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BRASIL

O exército de pinóquios
Como operam dez dos maiores sites de notícias falsas do país, pagos até com verba de gabinete para disseminar
boatos
HELENA BORGES
19/04/2018 - 19h34 - Atualizado 19/04/2018 19h53

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>> Leia trecho de matéria de capa

Capa Revista Época Ed 1034-Home560 (Foto: Época)

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“Estão entregando dinheiro
COLUNAS
na mãoASSINE
CANAIS
de terrorista!”, dizia o vídeo publicado no dia
26 de janeiro pelo site Gospel Prime, um portal de notícias focado no público
evangélico com média de quase 2,8 milhões de leitores ao mês. De acordo com a
denúncia do site, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente Michel
Temer estavam tentando desviar dinheiro de uma obra, por meio de uma
Medida Provisória de ocasião, para financiar terroristas palestinos. No Facebook,
o líder da bancada evangélica na Câmara dos Deputados, o pastor Takayama
(PSC-PR), gravou outro vídeo com um comentário que teve cerca de 4 mil
visualizações. “Estão nos comunicando que muito do que é enviado para a
Palestina é para patrocinar terrorismo”, disse, grave.
Há uma Medida Provisória que busca liberar, sim, dinheiro para a Palestina.
Mas a doação visa reformar quatro das 50 colunas da Basílica da Natividade,
igreja construída sobre o ponto considerado local de nascimento de Jesus, que
consta como patrimônio histórico mundial na lista da Unesco. Se é apropriado
ou não gastar dinheiro público em tal iniciativa, é uma discussão longa. O
intrigante era por que o próprio Takayama — que já havia até pedido vista do
projeto quando este foi examinado por uma comissão do Congresso — replicava
uma notícia errada, falsa e inventada envolvendo dois potenciais candidatos à
Presidência em ano eleitoral.
O Ministério das Relações Exteriores publicou uma nota desmentindo a
informação, mas o Gospel Prime manteve a postagem no ar. Incluiu o
comunicado no pé da página e insistiu no texto original mentiroso, sem errata
ou pedido de desculpas. Procurado, Takayama não quis se pronunciar sobre o
caso.
A empresa Prime Comunicação Digital, responsável pelo Gospel Prime, tem
endereço registrado na pacata Criciúma, em Santa Catarina, cuja população cabe
em menos de três estádios do tamanho do Maracanã. Metade do 2o andar do
prédio amarelo com pastilhas marrons de dois andares, onde está registrado o
CNPJ da firma, pertence à empresa de contabilidade Atual. Subindo as escadas,
chega-se a um espaço amplo, mas simples, com móveis e paredes de cores
claras. Indagado, o recepcionista informou que a Prime funciona em outro
endereço, mas é uma das clientes da empresa. Ele contou que David Gregório, o
dono da Prime, trabalha a partir de casa, um apartamento próximo ao estádio
Majestoso, casa do time que leva o nome da cidade: “É perto, mas não sou
autorizado a te dar o endereço”. Ele anotou um número de telefone em um Post-
it e disse que mais informações não poderiam ser passadas sem autorização do
patrão.
Telefonei para Gregório e disse estar fazendo uma pesquisa acadêmica sobre
sites de mídia alternativa. Sem muito perguntar, ele passou a dar detalhes de
seu negócio. Confirmou trabalhar de casa e afirmou ter abandonado o emprego
como gerente de posto de gasolina há seis anos, quando o site, criado em 2008,
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começou a render R$ 300 CANAIS
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por mês. ASSINE
Hoje, segundo ele, rende de R$ 10 mil a R$ 20
mil por mês, valor que seria dividido entre seus quatro integrantes fixos. Nesses
dez anos, Gregório conta ter se formado em publicidade, mas que aprende muito
“pela internet mesmo”. Afirma que todo conteúdo publicado no site passa por
sua aprovação.
Foi ele quem puxou o assunto sobre a reportagem que acusava o governo
brasileiro de destinar recursos para uma obra que já havia sido concluída com o
objetivo de financiar terroristas palestinos: “Dois dias depois que a gente
publicou o texto dizendo que a obra estava acabada, que tudo já estava pronto, os
camaradas trocaram a placa na Palestina”, disse animado. “Eu tenho certeza de
que isso foi uma reação ao que publicamos.” A placa mencionada por Gregório e
citada na reportagem estava na porta da Basílica da Natividade, mostrando o
prazo da primeira fase da reforma, que acabou em dezembro de 2017. Ela foi
trocada, obviamente, quando a reforma entrou na fase dois. O curioso é que
Gregório menciona a troca da placa pelo telefone, mas essa informação não
consta nas publicações de seu site.
Ele defendeu seu trabalho e seu ponto de vista como uma “cosmovisão”: “Tudo
que eu publico, se tiver minha cosmovisão, se tiver meu modo de olhar esse
mundo, desse fato, pode ser chamado de fake news, porque não está na mídia
mainstream”. Emendando uma frase na outra, ele disse que não quer ser o MBL,
o movimento de direita conservadora. “Os diários que eles inventam têm
realmente uma cara de fake news. Sabemos que algumas coisas que a gente
publica também podem causar estranhamento, mas é porque a gente está vendo
um ponto que a grande mídia não olha.” Ele contou ainda que o vídeo com o
complô terrorista foi feito por Roberto Grobman, um dos quase 80 colunistas que
escrevem para o site gratuitamente. “Essas pessoas acham que o Gospel Prime
vai ser a vitrine do pensamento delas.” A equipe fixa, segundo Gregório, é
formada por ele e mais três pessoas, das quais somente duas são formadas em
jornalismo. Nenhum teve experiência prévia com a profissão.
Perguntei se parlamentares já ofereceram dinheiro para que reportagens a seu
favor fossem publicadas. Ele fez uma longa pausa e retomou: “Olha, sempre
tem, mas não é interessante para nós”. Finalizou a conversa sem dar mais
detalhes e afirmou que “tenta” não se envolver financeiramente com políticos.

Graças às plataformas de
publicidade das gigantes
de tecnologia, sites
sensacionalistas atraem
anunciantes que não
sabem onde sua Assine Época a partir de R$ 14,90 por mês
mensagemCOLUNAS
está sendo
CANAIS ASSINE
veiculada

Não é bem assim. Seis notas fiscais emitidas pelos gabinetes dos deputados
Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) e Geovania de Sá (PSDB-SC), ambos da bancada
evangélica, mostram que os parlamentares usaram dinheiro da cota
parlamentar para pagar por textos publicados no Gospel Prime entre 2015 e 2016.
Cada um custou R$ 250. Os conteúdos eram elogiosos ou visavam repercutir
falas polêmicas dos congressistas. “Sóstenes Cavalcante é o deputado mais
atuante do RJ” foi publicada em julho de 2015. “Bolsa Família não deveria tornar
beneficiários dependentes, diz Geovania de Sá” é de abril de 2016.
Segundo Gregório, o faturamento do Gospel Prime vem de plataformas de
propagandas on-line: “Ganhamos com publicidade do Google. A gente tem uma
empresa que gerencia a publicidade, também vendemos publicidade direta, mas
é pouco. É mais a publicidade que o próprio Google faz a negociação”. De fato, há
anúncios dispostos no site por meio da plataforma de publicidade da gigante de
tecnologia.
Ele se refere à corrida do ouro digital chamada clickbait (em português, “caça-
clique”). Redes como Google e Facebook monitoram os interesses de seus
usuários a partir do que cada um curte, compartilha, segue ou busca. Usando os
dados disponíveis nas redes, nos computadores e nos smartphones, as
plataformas conseguem filtrar os internautas por grupos de interesse. Quanto
mais afunilados os filtros — por exemplo, selecionar apenas pessoas que
pesquisaram ou curtiram um clube de futebol específico —, maior a garantia de
efetividade do investimento em publicidade. Além desse filtro, essas empresas
também fazem a ponte entre os anunciantes e os donos de sites onde esse tipo
de publicidade será exposta. O pagamento é feito por clique no hiperlink, daí
vem o nome caça-clique. Seguindo essa lógica, sites de fake news se inscrevem
em plataformas de venda de anúncios e, em busca do maior número de cliques
possível, fazem manchetes e textos sensacionalistas de forma a atrair o leitor
desavisado.
Ter páginas nas redes sociais é importante para fidelizar a audiência. Uma vez
criado o perfil na rede, esses sites se conectam a pessoas reais populares, que
compartilham seu discurso levando o link a novos leitores, dessa vez com uma
chancela dada pela figura pública reconhecida. Exatamente como, no caso do
Gospel Prime, o deputado Takayama fez em seu vídeo.
A criação de redes entre sites e perfis divulgadores de fake news dá ao
internauta a falsa impressão de que o assunto está sendo repercutido, quando,
na verdade, muitas vezes é o mesmo autor ou o mesmo e pequeno grupo de
autores trocando a bola entre si. Isso, aliado à estratégia de publicar um vasto
material verídico com uma informação
Assine Época aerrada misturada
partir de R$ 14,90nopormeio,
mêstraz uma
falsa sensação COLUNAS
de credibilidade,
CANAIS
que leva a pessoa a confiar — e clicar — mais
ASSINE
naquele site. O Gospel Prime, por exemplo, não publica única e exclusivamente
informações falsas, mas, de vez em quando, solta pérolas como a dos terroristas
palestinos ou a de um cientista que colocou em xeque a Teoria da Evolução (que,
na realidade, acabou demitido).
ÉPOCA questionou o Google sobre o funcionamento de sua plataforma de
propagandas, perguntando se é possível um anunciante saber se sua marca está
sendo divulgada em um site que publica notícias falsas. Em nota, a empresa
informou que atualizou suas diretrizes em novembro de 2016 “para impedir que
publishers exibam anúncios do Google em conteúdos enganosos” e que as
medidas adotadas com aqueles que agem contra a política da empresa vão desde
avisos até a retirada da plataforma, “dependendo da gravidade da violação”.
Questionado sobre sua participação no sustento de um site que publica
informações falsas, o deputado Sóstenes Cavalcante afirmou que desconhece as
“supostas” fake news mencionadas por ÉPOCA e que não tem “vínculos com o
portal Gospel Prime, nem com qualquer outro veículo de comunicação”. “Em
2015, e apenas em 2015, foram divulgadas algumas das minhas atividades
parlamentares no portal Gospel Prime. A divulgação ocorreu de forma legal,
seguindo as regras, o protocolo e as exigências da Câmara em relação ao uso da
cota parlamentar, como pode ser checado no portal transparência da Casa”,
disse o parlamentar, declarando ser contra a divulgação de notícias falsas. “Não
compartilho qualquer tipo de informação que não tenha sua veracidade
verificada”, garantiu. Até a conclusão desta edição, a deputada Geovania de Sá
não havia respondido aos contatos da reportagem.

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