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27/09/2016 19&20 ­ "O gosto à oriental" nas artes decorativas na época de D.

 João VI, por Maria João Albuquerque

"O gosto à oriental" nas artes decorativas na época de D. João
VI

Maria João Albuquerque *
ALBUQUERQUE, Maria João. "O gosto à oriental" nas artes  decorativas  na época de D. João VI.
19&20,  Rio  de  Janeiro,  v.  III,  n.  4,  out.  2008.  Disponível  em:
<http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/ad_oriental.htm>.

*     *     *

A sociedade portuguesa do século XVIII fazia parte de um cosmos mais universalizante
                     1.            

constituído por uma rede de interesses políticos, econômicos e sociais muito
diferenciados, mas convergentes em espaços e em tempos que importa aqui especificar,
porque é da unidade dessa pluralidade que se pode compreender a vivência e a riqueza
da personalidade do nobre, português europeu, dos finais do século XVIII, princípios do
século XIX.

A geração de 1790, fortemente influenciada pelos ideais do iluminismo, preconizava
                     2.            

uma sociedade baseada no conceito da filosofia política moderna e em uma “ciência de
costumes”, do direito natural definido por Samuel Pufendorf (1643­1694) como a
filosofia das relações entre a autoridade do poder e a liberdade dos cidadãos, cujos
princípios se alicerçavam na sociabilidade e no compromisso fundamental de promover
a felicidade de todos, felicidade essa que dependia, por sua vez, dos conceitos de
inviolabilidade da ordem instituída pelo soberano e do povo que representava, e de todo
o prazer e beleza inerentes à vida humana que a natureza racional do homem conseguia
criar e desenvolver.

Fortemente marcada pela problemática da teologia protestante, posta em prática havia
                     3.            

muito pelas sociedades do Centro e Norte da Europa, a teoria do direito natural
pressupunha uma ordem natural e uma ordem social governadas por Deus que
obedeceria a uma hierarquia de fundamentos, subordinados a uma relação biunívoca
entre a justiça humana e a justiça divina reforçada na qualidade inequívoca do sistema
absolutista e do poder político da nobreza, cujo contrato civil e social que estabelecia
com o Estado e com o Rei devia ser tido como uma ordem divina e governação do
próprio “bem público”.

Para o presente trabalho é importante particularizarmos esta ideia de sistematização do
                     4.            

direito natural no quadro da sua própria doutrina moral do reino da graça em que o
princípio da felicidade desempenha o mesmo papel que a perfeição relativamente ao
mundo físico. Efectivamente, o direito moral permitia que o nobre cristão possuísse bens
luxuosos ou realizasse determinados projectos em prol do seu bem­estar social, pondo
em causa a relação do Homem com os modelos e representações do ideário cristão,
nomeadamente em relação à vaidade e à luxúria e reformular as quatro virtudes
cardinais (justiça, prudência, temperança e fortaleza), actualizando­as segundo

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princípios que se encaminhavam já para a construção da sociedade civil e dos direitos
humanos (1789).

Neste contexto de universalidade, que elementos comuns se poderão encontrar no fausto
                     5.            

das cortes e das residências dos “príncipes” e soberanos da Europa Central, da Península
Ibérica (Portugal e Espanha), da América Latina (Bahia e Rio de Janeiro), do Continente
Asiático (Goa, China, Macau, Cantão) e do Japão?

Num ambiente profano, num ambiente de novos comportamentos morais, políticos e
                     6.            

sociais que alimentam novas necessidades de poder e representação profana, as festas e
o prazer reuniam, numa também nova combinação entre a razão e a emoção, uma
Europa que, apesar das grandes tensões políticas e permanentes guerras, se unificava
numa visão estética, agregadora de uma mesma sensibilidade e elegância. Um dos outros
conceitos da filosofia política de que importa ainda referir é o conceito de
sabedoria/conhecimento associado ao do bem­estar individual e social. O conhecimento
físico e intelectual inerente às viagens dos diplomatas e dos nobres e grandes
comerciantes que tinham a seu cargo as relações internacionais e as administrações de
possessões das diferentes cortes e as viagens ultramarinas iniciadas pelos portugueses e
seguidas pelos espanhóis, franceses, holandeses e ingleses. A divisão do mundo em duas
partes, conforme definido pelo Tratado de Tordesilhas, possui, como é óbvio, muitas
consequências para o mundo que hoje temos, mas acarretaria implicações muito
específicas para a arte e o conceito de Belo em diferentes espaços.

Os diplomatas estão entre aqueles que maioritariamente contribuíram para a
                     7.            

disseminação desses ideais de beleza e luxo. A viagem interland para estudo e
conhecimento era também muito apreciada por nobres, pelo que o mobiliário e utensílios
foram especificamente concebidos para essas deslocações. As carruagens e os coches
tornaram­se mais faustosos, mas também mais cômodos, desde os finais do século XVI
e princípios do século XVII. São exemplo desse requinte os relógios de carruagem que
se utilizavam nas viagens mais longas [Figura 1a e Figura 1b].[1]

A viagem para os novos mundos traria o conceito de exotismo para o fausto das grandes
                     8.            

capitais europeias e o ambiente profano das festas. Mas as viagens dos portugueses e,
mais tarde, as dos holandeses e ingleses, suecos e outros, na rota das especiarias e das
sedas traria também as chinoiseries para uma grande parte dos países, que as utilizariam
como sinal de riqueza e bom gosto.

A descoberta das rotas marítimas além­mar levaram os portugueses a procurar formas de
                     9.            

transportar utensílios frágeis de modo seguro. A missionação da Ordem de Jesus traria
para as principais capitais das cortes católicas contra­reformistas exemplos dos mártires
e dos novos apóstolos como é o caso de S. Francisco Xavier, sepultado em Goa, local
sagrado de peregrinação desde essa altura. A iconografia usada na decoração reproduzia
essa ligação religiosa e cultural que, sobretudo, os missionários jesuítas transmitiam às
populações locais. A caixa de madeira de cânfora para barco da Figura 2 é um dos raros
exemplares conhecidos do século XVI que apresenta um trabalho de técnicas de ambos
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os continentes ­ laca e talha ­ e iconografias representativas das duas culturas ­ a frente e
a tampa da caixa têm barcos portugueses; lateralmente são talhadas de um lado uma
figura de um Buda e do outro a infância de Cristo.

                  10.             Nas viagens à Índia e no próprio continente asiático, ainda durante o período filipino,
também os nobres passaram a utilizar as garrafas pintadas a azul­cobalto e branco de
porcelana chinesa do período Wan Li, levadas pelos peregrinos da alta nobreza,
portuguesa ou asiática, nas suas deslocações. Mas a par desse fervor religioso, as
novidades do Oriente preenchiam o imaginário e os interiores dos palácios.

A porcelana azul e branca era miscigenada pelos jesuítas ainda em território asiático.
                  11.            

Este período de transição (1620­1683) é conhecido pelo emblema religioso desta Ordem
religiosa ­ I.H.S. ­, com uma cruz partindo do traço do H e três cravos, envoltos num sol
estilizado e as iniciais S. P do colégio de S. Paulo, em Macau. Da cidade e fornos
imperiais de Zinghezen saíram milhares de peças para o imperador e corte imperial
chinesa, decoradas em Cantão, que se vendiam nos mercados asiáticos e eram
comercializadas pelos Portugueses em Portugal e em outras capitais europeias.

                  12.             Ainda neste período eram decoradas peças polícromas, como as do grupo Wucai, que
utilizavam cinco cores e representavam simultaneamente cenas profanas e religiosas,
asiáticas ou europeias [Figura 3]. Mas é sobretudo a partir do século XVII, já em pleno
reinado de D. Pedro II que as grandes viagens marítimas trouxeram para os palácios e
residências ocidentais não só o gosto pelas porcelanas, mas o “gosto à oriental”. As
companhias das Índias Orientais, nomeadamente a Inglesa e a Holandesa, começaram a
operar em 1602, e as encomendas de porcelana chinesa e japonesa passaram ser
frequentes, sobretudo nas cortes do Norte da Europa, que tinham interesses comerciais
com o Oriente.

A procura dessas peças chinesas estendeu­se por todo o século XVIII e a divulgação
                  13.            

desses objectos ­ móveis, artigos de mesa e de uso quotidiano ­ facilitavam a vida de
todos aqueles que viajavam durante tantos meses. No inventário da venda do espólio do
navio Feu em Londres são identificados “treize coffres et quatorze scriwetoires”,
objectos lacados segundo as técnicas originais asiáticas que o manual The Treatise of
Japanning and Varnishing, publicado em Londres em 1688, descrevia.

                  14.             A papeleira de madeira lacada e dourada da Figura 4, por exemplo, foi adquirida por D.
João V e oferecida a soror Paula Teresa da Silva para os seus aposentos, também
decorados ao gosto oriental, no Convento de Odivelas.[2] Esta peça consta do inventário
de exportação para Portugal e Espanha e é descriminada no General Advertiser londrino
datado de 20 de Fevereiro de 1751, onde facilmente se pode perceber pela quantidade de
peças elencadas a importância deste mercado na primeira metade do século XVIII.

Interessante também é a descrição do secretário da Embaixada em Londres
                  15.            

relativamente a aposentos disponibilizados para a viagem de D. Maria Ana de Áustria a
bordo de uma embarcação inglesa que a rainha de Inglaterra concedeu ao Conde de Vila

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Maior: “ a câmara era toda de finíssimo charão da China mesclado com espelhos e
lâminas de cristal ...”.

Em Portugal, as famílias ligadas ao mar e aos empreendimentos comerciais ou
                  16.            

diplomáticos incluiam este gosto pelas chinoiseries nas campanhas de obras que
empreendiam nas igrejas de que eram padroeiros ou donatários. A título de exemplo,
poderemos referir o orgão da Igreja de Santa Maria da Caridade de Viana do Castelo,
cuja caixa é pintada em fundo vermelho e ornamentação com chinoiseries; a Igreja de
Misericórdia de Viana do Castelo ou a Igreja de S. Gonçalo em Angra do Heroísmo,
cujo coro alto e cadeiral apresentam no óculo um conjunto de pequenos painéis com
chinoiseries, aplicados a folhas de ouro sobre madeira pintada. Situadas no litoral
Atlântico e possuindo grandes estaleiros para a reparação das embarcações, ambas as
igrejas foram construídas entre 1714 e 1722 e as obras pagas por Irmandades e
Confrarias, associadas à peregrinação, também em pleno reinado de D. João V.

Também a Igreja Matriz de Bucelas, de que foram padroeiros a família dos Condes de
                  17.            

Castanheira e primeiros governadores do Oriente e do Brasil, possui em alguns
apontamentos do altar­mor cenas com figuras chinesas muito interessantes. São três
casos diferenciados do território português continental e insular, que seguem o mesmo
programa decorativo de miscigenação entre o religioso e o profano, evidenciando, ao
mesmo tempo, o gosto pelo exotismo que as viagens marítimas proporcionaram.

Em ocasiões de recepções de aparato, a própria Igreja se preparava, oferecendo aos
                  18.            

convidados as melhores iguarias nos mais em recipientes muito originais. A Casa­Museu
Fundação Medeiros e Almeida tem à sua guarda um insólito centro de mesa que
pertenceu a D. José Maria da Fonseca e Évora. O centro de mesa em esmaltes
polícromos de exportação da Dinastia Qing, reinado Qialong (1739­40) sobre cobre com
taça principal em forma de barco, apoiada em quatro cariátides de feições europeias,
rematadas por pés enrolados, era utilizado como peça decorativa para as mesas de
dessert. Esta épergne, palavra de origem francesa, normalmente fabricada em prata e
vidro, e de uso muito frequente em França e Inglaterra desde 1725, tinha a forma de
barco ou cesto, rodeado por outros barcos ou cestos mais pequenos com a mesma forma,
onde se colocavam peças de fruta e doces, enfeitados com flores.[3]

Os refrescadores de garrafas e copos de pé alto para vinho e champanhe tornaram­se
                  19.            

muito populares entre os cosmopolitas, diplomatas e os nobres, que tinham interesses
comerciais e políticos na Europa e em territórios ultramarinos. A porcelana Monteith
produzida na China pelo senhor Monteith, um dos membros da única família chinesa,
enquanto exportadora de porcelanas para a Europa, tem como principais características o
desenho recortado ou crenelado do bordo superior como se tratasse de uma coroa
[Figura 5]. Anthony Wood, no seu diário datado de Dezembro de 1683 (Oxford),
descreve a origem dos primeiros refrescadores que foram utilizados a bordo de um
navio, tendo já a função de refrescar bebidas. Existem alguns exemplares em Paris,
numa colecção particular; em Viena, na colecção da Condessa de Schönborn e no Museu

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Nacional de Arte Antiga e pertença do Convento da Madre de Deus. Estes últimos,
datados de cerca de 1720 (reinado Kangxi 1620­1722), terão pertencido à família
Sampaio e Mello, uma das famílias da aristocracia mais importantes da Índia
portuguesa.

O sucesso e a enorme procura desses objectos orientais leva o Ministro das Finanças de
                  20.            

Augusto I da Saxónia a contratar Ehrenfried Walther von Tschirnhaus e o seu seguidor
Johann Friederich Bötter para desvendar o segredo de fabrico da porcelana chinesa e a
abrir a fábrica de Meissen, em 1709. A porcelana fabricada na Europa, durante a Idade
Média e até à altura, tinha como base o grês, trabalhado pela primeira vez na região da
Renânia e disseminado por toda a Europa, incluindo a Inglaterra. Foi também o grês que
serviu as primeiras experiências de Tschirnhaus, mas as somas gastas foram enormes e
os resultados muito pouco satisfatórios. Em 1712, o missionário da Companhia de Jesus
François­Xavier d’Entrecolles trouxe da China a fórmula química do caulino, um dos
componentes essenciais ao fabrico da porcelana. As experiências em Meissen levaram à
descoberta do segundo ingrediente básico da porcelana ­ o pétunsé (palavra francófona
para o chinês pé­tun­tzé, pequenos ladrilhos brancos de pedra pulverizada) e um
composto de feldspato de potássio e alumínio, cuja massa permitia a fusão do caulino e a
sua vitrificação, passando assim aquela fábrica a produzir “porcelana ao gosto oriental”
a partir de 1713.

A porcelana de Meissen teve grande aceitação, sendo primeiramente pintada a ouro,
                  21.            

imitando a decoração oriental e, posteriormente, sob a orientação de Johann Gregorius
Höroldt, aumentada a paleta de cores e associados elementos indianos, chineses e
japoneses a objectos copiados de estruturas em prata e ouro europeias. A jarra com
pintura floral oriental do Museu de Artes Decorativas de Praga da Figura 6 é um
excelente exemplo da porcelana Meissen deste período, uma vez que foi inspirada na
porcelana japonesa dita kakiemon, mas apresenta uma equilibrada pintura de flores
indianas. Fez parte da encomenda realizada em 1723­33 a Höroldt para o Rei Augusto I,
Príncipe eleitor da Saxónia.

As paisagens e elementos vegetalistas ou a mitologia greco­latina que se incluía no
                  22.            

gosto europeu também muito na moda do antiquariatum e muito utilizado pela fábrica
de porcelana de Sèvres inaugurada em Saint Yrieix em 1768, pelo Conde de Orry de
Fulvy, passando para a administração régia directa de Luís XV em 1756, é muito
difundida em França, passando a ser comprada pelos grandes negociantes e a nobreza,
francesa e estrangeira, a partir dessa altura, nomeadamente a Madame Pompadour,
amante do rei Luís XV. Dotada de inteligência, encanto, beleza, Jeanne Antoinette
Poison, Madame Pompadour, governava Versailles e concedia audiências a
embaixadores, tomando decisões sobre todas as questões ligadas à concessão de favores,
de forma tão absoluta quanto qualquer monarca.

São ainda as viagens de diplomatas, governadores e famílias nobres, portuguesas ou
                  23.            

estrangeiras, que transportam este gosto para o continente americano. Embora proibidos

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de comerciar com as outras colônias, nomeadamente o Brasil, a carreira da Índia
portuguesa abasteceu particularmente o mercado da Bahia desde o início do século XVI,
a pretexto de reabastecimentos de alimentos frescos ou de efectivas reparações no
estaleiro naval de Salvador. As famílias nobres que se instalavam, primeiro naquela
cidade e, mais tarde no Rio de Janeiro e outras cidades interiores levavam nas suas
bagagens, no porão dos navios muitos objectos “ao gosto oriental”. A nau Nossa
Senhora do Rosário e Santo André fazia parte das naus da Índia que afundaram à entrada
do forte de Mont Serrat, em 1737, carregada de “sacos de pimenta, barris de pimenta;
fardos de fazenda; caixões, caixetas e caixinhas; amarrados de louça; fardos de canela;
pipas de vinho Acquim; arcas e baús de roupa; peças de seda; frasqueiros de louça;
barris de incenso; envoltórios; papeleiras e outros itens”. A louça, em geral porcelana,
era bem embalada e armazenada no fundo do porão, por ser mais pesada. Isso, em
alguns casos, a preservou nos incêndios e naufrágios, podendo ser muitas vezes
recuperada em bom estado, do fundo do mar, principalmente as peças brancas decoradas
com azul de cobalto. Lembramos que muitas famílias de grandes armadores
portugueses, como é o caso de Fernão Cardim ou a própria descendência de outros
nobres, também governadores e vice­reis da Índia, que foram nomeados para cargos de
governação ou chefia em território brasileiro, mas mantinham interesses pessoais ou
privados em ambos os territórios. Como exemplos poderemos mencionar António
Coelho de Albuquerque, capitão­de­mar­e­guerra e capitão de Infantaria em Macau
(1708­1716), Capitão­General de Solor e Timor (1722­1725), filho de António de
Albuquerque Coelho Carvalho, Governador do Maranhão, ou D. Luís Peregrino de
Ataíde, Conselheiro de D. João V e Vice­Rei do Brasil entre 1749 e 1755, que eram
grandes coleccionadores de arte e grandes encomendantes de porcelanas chinesas e
européias. As companhias das Índias Neerlandesas Ocidentais que iniciaram a sua
actividade em 1621, depois de ocuparem Olinda e Pernambuco em 1630, tiveram um
papel determinante na difusão da cultura europeia e do gosto vigente no Brasil até à
instalação da capital no Rio de Janeiro e à chegada da corte de D. João VI ao Brasil.

A fundação da Companhia das Índias Orientais com portos em solo americano e
                  24.            

africano em 1621 tornou ainda mais fácil a comercialização destes produtos nas
principais cidades brasileiras e a divulgação da madeira e diamantes brasileiros na
Europa do Norte, a partir desses portos para a Europa continental. À mesa o requinte e o
brilho das pratas européias misturaram­se com a delicadeza das porcelanas [Figura 7],
cujo design, como referimos, passou a coexistir com peças de origem francesa ou alemã.
A colecção do Governador Góes Calmon, hoje no museu de Arte Sacra da Bahia é
representativa das muitas colecções públicas e privadas que possuem as duas vertentes
do fausto da elegância do bem receber comum nas duas margens do Altântico.

A política ultramarina esboçada no tempo de D. Pedro II é confirmada em pleno reinado
                  25.            

de D. João V. Já em 1700, D. Pedro II referia com insistência o facto de sentir “a
igualdade de que goza[va] entre as outras coroas”, situação que se deve
inequivocamente ao domínio militar, político e económico de Portugal além­mar, quer a
Oriente, quer a Ocidente. A título de exemplo, poderemos referir a importância das
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festas que D. Pedro II dava no palácio e pavilhão de caça do Palácio Fronteira às portas
de Benfica em Lisboa.

As Companhias das Índias Orientais impuseram­se no Pacífico Ocidental e tornaram­se
                  26.            

as maiores comerciantes de porcelana de Jingdezhen. Em 1636, 1637 e 1639, a Holanda
comprou vários lotes com centenas de milhares de peças desta região. Ao longo do
século XVIII, mais de 60 milhões de objectos de porcelana chinesa foram exportados
para a Europa.

Em território sueco, a Companhia das Índias Orientais Neerlandesa levou a que a corte
                  27.            

de Carlos XI da Suécia se interessasse desde cedo pela beleza da arte oriental. O palácio
de Drottningholms, construído para a mulher Lovisa Ulrika, possuía uma grande
colecção de porcelanas e objectos orientais, adquiridos por volta de 1680 num mercado
cada vez mais próspero. Os vasos com tampa de porcelana azul e branca, fabricados
durante a Dinastia Ming (1573­1619), eram conhecidos por Kraakporselein, por terem
sido originalmente transportados em carracas portuguesas. O gosto pela originalidade
levava a que se adquirissem outros objectos como é o caso das figuras chinesas que
pertencem à galeria de curiosidades de Lovisa Ulrika, encomendada a André Chaveau e
construída entre 1702 e 1720 [Figura 8].

Na Europa, as residências e palácios imperiais foram seguindo o percurso evolutivo das
                  28.            

porcelanas, renovando ou criando ao longo dos séculos XVII e XVIII novos aposentos
totalmente revestidos por decorações e materiais orientais. As lacas, resinas utilizadas
para impermeabilização e conservação dos objectos trabalhados, e que tinham
qualidades estéticas adquiriam diversas tonalidades quando misturadas com pó de metal
ou diferentes pigmentos que lhes conferiam brilho, suavidade e cor encantavam os
ambientes frios do centro e norte europeus.

Os gabinetes de curiosidades orientais passam a ser um espaço interior quase
                  29.            

obrigatório. A Figura 9 apresenta o quarto imperial das lacas do Palácio de Schönbrunn,
mas poderemos também incluir neste gosto pelo oriental o Cabinet das porcelanas
orientais e dos espelhos executado por Salomon Kleiner, entre 1718­1719, e tão
profusamente decorado quanto este, onde cerca de 1000 residentes circulavam
diariamente. No palácio de Verão de Charlottenburg, dedicado à mulher de Frederico
Guilherme I da Prússia e Frederico Augusto, Eleitor da Saxónia e rei da Polónia, estes
dois grandes coleccionadores da porcelana da dinastia Qing, encomendaram à China
porcelana que fizesse propaganda do seu militar perante os seus pares europeus e,
simultaneamente, que impressionasse o imperador chinês. Os dois jarrões da soldados
Figura 10, com um metro de altura cada, eram colocados à entrada das salas de
Charlottenburg, na actual Berlim, faziam parte da colecção de 151 peças de porcelana
chinesa que Frederico Guilherme I trocou por 600 militares bem treinados pertencentes a
Augusto I, Eleitor da Saxónia. A sala de chá, construída na ala do antigo palácio por
Arnold Nering entre 1695 e 1713, reflecte este gosto quase obsessivo pelo Oriente e as
porcelanas brancas e azul­cobalto. O Palácio de Ludwigsburg é um outro exemplo da

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aliança entre o fascínio do Oriente e o desejo de propaganda do poder absolutista no
Principado de Württemberg, próximo de Stuttgart. Simultaneamente à construção do
palácio de Verão e pavilhão de caça, cujas obras inicia em 1704, o Duque de Eberhard
Ludwig financiou uma fábrica de porcelanas no próprio palácio entre 1713 e 1728,
utilizando a jazida de caulino descoberta em Passau. Apesar de excelentes
coleccionadores de arte oriental e de adquirirem peças de uma extraordinária beleza
como é uma caixinha japonesa do período Edo, vinda de Kioto (Japão) [Figura 11],
Maria Teresa de Áustria criou também instalações próprias para o fabrico de porcelana
de Viena, e utilizava o caolino das mesmas jazidas de Passau.

Os leques eram outros dos adereços a que as damas da corte recorriam para seduzir e
                  30.            

encantar. De origem asiática, o leque vai sendo decorado conforme a época ou as
comemorações em curso e a decoração de o leque, em pleno século, decorava­se com
muitos motivos florais ou figuras exóticas, os mesmos temas e motivos que preenchiam
as pinturas murais ou as sedas dos cabinets ou galleries ou ainda na mobília lacada e nas
porcelanas. A construção das figuras áulicas europeias passava também pelo vestuário e
pelas jóias e penteados. O vestuário, sedas e outros adereços orientais ­ pérolas,
madrepérolas ­ são elementos essenciais para a elegância que se quer exibir. É
interessante ver que a Arquiduquesa Maria Teresa de Áustria é retratada de forma muito
similar à que a Madame Pompadour escolhera para si quatro anos antes [Figura 12a e
Figura 12b]:  o pormenor da máscara veneziana como elemento de codificação de um
comportamento de representação em ambas as pinturas é significativo do força da
pintura como um meio de propaganda do poder que ambas tinham e queriam
evidenciar.Em pleno século XVIII, as novas correntes estéticas “rocaille” e “rócócó” que
surgem em França na fábrica de porcelanas de Sèvres e de Limoges, são também
trabalhadas na fábrica de Viena.

Gravart, Taunay e Caillot utilizaram com êxito uma paleta variada de pigmentos: o
                  31.            

famoso “bleu de roi”, conhecido como azul real ou “bleu de Sèvres”; e o azul­turquesa.
Xzrowet descobriu o “rosa­pompadour”, muito vulgarizado no século XVIII nas
decorações das porcelanas. Surgiram também roxo­violeta, o verde­maçã, o verde­folha
e o amarelo­claro. Estas cores combinadas foram algumas das inovações da manufactura
de objectos de decoração, e também nas bordas dos imensos serviços de jantar, onde o
colorido, ao lado da decoração em ouro, dava às porcelanas um requinte principesco.

A representação de alegorias, as cores claras e os douramentos em quase pura filigrana
                  32.            

passam a estar na moda dos palácios e residências, que libertas do estigma do Barroco
Contra­reformista da Igreja, se voltam para os ideais do Iluminismo.

Os casamentos de D. João V com D. Mariana da Áustria e de Sebastião José de
                  33.            

Carvalho e Mello com a Condessa Ernestina Daun, dama de honra da Arquiduquesa
Maria Teresa de Áustria, estreitaram as relações entre Portugal e o Império Austro­
Húngaro. A corte passou a falar alemão e a procurar um ambiente mais depurado, mas
profusamente decorado ao gosto “rocócó” de François Cuvilliès, o introdutor deste estilo

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em território Austro­Húngaro. A coexistência do gosto francês e da sumptuosidade das
baixelas de prata com o brilho das porcelanas criava um ambiente de grande fausto nos
jantares e festas das grandes casas imperiais, reais e senhoriais. O gosto francês foi
trazido para Portugal por arquitectos e artistas convidados por D. João V. Robillion,
acrescentou ao projecto inicial uma nova campanha de obras no Palácio de Queluz que
decorreu entre 1747 e 1760. O antigo pavilhão de caça de D. Pedro II e de D. João V foi
completamente remodelado pelo Infante D. Pedro, filho de D. João V e de D. Maria Ana
de Áustria.

A Sala dos Embaixadores [Figura 13], assim conhecida desde 1794 embora tivesse sido
                  34.            

concluída em 1754, era onde D. João VI receberia em audiência o corpo diplomático e
realizava as cerimónias do beija­mão até à sua partida para o Brasil. Era palco de
concertos e pequenos recitais muitas vezes executados pelas próprias infantas. A
decoração oriental sente­se em todo o espaço ­ porcelanas chinesas, chinoiseries, lacas ­
entretecem­se no recorte dourado dos estuques e da talha “rocaille”.

A simbiose desses dois mundos era também recriada em cópias dessas baixelas de prata,
                  35.            

nomeadamente as de Thomas Germain ou de Ludovice, que privavam com os serviços
que reproduziam a sua estrutura, mas em porcelana profusamente pintada na China
durante a Dinastia Qilong. A corte portuguesa recebia nos palácios de Queluz os mais
altos signatários de todas as cortes europeias em baixelas de porcelana rosa. A molheira
com travessa da Companhia das Índias Ocidentais da Figura 14 fazia parte do serviço
de jantar, chá, café e chocolate pertencente de D. Pedro, filho de D. João V e de D.
Maria Ana de Áustria, encomendado propositadamente para o rei e decorado com as
Armas Reais Portuguesas sobrepostas às da Cruz de Malta. Designado como “louça de
macao”, este serviço consta do inventário do palácio desde 1767.[4]

Por esta altura a sociedade portuguesa no Brasil regia­se pelos mesmos protocolos de
                  36.            

etiqueta e gosto. A rede clientelar que na esfera do público, se pautava pelas linhas
programáticas do poder central, na esfera do poder privado, alicerçava­se a laços de
parentesco. As invasões e ocupações do território por parte dos holandeses contribuíram
para o intercâmbio de obras de arte ou de utensílios do quotidiano que o mercado oficial
ou o mercado paralelo ofereciam. Em 1730, “as mercadorias que vinham da China
vendiam­se mais vantajosamente no Brasil do que em qualquer outro local”,[5] mercado
que tenderia sempre a aumentar com a liberalização dos portos. Em 1765, D. Carlos II
recebia Bombaim como dote de casamento de D. Catarina de Bragança, a rainha que
introduz o hábito de tomar chá em Inglaterra.

A 4 de Novembro de 1769, D. Luís de Almeida Soares Portugal era nomeado
                  37.            

Governador da Bahia e incumbido da missão de preparar a transferência da capital para
o Rio de Janeiro. Durante os nove anos que exerceu o cargo na nova capital a cultura e
as artes são uma das suas preocupações. Os teatros, as academias e as novas
universidades traduzem a vontade que a nova elite tem em implementar o novo conceito
de sociedade guiada por teóricos do Iluminismo Português como era o caso de José

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Seabra da Silva que, pouco antes da sua transferência para o Rio de Janeiro, publicara
Deduções, Analytica e Cronológica. A inauguração da casa dos Vice­Reis no Rio de
Janeiro em 1772, permitiu­lhe adequar o novo espaço ao gosto europeu da época. As
peças brasonadas como são os jarrões dos Governadores da Índia, às porcelanas chinesas
ou peças japonesas dos diferentes períodos, ao mobiliário inglês ou às porcelanas de
Sèvres, de Limoges ou Meissen circulavam nos mercados brasileiros em abundância.
Em 1793, havia já abertas 12 lojas de porcelanas da China, evidenciando a procura por
parte de nobres, proprietários de engenhos e comerciantes. A par do “gosto à oriental”,
as porcelanas francesas e o gosto à grega passam a apresentar paisagens e cenas
bucólicas e alegorias e cenas da mitologia, como já referimos anteriormente. Durante o
mesmo período, Bernardo José Maria de Lorena, capitão geral de Minas Gerais e antigo
Vice­Rei da Índia foi nomeado Governador de S. Paulo, também durante nove anos
(1786­1797). O covilhete da Figura 15,[6] de grandes dimensões, apresenta as armas da
família e evidencia a depuração de gosto desta nobreza cosmopolita que se impunha
inter pars pela elegância e fausto das suas recepções.

A Europa vivia uma grande instabilidade. A declaração de Pillnitz e o Tratado de
                  38.            

Aliança entre os Habsburgos e o Tratado de Aliança com a Prússia a 7 de Fevereiro de
1792 tinha durado poucos meses. Napoleão Bonaparte declarara guerra a Francisco I,
logo após a morte de Leopoldo II, Rei da Boémia, Morávia, Hungria e do Império
Austro­Húngaro, alterando definitivamente o palco político da Europa Central
absolutista,  que se via envolvida nas três alianças contra Napoleão. As tropas francesas
tinham invadido e atravessado o território da Boémia no Inverno de 1799­1800, quando
se dirigiam para a Rússia.  As alianças político­económicas entre Portugal e a França
levaram Portugal a entrar em confronto directo com as terceira e quarta coligações,
numa convenção de neutralidade assinada a 18 de Maio de 1804. Napoleão exigiu que
Portugal encerrasse todos os portos aos antigos aliados.A difícil inclusão na aceitação
dessas cláusulas constantes do Bloqueio Continental e a sua aproximação a Inglaterra já
considerada como a opção certa em 1802, levaria a que, três anos mais tarde, a França
invadisse Portugal, com a colaboração da Espanha.

Entretanto, durante esse período, é bastante interessante a idéia que Laure Permon,
                  39.            

Duquesa de Abrantes e mulher de Junot, tem do “gosto à oriental”, que Portugal e os
países que possuíam as Companhias das Índias viviam intensamente e que se opunham
“ao gosto ao Romano e à grega” que a corte de Luís XVI tinha adoptado. Tendo passado
pela capital portuguesa entre os fins de Abril de 1805 e Setembro de 1806, a viúva de
Junot, na altura embaixatriz de França em Lisboa, registou em Souvenirs d’une
ambassade et d’un séjour en Espagne et au Portugal estas suas opiniões:

                  40.                                                  Os chineses são nossos desconhecidos, eu sei. [...] As relações são frequentes
entre Portugal e a China. Na época de que falo sobretudo, navios ricamente
carregados chegavam diariamente da China e traziam mais profusão de objectos
raros e preciosos, fossem eles sedas, ébano, madrepérola e sobretudo marfim. A
Inglaterra, que parecia prever o que se tornou uma espécie de mania, comprava já
e mesmo bastante caro, todas estas coisas enviadas pelos chineses. Quanto a nós
detestávamo­las e esse momento de transição das modas gregas e romanas para o

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luxo verdadeiramente rico e bonito que o Império deu, nada tinha em comum com
as chinesices de porcelana, os capacetes ferrugentos e todas essas coisas que
agora estão tão em moda [1813­1814] e são tão desejadas! Que pena não ter
previsto isso naquela época! E como me teriam custado barato! [7]

O Imperador francês julgou poder manter isolada a Grã­Bretanha, “querendo conquistar
                  41.            

o mar pelo poder na terra”, mas em finais de 1807, a família real é transportada em
navios sobre escolta inglesa para o Brasil. Partindo para o Brasil e separado da pressão
continental europeia, o rei D. João VI procurou manter as suas linhas de governação e
orientação relativamente às preferências diplomáticas seguidas antes do pacto de
neutralidade, opções que se relacionavam com as dificuldades em que se encontravam as
outras potências europeias, nomeadamente durante o período de ocupação de Portugal
pelas tropas napoleónicas, entre 1807 e 1810. Essa partida da Corte portuguesa para o
Brasil criou nas cortes européias e países aliados, uma nova expectativa sobre o
continente americano e a sobre a importância do Brasil como território autônomo, livre e
independente, acontecimento que teve um impacto enorme na vida da sociedade
portuguesa no Brasil. Os quarenta navios mercantes transportaram 15.000 pessoas, que
levaram consigo muitos objectos de valor que inundaram o mercado que se abriu aos
aliados de Portugal. Do Oriente, começaram a chegar mercadorias e objectos orientais à
Bahia e ao Rio de Janeiro. Apenas de 1813 a 1814, duas dezenas de navios ingleses
tinham levado de Madrasta e Bengala, portos localizados na Índia oriental, muitos
objectos orientais principalmente louças para o Rio.

Em meados de 1812­1813, D. Rodrigo Domingos de Sousa Coutinho Barbosa, Ministro
                  42.            

das Finanças de D. João VI, permite que os primeiros colonos chineses, vindos via
Macau, cerca de 300, se instalem na Fazenda de Santa Cruz, antiga cerca do Convento
Jesuíta e adaptado a palácio de Verão da família real para plantarem chá. O avanço dos
conhecimentos de Botânica e, sobretudo, o racionalismo do Iluminismo levam a que,
nos alvores do romantismo, se procure na natureza o que anteriormente se procurava no
interior e fausto dos palácios barrocos. A Fazenda de Santa Cruz transformar­se­ia no
jardim botânico da cidade, levando a que mais indivíduos pudessem usufruir do bem­
estar que a beleza e harmonia destes espaços exteriores podia proporcionar. Novos
jardins e passeios públicos se abriram a uma nova classe social de fazendeiros e grandes
proprietários. Para comprovar esta realidade e o poder econômico e político desta
sociedade brasileira poderemos mostrar como último exemplo, uma travessa decorada
com uma paisagem também tipicamente brasileira [Figura 16]. Do lado esquerdo, está
representada “uma plantação de café [...]; o tema central tem um casario português;
finalmente, do lado direito, em cima da ponte, há dois cidadãos, com vestimentas
chinesas, que seriam do grupo dos 300 plantadores que tinham ido para o Rio plantar
inicialmente chá e, depois, café”.[8] Esta travessa chinesa do período Daoguang (1821­
1850), fez parte do serviço de porcelana encomendado pelo comerciante e comendador
do Rio de Janeiro Pedro José Bernardes, 2º Barão, Visconde e Conde de Itamarati.

A 29 de Novembro de 1816, D. João VI e o Imperador Francisco I da Áustria assinam o
                  43.            

contrato de casamento entre D. Pedro e D. Leopoldina Josefa Carolina. A chegada da

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27/09/2016 19&20 ­ "O gosto à oriental" nas artes decorativas na época de D. João VI, por Maria João Albuquerque

princesa austríaca ao Rio de Janeiro, a 6 de Novembro de 1816, trouxe uma corte
renovada, segundo os novos padrões de uma Europa invadida pelas tropas napoleônicas.
Os elementos mais barroquizantes deram lugar às formas mais discretas e geométricas
do Neo­Classicismo. O novo Império Austríaco adaptara­se à nova burguesia e a um
novo mercado e clientela vinda da classe média, mas o gosto pelo exotismo e a
coquetterie e elegância da corte mantiveram­se [Figura 17]. São desse facto exemplo, as
encomendas realizadas para a China, Extremo­Oriente e Índia durante este período. As
mesas e os interiores do paço, no Rio de Janeiro, embelezam­se e vestem­se da
combinação de objectos de várias épocas e diferentes estéticas, períodos artísticos,
gostos e culturas; em conjunto, representam a história das artes decorativas e o “gosto à
oriental” até ao regresso de D. João VI a Portugal.

D. João VI regressa a Lisboa a 26 de Abril de 1821, mas o Rio de Janeiro e a emergente
                     1.            

São Paulo pretendiam manter a hegemonia dos anos que viveram enquanto capital do
Império. A elite cultural e iluminista deu continuidade a movimentos de independência
já esboçados, mas sem êxito, em períodos anteriores e a 7 de Setembro de 1822, as
margens do rio Ipiranga, na região de S. Paulo, assistiram a fecho do período de regência
de D. Pedro, o primeiro Imperador do Brasil.

Bibliografia activa

ABRANTES, Duquesa de. Recordações de uma Estada em Portugal (1805­1806). Portugal e
os Estrangeiros, BNL, Lisboa, 2008.

Casa­Museu Fundação Medeiros e Almeida “Centro de mesa do Bispo do Porto”, Público, 27­
06­08

CASTRO, Nuno. A Porcelana Chinesa ao tempo do Império ­ Portugal / Brasil. Lusitânia,
grupo Montepio, Lisboa, 2007.

ERICHSEN, Johannes, (coord.). Die Münchner Residenz. Thorbecke, Bayerische
Schosserverwaltung, Sttugart, Germany, 2006.

LEITE, José Roberto T.. As Companhias das Índias e a Porcelana Chinesa de encomenda.
Lisboa, [s.d.]

TEIXEIRA, José Monterroso. Triunfo do Barroco. Fundação das Descobertas, Centro
Cultural de Belém, Lisboa, 1991.

TEIXEIRA, José Monterroso; KARASOVÁ, Daniela, (coord.). Formas e Ambientes, As
colecções do museu de Artes Decorativas de Praga. Fundação Ricardo Espírito Santo, Lisboa,
2005.

_________________________

* Universidade de Lyon II, Faculdade de Letras de Lisboa, Bolseira do Ministério da Educação.

[1] TEIXEIRA, José Monterroso; KARASOVÁ, Daniela, (coord.). Formas e Ambientes, As colecções
do museu de Artes Decorativas de Praga, Fundação Ricardo Espírito Santo, Lisboa, 2005, pp. 106­107.

http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/ad_oriental.htm 12/13
27/09/2016 19&20 ­ "O gosto à oriental" nas artes decorativas na época de D. João VI, por Maria João Albuquerque

[2] Monterroso­Teixeira, José. “Papeleira”, Triunfo do Barroco. Fundação das Descobertas, Centro
Cultural de Belém, Lisboa, 1991, pp. 174 e 175

[3] Casa ­Museu Fundação Medeiros e Almeida “Centro de mesa do Bispo do Porto”, Público, 27­06­08

[4] Catálogo da loja do IPPAR online

[5] LEITE, José Roberto T.. As Companhias das Índias e a Porcelana Chinesa de encomenda, pp. 154 e
155, CASTRO, Nuno, A Porcelana Chinesa ao tempo do Império ­ Portugal / Brasil, Lusitânia, grupo
Montepio, Lisboa, 2007

[6] CASTRO, Nuno, A Porcelana Chinesa e os Brasões do Império, p. 201

[7] ABRANTES, Duquesa de. Recordações de uma Estada em Portugal (1805­1806), Portugal e os
Estrangeiros, BNL, Lisboa, 2008, p. 102 

[8] CASTRO, Nuno. A Porcelana Chinesa ao tempo do Império ­ Portugal / Brasil. Lusitânia, grupo
Montepio, Lisboa, 2007, p. 314

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