. E-mail: joelmano1@hotmail.com.
1.Introdução
Fonte: Os autores.
2. Conceitos
Iniciemos por Patrimônio Cultural e os valores que a ele podem ser associados. A
Constituição brasileira de 1988, em seu art. 216, define patrimônio cultural brasileiro como
sendo “[...] os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira” (BRASIL, 2015). Como se vê, o conceito é bastante
abrangente e complexo, requer também, portanto, tratamento analítico complexo.
Em seu significado mais primitivo, a palavra patrimônio tem origem atrelada ao termo
grego pater, que significa “pai” ou “paterno”. De tal forma, patrimônio veio a se relacionar
com tudo aquilo que é deixado pela figura do pai e transmitido para seus filhos. Com o passar
do tempo, essa noção de repasse acabou sendo estendida a um conjunto de bens materiais que
estão intimamente relacionados com a identidade, a cultura ou o passado de uma coletividade.
Para fins desse artigo, trataremos de forma enfática os bens materiais que constituem as
fotografias.
[...] Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis
e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por
sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional
valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico (BRASIL, 2017).
Sendo assim, nesse contexto, as fotografias antigas são escolhidas por possuírem valor
de documento (documentalidade), e passam a “emanar”, a partir das práticas de conservação
patrimonial, como por exemplo, o de arquivos, centros de memória, museus etc. Essas ideias
de memória e registro vão, por conseguinte, somar-se às noções de identidade e de
autorreconhecimento de uma comunidade, de uma sociedade. Prática essa ancorada nos
valores de autenticidade, de veracidade e de fidedignidade, que advém dos objetos. Dessa
forma, pode-se afirmar que a seleção de objetos a serem documentados/exibidos/preservados
pela sociedade considera questões que envolvem reflexão, política e uma série de critérios
que, por sua vez, refletem as discussões acerca da sociedade que guarda tais objetos.
Tem-se a impressão de que este paradigma é o que mais se aproxima do senso comum,
dos não iniciados em fotografia. Tanto no exagero de Baudelaire, quanto no texto supracitado,
dos “adoradores narcísicos”, quanto em achar que toda fotografia é a “realidade”. Quando na
verdade, estamos sempre enquadrando a realidade, como veremos nos parágrafos adiante.
O segundo paradigma, a fotografia como transformação do real, é uma reação ao
primeiro. Rudolf Arnheim (1904-2007), em sua obra Film as art (1957), apresenta
argumentos contra a imagem como ilusão do real. Segundo ele, a fotografia, em primeiro
lugar, seleciona um ângulo de visão escolhido, que é medido pelo enquadramento e pela
distância em relação ao objeto; em segundo lugar, há a redução do campo cromático a uma
escala de cinzas entre o branco e o preto; por fim, isola um ponto do espaço-tempo, que é
somente visual, às vezes sonoro, no caso do cinema. Isso não dá conta de outros sentidos
como a sensação olfativa ou tátil.
Uma outra linha crítica de negação do realismo fotográfico está ligada, mais ou
menos, à linha ideológica. Esse conjunto de discursos vai contestar a dita neutralidade da
câmera escura e a objetividade da imagem fotográfica. Essa crítica vai insistir que a câmera
não é neutra ou inocente e que o espaço visual criado por ela é fundado nos princípios da
câmera escura renascentista.
A câmara escura foi usada por artistas no século XVI para auxiliar na elaboração de
esboços das pinturas. De certo modo, a máquina fotográfica é uma câmara escura de
orifício, incrementada com lentes e filme fotográfico. A lente convergente, a
objetiva, é responsável pela formação da imagem no fundo da máquina, onde está o
filme fotográfico que registra a imagem. Foi uma invenção no campo da óptica
importante para a evolução dos aparatos fotográficos. Ainda hoje os dispositivos de
fotografia são conhecidos como “câmeras” (RAMOS, 209, p.135).
Este paradigma aparece pouco nas aulas de iniciação à fotografia, do ponto de vista da
narrativa das experiências por parte dos alunos. Há a impressão de que a transformação do
real seja também mais facilmente percebida na edição das fotografias. Não só percebida, mas
também encorajada. Afinal, não há pudor algum entre os fotógrafos em criar cenas fantásticas
a partir das imagens.
Por fim, a fotografia como um traço do real vai tratar das teorias que afirmam a foto
como índice, ou seja, representação por contiguidade física do signo com seu objeto de
referência. Tal teoria se diferencia das duas tratadas anteriormente por considerar a imagem
indiciária como um.
Nesse sentido, Walter Benjamin (1931), em seu texto Pequena História da Fotografia,
afirma que, quer se queira, quer não, apesar de todos os códigos e de todos os possíveis
artifícios da representação, o "modelo", o objeto captado, irresistivelmente, volta:
Talvez, dos três paradigmas, este seja o que menos apareça na fala dos alunos, de uma
forma geral. A consciência de que a fotografia, apesar das transformações, é parte da
realidade, ou ainda, um spectrum da realidade, ou seja, um espectro do mundo, uma pequena
parte visível. Por este ser o paradigma menos difundido, é necessário que seja o mais
divulgado para que seja mais conhecido entre os fotógrafos, e que a consciência sobre ele
possa nortear boas práticas.
Em síntese, sobre os três paradigmas da fotografia, segundo Dubois (1993), é possível
afirmar três posições epistemológicas. Primeiro, a posição de que ver a foto é uma reprodução
mimética do real, em que os valores de similaridade, realidade, verdade e autenticidade são
atribuídos à fotografia. Sendo essa concepção caracterizada como um ícone, no sentido de
Peirce. A segunda posição consiste na denúncia das impossibilidades dessa imagem ser uma
cópia exata do real. A fotografia, como qualquer imagem, é tratada como uma criação
arbitrária do real, cultural, ideológica e percentualmente codificada. Dessa forma, a imagem
não pode representar o real empírico, não haveria realidade fora dos discursos que falam dela,
mas uma espécie de realidade interna, transcendente.
3. Considerações finais
Este esforço teórico serviu de reflexão sobre a prática exercida no projeto. Ao que
parece, muitas vezes perdemos a dimensão da complexidade teórica, tendo em vista as
demandas de ordem prática.
Relembrar os conceitos sobre o patrimônio, os processos de musealização que
institucionalizam os objetos, a natureza ambígua da fotografia e as diversas formas como
podemos olhá-las, é um resultado produtivo para este exercício.
Tal esforço nos relembra dois conceitos que permeiam o fazer cotidiano e nos
orientam a favor de boas práticas. Tendo estudado a fundo a teorização sobre o projeto,
acreditamos que, de alguma forma, esse conhecimento vai transparecer ao longo das
atividades exercidas, aumentando a qualidade das ações exercidas junto às comunidades
envolvidas no processo.
A partir dessas reflexões, podemos ter mais clareza sobre os processos de
documentalidade, testemunhalidade, veraciadade e outros processos que as fotografias
apresentam. E assim, tornar explícitos esses conceitos aos participantes das oficinas de
fotografia. Questionar junto a eles como as escolhas sobre as fotografias representativas se
dão. E orientar-lhes a importância de realizar essa reflexão.
Um outro viés é sobre a natureza da fotografia, ao mesmo tempo, ícone, índice e
símbolo, Dubois (1993). Trazer a discussão junto aos alunos e de forma ampliada a
comunidade, levar à reflexão essa natureza rica que a fotografia trás.
Tornar evidentes tanto os aspectos da musealidade dos documentos, quanto dos
paradigmas da fotografia podem ser formas de ampliar a consciência sobre o mundo em que
vivemos, especificamente, sobre as fotografias antigas e também as mais novas, é entender
melhor a profusão de imagens e significados à nossa volta.
Destarte, a reflexão apresentada nesse artigo serviu para suscitar a percepção sobre a
necessidade de um tratamento teórico sobre os conceitos que permeiam a educação em arte,
nesse caso específico, os valores associados ao patrimônio e a fotografia. Tratamento que
deve ser incorporado à prática da oficina de fotografia e que pode aumentar a eficiência do
aprendizado, dando mais qualidade de conteúdo, contribuindo para que a consciência sobre o
fazer fotográfico possa ampliar as leituras sobre as imagens à volta dos alunos.
4. Referências
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica: arte e política: ensaios sobre literatura e história da
cultura: Brasiliense, 1985.
COELHO, Pricilla Arigoni. Museus no mundo contemporâneo. In: Revista Musear. 2012:
Editora UFOP, 2012.
ENTLER, Ronaldo. Retrato de uma face velada: Baudelaire e a fotografia. In: FACOM.
2007: FAAP, 2007.
Resumo
Este artigo tem como principal objetivo elucidar possíveis influências advindas da experiência na
educação formal e não-formal da artista pernambucana Tereza Costa Rêgo no processo de criação de
suas pinturas históricas. Partimos do pressuposto que os elementos constituintes da trajetória
biográfica do sujeito podem influenciar, de algum modo, no processo individual de escolhas de temas,
preferências iconográficas, estilos artísticos e posicionamentos sócio-políticos. Aos 88 anos de idade,
Tereza Costa Rêgo assina um vasto acervo pictórico, tendo como assuntos principais o
posicionamento libertador da mulher frente à sociedade machista; como também a sua reflexão sobre a
realidade histórico-sócio-político do Brasil. Neste trabalho de pesquisa, elucidamos panoramicamente
a vivência da pintora na educação formal, desde o seu primário até a sua experiência acadêmica na
Sorbonne. Como também, a importância da educação não-formal, vivenciada desde o seio familiar até
à sua experiência clandestina fora do Brasil, acompanhando seu companheiro de vida, o exilado
político pela ditadura brasileira, Diógenes Arruda Câmara. Por fim, confrontamos tais experiências
formativas na construção imagética da sua série de pinturas históricas intitulada “Sete luas de sangue”,
onde reflete por meio da sua arte, com criticidade e liberdade, sobre os problemas sociais da história
do país: desde o processo de descobrimento, ocupação e colonização portuguesa; perpassando pela
dizimação dos povos indígenas; a resistência negra à escravidão; a força do povo nordestino que luta
contra o preconceito regional; o problema da reforma agrária; até a atual questão da exploração do
povo brasileiros por seus dirigentes políticos.
Palavras-chave: Processo de criação artística. Análise de poética. Pintura social
Introdução
inspiradas ou influenciadas por diversos fatos da trajetória biográfica da pintora, que de algum
modo repercutiram no processo de criação de sua poética. Logicamente, não defendemos que
há uma dependência extrema ou subordinação absoluta da produção artística à história de vida
do indivíduo. Ao mesmo tempo, temos consciência da impossibilidade do artista se
desprender absolutamente de sua história, visando construir uma poética totalmente
independente de vivido e experenciado por tal sujeito. Ou seja, acreditamos que o artista pode
se utilizar de sua própria história para a sua produção, elencando símbolos, sugerindo temas,
tecendo valores ou até mesmo se auto-representando na obra. Partindo desse pressuposto,
elucidamos algumas experiências de Tereza Costa Rêgo, na sua educação formal, que
influenciaram de algum modo na construção de várias obras importantes de seu acervo
pictórico.
Terezinha, como era chamada pelos seus parentes mais próximos, nasceu na capital
pernambucana, Recife, aos 28 de abril de 1929. Como Lídia Baís, pintora homenageada pela
XXVII CONFAEB, a artista pernambucana também pertenceu a uma família rica e
tradicional. Mesmo distantes geograficamente, estas duas artistas viveram algumas
experiências sociais semelhantes durante a sua infância, marcada pelo rigor social imposto às
meninas pelo machismo dominante da época. Por ser a única filha, no meio dos outros quatro
irmãos mais velhos, Tereza Costa Rêgo recebeu todos os mimos e cuidados que caberia à
“princesinha” da casa. Mas também, viveu aprisionada na casa paterna, como caberia a uma
recatada “menina de família”, aguçando na mesma o desejo de liberdade desde cedo. A
própria pintora nos declarou, em entrevista exclusiva: “Eu era tão presa que a vizinha de
frente não sabia que naquela casa havia uma menina. Porque eu era uma prisioneira”2
O início da educação formal de Tereza transcorreu inicialmente no Colégio São José,
dirigido pelas irmãs da Congregação de Santa Dorotéia, uma das melhores instituições
educacionais da cidade, onde cursou desde o ensino primário até o magistério. Para nossa
pintora, os melhores momentos de sua infância aconteceram neste colégio, pois sentia-se
2
Entrevista exclusiva da artista em 17 jun. 2013.
completamente livre do aprisionamento que vivia em sua casa. Por não se ver identificada
com a carreira de professora, conseguiu autorização de seus pais para cursar o científico,
simultaneamente ao magistério, no Colégio Vera Cruz, administrado pela Congregação das
Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.
Mas, somente em 1944 é que Tereza conseguiu ingressar no curso que realmente
marcaria os dias futuros de sua trajetória biográfica. Aos quinze anos de idade, após muita
insistência, nossa pintora recebeu de seus pais a permissão para fazer o curso livre de pintura
na Escola de Belas Artes de Pernambuco – EBAP. Infelizmente, foi impedida de frequentar o
curso regular de artes plásticas deste estabelecimento. Pois, numa visão machista, seus pais
não aceitavam de modo algum que sua filha assistisse as aulas de modelo vivo, pois
consideravam tais momentos como “indecentes” para uma moça recatada da sociedade. Na
EBAP, Tereza conviveu com vários nomes importantes da pintura pernambucana, como
Mario Nunes, Murilo La Grecca e Lula Cardoso Aires. Foi pela influência deste último
artista, que Tereza Costa Rêgo iniciou seu processo de libertação das normas rígidas da
pintura acadêmica, dando vazão a ousadia da arte moderna.
desejo de estarem juntos. Em 1964, Tereza assinou o seu desquite do primeiro casamento,
podendo então seguir o seu novo companheiro até a morte de Diógenes. Neste momento, a
perseguição da ditadura militar aos dirigentes comunistas aumenta, não ficando o camarada
Arruda isento a este tormento. Em nome do seu amor e de sua felicidade, a referida pintora
viveu todo o processo de perseguição, fuga, captura, tortura, aprisionamento e exílio de seu
companheiro.
Quando estava em São Paulo, acompanhando clandestinamente Diógenes, percebeu
que seria o momento de aprofundar seus conhecimentos por meio da formação superior,
ingressando no curso de bacharelado em História na Universidade de São Paulo - USP. Em
entrevista, Tereza afirma que tinha consciência da importância desse curso para a sua
subsistência nesse difícil período, pois estava desquitada; excluída por seus parentes; e
vivendo escondida dos militares por conta de seu companheiro amado. Ela lembra que,
quando estava entrando em sala de aula para fazer a última prova do bacharelado, sua filha
Maria Tereza avisou-lhe que Diógenes havia sido capturado e que precisavam “limpar a
casa”3 urgentemente. Mesmo abalada com a notícia, movida pela consciência da importância
do diploma para a vida de toda a sua família, decidiu fazer a prova, e só depois ir para sua
casa4.
Ao concluir o curso, precisou se manter dando aulas de história em turmas de
preparação para vestibular. Sobre sua experiência como professora, a artista nos fala, com
certa comicidade, não ter sido tão boa profissional, mas que precisava deste trabalho para
sobreviver enquanto Diógenes estava preso:
Eu era péssima professora. [risos] Sofri muito, porque eu nunca fui muito boa em
datas, e precisava ter todas aquelas datas na cabeça, fazendo paralelo entre elas.
Maria Tereza tinha pena de mim, porque ela tinha sido minha aluna, e via como eu
sofria. Além das datas, eu sempre falei baixo e sou um pouco gaga. Foi um período
muito difícil para mim, muito puxado.5
3
Expressão “limpar a casa” foi utilizada para designar a destruição de qualquer indício de filiação ao partido que
pudesse ser utilizado pela força de repressão contra Tereza e suas filhas.
4
Entrevista exclusiva da artista em 14 set. 2012.
5
Idem.
Em entrevista, buscamos saber como Tereza Costa Rêgo se via em meio a toda esta
experiência formativa. Neste momento, a artista leu um manuscrito que escrevera para o
projeto de uma exposição com suas pinturas históricas, e que transcrevemos aqui:
A história é uma dimensão importante e fundamental para o estudo de qualquer
ramo das ciências e da vida. No caso especial, não me considero uma historiadora,
apesar de ter feito mestrado de história na USP e na Universidade de Altos estudos
na Sorbonne. Não sou uma intelectual, mas uma pessoa que se realiza e trabalha
com as mãos. Sou uma operária do meu próprio ofício. Mas o mergulho profundo
que foi dado na minha travessia de estudante, definiu a direção de minha vida como
ser político e como artista.7
A partir desta declaração, vemos que a artista reconhece a importância de toda sua
formação acadêmica para o desenvolvimento de sua poética.
Desde o início até os dias atuais, a poética artística de Tereza Costa Rêgo passou por
várias fases: Seus primeiros trabalhos repetiram as lições iniciais de seus mestres, sendo
obediente as normas que recebera nas suas aulas. Com o tempo, começou a sentir-se
autônoma para refletir sobre inúmeros temas; experienciar técnicas e materiais diversos. E aos
poucos, sua assinatura artística foi se tornando conhecida por sua reflexão pictórica do
universo feminino, retratando mulheres nuas, altivas, eróticas, libertas e independentes da
figura masculina. Mas, sua poética enriquece profundamente quando a artista expressa, por
meio da pintura, sua reflexão histórica-político-social de vários fatos importantes do país. Em
vários traços de suas obras vemos o reflexo da educação formal experenciada no curso de
licenciatura em História da Universidade de São Paulo, como também no curso de extensão
na Sorbonne. Em sua pintura, percebemos a presença da educação informal que vivenciou
principalmente no período do exílio de seu companheiro Diógenes Câmara, quando a mesma
conviveu com inúmeros representantes socialistas, além de tantos outros exilados pela
ditadura militar.
O ponto mais emblemático dessa pintura histórica no acervo tereziano é a série
intitulada “Sete Luas de Sangue”. Formada por sete painéis pintados à óleo sobre madeira, foi
confeccionada durante cinco anos e exibida pela primeira vez na cidade do Recife, no Museu
de Arte Moderna Aloísio Magalhães - MAMAM, no ano de 2000. Trabalhando sobre grandes
dimensões, a pintora elencou sete marcos; sete luas; sete fatos importantes para a história do
Brasil e para a construção de uma identidade nacional, dando a sua interpretação a cada um
destes momentos, alicerçada no seu conhecimento e na sua caminhada; na teoria e na vida que
construíra; destacando a imagem da mulher em algumas obras como um símbolo inquietante
do povo brasileiro na história oficial do país.
Uma mulher que viveu em busca de sua liberdade desde a infância, debruçou-se
criticamente sobre os golpes à liberdade coletiva ocorridas no seu chão. Por meio de sua
pintura histórica, a sua busca individual fundiu-se na busca coletiva dos oprimidos sociais
(mulheres, índios, negros, pobres). Por sua formação como historiadora, durante a produção
da série, dedicou-se à pesquisa sobre os sete momentos. No entanto, manteve-se livre para
apresentar seus pontos de vista; seus sonhos; seus ideais; suas próprias divagações; criando
sua interpretação imagética da história nacional. Sobre a produção destes painéis a pintora
escreveu:
Por tudo isso, utilizei uma bibliografia muito vasta, com enfoques contrários, que me
abasteceram para o grande parto dessa gestação. A bibliografia saiu de uma
Fig. 1 – (à esquerda) Tereza Costa Rêgo. "Batalha dos Guararapes ou árvore da liberdade". Acrílico sobre
madeira. 160x220cms. 1999. (à direita) Tereza Costa Rêgo. "Zumbi dos Palmares ou herdeiros da noite".
Acrílico sobre madeira. 185x245cms. 1998.
A primeira obra desta série foi intitulada “Batalha dos Guararapes ou árvore da
liberdade” (Fig. 1 – à esquerda). Como o próprio nome já elucida, a artista retratou a
participação do povo nordestino no processo de desocupação dos holandeses do território
brasileiro. Tereza materializa esta luta histórica dando vida à árvore da liberdade referenciada
na frase de Tomas Jeferson, que nossa artista cita na base do referido painel: “A árvore da
liberdade deve ser regada de tempos em tempos com o sangue dos patriotas e tiranos.” A copa
da árvore recebe da artista um formato circular, desenvolvendo momentos da batalha dos
Guararapes no seu interior. Vemos a imagem dessa copa como uma recordação histórica, uma
herança mnemônica para os brasileiros que se aglomeram ao redor dessa árvore, revendo a
luta de seus “patriotas e tiranos” na construção de sua própria identidade. Ao escrever sobre a
referida obra, Ariano Suassuna elucida algumas características do barroco nacional na
construção imagética de Tereza Costa Rêgo, destacando a copa da árvore da liberdade que a
artista constrói como um palco onde transcorre a tragédia da nossa história. Suassuna declara:
O Barroco em geral, e o Barroco Brasileiro em particular, tem três características
principais: a unidade de contrastes, a busca do grandioso, e não simplesmente do
belo, a visão do mundo como se fosse um palco, no qual a vida é uma representação
8
Catálogo da exposição individual “Sete luas de sangue”, Recife, 2000, p. 16.
e os homens são atores. [...] E o de Tereza Costa Rêgo, inclusive por uma forma
central meio circular e de palco, fazia com que seu quadro entrasse naquela
linguagem barroca e brasileira a qual me referi. 9
Na obra “Zumbi dos Palmares ou herdeiros da noite” (Fig. 1 – à direita) a artista
reflete sobre o crime histórico da escravidão no Brasil. Na figura do guerreiro Zumbi, Tereza
Costa Rêgo enaltece todos aqueles e aquelas que doaram seu sangue pela libertação de si e/ou
dos outros indivíduos. Os elementos visuais que compõem este painel evidenciam nossa
herança mestiça; nosso sincretismo religioso; a riqueza negra na nossa mistura cultural
brasileira. Mas, com este painel, a pintora também chama nossa atenção para a nociva
presença do racismo ainda em nossos dias.
Fig. 2 - (à esquerda) Tereza Costa Rêgo. "Canudos ou guerra do Sertão". Acrílico sobre madeira. 185x45cms.
1997. (à direita) Tereza Costa Rêgo. "Ovo da serpente ou problemas da terra". Acrílico sobre madeira.
185x245cms. 1999.
9
Idem, p. 6.
diversidade. Este casal segura um estandarte com a história dos nossos ancestrais, enquanto
milhões de índios e índias jazem pela mão colonizadora europeia.
Fig. 4 - Tereza Costa Rêgo. "Pátria nua ou ceia larga brasileira". Acrílico sobre madeira. 245x555cms. 1999.
Acreditamos que, dos sete painéis da série “Sete Luas de Sangue”, nenhum traz um
recorte histórico tão atual quanto a obra intitulada “Pátria nua ou ceia larga brasileira” (Fig.
4). Neste grande painel, Tereza Costa Rêgo apresenta o povo brasileiro como uma mulher
nua, passiva, silenciada, inerte e obediente. Deitada sobre uma mesa larga, onde se encontram
os dirigentes da nação se fartando abundantemente neste banquete. O povo brasileiro que é
comido por seus dirigentes políticos e ideológicos. São figuras históricas conhecidas por
todos os brasileiros, como Dom Pedro I, José Bonifácio, General Castelo Branco; Tancredo
Neves, Fernando Collor, dentre outros. Interessante notar a figura humana que está de pé, à
frente da mesa, numa referência ao líder religioso, Dom Helder Câmara, representando a voz
profética de tantos homens e mulheres que denunciam o erro e a exploração do povo
brasileiro
Considerações Finais
Neste artigo, buscamos evidenciar a influência que a educação formal e não-formal,
experenciada pela pintora Tereza Costa Rêgo, geraram na construção de suas obras: seja na
escolha dos temas a serem trabalhados, seja na estrutura simbólica dos elementos presentes na
composição da peça. As pinturas históricas de Tereza Costa Rêgo ilustram, por vezes, suas
escolhas políticas e existenciais; como também sua experiência vivida durante a sua
caminhada na busca do conhecimento e da sua liberdade como mulher.
REFERÊNCIAS
ARRUDA, Cristiana. “Brasil: ame-o ou deixe-o”, les exilés politiques brésiliens en France
pendant le régime militaire – 1964 a 1979 – récits de viés. 2001. Dissertação. Paris:
Université Paris X – Nanterre, 2001.
COSTA, Ana Alice Alcântara. Refletindo sobre as imagens da mulher na cultura política. In:
FERREIRA, Silvia Lúcia e NASCIMENTO, Enilda Rosendo (orgs). Imagens da mulher na
cultura contemporânea. Salvador: Editora da UFBA, 2002, p. 69 – 83.
FRANÇOIS, Dosse. O desafio biográfico: Escrever uma vida. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2009.
RÊGO, Tereza Costa. Tereza Costa Rêgo. Recife: Editora Publikimagem, 2009.
MURALISMO BRASILEIRO
Resumo
O presente artigo tem por finalidade contextualizar a temática do Muralismo no Brasil. A
proposta para o texto surge a partir da necessidade de ampliar os saberes sobre essa linguagem
artística, que é pouca conhecida pela comunidade acadêmica. O nome “muralismo” surge no século
XX com as pinturas murais mexicanas, mas esse tipo de arte existe desde as antigas civilizações, por
meio de afrescos, mosaicos, entre outros. Por ser um tema muito abrangente, a intenção é focar no
âmbito brasileiro. O contexto inicia com a contribuição dos colonizadores portugueses, perpassa por
artistas como Portinari, Cícero Dias e Ivan Freitas até alcançar nomes contemporâneos como Maria
Bonomi. O objetivo é investigar o contexto histórico do muralismo na arte brasileira, apontando a
técnica e suas possibilidades artísticas. Este contexto resulta da realização de uma pesquisa
bibliográfica e qualitativa. Acredita-se que esta pesquisa contribui para o contexto histórico
brasileiro e para a identidade e memória cultural e que o muralismo seja visto como uma
linguagem a ser apreciada e reconhecida como uma importante expressão artística. Para
complementar o artigo, relata-se uma vivência artística da pesquisadora com alunos do ensino
fundamental. Este último, foi um projeto desenvolvido com a intenção de resgatar as memórias das
crianças sobre um tema recorrente na cidade utilizando a linguagem do muralismo.
Palavras-chave: Arte. Arte Mural. História da Arte.
Introdução
Atuando como professora e artista visual, verificou-se que existe um universo artístico com
uma variedade considerável de linguagens. A produção por meio da escultura e cerâmica levou a
pesquisar um universo em particular: o muralismo.
O nome muralismo surge no século XX com as pinturas murais mexicanas, mas a linguagem
existe desde as antigas civilizações, por meio de afrescos, mosaicos etc. Muralismo significa cobrir
uma superfície (parede) com perspectiva artística, utilizando-se pintura, ladrilho, azulejo, spray e
outros materiais. Com possibilidades artísticas amplas, que geram inspiração ou polêmica, surgem os
questionamentos: Qual o contexto histórico do muralismo na arte brasileira? Quais artistas se
destacam no contexto brasileiro?
A partir dessas questões, tem-se como objetivo da presente pesquisa, investigar o contexto
histórico do muralismo na arte brasileira. Na sequência, discorre-se sobre a técnica e suas
1
Artista Visual. Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau – FURB. Professora do curso de
Artes Visuais da Universidade Regional de Blumenau – FURB e do PARFOR. E-mail: arte.roseli@gmail.com
possibilidades artísticas; aponta-se o contexto histórico do muralismo com destaque para as referências
artísticas brasileiras, e por fim, relata-se uma vivência artística da pesquisadora com alunos do ensino
fundamental por intermédio do muralismo.
Ao tentar conceituar o termo Muralismo, percebeu-se, durante a pesquisa, uma aceitação por
parte de artistas e teóricos quanto ao conceito do muralismo, não somente voltado à pintura, mas
também a outros tipos de manifestações artísticas como murais cerâmicos e relevos. A nomenclatura
foi definida pelos muralistas mexicanos no início do século XX e, por ter sido um movimento artístico
tão marcante, tem-se a impressão de que mural se relaciona com pintura, mas a ideia é ampliar esse
conceito.
O que auxilia na expansão e esclarecimento do conceito, é justamente a origem do nome:
etimologicamente, do latim murālis, que faz referência ao muro, ou seja, à superfície e não ao tipo de
técnica utilizada. Ao apoiar essa premissa, uma mescla de possibilidades técnicas surge no horizonte
da arte mural. Pode-se considerar desde os azulejos coloniais, passando pelas pinturas murais de
Cândido Portinari até os murais em concreto de Poty Lazzarotto e Maria Bonomi.
Com alusão ao muro, parede, o muralismo sugere inicialmente superfícies verticais, ligadas a
arquitetura. Os materiais utilizados para essa expressão artística podem ser a tinta, o azulejo, o
concreto, a pastilha de cerâmica, a argila, o metal, o gesso, entre outros. É uma arte pública,
democrática ao possibilitar o seu acesso a um grande contingente de pessoas. Não está fadada a ser
unicamente de um museu, já que os artistas procuram multiplicar esta arte em vários espaços, em sua
maioria, em espaços coletivos e urbanos. Sobre o mural no espaço urbano, Aquino (1985, p. 5-6)
complementa:
A arte mural possibilita a criação de diálogos e relações com o público por estar num contexto
urbano, cria aberturas para o imaginário, para os olhares diferenciados, para comentários entre pessoas
a respeito da arte em seu cotidiano, fazendo surgir momentos de reflexão e apreciação estética em
meio ao universo cinza e repetitivo das cidades.
Os artistas optam pelo muralismo para criar uma repercussão no maior número possível de
pessoas. Assim, desenvolvem suas poéticas figurativas ou abstratas, com o intuito também de gerar
um impacto sensível, voltado tanto à contemplação quanto à polêmica. Talvez, essa seja uma das
premissas da arte: fazer as pessoas, que estão condicionadas à rotina, despertarem por instantes para a
estética artística, para as ações do pensar e sentir. Para enfatizar esse conceito, Araújo (1985)
corrobora com as duas vertentes do muralismo brasileiro: a primeira como forma de protesto e a
segunda como uma possibilidade artística e estética urbana.
A narrativa inicia com os afrescos na antiga Grécia e Roma, que eram pigmentos em cores
dissolvidos em água pintados sobre a argamassa úmida, encontrados em paredes de palácios e casas.
Essa técnica foi utilizada também na Idade Média e no Renascimento. Foi esquecida e retomada no
século XX por artistas modernistas como os expressionistas e os cubistas.
Os muralistas mexicanos queriam uma arte de oposição à ditadura, em prol de movimentos
revolucionários. Os artistas se inspiraram nas culturas antigas maias e astecas, na cultura popular e no
expressionismo. A pintura mural vinha ao encontro dos objetivos desses artistas, que queriam uma
arte voltada para o povo. Segundo Proença(2011, p. 320)
O mosaico também é uma possibilidade para o muralismo. Mosaicos foram utilizados desde as
mais antigas civilizações, sendo a arte bizantina o auge dessa manifestação artística. Outro exemplo
são os painéis de azulejos, utilizados largamente na Europa, trazidos pelos turcos e explorados de
maneira grandiosa pelos portugueses, que introduziram no Brasil no período da colonização.
Muralismo brasileiro
Com a república e o início do século XX, surge um Brasil preocupado com a formação de uma
identidade própria. A arte moderna se posiciona na história brasileira e conta com um artista com
tendência muralista: Cândido Portinari. Inspirado pelo movimento modernista e pelos muralistas
mexicanos, o artista paulistano segue uma temática social. Fabris (1996, p. 56) relembra os primeiros
passos do artista nesse segmento:
Após a década de 50, é que o muralismo no Brasil se situa de maneira efetiva, consequência do
crescimento das cidades, industrialização e urbanização. Surgem nomes como Clovis Graciano,
Francisco Brennand e Cícero Dias.
Clovis Graciano é natural de São Paulo. Foi estudar em Paris no final da década de 1940 a
prática dos murais e técnicas como a dos mosaicos. De volta ao Brasil, realiza em 1962 o
mural Armistício de Iperoig, localizado na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e, em 1979,
o painel Operários, na Avenida Moreira Guimarães e vários outros murais em espaços públicos e
fachadas de prédios em São Paulo. A temática social é uma constante em sua obra.
O artista pernambucano Francisco Brennand produz esculturas e murais em cerâmica.
Conhecido pelo seu ateliê/museu até os dias de hoje, iniciou sua notoriedade em 1958 com o mural do
Aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife e, em 1961, o mural Anchieta, no Ginásio
Itanhaém, na cidade de São Paulo.Batalha dos Guararapes é uma de suas obras mais importantes
realizadas em 1962, no Recife, na fachada de uma agência do Banco Lavoura de Minas Gerais.
Também pernambucano é o artista Cícero Dias. Em 1948, produz um mural para o edifício da
Secretaria das Finanças do Estado de Pernambuco. Esse trabalho é considerado o primeiro trabalho
abstrato do gênero na América Latina. Outro mural conhecido do artista é o painel na Estação
Brigadeiro do Metrô de São Paulo que possui 20 metros de comprimento e foi realizado em 1991.
A partir dos anos 70, muitos artistas optam pela linguagem do muralismo. Na pintura mural,
podem-se citar nomes como Ivan Freitas, Cláudio Tozzi, João Câmara, Roberto Magalhães, Aluísio
Carvão, Mário Gruber, Rubens Gerchman, João Rossi, Lula Cardoso Ayres, Clauco Rodrigues e
Tomie Ohtake.
Entre os anos de 1969 e 1972, o paraibano Ivan Freitas esteve em Nova Iorque e conviveu,
entre outras linguagens artísticas, com o novo muralismo que se desenvolvia nos Estados Unidos. De
volta ao Brasil, aperfeiçoou sua técnica em pintura tida como hiper-realista com toques de surrealismo,
relacionando realidade com imaginário. Entre 1975 e 1984, criou Paisagem Urbana numa parede de
960m², no centro do Rio de Janeiro, próximo aos Arcos. Araújo (1985, p. 12) comenta:
Ivan nunca apreciara os murais sociais ou narrativos que conheceu em Nova York:
‘Criavam mais uma agressão, mais uma coisa neurotizante na cidade’. E por tudo
isso, optou por um ‘compromisso com o estético e com a leveza. Tudo na cidade é
pesado. O artista deve buscar uma ilusão de abertura de espaço, e não de bloqueio’.
Fonte: ARAÚJO, Olívio Tavares de(Org). Novos Horizontes: pintura mural nas cidades brasileiras.
Banco Nacional: 1985, RJ.
Artistas como Clóvis Graciano, Maria Bonomi, Athos Bulcão, Emanoel Araújo, Miguel dos
Santos, Carybé, Paulo Werneck, Yataka Toyota, Haroldo Barroso, Poty Lazzarotto enveredaram por
técnicas e materiais como mosaico, cerâmica, metal, concreto etc., para expressar suas versões no
muralismo brasileiro.
Poty Lazzarotto, nascido em Curitiba/PR., é conhecido por suas ilustrações e murais que se
encontram em vários espaços públicos da cidade. Para executar os murais, Poty aplicava diversos
materiais, mas preferia o concreto. Pode-se destacar os painéis do Teatro Guaíra e do Palácio Iguaçu,
que também foram tombados pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (CEPHA) e
reconhecidos como Patrimônio Cultural do Paraná em 2014.
Maria Bonomi é uma artista reconhecida pelas suas gravuras. Porém, a partir dos anos 70,
dedica-se também a realizar murais em metal ou concreto, que podem ser encontrados em vários
espaços públicos de São Paulo. Os relevos concebidos pela artista lembram os sulcos e a textura
característica da gravura em madeira. Entre várias obras, pode-se enfatizar a obra inaugurada em 2008,
Etnias, do primeiro e sempre Brasil que se encontra no Memorial da América Latina e Epopéia
Paulista da Estação da Luz, de 2005. O primeiro reverencia a cultura indígena com argila, bronze e
alumínio e o segundo faz referência às etnias que compuseram São Paulo por meio do concreto
pigmentado.
O muralismo ocupa os espaços urbanos e subsidia a criação de uma identidade brasileira com
diversidade de poéticas artísticas, de técnicas e de materiais que reflete a inventividade e originalidade
dos artistas.
Fonte: A autora.
As aulas iniciavam com a apresentação do projeto e com a temática das enchentes por
meio de imagens retiradas da internet sobre o episódio. Resgatou-se a memória das crianças
por meio de diálogos sobre os momentos que passaram durante as cheias de 2008. Os relatos
continham principalmente as experiências pessoais, mas também contavam sobre episódios
vistos na mídia. Os alunos registraram alguns fatos por meio da escrita. Com a lembrança e a
inspiração alertas, iniciou-se a produção artística. Cada criança produziu de duas a três placas.
A primeira placa foi um desenho com o tema de algum momento das enchentes. Os elementos
que mais se destacaram foram: pessoas em barcos, helicópteros, casas e carros submersos em
água e os deslizamentos de morros e árvores. A outra placa foi composta por desenhos da
água, representada em forma de ondas que prescrevem as cheias. A última placa contém a
impressão das mãos, como símbolo da solidariedade que os cidadãos blumenauenses
receberam durante as dificuldades.
Fonte: A autora.
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Campo Grande, MS – 14 a 18 de novembro de 2017
ccientificoconfaeb@gmail.com
ISSN
Campo Grande/MS - Brasil
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www.confaeb.art.br | Anais 2525-880X
XXVII CONGRESSO NACIONAL DA FEDERAÇÃO DE ARTE/EDUCADORES DO BRASIL
V CONGRESSO INTERNACIONAL DOS ARTE/EDUCADORES
II SEMINÁRIO DE CULTURA E EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL
“Enquanto esse velho trem atravessa...”:
outros caminhos na experimentação e na formação docente em Arte
Fonte: A autora.
Considerações finais
Ao finalizar a pesquisa foi possível perceber a contribuição inicial dos colonizadores para a
arte brasileira. Com Portinari, o muralismo ganha força e identidade nacional e oferece o incentivo
necessário aos artistas nos anos 50. Mas foi somente partir dos anos 70 que a diversidade de poéticas e
materiais se efetivou.
Observou-se durante a pesquisa que esta não se finda. Ainda há muito para contextualizar e
conhecer a respeito da linguagem dos murais. As obras aqui mencionadas demonstram as várias
possibilidades artísticas, apontando a perspicácia, a criatividade e o ímpeto brasileiro para a arte.
Acredita-se que o objetivo foi alcançado e espera-se que com esta pesquisa o muralismo seja uma
linguagem mais apreciada e reconhecida como expressão poética, além de contribuir para o contexto
histórico da arte brasileira e para a identidade e memória da cultura nacional.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Olívio Tavares de (Org). Novos horizontes: pintura mural nas cidades brasileiras. Rio de
Janeiro: Banco Nacional, 1985. (Catálogo).
CALDAS, Wallace. Pinturas murais: restauração e conservação. Rio de Janeiro: In-Fólio, 2008.
CHITI, Jorge Fernandez. Curso de escultura e mural cerâmicos. Buenos Aires: Ediciones
Condorhuasi, 2004.
FABRIS, Annateresa. Artistas brasileiros: Cândido Portinari. São Paulo: USP, 1996.
NOBRE, Suzy Margaret Damasceno. Arte revolucionária: a função social da pintura mural. 2011.
83f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Artes Visuais) Instituto de Artes Visuais,
Universidade de Brasília, Distrito Federal, 2011.
SANTOS, Maria das Graças Vieira Proença. História da arte. São Paulo: Ática, 2011.
VOLKSWAGEN DO BRASIL. Artistas do muralismo brasileiro. São Paulo: Raízes Artes Gráficas,
1988. (Catálogo).
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“Enquanto esse velho trem atravessa...”:
outros caminhos na experimentação e na formação docente em Arte
Grupo de Trabalho 3
Teoria, História, Crítica, Estética
Resumo
O presente texto apresenta a armação de uma problematização, cujo interesse se volta para, na
esteira da teoria/metodologia de Michel Foucault, investigar as relações discursivas que se dão
entre arte e educação no que tange o conceito vago de "experiência". Uma das noções talvez
mais solicitadas da contemporaneidade, a experiência tem sido largamente evocada nos
discursos de práticas educativas envolvendo arte, assim como nos discursos de práticas
artísticas que fazem interface com a educação, sem, contudo, deslindar suas significações. A fim
de investigar tais ocorrências, tomou-se como fontes temáticas, os discursos presentes em
importantes periódicos científico-acadêmicos de arte e de educação, assim como os anais dos
mais importantes eventos científicos de arte-educação. Por um lado, visa-se arqueologicamente
compreender os deslocamentos discursivos que possibilitaram determinadas concepções de
experiência vincularem-se à arte e à educação. Já por outro lado, pretende-se investigar e
circunscrever genealogicamente a emergência da ideia de "experiência" na literatura da arte e da
educação, haja visto que a associação entre estes termos parece encontrar na noção de
experiência uma de suas principais ancoragens. Trata-se, portanto, de um relato de pesquisa de
doutoramento em curso, sob orientação do Prof. Titular Julio Groppa Aquino, feito na
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, parte do grupo de pesquisa COPERP -
USP (Coletivo de Pesquisadores sobre Educação e Relações de Poder)
discursos que por ali circulavam, visando, em última instância, perscrutar nosso momento
atual.
Para tanto, se fará necessário compreender o emaranhado que compõe os discursos da
arte na educação e da educação na arte, a fim de escrutinar os dispositivos que, se considerado
correto, operam uma forma de governamentalidade a favor de um intenso processo que
pedagogização da vida.
É sabido, de partida, que tem havido certo alargamento do campo da educação, que
passa a atuar para além da escola, operando, por exemplo, na consigna da "formação
permanente", tal como já havia proferido Gilles Deleuze (1992, p. 222), ao afirmar que
havíamos deixado de lado as instituições disciplinares para operar sob a lógica da sociedade
de controle, na qual "o controle é de curto prazo e de rotação rápida, mas também contínuo e
ilimitado(...). O homem não é mais o homem confinado", assim como a arte não se encerra
mais em seus espaços canonizados.
A isso soma-se aquilo que muito têm se profetizado como "crise da educação". Sobre
isso Bauman (2011, p. 72) é perspicaz:
os desafios do nosso tempo impõem um duro golpe à própria essência da
ideia de educação formada ainda nos albores da longa história da civilização.
Eles põem em xeque os “invariantes” da ideia pedagógica: suas
características constitutivas, que resistiram incólumes a todas as crises do
passado, seus pressupostos nunca antes criticados ou examinados, muito
menos condenados por terem seguido seu curso e precisarem de substituição.
Tanto Deleuze quanto Bauman trazem à baila o desinteresse presente na escola assim
como em qualquer outra prática social ancorada na solidez pretendida pelos séculos passados.
A instituição escolar, portanto, com certa vulnerabilidade deflagrada nos discursos da
ineficiência e do desânimo tanto de seus profissionais quanto de seu alunado, vê-se
rapidamente transformar-se numa educação líquida.
Para essa educação da formação rápida e permanente, o que figura como regra não é a
segurança de um conhecimento perene como condição e garantia da durabilidade, e sim a
capacidade de esquecer, à maneira de Leônia de Ítalo Calvino, fadada a se refazer a cada dia.
Na esteira do prenúncio deleuziano do alargamento da esfera educativa, observamos
na contemporaneidade um excesso de valorização da ideia de experiência, para além do
âmbito escolar, que de resto parece todo calcado no significante desta palavra. Tal
espraiamento das práticas pedagógicas sobre todos os setores da vida além escola, parece
ocultar segundo Aquino:
uma ambição ultrarreformista da sociedade, expressa numa
multidimensionalidade de funções reparatórias ou salvacionistas dos usos e
costumes dos segmentos populacionais sob sua guarda – o que abarcaria
indistintamente clientela e agentes escolares. (2012, p. 202)
É, portanto, neste complexo cenário, que reside, ao que parece de forma ambivalente,
a relação entre arte e educação. Ora, por um lado, vê-se a labilidade das práticas artísticas, por
outro avista-se, incólume, a vontade de creditar à arte uma universalidade perdida: a
(DEWEY, 2010, p. 62) "arte é a mais universal e mais livre das formas de comunicação [...] é
a extensão da função dos ritos e cerimônia unificadores dos homens [...] ela também
conscientiza os homens de sua união uns com os outros na origem e no destino." Soma-se a
isso, na liquidez do contemporâneo, a emergência de um tipo peculiar de relação com o
presente, talvez atribuindo ao agora seu valor máximo.
O conceito de governamentalidade elaborado por Foucault, aparece na aula de 10 de
fevereiro de 1978, no curso intitulado Segurança, Território e População, entendido como
o conjunto constituído pelas instituições, os procedimentos, as análises e as
reflexões, os cálculos e as táticas que permitem exercer essa forma bem
específica – embora muito complexa – de poder, que tem por alvo principal
a população, por principal forma de saber a economia política e por
instrumento técnico essencial os dispositivos de segurança. Em segundo
lugar, por ‘governamentalidade’, entendemos a tendência, a linha de força
que, em todo o Ocidente, não parou de conduzir, e desde há muito, para a
preeminência desse tipo de poder que podemos chamar de ‘governo’ sobre
todos os outros – soberania, disciplina – e que trouxe, por um lado, o
desenvolvimento de toda uma série de aparelhos específicos de governo [e,
por outro lado], o desenvolvimento de toda uma série de saberes. (p.143-
144).
produção discursiva atua a fim de tornar-se uma intervenção pedagogizante para além dos
objetivos educacionais, recaindo, inclusive, sobre as práticas artísticas?
Seguindo com Foucault, se faz necessário analisar os discursos que compreendem a
arte como experiência supondo que a experiência não pode ser considerada um dado
universal, mas sim uma forma determinada, singular e construída de vivenciar o presente, ao
mesmo tempo que tal problematização desconfia dos universais comumente profetizados na
área.
Porém, é sobretudo, ancorada na própria noção de experiência de Foucault, que essa
pesquisa encontra sua maior valia, sendo a possibilidade de se materializar como um daqueles
(1984, p.12) "momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do
que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar
ou a refletir."
Esta pesquisa opera, como já apresentado anteriormente, a partir do método
arqueogenealógico foucaultiano. Ainda que exista uma sorte de autores que separe em dois
momentos distintos estes procedimentos na obra foucaultiana, para os fins dessa pesquisa, se
debruçará sobre os dois movimentos conjuntamente, por entender junto a Paul Veyne que são
exercícios complementares, na medida em que o procedimento foucaultiano pode ser
chamado, por um lado de uma história-genealogia por mirar as práticas e não os povos, e por
outro pode ser considerado arqueológico, pois
toda história é arqueológica por natureza e não por escolha: explicar e
explicitar a história consiste, primeiramente, em vê-la em seu conjunto, em
correlacionar os pretensos objetos naturais às práticas datadas e raras que os
objetivizam, e em explicar essas práticas não a partir de uma causa única,
mas a partir de todas as práticas vizinhas nas quais se ancoram. (VEYNE,
2011, p. 282)
Em suma, não se trata aqui de julgar como mais adequado ou de rechaçar esse ou
aquele discurso. O resultado esperado é por em movimento tais problemas, evidenciando
relações, conjuntos e séries, a fim de proporcionar novas indagações, propondo fagulhas de
desconfiança em forma de (SILVA, 1994. p. 244) "tentativas de escapar de qualquer
enquadramento que postule como não-problemáticas as ideias iluministas de um sujeito
fundante."
***
1. Ressonâncias do percurso inicial
Se no momento anterior a ideia de experiência parecia reunir vestígios para
desempenar a discussão entre arte e educação, apostando ali que a concepção de
governamentalidade foucaultiana traria elementos para tal fito, neste momento da pesquisa,
empenha-se mais em perscrutar ali nos discursos da educação o que se diz sobre arte, para que
desse material saiam as ferramentas para lograr uma espécie de crítica do presente.
Calcada na noção de focos de experiência (FOUCAULT, 2010, p. 4): "formas de um
saber possível, matrizes normativas de comportamento, modos de existência virtuais para
sujeitos possíveis", procurar-se-á compor o arquivo temático a fim de atentar para o acento
pedagogizante presente nas práticas artísticas e na sua solicitação por parte da educação.
O arquivo, no presente momento, é o principal foco da problematização da pesquisa,
com ele estabelece-se uma certa relação passional à moda de Farge, de trabalho manual, de
simples operações - pesquisar a recorrência de um grupo de palavras. Assim, um primeiro
gesto de pesquisa foi inaugurado com a imersão nos trinta e quatro periódicos de educação
organizados pelo grupo. Essa investida pretende dar conta de um estado da arte daquilo que,
em educação, foi dito em torno das palavras arte, artista e artística(o). É importante salientar
que, para a composição dessa fonte temática primária, ficaram de fora apenas os artigos que
faziam estados da arte de qualquer outro objeto de pesquisa, e que entraram na busca do
Arte e Formação de professores - Quarenta e dois artigos fazem parte dessa categoria que
ora se voltam para a formação do professor de arte ora usam a arte para qualificar a formação
do professor de qualquer outra disciplina, o alfabetizador, o professor de matemática, o que se
vê na rápida olhada nos resumos é o duplo pastorado da natureza e da sociedade.
Arte e filosofia - Trinta e cinco artigos são devotados a discorrer sobre a relação entre arte e
filosofia, desde Platão, Aristóteles, Deleuze e Foucault. Dewey aparentemente configura a
principal recorrência temática (importante referencial para a discussão sobre experiência, já
que a recepção de Dewey, no campo da Arte/Educação, em especial o seu Arte como
experiência, é feita por Ana Mae Barbosa).
Arte e infância - Vinte e um artigos trazem à baila a importância da arte na infância, e ali já
fica bastante nítida a dificuldade imposta pelas categorizações, já que , pelo que pude ver,
quase todos eles falam da infância tomando como discurso central o psicológico.
Arte e instituições culturais - Quatorze artigos refletem sobre a relação entre a arte e as
instituições culturais, particularmente, o museu. Alguns textos que valorizam a parceria entre
museu e escola, outros falam do papel da mediação cultural para aquisição de repertório
artístico e formação.
Outras artes - Sessenta e sete artigos tratam de cinema, dança, literatura, música e teatro,
ainda que eles remetam à outras categorias já descritas, por exemplo a dança na formação
corporal do professor, etc., optei, por crivar o arquivo naquilo que diz respeito às artes visuais.
Essa categoria deve ser abandonada para que a pesquisa possa centrar o foco nas práticas das
artes visuais.
Do ponto de vista da autoria, foi possível destacar alguns autores que publicaram com
maior frequência ao longo dos 34 periódicos, são eles, Luciana Gruppelli Loponte,
pesquisadora vinculada à Faculdade de Educação da UFRGS, tendo nove artigos acerca da
formação do professor, seguida por Ayrton Dutra Côrrea, pesquisador da Faculdade de
Educação da UFSM, tendo focado especialmente nas questões epistemológicas do ensino da
arte (conforme categoria descrita), que publicou cinco artigos, Ricardo Ottoni Vaz Japiassu
(UNEB) também conta com cinco artigos publicados acerca das relações entre teatro e
educação e, por fim, Maria José Dozza Subtil (UEPG/PR), com também cinco artigos sobre
música, educação e produção do gosto musical. Houve ainda alguns autores que publicaram
quatro artigos cada, sendo alguns em coautoria, são eles: Ana Mae Barbosa (USP -
Mackenzie), Marilda de Oliveira (UFSM), Maria Emília Sardelich (UFPA), Marcílio de
Souza Vieira (UFRN), e Graciela Rene Ormezzano (UPF). Com três artigos publicados: Ana
Luiza Ruschel Nunes (UEPG/PR), Cynthia Farina (IFSul), e Mirian Celeste Martins (
Mackenzie). Os demais duzentos e quarenta e sete artigos foram escritos por autores que não
voltaram a publicar nos periódicos analisados.
Vale reforçar que para a manufatura do arquivo - ainda temático, tais categorias bem
como a maior presença de alguns autores prestam-se tão somente como um primeiro modo de
endereçamento aos escritos, uma vez que não se pretende alçar nem um tipo de analítica
representacional desses discursos.
2. Porvires
Uma vez instituído esse primeiro gesto - um estado da arte, há ainda o interesse em se
fazer também o levantamento bibliográfico nos periódicos científico-acadêmicos de arte, no
sentido contrário, sob a pergunta proferida por Giorgio Agamben (2013, p. 352): "qual é o
lugar da arte no presente?", o presente tomado como endereçamento direto dos arquivos
mobilizados. A operação que se entrevê é a busca pelos discursos em torno da educação. Isso
porque não só se percebe uma espécie de governamentalidade pressuposta na conjunção entre
arte e educação, mas porque a via é de mão-dupla - também as práticas artísticas parecem
constituir uma forma de governo irrecusável e de cunho também educacionalizante e
educacionalizado.
Seguindo o trilho proposto por Agamben, parece pujante lançar o olhar sobre a
máquina artística que se engendrou desde as pré-vanguardas artísticas, os denominados
movimentos impressionista, simbolista, fauvista, etc., que operam sob a tríade artista -
operação artística - obra, para (idem, p. 361) "abandonar também a ideia de que haja alguma
coisa como uma suprema atividade artística do homem."
REFERÊNCIAS
Resumo
Esse artigo aborda algumas notas sobre a formação da identidade em função do contato com o
comportamento da sociedade ao redor do indivíduo, sendo que esta mesma identidade se materializa
na visualidade. E estas se assemelham e se diferem no contexto social, essas interações que dão
sentido a diversidade. A problemática deste trabalho surge com a experiência da não
aceitação/estranhamento frente à diferença, da diferença das identidades padronizadas, da diferença de
professores que não seguem normatividades quanto à visualidade de seu ser. Apresentando assim
algumas considerações quanto à representação visual que docentes homossexuais do sexo masculino e
suas identidades em face dos impasses encontrados nas escolas quanto à aceitação da diversidade
enfrentam, pois o sujeito homossexual consciente de si e dos outros a sua volta, vivencia lutas diárias
contra a padronização de comportamentos, representações visuais e identidades; assim objetivando a
identidade homossexual de docentes e como a mesma é problematizada na escola, tanto em âmbito de
representações visuais, quanto nos diálogos sobre orientação sexual em si. Para que assim possamos
reconhecer que cada qual se realiza no mundo por meio do que conhece e que nas diferenças que
surgem as justificativas para se problematizar preconceitos, opressões e dogmas propagados pela
normatização das identidades, principalmente na normatização da visualidade de um docente.
Palavras-chave: Identidade. Homossexualidade. Prática docente.
Introdução
1
Graduado em Artes Visuais - Licenciatura – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campo Grande,
MS. Membro do Núcleo de Investigação de Fenomenologia em Artes (NINFA/UFMS). E-mail:
marllon.caceres@gmail.com.
2
Doutor em Educação: pela UFSCar/São Carlos - SP. Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, Cursos de Artes Visuais – Licenciatura e Bacharelado. Líder e pesquisador do Núcleo de
Investigação de Fenomenologia em Artes (NINFA/UFMS). Pesquisador Associado da Sociedade de Pesquisa
Qualitativa em Motricidade Humana (SPQMH) da Universidade Federal de São Carlos. E-mail:
Paulo.antonini@ufms.br.
Nossas roupas, nossos acessórios, os objetos que usamos, as músicas que escutamos,
os filmes e espetáculos a que assistimos, os livros que lemos ou deixamos de ler, os
alimentos que ingerimos, os lugares que freqüentamos, tudo nos constitui como
sujeitos identificados com a cultura que consumimos em variadas manifestações.
(GOMES, 2001, p.202).
transitam a sua volta, vivencia uma luta diária a fim de existir em face de uma padronização
massiva de comportamentos, representação visual e identidades, entre tantos outros elementos
que se constituem a partir das práticas sociais humanas. Nesse sentido, Molina e Figueiró
(2012, p.58) apontam ser fundamentais as reflexões de como o convívio em sociedade se
apresenta na prática em si:
Nesse sentido, sair do modo “foi minha mãe que me deu” de se vestir é um tanto
difícil, uma vez que as forças midiáticas que legitimam o idêntico estético nas representações
sociais têm impacto cultural significativo em nossa sociedade (LEMOS et. al, 2008;
MALDONADO, 2006; GOMES, 2001) e as perspectivas de aceitação e reconhecimento entre
os pares, introjetadas ao longo de nossa vida enquanto construímos e modelamos nossa
imagem para os outros, dialoga simbolicamente com o que nos é habitual, como também
observamos na fala de Thiago:
[...] minha identidade [...] é [...] histórica, construída. Não há como você construir
algo sem ser dentro da história por mais pós-modernos que podemos ser [...]. Nada
vem do nada, assim: simplesmente surge. [...] vem muito a questão de identidade na
minha família, [...] de não precisar me [...] esconder. [...] eu me vejo como que
identidade sempre em transformação, né? Eu não consigo me aceitar nesse momento
sendo só uma coisa, como eu disse, você perguntar “quem é você? ”... Aí, eu sou
Thiago professor, eu sou Thiago performer, sou Thiago não sei o que, eu não sou o
Thiago eu posso ser qualquer outra coisa [...] (GONÇALVES, 2016, p.56).
Em acordo com Thiago, e ampliando essa discussão na abordagem dada por Silva
(2000), também compreendemos que tanto as identidades, quanto as diferenças, só adquirem
significação a partir e dentro das culturas e dos sistemas simbólicos em que se constituem
legitimadas pelo sentido discursivo que as linguagens caracterizam. Nesse aspecto, abstrato,
esses conceitos na contemporaneidade são instáveis e não adequados às determinações.
No contexto dessa relação cultural, temporal e, trazendo a questão para a
representação visual, cujo acesso temos também pelas manifestações artística, é oportuno ao
diálogo que objetiva a compreensão da assunção de quem somos, observarmos também o
como alguns artistas que declaram sua homossexualidade, materializam essa temática em sua
obras. Justifica-se essa abordagem em Stuart Hall (2014, p.17) para quem: “[...] o sujeito
moderno emergiu num momento particular (seu ‘nascimento’) e tem uma história, segue-se
que ele também pode mudar e, de fato, sob certas circunstâncias, podemos mesmo contemplar
sua ‘morte’”, considerando-se também que:
Figura 1: Leonilson. Leo não consegue mudar o mundo, 1989. Acrílica s/lona.
Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural disponível em: < http://zip.net/bts7fK> Acesso em 05 de abr de 2016.
[...] se a gente tem discussões na escola sobre a existência e como respeitar [...] o
outro, não só respeitar o outro, mas entender aquela pessoa ao menos, né? [...] Você
quer que aquela criança seja uma coisa, aí aquela criança não é, né? É um gay. A
gente tem casos, né? De gay também, né? Que são expulsos de casa por serem gays
e isso acontece também com as travestis e transexuais, então é... Uma problemática
precisa ser discutida dentro da escola e a presença de um professor ou uma
professora trans na escola é extremamente assim, importante porque é... Mostra que
aquela pessoa não está marginalizada, né? Professor que é visto na nossa sociedade,
apenas visto não valorizado, como formador de opiniões, como a pessoa que, que...
Que... Tráz referências, né? Então a pessoa que está tendo uma professora ou
professor transexual ou travesti, nas salas de aula têm um exemplo, entendeu? De
alguém que venceu o preconceito, venceu barreiras de sociais e estão ali, né?
Tentando além de ganhar o seu ganha pão, né? Óbvio. Estão ali fazendo um trabalho
social também, né? Como formadores de opinião e tal. E porque não ter uma
referência de uma pessoa travesti, uma pessoa transexual, por que não?
(GONÇALVES, 2016, p.35).
Lidar com uma sociedade que se institui no convívio entre pessoas diferentes, mas
que não aceita a representação visual que essas pessoas escolhem para manifestar sua
identidade, revela-se um obstáculo para as que essas pessoas possam se sentir aceitas,
desenvolvam-se profissionalmente, e se valorizem como seres humanos. Nesse contexto,
desvela-se necessária uma postura de aceitação – em amorosidade, como conceitua Paulo
Freire (2000) – dentro do espaço escolar, uma vez que é neste espaço que se realizarão, na
maioria das vezes, os primeiros contatos com as diferentes identidades distintas daquelas do
núcleo familiar. Esse espaço, local atravessado por conflitos sociais e culturais (OLIVEIRA,
2002), ainda nos dias de hoje é carente de relações que se constituam em torno de um
convívio que aceite o outro sem a necessidade de enquadramentos, pois:
Nas ações práticas, a estrutura pedagógica escolar ainda apresenta resistência frente às
diferenças, se pautando em um pensamento reacionário de negação e ocultamento do que não
corresponde às premissas das regras simbólicas que visam constituir uma sociedade
hegemônica. Se visualmente perceptíveis, as diferenças são recebidas com desconfiança e
condicionadas à marginalidade, como identificamos principalmente nas relações raciais, de
gênero e sexuais, como também observa o professor Laury (CÁCERES, 2016), ao relatar a
tentativa frustrada que experienciou quando tempo problematizar essa questão em sala de aula
com um grupo do nono ano:
Quando resolvi ter essa conversa, tipo todo mundo ficou sem graça, entendeu?
Ninguém queria conversar. Porque querendo ou não, parecia ser uma coisa normal
entre eles que eram do nono ano, mas assim isso de tá aluno e professor era uma
coisa distante justamente acho que porque ninguém faz isso, sabe? Ninguém fala
sobre orientação, [...] mas aí eu achei que seria uma aula legal e um momento onde
todo mundo ia participar, e todo mundo ficou sem graça ninguém quis falar nada,
sabe? [...] Essas discussões se tivesse desde de lá do pré ou primeiro, segundo,
terceiro ano seria uma coisa normal dentro da escola, entendeu? Eles não [...]
tratariam isso com uma certa vergonha ou coisa do tipo, sabe? Que seria uma coisa
normal da escola (GONÇALVES, 2016, p.54).
E nesse contexto, é frequente nos depararmos com pessoas que trazem para si a
defesa de uma ética moralista, na qual distorcem situações e princípios a fim de se
motivarem e à outras pessoas, orientando comportamentos disciplinados por valores
quase sempre alheios ao encontro intersubjetivo – de respeito – entre seres humanos.
Assim, é comum ouvirmos dos responsáveis pela continuidade dessa postura,
argumentações que elogiam a própria coerência em detrimento de outras pessoas,
mesmo quando, ao sentirem-se seguras de si, essas pessoas utilizem-se de
Nesse contexto, Souza (2014) sinaliza que é indispensável que o papel docente seja de
mediação nas relações, promova a troca de conhecimentos, estimule o respeito ao outro,
desafie a postura crítica reflexiva, exercite o diálogo para resolução dos conflitos. Sobretudo é
necessário ouvir o corpo discente nessa relação:
Quem começa uma comunicação, deve ter um projeto para esse fim. Um projeto de
comunicação, para que não se fechem as portas do diálogo. Se o professor, patrão,
pai, chega determinando comportamentos ou ideias que ele pensa que os outros têm,
ele não apenas está desrespeitando os demais como também está impedindo que suas
palavras tenham algum alcance, ressoando significados. Ouvir o que se tem a dizer
ou o que se quer saber é parte do projeto dialógico e deve ser parte da metodologia
assumida por quem se manifesta. (SOUZA, 2014, p.64).
Com o passar do tempo o modo como nos apresentamos ao meio em que vivemos se
transforma e assume características culturais de sua temporalidade, pois “[...] a subjetividade,
no plano da percepção, não é senão a temporalidade, e é isso que nos permite preservar no
sujeito da percepção a sua opacidade e sua historicidade” (MERLEAU-PONTY, 2006,
p.321). A identidade materializada na visualidade, que incentiva o desenvolvimento de
atitudes de rejeição ou de preconceitos frente à sexualidade, frente ao gênero, devem ser
constantemente problematizadas em face da normatividade imposta que visa a
homogeneização dos homens e das mulheres em um padrão.
Considerações Finais
[...] eu acho que dentro da escola não existe isso, entendeu? Não existe mesmo. [...]
já teve momentos que eu queria muito poder falar algumas situações que já
aconteceram assim, comigo e dentro da sala de aula, mas ai quando eu penso em
falar eu sei que eu não posso, entendeu? Porque tem escola que assim, que é mais
fechada e isso, sabe? E aí você fica sem pra onde seguir. (GONÇALVES, 2016,
p.39).
É a sexualidade que faz com que um homem tenha uma história. Se a história sexual
de um homem oferece a chave de sua vida, é porque na sexualidade do homem
projeta-se sua maneira de ser a respeito do mundo, quer dizer, a respeito do tempo e
a respeito dos outros homens (p.219).
Nesse sentido, ter consciência de nossa ação é importante, pois esta se realiza na
problematização dos dogmas e preconceitos impostos e propagados pela normatização de
padrões comportamentais humanos. A partir do momento que se leva a discussão sobre
gênero para a sala de aula, mediada pelas expressões artísticas, temos o espaço para a
discussão que tanto precisamos para a contemporaneidade, tendo em vista que, ignorar que as
diferenças – não somente de orientação sexual – existem e são mensuradas como aceitas ou
não, é um retrocesso na construção de pensamento e na compreensão de mundo. Como
lembra Freire (2000):
A escolha e a decisão, atos de sujeitos, de que não podemos falar numa concepção
mecanicista da história, de direita ou esquerda, e sim na sua inteligência como
tempo de possibilidade, necessariamente sublinham a importância da educação. Da
educação que, não podendo jamais ser neutra, tanto pode estar a serviço da decisão,
da transformação do mundo, da inserção crítica nele, quanto a serviço da
imobilização, da permanência possível das estruturas injustas, da inserção crítica
nele, quanto a serviço da realidade tida como intocável. Por isso, falo da educação
ou da formação. Nunca do puro treinamento. Por isso, não só falo e defendo mas
vivo uma prática educativa radical, estimuladora da curiosidade crítica, à procura
sempre da ou das razões de ser dos fatos. (p.27)
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo:
UNESP, 2000.
GARCIA, Wilton. Traídos pelo desejo – ambigüidades da cena. In: LOPES, Denilson. et al.
(Orgs.) Imagem e diversidade sexual – estudos da homocultura. São Paulo: Nojosa edições,
2004, p. 265-271.
GOMES, Paola Basso Menna Barreto. Mídia, imaginário de consumo e educação. Educação
& Sociedade, Campinas, v.22, nº 74, p. 191-207, 2001. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/es/v22n74/a11v2274.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2016.
LEMOS, Fábio Ricardo Mizuno; SOUZA, Paulo César Antonini de; DIVINO, Luiz Eduardo.
Representações estético-corporais: uma abordagem interdisciplinar. Revista Coleção
Pesquisa em Educação Física, v. 7, n.1, p. 433-438, 2008.
SILVA. Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença In: _______(Org.).
Identidade e Diferença: A perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 73 –
102.
Resumo
O que entendo por corpo cênico pedagógico? Já sei que não é o mesmo corpo disciplinado!
Apreendendo que esse corpo não está situado no espaço da sala de aula disciplinar. Percebo que este
corpo não se movimenta como o corpo da academia da educação física. Como entendo também que
esse corpo não é um corpo exclusivamente disposto a movimentar-se/educar-se/dançar apenas danças
clássicas e/ou modernas. Portanto, este corpo está em um lugar/espaço situado na dança/academia e na
rua, bem como na escola e no movimento do “entre”: um espaço/lugar que não se situa no saber
disciplinar, moderno de natureza dúbia. O “entre” aqui é compreendido como um lugar diferente de
meio, contrário ao lugar do centro, avesso aos lugares das margens, mas é um lugar da especificidade
biogeográfica. Portanto, a investigação neste trabalho dar-se-á na intenção de primeiro discutir o
“lugar” em que esse corpo dança, movimenta e flexiona: um lugar desse corpo (re)existente. Para
sustentar a discussão tomo das reflexões sobre o corpo, no sentido amplo do termo, a partir de teóricos
como: Klaus Vianna, Thérèse Bertherat, Marcia Strazzacappa, Laban, Isabel Marques, Eleonora
Fabião, entre outros colaboradores que validam corpos dançantes que encenam hoje nas escolas,
espaços artísticos bem como onde esses corpos quiserem. Para ilustrar as discussões desse corpo
outro, bem como as reflexões discutidas que sustentam esse corpo em evidência, os corpos dos
bailarinos do espetáculo “Cultura Bovina?” do Grupo Ginga Cia de Dança serão tomados como
(contra)modelo do corpo cênico pedagógico que pretendo discutir. Um corpo inscrito no intervalo do
entre. Sustenta também a discussão autores que tratam do lócus enunciativo da fronteira
(Brasil/Paraguai/Bolívia) (Bessa-Oliveira e Nolasco) como lugar produtor de arte, cultura e
conhecimento que atravessam os dois lados da barra (“/”) que separa lados supostamente opostos.
Palavras-chave: Dança. Cultura Sul-Mato-Grossense. Grupo Ginga Cia de Dança.
1
Este trabalho é parte de uma pesquisa que a primeira autora vem desenvolvendo como TCC – Trabalho de
Conclusão de Curso – do curso de Artes Cênicas da UEMS, sob a orientação do segundo autor, cujo título é:
“DOS SALÕES CLÁSSICOS ÀS RUAS DAS CIDADES: UMA LEITURA DOS CORPOS QUE DANÇAM NAS
ESCOLAS”.
2
Acadêmica do 3º ano do Curso de Artes Cênicas da UEMS, Bolsista PIBIC/Modalidade Avançada
UEMS/CNPq – 2016-2017. E-mail: marina.m.noronha@gmail.com.
3
Doutor em Artes Visuais, área de concentração em Fundamentos Teóricos pelo IA/Unicamp. Professor DE/TI
na Cadeira de Artes Visuais no Curso de Artes Cênicas e Professor Permanente do PROFEDUC na Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul – UUCG. É Líder do Grupo de Pesquisa NAV(r)E – Núcleo de Artes Visuais
em (re)Verificações Epistemológicas – CNPq/UEMS. Membro do NECC – Núcleo de Estudos Culturais
Comparados – UFMS e do Núcleo de Pesquisa Estudos Visuais – UNICAMP. marcosbessa2001@gmail.com.
Introdução
tem a sua formatação enquanto bicho livre e a sua (re)formulação do corpo humano enquanto
corpo formatado constituído pelo pensamento moderno. Um quer se tornar o outro! Ilustra
visualmente essa primeira ideia, a imagem da figura 1 que traz o corpo-humano tornado
corpo-boi através de luz, imagem e movimentos e efeitos especiais de manipulação da
imagem sobre a pele.
Fig. 1. Imagem da performance do Grupo Ginga Cia de Dança espetáculo “Cultura Bovina?”
Evidencia a partir do que foi suscitado que o corpo que trato não é o mesmo corpo, de
razão e emoção separados, construído pelo pensamento moderno e não é também um corpo
descartado sem autorreconhecimento. O corpo cênico pedagógico que venho tentando
construir tem mais a ver com corpos que foram apagados pelo pensamento hegemônico
europeu e que precisam, a todo custo, serem exumados pelos pensamentos contemporâneos:
sejam esses na educação, nas acadêmicas, nos espaços expositivos, sejam nas ruas das cidades
que cada vez maiores e mais multíplices têm apresentado corpos quase estranhos.
6
Todas as imagens do espetáculo “Cultura Bovina?” do grupo Ginca Cia de Dança foram extraídos do vídeo do
espetáculo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wL5UKlLwUfM – acessado em: 03/08/2017.
meramente passam, o corpo é um lugar múltiplo de ações que significam ideias relevantes de
corpos outros como o corpo cênico pedagógico. A ideia não é estruturar corpos em modelo
padrão. O corpo aqui em reformulação, pensado para aulas de dança, não é condicionado em
técnicas, mas sim corpos que si-movem-se e possam flexionar-se como corpos (re)existentes
nos “entre” lugares das salas de aula. Portanto, há muitos questionamentos que corroboram
pensar os corpos na atualidade, a exemplo de qual corpo temos/pertencemos, a ideia do corpo
“perfeito” ainda dita regras. Sobre isso se posiciona Bessa-Oliveira:
E essa noção de corpo perfeito nas diferentes instâncias está assentada no cogito
cartesiano “penso, logo existo”! Portanto, um modelo de corpo Moderno que
desassociou a razão e emoção. Ou seja, na arte o corpo que dança, por exemplo, não
pensa; na cultura o corpo da mulher não produz conhecimentos, por que aquele
pensamento delegou esse direito/dever apenas ao homem; na economia o corpo que
tem poder é o corpo do centro sobre os muitos corpos marginais; na política, quem
dita leis são os corpos políticos dos homens e nunca a mulher que não tem voz
menos ainda tem direito à política, e, igualmente na educação o corpo que aprende e
ensina é o corpo branco, fálico e eurocêntrico em detrimento dos outros muitos
corpos: indígena, negro e mulato, para lembrarmos-nos apenas dos que compõem a
formação brasileira, que não são gentes, e obedecem. (BESSA-OLIVEIRA, 2017, p.
2)
Entendendo corpos outros como o corpo cênico pedagógico que não é pensado de
forma sistematizada para os espaços da sala de aula, bem como são corpos pensados para a
dança contemporânea, minha inscrição desse corpo está na emergência de resituar o “lugar”
desse corpo outro. Percebe-se que esse corpo não se vale do corpo das academias da educação
física, como entendo também que esse corpo não é um corpo exclusivamente disposto a
mover-se pelas danças apenas da tradição. Portanto, esse corpo está em um lugar/espaço
situado na dança/academia e na rua ao mesmo tempo, bem como na escola e no movimento
do “entre” nos espaços de dança e de produção de conhecimento: um espaço/lugar que não
situa única e exclusivamente no saber disciplinar moderno de natureza ambígua. O “entre”
aqui é compreendido como um lugar diferente de meio, contrário ao lugar do centro, avesso
aos lugares das margens, mas é um lugar das especificidades biogeográficas. E, segundo
Bessa-Oliveira e Nornha (2015), o conceito de biogeografia está para a ideia de ocupar um
lugar que não se inscreve no centro porque é o lugar moderno por natureza imposta, também
não é a ideia ocupar o lugar da margem, pois foi delegado pelos discursos dos poderes
boi brasileiro – corpos esses que ziguezagueiam nas linhas (de)marcadas pelos sistemas
discursivos hegemônicos – esse ir e vir que se constrói nessa costura dos couros (couro
animal / pele humana), acaba evidenciando uma pele do corpo cênico pedagógico que não é a
pele do corpo disciplinar, não é do corpo da rua exclusivamente, menos ainda o corpo da
academia. É um corpo que se situa na fronteira do “entre”, e ele é um corpo fronteira que
marca, começa e finda nesse corpo. O corpo cênico pedagógico é um corpo fronteira que
(de)marca. Ou seja, o corpo cênico pedagógico é entendido aqui – tanto para a sala de aula,
bem como para a cena – como um corpo-fronteira. O corpo-barra (“/”). O corpo “X” da
questão. O que marca e é marcado ao mesmo tempo por tudo que o atravessa e dele reverbera
diferente para os outros corpos.
Fig. 2. Imagem da performance do Grupo Ginga Cia de Dança espetáculo “Cultura Bovina?”
Para sustentar essa discussão e ampliar as reflexões sobre o corpo cênico pedagógico,
no sentido amplo do termo, são retomadas histórias, memórias e experiências biogeográficas7
que validam corpos dançantes que encenam hoje nas escolas, espaços artísticos bem como
onde esses corpos quiserem. Para ilustrar as discussões desse corpo outro, bem como as
reflexões discutidas que sustentam esse corpo em evidência, como os corpos dos bailarinos do
espetáculo “Cultura Bovina?” do Grupo Ginga Cia de Dança, tomo-os como (contra)modelo
7
Sobre o conceito de Biogeografia ver (BESSA-OLIVEIRA, 2016)
Algumas reflexões vêm sendo bastante válidas para pensar no corpo cênico
pedagógico que tenho formulado. Esse corpo que é atravessado pela pluralidade de corpos
outros, que contrapõe entre corpos, ritmos e estilos como bem nos revela no espetáculo
“Cultura bovina?” do Grupo Ginga Cia de Dança de Mato Grosso do Sul os corpos daqueles
bailarinos. Pois, naquela apresentação os bailarinos vêm trazendo em seus corpos marcas
identitárias de uma cultura local e fronteiriça com “[um] olhar debruçado na interioridade do
indivíduo e no corpo próprio, o soma, conduzindo à renovação dos sistemas tradicionais de
ensino da dança” (MILLER, 2012, p. 68). A imagem da figura 3, por exemplo, apresenta a
iconografia visual do boi como anteparado dos bailarinos que se sustentam à sua frente. Nessa
ordem, boi e humano fundem-se na visualidade do espectador no espaço que igualmente
fundiram corpo-humano e corpo-boi no espetáculo.
O corpo que aqui soma, não simplistamente reverbera o que é recebido, mas recebe,
rumina, ingere e devolve à cultura como se fosse um pedaço do seu próprio corpo em
descarno do que presta e do que não preta também. Pois, o corpo que age por razão e emoção
em conjunto, portanto o corpo cênico pedagógico, não está ciente ou inconsciente do que deve
ou não reverberar da/para a cultura. Esse corpo cênico pedagógico é recepção e repulsão ao
mesmo tempo, haja vista que mesmo o boi ingere o que deseja e descarta o que não quer. Por
isso, o processo de ruminar para o animal boi é tão fundamental como o é o processo de
pensar para o corpo homem.
Fig. 3. Imagem da performance do Grupo Ginga Cia de Dança espetáculo “Cultura Bovina?”
Os alunos em sala de aula têm seus próprios repertórios de dança, suas escolhas
pessoais de movimento para improvisar e criar, assim como formas diferentes de
apreciar as danças trabalhadas em sala de aula ou construídas em sociedade. Para
que possamos fazer escolhas significativas para nossos alunos e para a sociedade,
seria interessante levarmos em consideração o contexto dos alunos. No mundo
contemporâneo, este contexto é a interação e articulação não estática das realidades
vividas, percebidas e imaginadas dos alunos (MARQUES, 2012, p. 35).
A cena direcionada aqui é o lugar/espaço da sala de aula, mas que pode ser pensada
como ampliações para cenas outras vivenciadas pelos alunos. Ou seja, a sala de aula pode
tornar-se “palcos” bem como outros lugares cênicos, cada um espaço/lugar com seu repertório
de saberes resultando em variáveis aspectos existenciais, sendo de dimensões culturais,
sociais, étnica, política e outros que podem tornar-se colaborações importantes para o
aprendizado em dança no ensino de Artes. Nesse contexto, é imprescindível o sujeito/aluno
vivenciar na dança a descoberta da sua escrita autoral em um processo efetivamente
exploratório, um processo que situa o lugar “entre” no corpo do aluno, onde esse consiga
compreender o seu corpo/lugar, possibilitando que os próximos caminhos sejam ampliados e
seu repertório de conhecimento no âmbito da dança desenvolva-se de forma (re)existente. Por
conseguinte, tornar o corpo do aluno/sujeito o lugar do entre é pensar o que vim tratando: o
corpo como o espaço da fronteira em si. O corpo que não é nem o centro, menos a periferia,
ele é o “X” que separa ambos; não é corpo preto, menos ainda o corpo branco, ele é a “/” que
o pensamento hegemônico plantou para separá-los; e, por último, esse corpo cênico
pedagógico é os dois lados ao mesmo tempo, pois ele vai lá e cá – ziguezagueando –,
promovendo contato e troca entre/com os lados.
Considerações finais
Finalmente, neste trabalho aqui apresentado – mesmo tendo em vista que não é possível
parar e concluí-lo totalmente por aqui –, o que tentei proporcionar são discussões muito
válidas para se pensar no corpo cênico pedagógico, ilustrando-as a partir dos corpos dos
bailarinos do espetáculo “Cultura Bovina?” do Grupo Ginga Cia de Dança de Mato Grosso do
Sul como sendo corpos (contra)modelo do corpo pedagógico. Ou seja, a ideia de inscrição
daqueles corpos como corpos do contra – modelo – é exatamente a fim de situar minhas
discussões no campo da contraposição ao discurso moderno que toma todo e qualquer corpo
disciplinado como modelo. Mas da ótica da leitura aqui discutida quer-se alterar
significativamente a percepção do objeto no espetáculo “Cultura Bovina?” do Grupo Ginga,
pensado em olhares outros e corpos outros para o ensino de Arte/dança nas escolas. Neste
caso, é a diversalidade cultural — de leitor, espectador, crítico, teórico e estudioso —, penso
no professor, por exemplo, que vai nos propor leituras outras de (re)conhecimentos,
reforçando nossos discursos e validando pensar em corpo outros. Penso que ainda há muito a
se discutir no cenário das artes, especialmente no corpo que dança, assim como nas produções
artísticas locais Sul-mato-grossenses que encenam na cultura local contemporânea. Pois, uma
coisa é fato, aqui, corpo é tudo boi! Mas boi não é todo o corpo que circula aqui!
REFERÊNCIAS
BESSA-OLIVEIRA, Marcos Antônio. Ensino de Artes X Estudos Culturais: para além dos
muros da escola. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
BESSA-OLIVEIRA, Marcos Antônio. “O corpo que habito: esse não é o corpo da sala de
aula, dos museus, nem o corpo da academia!” In: Acervo do autor. Campo Grande, MS,
2017, p. 1-15. (Texto no prelo).
MILLER, Jussara. Qual é o corpo que dança?: dança e educação somática para adultos e
crianças. São Paulo: Summus, 2012.
MARQUES, Isabel A. Ensino de dança: textos e contextos. 6. Ed. – São Paulo: Cortez, 2011.
Resumo
Este artigo, fruto de uma pesquisa de mestrado do programa PROF-ARTES2, discuti o jogo musical
como proposta didática na educação musical. Tem como objetivo: analisar a presença dos jogos
musicais nas pedagogias musicais do século XX; discutir o conceito de jogo e jogo musical; e analisar
o jogo enquanto proposta didática para a educação musical. Traz no texto pedagogias consagradas que
utilizaram do jogo musical como proposta didática, tais como os educadores: Hans-Joachim
Koellreutter, Liddy Chiaffarelli Mignone e Maurice Martenot. Apresenta ainda, a relação entre Arte e
Jogo proposta por BOSI (2002), e o pensamento de ALMEIDA E LEVY (2013) e BRITO (2009) que
refletem sobre a relação da música como jogo. Utilizou como referencial teórico HUIZINGA (2014);
KISHIMOTO (2011); ANTUNES (2011); BRITO (2001), (2009), (2016); SWANWICK, (2010),
(2014); MIRANDA (2013). Discutiu-se o conceito de jogo e jogo musical partindo de pesquisadores
que trouxeram definições para o termo, foram: HUIZINGA (2014); STORMS (1989); MORAIS
(2009); CAVALIERI E GUIA (2015). Conclui-se que o jogo musical é uma importante e consagrada
proposta didática presente na educação musical, notando que apesar das inúmeras pesquisas e práticas
que trazem o jogo musical, ainda há uma lacuna a ser preenchida sobre o tema, diante das
possibilidades desta proposta. Espera-se que a pesquisa possa contribuir para a discussão entre
educação musical e o jogo musical como proposta didática.
Introdução
1
Mestrando do Mestrado Profissional em Artes (PROF-ARTES/UNESP), graduado em licenciatura em
Educação Musical, e professor de Arte na Rede Pública de ensino do Estado de São Paulo.
2
Mestrado Profissional em Artes (PROF-ARTES) - www.udesc.br/ceart/profartes
Servindo para muitas funções durante os séculos, o jogo se consolida como uma importante
ferramenta pedagógica na didática do professor.
Nota-se que se encontraram estudos sobre a natureza dos jogos entendidos de modo
amplo e relacionados com a educação em geral, contudo, entende-se necessário
destacar as evidências de que jogos e brincadeiras musicais, especificamente, são
poucos referidos pelos autores (2013, p. 50).
Miranda ainda relata que ainda há pouco material no campo da educação musical
direcionados aos jogos musicais, sobretudo quando se trata de organização e compilação
destes materiais, ele fala que [...] “no âmbito das investigações dos jogos e brincadeiras
musicais, há indícios de que pouco material tenha sido documentado e organizado, de tal
forma que existe, até no momento, restrita informação” (2013, p. 49).
O jogo como ferramenta e instrumento de desenvolvimento de elementos musicais, é
um forte aliado na pedagogia do professor, despertando o interesse dos alunos para o fazer
musical. Antunes observa na relação professor/aluno: “[...] é essencial que o professor dele
(aluno) se utilize como ferramenta de combate à apatia e como instrumento de inserção e
desafios grupais” (2011, p. 41).
O Jogo
O Jogo pedagógico
média o jogo era associado ao jogo de azar, por isso era considerado não serio, mas no
renascimento o pensamento sobre jogo muda, e já se vê o jogo “como conduta livre que
favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo” (2011, p. 32).
É importante resaltar, que quando pensamos no processo de aprendizado, não quer
dizer que todo jogo é educativo, ou pode ser utilizado no aprendizado de algum conteúdo.
Antunes diferencia os jogos pedagógicos dos jogos de caráter simplesmente lúdico:
O jogo faz com que aquele aluno que estava disperso, possa tornar sua atenção e seu
interesse para o aprendizado. Faz com que o aluno também se aproprie do conteúdo, pois o
jogo exige uma resposta rápida, expondo aquilo que o aluno apreendeu. Ao expor sobre os
jogos na educação, Kishimoto adverte: [...] “Desde que mantidas as condições para a
Expressão do jogo, ou seja, a ação intencional da criança para o brincar, o educador está
potencializando as situações de aprendizagens” (2011, p. 41).
Os jogos podem ser uma ferramenta importante na pedagogia do professor, pois os
jogos podem tornar o aprendizado mais significativo. Miranda reforça a potencialidade do
jogo musical, não só para o aprendizado musical, mas também outros saberes que não
necessariamente pertence à música, mostrando como uma ferramenta valiosa do campo
pedagógico. Diz-nos que:
Música e jogo
A relação entre arte e jogo vem sendo discutida há séculos, vemos em Bosi a
proposição de Kant sobre o tema: “A ideia de arte como jogo foi proposta na Crítica do juízo
de Kant, em termos de atividade “desinteressada”, embora não arbitrária, enquanto sujeita aos
limites da natureza humana” (1940, apud, BOSI, 2002, p. 16). Swanwick ao analisar as
similaridades entre arte e jogo nos mostra “a relação linguística na língua Inglesa entre verbo
play, jogar e a prática das artes” [...], pois “em Inglês, a palavra play serve tanto para brincar
ou jogar quanto para definir o ato de tocar um instrumento ou encenar, atuar numa peça de
teatro” (2014, p. 61).
Podemos entender que jogo e arte têm muitas similaridades, mas o mais interessante é
que a Arte e o jogo se encontram num lugar da imaginação, do não sério. É nesse lugar da
imaginação que a Arte e o jogo liberam a criação, a invenção, e isto se potencializa quando se
juntam estes dois fenômenos. Bosi nos fala sobre esta relação:
Bosi nos expõe os fatores de similaridades entre Arte e jogo na fala de Huizinga:
Extremo relevo aos fatores estruturais comuns a arte e ao jogo: múltiplos arranjos
dos mesmos elementos, composições simétricas, irrupção do acaso no interior de
uma ordem prefixada, espaço e tempo imaginário e, portanto, suspensão do espaço e
do tempo reais, lógica imanente ao processo expressivo, fusão de brincadeira e
seriedade, paixão [...] (1938, apud BOSI, 2002, p. 16).
A música enquanto jogo não é uma novidade, já que muitos músicos e compositores já
haviam utilizado esse recurso como prática musical. Como no exemplo do processo de
composição de melodias de Mozart que compunha pelos jogos de dados aleatórios
(STORMS, 1989). Ao compararmos jogar e o fazer musical, percebemos que ambas são ações
que privilegiam o aqui e o agora, e são capazes de absorver o jogador de maneira intensa e
total. A música, linguagem do campo das Artes, pode nos transportar para outros lugares,
outros mundos, assim como o jogo.
Brito fala sobre o jogo musical ao responder se música é jogo, ela nos fala que [...]
“Um tipo de jogo, podemos dizer! Jogo em que não há ganhadores ou perdedores e que
jogamos pelo prazer de jogar! (2009, p. 7)”. Almeida e Levy, também falam da relação de
Os jogos musicais são frequentes no campo da educação musical, e até fora dele, mas
poucos pensadores se debruçaram sobre a definição do termo.
Storms nos trouxe em seu livro 100 jogos musicais, uma definição bem sistematizada
de jogo musical. Para Storms, os jogos musicais são jogos que em algum momento, de forma
consciente, abordam algum conteúdo musical, seja na sua execução, seja no seu conteúdo
(1989).
Morais traz em sua dissertação de mestrado, O material concreto na educação musical
infantil: uma análise das concepções docentes, uma definição própria de jogo musical,
ampliando a discussão:
Jogo educativo ou jogo pedagógico musical será entendido como a conduta de ação
da criança em relação ao fazer musical, com vistas ao desenvolvimento de
habilidades ligadas à articulação e compreensão dos elementos sonoros em
estruturas e formas expressivas (2009, p. 28).
Cavalieri e Guia nos dão a definição utilizada em seu livro, jogos pedagógicos para a
educação musical, Nos falam que “os Jogos pedagógicos consistem de atividades lúdicas
coletivas que se apoiam em material concreto para promover o automatismo gradativo de
elementos da teoria musical” [...] (2015, p. 13).
Ressaltamos que quando falamos de jogo musical, assim como o jogo, entendemos
que não há uma única definição, pois as definições são sujeitas a um contexto, a uma época, a
um lugar, portanto pensamos que não há uma definição correta, mas várias, cada uma
contemplando de alguma maneira, a imensidão dos os jogos musicais.
Ao analisarmos a presença dos jogos no campo da educação musical, percebemos que
o século XX foi fundamental para o desenvolvimento desta proposta didática. Quando
pensamos na educação musical durante sua história, vemos que novas tendências surgidas no
século XX, possibilitaram diferentes olhares para o campo da educação musical. Gainza
(2014) denomina o século XX, como “siglo de lós grandes métodos” ou “siglo de La
iniciácion musical”, ou seja, o século dos grandes métodos, ou o século da iniciação musical.
Apesar das importantes reflexões surgidas antes do século XX, foi neste século as principais
contribuições que modificaram o olhar sobre o processo de ensinar e aprender música,
surgindo diferentes modelos de educação musical.
Ao analisarmos as principais pedagogias musicais do século XX, percebemos que
muitas delas já utilizaram o jogo como proposta pedagógica, outros não chegaram a utilizar o
termo jogo, mas algumas atividades percebe-se claramente que é um jogo. Nas pedagogias
estrangeiras, temos educadores consagrados que utilizaram o jogo como proposta, como o
educador Maurice Martenot que utilizou o jogo amplamente, ele acreditava que o jogo
musical é uma importante ferramenta para a educação musical.
Fialho e Araldi relatam o pensamento de Martenot sobre os jogos musicais, ele vê:
[...] o jogo como principal estratégia metodológica para integração entre corpo e
alma [...] [...] Para ele o jogo pode unir a alma e inteligência, resultando num clima
de alegria e confiança que abre possibilidade para a criatividade. A justificativa para
o jogo está no fato de que a criança que o desempenha, mobiliza o conjunto de suas
potencialidades e capacidades, possibilitando um envolvimento completo, motivado
pelo entusiasmo [...] (2012, p. 160).
Fialho e Araldi relatam que Martenot não limita esta estratégia somente para as
crianças, pois “é uma estratégia que pode ser aplicada a todas as faixas etárias, desde que
adequada às regras e ao foco. No jogo, é fundamental que haja, ao mesmo tempo, uma
estrutura definida e uma flexibilidade para que sejam possíveis a “confiança e a alegria”
(2012, p. 161). Martenot trata o jogo como uma proposta com mais flexibilidade ao invés de
um jogo mais rígido, visando mais liberdade para o aluno, porém essa liberdade não é
sinônimo de anarquia, mas significa que as próprias crianças inventavam suas regras.
No Brasil há expoentes importantes no campo do ensino de música que também
utilizaram os jogos musicais, como o professor Koellreutter e a professora Lyddy Chiafarelli.
Dois grandes personagens da educação musical brasileira, que contribuíram para a discussão
sobre a proposta didática do jogo musical.
Brito nos relata a relação de Koellreutter com os jogos musicais de improviso, sendo
uma das principais matrizes de seu trabalho, a autora nos fala que:
Brito ainda destaca a importância do jogo para superar o dualismo entre prática e
teoria existente na música, ela diz: “No jogo da improvisação, prática e teoria se interam,
superando o dualismo excludente que ainda marca nossos modos de pensar, e
consequentemente, de ensinar” (2016, p. 151). A autora nos fala que:
Outra pedagoga musical brasileira contemplou em seu trabalho, os jogos musicais, foi
Liddy Chiaffarelli Mignone3, influenciada por grandes pedagogos como: Edgar Willems; Carl
Orff, Maurice Chevais, Mignone foi imprimindo suas características e marcas pessoais a seu
trabalho, desenvolvendo um método de iniciação musical (ROCHA, 2016).
Seu método é constituído de três tipos de atividades: brinquedo, jogo e trabalho, o
brinquedo é uma atividade lúdica que envolve movimento corporal, podendo ser cirandas,
danças, marchas, desde que a crianças brinquem com a música, esse estágio funciona como
preparação para as outras atividades, de modo que fiquem relaxadas e motivadas para
atividades mais complexas; o Jogo é uma atividade com certo grau de elaboração, com regras
mais complexas, com movimentos e jogos de ritmo utilizando materiais percussivos, bola e
outros materiais, Paz relata que o jogo da bola acontece em círculo, no qual o professor
arremessa a bola para um aluno da roda, e a mesma deve cantar a nota que o instrumento
estiver tocando (PAZ, 2013, p. 67). E por último o Trabalho, que é a fase de representação
3
Mignone foi uma importante educadora e pedagoga musical do século XX, atuou principalmente no âmbito do
ensino de música e piano para crianças, a publicação de livros e a formação de professores especializados na
metodologia de iniciação musical. Mas seu principal trabalho foi sua atuação o curso de Iniciação Musical no
conservatório Brasileiro de Música (CBM) (ROCHA, 2016).
simbólica dos elementos conhecidos, por meio do brinquedo e do jogo, para esta atividade
utiliza-se materiais didáticos que podem ser manipulado pelas crianças contendo registro de
figuras rítmicas ou notas musicais, também se inclui o uso de banda rítmica. (ROCHA, 2016,
p. 113).
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. Petrópolis RJ:
Editora Vozes, 2011.
FIALHO, Vânia Malagutti; ARALDI, Juciane. Maurice Martenot - Educando com e para a
música. In: Teresa Mateiro; Beatriz Ilari. (Orgs.). Pedagogias em Educação Musical.
Curitiba, PR: Intersaberes, 2012. Cap. 5, p. 157-184, 2012. (Série educação musical).
GUIA, Rosa Lúcia dos Mares; FRANÇA, Cecília Cavalieri. Jogos pedagógicos para a
educação musical. 2ª Ed. Belo Horizonte, MG: Fino Traço, 2015.
KISHIMOTO, Morchila Tizuko. (Org). Jogo, brinquedo, brincadeira e educação. 14ª ed.
São Paulo: Cortez, 2011.
MIRANDA, Paulo Cesar Cardozo de. Jogo musical e humanização. um olhar lúdico,
complexo e sistêmico na educação. 1ª ed. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2013. Disponível
em: http://www.culturaacademica.com.br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=395. Acesso em: 15
Ago. 2017.
MORAIS, Daniela Vilela de. O material concreto na educação musical infantil: uma
análise das concepções docentes. 2009. 120 fls. Dissertação (Mestrado) – Universidade
Federal de Minas Gerais, Escola de Música, Minas Gerais, 2009..
STORMS, Ger.100 Jogos Musicais. Porto: Edições Asa, 1989. (Colecção Práticas
Pedagógicas).
______. Música, Mente e Educação. Tradução Marcell Silva Steuernagel. Belo Horizonte:
Autêntica, 2014.
Resumo
A formação da identidade cultural do Mato Grosso do Sul perpassa, apesar de estar situada na periferia
da produção artística brasileira, pelas produções artísticas das distintas etnias indígenas existentes no
estado. Entende-se, neste artigo, que as manifestações artísticas indígenas são geradoras de
conhecimentos para a produção da arte local. Diante disto, elegemos como unidade investigativa a
etnia Terena, por possuir maior representatividade acadêmica na Universidade Estadual do Mato
Grosso do Sul (UEMS), pois a entendemos como um grupo social que compõe e representa a
“identidade cultural local na contemporaneidade”, bem como os Terenas são originários do estado do
Mato Grosso do Sul. Este artigo aborda o estudo dos elementos da cultura da etnia Terena,
especificamente, das pinturas corporais e das danças, compreendendo-as como arte formadora do
processo identitário cultural local. Para tanto, fez-se necessário à observação das produções artísticas
da etnia, bem como realizações de entrevistas com os indígenas da comunidade, no intuito de
estabelecer um panorama cultural da etnia Terena dentro do contexto cultural local. Pretende-se gerar
maior visibilidade das produções artísticas das etnias indígenas, proporcionando, assim, uma mudança
de entendimento daquelas práticas como simples artesanatos para uma manifestação artística
formadora da identidade cultural dos indivíduos sul-mato-grossenses. Para o desenvolvimento deste
artigo fizemos uso de bibliografias diversas áreas – antropologia da arte, teoria da arte, estudos
culturais entre outras – a fim de melhor embasar nossas discussões.
Palavras-chave: Cultura Local. Arte Terena. Dança.
Introdução
1
Este trabalho é parte de uma pesquisa maior desenvolvida como Pesquisa de Iniciação Científica –
PIBIC/CNPQ – 2017-2018 – cujo título é: “O KOHIXOTI-KIPÁE COMO MANIFESTAÇÃO CULTURAL DA
IDENTIDADE TERENA”.
2
Graduanda do 3º ano do Curso de Artes Cênicas da UEMS. Bolsista PIBIC/CNPq – 2017-2018 – com o projeto
“O KOHIXOTI-KIPÁE COMO MANIFESTAÇÃO CULTURAL DA IDENTIDADE TERENA”. E-mail:
saraspinasse@gmail.com.
3
Doutor em Artes Visuais, área de concentração em Fundamentos Teóricos pelo IA/Unicamp. Professor DE/TI
na Cadeira de Artes Visuais no Curso de Artes Cênicas e Professor Permanente do PROFEDUC na Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul – UUCG. É Líder do Grupo de Pesquisa NAV(r)E – Núcleo de Artes Visuais
em (re)Verificações Epistemológicas – CNPq/UEMS. Membro do NECC – Núcleo de Estudos Culturais
Comparados – UFMS e do Núcleo de Pesquisa Estudos Visuais – UNICAMP. marcosbessa2001@gmail.com.
4
Dados retirados do Censo 2010 realizado pelo IBGE. Disponíveis em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/caracteristicas_gerais_indigenas/default_quadro
s_xls.shtm> e <http://indigenas.ibge.gov.br/estudos-especiais-3.html>. Acesso em : 05 de ago. 2017.
5
A princípio a UEMS foi tomada como este ponto de partida da nossa investigação por manter algumas ações
que possibilitam o acesso e permanência de indígenas na universidade, seja através de sistema de cota ou seja
por disponibilização de bolsas para manutenção desses sujeitos na instituição. Neste sentido, a UUCG da UEMS
torna-se um grupo investigativo importante porque detêm um número considerável de acadêmicos indígenas
matriculados em seus diferentes cursos de graduação e pós-graduação.
6
Em algumas aldeias e localidades onde residem indígenas da etnia Terena o Kohixoti-Kipáe é realizado no dia
19 de abril (dia do índio). A dança do Kohixoti-Kipáe e o Putu-Putu (dança realizada pelas mulheres) acontecem
durante a realização de outros eventos marcados para o dia como atividades esportivas, por exemplo. Os
participantes se concentram horas antes da apresentação para pintarem o corpo. Originalmente o Kohixoti-Kipáe
era também conhecido como Dança da Ema devido a uma lenda contada pelos Terena, porém seu nome foi
mudado para Bate-Pau. A dança também se utiliza dos elementos de arcos e flechas e faz alusão aos
antepassados que guerrearam e saíram vitoriosos.
[...] nesse caso deixa de ser subalterno aquele que fala por si mesmo. Elabora uma
compreensão capaz de formular conhecimento que possa compreender sua própria
condição de subalterno; seja na condição cultural, seja para a compreensão da sua
produção artístico-cultural ou promoção do conhecimento da cultura enquanto
reprodução do que entende por pertencer a sua cultura conhecida como subalterna
(BESSA-OLIVEIRA, 2013, p. 254).
7
A Bacia do Prata é formada pelas bacias dos Rios Paraná, Paraguai, Uruguai e da Prata, possui
aproximadamente 3.200.00 Km2 nos territórios da Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. Esta área
corresponde a um terço do continente europeu. Disponível em:
http://www.riosvivos.org.br/Noticia/Eixo+da+Bacia+do+Prata/6266 - acessado em: 10 de março de 2013.
8
O termo genuíno aqui é grafado em destaque a fim de promover a ideia de que a arte Latino-Americana, quase
sempre, foi tomada como uma arte que ilustra conceitos oriundos dos países colonizadores. Portanto, ao
reportarmos uma ideia de genuinidade na produção artística Latina, entendemos promover uma arte, cultura e
conhecimentos que emergem dos lugares subalternos.
baseada na exploração de recursos humanos nativos, nos acocoramos para debater o lugar de
subalterno que ocupamos e que é preciso ser considerado na nossa história por esse aspecto.
Nesse sentido:
A História contada nos livros didáticos da educação básica nem sempre contam o que
aconteceu a partir da perspectiva dialética. Conta-se a História pela perspectiva de que os
fatos acontecem acidentalmente. Aborda-se a perspectiva da história do Brasil pelo ponto de
vista do europeu, branco, homem e que “descobriu o Brasil”. É negada a verdadeira história
dos homens negros que, ainda que não se tornem objeto deste artigo no momento, foram para
cá trazidos à força e negligenciados até a atualidade. Do mesmo jeito ignora-se a história pela
perspectiva dos povos indígenas e não se discute como os europeus cercearam a cultura
indígena, negaram seus conhecimentos e impuseram uma nova religião e cultura.
[...] uma vez que, historicamente, viviam livremente, sem limites territoriais, a não
ser os definidos pelas próprias etnias: retiravam do seu espaço vivido o que
necessitavam para sobreviver. Os indígenas sempre tiveram estreita ligação com o
território, de onde retiravam seu sustento e estabeleciam seus rituais (GUERRA,
2015, p. 6).
9
“[...] territórios tradicionais, tekoha guasu, de onde foram expulsos e dispersos.” “Os motivos da luta dos
Guarani e Kaiowá pelos territórios tradicionais, tekoha guasu”. Disponível em:
http://www.ihu.unisinos.br/514794-os-motivos-da-luta-dos-guarani-e-kaiowa-pelos-territorios-tradicionais-
tekoha-guasu# - acessado em: 30 de julho de 2017.
10
As três figuras estão disponível em: <https://timblindim.wordpress.com/2009/05/18/a-danca-do-bate-pau/>.
Acesso em: 07 de ago. 2017.
Segundo ainda Naine Jesus (2007) “a dança faz com que o indivíduo se torne parte de
uma comunidade”. Igualmente aos salões de bailes Funk ou Hip Hop, aquela “composição”
cênico-cultural indígena dá-se para aproximação daqueles sujeitos e suas identidades
partícipes da ritualística. O evento na Aldeia Limão Verde no dia 19 de abril acontece todos
os anos e a comunidade toda se mobiliza para organizar e se prepararem para aquela atividade
festiva. A festa faz parte da cultura desse povo e a dança é um elemento fundamental de
conexão entre os mais jovens e os mais velhos da aldeia e também uma manifestação da
identidade Terena. Diferente da ideia de dança que muitas vezes os brancos têm implícita:
sensual, puramente corpórea ou meramente como atividade de diversão. É através dela que a
tradição, histórias, ritos e memórias dos indivíduos da aldeia se eternizam e são transmitidos
como conhecimento dos conhecimentos de uma geração à outra. As danças coletivas
Xamânicas originalmente possuem o caráter de coletividade em qualquer etnia (indígena ou
africana) e mesmo em algumas crenças religiosas brancas – conexão do indivíduo com o
coletivo. É através da dança que a identidade, cultura e conhecimentos de um povo são
também fortalecidos. Segundo Naine Jesus:
Pouco ou nada se fala dos índios no estado que possui a segunda maior população
indígena do Brasil. As Escolas não abordam a perspectiva histórica da colonização a partir da
população nativa. A sociedade cresce ouvindo opiniões de senso comum e carregadas de
preconceito sobre esses povos, a mídia dá pouca visibilidade às questões indígenas ou reforça
as opiniões preconceituosas sobre esse grupo, acentuando um discurso ideológico sobre a
disputa de terras no estado. Enxerga-se o índio como usurpador de terras daqueles que
produzem e que alimentam a maior fonte econômica do estado: a agricultura e a pecuária.
Coloca-se o índio como um sujeito preguiçoso, alcoólatra e vagabundo (à imagem e
semelhança equivocadas do significado de Bugre). Em contra partida, para nominar obras da
artista que tem projeção já internacional na cultura local o mesmo “contexto” Bugre é
supervalorizado pela crítica e pelo Poder Público no Estado. Enquanto o agricultor que é
“Tech”, “Pop”, “é tudo” é visto como um sujeito trabalhador e esforçado.
A esses dois grupos, claro que mais uns pouco em detrimento de muitos poucos, a
aquisição de terras serve para distintos objetivos: enquanto aquele indígena e sujeito histórico
tem uma relação sagrada e de respeito com a terra e com a natureza que geram alimentos para
se viver; este homem cada vez mais hi tech nos campos nutre uma relação mercadológica com
os animais e com a terra. O homem indígena em Mato Grosso do Sul tem valido bem menos
que uma novilha nelore! Planta-se e cria-se gado para lucrar cada vez mais. A luta do índio
pela demarcação das terras ancestrais indígenas é uma reivindicação no sentido de recuperar
as terras que lhes foram tomadas e que lhes são de direito e sagradas. Hoje no Estado de Mato
Grosso do Sul temos 20 milhões de cabeças de gado ocupando terras e se alimentando do bom
e do melhor capim, enquanto os povos indígenas sucumbem de fome, frio e falta de abrigo.
Neste sentido, o índio é condicionado a um lugar de subalterno, quando não se reconhece e se
nega os direitos mínimos que foram tomados dessa população. Portanto, da nossa perspectiva,
não fosse o caráter também de manutenção da sua representação identitária em relação ao
Nacional, não saberíamos dizer como ainda dançam e se pintam!
Considerações finais
REFERÊNCIAS
GUERRA, Vânia Maria Lescano. “As agruras do movimento identitário indígena Guarani
Kaiowá”. In: Cadernos de Estudos Culturais: povos indígenas. Volume 7; número 13;
Jan;/Jun., 2015. Campo Grande, MS: Editora UFMS, 2015, p. 119-141.
Resumo
A pesquisa em educação apresenta diversas particularidades quando se refere a métodos e a processos
de investigação que garantem o rigor/consistência para resultados em uma perspectiva científica. Ao
pensar arte na educação como campo de pesquisa, percebemos as diversas possibilidades de
investigação dos fenômenos artísticos e seus efeitos nos processos de ensino/aprendizagem. Nesse
sentido, levantamos a seguinte problemática: Como a Pesquisa em Educacional Baseada em Arte
(PEBA) possibilita a criação artística em um processo de pesquisa em educação? O objetivo geral foi,
então, compreender as possibilidades de criação artística no processo da PEBA. Por meio de
levantamento teórico e análise das pesquisas realizadas utilizando a PEBA, procuramos perceber as
possibilidades de criação artística no processo de pesquisa acadêmica. Para sustentar as discussões,
adotaramos autores que publicam sobre PEBA, como Rita Irwim, Bedilson Dias e Fernando Hernández,
e, ainda, autores que discutem processos de criação em arte como Fayga Ostrower e Marly Meira. Os
resultados mostram as possibilidades de inserção da PEBA em pesquisas educacionais e outros campos
de conhecimento e apontam as dimensões criativas de uma abordagem inovadora para a pesquisa em
educação, evidenciando a importância de novas metodologias de pesquisa em arte na educação.
Palavras-chave: Dimensões criativas. Educação. Pesquisa Educacional Baseada em Arte.
Introdução
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Regional de Blumenau. Bacharel em
Teatro. Licenciado em Artes Visuais. Especialista em Arte na Educação Infantil e Anos Iniciais. Especialista em
Gênero e Diversidade na Escola. Integrante do Grupo de Pesquisa em Arte e Estética na Educação. E-mail:
leomarperuzzo@hotmail.com.
2
Graduando do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Regional de Blumenau. Artista Plástico.
Ator. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID. Integrante do Grupo de
Pesquisa em Arte e Estética na Educação. E-mail: pedro.gottardisc@gmail.com.
3
Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Regional de Blumenau. Doutora em
Educação pela Universidade Federal do Paraná. Líder do Grupo de Pesquisa Arte e Estética na Educação. E-mail:
ca.carvalho@terra.com.br.
artística vinculada a pesquisas em educação representa um desafio a ser explorado tanto pelo
teor de desenvolvimento da criação artística bem como da pesquisa acadêmica.
Diante dessas possibilidades, percebemos a necessidade de discutir e aprofundar
discussões em torno da PEBA para adentrarmos no campo acadêmico com novas possibilidades
de investigação em Arte na Educação. Dessa forma, a questão problema levantada foi: Como a
Pesquisa Educacional Baseada em Arte (PEBA) possibilita a criação artística em um processo
de pesquisa em educação? O objetivo geral foi, então, compreender as possibilidades de criação
artística no processo da PEBA. Ao avançar na análise, procuramos perceber as contribuições
da PEBA para a pesquisa em Educação e discutir as possibilidades de criação artística em dois
trabalhos acadêmicos que a abordam.
Metodologicamente, definimos como campo de levantamento de dados pesquisas em
universidades brasileiras que se utilizam da PEBA para tecer o processo investigativo. As
discussões serão embasadas por autores que trazem à tona a PEBA e as possibilidades de
pesquisa em Educação e Arte, ao mesmo tempo que investigam ou realizam criação ou
processos de criação artística em pesquisa acadêmica. Este estudo possui, assim, abordagem
qualitativa de cunho documental e teórico em torno dos temas elencados.
Ao considerar uma estrutura dissertativa que parte da PEBA (DIAS; IRWIN, 2013),
percebemos grandes desafios a serem lançados, pois ela possui caráter de criação artística no
processo constitutivo da pesquisa educacional. Assim, o maior desafio, nessa abordagem, está
em transformar o processo investigativo em criação artística. A arte e a pesquisa acadêmica
mesclam-se em um amálgama criativo, oferecendo ao trabalho novas configurações simbólicas
e discursos por meio da imagem. Da PEBA surge o conceito de A/R/Tografia. “A/R/T é uma
metáfora para: Artist (artista), Resarcher (pesquisador), Teacher (professor) e graph
(grafia: escrita/representação). Na a/r/tografia saber, fazer e realizar se fundem.” (DIAS;
IRWIN, 2013, p. 25, grifos nossos).
“A A/r/tografia surgiu inicialmente na Faculdade de Educação da Universidade da
Columbia Britânica, UBC, Canadá, e depois ganhou ramificações em outras instituições de
ensino superior” (DIAS; IRWIN, 2013, p. 24). Essa proposta criativa propõe o entrelaçamento
entre pesquisa acadêmica, criação artística e processo de aprendizagem. Dessa relação, pode
“[...] gerar insights inovadores e inesperados ao incentivar novas maneiras de pensar, de engajar
e de interpretar questões teóricas como um pesquisador, e práticas como um professor” (DIAS;
IRWIN, 2013, p. 24, grifo dos autores). O que caracteriza a a/r/tografia é a “[...] forma de
representação que privilegia tanto o texto (escrito) quanto a imagem (visual)”, configurando
certa mestiçagem ou hibridização (DIAS; IRWIN, 2013, p. 25). Para os autores, a a/r/tografia
consiste em uma
A a/r/tografia permite expressar em imagens aquilo que, por sua vez, as palavras não
possibilitam. Dessa forma, ela abre caminho para a criação de visualidades, as quais poderão
compor e dar consistência artística a um trabalho científico (DIAS; IRWIN, 2013). É comum
tratarmos a PEBA como pesquisa “Viva”. Essa metáfora é utilizada para estabelecer o caráter
orgânico da pesquisa em Educação. Para Dias e Irwin (2013, p. 29), a PEBA “[...] é uma
Pesquisa Viva porque se trata de estar atento à vida ao longo do tempo, relacionando o que pode
não parecer estar relacionado, sabendo que sempre haverá ligações a serem exploradas”.
Para tornar-se parte deste estudo, debruçamos nossos olhares para os entrelugares, na
tentativa de perceber onde as conexões entre a teoria e a prática em um processo de criação
constroem significados visuais e artísticos. A seguir, analisamos dois trabalhos artográficos,
procurando evidências criativas entrelaçadas pela teoria da criação em arte de Fayga Ostrower
(2007, 1995) e Marly Meira (2003).
Neste estudo, adotamos como foco de discussão trabalhos que tenham indícios
artográficos em sua constituição visual. Pesquisamos no acervo da biblioteca digital da
Universidade Regional de Blumenau, mas não localizamos nenhum trabalho que traz a PEBA
como metodologia de pesquisa. Selecionamos, portanto, uma dissertação e uma tese,
encontradas por meio de uma pesquisa inicial no Banco Digital de Teses e Dissertações
(BDTD), da Universidade Federal de Santa Maria. O Programa de Pós-Graduação em Educação
dessa Universidade já desenvolveu diversas pesquisas com a PEBA e vem investindo, por
algum tempo, esforços em compreender essa metodologia. Buscamos, nesses dois trabalhos,
perceber as possibilidades discursivas que as imagens possibilitam e as conexões com o seu
conteúdo. Analisamos, desse modo, as possibilidades de criação e de conteúdo artístico presente
nas narrativas dos trabalhos.
Em se tratando do conceito de criação em arte, na publicação de 1995, Acasos e criação
artística, Ostrower traz um possível significado para o conceito de criar. Nessa obra, o
significado de criar está conectado com outros conceitos que também se relacionam às questões
analisadas nos trabalhos adotados. Para a autora:
Para entender mais sobre processos de criação, trazemos outros conceitos básicos em
torno da temática que também são referenciais para a análise dos trabalhos selecionados.
Segundo Ostrower:
Criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo novo. Em qualquer que
seja o campo de atividade, trata-se, nesse “novo”, de novas coerências que se
estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e
compreendidos em termos novos. O ato criador abrange, portanto, a capacidade de
compreender, e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar e significar. (OSTROWER,
2007, p. 9, grifo da autora).
Aqui está o método: por sobrejustaposições, escrever pelo fora, inscrever o fora na
escrita; Fundar ilhas e continentes possíveis; Considerar os vãos, os labirintos,
alçapões e precipícios que se encontram nas palavras, nas imagens e entre elas;
Compor não a escrita, mas uma escrita que é atravessada por sons, visualidades,
hecceidades e vazios; Assumir o procedimento da colagem, operar por distribuição e
proliferação de multiplicidades em um espaço liso, desértico; Colocar em
tensionamento o inesperado, tendo-se, a si próprio, como parte constituinte dele.
(MOSSI, 2014, p. 29).
4
Bricolagem: termo oriundo do francês bricoleur que se relaciona ao trabalho manual que aproveita materiais
diferentes. Nesse sentido, diversos autores apropriam-se desse conceito para pensar elementos da cultura. Em
relação à pesquisa, Kincheloe (2007) indica que é uma maneira de se fazer ciência analisando e interpretando
fenômenos a partir de diversos olhares na sociedade atual, considerando as relações de poder presentes no
cotidiano. Rejeita diretrizes e roteiros preexistentes para criar processos de investigação diferenciados, nos quais
se relacionam diferentes instrumentos de pesquisa. No caso da tese analisada, refere-se a todo o processo de
composição metodológica, formal e de conteúdo elaborados pelo autor.
seja algo que se aproxima da metodologia aqui destacada. Essa proposição metodológica
permite entrelaçamentos das identidades professor/artista/pesquisador para criar possibilidades
na relação entre visualidades e narrativas da estrutura dissertativa. Nos dois trabalhos
analisados, as evidências apontam para uma intensa criação artística que exige dos criadores
uma postura específica, não só de pesquisadores de uma temática, mas como artistas que fazem
de seu percurso questão existencial. Nesse sentido, a PEBA estabelece profundas conexões com
o ser e estar no mundo, exigindo transformações significativas em uma comunidade de
pesquisadores.
Destacamos a necessidade de discutirem-se metodologias de pesquisa em arte que
transgridam os padrões e as normas, que, por sua vez, podem abortar percursos de criação
artística e construção de conhecimentos científicos em arte. Os dois trabalhos apresentados aqui
mostram que os indícios de criação apareceram em distintas configurações e discursos visuais.
Enquanto Mossi (2014) traz uma colagem sobreposta de imagens e fotografias que remetem ao
corpo humano, que parecem ter emergido de um livro de anatomia, Garlet (2014) propõe
metaforicamente um entrelaçamento de registros fotográficos de construção abandonadas em
suas andarilhagens como professora e pesquisadora. As imagens registradas nessas
andarilhagens puderam compor uma instalação artística itinerante, utilizada para produção de
dados da qual a autora extraiu parte de sua visualidade adicional. Esses aspectos apontam para
a criação de um discurso visual que intensifica as temáticas da pesquisa, trazendo à tona o
potencial expressivo da imagem na pesquisa acadêmica e do uso de outros tipos textuais.
Compreendemos, no entanto, que o pesquisador muitas vezes enfrenta desafios, em ambiente
acadêmico, na busca de expressar por meio da arte resultados e conhecimentos científicos que
sejam aceitos.
Notamos com a dissertação de Garlet (2014) e a tese de Mossi (2014) que suas
pesquisas, de certo modo, quebram com paradigmas tradicionalmente adotados pela pesquisa
em educação. Um olhar sensível, uma percepção aguçada podem abrir caminho para perceber
a arte como campo de conhecimento a ser considerado, explorado, tendo processos criativos
como percursos de investigação e, com isso, proporcionando novas fronteiras para o
conhecimento científico.
REFERÊNCIAS
MEIRA, Marly Ribeiro. Filosofia da criação: reflexões sobre o sentido do sensível. Porto
Alegre: Mediação, 2003.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
Resumo
Este artigo foi formado a partir de fragmentos de relatos de um estagiário de Licenciatura em Teatro,
que teve seu primeiro contato com o Ensino formal, cumprindo esta etapa acadêmica de formação.
Portanto tem o objetivo de relatar as práticas ocorridas no Primeiro Estágio Supervisionado, ocorrido
no Amazonas, mais precisamente numa escola que atende ao ensino fundamental I, da rede pública da
cidade de Manaus. Procurando relatar os desafios encontrados e as metodologias utilizadas durante a
vivência em sala de aula, o artigo propõe buscar uma relação entre as propostas feitas no Projeto de
Estágio, bem como com as atividades desenvolvidas no seu decorrer. As análises e relatos do estudo
da dramaturgia e da interpretação partindo da obra “Os Saltimbancos” são necessárias para se
diagnosticar as problemáticas encontradas, bem como perceber as práticas viáveis e interessantes a ser
experimentadas no contexto formal de ensino. Da mesma forma que se entende a importância destes
relatos frente a diálogos, com o objetivo de cooperar na formação dos professores de Teatro, também
se considera válida as percepções dos alunos frente ao ensino de Teatro na escola. Portanto, é
justamente por isso, que o artigo apresenta citações dos alunos envolvidos no processo, em
consonância com a reflexão sobre as práticas desenvolvidas.
Palavras-chave: Ensino formal. Estágio. Dramaturgia e Interpretação.
Introdução
1
Acadêmico de Teatro pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA, Bolsista no Projeto - Laboratório de
Práticas Pedagógicas em Percepção e Teoria Musical e Pesquisador voluntário pelo Programa de Iniciação
Científica - PAIC. Ator e Professor de Teatro.
2
Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Mestra em Educação, Arte e
História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e graduada em Educação Artística: Artes Cênicas
pela Faculdade Marcelo Tupinambá e em Pedagogia pela Universidade do Grande ABC.
3
As indicações referentes aos depoimentos dos alunos se encontram na seguinte forma: Letras iniciais de seus
nomes, idade e ano do Estágio.
Durante a etapa de observação, apenas duas vezes foram cedidos os tempos de Arte
para que o estagiário realizasse as atividades propostas. Esses momentos se concentraram na
busca de diagnosticar as percepções dos alunos no que se refere à linguagem teatral, assim
como em possibilitar os primeiros contatos com a preparação para a cena. Nos outros dias, a
etapa de observação se resumiu na presença do estagiário em sala, sentado nos fundos,
observando os professores e alunos.
O primeiro momento dado ao estagiário foi cedido pela Professora ministrante de Arte
e ocorreu depois de algumas aulas observadas, onde não haviam ocorrido diálogos essenciais
entre estes sujeitos. O estagiário aproveitou a oportunidade e realizou sua primeira atividade
prevista em planos de aula, que se concentrava na elaboração de desenhos que falassem ou
explicassem o que é Teatro, procurando desta forma perceber as diferentes percepções de
cada aluno acerca desta linguagem.
Após a realização dos desenhos, foi explanado aos alunos o que é Teatro, nas
perspectivas de Peixoto (1980), colocadas frente às perspectivas dos alunos, evidenciadas por
seus desenhos. Sendo enfatizada sua característica própria enquanto arte efêmera, bem como a
tríade proposta - ator, espectador e espaço. Uma das alunas, antes da explicação realizada, já
havia constatado que “(...) Teatro é poesia, pois o Teatro é uma coisa maravilhosa, ele é
muito impressionante, ele faz a gente se sentir muito bem, e as histórias são cativantes, os
personagens, a emoção, a atuação, e o jeito que eles fazem parecer tão realista, é demais. E
não é só por isso, é pelo jeito de atuar, o jeito de deixar as pessoas impressionadas.’’ (M. G.
11 anos. 2017).
Durante esta primeira atividade foi possível perceber uma liberdade criativa sendo
experimentada, levando em conta a desconstrução da estrutura da sala ao se criar uma roda, e
na possibilidade de poder pintar e desenhar conforme queriam, respeitando apenas o tema
proposto para o desenho. Tais mudanças despertavam curiosidades dos alunos sobre o que
mais viria a ocorrer, bem como da parte da professora, a preocupação em entender o objetivo
das metodologias trabalhadas.
Esse contato com a linguagem teatral traz uma nova realidade aos alunos, a de
perceber uma importância nas aulas de Arte. No atual currículo do primeiro ciclo do Ensino
Fundamental (1º ao 5º ano) em Manaus se percebe os seguintes horários de disciplinas -
Língua Portuguesa: 7 aulas por semana, Matemática: 6, Educação Física: 2, enquanto
Ciências, Geografia, História, Ensino Religioso e Arte têm apenas 1 aula por semana.
Salientando que cada aula tem a duração de 50 minutos.
Além do sistema educacional, os próprios professores acabam fortificando a ideia dos
estudos prioritários e secundários, quando usam a Educação Física como recompensa, caso a
turma se comporte, bem como, quando a disciplina de Arte fica responsável por manter a
escola decorada ou em preparar apresentações para as festas comemorativas no decorrer do
ano.
Fica evidente que frente à realidade do ensino de Arte a que estes alunos estão
submetidos, fica afetada suas relações com os conteúdos e práticas artísticas. Uma vez que os
próprios cinquenta minutos são utilizados para práticas de cópias, de pinturas de desenhos
impressos e da arte como instrumento de ensino das outras áreas de conhecimento.
O segundo momento cedido se concentrou na elaboração de exercícios corporais,
sendo aproveitados alguns movimentos já realizados pelos alunos nas aulas de Educação
Física. Esta segunda atividade ocorreu com menor número de participantes, já que alguns
alunos não participaram por conta de não terminarem a cópia de uma atividade escrita no
quadro. Constatava-se uma ansiedade por parte dos alunos que não estavam participando das
atividades da aula de Teatro. Bem como a euforia por parte dos alunos que estavam
realizando os exercícios corporais. Pode-se perceber uma nova prática dentro da escola, que
outrora, não fazia parte de seu cotidiano e que neste pequeno momento poderia se iniciar a
construção de novos conhecimentos. Para os envolvidos nesta prática se percebeu um maior
interesse nas próximas atividades de Teatro, enquanto nos que não participaram neste
primeiro momento, se pode analisar um caminho mais longo em chegar à etapa dos primeiros
envolvidos, uma vez que estes, enquanto observavam a prática e copiavam o exercício do
quadro, ainda não conseguiam compreender o objetivo cênico da proposta.
Durante esta última atividade citada, entendida como experimento para a etapa de
regência, detectou-se uma forte euforia dos alunos, que pode acabar gerando uma
desorganização no momento de realização das atividades. Isto pode ser justificado por conta
da ludicidade deste momento, o que acaba gerando ansiedade nos alunos. O desafio é tentar
refletir e conversar coletivamente sobre a proposta das atividades (jogos, exercícios, leituras
etc.), bem como evitar a realização de atividades sem propósito, como a realização de
momentos lúdicos pelo lúdico como nos lembra Mendonça (2013), ou como não conseguir
integrar esses exercícios nos momentos de construção de cenas.
Este exemplo se reflete em outros alunos que encontraram músicas do espetáculo “Os
Saltimbancos” em desenhos animados como da “Turma da Mônica”, em filmes como o dos
“Trapalhões” ou pequenos vídeos da TV Cultura.
Em conseguinte no percurso do estágio, a Professora que ministra as aulas de
Matemática acabou convidando o estagiário ao perceber a chegada da etapa de monitoria,
para realizar uma “dinâmica” com os alunos que pudesse trabalhar o corpo. Ela perguntava:
“Tem alguma atividade de Teatro que trabalha o corpo?” (R. S. Profª. 2017). Desta forma
ela cedeu uns 15 minutos do seu tempo de aula para esta atividade. Essas perspectivas
diferentes, colaboram nas ações a serem realizadas pelos professores da linguagem teatral,
pois acrescentam metas de aprendizado. Esses pontos de vista, vindos de fora das rodas de
pesquisadores de Teatro, mostram a realidade do ensino formal, bem como sua ligação com a
Arte. O ato da realização do pequeno exercício corporal, se afastava da ideia proposta pela
professora, que era a de despertar os alunos para a aula de Matemática, mas sim, se firmava
na intenção de trazer o Teatro à sala de aula. Uma vez iniciado o exercício, a maioria dos
alunos, esperavam que a aula de Matemática não ocorresse, apara que a atividade continuasse,
alguns consideraram a prática semelhante às aulas de Educação Física, o que poderia ser
repensado, caso ocorresse um maior tempo de atividades e de trabalho de provocação aos
reais objetivos dos exercícios.
Nestes aspectos pode-se perceber um desafio de reconstruir os pensamentos ligados ao
senso comum sobre o ensino de Arte nas escolas nos espaços formais. Promover o ensino da
Arte e evidenciar um convite a entender o Teatro como área de conhecimento importante e
significativo, tanto quanto as outras disciplinas se fazem urgente e necessário, bem como
desafiador. Tais lutas institucionais e de sistemas, só iniciarão no dia a dia da sala de aula.
ao normal, da mesma forma como toda a rotina escolar diária. Durante esses dias
movimentados foi observada uma aula de Arte. Os alunos receberam a atividade de pintar um
desenho oval, impresso em papel ofício, tendo por orientação da professora: “Tem que ser
bem colorido” (M. S. Prof.ª 2017). Uma aluna ao entregar o desenho com a maioria das
partes pintada em vermelho acabou escutando: “Eu não disse colorido. Por que tem tanto
vermelho? Está errado!” (M. S. Prof.ª 2017). Tal situação evidencia a prática tecnicista
utilizada fortemente nas aulas de Arte. Podendo citar que nestas aulas, não se trabalha
processos criativos com os alunos, sendo estes pela criação individual ou coletiva; as próprias
regras definidas pela professora não apresentam justificativas e nem são colocadas como
caráter estético ou de proposta, mas sim de imposição. Passado o evento acima citado,
votando ao normal as aulas, um novo professor assumiu a disciplina de Matemática e acabou
colaborando no processo de estágio ao ceder um tempo seu, para a realização das atividades
programadas. Cabe lembrar que ocorreu preparação para outro evento – Aniversário da
Escola – que acabou prejudicando outra vez no desenrolar da programação do estagiário.
A primeira atividade desenvolvida na etapa de regência foi uma continuação do que
fora pouco aprofundado no início. A atividade se baseava na formação de grupos e na
elaboração de uma leitura dramática onde os alunos trabalhassem três partes do texto “Os
Saltimbancos”. Tal acontecimento foi algo novo para turma, o que causou rejeição de alguns
alunos e confusões nas organizações de ideias de como ocorreriam as leituras. Por parte do
estagiário, os alunos eram tratados como sujeitos criadores, o que causou uma surpresa por
parte da turma, já que estes estavam acostumados a cumprir regras e normas do que ser feito
na aula de Arte, ou na aula de outras disciplinas.
Os grupos foram formados conforme os números que o professor deu a cada um, para
que desta forma não se formasse somente os grupos de íntimos, e se reforçasse a falta de
integração entre a turma. Portanto a proposta era que houvesse um momento de novas
interações e um convite à coletividade. Em primeiro lugar, foi necessária a orientação por
entre os grupos em todos os momentos; em segundo lugar saber lhe dar com os alunos que
desistiram da atividade por conta de não querer trabalhar em grupo, ou mesmo de não estarem
acostumados com colegas de turma dos quais não tinha intimidade. Esta atividade encerrou-se
por conta do fator tempo, o que fez com que fosse deixada para outro momento sua
continuação.
cada um e pediu para que estes escrevessem seus nomes no seu Diário de Bordo. Por fim, os
alunos agradeceram, tiraram fotos e acompanharam o estagiário até a saída, bem como
agradeceram por suas atividades realizadas e pediram para que ele escrevesse seu nome em
seus cadernos, como um artista devia fazer, segundo eles.
Fig. 2. Encerramento do estágio. Crianças com as mensagens entregues pelo professor estagiário.
etapas e uma não reflexão de práticas. Manter um equilíbrio entre o planejado e o ocorrido é
algo necessário no caminhar pedagógico, sobretudo no ensino de Teatro, principalmente, se
levarmos em conta uma busca por um objetivo real em cada atividade realizada, tanto quanto
proporcionar uma aprendizagem significativa.
Diagnosticando problemáticas, potências e desafios a serem trabalhados no contexto
escolar, entende-se que o Estágio proporciona muitas reflexões quanto à questões encontradas
na literatura e que são vivenciadas apenas no plano sensível no momento da docência.
Portanto, o estágio além de colaborar na fortificação do objetivo de proporcionar experiências
práticas ao acadêmico, também colabora na procura por resoluções de problemáticas
encontradas no ambiente escolar.
Referências bibliográficas:
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17ª. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
Resumo
O presente trabalho tem como foco a análise de possíveis abordagens para o ensino de teatro na
educação básica, destacando algumas das metodologias de ensino de teatro mais difundidas no Brasil.
Tal análise é realizada a partir do diálogo entre autores de referência e de minha práxis como docente
em um curso de Licenciatura em Teatro, buscando aplicar as citadas metodologias na formação de
arte/educadores. Em linhas gerais, com base no estudo dos Parâmetros Curriculares Nacionais e
também de obras de Isabel Marques e Ingrid Koudela, proponho uma possível leitura paradoxal do
ensino de artes no Brasil, com destaque para os exemplos no campo das artes cênicas. A trajetória
arte/educativa brasileira no século XX pode ser compreendida por meio dos paradoxos formados na
oposição entre os polos “tradição x liberdade” e “contexto x essência”, que até a atualidade
influenciam as práticas escolares. Apresento, por fim, um esforço classificatório, mas também
sintético, com destaque para as seguintes perspectivas de ensino de teatro: Jogo dramático infantil, na
matriz anglo-saxônica; Sistema de jogos teatrais de Viola Spolin e o Teatro do oprimido, de Augusto
Boal. As perspectivas anteriormente citadas são classificadas em relação às suas influências artísticas,
teóricas, pedagógicas e políticas e também em relação à sua possível aplicação no campo da educação
básica, de acordo com a organização serial da educação brasileira.
Palavras-chave: Jogo dramático infantil. Sistema de jogos teatrais. Teatro do oprimido.
Introdução
Por intermédio da presente reflexão pretendi analisar algumas possíveis abordagens
para o ensino de teatro na educação básica. O recorte analítico vislumbrou coligir e destacar
algumas das metodologias de ensino de teatro mais difundidas no Brasil e minha práxis como
docente no curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Rondônia - UNIR,
buscando aplicar as citadas metodologias na formação dos futuros professores de teatro.
Apresento aqui um esforço classificatório, mas também sintético, relacionando alguns
dos sistemas e métodos teatrais mais conhecidos no país com a organização serial da
educação formal brasileira. Porém, antes de chegar ao ensino de teatro propriamente dito, é
necessário apresentar uma síntese de algumas perspectivas do papel das artes no campo da
educação, a partir de autores e documentos de referência.
1
Professor do curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Doutorando em
Artes pela Universidade Estadual Paulista – Unesp. E-mail: alexandre.falcao@unir.br.
2
Acerca das distintas perspectivas do modernismo, ver Harvey (1992).
[...] uma arte que busque integrar e articular seus próprios conhecimentos (fazer,
apreciar, contextualizar) e a realidade sócio-político-cultural, possibilitando, assim, a
inserção de uma escola transformada e transformadora na sociedade. Dessa forma, o
conhecimento em arte articula-se com o conhecimento através da arte [...]
(MARQUES, 2011, p. 48).
citados. Para o escopo deste trabalho limito-me a apresentar, de forma sintética, as seguintes
perspectivas: o jogo dramático infantil, na matriz anglo-saxônica (SLADE, 1978), o sistema
de jogos teatrais de Viola Spolin (SPOLIN, 1979) e o teatro do oprimido, de Augusto Boal
(BOAL, 1996 e 2002).
3
Biografia apresentada com base em artigos do Sesame Institute (2017) e de Jackson (1990).
A sua aversão [de Slade] aos valores teatrais é clara; assim como a sua desconfiança
no trabalho com teatro para as crianças menores de 11 anos. Mas, por outro lado, sua
crença no valor do teatro realizado por crianças mais velhas (especialmente de 14
anos e acima) - e também de teatro para crianças realizado por adultos - é
confirmada não só pelo que ele escreveu (por exemplo, em Child Drama), mas
também em sua própria prática na Rea Street e na EDA (1990, p. 162)4.
Porém, outros problemas, quiçá mais graves, estão presentes na obra do pioneiro
inglês. Mate (1989) destaca que a obra de Slade está embasada em um liberalismo vago, que
apresenta os seguintes aspectos:
Ao trabalhar a obra do educador inglês junto aos licenciandos em teatro, busco sempre
realizar uma leitura crítica, destacando, inclusive, alguns temas não explicitados nas críticas
dos pesquisadores brasileiros anteriormente citados, como o machismo e a perspectiva
heteronormativa. Nas indicações de Slade frequentemente há distinção entre atividades para
meninos e para meninas, restando às meninas atividades como representar a atendente de uma
butique ou uma dona de casa.
Realizando, porém, o esforço de “não jogar a criança fora junto com a água da bacia”,
parte das indicações de Slade seguem válidas hoje em dia, inclusive numa perspectiva de
educação libertária. Se pensarmos que o modelo tradicional/reprodutivista ainda é muito
presente na educação brasileira e se consideramos também o exacerbamento do aspecto
espetacular da sociedade atual, as orientações de Slade para a prevenção e enfrentamento ao
exibicionismo e para a superação do “textocentrismo”, orientações estas que, de certa forma,
4
Minha tradução.
improvisações teatrais, cujo foco tem como alicerce a espontaneidade do ato teatral, em
oposição à representação clássica.
Spolin propõe, de certa maneira, a democratização da arte teatral, ao afirmar que “[...]
todas as pessoas são capazes de improvisar” (SPOLIN, 1979, p.3). Em comum, e a partir de
algumas ressalvas, Slade e Spolin defendem proposições alicerçadas na improvisação, ainda
que esta seja conduzida de maneira menos rigorosa no caso de Slade. O trabalho da educadora
estadunidense vale-se de três dispositivos principais para a proposição de improvisações:
foco, instrução e avaliação (PUPO, 2005); em oposição, Slade utiliza-se de práticas
alicerçadas em conceitos mais abstratos e esquadrinhadores, como indicado anteriormente por
Mate (1989), com maior possibilidade de interpretações subjetivas, autoritárias ou moralistas.
Por fim, outro ponto em comum é o enfoque bastante voltado aos níveis físico e não-
verbal. Mas, no caso de Slade, há a limitação de interpretações em relação aos corpos ideais
masculinos (para os meninos o autor enfatiza a virilidade e recusa a delicadeza) e femininos
(para os quais é indicado, em certa medida, o oposto do que se espera dos rapazes). À obra de
Spolin, provavelmente devidos às influências da contracultura, subjaz uma visão de gênero
mais abrangente e contemporânea, de forma geral não distinguindo papéis masculinos e
femininos nas proposições de atividades. De certo modo, pode-se afirmar, seu enfoque
corporal bebe ainda na fonte de Stanislávski e do método das ações físicas, conformando-se
em oposição a uma abordagem intelectual e psicológica.
Em relação a Slade, a obra de Spolin avança no sentido de proposições libertárias,
mesmo que em termos e contextos em alguma medida ligados ao liberalismo econômico. Em
seu sistema, a autora busca combater o autoritarismo no ensino de teatro, enfrentando os
mecanismos de aprovação/desaprovação. Para isso, ela propõe eliminar o julgamento (que
ganha matizes morais), considerando que não existe uma maneira unívoca e absolutamente
certa ou errada para solucionar um problema cênico. Em tese, as práticas de Spolin
pressupõem a tessitura de relações horizontais entre educadores e educandos, assim como o
desenvolvimento da expressão grupal, rumo à cooperação e à percepção da interdependência.
Nesse aspecto, a autora é radical: a competição não passa por suas práticas, a não ser como
expressão (e quiçá reflexão acerca) do que acontece na sociedade, mas não de forma inerente
aos procedimentos pedagógicos.
Outra diferença relevante é que a possível divisão entre público e espectador começa
mais cedo no sistema de jogos teatrais de Spolin (com crianças, a partir dos 9 anos) do que no
método de jogos dramáticos de Slade (com pré-adolescentes, a partir dos 13 anos).
Diversos autores brasileiros, como Flávio Desgranges (2001) e Ingrid Koudela (1996),
realizaram revisões, adaptações ou comentários críticos ao sistema de jogos teatrais de Spolin,
pois seu sistema pode ser um excelente método de aprendizado de certa vertente da linguagem
teatral, mas conferiria pouca atenção a uma leitura mais aprofundada da realidade, dos
aspectos sociais e de suas implicações no todo (KOUDELA, 1991; DESGRANGES, 2011).
Koudela (1996) sugere a união com o chamado Modelo de Ação de Bertolt Brecht,
como uma expansão do objetivo pedagógico do fazer teatral para o desenvolvimento da
consciência do ser humano como sujeito social e histórico. Desgranges (2011) sugere que o
condutor do processo educacional fique atento às representações surgidas nas improvisações
e, se considerar pertinente, vá além do foco na linguagem cênica e busque problematizar
criticamente as situações apresentadas em cena.
Teatro do Oprimido
O teatro do Oprimido (TO) é um método que reúne diversas técnicas criadas ou
sistematizadas pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal (1931-2009). Vindo do Teatro de
Arena, com forte influência do teatro épico e de temática assumidamente política, Boal se
dedica mais intensamente aos campos da educação e da ação social de base após o exílio, em
experiências na Argentina e Peru. Depois, na continuidade do exílio na Europa, seu método
segue sendo ampliado e desdobrado em novas vertentes de ação.
As influências de Boal e do Teatro do Oprimido (TO), ao longo de seu
desenvolvimento, passam por Karl Marx, Bertolt Brecht, Erwin Piscator, Paulo Freire, além
do sociodrama e do psicodrama (BRITO, 2015; BOAL, 1996). Sua perspectiva é
emancipatória: todos podem fazer teatro, inclusive os atores, e o teatro é uma arma que pode
ser praticada como “um ensaio da revolução”. Em sua árvore genealógica, portanto, está a
matriz crítica e, de certa forma, modernista, pois, conforme Harvey (1992), o sentido do
modernismo é disputado pelos artistas da primeira metade do século XX e o movimento
socialista inseriu uma dimensão de classe ao projeto modernista. O TO pode ser relacionado
ainda à abordagem contextualista, da educação através da arte, inclusive por conta das
influências recebidas da Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire.
Duas das críticas que usualmente o TO recebe e que foram elencadas por Desgranges
(2011), relacionam-se à abordagem contextualista e dizem respeito a certo uso instrumental
do teatro como ferramenta e a uma suposta precariedade de qualidade artística, devido à falta
de acabamento estético nas cenas e espetáculos criados. Em relação ao uso instrumental do
teatro, eu respondo com a seguinte pergunta: por que não deveria ser? Muitos mestres de
teatro, como Brecht, Piscator, entre tantos outros (e seus respectivos métodos ou práticas),
promoveram e promovem trabalhos em que o teatro é utilizado de forma também (mas, não
só) instrumental. Considerando a gigantesca problemática social que nosso país e o mundo
enfrentam, o TO se relaciona com as dimensões educacionais, socioambientais, de saúde
pública, proteção e empoderamento das minorias e dos grupos fragilizados e oprimidos, além
de uma ampla gama de campos onde suas práticas têm contribuído para a emancipação
humana coletiva.
Todo o universo de práticas sociais anteriormente citado não está dissociado do campo
artístico, pois é importante ressaltar que a qualidade artística de um trabalho está implicada na
sua relação com o contexto no qual o mesmo está inserido. Assim, parte das críticas
costumeiramente dedicadas ao TO são elaboradas a partir de um preconceito de classe e de
uma visão restrita de arte, que desconsidera a indissociabilidade entre os universos
pedagógico e artístico.
Em minha prática no campo da educação formal considero o TO excelente ferramenta
de trabalho para os anos finais do Ensino Fundamental, para o Ensino Médio e para a
Educação de Jovens e Adultos. Por trabalhar com a temática social de forma direta e objetiva
(opressões reais), o TO em sua totalidade pode não ser indicado para o trabalho com crianças
menores, de Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Tabela 2. Relação entre períodos escolares e algumas abordagens metodológicas do ensino de teatro na
educação básica
Período Escolar “Metodologias”
Educação Infantil - Jogo Dramático Infantil (e seus desdobramentos
no Drama como método de Ensino)
- Sistema de Jogos Teatrais de Viola Spolin
Ensino Fundamental – 1º a 5º anos - Jogo Dramático Infantil (e seus desdobramentos
no Drama como método de Ensino)
- Sistema de Jogos Teatrais de Viola Spolin
Ensino Fundamental – 6º a 9º anos - Sistema de Jogos Teatrais de Viola Spolin
- Teatro do Oprimido (especialmente no 8º e 9º
anos)
Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos - Sistema de Jogos Teatrais de Viola Spolin
- Teatro do Oprimido
À guisa de conclusão
Ainda não temos no universo acadêmico brasileiro uma pesquisa que dê conta de
sistematizar, a partir de estudos empíricos, os resultados, potências e fragilidades da aplicação
em larga escala das abordagens metodológicas em ensino de teatro anteriormente
apresentadas. Os estudos disponíveis, em grande medida, dedicam-se principalmente a
analisar os aspectos conceituais, políticos e históricos dos distintos métodos, ou a estudos de
casos específicos, em pequena escala, como experiências em determinadas escolas,
instituições ou grupos. Assim, de forma geral, o campo arte/educativo brasileiro ainda
desconhece onde se ensina e como se ensina teatro na educação básica nacional, até porque os
estudos estão majoritariamente concentrados nas regiões Sul e Sudeste do país.
REFERÊNCIAS
BOAL, Augusto. O arco-íris do desejo: método Boal de teatro e terapia. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1996.
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. 5.ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2002.
CABRAL, Beatriz Angela. O drama como método de ensino. São Paulo: Hucitec, 2006.
KOUDELA, Ingrid Dormien. Texto e Jogo: uma didática brechtiana. SP. Perspectiva, 1996.
MARQUES, Isabel. A. O ensino da dança hoje: textos e contextos, São Paulo: Cortez, 1999.
PUPO, Maria Lucia de Souza Barros. Para desembaraçar os fios. In: Educação e Realidade.
30 (2): 217-228. jul/dez (2005).
TEORIA DA RECEPÇÃO:
REFLEXÕES SOBRE COMENTÁRIOS EM VÍDEO VOLTADO PARA
PROFESSORES DE ARTE NO YOU TUBE
Resumo
A arte teve suas fronteiras ampliadas a partir das transformações tecnológicas, sua
reprodutibilidade proporcionou uma mudança radical em seu próprio conceito apresentando novas
formas de expressão, bem como novas possibilidades de acessos e usos. Através da internet uma
considerável parcela da população mundial, que por diversas razões estão impedidas do contato físico
com objetos artísticos, podem ter acesso a acervos de instituições nacionais e internacionais além de
uma infinidade de conteúdos sobre arte. O acesso não está mais reduzido a museus ou galerias,
tampouco está restrita a uma pequena parcela da população como aconteceu durante séculos ao longo
da história. Qualquer pessoa que esteja incluída digitalmente tem a possibilidade de acesso ao universo
da arte sem sair de casa, usando um computador ou telefone celular. Essa nova forma de acesso e
participação ao universo da arte que artistas, professores e espectadores adquiriram em função da
tecnologia, democratizou o acesso a produções artísticas, bem como fez surgir uma nova relação com
o objeto artístico. Esse novo espaço de relação com a arte, em especial no que se refere ao aspecto da
recepção promovida pelo espaço virtual é objeto de interesse desse artigo.
Introdução
Pensar sobre arte na contemporaneidade 2 é pensar sobre a sua relação com o universo
digital. Artistas, críticos, professores, espectadores em geral se encontram nesse ambiente
virtual em diferentes espaços, plataformas, vídeos, blogs e outros. Pensar nos diversos
caminhos que a produção e a recepção artística percorre na era digital é instigante, pois pode
proporcionar novas compreensões sobre relações próprias a arte, clareando o entendimento
sobre a mesma na contemporaneidade. Tal movimento de investigação sobre um contexto tão
atual necessita, no entanto, de um apoio da história para que o refletir faça-se dentro da
perspectiva dinâmica do registro e compreensão sobre um contexto.
1
Mestranda em Artes PPG Artes - UEMG. Estudante de Artes Plásticas escola Guignard - UEMG. Formada em
História pela PUC Minas. Professora de Arte e História no ensino fundamental II e médio. E-mail:
gabriela.gabiarte@gmail.com
2
Não entrarei na discussão sobre arte na contemporaneidade. Adotarei a compreensão desenvolvida no vídeo por
considerar razoável o ponto de vista apresentado. O interesse no momento é a relação com a recepção.
Nessa perspectiva, pesquisar sobre a relação da arte com o espaço virtual se apresenta
de maneira rica nas diversas possibilidades de encontro que essas possuem. Hoje, qualquer
pessoa, que esteja incluída digitalmente, pode realizar uma série de ações artísticas e
compartilhar com milhares de outras. Pessoas, que por diversas razões estão impedidas do
contato físico com objetos artísticos, podem ter acesso aos acervos de instituições nacionais e
internacionais, além de uma infinidade de conteúdos sobre arte através de sites como o You
Tube, por exemplo. O acesso à arte não está mais reduzido aos museus e galerias, nem está
restrito a uma pequena parcela da população como aconteceu durante séculos ao longo da
história. Qualquer pessoa, incluída digitalmente, pode ter acesso ao universo da arte sem sair
de casa, usando um computador ou o telefone celular.
You Tube
O You Tube é definido como o maior site de compartilhamento de vídeos da
atualidade em que o usuário envia e assiste vídeos pela internet. You Tube pode ser traduzido
como “você transmite ou canal feito por você” (SIGNIFICADO, 2017) e carrega bem a ideia
do nome, um espaço onde o usuário pode interagir de forma gratuita compartilhando vídeos e
fazendo comentários.
Ao pesquisar por arte contemporânea, o You Tube registrou um resultado relevante de
558.000 vídeos, ao pesquisar por contemporary art, ele disponibilizou 5.090.000 vídeos3. Nos
dois casos foram relacionados vídeos de toda espécie, programas de humor, palestras,
seminários, programas antigos de TV, séries sobre história da arte, vídeos com finalidades
pedagógicas, enfim uma diversidade de produções sobre arte para diversas aplicações.
3
Importante ponderar que os números que se encontram ao longo do texto, relativo a pesquisas no You Tube
sobre arte contemporânea e contemporary art, bem como informações sobre visualizações, curtidas e dislike
sobre o vídeo em questão são variáveis. A dinamicidade de compartilhamentos no You Tube altera
constantemente os números apresentados nesse trabalho. Em relação ao vídeo enquanto estiver disponível no
You Tube, também estará suscetível a alterações em seus números.
criaram um site simples que em pouco tempo conseguiu um enorme sucesso. Em 2006
foi comprado pela empresa Google, por 1.65 bilhões de dólares. (SIGNIFICADO,
2017).
O You Tube traz em si a ideia da produção e recepção, pois os usuários que antes
recebiam conteúdos elaborados por emissoras de TV ganharam espaço para serem eles
mesmos produtores de conteúdos, através de produção de vídeos caseiros ou profissionais,
que posteriormente são disponibilizados na rede. Além do acesso ao conteúdo os usuários do
You Tube também possuem a opção de comentar4 os vídeos compartilhados, emitindo
opiniões e pontos de vista sobre o assunto em questão. O You Tube proporciona uma rica
rede de relações em que qualquer um pode ser um produtor de conteúdo e, também, emitir
comentários.
Como pensar então a relação da recepção em arte nesse espaço dinâmico que é o You
Tube? Em especial o que podemos pensar sobre recepção em arte a partir dos comentários
redigidos em vídeos sobre arte? Penso que os próprios dilemas postos em relação ao
pensamento sobre arte na contemporaneidade se aproxima em relação a sua presença no
espaço virtual. Interessada no lugar da recepção irei me dedicar a pensar sobre arte nos
espaços virtuais, em especial no You Tube, a partir da análise de comentários sobre um vídeo
voltado para professores sobre arte contemporânea.
A reprodutibilidade
Falar sobre os comentários do vídeo é antes de tudo dizer que estes são tecidos a partir
de reproduções de obras de arte. A sociedade burguesa, no final do século XIX, desenvolveu
tecnologias que revolucionaram a ideia de arte bem como a da própria sociedade através da
fotografia e do cinema. A partir dessas duas expressões a cultura industrial proliferou em
esfera global e com ela a ideia de que “há sempre algo para ser visto” (SCHWARTZ, 2004,
P.411) e poderia acrescentar há sempre algo a ser comentado.
Outro evento promovido pela fotografia e pelo cinema foi a difusão das imagens em
larga escala. Em um vídeo sobre arte que se assista pelo You Tube, conseguimos ter uma
gama de referências sobre objetos artísticos. O vídeo enquanto veículo de difusão da imagem
4
Após aquisição pela empresa Google, os usuários precisam fazer registro do seu canal ao Google + para que
possam redigir um comentário nos vídeos.
consegue ampliar a exposição de imagens a um público muito mais diversificado do que seria
estando apenas em um museu. Essa maior expansão estimula a produção de comentários
variados, no caso de vídeos no You Tube, que são tecidos a partir da recepção dessa
reprodução. Ainda que distantes da materialidade da obra de arte, do original, a receptividade
acontece a partir da sua reprodução, a “obra de arte reproduzida é cada vez mais a reprodução
de uma obra de arte criada para ser reproduzida” (BENJAMIN, 1996, s.p.).
De acordo com Walther Benjamin, a reprodutibilidade fez com que a obra de arte
saísse do seu estado parasitário, estático, repleta de referências teológicas e doutrinadoras.
Uma vez perdida a preocupação com a autenticidade, o objeto artístico se liberta de seu
aspecto mágico e altera a própria noção de arte. Qualquer um pode se relacionar com um
objeto através da sua reprodução.
Os comentários
Logo abaixo do vídeo encontra-se o espaço para inserir comentários que, até o
momento da escrita deste trabalho eram quinze. Diante desses comentários, uma série de
questionamentos surgiu, abrindo possibilidades para diálogos com teorias da arte. Quem são
as pessoas que redigiram os comentários sobre o vídeo? Alunos do ensino básico? Do ensino
superior? Professores? Mediadores? A ausência de informações sobre a identificação dos
comentaristas gera inquietude e possibilidades. Uma vez que o You Tube é uma plataforma
aberta a qualquer pessoa, profissional ou não da área de arte, estes comentários trazem à tona
discussões que passam pela teoria da recepção em arte. Os comentários podem ser entendidos,
então, como rico material de análise para se pensar a teoria da recepção e sua relação com o
espaço virtual.
De forma geral pode-se compreender como espectador todo aquele que, perante um
objeto artístico, assume uma posição. Alunos, professores, artistas, críticos, pessoas das mais
diversas áreas; qualquer pessoa que diante um objeto artístico ou de sua reprodução, assuma
uma posição, pode ser considerada espectador. Essa visão encontra respaldo nas teorias de
Rancière. “Ser espectador não é condição passiva que deveríamos converter em atividade. É
nossa situação normal. Aprendemos e ensinamos, agimos e conhecemos também como
espectadores” (RANCIÈRE, 2012, pág. 19).
5
Rancière se refere ao teatro para pensar o espectador, no entanto optei em utilizar o termo objeto artístico para
ampliar as possibilidades de aplicação dos conceitos desenvolvidos pelo autor.
6
Nesse ponto abrem-se diversas possibilidades de indagações como, por exemplo, De fato todos que registram o
comentário assistiram ao conteúdo do vídeo? Mesmo sem poder afirmar tal ação pode-se pressupor que de
alguma forma estes tem ou tiveram contato com arte contemporânea e que baseados nesse contato redigiram suas
opiniões
Fig. 1. Mujawara.
Snadi Hilal e Alessandro Petti. Grupo Contrafilé-2014.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=8-XltLNkOhs.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=8-XltLNkOhs.
A distância que o ignorante precisa transpor não é o abismo entre sua ignorância e o
saber do mestre. É simplesmente o caminho que vai daquilo que ele já sabe àquilo
que ele ainda ignora (...) Toda distância é uma distância factual, e cada ato
intelectual é um caminho traçado entre uma ignorância e um saber, um caminho que
abole incessantemente, com suas fronteiras, a fixidez e a hierarquia das posições”.
(RANCIÈRE, 2012, pág. 15 e 16).
pessoas passa por esses objetos e produzem diversas posições que, em grande maioria, não
são conhecidas ou compartilhadas com outros espectadores resultando numa experiência mais
íntima que nem sempre é amadurecida. Essa relação com o transitório, com o passageiro,
colocado pelo comentário da Fig. 2, de certa forma também caracteriza o You Tube, pois
podemos pensar que os usuários que redigiram os quinze comentários no vídeo não
necessariamente retornarão a esse lugar para acompanhar o desenvolvimento da discussão. O
seu andamento pode muitas vezes acontecer através de outros usuários que chegam e decidem
dar andamento as discussões anteriormente levantadas.
Considerações finais
pensar sobre aquilo que se tem contato, fazer associações com o rico repertório de vida que
cada um possui tentando, de alguma maneira, se aproximar daquele objeto ou daquele artista,
mais do que reforçar um afastamento num sentido individualista e dualista. Novamente, as
distâncias que separam o espectador do objeto artístico devem ser encaradas como fator para
uma possível aproximação e não isolamento.
A reprodutibilidade da obra proporcionou uma nova concepção sobre o próprio
sentido de arte. Os novos espaços criados a partir dessa revolução tecnológica, como é o caso
do You Tube, oferecem à relação artística uma democratização a seu acesso, possibilitando
diversas manifestações de espectadores com diferentes referências cognitivas. O You Tube,
assim como outros veículos de compartilhamento, é espaço legítimo que a arte ocupou. Ainda
que muitos comentários se demonstrem críticos em relação à produção contemporânea,
encontramos tantos outros que demonstram diálogos. Que as distâncias encontrem no
ambiente virtual meios para promoverem aproximações.
REFERÊNCIAS
BARTHES, Roland. A Morte do Autor. In: O Rumor da Língua. São Paulo: Martins Fontes,
2004.
RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: WMF; Martins Fontes, 2012.
Resumo
Esta pesquisa propõe reflexões acerca dos fazeres coletivos de um bloco de carnaval
exclusivamente feminino. O objetivo geral é apontar as estratégias observadas junto a esse coletivo
como pistas que permitam vislumbrar seus processos educativos. As reflexões foram construídas a
partir de questões que emergem tanto do trabalho empírico (cujas observações ocorreram entre abril e
agosto de 2017) como do trabalho reflexivo oriundo de referências bibliográficas sobre os fazeres do
carnaval e o potencial do campo artístico para promoção de processos educativos envolvidos na
socialização do indivíduo por meio de construções coletivas. Ao longo do texto destacam-se algumas
ações, atitudes e princípios particulares que perpassam a organização para contemplar as demandas do
coletivo; que vão desde aprender a tocar seu instrumento, passando pelos conflitos em torno das
posições política do bloco até a necessidade de recursos materiais necessários para colocar o bloco na
rua. Foi possível perceber que o espaço do bloco de carnaval está permeado pela busca de novas
possibilidades de organização, orientadas pelo respeito às diferenças, pela não hierarquização dos
saberes, bem como pelo sentido de construir uma convivência em harmonia com cuidado mútuo. Tudo
isto ocorre sem a perda do foco que é fundante para o grupo: criar bloco de carnaval em que a
principal função é brincar o carnaval.
Palavras-chave: Carnaval. Dança. Educação.
Apresentação
1
Doutoranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Mestra em
Educação pela PUCRS. Licenciada em Dança pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) E-
mail: laura.bauermann@acad.pucrs.br.
2
Doutorando em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor
assistente do curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail:
felipeumann@gmail.com
3
A tese teve início em março de 2017, e é realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
estratégias observadas nesse coletivo feminino como pistas que permitam vislumbrar seus
processos educativos.
Tal reflexão emerge das observações junto ao bloco de carnaval feminino realizadas
entre abril e agosto de 2017. Realizou-se cerca de duas observações mensais durantes
encontros do coletivo como ensaios para a performance, reuniões e atividades de integração.
Esta pesquisa foi construída a partir de questões que emergem tanto do trabalho empírico
como do trabalho reflexivo oriundo de referências bibliográficas sobre os fazeres do carnaval
e o potencial do campo artístico para promoção de processos educativos envolvidos na
socialização do indivíduo por meio de construções coletivas.
Assim, o fenômeno mais recente que observamos nesta pesquisa é o ressurgimento dos blocos
de Carnaval que ocupam as ruas de bairros centrais de uma das grandes cidades da região sul
do Brasil desde o início dos anos 2000.
É comum que estes blocos caracterizem-se pela junção de amigos (e em alguns casos
vizinhos) que se reúnem a fim de organizar uma festa de carnaval independente do poder
público e do patrocínio de grandes empresas. As saídas dos blocos acontecem em sua maioria
durante o dia, em fins de semana próximos à data do Carnaval, algumas pessoas tocam
instrumentos, outros cantam, alguns usam fantasiais, surgem também pessoas com carrinhos
de venda de bebidas, comidas e adereços de carnaval; e os grupos vão ganhando corpo e
novos integrantes ao longo dos anos. E como observamos ao longo da história, à medida que
as festas vão ganhando corpo e visibilidade, as instituições de poder vão organizando limites
de horário, espaço e demais restrições a fim de controlar a festa4.
Acredito que somente com muita coragem joyceana podemos sair do conforto de
uma ciência fascinante – que pretende tudo explicar, masque está longe de resolver o
problema mais elementar das relações consigo mesmo, com o outro e com a
natureza – e reiniciar a viagem pelo desconhecido, ultrapassando a modernidade e as
subseqüentes pós e neomodernidades. Não será pela mera substituição de gurus –
Marx por Foucault, Freud por Lacan e outras novas preeminências – e sua
conseqüente substituição, nem pela adesão a outras ‘escolas’, que se estará
superando a ferrugem e o ranço da modernidade. A superação só ocorrerá pela
mudança radical de abordagem. (D´AMBRÓSIO, 1997, p. 21)
Desse cenário surge a observação junto a um grupo de mulheres que, desde fevereiro
de 2016, reúne-se em torno do desejo de levar pra rua um coletivo exclusivamente feminino
que toca, dança e brinca o carnaval em suas diversas formas. Hoje o bloco está constituído por
aproximadamente 100 mulheres que organizam-se entre maestras, cantoras, dançantes e
naipes de instrumentistas (instrumentos percussivos como surdos, caixas, tamborins, agogôs,
chocalhos, etc.; instrumentos de corda como cavaquinho e violão e de sopro como flauta
transversa e saxofone). As dançantes, em particular, denominam-se as “tocadoras de terror”.
4
A forma como este controle é administrado na cidade não é de importância menor, mas não será detalhado aqui
tendo em vista o tamanho reduzido da pesquisa e o foco. Esta análise estará, talvez incorporada em mais detalhes
em publicações posteriores.
5
Em princípio pensou-se em separar as dimensões organizativas que compõem as ações do grupo para fins de
estudo. Mas é interessante notar como a organização dos recursos materiais também é pensada em relação a
composição artística e, que tanto as escolhas em torno da performance (a escolha do repertório, por exemplo) e
as contratações materiais (locais de ensaio, por exemplo) estão vinculadas às posturas políticas que o coletivo
assume.
6
Quanto aos modos de organização de grupo já instituídos socialmente tem-se como referência as seguintes
características: pessoas reúnem-se em grupos em que a coordenação é bem definida e identificada pelos demais
integrantes (seja sob a coordenação centrada em um sujeito ou em um número pequeno de sujeitos); essa
coordenação dita as principais diretrizes do grupo e os demais integrantes seguem tais diretrizes. Nessa forma,
os princípios do coletivo estão já estipulados pela coordenação, existem regras claras a seguir e existe uma
demarcação visível entre quem pode participar do coletivo e quem não pode. Acima de tudo, é possível
identificar alguém que toma as principais decisões do grupo, é possível identificar posições/funções bastante
definidas entre os integrantes dentro dessa forma de coletivo.
então o trabalho circula entre um ensaio em que o grupo todo se junta para performar o
repertório e outros momentos para cada naipe de instrumentos fazer seus ajustes específicos
(nesse momento, as terroristas, como se chamam as mulheres que compõem o ‘naipe do
terror’ conversam e fazem as combinações para a sua performance.
A outra instância importante de administração do bloco é a criação dos Grupos de
Trabalho, os GTs. Configuram pequenos grupos (cerca de cinco mulheres cada GT) que se
reúnem em momentos separados do ensaio coletivo para organizar as demandas do encontro
semanal. O GTs são temporários e transitórios no que diz respeito às suas integrantes e aos
temas. Ou seja, são criados e extintos de acordo com as demandas e as integrantes aderem e
deixam os GTs de acordo com sua disponibilidade e interesse. Atualmente existem três GTs:
produção, organização e arranjos/ensaios. Mais do que entender o que é a temática de cada
um, tendo em vista sua transitoriedade, para este estudo é importante perceber que não existe
uma rigidez nesse trabalho, as reuniões são abertas e divulgadas. As mulheres não tomam
decisões importantes nesses espaços, apenas são organizam pautas para serem levadas aos
encontros do bloco ou realizam tarefas demandadas do encontro.
A seguir destacam-se algumas ações/atitudes/princípios que perpassam os encontros
do coletivo e que permitem caracterizar essa organização particular:
a) não quantificação da presença: percebe-se que os controles de presenças e faltas,
tempo de permanência nos encontros do coletivo a partir do horário de chegada e
saída não são determinantes do que é fazer parte ou não do grupo, bem como não
são ferramentas punitivas para as integrantes do bloco. Destaca-se esse ponto
tendo em vista que o controle da presença é, em muitos coletivos um fator de
verificação do comprometimento dos integrantes; aqui, o fator comprometimento
está presente como exigência para integrar o grupo, mas parece estar construído e
qualificado por outros fatores que ainda não se consegue descrever.
b) disponibilidade para ouvir: o exercício de escuta de todas as integrantes que se
dispõem a falar é bastante importante nos encontros, não parece existir prioridade
de fala e nem preferência de fala para quem é especialista no assunto de pauta.
Todas as opiniões colocadas são ouvidas com atenção. Ainda assim presenciaram-
se relatos de mulheres que não estão à vontade para falar, mas que puderam
relataram seu mal estar ao grupo.
c) atenção para a postura de não julgar: este ponto está vinculado à disponibilidade
para ouvir, mas destaca-se à medida que todas as colocações são ouvidas com
respeito e que frequentemente alguém coloca-se para lembrar que as integrantes
não se conhecem profundamente e não conhecem as experiências de vida de cada
uma portanto não devem fazer pré-julgamentos e rotular as parceiras pela sua fala
em dado momento. Isso é levantado com a ponderação da grande quantidade e
diversidade de mulheres que integram o bloco e pela necessidade de trabalhar no
sentido de não ofender ninguém. Muitas vezes isso foi levantado em termos da
vontade de aprender “comunicação não-violenta7” e pela necessidade de trabalhar
a alteridade das integrantes do grupo tendo em vista que algumas mulheres já
saíram do grupo por sentirem-se ofendidas a partir das falas de outras integrantes e
elas acreditam que precisam trabalhar para que isso não se repita.
d) não saber: essa questão liga-se à diversidade de opiniões sobre o grupo e que o
compõem. Muitas mulheres declararam não saber qual o objetivo principal do
grupo (entre ser um bloco de carnaval de mulheres, atuar contra o machismo, atuar
em prol do feminismo, tornar o grupo um espaço aberto para acesso e acolhida de
todos os tipos de mulheres, etc.). Algumas integrantes disseram ainda não saber o
que é o feminismo (uma das pautas centrais do bloco) e relataram o incômodo de
que uma definição equivocada das posturas políticas do grupo pode tornar o
coletivo bastante excludente às diferenças entre as próprias mulheres por disparar
conflitos com suas relações sociais para além do grupo. O interessante aqui foi
perceber como o exercício da escuta é importante, os “não saberes” são expostos,
ouvidos e geralmente não houveram soluções definitivas para tais dúvidas. As
discussões em muitos encontros seguem com o encaminhamento da necessidade de
discutir e de cuidar “daquilo que não se sabe” uma vez que tantas incertezas
tornam o coletivo muito instável e frágil segundo algumas opiniões.
7
Técnica de comunicação interpessoa desenvolvida por Marshall Rosenberg (psicólogo estadunidense 1934 –
2015) que apoia-se em noções como empatia e cooperação. As mulheres pretendem estudar com maior
profundidade a técnica afim de utilizá-la no coletivo.
e) impossibilidade de identificar a voz mais forte: dentre essas quase 100 mulheres eu
ainda não identificaram-se integrantes com responsabilidades e atribuições de
coordenação superior as demais integrantes. Vislumbra-se, em meio ao grupo, uma
gestão coletiva bastante horizontal, diferentes pessoas apontam as demandas do
bloco e tomam a iniciativa de realizá-las. Não percebe-se também cobranças de
resultados, percebe-se sempre a análise das situações de problema que o bloco
passa e diferentes iniciativas para resolução ou uma resolução que se torna um
processo amplo e muito discutido que, tamanha a horizontalidade, demora muito a
ser resolvido.
Voltando nosso olhar para estes fazeres relatados, percebemos o espaço social criado
pelo grupo como campo de processos educativos importantes e que apontam alternativas
interessantes no que dizem respeito ao comprometimento com a construção de uma sociedade
mais digna e possível, frente às demandas da contemporaneidade.
geral e tratam de pontos cegos culturais específicos.” (NUSSBAUM, 2015, p. 108). O bloco
traz, de forma bastante evidente, nas suas ações, a forte intenção de transformar pontos cegos
da sociedade que participam.
8
“Para a nossa análise sistêmica da realidade social, precisamos nos concentrar no significado antropológico da
cultura, que a Columbia Encyclopedia define como “o sistema integrado de valores socialmente adquiridos,
crenças e regras de conduta, que delimitam a faixa de comportamentos aceitos em qualquer sociedade.” Quando
exploramos os detalhes dessa definição, descobrimos que a cultura surge de uma dinâmica complexa, altamente
não linear. Ela é criada por uma rede social que envolve múltiplos ciclos de feedback por meio dos quais os
valores, as crenças e as regras de conduta são continuamente comunicados, modificados e sustentados. Ela
emerge de uma rede de comunicações entre os indivíduos e, à medida que emerge, produz restrições sobre suas
ações. Em outras palavras, as estruturas sociais, ou regras de comportamento, que restringem as ações dos
indivíduos são produzidas e continuamente reforçadas por sua própria rede de comunicações.” (CAPRA; LUISI,
2014, p. 384)
Além disso, percebe-se, até agora, que este espaço é permeado por práticas e posturas
distintas, que buscam novas possibilidades de organização, pautadas pelo respeito às
diferenças, não hierarquização dos saberes, convivência em harmonia e cuidado mútuo. Tudo
isto sem perder o foco de que o grupo é um bloco de carnaval e que sua principal função é
brincar o carnaval.
Dessa maneira percebe-se o coletivo como um espaço de formação do sujeito a partir
da ação recursiva de compor o próprio espaço, ou seja, a composição e manutenção do espaço
de formação é a própria formação, que, por sua vez leva à composição e manutenção do
espaço de formação. Além de ser um espaço de fruição e de ação política engajada,
principalmente nos temas feministas. Mais do que encontrar uma unanimidade para os
significados que identificam o bloco, é importante para as integrantes levar o bloco para a rua
com o máximo de mulheres possível e tornar o seu carnaval um momento de transgressão,
gozo e comunhão.
REFERÊNCIAS
CAPRA, Fritjof; LUISI, Pier Luigi. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e
suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas. São Paulo: Cultrix, 2014.
CORRÊA, Guilherme. O que é a escola. In: PEY, Maria Oly. Esboço para uma história da
escola no Brasil. Rio de Janeiro: Achiamé, 2000.
MORIN. Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF, UNESCO: 2000.
NUSSBAUM, Martha C. Sem fins lucrativos: por que a democracia precisa das
humanidades. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2015.
Resumo
Este artigo foi organizado a partir da experiência durante a disciplina Introdução ao Cinema e Vídeo4,
pelo Mestrado Profissional em Arte - PROFARTE-UFMA, com estudos que versaram sobre: o histórico
do cinema desde seu surgimento, gêneros, sua gramática visual, assim como os equipamentos técnicos
que são o suporte referente a feitura dessa linguagem. Oriundo desses estudos introdutórios, uma
atividade de criação de um curta-metragem no gênero do documentário5 foi proposta como avaliação
final. A partir de então, as questões geradoras que antecederam esse processo criativo até o resultado do
trabalho, mereceram ser escritas em artigo que explicita esse relato de experiência. O planejamento do
curta-metragem surge naturalmente das experiências docentes de cinco mulheres professoras de Artes
Visuais de escolas públicas6 do estado do Maranhão, e discentes da referida disciplina de mestrado, que
roteirizam suas vivências e trajetos dentro e fora da sala de aula de suas respectivas escolas, e em
contraponto a isso, mesclam também, questões relacionadas às políticas públicas presentes e ausentes,
referentes ao Ensino de Arte no Brasil, tramitando por temas como a MP 746 de 2016 e A Nova Reforma
do Ensino Médio, o sucateamento das escolas de um lado, e as práticas artísticas realizadas pelos alunos
1
Mestranda em Artes do Programa de Pós-Graduação PROFARTES – UDESC – UFMA. Especialista em Artes.
Licenciada em Educação Artística, habilitação em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Maranhão -
UFMA. Arte/educadora da rede Municipal de São Luís - MA. 2ª Secretária da Associação Maranhense de Arte
Educadores/AMAE biênio 2016-2018. E-mail: adritobias10@gmail.com.
2
Mestranda em Artes do Programa de Pós-Graduação PROFARTES – UDESC – UFMA. Especialista em Gênero
e Diversidade-UFMA, graduada em Educação Artística habilitação em Artes Plásticas pela Universidade Federal
do Maranhão - UFMA. Arte/educadora da rede Municipal de São Luís - MA. Pesquisadora do grupo de pesquisa
Arte e Mestiçagem- UFMA FAPEMA. andrealufra20@gmail.com
3
Mestranda do Mestrado Profissional em Artes/PROFARTES/UDESC/UFMA. Pós-graduada em Artes Visuais
Cultura & Criação. Graduada em Educação Artística Licenciatura com habilitação em Artes Plásticas/UFMA.
Professora de Arte da escola pública estadual há 14 anos. Vice-presidente da Associação Maranhense de Arte
Educadores/AMAE biênio 2016 - 2018. E-mail: rodriguesdefarias.monica@gmail.com.
4
Disciplina ministrada pelo professor Dr. Marcus Ramusyo de Almeida Brasil. IFMA. E-mail:
ramusyo@ifma.edu.br.
5
Classificou-se a obra como documentário pelas características que o vídeo apresenta de ter suas imagens extraídas
de ambientes reais, entretanto existe nele propostas estéticas e artísticas que o distanciam de um documentário
clássico e sim caracterizado por uma forma de arte que se vale de sons e imagens.
6
C.E Domingos Vieira Filho, escola estadual no bairro do Maiobão, município de Paço do Lumiar; Instituto
Federal do Maranhão - Campus Centro Histórico; Unidade de Educação Básica Dr. Neto Guterres, Unidade de
Educação Básica Gomes de Sousa, Unidade de Educação Básica Padre Miguel João Mohana, as três últimas
escolas são municipais, de São Luís.
do outro. A dinâmica visual do curta-metragem busca casar esses paradoxos visuais que se semiotizam
na retina do espectador. A proposta é experienciar a linguagem do audiovisual, colocando em prática
saberes recém aprendidos e buscando tocar em questões pertinentes que perpassam o Ensino de Arte,
porém, sem perder a fruição estética - poética, da linguagem artística do audiovisual.
Palavras-chave: Experiências docentes, Ensino de Arte no Brasil, audiovisual.
Introdução
“Ensinar Arte sempre foi caminhar por labirintos…” Assim inicia a produção
audiovisual oriunda de estudos teóricos de uma disciplina intitulada Introdução ao Cinema e
Vídeo. Cinco professoras em processo de aprendizagem, pelo Mestrado Profissional em Artes
- PROFARTES, que, apesar de suas experiências docentes, vislumbram novos trajetos de
trabalho no âmbito do audiovisual oportunizados no transcorrer da referida disciplina.
Lançando mão dos aportes teóricos, o desafio de produzir um trabalho experimental com
propostas artísticas sem abandonar o caráter documental, gerou muitas ideias a princípio,
porém, poucas certezas do caminho certo a seguir. Aos poucos, a linha desse trem foi se
formatando, condutora de pensamentos direcionados a múltiplas trilhas. Assim foram os
“primeiros metros” dessa viagem.
A sugestão de registro do dia a dia de cada uma dessas cinco mulheres professoras,
segundo um pré-roteiro discutido coletivamente, foi o primeiro objetivo lançado, com o rodízio
da máquina fotográfica e filmadora semiprofissional que passou uma semana aproximadamente
registrando o cotidiano de cinco escolas com alunos de idades e realidades diferenciadas, o
primeiro passo estabelecia-se. Entretanto, cada autora desenvolveu seu trabalho de forma
individual, sem interferência das demais componentes do grupo, evitando redirecionar, no
momento das gravações, a perspectiva particular de cada uma sobre a sua escola e o seu dia-a-
dia, que poderiam ficar maculadas de visões eventualmente estereotipadas ou exógenas.
Quando se decidiu fazer um projeto de audiovisual buscando a poética do cotidiano
escolar de cada pesquisadora, que seria uma “personagem subjetiva” da trama narrativa,
documentando locais inóspitos das escolas de suas vivências profissionais, não se divergiu nas
ideias, ao contrário, nesse momento houve pontos de contato que permitiram o nascer do
presente documentário em formato de curta-metragem, “Trilhas – por onde pisam meus pés7”.
O material audiovisual oriundo de tais realidades presentes no universo do educador de
arte, levou à necessidade de escrever o presente artigo. E como diz Larrosa:
Se alguma coisa nos anima a escrever é a possibilidade de que esse ato de escritura,
essa experiência em palavras, nos permita liberar-nos de certas verdades, de modo a
deixarmos de ser o que somos para ser outra coisa, diferente do que vimos sendo.
(LARROSA, 2016, p. 5)
Sendo assim, “cinco mulheres e uma câmera na mão” - parafraseando o filme de 1929
de Dziga Vertov “Man with a movie camera” - saem em busca de imagens cotidianas de seu
habitat natural de trabalho, colhendo “rosas & espinhos” em forma de imagem. Assim as
metáforas visuais foram sendo construídas, rosas que resolveram falar, serem vistas, ouvidas,
exalando seus perfumes, apesar dos espinhos presentes, que não se podem ignorar.
Os espinhos, pode-se dizer que são oriundos das idas e voltas do Ensino de Arte, ensino
este que passa por conquistas e rasteiras constantes nos locais de trabalho, e de forma mais
ampla, nas medidas sorrateiras que buscam tolher o exercício da profissão de arte/educadores
no Brasil.
Conquistamos a presença das quatro linguagens por meio da lei 13.278 de 2 de maio de
2016, parágrafo 6º do artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei
9.394/1996), depois de décadas de luta da categoria. Agora, finalmente, estas colocam-se como
componente curricular obrigatório na Educação Básica. Após essa vitória, fomos nocauteados
com a Medida Provisória - MP 746 de 2016, que apresentou a proposta de restringir a
obrigatoriedade do Ensino da Arte apenas até o Ensino Fundamental, tornando-se componente
facultativo no Ensino Médio. Atualmente, o governo voltou atrás nessa decisão, diante da
pressão popular de entidades representativas docentes, discentes e dos pais responsáveis
inconformados. Esses são fatos que fragilizam qualquer certeza em relação aos próximos
capítulos da história do segmento do Ensino de Arte, em tempos presentes.
7
Documentário em formato curta metragem realizado durante a disciplina Introdução ao Cinema e Vídeo, do
último semestre do ano de 2016, pelo Mestrado Profissional em Artes - PROFARTES - UFMA. Autoras: Fabiane
Rego, Renata Vasconcelos, Andrea Frazão, Monica Rodrigues e Adriana Tobias.
A vivência nesta disciplina fez com que as autoras do documentário tivessem contato
com elementos, ainda que já vistos em momentos anteriores, retrabalhados durante as aulas, a
fim de colocar essa experiência dentro do filme, onde elas passaram a ser a fala do próprio filme
e não a reprodução de um outro personagem. O documentário, tradicionalmente transmite o
olhar particular do outro, e no caso de “Trilhas”, é o retratar de seu próprio ambiente físico e
social de trabalho por meio de imagens com lógicas diferentes, porém, editadas de maneira a
criar uma harmonia, promover uma interação para o surgimento da narrativa coesa e integrada
do curta-metragem. O roteiro se configura diante desse cenário e enredo real, onde cada
educadora em seu espaço de trabalho registra imagens que captam detalhes do seu cotidiano
escolar. Além desse propósito, outra vertente do curta metragem vem das vivências e incertezas
no tocante ao quadro da Educação em Arte no Brasil, que se hibridiza com as realidades
particulares das arte/educadoras, intercalando essas poéticas temáticas/visuais na linguagem do
audiovisual, mais um fio condutor do roteiro: o contexto político nacional. Um mecanismo
delicado, de revelar-desvelar, de um documentário que ao mesmo tempo se propõe ser
verossímil e lírico.
A poiesis de construir um roteiro de um curta-documentário
Com a ideia de exercitar o ato de criação na linguagem do audiovisual, conforme já dito,
entre muitas ideias surgidas nas conversas introdutórias do pré-projeto, o roteiro oriundo da
dinâmica das realidades de cada docente se formou, levando então à criação da narrativa visual
da linha do tempo, que foi se formatando de maneira muito intuitiva e coletiva, entre as
participantes idealizadoras do projeto “Trilhas”. A gravação de falas in off (fig. 2), completa o
sentido do texto visual (fig. 1) como também a construção artesanal e autoral de uma sonoplastia
(fig.3) que desse, ora clímax, ora leveza ao enredo.
Fig. 1. Frame do curta “Trilhas”
Fonte: As autoras
Fonte: As autoras
O intuito de não usar imagens que identificassem os alunos, por motivações iniciais de
não precisar ir em busca de autorizações para o uso de imagem, acabam por permitir evidenciar
aspectos até então invisíveis em planos detalhes, ou sequência, possibilitando um conceito
visual estético de composições lineares e colorísticas picturais (fig. 4 e 5). Sobre esse aspecto
do audiovisual, fala Elinaldo Teixeira:
A arte começa onde desaparece a reprodução mecânica, que a técnica constitui um
obstáculo, sim, e que o cinema será tanto mais artístico quanto mais se afaste do
‘realismo’ e se aproxime do que a pintura, especialmente, conseguiu (TEIXEIRA ano
2013, p. 31 apud ARNHEIM, 1960).
Fonte: As autoras
Aspectos de justaposição entre a imagem e o texto, geram um novo texto subentendido,
um dos propósitos do documentário, como na cena que acompanha a seguinte narrativa, que
diz:“as grades continuam presentes na estrutura educacional…”. Na imagem, as grades físicas
da escola surgem no enquadramento da filmagem e um áudio extraído da internet sobre a
propaganda do “Novo Ensino Médio” ressoa, com as imagens de pés que caminham e que
seguem em frente, até se deparar com uma janela quebrada da escola retratada.
Fonte: As autoras
Outros momentos do documentário são de plena ludicidade e fruição artística, como
jovens do Ensino Médio criando objetos artísticos, crianças do Ensino Fundamental desenhando
ou pintando (fig.7) em suas carteiras escolares ou alunos que conversam no corredor sobre algo
trivial relacionado à matéria escolar (fig. 8). São cenas que refletem espaços de convivência do
dia a dia escolar, num registro vivo de uma câmera subjetiva que passeia por lugares comuns
das escolas, desvendando seus ângulos mais significativos (Fig. 9). Assim, no plano das
imagens, optou-se por focar nos diversos espaços, buscando passar a ideia de um olhar
personalizado, lançando mão da técnica já mencionada da câmera subjetiva, ou seja, aquela que
enxerga e registra a realidade como se fosse o próprio olhar das autoras, e, desta forma, coloca
o espectador também na posição desse olhar. O que está em jogo no caso, é a opção estética de
trabalhar a parte pelo todo.
Fig. 7, 8 e 9: Captura de tela de cenas de “Trilhas”
Fonte: As autoras
Sobre essas nuances do documentário, analisa o cineasta maranhense Murilo Santos em
entrevista dia 07 de agosto de 2017:
Ainda que o filme possua uma inserção das condições de trabalho do docente, muitas
das vezes entendido como problema, o filme não se trata de uma crítica que se esgota
com as falas das professoras, pois apresenta um olhar estético do ambiente que é
trilhado diariamente por várias pessoas mas que teve alguns pontos extraídos e
transformados em poesia visual. Temos neste documentário, o professor desenhando
com o olhar da câmera um ambiente cotidiano, comum a todos, mas que é tratado pela
ótica do estranhamento que passa a se fazer percebido, e esse ponto de vista é extraído
para o observador pelo ângulo da estética. (SANTOS, 2017)
Fonte: As autoras
Fig. 3. Captura de tela de um trecho de “Trilhas”
Fonte: As autoras
Assim, o curta-metragem foi se construindo, com imagens editadas minuciosamente, e
gravações personalizadas com as vozes das autoras e suas produções textuais que refletem seus
encadeamentos de ideias políticas e estéticas.
Caminhos para se chegar às “Trilhas”: da pré- produção ao documentário
O curta-metragem “Trilhas – por onde pisam meus pés”, de aproximadamente oito
minutos, foi realizado como atividade prática na linguagem do audiovisual proposta pela
disciplina Cinema e Vídeo, conforme já mencionado anteriormente, pelo Metrado Profissional
em Arte – PROFARTES. Essa atividade fez com que se refletisse sobre um roteiro que
perpassasse pelo universo das educadoras. O equipamento para captura de imagens passou de
mão em mão entre elas, e as cenas abordadas individualmente foram revistas na fase de edição,
momento que houve discussões sobre cada realidade e os caminhos a seguir na escolha do
material fílmico, como também na justaposição das cenas selecionadas para o produto final do
documentário, buscando assim uma harmonia audiovisual no conjunto.
Procedeu-se a partir de então, com a realização do vídeo “Trilhas”, entendendo-se que
embora abordasse os espaços reais nos quais as autoras trabalham, as imagens seriam tratadas
na edição, buscando uma forma estética com o objetivo de torná-lo uma peça de arte do ponto
de vista de sua visualidade, sonoridade, bem como da integração entre ambas, ao invés de um
documentário de um tipo comumente convencional, atribuindo ao vídeo um caráter de
metonímia. Além disso, a opção pelo plano detalhe em alguns momentos, reduz a carga de
informação da cena, permitindo melhor adequação à trilha sonora elaborada especialmente para
o vídeo, acrescida de textos autorais recitados de acordo com as cenas envolvidas, na busca de
uma sintaxe onde interagem à imagem e som. Por fim, ao construir-se a filmografia do
documentário em sua grande maioria com uso de tais planos, o vídeo busca promover no
espectador, uma reflexão sobre as partículas de um universo que comumente remete seu olhar
para o geral e não para o particular, tornando por vezes essas visualidades invisíveis.
Cumpre destacar que o período em que se deu os estudos na disciplina e a realização do
vídeo, o Brasil já vivia politicamente e institucionalmente um momento conturbado que
interferiu nas políticas para a educação. Ao buscar reforçar uma crítica a tal momento, utilizou-
se como recurso narrativo e também estético, áudio de vídeos institucionais e governamentais
veiculados nacionalmente pelas redes de TVs que faziam apologia à “nova” fase do ensino no
Brasil, bem como à “nova” obrigatoriedade da Arte somente no Ensino Fundamental8, e assim,
proporcionar um contraste conceitual-visual do curta-metragem. “Trilhas” não se propõe como
uma peça de caráter político no sentido panfletário, mas sim de caráter plástico, e que, nem por
isso, perde o seu sentido político quanto a questionamentos em relação ao ensino das Artes no
Brasil contemporâneo.
8
Felizmente, o governo voltou atrás e continua em vigor a Arte na educação básica de forma integral. § 2o O
ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório da
educação básica (Redação dada pela lei 13.415 de 2017). Fonte: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm.
Acesso em 27de ago. de 2017.
As falas na narração se caracterizam por serem femininas. Vozes das próprias autoras,
que foram gravadas em estúdio. Optou-se assim, por mantê-las sem realizar correção de som,
pois são essas as vozes que ecoam em suas salas de aula. Por fim, as autoras criaram uma trilha
original onde as mesmas lançaram mão de objetos como baldes, garrafões plásticos, objetos de
metal, pau-de-chuva dentre outros para constituir um conjunto de sons a serem inseridos no
vídeo. Tais elaborações sonoras foram remixadas para trazer ao documentário um som que
passasse ora tranquilidade, ora tensão e assim por diante. Podemos dizer que de fato, a
construção do documentário passou por cinco mãos femininas, possuindo assim, parte dessas
cinco mulheres.9
9
Imagens, narração e trilha sonora: Adriana Tobias Silva, Andrea Luísa Frazão, Fabiane Costa Rego, Monica
Rodrigues de Farias, Renata Silva de Vasconcelos; Roteiro: Monica Rodrigues de Farias; Edição: Adriana Tobias.
.
espectador que receba essa narrativa como asserção sobre o mundo. A natureza das
imagens-câmera e, principalmente, a dimensão da tomada através da qual as imagens
são constituídas determinam a singularidade narrativa documentária em meio a outros
enunciados assertivos, escritos ou falados. (RAMOS, 2008, p. 22)
É objetivo deste trabalho também é propor sugestões aos docentes de qualquer Área de
conhecimento em audiovisual, com alunos da Educação Básica.
Um dos fatores facilitadores do uso do audiovisual com alunos de várias faixas etárias,
é a acessibilidade vigente de manuseio das tecnologias móveis, que possuem entre suas
inúmeras funções: a fotografia e o vídeo. Também há atualmente, recursos para edição
acessíveis via internet, como o YouTube e o MovieMaker, que possibilitam o exercício prático
de produção de curtas, pelos alunos. É interessante ressaltar que o professor precisa também
oportunizar fundamentos da linguagem da fotografia e do cinema e suas histórias, os gêneros
existentes e os princípios técnicos e visuais.
A fruição de filmes, como é indicado pela Lei 13.006, obriga a exibição de filmes de
produção nacional nas escolas de ensino básico (apesar da obrigatoriedade, não é aplicada de
fato), pois o uso do cinema na escola é uma necessidade. Dentro de propostas de produção de
vídeos pelos alunos, é importante trabalhar alguns procedimentos de preparação, e
acompanhamento do fazer artístico, até a fase de apresentação e socialização dos trabalhos
realizados, tais como:
● Concepção da ideia;
● Planejamento das ações;
● Elaboração do roteiro;
● Filmagens;
● Edição de imagem e som;
● Finalização com créditos e formatação em arquivos;
● Disponibilização em rede (blog, canal do YouTube, outros);
● Promoção de festivais de vídeo de bolso na escola.
Possibilitar ao aluno o exercício do fazer artístico (em qualquer linguagem) é uma forma
de promover não apenas a criatividade, mas também habilidades para trabalhar em equipe,
solucionar problemas e ampliar sua visão de mundo, características tão necessárias para a
cidadania e o mundo do trabalho, e o audiovisual é um desses instrumentos de fruição estética
que oportuniza o uso de múltiplas competências humanas, promovendo uma educação mais
ampla e sobretudo, útil.
Considerações finais
A prática do cinema pode ser acessível, basta entendermos que essas possibilidades
estão ao nosso alcance, lançando mão de celulares, câmeras fotográficas, roteiro para execução
de trabalhos. E os alunos possuem suas mentes carregadas de ideias que muitas das vezes
precisam apenas de um estímulo para a criação.
Realizar um trabalho como “Trilhas – por onde pisam meus pés” nos levou a conclusão
de que um documentário com temática política também pode ser representado por meio das
poéticas visuais, empregando uma forma diferente de narrar histórias.
É importante que o professor também elabore seu próprio material didático, como
artigos e vídeos, blogs, canal no YouTube, etc., para diversificar as possibilidades educativas
com seus alunos, não permanecendo apenas nas práticas criadas por terceiros e apresentadas
em livros didáticos. Portanto, notamos que essa experiência pode ser socializada com outros
professores e alunos para estimular esse processo de criação que deve ser constante nos
ambientes de ensino-aprendizagem, principalmente no audiovisual, que muitas das vezes é
subutilizado nas práticas docentes. Assim, esse curta documentário, esse trilhar, foi sem dúvida
parte de uma descoberta entre as narrativas invisíveis do território da escola, entre os ruídos, as
marcas e falas silenciadas.
REFERÊNCIAS
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo investigar o percurso histórico e social do conceito de infância
e de criança, em busca da definição ou de um esboço para estes conceitos dentro das visões nas Artes,
por meio do estudo comparativo de duas obras de referência para este assunto: Uma História da
Infância – da idade média à época contemporânea no ocidente (2004), de Collin Heywood, e a História
social da infância e da família (2015), de Philippe Ariès. E uma análise de reminiscência destes
conceitos no Brasil, por intermédio de propostas expositivas e cinematográficas como o Labirinto da
Moda no SESC (1995), o documentário Território do Brincar (2014), a Invenção da Infância (2000) e
a exposição Histórias da Infância (2016), produzida pelo MASP. Pretende-se buscar resultados que
revelem um constructo do conhecimento referente ao universo infantil, possibilitando auxiliar a
pesquisa ora desenvolvida dentro do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais na ECA/USP, cujo
objeto empírico de aplicação são as atividades artístico-pedagógicas realizadas pela Creche/Pré-Escola
Oeste da Universidade de São Paulo, em processo de fechamento pela reitoria. Os caminhos
metodológicos que possibilitam a condução da pesquisa envolvem a apropriação de instrumentais da
pesquisa qualitativa, em especial o método da etnografia com observação participante, baseado em
Angrosino (2011), combinados à análise documental, entrevistas semiestruturadas, análise de projetos
artístico-pedagógicos, revisão bibliográfica e projetos de intervenção.
Palavras-chave : infância, criança, arte/educação
Introdução
1
Doutorando em Artes Visuais pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA -USP).
Mestre em Artes Visuais pela ECA -USP (2013). Licenciatura em Artes Visuais no CEUCLA R-SP (2013).
Especialista em Design da Informação pela Universidade Federal de Pernambuco (2009) e graduação em Design
Industrial pela Universidade Federal de Camp ina Grande (2006). Atualmente é coordenador de área e professor
de arte e infoeducador - Colégio Pentágono - SP, lecionou na Prefeitura Municipal de Areia - PB. Professor nos
cursos de Arquitetura e Design na Uninove (2012). Curador do Educativo do Prêmio Brasil Fotografia 2012 e
2013, Porto Seguro - SP. E-mail: radamesrocha@usp.br
2
Doutorada em Artes pela Universidade de São Paulo (2000). Fo i educadora nos seguintes museus: Pinacoteca
do Estado e Museu da Casa Brasileira. Foi docente dos seguintes museus da USP: Museu de Arte
Contemporânea, Museu de Arqueologia e Etnologia e vice-d iretora do Museu de Ciências. Atualmente é
professora doutora exercendo suas atividades no Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo, onde leciona na Graduação e no Programa de Pós -Graduação em Artes
Visuais (Conceito CAPES 6). E-mail: mcsrizzi@usp.br
Infância e as linguagens da arte - Caminhos para uma compreensão desta relação nos
processos criativos e imaginativos na Educação Infantil.
Etimologicamente infantia é a dificuldade ou incapacidade de falar. A preocupação, a
discussão em torno da Educação Infantil, tanto em termos de políticas públicas como em
discussões e produções acadêmicas e científicas, vêm crescendo no Brasil, no entanto, será
sempre necessário ampliar o debate sobre as abordagens históricas, metodológicas e éticas
sobre o universo da criança.
Atualmente, muito se fala sobre a perda da infância e sua adultização, imperando
também uma imagem midiatizada pelo horror em virtude das calamidades que vivemos, como
as imagens do menino sírio morto numa praia da Turquia (vide figura 01) que viraram símbolo
da crise migratória que já matou milhares de pessoas do Oriente Médio e da África (2015); e do
menino sujo de sangue e completamente coberto de poeira (vide figura 02) que causou comoção
nas redes sociais ao ser resgatado com vida sob os escombros de edifício após bombardeio em
Aleppo (2016).
Fig. 01: Policial paramilitar turco investiga o local onde apareceu o corpo de uma criança imigrante
numa praia de Bodru m, na Turqu ia 3
3
Foto chocante de menino morto revela cruel dade de crise migratória. Disponível em: <
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/ 09/ foto-chocante-de-men ino-morto-vira-simbolo-da-crise-migratoria-
europeia.html > Acesso em: 13 ju l 2017.
Fig. 02: Menino foi resgatado com vida sob os escombros de edifício após bombardeio em A leppo 4
4
Menino é resgatado sob escombros de prédi o após bombardeio na Síria. Disponível em:
<http://g1.globo.com/ mundo/noticia/2016/08/ menino-e-resgatado-sob-escombros-de-predio-apos-bombardeio-
na-siria.ht ml > Acesso: 13 jul 2017.
5
Histórias da Infância. Disponível em:
http://masp.art.br/masp2010/exposicoes_integra.php?id=261&periodo_menu =. Acesso: 05 ago 2016.
questões históricas e sociológicas, pois assim nos revelará muito a respeito desses conceitos,
sob a nova concepção de criança como um ser social que se desenvolve a partir das relações
com os outros e da infância como categoria social.
Até a metade do século XX, poucos historiadores haviam manifestado algum interesse
pelo tema da infância. Foi a partir da tese de Ariés, publicado em 1960, sob o título “História
Social da Infância e da Família”, que um grande número de trabalhos começou a surgir. O
autor, ao tratar da concepção de infância, afirma que a sociedade medieval ignorava a
infância. Em sua segunda edição brasileira de 2015, sob o título de “História Social da
Criança e da Família”, no subtítulo sobre ‘A Descoberta da Infância”, dentro da a rte medieval,
cita vários exemplos de obras artísticas ao longo dos séculos, onde primeiramente não se via
as expressões, feições de graças que revelassem os traços infantis do ser criança,
principalmente a estatura nas iconografias.
6
Maestro Del Bigallo - Virgem em Majestade com o Menino e Dois Anjos. Disponível:
<http://masp.art.br/masp2010/acervo_detalheobra.php?id=50> . Acesso: 03 ago 2017.
Por exemplo, na figura 02, Virgem em majestade com o Menino e dois anjos (cerca
1275) do Maestro Del Bigallo, pintor florentino, e pertencente ao acervo do MASP 7 , a figura
do Menino Jesus é um dos focos da pesquisa de Ariès: mesmo criança, é caracterizada como
homem de tamanho reduzido, como um pequeno adulto.
No subtítulo sobre ‘O Traje das Crianças’, Ariès relata que durante boa parte da Idade
Média, as vestes das crianças era tal qual as dos homens ou mulheres de acordo com sua
condição social. A partir do século XVII, a evolução do traje infantil se deu pela efeminização
do menino, pouco se distinguindo no vestir de uma menina, isto até antes dos quatro ou cinco
anos, como visto na figura 03, O duque de Berry e o conde de Provença quando crianças, de
1757, também pertencentes ao acervo do MASP.
Representando os netinhos do rei da França Luís XV, as crianças estão vestidas com
ricas roupas tecidas de ouro, com toucas de rendas finíssimas ornadas com plumas,
emolduradas por uma paisagem carregada de tradição, concebendo as condições materiais da
realeza.
7
Idem.
8
François-Hubert Drouais. O Duque de Berry e o Conde de Provença Quando Crianças . Disponível em:
<http://masp.art.br/masp2010/acervo_detalheobra.php?id=211> Acesso: 03 ago 2017
E assim, ainda no primeiro capítulo, o livro traz contribuições à ‘História dos Jogos e
das Brincadeiras’, ‘Do Despudor à Inocência’ e ‘Os Dois Sentimentos da Infância’. No
capítulo dois, vai tratar sobre a ‘Vida Escolástica’, desde as origens das classes escolares, a
idade mínima de inserção na vida escolar, a exclusão das mulheres e o ensino duplo a partir
do século XVIII, de acordo com a condição social: o liceu ou colégio para os burgueses e a
escola primária para o povo.
Por fim, no último capítulo, Ariès trata sobre a questão da “Família”, o seu surgimento
como instituição, ao passar da família medieval até a família moderna, numerosa em volume
de filhos, com a grande responsabilidade de educar e proteger seus membros, e a atual
conjuntura, reduzida a um ou dois filhos, com os laços de união fragilizados por diversos
fatores socioeconômicos e culturais.
Vemos que em sua obra, o autor traça uma evolução his tórica dos conceitos de
infância a partir das formas de falar e sentir dos adultos em relação ao que fazer com as
crianças. Desenhando como a modernidade reconheceu o lugar da criança na sociedade,
surgindo assim, um novo sentimento de infância a partir da ingenuidade da criança, o qual
Ariès (2015, p.100) chama de “paparicação”.
Foram mais de 25 anos em que a obra de Philippe Ariès serviu quase que unicamente
de referência sobre a história da infância ocidental. Porém, com a publicação do livro de Colin
Heywood em 2004, o autor questiona as afirmações de Ariès e as fontes de pesquisa utilizadas
por ele. O livro, Uma história da infância: da Idade Média à época contemporânea no
Ocidente, está organizado em três capítulos. O primeiro trata das mudanças nas concepções de
infância a partir da Idade Média; o segundo, das relações das crianças com seus pais e com
seus pares ao longo das etapas do seu processo de crescimento e o terceiro, com uma maior
abrangência, envolvendo o trabalho, a saúde e a educação.
O autor propõe uma mudança de paradigma quanto ao conceito de infância, quanto a
serem considerados como adultos imperfeitos, pois na verdade, segundo ele, essa etapa da
vida provavelmente seria de pouco interesse. “Somente em épocas comparativamente recentes
veio a surgir um sentimento de que as crianças são especiais e diferentes, e, portanto, dignas
de ser estudadas por si sós.” (HEYWOOD, 2004, p. 10).
Com o advento das grandes cidades, com a industrialização, o cuidar das crianças
toma outra dimensão e passa a ser um problema social do Estado. Assim, surgem em âmbito
nacional e internacional, políticas públicas e legislações específicas para a infância, tais como:
o Fundo das Nações Unidas para a Criança (UNICEF), criado em 1946, e no Brasil em 1990,
o Estatuto da Criança e do Adolescente pela Lei Federal 8.069; porém, ter direitos expressos
em leis, não é garantia de execução na prática.
Outra visão atualizada e de bastante relevância para os estudos em questão, se deu a
partir do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, elaborado pelo Ministério
da Educação em 1998, mencionando que “as crianças possuem uma natureza singular, que as
caracteriza como seres que sentem o mundo de um jeito muito próprio”. (BRASIL, 1998,
p.21). Podemos então, a partir dessa premissa, considerar a construção de conhecimento a
partir das próprias crianças como um trabalho de criação, significação e ressignificação:
Mas é preciso estarmos atentos que nessas políticas públicas as crianças não sejam
apenas destinatárias, e, sim, sujeitos construtores.
Com o desenvolvimento de uma pedagogia de escuta para as crianças, e de pesquisas e
de estudos, recentemente desenvolvidos a partir dos anos 2000, surge a Sociologia da Infância
com uma ideia de construção da criança como um ser biopsicossocial. Assim, ver e ouvir a
criança torna-se fundamental, a exemplo da tese da cultura de pares do pesquisador americano
William Corsaro (2011).
9
Opinião expressa em fala no auditório do MASP durante o lançamento do catálogo da exposição Histórias da
Infância, no dia 30 de julho de 2016.
10
A Invenção da Infância. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=M xjmezbpBK8. Acesso: 08 ago
2016.
11
Territóri o do Brincar – um encontro com a criança brasileira. Disponível em:
http://territoriodobrincar.co m.br/. Acesso 09 ago 2016.
REFERÊNCIAS
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: LTC, 2015.
HEYWOOD, Colin. Uma história da infância: da Idade Média à época conte mporânea
no Ocidente. Porto Alegre: Artmed, 2004.
RIZZI, Maria Christina (coord.). MINERINI NETO, José; PINTO, Júlia Rocha. Entrevista
com Vera Barros, Marisa Szpiegel e Carlos Barmak. Disponível em:
<http://www.emnomedosartistas.org.br/FBSP/pt/Educativo/Documents/EducativoNaBienal/0
5%20%20Entrevista%20Vera%20Barros,%20Marisa%20Szpiegel%20e%20Carlos%20Barm
ak.pdf> 22 jul 2017.
Resumo
Esse artigo tem por objetivo levantar a possibilidade de um caminho alternativo de didática
nos ensino das Artes Cênicas. Utilizar elementos oriundos das manifestações da cultura popular
brasileira como instrumentos que podem viabilizar os alunos a atingir elementos cênicos do teatro
contemporâneo. Utilizar-se do caráter lúdico inerente às chamadas brincadeiras populares como forma
de estimular atributos corporais, jogo de cena, improviso, projeção vocal, entre outras características
almejadas para a atuação teatral. Traçar pontos de encontro entre manifestações da cultura popular
brasileira e características das artes cênicas do mundo contemporâneo, buscar em nossas tradições
aspectos relevantes no teatro de hoje e promover um diálogo entre eles. Ter como matriz criativa
manifestações populares de nossa cultura nacional permite ao arte-educador uma valorização e
disseminação de nossa identidade bem como esta vem a ser ferramenta eficaz na criação de uma cena
que dialoga com as questões da atualidade. Os procedimentos e reflexões aqui levantadas serão
embasadas em pesquisa teórica e experiência empírica própria, como preparadora corporal e atriz da
Cia Milongas do Rio de Janeiro durante doze anos. O trabalho desenvolvido com a Cia estendeu-se
ainda à oficinas e cursos ministrados em escolas e em unidades do SESC nacional, além de festivais de
teatro nacionais e internacionais.
Palavras-chave: Brincadeira popular. Teatro. Educação.
Introdução
Esse artigo é fruto da dissertação de Mestrado intitulada A brincadeira de Antonio
Nóbrega: Uma técnica a partir da recriação das tradições populares brasileiras, defendida
em Abril 2009 no Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas do Centro de Letras e Artes
da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UniRio. A dissertação que tinha como
objeto de pesquisa o trabalho corporal do artista pernambucano Antonio Nóbrega sofreu
desdobramentos práticos que direcionaram o conteúdo desse artigo. Um artista
contemporâneo, urbano, que integra a cultura elitista do sudeste do país - mas que embasa seu
trabalho em tradições culturais populares - direcionou a reflexão a esse ponto de
embricamento entre o ator contemporâneo e as tradições populares brasileiras. Ainda levantou
a questão: é possível utilizar manifestações da cultura popular como instrumento pedagógico
no ensino da arte?
1
Mestre em Artes Cênicas pelo Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da UniRio. Professora
responsável pelo núcleo de Teatro da Fundação Nelito Câmara em Ivinhema – MS.
E-mail: camileanjos@gmail.com.
Essa questão surgiu a partir do trabalho que desenvolvi com a Cia Milongas do Rio de
Janeiro-RJ durante doze anos, como preparadora corporal e atriz do coletivo. Através de
treinamentos constantes de determinadas danças de folguedos brasileiros – especificamente
nesse caso o Frevo, o Coco de Roda, o Caboclinhos, o Bumba-meu-boi, o Cavalo Marinho, o
Jongo, a Ciranda e a Cavalhada – desenvolvemos um procedimento para criação corporal dos
personagens de nossos espetáculos, qualquer fosse a temática. Os corpos dos personagens se
revelavam extracotidianos, inusitados, ricos em torções e desequilíbrios, por conta da matriz
de onde partiam. Os atores iniciavam a pesquisa realizando o movimento original de
determinada manifestação e, a partir de estímulos externos – de ritmo, peso, direção, intenção,
etc. - os desconstruíam, os transformavam, dando origem a uma nova figura cênica. Uma vez
que o ator – e já adianto, o aluno – parte de uma forma corporal fora de seu repertório pessoal,
ele tende a traçar caminhos outros, que naturalmente seu corpo não percorreria, fora de sua
zona de conforto. Além da composição corporal outros benefícios foram despertados através
desse diálogo com as brincadeiras populares, tais como o jogo, o improviso, o estado de
prontidão, o grotesco – o não cotidiano, a projeção vocal, a noção do coletivo, entre outros,
conforme será discutido a diante.
Uma vez que bons resultados surgiram em uma Cia profissional levantou-se o
questionamento do quão eficiente seria esse procedimento em salas de aula. Utilizar o lúdico
inerente às manifestações da cultura popular brasileira para atingir elementos de linguagens
artísticas contemporâneas. Entender as tradições como algo não estático, intocável, imutável,
ao contrário, trazer para perto, experimentá-la, recriá-la, aproximar o universo dos alunos
àquele que fora criado por nossos antepassados. A sociedade eventualmente realiza esses
encontros espontaneamente, alguns exemplos seriam a releitura do Frevo e da Capoeira pelo
Passinho do Funk; ou na música, o movimento Polca-Rock em Mato Grosso do Sul. Por uma
questão de especialização me aterei aos pontos que dizem respeito ao teatro, mas entendo que
essa possibilidade pedagógica abarque com a mesma eficiência as demais linguagens
artísticas.
Não suponho de modo algum que os encontros aqui traçados sejam os únicos
possíveis, nem que tais caminhos sejam mais importantes que outros, são apenas
possibilidades de buscar “pontos de apoio” (BARBA, 1994: 28), em uma linguagem com a
qual temos identificação cultural e que está ao nosso alcance. Além de promover uma
reaproximação com nossa ancestralidade, por vezes esquecida, mas que é a raiz que nos
sustenta como artistas e cidadãos.
É importante ressaltar que, quando utilizo o termo “contemporâneo”, atribuo-lhe
apenas o seu sentido temporal, quer dizer, de dias atuais, não pretendo com isso fechar um
conceito. Os pontos levantados não caracterizam um tipo específico de teatro, eles foram
apontados por representarem certa tendência comum a várias linguagens cênicas que se pode
verificar nos teatros de hoje, como também são frequentemente apontados por importantes
teóricos que se dedicaram a esse tema. Assim como os termos “cultura popular” e
“brincadeiras” também dirão respeito às manifestações culturais em seus aspectos mais gerais
e recorrentes, uma vez que seria inviável e inconsequente tentar abarcá-las em sua totalidade.
Uma temática recorrente nas manifestações da cultura popular, seja nas lendas orais,
seja nas festas ou nas brincadeiras, é a da celebração dos mortos. Segundo Mário de Andrade
(1982), a temática da morte estaria presente em todas as danças dramáticas, e evidencia-se nas
brincadeiras do Cavalo Marinho ou do Bumba-meu-boi. O enredo central de uma das peças
da brincadeira é a figura mítica do boi, que morre e posteriormente ressuscita. A relação com
o universo dos mortos, ou com as chamadas entidades do além, são fatores recorrentes na
cultura popular, seja por intermédio religioso, como no Candomblé ou na Umbanda, ou
através das brincadeiras, constituindo-se como “segredos” das mesmas. Hans Thies Lehman
apoia os fundamentos do teatro pós-dramático na “poética da morte” (LEHMAN, 2007: 371),
segundo ele o fato de ator e público compartilhar um determinado tempo, significa que
envelhecem juntos, ou se encaminham para morte, seria uma “insinuação a mortalidade”
(idem), e complementa citando Heiner Muller, que a especificidade do teatro seria o
“moribundo potencial” (idem). Enquanto no cinema nós assistimos a morte, no teatro nós a
dividimos. O teatro, assim como a morte, é algo que não se explica, está para além da
informação. Também é possível identificar uma ligação com o mundo dos mortos, ou com a
ancestralidade, na inclinação que Grotowiski e Eugenio Barba demonstram com relação ao
xamanismo. Seria o ator uma espécie de xamã, que se comunica com os vivos e os mortos. No
texto recolhido de uma conferência realizada por Grotowiski em Gabinetto Viesseux, em 15
de julho de 1985, intitulado Você é filho de alguém, ele discorre amplamente sobre a
necessidade de ligação com seus antepassados, e sobre o conhecimento e contato com o
passado que permitem um maior conhecimento do presente. Logo, entrar em contato com
seus ancestrais proporciona o contato consigo mesmo.
citar a figura do palhaço das Folias de Reis: figuras mundanas e grotescas inseridas em uma
ambientação sacralizada. Do mesmo modo, também é comum verificar no teatro
contemporâneo cenas que não possuam um único foco; o espectador é, de certo modo,
“responsável” por sua escolha, assim como a busca pela utilização de diferentes linguagens
artísticas. Estas se apresentam cada vez mais e se misturam na cena teatral, com a mesma
importância dos demais elementos: ou seja, esses elementos não têm a finalidade de reafirmar
o que é dito pela interpretação e pelo texto, mas, sim, de revelar uma série de outras
possibilidades artísticas, criando uma cena híbrida, resultado de uma bricolagem de
influências. Todos estes aspectos levantados possibilitam ao aluno um contato múltiplo com
as diferentes linguagens artísticas, sem a necessidade de segmentá-las por áreas e estimula o
despertar de interesses individuais.
O corpo protagonista
mediante posicionamentos não naturais ao seu corpo, possibilitando uma maior consciência
corporal e ampliação de repertório expressivo.
Um recurso bastante utilizado no teatro contemporâneo diz respeito à exposição do
corpo “inumano”, ou seja, aquele imperfeito, inacabado. A contemplação do corpo não é mais
pelo seu ideal de beleza, conforme herança ancestral dos helenos, mas por sua imperfeição.
Verifica-se uma proximidade com o corpo grotesco, comumente utilizado nas brincadeiras
populares. A desfiguração corporal pode se encaminhar também para uma objetificação do
corpo. Lehman (2007) cita o exemplo da careta, que transfigura o rosto do ator em uma
máscara, o que pode ainda se estender para a postura de todo o corpo. O corpo humano e o
animal se equivalem e, não apenas um se aproxima do outro, como animais que de fato são,
mas por vezes, também dividem a cena com o ator. Na tradição do Cavalo Marinho bem
como do Bumba-meu-boi os personagens se dividem nas categorias de humanos, animais e
fantásticos; não existe hierarquia, e cada figura que toma parte na roda encerra em si próprio
sua finalidade, não pretendem significar além do que são e apresentam. O Boi é uma figura
colocada por brincantes na qual o homem fica encoberto pela estrutura, já o cavalo no qual o
capitão está montado/vestido, e também a Burrinha, se mistura com a figura humana, gerando
um corpo devir homem-animal. Estimular o aluno a desenvolver um olhar estético fora dos
padrões tradicionalmente impostos pela sociedade, perceber a beleza do grotesco, da
transfiguração promove a sensibilização desse futuro cidadão para aquilo que é diferente, para
aceitar e compreender o que é marginalizado pela massa. Significa estimular o exercício de
humanidade no aluno.
Em teatro o jogo sempre foi encarado como elemento essencial para uma boa cena
dramática, porém adquirir a habilidade do jogo cênico não é algo que se ensine facilmente,
normalmente se adquire com a experiência ou é uma característica inerente à pessoa.
Entretanto, ao tomar parte em uma determinada manifestação cultural o elemento do jogo
surge espontaneamente, assim como quando se pratica um esporte ou uma atividade lúdica
como a cabra-cega ou o pique-esconde, por exemplo. Entretanto quando o aluno é colocado
em uma situação teatral essa característica tende a se esvair, tornando sua interpretação
“dura”, mecanizada, às vezes até robotizada. A ideia aqui é transpor o lúdico, que é natural do
ser humano e tão presente nas tradições populares, para a situação de atuação espetacular.
Segundo o contexto pedagógico aqui abordado, entendo a brincadeira como um termo
sinônimo ao jogo, atribuindo-lhe o sentido abrangente empregado em outras línguas (to play,
spielen, jouer, jugar). Tal termo reúne as duas ideias, a de jogo e de brincadeira (diversão), o
que me parece mais apropriado para se referir a tais manifestações culturais populares. As
expressões “jogo do ator” e “jogo dramático” são as que melhor abarcam a aproximação que
entendo entre jogo e brincadeira. Pois são estes que melhor reencontram “de maneira
sintomática, a tradição espontânea e improvisada do jogo” (PAVIS, 2001: 219).
Huizinga (2001) defende que a noção de ludicidade seja anterior a de cultura. Uma vez
que se trata de uma prática vivida também pelos animais, de um acontecimento da natureza, o
jogo transcenderia quaisquer necessidades fisiológicas ou psicológicas, sendo assim “uma
função significante”. Resume da seguinte forma o conceito de jogo:
Em síntese entendo, pois, a brincadeira como uma manifestação coletiva que envolve
várias linguagens artísticas identificáveis (poesia, música, dança e teatro) em uma atuação
espetacular, extracotidiana, envolvida em realidade e temporalidades próprias, nas quais os
seus participantes estão em uma dimensão que os permite modificar o mundo conforme as
próprias leis estabelecidas há muito pela brincadeira.
Nessas brincadeiras oriundas de um universo popular não literário é bastante presente
a figura do cômico e das festas do povo (dos carnavais), e estão presentes tanto em tradições
profanas como religiosas. O elemento de comicidade é como um instrumento utilizado pelos
brincantes para subverter a ordem social instaurada, uma vez que dentro da brincadeira
(festa/jogo) a realidade é outra, e quem a comanda é o cômico. A brincadeira tem um fim em
si, uma espécie de celebração e libertação temporária do mundo oficial. “Durante o carnaval é
a própria vida que representa e interpreta uma outra forma livre da sua realização, isto é, o seu
próprio renascimento e renovação sobre melhores princípios. Aqui a forma efetiva da vida é
ao mesmo tempo sua forma ideal ressuscitada” (BAKHTIN, 1993: 07).
É importante esclarecer que cada festa possui sua especificidade, e que estamos
lidando aqui com noções gerais e características recorrentes das mesmas. No entanto, os
motivos que impulsionam a realização de cada uma, os anseios de seus participantes e o que
representam para aquele determinado grupo que a produz, merece um olhar pormenorizado no
caso de estudos particulares das mesmas.
Acredito que as brincadeiras populares apresentam forte aspecto de jogo, no que
concerne a formação de imagens, no apuro visual, e no caráter representativo que as envolve.
São dados que as remete e aproxima das formas artísticas cênicas. Outro dado relevante que
aproxima a cena dramática da brincadeira reside no aspecto da cumplicidade de plateia, sem a
qual nem uma nem outra podem realizar-se satisfatoriamente. Isso envolve uma implícita
aceitação de regras e funções por parte do público e dos atuantes. Esse jogo que por todos é
aceito representa o próprio sentido da festa. Possui em determinadas tradições uma natureza
quase independente, por mais que determinados contextos religiosos ou históricos possam
justificá-los. Tal aspecto possibilita até mesmo que a escatologia e certa violência sejam
devidamente amenizadas e toleradas, uma vez que a “seriedade” desse jogo impõe um recorte
momentâneo na seriedade cotidiana. Nos limites da regra e da suspensão da seriedade
transitam os jogadores, que estão a todo tempo com outro dado inerente a quem joga: o risco.
Sua incumbência a dominar e se impor no ritual coletivo.
São estes, portanto, alguns dos elementos das brincadeiras que são possíveis de serem
contextualizadas no jogo dramático. É fundamental ressaltar que, no entanto, não estamos
tratando de um espetáculo cênico no estrito senso, pois a brincadeira, assim como a festa, não
se situa totalmente na esfera artística, nem busca se propagar ou se identificar como tal.
Podemos afirmar que elas localizam-se no limiar, se relacionam com a arte e com a vida
social simultaneamente.
As brincadeiras populares ocorrem normalmente nas ruas ou praças das cidades, e por
vezes no interior de residências, no quintal ou na frente da casa do “dono” do brinquedo. É
como se ocorresse uma suspensão temporária do cotidiano e do espaço público comum para a
realização da brincadeira de um coletivo, que a produz para si e também para os que assistem,
como uma expressão de sua cultura. Existe a ideia de criar um ritual espetaculoso, como
Considerações Finais
O Brasil com suas dimensões continentais apresenta uma infinidade daquilo que aqui
chamamos de brincadeiras populares, com singularidades e idiossincrasias de cada região,
com influencias de todos os povos colonizadores que formaram o país. Essa diversidade
poderia se apresentar como um empecilho, afinal todas as tradições podem ser utilizadas
como processo pedagógico para o ensino das artes cênicas? Obviamente não tenho essa
resposta, mas o que se procurou levantar aqui foram as características gerais, identificadas nas
expressões populares mais difundidas pelo país. Entretanto o desafio está lançado, cabe aos
arte-educadores das diferentes regiões investigar as manifestações que compõem sua
identidade cultural, e utilizá-las em função do ensino da arte. Promover esse diálogo, esses
encontros, só tende a enriquecer o processo pedagógico, unindo arte e cultura em um
movimento simbiótico. Vivenciar a cultura local e ainda elevá-la a um patamar funcional, não
apenas contemplativo, pode ser uma forma de mantê-la viva e dinâmica, em plena atividade.
Promover esse contato dos alunos com sua ancestralidade lhes permite se reconhecer na
tradição, respeitá-la e principalmente absorve-la. Concomitantemente os elementos
constituintes do fazer teatral vão sendo suscitados, de forma mais espontânea e menos
enrijecida.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Mário de. Danças Dramáticas do Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1982.
Tomos 1, 2 e 3.
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de
François Rabelais. São Paulo: Hucitec; Brasília: EdunB, 1993.
BARBA, Eugenio. A canoa de papel: tratado de Antropologia Teatral. São Paulo: Hucitec,
1994.
____________. Além das ilhas flutuantes. São Paulo: HUCITEC, 1991.
BONFITT0, Matteo. O ator compositor: as ações físicas como eixo: de Stanislavski a Barba.
São Paulo: Perspectiva, 2002.
CASCUDO Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro,
1998.
DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema
brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
GADAMER, Hans-georg. “A ontologia da obra de arte e seu significado hermenêutico” In
Verdade e Método. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 174 – 201.
GROTOWSKI, Jerzy. Você é filho de alguém. Conferência realizada Gabinetto Viesseux, em
15 de julho de 1985, traduzido por Celina Sodré e Joana Levi a partir da tradução para o
espanhol de Herman Bonet e Fernando Pontes (Revista Máscara) e para o italiano de Rena
Molinari (Revista Línea d`ombra).
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva, 2001.
LEHMANN, Hans-Thies. O teatro pós-dramático. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
PAVIS, Patrice. A análise dos espetáculos. São Paulo: Perspectiva, 2003.
Resumo: Este artigo tem como objetivo promover o pensamento reflexivo a poética, entre o
ato de caminhar e o processo da criação artística como apropriação do espaço e
potencialização dos lugares estéticos nas produções das Artes Visuais Contemporâneas. As
reflexões surgem no ato e na ação da artista nas caminhadas realizadas entre 2016 e 2017 cujo
cenário de investigação é o bioma “Caatinga” entre as Cidades de Juazeiro-BA e Petrolina-
PE, ambas situadas às margens do Rio São Francisco. Com base no indivíduo moderno e
morador das cidades pós-revoluções industriais europeias, principalmente entre Paris e
Londres, iniciamos nossos estudos. Viver no caos urbano e moderno orientou um novo modo
de viver e se relacionar com campos e paisagens do entorno das cidades que viviam em
constante crescimento econômico e territorial. A ação e o ato de caminhar se tornou poético e
potencial, onde elementos visuais e prazeres múltiplos se coadunaram. A sociedade moderna
buscava e desejava novos lugares, e nesse movimento, obrigaram os artistas a ingressarem e
reconfigurarem o modo de trabalho nas produções das Artes Visuais. Nesse sentido,
propomos um percurso literário, entre referências e experiências, para poetizar a caminhada
como recurso poético de ação, intervenção e produção de imagens, como um desejo de
libertação e provocação estética na transição entre paisagens distintas.
Palavras-chave: Ateliês, Caminhadas, Poéticas, Imagens, Contemporaneidades.
Introdução
1
Graduanda de Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal do Vale do São Francisco –
UNIVASF. E-mail: morganaraujo@outlook.com
2
Mestre em Artes Visuais pela UDESC-SC, Professor do Curso de Licenciatura em Artes Visuais na
Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF. E-mail: edson.macalini@univasf.edu.br
instantânea e de fácil reprodução, obrigaria também os artistas não só repensarem seus modos
de trabalhos, bem como suas proposições estéticas. Não obstante, a luta pela sobrevivência
capital, permitiu aos artistas, repensarem o universo da arte, bem como, redirecionarem o
curso já trilhado pela imagem séculos antes.
Retornaremos a segunda metade do século XV na Europa. Pois, é deste período os
primeiros registros encontrados acerca da imagem e de ‘quem é o artista’, ‘o que faz’, ‘para
quem faz’ e, principalmente, ‘onde faz’. Todas essas questões construíram no entorno do
artista um cerco de cobrança e de enaltecimento ao mesmo tempo, ele não era um nobre, mas
também, não era um membro qualquer da sociedade. A arte se distanciava da ação artesã pela
capacidade obtida, através da perspectiva linear, de representar objetos e seres de maneira
real, dando ao artista a caracterização de um ser divino, dotado de um "Dom" que provinha
diretamente de Deus, como afirma Lester ao argumentar os registros e as anotações de Da
Vinci naquela época.
Uma observação que aparece repetidamente é a ideia do artista como uma
pessoa que, graças ao seu estudo cuidadoso do funcionamento do mundo, se
tornou um Criador. “O caráter divino da pintura”, Da Vinci escreveu dado
momento, “significa que a mente do pintor é transformada em uma imagem
da mente de Deus”. Em outro ponto, ele desenvolve essa ideia. “O pintor
Senhor”, escreveu e continuou: “De fato, todas as coisas que existem no
Universo, em essência, em aparência, na imaginação, o pintor tem primeiro
em sua mente e depois em sua mão”. (LESTER, 2014. p. 98).
Da Vinci nos fala em suas anotações, na maior parte das vezes, de uma perspectiva de
pesquisador e pintor de renome num período onde a produção de arte era bastante procurada e
acompanhava o crescimento das cidades. Porém, sendo a corte a ordenadora para quem se
fazia a grande maior parte da produção de arte, os artistas se acumulavam em ateliês
coletivos, o que também os colocava como “cidadãos de segunda classe” e o jovem Da Vinci
era um deles. Nesses ateliês, muitas vezes sujos e mal arrumados, “que mais se pareciam com
uma oficina mecânica”, como afirma Lester, se produzia de tudo,
biografias, Mestres da pintura: Turner, (abril Cultural, 1977), são relatadas diversas viagens e
experiências de Turner, onde é visto e citado como precursor do uso da luz em evidencia na
pintura e um dos primeiros a experimentar o processo de criação artística fora dos ateliês.
Comparado ao século XV onde a reprodução do real condicionava o artista um sentido
de “Deus criador”, ou a ideia divina da arte como "Dom". Já nos séculos adiante o ato criador
não é mais uma questão divina, mas a reprodução realista dos campos e da luz natural
reorientando o sentido para o olhar do artista, este o que vê e o que nos mostra, a partir, de seu
modo de enxergar o mundo. Tem-se, portanto, a imagem do artista sublime.
3
Perfume: The Story of a Murderer (Perfume: A História de um Assassino (título no Brasil) ou O Perfume:
História de um Assassino (título em Portugal)) é um filme lançado em setembro 2006, é uma adaptação do livro
homônimo do escritor alemão Patrick Süskind, dirigido por Tom Tykwer.
não só se constrói a identificação deste, que ocorre das mais distintas maneiras, através da
ativação e documentação da memória, ao estabelecer a relação e identificação pessoal e/ou de
pertencimento com o local, bem como, explorar maneiras de se construir e reconstruir com
esses espaços é parte resultante do caminhar como investigação artística.
O ato de caminhar posteriormente ganha novas roupagens e novas definições, cujas
produções buscavam aquilo que os artistas chamavam de “superação” das formas de
produção,
Abolindo a noção de arte como uma atividade especializada e separada da
vida cotidiana [...] os situacionistas adotaram a deriva como meio estético
político de subverter o sistema capitalista do pós-guerra, onde a deriva seria
uma forma alternativa de habitar a cidade, e que, quando feita em grupo,
tinha o poder de anular a individualidade dos trabalhos artísticos. (SANTOS,
2013)
As cidades sofrem o todo o tempo mutações de seus espaços físicos, sejam elas
estruturais e conceituais, o deslocamento de sentido provoca a alteração na forma em que se
relaciona com ela e cria-se, portanto, novas identidades. Os artistas que se propõe a investigar
essas mutações estabelece um diálogo com a cidade, movendo-se nela e fazendo de seu corpo
recipiente e agregador dessas relações.
Outra perspectiva que se soma ao olhar do artista e da relação com seu corpo na cidade
ou no local em que habita, estão amparadas as questões territoriais e, principalmente, as de
identificação do indivíduo com este lugar habitado. Pensar o território é também pensar no
corpo que transita neste e consequentemente, em sua fluidez, bem como, suas constantes
mutações.
Desta forma, como se identificar com um território que está em constante mudança?
Como estabelecer uma relação direta de reconhecimento com algo inconstante e mutável?
Partindo da ideia de se relacionar com o meio para então fazer parte dele e com ele se
identificar, como um “tubo de ensaio” para experiências poéticas com as caminhadas. Por sua
vez, a caminhada, sendo ela poética ou não sempre foi tida como uma forma de apropriação e
demarcação do território. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que sem tem mais propriedade
sobre determinado local, se este já tiver andado por ele, ou seja, o caminhar, mesmo que
rotineiro e não intencional, acaba por se tornar uma maneira de reconhecimento e apropriação
deste.
4
Geolocalização utiliza a identificação de localizações geográfica de um usuário para coletar de um dispositivo
de computação por meio de uma variedade de mecanismos de coleta de dados. Normalmente, a maioria dos
serviços de geolocalização usa endereços de roteamento de rede ou dispositivos GPS, interno para determinar
este local. (FELIPE & DIAS, 2014)
Assim, a caminhada assume um papel motivacional que tira o artista de uma produção
estética tradicional e o coloca para não só refletir os espaços de forma subjetiva e sim intervir
diretamente neles, recriá-los através de uma proposta poética de ressignificação, criticar ou
chamar atenção para temas de uma rotina moderna.
Contudo, é preciso salientar que além de uma nova forma de se produzir arte pode
identificar pelas caminhadas, uma nova forma de se pensar sobre arte, uma arte que está
inserida diretamente na sociedade e tem a intervenção nessa como meio de fala. Outro ponto
de importância é a desconstrução do lugar de arte, se dando por meio de uma proposta onde a
arte é estabelecia a partir de materiais sólidos e simbólicos retirados de um cotidiano
banalizado e, outrora, visto como descartável a produção artística.
Considerações Finais
Referências
Mestres da Pintura: Joseph Turner. São Paulo: Abril S. A. Cultural e Industrial, 1977.
OSTROWER, Fayga. Universos da Arte. – 13º ed. Rio de Janeiro: Campus, 1983.
GOMPERTZ, Will. Isso é arte? 150 anos de arte moderna do impressionismo até hoje.
Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
Resumo
O artigo aborda a importância da atenção à gestualidade físico-corporal no processo de ensino e
aprendizagem implicado na obra didática para piano denominada Játékok [Jogos], do compositor
húngaro György Kurtág. São analisadas e descritas as ações gestuais das seguintes peças dos volumes
1 e 3 dos Jogos: Perpetuum mobile, Play with Infinity, five-fingers play e Flowers We Are, Frail
Flowers... Além disso, são abordadas algumas ideias do próprio compositor acerca da composição da
obra, tanto do ponto de vista composicional quanto didático-pedagógico. O objetivo do artigo é
contribuir para a compreensão da importância de se estar atento, no processo de ensino e
aprendizagem de toda e qualquer prática musical instrumental, a uma gestualidade físico-corporal
aliada a sonoridades e pensamentos musicais contemporâneos.
Palavras-chave: Gesto. Composição musical. Educação musical.
Introdução
1
Doutor em Música com área de concentração em Processos Criativos pela Unicamp. Professor adjunto no curso
de Música da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –
UFMS. Pós-doutorando no Departamento de Música da ECA/USP, com bolsa do CNPq. Líder e pesquisador do
Grupo de Estudos em Teoria, Análise e Cognição Musicais. Pesquisador do Grupo de Estudos Escritas e
Invenções Musicais. O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Brasil (nº 152871/2016-0).
profissionais, solistas e virtuoses mundo afora. Trata-se portanto de peças que ainda que por
vezes não sejam tecnicamente complexas e de difícil resolução, sempre carregam consigo um
consistente pensamento musical ao qual correspondem efeitos perceptivos interessantes e não
banais.
(glissandos e ataques com o antebraço, respectivamente, nos exercícios a e b da Fig. 1), e que
gradualmente diminuem suas extensões (ataques com as palmas no exercício c da Fig. 1), até
se direcionarem a toques de sons isolados de teclas individuais não definidas (exercício d da
Fig. 1), para finalmente concluir em toques sobre as diferentes teclas Dós do teclado
(exercício e da Fig. 1). Esse ajuste fino gestual é comparável àquele do tipo que ocorre em um
processo de sintonização de banda. Não se trata, portanto, de um ajuste fino que se refere à
chegada a um ambiente sonoro melhor ou mais agradável ou a uma técnica pianística mais
correta, mas antes sim ao procedimento que gradualmente diminui o tamanho da banda
frequencial que é explorada sobre o teclado desde o início até o fim do exercício. O
compositor buscou portanto desenvolver um exercício em que a criança pudesse começar a
tomar de posse do teclado, inclusive sugerindo três maneiras diferentes para a criança se
posicionar e atuar frente ao piano: 1) em pé – andando; 2) sentado – tocando as teclas sem
produzir os sons de suas notas; 3) sentado – produzindo sons. É possível portanto observar já
nos exercícios preliminares de Jogos que o trabalho de Kurtág leva em consideração a
simultaneidade de diferentes modos de percepção que atuam na prática pianística, sejam eles
auditivos, táteis, visuais, cinéticos, espaciais, proprioceptivos, etc.
Perpetuum mobile
Na primeira peça do primeiro volume dos Jogos, chamada Perpetuum mobile, Kurtág
explora o gesto de realizar glissandos sobre teclado do piano (Fig. 2). O compositor afirma
que tal composição foi escrita com o objetivo de ser trabalhada com uma criança que nunca
havia se aproximado de um piano (KURTÁG, 2009[1989], p. 185). Ou seja, trata-se de uma
proposta didática que visa um primeiro contato físico de uma criança com o piano, e que se
atenta à multimodalidade de percepções táteis, visuais, auditivas, cinéticas e espaciais
implicada em toda e qualquer ação instrumental. O gesto de glissando por sobre o teclado do
piano apresenta-se portanto como um dos modos possíveis de tomada de posse do
instrumento, uma vez que para realizá-lo o estudante/intérprete atua variando a extensão do
movimento de glissando sobre o teclado do instrumento, começando, tanto na parte A (até o
primeiro ritornelo) quanto na parte B (após a barra do primeiro ritornelo), na região central do
teclado, onde realiza movimentos mais curtos, para posteriormente ampliar os movimentos
gradualmente até ocupar toda a extensão do teclado, para por fim voltar a movimentos de
menor extensão na região central do teclado (Fig. 2). Para a movimentação ascendente do
gesto, Kurtág solicita o uso da mão direita (m.d., do italiano mano destra), e para o
movimento descendente, a mão esquerda (m.s., do italiano mano sinistra). A escrita gráfica de
Kurtág, que indica uma longa linha de glissandos com perfil melódico ondular (sinusoidal),
sugere que a mudança de mãos para efetuar a passagem entre os glissandos ascendente e
descendente ocorra de forma a manter a continuidade da movimentação no plano das alturas;
entretanto, quando se chega mais próximo aos fins das partes A e B, o movimento do
glissando tem a sua continuidade quebrada em favor de uma gestualidade em que uma mão
inicia a sua movimentação em simultaneidade com o fim da movimentação da outra mão (Fig.
2). Vale ainda acrescentar que Kurtág varia também a cor harmônica dos glissandos,
explorando tando glissando diatônicos realizados sobre teclas brancas, quanto glissandos
pentatônicos executados sobre teclas pretas (ver: YARDEN, 2011, entre 0’06” e 2’20”).
Fig. 2. Partitura de Perpetum mobile (objet trouvé) do volume 1 dos Jogos de György Kurtág
Na parte final do primeiro livro dos Jogos, o compositor apresenta uma outra partitura
do Perpetuum mobile, em que são determinadas mais precisamente as alturas a que
correspondem os pontos extremos do fluxo da linha em glissando, os cumes e os vales
sucessivos da ação gestual de escorregar as mãos por sobre o teclado do piano, portanto.
Trata-se de uma versão que colabora para uma compreensão mais precisa acerca das
distâncias a serem percorridas pelas mão em glissando e da importância dos extremos da
altura no fluxo da linha ondulante.
Fig. 3. Trecho de Perpetum mobile (objet trouvé) do volume 1 dos Jogos de György Kurtág
com indicação precisa das alturas
Algumas das peças de Jogos, Kurtág não as vê como composições, mas antes sim
como objetos achados [objets trouvés], no sentido utilizado pelas artes visuais, compreendido
como a utilização, assimilação e apropriação, em uma obra, de objetos provindos do
cotidiano, encontrados por acaso. Para Kurtág, portanto, o seu trabalho ao escrever tais peças
– ou tais objets trouvés – não foi exatamente o de compor um objeto, mas antes sim o de
desvelar algo que já estava intrínseco ao acoplamento instrumentista-instrumento próprio da
prática pianística. Para Kurtág, em uma peça como Perpetuum mobile, não há necessidade de
um compositor para a escrita da ação simples (mas não tão fácil a ser realizada) de escorregar
as mãos sobre o teclado ampliando e diminuindo a extensão do movimento (KURTÁG,
2009[1989], p. 185), visto que trata-se de um gesto despersonalizado característico da prática
pianística. A função de Kurtág foi tão e somente a de recolher essa ação despersonalizada da
prática instrumental ao piano e criar um modo de escrita musical que lhe fosse propício
(Idem, p. 186). Nesse sentido, Kurtág concebe um tipo de composição musical que funciona
como um divertimento, ou seja, como uma lúdica descoberta de mundos possíveis.
No que diz respeito ao acoplamento instrumento-instrumentista, para Kurtág o piano
não deve ser percebido como um objeto estrangeiro à criança, mas antes sim como uma
continuidade de sua própria mão (KURTÁG, 2009[1989], p. 186). É nesse sentido que o
compositor busca explorar a gestualidade físico-corporal plural em seus Jogos, atentando-se à
Um outro caso de objet trouvé nos Jogos de Kurtág pode ser observado na peça Play
with Infinity, ou seja, Jogo com o Infinito. Nessa peça, Kurtág explora a ação gestual de um
movimento contínuo de uma linha cromática descendente que atravessa toda a tessitura do
teclado do piano, linha que inicia sendo executada pela mão direita e muda para a mão
esquerda a partir do Dó central. Trata-se já de um recurso técnico já um pouco mais avançado
na prática pianística, que consiste na realização de digitação cromática, e é por isso que essa
peça encontra-se já no volume 3 dos Jogos. Sobre essa linha cromática descendente, Kurtág
sobrepõe uma textura pontilhista característica da música serial, contrastando assim uma
continuidade linear da linha cromática com uma fragmentação e descontinuidade próprias ao
comportamento pontilhista. O jogo com o infinito referido no título da peça seria então o jogo
com aquelas notas que a extensão do piano já não mais alcança; é como se a tensão
determinada pelos limites do teclado do piano fossem exploráveis composicionalmente por
Kurtág, ou seja, é como se tratasse-se de uma música que já está em movimento descendente
antes mesmo do ataque da nota mais aguda da linha cromática e que continua seu movimento
descendente mesmo após o ataque da última nova grave do fim do teclado. Trata-se portanto
de um trabalho nos limites agudo e grave que possibilita um encontro (musical) com o infinito
fora do piano, limite que determina não aquilo que é exterior ao piano, mas, paradoxalmente,
um fora da linguagem pianística que não está fora dela (DELEUZE, 2011 [1993], p. 145).
Vale ressaltar que os extremos de tessitura são também explorados no fim da peça, quando o/a
pianista deve repetir alguns clusters cromáticos com a palma da mão direita no extremo agudo
do teclado do piano, enquanto que a mão esquerda se direciona para finalizar sua
movimentação sobre o teclado no extremo grave, o que implica que o/a pianista deva finalizar
a peça com os braços completamente abertos, realizando simultaneamente ataques nas duas
extremidades do teclado (ver YARDEN, 2011, entre 2’22” e 2’44”).
Fig. 4. Partitura de Play with Infinity do volume 3 dos Jogos de György Kurtág
mas sempre mantém a sequência de ataques dos dedos de modo linear, seja pelo padrão 1-2-3-
4-5 ou por seu inverso 5-4-3-2-1 (Fig. 5). A utilização de um padrão linear para a sequência
de ataques dos dedos, bem como as suas repetições com transposição de alturas, permite a
realização de gestos extremamente rápidos nos movimentos em fusa, devido à característica
ergonômica e idiomática da sequência linear de ataques de dedos na prática instrumental
pianística (ver: YARDEN, 2011, entre 4’26” e 4’35”) . Tal peça five-finger play foi planejada
tendo em vista a chegada das duas mãos a uma mesma nota do teclado em seu gesto final de
notas repetidas, o que implica praticamente uma escrita realizada do fim para o começo, com
a organização das alturas se efetuando a partir da nota final e caminhando cromaticamente até
o início da peça de acordo com o comportamento gestual de cada uma das mãos.
Fig. 6. Partitura de Flowers We Are, Frail Flowers... (1a) do volume 1 dos Jogos de György Kurtág
Já na versão 1b (Fig. 7), Kurtág trabalha com sons isolados determinados que se
complementam e apresentam as sete notas de teclas brancas acionadas em diferentes regiões
do teclado, repetindo na maior parte das notas as regiões da utilizadas na versão 1a. Ou seja, o
compositor faz com que o perfil geral dos sons no plano das alturas se permaneça na
comparação entre as versões 1a e 1b, mas a qualidade dos sons é outra, tendo em vista que na
versão 1a os sons explorados são clusters e na versão 1b são notas isoladas (ver: LEE, 2015).
A versão 1b de Flowers We Are, Frail flowers... por vezes é executada por Kurtág em
público com o duo que ele possui junto a sua esposa, Márta Kurtág. A interpretação do duo
György Kurtág e Márta Kurtág traz a tona uma outra gestualidade para a peça que não está
explícita na partitura. Num vídeo que registra a interpretação do duo em um piano a quatro
mãos, é possível observar como ambos os músicos exploram o contato físico de suas mãos,
trazendo uma relação de intimidade para a própria interpretação da peça (ver: KURTÁG;
KURTÁG, 2012, entre 4’43” e 5’12”). É como se tratasse-se de um jogo interpretativo de
tornar musical a intimidade. O próprio compositor afirma este aspecto, ao dizer que
interpretar essa peça junto a sua esposa, frequentemente no início de um concerto, “é uma
maneira de se abraçar, de fundir” (KURTÁG, 2009[1989], p. 187). Também o subtítulo da
peça em francês, sons entrelacés [sons entrelaçados], sugere este jogo de tornar musical uma
intimidade.
Fig. 7. Partitura de Flowers We Are, Frail Flowers... (1b) do volume 1 dos Jogos de György Kurtág
Considerações finais
REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles. [1993] “Gaguejou”. In: Crítica e clínica. 2ª ed. Tr. br. Peter Pál Pelbart.
São Paulo: Ed. 34, 2011, pp. 138-146.
KURTÁG, György. Játékok (zongorára), vol. 1. Budapeste: Editio Musica Budapest, 1979a.
_______________. Játékok (zongorára), vol. 3. Budapeste: Editio Musica Budapest, 1979b.
_______________. [1989] “Játékok: une leçon de György Kurtág”. In: Entretiens, textes,
dessins. Genebra: Contrechamps, 2011, pp. 183-192.
KURTÁG, György; KURTÁG, Márta. Duo Marta et György Kurtág: Bach / Kurtág. Vídeo.
2012. Disponível online em < https://www.youtube.com/watch?v=g319gW5_O0o&t=322s >.
Acesso em 31/08/2017.
LEE, Youngwoo. Youngwoo Lee plays György Kurtág Játékok. Vídeo. 2015. Disponível
online em < https://www.youtube.com/watch?v=cK36ucDf01E >. Acesso em 31/08/2017.
YARDEN, Einav. Kurtag: Jatekok, selections. Vídeo. 2010. Disponível online em <
https://www.youtube.com/watch?v=lbAUCr-GJno >. Acesso em 31/08/2017.
A POÉTICA DO CONVITE:
UMA PROPOSTA DE ABERTURA EM CRIAÇÕES CÊNICAS
Resumo
Esse artigo pretende contextualizar abordagens de algumas poéticas contemporâneas que, desde o
século XX, vêm acolhendo uma perspectiva mais aberta e relacional na cena. Ainda, o objetivo é
justapor a essas questões globais ideias e questões localizadas como pontos de partida em minhas
práticas pessoais e colaborativas, ao propor uma poética que se desdobre por meio da noção de
convite. A escrita é alimentada pelas atuais discussões sobre performance, performatividade e o papel
da interdisciplinaridade nas práticas artísticas para a cena relacionando questões de minha prática
pessoal com discussões já propostas por tantos artistas e/ou pesquisadores, tais como Antonio Araújo
(2008), Eleonora Fabião (2008) e Sílvia Fernandes (2011), que voltam seus olhares para a apropriação
das interferências do próprio espectador como parte importante do processo tanto de produção como
de recepção da cena, cada vez mais autônomas e compartilhadas. Nesses caminhos, a imagem do
convite pode ser uma opção mais afetiva e cuidadosa com os modos como se dão as relações
estabelecidas no decorrer dos processos. Portanto, este escrito vem ao encontro de características
performativas nas criações cênico-artísticas que tornam-se berço para trocas e reflexões por meio da
própria experiência, em uma busca por processos criativos mais dialógicos, que passem pela escuta
atenta, negociando, conversando, permitindo-se permear a partir de escolhas entre o individual e o
coletivo.
Palavras-chave: Processos abertos. Composição cênica. Interdisciplinaridade.
Introdução
das interações, ao trazer a imagem poética do convite, proponho dinâmicas cênicas atentas às
trocas que se estabelecem entre artistas e espectadores, por meio de estruturas e sistemas
cênicos que amparem a escuta e a autonomia no que diz respeito tanto à sua composição
quanto à sua recepção. Dessa forma, este artigo pretende contextualizar abordagens de
algumas poéticas contemporâneas que, desde o século XX, vêm acolhendo essa perspectiva
mais aberta e relacional na cena. Ainda, a ideia é justapor a essas questões globais ideias e
questões localizadas como pontos de partida em minhas práticas pessoais e colaborativas, ao
propor uma poética que se desdobre por meio da noção de convite.
Caminho inspirada pela vanguarda norte-americana da década de 1960, conhecida
como dança pós-moderna, em que artistas como Yvonne Rainer, Trisha Brown, Steve Paxton
e outros, por meio do movimento Judson Dance Theatre, são referências de abordagens que
valorizam o olhar coletivo, a criação compartilhada e a experiência da criação como
igualmente, ou até mesmo mais importante, que os “resultados finais” (BANES, 1995),
desafiando o olhar sobre modos de colaboração entre criadores e espectadores. Anna Halprin,
coreógrafa que influenciou grande parte dos artistas envolvidos nesse grupo experimental e
progressivo que atuou na Judson Church, é também uma grande referência ao propor o
conceito de Scores para a improvisação e os Ciclos RSVP (HALPRIN, 1995), práticas das
quais me aproprio como ferramentas e estratégias para o pensar/fazer de minha proposta.
Ainda, correntes de ideias que passam a trazer relações mais imediatas entre a arte e
seu público, alimentam minha abordagem, ao introduzir a noção de que “não há fatos nem
observadores discretos, mas sim ambos justapostos em meio à observação […] que dá ênfase
aos fenômenos da experiência do performer, do próprio evento e da audiência em suas inter-
relações complexas” (CARLSON, 2004, p.103). Assim, investigações sobre as relações entre
arte que representa o real e arte que literalmente lida com o cotidiano em cena passam a
compor obras que se propõem a integrar arte e vida. O contexto real em que se dá a obra de
arte ganha novo grau de importância em que, por exemplo, “o espaço também se torna um co-
ator autônomo” (LEHMANN, 2007, pp. 126-127). Este (o espaço) pode ser tomado, portanto,
como material de construção de experiências. Experiências estas a serem compartilhadas por
meio de constantes convites que são feitos (e aceitos ou não) entre criadores, cena e
espectadores.
Nessa busca de aproximar arte/vida, começam a surgir cada vez mais artistas dispostos
a subverter a ideia de obra enquanto espetáculo, passando a evocar o processo e o cotidiano
como obra. Nessa via entre artistas de diversas linguagens que pensam a criação enquanto
vivência e processo, cresce também o ideal de uma arte construída de modo comunitário. Vale
ressaltar, no entanto, que a noção de comum é aqui gestada a partir do encontro com as
diferenças e a diversidade de pontos de vista. Corroboro com Jorge Larrosa Bondía (2002) ao
dizer que:
se a experiência não é o que acontece, mas o que nos acontece, duas pessoas, ainda
que enfrentem o mesmo acontecimento, não fazem a mesma experiência. O
acontecimento é comum, mas a experiência é para cada qual sua, singular e de
alguma maneira impossível de ser repetida. O saber da experiência é um saber que
não pode separar-se do indivíduo concreto em quem encarna (BONDÍA, 2002, p.
27).
Ainda, este escrito é alimentado pelas atuais discussões sobre performance,
performatividade e o papel da interdisciplinaridade nas práticas artísticas para a cena. Assim,
relaciono minhas questões acima apresentadas com discussões já propostas por tantos artistas
e/ou pesquisadores, tais como Antonio Araújo (2008), Eleonora Fabião (2008) e Sílvia
Fernandes (2011), que voltam seus olhares para a apropriação das interferências do próprio
espectador como parte essencial do processo tanto de produção como de recepção da cena,
cada vez mais autônomas e compartilhadas.
controlar estes sons para usá-los, não como efeitos sonoros, mas como instrumentos
musicais (CAGE apud CARLSON, 2004, p.103).
Longe da efervescência de Nova York, a coreógrafa Anna Halprin (1920-atual),
contemporânea de Cunningham e Cage, desenvolve seus trabalhos na Costa Oeste de São
Francisco, no Dancers’ Workshop (1955). Seu interesse passa pela experimentação das
atividades cotidianas para a criação em dança, tais como caminhar, comer, carregar toras de
madeira pelo espaço etc. Passando então a trabalhar com o que chama “tarefas orientadas”,
Halprin estimula seus dançarinos a descobrirem e criarem sua própria maneira de dançar, bem
como a moverem-se por meio da consciência sinestésica. A artista também é responsável por
inspirar happenings e outras atividades performáticas que viriam a acontecer na década de
1960.
O uso da improvisação ganha força no trabalho de Halprin, estimulando seus
dançarinos a moverem-se por novos caminhos, valorizando o risco de se expor e revelar-se
em cena. Aqui, abro um parêntese para relacionar essa abordagem com o que Araújo (2008)
aborda como encenação performativa, em que “ao invés da produção de sentido, busca-se,
como na performance, a produção de presença” (ARAÚJO, 2008, p. 257), o que, a meu ver, é
um ponto-chave para a noção de que, ao compartilhar experiências de presença performativa,
nos abrimos para constantes convites à experimentação, reflexão e construção de experiências
compartilhadas.
Anna Halprin, investindo em dançarinos e não-dançarinos, estimula a criação de
danças menos vinculadas a automatismos de uma técnica codificada, apontando para uma
pesquisa em direção ao desenvolvimento de uma pedagogia que forme sujeitos mais aptos a
resolver, no corpo, soluções para problemas da improvisação (MUNIZ, 2011, p.71). Halprin
cria o conceito de Score, a ser explicado mais a frente neste escrito.
Na década de 1960 começam a despontar alguns artistas que, nutridos por estes
precursores já apontados, incitam movimentos cada vez mais contestadores. Este é o caso de
Yvonne Rainer, coreógrafa que, após um workshop coreográfico dirigido por Robert Dunn,
reúne dançarinos e coreógrafos para iniciar experiências que dariam corpo ao movimento
Judson Dance Theatre, que funcionava na igreja Judson Memorial Church, situada na
Washington Square, em Greenwich Village. Segundo Zilá Muniz (2011. p.78) o movimento
Judson tornou-se uma metacomunidade de várias características, onde se fundiram as
Com vistas a dissolver as redomas que elegem os “gênios autores” da obra de arte e os
meros técnicos que fornecem “mão de obra”, passa-se a pensar a criação no sentido de
convergir esforços advindos do coletivo. Este é o caso de Anna Halprin que em seu deque ao
ar livre recebia, para trabalhar consigo, dançarinos e artistas de outras áreas, interessados em
improvisação (WORTH e POYNOR, 2004, p.11). Nesses encontros, eram estabelecidas
situações-oficinas (levando ao nome Dancers’ Workshop) que permitiam com que, mais do
que ela os ensinasse, que todos explorassem e entrassem em territórios desconhecidos.
Segundo Halprin (1995, p.79) eles começaram a lidar consigo como pessoas, não como
dançarinos. Voz, diálogo, objetos e música faziam parte integrante do trabalho tanto quanto o
movimento. E mais: embora o grupo criasse performances, o eixo central do trabalho passava
pelo processo criativo, suas questões e pesquisas como tão importantes quanto as
performances criadas.
ser convidado para outro caminho, afinal “um corpo tem o poder de afetar e ser afetado”
(FABIÃO, 2008, p. 238).
Quando nos abrimos para o convite, nos colocamos diante de tomadas de posição no
aqui e agora. Tratam-se de constantes proposições ao engajamento entre criadores,
espectadores e a própria obra que é criada a partir dos encontros: a partir do convite pode-se
“promover uma experiência através da qual conteúdos são elaborados” (FABIÃO, 2008, p.
243), possibilitando-nos discussões sobre poéticas e políticas de produção e recepção de artes
cênicas contemporâneas. Vale ressaltar que um dos pontos-chave na ideia poética do convite é
a constante autoreflexão que sua essência sugere: ao convidarmos, submetemos nossas
proposições à genuína vontade do outro de qual e como se dá sua participação. Interessam ao
convite as constantes negociações e diálogos que se estabelecem nos processos de criação e
apreciação de uma experiência artística.
Compartilho uma imagem que me foi apresentada por uma participante em um de
meus workshops sobre processos abertos em criação, em 2015, na Austrália. Na ocasião
estávamos explorando os Ciclos RSVP, de Anna e Lawrence Halprin. Os Ciclos RSVP foram
desenvolvidos por Lawrence Halprin (arquiteto paisagista) e sua esposa, a coreógrafa Anna
Halprin, no final da década de 60. Como uma espécie de ferramenta de composição e um
modo de acompanhar o desenvolvimento do processo criativo “diretamente ligados com a
prática artística e com os possíveis caminhos esboçados no experimentar-fazer-compor, eles
foram criados para se dar em um ato de criação colaborativa” (PORATH, 2012, p.123). Os
Ciclos RSVP dão ênfase ao processo, apostando em modelos não hierárquicos ou lineares
(Ibid). A figura a seguir exemplifica seu uso:
Fig. 1. Diagrama dos Ciclos RSVP (Lawrence Halprin Collection, The Architectural Archives, Universidade da
Pensilvânia, ali citada como Halprin Collection, AAUP.
Fonte: Publicado na capa do livro: The RSVP Cycles: Creative Processes in the Human Environment, 1969
podemos avaliar performances, traçar futuras escolhas dos materiais que nascem e entender
coletivamente as possibilidades para as quais o trabalho pode ser encaminhado.
Voltando à ocasião particular de 2015, ao apresentar essa ferramenta aliada, uma das
participantes do workshop compartilha sua associação ao acrônimo francês ‘Répondez s'il
vous plaît’ (responda por favor), usado em convites sociais como um engajamento da
participação no acontecimento em questão. Para mim, essa relação foi muito feliz ao pensar
que, de fato, os Ciclos RSVP são mais uma estratégia de aproximar os processos de criação à
participação consciente dos criadores (e porque não dos espectadores) que se dispõem a
colocarem-se enquanto colaboradores de práticas artísticas.
Ao receber um convite temos a possibilidade de aceitá-lo, recusá-lo ou contrapropor
outros convites. Seja qual for a opção escolhida, ao abrir o espaço para vias de mão-dupla, “o
evento envolve performers e espectadores em atmosfera compartilhada e espaço comum que
os enreda, contamina e contém, gerando uma experiência que ultrapassa o simbólico”
(FERNANDES, 2011, p. 17), mais do que signos e sentidos, passamos a construir realidades,
compartilhando experiências.
Considerações finais
pela escuta atenta, não se deixando unilateral mas, de fato, negociando, conversando,
permitindo-se permear a partir de minhas escolhas em respeito às escolhas do outro.
Por fim, e não menos importante, as características performativas nas criações cênico-
artísticas que tornam-se berço para trocas e reflexões por meio da própria experiência:
“turbinar a relação do cidadão com a polis; do agente histórico com seu contexto; do vivente
com o tempo, o espaço, o corpo, o outro, o consigo” (FABIÃO, 2008, p. 237). Assim, hoje
finalizo meus apontamentos, com a certeza de que o movimento permanece, trazendo consigo
suas (trans)formações.
REFERÊNCIAS
HALPRIN, Anna. Moving Towards Life, Five Decades of Transformational Dance. Ed. R.
Kaplan, Hanover and Londos: Wesleyan University Press, 1995.
MUNDIM, Ana Carolina. O que é coreografia? In: A cena em foco: artes coreográficas em
tempos líquidos/ Marcia ALMEIDA (org.) ; Susi Weber ... [et al.]. Brasília: Editora IFB,
2015.
Resumo
O presente trabalho pretende identificar os tipos de violência existentes no contexto escolar e propor a
arte como possibilidade para amenizar tais conflitos. O texto está vinculado a dissertação: A violência
no contexto das escolas públicas de Lages-SC e arte como possibilidade de enfrentamento. O locus
escolhido para pesquisa são duas escolas públicas localizadas em Lages SC, sendo uma delas da Rede
Estadual de Ensino e a outra do Sistema Municipal de Educação, escolhidas conforme prognóstico
pré-estabelecido. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, social, bibliográfica, documental, empírica,
envolvendo notas do diário de campo, dez entrevistas focalizadas com profissionais ligados ao
fluxograma de atendimento às violências nas escolas, questionário sócio-econômico-cultural por
amostragem, aplicado de acordo com os indicadores da pesquisa documental. A metodologia está
pautada em Minayo (2001), Gil (2002), Flick (2009). O referencial teórico está fundamentado em
Charlot (1997), Abramovay (2001,2003,2005,2006,2016), Boneti (2007), no que se refere a
caracterização das violências; Silva (2009), com respeito a Bullying e Cyberbullying; Foucault (2016)
sobre as relações de poder; Deleuze (2000,2005) apresentando a proposta rizomática; Ortega e Del
Rey (2002) e Maldonado (2004) sugerindo caminhos de paz. Dialogaremos com Da Mata (2010),
Silva (2009), Bauman (2005), Fleuri (2006), Sennett (2006), Louro (2010). Freire (2003), Morin
(2000).Faremos uso dos cadernos pedagógicos da Secretaria de Estado de Santa Catarina e as
informações sobre o funcionamento da justiça restaurativa, que servirão como reflexão à respeito das
políticas públicas de prevenção Estabeleceremos uma conexão com autores específicos do mundo da
arte afim de propor transformações pedagógicas no espaço escolar. Após analisarmos os dados
coletados, esperamos que nossa pesquisa possa contribuir como ferramenta para construção de
cidadãos críticos, reflexivos e protagonistas da sua própria história.
Palavras-Chave: Vulnerabilidade. Políticas Públicas. Arte como enfrentamento
___________________________________________________________________________
1
Graduada em Educação Artística – Habilitação em Artes Plásticas pela Universidade do Planalto Catarinense
na UNIPLAC/SC. Especialista em Artes Visuais pela UNIASSELVI/SC. Mestranda em Educação pela
UNIPLAC/SC. angelaartistaplastica@gmail
2
Doutora em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Professora do Programa de Pós-
Graduação em Educação na UNIPLAC. E-mail: miuxe@uol.com.br
3
Doutor em Antropologia Social. Professor no Programa de Pós-Graduação em Educação, na Universidade do
Planalto Catarinense, Brasil. E-mail: geraldolocks@gmail.com
4
Doutora em Educação e Cultura pela Universidade de Osnabrueck, Alemanha, com revalidação pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação na
UNIPLAC/SC. E-mail: mareligraupe@hotmail.com
Introdução
diferença como relações de poder significa problematizar os binarismos em torno dos quais
elas se organizam. Desta forma, a diversidade acaba por ser entendida apenas como tolerância
e respeito ou encarada como multiculturalismo e transdisciplinaridade. Porém, a violência
continua acontecendo diante dos nossos olhos.
Para Foucault (1995, p. 243), as relações pautadas pela violência agem sobre um
corpo, sobre as coisas; ela força, ela submete, ela quebra, ela destrói; ela fecha todas as
possibilidades; não tem portanto, junto de si, outro polo senão aquele da passividade. Segundo
este autor, o que configura o uso da força, da coerção e a produção de dano em relação ao
outro: é um ato de excesso presente nas relações de poder.
Boneti (2007) denomina violência escolar como todos os atos ou ações de violência,
comportamentos agressivos e antissociais incluindo conflitos interpessoais, danos ao
patrimônio, atos criminosos, marginalizações, discriminações, dentre outros praticados por
entre a comunidade escolar (alunos, professores, funcionários, familiares e estranhos a escola)
no ambiente escolar.
Temos ciência, que muitas vezes, estes comportamentos passam por medidas
coercitivas e extremismos, esquecendo-se de que a prevenção e a conscientização podem falar
mais alto. Sabemos da existência de políticas públicas, bem como de outros projetos
implantados pelas próprias escolas com o objetivo de combater a violência e defender os
direitos humanos, que foram criados para tais fins e muitos não conhecem a sua essência.
A convivência no espaço escolar, tramitando por escolas públicas da rede estadual de
ensino localizadas em vários bairros de Lages SC e em São José do Cerrito e nas escolas do
Sistema Municipal de Educação de Lages SC, ocasionaram inquietações e desdobramentos a
serem refletidos na ótica de um novo olhar sobre estas realidades.
Na perspectiva de favorecer a compreensão ao tema, estamos dispostos a entrar no
universo do cotidiano escolar a fim de coletar dados documentais que nos conduzam a
analisar a realidade de nossas escolas no que diz respeito ao contexto das violências e as suas
implicações. Pretendemos ainda acompanhar os trâmites legais de tais encaminhamentos
feitos pelas escolas para obter informações, esclarecimentos, saber distinguir as funções de
cada um e disseminar tais orientações para atuar de uma forma preventiva e contribuir para
que famílias possam ser devidamente atendidas e tenham a possibilidade de sair de situações
de risco. Assim, estaremos fazendo a nossa parte e apontando caminhos para os novos
educadores que estão chegando nas unidades escolares.
O presente projeto é fruto do grito alarmante que soa em nossos ouvidos todos os
dias, a partir do momento em que lemos os jornais, ouvimos comentários sobre as chamadas
policiais, vemos pela televisão imagens que nos chocam e através delas, o rosto de vítimas da
violência que se alastra em nossa sociedade. Este eco estridente ressoa no cotidiano escolar
como consequência da violência doméstica, da violência das ruas e do somatório da
vulnerabilidade social pré-existente. O que fazer diante disso? Como amenizar tais conflitos?
São perguntas constantes que nos levam a pensar e exigem um posicionamento enquanto
educadores que somos.
Podemos afirmar que a violência é tão antiga, quanto a história da humanidade. Em
cada período, em cada lugar, ela se manifestou à sua maneira e hoje estamos diante do caos. O
mundo moderno recheado de conflitos mundiais abriu espaço para que as sociedades
contemporâneas sofressem as consequências do individualismo, da competitividade, da
ganância e do conseguir o que se quer, não importa como. Tudo isso tornou possível a
existência das desestruturas sociais que temos e, por conseguinte os somatórios
discriminatórios que impedem o ser humano de assumir a sua própria identidade e viver com
dignidade.
Olhando por este prisma, acredita-se que, nem tudo está perdido e que existem
possibilidades de reverter esta situação a partir do momento em que olharmos com outros
olhos o ambiente escolar e passarmos a perceber o nosso aluno não como “vilão”, mas sim
como alguém que tem potencialidades e que pode se tornar protagonista da sua própria
história.
Pretendemos através desta pesquisa de cunho qualitativo, não só investigar os casos
de violência no contexto escolar, mas sim ouvir o que os profissionais tem a dizer sobre o
assunto e apontar possibilidades através da arte para amenizar tais conflitos. Neste sentido,
estamos falando não só da disciplina de Artes, mas também das políticas públicas que temos
para isso, são projetos como o Novo Mais Educação, Sustentabilidade, Mais Cultura, Ensino
Médio Inovador que viabilizam a permanência do aluno mais tempo na escola e menos tempo
na rua e na vulnerabilidade, valorizando seus potenciais e os tornando multiplicadores de boas
ideias e agentes transformadores de uma cultura de paz. Assim todos aliados na prevenção,
contribuiremos para edificação de uma sociedade melhor para todos onde a identidade valha
mais do que a diferença e a igualdade de direitos se estabeleça em nome da dignidade
humana.
A violência é um fenômeno preocupante e alvo de discussões entre os profissionais
de educação e de outras áreas, que afeta não só a escola, mas a sociedade como um todo. Se
faz necessário perscrutar nos ambientes escolares, a existência da violência que se faz
presente e sondar as várias formas pelas quais elas se manifestam em nossas escolas públicas
principalmente.
Por outro lado, sabemos que diante da manifestação de tais violências, entre elas a
indisciplina, medidas cautelares são aplicadas normalmente de forma coercitiva, por isso
transitar pelos trâmites legais é um caminho para o conhecimento e para compreensão dos
processos de vulnerabilidade pelos quais crianças e adolescentes são susceptíveis.
Proposições de arte, são probabilidades de envolvimento, integração e descoberta de
si. Resta saber, como nossas revisitações possam se transformar em ressignificações a partir
das linguagens artísticas e contribuir para construção de uma cultura de paz.
Como despertar consciências adormecidas em agentes transformadores, onde a
diferença, dê lugar para a identidade e a diversidade. Onde a violência seja amenizada e a paz
seja a bandeira de todos. Onde os direitos humanos sejam respeitados e a dignidade se traduza
em qualidade de vida.
são leis que todos devem acatar. Então, se um dia alguém o contraria, esse filho
pode tornar-se, num primeiro momento, agressivo, mas depois partir para violência,
exigindo que se faça aquilo que ele quer (TIBA, 1996, p. 192).
Origem da Violência
Figura 1: Os Intocáveis
Na História da Humanidade
homem. Por se tratar de uma questão já existente desde a Antiguidade, vale lembrar que
existem relatos referentes à Idade Média em que a violência física fazia parte do homem
medieval. Atos violentos eram comuns, tais como: mãos decepadas, purificações. Contudo,
Nietzsche não fazia defesa da violência, mas sim da necessidade de combatê-la.
Exemplos históricos nos mostram que a violência deriva dos mais variados motivos.
Piedade Júnior (2003), apresenta alguns casos curiosos: 1. Mac-Lean atira na Rainha Rainha
Vitória pelo fato dela usar uma roupa azul celeste. 2. Em 1873, em São Luís do Maranhão,
Visgueiro, por ciúmes matou sua amante Maria da Conceição, de quinze a dezesseis
punhaladas, a esquartejou, guardou os restos mortais em duas malas, em seu quarto, até ser
descoberto e preso. 3. Peter Kunter, assistiu seu pai violentar sexualmente uma de suas irmãs
menores. Começou sua vida de crimes, matando “por brincadeira” dois amigos. Matou depois
a namorada. 4. O austríaco Max Gufler colocava sonífero na bebida das freguesas, as matava
cortando a garganta e depois as violentava. 5. John Christie era necrófilo. Para saciar seu
apetite sexual com cadáveres, matou algumas mulheres, inclusive sua esposa. Ocultando o
cadáver na sala de visitas. Foi condenado a forca. 6. Issei Sagawa em 1981 matou a
namorada. Guardou seus restos mortais na geladeira e depois ia assando-os e comendo-os,
como se fosse “ambrósia dos deuses”
Desta mesma fonte, extraem-se outros dados das violências ligados as grandes
guerras e conflitos mundiais que resultaram na fome, na miséria e na destruição de vários
países a nível mundial.
Na História do Brasil
Para Boff (1996), “violenta foi a conquista, violenta foi a relação para com o índio,
violenta foi a relação para com o negro, violenta para com o trabalhador organizado, violenta
para com todos os pobres até os dias de hoje”.
Sobre isso, Piedade Júnior (2003), comenta que índios e negros não eram
reconhecidos como seres humanos e não passavam de “peças”, a serviço do trabalho escravo
e, frequentemente eram punidos e reprimidos, com métodos cruéis. Acrescenta recordações
do Brasil-Colônia em 1633, sobre os castigos aos escravos, sérios métodos de torturas: 1.
Açoites, picadas com navalha (pondo-se sobre as feridas: sal, sumo de limão e urina). 2.
Retalhamento dos fundilhos com faca. 3. Cauterização com cera quente. 3. Chicote de tripas
de couro de boi enrijecido. 4. Palmatória. 5. Tronco. 6. Pelourinho. Quando fugiam, eram
caçados como “bichos”. [...] E como é vergonhoso, para nossa história, pensar que o Brasil foi
o último país do mundo que aboliu a escravidão. Mas será que já aboliu mesmo?
René Girard fala, nesse sentido, de uma violência fundadora: toda sociedade se
instaura sob a base de uma violência fundadora, que suplanta as demais, efetivas ou latentes
(GIRARD, 1988 apud MARCONDES FILHO, 2001). No Brasil, sobre uma cultura
tradicionalmente herdada, com raízes na sociedade escravocrata, no tipo de colonizador que
aqui se instalou e na transposição de práticas persecutórias e perversas da metrópole,
realizando-se, no século XX, por meio de traços marcantemente típicos de nação de periferia
do capitalismo.
Segundo o mesmo autor, isto se traduz no agir que para ele pode ser:
Outros autores se referem a isso como uma "doença cultural", em que as violências
expressas são apenas uma derivação pública, mediática, epidérmica de uma sociedade cujo
todo está estruturalmente contaminado.
Considerações finais
A violência se apresenta em todos os lugares das minhas diferentes formas: dentro e
fora da escola e no seu entorno. A identidade e a diversidade enfrentam os conflitos causados
pela indiferença. A arte está no mundo. Pela arte, por suas linguagens artísticas trilhamos por
caminhos que poderão nos conduzir a uma cultura de paz. Cabe a cada um de nós encontrar as
respostas que estão nas nossas mãos.
Referências
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Observatório de Violência, Ministério da Educação, 2005. 404 p.
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TIBA, Içami. Disciplina, limite na medida certa. São Paulo. Editora Gente, 1996
Resumo
Este texto traz o relato da experiência da montagem e vivências na exposição [art]igo, realizada entre
maio e junho de 2017 na Galeria Capibaribe, no Centro de Artes e Comunicação da Universidade
Federal de Pernambuco, que propôs uma dinâmica diferenciada, incluindo sua expografia mutável,
aberta a acontecimentos, com objetivo de trazer à tona a discussão do fazer e pensar arte na instituição
acadêmica. Descrevemos sucintamente este projeto e os acontecimentos programados ou não, os quais
nomeamos de interAÇÕES, que o atravessaram. Pontuamos alguns questionamentos que nos moveram
no processo de elaboração e os que foram despertados na experiência partilhada. Os resultados
abrangeram alcances inesperados, com grande adesão participativa de estudantes e relações com as
demais áreas do conhecimento na universidade, a partir de problemas acerca da produção acadêmica
que atingem a todos. O caráter de uma instalação relacional que ia além das contigências espaciais
estabelecidas pela expografia, para inserir o acolhimento a múltiplas intervenções – na própria
expografia, no material disposto ou em ações performáticas, lúdicas, dialógicas, entre outras –,
consistiu em uma práxis pouco usual nos espaços expositivos. Consideramos a prática de montagem
de exposição como exercício de criação e experimentação pedagógica de arte, especialmente no
contexto de ensino superior, caso descrito, mas não restrito a esse nível de ensino, nem à educação
formal. Trata-se de uma interface entre arte e educação com múltiplas possibilidades de investigação e
aplicações.
Palavras-chave: Instalação. Produção acadêmica. Arte relacional.
Introdução
1
Doutora em Artes Visuais pela UFRJ. Professora adjunta no curso de Artes Visuais (Licenciatura) no
CAC/UFPE e no Programa de Pós-graduação Associado em Artes Visuais UFPE/UFPB. Vice-líder e
pesquisadora no Grupo de Pesquisa em Arte, Educação e Diversidade Cultural da UFPE. Presidente da
Comissão Permanente de Arte e Cultura do CAC e Coordenadora da Galeria Capibaribe. E-mail:
renatawilner@yahoo.com.br
2
Mestrando em Escultura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Graduado em Artes Visuais – Licenciatura
pela UFPE. Graduado em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco. E-mail: rafaelcvascon@gmail.com
3
Graduanda em Artes Visuais – Licenciatura no CAC/UFPE. E-mail: silviaterez@hotmail.com
Pernambuco (CAC/UFPE), elaborada por Rafael Vascon e Silvia Tereza (então estudantes de
graduação em Artes Visuais), sob curadoria da professora Renata Wilner.
A proposta originou-se de inquietações acerca das relações entre fazer e pensar arte na
instituição acadêmica, tais como: Em que consiste fazer artes visuais hoje na academia?
Como se dá a construção de discursos sobre artes visuais? Por que a palavra é tão basilar ao
artista? Como se dá essa transposição (ou justaposição) da linguagem artística em linguagem
científica? Qual a contribuição acadêmica para a área de Artes Visuais? Como a academia
pode legitimar o pensamento artístico sem traumatizá-lo com o rigorismo técnico pragmático
burocrático? O formato emoldurado por normas da ABNT dá conta da produção inovadora na
teoria da arte? Um projeto artístico que rompe com as barreiras léxicas da ciência tem a
mesma legitimidade na universidade que um artigo científico? Como relacionar teoria e
prática artística dentro do modus operandis acadêmico? O que se perde e o que se ganha com
isso?
Ao mesmo tempo que estimulava o debate autocrítico da instituição acadêmica,
[art]igo tomou a forma de instalação na qual ao invés de conter obras, toda a situação espaço-
temporal criada se constituiu em uma “obra” propositiva e relacional. De acordo com
Bourriaud (2009, p. 19), a arte relacional “tem como horizonte teórico a esfera das interações
humanas e seu contexto social mais do que a afirmação de um espaço simbólico autônomo e
privado”.
A própria exposição era a obra: metalinguagem da ação expositiva e do texto
acadêmico como lugar de exposição. Assim, a problematização abarcava também a crítica dos
dispositivos das Artes Visuais, portanto adentrava em questionamentos tanto do sistema
acadêmico e da inserção da arte nele, como do próprio sistema de arte (no debate
contemporâneo).
4
FICHA TÉCNICA de [art]igo – ARTISTAS: Rafael Vascon e Silvia Tereza; CURADORIA: Renata Wilner;
EXPOGRAFIA E MONTAGEM: João Vicente / Milton Nascimento/ Priscilla Lêdo / Rafael Vascon / Raquel
Cantinha / Renata Oliveira / Renata Wilner / Silvia Tereza / Vinicius Maciel / Ariana Nuala; MEDIAÇÃO: Ailce
de Melo / Elliot Aguiar / Guilherme de Moraes / João Vicente / Laura Diniz / Marcela Mello / Márcia Cavalcanti
/ Cecilia Falcão / Mariana Leal / Priscilla Lêdo / Renata Oliveira / Silvia Bloise / Thaes Arruda / Thiago Aragão;
TRABALHOS ACADÊMICOS (doação inicial): Adélia Oliveira / Mariana Ratts / Amanda Souza / Marília Paes
/ Ariana Nuala / Marina Didier / Carla Marinho/ Mitsy Queiroz / Elliot Aguiar / Olga Lopes / Erik Morais /
Paulo Profeta / José Patricio / Rafael Vascon / Líbna Nafatali / Renata Wilner / Luciana Tavares / Sandro
Drumond / Luciene Morais / Silvia Bloise / Luciano Araujo / Silvia Tereza /Maria Juliana Sá / Teresinha Vilela /
Vinicius Gomes / Xadai Rudá / Mario Sette / João Vicente Anonni / Renata Oliveira / Bárbara Collier.
A montagem de [art]igo
A concepção expográfica partiu da ideia de “caixa preta”, com piso, paredes e tetos
pretos, módulos cobrindo as vidraças da galeria totalmente, vedando o espaço, que mede 15m
x 7,5 m x 2, 70 m de altura. Expostas ao longo de três paredes da sala, no lugar de obras
visuais comumente esperadas, encontravam-se 18 folhas de rosto de trabalhos acadêmicos,
páginas iniciais de artigos científicos ou sínteses de obras artísticas de estudantes de Artes
Visuais, emolduradas e dispostas de forma linear com iluminação focal, remetendo ao
tradicional formato expográfico de quadros. A parede restante, junto à entrada, foi deixada
vazia para intervenções. Em contraste com esses trabalhos imobilizados, intocáveis,
enquadrados e protegidos pela moldura, o piso da galeria foi coberto por milhares de folhas de
papeis avulsos ou encadernados, espalhados aletoriamente. Estes continham textos que
versavam sobre os mais diversos conteúdos epistemológicos, de caráter científico, e muitos
eram trabalhos de conclusão de cursos de graduação e pós-graduação – por vezes escritos à
mão – que datavam mais de quarenta anos até a atualidade. Ao final da exposição, todo o
material foi destinado a reciclagem.
Fig. 1. Vista parcial da exposição [art]igo na Galeria Capibaribe (2017)
InterAÇÕES
O público, que somou mais de mil visitantes de variadas áreas de formação, contextos
sociais e faixas etárias, era convocado a participar livre e ativamente pela ambientação criada
na instalação, pelo caráter relacional aberto e pela proposição de acumulação dos papeis que a
compunham. Causou-nos grata surpresa que uma ideia nascida de um incômodo acerca dos
desencaixes entre produção artística e acadêmica, e que procurava estimular reflexão coletiva
sobre ele, tenha gerado sensação de acolhimento e conforto por parte do público. Desde o
momento da inauguração, as pessoas sentavam-se despojadamente sobre os papeis, tal como
um tapete, e assim revelou-se um ambiente aconchegante propiciando situações de convívio,
descanso, namoro, ludicidade, incluindo até crianças e animais, que espontaneamente
adentravam e permaneciam no espaço.
Fig. 2. Interação espontânea do público visitante. Ao fundo,
a parede ocupada durante a visitação, constantemente alterada.
Além das interações espontâneas por parte do público, houve uma programação de
atividades que foi se costurando antes e durante o período da exposição, a partir da adesão de
estudantes e professores à proposta. Antes da montagem, houve convocação para envio de
trabalhos acadêmicos para compor a mostra, de forma ampla e aberta. A chamada, ocorrida no
período preparatório, foi para doação de material a ser emoldurado ou inserido em meio aos
papeis no chão, tendo sido estimulada a continuidade da acumulação de papeis contendo
trabalhos acadêmicos, mesmo após a abertura da exposição. A partir das relações tanto
acadêmicas como afetivas, a exposição configurou-se dinâmica e maleável para intervenções
variadas.
Desta forma, a interação com a exposição já existia mesmo antes e durante o processo
de montagem, pois este se deu através da colaboração de colegas dos expositores, gerando
apreciação, discussões e reflexões. Silvia Tereza Moura estava há algum tempo engajada em
diversas ações e estudos de expografia ocorridas no curso de Artes Visuais e na própria
Galeria Capibaribe, tendo sido bolsista do projeto Galeria Laboratório; Rafael Vasconcelos já
havia participado como artista e produtor em outros projetos de exposição; e Renata Wilner
atuado como curadora em outras exposições e coordenadora de ações de estudo sobre
expografia e mediação. Tanto o planejamento expográfico, quanto a montagem em si, se
deram pelos próprios propositores da exposição, com participação de colaboradores.
Ainda na etapa preparatória, os propositores interagiram com a disciplina de Mediação
Cultural, através da qual a exposição foi debatida pela turma e criados experimentos de
mediação, que foram depois compartilhados em visita ao Museu de Arte Moderna Aloísio
Magalhães (MAMAM), com o Educativo da instituição.
Fig. 3. Roda de conversa dinamiza pela Profa. Maria Betânia e Silva e pelo Prof. Murilo Silveira. Em primeiro
plano, uma teia com textos inserida na ocasião da apresentação do TCC de Cecilia Galindo.
interAÇÕES
Poesia
17/05 – Miró da Muribeca
Roda de Conversa
14/06 – Profª Maria Betânia e Silva e Prof. Murilo Silveira
Oficina
25/05 - Artigos Liquidos – Profª. Renata Wilner
Apresentações de TCCs
26/05 - Dentro de toda pele - Cecilia Galindo
07/06 - Caminho para o sol - Ariana Nuala
08/06 – Nascedouro: da terra ao útero - Lana Pinho
14/06 – Ensaio sobre o vazio - Jones Nideck
21/06 – Espaços Impessoais: o estranho à deriva – Rafael Vascon
Experimentos de Mediação
02/06 - CTRL+C CTRL+V - Ailce Moreira, Silvia Bloise e Thaes Arruda
12/06 – Desenhando Palavras - Mario Sales, Priscilla Lêdo e Thiago Aragão
19/06 - Escrevendo Imagens - Thiago Aragão e Priscila Lêdo
Perfomances
17/05 – Rumor - Ação Coletiva
17/05 - Balão de Festa – Prof. Mario Sette
21/06 - Trauma 1, Trauma 2 e Trauma 3 - Guilherme de Moraes, Marcela Dias,
Mariana Leal e Cecília Falcão
06/06 – Certifique-se - Jamily Alves
16/06 - Atmosfera Coibida - Renata Oliveira
retirados, para gerar nova ocupação, a partir dos experimentos de mediação, resultados da
oficina e outras intervenções espontâneas, um pouco mais focadas e poéticas. Outros espaços
da exposição também se transformaram. Uma teia com papeis contendo anotações foi
colocada suspensa durante a apresentação do TCC “Dentro de toda pele”, de Cecilia Galindo,
lá permanecendo por vários dias. Durante todo o período, todos que ali entravam podiam
trazer seus textos acadêmicos e levar outros para casa, dentre os que estavam dispostos
avulsamente no chão da instalação.
Enfim, foram vários agenciamentos, não cabendo à proposta da exposição ou das
ações de mediação uma partitura de participação previamente configurada, senão a abertura
para o devir que reconfigurava a própria instalação. Ainda que tal reconfiguração não tenha
ocorrido radicalmente na exposição como um todo, chamou-nos atenção este aspecto pouco
usual em ações expositivas de Artes Visuais, geralmente intocáveis ou com interações com o
público bastante controladas, sem abertura para mudanças. Assim, começamos a vislumbrar
uma via de investigação para exposições que poderíamos chamar de “vivas”, com um caráter
relacional aberto e imprevisível que abranja inclusive sua configuração espacial e elementos
visuais inseridos no decorrer do período, como processo de transformação não controlado
pelos/as artistas, curadores/as e educadores/as.
Um dia na exposição [art]igo nunca era igual ao outro. A instalação sempre estava
diferente, tanto no aspecto visual, como nos agenciamentos por parte do público geral e do
coletivo mais próximo, do Curso de Artes Visuais e do CAC. Os estudantes se identificaram e
foram parte imprescindível dessa exposição viva, que falava diretamente do seu cotidiano.
encontramos o trabalho do Prof. Silvio Zamboni, que buscava legitimar a área a partir do
modelo de pesquisa científica, porém pontuando especificidades que distinguem o
pensamento artístico do pensamento científico. Zamboni (1998, p. 21) pondera que:
Na realidade, o que existe são formas de pensamento que mais usualmente se
relacionam ao tipo de atividade utilizado em arte e outras mais comumente
relacionadas com as da ciência. Uma das diferenças entre essas formas é que a
explicação na ciência é sempre de caráter geral, procurando sempre leis que sirvam
para generalizações que possam ser aplicadas a outras realidades, enquanto a
explicação artística é extremamente particular, não passível de grandes
generalizações, mas mesmo assim transmite invariavelmente mensagens de natureza
bastante ampla.
A arte e a ciência, como faces do conhecimento, ajustam-se e complementam-se
perante o desejo de obter entendimento profundo. Não existe a suplantação de uma
forma em detrimento da outra, existem formas complementares do conhecimento,
regidas pelo funcionamento das diversas partes de um cérebro humano e único.
(CAMNITZER, p. 46). Enquanto o cientista tem na explicação o núcleo de seu processo, para
o mágico esta implica na destruição da ilusão no espetáculo que ele cria. Já a arte se encontra
num meio termo, segundo Camnitzer, “a obra de arte é um ato de magia explicado”. No
entanto, a explicação na arte é mais complexa porque tem níveis (descritivo, contextual e o da
“prestação de contas”) e que responde a um problema formulado em algum momento do seu
processo, mas sempre fica um resíduo inexplicável.
Na tentativa de “prestar contas” de nossa proposição artística, consideramos pertinente
e eficaz, nos desdobramentos verificados na prática, a problematização da distinção entre arte
e ciência na instituição que padroniza tais práticas em determinados modelos e normatizações,
focando no preço que a pesquisa em arte paga por isso. A adequação da abertura relacional
(“encontro fortuito”) para o propósito dessa discussão pode ser corroborada pelas palavras de
Bourriaud (2009, p. 22-23): “O interstício é um espaço de relações humanas que, mesmo
inserido de maneira mais ou menos aberta e harmoniosa no sistema global, sugere outras
possibilidades de troca além das vigentes nesse sistema”. Na experiência aqui relatada,
“sistema” é ambivalente para a arte e para a instituição acadêmica científica.
[In]conclusão
Tudo isso retoma uma ideia engendrada nos primeiros modernismos, dissipada e
talvez um pouco perdida na sociedade de espetáculo, que é a utopia de fusão entre arte e vida.
Porém com estratégias diferentes do “artivismo” político, da arte inserida nos movimentos
sociais, nas ruas, etc. Neste caso, tratava-se de um gesto de implosão na política acadêmica,
de estremecer a fissura nos seus modos de ser, pensar e sentir. Galeria de arte da universidade
discutindo arte na universidade, caso específico. O saldo dessa experiência é ter vislumbrado
um caminho investigativo de “exposição viva”, transformável, com estrutura aberta, que não
precisa ter sua configuração mantida, mas ao contrário, a ação humana no seu curto tempo a
transforma. Algo pouco explorado ainda, mesmo na maioria das propostas interativas. Esta
característica chamou atenção e merece futuras explorações e aprofundamento. Não por acaso
ocorreu mediante [art]igo na Galeria Capibaribe, laboratório de experimentos artísticos que
tem por missão a pesquisa e não a mera reprodução das práticas instituídas pelo mercado e
espaços hegemônicos da arte. E isto também é fazer/pensar arte na academia.
REFERÊNCIAS
ZAMBONI, Silvio. A pesquisa em arte: um paralelo entre arte e ciência. Campinas, SP:
Autores Associados, 1998.
Resumo:
O presente artigo apresenta um relato de experiência de uma pesquisa em Artes Visuais denominada
Cartografia dos Espaços Sentíveis. Nesta, propõe-se uma cartografia de espaços da cidade de Fortaleza,
através de uma percepção não visual, mas de uma apreensão dos outros sentidos, através de pesquisas
acerca do conceito de experiência em Bondía (2002), da visão e do espaço em Bavcar (1994) e Merleau-
Ponty (2015), do conceito de prática urbana e cartográfica em Certeau (1998) e das vivencias com
fotografia cega de Guimarães (2013). O principal objetivo aqui é constituir uma outra percepção com a
paisagem a partir dos outros sentidos, que não a visão. Nesta prática se realiza vivências de deriva cega
onde, com os olhos vendados, os espaços são descobertos por outros sentidos. Como principais
problemas norteadores dessa pesquisa estão: Como pensar um mapa afetivo dos espaços, mais ligado as
sensações e percepções do que as geometrias locais? Como compreender os espaços a partir de uma
lógica mais sensível e de uma percepção corporal distante das hierarquias dos sentidos (onde a visão
ocupa função privilegiada)? Como construir um produto em Artes Visuais questionando a nomenclatura
“Visual” e integrando o corpo na produção imagética? A partir disso, algumas hipóteses foram previstas
e importantes para encontrar respostas aos problemas citados acima: Entendia que após as práticas destas
cartografias, o corpo estaria mais sensitivo a perceber os espaços urbanos e entender estes de forma mais
próxima das suas experiências sensitivas e afetivas com o local. Os resultados apresentados nesta
pesquisa são as fotografias cegas destes espaços, os desenhos cartográficos do local e os diários das
experiências. A cartografia de um espaço se faz uma prática especificada aqui e a partir desta, é possível
compreender melhor os conceitos do projeto.
Palavras-chaves: Imagem, Sentidos, Mapa afetivo.
Introdução
1
Licenciando de Artes Visuais, bolsista no Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID/ CAPES-
IFCE). e-mail: dri.dmorais55@gmail.com
2
Professor do curso de Licenciatura em Artes Visuais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Ceará (IFCE), mestrando do Programa de Pós-Graduação de Artes da mesma instituição. e-mail:
descarvalhando@gmail.com
busco entender a espacialidade a partir do tato, olfato, paladar e audição, e registro através de
fotografias os vestígios do espaço. Ao chegar no local de onde parti com os olhos vendados,
desenho o mapa afetivo da vivência, informando tanto a arquitetura, como as sensações (cheiro,
som, vento, calor, medo) em uma planta baixa. Por fim, eu e meu amigo (guia) escrevemos um
texto-sentido sobre as percepções da prática.
Além de Guimarães (2013), acrescentamos a este artigo Bondía (2002) no qual cria
distinções entre experiência e informação; Certeau (1998) para pensar conceitos acerca das
práticas urbanas e de espaços e mapas; Bavcar (1994) que busca pensar um olhar mais próximo
da sensibilidade e distante da racionalização dos sentidos e Merleau-Ponty (2015) que busca
criar relações do corpo sensível com o espaço. Apresento também aqui, o resultado de uma
cartografia realizada em Fortaleza-Ceará, no qual constituiu uma dimensão prático/teórica para
o estudo que se apresenta como uma pesquisa em Artes Visuais em desenvolvimento. Alguns
resultados parciais são observados e discutidos aqui.
Justificativa
do corpo, impedindo que tropece, caia, esbarre nos objetos e estruturas presentes na cidade.
Nesta situação, a visão não provoca devaneios, reflexões, suspensões e até instabilidades ao
corpo que memoriza a cidade através de um único sentido, mas não a pratica, não entende sua
estrutura, não conhece suas falhas e por isso não consegue recriar realidades a partir desse
cotidiano. Neste sentido, quem pratica a cidade sobre essas condições está como um pedestre
“cujo corpo obedece aos cheios e vazios de um texto urbano que escreve sem poder lê-lo”
(CERTEAU, 1998, p 171). Para o autor, nestas práticas os acontecimentos se passam como uma
espécie de cegueira aos acontecimentos e experiências possíveis na cidade. É neste paradoxo
que o olhar científico se faz: de um lado a visão ocupa um lugar privilegiado numa hierarquia
dos sentidos, mas do outro produz uma espécie de cegueira nos sentidos das pessoas.
Este olhar científico, introduzido no início da era moderna com o Renascimento,
provocou no modo de perceber a cidade um distanciamento do corpo com o espaço. Certeau
(1998) entende que a era moderna criou uma relação com a cidade baseada num olhar
panorâmico, baseado em perspectivas, e inventado por um olho que, “no entanto, jamais existira
até então” (CERTEAU, 1998, pg 170). Para o autor, esta representação da cidade enquanto
panorama, constitui uma espécie de simulacro teórico-visual onde se produz um esquecimento
e distanciamento das práticas vividas na cidade.
Assim vivências vão se desencadeando numa sobreposição constante de informações que
nos chegam e que segundo Bondia (2002) impedem que algo realmente nos aconteça. Segundo
o autor, a experiência pode ser entendida como “o que nos passa, o que nos toca” e se torna
cada vez mais rara, pois num mundo pautado a partir da informação o sujeito está a todo tempo
numa velocidade cada vez maior, atravessado de conhecimentos que precisam ser digeridos e
com isso formulado opiniões imediatas Se por um lado há a possibilidade de entrarmos em
contato com uma quantidade inimaginável de informações, por outro construímos um mundo
onde é cada vez mais raro um encantamento, uma dilatação do tempo, um afeto e, para o autor
este excesso de informação sufoca e anula qualquer possibilidade de experiências.
Na sociedade da informação, o sujeito está transbordado de acontecimentos, fragmentado
num tempo onde a cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, “quase nada nos
da condição de possibilidade. Para o autor, este modelo de cartografia foi se modificando para
um outro mais geométrico e matemático a partir do surgimento do discurso científico moderno;
neste sistema há na elaboração dos mapas, uma preocupação menor com os itinerários, com as
histórias vividas, significadas pelos mapas medievais através de desenhos de embarcações,
animais, passos... Para o autor “bem longe de serem “ilustrações”, glosas icônicas do texto,
essas figurações, como fragmentos de relatos, assinalam no mapa as operações históricas de
que resulta” (CERTEAU, 1988, p 206).
Partindo desta lógica, penso aqui uma outra relação do corpo com a cidade e,
consequentemente com as formas de representa-la, que distante da racionalidade (da luz) esteja
mais próxima dos afetos e sensibilidades. Como propõe Bavcar (1994), mais próxima da
escuridão. Filósofo e fotógrafo esloveno, Evgen Bavcar ficou cego ainda criança e assim,
desenvolveu uma outra relação com a imagem. Para o autor e fotógrafo a visão física é uma
atitude de distanciamento diante do mundo, não pode ser considerado como um olhar da
verdade, tendo em vista que sentidos como o tato podem confirmar melhor a presença de
determinado objeto. Neste sentido, Bavcar (1994) defende que é imprescindível entender a
visão não só a partir da luz, mas a partir do que seria a sua pré imagem: a escuridão. É
interessante entrecruzar este conceito com o de Guimarães (2013) que compreende a visão
como o sentido mais tirano em relação aos outros sentidos, pois para ele, este sentido acaba
modulando no corpo a possibilidade de uma única realidade (visível), racional e impossível de
construção de pluralidades e possibilidades.
É nesta dimensão da escuridão que o projeto Cartografias dos Espaços Sentíveis ganha
força, pois acaba inserindo, a partir da prática da deriva cega, novos significados a espaços
urbanos pouco percebidos por uma ordem menos visual e mais sensitiva, desta forma
reconfigura o posicionamento do corpo ao local experienciado e o espaço deixa de ser apenas
suporte e passa a constituir relações com o corpo que “se vê vidente, ele se toca tocante, é
visível e sensível para si mesmo”. (MERLEAU-PONTY, 2015. P 19).
Após os conceitos apresentados até aqui, apresentaremos agora como se deu a
metodologia utilizada e uma experiência realizada na cidade de Fortaleza.
Metodologia
Relato de experiência
Numa manhã qualquer do mês de fevereiro, fui convidado por uma amiga a executar
uma primeira prática do projeto Cartografias dos Espaços Sentíveis. Esta me levaria a um
espaço qualquer para, com os olhos vendados, experimentar este local a partir dos outros
sentidos. O local de encontro foi a casa desta minha amiga, lá vendei meus olhos, e de lá
partiríamos para o espaço a ser cartografado, que para minha surpresa e medo, fizemos este
percurso de bicicleta (ela guiando e eu sentado no varão). Ao sair já senti o imenso barulho dos
carros e o sol que apesar de não muito quente dava um calor à pele. Quando sentei no varão da
bicicleta pensei seriamente em desistir, mas num paradoxal sentimento de medo e confiança em
quem me sequestrava, decidi continuar.
Ao chegar no local escolhido percebi que estava rodeado de sons de carros, muita buzina
e um vento que a todo tempo mostrava que estes automóveis estavam passando muito rápido e
também muito próximo de mim. Meu espaço ali era delimitado, segurando com uma mão em
um poste, dei dois passos para a frente e me deparei com um desnível no piso que, pela textura
e barulho dos carros, indicava que eu estava numa calçada e esse desnível era a pista, dei mais
dois passos para trás e me deparei novamente com esse desnível. Naquele momento fiquei
curioso com aquela arquitetura que para mim era uma minúscula ilha no meio de uma pista,
não fazia sentido algum. Enquanto fazia essas ações apontei a câmera para os sons dos carros e
fotografei estes sons.
Arquivo Pessoal
Disposto a tentar entender melhor esse local, comecei a tatear o espaço, usei a mão
procurando uma parede, mas é em vão, não existem paredes, usei o pé e logo descobri que havia
um piso sensitivo para cegos, me abaixei e o toquei até confirmar esta hipótese, me levantei e
andei por cima do piso, para minha surpresa mal dei três passadas e este já havia acabado.
Decididamente estava num local muito estranho. Passei então a buscar um desenho desse
espaço, coloquei um pé na pista (desnível) e outro nessa suposta calçada e com passos curtos
circundei toda a estrutura. Percebi então que meu caminhar tinha formado um desenho de um
triângulo, tirei a conclusão que estava em um espaço no meio de um cruzamento onde as pessoas
esperavam para atravessar a pista.
Com alguns minutos ainda nessa estrutura, percebi que ela não estava num centro de
um cruzamento, mas um dos seus lados tinha a travessia mais rápida, consequentemente menor.
Percebi isso por conta de um alarme sonoro que os semáforos faziam, segui esse som e me
direcionei para a travessia que acreditava ser a mais curta, percebi durante esse processo que a
Mel sempre estava próxima e com certa preocupação vez ou outra informava: “Você só pode ir
até aí! A partir daí são os carros passando. ”
Minha amiga me levou a outro local próximo dali, então fui tateando o vento com as
mãos até esbarrar numa grade (informação totalmente nova para mim nesse momento), nesse
tatear percebi como essa grade parecia ser infinitamente extensa. De repente a imensidão da
grade foi interrompida por uma árvore, tateei e tentei abraçar essa árvore, percebi que ela
parecia ser enorme. Adorei sua textura, assim pus a câmera junto ao ouvido para escutar o
barulho do obturador e fiz uma foto.
Tateando a árvore percebi que a grade recomeça e que estranhamente parecia que tinha
dado uma volta no mesmo local, fiquei muito confuso nesse momento. De repente me deparei
com um miado no chão, fiz um carinho nele e fiz outra fotografia.
Arquivo pessoal
Sobre os cuidados de Mel, fui informado que a partir dali não poderia mais continuar
sob o risco de esbarrar em muitas pessoas e objetos. Fiquei curioso e com vontade de continuar
o percurso, mas a obedeci. Após atravessar um dos lados da pista, estava num novo espaço que
parecia ventar mais, tinha mais sombras e menos barulho de carro, ouvia barulhos de pássaros.
Comecei a tatear, me deparei com uma parede baixa com uma grade em cima dela que assim
como a anterior parecia ser muito extensa, fui tateando, tateando até encontrar um portão, o que
me animou, pois parecia que finalmente entrava no interior de alguma casa. De fato, estava
entrando em alguma residência ou repartição pública: um corredor com um piso muito liso,
alguns arbustos o que indicava ser o jardim e um banco de praça que me deixou extremamente
feliz por naquela altura poder finalmente sentar. Após alguns poucos minutos de descanso
naquele banco, continuei o percurso pelo corredor de piso liso, me deparei então com uns
degraus e bati a cabeça num enorme vidro, após tateá-lo descobri que era a porta, entrei, mas
rapidamente sai. Por fim informei a minha amiga que poderíamos voltar. Na sua casa
conversamos sobre a experiência e, ainda sem saber onde estava, desenhei o mapa. Após isso
olhei as fotografias que havia feito: o resultado mostrava que a maioria delas estavam muito
brancas devido à superexposição, assim foi impossível saber o local. Preferi assim.
Arquivo Pessoal
Conclusões
Dentro dessa vivência é possível perceber como o corpo constitui relações com o
espaço, com os outros e consigo mesmo a partir de visualidades3 construídas pelos outros
sentidos. Estes espaços mesmo sendo sentidos em sua materialidade, são reconstruídos a partir
das sensações. Os cheiros, escutas, sabores, texturas se tornam elementos fundamentais para a
construção e reconstrução afetiva dos ambientes e as relações conviviais desta prática estão a
todo tempo dialogando com as sensações, os perigos e as descobertas desse espaço a ser
cartografado. As fotografias por sua vez se libertam de uma necessidade exacerbada de
tecnicismo e de representação e evidenciam mais fortemente uma experiência vivida, bem
como, devido a sub ou superexposição tornam o espaço como um lugar possível na sua
materialidade, mas também possível a narrativas, construções e reconstruções desse espaço.
Referências
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Ed. Vozes: Rio de Janeiro, 1998.
GUIMARÃES, Cao. Histórias do não ver. Ed. Cobogó: Rio de Janeiro. 2013.
3
O conceito de visualidade aqui está próximo da ideia de uma possibilidade (o que pode vir a ser) para
o visual, e por isso pode estar relacionado a experiências que não necessariamente são atreladas ao
sentido da visão.
Resumo
O artigo, tendo por base a condição degradante na qual se encontram os indígenas na fronteira-sul de
Mato Grosso do Sul (Brasil) com os países lindeiros Paraguai e Bolívia, e cuja realidade pode ser
ilustrada por produções artísticas de artistas indígenas, detém-se na discussão acerca de conceitos
fundamentais para uma crítica de base fronteiriça, como “opção descolonial”, “razão subalterna”,
“exterioridade”, entre outros. Ancorado numa metodologia de base bibliográfica tão somente, a
discussão ancora-se em pressupostos teóricos que vêm sendo discutidos por meio da publicação dos
Cadernos de Estudos Culturais (NECC\UFMS), bem como por publicações arroladas na forma de livro
por intelectuais da zona de fronteira-sul. Por fim, o trabalho, ao propor uma discussão assentada num
pensamento crítico fronteiriço, pretende pensar conceitualmente uma crítica biográfica fronteiriça que
vem se erigido dessa zona de fronteira pouco conhecida e estudada no país.
Palavras-chave: Crítica biográfica fronteiriça; pensamento fronteiriço; estética descolonial.
Introdução
1
Professor pós-doutor em Estudos culturais pelo PACC\UFRJ (2013); professor da Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul e tem várias obras publicadas, entre elas: Perto do coração selbaje da crítica fronteriza
(2013) e Michel Foucault: entre o passado e o presente, 30 anos de (des)locamentos (2015), este em coautoria.
Email: ecnolasco@uol.com.br
2
Faço alusão ao livro Habitar la frontera: sentir y pensar la descolonialidad (2015), de Walter Mignolo.
reposicionaram e emergiram com força. Nessa direção, entendo que não bastaram as boas
intenções discursivas, filosóficas, teóricas e críticas migrarem de Dentro (centro) para Fora
(fronteira) para começar a resolver o problema da condição do sujeito condenado (subalterno)
que sobrevive e pensa a partir do fora. Em uma leitura pós-metafísica, Juliano Pessanha ajuda-
nos a compreender a relação existente entre Dentro X Fora:
[...] se a metafísica da presença pensou apenas o Dentro, devemos, agora, começar a
pensar o Fora. E devemos fazê-lo não porque seja apenas uma novidade ou um
pensamento diferente no mercado das idéias. Não: pensar o Fora não é produzir mais
um pensamento para enriquecer o estoque da cultura, mas operar uma mutação na
nossa maneira de existir. Somos, hoje, eticamente forçados a pensar diferente,
porque estamos, pela primeira vez, numa situação capaz de perceber a violência e a
agressão que dormitavam no pensamento metafísico. (PESSANHA, 2000, p.102)
Numa visada pós-colonial, como a que estou propondo aqui, ainda não bastaria a saída
estratégica defendida pelo autor na medida em que pensar o Fora seria operar uma mutação
na nossa maneira de existir, ou seja, não basta, digamos, pensar o Dentro junto do Fora e o
Fora junto do Dentro: “lá onde está o Fora, que se leve o Dentro; lá onde saturou o Dentro,
que se leve o Fora.” (PESSANHA, 2000, p. 109) Não, não basta uma disjunção contínua. É
preciso assumir a pensar a partir da exterioridade, por exemplo, discursiva, e para fazer isso é
necessário uma opção descolonial. Vejamos, de acordo com Mignolo, o que significa e
implica pensar descolonialmente: “significa pensar a partir da exterioridade e em uma posição
epistêmica vis-à-vis à hegemonia que cria, constrói, erige um exterior a fim de assegurar sua
interioridade”, e “implica pensar a partir das línguas e das categorias de pensamento não
incluídas nos fundamentos dos pensamentos ocidentais”. (Apud NOLASCO, 2013, p. 118).
Os condenados da fronteira já reivindicaram para si o direito epistêmico de poder retrucar
“não, obrigado, mas não; minha [nossa] opção é descolonial” (Apud NOLASCO, 2013, p.
118). Por conseguinte, pensar descolonialmente significa pensar a partir da exterioridade ─ e
não mais tão somente a relação dentro x fora, centro x periferia ou até mesmo a partir da
postulação salvífica e messiânica de que o discurso moderno erigido nos centros hegemônicos
pode alcançar o sujeito que está fora e sua exterioridade ─ e por meio de uma abordagem
epistêmica subalterna porque, somente assim, pode-se perceber e entender que a opção
descolonial empregada criticamente revela “a identidade escondida sob a pretensão de teorias
democráticas universais ao mesmo tempo que constrói identidades racializadas que foram
Assim como Mignolo faz por todo seu livro, o filósofo francês, ao trabalhar a distinção
entre saberes disciplinares e saberes subjugados, estava preocupado em “questionar a própria
fundação do saber acadêmico/disciplinar e especializado”. (MIGNOLO, 2003, p. 45). Depois
de nos lembrar que a genealogia propunha a “união de ‘saber erudito e memórias’”, Mignolo
volta a citar Foucault, para quem o que a genealogia especificamente fazia era
[...] apoiar o direito à atenção dos saberes locais, descontínuos, desqualificados,
ilegítimos, contra as pretensões de um corpo unitário de teoria que pretendia filtrar
hierarquias e ordená-las em nome de um saber verdadeiro e uma ideia arbitrária do
que constitui uma ciência e seus objetos. (Apud MIGNOLO, 2003, p. 45)
cultural periférico de onde proponho minha reflexão crítica como agora, afirmei que
diferencial “também pode significar o modo como desloco (traduzo) as leituras críticas das
quais me valho, como a do próprio Mignolo pensada em inglês e dos Estados Unidos sobre a
América Latina, para pensar de forma diferencial a periferia em questão.” (NOLASCO, 2013,
p. 91). Enfim, é numa relação diferencial, de diferença colonial e não de “diferença” no
sentido derridaiano do termo, que podemos alcançar e provocar uma quebra epistêmico-
discursiva descolonial, como forma de rechaçar os postulados teórico-críticos do pensamento
crítico moderno e sem desconsiderar os direitos epistêmicos, biográficos e históricos dos
sujeitos “pensantes” condenados pelo sistema colonial moderno.
Tendo a fronteira-sul como lócus geoistórico cultural de minha discussão, cuja
paisagem se desenha por traços territoriais e epistemológicos, entendo que, mesmo que a
condição do intelectual da zona de fronteira não seja a de um “colonizado”, ou a de um
“condenado”, e que muito menos faça parte do povo subalterno em questão, como os
ameríndios, a condição sine qua non para se pensar melhor é a de se por na de um pensador
que pensa da fronteira e cujo lócus produz sua específica epistemologia, rechaçando, por
conseguinte ( o que não quer dizer ignorar), quaisquer resquícios de uma epistemologia
moderna assentada em conceitos estereotipados formulados do outro lado do atlântico.
Inclusive para pontuar, mostrar e discordar das forças e poderes, ingênuos ou equivocados,
que quase sempre os sujeitos subalternos passam a ocupar diante de sua representação na
sociedade, tal julgamento ou análise crítica deve ser feita tendo por base as especificidades de
uma epistemologia que emirja do lócus em questão. Em toda e qualquer situação, é de dentro
da exterioridade que o intelectual, seja ele condenado ou não, pode alcançar os “direitos
epistêmicos” pelos quais os sujeitos condenados mantêm sua consciência fronteiriça viva e
em ação cada vez mais. Por-se na condição de exterioridade é aceitar o risco de não levar na
bagagem os postulados conceituais pensados dentro de um sistema colonial moderno
preconceituoso, elitista e sumariamente excludente. De acordo com Mignolo, “el proceso de
desprendimiento requiere de um asentamiento epistemológico diferente que describo aqui
como la geo- y corpo-política del conocimiento y del entendimiento. Estas son las
epistemologias de la exterioridad y de las fronteras”. (MIGNOLO, 2010, p. 42 – grifos do
autor). Se, por um lado, não temos uma exterioridade nesse mundo capitalista da
modernidade, por outro lado, é bom que se entenda que não se trata de um fora ontológico,
mas, sim, de um fora conceitual criado pela própria retórica da modernidade, nos adverte o
crítico. O projeto moderno criou a exterioridade para se alimentar dela e, assim, melhor
eliminá-la. Produzir e se alimentar da exterioridade equivale a, para retomar a epígrafe de
Fanon deste texto, esvaziar o cérebro dos sujeitos condenados ao fora.
Vítimas do Epistemicídios
Bugres; muito pelo contrário, estou pontuando que tal crítica ignora esses dados pelo fato de
não levar em conta a condição e lugar de onde a artista se predispõe a pensar sua produção.
Em toda e qualquer circunstância, uma preocupação estética não se sobreleva nos Bugres.
Não estou dizendo com isso que a artista não teve tal preocupação. Pode até ter tido. Mas daí
atrelar sua produção aos valores presididos pela estética moderna, há uma grande diferença.
Sua produção traz uma herança colonial inscrita em seu corpo que, historicamente, passa pela
heterogeneidade específica da América Latina, incluindo, de modo particular, a cultura
ameríndia, passando pelos maias, incas e astecas. Toda uma cultura fronteiriça se desenha nos
vincos dos corpos totêmicos dos Bugres. Não é demais lembrar que a estética moderna
simplesmente ignorou tais culturas e suas respectivas produções culturais. Enfim, não
aferimos o conhecimento subalterno alojado no corpo dos Bugres se não nos predispusermos
a pensar por fora de toda a epistemologia moderna assentada nos postulados do grego e do
latim. Talvez, não por acaso, a mulher indígena e artista Conceição dos Bugres tenha,
valendo-se de uma prática ancestral, encoberto os corpos de sua “cria” com cera de abelha,
visando, assim, protegê-los de todo ato epistemicídio vindo de longe. “Aprender a
desaprender” (MIGNOLO) equivale a aprender a desencobrir os sentidos e os valores
modernos e estéticos que se incrustaram nos corpos, discursos e produções humanas, visando
alcançar as histórias locais e os loci de onde emergem formas outras de pensar aqueles que
foram sumariamente excluídos pelo sistema colonial moderno.
O quadro do artista plástico e filho de Conceição também não foge à regra e capta o
lado sombrio dos sujeitos (produção da mãe e dele e o lugar ocupado por ambos os artistas,
quer estejam retratados/consignados dentro do quadro, quer se encontrem fora, como o
próprio Hilton) enquanto vítimas ainda de um epistemicídio travestido pela rubrica da boa
amizade fraternal, ou das exposições patrocinadas pela Cultura do estado, ou até mesmo pelas
academias, além de toda uma divulgação massmediática que se arvora de um poder judicativo
equivocado e moderno. As marcas para uma discussão de ordem pós-colonial ou subalterna
ensaiam-se dentro, apesar de a obra encontrar-se numa situação de fora (exterioridade), da
própria produção artística, incluindo as sensibilidades locais e biográficas de Hilton e o lócus
geoistórico cultural de onde emerge sua obra plástica. Antes de avançar na discussão
proposta, devo pontuar que uma produção plástica como a de Hilton Silva demanda uma
consciência crítica acerca de um biolócus que atravessa sua produção de ponta a ponta, assim
como todas as demais produções culturais pensadas a partir da fronteira-Sul. Vida e obra,
vivência e experiência, trajetória do sujeito e atravessamento, errância e hospitalidade
ancoram e são ancorados pelos traços que se bifurcam e se entrecruzam na tela, lembrando ao
outro que a presença do biolócus (vida + lugar) traduz a natureza compósita e porosa da
fronteira que a obra plástica, de forma especular, sustenta como insígnia de um povo, de uma
língua, de uma cor e de uma epistemologia que resiste aos olhares imperiais que procuram
contornar com o saber, o valor e o discurso colonizadores o que não pode ser alcançado em
sua completude e complexidade étnica, plástica e conceitual.
Considerando que o artista filho Hilton retrata a casa, o espaço de trabalho da mãe
Conceição, percebemos, por meio de seu ato artístico, que ele retoma e consigna as
impressões deixadas por Conceição e recriadas por ele. Ou seja, o trabalho de Hilton, como
artista e filho, sinaliza o retorno dele a uma interioridade que, na verdade, pertence à
exterioridade excluída pela boa estética moderna ocidental. Aliás, é da exterioridade que fala
a obra do artista. Nessa direção, a obra de Hilton pertence e abre um arquivo fronteiriço sobre
o qual a razão e o pensamento modernos não chegaram para abrir, por mais que tivessem boa
intenção, inclusive estética. Somente uma leitura assentada na opção descolonial e que
propusesse um aprender a desaprender (MIGNOLO) poderia alcançar o lócus e o bios de
onde se erige todo o projeto subalterno do artista fronteiriço Hilton Silva.
Em Mal de arquivo (2001), Derrida nos lembra que o sentido de “arquivo” vem do
arkheîon grego e significa uma casa, um domicílio, um endereço, lugar onde os magistrados
de reuniam. (DERRIDA, 2001, p. 12) O quadro de Hilton consigna o a casa de Conceição, o
lugar em que ela trabalhava, ali onde as coisas de fato começavam. Longe de endossar o
conceito etimológico do arkheîon grego, o arquivo que a obra de Hilton abre começa na
fronteira-sul (físico, geográfico e, sobretudo, epistemológico), lugar onde os deuses
subalternos, ou artistas da fronteira comandam e propõem as leis específicas de sua casa e de
sua obra. Se o arquivo, como quer o filósofo, guarda a idéia de consignação, de reunião, então
podemos ver que Hilton, no quadro destacado, consigna de tudo, desde Bugres, achas de
lenha, santos, vela, quarto da mãe, fauna e flora, serrote, facão, machado, objeto pessoais,
entre outros, como forma de, assim, erigir um corpus biolócus que configura a condição de
subalternização na qual se encontra seu povo e, ao mesmo tempo, põe em funcionamento uma
epistemologia capaz de desvelar as histórias locais enterradas vivas pelo sistema colonial
moderno imperante na fronteira e nos trópicos latinos.
As belas impressões desarquivadas pelo filho sobre a mãe no quadro, se, por um lado,
denunciam a prática de um epistemicídio frequente, por outro, remetem o outro para
“memórias da morte” enterradas vivas e histórias locais subalternas e esquecidas que
precisam ser desarquivadas nas discussões contemporâneas, sobretudo nos lugares de onde
essa produção cultural e artística está emergindo na sociedade. O arquivo que a obra de Hilton
propõe e abre, diferentemente do conceito de arquivo moderno (DERRIDA), parece não
sofrer do “esquecimento”: ele não faz outra coisa senão lembrar-se (manter viva) o tempo
todo de sua história familiar ignorada pelos postulados da memória moderna ocidental. Se,
por um lado, Derrida, relendo a psicanálise freudiana, afirma que “não há arquivo sem um
lugar de consignação, sem uma técnica de repetição e sem uma certa exterioridade. Não há
arquivo sem exterior” ( DERRIDA, 2001, p. 22), por outro, uma produção artística subalterna
como a de Hilton Silva, produzida exatamente na interioridade da exterioridade não
contemplada pelo arquivo do mal, vai nos mostrar e comprovar não sofrer de nenhum mal de
arquivo, de nenhuma pulsão de morte, de nenhum esquecimento, nem muito menos trabalhar
contra seu próprio conceito de arquivo, entrevendo, por conseguinte, que toda a discussão
acerca da subjetividade proposta pela psicanálise freudiana não alcançou a exterioridade, na
qual essa produção artística se situa, e cuja exterioridade pode ter sido reforçada também
pelos postulados da ciência do desejo do século 20 no ocidente e em quase todo o resto do
mundo.
A exterioridade está plasmada dentro do espaço biográfico que a obra de Hilton Silva
e a de Conceição dos Bugres amalgamam e consignam, como forma de barrar toda e qualquer
discussão crítica assentada nos postulados de uma estética moderna elitista, dualista,
excludente e conservadora. A partir de um olhar crítico assentado numa opção descolonial e
numa epistemologia fronteiriça, por exemplo, a exterioridade torna-se interioridade, isto é,
exatamente a compreensão daqueles traços do bios, as sensibilidades e as histórias locais não
alcançados pelo sentido produzido por uma política do discurso do dentro. O quadro de
Hilton parece nos mandar de volta para casa, para a fronteira, parece nos lembrar de nossa
condição fronteiriça, advertindo-nos em nossos ouvidos: “No, gracias, pero no; mi opción es
decolonial” (MIGNOLO, 2005, p. 217).
A plêiade de Bugres esculpidos por Mariano Neto retoma a linhagem dos Bugres
feitos por Conceição e continuados por seu esposo, mais os realizados pelo próprio Hilton
Silva. A genealogia familiar indígena mantém viva a plêiade de Bugres esculpidos e inseridos
no mercado e na cultura do dinheiro de nossa época. Mas não quero me deter em nenhuma
questão atinente a valor, seja ele econômico ou estético, apesar de entender que os Bugres
esculpidos por Mariano vêm preenchendo e estendendo o lugar outrora ocupado por todos os
demais Bugres esculpidos anteriormente. Por seguirem a pegada do bios e do lócus fronteiriço
incrustada em seu próprio corpo, os Bugres de Mariano Neto também barram os conceitos
racializados e patriarcais, como os de identidade e de estética, e propõem uma visada
descolonial sem precedentes na cultura local fronteiriça da capital Campo Grande, onde são
esculpidos, e de toda a fronteira-Sul. Se aos olhos do estado, do mercado e do mundo turístico
da região eles não passam de enfeites de geladeira e de souvenires exóticos levados para
longe, a política identitária, ou melhor, a “identidade em política” (MIGNOLO) proposta pelo
trabalho de Mariano propõe um aprender a desaprender que balança a razão moderna e seus
valores estéticos imperiais que grassam na capital e no cerrado. O diálogo ininterrupto que os
Bugres de Mariano mantém com os demais Bugres da família escava um lugar específico para
um fazer artístico que é correlato a um fazer descolonial, como forma de manter na
opção/ação a herança de um pensamento ameríndio, ou fronteiriço, advindo da fronteira-sul.
Somente uma epistemologia fronteiriça pode captar o projeto descolonial que vive nas mentes
dos artistas da fronteira e gravado na memória dos corpos talhados e encobertos
propositalmente com cera para que sua identidade não seja maculada por teorias democráticas
e universalizantes. É de uma consciência bugresca fronteiriça que fala os Bugres de Mariano
Neto3. A vida “natural” exuberante, de um lugar onde Arte aqui é mato (tudo é considerado
arte), mais a profunda memória subalterna e toda a cosmologia ameríndia de seu povo
ancestral latino e mais a própria língua vividas pelo artista e amalgamadas dentro de sua
produção artística oferecem-nos a possibilidade de compreender o lugar e a memória de quem
3
Acerca de uma Poética Bugresca, ver a tese em Artes de Marcos Antônio de Oliveira, intitulada Paisagens
biográficas pós-coloniais: retratos da cultura local sul-mato-grossense, defendida no Instituto de Artes da
UNICAMP em 2014.
se é (ser) e de onde se está (estar) (Ver MIGNOLO, 2008, p. 303). Os Bugres e sua memória
bugresca, Mariano e seu fazer sinalizam uma discussão estética conceitual aberta ao pluri-
tópico e ao pluri-versal, e não mais ao mono-tópico e ao uni-versal nos quais estava assentado
todo o pensamento filosófico europeu, incluindo a estética, posto que sua herida abierta
(ANZALDÚA)4 continua a sangrar por todo o mundo de forma “diversa e diversificada”.
O epistemicídio indígena operacionalizado no estado pelas forças latifundiárias,
estatais, discursivas e epistemológicas tem a cor matizada e vermelha, contrapondo-se ao
crepúsculo da fronteira e ao sangue derramado no campo pela luta por terra. Aqui na fronteira
a ferida colonial está aberta e os povos indígenas não habitam suas terras prometidas. Os
Bugres esculpidos na cidade trazem a marca dessa herança cultural esculpida em seus corpos
e seus vincos simbolizam essa ferida aberta que nem sangra mais. Os olhos vazados dos
Bugres apontam a direção de uma epistemologia outra que capta e traduz todo seu bios e seu
lócus, suas sensibilidades e histórias locais, ao mesmo tempo em que barra o olhar imperial
advindo da epistemologia moderna que não fez outra coisa senão castrar a diferença colonial.
REFERÊNCIAS
ANZALDÚA, Gloria. Borderlands: la frontera ( the new mestiza). São Francisco: Aunt Lute
Books, 2007.
DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Trad. de Cláudia de Moraes
Pinto. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
4
“The U. S- Mexican border es uma herida abierta where the Third World grates against the first and bleeds.
[...] Borders are set up to define the places that are safe and unsafe, no distinguish us from them. A border is a
dividing line, a narrow strip along a streep edge. A borderland is a vague and undetermined place a created by
the emotional residue of na unmatural boundary.” ( ANZALDÚA. Borderlands: la frontera (the new mestiza),
p.25.
NOLASCO, Edgar Cézar. Perto do coração selbaje da crítica fronteriza. São Carlos: Pedro
& João Editores, 2013.
Resumo
Como o processo criativo ajuda a refletir sobre si mesmo? E através de quê? As informações
que decorrem de caminhos escolhidos e decisões tomadas nos afetam? Como podemos pensar
o fazer artístico como um instrumento reflexivo de autoconhecimento? Como isso afeta a
produção? O que podemos compreender do campo sensível entre o criador e a obra? Será
possível autodesenvolver à partir do processo de experimentação e criação? A que caminhos
isso nos leva? É a partir dessas inquietações que o presente artigo continua a série de
considerações sobre a investigação entre artista e obra dentro da perspectiva construtivista de
um fazer artístico, enfatizando a proximidade entre vida, processo criativo e
autoconhecimento. O objetivo dessa pesquisa é conhecer e apresentar reflexões possíveis que
apontam para um desenvolvimento de si através da criação em processo. Para isso, este artigo
abordará o conceito de Autopoiesis de teóricos da biologia contemporânea como Humberto
Maturana e Francisco Varela (2001) como conceito operatório para pensar o processo do
indivíduo na relação sujeito e obra.
Palavras-chave: Arte-vida. Processos de Criação. Autoconhecimento. Autopoiesis
Início
Este artigo se trata de um desdobramento de uma série investigações sobre o assunto,
que foram e serão apresentadas em continuidade, feito um working in progress de um
trabalho artístico. Portanto, a análise gravita próximo ao território do autoconhecimento, da
experiência e autopoiese e suas vizinhanças, onde se faz necessário construir algumas
pontuações a cada comunicação, atualizando conforme o avanço da pesquisa. Como se trata
de uma continuidade, retomo a afirmação: “conhecer a si mesmo favorece o processo de
criação” como ponto de partida. Pois, durante o acontecimento da criação, algumas
1
Mestrando em Processos Criativos pelo Programa Associado de Pós-Graduação em Artes Visuais da
Universidade Federal de Pernambuco e Universidade Federal da Paraíba - UFPE/UFPB. Licenciado em Artes
Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Pesquisador em assuntos que abordam
filosofia, política, estética, poética e biologia em assuntos que abordam processo criador de autoconhecimento.
E-mail: jptavars@gmail.com.
2
A criação e a experiência não são fatores objetivos da mudança do indivíduo, justamente por não se tratar
especificamente da mudança de si, mas por estar inserido nesse processo, investigo a influência do fazer artístico
e o conhecimento proveniente deste lugar que, de alguma maneira, opera no subterrâneo subjetivo num processo
autopoiético.
3
O uso dos operadores cognitivos se deve à Edgar Morin, cujo autor propõe utilizar a operação de um conceito
para ampliar o pensamento em outras áreas. “Os operadores cognitivos facilitam a colocação em prática do
pensamento complexo. Fazem com que raciocinemos de outro modo e, com isso, permitem que cheguemos a
resultados diferentes dos habituais. Sua utilização permite estabelecer o diálogo entre os pensamentos linear e
sistêmico, isto é, facilitam a religação de saberes oriundos desses dois modos de pensar. Por isso, são também
chamados de operadores de religação” (MARIOTTI, 2007, p.1). A saber, Sandra Rey (1996), criadora da
metodologia das Poéticas Visuais, chama o mesmo processo de conceito operacional. A autora aponta que
“desde os procedimentos técnicos lançados na criação da obra, até a intrincada rede de conceitos estabelecidos a
partir desse fazer, a trajetória muitas vezes indica que precisamos realizar excursões em campos
interdisciplinares. A filosofia, a semiologia, a psicanálise, a literatura e mesmo a ciência contemporânea podem
nos fornecer excelentes conceitos para pensarmos nossa prática – se soubermos utilizá-los operacionalmente –
isto é, tendo o cuidado e a capacidade de entender estes conceitos em profundidade em seu contexto; e ao
transpô-los para nossa prática, estabelecer sim, as aproximações, mas também os distanciamentos”. (REY, 1996,
p.86).
sob o olhar estrangeiro. O objetivo desse empreendimento reflexivo envolve obter algumas
chaves para estabelecer algumas pontes entre o fazer artístico e o autoconhecimento.
A investigação do processo se trata também de perceber o acontecimento da criação
enquanto se cria sob função da poiética4, ou seja, o tempo presente requer bastante atenção
para desenvolver associações com o repertório de informações que surgem durante o
processo. Por isso, um estudo de um processo dinâmico de não-equilíbrio como esse também
exige uma escrita que atenda a falta de estabilidade desse processo, estando aberta portanto
para uma linguagem em gerúndio quando precise.
A forma de apreender conhecimento acerca desse tipo de aprofundamento cognitivo
no campo da criação, traz consigo obstáculos que advém dos diversos caminhos possíveis em
que o indivíduo pode aderir durante o processo. São eventos que precisam ser evocados,
experienciados, testados para que se possa partilhar de alguma informação. De todo modo, a
criação possui passos fundamentais que são próprios de um discurso poético e metafórico, do
qual me faz recorrer a palavras próprias ao processo ecológico/biológico como cultivo ou
gestação como medida de dar significado qualitativo à investigação de acordo e ampliar o
conceito de acordo com a potência do ato criador.
As perguntas já amadureceram um pouco desde o início da pesquisa quando se diz
respeito à reflexão sobre tais procedimentos operatórios. Questionamentos do tipo: Como o
processo criativo ajuda a refletir sobre si mesmo? E através de quê? As informações que
decorrem de caminhos escolhidos e decisões tomadas nos afetam? Como podemos pensar o
fazer artístico como um instrumento reflexivo de autoconhecimento? Como isso afeta a
produção? O que podemos compreender do campo sensível entre o criador e a obra? Será
possível autodesenvolver a partir do processo de experimentação e criação? A que caminhos
4
Neste conceito dado por René Passeron, o artista-pesquisador se debruça em prol de uma reflexão da conduta
criadora, tomando a consciência da própria atividade de criação com o intuito de construir uma percepção
construtiva. Segundo o autor, “a poiética não é a criação. É o pensamento possível da criação. Ela trata de
elucidar, tanto quanto é possível fazê-lo, o fenômeno da criação e, no mínimo, precisar sua colocação na
Antropologia. Dizemos que é, simultaneamente, ciência e filosofia da criação. [...] É uma obra que pretende falar
da instauração de obras. Ela se instaura como consciência de toda instauração” (PASSERON, 2004, p.2).
isso nos leva? É tentando responder esses questionamentos que procuro assinalar neste artigo,
alguns conhecimentos pertinentes adquiridos durante esses dois anos.
Para poder responder a primeira pergunta, antes de tudo, é preciso apontar os
instrumentos necessários para pensar o processo criador como meio de autoconhecimento. De
fato, é possível refletir sobre si mesmo durante o processo para além de uma abordagem de
crítica genética, e mais próximo de uma metodologia poiética de criação, onde o artista
também é pesquisador e, ainda assim, busca, feito um alquimista, a anotação dos sucessos e
fracassos durante seu próprio processo de destilação. Durante a minha pesquisa, encontrei
escritos e criações de artistas que se debruçaram sobre seus próprios trabalhos como, por
exemplo, Hélio Oiticica(1937-1980), Kandinsky(1966-1944) ou Paul Klee (1879-1940) e
outros, como André Severo (1974), com seu livro Deriva de Sentidos (2012), que criam
desdobramentos a partir da reflexão de seus próprios trabalhos. Todavia, ainda é preciso uma
pesquisa mais detalhada para encontrar nos trabalhos desses artistas indícios de um
conhecimento de si através dessas produções.
A reflexão sobre o trabalho decorre das decisões tomadas durante o percurso. Tais
decisões geram certas consequências, as quais são importantes tanto para objeto de criação
quanto para o artista que está em processo. Numa breve discussão mais específica, vale dizer
que, durante a gestação, muitas das escolhas são objetivas e racionais, outras, intuitivas e,
quiçá, existem as quais fogem de qualquer compreensão racional. Há casos também da
influência do meio que, se caso for reconhecido pelo artista, também será responsável por
fazer parte da configuração da obra, vide O Grande de Vidro (Fig. 1), de Marcel Duchamp
(1877-1968), por exemplo, onde é possível ver as rachaduras no vidro da obra, quando o
artista incorporou o acaso da queda como parte de seu trabalho, adicionando mais
informações semânticas acerca da reflexão.
Fig. 1- Marcel Duchamp (1877-1968). "O Grande Vidro" (La mariée mise à nu par ses célibataires, même ou Le
Grand Verre), óleo, verniz, folha de chumbo, fio de chumbo e pó sobre dois painéis de vidro, 272,5 × 175,8 cm,
Coleção Museu de Arte da Filadélfia. (1915-1923)
Fonte: http://museuvirtual.com.br/items/show/6
Em dado momento, quando me disponho a uma leitura pessoal sobre este trabalho de
arte, posso objetivamente levantar a informação de que as decisões adotadas pelo artista,
apresentadas na superfície da obra - e que a compuseram como um todo -, apontam para uma
característica de produção do autor. Por exemplo, logicamente, o fato de Duchamp aderir ao
acaso me informa uma marca artística, a qual não é só exclusiva dele, mas que, em princípio,
me informa algo sobre ele.
Embora utilize dos detalhes para levantar algumas informações sobre o autor, o fato de
refletir e investigar sobre a obra dos outros não é o foco de interesse neste trabalho, mas sim o
indivíduo diante de sua criação, observando os detalhes da obra em formação. Essas
pontuações durante a pesquisa indicarão para as decisões durante a experiência do fazer como
também põe em questionamento as escolhas do indivíduo. Desse modo, a consciência do ato
durante o processo criativo já suscita reflexões pertinentes sobre o trabalho, apresentando
diante do autor uma série de caminhos a enveredar. O caso de Duchamp, diante tantos outros,
serve de exemplo para ilustrar a reflexão sobre o artista através do olhar voltado para obra.
Mas, através de qual conceito podemos pensar esse tipo de relação entre sujeito e
obra? Percebo que a ideia de autopoiesis é pertinente para pensar como operador cognitivo no
campo das Artes Visuais. Esse processo de aprendizagem apresentado por esse conceito
criado por Humberto Maturana e Francisco Varela (2001) serve para pensar o processo
criador como meio de autoconhecimento durante a manifestação. Para tanto, cabe
compreender um pouco sobre esse conceito operacional.
do fazer, utilizando como plano de fundo a ideia do que já conhece a fim de conhecer essa
coisa outra que inaugura. O humano então, encontra-se com esse algo que está fora do campo
do visível, e que durante o processo vai se apresentando e tomando um corpo. De fato, esse
encontro5 do ser humano com sua criação se faz através uma consciência da presença em
experiência, estando atento às escolhas a fim de contribuir para a aparição, diferente do
resultado que possa surgir.
É por consequência dessa pergunta que, fundamentalmente, os autores defendem que
as bases biológicas do conhecer não podem ser entendidas apenas pela análise do sistema
nervoso, mas nas interações que estão envolvidas os seres vivos. “O fato de que o conhecer
seja o fazer daquele que conhece está enraizado na própria maneira de seu ser vivo, em sua
organização” (MATURANA; VARELA, 2001, p. 40). Diante disso, quando voltamos a
atenção para a produção artística, então podemos pensar que aquilo que funda a criação é o
fato de que o conhecer seja o fazer do experimentar, e é igualmente pertinente afirmar que,
em princípio, o ato de criação também se trata de um processo de organização. Nesse caso,
concordo com Sandra Rey (1996) quando diz:
5
O que está fora e o que é que, de fora, encontra-se também incluído dentro? [...] O encontrar-se é pois ao
mesmo tempo localização e acontecimento, o acontecer de uma inocência absoluta, de uma afirmação antiga do
ser como um “assentimento vital” sem faltas, antes de qualquer falta, qualquer culpabilidade, qualquer
ressentimento e qualquer reatividade. Sim, eu me encontro, sim, onde e como eu me encontro. É também, devo
dizê-lo, o sentimento próprio do experimento (DERRIDA, 2005, p. 63-64).
6
“Se na definição de Valéry a linguagem é ao mesmo tempo substância e meio para o estudo da instauração do
poema, poderíamos afirmar que, em se tratando de artes visuais, a forma, a plasticidade e a visualidade é o
suporte visível do pensamento e conceitos veiculados pela obra”. (REY, 1996, p.84)
2), do início do século XX, apresenta com clareza essa redistribuição e, que, a partir dela
podemos pensar numa série de produções posteriores que possuem uma citação direta às
proposições de Duchamp, como no caso do artista potiguar Jota Medeiros (1958-) (Fig. 3)
quase cem anos depois, com seu objeto-poema (2006), ou até mesmo produções da mesma
época que remetem a essa quebra de contrato com o sistema de relações tradicionais.
Fig. 2 – Marcel Duchamp. Roda de Bicicleta, 1913. (réplica de 1964) Readymade, roda de bicicleta montada
sobre um banco; altura: 132 cm, diâmetro: 64,8 cm. Milão, Coleção Arturo Schwars.
A noção de autopoiese não entra em conflito com o meio. Ao contrário, interage com
ele como operador cognitivo; interpreta a informação a partir de um ponto de vista singular.
Esse ponto de vista específico que possui o ser, é o que evidencia sua singularidade e sua
autonomia, sobretudo, criativa. Essa autonomia se localiza no conhecer a partir da
experiência, ou seja, essa gestão de si possui um sentido funcional, de ação mais imediata.
Vale dizer, que quando me refiro à noção de autopoiese, estou observando esse
fenômeno através de uma série de autores que fazem parte dessa pesquisa. Essa noção se
aplica à esfera de funcionamento de uma molécula, no entanto, cabe acrescentar que mesmo
nós, seres humanos, numa perspectiva macro, quando estamos conscientes de nossos corpos,
decisões e ações, devemos lembrar que mesmo além disso nosso corpo se organiza
autopoieticamente, sempre se reconfigurando a cada interação, independente de nosso
controle. Dessa maneira, é possível definir que o processo de autoconhecimento passa pela
experiência, pelo fazer e pelo conhecer que o fazer proporciona numa constante interação
entre sujeito e obra, como num jogo que perpassa por decisões, erros e acertos, retornos e
retoques com os quais o artista se depara durante o processo. Porém, sempre acontecerão
processos que transbordarão nossa própria atenção e é preciso então saber que algo sempre
escapa por entre os dedos, como por exemplo, a certeza de que projeto de arte sabe muito bem
onde se quer chegar – uma tarefa impossível para a arte.
Considerações
Durante o desenvolvimento da pesquisa, ainda permaneço minha atenção voltada para
a relação entre artista e obra, e ainda assim, interessado no conhecimento de si. Neste artigo, a
reflexão voltou-se para o contato entre o sujeito e objeto mediado pela experiência, com o
intuito de apresentar o conceito de autopoiesis para pensar o processo criador tanto da obra,
quanto de si mesmo. Entretanto, há outros caminhos possíveis para pensar sobre a relação
direta do indivíduo com a experiência dentro de uma práxis vital. Assuntos que se referem a
outras linguagens do campo das artes visuais são igualmente importantes para pensar o fazer
artístico como plataforma de autoconhecimento. Esses outros tópicos farão parte de outros
artigos investigativos.
Neste momento vejo que ainda há muitas perguntas que incentivam a pesquisa, pois
este trabalho se encontra em seu processo embrionário, levantando questões, buscando
informações e diálogos pertinentes através de teóricos que simpatizam com o objeto. Logo de
antemão, é possível perceber que há um grande horizonte pela frente, cujo esforço requer uma
análise minuciosa, sutil e delicada de seus fatores, internos e externos, à criação preservando a
observação de sua natureza caótica. Por outro lado, é preciso ter aprofundamento necessário
aos campos da cognição e da complexidade e, principalmente, a outros assuntos que gravitam
em volta do núcleo da pesquisa, como no caso da relação sujeito e obra, experiência, criação,
autoconhecimento, linguagem e utilização dos conceitos operacionais. Para que, em seguida,
este trabalho possa graduar-se em outro patamar, buscando linhas de força que somem a esse
processo a oportunidade de refletir diretamente os trabalhos e escritos de artistas.
REFERÊNCIAS
DERRIDA, Jacques. Gêneses, genealogias, gêneros e o gênio. Tradução Eliane Lisboa. Ed.
Sulina. Porto Alegre, 2005.
SEVERO, André. Deriva de Sentidos. Ed. Confraria do Vento. Rio de Janeiro, 2012
CORPO-PALAVRA
Resumo
Traçamos nesse trabalho um percurso para perceber as relações entre arte e cultura no pensamento
corpo-palavra, tendo como mapa a exposição itinerante Cartas ao Corpo, proposta pelo Laboratório de
Arte Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Falamos de nosso processo de
criação artística, que se inicia em uma prática pedagógica (como alunas, bolsistas de pesquisa e
monitoria) por meio da devolutiva dos alunos, com a entrega de cadernos para a disciplina Introdução
ao Estudo da Corporeidade dos cursos de Bacharelado em Teoria da Dança e Licenciatura em Dança.
A leitura dos cadernos torna presente o desejo de apurar um pensamento sobre corpo-palavra.
Entendemos que palavra e corpo se encontram como modos de se dizer ao vigorar da linguagem,
assim como cultura se faz no corpo e dimensiona suas possibilidades histórico-narrativas de
percepções do mundo. Tratamos de estados de correspondências, para uma criação artística, a
exposição é onde circulamos essas narrativas que se entrelaçam nesse espaço–tempo, nela se faz
possível múltiplos olhares e composições. É na encruzilhada que se dá a construção de narrativas.
“Cartas ao corpo” cria-se e estende-se nesse chão de pensamento que é contorno, mapa que se abre a
cada novo encontro em nossa itinerância.
Palavras-chave: Narrativa. Correspondência. Dança.
Introdução
Você me disse, enquanto te lia, que seu corpo nasceu de poesias. Tem ondas em
você. Só se consegue mergulhar fundo no corpo com dicionário? Apesar dessa
complexidade toda de ser poesia, é corpo criança, pequeno. Começa a entender o
que te dizem os movimentos outros. É mar profundo com vários fluxos de ti.
(J.M.S, Laboratório de cartas 3, 2015).
1
Doutora em Poética, na Faculdade de letras da UFRJ. Professor adjunto nos cursos de Bacharelado em Dança.
Bacharelado em Teoria da Dança e Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Coordenadora e pesquisadora no Laboratório de Arte Educação – LAE/UFRJ. E-mail: m_ignez@oi.com.br
2
Graduanda em Educação Física Bacharelado pela UFRJ. Integrante do Laboratório de Artes Educação - UFRJ.
E-mail: isabelapeixoto9@gmail.com
3
Graduanda em Dança Licenciatura pela UFRJ. Integrante do Laboratório de Artes Educação - UFRJ. E-mail:
juliamatiassilva@gmail.com
4
Graduanda em Educação Física Bacharelado pela UFRJ. Integrante do Laboratório de Artes Educação - UFRJ.
E-mail: thaisps49@gmail.com
5
Graduanda em Educação Física Bacharelado pela UFRJ. Integrante do Laboratório de Artes Educação - UFRJ.
E-mail: thaisps49@gmail.com
Abro teu corpo papelão, imerso em um turbilhão de palavras quase sem respiração.
Mapeio barcos e palhaços.
Pirata desbravador de mar que se lança no mistério das águas, na ação de caçar,
coloca-se na travessia, transpassa ondas para narrar suas histórias.
Narrativas que cruzam estradas retilíneas, na busca do circo viajante, do palhaço de
nariz vermelho arredondado, brincante de picadeiro, que reage no jogo de pernas e
braços um passo movimento, que coloca na tensão o leve ar que pesa no espaço.
(T.P.S, Laboratório de cartas 3, 2015)
Procuramos aqui tecer pensamento sobre corpo-palavra. Uma reflexão que nos dispare
ao processo de criação, pois, não temos a ambição de conceituar, e sim buscar na relação
corpo-palavra possibilidades da obra artística, obrar-se, operando sentidos e criando relações
entre carne e metáfora, para um fazer artístico cultural. E é justamente pela corporificação que
iniciamos o texto com cartas feitas por nós, pois esse fazer é o que relampeja a produção da
ideia corpo-palavra.
O que nasce a partir da palavra é muito maior do que ela significa propriamente. A
palavra é um entre:
"A palavra tem em sua formação o verbo grego para-ballen ('estar jogando junto a,
no entre'), de que se originou a palavra latina parabola, ou seja, em sua origem já é
possível entre-ver, entre-ler, entre-escutar possibilidades de jogo com a palavra e
tirá-la do lugar comum das massificações e regras gramaticais que vulgarizam e
aniquilam a criatividade." (GUIDA, Angela. Palavra. In. Convite ao pensar. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014. p.185)
que trazem em suas passagens o sentido de uma narrativa, um lançar de algo no espaço,
desenhando curvas, uma linha sinuosa que não liga diretamente um ponto a outro, lançando-
se a partir do corpo para os sentidos e subjetivações do mundo. A palavra é simultaneamente,
corporificação e mundificação, ao corporificar-se e mundificar-se deixa-se eclodir, não é
apenas a palavra que queremos, a palavra é a isca para um dizer.
“Então escrever é um modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o
que não é palavra. Quando essa não-palavra - a entrelinha - morde a isca, alguma
coisa se escreveu. Um vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar
a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não-palavra, ao morder a isca, incorporou-
a o que salva então é escreve distraidamente."
(Lispector, 1998, p.20)
A palavra como conceito, fecha uma significação e empobrece a leitura, mas, a palavra
enquanto corpo é abertura de questões, desdobramentos que possibilitam o ler no sentido de
ver o mundo como obra. Como obra é atravessamento que nos envia à travessia de um dizer
por meio das diferentes relações criadas, a palavra é o caminho para dialogar-se no mundo
enquanto corpo. Não é sobre o que ela escreve enquanto estado de dicionário e de gramática,
mas é sobre a possibilidade de escrita dinâmica e autêntica, a criação da palavra se dá na
experiência ela tem que ganhar ação, no corpo, no desejo de se dizer.
“Manoel de Barros, o poeta da ‘despalavra’ recorda-se, com pesar, do prejuízo que a
mera palavra-nome causou a sua época de menino. A mera palavra-nome fez
desaparecer o rio que passava em seu quintal, para a chegada da enseada: ‘[...] não
era mais a imagem de uma cobra de vidro/ que fazia uma voltar atrás da casa./ Era
uma enseada./ Acho que o nome empobreceu a imagem’ (BARROS,2010,p.303)”
(Guida, 2014,p.186)
Só posso dizer que uma mesa é uma mesa, pela experiência que deixa fazer no corpo,
sentido, na descoberta da existência do objeto e de suas propriedades, caso contrário a mesa
pode não ser, não ter sentido, não ser abertura de possibilidades. Reinteramos que a palavra se
faz no corpo, a mesa muda à medida que as experiências com ela se tornam diferentes. Corpo
é tensão, entre ser e não ser, é linguagem que nos permite a descoberta do entre-ver no
mundo.
Palavras, riscos, desenhos, objetos, em uma construção de uma escrita criativa na narrativa do
próprio.
Nosso processo metodológico para a leitura dos cadernos teve início com a construção
de uma tabela onde eram colocados os nomes dos alunos, período em que cursaram a
disciplina (2015.1 ou 2015.2), características físicas dos cadernos – para que a identificação
na prateleira seja mais ágil – e algumas observações sobre o conteúdo dos cadernos. Nessa
tabela também foram colocados os nomes das monitoras que vasculharam o material. A
primeira a ler o caderno era responsável pelo preenchimento dos campos descritos
anteriormente, cabendo às outras apenas marcar “ok” em seu nome para constar leitura. Ao
lermos os cadernos tínhamos em mãos uma ficha, que preenchíamos durante a leitura, como
um resumo, um fichamento, podendo conter nessa ficha impressões da leitora e trechos do
caderno. Aqui iniciamos um processo de experiênciação criando estados de correspondência,
que necessitam em sua prática a leitura como encontro de corpos, em um jogo de composição,
estabelecendo nas ações desenvolvidas um lugar onde o corpo se coloca em posição com as
coisas. Essa posição gera a ação como possibilidade de acesso ao corpo-mundo, na relação
com o outro em uma leitura que deixa rastros. Os rastros que se misturam no corpo criam
espaços de novas escritas e dão visibilidade a tessitura de um pensamento sobre arte e cultura.
Nossos corpos já são a palavra do outro e nossas primeiras palavras, nesse processo artístico,
já vieram de outros corpos, outras experiências, que de alguma forma também nos eram
corpo, à medida que participamos da construção de pensamento das ações propostas àqueles
corpos. Na correspondência há interlocução de experiências, trocas, diálogos, intercâmbio de
narrativas.
Como eu posso me fazer caber nessas formas? Nessas nossas experiências. Talvez
fique confortável quando não precisarmos mais caber. Ou quando caber for sempre à
lápis. Quebrou a ponta desestabilizou minha escrita."
(B.P. Laboratório de cartas 2)
conhecido, mas, que ganha novos contornos, detalhes, a cada novo narrar. Uma palavra que
aposta em outro lugar é outra palavra. Nesse sentido, Cartas ao corpo, como uma exposição
itinerante, ganha novas dimensões a cada lugar que habita. A encruzilhada das narrativas
também é circulo, pois, está no encontro das linhas um eixo para riscar com o compasso o
circulo. Na rua a encruzilhada é possibilidade de rotatória. Como caminho, espaço e tramas, é
na ida para o encontro de novos corpos e leituras que as obras se fazem e refazem em novas
narrativas, qualquer coisa entre eu e você se torna nós.
Considerações
Cartas ao corpo, até pelo nome, propõe uma leitura. Uma leitura que não estabelece
parâmetros de hierarquização e letramento dos sentidos sensoriais, para se ler mundo
precisamos do corpo inteiro. Ler-se na experiência corporal, a partir da exposição, criando
espaço de um corpo história na possibilidade de leitura de um corpo-a-corpo. Não é mais só
sobre o olhar, estamos criando território corpo: corpo história, corpo cultura, corpo arte.
Nessa composição o que pensamos é um estar em posição com as coisas, criar modos
de escrita e leitura a partir do corpo e do exposto, um posicionar-se que é tomar partido para
construção de uma narrativa no espaço e no tempo. O processo de construção é o atravessar-
se e o expor-se simultaneamente, dançar obra, dizer dança, obrar corpo, dizer corpo, não
existem mais limites para a Linguagem.
REFERÊNCIAS
CALFA, Maria Ignez de Souza. Corpo. In Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 2014. p.47-48
CALFA, Maria Ignez de Souza. Espaço. In Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 2014. p.79-80
FAGUNDES, Igor. Linguagem. In. Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
2014. p.137-138
FERRITO, Ronaldo. Literatura. In. Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
2014. p.139-140
FILÍPPOVNA, Verônica. Dobra. In. Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
2014. p.65-66
GUIDA, Angela. Palavra. In. Convite ao pensar. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014.
p.185-186
Resumo
A experiência artística na infância e sua capacidade de provocar a construção de novos
sentidos para o espaço do cotidiano são abordados a partir do relato e análise da
experimentação Corpo-Percurso. O trajeto corriqueiro da rua até chegar a escola é
[re]significado a partir da sensibilização do caminho através de materiais e proposições
expressivas. A experimentação artística vivida por crianças de 1 a 3 anos na disciplina de
artes visuais na Educação Infantil da Escola da Serra (Belo Horizonte/MG) é discutida a partir
de conceitos sobre o corpo, o desenho infantil, a concepção de mundo na infância e a
experiência artística e estética.
O caminho entre a rua e a escola para a criança pequena, traz em seu território o
desafio do deslocamento das terras conhecidas da família para o campo aberto ao encontro
com outras crianças, objetos, espaços e adultos. A partir do olhar e da reflexão sobre este
trajeto nasceu a proposição do experimento Corpo-Percurso, realizado em 2013, com
1
As palavras em itálico ligadas por hífens foram “criadas” pela autora e pontuam o estabelecimento de uma
relação, uma continuidade entre suas partes. A exceção é a expressão ser-no-mundo que pertence a Edmund
Gustav Albrecht Husserl (1859-1938). Husserl foi um filósofo e matemático alemão que criou e estabeleceu a
escola da fenomenologia.
2
Doutoranda em Artes pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas Artes da UFMG. Mestra
em Artes e Bacharel em Desenho pela Escola de Belas Artes da UFMG.
3
A autora é coordenadora de Arte e professora de artes visuais da Escola da Serra desde 2002, atualmente
encontra-se em licença para cursar o Doutorado.
O mundo da criança não possui fronteiras em seus continentes, e, por ser, ao mesmo
tempo, ele mesmo e o outro, suas vivências não assumem valores de representação: a criança
é. Com olhos para morar no desconhecido, a criança saboreia e se delicia com o mundo. O
olhar da infância habita e se torna morada para cada objeto encontrado. Os territórios férteis
da imaginação que habitam as crianças potencializam todos os encontros em possibilidades de
vir a ser: devir. Seu olhar torna o objeto seu espelho, e a criança ocupa seu espaço imaginário,
transformando-o em saber vivido, em saber corporificado.
Em Corpo-percurso o trajeto do cotidiano transformou-se em um campo de tessitura
do imaginário e do real. Ao potencializar de forma sensível o caminho corriqueiro através de
materiais expressivos que possibilitaram a [re]criação da travessia, Corpo-percurso provocou
os corpos-polimorfos das crianças a se metamorfosearem em infinitos corpos-travessia, a
criarem sentidos diversos e mutáveis para a ação de caminhar, de ocupar o espaço e de
transformar o movimento em grafia.
As linhas, manchas e grafias que surgiram em Corpo-percurso não são aqui
compreendidas como a representação de uma experiência, elas são parte da própria
experiência e revelam de maneira expressiva a travessia de cada criança. Ao desenhar, a
criança explicita na grafia sua relação de afeto com o mundo e com o outro. O desenho
infantil não se estrutura na representação: é uma manifestação viva da relação criança-mundo.
A criança é o desenho, e essa polimorfia expressa sua percepção das coisas, do outro e de si
mesmo. O desenho visto como expressão do espaço vivido permanece morada aberta para o
olhar e para a metamorfose.
É no desenho realizado pela criança que Merleau-Ponty encontra a melhor
expressão da percepção infantil. Ele mostra o modo como a criança vê e
percebe o mundo, não como uma cópia ou reprodução, mas como um fiel
espelho de sua afetividade e não de sua intelecção (GICOVATE, 2001, p.
10).
O mundo experienciado pela criança revela-se como espaço para o afeto: aberto e
inesgotável. Neste ponto, assemelha-se à experimentação do espaço vivida pela pintura
moderna: “o espaço sensível ao coração”. (PAULHAN, 1990, p.174). Expressar-se na
Olho os meninos chegando à escola. A trajetória percorrida entre a rua e sala de aula
revela mochilas que se confundem com os corpos pequeninos, abraços longos que tentam
tornar eternos os encontros, alegrias que habitam o corpo ao ver seu colega querido.
O desafio de fazer a travessia entre a casa e a escola e de entregar-se
desprendidamente ao exercício de experimentar o outrem desconhecido, instigaram reflexões
sobre o caminho corajoso que as crianças de 1 a 3 anos percorrem todos os dias para chegar à
escola. O desejo de tocar e transformar essa trajetória em uma experiência estética levou à
criação da experimentação denominada Corpo-Percurso.
Pensar em uma proposição como Corpo-Percurso só é possível a partir da concepção
da experiência artística como um espaço para a construção e de sentidos e de saberes na
infância que agrega em seu campo a emoção, o imaginário, o real, o corpo, a matéria
expressiva, a metáfora, a percepção, os sentidos e o pensamento. Segundo Dewey (2010) a
experiência estética possui um vínculo profundo e inseparável com o ato de criar, ou seja,
uma experimentação estética implica na construção de novos saberes e sentidos.
A experiência estética pode ocorrer em várias situações e áreas de conhecimento, no
entanto, no campo da Arte ela se diferencia devido à presença de um material potencialmente
expressivo. Na experiência artística o “material objetivo transforma-se no conteúdo e no
material da emoção” (DEWEY, 2010, p. 159), a relação estabelecida com a matéria à torna
uma matéria expressiva. A matéria é parte importante da experiência artística, pois ela é o
veículo para a construção da expressão. A [re]significação da matéria, na experiência artística,
se manifesta como uma construção metafórica associada à imaginação, aos sentidos e ao
intelecto.
Segundo Bondía (2002) a experiência é uma vivência encarnada que não pode ser
separada do seu sujeito. O corpo é a nossa matéria para ser-no-mundo, é em sua carne, sua
emoção e reflexão que podemos construir o sentido de uma experiência. O entendimento do
corpo como um espaço expressivo aproxima-o da obra de Arte (MERLEAU-PONTY, 2011):
em ambos, o que exprime e o que é exprimido não podem ser separados, estabelecem uma
existência contínua no próprio sujeito. Portanto, uma criança que estabelece uma relação com
a Arte através de vivências que possibilitem a investigação de objetos artísticos e materiais
expressivos amplia o espaço sensível e expressivo de seu corpo.
A Arte como parte pulsante do mundo ocupa o corpo estendido da infância e o
percorre trazendo deleite estético e ampliando as variações perceptivas do olhar. O espaço
expressivo da obra ou da experiência artística percorre o pergaminho sensível do corpo-
criança e juntos constroem novos sentidos para as coisas, para o outro e para si mesmo: a
experiência artística transforma o corpo-devir da infância em um território estético.
Corpo-Percurso foi estruturado como uma proposição de experimentação artística que
através de sua matéria potencialmente expressiva provocou o corpo, a percepção, o sensorial,
a emoção, o imaginário e o pensamento das crianças, tornando possível a [re]construção de
sentidos para o caminho percorrido cotidianamente.
A ideia da passagem, da travessia que percorre uma experiência habita o caminho a ser
vivido em Corpo-Percurso. O papel que conduz a travessia em Corpo-Percurso é contínuo,
ininterrupto como o tempo na infância, que traz o passado, o presente e o futuro sem tecer
suas bordas limitadoras, contendo em seu corpo todos os tempos do mundo. A superfície
branca e lisa do papel que se estende por muitos e muitos metros reinventa o trajeto rotineiro,
abre novas possibilidades de se percorrê-lo e conhecê-lo: o caminho do dia a dia se transforma
em um território desconhecido e aberto à construção de novos sentidos.
Imagem 1: Corpo-Percurso.
Fonte: PALHARES, 20134.
Para receber os gestos do corpo estendido da infância, pincéis foram alongados para
que pudessem caminhar, lado a lado, com cada criança que se propunha a encontrá-los. Na
trajetória do suporte branco, bacias e potes com tintas guache em cores variadas foram
disponibilizadas para quem quisesse experimentá-las. O desejo era transformar em grafia, em
mancha e pausa, o ato de atravessar o caminho, de fazer a travessia entre o espaço da rua e da
família para entrar no território desconhecido, onde a criança se encontra com seus pares e
caminha junto com outrem.
A travessia se transmutou em desenho, em imagem de um caminho percorrido em
terras oníricas onde habitam o visível e o invisível. As linhas narram e acontecem
4
As imagens presentes no artigo pertencem ao acervo pessoal da autora. As crianças retratadas tiveram o uso de
suas imagens autorizadas por seus responsáveis através de documento de autorização de uso de imagem
devidamente preenchido e assinado.
Imagem 2: Corpo-percurso.
Fonte: PALHARES, 2013.
Imagem 3: Corpo-percurso.
Fonte: PALHARES, 2013.
REFERÊNCIAS
BARROS, Manoel de. Compêndio para uso dos pássaros. In: MANOEL DE BARROS.
Biblioteca Manoel de Barros. 1ª ed. São Paulo: Editora Leya, 2013. v. 4.
______. Concerto a céu aberto para solos de ave. In: MANOEL DE BARROS. Biblioteca
Manoel de Barros. 1ª ed. São Paulo: Editora Leya, 2013. v. 10.
______. Livro sobre nada. In: MANOEL DE BARROS. Biblioteca Manoel de Barros. 1ª ed.
São Paulo: Editora Leya, 2013. v. 12.
______. Retrato do artista quando coisa. In: MANOEL DE BARROS. Biblioteca Manoel de
Barros. 1ª ed. São Paulo: Editora Leya, 2013. v. 13.
CALVINO, Italo. Coleção de Areia. Tradução Maurício Santana Dias. 1ª ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010.
DEWEY, Jonh. Arte como Experiência. Trad. Vera Ribeiro. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
646 p.
______. A prosa do mundo. Trad. Paulo Neves. 1ª ed. São Paulo: Cosac Naif, 2007. 249 p.
______. Fenomenologia da percepção. Trad. Carlos Alberto Ribeiro de Moura. 4ª ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2011. 662 p.
______. Conversas. Trad. Fábio Landa e Eva Landa. 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009-
a. 89 p.
______. O visível e o invisível. Trad. José Artur Gianotti e Armando Moura d’Oliveira. 4ª ed.
São Paulo: Ed. Perspectiva, 2009-b. 271 p.
SERRA, Alice. Arte e imagem sob os olhares da Desconstrução. Cult, São Paulo, n. 195, p.
38-43, 2014.
Resumo
Este artigo pretende refletir sobre a existência, a importância ou a própria ausência do corpo e suas
possibilidades dentro de um limite de tempo ou espaço pré-estabelecido. Trabalhar essa temática
contribui para a construção do indivíduo como ser social e agente transformador da realidade em que
vivemos. O projeto foi desenvolvido na Escola de Educação Básica São Judas Tadeu, em Lages-SC,
na turma do 9º ano 1, do Ensino Fundamental II, nas aulas de artes e em outros horários favoráveis aos
participantes. Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, envolvendo registros de diário de campo
transformados em cartografia. Enquanto arte, fizemos uso da Proposta Rizomática, propondo um
sistema de rede. A temática em questão envolveu arte contemporânea, conceitual e performática. Os
principais referenciais teóricos utilizados foram: Restany (1979), Glusberg (1987), Cohen (1989,
2003), Ramos (2001), Wood (2002), Minayo (2007), Flick (2009). Para ampliação dos conhecimentos
teórico-práticos foi realizado um workshop no Teatro Marajoara como experimentação de corpo –
espaço e tempo. Os resultados foram apresentados em dados visuais: fotografia e vídeo, editorados
com recursos específicos apropriados para versões em AVI e MWM, afim de serem socializados em
qualquer equipamento de multimídia e inseridos em um blog específico. A avaliação foi
instrumentalizada de forma processual. O projeto foi semifinalista no XVIII Prêmio Arte na Escola em
2017. Cada grupo foi protagonista da sua própria história e juntos aprendemos com as descobertas
que fizemos.
1
Graduada em Educação Artística – Habilitação em Artes Plásticas pela Universidade do Planalto Catarinense
na UNIPLAC/SC. Especialista em Artes Visuais pela UNIASSELVI/SC. Mestranda em Educação pela
UNIPLAC/SC. angelaartistaplastica@gmail
2
Doutora em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Professora do Programa de Pós-
Graduação em Educação na UNIPLAC. E-mail: miuxe@uol.com.br
3
Doutor em Antropologia Social. Professor no Programa de Pós-Graduação em Educação, na Universidade do
Planalto Catarinense, Brasil. E-mail: geraldolocks@gmail.com
4
Doutora em Educação e Cultura pela Universidade de Osnabrueck, Alemanha, com revalidação pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação na
UNIPLAC/SC. E-mail: mareligraupe@hotmail.com
Introdução
Para esta autora: Ciência, Técnica e Arte são os desafios da pesquisa social. Por esta
razão se faz necessário o uso de métodos adequados a tais abordagens. Flick (2009) vem ao
encontro deste pensamento, falando sobre a essência da pesquisa qualitativa, comenta que
estes aspectos consistem na escolha adequada de métodos e teorias convenientes; no
reconhecimento e na análise de diferentes perspectivas nas reflexões dos pesquisadores a
respeito de suas pesquisas como parte do processo de produção do conhecimento; e na
variedade de abordagens e métodos.
Entendemos que nesta pesquisa estaremos fazendo uma análise dos dados coletados
por meio de pesquisa qualitativa a partir dos dados visuais e também dos registros realizados
dos alunos tendo em vista as teorias estudadas e as práticas realizadas e por se tratar de
performance, a relação entre o que o performer sente durante a realização de sua obra e em
contrapartida: qual a reação das pessoas neste processo.
Salientamos ainda, que por se tratar de arte contemporânea e conceitual, o processo
como um todo é mais importante do que os resultados finais. Ou seja, as descobertas que cada
grupo fez no seu interim, somadas umas às outras, revelam no coletivo, uma aprendizagem
significativa, que poderá ser intensificada e gerar um novo fio condutor para um próximo
projeto.
Um dos méritos desta pesquisa foi a percepção sobre a identidade de cada aluno com
respeito a si mesmo e ao grupo a que pertence e quais as relações existentes entre o indivíduo,
o corpo, o espaço e o tempo.
Caminhos da pesquisa
Cada grupo com autonomia seguiu o seu caminho. Foram formados grupos por
afinidade. Cada um criou a sua estrutura interna de organização, tendo como eixo norteador as
ideias principais discutidas no coletivo e de que forma iríamos aglutinar teoria e prática. Em
debate, surgiu: Criando vídeocriaturas - da Performance à Multimídia, como sendo uma
criação Rizomática da turma e dentro dele, a proliferação de rizomas constituídos conforme a
condução de cada grupo. Vários rizomas funcionando dentro de um grande rizoma: uma “rede
rizomática”. Do macro, para o micro. Do ato criador individual, para o grupo. Do grupo, para
o Grande Grupo e deste para outros grupos que possam ser agregados. Os grupos definiram os
seus caminhos, fizeram suas pesquisas, determinaram suas escolhas, garimparam materiais,
tiraram suas dúvidas e a cartografia dos trabalhos foi sendo construída. As intervenções
públicas aconteceram enquanto performance. Os registros foram feitos pelo próprio grupo em
diários de campo e recursos midiáticos editados por eles.
As aulas foram realizadas na sala de aula convencional, na sala de artes, em espaços
adjacentes da Escola: Pátio, Biblioteca, outros. Os espaços da comunidade estiveram previstos
por alguns grupos, porém, de acordo com a cartografia estabelecida de cada núcleo, o espaço
O discurso do corpo
O corpo fala por si só, no tempo e no espaço, usando a sua própria linguagem: a vida.
Para Glusberg (1987, p.51): “a utilização do corpo como meio de expressão artística tende
hoje a recolocar a pesquisa das artes no caminho das necessidades humanas básicas,
retomando práticas que são anteriores à história da arte, pertencendo à própria origem da
arte”. O que interessa, segundo Glusberg (1997, p.53) é “decodificar os movimentos, os
gestos, os comportamentos, as distâncias, é colocar simultaneamente o espectador no tempo
do próprio artista”. É como se o espectador ao contemplar tais imagens, experimentasse viver
o ritual do seu próprio corpo.
O tema do corpo na arte é um fenômeno com valor desalineante, que une a produção
ao seu produto, ou seja, liga o corpo humano a seus comportamentos. Esta perda de
cisão e maniqueísmo teórico, pesquisada através de frondosos tratados de filosofia,
encontrou um antecipador genial: Pascal. De suas afirmações se induz que o corpo é
uma matéria moldada pelo mundo externo, pelos padrões sociais e culturais, e não a
fonte, a origem de seus comportamentos (GLUSBERG, 1987, p. 59).
Fica claro que o discurso do corpo está ligado a própria existência humana e ao
contexto em que este corpo está inserido. No início do século XX, os movimentos artísticos
utilizavam o corpo como mensagem, tanto na pintura, como na escultura ou mesmo em outras
concepções. Depois da década de 50, saindo da pintura convencional e enfatizando a action-
paint (pintura de ação), o corpo passa a substituir o pincel. Na década de 60, a arte ultrapassa
o objeto. Surgem Happenings e performances.
Wood (2002, p.22) salienta que “o jovem artista de hoje, não tem mais que dizer ‘eu
sou um pintor’ ou ‘um poeta’ ou ‘um dançarino’. Ele é simplesmente ‘um artista’. Todas as
instâncias se abrirão a ele”.
Segundo Cohen (2003, p. 1), em 1962, Georges Maciúnas denominou “Fluxus”, como
modificação, intensificando que este grupo pregava o mundo da loucura burguesa, da cultura
intelectual, profissional e comercializada. O mundo da arte morta, da imitação, da arte
artificial, abstrata e matemática. Tinham uma postura radical e subversiva. Causaram
impactos nos anos 60 e 70. Destruíram convenções para valorizar a criação coletiva.
Yoko Ono, foi uma das participantes deste grupo . Abrangeu pinturas didáticas,
músicas concretas, até performances. Fazia alusão do próprio corpo com relação ao
poder homem/mulher. Uma de suas obras: “Cut Piece”(Ono ajoelhada e homem
cortando pedaços de sua roupa). Vale a pena atar Joseph Beuys: “ajoelhando-se,
Beuys lentamente empurrou duas pequenas cruzes que estavam no chão junto ao
quadro negro; sobre cada uma das cruzes, havia um relógio com um alarme
ajustado. No quadro negro, ele desenhou uma cruz que então apagou, parcialmente,
embaixo, escreveu “Eurázia”. O resto da peça consistia em Beuys manobrando, ao
longo de uma linha marcada, uma lebre morta Cujas pernas e orelhas tinham sido
estendidas por longas e finas varas cobertas de lã preta. Quando a lebre repousava
sobre seus ombros, as varas tocavam o solo. Beuys moveu-se da parede para o
quadro negro, onde depositou a lebre. No caminho de volta, três coisas aconteceram:
ele borrifou um pó branco entre as pernas da lebre, pôs um termômetro em sua boca
ora desenhada a cruz agora parcialmente apagada e permitiu e assoprou para dentro
de um tubo. Depois disso, voltou-se para o quadro isão negro onde fora desenhada a
cruz agora parcialmente apagada e permitiu que a lebre puxasse as suas orelhas
enquanto ele próprio deixava um pé amarrado a um disco de ferro flutuar por sobre
um prato similar, colocado sobre o chão. Esse foi o conteúdo principal da ação. Os
símbolos são plenamente claros, e são, todos eles, possíveis de tradução. A divisão
da cruz é a separação do ocidente e do oriente, Roma e Bizâncio. A meia cruz é a
união europeia e a Ásia, em direção a qual a lebre está a caminho. O prato de ferro
sobre o chão é uma metáfora: o caminhar é difícil e o solo está congelado (WOOD
2002, p.24).
Beuys apresenta uma visão mais ampla da arte, uma noção antropológica que discute o
paradoxo: o habitat da arte e seu isolamento da sociedade X a solidão dos indivíduos
encarcerados no trabalho e em suas ocupações.
No entanto Glusberg (1987, p. 136), comenta que com a morte de Maciúnas também
foi marcado o fim do movimento criado por ele.
O fluxo foi uma espécie de Dada dos anos 60. Representou um movimento decisivo
da arte de vanguarda e marcou uma militância com todos os setores da criação
artística. Neste sentido, pouco importa que o Fluxus esteja vivo ou morto. A tarefa
importante é descobrir as inúmeras maneiras de que o Fluxus tenha influído na Arte
Contemporânea.
Se nos dias de hoje, crianças, adolescentes, jovens e adultos ousam estar no espaço
público apresentando suas ideias em forma de happenings ou performances, sendo críticos e
questionadores é porque um dia alguém plantou a semente da arte contemporânea e fez
germinar. Hoje estamos colhendo os frutos de uma arte que é vida e está presente no
cotidiano, sem precisar de categorização, sem ser apreciada em nome do “belo”, mas dando
espaço ao significativo, onde tudo é arte.
Happenings
Com a Untitled Event (Evento sem título), Cage se propôs a uma fusão original de
cinco artes: o teatro, a poesia, a pintura, a dança e a música. Sua intenção era
conservar a individualidade de cada linguagem e, ao mesmo tempo, formar um todo
separado, funcionando como uma sexta linguagem. Nesta obra Cage aplicava ideias
sobre o acaso e a indeterminação, que ele já vinha testando na música, nas suas
tentativas, junto com a bailarina Mercê Cuningham, de buscar uma renovação do
Balé (GLUSBERG, 1987, p.25).
Articula sonhos e atitudes coletivas. Não é abstrato nem figurativo, não é trágico
nem cômico. Renova-se em cada ocasião. Toda pessoa presente a um happening
participa dele. É o fim da noção de atores e público. Num happening, pode-se mudar
de “estado” à vontade. Cada um no seu tempo e ritmo. Já não existe mais uma “só
direção” como no teatro ou no museu, nem mais feras atrás das grades, como no
zoológico.
De acordo com Restany (1979, p. 251), é difícil definir happening, por se tratar de
acontecimentos e estes serem imprevisíveis, tanto para sorte quanto por acidente. Outros
autores também concebem a ideia de que o happening não prevê ensaios e preparações, ele
acontece. Diferente da performance que possui uma preparação e intencionalidade.
Performance
A arte da Performance tida como um gênero independente era utilizada por Futuristas
e Dadaístas como um meio de provocação e desafio, com intuito de romper a arte. Era algo
que não tinha lugar nas instituições. Cohen (1989, p. 26) evidencia que a performance
começou a ser associada como “acontecimento de Vanguarda”. O fato da performance se
realizar em locais alternativos tende a um maior espaço de improvisação. O mesmo autor
ainda afirma:
Algo precisa estar acontecendo naquele instante, naquele local. Neste sentido, a
exibição pura e simples de um vídeo, por exemplo, que for pré-gravado, não
caracteriza uma performance, a menos que este vídeo esteja contextualizado dentro
de uma sequência maior, funcionando como uma instalação, ou seja, sendo exibido
com alguma atuação ao vivo.
Tendo como base tais conceituações, existe uma maior aproximação com as artes
plásticas do que com as cênicas, evidenciando o seu hibridismo.
Body Art
Para Glusberg (1987, p. 42), o termo Body Art, assim como o termo Happening,
agrupa diversas tendências internas, que vão desde o esquematismo herdado da dança e do
teatro, até o exibicionismo do Grupo de Viena. Depois foi se expandindo pela América,
Europa e Japão, transformando o artista em sua própria obra.
Segundo Berger, citado por Glusberg (1987, p. 46), “o corpo, se não chega a se vingar,
aspira ao menos escapar da sujeição do discurso, que é um prolongamento de sua sujeição ao
olho. Não somos e nunca fomos criaturas falantes ou criaturas visuais, nós somos de carne e
sangue”. Conclui que a performance e a body art devem mostrar não o homo sapiens – que é
como nos intitulamos do alto de nosso orgulho – e sim, o homo vulnerabilis, essa pobre e
exposta criatura, cujo corpo sofre o duplo trauma do nascimento e da morte.
Desta forma se faz necessário conhecer outro artistas e as suas ligações com as
investigações sobre o corpo: Marina Abramovic (exalta qualidades plásticas). Acconci, Gina
Pane, Chris Burden, Linda Montano, Valerie Export, Wolf Kahlen (medem resistência).
Gordano Falzone, Bem D’Armagnac (energia). Acconci, Orlan (pudores e inibições sexuais).
Lucas Sâmaras (mecanismos internos) Brus, Muhl, Nitsch (potencial para perversidade).
Rainer, Acconci, Osvaldo Rosenberg (poderes gestuais). Bruce Nauman, Franz Erhard
Walther, Trisha Brown, Lucinda Childs, Laura Dean (Corpo e espaço) Dan Grahan Kaprow
(atista e público). Jean Otth, Benni Efrat, Buren, James Lee Byars, Jochen Gerz, Richard
Kriesche (fenômenos da percepção). Sandra Sandri (teleplásticos) .
Com relação as questões sociais: alienação, solidão, massificação, declínio espiritual:
Stuart Brisley, Bem Vautier, Vettor Pasani, Bob Kushner, Leopoldo Maler, Marta Mimijin,
Hérver Fischer. Na tríade performance/teatro/dança: Robert Wilson, Richard Foreman, Bruce
McLean, Ian Brea Kewell, Norman Jean Deak, Adrian Piper, Julia Heyward. No dueto
performance/ música: Giuseppe Chiari, Chartemagne Palestine, Fabrizio Plessi, Cristina
Kubitschi, Laurie Anderson, Joe Jones, Acconci, Vincenzo Agnetti ( GLUSBERG, 1987, p
47).
No Brasil é importante destacar Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape, artistas
neoconcretos que se empenharam na arte contemporânea enquanto arte sensorial e
significativa.
Videoperformance
Neste caso a hibridação produz um dado inusitado que é a criação de um meio novo
antes inexistente. Para Plaza (1997, p.65) os múltiplos meios não chegam a realizar uma
síntese qualitativa.
Considerações Finais
Aprender a aprender, é o essencial para que professores e alunos percebam que cada
um carrega consigo conhecimentos e saberes que são importantes e terão o seu valor a partir
do momento em que forem socializados e ajudarem a construir novas ideias e significações
coletivas. Assim como ninguém nasce sabendo, ninguém, sabe tudo e quanto mais pensamos
que sabemos, estamos longe do saber, porque ignoramos aquilo que ainda não sabemos. As
tecnologias são recursos que potencializam a aprendizagem dos alunos promovendo um maior
desempenho, interação, autonomia e criticidade. Ousar é preciso.
A avaliação foi processual individual, nos grupos, coletiva e na totalidade envolvendo
professora e alunos respectivamente. Foram utilizados vários instrumentos avaliativos e de
registro. Os objetivos foram atingidos. Ocorreram mudanças de comportamento.
Amadurecimento dos alunos. Perca de preconceitos e tabus. Outros desdobramentos no
contexto escolar. Valeu a pena fazer parte desta história.
Referências
FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. Tradução de Joice Elias Costa. 3. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2009.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 18.
ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
RAMOS, Célia Maria Antonacci. Teorias da tatuagem: corpo tatuado: uma análise da loja
Stoppa Tatoo da Pedra. Florianópolis. UDESC. 2001.
EDUCAÇÃO COLABORATIVA:
AS ARTES PERFORMATIVAS EM PERSPECTIVA
Resumo
O presente artigo refere-se a uma pesquisa de criação artística com alunos de nível superior provenientes
de graduações em dança e teatro assim como da pós-graduação em artes visuais. Para o desenvolvimento
da escrita, optou-se por delimitá-la ao estudo de um dos casos experimentados em grupo. Ao considerar
a complexidade e dinamicidade do mundo contemporâneo, esta proposta visou desenvolver um
procedimento metodológico de criação em performance arte com alunos que contemplasse a
interdisciplinaridade artística bem como as ações colaborativas. Deste modo, cada um dos alunos trouxe
propostas para o desenvolvimento de performances individuais, as quais foram apresentadas ao grupo
que, como um todo, contribuiu para a elaboração das mesmas. Assim, as ações colaborativas são
entendidas aqui como um fenômeno próprio dos dias atuais que reverbera em práticas de naturezas
diversas, incluindo a educação e as artes. Autores como Schneider e Rushan ofereceram suporte teórico
para concepção dos procedimentos adotados em laboratório de criação. Acredita-se que proposições
focadas nos processos colaborativos podem fomentar diversas práticas humanas contemporâneas aqui
pensadas sob a perspectiva da educação e das artes. Este trabalho recai sobre discussões que questionam
hierarquias, fornecendo, deste modo, um caminho possível para a desmistificação destes conceitos no
ensino das artes em nível superior, uma vez que neste ambiente estão os futuros educadores de arte.
Palavras-chave: Educação. Processos colaborativos. Performance.
Introdução
A multiplicidade de trabalhos desenvolvidos por grupos têm sido investigada nos dias de
hoje, em diversos âmbitos devido aos desdobramentos emergentes perante os desafios da
atualidade. Nas artes, por exemplo, os termos coletivo e colaborativo são provenientes da
diversidade de abordagens criadoras reivindicadas e adotadas nos grupos de artistas. Deste modo,
1
Bacharela em Dança pela Universidade Federal de Santa Maria. Mestranda em Artes Visuais no PPGART –
UFSM. Bailarina da Umbigo de Bruxa – Virações Artísticas. E-mail: camilamatz@hotmail.com
2
Doutora pelo Programa de Pós Graduação em Artes do Instituto de Artes da UNICAMP (2010), área de artes
cênicas. Professora no Curso de Dança Bacharelado da UFSM e no Programa de Pós Graduação em Artes
(PPGART/UFSM). Líder do grupo de pesquisas Performances: arte e cultura. E-mail:
giselabiancalana@gmail.com
depara-se com a necessidade de voltar um olhar para abordagens de ensino que contemplem este
modus operandi. O percurso investigativo atenta, ainda, para o fato de que
os grupos sociais são cada vez mais diversos nas sociedades contemporâneas. Esta diversidade,
por sua vez, esbarra na inter e na transdisciplinariedade que emergem dos trânsitos por campos
de saberes ora territorializados. São imprevisíveis e dinâmicas as conexões que se estabelecem
na arte contemporânea estimulada pelos trabalhos em conjunto. Portanto, este estudo repercutiu
sobre o trabalho artístico em conjunto nas artes performativas, especificamente, propõe realizar
um procedimento criador que absorve os pressupostos da colaboratividade no fazer educativo das
artes.O recorte foi o ensino superior que, por sua vez, está preparando futuros artistas e
professores de arte distribuídos pelos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Universidades.
Para tal, os estudos estiveram ancorados, primeiramente, nos referenciais bibliográficos sobre os
trabalhos em conjunto aqui referendados por Schneider (2007) e Rushan (2016). As ações
performativas foram desenvolvidas em aulaslaboratório e remetem-se, principalmente, os
pressupostos teóricos sobre a Arte da Performance extraídos de autores como, Goldberg (2002),
Taylor (2012), Phelan (1997), entre outros.
Sendo assim, o cruzamento de saberes entre educação e arte desvela o borrar das fronteiras
e orienta-se, particularmente neste estudo teórico-prático com alunos universitários, para um
olhar sobre trabalhos de criação realizados em conjunto na arte contemporânea. Sendo assim, a
principal questão residiu em como pode ser uma ação colaborativa aplicada nas práticas de
ambientes educacionais e como ela pode fazer parte da criação uma vez que se faz presente nos
modos de ser, estar e agir do mundo contemporâneo. É fundamental salientar, ainda, que este
trabalho não pretendeu ser um manual de atuação pedagógica colaborativa das artes
perfomativas, mas, fornecer um caminho possível entre muitas outras investidas criadoras que
venham a desabrochar nesta mesma perspectiva.
O presente texto irá discorrer acerca dos procedimentos aplicados à criação de um trabalho que
consistiu de uma exposição de Corpos-Arte em performance. As ações foram desenvolvidas a
partir de questões políticas escolhidas por alunos-artistas provenientes de cursos de dança, teatro
e artes visuais. Os elementos temáticos impulsionadores de cada performance da exposição foram
escolhidos pelo grupo individualmente e estavam ancorados nos obstáculos advindos de
universos diversificados tais como as lutas femininas, adversidades ambientais, polêmicas
oriundas do desenvolvimento da internet, decorrências de atitudes político partidárias,
resistências raciais, entre outras. O procedimento metodológico adotado consistiu, inicialmente,
da proposição de um espaço-tempo conjunto de investigação performativa no qual os trabalhos
dos alunos-artistas pertencentes ao grupo foram desenvolvidos. Este ambiente se organizou em
encontros semanais nos quais os integrantes, sob orientação da coordenadora, dedicaram-se não
apenas aos estudos e discussões acerca dos autores supracitados, mas especialmente discutiram
sobre o que poderia ser uma ação colaborativa na criação de performances individuais.
Desenvolvimento
No que se refere ao termo Performance, interessa o campo das artes como foco de estudo.
Sendo assim, este estudo não abarca a abrangência da palavra, nem os Estudos da Performance
shechnerianos, já mencionados em outras ocasiões, mesmo entendendo que este último também
se debruça sobre questões artísticas no seu amplo alcance conceitual e investigativo. Este trabalho
Estados Unidos. O pressuposto fundante é o entendimento do corpo como obra de arte. Seu
caráter experimental tem origem recente em outras manifestações artísticas precedentes como as
Vanguardas do início do século XX. Segundo Goldberg (2002, p. 7) este nome passou a ter
aceitação como meio de expressão artística por volta da década de setenta.
O não enquadramento estético destas manifestações artísticas opera na diluição de
fronteiras territoriais provocando as antigas formas autônomas do fazer. A atitude de incorporar
o improviso também se faz presente com a abertura para absorver o acaso. Em níveis inusitados,
a aproximação e mesmo a interelação entre arte e público aparece, ainda, numa atitude
deselitizante, pois promove o acesso ao destituir o museu e o teatro como império indiscutível
dos lugares da obra. Por outro lado, ela acaba por ter um viés elitizante ao apropriar-se de
princípios estéticos complexos da arte contemporânea de difícil assimilação. Em muitos
trabalhos, o público é instigado à participação ativa. Outra característica recorrente na Arte da
Performance é transcender a visualidade apelando para outros sentidos. Aparece, ainda, com uma
frequência massiva, um cunho transgressor político intenso, uma vez que suas obras exalam
subversividade intencionalmente artificial. Segundo Taylor, a Arte da Performance, como toda
arte, “por ser uma construção social, aponta para artificialidade, uma simulação ou ‘encenação’,
antítese do ‘real’ e ‘verdadeiro’. As suspeitas remetem as mesmas línguas de origem: ‘arte’ está
linguisticamente ligada a artifício.” (TAYLOR, 2012, p. 33).
O esclarecimento sobre estes termos reverbera nas atribuições dos modos de operar dos
grupos. O modo de compreender o ato criador na arte ressona nos contextos expandidos da arte
contemporânea e nos corpos-arte em suas relações com outros artistas e com o público. Abarcar
todas as ressonâncias supracitadas não faz parte dos objetivos deste estudo. Por este motivo, foi
necessário traçar um ponto de partida e delimitar a discussão. Neste contexto, optou-se por
repensar e clarificar a discussão sobre algumas hierarquias históricas. Torna-se fundamental
salientar que este estudo não consiste da tentativa de eliminar qualquer entendimento desta noção
sob o risco de recair no caos. Por outro lado, buscou-se pensar sobre o estabelecimento de outras
formas não autoritárias de hierarquias compreendendo-as mais pela sua funcionalidade que pelo
seu componente de poder.
A partir do século XXI, parece haver uma redefinição contemporânea das noções de
comunidade. Assim, surgiram os processos colaborativos que permitem a singularização dos
O colaborativo, então, seria mais que trabalhar em conjunto formando uma rede de
abordagens e esforços interconectados sem objetivar a neutralização do indivíduo diante de algum
tipo de ideologia comunitária como costumava acontecer nos coletivos. Há uma espécie de
coexistência que visa respeitar os encaminhamentos individuais.
Rushan (2016) ainda comenta o texto da boliviana Maria Galindo sobre esta postura
contemporânea do trabalho colaborativo: “Eu quero trabalhar com você porque eu posso falar por
mim mesmo”. Aqui não se trata de participantes constituindo um conjunto de membros operantes
do coletivo. Trata-se de exacerbar o confronto dos envolvidos e suas proposições individuais
entrelaçadas. Há um sistema de fluxo no qual as estruturas estáticas são evitadas.
A proposta foi que as ações criadoras do grupo fossem referendadas pela vivência com os
focos temáticos investigativos em pesquisa de campo. Esta prática estabeleceu as primeiras
formas de colaboração que foram trazidas ao laboratório. Aqui cada proposta sofreu o
atravessamento das sensibilidades dos outros alunos desdobrando-se em outras experimentações
e estimuladas, ainda, pelos objetos provenientes dos campos investigados e registrados em
diários. Neste contexto de trocas sistemáticas, cada performance foi adquirindo formas
inusitadas, algumas vezes incorporando o acaso.
A aluna A, selecionada como foco deste artigo, é discente do curso de mestrado em Artes
Visuais. De acordo com ela, o cruzamento entre diferentes áreas artísticas instigava-a desde os
primeiros semestres da graduação quando ela debruçou-se nas relações entre Dança e Teatro e na
investigação do potencial criativo da zona de intersecção entre estas áreas. Neste período, seu
conhecimento acerca da Arte da Performance ainda era superficial, mas esta manifestação
artística já despertava curiosidade justamente pelo seu caráter transdisciplinar. Com o desejo de
estudar mais a fundo sobre Performance, ela passou a participar dos encontros deste grupo e
buscar a pós graduação nas artes visuais.
Segundo a aluna, sua experiência no grupo permitiu que ela ampliasse sua visão sobre os
fenômenos artísticos ao aproximá-la, também, das Artes Visuais, área que até então ela não
possuía muito contato. Como consequência disso, ficou evidente a abertura de seus horizontes
estéticos e de criação. A nova perspectiva sanou lacunas de seu saber a respeito do campo de
conhecimento artístico viabilizando um fazer calcado no potencial criador destas zonas de
intersecção ressaltando o diálogo entre as artes característico da arte contemporânea e recorrente
na Arte da Performance. Deste modo, com um maior domínio acerca dos pressupostos teóricos
da Arte da Performance, ela passou a ser instigada a criação a partir de questionamentos e
inquietações pessoais. Segundo a aluna, “o fazer prático nesta proposta promoveu impactos
significativos tanto no que se refere às minhas investigações enquanto performer em laboratório
durante meus processos criativos, quanto no que se refere ao entrecruzar de saberes, tão
explorado na contemporaneidade, mas raramente experimentado na carne pelos alunos de arte.”
Neste contexto, a inter e transdisciplinaridade aplicada a processos criativos em arte se mostra
um caminho a ser percorrido. A arte, inserida no contexto acadêmico, voltada para os anseios e
inquietações da contemporaneidade e, especialmente, aquelas que se referem ao aluno de arte
enquanto corpo performativo norteou o modo de criação proposto. A aluna A considerou
importante que espaços como estes integrem o ambiente universitário ao compreendê-lo como
um meio propício para a realização de processos investigativos teóricopráticos que refletem o
contexto contemporâneo e os modos de ser, pensar e agir humanos neste universo trespassado
pela diversidade. A partir deste pensamento, ela buscou claramente em laboratório, situar sua
postura acadêmica criativa em um tempo-espaço no qual as fronteiras e territórios são
confrontados, repensados e expandidos.
No caso da aluna A, sua temática voltou-se para um aspecto presente no universo feminino como
mote da criação, a saber, o uso da pílula anticoncepcional, tida quase como uma imposição social
mesmo com os inúmeros prejuízos causados à saúde da mulher. Para iniciar a criação de sua
performance, ela foi em busca de assuntos que despertassem seu interesse percebendo que as
questões de gênero, mais especificamente referentes ao feminino, foram recorrentes em suas
pesquisas e criações. A escolha por este tema buscou questionar até onde a pílula
anticoncepcional pode ser realmente considerada uma libertação feminina e até que ponto ela não
se tornou mais uma das prisões impostas à mulher. A responsabilidade da contracepção recai
sobre a mulher e, no caso do anticoncepcional, pode acarretar danos sérios a sua saúde.
A partir deste estímulo inicial, começou a busca por informações sobre o uso de pílulas
anticoncepcionais que abordassem o tema para dar embasamento a criação da performance. Foi,
então, que ela teve acesso a estudos que apontaram a pílula anticoncepcional oral combinada
como sendo, nacionalmente, o método contraceptivo mais consumido pelas mulheres. O
surgimento do contraceptivo está diretamente ligado à história da liberação sexual e feminista,
na década de 1960 e, apesar da associação da pílula ao empoderamento feminino, parece haver
uma tendência que segue na contramão deste pensamento. Um grande número de mulheres tem
deixado de consumir pílulas anticoncepcionais buscando outros modos de contracepção devido
aos malefícios que podem vir a ser causados. Deve-se ressaltar aqui, que o trabalho não possuiu
o intuito de condenar o uso da pílula anticoncepcional e tampouco colocá-la como um veneno.
Buscou-se destacar a tomada de consciência dos prós e contras deste medicamento e seu uso
desmedido.
À medida que as questões temáticas ficaram mais definidas, a aluna começou a estruturar
formalmente a performance através da construção de matrizes de ações. Foi neste momento que
o material pesquisado começou a fundir-se às impressões de cada um dos alunos do grupo. Esta
etapa da criação trouxe a materialidade das pílulas em performance tendo em vista que,
consonante com o pensamento de GLUSBERG (1987), as Performances se apropriam de signos
– dos cotidianos aos mais complexos. Do mesmo modo, a aluna apropriou-se dos elementos
encontrados nos seus estudos para a construção de um discurso. Neste momento do processo, as
performances, ainda em fase inicial, foram compartilhadas com o grupo que, como um todo,
colaborou para a construção das obras através de trocas, impressões, sugestões e dúvidas.
Enquanto uma performance era apresentada, o restante do grupo funcionava como um olhar
externo verificando a coerência das organizações poéticas construídas em relação aos
questionamentos propostos. Desta maneira, a abordagem estética, os elementos formais
selecionados e suas ações performativas foram se transformando em decorrência destas
interferências.
Após as trocas estabelecidas com os demais integrantes, foi possível definir a ação performativa
que resultou em uma movimentação simples, evitando excessos de informações e tornando mais
clara a comunicação com o público. A partir desta visão, buscou-se explorar um discurso em
Foi deste modo que a aluna A encontrou na Arte da Performance um caminho para
experimentações artísticas orientadas a partir do corpo instaurador da obra. Sendo assim, as
questões referidas apontaram direções para a construção de uma poética para a investigação
artística de um trabalho de cunho político e inserido nos pressupostos da arte contemporânea. A
proposta deste trabalho consistiu, também, da investigação de um corpo
técnico/expressivo/comunicativo em laboratório de criação performativa que carrega estas
reflexões transbordando para a colaboratividade. A aluna A declara que, como aluna, sentiu, neste
modo de trabalhar, autonomia na condução de seu trabalho processual. Ao mesmo tempo
ressonavam em seu corpo as colaborações advindas dos colegas. Esta sistemática não anula
singularidades, pelo contrário, provoca ideias, pois está livre de comprometimentos subjacentes.
Considerações Finais
A Performance Arte, ao promover o trânsito entre artes, ao escapar das fronteiras rígidas
asseguradas historicamente pelas artes autônomas também subverte referências ideias,
comportamentos e valores cristalizados. Esta postura estimula uma atitude investigativa
alavancando processos educacionais e oferecendo suporte para construção pedagógica dos
saberes nesta área. O aluno em processo formativo em arte assume uma atitude artística que
depende da desconstrução do corpo-natureza e da reconstrução de si enquanto arte, impulsionado
No que se refere aos diversos modos de colaboração, por sua vez, a experiência
teóricoprática do corpo vai gerando um campo mais expandido na arte contemporânea, pois
permite atitudes de risco sem medo atuando em múltiplos níveis de funcionamento e organização.
As possibilidades diversificadas oriundas deste processo afogam estados de alienação e
massificação aos quais os seres humanos estão submetidos. Este fenômeno acontece
REFERÊNCIAS
Resumo
Este trabalho primeiramente quer investigar como a artista Frida Kahlo rompeu com o modo de fazer
arte que vinha desde o Renascimento e com seu próprio período Moderno e ainda quer discutir como
seu processo de criação autobiográfico contribuiu para que ela se configurasse na História da Arte
mundial. No entanto, após essa investigação, nossos olhos se voltam para o espectro de Frida Kahlo na
contemporaneidade no intuito de analisar as “impressões” que são transmitidas através dos corpos
dançantes no espetáculo “Dance & Concept\coreografia Kahlo” que também se tornam objeto de
criação poética pra dança. Para tanto, tomamos como base investigativa a perspectiva teórico-crítica
de Jacques Derrida, especialmente no livro Mal de arquivo (2001), que faz a persona da artista Frida
Kahlo ressaltar e sobreviver na contemporaneidade e pulsar para além-morte. Tal constatação dá-se
consciente ou inconsciente de quem fora Frida Kahlo, seja no olhar do espectador do espetáculo
“Dance & Concept\coreografia Kahlo”, seja na impressão deixada pela artista em seu arquivo durante
sua vida. Ou seja, agora através desses corpos dançantes tatuados com os vestígios deixados pela
artista, os corpos dos bailarinos vão fazer com que a persona da artista continue pulsante e a rondar o
imaginário cultural dos sujeitos na atualidade. Com este estudo, portanto, objetiva-se entender como a
pulsão de morte, percebida através dos corpos que dançam na contemporaneidade, das personalidades
marcadamente importantes da cultura mundial, ainda contaminam as produções artístico-culturais
quase de modo geral e contribuem como corpus poéticos, quase estéticos, com suas peculiaridades
identitárias.
Palavras-chaves: Corpus. Espectro. Sobrevida.
Introdução
Frida kahlo, a mulher que nasceu para si conhecer, se fazer e se sentir ao se pintar,
construiu quadros narrativos que hoje na contemporaneidade rompem com as molduras
impostas a eles e vão para além das artes visuais. Mas se voltarmos no tempo, veremos que a
1
Este trabalho é parte de uma pesquisa que o primeiro autor vem desenvolvendo como TCC – Trabalho de
Conclusão de Curso – do curso de Artes Cênicas da UEMS, sob a orientação do segundo autor, cujo título é:
“CORPOS ESTRANHOS: UM “KAHLO” PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA”.
2
Acadêmicos do 3º ano do Curso de Artes Cênicas da UEMS, Bolsista PIBIC/Modalidade Avançada
UEMS/CNPq – 2016-2017. E-mail: juliano.r.faria@hotmail.com.
3
Doutor em Artes Visuais, área de concentração em Fundamentos Teóricos pelo IA/Unicamp. Professor DE/TI
na Cadeira de Artes Visuais no Curso de Artes Cênicas e Professor Permanente do PROFEDUC na Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul – UUCG. É Líder do Grupo de Pesquisa NAV(r)E – Núcleo de Artes Visuais
em (re)Verificações Epistemológicas – CNPq/UEMS. Membro do NECC – Núcleo de Estudos Culturais
Comparados – UFMS e do Núcleo de Pesquisa Estudos Visuais – UNICAMP. marcosbessa2001@gmail.com.
artista veio rompendo com a maneira de fazer arte estabelecida com a constituição do
Renascimento quando ela opta por cores marcantes, por traços autênticos da sua história que
brotam da sua sensibilidade, não se valendo exclusivamente do domínio da técnica. Do
mesmo jeito, quando voltamos nossos olhos para o período modernista, época em que a artista
nasceu, percebemos que ela também rompe com o seu próprio período valendo-se da
(auto)biografia para se diferenciar dos outros artistas, buscando ser mais autêntica com ela
mesma. Frida vem do período Moderno que tinha como objetivo romper com a tradição
clássica que a arte sempre se ateve. Kahlo se expõe com seu ar de rebeldia e pulsa para além
do seu tempo se inscrevendo no mundo da arte aquém de temporalidades, inclusive para a
nossa atualidade. Neste sentido, Bessa-Oliveira nos lembra que:
lado sensível que temos. Podemos dizer também, escondemos nossa sensibilidade. Não a
deixando transbordar pelos nossos olhos, pela nossa boca, sair do coração. Muitas vezes
somos “secos” por termos medo de ser discriminados em nossa sociedade que age pela razão
e não pela emoção. Frida Kahlo demonstrou ser firme, mas uma mulher que nunca abandonou
o seu lado sensível, pois encontrou na sua sensibilidade biográfica uma temática que gerava
algo prazeroso à artista ao se pintar.
Ilustra a ideia que temos abordado até aqui a obra/autorretrato de Frida Kahlo abaixo
posta (Fig. 1), pois esta apresenta aspectos, como pode ser percebido, das pinturas clássicas:
por exemplo, renascentistas, na perspectiva longitudinal, bem como percebemos também as
características de paisagem da pintura Moderna. Entretanto, rompendo com ambos os
momentos históricos da pintura mundo afora, Frida Kahlo se inscreve na perspectiva clássica
e na paisagem moderna apresentando-se autobiograficamente em dois momentos de sua vida:
primeiro como uma paciente acamada em um dos seus momentos das várias cirurgias
passadas em vida; na segunda situação a artista se representa recuperada tendo nas mãos o
provável colete de sustentação da sua coluna pós-operada. Ou espécie de previsão do que a
(própria persona) viria a ser. Na mesma tela ainda é possível percebermos características
associadas aos surrealistas – movimento no qual ora a artista é inscrita pela crítica e
historiadores –, que tangencia as irracionalidades humanas, apresentado também pelo dia e
noite presentes no mesmo plano de tela que demonstra ainda dois momentos da vida da
artista: dia acamada sob o sol, noite curada em situação de desejo de liberdade dos males
medicinais.
Nesta mesma obra, apresentada na figura 1, Frida não vai abrir mão da sua biografia
de mulher, mexicana, artista, drasticamente marcada por acidentes, mas com muita arte e
muitas cores. Se por um lado a tradição se apresenta como pano de fundo na obra da artista,
nesta tela, cores e vida mexicana marcam presença e igualmente os trajes da artista,
presentificados em quase toda sua obra, por outro lado, demonstram que Frida nunca abriu
mão do seu lugar de origem embrionário e que, portanto, corrobora sobremaneira a relação de
vida-obra e obra-vida ou ainda de vida que se faz na obra. Por conseguinte, pode-se, portanto,
dizer que de Frida Kahlo não tem como distanciar uma coisa da outra como se fossem unidas
por um cordão umbilical que em qualquer momento pode-se cortar.
Fig. 1. Árvore da Esperança, Mantem-te Firme!, 1946, Frida Kahlo, Óleo sobre tela
contemporaneidade, dando um novo acesso à história da artista pela dança além do material
tradicional das artes visuais, por exemplo, já existente na contemporaneidade. O espetáculo
traz (ressuscita) uma Frida que muitas vezes não temos oportunidade de ver. Viva e altiva,
corpo movimento em constante relação consigo próprio e com o todo: a plateia. O espetáculo
faz (re)viver a persona que vemos posta nas telas da artista muitas morta-em-vida.
O arquivo da artista foi fundamental para a construção do espetáculo, pois os corpos
dançantes trazem fragmentos encontrados nesse arquivo pictórico-visual da artista para a
cena, por exemplo, nas obras: As Duas Fridas (1939), A Coluna Quebrada (1944), Árvore da
Esperança, Fique Firme (1946), entre outras. Graças às marcas deixadas por Frida Kahlo
podemos perceber no espetáculo as experiências vividas pela artista. Nessa perspectiva,
Bessa-Oliveira (2013, p. 157-158), se apoiando teoricamente em Jacques Derrida (2001), nos
informa que o rastro deixado pelo autor em suas obras é imprescindível para que o leitor
reconheça as experiências vividas pelo autor. Na dança o gesto assume o papel de nos
informar sobre Frida Kahlo: faz tornar mais íntimo e expressivo o movimento para tratar da
artista na cena. Já segundo Tadra (2010, p. 63) “[...] os gestos são alguns movimentos ou
formas assumidas pelo corpo que possuem significados próprios dentro das diferentes
culturas.” Os gestos dos quais os corpos dançantes se valem, em especial no espetáculo
“Dance & Concept\coreografia Kahlo”, fazem com que a artista pulse para além da sua morte.
Portanto, o espetáculo continua criando lindas/vivas imagens biográficas da artista para além
da sua morte em movimentos aos olhos do espectador; trazendo sobrevida para continuar
“vivendo após a morte, “através das marcas do que já se foi”” (SOUZA, 20163). Fragmentos
que estão presentes nos corpos dançantes “amigos” de Frida que registram a imagem do outro
“que acabam por herdar a morte/vida desse amigo” (BESSA-OLIVEIRA, 2013, p. 192),
tornando Frida uma “sobrevivente, aquela [que] atravessou uma provação na qual ela arriscou
a vida e que retornou dela vivo” (JACOB ROGOZINSKI, 2015, p. 55). Após “driblar” a
morte o espectro revive através dos corpos que compõem sua obra na cena, onde cada sujeito
pode gerar suas impressões e captar ou não as obras acima. Jacques Derrida ainda diz que:
3
Texto “Novo livro confirma atualidade de Jacques Derrida”. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/cultura/livros/novo-livro-confirma-atualidade-de-jacques-derrida-14956041- acessado
em:17/07/2017.
O filósofo afirma que Freud caracteriza as impressões que a circuncisão deixa sobre os
judeus, o mesmo podemos pensar que acontece na “coreografia Kahlo” quando os corpos vão
em busca dos arquivos da artista. Esses corpos saem do arquivo com “marcas na pele”, com
impressões desagradáveis, inquietantes e vice-versa; o mesmo pode ser dito dos espectadores
do espetáculo que a (Fig. 2) dirá por si só. A imagem ilustra um sentimento autêntico do meu
próprio corpo; eu Juliano que, desde criança, aos olhos dos outros transmitia e transmito
estranheza que incomodava e incomoda diversos sujeitos. Percebo através de uma ainda breve
observação com a pesquisa (2016) que Frida habita o meu corpo desde o dia que nasci em
10/07/1995. Todas as idas aos seus arquivos, sejam eles reproduções feitas por outros, sejam
em leituras dos livros sobre a artista, são para encontrar com suas esquisitices, mesmos sendo
impressões do outro, mas que fazem pulsar as minhas estranhezas que estão presas dentro de
mim. Frida é minha fonte de inspiração. Eu SouFrido!
do desejo de ambas as partes, dos sujeitos que colocam seus corpos à espera de marcas em
suas peles e da artista que “espera” a abertura de seu arquivo. Com a intenção de cometer
cortes, deixar cicatrizes no corpo do outro, Frida Kahlo e os corpos dançantes possuem o
mesmo desejo: (vi)ver um novo corpo nascer na cena. Um corpo que mesmo sem fazer sons
de arrependimento, porém corpos realizando movimentos, ora com a cabeça, ou ora com as
pernas, nos pés, na coluna, mas corpos com marcas das reverberações das ardências dos
ferimentos causados em seus corpos.
Além disso, os olhos do espectador também sofrem com as circuncisões causadas
pelos movimentos dos corpos dançantes que fazem pulsar lágrimas de sangue invisíveis. O
espectador não possui palavras nem voz para expressar o que sente ao ver aqueles corpos em
cena, ficando inquieto por estar fora, mas que por dentro grita, pede, necessita de um papel
para transpor sua impressão sobre os corpos que dançam. O espectador gera uma imagem
estranha através da expurgação exigida pelo interior do seu corpo. Já os corpos dançantes
realizam movimentos estranhos na cena pelo desejo infernal de representar uma agressão tão
desejada. Ambos são contaminados pelas mesmas sensações, tanto os corpos dançantes, como
o espectador, estabelecendo uma relação como a do corte do prepúcio que ocorre no pênis dos
meninos judeus, que através do corte liga a criança à sua fé. O espetáculo liga o espectador
aos bailarinos que por sua vez estão ligados à Frida pelo arquivo dela neles. É uma tradição
que carrega consigo a sensação de estranhamento e aproximação ao mesmo tempo. Nessa
perspectiva, os corpos que se valem/valerão de Frida, carregam ou carregarão o mesmo
estranhamento. Jussara Miller aborda a questão do corpo que dança após a busca do arquivo:
[...] o corpo que dança permite o sensível com toda a sua gama de possibilidades de
sensações e reverberações variadas de imagens e significados. Essas percepções são
incorporadas pelo artista em criação e ação cênica, a partir de suas vivências e
experiências, como tatuagens em movimento, revelando que o seu corpo é vestido
de seus vestígios. (2010, p. 96)
A imagem dos corpos dançantes provoca, ou melhor, me fazem pedir emprestado – eu,
Juliano que aqui conduzo “um” dos muitos arquivos de Frida –, por exemplo, o Diário de
Frida Kahlo que estava guardado no armário do professor Bessa-Oliveira. Pois, o Diário é
Dele e de mais ninguém, porém nunca se negou a emprestar essa joia. Foi a partir do
incentivo desses corpos dançantes que o Diário veio para melhor podermos compreender o
“espetáculo Kahlo” e, por conseguinte, o meu arquivo dela.
Quando Bessa-Oliveira abriu a porta do armário para pegar o Diário surgiu um mundo
de cores onde, feio é belo, e a cura e a dor são transformadas em figuras que limpam a alma.
Ao tocar no Diário tive a sensação de companhia, conforto e amizade com/em Frida Kahlo. O
mesmo pode-se pensar sobre o espetáculo dos corpos em cena. A partir da capa do “Diário de
Frida Kahlo: um autorretrato íntimo” entendemos que são dos corpos dançantes de onde vêm
a impressão dos movimentos estranhos; a cada “escavação” do “Diário” surge uma nova
imagem, uma possibilidade de interpretação. A imagem da capa do “Diário” é a mais
perturbadora, pois aguarda por alguém muito especial, que nunca chega, mas algum dia
chegará, sabe e insiste na espera em seu olhar fixo. Até então representa estar cravada nos
corpos dançantes do espetáculo esperando ainda pela pessoa que ama loucamente ou vai
amar. A mesma imagem irá aparecer novamente na página 114 daquele Diário íntimo de Frida
morta, revivida pelo espetáculo com seus espectros, intitulada: “Já vais? Não. ASAS
PARTIDAS”.
A figura 3 posta a seguir expressa o que tentamos afirmar anteriormente da imagem
ex-posta a esperar:
Fonte: Reprodução de Juliano Ribeiro de Faria do Diário de Frida Kahlo, (2015, p. 144-145).
Não tem como esses corpos do espetáculo não serem estanhos se herdam todos os
traços feitos por Frida, seja no desenho ou na palavra. Podemos pensar que foi a partir das
palavras marcadas por Frida que os corpos se construíram, criando formas de movimentos
para dar vida a esse novo corpo emaranhado de sensações diversas, do bem e do mal, que se
ex-põem em cena. Não podemos esquecer-nos das obras anteriormente citadas: As Duas
Fridas (1939), A Coluna Quebrada (1944), Árvore da Esperança, Fique Firme (1946) que
estabelecem relação com o “Diário”; as primeiras expressam o poder do olhar do pintor sobre
si mesmo; a outra possui o poder da escrita do íntimo – arquivos-mortos-vivos.
É improvável os corpos mergulharem no mundo de Frida e não saírem marcados,
tatuados com o poder que o “Diário” exerce sobre os sujeitos. Não será apenas um mergulho,
mas serão vários: pois se torna algo viciante, onde o Eu se transforma a cada arrepio,
causando-lhe a sensação de desconhecimento do seu próprio corpo. Assim, podemos pensar
que os corpos dançantes, ao reconhecerem suas estranhezas com as marcas de Frida, passam a
se apropriar da imagem/marca da artista. “O Diário de Frida”, no mais alto grau possível,
alcança a ideia de texto-vida ou de “Livro dos Mortos”, lembrando-nos da história da arte
egípcia. Mais um signo que carrega a poética da artista – uma obra que atravessa vida/morte.
Os corpos dançantes vão levar para a cena a loucura de um corpo com a intenção de
agredir corpos que se escondem por detrás de máscaras com suas loucuras e desejos. As asas
partidas, dos corações feridos, das bocas secas, das lágrimas de sangue, das peles suadas,
rejeitadas, que os corpos dançantes vêm para nos mostrar, que a partir dos traços feitos pelas
mãos do outro (fig. 3), podemos criar algo de belo por mais que os traços sejam tristes ou
carregam com eles o duplo sentido da palavra crueldade como Jacques Derrida (1995, p.159)
observa que em “certos espetáculos hoje criado sob signo de Artaud são violentos, mesmo
sangrentos, mas nem por isso são cruéis”. Sendo assim, basta termos afinidade com eles,
buscá-los e acreditar que esses corpos são nossos também. Isso nos faz refletir que muitos
devem achar que Frida era louca, porém, os corpos dizem que loucos são aqueles que não
sabem se expressar, amar e se valorizarem; fazer do seu corpo espelho da sua alma. Derrida
certifica ainda que quando assumimos o outro ele passa a viver em nós, com isso, não
sabemos se são os corpos que dão a resposta ou se é a própria Frida quem responde. Só se
sabe que o corpo estranho de Frida sobre-vive em meu corpo estranho.
Ao assumirmos Frida Kahlo em nossos corpos denegamos sua morte e passamos a dar
continuidade à sua vida/obra, negando seu falecimento em 13/07/1954, mostrando aos seus
admiradores que Frida está sobre-morta – viva – ainda que morta. Sobreviva, seja em mim,
Juliano, ou nos corpos dançantes do espetáculo “Dance & Concept\coreografia Kahlo”, ou
seja ainda em outros corpos-sujeitos espect(ro)adores. Frida Kahlo não estará morta enquanto
eu Juliano Ribeiro de Faria viver, lutarei pela sua sobrevida até mesmo tendo que publicar os
meus mais íntimos segredos de vida para além-morte.
Frida Kahlo está presente na contemporaneidade pelo seu jeito único de ser, pelo seu
modo de se vestir, pela maneira de/se amar, de desejar o outro, de escrever, de pintar. Ela foi
uma mulher intensa ao mesmo tempo selvagem, provocante, uma “poesia eternamente,
apaixonante, sensível” (ARTUD ANTONIN, 2006, p. 145) que nos dias de hoje se
materializa em “movimentos, expressões e gestos”. (ARTUD ANTONIN, 2006, p. 145)
SouFrida e Sofrida a imagem espectral da artista faz a sobrevivência do seu processo de
criação autobiográfico resistente até à contemporaneidade e, melhor impossível, sobrevive na
(re)produção como poéticas alheias do passado à atualidade. Ambos sem nenhum sentido de
vir a ser Frida. Roupas, acessórios, palavras, imagens corporais, maquiagem, iluminação,
entre outras muitas coisas, compõem e são compostas a partir da artista. Frida pode estar no
lugar/sujeito que ela quiser estar, seja no teatro ou na dança ou para além deles.
REFERÊNCIAS
ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. 3. ed. Trad. Teixeira Coelho. São Paulo: Martins
Fontes, 2006.
BURRUS, Christina. Frida Kahlo: pinto a minha realidade. [tradução Eliana Aguiar]. Rio de
janeiro: Objetiva, 2010.
DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Trad. Claudia de Moraes
Rego. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
DANCE & Concept | coreografia Kahlo. Direção de Alessandra Lange, Patricia Machado,
Juliane Engelharretta. Intérpretes: Alessandra Lange, Patricia Machado, Juliane Engelharretta.
Música: Dedé e Leleu. Curitiba: Clapper Produções, 2012. Son., P&B. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=-eCtSmy9BEA>. Acesso em: 02 mar. 2017
MILLER, Jussara Corrêa. Qual é o corpo que dança? Dança e Educação Somática para a
construção de um corpo cênico. / Jussara Corrêa Miller. –Campinas, SP: [s.n.], 2010.
TADRA. Débora Sicupira Arzua. Linguagem da dança. Curitiba: IBPEX, 2009. Cap.3, p.63.
ROGOZINSKI, Jacob. “Defunta morte: luto, sobrevida, ressurreição.” In: Alea. Rio de
Janeiro, v. 17, n. 1, p. 52-63, June 2015. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-
106X2015000100052&script=sci_abstract&tlng=pt > Acesso em: 19 jun. 2017.
Resumo
Este artigo aborda a história de vida e o processo de criação artística do artista plástico polonês
naturalizado brasileiro Frans Krajcberg, estabelecendo uma interlocução direta com a área da educação
em arte. Este é o aspecto sobre o qual discorre o texto, tendo como fundamento os conceitos
deleuzianos de territorialização, desterritorialização, reterritorialização e rizoma. O estudo aqui
relatado objetiva abordar a história de vida desse importante artista contemporâneo, de grande
relevância nos cenários ambiental, artístico e cultural, em níveis nacional e internacional, trazendo aos
leitores e estudantes novas possibilidades de refletir sobre a educação e as possibilidades criativas em
arte. Entre outros intercessores teóricos com os quais o estudo dialoga, estão Silvio Gallo e Hebert
Read. As reflexões aqui suscitadas propõem que comecemos a abdicar do discurso de poder e de
controle na educação, problematizando o ser/estar do homem no mundo como caminho possível para a
resistência contra a macropolítica opressora. É preciso levar em conta que tais questões não são fáceis
de serem abordadas e solucionadas; são polêmicas e, às vezes, contraditórias, mas podem ser postas
para reflexão, a fim de atenuar os problemas na área da educação em arte. Assim, a história de vida do
artista e sua poética aproximam-se do pensamento de Deleuze em educação, por possibilitar o contato
com o caos, que encontra possibilidades entre os fragmentos e cria potências de alternativas, de arte,
de educação, de vida.
Palavras-chave: Território. Rizoma. Arte.
Introdução
1
Doutor em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Artista plástico, professor de Arte e
gestor escolar na Secretaria Estadual de Educação do Espírito Santo. E-mail: uillian.trindade@gmail.com.
2
Pós-doutor em Educação pela Ufes. Artista plástico e professor do Centro de Educação da Ufes. E-mail:
cpcola@terra.com.br.
ecológicos que permeiam sua vida e obra. Entre outros objetivos, com o que aqui é relatado,
pretendemos afetar, produzir encontros, “fazer a língua gaguejar” para gerar linhas de fuga e,
consequentemente, contribuir para a área da educação, no sentido de trazer inovação e
benefícios para o coletivo, sejam alunos dos cursos de arte e educação, sejam leigos
interessados no tema. “Fazer a língua gaguejar” é um conceito deleuziano que propõe uma
resistência ao estabelecido; seria fazer de outra maneira, escapar do que está posto; apresenta
desequilíbrio, bifurca as ações, com mudanças contínuas de vibrações (DELEUZE, 1997).
Dito isso, acreditamos que Krajcberg tenha “feito a língua gaguejar” com os
movimentos criativos que empreendeu durante sua existência, ações revolucionárias que, com
o uso de material disposto pela natureza, coisas mortas, coisas menores, mostram a beleza, a
potência e também a violência que ela sofre. Gallo e Souza (2007) afirmam que o devir
revolucionário é molecular (flexível), atuando nas pequenas camadas, no plano de uma
microfísica do poder. A macrofísica, a política molar (dura), é do campo da dominação. Esses
autores consideram ser impossível a execução de ações políticas criativas e transformadoras
nesse campo, pois esse é o âmbito do Estado. Porém, podemos estabelecer confrontos,
resistindo dentro desse espaço, como um engodo que desestabiliza a linha molar (dura), como
se fosse uma virose na língua maior. Nesse sentido situam-se as intensidades criativas de
Krajcberg, que atravessam as políticas do Estado por meio de políticas menores, proliferando
devires menores: “poder maiúsculo que luta para manter-se; poderes minúsculos que lhe
escapam o tempo todo, proliferando diferenças e possibilidades (GALLO; SOUZA, 2007, p.
132). Destacamos que as indagações sobre a vida, a obra e o processo de criação de Krajcberg
constituem o ponto de partida para buscar desvelar o tema, suscitando questões sobre como
esses aspectos se relacionam com o trabalho do artista com e na natureza, problematizando-os
para socializar descobertas. Abordar a história de vida e o processo criativo desse artista a
partir dos conceitos deleuzianos pode corroborar a possibilidade de a educação abrir-se ao
novo, de criar seus próprios caminhos, de subverter os paradigmas por meio da arte. Durante
anos de diálogo que um dos autores deste texto manteve com Krajcberg a respeito de sua vida,
de seu trabalho com e na natureza, de sua defesa em favor da vida no planeta, ficou
perceptível o quão arrojado é esse artista e quantas provocações ele pode instigar. Até mesmo
ameaças de morte ele sofreu em suas lutas pelo meio ambiente aqui no Brasil, desde a época
da ditadura até os dias de hoje. Krajcberg é um homem rebelde, revoltado, não teme expor
suas ideias. É possível ver em suas atitudes o quanto são valiosas suas práticas artísticas e
políticas para a preservação da vida. Por si só, isso já justificaria sua relevância no âmbito
educativo. Formas de vidas inovadoras são essenciais como caminhos a serem observados e,
talvez, seguidos. Nesse sentido, sublinhamos a grandeza da história de vida de Krajcberg, que,
além da coragem e resistência, é permeada, principalmente, por resiliência, característica
fundamental para compreendermos seus processos criativos. Essa característica se desvela em
sua sobrevivência à II Guerra Mundial, mesmo enfrentando grandes adversidades, com
traumáticas rupturas que ocorreram no seio de sua família, a qual perdeu no campo de
concentração. Em seguida, buscou reconstruir sua vida. Ao emigrar para o Brasil, o artista viu
na natureza motivos para recomeçar. Esse bom encontro foi potencializado pela junção da
arte, que sempre foi intrínseca a seu espírito, com o novo território, tanto no sentido
geográfico, quanto no sentido proposto por Deleuze (1997).
[...] Trata-se do fato de que as próprias vidas dos biografados tanto assimilam quanto
resistem aos paradigmas, traduzíveis na expectativa da sociedade em relação a seu
comportamento. Desse modo, uma vida vivida de forma “iconoclasta” – em relação
às regras paradigmáticas estabelecidas – ganha interesse biográfico. Vidas vividas na
sensaboria da rotina não são biografáveis. Do ponto de vista da instrumentalidade
educativa, essas vidas “marcantes”, “diferentes” são decisivas: elas é que
possibilitarão a construção de modelos de conduta “revolucionários” (para utilizar a
terminologia de Kuhn) em face dos modelos estabelecidos pelo paradigma vigente.
Por outro lado, vidas podem ser marcantes igualmente na defesa do paradigma
estabelecido, o que significa que também são valiosas como instrumentos
educativos, para resistir a um modelo educativo, quando este, contrariando a
essência transformadora da educação, sua capacidade de dar guarida à renovação
representada pelos novos seres que ingressam no mundo, se torna conservador,
tradicionalista e resistente às mudanças e inovações (CARINO, 1999, p. 159).
3
Obra “Deleuze: estética na arte visual e possibilidades mutantes dialógicas na educação”, de Janete Magalhães
Carvalho e César Pereira Cola, com previsão de publicação para 2018.
deleuzianos é participar do mundo com uma visão em constante mutação, é dialogar com a
arte, fazendo emergir conceitos hermeticamente estabelecidos.
A explanação a partir deste ponto enfoca como o pensamento de Deleuze pode ser
deslocado, vindo ao encontro deste estudo, já que se trata de buscar construir um pensamento
imanente, do acontecimento. Então, não podemos estranhar sua presença na área da educação,
até porque “talvez aqueles que não explicitamente se debruçam sobre a problemática
educacional tenham mais a dizer aos educadores do que podemos imaginar” (GALLO, 2013,
p. 9). A escolha de Deleuze (1997) como referência teórica para este estudo se deu por um
diálogo que evidencia confluências com as ações de Krajcberg, por ser ele um filósofo da
multiplicidade, das linhas de fuga, do devir, do rizoma, da proliferação das experiências de
pensamento, da busca pela liberdade. Seu pensamento assemelha-se ao do artista, por ser um
ato de desvio do estabelecido. Assim, a aproximação com Krajcberg faz-se pelo fato de esse
pensador acreditar que a filosofia tem uma ação criadora, e não uma mera passividade diante
do mundo. Por sua vez, o artista apropria-se dos elementos da natureza para criar sua própria
poética; ele não apenas revolta-se com o caos ou admira o mundo passivamente, mas, por
meio da arte, transforma-o, ressignifica-o, desterritorializando-se e aprendendo a conviver
com ele, extraindo possibilidades criativas.
É possível destacar alguns deslocamentos do pensamento deleuziano para a educação,
dialogando com a poética krajcberguiana a partir de Silvio Gallo (2013), filósofo que analisa e
reflete sobre o inquietante e desafiador pensamento de Gilles Deleuze, revelando quatro
desterritorializações conceituais do filósofo para a educação, ressaltando que não são
verdades deleuzianas para essa área de conhecimento, mas, sim, possibilidades. A primeira
seria a filosofia da educação como criação conceitual. Deleuze considera que tomar a filosofia
como reflexão e fundamento da educação seria retirar sua potência, pois a filosofia possui
outras possibilidades. Não haverá novidade, se nos limitarmos a continuar reproduzindo
conceitos descontextualizados. Desse modo, o filósofo da educação seria um criador de
conceitos, aquele que instaura um plano de imanência que atravessa e talvez modifique as
práticas educacionais. Ele deveria relacionar-se de maneira empírica com os problemas da
área, para combater a doxografia educacional, ou seja, o conjunto de opiniões sobre a
educação. Nesse sentido, é necessário inovar e instaurar um plano de imanência que caminhe
pelos problemas educacionais e os enfrente sem as hipocrisias usualmente observadas. Porém,
Gallo (2013, p. 58) faz um alerta: um filósofo da educação com esse pensamento não seria
bem visto, já que suas colocações iriam suscitar a indiferença geral, pois desvelariam “[...] as
multiplicidades que podem ser colocadas em jogo, as interconexões que podem ser produzidas
[...]”. A arte contemporânea está repleta de possibilidades de estilos, práticas, formas de fazer;
já não apenas usa tinta, tela, metal, pedra; utiliza também ar, som, palavras, lixo, pessoas, luz,
madeira etc., com o intuito de refletir, criticar ou até mesmo zombar da nossa vivência no
planeta. Pensar uma educação em arte à guisa krajcberguiana seria não sucumbir à opinião
generalizada sobre o mundo, sobre a arte na escola e sobre seu ensino. Atualmente alguns
professores de arte continuam a trabalhar com formas arcaicas de ensino, pautadas na
coordenação motora, na cópia metódica de modelos, prevalecendo apenas o visual, ou
trabalham somente a cômoda prática da livre expressão (desenho livre). Precisaríamos
mergulhar no caos para reencontrar a criatividade, principalmente em outras linguagens
artísticas, como a fotografia, o vídeo, a colagem, a escultura, a performance, o site especific, a
web art. Isso seria valer-se da prática de Krajcberg para encontrar caminhos de ser e estar no
mundo.
A segunda desterritorialização apontada por Gallo (2013) para a educação a partir dos
conceitos de Deleuze seria o que ele chama de educação menor. Deleuze e Guattari, quando
escreveram o livro Kafka: por uma literatura menor (1977), criaram o conceito de “literatura
menor”, por considerar a escrita desse autor revolucionária e subversiva na língua culta alemã.
Quando sua região foi ocupada pela Alemanha, Kafka foi obrigado a escrever no idioma do
país conquistador. Ele subverteu a língua, com a intenção de desestabilizá-la no seu interior,
gerando uma “língua menor”, do gueto, dos marginalizados. Assim, a sugestão aqui apontada
é fazer um deslocamento dos conceitos de literatura menor (Deleuze e Guattari) e de educação
menor (Gallo) para uma arte menor (da poética krajcberguiana). É importante perceber que o
deslocamento conceitual que Gallo (2013) faz é operar com uma noção de educação que
busque transformar o estado atual do que está estabelecido, em busca de uma prática que
valorize a singularidade em meio ao coletivo. O conceito de arte menor propõe buscar uma
desterritorialização de elementos do cotidiano, da natureza, do que é tido como ruim, como
sofrível, para pensar novas vivências, a fim de remeter-se a novas buscas, novas linhas de
fuga, novos agenciamentos. Destacamos que muitos artistas atualmente já produzem o que
aqui está sendo abordado. No entanto, ressaltamos a importância de se trazer essas práticas
para a educação em arte e de lembrar que Krajcberg foi o pioneiro em trabalhar com essas
possibilidades aqui no Brasil, com uma arte de revolta e resistência às políticas que permitiam
e ainda permitem crimes ambientais. É uma arte que não se expressa para si, mas para uma
coletividade; parte do singular, do artista solitário, para o coletivo. Krajcberg, durante sua
trajetória artística, não se rendeu às pressões dos “ismos”, ou seja, aos movimentos elaborados
pelo mercado da arte, às pressões políticas. Ao contrário, sempre se manteve à margem,
solitário, consciente de suas práticas minoritárias, no deserto e na miséria. Sempre resistindo à
cooptação, manteve sua revolta acesa, em busca de outras possibilidades. Então, a arte menor
consistiria em participar da produção artística sem se render a esses mecanismos de controle.
Assim como a educação menor, a arte menor é rizomática e fracionada, não se preocupa em
instaurar verdades nem em buscar respostas prontas na complexidade da educação. O que
interessa é estabelecer relações com o Todo: alunos, professores de disciplinas diversas e a
comunidade local, propor interconexões sempre abertas, em devir.
O terceiro deslocamento apontado por Gallo (2013) trata da relação entre rizoma e
educação. O ensino de hoje é organizado de forma compartimentada. A organização das
disciplinas é estabelecida de forma isolada, muitas vezes, sem uma contextualização e
conexão interdisciplinar com outros conhecimentos. Isso não possibilita uma visão mais
abrangente do mundo. Uma saída para esse problema seria uma educação pautada na
interdisciplinaridade. A organização dos currículos escolares possibilitaria uma interconexão
das disciplinas, permitindo uma compreensão mais ampla dos saberes construídos.
Geralmente, a estrutura do conhecimento é representada numa metáfora de forma arbórea:
uma grande árvore que precisa estar com sua base bem solidificada em premissas verdadeiras
(o pensamento metafísico). Essa árvore possui um tronco sólido, que seria a própria filosofia.
Esse tronco se ramifica em galhos, cada um representando uma área de conhecimento. Essa é
uma concepção moderna da estrutura do conhecimento, uma fragmentação estanque e
cartesiana do saber. Gallo (2013) esclarece que o paradigma arborescente impõe uma
hierarquização do conhecimento, sem que haja conexão entre as disciplinas. A metáfora do
rizoma, por sua vez, subverte a ordem da metáfora arbórea. No rizoma, não há uma
hierarquização a ser seguida como modelo único e verdadeiro, pois não há rizoma, mas
rizomas, sempre dispostos a potencializar o pensar, criando novos conceitos. Nesse contexto,
cada ponto pode acessar outro, sem meio nem fim, numa riqueza aberta ao devir, à
exploração, à descoberta de novas possibilidades. Pensar o saber rizomático em educação pela
arte seria atentar para uma multiplicidade de formas de produzir arte, de possibilidades de
materiais, principalmente com elementos naturais, de problematizar a realidade, que é
fragmentada e diversa; é observar e refletir sobre o mundo, partindo de nossa própria
localidade, isto é, buscar romper com formas acadêmicas, ranços modernistas ou mesmo
atitudes pós-modernas duvidosas no ensino da arte, pautadas em concepções ultrapassadas,
como já sublinhado.
O último deslocamento dos conceitos deleuzianos para a educação destacado por
Gallo (2013) trata da temática educação e controle. É sabido que a educação sempre se valeu
dos mecanismos de controle para formar e informar os alunos. Assim, é necessário enquadrá-
los numa sistematização formal da cultura, tornando a educação uma máquina de controle
social. Como a escola tem o poder de aprovar ou reprovar, durante séculos e ainda hoje, coage
os alunos que não se enquadram em seu sistema de disciplina, materializando seu poder com a
quantificação da aprendizagem em termos de notas ou conceitos classificatórios. Assim, Gallo
(2013) propõe que comecemos a abdicar desse discurso de poder e de controle. Segundo esse
autor, quando enrijecemos o sistema de notas e avaliação, consequentemente, temos muitas
reprovações. Então, faz-se necessário um acompanhamento ombro a ombro do aluno em sua
formação, com propostas avaliativas mais flexíveis, tentando desestabilizar o rigor da
seriação, com a finalidade de opor resistência contra a macropolítica opressora. É preciso
levar em conta que tais questões não são fáceis de serem abordadas e solucionadas; são
polêmicas e, às vezes, contraditórias, mas podem ser postas para reflexão, a fim de atenuar os
problemas na área da educação.
Considerações finais
ressignificamos aquilo de que nos apropriamos. Esses “roubos” acontecem nos encontros com
pessoas, com ideias, com filósofos, com a natureza, com os animais etc. O “roubo” é
potentemente criativo, se articulamos os conceitos para criar outros (DELEUZE apud
GALLO, 2013). Desse modo, não foi exposta aqui uma receita para resolver os problemas da
educação, mas, sim, a forma como Deleuze propõe enfrentar os problemas, fazer do
pensamento um ato em movimento, sempre em devir. A poética krajcberguiana se aproxima
do pensamento deleuziano em educação, por possibilitar o contato com o caos; a partir dele,
encontrar brechas entre os fragmentos; desses fragmentos, criar potência de possibilidades, de
arte, de educação, de vida.
REFERÊNCIAS
BORTOLOZZO, S.; VENTRELLA, R. Frans Krajcberg: arte e meio ambiente. São Paulo:
Moderna, 2006.
DELEUZE, G.; Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. 2. Rio de Janeiro: Editora 34,
1997.
GALLO, S.; SOUZA, R. M. de. Entre maioridades e minoridades: língua, cultura e política no
plural. Políticas Educativas, Campinas, v. 1, n. 1, p. 124-140, out. 2007. Disponível em: <
<http://seer.ufrgs.br/Poled/article/view/18258/10746>. Acesso em: 30 abr. 2015.
Resumo
O presente texto propõe a observação de algumas obras da série Cartas de Areia do artista e professor
da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, José Rufino, onde ele ressignifica objetos por ele
apropriado, usando a memória como forma de expressão, com obras em que se reportam as suas
próprias memórias extinguindo noções de privacidade para poder se comunicar com o público através
de suas histórias. Árvores azuis, campos de cana, cadeiras copos, raízes, veias e fragmentos de textos
são alguns compostos de Cartas de Areia. O artigo tem como intuito principal promover o
entendimento mais amplo entre José Rufino, memória afetiva e sua importância artística e social.
Visando a relação simbiótica do artista com a memória, e explorando elementos pertencentes à obra
Cartas de Areia. Esta pesquisa foi embasada por meio de informações coletadas a partir de dados
bibliográficos, através de levantamentos em livros, textos, site de José Rufino, site de museus,
catálogos de exposições diversas em que o artista participou, entrevistas com o próprio artista, como
forma de refletir e atingir os objetivos propostos. Este artigo foi elaborado como requisito básico para
conclusão do Curso subsequente de Artes Visuais no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Pernambuco – IFPE – Campus Olinda.
Palavras-Chave: Memória Particular. Memória Pública. Arte.
Introdução
1
Estudante do Curso Técnico de Artes Visuais do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia, IFPE – Campus Olinda. E-mail: brunaoliveiragms@gmail.com
2
Mestre em Artes Visuais na Universidade Federal de Pernambuco na linha de pesquisa do Ensino das
Artes Visuais. Professora do Ensino Básico no curso técnico subsequente em Artes Visuais no
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, IFPE – Campus Olinda. E-mail:
lucianastavares@gmail.com
E para que serve a arte? Para começar, podemos dizer que ela provoca, instiga e
estimula nosso sentidos, descondicionando-os, isto é, retirando-os de uma ordem
preestabelecida e sugerindo ampliadas possibilidades de viver e de se organizar no
mundo (CANTON, 2009, p. 12).
Muito do que vivemos hoje foi construído por ações e omissões nossas no passado. A
possibilidade de perda dessas recordações trás o empobrecimento individual, artístico, cultural
e histórico, irreparável para a o homem e a sociedade. É de extrema relevância ações para
salvaguardá-las, viabilizando a continuidade e crescimento dos saberes e práticas
relacionadas.
Para dar conta deste objeto, propõe-se articular obras da seria Cartas de Areia, do
artista Paraibano, José Rufino, que atua na interface entre os campos da memória, da história,
paleontologia e da arte, e é destaque no cenário artístico nacional e internacional. As
memórias são relacionadas desde a escolha de seu nome; nascido José Augusto da Costa
Almeida, apossa-se do nome do seu avô paterno como uma forma de recontar sua história;
3 Michael Pollak é pesquisador do Centre National de Recherches Scientifiques - CNRS, ligado ao Institut
d'Histoire du Temps Present e ao Groupe de Sociologie Politique et Morale.
4 Vice Diretora, curadora e profª. Livre-Docente do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São
Paulo,Doutorada em Artes Interdisciplinares pela Faculdade de Artes Visuais e Educação, da New York
University.
Como relata o próprio José Rufino “Momentaneamente encarada como uma homenagem,
logo passa a revelar os primeiros sinais da minha intenção: provocar uma subversão nas
camadas do Tempo de Vaca Brava” (RUFINO,2007,p.12); até suas obras, onde utiliza de
materiais, documentos e objetos de instituições e de histórias de sua família. Retorna as suas
memórias extinguindo noções de privacidade para poder se comunicar com o público através
de suas histórias. Em suma, o trabalho objetiva promover um entendimento mais amplo deste
vínculo de José Rufino com o campo da memória e da arte.
Natural de João Pessoa, na Paraíba, nasceu em 1965. Começou com sua aproximação
às artes plásticas em 1978, quando fez curso de Iniciação às Artes Plásticas na Coordenação
de Extensão Cultural da Universidade Federal da Paraíba, muda-se em 1983, para o Recife,
onde tem contato com artistas e poetas ligados à arte postal e à poesia visual, entre eles Paulo
Bruscky (1949). Gradou-se em geologia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
formação esta que, segundo ele, traz grande influência sobre seus processos de pensamento e
de trabalho.
José Rufino
Fonte: carbonogaleria.com.br
Iniciou na carreira artística pela poesia, no inicio da década de 80 migrou para arte
postal e em seguida passou a desenvolver trabalhos com objetos da família.
[...] Comecei a me interessar por artistas que viam na arte uma possibilidade de
transformação de pensamento. (…) artistas interessados na revisão pessoal e
consequentemente entregar a arte para transformação alheia […] (informação
verbal).5
Hoje transita de maneira plural nas artes plásticas: sua obra inclui: pintura, desenhos,
instalações. Em um caso de decisão afetuosa, e de se inseri no contexto das cartas a qual
herdou do seu avô, em 1991, José Rufino adota o nome que era do seu avô paterno - um
legítimo senhor do engenho, o verdadeiro nome do artista é José Augusto Costa de Almeida.
É filho de um engenheiro civil e de uma artista plástica graduada em filosofia. Seus pais
também eram ativistas políticos perseguidos e presos pela ditadura do regime militar
brasileira nos anos de 1960. Uma dicotomia familiar.
O artista é também muito conhecido pelos seus impressionantes trabalhos de caráter
político, quase toda sua obra baseia-se na apropriação de arquivos, documentos e narrativas
ligadas à sua história pessoal, o seu passado e de sua família, o que lhe fez ficar conhecido
como o “artista da memória”. José Rufino faz da memória um espécie de emissão de si. “Meu
trabalho confunde-se com o processo da vida. Não existe um limite definido entre criação e
não criação. Onde acaba o trabalho e começa o artista? (Rufino, 2001)6.
Destaca-se no cenário artístico com obras que resgatam o passado atribuindo-lhes um
novo significado. Usando móveis herdados do antigo engenho do seu avô, Rufino criou a
instalação intitulada de Lethe (2009). O nome faz referência ao rio do esquecimento na
mitologia grega. Documentos antigos também foram usados em algumas obras como na série,
Cartas de Areia (1990 -), produção que será esmiuçada neste artigo e que está em realização
até os dias atuais. Vinculada também ao passado, mas desta vez o passado da cidade do Rio
de Janeiro. Ulysses (2012), é formada por vários artefatos históricos encontrados por
operários durante as obras realizadas na cidade de Rio de Janeiro para a Copa do Mundo e
Olimpíada.
5 SILVA, Bruna. Entrevista 1 [Maio, 2017] . Entrevistador: Bruna Oliveira Gomes de Souza e Silva. Olinda,
2017. Arquivo. amr (16 min).
6 RUFINO, José. [José Rufino]. In: RODRIGUES, Elinaldo. A Arte e os artistas da Paraíba: perfis jornalísticos.
João Pessoa: UFPB, 2001.
Cartas de Areia
Ao mesmo tempo em que trabalhava nos envelopes, iniciei a leitura das cartas. No
início, um pouco acanhado por violar histórias e emoções tão particulares. Aos
poucos fui penetrando naquele mundo de pequenas falhas, fraquezas, vaidades,
encontros e desencontros. A primeira sensação foi de frustração e impotência diante
da ciclicidade de sentimentos recorrentes naquelas cartas. Estaria fadado a ser o
responsável por uma historiografia familiar? Responderia pelo resto da vida como
guardador do Estatuto das Intimidades? (RUFINO, 2007, p.6).
De forma tímida o artista passou a manipular este legado familiar, no início alterou
apenas o selo, depois todo o envelope em seguida passou para uma ação profunda e partiu
para o corpo das cartas.
7 SILVA, Bruna. Entrevista 1 [Maio, 2017] . Entrevistador: Bruna Oliveira Gomes de Souza e Silva. Olinda,
2017. Arquivo. amr (16 min).
8 SOARES, Jô. Entrevista 2 [2009] . Entrevistador: José Eugênio Soares São Paulo, 2009. A entrevista na
integra encontra-se na plataforma de distribuição digital de vídeos Youtube nos links:
https://www.youtube.com/watch?v=MMGEMc0OaZY&t=52s /
https://www.youtube.com/watch?v=Vdyj_pSnkWE .
A escolha do nome da serie Cartas de Areia é uma metáfora que se relaciona a uma
característica da areia, algo que não pode ser retido e também faz menção ao lugar onde seu
avô tinha um engenho, na cidade de Areia, na Paraíba. No catálogo da exposição Cartas de
Areia (1998), conforme Agnaldo Farias, o nome da exposição é uma matéria a ser pensada:
Cartas de Areia porque foram de lá remetidas (...) ou de areia porque o passado, todo
o passado, é um mosaico frágil e caleidoscópico, uma paisagem constituída por uma
miríade de pontos e cujo desenho varia em função do olhar que o presente lança
sobre ele? (FARIAS, 1998, p. 2).
A série trabalhada por mais de dez anos se tornou proeminente na produção do artista.
Pois a obra retrata registros de histórias de amor, solidão, sentimentos universais e que estão
presentes na memória não só da família de Rufino. Isto faz com que as pessoas interajam com
ela de alguma forma, que se sintam e se reconheçam na obra.
Sou quem sou porque me lembro de quem sou, a memória é o nosso tino histórico é o
nossa sensatez de identidade pessoal. Quando nos referimos a palavras memória, logo nos
recordamos de nossas experiências individuais, aquela que de alguma maneira se armazena no
cérebro. É através do armazenamento e evocação de informação adquirida através de
experiências que os homens e os animais obtêm a memória e sua aquisição é denominada de
aprendizado. Não há memória sem aprendizado, nem há aprendizado sem experiências. Para
Ferreira e Amaral (2004, p.139), “Falar de memória é falar de uma certa estrutura de
arquivamento que nos permite experiências socialmente significativas do passado, do nosso
presente e de nossa percepção do futuro”.
Escavador de Lembranças
cartas, que com seus rituais gravados nos possibilita atravessar sobre as superfícies temporais,
pois como diz Peter Burke, os rituais:
[...] são reencenações do passado, atos de memória, mas também tentativas de impor
interpretações do passado, formar a memória, e assim construir uma identidade
social (BURKE, 2000, p. 75).
Esse sentido de pertencer que as pessoas trazem enquanto seres simbólicos que são.
Esse ser de algum lugar pertencente a algum grupo, sente a afinidade com algo que
lhe resgata algo seu; isto tudo é chamado de identidade (MARTINS, 2003, p. 42).
Neste panorama artístico José Rufino que também é Paleontólogo de formação, escava
a procura de objetos esquecidos buscando trazê-los a conhecimento público. Á vista disso,
Rufino estuda e realiza suas obras como se fosse tratá-las cientificamente. Segundo o artista,
tanto na paleontologia como na arte, resgata-se o passado e a história simultaneamente. A
diferença entre estas profissões é que a arte lhe dá a liberdade de interferir e alterar este
passado, criando novos significados. “Sempre vejo que me trabalho surti um efeito muito
imediato, por conta do uso desses materiais que já vem carregado de energia humana”
(informação verbal)9.
9 SILVA, Bruna. Entrevista 1 [Maio, 2017] . Entrevistador: Bruna Oliveira Gomes de Souza e Silva. Olinda,
2017. Arquivo. amr (16 min).
Considerações
Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 4ª ed,
trad. Ivone Castilho Benedetti.
ARCHER, Michael. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembrança de velhos. 3ª ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 1994.
BURKE, Peter. Variedades da história cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
CANTON, Katia. Tempo e memória. 1ª ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
COLI, Jorge. O que é arte?. 15ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio. 7ª ed. Curitiba: Ed. Positivo, 2008.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
GOMBRICH, Ernst Hans. A história da arte. 4ª ed. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1985.
RUFINO, José. Cartas de areia. Texto Agnaldo Farias; tradução Noemi Jaffe Cartum. São
Paulo: Adriana Penteado Arte Contemporânea, 1998.RUFINO, José. José Rufino. Curadoria e
texto Moacir dos Anjos. Recife: MAMAM, 2003.RUFINO, José. Laceratio. Curadoria Fábio
Magalhães, Leonor Amarante. João Pessoa: José Rufino, 1999. RUFINO, José. Memória
deponere. João Pessoa: Núcleo de Arte Contemporânea, 1997.
Referências Eletrônicas
BARBOSA, Sylvia Werneck Quartim. De dentro para fora: a memória do local no mundo
global. 2007. Dissertação (Mestrado em Estética e História da Arte, da linha de pesquisa
Teoria e Crítica de Arte), Universidade de São Paulo, São Paulo. Disponível em:
livros01.livrosgratis.com.br/cp038781.pdf. Último acesso em 18 de Maio de 2017.
Resumo:
Ao ser convidada a realizar uma ocupação artística em uma universidade pública, logo após um
período de ocupações, protestos, paralizações e greves em vários setores públicos do país, deparo-me
com algumas problematizações relevantes e instigantes à minha docência e pesquisa poética. Visto que
minha poética visual tem o papel de discutir os padrões estéticos do corpo da mulher, o objetivo deste
artigo é acender o pavio da mesma discussão dentro da educação e mais especificamente dentro da
disciplina de artes na escola. Pôr em evidência o tema tem como efeito, em minha pesquisa, o
surgimento de algumas percepções e afirmações dentro do campo de estudos do saber e poder de
Michel Foucault, bem como o da estética nas artes visuais e filosofia. Uma certa “visibilidade” do
corpo das mulheres através da experiência poética de posar é um deles. Contudo é indo mais fundo na
investigação sobre a constituição das pedagogias acerca do feminino, das subjetividades e discursos
que perpetuam verdades acerca da imagem do corpo da mulher, nos jovens de hoje, nos(as) alunos(as),
que me interessa o percorrer dessa pesquisa.
Palavras-chave: Imagens do corpo; pedagogias do feminino; experiência poética
Introdução
Ao ser convidada a realizar uma ocupação artística em uma universidade pública, logo
após um período de ocupações, protestos, paralisações e greves em vários setores públicos do
país, deparo-me com algumas problematizações relevantes e instigantes à minha docência e
pesquisa poética. Antes de tudo, ressalto para o(a) leitor(a), que sou artista visual e professora
de artes no ensino público de Santa Catarina. Minha poética visual tem discutido e
problematizado os padrões estéticos do corpo da mulher, assim julgo que meus pensamentos e
minhas práticas aqui presentes neste artigo não poderiam deixar de estar amarrados às
questões da arte e da educação.
O objetivo deste artigo é acender o pavio da mesma discussão dentro da educação e
mais especificamente dentro da disciplina de artes na escola. Posto isto, é na presença de certa
1
Mestranda no Programa de Pós Graduação em Educação da UFRGS pela linha de pesquisa Arte, Linguagem e
Currículo. Graduada pela mesma universidade em Licenciatura em Artes Visuais. Professora de Artes da rede
Estadual de Santa Catarina. Integra o ARTEVERSA – Grupo de estudo e pesquisa em arte e docência
(UFRGS/CNPq) e o GPA – Grupo de Pesquisa em Arte/CNPq.
“visibilidade” do copo feminino em vários âmbitos de nossa sociedade, que dialogo com a
necessidade de trazer essa discussão também para dentro da escola.
Pôr em evidência esse tema tem como efeito, em minha pesquisa, o surgimento de
algumas percepções e afirmações dentro do campo de estudos do saber e poder de Michel
Foucault. Uma certa “visibilidade” do corpo das mulheres, visto como ganho de voz e espaço,
através da experiência poética de posar é um deles. Contudo é indo mais fundo na
investigação sobre a constituição das pedagogias acerca do feminino, das subjetividades e
discursos que perpetuam verdades acerca da imagem do corpo da mulher, nos jovens de hoje,
nos(as) alunos(as), que me interessa o percorrer dessa pesquisa. Discutir e problematizar o
espaço e a imagem da mulher na sociedade é pertinente dentro e fora da sala de aula. Deste
modo o artigo pretende em quatro partes: apresentar o projeto Mulheres de atitude, mulheres
que ocupam e a ocupação artística realizada na Universidade Federal do ABC; introduzir a
problemática de minha pesquisa a partir do paralelo existente na formação do Licenciado em
Artes Visuais; discutir a possibilidade de dar visibilidade ao corpo da mulher levando em
conta a discussão de poder de Michel Foucault; e por último, discutir e refletir o confronto e
as implicações pedagógicas das imagens do corpo da mulher que produzo como artista em
diálogo com a escola.
Sobre o projeto e a ocupação
A partir de um convite feito pela Universidade Federal do ABC, em Setembro de
2016, pelo Ofício nº 119/2016/ProEC, fui solicitada a pensar e realizar uma ocupação artística
nos espaços de convivência da mesma. O espaço escolhido pela curadoria (realizada pela
OMA Galeria2) para ocupar, foi um painel de 25 metros de comprimento por 2,05 metros de
altura, situado na Biblioteca do Campus Santo André, São Paulo.
Alicerçada nas problemáticas estéticas e na temática que minha poética visual transita
que são as questões de gênero, a mulher e seu corpo, as questões estéticas e suas
problemáticas no contemporâneo, promovi um projeto pessoal que foi inicialmente realizado
a parte da ocupação, o qual intitulei Mulheres de atitude, mulheres que ocupam. No final
desse projeto a ocupação artística levou o mesmo título e teve como duração quatro meses de
exposição.
2
Galeria de arte contemporânea situada na cidade de São Bernardo do Campo, SP.
Fig. 1 e 2. Imagens digitais, realizadas durante encontros diferentes, do projeto “Mulheres de atitude, mulheres
que ocupam” em 2016.
Fig. 3 e 4. Imagens digitais. À esquerda captura realizada durante o segundo dia de ocupação, colando os lambe-
lambes dos desenhos digitalizados. À direita painel de 25 metros preenchido com os cartazes lambe-lambes.
3
Ou pôster lambe-lambe, é um tipo de pôster elaborados através de imagens e textos com propósitos diferentes
que podem transmitir desde ideias e pensamentos, divulgação de eventos e arte, a protestos. São considerados
uma vertente da arte urbana onde realiza-se intervenções nos espaços públicos. A cola é feita a base de água,
com polvilho ou farinha, caráter acessível dessa expressão artística. São colados em espaço público. (texto
informado pela autora)
onde e como estão esses corpos dentro de uma universidade que é também pública? Como
uma ocupação feita por uma artista mulher a partir de 160 desenhos de corpos de 42 mulheres
pode dialogar com essa ausência da representatividade da mulher na universidade? Será que
ela só se dá nesse tipo de ambiente? Sabemos que não, a História da Arte é um exemplo...
Formação ou deformação acadêmica?
Foi no processo de intenso estudo para o ingresso no mestrado acadêmico do
PPGEDU UFRGS 2017/2 que me percebi no exercício de refletir e questionar os meus fazeres
e seres no campo das artes visuais e educação, no que tange as discussões de gênero. Nesses
estudos, meu objeto de pesquisa dentro da educação vem ganhando forma a partir de algumas
perguntas que tenho feito sobre minhas práticas: Que saberes estou produzindo com minha
poética em um espaço expositivo? Ela faz diálogo com a educação? Minha docência e minha
poética de alguma forma fazem diálogo com meu aluno na escola? Por que essas práticas se
separam? Seria a separação entre esses dois fazeres uma incógnita potencial para uma
pesquisa? Elas estão realmente separadas? Em mim, sempre as vi separadas. Talvez hoje
refletindo e escrevendo passo a enxergar que me fragmentei entre dois fazeres, por talvez
minha educação/graduação ter sido fragmentada também.
No início do curso, os acadêmicos de Licenciatura em Artes Visuais da UFRGS
passam por disciplinas introdutórias, e ao decorrer de nossas jornadas optamos por disciplinas
ora no Instituto de Artes, ora na Faculdade de Educação. Transitando entre dois prédios, um
extremamente isolado e fora do contexto “Campus Centro” e o outro no coração da
universidade, “aprendemos” e vivenciamos que apesar da separação física e de saberes, há um
respiro de resistência da arte dentro da Faculdade de Educação, o que não se vê com a
educação dentro do Instituto de Artes. Quando penso no conceito de “campo expandido” que
foi caro à Rosalind Krauss (1979) e que hoje está presente nas formações pedagógicas de
Bienais, nas pesquisas acadêmicas sobre arte educação e críticas de arte, como podemos
justificar a separação de indivíduos e saberes dentro de uma formação que deveria constituir-
se em ambos os saberes: arte e educação?
É neste grande paralelo, que me aventuro a investigar esses fazeres, propondo que a
discussão de gênero seja abraçada em ambas as áreas arte/educação, assim como a crítica que
Em seu livro Vigiar e Punir, Michel Foucault trabalha algumas questões importantes à sua
pesquisa sobre o poder. Nesse desenvolve, por exemplo, a ideia de disciplina, onde teremos o
espaço, voz e um novo significado para seu corpo. Entender o seu próprio corpo de mulher
não partia de uma visão subjetiva, mas sim de uma posição masculina. “Ninguém nasce
mulher: torna-se mulher” (BEAUVOIR, 1967, p.9), é assim inflamada que Simone de
Beauvoir vem não só estremecer, mas rachar conceitos biológicos, psíquicos, econômicos
entre outros, afirmando que gênero é uma construção cultural.
Deste modo, é nessa falta histórica de um discurso próprio sobre o corpo feminino que
percebo ser através do ato e vontade de posar para os desenhos que se justificam: a conquista
de voz e visibilidade do corpo da mulher. E sobre eles (os desenhos), penso que seu objetivo
não foi a representação de algum ideal de corpo. Não intencionaram representar modelos,
muito menos musas em seu sentido clássico, muito pelo contrário, os desenhos desejaram ser
fiéis aos corpos de mulheres reais, de silhuetas, proporções e cores diferentes uma da outra.
Fig. 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 e 15. Onze desenhos digitalizados de onze mulheres diferentes. Os desenhos
originais medem 29,7×42cm(cada)
Uma das categorias da história da arte mais questionadas pelas estudiosas feministas
é a figura do artista como gênio e a insistente associação da chamada ‘grande arte’
com essa imagem heroica, um atributo de características marcadamente masculinas.
(LOPONTE, p.248, 2005)
4
“Pesquisadoras e historiadoras como Griselda Pollock(1988), Patrícia Mayayo (2003), Linda Nochlin (1989,
1989a), Bea Porqueres (1994) e Whitney Chadwick (1992) [...] fazem coro diante da desconstrução de um mito,
[...] do que seja arte ou artista.” (LOPONTE, p.248, 2005)
em nossa aula de artes na educação básica? Ou melhor, como Loponte (2002) cita “As
imagens dizem muito, nos produzem, nos significam, nos sonham.” e continua:
Na escola, as aulas de arte, bem ou mal, têm sido o espaço (às vezes o único) de
produção e leitura de imagens. Mas de que forma isso acontece? Como professoras
de arte (as mulheres são a grande maioria) educam sobre gênero e sexualidade
através dessas imagens? E, por outro lado, como elas próprias são educadas através
dessas imagens? (LOPONTE, p.285, 2002)
Que imagem do corpo feminino chega às escolas? Que imagens de mulheres são vistas
pelos meus alunos? Que imagens da arte mostram, e como mostram, a mulher contemporânea
para o(a) aluno(a) de hoje? Estaria produzindo, como artista, uma pedagogia visual do
feminino para o meu aluno através de meu trabalho? Desta maneira, Luciana Loponte me faz
pensar que me posiciono, talvez inconscientemente, como produtora de imagens, que
produzem discursos e pedagogias. O debate de minha poética visual, transitando entre os
universos da estética e do poder, se insere na discussão sobre gênero e sexualidade que são
hoje urgentes à escola contemporânea.
Entendo meus fazeres como um possível resultado dessa inflamação. Meu fazer
artístico tenciona as relações de poder presentes em corpos e histórias de mulheres comuns, e
minha docência está inflamada com as próximas perguntas a serem investigadas. Até onde os
padrões estéticos de nossa sociedade, impõem saberes e verdades nas mentes e vidas de
nossos alunos? Como levar essa discussão para a educação a partir das aulas de arte? Entender
como se constituem as pedagogias acerca do feminino, as subjetividades e discursos que
perpetuam verdades acerca da imagem do corpo da mulher, no jovem de hoje, no(a) aluno(a)
é próximo mergulho a ser dado.....
REFERÊNCIAS
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo: A experiência vivida. 2. ed. São Paulo: Difusão
Européia do Livro, 1967. 2 v.
CAPRA, Carmen Lúcia; MOMOLI, Daniel Bruno; LOPONTE, Luciana Gruppelli. Para
pensar o horizonte da arte e da educação na contemporaneidade. Revista GEARTE, Porto
Alegre, v. 3, n. 2, p. 179-191, maio/ago. 2016.
COLLING, Ana Maria. Tempos diferentes, discursos iguais: a construção histórica do corpo
feminino. Dourados: UFGD, 2014.
COUTINHO, Andréa Senra; LOPONTE, Luciana Gruppelli. Artes visuais e feminismos:
implicações pedagógicas. Revista Estudos Feministas, [s.l.], v. 23, n. 1, p.181-190, abr.
2015.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro:
Edições Graal, 1993.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: Nascimento da prisão. 42. ed. Petrópolis: Vozes, 2015.
LOPONTE, Luciana Gruppelli. Gênero, educação e docência nas artes visuais. Educação &
Realidade, Porto Alegre, v. 2, n. 30, p.243-259, 2005. Disponível em:
<http://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/12469>. Acesso em: 3 mar.
2017.
LOPONTE, Luciana Gruppelli. Sexualidades, artes visuais e poder: pedagogias visuais do
feminino. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 10, n. 2, p.283-300, jul/dez 2002.
KRAUSS, Rosalind. A escultura no campo ampliado. 1979. Disponível em:
<https://monoskop.org/images/b/bc/Krauss_Rosalind_1979_2008_A_escultura_no_campo_a
mpliado.pdf>. Acesso em: 5 ago. 2017.
REVEL, Judith. Michel Foucault: conceitos essenciais. São Carlos: Editora Claraluz, 2005.
LEMBRANÇAS DE SOL:
1947, UMA EXPEDIÇÃO A MATO GROSSO E UM ENCONTRO COM
GUIMARÃES ROSA.
Resumo
Em 1947, uma expedição organizada pela Universidade do Brasil (UB), no Rio de Janeiro, rumou para
Mato Grosso e percorreu Campo Grande, Corumbá, Nhecolândia e o Pantanal Mato-Grossense. O
grupo foi composto por estudantes da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil,
entre eles, Sol Garson Passi, Sulamita de Farias Brito e Castro, o professor Hilgard O’Reilly Sternberg
e estudantes do Instituto Rio Branco, liderados pelo diplomata, professor e escritor João Guimarães
Rosa. Informações sobre esta expedição pouco aparecem nos registros de literatura e arte, constando
apenas em vagos e incompletos dados sobre o período na bibliografia de João Guimarães Rosa. Aqui
será brevemente apresentada a história desta expedição, resultado de uma investigação (ainda em
processo) a partir de arquivos, memórias e relatos: os arquivos de Sol, herdados por mim; relatos e
memórias de Sulamita gravados em vídeo; e documentos de arquivos públicos e privados. A história
será complementada com trabalhos artísticos que servirão como exemplo de um método de produção
artística multidisciplinar, que segue o princípio da arte como ferramenta para investigar e escrever
histórias.
Palavras-chave: Investigação artística. Arquivo. Memória.
Introdução
1
Mestra em Artes Visuais pela UFRJ. Professora substituta no departamento Análise e Representação da Forma
e no curso Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFRJ. E-mail: passi.joana@gmail.com.
propor sítios específicos” (SENRA, 2010, p. 190) para realocar a capital federal, então situada
no Rio de Janeiro. Em julho desse mesmo ano, com propósitos semelhantes, um grupo
liderado pelo professor Hilgard O’Reilly Sternberg (1917-2011) rumou a Mato Grosso.
A “Expedição ao Pantanal”, como é lembrada por seus participantes, foi composta por
um grupo de estudantes da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil
imbuídos de coletar dados científicos sobre a região e produzir relatórios. Sol Garson Passi e
Sulamita de Farias Brito e Castro formavam a dupla responsável pela Geografia Humana;
Baska Borestein e Euclides Gomes se concentraram na Geografia Física. Auxiliaram o
professor Sternberg na coordenação da expedição sua então secretária, a professora Maria de
Conceição de Carvalho, e a bolsista americana Charlotte. Este grupo guarda uma curiosa
particularidade: além dos técnicos e estudantes, participou da viagem um representante do
Instituto Rio Branco – o escritor João Guimarães Rosa. O então diplomata, que já havia
publicado o livro Sagarana, viajou acompanhado dos estudantes Raul de Sá Barbosa e
Nestor. Na atual etapa da investigação, não há registro sobre a finalidade da participação do
diplomata na expedição. Os únicos documentos encontrados, até o momento, são dois
telegramas do Itamaraty para o governador de Mato Grosso. Os telegramas solicitam que
sejam providenciados transportes para o cumprimento do itinerário programado, além de citar
os nomes dos coordenadores, datas e locais para a chegada do grupo.
Lembranças da expedição
2
Entre as publicações encontradas, O cogumelo das 13 mulheres, publicação independente de Waldir da Cunha
(2012), apresenta fatos sobre as expedições ao cerrado brasileiro, em busca de um lugar para a construção de
Brasília. Esta publicação destaca o papel de treze mulheres: “é preciso ressaltar que, dentro dessa trama de
caráter desbravador, destacam-se 13 mulheres consideradas corajosas à frente de seu tempo.” Waldir também
aponta a falta de material sobre as expedições: “Expedição essa considerada ‘ignorada’ dentro da estruturação de
nossa história” (CUNHA, 2012, p. 9).
O vídeo foi gravado em um encontro, quando Sulamita reuniu fotos e cartas sobre a
expedição (Fig.1-Fig.3). Na ocasião, perguntei sobre as impressões reminiscentes da viagem e
pedi que descrevesse uma imagem, uma paisagem, ainda presente em sua memória, ao que
respondeu: “Muito verde, água, muita água, e muitos pássaros, lindos, em revoadas – as
araras eram belíssimas (...) casas muito ricas. O que me impressionou foi a quantidade de
carros novos – todos andavam de carros novos em Mato Grosso.” Abundância de recursos
naturais, riqueza e fartura são os substantivos mais usados para descrever paisagens e
situações: “O grupo era recebido com churrascos e mesas cheias de frutas, legumes...” Há
uma história contada em família de que Sol denunciou o trabalho escravo na região visitada:
“Havia, sim, ‘casa-grande’ e ‘senzala’. Mas Sol e eu não tínhamos o poder para denunciar,
então Sol denunciou para os professores.” Sulamita conta sobre a existência de um relatório
com detalhes técnicos que Sol e ela escreveram juntas. Este documento foi elaborado para ser
apresentado na escola municipal do Rio de Janeiro onde trabalhavam como professoras
primárias. O manuscrito está perdido: o original, na família de Sol; e a cópia na família de
Sulamita, que pede para procurarmos este registro, pois contém valiosos detalhes e
informações sobre a viagem.
Fig. 2. Cartão-postal do Rádio Clube de Campo Grande, onde ocorreu uma festa de recepção.
cadernos. Sulamita recorda que Guimarães Rosa andava com cadernos à mão e anotava
incessantemente. Esta mesma observação é feita pelo vaqueiro Mariano (apud COSTA, 2006,
p. 23): “[o doutor] ficava puxando coisas e pondo lá num caderninho.” Os cadernos da
viagem não constam em arquivos públicos, o que provoca lacunas na biografia de Rosa:
“assim como se perderam as cadernetas de 1945, também não se tem notícia das cadernetas da
viagem pelo Pantanal.” No Arquivo Guimarães Rosa, do Instituo de Estudos Brasileiros
(IEB), há apenas alguns desenhos, um mapa da região visitada em 1947 (Nhecolândia),
estudos e esboços de textos que vão integrar Ave, palavra (1970) (COSTA, 2006, p. 24).
da Manhã, São Paulo, 17 de fevereiro de 1952), “Ao Pantanal” (Diário de Minas, Belo
Horizonte, 5 de abril de 1953) e “Uns índios – sua fala” (Letras e Artes, Rio de Janeiro, 25
mai. 1954). Guimarães Rosa publica, também, a novela “Meu tio Iauaretê”, que, como cita
Ana Luiza, aproveita trechos de conversas com os caçadores de onça e um detalhado desenho
de uma azagaia. Em “Sanga Puytã”,3 Guimarães Rosa escreveu uma cantiga de um menino
engraxate que, segundo relato oral de Sulamita, acompanhou o grupo na fronteira do
Paraguai. Esta cantiga, ainda hoje, ressoa na memória de Sulamita e das filhas de Sol Garson:
pañuelo de oro
para la Reina
para la Reina...
Encontrei, no arquivo de Sol, um retrato de uma carroça de boi com uma legenda no
verso: “Fazenda Firma, Nhecolândia – M.G. julho 1947”. Este mesmo lugar é o ponto de
partida para a reportagem “Com o vaqueiro Mariano”: “Em julho, na Nhecolândia, Pantanal
de Mato Grosso, encontrei um vaqueiro (...).”
As relações entre dados que foram encontrados nos arquivos pessoais, relatos e
publicações de Guimarães Rosa formam uma espécie de trama de fatos e memórias. Para além
dos registros oficiais, essas espécies de reminiscências nos ajudam a vislumbrar os lugares por
onde o grupo passou, o que foi visto, ouvido, aspectos das paisagens e impressões que
marcaram os viajantes – ou seja: uma coleção de dados ou fios soltos para a imaginação.
O trabalho que desenvolvo, a partir do material que venho reunindo sobre a expedição,
consiste em lidar com os aspectos da memória e do tempo. Utilizo como técnica a aquarela e
o desenho para registrar paisagens vagas, reproduzidas a partir de fotografias e relatos. As
técnicas da aquarela e do desenho são usadas aqui para trabalhar a indefinição de detalhes
sobre os lugares retratados. Procuro explorar, portanto, os espaços vazios, lacunas, imagens
que se formam em névoas indefinidas (Fig. 5).
Fig. 5. Xarqueada à margem do Rio Pantanal, 2017. Aquarela e grafite sobre papel.
Procuro explorar uma leitura do passado que não se encerra em um sentido único. O
processo de ler as informações contidas no material coletado suscita variadas interpretações e,
consequentemente, variadas representações. Através do estudo de linguagens para produção
de imagens (desenho, fotografia, vídeo e texto), investigo, também, as ferramentas para
acessar diferentes camadas temporais e contar uma história. Trabalho, assim, com o teor
plástico do tempo, utilizando a linguagem artística como instrumento para acessar e produzir
narrativas que exploram as fronteiras entre passado, presente e futuro. Ou seja: relatos,
arquivos e fotografias são os pontos de partida para a composição de narrativas e imagens que
criam a possibilidade de imaginar um tempo e um lugar de outrora.
constante acesso ao passado que se ressignifica pelo presente e vice-versa. Ou seja, uma
articulação entre um “agora” com um passado que aparece pela ótica do presente e um futuro
em aberto, com traços messiânicos. É possível, assim, segundo Benjamin, imaginar uma
dimensão temporal que está em constante modelamento, sem nunca se cristalizar em uma
“história” acabada, em um passado ou um futuro inertes.
marcas, fragmentos e estilhaços, esboços de gestos que perduram no tempo, podemos pensar
uma multiplicidade de histórias, também suscetíveis a metamorfoses. Podemos esboçar
temporalidades abertas para o jogo entre a presença de tempos e espaços distintos. Rastros
também são espécies de “sintomas” de um tempo que permanece e se faz aparente em outro
tempo; espécies de ruído que resulta da sobreposição de camadas temporais diversas. Aos
rastros também cabe uma dinâmica indicada pela permanência de algo que passou e sua
origem: um fragmento ou vestígio de um todo. O “todo”, porém, não deve ser entendido como
a única substância do rastro – o próprio fragmento é o todo, latente, possível de ter sentidos
variados, porque são ambivalentes: subscreve um passado, mas se faz presente por si só.
Rastros são como fissuras por onde histórias se entrecruzam.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da
cultura. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994.
COSTA, Ana Luiza Martins. Veredas de Viator. In: Cadernos de Literatura Brasileira: João
Guimarães Rosa. n. 20-21. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles, 2006. p. 10-58.
CUNHA, Waldir da. O cogumelo das 13 mulheres. Rio de Janeiro: Waldir da Cunha
[publicação independente], 2012.
RANCIÈRE, Jacques. Aisthesis: Scenes from the Aesthetic Regime of Art. Tradução de Zakir
Paul. Londres: Verso, 2013.
Resumo
O presente artigo pretende reforçar a importância de pesquisar uma mulher como Lídia Baís, sua forte
personalidade e coragem de enfrentar a sociedade conservadora em que viveu. Conhecer melhor sua
luta pela liberdade de movimentos, ação de criar e pensar. Reconhecer no legado cultural de Lídia Baís
seu protagonismo percursor no feminismo. Lídia Baís nasceu no início do século XX, num espaço
geográfico longe dos grandes centros, Campo Grande/MS, apesar dessa contingência de isolamento
teve a oportunidade de vivenciar diferentes experiências artísticas e comportamentais fora e dentro do
Brasil. Ao longo de sua vida sempre visou a independência e liberdade de atitudes, seu
comportamento foi muito além das regras sociais estabelecidas. Nunca aceitou ser tratada de forma
diferente por ser mulher. Herdeira, com condições financeiras, pode escolher ficar solteira,
desenvolveu seu gosto por artes visuais e música, ajudou pessoas necessitadas que a procuravam e
protegeu os animais. Estudou pintura por algum tempo no Rio de Janeiro, chegou a pensar morar em
São Paulo ideia que nunca concretizou. Consciente da necessidade de registrar o seu trabalho, suas
inquietações em áreas como a pintura, o desenho e a música, Lídia idealizou a criação de um museu
que albergaria suas obras, seus pensamentos, assim como de outros artistas do então Mato Grosso.
Chegou a fundar um Museu num espaço que construiu ao lado de sua casa, mas nunca conseguiu o
reconhecimento público. Foi autora de obras pictóricas desafiadoras para o seu tempo. Envolveu-se
em buscas religiosas e optou por levar uma vida com ritmo diferente do usual, tanto nas suas atitudes,
vestimentas e comportamento em geral. Morreu em casa com mais de oitenta anos, rodeada por suas
obras visuais, livros, objetos e animais, deixando o legado de ter sido a primeira mulher artista
moderna de Mato Grosso do Sul.
Palavras-chave: Lídia Baís, mulher moderna, condição feminina
Lídia Baís é personagem do imaginário cultural da cidade de Campo Grande, boa parte
dos habitantes conhece alguma história envolvendo seu nome, pela sua forma peculiar de
viver dentro de uma sociedade cheia de convenções, Lídia construiu sua própria vida
rompendo com vários padrões sociais de seu tempo, anulou um casamento que lhe fora
imposto, morou dentro das suas regras e crenças com independência pouco usual. Este artigo
visa refletir sobre o legado biográfico e artístico de Lídia Baís, ela foi uma cidadã reveladora
1
Doutora em Arte pela ECA/USP. Professora adjunta nos cursos de Artes Visuais Licenciatura e Artes Visuais
Bacharelado da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –
UFMS. Líder e pesquisadora do Grupo de Pesquisa Pensar o Desenho. E-mail: constanca.lucas@ufms.br.
da presença feminina na sociedade sul mato-grossense, é tida como uma referência cultural
pela sua produção artística e pelos seus posicionamentos. “Como pessoa e como artista ela
lutou contra dificuldades redobradas pela condição feminina e pelo isolamento do interior do
país.” (Couto, 2011, p.41). Alguns autores se referem a Lídia Baís como sendo de
fundamental importância sua trajetória de vida e arte para a inserção do centro oeste no
modernismo brasileiro.
“No interior do Brasil, nos primeiros cinquenta anos do século 20, Lídia
representa um dos marcos da fronteira do Modernismo nas artes e da
Contemporaneidade para o novo papel das mulheres na sociedade em
transformação. Entre o culto católico, as novas tendências místicas e a
rebeldia diante das regras familiares e sociais, todos os gestos são
exacerbados, delineando as mudanças em direção ao equilíbrio. Por isso ela
é, ao mesmo tempo, conservadora e transgressora, anacrônica e
revolucionária. “ (Couto, 2011, p.68)
Lídia Baís vivenciou o seu tempo para além da geografia em que se deteve
fisicamente, plena de contradições, pertenceu à elite econômica e como tal com acesso à
possibilidade de autopreservação, registrou sua memória de existência de diferentes modos.
Os aspectos mais conservadores de parte da sua obra visual não coincidem com
algumas das suas atitudes no meio cultural e social em que estava inserida, foi uma mulher
bastante inovadora e contraditória, como afirma Emerson Oliveira, a biografia de Lídia Baís
nos remete a vivências sociais e culturais em consonância com sua posição na sociedade:
“Em muitos aspectos de sua biografia e de sua obra podemos encontrar
elementos próprios de uma artista preocupada em manter certos símbolos
sociais estabelecidos. Do nacionalismo da artista ao apego excessivo à
memória da família, passando pela manutenção de uma visão religiosa
tradicional, tais elementos tendem a ser menosprezados quando se trata de
“narrar” a vida da artista como uma mulher fora do seu tempo.” (Oliveira,
2012)
família tinha recursos financeiros e visão de mundo mais ampliada, as meninas tiveram acesso
ao estudo, algo nada comum nessa época.
Lídia Baís se revelou insatisfeita com os estudos regulares realizados em internatos
longe de casa, mas desde cedo manifestou interesse no aprendizado das expressões artísticas.
O historiador Rigotti relata que:
“Embora rejeitasse a maioria das escolas em que estudou, foi nelas que Lídia
Baís descobriu o gosto pela arte e o prazer da atividade artística por
intermédio das aulas de desenho, pintura, música, piano e outras que faziam
parte da estrutura curricular dessas instituições educacionais. Foi em torno
do ano de 1916, ainda em colégio interno, que Lídia fez seu primeiro
desenho, intitulado de “Estudo”, representando o retrato de uma singela
menina acariciando e alimentando com uvas um passarinho”. (Rigotti, 2009,
p.30)
Mais tarde, no mês de fevereiro de 1925, Lídia Baís iniciou uma viagem à Europa,
com sua irmã Celina e cunhado o médico Vespasiano Barbosa Martins, ficaram durante
alguns meses a residir em Berlim e em Paris. Foi na capital francesa que Lídia conheceu e
manteve contato com artista brasileiro, ligado ao surrealismo, Ismael Nery e com o
poeta/crítico de arte Murilo Mendes (Rigotti, 2009). Em Paris toma contato com a arte
moderna e toda efervescência cultural da cidade, certamente os modos de vida e a novas
propostas artísticas impactaram no seu modo de ver o mundo.
“Lídia ousou transgredir o padrão de roupas usadas pelas mulheres da época.
Teria levado em sua bagagem roupas do irmão Aydano, passando a
frequentar lugares tipicamente masculinos em Berlim e Paris, vestida como
um homem. Talvez a atitude representasse a ousadia de várias mulheres da
época.”
(Couto, 2011, p.74)
De volta ao Brasil, Lídia vai para o Rio de Janeiro estudar arte no atelier dos irmãos
Rodolfo e Henrique Bernadelli, estes dois pintores se posicionaram contrários aos métodos e
conteúdos do ensino na Escola Nacional de Belas Artes, lutaram pela presença da pintura
moderna na arte brasileira, contra o os princípios tradicionalistas que predominavam no
ensino da arte no Brasil, suas ações foram determinantes para a consagração da arte moderna
em território brasileiro.
Lídia teve aulas com o pintor Henrique Bernadelli que defendia e ensinava novas
maneiras de ver a arte, rompendo com as fórmulas do academicismo, e em simultâneo, mas
por um curto prazo de tempo Lídia teve aulas de pintura na Escola Nacional de Belas Artes
com o artista Osvaldo Teixeira, entre 1928 e 1929, este último chega a retratar Lídia Baís
numa pintura a óleo. Para Rigotti (2009, p.31) o pintor Osvaldo Teixeira, que seguia linha
acadêmica, exerceu influência nas composições pictóricas de Lídia Baís.
Ainda no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, em dezembro de 1929, apoiada pelo
seu professor de pintura Henrique Bernadelli, Lídia Baís realizou a sua primeira exposição
individual (Fig.1), na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, Copacabana, espaço em que
anteriormente já haviam exposto alguns artistas modernistas brasileiros tais como Ismael
Nery e Di Cavalcanti.
Fig.1 primeira exposição individual de Lídia Baís na Policlínica Geral do Rio de Janeiro.
Pressionada pela família volta a viver em Campo Grande, MS, em 1930, onde
manifesta sua insatisfação pela impossibilidade de continuar seus estudos de arte e de deixar
de conviver com o meio artístico. Na década de 1930 realiza vários afrescos nas paredes do
casarão de sua família.
Em 1938 seu pai, Bernardo Baís, falece vítima de acidente, atropelado pelo trem que
passava perto de sua casa, nesse mesmo ano Lídia Baís e a mãe, Amélia Alexandrina, vão
morar no centro de Campo Grande na quinze de novembro. É nessa nova moradia que Lídia
Baís começa a concretizar parte da sua ideia de ter um museu com suas obras e de outros
artistas mato-grossenses. Certamente influenciada pelos museus que havia visitado na Europa
e no Rio de janeiro. O primeiro museu do Brasil abriu suas portas cento e vinte anos antes, em
1818, Museu Nacional no Rio de Janeiro. A concepção de museu era muito diferente da que
temos hoje, o espaço museológico era pensando como um lugar para acumular coleções, ou
enaltecer personalidades e feitos históricos, memórias de gentes e espaços sem interação do
público, não existiam as atividades educativas paralelas às exposições. Lídia queria preservar
seus percursos pessoais, memórias diretas através de objetos vários e obras de arte.
“A artista atribuía ao museu a conservadora função de “proteger” o
que havia de autêntico e original de sua produção artística. Sem
anacronismos, Baís espelhava uma visão corrente sobre o papel do museu,
na qual a preservação da memória estava instituída por aquilo que se podia
recolher, guardar e expor como o inesquecível. A memória não como um
processo de negociação, mas como produto extensivo e casual da concretude
dos objetos físicos que, por si sós, contivessem a memória que revelaria a
artista às futuras gerações e que distinguiria Baís como sujeito singular na
cena cultural local.” (Oliveira,2012)
Fig 2: Capa do catálogo elaborado por Lídia Baís para o Museu Lídia Baís
Nos anos de 1950 Lídia Baís funda o Museu Lídia Baís (Fig.2) espaço de memória,
memória não diretamente de seus processos de criação, mas com a intenção de agrupar suas
obras visuais, seus escritos, mobiliário, objetos tais como um piano, gravador e microfone
com que realizou algumas gravações musicais.
Lídia Baís constrói uma sala destinada exclusivamente para ser um museu, num
terreno anexo à sua residência, em 1955, onde as visitas tinham de ser eram agendadas.
Durante anos, mais intensamente entre 1950 e 1960, a artista tenta oficializar o Museu
Lídia Baís, pede ajuda a vários políticos e personagens do seu ambiente social, apesar de não
ter obtido sucesso nas tentativas de transformar seu museu em espaço de interesse público, ela
guardou em sua casa, até ao fim da vida, suas obras pictóricas e vasta documentação sobre si
mesma relatando sua trajetória. O Museu que hoje leva o seu nome, na cidade de Campo
Grande, veio a surgir alguns anos após seu falecimento.
Lídia tinha consciência da importância de registrar seus trabalhos e pensamentos,
escreveu um livro autobiográfico “História de T. Lídia Baís”, com o pseudônimo de Maria
Tereza Trindade, relatando suas dificuldades e enaltecendo sua própria obra.
Ao tomarmos contato com as obras de Lídia Baís, seus escritos e maneiras de reagir ao
seu tempo social podemos tentar entrar no seu universo mutante, como Salles aponta na
construção de obra de artistas “Observamos as macrorrelações do artista com a cultura e, aos
poucos, nos aproximaremos do sujeito em seu espaço de transformações “. (Salles, p.38)
Lídia Baís inventou universos e personagens como na sua emblemática pintura
“Micróbio da Fuzarca” (Fig.3), nessa pintura podemos ver um esqueleto de cueca, com os
membros sugerindo movimento, uma longa trança, um rabo remetendo ao animalesco, não
indicado o gênero, é possível pensar num comentário sobre a androginia. “Micróbio da
Fuzarca” é uma pintura provocatória que pode gerar debate sobre a luta entre a morte e a vida.
A palavra micróbio nos lembra algo que infeta e traz a morte, e a palavra fuzarca remete a
vida festiva e confusa. É uma pintura desafiadora de cores intensas e elementos simbólicos;
um esqueleto com cabelo, caveira com uma trança amarrada com um laço, braços e pernas
meio humano, meio bicho, algo demoníaco que se revela na representação de caveira
cabeluda e cauda com pelos na ponta. Associamos caveira a questões negativas, mas também
pode ser considerada como um começo, uma nova etapa, o recomeço.
O esqueleto tanto nos remete ao feminino como ao masculino, androginia, não há uma
identificação explicita de gênero. Também Lídia Baís em muitos momentos transvestiu,
assumindo personagem de outro gênero ao se vestir com roupas masculinas, em algumas
ocasiões, motivada pela curiosidade do que seria a parte do mundo a que só os homens tinham
acesso. Consciente de que as mulheres eram cerceadas, ela quis saber o que acontecia social e
culturalmente em seu tempo.
Lídia Baís desenvolveu sua percepção sobre mundo que a rodeava, experimentou
diferentes momentos de criação, subverteu os padrões culturais vigentes e teve sua vida muito
criticada por ser uma mulher que defendia a liberdade de atuação e por ter opinião própria
manifestada em suas criações pictóricas e gráficas muitas vezes auto referenciais (Fig.4).
Lídia Baís insere sua fotografia na bandeira nacional, se coloca como personagem
histórica, como se reafirmasse sua pertença ao país Brasil, subvertendo a posição das estrelas
da bandeira. Esta atitude auto referencial aparece em várias pinturas suas, compondo uma
coerência na subversão da ordem e progresso a que a bandeira remete. Este tipo de peça
gráfica auto referencial era rara no meio dos artistas brasileiros. A autora Alda Couto afirma
que “Aparentemente alucinada ou ingênua, Lídia Baís é uma artista que subverte toda uma
sociedade, e, em particular, um segmento, o feminino, em busca de identidade, de meios de
expressão e de alguma dignidade.” (Couto, 2011, p.102).
Lídia Baís se expressou pela pintura, pela fotografia e pelo desenho. O desenho fez
parte da sua percepção de mundo e, esteve presente na sua trajetória de vida, desenhos como
experimentações de gesto, de figuração, são registros experimentais, de acordo com Salles:
“O desenho de criação, na especificidade das artes visuais, age como campo
de investigação, ou seja, são registros da experimentação: hipóteses visuais
são levantadas e vão sendo testadas e deixam transparecer a natureza
indutiva da criação. Possibilidades de obras são testadas em esboços que são
parte de um pensamento visual.” (Salles, p.114)
Sonhadora Lídia Baís se configurou como uma mulher percursora das ideias
feministas que reivindicam as mesmas oportunidades, os mesmos direitos. Ela assim como o
poeta Fernando Pessoa misturaram realidades e sonhos:
“Vejo as paisagens sonhadas com a mesma clareza com que fito as reais. Se
me debruço sobre os meus sonhos é sobre qualquer coisa que me debruço.
Se vejo a vida passar, sonho qualquer coisa.
De alguém alguém disse que para ele as figuras dos sonhos tinham o mesmo
relevo e recorte que as figuras da vida. Para mim, embora compreendesse
que se aplicasse frase semelhante, não a aceitaria. As figuras dos sonhos não
são para mim iguais às da vida. São paralelas. Cada vida – a dos sonhos e a
do mundo – tem uma realidade igual e própria, mas diferente. Como as
coisas próximas e as cousas remotas. As figuras dos sonhos estão mais
próximas de mim, mas...” (Pessoa, 1997).
Considerações finais
Ao pesquisar a personagem Lídia Baís verifiquei que obra e vida de Lídia estão
intimamente ligadas, dentro de um mundo de contradições criadoras. Na sua trajetória o
feminino adquire voz no sonho. Lídia assume ruptura com a submissão doméstica, no
combate à autoridade masculina. Tinha um sentido de autopreservação intenso e egocêntrico.
Desenvolveu trabalhos artísticos abordando temas polêmicos para o seu tempo e condição de
gênero.
A capacidade de se reinventar fez de Lídia Baís uma cidadã inovadora, despertando
até hoje interesse a todos aqueles que se interessam por conhecer o que foi a vida cultural de
Campo Grande no século XX.
REFERÊNCIAS
BAÍS, Lídia. Lembrança Museu Baís: sala das fotografias. Catálogo de fotos. Campo
Grande: Museu Baís [cerca1960]
COUTO, Alda Maria Quadros do Couto. Lídia Baís, uma pintora nos territórios do
assombro. Editora Annablumme: São Paulo, 2011.
OLIVEIRA, Emerson Dionisio Gomes de. Obra, Memória e Instituição: O papel de Lídia
Baís na arte Sul-Mato-Grossense. Disponível em:
<http://www2.ufpel.edu.br/ich/memoriaemrede/beta-02-01/index.php/memoriaemrede/article/view/96/91>
acesso em junho 2017
Resumo
Este trabalho tem por objetivo traçar um paralelo teórico-conceitual entre a capa do livro Machado
(2016) do crítico literário, escritor e intelectual Silviano Santiago com o seu texto literário e,
sobretudo, com a inscrição biográfica do autor nas relações culturais erigidas pelos discursos
artísticos, quer sejam eles imagéticos ou literários. A inscrição do eu, as relações culturais
contemporâneas traçadas pelo escritor e a diluição das fronteiras disciplinares como sintoma das
teorias culturalistas são temáticas (re)correntes das nossas assertivas. Desse modo, na esteira do
recorte epistemológico supracitado, é substancial que o lugar de onde erigimos nossas teorizações seja
marcado, isto é, a fronteira-Sul que é um lócus geoistórico tanto de aproximação, quanto de
distanciamento. Uma região alocada na exterioridade dos eixos críticos hegemônicos, mas que, por sua
vez, está em constante produção intelectual pensando teorias que possam dar conta dessas produções
artísticas que demandam epistemologias outras que não as exportadas de grandes centros urbanos
mundiais (BHABHA, 2013) e aglutinadas nas margens do planeta. Nesse sentido, o trabalho se
sustenta teoricamente pela crítica biográfica fronteiriça proposta, essencialmente, por Edgar Cézar
Nolasco, além de outros teóricos que corroboram a discussão, entre eles Eneida Maria de Souza,
Walter Mignolo, Edward W. Said, Diana Klinger e Jovita Maria Gerheim Noronha. Assim, algumas
das obras utilizadas são: CADERNOS DE ESTUDOS CULTURAIS: SILVIANO SANTIAGO: uma
homenagem, Crítica cult (2002), Janelas indiscretas (2011), “Teorizar é metaforizar” (2016),
Histórias locais/projetos globais (2003), Representações do intelectual (2005), Escritas de si, escritas
do outro (2012), Ensaios sobre autoficção (2014) e “Meditações sobre o ofício de criar” (2008).
Palavras-chave: Autoficção. Cultura. Silviano Santiago.
Introdução
O objetivo deste texto é (re)ler a capa da obra Machado: romance (2016), do
intelectual brasileiro Silviano Santiago, à luz das proposições críticas biográficas fronteiriças,
em confluência com o texto literário do romance e com os diálogos culturais que essas
expressões artísticas corroboram. (Re)visitar de modo teórico a imagem do rinoceronte (feroz
1
Graduando em Letras Habilitação Português/Inglês pela UFMS. Bolsista PIBIC/CNPq pela UFMS. Membro do
Núcleo de Estudos Culturais Comparados – NECC/UFMS. E-mail: pedro_alvesdemedeiros@hotmail.com.
2
Doutor em Estudos literários pela UFMG. Professor adjunto nos cursos de Letras Habilitação em
Português/Espanhol e Letras Habilitação Português/Inglês da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. Coordenador do Núcleo de Estudos Culturais
Comparados – NECC/UFMS. E-mail: ecnolasco@uol.com.br.
estão sempre atravessados pela escrita de si. A autoficcionalização funciona como força
motora da escrita literária do mineiro e possibilita novos caminhos para ele como escritor.
Segundo Silviano:
Ainda na esteira das considerações sobre a autoficção arroladas por Silviano na citação
supracitada, Diana Klinger, em Escritas de si, escritas do outro (2012), complementa:
Essa leitura de caráter cultural é possível por meio da visada crítica biográfica
fronteiriça a qual nossa discussão está aquilatada. Através dos textos teóricos, principalmente,
de Edgar Cézar Nolasco, Walter Mignolo e Eneida Maria de Souza, podemos nos inscrever
nas teorizações erigidas da fronteira-Sul, estabelecendo relações metafóricas entre nós críticos
fronteiriços e o objeto, além de (de)marcar o lócus geoistórico/epistemológico 3 de onde
pensamos. Há a necessidade de interromper o processo de exportação de teorias
eurocêntricas/estetizantes para as margens e dar continuidade à produção de epistemologias
outras que deem conta das próprias produções brasileiras.
Como bem explicitou Souza na primeira citação deste texto, a diluição entre as
fronteiras disciplinares possibilitou a intersecção de disciplinas diversificadas que podem se
complementar na semelhança ou, sobretudo, na diferença. Um exemplo pragmático dessa
3
Conceito pensado por Walter Mignolo em Histórias locais/projetos globais (2003).
prática é justamente a proposta deste texto: estabelecer relações culturais entre a literatura e as
artes visuais enquanto processos de (inter)relações críticas. Somando-se a isso, é necessário
pontuar que as colocações aqui apresentadas estão atravessadas pelo olhar de sujeitos que
vivem na fronteira-Sul e que pensam a partir dela: indivíduos que “aprenderam a desprender”
(NOLASCO, 2015).
Walter Mignolo, em Histórias locais/projetos globais (2003), afirma que a produção
do conhecimento é indissociável do lócus geoistórico de origem. Assim sendo, estudar
Silviano Santiago, escritor brasileiro natural de Formiga, é refletir e erigir uma epistemologia
também desse lugar que possa dar conta de (re)ler sua literatura sem recair em
provincianismos, análises psicologizantes ou estetizantes – práticas teóricas exploradas
continuamente e descontroladamente pela crítica ocidental. O ponto de vista defendido pela
crítica biográfica fronteiriça não é ignorar o que a modernidade e os eixos hegemônicos
fizeram pela teoria, mas, sim, aprender a desaprendê-la para ler as obras locais a partir desse
lugar e não de teorias viajantes. Edgar Cézar Nolasco em “Crítica biográfica fronteiriça
(Brasil/Paraguai/Bolívia) ressalta:
A visada teórica defendida pela crítica biográfica fronteiriça se, por um lado, não
ignora as demais abordagens teórico-críticas, como a moderna e ocidental, por outro
lado, entende que é por meio da articulação de uma epistemologia fronteiriça que se
pode compreender e abarcar melhor as histórias locais desses loci epistemológicos e
suas produções que continuam não encampados pela crítica modernas geralmente
pensadas dos grandes centros do país e do mundo moderno. (NOLASCO, 2015, p.
51)
Optamos por iniciar esta seção evocando a fala de Edward W. Said em Representações
do intelectual (2005) a fim de (re)lê-la na diferença, isto é, como uma contribuição para a tese
que defendemos neste texto: o posicionamento feroz de Silviano Santiago enquanto
intelectual na crítica/arte de seu tempo. Said, crítico israelense, pensa e erige suas teorizações
a partir do seu lócus geoistórico que se difere, obviamente, do nosso. Nesse sentido, é
possível adaptarmos sua afirmação para o contexto da crítica e literatura brasileiras quanto às
disposições de Silviano Santiago. Ironicamente, Said se utiliza da palavra “domesticado” para
qualificar o especialista em literatura. Aqui, o argumento se fundamenta essencialmente na
metáfora de Silviano enquanto um animal feroz tal qual o rinoceronte que estampa a capa de
seu romance Machado. Silviano não seria um animal domesticado, mas indomável, ferino,
audacioso e destemido. Observemos:
Caro Pedro, lamento que não haja UM significado para a capa do romance
Machado. Foi produto do acaso. Posso, quando muito, historiar as surpresas
proporcionadas pelo acaso.
Quando entreguei os originais do romance, ainda estava na Companhia das Letras
Sofia Mariutti (a quem, aliás, agradeço ao final do livro). Ela me enviou duas
sugestões para a capa. Uma delas, que não gostei nada, era um bico de pena de
casa/residência típica do século dezenove carioca. Uma espécie de sobrado. Não
podia aceitar. A outra, que não entendi muito, me seduziu pelo mistério que ela
continha. Em lugar do clássico hipopótamo machadiano, a figura de um rinoceronte.
Gostei imediatamente. Talvez Sofia tenha soprado ao designer da Editora que eu
estava escrevendo, ao mesmo tempo em que escrevia Machado, um ensaio sobre a
ferocidade em Grande Sertão: Veredas (já deve imaginar que se trata do livro já
publicado há dias Genealogia da ferocidade).
Retrospectivamente, acho que gostei do rinoceronte porque representava minha nova
fase como escritor. Certo tratamento feroz com a tradição literária brasileira que,
confesso, ganhou corpo escrito aí na Universidade onde estuda. [...]
Obrigado pelo interesse e pela leitura do romance.
Aceite o abraço amigo do
Silviano.4
4
SANTIAGO. Versão eletrônica por e-mail [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por
pedro_alvesdemedeiros@hotmail.com em 04 de abril de 2017.
contrário, o escritor se utiliza dos conhecimentos e formação obtidos fora do Brasil para não
só pensá-lo da exterioridade, mas (re)vê-lo, também, da interioridade, isto é, à luz de
teorizações brasileiras que releem as produções artísticas próprias desse lugar. Renato
Cordeiro Gomes em “De uma província ultramarina à Cosmópolis: uma aventura e ideal para
Silviano Santiago” complementa essa ideia:
Mas é desse lugar-entre, dessa terceira margem, não exclusivamente lá nem cá,
desse lugar diferido, não-puro, que o ponto de vista pode se deslocar: desloca-se
para outros lugares, - geográficos, discursivos, culturais. Ainda deslocamentos,
atualização, diversidade, contato crítico com culturas estrangeiras: trânsitos,
migrações, - “apesar de dependente, universal”! Um pensamento cosmopolita do
ponto de vista provinciano, sem complexo de inferioridade, suplementado
paradoxalmente pelo estrangeiro. Fato relevante: o contraponto é sempre o Brasil,
como deixam ver os textos sobre autores e livros da colina do Sabático, em que, ao
puxar conversa com leitores, no sábado, pela manhã, Silviano propõe a mediação de
autor estrangeiro, para olhar os tristes trópicos. (GOMES, 2014, p. 107)
Tinha me dado conta de que não estava mais falando português. (...) Um dia o
Alexandre Eulálio pegou um artigo meu e disse: “Silviano, vou ter que lhe dizer
uma coisa: existem vários problemas de português neste seu artigo. O mais grave é o
uso de preposições. Você está com problemas seríssimos de regência verbal.” Claro,
regência verbal pesadíssima em francês, pesadíssima em inglês ... O comentário me
deixou completamente enlouquecido. (2002, 162) (SILVIANO apud ÁVILA, 2014,
p. 72)
Nessa perspectiva, Diana Klinger em Escritas de si, escritas do outro (2014) se utiliza
da obra Histórias mal contadas (2005), livro de contos de Silviano, para sustentar sua
discussão sobre a ficcionalização da experiência de si. Essas assertivas se tornam relevantes
para o debate aqui engendrado na medida em que os contos constituintes da obra supracitada
são autoficções, à lá Serge Doubrovsky, das experimentações do intelectual brasileiro durante
sua prática docente nos Estados Unidos. Retoma-se a citação de Jeannelle arrolada
anteriormente: a prática intelectual se dá por múltiplas coisas ao mesmo tempo – neste caso,
produções críticas e literárias como produto da experiência. Segundo Klinger:
[...] em vários contos incluídos no seu livro Histórias mal contadas (2005), Silviano
Santiago faz uma ficcionalização da sua experiência de jovem universitário
brasileiro n oseu primeiro contato com as sociedades francesas e norte-americanas
nos anos 60. Para Santiago, é a própria ficcionalidade dos contos que os aproxima de
certa verdade [...] A ficção nos aproxima muito mais da verdade do que o mero
relato sincero do que aconteceu (Ilha, 2005). Nessa perspectiva, a ficção seria
superior ao discurso autobiográfico pois o escritor não tem como prioridade contar
sua vida, mas elaborar um texto artístico, no qual sua vida é uma matéria
contingente. (KLINGER, 2005, p. 35)
Ainda que a transferência e a relação amorosa entre o crítico e o objeto sejam latentes
na crítica biográfica, faz-se necessário que se mantenha o distanciamento crítico na medida
em que fraternalismos são comportamentos que recorrem em senso comum e práticas
acríticas, como bem explicita Francisco Ortega em Para uma política da amizade: Arendt,
Derrida, Foucault (2009). O crítico deve ter a consciência de que as vidas se complementam
na diferença (NOLASCO, 2010), pois somente o distanciamento permite o respeito e o
desenvolvimento da sensibilidade e da delicadeza para o exercício da alteridade intelectual e
crítica.
Considerações finais
Tanto Mignolo, quanto Silviano [...] não deslegitimam “as ideias críticas europeias”;
antes, passam por elas e as procuram ler na diferença colonial. (NOLASCO, 2014, p.
22)
REFERÊNCIAS
BHABHA, H. K. O local da cultura. Trad. Myriam Ávila, Eliana Lourença de Lima Reis,
Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.
CADERNOS DE ESTUDOS CULTURAIS: SILVIANO SANTIAGO: uma homenagem. v. 6,
n. 11. Campo Grande: Editora UFMS, 2014.
KLINGER, D. Escritas de si, escritas do outro: o retorno do autor e a virada etnográfica. Rio
de Janeiro: 7Letras, 2012.
MIGNOLO, W. Histórias locais/projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e
pensamento liminar. 1ª ed. Trad. Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2003.
NOLASCO, E. C. Crítica biográfica fronteiriça (Brasil/Paraguai/Bolívia). In: CADERNOS
DE ESTUDOS CULTURAIS: Brasil/Paraguai/Bolívia. v. 7, n. 14. Campo Grande: Editora
UFMS, 2015, p. 47-63.
NOLASCO, E. C. Políticas da crítica biográfica. In: CADERNOS DE ESTUDOS
CULTURAIS: crítica biográfica. v. 2, n. 4. Campo Grande: Editora UFMS, 2010, p. 35-50.
NORONHA, J. M. G. (org.). Ensaios sobre autoficção. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2014.
ORTEGA, F. Para uma política da amizade: Arendt, Derrida, Foucault. Rio de Janeiro:
Relume Dumará, 2000.
SAID, E. W. Representações do intelectual: as conferências de Reith de 1993. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005.
SANTIAGO, S. “Meditações sobre o ofício de criar”. Disponível em:
<http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/1450> Acesso em 24 de
agosto de 2017.
SANTIAGO, S. Machado: romance. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2016.
SOUZA, E. M. de. Crítica cult. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
SOUZA, E. M. de. Janelas indiscretas: ensaios de crítica biográfica. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2011.
SOUZA, E. M. de. Teorizar é metaforizar. In: CECHINEL, A. (org.). O lugar da teoria
literária. Criciúma: Ediunesc, 2016 p. 217-224.
Resumo
Este artigo relata a produção parcial da coletânea de Materiais Educativos – ME, virtual, intitulada de
“Caminhos Cruzados pela Arte”, desenvolvida nos projetos Midiateca e Formação Continuada do
PIAE - Programa Institucional Arte na Escola – Polo da Universidade Regional de Blumenau – FURB.
O objetivo propõe elaborar uma coletânea de ME, relacionada com as exposições de arte aprovadas no
Edital nº 001/2016 de Exposições Temporárias de Artes Visuais - Salão Angelim da FURB,
promovido pela Divisão de Cultura da FURB, para o ano de 2017, que contempla proposições de
formação e reflexão feitas pelos artistas, visando à contribuição para o ensino e aprendizagem da arte
na educação básica, cursos de licenciatura e pós-graduação, com possibilidade de ação interdisciplinar.
A coletânea é um rico potencial para auxiliar professores de arte na elaboração de suas aulas. A equipe
do PIAE decidiu criar a coletânea de ME, a partir da reflexão e análise de documentação escrita e
fotográfica dos artistas que concorreram ao edital, também da participação na noite de abertura das
exposições, do contato com os artistas e do acompanhamento da proposta de formação e reflexão, uma
contrapartida dos artistas à universidade. Os seis ME foram previstos para serem elaborados em duas
etapas, os três primeiros iniciaram em abril e terminaram em julho e a segunda etapa inicia em agosto
e tem previsão de terminar em outubro. Participam da elaboração do ME, duas professoras do PIAE da
FURB, uma professora voluntária e dois bolsistas extensionistas, que se dedicam para produzir
materiais de qualidade pedagógica, artística e estética.
Palavras-Chave: Materiais educativos. Exposições de arte. Educação estética.
1
Mestre em Educação e Cultura pela UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina - Florianópolis/SC.
Especialista em Criação Publicitária pela FURB – Blumenau/SC. Graduada em Educação Artística – Habilitação
Artes Plásticas pela FURB. Professora do Departamento de Artes da FURB. Coordenadora do Curso de Artes
Visuais da FURB. Coordenadora Geral do Programa Institucional Arte na Escola - Polo FURB. Membro do
Grupo de Pesquisa Arte e Estética na Educação.
2
Mestre em Educação: Ensino Superior pela FURB. Especialização em Educação Pré-Escolar pela UDESC –
Universidade do Estado de Santa Catarina - Florianópolis/SC. Graduada em Educação Artística pela FURB –
Universidade Regional de Blumenau/ SC. Professora do Departamento de Artes da FURB.
3
Estudante do Curso de Artes Visuais – Licenciatura da Universidade Regional de Blumenau – FURB. Bolsista
do Projeto de Extensão Formação Continuada Arte na Escola/FURB. Bolsista do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid).
4
Estudante do Curso de Artes Visuais – Licenciatura da Universidade Regional de Blumenau – FURB. Bolsista
do Projeto de Extensão Formação Continuada Arte na Escola/FURB. Bolsista do PIBID.
Introdução
[...] como instituição cultural, como espaço de atuação de saberes, onde podem
ocorrer as mediações para que o conhecimento seja produzido, um espaço próprio
para uma mediação que convida a ampliar as conexões na relação do ser humano
com o conhecimento decorrente tanto entre os sujeitos, como destes com os espaços
e os objetos, como uma grande troca, um provocar pela experiência estética, artística
e cultural.
São pertinentes alguns questionamentos sobre o tema em estudo, como por exemplo:
Quais as dificuldades encontradas pela equipe do PIAE durante a elaboração dos ME? Que
tipo de proposta de formação e reflexão foi realizada pelo artista expositor e quem foi o
público participante? Como os artistas receberam a ideia da elaboração do ME e quantos
contribuíram com informações, documentação escrita e fotográfica?
Mediante os desafios apresentados, o trabalho objetiva elaborar a coletânea
“Caminhos Cruzados pela Arte”, relacionada com as exposições de arte aprovadas no Edital
nº 001/2016 de Exposições Temporárias de Artes Visuais - Salão Angelim da FURB,
promovido pelo Divisão de Cultura da FURB para o ano de 2017 e das propostas de formação
educativa dos artistas. O Edital mencionado, na p. 2, item 3 que trata das inscrições e o
subitem 3.4.1, na letra “e”, solicita uma “Proposta de atividade de formação e reflexão, com
conteúdo programático e descrição básica, que será oferecida obrigatoriamente pelo(s)
artista(s) como contrapartida à FURB e à comunidade, caso seja(m) selecionado(s)”.
Foram selecionados para as exposições seis artistas, entre eles Jéssica Paiva
(Brasília/DF), Kim Coimbra (Itajaí/SC), Samy Sfoggia (Porto Alegre/RS), Lorena Acin
(Toulouse/França), Eugênia Maria França (Contage/MG), Pakawom Thatprakob Martin
(Blumenau/SC). Nesta reflexão serão abordados somente os três primeiros artistas citados.
Aporte Teórico
Os recursos visuais em sala de aula “são importantes (...) para iniciar a alfabetização
estética pelas escolas e para preparar os sentidos e o intelecto do aluno, munindo-o
de todos os conhecimentos históricos e estéticos para que o contato com a obra de
arte real seja bem aproveitado”. (FRANZ, 2001, p.62)
saberes para tornar mais rica à experiência em sala de aula. Esta iniciativa gera a oportunidade
de buscar linhas de aproximação entre arte e outras áreas de conhecimento.
Kim Coimbra disponibilizou obras na técnica de fotografia, vídeo e objetos que foram
registradas e documentadas para o ME. A expografia e a curadoria das obras foram realizadas
pelo artista, sendo que as fotografias estavam dispostas sobre painéis brancos, que
proporcionaram equilíbrio e harmonia à exposição.
A terceira exposição foi da artista Samy Sfoggia, intitulada de “Drømmer om Skov”,
ocorreu no período de 30 de maio a 21 de junho. A artista não esteve presente na noite de
abertura, assim, a Divisão de Cultura decidiu abrir ao público a exposição, logo após a
montagem.
Professores e estudantes dos cursos do Departamento de Artes da FURB visitaram a
mostra. A conversa presencial com a artista não aconteceu, ocorreu somente o contato por e-
mail e por telefone. Mesmo assim, os dados sobre a artista e suas obras não foram alterados,
permanecendo as informações do Edital e o livro de presença registrou 99 pessoas que
visitaram a exposição. A exemplo das outras duas exposições pode-se dizer que os números
apresentados podem não revelar a realidade de pessoas visitantes.
Samy Sfoggia disponibilizou obras na técnica de fotografia, cuja expografia e a
curadoria das obras foram realizadas pela equipe de profissionais da Divisão de Cultura da
Universidade. As fotografias em preto e branco estavam dispostas sobre painéis brancos,
causando impacto no público pela ausência de cores.
Considerações Finais
A coletânea “Caminhos Cruzados pela Arte” nesta primeira etapa, conclui três ME que
serão disponibilizados virtualmente, no mês de novembro, juntamente com os três últimos que
serão elaborados no segundo semestre de 2017. A coletânea enriquecerá o ensino da arte e
contribuirá para a prática pedagógica dos professores que atuam na educação básica e
superior, contribuindo com novos repertórios sobre a arte contemporânea.
Para responder os questionamentos feitos no decorrer do trabalho, pode-se dizer que
para superar as dificuldades encontradas durante a elaboração dos ME, os desafios foram
intensos. Os bolsistas relatam que as principais provocações identificadas estão relacionadas
com a falta de material biográfico sobre os artistas, tanto no edital, como na mídia. Ao refletir
sobre o assunto, considerou-se que os expositores são bem jovens, e estão em processo de
construção de suas carreiras artísticas, por isso, nada foi encontrado em publicação impressa e
pouca informação em mídias eletrônicas. Isso fez com que a equipe investisse no contato
direto com os artistas, mediante conversa informal na noite de abertura da exposição, também
por contato telefônico e por e-mail. Mesmo assim, as informações não aumentaram para além
do que já existia nos dados de identificação e do portfólio do edital.
No que se refere às proposições de formação educativa realizadas pelos artistas
expositores, segundo solicitação do edital e quem foram os participantes, pode-se informar
que dos três artistas expositores, dois realizaram suas propostas de formação e reflexão que
foram diversificadas e importantes. Uma foi realizada em forma de oficina e outra como roda
de conversa. A oficina foi ministrada pela artista visual Jéssica Paiva, direcionada para a
comunidade e realizada na FURB, participaram apenas cinco pessoas.
A roda de conversa realizada pelo artista Kim Coimbra, ocorreu após o coquetel da
exposição. Reuniu alunos dos Cursos de Design e de Artes Visuais, no próprio local, para
uma conversa sobre sua produção artística e o projeto de Mestrado que deu origem a pesquisa
que resultou na exposição “Exercícios de Escrita para a Leitura e Exercícios de Leitura para a
Escrita”. A roda de conversa foi mediada por uma professora do Departamento de Artes da
FURB. Os estudantes demonstraram interesse pelo projeto e pelas obras expostas,
participaram ativamente 30 pessoas com perguntas que foram prontamente respondidas pelo
artista, que teve a oportunidade de esclarecer dúvidas, curiosidades e divulgar o seu trabalho,
por meio de um diálogo agradável e acessível ao público.
A artista Samy Sfoggia não estava presente na abertura, e, consequentemente não fez a
formação para a comunidade. Desta forma, pode-se dizer que o número de pessoas
participantes das formações, tanto da universidade, como da comunidade em geral, poderia ter
sido maior. Vale relembrar o que já foi dito anteriormente, que os números aqui computados
podem não revelar a realidade dos visitantes.
Sendo assim, identificou-se neste trabalho a necessidade de ampliar a divulgação das
exposições na comunidade, que hoje ocorre de maneira formal na mídia local, porém não tem
o alcance desejado. A exposição termina atingindo de forma direta a comunidade acadêmica
que circula pela universidade e não a comunidade em geral. Fica a sugestão de uma
divulgação mais pontual junto aos cursos de licenciatura da universidade e em especial do
encontrados nesta fase de análise do ME, antes de dar continuidade à segunda etapa da
coletânea, que elaborará os três últimos Materiais Educativos.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Carla; FREITAS, Aline Amaral; NIETZEL, Adair de Aguiar. Salas de arte:
espaço de formação estética e sensível na escola. In NITZEL, Adair de A., CARVALHO,
Carla (Orgs.). Mediação cultural, formação de leitores & educação estética. Curitiba:
Editora CRV, 2016.
LEITE, Maria Isabel. Educação e cinema: um recorte sobre o papel cultural dos festivais. In:
OSTETTO, Luciana E.; LEITE, Maria Isabel. (Orgs.). Arte, infância e formação de
professores: autoria e progressão. Campinas, SP: Papirus, 2004.
FRANZ, Terezinha S. Educação para a compreensão da arte. Museu Victor Meirelles.
Florianópolis: Insular, 2001.
MARTINS, Miriam C.; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, Terezinha. Teoria e prática do ensino
da arte: a língua do mundo. São Paulo: FTD, 2010.
MEIRA, M. Filosofia da criação: reflexões sobre o sentido do sensível. Porto Alegre:
Mediação, 2003.
PILLOTTO, Silvia Sell Duarte. (Org.) Linguagens da arte na infância. Joinville: Univille,
2007.
SIMÓ, Cristiane Higueras. A arte-educação no âmbito da educação inclusiva: uma análise
das teses de doutorado. In: SILVA, Maria Cristina da Rosa Fonseca (Org.). Conversas de
grupo de pesquisa: enlaces entre educação e arte. Itajaí/SC: Casa Aberta Edidora, 2013.
SOARES, Andrey F.C.; NEITZEL, Adair de A.; CARVALHO, Carla. A potência cultural da
escola: estudos sobre mediação e formação estética. In NITZEL, Adair de A., CARVALHO,
Carla (Org.). Mediação cultural, formação de leitores & educação estética. Curitiba:
Editora CRV, 2016.
Edital nº 001/2016 de Exposições Temporárias de Artes Visuais Salão Angelim – Biblioteca
Universitária – Divisão de Cultura – 2017 – FURB. Disponível em:
http://www.furb.br/web/1313/institucional/editais/cultura/27 - Acesso 29/06/2017.
Resumo
O presente artigo se detém na única fotografia, até então conhecida, dos escritores Fernando Sabino e
Clarice Lispector. Em conjunto com as cartas trocadas entre os escritores durante 23 anos de amizade
a distância (1946 - 1969) e presentes em Cartas perto do coração (2011), a fotografia narra um
momento único na amizade. O objetivo do trabalho é o de arrolar e articular o papel de conceitos
como silêncio, sobrevida, rastro e aesthesis na experiência de observação, nesse sentido considera-se a
participação do crítico na construção da narrativa fotográfica. Para tanto, a noção de hegemônica de
estética já não mais comporta a discussão proposta justamente por excluir a sensação e percepção, em
prol de um conjunto de normas que instituem conceitos como belo a fim de delimitar o que é arte,
reforçando uma perspectiva artística e crítica calcada nas semelhanças, e o que não corresponde aos
parâmetros estabelecidos é relegado a exterioridade. A articulação desenvolvida é embasada nas
considerações pós-coloniais de Walter Mignolo em “Aiesthesis decolonial” (2010) e “Estéticas
Decoloniales” (2012) e nos apontamentos de Susan Sontag em Sobre a fotografia (2004), Roland
Barthes em A câmara clara (2012) e Eni P. Orlandi em As formas do silêncio: no movimento dos
sentidos (2002).
Palavras-chave: Fotografia. Silêncio. Rastro.
Introdução
1
Graduada em Letras em 2013 na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), campus Grande
Grande, habilitação Português/Espanhol. Mestra em Estudos de Linguagens pela mesma instituição. Atualmente
desenvolve pesquisa de doutorado (UFMS - Três Lagoas) nas cartas publicadas do escritor mineiro Fernando
Sabino. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Comparada, atuando, principalmente, nos
seguintes temas: cartas, Fernando Sabino, amizade, Clarice Lispector, literatura e pesquisa, cultura, linguagem, e
história. E-mail: lucia_jbc@hotmail.com.
2
Coordenador do NECC - Núcleo de Estudos Culturais Comparados, Editor-Presidente dos CADERNOS DE
ESTUDOS CULTURAIS. Mestrado em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997)
e doutorado em Literatura Comparada também pela mesma instituição. Atualmente é professor dos cursos de
Graduação e Pós-Graduação nível Mestrado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Tem experiência
na área de Letras, com ênfase em Crítica Cultural, Estudos Culturais, Literatura Comparada, Crítica Local,
Literatura Brasileira e Teoria Literária, atuando principalmente nos seguintes temas: Crítica Cultural, Estudos
Culturais, Paisagens Culturais, Literatura Comparada, Crítica Local, Clarice Lispector, Literatura Brasileira,
Teoria Literária. E-mail: ecnolasco@uol.com.br.
poucas foto sem que Clarice, está sorrindo, o que, por sua vez, me permite considerar que a
presença de um amigo querido e de longa data como Fernando, foi capaz de ajudar a
proporcionar a mudança da Clarice séria, misteriosa e, como outros diriam, hermética, para a
Clarice misteriosa, mas que igualmente desfrutava do prazer e da alegria da presença de
alguém querido, demonstrando que a escritora trazia os amigos, para fazer referência tanto ao
seu primeiro livro quanto ao livro de cartas, para “perto de seu coração”.
A genealogia de um tal registro visual remonta ao período em que Clarice voltou para
o Brasil logo após se divorciar do diplomata Maury Gurgel Valente, em junho de 1959,
mesmo período em que a revista “Senhor” publicou seus contos: “A menor mulher do
mundo”, “O crime do professor de matemática”, “Feliz aniversário”, “Uma galinha”, e inicia,
sob o pseudônimo de Helen Palmer, a escrever a coluna “Correio feminino – Feira de
utilidades” para o jornal “Correio da manhã”.
Por outro lado, Fernando, nesse período, comparece ao lançamento de seu livro O
Encontro marcado em Lisboa (Portugal), colabora com o “Jornal do Brasil”, com a revista
Remeto as palavras de Susan Sontag, no livro Sobre a fotografia (2004), que reúne
seis ensaios da autora em torno do assunto, quando esta esclarece que: “Fotografar é atribuir
importância” (SONTAG, 2004, p. 41), pois reside em uma escolha pessoal movida pelo
despertar de uma sensação, denominada afeto, quando o sujeito se depara com uma imagem
ou um momento em que se deseja captar algo, “eternizar”, estatificar, congelar no tempo.
Nesse entender, as fotografias oferecem tal perspectiva: “[...] porque são uma nítida
fatia do tempo, e não um fluxo” (SONTAG, 2004, p. 28.), pedaço de um momento outrora
vivido e do qual se tem a esperança de reviver por meio da foto. O desejo de se prolongar
indefinidamente a lembrança registrada parte do medo de se esquecer o momento e a sensação
experimentada, como se fosse possível revive-las tais quais ocorreram na ocasião.
Em sentido contrário, lido com a foto dos amigos como uma forma de construção,
como parte do arquivo e que é atravessado pela experiência sensorial da aesthesis, porque não
há condições físicas, tecnológicas ou coisa que o valha que possibilite voltar ao tempo e ao
momento em que vocês tiraram a foto. A construção é pensada sob a perspectiva do olhar e,
como já dito, não visa remontar ao momento único vivenciado.
A impossibilidade de viver novamente aquilo que já pertence ao passado é lembrado
por Roland Barthes, quando em seu livro A câmara clara (2012) recorda que: “O que a
Fotografia reproduz ao infinito só ocorreu uma vez: ela repete mecanicamente o que nunca
mais poderá repetir-se existencialmente” (BARTHES, 2012, p. 14). De acordo com a fala de
Barthes, o que está em jogo quando o assunto tratado é a fotografia, é a relação entre a
reprodução mecânica de um documento, que se presentifica no registro, e o momento
existencial, ou seja, o contexto das circunstâncias que propiciaram a foto. O lugar situado
entre existência e reprodução do registro é o lugar de inscrição do rastro que não é de total
pertencimento a nenhuma das duas esferas, existência e reprodução.
No silêncio, a sobrevivência
amizade, silêncio do talvez de uma amizade que não precisa dizer nada, pois às vezes a
palavra corrompe a amizade, e o silêncio preserva” (ORTEGA, 2000, p. 112).
A fala de Francisco Ortega situa a amizade inserida no campo do silêncio. A amizade
está intimamente interligada com ele, este algoz dos que o temem, sua presença (pois ele não
é essencialmente ausência) nos transporta para as possibilidades que entram em choque com o
terreno da fraternidade. A fraternidade não concebe que a amizade também seja composta de
silêncio, pois o silêncio desafia, é sinal de discordância, de pensamento, confabulação.
Desta forma, não sendo necessárias palavras escritas ou faladas, quando do primeiro
momento da experiência de observação, dá-se lugar a narração do olho, fundamental para o
desenvolvimento do ensaio, que aqui se faz presente não no intento de ser o único narrador,
mas dialogando com outro sentido.
De fato, o que proponho de antemão pode soar estranho, na medida em que se
questiona: De que forma o meu olho narra? Qual é o seu papel na experiência fotográfica? É
para discorrer acerca dos questionamentos levantados que desenvolvo o que aqui chamo de a
narrativa do olho. Para tanto, valho-me de minha própria experiência arcôntica de
colecionadora evidenciando: “[...] a paixão que une aqueles que se empenham em assumir não
apenas o papel de herdeiros de um determinado legado cultural, mas também a função de
artífice da memória, aqui considerada como um infinito work in progressI” (LIMA, 2011, p.
32).
Paixão esta que se estende para a fotografia, cuja busca apaixonada ora desperta amor
ora o mal, é, ao mesmo tempo, o sofrimento, conforme indica a etimologia da palavra paixão,
o mal de arquivo (DERRIDA, 2001). Nessa perspectiva, então, o que age contra mim, mas
também é o amor, o afeto, o que toca (Lispector)3, o que impulsiona, isto é, aquilo que age a
meu favor.
Ao reproduzir, na primeira página da carta, a fotografia de meu próprio olho começo a
responder a primeira pergunta feita, de que forma o olho narra. O olho passa pela experiência,
vivencia-a, mas não está sozinho. Junto ao olho está o outro sentido que me permite pensar e
3
Remeto a uma famosa fala de Clarice Lispector quando entrevistada por Júlio Lerner: “[...] ou toca ou não toca
[...] Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato [...]”.
LISPECTOR. “Panorama com Clarice Lispector”. [1 de fevereiro de 1977]. Rio de Janeiro: TV Cultura.
Entrevista concedida a Júlio Lerner.
escrever, de forma que o discurso do olho perpassa a experiência do tato, são narrativas
diferentes, do ponto de vista das circunstâncias em que ocorrem.
Grosso modo, quero dizer que o olho vê, enxerga e o tato proporciona o contato com a
matéria física daquilo que almejo, a foto. Um não se sobrepõe ao outro, de modo que se
relacionam, se complementam, tal como expõe Walter Mignolo quando comenta sobre a
exposição do artista indígena colombiano Benjamín Jacanamijoy, denominada, “Tierra y
Agua”: “[...] o pensar, o sentir e o ver são artistas de um mesmo processo”4.
Empreendo o exercício de observação, mas quero ir além do momento, desejo
ardorosamente, através da foto do meu olho, que o leitor tenha a consciência que o ato de
observar a foto de Fernando e Clarice, é uma ação continua, ad infinitum, mesmo que
metafórica, e que demanda entender o fato de que os olhos por trás da minha foto estão
condenados a sucumbir perante a ação do tempo.
A narrativa da e sobre a fotografia é iniciada pela sensação que a foto de vocês,
Fernando e Clarice, desperta em mim, pois parto do princípio que ao escolher refletir a partir
dela é porque me desperta algum tipo de emoção ou perturbação. Falo, portanto, a partir da
noção de aesthesis, concepção sob a qual se constrói a noção de estética, que, por sua vez, é
responsável pelo raciocínio binarista do belo, e de seu contraponto, o feio e se constrói de
forma que seja tida como referência se alguma arte quiser ser “validada”, levada a sério e
receber a rubrica almejada de “arte de verdade”.
Walter Mignolo, em ambos os artigos: “Estéticas decoloniales” e “Aisthesis
Descolonial” se detém na noção ao descolonizar a estética colonial através da descolonização
do conhecer, do sentir, do pensar e do ser5. De acordo com o teórico argentino:
A palavra aesthesis, que se origina do grego antigo, é aceita sem modificações nas
línguas modernas europeias. Os significados da palavra giram em torno de
4
“[...] el pensar, el sentir y el ver son artistas de um mismo processo” (GÓMEZ; MIGNOLO, 2012, p. 20,
tradução nossa).
5
Caso o leitor se interesse pela questão, sugiro a leitura de outros livros e artigos de Walter Mignolo. Sobre a
descolonização do conhecer e do pensar a leitura de Histórias locais / projetos globais: colonialidade, saberes
subalternos e pensamento liminar (2003) é indicada, caso o interesse resida na descolonização do ser o artigo
“Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política” é basilar, e para saber
mais em torno da descolonização do sentir, indico a leitura dos artigos, já citados, “Estéticas decoloniales” e
“Aiesthesis descolonial”.
Considerações finais
Acredito que é por evocar fatos como vida, morte, silêncio e sobrevivência que Susan
Sontag, no já citado livro Sobre a fotografia, vai falar que todas as fotos são memento mori,
isto é, recordações da inevitabilidade da morte e lembranças de que a cada passo que nós
damos é com a finalidade maior de nos deparar com o fim bio-lógico. Para Sontag: “Tirar
uma foto é participar da mortalidade, da vulnerabilidade e da mutabilidade de outra pessoa
6
“La palavra aesthesis, que se origina em El griego antiguo, es aceptada sin modificaciones em las lenguas
modernas europeas. Los significados de la palavra giran em torno a vocablos como ‘sensación’, ‘processo de
percepción’, ‘sensación visual’, ‘sensación gustativa’ o ‘sensación auditiva’” (MIGNOLO, 2010, p. 13, tradução
nossa).
7
“[...] descolonizar la estética para liberar La aesthesis” (GÓMEZ; MIGNOLO, 2012, p. 14, tradução nossa).
8
“Es decir, que no hay ninguna ley universal que haga necessária la relación entre aesthesis y belleza”
(GÓMEZ; MIGNOLO, 2012, p. 14, tradução nossa).
(ou coisa). Justamente por cortar uma fatia desse momento e congela-lo, toda foto testemunha
a dissolução implacável do tempo” (SONTAG, 2004, p. 26.).
O que a crítica norte-americana propõe é valido tanto para aquele que tira a foto, como
explanou na citação, quanto para aquela que observa. Minha participação pode não ocorrer de
forma tão direta como é o do sujeito que tira a foto (função cuja língua atribui o nome de
fotógrafo), mas se inscreve nas entrelinhas do olhar e passeia entre a leveza e o peso do
arquivo.
No sentido dessa discussão a fotografia é portadora dos signos da vida e da morte e
dos espectros dos amigos que já se foram. Desempenha a função de recordar a presença
através da ausência dos corpos, atribuindo para aquela que fica, a consciência de que: “Esses
vestígios espectrais, as fotos, equivalem à presença simbólica [...]” (SONTAG, 2004, p. 19),
símbolo encarregado pelo peso do pacto da amizade de proporcionar a sobrevida ao arquivo
de Fernando e Clarice.
REFRÊNCIAS
BARTHES, Roland. A Câmara clara: notas sobre a fotografia. Trad. Júlio Castañon
Guimarães. Rio de janeiro: Nova fronteira, 2012.
LIMA, Rachel E. A entrevista como gesto (auto)biográfico. In: MIRANDA, Wander M.;
SOUZA, Eneida M. de. (Orgs.). Crítica e coleção. Belo horizonte: Editra UFMG, 2011.
ORTEGA, Francisco. Para uma política da amizade: Arendt, Derrida, Foucault. Rio de
Janeiro: Relume Dumará, 2000.
SONTAG, Susan. Sobre a fotografia. 1º ed. Trad. Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia
das letras, 2004.
Isabel Carneiro1-UERJ
GT- 2
Resumo
A partir de uma prática artística, realizar todos os dias a mesma coisa, exponho as questões da
serialidade e da teia do cotidiano, trazendo temas de ensino e a produção sistemática de objetos
artísticos. O artigo relaciona minha prática artística com outros artistas que tem o fundamento do
diário como ação poética e como essa prática questiona a própria autonomia da obra de arte e a relação
entre arte e vida. Minha prática: realizar todos os dias a mesma coisa, uma autodisciplina, um conceito
que pode ser ampliado como ensino, uma prática artística que é necessariamente pedagógica. A
condição necessária do trabalho plástico é a realização de pequenas tarefas diárias que tentam
estabelecer uma ordem, uma disciplina para o fazer artístico e pedagógico. De que forma esse fazer
poético pode ser levado para a sala de aula numa ideia de pesquisa performativa. A dimensão
conceitual do trabalho está no estabelecimento da série: a obra se torna o sistema, pois é a lógica
sistêmica que faz a obra ganhar sentido. As séries diárias problematizam a relação entre fazer e criar.
O que na série se torna interessante são as sutis diferenças, pontos e microtons, a mudança diária
perceptível pela sequencialidade das horas, dos dias, dos vídeos, das frases.
Palavras-chave: Diário. Fragmento. Colagem.
Introdução
Todos os dias, na parte da manhã, recorto um compasso de partitura, uma célula dentre
as várias partituras que estão sobre a mesa, e um fragmento de pintura escolhido
aleatoriamente dentro do campo de possibilidades das minhas pinturas que estão no ateliê.
Crio com eles uma partitura, um trecho. A performance consiste em tocar esse compasso ao
lado dessa pintura. A busca de autodisciplina numa ação diária visa o esgotamento de
possibilidades interpretativas. O estabelecimento do jogo constrói um sistema: um motivo
para acordar, um motivo para entrar no ateliê, um motivo para fazer arte. Muitos artistas
influenciaram essa dinâmica como On Kawara e Roman Opalka. A dimensão conceitual do
trabalho está no estabelecimento da série: a obra se torna o sistema, pois é a lógica do sistema
que faz a obra ganhar sentido. As séries diárias problematizam a relação entre fazer e criar. O
que na série se torna interessante são as sutis diferenças, pontos e microtons, a mudança diária
1
Doutora em Linguagens Visuais pela UFRJ. Professora adjunta do departamento de Ensino da Arte da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Coordenadora do projeto PIBID-Artes UERJ.
perceptível pela sequencialidade das horas, dos dias, dos vídeos, das frases. Assim como as
serigrafias de Wahrol, os pontos de diferenças são observáveis dentro da série.
Roman Opalka
A partir de 1965, Roman Opalka se propõe a fazer todos os dias uma tela de
196x135cm em que inscreve a progressão do número um ao infinito com pincel branco sobre
superfície preta. Opalka renuncia às cores e formas para pintar apenas números que atestam a
passagem do tempo. Não importa a qualidade da pintura, mas somente seu transcorrer. Toda
sua vida será uma renúncia para registrar a progressão dos números: projeto do qual não pode
desistir; ao mesmo tempo, sua razão de viver. O gesto de pintar números exige destreza física,
a tinta branca na ponta do pincel, muitas horas de trabalho para a concretização de uma tela.
Desde o número um, o mesmo tamanho, espessura e marca de pincel, a mesma tinta branca de
titânio, as mesmas dimensões do quadro e os mesmos gestos em cada sessão.
Três anos mais tarde, em 1968, ele agrega à pintura uma foto de sua face em preto e
branco, mantendo os mesmos ângulo e enquadramento ao final de cada sessão de trabalho.
Para isso, escolheu uma camisa de tecido branco que comprou em grande quantidade, o que
não altera a concretização da foto. A fotografia dá ênfase à passagem do tempo sofrida pelo
próprio pintor: “A decisão de fotografar minha face procede da necessidade imperiosa de não
perder nada na captação do tempo”. Tirar uma foto cotidianamente e observar o
envelhecimento de sua face é parte da concepção da obra.
No mesmo ano de 1968, dá início ao registro da sua voz contando os números que
pinta. O registro sonoro foi uma maneira encontrada para se orientar entre os números
brancos sobre branco. A voz é gravada à medida que os números são pintados, os ritmos de
um e outro são similares. O registro sonoro capta o transcorrer do tempo real, que inclui os
silêncios, os tempos de respiração e os barulhos do pincel sobre a tela.
Assim como quem balbucia, erra na fala e corrige sobrepondo à fala outra fala, uma
acumulação, Opalka corrige os erros inscrevendo de novo o número que precede o erro,
corrigindo por acúmulo. Por exemplo, em uma de suas telas há o número 1608320 seguido do
número 1608301, então ele corrige 1608320 e em seguida 1608321. Os erros de Opalka nunca
são apagados, eles estão visíveis, provas de um traço, de um movimento irreversível. Contra
todo excesso de novidade e aceleração do mundo cada vez mais midiatizado e imediato, ele
emprega uma produção monocórdia, monótona, uma lentidão que é a dimensão política da
obra.
Em 1972, ele chega ao milhão e muda uma última vez a regra do jogo: encobre a
superfície da tela com 1% de branco. Ao final de sua vida, os números brancos se fundirão ao
fundo branco da tela. Calcula que um homem de 80 anos fará cerca de 30 mil fotos. Pela
estimativa de vida sabe que não alcançará a casa dos oito milhões, por mais que ele viva cem
anos. A obra torna-se a materialização da efemeridade da vida, da vida humana, da existência
limitada.
No relógio, o tempo não para de recomeçar. Diferente do relógio ou do calendário que
marca uma repetição, seus números têm uma sequência que não retorna; atestam a passagem
irrevogável do tempo. Opalka pinta o movimento do tempo, em que qualquer retorno é
impossível. Diz que “um conceito não é suficiente para se fazer uma obra”. O conceito da
obra, a passagem do tempo do um ao infinito é simples, mas não existiria a obra se não
houvesse a envergadura de colocar em prática todos os dias esse conceito.
Apesar da proposta conceitual, nas pinturas de Opalka está a presença de seu corpo, de
sua gestualidade. Sua pintura inscreve simultaneamente presença e transcendência. Apresenta
uma dupla origem: a arte pós-conceitual e a pintura abstrata americana. Por mais que Opalka
tente retirar todos os traços afetivos de sua pintura, as marcas estão efetivamente nos quadros,
a busca de diferenças e repetições, a tinta mais espessa em um número do que em outro, uma
fadiga maior em determinados quadros. A pintura e sua história se fazem presentes na obra. O
problema de Opalka ainda é a pintura: o que pintar depois de tudo, depois de Pollock e Robert
Rymann, qual o último quadro ainda a ser feito? Sua pintura vive do paradigma da morte da
pintura: “Eu já pensei no fim quando escrevi o número 1”. Como tão bem observou Yves-
Alain Bois, a pintura seria, de fato, uma tarefa do luto na modernidade. A experiência da
pintura vive de uma certa nostalgia? A pintura abstrata nasce com o prognóstico de seu fim,
como última partida, último lance, verdade última a ser desvelada: o fim apocalíptico e
redentor da pintura, que tanto busca o fim em si mesmo quanto sua essência opaca.
On Kawara
Date Painting (1966). Cada quadro da série mostra a data em que foi pintado. Um
processo preciso e imutável. O texto é pintado em branco no centro do retângulo constituído
pelo quadro. O artista usa um número limitado de cores para o fundo monocromático: preto
principalmente, mas também azul e vermelho. Quatro camadas de pintura são aplicadas ao
fundo. O contorno das letras é previamente desenhado. O tempo de realização do quadro é de
oito horas. Cada Date painting é acompanhado de um jornal local da data em que a pintura foi
feita. A simplicidade e o quase anonimato de suas Date paintings contrasta com a informação
do jornal que acompanha a obra, apresentando local e data específicos, o que aconteceu
naquele momento; que notícias preenchem o vazio intencional da obra?
Pintando em branco contra um fundo preto, as cartas e os números fundam um contato
inicial, subsequentemente fotos mostram como Kawara constrói cada caractere. Observamos
claramente as linhas pinceladas que determinaram onde e como o artista moveu seu pincel.
E por que a pintura? A pintura de Kawara tem uma intenção fotográfica, a necessidade
de marcar o intervalo; a pintura como um código cifrado do tempo, mas, simultaneamente,
como divisão do trabalho interiorizado; a pintura ao mesmo tempo é um trabalho manual e
marca um gesto, e sua intenção é permanecer como registro apenas. Sua pintura vai além da
desmaterialização pretendida por Rymann, porque ela própria já um processo que escapa da
história teleológica e prognóstica do fim da pintura. Não interessa a Kawara a partida do jogo
modernista. A conquista de uma pintura como fotografia de Kawara vem estabelecer os
limites para além do fim da pintura; suas pinturas funcionam mais como um ready-made. Ele,
porém, ainda se interessa pela pintura como gesto que marca o tempo, por uma representação;
por isso pode-se falar que sua pintura ainda adere às questões da manufatura do processo de
produção industrial. A pintura nunca se faz além de oito horas diárias; se excede esse tempo
ela é imediatamente excluída; a performance de Kawara, todos os dias a mesma pintura, exige
uma destreza e uma perda; mas por que pintar? A duração da pintura é importante para
Kawara. Uma tentativa de narrativa diária frustrada, pois nada revela além de datas pontuais.
O tempo da realização da pintura é uma urgência do presente, existencialista: romper com a
momentaneidade, com o fugaz; romper com aquilo que escapa, com o cotidiano.
Numa das Date painting ele diz: “Estou pintando esta pintura”. Sentença conceitual e
tautológica, expressando antes de tudo uma lógica do sistema e da serialidade. Podemos
observar que as pinturas da Date painting aderem a uma lógica de mercado porque produzem
um objeto que poderá ser comercializado. Isabelle Graw lembra que práticas conceituais não
ignoram o mercado. Obras de arte são mercadorias desde o início – isso quer dizer
conformam-se como mercadoria desde o plano de sua concepção. Em outras palavras, o
mercado não pode ser ignorado na fase de criação de um trabalho protoconceitual. A ideia de
que práticas conceituais foram e continuam a ser conscientes das leis do mercado é sustentada
igualmente pela prática dos “certificados”, novamente em voga, por exemplo, entre jovens
artistas pós-conceituais.
A obra I am still alive compõe a série de arte postal que Kawara cria a partir de 1968
para descrever seu movimento e o transcorrer do dia, um tempo rígido, sólido, uma
demarcação temporal. A série começou com um telegrama para seu curador com a frase I am
still alive. Em seguida, na série I got up at, todos os dias ele faz uma descrição do local em
que acordou naquele dia e em qual hora, e envia para amigos e conhecidos. A obra I am still
alive é um contraste entre a forma do telegrama, sua brevidade e seriedade, e uma frase
simples. Outra série intitulada I went demarca um tempo e um espaço em que ele aponta no
mapa seu percurso pelos lugares e depois envia a amigos e conhecidos. Podemos dizer que se
trata de uma tentativa de construção de uma autobiografia e uma marcação temporal e
espacial dos percursos de Kawara. E é notadamente conceitual porque traz para o primeiro
plano os problemas de agenciamento e institucionalização da própria obra, evidenciados pela
maneira de endereçamentos a “curadores, artistas, pessoas envolvidas com o mundo das artes”
que têm inserção no circuito das artes, expandindo-o e problematizando sua prática.
O importante é a criação de uma ação performativa dentro do cotidiano. O
estabelecimento de regras de composição é fundamental para o trabalho plástico. A disciplina
do fazer artístico é uma autoimposição, forma de regramento de si mesmo. Tal como a escrita
dos hypomnemata, que eram anotações diárias do cotidiano monástico, os sistemas criados
pela disciplina diária são modos de adestramento, formas de capturar momentos de dispersão
e até mesmo de inspiração. “Nenhuma técnica, nenhuma aptidão profissional podem adquirir-
se sem exercício.” Na acepção cética, os hypomnemata podiam ser livros de contabilidade,
registros notariais, cadernos pessoais que serviam de agenda. Seu uso como livro da vida,
guia da conduta, parece ter-se tornado coisa coerente entre um público cultivado...
Constituíam uma memória material das coisas lidas, ouvidas ou pensadas; ofereciam-se,
assim, “qual tesouro acumulado, à releitura e à meditação ulterior”.
alucinações de Bispo, que acreditava ser um enviado de Deus para cumprir tarefas e por isso
coletava materiais de uso doméstico e hospitalares. Tehching Hsieh, por outro lado, propunha
performances com duração de um ano em que a fragilidade física do corpo e da mente era
posta à prova. Suas performances foram demonstrações de uma disciplina obsessiva levada ao
extremo.
Horst Ademeit
O trabalho diário de Horst Ademeit é evidentemente de outra ordem; suas fotos de
polaroide que captam “raios frios” têm a intenção de fazer um inventário do dia a dia para
provar que essas radiações o afetavam bem como afetavam o meio ambiente. Seus objetos
não tinham finalidade artística, mas, segundo sua opinião, asseguravam a existência da vida
humana na Terra. As fotos de Adeimet formam um inventário de 6006 polaroides construído
durante 14 anos. Obsessivamente realizado todos os dias, Secret universe contém uma
descrição segura dos “raios frios” sobre o meio ambiente. Para fotografar e descrever os
efeitos dos “raios frios”, utilizava vários medidores, assim como uma bússola sobre o jornal
diário. A compulsão com que persegue, filma e fotografa medidores de eletricidade, vigias,
estaleiros, cabos elétricos, coletas de lixo volumoso ou bicicletas atesta uma forma de escrita
que exterioriza suas convulsões psíquicas, uma forma-arquivo que é infinita e, não obstante,
tende a captar o que a memória não consegue: “Bem ao contrário: o arquivo tem lugar em
lugar da falta originária e estrutural da memória”. A obra permanece como forma de catalisar
acontecimentos banais do cotidiano, mas, para a estrutura esquizofrênica do artista, a
documentação seria de grande importância para a humanidade. Daí podemos perceber no
diário do artista uma diferença entre o que significava para ele e como ele é exposto no
contexto artístico.
A obsessão da lista na obra de Horst Ademeit segue uma lógica que Umberto Eco
encontra em A vertigem das listas, desde Homero até James Joyce: “o infinito de que falamos
agora é, ao contrário, um infinito atual, feito de objetos talvez numeráveis, mas que não
conseguimos numerar ‒ e tememos que sua numeração (e enumeração) não termine nunca”.
O que Umberto Eco vai chamar de lista poética é de um infinito físico, que não acaba
e não se conclui numa forma a que possamos aproximar o Secret universe, de Ademeit. A
lista que se torna o excesso coerente. O fato de aproximar e catalogar diariamente aquilo que
ele percebeu no transcorrer das horas, 100 mil eventos que ele também não anotou, torna a
lista de Ademeit estranhamente coerente e homogênea. O elenco do artista não poderia deixar
de ser casual e desordenado, dado que, segundo todas as probabilidades, aconteceram naquele
lugar e naquele dia muito mais eventos do que os que constam em sua lista obsessiva.
cartões-postais sonoros, 2014
Escrever um cartão-postal sonoro todos os dias numa determinada hora. Em
determinado momento me proponho a escutar minuciosamente os sons ao meu redor. Tento
abrir os ouvidos para os sons que me cercam. Essa é a construção de uma narrativa sonora
cotidiana que busca sons não intencionais, bem como a construção de uma memória, dos
afetos e da constituição de uma história pautada pelo número de dias consecutivos (cartões-
postais).
Qual é a memória dessas pequenas frases que traduzem sons banais? Será que ao
enviar os cartões para amigos poderia existir uma memória coletiva de sons corriqueiros,
como escutar o vizinho dançando, alguém lavando a louça etc....?
Trazer o banal e o cotidiano para o campo da criação artística é uma forma de trazer o
barulho do mundo para a obra, de escutar o mundo em sua plenitude de acontecimentos
sonoros não intencionais.
Considerações finais
para qualificar performances que não são ensaiadas previamente, apresentando assim um
programa de performance.
Ao agir seu programa, desprograma organismo e meio. A inspiração para a inserção da
palavra-conceito “programa” na teoria da performance vem do texto “Como criar para si
um corpo sem Orgãos” de Gilles Deleuze e Félix Guatarri, onde se propõe que o programa
é “motor da experimentação”. Um programa é um ativador de experiência. Longe de um
exercício, prática preparatória para um futura ação, a experiência é uma ação em si
mesma. (FABIÃO, 2015, p.15)
O programa estabelece uma conduta, uma forma que deixa acontecer a espontaneidade
e, exatamente porque marca um limite, um senso, uma direção, dentro desse sentido, a
desprogramação faz as coisas acontecerem naquele lugar em determinada hora. Em Following
Piece, durante vinte e três dias no final dos anos 1960 na cidade de Nova York Vito Acconci
perseguiu pessoas desconhecidas até elas desaparecerem. O seu programa podia durar
minutos, caso a pessoa entrasse num carro, ou horas, caso ela fosse ao cinema ou a um
restaurante.
Os registros das ações eram enviados por Acconci para vários membros da
comunidade artística local. Concebidos com o propósito de criar material para seu
trabalho poético e literário, os Following Pieces instauram imediatamente uma rede
de relações com o universo artístico, tanto retrospectivamente, já que se inserem na
linhagem de derivas situacionistas, dadaístas e depois situacionistas, como
prospectivamente, já que engendrariam uma pletora de obras relacionadas ao
longo das décadas seguintes. (JACOPO, 2014, p. 05)
Promover todo o dia uma mesma ação. Esse fazer repetitivo e diário norteia a
experiência constrói um programa de ação onde o trabalho ganha uma forma pré-estabelecida
dentro de um campo de possibilidades que podem ser levados para dentro de sala de aula. A
metodologia dos jogos de temporalidades inconciliáveis é a dimensão pedagógica dessa
disciplina diária, a cada semana os estudantes são provocados a dar uma resposta a partir de
palavras, imagens e objetos. Um fazer repetitivo e sequencial.
Os jogos de temporalidades inconciliáveis criam métodos anárquicos de se estabelecer
a relação entre práticas artísticas e pedagógicas. No primeiro momento, trabalhamos com
palavras disparadoras. A cada semana os estudantes eram estimulados a produzir alguma
resposta a partir de algumas palavras. Essas palavras se conectavam com outras palavras
formando redes e mapas radiais, jogo: uma palavra por semana. No segundo momento,
elegemos outra forma de disparar ideias além das palavras, para criar modos de respostas e
pensamentos cartográficos a partir de imagens e textos que embasassem essas imagens. Essas
outras formas foram através de imagens: uma imagem por semana.
REFERÊNCIAS
JACOPO, Crivelli Visconti. Novas derivas. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2014.
LIPPARD, Lucy. Six ears: the dematerialization of the art object from 1966 to 1972…
London: University of California Press, 1997.
Resumo
O presente artigo aborda as relações entre o ato de brincar e experiência criativa dando destaque a
brincadeira como fonte de experiência estética no processo de criação. Como alicerce teórico, foram
utilizadas concepções de educação, experiência estética, percepção corporal e estruturação de aulas de
dança e processos de criação artística, principalmente a partir de pensadores como Isabel Marques,
Klauss Vianna, Paulo Freire, Tizuko M. kishimoto, John Dewey, Winnicott e Jorge Bondía Larrosa.
Descrevo aqui, o processo metodológico da pesquisa de caráter qualitativo realizada no período 2014 a
2015, com o Grupo de Banda Percussiva Meninos do São João, da cidade de Palmas-To. Este estudo
teve como objetivo investigar e registrar quais sentidos o “corpo” assume durante a experiência artística
e estética vivenciada para a criação do Espetáculo “DuCampo”, a partir da brincadeira como tema
gerador. Dessa forma, esta investigação buscou trazer reflexões sobre o corpo como experiência estética
na ação educativa/cultural, além de apontar as contribuições do processo criativo, a partir do ato de
brincar. Os resultados obtidos trazem as falas dos alunos e professores, levantadas nas rodas de conversa,
e revelam as diversas significações assumidas pelo corpo na criação do espetáculo passando de corpo-
instrumento de experiência para “corpo-expressivo”, “corpo-sensível”, “corpo-ação”, “corpo-brinca”.
Tais resultados estimulam a reflexão sobre a concepção do jogo e da brincadeira e sua contribuição na
ampliação do repertório cultural e maior sensibilização e expressividade dos alunos junto aos processos
arte-educativos. Podendo assim orientar e incentivar novos projetos e ações dentro da perspectiva lúdica
no ambiente escolar.
Palavras-chave: Brincadeiras. Jogo. Dança. Experiência criativa. Processos arte-educativos.
Introdução
desenvolvimento, a aprendizagem e o bem-estar dos seus alunos. Buscam referências que não
são nossas, de corpos que não são seus, estão presos em um “corpo concha” (LANGVELD
apud MARQUES, 2011b). Segundo Marques (2011b, p. 33), sair desse padrão significa tornar
a dança “[...] um convite à crítica e a transformação de corpos/pessoas”. Significa ser “corpo
crítico e social”. Nesse sentido apresento neste artigo um pouco do meu modo de pensar e agir
relacionado à dança a partir do universo lúdico, na tentativa de compreender mais sobre o corpo
em experiência, junto aos processos educativos, segundo as concepções de autores como Isabel
Marques, Paulo Freire, Tizuko Morchida kishimoto, Winnicott, John Dewey e Jorge Bondía
Larrosa.
A brincadeira é um espaço potencial para se experimentar o viver criativo, é uma
atividade que desenvolve o físico, a mente, a auto-estima, a afetividade, torna a criança ativa e
cria símbolos que representam sua cultura, sua comunidade, seu grupo. Posto isso, faço aqui o
convite para vivenciar a prática corporal de forma lúdica através do corpo que brinca, levando
em conta aspectos importantes, como a valorização da experiência do aluno para fonte de
repertório e base de criação; a aprendizagem progressiva que inicia a prática de forma mais
simples até atingir níveis mais complexos, acompanhando o desenvolvimento dos alunos; além
dos elementos heterogêneos, formadores da cultura lúdica, como os brinquedos e brincadeiras
presentes no cotidiano desses alunos.
Este artigo é parte de uma pesquisa que buscou trilhar seu caminho através da
experiência criativa. Durante todo processo de criação, a interação e a criatividade foram
propostas como veículo de comunicação entre os alunos, os professores, e os objetos lúdicos.
Como co-criadores do espetáculo, os alunos, assumiram o papel de sujeitos lúdicos, críticos e
sociais (MARQUES, 2011b), participando não só da criação, mas, da interpretação do processo.
Os resultados obtidos trazem as falas dos alunos e professores, e revelam que a dimensão
lúdica colaborou com o processo de ensino e aprendizagem, interligando a prática corporal e a
música, criando uma nova forma de aprender através de uma experiência criativa e lhe conferiu
uma relação espontânea e comunicativa, de experimentação e exploração de movimentos para
a dança. As diversas significações assumidas pelo corpo na criação do espetáculo vão se
transformando ao longo do processo, passando de corpo-instrumento de experiência para
“corpo-expressivo”, “corpo-sensível”, “corpo-ação”, “corpo-brinca”.
No entanto esta pesquisa não se caracteriza por uma receita, mas um convite à reflexão
do corpo-brinca em experiência estética e artística no processo criativo, podendo assim
contribuir para outros contextos arte-educativos.
Esse processo do trabalho corporal é divido em quatro etapas. A primeira etapa foi
caracterizada pelo estudo observação, momento em que foram observadas as aulas de música
e apresentações realizadas pelo grupo durante dois meses (período entre fevereiro e março de
2015). Essa etapa teve como foco questões relacionadas à sensibilidade e à expressividade
corporal nas aulas e na cena (apresentações), registrado por meio de vídeos e fotografias, a
reação do corpo que ora está em seu ambiente de aula (quadra da escola) ora está na cena
1
Os jogos Corporais são definidos por Angel Vianna como uma improvisação que é ao mesmo tempo uma criação
musical e teatral. Uma das características básicas desses jogos é deixar o corpo experimentar uma movimentação
fruto de um relacionamento espontâneo com o outro ou com um objeto (RAMOS, 2007, p.44)
estabelecer um primeiro contato com o grupo, constituir por meio da “roda” um caminho para
o aprendizado da convivência, trazer à tona os sentidos que o corpo assume em sua prática
musical. Neste artigo escolhi descrever uma das atividades desenvolvidas junto dos alunos:
Vontade Própria: nessa atividade é solicitado que os alunos elejam uma parte do seu
corpo. Essa parte ganha “vontade própria”; eles fazem movimentos acompanhando o ritmo da
música percussiva, que é tocada pelos professores de música. Ao longo da atividade outras
partes do corpo são selecionadas para que os alunos explorem as diversas possibilidades de
movimento de cada um deles. Como resultado foi trabalhado o improviso, criatividade, domínio
dos movimentos corporais e a integração com o grupo de forma livre e espontânea.
Após esse conhecer coletivo, iniciou-se o estudo corporal. Foram propostas atividades
como preparação para a montagem coreográfica do espetáculo. Os alunos partiram da
movimentação presente em seu cotidiano como: andar, correr, pular, torcer, empurrar, apoiar,
pontuar, etc. Essa etapa foi divida em três momentos: o primeiro momento - teve como objetivo
desenvolver a dança “em conexão ao corpo”. Ao som percussivo tocado pelos professores de
música, são dados estímulos para que, aos poucos, os alunos se movimentem pelo espaço.
Também foi possível trabalhar noções de tempo, deslocamento no espaço, dinâmicas de
aceleração e desaceleração, direção, integração com o grupo e noção de apoios. Descrevo uma
atividade dessa etapa:
Os animais: nessa atividade os alunos são orientados a ocuparem livremente o espaço
da quadra, deitarem-se no chão (como uma estrela do mar, com os braços abertos ocupando
toda extensão do espaço com seu corpo) de olhos fechados. Ao som percussivo tocado pelos
professores de música, são dados estímulos para que aos poucos os alunos se movimentem pelo
espaço, começando devagar com cada parte do corpo.
Após essa experimentação, os alunos abriram os olhos e o nome de alguns animais foi
citado para que eles reproduzissem, à sua maneira, a movimentação deste pelo espaço.
Primeiramente por animais que caracterizam o nível baixo (cobras, lagartixas, lagartos) depois
nível médio (gato, cachorro, onças, macaco, girafas) e por fim animais do nível alto (pássaros,
borboletas, águia). Nessa atividade foi trabalhada a percepção corporal, tônus corporal, a
compreensão das articulações e espaço. As noções do que eram os níveis alto, médio e baixo,
presentes nos estudos de Laban2, foram discutidas antes do início da atividade e puderam ser
compreendidas de forma prática durante a atividade proposta. Nas rodas de conversa, foram
levantadas questões sobre sentir o próprio corpo e pensar sobre ele enquanto experiência
estética e artística.
[...] Os alunos comentaram que a música que acompanhava a atividade ajudava a fazer
a relação com os animais e a mudança da velocidade e o peso deles. Acredito que eles
assimilaram bem a aula, e a música contribuiu muito com a rápida compreensão da
atividade e de suas variações. (Informação verbal/Registro do diário de campo, nas
observações como professora, em 29 de Abril de 2015).
2Dançarino, coreógrafo, teatrólogo, musicólogo húngaro, considerado como o maior teórico da dança do século
XX e como o "pai da dança-teatro". Dedicou sua vida ao estudo e sistematização linguagem do movimento em
seus diversos aspectos: criação, notação, apreciação e educação.
movimentos inusitados, e alguns líderes que conduzem a movimentação do grupo. Nas rodas
de conversa os alunos relataram que se divertiram nessa aula, que se sentiram à vontade para
criar seus movimentos.
3
Termo utilizado pelos alunos do projeto Meninos do São João para designar a brincadeira Bola de Gude, que
também pode receber outras designações dependendo de cada região e/ou país.
4
Termo utilizado pelos alunos do projeto Meninos do São João para designar a brincadeira Peteca, que também
pode receber outras designações dependendo de cada região e/ou país.
encontro comentou-se sobre cada uma das brincadeiras e brinquedos, e os alunos tiveram a
oportunidade de explicá-los, dizer suas regras e maneira de brincar, com base na sua
experiência.
Na segunda etapa, a partir das brincadeiras e brinquedos descritos, também em uma roda
de conversa, decidimos quais as brincadeiras iríamos trabalhar para o espetáculo. Os critérios
que nortearam essa seleção foram: alternar entre brincadeiras que fossem individuais e
coletivas, excluir da seleção o futebol (por ser uma atividade que é muito praticada nas aulas
de educação física), e não escolher nenhuma brincadeira ou brinquedo que pudesse gerar atos
de violência (arminha de tampa, estilingue, queda de braço, passou levou, vaca parida, etc).
Sendo assim, em votação com os alunos, formam escolhidas as brincadeiras: amarelinha,
elástico, pião, queimada, bambolê, peteca, ioiô, peteca de índio e pular corda.
Explorando brinquedos e brincadeiras: para essa atividade foram trazidos alguns desses
brinquedos. Os alunos foram divididos em grupos e ficaram livres para escolher o seu brinquedo
e brincar. O intuito era conhecer todas as possibilidades de movimentação que poderiam surgir
do laboratório dessa vivência, partindo, primeiramente, do simples ato de brincar, de interagir
com: pião, bola de gude, elástico, peteca de índio, pular corda, bambolê, ioiô, queimada.
Essa experimentação criou um leque de possibilidade de novos movimentos que seriam
a base para a criação coreográfica do espetáculo, além de ser um momento de conexão uns com
os outros, de integração entre o grupo, sua história, seu cotidiano, sua escola e a comunidade
onde moram. Também trouxe à tona a valorização do universo lúdico e de brincadeiras
tradicionais, que muitas vezes são esquecidas na contemporaneidade. Pude perceber que o
contexto desses alunos, que compreende em sua maioria a zona rural, ainda preserva em sua
comunidade hábitos tradicionais como: moer café para tomar na hora, plantar e criar animais
para seu consumo, brincar na rua, catar fruta no pé (pequi, jabuticaba, buriti, etc), andar de
bicicleta, jogar bola no campinho de terra, pular elástico.
Antes que possamos ter um corpo disponível para a dança, é preciso sentir que temos
um corpo.
Angel Vianna, 2007.
O Processo Criativo foi resultado das etapas anteriores. A partir da minha vivência
como bailarina, coreógrafa e arte educadora, busquei levar para esse grupo a experiência de ser
co-criador desse espetáculo. Fez parte desse processo: o estudo de roteiro e o estudo
coreográfico. No estudo de roteiro foram promovidas rodas de conversa entre os professores
de música e dança, para a criação do roteiro do espetáculo.
O tema “DuCampo” trouxe à tona os elementos da natureza (água, terra, ar e fogo), o
cotidiano dos alunos e as brincadeiras que fizeram parte das oficinas de dança. O nome foi
escolhido entre os professores e depois foi levado até os alunos para que pudéssemos conversar
sobre essa escolha e o contexto do espetáculo. Após apreciação do grupo, falamos sobre as
cenas do espetáculo e como poderia ser o caminho dessas cenas; isso foi apresentado ao grupo
e deixado aberto para diálogo e sugestões dos alunos.
Ao longo do trabalho percebi o quanto os alunos cresceram, assumindo seu papel como
co-criador desse espetáculo. Começaram a dar opinião sobre a criação das cenas, sobre a
escolha da trilha sonora e como poderíamos unir as brincadeiras com a música. Como eles
tinham um maior domínio da parte musical, o entrosamento do grupo para a composição da
trilha sonora, junto aos professores de música, foi bem rápido, unindo músicas do seu repertório
como o maculêlê, o samba reggae, à novos ritmos como o hip hop, o samba e a súcia.
Logo depois, passamos para o estudo coreográfico, caracterizado pela montagem e
ensaios das cenas do espetáculo que teve como base a conscientização e trabalho corporal
vivenciados nos Jogos Corporais, e como inspiração criadora, as experimentações com as
brincadeiras e brinquedos, presentes no estudo corporal e escolhidos por eles em rodas de
conversa. A abordagem corporal dessa pesquisa partiu da prática corporal e musical, que se
expressam na estrutura e organização corporal das brincadeiras, imprimindo novos sentidos ao
corpo que dança. Assim, cada corpo brincante se transformou em corpo dançante.
A criação dos movimentos surgiu do ato de brincar conectada à música percussiva do
grupo, que teve como referências os ritmos do samba, samba reggae, maculêlê, súcia, hip hop
e rap. Todos foram interligados aos elementos da natureza para criação do espetáculo. Em
algumas cenas, os instrumentos musicais (baquetas, tambores, pau-de-chuva, pandeirões,
exemplificados na figura 1) são experimentados como objetos cênicos, assumindo também
NOTAS FINAIS
A proposta desta pesquisa foi pautada em uma nova experiência estética e artística por
meio da incorporação da dança no fazer musical do Grupo Meninos do São João, utilizando a
dimensão lúdica como desencadeadora da prática corporal. Por consequência, surgiram
algumas questões: A experiência cultural pode ser fortalecida pelo potencial criativo e livre do
ato de brincar? As brincadeiras e brinquedos realmente auxiliam na ampliação do repertório de
movimentos para a criação em dança? Corpos que brincam são corpos que dançam? E ainda
minha questão maior, quais os sentidos assumidos pelo corpo durante o processo criativo do
espetáculo “DuCampo”? Essas e outras inquietações permearam o universo dessa investigação,
levando à descobertas, caminhos e reflexões sobre o processo criativo, descritas brevemente
neste artigo.
Para isso foi preciso assumir o desafio de ir além do corpo estático, fechado e limitado,
“corpo concha”, possibilitar através da incorporação da dança, “projetos comunitários”, que
imprimissem novas formas de dançar, novas formas de fazer-pensar- sentir o corpo em
experiência, tendo assim o corpo enquanto corpo-social. O dançar aqui esteve interligado ao
brincar, foi imaginar, inventar, comunicar, interagir, foi relação, foi representação do corpo em
experiência lúdica e estética no espetáculo “DuCampo”.
Para responder a essas perguntas faz-se necessário reconhecer dentro dos processos de
ensino e aprendizagem, outro caminho para se trabalhar a dança e a música, linguagens que
constantemente são revestidas por funções do brincar, permeando as descobertas dos alunos por
meio de suas experiências estéticas e artísticas no que tange a expressão corporal e musical.
Sendo assim volto às questões: A experiência cultural é definida por Winnicott (1975),
como uma terceira área do viver, produto das experiências da pessoa em seu meio. Por isso, ao
experienciar a dança por meio do brincar, os Meninos do São João fortaleceram sua experiência
cultural, pois o brincar é um espaço potencial de vivência cultural, que reúne as experiências
individuais e coletivas em um mesmo lugar.
Tendo o brincar como espaço exploratório de experiência, foi possível registrar nas
observações do diário de bordo, nas fotografias e filmagens as múltiplas possibilidades de
movimento surgidas do ato de brincar. Com o corpo mais livre, solto, alegre e dinâmico, os
sujeitos assumiram seu papel de co-criadores do espetáculo e contribuíram, de forma
enriquecedora, para o processo criativo. O corpo antes preso à instrumentalização e reprodução
de movimentos se viu livre para experimentar, explorar e criar.
Por conseguinte, corpos que brincam são corpos que dançam? Durante toda essa
investigação tive como proposta fugir da significação de “corpos concha”, corpos fechados para
o diálogo e troca de experiências. Nosso objetivo principal com a prática corporal foi trazer
uma nova experiência que justamente valorizasse o corpo dos alunos, enquanto “corpos
sociais”, que fortalece as relações do “ser-com-ele”, “ser-com-outro” e “ser-no-mundo”. Nesse
sentido a interação do sujeito com o ato de brincar foi um caminho para transformar esse corpo
estático em corpos dançantes. Corpos que partiram do brincar-dançando para o dançar-
brincando ao longo do processo criativo do espetáculo.
O trabalho de elaboração do espetáculo ainda é uma “criação em processo”, pois tratar-
se de uma experiência criativa, dinâmica, inacabada em constante movimento, que faz parte de
uma rede em permanente produção. Busquei, neste artigo, instigar o leitor aluno/professor a
vislumbrar a brincadeira enquanto potencial campo exploratório de experimentação e criação,
descrevendo parte do processo metodológico vivido nesta pesquisa, uma experiência interligada
REFERÊNCIAS
__________. Ensino de dança hoje: textos e contextos. São Paulo: Cortez, 2011a.
Resumo
Este escrito situa-se no campo da criação e composição em dança e aborda o lugar do corpo
feminino e suas infinitas possibilidades de explorar territórios poéticos. O mesmo teve como
objetivo investigar elementos/dispositivos presentes na trajetória de um processo de criação em
dança, a partir da potência poética presente no fluxo entre a estética do cotidiano e os rituais das
mulheres do cerrado, seus saberes e fazeres tradicionais (parteiras,raizeiras e benzedeiras). O
referencial teórico utilizado aborda contribuições da etnocenologia, antropologia, filosofia e
aproximações teóricas com a etnografia pós-colonial, tendo a arte e a dança conduzindo a
construção teórica do estudo. Um dos focos que será abordado neste escrito refere-se à postura
de um pesquisador-artista quando o mesmo realiza uma pesquisa de campo, orientado pelos
estudos e trabalhos artísticos já desenvolvidos pelo Núcleo Coletivo 22, bem como àluz das
reflexões dos estudos pós-coloniais. Portanto, este estudo teve um compromisso com um corpo
em processo de criação comprometido com a corporeidade e os saberes tradicionais como
instâncias de resistência, aproximando-se da discussão sobre descolonização dos saberes.A
trajetória metodológica buscou matrizes estéticas na pesquisa de campo, ou seja, no campo
vivido, o qual possibilitou revistar, ampliar e/ou propor outros dispositivos, experienciados, na
pesquisa de criação e composição, na relação com o campo vivido, comoencruzilhada,
lugares/momentos, motivações dançantes em busca de uma experiência com a poética da
alteridade.
Palavras-chave: Dança; Processo de Criação; Saberes e fazeres tradicionais das
parteiras,raizeiras e benzedeiras do cerrado.
1
Doutora pela UnB- IDA. Professora Adjunta da Universidade Federal de Goiás- Na Faculdade de
Educação Física e Dança. Docente do Curso de Licenciatura em Dança. Artista e Pesquisadora do Núcleo
de Estudos e Investigação Cênica Coletivo 22, Capoeirista do Grupo de Capoeira Angola Angoleiro Sim
Sinhô. Email: marlini@unochapeco.edu.br
Parto então do princípio de que a vida habita e faz sentido em um lugar quando
lhe damos significado. Morar atualmente no cerrado traz o desafio de experienciá-lo, de
conhecê-lo, investigá-lo através dos corpos e suas corporeidades cor de terra,
entendendo o corpo como um lugar de expressão social e individual.Assim, olho o
cerrado de dentro e de fora, experienciando uma composição da natureza que resguarda
uma inestimável biodiversidade, revelando uma potência como matrizes estéticas 2que
atravessam os corpos, os movimentos e produzem cultura.
2
Neste estudo, será adotada a noção de matriz estética a partir da proposição de Armindo Bião, que trata
de matrizes do campo estético, da sensorialidade, a qual só é válido como objeto de pesquisa
considerando-se a reconstrução constante e dinâmica da tradição (BIÃO, 2011).
O universo feminino, também presente neste estudo, surge a partir das mulheres
da minha vida, minha mãe, minhas irmãs, minhas avós e bisavós, mulheres que vêm de
uma família, que, semelhantes à natureza, fizeram composições vitais para
sobreviverem e florescerem. Minha bisavó era descendente de índios, benzedeira que
manipulava brasa e fogo com fé. Minhas lembranças e ruídos sentidos no corpo
traduzem outro ponto importante desta investigação: Um corpo de mulher que tem
sua(s) história(s) deixando rastros e ruídos no seu cotidiano.
Isso porque não se trata de uma tentativa de resgatar uma prática cultural tradicional,
mas sima intensidade do campo vivido pelo artista-pesquisador no campo, denominado,
neste estudo, de campo vivido.No encontro com o outro e nas relações com o outro e
com os lugares, o artista deixa se afetar via experiências sensórias vividas
corporalmente com essas mulheres e no cerrado.
A noção de campo vivido vem sendo compreendida como uma postura de ser-estar
do artista na pesquisa de campo, sendo fruto do diálogo das noções conceituais e
dispositivos que já vem sendo experienciadonas pesquisas artísticasno NúcleoColetivo
22, que encontra fôlego noconceito de mundo vivido (lebenswelt)a partir da
Fenomenologia da Percepção de Merleau-Ponty (1999). O mundo da percepção é, pois,
o mundo que nos é revelado por nossos sentidos e pela experiência de vida.
A busca pela compreensão e vivência no campo vivido (mulheres parteiras,
raizeiras e benzedeiras do cerrado) transitou também pela disposição de lançar
diferentes texturas do olhar e ser olhado, do olhar com as mãos, ou seja, de uma
corporeidade viva, do “ser-sendo com o outro” (ARAÚJO, 2008, p. 21) e assim
caminhando para uma experiência da alteridade, a partir dos cheiros das ervas, dos
pequenos gestos. Isso provocou necessariamente um deslocamento para uma proposição
investigativa e artística. Tais provocações afetaram, de forma direta, a minha postura de
pesquisadora, que propôs olhar e estudar questões do corpo e de saberes tradicionais.
Dessa forma, o campo vivido foi realizado durante os anos de 2012 a 2015, na
Chapada dos Veadeiros, nas comunidades de São Domingos, município de Cavalcante;
povoado de Moinhos, no município de Alto Paraíso- GO; e na Ilha do Bananal, mais
especificamente na Aldeia Santa Isabel - TO. Nas imersões do campo vivido,as
vivências e experiências foram conduzidas a partir de algumas noções norteadoras,
como o estado sensível, que nos possibilitam compreender o “estar-sendo-no-mundo-
com-os-outros” (ARAÚJO, 2008, p. 21). Para este autor, tal expressão possibilita pensar
Por uma poética da alteridade: dançar o cerrado desenhado nos corpos das
mulheres e seus saberes
Este estudo buscou olhar para os rituais do parto, da benzeção e da raizeira como
uma fenda que se abre no cotidiano dessas mulheres, fendas estas que desenham uma
encruzilhada3. Essa fenda aberta no cotidiano onde essas mulheres são chamadas para
benzer, partejar, curar são práticas sociais e culturais que as empoderam, inclusive na
dimensão corporal, na sua corporeidade de mulher, o que permite pensar e experienciar
outros estados corporais de estar sendo com o outro, uma experiência vivida na estética
dos diálogos com a alteridade. Essa perspectiva de relação dialógica e deexistência é
uma das dimensões visualizadas na constituição da noção de poética da alteridade, que
foi explorada nas cenas e na busca por corpos em diálogo com a alteridade, no fluxo
entre o ritual e o cotidiano, como mostra a figura abaixo:
3
Neste estudo, a noção de encruzilhada será adotada conforme o estudo de Renata de Lima Silva:“A
encruzilhada se constitui justamente nesse processo de encontro, tensão, paixão, conflito, incorporação,
assimilação, sincretismo, que tece identificações afro-brasileiras, aparentes em costumes, na culinária, na
língua e, sobretudo, no corpo” (SILVA, 2012, p.65).
Procuro a outra
Minhas forças transcendem em energia vital, minha respiração conduz meu corpo.
Desse modo, vale lembrar que Boaventura nos lembra que as lutas sociais hoje,
mais do que nunca, estão dentro das escolas e universidades e que, nesse sentido, a
opção epistemológica de nossa docência artística tem estreita relação com projetos
sociais mais amplos que o campo de atuação do licenciado. E, mesmo dentro dos
saberes no campo da dança, existe uma postura ideológica, ética e estética, por isso é
urgente sermos artistas-docentes, ou docentes-artistas que questionem a condição de
colonialidade e de opressão exercida no corpo que dança e nas propostas de ensino que
conduzem à formação e aos processos de criação.
REFERÊNCIAS
Resumo
O presente trabalho é um relato de experiência de processo desenvolvido nas aulas de Artes-Teatro
com alunos do ensino médio dos cursos técnicos integrados do Instituto Federal Fluminense, na cidade
de Campos dos Goytacazes, Norte do Estado do Rio de Janeiro, tendo como foco o estudo do “corpo
na arte no espaço escolar”. Como metodologia para suporte e embasamento do relato foram usados
registros do artista-docente em diários de bordo, planos de aula, fotos e vídeos do processo. E como
base da fundamentação teórica e prática estudos sobre o corpo na cena e técnicas de preparação
corporal. O que resultou em um processo híbrido onde podemos destacar além dos jogos teatrais
tradicionais e de improvisação, alongamentos, treinamentos e exercícios de força, flexibilidade e
expressividade envolvendo práticas de ioga, dança, estudos do movimento de Laban, treinamentos
específicos de biomecânica teatral de Meyerhold e de mímica corporal dramática de Etienne Decroux.
O processo fez parte do projeto mundial “Shakespeare lives” em 2016, em comemoração dos 400 anos
da morte do dramaturgo William Shakespeare. Como resultado final em forma de espetáculo cênico
foi realizado uma livre adaptação da obra “ Macbeth”, parte do dramaturgo William Shakespeare.
Tendo como proposta estética de encenação o teatro épico de Bertolt Brecht.
Palavras-chave: Preparação corporal. Artes da Cena. Espaço escolar
Introdução
1
Mestranda em Artes na linha de Artes Cênicas pela UFMG, graduada em Artes-Teatro, com posgraduação em
Dança e Consciência Corporal e em Cinema e Linguagem Audiovisual. Professora efetiva nos cursos de
Licenciatura em Teatro e no Ensino Médio do Instituto Federal Fluminense. Onde coordena os projetos de
Extensão Cinema no Campus e Núcleo de Experimentações, Pesquisas e Práticas em Artes Corporais Cênicas –
Teatro Físico (Dança, Teatro e Circo). E-mail: monimesquita@yahoo.com.br.
mais diversas épocas, são encontrados em várias culturas. Contudo, até o final do século XIX,
o corpo era estudado apenas como objeto no âmbito da ciência tendo como foco o seu aspecto
biológico. E na Arte quase sempre pela abordagem das artes visuais.
Sendo a Arte é um campo de conhecimento ligado diretamente à percepção estética,
não apenas visual, mas também do som e do gesto, Merleau Ponty nos aponta que o corpo
exerce um papel fundamental, pois como veículo da existência humana, é o meio pelo qual o
indivíduo se expressa, age no mundo, percebe e é percebido (PONTY, 1999). Nosso corpo
porta habilidades motoras e perceptivas que são inseparáveis de outras competências, como as
de raciocinar, emocionar-se, desenvolver linguagem (KATZ,2001). Portanto não podemos
separar de forma dicotômica “corpo e mente”, inclusive nas questões de criação e
experimentação, inclusive na Arte. Ou mesmo desconsiderar as interferências do ambiente,
época, vivências sociais e experiências corporais, na construção e reflexões sobre os estudo e
conhecimento relativos ao corpo. Pois os nossos corpos estão em constante construção,
percebemos e respondemos aos estímulos externos, sejam eles físicos ou sociais. “somos e
construímos nosso corpo cotidianamente”. Todavia, essa construção pode ser consciente ou
não”. (CARBONARI, 2010).
Com relação a pesquisas sobre a corporeidade, somente no último século vamos ter
um estudo mais significativo sobre o corpo e o movimento humano como forma de
conhecimento nas artes da cena nos campos da dança, teatro e circo. Onde o corpo é usado
como suporte de criação, expressão e representação da própria arte. Um dos aspectos mais
complexos nesses estudos talvez seja pela problemática do registro. Uma vez que as artes
cênicas, são marcadas pela efemeridade e deslocamento do movimento corporal em tempo-
espaco presente. Talvez por isso no teatro por exemplo durante muitos séculos ainda tínhamos
um vínculo equivocado desta forma de arte à um texto literário escrito que na verdade não é
teatro. O teatro é um campo de conhecimento da Arte, no qual o corpo é instrumento e forma
de expressão, através da representação física da ação. Tendo como base o movimento, a voz e
o gesto o teatro produz interações desses componentes com os elementos estéticos e visuais
da cena e com o espaço cênico (FAEB, 2015).
Para Dênis Guenoun, ao questionar a necessidade do teatro para a humanidade e o
que faz o teatro persistir e permanecer a existir há tanto tempo. É o fato de que principalmente
Nossas aulas sempre se iniciavam com uma roda de conversas onde eram discutidos
vários assuntos, desde teatro e arte em geral, aos acontecimentos cotidianos da cidade, do país
e do mundo. O teatro é uma arte de grupo por isso esse momento de integração entre os
alunos foi bem importante. A partilha de opiniões e conhecimento, o aprender a ouvir o outro
e opiniões diferentes acabaram sendo fundamentais em todo o processo, não só para o
carência do ensino da Arte, em até mesmo em cidades de grandes centros do país como o
estado do Rio de Janeiro. Caberia aqui uma pesquisa mais aprofundada para tratar
especificamente sobre essa problemática. Além da falta de investimento na formação e
contratação de professores com formação específica nos quatro campos específicos da Arte.
Podemos citar como um dos fatores centrais, é o documento atual que norteia o currículo
mínimo para o ensino da Arte no estado do Rio de Janeiro que não coloca como obrigatória
as quatro linguagens artísticas, apenas àquela na qual o professor de Arte possui formação
específica. Este documento está totalmente defasado e precisando ser revisto urgentemente.
(SEEDUC, 2013).
Salientamos a importância do ensino da Arte com professores qualificados dentro
dos institutos federais. E o investimento em criação de novos cursos para a formação de
professores desta área, para suprir toda uma demanda regional e nacional existente. Pois a
carência do ensino das experiências estéticas e artísticas que muitos alunos não estão tendo
acesso no Ensino Fundamental, compromete a formação integral dos estudantes.
4º Ato - O Desafio - Teatro não é apenas decorar um texto escrito. No Teatro o texto é
físico pois drama é ação.
(esporte), pois na turma tínhamos praticantes desta atividades. Apesar de não terem vivências
anteriores com teatro e dança, resolvemos aproveitar outras práticas e experiências corporais
dos próprios alunos no processo. Como no grupo praticantes de xadrez resolvemos levar
nossa história para um tabuleiro de xadrez. Fizemos vários testes com um xadrez humano em
forma cênica, que resultou na coreografia da batalha final onde o próprio jogo foi para a cena
do espetáculo.
Entre as práticas corporais destacamos a biomecânica de Meyerhold. Segundo a
pesquisadora Yedda Chaves, a biomecânica seria um princípio de “treinamento de atores”,
baseado em alguns fundamentos que teriam por finalidade revigorar o trabalho do ator e sua
relação com o diretor e com os demais elementos da representação. Ainda segundo a autora
na biomecânica as dimensões do espaço e do tempo estão intrinsecamente interligadas à
percepção que o ator tem de si mesmo no espaço e no jogo cênico, um processo que é ao
mesmo tempo “artístico e pedagógico”. (CHAVES, 2009). Assim a realização com o grupo de
alguns exercícios propostos pelo encenador Meyerhold foram fundamentais no resultado
estético dos trabalhos. Abaixo alguns exercícios de biomecânica.
FONTE: http://tayni.info/68426
Com a situação política que passamos no final do ano de 2016, com a PEC, a
Escola sem Partido e Reforma do Ensino Médio e a ocupação da nossa escola pelos
estudantes. Na época apresentei aos alunos a proposta de encenação do alemão, Bertolt
Brecht. E foi aí que o projeto deu uma reviravolta, pois resolvemos mudar toda a narrativa. O
processo culminou com a apresentação de Macbeth que contava a história política atual no
Brasil. Utilizando a proposta de encenação de Brecht em forma de teatro narrativo.
A proposta de encenação no teatro de Brechtiano, tem antes de tudo um cunho
político. Na obra do encenador os heróis são pessoas do povo. Ele foi um dos pioneiros na
quebra da quarta parede e por usar recursos como o distanciamento, projeções e placas.
Brecht propunha teatralizar o teatro. E não levar a plateia à catarse mas sim à reflexão. O
Teatro Épico de Bertolt Brecht a história tem um cunho narrativo e diferente do teatro
dramático. Não segue uma linearidade. Onde a existência social determina o pensamento.
Brecht recusa o espetáculo como hipnose ou anestesia: o espectador deve conservar-se
intelectualmente ativo, capaz de assumir diante do que lhe é mostrado a única atitude
cientificamente correta - a postura crítica. (PEIXOTO, 1980)
Nossa história de Macbeth saiu da Escócia e veio para o Brasil, mais especificamente
para Brasília a capital federal. E se passava dentro de um tabuleiro de xadrez. Numa analogia
aos jogos de poder. O cenário foi feito com uma projeção mapeada de um tabuleiro de xadrez.
A base usamos fita crepe e um plástico. A iluminação com projeção de power point mapeado,
tipo aquelas projeções de prédios. Figurinos pretos com alguns detalhes. Vale destacar que
não tivemos nenhuma ajuda de custo para nada. Abaixo ensaios e marcações da coreografia
Durante o processo uma das questões que cabe ressaltar quanto aos trabalhos de
preparação corporal para a cena, é que não podemos subestimar os alunos nas escolas e privá-
los da vivência, ou de fazer treinamentos mais complexos como a biomecânica teatral.
Mesmo com poucas aulas semanais de Arte, as nossas práticas acabaram dando um bom
resultado. Infelizmente o “corpo na Arte” ainda é pouco estudado no ambiente escolar.
Não podemos privar os estudantes de experimentar práticas corporais artísticas
na escola. Nossos alunos principalmente os adolescentes tem um potencial artístico enorme. E
mesmo com poucos recursos nossos alunos podem muito. Quase nenhum tinha estudado
teatro na vida e o bom resultado do trabalho foi mérito de todo o grupo e do envolvimento
com o projeto.
Outro ponto que cabe salientar é que este estudo é parte do meu trabalho de
Mestrado em Artes e numa pesquisa recentre que fizemos de revisão sistemática nos anais do
site da Abrace – Associação Brasileira de Pós-Graduação em Artes Cênicas. Detectamos que
praticamente não temos pesquisas que tratam especificamente sobre a corporeidade e o estudo
do corpo nas artes da cena, tem como palco o espaço escolar. Sendo este um campo fértil e
aberto para muito estudo, pesquisa e discussão.
REFERÊNCIAS
CARBONARI, Marília. A Biomecânica de Meyerhold como Recurso Artístico-
Pedagógico de Treinamento e Criação Corporal do Ator. 2013
CHAVES, Yedda Carvalho. V. Meyerhold e a “Memória loci”: uma poética da
visualização do corpo que pensa. Sala Preta, São Paulo, v. 9, n.1, 2009.
GUÉNOUN, Denis. O Teatro é necessário? São Paulo: Perspectiva, 2004
FABIÃO, Eleonora. Corpo Cênico, Estado Cênico. Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol.
10 - n. 3 - p. 321-326 / set-dez 2010. . Disponível em:
http://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/2256. . Acessado em 09 de junho de
2016.
FAEB, Ofício nº 06/2015/FAEB de 30 de novembro de 2015, documento enviado ao
Ministério da Educação, pela Federação dos Arte Educadores do Brasil, FAEB, sobre Análise
do componente ARTE da Base Nacional Comum Curricular aberta à consulta pública.
KATZ, Helena. Corpo e Processos de Comunicação. Revista Fronteiras e Estudos
Midiáticos. Unisinos, 2001.
LAROSSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. In: Revista
Brasileira de Educação. Jan/Fev/Mar/Abr 2002 Nº 19. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n19/n19a02.pdf>
Resumo
Este artigo examina teoricamente o percurso de um experimento cênico-pedagógico realizado pelos
autores envolvendo um grupo de estudantes de artes cênicas, cujo objetivo foi verificar em que medida
procedimentos ligados à performance, à contação de histórias e ao teatro de objetos, combinados,
poderiam servir de estímulo ao ator/performer. A ideia de que a atuação contemporânea está cada vez
mais próxima da noção de performance é recorrente em muitos estudos e pesquisas mais recentes e
remete à questão mais ampla da presença do hibridismo nas artes de forma geral. Como fio condutor,
optamos por trabalhar com a narrativa do Rei Midas, conto popular de origem grega, bastante
conhecido e recontado inúmeras vezes por diversos autores. O objetivo não era a encenação da história
de Midas de forma convencional, mas sim sua utilização como pretexto para a experimentação. Os
procedimentos incluíram práticas de sensibilização corporal, jogos e exercícios teatrais, dinâmicas e
vivências envolvendo objetos. Autores como COHEN, HEGGEN, KOUDELA e SOMERS, entre
outros, forneceram o embasamento teórico. As descrições e análises sugerem possíveis caminhos para
o trabalho com teatro no contexto educacional. Observou-se que práticas cênicas contemporâneas,
como estas aqui abordadas, podem ser extremamente ricas e proveitosas no processo de ensino-
aprendizagem de estudantes de teatro, contribuindo positivamente para sua formação.
Introdução
1
Doutoranda em Artes Cênicas pela UFBA. Professora Assistente do Curso de Licenciatura/Bacharelado em
Artes Cênicas da Universidade Federal da Grande Dourados – ariane.guerra@gmail.com
2
Doutoranda em Artes Cênicas pela UFBA. Professora Adjunta do Curso de Licenciatura/Bacharelado em Artes
Cênicas da Universidade Federal da Grande Dourados –E-mail: flajaniaski@hotmail.com
3
Doutorando em Artes Cênicas pela UFBA. Professor Adjunto do Curso de Licenciatura/Bacharelado em Artes
Cênicas da Universidade Federal da Grande Dourados-UFGD. parente.jos@gmail.com
4
PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência. Tem por objetivo incentivar e valorizar o
magistério, por meio de apoio aos estudantes dos cursos de licenciatura das instituições de ensino superior. Os
futuros professores são integrados ao cotidiano das escolas e participam de ações de formação e pesquisas no
âmbito educacional.
5
Apresentações previstas para o primeiro semestre do ano de 2017.
6
Jogos relacionados à temática da história do Rei Midas, como: cabra-cega (em que o pegador fica vendado para
pegar os outros), pega-pega com esguicho (quem é pego torna-se estátua e liberta-se através de uma esguicho de
água de um borrifador), estátua (com paradas estimuladas por temas como: ganância, cobiça, luxúria, frustração,
dinheiro, felicidade).
O performer é aquele que fala e age em seu próprio nome (enquanto artista e pessoa)
e como tal se dirige ao público, ao passo que o ator representa uma personagem e
finge não saber que é apenas um ator de teatro. O performer realiza uma encenação
de seu próprio eu, o ator faz o papel de outro. (PAVIS, 2003, p. 284).
7
Aqui não cabe a discussão realizada por Josette Féral sobre o conceito de performance abordado por Richard
Schechner, apenas gostaríamos de esclarecer que a autora prefere o termo teatro performativo para aquilo que o
teórico conceitua como performance (em um âmbito mais cultural e amplo), e Lehman denomina teatro pós-
dramático e abarca as questões da performance de uma forma mais específica – dentro do panorama teatral.
Quando nos referimos à performance e ao teatro performativo nos encontramos nas fronteiras e
entrecruzamentos entre a performance e o teatro, e exatamente por isso optamos por utilizar o termo
ator/performer.
competição, egoísmo, reflexões sobre a existência, aflição de não poder usar parte do corpo,
irritação, frustração, empolgação, esperança, sensação de solidão, pressão, desespero, aflição,
sentimento de inutilidade, curiosidade, exclusão, insegurança, medo, tristeza, isolamento,
foram algumas das palavras e sensações descritas e presenciadas.
O estímulo do jogo (ganhar a nota de cem reais) aliado à privação de um sentido
puderam desencadear uma série de sensações e sentimentos que foram retomados corporal e
vocalmente e transformados em material para contar a história O Rei Midas, mesmo sem os
atores/performers saberem que era essa a história que estávamos usando.
A caixa encontrada ao final de exercício deu sequência à prática de contação de
história, através da ferramenta de Estímulo Composto (Compound Stimulus), geralmente
usado na metodologia inglesa de Process Drama. O termo foi cunhado por John Somers e
parte do princípio de que o envolvimento emocional dos participantes com a temática
escolhida é a chave para a participação dos mesmos nas atividades propostas.
A ideia básica é que se escolha um container apropriado onde sejam colocados
objetos, artefatos, fotografias, cartas, documentos, etc., para serem apresentados ao grupo de
trabalho como start inicial de um processo, como um estímulo à criação, ou nas palavras de
Cabral “uma alavanca para impulsionar o processo dramático” (2006, p. 37). Segundo
Somers:
Todos os objetos inanimados designados para uso pessoal são impregnados pelos
seus donos. Uma ferramenta pode sugerir o trabalho e o trabalhador; um item de
vestuário o seu usuário e seu comportamento; uma carta o motivo de sua escrita e
um relacionamento. As pessoas que enterravam seus mortos com objetos
significantes de suas vidas (e seus cavalos, parentes e servidores, por exemplo)
esperavam que os objetos enterrados fossem permitir aos mortos conduzir uma nova
história no mundo além daquele que deixaram. O poder da história associada com os
objetos era suficiente para convencer os vivos que o morto iria proceder com uma
existência. (2011, p. 178)
Através destes itens contidos em determinado container a história aos poucos vai
sendo encontrada e tecida entre os objetos que fazem parte do pacote de estímulo. A escolha
dos itens que vão estar contidos em tal pacote deve ser cuidadosa. Segundo Somers, o
significado que os participantes darão aos materiais pertencentes ao estímulo composto será
devido a justaposição cuidadosa de seu conteúdo, o relacionamento entre eles e o detalhe dos
objetos. O objetivo é reunir uma série de itens que dialoguem entre si e com o processo,
Foi escolhido pelos autores que o nosso “container” seria uma caixa, toda forrada com
papel dourado. Dentro dela haviam os seguintes objetos: um cofre em formato de porco
amarelo, um espelho, moedas, um borrifador, um cubo mágico, um brinco dourado, uma
caneta dourada, a tampa dourada de um perfume, um rei (peça de xadrez). Os
atores/performers foram instigados a usar sua imaginação e criatividade para construir a
história destes itens, trazendo toda a bagagem emocional e corpórea já adquirida9.
Os objetos, quando acrescentados aos jogos e improvisações, podem contribuir
bastante com o processo criativo, influenciando o ator e sugerindo novas possibilidades, como
explica Heggen:
É esse diálogo incessante, sensível, sensorial, perceptivo (entre objeto e sujeito) que
produzirá matéria teatral, alimento dramático para o ator manipulador: desempenho
em que o corpo do ator objetivado pelo objeto se põe às ordens do próprio objeto.
Informações, pressões, resistências, o corpo é obrigado a transigir. De volta, o objeto
nos oferece, por acréscimo, o imprevisto, a visão inesperada de um aparecimento
dramaticamente interessante, um acontecimento desconhecido e reconhecido que
convida o ator a sair de seus caminhos habituais e previsíveis de pensamento e de
movimento. (HEGGEN, 2009, p. 55).
9
Foi dado um tempo para que os atores/performers conversassem sobre os objetos encontrados na caixa, e
depois que eles escolhessem alguns objetos para que fizessem uma história a ser contada através de cinco
imagens congeladas, pensando nas sensações e estímulos corporais que eles vivenciaram durante o programa
Caça à nota de cem reais.
Estabelecer uma relação com um objeto, assim como com uma pessoa, significa
respeitar o princípio do diálogo. O objeto age (fala) e o ator/bailarino reage (escuta).
Para agir, o objeto deve ter uma vida própria. A relação não é muito fértil se o objeto
é controlado, se faz somente o que lhe é imposto, se é tratado como um objeto
inanimado, um escravo que deve submeter-se à minha vontade/violência. [...] Um
princípio essencial que determina a “vida” do objeto consiste em permitir que ele
abandone a nossa órbita de controle para manifestar todo o seu temperamento e
todos os seus caprichos. Devemos adaptar-nos a isso. (1994, p. 235-6).
Considerações
Pensamos que nosso primeiro desafio ao começar o trabalho seria o de como áreas,
que aparentemente estão desconectadas, poderiam dialogar entre si. No entanto, nas primeiras
conversas e práticas fomos percebendo que estas três temáticas de nossas pesquisas
individuais: Performance – Contação de História – Teatro de Objetos, tem mais em comum
do que poderíamos prever e elas acabaram transformando-se em uma só.
O ato de contar uma história é um ato performativo. A contação de história é uma arte
milenar, no entanto, muito contemporânea10: as formas, técnicas, ferramentas mudaram e
continuam mudando ao longo do tempo, mas ainda assim todos gostam de ouvir uma boa
história, pois todos somos formados por histórias, elas fazem parte da nossa constituição
biológica e social, somos pedaços de histórias em composição permanente. Como coloca Edil
Silva Costa “Velhas histórias continuam encantando crianças, interessando adultos e
oferecendo temas para outras narrativas” (COSTA in MEDEIROS, 2015, p. 36).
Ao ouvir o jargão “Era uma Vez...” somos levados a adquirir uma postura corporal de
escuta, o corpo se prepara e se abre para ouvir algo, e não é um simples ouvir, é um abrir-se à
experiência, um permitir-se atravessar-se pela história e pela imaginação que vem inundada
de metáforas e emoção. Quando nossos atores/performers contavam a história do Rei Midas, a
relação com o público operava em um outro registro, criando um outro espaço-tempo e
chegando a outro nível de interação entre quem conta e quem escuta uma história.
As histórias não funcionam como manuais de instruções que vão te dizer passo a passo
o que se deve ou não se deve fazer, mas sim são guias e indícios que te farão voar, entrar em
um mundo distinto. Uma história tem o potencial de despertar o desejo latente de que é
possível se viver várias vidas dentro de uma, ao provocar e promover gatilhos capazes de
alcançar sensações e memórias ligados à experiência.
Experiência aqui entendida como algo que “[...] nos passa, o que nos acontece, o que
nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas
coisas, porém, ao mesmo tempo quase nada nos acontece” (BONDÍA, 2001. P. 21).
10
Contemporâneo não no sentido de atual, mas no sentido adjetivo de um modo específico de relação com o
nosso tempo.
Uma boa história tem a capacidade de mexer com todos nossos sentidos – tato,
olfato, visão, paladar e audição, ou como coloca Damásio (2000) acessar os portais sensoriais
de nosso sistema nervoso (visão, audição, paladar, olfato, tato, sensações viscerais, etc.):
A arte de contar histórias é um ato de comunhão de almas, entre aquele que conta e
transfere um fragmento de sua alma nas palavras sons-gestos (palavras que saem da
boca e do corpo) e aquele que lê com a visão, a audição e os demais sentidos,
também se colocando em alma. (MEDEIROS e MORAES, 2015, p. 17)
As histórias têm esse “poder” pois são capazes de alcançar, através de nossos
sentidos a emoção, que de acordo com Damásio são a base do conhecimento do mundo.
Para o autor a emoção opera em três “linhas” de diferenciação: ter uma emoção, sentir
uma emoção e tomar conhecimento de que estamos sentindo essa emoção. E cada um de nós
passa por estas “linhas” de acordo com os estados corporais do self. As histórias carregam
consigo raízes da tradição oral, que são mais fortes do que a função do registro escrito porque
resgatam em nós um sentido de experiência que atravessa o ter, o sentir e o perceber uma
emoção, pois lidam com a necessidade básica do homem de se comunicar e criar uma
identidade.
Outra grata surpresa foi trabalhar uma direção em conjunto. Foi uma experiência
muito rica entrar no universo de pesquisa do colega e ver o outro trazer para a prática sua
pesquisa teórica e ir percebendo que tudo de alguma forma se complementa. Segundo Pupo
“[...] ao presenciar o desempenho do parceiro, cada um dos responsáveis adquire condições de
comentar sua atuação, assim como se conscientiza dos aspectos pessoais de sua própria
maneira de proceder” (2005, p. 40). Como cada jogo ou programa era coordenado por um de
nós, os outros dois tinham a disponibilidade de observar de forma mais minuciosa como o
grupo respondia a cada estímulo, além de poder documentar por escrito ou através de fotos
e/ou vídeos cada momento do processo.
Dando continuidade à pesquisa e ao que foi criado durante esse processo, nosso
objetivo é o de apresentar esse experimento em diversas escolas, momento em que teremos
oportunidade de verificar e aprofundar as questões referentes à recepção, dialogando
diretamente com o público e fazendo reverberar nos atores/performers as trocas e
compartilhamentos realizados. Esta prática será extremamente profícua e estimulante tanto
para os atores/performers quanto para os autores.
REFERÊNCIAS
DAMÁSIO, António. O mistério da consciência. Trad.: Laura Teixeira Motta. Rev. Téc.:
Luiz Henrique. Martins Castro. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
GROTOWSKY, J. El Performer. Máscara, México, Ano 3, nº 11-12, pp. 76-8, Outubro 1992-
Janeiro 1993.
MEDEIROS, Fábio Henrique Nunes e MORAES, Taiza Mara Rauen (org). Contação de
histórias: tradição, poéticas e interfaces. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2015.
PUPO, Maria Lúcia de Souza Barros. Entre o Mediterrâneo e o Atlântico: Uma aventura
teatral. Ed. Perspectiva: São Paulo, 2005.
Resumo
O objetivo do artigo é apresentar ideias e uma conjuntura que esboce os caminhos da videoarte dentro
do instagram traçando uma linha de fuga entre o conceito de olhar educado para as novas mídias
digitais através da abordagem da cultura visual. Para tanto, empreende-se na busca de
desvendar/construir/ o conceito do olhar educado dentro de uma perspectiva contemporânea que aloca
o sujeito e as imagens em um espaço-tempo diluído, cibercultural. As experiências imagéticas
cotidianas são agora instagradas, apropriadas, geolocalizadas, virtualizadas, ubíquas e interativas e que
reconfigura as esferas da Mídia-Arte. Nesse contexto a epistemologia da Cultura Visual segue como
uma ferramenta que entrecruza e costura esse conceito e alarga os sentidos. Antes de se incorrer pelas
questões mais específicas da videoarte e do vídeo, é válido pontuar, que às questões tecnológicas e
mecanicistas que vieram à tona a partir da revolução industrial contribuíram para uma mudança de
hábitos, construção de olhares e a uma “visual turn”. Há então, na contemporaneidade, uma expansão
das mídias, linguagens e uma construção por “análise combinatória” de signos.
Palavras-chave: Videoarte. Olhar educado. Cultura Visual. Cibercultura.
Introdução
1
Doutorando em Artes pela UnB. Professor adjunto nos cursos de Publicidade e Propaganda e Jornalismo na
Faculdade de Comunicação do Centro Universitário Estácio de Brasília. Líder e pesquisador no Núcleo de
Pesquisa e Produção em Audiovisual – NUPPA/Estácio de Brasília. E-mail: allexmeteora@hotmail.com.
as fronteiras comuns da arte e de outras áreas, tornando um caos uma doce poesia, um
universo distópico.
As redes sociais digitais e os aparatos tecnológicos de visibilidade estão formatando
outras e diferentes formas de expressão na contemporaneidade e que altera o percurso da
sociedade e sua produção de visualidades. Nesse contexto é válido ressaltar que há também
uma reconfiguração das disciplinas do olhar, e claro uma reconfiguração da noção de olhar
educado.
A perspectiva da cultura visual em relação ao olhar educado considera “que as
imagens e outras representações visuais são portadoras e mediadoras de significados e
posições discursivas que contribuem para pensar o mundo e para pensarmos nós mesmos
como sujeitos” (HERNANDEZ, 2011, p. 33). O olhar educado nas/para as redes sociais
digitais é um conceito que busca responder a maneira como os processos de produção,
articulação, distribuição nos espaços digitais reconstrói todo um legado das disciplinas do
olhar.
Para isso o escopo terá como objeto de breve análise a videoarte na rede social digital
instagram e uma quantidade de perfis dividida entre àqueles sujeitos que utilizaram a hashtag
– que é a palavra-chave precedida da cerquilha (#) e utilizada para identificar e auxiliar no
compartilhamento de conteúdo nas redes – videoarte na descrição de seus perfis.
A videoarte surge em meados dos anos sessenta e setenta e explode nos anos oitenta,
devido, talvez, a apropriação de artista à meios de comunicação, transformando essas mídias
em espaço criativos, com propósitos que vão além de comunicar, mas de expressar,
desterritorializar. Então a proposta inicial deste artigo é trazer uma breve análise desta
expressão que se mistura entre arte e comunicação à uma conjuntura que se pauta pelas
questões da cibercultura, que tem entre outras características de inteligência coletiva,
apropriação e democratização de conteúdo, ou seja, uma potencialização dos “propósitos” da
videoarte de outrora.
debates sobre mídias e está diretamente relacionada com os artefatos e objetos artísticos, as
imagens dos meios de comunicação, expressões populares, rabiscos em paredes, poesias
visuais, mensagens em muros e toda e qualquer visualidade que se vinculam a própria cultura
com os de outros povos; os que estão nos museus e os que aparecem nos anúncios; nos
videoclipes ou nos sites de internet; os que realizam os professores e os próprios alunos
(HERNÁNDEZ, 2000).
Há uma grande diversidade e emaranhamentos de posicionamentos, de confrontos e
frentes diferentes para fortificar as discussões que pairam sobre as imagens, Marilda Oliveira
(2011) defende em relação à cultura visual, que essa não é “partícipe dos exclusivismos e
unilateralismos, ao contrário, alimenta-se da dispersão, dialoga com várias perspectivas
teóricas e metodológicas já que nasceu híbrida” (p. 187). O que é válido ressaltar já que este
projeto pretende dialogar com frentes diferentes no que diz respeito a produção, percepção e
experiência imagética: olhar educado, cotidiano, cibercultura, imagem.
A cultura visual, como campo de estudo transdisciplinar, interessa-se pelas imagens
artísticas do passado e dos fenômenos visuais de hoje,
(...) no uso social, afetivo e político-ideológico das imagens e nas práticas culturais
que emergem do uso dessas imagens. Ao adotar essa perspectiva, a cultura visual
assume que a percepção é uma interpretação e, portanto, uma prática de produção de
significado que dependem do ponto de vista do observador/espectador em termos de
classe, gênero, etnia, crença, informação e experiência cultural. Seus objetos de
estudo e produção incluem modos de ver, sentir e imaginar através dos quais os
objetos visuais são usados e entendidos. Consequentemente, as metodologias da
cultura visual são híbridas, diversificadas, podendo utilizar elementos práticos e
empíricos bem como abordagens teóricas e criativas. (MARTINS; TOURINHO,
2011, p. 53).
A dinâmica que envolve as imagens e seus processos de mediação aqui localizados nas
acepções de autores da cultura visual (HERNANDEZ, 2000, 2011; MARTINS, 2009;
MARTINS; TOURINHO, 2011; NASCIMENTO, 2011; CHARRÉU, 2011; FILHO, 2011)
corroboram com aquilo que Pierre Levy (1999) vai pontuar sobre a cibercultura como
expressão da construção de um laço social fundado sobre a reunião em torno de centros de
interesses comuns, sobre o jogo, sobre o compartilhamento do saber, sobre a aprendizagem
cooperativa, sobre processos abertos de colaboração. “O apetite para as comunidades virtuais
encontra um ideal de relação humana desterritorializada, transversal, livre. As comunidades
virtuais são os motores, os atores, a vida diversa e surpreendente do universal por contato”
(LEVY, 1999, p. 130).
Os sujeitos detêm forças e espectros de poder que negociam e resistem a significados
dominantes, além de inventar outros significados e potencializar as linguagens, e o principal
significado do ciberespaço é a interconexão geral de tudo em tempo real, a concretização do
espaço virtual onde as formas culturais e lingüísticas estão vivas.
O olhar educado funda a noção de que nossas interações com o mundo e nossas
interações a partir de práticas discursivas que são condicionadas em uma matriz da qual,
muitas vezes, não podemos escapar. Em contrapartida, aproprio-me da expressão “olhar
educado”, compreendendo-a a partir de interações, promoções de trocas e intercâmbios de
experiências. A cultura visual contribui para alargar o espaço fundado de leituras de uma
noção mais reducionista do olhar educado, pensando-o a partir dos escapes, das resistências,
das linhas de fuga, e buscando dessacralizar noções normatizadas (MEDRADO, 2012).
O que está em jogo agora é este olhar educado envolto de outras tecnologias, tais
como artefatos sem fios, dispositivos móveis digitais interconectados. A virada pictórica a que
dizia Mitchell e a crítica de Martin Jay sobre os regimes escópicos estão alargados por uma
fluidez entre uma sociedade da informação, midiática e conectada em rede, em que tudo se
resume ao código binário. A ordem cultural dos significados, das representações determina
também, ou se interdependem, a tecnologia. Santaella (2003) se aproxima dos autores da
Cultura Visual nesse quesito ao focar como “a cultura midiática é responsável pela ampliação
dos mercados culturais e pela expansão e criação de novos hábitos no consumo de cultura
(SANTAELLA, 2003, p. 59).
Deste ponto, podemos então fazer convergências de áreas e pensamentos nesta trama
que muitos autores se apropriam de cibercultura, e convido para lauda desse conhecimento a
assertiva de André Lemos, em que
O modo como vemos depende de como fomos educados por nossa família, nossos
professores, imagens que vemos na televisão, imagens projetadas no cinema, na publicidade,
nos museus, nos supermercados, no trabalho e nas mais diversas formas de se relacionar com
as imagens do mundo e das pessoas (MEDRADO, 2012, p. 67).
Essas dinâmicas de visibilização que envolvem as performances dos sujeitos são
caracterizadas pela conectividade, a ubiquidade e elasticidade do tempo e espaço e faz com
que estes mesmos sujeitos enfrentem um desejo de se auto afirmarem a cada instante de forma
midiática.
O que está em jogo é como e porquê o sujeito nessa conjuntura a partir do seu
dispositivo móvel produz imagens, as vê, produz seus discursos e buscam representar seus
cotidianos, os espaços através de um repositório digital de imagens, em que também estas
pessoas se relacionam, trocam experiências, antropomorfizam, dão volume e criam tantas
narrativas.
O espaço do instagram é esta rede social digital centrada em imagens que media e
oportuniza um espetáculo imagético, com relatos pessoais, com exposições de artistas, com
pesquisas acadêmicas sobre comportamentos, espaços e tempos a partir de imagens etc.
A categoria da reciprocidade das redes sociais digitais tem sido úteis nas relações
sociais do cotidiano local, as relações de poder não são explicitadas, ocultando-se a
hierarquização como normalidade do social, mas podem converter-se em resistência a
intervenções externas sobre o seu cotidiano. Mas seria pueril e irresponsável tal informação,
já que se observarmos as dinâmicas do instagram, por exemplo, podemos ver quesitos como
quantidade de posts, seguidores, tipo de conteúdo massificado, sem criticidade que dialogam
com questões de opressão e hierarquização, e a rede não fica não democrática assim.
A videoarte no instagram
Kátia Maciel utiliza o termo Transcinema “para definir uma imagem que gera ou cria
uma nova construção de espaço-tempo cinematográfico, em que a presença do participador
ativa a trama desenvolvida” (MACIEL, 2009, p. 17). Nessa esteira acho legítimo cruzar o
pensamento de Dubois (1994) com Maciel (2009) para se localizar o espaço da videoarte
enquanto imagens que (des)legitimam antes de tudo qualidade plástica, estética e formal da
imagem, numa busca por experimentações e expressões contra-hegemônicas.
Da mesma forma, Machado (1993) afirma que as imagens videográficas não são mais
expressões de uma geometria, mas de uma geologia, ou seja, de uma inscrição do tempo no
espaço. No entanto, Dubois acredita que só podemos pensar o vídeo seriamente como um
“estado”, estado do olhar e do visível, maneira de ser da imagem. Para o autor (2004, p. 23),
o “vídeo não é um objeto (algo em si, um corpo próprio), mas um estado. Um estado da
imagem (em geral). Um estado-imagem, uma forma que pensa. O vídeo pensa (ou permite
pensar) o que as imagens são (ou fazem).
Neste instante acho válido ressaltar, como elemento contextual do trabalho, a questão
da cibercultura planetária, conceito desenvolvido por André Lemos (2004) que chama atenção
para conjunto de processos tecnológicos, midiáticos e sociais que convergem com os
processos de convergência das telecomunicações, da informática e da sociabilidade
contracultural.
Para Lemos “a cibercultura planetária está potencializando o conjunto do que há de
mais rico e também de mais nefasto nas culturas humanas” (2004, p. 13), o que é trivial
afirmar sobre a internet como potencializadora de diversos estratos sociais, científicos,
culturais, a internet aumentou exponencialmente a troca de informações, a construção de
conhecimento, a difusão de linguagens, como o audiovisual, por exemplo. Na cultura das
mídias, a que Lúcia Santaella (2003) se refere, temos um ingresso separado, personalizado de
várias formas, dispositivos e meios que comunicam e auxiliam na transferência de
informações e iniciam um processo de empoderamento e autonomia, do rarefeiteamento da
hierarquização dos processos produção e distribuição.
A videoarte, como pensado por diversos autores, é um elemento que transita entre a
arte e a comunicação (DUBOIS, 2004), ou seja, entre o processo criativo e o potencial
criativo do vídeo e o contexto cibercultural possibilita uma massificação e uma
descaracterização de um ethos já contraversivo do videoartista, ou mesmo do videomaker. O
que é arriscado afirmar que no contexto do instagram, e pela possibilidade de todos
construírem narrativas poéticas, amadoras, cotidianas etc, todos sujeitos-avatares são capazes,
ou são artistas, videoartistas, performatizam e dão outros sentidos as imagens do mundo e
localizam nas ruas, exposições, paredes, galerias do instagram.
O que seria bastante forçado afirmar que, mas até crível, dentro de uma lógica
esboçada aqui, temos hoje – com o advento tecnológico, a cultura de gadgets, o barateamento
e acesso a dispositivos móveis, a exarcebação das telas e das câmeras nesses dispositivos
móveis, à características e impactos de uma sociedade do espetáculo e do consumo – um
sujeito-comum hedonista, diluído em superficialidades, com um vazio informacional, devido
inclusive, a uma profusão ágil e instantânea de informações e conteúdos “upados” em
milésimos de segundos e, por fim, com capacidade produtiva de um videomaker/videoartista.
Esse sujeito viu no início dos anos 2000 as empresas de tecnologia de dispositivos
móveis, os celulares, disponibilizaram no mercado os primeiros aparelhos com a tecnologia
de câmeras fotográficas e videográficas. Logicamente que em termos conjunturais
potencializou o início de um cenário que vemos hoje, por exemplo, com a expansão dos
repositórios de vídeo on demand, como o youtube, e a diversificação de funções das redes
sociais digitais, como as lives no facebook, e o universo das histórias dos perfis do instagram
e da possibilidade, no início de inserir pequenos vídeos nas timelines dos usuários. Não é
trivial dizer que a linguagem audiovisual é a grande vedete da sociedade contemporânea, para
além de mimetizar, ela constrói e legitima as narrativas do cotidiano e travestem de realidade
e ubiquidade o sujeito-avatar das redes sociais digitais.
O que se tem hoje é um discurso de apropriação, de (re)invenção do pastiche, dentro
de uma estética do amador e do espetáculo. As fronteiras entre o que determina ser um
sujeito-artista, um sujeito-comunicador foram performatizadas por esse olhar educado para o
digital que potencializa e transmuta todos em todos, do especialista a categorias massificadas,
massificantes. É um avesso do domínio hierarquizante, quando todos “podem”, ou percebem-
se como seres “atuantes”, produtores de conteúdo por essa demanda de um olhar que se educa
para os meios digitais, para essas imagens virtuais, que são a realidade de um mundo binário,
programado, especulado, simulado e performatizado.
Como breve objeto de análise temos a videoarte no instagram, palavra digitada no dia
de 9 de julho 2017, na busca do aplicativo. Para os resultados que se seguem foram
consideradas as palavras “videoarte” e “videoart”, no último caso temos quantidade maior de
publicações, devido claro ao alcance da língua inglesa.
O que pude refletir ao ver cerca de 50 vídeos é que há uma apropriação do aparato da
câmera, que talvez pode ser em sua maioria de celulares, para conteúdos diversos. Há aqui, no
universo do instagram, uma diversidade de vídeos que utilizam da hashtag “videoart” e
“videoarte” que trazem imagens com conteúdo de expressões artísticas tais como processos de
desenhos, com manipulação do tempo da imagem, exemplos de arte digital, com efeitos em
2D e 3D, vídeos de pessoas grafitando, luzes de refletores piscando, videobooks com
poesias,vídeos de exposições de artistas na rua ou em galerias, performances visuais etc.
Por outro lado, há também vídeos de trailers de filmes, filmetes de convite para
exposições, pessoas brincando, crianças se maquiando, jogando games, vídeos com cunho
sexual, vídeos com experimentos ecológicos, com receitas e preparos de pratos culinários etc.
O que se pode notar também que a tag “videoart” ou “videoarte” soma-se a tantas outras na
maioria das postagens, palavras correlatas a questão da arte, como “videoinstalação”, “art”,
“artista”. E outras tags que dialogam com os perfis das pessoas, com o conteúdo, tal qual
“nudes”, “food”. Nesses números as tags não necessariamente estão no texto do post do
vídeo, mas nos comentários de outros usuários na publicação, que nomeiam como “art” ou
“videoart”, o que fragmenta bastante essa busca e a intitulação de videoarte.
Considerações finais
Nessa trama entre proposta aqui vale relembrar o texto “A genealogia do (não)
artista”, de Frederico Gomes (2006) que atenta sobre uma produção e vivência artística fora
da sociabilidade da arte, que acabam agindo fora dos conceitos cristalizadores que
hierarquizam a prática artística.
REFERÊNCIAS
DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: CosacNaify, 2004. p.69-115.
GOMES, Frederico. A genealogia do (não)-artista. In: Glória Ferreira (org.), Crítica de Arte
no Brasil: Temáticas Contemporâneas. RJ: FUNARTE, 2006. (pp. 169-72).
OLIVEIRA, M. Por uma abordagem narrativa e autobiográfica: diários de aula como foco
investigativo. In: MARTINS, R.; TOURINHO, I. (Org.). Educação da cultura visual:
conceitos e contextos. 1.ed. Santa Maria: Editora da UFSM, 2011.
SANTAELLA, Lucia. Cultura das mídias. 4a. ed. São Paulo: Experimento, 1992 [2003].
______________.Os espaços líquidos da cibermídia. Revista da Associação Nacional dos
Programas de Pós-Graduação. 2005. Disponível em: <
http://www.compos.org.br/seer/index.php/e-compos/article/viewFile/26/27>. Acesso em: 03
abril 2017.
SPINK, Mary Jane Paris; MEDRADO, Benedito. (2000). Produção de sentidos no cotidiano:
uma abordagem teórico-metodológica para análise das práticas discursivasǁ. In: SPINK, Mary
Jane Paris (org.). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações
teóricas e metodológicas. 2ª ed. São Paulo: Cortez
Resumo
Este artigo analisa o processo semiótico-artístico de criação fotográfica/fotomontagem de Paula
Sampaio e Jorge Lima do século XX. As imagéticas de Sampaio pesquisadas neste estudo pertencem
ao livro “O Lago do Esquecimento” (2013), já as imagens de Lima integram o livro “A Pintura em
Pânico” (1943). Apesar de criadores imagéticos de séculos diferentes, ambos discutem as mudanças
identitárias em suas obras, assumindo discursos verídicos a partir do ponto de vista cultural, atrelados
a situações políticas. Inicia-se com uma reflexão teórica sobre as culturas presentes nos referidos
ensaios fotográficos/fotomontagens, descrevendo o processo da imagem adicionada à ferramenta do
olhar criador diferenciado de cada fotógrafo. Para tanto, utiliza-se como suporte teórico e
metodológico para análise semiótica da imagem os autores Lucia Santaella e Winfried Nöth (2008);
para falar do gesto de fotografar e da fotografia segue-se as orientações teóricas de Vilém Flusser
(1985) e Boris Kossoy (2014); para a construção da imagem, Philippe Quéau (1993); o pensamento na
fotografia, Jacques Rancière (2012) e sobre elementos da estética, Isaac Camargo (1999).
Palavras-chave: Imagem. Fotografia. Fotomontagem.
Introdução
1
Doutorando em Comunicação, Linguagens e Cultura da Universidade da Amazônia – UNAMA, Atua como membro
colaborador dos projetos de pesquisas “Narramazônia” - UFPA/UNAMA e “Interações e Tecnologias na Amazônia (ITA)” –
UFPA/UNAMA. Atua como Arte – Educador da Educação Básica na Secretaria Executiva de Educação do Estado do Pará
(SEDUC). E-mail: helderribeiro_pa@yahoo.com.br
2
Orientador do trabalho. Doutor em Artes Visuais pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo -
ECA/USP. Professor da Universidade da Amazônia (UNAMA) desde 2000 onde atua na graduação em Artes Visuais e no
Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura. Coordenador e curador geral do projeto “Prêmio
Diário Contemporâneo de Fotografia” no Pará. Atua como Curador Visitante na área de fotografia da Pinacoteca de São
Paulo. E-mail: marianokf@uol.com.br
3
Referência: Site da Artista. Disponível: <http://paulasmapaio.com.br/bio/ > Acesso em: 02 out 2014.
4
Referência: Site Templo Cultural Delfos. Disponível em: <http://www.elfikurten.com.br/2014/03/jorge-de-
lima.html>. Acesso em: 22 dez 2016.
Por outro lado, Jorge Lima foi objeto de pesquisa do crítico de arte Tadeu Chiarelli, o
qual faz parte do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo, no artigo “A fotomontagem como ‘Introdução a Arte Moderna’:
visões modernistas sobre a fotografia e o surrealismo”. Sobre o trabalho de Lima, Chicarelli
retrata que:
As fotomontagens de Jorge Lima seguem muito de perto o espírito das fotomontagens
surrealistas, sobretudo aquelas criadas por Max Ernest: cenas insólitas ocorrentes em
espaços quase sempre contínuos, oníricos, povoados de seres mutantes, misto de
mulher e máquina, mulher e animal, mulher e manequim... Pouco estudadas, as
fotomontagens de Jorge Lima aguardam análises mais detalhadas e conclusivas, muito
embora elas já tenham sido analisadas no contexto da obra poética do autor.
objetividade das imagens técnicas é ilusória, pois na realidade são tão simbólicas quanto o são
todas as imagens. Devem ser decifradas por quem deseja captar-lhes o significado”. A
imagem seguinte de Lima descreve esse processo de decifrar elementos na fotomontagem.
Estar diante das imagens de Sampaio e de Lima é decifrar elementos referentes a um
simbolismo abstrato. Tais elementos, quando codificados, representam mensagens textuais
que aguçam o imaginário, o conceitual e o universal, apoiadas no cultural em que os artistas
vivem e causando impressões diferenciadas por meios de técnicas utilizadas, no caso de
Sampaio, como a luz, a cor, a posição de ângulo. Já em Lima, os recortes de revistas, as
pinturas, as imagens enigmáticas e a proporção de espaço.
Todos esses pontos acima relatados sobre as fotografias de Sampaio e de Lima
esbarram também em sentimentos aflorados e retratados em símbolos figurativos e abstratos,
que partem dos processos particularizados dos artistas, em que seus posicionamentos
conotativos resvalam nas interpretações do espectador diante da obra. Para Boris Kossoy
(2014) o emocional faz sentido quando o espectador se depara com fotografias que fazem
parte de seu passado, o que o permite fazer associações em relação à passagem do tempo, ou
seja, ao passado narrativo que construiu o presente vivido.
Essas imagens de Sampaio foram transformadas em metáforas de imagens descritivas,
argumentadas na simbologia que foi identificada como variações de pensar, dos contextos
sociais e de expressões do cotidiano relatado pelo povo que viveu as modificações do seu
habitar. Para Lima, as fotomontagens seriam uma reparação de afronta e vingança aos limites
impostos, um cala boca na obtenção de conhecimento, em que o homem, com sua
inteligência, constrói e destrói o mundo ao mesmo tempo. Para Kossoy (2014), essas
fotografias vão se fragmentando e interrompendo a vida, e se processando em imagens de
informações.
Descreve o morador que antes das barragens havia uma área muito bonita com
atrativos turísticos, como as praias. Já no livro “A Pintura em Pânico”, Lima descreve a
liberdade poética ao se deparar com contexto da vida e da maturidade, da mistura cultural,
como a integração do misticismo católico com elementos da mitologia e da filosofia
metafísica.
A fotografia pode ser um constante desenhar, com foco de luz e constrate que fazem a
diferença na captura da imagem. Luz e contraste são componentes essenciais para a realização
de técnicas de criação, misturadas às exposições luminosas que são atreladas às superfícies
sensíveis. Tomando como ponto de referência esta concepção, esta pesquisa vale-se de um
contexto bibliográfico e imagético para, assim, buscarmos uma compreensão do processo de
criação artística de Paula Sampaio e de Jorge Lima, em seus livros “O Lago do
Esquecimento” e “A Pintura em Pânico”.
Para analisar os trabalhos de Sampaio e de Lima, são considerados eixos norteadores
ou a representatividade visível quanto às mensagens e abordagens de análise de ordem da
construção da imagem, conforme Philippe Quéau (1993). Utilizou-se, ainda, Jacques Rancière
(2012) para o pensamento na fotografia e Isaac Camargo (1999), o qual discute os elementos
do estético. Esses aportes teóricos contribuíram para compreender as relações entre o gesto de
fotografar, a atitude e a criticidade nas criações artísticas, dando ênfase às relações de
linguagens visuais e culturais evocadas por Sampaio e Lima.
Fig. 1 – Lago de Tucuruí - Tucuruí/PA.
modos de construções das imagens através das linguagens, discursos e significados que
modificam os hábitos de visualidade e de criação, que são interpretados como um modismo
passageiro, pois, a relação entre a imagem e a linguagem torna-se algo novo, no qual o
abstrato pode ser lido como imagem, em que o legível provoca o visível. Foge totalmente das
representações pictóricas clássicas.
Tais características relacionam-se com a experiência e estética ressignificadas pelo
contexto da modernidade e dos relatos capitalistas, em que as narrativas se fazem presentes
durante todo o processo de captura das imagens, havendo, assim, uma capacidade ou não de
envolver as narrativas descritas, pois o contexto se modifica constantemente. As imagens,
enfim, vão além do processo metafórico e adentra de fato nos modelos narrativos por cada
artista. Nas fotomontagens de Lima, as metamorfoses imagéticas necessitam ter uma síntese
de conhecimento mais aprofundado no contexto social e político, encaradas como um
desrespeito aos que tinham a imagens clássicas um referencial de interpretação fotográfica.
Essas fotomontagens tinham um enfoque inovador que passa pelo o que era considerado
absurdo ou perspéctico. Para Quéau (1993), elas podem ser consideradas como uma nova
escrita artística emergida, em que as imagens não são puramente imagens e sim, códigos
linguísticos que assumem sínteses de linguagens quase vivas. Na fotomontagem abaixo, do
livro “A Pintura em Pânico”, de Lima, é possível identificar o processo de absurdo e
verdadeiro, que se aproxima da estética surrealista.
Fig. 2: A pintura em Pânico (Fotomontagem),Jorge de Lima..
Fonte: http://www.elfikurten.com.br
O trabalho dos dois artistas trata de processos de identidades próprias, em que os tipos
de interpretações estão entre a dimensão da presença plástica muito forte e as vivências do
social. Assim sendo, podem ser imagens dentro de outras imagens, como algo pensado e não
pensado, conforme retrata Jacques Rancière (2012, p. 103): “é uma imagem que encerra
pensamento não pensado, pensamento não atribuível à intenção de quem a cria e que produz
efeito sobre quem a vê sem que este ligue a um objeto determinado”. Entretanto, na imagética
de Lima, são jogos de variações e funções numa só composição de fotomontagem, em que há
o agente passivo e ativo ao mesmo tempo, em outras palavras, a arte e a não arte carrega em si
dois valores ou poderes: o que apenas observa e o que interpreta aqui a presença da
pluralidade. Não é identificável no trabalho de Lima um jogo de luz e sombra, motivo que o
fez escolher as colagens. Tudo em sua obra é elaborado e pensado.
Em Sampaio a imagética é o diálogo entre o pensado, que vem ser a voz dada à
comunidade de Tucuruí, e o não pensado, que está na poética narrada e na transposição de
elementos que compõem suas técnicas e experiência fotográfica (imagens capturadas), e a
singularidade que se dá, segundo Rancière (2012), baseando-se em Barthes, em três
momentos: primeiramente pelo dispositivo visual (pictórico), em segundo pelo o tempo
responsável (identificações estéticas) e em terceiro pela atitude (personagem). Todavia,
Ranciére (2012, p. 110) reafirma que:
A pensatividade da fotografia poderia então ser definida como esse nó entre várias
indeterminações. Poderia ser caracterizada como efeito da circulação entre o motivo, o
fotógrafo e nós, do intencional e do não intencional, do sabido e do não sabido, do
expresso e do não expresso, do presente e do passado.
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Murilo de. Fotomontagens de Jorge de Lima. Org. - Ana Maria Paulino. São
Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros, Universidade de São Paulo, 1987.
FLUSSER, Vilém. A imagem. In: Filosofia da caixa preta. – São Paulo: Hucitec, 1985, p. 7-8.
_________, Vilém. A imagem técnica. In: Filosofia da caixa preta. – São Paulo: Hucitec,
1985, p. 10-12.
KOSSOY, Boris. Fotografia & História. – 5 ed. – SÃO Paulo: Ateliê Editorial, 2014.
QUÉAU, Philippe. O tempo do virtual. In: Imagem Máquina: era das tecnologias do virtual.
Org. André Parente. Rio de Janeiro. Editora 34, 1993, p. 91-99.
Resumo
Crianças fazem arte? Crianças são autoras? Como vivenciam seus processos criativos? Estas e outras
questões, que me provocam enquanto professora de artes visuais, foram levantadas e problematizadas
na dissertação intitulada Poéticas infantis: um estudo da criação artística na escola, apresentada à
Universidade Federal Fluminense, em 30/03/3015, sob a orientação da profª Marisol Barenco de
Mello. Tal pesquisa teve como objetivo compreender os processos de criação artística de crianças,
estudantes do Ensino Fundamental I, do Colégio Pedro II, campus SCI, Rio de Janeiro, partindo da
concepção de que as crianças são sujeitos da cultura e, como tais, são produtoras de cultura. O
presente texto refere-se ao primeiro capítulo da dissertação citada e apresenta uma atividade realizada
com os alunos no pátio da escola, diante de um ipê, e leva questões desenvolvidas ao longo da
pesquisa em diálogo com os enunciados estéticos infantis. O estudo foi realizado a partir dos aportes
teóricos de Vigotski e Bakhtin e outros interlocutores, enfrentando os conceitos de imaginação,
alteridade, enunciação artística e autoria, e mostra o processo alteritário da enunciação estética.
Palavras-chave: Arte. Alteridade. Criação
Introdução
o refeitório, localizado em frente à árvore. O refeitório, que as crianças usam para lanchar,
fica na entrada do colégio, é um espaço com oito mesas, com seis cadeiras em cada. É um
ambiente bem amplo e aberto, pois só tem uma parede ao fundo e o teto. Fica bem distante da
sala de artes - um corredor com quinze salas distanciam um do outro.
Os alunos entraram correndo pelo refeitório, pois sair de sala já é uma aventura para
eles. Cada um procurou um lugar adequado, acomodando-se e ocupando o espaço livremente.
Atraídos pelos colegas e suas afinidades, formaram grupos delimitados pelas mesas dispostas
no ambiente. De repente, alguns olharam a árvore e foram impactados pelo que viam.
Pedi que cada um observasse o ipê. Desnecessário, uma vez que imediatamente todos
se extasiaram diante da árvore. Com olhares curiosos, espantaram-se naquele momento, no
encontro com um ipê rosa na entrada da escola. As crianças atravessaram aquele pátio pela
manhã, passando ao lado da árvore, mas não repararam suas flores. Um perguntou: “Quem
colocou essa árvore ali?”. “Nunca vi isso aí!”, exclamou o outro. Elas começaram a falar
sobre o que viam, deram opiniões sobre o ipê. Apontavam, com braços e dedos esticados, e
exclamavam: “Parece um pompom rosa!”, “Muito linda!”, demonstrando grande admiração.
Por alguns instantes, refleti sobre esse olhar desatento e anestesiado, olhar distraído,
que anda pelo mundo, dominando-nos e que, muitas vezes, faz-nos olhar sem ver. Refleti,
também, sobre o meu gesto de apontar, gesto que fez existir para o outro o que não existia. A
árvore não existia para eles até o momento em que eu apontei. Os dedos apontados para a
árvore, tanto o meu como os das crianças, pareciam demonstrar o transbordamento do que
cada um vivenciava, como se a experiência daquele momento precisasse ser compartilhada.
Expliquei que o ipê sempre esteve ali, mas que, em uma determinada época do ano,
ele floresce, ficando coberto de flores. Alguns são rosas, outros amarelos, brancos, roxos, há
vários tipos de ipês.
Depois da conversa com o ipê, sugeri que cada um fizesse um desenho, para manter o
diálogo. Os alunos começaram a criar. Lápis, olhos, mãos e risos. Conversando sobre diversos
assuntos, brincando, rindo e cantando, cada aluno foi trabalhando e riscando. Com traços
firmes, linhas, cores e formas foram surgindo e preenchendo o papel. O papel branco
convidava. Árvores nasciam.
Fui passando e olhando os trabalhos sendo realizados pelos alunos, como sempre faço
e resolvi fotografar. Fotografei um, depois outro e assim por diante.
Enquanto fotografava, meu olhar foi deslocado. Saindo daquela situação do cotidiano
da escola, vi novas formas pelo enquadramento da máquina. Fui percebendo os enunciados
sendo elaborados pelas crianças, em seu processo de construção. Acompanhei tudo de perto,
um a um, não depois de prontos e acabados, como sempre fazia nas aulas. Pela primeira vez,
olhei para aquelas produções na gênese do processo de criação. E mais, fui percebendo cada
desenho em relação aos desenhos dos colegas feitos no grupo. No processo, pude notar o
quanto havia de coletivo em cada criação, mesmo identificando os aspectos singulares de cada
aluno.
Não existia um acordo explícito de um trabalho em equipe, porém, mesmo cada um
fazendo o seu desenho, sem a intencionalidade de realizar um trabalho coletivo ou de “copiar”
o desenho do colega, as produções entraram em diálogo dentro do grupo de trabalho! E os
grupos, por sua vez, elaboraram enunciados diferentes uns dos outros.
Fonte: A autora.
Fonte: A autora.
Fonte: A autora.
Fonte: A autora.
Fonte: A autora.
Fonte: A autora.
Achei que poderia ter perdido alguma conversa entre as crianças, pois parecia tudo
combinado nos grupos. Não cabia pedir que repetissem a atividade, porque, mesmo que eu
solicitasse a tarefa de desenhar a árvore novamente, acredito que sairiam produções
diferentes. Um enunciado nunca se repete, já que a vida é feita de atos únicos e irrepetíveis.
Se tivesse feito esse pedido, penso que fariam uma outra criação. Assim, realizei a mesma
proposta com a outra turma, composta, naquele dia, por 24 alunos da mesma série e idade.1
O processo com a t.201 aconteceu de forma bem parecida. Os alunos não combinaram
de fazer um trabalho em grupo. Cada um revelou sua singularidade e, ao mesmo tempo,
participou de um processo coletivo de criação. Cantando músicas, contando piadas, falando
de futebol, resolvendo conflitos do recreio, etc., eles iam desenhando- criando.
Frequentemente recorro a Vigotski, a fim de aprofundar minha compreensão sobre os
processos criativos dos alunos, seus desenhos e produções nas aulas. Em seu estudo sobre a
imaginação ou fantasia – ele usa sem distinção esses dois termos – , o teórico afirma ser essa
uma atividade combinatória ou criadora, realizada pelo cérebro humano, capaz de fazer novas
combinações, a partir de elementos de experiências anteriores, objetivando criar algo novo.
Através dessa “capacidade vital” que todos possuem, o homem produz conhecimentos
científicos, técnicos e artísticos. Para ele, a imaginação desenvolve-se em um processo lento e
gradual, de formas mais simples para mais complexas, não como resultado de um processo
súbito, como muitos acreditam. Essa capacidade combinatória está diretamente ligada à
realidade, em especial, ao acúmulo de experiências vividas (Vigotski, 2009).
Para analisar o mecanismo psicológico da imaginação, Vigotski apresenta quatro
formas que mostram a relação entre a atividade da imaginação e a realidade. A primeira e
mais importante, em sua concepção, consiste no fato de que a fantasia sempre opera com
elementos da realidade, presentes no sujeito através de suas experiências anteriores.
A segunda forma consiste no fato de que algumas imagens são criadas a partir da
experiência vivida e compartilhada pelo outro. A terceira forma de relação entre imaginação e
realidade, para Vigotski, é de caráter emocional. Destaca que o sentimento se encarna em
imagens que, por sua vez, influem nos sentimentos. E, finalmente, a quarta forma apresentada
consiste na criação de algo novo, que jamais existiu na experiência humana e se torna
realidade, passando a influir sobre outras coisas.
Seja uma imagem criada a partir de um sentimento, de experiências alheias, ou de algo
completamente novo, o fato é que, em todas as formas apresentadas, a imaginação sempre
opera, recombina e reelabora elementos de experiências anteriores, de experiências vividas
pelo sujeito. Essa reelaboração complexa, que se desenvolve em um processo de dissociação e
associação das impressões percebidas, é movida tanto pelo sentimento quanto pelo
pensamento.
Uma outra questão que pode ser levantada na busca de compreensão da situação
apresentada refere-se ao conceito de imitação. Vigotski (2012) considera a imitação não como
um ato mecânico e automático do homem, mas como um ato ativo e consciente realizado pelo
sujeito. A imitação, atividade especificamente humana, baseia-se na compreensão da operação
intelectual da qual se imita. Mesmo sabendo que a imitação assume formas mais complexas
no decorrer do desenvolvimento humano, formas que não poderão ser aprofundadas neste
trabalho, poderíamos pensar nesses desenhos, feitos pelas crianças, como atos de imitação?
Eles estavam imitando a árvore e/ou o gesto do colega? Como a imitação das ações dos outros
entram na criação das crianças?
Perceber esses desenhos como acabamentos singulares e em diálogo com o outro, faz-
me recorrer a Bakhtin. Seria a criança autora nesse processo?
Olhando para os desenhos dos ipês, observamos como cada criança criou um
acabamento único e singular. Identificamos como o traço de uma árvore dialoga com o traço
criado pelo colega, como as crianças foram transgredientes a cada elemento do desenho, sem
perderem a sua singularidade. Os elementos do enunciado de uma criança atravessam o
enunciado da outra, e cada traço está para além do seu próprio enunciado. Desta forma,
poderíamos pensar esses desenhos como produtos culturais elaborados ativamente pelas
crianças? Poderíamos dizer que elas são autoras nesse processo? Seriam essas produções
obras de arte?
Quarenta e nove crianças, quarenta e nove desenhos. Decidi dialogar com essas
produções para aprofundar algumas questões.
Desenvolvimento
Para iniciar uma reflexão, objetivando ampliar minha compreensão sobre a situação
apresentada, escolhi um desenho de um menino e de uma menina da T.205, de grupos de
trabalho distintos.
Após observar cada uma das duas produções escolhidas, individualmente, coloquei-as
em diálogo com as produções dos outros colegas do grupo no qual estavam inseridas, a fim de
cotejar os textos.
Procurei, com Bakhtin, olhar para os desenhos e para aquele momento vivenciado por
todos, a partir das noções de autoria, estética, dialogismo e alteridade. E, com Vigotski,
busquei compreender os processos de imaginação e vivências das crianças.
Observando cada desenho destacado dentro do grupo total de alunos, notamos que não
existe um igual ao outro. Cada desenho foi único com seu traçado, gesto e cor, mesmo
possuindo um elemento visual referente.
Segundo Bakhtin (2011), cada ser humano é único e ocupa um lugar também único no
mundo. E, desse lugar que ocupa, tem um horizonte de visão que nenhum outro sujeito jamais
terá. Para o filósofo, mesmo que tentemos aproximar o olhar para ver bem de perto o que o
outro vê, uma total fusão seria impossível. Seremos sempre sujeitos diferentes, vendo o
mundo de pontos de vista também diferentes. Juntar duas visões seria mais uma duplicação de
vidas. Seria impossível.
Entretanto, apesar de sermos singulares, constituímo-nos de vozes múltiplas, de
diálogos ininterruptos estabelecidos com a vida. Desde o momento em que nascemos,
vivemos inseridos em um complexo de interações sociais. O que pensamos, vemos, sentimos,
falamos, etc., é elaborado dentro dessa rede da qual fazemos parte. O outro é presença
fundamental na nossa constituição.
Assim, a forma pela qual vemos e respondemos ao mundo é singular, mas, ao mesmo
tempo, social. Cada enunciado nosso é formado por vozes alheias, enunciados outros. E essa
rede de comunicação só acontece porque é mediada por signos, compartilhados dentro de uma
dimensão histórica, social e cultural.
Observando os desenhos das crianças, é possível ver essa relação. A cor azul para o
céu, a cor amarela para o sol, a linha verde do chão, etc. são abstrações, convenções com as
quais as crianças da nossa cultura compartilham e nas quais se inserem ao nascer. Por toda
parte vemos desenhos e imagens ao nosso redor, em cartazes, meios de comunicação, nos
murais na escola, configurando uma sensibilidade da qual fazemos parte.
Os alunos, através de linhas, cores, formas e materiais, como lápis e papel, criaram
enunciados, deram uma resposta singular a uma solicitação, usando signos socialmente e
culturalmente construídos. Nesse fazer criador está implicada a história da humanidade, a
história das tecnologias, do lápis, do papel, do ato de desenhar e muitas outras relações, sem
as quais não seria possível que estes desenhos objetivassem-se dessa forma. Em outras
culturas, com outros suportes, outros materiais, outros signos, talvez surgissem enunciados
bem diferentes.
Vigotski (2006, 2010) destaca, também, que, ao procurarmos entender como os
elementos e as situações do meio interferem no desenvolvimento da criança, não devemos
analisar o meio como algo absoluto, mas devemos considerar que o meio e a criança formam
uma unidade indivisível, a qual ele chama de vivência. A vivência da criança é aquela simples
unidade sobre a qual é difícil dizer se representa a influência do meio sobre a criança ou uma
peculiaridade da própria criança. (Vigotski, 2006, p.6).
Para ele, não existe dicotomia, não há um meio exterior se impondo ou interagindo
com o mundo interior da criança. O que há é uma unidade, a vivência, e é nessa concepção
que devemos pensar esses desenhos elaborados, como uma unidade, uma vez que não se
referem nem só ao meio, nem só à criança, mas aos dois indivisivelmente, em uma unidade
dialética entre o sujeito e o mundo.
Os desenhos produzidos pelos alunos mostram-nos que eles não se ocuparam de
buscar o traçado “real” do objeto, no caso, a árvore. Pelo contrário, mostram que eles
reelaboraram criativamente suas vivências, na relação com o meio. Cada um deu um
acabamento singular e único a uma experiência vivida.
Porém, mesmo vendo que cada um realizou um enunciado singular, a partir de um
diálogo com o coletivo, chamou minha atenção ver a forte presença do gesto do “outro” no
fazer criativo dos alunos no ato da criação. Parecia uma criação coletiva.
O fato de terem criado enunciados tão próximos, dentro das mesas de trabalho, coloca
em evidência que esses enunciados visuais não foram “expressões” de uma imagem prévia de
árvore, formulada em suas mentes e materializada em linhas e cores no papel. Entendendo
expressão como “tudo aquilo que, tendo se formado e determinado de alguma maneira no
psiquismo do indivíduo, exterioriza-se objetivamente para outrem com a ajuda de algum
código de signos exteriores” (Bakhtin, 2009, p. 115), não foi isso o que aconteceu. Os
desenhos foram resultado de um processo de criação, cuja construção se deu no ato do fazer,
um olhando o que o outro criava, usando também o “outro” como referência.
As crianças parecem ter dado acabamento a uma vivência. No processo criativo,
objetivaram a relação de alteridade, relação que constitui os sujeitos (Bakhtin), em um ato
responsável, dando uma resposta ao mundo. Ficou forte a presença do “outro” em cada “eu”.
Uma célula: eu-outro. O “outro” alterando o “outro”, interpenetrando sem perder sua
integridade.
Os desenhos, enquanto enunciados de um diálogo, não podem ser compreendidos a
partir da perspectiva de um sujeito falante, como algo individual. O parâmetro para a
elaboração desses desenhos foi o “outro”, o que o colega estava fazendo e criando no
momento, respondendo a uma solicitação da professora. Todas as crianças foram sujeitos
ativos nesse processo, nessa corrente comunicativa, em que a situação e os participantes
determinaram cada enunciação (Bakhtin, 2011).
Uma esticada de olho para o colega, uma chegada de ombro para o lado, uma parada
para conversar com o amigo da frente era o suficiente para a linha que percorria o papel
mudar de curso e seguir em outra direção, fazendo surgir uma nova forma. O olho esticado
para o lado é a própria coletivização do pensamento, é o momento em que o “eu” se amplia e
os sentidos se elevam no momento do ato vivido. É a alteridade.
As árvores desenhadas pelas crianças não parecem revelar um discurso científico ou
funcional da árvore. Os alunos não se ocuparam de realizar uma descrição da árvore, de dar
um depoimento imagético sobre a árvore, de falar de sua função, utilidade ou características
físicas. Eles não se preocuparam com o traçado real da árvore, em copiá-la.
Sempre acreditei estar contribuindo para ampliar o repertório visual dos alunos,
proporcionando-lhes vivências que lhes permitam ter contato com imagens visuais diversas,
sensibilizá-los para as cores e formas do mundo, em uma tentativa de ampliar seus repertórios
e oferecer mais elementos para suas criações. Porém, em alguns desenhos, a árvore rosa, viva,
na frente deles, com flores voando ao vento, sua sombra rosada, a brisa que provocava, não
foi o elemento predominante na criação. A força do fazer do outro foi mais evidente. A criação
foi social e o outro, com seu ato vivido, foi repertório de criação.
Considerações
Com a atividade com o ipê, realizada com as crianças, percebi o quanto elas criaram
seus desenhos em um processo social, como palavras alheias tornam-se próprias-alheias.
Observei o quanto cada uma se alterou em seus atos éticos e estéticos.
Quando juntos, os alunos criam, se alteram, em uma forte rede comunicativa
acontecida na fala, no gesto, no tom, no riso e no olhar. Quando desenharam, as crianças
participantes desse diálogo, não apenas usaram repertórios anteriores, como também usaram o
ato do outro como repertório de criação. Cada uma chegou a esse encontro de palavras repleta
de sentidos, os quais foram ampliados em uma rede de forças e contradições. O encontro eu-
outro não foi uma simples soma ou junção de diferenças, mas uma transformação de sentidos
ocorrida pelas contradições vivas. As crianças se penetram, se afastam, se penetram e se
afastam, criando seus acabamentos, em um movimento constante, alargando horizontes,
alargando consciências. É tensão entre o singular e o plural. O mesmo e o diferente estavam
no mesmo evento. O enunciado elaborado por cada uma das crianças não ocorreu no âmbito
do individual, e sim no coletivo, como todo enunciado, é sempre ação social, onde há pelo
menos três. A arte se revelou evento, acontecimento. As crianças formaram um corpo social
de criação, em que um falava e o outro desenhava; um desenhava e o outro olhava, um olhava
e todos riam, enquanto riam, criavam.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo Bezerra 6. ed. S.Paulo:
Martins Fontes, 2011.
FICHTNER, Bernd. O surgimento do novo nos gestos de criança - Um “diálogo impossível”
entre Benjamin e Vigotski. Poíesis Pedagógica-v.8, nº 2, p.18-32, ago/dez 2010.
PRESTES, Zoia. Quando não é quase a mesma coisa: traduções de Lev Semionovitch
Vigotski no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2012.
VIGOTSKI, Lev S. A crise dos sete anos. Traduzido de La crisis de los siete años. In: Obras
escogidas. Tomo IV. Madrid: Visor y A. Machado Libros, p.377-386, 2006.
VIGOTSKI, Lev S. Imaginação e criação na infância. Tradução: Zoia Prestes. São Paulo:
Ática, 2009.
VIGOTSKI, Lev S. Psicologia da Arte. Tradução: Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
VOLOCHÍNOV, Valentin; BAKHTIN, Mikhail. A palavra na vida e na poesia. Introdução aos
problemas da poética sociológica. In: Palavra própria e palavra outra na sintaxe da
enunciação. São Carlos: Pedro & João Editores, 2011.
Resumo
Ao considerar a produção artística realizada dentro do ateliê este trabalho busca tratar sobre o percurso
que originou o livro de artista, In Memorian, objeto apresentado e exposto como trabalho final para
diplomação em Artes Plásticas Bacharelado pela Universidade de Brasília (UnB), em 2015. A
produção desse trabalho é resultado de um percurso que decorre das experimentações de materiais,
resultado de um processo de pesquisa realizado no período de 2010 a 2014, no Laboratório de
Materiais em Artes – Leme Maquete de produção de materiais artísticos dentro da Universidade, uma
espécie de ateliê-laboratório, coordenado pela Professora Doutora Thérèse Hofmann Gatti. Assim ao
expor esse percurso e o desenvolvimento da proposta também é pretendido reconhecer o espaço do
ateliê como um ambiente de pesquisa e investigação para o desenvolvimento dos trabalhos artísticos.
A importância dessa abordagem se deve ao fato de que a pesquisa muitas vezes nos parece nebulosa
devido à falta de conhecimento metodológico, principalmente nas pesquisas direcionadas às práticas
artísticas. Sendo necessário que os estudantes da área de Artes tenham contato mais efetivo com a
disciplina de Metodologia Científica aliada a métodos de investigações artísticas como forma de sanar
problemáticas relacionadas à estruturação e elaboração de pesquisas. Para que estes possam registrar e
expor seus percursos poéticos através de comunicações textuais.
Palavras-chave: Processo; Vivência; Materiais em arte.
Introdução
1
Mestranda em Educação em Artes Visuais pela Universidade de Brasília (UnB) no Programa de Pós-Graduação
do Instituto de Artes Visuais. Professora da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEE-DF).
2
Doutora em Desenvolvimento Sustentável (2008) pelo CDS/UnB e Mestre em Arte Tecnologia da Imagem pela
Universidade de Brasília (1999). Professora Adjunta Dedicação Exclusiva do Departamento de Artes do Instituto
de Artes da Universidade de Brasília.
A pesquisa e a prática
Maia (2008) aponta que os estudantes da graduação têm dificuldades na elaboração e
execução de propostas de pesquisa científica, seja pela estruturação do trabalho em si, ou
pelos procedimentos a serem desenvolvidos para a sua realização. Por esse motivo, aborda a
importância da disciplina de Metodologia Científica durante a formação, sem deixar de
considerar que a falta de princípios para o desenvolvimento do pensamento crítico reflexivo
advêm de uma lacuna proporcionada pela formação básica.
Assim, ao pensar no ato da pesquisa, o ponto de partida muitas vezes está na seleção
de um complexo material bibliográfico que constitui uma trama de argumentos para
estruturação da base de investigação. Braga (2005) estabelece que, para estruturar um projeto,
Talvez esse aspecto demonstre a falta de uma relação entre esses dois tipos de
produções, de forma que a prática e a teoria não sejam encaradas como ações opostas. Na
busca de compreender que o trabalho artístico comete um equívoco quando se reduz e se
submete às estruturas de apresentação de outras áreas do conhecimento (BUTI, 2008).
Nesse sentido, entende-se que a Metodologia Científica não atende às propostas
poéticas ao exigir uma única resposta, um único caminho. A metodologia em si, como método
de organização do trabalho, é de grande importância, mas dentro do trabalho poético esta deve
buscar um diálogo e não uma avaliação de hipóteses.
Flusser (2010) coloca que a escrita pode estabelecer a orientação do pensamento e do
que se sabe, sendo que o ato de escrever é uma ação que envolve a organização de sinais e
composições, assim como faz um desenhista. Logo, esta ação é uma prática e, nesse sentido,
talvez a pesquisa artística relacionada à escrita possa ficar mais acessível durante o processo
de criação e investigação poética.
graduação colabora para as dificuldades posteriores como pode ser visto no percurso que esta
sendo abordado. Uma realidade presente entre os estudantes da graduação, da área de artes,
que em alguns momentos se veem desassistidos por seus professores.
Fig. 01. Detalhe do livro Rastro, 2014. Pastel seco sobre papel.
(as) estudantes da área artística. Que se reflete na própria construção da trama do trabalho
acadêmico.
Assim as orientações obtidas durante Ateliê II fizeram com que Otanásio (2015)
retomasse a palavra rastro, mas a partir do sentido de “o que é deixado”, desse pensamento,
uma forma de reestabelecer conexões do material com questões que levassem em
consideração o tempo e a memória. Então uma analogia com a terra vermelha foi realizada
para relacionar o percurso do dia-a-dia, já que a terra, solo, estava sempre presente entre a
casa e a Universidade de Brasília (UnB).
Dessa observação é colocado o interesse, quase uma obsessão, por partículas de
pigmento inorgânico, mineral, terra, diversos solos e suas qualidades que podem ser
encontrados debaixo dos pés e que deixam marcas no caminho. O que fez Otanásio (2015)
perceber o quanto foi importante à vivência da manufatura do material, que abrange o
contexto histórico e as conexões realizadas como os desdobramentos que poderiam extrapolar
o próprio material. Era como se os acasos citados por Ostrower (1990) estivessem ganhando
corpo dentro do percurso poético.
Como pode ser visto em um dos trabalhos apresentados durante a disciplina de Ateliê
II, no qual é destacada a imagem do percurso de locomoção realizado durante a graduação
representado pela rota de trânsito do Google Maps (Fig.02), que estava acompanhado por um
giz pastel seco produzido a partir da terra coletada no próprio Campus Darcy Ribeira. Esta
terra representou a matéria-prima que precisa ser tratada, macerada e peneirada. Para dar
origem ao pigmento, poeira refinada que foi aglutinada com uma solução viscosa de canela –
aglutinante alternativo produzido através da observação e consumo de chá de canela pela
família de Otanásio (2015).
Fig. 02. Percurso retirado do Google Maps.
Fonte:
https://www.google.com.br/maps/dir/Planaltina,+Bras%C3%ADlia+-+DF/Faculdade+de+Comunica%C3%A7%C3%A3o,+UnB+Campus+
Universit%C3%A1rio+Darcy+Ribeiro+-+Asa+Norte,+Bras%C3%ADlia+-+DF,+709 10-900/@-15.7147129,-47.921418,11z/data=!4m13!
4m12!1m5!1m1!1s0x935a0ec423e1d32b:0x33d436feb3c0e 2b2!2m2!1d-47.6521514!2d-15.6216249!1m5!1m1!1s0x935a3bb919e93917:0xe
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Porém, o que parecia estar estruturado e fechado como uma proposta poética foi
colocada em dúvida. Então como relata Otanásio (2015) optou-se pela quebra do giz pastel
seco que acompanhava a imagem do percurso de locomoção, os pedaços de giz com o aroma
de canela foram armazenados em um recipiente metálico junto ao mapa impresso com a
legenda Latossolo Vermelho 54, 50 %, Brasília 2014 (REATTO, [et al.] 2004). A legenda é
importante, pois caracteriza o tipo de solo peculiar do Distrito Federal.
A fragmentação do giz se ligava ao percurso delineado durante a graduação o que
estabeleceu a necessidade de quebra da visão esquemática advinda do cotidiano da
manipulação das tintas, pigmentos, entre outros materiais e matérias-primas. O pigmento e o
aglutinante entraram no processo poético como uma questão de memória e afeto e, nesse
sentido, foi possível pensar em vestígio a partir das ações de cada pessoa (OTANÁSIO,
2015).
No entanto, mesmo com as experiências de Ateliê I e II, Otanásio (2015) coloca que
ocorreram momentos durante a diplomação no segundo semestre de 2015 em que não
conseguia ver a possibilidade de nenhuma proposta poética, porque passou a ignorar todas as
ocorrências passadas. Talvez essa situação seja o reflexo da exigência de uma escrita em um
formato que não proporciona para o trabalho poético o seu desenvolvimento em um primeiro
momento. Ou reflexo do fato da escrita poética ser um exercício que não fora trabalhado
anteriormente. Coloca-se esse argumento, pois alguns graduandos se prendem a modelos pré-
estabelecidos e não conseguem decodificar a estrutura exigida, principalmente pela falta da
escrita, tanto a pessoal que arquiva os processos quanto à teórica que pode embasar essas
ocorrências.
Vale ressaltar que para que houvesse validação e reconhecimento da construção
realizada durante Ateliê II foi de extrema importância à orientação do professor Ms. Fernando
Nisio, pois este retomou alguns pontos trabalhados em Ateliê II ao enfatizar a necessidade de
sair da ilustração do processo de manufatura do giz pastel seco para encarar o material de
forma simbólica, com atenção a possíveis ligações, texturas, cores, cheiros, entre outros
sentidos, a serem explorados a partir tanto do desdobramento do material quanto da escrita
(OTANÁSIO, 2015).
Nesse sentido, é possível retornar a Fulsser (2010) quando este trata a escrita como um
exercício de construção simbólica em que as normas podem ser subvertidas cabendo ao (a)
autor (a) conhecê-las para que haja uma apropriação, uma espécie de brincadeira no sentido
de reconhecimento dos códigos para apresentação do texto e do corpo do trabalho. A estrutura
que conterá, de forma sistemática ou não, o trabalho poético.
Das experiências citadas e a partir da orientação do professor Ms. Nisio durante a
diplomação Otanásio (2015) retomou a memória como ligação as partículas de pigmento e a
relação de afeto em conexão atribuída ao aglutinante feito a partir da canela, pois este, além
de exalar o aroma, trazia o peso das memórias familiares. Então, como título o trabalho final
de diplomação trouxe MEMÓRIA: partículas em suspensão e o objeto In Memorian, um livro
de artista, apresentado à banca durante a exposição final na Galeria do Espaço Piloto do
Instituto de Artes (IdA).
Considerações
Os espaços do ateliê disponíveis para a criação e a produção são riquíssimos no
desenvolver de potencialidades que podem ser acompanhadas por metodologias de pesquisas
artísticas adequadas desde os primeiros semestres de formação, para sanar a problemática que
surge entre o trabalho prático e a construção do texto durante o período de Ateliê I e II que
antecipa a diplomação. Com ênfase sem dúvidas na importância do acompanhamento e do
retorno em relação às orientações pontuais dos docentes que podem proporcionar experiências
gratificantes, além de mais clareza ao percurso do trabalho.
A retomada do percurso como forma de reflexão é interessante por revelar
questionamentos que podem ajudar a outros processos de elaboração de propostas poéticas na
área de Bacharel. Talvez a dificuldade relatada durante a diplomação fosse o despreparo em
relação à exigência de uma norma acadêmica não dominada, ou a tentativa de encaixe dessa
escrita poética em normas duras, e ainda à visão pueril do fazer artístico como algo que não
necessita de um método.
Portanto ao esclarecer o processo que resultou na proposta de um trabalho poético
desenvolvido a partir do registro prático e textual durante uma graduação em Artes Visuais é
proposto uma reflexão sobre as dificuldades que os (as) estudantes podem passar tanto pela
deficiência em relação a elabora dos projetos de pesquisa, um problema que se acumula desde
o ensino básico. Quanto pela falta de assistência e direcionamento dos docentes da graduação.
Referências
BRAGA, José Luis. Para começar um projeto de pesquisa. Comunicação & Educação. Ano X.
Número 3. set/dez, 2005.
BUTI, M ARCO . CAROS ARTISTAS, PESQUISEM: É SUFICIENTE. ARS, V. 6, N. 11, 2008. SÃO PAULO :
USP.
FLUSSER, Vilém. A escrita: há um futuro para a escrita? São Paulo: Annablume, 2010.180 p. ISBN
978-85-391-0053-8
OSTROWER, Fayga. Acasos e criação artística. Rio de Janeiro: Campus, 1990. 289 p. ISBN
8570015992
OTANÁSIO, Pâmella Nunes de. Memória: partículas em suspensão. 2015. 35 f., il. Monografia
(Bacharelado em Artes Plásticas)—Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
REATTO, Adriana. [et al.]. Mapa Pedológico Digital – SIG Atualizado do Distrito Federal 1:100.000
e uma síntese do texto explicativo. Planaltina: Embrapa Cerrados, 2004. 31p. ISSN 1517-5111
Imagens
Figura 01 – OTANÁSIO, Pâmella Nunes de. Detalhe do livro Rastro, 2014. Arquivo Pessoal.
Altura: 4000 pixels. Largura: 6000 pixels. 300 dpi. 24
Figura 02 - GOOGLE MAPS. Percurso. Arquivo digital. Altura: 435 pixels. Largura: 861 pixels. bits.
24. Acesso em 24 de novembro de 2014, em <https://www.google.com.br/maps>
Resumo
O presente artigo aborda aspectos da integração entre pesquisa e ensino dentro da disciplina Oficina de
Pintura II, oferecida pelos cursos de Artes Visuais (licenciatura e bacharelado) da Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul no ano de 2017. A autora é responsável pela disciplina desde o ano de
2010, bem como é também coordenadora do projeto de pesquisa Processos Criativos na Pintura
Contemporânea – Teoria e Prática, desenvolvido na mesma instituição. Apresenta-se primeiramente
um breve relato sobre o andamento do projeto, que tem como objetivo fazer um levantamento das
amplas possibilidades e desafios da pintura contemporânea, enfocando principalmente o processo
criativo de pintores brasileiros em evidência no circuito de arte contemporânea nacional. Em seguida,
a ementa, programa e objetivos da disciplina Oficina de Pintura II são colocacados em pauta, dando a
conhecer as proposições feitas aos acadêmicos. Por fim, é feita uma análise sobre como as
investigações realizadas dentro da pesquisa são aplicadas no plano de ensino e no andamento das
aulas, detalhando como exemplo um recorte da abordagem feita sobre o papel dos arquivos no
processo criativo de pinturas, tomando como base a diferenciação entre arquivos proposta por Cecília
Salles e a apresentação de um registro de processo do artista Eduardo Berliner.
Palavras-chave: Pintura. Ensino Superior. Processos Criativos
Introdução
1
Mestre em Estudos de Linguagens pela UFMS. Professora adjunta e pesquisadora nos cursos de Artes Visuais
Licenciatura e Bacharelado da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação da UFMS. Artista Visual, com
participação em mostras individuais e coletivas desde o ano 2000. E-mail: priscillapessoa@gmail.com.
2
Inicialmente ligado à literatura, este termo é hoje aplicado para discutir o processo criativo em outras
manifestações artísticas.
Machado (1960); nas telas já contendo elementos pictóricos e que são o ponto de partida para
a pintura de Lucia Laguna (1941); e na repercussão de condições pessoais na obra de forte
cunho social e político de Sidney Amaral (1973-2017).
Tal material, em seu estado bruto (esboços, referências fotográficas e arquivos
diversos, além de entrevistas e depoimentos concedidos pelos artistas), foi discutido em
encontros de grupo de estudo vinculado à pesquisa e tem servido de base para a produção de
textos que se debruçam sobre os processos dos referidos artistas. Mas, para além da produção
científica, a aplicabilidade pedagógica da pesquisa é outro viés importante de sua realização,
tendo como principal espaço de vinculação as Oficinas de Pintura dos cursos de Artes Visuais
da UFMS, como veremos a seguir.
autoria de Cecília Salles (2012). O texto, como a própria autora coloca, é um mapeamento
ainda embrionário sobre arquivos de artistas contemporâneos; é filiado à crítica genética e
voltado principalmente para críticos, mas, durante o planejamento da disciplina, entendeu-se
que seria uma valiosa base teórica para introduzir artistas em formação a uma etapa do
processo criativo tão marcante na produção atual e, ao mesmo tempo, que detectou-se quase
inexistente entre suas práticas, conforme informado pelos mesmos: dos 31 estudantes
matriculados apenas cinco mantinham, no início do semestre, o arquivamento de materiais
como parte consciente de seus processos.
No texto a autora detecta algumas constantes observadas nos arquivos que
acompanham o percurso da produção de obras de arte e define assim os principais papeis que
desempenham ao longo do processo criador: armazenamento e experimentação.
O artista encontra os mais diversos meios de armazenar informações, que atuam
como auxiliares no percurso de concretização da obra e que nutrem o artista e a obra
em criação. O ato de criar provisões é geral, está sempre presente nos documentos
de processo; no entanto, aquilo que é guardado e como é registrado varia de um
processo para outro, até de um mesmo artista. Outra função desempenhada pelos
documentos de processos é a de registro de experimentação, deixando transparecer a
natureza indutiva da criação. Nesse momento de concretização da obra, hipóteses de
naturezas diversas são levantadas e testadas. São documentos privados responsáveis
pelo desenvolvimento da obra. São possibilidades de obras. Sob essa perspectiva,
são registros da experimentação sempre presente no ato criador, encontrados em
rascunhos, estudos, croquis, plantas, esboços, roteiros, maquetes, copiões, projetos,
ensaios, contatos, story-boards. (SALLES, 2012, p.751)
Partindo das discussões geradas pelo artigo, foi solicitado aos acadêmicos o início (ou
continuidade) de um arquivo pessoal voltado para sua produção artística e mais
especificamente, para o projeto em pintura a ser desenvolvido por cada um deles no semestre,
de acordo com o programa da disciplina. Todos os já citados artistas cujos processos de
criação em pintura foram investigados até agora na pesquisa Processos Criativos na Pintura
Contemporânea – Teoria e Prática apresentam o arquivismo como prática, havendo assim um
vasto material coletado a respeito; todavia, as análises desses materiais apontam que há
grandes variações de um artista para outro tanto na natureza dos arquivos que coletam como
também na relação que estabelecem com esse material durante seus processos criativos;
assim, voltando à sala de aula, além das elucidações sobre o tema que a leitura trouxe,
procurou-se apresentar aos acadêmicos exemplos variados de arquivos de armazenamento e
experimentação e, nesse momento, entra em ação efetiva a aplicação de elementos da
pesquisa no desenvolvimento da disciplina: optou-se por levar à aula uma seleção breve mas
representativa dos registros coletados (entrevistas, imagens, vídeos) perfazendo um recorte do
arquivismo no processo das pinturas de artistas contemporâneos como Ana Elisa Egreja,
Fabio Magalhães, Gabriela Machado, Lucia Laguna, entre outros. Dentro dessa seleção,
relata-se a seguir, à guisa de exemplo de procedimentos metodológicos, o uso dos
levantamentos feitos sobre os arquivos de Eduardo Berliner3.
Entre os diversos materiais catalogados sobre Berliner, foi apresentado e discutido
com os acadêmicos um episódio do programa Catálogo (2010), que visita o ateliê do artista e
toma seu depoimento justamente sobre os procedimentos que desembocam em suas pinturas.
Tal proposição não pretende dar conta da complexidade do processo criativo de Berliner, mas
a fala do artista deixa entrever diversas vezes a relação estabelecida com seus arquivos, e esse
viés especificamente foi enfocado; a frase dita pelo artista que dá início ao vídeo já estabelece
coincidentemente esse recorte: “Eu costumo trabalhar coletando, registrando minhas
impressões do mundo: coisas que eu vejo, coisas que eu ouço”. É possível ver em muitos
momentos seus cadernos (Fig. 1), repletos de anotações, desenhos e colagens.
3
Eduardo Berliner nasceu e trabalha no Rio de Janeiro (RJ) e tem forte presença com suas pinturas no circuito
de arte contemporânea nacional desde o ano 2000, com participação em vários dos eventos a partir dos quais a
pesquisadora seleciona artistas para suas análises, como Prêmio Marcantônio Vilaça (2010), Prêmio Pipa (2010,
2011 e 2014), Salão de Arte de Ribeirão Preto (2005), além da Bienal de São Paulo (2012).
Além dos cadernos, o artista afirma ainda que costuma portar sempre uma câmera
fotográfica e no vídeo podemos observar paredes repletas de fotografias de sua autoria (Fig.2)
e também pequenos objetos descartados que cruzam seu cotidiano e são por ele arquivados.
Berliner (2010) situa tais materiais na condição não de referências produzidas especificamente
para a concepção de determinada pintura, mas como arquivos de armazenamento: “tem vezes
em que eu não sei na hora o que estou fazendo. Tem vezes em que eu realmente fico curioso
com aquilo, mexido com aquilo de alguma forma mas não tenho certeza absoluta.”
retomadas e desenvolvidas, e sim como uma atividade de “treino” que encerra-se em si. Outra
identificação foi com o arquivamento de fotografias (geralmente armazenadas por eles em
suas redes sociais) como sendo também um material com potencial para servir de alguma
forma no processo criativo de suas pinturas.
Foi possível ainda traçar com os acadêmicos paralelos entre o modo como Berliner
lida com esses desenhos e fotografias e caminhos diferentes adotados por outros artistas
analisados: alguns produzem desenhos (esboços) ou fotografias de referência já como
possibilidade consciente de obra, dentro do que Salles (2012, p.751) considera como arquivos
de experimentação, e, ainda, utilizando-os à risca, sem grandes mudanças no projeto durante a
execução da pintura; há ainda artistas que valem-se dos dois tipos de arquivamento em seus
processos e outros (mais raros) que não mantém arquivo nenhum.
Nesse momento da discussão, é importante uma intervenção pedagógica da professora
apontando duas questões presentes nos paralelos que foram surgindo ao comparar artistas: a
variedade de percursos possíveis em um processo criativo e a inexistência de um modelo
“certo” ou “errado” para a criação. Assim, tomar contato com os procedimentos de arquivo de
Eduardo Berliner e de vários outros artistas abriu aos acadêmicos um leque de possibilidades
em relação aos próprios arquivamentos que eles deveriam fazer.
Fig. 5. Compilação de registros fotográficos feitos pela acadêmica Amanda Mamede na Oficina de Pintura II
Considerações Finais
Assim como o processo criativo de uma obra de arte, também os rumos de uma
pesquisa ou a condução de uma disciplina são abertos a possibilidades e escolhas variadas,
mudanças de percurso, construções e reconstruções.
O que aqui se apresentou foi uma breve descrição sobre o andamento do projeto
Processos Criativos na Pintura Contemporânea e sobre como conhecer e analisar os
procedimentos de artistas pode contribuir com os estudantes na reflexão e aprofundamento
dos seus próprios processos, numa simbiose entre pesquisa e ensino. Tratou-se apenas de um
recorte, um exemplo isolado de atividade numa turma específica, mas é importante ressaltar a
escolha da professora e pesquisadora por permear toda a aplicação do plano de ensino de suas
disciplinas pela ênfase no processo criativo como pilar da produção de pinturas; Processos
criativos que se pretende sejam intensos, apaixonados, dinâmicos, e. ao mesmo tempo,
absolutamente individualizados.
REFERÊNCIAS
SALLES, Cecília. Arquivos nos processos de criação contemporâneos. In: 21º Congresso
da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas - ANPAP, Anais. Rio De
Janeiro, RJ. 2012. Disponível em: http://www.anpap.org.br/anais/2012/ Acesso em 05 de
julho de 2017. p. 750-762.
SALLES, Cecília Almeida – Crítica Genética e Semiótica – Uma interface possível In:
ZULAR, Roberto (Org.) Criação em processo: ensaios de crítica genética. São Paulo, SP:
Iluminuras. p. 177-201. 2002.
SALLES, Cecília. Gesto inacabado: processo de criação. São Paulo, SP: Fapesp, 2004.
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo apresentar as propostas de pesquisa e criação do recém
aprovado projeto de Arte e Cultura “Processos de pesquisa e criação em Dança: Grupo Experimental”
do Instituto Federal Fluminense. O objetivo do Grupo de Dança no IFFluminense, situado em Campos
dos Goytacazes/RJ, é desenvolver a pesquisa e a criação em Dança como mote para suas produções
artístico-pedagógicas. A proposta carrega a intenção de ser provocadora de modos de pensar e
executar a arte da Dança e também de favorecer a ampliação do sentido de pertencimento d@s
estudantes participantes à instituição. A produção artística desenvolvida ao longo do ano será
compartilhada pela comunidade campista, bem como pelos campi do Instituto Federal Fluminense.
Sendo assim, a proposta terá impacto sociocultural em toda a região Norte Fluminense. Os encontros
acontecerão durantes dois dias na semana e terão a seguinte estrutura: preparação corporal, pesquisa
de materiais, investigação de movimentos, composição coreográfica e avaliação. Espera-se que @s
estudantes participantes do projeto adquiram autonomia para criação de trabalhos artísticos em Dança,
reflitam sobre modos de criar e produzir Dança que escapem da lógica veiculada nas mídias
tradicionais como a televisão e a internet e que possam se transformar a partir da experiência artística.
Durante todo o processo serão realizados registros fotográficos, em vídeo, materiais escritos,
entrevistas com os participantes, dentre outros instrumentos que colaborarão com a avaliação
processual e final do projeto.
Palavras-chave: Grupo de dança; experiência; pesquisa corporal.
Introdução
Este artigo tem como objetivo apresentar e levantar questões a respeito do recém
criado Grupo de Dança Experimental, cujo projeto fora aprovado no Edital 51 – Projetos
Culturais (INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE, 2017), com concessão de três bolsas
remuneradas e duas não remuneradas de Arte e Cultura no âmbito do Instituto Federal
Fluminense. O grupo está sendo desenvolvido no IFFluminense Campos Centro na cidade de
Campos dos Goytacazes, campus que oferece o curso de Licenciatura em Teatro no qual sou
docente-artista de três componentes curriculares, sendo eles, Poéticas do Corpo I e II e Dança
1
Mestra em Artes (área de concentração em Ensino de Artes) pela Escola de Belas Artes da UFMG, Especialista
em Teatro e Dança na Educação pela Faculdade Angel Vianna e Bacharel e Licenciada em Dança pela UFV.
Professora EBTT de Dança do Instituto Federal Fluminense campus Campos Centro atuando nos cursos de
Licenciatura em Teatro e Educação Física. E-mail: tatiana.o.almeida@iff.edu.br.
na Escola. Além disso, também leciono no mesmo campus o componente curricular Ensino e
Aprendizagem das Atividades Rítmicas e Folclóricas no curso de Licenciatura em Educação
Física. A mesma instituição oferta à comunidade o curso de Licenciatura em Música, porém,
este fica localizado no campus Guarus. A cidade ainda conta com curso superior de
Licenciatura em Artes Visuais ofertado por uma instituição privada. Partindo-se deste cenário,
verifica-se que o único curso de arte não contemplado no ensino superior e na formação de
professor@s é o curso de Dança. Sendo assim, o projeto surgiu também no intuito de tentar
suprir a carência das pesquisas e das experiências múltiplas em Dança nos espaços artísticos-
acadêmicos desta localidade.
Desde o mês de julho do ano de 2015 atuo como docente (carreira EBTT) do Instituto
Federal Fluminense e percebo a vontade d@s estudantes – em número maior, pertencentes ao
curso de Teatro, e em menor, ao curso de Educação Física – em iniciar ou aprofundar
pesquisas e experimentações na área da Dança. Além disso, como professora graduada em
licenciatura e bacharelado em Dança e, também, como artista da dança, desde que entrei na
instituição manifestei meu desejo em fomentar a criação de um grupo que abrisse espaço para
que pessoas interessadas em dançar e/ou se aprofundar na área de conhecimento Dança, assim
como eu, pudessem fazê-lo neste espaço.
Considerando o pioneirismo do Instituto Federal Fluminense campus Campos Centro
no que se refere ao trato do ensino de Arte na Educação Básica2 bem como no Ensino
Superior com o recém instaurado curso de Licenciatura em Teatro, a criação de um grupo de
Dança colabora no intuito de alargar este legado que já vem se constituindo na instituição. O
objetivo geral é que o grupo de Dança, no âmbito do Instituto Federal Fluminense, tenha a
pesquisa e a experimentação como mote para suas produções artísticas e que possa
proporcionar experiências de processos de criação a serem difundidos pelos campi e regiões.
Com a aprovação da Lei 13.278/2016 (BRASIL, 2016) que inclui as Artes Visuais, a
Dança, a Música e o Teatro como obrigatórias no currículo da Educação Básica, torna-se de
2
O campus Campos Centro possui o corpo docente com formação específica em cada área de conhecimento em
Arte. Sendo um professor de Artes Visuais, uma professora de Dança, dois professores de Música e cinco de
Teatro. @s estudantes do Ensino Médio cumprem 80 horas do componente curricular Arte no primeiro ano deste
segmento elegendo uma linguagem artística que tenham maior interesse. No ano de 2017 puderam escolher entre
Artes Visuais (desenho), Música e Teatro. A Dança ainda não pôde ser oferecida, pois a demanda da mesma para
os cursos superiores de Teatro e Educação Física é muito grande, dificultando a inserção no Ensino Médio.
grande relevância que a formação d@ futur@ docente-artista seja expandida, para que @
mesm@ tenha condição de explorar a relação entre as expressões artísticas e compreender que
o ensino polivalente não cabe mais no contexto da Educação Básica. Sendo assim, o grupo de
Dança será uma das possibilidades das quais @s estudantes do curso de Licenciatura em
Teatro poderão usufruir e que colaborará com a permanência exitosa d@s mesmos no
contexto acadêmico.
A formação do grupo também proporcionará a integração entre @s estudantes dos
diversos cursos. Além disso, quando @ estudante se vincula a espaços de aprendizagem
artísticos e por interesse pessoal, amplia-se o sentido de pertencimento ao local, o que
favorece a transformação sensível dos ambientes e das pessoas. Ribeiro (2012) afirma: “O
fazer, o experienciar Arte, qualifica o existir.” (p. 164), sendo assim, experienciar a arte no
contexto do IFF qualifica a existência destes/as estudantes especialmente na instituição.
Uma das questões principais que norteiam o interesse na constituição deste grupo
perpassa por compreender como as experiências artísticas desenvolvidas no Grupo de Dança
poderão contribuir na formação d@s futur@s docentes-artistas de Teatro e docentes de
Educação Física. Strazzacappa (2014) publicou artigo no qual nos apresenta uma pesquisa em
andamento que também traz questões que se afinam com as que aqui são compartilhadas, a
autora explica que “Trata-se de uma pesquisa qualitativa reflexiva de/em arte que permita a
pesquisador e sujeitos das intervenções, tirar conclusões, realizar reflexões, buscar consolidar
conhecimentos a partir das intervenções poético-acadêmicas” (grifo meu)
(STRAZZACAPPA, 2014, p.100).
É notório que, através do itinerário formativo traçado pel@ licenciand@, a partir de
oportunidades oferecidas principalmente pela instituição, a experiência em modos de pensar e
fazer Arte se projeta de múltiplos modos. Compreendendo, como esclarece Pimentel (2016),
que,
significativa essa informação, para que possam ser tomadas decisões com base nos
próprios pensamentos e na autonomia de vontade. (PIMENTEL, 2016, p. 15)
Sendo assim, a criação de um grupo de Dança que possa ampliar as experiências sensíveis
d@s discentes-artistas será uma das possibilidades de se pensar, vivenciar e produzir a Arte
da Dança neste contexto, proporcionando a@s estudantes oportunidades de acesso a
informações e experiências que construam conhecimento nesse espaço relacional.
espaço do grupo de Dança será entendido como lugar de investigação, no qual sejam criados
modos de se fazer pesquisa em Dança e não apenas sobre Dança.
Por ser um grupo constituído por estudantes bolsistas de dois campos de conhecimento
diferentes – Teatro e Educação Física – somado à minha formação em dança, optei por
direcionar @s estudantes na busca por seus interesses de pesquisa tendo o grupo de Dança
como espaço de laboratório interdisciplinar. Sendo assim, cada um/a tem a responsabilidade
de apontar seus interesses de investigações dentro de sua área de conhecimento.
Pimentel (2015) entende que a pesquisa em ou sobre Arte não depende de um
problema a priori, surgido a partir de uma demanda social externa, e sim da vontade e
inquietude d@ artista/pesquisador/a que podem estar associadas a questões sociais ou não.
“Assim, é @ artista quem cria seu próprio problema ou ponto de conflito, para que el@ possa
investigar e tentar uma solução que considere adequada aos seus propósitos. Essa adequação
não é universal nem atemporal [...]” (PIMENTEL, 2015, p. 89). Cada bolsista do grupo terá
como função desenvolver um problema que possa ser investigado e respondido a partir do
laboratório que é o grupo de Dança. Sendo assim, outra questão que se faz presente nesse
trabalho é: o que ou como o grupo de Dança poderá contribuir enquanto laboratório para
desenvolvimento de pesquisas e interesses pessoais/profissionais? Como este espaço pode ser
campo de investigação partindo do interesse de cada estudante?
A pesquisa em Arte tem como pressuposto a presença d@ pesquisador/a atuando
diretamente no objeto investigado, ou seja, el@ faz parte da pesquisa e é pesquisad@r
(PIMENTEL, 2015, p. 90). Nesse sentido, Pimentel (2015) reforça a importância do cuidado
com o registro, explorando o máximo de possibilidades possíveis, a fim de se aproximar a um
levantamento de dados com confiabilidade. Sendo assim, a artista/pesquisadora sugere que
sejam trabalhados relatos e planejamentos escritos, filmagens, fotografias, memória das ações,
dentre outras formas de registro.
Nos primeiros encontros com o grupo de bolsistas foram levantadas diversas
possibilidades de investigação para cada um/a. Um deles foi pesquisar quais tipos de registros
serão utilizados para que os mesmos possam atender a diferentes problemas criados pel@s
Caminhos projetados
Considerações iniciais
REFERÊNCIAS
KATZ, Helena. A Dança e suas epistemologias. In.: SETENTA, Jussara (org.) Encontro
Nacional dos Pesquisadores em Dança. 1. Ed. Salvador: UFBA, 2010. Disponível em
http://www.helenakatz.pro.br/midia/helenakatz71322840115.pdf acesso no dia 11 de março
de 2016.
VIANNA, Klauss e CARVALHO, Marco Antônio. A Dança. São Paulo: Editora Siciliano,
1990.
Introdução
O assunto Arte Moderna nas artes visuais, de acordo com o plano de curso elaborado pelos
professores responsáveis3 pelo Ensino de Arte da escola pública de Ensino Médio localizada na
Av. 06, Maiobão - C.E Domingos Vieira Filho, é abordado no final do 2º ano, assim como a
arte contemporânea. Mesmo assim, não raro acontecer o estrangulamento desses conteúdos no
final do ano letivo, e os mesmos serem assuntos trabalhados somente no 3º ano.
1
Mestranda do PROFARTES/UFMA e professora de Artes Visuais do Ensino Médio na escola Estadual do
município de Paço do Lumiar, C.E Domingos Vieira Filho.
2
A referida disciplina do mestrado orientou que cada mestranda vinculasse sua proposta ao nível de ensino que
atua como docente. No caso em específico da autora, a proposta foi realizada com o 3º ano do Ensino Médio.
3
Professora Monica Rodrigues de Farias e o Professor Evaldo Magno Anchieta (ambos da área Artes Visuais),
que de comum acordo dividiram os conteúdos a serem administrados no 1º, 2º e 3º ano, em planejamento coletivo,
visto que o currículo é flexível na sua abordagem e a disposição dos conteúdos ser eleita de acordo com a análise
do educador em questão.
Quando, por ocasião dos estudos na disciplina Poéticas e Processos da Criação em Artes,
ministrada pela professora doutora Viviane Moura da Rocha4, ela sugeriu a aplicabilidade dos
conhecimentos adquiridos dessa disciplina em ações docentes pelas mestrandas em suas salas
de aula, o pedido veio a calhar “como uma luva”.
Os estudos vivenciados durante a referida disciplina, abordaram inicialmente as mudanças que
influenciaram transformações no pensamento da humanidade, e, por conseguinte, das
produções artísticas. Analisar como essas mudanças se refletiram diretamente no modo de fazer
e pensar arte, foi o ponto inicial desse ensaio que também aborda alguns aportes teóricos que
alicerçam a leitura crítica das imagens artísticas, nos processos de ensino e aprendizagem das
artes visuais.
A introdução do conteúdo sobre arte moderna e contemporânea com os alunos do 3º ano do
Ensino Médio apresentou a seguinte sequência didática: aula expositiva e dialogada, estudos
complementares, discussões e debates, proposta de pesquisa sobre a Land Art e Street Art em
específico, elaboração dos projetos coletivos pelos alunos, análise desses projetos pela gestão
escolar5 e a realização das ações de fazer artístico utilizando a área verde e espaços físicos da
escola, disponibilizados como suporte ou domiciliar (caso desejassem).
Com o apoio de diretrizes educacionais e teóricos de estudo em Educação e Arte, basilares das
atividades docentes e acadêmicas da autora, analisar-se-á os resultados dados nessa ação de
ensino e aprendizagem com os alunos, os prós e contras de todo o processo metodológico e as
conclusões finais de todo o trabalho desenvolvido.
4
Docente do Departamento de Artes da Universidade Federal do Maranhão e do Mestrado Profissional em
Artes/Profartes/UFMA. Responsável pela administração da disciplina Poéticas e Processos da Criação em Artes,
no 1º semestre de 2017.
5
Devido as propostas serem idealizadas para os espaços físicos ou externos da escola.
6
Os movimentos citados não serão descritos em pormenores, por não serem o alvo de estudo nesse ensaio.
7
Idem nota de rodapé nº 5.
8
A Land Art e a Street Art que será um movimento oriundo das premissas iniciadas pela Land serão os Temas a
serem abordados com mais profundidade, por conta de ser o viés da pesquisa específica desenvolvida com os
alunos do 3º ano do Ensino Médio, que foram os objetos de estudo mais contundentes nas ações docentes a serem
relatadas durante o ensaio.
A Land Art, ou arte ambiental (STRICKLAND, 2004, p. 178) com sua proposta do espaço
aberto natural, saindo dos museus e galerias, tem em Robert Smithson, um dos pioneiros, com
o suporte oriundo da natureza, como a obra Cais em espiral.
A Land Art é uma forma alternativa de produção artística que propunha uma arte usando a
natureza como suporte. Em que a paisagem, o terreno, o mar entre outros elementos possíveis
do meio ambiente, se tornam materiais artísticos. Vejamos alguns outros nomes que deram
seguimento ao estilo: Michael Heizer, Smithson, Christo e Jeanne-Claude, e Andy
Goldsworthy. Do espaço aberto conquistado, a Land influenciaria na Pós Modernidade o que
conhecemos como Street Art ou Arte Urbana. Sobre isso diz, CARLSSON (2015, p.9)
A arte urbana é, em sua essência, uma forma de arte efêmera, em que os trabalhos não
são feitos para durar para sempre, sua expectativa de vida é limitada. Na verdade, a
melhor arte urbana é aquela que se faz levando em consideração que, ao longo do
tempo, ela será degradada e desaparecerá.
A princípio Street Art foi gradativamente se constituindo como forma do fazer artístico,
abrangendo várias modalidades de grafismos - algumas vezes muito ricos em detalhes, que vão
do Graffiti ao Estêncil, passando por stickers, cartazes lambe-lambe, intervenções, instalações,
entre outras. São formas de pessoas sozinhas, expressarem os seus sentimentos através de
desenhos. Jean Michael Basquiat, também foi um dos pioneiros nesse modo de fazer arte, como
podemos observar na imagem a seguir.
Outros nomes como: Brad Downey, Aakash, Oakoak, Basksy, TEC, Eduardo Srur, Julian
Beever, Os Gêmeos, Edi Bruzaca, Naldo Saori, irão povoar esse imenso e amplo universo - do
mundial/ nacional ao regional, que hoje compreende um dos estilos mais populares da Pós-
Modernidade, a Street Art. Logo, esses dois movimentos diferentes, mas complementares, serão
o norteamento dos trabalhos a serem desenvolvidos a seguir. Pois, iremos tratar das abordagens
metodológicas desses conhecimentos modernos e pós-modernos, como os alunos da fase final
do Ensino Médio.
A Land Art e a Street Art na sala de aula: proposições docentes para criação de poéticas e
criação artística discente – um relato de experiência
É necessário abrir aqui um link para entender melhor as linhas de estudo que nortearam e
continuam se alimentando dos trabalhos em sala de aula e fora dela. Claro que utilizando os
critérios de forma flexível e adaptada as realidades do tempo e espaço local do alunado. O
Image Whatching, do Dr. Robert William Ott, que é um método similar ao da proposta de Ana
Mae Barbosa e foi amplamente utilizado nos planos de visita monitoradas que a Galeria do
Sesc, nos idos de 2002-2003 - época a qual era estagiária (FARIAS, 2003). Esses dois teóricos,
mais o Edmund Feldman, foram referenciais na trajetória do estágio extracurricular na vida
acadêmica e em espaços expositivos10, até os dias atuais de docência. O Image Whatching era
o encadeamento de cinco momentos na leitura crítica: Descrevendo, Analisando, Interpretando,
Fundamentando e Revelando, como segue com mais detalhes a seguir:
9
A Leitura Crítica da obra/objeto artístico será algo recorrente em todos os trabalhos desenvolvidos em sala de
aula, desde as vivências em espaços expositivos desde a trajetória acadêmica, sendo inclusive tema da pesquisa
monográfica de conclusão da Licenciatura em Educação Artística.
10
Mostra Nacional comemorativa do Brasil 500 anos, em 2001-2002 no Convento das Mercês.
Já o teórico Edmund Feldman, em sua proposta de leitura de imagem diz que existe quatro
estágios: descrição, análise, interpretação e o julgamento, que também veremos com mais
detalhes, abaixo:
x Descrição: os aspectos objetivos que determinam a leitura são: título, artista, lugar,
época, material, técnica, tipo de representação (figurativo/abstrato). Listar apenas o que
se ver sem conclusões pessoais.
x Análise: busca se descriminar os elementos que compõem a imagem e suas relações:
tamanho, forma, cor, textura, espaço e volume.
x Interpretação: busca as significações baseadas nas observações visuais, sem deixar de
estabelecer as relações subjetivas com o eu – expectador.
x Julgamento: Baseia-se em filosofias da arte, não na autoridade pessoal.
Entre as filosofias que amparam o julgamento da arte, podemos citar: Formalista, Expressivista,
Instrumentalista.
x Formalista: visão pautada na ótica dos elementos formais/visuais.
x Expressivista: visão pautada na capacidade de provocar emoções e ideias no expectador.
x Instrumentalista: visão pautada na utilidade, tais como fins religiosos, governamentais,
comerciais e sociais.
A Abordagem Triangular organizada a partir dos estudos e pesquisa da Ana Mae Barbosa tratam
do Ensino de Arte que preconize a História da Arte, a Leitura da Obra e o Fazer artístico (que
é diferente de cópia), que continua atemporal, porém se revitalizando com as questões
contemporâneas constantemente, como é o caso da necessidade evidente de incorporação da
Superada essa defasagem de conteúdos sobre Arte Moderna, foi o momento de introduzir os
estudos sobre a desmaterialização do objeto artístico. O plano dessas aulas contemplou a
seguinte sequência didática:
1º Audição da música de Zeca Baleiro: Bienal
2º Apreciação do vídeo do Instituto Arte na Escola: Isto é Arte?
Fig. 1 Apreciação de vídeo em sala de aula
Fonte: A autora
3º Exercício de caça as imagens: várias reproduções de trabalhos de todas as épocas históricas.
O aluno deveria escolher apenas as imagens de obras que considerasse contemporânea.
4ºAs imagens escolhidas foram colocadas num varal estendido na sala de aula, e houve o
momento de análise das imagens justificando as escolhas. A intervenção do professor para
conduzir a avaliação dos alunos, entre o que seriam obras modernas e o que seriam obras
contemporâneas.
5ºAula teórico-visual (com as intervenções dos alunos durante e após a conclusão dos slides),
sobre os movimentos que tinham a desmaterialização do objeto artístico como proposta: Land
Art, Body Art e Performance. E na arte contemporânea a Street Art. Com a análise formal das
imagens, observando texturas, composições, cores e outros itens da linguagem visual evidentes,
a técnica, os artistas e a contextualização (relações com o universo da TV, cidade, internet, etc.).
6º Estudos complementares com o uso do livro didático, fundamentação a partir do BlogArt11
com os temas apresentados nas aulas dadas.
7º Lançamento da proposta de pesquisa bibliográfica e criação de produção artística em Land
Art/Street Art (com esboço, fotografia, croqui a mão livre ou computador do trabalho a ser
realizado).
8º Recebimento dos projetos, apresentação a gestão da escola (para dar deferimento para a
execução ou não, dependendo da proposta) e divulgação no BlogArt do resultado dos trabalhos
deferidos.12
Fig. 2 Trabalhos/ projetos dos alunos
Fonte: A autora
11
Ver referências e Figura 3.
12
Os trabalhos indeferidos (casos de não adaptação ao espaço requerido ou depredação do meio ambiente seriam
os critérios de exclusão), receberam também a nota normalmente como atividade do 2º bimestre. A não aprovação
do projeto não interferiram na questão nota.
13
Esse evento aconteceu no dia 01 de julho de 2017, pela manhã. Houve um trabalho que foi realizado
anteriormente, no quintal de um aluno (ver imagem 11 e 12).
Fonte: a autora
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ARCHER, Michael. Arte Contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos (org.) Arte-educação: leitura de subsolo. São Paulo:
Cortez, 1999.
__________ . A Imagem no Ensino da Arte: anos oitenta e novos tempos. São Paulo:
Perspectiva, 1999.
__________ . Arte/Educação Contemporânea: consonâncias internacionais. (org.). São Paulo:
Cortez, 2005.
Jonas Sales1
Grupo de Trabalho de Poéticas – GT-2
Resumo
O trabalho desenvolvido com adolescentes remanescentes das comunidades Kalungas, na cidade de
Cavalcante/GO, é o foco desta exposição. Resultados estético-artísticos, refletidos nos corpos em
estado de cena, permitem que a história da tradição se expresse de maneira dinâmica, abrindo
possibilidades para reflexões dos fazeres e dos saberes do corpo. Como uma das decorrências da
pesquisa, os jovens partícipes propuseram leituras estéticas com resultado em um Cortejo Cênico que
exprimia suas danças, músicas, contos, histórias contadas e vividas por um grupo que manifesta, por
meio dessas linguagens, seus percursos de vida. Dessa forma, é possível vislumbrar e discutir sobre a
performatividade dos corpos que trazem histórias da tradição e projetam-se em processos estéticos na
atualidade.
Palavras chaves: Tradição. Contemporaneidade. Artes Cênicas.
1
Professor Adjunto do Departamento de Artes Cênicas da UnB e do programa de Pós-graduação PROFARTES.
Artista cênico. Doutor em Artes (UnB) com estágio doutoral na faculdade de Motricidade Humana
(Universidade de Lisboa). Mestre em Educação (UFRN) e Especialista em Dança (UFRN). Pesquisa temas
relacionados às Corporeidades, Tradições populares, Negritude e Pedagogias da cena.
É a nossa relação corporal com o mundo que cabe destacar. Essa contingência marca
tudo o que tem lugar fora do corpo, inclusive nas investigações científicas ou
filosóficas sobre o corpo humano, bem como nas intervenções educativas. O corpo,
abstraído em análises que recortam-no, fragmenta-se no corpo naturalizado de uma
determinada visão da biologia, no corpo socializado das ciências sociais, no corpo
instrumentalizado por diversas pedagogias. Recortado o corpo, de que corpo
falamos? Como é possível considerar o corpo como campo de saberes, um corpo de
pesquisa que ultrapasse esse reducionismo e que considere a nossa condição
corpórea? Falar do corpo é sempre reduzi-lo a tema do discurso, mas é preciso
admitir que a fala também é gesto. Assim como corpo é sempre condição e limite da
própria história humana, uma história encarnada. (NÓBREGA, 2006, p.64 )
A arte popular não somente pode satisfazer os critérios mais importantes de nossa
tradição estética, como também tem o poder de enriquecer e remodelar nosso
conceito tradicional de estética, liberando-o de sua associação alienada a temas
como privilégio de classe, inércia político-social e negação ascética da vida.
(SHUSTERMAN, 1998, p. 104)
O Império do divino
Todos os anos, normalmente no dia 14 de agosto por volta das 16 horas é
realizado o Império do Divino Espírito Santo na comunidade Kalunga do Vão de Almas
(Cavalcante-GO). A celebração acontece um dia antes da celebração do Império da Nossa
Senhora da Abadia, sendo que esses acontecimentos mobilizam toda a cidade de Cavalcante,
reunindo as comunidades Kalungas e abrindo espaço para rever parentes que estão morando
em locais distantes da cidade. É um ambiente que propicia um grande encontro.
No ritual, o imperador, escolhido para reinar por um ano, segue em séquito até a
igreja matriz (normalmente consagrada a nossa senhora da Abadia). No cortejo, alferes
buscam o Imperador e o conduz em um quadrado com grandes bastões de bambus decorados
conduzindo o Imperador até a igreja. Compõem-se também por alferes da bandeira e outro
empunhando uma espada, crianças vestidas de anjos e a sua família rumo à capela. Eles
caminham pelas ruas da cidade, ladeados por esse quadrado de grandes varas enfeitadas que
os separam das outras pessoas do cortejo representando ali um espaço sagrado no qual através
deste, celebra-se com fé o poder do Espírito Santo.
Na capela, eles rezam os benditos e fazem o sorteio do festeiro do próximo ano. O
cortejo, em seguida, faz o caminho de volta para a casa do Imperador acompanhado da banda,
que tem sanfona, pandeiro e viola, batucando durante a caminhada. Na casa do Imperador, é
servido o banquete que é aberto a todos os presentes.
A sussa
A corporeidade nas expressividades festivas na região da Chapada dos Veadeiros
é representada fortemente pela Sussa (Suça, Sussia). Nascida das tradições africanas e
vivenciada até a atualidade. Normalmente a presença de mulheres é mais comum. As
mulheres mais velhas das comunidades mantém toda cultura de dançar e tentam passá-la para
os jovens, sendo um desafio para os dias de hoje diante das artes massificadas propagadas
entre os mais novos.
Nas festividades, a dança Sussa é considerada uma fronteira entre o sagrado e o
profano das folias. Suas letras, normalmente com duplo sentido, remetem a temas tais
plantações, gado, pedidos de chuva e a vida rural em geral. Além disso, encaminha a alegria,
sem ligar para o ritual sério, religioso, ou a tensão de uma contenda verbal.
Sua coreografia demonstra alegria. É marcada pelos pés e palmas. Mostram-se
também giros e sapateados remetendo-se a uma matriz de movimento vista no candomblé.
Pode ser dançada tanto individualmente quanto em casais, ora aproximando os corpos, ora
afastando. É comum que mulheres, normalmente as mais experientes, chamadas de danceiras,
girem com garrafas de cachaça equilibradas sobre a cabeça. Num jogo de complementaridade
entre homens e mulheres, em que dançam e cantam, lançam desafios para que se mantenha o
ritmo, com as umbigadas e giros das saias coloridas que as mulheres usam.
A musicalidade
A riqueza cultural da região propicia um arsenal sonoro muito peculiar. Ao som
de pandeiros, violas, onças (instrumento rústico que lembra a cuíca dos sambas), caixas e
bruacas, as comunidades negras festejam com batucadas e danças em suas diversas folias e
festas que a séculos fazem parte da tradição Kalunga.
A musicalidade expressa pelos povos Kalungas dessa região não podem ser
classificadas a partir das características dos estilos acadêmicos, mas sim, à luz de seu próprio
povo, com suas histórias e marcas de lutas contra a escravatura e alegrias que são refletidas
em suas melodias e ritmos. Diante dos contextos vivenciados por essas comunidades, a
escravidão é um tema recorrente nas letras das músicas e cantorias.
A simplicidade das letras reflete também a simplicidade das melodias.
Normalmente, ao longo de uma mesma batida de pandeiro e viola, várias canções são
entoadas. Não é preciso mais do que duas ou três notas para tocar o pagode e animar as
senhoras da comunidade na dança da Sussa, as quais rodam suas saias coloridas por horas ao
som dos versos de músicas como “Canoeiro” e “Jiquitaia”.
Viver e reviver as histórias herdadas por nossos ancestrais faz-se pertinente para
que haja diálogos que estruturem os elos entre a tradição e o cotidiano vigente. Nesse sentido,
vejo o corpo como uma casa onde habitam diversas histórias, experiências, simbologias, e,
por isso mesmo, é momento de perdermos os receios de descobrirmos esse tão valioso
elemento de criação e significados.
Hoje em dia, aspectos como a dicotomia existente entre natureza e cultura, social
versus biológico, indiscutivelmente agrega cicatrizes aos corpos. Deste modo, fico a refletir o
papel do corpo nesses momentos em que a psique é estudada como um elemento natural e são
esquecidos os aspectos sociais que este corpo recebe e reflete. Tais aspectos influenciam nos
processos de conhecimento do indivíduo e em seus processos de relações com a sociedade,
pois, considero que a história vivenciada em sociedade vai influenciar diretamente no
desenvolvimento da psique.
Considerando a teoria da subjetividade do educador e psicólogo Gonzáles Rey e o
corpo que vivencia expressões da tradição, ouso em falar que nos processos de constituição da
aprendizagem dos indivíduos em suas comunidades no que diz respeito a tradição de seu
grupo, está inserido um grande complexo de configurações sociais que influenciam nas
subjetividades criadas por estes sujeitos, e que, consequentemente elaboram sentidos e
significados as suas expressões de cultura.
Gonzáles Rey (2011) dirá que há uma formação dinâmica na elaboração dos
sentidos, que é fluido e também complexo, tendo inúmeras zonas que variam em sua
instabilidade. Neste sentido, pensar nas subjetividades que nos permeiam, leva-nos para a
criação de significados coletivos feitos pelos indivíduos que vivem suas experiências em suas
comunidades.
Nesta discussão, olha-se o corpo como elemento de assimilação de saberes. Nosso
corpo é o canal que permeia todas as formas do sentir, é por meio dele que os sentidos se
manifestam, proporcionando a percepção e o incorporamento dos códigos do fenômeno
estético e transformando-os assim em saberes, em conhecimento. Para Hühne (1994), o
fenômeno estético gera saberes a partir da experiência estética vivenciada pelo indivíduo.
Assim sendo, em nossa vivência diária apreendemos códigos que servem como elementos
para a construção de nossa cultura. Tal reflexão é reforçado no pensamento do filósofo
espanhol Carlos Paris:
Por meio do corpo sensível recebemos saberes, de modo que se aponta para a
construção de uma educação pelo corpo. Educação que se elabora em seus processos, nesse
caso: a Arte Cênica.
O foco desse trabalho foram os jovens da cidade Cavalcante/GO, com idade entre
13 e 23 anos, sendo em grande maioria negros que moram ou tem famílias nas comunidades
Kalungas da região como Vão de Almas, Vão de Moleque e Engenho I. Foram realizadas
oficinas de teatro em encontros quinzenais com o intuito de oferecer caminhos que
propiciassem a sensibilização de seus corpos. Encaminhou-se as atividades para que fosse
favorecido para os sujeitos envolvidos o encontro com propostas estéticas que transmitissem,
em seus contextos, as histórias herdadas por eles em diálogo com sua realidade atual. Meio a
esses encontros, foi percebida, a partir de jogos corporais, rítmicos e teatrais, uma rigidez
corpórea do grupo, sendo isso, a princípio, um fator problemático para os objetivos
estabelecidos.
Diante de tal situação, levantaram-se os seguintes questionamentos que apont,a no qua
não teremos espaço suficiente para debruçarmos profundamente, mas que são pertiennte como
norteadoras das reflexões apresentadas. Como fazer com que aqueles jovens vivenciassem a
plenitude das potencialidades de seus corpos? Quais os caminhos possíveis para um
estabelecimento de comunicação entre o universo acadêmico e o empirismo dos saberes dos
adolescentes envolvidos? Que histórias guardam esses corpos e como chegarmos a uma
leitura eficiente sem que se comprometa a naturalidade que emana dos saberes por eles já
construídos?
Buscou-se então, dentre as expressões vivenciadas pelo grupo, uma experiência que
todos já teriam participado de algum modo, seja como brincante ou espectador, para
edificarmos descobertas no intuito de que as respostas levantadas anteriormente fossem
respondidas. Assim, o grupo chegou ao ritual a que chamam de Império do divino.
Acrescentado a musicalidade e dança que envolve este ritual.
É no momento da confluência de ideias que é possível entender as peculiaridades
que unem um grupo de pessoas em uma só identidade e se caracterizam como cidadãos de
uma mesma cultura. Como aponta o antropólogo social Ernest Gellner,
...a cultura é agora o meio partilhado necessário, o sangue vital, ou talvez, antes, a
atmosfera partilhada mínima, apenas no interior da qual os membros de uma
sociedade podem respirar e sobreviver e produzir. Para uma dada sociedade, ela tem
que ser uma atmosfera na qual podem todos respirar, falar e produzir; ela tem que
ser, assim, a mesma cultura. (GELLNER, 1983, p. 37)
2
Termo popular utilizado para designar o motivo, o tema a ser abordado.
atualidade. O Império é uma expressão da tradição desse grupo étnico que mostra aspectos de
sua religiosidade e de uma resistência a uma hierarquia monárquica que tornou difícil a esses
negros a manutenção de seus líderes em terras brasileiras. Nesse evento espetacular, é
possível identificar uma trajetória cênica com representações sociais definidas pelo grupo de
maneira que os sujeitos envolvidos criam uma atmosfera de festa e oração numa performance
desse grupo social que imprime em seu hibridismo uma estética de valorosa apreciação.
Os corpos que desfilam com “representações” de figuras como o rei e rainha, o
porta-estandarte e os anjos assumem posturas que derivam de movimentos conforme o que
vivem naquele momento, desde uma rigidez a uma soltura, refletindo símbolos e signos que
são rememorados a cada vez que esse ato é mostrado à comunidade. Então, percebe-se que
esses corpos têm seus registros históricos que falam e ecoam uma ancestralidade que caminha
até hoje por meio de uma tradição que se perpetua através de uma dinâmica que transcende o
tempo.
Ao longo das oficinas os adolescentes tiveram a oportunidade de pesquisar e
compartilhar suas tradições expressivas em busca de entender os códigos e símbolos que
representam a comunidade da qual fazem parte. Brincar com o Cortejo do Império e a Sussa
foi o percurso escolhido para que os adolescentes Kalungas pudessem sentir-se à vontade e
donos de sua expressividade. O encontro com referências de uma expressividade da qual
dominam modificou a relação desses jovens com os próprios corpos, promovendo uma
vivência corpórea coletiva e, assim, foi possível perceber as individualidades corporais e uma
grande capacidade de poiésis desses jovens em movimento.
Percebendo o potencial que esses corpos jovens apresentaram, a partir da
liberdade dos movimentos que a identificação com suas tradições lhes permitiu, deu-se
continuidade ao trabalho corpóreo ao construir composições de imagens, cenas, movimentos
que pudessem resultar em propostas estéticas em comunicação com a atualidade que
vivenciamos. Construiu-se uma proposta cênica a partir das referências da cultura ancestral
sem que fosse algo do passado, mas sim, fruto de uma tradição inegavelmente presente em
nossos dias e que vislumbra sua existência para o futuro. Logo, foi reelaborado um cortejo
com os jovens Kalungas. Em seu cortejo em praça pública, eles tiveram a oportunidade de ler
a história de seu povo e mostrar, por meio de releituras estéticas cênicas, por meio de seus
corpos em movimento, uma forma representacional da tradição que anda em passos rumo ao
futuro.
Nesse contexto dialógico, da maneira como as relações corpóreas se dão com o mundo
em que estamos a viver, deseja-se, com grande afinco, que as pessoas possam ser fruidoras da
arte, que sejam capazes de identificar seus códigos e suas poéticas, que façam leituras críticas
do mundo, dialogicamente, por meio das ideias propostas pelo artista em sua arte. Para isso,
são necessárias portas para se permitir adentrar nas relações entre arte e sujeito de modo a
consolidar textos e contextos pertinentes a leituras que aproximem as experiências do
indivíduo com a Arte.
Intitulado de Cortejo Cênico, os jovens Kalungas entraram em cena para expor
potencialmente, o diálogo construído entre os saberes técnicos da cena apreendidos nas aulas
de teatro e seus saberes tradicionais. Os jovens Kalungas se permitiram, portanto, criar
metáforas, transformando ideias e sistematizando seus saberes. Refletindo que,
Desse modo, entre danças, poesias e canções, pelas ruas da cidade, o grupo de
adolescentes desfilou com figurinos coloridos, maquiagem acentuada, adereços e
movimentações corpóreas, cortejando um público que apreciava, aprendia e também se
identificava com as letras e ritmos que os jovens demonstravam em seu espetáculo cênico.
Assim, os corpos em cena confirmavam para a comunidade assistente a história que seu povo
vive em sua tradição. Revelou-se, naquele momento, a real capacidade que o corpo tem de
REFERÊNCIAS
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo principal investigar e analisar o método de pesquisa de
criação da poético-artística, trabalho e montagem do Coletivo Teatral Grupo de Risco (TGR), bem
como os processos para a construção da sua linguagem poética, a fim de levantar uma reflexão
teórico-crítica sobre o modo de produção cultural e intelectual desse Grupo. Trazendo, para tanto,
como foco o espetáculo denominado Guardiões (2010), sendo o último de uma trilogia, que traz
em sua estrutura uma vasta pesquisa sobre histórias da cultura local do Mato Grosso do Sul. O
TGR, coletivo cuja sede se localiza em Campo Grande, com 29 anos de atuação ininterruptos na
Capital e no Estado de Mato Grosso do Sul, tem trazido em seus trabalhos temas locais, políticos e
socioculturais, o que tem demonstrado um vasto campo de pesquisa e conhecimento artístico-
cultural, pois o Grupo não apresenta as mesmas características e de maneiras óbvias que
singularizariam o local para a grande maioria das pessoas. Portanto, pretendemos evidenciar a
contribuição artística, histórica e crítica do Grupo TGR na formação da identidade cultural do
Estado para além das ideias tradicionais de bois, paisagens exóticas, etnias e multiculturalidade
quantitativa como têm sido ressaltado pelos discursos imperantes. Esta investigação está sustentada
por meio de entrevistas, questionários, consulta de documentos e análises dos conteúdos
levantados, portanto uma pesquisa exploratória e de levantamento de dados, tendo como base
teórica autores (BESSA-OLIVEIRA) (NOLASCO) (ENTRE OUTROS) que estão (re)verificando4
a cultura local de Mato Grosso do Sul por um prisma crítico-cultural que nossa pesquisa quer situar
a atuação do TGR na cultura.
Palavras-chave: Poética. Identidade cultural. Coletivo de teatro.
1
Este trabalho é parte de uma pesquisa maior que a autora desenvolve como TCC – Trabalho de Conclusão
de Curso – do Curso de Artes Cênicas e Dança da UEMS cujo título é “TEATRAL GRUPO DE RISCO:
linguagem poética e ação sociocultural no Mato Grosso do Sul” sob a orientação do segundo autor.
2
Acadêmica do 4º ano do curso de Artes Cênicas e Dança da UEMS. E-mail:
nathaliaborioli8.nb@gmail.com.
3
Doutor em Artes Visuais, área de concentração em Fundamentos Teóricos pelo IA/Unicamp. Professor
DE/TI na Cadeira de Artes Visuais no Curso de Artes Cênicas e Professor Permanente do PROFEDUC na
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UUCG. É Líder do Grupo de Pesquisa NAV(r)E – Núcleo
de Artes Visuais em (re)Verificações Epistemológicas – CNPq/UEMS. Membro do NECC – Núcleo de
Estudos Culturais Comparados – UFMS e do Núcleo de Pesquisa Estudos Visuais – UNICAMP.
marcosbessa2001@gmail.com.
4
(re)verificar no âmbito deste artigo tem sentido de rediscussão dos aparatos da cultura hoje postos em Mato
Grosso do Sul, sempre tratados de uma perspectiva clássica, moderna ou pós-moderna pela teoria e pela
crítica de arte locais, a partir de uma proposição epistêmica cultura, subalterna e/ou pós-colonial.
Introdução
Por vias desta pesquisa pretendemos fazer uma investigação acerca do Teatral
Grupo de Risco (TGR) – Grupo de teatro que tem trabalho por vieses bem distintos e que
tem feito consideráveis trabalhos na cena artístico-teatral de Mato Grosso do Sul. Criado
em 1988 é um dos grupos teatrais mais antigos de Campo Grande, completou 29 anos no
mês de agosto deste ano (2017). O Grupo apresenta-se, como um jovem senhor que acaba
de assumir maior idade, engajado em temas culturais e sociais que estão envoltos ao
contexto urbano da cidade, mas também a contexto-temáticos maiores que envolvem a
cultura nacional brasileira.
Esta investigação será uma pesquisa exploratória e de levantamento, considerando
que boa parte da coleta de dados e informações requeridas para este trabalho serão obtidas
por meio da interrogação direta aos membros integrantes do Grupo; utilizamos deste
método de pesquisa tendo em vista uma questão quase óbvia quando estamos empenhados
a investigar as produções artísticas não situadas em contextos fora dos grandes centros
produtores de arte, cultura e conhecimentos: a escassez de documentos e material
bibliográfico sobre o TGR, nosso objeto, mas das artes de modo geral.
No entanto o Grupo possui registros próprios das pesquisas feitas para suas
montagens, diários dos processos de montagem dos espetáculos, portanto, o que contribui
de forma maciça para alavancar as investigações pretendidas que escapolem até mesmo
para uma teoria cultural. Assim pretendemos descrever e analisar os processos de
pesquisas do Grupo, trazendo como foco o último espetáculo apresentado denominado
Guardiões (2010), sendo o último de uma trilogia que traz em seu âmago uma vasta
pesquisa sobre as histórias da cultura local de Mato Grosso do Sul. Tanto de contexto
histórico que abrange Mato Grosso (antes de 1977), bem como a situação atual do império
do agronegócio de Mato Grosso do Sul.
A cargo de esclarecimentos, não pretendemos aqui exaltar o Grupo, dar este como
exemplo de como um grupo teatral deve ou não ser/fazer em sua prática artística, muito
menos fazer comparações com outros grupos. Comparações que estejam no plano de
investigações qualitativas simples e puramente. Ao escolher este Coletivo como objeto de
investigação na pesquisa, não significa que outros grupos de teatro de Campo Grande e
mesmo espalhados pelo Estado não estejam tanto quanto engajados em temas sociais e
culturais.5 A predileção pelo TGR passa por afinidade pessoal e por identificação com o
projeto artístico-intelectual do Grupo.
O interesse em realizar esta pesquisa deu-se pela empatia e admiração cultivada
pelo Grupo já há vários anos, por notar previamente sua diferença em relação aos outros
grupos de teatro da cidade com os quais tive contato. Mas somos obrigados a tomar
primeiramente da ideia de que o Grupo é entendido por muitos como um dos coletivos que
é um “grupo mãe”: acolhe, ensina e ajuda a outros grupos em seu espaço. Os integrantes do
TGR são políticos e culturalmente e preocupados com questões sociais.
5
Não seria novidade encontrarmos na própria cidade de Campo Grande, mesmo em Mato Grosso do Sul
como um todo, ou ainda no território Brasileiro – se expandíssemos nossa pesquisa – outros grupos de teatro,
dança, coletivos artísticos de qualquer linguagem, que estejam tendo que se engajarem político-culturalmente
para conseguirem ao menos permissão para se expor. A atual situação caótica no campo da cultura no Brasil
não é segredo para ninguém. Diariamente vemos nas emissoras de televisão – brasileiras e estrangeiras –
matérias apresentando os descasos dos Poderes Públicos (Municipais, Estaduais e Federal) até mesmo nos
velhos e reconhecidos centros produtores de arte, cultura e conhecimentos.
6
Fragmento retirado do blog do Coletivo. Informações de acesso encontram-se na lista de referências.
7
As discussões sobre produções artísticas regionalistas, regionais, nacionais datam de meados do século
XIX, momento em que os lugares queriam se autofirmar artístico-culturalmente, uns em relação aos outros,
ressaltando através das produções artísticas particularidades que estivessem situadas exclusivamente em
determinadas regiões brasileiras, por exemplo: a mineiridade, o carioquês, o pernambucanês, a gauchesca,
entre muitas outras em se tratando de Brasil. Portanto, ao falarmos de regional estamos em pleno século XXI
ainda retrocedendo às convenções de pelo menos dois séculos atrás.
Quando entrei em contato com os membros do TGR (por volta do ano de 2012),
percebi que algo muito maior lhes movia como artistas da cena, algo que os mantinham
como um grupo unido: na minha ignorância artística e intelectual não compreendi o que
acontecia previamente, o que tornava o Coletivo Teatral Grupo de Risco tão forte e
visivelmente em grupo uníssono e unívoco em seus ideais. Uma unidade interpretativa do
contexto sociocultural do Grupo que passei a entender como linguagem poética, perceber
como este Grupo pensa o seu fazer artístico, o seu olhar sobre as coisas do mundo.
Este entendimento obrigou-me a compreender e apreender que o que buscam olhar
e desenvolver em seus trabalhos são as questões e inquietações latentes próprias e de “seu
povo”: poderia assim dizer que este seja um olhar interno e não externo às questões do
mundo em volta daqueles membros. Por conseguinte, não se trata de uma olhadela pela
cidade com a mesma pegada do boémio, dandyano e flâneuriano olhar do teórico da arte
francesa moderno no século XIX de Charles Baudelaire. O Grupo TGR tem um trabalho de
pesquisa e é por meio deste que monta suas próprias peças e produções, trazendo no centro
de suas produções questões e inquietações das minorias sociais. Como disse uma das
integrantes do grupo, interessa-lhes olhar e falar sobre aquilo para que os outros preferem
fechar os olhos, que lhes interessam as minorias.
Com 29 anos de trabalho, atuação e atividades ininterruptas, pouco ou quase nada
tem patenteado sobre sua história enquanto grupo teatral, sobre suas pesquisas, seus
trabalhos e sua atuação social cultural e política no Estado. O TGR já produziu mais de 30
espetáculos teatrais, além de documentários e programas de televisão e, sobretudo,
pautando suas produções sempre nas questões mais profundas sobre a identidade cultural
sul-mato-grossense. Sendo um Grupo compromissado e consolidado com questões
importantes da sociedade, tornou-se um centro de referência tanto no desenvolvimento de
pesquisas de linguagens estéticas do corpo e da cena quanto na execução de projetos
culturais e trabalhos sociais envolvendo a arte do palco.
[O] Teatral sempre ressaltou em seus trabalhos a sua preocupação com outras
esferas da sociedade, além das artísticas. Esta preocupação e consciência de que
a arte é instrumento de inclusão e de cidadania o levou a executar mais de 10
projetos culturais e sociais sobre meio ambiente, prevenção e saúde, para
O Grupo, como quase a maioria dos artistas em contextos extremos, se mantém por
meio de editais, festivais, oficinas, trabalhos por contrato, com o chapéu que é passado em
algumas apresentações, e que é habitual também de artistas em outros lugares de mundo, e
por meio de colaboradores, sendo esses últimos muitas vezes outros grupos e artistas que
utilizam o espaço e que contribuem da forma que podem para a manutenção do Teatral. A
8
Fragmento retirado do Facebook do Coletivo, utilizado como site oficial e atualizado. Informações de
acesso encontram-se na lista de referências.
distribuição dos recursos é feita de forma igualitária aos membros do TGR e a sede do
Grupo recebe como sendo um dos membros. Fato que, aliás, acaba por proporcionar a
vivência das instalações do Grupo como própria. Segundo os integrantes do TGR não há
uma estrutura hierárquica dentro do Grupo, a posição de diretor, tanto do Grupo como das
montagens, não é aquela que está acima dos atores, como suposto detentor do saber ou
aquele que tem sempre a “última palavra”; mas logicamente que, quando se trata de
documentações estatais, há o nome de um dos integrantes, por exigência desses órgãos
burocratas, que representa a figura da direção.
Como, então, o Grupo se relaciona com o Estado-Nação enquanto patrocinador por
meio de editais das atividades culturais do MS? Esta pergunta foi respondida pelo Grupo
de forma bastante clara e segura. Primeiramente o sentido da existência do Grupo está em
sua poética, que na forma mais simples do dizer, consiste em olhar para as minorias. E esta
poética, o compromisso do Grupo com o seu fazer artístico, não está para negociações, não
está para passar a imagem que o Estado quer: no sentido de vender um Mato Grosso do Sul
com belezas e atrações turísticas pura e simplesmente. A verba destinada para a cultura,
que na maioria das vezes é distribuída por meio dos editais, é de direito da população e dos
artistas que pagam seus impostos. A verba destinada à cultura não é nenhuma caridade.
Menos ainda o deveria ser uma das menores partes das verbas arrecadadas com nossos
impostos pelo poder público.
Pensando desta forma aqui situada, o Grupo não se sente na obrigação de vender
uma arte e uma imagem idealizada pelos discursos que só fazem edificar fronteiras entre
sujeitos, espaços, direitos e obrigações. Se torna de grande importância tratar da questão,
de como o Coletivo Teatral Grupo de Risco se relaciona com os interesses do Estado, pois
este último, obviamente, tem por interesses políticos maquiar e vender as produções
culturais como meros (re)produtores artísticos para privilégio de um fim turístico. Para
elucidar esta questão, faço referência às palavras de Bessa-Oliveira (2011):
Como dito antes, o Estado faz uso das produções culturais sempre com uma
intenção político-econômica de autopromoção do próprio Estado, atração para o
mercado turístico e formatação da identidade cultural que se quer vendida. É,
mais uma vez, a relação com um sentido valorativo, produção/local X
produção/universal, na qual só é reconhecida como arte, e até como artesanato de
qualidade, aquela produção cultural que dialoga diretamente com as produções
Há uma barreira edificada pelos discursos hegemônicos locais (da arte, da cultura,
da produção de conhecimento, político, econômico e cultural, mas também crítico e
teórico) que edifica muros que delimitam o que é ou não produção artística em Mato
Grosso do Sul. Da situação hoje (im)posta por esses discursos locais, passa no crivo dessas
leituras hegemônicas, as obras que dialogam exclusivamente com bois, animais silvestres,
índios e imagens exóticas da fauna e flora locais. Esses discursos, portanto, priorizam uma
ideia de arte que ora está assentada nesses quesitos políticos, econômicos e naturais, ora
está ancorada por discursos que promovem o que é da ordem do regional ou não. Dessa
ótica, alguns grupos artísticos de Mato Grosso do Sul – para o bem e para o mal – acabam
por inscreverem-se como artistas regionais ou não constam das histórias locais porque não
contemplam os contextos globais almejados pelos discursos hegemônicos.
GUARDIÕES
A dramaturgia da peça Guardiões foi escrita por Lu Bigatão a partir dos estudos,
pesquisas, depoimentos e documentários do Coletivo TGR sobre as regiões do Pantanal de
Mato Grosso do Sul. As pesquisas e documentos que deram origem ao espetáculo
delatavam a devastação, as consequências no ecossistema, as relações sub-humanas de
quem manda e quem é mandado, as relações socioculturais deste meio que é vendido por
suas belezas naturais, suas paisagens e animais, onde a vida de um humano vale muito
menos do que a de um boi. Nascer, viver e crescer no Pantanal, da perspectiva que o
espetáculo Guardiões apresenta ao público, é ter a vida ceifada ao preço do gado ali criado
por “uma dezena” de fazendeiro que detêm o poder local. Entre ribeirinhos, funcionários
das fazendas e indígena, a ação de levar o boi da área alagada para as áreas secas faz
evidenciar que o gado é muito mais valoroso que as vidas desses sujeitos vulneráveis a
qualquer mau querer da “natureza” a eles (im)posta.
O espetáculo apresenta uma realidade lúdica e poética do homem que vive no
Pantanal: a relação simbiótica do homem com o território, com a terra, com a água, com a
animália, assim ora homem ora besta fera. Seja no corpo, seja na construção cênica
Fig. 1. Foto do espetáculo Guardiões – Em cena: André Tristão, Fernanda Kunzler e Yago Garcia.
Garcia; cenografia: Márcia Gomes; vídeo cenário: Maíra Espindola e Rafael Mareco;
ilustrações: Rubén Dario Román Añez; iluminação: Anderson Lima.
Fig. 5. Foto do espetáculo Guardiões – Em cena: os atores.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
Dar voz aos invisíveis: a principal inspiração do Coletivo Grupo de Risco. Disponível
em <www.fundacaodecultura.ms.gov.br/dar-voz-aos-invisiveis-a-principal-inspiracao-do-
coletivo-grupo-de-risco/ > Acesso em: 12 nov. 2016.
GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas,
2002.
ZAMBONI, Silvio. A pesquisa em Arte: um paralelo entre arte e ciência. 4.ed. Campinas,
SP: Autores Associados, 2012.
Resumo
O presente artigo tem por objetivo analisar o segundo capítulo do livro didático de Arte chamado
“Arte em Interação”, problematizando o discurso multiculturalista nessa obra. Nesta parte do livro,
será analisada a forma como é apresentada a arte indígena, dentro do capítulo intitulado “Diversidade
e Identidade” que convoca o leitor, já a partir de seu título, para se identificar com o discurso
multiculturalista, uma perspectiva que se apoia nos ideais de diversidade. O multiculturalismo é
frequentemente usado como um discurso estratégico para dar suporte à reivindicação de grupos
minoritários por seus direitos. Nesta direção, o mesmo apoia as ideias da diversidade e da pluralidade
humana, através do apelo à tolerância e ao respeito. Utilizando esse conceito para analisar a arte
indígena presente no livro didático, deve-se levar em conta, primeiramente, que a arte vem sendo
representada hegemonicamente a partir do conceito geral de arte oriundo da cultura ocidental. A partir
disso, os efeitos que o discurso multiculturalista traz sobre a arte indígena neste livro dizem respeito à
valorização da diversidade e o deslocamento no sentido genérico de índio. Contudo, não há uma
problematização das relações de poder expressas neste discurso, apresentando uma política de
tolerância que acaba por naturalizar a diversidade.
Pensar o ensino da Arte hoje em nosso país é associá-lo a uma incerteza do amanhã.
Aliás, esta não é uma situação de agora, pois ao longo de sua história, várias lutas
caracterizaram a busca do reconhecimento desta disciplina na educação brasileira. Passando
pela ideia de atividade artística até a sua validação como disciplina obrigatória do currículo
escolar através da sua subdivisão em diferentes linguagens, a Arte hoje se encontra em
situação de disputa. Isso se deve à medida provisória estabelecida pelo governo no ano
passado, colocando em suspenso a sua inserção no cotidiano escolar.
Apesar desta atual situação, um dos grandes avanços recentes para o ensino de Arte é
o ganho do livro didático. Em 2015, através de edital do Plano Nacional do Livro Didático-
PNLD, o ensino médio público brasileiro recebeu pela primeira vez um livro didático de Arte
que deveria seguir uma série de obrigações que foram avaliadas através do Guia do Livro
1
Mestranda em Estudos Culturais em Educação pela Universidade Luterana do Brasil. Professora de Artes de
Educação Básica do Colégio Ulbra São Lucas/RS. E-mail: m4ri4na@gmail.com.
Didático. Dois livros foram aprovados neste Edital: Por toda Parte e Arte em Interação,
ambos de 2013. Desta forma, cada escola tinha a opção de selecionar quais dos dois livros iria
optar utilizar nos três anos destinados ao seu uso-2015, 2016 e 2017.
Algumas das obrigações que os livros deveriam atender é a abordagem das culturas
indígenas, afro-brasileiras e africanas que vêm através de normativas, ou seja, formas de
regulação que determinam que as escolas em disciplinas específicas, tratem destes assuntos
como modos de garantir a valorização destas culturas em nosso território.
A partir da leitura íntegra dos dois livros didáticos, percebi que apenas um deles
apresenta um capítulo específico para abordagem destas culturas e artes dos povos indígenas,
afro-brasileiros e africanos. É o capítulo dois do livro Arte em Interação, intitulado
“Identidade e Diversidade”. Com isso, optei por analisar este capítulo no livro com o objetivo
de observar e refletir quais textos e imagens são utilizadas para nomear e caracterizar a arte e
a cultura indígena brasileiras2.
Antes de iniciar a análise do capítulo, apresento algumas características gerais do livro
Arte em Interação: O livro, apresentado em volume único, está em sua 1ª edição (no ano de
2013), sendo composto por 400 páginas, da editora a IBEP, de São Paulo, e seus autores são
Hugo B. Bozzano, Perla Frenda e Tatiane Cristina Gusmão.
Seu segundo capítulo, “Identidade e Diversidade”, estruturado em 37 páginas, tem
como tema as culturas indígenas e dos povos africanos, além de trazer também o Barroco3
europeu e brasileiro. Ao longo de suas páginas, há seções fixas, imagens e textos verbais para
nomear e caracterizar a arte indígena. Referências que serão apresentadas na seção final deste
artigo.
e cultura afro-brasileira e indígena” (BRASIL, 2008). Além disso, estes conteúdos deverão
ser ministrados em todo currículo escolar principalmente nas disciplinas de Arte, Literatura e
História Brasileiras.
Após a promulgação desta lei, em 2011, o Ministério da Educação – através da
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – reeditou o Plano
Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação para as
Relações Étnico-raciais, objetivando que os sistemas e instituições de ensino cumpram o
estabelecido na lei 11.645/08.
Sendo assim, além da comunidade escolar, os livros didáticos também deveriam
contar com conteúdos que contemplassem a cultura indígena. Contudo, a forma como são
inseridos estes conteúdos normalmente dá-se sob um viés eurocêntrico. Sobre isso, a análise
da arte de determinados povos ocorre pelo conceito geral de arte oriundo da cultura ocidental,
nascida da experiência europeia, relacionando-se com a contemplação estética. Isto se
distingue da função da arte produzida pelos povos indígenas e africanos, que a produzem para
outros fins como rituais cerimonialísticos. Por isso, Nunez (2011) orienta que se deve ter o
cuidado com reducionismos e a falta de problematizações que há nas análises destes livros,
que acabam por esconder uma forma de colonização.
O mesmo autor também afirma que a “arte indígena liga-se a uma imensa variedade de
estilos e manifestações, onde não há uma arte como atividade diferenciada da produção de
objetos úteis” (2011, p. 146). Para Nunez, a nossa definição de arte não é necessária para os
povos indígenas, ou seja, o que eles produzem não se relaciona a fins contemplativos e
estéticos, conforme já referido.
O próprio termo indígena já categoriza vários povos a partir do processo de
colonização, “colocando os diferentes como sendo iguais entre si, ou seja, quem não era
branco, europeu, passou a ser indígena independente de seu território, dos costumes e modo
de vida”, segundo Barbero (2010, p. 304).
Examinando o capítulo 2 do livro didático, o primeiro aspecto que se sobressai é a
abordagem da arte indígena (e também da arte africana e afro-brasileira) como uma “arte
outra”, uma arte que integraria a diversidade cultural e que precisaria, então, ser valorizada. E
o apelo à diversidade se expressa de forma direta ou indireta, como pretendo mostrar nesta
análise, que se dá principalmente, por meio do discurso multiculturalista.
O discurso multiculturalista
Consolida-se o chamado “direito à diferença”, o que implica tanto o direito de ser diferente
quanto o de ter acesso aos recursos culturais, econômicos e educacionais.
Nos discursos contemporâneos quase sempre a diferença é enaltecida, apresentada
como força, como riqueza, como expressão daquilo que somos. Concordo com o autor que
esta ideia pluralista é incorporada aos mais diversos âmbitos da vida social.
Retomando a discussão sobre os discursos multiculturalistas, recorro aos argumentos
de Vera Candau (2008), uma das pesquisadoras mais citadas em textos que discutem
diferenças, sob uma perspectiva multiculturalista. Também no entendimento desta autora o
multiculturalismo está envolto em grande polêmica no mundo acadêmico. Tal polêmica se
expressa também no âmbito social e emerge nas reivindicações de movimentos sociais.
A autora afirma que certos discursos multiculturalistas assumem uma forma descritiva,
outras um viés prescritivo. A primeira, conforme Candau, “afirma ser o multiculturalismo
uma característica das sociedades atuais (...). Nesse sentido, enfatizam-se a descrição e a
compreensão da construção da formação multicultural de cada contexto específico” (Ibid., p.
50). O caráter prescritivo se traduz numa visão, até certo ponto, determinista das diferenças.
Para este artigo, considero importante registrar que há, conforme explica esta autora,
diferentes formas de pensar a diversidade, e estas se sustentam no multiculturalismo
assimilacionista, o multiculturalismo diferencialista ou monoculturalismo plural, ou, ainda,
no multiculturalismo interativo ou interculturalidade.
No multiculturalismo assimilacionista o relacionamento entre diferentes culturas
deveria convergir para a incorporação de todos na cultura hegemônica, assegurando-se, para
cada um, igualdade de oportunidades. Já no multiculturalismo diferencialista ou
munoculturalismo plural ocorre o contrário, a ênfase recai sobre o reconhecimento da
diferença e se pleiteia a ampliação de possibilidades de expressão de segmentos sociais
distintos. Por fim, no multiculturalismo interativo ou interculturalidade articulam-se políticas
de igualdade e políticas de identidade.
Aproximando-se desta última perspectiva, a autora defende que nela se propõe uma
educação para o reconhecimento do “outro”, para a negociação cultural, para o
reconhecimento das assimetrias de poder que criam desigualdades e para o respeito às formas
Ao ler este segundo capítulo do livro Arte em Interação, procuro analisar algumas
estratégias representacionais presentes no mesmo, que são sustentadas em abordagens
multiculturalistas. Neste momento, coloco em discussão duas estratégias representacionais
presentes nas obras: a primeira diz respeito a uma celebração da diversidade e a segunda
refere-se a uma visão genérica do termo indígena.
Uma forma de valorização da diversidade indígena é sobre um dos tipos de arte desta
cultura mais recorrentes no capítulo. Estas são as cerâmicas das bonecas Karajá, produção do
povo Karajá4. Há imagens e textos verbais desta arte em quatro páginas do capítulo.
Estas bonecas aparecem no livro como bem culturais imateriais reconhecidos pelo
5
IPHAN . De acordo com a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial e
com auxílio da UNESCO, conforme o site do IPHAN, no Brasil, em 2006, foi ratificado que
bens imateriais são compostos por práticas, representações, expressões, conhecimentos e
técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são
associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem
como parte integrante de seu Patrimônio Cultural.
Até então, apenas bens materiais eram reconhecidos como patrimônios culturais e
através deste reconhecimento, há a representação e a valorização deste objeto que é produzido
há centenas de anos, numa tradição que persiste até os dias de hoje e que serve como fonte de
renda para as mulheres deste povo, segundo o livro didático.
Sobre a produção destas bonecas, o livro afirma que “muitos grupos e comunidades,
em especial as que vivem em maior proximidade com a natureza, fazem sua arte com argila,
4
Grupo indígena que habita a região dos rios Araguaia e Javaés (GO, MT, TO e PA). Sua língua é a língua
carajá (denominada, pelos carajás, como inyrybe, que significa "a fala dos iny"),. Sua população atual é de 2 927
pessoas, distribuídas em 21 aldeias.
5
Instituto do Patrimônio Histórico e Estatístico Nacional, responsável pela preservação do acervo patrimonial
material e imaterial do país.
Assim, a articulação produzida entre índio e natureza funcionaria como uma espécie
de chave de leitura, sendo os povos indígenas narrados como habitantes naturais da
floresta, lugar geográfico e social que produz também um conjunto de atributos
colados ao corpo e apresentados como sendo próprios da “natureza indígena”.
Habitando o mundo natural, os povos indígenas teriam características como
primitivismo, espontaneidade e ingenuidade (BONIN; RIPOLL; AGUIAR, 2015, p.
66).
Por outro lado, no mesmo capítulo do livro Arte em Interação, se insere um Box
intitulado “Conexão” e nele se apresenta a arte das bonequeiras do Vale do Jequitinhonha,
região norte de Minas Gerais. O texto explica que a seca expulsou muitos homens e, então, as
mulheres passaram a fabricar bonecas de cerâmica para sustentar as famílias. Isto se percebe
neste trecho: “Elas são, em sua maioria, bonequeiras e retiram o barro, abundante na região,
direto da natureza (BOZZANO; FRENDA; GUSMÃO, 2013, p. 64)”. O recorte anterior me
faz pensar que também neste caso se estabelece uma vinculação entre as ceramistas e a
natureza (na atividade que lhes assegura a subsistência). Assim, pode-se dizer que a ideia de
vínculo com a natureza não se produz apenas quando se trata dos povos indígenas.
Voltando a ideia do discurso multiculturalista, o mesmo que promove o sentido de
valorização da diversidade e conforme já mencionado sobre a autora Vera Candau, o
multiculturalismo assimilacionista melhor representa esta ideia, através da busca da conquista
da igualdade. Sendo assim, é possível perceber a ideia deste discurso neste outro trecho do
livro:
[...] uma visão europeia, a visão dos colonizadores, de mundo e da sociedade, fez-se
dominante, o que faz com que, ainda hoje, haja um grande desconhecimento dessas
culturas ancestrais das quais somos herdeiros. As culturas indígenas no Brasil, por
mais que se encontrem dentro do território em que vivemos, ainda são vistas por
muitas pessoas com olhar estereotipado e equivocado. De um modo geral, não se
conhecem seus modos de vida, visão de mundo, as semelhanças e diferenças entre
seus povos. Há, inclusive, uma tendência de se entender os indígenas todos da
mesma maneira. Diz-se o “índio”, no singular, sem diferenciar as centenas de povos
indígenas que vivem no território brasileiro (Ibid., p. 59).
Após este diálogo direto com o leitor, o texto prossegue explicando que as imagens
são do povo Karajá e que sua autodenominação é Iny, que significa “nós”, sendo Karajá um
nome adotado em língua portuguesa, originado do Tupi. O texto explica que esse povo vive
em seus territórios tradicionais, numa extensa faixa do Rio Araguaia, na Ilha do Bananal e
que os Karajá estão presentes nos estados de Tocantins, Goiás e Mato Grosso. Há breves
informações sobre os mitos deste povo e sua relação com a arte. São destacados elementos
artísticos que o leitor também pode observar nas fotografias – as pinturas corporais, a arte
plumária, por exemplo. Há também informações sobre o processo de produção da cerâmica e
das tintas utilizadas para colorir estes objetos e para produzir pinturas corporais.
Desse modo, o texto expressa um sentido mais abrangente de arte, que estaria presente
em várias instâncias da vida indígena e discute, inclusive, padrões e abstração em pinturas
corporais de povos como os Karajá e os Munduruku6, do Alto Tapajós. Segundo Silva e Vidal
(1998), a cultura ocidental cria, muitas vezes, visões estanques das sociedades indígenas, mas
a arte para os índios é movimento, dinamismo, representando uma experiência coletiva.
Neste aspecto, o livro didático Arte em interação parece partilhar o ponto de vista das
antropólogas citadas acima. Neste sentido, penso que as afirmações presentes no livro
reforçam as ideias do discurso multiculturalista interativo que promove o reconhecimento da
diferença e das lutas que promovem este fortalecimento do pluralismo cultural.
Palavras finais
Em um artigo que analisa a diferença na literatura para crianças, Silveira, Bonin e
Ripoll (2010) afirmam que o tema das diferenças eclode e adquire visibilidade nos dias atuais,
em parte porque serve ao consumo (a diferença vende, tem apelo, faz circular mercadorias),
em parte porque vivemos atualmente um tempo de contestação dos discursos unificadores
sobre identidades e de valorização da diversidade. Para elas, hoje são produzidos e circulam
variados artefatos que colocam em destaque os grupos minoritários, com suas demandas
específicas e suas diversificadas maneiras de pensar. Desse modo, “os discursos
multiculturais produzem, como tendência geral, uma positivação das diferenças, tomadas
como essenciais, autorreferenciais, com valor em si mesmas (SILVEIRA; BONIN; RIPOLL,
2010, p. 101)”.
Apesar de as sociedades atuais serem constituídas por diferentes culturas, isso se dá
não porque naturalmente sejamos diferentes e sim porque há diferentes posicionamentos e
identificações que se constroem e nos quais se investe. Na perspectiva dos Estudos Culturais
existem múltiplas culturas. Não se trata apenas de diferentes práticas culturais ligadas a
distintas etnias, e sim de culturas marcadas por diferentes pertencimentos – falamos, nos
estudos produzidos neste campo, de culturas surdas, culturas juvenis, culturas infantis,
culturas laborais, entre outras.
As distinções propostas pela autora Candau me permitiram entender que não existe um
discurso multiculturalista e sim perspectivas multiculturalistas que constituem e explicam a
6
Povo que habita a região do vale dos Tapajós nos estados da AM e PA, contando com uma população de mais
de 11.000 indivíduos.
REREFÊNCIAS
BARBERO, Estela Pereira Batista; STORI. Norberto. 2010. “Artes Indígenas ”-Territórios
de Diálogos. Disponível em:
<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/2010/Arte/artigos
/arte_indig.pdf> Acesso em 05 dez 2016.
BONIN, Iara Tatiana. E por falar em povos indígenas... quais narrativas contam em práticas
pedagógicas? 2007. 220f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007 a.
BONIN, I. T.; RIPOLL, D.; AGUIAR, J.V.S.. A temática indígena sob as lentes dos Estudos
Culturais e Educação – algumas tendências e enfoques analíticos. Revista Educação (PUCRS
Online), v. 38, Porto Alegre, p.59-69. Disponível em
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HALL, Stuart. A Centralidade da Cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo.
Educação & Realidade. Porto Alegre, v. 22, p. 15-46, jul./dez. 1997.
NUNEZ, Fabricio Vaz. As artes indígenas e a definição de arte. 2011. Disponível em:
http://www.embap.pr.gov.br/arquivos/File/Forum/anaisvii/143.pdf. Acesso em: 06 dez 2016.
SILVA, Maria A.; VIDAL, Lux. 1998. O sistema de objetos nas sociedades indígenas: Arte e
cultura material. In: SILVA, Aracy Lopes (Org.) A temática indígena na escola. Novos
subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC /MARI/UNESCO.
SILVA, Tomaz Tadeu da. A Produção Social da Identidade e da Diferença. In: SILVA,
Tomaz Tadeu (Org.). Identidade e Diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. 2. Ed.
Petrópolis: Vozes, 2000;
Resumo: O texto problematiza a função do ateliê de arte na contemporaneidade, tendo como base as
ações realizadas pela Casa de Pedra – coletivo de arte, da cidade de Caicó-RN. Serão evidenciadas
algumas estratégias de atuação do grupo junto à sociedade com o fim de entender como este espaço de
criação coletiva delimita suas fronteiras e se firma num suposto mapa das artes da região do Seridó
norteriograndense. A profissão artista ganhará relevo, avançando por questões como dificuldades,
desafios e possibilidades do fazer expressivo dentro das dinâmicas laborais da atualidade, ao mesmo
tempo em que será feita algumas considerações sobre o mercado de arte e a educação artística e
estética em contexto não formal. A trama envolve um diálogo com o pensamento de artistas e teóricos
do campo da Arte e da Educação, com destaque para JUNQUEIRA & GOMES (2009), OSTROWER
(1978) e TRILLA, et al. (2008), entre outros. A Casa de Pedra configura-se como um espaço de
criação coletiva, de educação em contexto não formal, de encontro, de divulgação e comercialização
de objetos artísticos dentro do circuito cultural do Rio Grande do Norte, impulsionando a produção e a
fruição sensível entre o público apreciador de arte do Seridó.
Palavras-chave: Artes Visuais. Coletivo de artistas. Ensino de arte. Mercado de arte.
Abstract: This text discusses the function of the art studio in modern times, having as a starting point
the actions performed by Casa de Pedra – an art collective in the city of Caicó-RN (Brazil). Will be
brought to attention some of the group’s strategies of action alongside society with the goal of
understanding how this collective creation locale limits its frontiers and estabilishes itself in the map
of the arts developed in the region of the Seridó, inside the Brazilian state of Rio Grande do Norte. We
will highlight the profession of the artist, while also touching on questions such as its difficulties,
challenges and the possibility of significant production inside the work dynamics of contemporary
times, while also making some considerations about the market of art and artistic education, as well as
aesthetics in a non-formal context. This production involves a dialogue with the thoughts of artist and
theorics from the field of Arts and Education, focusing on JUNQUEIRA & GOMES (2009),
OSTROPOWER (1978) and TRILLA, et al. (2008), among others. Casa de Pedra configures itself as a
space of collective creation, of education in a non-formal context, of meetings, of disclosure and
commercialization of artistic objects inside the cultural circuit of Rio Grande do Norte, propagating
the production and sensible fruition between the appreciating art public of Seridó.
Keywords: Visual Arts. Art Collectives. Art Teaching. Art Market.
Primeiras notas
1
Professor/artista/pesquisador vinculado a rede pública de ensino do Estado do Rio Grande do Norte. Possui
formação em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pelotas e mestrado em Artes Visuais pelo Programa
Associado de Pós-Graduação em Artes Visuais das Universidades Federal da Paraíba e Pernambuco, na linha de
pesquisa Ensino de Artes Visuais no Brasil. E-mail: valentim8@yahoo.com.br
2
Artista plástico e produtor cultural. Possui graduação em Direito pela UFPB/CCJS – Souza/PB e em Letras
pela CERES/UFRN. Foi coordenador da Casa de Cultura Popular de Caicó. E-mail:
custodiodecaico@hotmail.com
que tem como principal função a produção poética, ou seja, a criação artística ou o que
chamamos comumente de obra de arte. Atualmente os artistas assumem posturas mais
diversificadas e muitos trabalham com experimentações. Para conceber sua obra o artista se
dedica ao desenvolvimento de uma poética pessoal. A poética exige dele gesto criativo, ética,
estética, compromisso com o público apreciador, investigação e zelo pela formação inicial e
continuada. Ao cuidar da obra ele deve também dedicar atenção especial às questões
socioeducativas.
Uma obra pode ser material ou conceitual e para ser concebida envolve processos
criativos que normalmente estão articulados a uma teoria. No campo das artes visuais a
produção poética exige do artista elaboração, inspiração, tensão psíquica, escolhas, pesquisa
de materiais e métodos que possam expandir os limites do fazer expressivo, além de
experimentação, de documentação do trabalho e de boa dose de sensibilidade e imaginação
criativa. Fayga Ostrower (1978, p. 39) acredita que a imaginação criativa “nasce do interesse,
do entusiasmo de um indivíduo pelas possibilidades maiores de certas matérias ou certas
realidades. Provém de sua capacidade de se relacionar com elas”.
Ao longo do século XX os consagrados princípios da produção artística foram
radicalmente transformados e o verbo criar ficou livre das conjugações somente na primeira
pessoa. O artista esgarçou as possibilidades do fazer criativo e assumiu que sua produção
pode ser contaminada por outros modos de fazer e por outras experiências. Isso porque, na
atualidade sua obra pode ser plural, múltipla, intersubjetiva, interativa e seu ateliê um espaço
de fronteiras borradas pelo compartilhamento de saberes e experiências que transitam entre o
dentro e fora do ateliê, ou vice e versa. No entanto, existe um campo de forças no universo
social e artístico que atua entre a tradição e a revolução. Kátia Canton discorrendo sobre a
produção artística assegura que os artistas buscam um sentido para a sua produção, “mas o
que finca seus valores e potencializa a arte contemporânea são as inter-relações entre as
diferentes áreas do conhecimento humano” (CANTON, 2009, p. 49).
A capacidade de interrelacionar os saberes favorece a inserção dos coletivos de artistas
no contexto social e aponta para novas e possíveis dinâmicas culturais. Os coletivos de artistas
são agrupamentos de pessoas com interesses em comum, ligados normalmente à produção e à
difusão da arte. Eles reúnem variadas representatividades expressivas, podendo potencializar
3
O Poço de Sant’Ana foi o primeiro poço de água que abasteceu a “cidade”. Este fica banhado pelo Rio Seridó e
tem como principal referência o Complexo Turístico Ilha de Sant’Ana, de Caicó-RN. No seu entorno circundam
muitas lendas e mitos do imaginário popular.
4
Rachel Gomes de Oliveira Lúcio de Souza (Patos-PB, 1964) vive e trabalha em Caicó-RN. A artista desdobra-
se entre o ensino de arte na rede pública de ensino e sua produção poética junto à Casa de Pedra. Seu trabalho
abarca a pintura, a fotografia e experimentações com diferentes materiais utilizados na confecção de objetos
diversos. Ela adota elementos da temática regional em sua produção para falar de questões universais do
humano.
5
Adonay Dantas de Araújo (Caicó-RN, 1984) vive e trabalha em Caicó-RN. Exímio desenhista, o artista estende
suas pesquisas ao campo da pintura e da escultura. Ele ainda ministra aulas em cursos livres de arte.
6
Custódio Jacinto de Medeiros (Currais Novos-RN, 1974) vive e trabalha em Caicó-RN. É artista plástico e atua
também como produtor cultural no Rio Grande do Norte.
É importante salientar que o ateliê consegue se manter com o lucro de suas ações,
reforçado pela comercialização de objetos artístico e decorativos (Imagem 3), muito embora
os artistas ainda precisem realizar atividades extras para complementar suas rendas.
Imagem 3: detalhe da configuração interna do espaço.
Produção e mercado
A produção artística do Seridó no campo das artes visuais está pautada normalmente
nas linguagens clássicas como pintura e escultura. A concepção de arte ainda está atrelada ao
domínio de técnicas e à representação fiel da realidade, sendo melhor aquele artista que tiver
maior domínio do fazer. Não raro vemos a reprodução de cenas cotidianas e expressões
populares pintadas em telas e exposta à venda em feiras de artesanato local ou estadual.
O projeto Seridó Visual faz um mapeamento dos artistas da região e “busca por uma
possível estética seridoense”. Este configura-se como um espaço para a construção do
conhecimento no campo do ensino e da formação, mais especificamente em História,
permitindo aos envolvidos uma maior aproximação com a produção artística local. O projeto
entende que “conhecer e catalogar os artistas plásticos e buscar conexões entre suas produções
pode ajudar no reconhecimento de um fazer artístico único, ou de qualquer forma, de uma arte
que se liga as diversas manifestações da arte brasileira” (ANDRADE JUNIOR, s/d).
Conferindo os trabalhos catalogados pelo projeto Seridó Visual e aproximando das
provocações de Durval Muniz Albuquerque Junior (2009), é possível afirmar que a produção
artística do Seridó ainda esteja atrelada à arte figurativa e à uma temática sociológica que trata
de questões sociais e culturais. São trabalhos que avigoram o sertão de traços rurais e preso às
tradições. Um sertão artesanal onde as figuras do coronel, do cangaço, da seca e do retirante
são evidenciadas, reforçando os contornos de uma identidade e dos tipos local. Entretanto,
aquele que restringir sua produção a essas imagens perde a oportunidade de pensar o sertão
contemporâneo, urbano e globalizado que se abre aos avanços tecnológicos.
As atribuições dos artistas na atualidade extrapolam a obrigação técnico/criativa do
fazer expressivo. Na emergência de atender a um mercado de arte com suas novas exigências,
ao artista é também atribuída a função de articulador cultural. Não raro é possível ver esses
profissionais elaborando propostas, organizando planilhas de custo e prestando contas de
projetos artísticos que foram contemplados em editais. O cuidado com a formação de público
apreciador/participante é da maior importância e deve ser constante, para que se garanta
também o confronto da produção criativa com os “fazeres especiais” (RICHTER, 2003) e
cotidianos. Tudo isso esgarça a malha do circuito de arte e amplia os modos de atuar do
artista, de produzir, de exibir e comercializar seus trabalhos. Se o sistema econômico, por
vezes, se demonstra perverso e se as políticas públicas não asseguram a manutenção da
produção artística, por isso mesmo não podemos nos descuidar do mercado de arte. Este, por
menor que seja, assegura que as portas dos ateliês permaneçam abertas ao público.
Considerações finais
A Casa de Pedra – coletivo de arte de Caicó-RN é um meio de sonhar em conjunto,
um ateliê de criação poética onde é possível transformar as dinâmicas do fazer artístico em
algo leve e prazeroso, ao mesmo tempo em que se propõe superar as dificuldades cotidianas
por meio de práticas laborais renovadas, seja no que tange a produção ou ao ensino de arte. O
surgimento do coletivo foi motivado pelo desejo de abrir um espaço que fosse uma alternativa
a mais no campo da arte, frente às existentes na região. Na Casa de Pedra o fazer e as
proposições artísticas, bem como a promoção da arte e da cultura ganham força na
coletividade.
Na contemporaneidade o sujeito artista coloca em dúvidas a relevância do seu próprio
papel na sociedade ao traçar novos percursos que o tira do conforto do instituído, do já
conhecido, para se lançar no desassossego do desconhecido. A partir desse pressuposto,
pensamos enquanto Coletivo nas possibilidades do fazer expressivo dentro das dinâmicas
laborais da profissão artista, como exercício que revele seus riscos, mas também suas
potências e suas múltiplas maneiras de fazer em/com arte.
Ao problematizar a função do ateliê de arte fica claro que ele estimula a criação e a
fruição estética. Entretanto, o ateliê ver suas fronteiras diluídas nesta contemporaneidade,
acompanhando tendência do sistema artístico universal. Na Casa de Pedra propomos cursos
livres de arte que são oferecidos à comunidade, fazemos lançamentos de livros, cordéis,
exposições e encontros outros como performances de artistas e apresentações musicais. Tudo
como alternativas criadas para melhorar a qualidade do ensino, estimular o mercado e garantir
que o ateliê permaneça com suas portas abertas, sempre produzindo e promovendo a arte e a
cultura seridoense, na interface com outras produções regionais.
REFERÊNCIAS
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FJN; Massangana; São Paulo: Cortez, 2009.
ANDRADE JUNIOR, Lourival; et al. Seridó Visual. Caicó: UFRN. Disponível em:
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CANTON, Kátia. Do moderno ao contemporâneo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
DANTAS, Cesar Ferreira Dantas; ANDRADE JUNIOR, Lourival. “Cavalacanga”: desafios
e objetivos da arte no Seridó potiguar. In: IV Colóquio Nacional História Cultura e
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JUNQUEIRA, Lilian Maus; GOMES, James Zortéa. O ateliê aberto como interface da
produção artística em esfera pública: experiências do atelier Subterrânea. In: 18º Encontro
da ANPAP. Salvador: 2009. Disponível em: http://anpap.org.br/anais/2009/index.html.
Acesso em: 21/10/2015.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 2007.
TRILLA, Jaume; GHANEM, Elie; ARANTES, Valeria (Org.). Educação formal e não
formal: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2008.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 1978.
RICHTER, Ivone Mendes. Interculturalidade e estética do cotidiano no ensino das artes
visuais. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2003.
SANTOS, Jailson Valentim dos; CARVALHO, Lívia Marques. A Casa de Pedra de Caicó-
RN: o ensino de artes visuais em contexto não formal. In: anais do IV Diálogos
internacionais em artes visuais e I Encontro regional da ANPAP Nordeste. João Pessoa:
UFPB/UFPE, 2015
Resumo
O presente artigo tem como objetivo desenvolver uma investigação sobre as impressões que pais
possuem da importância do ensino de Arte dos estudantes. A pesquisa se desenvolveu em uma Escola
Municipal de Tempo Integral, localizada na periferia do município de Campo Grande/MS. Esta escola
possui uma proposta pedagógica que se difere na rede municipal de educação. A disciplina de Arte
é compreendida como forma de garantir que os grupos sociais que se encontram em situação de
pobreza tenham acesso aos bens culturais que muitas vezes estão distantes da realidade vivenciada por
esses estudantes. A análise das impressões de pais sobre o ensino da Arte tem como finalidade
identificar se essa disciplina é percebida por esses sujeitos como uma ferramenta que possibilita que os
estudantes ampliem seu conhecimento cultural e artístico. Para tanto, os pais entrevistados através do
instrumento metodológico questionário, precisavam ter filhos (as) matriculados na escola pesquisada e
filhos (as) em outra instituição escolar para compreender a possibilidade de diferenças entre o ensino
na disciplina de Arte. A partir do desenvolvimento da pesquisa espera-se que o ensino de Arte possa
ser entendido como uma forma de garantir que as camadas populares também tenham acesso aos bens
culturais que contribuem para a formação cultural dos estudantes e compreender se houve e como foi o
ensino de Arte que os pais foram oportunizados em sua formação escolar.
Palavras-chave: Ensino. Arte. Escola de Tempo Integral.
Introdução
A disciplina de Arte também contribui para a promoção de direitos, pois a partir das
ações desenvolvidas dentro do contexto dessa disciplina, é possível promover uma
conscientização de que os sujeitos pertencentes às camadas populares podem e devem lutar
pela garantia e acesso aos direitos humanos básicos. Para isso, é necessário que os professores
estejam atentos e desenvolvam atividades que propiciem aos estudantes esse tipo de reflexão.
Durante a pesquisa foram problematizados temas relacionados ao ensino de arte, buscando
compreender quais as impressões de pais e professores sobre a disciplina e de que forma o
ensino de arte pode contribuir para a formação cultural dos educandos.
Dentre as várias propostas que estão sendo difundidas no Brasil na transição para o
século XXI, destacam-se aquelas que têm se afirmado pela abrangência e por
envolver ações que, sem dúvida, estão interferindo na melhoria do ensino e da
aprendizagem de arte. Trata-se de estudos sobre a educação estética, a estética do
cotidiano, complementando a formação artística dos alunos. Ressalta-se ainda o
encaminhamento pedagógico- artístico que tem por premissa básica a integração do
fazer artístico, a apreciação da obra de arte e sua contextualização histórica. (PCN,
2000, p. 31).
Caminhos metodológicos
O questionário aplicado aos pais está estruturado com perguntas abertas, buscando
identificar como era o ensino de artes que os pais tiveram na escola, na tentativa de encontrar
disparidades entre aquelas aulas e o ensino de arte que esses educandos têm, de forma a
compreender as mudanças nesta área educacional e oportunizar reflexão aos pais sobre o
ensino de Artes e sua compreensão sobre esta área. Oportunizando assim um resgate dos
tempos escolares, da disciplina de Arte, e a compreensão do ensino de Arte que é
desenvolvido na escola de seus filhos.
Para analisar a visão das famílias, foram aplicados questionários com questões abertas
e de ordem qualitativa, buscando compreender como foi a formação escolar de artes dos pais,
se compreendem o que os filhos estudam na escola, se há diferenças, de acordo com suas
convicções, entre a escola pesquisada e outras escolas que outros filhos estudam. Para definir
o público alvo, seria necessário que os pais que tivessem filho (a) matriculados na E. M.
Profa. Ana Lúcia de Oliveira Batista e também outro (a) filho (a) em escola diferente para
compreender como veem o ensino de Arte na escola pesquisada.
A primeira questão “Quando você frequentou a escola, você teve aula de artes? Como
elas eram? ”, propõe um resgate das vivências escolares e reflexão, possibilitando ao
participante pensar e resgatar seus momentos escolares e seu processo de aprendizagem.
A Família Lilás 1discorre que: “Tive a oportunidade de ter aulas de arte somente no
Ensino Médio (94-96). Nessa época as aulas eram somente teoria”. A Família Laranja
discorre que “Sim, era só na sala de aula. Tinha muita escrita e pouca pintura não era muito
legal”.
A Família Azul discorre que: “Tive artes na escola primária. Formação em seminário
salesiano e também em escola federal (SENAI). Posso assegurar que o ensino era bem
diferente do ensino atual praticado na maioria das escolas”.
1
Realizou-se analogia entre cores e as famílias de forma a preservar a identidade dos entrevistados e associar ao
ensino de arte, pelas cores serem um campo de estudo artístico e cientifico.
Podemos afirmar que todos os pais entrevistados tiveram aulas de artes no período em que
estavam ingressos na escola. Nota-se algumas singularidades no ensino, como a cópia de
textos e como a Família Laranja descreveu “ Tinha muita escrita”. Evento de notória
compreensão se analisarmos como era a concepção educacional de arte há algumas décadas.
Já a Família Verde apresenta em sua resposta: “Na minha época era educação artística.
Aprendia artesanato, pintava quadros/telas, mas sem nenhuma inspiração era desenho livre.
Tinha música que era só cantar, passar o tempo”, nos PCN encontramos uma visão de como
estas aulas ocorriam. Conforme PCN:
(...) as disciplinas Desenho, Trabalhos Manuais, Música e Canto Orfeônico faziam
parte dos programas das escolas primárias e secundárias, concentrando o
conhecimento na transmissão de padrões e modelos das culturas predominantes. Na
escola tradicional, valorizavam-se principalmente as habilidades manuais, os “dons
artísticos”, os hábitos de organização e precisão, mostrando ao mesmo tempo uma
visão utilitarista e imediatista da arte. Os professores trabalhavam com exercícios e
modelos convencionais selecionados por eles em manuais e livros didáticos. O ensino
de Arte era voltado essencialmente para o domínio técnico, mais centrado na figura do
professor; competia a ele “transmitir” aos alunos os códigos, conceitos e categorias,
ligados a padrões estéticos que variavam de linguagem para linguagem mas que
tinham em comum, sempre, a reprodução de modelos. (BRASIL, p.22, 1997)
A segunda questão “Você percebe alguma diferença entre as aulas de arte que você teve e
que seu filho tem? ”, sugere uma análise vinda dos pais sobre o ensino de Artes atual e o que
tiveram em seus tempos escolares. Objetiva-se identificar se há diferenças e se os pais podem
delimitá-las.
A família lilás discorre que “As aulas de hoje são totalmente diferentes das que eu tive lá
nos anos 90, bom pelo menos as aulas oferecidas na ETI Ana Lúcia”. Já família verde afirma
que “Sim. O acesso a cultura oferecido ao meu filho é muito maior do que eu tive. Teatro,
música, iniciação a instrumentos musicais, pintura. Oportunidades únicas oferecidas desde
muito cedo”. A família laranja: “Sim, muito. ”. A família azul relata “Como tenho convicção
do ensino que a escola da minha filha pratica é diferenciado, ela tem uma formação
equiparada ou melhor do que a que tive. Tenho convicção de que a escola é exceção à regra”.
E a família amarela ressaltou “Sim. Hoje as aulas são mais dinâmicas, abordando vários temas
e autores de artes, os professores trazem para a sala a obra de arte dos artistas e suas histórias
de vida, onde a criança aprende não só o desenho em si, mas a vida do autor.”.
A terceira questão “Você sabe o que seu filho aprende nas aulas de arte? ”, busca
acercar se as famílias compreendem o processo de ensino aprendizagem das aulas de Artes, os
conteúdos e até mesmo se há diálogo entre eles ao compartilhar as vivências na escola.
A família verde afirma que “Sim. Sempre acompanho e me surpreendo dele sempre
variar suas atividades, ora no teatro, ora pintura, ora bateria, mas fico feliz em ver ele
experimentando de tudo um pouco”. Essa resposta demonstra que a família compreende que a
disciplina Arte possui linguagens artísticas que diferem entre si e suas associações, como
teatro às Artes Cênicas, pintura às Artes Visuais e bateria à Música.
A família laranja discorre que “Sim, pintar telas, muro, sobre vários pintores e tipos de
Artes”, determinando associação as Artes Visuais. A família azul afirma “Sim. Sei e aprovo o
ensino”. A família amarela relata que “Sim. Além do método normal de pintar, ele aprende a
arte visual; a arte através do lúdico. Isso faz com que meu filho desenvolva seu aprendizado
em outras disciplinas pois ela vai além do básico”. Com esta afirmativa esta família
compreende que a disciplina de Arte é um meio condutor de desenvolvimento cognitivo e de
aprendizagem. Conforme Pougy:
Ao vivenciarem a percepção visual, tátil, espacial, sonora e gestual, os alunos também
podem desenvolver a capacidade de dar sentido aos símbolos, característica da
linguagem. Serão capazes também de armazenar conteúdos na memória, criando
repertório sempre útil em várias situações ao longo da vida (2011, p. 24).
A família lilás descreve que “Aos meus filhos é dada a oportunidade de vivenciar a
teoria e a prática nas aulas de arte. Ter contato com artistas renomados do nosso estado”. Essa
resposta faz referência a um projeto de Artes Visuais que ocorre na escola denominado Artista
vai à escola, em que se busca a democratização da Arte e da Cultura e combate à
desigualdade de acesso cultural, levando artistas locais para conversar com os alunos,
apresentar sua trajetória artística e realizar uma criação coletiva no muro externo da escola.
Dessa forma, realiza-se uma extensa galeria de Arte para a comunidade localizada em
uma periferia urbana, mostrando novas possibilidades além das pichações, elemento
recorrente nos muros escolares. Funari (1989, p. 39) assinala que “o grafismo popular se
diferenciava, desde o início, pelo seu caráter coletivo: não se trata de refletir um mundo
distante, como no interior das mansões, mas de retratar, nas paredes externas, a vida concreta,
as paixões populares em sua imediaticidade”.
Essa atividade é fundamental para a utilização dos espaços públicos e compreensão
que mesmo as pichações são uma manifestação de uma parcela da sociedade que se sente
revoltada e injustiçada. Porém, é preciso que os alunos dentro do ambiente escolar tenham
subsídios para entender os fenômenos e os acontecimentos sociais, analisando de maneira
crítica e possuindo suporte teórico para realizar suas escolhas. Trazer a Arte Pública para a
escola é uma maneira de expandir os espaços para apreciação, fruição e criação em Arte.
Desenvolver a pintura mural e o grafite é uma maneira de ensinar diversos conceitos que
envolvem a cidadania, a estética, a cultura e a Arte. Oferecendo conhecimentos aos
participantes e formando cidadãos que possam vir a zelar, cuidar, preservar o patrimônio
público.
Portanto é na escola que as crianças devem ter contato com a Arte, a educação
necessita interligar e estreitar o elo entre Arte e o ambiente escolar. Sobre isto Barbosa (2007)
discorre que:
Os modos de produção e de conhecimento da imagem são bastante diversificados.
Devemos conhecer tanto os meios tradicionais quanto os meios que usam tecnologias
contemporâneas, para que possamos escolher qual o mais apropriado para nossa
expressão. Não podemos nos esquecer, para que possamos pensar artisticamente, é
necessário que tenhamos pensamento crítico, isto é, que saibamos analisar o que nos é
apresentado e nos posicionar frente a isso. Também é essencial o conhecimento dos
diversos instrumentos de produção artística, ficando bem claro que esse conhecimento
não deve ser fim em si mesmo, mas um meio para que se consiga ver, significar e
produzir Arte (2007, p.114).
A quarta questão “Você tem filhos que estudam em outras escolas? você percebe
diferença entre o ensino de arte nestas escolas?”, procura identificar se a escola em que está
sendo analisado o ensino de Arte se difere de outras escolas. A referida questão possibilita
ainda que as famílias reflitam sobre a proposta pedagógica da escola e o currículo.
Na reflexão da Família Lilás encontra-se que há diferenças no ensino “Meu
primogênito estuda no 7º ano de uma escola municipal. Infelizmente as aulas de arte a que ele
tem acesso, muito me lembra as que eu tive nos anos 90, somente teoria e “desenho”.”
Discorre ainda que o ensino oportunizado ao seu filho não acompanhou as mudanças no
panorama da Arte-Educação e não possibilita experiências estéticas e artísticas que
desenvolvam a percepção, não havendo provocações. Segundo Pougy (2011, p.24) “A
percepção é ativada pelo interesse que algo ou alguém desperta no estudante, interesse que
pode resultar da motivação interna do aluno ou ser provocado pelo professor”.
A Família Verde afirma que:
“Sim, tenho. Atualmente nem tanto, mas até agosto deste ano, ele estava em uma
escola privada e o ensino de arte era terrível. No 6º ano era trabalhado coisas que já
tinha aprendido muito tempo atrás, desestimulando-o totalmente. Aula de arte
acabou sendo um terror para ele”.
Neste caso não houve estímulos que despertassem nesta criança novas experiências
estéticas. O papel do educador é fundamental para estimular e desenvolver os alunos. Barbieri
afirma (2012, p.39) “Nosso compromisso, como educadores, é justamente criar possibilidades
para que as experiências estéticas sejam ricas e não se transformem em uma equação pronta
que empobreça o universo da criança”.
A Família Laranja afirma que “Sim, um pouco, tem escrita e pinturas”. A Família
Azul relata “Muito claramente. Minha filha Raquel R. (8 anos) tem mais conhecimento sobre
Artes que meu filho mais velho (18 anos) e que já concluiu o segundo grau”.
A Família Amarelo ressalta:
“Sim. Na escola do meu filho a disciplina de Artes vai além do básico de desenhar
com papel e lápis de cor; proporciona crescimento humano, amplia o território
visual, melhorou bastante a coordenação motora, desenvolveu a atenção, fazendo
com que ele pense em novas possibilidades de desenvolvimento e também
incentivou o gosto por outras disciplinas. Já na escola da minha filha a professora de
arte trabalha só a parte de mosaicos, não faz muito aprofundado a conhecer o autor
das obras”.
Dessa forma, identificamos que a família Amarelo compreende que no espaço escolar,
na disciplina de Arte, há crescimento humano e que contribuiu para o desenvolvimento de
diversas áreas, estimulando o interesse por outras disciplinas. A escola é local que deve
possibilitar estas experiências, respeitando e valorizando as vivências dos alunos. Barbieri
ressalta que:
A escola é um dos lugares onde as crianças podem e devem ter contato com outras
referências culturais, diferentes daquelas trazidas pela televisão e pela internet. Se a
escola desenvolver seu universo cultural e o aluno se sentir como parte dele,
conhecerá outras formas de viver e saberá que começar a escrever não significa deixar
de desenhar. (2012, p.98)
As famílias observam que há dessemelhança no ensino de Arte, tomando-se como
referência a escola pesquisada e as demais escolas em que seus outros filhos estudam,
apontando para a diversidade do ensino de Arte em nossa cidade. Porém, isto ocorre em uma
proporção nacional, os PCN justificam que:
As práticas de ensino de Arte apresentam níveis de qualidade tão diversificados no
Brasil que em muitas escolas ainda se utiliza, por exemplo, modelos estereotipados
para serem repetidos ou apreciados, empobrecendo o universo cultural do aluno. Em
outras, ainda se trabalha apenas com a auto-expressão, sem introduzir outros saberes
de arte. A polivalência ainda se mantém em muitas regiões. Por outro lado, já existem
professores preocupados em também ensinar história da arte e levar alunos a museus,
teatros e apresentações musicais ou de dança ( 1998,p.29).
A formação dos professores de Arte possui critérios que podem justificar as respostas
das famílias, todos os professores possuem formação para a sua área de atuação.
Fig. 1. Quadro de professores e formação universitária
Fonte: autora.
Além disso, na escola, as oportunidades de fazer arte oferecida aos alunos, utilizando
diversas linguagens e materiais, dão sentido para a produção de arte fora da escola.
Afinal, conceitos, condutas e atitudes são assimilados quando vivenciados
sensivelmente. Se o aluno faz, prazerosamente, arte na escola, torna-se capaz de
valorizar o patrimônio artístico e cultural que vem sendo construído pelos artistas há
milênios (2011, p.9).
O ensino de Arte possibilita a formação de sujeitos que são críticos, capazes de criar,
refletir. Ainda, possibilita a formação cultural e de apreciação das construções culturais de
nossa sociedade, o estudante é um produtor e um apreciador, ativo no processo de aprender,
fruir, ensinar e contextualizar.
Considerações finais
A partir das análises que foram realizadas com base nos dados obtidos através dos
questionários, podemos responder afirmativamente que as famílias da escola pesquisada
compreendem a importância do ensino de Arte. Não somente a sua importância, mas, a
contribuição para a vida de seus filhos.
REFERÊNCIAS
BARBIERI, Stela. Interações: Onde está a arte na infância? São Paulo: Blucher, 2012.
BARBOSA, Ana Mae. A Imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 1991
GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª Ed. São Paulo: Atlas, 2008.
POUGY, Eliana Gomes Pereira, 1961- Arte: soluções para dez desafios do professor, 1º ao
5º ano do ensino fundamental / Elaina Pougy. – São Paulo: Ática, 2011.
Resumo
A dança na Educação Infantil tem um papel fundamental no desenvolvimento da criança pelas
possibilidades de proporcionar uma diversidade de vivências corporais e sensíveis. Assim, o foco
deste artigo é apresentar a dança como uma importante aliada no desenvolvimento da criança na
Educação Infantil. Pretendemos proporcionar essa discussão considerando as diversas possibilidades
de trabalho com a dança na educação, e a importância da escuta corporal para conduzirmos o trabalho
com a dança na Primeira Infância. O artigo é resultado de uma pesquisa de cunho bibliográfico,
considerando a prática do Estágio Supervisionado I, na Educação Infantil, realizado pela autora
durante o curso de licenciatura em Artes Cênicas e Dança da UEMS.
Palavras-chave: Dança-educação. Primeira Infância. Escuta Corporal.
Introdução
Educação Infantil
Para iniciarmos a abordagem sobre a dança na Educação Infantil precisamos entender
a importância de estabelecer um contato sensível com as crianças na primeira infância. Este
contato de nossa parte aconteceu durante a disciplina do Estágio Curricular Supervisionado I,
do curso de licenciatura em Artes Cênicas e Dança da UEMS, que aborda o ensino de Artes
Cênicas (Teatro e Dança). Na Educação Infantil a observação participativa e a regência em
sala de aula nos fizeram perceber que devemos praticar uma observação atenta às crianças, o
que implica em uma escuta sensível a respeito de todos os acontecimentos que as envolvem
desde as manifestações mais sutis, nas quais elas estabelecem seus próprios sentidos sobre as
experiências vividas.
É no ambiente da Educação Infantil que compreendemos como usar as curiosidades e
as demais potencialidades das crianças como aliadas aos seus interesses, descobrindo
surpreendentes horizontes de investigações. Ao movimentar, ver, ouvir, explorar, criar, sentir,
etc., as crianças formam conceitos e valores desenvolvendo linguagens e vocabulários verbais
e corporais.
Uma das grandes forças da Educação Infantil está justamente em escutar e mediar seus
“despropósitos”, os incontáveis “porquês” da criança desta faixa etária.
Quem sabe a ideia de descoberta não seria até a de redescobrir o que está sendo
perdido como: “os jogos de rua como: a amarelinha”, o “pega-pega”, o “pique-no-ar”, a
“cabra cega”, o “balança caixão”.
Hoje em dia para não ter que ficar cuidando das crianças, para que elas não se
machuquem, etc., os pais acabam trancando os filhos em suas casas, colocando desenhos
animados, musicas, entre outros, para elas ficarem assistindo, ou estregam um celular em suas
mãos, para que possam assistir ou jogar alguma coisa na internet. Em seu texto sobre
Educação Sensível, Duarte Júnior nos alerta dizendo que um dos motivos que o levou a
escrever consiste em “tornar evidente o quanto o mundo hoje desestimula qualquer
refinamento dos sentidos humanos e até promove a sua deseducação, regredindo-os a níveis
toscos e grosseiros” (2006, p.20).
O professor deve, então, vir na contramão dessa dessensibilização dos sentidos
humanos, e deve, ensinar, proporcionar, transmitir, encorajar as crianças a se tornarem cada
vez mais interessadas em experimentar, sentir, fazer, trocar, conhecer, vivenciar a dança e
outras atividades curriculares pré-estabelecidas para sua formação educacional, tornando-as
corresponsáveis por suas conquistas nos campos do conhecimento, da cultura, das sensações,
das emoções, entre outros. Para alcançarmos êxito nessa primeira etapa da Educação Básica é
preciso sair ostensivamente da zona de conforto, no qual, um professor só vem seguindo um
roteiro preestabelecido para dar aula. De acordo com Ribeiro e Oliveira “É necessário que o
profissional na Educação Infantil esteja aberto a educar, cuidar, brincar, escutar e enxergar as
crianças em sua riqueza e diversidade”. (2017, p.25),
Uma maneira de aumentar e aproveitar bem todas essas qualidades de cada criança é
desenvolver experiências na investigação e na imaginação infantil. Questões e desafios devem
sempre transpassar nossa curiosidade racional sobre os primeiros anos da aprendizagem.
Temos que pensar sobre as particularidades, debates, impasses que devem surgir nas
experiências práticas que iremos desenvolver com as crianças. Uma das experiências que
podemos vivenciar com as crianças é fazer com que elas possam ter o acesso e o contado
direto com o que a natureza nos oferece como, por exemplo, fazer com que elas percebam a
sutileza do vento batendo no rosto. As ações necessitam estar metodologicamente
sistematizadas e planejadas com objetivos claros para que as propostas sejam realizadas com
sucesso, tendo em vista o desenvolvimento e o aprendizado das crianças. Como vemos
abaixo:
E trabalhar com crianças na faixa etária da educação infantil requer muitos cuidados e
atenção, é preciso incentivá-las a sempre buscarem novas soluções para os desafios que lhes
são propostos. São esses dentre outros tantos desafios que devemos solucionar de forma clara
podendo oferecer aos pais, e a comunidade em geral, informações detalhadas sobre o que
ocorre nas escolas, como um meio de obter seu apoio.
Conforme Edwards, Gandini e Forman dizem, “A Educação deveria liberar a energia e
as capacidades infantis e promover o desenvolvimento harmonioso da criança como um todo,
em todas as áreas – comunicativa, social, afetiva e também em relação ao pensamento crítico
e científico”. (1999, p.33) e, para isso, é preciso uma preparação e um olhar atento do
professor.
O que nos chamou muito atenção durante o Estágio Supervisionado I na Educação
Infantil foi como as crianças utilizavam e expressavam suas sensações e emoções muito bem
através dos desenhos, onde registram suas ideias, observações, recordações, sentimentos e
assim por diante, e o nosso desafio foi incorporar essa linguagem podendo transformá-la,
adaptando-a para uma linguagem corporal, ou seja: Como aquele desenho, poderia ser
realizado no corpo? Quais movimentos poderiam ser realizados? Qual cena ou qual história
poderia ser construída cenicamente através daquele desenho? Essas perguntas foram
norteadoras de nosso trabalho, pois a linguagem artística que trabalhamos em nosso estágio
foi a linguagem de nossa formação, as Artes Cênicas (Teatro e Dança).
Percebemos a partir dessas propostas realizadas durante o estágio que a dança é o
caminho eficaz e seguro de exploração da criatividade e expressividade da criança na
Educação Infantil, pois, conforme nos esclarece Godoy (2010), o espaço escolar apresenta
uma possibilidade enorme de estimular o contato e a aprendizagem da dança porque nele, a
criança é apresentada a diversos saberes, pode, a partir da prática da dança, construir
conhecimentos ampliando suas possibilidades de inserção na sociedade. A dança faz parte
desse universo expressivo, porque proporciona a apreciação estética que envolve o corpo em
movimento. Dançar pode significar um modo encantador de conhecer o corpo e comunicar-se
por meio dele.
Por isso, precisamos dar prioridade ao que as crianças sabem e sentem, nosso projeto
deverá ser construído e registrado a partir do que as crianças entendem e sentem sobre estar
em contato com o mundo, com a natureza, com as pessoas e os seres vivos que estão ao seu
redor. Elas precisaram aprender que o corpo será muito importante para entender e sentir tudo
o que está no mundo. Conforme Godoy “Ao dançar, a criança se expressa criativamente, e
isto amplia suas possibilidades de interação com o mundo. Dançar, então, pode significar uma
maneira prazerosa de conhecer o corpo e comunicar-se por meio dele”. (2010, p.49)
Dança e educação são dois modos de ser e estar em sociedade, de conviver, de estar
com, de viver, de ver. Isabel Marques (2010) nos esclarece que os elos que ligam a dança e a
educação podem gerar práticas condizentes com as necessidades e possibilidades do mundo
atual, contribuindo com uma maior sensibilização da criança em relação aos fenômenos e
ampliando sua relação com o mundo.
A escuta Corporal é muito importante para conduzirmos o trabalho com a dança na
Educação Infantil. Podemos propor exercícios em que as crianças possam entender o seu
corpo e depois fazer, explorá-los. De acordo com Salvador “A prática da sensibilização
corporal ativa nossos sentidos, a fim de abri-los ao novo, ao inusitado, ao desconhecido. A
sensibilização corporal torna os poros do corpo abertos para o mundo” (2011, p.49).
Essa prática pode ser realizada de maneira bastante simples, desde a automassagem e o
toque sutil. Podemos começar despertando o corpo para os próximos passos, olhando com
atenção para realmente ver o espaço, as pessoas a nossa volta, os objetos; sentir os cheiros do
ambiente, das pessoas, sentir nosso cheiro; ouvir os sons possíveis de serem ouvidos e tentar
ouvir os sons ainda mais sutis, ao longe; tocar o chão, a parede, nossas roupas e nossa pele, a
fim de percebermos as diferentes texturas e temperaturas. Essas são práticas que devem ser
incentivadas no início da percepção e da consciência corporal, depois, trabalhamos com as
sensações, imagens e lembranças que esses sentidos podem trazer, e, para estarmos mais
atentos e mais sensíveis ao que nos rodeia.
Atentar-se em ter confiança e o cuidado para permitir que as crianças sigam suas
próprias intuições e impulsos criativos. Segundo Edwards, Gandini e Forman “Os professores
seguem as crianças, não seguem planos. Os objetivos são importantes e não serão perdidos de
vista, mas o porquê e como se chegar até eles são mais importantes” (1990, p.80). O autor
ainda acrescenta que:
O desafio do adulto é estar presente sem ser um intruso, a fim de manter melhor a
dinâmica cognitiva e social enquanto está em progresso. Ocasionalmente, ele deve
apoiar o conflito produtivo desafiando as respostas de uma ou várias crianças. Em
outros momentos, deve envolver-se para reviver uma situação, quando as crianças
estão perdendo o interesse, porque o mapa cognitivo que está sendo construído está
além ou abaixo das capacidades atuais delas. (EDWARDS, GANDINI e FORMAN,
1999, p.117).
Outra forma muito interessante para trabalhar com as crianças desta faixa etária é
através da escuta de seus corpos dançando, por que nem sempre conseguimos entender ou
compreender o que a criança quer nos dizer, quando lhe perguntamos algo, nem mesmo pela
fala, escrita de palavras, e nem através do desenho; então abordaremos a maneira com a qual a
prática da dança, pode nos ajudar a compreendermos e aprendermos a ouvir o corpo da
criança, deixando-a por meio da dança expressar corporalmente, e a partir desse momento ela
entenda, perceba e conheça seu corpo no espaço.
Deve-se ter um respeito pelas crianças e prazer em ouvir e assim aprender com elas.
De acordo com este pensamento, “As escolas não são locais para palestras, mas lugares onde
os professores escutam atentamente para poderem juntar-se à “aventura” das crianças no
mundo do conhecimento”. (Rinaldi, 1989, p. 5 apud Edwards, Gandini e Forman, 1999,
p.117).
Precisamos trabalhar com o movimento expressivo e pensar os inúmeros e possíveis
caminhos para que a arte da dança aconteça afetivamente na educação, dando, a partir dessa
linguagem artística, “voz” ás crianças e “ouvidos” ao professor.
Devemos ter clareza de quanto é significativo o modo com que a dança é ensinada,
pois, essa linguagem, enquanto arte do/com/pelo corpo, pode proporcionar o potencial de
transformação dos cenários cotidianos sociais, é por isso que a maneira como as metodologias
são adotadas, podem fazer com que esse potencial da arte da dança seja ou não transformador.
Para compreendermos melhor sobre esse diálogo precisamos esclarecer como a dança
deve ser trabalhada na escola, o que faremos a seguir.
Dança na Escola
Verificamos, através da nossa experiência no Estágio Curricular Supervisionado I, na
Educação Infantil, que a dança na escola é, normalmente, vivenciada e aproveitada somente
para fins festivos de datas comemorativas da escola. Não que seja ruim realizar trabalhos com
a dança nessas datas, mas precisamos ressaltar o quanto é importante sabermos como se deu
esse processo coreográfico, salientando a existência de uma pesquisa (corporal e teórica) em
torno da proposta coreográfica a ser realizada. Esse caminho de trabalho com a dança, que
envolve pesquisa corporal e escuta do corpo é de extrema importância para que o aluno
adquira o conhecimento dessa linguagem artística e possa experienciar a transformação
proposta por esse trabalho.
Conhecer seus corpos e saber relacioná-los com os fenômenos a sua volta é parte
importante do desenvolvimento da criança dessa idade e, por isso, os caminhos de ensino-
aprendizado da dança devem ser realizados de maneira cuidadosa e generosa.
Aperfeiçoamos a presente discussão enfatizando a importância de todas as linguagens
artísticas na Educação Infantil.
(...) fazendo ou apreciando artes, os alunos passam por uma experiência estética e
aprendem que, com ela, o mundo pode se tornar mais agradável e mais completo.
Esse aspecto da aprendizagem em artes representa o desenvolvimento de uma forma
especial de se relacionar com o mundo, o cultivo do que, com ela, o mundo pode ser
chamado de uma atitude estética. Para criar imagens, sons, gestos e movimentos que
tenham poder expressivo e qualidade estética, os alunos precisam primeiro,
desenvolver uma atenção toda especial para o mundo que os rodeia. (FERREIRA,
2001, p.31).
Uma das ações educativas mais importantes para essa abordagem é a escuta, o olhar
mais cuidadoso sobre a criança. Portanto, os professores precisam conhecer o valor do que
fazem, precisam saber quais as efetivas contribuições de seu trabalho no desenvolvimento dos
alunos.
Quando os alunos criam com linhas, cores, palavras, gestos, movimentos e sons,
desenvolvem uma atividade que está diretamente ligada à necessidade de construir um
conhecimento do mundo e de comunicar esse conhecimento a outros.
As artes fornecem um dos mais potentes sistemas simbólicos das culturas e auxiliam
os alunos a criar formas múltiplas de pensamento. Dança é corpo, então precisamos dar
espaço para a manifestação do corpo. Não é possível que o corpo permaneça mudo e não
transmita nada. Ele nos dá informações infindas. Conhecendo esses processos internos e
dando espaços para que eles se manifestem, criamos assim a coreografia, a dança de cada um.
A educação deve, portanto, proteger esse potencial simbólico infantil a partir da
promoção de experiências sensíveis e corporais que promovam criatividade e comunicação
expressiva.
Considerações Finais
REFERÊNCIAS:
DUARTE JUNIOR, João- Francisco. O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível.
Curitiba: Ed. Criar, 2006.
FERREIRA Sueli (org). O Ensino das Artes: Construindo Caminhos. Campinas, SP:
Papirus, 2001 (Coleção Ágere), 224p. Jane de Oliveira faria.
GODOY. Kathya. “A dança, a criança e a escola: como estabelecer essa conversa”. In:
TOMAZZONI Airton, WOSNIAK Cristiane, MARINHO Nirvana (Orgs). II Seminários de
Dança. Algumas Perguntas sobre Dança e Educação. Joinville: Nova Letra, 2010. 228p.
STRAZZACAPPA. Márcia. “A tal “Dança Criativa”: afinal, que dança não seria?” In:
TOMAZZONI Airton, WOSNIAK Cristiane, MARINHO Nirvana (Orgs). II Seminários de
Dança. Algumas Perguntas sobre Dança e Educação. Joinville: Nova Letra, 2010. 228p.
Resumo
O presente texto busca apresentar e relatar a participação e a pertinência do projeto “Nosso Ateliê
Animado” do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo, no destaque da extensão que serve ao Estágio Curricular Supervisionado e
à formação de professores. Trata-se de um projeto de curso livre para crianças que configura-se espaço
democrático e inclusivo e representa-se na extensão e na emancipação universitária, no diálogo com a
comunidade sobre o saber das e nas artes visuais. Também mediante o projeto, a ECA-USP reafirma o
sentido inclusivo da arte em consonância com as várias instâncias institucionais que o defendem. O
projeto cumpre um importante papel social, propiciando a experiência criativa da prática da docência
no projeto de extensão, que se associa com o ensino e a pesquisa, visando uma formação de
licenciandos educadores-pesquisadores, com olhar reflexivo sobre o seu contexto e açaõ . O projeto de
extensão mostra-se compromisso político, no qual se atribui importância ao desenvolvimento artístico
e criativo das crianças. Realiza na prática o que as disciplinas do Curso de Licenciatura em Artes
Visuais “Metodologia do Ensino das Artes Visuais” objetivam e o que as chamadas disciplinas de
Prática de Ensino visam compreender, possibilitando o Estágio acontecer na experiência evidente e
significativa da prática docente supervisionada no curso/percurso de formação de professores de artes
visuais.
1
Doutora em Comunicação e Semiótica: Intersemioses na Literatura e nas Artes, pela PUC-SP. Licenciada em
Educação Artística com Habilitação em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Professora e
Assessora de Artes Visuais, atuante na formação continuada de professores na relação com as políticas públicas.
E-mail: sonia.arteduc@yahoo.com.br
2
Doutora em Artes pela Universidade de São Paulo. Possui graduação em Educação Artística Artes Cênicas pela
Universidade de São Paulo. Atualmente é professora doutora exercendo suas atividades no Departamento de
Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde leciona na Graduação e
no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (Conceito CAPES 6). Orienta mestrado e doutorado. E-mail:
rizzi.christina@gmail.com
Mostrando desenhos de gatos, cachorros, árvores e flores, Beatriz Buffalo diz que
adorou fazer o caderno. Isabella Calafatis, dez anos, diz que gostou de tudo. De usar
agulha para costurar as páginas, escolher o tecido e enfeitar. Felipe Yoshio Martins
Tsutsui, oito anos, teve de conter a ansiedade de mexer com tintas para se concentrar
na produção do caderno. Fã de desenhos relativos ao filme Star Wars, disse ter
gostado muito da experiência e já fez algumas ilustrações (MARTINS, Claudeci,
2009, p. 1)4.
5
Considerando que esse dizer é o de praxe, o discurso mais presente nos textos institucionais que tratam da
relação entre o Estágio Curricular obrigatório e a comunidade.
Como diz Read (2001, p. 12) “(...) o objetivo da educação é a formação de artistas –
pessoas eficientes nos vários modos de expressão”. Na prática, o projeto segue a causa da
arte, extende o conhecimento artístico acumulado institucionalmente articulando, na
arte/educação, o fazer e o pensar tradicional com o contemporâneo de maneira
interdisciplinar, imbricando linguagens e produções midiáticas. A partir dele, na possibilidade
rara e essencial de criação possibilitada, as artes visuais podem verdadeiramente acontecer.
O embate com a matéria em um ateliê se faz de uma forma maravilhosa. Você tem
que tentar se aproximar da matéria, conversar: ‘Você cede um pouco e eu cedo um
pouco, vamos ver o que dá pra fazer, porque também não é possível que você não
ceda nem um pouquinho, assim não dá, assim não daria pra fazer nada, a gente
consegue’. O embate com a matéria é um desafio, às vezes é um desafio que a gente
tem que assumir seriamente, não tem por onde sair. Fundamental em termos de
aprendizado é experimentar, ver como é. A matéria é responsável também pelo estilo
de dentro, ela é, antes de tudo, como o estilo também é, a consciência de nossas
limitações. (JARDIM, 2009, p. 110).
O projeto, bem como as artes visuais na escola, procura afirmar a importância da arte
na vida, justificar e ampliar a presença da arte na escola, em relação aos vários âmbitos de arte
e cultura nos quais possam acontecer o ensino e a aprendizagem da arte. Trata-se de defender
o sentido educativo da arte; da arte como conhecimento; da valorização da arte que se ensina
e da arte como componente curricular.
No processo de ampliação da dimensão acadêmica, destaca-se a contribuição do
BLOG7, criado em 20098, como parte de um processo de trabalho com as crianças no projeto
de extensão. E desde lá vem sendo uma atividade constante, que democratiza e amplia o
espaço de atuação do Ateliê no diálogo com a comunidade, que pode postar comentários e
participar da rede de diálogos que o instrumento pedagógico instaura. Aparece como um
instrumento de divulgaçaõ e produçaõ de informações, que traz visibilidade e tece o
aperfeiçoamento do processo de trabalho. Objetivamente, organiza o portfólio do projeto no
planejamento dos alunos-professores.
No BLOG, como em todas as pesquisas resultantes dos processos de trabalhos
coletivos, observam-se o amadurecimento do projeto na difusão do conhecimento gerado de
dentro para fora e vice-versa no Curso de Licenciatura em Artes Visuais dentro do CAP da
ECA-USP nacional e internacionalmente.
Segundo os funcionários do CAP, os cursos do projeto atendem a uma demanda
crescente de pessoas interessadas no aprendizado das práticas e conceitos que regem o fazer
artístico, dando a possibilidade de atuarem nos ateliês do Departamento.
guiada
Fonte: Arquivo Digital “Nosso Ateliê Animado”
Respondendo uma pergunta sobre a experiência de a sua criança passar pelo projeto do
ateliê, uma mãe observou entusiasmada: “Uma emoção ela (a menina) com 9 anos se sentir
em casa na USP e poder usufruir “desse” bem público. Observa-se o peso do capital
simbólico para a aquisição de capital cultural (BOURDIEU 1974; 2000) da USP – no poder
da apropriação simbólica dessa comunidade atendida. Destaca-se a satisfação da comunidade
na visão de acesso e direitos na inclusão social na Universidade pelo projeto.
Os alunos da graduação também observam o quão especial é o projeto no sentido da
extensão. Bruna Salgueiro da Silva, do Curso de Licenciatura em Pedagogia, e Maurício
Silva, do Curso de Licenciatura em Educomunicação, registram em um artigo:
para ampliar ainda mais seu potencial de servir à coletividade, interferindo nos processos que
possam amesquinhar ou a apequenar.
O âmbito abarca tudo quanto pode, e tal “poder” se realiza em consonância com a
ampliação de nossa leitura e açao
̃ contextualizadas. A condiçao
̃ ambital-relacional (p.
143), de compreensão e acontecimento de encontro com a realidade, é o sentido ativo
de, nela, criar tramas de vı́nculos amistosos, fortes e poderosos. Realidade que, na
visão de Morin, é demasiada complexa para ser compreendida e explicada, mas que
pode ser sentida e vivida na sua complexidade no encontro com a arte, segundo
Vygotsky, Read, Dewey e também Pareyson (1997, p. 80), que a conceitua
essencialmente como dinâmica e espiritual (FERNANDES; RIZZI, p. 562).
(O) estágio prepara para um trabalho coletivo, uma vez que o ensino não é um assunto
individual do professor, pois a tarefa escolar é resultado das ações coletivas dos
Estar com, junto, no trabalho coletivo voltado às crianças, de construção com todos,
não é fácil, envolve esforços de conquistas de consonâncias, concordâncias e acordos.
Vygotsky (1998) nos lembra que exercer a criatividade e a arte pressupõe um
comportamento tipicamente humano que auxilia no entendimento das condições
socioculturais, historicamente determinadas. E que o repertório, principalmente das crianças,
precisa ser enriquecido para a construção de uma realidade rica, repleta de possibilidades de
ativação da mente (seu desenvolvimento cognitivo) e realização do mundo (1999).
As práticas do Estágio Supervisionado correlacionadas às práticas docentes no projet,
objetivamente apontam para o respeito às crianças: aos seus saberes advindos das
experiências anteriores; às suas diversas e singulares realidades e culturas e aos desejos e
necessidades que compõem um alto grau de subjetividade. E na situação construída impõem
um duplo cuidado na metaeducação. Pois, pode-se considerar que, assim como as crianças, os
alunos-professores estão tateando o solo na realidade na perspectiva aberta pela
arte/educação, em busca de prazer, segurança psicológica e equilíbrio humano. Nesse sentido
é que Freud relaciona a criatividade adulta com o brincar infantil.
Aliás, no espírito do brincar para conhecer que faz parte do projeto, Viktor Lowenfeld
(1970) é lembrado na forma pioneira de, em uma época de descriminação da livre expressão e
dentro desse propósito, defender o estímulo à espontaneidade, aos sentidos, e a valorização da
capacidade artıś tica das crianças, que necessita ser despertada pela criação, por um gesto de
contato com o universo da arte como meio de autoexpressão.
A consideração plena da criança recai sobre a perspectiva do saber validado no ser
inteiro do sujeito, e para um saber na arte coexistensivo à vida, no qual cada criança é vista
como um indivíduo determinado, com todas as condições de ser pleno de si no mundo. A
inteireza depende de como ela é compreendida, sentida, prezada e respeitada. A criança se
dimensiona na relação com os outros – relação interpessoal – e na relação consigo mesma –
relação intrapessoal, na tese de Vygotsky, da mediação por meio da linguagem em suas várias
obras. O projeto atesta o apreço por cada criança como pessoa envolvida na açaõ pedagógica
Referências Bibliográficas
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Resumo
O acadêmico ao ingressar na Graduação de música geralmente já atua como músico, mas busca assim,
a formação de professor. O Pibid Música é um programa que permite que o licenciando de música
vivencie a realidade escolar, desenvolvendo atividades didático-pedagógicas sob a supervisão de um
professor da escola. Desse modo, o programa permite que o futuro professor se constitua professor
dentro da profissão com a orientação de um profissional mais experiente. Nesse contexto, este estudo
de abordagem qualitativa, objetiva refletir sobre possíveis contribuições para o processo de formação
em escola para os licenciandos em música. Para alcançá-lo, analisamos os relatos dos bolsistas do
Pibid Música na Universidade Regional de Blumenau (FURB) no ano de 2016. O aporte teórico versa
sobre a formação do professor de música, com Soares, Schambeck e Figueiredo (2014); formação de
professores, com Nóvoa (2009); e formação docente e o Pibid, com Carvalho (2016). Por meio da
análise dos relatos em portfólio, concluiu-se que o Pibid Música contribuiu para que os licenciandos
aprendessem a trabalhar no coletivo, pensassem a partir da realidade vivida na escola, sentirem-se
pesquisadores, tornarem-se autores do processo de formação e a terem autonomia. O Pibid também
permitiu que a comunidade se envolvesse no programa e tornou o professor supervisor um co-
formador do processo de formação dos futuros professores.
Palavras-chave: Pibid. Formação docente. Músico-professor.
Introdução
Quem opta por estudar música não faz essa escolha porque se encantou pelas notas
musicais escritas sobre cinco linhas ou pelas cifras escritas acima da letra da música, mas sim
porque tem uma relação estética e artística com essa linguagem. Como professoras de Arte,
1
Mestranda em Educação pela FURB. Atua como professora de Arte com ênfase em Educação Musical.
2
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná (2008). Atua como professora no Programa de Pós-
Graduação em Educação e na graduação na FURB.
acreditamos que não só para as crianças mas para todas as idades a experiência estética
acontece antes da aprendizagem formal dos contextos históricos e formais da música ou de
qualquer arte. Precisamos despertar esse encantamento pela beleza não só para a música, mas
para todas as áreas da vida e da arte, até mesmo para o processo de formação docente. É com
esse olhar para a experiência do belo que desejamos introduzir o caminho a ser percorrido por
esta pesquisa sobre os aspectos que são relevantes para a constituição da identidade do
músico-professor em uma formação docente em escola.
Com formação em arte e depois de um longo tempo atuando com a Educação Básica,
foi no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) que tomamos
consciência do espaço diferenciado de formação docente que este constitui. Nesse sentido,
percebemos o quanto esse processo se torna um lugar no qual a formação docente se dá em
escola, mergulhados em processos cujas escolhas se fazem em partilha, sempre considerando
a escola como lócus.
Atuamos como supervisora do Subprojeto de Música e como coordenadora de
Subprojeto. Nesse sentido, olhamos para esse processo de lugares diferentes; no entanto, de
forma partilhada, o que nos possibilita tecer esta escrita pensando conjuntamente o processo
de constituição da identidade do músico-professor. Nesse processo, buscamos aqui refletir
sobre uma trajetória na educação musical que busca pensar a formação dos docentes de
música em escola e como esse processo pode contribuir na construção da identidade do
músico que se torna professor. Nesse sentido, tecemos como objetivo para esta investigação:
refletir sobre possíveis contribuições para o processo de formação dos licenciados em música
em escola.
Esta pesquisa é de abordagem qualitativa e foi realizada na FURB, com bolsistas do
subprojeto de música do Pibid. Os bolsistas do Pibid são os acadêmicos do curso de música e
professores supervisores, docentes da Educação Básica que acompanham os acadêmicos em
processos de co-formação com a universidade.
música como critério de ingresso no curso. Os cursos de licenciatura em música dividem sua
carga horária entre a formação musical e pedagógica. É função das instituições formar
profissionais para atuarem em diversos espaços educacionais podendo ser formais ou não,
mas isso não significa que a instituição possa dar menos valor à formação para atuação na
Educação Básica.
Soares, Schambeck e Figueiredo (2014) apontam que, a partir da aprovação da Lei nº
11.769, de 18 de agosto de 2008, que torna o ensino da música obrigatória na Educação
Básica (BRASIL, 2008), criou-se uma expectativa em relação à presença de profissionais
formados na área de música para atender à Lei. Apesar das diversas discussões sobre qual
profissional deve trabalhar com a música na escola e do predomínio da prática polivante do
ensino de arte nas escolas, espera-se que, em nome da qualidade da educação musical que se
espera ter na escola, a música seja incluída no currículo com autonomia e que seja ministrada
por licenciandos da área da música. Soares, Schambeck e Figueiredo (2014) abordam, em
pesquisa realizada sobre a formação do professor de música no Brasil, que dos acadêmicos de
música participantes da pesquisa, 74% desejam ser professores, mas apenas 28% desejam
atuar na Educação Básica. Essa falta de interesse pela docência na Educação Básica se deve à
baixa remuneração, falta de condições de trabalho e atuação polivalente, em que o professor
precisa trabalhar todas as linguagens da Arte (SOARES; SCHAMBECK; FIGUEIREDO,
2014). Concluiu-se que um dos maiores desafios das universidades é que os cursos de
licenciatura tenham uma maior ênfase no compromisso da formação para suprir as demandas
dos sistemas educacionais brasileiros.
Contudo, qual é a importância de se ter esse olhar para a escola em um processo de
formação docente? Nóvoa (2009, p. 17) defende que “[...] é preciso passar a formação de
professores para dentro da profissão”. Assim como os estudantes de medicina passam pela
residência médica e aprendem a profissão dentro do campo de trabalho com médicos mais
experientes, os professores também poderiam ter uma formação inspirada nesses moldes.
Para que a formação de professores aconteça dentro da profissão, Nóvoa (2009)
destaca cinco propostas (P5): práticas, profissão, pessoa, partilha, público. Práticas: a
formação docente deve assumir o componente da prática que é investida do ponto de vista
teórico, voltada à aprendizagem dos alunos e com referência ao trabalho escolar. Profissão: a
formação deve acontecer dentro da profissão, em que professores mais experientes auxiliam
no papel de formação dos que estão iniciando. Pessoa: a formação deve ser voltada às
dimensões pessoais da profissão docente. Partilha: a formação deve valorizar o trabalho em
equipe e o coletivo da profissão. Público: a formação deve favorecer a comunicação pública e
a participação profissional no espaço público da educação, como um princípio e
responsabilidade social.
Conforme Nóvoa (2009, p. 17), “[...] não haverá nenhuma mudança significativa se a
‘comunidade dos formadores de professores’ e a ‘comunidade dos professores’ não se
tornarem mais permeáveis e imbricadas”. A formação deve estar próxima da realidade da
escola e dos problemas enfrentados pelos professores. Assim temos esse olhar voltado a um
processo de formação docente em escola, pois a escola é um espaço de formação onde o
músico vai se constituir professor. Diante dessas considerações, esta pesquisa pretende
responder à seguinte pergunta: Quais aspectos são relevantes na constituição da identidade do
músico-professor em um processo de formação docente em escola? Escolhemos utilizar o
termo músico-professor, visto que, ao ingressar no curso de licenciatura em música, o
acadêmico já se constitui como músico e busca a formação como professor.
Buscamos trabalhos na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD),
desenvolvidos sob a mesma temática, para identificar o que já foi produzido sobre a
constituição da identidade do músico-professor em formação docente em escola e encontrar
possíveis lacunas sobre o assunto. O período determinado para a busca foi de 2014 a 2017.
Estabelecemos como termos de busca as seguintes palavras-chave relacionadas a nossa
pesquisa: “identidade do músico-professor” e “formação docente”, mas não encontramos
trabalhos relacionados ao tema. Assim, ampliamos os termos de busca utilizando as
expressões: “identidade do professor de música” e “formação docente”. Encontramos um total
de sete dissertações. Destas, duas se aproximam de nosso tema de pesquisa.
Um dos trabalhos que mais se aproximou é o de Anne Charlyenne Saraiva Campos
(2016), intitulado Estágio supervisionado em pauta: a construção da identidade profissional
do docente licenciado em música pela EMUFRN, desenvolvido na Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN). A autora tem como foco central da investigação o estágio
que poderia ter sido diferente e o que se pode melhorar. No portfólio, um dos bolsistas
registrou:
“Essa foi a primeira aula que ficou a meu cargo, por ser a primeira, não me senti tão seguro e
confortável frente aos alunos, o que ocasionou no desenfreio da turma; a aula não foi totalmente
produtiva, como poderia ser, deixando os alunos talvez um pouco confortáveis demais. Uma
mudança a ser feita foi reconhecida por mim nessa aula”. (Licenciando A, 2016).
Observamos que o portfólio não foi utilizado como um instrumento de avaliação, mas
sim como um material produzido pelos bolsistas para registrar seus planejamentos e suas
reflexões. Dessa maneira, os bolsistas se sentiam à vontade para expressar de fato o que
aconteceu de bom e o que poderia ter sido melhor, compreendendo que a docência é um
aprendizado.
No Pibid, os acadêmicos estavam semanalmente na escola, aprendendo a profissão
dentro da profissão, conforme aponta Nóvoa (2009). Os bolsistas, ao entrarem no programa,
conhecem, em primeiro lugar, a escola e observam as turmas para, depois, escolherem quais
caminhos irão trilhar com cada turma e iniciar assim, suas atividades. Um dos acadêmicos
relatou que, ao iniciarem suas atividades na escola, “[...] trocamos umas ideias para abordar
com o 2ª e 4ª anos, queremos fazer algo diferente e chamativo, porém construtivo com os
alunos” (Licenciando B, 2016). Carvalho (2016), ao escrever sobre o Pibid, destaca que é
fundamental pensar a partir da realidade vivida, sentida e percebida pelos acadêmicos. Para
formar um professor pensante, precisamos propiciar aos acadêmicos formas de pensarem
sobre a realidade vivida e sobre a docência nessa realidade.
Os acadêmicos participavam de todos os momentos da escola: formação continuada,
reunião pedagógica e conselho de classe. Um dos acadêmicos destacou no portfólio que
“[...] teve conselho de classe com os professores e coordenadores e [acadêmicos] estivemos lá,
nunca pensei que iria aprender tanto numa simples reunião. Vimos uma história que se chama
Mel na Boca, a história conta a vida de um jovem, seu avô e pintassilgo (pássaro), mas isso não
vem ao caso agora. Aprendi que devemos passar livros sem finais felizes e sim com pontos de
interrogação para incentivar os pontos críticos e criativos dos alunos”. (Licenciando B, 2016).
podemos fazer escolhas que façam com que os alunos usem sua imaginação e criatividade,
não precisamos sempre trazer histórias com finais que deem as respostas.
Observamos, no processo, que os acadêmicos tinham muito preconceito com a sala
dos professores, e não gostavam de frequentar esse ambiente, pois diziam que os professores
só reclamavam dos alunos e da profissão. Percebemos, assim, um trabalho com os acadêmicos
para pensar sobre esse momento. A professora supervisora solicitou que sempre participassem
dos intervalos na sala dos professores, pois essa era a oportunidade para conhecer e socializar
com outros professores. Segundo a professora supervisora em seu relato:
“Destaquei que é muito difícil quando o professor fica isolado e tenta fazer o seu trabalho
sozinho. Foi um trabalho difícil pois houve muita resistência dos acadêmicos, mas aos poucos eles
começaram a frequentar a sala dos professores e socializar com outros professores”. (Professora
Supervisora, 2016).
“Em uma das primeiras reuniões que participei na universidade, os acadêmicos estavam
relatando esses problemas e conjuntamente optaram por criar normas para serem seguidas pelos
bolsistas no programa. Todos os bolsistas opinaram e decidiram quais normas deveriam ser
estabelecidas para o bom funcionamento do subprojeto”. (Professora Supervisora, 2016).
Um aspecto que me chamou muito a atenção na ocasião foi pensar com o grupo
todo o processo. Nenhuma decisão era somente minha como coordenadora de área,
mas eram decisões dos grupos, pensadas coletivamente e em especial com
proposições das professoras supervisoras. (CARVALHO, 2016, p. 66, grifos da
autora).
Observamos nos registros que foi no coletivo que os acadêmicos optaram pelo modelo
de portfólio reflexivo que iriam utilizar, quais pontos deveriam ser observados nas aulas das
outras duplas de acadêmicos, quais músicas o grupo iria ensaiar. Assim, percebemos que as
decisões eram tomadas no coletivo.
O professor supervisor também passa por um processo de formação continuada no
Pibid, pois, conforme aborda Carvalho (2016), ele assume uma “condição de co-formador”. O
professor supervisor participa desde o planejamento das aulas com os acadêmicos até a
aplicação da aula na escola. O professor supervisor e os acadêmicos estão muito próximos na
relação docente, por isso é extremamente importe a partilha. Assim, ambos devem trabalhar
juntos durante o planejamento e o desenvolvimento da aula.
O professor supervisor não pode ficar como um espectador da prática acadêmica, mas
sim realizar um trabalho em conjunto com o licenciando.
Cada acadêmico tinha de olhar para o supervisor compreendendo que ali estava um
profissional com conhecimento da docência, capaz de pensar junto, acenar ganhos e
limites, indicar elementos da vivência que deram ou não deram certo e assim por
diante. Estes professores foram selecionados e tinham formação e capacitação para
acompanhar estes futuros professores. Neste sentido, observei no processo que era
necessário esta elaboração coletiva de legitimação do professor supervisor.
(CARVALHO, 2016, p. 66-67).
possibilitado ao licenciando sentir-se pesquisador, não somente a ele, “[...] pois como
professora supervisora foi no Pibid que comecei a participar de eventos científicos, pois não
tive iniciação científica na minha graduação” (Professora Supervisora, 2016).
Os acadêmicos tornaram-se pesquisadores também no sentido de ter de criar materiais
didáticos, jogos, músicas e histórias para trabalharem com os estudantes. Nas escolas, não há
materiais para trabalhar com música, assim precisamos pesquisar e criar o que iríamos
trabalhar. Como relatado por um dos bolsistas:
“Nesta aula, tivemos que mudar a direção do conteúdo proposto pois surgiu umas dúvidas a partir
da última atividade. Os alunos queriam saber se a cenoura produzia som, e as panelas se serviam
como instrumentos. Levamos vídeos de orquestras internacionais de legumes e de gente que a
partir de instrumentos feitos com lixo (sucata), conseguiram um reconhecimento artístico pelo
mundo afora”. (Licenciando B, 2016).
“Levei para os alunos 6 músicas de gêneros como rock, pop, rock alternativo e emocore. Foi feita
a apreciação das músicas propostas e por votação da maioria foi escolhida a música do NxZero –
‘A melhor parte de mim’. Pelo que pude notar os alunos gostaram da votação e já de início
começaram a se soltar com a letra”. (Licenciando B, 2016).
Considerações finais
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Carla. Breve registro sobre o Pibid. Revista Pibid Univali: Docência na
Educação Básica, Itajaí, v. 1, n. 1, p. 65-68, 2016.
Introdução
1
Pedagoga, bailarina, pioneira na implantação da Conscientização do Movimento dentro da formação do
bailarino e fundadora da Escola/Faculdade Angel Vianna na cidade do Rio de Janeiro.
Com Angel Vianna tracei uma trajetória como aluna, assistente, substituta e docente de
disciplinas curriculares do Curso Profissionalizante de Bailarino - de nível técnico – de sua
Escola e, também em disciplinas de Graduação de Dança de sua Faculdade. Assim tanto minha
formação, quanto minha experiência profissional irradiam “ressonâncias” de um legado cujo
processo de transmissão de conhecimento ainda esta por ser digerido totalmente em construção
oportuna.
Como parte do corpo docente efetivo do DAC faço deste projeto um aliado para digerir,
debater, esmiuçar e revelar especificamente uma didática construída no contexto de formação
em dança e, deixar- me seguir em uma nova travessia ao me deparar com um novo ambiente e
desafio.
Objetivos
O foco principal deste projeto é seguir perpetuando e transmitindo a pesquisa do
movimento sintonizando consciência corporal e dança contemporânea. Ao rever meus cadernos
elaborados dos idos anos de 1980, tenho apreciado e saboreado, como um resgate, todo material
construído na preparação didática desta prática. Nesta aproximação precisei “olhar” mais de
perto algo que, me faz re/ver ou ver de novo o que estava bem distante. E, distanciando-me de
o agora indo para o mais distante, me servi “de novo”, ou outra vez, daquilo que um dia esteve
tão perto, para poder aproximar-me do novo contexto, como algo totalmente novo deixando
que esse “de novo” traga o que um dia me serviu de referencia. Portanto, a aproximação tem a
intenção de reavivar o material guardado no tempo em que o projeto pedagógico de Angel
Vianna se concretizou.
Um dos meus maiores interesses é o de traduzir processos vivenciais que acontecem nos
encontros semanais com os integrantes/alunos da Graduação em Dança. Nestes encontros são
utilizados recursos de diferentes linguagens indo de filmagens, gravações, diários, depoimentos
pessoais a um caderno coletivo que, por um sistema rotativo, a cada semana é guardado por um
dos integrantes para que ele faça livres anotações, que servirão a futuras elaborações teóricas
da prática proposta.
A transmissão desta prática corporal mobiliza basicamente a memória corporal
guardada e colhida pela experiência vivida. O campo do possível, o relacional vai se fazendo e
Abordagem Teórico-metodológica
Para nortear esta aventura busquei no método cartográfico apresentado por Virgínia
Kastrup e Eduardo Passos (2014) o aporte para a participação dos envolvidos. Como o método
propõe sigo “pistas” visando a construção de um “plano comum”. Primeiramente, por meio da
confiança e do interesse entre os pares: professora/pesquisadora e alunos/as engajados em um
coletivo. E, em segundo lugar, pela atitude de quem se interessa e cuida. (KASTRUP e
PASSOS, 2014). Assim, pesquisar e cuidar tornam-se fatores imbricados entre si.
Na proposta de “Um comum” o método cartográfico orienta a possibilidade de
coexistência entre a realidade dada, instituída e apresentada para os indivíduos de um coletivo,
Angel diria “gente como nuvem que esta sempre se transformando”, em relação com as forças
operantes manifestadas nas práticas que são concretizadas. Para isso preciso garantir-me como
participante efetiva de um envolvimento, sendo protagonista do objeto e não sujeito da
pesquisa, para que possa ser criado um plano em comum com os alunos, um estar junto
operando a participação, a inclusão e a tradução (KASTRUP e PASSOS, 2014). Melhor
dizendo, primeiramente colocar-se lado a lado com os/as alunos/as, em seguida seguir um plano
no qual inclua os movimentos que surgem no coletivo e, por fim, criar a pratica da tradução.
O problema configurado no “plano comum” não diz respeito à questão da fidelidade, ou
seja, seguir a risca o que foi planejado, mas, se trata aqui de aventurar-se, pois o que por vezes
parece evidente, na experiência prática torna-se inusitado, pois, no caso específico não há como
fazer transferência daquilo que se conhece – a linguagem da lógica de diretrizes e
procedimentos construída ao longo de vários anos na formação em dança – para este novo
contexto, sem se deparar com um plano de forças. Neste caso, traduzir é colocar em palavras o
significado do sentir processual atuante que lida com a “dimensão afetiva, intensiva, intuída e
não verbal do texto” (KASTRUP e PASSOS: 2014. p.35), para encontrar a medida deparada
com o concreto, a corporificação, o pré-discursivo da experiência. E, exemplificado por
KASTRUP e PASSOS:
Por exemplo, o encontro com uma obra de arte (pintura, texto literário, música), a
memória involuntária, a prática de meditação e a clínica psicológica são exemplos de
experiências que buscam ativar de modo especial tal dimensão, que se caracteriza por
movimentar sensações difusas, difíceis de descrever, mas ao mesmo tempo intensas e
singulares. (KASTRUP e PASSOS: 2014. p.35)
propositor de projeto. Mas isto não interfere, pois o mais importante permanece sendo
concretizar um “plano comum”.
O “plano comum” serve de realização e não de finalidade. A cada encontro uma
realização, pois não há intenção de alcançar um objetivo final com meios pré-concebidos. O
que importa em cada encontro são as oportunidades. Do mesmo modo, trata-se de não se referir
ao objeto especificando-o de forma direta (pressuposto metodológico), mas realizá-lo de forma
indireta, pelo o que não se pode determinar, mas por aquilo que está porvir, por devir.
“Ocasiões” acontecem, vivemos situações, sem fixar certezas, sem “idéia”. De acordo
com François Jullien (2000) “não ter idéias” é não ter posição determinada, um a priori, pois
“ter idéia” é tomar partido e monopolizar somente um ponto de vista. Logo, o que interessa na
abordagem desta pratica corporal é perder se na multiplicidade dos pontos de vista: “Nem
‘outro’ nem ‘si’. Por si mesmo assim, sem posição: a disponibilidade”. (JULLIEN: 2000. p. 6).
De antemão, o que esta sendo levado em consideração é a situação de riscos e paixões
próprias às provocações experimentais, isto é, a experiência enquanto travessia, com seus
momentos seguros e outros perigosos, suas surpresas, o imprevisível. Os riscos do aprendizado
a toda “prova”, no sentido, de atravessar circunstâncias do momento que, a cada encontro irão
se estabelecer como em uma primeira vez. Buscar sempre o reviver, o “de novo”.
Além disso, posto que não se pode antecipar o resultado, a experiência não é o caminho
até um objetivo previsto, até uma meta que se conhece de antemão, mas é uma abertura
para o desconhecido, para o que não se pode antecipar nem “pré-ver” nem “pré-dizer”.
(LARROSA, 2002, p. 28)
O termo experiência apresentado por Larrosa pretende abranger mais que uma mera
palavra. A experiência acontece, chega, toca, sucede quando atinge o individuo que a percebe
ou/e sente, pois o tempo todo as experiências se sucedem sem que nós os indivíduos a
assimilemos. De modo que, as experiências não devem ser recebidas como simples informações
para não se tornarem antiexperiencias. Esta não assimilação da experiência é provocada pelo
excesso de atividade de um padrão racional de apreensão da realidade que, não permite o
contato entre ela e o campo sensório, de nossas percepções, e é interrompida, abafada,
dificultada pelo nosso distanciamento daquilo que nos passa, que nos acontece, que nos toca.
A experiência assimilada nesta prática corporal não tem como ser elucidada através da
racionalização codificado em princípios ou idéias que se põem a frente da evidencia. No dizer
de Jullien (2000) elucidar a evidencia é realizar. Assim a experiência realiza o pensar e,
portanto, traz em seu bojo um saber realizável na experiência. O cuidado é prestar atenção e se
precaver para não lançar uma primeira “idéia”, colocando-o a “frente” dos acontecimentos. O
cuidado é não deixar-se transcender em idéias supostamente vistas como verdadeiras, que
dedutivamente elimina o que não é e afirma o que é como determinação.
Esta perspectiva de prática corporal vem se nutrindo da noção de “cuidado de si”
apresentada por Michel Foucault no livro A Hermenêutica do Sujeito. Basicamente favorece o
debate e reflexões. E, a noção de “cuidado de si” ou Epimeleia heautou que foi traduzida como
“tomar conta de si” ou “cuidar consigo” ou “ocupar-se de si mesmo” serve de embasamento
para qualificar a conduta, a atitude perante o outro e o entendimento de uma ética para a vida
cotidiana. Segundo Foucault “não é possível cuidar de si sem se conhecer” (2006: 269), o
“cuidado de si” implica o outro.
O projeto vem levantando a possibilidade de uma nova subjetividade tendo como fonte
renovadora da formação do bailarino a perspectiva reflexiva e corpórea que incite a
transformação, e, possibilite o desvencilhar de uma individualização egoísta, centrada na noção
de um “eu” permanente e dependente dos ditos da ordem estabelecida, um “mesmo” que impõe
e nos mantém sujeitos marcados por identidades sociais, étnicas, econômicas, culturais forjadas
na nossa constituição física, mental, emocional. Possuíamos várias formas de sujeitos ou de
subjetividades que para se manifestarem dependem da relação que estabelecemos entre o eu e
o outro.
As subjetividades podem ser distintas ao encontrarem brechas ou linhas de fugas para
se manifestarem de outro modo. Por meio destas linhas de fugas as experiências do “sentir”
liberam o sujeito de suas identidades subordinadas, “na relação de si a si”, ele adquire certa
autonomia e poder para afetar se encontrando a “força de se auto-afetar” como diria José Gil
(2009).
É nesta vertente reflexiva do entendimento desta prática corporal que me insiro e confio
para refletir sobre um saber próprio ao corpo. Isto vem provocando diversas mudanças
significativas, entre as quais posso destacar: o estabelecimento de novas relações com o próprio-
corpo, com o meio, o que se consolida pela aquisição da estrutura óssea dos integrantes, o
aperfeiçoamento na maneira de andar e, um novo caminhar, sentar e adotar posturas para
executar ações corriqueiras; desenvolvimento de mecanismos de resolução aos entraves e dores
corporais; e, finalmente, o aprimoramento das técnicas de dança.
Considerações Finais
Enfim, podemos concluir que o suporte do projeto é uma abordagem de prática corporal
que se concretiza em pesquisa de iniciação artística, abrangendo três perspectivas:
primeiramente a perspectiva pedagógica enfatizada por meio da tomada de consciência de cada
parte do corpo, no sentido de abranger o movimento interno ampliado aprofundado na estrutura
óssea, nos espaços articulares e nas camadas epidérmicas e musculares e a liberação dos
espectros de movimento improvisado. A segunda perspectiva é a reflexiva e parte de relatos e
debates que conduzem a um pensar sobre o modo como agimos com o outro na vida cotidiana,
levando em consideração o suporte teórico da metodologia cartográfica, e as leituras do
pensamento foucaultiano. E por fim, enquanto perspectiva artística, ainda germinal, se apóia
nos encontros do primeiro semestre de 2017 para elaborarmos uma criação coletiva.
Recentemente solicitei de cada integrante uma coreografia partindo das referencias
sensoriais imprimidas pelas aulas. Esta solicitação veio por conta de um evento: Semana de
Acolhimento da EEFD, organizado pela direção da Escola com o propósito de acolher e receber
os calouros do segundo semestre. O resultado gerou novos diálogos na realização autentica de
cada um e, permitiu avançar no entendimento da pratica gerando aulas cujos integrantes
ministram para o grupo suas impressões da célula criativa, nomeado-as como laboratórios de
sensações. Os integrantes do projeto ao revisitarem suas células vislumbram novas
composições, de modo que avançamos na concretização da experiência criativa e coletiva, ainda
por se consolidar, como espetáculo a ser finalizado no final do segundo semestre de 2017.
REFERÊNCIAS
GIL, José. Em busca da identidade. – 1 ed. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 2009.
JULLIEN, François. Um sábio não tem idéia. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo : Martins
Fontes, 2000.
Resumo
Este artigo parte da atividade de observação no Estágio Curricular nos cursos de Licenciatura
a partir de quatro aspectos: interações verbais professor-aluno; o conteúdo ensinado; as
habilidades do professor e a avaliação. Apresenta o processo de elaboração de uma ficha de
observação – baseada nos quatro aspectos citados – e utilizada pelos alunos da Licenciatura
em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) durante a
disciplina de Estágio Curricular Obrigatório em Artes Visuais I, em 2017.1. Normalmente,
sendo o Estágio Curricular Obrigatório I, a primeira aproximação dos alunos com a ação
docente, surgiu a necessidade de elaboração de um instrumento que guiasse essa observação.
Para isso, a ficha de observação foi compreendida como uma ferramenta pedagógica
necessária para o êxito da observação. Desta forma, com o intuito de discorrer sobre o uso da
ficha de observação durante a atividade de observação em sala de aula, construímos este
artigo, resultado de uma metodologia que se desdobrou nas seguintes etapas: 1) o
aprofundamento na literatura sobre o estágio; 2) elaboração da ficha de observação; 3)
utilização da ficha pela monitora/pesquisadora; 4) ajustes na ficha de observação; 5)
utilização da ficha pelos alunos; 6) discussão sobre os registros nas fichas de observação e
diários de campo dos alunos; 7) levantamento dos resultados a partir da utilização da ficha.
Como resultados, os alunos relataram que a mesma contribuiu positivamente para a
organização das anotações, bem como orientou a observação propriamente dita. A ficha
serviu como roteiro para a organização do relatório II, um dos documentos propostos no
estágio curricular em licenciaturas, produzido individualmente pelos alunos. Constatamos,
assim, que a ficha de observação tornou-se uma ferramenta pedagógica de grande importância
no Estágio Curricular em Artes Visuais, contribuindo de forma efetiva com a observação
realizada pelos alunos e na construção dos relatórios.
Palavras-chave: Aprendizagem. Monitoria. Arte/Educação.
Introdução
1
Graduanda de Licenciatura em Artes Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. E-
mail: desanticarol@gmail.com
período de março de 2015 a julho de 2016, alguns alunos tiveram a oportunidade de fazer
parte de Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). Porém, devido a
intervenção da CAPES – com o intuito de retornar à proposta do Edital de 2013 – o PIBID
Artes Visuais perdeu sua principal porta para uma experiência mais aprofundada e reflexiva
com a ação docente.
Além disso, existe falta de interesse dos alunos na licenciatura, não apenas na área de
Artes, sendo esta uma realidade de muitos cursos de licenciatura e que reflete cada vez mais a
desvalorização do profissional de educação – professor – no Brasil. Desta forma, são poucos
os discentes que desejam profissionalizar-se na docência, e infelizmente, raros enxergam para
além da educação formal em escolas de ensino básico, ignorando a existência de diversas
oportunidades que o curso oferece nas mais diferentes modalidades de ensino.
Frente a esta realidade, o Projeto “Monitoria em Arte/Educação: Aprimorando a
Formação Docente”, tem como objetivo principal trabalhar com dois aspectos do Curso de
Licenciatura em Artes Visuais: 1) a formação docente dos alunos, buscando soluções criativas
para tornar os estágios curriculares obrigatórios e disciplinas de licenciatura mais reflexivos,
potencializando os resultados da experiência de ensino na e para a área de artes visuais, sendo
essa uma forma de preparar os licenciandos para a atuação na docência; e 2) a melhoria do
curso de graduação, incentivando assim os alunos à prática da docência.
O Projeto contempla os componentes curriculares: História e Metodologia do Ensino
em Artes Visuais e os Estágios Curriculares Obrigatórios I, II e III. Contribuindo assim para a
formação dos alunos, o projeto busca disponibilizar materiais didáticos para a melhoria do
interesse na licenciatura e desempenho acadêmico, propor novas práticas e ferramentas
pedagógicas, pesquisar novas referências e temas para serem abordados ao longo das
disciplinas, intensificar a articulação interdisciplinar entre todos os componentes curriculares
do curso, vivenciar uma maior diversidade de realidades de instituições de ensino e, por fim,
organizar relatos das visitas através do Diário de Campo, filmagens e fotografias.
Dessa forma, a proposta teve como metodologia: 1) a elaboração de um plano de
trabalho, em conjunto com os monitores e a professora; 2) aprofundamento na literatura sobre
o estágio supervisionado; 3) desenvolvimento de materiais didáticos para o auxílio dos
2 Desenvolvimento
2.1 O Estágio Curricular Obrigatório I
O Estágio Curricular Obrigatório I configura-se em três unidades: A 1ª Unidade,
“Diagnóstico”, deve abordar como foi para o aluno a busca pelo local de estágio, assim como
suas motivações. A primeira unidade exige do aluno uma descrição da escola, relatando suas
impressões da instituição, sua realidade e características, através de registros escritos e fotos.
Esse relatório deve conter análise das entrevistas realizadas com o professor de Artes e o
gestor da instituição; do Plano Político Pedagógico da Escola (PPP); cronograma de
atividades previstas e, por fim, as considerações finais, apontando as dificuldades e
facilidades do aluno até o momento.
Na 2ª Unidade, “Observação”, o aluno fará o exercício de observação da sala de aula,
trazendo assim no seu relatório, registros organizados das aulas assistidas até o momento. E
por último, na 3ª Unidade, “Intervenção e Reflexão do Estágio”, na qual o aluno discutirá
sobre o planejamento do professor, sua proposta elaborada para intervenção, assim como a
base metodológica utilizada e os resultados. Na finalização desse relatório o aluno apresentará
uma reflexão do estágio como um todo, contemplando as três unidades.
Segundo Carvalho (2012), “[...] reflexões terão maior significado se forem feitas
coletivamente nas aulas da faculdade, com a ajuda de referenciais teóricos consistentes”
(CARVALHO, 2012, p.13). Assim entendemos que a configuração do Estágio Curricular
Obrigatório I permite que seja possível trabalhar não apenas a ação de lecionar artes na
instituição, mas todo o trabalho desenvolvido entre a escola, equipe de professores, pais e
alunos.
“[...] irá observar a escola não como um aluno que deve aprender um
determinado conteúdo, mas como um profissional interessado em
detectar as condições de ensino e de não ensino; analisar as interações
construtivas e destrutivas entre professor e alunos; ver como o papel
do professor interfere no clima da aula e discutir qual a visão de
ciência que o conteúdo ensinado transmite aos alunos.”
(CARVALHO, 2012, p.11-12).
cinco tipos de possíveis perguntas realizadas pelo docente, são elas: perguntas retóricas, sem
sentido, de complementariedade, com somente duas possibilidades de respostas e perguntas
que levam o aluno a raciocinar. É importante também levar em consideração como o
professor responde ao aluno – a Tríade IRF: Professor Inicia, Aluno Responde e professor dá
o Feedback – e quais sãos as causas que provocam os silêncios e as confusões em sala de
aula. Além desses critérios o aluno também poderá observar essas interações segundo a
análise de Flanders (1970, apud CARVALHO, 2012, p. 17).
No segundo tópico é discutido o “Conteúdo Ensinado”, no qual o estagiário deve
conhecer os conceitos cunhados por Zabala (1997) sobre os seguintes conteúdos:2 conceitual,
procedimental e atitudinal, a fim de auxiliar os alunos a identificarem nas aulas observadas
como tais conteúdos são contemplados e se todos são desenvolvidos pelo professor. Para esse
tópico propomos a observação de cada tipo de conteúdo, considerando a abordagem triangular
proposta por Barbosa (2010). Para tanto fazem-se necessárias aulas planejadas que
contemplem: 1) Contextualização/História da arte; 2) Apreciação e 3) Fazer em Artes Visuais,
além de observar o grau de liberdade que o professor oferece para os seus alunos, nas aulas
teóricas e experimentais.
Por fim, o discente analisará o material didático utilizado pelo professor, buscando
pontos apontados nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (1997) e
Ensino Médio (2000) para o nível de ensino observado e os relacionar com o que está
previsto no Projeto Político Pedagógico de cada instituição.
O terceiro tópico traz as “Habilidades de Ensino do Professor”, no qual o aluno deve
analisar se o docente sabe ouvir seus alunos; considera a importância dos erros dos mesmos;
utiliza as ideias trazidas em sala de aula; transforma a linguagem ao longo da aula e introduz
os alunos nos diferentes modos de comunicação.
Por fim, no quarto tópico o estagiário analisará o “Processo de Avaliação do
professor”, ou seja, de que forma ele realiza as avaliações durante o semestre, como ele fala
sobre essa prática e como os alunos lidam com ela.
2
Conteúdo Conceitual trabalha os tema escolhidos com uma abordagem teórica; O Conteúdo
Procedimental será o modo como esses conteúdos serão ensinados, quais ferramentas pedagógicas o
professor irá utilizar; E o Conteúdo Atitudinal discutirá os valores do conteúdos abordados.
Fonte: as autoras.
Fonte: as autoras.
Fonte: as autoras.
Fonte: as autoras.
Para além da ficha, notamos a utilização autônoma dos alunos do Diário de Campo.
Muitos relataram preferir utilizar a ficha como um guia durante as aulas, fazer as anotações no
diário e, em casa, reler suas anotações e organizá-las na ficha. Informaram que essa
sistematização do trabalho facilitaria os comentários a serem feitos no relatório do final da
unidade. Notamos, também, que alguns alunos começaram a usar uma espécie de sistema de
legendas para classificar e apontar determinadas características do professor, como pode-se
observar na figura 5. Analisando essas iniciativas dos discentes entendemos que a ficha é uma
ferramenta que complementa e guia o aluno durante o estágio na instituição, mas não anula a
utilização de outras ferramentas nesse exercício.
Fonte: discente.
3 Conclusão
3.1 Facilidades e Dificuldades
O processo de realização da ficha foi facilitado com as discussões e interações em sala
de aula, antes e durante esse processo. A turma 2017.1 do componente curricular Estágio
Curricular Obrigatório I do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da UFRN colaborou
testando a ficha em seus respectivos estágios, opinando e indicando possíveis melhorias para
essa ferramenta, além de mostrar de forma prática que o uso da ficha com o diário de campo a
torna mais eficiente no estágio.
A primeira dificuldade encontrada na realização da ficha de observação foi no
processo de seleção dos critérios de observação, especificamente na definição de quais eram
os apontamentos, visto que a autora cita um grande número de questionamentos e conceitos,
não tendo sido fácil organizar de forma sintética todas essas informações. Além disso,
encontrar um modelo didático e eficiente para a ficha, constituiu uma tarefa complexa, mas
após tentativas e acertos, encontramos uma forma dinâmica e coerente com a proposta.
Para além da realização da ferramenta pedagógica, observamos no estágio alguma
dificuldade dos alunos em interagir mais colaborativamente com os professores de artes nas
escolas, sejam elas públicas ou privadas.
Observamos nos docentes das instituições resistência em atualizar e/ou modificar sua
atuação em sala de aula, o que foi motivo de reflexão durante as aulas de Estágio na
Universidade.
Com essas ponderações em mente o grupo seguirá para o Estágio Curricular
Obrigatório II, que tem como proposta o aprofundamento da ação docente dos estagiários, de
modo a efetivamente participarem do planejamento das aulas de artes visuais e exercer a
docência parcial de aulas.
Dito isso, finalizamos dizendo que acreditamos que o projeto de Monitoria em
Arte/Educação constitui espaço não só para aprimorar o desenvolvimento dos alunos no
Curso de Licenciatura em Artes Visuais, mas uma oportunidade de desenvolver ações que
proporcionem melhorias a longo prazo, fora e dentro da universidade, nas instituições de
ensino público, privado, de ensino formal ou não-formal.
3.2 Resultados
Consideramos a ficha desenvolvida uma ferramenta pedagógica eficiente no exercício
da observação nos estágios curriculares em Artes Visuais, pois foi possível notar maior
aproveitamento dos alunos na disciplina, que se fez notar nos relatórios e nos cadernos de
campo dos alunos. Além disso, os relatos dos licenciandos durante a disciplina indicam que a
ficha facilitou também a realização do relatório II – o de observação – servindo assim como
um roteiro.
Sendo assim, vislumbramos no projeto de Monitoria em Arte/Educação: Aprimorando
a Formação Docente, contribuição significativa na formação dos alunos de Licenciatura em
Artes Visuais, contribuindo nas atividades realizadas nos estágios e disciplinas de educação, e
para além disso, na ação docente dentro e fora da universidade.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae; CUNHA, Fernanda Pereira da. Abordagem triangular no ensino das
artes e culturas visuais. São Paulo: Cortez, 2010.
CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. Os estágios nos cursos de licenciatura. Cengage
Learning. 2012.
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Editora Artes Médicas
Sul Ltda., 1998.
Resumo
Este artigo é escrito propositalmente em formato carta endereçada a nossos futuros(as) estudantes de
um curso de licenciatura em artes visuais a distância. Esta carta aponta algumas questões sobre a
formação de arte-educadores na modalidade a distância destacando as suas possíveis contribuições ao
campo do ensino das artes visuais. Nosso olhar parte da experiência vivenciada como docentes de um
curso de licenciatura a distância da Universidade Federal de Goiás ofertado via Universidade Aberta
do Brasil, mas que também projeta as nossas expectativas e desafios para o início de mais um novo
curso. Além de apresentarmos os dados numéricos referentes ao curso, compartilharemos nossas
percepções sobre o impacto desta nova experiência em nossa prática docente, sinalizando questões que
envolvem a formação de professores nesta modalidade de ensino.
Palavras-chave: educação a distância, formação de professores em artes visuais, experiência
docente.
Cartas são espaços onde podemos materializar nossas desejos e subjetividades. Prática
milenar que vem sendo substituída por outras formas de comunicação, a escrita de cartas
1
Leda Guimaraes possui graduação em Licenciatura em Educação Artística -Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares
Penteado, mestrado em Educação pela UFPi e doutorado em Artes pela USP. Pós-Doutorado na Universidade Complutense de
Madrid. É professora da Universidade Federal de Goiás. Atualmente preside a Federação de Arte Educadores do Brasil -FAEB
vigência 2017/2018. Foi membro do Conselho Mundial do InSea (International Society for Education through Art) para a
América Latina, e faz parte do Conselho do CLEA - Consejo Latinoamericano de Educación por el Arte.
2
Lilian Ucker Perotto é Licenciada e Bacharel em Desenho e Plástica (UFSM/RS). Mestre em Cultura Visual
(FAV/UFG) e doutora em Arte e Educação pela Universidade de Barcelona (Espanha). É professora da
Universidade Federal de Goiás e coordenadora da Licenciatura em Artes Visuais na modalidade a distância.
Atua também na coordenação pedagógica do Centro Integrado de Aprendizagem em Rede (CIAR/UFG).
permite também estar em relação com o outro. Quando decidimos escrever este artigo em
formato de carta, buscamos nos aproximar de vocês, nossos futuros estudantes, que iniciarão
conosco mais um percurso da licenciatura em artes visuais na modalidade a distância neste
ano. Pensamos que o vamos contar nas próximas páginas desta carta poderá interessar a
vocês. Paulo Freire, um dos pensadores mais importantes na área da educação no cenário
mundial, foi uma das nossas inspirações ao escrever esta carta. Freire escreveu 4 de seus
inúmeros livros em forma de cartas: Cartas à Guiné-Bissau; Cartas a Cristina, Professora
Sim, tia não: Cartas a quem ousa ensinar, e o quarto livro, Pedagogia da Indignação – cartas
pedagógicas e outros escritos. Freire costumava nomear suas cartas-livros como pedagógicas
e além disso, acreditava que escrevendo desta maneira, ele conseguiria construir um dialogo
real com os leitores dos livros (UCKER PEROTTO, 2015).
É importante ressaltar que aproximadamente à 10 anos, nos dedicamos a docência de
um curso de licenciatura em artes visuais na modalidade a distância na Faculdade de Artes
Visuais da Universidade Federal de Goiás. Durante estes anos, com a oferta de 4 turmas, nos
deparamos a inúmeros desafios institucionais como aqueles relacionados às nossas práticas
docentes. Das reuniões de planejamento de professores e tutores, organização do semestre e
viagens aos polos, a luta para manutenção dos recursos do FNDE e logo Capes, os embates
entre colegas da unidade acadêmica, tentativas de institucionalizar a Ead na universidade e
ainda a carga horária intensa, eram alguns dos tópicos dos quais ainda sentíamos necessidade
em compartilhar para pensar o lugar onde nos encontrávamos quando pensamos nessa
reoferta.
Queremos contar para vocês que este curso vem sendo pensado a bastante tempo.
Antes do encerramento da última turma, a do Parfor, fomos comunicadas da abertura de um
novo edital para a oferta ou reoferta de cursos a distância. Mesmo nos sentindo exaustas pela
dedicação dos últimos anos e também apreensivas ao imaginar que não estaríamos atuando
mais com o ensino a distância, decidimos ofertar uma nova turma. O edital 75/2014 previa a
oferta de aproximadamente 250 mil vagas para as IES conveniadas. Desta vez submetemos
uma proposta para a oferta de 150 vagas em 5 polos do estado de Goiás. A resposta foi
afirmativa, no entanto, o edital foi suspenso devido a falta de recursos financeiros. Somente
em 2016 o edital foi retomado, permitindo então que pudéssemos iniciar os trâmites para a
reoferta.
Mesmo diante de tantas incertezas frente ao cenário da educação no país, passamos a
nos reunir - nós e mais duas colegas - para organizar e repensar esta nova oferta. Um dos
efeitos desse repensar e do nosso exercício docente é escrevermos reflexivamente sobre
nossas ações. Assim, fomos desafiadas a escrever um texto para o XII Seminário Capixaba
Sobre o Ensino de Arte realizado de 20 a 23 de Junho 2017 na Universidade Federal do
Espírito Santo. Não foi uma tarefa fácil.
Na escrita para o seminário em Vitória deixamos nas linhas daquele texto
(GUIMARÃES e UCKER, 2017) nossas angústias e preocupações. Nos referimos ao passado,
enumerando os desafios que havíamos enfrentado. Sobre o presente, a melancolia ganhava
espaço mostrando o quanto aquela experiência havia sido significativa e marcante em nossa
carreira docente. Para o futuro, fazíamos algumas previsões sinalizando nossas desconfianças
com o cenário educativo que se desenha no atual governo federal, afinal de contas vivemos
tempos contraditórios. Mesmo que a EaD seja um dos principais caminhos para a
concretização das metas propostas pelo Plano Nacional de Educação (PNE - 2014/2024), a
oferta de cursos a distância vem enfrentando uma grave crise em relação ao seu financiamento
nas instituições públicas federais. Isso será um desafio que vocês também irão enfrentar: a
dificuldade da oferta de cursos EAD é de ordem econômica-financeira ou existirá um
preconceito em relação a esta modalidade que faz com que as experiências dos últimos anos
das universidades públicas não sejam levadas em conta?
Apresentaremos a seguir o contexto vivido da oferta das 4 turmas, trazendo dados que
nos permitem estabelecer uma relação com possíveis ações no futuro. A seguir, destacamos
algumas contribuições ao ensino das artes visuais a partir de nosso olhar e prática docente e
por fim, revisaremos algumas práticas vivenciadas por nós durante a realização das ofertas,
refletindo criticamente como elas podem contribuir a pensar a nova oferta. Afinal, mesmo em
uma carta, a contextualização histórica se faz necessária.
Em 2010 iniciamos a UAB II que desta vez ofertava 300 vagas em 6 cidades-polos:
Anápolis, Inhumas, Iporá, Mineiros, Morrinhos e Rio Verde. Quando iniciamos a UAB II já
formávamos um corpo docente com 6 professores efetivos, alterando assim algumas
dinâmicas e os cuidados com cada oferta. Na UAB II por exemplo, o material didático pode
ser revisado, assim como nossa atuação nas disciplinas, já que a grade curricular era a mesma
da primeira oferta do curso. É importante destacar que somente neste período, é que os alunos
e alunas de ambas ofertas passaram a fazer parte do sistema acadêmico da universidade. Até
então as matrículas dos estudantes eram realizadas nos polos através de um formulário
(papel). Foi também durante a oferta desta turma que o Regulamento Geral dos Cursos de
Graduação (RGCG) da Universidade Federal de Goiás foi aprovado levando finalmente em
consideração a modalidade de ensino.
Conseguimos trabalhar com a UAB II ainda utilizando recursos da UAB I e garantir a
atuação de tutores e professores formadores. Essa relação merece destaque, tanto nas
dinâmicas presenciais de qualificação de tutores como na procura de diálogo constante entre
os professores formadores. Espaços virtuais foram criados para tais fins bem como uma
sistemática de encontros presenciais para a formação de tutores.
Nossa quarta turma, iniciou final de 2011 nos seguintes polos: Uruana, Anápolis, São
Simão, Formosa, Goianésia, Alexânia e Aparecida de Goiânia. O Parfor quando criado, tinha
como objetivo atender professores que já estavam em exercício nas redes municipais e
estaduais de educação, mas que ainda não possuíam uma licenciatura ou que atuavam em área
distinta da sua formação. Foi nesta oferta que vimos os parâmetros de financiamento serem
bruscamente alterados, exigindo que a equipe repensasse os encontros presenciais, o
acompanhamento dos alunos nos estágios curriculares e a distribuição das disciplinas durante
o curso. Os encontros presenciais passaram a ser realizados em Goiânia. Durante os 4 anos
que foi ofertado, os alunos e alunas realizaram 18 viagens culturais entre Bienais, exposições
de arte em Brasília, São Paulo e Goiânia e ainda uma visita a Inhotim. Consideramos essas
viagens parte importante do nosso processo formativo na perspectiva em que nos fala
Montoro, Córdoba e De La Chica (2013) a respeito desses espaços como cenários de
suspenso devido a falta de recursos financeiros. Somente em 2016 o edital foi retomado,
permitindo então que pudéssemos iniciar os trâmites para a reoferta.
Em abril de 2016 formamos nossa última turma. Mesmo que o edital fosse retomado,
porque essa era a previsão da Capes, a formatura do Parfor trazia um tom de nostalgia. Para
nós tudo ainda parecia incerto. No ano de 2016, trabalhamos com 9 alunos que possuíam
disciplinas em aberto. Organizamos os repercursos e oferecemos as disciplinas projetando o
futuro, mas sem perder de vista que a experiência vivida nas turmas anteriores, deveria ser
discutida e consequentemente avaliada, caso desejássemos seguir formando na modalidade a
distância.
Neste momento estamos nos reorganizando. Os tempos são outros. Parecem ser menos
flexíveis e bastante contraditórios. Se antes podíamos contar com uma equipe multidisciplinar
para produção de vídeos, orientações pedagógicas, palestras de professores convidados para
os encontros presenciais, viagens a bienais e exposições de arte, agora nos encontramos frente
a escassez financeira que nos leva a pensar e investir em novas possibilidades para a dinâmica
do curso. Além disso, também estamos repensando nossa atuação como docentes no curso.
Não podemos negar que a experiência destes anos nos tornou mais ‘habilitadas’ para
ofertar uma nova turma. Dentre muitas ações realizadas, publicamos livros de reconhecida
qualidade reunindo diferentes autores no Brasil e fora do Brasil, realizamos encontros
presenciais que tiveram o caráter de eventos na área, formamos redes de trocas com outras
universidades, inventamos modos de enfrentar as barreiras institucionais, enfrentamos as
políticas educacionais assertivas das instâncias de financiamento e regulação sem contar que
não caímos no canto da sereia daqueles que desejaram que ofertássemos cursos polivalentes.
No entanto, vivemos uma época difícil na EaD. Pensávamos que com o passar dos anos, a
EaD na UFG estivesse institucionalizada e assim não dependeríamos mais dos fomentos da
Capes. Esperança esta que se desvaneceu com o passar do tempo.
Caros e caras novos(as) estudantes, um dos desafios que nos acompanhará nessa nova
jornada é lidar com esses impasses. Na época em que recebemos a notícia sobre a
possibilidade de trabalharmos com uma nova turma, o grupo tomou a decisão de trabalhar
com a mesma grade do curso de licenciatura em artes visuais presencial. Algumas razões
foram apresentadas: primeiro, porque desejávamos que o professor da unidade ministrasse sua
disciplina independente da modalidade, isso permitiria construir diálogos mais intensos entre
colegas e modalidades. Essa expectativa não se confirmou.
A outra justificativa foi que apesar de sabermos da necessidade em reformular nosso
currículo, não conseguimos sistematizar uma discussão para repensarmos nosso desenho
curricular de acordo com a experiência em processo da modalidade EAD e por isso, na
urgência de submeter a proposta de uma nova turma para o edital, a equipe na época resolveu
trabalhar com as mesmas disciplinas que já estavam sendo ofertadas na modalidade
presencial. Hoje nos perguntamos: será que foi isso mesmo???? Será que não capitulamos
frente ao já constituído, um currículo de caráter hegemônico?
Assim, diante dessas indagações, queremos afirmar nosso compromisso de seriedade
na execução da proposta, de flexibilidade diante dos tantos imprevistos que certamente virão,
e de desejo de mútuo conhecimento e compartrilhamento, como diz Lucimar Bello, quando se
refere ao compromisso de compartilhar e trilhar caminhos na arte, na educação e na vida.
Também temos muitas curiosidades: saber de onde vocês vêm, quais os motivos para
terem escolhido esse curso de licenciatura em artes visuais e ainda mais na modalidade a
distância e quais as experiências de arte e de educação que vocês trazem para este
compartrilhamento.
Queríamos também dirigir algumas linhas para as pessoas que organizam e fazem a
gestão dos polos nos quais essa licenciatura será ofertada. Considerando que dos 5 polos
aprovados, 4 já receberam uma ou duas ofertas, o que esperam dessa oferta de 2017? Como as
primeiras ofertas contribuíram com estes municípios? Mais ainda, gostaríamos de ter notícias
de trajetórias de pessoas que já fizeram este curso. Para onde foram? Como modificaram as
suas vidas? Mudaram de emprego ou conseguiram passar em concursos? Deram continuidade
aos estudos dedicando-se nas especializações, mestrados ou doutorados? Notem que essas
perguntas curiosas têm a ver com um desejo ampliado em relação à oferta à formação de
docentes em artes visuais. Tem um novo polo que merece uma atenção especial, o de
Cavalcante, município do Estado de Goiás localizado ao norte da Chapada dos Veadeiros a
cerca de 500 km de Goiânia (capital) e a 320 km de Brasília. Este município abriga uma
comunidade Kalunga dentro do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga. Como
trabalhar nesse contexto? Quantos Kalungas estarão nessa nova turma? Como nosso currículo
irá dialogar com as questões já postas desse município?
A alguns dias atrás, tivemos conhecimento da dificuldade de alguns de vocês em
realizar a matricula do curso. Neste último vestibular, a crise que abala as instituições
públicas afetou estes processos que antes não eram cobrados e também não permitiu que as
matrículas fossem realizadas nos polos. Entendemos a universidade e sua dificuldade em
atender uma demanda que antes não existia, o acompanhamento das matrículas daqueles que
solicitaram vagas através da lei de cotas, e que por isso, foram realizadas apenas nas regionais
Goiânia e Catalão. Nos emociona saber que o curso ainda possui uma alta demanda, nos
emociona saber que muitos conseguiram uma vaga, mas que infelizmente não conseguirão
fazer parte do grupo, já que o deslocamento para a realização da matrícula era inviável
financeiramente.
Caros futuros e futuras estudantes, sabemos que a tecnologia utilizada para ofertar essa
licenciatura a distância é fundamental para transpor limites de isolamento geográfico e de
distâncias culturais. No entanto, sabemos também que não é mais importante que os aspectos
humanos nos quais acreditamos para a formação de professores e professoras em artes visuais.
Concordando com Pimentel (2017) sabemos que
Assim, essa carta termina em tom de esperança, que possamos continuar a oferecer
uma formação crítica, atenta aos trânsitos culturais, investindo em outras estéticas, nos
saberes locais em diálogo com os globais. Uma formação que procura descontruir a distância
como distante. Que aposta nos processos de criação artística, na importância da
fundamentação teórico-epistemológica bem como na formação cultural ampliada. Que se
apoia em velhas e novas tecnologias. Uma formação que se faz na compreensão dos nossos
tempos históricos para entender o passado e construir presentes futuros ou mesmo, futuros
presentes entendendo a formação almejada enquanto constante devir.
Mas antes de terminar, queremos também endereçar esta carta à todos aqueles que
acreditam na luta pelo ensino de arte nesse país, no seu poder de resiliência, nos percursos e
percalços do caminho. Que nossa teimosia em reofertar este curso possa se constituir em
“outros caminhos na experimentação e na formação docente em Artes Visuais” como nos
convoca o título desse XXVII Confaeb.
Sem mais, esperamos encontrarmo-nos em breve...
Referências bibliográficas:
GUIMARÃES, Leda e UCKER PEROTTO, Lilian. EAD: Entre passado, presente e futuro-
ainda haverá espaço para a formação em artes visuais? In: M. A. de C. CORASSA, M. G. D.
GONÇALVES e M.M.REBOUÇAS (orgs.) Sentidos e significações de uma educação em
artes visuais em tempos contraditórios [recurso eletrônico]. 1ed. Vitória - ES: UFES.
2017.
MONTORO, María Isabel Moreno, CÓRDOBA, Víctor Yanes, DE LA CHICA, Ana Tirado.
La Responsabilidad Social como Actitud ante la Educación Artística. In: MONTORO, María
Isabel Moreno, CÓRDOBA, Víctor Yanes , DE LA CHICA, Ana Tirado (Editores). Re-
estetizando. Algunas propuestas para alcanzar la independencia en la educación del
arte. Insea Publications. Porto – Portugal: 2015.
Resumo
Esse artigo apresenta algumas reflexões a respeito do ensino da arte que ocorreram durante a
realização do Estágio Obrigatório do curso de licenciatura de Artes Visuais na Universidade Estadual
de Londrina. Foram realizadas pelas autoras atividades em duas escolas municipais do Ensino Infantil
e Fundamental I em diferentes regiões da cidade de Londrina. O objetivo deste trabalho é abordar
como atividades concebidas de forma similar na teoria são recebidas de forma diferente na prática.
Autores como Marilda Oliveira de Oliveira, Fernando Hernández, Mirian Celeste Martins, Gisa
Picosque, M. Terezinha Telles Guerra, entre outros, foram nossas principais referências, tanto para a
realização do estágio como do presente artigo. Partimos da ideia de que cada aluno está inserido em
um contexto social particular, possuindo um histórico pessoal, com a Arte, com a escola, com seus
colegas, docentes e com o seu entorno. Junto a isso, os aspectos referentes ao histórico de cada aluno,
o cotidiano na escola, o modo como a instituição realiza o ensino de Arte e como a professora regente
efetua suas aulas, como cada estagiário executa atividades e como se dá a diferença de idade e de série
dos alunos. O estágio mostrou a importância de se levar em conta essas diferenças individuais e os
diferentes contextos educacionais ao se elaborar os planejamentos e escolher os diferentes
instrumentos teórico-metodológicos na atuação docente.
Palavras-chave: Ensino de Artes Visuais. Desenvolvimento expressivo infantil. Metodologias de
ensino. Estágio.
Introdução
1
Estudante de graduação de Artes Visuais na Universidade Estadual de Londrina.
2
Doutora e Mestra em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Especialista em Cultura e Arte
Barroca pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Licenciada em Educação Artística-Artes Visuais pela
Universidade Estadual de Londrina. Professora Adjunta do Departamento de Artes Visuais da UEL. E-mail:
carlagalvaow@yahoo.com.br
3
Estudante de graduação de Artes Visuais na Universidade Estadual de Londrina.
Como observa Marilda Oliveira (2005), o estágio curricular é a instância que permite
aos estudantes de graduação, uma maior aproximação e apropriação de instrumentos teórico-
metodológicos para a atuação do ambiente escolar, além de se configurar como oportunidade
para se conhecer e compreender o contexto da futura atuação e os modos como nele se
articulam as políticas educacionais, a instituição e o sistema de ensino.
Cada nova escola ou turma de alunos se apresenta com suas problemáticas específicas,
exigindo que se ponha em movimento o conhecimento adquirido na formação, mas ao mesmo
tempo, é necessário colocá-lo à prova, rever, corrigir, reorganizá-lo e inventar novas soluções.
A realidade educativa e, mais especificamente, a situação de sala de aula é bem mais
complexa do que as teorias podem prever, observa Donald Schönn (1995). Aqui já se
evidencia o quanto a formação se dá na prática, incorporando os saberes que são elaborados
ali, na interação com os alunos. A natureza do saber docente, portanto, não é somente
curricular, mas também experiencial. Isso ficou bastante claro durante a realização do estágio
de que trata esse artigo.
Os estágios ocorreram de maneira concomitante em escolas municipais, que
identificaremos como escola 1 e escola 2. A cidade de Londrina se encontra no estado do
Paraná, onde a rede municipal de ensino conta com 121 unidades escolares. Entretanto, não
há contratação de docentes formados em Artes Visuais no município, o que faz com que
docentes sem a formação específica ocupem os cargos destinados à disciplina de Arte. Isso
pode acarretar prejuízos à formação do aluno, como Clermont Gauthir (1998, p. 28) enfatiza:
até a adolescência, conforme organizados por Mirian Martins, Gisa Picosque e M. Teresinha
Guerra (2010).
Nos primeiros anos, as sensações vivenciadas pelo corpo e através dele são o modo da
criança ver e aprender e compreender o mundo. Os sentidos, a exploração e as ações
formulam o pensamento da criança. O pensamento ocorre a partir das sensações e dos
sentimentos. Ela ainda não é criadora de símbolos, mas repetidora dos mesmos. A criação se
dá a partir da repetição de gestos, de linhas, de movimentos, de tentativas, formando uma
atitude de pesquisa, exercitando o que Martins, Picosque e Guerra (2010) chamaram de
“ação/pensamento”, o corpo em um jogo de exercício repetitivo e sensorial na pesquisa da
criança. A produção de garatujas ocorre quando o interesse da criança está focalizado nas
cores, nas texturas, nas formas. As garatujas alteram-se conforme a coordenação motora da
criança, por meio da repetição e em atos diários como a alimentação, passando de traços
incontrolados e desiguais, longitudinais e circulares para formas cada vez mais complexas.
Conjuntamente à ação de repetição, se dá a imitação. O interesse da criança na
imitação do adulto está no gesto, não na intenção. Novamente a importância está na própria
ação. A figura humana costuma ser a primeira figuração após os rabiscos e as pesquisas
iniciais. A partir do círculo, são inseridos olhos e bocas, presentes no papel sem a necessidade
de organização, permanecendo soltos no espaço. Proporções e cores não são vinculadas à
realidade. O foco está nos signos inventados, no interesse pela visualidade. As autoras
exemplificam esse fato a partir da gestalt, onde a figura humana é reinventada e enfatizada
conforme a vontade da criança, excluindo o que não é importante para ela no momento ou
ressaltando o que é (MARTINS, PICOSQUE, GUERRA, 2010). A observação e análise da
produção gráfica das crianças da escola 1 indicam que elas se encontram nessa fase.
A conquista da forma traz soluções criativas vindas das crianças, na tentativa de
expressar o espaço, a sobreposição, criando lógicas e convenções. A linha de base surge como
resposta à necessidade de relações espaciais. Uma representação mais realista é almejada, o
que traz alguma insegurança à prática do desenho. A escolha da cor e a organização passam a
ser definidas a partir do real, e o imaginário acontece atrelado à reprodução do factual
(MARTINS, PICOSQUE, GUERRA, 2010). Identificamos que os desenhos das crianças
presentes no estágio realizado na escola 2 podem ser inseridos nessa fase.
A localização da escola e seu entorno diz muito sobre os alunos e o contato com arte
que possuem. As escolas em questão estão localizadas em áreas de baixa renda do município
de Londrina. O perfil dos alunos atendidos, são em sua maioria de assentamentos ou bairros
mais carentes ao entorno. Como Martins, Picosque e Guerra (2010, p. 86) elucidam, as
produções, percepções e concepções artísticas das crianças e dos jovens são contaminadas
pela família, a escola, a cultura e as predisposições genéticas. Assim, é notável uma
diversidade gerada a partir desses fatores, mesmo que existam similaridades em cenários e em
épocas diferentes. O educador da educação infantil deve se aproximar e buscar compreender o
mundo pessoal dos alunos – dado que cada criança tem interesses diferentes – ao planejar sua
aula, a fim de escolher as estratégias metodológicas mais apropriadas àquele contexto. Arno
Stern exemplifica tal fato em sua analogia:
Minha tarefa pode ser comparada à obra de arte de um explorador que penetra numa
terra desconhecida. Descobrindo um povo, aprendo sua língua, decifro sua escrita e
compreendo cada vez melhor sua civilização. Acontece o mesmo com todo adulto
que estuda a arte infantil. (2006, p.14).
utilizadas como instrumentos de ensino para outras disciplinas. Por estarem em processo de
alfabetização, a professora propõe atividades que reforcem o alfabeto e os números. Nessa
escola, ocorreu uma maior liberdade com os alunos, devido ao apoio da professora regente
quanto às atividades que envolviam arte, que trabalhavam os aspectos sensoriais. Apesar do
uso da arte como um meio e não como conteúdo no desenvolvimento das aulas dadas pela
professora, pudemos desenvolver o estágio conforme planejamos, havendo uma grande
preocupação com a liberdade criativa e exploratória das crianças. Partindo disso, a formulação
dos planos de aula onde os conteúdos abordados eram conteúdos de arte ocorreu sem nenhum
empecilho.
Em relação à escola 2, algumas modificações em relação ao planejado foram
necessárias, devido a fatores estruturais, como falta de sala de arte e falta de materiais
necessários para melhor realização das atividades, além de fatores pedagógicos do ambiente
escolar. As atividades ocorrem em conformidade com um projeto interdisciplinar, envolvendo
Artes e Ciências, no qual a arte era concebida como meio ou instrumento de apoio aos
conteúdos de ciências e outras matérias, e não como uma disciplina com conteúdos próprios.
A professora regente possui graduação na área de ciências biológicas, porém colocou-se à
disposição nas atividades propostas. Respaldando-se nesses fatores, as atividades precisavam
estar vinculadas a matéria de ciências, levando então a algumas alterações para que os
exercícios pudessem ser colocados em prática.
As aulas com a turma desta escola deram-se de forma processual, e os conteúdos como
pintura e cores primárias foram abordadas de forma contínua, relacionando-se
progressivamente. A abordagem da pintura com crianças pequenas ocorre de modo diferente
do ensino do desenho. Na pintura, a criança expressa uma intuição maior, onde movimentos
de exploração e espalhamento são efetuados. Os sentidos são salientados na investigação das
texturas, das cores, da descoberta das possíveis misturas de cores e tonalidades. Considerando
isso, as aulas se realizaram com enfoque no sensível.
Fonte: As autoras.
proposto. Foi possível verificar que os alunos, embora estivessem no 5° ano, não possuíam
muito contato com a experimentação em relação à tinta ou texturas, já que no primeiro
momento demonstraram certo receio em relação às manchas em suas mãos. Porém com o
decorrer da aula e na interação com material, questões como essas foram deixadas de lado.
Após um período de experimentação com o papel, os alunos iniciaram a pintura gestual;
alguns realizavam movimentos de dança, jogavam a tinta de alturas diferenciadas, realizavam
movimentos de rotação com as mãos, mas não deixavam o pincel entrar em contato direto
com a superfície do papel, demonstrando compreensão do exercício proposto.
Fonte: As autoras.
do amigo precisava de mais terra, todos ao seu redor também começavam a pedir mais terra.
As pinturas ocorreram com o auxílio de pinceis ou com as mãos, e foram desenhados tanto o
que estão habituados a desenhar com lápis, como pessoas e paisagens, como também foi
explorado a visualidade da tinta, o traçado onde a mesma foi espalhada por toda a folha.
Alguns colocavam quantidades excessivas de tinta na folha, outros viraram o copo todo na
superfície, derrubando pelo chão, rasgando a folha. É possível reparar que o conhecimento
sobre a quantidade de tinta a ser utilizada está em construção na prática.
Fonte: As autoras.
Fonte: As autoras.
escolaridade. Foi necessária a exploração com as mãos, com a mistura de cores, e o fato de
precisarem utilizar toda a tinta dada a eles, com a liberdade para criarem o que quisesse para
além da proposta prévia, para que conseguissem se expressar da forma como queriam.
Os alunos da escola 2 expressaram compreender melhor a atividade em si desde o
início, mas o curto período para a realização fez com que o aproveitamento não se desse por
completo devido a questões burocráticas da instituição em relação ao tempo.
Como estudantes de graduação e futuras profissionais da educação, compreendemos a
necessidade de ajustes no sistema de ensino brasileiro e implantações de novos projetos que
visem a inserção do contexto do aluno em sala de aula, principalmente na matéria de Artes,
além de ressaltar a importância desta disciplina ser vista como portadora de conteúdo
específicos, ou seja, como campo de conhecimento. A atividade de estágio que realizamos,
trouxe experiências e vivências que adquirimos apenas na prática, contribuindo para a
formação de nossa identidade docente.
O estágio é um momento importante no qual as teorias vistas durante um curso de
formação podem ser testadas, reafirmadas ou contestadas; enfim colocadas em prática,
levando-se em consideração os diferentes contextos escolares e as diferentes individualidades
dos alunos.
REFERÊNCIAS
SHÖN, Donald. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÒVOA, Antonio
(Org.). Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995. p.77-91.
Introdução
1
Doutora em Educação pela UFPel. Professora adjunta no curso de Teatro-Licenciatura, do Centro de Artes, da
Universidade Federal de Pelotas. Vice-líder e pesquisadora no Grupo de Estudos sobre Teatro, Educação e
Práxis Social – GETEPS/UFPEL. E-mail: leite.vanessa@hotmail.com.
2
Graduada em Teatro-Licenciatura, UFPel, 2016. Aluna do Curso de Especialização em Artes, UFPel. E-mail:
taisgalindodias@gmail.com.
3
Graduando do Curso de Teatro – Licenciatura da UFPel. E-mail: talesduarte16@gmail.com.
Com base nos objetivos da pesquisa, entende-se que esta será de caráter exploratório
e descritivo, pois pretende-se “oferecer uma visão panorâmica” (Gonsalves, 2003, p.65) da
inserção dos egressos no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que procurar-se-á analisar
e descrever as características desta prática profissional docente.
Para tal investigação tem-se utilizado inicialmente uma metodologia de pesquisa de
caráter quantitativo por trabalhar com dados estatísticos, com o número de ingressantes, de
concluintes e de evasão, além de levantar dados estatísticos referentes à inserção ao mercado
de trabalho. Porém, embora parta-se de dados estatísticos, muito relevantes para o estudo, as
questões de cunho qualitativo serão privilegiadas, na medida em que a preocupação central
está na busca por compreender as práticas docentes de teatro, as particularidades desta
atuação profissional e em possibilitar avaliar o próprio currículo de formação.
A pesquisa pode ser considerada um estudo de caso, conforme indicam Gil (2002) e
Lüdke e André (1986), na medida em que trata-se de um caso específico e corresponde a uma
representação singular de uma realidade específica: egressos do curso de Teatro-Licenciatura
da UFPel, frente a tantas outras realidades possíveis de formação de professores de teatro.
Desta forma, todos os egressos das seis primeiras turmas do referido curso são os sujeitos da
pesquisa.
Na coleta de dados com os egressos, serão privilegiados, basicamente: O perfil do
egresso durante a graduação; A empregabilidade e sua atuação profissional; O contexto
profissional; As experiências pedagógicas; A formação continuada; A especificidade do teatro
no campo de trabalho; As experiências e metodologias de ensino de Teatro. Para realizar a
coleta será aplicado um questionário com perguntas estruturadas, com algumas questões
objetivas e diretas de múltipla escolha e algumas questões mais abertas e subjetivas, em que o
sujeito poderá escrever suas ideias de forma dissertativa. Este questionário será on-line,
aplicado via formulário do Google Drive, para atingir todos os egressos que já não estão mais
na cidade de Pelotas.
A estruturação do questionário on-line foi divido em cinco blocos de dados, com
questões descritivas e objetivas, nas quais os egressos tiveram que responder por etapas a
situação profissional atual em que se encontram e também questões sobre a sua graduação no
curso de Teatro-Licenciatura da UFPel. O primeiro bloco, intitulado “Caracterização dos
sujeitos” refere-se às características gerais de identidade como idade, sexo, estado e cidade de
origem, onde residem atualmente e identificação racial.
O segundo bloco, “Perfil do egresso durante a graduação” propõe uma avaliação do
egresso sobre sua formação acadêmica através de questões, tais como: modalidade de ingresso
no curso; se já possuía outra graduação; qual o ano e semestre de ingresso e conclusão;
questões sobre a motivação pela licenciatura; quais projetos de extensão, ensino e pesquisa
participou durante o período de graduação; qual o tempo de participação em cada projeto.
Ainda, no mesmo bloco encontram-se as questões sobre assistência e permanência estudantil,
se foi contemplado com alguma bolsa de projeto, se recebia algum auxílio permanência e se
exercia trabalho remunerado durante a graduação.
O terceiro bloco, intitulado “Formação continuada” faz a análise sobre a situação dos
egressos em relação a continuidade dos estudos; se já cursaram alguma pós-graduação ou até
mesmo outra graduação, bem como o direcionamento da área que os egressos estão traçando
na etapa seguinte a da graduação. O quarto bloco trata sobre a “Inserção profissional” e
pergunta de maneira direta quais egressos estão desenvolvendo o trabalho docente na área de
Teatro, em ambientes formais e não-formais de ensino. Seguindo a proposta da pesquisa, o
egresso que ainda não desenvolveu a prática docente, não segue respondendo o próximo bloco
do questionário, já aqueles que trabalham ou já trabalharam como professores de Teatro,
deverão continuar o seu preenchimento.
O quinto e último bloco leva o título: “A prática docente em Teatro”, e encaminha os
egressos que trabalham com a docência para responderem sobre a sua prática desenvolvida.
Este bloco é o único com questões dissertativas, além de outras objetivas, para que o egresso
tenha espaço para discorrer sobre aspectos de sua realidade docente. As perguntas objetivas
deste bloco apontam sobre o tempo de trabalho já desenvolvido, o nível de ensino que já
trabalhou ou trabalha (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio ou educação
superior) e qual a rede em que trabalha ou trabalhou, se na rede pública (municipal ou
estadual) ou no ensino privado, além de questões sobre a jornada de trabalho e a renda mensal
como docente em Teatro.
As questões dissertativas deste último bloco dividem-se em uma avaliação do
egresso em relação ao curso de Teatro- Licenciatura da UFPel e ao próprio trabalho que ele
desenvolve. As questões tratam de uma avaliação mais pessoal das diversas realidades vividas
pelos egressos do curso, buscam um olhar reflexivo sobre a formação docente que tiveram no
decorrer da graduação, quais conteúdos aprendidos e experiências vivenciadas mais refletem e
influenciam em seu exercício docente diário. E ainda, abrem um espaço de sugestões para o
currículo do curso.
4
A Scientific Electronic Library Online - SciELO é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção
selecionada de periódicos científicos. Disponível em: http://www.scielo.br/?lng=pt
a prática e o fato do professor de Teatro ser visto como “produtor de eventos” na visão da
instituição escolar. Outros apontam que, por serem amparados por lei, a escola tem procurado
por profissionais do campo teatral para cumprir uma obrigatoriedade legal, mas ainda assim é
muito desvalorizado pelo meio escolar e/ou as outras áreas do conhecimento, que tendem a
buscar o teatro como ferramenta para apoiar os processos de ensino.
As pesquisadoras observaram que um grande número de egressos tem uma visão
negativa da valoração do docente de Teatro no mercado de trabalho e que apesar da LDB
(Brasil, 1996) exigir a titulação para o exercício da docência, a instituição não valoriza o
docente, e principalmente, não trata o Teatro como uma área de conhecimento de expressão
artística com demandas específicas. Entretanto, um expressivo número de entrevistados
considera que mesmo a escola não sabendo o que fazer com este campo do conhecimento,
começa a procurar por profissionais da área, possibilitando ao Teatro ser um campo crescente
em formação. (GUSMÃO; MUNIZ, 2012)
Diante dessas problemáticas, as pesquisas lidas demonstram que a universidade deve
estar atenta com o egresso para que o auxilie em seus primeiros passos profissionais,
oportunizando o permanente retorno desse sujeito para ensino superior, para que tenha
continuidade em sua formação, seja através da pós-graduação, seja na participação de projetos
de pesquisa, ensino, extensão desenvolvidos pela instituição.
No processo do levantamento de pesquisas, entendeu-se que era possível traçar o
perfil desses egressos não somente em relação a sua atuação profissional mas, também, em
relação à sua trajetória durante a graduação e o seu olhar sobre sua formação inicial e
continuada. Inspirados neste levantamento e com base nos objetivos do projeto, foi elaborado
o questionário on-line5, com a divisão de cinco tópicos, já apresentados anteriormente:
Caracterização dos sujeitos; Perfil do egresso durante a graduação; Formação continuada;
Inserção profissional e Prática docente em Teatro.
5
Este questionário já foi encaminhado para todos os egressos, via grupo fechado na rede social Facebook e, no
momento da escrita deste artigo os sujeitos da pesquisa estavam respondendo o questionário, portanto, ainda não
foi possível analisar as respostas.
professores nas áreas de Música e Artes Visuais6, implementa, no ano de 2008, o Curso de
Teatro-Licenciatura, suprindo uma demanda local e regional de profissionais habilitados para
o trabalho em artes cênicas nas escolas. O curso de Teatro da UFPEL tem duração de oito
semestres e é oferecido no período noturno, de forma a contemplar alunos trabalhadores, bem
como professores em exercício das redes escolares da cidade e da região.
A finalidade do Curso de Teatro, expressa no Projeto Pedagógico do Curso – PPC
(UFPEL, 2009), é de formar profissionais do campo teatral comprometidos com a construção
do conhecimento, com a produção e desenvolvimento cultural da região, com a educação e
formação de crianças, jovens e adultos nos diferentes níveis do ensino formal e não-formal.
Apresenta ainda como objetivo geral: “Formar profissional Licenciado em Teatro com amplo
conhecimento sobre a linguagem teatral para atuar no mercado de trabalho como professor(a),
agente cultural, ator/atriz e diretor(a)-pedagogo(a)” (UFPEL, 2009, p. 8).
Encontramos ressonância na indicação das Diretrizes para Graduação em Teatro no
que diz respeito ao perfil do egresso de Teatro, no Art. 3°:
6
Em 1949, foi criado o Curso de Artes na EBA. Em 1955, o governo federal autoriza a funcionamento dos
Cursos de Graduação em Pintura e Escultura. No ano de 1969, com a criação da UFPel, a EBA tornou-se uma
Unidade agregada. Em 1975, foi reconhecido o Curso de Licenciatura Curta em Educação Artística, o qual em
1978, foi substituído pelo Curso de Licenciatura Plena em Educação Artística (com as habilitações em Artes
Plásticas, Desenho e Música). Em 1998, após LDBEN 9.394/96, o Curso de Licenciatura Plena em Educação
Artística passa a ser Licenciatura em Artes, com as seguintes habilitações: Música, Desenho e Computação
Gráfica e Artes Visuais. No início dos anos 2000, uma nova formatação foi realizada e a habilitação em Desenho
e Computação Gráfica foi extinta, permanecendo as licenciaturas em Música e Artes Visuais.
no curso e poderão completar a graduação nos próximos anos. Até então, tem-se um
percentual de 27,06% de graduados em Teatro-Licenciatura na UFPel. Se os alunos das seis
primeiras turmas que ainda encontram-se matriculados (27), concluírem o curso nos próximos
anos, chega-se a 35,97% de índice de titulados. Tem-se, até o momento, 194 alunos evadidos
do curso, sem considerar os 27 ainda matriculados, o que corresponde a 64,03% de índice de
evasão.
Com este levantamento notou-se outra particularidade, o tempo de formação, que é
variado entre os egressos, encontra-se de 4 até 8 anos, tendo uma média de 5 anos para a
conclusão do curso.
Embora esta pesquisa trate dos egressos, é importante ater-se também às questões
dos índices de evasão no ensino superior, sendo um fenômeno complexo e entendendo-o
como um problema social, fonte de pesquisa de muitos estudiosos, a exemplo de Silva Filho,
et all (2007) e Baggi e Lopes (2011). Em suas pesquisas encontra-se que a taxa de evasão
ocorre principalmente no primeiro ano do curso superior e possui diferentes motivos, que vão
desde a falta de recursos financeiros para o estudante prosseguir nos estudos, ou por questões
acadêmicas, expectativas frustradas em relação ao curso, a pouca integração deste com a
instituição, segundo Silva Filho (2007). Por outro lado, motivos de ordem pessoal e social
também podem ser destacados, segundo Baggi e Lopes (2011, p. 358), como a necessidade
precoce de entrar no mercado de trabalho, “a falta de orientação vocacional, imaturidade do
estudante, reprovações sucessivas, dificuldades financeiras, falta de perspectiva de trabalho”,
entre outros.
Por fim, destaca-se que a relevância desta pesquisa está na possibilidade de colaborar
com a área de formação de professores de Teatro, tendo em vista que este acompanhamento
dos egressos tem como foco principal aqueles que estão atuando como docentes em diferentes
instâncias de ensino. Não furta-se, com isso, uma avaliação profunda sobre os índices de
evasão, na tentativa de minimizá-la, adotando-se procedimentos institucionais específicos
para este fim, evitando precocemente o abandono do ensino superior público.
A partir deste olhar atento para a atuação profissional destes egressos será possível
uma reflexão sobre o currículo de formação, compreender possíveis falhas neste currículo,
repensar as práticas de ensino durante a formação inicial, levantar as metodologias de ensino
REFERÊNCIAS
AMORIM, M. A. Quem ainda quer ser professor? A opção pela profissão docente por
egressos do curso de História da UFMG. Educ. Ver. De 2014, vol 30, nº 4, p. 37-59.
BRASIL. Lei N. 9.394/1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf Acesso em: Mai. 2010.
GIL, A. C. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 4 ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2002.
SILVA FILHO, R.L.L.; et all. A evasão no ensino superior brasileiro. Cadernos de Pesquisa,
v. 37, n. 132, p.641-659, set./dez., 2007.
Resumo
O presente artigo apresenta algumas reflexões sobre o ensino da arte, sua relação com a leitura de
imagens e sobre a importância do uso de imagens no processo de ensino e aprendizagem. Pensar em
leitura de imagens no ensino de Arte é pensar em formar um pensamento, uma opinião sobre
determinado assunto. É observar diferentes tipos de imagens e se posicionar criticamente perante as
ideias transmitidas pelo seu autor. A imagem ocupa um espaço considerável na vida do sujeito
contemporâneo, visa estabelecer uma relação com o mundo, tem como função principal garantir,
reforçar, reafirmar e explicar nossa relação com o mundo visual. A leitura engloba bem mais que
decodificar textos escritos. O mundo que nos cerca pode ser lido, interpretado e analisado
criticamente, especialmente quando expresso através de imagens, e o ensino de Arte pode
proporcionar uma fruição de diferentes produções por meio da leitura visual. Como proposta de
reflexão, apresentam-se ideias, conceitos, definições, que defendem o uso da imagem na sala de aula.
Serão abordados teóricos, como Ana Mae Barbosa, Analice Dutra Pillar, entre outros que analisam a
importância da leitura de imagens no processo de ensino e aprendizagem em Arte. Além, de uma
breve abordagem dos pressupostos da Semiótica Francesa que considera na obra (imagem) todo um
contexto, uma historicidade e uma discursividade.
Palavras-chave: Importância; Leitura de imagens; Alfabetização visual.
Introdução
Desde a Pré-História as imagens produzidas pelo homem são utilizadas como referência
da existência humana. Por meio delas podemos perceber as diversas transformações em
diferentes tempos e espaços, ou seja, o ser humano amplia seu saber sobre si e sobre o mundo.
A imagem ocupa um espaço considerável na vida do sujeito contemporâneo. Livros,
cinema, outdoors, TV estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, sendo assim,
como professora de Arte questiono: Como contribuir no entendimento do significado dessas
1
Mestranda no Programa de Pós Graduação em Estudos de Linguagens da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Especialização em Arte Contemporânea e suas Linguagens – FUNLEC/2010. Graduação em Artes
Visuais Bacharelado / Licenciatura – UFMS 2003/2005. E-mail: bassovane@hotmail.com.
2
Especialista em Arte e Educação -UNIC, Museologia – EMBAP e História da Arte – CLARETIANO.
Graduação em Artes Visuais Bacharelado e Licenciatura – UFMS. Gestor de Artes e Cultura na Fundação de
Cultura de MS. E-mail: cacianolima@gmail.com.
imagens? De que forma a leitura de imagem auxilia na evolução dos processos artísticos,
culturais, estéticos e críticos dos sujeitos?
Vivemos em um mundo dominado por imagens, a todo o instante somos surpreendidos
por elas, em casa, no trabalho, nas ruas, imagens sedutoras que tentam a todo custo
influenciar nosso comportamento. No entanto, a leitura de imagens é uma necessidade para a
compreensão e decodificação desses signos tão difundidos na nossa vida cotidiana.
Dando como exemplo uma obra de arte, fazer sua leitura é tirá-la de sua imobilidade
para devolver-lhe sua pulsação, é deixá-la ser na sua realidade, envolvendo-a com o nosso eu
mais íntimo. Por esse motivo, cada nova leitura é uma nova interpretação, e são muitas as
interpretações possíveis, porque somos diferentes a cada dia e, também somos diferentes uns
dos outros. Algumas perguntas que podemos utilizar ao propor a leitura de uma imagem são:
x O que podemos ver?
x É sobre o quê?
Toda obra de arte, seja pintura, escultura, vídeo ou fotografia, por exemplo, tem em si
suas próprias qualidades. Estas nos darão informações quando estivermos lendo uma imagem.
Mas, também, é possível criar mecanismos de interpretação para facilitar esse processo de
leitura. Vejamos exemplos:
Que cores o artista usou? Por que vocês acham que ele usou essas cores?
Cores
Como essas cores estão organizadas? Quais efeitos elas criam?
Que tipo de formas vocês podem encontrar na obra? Formas arredondadas,
Formas
retas, pontiagudas, pontilhados? Quais efeitos elas criam?
Que tipo de marcas e símbolos o artista usa? Quais efeitos elas têm? Eles fazem
Símbolos
parte da nossa cultura? O que significam?
Com o quê a superfície parece? Que tipos de texturas podemos ver? Quais
Superfície
efeitos elas criam?
Qual é o tamanho real dessa obra? Ela é grande? Suas dimensões originais são
muito diferentes das dimensões da reprodução que estamos vendo?
Escala
Faria alguma diferença se ela fosse maior ou menor? Será que há algum motivo
para o artista ter escolhido esse tamanho?
Podemos encontrar na obra sensação ou ilusão de espaço ou profundidade? Há
preocupação com isso?
Espaço
Como as formas são colocadas no espaço? Há simetria?
Como é o movimento das formas no espaço?
Com que materiais essa obra foi feita? São materiais tradicionais ou
“encontrados”? Como seria nossa reação diante a obra se o artista tivesse usado
materiais diferentes? Quais associações ou conotações os materiais usados
Materiais
carregam?
Vocês são capazes de identificar todos os materiais usados pelo artista olhando
para a reprodução?
Como essa obra foi feita? Foi o artista que a fez ou ela foi fabricada? Que tipo
de habilidade esteve envolvida no processo de produção da obra? Aconteceram
Processo
fortes mudanças ao material enquanto a obra foi feita?
Conseguimos ver na obra pronta indícios de seu processo de construção?
Como a obra está organizada? Como é a proporção dos elementos
apresentados? A obra apresenta semelhanças ou contrastes?
Composição
As formas no espaço parecem seguir uma organização ou estão
desorganizadas?
O que é a obra? Ela é sobre o quê? O que está acontecendo? Podemos imaginar
Conteúdo um enredo? A obra foi inspirada em alguma obra literária (literatura mundial,
nacional, mitológica, religiosa)
Depois de fazer uma descrição atenta da obra, o que podemos especular sobre o
Mensagem que o artista quis dizer? Que tipo de mensagem ele tentou passar? O que esta
obra representa?
Título O que o artista quis dizer com esse título? Ele muda o jeito como vocês vêm a
obra? Vocês dariam outro título para ela?
Tema Qual é o tema desse trabalho? Ele apresenta mais de um tema? Qual será que
foi a inspiração do artista para fazer essa obra?
Há alguma relação dessa obra com os gêneros tradicionais da História da
Tipo/ gênero pintura (mesmo que a obra em questão não seja uma pintura), como por
exemplo, o nu, a paisagem, o retrato ou a pintura de natureza morta?
Qual foi sua primeira reação com a obra de arte? O que fez você sentir ou
Você pensar assim?
Você gostou da obra à primeira vista?
A obra te fez lembrar de quê? Porque isso te fez lembrar daquilo?
Seu mundo Você consegue fazer alguma relação entre o que vê e sua vida?
Ela representa algo que é importante para você?
Suas Você pode conectar a obra a quê? Você já foi há algum lugar como este que é
mostrado pelo artista?
experiências
Quando essa obra foi feita? Podemos fazer alguma conexão entre a obra e o
período em que ela foi feita? Ela mostra alguma ação que era comum há uma
Quando época e que já não acontece mais?
As roupas das pessoas retratadas representam a época que a obra foi feita?
Qual é a relação dessas roupas com as roupas que usamos atualmente?
Onde essa obra foi feita? O que a obra pode nos dizer sobre o lugar que ela foi
Onde feita? Há alguma característica na obra que nos ajuda a encontrar sua
nacionalidade?
Quem fez essa obra? O que nós sabemos sobre esse artista? Há alguma relação
ao modo de vida do artista com a obra que ele fez? Essa obra foi importante
Quem
para o artista ou foi somente uma encomenda?
Essa obra foi feita para quê? Para quem?
Podemos relacionar essa obra ao contexto social e político do momento
História histórico em que foi feita?
Ela ainda é atual? Pode ser relacionada ao contexto social e político de hoje?
Outras Podemos relacionar essa obra com obras de outras linguagens artísticas do
linguagens período, como cinema, música, teatro, literatura ou design, por exemplo?
Outras áreas Podemos relacionar essa obra com outras áreas do conhecimento, como por
do exemplo, a ciência, geografia, matemática, ecologia?
Existem regras de leitura dos textos visuais que são compartilhados pela
comunidade de leitores. Tais regras não são geralmente espontaneamente; na
verdade, resultam de uma disputa pelo significado adequado às representações
culturais. Sendo assim, sua aplicação, por parte dos leitores/destinatários envolve,
também, a situação de recepção dos textos visuais. (MAUAD, 2004, p.24-25)
de arte, nas estabelecidas entre os elementos plásticos presentes nela e, ainda, entre a obra e o
seu contexto formador.
A semiótica referida é a de linha francesa, e distingue-se de alguns estudos da
comunicação por não se importar com a “intenção” explícita na transmissão de uma
mensagem, mas em como a produção de sentido dos textos pode ser objeto de uma análise,
por se encontrar materializados neles, a organização que o homem social faz de sua
experiência.
A semiótica pode ser definida como a teoria geral do texto e da significação. Segundo
Diana Luz Pessoa de Barros (1990, p. 7-8), “a semiótica procura descrever e explicar o que o
texto diz e como ele faz para dizer o que diz”. Para a autora, um texto pode ser definido por
duas formas que se complementam, ou seja, como objeto de significação onde se procede à
análise estrutural ou interna do texto ou como objeto de comunicação entre sujeitos, onde se
insere entre os objetos culturais de uma sociedade, e, deste modo, sendo determinado por
formações ideológicas específicas.
Para a semiótica, as produções humanas são consideradas como produções textuais.
Portanto, uma obra de arte, um filme, um romance, um espetáculo teatral, musical ou de
dança são manifestações dessa textualidade.
Assim, faz-se necessário entender que para ler imagens, implica desenvolver a
observação de aspectos e de traços constitutivos presentes no interior da imagem, pois como
um texto, uma imagem pode produzir várias leituras.
Diante de tal reflexão, surgiram alguns questionamentos referentes ao uso de textos
visuais no ensino de Arte: Quais os procedimentos necessários para que os alunos consigam
ver além das formas e das cores presentes na imagem? Como fazer a leitura da mensagem de
quem a criou e as possíveis interpretações? Como ir além dos elementos visuais da obra?
A leitura engloba bem mais que decodificar textos escritos. O mundo que nos cerca
pode ser lido, interpretado e analisado criticamente, especialmente quando expresso através de
imagens. Neste sentido, textos verbais e não verbais são eficientes ferramentas didáticas em
qualquer disciplina e esse é um aspecto facilitador para a sua integração em torno de um
objetivo comum.
que saibamos ler imagens, pois para todos os lados que olhamos, vemos imagens nos
bombardeando de informações que, muitas vezes, não conseguimos digeri-las ou decifrá-las,
por acreditar que só podemos ler aquilo que se apresenta diante de nós, na forma da
linguagem escrita. Segundo Rossi (2003, p.10) “por que, então, ao chegar o momento da
alfabetização, na nossa cultura, aprende-se somente o código escrito, a alfabetização envolve
mais do que palavra”.
A leitura de textos visuais, como exercício de sala de aula, pode apontar caminhos
diversificados. Ramalho e Oliveira, no seu livro Imagem também se lê, vem justificando o
exercício da leitura de imagem não só do objeto artístico, mas do objeto estético. A Semiótica,
como ciência que estuda toda e qualquer linguagem, busca dar significação para a linguagem
visual, que muitas vezes, pouco é explorada devido à rapidez com que as imagens aparecem e
desaparecem do alcance de nosso olhar ou devido à complexidade com que se apresentam.
Neste sentido torna-se necessário que saibamos quais os procedimentos necessários para
que os alunos consigam ver além das formas e das cores presentes na imagem, falo da
mensagem de quem a criou e das possíveis interpretações, ou seja, ir além dos elementos
visuais da obra.
Apesar de não parecer fácil, desenvolver métodos para promover a alfabetização visual
é de fundamental importância para o ensino na atualidade, tanto quanto o desenvolvimento da
escrita foi para o texto impresso pois, “nos modernos meios de comunicação acontece o
contrário. O visual predomina, o verbal tem a função de acréscimo” (DONDIS,1991,p.12).
No processo de alfabetização visual “deve-se buscar um equilíbrio ideal: nem uma
simplificação exagerada, que exclua detalhes importantes, nem a complexidade que introduza
detalhes desnecessários” (DONDIS,1991,p.185). A inteligência visual processa as
informações recebidas de maneira muito rápida, portanto, quanto mais organizados os
elementos, mais facilmente serão compreendidos.
Considerações
Para melhor compreensão do papel da leitura de textos visuais na sala de aula, da
apropriação dos significados da imagem pelo aluno e as estratégias utilizadas para a
alfabetização visual, sentimos a necessidade de pesquisar e refletir ainda mais sobre todo esse
processo de leitura dentro do ensino de Arte.
Percebemos que, além da preparação por parte do aluno, é impreterível que o professor
faça uso de uma metodologia de análise de imagens e que domine teoricamente essa
metodologia, para que consiga formar leitores visuais.
Finalmente, lembramos que o presente artigo pretendeu apenas iniciar um processo de
análise e reflexão sobre as práticas de leitura de imagens na sala de aula. Não esgotou todas as
possibilidades de análise e interpretação dos dados.
Esperamos com a proposta auxiliar na busca de um caminho que leve o aluno a ser um
leitor que sai da situação de um mero receptor e passa a ser interlocutor. Não apenas
decodifique e busque sentidos já propostos no texto, como também interaja com os discursos
presentes nele. Isso significa, uma leitura na qual o leitor consiga desvendar os sentidos
produzidos pelo objeto lido. Assim, conseguindo não só explicar o que o texto disse, mas
explicar como o texto fez para construir o que disse.
Referências:
BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. Arte Educação: Leitura de Subsolo. São Paulo:
Cote, 1997.
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. São Paulo: Ática, 1990.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo; Martins Fontes, 1991.
MARTINS, Elaine Rosa. A imagem no livro didático: um estudo sobre a didatização da
imagem visual. 2002. 145p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002.
MAUAD, Ana Maria. Fotografia e história, possibilidades de análise. In.CIAVATTA,
Maria; ALVES, Nilda (orgs). A leitura de imagens na pesquisa social: história,
comunicação e educação. São Paulo: Cortez, 2004.
PIETROFORTE, Antonio Vicente. Análise do texto visual: a construção da imagem. São
Paulo: Contexto, 2007.
PILLAR, Analice Dutra (org.). A educação do olhar: o ensino das artes. 3ªed. Porto Alegre:
Mediação, 1999.
RAMALHO e Oliveira, Sandra. Imagem também se lê. São Paulo: Rosari, 2005.
ROSSI, Maria Helena Wagner. Imagens que falam: leitura da arte na escola. Porto Alegre:
Mediação, 2003.
Resumo
Diante de um cenário de instabilidades no contexto das políticas públicas e de ameaças ao campo da
educação, o texto traz uma contribuição à área da formação inicial de docentes de artes visuais a partir
de uma problematização sobre as políticas do saber que configuram os cursos de Licenciatura em
Artes Visuais no Brasil. As problematizações apresentadas no texto partem de duas elaborações
produzidas no âmbito de pesquisas de um curso de doutorado em educação. A primeira, parte da
emergência de três linhas de força que perpassam o campo da formação inicial de docentes de artes
visuais no Brasil que ganharam visibilidade em um levantamento de informações sobre a formação
inicial de docentes de artes visuais. Na segunda, apresenta-se o campo organizativo da arte e analisam-
se os efeitos produzidos por tais políticas, como a demarcação de lugares, modos de ser ou certas
concessões em relação à formação docente em artes visuais em relação ao preparo docente para
atuação na educação básica. A partir desses tensionamentos constitui-se uma base de sustentação para
questionar a atual política do saber na formação docente em artes visuais de modo a configurar
possibilidades outras diante das urgências dos tempo de agora: a defesa da educação pública, da
escola, da universidade e da licenciatura.
Palavras-chave: Formação de professores.Arte.Currículo.
Introdução
1
Doutorando e Mestre em Educação pela UFRGS: danielmomoli@hotmail.com
2
Doutora e Mestra em Educação pela UFRGS: caluc.arte@gmail.com
3
Doutora em Educação pela UFRGS e Mestra em Educação pela UNICAMP. Foi vice-presidenta da FAEB
(2006-2008) e Coordenadora do GT Educação e Arte da ANPED (2008 a 2010). Líder do Grupo do Arteversa –
grupo de estudos e pesquisas em arte e docência: luciana.arte@gmail.com
Educação – CNE ; uma reforma educacional imposta por meio de Medida Provisória 746 4;
um Projeto de Emenda Constitucional – PEC 2415 que congelou por vinte anos os
investimentos em áreas prioritárias como educação, saúde e segurança.
Esses são recortes de acontecimentos ainda muito próximos nos quais estamos
politicamente implicados por fazerem parte de nossas lutas e de nossas pesquisas. É
necessário fazer um recuo para poder olhar para tudo o que isso produz e lançar fachos de luz
sobre esse tempo, entendendo-o pela densidade que ele exige. No momento, talvez tudo isso
apenas deixe a nu as feridas e as fraturas do nosso campo, oferecendo-nos a possibilidade de
encontrar pontos de tensionamento, inflexões que, antes, pareciam tão difíceis de serem
encontradas.
Todas essas questões podem afirmar pouco ou quase nada ao campo da educação ou as
investigações interessadas no tema da formação de docentes, especialmente da formação de
docentes de artes visuais. No entanto, constantemente nos impulsionam a pensar uma vez
mais esta temática, mesmo que não tenhamos, como afirma Pereira (2010, p. 66), um ponto
derradeiro, uma verdade ou um juízo definitivo a que se possa chegar, então perguntamos
“que rumo dar à pesquisa e ao estudo sobre a formação?”. Assim como o autor, escolhemos
nos posicionar “atrás das sempre colocadas questões e preocuparmo-nos não tanto com as
respostas, mas com o modo como lidamos ou como temos lidado com as perguntas, com os
efeitos que as perguntas produzem em nós”.
À guisa de problematizar as tantas questões que nos perturbam na atualidade, o texto
parte de dois estudos desenvolvidos no âmbito de pesquisas de doutoramento em educação.
Ambas assentadas na Licenciatura em Artes Visuais e interessadas na política do saber que
perpassa a construção curricular desse curso, no Brasil. Na primeira parte são apresentadas
três linhas de força que perpassam o campo da formação inicial de docentes de artes visuais
4
A MP foi enviada ao parlamento em 22 de setembro de 2016, pelo Presidente da República do Brasil foi votada
em fevereiro de 2016 sendo transformada na Lei nº 13.415 de
16/02/2017http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/126992
5
Enviada ao Parlamento como PEC 241, depois de aprovada pelos Deputados foi enviada para o Senado Federal
e tornou-se PEC-55 sendo aprovada no dia 13 de dezembro de 2016.
que está em funcionamento na educação e que estão alinhadas a uma certa pedagogização da
arte. Poderíamos pensar isso a partir do modo como Jódar & Gómez (2004) referem-se a certa
moral do escolarismo, uma moral afinada com uma certa pedagogia, a um certo mundo
acadêmico e escolar, constituído sob a expansão da escolarização obrigatória, onde qualquer
problema deve ter uma solução previamente conhecida.
No modelo de sensatez pedagógica escolarizada, os “saberes descentrados,
polimorfos, muitas vezes fragmentários” (VARELA, 2011, p. 93) são exorcizados para evitar
algum tipo de perigo aos campos de saber. Para avançar, é necessário romper com os círculos
viciosos criados a partir dessa moral e construir, desde o interior de nossos objetos, outras
formas de questioná-los e interrogá-los, a fim de mostrar as fragilidades dos objetos e
encontrar possíveis pontos de fissura em que poderemos instalar-nos.
6
Ver: Biasoli (1999), Silva (2017) e Capra (2017).
7
A expressão “professor de arte” é assumida neste texto com as iniciais em letra minúscula por uma questão de
política de escrita que diretamente implicada com os tensionamentos que são feitos ao longo do texto ao
problematizar uma certa política do saber em arte.
8
Na época, nas Escolinhas de Arte do Brasil, os artistas trabalhavam com o ensino de arte para crianças. Mesmo
considerando o extenso trabalho que vinham realizando na formação de seus professores e na criação das
licenciaturas, aqueles profissionais não puderam atuar nas escolas regulares por não possuírem a titulação
exigida. Ver: Antonio, 2012.
noção de falta de arte persiste nos ditos sobre a Licenciatura em Artes Visuais, mostrando a
permanência do bacharelado como seu parâmetro e o campo artístico como regulador da
formação docente.
Nas camadas do discurso sobre a formação docente em relação à arte, assim, notam-se
modos de reconhecimento sugeridos nas entrelinhas da Licenciatura em Artes Visuais e que
vêm construindo subjetividades docentes acerca da arte (CAPRA, 2017). Intensificados,
certos reconhecimentos formaram as condições para que na licenciatura, hoje os professores
reconheçam-se no campo artístico, o que atualmente é observável, por exemplo, no par
subjetivo professor-artista, considerado por alguns setores como a formação ideal. A partir
disso, propõe-se pensar se as articulações entre arte e formação docente estão sendo
relacionadas às promessas atribuídas à educação e à arte na educação e se o professor-artista
seria partícipe disso.
Professor-artista é um modo de ser que ganha um relevo para os professores de arte,
mas não somente9. Ensaiada desde a década de 1960, essa subjetividade remete-se a um
processo bem mais antigo, quando a educação pública europeia no século XVIII assumiu uma
concepção prática do âmbito social, calcada na lógica de que a coletividade é a soma das
individualidades. Junto à disseminação da “alta cultura” burguesa na educação na Europa, a
escola assumiu a função de vincular vida social e individualidade, fazendo ressoar o
pensamento filosófico respaldado na educação estética schilleriana. A experiência estética
individual com o objeto artístico, conforme a proposição de Schiller 10, reúne cultura e
individualidade, o que foi usado para alimentar o ideal de progresso ao supor que “a abertura
de outras regiões de sensorialidade ou da inteligência” pela experiência estética fosse “a
condição para uma vida mais profunda ou mais intensa” (LADDAGA, 2012, p. 33). Essa
experiência estética é uma experiência indizível e especial com a obra de arte, pois não é
submetida à razão. Além disso, conforma-se uma experiência estética a partir de um objeto
9
No texto “Ditos sobre professor-artista” (CAPRA; LOPONTE, 2016), realizou-se breve apanhado e análise
sobre como a ideia de professor-artista vem sendo proposta para a docência em várias áreas do conhecimento.
10
Friedrich Schiller, pensador do século XVIII, escreveu“Cartas sobre a educação estética da humanidade”
foram escritas em 1793.
único, a obra de arte, apresentado sob determinadas condições que, ao aliar-se à criação dos
museus, caracteriza uma experiência com a arte que é distanciada da vida comum. Avaliando
os lugares que tradicionalmente abrigam as obras de arte como museus, teatros e salas de
concerto, deve-se notar que estão fisicamente separados do mundo, “fabricando” a
experiência institucionalizada com a arte que tende a ser individual e silenciosa. Pode-se
pensar que aí estão em funcionamento “maneiras de organizar o sensível: de dar a entender,
de dar a ver, de construir a visibilidade e a inteligibilidade dos acontecimentos” (RANCIÈRE,
2010, p. 125), neste caso, a inteligibilidade da arte.
Apesar da obra existir por um gesto que imprime forma à matéria, a estética dedica-se
não ao gesto humano “real”, mas a “um modo de ser específico do sensível, de um sensível
heterogêneo, subtraído das conexões habituais do conhecimento e do desejo (RANCIÈRE,
2011, p. 171, grifos nossos). Essa noção de estética é propriamente a que pode ser veículo de
educação, pois produz modos de ser ao ensinar a compreensão da arte. Se a educação estética
prevê o modo de ser sensível para então referir-se ao agir social, está demonstrada a
finalidade pretendida para a estética e para a educação, o que ainda hoje povoa a noção de
sensibilidade artística proposta para a educação das artes visuais e que constitui tanto a norma
nacional vigente, quanto um dos panos de fundo da licenciatura. Observe-se o que estabelece
o parecer do Conselho Nacional de Educação quando delimita o sujeito da Licenciatura em
Artes Visuais em termos legais: “através da aquisição de conhecimentos específicos de
metodologias de ensino na área, [que] o licenciado acione um processo multiplicador ao
exercício da sensibilidade artística”. Convém ressaltar que são atribuídas outras possibilidades
de atuação ao licenciado, como as “atividades para-artísticas” e a “prática investigatória” em
arte, compartilhada com o bacharelado (PARECER CNE/CES Nº. 280, 2007, p. 4).
Mesmo que o vínculo entre a experiência individual e o melhoramento social desde
Schiller tenha se efetivado apenas idealmente, em alguns contextos a ideia de professor-artista
foi sendo associada a uma forma exitosa da docência e passou a distinguir o professor. Assim,
atribui-se ao par subjetivo a capacidade de incidir positivamente à sempre frágil condição da
arte na escola, cuja defesa e proteção estão sempre por serem feitas 11, além da melhoria da
educação escolar em geral.
11
Temos em vista as alterações na oferta do componente curricular Arte no Ensino Médio e as proposições da
Base Nacional Comum Curricular sobre as artes.
o que demonstra que aconteceu uma mudança nos modos de operar com a arte na licenciatura
e que esse atrelamento produz, no sentido foucaultiano. Importa debater o limiar dessa nova
norma, do controle e do exame que estabelece, uma vez que atingem o indivíduo, definindo
sua existência. Aquino (2014, p. 131) analisa o aspecto amplo do controle social instaurador
da “conformação voluntária dos cidadãos a determinados imperativos de teor autogestionário,
por meio de uma minuciosa e igualmente progressiva pedagogização dos mínimos gestos
pessoais”. O apelo da arte e do artístico tem condições mais que suficientes para passar-se por
uma adesão voluntária.
Se nas licenciaturas as operações entre arte e educação passam a investir no modo
artista de ser e se os cursos vêm abrindo o campo de trabalho para os licenciados para além da
educação básica, pode ser que sutilmente os professores de artes visuais estejam sendo
afastados da escola, reiterando novamente as distâncias e as permissões conhecidas entre
educação e arte. É importante prestar atenção, portanto, em que medida as políticas do saber
na formação docente esmaecem a defesa da educação pública, da escola, da licenciatura e da
universidade.
Tensionar e problematizar políticas do saber na Licenciatura em Artes Visuais é uma
atitude importante não apenas para pensar a formação de professores. Trata-se de argumentar
para a permanência da arte na educação básica, a fim de que a arte na educação possa atuar na
manutenção do espaço onde se dá o político. Consideramos que as articulações entre arte e
educação podem colaborar para a resistência às tentativas de criminalização do pensamento
livre na educação e de restrição dos modos de existir. Estes, urgem por ser abertos, não
prescritos.
REFERÊNCIAS
Resumo
Este artigo apresenta uma pesquisa desenvolvida no curso de Artes Visuais – PARFOR (Plano Nacional
de Formação de Professores da Educação Básica) da Universidade Regional de Blumenau – FURB. A
análise levantou dados com os professores da disciplina de Artes do Ensino Fundamental, anos finais,
de escolas da rede pública de ensino da cidade do estado de Santa Catarina, com o objetivo de averiguar
como tem sido tratado os saberes e as vivências das práticas escultóricas em sala de aula. Essa questão
surgiu durante as aulas da disciplina de Escultura, ao observar as inquietações trazidas pelos alunos do
PARFOR em relação ao ensino-aprendizagem do tridimensional. A tridimensionalidade no contexto
escolar traz sua referência não só no fazer artístico, mas nas possibilidades de uma aprendizagem mais
complexa, propiciando uma reflexão sobre a capacidade de contribuir com a transformação da realidade
em que o indivíduo está inserido. A metodologia utilizada neste trabalho caracterizou-se como pesquisa
bibliográfica, qualitativa e pesquisa-ação, considerando a análise dos resultados obtidos nas avaliações
dos professores por meio de um questionário com perguntas abertas e fechadas. Os resultados da
pesquisa, que envolveu vinte professores de Artes, revelaram dados com destaque para as práticas e
conceitos desenvolvidos, as dificuldades encontradas em sala de aula e os materiais escultóricos
utilizados para as atividades artísticas.
Palavras-chave: Educação. Tridimensional. Práticas Pedagógicas.
Introdução
1
Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau – FURB. Professora do curso de Artes Visuais
da Universidade Regional de Blumenau – FURB e PARFOR. E-mail: arte.roseli@gmail.com
2
Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau – FURB. Professora do curso de Artes Visuais
da Universidade Regional de Blumenau – FURB. Coordenadora do Curso de Artes Visuais PARFOR/FURB. E-
mail:lindamirj@gmail.com
Escultura Figurativa
Além dos conceitos da matéria e forma, outro aspecto relevante da escultura é a sua
representação que pode ser encontrada tanto na forma figurativa quanto na abstrata.
De acordo com Aranha e Martins (1998, p. 205), a arte figurativa “[...] é aquela que
retrata um lugar, um objeto ou uma pessoa de forma que possam ser identificados,
reconhecidos. Abrange desde a figuração realista até a estilizada.”. Osborne (1974, p. 73),
complementa a ideia do figurativo como sendo “[...] o naturalismo em função do hábito mental
que desvia a atenção da obra de arte como tal e contempla, através dela, como que um espelho
ou de uma janela transparente, a fatia de realidade que ela imita [...]”.
Essa atitude perante a escultura surge já na Grécia quando o escultor era admirado pela
sua habilidade em reproduzir esculturas naturalistas. O conceito que melhor parece expressar
a ideia de figurativo era a mimese, que em grego significa “imitação”, que numa primeira ideia,
ainda que incerta, está ligada ao conceito procedente do naturalismo. Conforme Aranha e
Martins (1998, p. 210) “[...] os escultores ‘imitavam’ a realidade, ou seja, tentavam, em suas
obras, criar uma ilusão de realidade.”. No período grego Helenístico, a escultura atinge o auge
do realismo, como no exemplo da escultura Laocoonte e seus filhos, e geralmente envolta num
contexto mitológico. Os romanos seguem a tendência figurativa grega, porém visando os
retratos e bustos de imperadores.
Retomada no Renascimento e aprimorada no Maneirismo, a figura humana se torna o
centro de interesses no conceito de artistas como: Donatello (1386-1466), Michelangelo (1475-
1564) e Bernini (1598-1680). Nesses períodos, a escultura é definida com personalidade e
precisão.
No século XIX, surge a fotografia que representa a realidade de maneira fiel e com
rapidez. A função da arte é repensada e surge uma ruptura em que a arte figurativa passa a ser
questionada. Na escultura, é Auguste Rodin que inicia as tentativas de simplificação da forma,
não se importando com a idealização do real.
Ainda que a escultura tenha sofrido uma evolução própria, também refletiu as duas
grandes atitudes intelectuais que dominaram o período: a submissão à realidade, que
tende a se apresentar como algo que se desvanece, fruto de uma visão, como na
pintura, e a possibilidade de sugerir um impulso espiritual, simbólico, mais além da
matéria (NAME, 2008, p. 225).
Até o início do século XX, as tendências do fazer escultórico ainda buscavam conexões
com a figuração e a realidade, mas isso acaba com o surgimento das novas propostas da arte
moderna, principalmente com a tendência conhecida como abstração.
Escultura Abstrata
O impulso artístico original não tem nada a ver com a imitação da natureza. Ele busca
a abstração pura como única possibilidade de descanso interior da confusão e da
obscuridade da imagem do mundo, e cria a abstração geométrica a partir de si mesmo,
de modo puramente instintivo (WORRINGER, 1978 apud BONFAND, 1996, p. 11).
A abstração nasce a partir do século XX, em uma tentativa dos artistas europeus de
superarem o academismo que norteava os campos da arte. Os escultores que pertencem ao
construtivismo russo tentavam mostrar a vida moderna através da forma abstrata. Para Name
(2008, p. 244), o construtivismo cinético é “[...] uma arte não objetiva, isto é, não possui
referências concretas e nasce da lógica do próprio material e sua forma.”. Alguns de seus
representantes foram Vladimir Tatlin, Antoine Pevsner e Naum Gabo.
Conforme Battistoni (2003), uma das características aceitas na escultura moderna foi a
forma abstrata, inspirada em duas tendências: o construtivismo e o abstracionismo orgânico.
O século XX foi um período de aplicação das conquistas técnicas devido ao progresso
industrial iniciado no século anterior. Houve uma mudança na busca de conceitos em que o
construtivismo cinético procura expressar através da forma abstrata “[...] ainda que não se
excluam insinuações figurativas, a mecanização da vida moderna.” (BATTISTONI, 2003, p.
140). O conceito cinético foi utilizado inicialmente pelos construtivistas, no qual o objetivo da
escultura era criar efeitos visuais por meio de oscilações.
Outra tendência, o abstracionismo orgânico, vê nas formas da natureza sua fonte de
criação artística. Para Battistoni, o abstracionismo orgânico se inspira diretamente na natureza
“Anima-se da ânsia de surpreender, captar e comunicar, sob formas abstratas, os ritmos
elementares de vitalidade as pulsações primordiais de vida ou os processos de formações da
matéria viva.” (BATTISTONI, 2003, p. 140). O Oval com Pontos de Henry Moore é um
exemplo de escultura orgânica abstrata.
O abstracionismo pode buscar inspiração nos símbolos e signos encontrados nas
civilizações arcaicas e nas culturas primitivas, algumas em estágios místicos e mágicos com
base no conhecimento e na interpretação do universo e dos fenômenos da vida.
O Tridimensional
A Arte é um dos campos do conhecimento que mais sofreu transformações nas últimas
décadas. Dessa forma, entende-se que a história da arte conta a nossa própria história, afinal
somos o resultado de um longo processo cultural.
Dentro das manifestações artísticas, a escultura é uma das linguagens que vem buscando
novos desafios a cada período da história, a cada movimento artístico.
Para Coll e Teberosky, a escultura tem volume, isto é “[...] são formas que podem ser
apresentadas no espaço tridimensional. [...] de vários ângulos: pela frente, por trás, pelo lados,
por cima, por baixo. Podemos andar ao seu redor e ter delas várias imagens diferentes.” (COLL
E TEBEROSKY, 2000, p. 45).
Assim, um objeto com volume tem três dimensões: altura, largura e profundidade. No
decorrer da história a escultura sempre esteve associada à massa, peso e solidez.
Conforme Coll e Teberosky (2000), na modernidade as técnicas aditivas na escultura
por meio da construção e acréscimo de materiais passam a ampliar as possibilidades da prática
escultórica, que antes estava submetida às técnicas subtrativas, ao tradicional entalhe, que
consiste no desbaste do material. Não somente as novas técnicas e as pesquisas de novos
materiais, mas outros conceitos como o espaço, a transparência, a abstração, o movimento e a
cor trazem uma nova roupagem para a forma clássica da escultura. Na Modernidade, as
esculturas começam a incorporar, nelas mesmas, o próprio vazio, que é o oposto do volume,
criando o aspecto do vazado como uma opção escultórica.
Conforme Krauss (2007), uma área do conhecimento não está restrita a ela mesma. A
escultura vai para além de uma mera experiência visual do objeto criado pelo artista. Agora se
depara com uma concepção múltipla, com experiências mais complexas que propiciam ao
observador vivências táteis, sensoriais, mentais e sensíveis, graças à diversidade de materiais e
conceitos.
Em seu livro O tridimensional: Dimensões para arte e educação, Moreira (2012, p. 36-
37) enfatiza
[...] hoje não mais cabe, quando a palavra nem é mais escultura, porém tridimensional.
E isso porque a obra não só mais representa a mesma coisa de antes como nem utiliza
mais o mesmo gesto, o gesto de pôr, de acrescentar matéria a matéria, ou o de tirar,
de extrair a forma da matéria de que Michelangelo considerava o modo sublime da
cultura (COELHO; MOLINO, 2012, p.32 )
Segunda questão: Para você, professor, o tridimensional tem um papel importante nas
aulas de Artes? Todos responderam “sim”.
Terceira questão: Com que frequência o professor trabalha o tridimensional em sala de
aula?
Gráf. 1. Resposta da questão 3
Fonte: Os autores.
Quarta questão: Você já levou seus alunos para conhecer alguma escultura em museu
ou praça? Onze professores responderam “não” e nove responderam “sim”.
Sobre os locais visitados:
1. Simpósio Internacional de Esculturas em Brusque – SC (3 vezes);
2. Museu Oscar Niemeyer em Curitiba – PR (2 vezes);
3. Ateliê do escultor Pita Camargo (2 vezes);
4. Parque das esculturas em Curitiba – PR (1 vez);
5. Museu Mundo do Ovo (Eli Heil) em Florianópolis – SC (1 vez);
6. Igreja São José em Timbó – SC (1 vez);
7. Fundação Cultural de Blumenau (1 vez).
Fonte: Os autores.
Sexta questão: Que tipo de materiais escultóricos o professor trabalha em sala de aula?
Gráf. 3. Resposta da questão 6
Fonte: Os autores.
Sétima questão: Tem alguma experiência sobre uma atividade tridimensional em sala
de aula que possa relatar?
Cada entrevistado respondeu uma opção abaixo, com exceção de dois que não
responderam:
“Painéis utilizando materiais como sucata para criar uma ilusão em 3D.”.
“Colagens e bonecos de jornais para criar uma ilusão em 3D.”.
“Escultura da Vênus de Willendorf feita de argila e perspectiva na construção de móveis com
base nas obras de Portinari.”.
“Releitura das obras de Pablo Picasso utilizando materiais como argila e papel.”.
“Sobre o Cubismo: esculturas em argila, cones de linha e rolos de papel higiênico.”.
“Releitura das obras dos pintores Van Gogh e Tarsila do Amaral usando massa de modelar.”.
“Criar esculturas a partir de garrafa pet.”.
“Esculturas e colunas gregas usando argila.”.
“Escultura com concreto celular sobre esculturas modernas e móbiles de Alexander Calder com
armação de arame.”.
“Esculturas em argila.”.
“Origami com balão de São João, Tsuru e garça japonesa.”.
“Alguns instrumentos musicais de percussão com rolo de papel higiênico ou EVA.”.
Considerações Finais
Na conclusão deste artigo, pode-se afirmar que o objetivo foi atingido. Mediante a
pesquisa realizada com os professores, reuniu-se dados que possibilitaram averiguar como vem
sendo tratado o conceito de tridimensionalidade nas aulas de Artes.
Os dados da pesquisa evidenciam a prática, sendo que o tridimensional ainda é um
conceito desconhecido para a maioria dos arte-educadores. Na questão da contextualização,
60% dos entrevistados afirmaram que conhecem os escultores da região, mas ao mencionar os
trabalhos com o tridimensional surgem nomes de artistas como Pablo Picasso, Alexander
Calder e Alberto Giacometti e nenhum escultor local.
Apesar de todos considerarem importante o papel da tridimensionalidade nas aulas de
Artes, a frequência do trabalho para a maioria dos professores com essa temática é reduzida
durante o ano letivo (inclusive dois professores nunca trabalharam atividades com o
tridimensional). Entre os motivos argumentados estavam a falta de ambientes adequados para
aplicar as práticas escultóricas e a negligência dos alunos em trazer os materiais solicitados.
Outra questão relevante desta pesquisa foi a saída a campo, na qual 55% dos professores
nunca propiciaram uma visita a um museu ou praça, ou seja, as aulas de Artes estão restritas à
sala de aula.
Quanto aos materiais escultóricos trabalhados em sala de aula, surgem várias
materialidades, sendo os mais utilizados: o papel/cartolina, a sucata e a argila. Os relatos quanto
às atividades tridimensionais em sala de aula são múltiplas e vão desde a criação de painéis,
brinquedos e instrumentos musicais com sucata, exercícios do bidimensional para o
REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de filosofia. 2. ed.
São Paulo: Moderna, 1998.
BATTISTONI FILHO, Duílio. Pequena história da arte. 12. ed. Campinas: Papirus, 2003.
COELHO, Teixeira; MOLINO, Denis. Obsessões da forma. Catálogo. São Paulo: MASP,
2012.
COLL, César; TEBEROSKY, Ana. Aprendendo arte. São Paulo: Ática, 2000.
MOREIRA, Roseli Kietzer. Técnica e gênero de escultura. 2. ed. Indaial: Uniasselvi, 2011.
______. O tridimensional: dimensões para arte e educação. Blumenau: Nova Letra, 2012.
NAME, Leonardo dos Passos Miranda. Enciclopédia do estudante. 1. ed. São Paulo: Moderna,
2008.
OSBORNE, Harold. Estética e teoria da arte. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1974.
Resumo
A partir da experiência como mediadora em diversas exposições observei a ação do corpo de crianças
e suas respostas à mediação proposta, tendo como pauta a experiência do encontro. Sendo esta
vivência uma fonte de crescimento e alicerce para a construção de significações, este artigo surge do
interesse de investigar a relação cognitiva-lúdico-estética da ação da criança e de seu corpo frente à
arte no espaço expositivo e problematizar a mediação cultural como ativação de corpos nestes espaços.
Considerando-se a arte e a estética como essenciais na ampliação de como a criança compreende e
concebe o mundo, pergunta-se: sendo a arte propulsora da experiência estética, como potencializá-la
nos espaços institucionalizados? Como a arte contemporânea ressoa na criança? De que forma ela
impacta e proporciona experiência estética? Como privilegiar trocas afetivas, interrogar suas
lembranças, criar dispositivos propulsores e deixar a criança fazer suas próprias escolhas? O foco
central de análise são os espaços expositivos que abrigam arte: estes são compreendidos como espaços
de encantamento, descoberta, exploração? Como o espaço, com sua expografia e curadoria, podem
influenciar o processo de descoberta e significados para a criança a partir de sua ação? A pesquisa,
partindo de minha vivência como mediadora e de visitas a espaços voltados às crianças, permitirá
inferir quando a criança é realmente vista como público e respeitada como tal em relação à disposição
do espaço, visualização das obras, acolhimento e regras que abrangem o processo de descoberta
visando uma experiência estética e emancipadora das crianças.
Introdução
“É inevitável que as palavras se carreguem de sentido”
DELIGNY. 2015
Ao ser convidada a coordenar uma oficina voltada para crianças na última SP-
ARTE/FOTO/2017, no acolhimento questionando as crianças sobre espaço expositivo e uma
livre associação que poderia ser encontrar na proposta dada, me deparo com muitas regras
sendo “recitadas” por elas. Como em um jogral as crianças recitavam tudo aquilo que não era
possível fazer em espaço expositivo.
Não corra;
Não tocar na obra;
Não ultrapassar a linha branca, que divide meu corpo da obra;
Não consumir bebidas e alimentos em espaço expositivo;
Para a minha surpresa, essas crianças, de classe social alta, e já bem familiarizada com
espaços expositivos, não se ativeram a liberdade de criação proposta naquele momento,
somente se lembraram das regras. Não se permitiram, no primeiro momento. Continuei a
provoca-las e estimular suas ações, tentando ativar seu poder criativo, sem castrar sua poética
e consequentemente sua livre criação. No final se jogaram... O resultado foi incrível e muito
gratificante. Tivemos uma produção muito potente.
Em um campo de regras cabe a criança o direito a olhar e investigar, agir com os sentidos.
Pelo medo do desconhecido a princípio vem à desconfiança, que naturalmente nos intimida,
mas aos poucos vão se permitindo, se apropriando, pertencendo ao espaço, formas, palavras,
sons cheiros. Os sentidos acordam a escuta se aguça, batem, rebate a fala, mesmo que tímida,
se faz. Questões, inquietudes, provocações, vem ao encontro dos anseios do conjunto
corporal. Falar, procurar significados, tudo em uma grande confusão de ideias e fatos,
explodem de seus esconderijos, que a desconfiança muitas vezes nos obriga a penetrar.
Estabelecer conexões e trazer significados é uma apropriação de suas necessidades e
vontades, pouco a pouco acontecem às descobertas, cada qual de sua forma e jeito. Mitos se
constroem no imaginário, narrativas surgem para justificar fatos.
Como acessar a criança no espaço expositivo?
De que forma a arte contemporânea acessa a criança, pelos sentidos?
A experiência pode ser vivenciar esse espaço, ela acontece de forma sensorial somente?
A experiência estética tem caráter emancipador?
Será que posso pensar também na formação de público?
A mediação desse espaço com a criança é uma forma de sensibiliza-la utilizando as múltiplas
linguagens e acessos da arte?
A arte como processo e não o produto me fez rever conceitos em relação aos diálogos
estabelecidos no espaço expositivo. A estética é aquilo que faz sentido e não a presença
daquilo que é belo. Estar presente no espaço é tão importante quanto contempla-lo. O mesmo
acontece ao observar e escutar a criança no ato de mediar o espaço expositivo e ou na escola –
e na vida. É preciso um olhar atento, uma escuta afinada.
O corpo que está em ação, que se dá na experiência e cria hipóteses, se desenvolve, avança.
Quando o sensorial está presente, o corpo é acionado por inteiro. A percepção é outra. A
criança é um ser que se dá por inteiro em suas ações, como acessar suas múltiplas linguagens?
Disposição para ouvir uma metáfora para relacionamentos múltiplos, assim como
uma forma de diálogo e troca. O objetivo é criar um ambiente de empatia para ouvir
as crianças e sua centena de linguagens (...). Há um respeito pelo outro, uma
disposição para ouvi-lo: uma “estratégia de atenção” (CEPPI, ZINI, 2013, p. 18,19).
O que atrai a criança no espaço expositivo? Ela enxerga e se deixa levar pelo olhar e
completamente pelo seu corpo, que é ativo? Seu corpo é curioso e ávido por relacionar-
se com todos os seus sentidos? Então como proibir o tocar?
A criança é um ser em continuo movimento, é observadora e atenta, sempre pronta a
descobrir, experimentar. A descoberta vem mesclada com seus desejos, suas dificuldades e
desafios. A vivência com a arte, a experiência estética que cada um tem através da percepção
individual é transformadora para o seu crescimento cognitivo.
Nossas expectativas sobre a criança deveriam ser mais flexíveis e variadas, deveríamos ter a
capacidade de estimular o jogo da aprendizagem, para que a criança continue desejando jogar
conosco. Estreitando laços e relações, escutando ideias, analisando hipóteses e lançando-as de
volta, tornando assim o jogo mais excitante e interessante. Ao observarmos o potencial da
ideia para estimular o trabalho intelectual e o crescimento do coletivo, no grupo, devemos
perceber as possibilidades de interações. Podendo firmar ideias de uma possível linguagem
mais clara e empática para assimilação do grupo. Não dando a resposta, mas a transformando
em provocação e oportunidade de descobertas diversas.
A mediação pode ser vista como uma ação conjunta, uma co-construção do conhecimento
feito pela criança, uma vez que a descoberta intelectual é supostamente um processo
essencialmente social. Analisar as hipóteses ou os argumentos de uma criança é um processo
que nos leva a responder questões para todos os envolvidos no processo. A dúvida ou a
observação de uma criança leva o grupo a explorar territórios jamais percorridos. Segundo
Vygotsky (2014) o crescimento intelectual tem uma natureza social. O conflito intelectual é o
que faz a criança avançar em suas hipóteses. Ele surge com maior intensidade no ambiente
coletivo e social.
“Precisamente toda fantasia parte da experiência acumulada.” (VYGOTSKY, 2014, p.12).
Relacionando experiência com a imaginação e graças às experiências alheias e a socialização
podemos conseguir matéria-prima para construção de fantasias. Quanto maior a riqueza das
Considerações finais
O que está atrelado ao espaço, o currículo escolar, pedagogia social, ensino não formal,
ou tudo isso se mesclando. Existe uma curadoria educacional voltada para o público
infantil?
O que pode ser um percurso de aprendizagem, quais são esses percursos, que caminhos
traçam?
Quais as diretrizes que estão norteando “o olhar” do público infantil nos espaços
culturais. Em que medida “esse olhar” direcionado está contribuindo para a formação da
criança?
Os espaços estão organizados para receber o público infantil ou camuflados para
contabilizar o público?
Qual é o paralelo traçado com as escolas e as instituições culturais, onde o interesse por
esse público aparece e qual as expectativas, formação de público, possíveis relações de
aprendizagem?
Quais os possíveis espaços potentes para mediação, e onde a mediação começa?
As relações do espaço expositivo são de cunho pedagógico. Em qualquer relação
pedagógica há diferença entre o mediador e o mediado, sendo que um sempre media o
outro, mesmo que o objetivo seja querer eliminar essa diferença. Para a existência de
uma relação, ambos os termos saem reformados. Esse processo se dá na tensão, e a
tensão se dá porque existem diferenças. Tudo que é estável pode significar a ausência
das diferenças e consequentemente sua morte.
A escola por sua vez é o lugar em que a criança passa boa parte da sua vida e um espaço
de doutrina do corpo, alienação, do pensamento e racionalização da experiência. O
corpo passa a ser um instrumento de dominação, não há disciplina mental que não seja
corporal. A escola, ao insistir em manter a criança imobilizada, acaba por limitar o fluir
de fatores necessários e importantes para o desenvolvimento completo da pessoa. E a
mediação institucionalizada ainda está muito atrelada ao sistema e currículo escolar, é
uma forma de educação não formal, mas que formata. Muitas vezes e ainda, não
deixando a experiência do fruir acontecer, tudo tendo que compor como um modelo
protocolar, estando ainda atrelada a educação formal e suas diretrizes cheias de
explicações e proibições. “Um bom emprego do corpo que permite um bom emprego do
tempo, nada deve ficar ocioso ou inútil (...). Um corpo disciplinado é à base de um gesto
eficiente.” (FOUCAULT, 2010, p.147).
A criança conquista o espaço por meio da percepção. Explora seu ambiente o tempo todo e
testa limites. Utiliza atos motores para auxiliar a exteriorização do pensamento. Descobre e
explora o espaço utilizando seu corpo na totalidade. Muita disciplina pode dificultar o seu
processo de criação. É obvio que necessita de limites, que devem ser construídos no decorrer
de suas experiências e vivencias.
Elas também necessitam de conforto e segurança para avançar no seu aprendizado. A
necessidade em ter uma organização espaço temporal planejada serve para um melhor
desenvolvimento cognitivo. Desenvolver significa crescer, conforme a criança vai crescendo e
se desenvolvendo ela aprende novas vivências que permanecerão armazenadas na sua
memória como registros.
Segundo Dantas (1992) é no movimento corporal que a criança flui suas emoções e
pensamentos. Estudos realizados por ele mostram que o desenvolvimento cognitivo se dá
essencialmente nas diferenciações que cada um faz com a realidade exterior. A afetividade é
essencial para o desenvolvimento humano. A construção do eu se dá no outro, seja para
referência ou negação. A socialização é muito importante para o desenvolvimento afetivo da
criança desta faixa etária. Logo podemos acreditar que o meu conhecimento e minha
identidade são construídos pelo outro. “Para Wallon, o ser humano é organicamente social,
isto é, sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura para se atualizar.” (DANTAS,
1992.p.36).
Cabe aqui, nos espaços expositivos, a grande chance de experimentar e ser experimentado.
Experimentar como deveria ser feito no nosso dia a dia, na vida, em casa, na rua, na escola, no
parque, no museu. Dando sempre comando aos acontecimentos, ou não, deixando-os fluir,
fruir enfim... O tempo me pertence, mas não sou responsável por ele. Quanto mais pelo tempo
do outro. A experiência, a escuta e observações ditam à necessidade de algum diálogo, da
criação de narrativas que exemplifiquem ou somente explique o que estou assimilando. É o
corpo e sua reação que se movem no espaço e fazem o percurso.
REFERÊNCIAS
CEPPI, G.; Zini M.(org.). Crianças espaços e relações: como projetar ambientes para a
educação infantil. Porto Alegre: Penso 2013.
DEWEY, John. A Arte como Experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
LAROSSA, Jorge., Pedagogia Profana: danças piruetas e mascaradas, São Paulo: Ed.
Autêntica, 2015.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos para quê?, São Paulo, Cortez, 2010.
Resumo
Relato de experiência docente em Artes Visuais, de uma oficina de “fotografia cega” realizada na V
Semana das Artes Cênicas no Curso de Licenciatura em Teatro do Instituto Federal do Ceará-IFCE.
Buscou-se a interlocução entre teoria e prática no processo de ensino em Artes Visuais, através de
pesquisas acerca do conceito de experiência em Bondía (2002), da visão e imagem em Bavcar (1994) e
Merleau-Ponty (2015) e da fotografia em Dubois (1993). Pensou-se como principal objetivo desta
pesquisa propor um ensino de Artes Visuais, em específico de fotografia, que entenda a produção de
imagens para além da visão e que propicie experiências em vez de informações. Como resultados
surgidos nesta atividade, observou-se possibilidades de construção e reflexão sobre uma fotografia
para além da visão, um ato fotográfico dado a partir da experiência, por outros sentidos e construído
através da proximidade de fotógrafo e fotografado, contribuindo com novas metodologias no ensino de
artes visuais.
Palavras-chaves: Ensino de Artes Visuais. Experiência. Imagem
Introdução
1
Técnica fotográfica na qual o fotógrafo, com os olhos vendados, busca criar outras relações sensórias no ato
fotográfico.
2
Licenciando em Artes Visuais, bolsista no Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID/ CAPES-
IFCE). e-mail: dri.dmorais55@gmail.com.
3
Doutor em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará, professor do Curso de Licenciatura em
Artes Visuais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará-IFCE. E-mail:
gilmach.ifce@yahoo.com.br.
Instituto Federal do Ceará (IFCE) no contexto de ações que reverberam na formação inicial
do artista-professor-pesquisador.
Como principais problemas norteadores dessa pesquisa estão: Como experimentar uma
fotografia para além da visão, que incorpore outros sentidos e que aproxime o fotógrafo do ser
fotografado, mesmo quando entre estes há um aparelho que instaura uma barreira de poder e
que é programado a funcionar por um sistema visual? Estas perguntas nos motivam a pensar
outra relação com a imagem, através de uma fotografia mais sensitiva e baseada na
experiência. Assim destacamos que propor um ensino de Artes Visuais, em específico de
fotografia, que entenda a produção de imagens para além da visão e que propicie experiências
em vez de informações, se faz um objetivo principal desta pesquisa
Para isso iremos apresentar agora o resultado de uma oficina realizada na V Semana de
Artes Cênicas-Artes integradas do IFCE, organizada pelo Curso de Licenciatura de Teatro no
período de 29/03 a 01/04 de 2016, que nos dá uma dimensão prático/teórica para o estudo que
se apresenta como uma pesquisa em Ensino de Artes Visuais em desenvolvimento. Alguns
resultados parciais são observados através do estudo bibliográfico e de oficinas de Fotografia
Cega.
Tomamos como referencias teóricas e metodológicas autores que trazem reflexões
acerca da experiência como BONDÍA (2002), da imagem como BAVCAR (1994), e da
Fotografia em DUBOIS (1993).
Justificativa
Acontece que nesta relação imagética do homem com o mundo, estabelecemos um olhar
cientifico diante das coisas e parecemos também colocar a visão numa posição hierárquica
maior dentre todos os outros sentidos, domesticando o corpo apenas ao que o olho vê e
desestimulando relações de outras ordens sensórias. Este modo cientifico de olhar o mundo
fazem da afetividade, sensibilidade e possibilidade de narrar algo cada vez mais escasso nos
dias atuais, acabam também por organizar o mundo apenas em uma única lógica, esta quase
sempre é o da representatividade, da imagem enquanto prova viva do real.
É questionando o ato fotográfico contemporâneo enquanto parte da sociedade dita da
informação é que se pretende criar possibilidades de outras visualidades na fotografia, na
busca da experiência, o qual, Bondía (2002) nos representa quando aborda o conceito de
experiência afastado da informação, defendendo inclusive que uma somente pode existir
quase que na ausência da outra, ou seja, afirmando que a informação é a antiexperiência e
assim, procura pensar uma educação a partir do par experiência/sentido.
Na sociedade da informação o sujeito está transbordado de acontecimentos,
fragmentado num tempo onde a cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo,
quase nada nos acontece, BONDÍA (2002). O anseio pelo saber é inesgotável e exige um
posicionamento ativo e visceral diante do mundo. Diferentemente do sujeito da informação, o
da experiência é defendido pelo autor, como território de passagem, como um corpo sensível
para que os acontecimentos imprimam em sua vida afetos e marcas, como uma câmera
imprime o mundo no papel.
É nessa relação da visão enquanto receptora de conhecimentos que a sociedade moderna
se fundamenta e torna o olhar cada vez mais cientifico. Neste sentido enquanto o mundo
moderno, pautado pela visão, dá um passo enorme na criação de tecnologias e informações, se
distancia da experiência. É interessante relacionar este conceito de olhar ativo e racional com
o de experiência em Bondía (2002), pois para este a experiência não pode ser captada a partir
de uma lógica da ação, mas sim de um corpo passional que é arrebatado pelo acontecimento,
por isso a experiência só pode ser concebida enquanto uma paixão.
Partindo desta lógica, passamos a pensar aqui uma outra relação com a visão, uma que
distante da racionalidade (da luz) esteja mais próxima dos afetos e sensibilidades e para
Bavcar (1994) mais próxima da escuridão. Filósofo e fotógrafo Esloveno, Evgen Bavcar ficou
cego ainda criança e assim, desenvolveu uma outra relação com a imagem. Para o autor e
fotógrafo a visão física é uma atitude de distanciamento diante do mundo, não pode ser
considerado como um olhar da verdade pois apenas o tato pode confirmar a presença de
determinado objeto. Neste sentido Bavcar (1994) defende que é imprescindível entender a
visão não só a partir da luz, mas a partir da escuridão afinal, para ele as trevas são como a pré-
imagem da luz, condicionam a instauração da luz.
A partir disso é possível criar entrelaçamentos e reflexões sobre a proliferação de
imagens em que se cerca a sociedade contemporânea: Atravessados de luzes e imagens por
todos os lados já confundimos a representação das coisas com a realidade, vivenciamos o
mundo a partir da sua representação, que para Bavcar (1994) este excesso de luz obscurece a
possibilidade de se pensar outras visualidades, outra luz.
Após essa reflexão, estamos certo de que procuramos aqui entender a visão não como
um ato isolado do resto do corpo, não como um ato que assume postura hierarquizada dos
outros sentidos num mundo cada vez mais imagético, e sobretudo que cobra cada vez mais
que cada milímetro seja percebido através dos olhos. Entendemos a visão aqui como um ato
corpóreo que não acontece separadamente dos outros sentidos. Para isso trazemos como
referencial teórico Merleau-Ponty (2015) ao pensar que o mundo visível e os projetos motores
de um ser são partes totais do mesmo ser, assim o autor pensa que processos ópticos e
estéticos, por exemplo, como “qualidade, luz, cor, profundidade, que estão a uma certa
distância diante de nós, só estão aí porque despertam um eco em nosso corpo, porque este as
acolhe” (MERLEAU-PONTY, 2015, p.21). Concordando com o autor, acreditamos num
corpo pulsante inserido numa paisagem, que absorve e reflete a espacialidade, a forma, a
textura a partir da comunhão dos sentidos. Contudo, após este entendimento fica impossível
pensar numa percepção do espaço que se dá apenas pela visão.
Diante deste quadro teórico apresentado e de toda a relação imagética em que nos
encontramos, trazemos alguns problemas chaves norteadores para a construção desta
pesquisa: Como realizar uma fotografia para além da visão, que incorpore outros sentidos e
que aproxime o fotógrafo do ser fotografado, mesmo quando entre estes há um aparelho que
instaura uma barreira de poder e que é programado a funcionar por um sistema visual?
É levantando este questionamento que surge a pesquisa em Artes visuais, “A fotografia
como abraço com o real”, título ensejado a partir do conceito apresentado por Dubois (1993),
divide a fotografia em três categorias distintas, estas são definidas a partir de sua relação
signica com a realidade. Na primeira categoria o autor define a fotografia como espelho do
real e tem a mimese como força, a fotografia é tratada como cópia fiel de qualquer
acontecimento, nesta categoria a fotografia apresenta uma relação mais icônica com o mundo.
A segunda definida como “A fotografia como transformação do Real”, nega a primeira, esta
acredita que jamais poderia ser possível uma cópia fiel da realidade, por isso a fotografia aqui
estará associada mais a uma “operação de decodificação das aparências” (DUBOIS 1993, p
43), ou objeto de interpretação e desconstrução do real. Estas menos preocupadas com a
verossimilhança buscam criar uma narrativa ou desconstruir padrões em cima do objeto
fotografado. Esta categoria apresenta uma relação mais simbólica com o objeto ou evento
fotografado. Já a terceira categoria tem como força o índice, a fotografia aqui é tratada como
um indício de realidade, e se volta para os processos físicos e químicos e para a natureza
técnica dos processos fotográficos a fim de afirmar a foto como impressão luminosa. Esta
categoria afirma que a possibilidade de se fazer fotografia está intrínseca a materialidade do
objeto que, sobre a ação da luz pode circunscrever sua imagem no aparelho fotográfico.
É importante frisar que estas distinções criadas por Dubois (1993) definem a imagem
fotográfica a partir de categorias específicas e isoladas, e que hoje o próprio autor entende que
este pensamento pertenceu a um determinado período na história fotográfica e que hoje com
os diversos meios e híbridos processos na linguagem fotográfica as relações entre os meios de
produção imagética se misturam e ganham novas formas.
Foto autoral
Fotografia cega
Metodologia e Resultados
concordamos com DIAS e IRWIN quando falam que nesta prática metodológica “o processo
de investigação torna-se tão importante, às vezes até mais importante, quanto a representação
dos resultados alcançados”. (DIAS e IRWIN, 2013, p 29).
Não podemos dizer se as pessoas aprenderam ou não a fotografia cega, e nem era de
nossa pretensão isso, mas podemos dialogar com as reflexões acerca da fotografia que
atravessaram os participantes durante o evento. Percebemos que esta atividade foi de
fundamental importância e trouxe principalmente uma outra visão para o olhar fotográfico,
isto pode ser comprovado na fala de um dos participantes que afirmou a força dessa atividade
frente aos modos ainda comuns de se perceber a fotografia, para ele essa atividade abria
possibilidades também para a inclusão no ensino das Artes Visuais e ao comentar que no seu
curso existe uma aluna cega, completou que a oficina tornou possível compreender um mundo
a partir dos outros sentidos e entender melhor as necessidades dessa aluna. Outra participante
sentiu-se contemplada com a possibilidade de poder discutir o corpo, sua matéria prima de
pesquisa, dentro da fotografia e sugeriu uma próxima atividade mais prolongada. Como toda
atividade desenvolvida, esta também teve alguns percalços que necessitam avaliação para um
aprimoramento cada vez maior da abordagem metodológica. Um deles tem a ver com os
poucos equipamentos obtidos em sala, o que em geral ocorre com oficinas de fotografia; e
outro da ordem técnica: um projetor não funcionou. Para o primeiro existe uma solução
menos idealista das coisas, tendo em vista que mesmo que a fotografia tenha se
democratizado o acesso a seus equipamentos mais profissionais ainda é bastante difícil. Para
isso entendemos que trabalhar com câmeras de celular e fotografia artesanal é uma
possibilidade viável. Para o segundo percalço a solução é da ordem do planejamento, pois ter
um segundo plano para esses momentos sempre é importante e fazem do educador um sujeito
mais seguro dos contratempos que aparecem pelo caminho. No mais entendemos que os
objetivos da atividade foram alcançados e que o ensino da fotografia a partir dos outros
sentidos e com base na experiência é sim possível e merecido num mundo ainda tão pouco
percebido pelo corpo.
Considerações
Consideramos que poder transitar entre a teoria e a pratica nos processos de formação
inicial em Licenciatura em Artes Visuais, levar a pesquisa artística para o campo docente em
experiências como a apresentada, enriquece os processos de formação do futuro professor.
As experiências vividas nesta oficina ministrada no curso de Licenciatura em Teatro do
Instituto Federal do Ceará confirmam a importância de uma educação voltada para a imagem
e mais ainda uma educação que seja potente nas experiências e não na informação. Esta ação,
nos ajuda a repensar as formas de ver o mundo, essenciais na construção de uma sociedade
mais sensível em cheiros, tatos, sabores, sons e visões. Repensar um corpo pulsante num
mundo onde este se atrofia diante de tantas informações é acreditar numa educação que assim
como as paixões e experiências, nos tocam, nos acontecem e nos preenchem de saberes sem
que estes nos esvaziem.
Referências
Resumo
Este artigo propõe demonstrar a existência de recursos que possibilitem a fruição em Artes Visuais por
pessoas não visuais em instituições museológicas e culturais. Considerando-se o princípio de que a
Arte está ligada aos sentimentos humanos, muitos acreditam que, por não enxergar, essa pessoa está
excluída daquilo que se refere à poética visual. Defendemos em nossa pesquisa que, por intermédio de
recursos artísticos e tecnológicos, pessoas não visuais também podem apreciar obras de Artes Visuais.
O ponto de partida deste estudo foram três ações culturais ocorridas no ano de 2015 com a intenção de
proporcionar a essas pessoas a possibilidade de apreciar de forma tátil pinturas adaptadas, em sua
maioria, confeccionadas por intermédio de impressoras 3D. O recorte deste artigo abordará as ações
ocorridas fora do contexto escolar, que serviram de inspiração para criação de um método didático-
pedagógico de ensino de Artes Visuais com pranchas táteis para alunos não visuais da Educação
Básica (projeto de Mestrado do autor). Diante da ausência de um parâmetro atual para a adaptação
curricular no ensino de Artes Visuais para cegos e de livros que possam auxiliar o docente na
adaptação dessa linguagem artística, a pesquisa das ações apresentadas foram o pontapé inicial para se
pensar tal material didático adaptado para escolas, inspirado nas iniciativas que estão acontecendo fora
do contexto educacional formal, a fim de que a inclusão, nesses casos, ocorra de maneira mais eficaz e
autônoma.
Palavras-chave: Arte Inclusiva, Apreciação, Invisualidade.
Introdução
1
Mestre em Artes pela Universidade Federal de Uberlândia. Professor Assistente do curso de Licenciatura em
Artes Visuais do Centro de Comunicação, Letras e Artes da Universidade Federal de Roraima – UFRR. E-mail:
luis.posca@ufrr.br
2
Doutor em Arte e Tecnologia pela Universidade de Brasília. Professor Adjunto do curso de graduação em Artes
Visuais, bacharelado e licenciatura e Professor nos programas Acadêmico e Profissional de Pós-graduação em
Artes do Instituto de Artes da Universidade Federal de Uberlândia - UFU. E-mail: agreli@hotmail.com
Diante da redação dessa legislação, que, em 2017, completa vinte e um anos, avanços
foram feitos, mas falhas persistem diante das possibilidades que tais adaptações curriculares
citadas na legislação proporcionam às redes de ensino públicas do País.
Assim, entendemos que aquele indivíduo que não tem memória visual precisa se
cercar de recursos sensoriais que possam ativar em sua mente o sentido necessário para o
entendimento de um objeto ou uma obra visual, e não só ouvir a percepção oral e escrita de
outrem. Para demonstrar a possibilidade desse ensino multissensorial, buscamos ações fora do
ambiente escolar que atestam a possibilidade de se proporcionar situações de apreciação de
obras de artes visuais para pessoas deficientes visuais. Tais ações foram o ponto de partida
para se pensar em um material didático adaptado e pertinente para o ensino das obras de arte
em ambiente escolar da educação básica, já que, no caso do ensino da arte para o deficiente
visual, o docente não conta com nenhum tipo de material de apoio (livro didático de arte
“tátil” com imagens em alto relevo ou pranchas em 3D) para ser utilizado nas classes de
educação básica.
Nesse sentido, este artigo apresentará ações ocorridas fora do contexto escolar
norteadoras para se pensar a confecção de um método didático-pedagógico capaz de propiciar
uma experiência artística dentro do ambiente escolar para alunos não visuais.
Panorama de ações voltadas à Fruição de Obras de Artes Visuais por Deficientes Visuais
tato. A terceira ação ocorreu no Brasil e utilizou métodos inovadores: maquetes táteis,
audiodescrição, entre outros recursos, com a proposta de proporcionar, ao público não visual,
diversos meios sensoriais para que esses espectadores pudessem adentrar o campo da fruição
estética das pinturas artísticas. Essa última ação utilizou como recurso tátil “pranchas
visuais”, fabricadas em resina através de um processo artesanal por um artista plástico da
cidade de São Paulo.
A técnica Didú pode ser associada ao que é mostrado nos estudos de Duarte (2007),
que faz uso do método “Esquemas gráficos tátil-visuais”, em que é trabalhado o ensino de
desenho para crianças não visuais. Esse método foi criado a fim de ensinar os esquemas
pictográficos de figuras simples, de modo que a pessoa não visual passa a representar esses
pictogramas em seus desenhos. A autora afirma a importância de se manter, nas imagens
táteis bidimensionais apresentadas aos cegos, as principais características visuais formais dos
objetos, evidenciando os componentes gráficos que melhor os representam, procedimento
similar ao da impressão Didú.
3
“Starting with a high-resolution photo of the painting, employees at Durero select textures and features that
make sense to enhance for the blind. Next, they create a print, with a special ink, and then use a chemical process
to add volume to what would otherwise be a flat reproduction. As part of the chemical process, ultraviolet light is
applied to the special ink, so that the print gains a few millimeters of volume while maintaining the colors of the
ink, “like if you would add baking powder to a cake,” Mr. Pérez Suescun said. Each work displayed at the Prado
cost about $6,680.” (MINDER, 2015, Tradução nossa.).
visuais sonham em querer poder construir de forma mais clara. Dillon (2015) afirma que há
muitas pessoas que ouviram falar, durante toda a sua vida, de quadros clássicos famosos, mas
poucas tiveram o privilégio de tocá-los. Com o seu projeto, as pessoas podem “experimentar”
esses quadros pela primeira vez, revolucionando, assim, a advertência do “proibido tocar”,
típica dos espaços da Arte (CORREIA, 2015).
Na impressora 3D, a obra adaptada pode ser confeccionada com diferentes materiais
como: plástico, metal, arenito, resina, cerâmica (SOARES, 2015). A imagem escolhida como
divulgação do projeto foi a reprodução do quadro “Monalisa” do renascentista Leonardo da
Vinci; nessa iniciativa, somente a personagem é retratada, excluindo-se a paisagem de fundo,
resultando em uma versão diferente da apresentada pelo Museu do Prado. Além do projeto,
lançaram, também, uma campanha de arrecadação de fundos on-line para manutenção da
iniciativa na plataforma IndieGoGo4 com o objetivo de arrecadar 30 mil dólares para
viabilizar a criação das peças.
4
É um popular serviço de crowdfunding que reúne projetos de diversas áreas para pedir apoio financeiro. São
milhares de startups que participam de campanhas no site, todos os anos, para obter contribuição diretamente de
quem vai comprar o produto quando for lançado (TECHTUDO, 2014).
Nessa ação, encontramos apenas adaptações de obras de arte que retratam a arte
brasileira. De acordo com Arte-Inclusão (2015), as 14 obras da exposição têm uma
5
O Programa Educativo Públicos Especiais (PEPE) do Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca do Estado é um
trabalho voltado para grupos especiais, compostos por pessoas com limitações sensoriais, físicas e intelectuais, e
também para grupos inclusivos compostos por pessoas com e sem essas limitações, e tem como objetivo
possibilitar a acessibilidade física e sensorial aos espaços expositivos da Pinacoteca. O programa visa introduzir
e ampliar aos públicos especiais o conhecimento e a percepção da arte e da produção artística brasileira do
século XVII à atualidade, possibilitando e incentivando o acesso de todos os visitantes a esse importante
patrimônio cultural (ARTE-INCLUSÃO, 2015).
abrangência temporal que vai do final do século XIX a meados do século XX de artistas
como: Almeida Júnior, Di Cavalcanti, Pedro Alexandrino, com temáticas variadas: paisagens,
retrato, abstração, natureza morta e cenas.
O que chama a atenção nessa exposição é a variedade de canais sensoriais que foram
utilizados na adaptação das pinturas. Além da reprodução das imagens, o espectador contava
com maquetes táteis que reproduziam fielmente os elementos presentes na imagem original.
Isso pôde ser observado na Figura 4, em que temos a cópia de uma representação da obra de
Almeida Júnior, feita por meio de uma prancha em resina, para apreciação tátil, além de uma
maquete com o busto que reconstitui a mesma personagem retratada na pintura, obedecendo a
todas as características da expressão facial da obra original. Percebe-se, inclusive nos tecidos,
todos os vincos encontrados na pintura, representados no busto tridimensional.
Além das maquetes, todas as obras eram acompanhadas por essas pranchas visuais6,
compondo, assim, mais um elemento no momento de apreciação do deficiente visual. De
acordo com Arte-Inclusão (2015):
6
Essa “prancha visual” é construída artesanalmente pelo artista plástico José Alfonso Ballestero Álvarez, cujo
processo de construção acontece todo manualmente: após a escolha da obra, o artista seleciona quais elementos
do quadro vão ganhar as texturas. Um molde é criado por meio de um processo escultórico, obedecendo-se à
quantidade de milímetros que se pretende ter de textura na prancha final. Finalmente, após a criação do molde
com resina, este é preenchido e é retirada a prancha de apreciação tátil da imagem. Segundo o artista, no Brasil,
ele é a única pessoa que constrói esse tipo de material adaptado (informação cedida pelo autor das pranchas ao
pesquisador, 2017).
Após traçarmos esse panorama de ações voltadas à apreciação de artes visuais por
pessoas não visuais, demonstramos a viabilidade de adaptações que são capazes de levar a
pessoa que não enxerga a entrar em contato com obras de arte por meio de outros recursos
sensoriais. Trouxemos essas ações, ocorridas fora do âmbito escolar, como pontapé inicial
para pensarmos um material didático adaptado ao aluno não visual da educação básica, a fim
de que ele possa, nas aulas de arte, participar dos momentos de apreciação de pinturas
juntamente com os demais alunos.
Considerações finais
A garantia da inclusão nas escolas de ensino regular foi uma grande conquista para
as crianças que apresentam algum tipo de deficiência. Todavia, de nada adianta incluir essas
crianças em um sistema de ensino sem que haja uma preparação, adequação profissional e
material que as acolha de forma adequada. Foi nesse sentido que nos lançamos ao desafio de
realizar esta pesquisa, a fim de que encontrássemos ações concretas que pudessem embasar
um método didático-pedagógico para ser utilizado no espaço escolar com o objetivo de
mostrar aos alunos que apresentam algum tipo de deficiência (em nosso caso, os alunos
deficientes visuais) que eles também são sujeitos que fazem parte do contexto escolar, sem
prioridades ou ficar à margem: todos são, nas suas diferenças, sujeitos iguais.
Foi importante que encontrássemos fora do âmbito escolar essas ações que se
preocupam com a questão da Arte adaptada às condições das pessoas não visuais para pensar
essas questões dentro da escola. Utilizando-se de métodos artesanais, como maquetes e
pranchas, ou métodos tecnológicos, como os desenvolvidos com a impressora 3D,
constatamos que, em diversos locais, deficientes visuais podem criar suas relações com a
pintura por meio de suas próprias experiências e, dessa forma, apreciar à sua maneira essas
obras que antes eram conhecidas apenas a partir do ponto de vista de outras pessoas.
REFERÊNCIAS
CAIADO, Katia Regina Moreno. Aluno deficiente visual na escola. 2. ed. Campinas: PUC,
2006.
CARDEAL, Márcia. Metáforas visuais – redundâncias táteis. In: DUARTE, Maria Lúcia
Betezat; PIEKAS, Mari Inês. Desenho infantil em pesquisa: Imagens visuais e táteis.
Curitiba: Insight, 2011.
CORREIA, Sofia Marques. Unseen Art vai mostrar quadros famosos a cegos em todo o
mundo. 2015. Disponível em: <http://noctulachannel.com/impressora-3d-unseen-art/>.
Acesso em: 23 ago. 2016.
DUARTE, Maria Lúcia Betezat. Desenho infantil: e seu ensino a crianças cegas. 22. ed.
Curitiba: Insight, 2011.
MINDER, Raphael. At Museo del Prado, Blind Visitors Can Touch Masterpieces. 2015.
Disponível em: <https://www.nytimes.com/2015/03/07/arts/design/at-museo-del-prado-blind-
visitors-can-touch-masterpieces.html?smid=fb-
nytimes&smtyp=cur&bicmp=AD&bicmlukp=WT.mc_id&bicmst=1409232722000&bicmet=
1419773522000&_r=3>. Acesso em: 20 maio 2016.
MUSEUM displays paintings for the blind: Hoy toca el Prado. Hoy toca el Prado. 2015.
Disponível em: <http://www.cbsnews.com/pictures/museum-displays-paintings-for-the-
blind/>. Acesso em: 20 maio 2016.
SOARES, Jessica. Projeto usa impressão em 3D para que deficientes visuais “vejam”
obras de arte pela primeira vez. 2015. Disponível em:
<http://super.abril.com.br/cultura/projeto-usa-impressao-em-3d-para-que-deficientes-visuais-
vejam-obras-de-arte-pela-primeira-vez/>. Acesso em: 23 ago. 2016.
Resumo
Este artigo parte de reflexões de Alan Kaprow e de sua definição de não-artista, criado no início dos
anos 1970, sobre as novas questões envolvidas no ensino de arte depois da conceitualismo, legado
fundamental da arte conceitual para o surgimento de um novo tipo de propsição artística, no que
convencionamos chamar de arte contemporânea, onde a não-forma é recorrente. Um dos problemas
levantados por Kaprow seria o peso da tradição e o entendimento artesanal que ainda impregnava arte
naquele momento. No Brasil, atualmente, ainda observamos a entrada de jovens artistas nas
universidades que não fizeram a transição para as possibilidades atuais da produção de conhecimento
visual, para uma arte que não se estrutura mais em técnicas mas em questões. Assim, abordaremos as
implicações de uma proposta metodológica, voltada para iniciação à arte contemporânea aos jovens
artistas universitários, gradativa e individualizada, que leva em consideração suas trajetórias
anteriores, ao início do curso e, particularmente, o contato que já tiveram com o desenho e com
entendimento mais morfológico da produção artística, promovendo uma aproximação autêntica com
as questões atuais das artes visuais, contemplando a transdiciplinaridade, bem como mecanismos para
olhar o campo histórico da arte, de forma produtiva, a partir de uma perspectiva de interesse subjetivo.
Estabelecendo, assim, as bases para entrada em um processo criativo livre de convenções e
direcionado à experimentação e a ampliação do horizonte no campo das artes visuais.
Palavras-chave: Artes visuais. Conceitualismo. Ensino.
Introdução
Allan Kaprow foi um dos primeiros artistas a levantar implicações sobre os impactos
que o entendimento de arte conceitualista, forte legado da arte conceitual, teria para formação
de jovens artistas. Não foi por acaso, esta atenção de Kaprow para implicações educacionais.
Ele foi, também, de uma geração de artistas pioneiros na vida acadêmica. Graduação,
mestrado e doutorado para artistas são particularmente relevantes na era da arte como
conceito. A medida que a arte se distancia de seus referenciais morfológicos, afasta-se da
1Doutor em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Professor adjunto nos cursos de
Bacharelado em Artes e Bacharelado em Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense - UFF. Líder e
pesquisador no Grupo de Pesquisa Arte e Universidade UFF. E-mail: italobruno@id.uff.br
artesanalidade e, por consequência cria uma necessidade de aprofundamento dos artistas, algo
que a formação acadêmica pode oferecer muito bem, com sua estruturação já amadurecida em
outras áreas de conhecimento. Assim, poderemos observar em Kaprow, a formulação do
desafio colocado para o ensino arte contemporânea:
O maior desafio da arte Arte, em outras palavras, emergiu de sua própria herança, de
uma hiperconsciência de si mesma e seus arredores cotidianos. Arte arte tem servido
como uma instrutiva transição para sua própria eleminação pela vida. (FERREIRA
& COTRIM, 2006, p.219)
Da mesma forma que Kaprow, Joseph Kosuth em seu "Arte depois da filosofia"
evidencia uma mesma preocupação, sobre como lidar com o ensino, para jovens artistas. Se
fingir que as questões colocadas por Marcel Duchamp não existiram, ou se abolir os meios
morfológicos históricos da pintura e da escultura no ensino de arte. Da mesma forma que
Kaprow, também Kosuth aponta para novos problemas para arte, em sua condição
contemporânea, ao lidar com os fatos exuberantes colocados pela própria realidade
tecnológica de nossos tempos. O que se torna claro, entre outros trechos, quando nos diz:
O mundo todo está aí para ser visto, e o mundo todo pode assistir de suas salas de
estar ao homem andando na lua. Certamente não se pode esperar que a arte, ou os
objetos de pintura e escultura possam competir com isso em termos de experiência?
(FERREIRA & COTRIM, 2006, p.223)
Kosuth vai além, destacando o quando a produção artística atual pode estar
completamente desvinculada da noção tradicional de produção de obras materiais, ligadas a
tradição morfológica, dada pela própria constituição material dos objetos artísticos nos meios
da pintura, da escultura, do desenho. Vejamos:
Se alguém acompanhou meu pensamento (na Parte I), pode entender a minha
afirmação de que os objetos são conceitualmente irrelevantes para a condição da
arre. Isso não quer dizer que uma "investigação artística" em particular possa ou não
empregar objetos, substâncias materiais etc. nos domínios de sua investigação.
(FERREIRA & COTRIM, 2006, p.227)
ampliação deste raciocínio, permitindo que jovens artistas se alinhem com os problemas
atuais, colocados na produção de conhecimento visual.
No entanto, não resolveria o problema de uma iniciação à arte contemporânea torná-
la tão paradigmática quanto os períodos históricos anteriores. Ao conjunto de fatores que se
somam na iniciação de jovens artistas, deveram se integrar questões teóricas que,
inevitavelmente, impactam na prática. Dentre estas questões epistemológicas, a noção de fim
da história da arte e, intrínsecamente, o fato de que nenhuma diretriz histórica, estilística ou
mesmo agregadora deva ser instaurada no lugar da tradição. Inversamente, a iniciação a
pesquisa em arte deve permitir o frescor de toda liberdade plástico-formal e conceitual que
forma conquistadas em todo percurso de processos e obras que foi trilhado ao longo do século
XX. Da mesma forma, não resolveríamos o problema de uma iniciação a arte contemporânea
abandonando a tradição artística, tantas vezes fonte de inspiração para novas conexões.
Podemos, então, delimitar o problema colocado para esta transição entre o jovem artista
iniciado em desenho que chega na universidade e pretende aproximar-se de uma atualização
dentro do campo de pesquisa da área de conhecimento das artes: I- Não abandonar seu
histórico de contato com a Arte e, II- Potencializar seu raciocínio visual ampliando o
pensamento sobre o desenho e a tradição aproximando-o das instigações que vem tornando o
campo das chamadas artes visuais de um conjunto de axiomas cada vez mais próximo da
filosofia e sua autonomia, simultaneamente se distanciando dos problemas técnicos, que por
séculos, ocuparam a formação, a atuação e a sobrevivência profissional dos artistas.
ineficientes frente aos processos contemporâneos que, por conta de dispositivos diversos
contam com acaso, com a vida, com a participação do público, etc. Assim, chamaremos aqui
de não-forma este elemento volátil presente na configuração de obras contemporâneas. A não-
forma seria o intervalo de tempo em que olhamos uma nuvem e ainda não projetas algo
conhecido nela. O desenho, por sua vez, como meio artístico vem sendo utilizado em diversas
áreas de conhecimento, assim como na arte, primariamente, por sua capacidade de representar
a natureza. Este legado da tradição artística clássica, permanece ainda hoje, sendo uma das
portas de entrada para o mundo das artes visuais na formação de jovens artistas. E, embora a
técnica e as habilidades não sejam mais características esperadas dos artistas, continuam a
modelar a realidade dos cursos de iniciação. Mesmo após todo legado da arte moderna, onde
expressividade toma muitas vezes o papel principal do uso do desenho. O desenho continua
sendo ensinado, na maioria das vezes, sob a perspectiva da técnica mimética. Vale lembrar
que entre a representação gráfica e a imagem que a inspirou, existe um campo infinito de
formas não identificáveis mas altamente potencializadoras de expressividade. Este campo
indecifrável entre a realidade e a representação chamaremos aqui de não-forma. Não-forma
seria, então, a imagem gráfica que não representa algo. Não-forma seria um campo potencial
de expressividade, utilizada como metodologia na tradição representativa, como podemos
observar na recomendação de Da Vinci:
Você deve olhar para certas paredes manchadas de umidade ou para pedras de
cor desigual. Se tiver que inventar fundo de quadro, poderá ver nessas
paredes e pedras a semelhança de paisagens divinas, adornadas com
montanhas, ruínas, rochedos, florestas, grandes planícies, colinas e vales de
maior variedade. (GOMBRICH, 1986, p.185)
A busca contínua que fazemos por formas conhecidas nas nuvens, nas
manchas, nnos materiais é o reflexo de uma formação secular do olhar, direcionada para a
representação. Assim, tornar a não-forma em si algo digno de ser lido é um ato revolucionário
frente à tradição secular acadêmica. A possibilidade de ler a não-forma, ou seja, de estabelecer
sentido em manifestações gráficas sem exigir delas que sejam análogas à natureza permite
atualizar o campo do desenho com o olhar contemporâneo, mais interessado em processos que
em um fim formal. Assim, se o desenho representativo encerra sem uso na semelhança com a
natureza, a leitura não-formal de manifestações gráficas se aproximará com questões. Estas
questões, por sua vez, irão articular a invenção gráfica com possibilidades inventivas
expressivas ou conceituais, permitindo que exista uma articulação entre grafismo e arte
contemporânea.
Aqui, no contexto de nossa metodologia onde a não-forma será deflagadora para
gerar conexões com o modo de artepensamento contemporâneo, fundamentado em questões e
não mais em técnicas, serão utilizados dos exercícios, a saber:
1. Riscar dez folhas de papel até preencher completamente o espaço de cada uma das
folhas, este é o primeiro comando metodológico. Este exercício, originalmente, pertence de
forma preliminar ao relaxamento da mão, no método de desenhar com lado direito do cérebro
de Betty Edwards, ele é uma preparação. Aqui, utilizaremos estas dez folhas lado a lado para
extrair delas a maneira como o estudante entende ocupação do espaço mas, também, e
fundamentalmente, como seu gesto espontâneo se estrutura para esta ocupação espacial do
papel: a recorrência de gestos gráficos espontâneos, a quantidade de fundo branco do papel
que fica em branco e qualquer outra particularidade expressiva que se destaque.
2. Gestos espontâneos na argila. No trabalho Gesto Arcaico de Celeida Tostes, a
artista oferece aos seus voluntários, pequenos cubos de aproximadamente 10x5x3cm e pede
para que "apenas imprimam seu gesto e soltem". O plano da artista era obter apenas o registro
espontâneo do bojo da mão, sem nenhum tipo de ajeitamento da forma obtida. Celeida
contrapunha jeito - uma ação corretiva; ao gesto - uma ação espontânea. Na obra de Celeida,
todos os bojos de mão impressos na argila eram instalados lado a lado em uma parede pintada
com óxido de ferro. No repertório de Celeida, cada sujeito que imprimiu o gesto era diluido
em um grande todo, reinterando a universalidade e a ancestralidade da relação do homem com
o barro. Aqui, solicita-se aos participantes que utilizem 4 quilos de argila para realizar uma
ação análoga aos voluntários de Celeida, porém, desta vez, realizando repetidamente a mesma
ação de registro espontâneo do bojo da mão. Ao contrário da universalização que a instalação
de Celeida, obtemos, uma particularização do modo como cada sujeito imprime seu gesto:
força, torção ou não, vazados no barro ou não, quantidade de massa são elementos altamente
variáveis de uma pessoa para outra. A observação da repetição do gesto em quarto quilos de
argila permite extrair um modo específico de lidar com a matéria tridimensional.
3. Em busca de invariantes. O conjunto de registros dos dois exercícios anteriores é
bastante significativo. De forma espontânea, dez folhas riscadas até o total preenchimento do
papel e quatro quilos de argila com registros do bojo da mão. Dispondo cada uma das peças
lado a lado algo surge, o olhar instintivamente encontra uma recorrência, uma forma
particular de gesto gráfico e tridimensional. Em grupo, a observação dos conjuntos realizados
por cada pessoa evidenciam a forma como são absolutamente particulares mesmo tendo
surgido a partir de um comando único. O processo prossegue, então, tendo como objetivo
NOMEAR esta maneira particular de cada indivíduo. Qual operação plástica se torna
recorrente no conjunto disforme de traços e gestos? Assim, o conjunto de particularidades
plástico-formais são NOMEADAS por uma ação. Embora uma palavra não possa conter todas
as informações que as não-formas no papel e na argila possam nos dar, esta palavra se torna
uma sinal que evoca o que foi lido visualmente no conjunto materializado no exercício. Esta
etapa só pode ser finalizada depois de um consenso cristalino com o participante. É preciso
chegar a uma palavra-conceito nesta nomeação da invariente que, realmente, provoque uma
sensação de pertencimento. Este nome dado a invariante será o elo entre plástica e conceito,
entre matéria e questão de trabalho. A sensação de uma nomeaçao eficaz permitirá um salto
dos parâmetros plático-artesanais (que fundamentam o sistema de pensamento de artístico
Belas Artes) para uma outra forma de conexão e agregação de conteúdos e interesses, desta
vez, centrados em uma questão imaterial que poderá estabelecer relações originais ao
pensamento artístico mas, ainda, promovendo inter ou transdiciplinaridade com outros
campos de conhecimento.
4. Ampliação de horizontes. Nesta etapa, os participantes do processo são
estimulados a fazer buscas em uma pesquisa horizontal, ou seja, fora do campo das artes.
Desde os buscadores tradicionais da internet mas, também, de bibliotecas. No caso de
bibliotecas universitárias, uma busca horizontal por uma questão pode levar a áreas, pesquisas
e recortes que irão articular o NOME-CONCEITO obtido na etapa anterior. Para o caso de
jovens artistas universitários, o encontro com outra área de conhecimento pode levar a uma
profunda oxigenação nas formulações de propostas artísticas, ampliando efetivamente o
repertório critativo.
5. Verticalização da questão. Nesta etapa são apresentadas para o participante do
processo as obras de referência que podem se relacionar com o NOME-CONCEITO
detectado na etapa 3. Obras da tradição grego-romana em seus desdobramentos seculares até
o final do século XIX, obras modernas e obras contemporâneas são organizadas e
aparesentadas segundo o NOME-CONCEITO conciliado com o participante do processo.
6. Formulação de proposições. Nesta última etapa, os participantes do processo irão
formular suas proposições artísticas tendo como questão instigadora o NOME-CONCEITO
observado na etapa 3, agregando ainda, o repertório transdisplinar da etapa 4 e estabelecendo
um posicionamento em relação ao campo histórico de sua questão de trabalho, conforme lhe
foi apresentado na etapa 5.
Considerações finais
Refêrencias:
Resumo
O presente artigo tem por objetivo promover reflexões pedagógico-artísticas sobre o uso da tecnologia
no ensino de artes visuais e nas produções artísticas. Pretendemos em nosso trabalho mencionar alguns
autores que utilizam a tecnologia em suas obras de arte, assim como fazer uma breve análise da
proposta de cada artista. Sabemos que a tecnologia é uma realidade presente em várias áreas, na atual
conjuntura social em que estamos inseridos é quase impossível criar algo sem recorrer às facilidades
da tecnologia, mas para isso, é fundamental ter embasamento teórico e compreender seus potenciais e
assim, fazer uso consciente, criativo e conceitual, principalmente, o artista e arte-educador que utiliza
esses recursos em seus trabalhos em sala de aula, ou fora dela. A pesquisa possui duas seções
primárias que tratam sobre o referencial teórico. Primeiramente, descrevemos o uso da tecnologia no
ensino de artes visuais destacando algumas ideias de autores que trabalham com essa temática, e em
seguida, descrevemos sobre a tecnologia no fazer artístico. Nessa seção selecionamos algumas obras
de arte que trabalham com a tecnologia. Para realização da parte teórica, o artigo se sustenta,
principalmente, nas seguintes bibliografias: Almeida (1999), Barbosa (2009), Bertoletti (2010),
Domingues (1999), Picosque e Guerra (2009), dentre outros.
Palavras-chaves: Tecnologias educacionais. Ensino de artes visuais. Potencial criativo.
Introdução
1
Mestrado Profissional em Gestão de Ensino da Educação Básica pela UFMA (cursando).
2
Mestrado Profissional em Gestão de Ensino da Educação Básica pela UFMA (cursando). Psicólogo.
3
Graduada em Artes Visuais pela UFMA.
4
Graduada em Artes Visuais pela UFMA.
5
Mestre em Design pela Anhembi-Morumbi
para promover seu uso consciente, criativo e conceitual, sobretudo, o artista e arte-educador
que utiliza tais recursos em seus trabalhos.
A palavra tecnologia tem origem grega (tékhne+logos), cujo significado, segundo o
Dicionário Aurélio (2001) é o “conjunto de conhecimento, especialmente princípios
científicos, que se aplicam a um determinado ramo de atividade”. Ressalta-se que no mundo
contemporâneo esta palavra é utilizada para designar os avanços feitos pelo computador, que
é sim parte do processo tecnológico, mas não significa ser a informática, - a tecnologia -, mas
parte dela. Não cabe aqui iniciar uma discussão do termo, mas mostrar os sentidos que essa
palavra possui e indicar qual será utilizado no trabalho, no caso, a tecnologia como
sistematização de aparelhos sofisticados para uso em processos produtivos na aplicabilidade
de tecnologias para o ensino e a produção artística.
A tecnologia, na acepção do desenvolvimento de nova ferramenta para determinada
situação, emerge quando há dificuldade de resolução da situação-problema. Pode-se
relacionar essa afirmação quando da referência à pré-história, momento em que o homem
começou a produzir seus primeiros instrumentos para facilitar suas atividades do cotidiano.
Utilizando incialmente a pedra como matéria prima e depois osso, madeira, marfim, etc. Com
o passar do tempo mulheres e homens criam equipamentos mais elaborados, ampliando suas
utilidades que vão desde a agricultura, passando pela ciência e chega até a arte.
Como dito acima, os usos da tecnologia são muito presentes e ativos na sociedade (da
pré-história à contemporânea). A História mostra que quando surge uma grande invenção, a
sociedade acompanha tal mudança, por exemplo: a roda, a escrita, a máquina a vapor, o avião,
a lâmpada, o computador, a internet e outros.
Retroceder diante desses avanços ou mesmo tentar excluí-los, hoje, do cotidiano da
humanidade é extremamente complexo. O processo de produção da própria consciência se
tornou de tal forma complexo que, o emaranhado no qual se encontra a humanidade, esta
dificilmente teria a capacidade de se refazer enquanto agente do processo de transformação
em prol da natureza.
Pretende-se, portanto, apresentar algumas situações em que essa dita “tecnologia”
ajuda a espécie humana a sobreviver e a manipular a natureza em prol do bem-estar próprio.
Fonte: http://www.museuarqueologia.gov.pt/?a=3&x=3&i=195
Fonte: http://www.knifenetwork.com/forum/showthread.php?t=47867
Na Educação, por exemplo, a tecnologia foi vista com olhares suspeitos pelos
envolvidos no processo ensino-aprendizagem. A discursão girava em torno de se esta era boa
ou má. Assunto que vem sendo superado aos poucos, pois o que deve ser pensando são os
benefícios para o ensino e para isso deve-se instrumentalizar e capacitar os profissionais para
seu uso correto. Dessa forma, o argumento abaixo ilustra tal proposição.
ano de 1996 com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, ou seja, dois anos
antes da criação dos PCNs.
O ensino de arte vem aos poucos se estruturando, ganhando espaço e respeito no
ambiente escolar. Lembrando que tudo isso é fruto das lutas incansáveis de educadores ao
longo do tempo. Para isso, Martins, Picosque e Guerra elucidam que:
A relação da imagem com o ensino da arte precisa ser vista numa perspectiva
histórica: as novas abordagens do ensino da arte introduzidas no Brasil por volta da
década de oitenta, propõem uma inter-relação entre produção, leitura de imagens e
contextualização histórica, onde os conteúdos da arte sejam explicados. (1999, p.
73)
Dessa maneira, a proposta triangular sistematizada por Ana Mae Barbosa (2009)
relaciona a produção ao fazer artístico. Leitura de imagens envolve a análise crítica das obras
apresentadas e contextualização em conjunto com o estudo da História da Arte.
Logo, a escola pode ser o local ideal para os alunos aprenderem sobre os benefícios
desses recursos e a utilizá-los de forma consciente e crítica para seu próprio benefício e aos
que estão ao seu redor. O papel da disciplina Arte pressupõe que “a arte na educação afeta a
invenção, inovação e difusão de novas ideias e tecnologias, encorajando um meio ambiente
institucional inovado e inovador” (BARBOSA, 2009, p.2). Sendo assim, o ensino de arte é
parte importante para o uso das inovações tecnológicas no ambiente pedagógico.
Artista é o ser que compreende o mundo ao seu redor numa perspectiva poética.
Possui um olhar sensível e crítico. Em seus trabalhos há possibilidade de identificar elementos
do seu tempo, já que o artista é fruto de um período conjuntamente com suas características.
A história revela que artistas tiveram desafios ao executar suas produções a saber: os egípcios
construíram as pirâmides, seu processo de feitura até hoje é desconhecido. Os impressionistas
foram desafiados a representar o comportamento da cor na natureza. Na contemporaneidade
os artistas são provocados a inserir ferramentas tecnológicas em suas produções, gerando
assim, a estética digital. Domingues reforça que:
Fonte: http://waldemarcordeiro.blogspot.com.br/2009/10/mulher-que-nao-e-bb-1971.html
[...] Cordeiro parte da fotografia do rosto de uma menina vietnamita queimada pelas
bombas de napalm, lançadas pelos EUA - um dos maiores símbolos da destruição e
da irracionalidade da guerra -, transformando-a em milhares de pontos a partir da
proposta de função derivada.
Na obra abaixo, os autores exploram uma das características principais da arte digital,
que é a participação ativa do expectador. Numa tela é feita a projeção de uma flor chamada
dente de leão “ao soprar, por meio de um sensor colocado em cima de uma placa transparente,
o interator faz com que a flor se rompa, como se estivesse sendo movimentada pelo vento”
(Ibidem, p.58)
Fonte: http://www.arborescence.org/article441.html
Na figura 5, (abaixo) é possível a inserção do corpo, onde este também torna-se parte
da obra, é também a própria obra. O espectador se insere na obra, experimentando-se como
matéria da construção, conforme descrição abaixo:
Fonte: http://ecoarte.info/ecoarte/2012/12/think-interactive-institute-suecia-2007/
A arte interativa é uma nova possibilidade do fazer artístico e estética nos parâmetros
das novas tecnologias de comunicação que hibridiza os gêneros, as poéticas e as próprias
atitudes artísticas. De acordo com Júlio Plaza, a noção de arte precisa se expandir quando se
fala em arte interativa.
no meio artístico uma grande confusão conceitual caracterizada, ainda, pela mistura
e hibridação de gêneros, poéticas e atitudes artísticas (PLAZA, 2003, p. 2).
A busca de uma relação livre e interativa, assim pode ser vista esta obra. Uma
instalação com quarenta aparelhos celulares e com o reconhecimento de voz que é capaz de
projetar numa tela a fala do interator em forma de audiovisual. O que foi dito ganha um novo
significado, pois as imagens mostradas não reproduzem exatamente o que foi dito.
Fonte: http://www.itaucultural.org.br/explore/canal/detalhe/fala-rejane-cantoni-e-leonardo-crescenti-emocao-
art-ficial-6-0/
Considerações finais
Por tudo isto, entendemos que a tecnologia e seus desdobramentos são importantes no
ensino-aprendizagem e colaboram para uma melhor compreensão do ambiente circundante.
As tecnologias afetaram o nosso modo de viver e ver o mundo. Dentro desse mundo artificial
a arte tem a função de humanizar e sensibilizar essas relações.
No tocante à aplicação da tecnologia na educação, conclui-se que, parte dos
envolvidos no processo ensino-aprendizagem estão cientes das suas possibilidades. Precisam
adequar os procedimentos à realidade da escola e estimular os alunos a utilizarem essas
ferramentas como facilitadoras no processo de ensino. Lembrando que, quando se trata de
oferecer um ensino digno para a população, existe negligência por parte dos gestores, já que
não há valorização dos profissionais da educação, as escolas em sua maioria não possuem
uma estrutura física adequada, ou seja, os investimentos são escassos e as cobranças infinitas.
Diante dessas dificuldades o professor precisa estar atento a essas novas possibilidades que a
tecnologia pode proporcionar.
REFERÊNCIAS
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Paulo) [online]. 2005, vol.3, n.6 [citado 2015-05-26], pp. 52-65. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-
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2015. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br>. Acesso em: 27 maio. 2015.
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MARTINS, Mirian; PICOSQUE, Gisa & GUERRA, Maria. Teoria e Prática do Ensino de
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PLAZA, Julio. Arte e interatividade: autor-obra-recepção. ARS (São Paulo) vol.1 n.2, São
Paulo Dec. 2003. Disponível em:<
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-53202003000200002>.
Acesso em: 06 out. 2017.
Resumo
Este artigo relata resultados de ações desenvolvidas no Projeto Formação Continuada do Programa
Institucional Arte na Escola (PIAE) - Polo de uma universidade de Santa Catarina, resultante da
concorrência do Edital PROPEX nº 07/2014 de Apoio a Programas de Extensão para o biênio
2015/2016. O projeto tem por objetivo qualificar professores da educação básica e superior, mediante
ações sistemáticas nas áreas de artes visuais, música e teatro, contribuindo para a melhoria da prática
pedagógica no ensino da arte. A metodologia do Projeto Formação Continuada abarca: curso, grupo de
estudo, pesquisa, assessoria na elaboração de projetos educativo e propostas curriculares, seminário,
encontro, palestra, oficina, entre outros. No biênio 2015/2016 o projeto atingiu diretamente 1.731
professores, nos municípios de Blumenau, Gaspar, Indaial e Jaraguá do Sul. Os resultados
apresentados apontam um aumento significativo no número de professores participantes do projeto em
relação ao biênio anterior. Os mesmos tiveram acesso à um ensino diferenciado, com formação
reflexiva nas linguagens de artes visuais, música e teatro, que estimulou mudanças na prática
pedagógica a partir das dificuldades encontradas no cotidiano da escola. As vivências no percurso
formativo envolveram, estudo, pesquisa, avaliação, registro da prática pedagógica e relatos de
experiências, elementos primordiais para o aperfeiçoamento, atualização e inovação do ensino de arte
na Educação Básica.
Palavras-chave: Formação Continuada. Ensino de Arte Artes Visuais, Música e Teatro.
1
Mestre em Educação e Cultura pela UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina - Florianópolis/SC.
Especialista em Criação Publicitária pela FURB – Blumenau/SC. Graduada em Educação Artística – Habilitação
Artes Plásticas pela FURB. Professora do Departamento de Artes da FURB. Coordenadora do Curso de Artes
Visuais da FURB. Coordenadora Geral do Programa Institucional Arte na Escola - Polo FURB.
2
Mestre em Educação pelo PPGE/ME da FURB e Licenciatura Plena em Educação Artística; professora
pesquisadora do Departamento de Artes da FURB com pesquisa direcionada para a formação do professor de
música, integrante do Grupo de Pesquisa Formação e Atuação Docente do PPGE da FURB; coordenadora
pedagógica do Programa Institucional Artes na Escola/PIAE - Polo FURB; coordenadora do Subprojeto de
Música do PIBID da FURB, associada à Associação Brasileira de Educação Musical/ABEM. Atualmente, vice-
diretora do Centro de Ciências da Educação, Artes e Letras e coordenadora do Curso de Música, da FURB.
3
Mestre em Educação pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (2006). Especialista em EAD -
Universidade Federal do Paraná Núcleo de Educação a Distância - NEAD/PROG (2003) Especialista em O
Ensino da Arte Fundamentos Estéticos e Metodológicos – FURB – Universidade Regional de Blumenau/SC
(2000), graduada em Educação Artística Licenciatura Plena pela Fundação Universidade Regional de Blumenau
(1992). Professora titular da Fundação Universidade Regional de Blumenau do Departamento de Artes.
Coordenadora do Curso de Artes Visuais do PARFOR/FURB.
Introdução
Neste cenário, a formação do professor de arte também tem sido pauta de discussões e
reflexões, levando em conta as mudanças ocorridas. Há de se considerar, que as universidades
também perpassam por reformas curriculares, que desafiam e desvelam a prática pedagógica
do professor, para fugir da mera reprodução de padrões ou receitas existentes.
Para Meira; Silva; Castel (2013, p. 9), Arte/educadores brasileiros,
entre os professores, a análise rigorosa das práticas e a procura coletiva das melhores formas
de agir”. (2009, p. 56).
A extensão universitária é um ambiente apropriado para o desenvolvimento da
formação continuada de professores, local onde se inicia o processo de mudança na prática
pedagógica, passando por um processo critico/reflexivo sobre a ação desenvolvida na escola,
elemento essencial na formação profissional.
Conforme Rausch (2010, p.152)
Assim, por meio desta modalidade formativa, constantemente vem-se buscando novos
entendimentos sobre o ensino da arte. “A formação continuada não pode ser pensada num
modelo fragmentado, às vezes desenvolvido em apenas um ou dois momentos ao longo do
ano” (SCHOTTEN 2010, p. 105). Após a formação o professor necessita ter a possibilidade
de esclarecer suas dúvidas, compartilhar suas dificuldades e angústias, pois, do contrário,
pode ocorrer o que a autora chama de “formação descontinuada”.
Deste modo, é possível iniciar um processo de mudança que passa pela reflexão sobre o
trabalho desenvolvido, questão primordial no processo de formação, que rompe com um
conhecimento solidificado em rotinas e em ações mecanizadas, que reduz a reflexão e
empobrece o pensamento sobre as bases de decisões.
Resultante da reflexão sobre a ação, a formação continuada caracteriza-se como um
processo em construção permanente. Segundo Rausch, “A reflexibilidade implica a imersão
consciente do sujeito no mundo de sua experiência, um mundo carregado de valores, trocas
simbólicas, interesses sociais, cenários políticos” (RAUSCH 2010, p. 153).
Pode-se dizer que nestes dois anos os ganhos foram muitos para o projeto, e,
consequentemente para os professores, como por exemplo:
O comprometimento das Secretarias de Educação com as ações desenvolvidas em
parceria com o projeto, mediante convênio, facilitou o trabalho junto aos professores das
redes de ensino. A Participação e o envolvimento das coordenadoras pedagógicas de Arte e
Educação Infantil, remuneradas pelas secretarias para atuar como mediadoras entre as
instituições, contribuíram significativamente para a concretização das ações programadas.
Houve dispensa dos professores para participar dos encontros de estudos, bem como o
pagamento de transporte para os mesmos. Destaca-se também, o incentivo aos professores
com horas/atividades para participar das formações, geração de pontos na titulação de
professores efetivos participantes do projeto, com avaliação de desempenho a cada dois anos
e certificação da carga/horária frequentada. Para Nóvoa (2009) a definição das carreiras
docentes precisa ter o propósito de facilitar a formação mútua e colaborativa e as normas
legais devem permitir uma qualificação baseada na investigação e parceria entre escolas e
universidades. “Não é possível preencher o fosso entre os discursos e as práticas se não
houver um campo profissional autónomo, suficientemente rico e aberto” (NÓVOA, 2009, p.
20).
Outra questão relevante se deu na possibilidade de trabalhar com os professores as
linguagens de artes visuais, música e teatro, apesar de que nem todos os municípios possuem
professores especialistas em suas escolas. Percebe-se ainda, o predomínio do professor de
artes para trabalhar em todas as áreas do campo da arte.
Houve também, a assessoria na elaboração de duas propostas curriculares, uma na área
de música e outra em artes visuais, onde os componentes curriculares deveriam ter objetivos
relacionados aos temas integradores: consumo e educação financeira; ética, direitos humanos
e cidadania; sustentabilidade, tecnologias digitais, culturas africanas e indígenas. A assessoria
na elaboração de projetos educativos também ocorreu, sempre que solicitado pelo professor.
Numa das SEMED foi criado um espaço Arte na Escola, para exposições artísticas de
alunos da Educação Infantil e Ensino Fundamental, uma excelente oportunidade para a
socialização dos trabalhos de arte realizados em sala de aula, junto à comunidade.
No decorrer das ações do projeto foi desenvolvida uma pesquisa por iniciativa de um
grupo de professores. O interesse dos mesmos pela pesquisa demonstra o comprometimento
com a prática pedagógica em arte, com crianças da Educação Infantil, que, de maneira
peculiar, envolve os processos de formação e, consequentemente, os seus aspectos teórico-
metodológicos que direcionam para diferentes vivências e contextos. Em meio às dificuldades
e aos problemas tantos com os quais se esbarra no campo da Educação, deparar-se com um
grupo de professores, que, motivados pelos estudos de uma formação continuada, decidem
investigar a música que é realizada nos espaços da educação infantil, vem a ser um alento. É
possível dizer que se instalou o processo de reflexão da ação, no sentido de vislumbrar a
melhoria na qualidade da própria prática.
Nos dois anos ocorreu formação com profissionais de outras IES de Santa Catarina
e outros estados a fim de complementar os estudos realizados com os professores. Para a
complementação das ações de pesquisa contamos com a vinda da professora Dra. Sílvia Sell
Duarte Pillotto (Univille) e do professor Dr. Sérgio Figueiredo (UDESC). A equipe do projeto
buscou recursos mediante concorrência de Edital do Instituto Arte na Escola para a realização
do 4º Encontro Regional Sul da Rede Arte na Escola, na FURB. No evento participaram os
seguintes professores: Dra. Carla Carvalho (FURB), Guilherme Romanelli (UFPR), Dra.
Fatima Ortiz (UFPR), Dr. Marcos Villela (PUCRS) e Dra. Solange Gabre (SEMED Curitiba).
Este evento foi realizado em parceria com outros Polos Arte na Escola de Santa Catarina e
contou com a participação dos professores participantes do projeto formação continuada,
professores e estudantes da FURB e outras IES, artistas e demais interessados da comunidade.
A utilização de portfólio no processo de avaliação foi amplamente estimulada na
formação continuada. Os professores organizaram seus próprios portfólios relacionados aos
estudos realizados nos encontros de formação, contribuindo para uma reflexão
crítica/reflexiva das ações realizadas, onde falam de si, de seus avanços e limitações.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
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NÓVOA, António. Professores: imagens do futuro no presente. Lisboa: Educa, 2009.
RAUSCH, Rita B.; ANGIONI, Marilda. Apontamentos históricos e conceituais da
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Extensão universitária: movimentos de aproximação entre sociedade e universidade.
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SCHOTTEN, Neuzi. Uma análise da formação do professor alfabetizador no município
de Pomerode/SC. In SILVA, Neide de M. A.; RAUSCH, Rita B. (Orgs.). Formação de
professores: políticas, gestão e práticas. Blumenau: Edifurb, 2010.
Resumo
A presente pesquisa buscou compreender como os Festivais de Teatro, que acontecem anualmente na
ETEC de Monte Mor, puderam contribuir para que os estudantes vivenciassem e compreendessem a
Arte como campo de conhecimento humano socialmente constituído e local de fazer estético. Arte é
conteúdo obrigatório para todo o Ensino Fundamental e Médio nas escolas brasileiras desde 1971,
época em que foi instituída a Lei Federal 5692, de Diretrizes e Bases da Educação, sabemos, porém,
que esse ensino apresenta dificuldades em ser compreendido e aceito por toda comunidade escolar
como parte intrínseca e necessária da vida escolar. Na contramão dessa realidade, defendemos que a
arte é imprescindível no ambiente escolar, que é parte da cultura humana, feita para todos e que,
principalmente, pode ser feita por todos. Nesse contexto, acreditamos que o ensino formal tem
potencialidade ímpar para a ampliação do acesso, compreensão e inserção dos estudantes no universo
da Arte. Foi realizado uma revisão bibliográfica tendo em vista compreender a importância do ensino
de Arte no contexto escolar e, a partir deste recorte, tomamos os festivais de teatro realizados
anualmente na Escola Técnica de Monte Mor, tendo em vista compreender como esses festivais de
teatro têm auxiliado os estudantes do ensino médio a se tornarem mais abertos para a arte. Percebemos
ao longo dos últimos três anos de observação e trabalho junto às atividades de teatro nesta escola, que
o campo de diálogo no ensino de Arte, e a compreensão do que é fazer e apresentar arte foi
potencializado pelos efeitos de adaptar, montar e apresentar espetáculos. A pesquisa sugere que as
apresentações teatrais tornaram os estudantes de ensino médios mais receptivos ao universo da arte
como um todo e produziram desdobramentos que reverberaram em outras disciplinas e práticas
escolares.
Introdução
1
Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, graduada em Artes Visuais e Pedagogia pela
mesma instituição, é docente de Arte e Coordenadora de Curso na Fundação Paula Souza.
processo de pesquisa. Foi através das leituras feitas na Faculdade de Educação que pude
sistematizar e compreender a pesquisa-ação que se dava durante as atividades propostas na
docência. Percebi, também, ao estudar os diversos autores que discutem a escola (Gramsci,
Freire, Bourdieu, Foucault, entre outros), o peso da mesma enquanto aparelho de reprodução
ideológica o que me ajudou a desconstruir os meus hábitos de escola, adquiridos desde
quando ainda era estudante e não desconstruídos no curso de formação de arte-educadores da
Unicamp, minha primeira graduação, e a me tornar mais liberta ao propor atividades de
pesquisa em arte. Assim, embora tenha formação em Artes Visuais, ao perceber o profundo
interesse que o teatro despertava nos estudantes, passei a participar da exploração do tema
juntamente com os estudantes e outros docentes da escola. Pude notar, ao longo desses quatro
anos de observação participante, que as atividades de teatro funcionaram como um
potencializador do ensino de arte, os estudantes ficaram mais atentos e curiosos para o
universo da arte. A experiência da arte pode abranger o desenvolvimento de diversos
aspectos do desenvolvimento pessoal, entretanto, me ative aos desdobramentos da
aprendizagem em arte e para a arte, que é tarefa do arte-educador.
Se outros benefícios colaterais resultam das atividades de arte, tanto melhor. Se, no
entanto, eles não ocorrem, o papel educacional da arte não terá sido traído- contanto
que o crescimento das capacidades estético-visuais tenha se efetuado. (LANIER in
BARBOSA, 2005).
No que toca ao ensino de Arte, além do fato óbvio de que a escola, por seu caráter
universal, pode ser o lugar onde todos acessam democraticamente os códigos de compreensão
da arte, ela é também, como propõe FUSARI (2001), o local onde se pode entrar em contato
com a esfera do trabalho-ação em arte, um local onde podemos fazê-la, ser produtores, muito
além de meros consumidores ou expectadores de Arte. Encontramos em Gramsci um olhar
agregador no que diz respeito ao papel social da escola. CASTRO e RIOS (2007) em seu
artigo “Escola e Educação em Gramsci” pontuam sobre o autor
Se a escola mostra, através da experiência, que todos podem além de saber, também
criar, ela acaba por propiciar possibilidades de ampliação da democracia cultural.
A ETEC de Monte Mor possui seis turmas de Ensino Médio, sendo que três delas são
integradas ao Ensino de Informática. É uma escola do interior do Estado de São Paulo, a única
escola técnica da região e atrai estudantes das cidades vizinhas. O Festival de Teatro é
proposto em parceria entre as professoras de Arte, Educação Física e Literatura. Normalmente
propomos o festival já no inicio do ano, em fevereiro. A ideia é que os alunos tenham desde o
inicio das aulas até meados de maio para se organizarem em relação às atividades. É preciso
ler, adaptar ou criar um roteiro, treinar trabalho corporal e voz, planejar figurinos e cenários,
fazer exercícios de palco e experiências de luz, ensaiar e finalmente apresentar. Fazemos
também a contextualização teórica do que é teatro e seu papel histórico, social e artístico,
fundamental para estudantes do Ensino Médio Técnico.
Segundo Coudry e Freire (2005) há uma estigmatização da escola como o lugar do
mesmo, aquele lugar do instrucional e repetitivo, descolada da realidade do aluno a escola cai
em descrédito e é alvo de profundo desinteresse. Pudemos perceber, no entanto, que o projeto
de teatro desenvolveu um forte e vivo interesse por parte dos alunos, tanto no fazer teatro,
quanto nos trabalhos que intermeiam toda essa dinâmica até as apresentações.
Embora a escola, de uma maneira geral, tenha dificuldade com trabalho que exija
diversidade dos alunos, e prefira aquilo a que chamamos de educação bancária, no caso do
teatro, os trabalhos coletivos e diversificados têm funcionado bem.
Essas atividades ao longo desses anos nos fizeram pensar, também, sobre a questão da
autonomia na escola. É preciso, para um projeto tão complexo, que os alunos ganhem
autonomia em suas decisões. É difícil pensar em controle quando falamos de 06 turmas de 40
alunos cada. Os professores aqui funcionam como propositores do trabalho. Acompanhamos
o processo e propomos reflexões ao longo dele, mas o resultado final é definitivamente uma
conquista do grupo. Posso explicar que ao pesquisar um objeto de cena o cenógrafo traz mais
qualidade visual para o palco do que ao construir um objeto que remeta ao original (um paletó
do avô, por exemplo, causa melhor efeito que tentar construir um paletó de TNT ou crepon),
mas não posso ter o controle de como será feita essa escolha, de como as sugestões técnicas
vão reverberar na pesquisa cênica. Após as atividades nos propusemos a fazer uma avaliação
do trabalho a fim de que os estudantes também pudessem refletir sobre o que vivenciaram.
Na aula de hoje tivemos que improvisar. Foi muito legal, pois me senti muito
confortável atuando. T.E.S. 15 anos.
A aula anterior serviu para nos conhecermos mais e nos soltarmos um pouco,
consequentemente perdeu a timidez e interagimos uns com os outros. As atividades
propostas foram super descontraídas, envolvendo ao mesmo tempo muita
concentração. Algumas dessas atividades nós nunca tínhamos feito antes. A dinâmica
dos espelhos foi muito interessante, o qual necessitava total entrosamento entre a
dupla. Enfim, foi muito legal, descontraído e o mais interessante foi à participação de
toda a sala. L. 16 anos.
Bom, na aula prática de arte formamos uma roda no pátio e nos alongamos. Fizemos
algumas atividades em grupo e em duplas. Todos gostaram da experiência, pois foi
divertida e descontraída. M. 15 anos.
Adorei a aula de teatro, é lógico que no começo ficamos com um pouco de vergonha,
porém interagir, experimentar coisas e sensações diferentes, ter que improvisar e
imaginar como reagiríamos a certas situações é ótimo, acho que deveríamos ter mais
aulas de teatro. VMS, 15 anos.
Esses textos foram recolhidos após as atividades como uma forma de registro do
acontecido mas também como uma forma de fazê-los pensar sobre o processo vivido.
100
Festival na
50
trajetória escolar
0
Relevante Não
Festival 76 24
na
trajetóri
a
Muitos declararam finalmente ter compreendido o que é teatro após terem passado pela
experiência do fazer.
Considerações finais
O presente texto buscou demonstrar que o espaço da arte, mesmo quando inserido na
educação formal, entendida como o lugar do tolher e do moldar, pode ser o espaço do novo,
da criação e da descoberta estética. Buscou-se ainda demonstrar que ressalvar o espaço da arte
no ensino pode significar ressalvar o espaço da criação e a compreensão do que é arte.
Sugerimos que ao se dedicar ao teatro, os estudantes passaram a ter uma relação mais próxima
com esse universo, agora parte da vida e da história deles.
A pesquisa reforçou, portanto, a importância e necessidade do ensino de Arte dentro
da escola formal. Mesmo no caso das escolas técnicas, onde estudantes são preparados para
assumir uma profissão de nível técnico, o ensino de arte possibilita a criação de um público
atento e perspicaz quanto às diversas manifestações culturais, tradicionais ou populares,
ajudando a promovê- las, preservá-las e incentivá-las, gerando um sentimento de fomento e
recuperação do ambiente cultural.
Por fim, sabemos que a pesquisa qualitativa não permite uma generalização, mas
cremos que é possível que aponte caminhos, trazidos pela experiência compartilhada.
REFERÊNCIAS
______. (Org.). Inquietações e mudanças no Ensino da Arte. 2. Ed. São Paulo: Cortez,
2003.
______. O artista no ensino da arte nos Estados Unidos. Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos, MEC-INEP, Rio de Janeiro , 1973, Vol. 59, no 130 in Teoria e Prática da
Educação Artística. 2. Ed. São Paulo: Editora Cultrix.
FIGUEIREDO, Hermes ( Org.) Arte na Escola. Anais do Primeiro Seminário Nacional sobre
o papel da arte no processo de socialização e educação da criança e do jovem. São Paulo:
Universidade Cruzeiro do Sul, 1995.
READ, H. Arte e alienação- o papel do artista na sociedade. Rio de Janeiro, Zahar, 1983.
Resumo
As Unidades Educacionas de Internação (UNEIS), em Campo Grande, MS, mantêm aproximadamente
130 adolescentes internos (presos) que cometeram atos infracionais considerados graves. Em todo o
Brasil são 27 mil adolescentes, num único dia pesquisado (SDH, 2014). As atividades de artes visuais,
formais ou informais, fazem parte da grande maioria das propostas pedagógicas das Unidades de
internação, mas faltam estudos que fundamentem, orientem a prática e identifiquem aspectos
relevantes da arte na socioeducação. O presente artigo tem como objetivo analizar teoricamente o
potencial de sociabilização da arte junto aos adolescentes, compondo parte de um estudo mais amplo
sobre arte-educação para adolescentes que cometeram atos infracionais, fundamentado na abordagem
Histórico-Cultural. Utilizamos as obras de Vigotski, Leontiev e Templov, mais especificamente o
conceito de “atividade humana”, como fundamento para compreender aspectos relevantes da arte no
desenvolvimento e sociabilidade destes adolescentes. A atividade artística proporciona uma grande
variedade de processos de socialização e contribue, significativamente, para que o adolescente se
compreenda melhor e interaja de forma mais saudável com a sociedade a sua volta. A arte possibilita
que o adolescente expresse sua subjetividade, que permanece camuflada nas formas tradicionais de
ensino. Suas obras artísticas causam um retorno de sentimentos e observações do público e da
sociedade em geral, contribuindo para romper com a exclusão e a marginalidade.
Introdução
Ao exercer uma atividade, o ser humano toma contato com a realidade física e
abstrata, concomitantemente. Física porque entra em contato diretamente com substâncias
materiais da natureza que precisam ser transformadas para o seu conforto. Abstrata porque
encontra condições culturais prontas, elaboradas social e historicamente que indicam os
objetivos e os procedimentos da atividade. Para Vigotski (2001) uma atividade humana, por
mais simples que seja, está inter-relacionada à totalidade histórica das relações sociais. A ação
do sujeito sobre a cultura, os materiais da natureza, as ferramentas, as máquinas e seus pares,
constrói, com seu gesto na realidade, ao mesmo tempo ao mundo e a si próprio.
É na atividade que a transição ou translação do objeto refletido na imagem
subjetiva, no ideal, tem lugar, ao mesmo tempo é também na atividade que a
transição do ideal para os resultados objetivos da atividade, para os seus
1
Pós-doutor pela UEL, doutor pela UFSCar, e professor de Artes Visuais na UFMS. Email
pdpaes@yahoo.com.br
É justamente esta atividade externa que descortina o círculo dos processos mentais
internos, abrindo-os para o mundo objetivo. A atividade humana não é um ato isolado, é uma
ação contextualizada no amplo espaço das relações sociais e historicamente construídas. Estas
ações atingiram um alto grau de complexidade e sofisticação, passando a ser imprescindível
na formação da consciência humana.
Os adolescentes em privação de liberdade sofrem um abrupto processo de diminuição
de sua atividade humana durante o tempo que permanecem nas unidades, principalmente as
atividades dirigidas. O tempo destinado à contemplação, ou a atividades que realizam
mecanicamente é muito maior do que quando estavam em liberdade.
No caso dos adolescentes em privação de liberdade, as oficinas de artes significam
uma atividade humana, possível dentro da unidade, de uma grande riqueza para o
desenvolvimento e sociabilidade dos adolescentes. O fazer artístico, durante a internação, é
uma forma de atividade humana consciente e complexa, que proporciona a interação junto a
outros sujeitos sociais que participam do seu ato como observadores ou co-autores.
De nada adiantaria a arte ter um grande poder educativo se ela não fosse acessível aos
educandos em questão. A arte é uma atividade muito buscada pelos adolescentes, que passam
a ter nela uma forma de realização pessoal. Vigotski (2000, 2001 e 2010) reconhece este
potencial da arte quando fala que ela é precisamente: a fonte do prazer estético. Por isso a
atividade artística é sempre relevante e profundamente criadora.
A atividade artística não representa apenas o prazer ou desfrute estético, muito pelo
contrário, ela exige entrega e dedicação. A realização de um projeto artístico pressupõe, além
do acúmulo de variadas impressões, uma ação concreta na realidade. Esta ação é a própria
“atividade humana”, condição para a construção da consciência (LEONTIEV, 1978). A arte,
como meio de produção material que é, humaniza o ser, proporcionando uma relação de mão
dupla entre o aluno e seu meio social.
O conteúdo educacional a ser extraído das obras de arte, produzidas pelos próprios
educandos, representa um recurso didático, que pode ser mediado: pelas referências
apresentadas pelo professor, por sugestões de temas e na busca interior do próprio
objeto, uma ação verdaderiamente humana, porque se apropria do mundo, da cultura, ao agir
nele.
Ninguém nasce sabendo utilizar um instrumento de trabalho, mas aprende no
decorrer de atividades, orientado por outras pessoas que sabem realizar a operação. Para que
esta apropriação de conhecimento aconteça é necessário que haja um conjunto de símbolos
capazes de expressar as peculiaridades do instrumento e de sua manipulação. As palavras,
sons, figuras e outros símbolos passam a ter uma função imprescindível tanto para que ocorra
o aprendizado quanto para que o próprio trabalho seja executado. No caso da atividade
artística esse pressuposto torna-se ainda mais efetivo.
A complexa trama simbólica que precede e acompanha a execução de uma atividade
é a mediadora entre o sujeito que a executa e o meio social, que caracteriza o objeto de sua
ação. O registro e a troca de informações é fundamental para que o conhecimento adquirido
por um indivíduo seja levado até outros e repassado às gerações posteriores. Para João
Francisco Duarte Jr ( 1981), em sua obra Fundamentos estéticos da educação, a linguagem,
ela mesma, é uma ferramenta para interferência direta num mundo social.
Quando nasce um ser humano ele já encontra pronta toda essa complexa rede de
relações, instrumentos e símbolos, inter-relaciona-se com ela, assimilando e remodelando-a
para si mesmo e para os outros, os de seu tempo e os que virão depois. A sua assimilação do
que já está pronto, antes de seu nascimento, só é possível graças à mediação simbólica
(VIGOTSKI, 2001). No caso dos adolescentes que receberam a medida de privação de
liberdade, essa mediação diverge da mediação da maioria das crianças e adolescentes no
decorrer de suas vidas.
O homem age, mudando o meio. E modifica o meio não apenas com o uso da
tecnologia, por meio de mudanças físicas, mas básica e fundamentalmente
através da palavra, dos símbolos que cria para interpretar o mundo (DUARTE
JR, p. 15, 1981).
Quando nasce um bebê, ele não possui identificação com os processos culturais
humanos desenvolvidos historicamente. As suas ações respondem a um caráter
exclusivamente biológico, instintivo e reflexivo. Quando necessita de algum cuidado, chora,
quando sente sono, dorme, quando sente fome, mama. O que humaniza a criança é
fundamentalmente o acesso à cultura, que se dá pela sua atividade orientada por um adulto,
mediada por esse complexo universo simbólico (VIGOTSKI, 2001).
Uma criança de seis meses, ao querer pegar uma chupeta que não está ao seu alcance,
olha e estica as mãos naquela direção, emitindo sons, chamando a atenção do adulto, que
aproxima o bico das mãos da criança. Gestos simples como este levam a criança a atividades
de interação humana, iniciando-a no complexo mundo das relações culturais. Quando esta
criança deseja mostrar algo que está longe, ela irá apontar com as mãos e falar.
O que antes era um balbuciar ininteligível, uma imitação sonora da fala dos adultos,
passa a ter sentido específico, o sentido da palavra. A arte trabalha a partir de um
reordenamento pessoal e criativo desse universo simbólico, tendo como matéria-prima um
imenso complexo de possibilidades simbólicas. No caso da atividade artística, são símbolos
carregados de significados expressivos para os alunos e para o mundo a sua volta.
A sociedade possibilita o desenvolvimento de uma consciência específica com
caráter de exclusão à medida em que proporciona uma vivência radical de criança e do
adolescente excluídos com uma mediação simbólica também diferenciada.
O processo de desenvolvimento do ser humano, marcado por sua inserção
em determinado grupo cultural, se dá de fora para dentro. Isto é,
primeiramente o indivíduo realiza ações externas, que serão interpretadas
pelas pessoas a seu redor, de acordo com os significados culturalmente
estabelecidos. A partir dessa interpretação é que será possível para o
indivíduo atribuir significados às suas próprias ações e desenvolver
processos psicológicos internos que podem ser interpretados por ele próprio
a partir dos mecanismos estabelecidos pelo grupo cultural e compreendidos
por meio dos códigos compartilhados pelos membros desse grupo
(OLIVEIRA, 1985, p.4).
dos nossos alunos internos, que passaram por um radical processo de exclusão desde o início
de suas vidas.
Para Vigotski (2001), a fala é uma mediação simbólica desenvolvida/apropriada pela
ação da criança (atividade) e não passivamente, pois ela só aprende quando se torna um
sujeito ativo. Primeiramente a criança aprende a falar imitando os adultos e objetivando
desejos. Como no exemplo citado, ela balbucia quando quer alguma coisa. Sua imitação
inicial da fala será ininteligível, mas atrairá a atenção dos que estão a sua volta, estabelecendo
uma relação. Na constante busca da imitação, expressando grunhidos para os outros a sua
volta, a criança passa a repetir alguns vocábulos. Enquanto o vocábulo não tiver sentido ainda
não é palavra, esta só passa a existir quando ganha um significado.
A ausência de pessoas para refletir as ações da criança produz um atraso na sua
capacidade de associação de sons e significados específicos, dificultando a apropriação da
cultura. A ausência ou a redução da utilização da palavra e outras formas de linguagem é uma
violência, cometida pela sociedade, contra milhões de crianças em exclusão, dentre elas a
maioria dos alunos das unidades de internação.
A utilização da linguagem como um suporte ao pensamento é defendida por Vigotski
(2001), ampliando a importância da mediação simbólica como instrumento intelectivo do
indivíduo no seu meio.
(...) o momento de maior significado no curso do desenvolvimento
intelectual, que dá origem às formas puramente humanas de inteligência
prática e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prática, então, duas
linhas, completamente independentes de desenvolvimento, convergem
(VIGOTSKI, 2001, p. 33).
2. Considerações
A maioria dos adolescentes internos nas unidades de internação tem muita dificuldade
de leitura dos símbolos espaciais, comportando-se de forma inadequada. O interno R. S. não
soube se comportar numa audiência, no Juizado da Infância e da Juventude, prejudicando o
andamento do seu processo (PAES, 1999).
O signo pode estar num objeto, som, cor, gesto, figura, etc., que representa uma outra
coisa, servindo como auxílio da memória e da atenção. Na criação artística dos adolescentes
esses símbolos perdem a conotação repressiva e eles conseguem compreendê-los. A sociedade
urbana está cheia de signos que devem ser interpretados, para que se consiga compreender as
relações comunitárias e sociais. Os símbolos que indicam proibição de determinadas condutas
são imprescindíveis para a organização da vida em sociedade.
A educação, dessa maneira, compreende também o ambiente cultural no qual
o indivíduo vive, na medida em que lhe possibilite ou lhe vete a constituição
de um sentido (o mais amplo possível) para sua existência. A circulação de
idéias, significados e sentidos, no interior de uma cultura, e o acesso a essa
circulação compreendem pois o contexto formativo (educacional) mais
amplo no qual estamos inseridos. Os métodos pelos quais se permite ou se
veta a participação dos indivíduos nos produtos culturais são, em última
análise, métodos educativos (DUARTE JR, 1981, p15).
Para os adolescentes em privação de liberdade, estes signos, muitas vezes, não foram
sequer elaborados conscientemente, por causa da ausência de uma educação dirigida. Outras
vezes, os símbolos foram conhecidos e depois negados, como uma forma de enfrentamento do
sofrimento causado pela repressão, como uma devolução da violência sofrida ao meio que o
violenta.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae. Tópicos utópicos. Belo Horizonte. Ed. Arte. 1998.
PAES, Paulo Cesar Duarte. Arte-educação nas unidades socioeducativas. In PAES, Paulo
Cesar Duarte (org). Formação continuada de socioeducadores. Campo Grande. UFMS. 2008.
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Fontes. Martins Fontes. 2004.
VYGOTSKI. Obras escogidas (Volumes III). Madrid. Centro de Publicaciones del M.E.C. /
Visor Distribuciones, 1995.
Resumo
O presente artigo relata a experiência do projeto Duda Bainha Arte e Educação que promove a
realização de oficinas de arte educação. Essas têm por objetivo despertar a criatividade e a autonomia
de crianças de 0 a 12 anos colaborando para o desenvolvimento integral das mesmas. As oficinas a
serem relatadas foram realizadas entre os meses de agosto de 2016 e julho de 2017, em um parque
ecológico da cidade de Rio das Ostras, no estado do Rio de Janeiro. Faziam parte de um evento que
propôs o livre brincar como forma de conscientização sobre o desenvolvimento integral infantil. A
fundamentação teórica baseou-se nas abordagens sobre criatividade e autonomia de Piaget e
Vygotsky. Do primeiro autor foram ressaltadas suas teorias sobre a importância da relação do ser com
o meio e com os outros. Do segundo autor, focou-se em sua teoria acerca da imaginação como função
vital e necessária para o desenvolvimento cognitivo nas crianças. Também foram utilizadas as teorias
de Winnicott no que tange à criatividade primária e sua conexão com a maternagem. Pretende-se
relatar a partir da experiência, a possibilidade de se utilizar a arte e o brincar como ferramentas de
incentivo para o despertar criativo das crianças, colaborando para o seu desenvolvimento afetivo,
social e cognitivo.
Palavras-chave: Oficinas, arte educação, desenvolvimento infantil.
Introdução
O projeto “Duda Bainha Arte e Educação” surgiu a partir de uma inquietude sobre o
ensino da arte no ambiente escolar, principalmente na educação infantil, e como de fato essa
disciplina tem colaborado para o desenvolvimento das crianças.
Com o objetivo de proporcionar experiências de qualidade, o projeto voltado para
crianças e seus familiares, iniciou suas atividades em um ambiente não formal, com o
propósito de realizar oficinas de arte educação mediadas, que despertassem a capacidade
criativa e inventiva dos participantes.
Quanto se perde da contribuição da arte no que tange ao lúdico, à imaginação e à
criatividade, ao ter que se enquadrar em um ambiente de ensino formal? As crianças têm
passado, dentro do ambiente escolar, por experiências que aumentem seus repertórios e que
colaborem para a construção do conhecimento?
Para que o projeto alcançasse o proposto, foi empregado o conceito de John Dewey
(1980) sobre uma real experiência, quando o autor afirma que a experiência ocorre
1
Produtora Cultural pela Universidade Federal Fluminense. Licenciada em Artes. Professora de artes do ensino
regular e fundadora do projeto Duda Bainha Arte e Educação. E-mail: eduardabainha@gmail.com
continuamente e que faz parte do processo de vida a interação do sujeito com as condições
que o rodeiam. Porém, o autor ressalta que as experiências podem ser tão rápidas e distantes
que não alcançam, necessariamente, alguma intervenção no sujeito. É preciso oferecer uma
percepção, que se distancia de estereótipos, pois não é passiva e permite absorver a
experiência.
[...] um ato de percepção processa-se por ondas que se estendem serialmente através
de todo o organismo. Não há na percepção, por conseguinte, tal coisa como o ver ou
o ouvir e mais a emoção. O objeto ou cenário percebidos ficam completamente
penetrados emocionalmente. (DEWEY, 1980, apud ZENICOLA et. al, 2011, p. 2)
A Criatividade na Infância
Vygotsky (1987) diz que a perda do lúdico provoca na criança o envelhecimento
precoce e a atrofia da espontaneidade. A capacidade criadora é exclusiva do homem, sendo o
ser humano o único ser vivo capaz de criar algo novo a partir do que já existe. Os seres
humanos usam a criatividade para imaginar situações futuras e formar outras imagens.
Ainda de acordo com Vygotsky (1987) a imaginação vai além de um divertimento
para o cérebro, sendo ela uma função vital e necessária. Por isso, o referido autor ressalta a
necessidade pedagógica de se ampliar a experiência da criança, a fim de que se construa uma
base sólida para a atividade criadora.
Piaget (1998) afirma que o pressuposto básico para o desenvolvimento do indivíduo
autônomo é a relação do ser com seu meio e com os outros. Este desenvolvimento acontece à
medida que é permitido à criança se desbloquear da sua própria perspectiva, colocando-se na
(2006), quanto mais experiências novas forem ofertadas à criança, maior será o material
simbólico que ela acumulará. Esse material servirá de base para atividade criadora, e essa por
sua vez será mais intensa e com diversificados elementos de referência. Isto também significa
que quanto mais o sujeito cria, mais constrói conhecimento e se desenvolve cognitivamente,
ampliando em conjunto sua capacidade de ciar e imaginar o novo (CASTRO, 2006).
O processo criador se inicia quando existe uma percepção interna e externa dos
objetos e acontecimentos ao redor do ser, quando há o contato com o mundo, com os objetos
que o circundam e na interação com o os outros seres (CASTRO, 2006). Quando a criança
escuta histórias, interage com objetos novos, percebe e atua em seu ambiente, ela acumula
experiências, amplia seu repertório e gera material para a construção da fantasia.
Sendo assim, é possível afirmar que a função imaginativa depende da experiência da
criança, da necessidade, dos interesses dela. Depende ainda dos conhecimentos acumulados,
das tradições da sociedade que ela está inserida, e principalmente do meio que a rodeia.
Sobre a criatividade, Commons e Richards (1984) afirmam que se refere a uma ação
original, mesmo que os instrumentos não sejam originais. Ainda de acordo com Commons e
Richards (1984) é possível inventar algo novo, com objetos conhecidos, inventando uma nova
forma de usá-los, por exemplo. Essa questão é tratada pelos autores pela expressão “inovação
criativa”.
Segundo Commons e Richards (1984), a capacidade criadora e imaginativa é
complexa e dependente de vários fatores. Alguns deles são a quantidade e variedade de
estímulos que o sujeito está submetido, as experiências anteriores do sujeito e seus interesses.
Por isso, a imaginação pode se manifestar de forma diferente na criança e no adulto, e ainda
atua de modo diferenciado em cada fase de desenvolvimento do indivíduo.
Sobre a relação entre a quantidade de experiências que o sujeito vive e sua capacidade
de criar, Castro (2006) explica:
Imagina-se, via de regra, que a função imaginativa é mais rica e variada na criança
do que no adulto. A criança parece ser mais espontânea (e talvez, de fato, o seja),
mais livre para imaginar, mais integrada ao mundo da fantasia que da realidade. Mas
isso não significa que sua capacidade imaginativa seja maior ou mais rica que a do
adulto, porque sua experiência é muito menor e mais limitada que a do adulto.
(CASTRO, 2006, p. 56)
Rubinstein (2003) afirma que o vínculo afetivo é o elo que permite que o homem
invente algo. O conhecimento não é suficiente para o homem criar, usando sua consciência de
forma criativa e inédita. É preciso que o ser humano sinta, sonhe, imagine, brinque, intua,
duvide, pergunte ao outro e pergunte a si mesmo, e também utilize outras inúmeras
capacidades, não controladas pela razão, para que se construam forças e energias necessárias
para gerar o saber a partir do conhecimento (RUBINSTEIN, 2003).
Winnicott (1996) diz que a criatividade está focada no início da vida, se manifestando
a partir da relação estabelecida entre a mãe e o bebê. Sendo assim, a criatividade se apresenta
como uma criatividade primária, por estar na essência do desenvolvimento humano. Pode-se
afirmar, portanto, que se tornar um ser criativo tem a sua fonte em uma maternagem
suficientemente boa, em que o ser humano se desenvolve na relação com outro ser humano,
tornando os vínculos corporais e afetivos essenciais para a formação do humano. Assim, ao
nascer, o bebê deve ser nutrido emocional e fisicamente, ser sustentado no tempo e no espaço
e poder conviver e compartilhar (WINNICOTT, 1996).
Por isso, as oficinas tiveram por intenção proporcionar a pais e filhos, de 0 a 12 anos,
experiências que permitissem que criassem, sentissem juntos. O foco era criar a oportunidade
de vivencias de interação com a arte, com a criação, a partir de uma mediação simbólica, que
permitisse também a troca de afeto e experiências como afirma Loparic (2008) apud Maia
(2017).
[...] o homem só pode tornar-se um existente, alguém que se sente real e que é capaz
de estar-no-mundo e de se relacionar com os outros e com as coisas (as primeiras
delas sendo os brinquedos), de modo criativo, depois de ter sido acolhido por um
colo materno, do qual dependeu totalmente e que foi seu primeiro lugar para ser.
(LOPARIC, 2008, apud MAIA, 2017, p. 66)
Sendo assim, surgiu a ideia de realizar um evento que proporcionasse uma experiência
de cunho pedagógico aos participantes, fora do ambiente escolar. A visita da criadora do
projeto a um parque ecológico da cidade de Rio das Ostras no estado do Rio de Janeiro foi
determinante para a concepção da ideia, que se projetou na forma de um evento chamado
“Dia de Parque”, tendo ao todo 5 edições entre agosto de 2016 e julho de 2017. Na
programação havia atividades para bebês de 0 a 3 anos e para crianças acima de 4 anos.
Fonte.: A autora
Fonte: A autora
Considerações finais
Para que aconteça uma educação de qualidade, é necessário que se estimule o
desenvolvimento da autonomia e da criatividade nas crianças. As oficinas de arte educação
oferecidas pelo projeto puderam servir como base experimental de possíveis atuações
docentes em sala de aula. Foi percebido o quanto as crianças se sentiram estimuladas e
seguras ao entenderem que poderiam criar e experimentar livremente.
Existe um bloqueio dentro das escolas no que diz respeito a ouvir as necessidades das
crianças. Dar voz e importância para o que elas dizem e criam ainda é um tabu dentro das
instituições de educação. Pautam-se assim as atividades em uma postura tradicional de cópia,
de repetição e de atribuição dos conhecimentos ao professor. É ele quem detém o saber, é ele
o responsável por transmitir a verdade sobre os fatos, e o conhecimento que o aluno irá
receber está pronto, acabado e engessado.
O ensino da arte muito pode colaborar para a quebra deste paradigma educacional.
Durante as oficinas, por várias vezes foram ouvidas perguntas por parte das crianças sobre o
que era permitido ou não fazer. Por exemplo, se podiam pintar suas mãos ou se podiam
misturar as cores das tintas comestíveis. Ou seja, existia ali uma grande vontade criativa, uma
curiosidade a ser explorada, porém o receio em serem advertidas podava suas ideias.
Quando as crianças se davam conta que aquele era um espaço livre para a criação, a
oficina fluía de forma prazerosa, e elas dividiam com os outros participantes suas descobertas
e criações.
Ao colocar a criança em contato com novas experiências visuais, sensoriais e motoras
e ao permitir que elas criem livremente a partir de seu repertório, estamos estimulando sua
capacidade cognitiva. A criança livre para explorar o seu meio, trocar experiência com seus
pares, e os objetos que a cercam, passa a entender que sua visão de mundo é valorizada, e
ainda que existam outras visões, diferentes da dela.
Durante o encerramento dos eventos, todos foram convidados a deixar seu registro
sobre a experiência, de forma oral ou escrita. Os pais colocaram os pontos de satisfação e
muitos se demonstraram surpresos com as atividades desenvolvidas pelos filhos. Alguns
disseram estar receosos antes do evento, por acharem que seus filhos não iriam aproveitar,
uma vez que durante o tempo livre costumam ficar entretidos com aparelhos eletrônicos.
Porém, se surpreenderam ao ver o quanto os filhos interagiram e aproveitaram as atividades.
É possível concluir, portanto, que o projeto alcançou seu objetivo de trazer um
despertar sobre a necessidade do ambiente escolar em incentivar cada vez mais a criação
artística, que por sua vez tem início na exploração e na pesquisa por parte da criança. Desta
forma, o profissional de educação deixa seu papel passivo e passa a atuar de forma ativa no
Referências
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política. São Paulo: Brasiliense, 1985.
COMMONS, Michael Lamport; RICHARDS, Francis. A general model of stage theory. In.
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MAIA, Maria Vitória Campos Mamede; VIEIRA, Camila Nagem Marques. Criatividade
docente: Winnicott e a construção de subjetividades. Rev. Subj., Fortaleza , v. 16, n. 1, p. 64-
77, abr. 2016.
Resumo
O Ensino de Arte no Brasil já passou por diversas mudanças e dois dos marcos mais importantes foram
a Lei de Diretrizes e Base (LDB) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que inserem Arte no
currículo escolar. Diante disso, o ensino de Arte começa a se estruturar dentro do ensino formal e atingir
propostas conceituais e práticas nos processos e métodos da arte educação. O presente artigo parte do
pressuposto de uma pesquisa realizada na cidade de Juazeiro do Norte, Ceará, na qual investigou a
situação do ensino de Arte nas escolas públicas da região. Assim, com o objetivo de contribuir com as
reflexões já feitas até agora acerca do ensino de Arte, ainda que brevemente, desenvolvemos a pesquisa
com referências histórica e conceitual e com a experiência adquirida como bolsista no Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), durante o período de 2015 a 2017. Os dados
foram coletados a partir de atividades propostas pela disciplina Pesquisas e Práticas Pedagógicas II do
Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Regional do Cariri - URCA. Trilhando nesse
caminho, buscamos também compreender as problemáticas e potencialidades que atravessam o ensino
de Arte, objetivando no percurso investigativo salientar a importância do cultivo da Arte. Precisamos
construir e propiciar formações estéticas artísticas em razão da vida, da memória, da cultura e da
história.
Palavras-Chaves: Arte-Educação, Ensino Público, Docência.
Introdução
Diante disso, podemos perceber que os espaços educativos dedicados à Arte devem ser
considerados fundamentais para a apreciação e experimentação/experienciação artística em
termos de construção social, histórica e cultural. Considerando que a Arte produzida hoje e no
passado, deve ser contextualizada e/ou ressignificada enquanto legado da humanidade.
O Ensino de Arte nas escolas públicas de Juazeiro do Norte, Ceará, não apresenta essa
realidade citada acima, ou seja, encontra-se fragmentado e pouco estruturado no que se refere às
suas metodologias e mesmo em relação aos profissionais atuantes na área, que não são
formados na mesma. Desta forma o processo de conhecimento se torna frágil.
Em Juazeiro do Norte temos uma das duas únicas universidades que possui um curso de
Licenciatura em Artes Visuais no estado do Ceará: a Universidade Regional do Cariri (URCA),
cujo curso está locado no Centro de Artes Reitora Maria Violeta Arraes de Alencar Gervaiseau
(CArtes). Nele é desenvolvido o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência
(PIBID), que permite que nós licenciandos colaboremos pedagogicamente com o processo de
aprendizagem de Arte na sub-área de Artes Visuais nas escolas de ensino público da região.
Nesse sentido, percebemos que as contribuições efetuadas por esse programa, que são
realizadas através de planejamentos e oficinas, traz uma diferenciação positiva na realidade em
que as escolas se encontram.
O referido curso de graduação em licenciatura ainda é muito recente3, por isso poucos
profissionais foram formados até o presente momento. Consequentemente, poucos docentes
atuam nas escolas públicas da região. O PIBID é um programa que fomenta e altera boa parte
do cenário no qual se encontram essas instituições, pois o mesmo busca a superação dos
problemas identificados nos processos metodológico e pedagógico, bem como o foco na
experiência artística e estética contextualizada alinhada à História das Artes Visuais no Brasil e
no mundo.
3
O Curso de Licenciatura em Artes Visuais / CArtes -URCA foi fundado no ano de 2008.
beirava a recreação. Não existia nada que regulamentasse a obrigatoriedade do ensino de Arte,
que legitimasse essa área de saber como uma área que produz conhecimentos específicos.
Mesmo sendo tão importante para o desenvolvimento humano quanto às outras disciplinas
ofertadas na escola, o processo de conhecimento sobre a Arte e suas sub-áreas se encontravam
marginalizadas perante as outras disciplinas ofertadas pelas escolas. Portanto,
A obrigatoriedade do ensino de Arte garantida pela lei não é suficiente quando nos
deparamos com a realidade de uma época em que, de fato, não existia profissionais formados na
área para atender as demandas do ensino. Por isso, o desenvolvimento na educação em Arte não
possibilitaria o aprofundamento estético esperado. A partir de 1973, surgem os cursos de
licenciaturas em Educação Artística, e só diante disso é que começamos a ter profissionais
formados na área para atuar nas universidades e escolas.
Por volta de 1980, surge um movimento informal de arte-educação no Brasil que
buscava soluções para os problemas encontrados pelo professor de Artes. Esse movimento
mobilizou vários educadores, permitindo assim, a efetivação de diálogo a respeito da
valorização, formação e dos novos ideais didáticos, pedagógicos e estéticos em vigor na época.
Novas concepções de metodologias e práticas associadas ao fazer e pensar artísticos foram
incorporadas, e uma delas foi a Proposta Triangular desenvolvida por Ana Mae Barbosa. “A
Proposta Triangular é construtivista, interacionista, dialogal, multiculturalista e é
pós-modernista por articular tudo isto e por articular arte como expressão e como cultura na sala
de aula (...).” (BARBOSA, 1998, p.41).
A Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa modificou as estruturas da educação
brasileira voltada à Arte e rompeu certos paradigmas desse ensino, até então predominantes.
Ressaltemos e pensemos a Proposta Triangular não como um ato e sim como um processo de
formatação de um método de mediação e de fruição de Arte no âmbito formal e informal, que se
estrutura a partir da experiência do fazer, da contextualização e da produção artística:
desenvolve. Arte não é enfeite. Arte é cognição, é profissão, é uma forma diferente da
palavra para interpretar o mundo, a realidade, o imaginário, e é conteúdo. Como
conteúdo, arte representa o melhor trabalho do ser humano. (BARBOSA, 2002, p. 4).
Em decorrência dos cursos de graduação em Arte serem muito recentes na cidade, como
mencionamos acima, resolvemos desenvolver uma pesquisa a partir da disciplina Pesquisa e
Práticas Pedagógicas II do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Regional
do Cariri - URCA, na qual essa disciplina é dividida em parte duas partes: teoria e prática. A
parte prática nos leva às escolas da rede pública da cidade para observarmos como são
construídas e desenvolvidas as aulas de Artes. Concomitante a isso, desenvolvemos uma
pesquisa de caráter exploratório e quantitativo em doze escolas da cidade de Juazeiro do Norte-
CE.
Je1 Je2 Je3 Je4 Je5 Je6 Je7 Je8 Je9 Je10 Je11 Je12
Concursados\Efetivos 10 18 26 19 26 36 79 17 62 31 37 21
Contratados/Temporários 16 15 16 10 11 13 11 11 12 01 10 19
Je1 Je2 Je3 Je4 Je5 Je6 Je7 Je8 Je9 Je10 Je11 Je12
Ensino 384 230 28 339 669
Fundamental I
Adultos (EJA)
Je1 Je2 Je3 Je4 Je5 Je6 Je7 Je8 Je9 Je10 Je11 Je12
e
e
e
Arte/Educação
Arte educação
educação
educação
educação
educação
Arte e
Artes
Artes
Artes
Artes
Arte
Arte
Arte
Arte
Arte
Tabela 1.4 Quantidade de docentes que ensinam a disciplina de Arte
Je1 Je2 Je3 Je4 Je5 Je6 Je7 Je8 Je9 Je10 Je11 Je12
Concursados\Efetivos 10 05 01 03 04 03 13 04 06 07 06 07
Contratados\ 04 03 03 01 02 06 01 09 - - 01 -
Temporários
Tabela 1.5 Os docentes de Artes ensinam outras disciplinas além da própria Arte?
Je1 Je2 Je3 Je4 Je5 Je6 Je7 Je8 Je9 Je10 Je11 Je12
Sim x x x x x x x x x x x x
Não
Je1 Je2 Je3 Je4 Je5 Je6 Je7 Je8 Je9 Je10 Je11 Je12
Matemática.
Matemática.
Matemática,
Inglês, Ed.
Geografia,
Geografia,
Português,
Português,
Português,
Português,
Português,
Português,
Português,
Geografia.
Português
Português
Português
Ciências,
Ciências,
Ciências,
Religião,
História.
História,
História,
Religião
História
Inglês,
Inglês,
Inglês,
Física.
Inglês
Artes,
Je1 Je2 Je3 Je4 Je5 Je6 Je7 Je8 Je9 Je10 Je11 Je12
Ed.
Matemática
Pedagogia,
Geografia,
Pedagogia
Pedagogia
geografia.
Letras,
Biologia,
Biologia,
Física
História.
História,
História,
História
Letras.
Letras,
Letras.
Letras,
Letras,
Letras,
Letras,
Letras,
Letras
Letras
Letras
Tabela 1.8 Especialização na área de arte/educação
Je12
Je1 Je2 Je3 Je4 Je5 Je6 Je7 Je8 Je9 Je10 Je11
Sim x x
x
Não x x x x x x x x
Não sabe x
informar
Após a análise dos questionários aplicados, podemos concluir que o ensino de Arte nas
escolas de Juazeiro do Norte - CE ainda possui um declínio muito grande em relação à carga
horária e à grade curricular. Com tais reflexões e análises podemos identificar que uma das
maiores problemáticas refere-se à formação dos professores, que em sua maioria não são
formados na área e nem possuem qualquer tipo de especialização na área de arte-educação.
O conhecimento da arte abre perspectivas para que o aluno tenha uma compreensão
do mundo na qual a dimensão poética esteja presente: a arte ensina que nossas
experiências geram um movimento de transformação permanente, que é preciso
reordenar referências a cada momento, ser flexível. Isso significa que criar e conhecer
são indissociáveis e a flexibilidade é condição fundamental para aprender. Ao
aprender arte na escola, o jovem poderá integrar os múltiplos sentidos presentes na
dimensão do concreto e do virtual, do sonho e da realidade. Tal integração é
fundamental na construção da identidade e da consciência do jovem, que poderá
assim compreender melhor sua inserção e participação na sociedade. (PCN\ARTE,
1998, p. 20)
2010, p.93). O autor enfatiza que uma das maiores experiência que podemos ter na vida é com
as Artes. A educação em Arte renegocia a consciência do sujeito, do eu perante o mundo. O
Brasil tem avançado cada vez mais em reflexões didáticas e pedagógicas mesmo com todos os
problemas estruturais que perpassam a educação brasileira.
As experiências sistemáticas proporcionadas pela escola em termos de linguagens
visuais são o que garante que a maioria das pessoas tenha contato com Artes Visuais em seu
campo prático e teórico. A alfabetização visual realizada pelos meios formais, isto é, na escola,
possibilita aos sujeitos uma formação estética e cultural. Quando bem realizada pelo educador
ela tem efeito emancipatório, reflexivo e crítico sobre o educando: “conectar arte e comunidade
no cotidiano da arte-educação abre portas para uma forma politizada de ensinar, aprender e agir
nas comunidades com as quais interagimos” (BASTOS, 2005, p.83). A pesquisa realizada nas
doze escolas nos mostra que ainda temos muito que avançar em relação ao ensino de Arte em
Juazeiro do Norte - CE, e que o ensino e a experiência sistemática proporcionada pela escola se
torna frágil quando os docentes que ministram as disciplinas de Artes nas escolas provêm de
outras áreas.
A formação dos sujeitos que ministram as disciplinas são outras, e por mais que o
profissional entenda de Arte, constatamos que o processo de aprendizagem se torna falho
quando o arte-educador não possui formação especifica na área. Entendemos que o papel do
arte-educador possui relevância significativa e progressiva dentro da produção histórica
cultural que fomenta o desenvolvimento do pensamento artístico na comunidade em que ele
atua.
Por sua vez, a escola com qualidade social é a que define como sua finalidade social a
formação cultural e científica dos educandos mediante a apropriação dos saberes
historicamente produzidos pelo conjunto da sociedade.
A Arte surge como produto único e exclusivo dos seres humanos, só existe Arte por que
existem seres humanos. Assim, afirma Vygotsky: “A arte é social em nós, e se o seu efeito se
processa em um indivíduo isolado, isto não significa, de maneira nenhuma, que suas raízes e
essência sejam individuais” (VYGOTSKY, 1999, p.315). A arte é uma necessidade humana de
expressar suas experiências e através dela os sujeitos têm a capacidade de recriar a realidade
material e de transformarem a si mesmos. Esta área está intimamente ligada às estruturas
psíquicas, às relações materiais e imateriais, à cultura e a toda a realidade social. Segundo
Vygotsky (1999), o contato dos sujeitos com a Arte complexifica o gênero humano, ampliando
assim, espaços para novos vínculos psicológicos, fomentado áreas que estão ligadas as emoções
e aos sentimentos.
Considerações finais
Analisando toda a pesquisa que teve caráter empírico, notamos que para que o indivíduo
tenha um grau elevado de elaboração estética ele precisa ter uma educação de qualidade. Uma
educação artística emancipadora interfere diretamente no cotidiano das pessoas, na
sensibilidade e no entendimento dos momentos e processos históricos da humanidade. A Arte,
porém tem que ser um conteúdo indispensável nas escolas públicas do Brasil. O que temos
observado é que ainda há poucas aulas de Artes nas escolas, e a efetiva formação na área dos
docentes nas escolas da rede pública de Juazeiro do Norte ainda se encontra bastante escassa.
As aulas de Artes muitas vezes se dissolvem em outras disciplinas, ou elas são tratadas como
algo recreativo.
Acreditamos que o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência - PIBID
é um programa dentro das universidades brasileiras que surte bastante efeito quando pensamos
nesta fragilidade de professores formados na área. De tal modo, a vivência do PIBID na cidade
de Juazeiro do Norte vem sendo desenvolvida em cima desses alicerces falhos que as escolas da
região possuem. O programa atua nas instituições suprindo, de certo modo, toda a carência que
as mesmas possuem.
Diante disso, faz-se necessário repensar os conceitos de aulas de Artes nas escolas
públicas e a formação estético-artística tanto dos docentes quanto dos discentes situados nessas
instituições. As experiências pedagógicas têm que representar e aflorar necessidades
potencializadoras nas pessoas. As observações desta pesquisa não deve ser algo conclusivo,
mas devemos pensar um pouco a respeito da problemática que envolve a desilusão pedagógica
do educador e do educando quanto têm que atuar em áreas na qual não possuem formação. As
condições de trabalho e de processos de conhecimento devem ser vistas e revistas. A Arte é
parte da riqueza e da memória da humanidade.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da Arte. São Paulo: Max Limonad, 2002.
BARBOSA, Ana Mae. Tópicos utópicos. Belo Horizonte: Ed. C/Arte, 1998.
DEWEY, John. Arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
Resumo
O presente artigo objetiva descrever um registro de uma experiência em Arte/Educação
contextualizada (VASCONCELOS, 2016) com a utilização do livro de imagem como recurso
pedagógico na prática da Psicopedagogia Clínica em uma instituição de ensino de Juazeiro (BA) que
contempla a modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA). Para tal, parto de minha própria
atuação como estagiária em um curso de Pós Graduação lato sensu em Psicopedagogia Clínica,
Institucional e Hospitalar onde realizo a avaliação e intervenção psicopedagógica de uma aluna de 46
anos da EJA. Em uma das sessões, que visam à facilitação da aprendizagem da aluna, proponho a
leitura do livro de imagem, rompendo com a proposta engessada da leitura como decodificação de
texto escrito. Durante esse processo, vou percebendo a importância da leitura de imagens numa
perspectiva da aprendizagem crítico/reflexiva assim como da necessidade da Educação do Olhar na
formação dos indivíduos. A metodologia utilizada para a descrição da sessão foi a microanálise
etnográfica (MATTOS, 2011). O arcabouço teórico do artigo está pautado na discussão da Cultura
Visual (HERNÀNDEZ, 2007), na análise e leitura visual (MANGUEL, 1997; MARTINS, 2007 e
FREIRE, 1988) e na apropriação do livro de imagem (CAMARGO, 1995). Por intermédio dessa
pesquisa, pude perceber além da melhora da autoestima da aluna, seu aprofundamento em dispositivos
de leitura e a presença da sua constituição como leitora visual, com suas próprias lentes. Neste sentido,
entendo que não se pode continuar defendendo um processo único de aprendizagem da leitura, da
alfabetização apenas escrita. Por fim, perpassa aqui como implicação da pesquisa o desejo de que a
Educação seja de fato, uma “experiência apaixonante” (HERNÀNDEZ, 2007).
Palavras-chave: Leitura de imagem. Cultura Visual. Arte/Educação.
Introdução
1
Mestranda do Programa de Pós Graduação Mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos
(PPGESA) – Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – DCH III. Integrante do Grupo de Pesquisa Multi, Inter
e Trans em Artes – MITA – CNPQ. E-mail: didacampana@yahoo.com.br
2
Orientadora do PPGESA - UNEB. Docente Adjunta da Universidade Federal do Vale do São Francisco
(UNIVASF), Colegiado de Artes Visuais. Doutora em Educação Artística pela Universidade do Porto
(UPORTO), Portugal. Líder do Grupo de Pesquisa Multi, Inter e Trans em Artes – MITA – CNPQ. E-mail:
flavia.pedrosa@univas.edu.br
modalidade estão inseridos em uma lógica de exclusão histórica, pois são aqueles que não
tiveram condições de estudar ou continuar seus estudos quando crianças ou jovens por
inúmeros fatores e que veem nessa modalidade uma possibilidade de escolarização quando
adultos, mesmo com pouco tempo para os estudos e cansados ao final do dia.
Dentre os números de estudantes matriculados em escolas públicas da EJA na cidade
de Juazeiro/BA, está a aluna M. G., mãe, esposa e trabalhadora, que quando criança não pôde
estudar por fazer parte de uma família que pensava que “a mulher que lia e escrevia, poderia
enviar cartinhas de amor pra algum moço das redondezas”. Depois, isso se deu também por
ter que trabalhar para sustento próprio e dos filhos e na volta do trabalho, cabendo a si a
vigilância noturna dos pequenos. No momento, busca que seu sonho de aprendizado
contextualizado da leitura e da escrita torne-se realidade, mas o cansaço, o desânimo e a baixa
autoestima resultante de uma cultura que valoriza apenas a escrita em detrimento de outras
formas de leitura são levados na sua bolsa a tiracolo todos os dias.
Cabe ressaltar que a aluna trabalha como auxiliar de serviços gerais, possui cinco
filhos maiores de 18 anos, todos empregados e com Ensino Médio, os quais moram em casa
própria. Tem como um dos objetivos principais para o aprendizado na escola a leitura e
interpretação da Bíblia Sagrada Cristã. Dessa maneira, insere-se esta pesquisa, com a
Psicopedagogia Clínica entrando em sua história e vivências com propostas para facilitação
da aprendizagem da aluna.
A Psicopedagogia é um campo do conhecimento que surge no Brasil por volta dos
anos 1980 com a necessidade de respostas ao fracasso escolar (SILVA, 2010), com o mote do
“tratamento” de sintomas como: desatenção, desinteresse, lentidão. Com o tempo e a difusão
de estudos centrados na área, percebeu-se a necessidade de mudanças nesse foco e a
percepção dos sintomas como sinal de desarticulação de diferentes aspectos da aprendizagem
de cunho afetivo, cognitivo e social.
Diante desse panorama em construção e recente, o objeto de estudo passa a ser o
sujeito em processo de aprendizagem, trazendo para a Psicopedagogia a análise das
dimensões desse sujeito cognoscente como “pensante, apaixonado e contextualizado”
(SILVA, 2010), investigando seu desenvolvimento em direção a sua autonomia.
Entre as metodologias possíveis para análise dos dados, optei pelo uso da microanálise
etnográfica (MATTOS, 2011), a qual exige um detalhamento criterioso na descrição da
sessão psicopedagógica, levando em consideração “não apenas a interação imediata da cena,
como também a interação e o contexto social maior, a sociedade onde este contexto se
insere.” (MATTOS, 2011, p.55). Dessa perspectiva configuro a escuta sensível que o
psicopedagogo clínico e o pesquisador devem ter e as possibilidades do livro de imagem
despertam essa interação com a aluna e com o momento.
A leitura de um livro de imagem, ou seja, a leitura visual em uma das sessões
psicopedagógicas propõe uma ruptura com a proposta do letramento dominante das
instituições, ligado integralmente à escrita. Entende a participação ativa do aluno, com
protagonismo, criando narrativas orais por meio do estímulo imagético, trazendo para sessão
seus conhecimentos prévios, sua cultura, sua autonomia, sua postura crítica em relação ao
lugar que está inserido, se envolvendo em um ambiente leitor.
Por intermédio de uma abordagem da narrativa visual na EJA como opção de
letramento e quebra de paradigma, assume as bases da Educação da Cultura Visual,
referendada por Hernàndez (2007, p. 22) “como uma diversidade de práticas e interpretações
críticas em torno das relações entre as posições subjetivas e as praticas culturais e sociais do
olhar”, possibilitando ao aluno experiências e entendimentos a partir de reflexões sobre o que
se passa no mundo em que vive.
A proposta curricular para a Educação para Jovens e Adultos (2001), disponibilizada
pelo Ministério da Educação – MEC e ainda vigente, prioriza a decodificação da escrita e
baseia suas aulas nessa concepção.
Pode-se inferir que todos os textos exemplificados da proposta supracitada são escritos
e não há menção à imagem como possibilidade didática. O conceito de leitura em muitos
casos é bastante específico e não contempla a abordagem imagética, não há espaço para a
leitura visual. Contrário a essa única concepção, Martins (2007, p.30) entende leitura como
“processo de compreensão e expressões formais e simbólicas, não importando por meio de
que linguagem”, ou seja, o letramento pode abarcar outros espectros do comunicar e do
conhecer, tais como visual, sonoro, tátil, etc.
Um outro olhar sobre esse tema é o de Manguel (1997, p.19), o qual amplia o conceito
de leitor quando expõe que:
letramento e sim letramentos, onde a imagem, entre outras linguagens, também está inclusa
nesses letramentos definidos como:
O livro de imagem não é um mero livrinho para crianças que não sabem ler.
Segundo a experiência de cada um e das perguntas que cada leitor faz às
imagens, ele pode se tornar o ponto de partida de muitas leituras, que podem
significar um alargamento do campo de consciência: de nós mesmos, de
nosso meio, de nossa cultura e do entrelaçamento da nossa com outras
culturas, no tempo e no espaço. (Camargo (1995, p.70 apud Splenger, 2013,
p.275-276))
Além desses, outros autores destacam o livro de imagem como Coelho (2000, p.196),
que define como “[...] aqueles que contam histórias através da linguagem visual, de imagens
que falam”. Há também o debate aberto em Castanha (2008), o qual define o livro de imagem
como o livro sem texto, Lee (2012) que enuncia os preceitos do Livro-imagem, Manguel
(1997) que aborda a necessidade de rever o espaço da leitura escola e Ramos (2011) que trata
o livro de imagem como um objeto próprio em uma estética, um livro-imagem em diferentes
caminhos de interpretação.
Desse modo, e sob o olhar da Educação da Cultura Visual, expresso que livro de
imagem propõe
Por conseguinte, alio nesta pesquisa sobre o livro de imagem e o letramento visual
num viés psicopedagógico a Educação da Cultura Visual com a Arte/Educação
contextualizada em Vasconcelos (2016, pgs. 5-6), por entender que o aprendizado
significativo das imagens ocorre no:
3
O conceito de leitura citada na queixa da professora refere-se à expressão oral da palavra
escrita e se resume à decodificação de letras.
Destarte, não impus um livro para leitura, mas solicitei que a aluna escolhesse dentre
os cinco livros de imagens apresentados: O Bárbaro (MORICONI, 2013); Brinquedos
(NEVES, 2004); O lenço (AUERBACH, 2013); Zoom (BANYAI, 1995) e Onda (LEE, 2008)
e ela indicou A Onda, de Suzy Lee. Descrevo nas linhas adiante a sessão realizada, ilustrando
as falas com algumas das páginas do livro de imagem escolhido pela aluna.
Fonte: LEE, Suzy. Onda. Onda. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
Inicialmente, a aluna teve receios sobre a construção de sua leitura, por não ter
intimidade com o letramento visual.
Então, eu disse: “- Tenta, você consegue!”.
Ela espantou-se ao abrir as páginas, o que fez antes de se ater ao título e à capa.
Foi passando cada folha e, de repente, perguntou: “- Oxe, e não tem letra pra ler?”.
Expliquei o que seria um livro de imagem e perguntei se ela gostaria de ler. Na mesma
hora olhou para a capa e começou a sua própria história
A história do livro de imagem lida pela aluna foi gravada com sua autorização prévia e
transcrita para um texto corrente, o qual abaixo se encontra como explicação descritiva de sua
leitura:
“Maria e as gaivotas (título dado pela aluna)
Era uma vez uma menina que saiu a passear com a sua mãe. E quando
chegou viu tantas montanhas e ficou deslumbrante com tanta beleza e saiu a
correr feliz. Ao ver o mar ela botou a mão para trás e ficou admirada com
aquele azul tão lindo a brilhar nos olhos dela. Até os passarinhos ficaram
admirados com o azul. Quando ela saiu a correr, que virou as costas para o
azul, ela se assustou ao ver que iria molhar os pés dela. Até os passarinhos se
assustaram. Após ela se virar para o azul ela quis assustar o azul e fez um
gesto de uh!(mostrando a língua) para o azul até os passarinhos se
assustaram e bateram as asas...”
Fonte: LEE, Suzy. Onda. Onda. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
“...Oh! Ficou triste a menina ao ver aquelas ondas tão azul, altas. Por que ela
tá tão triste? O que será que aconteceu dela ter ficado tão triste? Nossa, tá
saindo o azul e ficando na terra. Que foi? Por que os passarinhos estão a
voar? Oh! Não! Voltou! Vou botar meu pé para conseguir pegar esse azul.
Será que eu vou conseguir? Nossa, consegui! Consegui pisar na água azul. E
todos os passarinhos estão gostando. Que alegria! Que felicidade! Oh! Que
coisa boa! Ficar na água azul com os passarinhos. Estou tão feliz e
emocionada!.Nossa, que foi? Me assustei. O que será isso? Essa onda tão
alta...estou assustada! Nossa, que horror! Um monstro atrás de mim. Vou
correr! Vamos correr! Boo! prá você!...”
Fonte: LEE, Suzy. Onda. Onda. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
Fonte: LEE, Suzy. Onda. Onda. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
E a história continua....
a resumir-se desse jeito: num primeiro momento a leitura de imagens como narrativa visual
trouxe o prazer, a percepção da leitura e sua relação com o texto, a oralidade, suas vivências e
interpretações. Num segundo momento com a aluna, foi necessário refletir sobre a imagem
que se lê, sem pressa, buscando suas correspondências na sociedade e pensando a dinâmica de
poder que poderia estar impressa nela. Portanto, o letramento visual na psicopedagogia diante
de uma proposta de Arte/Educação contextualizada traduz que ao pensar a imagem, se revê o
contexto e o espaço social, revendo por consequência o espaço simbólico e a produção de
sentido no cotidiano que de outra forma não poderia ser expresso.
REFERÊNCIAS
CASTANHA, Marilda. A linguagem visual no livro sem texto In OLIVEIRA, Ieda de (org.):
O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador.
São Paulo: DCL, 2008.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. 1ª Edição. Moderna.
São Paulo, 2000.
FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22 ed.
São Paulo: Cortez, 1988.
LEE, Susy. A trilogia da margem: o livro-imagem segundo Suzy Lee. São Paulo: Cosac
Naify, 2012.
MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
RAMOS, Graça. A imagem nos livros infantis: caminhos para ler o texto visual. Belo
Horizonte: Autentica Editora, 2011.
SPLEGER, Laura Pozzobon. Livro imagem: quando a ilustração se faz dona da palavra In
Tecendo Literatura: entre vozes e olhares. São Paulo, 2013.
Resumo
A conduta do sujeito discente no espaço escolar é uma das questões que mais tem gerado discussões e
debates no campo educacional. Na contemporaneidade, é sabido que o trabalho docente influencia e é
influenciado pela realidade comportamental dos discentes em sala de aula. Neste sentido, este texto
pretende apresentar o projeto de pesquisa intitulado “ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS DOS
ALUNOS A PARTIR DE UMA ARTE EDUCAÇÃO DO SER, SENTIR E SABER” que foi pensado
para fins de TCC – Trabalho de Conclusão do Curso – a ser concluído em 2017 no âmbito da
licenciatura em Artes Cênicas e Dança da UEMS – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. A
investigação surgiu em 2016 a partir das variações comportamentais dos alunos percebidas quando da
realização do Estágio Supervisionado Obrigatório na disciplina de Artes da Escola Estadual Antônio
Delfino Pereira. Foi adotado para a pesquisa um caráter bibliográfico que visa relacionar o
pensamento de autores como Freire (1987), Barbosa (1989; 2005; 2008; 2008a), Spolin (2008), Bessa-
Oliveira (2010; 2016), e outros, assim como também o PPP (2014) da escola que se fundamenta nas
Diretrizes e conteúdos de Arte postos no PCN-Arte e no Referencial Curricular de MS. Buscaremos
relacionar a bibliografia estudada, à realidade posta em sala de aula e à prática vivenciada no Estágio.
Pois se observou que o comportamento dos alunos interfere diretamente na prática docente,
influenciando nos resultados almejados; bem como se observou que a atitude do professor a partir de
um ensino centrado no “ser, sentir e saber” pode modificar o comportamento dos discentes que
participam ou não das aulas. Em face disto, procuraremos pensar em nossa investigação as
possibilidades de um ensino de Arte que proporcione ao aluno um melhor aprendizado e, por
conseguinte, ofertar ao professor melhores possibilidades no planejamento das suas aulas referente à
arte e cultura.
Palavras-chave: Ser/Sentir/Saber/Arte Educação. Conduta Discente. Prática Docente.
1
Este trabalho é parte de uma pesquisa que a primeira autora vem desenvolvendo como TCC – Trabalho de
Conclusão de Curso – do curso de Artes Cênicas da UEMS, sob a orientação do segundo autor, cujo título ainda
provisório é: “ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS DE PROFESSORES E DOS ALUNOS A PARTIR DE
UMA ARTE EDUCAÇÃO DO SER, SENTIR E SABER NO ENSINO DE ARTES”.
2
Acadêmica do 4º ano do Curso de Artes Cênicas e Dança da UEMS. E-mail: gilzacorona@hotmail.com.
3
Doutor em Artes Visuais, área de concentração em Fundamentos Teóricos pelo IA/Unicamp. Professor DE/TI
na Cadeira de Artes Visuais no Curso de Artes Cênicas e Professor Permanente do PROFEDUC na Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul – UUCG. É Líder do Grupo de Pesquisa NAV(r)E – Núcleo de Artes Visuais
em (re)Verificações Epistemológicas – CNPq/UEMS. Membro do NECC – Núcleo de Estudos Culturais
Comparados – UFMS e do Núcleo de Pesquisa Estudos Visuais – UNICAMP. marcosbessa2001@gmail.com.
O comportamento dos seres humanos, assim como os dos animais, faz dependente uns
dos outros para conciliar um convívio saudável dentro das sociedades às quais cada um desses
seres pertence. Na escola, na sala de aula, até mesmo em casa, um convívio saudável é
extremamente fundamental para que as relações entre aqueles sujeitos envolvidos (aluno,
professor, “escola” e instituição familiar) consigam, cada um a seu modo e necessidades,
estabelecer uma relação melhor para alcançar o objetivo principal: geração, transmissão e até
produção de conhecimentos. A conduta do sujeito discente no espaço escolar é uma das
questões que mais tem gerado discussões e debates no campo educacional. A variação de
comportamento dos alunos nas escolas públicas interfere diretamente no trabalho do professor
e também no resultado esperado para os alunos: seu aprendizado. Como sabemos existem
muitos motivos que levam os alunos ao desinteresse e também ao comportamento disperso e
apático que prejudica tanto o aproveitamento das aulas, bem como do tempo das aulas de
artes. Logo, podemos argumentar ainda que inicialmente que na contemporaneidade é sabido
que o trabalho docente influencia e é influenciado pela realidade comportamental dos
discentes em sala de aula.
Neste sentido, este texto pretende apresentar o projeto de pesquisa intitulado
“Alterações comportamentais dos alunos a partir de uma arte educação do ser, sentir e saber”
que foi pensado para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), da autora deste trabalho que o
defende em 2017, no âmbito do Curso de Licenciatura em Artes Cênicas e Dança da UEMS –
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UUCG – Unidade Campo Grande. A
investigação surgiu em 2016, a partir das constatações de alterações nas variações
comportamentais dos alunos, quando da realização das observações e regências realizadas
durante a efetivação dos Estágios Supervisionados Obrigatórios na disciplina de Artes da
Escola Estadual Antônio Delfino Pereira.
Como é sabido, há pesquisadores-educadores, bem como pesquisadores do ensino que
não são professores, empenhados na busca por soluções, estratégias e formas adequadas de
enfrentar essa realidade, apontando possibilidades múltiplas que acabam por nos proporcionar
como resultados destes empenhos, o surgimento de possibilidades outras de processos
ser observado por todos, a Assessoria do portal do MEC noticiou no dia 22 de setembro de
2016:
propomos como finalidade geral da pesquisa evidenciar caminhos facilitadores dos processos
de ensino e aprendizado dos alunos nas aulas de Artes – professores e alunos e ambos em
relação às instituições escolares. Propomos ainda, a três coisas que estão diretamente ligadas
ao objetivo maior, mas que, por conseguinte, seriam pontos mais específicos: investigar as
variações comportamentais dos alunos da disciplina de Artes que, das nossas perspectivas,
toma das relações cotidianas de cada um desses sujeitos; conhecer a realidade do aluno dentro
da escola que envolve reconhecer o professor, os colegas e igualmente o estabelecimento
escolar em que esse aluno estuda; por último, analisar os conteúdos alcançados para buscar
atender as prioridades dos alunos.
Para tal estudo, o estágio realizado, pré-requisito obrigatório do curso de Artes
Cênicas e Dança – Licenciatura da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, no ano de
2016, na Escola Estadual Antônio Delfino Pereira, onde nos valemos da linguagem do teatro e
da dança como parte da área do conhecimento Arte6 – obviamente valendo-nos da nossa
formação exigida –, será nosso instrumento para verificação de possibilidades facilitadoras da
relação Professor-Conteúdo de Artes-Alunos. Pois, se como salientado no início da
introdução deste trabalho, é o convívio que estabelece melhor possibilidades nas relações
humanas, no caso do ensino de arte, a relação Professores e Alunos, ainda na disciplina Arte,
passa também por estratégias de “metodologias” de trabalhos do professor e, igualmente,
epistemologias teóricas que ancoram o seu trabalho em relação à manipulação dos conteúdos
em Artes. Portanto, além do convívio entre esses dois, professor e aluno, precisamos
(re)verificar a relação tendo-a assim: Professor-Conteúdo de Artes-Alunos
6
Lei de Diretrizes e Bases da Educação LEI Nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2017.
parecemos ter na atual circunstância e totalidade das escolas pelo Brasil afora: uma relação de
“Batalha na Escola”, enfrentada cotidianamente pelos alunos, professores e espaços escolares,
acreditando na hipótese de que sair vivo já é um grande lucro.
O método pré-estabelecido entre Professor (único detentor do saber) e aluno (este
apenas como reprodutor desse saber), que impede a transferência de conhecimento, como
acontece nos dias atuais, é o padrão de ensinar a pintar, desenhar, escrever, fazer, ler.
Portanto, não é o de conduzi-los a ser, sentir e saber o mundo: coisas que estão implícitas ao
sujeito. Assim, pretende-se naquela pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso “[...] pensar
a geração do conhecimento pelo conhecimento a partir da cultura e nunca a partir da
linguagem [...]” (BESSA-OLIVEIRA, 2016, p. 04). Pois, também de acordo com o autor, é
preciso conhecer-se (professor) para proporcionar ao outro (aluno) coisa igual ou evento
minimamente parecido.
Esta colocação está assentada na ideia de que a prática de conduzir conhecimento a
partir dos conhecimentos dos sujeitos toma das linguagens artísticas como ilustração, mas é o
repertório cultural de cada sujeito que é aceito como ponto principal para pensar essa geração
do conhecimento pelo conhecimento. A partir dos contextos culturais, nos quais esses sujeitos
estão inseridos, que possibilitam construir o que entendemos academicamente por linguagens
artísticas. “Portanto, a linguagem artística é resposta à sociedade cultural específica do
repertório [contextual] dessa cultura.” (BESSA-OLIVEIRA, 2016, p. 4) Ou seja, entendemos
baseados no autor que reverbera da sociedade aquilo que suas particularidades identitárias têm
relação. Ao me relacionar com um contexto outro, acabo por reverberar coisas diferentes,
entretanto, se este outro contexto não se aproxima do contexto no qual estou inserido ele
acaba por não compactuar com a minha realidade sociocultural.
Durante o tempo em que estive inserida em sala de aula, período do referido estágio
obrigatório, especificamente na disciplina de Artes, convivi com essa inquietação
(in)disciplinar, tanto por parte dos alunos como, espantem-se, dos professores. Então, como
percorrer esse processo ensino-aprendizagem contemplando interesses de alunos e
professores? E quanto às alterações comportamentais em que os alunos se sentem eufóricos,
quando são vistos por muitos como desordenados, os professores devem inibi-los? Quais as
possibilidades facilitadoras da relação professor-conteúdos de arte-alunos?
Tentando recorrer a respostas que vão sustentar nossa pesquisa, acabamos por tomar
de autores que vêm tentando sinalizar alternativas com suas pesquisas. A exemplo de Viola
Spolin (1992) que diz em seu livro Improvisação para o teatro que “a espontaneidade cria
uma explosão que por um momento nos liberta de quadros de referência estáticos, da
memória sufocada por velhos fatos e informações, de teorias não digeridas e técnicas que são
na realidade descobertas de outros. (SPOLIN, 1992, p. 4). Portanto, a partir destas reflexões,
pode-se avançar quanto às variáveis possibilidades de estudos sobre as alterações
comportamentais dos alunos, ainda que não nos concentremos exclusivamente em saberes
disciplinares históricos já experimentados – psicológicos, sociológicos, psicanalíticos,
portanto, médicos –, que até apresentaram bons resultados com sujeitos-alunos de outros
contextos, (brancos, europeus, masculinos, mas que não amparam nosso alunado, bem como o
planejamento de conteúdos e práticas outros: especialmente que tenham as múltiplas
identidades e culturas como primevos.
Neste sentido também o PPP (Projeto Político Pedagógico) da Escola Estadual
Antônio Delfino Pereira deixa claro que a missão da instituição é “ter como objetivo e tarefa
contínua, explicitar a riqueza existente na diferença, a pluralidade cultural que os indivíduos
apresentam” (PPP, 2014, p. 2). Sendo assim, a instituição Escola tem autonomia para
desenvolver junto à comunidade escolar atividades que correspondam aos anseios locais,
específicos que também são alvo obrigatório da Lei de Diretrizes e Bases de 1996. Por
conseguinte, devem levar o aluno a corresponder a construção da sua própria história, sua
identidade e seu papel de cidadão (reconhecer-se) às histórias outras: sejam estas em nível
nacional e/ou internacional.
Conforme aponta também Bessa-Oliveira, a Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa
(2008a), por exemplo, “contextualizar”, “apreciar” e “praticar”, tanto difundida nos meios
educacionais da diferentes linguagens do ensino de Artes, infelizmente não basta para
alcançar um ensino de Artes que se relaciona diretamente ao contexto do aluno, pois “o aluno
tem a necessidade de ser o que aprende, para poder contextualizar e apreciar e, para assim
construir o seu conhecimento.” (BESSA-OLIVEIRA, 2016, p. 09) Naquela proposta, o
“contextualizar”, “apreciar” e “praticar” ainda é tomado pelo professor de Artes como
metodologia empregável a partir, quase e exclusivamente, das noções de Obra, Artista em
7
Referir-nos à Abordagem Triangular da professora Ana Mae Barbosa não quer dizer criticar à proposta. Mas,
de modo bastante consciente, sinalizar que aquela foi compreendida e é ainda hoje desenvolvida de maneiras
equivocadas por muitos professores e até pesquisadores. Queremos dizer que professores e pesquisadores
defendem a sua prática nas aulas de Artes como proposta epistêmica para o ensino e pesquisa em arte, mas
sequer atentam para ideia de pensá-la a partir das culturas dos alunos, priorizando assim sempre o contexto
histórico tradicional para fazer os alunos contextualizarem, praticar ou apreciarem. É nesse sentido que uma
abordagem do ser, senti e saber Biogeográfica – Bio-sujeito, geo-espaços, grafias-narrativas – acaba sendo
pertinente, pois parte da ideia de pensar o mundo a partir dos mundos dos alunos e dos professores para que
esses possam vir a compreender outros mundos possíveis.
8
Aqui insere sua proposta de “professor-artista-pesquisador” muito discutida no curso ao qual estamos
vinculados.
O aluno não consegue, a partir das aulas de Artes, vislumbrar relação nenhuma entre
aquela arte distante – em tempo histórico e geográfico – com os seus raps, grafites,
funks, skats (sim, falo sobre o skate porque ele é uma prática esportiva, mas é
também cultural), com o hip hop que eles estão desenvolvendo em suas
comunidades. E essa falta de relação não se dá porque o professor não consegue
fazê-la, não é também porque a escola não disponibiliza espaço e materiais
adequados para essas práticas. A culpa, por incrível que pareça, não está diretamente
associada ao professor, ao aluno ou à escola, mas é totalmente culpa dos discursos
críticos e artísticos (um que reforça o outro), por conseguinte, que insistem em
dizer que nossas práticas artísticas e a cultura local são iguais ou continuidades
das europeias ou norte-americanas. Daí, depois de associar a problemática às
cabeças da questão, podemos sim dizer que se o professor deixar-se preso aos
pressupostos modernos que esses críticos e artistas defendem, e não pesquisar e
reinterpretar aquelas práticas e culturas históricas para o tempo presente do aluno (a
tão temida contemporaneidade nas aulas de Artes), a culpa por termos um ensino
desassociado do cotidiano desses alunos passa a ser do professor. Mas o problema
primeiro é dos que reforçam a manutenção de uma arte e de algumas culturas alheias
à nossa como se fossem nossos. (BESSA-OLIVEIRA, 2016, p. 11). (Grifos nossos)9
Já nos idos anos de 2010 o pesquisador em seu livro Ensino de Artes X Estudos
Culturais: para além dos muros da escola, que se deu a partir da sua inicial pesquisa de
Monografia no curso de Artes Visuais – Licenciatura – Habilitação em Artes Plásticas da
UFMS, indicava suas primeiras preocupações e averiguações sobre a temática, e neste
sentido, afirmava que já naquela época esteve “[...] debruçado em reflexões sobre a arte e a
cultura de Mato Grosso do Sul. [...] Naquele primeiro livro busquei pensar sempre em um
ensino de Artes a partir da cultura local sul-mato-grossense nas escolas de ensino Formal de
Mato Grosso do Sul.” (BESSA-OLIVEIRA, 2016, p. 11)
Segundo Grossberg, Nelson e Treichler (1995) no ensaio “Estudos Culturais: Uma
Introdução” para o livro Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais
em educação, Paul Willis declarou que “a cultura é o próprio material de nossas vidas diárias,
as pedras fundadoras de nossas compreensões mais corriqueiras.” (WILL, 1977, p. 185, apud,
Grossberg, Nelson e Treichler, 1995, p. 13). Trazemos a passagem de Will por dois motivos
especiais: o primeiro porque claramente essa vai reforçar a importância do foco na cultura
local de Mato Grosso do Sul de acordo com Bessa-Oliveira. Em segundo lugar porque o livro
organizado por Tomaz Tadeu da Silva, não somente vai ser um dos inaugurais dos Estudos
9
Muitos “estudiosos” da arte local insistem em relacionar diretamente a produção artística de Mato Grosso do
Sul a fim de incluí-la no hall de produção artística. Mas, infelizmente esquece-se de lembrar que o simples fato
de copiar um modelo não passa disso e, o que é pior, só faz reforçar a subalternidade das produções que são
cópias (in)fieis.
Culturais na Educação Brasileira, mas porque ele traz consigo textos essenciais para
compreender os Estudos Culturais como prática epistêmica e porque o livro orienta
sobremaneira os estudos iniciais do professor Bessa-Oliveira e, por conseguinte, orientará a
conclusão desta pesquisa quando TCC.
Em Inquietações e mudanças no ensino da Arte (2008) de Ana Mae Barbosa (org.)
que aborda várias questões relacionadas ao Ensino de Arte, tratando também do nosso assunto
– inquietações como problemática para o ensino de Arte –, nos valemos, pois, trazendo várias
reflexões a respeito, com vários pensadores da área, esses autores buscam contemplar nas
discussões vários conteúdos educativos de Arte. Por exemplo, podemos citar o texto de
Rejane G. Coutinho (capítulo 13) onde a autora enfatiza a importância do sujeito/professor
formador, ou seja, que este “é preciso aprender o aprender a ensinar”. (COUTINHO, 2008, p.
153) Já no capítulo 14, Ana Del Tabor Vasconcelos Magalhães escreve sobre as perspectivas
do ensino de arte com base na prática de ensino. A autora afirma então que “O estágio
supervisionado é a principal ação – reflexão – ação desenvolvida dentro da disciplina prática e
representa um momento significativo para a criativa e crítica da ação pedagógica.”
(MAGALHÃES, 2008, p. 1)
Considerações finais
Tratando-se este trabalho de uma discussão que está em preparação das questões aqui
explanadas, entendemos que concluir fatos, aspectos e a própria “história-pesquisa”, já nos
seria impossível e contraditório. Antes porque as discussões estão sendo literalmente por nós
digeridas – epistemologias, situações comportamentais dos sujeitos envolvidos, instituições e
documentos –; segundo porque as reflexões de todos os autores aqui citadas não sugerem
encerramentos, mas possibilidades de reflexões a respeito das situações que nos são
(im)postas pela gama imensa de sistemas que nos permeiam cotidianamente. Mas se cabem
algumas observações a título de encerramento provisório é que inicialmente observou-se que
o comportamento dos alunos interfere diretamente na pratica docente do sujeito professor,
influenciando nos resultados almejados, bem como nas atitudes diárias do professor. A partir
de um ensino pensado no “ser, sentir e saber”, acreditamos nisso, pode-se modificar o
comportamento dos discentes que participam ou não das aulas. Bem como pode contribuir
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae. “Arte-Educação no Brasil: realidade hoje e expectativas futuras.” In:
Estuda v. [online]. 1989, vol.3, n.7, 170-182. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141989000300010>
Acessado em:<01 de Agosto de 2017>
BARBOSA, Ana Mae. Inquietações e mudanças no ensino da arte. 5. ed. SP: Cortez, 2008.
BARBOSA, Ana Mae. (Org.). Ensino de arte: memória e história. São Paulo: Perspectiva,
2008a. (Estudos; 248/ dirigida por J. Guinsburg).
dia 02 de Maio de 2016 às 09h10min, no prédio dessa Secretaria de Educação (SED) de Mato
Grosso do Sul. p. 1-14.
Resumo
A necessidade de ampliar as reflexões sobre a atuação de alunos da Licenciatura em Artes Visuais
para além dos espaços de educação formal levou ao planejamento e oferta de uma disciplina que
observasse o funcionamento de instituições do Terceiro Setor, avaliando de maneira específica
associações e fundações que trabalham questões relacionadas à inter-relação Arte – Educação. Para
tanto, a parceria dialógica e horizontal entre professor responsável da disciplina e aluno PAE em suas
três primeiras ofertas permitiram uma construção coletiva que aproveitou a experiência teórica, a partir
da indicação e da seleção de bibliografia a ser abordada, e prática com projetos já realizados por
ambos em organizações do Terceiro Setor. A estruturação de uma disciplina conectada à experiência
dos proponentes e aberta às necessidades e feedbacks dos alunos de graduação que a estão cursando, a
disponibilização de materiais que resumem os encontros, a visita à instituições e conversa com
especialistas, o exercício de realização de estudos de caso e a apresentação das experiências dos alunos
no Terceiro Setor ajudando a enriquecer o conteúdo e tornando todos os participantes protagonistas da
disciplina, podem ser apresentados como resultados desta parceria professor-aluno na criação de uma
disciplina de graduação que a cada oferta se desenvolve por meio de avaliação constante. Este artigo
apresenta o processo de criação e três ofertas da disciplina Arte/Educação e o Terceiro Setor para
estudantes de graduação da Universidade de São Paulo com o objetivo de relatar e registrar esta
experiência, como também atentar à importância do Programa de Aperfeiçoamento de Ensino.
Palavras-chave: Licenciatura. Formação de professores. Programa de Aperfeiçoamento do Ensino.
1
Atua como Arte/Educador, Educomunicador e Fotógrafo. É doutorando e mestre (2016) em Artes
Visuais pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da ECA/USP (conceito CAPES 6), na área de
pesquisa "Teoria, Ensino e Aprendizagem da Arte, linha de pesquisa "Fundamentos do Ensino e Aprendizagem
da Arte". Licenciado em Educomunicação pela ECA-USP (2016). Possui especialização em Mídias na Educação
pelo MEC, na oferta realizada pela parceria UFPE-NCE/USP (2013). Também graduado em Comunicação
Social - habilitação em Rádio e TV - pela Universidade São Judas Tadeu (2002). E-mail:
mauriciovirgulino@gmail.com
2
Possui graduação em Educação Artística Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo (1980),
mestrado em Artes pela Universidade de São Paulo (1990) e doutorado em Artes pela Universidade de São Paulo
(2000). Foi educadora nos seguintes museus: Pinacoteca do Estado e Museu da Casa Brasileira. Foi docente dos
seguintes museus da USP: Museu de Arte Contemporânea, Museu de Arqueologia e Etnologia e vice-diretora do
Museu de Ciências. Atualmente é professora doutora exercendo suas atividades no Departamento de Artes
Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde leciona na Graduação e no
Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (Conceito CAPES 6). Orienta mestrado e doutorado. E-mail:
rizzi.christina@gmail.com.
1. Introdução
3
Programa de Formação de professores da USP, disponível em: < www4.fe.usp.br/wp-
content/uploads/programa-de-formacao-de-professores.pdf>. Acesso em 01 set. 2017.
Para tanto foi estabelecida uma parceria dialógica e horizontal (FREIRE, 2001) entre
professor responsável da disciplina e o aluno Mauricio da Silva, estagiário PAE, nas três
primeiras ofertas da disciplina CAP0307 - Arte/Educação e o Terceiro Setor4, que ocorreram
no primeiro semestre de 2015 e no primeiro semestre de 2016 de forma oficial, ou seja, com
estágio burocraticamente firmado, e no primeiro semestre de 2017, este de forma voluntária,
que permitiram uma construção coletiva que aproveitou a experiência teórica a partir da
indicação e da seleção de bibliografia a ser abordada, como também a experiência prática em
projetos já realizados por ambos em organizações do Terceiro Setor.
Desta forma a professora responsável pela disciplina recebe apoio de um aluno de pós-
graduação, abrindo espaço para trocas de experiências que enriquecem a disciplina, ao mesmo
tempo que o aluno de pós-graduação se prepara para atuar como docente e ainda os dois
refletem sobre a formação de professores em Artes Visuais.
A estruturação de uma disciplina conectada à experiência dos proponentes e aberta às
necessidades e feedbacks dos alunos de graduação que a estão cursando, a disponibilização de
4
Ementa da disciplina Arte/Educação e o terceiro setor disponível em: <
uspdigital.usp.br/jupiterweb/obterDisciplina?sgldis=CAP0307>. Acesso em 01 set.2017.
2. A construção da disciplina
5
Júpiter Web - Sistema de Gestão Acadêmica da Pró-Reitoria de Graduação. Disponível em:
<https://uspdigital.usp.br/jupiterweb/>. Acesso em 01 set. 2017.
6
O que é o terceiro setor, de Stephen Kanitz. Disponível em: <
http://www.filantropia.org/OqueeTerceiroSetor.htm.>. Acesso em 01 set.2017.
7
Observatório do Terceiro Setor, disponível em: < http://observatorioterceirosetor.org.br/>. Acesso em 01
set.2017.
8
Gestão de Pessoas em Instituições do Terceiro Setor: uma reflexão necessária de Selma Frossard Costa*
Revista eletrônica do Terceiro Setor: Integração. FGV. Nº 32, novembro 2003.
Com leituras e debates sobre o Terceiro Setor estabelecidos, foi iniciada uma de leitura
específica sobre projetos com atuação de arte/educadores em espaços de Educação não-
formal, utilizando como referência entrevista Caminhos para a conscientização9 de Ana
Mae Barbosa para a Revista Educação e o livro O rio pelos trilhos: introdução à história de
Perus e Cajamar de Ana Cristina Chagas dos Anjos10, analisando também materiais
educativos e vídeos que compuseram a experiência relatada no livro de Ana Cristina e
incentivando comparações e aproximações com as experiências apresentadas pelos alunos
matriculados na disciplina.
Um dado importante, a primeira oferta da disciplina foi realizada com uma carga
horária de duas horas/aula por semana.
Ao final do semestre foi realizada uma reunião de avaliação para entender as possíveis
melhorias, sendo que a partir da 2ª oferta a disciplina teria 4 horas/aula por semana,
ampliando a possibilidade de conteúdos de debates. Na avaliação foi identificado que, por ser
uma disciplina de caráter optativo e de matrícula aberta para alunos de diversos cursos, e não
apenas para estudantes da licenciatura em Artes Plásticas, era necessário fundamentar com os
alunos conceitos sobre a Arte e a Arte/Educação porque nem todos os alunos trazem em seu
repertório um embasamento sobre Arte e suas relações com a Educação. Com a duplicação
da carga horária semanal este conteúdo considerado sem prejuízo aos objetivos iniciais da
disciplina.
9
Caminhos para a conscientização, entrevista de Ana Mae Barbosa para a Revista Educação. Disponível em:
<revistaeducacao.uol.com.br/formacao-docente/97/artigo233134- 1.asp> . Acessp em 01 set. 2017.
10
ANJOS, Ana Cristina Chagas dos (et al). O rio pelos trilhos: introdução à história de Perus e Cajamar.
Caieiras, SP: IPEH, 2008.
11
Vídeo Qual a necessidade da Arte, com Mário Sérgio Cortella. Disponível em: <youtu.be/qDeLTQPzn1c>.
Acesso em 01 set. 2017.
12
Vídeo Isto é arte? com Celso Favaretto. Disponível em: <youtu.be/-XG-71wqwUI>. Acesso em 01 set. 2017.
13
O documento da Base Nacional Comum Curricular está disponível em: <basenacionalcomum.mec.gov.br>.
Acesso em 01 set. 2017.
14
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da Arte: anos 1980 e novos tempos. São Paulo: Perspectiva,
2014.
15
BARBOSA, A.A.T.B. Releitura, citação, apropriação ou o quê? In: BARBOSA, A. M. [Org.]. Arte/Educação
contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005. p.143-149.
Fonte: Os autores.
16
PORTER, Michael Eugene. Competição = on competition. Rio de Janeiro: Elsevier, Campus, 2009.
17
Mais informações sobre o Eduqativo – Instituto Choque Cultural disponíveis em:
<eduqativo.wixsite.com/choquecultural>. Acesso em 01 set. 2017.
18
Mais informações sobre a Associação Arte Despertar disponíveis em: <www.artedespertar.org.br>. Acesso em
01 set. 2017.
19
GADOTTI, Moacir. A questão da educação formal/não-formal. Institut international des droits de l’enfant
(ide). Droit à l’éducation: solution à tous les problèmes ou problème sans solution? Sion, Suisse, out 2005.
20
ARAÚJO, Fracieli; BARBOSA, Renata Peres. O Estado e as reformas pós-década de 90: movimentos sociais,
terceiro setor e educação não-formal. Revista Aurora, v. 3, n.1, 2009. Disponível em:
<www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/aurora/article/view/1216/1083>. Acesso em 01 set. 2017.
21
DUARTE, José B. Estudos de caso em educação: investigação em profundidade com recursos reduzidos e
outro modo de generalização. Revista Lusófona de educação, v.11, n.11, jul 2009. Disponível em:
<revistas.ulusofona.pt/index.php/rleducacao/article/view/575>. Acesso em 01 set. 2017.
de José B. Duarte e Uma reflexão sobre o estudo de caso como método de pesquisa22 de
Eliane Cristine F. Maffezzolli e Carlos Gabriel Eggerts Boehs. A importância desta inclusão
se dá pela ausência bastante comum de preparação sobre metodologias nos cursos de
graduação e por entender que ferramentas de metodologias qualitativas são fundamentais em
pesquisas nas áreas da Arte, Educação e Arte/Educação que pretendam entender fenômenos e
inter-relações caso a caso.
Já nos encontros específicos sobre Arte/Educação, além dos vídeos e textos utilizados
como base em 2016, foi o livro Educação Artistica cultura y cidadania23 de coordenado por
Lucina Jiménez, Imanol Agruirre e Lucia Pimentel.
Fonte: Os autores.
22
MAFFEZZOLLI, Eliane Cristine F.; BOEHS, Carlos Gabriel Eggerts. Uma reflexão sobre o estudo de caso
como método de pesquisa. Revista da FAE, v.11, n. 1, 2008. Disponível em:
<revistafae.fae.edu/revistafae/article/view/262>. Acesso em 01 set. 2017.
23
JIMÉNEZ, Lucina; AGUIRRE, Imanol; PIMENTEL, Lucia G. (coords). Educación artística, cultura y
cidadania. Madrid: Fundación Santillana/OEI, 2009.
24
Mais informações sobre o Cenpec em: < www.cenpec.org.br>. Acesso em 01 set. 2017.
25
Mais informações sobre o IMPAES em: <www.impaes.org.br>. Acesso em 01 set. 2017.
26
Mais informações sobre a Casa do Zezinho em:< https://www.casadozezinho.org.br>. Acesso em 01 set. 2017
27
SAMPAIO, Jurema Luzia de Freitas. O que se ensina e o que se aprende nas licenciaturas em artes visuais
a distância?. 2014. Tese (Doutorado em Artes Visuais) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2014. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27160/tde-03062014-
151612/pt-br.php>. Acesso em 29 set. 2017.
28
SOARES, Ismar de Oliveira. Educação a distância como prática educomunicativa: emoção e envolvimentona
formação continuada de professores da rede pública. Revista USP, São Paulo, n. 55, p. 55-69, 2002. Disponível
em: <https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/35138/37866>. Acesso em 29 set. 2017.
17 de março de 2016
Olá Pessoal
Boa tarde
Com isso pudemos conversar sobre o significado de Arte, refletindo ainda sobre os
conceitos que vimos no texto de Alfredo Bosi.
Para 30/03
- Por conta dessas conversas, a apresentação dos capítulos de Bosi ficou para o dia
30/03. - Também para o dia 30/03 o texto indicado é "A Importância da Imagem
no Ensino da Arte: Diferentes Metodologias", Cap III do livro "A Imagem no
Ensino da Arte" de Ana Mae Barbosa.
Abraços
4. Reflexões finais
REFERÊNCIAS
FREIRE. Paulo; FREIRE, Ana Maria Araújo (org.). Pedagogia dos Sonhos Possíveis. São
Paulo: Editora UNESP, 2001.
Resumo
O presente trabalho tem a finalidade de investigar práticas educacionais informais em Artes Visuais na
Cafua das Mercês (Museu do Negro), parte do MHAM (Museu Artístico e Histórico do Maranhão). O
MHAM quando da sua inauguração em 1973 até 1989, reunia num só lugar, todo o seu acervo. A
partir de 1989, começam a surgir novos espaços para comportar esse acervo, divididos atualmente em:
sede (MHAM propriamente dito, Galeria Floriano Teixeira, Museu de Artes Visuais e Museu de Arte
Sacra, Museu Cafua das Mercês – Museu do Negro, Igreja do Desterro, Capela Bom Jesus dos
Navegantes, Museu Histórico de Alcântara). O artigo é baseado em leituras prévias sobre educação
informal, dados e história do museu e a descrição da visita desse espaço. Apresentamos algumas
possibilidades educacionais nos espaços museológicos em forma de projetos em educação informal,
assim como buscamos elucidar a função e o papel da Cafua das Mercês em sua dinâmica como
instituição cultural, portanto, espaço possível e passível de educação, ainda que esta educação
promovida neste espaço seja informal, não sistematizada como na escola, tem seu valor cultural.
Reflete, portanto, no crescimento cognitivo, emocional e social dos indivíduos como sujeitos que
pertencem ao meio que os cercam, fortalecendo o discurso assim como o que preconiza a Lei
10.639/2003 sobre o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana, mesmo que os espaços
informais não sejam objeto da referida Lei, esta fortalece a luta pela igualdade racial, servindo, pois,
aos objetivos da educação informal.
Palavras-chave: Ensino de Arte. Espaço Informal. Museologia.
Introdução
1
Graduada em Artes Visuais pela UFMA. E-mail: celiane.negra@gmail.com
2
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Gestão de Ensino da Educação Básica pela Universidade
Federal do Maranhão. Graduação em Educação Artística pela Universidade Federal do Maranhão. E-mail:
walterkeyko@gmail.com
3
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Gestão de Ensino da Educação Básica pela Universidade
Federal do Maranhão. Especialista em Gênero e Diversidade na Escola pela Universidade Federal do Maranhão.
Graduação em Educação Artística pela Universidade Federal do Maranhão. E-mail:
Felix_rocha_luis@yahoo.com.br
4
Graduanda em Biomedicina. E-mail: lury_b@hotmail.com
5
Professora do DEART- Departamento de Artes da UFMA; Professora do PPGEEB - Prgrama de Pós-
Graduação em Gestão de Ensino da Educação Básica. Pós-Doutora em Filosofia (UFRGS); Doutorado e
Mestrado em Artes Visuais: História, Teoria e Crítica da Arte (UFRGS). E-mail: vivianerocha2009@gmail.com
único ambiente para tal ação. Embora não tenha a mesma estrutura do ensino formal, os
museus, ONGs, associações de moradores, escolas comunitárias e outros, também
desempenham a função de disseminar saberes.
A arte como conhecimento é indispensável no processo ensino-aprendizagem. Mas
para que isso ocorra (ensinar) é preciso que o professor se reconheça em seu fazer, como
professor de Arte, do contrário, o fracasso da mediação é líquido e certo.
A prática docente contemporânea precisa dar sentidos a esse fazer do professor de
Arte e aos educandos. Os saberes e conhecimentos artísticos da Arte, precisam ter significado.
Possivelmente este caminho seja o único para a Arte ter um lugar na escola.
Conforme PCN (2000, p. 48):
Fonte: http://wikimapia.org/23191282/pt/Cafua-das-Merc%C3%AAs
O Museu do Negro (Cafua das Mercês) tem como “Missão6: Adquirir, preservar,
conservar objetos e acervos relativos à história e memória da escravidão e da cultura afro
brasileiro maranhense, contribuindo ao mesmo tempo para o conhecimento, reconhecimento
da nossa diversidade cultural e valorização da matriz cultural africana”.
Barbosa (2009) elucida que o museu é uma alternativa para a construção de
aprendizagens comparando o ensino no museu e na escola.
“O que faz o museu que não faz a escola? Por que hoje a aprendizagem no museu
poderia ser mais eficaz que na escola?” À primeira questão: “o museu assumiu os desafios da
educação; o museu ampliou e diversificou sua oferta cultural, a qual inclui shows, cinema,
dança, teatro etc.”. À segunda questão: está relacionado ao que o aluno considera lúdico; a
aprendizagem se relaciona com a interpretação e criação pessoal, “os temas são atuais”, o
conhecimento é interdisciplinar, proximidade com a vida real (BARBOSA, 2009, p. 99).
6
Disponível em:< http://www.cultura.ma.gov.br/portal/mham/index.php?page=mcafuam>. Acesso em: 26 ago.
2017.
Fonte: http://blackpagesbrazil.com.br/?p=4027
Fonte: http://blackpagesbrazil.com.br/?p=4027
Selbach (2010, p.33) apresenta três problemas relacionados ao ensino de arte no Brasil
e explicita quais as barreiras que devem ser superadas para se produzir um ensino
significativo:
O primeiro problema é tentar ensinar arte como que recitando conteúdos e, assim,
empobrecendo o universo cultural e o interesse do aluno. O segundo é representado
pelo reduzido número de cursos de formação de professores de nível superior e a
consequente atribuição de aulas a pessoas não especializadas, ou especialistas em
apenas uma ou outra expressão artística. Some-se a esses problemas a pequena
quantidade de livros editados e divulgados sobre a didática da disciplina e,
tristemente, percebe-se como é Artes mal ensinada e porque poucas vezes se dá à
disciplina sua importância.
Fonte: http://blackpagesbrazil.com.br/?p=4027
família que esse processo se inicia, depois na escola e seu aperfeiçoamento dá-se nos contatos
sociais.
Essa ideia, segundo Jean Piaget precisa ser estimulada por meio de experiências e a
participação do aluno não deve ser passiva, pois o conhecimento só é consumado quando uma
pessoa é capaz de ressignificar o que aprendeu. Para Lev Vygotssky:
Por meio desses estudos, a escola tem como meta compartilhar os conteúdos
adquiridos pela humanidade a todos os membros da sociedade. A igreja, os clubes esportivos,
associações, entidades culturais, a comunidade também assume essa função, mas o que
diferencia essas instituições é a forma de propagação. Na educação formal o ensino é
organizado em níveis e ao final de cada etapa o aluno recebe um diploma, documento valioso
no mercado de trabalho. Na educação informal, segundo (MONTEVECHI, p.23) ela:
Com base nos estudos de informalidade no ensino, pode-se ser categórico quanto à
validade dos conhecimentos socializados, presentes na clientela beneficiada pela educação
informal. Esta amplia-se para outros segmentos da sociedade vinculada ao patrimônio cultural
de cada país. Neste sentido tem-se a Cafua das Mercês como um espaço artístico aglutinador e
socializador de aspectos das culturas africanas e afro-brasileiras.
Fonte: http://blackpagesbrazil.com.br/?p=4027
O Cafua das Mercês cumpre sua função que é a preservação da memória Afro-
brasileira, porém sem ousadia. Não há aparentemente a preocupação em utilizar esse espaço
para fins educacionais que possa influenciar de forma positiva a vida das pessoas. Isso pode
acontecer com elaboração e aplicação de projetos. Ainda mais porque a instituição estar
inserida numa comunidade onde os índices de violência têm aumentado.
Fonte: http://blackpagesbrazil.com.br/?p=4027
Exemplificamos esse espaço, pois apesar de estar inserido numa realidade diferente do Museu
do Negro as atividades propostas não são complexas e podem ser pensadas e adaptadas no
nosso contexto.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. Piaget, Vygotsky, Paulo Freire e Maria Montessori em minha sala de
aula. Ciranda Cultural: São Paulo, 2008.
BARBOSA, Ana Mae. Arte e ONGs. In: Lívia Marques Carvalho. (Org.). O ensino de artes
em ONGs. São Paulo: Cortez, 2008, v. 1, p. 7-10.
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino de arte: anos 1980 e novos tempos. São Paulo:
Perspectiva, 2012. – (Estudos; 126/ dirigido por J. Guinsburg).
CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura crítico-compreensiva, artigo a artigo. 23. ed.
revista e ampliada. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
LOWENFELD, Viktor. A criança e sua arte: um guia para os pais. Trad. Miguel Maillet.-
São Paulo: Mestre Jou, 1977.
Introdução
Figura 1. Sofia Leitão, Série: Matéria do Esquecimento, 2012 (obra apresentada na exposição Portugal
Portugueses– Arte Contemporânea em 2016 no Museu Afro Brasil), São Paulo/Brasil. Fonte:
http://www.carolinepages.com/index.php/131744,?show_sw=1
1
Doutorando e Mestre em Educação pela UFRGS. Especialista em Educação Interdisciplinar pela IDEAU.
Graduado em Licenciatura em Artes pela UNOESC. danielmomoli@hotmail.com
2
Doutoranda e Mestra em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, e
graduada em Pedagogia/UPM. Licenciatura em Artes/Centro Universitário Claretiano. estelabonci@hotmail.com
A obra que trazemos para iniciar nosso ensaio analítico em torno das ações
desenvolvidas pelo GPAP a partir dos anais dos I e II Simpósio Internacional de Formação de
Educadores em Arte e Pedagogia, apresenta a ideia implícita de acumulação sucessiva de
informação (cultura), representada por um considerável número de livros antigos (a maioria
do séc. XIX), organizados como uma montanha, onde os livros mais recentes estariam no
topo, envelhecidos à medida que se encontram mais próximos da base, como colocou a artista
na sinopse de abertura da sua exposição em 2012. A pressão causada pelo peso de toda a
matéria acumulada, simbolizada pelos livros, geraria energia e calor, transformando a cultura
acumulada em uma lava brilhante dentre os livros-rochas, uma espécie de “erupção” de uma
“montanha” cultural. Este fluxo como um escoamento de conteúdos e saberes, aparece como
o sumo; algo que se esparrama, ao mesmo tempo líquido e condensado e que pode vincular-se
às noções de tempo, permanência, valor e poder do empilhamento e acumulação culturais.
Podemos considerar os Anais produzidos a partir dos I e II Simpósio Internacional de
Formação de Educadores em Arte e Pedagogia, assim como a cultura representada pelos
livros de Sofia Leitão, como uma montanha de conhecimentos e experiências acumulados,
escoando pelos textos e narrativas visuais que compõem os registros de momentos e modos de
fazer/ser, pensar, cultivar, provocar, [com]partilhar, [con]viver e pesquisar sobre a arte, a
Pedagogia e a Mediação Cultural.
tema da experiência também perpassa vários textos, como por exemplo, o de Stela Barbieri,
de Luiza Helena da Silva Christov, Marcia Strazzacappa e Ana Angélica Albano. Estas
autoras, embora abordem o conceito a partir de distintos horizontes teóricos buscam alimentar
um processo formativo a partir da arte e de diferentes práticas artísticas, sejam eles em
museus, nas aulas ou em um ateliê.
Outras noções como o corpo e a infância também aparecem com muita força nos anais,
tendo em vista que duas das mesas abordavam especificamente estas temáticas. Em relação ao
tema da infância há um deslocamento que é proposto por Barbieri (2015, p.21): de que modos
poderia a arte na formação de pedagogos pode fazer emergir um modo infância de ser, repleta
de “aventuras inimagináveis, segredos que habitam aqueles que inventam mundos (...)”. Uma
infância que inventa, que grita, que cria modos diferentes de usar os objetos, que tem um
corpo que movimenta, se encontra, e não se conforma com o silêncio.A “criança não é apenas
intelecto e que a construção do conhecimento também passa pelo corpo” (Strazzacappa, 2015,
p.87). Segundo a autora é pelo corpo que nos expressamos, sentimos, interagimos e
aprendemos, pois, “nós somos nosso corpo. Nesta mesma direção, Lucia Lombardi (2015,
p.81), afirma que há um corpo que habita a escola, um corpo que sonha, imagina, expressa
símbolos; um corpo que brinca e que se desloca pelo espaço.
Na fricção entre estas noções há uma força que emerge de dois temas mais amplos, o
“papel do professor” e a formação a partir de uma “dimensão estética”. Em relação ao
primeiro tema, ele é apontado nos textos de Stela Barbieri, Bernadete Gatti, Lucia Lombardi,
Terezinha Rios, Maria de Fatima Ramos Andrade, Luiza Helena da Silva Christov e Jociele
Lampert. Estas autoras apontam para possíveis modos de ser docente: “o educador pode ser
um investigador que, em empatia com o outro, ajuda a sustentar a fagulha do movimento e da
transformação” (BARBIERI, 2015, p.23). Em relação ao desenvolvimento profissional Gatti
(2015, p.49), diz que a docência contempla a atribuição de “recriar, por reflexão constante a
partir da prática, seus saberes e fazeres” a partir de conhecimentos em situações relevantes.
Na trama destas palavras está colocada uma ideia de que pela arte é possível criar condições
para mobilizar outras formas de ser docente. A arte e as práticas artísticas têm “um papel
político não apenas quando ela é dita engajada, mas sobretudo porque a experiência com a
arte atua no plano micropolítico (KASTRUP,2015,p.96) .
Quanto à dimensão estética da formação, Torregrosa (2015, p.133) define que quando
vivida a experiência artística reestrutura o conhecimento coletivo e o modifica para um
conhecimento sensível, sedutor, que revela as presenças silenciosas da realidade. Essa
dimensão seria parte de um “processo que permite invenção de um modo de ser e de um
modo de dizer o mundo” (CHRISTOV, 2015, p.11), um trabalho que permite uma “ampliação
de modos de pensar e dizer o mundo”. Na esteira de pensamento construída pelos autores e
autoras que participaram do Simpósio, viver experiências estéticas seria produzir marcas nos
modos de ser docente que vão permitindo um modo especial e sensível de ser/estar no
mundo” (MARTINS, 2015, p.112).
Assim como a obra de Sofia Leitão, Rita Demarchi nos instiga a pensar o que
recolhemos, capturamos, acumulamos, somamos em cada encontro planejado, vivido,
experienciado. Um fluxo de saberes presentes em cada texto redigido para compor os Anais
do encontro, a partir das experiências vividas por todos os participantes em diferentes
momentos, potencializadas pelas reflexões interdisciplinares sobre pesquisas que tem nos
processos de criação sua veia propulsora, como lava que trás à tona na erupção toda a energia
acumulada internamente.
Subjetividades e processos de criação trazidos à tona pelas pesquisas baseadas em
arte, pela a/r/tografia, pela crítica genética, pelas histórias de vida, pela cartografia,
que transcendem a dicotomia que enfrentávamos no passado entre o quantitativo e o
qualitativo. (MARTINS, 2016, p.8)
Citado por Lucimar Bello P. Frange, Marcos Ferreira Santos, Sidiney Peterson F. de
Lima, Olga Egas e Luciana Gruppelli Loponte, podemos dizer que Manoel de Barros é o
poeta que inspira e entrelaça os textos presentes nos Anais do II Simpósio Internacional:
formação de educadores em Arte e Pedagogia, pulsando e reivindicando a cada leitor e autor
que o verbo ou a palavra também sejam capazes de delirar, tal como a criança que acredita
poder “escutar a cor dos passarinhos”.
Verbos e palavras que deliram mediados pela arte pulsante constantemente trabalhada,
pensada, ressignificada em cada prática apresentada nos Anais, obra sobre a qual aguçamos
nosso olhar. Arte pensada e vivida em práticas artísticas de pesquisa-em-ação. Lucimar Bello
nos aponta em seu texto :A arte contemporânea se sustenta.Atenta:?:O seu ensino se
sustenta.Atenta:?:A pesquisa se sustenta.Atenta:? (FRANGE, 2016, p.40) que “Na
a/r/tografia, saber e realizar arte se fundem, se nutrem, se desafiam; produzem intervalos para
entre-lugares; é móvel, busca a intensidade na transitoriedade”.
“A arte é o refúgio de constituição do humano em tempos de barbárie globalizada”
(SANTOS, 2016, p.68). Marcos Ferreira Santos traz em seu texto O olho e a mão de quem
espreita uma arte sã a arte como construção do mundo, como apropriação do mundo e como
sentimento do mundo, enquanto processo criativo que prepara e possibilita a construção de
uma identidade pessoal-coletiva.
Cecília Almeida Salles nos apresenta um breve relato da expansão dos estudos sobre
processo de criação, a partir dos documentos de artistas de áreas diversas e destaca a
importância de discutir o processo de criação nas diferentes linguagens como um elemento da
interdisciplinaridade, como “uma forma de se estabelecer diálogo entre as diferentes
manifestações artísticas, entre os objetos de pesquisa de naturezas diversas” (SALLES, 2016,
p.28).
Atualmente encontramos no campo da arte e da educação novas questões que
demandam metodologias de investigação inter-relacionadas. “São novos problemas
epistemológicos, discursivos e avaliativos que demandam também que se olhe para o campo
da pesquisa com olhos mais atentos aos deslocamentos e disponíveis para os enfrentamentos
necessários” (COUTINHO, 2016, p. 96).
Partindo das reflexões sobre arte, pesquisa e processos de criação, torna-se essencial
pensarmos e desenvolvermos investigações que contemplam e valorizam as especificidades
do processo artístico e o seu intrínseco diálogo com a Educação. Luciana Gruppelli Loponte
destaca que “o desejo de habitar a docência (seus conceitos, efeitos e práticas) a partir de
processos e práticas artísticas contemporâneas e de uma formação que não prescinda de uma
atitude estética é um dos principais movimentos teóricos e metodológicos a ser feito”
(LOPONTE, 2016, p. 132). Mauren Teuber trouxe em seu texto observações de situações
didáticas organizadas e desenvolvidas a partir de sua postura enquanto professora-artista-
pesquisadora, e destaca “a importância e a necessidade de fazer aproximações entre a ação
pedagógica, a produção artística e a dimensão investigativa na formação do professor”
(TEUBER, 2016, p.150).
Em busca de modos mais férteis de produzir conhecimentos sobre o “fazer docente”,
cabe ao investigador abrir fronteiras de estudos, dar vôos de imaginação, identificar
e inserir novas fontes e ser cuidadoso no processo de escuta e acolhimento de
escritos que descrevem e narram situações práticas da profissão. (MORAES, 2016,
p.23)
Possibilidades que se abrem para pensar o modo como temos lidado com o tema da
pesquisa no campo da educação e a possibilidade de alimentar nossos pensamentos
com diferentes práticas, possibilidades e maneiras de fazer pesquisa na e com a
formação de educadores em arte e pedagogia. (MOMOLI, 2016, p.81).
REFERÊNCIAS
ARTE E PEDAGOGIA, II, 2016, São Paulo, SP. Anais do II Simpósio internacional:
formação de educadores em arte e pedagogia. São Paulo: MACKENZIE, 2016. p.9-25.
PILOTTO, Silvia Sell Duarte. Modos de provocar pesquisas: reflexões. SIMPÓSIO
INTERNACIONAL FORMAÇÃO DE EDUCADORES EM ARTE E PEDAGOGIA, II,
2016, São Paulo, SP. Anais do II Simpósio internacional: formação de educadores em arte e
pedagogia. São Paulo: MACKENZIE, 2016.p.55-56.
RIOS, Terezinha Azerêdo. “E se as unhas roessem os meninos?”: vendo a formação ao modo
– ou à moda – da filosofia. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL FORMAÇÃO DE
EDUCADORES EM ARTE E PEDAGOGIA, 2015, São Paulo, SP. Anais do Simpósio
internacional: formação de educadores em arte e pedagogia. São Paulo: MACKENZIE,
2015. p.54-63.
SALLES, Cecília Almeida. Modos de pesquisar na contemporaneidade. SIMPÓSIO
INTERNACIONAL FORMAÇÃO DE EDUCADORES EM ARTE E PEDAGOGIA, II,
2016, São Paulo, SP. Anais do II Simpósio internacional: formação de educadores em arte e
pedagogia. São Paulo: MACKENZIE, 2016.p.26-38.
SANTOS, Marcos Ferreira. O olho e a mão de quem espreita uma arte sã. SIMPÓSIO
INTERNACIONAL FORMAÇÃO DE EDUCADORES EM ARTE E PEDAGOGIA, II,
2016, São Paulo, SP. Anais do II Simpósio internacional: formação de educadores em arte e
pedagogia. São Paulo: MACKENZIE, 2016.p.57-78.
STRAZZACAPA, Marcia. Pensando sobre o corpo (ou dando corpo ao pensamento) na
formação de professores. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL FORMAÇÃO DE
EDUCADORES EM ARTE E PEDAGOGIA, 2015, São Paulo, SP. Anais do Simpósio
internacional: formação de educadores em arte e pedagogia. São Paulo: MACKENZIE,
2015. p.86-94.
TEUBER, Mauren. Relações entre ensino, práticas artísticas e pesquisa: questões para o
debate sobre a formação do professor de Artes Visuais. SIMPÓSIO INTERNACIONAL
FORMAÇÃO DE EDUCADORES EM ARTE E PEDAGOGIA, II, 2016, São Paulo, SP.
Anais do II Simpósio internacional: formação de educadores em arte e pedagogia. São Paulo:
MACKENZIE, 2016. p.150-164.
TORREGROSA, Appoline. Cartografías y efervescencias en la formación artística. In:
SIMPÓSIO INTERNACIONAL FORMAÇÃO DE EDUCADORES EM ARTE E
PEDAGOGIA, 2015, São Paulo, SP. Anais do Simpósio internacional: formação de
educadores em arte e pedagogia. São Paulo: MACKENZIE, 2015. p.127-136.
Resumo
A alfabetização linguística e alfabetização matemática recebem na atualidade grande atenção por parte
dos teóricos que tratam dos conteúdos e das diretrizes dos componentes curriculares presentes na
Educação Básica do país, porém, estudos recentes, apontam que o ensino de Arte em todos esses
segmentos é fundamental para desenvolver o potencial crítico e criativo dos educandos, Nesse sentido,
é importante conhecer e analisar os materiais didáticos que promovem e mediam os saberes dos
alunos. No ano de 2016, o PNLD agregou às coleções ofertadas o Livro Didático de Artes para os 4º e
5º anos do Ensino Fundamental I (EF-I). Atento as premissas acima, esse texto visa apresentar as
considerações parciais de um estudo em andamento sobre as propostas que tem como objetivo
subsidiar o trabalho pedagógico dos professores presentes nos livros didáticos direcionados para o
ensino de Arte pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), destinados ao Ensino Fundamental
I. O levantamento foi realizado nas três coleções aprovadas pelo PNLD, Coleção Projeto Presente,
Coleção Porta Aberta, Coleção Ápis. No Guia do Livro Didático do PNLD/Arte do Ensino
Fundamental I disponibilizado em versão digital, defende que a escola tem a obrigatoriedade e a
responsabilidade de promover o ensino e aprendizagem em Arte. O estudo aqui relatado buscou
compreender como é apresentado o ensino e aprendizagem das artes e se neles são contempladas as
conceituações da “Abordagem Triangular”.
Palavras-chave: Arte, PNLD, Livro Didático.
Introdução
1
Doutora em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, Mestra em Projetos, Artes e Sociedade - Área de
Concentração: Comunicações pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Bacharel em Gravura
pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Licenciada em Educação Artística pelas Faculdades de
Artes e Comunicação de Bauru, Graduada em Pedagogia - Hab. Adm. Escolar pela Universidade Iguaçu,
Professora no curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Júlio de
Mesquita Filho (UNESP) - Campus de Presidente Prudente/SP, Pesquisadora do CELACC - Centro de Estudos
Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação - ECA/USP e líder do GPECUMA (Grupo de Pesquisa em
Educação, Cultura, Memória e Arte) da UNESP-FCT. E-mail: katiakodama@fct.unesp.br.
do Ensino de Arte nas escolas e na redação da Nova LDB, após a Constituição Brasileira de
1988, gerou a necessidade de produzir materiais para fundamentar essa disciplina.
Nas décadas seguintes surgiram novas propostas, geradas pelas investigações e
experiências pedagógicas no campo da Arte, elaboradas, principalmente, nos cursos de pós-
graduação, propondo inovações relativas a essa modalidade de ensino. Dentre essas
contribuições a “Abordagem Triangular”, proposta por Ana Mae Barbosa, se destacou no
cenário brasileiro.
Acompanhando essa evolução, os materiais didáticos referentes ao Ensino de Arte
também se modificaram e adentraram as escolas. FERRAZ e SIQUEIRA (1987) relatam uma
pesquisa realizada no livro “Arte-Educação. Vivencia, experienciação ou livro didático? ”
Para que pudéssemos discutir com mais propriedade o que vinha ocorrendo nas
aulas de Educação Artística, enquanto associadas da AESP (Associação de arte-
educadores do Estado de São Paulo) propusemos a realização de uma pesquisa com
professores desta disciplina, que tinha por objetivo o levantamento de materiais e
métodos de arte-educação, utilizados na rede de ensino estadual, municipal e nas
escolas particulares da região da grande São Paulo para o 1º grau. (FERRAZ e
SIQUEIRA, 1987, p. 12)
Ainda, nos dados levantados pelas autoras, é possível detectar duas informações
relevantes:
HIPOTESE 2 – A maioria dos professores de Educação Artística NÃO ADOTA o
livro didático.
Na amostra, esta hipótese também é confirmada:
71,5% dos professores não adotam LD.
28,5% dos professores adotam LD.
HIPOTESE 3 – A maioria dos professores não adota o livro didático, MAS O
UTILIZA na preparação de suas aulas.
Na amostra, confirma-se esta hipótese, [...] (FERRAZ e SIQUEIRA, 1987, p. 26)
escola. Para colaborar com essa mediação o Governo Federal implementou várias ações
através do Ministério da Educação (MEC).
Dentre essas medidas, em 2016 foram enviados via Programa Nacional do Livro
Didático (PNLD) para as escolas públicas de Ensino Fundamental I de todo o país, as
coleções selecionadas para serem escolhidas pelos professores. Esses livros visam subsidiar o
trabalho pedagógico em sala de aula. Nessas coleções foram incluídos, pela primeira vez,
livros destinados ao Ensino de Arte. A chegada nas escolas do livro didático para subsidiar o
Ensino de Arte pode ser entendida como um alento para os educadores.
Assim, o presente texto pretende elaborar um estudo comparativo entre as
argumentações presentes nos livros didáticos do PNLD para compreender o ensino de Arte,
tendo como foco norteador a “Abordagem Triangular”. Para tanto, serão analisados livros
distribuídos pelo PNLD que subsidiarão o Ensino de Arte no Ensino Fundamental I (2016 a
2018). Segundo o site do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no link
Histórico, o PNLD foi iniciado em 1929 com outra denominação e é considerado como o
programa de distribuição de livros mais antigo das escolas públicas brasileiras. O site aponta
que, com o Decreto nº 91.542, de 19/08/1985, o PNLD substituiu os planos anteriores,
estruturando a base do programa atual:
Coleção Ápis
Publicada pela editora Ática, em 2016, no conjunto de livro da Coleção Ápis, o livro
de Arte é de autoria da Arte-Educadora Eliana Pougy. O livro é dividido em unidades:
x Unidade 1 – A Arte é feita com o quê?
o Trançando saberes entre Arte, Ciências e História
x Unidade 2 – Qual o papel da Arte na vida da gente
o Trançando saberes entre Arte e Língua Portuguesa
x Unidade 3 – Por que os artistas fazem Arte?
o Trançando saberes entre Arte, História, Geografia e Língua Portuguesa
x Unidade 4 – Afinal, o que é Arte?
o Trançando saberes entre Arte, Matemática e Língua Portuguesa
x Ciclos de festejos (divididos em: Ciclo Carnavalesco, Ciclo Junino e Ciclo
Natalino). Cada ciclo é subdividido em 2 temas que se subdividem em 2 subtemas
e que tem o intuito de contribuir com a preservação do patrimônio cultural, por
meio do contato com a cultura popular brasileira. Cada exemplar acompanha um
CD.
x Biografia
x Bibliografia
x Indicações de sites
As unidades são abertas com uma imagem em páginas duplas trazendo um boxe com
questionamentos sobre o que será estudado em todo o capítulo. Cada seção é aberta com o
Publicado pela Editora FTD, o livro de Arte é organizado por três autores, Solange
Utuari, Pascoal Ferrari e Simone Luiz, cada um atua em diferentes áreas das linguagens das
Artes.
A coleção é dividida em quatro unidades e toda elas trabalham com vertentes
diferentes para compor o estudo de cada linguagem, divididos em seções e boxes que
facilitam a compreensão dos assuntos propostos.
x UNIDADE 1 – Linguagem da Arte
x UNIDADE 2 –Arte se faz com o quê?
x UNIDADE 3 – De onde vêm as ideias?
x UNIDADE 4 – Em busca de mais aventuras.
Nas unidades, é perceptível a preocupação dos autores em apresentar produções de
diferentes regiões do país e as diferentes materialidades utilizadas no decorrer dos tempos.
Também é possível perceber que o livro demonstra preocupação com os processos criativos e
sua temporalidade.
Publicado pela editora Moderna em 2014 e organizado por Rosa Iavelberg, Tarcísio
Tatit Sapienza e Luciana Mourão Arslan é o livro que apresenta o menor número de páginas
de atividades para alunos e o maior manual para professores. Dividido em oito unidades,
sendo as quatro primeiras indicadas para o quarto ano:
x Unidade 1- Culturas do Brasil;
x Unidade 2 - Pessoas e lugares;
x Unidade 3 - Há muitas formas de fazer Teatro;
x Unidade 4 - Musicando.
E as quatro últimas destinadas ao quinto ano:
x Unidade 5 - Corpo e Arte;
x Unidade 6 -Arte para todos;
x Unidade 7 - Histórias da Arte e Histórias em quadrinhos;
x Unidade 8 - Desenhos animados.
Cada unidade é dividida em oito capítulos, mas cada um tem um objetivo específico.
A coleção propõe que além dos temas curriculares sejam trabalhados os temas
transversais ética, meio ambiente, pluralidade cultural e saúde que são indicados por ícones
coloridos.
O livro tem como diferencial, a sessão "De leitor para Leitor", com indicações de
livros, um glossário, um CD com vinte e três faixas com descrição no Manual do professor e
link para o "Objeto educacional digital".
O manual do professor apresenta a "Abordagem Triangular" como pressuposto teórico,
porém não cita no texto de apresentação a autora Ana Mae Barbosa e nem faz referência à
“Abordagem Triangular”, referindo-se à triangularidade como: Fazer Arte, Fruir Arte e
Refletir sobre Arte remetendo aos PCN-Arte.
Considerações
Esse texto apresenta parte das considerações obtidas após desenvolver uma análise dos
livros dos PNLD destinados ao Ensino de Arte. Buscou-se descobrir se nos livros são
encontrados conteúdos que problematizam a formação em Arte, se apresentavam atividades
que contemplam a história da Arte, a leitura da obra de Arte e o fazer artístico, como propõe a
“Abordagem Triangular”. Ainda, se existiam atividades para promover a cultura e diversidade
cultural local e do país e que fomentassem o referencial teórico e crítico dos educandos e
educadores para atingir uma Educação Emancipadora, como enfatiza Barbosa, “Defendo a
Cultura Visual e a Arte, ambas contextualizadas socialmente, historicamente e
vivencialmente. ” (BARBOSA e CUNHA, 2010).
É importante ressaltar que nos três livros analisados as atividades propostas valorizam
as artes e culturas de outros povos, valorizam Artes e artistas do país, manifestações culturais,
materiais e imateriais, a diversidade étnica e cultural do Brasil, além de propor atividades para
que os alunos expressem suas subjetividades a partir dos conhecimentos obtidos. O que se
percebeu foi que o pensamento de Barbosa sobre a tríade do conhecimento Arte é a
contribuição acadêmica que transita livros didáticos.
Barbosa afirma também que a Arte possui conteúdos próprios, não a veicula como
contemplação ou como recurso para implementar outras disciplinas. Ao contrário, assegura
que para efetivar a compreensão da Arte são necessários outros saberes como a História, a
Sociologia, a Química, entre outros.
Nesse sentido, todos os livros analisados estão em desacordo com o pensamento de
Barbosa, somente o livro da coleção “Projeto Presente”, da Editora Moderna, se distancia
dessa proposta de utilizar a Arte como desencadeadora de conhecimentos para outras
disciplinas.
Para Ana Mae “Arte é cognição”, constitui-se em um processo educacional próprio e
possui suas especificidades referentes ao dado cognitivo. Destaca a importância do fazer, mas
não o fazer isoladamente, sem a compreensão. Para ela, o fazer, o ler e o contextualizar
devem ser combinados, ou seja, ressalta o não isolamento das concepções. Defende a
importância do contato com as obras de Arte e especifica que é necessário saber sobre a sua
produção, leitura e contextualização. Valoriza o essencial do objeto artístico, ou seja, valoriza
a Arte por ela mesma.
Entretanto, alguns pontos não favoráveis devem ser mencionados quanto aos materiais
do PNLD: são organizados com excesso de informações, condensadas em mínimos de
espaços, sem preservar a qualidade do papel, das ilustrações e possuem um caráter racional e
útil.
REFERÊNCIAS
BARBOSA A. M.; CUNHA F.P. Triangular – no ensino das artes e culturas visuais. São
Paulo: Cortez, 2010.
________. Inquietações e mudanças no Ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 2013. 184p.
BRASIL. Ministério da Educação. PNLD 2016: arte – Ensino fundamental anos finais /
Ministério da Educação – Secretária de Educação Básica – SEB – Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação. Brasília, DF: Ministério da Educação, Secretária de Educação
Básica, 2016. 068 p.
______. LDB. Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em
< www.planalto.gov.br >. Acesso em: 25 Jun. 2016.
______. Guia de livros didáticos: PNLD 2016: Arte: ensino fundamental anos iniciais.
Brasília: Ministério da Educação, Secretária de Educação Básica, 2016. Disponível em:
http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-historico Acesso em: 20 set.
2016.
______. Base Nacional Comum Curricular. Proposta preliminar. Segunda versão revista.
Brasília: MEC, 2016. Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/documentos/bncc-2versao.revista.pdf>. Acesso em:
23 junho. 2017.
IAVELBERG, R.; SAPIENZA, T.; ARSLAN, L. Presente: Arte. São Paulo: Moderna, 2014.
UTUARI, S.; FERRARI, P.; LUIZ, S. Porta Aberta: Artes. São Paulo: FTD, 2014.
Resumo
O trabalho aqui descrito visa ordenar reflexões decorrentes dos Processos Educativos realizados no
Colégio Pentágono – São Paulo, sobre as práticas de ensino e reflexões didáticas e pedagógicas,
organizadas e estruturadas por meio de discussão pertinente ao Ensino de Arte, a partir dos registros
de experiências e resultados de investigações dos processos de criação e manifestações artísticas na
temática da Arte Popular, a partir do contexto da festa junina, destacando a proposição desenvolvida
neste ano de 2017: Ceramistas do Brasil – As mãos de barro do povo brasileiro.
Introdução
1
Doutorando em Artes Visuais pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo
(ECA -USP). Mestre em Artes Visuais pela ECA-USP (2013). Licenciatura em Artes Visuais no CEUCLA R-SP
(2013). Especialista em Design da Informação pela Universidade Federal de Pernambuco (2009) e graduação em
Design Industrial pela Un iversidade Federal de Camp ina Grande (2006). Atualmente é coordenador de área e
professor de arte e infoeducador - Colég io Pentágono - SP, lecionou na Prefeitura Municipal de Areia - PB.
Professor nos cursos de Arquitetura e Design na Uninove (2012). Curador do Educativo do Prêmio Brasil
Fotografia 2012 e 2013, Porto Seguro - SP. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Arte
Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: mediação, fotografia, educação infantil, arte -educação e
espaço expositivo. E-mail: radames.silva@colegiopentagono.com
Sabemos que a Festa Junina é uma herança europeia, mas que seu surgimento se deu
no período pré-gregoriano, como uma festa pagã em comemoração à grande fertilidade da
terra, às boas colheitas, na época denominada “solstício de verão”. Essas comemorações
também aconteciam no dia 24 de junho, para nós, dia de São João. Parafraseando Pessoa
(2008, p. 213), membro da Comissão Goiana de Folclore, ao esclarecer que quando
procuramos manter a existência de comidas e bebidas à base de produtos agrícolas da época, é
o que mantemos de correspondente às origens desta festividade.
2
A festa junina e seus símbolos. Disponível em: https://www.nexojornal.co m.br/especial/2016/ 06/ 21/A -festa-
junina-e-seus-s%C3%ADmbolos. Acesso: ago 2017.
Fig. 01, 02 e 03: Criança vestida de caipira, quadrilha co m o casal de noivos e as barracas
Apesar do caráter pedagógico e social da festa, além de muita diversão, entende-se que
a missão da escola é contribuir para o desenvolvimento socioeconômico de nosso país, e,
neste sentido, a realização da Festa Junina tem fins solidários, cujos objetivos são manter os
projetos sociais nas três unidades da escola por meio da arrecadação revertida, integralmente,
para a ampliação dos projetos do Voluntariado Pentágono com a venda dos ingressos e rifas,
nas barracas de brincadeiras e comidas, com a participação especia l das mães voluntárias,
além dos alunos e dos funcionários que trabalham nas festas, para garantir o êxito das atrações
tradicionais do evento.
A realização do primeiro Pé de Moleque ocorreu em junho de 1989, porém a
realização dos projetos temáticos a partir do estudo da Arte Popular foi a partir de 2007.
Todos os anos, a Assessoria de Arte escolhe, junto à equipe de professores especialistas, um
tema da Arte Popular para a festa junina, que é trabalhado pelos alunos durante o primeiro
semestre, a fim de revelar e resgatar o patrimônio cultural brasileiro. Neste ano, o tema
escolhido foi a Cerâmica, que tem a argila ou o barro como matéria-prima.
Até então já foram realizadas as seguintes propostas:
2017 - Ceramistas do Brasil: “As mãos de barro do povo brasileiro”
2016 - Tarsila do Amaral: A Caipirinha de Capivari
2015 - Fuxicochita "uma festa de cores"
2014 - Brinquedos e Brincadeiras Populares
2013 - “Sou caipira pira pora...” (caipira do interior Paulista)
2012 - "Minha vida é andar por este país..." (100 Luiz Gonzaga)
2011 - Navegando O São Francisco
2010 - Arte Popular
2009 - Arte naïf (José Antonio da Silva)
2008 - Literatura de Cordel
2007 - Reciclagem
Essa conquista da aprendizagem se dá, também, pela interdisciplinaridade com uso da
temática trabalhada nos textos, imagens e biografias dos artistas em Língua Portuguesa,
História, Geografia, Ed. Física e nas aulas de Música, em que os alunos ampliam o repertório
musical. Durante os ensaios, eles desenvolvem a expressão corporal, a memória auditiva, a
memorização de movimentos e a noção rítmica. Nas danças de roda, também são trabalhadas
a noção de pertencimento, a coletividade e a sociabilidade. As apresentações ocorrem na
quadra poliesportiva de cada unidade, a qual é também o maior espaço expositivo e a
concentração de boa parte da amostra artística pedagógica desenvolvida.
Neste ano, as músicas que embalaram as turmas da Educação Infantil foram: Sonho de
Papel (Alberto Ribeiro) com o grupo de 02 anos de idades, Bandeirinhas Coloridas (Raquel
Durães) com o grupo de 03 anos, Forró das Crianças (Luiz Gonzaga) com o grupo de 04 anos
e Aproveita Gente (Luiz Gonzaga) com o grupo de 05 anos.
No Ensino Fundamental I tivemos: com o 1º ano, Juventude no arrasta-pé de
Nadir/Tinoco; no 2º ano, Esperando na Janela de Manuca Almeida, Raimundo do Acordeon e
Targino Gondim; no 3º ano, Respeita Januário de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga; no 4º
ano, Pedras que cantam de Dominguinhos e Fausto Nilo e no 5º ano nas Unidades Morumbi e
Alphaville, Galera coração de Flavinho, Henrique e Hudson e na Unidade Perdizes, Coco do
norte de Rosil Cavalcanti. No Ensino Fundamental II e Ensino Médio, as turmas apresentam
quadrilhas coreografadas de passos e estilos livres.
Com a escolha da temática da Arte Popular neste ano, a festa junina revelou e resgatou
o patrimônio cultural brasileiro, marcado pelas tradições da cerâmica, que se constitui em
importante elemento de identidade de um povo. A tradição oleira ou cerâmica abra nge desde a
louça de barro, designação comum para os utensílios, aos santos, homens e mulheres, animais,
frutas, miniaturas e brinquedos. É um ofício que segue um ritual para toda a família,
transmitido de geração em geração. O projeto artístico e pedagógico envolveu um olhar
antropológico, histórico e geográfico.
A arte do convite da festa desenvolvida pela equipe de Marketing é elaborada a partir
das imagens dos livros de referência e das pesquisas dos professores e alunos, que
enumeraram os elementos mais significativos da temática escolhida, como um “abre alas” ao
universo da vida e obra dos artistas populares que foram estudados e revelados de norte a sul
do país.
introdução sobre a vida e obra dos artistas, e apresentação do projeto, as primeiras atividades
propositivas de aplicação foram de exploração, técnica e modelagem com a argila.
A expografia é desenvolvida e pensada em uma curadoria coletiva a partir da
assessoria de Arte, professores especialistas; auxiliados por outros setores do Colégio como a
equipe de Marketing, Administrativa e Direção de Unidade, Manutenção e Obras.
Fig. 05 e 06: Montagem da exposição temát ica para a Festa Junina de 2017
3
JUBÉ, Maria. Questionário de Avaliação da Festa Junina 2017. São Pau lo, 21 ago. 2017.
Fig. 07, 08, 09, 10 e 11: Processo artístico pedagógico e montagem da exposição na Ed. Infantil
Fig. 12, 13, 14, 15, 16 e 17: Processo artístico pedagógico e montagem da exposição do 1º e 2º anos
O 3º ano realizou o que tornou uma das maiores atrações da festa, a casa de taipa ou de
pau-a-pique. Durante o 1º bimestre, o conteúdo estudado foi arquitetura, portanto, a partir das
habilidades apreendidas, a construção desta habitação, ainda muito comum no interior do
Brasil, compôs também as laterais da quadra junto ao forno com as peças em argila como que
expostas ao sol.
O desafio de construir uma casa de barro dentro da própria escola foi enigmático e
encantador para professores e alunos, desencadeando muitas histórias e registros das
expectativas geradoras.
Fig. 18, 19 e 20: Processo artístico pedagógico e montagem final da exposição do 3º ano
Fig. 21, 22 e 23: Processo artístico pedagógico e montagem final da exposição do 4º ano
Os alunos do 5º ano prestaram uma homenagem aos artistas Antonio Poteiro (POR),
Mestre Cardoso (PA), Mestre Galdino (PE) e Nena Capela (AL), com representações em
papietagem, papel machê e pintura das esculturas e vasos, dobraduras de papel e modelagem
em massa de biscuit, compondo a entrada da quadra poliesportiva. Nestas representações, o
estudo de pigmentos, grafismos e padrões, ressaltaram as características da vida e obra dos
respectivos artistas.
Fig. 24, 25, 26, 27 e 28: Processo artístico pedagógico e montagem final da exposição do 5º ano
Fig. 29, 30, 31, 32, 33 e 34: Processo artístico pedagógico e montagem da exposição do Fundamental II
Considerações finais
Vemos, no Pentágono, a importância em destacar a necessidade de se pensar a escola
como um espaço onde diferentes linguagens possam produzir sujeitos de amplos e
diversificados saberes. As dimensões deste projeto de Arte Popular, em específico a edição do
ano de 2017, foram diversas. Pode-se elencar desde o interesse dos professores de Arte na
busca de cursos para aprimorar as técnicas de trabalho com a argila, aos momentos
indescritíveis que esta matéria prima e tão natural de nossas vidas realizou desdobramentos
em nossos alunos.
Também é importante mencionar que o projeto fomentou desdobramentos como o
trabalho de conclusão de curso na Licenciatura em Artes Visuais nas Faculdades
Metropolitanas Unidades – FMU/SP, do auxiliar de arte Rafael Lucca, e do estágio
REFERÊNCIAS
BRASIL. Cultura Popular e Educação. René Marc da Costa Silva (org). Brasília: Ministério
da Educação, 2008.
DALGLISH, Lalada. Noivas da seca: cerâmica popular do Vale do Jequitinhonha. 2. ed. São
Paulo: UNESP: Imprensa Oficial, 2008.
GOUVEIA, Cecília (Ed.). Anuário paulista de arte popular: Vol. 1: Arte popular book. São
Paulo: Decor+Arts, 2004.
LODY, Raul. Barro & Balaio: dicionário artesanato popular brasileiro. Fotografias de
Jorge Sabino. São Paulo: Nacional, 2013. 381 p. ISBN 978-85-040-1836-3. Acervo Geral:
Alphaville / Caiubi / Morumbi.
MASSOLA, Doroti. Cerâmica: uma história feita à mão. São Paulo: Ática, 1994.
NAME, Daniela. Espelho do Brasil: a arte popular vista por seus criadores. Rio de
Janeiro: Casa da Palavra, 2008.
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Resumo
Este relato objetiva registrar a experiência vivida em momentos formativos com profissionais que
atendem turmas de crianças e estudantes participantes do Programa Educação Integral com Jornada
Ampliada, na Rede Municipal de Ensino de Vitória ES. O desafio proposto foi estudar o Currículo e
Territórios Educativos entrelaçados às Artes Visuais, por entender que tanto a educação integral como
a arte educação, são influenciadas por ideias históricas e contemporâneas. Assim, a vivência proposta
para este grupo de profissionais da educação composto por professores/as de diversas áreas de
conhecimento, pedagogos/as, integradores/as sociais que atuam especificamente com turmas da
educação integral e voluntários/as que atuam no Programa Mais Educação, ou seja, sem a formação
especifica em Arte, intencionalmente buscou-se trabalhar com as Artes Visuais, para promover a
interlocução por meio do diálogo com artistas e obras de arte, que normalmente, não fazem parte de
suas vivências, visando contribuir para aumentar seu repertório artístico cultural. Foram diálogos
fundamentados teoricamente com autores que pesquisam e publicam sobre a Educação Integral, o
Território Educativo, o Ensino da Arte dentre eles: CAVALIERI (2007); GUARÁ (2009); NÓVOA
(1995); SANTOS (2002); BARBOSA (2008). Aproveitou-se a formação continuada, para propor
trilhar outros caminhos, refletir e vivenciar temáticas como diversidades culturais, educação
ambiental, patrimônio arquitetônico cultural, entre outros, desbravando o território educativo em que
se está inserido, ou o que ainda precisa descobrir.
Palavras-chave: Artes Visuais. Educação integral. Território Educativo.
Nosso caminho
Pegadas que registram a experiência vivida num determinado momento formativo com
profissionais que atendem turmas de crianças e estudantes participantes do Programa
Educação Integral com Jornada Ampliada, na Rede Municipal de Ensino de Vitória ES. O
1
Mestra em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal do
Espírito Santo. Professora de Arte do Sistema Municipal de Ensino de Vitória ES. Tutora a distância no
curso de Artes Visuais modalidade EAD-UFES. Representante da FAEB no ES e membro do Polo Arte
na Escola no Espírito Santo.
2
O movimento das cidades educadoras teve início em Barcelona (Espanha) em 1990,
considerando que o meio urbano deve ser visto como um palco dotado de diferentes
iniciativas educadoras, englobando em seu cenário tantos as instituições formais, quanto as
não formais. (GADOTTI, 2004)
3
Segundo Guará (2009, p. 65) “A interface da educação integral com a proteção integral [...]
enfatiza a condição privilegiada de que goza a população infanto-juvenil em relação à
exigibilidade de uma educação que supõe seu acesso prioritário à proteção do Estado no
provimento de programas e serviços que promoverão seu pleno desenvolvimento”.
educação, visto que, os/as profissionais que acompanham a turma da jornada ampliada, na
maioria dos casos, tiveram uma rasa formação na disciplina Arte.
Assim, andar pelos territórios educativos da escola, do bairro ou da cidade,
descobrir potenciais artísticos, produções artesanais, as belezas arquitetônicas das ruas,
muitas vezes olhadas sem serem vistas, com a devida atenção. “Confesso minha
dificuldade em perceber a beleza da cidade. Não me vejo belo refletido nela. Mas sei
que o problema não está na cidade, Está nos meus olhos.” (Ruben Alves) . O olhar
curioso e esperto às novidades encontradas nos caminhos, que aprimoram a formação
continuada e necessária para o exercício docente e discente.
“Essa reconquista (dos espaços públicos pela criança, a partir da escola) requer o
rompimento da escola/prisão/ fortaleza e sua transformação na escola/praça/parque”
(TEIXEIRA, 1967,12). A transformação não apenas da escola, mas de todos que participam
dessas outras oportunidades, usufruir da escola e da cidade, como um direito.
O direito à cidade (e à escola) não é apenas um direito condicional de acesso àquilo
que já existe, sim um direito ativo de fazer a cidade (e à escola) diferente(s), de
formá-la(s) mais de acordo com nossas necessidades coletivas, definir uma maneira
alternativa de simplesmente ser humano. Se nosso mundo urbano (e escolar) foi
imaginado e feito, então ele pode ser re-imaginado e refeito.( HARVEY, 2008, p.49)
Helena Singer (2006) nomeia como requisitos que compõem o Território Educativo:
“possui um projeto educativo para o território criado pelas pessoas daquele espaço; agrega
escolas que reconhecem seu papel transformador e que entendem a cidade como espaço de
aprendizado”. A ampliação do tempo na jornada escolar prevê explorar os espaços da cidade,
proporcionar novas e outras oportunidades de ensino aprendizagem.
turma, se interesse pelo assunto, para que não seja apenas uma visita rotineira, sem
curiosidade ou entendimento.
[...] as aulas de arte serem confundidas com lazer, terapia, descanso das aulas
“sérias”, o momento para fazer a decoração da escola, as festas, comemorar
determinada data cívica, preencher desenhos mimeografados, fazer o presente do
Dia dos Pais, pintar o coelho da Páscoa e a árvore de Natal. Memorizam-se algumas
“musiquinhas” para fixar conteúdos de ciências, faz-se “teatrinho” para entender os
conteúdos de história e “desenhinhos” para aprender a contar. (MARTINS,1998,
p.12)
das vezes, são sempre os mesmos, como Romero Brito, Ivan Cruz, Tarcila do Amaral, etc. o
que pode ser confirmado, pelos/as participantes.
Fig. 1. Raphael Samu - “Lançamento da rede”, Mosaico, 1977.
Fonte: a autora
Fig. 2. Angela Gomes - “Brincadeira de criança na Igreja dos Reis Magos em Nova
Almeida”, Acrílico sobre tela, 2006.
Fonte: a autora
Fig. 3. Isabel Braga - “Antigas Regatas de Vitória”, Acrílica sobre tela, 1968.
Fonte: a autora
Fig. 4. João Virmondes - “Estar aí”, instalação (madeira, espelhos e fotografia), 2002.
Fonte: a autora
Foi possível verificar propostas que discutiram temáticas como educação ambiental,
alimentação saudável, danças folclóricas, etc. O que deixou evidente, por meio do exercício
proposto a possibilidade de utilizar as artes visuais para muito além das chamadas releituras
(geralmente cópias) ou simplesmente a exploração da técnica.
Para tanto, os/as envolvidos são estimulados a navegarem pelos museus virtuais,
conhecerem a produção artística mundial e local, além de serem incentivados a frequentar
espaços expositivos, como cinemas, museus, espaços culturais, para terem maior abrangência
com as artes.
A ampliação de tempos/espaços na escola precisa ser diretamente proporcional ao
cuidado com a formação continuada dos profissionais envolvidos nesta ação. O profissional
que teve formação superficial em arte, não pode ter o trabalho afetado pelo vínculo precário
de sua formação. Para que ele ajude a desenvolver no estudante a capacidade de fazer, ler e
contextualizar a arte, ele precisa ter oportunidade de estudar sobre a arte educação.
Por isso, torna-se pertinente trabalhar a Arte, nos espaços de formação continuada, para
ampliar o repertório artístico e cultural dos participantes e incentivar sua curiosidade em
conhecer a história e as manifestações artísticas culturais de seu entorno, e assim se ver como
sujeito social e cultural, que utiliza de manifestações para se pronunciar na vida.
A formação do professor envolve muito mais que uma racionalidade, teórico-
técnica, marcado por aprendizagens conceituais e procedimentais metodológicos. Há
no reino da prática pedagógica e da formação de professores muito mais que
domínio teórico, competência técnica e compromisso político. Lá estão histórias de
vida, crenças valores, afetividade, enfim, a subjetividade dos sujeitos
implicados. (OSTETTO, 2011, p. 128)
Assim as potências do território educativo que podem e devem ser explorados pela arte,
precisam ser exercidas, por meio da ampliação da jornada escolar, porém não apenas como
uma atividade sócio educativa, mas com toda riqueza pedagógica encontradas nestas
potencialidades.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Lei 13.005 de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação (2014-
2024).
HARVEY, David de. Utopias Dialéticas, em BOSCH, E. (org.) Educación y vida urbana: 20
años de Ciudades Educadoras. Barcelona: Santillana, 2008.
MARTINS, M.C.; PICOSQUE, G. GUERRA, M.T.T. Didática do ensino da Arte. São Paulo:
Editora FTD, 1998.
SINGER, Helena, diretora da Associação Cidade Escola Aprendiz, explica o que são
territórios educativos -http://porvir.org/destaque/rua-como-espaco-de-aprendizado-para-
todos/20150416. acesso em 22-07-2017
Resumo
O presente artigo tem por finalidade abordar os diversos saberes e a importância desses para a
profissão docente do professor de Arte. Destacam-se alguns estudos que assinalam um aumento
vertiginoso das pesquisas que tratam da formação e dos saberes docentes. Este texto propõe refletir
sobre os saberes para a docência em Artes Visuais, assim como, para a docência em geral, pois as
reflexões que reclamam a parte como objeto de análise, descendem do todo. Propõe, portanto, analisar
os caminhos percorridos para ensinar, espaços de atuação profissional, bem como a percepção da
profissão docente e do papel do professor de Arte. Enfatiza que a identidade profissional do professor
de Arte deve ser vista como uma situação reflexiva, voltando o olhar para a formação do
sujeito/professor formador. Assim, a formação da identidade desse sujeito (professor) passa por um
processo complexo, pois cada um irá dar para a sua profissão o sentido da sua história pessoal e
profissional, uma vez que a identidade não é algo adquirido, é um processo dinâmico, em construção,
que revela a maneira de ser e de estar na profissão. Ter acesso aos saberes da ação pedagógica, os
elementos do saber profissional docente são de fundamental importância, pois permite que os mesmos
exerçam o seu trabalho com muito mais competência, ensinar melhor o seu ofício. Este trabalho é uma
revisão de literatura, com algumas reflexões acerca da prática dos que o elaboraram, ocasião em que
muitos questionamentos se entrecruzam com os autores que sustentam o presente texto. Utilizou-se
neste estudo autores como Coutinho (2012), Gauthier et al. (2013), Isaia (2001), Tardif (2012), Buoro
(2003), GERHARDT et al (2006), Papi (2005), Barbosa (2009, 2012) dentre outros autores.
Palavras-chave: Profissão docente. Ensino. Identidade.
Introdução
1
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Gestão de Ensino da Educação Básica pela Universidade
Federal do Maranhão. Especialista em Docência do Ensino Superior pela Santa Fé. Graduação em Pedagogia
pela Universidade Federal do Maranhão. E-mail: karol.lay@hotmail.com
2
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Gestão de Ensino da Educação Básica pela Universidade
Federal do Maranhão. Graduação em Educação Artística pela Universidade Federal do Maranhão. E-mail:
walterkeyko@gmail.com
3
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Gestão de Ensino da Educação Básica pela Universidade
Federal do Maranhão. Especialista em Gênero e Diversidade na Escola pela Universidade Federal do Maranhão.
Graduação em Educação Artística pela Universidade Federal do Maranhão. E-mail:
Felix_rocha_luis@yahoo.com.br
4
Doutor em Educação (Unesp/Marília). Professor e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Gestão de
Ensino da Educação Básica/UFMA. E-mail: antonio.assis@ufma.br
5
Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia – PPGCSPA - pela
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Graduada em Geografia e Educação Artística.
É valido ressaltar que o professor nunca está completo em sua formação, mas é um
eterno aprendiz, recebendo a partir disso, adjetivos como:
Um construtor de sentidos e saberes, um cooperador, um organizador da
aprendizagem, desempenhando na sua vida, pessoal e profissional, alternativas para
desenvolvimento das suas aulas. Com tantas características importantes o educador
enquanto conhecedor de si mesmo desenvolve um trabalho mais dinâmico e
enriquecedor com seus discentes, isso é um resultado de segurança na sua prática
pedagógica e na construção do conhecimento (GERHARDT et al, 2006).
6
Buoro (2003) grafa Arte. Segundo o PCN (1997), esta referência é à área curricular. Embora os Parâmetros
postulem uma normativa do grafar, ainda não é consenso quanto a isso, cabendo maior discussão. Vale lembrar
que Buoro fala do lugar da educação escolar em arte.
diversos saberes que são provenientes das instituições de formação, da formação profissional,
dos currículos, das práticas pedagógicas e das práticas cotidianas Tardif (2012 apud
GERHARDT et al, 2006). Freire (1996) apud Gerhardt et al. (2006) organiza os saberes
necessários para a prática docente de educadores críticos, progressistas, quando conclui que;
não há docência sem discência; ensinar não é transferir conhecimento; e ensinar é uma
especificidade humana. “Paulo Freire consagra na contemporaneidade a ideia de que ninguém
aprende sozinho e ninguém ensina nada a ninguém; aprendemos uns com os outros
mediatizados pelo mundo” (BARBOSA, 2009, p. 13).
Vale ressaltar que ter acesso a esse conhecimento dos saberes da ação pedagógica, dos
elementos do saber profissional docente é de fundamental importância, pois permite que os
docentes exerçam o seu ofício com muito mais competência, possibilitando ao professor
ensinar melhor.
Nóvoa (1995c, p. 17) ressalta que, no final do século XVIII, para exercer a função
docente era necessário possuir uma autorização, expedida pelo Estado e, isso “constituiu um
marco decisivo da evolução da profissão docente”, pois esta licença traçava “um perfil de
professor” (PAPI, 2005, p. 21).
Mesmo sob a tutela do Estado, o trabalho dos professores continuou relacionado, no
imaginário social e no dos próprios professores, às virtudes de benevolência,
tolerância, abnegação, compreensão, sacerdócio e altruísmo – heranças da origem
religiosa, configurando claras referências do processo inicial da profissionalização
do magistério, [...].
Ao lado dessa imagem de professor, muitas vezes marcada por uma visão idílica
(ESTEVE, 1999) que lhe confere uma percepção poética e suave, encontram-se,
mais recentemente e com importante frequência, as expressões profissional e
profissionalização, que vêm sendo amplamente utilizadas [...] pela busca de um
maior profissionalismo (PAPI, 2005, p. 21).
“[...] há a necessidade de que se tenha a clareza de que o discurso sobre o tema pode
ser utilizado pelo Estado apenas como forma de garantir sua ideologia, bem como
para responsabilizar os professores pelas dificuldades surgidas no processo
educativo (PAPI, 2005, p. 28).
Para Tardif (2002) o saber: “Possui um sentido amplo que engloba conhecimentos e
atitudes dos docentes como fonte primária de seu saber ensinar e de sua competência, são
também saberes plurais, compósitos e heterogêneos, por manifestarem tais características no
próprio exercício de trabalho”.
Podemos considerar o trabalho dos professores como um espaço de prático especifico
de produção, transformação e de mobilização dos saberes, teorias e o saber fazer específico ao
ofício de professor. Nesse sentido, o professor é um sujeito do conhecimento, que tem
habilidades de desenvolver teorias e saberes da própria ação que são originados por meio da
sua subjetividade e a realidade social. É nessa perspectiva entre sociedade e sujeito que o
professor se insere para a construção de concepções e saberes, desenvolvendo suas práticas e
estratégias de ação (GERHARDT et al., 2006, p. 4).
Isaia (2001, p.21) ressalta que o docente não constrói seu saber sozinho, logo seu
desenvolvimento pessoal e seus caminhos percorridos não são isolados. E que, “O caminho
do desenvolvimento pessoal, contudo, não pode ser visto apenas em termos individuais, mas
sim grupais, pois, no seu percurso, cada sujeito interage com todos aqueles que com ele
compartilham os mesmos parâmetros geracionais, constituindo uma geração”.
Gauthier et al. (2013) diz que “O ensino é um ofício universal” (p. 17) e que remonta à
Grécia antiga e ainda assim tem um papel fundamental nas sociedades contemporâneas. E,
mesmo que tão antigo ainda pouco se sabe sobre os “fenômenos que lhe são inerentes”
(idem). É condição sine qua non de toda profissão, “a formalização dos saberes necessários à
sua execução” (p. 20). O autor aponta algumas questões sobre o ensino que parece “espécie de
cegueira conceitual, [...], um ofício sem saberes”, que seguem apenas os títulos de cada
conceito [grifo nosso]. “Basta conhecer o conteúdo; Basta ter talento; Basta ter bom senso;
Basta seguir a sua intuição; Basta ter experiência; Basta ter cultura” (p. 20-24).
Gauthier et al. (2013) evitando submeter o saber dos professores aos rígidos saberes
das Ciências Naturais diz que “O saber dos professores pode ser racional sem ser um saber
científico” e concordando com Gillet (1987), diz que [...], ele se refere ao saber prático de um
professor, isto é, ao saber do prático implicado na ação que produz um saber que não é o da
ciência, mas que nem por isso deixa de ser legítimo e válido” (p. 337) e ainda que, “[...], a
ideia de validação deve substituir a ideia de verdade” (p. 339). Complementando o sentido da
definição defendida por Gauthier et al., (2013), o “professor não pode ser reduzido a simples
técnico das aprendizagens. [...], ele constrói uma boa parte de seu saber na ação. [...]. Os
juízos do professor são juízos sociais, [...]. São também juízos de valor” (p. 342). Na
contrapartida da construção do professor enquanto estados mentais, ou seja, baseado no
psicologismo, “os saberes nos quais os professores se apoiam dependem diretamente das
condições sociais e históricas nas quais eles exercem sua profissão” (p. 343).
Para Tardif, (2002, p. 61):
Os saberes que servem de base para o ensino, tais como são vistos pelos professores,
não se limitam a conteúdos bem circunscritos que dependem de um conhecimento
especializado. Eles abrangem uma grande diversidade de objetos, de questões, de
problemas que estão relacionados com seu trabalho. Além disso, não correspondem,
ou pelo menos muito pouco, aos conhecimentos teóricos obtidos na universidade e
produzidos pela pesquisa na área de Educação: para os professores de profissão, a
experiência de trabalho parece ser a fonte privilegiada de seu saber-ensinar.
Para melhor ilustrar o ensino de Arte, buscou-se apresentar imagens que pudessem
demonstrar o ofício do professor de Arte e ainda que não esgote apenas em leituras de
imagens, mas como uma das formas. Apresenta-se imagens da Pré-História e da Arte
Contemporânea, trazendo o passado mais remoto da humanidade, o está relacionado,
especialmente, com o pensamento de Fischer (1981) e, à época atual pelos outros autores, que
mais se debruçaram sobre os processos de ensino e os saberes docentes.
Fonte: http://incrivel.meionorte.com/arqueologia-incrivel/serra-da-capivara-incrivel-arte-rupestre-piaui/
Fonte: https://www.google.com.br/arte-rupestre...
Fonte: https://www.estudopratico.com.br/wp-content/uploads/2014/07/arte-rupestre.jpg
Fonte: http://obviousmag.org/pela_janela/2015/belas-artes-em-tempos-liquidos-a-efemeridade-da-arte-
contemporanea.html
Fig. 5: Telegraph
Fonte: http://www.telegraph.co.uk/news/obituaries/culture-obituaries/art-obituaries/8760860/Richard-
Hamilton.html
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino de arte: anos 1980 e novos tempos. São Paulo:
Perspectiva, 2012. – (Estudos; 126/ dirigido por J. Guinsburg).
ERNST, Fischer. A necessidade da arte. Trad. Leandro Konder. 9. ed. – Rio de Janeiro,
Zahar Editores, 1981.
GAUTHIER, Clermont et al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas sobre o saber docente.
Trad. Francisco Pereira. 3. ed. - Ijuí: Ed. Unijuí, 2013. – 480 p. (Coleção fronteiras da
educação).
ISAIA, Sílvia Maria de Aguiar. O professor Universitário no contexto de sua trajetória como
pessoa e profissional. In: Marilia Morosini. (Org.). Professor do Ensino Superior.
Identidade, Docência e Formação. 2. ed. Brasília: Editora Plano, 2001, v. 1, p. 35- 60.
LOWENFELD, Viktor. A criança e sua arte: um guia para os pais. Trad. Miguel Maillet.-
São Paulo: Mestre Jou, 1977.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
Resumo
O corpo no contexto da Educação tem apontado um novo entendimento acerca das relações entre
cognição, aprendizagem e Linguagem Corporal. No que diz respeito à Educação Infantil, este diálogo
mostra-se ainda mais pertinente, haja vista a importância das experiências corporais para o processo
ensino-aprendizagem (BRASIL, 1997; BELO HORIZONTE, 2009). Observa-se, no entanto, que
apesar da crescente produção teórica que se dedica a esta abordagem pouco ou quase nada se fala a
respeito do corpo do professor neste processo. Desta forma, este artigo faz um recorte sobre as
representações sociais identificadas em respostas de oitenta professores da Rede Municipal de
Educação Infantil de Belo Horizonte e região Metropolitana, que compuseram o grupo de
sujeitos participantes da minha dissertação de mestrado. As concepções de corpo identificadas
a partir dos dados coletados indicam possíveis relações com a práxis docente, modos de
ensinar e aprender e corporeidade. Os resultados apontam o corpo do professor como lugar
transitório, que está em construção e que precisa compreender ainda suas reverberações no
contexto da Educação Infantil.
Palavras-chave: Concepções de corpo, professor e Educação Infantil.
Introdução
1
Mestre em Ensino de Arte pela Escola de Belas Artes / UFMG. Professor do Centro Pedagógico da EBAP/
UFMG. E-mail: mfroriz@hotmail.com
2
Doutora pela UFMG com foco em Processamento da Linguagem (gesto e cognição) e professora adjunta da
Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) atuando no curso da Graduação de
Licenciatura em Dança, no Programa de Pós-Graduação em Artes e no Mestrado Profissional em Artes
(PROFARTES). E-mail: anacristina.cperereira@gmail.com
3
Dissertação disponível em http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/EBAC-
9RENMB/disserta__o_marlaina_roriz_2014.pdf?sequence=1
assim como possíveis relações com a prática docente. Pensando e acreditando na relevância
de um novo entendimento sobre o corpo para a cena escolar, esta pesquisa motivou-se
inicialmente por reflexões acerca do corpo do professor na Educação Infantil, uma vez que
estudos como os de Tassoni (2008) assinalavam a importância do corpo do professor na
dinâmica da sala de aula de crianças. Isto porque a Educação Infantil e os novos olhares
lançados sobre os processos de aprendizagem das crianças pequenas recebiam, há algum
tempo, atenção especial nas produções teóricas.
Ao buscar concepções de corpo trazidas por professores da RMBH e Região
Metropolitana, esta pesquisa apontou reflexões sobre as possíveis relações existentes entre o
corpo do professor e o ensino de crianças pequenas, isto é, como as Representações Sociais de
corpo desses professores poderiam interferir (ou não) em sua prática docente. Optou-se por
uma abordagem qualitativa, complementada, quando necessário, pelo um tratamento
quantitativo dos dados obtidos. Os dados foram sistematizados a partir da aplicação de
questionários a oitenta professores da Educação Infantil da Região Metropolitana de Belo
Horizonte, os quais participaram do Curso de Aperfeiçoamento Educação Infantil, Infâncias e
Arte. Esse curso teve como objetivo trabalhar, através de aulas teóricas e práticas, as quatro
linguagens artísticas presentes nas Proposições Curriculares da Educação Infantil de Belo
Horizonte (2009), documento que usado até então para nortear a ação de professores de
Unidades de Educação Infantil (UMEIs), Centros de Educação Infantil (CEIs) e Creches
Conveniadas à Prefeitura de Belo Horizonte. Estruturado a partir de três eixos temáticos e
suas respectivas disciplinas, o curso caracterizou-se como um espaço onde professores já
atuantes na Rede Municipal de Educação Infantil da RMBH poderiam refletir, vivenciar e
trocar experiências a partir do diálogo entre Educação Infantil e Arte. A partir dos conteúdos
trabalhados e atividades teórico-práticas presentes na grade curricular do curso, esses
profissionais foram convidados a levar para o cotidiano de cada instituição novos olhares
sobre a criança, a Arte e possíveis reverberações no processo de aprendizagem, localizado
nesse entremeio. A proposta de realização de um curso que tratasse especificamente de Arte e
infância sinalizava a necessidade de reflexões acerca da presença da Arte e das possibilidades
para que ações efetivas se instalassem no cotidiano das salas de aula na Educação Infantil. É
importante destacar que a estrutura do Curso, sua organização e disciplinas, reforçava o
entendimento de aprendizagem integrada, cuja relação com a Arte, se pauta através de uma
educação estética.
O curso aconteceu em duas ofertas: a primeira de março a junho de 2013 e a segunda
de maio a dezembro de 2014, quando se estendeu a oferta a secretarias municipais da grande
BH. Para esta pesquisa, o curso foi um aliado na coleta de dados e no estreitamento de
relações entre pesquisadora e sujeitos participantes. Neste período, foi possível observar como
estes professores-cursistas descobriram-se na condição de alunos e emprestaram a esta
pesquisa suas vivências. Dessa maneira, diferentemente de alguns estudos que se enveredam
pela investigação do corpo do professor sem considerar o entendimento que estes possuem de
seu próprio corpo, nesta pesquisa elegeu-se outro ponto de partida: dar voz a esses docentes,
compreendendo-os como atores que compõem a cena a que se dedicou essa dissertação.
O interesse pelas concepções de corpo do professor como objeto de estudo se deveu à
verificação de que, na maioria das vezes, as obras que se dedicam às reflexões sobre a relação
entre Educação Infantil e corporeidade tinham como foco principal o corpo do aluno, como já
afirmado neste trabalho. No levantamento bibliográfico que precedeu a coleta de dados,
observou-se que o corpo dos alunos era a abordagem mais frequente: corpo da criança, suas
possibilidades e descobertas de movimento; psicomotricidade; o modo como este corpo
estava ligado à aprendizagem e se esta relação contribuía ou se mantinha indiferente ou até
mesmo, indicações de atividades. Apesar de reconhecer a relevância de autores que se
debruçam sobre outros recortes dessa temática, o que se percebeu é que o corpo do professor
muitas vezes foi negligenciado neste processo, como se não estivesse presente o tempo todo.
A partir daí, o desenvolvimento passou a fundamentar-se pela seguinte questão: que
concepções acerca do corpo podem estar presentes no dia-a-dia do professor na Educação
Infantil? Muitas outras inquietações acompanharam esta primeira, pois havia urgência em
compreender de que maneira estes professores viam seus próprios corpos e a relação
estabelecida (ou não) com a práxis pedagógica. Na verdade, para manter a fidedignidade deste
estudo, entendeu-se ser necessário "ver com os olhos deles" - dos próprios professores.
A partir da sistematização dos dados obtidos em 2013 e 2014, nas duas ofertas do
CEIIA, foi possível levantar o perfil do grupo de oitenta professores-participantes que
compuseram essa pesquisa, que se apresenta a seguir:
x 98,73% (78 pessoas) definiram-se como mulheres;
x 1,25% (1 participante) disse ser homem;
x A faixa etária concentrou-se entre 25 e 45 anos;
Sustentando a proposta que alicerçou essa pesquisa, buscou-se dar voz a esses
docentes-cursistas para, a partir daí, identificar possíveis concepções de corpo e possíveis
ligações entre corporeidade e práxis docente, ou mesmo a ausência de ambas. Para isso, nesse
artigo, apresentamos reflexões sobre a questão número 11 (O que significa corpo para você?),
uma vez que ela ocupou lugar de relevância nesse contexto, pois deu acesso às representações
de corpo dos sujeitos participantes desta pesquisa.
A partir da metodologia da Teoria das Representações Sociais (TRS), estabeleceu-se o
tratamento de dados através da criação de categorias para respostas cujos conteúdos
apresentassem semelhanças. Esses elementos, representaram saberes e apontaram para uma
totalidade carregada de significado e relacionaram elementos de diferentes perspectivas. Esses
saberes ou representações permitiram compreender “[...] a influência social, a interação e os
fenômenos de grupo, a identidade social e o funcionamento sociocognitivo” os quais se
apresentaram em sua dimensão simbólica.
Assim, considerando o grupo de 80 professores, foram identificados os seguintes tipos
de representação social (RS):
a) RS 1 - movimentos/ações motoras;
b) RS 2 - linguagem/função comunicativa/expressão;
c) RS 3 - unidade fisiológica/estrutura de locomoção;
d) RS 4 - perspectiva integrada/totalidade;
e) RS 5 - instrumento para ensinare aprender/desenvolvimento/conhecimento;
f) RS 6 - experiência/instrumento de troca;
g) RS 7 - dicotomia corpo-mente;
Reflexões finais
Essa heterogeneidade de concepções, cujos significados ocuparam lugares contraditórios
em um mesmo respondente, demonstra que, para muitos professores, ainda existia dificuldade
em definir de maneira clara o significado do corpo. Outro aspecto importante dizia das várias
respostas dadas à questão “O que significa corpo para você?”, em que foi constatada a
compreensão de que o corpo não pertencia ao contexto da escola, mas, ao mesmo tempo, era
identificado como elemento de comunicação, por exemplo. Seria possível o corpo não
desempenhar função comunicativa na Educação Infantil? Essa desconexão presente nas vozes
desses professores sinalizava que resquícios de uma educação tradicional ainda pode se
manter nas escolas de Educação Infantil de Belo Horizonte e região metropolitana, condição
que dificultaria a integração da corporeidade aos processos de aprender e ensinar. Assim,
considerando que as Representações Sociais identificadas apontavam uma possível
dificuldade em articular concepções de corpo mais coesas, questionou-se também se essa
condição não estaria reverberando na práxis docente desses professores, uma vez que o modo
como esses professores viam o próprio corpo implicaria em orientações de condutas. Isso
posto, o modo como estes professores entenderam e definiram corporeidade sinalizou também
de que maneira buscavam estratégias para incluir, de modo intencional, a corporeidade
daqueles que estão a sua volta no contexto escolar, as crianças pequenas.
Acredita-se que o que o professor é, como ele se vê e como desempenha a sua função
profissional pode manter estreita relação com sua prática docente. As funções do ser-humano-
docente não se dissociam quando ele está em sala de aula. Sobre essa relação dialógica, tem-
se que “as identidades profissionais e as identidades pessoais estabelecem relações análogas
em diversas dimensões: a identidade feminina, a identidade de classe, a identidade étnica.
(BAPTISTA, 2014, p. 45). Desse modo, esse artigo aponta para que este lugar da
provisoriedade das concepções do corpo funcione como uma mola propulsora para incitar
novos olhares, novas concepções e anseio pelo conhecimento não só das temáticas corporais
dentro da Educação Infantil, mas também de tantas outras a elas relacionadas.
Sobre o lugar corpo na educação, tema norteador dessa pesquisa e cujos resultados nos
mostram como estado transitório e em (re)construção, Nóbrega (2005) ilustra e, de maneira
assertiva, corrobora nossos pensamentos. De modo sucinto, porém eficaz, aponta esse lugar
do corpo, ao dizer que,
Não se trata de incluir o corpo na educação. O corpo já está incluído na educação.
Pensar o lugar do corpo na educação significa evidenciar o desafio de nos
percebermos como seres corporais (NÓBREGA, 2005, p.610).
REFERÊNCIAS
ABRIC, Jean Claude. O estudo experimental das representações sociais . In: JODELET,
Denise (Org.). As representações sociais. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2001.
FOUCAULT. M. Vigiar e punir. 20ª edição Editora Vozes: Rio de Janeiro, 1999
SÊGA, Rafael Augustus. O conceito de representação social nas obras de Denise Jodelet e
Serge Moscovici. Anos 90 Revista do Programa de PósGraduação em História da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRG, Porto Alegre, n º 13, julho de 2000.
RESUMO: Este artigo tem como objetivo compreender como o professor trabalha com as
tecnologias nas aulas de Artes Visuais das escolas estaduais no município de Parintins-Am. Visa,
portanto, identificar os fatores que promovem a inserção das TIC´s no ensino das Artes Visuais, ao
enfatizar a importância desses recursos como interativo e pedagógico no ensino/aprendizagem em uma
região que tem o acesso tecnológico recente. Pensar as tecnologias digitais como ferramentas
pedagógicas são essenciais para aquisição, transmissão e compartilhamento do conhecimento por meio
das imagens em sala de aula, bem como, experiências estéticas com as mesmas. Para que este trabalho
obtivesse êxito, utilizou-se o método de abordagem qualitativa, onde os procedimentos técnicos
escolhidos foram: pesquisa bibliográfica e de campo. A coleta dos dados ocorreram por meio da
aplicação de questionário semi-estruturado com 3 professores que possuem formação em Artes
Visuais, que fossem formado pelo curso de Licenciatura em Artes da Universidade Federal do
Amazonas e que atuassem na Rede de ensino local. A base teórica reúne autores como: Almeida
(2005), Bertoletti (2011), Freitas (2010), Gurche (2014) e Macalini (2014), este conjunto, abordam as
tecnologias no Ensino e nas Artes Visuais, como também o modo de sua inserção na prática
pedagógica de professores em sala de aula.
Palavras-chave: Arte ; Tecnologia; Formação de Professores; TIC´s.
Introdução
Refletir sobre as tecnologias digitais como ferramentas pedagógicas para o ensino das
Artes Visuais consistem em considerar vantagens e possibilidades, levando ao enriquecimento
da prática pedagógica e artística. Significa diversificar os recursos tecnológicos na intenção de
oferecer novas alternativas de interação e aprendizagem. São novos caminhos e intervenções
que podem ser apreendidos por professores e alunos. Sob este olhar, a utilização dessas
tecnologias como ferramentas educativas poderá contribui para o desenvolvimento criativo e
1
Este artigo é adaptação do trabalho de conclusão de curso, UFAM/ICSEZ-2017, e traz um recorte preciso da
pesquisa realizada com os professores, bem como, suas problematizações que orientaram os estudos e o
questionário para coleta de dados.
2
Graduado em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal do Amazonas no Instituto de Ciências
Sociais e Educação e Zootecnia – ICSEZ na Cidade Parintins – AM. E-mail: alex.azevedos@hotmail.com
3
Mestre em Artes Visuais pela Udesc – SC. Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco no
Curso de Licenciatura em Artes Visuais. E-mail: edson.macalini@univasf.edu.br
A partir do momento em que tecnologia entra na sala de aula, a tendência é que ela
continue presente, devido a sua capacidade de criar, inovar e promover conhecimento. Desta
forma, cabe ao professor apropriar-se dos recursos tecnológicos, buscando a inovação de seu
ensino, assim poderá propiciar aulas mais dinâmicas, interativas e atrativas.
Neste sentido, Freitas e Lima (2010) enfatizam que o professor não deve deixar de
exercer seu papel como mediador da aprendizagem devido à inserção das novas tecnologias
no ambiente escolar, mas, ao contrário, passa ser um dos elementos centrais da sociedade da
informação, onde se utiliza cada vez mais as novas tecnologias como recurso didático,
promovendo o enriquecimento de sua prática educativa.
Com isso, podemos considerar que no espaço escolar, a utilização e integração das
tecnologias são cada vez mais frequentes. Pois insere novos desafios pedagógicos e obriga a
redefinição dos papéis dos sujeitos envolvidos no processo educativo. Desta maneira,
compreende-se que esta relação entre arte, tecnologia e ensino “é também oriunda do
momento histórico vivenciado em nossa sociedade, em que o rápido desenvolvimento
tecnológico transpassa as esferas educacionais e sociais” (GURCHE et al.,2014, p.02). Sendo
assim, vistas amplamente, essas tecnologias inseridas no ensino das Artes Visuais podem ser
encaradas como um reforço aos métodos tradicionais ou como uma forma de renovação das
possibilidades de aprendizagem.
Portanto, frisa-se que o ensino das Artes Visuais nas escolas vinculado aos meios
tecnológicos visa absorção do conhecimento, estimulando assim, suas habilidades criativas
relacionadas às atividades artísticas. Ensinar com as novas tecnologias conduz a resultados
significativos, principalmente quando há mudanças de postura do professor e processo de
ensino-aprendizagem convencional. Isso implica destacar que as tecnologias digitais
potencializam a relação entre educação e arte. O acesso às obras de arte por meio do
computador, bem como vídeos, CDROM, DVDs sobre artistas, exposições, coleções,
democratizam tal contato. (BERTOLETTI, 2011).
Portanto, “é essencial desenvolver, no contexto escolar, habilidades que possibilitem
aos professores e alunos interatuarem com essas tecnologias e, principalmente, aprenderem
por meio destas.” (GURCHE, p.7 2014) Em concordância com este pensamento, Aguiar e
Passos (2014) consideram que a educação não consiste apenas na aquisição do saber cultural,
mas sim num processo de ruptura e de reorganização. Indivíduo e educação estão ligados aos
demais fenômenos: os sociais, os históricos, culturais e tecnológicos. Assim, pode então ser
cabe, dentre tantos desafios, o ato de ensinar. Com o advento das novas tecnologias,
diferentes domínios são impostos à formação do professor. Para tanto, torna-se cada vez mais
importante, que seja durante a graduação, este deve ser instigado à pesquisa e atualização,
para que o professor possa suprir a necessidade de aprendizado do aluno.
Por outro lado, os professores consideraram que gostariam de receber algum
treinamento focado no uso das TICs para as aulas de Artes Visuais. Para eles, ajudaria no
sentido de melhorar o conhecimento sobre como, ou, a maneira correta de utilizar esses
recursos tecnológicos, explorando-os na sua totalidade, mostrando também os novos métodos
de produzir arte na contemporaneidade. Neste âmbito, é importante mencionar que o ensino
de Arte Visuais por meio do uso das tecnologias requer uma formação complementar
específica do professor sobre o uso das TICs, visando orientá-los na parte conceitual, técnica
e prática para fins de tornar esses recursos como ferramenta de aprendizagem. O professor
precisa estar preparado adequadamente para que, além de saber explorar todos os recursos
colocados à disposição dos alunos, possam realmente propiciar o aprendizado em arte.
Questionou-se também sobre a existência de disciplinas relacionadas com o uso
prático e teórico das tecnologias durante o curso superior. Os professores afirmaram que sim,
e citaram as seguintes disciplinas: Programação Visual, Computação Gráfica, Multimídia E
Intermídia, Metodologia do Trabalho Científico e Fotografia. Todos os professores, formados
pela Universidade Federal do Amazonas – ICSEZ, no Curso de Licenciatura Plena em Artes
Visuais, tiveram as disciplinas citadas na formação inicial.
Quando questionados sobre o grau de satisfação referente à inserção das tecnologias
na formação em Artes Visuais, os educadores afirmaram que não. Durante a formação
acadêmica, houve uma aprendizagem insuficiente, mais voltado para o campo prático do que
teórico. Na graduação se aprende algumas técnicas para produzir Artes Visuais através da
tecnologia digital, mas não há métodos que possam direcionar esse conhecimento adquirido
ao aluno no âmbito escolar, e por ser licenciatura, o curso visa preparar o acadêmico para este
contexto. Mesmo assim, a grade curricular ainda não abrange todas as necessidades do
professor em formação.
De acordo com Santos (2004) existem poucas oportunidades de contato efetivo do
professor de Artes Visuais com as tecnologias digitais. Isto ocasiona um grande descompasso
entre a realidade para qual ele está sendo preparado, para os desafios que irá encontrar
futuramente, ou ainda, para as possibilidades de utilização da tecnologia como uma aliada em
sua prática.
E por fim, questionou-se sobre as tecnologias usadas em sala de aulas relacionadas com as
motivações que levaram o seu uso. O notebook sempre é utilizado durante as aulas,
considerado como ferramenta essencial para os professores. O celular Tablet, Ipod e Ipad são
voltados para inciativa pessoal. A câmera fotográfica e os programas de edição de imagem ou
vídeo no computador nunca foram usados. Quanto à utilização e aos projetores multimídias e
aparelho de som é motivada pela execução de projetos multidisciplinares ou com outros
professores e nos projetos das escolas.
Considerações finais
Com esta pesquisa foi possível identificar que os principais fatores que incentivam o
professor a inserir as TICs durante as aulas de Artes são os recursos tecnológicos disponíveis,
dando destaque para o computador, considerado ferramenta essencial para a mediação do
ensino e por isso está presente no cotidiano escolar. Somado a isso, também são enfatizados
os projetores multimídia e a internet.
Quanto à importância das TICs como elemento interativo no processo de
ensino/aprendizagem, podemos perceber que a interatividade está diretamente relacionada
com as novas tecnologias. Proporciona aos professores e alunos uma relação dinâmica da
realidade com o mundo virtual, na construção desse novo conhecimento das Artes Visuais,
sendo gráficas e digitais, buscando principalmente sua experimentação. Neste sentido, o
professor deve criar e executar práticas educativas inovadoras, como também mostrar obras
de artistas da contemporaneidade que trabalham com a tecnologia, como Silvia Laurentis que,
por exemplo, usa a realidade virtual, ambiente interativo, multimídia e web arte; e Richard
Brown que, por sua vez, explora experiências interativas relacionadas a biomimética, usando
suportes digitais, analógicos e químicos.
Sendo assim, o ensino das Artes Visuais por meio das TICs requer profissionais
formados e capacitados para construir e aplicar propostas plurais e dinâmicas como o uso das
tecnologias para ensinar, usar e criar obras digitais, integrando os conteúdos escolares de
forma satisfatória, na consolidação de uma aprendizagem contextualizada, reflexiva e crítica.
Mas para que isso se efetive na realidade, é necessário que o professor durante sua
formação receba uma orientação teórica e prática sobre o uso das tecnologias no ensino das
Artes Visuais que esteja adequada ao tempo e ao local, e em seguida, que ele seja estimulado
a inserir esses conhecimentos em sua prática educacional e artística.
Portanto, deve-se enfatizar que isto não significa substituir o modo tradicional de
produzir e conhecer as Artes Visuais pelas tecnologias atuais e digitais, mas compreender que
as mesmas também poderão ser ensinadas através das TICs, vistas como uma das inúmeras
possibilidades de integrar a evolução da educação artística, como na formação de apreciadores
e conhecedores de Arte em sua potencialidade e crítica social.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Iana Asssunção; PASSOS, Elizete. A tecnologia como caminhho para uma
educação cidadã. Fundação Visconde de Cairu. Universidade Ferderal da Bahia, 2014.
FREITAS, Renival Vieira de. LIMA, Magneide Santos. As novas tecnologias na educação:
desafios atuais para a prática docente. Universidade São Luiz de França, 2010.
SILVA, Luciene Amaral da. O uso pedagógico de mídias na escola: práticas inovadoras.
Curso de Pedagogia. Alagoas, 2013.
Resumo
Há muito os museus deixaram de ser apenas locais destinados exclusivamente à conservação,
restauração e salvaguarda de obras de arte tornando-se locais de fortalecimento da aprendizagem,
socialização do conhecimento, reeducação estética do olhar. Sendo assim, os museus estimulam a
descoberta por um novo fazer e promovem acesso às riquezas socialmente construídas. O presente
artigo pretende suscitar discussão relativa ao ensino da arte e sua incursão na educação não formal
como laço a unir escola e museu de arte para a tão conclamada formação estética-cultural dos sujeitos.
Para a consecução desses objetivos, recorreu-se à produção dos bancos de dados do CONFAEB,
Congresso Nacional da Federação de Arte Educadores do Brasil, de maneira a evidenciar as pesquisas
em arte de 2014 em espaços de educação não formal como os museus. Foi também relatado o registro
da visita mediada e oficina plástica realizada pelos arte educadores do Programa Educativo do
MARCO com os discentes e docentes do Colégio Oswaldo Tognini na cidade de Campo Grande-MS,
como forma de reforçar a importância desse espaço de educação não formal através das obras de uma
das artistas plásticas mais importantes do Estado: Lídia Baís, cujos trabalhos compõem o acervo do
museu. Infere-se que, todo Estado que tenha pretensões de cultivar valores culturais seja capaz de criar
mecanismo e aparelhos culturais que favoreçam uma ampla educação estética a todos os indivíduos.
Palavras-chave: Arte/educação. Espaço não formal. Mediação.
Introdução
1
Doutoranda em Educação pela Universidade da Grande Dourados - UFGD. E-mail:
patricia_aguena@hotmail.com.
2
Graduada em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. E-mail:
marco@fcms.ms.gov.br.
significativamente para a formação cultural desse Estado e atraindo um público cada vez
maior e mais diversificado. Os Programas Educativos presentes nos museus são sem dúvida,
por intermédio da mediação às salas de exposição, a força motriz que constitui as tessituras
das tramas que envolvem visitante, obras de arte e artistas, ou seja, “[...] os componentes que
se articulam no processo artístico: os autores/artistas; os produtos artísticos/obras de arte; a
comunicação/divulgação; o público/ouvintes/espectadores[...]” segundo (FERRAZ E
FUSARI, 1999, p. 18).
Há muito os museus deixaram de ser locais destinados exclusivamente à conservação,
restauração e salvaguarda de obras de arte ao longo da trajetória histórica do homem para se
tornarem espaços de educação não formal de aprendizagem, socialização do conhecimento,
reeducação estética do olhar, isto é pontes por onde devam passar professores e alunos. Desta
maneira, os museus estimulam a descoberta por um novo fazer, trocas de experiências,
vivências plásticas e lúdicas, promovendo a democratização do acesso à cultura.
Logo se existe um consenso entre os pesquisadores da educação que a arte é
importante dentro da escola, porque é importante fora dela (GUERRA, MARTINS,
PICOSQUE, 2004; FERRAZ E FUSARI, 1999), o presente artigo pretende suscitar discussão
relativa ao ensino da arte e sua incursão na educação não formal como laço ao unir escola e
museu de arte para a tão conclamada formação estética-cultural. Para tanto, recorremos aos
anais do CONFAEB, Congresso Nacional da Federação de Arte Educadores do Brasil,
observando as principais perspectivas das pesquisas em arte em espaços de educação não
formal como os museus do último ano. Por fim, reforçaremos a importância dos museus de
arte como o MARCO na formação artística do Estado, faremos o registro da visita mediada e
da oficina plástica realizada pelos arte educadores do Programa Educativo do MARCO com
os alunos e professores do Colégio Oswaldo Tognini de Campo Grande-MS em maio de
2017, a fim de evidenciar a importância e o fortalecimento desses espaços de educação não
formal através das obras de uma das artistas plásticas mais importantes do Estado, Lídia Baís,
cujo precioso acervo é salvaguardado pelo MARCO e objetivo principal do agendamento
realizado pela equipe docente do colégio.
Este vasto e significativo acervo contempla uma coleção com mais de 1500 obras nas
mais diversas linguagens: pinturas, esculturas, objetos, fotografias, desenhos, gravuras e uma
coleção especial com todo o acervo (diários, fotografias, pinturas e documentos) de Lídia
Baís, uma das pioneiras das artes plásticas modernas do Estado e Ignês Corrêa da Costa, aluna
de Portinari com quem colaborou em obras como os murais azulejados e os paineis do
auditório do Palácio Gustavo Capanema, no Rio, além da igreja da Pampulha em Belo
Horizonte. Entre as obras de artistas sul-americanos no acervo do MARCO, estão os
argentinos Fernando Suárez (pintura) e Maria Perez Sola (gravura) e os fotógrafos paraguaios
Luiz Vera e Juan Britos. Da região Centro Oeste possui obras de Divino Sobral, Darlan Rosa,
Gervane de Paula, Omar Franco, Glenio Lima, Elder Rocha, Marcelo Solá, Maria
Guilhermina e Marina Boaventura. Vale destacar entre os artistas sul-mato-grossenses as
pinturas da importante série “Divisão do Estado” de Humberto Espíndola, as gravuras de
Vânia Pereira e Roberto De Lamônica, a pintura abstrata de Wega Nery, a primeira artista
plástica do Estado a expor fora do país.
O MARCO conta ainda com uma coleção de 14 obras de artistas brasileiros doada por
Pietro Maria Bardi. Trinta xilogravuras de Oswald Goeldi. Vinte e cinco gravuras do Projeto
Bozano Arte e Natureza, composto por um conjunto de 25 gravuras da ECO ART com nomes
como Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Flávio Shiró, Carlos Vergara, Siron Franco e Tomie
Ohtake. Em 2008 foi contemplado na 2ª edição do Prêmio Marcantonio Vilaça com obras de
três importantes artistas de relevância para a arte local, Wega Nery, Ignês Corrêa da Costa e
Jorapimo. Em 2013 o acervo do museu foi contemplado com 64 gravuras em cliché-verre de
Alex Cerveny premiado pela 5ª Edição do Prêmio Marcantonio Vilaça/Funarte. Por meio do
acervo do MARCO é possível traçar um panorama histórico e iconográfico das artes plásticas
sul-mato-grossense.
Lídia Baís é uma das mais importantes figuras femininas das artes plásticas de Mato
Grosso do Sul. Entre seus inúmeros méritos está a sua luta em se fazer arte apesar das
limitações que sua terra natal a impusera. De família italiana, nasceu em 1901 em Campo
Grande quando esta era apenas um vilarejo. Inquieta e curiosa desde criança, seu pai,
Bernardo Franco Baís, percebeu em Lídia um talento especial “[...] esta filha não é para ficar
em casa [...]” (TRINDADE, s/d, p.10) dizia.
Desejosa de livrar-se de seu isolamento cultural e com o apoio inicial de sua família,
Lídia Baís começou no Rio de Janeiro seus estudos em pintura com o célebre Henrique
Bernardelli e são desta fase suas obras mais acadêmicas, embora flertasse com as novidades
trazidas pela Semana de Arte Moderna em São Paulo, o que é evidenciado no conjunto de sua
obra. Com a sua viagem à Europa em 1927, Lídia entrou em contato com grandes pintores e
conheceu Ismael Nery, considerado o primeiro artista surrealista do Brasil, cuja obra e
amizade a influenciariam para sempre. De volta ao Rio de Janeiro retoma seus estudos com os
irmãos Bernardelli e Osvaldo Teixeira e realiza exposição individual na Policlínica do Rio em
1929.
Incompreendida e sob pressão da família retorna a Campo Grande, onde restavam às
moças os afazeres domésticos e o casamento. Suas ideias e seus trabalhos iam além da
compreensão e da sensibilidade do povoado “[...] Onde ir? Trocar ideias com quem? Conviver
com quem nesta terra, onde ser artista plástica é pecado? Fazer o que nessa aldeia? [...]”
(TRINDADE, s/d p. 23), reclamava em seus diários.
Sentindo-se enclausurada deu início a pintura de alegorias no sobrado de sua família.
Com a morte trágica do pai e um ambiente cultural hostil, Lídia se enfraquecia dia após dia.
Buscava em Deus, no mistério dos astros e em questões existenciais o impulso para suas telas.
Seu mundo abstrato e o universo de suas emoções, expostos no conjunto de escritos, diários,
desenhos e pinturas, são documentos reveladores de muitas Lídias. A sua busca incessante por
uma estética própria e pelo sentido do mundo faz de Lídia uma artista insaciável.
Nas religiões buscou também o conforto, e da arte, que entendia como essencial e
sagrada, desejava a liberdade. Determinada e guerreira buscou apoio para implantar um
museu de arte em uma Campo Grande sem luz elétrica. A dimensão política e a ousadia deste
ato de Lídia em plena década de 1950 não podem ser ignoradas, segundo (ROSA,
MENEGAZZO e RODRIGUES, 1992). Não chegou a concretizar o sonho do Museu Baís,
mas nunca deixou de acreditar na importância e na força da arte. Hoje, sua profecia está sendo
cumprida a passos lentos graças aos esforços de pessoas, que como Lídia no passado, lutam
para que a arte e a cultura sejam consideradas fundamentais na construção de uma sociedade.
como o acervo de Longa Duração, composto pelas obras de Lídia Baís, objetivo principal do
agendamento da escola.
Após a visita mediada do Programa Educativo que também contou com a participação
da artista Jussara Stein (Fig.1), os alunos foram conduzidos até às salas de oficina do museu.
A leitura da obra de Lídia e suas características foram retomadas e cada participante recebeu
uma folha de papel vegetal tamanho A4, lápis, borracha, giz de cera e uma impressão
contendo a imagem da obra (Fig.2). Cada participante realizou seu autorretrato utilizando
como ponto de partida os elementos representados na obra. Para isso, colocaram a folha de
papel vegetal sobre a imagem impressa para desenhar (Fig. 3), pensar em suas características
físicas, colorir seu autorretrato e ao mesmo tempo ficar, cara a cara com Lídia. Assim como a
artista, os participantes representaram a trindade ao desenhar elementos que sintetizam as
narrativas da trajetória pessoal de cada um (Fig. 4).
Fig. 1. Mediação com a artista Jussara Stein Fig. 2. Imagem da obra: Autorretrato (Trindade)
Fig. 3. Imagem da obra: Autorretrato (Trindade) Fig. 4. Mediação com a artista Jussara Stein
Os Programas Educativos presentes nos museus são sem dúvida, por intermédio da
mediação às salas de exposição, a força motriz que constitui as tessituras das tramas que
envolvem visitante, obras de arte e artistas, desta forma (FERRAZ e FUSARI, 1999, p. 18)
consideram que:
“[...] os componentes que se articulam no processo artístico: os autores/artistas são
pessoas situadas em um contexto sócio-cultural criadores de produtos ou obras
artísticas a partir da história de seus modos e patamares de sensibilidade e
entendimento da arte; os produtos artísticos/obras de arte são trabalhos que
sintetizam modos e conhecimentos artísticos e estéticos de seus autores, tem uma
história e situam-se em um contexto sócio-cultural; a comunicação/divulgação são
diferentes práticas de apresentar, expor, veicular, mediar as obras artísticas, as
concepções estéticas e a arte entre as pessoas na sociedade ao longo da história
cultural; o público/espectadores são pessoas também situadas em um tempo-espaço
sócio-cultural no qual constroem a história de suas relações com as produções
artísticas e com seus autores em diferentes modos e patamares de sensibilidade e
entendimento da arte (FERRAZ e FUSARI, 1999, p. 18).
Logo uma mediação atenta é fundamental para o aprofundamento das práticas de uma
educação em arte continuada de maneira a observar como ela se relaciona e viabiliza valores
sociais e concepções estéticas.
Considerações Finais
tempo, esses espaços deixaram de ser apenas locais de salvaguarda se tornando ponte a
interligar escola em prol de uma educação estética do olhar, vivências plásticas e a busca por
um novo fazer.
As pesquisas encontradas nos anais do CONFAEB reforçam a importância de estreitar
os caminhos entre escola e museus não apenas para formação de público apreciador de arte,
mas sobretudo da importância de uma educação estética conduzida por uma mediação
comprometida quer seja por professores no interior da escola como os programas educativos
no interior dos museus. Desta forma, o MARCO, através de suas atividades cumpre
fundamental papel educativo, democratizando o acesso à arte e aos bens culturais,
posicionando-se como importante centro de formação e fomento cultural como evidenciado
pela vivência plástica através de uma das artistas modernistas mais importantes, Lídia Bais.
A arte é fundamental dentro da escola, principalmente porque é fundamental fora dela,
é conhecimento historicamente construído pelo homem ao longo de toda a sua trajetória.
Valorizá-la dentro e fora das escolas e das academias é preceito fundante para qualquer nação
que tenha pretensões de obter valores culturais de modo a oferecer a todos uma ampla
educação estética.
REFERÊNCIAS
ALENCAR, V.P. Arte para ver a história, história para falar da arte: Arte/educação em
museus históricos, práticas possíveis. In: Arte/Educação Contemporânea: Metamorfoses e
narrativas do ensinar/aprender: XXIV CONFAEB, 2014, Ponta Grossa/PR: Anais do XXIV
CONFAEB. Paraná. Disponível em: <
http://faeb.com.br/admin/upload/files/2014atualCONFAEB.pdf >. Acesso em: 24 ago.2017.
FERRAZ, M. H. C. T.; FUSARI, M. F. R.. Metodologia do ensino de arte. 2ª ed. São Paulo:
Cortez, 1999.
ROSA, Maria da Glória Sá; MENEGAZZO, Maria Adélia; RODRIGUES, Idara Negreiros
Duncan. Memória da Arte em MS: histórias de vida. Campo Grande: UFMS/CECITEC, 1992.
ROSSI, M.H. Subsídios para a Mediação em Museu de Arte: A Coleção Preparação. In:
Arte/Educação Contemporânea: Metamorfoses e narrativas do ensinar/aprender: XXIV
CONFAEB, 2014, Ponta Grossa/PR: Anais do XXIV CONFAEB. Paraná. Disponível em: <
http://faeb.com.br/admin/upload/files/2014atualCONFAEB.pdf >. Acesso em: 24 ago.2017.
Resumo
Este trabalho relata a proposta da inclusão do estudo da flauta doce como instrumento
facilitador de aprendizagem nas aulas de Percepção Musical do Centro Estadual de Educação
Profissional em Música, localizado na cidade de Salvador, Bahia. As turmas contempladas
são do primeiro e segundo anos técnicos do Ensino Médio Integrado à Educação Profissional
com alunos na faixa etária entre 15 e 18 anos de idade. Ao ingressar no curso técnico de
instrumento musical, estes alunos elegem um dos instrumentos ofertados pelo CEEP Música
para sua principal dedicação e formação como instrumentista, desenvolvendo seu estudo por
quatro anos. Neste ano letivo de 2017, durante as aulas de percepção musical, adotamos a
prática da flauta doce como segundo instrumento de estudo para que esses alunos tivessem a
oportunidade de internalizar melodia e ritmo de forma prática, auxiliando a afinação nas
práticas de solfejo. O estudo da música, portanto tem se desenvolvido não só pela escuta e
vocalização dos caminhos já normatizados da percepção, mas também e inclusive pelo estudo
de um instrumento suplementar melódico e pela composição para duos e trios criadas pelos
próprios alunos a partir de solfejos dados previamente ou ditados. A relação construída entre
os estudantes no processo de aprendizagem em cada apresentação de trabalhos tem se
fortalecido substancialmente, independente das atividades regulares promovidas, uma vez que
já escrevem suas próprias composições para grupos de instrumentos distintos, além de as
executarem na flauta doce. Este modelo de aula de percepção desenvolvido no CEEP em
Música tem sido um diferencial na relação ensino-aprendizagem dado pela ênfase na
composição e prática instrumental. O resultado final é a formação de uma orquestra escolar
onde reuniremos todos os alunos das séries subsequentes com arranjos para música popular
brasileira.
1
Mestranda em Artes pelo programa PROFARTES – UFBA. Professora da rede pública do Estado da Bahia no
Centro Estadual de Educação Profissional em Música. É professora de Percepção, Flauta Doce e Violão.
judith.leite@gmail.com
2
Mestranda em Artes pelo programa PROFARTES – UFBA. Diretora da rede pública do Estado da Bahia no
Centro Estadual de Educação Profissional em Música, professora de Violão, Regência e Coral.
cristinamcnascimento@gmail.com
Introdução
com jovens e adultos que já haviam concluído o ensino médio. Para este público específico é
aplicado um teste de seleção, avaliando aptidões instrumentais e vocais dos candidatos às
vagas. Desde a implantação da modalidade integrada ao ensino médio, identificamos que a
metodologia utilizada para este público não poderia ser replicada da mesma forma que a
desenvolvemos com as modalidades já existentes, justamente pelas diferenças de faixa etária e
pela pouca experiência e vivência nas práticas musicais, além de habilidades técnicas pouco
desenvolvidas. Portanto ao ofertamos um curso técnico para jovens egressos do ensino
fundamental e sem a exigência de um teste de seleção, numa modalidade de ensino onde
disciplinas da base comum dialogam com as disciplinas técnicas, julgamos ser relevante
elaborar e reformular uma metodologia própria de ensino da música para que pudéssemos
suprir as necessidades básicas da falta da iniciação musical nestes alunos. Esta musicalização
deverá ser vivenciada durante o curso técnico de música.
As aulas das disciplinas técnicas acontecem uma vez por semana com duração de 100
minutos cada, de forma distinta e com professores variados. A matriz curricular foi elaborada
para que o estudante de música, tivesse durante a semana de aulas, disciplinas da base comum
e disciplinas da área técnica bem distribuídas, com tempo suficiente para que fossem
desenvolvidas atividades teóricas e práticas previamente planejadas. Percepção musical é uma
disciplina teórico/prática da área técnica que executa e exercita na prática, os conteúdos
estudados em teoria da música. É o espaço criado para que teoria e prática façam suas
conexões de leitura rítmica, solfejo e ditado melódico sempre construindo uma relação prática
com os conteúdos abordados na construção do conhecimento com elementos da teoria
musical.
No entanto, pelo perfil dos estudantes que ingressam na escola no primeiro ano
técnico e isso vai se refletindo nos anos subsequentes, reformulamos a metodologia utilizada
nas aulas de percepção e incluímos o estudo da flauta doce como um instrumento facilitador
da aprendizagem musical nestas aulas. Com este estudo prático proporcionamos a estes
estudantes iniciantes a identificação dos sons das notas musicais, a execução de ritmos e
melodias além do reconhecimento da altura das notas e dos seus tempos e durações.
Desenvolvimento
Tentamos reorganizar também nossa prática docente que vem reproduzindo uma
mesma forma de ensinar música quase que automática. As aulas teóricas são pensadas e
planejadas para dar suporte a prática do instrumento. O objetivo é formar o instrumentista
para que desempenhe sua função de forma consciente e crítica com técnica e maturidade
instrumental desenvolvidas. Com esta didática de experimentar na prática do instrumento,
neste caso a flauta doce, as melodias e ritmos dados em sala de aula, estamos refletindo junto
com estes estudantes, novas possibilidades de estudos, de aulas, de atividades e de formas de
se estudar música. Em Práticas de Ensinar Música, publicação organizada por Mateiro e
Souza (2009), o conceito do professor reflexivo tem origem no séc. XX onde já se destacava a
importância de valorizar a reflexão do professor com a sua prática, em oposição a tendência
behaviorista, tecnicista e reprodutora de prática docente (Zeichner,1993).
(...) com o termo ensino reflexivo não pretendo dizer que os professores devem
refletir apenas sobre o modo como aplicam nas suas salas de aulas as teorias geradas
noutros sítios. Aquilo que falo é de os professores criticarem e desenvolverem as
suas teorias práticas à medida que refletem sozinhos e em conjunto na ação sobre a
ação, acerca do seu ensino e das condições sociais que modelam as suas
experiências de ensino. (Apud. MATEIRO E SOUZA, 2009, p.69)
Dentro de todo este contexto de renovação, que nos leva a reflexão e a procura de
como realizar aulas de percepção de uma forma inovadora e real, considerando os saberes
desses estudantes que fazem parte desta turma de vinte e seis alunos, com toda a sua
heterogeneidade é que incluímos a metodologia do ensino coletivo de instrumento musical.
Esta metodologia de ensino vem crescendo e se consolidando por vários motivos, desde o
número reduzido de professores de música para atuar nas escolas regulares devido a inclusão
da música como disciplina obrigatória, até para buscar uma forma mais democrática de se
ensinar música contemplando estudantes de todos os níveis, num mesmo horário e local, quer
eles já toquem ou não. Conforme Cruvinel (2003)
e perceber os intervalos que as melodias tocadas juntas proporcionavam. Nesta segunda etapa
além de escrever as duas melodias, precisavam de um colega de sala para executarem suas
composições a duas vozes.
Elegemos dois alunos do primeiro ano técnico integrado que nunca estudaram música
ou tiveram a intenção de ingressar numa escola regular de música, para exemplificar este
relato de forma concreta. É importante salientar ainda que a metodologia utilizada com o
estudo da flauta doce nesta turma, tem sido uma oportunidade de transformação na vida
desses jovens. Infelizmente ainda temos preconceito em relação ao estudo da flauta doce por
este instrumento estar associado a musicalização de crianças, talvez por isso, pouquíssimos
alunos a elegem como seu instrumento principal de estudo. Com esta possibilidade de estudo
da flauta doce, todos tiveram a oportunidade de estudar dois instrumentos com repertórios
distintos, logo são dois repertórios variados a serem estudados. Mais prática, menos teoria.
A aluna Graziela (flauta soprano) e o aluno Breno (flauta contralto) estudam violão
como instrumento principal, mas ao receberem as flautas, tiveram uma dedicação especial e
Com a turma de segundo ano o aprendizado se deu de forma diferenciada, mas não
menos produtiva. São estudantes que já tem uma caminhada no estudo da música e conhecem
os elementos musicais, já leem partituras, tocam seus instrumentos principais escolhidos, mas,
ainda tinham dificuldades em solfejo e ditado musical.
Utilizamos a mesma metodologia de introdução ao estudo da flauta doce soprano e
contralto nas aulas de percepção. Ensinamos as posições das notas nas flautas e seguimos
tocando melodias já escritas à duas vozes. Durante as aulas de percepção também fazíamos
ditados melódicos tocados na flauta pela professora para que escrevessem e o resultado foi
crescendo satisfatoriamente de forma gradativa, com a identificação das notas através do som
produzido pelo instrumento. Conseguiram, com esta prática, melhores resultados nos ditados
melódicos.
Propusemos então, como aos estudantes do primeiro ano técnico, a composição de um
arranjo de uma melodia previamente conhecida: “O Cravo brigou com a Rosa”. Canção de
domínio público que agradou a todos assim que a executaram na flauta doce.
Esta turma é composta por 12 estudantes que resolveram fazer o arranjo em conjunto
para que todos tocassem e participassem da criação. Utilizaram na sua maioria as flautas
doces da aula de percepção e incluíram também seus instrumentos principais de estudo. Foi
escrito pelos próprios estudantes do segundo ano técnico para os seguintes instrumentos:
flautas doce soprano e contralto, violão, viola, contrabaixo acústico e teclado. Objetivo
alcançado com sucesso.
A formação da Orquestra
A formação da orquestra dos alunos do CEEP em Música, nasce então com o objetivo
não só de aprofundar o aprendizado musical, mas também de criar maior vínculo entre as
quatro séries da comunidade escolar. Apesar da proposta das aulas de Percepção Musical com
flauta doce serem com as turmas de 1º e 2º anos, na orquestra, todas as quatro turmas do
ensino médio estão envolvidas, mesmo que nas turmas de 3º e 4º anos técnicos participem os
jovens músicos com seus instrumentos principais. Para tocar na orquestra é necessário o
comprometimento do estudante em todas as disciplinas de forma responsável e consciente,
sem atribuir menor importância a qualquer uma delas.
O núcleo maior da Orquestra será o naipe de flautas doces sopranos e contraltos que
estão se desenvolvendo nas aulas de percepção musical. O primeiro arranjo escrito para o
CEEP veio de uma melodia anônima que chamamos de “Melodia em Sol”. Essa pequena
melodia foi usada anteriormente numa experiência de orquestra sinfônica no projeto “Cidade
do Saber” que fica em Camaçari, cidade industrial localizada a 46,4 km de Salvador na região
metropolitana.
Para o CEEP, tivemos que fazer uma adaptação em função ao número de alunos da
escola sem perdermos, portanto, a ideia central da peça que tem predominância nos graus
conjuntos e intervalos de terças. Uma melodia simples, e por isso mesmo melodicamente
sensível aos ouvidos dos músicos iniciantes.
divisão do arranjo em 4 flautas foi considerado para que todos os instrumentistas pudessem
participar. Alguns começaram a estudar no mesmo período, outros um pouco depois, portanto
não têm o mesmo nível técnico. Para favorecer a participação destes estudantes, consideramos
também a dificuldade que alguns ainda têm em tocar em um grupo e principalmente participar
de formações de grupos com número acima de dez instrumentistas, onde a partitura está cheia
de contrapontos e ritmos diferenciados em suas vozes distintas.
Essa melodia por ter uma natureza linear com graus conjuntos, favorece à escuta, e
rapidamente o entendimento da sua forma. A forma A – B se repete três vezes com pequenas
ligações de quatro compassos considerando também a introdução. Então apresenta-se da
seguinte forma:
Introdução
Parte A → B → C (elo)
Parte A’ → B’ → C’ (elo)
Parte A’’→ B’’ → Casa 2 – Final
O arranjo foi criado de forma que a cada repetição da melodia principal, na parte A-B,
fossemos acrescentando outras linhas melódicas ampliando a instrumentação. Assim os
instrumentos vão se acrescentando e executando um elemento melódico novo a cada
repetição.
É fundamental que a prática da orquestra seja construída de forma progressiva, ou
seja, é preciso que cada componente perceba o movimento sonoro que a partitura estudada
está construindo. Os sinais de repetição, as convenções dirigidas pelo professor, os elementos
de teoria musicais devem ser continuamente reprisados, a interpretação e todos os elementos
devem ser cuidadosamente dirigidos de maneira que tudo esteja bem ajustado ao aprendizado
musical para uma melhor execução da peça. Essa pequena melodia foi se construindo dentro
de cada estudante e foi o ponto de partida para todos se perceberem juntos e capazes de
realizarem um grande trabalho.
Considerações finais
O resultado das aulas de percepção com a utilização da flauta doce como instrumento
facilitador da aprendizagem musical, foi profundamente satisfatório dado o crescimento dos
alunos na prática da leitura à primeira vista, no desempenho consciente na performance dos
seus instrumentos principais, no desenvolvimento da percepção e audição, escrevendo trechos
melódicos (exercícios) e rítmicos e compondo pequenos trechos de até 12 compassos para
dois instrumentos com consciência melódica e harmônica dos intervalos criados e executados.
A proposta desse trabalho que foi alcançada, também resultou na troca de experiências entre
os alunos e possibilitou além da criação da Orquestra Gema do CEEP em Música, onde
participam estudantes de todos os níveis e séries escolares do curso técnico de instrumento
musical, o surgimento de pequenos grupos instrumentais de variadas formações. A
colaboração entre os alunos na criação dos arranjos promoveu acima de tudo o espírito de
cooperação coletiva e o entendimento da importância de tocar e crescer musicalmente juntos.
REFERÊNCIAS
PENA, Maura. Música (s) e seu Ensino. Porto Alegre: Sulina, 2012.
Resumo
Este artigo descreve uma experiência estesiológica3 no contexto de um banquete elaborado por
discentes do curso técnico em Serviços de Restaurante e Bar4, no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Maranhão, no município de Barreirinhas5-MA. Referente aos estudos
fenomenológicos de Merleau-Ponty, apresentamos uma proposta pedagógica interdisciplinar baseada
na corporeidade e na experiência sensível, estética e cultural do aluno, importantes ao ser humano. A
fundamentação apoia-se numa abordagem qualitativa de caráter fenomenológico, portanto, descritiva,
bibliográfica, de campo e experiência vivida. A professora-pesquisadora utiliza, além da prática
docente, também os estudos de Nóbrega, Morin, Chacra, dentre outros, que refletem o processo
educativo e a relevância das Artes Cênicas e da Gastronomia para a aprendizagem do aluno. Os
registros foram realizados por meio de diário de bordo, relatórios, questionário, fotografias, vídeos e
observação participante. A pesquisa está em fase de conclusão com análise dos dados coletados, a fim
de alcançarmos os núcleos interpretativos que vão confirmá-la.
Palavras-chave: Artes Cênicas. Docência. Estesiologia.
Introdução
1
Professora de Arte do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFMA/Barreirinhas; mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Artes da UFMA (PROFARTES). E mail: fernanda.zaidan@ifma.edu.br.
2
Professor vinculado ao Mestrado Profissional em Artes-PROFARTES/UFMA. Integra-se ao quadro docente do
Departamento de Educação Física/UFMA. E mail: raimundo.viana@terra.com.br.
3
A estesiologia, compreendida como ciência dos sentidos (sensações físicas) e da sensibilidade (capacidade de
perceber as sensações), é um dos conceitos presentes na obra do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-
1961), que tenta elucidar, fundado na tradição fenomenológica de Husserl, a relação originária do homem com o
mundo (JAPIASSÚ; MARCONDES, 1996, p.179).
4
O Curso Técnico em Serviços de Restaurante e Bar, do Eixo Tecnológico Hospitalidade e Lazer, na forma
subsequente ao Ensino Médio, possui desenho curricular projetado em série/módulo. O curso totaliza
1.400horas/aula de 45 minutos, que transformadas em horas de 60 (sessenta) minutos, correspondem a 1.50
horas/aula, conforme Projeto Pedagógico do Curso, 2011, Barreirinhas – MA.
5
Barreirinhas, inicialmente Distrito, foi emancipada como município pela lei estadual de nº 45, de 29 de março
de 1938. Seu nome é devido às paredes de barro situadas às margens do rio Preguiças.
A experiência como docente em Arte, com habilitação em Artes Cênicas, teve início
em 2010, com aprovação em concurso público para a rede municipal de ensino em São Luís,
Maranhão. Foram cinco anos ministrando aulas para turmas do 6º ao 9º ano, abordando
conteúdo das quatro linguagens artísticas e atividades relacionadas ao desenvolvimento das
emoções e criatividade.
Em 2016, com a minha aprovação em concurso público para o cargo de professora de
Arte do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IFMA, na cidade
de Barreirinhas, um novo percurso começou a ser trilhado. Em meados de outubro, assumi
duas turmas de terceiro ano, nos Cursos Técnicos em Agenciamento de Viagens e
Agroecologia, no turno vespertino, na modalidade integrada, para os discentes que cursam o
Ensino Médio concomitante a formação profissional, e uma turma do Curso Técnico em
Cozinha, do Programa de Educação de Jovens e Adultos-PROEJA, no turno noturno, na
modalidade integrada, direcionado para pessoas fora da idade escolar regular e que têm
apenas o Ensino Fundamental.
No primeiro semestre de 2017, trabalhei nos cursos técnicos de Agroindústria e
Alimentos, vespertino, na modalidade integrado, com o componente curricular Arte I, e de
Serviços de Restaurante e Bar, noturno, na forma subsequente ao Ensino Médio, com o
componente curricular História, Arte e Cultura da Gastronomia. Sobre este último curso,
direcionamos nosso olhar investigativo no sentido de contribuir, a partir da formação em artes
cênicas, para o conhecimento dos discentes em Arte e Gastronomia.
As primeiras inquietações surgem a partir da verificação de como se encontra inserido
o conhecimento da Arte no IFMA. Como referencial para sua práxis educativa, o IFMA tem o
Projeto Pedagógico Institucional (PPI), de 2016, que articula as dimensões de Ensino,
Pesquisa e Extensão. Os pressupostos filosóficos, antropológicos e sociais que fundamentam
sua prática giram em torno de três esferas características do ser humano: a esfera da prática
social (sociedade), da prática produtiva (trabalho) e da prática simbolizadora.
O IFMA, segundo o PPI 2016, entende que deve prevalecer o sentido essencial da
educação formal e de sua relação com o trabalho, para o desenvolvimento humano, crítico e
emancipatório. O indivíduo, em constante transformação, é considerado em sua integralidade
Constatamos que na matriz curricular deste curso, há apenas a disciplina História, Arte
e Cultura da Gastronomia, com carga-horária de 40 horas, que aborda alguns conteúdos
artísticos, porém, somente das artes visuais. São eles: Principais características das diferentes
regiões do mundo e o contexto histórico em que se desenvolveram; A história da gastronomia
no Brasil e as influências das matrizes indígena, africana e europeia; Os hábitos culturais e a
relação com a evolução da gastronomia; Arte: importância e funções no contexto
gastronômico; Elementos das Artes Visuais para aplicação em composições de cozinha;
Noções básicas em Desenho: Espaço, Volume, Perspectiva, Composição; Noções sobre Cor:
primárias, secundárias e terciárias; A fotografia na cozinha: Noções básicas; projeto de
ambientes de gastronomia: noções em decoração.
Percebemos, claramente, o predomínio das artes visuais nas bases tecnológicas deste
curso, assim como um amplo leque desses conteúdos relacionados à gastronomia, dificultando
a sua plena ministração em um semestre letivo e o aprendizado dos alunos. Somente os
elementos das artes visuais não são suficientes para proporcionar uma aprendizagem que
envolva, interdisciplinarmente, áreas do conhecimento tão vastas, como a Arte e a
Gastronomia.
Em um contexto que envolve os serviços de restaurantes e bares, como os conteúdos
do curso em questão, podemos observar elementos que pertencem as quatro linguagens
artísticas: teatro, música, artes visuais e dança. No entanto, a falta de profissionais atuando
nessas quatro linguagens, de espaços adequados para as práticas artísticas fora da sala de aula
e de uma carga horária maior, que possibilite executar um trabalho mais eficaz, dificultam o
processo ensino-aprendizagem em Arte.
No Projeto Pedagógico do curso técnico em Serviços de Restaurante e Bar, com ênfase
na disciplina História, Arte e Cultura da Gastronomia, as competências previstas para o aluno
são: conhecer os hábitos culturais gastronômicos das diferentes sociedades ao longo dos
diversos períodos históricos e compreender a arte como elemento de suporte ao profissional
de gastronomia, partindo de observações e estudos de conceitos básicos em Artes e
Decoração.
Dessa maneira, considerando a Gastronomia como uma experiência de sentidos e, as
artes cênicas, por excelência, uma experiência corporal, portanto sensível, é que nos
6
O filme ocorre no ano de 1671, no norte da França, onde o Príncipe de Condé (Julian Glover), nobre general
francês, enterrado em dívidas, planeja uma solução para fazer com que não só ele mas toda a província fique
livre das dívidas, ao decidir convidar o rei Luís XIV (Julian Sands), que vive em Versailles para passar um final
de semana recheado de iguarias e entretenimento. François Vatel (Gerárd Depardieu), cozinheiro e mestre de
cerimônias do Príncipe Condé, é o único homem capaz de preparar um banquete suntuoso e ainda cuidar da
diversão real. Além de inspiradíssimo conhecedor das artes culinárias, é também um criativo aliado para a
que um banquete é uma representação social e cultural humana, estando presente nas mais
remotas civilizações desde que o ser humano começou a se alimentar em comunidade. O
festim ou banquete são rituais sociais criados pelo homem para ganhar a proteção e favores
dos deuses, assim como uma forma de encontrar prazer e diversão, em face às preocupações e
monotonia cotidianas. Ele corresponde a um evento em que os modos de expressão, como a
culinária, o teatro, as artes visuais, a música, a poesia, podem ser mostrados e
experimentados, provocando sensações, lembranças, desejos, estupor ou estranhamento.
Segundo Francastel:
preparação de espetáculos artísticos que deveriam entreter os ilustríssimos visitantes”. Disponível em:
<www.teste.planetaeducação.com.br/cinema> e <www.adorocinema.com> Acesso em: 05.08.2017.
7
Criador da fenomenologia, Husserl nasceu em Prosznitz, na Morávia (atual República Checa), tendo estudado
matemática e filosofia nas Universidades de Leipzig, Berlim e Viena, onde sofreu a influência de Brentano. Foi
professor nas Universidades de Halle (1887), Göttingen (1906) e Freiburg (1938). Sua obra “Ideias para uma
fenomenologia pura e uma filosofia fenomenológica”, de 1913, propõe a fenomenologia como uma investigação
sistemática da consciência e de seus objetos. Para ele, os objetos se definem precisamente como correlatos dos
estados mentais, não havendo distinção possível entre aquilo que é percebido e nossa percepção. A experiência
inclui, entretanto, não só a percepção sensorial, mas todo objeto do pensamento. (JAPIASSÚ; MARCONDES,
1996, p.133).
REFERÊNCIAS
AROUCA, Carlos Augusto Cabral. Arte na escola: como estimular um olhar curioso nos
alunos dos anos finais do ensino fundamental. São Paulo: Editora Anzol, 2012.
BARBOSA, Ana Mae. A imagem do ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São
Paulo: Perspectiva. Porto Alegre: Fundação IOCHPE, 1991.
JOFFÉ, Roland. Vatel: um banquete para o rei. França/Inglaterra. 2000. Estúdio: Gaumont
/ Le Studio Canal+ / TF1 Films Productions (filme). 117 min. son. color.
<https://www.youtube.com/watch?v=5IrEKE93dxU>
LIMA, Analwik Tatielle Pereira de. Alimento como metáfora, metáfora como alimento: a
arte de nutrir uma educação complexa. Natal, 2008. Dissertação (Mestrado em Educação).
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez,
2000.
---------. Uma fenomenologia do corpo. – São Paulo: Editora Livraria da Física, 2010.
VIRGOLIM et al. Toc, toc...plim, plim!: Lidando com as emoções, brincando com o
pensamento através da criatividade. 11. ed. Campinas, SP: Papirus, 1999.
Resumo
Esse artigo, pretende abordar questões sobre a poética e a autoria nas aulas de Artes Visuais. Ao
compreendermos a heterogeneidade e as peculiaridades de nossos alunos, entenderemos melhor de
quem e para quem estamos falando, deixando-os mais livres à experiência estética e ao processo
criativo. Ao sensibilizar nossos alunos a perceber o mundo e a se perceber pertencente a ele, como um
ser humano pensante e participante, a experiência estética ganha sentido e o processo criativo do aluno
acontece, contribuindo para sua busca e experimentação de trabalhos com autoria.
Palavras chaves: Ensino de Arte. Experiência Estética. Processos Criativos.
Introdução
“isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além.”
- Paulo Leminski
Todo ser humano tem consigo sua história, suas vivências, sua cultura, seus gostos e
acima de tudo, suas particularidades. É isso que o difere dos demais e o identifica. Como
seres humanos, somos feitos dessas identificações e a partir dela, sentimos a necessidade de
ser, como Paulo Leminski (2013) diz, em seu poema: “exatamente aquilo que a gente é”,
como ser, presente e participante do mundo, inclusive estética e artisticamente.
Essa necessidade de identificação, muitas vezes, nos convida a observar o mundo com
um outro olhar: um olhar que busca, que interroga, que questiona e comtempla.
1
Acadêmica do 8º semestre do curso de Artes Visuais Licenciatura da Faculdade de Artes, Letras e
Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. E-mail: acsandim@gmail.com
2
Mestre em Educação pela UFMS. Professora adjunta no curso de Artes Visuais Licenciatura da Faculdade de
Artes, Letras e Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. Coordenadora do Polo
Arte na Escola/UFMS. Membro do Grupo Núcleo de Investigação de Fenomenologia em Artes –
NINFA/UFMS. E-mail: celene.nessimian@hotmail.com
Se isso é nosso, ou seja, é comum a todo ser, por que a escola não desperta e/ou aguça
esse olhar nos alunos? Como podemos, como professores, despertá-los para a experiência
estética? Como a experiência estética contribui para o processo criativo? E esse percurso é
relevante para o desenvolvimento de um trabalho de autoral3?
3
Nesse contexto, a palavra autoria tem significância de produto único e pessoal, que representa a identidade de
quem o fez. Segundo Irati Antônio (1998, p. 190), autoria significa, “obra ou a produção intelectual e artística”
que “é única, original, íntegra e permanente”
Da mesma forma que, como professores de arte, devemos nos atentar em desenvolver
em nossos alunos um olhar sensível. Segundo Martins (2009), a questão da sensibilidade do
olhar está ligada ao despertar do senso estético e da estesia4. Quando o aluno consegue ter
estesia ele fica perceptível aos estímulos. O aluno fica sensível para os sinais enviados pelo
cotidiano, que antes passavam despercebidos. Martins (2009, p. 24) exemplifica essa questão,
a partir de nossa relação com a obra de arte:
No encontro entre a obra e nós, no diálogo entre sensibilidades, é que somos
ressensibilizados para sentir e perceber o mundo. Sentimento e percepção que nos
conduzem à cognição, à interpretação, e à busca de sentido em nós e no mundo,
quando nos deixamos capturar pela obra e deixamos de lado o “ser uma lebre
morta5”.
4
“Tal termo apresenta-se hoje em aliança com a palavra estética, tendo origem no grego aisthesis, que significa
basicamente a capacidade sensível do ser humano para perceber e organizar os estímulos que lhe alcançam o
corpo. Para além das questões ligadas à experiência estética, a estesia diz mais de nossa sensibilidade geral, de
nossa prontidão para apreender os sinais emitidos pelas coisas e por nós mesmos. Seu contrário, a “anestesia”, é
a negação do sensível, a impossibilidade ou incapacidade de sentir”. (MARTINS, 2009. P. 23)
5
“Como explicar quadros a uma lebre morta, de 1965, performance realizada na Galerie Schlema,
Düsseldorf, e documentada por fotografias, o artista assumiu um papel essencialmente xamânico: com a cabeça
coberta de pó de ouro e mel, e uma barra de ferro atada aos pés, passou três horas acalentando uma lebre morta,
sussurrando ao ouvido do animal ruídos guturais misturados a explicações mais articuladas dos desenhos a seu
redor. O público era excluído da cena, podendo observar a performance através de janelas. Com sua cabeça
besuntada de mel e coberta com ouro em folha, Beuys ficava sentado, falando com a lebre morta em seu colo –
uma forma de explicar que as lebres compreendem o mundo melhor que os humanos”. (BORTULUCCE, 2013,
p.414)
Não podemos ignorar, dessa forma, a experiência estética nas aulas de arte, uma vez
que ela é uma importante aliada no processo de desenvolvimento de uma poética pessoal e de
um trabalho autoral.
Fig. 1. Vênus de Willendorf. Calcário Oolítico. Criado entre 24 000 e 22 000 a.C. Descoberta na Áustria, em
Willendorf. Exposta atualmente na Áustria, no Museu de História Natural de Viena.
6
Para o minidicionário da língua portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 2008, p.811, significa:
“Mulher de belas formas”.
Fig. 2. Vênus de Milo, c. 200 a.c. Mármore, altura 202 cm; Louvre Paris.
Fonte: GOMBRICH, E. H. A história da Arte; tradução Álvaro Cabral.-[Reimpr.]. –Rio de Janeiro: LTC, 2012.
Já, “O nascimento da Vênus” (figura 3) é uma obra Florentina e nesse período, a visão
de beleza da mulher era a de um ser divino. Além disso, essa obra mostra a fusão do
cristianismo com a mitologia, uma vez que a Vênus, nesse sentido, é pura, cobre seus seios e
Fig. 3.Sandro Botticelli. O nascimento da Vênus. Têmpera sobre tela. 172.5 × 278.5. Galleria degli Uffizi,
Florença.
Fonte: GOMBRICH, E. H. A história da Arte; tradução Álvaro Cabral.-[Reimpr.]. –Rio de Janeiro: LTC, 2012.
A “Vênus de Velasquez” (figura 4) é uma típica obra Renascentista que retrata a mulher
desse período. Há uma valorização do corpo feminino, mas um corpo que era o padrão da
época. Segundo BRAGA (2013, p. 60), “A beleza feminina ganha uma estética luxuosa,
animada por composições que ressaltam o lirismo e a volúpia numa atmosfera de
sensualidade e prazer”. Além disso, há uma valorização de si na obra, quando a Vênus
aparece se contemplando no espelho. Nesse período, vemos a ascensão da mulher; mas, de
uma mulher específica, com um corpo específico, uma beleza específica.
Fig. 4. Diego Velázquez. Vênus ao espelho. 1647-51. Óleo sobre tela. 142 x 177.
Por fim, a Mulher retratada por Lucian Freud (figura 5) destaca-se por ser uma mulher
diferente dos parâmetros apresentados e, historicamente, é muito importante, pois demostra o
caráter da arte atual: o de questionar o belo. Ele põe um corpo que é considerado por muitos
da sociedade de massa como “não ideal” e, protagoniza, mostrando que o gosto é relativo e
que a beleza considerada ditatorial é apenas uma visão diante de muitas. Uma visão que não
considera as multiplicidades dos seres. Trata-se de uma obra que promove um amplo
exercício estético.
Fig. 5. Lucian Freud, Benefits Supervisor Sleeping, Óleo sobre tela. 1995. 151, 3 cm X 219 cm. Coleção
privada © The Lucian Freud Archive. Photo: Courtesy Lucian Freud Archive.
O que todas essas obras têm em Comum, além de retratarem as Vênus e revelarem
sinais da referência de corpo no espaço-tempo de cada uma? Ao analisarmos essas obras no
campo do Belo, podemos prever ações diferenciadas quanto á sua apreciação no espaço
escolar. Nesse sentido, a obra de Lucian Freud é extremamente importante, pois retrata um
corpo que muitas vezes é excluído do gosto e do sentido de beleza atual, oportunizando outras
facetas de experiência estética e de questionamentos a partir, muitas vezes, do estranhamento.
Ao ver esse comparativo de imagens, percebemos que a beleza é plural e está
correlacionada ao conceito de gosto que também é histórico. Ou seja, o gosto é algo particular
e que, ao mesmo tempo é coletivo, uma vez pode ser reproduzido pela cultura de massa,
Entende-se, então, que a estética abarca um conjunto de significados que uma obra
possui. Significados esses que revelam muito do artista que os produziu, a partir de suas
vivências, referências, bagagens e preferências.
Nesse sentido, podemos salientar sobre a importância do repertório nesse contexto. No
caso do ambiente escolar, em que estão inseridos alunos e professores, ampliar esse repertório
enriquece a ambos, uma vez que podem somar suas experiências às teorias artísticas e
alimentar seus processos poéticos e criativos.
Além do que, ampliamos esse repertório, estamos contribuindo para uma formação
para além do contexto escolar; é uma educação para vida. Essas contribuições estarão na
bagagem conhecedora de cada um e uma vez estando lá, permanecerão, pois possuem
significado e sentido. Segundo Pareyson, (1989, p. 85):
A arte não transmite significados, mas exprime sentidos. Sentidos não conceituáveis
e irredutíveis a palavras. A arte abre-me um campo de sentido por onde vagueiam os
meus sentimentos, encontrando ali novas e múltiplas maneiras de ser.
Talvez, essa tarefa seja uma das mais difíceis, mas que está longe de ser impossível
para os professores, em geral. Não estamos formando seres para pensar como nós, estética ou
artisticamente. Estamos formando seres humanos para serem capazes de definir e escolher o
que é significativo para eles. Conforme Lowenfeld e Brittain (1977, p. 398), a experiência
estética não está apenas no campo das artes, mas também está na ”integração mais intensa e
profunda do pensamento, do sentimento e da percepção. Pode assim, suscitar maior
sensibilidade em face da existência e todavia, converter-se no objeto principal da educação”.
Portanto, a experiência estética vai além da própria arte, ela é para a vida.
A significação do processo criativo de quem o faz é um dos atos mais importantes que
ele possui. Pois, ao criar, o aluno significa ou ressignifica algo. Para Duarte Jr. (1981, p. 89),
o pensamento criador: “nutre-se fundamentalmente dos significados sentidos, isto é, daquelas
experiências não simbolizadas, encontrando-lhes conexões que, posteriormente, são
transformadas em símbolos (verbais, lógicos ou artísticos) ”. Vale ressaltar então, que a
criatividade não vem de uma mera inspiração, mas de muito trabalho e pesquisa, que
associado a experiência estética e ao repertório propicia a ato criativo.
O ser criativo, então, possuidor de um repertorio amplo e rico de bagagens culturais,
sociais, artísticas e históricas e as usa a seu favor. Por essa razão, a criatividade também é em
um primeiro momento algo particular. Segundo Fayga Ostrower (1990, p. 252):
Kehwald (2012) também nos faz refletir sobre os atos criativos de nossos alunos,
através de três proposições: a fluência, a flexibilidade e a singularidade. No contexto da
fluência é preciso que criemos um ambiente escolar em que o aluno se sinta à vontade para
expor suas ideias, para criar. No âmbito da flexibilidade (que caminha junto com a fluência),
o aluno terá voz, mas também terá que compreender que quando o professor propõe para que
ele trabalhe em grupo, ele deve ter o entendimento de que pertence a um grupo, e que todas as
ideias serão expostas, analisadas e decidas nele, e que talvez suas ideias não sejam usadas
naquele momento. E, por fim a singularidade aparece, justamente, nesse processo, no surgir
dessas ideias inovadoras e criativas.
Considerações finais:
Sendo assim, procuramos ter fortalecido a relevância da experiência estética, do
processo criativo - que abrange a história da arte, as técnicas utilizadas pelos artistas e as
vivências com diferentes materiais - e a questão da individualidade dos alunos para
desenvolvimento do ensino de Arte nas escolas.
Afinal, sabemos que o processo artístico, criativo, poético e estético se dá a partir de
formas complexas de aprendizagem e, não, de forma automática como muitos pensam. Por
isso, é e sempre será muito desafiadora.
Referências Bibliográficas:
Resumo
Este artigo tem por objetivo compartilhar acerca da trajetória acadêmica de uma aluna do Curso de
Bacharelado e Licenciatura em Artes/Dança da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Suas
experiências de aprofundamento apontam um caminho trilhado com enfoque na formação docente
desde o início de sua graduação. A participação por 14 meses como bolsista do Subprojeto Dança,
parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) que culminou na atual
pesquisa de Iniciação Científica intitulada “O Professor-artista-pesquisador e o Processo Criativo em
Dança com Crianças”, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp), são alguns componentes importantes desta trajetória. Neste percurso, em constante parceria
com sua orientadora, aluna e docente puderam investigar sobre questões relevantes no que tange à
Licenciatura e ao ensino de Arte, mais precisamente nos anos iniciais do Ensino Formal Público.
Temáticas como a Sociologia da Infância, a Antropologia da Criança, o Processo Criativo em Dança, a
interdisciplinaridade, as relações educativas são importantes focos de seu estudo. Assim, tendo o
desenvolvimento de um processo de criação em dança com crianças pertencentes ao ensino formal
público como eixo prático desse caminhar, busca-se o aprofundamento em reflexões, estratégias e
metodologias que perpassam a relação professor-aluno, levando-se em consideração o universo lúdico-
imagético da criança e o trânsito entre singularidades/coletividades, parte fundante da criação cênica
em enfoque na atualidade.
Palavras-chave: Dança e ensino. Trajetória acadêmica. Processo criativo.
Introdução
1
Graduanda do 6° semestre do Curso de Bacharelado e Licenciatura em Dança (Universidade Estadual de
Campinas – Unicamp). Atualmente, é bolsista de Iniciação Científica financiada pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e atua como voluntária do Subprojeto Pibid Dança auxiliando a
coordenação de área.
2
Doutora em Artes pela Unicamp. Graduada em Pedagogia (PUC/SP) e em Artes Integradas (Concordia
University/Canada). Docente e coordenadora do Curso de Dança da Unicamp (Departamento de Artes Corporais
– Instituto de Artes). É pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena, sendo um de seus
projetos de pesquisa “A Dança e seu Ensino”.
Ensino da Dança I e II. Este foi o momento em que vivenciei na prática um pouco de sua
pesquisa de doutorado, “Expressividade Cênica pelo Fluxo Percepção/Ação: O Sistema
Laban/Bartenieff no desenvolvimento somático e na criação em dança” (LAMBERT, 2010),
experenciando conceitos, reflexões e proposições que futuramente seriam meu alicerce no
fazer escolar: a relação interno e externo, a consciência espacial, a respiração, o toque, a
cinestesia, entre outros. Em outras palavras, a conexão entre os conteúdos apresentados e
vivenciados com as estratégias utilizadas pela professora se tornou um exemplo para mim,
recém universitária, que me auxiliaram na compreensão de noções básicas sobre a docência e
me estimularam a querer investigar mais este universo poético.
tempo que essa inserção me permitiu vivenciar as dificuldades e indagações que a prática
docente pode gerar, o projeto também me deu suporte a partir das reuniões semanais de
supervisão e orientação, as quais foram fundamentais para ampliar as discussões e reflexões
acerca de temáticas importantes para a formação do docente.
Nos meses iniciais, os materiais teóricos estudados foram de extrema importância
como fonte de referência, pois mostraram, de uma maneira eficaz e saudável, caminhos para
se refletir o ensino das artes – apontando estratégias para a organização de conteúdos e
construção da relação professor-aluno. Entrei em contato com obras como: Dança educativa
Moderna (LABAN, 1990), referência reconhecida no ensino de artes da cena e “Creative
Dance for All Ages: a conceptual approach” (GILBERT, 2015), material didático que
desenvolve estratégias metodológicas acerca de ações práticas de ensino da dança.
contemporânea? Que dança é essa que está sendo inserida no contexto escolar? Lambert
(2010) elenca alguns pontos sobre sua caracterização pautados nos pensamentos de Louppe
(2004), os quais vão ao encontro da minha vivência como artista da cena na atualidade. A
dança contemporânea é uma dança que se faz no hoje, no agora; é composta por “um corpo
que se permite reinventar artisticamente diante da fragmentação contextual do momento
presente” (LAMBERT, 2010, p.38). Além disso, preza por novas relações com o espaço e
com o público, e acima de tudo valoriza a existência de um intérprete-criador, aquele que
possui materiais corporais resultantes de sua própria experiência de vida aliados à técnicas,
métodos e abordagens de dança. Segundo Louppe (2004, p.13),
Atrelado a isso, o contato que tive com o artigo “A Criança é Performer” de Marina
Marcondes Machado (2010) me instigou a aprofundar meus estudos e foi assim que a minha
participação no Pibid se desdobrou em uma Iniciação Científica financiada pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e orientada pela Prof.ª Dr.ª Marisa
Lambert. Denomino esta nova fase de pesquisa como um aprofundamento, pois procuro
respostas para questões que surgiram a partir do primeiro fazer escolar que experenciei.
Assim, este novo estudo interliga prática e teoria a respeito do processo criativo em
dança no ensino formal público, mais precisamente com os anos iniciais da educação básica.
Sob a ótica da criação em dança, busco compreender e refletir sobre questões que atravessam
a relação professor-aluno, enfocando o tema singularidades e coletividades que, no contexto
contemporâneo, emerge discussões acerca da alteridade, da ressignificação e conectividade
entre o sujeito, o outro e o mundo, levantando indagações sobre a relação arte e vida.
Objetivo, também, estabelecer uma ligação com reflexões acerca do período da infância, da
criança como sujeito de ação e investigar a construção da sua corporalidade.
Retomando Machado (2010), o artigo acima citado trata a infância como uma fase rica
em conhecimento por si só e enxerga a criança como um ser potencialmente mais aberto e
sensível para o mundo externo e altamente capacitado a interpretá-lo segundo seus
referenciais. A autora reconhece que as ressonâncias da cultura, da genética, dos
acontecimentos diários e dos costumes se fazem presentes na interação da criança com o
mundo. Surge assim, a noção de corporalidade, definição que não reconhece as relações da
infância a partir de uma dicotomia “corpo-outro” e “corpo-mundo”, mas sim com base em
uma ideia de “tripé corpo-mundo-outro” (MACHADO, 2010, p. 125).
Contextualizando para o ambiente escolar e focalizando no objeto de estudo dessa
trajetória acadêmica, transporto o “tripé corpo-mundo-outro” para a relação professor-aluno,
exemplificada por Machado (2010) como relação “performer-receptor” (p.130). Partindo
deste princípio, permaneço experenciando uma prática a qual o docente ocupa o lugar de
recepção da criação de seus alunos, os acolhendo e observando, ao mesmo tempo que almejo
partilhar momentos de criação coletiva, sendo o performer da ação, e/ou “mediador da
experiência” (ANDRADE, 2016, p.180), sempre reafirmando a cumplicidade das partes
durante o processo ou ato performativo. São os conceitos de alteridade, escuta e percepção
sensível (LAMBERT, 2016b) aqui presentes que acredito nortearem esta relação.
Denise Sant’Anna (2001) no capítulo “Passagens para condutas éticas na vida
cotidiana” parte da obra “Corpos de Passagem: ensaios sobre a subjetividade
contemporânea” expõe duas formas de se relacionar: aquela pautada pela dominação, uma
relação vertical, em que há a valorização de um sujeito em detrimento de outro, e aquela
pautada pela ética, isto é, uma relação horizontal que procura “estabelecer uma composição na
qual os seres envolvidos se mantêm singulares, diferentes, do começo ao fim da relação: a
composição entre eles realça tais diferenças sem, contudo, degradar qualquer uma delas em
proveito de outras” (SANT’ANNA, 2001, p. 95).
É este tipo de relação, pautada na horizontalidade, que desejo continuar explorando em
minha prática docente, pois acredito que ela seja potencializadora de um modo mais ético de
criações em dança no ambiente escolar. Dessa forma, trazendo a definição da autora para a
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ANDRADE, C. R. de. Dança para criança: uma proposta para o ensino de dança voltada
para a educação infantil. 2016.309f. Tese (Doutorado em Artes) – Instituto de Artes,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho, São Paulo. 2016.
BONAMIN, A. Somar para criar brincando. IN: LENGOS, G. (Org.). Põe o dedo aqui:
reflexões sobre dança contemporânea para crianças. São Paulo: Terceira Margem, 2007, p.
103-9.
GILBERT, A. G. Creative dance for all ages: a conceptual approach. 2. ed. Champaign, Il:
Human Kinetics, 2015. 365 p.
LABAN, R. von. Dança Educativa Moderna. Tradução Maria Conceição Parahyba Campos.
São Paulo: Ícone Editora, 1990.
SABIONI, A. R.. O Pibid Dança e a criança com deficiência física. In: Guilherme do Val
Toledo Prado; Eliana Ayoub; Elaine Prodócimo;. (Org.). Narrando cotidianos e histórias.
1ed.Campinas, SP: Leitura Crítica, 2017, v. 7, p. 50-52.
Resumo
Neste artigo, apresento parte da minha pesquisa sobre formação estética docente, desenvolvida no
percurso do doutoramento no PPGAV/UDESC (2015-2019). O objetivo desta proposta de formação
foi, primeiro, desenvolver a partir de fundamentos filosóficos da arte como experiência, uma prática-
estético-artística no percurso formativo de estudantes de Licenciaturas e professores. Neste texto,
apresento alguns elementos dos pressupostos teórico-práticos que compuseram o Curso de Formação
Estética Docente no espaço do ateliê de pintura, ancorados em filósofos como John Dewey (1859-
1952) e Maxine Greene (1917-2014) e na prática da colagem enquanto técnica e conceito artístico.
Palavras-chave: Formação estética docente. Arte como experiência. Experiência estética. Colagem.
John Dewey foi o filósofo responsável por recolocar a Arte em uma dinâmica
experiencial e junto à vida, como também foi precursor em trazer para o campo pragmatista
reflexões sobre Estética. Segundo seu pensamento, a Estética é essencial à filosofia.
O foco do projeto da Formação Estética Docente estava em exercitar a inteligência a
partir do fazer/sentir/pensar Artes Visuais, como reagimos quando nos damos conta de que
estamos praticando a nossa experiência estética para (re)pensar a pratica docente? Qual o
efeito de uma prática estético-artística sobre a prática docente?
Para uma aproximação das noções da Arte como experiência, há que explorar um
saber experimental - um saber fazer. Para Dewey, o saber fazer motiva o ser de forma
singular, propiciando experiências a partir das coisas mesmas; oferecendo um contato direto
1
Este texto possui extratos do artigo apresentado no 26o. Encontro Nacional da ANPAP, realizado entre os dias
25 a 29