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EJA – ETAPA 1

Profº EDUARDO ADIRBAL ROSA 1

Como se desenvolveu este mundo? Porque são as nossas condições de vida tão
diferentes das dos nossos pais e avós? Que rumo tomarão no futuro os
processos de mudança?

A IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA
O QUE SIGNIFICA SOCIALMENTE “TOMAR UMA XÍCARA DE CAFÉ”2
A imaginação sociológica implica, acima de tudo, abstrairmo-nos das rotinas familiares da vida cotidiana de
maneira a poder olhá-las de forma diferente. Tenha-se em consideração o simples ato de beber uma chávena de café. O
que há a dizer, do ponto de vista sociológico, acerca de um comportamento aparentemente tão desinteressante? Imenso.
Podemos começar por notar que o café não é meramente uma bebida. Enquanto parte das nossas atividades
sociais quotidianas possui um valor simbólico. O ritual associado ao ato de tomar café é frequentemente muito mais
importante do que o consumo de café propriamente dito. Duas pessoas que combinam encontrar-se para tomar café
estarão provavelmente mais interessadas em estarem juntas e conversarem do que em beber, de fato, café. Em todas as
sociedades, na realidade, beber e comer proporcionam ocasiões para a interação social e o desempenho de rituais - e tal
fornece temáticas ricas para o estudo sociológico.
Em segundo lugar, o café é uma droga, pois contém cafeína, que exerce no cérebro um efeito estimulante. Os
adictos em café não são vistos pela maioria das pessoas no Ocidente como consumidores de droga. O café, tal como o
álcool, é uma droga socialmente aceitável, enquanto a marijuana, por exemplo, não o é. No entanto, há sociedades que
permitem o consumo de marijuana e mesmo de cocaína, mas desaprovam tanto o café como o álcool. Os sociólogos
estão interessados nas razões pelas quais estes contrastes existem.
Em terceiro lugar, um indivíduo que bebe uma chávena de café está envolvido numa complicada rede de
relações sociais e econômicas de dimensão internacional. O café é um produto que liga as pessoas de algumas das
partes mais ricas e mais pobres do planeta: é consumido em grande quantidade nos países ricos, mas cultivado
fundamentalmente nos pobres. Depois do petróleo, o café é a mercadoria mais valiosa do comércio internacional,
representando a principal exportação de muitos países. A produção, transporte e distribuição do café implicam
transações constantes que envolvem pessoas a milhares de quilômetros dos consumidores. Estudar estas transações
globais é uma tarefa importante da Sociologia, na medida em que muitos aspectos das nossas vidas são hoje afetados por
influências sociais e comunicações a nível mundial.
Em quarto lugar, o ato de beber uma chávena de café pressupõe todo um processo de desenvolvimento
social e econômico passado. Com outros artigos hoje familiares nas dietas ocidentais - como o chá, as bananas, as
batatas e o açúcar - o café tornou-se um produto de consumo generalizado somente nos finais do século XIX. Embora
seja uma bebida originária do Médio Oriente, o seu consumo maciço data do período da expansão colonial ocidental, há
cerca de um século e meio atrás. Praticamente todo o café que se bebe nos países ocidentais provém de áreas (América
do Sul e África) colonizadas pelos europeus; não é, de maneira nenhuma, um elemento “natural” da dieta ocidental. A
herança colonial teve um impacto enorme sobre o desenvolvimento do comércio mundial de café.
Em quinto lugar, o café é um produto que está no centro do debate atual em torno da globalização, do
comércio mundial, dos direitos humanos e da destruição ambiental. À medida que o café aumentou a sua
popularidade, tomou-se um produto politizado e um assunto de marketing: as escolhas dos consumidores sobre que tipo
de café beber e onde comprar tomaram-se opções de estilo de vida. As pessoas podem escolher beber apenas café
orgânico, café descafeinado naturalmente ou café comerciado a preços “justos” (através de esquemas que pagam o total
do preço de mercado a pequenos produtores de café em países em vias de desenvolvimento). Podem optar por apoiar
cafeterias “independentes”, em vez das cadeias internacionais de cafeterias como a “Starbucks”. Os consumidores de
café podem decidir boicotar café proveniente de determinados países onde haja pouco respeito pelos direitos humanos e
o ambiente natural. Para os sociólogos, é interessante perceber de que forma a globalização aumenta a consciência das
pessoas acerca de questões que se passam em pontos remotos do planeta, incentivando-as a atuar no dia a dia em função
desse novo conhecimento.

1
PARA DÚVIDAS: e-mail: duduadirbal@hotmail.com
2
Excerto extraído de: GIDDENS, Anthony. Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008, p. 2-4.
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O QUE É SOCIOLOGIA E QUAL A IMPORTÂNCIA DE SEU ESTUDO

A IMPORTÂNCIA DA SOCIOLOGIA 3
Sociologia é o estudo do comportamento social das interações e organizações humanas. Na realidade, todos
nós somos sociólogos porque você e eu estamos sempre realizando nossos comportamentos e nossas experiências
interpessoais em situações organizadas. O objetivo da Sociologia é tornar essas compreensões cotidianas da sociedade
mais sistemáticas e precisas, à medida que suas percepções vão além de nossas experiências pessoais. Pois somos
simplesmente pequenos jogadores num mundo imenso e complexo com pessoas, símbolos e estruturas sociais, e
somente ampliando nossa perspectiva além do “aqui e agora” é que podemos perceber as causas que moldam e limitam
nossas vidas.
A ênfase na limitação choca-se com as crenças pessoais de indivíduos que gostam de se ver como inflexíveis, que
usam seu livre-arbítrio e iniciativa para moldar seu destino. Até certo ponto, nós todos podemos fazer isso, mas nem
sempre estamos livres de restrições. Agimos num meio social que influencia profundamente nossa maneira de sentir e ser
em relação a nós mesmos e ao mundo que nos cerca, como nos vemos e percebemos os acontecimentos, como agimos e
pensamos, e onde e a que distância podemos ir na vida. Às vezes, a limitação é obvia, até mesmo opressiva e
enfraquecedora, muito frequentemente é sutil e até mesmo despercebida. Entretanto, ela está constantemente moldando
nossos pensamentos, sentimentos e ações. [...]
A Sociologia examina essas limitações e, como tal, é uma área muito ampla, pois estuda todos os símbolos
culturais que os seres humanos criam e usam para interagir e organizar a sociedade, ela explora todas as estruturas sociais
que ditam a vida social, examina todos os processos sociais, tais como desvio, crime, divergência, conflitos, migrações
e movimentos sociais, que fluem através da ordem estabelecida socialmente, e busca entender as transformações que
esses processos provocam na cultura e estrutura social.
Em tempos de mudança, em que a cultura e a estrutura estão atravessando transformações dramáticas, a
Sociologia torna-se especialmente importante. Como a velha maneira de fazer as coisas se transforma, as vidas pessoais
são interrompidas e, como consequência, as pessoas buscam respostas para o fato de as rotinas e fórmulas do passado não
funcionarem mais. (...) Enquanto a vida social e as rotinas diárias se tornam mais ativas, a percepção sociológica não é
completamente necessária. Mas, quando a estrutura básica da sociedade e da cultura muda, as pessoas buscam o
conhecimento sociológico. Isso não é verdade apenas hoje – foi a razão principal de a sociologia surgir em primeiro plano
como uma disciplina diferente nas primeiras décadas do século XIX.

BONS MOTIVOS PARA ESTUDAR SOCIOLOGIA


Consciência de diferenças culturais Avaliação dos efeitos das políticas Auto consciencialização
Em primeiro lugar, a Sociologia A pesquisa sociológica fornece uma A Sociologia pode permitir-nos uma
permite que olhemos para o mundo ajuda prática na avaliação dos auto consciencialização - uma auto
social a partir de muitos pontos de resultados de iniciativas políticas. compreensão cada vez maior. Quanto
vista. Muito frequentemente, se Um programa de reformas práticas mais sabemos acerca das razões pelas
compreendermos corretamente o pode simplesmente falhar a quais agimos como agimos e como
modo como os outros vivem, consecução dos objetivos que os seus funciona, de uma forma global, a
adquirimos igualmente uma melhor autores pretendiam, ou produzir nossa sociedade, tanto mais provável
compreensão dos seus problemas. consequências não intencionais de é que sejamos capazes de influenciar
cariz prejudicial. o nosso futuro.

O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
O desenvolvimento do pensamento sociológico4
Nós, os seres humanos, sempre sentimos curiosidade pelas razões do nosso próprio comportamento, mas
durante milhares de anos as tentativas de nos entendermos dependeram de formas de pensar transmitidas de
geração em geração. Estas ideias eram expressas frequentemente em termos religiosos, ou em mitos bem conhecidos,
superstições ou crenças tradicionais. O estudo objetivo e sistemático da sociedade e do comportamento humano é
uma coisa relativamente recente, cujos inícios remontam aos finais do século XVIII. Um desenvolvimento-chave
foi o uso da ciência para se compreender o mundo - a emergência de uma abordagem científica teve como

3
Excerto extraído de: TURNER, Jonathan H. Sociologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makron Books, 1999, p. 2-3.
4
GIDDENS, A. Sociologia. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2008. P. 6-7.
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consequência uma mudança radical nas formas de ver e entender as coisas. As explicações tradicionais baseadas na
religião foram suplantadas, em sucessivas esferas, por tentativas de conhecimento racional e crítico.
Tal como a Física, a Química, a Biologia e outras disciplinas, a Sociologia surgiu como parte deste
importante processo intelectual. As origens da disciplina inserem-se no contexto de uma série de mudanças radicais
introduzidas pelas «duas grandes revoluções» da Europa dos séculos XVIII e XIX. Estes acontecimentos
profundos transformaram irreversivelmente o modo de vida que os seres humanos levavam há milhares de anos. A
Revolução Francesa de 1789 representou o triunfo das ideias e valores seculares, como a liberdade e a igualdade,
sobre a ordem social tradicional. Foi o início de um movimento dinâmico e intenso que a partir de então se
espalhou pelo globo, tornando-se algo inerente ao mundo moderno. A segunda grande revolução teve início na Grã-
Bretanha em finais do século XVIII, antes de se verificar noutros locais da Europa, na América do Norte e
noutros continentes. Ficou conhecida como Revolução Industrial - o conjunto amplo de transformações
económicas e sociais que acompanharam o surgimento de novos avanços tecnológicos como a máquina a vapor e
a mecanização. O surgimento da indústria conduziu a uma migração em grande escala de camponeses, que
deixaram as suas terras e se transformaram em trabalhadores industriais em fábricas, o que causou uma rápida
expansão das áreas urbanas e introduziu novas formas de relacionamento social. A Revolução Industrial mudou de
forma dramática a face do mundo social, incluindo muitos dos nossos hábitos pessoais. A maior parte da comida que
ingerimos e das bebidas que tomamos - o café, por exemplo - são hoje em dia produzidos através de meios
industriais.
Revolução Industrial5.
(...) é importante
entender que ela alterou
profundamente as
relações sociais e
econômicas vigentes na
época. Em lugar da
tradicional economia
agrária, consolidou-se
uma realidade cada vez
mais urbanizada, com o
aumento da população
nas cidades e o rápido
desenvolvimento do
comércio e da
industrialização. Surgiu
também a mão de obra
barata e abundante,
formada principalmente
por camponeses expulsos
do campo, que foi
submetida a condições
de trabalho insalubres e
jornadas exaustivas.

Revolução francesa6. A Revolução francesa transformou radicalmente tanto o saber sobre a política quanto a sua
prática. A classe burguesa ascendente, impedida pela aristocracia de governar
durante o Antigo Regime, a partir de argumentos tradicionais ou religiosos,
impôs uma nova maneira de ver o mundo, fundamentada na razão e na
observação da realidade. A partir dessa nova compreensão do mundo foram
construídos princípios éticos de ação que se transformaram na bandeira
revolucionária: liberdade, igualdade e fraternidade. (ao lado, A liberdade
guiando o povo (1830), de Eugène Delacroix. A tela sugere as consequências
da Revolução Francesa: a) Fim do feudalismo e do Antigo Regime; b)
Ascensão da burguesia; c) Fim dos privilégios da nobreza; d) Abalo no poder
da igreja. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Liberdade_guiando_o_povo. Acesso em março de
2018.

5
VÁRIOS AUTORES. Sociologia em movimento. São Paulo: Moderna. 2013, p. 19-20
6
VÁRIOS AUTORES. Sociologia em movimento. São Paulo: Moderna. 2013, p. 20
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Iluminismo7.
Período do
pensamento europeu
caracterizado pela
ênfase na
experiência e na
razão, pela
desconfiança em
relação à religião e
às autoridades
tradicionais, e pela
emergência gradual
do ideal das
sociedades liberais,
seculares e
democráticas

PRIMEIROS TEÓRICOS E ABORDAGENS METODOLÓGICAS 8


Auguste Comte (1798-1857), o Fundador da Sociologia
A herança francesa do Iluminismo e as ondas de choque da Revolução Francesa levaram Comte em seu quinto
volume do Curso de Filosofia Positiva (1830-1842) a examinar a solicitação por uma disciplina dedicada ao estudo
científico da sociedade. Comte quis chamar esta disciplina de “física social” para enfatizar que estudaria a natureza
fundamental do universo social, mas ele praticamente foi forçado a determinar o termo híbrido greco-latino, sociologia.
O problema central da sociologia era aquele que tinha aquele que tinha sido articulado pelos pensadores mais antigos no
Iluminismo: como a sociedade deve ser mantida unida quando se toma maior, mais complexa, mais variada, mais
diferenciada, mais especializada e mais dividida? A resposta diz Comte foi que as idéias e as crenças comuns -um
consensus universalis, em suas palavras - precisavam ser desenvolvidas para dar à sociedade uma moralidade “universal”
Essa resposta nunca foi desenvolvida, mas a preocupação com os símbolos e a cultura, como urna força unificadora para
manter a essência do conceito sociológico francês, existe até os dias de hoje.
A principal contribuição de Comte para o desenvolvimento da sociologia não foi tanto a essência de suas idéias,
mas sua defesa pela aceitação da sociologia como uma área legítima de estudo. Estabelecer uma nova disciplina nunca é
fácil, pois há sempre alguns interesses investidos contrários as novas maneiras de pensar. A sociologia era para ser uma
disciplina dedicada ao estudo da sociedade, e as velhas disciplinas acadêmicas, tais como a filosofia, a ética, teologia e
direito, foram ameaçadas por esta recém-chegada. Foi assim que Comte dispendeu muito do seu notável trabalho,
justificando o direito de a sociologia de ser reconhecida como ciência.
Uma tática que Comte empregou para fazer com que a sociologia parecesse legitima foi postular a lei dos três
estados, na qual o conhecimento esta sujeito, em sua evolução, a passar por três estados diferentes. O primeiro estado e o
teológico, em que o pensamento sobre o mundo é dominado pelas considerações do sobrenatural, religião e Deus; o
segundo estado é o metafísico, em que as atrações do sobrenatural são substituídas pelo pensamento filosófico sobre a.
essência dos fenômenos e pelo desenvolvimento da matemática, lógica e outros sistemas neutros de pensamento; e o
terceiro estado é o positivo, em que a ciência, ou a observação fatos empíricos, e o teste sistemático de teorias tornam-se
modos dominantes de para se acumular conhecimento. E com o estado positivo o conhecimento pode ter utilidade prática
a fim de melhorar as vidas das pessoas.
A sociedade como um todo, bem como o pensamento sobre cada domínio do universo, evolui através desses três
estágios, mas em velocidades diferentes: a astronomia e a física primeiro, depois a química e a biologia, e finalmente a
sociologia surge como o último modo de pensar para entrar no estado positivo. Na visão de Comte, a análise da sociedade
estava pronta para ser reconhecida como ciência – uma reinvindicação que era desafiada na época de Comte, assim como

7
BLAKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editora, 1997, P. 196
8
TURNER, J. Sociologia – Conceitos e Aplicações. São Paulo: Makron Books, 2000. P. 4-11
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hoje. E como as leis da organização humana era desenvolvidas Comte (1851-1854) acreditava que elas poderiam ser
usadas para melhorar a condição humana – novamente, um tema tão controverso hoje quanto na época de Comte.
Uma segunda tática legítima empregada por Comte foi postular a hierarquia das ciências, na qual todas as
ciências eram ordenadas de acordo com sua complexidade e seu movimento no estado positivo. Na parte inferior da
hierarquia estava a matemática, a língua de todas as ciências mais altas na hierarquia, e no topo, surgindo da biologia,
estava a sociologia, que num momento de êxtase Comte definiu como “ciência da humanidade”, coroamento de toda
formação científica. Pois, se a sociologia foi a última ciência a surgir era também a mais avançada em relação a seu
assunto, como um modo legítimo de questionamento – ou pelo menos assim Comte a concebia.

A Tradição Francesa: Émile Durkheim (1858-1917)


Muito do modo de análise de Spencer foi adotado pelo primeiro grande sociólogo francês Émile Durkheim, mas
as ideias de Spencer foram modificadas a fim de se adequarem a extensa linhagem francesa (I. Turner, 1984b). Como
Spencer, Durkheim (1895) defendeu a a pesquisa por leis sociológicas, mas, ao contrário de Spencer, Durkheim adotou a

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posição comteana de que o conhecimento sociológico poderia ser usado para criar uma sociedade melhor. Como Spencer,
para Durkheim (1893) a questão central da sociologia era propor explicações para a integração da sociedade quando esta
se torna maior e mais complexa, mas, ao contrário de Spencer, Durkheim (1891) manteve-se fiel a herança francesa e
enfatizou a importância das ideias comuns como força unificadora. Corno Spencer, Durkheim (1895) adotou uma postura
funcionalista, argumentando que as explicações sociológicas devem procurar descobrir como um elemento do mundo
social cumpre uma necessidade da sociedade, mas, ao contrário de Spencer, Comte enfatizou apenas uma necessidade - a
necessidade de integrar os membros da sociedade num todo coerente.
O que marca a contribuição de Durkheim à sociologia é o reconhecimento de que os sistemas de símbolos
culturais - ou seja, valores, crenças, dogmas religiosos, ideologias etc. são uma base importante para a integração da
sociedade (J. Tumer, 1981). À medida que as sociedades se tomam complexas e heterogêneas, a natureza de símbolos
culturais, ou que Durkheim (1893) denominou de consciência coletiva, muda. Em sociedades simples, todos os indivíduos
têm uma consciência coletiva comum que regula seus pensamentos e ações, ao passo que em sociedades mais complexas
a consciência coletiva deve também mudar se a sociedade deve manter-se integrada. Deve tornar-se mais "generalizada" e
“abstrata” a fim de fornecer alguns símbolos comuns dentre as pessoas em atividades especializadas e separadas, ao passo
que em outro nível se torna também mais concreta para assegurar que as relações entre, e interiormente, as posições
especializadas e organizações nas sociedades complexas sejam reguladas e coordenadas. A condição social, entretanto, é
possível em sociedades grandes complexas quando há alguns símbolos comuns que todos os indivíduos partilham,
juntamente com grupos específicos de símbolos que guiam as pessoas em suas relações concretas com os outros. Se esse
equilíbrio observado entre os aspectos abstrato e específico ou os gerais e concretos da consciência coletiva não é
observado, então várias patologias se tornam evidentes (Durkheim, 1893, 1897).
Durkheim (1912,) estudou posteriormente a sociedade num nível interpessoal procurando entender a formação da
consciência coletiva. Em seu estudo sobre a religião dos aborígenes australianos Durkheim estava menos interessado na
religião do que nos processos interpessoais que produzem a consciência coletiva. O que ele descobriu foi o significado da
interação entre as pessoas, como isso produzia o sentimento de que há uma “força” sobrenatural acima e além delas. Ao
compreender o poder dessa força que nascia da animação e energia das interações, os aborígenes construíram totens e se
engajaram em rituais para honrar as forças sobrenaturais, agora simbolizadas pelos totens. Dessa observação, Durkheim
concluiu que adoração aos deuses e ao sobrenatural é, na realidade, a adoração da própria sociedade e dos vínculos
gerados pela interação entre as pessoas. Assim, a “cola” que mantém unida a sociedade é sustentada pelas interações
concretas dos indivíduos. Ao desenvolver esse argumento, Durkheim apresentou a sociologia um novo campo de estudo,
menor, dos fenômenos interpessoais. Na maior parte do século XIX, o estudo da sociologia esteve voltado para as
“grandes estruturas” -, a evolução, o Estado e sua estabilidade, a economia, a igreja, o sistema de classes, etc – nas quais
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as ações das pessoas reais tinham pouca importância. Durkheim foi o primeiro a olhar sob a superfície e observar o que as
pessoas realmente faziam ao criar e sustentar essas “grandes estruturas”.

O alemão que buscou refúgio na Inglaterra: Karl Marx (1818-1883)


Os trabalhos mais importantes de Karl Marx se encontram entre Comte e Spencer e são anteriores a Durkheim.
Todavia, ao contrário desses sociólogos, Marx era reticente quanto a proposta de que a sociologia pudesses englobar leis
gerais e externas como aquelas das ciências naturais. Do contrário, ele sentiu que cada época histórica era construída em
torno de um tipo específico de produção econômica, organização do trabalho e controle de propriedade, revelando, assim,
sua própria dinâmica. Como visto, o feudalismo age nos termos de uma dinâmica e o principal alvo de Marx (1867), o
capitalismo, desenvolve-se em termos de outro conjunto de processos dinâmicos.
O que são esses processos? Para Marx, a organização de uma sociedade num momento histórico específico é
determinado pelas relações de produção, ou a natureza da produção e a organização do trabalho. Assim, a organização
da economia é o material-base, ou, em seus termos, a infraestrutura, que descreve e dirige a superestrutura, que
consiste de cultura, politica e outros aspectos da sociedade. O funcionamento da sociedade humana deve ser entendido
por sua base econômica (Marx e Engels, 1846).

Para Marx (1867), há sempre o que ele denominou de “contradições" próprias na estrutura da base econômica.
Por exemplo, no capitalismo ele viu que a organização coletiva da produção (em fábricas) se encontrava em contradição
quanto à propriedade privada de bens e à obtenção de lucro por poucos a partir do trabalho cooperativo de muitos. Quais
sejam os méritos desse argumento, Marx tem como base da contradição nas sociedades humanas as relações entre aqueles
que controlam os meios de produção e aqueles que não. Argumentando dessa forma, Marx tornou-se a inspiração para a
linha de estudo da sociologia conhecida como a "teoria do conflito” ou a “sociologia do conflito”. Desse ponto de vista,
todas as estruturas da organização social revelam desigualdades que levam ao conflito, em que aqueles que detem ou
controlam os meios de produção podem consolidar o poder e desenvolver ideologias para mantes seus privilégios,
enquanto aqueles sem os meios de produção eventualmente entram em conflito com os mais privilegiados (Marx e
Engels, 1848). No mínimo, há sempre uma contradição ardente entre as relações de produção nos sistemas sociais e essa
“luta de classes”, ou seja, conforme a percepção de Marx quanto a essa questão, periodicamente explode esse conflito
aberto e uma mudança social.
A análise sociológica deve, portanto, concentrar-se nas estruturas de desigualdade e nas combinações entre
aqueles com poder, privilégio e bem estar material, por um lado, e os menos poderosos, privilegiados e materialmente
abastados por outro. Para Marx, e as gerações subsequentes de estudiosos do conflito, “a ação está” dentro da organização
social humana.
Há ainda outra faceta do trabalho de Marx: a função militante do sociólogo. O objetivo da análise é expor a
desigualdade e a exploração em situações sociais e, assim, fazendo desempenhar papel militante para superar essa
condições. Os sociólogos não devem apenas finar na plateia; eles devem trabalhar para mudar o mundo social de modo a

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reduzir as desigualdades e a dominação de um segmento da sociedade pelo outro. Marx propõe a superação do modo de
produção capitalista e uma nova forma de produção com base no coletivismo.

O Pai da Sociologia Alemã: Max Weber (1864-1920)

Dizem que Max Weber teve uni "diálogo silencioso" com Marx no qual ele busco corrigir os excessos do
pensamento de Marx sobre desigualdade, poder e mudança social. Como Marx, Weber (1904) duvidava de quaisquer
alegações de que a sociologia poderia ser como as ciências naturais e formular “leis” universais e eternas da organização
social humana. Ao contrario de Marx, Weber (1904) acreditava que a analise sociológica deveria ser isenta de juízos de
valor, ou objetiva e neutra em questões morais. O objetivo da sociologia é descrever e entender como e por que nascem as
regras da organização social e como elas funcionam melhor do que intervir e mudar essas regras.
Weber (1922) argumentou que a sociologia deve sempre buscar entender os fenômenos “no nível do significado"
dos atores sociais. O que os participantes veem e sentem durante suas ações em situações sociais? Mas apenas essas
condições subjetivas são insuficientes, é também necessário examinar o contexto cultural criado quando os atores sociais
interagem, isto é, o sistema de valores e crenças dos grupos complexos. A análise sociológica deve, portanto, ser de "mão
dupla": de um lado, as experiências dos atores e, de outro, os sistemas culturais e sociais nos quais os atores estão
inseridos.
Como veremos muitas vezes nos próximos capítulos e em análises sociológicas, a essência da sociologia de
Weber ainda influencia a análise da sociologia atual. Em seu “diálogo silencioso” com Karl Marx, por exemplo, Weber
sentiu que a propriedade privada dos meios de produção era apenas uma das diversas bases para a desigualdade; status,
honra e prestígio constituem uma outra base, como o poder e a política (Weber, 1922). Assim, a desigualdade não é uma
simples questão de “ter e não ter” com relação a quem detém os meios de produção, ela é parte de um processo
multidimensional de diferenças e hierarquias - como parte de uma classe privilegiada (econômica), um grupo de status
(prestígio, honra), e um partido (poder). Para Marx, o status e o poder simplesmente derivam da classe; para Weber, isso
nem sempre foi verdadeiro.
Outro debate silencioso com Marx referia-se ao conflito e à mudança. Para Marx, a desigualdade inevitavelmente
produz as contradições entre as forças produtivas e as relações de produção, daí a mudança social; para Weber, a
desigualdade aumenta a probabilidade de conflito, mas as condições específicas de uma situação podem facilitar ou
impedir o aparecimento de “líderes carismáticos” capazes de mobilizar as forças de produção para que busquem o conflito
(Weber, 1922). Assim, o conflito não é inevitável e inexorável, mas é um fato possível que depende das condições de uma
dada situação.
Um terceiro “debate silencioso” que Weber teve com Marx foi sobre o impacto de ideias, ou sistemas de
símbolos, ao produzir a mudança social. Para Marx, ideias culturais -valores, crenças, dogmas religiosos, doutrinas
politicas e similares - são uma superestrutura que derivou de uma infraestrutura material que gira em tomo dos meios de
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produção. Para Marx, é essa infraestrutura, ou os meios de produção, que conduz à mudança social; para Weber, as idéias
culturais podem também causar a mudança social e alterar os meios de produção. Por exemplo, no clássico livro de
Weber (1904-1905), A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, ele argumentava que o conteúdo das crenças dentre
as seitas religiosas protestantes nascentes, defendendo o acúmulo de dinheiro, a poupança, a frugalidade, a economia e o
trabalho árduo, foi mais responsável pelo surgimento do capitalismo industrial na Europa do que as forças materiais de
produção, como Marx havia argumentado.
Weber continua a influenciar a sociologia em razão de seu interesse em isolar e entender as forças motrizes das
sociedades modernas - o surgimento e funcionamento do capitalismo, a dominação da vida social pelas burocracias, o
poder crescente do Estado, as bases multidimensionais da estratificação social, o significado das leis nas relações sociais,
os processos de urbanização de populações nas cidades, as consequências dos sistemas de crenças e valores, isto é, da
cultura. Nesses e muitos outros interesses específicos, Weber buscou determinar as causas históricas* de uma situação
moderna (ou pelo menos moderna na sua época), a fim de desenvolver caminhos objetivos para descrever a essência dessa
condição moderna, e entender o que isso significa para os indivíduos nela envolvidos. Suas propostas de análise, assim
como a natureza de sua teoria de agrupar essas propostas, ainda inspiram muitos sociólogos contemporâneos.
ABORDAGENS METODOLÓGICAS9
O FUNCIONALISMO defende As TEORIAS DO CONFLITO As TEORIAS DA AÇÃO
que a sociedade é um sistema sublinham a importância das SOCIAL (INTERACIONISMO)
complexo cujas partes se conjugam estruturas na sociedade. Defendem dão uma atenção muito maior ao
para garantir estabilidade e também um «modelo» abrangente papel desempenhado pela ação e pela
solidariedade. Segundo esta para explicar a forma como a interação dos membros da sociedade
perspectiva, a Sociologia, enquanto sociedade funciona. Os teóricos do na formação dessas estruturas. Aqui,
disciplina, deve investigar o conflito rejeitam, no entanto, a ênfase o papel da Sociologia é visto como
relacionamento das partes da que os funcionalistas dão ao sendo mais o da procura do
sociedade entre si e para com a consenso. Pelo contrário, preferem significado da ação e da interação
sociedade enquanto um todo. sublinhar a importância das divisões social, do que o da explicação das
Podemos analisar as crenças na sociedade. Ao fazê-lo, centram a forças externas aos indivíduos que
religiosas e costumes de uma análise em questões de poder, na os compelem a agir da forma que
sociedade, por exemplo, ilustrando desigualdade e na luta. Tendem a ver agem. Se o funcionalismo e as
a forma como se relacionam com a sociedade como algo que é perspectivas do conflito desenvolvem
outras instituições, pois as diferentes composto por diferentes grupos que modelos relativos ao modo de
partes de uma sociedade estão lutam pelos seus próprios interesses. funcionamento global da sociedade,
intimamente relacionadas entre si. A existência desta diferença de as teorias da ação social centram-se
Estudar a função de uma instituição interesses significa que o potencial na análise da maneira como os
ou prática social é analisar a para o conflito está sempre presente atores sociais se comportam uns
contribuição dessa instituição ou e que determinados grupos irão tirar com os outros e para com a
prática para a continuidade da mais benefício do que outros. Os sociedade.
sociedade. Os funcionalistas, teóricos do conflito analisam as
incluindo Comte ou Duricheim, tensões existentes entre grupos
usaram muitas vezes uma analogia dominantes e desfavorecidos da
orgânica para comparar a atividade sociedade, procurando compreender
da sociedade com a de um como se estabelecem e perpetuam
organismo vivo. as relações de controle.

TÉCNICAS DE PESQUISA10
Experimentos: testar o efeito de um fenômeno particular em algum aspecto do mundo social, tipicamente as respostas
aos estímulos ou situações específicas. O ingrediente chave de um experimento é o controle das influências externas que
contaminariam a avaliação dos pesquisadores dos efeitos dos estímulos contrais de uma situação.
Levantamentos: técnica de pesquisa onde as pessoas são indagadas sobre um tema de interesse do pesquisador. As
perguntas podem ser feitas em uma entrevista ou, mais tipicamente, por um questionário que o entrevistado preenche.
Observações: trata-se da observação do que as pessoas estão realmente fazendo. Aqui, o pesquisador coloca-se numa
situação “natural”, na qual ele observa e toma nota do que vê.
Levantamentos históricos: utilizada para a observação de longos períodos históricos, a fim de se verificar e ilustrar
teorias, ou descrever o encadeamento dos acontecimentos nas sociedades passadas.

9
GIDDENS, A. Sociologia. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2008. P. 16-17;
10
TURNER, J. Sociologia – Conceitos e Aplicações. São Paulo: Makron Books, 2000. P. 25-27
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