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psicodiagnéstico é um processo que deve ser planejado passo a passo, mas, quan- do estamos iniciando a vida profissional, nao sabemos exatamente como é 0 primeiro pas- so, Existem diferentes opinides e posturas, e vocé tem liberdade para fazer suas escolhas ¢ construir 0 profissional que deseja ser. Neste capitulo, pro- curo trazer um pouco da minha visio, da minha pratica e alguns assuntos ou dicas a que gostaria de ter tido acesso quando iniciei meu trabalho. Espero que ele possa servir como um guia para acompanhi-lo nessa incrivel jornada do psico- diagnéstico. Nao pretendo fornecer um manual de regras rigidas, mas entendo que a flexibilidade necessaria para 0 trabalho do psicélogo é adquiri- da com o amadurecimento profissional e pessoal. Apresento este capitulo em duas secdes. ‘A primeira corresponde ao contato telefonico, & marcagao da primeira entrevista € ao contrato. A segunda abordaré a empatia ¢ a relagdo tera- péutica, considerando caracteristicas do profis- sional e do paciente. COMO TUDO COMECA 0 contato telefénico Se vocé vai comecar seu estagio ou trabalhar em uma clinica, é preciso saber que geralmente é 0 paciente quem vai procurar o servico. Ele teré um acolhimento ou uma triagem e, em seguida, voce pegara seus dados para entrar em contato ¢ mar- car a primeira entrevista. Ou seja, um pouco do trabalho foi adiantado e vocé ja tem informagées para se preparar melhor. Caso va atender em seu proprio consultério, vocé mesmo coletaré os pri- meiros dados e, se nao tiver uma Secretaria, 0 pa- ciente faré o contato diretamente com vocé. Ele ird contaté-lo porque, provavelmente, recebeu seu nome como indicacao. Vocé recebe- rd uma ligagio de um mimero desconhecido e, ansiosamente, pensara: “Sera que é um pacien- te?”, Se essa ansiedade for muito grande, voce nao ouvird nada do que a pessoa do outro lado da linha falara. Portanto, mantenha sempre um papel e uma caneta a mio, Pergunte ¢ anote 0 nome da pessoa que ser avaliada e sua idade, solicite uma descrigéo genérica do problema e marque 0 hordrio, Caso nao tenha uma agenda em mios, diga que ligara depois para confirmar a data. Nao ha problema algum nisso. Inclusive, se ndo puder falar no momento, diga que retornard a ligago, mas nunca deixe de anotar 0 nome da pessoa e o nimero do telefone. Mais tarde, voce poder esquecer essas informagées, vindo a se perder na lista de registros. E importante manter acalma durante esse primeiro contato telefonico, pois 0 individuo ja esté formando uma opiniao sobre a sua competéncia ou capacidade de estabe- lecer confianga. Promova uma conversa em que vocé possa demonstrar ser atencioso e acolhedor. Pode per- guntar sobre a demanda da avaliagdo: “Voce poderia me adiantar alguma informagao sobre 0 motivo da avaliacao?” e “Quem a est solicitan- do?”. Caso obtenha esses dados por telefone, vocé tera como se preparar um pouco melhor, no 36 he HUTZ, BANDEIRA, TRENTINI & KRUG (ORGS.) sendo, assim, pego de surpresa na consulta. Além disso, se for uma demanda com a qual nao traba- individuo leve documentos ¢ materiais que voce julgue necessérios, como o encaminhamento do ‘olicitante, resultados de exames, ¢ laudos médi- cos e psicolégicos. Quando a ligacio é feita pelo responsével da crianga para a qual se solicitou uma avaliacao, vocé pode sugerir que ambos os responsiveis legais (p. ex. pai € mae) compare- gam e orienté-los a ir para a sesso sem a crian¢a. Essa solicitagao é feita por ser comum as familias terem segredos ou opiniées que nao sio expressas na frente da crianca, ou, ainda, assuntos de con- teddo mais intimo do casal. Entretanto, muitas vezes o responsivel a leva por nao ter com quem deixt-la, Nessas situagdes, voce poderé avaliar se ela tem idade suficiente para ficar na sala de espe- ra com a secretaria (caso disponha de uma), ow se entrara no consultério junto com o responsé- vel. Se ela ficar de fora, divida 0 tempo entre os responsiveis e a crianca, de modo a nao deixé-la com a impressio de estar sendo excluida, afinal, ela é0 cerne da avaliacao. Caso a crianga tenha de acompanhar toda a sessio, introduza-a na con- versa. Quando fizer 0 contrato com o responsi- vel, explique tudo a ela também. Em qualquer idade, a crianga sabe quando esta sendo incluida e valorizada. Olhe para ela, pergunte direta- mente a ela, mostre-se interessado no que tem @ dizer. Provavelmente vocé seri capaz de observar aspectos da relacdo entre o responsavel e a crian- ¢2, como 0 estimulo e a valorizagao dada as opi- nides infantis. No caso de adolescentes, vocé levard em con- sens de € a demanda, mas, em geral, é interes- aan fs ina ie neene seja condu- uma etapa do desenvolvimento humano que Bus. ca identidad een lidade @ autonomia. Esse posicionamento do psicélogo favorece uma relacio de confi "medida cm que o Jovem perecbe que o profis: © vé como alguém capaz de falar de si mes- mo e de suas necessidades. Ele chegou ao consultério, Bom, scu paciente chegou ¢ voce vai busca scl = fisico (abrago, aperto de mio, beijo na #6) esse Momento, assim como na despedida, vai depender de como vocé se sente mais i vonta- de, mas no se esqueca de observar a reasao do paciente. Tente deixé-lo 4 vontade também. Pa- ‘cientes com tracos paranoides, por exemplo, néo costumam gostar de ser tocados. Depois disso, voce vai guid-lo até 0 consultério. Se esse trajeto for um pouco longo, pergunte se foi facil achar 0 local, se conseguiu estacionar, como esta o clima na rua ou outras questdes impessoais, mas nunca indague sobre a queixa. Os assuntos referentes 4 problematica do individuo devem ser sempre abordados dentro do consultério, que € 0 local apropriado para isso, € porque vocé quer que to- daa sua atengio esteja voltada as respostas, pro- curando preservar a confidencialidade das infor- mages. Ouca-o! Esteja presente de corpo € mente. Prepare-se bem para esse momento ¢ tenha em mente as perguntas que precisa fazer, mas nao esqueca de ouvir as respostas. Psicélogos inician- tes tendem a se preocupar demasiadamente com obrigagées e regras. Isso prejudica a relagao tera- péutica, assunto que sera abordado mais adiante (Meyer & Vermes, 2001). Nem todo psicdlogo ini- ciante experimenta um nivel de ansiedade capaz de interferir em sua atengao ~ 0 que ¢ 6timo. Con- seguir lidar tranquilamente com situagdes novas é muito bom. Contudo, tanto o excesso de ansie~ dade quanto o de autoconfianga sto capazes de “ensurdecer” o profissional. ‘Ao receber um individuo que fez muitas ava- liagdes, consultou diversos profissionais e queixa- -se que ninguém soube avalié-lo ou ajudé-lo, nio € raro que 0 psicélogo experimente uma sensa- sao de desafio € pensamentos do tipo “Eu vou conseguir!”, “Nenhum profissional se dedicou a ele como eu farei” ou, ainda, sofra uma intensa ansiedade e tenha pensamentos como “Se eu nio idstes barieeoce aisles ceemtaiee aba sami dcenpno do ip po, : letida se refere ao individuo. Ou sela, sera. que ninguém soube avalid-lo de fato ou € ele que nao aceita o que Ihe foi dito ou a aju- da que Ihe foi oferecida? Se, de acordo com ag Saree neonate i © que ele realmente fowlanepan #¢s questionamentos feitos por = go trardo uma visio mais clara do do on S*emplo desse tipo de situacio é quan- 5 pais ndo aceitam determinado diagnéstico dado ao filho, ou nao concordam que a dinami- ca familiar ou que as praticas parentais utiliza- das estdo influenciando negativamente a crianga. Quando voce se deparar com situagdes seme- Ihantes, reflita sobre a real necessidade de nova avaliagao e se ela trara informagoes que ainda no foram investigadas (considere, também, a reaplicago de instrumentos psicolégicos). Tal- vez 0 mais indicado seja uma orientacao aos pais ‘em vez de submeter novamente a crianga a uma fatigante avaliagao, fortalecendo, assim, o pensa- mento de que ela tem um problema téo grave que ninguém sera capaz de ajudé-la. ‘Marcar e receber o individuo na primeira sessio apés 0 contato telefnico nao significa que a avaliagdo seré realizada. Voce considerara pelo ‘menos trés pontos: 0 esclarecimento da demanda; ‘areal necessidade da avaliagio; e sua competén- cia para realizé-la. Para o primeiro ponto, tenha ‘em mente que “.. .o avaliador pode se encontrar ‘com o avaliando ou com outras pessoas antes da valiagio formal a fim de esclarecer aspectos da razio para o encaminhamento” (Cohen, Swer- dlik, & Sturman, 2014, p. 4). Para o segundo pon- to, entenda que existem demandas que podem ser encaminhadas diretamente para a psicotera- pia, por exemplo. Sobre o terceiro, é fundamental Jembrarmos do Cédigo de Btica Profissional do Psicédlogo (Conselho Federal de Psicologia (CFPI, 3005), que aponta que 0 psicbloBO deve - asst a i profissionais somente Por atividades para as quais est cacien™ st ee tecicament” Claro qDeo PCAC a ai itada, iniciante tem uma competencis WT ecto pode j é quando determina- qe Prada no faz parte do seu campo de ao. Restringir seu repertorio de trabalho é uma escolha. Certa um psicodiagnéstico vez, um pai me ligou porque busceve para a filha de 4 anos. Por telefone, nao entendi ‘exatamente 0 que ele que- iene marquel uma consulta de esclar nto. A pergunta que ele queria responder era: “Fla teré esquizofrenia no futuro?”. Havia historia familiar positiva para 0 transtorno, ele estava muito pre~ Eeupado. Eu o ouvi atentamente, entendi o que queria, mas informei que nao conseguiria dar SMa resposta. Informei saber que esse IPO de avaliagao existia em outros paises, mas que eu nao tinha formagao adequada para essa prati- nhecia nenhum profissional geogra~ ca endo con ficamente proximo que a fizesse. Esclareci que PSICODIAGNOSTICO ym 37 minha avaliagdo apresentaria o estado emocional e/ou cognitivo atual da menina, mas que, por seu relato, eu nao percebia necessidade para isso (ela também estava em psicoterapia).De qualquer for- ma, orientei-o a respeito dos fatores de protecao, do ambiente saudavel e do manejo parental. Nao seria apropriado realizar uma avaliagdo sobre como ela estava naquele momento, sabendo que a expectativa do pai era outra. O contrato Passado 0 momento da recepgao do individuo ¢ do entendimento da demanda, ¢ de extrema im- portincia esclarecer 0 que ¢ um psicodiagndstico, visto que a imensa maioria das pessoas que pro- curam esse servigo nao sabe bem como funciona esse proceso € quais séo seus direitos. Manté-las sem esse conhecimento reforga ideias irreais, idea- lizadas ou preconceituosas sobre 0 processo. Essa explicagdo ja introduz o contrato. Para versar sobre o contrato, vamos retomar 0 Cédigo de Etica Profissional do Psicélogo (CFP, 2003) como principio fundamental: *. . 0 psic6- logo contribuira para promover a universaliza- ao do acesso da populagao as informagées, a0 x onhecimento da ciéncia psicologica, aos servicos eaos padrdes éticos da profissdo” e tem como res- ilidade *.. « Fornecer, a quem de direito, ha prestacio de servigos psicol6gicos, informa- ges concernentes 20 trabalho a ser realizado 15 seu objetivo profissional”. ‘Tendo isso em men- te, come¢o explicitando que o psicodiagnéstico € um proceso avaliativo € informo ao avaliando, put aos seus responsdvels: que: ‘Trata-se de um proceso: de investigagao, Cujo ta do encami- objetivo ¢ responder 4 pergun' nhamento Nao inclui o tratamento Ha beneficios para 0 caso i eerasdificuldades paraadequar 00" fefou escolar; reconhecer as poten nejar reabilitagdes €forta- ‘o diagndstico para esCO~ tantos outros) fie ‘em questo (reco jo parental cialidades para pla lecé-las; identificar Jhero melhor tratamentos entre + Asindicagdes terapéuticas serao dadas a0 nal do processo ’ + Oprocesso possui uma estimativa deduragio (devendo-se explicitar onuimero de sessdes € ‘0 tempo de cada uma) Com © conhecimento do paciente, entrarel ‘em contato com quem eu julgar necessario, como, por exemplo, familiares, instituigoes, 38 De HUTZ, BANDEIRA, TRENTINI & KRUG (ORGS.) médicos e outros profissionais que o atendam = tal contato pode ser telefénico ou presencial + De acordo com 0 tipo de resposta fornecida pela avaliacdo e com suas limitacées, pode-se estabelecer alguns prognésticos ou causas ex- plicativas de alguns problemas + Durante o processo, o paciente tem direito a documentos (declaracao) que justifiquem fal- tas ao trabalho, caso seja necessério + Farei uma ou mais entrevistas devolutivas a0 final do processo, juntamente com duas cé- pias do laudo, sendo uma para ele e outra pa- a0 profissional da satide que o encaminhou + No caso de encaminhamento de escolas ou instituigdes que nao sao da area da sade, pro- videnciarei um atestado. Explicarei, resumi- damente, a diferenca entre esses documentos (0s documentos serdo abordados no Cap. 14). Esclarega sobre o sigilo. Quanto mais o paciente parecer desconfortavel com a situacao de avaliagéo, mais interessante sera conversar sobre quais informagées sero repassadas e quem terd acesso a elas. Adolescentes, por exemplo, ten- dem a ser mais desconfiados, pois costumam classificar 0 psicélogo como um agente dos pais. A questio prioritaria desse aspecto ¢ esclarecer que, como se trata de uma avaliaco, voce escre- vera sobre o paciente e provavelmente falara com 6 profissional que o encaminhou (e/ou responsé- veis), mas sempre com o cuidado de comunicar apenas o necessério para ajudé-lo. Nunca garanta guardar todos os segredos do paciente. O traba~ Iho do avaliador é responder a alguma pergunta feita e permitir que 0 paciente receba ajuda pro- fissional sempre que necessirio. O Cédigo de Etica Profissional (CFP, 2005) aponta que, no contato com profissionais nao psi- célogos, deverio ser compartilhadas “somente informagées relevantes para qualificar 0 servico prestado, resguardando o carater confidencial das comunicagées, assinalando a responsabili- dade, de quem as receber, de preservar o sigilo”. Entre outras orientagées, o International Test Comission (ITC, 2003) sugere que se explique aos interessados os niveis de confidencialidade antes de iniciar a avaliagao e que se solicite as autoriza- ‘g6es antes da divulgacao dos resultados. £ sem- pre dificil dar orientagdes genéricas sobre o siglo, pois dependera da demanda de cada caso. Assim, recomenda-se a discussio em supervisio ou com algum colega mais experiente. Além do contet- do relatado pelo paciente, também ha o material decorrente da avaliagao, como testes ¢ protocolos de registro que deverao ser armazenados confor- me a Resolugéo n° 01/2009 do CFP (2009). Informe ao paciente que vias de contato ele pode usar com voce para, por exemplo, desmar- caro atendimento. Pode ser telefone, e-mail, apli- cativos como 0 WhatsApp, redes sociais, entre outros. A cada dia, ha mais alternativas de con- tato, No entanto, 0 que ¢ comum e pratico para algumas pessoas, pode nao ser confortavel para outras. Lembre-se que voce deve estar atento aos canais de comunicacao que disponibilizar e tenha grande cuidado com falhas na comunica- 40, comuns em meios eletronicos. O mais seguro continua sendo a ligagao telefénica. Destaco que ndo me refiro ao atendimento on-line (informa- ‘gbes sobre essa pratica devem ser consultadas € adquiridas com 0 CFP). Explique, também, que vocé anotaré infor- mages durante a avaliacdo. Nunca tive pacientes que se opuseram a essa pratica, mas ¢ importan- te deixar o paciente a vontade. Eu costumo dizer que nao posso confiar na minha meméria, que as anotagées facilitam a redacao posterior do laudo e que ele poderd olhé-las caso sinta-se desconfor- tavel. Cuidados extras devem ser tomados com anotacées oriundas de aplicacdes de instrumen- tos projetivos. Estabelega algumas normas sobre faltas atrasos e comunique-as ao paciente. Servicos- “escola e clinicas costumam ter regras, como 0 desligamento do paciente apés 2 ou 3 faltas sem aviso prévio; tanto 0 atraso quanto a falta podem implicar custo extra para o paciente, além de estender por mais tempo o processo de avaliagao. ‘Tenha um cadastro de seus pacientes, com informagdes como nome completo, enderego, escolaridade, profissio, contatos telefénicos e e-mail. Vocé mesmo pode preencher esse cadastro ou entregé-lo para que 0 paciente o faca enquan- to espera a sesso. Pode-se, ainda, acrescentar dados de saiide geral e de tratamentos ou avalia- {ges anteriores, assim como 0 controle dos hono- tarios. Existem softwares de gestao que podem ser utilizados, ou pode-se, ainda, manter um arquivo fisico; acima de tudo, é importante que as infor- mages sejam mantidas em local seguro e que sejam feitas cOpias de seguranga (backup) a fim de nao perde-las. Psicdlogos, assim como muitos outros pro- fissionais da satide, sao carentes de conhecimen- tos de gestao, em especial gestio financeira. Para que as finangas também sejam saudaveis, ¢ preciso tratar 0 consultério como uma empresa. Os temas “dinheiro”, “valor” e “prego” sio pou- co discutidos durante a formacdo do psicélo- go, gerando falta de preparo para essa ativida- de, Muitos alunos ¢ colegas queixam-se de nio saber cobrar e de ficar constrangidos 20 fazé-lo, nas essa é uma pratica necessaria ser abordada com mais detalhes neste capitulo. ‘Um dos motivos que vejo para termos tantas cobrar, além da falta de treina- Pre nosso produto. O que nds vendemos? Voce jé pensou nisso? Eu acredito que vendemos nosso eonhecimento em satide. Mas como estabelecer vconhecimento. Segundo 0 Servico de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2015?) Calcular corretamente os precos é essencial paraa satidefinanceira dos negécios. O preso é quanto 0 seu produto ou servico vale para © consumidor. Para 0 seu negécio, 0 preco ideal de venda & aquele que cobre 0s custos do produto ou servigo e ainda proporciona 0 Jucro desejado pela empresa. No preco, voce precisa considerar os custos com: alugue! da sala, luz, condominio, limpe7 telefone, internet, ‘anuidade do Conselho Regio- nal de Psicologia, anuidade do Sindicato dos Psi- logos (opcional), assessoria contébil ¢ impos- tos (imposto predial territorial urbano, imposto sobre servigos de qualquer natureza, imposto de renda). Além disso, hé os custos de materials ‘como testes e brinquedos, que serao usados com diversos pacientes, € os que irdo variar de acor- do com 0 caso avaliado: contato com instituicdes ou profissionais (telefone, gasolina, tempo): horas de supervisao; aquisicao de protocolos de regis- tro de respostas; horas trabalhadas no levanta- mento, corregao e interpretacao dos testes; horas trabalhadas na redacio dos documentos e entre- vistas devolutivas: Além de tudo isso, hd 0 nos- so conhecimento técnico a ser empregado duran- te o processo. ‘A inadimpléncia € um problema mui- ciel ame profissio ¢ de dificil solu- Foner remrnmensrernik nadie none na forma de penises prazos de pagamento de forma que PSICODIAGNOSTICO y 8 39 ele seja feito antes do fim do psicodiagnéstico. AAlguns psicélogos trabalham com contratos por escrito. E uma pratica interessante, que pode ser adotada com o suporte de um advogado. © profissional escolhe a forma como cobra- ri pelo servigo. Assim, vocé pode dar 0 valor da avaliagao completa, com uma estimativa de tem- po do processo, ou cobrar por sessio. Na segun- da opsao, ¢ importante que se tenha maior preci- sao sobre quantas sessbes serdo necessirias para que o paciente poss se organizar financeiramen- wes eve-se ter clareza de que, em qualquer das alternativas, 0 tempo da sesso propriamente dita é somente uma parte de tudo 0 que deve compor © preco. comum as pessoas perguntarem 0 pre- ¢0 do psicodiagnéstico ao telefone, na primeira ligacio. Pode ser dificil dar um valor preciso sem conhecer bem a demanda, mas vocé poderd infor- mar um prego medio, dizer que precisard de mais informagées sobre a demanda e/ou marcar uma sessio para esclarecimento da demanda e estipu- lagao do valor. Para finalizar, considero de extrema impor- tancia apontar alguns aspectos éticos envolvidos na cobranca dos honorarios. Nossa profissio tem algumas diferengas em relagdo ao restante do mercado. Nao podemos fazer promogoes, nem reprodugdes nao autorizadas dos testes. Tam- pouco podemos desqualificar processo @ fim de peduzir o valor financeiro do psicodiagndstico. © trabalho deve ser sempre competente, coeren- tee confidvel, assim como assegura nosso Codigo de Etica Profissional (CFP, 2005): ‘Ao fixar a remuneragio pelo seu trabalho, 0 psicélogo: a) Levard em conta a justa retribui- G40 aos servigos prestados ¢ as condigoes do usuario ou beneficiario; b) Estipulard o valor de acordo com as caracteristicas da atividade eo comunicara ao usudrio ow beneficiario antes do inicio do trabalho a ser realizado; ¢) “Assegurari a qualidade dos servigos ofereci- dos independentemente do valor acordado. ee Peete aE ICODIAGNOSTICO A relacio terapéutica auxilia na cooperaca paciente durante 0 processo rulitio ecu disposicao em buscar tratamento (quando for 0 _ apés a avaliagao, A demonstragao de empa- a construgio de uma relagio de confianga 40 4 HUTZ, BANDEIRA, TRENTINI & KRUG (ORGS.) também facilitarao a devolugao dos resultados. Embora este capitulo nao aborde a etapa de de- volucao, sabemos que, com certa frequéncia, 0 es- culmi- patia é ainda mais crucial. Empatia e relacdo terapéutica A empatia é uma habilidade que inclui aspectos cognitivos, afetivos (Davis. 1980; Schreiter, Pij- nenborg, & Rot, 2013) ¢ comportamentais (Fal- cone et al., 2008; Irving & Dickson, 2004; Lar- son & Yao, 2005). Existem diversos processos sociocognitivos relacionados a ela, entre eles, 0 contégio emocional, que é um estado emacio- nal autodirigido que pode constituir uma pri- meira etapa do proceso empatico, mas nao é su- ficiente para tal. Empatia é sentir 0 que 0 outro esté sentindo, sem uma conscientizagio do ou- tro, Trata-se de uma sincronia da emogdo do ob- servador com a emocio do observado. Além da emocio, ¢ possivel que o observador sincronize as, expresses faciais, a voz, a postura e os movimen- tos (Gouveia, Guerra, Santos, Rivera, & Singelis, 2007). Imagine, por exemplo, que um amigo seu esta relatando algo trégico ou algum sofrimento e-voce percebe-se fazendo a mesma cara de asso- lamento que ele. Entretanto, éa empatia que € di- rigida ao outro. Ela supde compaixdo, vontade de ajudar (Schreiter et al., 2013), capacidade para in- ferir estados mentais (Jiménez-Cortés et al. 2012) ¢ s¢ colocar intelectualmente no lugar do outro, a fim de entender a sua visio e de utilizar essa com- preensao para resolver possiveis problemas inter- pessoais, alm de conhecer os sentimentos do ou- tro por meio de sua express4o comportamental (Schreiter et al., 2013). Todos nos, seres humanos, experienciamos os processos citados anteriormente em diversos momentos da vida, exceto, claro, na presenca de determinadas patologias que apresentam altera- 0es na empatia e em habilidades relacionadas. Entretanto, no contexto profissional, a angdstia pessoal nao aurilia, e 0 contigio emocional sé é interessante se desencadear © processo empati ¢0 como um todo. Caso contrario, estarei sen- ‘Jo sensivel aos seuitimentos do paciente, mas sem gare: ra cmpatia necessaria para que ele confie no meu trabalho. Lembre-se que 0 paciente deve confiar no profissional que vocé é e nao no amigo que vocé poderia ser. Espera-se, entdo, que 0 psicdlogo seja capaz de escutar atentamente o relato do paciente € “escutar” seu comportamento nao verbal, com- preendera situagio pelo ponto de vista do pacien- te, compreender seu estado emocional, conectar- -se emocionalmente com ele, legitimar suas emogies e sentimentos e promover apoio. Thwaites e Bennett-Levy (2007) sugeriram que a empatia do psicdlogo pode ser compreen- dida em quatro aspectos diferentes: um se refe- re sintonia empatica; o outro diz respeito pos- tura empatica e terapéutica; um terceiro indica a habilidade comunicativa para com 0 paciente; e 0 Ultimo trata do conhecimento declarativo que 0 psicdlogo tem sobre a empatia. Acredito que espe- cialmente os dois ultimos aspectos poderiam ser abordados nos cursos de graduagao de Psicologia. Todos 0s psicdlogos ouviram, em algum momen- to do curso, que devem ser empaticos, mas pou- cos receberam ensinamentos sobre as definicdes de empatia e como demonstra-la, apesar da exis- téncia de treinamentos efetivos de empatia (van Berkhout & Malouff, 2015, no prelo). Contudo, a experiéncia profissional nio garante que o psicdlogo seja empatico (Schwartz & Flowers, 2009). Palhoco e Afonso (2011) inves- tigaram a empatia de estudantes de Psicologia em diferentes etapas da formacao e de terapeu- tas, tendo como hipotese a presenca de uma dife- ignificativa entre os grupos que pudes- Ceres aumento da capacidade empatica em consonancia com o aumento da experiéncia. Os resultados refutaram a hipotese. Foram veri- ficados diferentes escores de empatia nos gru- pos, mas sem uma perspectiva de desenvolvi- mento gradual. Com isso, é possivel adotar tanto uma perspectiva de que (a) experiéncias pessoais sejam mais importantes para o desenvolvimento dessa habilidade do que a formacio em Psicolo- gia; quanto uma visao de que (b) as grades cur- riculares das graduagdes em Psicologia nao con- templam o treino de tais habilidades, e os alunos geralmente vio para estagios de clinica sem um Preparo especifico, Quanto a perspectiva dos pacientes, o pro- fissional (médico) é visto como empatico quando sles se sentem aceitos e compreendidos. Para isso, Pressupdem-se duas vias: a cognitiva, que envolve @ apreensio precisa do ponto de vista do paciente © a habilidade de comunicar isso; e a afetiva, que abarca a capacidade do profissional de proporcio- nar uma melhora emocional ao paciente (Kim, Kaplowitz, & Johnston, 2004). Nesse sentido, sua aceitaco e sua compreensio nao serao suficientes caso 0 paciente nao as reconheca. Uma queixa frequente dos pacientes em psi- coterapia ¢ que seus terapeutas nao se preocupam com eles. A questdo que emerge disso é: sera que os psicélogos expressam empatia da forma que acreditam estar expressando? Ou ainda: seré que os psicdlogos conseguem perceber como o pacien- te percebe essa expressio de empatia? (Schwartz & Flowers, 2009). Para melhorar essa conexio entre a dupla psicOlogo-paciente, Schwartz ¢ Flo- wwers (2009) sugerem uma saudacao calorosa, com contato olho no olho; o respeito a cada paciente; a observacio dos préprios sentimentos em relacio ao paciente; € questionamentos sobre a empatia sentida por ele € por seus Nesse senti- do, areflexao é sobre o que vocé sente, endo sobre como se expressa. Talvez vocé precise ouvir mais sobre os sentimentos do paciente e fazer o exerci- cio de imaginar-se no lugar dele para, entao, con- seguir conectar-se (Schwartz & Flowers, 2009). Outra dificuldade comum que ‘Schwartz e Flowers apontam é a crenca de que, para sen- tir empatia, é necessario gostar do individuo. Eles citam um trecho de Carl Rogers (1955 apud Schwartz & Flowers, 2009) que considero tio relevante ¢ imprescindivel que vou cité-lo aqui: “O olhar positivo incondicional envolve a aceita- cao em relagao a expressio do paciente de senti- mentos negativos, ‘ruins’, dolorosos, temores, defensivos, anormais, da mesma forma que envol- ve a aceitacao da expressio de seus sentimentos bons’, positives, maduros, confiantes, sociais”. Assim, individuos com problemas de comporta- mento agressivo, por exemplo, costumam gerar aannteaferto, repulsa e uma postura de julgamen- to no psicélogo e, portanto, maior dificuldade em sentir empatia. A ideia ¢ que voce no precisa aceitar seus comportamentos “errados” para ser capaz de olhi-lo com o interesse ¢ a preocupacio necessérios para ouvi-lo. Embora os autores se refiram ao proces- so psicoterapico, a empatia e a aceitacdo nao sto diferentes no psicodiagnéstico, mesmo que ele tenha duracdo menor ou no seja interventivo. A conexio com 0 paciente tem de existir para que se possa entender 0 que acontece com ele. O estu- do de Larson ¢ Yao (2005) permite uma refle- xdo muito interessante sobre a empatia na pratica médica. Entre outros aspectos, os autores apon- tam que 0 construto em questio facilita a cole- ta de informagies, auxiliando em um diagnéstico PSICODIAGNOSTICO Bf 41 mais preciso, e tem um importante papel na efi- cacia dos tratamentos. ‘A empatia é necessdria para a relagao tera péutica, mas nio é 0 fim em si, Enquanto a empa- tia permeia qualquer relagdo humana, a relagao é ... uma interagao de matua influéncia entre terapeuta e cliente. Nela, a pessoa que buscou ajuda € privilegiada pelo trabalho de um profissional capacitado a utilizar técnicas € procedimentos especificos, ao mesmo tempo em que langa mao de habilidades sociais im- portantes,comoa empatia. (Meyer & Vermes, 2001, p. 101). Comumente, os pacientes sentem-se enver- gonhados ou desconfortaveis ao ter de falar sobre sentimentos, pensamentos e/ou comportamen- tos entendidos como inadequados por seu meio social. E possivel que ja tenham sido criticados ‘ow ridicularizados pela familia, por amigos € por colegas. A capacidade do psicélogo para demons- trar sua empatia, para valorizar a expressio des- ses temores (Thwaites & Bennett-Levy, 2007) ¢ para apresentar respeito, interesse € compreensio Fressencial para que o paciente se sinta acolhido ¢ atendido (Aradjo & Shinohara, 2002), fortale- cendo, assim, o vinculo. Uma relacdo terapéuti- a satisfatdria é importante tanto para o paciente quanto para a saide do profissional, pois melho- Fa sua satisfagdo com o trabalho (Larson & Yao, 2005). Caracteristicas do psicdlogo e do paciente Quanto as caracteristicas do psicdlogo, um ¢s- tudo demonstrou que as habilidades para trans- mitir seguranga, cuidado, compaixio e empatia foram positivamente associadas relagao tera- péutica, assim como a percepcao de profissiona- lismo e qualificagdo. Além disso, pacientes que perceberam seus psicélogos como tendo aceita- 40, compreensao, compromisso, compaixio, ha- bilidades empaticas e interpessoais, além de mo- tivos para agir em prol do melhor interesse dos pacientes, estiveram mais comprometides com seus tratamentos (Holdsworth, Bowen, Brown, & Howat, 2014). Outra revisao da literatura indi- cou os atributos pessoais do psicélogo que con- tribuiram positivamente para a relacdo. Sio eles: flexibilidade, experiéncia, honestidade, respei- to, ser confiavel, confiante, interessado, atento, 42 /,, OTL, BANOEIRA, TRENTINI & KRUG (ORGS.) amigavel, caloroso e aberto (Ackerman & Hilsen- roth, 2003). A lista pode ser ainda maior se in- cluirmos as habilidades de aceita¢ao, a auséncia de julgamentos, a genuinidade e a autoconfianca (Meyer & Vermes, 2001). Entretanto, ndo podemos esquecer que, antes de sermos psiclogos, somos humanos e precisa- mos de acompanhamento profissional, estudo e treinamento para perceber nossos proprios sen- timentos e pensamentos a respeito dos pacientes. Parafraseando Thwaites e Bennett-Levy (2007), diferentemente do aprendizado de técnicas avalia- tivas ou terapéuticas, o desenvolvimento de habi- lidades empaticas nio pode separar-se da “pessoa do psicélogo”. Trata-se de um amadurecimento pessoal, além de profissional. A atencdo aos proprios - cial para o trabalho do psicélogo. Perceber a rea- 0 emocional que 0 paciente causa em nés € necessdrio, mas ela s6 pode ser entendida como “causada” pelo paciente se 0 profissional for muito bem treinado para reconhecer seus pro- prios medos, dificuldades e crengas pessoais. Inevitavelmente, os relatos dos pacientes tocam tos pensamentos. Isso ocorre em maior ou menor grau porque somos humanos. Entretanto, 0 que deve ser evitado é a nao diferenciacao entre a his- toria pessoal do psicdlogo e as necessidades do paciente. Um estudo demonstrou diferengas nos esti- los de psicdlogos que realizaram psicoterapia pessoal em comparagio aqueles que nao tiveram essa experiéncia. Apoiados também em outras pesquisas, Couto, Farate, Torres, Ramos ¢ Fle- ming (2013) sugeriram que profissionais sem essa vivéncia apresentavam maior retencdo do paciente em tratamento. Desse modo, 0 psicé- logo deve “. .. ter a habilidade para reconhecer, rotular, compreender ¢ expressar suas emogées. Em vez de nao ter sentimentos, ou de ser um peri- to na repressao” (Beck, Freeman, & Davis, 2005, p. 103). Tendo essa percepcdo, 0 psicélogo deve manter-se atento para que aspectos pessoais nao interfiram negativamente no trabalho com o paciente. © autoconhecimento do psicdlogo nao é importante apenas para aqueles que trabalham com psicoterapia, ¢ fundamental também no con- texto do psicodiagnéstico. ‘Como a relacéo terapéutica € estabelecida entre duas pessoas, ela nio depende apenas dos aspectos do psicélogo. Caracteristicas pessoais do paciente, assim como sua patologia (quando hou- ver), a influenciardo. Além disso, a relagao que se coloca entre a dupla psicélogo-paciente também € uma fonte de ricas informagoes para o psico- diagnéstico, Por meio dela, é possivel observar os padrées comportamentais que o paciente mani- festa e que, provavelmente, desencadeiam gran- des prejuizos inter-relacionais fora do consultério (Ventura, 2001). Quanto maior for a relacéo entre as dificuldades interpessoais do paciente ¢ a demanda da avaliagao, maior sera a exploracio disso por parte do psiclogo. Pacientes com transtorno da personalidade (que pode ou nao ser 0 motivo do encaminha- mento) teri maiores problemas no estabeleci- mento da relagio, visto que a dificuldade central desse grupo ¢ justamente a relacdo interpessoal. Individuos com tragos de transtorno da persona- lidade borderline, por exemplo, tém grande difi- culdade para estabelecer relagies de confianca devido 20 medo de serem abandonados. Esses obsticulos serdo observados pelo psicélogo em ‘uma relagao conturbada (para mais informagées, consultar as publicagSes de Marsha Linehan). Ocuidado especial aqui é que, embora voce queira investir no estabelecimento da confianca, o tem- po limitado e curto do psicodiagnéstico poderd servir ao paciente como mais uma experiéncia de abandono, Pacientes hostis, arrogantes, raivo- 0s, que gritam com o psicélogo com frequéncia geram raiva no profissional. Nessas situacdes, 0 ideal é manter uma postura empitica, nao agres- siva ¢ nao defensiva, demonstrar firmeza ¢ esta- belecer limites (Ventura, 2001). Situagdes corriqueiras sio as de pacientes com preconceitos relacionados a precisar/consul- tar um psicélogo. Nesses casos, ¢ imprescindivel permitir a expressio desse desconforto, esclare- cer dividas e manter uma postura profissional, sem investir em uma disputa a favor da profissio. Outros individuos tém preconceito idade. Como a maioria dos psicélogos mais jovem do que os pacientes esperam, ¢ inevi- tavel deparar-se com essa situacao. Acredito que problemas desse tipo dependem mais da tranqui- lidade do proprio profissional em aceitar 0 fato e desenvolver autoconfianga. Quando o psicélogo encontra um paciente com mais dificuldade para cooperar com 0 psico- diagnéstico, o primeiro deve pensar nos motivos que o segundo pode ter para isso. Uma revisio da literatura encontrou que ansiedade, evitagio, desesperanca, hostilidade, assungio de riscos € comorbidades médicas séo caracteristicas rela- cionadas a baixo comprometimento do paciente para coma psicoterapia. Ou seja, muitos dos sin- tomas que os pacientes trazem para 0 atendimen- to ou para aavaliagao sao, justamente, fatores que dificultam o seu compromisso com a mudanga (Holdsworth et al., 2014). Tratando-se do contex- to do psicodiagnéstico, a questao € que, mesmo que nao se esperem mudangas durante 0 proces- 0 avaliativo, o resultado do estudo nos sinaliza que tais caracteristicas afetam a cooperacao do paciente € perturbam o seu papel (que deve ser ativo) na busca de ajuda e no engajamento ao tra~ tamento. Esses aspectos também precisam ser considerados nos ‘encaminhamentos dados 20 Existem, ainda, outros fatores relaciona- dos ao paciente que dificultarao a relagao, como ors ta de motivacio, a falta de perspectiva ov de felevincia do processo avaliativo, 2s expectati- yas inadequadas do process (mesmo apés as i do psicélogo) ¢ 2 experiéncias nega- tivas vividas com outros psicélogos e/ou psi- quiatras. Beck e colaboradores (2005, p- pepe para a nio colaboracéo dos tam alguns motivos i dos também no contexto do psicodiagndstico: : i desconfianga do terapeuta, expectativas irreal - tas, vergonha pessoal, Culpa extermalizada ea wee contra outras pessoas (OU instituigdes), des- “tlorizacao de si mesmo ou de outros, medo de WGetcao € fracasso" Arelacao terapéutica no psicodiagnéstico ‘A relagao terapéutica é alvo de muitos estudos em psicoterapia. Os resultados a indicam como ‘um dos principais preditores de melhora no tra- tamento em qualquer etapa do ciclo vital (Shirk, Karver, & Brown, 2011). Jé no processo de psico- diagnéstico, ela € tao pouco explorada que gera davidas e conflitos. Nao encontrei literatura ou diretrizes sobre as especificidades desse contex- to. Percebo que alguns psicélogos tendem a ser mais distantes, por entenderem que é um pro- cesso muito curto para se estabelecer um vincu- Jo, Outros nao percebem 0s limites do contexto € estimulam uma proximidade maior do que a ne- cessiria, Considerando-se essa caréncia e tudo © {que foi exposto neste capitulo, proponho algumas orientagdes sobre a relagio terapéutica no psico- diagnéstico. ‘Acredito que existam dois aspectos princi- pais a serem abordados aqui. Um diz respeito a0 PSICODIAGNOSTICO SA 43 objetivo da relagao no psicodiagnéstico e 0 outro, a0 seu limite, O objetivo é estabelecer um sen- 30 de colaboracdo e confianga. Esse trabalho em conjunto € essencial para a coleta de informa- g6es fidedignas e sinceras, de modo que 0 pacien- te possa se expor e confiar na devolucdo e nos encaminhamentos do psicélogo. Quando aten- der seu paciente em um processo psicodiagndsti- co, tenha em mente que a relado a ser estabeleci- da nao é apenas entre 0 paciente e vocé, mas sim entre o paciente e 0s psicélogos. Voct faré muir to bem a ele caso consiga demonstrar sua con- fiabilidade, mas sera melhor ainda se ele aceitar que pode procurar um psicélogo em qualquer a mento da vida para auxilid-lo a enfrentar suas dificuldades. Nao raro, somos o primeiro psicélo- go na vida do paciente, e também nao é raro que e encaminhamento inclua a psicoterapia. Desse wrodo, acredito que o psicélogo avaliador pode fer um importante papel na aderéncia do pacien- te aos tratamentos futuros. Outro objetivo poss vyelé observar as caracteristicas da vinculagéo do paciente como um dado para 2 andlise da deman- da, assunto ja explorado nest capitulo. esté entre o empenho € Por sua vez, 0 limite hs « observagio do psicdlogo para com 2 314720 © ae intervengbes realizadas, sendo estas piss iS campo de atuagio da psicoterapia (ver ea ; sobre psicodiagnéstico interventivo). Duras psicodiagnéstico, coletamos diversas infor sue sobre o paciente, mas nos mantemon fice he ha demanda/objetivo. Claro que queremos vé-!0 na demandelrir-se bem, mas hé um campo de muagao para cada etapa. Psicédlogos que traba- Tham na clinica e depois iniciam atividades com avaliagao psicolégica podem ter mais dificuldade em nio intervir. ‘A questéo do tempo também é importante. Em psicoterapia, a dupla constréi a confianga gradualmente; porém, no _psicodiagnéstico, tudo ocorre de forma mais répida, e precisamos ser capazes de estabelecer esse vinculo de forma mais imediata. Contudo, nao ¢ interessante que a Ansia do psicélogo em estabelecer confianga deixe © paciente desconfortavel. A relagao deve estar de acordo com 0 estilo do profissional, para que possa ser genuina e auténtica, caso contrario, o paciente percebera um ambiente dibio. Quando me refiro 4 presteza do profissional em demonstrar confianga, também considero as caracteristicas do paciente. £ preciso estar aten- to as diversas nuancas do comportamento ver- bal e nao verbal dele e as suas proprias emogdes. 44 yA |HUTZ, BANDEIRA, TRENTINI & KRUG (ORGS.) ‘Tais observacées, em conjunto com sua experién- cia (que seri adquirida de forma gradual) ¢ seu conhecimento técnico-cientifico, habilidade de perceber o paciente. O “feeling cli- nico” nao diz respeito & habilidade de intuir ou Pressentir como o paciente é Vocé deve conse- guir percebé-lo porque estuda para isso e desen- volve essa habilidade. Nao ¢ uma mégica em que nao é necessério qualquer esforco. O estabeleci- mento da confianga nao depende apenas de dis- posicéo emocional, mas principalmente da com- peténcia do profissional e da capacidade do paciente em confiar. AGRADECIMENTO Agradeco ao discente de Psicologia Alvaro Zane- tie a psicdloga Beatriz Cattani pela leitura do ma- nuscrito e sugestoes. REFERENCIAS Ackerman, S.J, & Hilsenroth, M. J. (2003). A review of therapist characteristics and techniques positively impacting the therapeatic Sane Chota Pehl Reve 2 138 Araijo, C. F, & Shinohara, H. (2002). Avaliagdo ¢ diagnéstico em {erapia cognitivo-comportamental ntracdo em Prcologa, 61), 37-43. Beck. A... Freeman, A. & Davis, D. D. (2005). Terapia cognitiva dos transtornos da personalidade. Porto Alegre: Artmed. ‘Cohen, R.J.,Swerdlik, M. E., & Sturman, E. D. (2014). Testagem e ava- liagdo psicolégica: introduc a testes e medidas. Porto Alegre: Artmed. CConselho Federal de Psicologia (CFP). (2005). Resolugdo CFP n 01005. 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