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NOBRASIL
2006/2010
a“Eu
floresta
defendo
e aoterra
rio,
para a sobrevivencia
do meu povo, das
novas gerações, meus
netos. Porisso eu não
aceito a construção da
barragem de Belo Monte
no rio Xingu.”
Raoni Metuktire
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POVOS INDIGENAS
NO BRASIL
2006/201 0
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* POVOS INDÍGENAS
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Apoio institucional:
ICCO – Organização Intereclesiástica para Cooperação ao Desenvolvimento
NCA – Ajuda da Igreja da Noruega
Altamira
Av. São Paulo,
68372-530 Altamira
202 Bairro
– PA Jd.
– Brasil
Independente II Beto Ricardo entrega exemplardo Povos Indígenas no Brasil
2001-2005 ao presidente Lula, em S. Gabriel da Cachoeira (AM),
tel: ( 93) 3515-0293 setembro de 2007.
Em seu livro tristes trópicos (1955), lévi-Strauss, prestes a viajar ao Brasil para ensinar sociologia na uSP, no
começo dos anos 1930, encontra num jantar em Paris o embaixador brasileiro na França, luiz de Souza Dantas e
lhe pergunta sobre os índios e como deveria proceder para visitar alguma comunidade indígena. o embaixador lhe
respondeu: “ índios? Infelizmente, prezado cavalheiro, lá se vão anos que eles desapareceram. Ah, essa é uma
página bem triste, bem vergonhosa da história de meu país. Mas os colonos portugueses do século XVI eram
homens ávidos e brutais. Como reprová-los por terem participado da rudeza geral dos costumes? Apanhavam os
índios, amarravam-nos na boca dos canhões e estraçalhavam-nos vivos, a tiros. Foi assim que os eliminaram,
até o último. Como sociólogo, o senhor vai descobrir no Brasil coisas apaixonantes, mas nos índios, não pense mais,
ClAuDE léVI-StrAuSS não encontrará nem um único...”
(1908 – 2009)
CAntíDIo tAywI
tAPIrAPé (? – 2009) PAIô zoró
rutH CArDoSo (1914 – 2006) EStElA würkEr MArCoS XAko’IAPArI
AnDré MArtInI
(1980 – 2011) (1930 – 2008) (1955 – 2010) tAPIrAPé(1921– 2006)
EM MEMÓRIA
Apresentação 007
Lista de Povos Indígenas no Brasil 009
Palavras Indígenas 018
temas Quem, Quantos, Onde 043
Legislação 059
Política Indigenista 077
Terras Indígenas: Demarcação e Exploração de Recursos Naturais 117
Protagonismo Indígena 137
Desenvolvimento Regional 157
Destaques 2006-2010 169
regiões Geográficas 1. 2.1. 2.2. 3. 4.
noroEStE rorAIMA rorAIMA AMAPá/ SolIMÕES
AMAzônICo SErrA MAtA nortE Do PArá
lAVrADo
Prezad@ leit@r
Essa publicação traz um resumo da situação dos povos indígenas no Brasil no período 2006 a 2010. São 166 artigos
assinados, 810 notícias extraídas e resumidas a partir de 175 fontes, além de 236 fotos e 33 mapas. Inclui, pela
primeira vez, um caderno especial de 32 páginas com imagens de destaques do período. Todas essas informações
e análises estão organizadas em seis capítulos temáticos e 19 regionais, num total de 778 páginas. Soma-se a dez
outros volumes, de uma série iniciada pelo Cedi em 1980 e continuada pelo ISA, a partir de 1994, apoiada numa
extensa rede de colaboradores voluntários.
No conjunto, a publicação dá uma visão geral sobre os 235 povos indígenas que vivem no Brasil, falantes de
cerca de 180 línguas, dos quais 49 habitam também do outro lado da fronteira, em países limítrofes.
A capa traz o líder kayapó Raoni Metuktire e sua fala contra a megabarragem de Belo Monte, na volta grande
do rio Xingu, obra símbolo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo brasileiro. De fato, o
projeto dessa hidrelétrica foi revisado desde o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu em Altamira, no Pará (1989),
de tal sorte a reduzir seus impactos diretos. Mas não foram realizadas consultas prévias aos povos indígenas
da região afetada, conforme prevê a Convenção 169 da OIT, ratificada pelo Brasil. Raoni desconfia que Belo Monte
é um “cavalo de Troia”, cuja viabilidade econômica futura vai exigir novas barragens no rio Xingu a montante,
atingindo as terras kayapó (ver no capítulo Sudeste do Pará, p. 435).
A contracapa dá destaque aos 50 anos da criação do Parque Indígena do Xingu, cujas perspectivas futuras
são tratadas no capítulo correspondente (p. 581).
O período coberto por esta publicação foi marcado por protestos indígenas relacionados ao colapso do atendimento
governamental à saúde. Finalmente, em 2010, foi criada a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) no Ministério da
Saúde, antiga reivindicação do movimento indígena-indigenista. Até o fechamento dessa edição, a precária
implementação da nova secretaria ainda suscitava muitos protestos. Um dos casos de déficit de atendimento
especializado é com os povos indígenas da TI Vale do Javari (AM), cuja crise sanitária, com graves consequências
demográficas, se arrasta há anos. (ver no capítulo correspondente, p. 363)
O julgamento final do rumoroso caso da TI Raposa Serra do Sol (RR) pelo Supremo Tribunal Federal (STF),
em março de 2009, foi o caso mais emblemático referente aos direitos territoriais coletivos indígenas inscritos na
Constituição Federal de 1988. Mobilizou enormemente o movimento indígena-indigenista e contou com a mão firme
do poder executivo federal em favor dos direitos indígenas, incluindo diretamente o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. Foi quase um ano de tensão, até que a decisão final do STF reafirmasse a demarcação da terra em área
contínua e determinasse a retirada dos ocupantes não índios (ver no capítulo Roraima Serra e Lavrado, p. 247).
Mas essa decisão veio acompanhada de 19 condicionantes gerais, as quais provocaram um aumento importante
de contestações judiciais dos processos de reconhecimento oficial de Terras Indígenas em todo o país.
Às obras do PAC e às condicionantes do STF somou-se o aumento significativo dos GTs da Funai para estudar
a situação de terras indígenas fora da Amazônia, quase sempre imersas em contextos fundiários regionais tensos.
Essa convergência resultou no aumento de ações anti-indígenas no Judiciário e no Legislativo. Encontram-se
tramitando vários projetos de lei para retirar do poder executivo a decisão sobre o reconhecimento oficial
de Terras Indígenas, transferindo-a para o Congresso Nacional.
Entre 2006 e 2010, 35 TIs tiveram seus processos demarcatórios finalizados, somando 8.951.927 hectares. Entre as
TIs homologadas, destaca-se, pela extensão, a Trombetas/Mapuera, com quase quatro milhões de ha (localizada entre
o sul de RR, o norte do PA e o nordeste do AM). Em fins de 2010, no outro extremo do espectro, com 14.2 mil ha, foi
homologada a TI Tupiniquim, no Espírito Santo, que uniu as TIs Pau Brasil e Caieiras Velhas (ver capítulo Leste, p. 661).
1 Aikanã Massaca,Huari,
Mundé, Tubarão,
Cassupá,
Columbiara,
Aikaná Aikaná RO 258 2010 Funasa
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LISTA DE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL, 2006-2010 9
Nomes Outros nomes ou grafias linguística
Família UF (Brasil)
Países Limitrofes estimativa
Censo/ Ano Fonte
10 LISTA DE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL, 2006-2010 POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Nomes Outros nomes ou grafias linguística
Família UF (Brasil)
Países Limitrofes estimativa
Censo/ Ano Fonte
1992
61 Iranxe Manoki Irantxe, Manoki Iranxe MT 379 2010 Funasa
62 Jamamadi Yamamadi, Kanamanti Arawá AM 882 2010 Funasa
63 Jarawara Jarauara Arawá AM 218 2010 Funasa
64 Javaé Karajá/Javaé, Itya Mahãdu Karajá GO, TO 1.456 2009 Funasa
65 Jenipapo-Kanindé Payaku . CE 302 2010 Funasa
66 Jiahui Jahoi, Diarroi,
Diahoi, Diahui,Djarroi,
Kagwaniwa
Parintintin, Tupi-Guarani AM 97 2010 Funasa
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LISTA DE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL, 2006-2010 11
Nomes Outros nomes ou grafias linguística
Família UF (Brasil)
Países Limitrofes estimativa
Censo/ Ano Fonte
12 LISTA DE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL, 2006-2010 POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Nomes Outros nomes ou grafias linguística
Família UF (Brasil)
Países Limitrofes estimativa
Censo/ Ano Fonte
151 Pankaiuká - - - - - -
152 Pankará - - PE 2.558 2010 Funasa
153 Pankararé - - BA 1.640 2010 Funasa
154 Pankararu - - MG, PE, SP 8.477 2010 Funasa
155 Pankaru Pankararu-Salambaia - BA 179 2006 Funasa
156 Parakanã - Tupi-Guarani PA 1.266 2010 Funai/Altamira
157 Paresí Pareci, Halíti, Arití Aruak MT 2.005 2008 AER/Tangará da
Serra
158 Parintintin Cabahyba Tupi-Guarani AM 418 2010 Funasa
159 Patamona Ingarikó, Kapon Karib Guiana
RR 5.500
128 1990
2010 Funasa
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LISTA DE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL, 2006-2010 13
Nomes Outros nomes ou grafias linguística
Família UF (Brasil)
Países Limitrofes estimativa
Censo/ Ano Fonte
160 Pataxó Patachó, Patashó, Pataso Maxacali BA, MG 11.833 2010 Funasa
161 Pataxó Hã-Hã-Hãe - Maxakali BA 2.375 2010 Funasa
162 Paumari Pamoari Arawá AM 1.559 2010 Funasa
163 Pipipã - - PE 1.640 2006 Funasa
164 Pirahã Mura Pirahã Mura AM 420 2010 Funasa
165 Pira-tapuya Piratapuya, Piratapuyo, Piratuapuia,
Pira-Tapuya Tukano Colômbia
AM 1.433
400 2005
1988 Dsei/Foirn
175 Surui Paiter Paiter, Paiter Mondé MT, RO 1.172 2010 Funasa
176 Tabajara - - CE 2.856 2010 Funasa
177 Tapayuna Beiço
dentais, pau, Suyá Novos,
deKajkwakratxi, Kajkwakratxi
Suyá Oci- Jê MT 160 2010 Ropkrãse Suiá e
Teptanti Suiá
178 Tapeba Tapebano, Perna-de-pau - CE 6.600 2010 Funasa
179 Tapirapé - Tupi-Guarani MT, TO 655 2010 Funasa
180 Tapuio Tapuya, Tapuia GO 298 2010
181 Tariana - Aruak Colômbia
AM 205
2.067 1988
2010 Funasa
-
182 Taurepang gue,
Taulipang,
PemonTaurepangue, Taulipan- Karib Venezuela
RR 27.157
673 2001
2010 Funasa
INE
183 Tembé Tenetehara Tupi-Guarani AM, PA 1.502 2010 Funasa
184 Tenharim Kagwahiva Tupi-Guarani AM 703 2010 Funasa
185 Terena - Aruak MT, MS, SP 24.776 2009 Funasa
186 Ticuna Tikuna, Tukuna, Maguta Tikuna AM 36.377 2009 Funasa
Colômbia 8.000 2011 J. P. Goulard
Peru 6.982 2007 INEI
187 Timbira mekrá,
Apinayé,Canela,
Apanyekrá,
Gavião Parkatêjê,
Ramkoka- Jê MA, TO, PA 8.000 2010 CTI
14 LISTA DE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL, 2006-2010 POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Nomes Outros nomes ou grafias linguística
Família UF (Brasil)
Países Limitrofes estimativa
Censo/ Ano Fonte
Tsunhuam Djapa,
195 Tukano Tucano Tukano Venezuela
Colômbia
AM 6.241
6.330
11 2005
2001 Dsei/Foirn
1988
-
INE
196 Tumbalalá - - BA 1.160 2010 Funasa
197 Tunayana - Karib PA - - -
198 Tupari - Tupari RO 517 2010 Funasa
199 Tupinambá Tupinambá - BA 4.729 2009 Funasa
200 Tupiniquim - - ES 2.630 2010 Funasa
201 Turiwara - - PA - - -
202 Tuxá - - AL, BA, PE 2.142 2010 Funasa
203 Tuyuka Tuiuca Tukano Colômbia
AM 825
570 2005
1988 Dsei/Foirn
-
204 Umutina Barbados, Omotina Bororo MT 445 2009 Associação Indíge
na Otoparé
205 Uru-Eu-Wau-Wau tários,
Bocas-negras,
Sotérios,Bocas-pretas,
Cabeça-vermelha,
Cau- Tupi-Guarani RO 115 2010 Funasa
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LISTA DE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL, 2006-2010 15
Nomes Outros nomes ou grafias linguística
Família UF (Brasil)
Países Limitrofes estimativa
Censo/ Ano Fonte
1. Os números desta listagem são aproximados, devido aos inúmeros problemas de censo, principalmente nos casos das etnias que se
encontram espalhadas em várias terras, cujos censos foram feitos em épocas e por instituições diferentes.
2. As famílias linguísticas Tupi Guarani, Awetí, Munduruku, Mawé, Tupari, Arikem, Mondé, Ramarama e Juruna fazem parte do Tronco Tupi. As famílias Jê,
Maxakali, Krenak, Yatê, Ofaié, Guató, Rikbaktsa e Bororo fazem parte do Tronco Macro-Jê.
3. Povos isolados (sem contato com a Funai e com a sociedade local) não foram incluídos na listagem.
4. Povos como os Tiriyó, Waiwai, Kayapó, Guarani, Nambikwara, Maku e Yanomami foram contabilizados em bloco, apesar da sua diversidade interna.
16 LISTA DE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL, 2006-2010 POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
QuAntoS São?
Os dados gerais do Censo do IBGE de 2010, divulgados até o fechamento dessa edição, registraram 817.963
pessoas que se autodeclararam indígenas. Desse número, 315 mil estão em áreas urbanas e 502.963 na área rural
(presumivelmente em Terras Indígenas). No Censo 2010 foram levantadas pela primeira vez informações, ainda não
divulgadas, sobre etnia e língua, atributos que permitirão cômputos por identidades específicas.
As informações demográficas coletadas pela equipe de edição dessa publicação foram compiladas a partir de
diferentes fontes; entre elas incluem-se a Funasa, as Coordenações Regionais e Locais da Funai, pesquisadores,
organizações indígenas e indigenistas da sociedade civil. Isso significa diferentes metodologias e datas de coleta
das informações. Na impossibilidade de encontrar dados atualizados para 2010, optamos pela permanência
de informações do censo anterior, de 2005.
Considerando essas especificidades, a soma total da população por etnias no quadro anterior gera uma estimativa de
590 mil indígenas vivendo em Terras Indígenas no Brasil. A diferença entre a estimativa do ISA e os dados do Censo
2010 é de aproximadamente 90 mil, o que requer uma comparação entre as metologias utilizadas.
O número de povos do quadro anterior inclui dez etnias a mais do quem em 2005 e soma 235. De maneira geral, houve
um crescimento tanto da população, como do número de etnias nesses últimos cinco anos. O aumento populacional
das etnias pode ser verificado nos dados de publicações anteriores, ou mesmo na Enciclopédia dos Povos Indígenas
no Brasil/ISA (disponível em http://pib.socioambiental.org/pt).
Poucos são os grupos étnicos que sofreram depopulação entre 2006 e 2010. Esse foi o caso dos Akunsu,
que eram seis e passaram a cinco pessoas; dos Juma, que eram cinco e passaram a quatro; e dos Zuruahã,
que eram 144, e em 2010 somaram 142.
Destaca-se que no Brasil há um mosaico de microssociedades. Dos 235 povos listados no quadro, 26 deles têm uma
população total de até 100 pessoas; 78 têm entre 101 e 500 pessoas; e 31 têm de 501 a 1.000 pessoas. São, assim,
135 povos que somam até 1.000 pessoas. Na outra ponta, 12 povos têm população entre 10.000 a 30.000, e apenas
três têm mais de 30.000 indivíduos (Guarani – Mbya, Kaiowá e Ñandeva –, Ticuna, Kaingang).
Dos povos indígenas no Brasil, 49 também vivem do outro lado da fronteira, em países vizinhos; eles estão sinalizados
no quadro com um (*). Se considerarmos os dados da população além-fronteira por etnia (ainda que sejam estimativas
ou resultados de censos desatualizados), alguns povos sobem de posição no ranking demográfico.
São os casos, por exemplo, dos Guarani, com presença na Argentina, no Paraguai e na Bolívia (que somam mais
de 120 mil); dos Ashaninka, presentes também no Peru (somando quase cem mil); os Ingarikó ( que são 1.271
no Brasil, mas somam cerca de 6 mil com os que vivem na Guiana e Venezuela), os Coripaco (1.380 no Brasil e
quase 15 mil,se somados com os da Colômbia e Venezuela) e os Baniwa (cerca de 6 mil no Brasil e 15 mil,
somando os da Colômbia e Venezuela).
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LISTA DE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL, 2006-2010 17
A cosmopolíticA dAs mudAnçAs
(climáticAs e outrAs)
VAlérIA MACEDo – Antropóloga, professora na unifesp e pesquisadora associada ao nHII-uSP
Populações indígenas têm ouvido dos brancos sobre o aque mostrando que o que chamam de “natureza” não é inerte e
cimento crescente da terra e suas possíveis consequências, está reagindo aos seus abusos.
podendo vir a derreter geleiras, submergir cidades e deserti
Pessoas, lugares e coisas estão enredados uns nos outros
ficar florestas. Para muitas dessas populações, tais prognós
como uma “internet espiritual”, na expressão de Maximiliano
ticos, mesmo que preocupantes, não trazem grande novidade,
Makuna. Sua preocupação é que essa rede esteja se esgar
seja porque o uso predatório dos recursos pelos brancos não
çando, sendo as mudanças climáticas apenas uma de suas ma
poderia dar em outro resultado, seja porque a terra já foi
nifestações. os sabedores são os nós dessa rede, e o avanço
destruída e renovada outras vezes. os depoimentos que se
dos brancos tem feito definhar não só os chamados recursos
seguem expressam percepções, reflexões e receios em relação
naturais, mas os conhecimentos e os conhecedores. Em seu
a mudanças no regime de chuvas e rios, no ciclo reprodutivo depoimento, osmarino Corrêa também comenta que antes os
de plantas e animais, dentre outras alterações que, longe de
velhos curavam mais, no tempo em que não existia plástico,
estarem circunscritas ao domínio do que os brancos chamam fumaça de pneu nem comércio, quando os remédios vinham do
de “natureza”, participam de uma cosmopolítica agenciada por
mato e as doenças tinham outros nomes.
humanos e não humanos, ou extra-humanos.
o manejo do mundo é também o manejo do conhecimento,
Donos (extra-humanos) de diferentes seres e lugares são reco segundo Maximiliano Makuna. nesse mesmo sentido, Carlos
nhecidos como protagonistas de mudanças em vários desses Guarani, ou Papa Poty Miri, comenta a escassez de taquara
depoimentos, não raro como reação ao uso abusivo de seu
onde vive porque o clima da terra está mudando muito e houve
domínio. Segundo conta Awajatu Aweti, por exemplo, os donos extração abusiva para fazer artesanato no período em que as
do braço de rio próximo de sua aldeia eram ta’e watu, uma sementes se espalhariam. os jovens de hoje ignoram o ciclo
panela-monstruosa, e kaminu’umyt, um menino pequeno todo reprodutivo da taquara, ou o desconsideram em razão das
enfeitado de colares de caramujo. Eles ficaram desgostosos demandas do comércio. E já na Primeira terra, takua, uma
com a poluição das águas e foram embora, fazendo com que o das filhas do demiurgo, foi transformada em palha de taquara
braço de rio secasse. outro exemplo está presente no relato de pelos abusos de seu esposo e sua desconsideração ao sogro.
Davi yanomami, segundo o qual as chuvas estão começando a
raimunda tapajós também destaca o desrespeito que vem
cair de um modo estranho em represália do demiurgo omama a do desconhecimento de muitos jovens de hoje. Ela conta que
xawara, a fumaça-epidemia que sai das máquinas dos brancos. no Baixo Arapiuns tem uma traíra que é a mãe do igarapé, e
Ainda, podemos citar as falas de Seremete e Muru wajãpi, que as moças passam lá sem respeitar os resguardos do período
se perguntam por que o tempo de hoje se transformou, a chuva menstrual ou da menarca. Então ficam doentes, se transfor
não para e é difícil queimar o terreno para a roça. Sua hipótese mam. Já no depoimento de wautomoaba Xavante, a preocu
é que o dono da terra e o dono das árvores estejam furiosos pação com o definhamento dos saberes é expressa quando
porque os não índios estão acabando com a floresta. nessa ela conta que as pessoas antes conheciam mais as frutas do
direção, o relato de osmarino Corrêa, do Baixo Arapiuns, cerrado, pois faziam expedições para lugares que hoje são ci
menciona um espírito que é a mãe do lugar onde vive e que dades, num tempo em que se andava mais e se aprendia mais.
passou a atacar após a proliferação de fumaça de pneu, novos
um mundo sem conhecedores é um mundo sem tradutores,
barulhos e derrubada de mata.
dificultando a política cósmica entre agentes providos de di
Florestas, animais, águas, pedras e outros seres e lugares ferentes corpos, linguagens, interesses e efeitos. é um mundo
são assim criações/materializações/extensões desses donos, em que as pessoas estão cada vez mais sujeitas a transfor
fazendo com que o manejo de seus recursos implique uma mações e cada vez menos são sujeitos das transformações. o
tradução do que dizem e o que querem por meio de suas prognóstico de Seremete wajãpi é que Janejarã (nosso Dono)
ações (chuvas, secas, escassez ou abundância de caça, vai trocar a terra, acabando com esta na água ou no fogo. Para
pesca, frutos do mato, infortúnios, encontros etc.). Esse Doralice kunhã tatá, do povo Mbya Guarani, Nhanderu (nosso
exercício de tradução também se faz necessário nas relações pai) considera que o mundo já está muito velho e quer limpar
com os brancos. o que chamam de “mudança climática”, a a terra, destruindo tudo com barro de fogo e depois limpando
exemplo do que disse Davi yanomami, “não vem do nosso com água. “Aí pode começar de novo”. no rastro de suas pa
rastro”. Mas, em alguma medida, as mudanças climáticas lavras e dos outros autores nos depoimentos que se seguem,
vêm promovendo mudanças de pensamento nos brancos, podemos, quem sabe, buscar um recomeço antes desse fim.
18 LISTA DE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL, 2006-2010 POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
palavras
indígenas
palavras
p e n s a M e n T O s d e deZ
líderesindígenas
a pegada dOs napëpë
BRUCE ALBERT
Antropólogo, pesquisador do IRD-MNHN e associado ao ISA
desTruição
“Toda essa não
é nossa marca,
é a pegada dos 90
02
brancos, o rasTro ,L
A
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A
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de vocês na Terra”
Q
Quero dar para vocês minhas palavras tal como as penso. É assim. Nós, Yanomami, habitantes da
floresta, não enchemos a terra de fumaças-epidemias xawara. São os brancos, os napëpë, que conta
minam a terra. Esta é minha fala. Eles não parecem se preocupar com isso, mas nós, que vivemos na
floresta, sabemos dessas coisas e por isso pensamos assim. Os brancos ficaram muito numerosos e
começaram a destruir a floresta, a cortar suas árvores e a sujar seus rios. Eles fabricaram quantida
des de mercadorias. Fizeram carros eaviões paraandarrápido.Para fabricar todas essas mercadorias,
cavaram o chão da terra para arrancar as coisas que estão nas suas profundezas. Assim começaram a
todaparte,
propagar muitas fumaças-epidemias xawara por estragando a terra.
cair ummodo Quando os brancos estavam
Por causa disso, as chuvas estão começando a de estranho.
Desde que passaram
longe de nós, a floresta era bonita e saudável. a ser muitos e se aproximaram
de nós, ela tornou-se outra. Agora ela ficou ruim, cheiade fumaça-epidemia xawara. Nós, pajés,
que fazemos dançar os espíritos xapiri, cuidamos da terra-floresta, por isso a conhecemos. Não nos
perguntamos como os brancos: “O que está acontecendo de repente com a Terra?” Sabemos que o
que está acontecendo de ruim não é por causa de nossa marca nesse chão. Se fosse, a gente tentaria
consertar logo!
O antepassado que criou esta floresta, Omama, nos criou também para cuidar dela. Ele não quis que a
destruíssemos. Nós somos seus filhos e por isso não podemos estragá-la. Nós, habitantes da floresta
e de suas colinas, de seus rios e de seus igarapés, que vivíamos nela inteira antes que os brancos se
aproximassem, nós cuidamos dela com atenção. Os pajés estão sempre atentos ao seu bem-estar.
Quando a floresta está doente, tomam o pó de yãkõana e curam seus males. Os brancos, ao contrá
rio, parecem não querer que ela seja cuidada. São essas as palavras de sabedoria que queremos dar
para vocês. Grande parte dos brancos não vai escutá-las, eu sei; não vão dizer: “Os Yanomami estão
certos! Vamos parar antes que a floresta seja toda destruída!” Mesmo assim quero fazer ouvir estas
palavras.
Nós Yanomami, estamos muito preocupados porque os brancos só pensam em estragar a Terra, só
sabem destruir a floresta. Eles não têm amizade por ela, não a querem. Da profundeza do seu chão só
arrancam coisas para fabricar suas mercadorias, depois as queimam e o mundo se enche de fumaças
que viram doença xawara para todos. A floresta também adoece dessas fumaças, suas árvores mor
rem, bem como suas águas e seus animais. É assim que entendemos as coisas. Por isso, nós Yano
mami, estamos tão inquietos. Nós perguntamos: “Por que razão os grandes homens dos brancos não
falam sabiamente entre eles e continuam querendo maltratar a Terra?” eles já têm muitas mercadorias,
ésuficiente! Apesar disso querem ainda tirar da terra todas estas coisas brilhantes, pedras e metais,
com os quais fabricam suas coisas preciosas. É isso que preferem entre tudo; é por causa disso que
destroem e sujam nossa Terra!
Eles não sabem cuidar da floresta, nem querem. Só pensam: “A floresta cresceu sozinha, sem motivo,
nós somos os donos das mercadorias e vamos continuar fabricando muitas mais!” Eles cavam seu
chão, cortam suas árvores e a queimam em toda parte. Depois disso, todos vocês falam do que chamam
de mudança climática. Nós ouvimos essas palavras, mas não as achamos bonitas. o que vocês nomearam
assim não vem do nosso rastro. Nós, habitantes da floresta, não maltratamos a Terra. Não desmatamos
a floresta sem medida. Toda essa destruição não é nossa marca, é a pegada dos brancos, o rastro de
vocês na terra. É isso que queremos falar. os brancos carecem de sabedoria e não pensam muito longe.
Por isso, uma vez minhas palavras yanomami transformadas em palavras de branco no papel,
escutem-nas! Vocês, jovens homens e mulheres, vocês mais velhos, escutem-nas! Depois disso
pensem: “É isso! É assim que falam os Yanomami habitantes da floresta e por isso eles estão muito
preocupados!” Por que estamos tão preocupados? Porque nos perguntamos: “Quando todas estas
fumaças espessas dos brancos subirem até o peito do céu e os trovões começarem a morrer, o que
será da floresta?” É por isso que ficamos inquietos. não existem remédios para curar a terra e para que
ela fique boa de novo. Se vocês brancos matam a floresta, vocês não vão ser capazes de fabricar outra,
nova. Quando todas essas coisas brilhantes que vocês arrancam da terra, o ouro, os diamantes, os
minérios, e também as coisas de fazer fogo [combustíveis], e todas as árvores, quando tudo isso
acabar, a Terra vai ficar morta.
Damos essas palavras para que abram caminho na sua frente, como advertência. Esperamos que,
com elas, vocês tornem-se mais atentos, mais espertos. Vocês devem parar de maltratar a Terra.
Não podem continuar destruindo-a dessa maneira desenfreada! Quem a criou vai acabar ficando com
raiva. A imagem dele existe ainda, seu fantasma existe ainda no mundo. Se ele acaba se zangando,
vocês vão sofrer. Grandes chuvas não vão parar de inundar suas casas, ventos de tempestade vão
sacudi-las e derrubá-las, mesmo nas cidades onde elas são muito altas e resistentes. No final vão
cair embaixo da terra.
Nós que vivemos nela sabemos dessas coisas da floresta. Vemos quando os dias não amanhecem
bonitos e ficam cheios de fumaça. Vemos, durante a noite, quando a lua também fica enfumaçada e
avermelhada. A chuva cai muito pouco. Mas, depois, na lua seguinte, de repente cai muito forte, sem
parar. A floresta mostra sua raiva; de maneira súbita, ela quer secar e queimar ou se cobrir de água.
Nós, pajés, devemos então trabalhar para ajudá-la e para conter sua raiva. Só quando se aquieta
podemos morar nela sem perigo, nós e os brancos também. Mas se todos os pajés dos habitantes da
floresta morrerem, quando os brancos comedores de terra tiverem matado todas as suas árvores e
seus rios, vocês todos poderão sofrer também.
Me junto aqui com amigos brancos para fazer ouvir essas palavras aos outros napëpë cujo pensa
mento é cheio de vertigem para que comecem a pensar nesta coisa que vocês chamam de mudança
climática. Enquanto nós, habitantes da floresta, estivermos vivos, vocês, brancos, vão amanhecer
salvos em suas casas, aquecidos suavemente pelo sol, e vão poder trabalhar na luz do dia em boa saú
de. Mas se acabamos todos devorados pelas fumaças-epidemias da xawara, a Terra ficará com raiva.
Então, os espíritos do vento da tempestade e dos trovões vão se vingar com muita força. É assim. A
mente dos brancos é muito esquecida, por isso produzem todas essas fumaças perigosas da mudança
climática e nos deixam viver nessa inquietação.
nós somos os filhos de Omama e por isso protegemos a terra que ele criou. Nossa maneira de trabalhar
nela é diferente [dos brancos]. Nossos rastros na floresta a deixam bonita como ela é. Não a desma
tamos à toa, deixamos suas águas limpas. Ela sempre permanece clara, cheia de caça e de peixes.
São estas minhas palavras. Uma vez escritas, espero que todas as pessoas que as ouvirem possam
pensar: “Sim! Assim falam os filhos dos [antigos] habitantes da floresta! Essas são suas verdadeiras
palavras! Não são eles que criaram essa coisa de mudança climática, é a nossa própria pegada no
chão da Terra! Nós carecemos mesmo de sabedoria!” Se assim falarem
entre eles depois de ver esses desenhos de palavras, ficarei feliz. Assim
foi a minha fala, acabou.
“os lugares
sagrados
uma parTe são
nossa”
O mundo vê os recursos naturais como uma fonte de dinheiro, isso é o que sofremos hoje em dia.
Não é simplesmente uma mudança climática, são mudanças de pensamento. Os lugares sagrados
Para os índios,
são uma parte nossa, enquanto que o mundo vê esses locais como fonte de recursos monetários para
retirar ouro, madeira. Por isso o câmbio climático é brusco, se não temos nossos lugares sagrados não tudo tem vida. Uma
há vida, pois é lá que tem ar, alimento, cura. Hoje em dia começa a chover quando não é pra chover, faz pedra: por que tem
cheia,
fertilidade
calor fora naépoca,
não de
tem safra,
terra seisso
não
choveo que
étem lugares
causapra
muito. pobreza
caçar porque
ou pescar. natureza quando
faltaAalimento, se regulatem
pormuita
si só,seca vida, se não come
não etem
muita
e não respira?
Sim, tem vida, por
Alguns
mas nemantigos manejavam
todos eram especialistas
o mesmo, manejar
emsenão teria
essas
conflitos mundo espiritual.
coisasdenoconhecedores. Eles Todos sabiamrespeito-
eram muito de tudo, isso existem os
petróglifos.
sos com isso. Eles tinham um sistema de comunicação direta à longa distância. Circulação de energias
para que tudo possa se mover... E quem diria como tudo isso funciona seriam os pajés: coisas que se
pode fazer, coisas que não se pode fazer. Para os índios, tudo tem vida. Uma pedra: por que tem vida,
respiram, mase espiritualmente
se não come não respira? Sim,são lugares
tem vida, por
que isso
se encarregam petróglifos.
existem os de dar o ar que gente
Elesa não respira... comem,
caminham, Então o Eles tinham
internet espiritual,
manejo do mundo estava centrado nessas coisas. Que tudo isso estivesse bem, que peixes se repro
duzissem, fartas frutas no devido tempo, verão no devido tempo. Espiritualmente, havia permanente
um sistema de
comunicação entre sabedores dos diferentes grupos, permanente interação no mundo. Eles sabiam
comunicação direta
muito bem as mudanças do calendário: eles, entre eles, conhecedores... Eles tinham internet espiritu
àlonga distância.
al, um sistema de comunicação direta à longa distância. Tinham, não escreviam... Não precisava de
tanta maquinaria para mover esses recursos... Fazia com que o manejo se desse por meio da atitude do
homem. E quem diria como tudo isso funciona seriam os pajés.
Há coisas que se pode fazer, e coisas que não se pode fazer. O mundo se maneja vendo, vivendo, fazen
do. Quando muda o equilíbrio no manejo espiritual do mundo, a história muda totalmente. Agora com
O mundo se maneja
tristeza temos que assumir essa realidade em que vivemos. O lugar dos brancos na origem era longe, vendo, vivendo,
porque,círculo
desse como de manejo por
cachorros, se controlam,
nãosua avidez e descontrole.
comem demais. Na origem,
Os brancos vão comendo do que
os brancos vãopostos
foram encontran
fora fazendo.
VALÉRIA MACEDO
Antropóloga, professora na Unifesp e pesquisadora
associada ao NHII/USP
O registro dessas falas –feitas em português com uma das filhas do demiurgo Nhanderu (“Nosso Pai”)
trechos em guarani que Papá foi me ajudando a tra Papá que foi transformada em cesto em razão da
duzir – aconteceu em 6 de janeiro de 2011, quando displicência e teimosia por parte de seu esposo e tio
Xaí (modo abreviado de xejaryi, “minha avó”, como Anhã, designação recorrente para agentes agres
eu e muitos na aldeia chamam Doralice) e seu marido sores e que no enredo é personificado no irmão e
Jejokó haviam há pouco chegado à aldeia do Silveira. antagonista do demiurgo. O abuso de Anhã incorreu
Ali viveram por décadas, mas agora estão morando em separação e metamorfose, fazendo com que a
no Tekoa Pyau, aldeia vizinha ao Pico do Jaraguá, na moça perdesse a feição humana para adquirir a de
capital paulista. Como fazem todos os anos, vieram palha trançada. E aqui Xaí entra na conversa, des
celebrar o ykarai, ou nhemongarai, ritual de nomea tacando que tanto Takuá como Ka’a – a erva mate –
ção que aconteceria na noite do dia 9 para o dia 10 são filhas de Nhanderu e dádivas deste aos Guarani,
de Janeiro. usufruídas na forma de chimarrão, no caso de Ka’a,
Puxei conversa se vinham percebendo alguma mudan e de música/reza (takuapu) e cestaria (ajaká) no
ça na vida das plantas, dos bichos, no regime das caso de Takuá –, sendo todas de grande relevância
chuvas ou em quaisquer outros e o porquê. Papá – na vida nas aldeias. Xaí descreve Ka’a e Takuá como
filho de Doralice, de cerca de 40 anos, morador do habitantes da Primeira Terra, da qual partiram em
Silveira – logo comentou que a taquara tinha sumido companhia de Nhanderu com o advento da inundação
do mato, e por isso estava muito difícil fazer artesa que pôs fim a ela. Já no mundo de hoje, marcado
nato com sua palha, que constitui uma das principais pela imperfeição e transitoriedade dos sujeitos e das
matérias-primas dos cestos e outros objetos que os coisas, a erva mate e a taquara constituem alguns
Guarani na TI Ribeirão Silveira vendem às margens dos recursos que trazem a marca da Primeira Terra
da rodovia Rio-Santos, nas feiras de Bertioga e São dos imortais. Diz Xaí que, assim como aquela terra
Sebastião ou aos turistas que visitam a aldeia. Papá foi destruída, esta também deverá acabar. Não se
levantou a hipótese da escassez da taquara dever-se sabe quando, mas se supõe como isso deve ocorrer,
a mudanças climáticas, mas sobretudo ele apontou com o aumento do calor e da chuva. Uma chuva de
o corte abusivo da planta numa época em que ela barro e fogo. Essa incontornável destruição, prevista
se reproduziria, decorrente do desconhecimento ou na cataclismologia tupi-guarani, tem como contra
indiferença sobretudo dos jovens quanto ao seu ciclo partida uma renovação, em que o mundo velho e sujo
reprodutivo. submerge e pode dar lugar a outro. Sina análoga teve
Por sua vez, o comentário de Papá o remeteu à Takuá, submersa na água e transformada na bonita e
narrativa mítica protagonizada pela taquara, Takuá, transitória palha trançada.
A gente aqui está enfrentando um problema de escassez de taquara. Quase não tem mais taquara
no mato para fazer os cestos que vendemos na pista da Rio-Santos. A gente trança a palha de
taquara para fazer balaio, e também para fazer telhado de casa. Com ela também se fazia opari, para
pegar peixe. A taquara é muito importante na vida do Guarani. O takuapu, bastão musical que as mu
lheres batem no chão durante o canto--reza, mborai, é do tronco da taquara. E as mulheres usavam a
geléia da taquara para amaciar a pele e o cabelo. As taquaras também oferecem takuaraxó, uma larva
que dá no centro do tronco e serve como alimento. Essas larvas só dão a cada 30 anos, e um modo
de contar a idade da pessoa é dizer quantas taquaras ela tem. Se tem 30 anos, diz que tem
uma taquara, se tem 60, duas. Tem gente que chega a viver três taquaras. Então a taquara tem um
ciclo de vida, que a vida do Guarani acompanha. Com 30 anos a taquara morre, seca, depois floresce
e dá essa larva, takuaraxó. Pelo que eu entendo, a taquara tem um sumo quando amadurece, e as
larvas vão comendo esse sumo. Então a taquara seca e as sementes caem, voam por aí. Os ratinhos,
os passarinhos comem as sementes, mas algumas brotam. E o broto vai se espalhando, criando tou
No ano passado estava tendo takuaraxó de novo, mas a semente
ceira.
não se espalhou. Talvez seja porque o clima da terra está mudando muito, e também
porque o pessoal mais jovem não
sabe que não pode cortar a taqua
taquara
importa,
sementes
ra nesse
se para
período,
não puderam
então
fazernão
cortou
artesanato.
sabe
amadu
muita
ou não
As
engraçado
recer
muito
O edifícil é que desde
se espalhar. E agora
encontrar taquara.
queestá
a ta
Dizem que Anhã, irmão de Nhanderu, queria ter uma companheira e se interessou por uma das filhas
de Nhanderu, a linda Takuá. Anhã pediu ao seu irmão que a sobrinha o pudesse acompanhar pelo
mundo. Nhanderu aprovou, mas disse que ela jamais poderia entrar na água. Poderia até se molhar,
mas nunca mergulhar. Anhã ficou muito feliz, e Takuá o acompanhava em todos os lugares. Teve um
dia em que eles foram até uma cachoeira. Anhã mergulhou na água e ela ficou olhando. Então ele a
convidou para entrar, mas ela não quis por causa da recomendação do pai. Porém Anhã não acreditou
que haveria problema e a puxou pelo braço. Ele disse que o irmão implicava com tudo que é gostoso,
por isso a havia proibido. Takuá pediu então que Anhã não a soltasse. Ela estava gostando muito!
Mas ele acabou soltando seu braço para que ela experimentasse mergulhar no rio. Não vendo mais a
moça, Anhã tentou puxá-la novamente pelo braço e tirou da água um cesto. Ele começou a gritar por
ela, mas só havia o cesto, que começou a se desfazer.
Depois Anhã foi até o irmão com o cesto desfeito na mão. Disse que Takuá tinha desaparecido e
ficou apenas aquela palha. Nhanderu pediu a palha e trançou de novo o balaio. Fez balainho bem
bonitinho de novo e encostou de lado. Disse então a Anhã que agora Takuá não iria mais com ele,
pois ela não lhe servia de companheira. Anhã disse que não queria mais aquela mulher porque ela era
de palha e era muito complicada. Então Nhanderu disse à Takuá que ela ensinaria as mulheres como
ser bela e fazer coisas bonitas. Takuá até hoje vive num lugar de Nhanderu amba, a morada celestial.
Chamam Takuá as mulheres de quem o nhe’e, o espírito, vem desse lugar. Elas são muito vaidosas,
Takuakypy’y, as irmãs mais novas de Takuá.
“nhanderu acha
Que o mundo já
esTá muiTo velho
e Quer limpar
zET
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a Terra” U
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Takuá e Ka’a são filhas de Nhanderu. Ka’a é a erva mate. Quando Nhanderu andava pela terra, pegou um galhinho de cedrinho e
assoprou, fazendo uma criança que brincava e urinava por todo canto. Então nasceu um brotinho de erva mate. Era uma menina, e ela
já cantava com takuapu, por isso até hoje as mulheres cantam batendo o bastão de taquara no chão. Takuá e Ka’a foram embora com
Nhanderu quando o mundo pegou fogo, veio a água, acabou. Mas a gente tem até hoje erva mate para fazer chimarrão e taquara para
o takuapu, e para trançar a palha para peneira, balainho, tipiti. Agora nhe’e kuery, os espíritos que moram com Nhande
ru, estão falando para os pajés que a terra vai acabar outra vez. Antigamentejá houve a escuridão. Não ama
nhecia mais, assim mesmo veio a água. Nessa terra onde nós estamos agora, mais tarde ou mais cedo isso também vai acontecer. Se
isso não acontecer, a gente não vai aguentar mais o calor aumentando, e vai vir chuva, e vai vir yapó ha’puá tatareve’gua,
barro com fogo do céu. Nhanderu acha que o mundo já está muito velho e quer limpar a terra. Depois vem a água e limpa
tudo. Aí pode começar de novo.
“o rio Xingu
anTigamenTe
era fundo... esTá
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ficando raso” N
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Awajatu Aweti
Antigamente, no nosso porto, havia seres que cuidavam do rio, como a sereia,
que fazia o rio ficar fundo. Kat morava lá, tinha ta’e watu, panela-mostruosa e
kaminu’umyt, que é um menino pequeno todo enfeitado de colares de caramujo.
Eles eram os donos daqui. A água corria por ali, e o nosso banho não ficava
com essa água suja que tem hoje. Hoje em dia o pessoal usa muito sabão,
é por isso que a água fica suja. Por causa do sabão, os donos ficaram
bravos e foram embora, aí o mato cresceu e fechou a passagem
da água.
Tem a lagoa onde está o aguapé. Por que a lagoa não
seca? Por que o aguapé não acaba? Porque tem os
seres vivos que cuidam, ali é a casa deles.
A gente diz que são os seres vivos que fazem
o fundo dos rios. O rio Xingu antigamente
era fundo. Com a chegada do branco,
com tudo o que eles fizeram nas
margens, o rio está ficando
raso, pois os donos do rio
estão indo embora. É
muito importante
falar disso.
Vou falar do
mato. Antigamen
te quando a gente
queimava roça, o mato era
úmido, não pegava fogo fácil.
Hoje você brinca na hora de tocar
fogo. Os seres vivos da natureza
também estão desaparecendo. Antiga
mente você escutava os donos do mato.
Meu bisavô sempre escutava ka’a itat, a dona
do mato. Hoje você quase não ouve eles gritando. ILUSTRAÇÃODEWARANAKUAWETI,EXTRAÍDADEAWyTyzA
Ti’ingKuLivrO PArA ALfAbeTizAçãO nA LínguA AWeTi.
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, SÃO PAULO, 2002.
“o Tempo vai
mudar, por isso
chove muiTo.
nosso dono vai 01
20,
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Trocar a Terra” L
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©
Seremete Wajãpi
C hove muito, o verão não acontece. A roça também não queima, porque a chuva é muita. Nossos
avôs já diziam isso. Parece que a nossa época não é boa, por isso a chuva não para de cair.
Antes não era assim. Antigamente, quando meu pai ainda era vivo, não era como agora. Só agora é
desse jeito... Por que o tempo de hoje se transformou?
Talvez nosso dono altere o tempo de hoje, o tempo vai mudar, por isso chove muito. Nosso dono
vai trocar a terra. A terra será renovada, disse o nosso dono, por isso a terra queimará.
A terra queimará...
Se a terra não queimar, o dilúvio vai chegar, as águas serão profundas, o que
causará a extinção. É isso que nós Wajãpi sabemos. Nós também sabemos que a
escuridão vai acontecer, não irá mais amanhecer! Por quanto tempo não amanhe
cerá? Por mais tempo, e mais tempo ainda não amanhecerá. Em um próximo ano
não terá amanhecer, diziam os nossos avôs. Talvez por isso a chuva caia inces
santemente, e nós temos medo.
As donas do verão, as cigarras, cantam bonito demais. Isso não mudou. Nesta
época de verão elas cantam, quando o sol está quente... E agora elas cantam
muito, e cantam muito... Depois a chuva cai e então elas não cantam mais. Hoje
elas não cantam, a chuva as interrompe, éfrio para elas. Quando não chove, elas
cantam, cantam e cantam, depois de três luas, elas calam. Atualmente, depois
de uma lua, elas já param de cantar, porque a chuva é muita. “Não é bom tanta
chuva”, dizem elas.
Antes não era assim, quando eu ia para a aldeia Parijakae, as cigarras só calavam
depois de três luas, o sol era quente para elas, quente, quente, quente para elas,
por isso elas cantavam muito. Quando eu queimava minha roça, a mata queimava
bem, o fogo se espalhava... Porque estava tudo bem seco. No tempo de queimar
roça, a mata queimava, as folhas secas caídas no chão queimavam... Hoje não!
ILUSTRAÇõES DE JANUARI (1983), EXTRAÍDAS DE VIDAL, LUX (ORG). grAfismO indígenA. SÃO PAULO: STUDIO NOBE, FAPESP, EDUSP, 1992.
A roça não queima, porque a chuva é muita, a chuva não cessa. Eu temo muito essa chuva.
Não vai demorar muito não, talvez agora mesmo chegue o dilúvio. O dilúvio se estenderá muito
longe... As águas irão subir, como diziam nossos avôs. As árvores serão extintas, como eles nos
disseram. Se não houver mais árvores, diziam eles, nós também seremos extintos! Por isso
eu temo, nós vamos desaparecer. Não vai ter terra, apenas água por todos os lados, até
a borda da terra. Será muita água pela floresta, por todas as aldeias, pela aldeia Mariry,
pelas aldeias do Kamopi... Muita água é o que vai nos exterminar.
“o venTo esTá
forTe, a chuva
é muiTa... Talvez
o dilúvio nos
alcance”
Muru Wajãpi
A tualmente há muitas estações distintas. Ontem fez verão, o verão como tem desde antigamen
te. Em julho nós brocamos a roça e, agora, em setembro, nós derrubamos a roça. Agora, em
setembro, a chuva cai. Chuva, chuva, chuva, não para não, é realmente o tempo de chuva. Antiga
mente não era assim, só hoje o tempo varia muito. Atualmente venta muito durante o verão, venta
mesmo, por isso não acontece o verão. Há muito vento em setembro, antes não era assim, hoje é que
venta muito, trovão também, tem muito trovão. Por isso os tempos de hoje são perigosos, eu tenho
medo, talvez essa época acabe.
Por isso que eu me pergunto: “Por que a chuva não para?”. Talvez porque os não índios acabaram com
a floresta para esses lados, lá para os lados das cidades eles deram fim à floresta. Por aqui, para os
lados das roças, há floresta, ela existe como tem que ser, para o lado de nossas aldeias, há floresta,
mas o não índio talvez tenha exterminado a mata. O vento está forte, a chuva é muita, mesmo no ve
rão ela cai. O verão é curto nos tempos de hoje e a chuva está presente, durante as três luas a chuva
cai. Com essa chuva, talvez o dilúvio nos alcance. Você sabe o dilúvio? A água vai subir, os peixes
acabarão, isso talvez leve à extinção. Muito difícil, por que não sabemos o que fazer, como lidar.
Talvez o dono da terra e o dono das árvores estejam furiosos, talvez nosso dono esteja irado também.
Porque a existência dos não índios não presta. Eles colocam cimento, fazem grandes estradas, isso
deixa os donos furiosos. Também eles arrancam o que há dentro da terra, arrancam ouro, arrancam
minério também, por isso talvez o dono da terra esteja irado. Com todos nós o dono da terra está
irado, ele também quer nos extinguir, talvez digam aos outros donos. Por isso está assim, talvez seja
por isso que o verão não acontece. Hoje cada vez mais eles fazem desse modo. Por que o tempo está
assim? Talvez acabe, por isso está assim. Isso está claro no livro de Janejarã. É isso que eu estou
pensando. Por isso eu me pergunto: “Por que o tempo está tão diferente?”. Diferente... A chuva
não cessa, não para, não para mesmo. Talvez hoje, talvez no futuro, não vá mais ter verão, será a
penúria, vai acabar o que há na floresta, não teremos o que comer. Sem poder fazer roça, nada vai
crescer, será a penúria. Por isso eu me preocupo de verdade. Se a chuva não parar, vai ter a escuri
dão. Não era assim antigamente, no tempo da pupunha já tinha verão. Hoje não. O verão está assim,
a chuva cai durante o verão, para mim não está bom. Por isso eu penso mesmo. É só isso!
É horrível. Vai nos agredir, nos matar. Pajé é quem sabe. Se pajé não souber que [o dono da terra]
está nos agredindo, não ver que está nos matando... Mas quando vê, ele afasta os donos de nós,
eles não nos matam, eles voltam [para seu lugar]. Se pajé não vê, eles vão acabar com todos, vai nos
varrer, vai nos exterminar, vai nos varrer, como dizem os Wajãpi.
CAMILA GAUDITANO
Antropóloga
Wautomo é uma árvore do cerrado e um dos cinco eles compartilham práticas rituais, cantos,
prefixos que compõem os nomes femininos xavante. nomes masculinos e femininos. Para a imersão no
Aba significa caçada. Uma boa coletora é como um universo onírico é preciso o uso de remédios, banhos
bom caçador: são identificadas e comentadas na e práticas propiciatórias, que inclui relações com
comunidade e podem ganhar reconhecimento em ou a sobrenatureza nos momentos em que estão no
tras comunidades. Wautomoaba, assim como outras cerrado, e, também, da ética alimentar, que deter
mulheres, é uma caçadora de frutos, cocos e carás mina quais são as comidas consideradas fortes e
do cerrado, assim como os homens são caçadores fracas para sonhar.
de veado, anta e caititu. Desde menina, aprendeu os A mudança na paisagem tem uma relação direta com
segredos de uma boa coleta: onde encontrar, como as práticas culturais. Locais propícios para caça e
manejar, proteger-se dos espíritos da mata –donos coleta, como tabocais, brejos e terras altas, foram
dos recursos naturais – e a preparar os alimentos desmatados e/ou desertificados. A cesta básica foi
para sua família. adotada, assim como o plantio de arroz, e também
As expedições familiares pelo cerrado, denominadas faz parte do sistema de solidariedade que demonstra
zöomo’ri, realizadas para buscar alimentos, recursos o interesse de reforçar laços de parentesco entre a
naturais para confecção de artesanatos, vistoriar comunidade. Segundo a opinião das mulheres mais
do território e praticar rituais, diminuíram drasti velhas, o preparo de alimentos não indígenas, trans
camente a partir da década de 1980, por influência formado em prática cotidiana dos mais jovens, está
dos salesianos e pela ocupação de terras xavante enfraquecendo os Xavante. Enfraquecendo não no
por colonos. Muitas regiões por onde exercitavam e sentido estritamente nutricional, mas das práticas
praticavam seus conhecimentos foram cortadas por culturais envolvidas. O ato de coletar e caçar não
estradas, tornaram-se cidades, pastos e plantações envolve apenas encontrar o alimento, mas todas
de soja. Ainda hoje, buscar alimentos que fortale as ações simbólicas praticadas desde o princípio
çam os Xavante espiritualmente, como a carne de dos tempos por seus ancestrais criadores que, atua
caça – que os faz sonhar –, cocos e carás, exige a lizadas, garantem o modo de vida xavante
experiência de homens e mulheres na interação com até os dias de hoje.
o cerrado, seus seres e seu entorno degradado.
O depoimento a seguir foi gravado na aldeia Wederã, TI Pimentel Barbosa, Mato
A relação com os primeiros criadores xavante se Grosso, em 2008. A tradução foi realizada por Cipassé Xavante, filho de Wautomoa
ba, hoje coordenador técnico local da Funai em água Boa, MT, local onde os Xavante
mantém por meio dos sonhos. Neste encontro realizavam suas expedições.
“muiTo anTigamenTe,
a genTe andava
muiTo no cerrado...
como se a genTe
dividisse o espaço
com os bichos”
Wautomoaba Xavante
Antigamente as pessoas não ficavam num lugar só, paradas. As pessoas andavam muito, usavam o
território fazendo expedição.
Vou contar a minha vida, a minha infância eu vou contar. Eu não sou daqui, sou de um lugar
que se chama nOrOsurã. Nossas mães contam a história assim para nós. Minha mãe e minha
avó gostavam de contar, eram contadoras de histórias. A minha tia, considerada minha mãe de cria
ção, era boa para contar histórias, por isso eu sei contar.
Minha mãe me deu para a minha tia me criar. Ela que me ensinou todas as coisas da vida, me
ensinou também a coletar frutas. Diferente dos warazu [não indígenas], a relação de parentesco
entre os Xavante é próxima e forte, por isso minha mãe e meu pai me deram para o irmão de
meu pai me criar.
Quem me ensinou foi quem me criou, quem me mostrou o mundo e com quem eu aprendi a coletar.
Me ensinou muito, principalmente em relação à coleta. Eu aprendi com essa mulher, com essa tia
que fez o papel de minha mãe. Ela me ensinou a buscar as frutas no cerrado, pegar os cocos e um
dos cocos que ela me ensinou a pegar chama norõre. é em época de chuva que a gente colhe
o nOrõre. A época da chuva é de fartura, colhemos muito e comemos muito essa fruta, que é
muito forte. Eu sou de norosurã, mas a minha mãe e minha família são de um lugar que se
chama Parabubure.
De Cuiabá, os não índios vieram para ocupar o espaço e fazer guerra com os Xavante. Eles fizeram
um massacre nesse lugar, Parabubure, e nesse conflito perdi minha mãe e meu pai. Depois desse
massacre nos refugiamos na região de Pimentel Barbosa. Quando eu vim para cá eu já era grandinha,
dava para ver o que estava acontecendo. Eu vim com meus irmãos e a partir daí eu cresci sem ter
noivo, sem ter nada, já vim grandinha para cá. Nós viemos de um lugar que não tinha meninas para
casar, não tinha mulher para casar. Por isso que viemos para cá e nos casamos nesse lugar.
Daqui nós fomos para São Domingos, Wedeze. Lá chegando criaram um grupo de idade para a gente
se tornar adulto. Foi o primeiro grupo tirowa do Wedeze e eu fiz parte desse grupo. Foi lá que
eu passei a participar do grupo tirowa. No grupo tirowa me formei, me tornei mulher e me casei.
Quando a gente se torna adulto, começa a produzir. Eu e minha irmã nos tornamos trabalhadeiras,
a gente plantava muito, trabalhava muito e tinha muita fartura. Eu comecei a produzir, a plantar e a
ter fartura, por isso meus filhos não passavam necessidade. Fui sempre trabalhadeira, tinha muita
comida, plantava muita banana, plantava muito mamão.
Depois que tive meu primeiro filho, meu sogro [Apowë Xavante] começou a pensar em deixar aquele
lugar, ele começou a andar, andar para encontrar um lugar para criar uma nova aldeia. Meu primeiro
filho nasceu na Barreira Amarela e depois dele tive outros filhos. Depois de mudarmos para Barreira
Amarela, meu sogro resolveu mudar de novo, ele começou a andar, procurar um lugar bom e resolveu
mudar para esse lugar que hoje é a aldeia de Pimentel Barbosa. E nós mudamos para cá.
quando a gente mudava de aldeia ou criava uma nova aldeia não passávamos
necessidade, porque a roça que tinha eram as frutas do cerrado, a gente comia
em qualquer lugar. Antigamente não nos preocupava uma mudança porque ninguém passava
necessidade, já que tinham as frutas do cerrado. A gente sempre comia cará do cerrado, tipo wede
du, a gente plantava muito, nunca passamos necessidade. Meus filhos nunca passaram necessidade.
Assim eram as coisas, era assim. Era assim a vida, assim tive meus filhos. E os filhos que tenho hoje
foram esses que nasceram daquela época para cá. Meus filhos cresceram e começaram a ter filhos,
aumentar a família.
Antigamente nossos avós conversavam muito com a gente e ao mesmo tempo nos ensinavam. Por
isso quando as meninas ficavam grandes já estavam preparadas porque receberam o ensinamento.
Um dos lugares onde andávamos muito é na região onde hoje é a cidade de água Boa. Os lugares
onde fazíamos expedição eram muito longe, hoje esses lugares são ocupados por cidades que são
próximas às aldeias, era onde as pessoas andavam muito. Antigamente nossos avós ensinavam
muito, muito mesmo. Eles falavam, a gente ouvia, aprendia e colocava em prática. Depois que
aprendíamos as atividades, a gente substituía o trabalho de nossas mães, a mãe da gente já não
trabalhava muito, pois a gente assumia a atividade doméstica. É assim que a gente pensava
e levava a vida antigamente. É assim que é a vida.
Em suas reflexões, Seu Osmarino e Dona Raimunda, Fazem barulho, liberam fumaças. Traficantes circu
habitantes da TI Cobra Grande, às margens de um lam em busca de rotas alternativas para o transporte
igarapé próximo ao encontro entre os rios Tapajós, de drogas e bens roubados, aliciando a população
Arapiuns e Amazonas, no centro-oeste do Pará local. A circulação pelos rios e trilhas é cada vez
(Santarém/PA), chamam a atenção para as muitas mais restrita e cheia de impedimentos. Novas doen
consequências dos novos tempos. As coisas hoje ças proliferam, as antigas já pouco são nomeadas.
se apresentam a eles como um mundo de estranha As jovens mulheres parecem já não levar a sério os
mento, tomado pela cegueira e pelo desrespeito. resguardos. Os velhos sacacas, com sua habilidade
Nada, entretanto, passa despercebido pelas mães de interpretação e cura, se foram, deixando apenas
dos igarapés, das matas e dos campos. Espíritos do algo de seu saber e força para os curandeiros.
fundo, capazes de se manifestar na superfície na Seu Osmarino e Dona Raimunda, fundadores da
forma de qualquer “bicho”, são os verdadeiros donos aldeia do Tapajós do Garimpo, conhecedores dos
dos domínios que, cada vez mais, estão a emitir seus remédios da mata, temem profundamente os desar
sinais de contrariedade com a intensidade das novas ranjos, que, cada vez mais se aproximam de suas
mudanças e desarranjos, provocados pelas ações de casas. Não participam ativamente do movimento
senfreadas daqueles que não “entendem” do respeito indígena, embora tenham esperança no esforço dos
às mães que cuidam de tudo o que há. jovens para que o Estado os reconheça como povos
Em poucas décadas, desde os tempos de sua juven indígenas, e lhes reconheça direitos tradicionais.
tude, os campos foram cercados para pastagens. Melancólicos, gostam do recolhimento em sua casa
Desmatadas, pisoteadas e repletas de fezes de ventilada de palhas de curuá, cipó-titica e esteios de
animal, as nascentes do igarapé viraram bebedouro sapopira, às margens do igarapé Sepetú, gerador de
para o gado. As matas e a caça foram reduzidas pela um dos braços do lago Arimum, que desemboca no
pressão madeireira. Os peixes escassearam pela Arapiuns. Ali se mantêm de suas roças, quintais e
demanda por compra dos grandes barcos. A estrada trilhas de coleta; próximos de seus filhos e netos, à
não asfaltada (PA-257), que liga Santarém às minas beira do igarapé onde estão acostumados a monito
de bauxita de Juruti, cresceu e avança sobre suas rar os sinais dos desarranjos.
áreas de ocupação. Caminhões, caminhonetes e
Depoimentos colhidos em 8 agosto de 2008, na TI Cobra Grande,
ônibus circulam cada vez mais ao lado de suas casas. por Leandro Mahalem Lima
Osmarino Corrêa
Ali naquele Igarapé no meio do campo, a gente sabe que ali é um lugar
muito importante, até porque aquela água é a nascente do igarapé que desce.
Quando a gente era mais novo e ia caçar pra lá, fazer outros trabalhos e pegar
cipó, a gente tomava banho lá naquela água. Eu só queria dizer desse assovio
aí. Eu acho que não é coisa de matar. Se alguém fica com medo é por não
saber o que é. A gente sabe. Esse campo tem uma mãe. Ela é um espírito
que nunca atacava, mas agora que tem muitas consequências, muitos
barulhos, muita derrubada de mata, aí ela começou a atacar. É por esse
motivo que à noite ela começa a brincar com quem tem aquele medo. A
pessoa corre mesmo porque não sabe o que é. Hoje tem muita doença
porque a população está grande e tem muita coisa complicada: fumaça
de pneu, plástico. Essas coisas são muito complicadas. Naquele tempo
só tinha comércio lá pra cima. Não existia plástico. Calçado era aqueles
tamancos de pau, quando não era pezão no chão e nem frieira pegava.
Naquele tempo, os velhos colocavam traíra no colar e caridade no braço
para a criança não virar bichinho mexilhão. O que complica é que as doenças
daquele tempo não são reconhecidas hoje, porque têm outro nome. Eu valorizo
o remédio caseiro e tenho certeza que cura mesmo. Aprendi fazer os remédios,
os trançados. Nossa natureza é rica. Todo mato e árvore é remédio.
“Temuma Traíra
Que é amãe do
igarapé... por isso
eu sempre digo para
essas mocinhas:
respeiTem!”
Raimunda Tapajós
O PANORAMA LATINOAMERICANO
Todo esse movimento para a melhoria das informações popula Na última rodada de censos nacionais de 2010, por exemplo, muitos
cionais relativas aos povos indígenas não tem sido implementado países incluíram em seus questionários informações específicas
somente aqui no Brasil: na América Latina e Caribe nos últimos sobre os povos indígenas e afrodescendentes incluindo questões
15 anos, coordenados principalmente pelo Celade/Cepal no Chile, territoriais e socioeconômicas. Alguns censos já estão inclusive
muitos eventos, seminários e oficinas de discussão foram realizados, disponíveis na internet, como por exemplo o censo do Panamá,
tendo em vista a discussão sobre a questão da maior disponibilização cujos resultados são bastante reveladores. Esse país introduziu já
das informações e melhoria das pesquisas universais e específicas no censo nacional de 1990 uma divisão territorial específica para
relacionadas às populações indígenas e afrodescendentes dos diver as TIs denominada ‘comarcas indígenas’, e os resultados já foram
sos países dessa região. A partir de pesquisas regionais (em vários disponibilizados com essa divisão territorial. No Brasil, somente
países), feitas em cooperação e com apoio dos diversos organismos neste censo de 2010 teremos alguns resultados específicos por terras
da ONU, o Celade disponibilizou em sua página na internet inúmeras indígenas, que passaram a ser setores censitários especiais. No site
publicações sobre demografia, indicadores demográficos, questões da agência nacional de estatística do Panamá (www.contraloria.
territoriais e de saúde dos povos indígenas e afrodescendentes (ver gob.pa/inec/) existem seis tabelas específicas sobre povos indígenas
www.eclac.org/celade/), incluindo um banco de dados online que e sete sobre populações afrodescendentes. A grande novidade fica
pretende disponibilizar informações sobre povos indígenas e afro por conta da tabela bastante detalhada sobre fecundidade, com
descendentes dos países da região como um todo. Até o momento informações das mulheres indígenas com mais de 12 anos de idade,
esse banco de dados disponibiliza informações sociodemográficas de por etnia, e com as informações sobre filhos tidos, idade da mãe etc,
povos indígenas; migração interna de povos indígenas, informações o que vai permitir detalhadas análises sobre os padrões e níveis de
sobre saúde e sobre juventudes indígenas e afrodescendentes e uma fecundidade por povo desse país. Além disso, as possibilidades de
base de dados com mapas e indicadores de desigualdades territoriais cruzamento das informações sobre raça/cor com informações sobre
de quatro países (Chile, Argentina, Colômbia e Peru). população portadora de necessidades especiais, estado conjugal e
perfil etário por etnia. Também existem tabelas específicas relativas
A partir dessas informações e de um grande projeto apoiado pelo
a domicílios e suas características com chefias (pessoa de referência
Fundo de População da ONU (UNFPA), de estudos e reflexões com
do domicílio) indígena e afrodescendente. De todos os censos de 2010
vistas à integração das informações censitárias dos países pertencen
cujos resultados já se encontram online este sem dúvida é o mais
tes ao Mercosul, muitos países incluíram em seus censos nacionais completo no que se refere aos povos indígenas.
perguntas específicas direcionadas aos povos indígenas e mudaram
a metodologia de captação dessas informações, incluindo uma fase O censo 2005 da Colômbia também contou a população indígena
de sensibilização e realizando campanhas nas terras indígenas para em cada departamento e especificamente nos resguardos indígenas
divulgar a importância da participação nos processos censitários. (equivalentes às TIs no Brasil, porém, como no Panamá, fazem parte
Alguns países que realizam censos específicos para povos indígenas, da divisão político-administrativa da nação). Dos departamentos
como o Paraguai, treinaram recenseadores indígenas falantes das desse país, os quatro que fazem fronteira com o noroeste brasileiro
línguas das aldeias pesquisadas, e divulgaram os resultados nas lín têm a proporção de população indígena, em relação à população
guas indígenas e em material audiovisual, acessível a esses povos. total, de 22 a 61%. (agosto, 2011)
O QUE ESCREVER SOBRE GRUPOS INDÍGENAS QUE comentários: “A gravidade da situação motivou um encontro de
VIVEM EM REGIÕES REMOTAS COM OS QUAIS NÃO indigenistas, antropólogos, missionários, advogados e represen
CONVERSAMOS? O QUE DIZER DE SOCIEDADES tantes da UNI na tentativa de estabelecer formas de atuação na
INDÍGENAS QUE SOBREVIVEM INDEPENDENTES defesa da sobrevivência física e cultural desses povos ameaçados.
DA SOCIEDADE INDUSTRIAL? POR QUE AINDA O documento fala ainda da abertura das estradas a partir de
1970, e de outros projetos de infraestrutura, além da exploração
PERMANECEM ISOLADOS? QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS,
mineral, fatores que levaram esses grupos ao sofrimento e à
SE LEVARMOS NOSSA CULTURA TECNOLÓGICA ATÉ depopulação decorrente do contato com essas frentes de expan
ELES? QUEM SÃO ESSES POVOS? COMO VIVEM? são. Vários povos com a população reduzida drasticamente por
SÃO ISOLADOS EM RELAÇÃO A QUEM E A QUÊ? doenças foram transferidos de suas terras...”
O comunicado criticava também a atitude da Funai pelo abandono
A intenção deste texto é refletir sobre como o Estado e a socie desses índios: “Não é de se estranhar, portanto, que a Funai esteja
dade brasileira concebem e implementam políticas de contato anunciando seu Plano Especial para atração dos últimos grupos
e, ainda, quais processos vividos pelos segmentos da sociedade indígenas isolados, o que nos parece ser o objetivo de facilitar
participantes dessa linha de atuação levaram a repensar as ações a implantação dos novos planos governamentais (PDA, Calha
até então desenvolvidas e propuseram, em 1987, o não contato Norte, etc.). Manifestamos, por isso, nossa legítima preocupação
enquanto premissa de proteção desses povos isolados. pelo destino dos povos indígenas que ainda resistem bravamente
na Amazônia”.
Ao longo do texto, apresentam-se os conceitos, as metodologias de
trabalho, os marcos jurídicos, as diretrizes e as políticas públicas Nesse encontro, foi feito o mapeamento dos grupos isolados no
que o Estado e a sociedade brasileira elaboraram e refletiram Brasil e elaborada uma pauta com as conclusões do Encontro
nesses 23 anos de aplicação da Pública de Proteção para Índios para ser veiculada entre as entidades indigenistas.
Isolados. A construção dessa política pública estatal faz com que
o Brasil se coloque como protagonista dessa experiência singular
ENCONTRO DE SERTANISTAS DA FUNAI
na América do Sul.
Em junho de 1987, passados vinte anos de criação da Funai, os
sertanistas, também preocupados com os resultados da política
ONGS DISCUTEM SITUAçãO DOS ISOLADOS de atração até então praticada no Brasil, organizaram o I Encon
Na década de 1980, durante o processo de abertura política no tro de Sertanistas, promovido por esse órgão indigenista estatal,
Brasil, após vinte anos de regime militar, quando existia grande com a participação de quinze sertanistas e quatro convidados: O
mobilização dos setores organizados da sociedade civil em de encontro foi coordenado pelo sertanista Sydney F. Possuelo.
fesa dos seus direitos, o Cimi e a Opan realizaram, em Cuiabá Dada a importância desse evento, uma vez que nele constituiu-se
(MT), em 1986, um encontro para discutir questões relativas toda a fundamentação que resultou na mudança do paradigma
aos índios isolados. do “contato” para o do “não contato”, enquanto premissa de
Participaram dessa reunião várias ONGs, dentre elas a União ação indigenista do Estado brasileiro para a proteção dos índios
das Nações Indigenas (UNI), Cedi (ISA), CTI, CPI-SP, bem como isolados, reproduz-se, abaixo, trecho significativo do relatório
funcionários da Funai. Sobre esse encontro, o ISA faz os seguintes desse evento:
POVOSINDÍGENASNOBRASIL2006/2010-INSTITUTOSOCIOAMBIENTAL QUEM,QUANTOS,ONDE 55
CONT. TAbELA 1
33 Cabeceira
Rio Chandiles
do Rio Iaco e AC Masco Monitorada Regularizada
Mamoadate Envira
51 Massaco RO paracultura
da
Desconhecida,
Sirionó
maternal
levantamento
aponta Monitorada Regularizada
Massaco Guaporé
24 Korubo do Igarapé Quebrado AM Korubo, Língua Pano Contato estabelecido Vale do Javari
Regularizada Javari
CONT. TAbELA 3
25 Rio Quixito AM Grupo Falante da Língua Pano Não Trabalhada Vale do Javari
Regularizada Javari
É FATO QUE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA da possibilidade (ainda que longínqua) de uma ordem oficial de
GARANTIU AOS POVOS INDÍGENAS O DIREITO desocupação, é comum os não indígenas explorarem e exaurirem
ÀS TERRAS QUE TRADICIONALMENTE OCUPAM, indevidamente os recursos naturais das áreas reivindicadas para
AVANÇANDO SIGNIFICATIVAMENTE O PROCESSO demarcação das TIs. Além disso, em diversos casos, as decisões
ADMINISTRATIVO DE RECONHECIMENTO E liminares impedem a realização dos estudos de demarcação
conduzidos pela Funai ou até mesmo o acesso da população
DEMARCAÇÃO DESSAS TERRAS. ENTRETANTO,
indígena a seu território tradicional.
MUITOS POVOS NÃO CONSEGUEM GOZAR DESSE
DIREITO EM RAZÃO DE INÚMEROS PROCESSOS A concessão de medidas liminares ou cautelares no processo
de reconhecimento de TIs ocorre principalmente em segunda
JUDICIAIS PENDENTES E ALGUMAS DECISÕES
instância e por cortes superiores (Tribunais Regionais Federais,
DESFAVORÁVEIS, QUE COLOCAM EM RISCO AS
Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal). Infe
CONDIÇÕES DE VIDA DOS POVOS INDÍGENAS E OS lizmente, a excessiva morosidade dos processos acaba por acirrar
RECURSOS NATURAIS DAS ÁREAS EM LITÍGIO preconceitos e violências de ambas as partes, mas em geral com
consequências mais dramáticas para os povos indígenas envolvi
dos, como nos casos mais críticos do Mato Grosso do Sul.
Os processos judiciais são legítimos meios de defesa de direi
tos. No entanto, devem garantir a proteção de bens e direitos
indígenas e não indígenas sem discriminação para a efetiva Situação daS açõeS judiciaiS
promoção da justiça. Por exemplo, se o que se busca é a re- Em todo o país, nas diversas instâncias do judiciário existem
solução de um conflito por uma determinada área, há que se centenas de processos judiciais que contestam os procedimentos
garantir que até a resolução do conflito a área e os recursos administrativos de demarcação de TIs. No STF são mais de 150
naturais existentes sejam preservados, bem como a integridade ações pendentes de decisão sobre demarcação de TIs e cerca de
dos interessados. Contudo, diante de um quadro de extrema 10 medidas liminares desfavoráveis às demarcações em 2010.
demora do Judiciário e de fortes pressões sociais e políticas,
Só na Justiça Federal do Mato Grosso, na Seção de Cuiabá, em
esses processos judiciais produzem efeitos que recaem de
2010 foram encontrados pelo menos 120 processos judiciais
maneira desigual sobre a situação dos povos indígenas, ainda
que pendentes de decisões. em curso (alguns desde os anos 80) e em segunda instância
no Tribunal Regional Federal da 1ª Região foram encontrados
Assim, é cada vez mais comum a concessão de liminares judi pelos menos cem recursos. Essas ações são propostas por agro
ciais que dificultam, suspendem e atrasam os processos admi pecuárias, colônias agrícolas e fazendeiros contra comunidades
nistrativos de demarcação de Terras Indígenas (TIs), trazendo indígenas, Funai e União Federal, contestando a demarcação
grande insegurança para os povos indígenas. Essas liminares de TIs. Dos processos analisados, apenas cerca de 10% foram
são especialmente danosas quando perduram por anos e até sentenciados. No entanto, apesar do inexpressivo número e da
décadas, consumando uma situação de fato que muitas vezes é excessiva demora, todas as sentenças em primeiro grau foram
ao fim decretada ilegal. Por exemplo, em meio ao litígio e diante em favor do reconhecimento das TIs.
Um Direito Aprovado,
mas Pouco Cumprido
Ao mesmo tempo em que o Estado brasileiro reconhece o di comunidades indígenas diretamente afetados pelas decisões ob
reito de consulta aos povos indígenas, ao discutir, em abstrato, jeto de consulta. A obrigação de consulta é clara e transparente, o
princípios e diretrizes sobre políticas públicas das quais são verbo reitor do direito é o de consultar para obter o consentimento
destinatários, desconhece sistematicamente o direito de consulta sobre o conteúdo da decisão que pretende ser adotada pelo Es
quando se trata de adotar decisões concretas sobre territórios in tado, prevendo procedimentos “apropriados e, particularmente,
dígenas e povos diretamente afetados por obras de infraestrutura através das instituições representativas dos povos indígenas”,
e aproveitamento econômico de recursos naturais. de “boa fé e de maneira apropriada às circunstâncias” (Art. 6º
Convenção 169 da OIT)
Algumas das alegações pelas quais o Estado se nega a realizar
processos de consulta sobre decisões concretas é porque conside O objetivo da consulta é o de se chegar a um acordo ou conseguir
ra que não existem orientações suficientes nas disposições legais o consentimento livre, prévio e informado das medidas propos
sobre o tema para a implementação do direito, argumentando a tas,2 o que vem sendo interpretado como a efetiva oportunidade
necessidade de uma regulamentação administrativa para con dos povos indígenas influenciarem nas decisões que os afetam
versar com os índios sobre suas terras, seus recursos naturais, diretamente. Ou seja, o fato de submeter uma decisão à consulta
suas vidas. Afalta de regulamentação é um dos argumentos mais com os povos indígenas implica a incorporação do resultado da
corriqueiros para a negação desse direito por parte dos Estados, consulta na decisão final do Estado, evitando assim que este
não obstante as respostas dos juízes, em todos os tipos de juris adote, unilateralmente, decisões que afetam as condições de
dição, serem frequentemente as mesmas: o direito de consulta bem-estar e reprodução física e cultural dos povos indígenas,
é um direito fundamental e, portanto, autoaplicável. Não cabe protegidas constitucionalmente.
alegar falta de regulamentação para iludir a responsabilidade
da sua aplicação. Dentre os principais consensos internacionais com relação ao
conteúdo do direito de consulta prévia, vale a pena destacar
O direito de consulta está consagrado nos artigos 6º e 15º da
os processos de pré-consulta, ou planejamento conjunto de
Convenção 169 da OIT, nos artigos 19, 30 e 32 da Declaração das
consulta, que permitem às partes envolvidas definirem, de ma
Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (DNUDPI),
neira conjunta, e de mútuo acordo, pelo menos cinco elementos
e especificamente no Brasil no § 3O do Art. 231 da Constituição
necessários para o desenvolvimento de um processo de consulta
de 1988, nos quais é possível identificar claramente os elementos livre, prévia e informada.3 São eles: 1) a definição dos interlocu
básicos da sua definição como o são: os sujeitos, o conteúdo da
tores e representantes de cada órgão e povo participante, com a
obrigação, seu procedimento de aplicação, e suas consequências
devida indicação explícita de suas competências e do alcance de
jurídicas.1
seu mandato; 2) a definição de procedimentos para a produção
Assim, são considerados sujeitos do direito de consulta: o Estado, e divulgação de informação, assim como para a deliberação e
representado pelos poderes Executivo e Legislativo, e os povos e a tomada de decisão no processo de consulta, seja por meio de
como na DNUDPI, constitui o objetivo da realização das consultas pecial da ONU para direitos indígenas: “O peso de se alcançar o consentimento
e não simplesmente um poder de veto geral4. varia de acordo com as circunstâncias e os interesses indígenas envolvidos.
Um impacto significante e direto nas vidas e territórios indígenas estabelece
Deve ser possível consultar os povos indígenas sobre as decisões uma forte presunção de que a medida proposta não deveria seguir sem o
públicas que envolvem suas terras e recursos naturais, porque consentimento dos povos indígenas. Em certos contextos, essa presunção
pode se enrijecer numa proibição da medida ou do projeto na ausência do
nelas encontra-se a garantia das condições de vida física e cultural
consentimento indígena” [grifos nossos ANAYA, James. Relatório da ONU A/
desses povos. Aaplicação do direito de consulta não implica nada HRC/12/34 de 15 de julho de 2009. Ver: http://unsr.jamesanaya.org/PDFs/
além da aplicação dos princípios da democracia mais básicos, que Annual2009.pdf (p.17)
Desafios Indígenas
no Congresso Nacional
NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS AUMENTOU O NÚMERO propostas buscam sustar as portarias da Funai de identificação
DE PROPOSIÇÕES SOBRE DIREITOS INDÍGENAS NO e delimitação de terras da maior população indígena do país e
CONGRESSO NACIONAL, QUE SOMAM ATUALMENTE a que vive em situação mais dramática de mortes de crianças
por desnutrição, desestruturação social, suicídios, causados pela
MAIS DE 100 EM TRAMITAÇÃO. A MAIORIA DELAS
privação de acesso à terra e aos recursos naturais necessários à
VISA RESTRINGIR OS DIREITOS GARANTIDOS NA
sua sobrevivência física e cultural. Outro exemplo marcante de
CONSTITUIÇÃO DE 1988, PRINCIPALMENTE O
reação virulenta da Câmara aos direitos indígenas à terra foi a
DIREITO À TERRA E AO USUFRUTO EXCLUSIVO apresentação pelos oito deputados federais do estado de Roraima
DE SEUS RECURSOS NATURAIS de propostas para sustar a homologação da demarcação da TI
Raposa Serra do Sol, em 2005.2
A inadequação das proposições, a reação indígena e o próprio
sistema legislativo brasileiro minimizam os estragos, mas os demaRcação é competência do executivo
riscos de perdas têm aumentado com o interesse do governo em e não do congReSSo nacional
realizar obras de infraestrutura que afetam os povos indígenas.
Além do entendimento acima mencionado de que não cabe ao
Amaior parte das proposições (cerca de 60) são apresentadas na poder legislativo sustar atos meramente administrativos do poder
Câmara dos Deputados e buscam alterar o processo de demarca executivo, o STF, em 2009, no caso do julgamento da demarca
ção de terras indígenas, muitas delas submetendo a demarcação ção da TI Raposa Serra do Sol3 abordou de maneira definitiva o
à aprovação do Congresso. Apesar de haver entendimento no STF assunto, reiterando que a demarcação é competência do Poder
desde 19951 de que as portarias que declaram uma terra como Executivo da União: “Somente à União, por atos situados na esfera
indígena e os decretos que homologam as demarcações ou que de atuação do Poder Executivo, compete instaurar, sequenciar
regulamentam a forma como são feitas as demarcações são atos e concluir formalmente o processo demarcatório das terras in
administrativos, e que, portanto, estariam fora do controle do dígenas, tanto quanto efetivá-lo materialmente...” Descartando
Congresso Nacional – que alcança apenas os atos normativos a participação do legislativo nesse processo: “As competências
do Executivo –, proposições para sustar os efeitos desses atos deferidas ao Congresso Nacional, com efeito concreto ou sem
continuam a ser apresentadas. densidade normativa, exaurem-se nos fazeres a que se referem o
Em 2008 foram 15 novas proposições para alterar o procedi inciso XVI do art. 49 e o § 5º do art. 231, ambos da Constituição
mento e sustar demarcações, apresentadas principalmente Federal.” Os artigos citados referem-se a autorizar a exploração
por deputados dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de
Sul e Santa Catarina. Houve proposição inclusive para sustar riquezas minerais, em TIs.
o Decreto 1.775/96, do Presidente da República, que dispõe Assim, não há como prosperar os inúmeros projetos de lei (PL)
sobre o procedimento administrativo de demarcação das terras que visam alterar a forma de demarcação das TIs, pois vão de en
indígenas. Até mesmo a ação da Funai, de finalmente buscar contro ao que estabelece a Constituição. Tampouco têm vingado
solução adequada para os índios Guarani do Mato Grosso do as propostas de emenda à Constituição (PEC), que visam alterar a
Sul, repercutiu negativamente na Câmara dos Deputados. Duas Constituição, pois essas encontram resistência não apenas no seu
A Natureza em Pessoa:
Sobre Outras Práticas de Conhecimento
VALORIZAR AS CULTURAS INDÍGENAS PORQUE diferente da nossa porque estaria em sintonia natural com a natu
ESTAS SE CONSTITUEM, POTENCIALMENTE, EM UM reza. Essa imagem não é privilégio dos leigos, ou da mídia inculta,
porque uma parcela significativa dos estudos antropológicos, por
RESERVATÓRIO DE TECNOLOGIAS ÚTEIS PARA O
exemplo, sobretudo daquela parcela que é tributária de um certo
“DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL” DA AMAZÔNIA naturalismo simplista, tende a apresentar os povos amazônicos
NÃO DEIXA DE SER UMA INSTRUMENTALIZAÇÃO DE como se fossem populações animais reguladas – do ponto de
NOSSA RELAÇÃO COM ESSES POVOS, FRUTO DE UMA vista de sua composição, distribuição e atividade – por parâme
ATITUDE UTILITARISTA E ETNOCÊNTRICA, QUE PARECE tros naturais independentes de qualquer atividade constituinte
SÓ ADMITIR O DIREITO À EXISTÊNCIA DOS OUTROS SE propriamente humana – parâmetros termodinâmicos, essencial
ESTES SERVIREM A ALGO PARA NÓS mente. A sintonia indígena com a natureza, nessa imagem, seria
uma espécie de sintonia infusa, imanente, inconsciente, orgânica.
Estaria “no sangue”; seria uma coisa “natural”.
Fala-se muito hoje em dia em “conhecimentos tradicionais”
Ao mesmo tempo, nós, de uma maneira contraditória, também
indígenas: que devem ser valorizados, assimilados, incorporados
costumamos imaginar os povos indígenas como possuidores de
ao nosso estoque de conhecimento e, na medida do possível,
uma quantidade de segredos da floresta inacessíveis à ciência
retribuídos, isto é, reciprocados. Todos conhecemos esse discurso.
ocidental. Nesse caso a sintonia dos índios com a natureza não
Mas eu vou problematizar alguns de seus aspectos. Primeiro, o
seria mais algo passivo ou natural, mas seria alguma coisa ativa,
interesse pelos chamados conhecimentos tradicionais se apoia
transcendente, cognitiva – seria quase sobrenatural. Mais uma vez
na verdade em uma concepção, de nossa parte, completamente
isso tem recebido o apoio bem-intencionado de vários estudiosos
tradicional, no mau sentido, do conhecimento, ou seja: a noção empenhados em fazer reconhecer o valor justo, e o justo valor,
de conhecimento tradicional não mudou nem um pouco o que
dos conhecimentos nativos.
nós entendemos por conhecimento. Segundo, o discurso sobre
os conhecimentos tradicionais enfatiza os conteúdos desse co Meu ponto é que as duas imagens estão profundamente erradas. É
nhecimento, separando tais conteúdos de sua forma. Ora, o que certo que os povos amazônicos encontraram, ao longo de milênios,
distingue os conhecimentos tradicionais indígenas dos nossos co estratégias de convivência com seu ambiente que se mostraram
nhecimentos –tradicionais ou científicos – é muito mais a forma com enorme valor adaptativo; que, para isso, eles desenvolveram
que o conteúdo. É, além disso, a ideia mesma de conhecimento: tecnologias sofisticadas que são infinitamente menos disruptivas
a imagem de quem conhece, a imagem do que há a conhecer, e das regulações ecológicas da floresta que os procedimentos vio
a questão de para que, ou melhor, por que se conhece. lentos e grosseiros utilizados pela sociedade ocidental. Também é
certo que esse saber indígena tem que ser estudado, difundido e
valorizado urgentemente; e é ainda mais certo que ele poderá ser,
imagenS eQuivocadaS em última análise, o passaporte para a sobrevivência no mundo
Na nossa imaginação – de brancos, brasileiros e ocidentais –, moderno dessas sociedades que o produziram. Mas há aspectos
os povos indígenas são como personagens ambíguos, a repre problemáticos em todas essas representações, que residem nos
sentação de uma forma de vida humana que seria radicalmente termos mesmos em que elas se exprimem.
A partir da esquerda, Geraldo Andrello, Adriano de Jesus Tariano, Luís Aguiar Tariano e Eduardo Viveiros de Castro,
que mediou uma roda de conversa do Seminário Visões do Rio Babel, em 2008.
A MP Nº 2.186, ATUAL LEI DE ACESSO A RECURSOS Dada a falta de uma definição precisa do que são os termos
GENÉTICOS E CONHECIMENTOS TRADICIONAIS “conhecimento tradicional associado”, “conhecimento tradicio
ASSOCIADOS, NÃO PROMOVE REPARTIÇÃO JUSTA nal difuso” ou de “domínio público”, bem como do tratamento
E EQUITATIVA DOS BENEFÍCIOS específico desses tipos de conhecimento pela legislação, os pedi
dos de universidades, institutos científicos e empresas, públicas
e privadas, omitem a contribuição do conhecimento tradicional
Quem busca informações sobre os benefícios recebidos pelos associado em suas pesquisas, às vezes até por orientação do
povos indígenas e comunidades locais pelo uso de seus conhe próprio CGEN. (Figura 2)
cimentos tradicionais associados (CTAs) às plantas na produção
de sementes, cosméticos e fármacos para avenda em larga escala muitoS conhecimentoS São
nos mercados nacional ou internacional fica desapontado ao ler o compaRtilhadoS entRe comunidadeS
relatório de atividades de 2010 do Departamento do Patrimônio
Genético (DPG) do Ministério do Meio Ambiente (MMA). De 2002 e até paíSeS
a 2010, o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), Um exemplo é o projeto de uma universidade paulista de capital
órgão governamental encarregado de examinar os pedidos de privado, aprovado pelo CGEN desde 2005, para acesso e remessa
autorização de acesso a recursos genéticos e CTAs no Brasil, ao exterior de amostras de 100 famílias de plantas para biopros
concedeu apenas duas autorizações (já vencidas), que prometiam peção e desenvolvimento de “drogas anticâncer e antibacterianas”
algum tipo de benefício, monetário ou não, a essas populações sem menção ao conhecimento tradicional a elas associado. Em
tradicionais. Estão em tramitação outros sete processos para uma olhadela na extensa lista, um brasileiro familiarizado com
bioprospecção e/ou desenvolvimento tecnológico, com projetos chás, ervas, xaropes e garrafadas reconheceria várias plantas
iniciados irregularmente, e portanto, sujeitos a autuações do curativas, como jatobá, barbatimão e copaíba. Os pesquisadores
Ibama. (Figura 1) desse projeto têm como guia em suas expedições no rio Negro
Mais de 100 são os processos autorizados e em tramitação um mateiro, representante da população local, que conhece
relativos a pesquisas científicas com CTA, estes, porém, dispen profundamente a flora amazônica.
sados de anuência das próprias comunidades detentoras dos Por se tratar, nesse caso, de conhecimento sobre usos de plantas,
conhecimentos, bem como de apresentação final dos resultados espalhado pelo território brasileiro, o CGEN não tem instrumentos
da pesquisa. (Fica aqui a observação de que ainda assim essa legais com os quais tratá-lo. O CTA só “existe” se estiver limitado
quantidade de pesquisas é pequena se comparada à riqueza a uma ou poucas comunidades identificáveis. Uma situação rara
socioambiental do Brasil.) de ocorrer e difícil de ser comprovada.
Se voltarmos os olhos às solicitações para bioprospecção e/ou Por esse motivo, uma universidade pública federal abriu em 2007
desenvolvimento tecnológico, nas quais os CTAs são desconside um processo de acesso ao patrimônio genético com CTA para
rados, os números crescem ainda mais no relatório. Quase 150 bioprospecção a partir da planta conhecida popularmente no
pedidos, mais de 30 autorizados e o restante em tramitação, em Pantanal Mato-Grossense como nó-de-cachorro e foi dispensada
sua maioria a partir de plantas conhecidas popularmente. pelo CGEN de obter a anuência prévia dos detentores de CTA utili
Desenvolvimento
cimento tradicional associadocom patrimônio genético e conhe-
tecnológico 0
genético
Bioprospecção
e conhecimento
e desenvolvimento
tradicional associadocom patrimônio
tecnológico 2
diversidade biológica, a promoção do uso sustentável de seus
componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios
Fonte: Relatório de Atividades de 2010 CGEN/DPG/MMA (www.mma.gov.br/ resultantes da utilização de recursos genéticos.
cgen)
Apostando na importância estratégica de seus recursos biológicos
e CTAs para seu desenvolvimento econômico e social, o Brasil
zados. Atualmente, a universidade tem um pedido de patente de foi o primeiro dos 193 países (onde não se incluem os EUA) a
um extrato do nó-de-cachorro tramitando no Instituto Nacional assinarem e reconhecerem a soberania nacional dos países sobre
de Propriedade Industrial (Inpi) e é sócia de um grande labora os recursos naturais presentes em seus territórios e aos indígenas
tório nacional em um medicamento contra a perda de memória e comunidades locais, o direito de veto ou recompensa pelo uso
com lançamento anunciado para breve no mercado e previsão de seus conhecimentos associados às plantas (e fungos e outros
de faturamento anual de US$ 500 milhões. Em 2002, a mesma seres vivos) em produtos comerciais.
universidade havia interrompido oficialmente suas pesquisas com O Brasil continua sendo um dos mais atuantes nas negociações
plantas orientadas por conhecimentos de índios Krahô, entre as pós-CDB, que culminaram, em 2010, na adoção do Protocolo de
quais, a wrywry cahàcré, com ação sobre a memória. Nagoya, um avanço importante nos acordos internacionais sobre
Como garantir que índios e comunidades tradicionais, ou a nossa a repartição de benefícios, mesmo considerado um instrumento
população, por intermédio do Estado, desfrute dos benefícios “fraco”. Embora, esteja comprometido com a CDB, ainda está
que são gerados a partir do uso de seus conhecimentos pela para vir o tempo em que será de interesse do Congresso um amplo
indústria? e democrático debate para aprovação de uma lei satisfatória que
regulamente o acesso aos recursos genéticos brasileiros.
Deixando de lado o julgamento moral a respeito da conduta dos
Nagoya como um todo foi criado e estruturado para ser um
laboratórios, nacionais ou internacionais, devemos focar o olhar
na legislação brasileira, que disciplina o acesso ao patrimônio “instrumento de enforcement”, ou seja, de observância das
genético e CTAs, bem como o direito de todos ao meio ambiente obrigações principais introduzidas pela CDB. Contudo, da pro
equilibrado. posta inicial feita pelo Brasil e por países em desenvolvimento
até o texto que se chegou há bastante diferença: Nagoya é um
instrumento fraco.
antepRojeto do cgen eStÁ
O debate, que vinha sendo feito sobre o tema desde 1995, foi
na caSa civil deSde 2009 interrompido com a edição da Medida Provisória nº 2.186-16
A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) entrou em vigor (MP) de 2001, pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso,
em dezembro de 1993 e tem como objetivo a conservação da em seguida à suspensão do acordo de cooperação considerado
Não teve o nome citado pela Operação Novos Rumos uma gigante Processo 2006.03.00.089102-2 Número de origem 2006.61.19.001556-4
multinacional americana de produtos naturais, sob ação civil Classe 278458 AI (AG) – SP 6 ªVara Guarulhos. Data de autuação 05/09/2006
pública do MPF/CE, por tentar exportar ilegalmente 15 toneladas TRF 3ª Região.
de Pau-pereira. Na ação de 2006, o MPF apontava que não houve Processo 2007.30.00.002117-3 Nova Numeração 2078-76.2007.4.01.3000
repartição dos benefícios derivados da exploração de patrimônio Classe Ação Civil Pública Data de autuação 07/08/2007 3ª Vara Federal.
genético e conhecimento tradicional associado. A empresa abriu Biopirataria: MPF/CE pede proibição de exportação de substância usada contra
em 2007 um processo de autorização de acesso a patrimônio câncer (http://noticias.pgr.mpf.gov.br).
EM NOVEMBRO DE 2010, O 32º PRESIDENTE DA NOS ÚLTIMOS QUATRO ANOS À FRENTE DO ÓRGÃO,
FUNAI, MáRCIO MEIRA, ESTEVE EM SÃO PAULO, A AVALIOU SUA GESTÃO SOB O GOVERNO LULA, E
CONVITE DO ISA, ACOMPANHADO DE MEMBROS TRAÇOU PERSPECTIVAS PARA A QUESTÃO INDÍGENA
DE SUA EQUIPE. ELE FALOU DE SUA EXPERIÊNCIA NO GOVERNO DILMA
Dizem que ser presidente da Funai é “descascar o maior ção definiu que o Estado brasileiro é pluricultural, pluriétnico
abacaxi da República”. O senhor concorda? e pressupôs, então, que ele tem de se organizar para cuidar dos
Concordo que ser presidente da Funai é um cargo extremamente povos indígenas e de sua diversidade cultural e étnica, em todas
complexo. É um ofício que exige dedicação e atenção perma as escalas. Assim, em qualquer Ministério ou órgão público, deve
nentes, extremo rigor, muita coragem e muita honestidade de haver uma política voltada para essa diversidade.
princípios da pessoa que o assume. Eu não diria que é “descascar No ano passado, quando o presidente Lula publicou um decreto
o maior abacaxi da República”, porque não vejo a promoção dos que reestruturou a Funai, criando um novo estatuto para o órgão,
direitos dos povos indígenas como uma ques
tão problemática. Acho que temos que superar
isso e ver como uma coisa que é necessária e
positiva. Importante é conceber que a Funai
precisa ser cada vez mais vista como uma
instituição de caráter público, profissional,
organizada.
Qual o atual papel da Funai na relação
do Estado com os povos indígenas, já que
os vários ministérios e órgãos federais
e estaduais têm suas próprias políticas
indigenistas?
Quando a Funai foi criada, em 1967, ela
tinha a função de monopolizar a política
indigenista. O Estatuto da Funai repetia isso,
mesmo depois de 1988, quando a Constitui O presidente da Funai, Márcio Meira, em entrevista na sede do Instituto Socioambiental, em São Paulo.
A figura da dupla afetação foi criada pelo governo Lula com “Nós temos uma visão muito positiva
a homologação da TI Raposa/Serra do Sol (2005). Parece
da possibilidade do REDD, mas com
não ter havido avanços nos casos em que deveria haver
gestão compartilhada. Como está essa questão? preocupações, porque nem sempre
O caso que citei, do Parque Nacional do Monte Paschoal e da TI o mercado demonstrou que resolve
Barra Velha, é um exemplo de solução, pactuada essa semana. as coisas”.
O que precisa ser feito efetivamente para assegurar os termo de referência para o EIA que tenha um componente
direitos indígenas (como o direito à consulta prévia) nos indígena e esse termo de referência sempre é discutido com
processos de licenciamento de obras de infraestrutura? os índios anteriormente. Nós apresentamos uma proposta de
Com relação às obras de infraestrutura, nós temos que ter claro termo de referência para os índios (para que eles apresentem
alguma sugestão ou ponto que se deva acrescentar); o termo
que qualquer empreendimento que seja feito no território brasi
leiro tem de cumprir rigorosamente com as legislações ambiental é encaminhado ao empreendedor; o EIA considera nosso
e indigenista. O problema é que a nossa legislação tem algumas termo. Quando da elaboração do componente indígena, são
questões em aberto, por exemplo, a da consulta prévia. Nós temos solicitadas aos índios sugestões de técnicos de confiança deles
que façam os estudos; quando esse componente é feito, no
a Convenção 169 da OIT que fala da consulta, mas não há um
detalhamento, nem a partir da Convenção, nem da Constituição – âmbito do EIA/Rima, apresentamos para os índios o resultado
que fala em ouvir as comunidades – sobre esses procedimentos. do estudo. Esse processo administrativo do licenciamento tem
regras estabelecidas na Funai para todos os empreendimentos.
Então acontecem controvérsias, porque cada um no Brasil acha
uma coisa diferente com relação à consulta. Eu creio que nós O que leva, na maioria dos casos, à necessidade de estabele
precisaremos resolver a questão dos procedimentos de consulta cer condições muitas vezes duras. A Funai tem sido bastante
rigorosa; inclusive criamos, na Coordenação Geral de Gestão
no Brasil de forma clara, porque, da forma como está hoje, é
ruim. Ruim para o país e para os próprios povos indígenas. Às Ambiental (CGGAM), uma equipe para o acompanhamento de
vezes vira uma coisa até banal. Daqui a pouco, o presidente da processos de licenciamento.
República vai escolher o presidente da Funai e vai ter que fazer Como garantir, por exemplo, a implementação de condicio
uma consulta. Eu vou ter que fazer uma licitação e fazer uma nantes para mitigar os impactos socioambientais nas áreas
consulta! Parece brincadeira, mas se vocês vivessem como vivo indígenas? No caso de Belo Monte, o embate entre essas
lá na Funai, veriam como sou cobrado disso no dia a dia. duas tendências, do governo e da Funai, ficou claro.
Várias e várias vezes na Funai eu fui questionado porque tomei Com relação a Belo Monte, quero dizer com toda a tranquilidade
uma determinada medida administrativa e não fiz consulta. A que nós cumprimos com tudo. Todos os procedimentos foram
própria reestruturação está sendo cobrada nesse sentido. Tenho realizados. Nós fizemos um termo de referência; os índios
um entendimento pessoal: se é a política pública da Funai ou da participaram da elaboração desse termo, aliás, extremamente
Educação que chega na comunidade, a comunidade tem que ser rigoroso. Depois o estudo de impacto ambiental foi feito por
consultada. Já a Funai, ela é um órgão do Estado, é um instru especialistas que foram avalizados pelos índios. AFunai foi com
mento de garantia de cumprimento das políticas públicas. Nós o empreendedor a todas as aldeias selecionadas pelos índios
criamos uma Funai que tem mecanismos institucionais formais, para levar a explicação sobre empreendimento modificado. O
definidos por decreto, para garantir que haja participação direta projeto da obra é totalmente diferente do projeto que tinha sido
na consulta, na base, na ponta. Aconsulta está sendo banalizada, feito nos anos 70, pelos militares, e que depois entrou pelos anos
o que prejudica a própria efetividade do procedimento. Por isso 80, à Reunião de Altamira, de que eu participei e que levou à
é preciso definir em lei, no corpo jurídico, o que é efetivamente obstrução do empreendimento. Aquele é totalmente diferente do
passível de consulta e como ela deve ser feita. empreendimento de hoje. Ele foi modificado, inclusive em função
dos componentes ambientais e socioambientais.
Com relação aos empreendimentos em TIs ou que as afetam,
o procedimento da Funai tem sido o de seguir rigorosamente Colocamos no nosso parecer com relação ao licenciamento de
a legislação. Nós temos feito o seguinte: a Funai emite um Belo Monte todos os condicionantes necessários para que o em
Reservada 23 138.665
Homologada 30 5.549.675
Registrada no CRI ou SPU 400 98.289.838
total 453 65,91 103.978.178 93,23
* Inclui sete terras Reservadas por decreto: uma (1) no governo Sarney; três (3) no governo Collor; uma (1) no primeiro mandato
de Lula e duas (2) no segundo.
** As colunas “Número de terras” e “Extensão” não devem ser somadas, pois várias TIs homologadas em um governo foram
redefinidas e novamente homologadas. Consta aqui a TI Baú que já havia sido declarada no governo FHC com 1.850.000 hectares
e reduzida, no governo Lula, para 1.543.460 hectares. Inclui também a TI Raposa Serra do Sol, já declarada em 1998 no governo
FHC .
*** Inclui: a Reserva Indígena Krahô-Kanela (decreto de desapropriação para criar a RI) em 2006, publicado no DOU em
08/12/2006; a Reserva Indígena Xukuru de Cimbres (decreto de desapropriaçãopara criar a RI) publicada no DOU em
05/06/2009; a Reserva Indígena Tuxá de Rodelas (idem) publicada no DOU em 22/12/2009.
A Participação indígena no
Contexto dos Governos Lula
A ENTRADA DO GOVERNO LULA TROUXE INÚMERAS dente da Funai no governo Lula, representou avitória das alianças
EXPECTATIVAS, EXPRESSAS NA MACIÇA ADESÃO interpartidárias contra os compromissos assumidos pelo PT e
ELEITORAL DOS INDÍGENAS A LUIS INáCIO LULA DA por Lula ao longo da campanha. Isso acarretou no retorno de
SILVA. MAS Já NO PRIMEIRO ANO DO GOVERNO AS perspectivas pró-tutelares, com direito inclusive a comemorações
FRUSTRAÇÕES ERAM GRANDES efusivas de trinta anos do caduco e inconstitucional Estatuto
do Índio (Lei 6.001/1973), e na total quebra de diálogo com o
movimento indígena.
O primeiro governo Lula (2003-2006) estabeleceu pouca ou
nenhuma interlocução efetiva com os povos indígenas e suas Do mesmo modo que o compromisso de homologação da de
organizações no tocante a temas como terra, saúde e educação. marcação da TI Raposa Serra do Sol só se efetivaria em 2005,
Um dos principais temas da pauta do movimento indígena foi a demanda pelo conselho só se viu satisfeita em abril de 2008.
longamente evitado: a criação de um conselho propositor e de Sua criação foi noticiada em meio às manifestações do chamado
liberativo para as políticas indigenistas, paritário entre Estado Abril Indígena, mês de intensa mobilização anual dos povos in
e organizações indígenas, com participação da sociedade civil dígenas em torno da data de celebração do Dia do Índio, em 19
organizada e do MPF. de abril. Na prática, o Conselho, com caráter deliberativo, não foi
implementado até o momento, e em seu lugar continua a existir
A ideia de um conselho dessa natureza, sedimentada durante a
a Comissão, carente de representatividade, eficácia e em larga
reunião do Fórum Social Mundial de 2003, foi apresentada aos
medida hegemonizada pela Funai.
diversos setores de governo (à própria Funai, ao Ministério da
Justiça, à Casa Civil etc.) e insistentemente sustentada por uma A mobilização indígena durante o governo Lula finalmente
ampla articulação de atores indígenas e pró-indígenas, que redundou na substituição de Mércio Gomes pelo antropólogo
resultaria na organização do Fórum em Defesa dos Direitos Indí Marcio Meira, que junto com Gilney Vianna fizera o relatório
genas, tendo sido barrada por setores específicos em momentos sobre política indigenista para a equipe de transição ao governo
de tramitação bastante avançada. Em 22 de março de 2006 foi Lula, e a quem em primeira mão muitas reivindicações ainda
criada a Comissão Nacional de Política Indigenista, como um hoje de pé foram apresentadas.
suposto teste à criação do Conselho.
Meira procurou, num primeiro momento, retomar a busca de
A dispersão das políticas indigenistas, saudável pela quebra da resolução dos problemas fundiários indígenas, sobretudo os fora
tutela, gerou grande estilhaçamento de ações, por total falta de da Amazônia, bem como esboçar uma articulação com os órgãos
coordenação, quando não por concorrência entre elas. A escolha de outros ministérios encarregados de políticas indigenistas.
do antropólogo Mércio Gomes, que ocupou a presidência da Funai Pouco a pouco sua administração cedeu ao fôlego desenvolvi
de setembro de 2003 a março de 2007, em seguida à demissão mentista governamental em que o crescimento econômico é o
de Eduardo Almeida (fevereiro a agosto de 2003), primeiro presi imperativo principal, sem estar alicerçado necessariamente em
Em termos de estrutura organizacional, a antiga Diretoria de Nesse meio tempo, pelo edital 1/2010, a administração Meira
Assistência foi substituída por uma Diretoria de Promoção ao abriu concurso público para provimento de 425 vagas de funcio
Desenvolvimento Sustentável (DPDS) e a antiga Diretoria de nários na Funai. Mais uma vez, sem maiores definições conceitu
Assuntos Fundiários foi denominada Diretoria de Proteção ais e sem qualquer programa sério de treinamento, capacitação e
Territorial. Os órgãos descentralizados, antigas Administrações inserção organizacional, a agência indigenista absorveu mão de
de forma tensa e sempre sujeita a retrocessos ou ao cinismo da laborar na formulação das políticas públicas de proteção e promoção territorial
dos Povos Indígenas; II - propor ações de articulação com os outros órgãos
negociação política de largo espectro, mudam as imagens que
dos governos estaduais e municipais e organizações não-governamentais; III
norteiam as práticas públicas no Brasil. Tais imagens, que chamo - colaborar na elaboração do planejamento anual para a região; e IV - apreciar
de unitaristas, vivem em paralelo com imagens dos indígenas o relatório anual e a prestação de contas da Coordenação Regional.” (Art. 12
do Estatuto da Funai).
altamente excludentes da vida atual da maioria desses povos, que
3 http://acampamentorevolucionarioindigena.blogspot.com/2011/05/movimen-
to-indigena-revolucionario-mir.html; acessado em 16 de junho de 2011.
hoje lutam, dentre inúmeras outras coisas, por acessar o ensino
superior, obter conhecimentos que lhes permitam navegar em
4Baniwa, Gersem dos Santos Luciano. O índio brasileiro: o que você precisa
suas próprias águas com autonomia, mantendo o que de suas saber sobre os povos indígenas no Brasil hoje. Brasília: Ministério da Educação,
tradições culturais parece-lhes adequado e substancial. Sem esse Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; Laced/Museu
aporte de novos conhecimentos, o quadro atual de organizações Nacional, 2006, p.79.
AINDA QUE OS DISCURSOS OFICIAIS ESTEJAM “Identidade Étnica e Patrimônio Cultural dos Povos Indígenas”
REPLETOS DE PALAVRAS COMO DIREITOS, PROMOÇÃO, e “Proteção de Terras Indígenas, Gestão Territorial e Etnode
PARTICIPAÇÃO, AUTONOMIA E TRANSPARÊNCIA, senvolvimento”. O primeiro agrupou as ações dos setores de
NA PRáTICA, A PARTICIPAÇÃO DOS INDÍGENAS saúde (Funasa) e educação escolar (MEC e Funai), as de caráter
éQUASE NULA. NA DEFINIÇÃO DAS POLÍTICAS assistencial e cultural (Funai e MDA) e a realização dos Jogos
E NA APLICAÇÃO DOS RECURSOS PÚBLICOS, O dos Povos Indígenas (Ministério dos Esportes). No período
FORTALECIMENTO DO PROTAGONISMO INDÍGENA 2006/2007, esse programa contou com trinta ações, sendo vinte
éPRé-REQUISITO PARA A SUPERAÇÃO DO MODELO implementadas pela Funai.
TUTELAR E AUTORITáRIO VIGENTE
O segundo programa incluiu as ações de regularização fundiá
ria e proteção das Terras Indígenas (Funai), as voltadas para a
Este texto pretende ser um breve informe da execução do Orça gestão dos territórios e recursos naturais aí existentes, e aquelas
mento Indigenista do Governo Federal em 2006-2010, inscrito nos destinadas a alternativas econômicas para as comunidades locais
Planos Plurianuais (PPA) 2004-2007 e 2008-2011. Além da dotação (Funai e MMA). Esse programa teve, no período 2006/2007, doze
orçamentária e dos créditos adicionais que anualmente o Governo ações, sendo nove implementadas pela Funai.
disponibiliza ao órgão indigenista via Lei Orçamentária Anual – para
No PPA2008-2011, as ações foram reunidas em um único Progra
manutenção e modernização da infraestrutura, recursos humanos
ma de Proteção e Promoção dos Povos Indígenas (PPPI), cabendo
e desenvolvimento de atividades –, como órgão tutor é atribuída
à Funai a responsabilidade por sua articulação e coordenação,
à Funai a responsabilidade de administrar a renda obtida com em parceria com os demais ministérios e órgãos. Tal programa
o Patrimônio Indígena. Pela prestação desse “serviço”, a Funai foi concebido para ser o carro-chefe da Agenda Social dos Povos
incorpora ao seu patrimônio 10% da renda líquida anual obtida Indígenas, apelidada de PAC Indígena, lançada pelo presidente
do Patrimônio Indígena. Por sua vez, a receita não convertida em Lula em setembro de 2007 em São Gabriel da Cachoeira (AM),
despesa vai para a Conta Única do Tesouro Nacional, gerando ren cujo objetivo é ambicioso porém genérico.
dimentos a partir de aplicação no mercado financeiro. No período
de 2006/2007, os 22 projetos e programas que “contribuem” com a Ainda em execução, o PPA 2008-2011 tem dez objetivos estra
Renda do Patrimônio Indígena geraram R$ 4,998 milhões. Contu tégicos, mas somente um menciona, explicitamente, os povos
do, deixaremos de fora essa fonte, centrando foco nas demais. indígenas, ao propor “fortalecer a democracia, com igualdade
de gênero, raça e etnia, e a cidadania com transparência, diálogo
social e garantia dos direitos humanos”. Já no que diz respeito
PROGRAMAS E AÇõES DO ORÇAMENTO à implantação de “uma infraestrutura eficiente e integradora
Nos anos de 2006 e 2007, as ações do Governo destinadas aos do território nacional”, em nenhum momento é dito que será
povos indígenas estiveram concentradas em dois programas: respeitada a territorialidade indígena e a sua autonomia de deci
são, antes de aprovar qualquer projeto que afete seus territórios o Decreto nº 7.336, de 19/10/2010. Segundo o que estabelece o
e recursos. Estima-se, no entanto, que o PAC terá impacto em decreto, o MS e a própria Funasa teriam 180 dias para fazer a
182 TIs, sendo o caso Belo Monte ilustrativo dessa estrutura e transição gradual do sistema. No dia 19/04/2011, o Governo Fe
conjuntura particulares. Como parte do PAC, inclusive, é dito que deral publicou decreto prorrogando a transição até 31/12/2011.
serão implementadas medidas para facilitar a implantação de
AAgenda Social dos Povos Indígenas (2008-2010), lançada pelo
investimentos públicos e privados em infraestrutura.
presidente Lula da Silva em setembro de 2007, havia previsto
O quadro apresenta um resumo da despesa dos dois ministérios demarcar 127 TIs. Segundo dados levantados junto à Funai, fo
com maior dotação orçamentária destinada aos povos indígenas: ram emitidos nesse período apenas 13 decretos homologatórios
o Ministério da Saúde e o Ministério da Justiça. Os números aí do Presidente da República e somente 29 TIs obtiveram portaria
apresentados dizem respeito somente às chamadas ações fina declaratória do MJ. Ou seja, os números ficaram aquém da meta
lísticas, que proporcionam atenção, bem ou serviço direto aos formalmente anunciada.
indígenas. É possível verificar que entre 2006-2010 foram gastos Em 2010, na ação de Demarcação e regularização de TIs, foram
nesses ministérios cerca de R$ 2,844 bilhões. Esse valor equivale gastos apenas 47,51% dos R$ 25 milhões orçados e a ação de
a aproximadamente 92,37% do que foi autorizado pelo Congresso Fiscalização de TIs não contou com qualquer recurso financeiro
Nacional para ser gasto nos cinco anos, de modo que R$ 234,854 nesse ano, no qual houve apenas três homologações e dez TIs
milhões retornaram ao Tesouro Nacional. tiveram a portaria declaratória publicada.
No caso do MS/Funasa não está incluído nos valores acima o
Considerados grupo vulnerável e segmento social prioritário das
recurso da ação de Saneamento básico em aldeias indígenas, políticas de segurança alimentar e nutricional, de combate à
que integra o programa Saneamento Básico. No período de
pobreza, e de proteção e inclusão social, as comunidades locais
2006-2010 o Governo orçou para essa ação um investimento
e povos indígenas se beneficiaram de várias políticas e ações do
total de R$ 291,435 milhões, mas gastou cerca de R$ 249,878
MDS?, desencadeadas a partir de 2003, em conjunto com outros
milhões.
Ministérios. Uma delas foi o Programa Carteira de Projetos
Só em 2010 a Funasa deixou de investir na estruturação de Fome Zero e Desenvolvimento Sustentável nas Comunidades
unidades de saúde para população indígena cerca de R$ Indígenas, conhecido como Carteira Indígena. Os indígenas
19,357 milhões, mais R$ 27,139 milhões previstos para serem foram também incluídos como beneficiários do Programa
utilizados na promoção, vigilância, proteção e recuperação Bolsa Família; em janeiro de 2011 havia 84.796 famílias indí
da saúde indígena, e ainda R$ 987,8 mil que se destinavam à genas sendo atendidas pelo Programa, sendo cerca de 20 mil
ação de vigilância e segurança alimentar e nutricional. Todo cadastradas em 2010. Além disso, 48.600 famílias indígenas de
o recurso retornou ao Tesouro Nacional, alimentando a meta 18 estados estavam sendo beneficiadas, em janeiro de 2011, com
de superávit do país. cestas de alimentos. Segundo o MDS, o número de Centros de
Referência de Assistência Social que atendem indígenas no país
Em decorrência da crescente perda de legitimidade e confiança
havia somado 339.
que se abateu sobre a Funasa, por conta das denúncias com
provadas de corrupção e de mau uso dos recursos financeiros, Também como parte da Agenda Social dos Povos Indígenas, o
situação a que se somaram pressões desencadeadas pelos povos MinC estimulou e apoiou a criação de pontos de cultura loca
indígenas, exigindo a criação de uma Secretaria Especial de Saúde lizados em aldeias nas TIs e por associações de indígenas que
Indígena (Sesai) no âmbito do MS, o Governo Federal publicou vivem em alguns centros urbanos. A Agenda estabeleceu como
Políticas de Transferência de
renda a Povos indígenas
Othília Maria Baptista de Carvalho Mestre em Política e Gestão Ambiental pela UnB
ESTIMA-SE QUE EM 2010, CERCA DE 80 MIL familiar mensal per capita de até R$ 140,00 (cento e quarenta
FAMÍLIAS DE POVOS INDÍGENAS DE TODAS AS reais) e as em situação de extrema pobreza, como aquelas que
REGIÕES DO BRASIL PLEITEARAM O INGRESSO auferem R$ 70,00 (setenta reais) per capita ao mês, de acordo
NO PROGRAMA FEDERAL DE TRANSFERÊNCIA DE com a legislação vigente.
RENDA – O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA (PBF). O
RECEBIMENTO DOS BENEFÍCIOS SOCIAIS ORIUNDOS DO O desenho universalizante do PBF favorece o acesso de todas
PBF AUMENTOU CONSIDERAVELMENTE NOS ÚLTIMOS as famílias brasileiras consideradas pobres ou extremamente
QUATRO ANOS pobres, permitindo, em princípio, a entrada de parcela bastante
significativa dos grupos que compõem o conjunto da sociodi
versidade dos povos indígenas no país, inclusive os que habitam
Em 2008, cerca de 53.513 famílias residentes em 392 muni regiões de difícil acesso da Amazônia brasileira. Essa qualificação
cípios com TIs se auto-declararam indígenas e tiveram acesso dos povos indígenas do Brasil pelas políticas e programas sociais,
aos benefícios sociais de transferência de renda. Em dezembro a partir de patamares de renda, impõe uma homogeneização a
de 2009, esse número chegou a 64.456 famílias, aumentando esses povos que elimina qualquer diferença sociocultural entre
em junho de 2010 para 66.168 famílias. Nesse mesmo período, os grupos, ao mesmo tempo que os iguala, também pela pobreza,
registrou-se que o número de famílias indígenas, oriundas de a outros segmentos da sociedade brasileira, residentes em áreas
todas as regiões do país, que pleitearam e não tiveram acesso ao rurais e metropolitanas do país.
benefício de transferência de renda foi de cerca de 20.000.
Trata-se de indagar, então, por que, em momento anterior à
Avariação desses números é em função de atividades desenvol implementação de políticas e programas com esse leque de
vidas no nível dos municípios, onde as secretarias municipais abrangência, não se promovem debates e consultas junto aos
de assistência social e a Funai se envolvem em ações de cadas povos indígenas. Isso seria importante no sentido de se buscar
tramento dos grupos, visando a participação deles em processos compreender as razões de por que a renda estaria sendo consi
de seleção para obtenção dos benefícios sociais. Essa variação derada a necessidade mais premente para determinado grupo
decorre ainda da iniciativa dos próprios índios, que solicitam a em dada região do país, ou, ainda, de por que estaria sendo
realização do registro administrativo ao se dirigirem à sede dos apresentada como a solução mais adequada para responder
municípios mais próximos às TIs em que residem. O registro às situações de insegurança alimentar apresentadas por esses
administrativo é um pré-requisito para a seleção efetuada pela grupos, em que pese o fato de que, muitos deles, apesar de terem
Caixa Econômica Federal, baseada em critérios definidos de perdido a mobilidade para exploração dos territórios que explo
acordo com o total dos rendimentos familiares mensais. Esses ravam antes das demarcações, têm resistido às mais variadas e
critérios referem-se à qualificação das famílias em situação persistentes tentativas de introdução de práticas de agricultura
de pobreza como aquelas caracterizadas por possuírem renda mecanizada ou em larga escala em suas terras.
Luís Donisete Benzi Grupioni Antropólogo, coordenador-executivo do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé) e
secretário-executivo da Rede de Cooperação Alternativa (RCA)
AS AÇÕES DE EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA NO PAÍS como diferenciada, bilíngue e intercultural permanece como
SEGUEM CONDUzIDAS COMO POLÍTICA DE GOVERNO, reivindicação indígena e como discurso governamental, mas
MARCADAS POR PROPOSTAS DESCONTÍNUAS E COM não se concretiza na prática cotidiana da maioria das escolas
BAIXO ÊXITO. FALTA DIáLOGO COM A SOCIEDADE CIVIL das aldeias do país.
A expansão numérica de escolas e matrículas indígenas, em
A política nacional de educação escolar indígena no país, nos ritmo crescente a cada ano, conforme atestam os dados do Censo
últimos anos, foi marcada por um conjunto de novas medidas Escolar, amplia as deficiências conhecidas nessa modalidade de
administrativas por parte do Ministério da Educação que, em sua ensino: comunidades sem escola, sem professores formados,
proposição, aponta para a intenção desse órgão em fortalecer o sem materiais diferenciados, sem equipamentos, sem calen
seu papel de coordenação dessa política, mas, em sua execução, dários próprios, sem currículos interculturais, sem autonomia
revelou-se frágil tanto em conseguir a adesão dos sistemas de pedagógica ou administrativa, enfim, sem qualquer apoio para o
ensino, quanto em atingir os objetivos traçados. Aautonomia dos exercício do direito a uma prática educacional própria, ancorada
sistemas de ensino em relação ao MEC, de um lado, e a falta de na valorização de suas línguas e culturas.
compromisso político dos dirigentes estaduais com a educação Nesse cenário de acomodamento de carências, a incorporação
indígena, de outro, compromete iniciativas oriundas do plano da Coordenação de Educação Escolar Indígena na Secretaria
federal que seguem sendo desenhadas sem a participação e de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad)
engajamento indígena e sofrendo com descontinuidades admi não representou um novo patamar para essa temática dentro
nistrativas e incipiente execução orçamentária. O resultado desse da agenda do Ministério da Educação, como fora propalado
quadro é a persistência de problemas que vêm se cristalizando ao quando da criação dessa nova Secretaria. Com poucos técnicos,
longo dos últimos anos, sem encontrarem respostas nas políticas baixa capacidade operacional, desprovida de mecanismos de
públicas emanadas do poder federal. execução orçamentária direta e com suas ações circunscritas
às políticas educacionais mais gerais, a Coordenação do MEC
Comunidades indígenas seguem insatisfeitas com a qualidade
não logrou construir uma agenda positiva e propositiva para dar
da educação oferecida nas escolas das aldeias, em sua grande
conta das inúmeras questões que se avolumaram sobre a mesa
maioria, desprovidas de qualquer infraestrutura condizente com
com a expansão de escolas e aumento do número de estudantes
a perspectiva de ofertarem uma educação diferenciada; professo
indígenas em todas as aldeias do país.
res indígenas continuam almejando o início ou a continuidade
de processos de formação profissional que os habilitem a uma Um sobrevoo por algumas das principais iniciativas governa
prática intercultural e alunos indígenas persistem num ensino mentais na área da educação escolar indígena nos últimos anos
deficiente em responder ao desafio de prepará-los para um futuro talvez seja esclarecedor do sentimento de desalento que vem
cada vez mais incerto. A proposta da educação escolar indígena acompanhando um número cada vez mais crescente de atores
a perspectiva de criação dos Territórios Etnoeducacionais, com 3Ainda de acordo com dados oficiais, o processo como um todo, das conferên
cias locais à Conferência Nacional, mobilizou cerca de 50 mil pessoas dentre
empoderamento local de professores e lideranças indígenas, representantes indígenas, da sociedade civil e do poder público.
se acompanhada de mecanismos de controle social e gestão de
4 Rio Negro, Baixo Amazonas, Juruá/Purus, Conesul, Povos do Pantanal, Auwe
resultados, pode representar uma inovação positiva no contexto Uptabi – Xavante, Xingu, Médio Solimões, Bahia – Yby Yara, Cinta-Larga, Me
adverso em que se desenvolvem as ações de educação escolar bengokré do Pará, Mapuera, Vale do Javari e Alto Solimões.
indígena no país. A continuidade dessa estratégia pela atual gestão 5Timbira,Yanomami e Yekuana, Vale do Araguaia, Ceará e Piauí, Tupi Tupari,
do MEC fará toda a diferença. (março, 2011) Tupi Mondé, Nambikwara, Oiapoque, Povos do Sul, Tembé e Kaapor.
Cronologia do Caos
Equipe de edição
VEJA OS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS EM 11 anos, vítima de lupus. Cerca de dez índios Xavante de Barra
RELAÇÃO À SAÚDE INDÍGENA DE JANEIRO DE 2006 A do Garças e Campinápolis (MT) ocupam prédio da Funasa;
DEzEMBRO DE 2010. O LEVANTAMENTO, COM BASE recursos repassados pelo governo federal não estão sendo apli
EM NOTÍCIAS DE JORNAL PUBLICADAS NO PERÍODO, cados pelo órgão no pagamento dos servidores que atendem as
TRAz DENÚNCIAS RELATIVAS À CORRUPÇÃO E comunidades xavante. MPF/PA cobra atenção à saúde e educação
DEFICIÊNCIAS NO ATENDIMENTO DE SAÚDE AOS na região atingida por Belo Monte. Bebê Awá-Guajá (MA) morre
POVOS INDÍGENAS REALIzADO PELA FUNDAÇÃO por demora no atendimento.
NACIONAL DE SAÚDE (FUNASA)
SETEMBRO
Associação União das Aldeias Apinajé (Pempxã) denuncia a ausên
2010 cia de atuação da Funasa na prevenção de doenças causadas por
falta de saneamento básico. MPF/DF aponta desvio em convênios
DEZEMBRO
entre UnB e Funasa para promoção de saúde indígena. Tais con
Lula assina decreto que autoriza o Ministério da Saúde a reajustar vênios irregulares no Mato Grosso do Sul, e entre os Xavante, e
o salário dos profissionais da saúde indígena em todo o territó Yanomami, em Roraima, abriram caminho para o desvio de mais
rio brasileiro. Funasa e município de Tocantinópolis (TO) são de R$ 8,8 milhões em uma das fases dos projetos, que envolve
acionados por mortes de crianças apinajé; elas teriam morrido a subcontratação da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento
por atendimento não satisfatório em hospital público.
Científico e Tecnológico na Área de Saúde (Funsaúde). É imposta
ação de improbidade administrativa contra três ex-reitores da
NOVEMBRO UnB envolvidos no esquema. Indígenas da TI Guarita, no Rio
Epidemia de malária mata pelo menos 17 Yanomami na Vene Grande do Sul, protestam interditando a rodovia Tenente Portela
zuela. Kaxinawá (AC) realizam protesto na Funasa e reivindicam Redentora. O motivo da ação é a retirada pela Funasa de veículos
que repasse de cerca de R$ 1,3 milhões seja investido em Casai. para o transporte de indígenas enfermos.
Cerca de 20 índios Hixkariana e Sateré-Mawé ocupam a Funasa
de Parintins e reclamam da precariedade no serviço de saúde JUNHO
nas aldeias, falta de medicamentos e do atraso no pagamento de Operação Borduna, da PF, MPF e CGU, expede 16 mandados
salários dos agentes de saúde indígena. de busca e apreensão e cinco mandados de prisão temporária
em Rondônia, a fim de desarticular uma organização que
OUTUBRO desviou R$ 2,1 milhões de recursos que deveriam ser usados
Governo atende reivindicação de indígenas e cria Secretaria na atenção à saúde indígena. Lideranças indígenas Marubo, do
Especial de Saúde Indígena (Sesai); secretário afirma que vai Vale do Javari (AM), denunciam descaso por parte da Funasa
efetivá-la com participação indígena. Seca mata três crianças com a epidemia de hepatite que assola a região. Cerca de 5.000
na aldeia Campo Alegre (AM). Morre no MS criança terena de índios da TI Yanomami ficam sem assistência médica porque
Funasa detecta 22 casos de malária na aldeia Aramirã. Em Os índices relativos ao Índice de Massa Corporal apontam que mais
Cuiabá, os Irantxe e Menky, ocupam a sede da Funasa; já em de 50% das mulheres de 14 a 49 anos está em seu peso adequado,
mas aparece uma porcentagem de 15% indicando obesidade, ca
Curitiba, kaingangs e guaranis, que fazem cem reféns na Funasa, pitaneada pelas regiões Sul/Sudeste e Centro-Oeste. No país, 30,2%
entram em acordo e deixaram o prédio; em Minas, os pataxó dessa população apresenta sobrepeso e 2,3% está abaixo do peso.
suspendem o bloqueio do tráfego de veículos na MG-232, que A presença de tuberculose e malária é maior, respectivamente, nas
dá acesso ao município de Carmésia. Funasa renova convênio regiões Centro-Oeste e Norte. Na primeira, 3% das mulheres rela
tam casos de tuberculose, enquanto na segunda, 23% receberam
de R$ 11 milhões com Missão Caiuá (MS). Vale do Javari (AM)
tratamento para malária.
agoniza com malária e hepatite; TI onde vivem 3.700 índios tem
Os nascimentos de crianças em hospitais e maternidades repre
índices de mortalidade infantil de países africanos miseráveis.
sentam 68,4% no Brasil contra 30,1% nas aldeias e apenas 0,6%
Um grupo de seis lideranças indígenas do Vale virá a São Paulo nas Casais. Os partos são predominantemente normais (vaginais),
para tratar dessas questões. mas o número de operações cesarianasjá se torna expressivo: 13%,
sendo registrados picos de cerca de 18% nas regiões Sul/Sudeste e
ABRIL Nordeste.
No período analisado, 1.156 crianças com menos de cinco anos fo
Funasa realiza inquérito nacional de saúde e nutrição dos povos
ram hospitalizadas nopaís, sendo 457 por diarreia, 544 por infecção
indígenas. Mortes por desnutrição trazem CPI do Índio ao MA. respiratória aguda/pneumonia e 15 por malária. As crianças com
déficit de estatura para a idade somam 41% na região Norte, seguida
MARÇO pela região Centro-Oeste, com 27,8%. Com relação à anemia, a média
é a de metade das crianças no Brasil. O índice é puxado pela região
CPI da Desnutrição Indígena inicia oitivas. MPF/AC requisitou à Norte, com 66%, seguida pela Centro-Oeste, com 51,5%. O índice
PF a instauração de inquérito para apurar denúncias de flagrante mais baixo está no Nordeste, que registra 40%. (Equipe de edição, em
falta de atendimento médico aos índios em razão de alegada agosto de 2011, com informações da apresentação I Inquérito Nacional
discriminação racial. Estudo publicado na Revista da Sociedade de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas, de maio de 2011)
Brasileira de Medicina Tropical confirma a alta incidência de
tuberculose dentre grupos indígenas da Amazônia e, em particu
FEVEREIRO SETEMBRO
Xavantes se rebelam por causa de indicações de deputados do Davi Kopenawa denuncia a grave situação do atendimento à
PMDB na Funasa. Índios Xavantes sofrem com epidemia de saúde yanomami ao ministro José Gomes Temporão e ao presi
diabetes; taxa que era quase nula há dez anos, de acordo com dente Lula: “Os Yanomami precisam de saúde para sobreviver e a
Unifesp, saltou para até 70 casos por mil habitantes. atenção à saúde que a Funasa vem prestando a nós, não funciona.
O Ministério da Saúde precisa usar direito o dinheiro e não ficar
JANEIRO desviando a verba que vem pra nossa saúde. Tudo isso acontece
porque a Funasa está muito desorganizada”. Lula lança PAC para
Wanderley Guenka afirma que, a Funasa, sozinha, não é capaz de
a Funasa e quer atacar mortalidade infantil, malária e doença de
realizar as medidas necessárias para o atendimento da população
Chagas, com investimentos de R$ 4 bi. Cerca de 2,1 mil (ou 70%)
na TI Vale do Javari (AM). Meningite mata duas crianças Matis e
dos 3 mil indígenas que vivem às margens dos rios Içana, Uaupés e
índios reclamam de falta de orientação da Funasa. Desde o início
Cauaboris estão com mansonelose, diagnostica o Inpa.Já morreram
de 2008, 65 famílias Maxakali que vivem na aldeia Verde (MG)
15 crianças indígenas por desnutrição em Dourados (MS).
estão tendo problemas de saúde agravados pela falta de sanea
mento básico; não há médico e quase não há esgoto na aldeia.
AGOSTO
Autoridades assumem compromissos com povos indígenas do
2007
Vale do Javari. Entre janeiro e julho, 56% dos 84 óbitos entre
DEZEMBRO os Xavante (MT) na faixa etária de 0 a 5 anos são causadas por
Índices de mortalidade infantil e desnutrição diminuem entre desnutrição ou doenças desencadeadas pela má alimentação.
índios de Mato Grosso do Sul. Yanomami sofrem com surto de
JULHO
malária em Roraima e no Amazonas.
Médicos deixam de prestar socorro a índios do Maranhão por 15
NOVEMBRO dias por falta de veículos.
CGU aponta rombo de R$ 75 mi na Funasa; irregularidades, como
obras não executadas, aparecem em 176 convênios firmados
com ONGs e prefeituras. Soldados brasileiros levam AIDS e DSTs
aos Yanomami. EmJaporã (MS), dos 16 bebês mortos em 2007,
nove viviam em aldeia. Índios retêm três aviões e fazem dez re
féns, exigindo comida e remédios. Com danças e cantos, índios
reivindicam mais acesso ao SUS. Funasa não renovará convênio
com UnB. Com desnutrição, criança morre em Mato Grosso do
Sul. Davi Kopenawa afirma que saúde indígena vem piorando há
4 anos. Dourados registra 12ª morte por desnutrição.
OUTUBRO
Lideranças indígenas apresentam proposta de gestão da saúde
para o Juruá (AC). Ministério da Saúde lança diretrizes sobre Davi Yanomami entre o presidente Lula e os ministros Tarso Genro (da Justiça) e
José Gomes Temporão (da Saúde): “A doença entrajunto com a mineração. Sou contra
saúde mental indígena e prevê criação de Centros de Atenção mineração na terra yanomami e a Funasa está desviando o dinheiro para cuidar da
Psicossocial (CAPS) para as populações indígenas. PF fecha em saúde dos yanomami e de todos os parentes no Brasil”. S.Gabriel da Cachoeira (AM).
JUNHO FEVEREIRO
Xingu enfrenta avanço de DSTs, diabetes e obesidade, afirma Procurador da República informa que a prestação de contas de
Douglas Rodrigues, médico sanitarista e coordenador do projeto todas as entidades conveniadas com a Funasa para assistência
Xingu da Unifesp. médica aos indígenas de Roraima apresentam erros formais no
âmbito administrativo. Integrantes de oito etnias do Maranhão
MAIO bloqueiam a Estrada de Ferro Carajás em protesto contra a
Uma criança, de 1 ano, e um adulto, de 64, da etnia Yanomami situação da saúde. Morrem oito crianças Apinajé, no Tocantins,
morrem vítimas de malária e picada de cobra, respectivamente, somando-se às nove mortes ocorridas no ano anterior.
na cidade de Barcelos. As mortes revoltam a comunidade indígena
porque não houve atendimento adequado. Lideranças yanomami JANEIRO
alertam para o crescimento contínuo dos casos de malária nos Munduruku (PA) apresentam relação com nome e idade de 26
polos Parawau e Toototobi, no alto rio Demini (AM), cujo atendi índios mortos em 2005 por falta de atendimento da Funasa. CGU
mento de saúde é de responsabilidade do convênio FUB/Funasa; confirma as irregularidades na Funasa entre 2004 e 2005; o órgão
profissionais da saúde contratados por essa fundação decidem realizou licitações direcionadas, superfaturou obras, serviços e
entrar em greve por atrasos salariais. medicamentos, entre outras irregularidades. (agosto, 2011)
SERVIÇO AMBIENTAL É A CAPACIDADE DA NATUREZA primas de qualidade etc). Quanto trabalho custaria para o
DE FORNECER QUALIDADE DE VIDA E COMODIDADES, agricultor fazer o serviço de polinização (que as abelhas fazem
OU SEJA, GARANTIR QUE A VIDA, COMO CONHECEMOS, “sem cobrar”), levando o pólen a todas as plantas de sua horta e
EXISTA PARA TODOS E COM QUALIDADE (AR pomar? Quanto esforço e tempo seriam necessários para trans
PURO, ÁGUA LIMPA E ACESSÍVEL, SOLOS FÉRTEIS, formar toda a matéria orgânica que existe em uma floresta em
nutrientes disponíveis para as plantas, se não existissem os seres
FLORESTAS RICAS EM BIODIVERSIDADE, ALIMENTOS
da natureza (decompositores) que o fazem “de graça”? Quantas
NUTRITIVOS E ABUNDANTES ETC), OU SEJA, A máquinas seriam necessárias para prestar o serviço de produzir
NATUREZA TRABALHA (PRESTA SERVIÇOS) PARA oxigênio e purificar o ar, serviço que as plantas e as algas fazem
A MANUTENÇÃO DA VIDA E DE SEUS PROCESSOS E diariamente? Quanto vale todos esses serviços que a natureza
ESSES SERVIÇOS REALIZADOS PELA NATUREZA SÃO faz? Vale a existência da vida no planeta.
CONHECIDOS COMO SERVIÇOS AMBIENTAIS A continuidade ou manutenção desses serviços, essenciais à
sobrevivência de todas as espécies, depende, diretamente, de
Os serviços ambientais prestados pela natureza fornecem conservação e preservação ambiental, bem como de práticas que
produtos como alimentos, remédios naturais, fibras, combus minimizem os impactos das ações humanas sobre o ambiente.
tíveis, água, oxigênio etc e garantem o bom funcionamento dos Os povos indígenas e comunidades tradicionais, que histori
processos naturais como o controle do clima, a purificação da camente preservaram o meio ambiente e usaram de modo
água, os ciclos de chuva, o equilíbrio climático, a fertilidade dos consciente e sustentável seus recursos e serviços, são também
solos e a reciclagem dos nutrientes necessários, por exemplo, responsáveis pelo fornecimento desses serviços ambientais, são
para a agricultura. Ou seja, os serviços ambientais são as ativi o que se chama provedores de serviços ambientais. Ao permitir
dades, produtos e processos que a natureza nos fornece e que que o ambiente mantenha suas características naturais e siga
possibilitam que a vida como conhecemos possa ocorrer sem fornecendo os serviços ambientais, esses povos e comunidades
maiores custos para a humanidade. Outros exemplos de servi garantem o fornecimento dos serviços ambientais que são usados
ços ambientais são: a produção de oxigênio e a purificação do por todos. Os serviços de preservar a natureza e suas caracte
ar pelas plantas; a estabilidade das condições climáticas, com a rísticas, conservar a biodiversidade, fornecer água de qualidade
moderação das temperaturas, das chuvas e da força dos ventos e (porque preservam a mata na nascente e na margem dos rios)
das marés; e a capacidade de produção de água e o equilíbrio do têm um custo para povos indígenas e comunidades tradicionais,
ciclo hidrológico, com o controle das enchentes e das secas. Tais e por isso surgiu a discussão sobre mecanismos de remunera
serviços também correspondem ao fluxo de materiais, energia ção ou compensação para aqueles que conservam e garantem
e informação dos estoques de capital natural. o fornecimento dos serviços ambientais; a essa remuneração
Embora não tenham um preço estabelecido, os serviços ambien chamou-se Pagamento por Serviço Ambiental.
tais são muito valiosos para o bem-estar e a própria sobrevivência
da humanidade, pois dos serviços ambientais dependem as
Pagamento Por serviço ambiental
atividades humanas como, por exemplo, a agricultura (que
demanda solos férteis, polinização, chuvas, água abundante, O pagamento ou a compensação por serviços ambientais consiste
etc.) e a indústria (que precisa de combustível, água, matérias na transferência de recursos (monetários ou outros) a quem
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS 119
ajuda a manter ou a produzir os serviços ambientais. Como os II- serviços obtidos da regulação dos processos ecossistêmicos,
benefícios dos serviços ambientais são aproveitados por todos, como a qualidade do ar, regulação do clima, regulação da água,
nada mais justo que as pessoas que contribuem para a conserva purificação da água, controle de erosão, regulação de enfermi
ção e a manutenção dos serviços ambientais recebam incentivos. dades humanas, controle biológico e mitigação de riscos;
Não é suficiente cobrar taxas de quem polui um rio ou desmata
III- benefícios não materiais que enriquecem a qualidade de vida,
uma nascente, é preciso recompensar aqueles que garantem a
tais como a diversidade cultural, os valores religiosos e espiritu
oferta dos serviços voluntariamente.
ais, conhecimento –tradicional e formal –, inspirações, valores
Abaixo segue a definição de serviço ambiental e mais exemplos estéticos, relações sociais, sentido de lugar, valor de patrimônio
apresentados pelo Deputado Federal Anselmo deJesus do Partido cultural, recreação e ecoturismo;
dos Trabalhadores de Rondônia em seu Projeto de lei nº 792,
IV - serviços necessários para produzir todos os outros serviços,
de 2007. incluindo a produção primária, a formação do solo, a produção
Art. 1º. Consideram-se serviços ambientais aqueles que se de oxigênio, retenção de solos, polinização, provisão de habitat e
apresentam como fluxos de matéria, energia e informação de reciclagem de nutrientes.
estoque de capital natural que, combinados com serviços do Art. 2º. Todo aquele que, de forma voluntária, empregar esforços
capital construído e humano, produzem benefícios aos seres
no sentido de aplicar ou desenvolver os benefícios dispostos no
humanos, tais como:
Art. 1º desta lei fará jus a pagamento ou compensação, conforme
I- os bens produzidos e proporcionados pelos ecossistemas, in estabelecido em regulamento. (outubro, 2008)
cluindo alimentos, água, combustíveis, fibras, recursos genéticos,
medicinas naturais;
120 TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
CRÉDITOS DE CARBONO
Oportunidades e Riscos
para a Etnogestão de TIs
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS 121
certeza de um novo regime de metas de redução de emissão de estabelecimento de regras num mecanismo internacional ainda
GEE para os países, surgem oportunidades para o reconhecimen em construção (mercado oficial); atividades que são recompen
to e a valorização das praticas indígenas sustentáveis. Contudo, sadas a título de neutralização voluntaria de emissão de gases
em razão da indefinição de um marco legal internacional sobre por pessoas físicas ou jurídicas (mercado voluntário); e atividades
clima, surgem também os assédios e as especulações abusivas incentivadas por políticas e fundos governamentais.
sobre os povos indígenas.
Os créditos de carbono de mercado devem estar atrelados à re
gulamentação do mecanismo internacional de compensação de
as oPortunidades redução de emissão de GEE e computados no sistema nacional
de metas de redução de emissões por desmatamento evitado e
Sem um regime de metas definido, elas resumem-se ao acesso por reflorestamento, observados os critérios de permanência e
a recursos financeiros de fundos como o Fundo Amazônia, e à
adicionalidade. Devem efetivamente reduzir as taxas de emissões
negociação no mercado voluntário com empresas que investem
nacionais – evitando o desmatamento de áreas passíveis de des
no chamado marketing socioambiental de neutralização de
matamento legal– e não podem ser computados em dobro para
emissões com apoio a restauração ou conservação de florestas.
reduzir emissões globais (vendidos duas ou mais vezes).
Já a chamada especulação se dá em torno da possível existência
de um mercado internacional de compensação de emissões, Já os créditos de carbono de mercado voluntário, ainda que
que compraria os créditos de carbono florestais que empresas não possam ser computados em dobro por motivos éticos, não
intermediadoras tentam adquirir desde já, em geral sobre bases precisam necessariamente ser computados no sistema nacional
contratuais precárias. visto que não se destinam à compensação de emissões em âmbito
internacional. Os chamados créditos são a medida usada para a
De fato, indivíduos, grupos, associações e comunidades indí
transferência de recursos para as atividades REDD mas, tal como
genas têm sido assediados para negociar créditos de carbono
os créditos de mercado, devem observar a aplicação da legislação
derivados de atividades de conservação ou recuperação florestal
ambiental no critério da adicionalidade. Por fim, os recursos
em suas terras. Muitas vezes, essas propostas contratuais ou pré
financeiros advindos de fundos e políticas governamentais não
contratuais tornam-se assédios abusivos porque as comunidades
se destinam à compra de créditos, não exigem adicionalidade ou
não detêm as informações necessárias para entender o caráter
seja, podem ser usados para atividades de manutenção de áreas
especulatório das negociações e as implicações dos chamados
que devem ser preservadas por previsão legal.
contratos de carbono. Apesar de juridicamente não gerarem
efeitos, propostas abusivas de contrato geram nas comunida Pois bem, a Constituição brasileira proclama o direito originá
des indígenas expectativas de ganho nem sempre atendidas e rio dos povos indígenas sobre suas terras, bem como a posse
conflitos internos de diferentes ordens. Além disso, o fato de os permanente e o usufruto exclusivo dos recursos naturais nelas
indígenas desconhecerem outras fontes de incentivo para a gestão existentes, inclusive as florestas. Aos povos indígenas é garantido
territorial e ambiental de suas terras os deixa mais suscetíveis o mais amplo poder sobre os recursos existentes em suas terras
a esse tipo de abuso, especialmente quando estão em busca de (art. 231). Embora as TIs sejam de propriedade do Estado brasi
alternativas sustentáveis de geração de renda. Evidentemente, há leiro (União), elas são indisponíveis, ou seja, não pode o Estado
também notícias de iniciativas éticas e de sucesso, na maior parte utilizá-las para outros fins que não a posse permanente dos
de iniciativa indígena e com acompanhamento pela Funai. povos indígenas. Essas terras também são inalienáveis, ou seja,
Mas afinal são os povos indígenas titulares dos créditos que se não podem ser vendidas, arrendadas ou concedidas a terceiros
encontram nas suas terras? Poderiam negociar tais créditos? E sob qualquer título ou pretexto (art. 231, § 2º).
o que são créditos de carbono? Como se precaver de propostas Fora as exceções expressamente previstas no texto constitucional
especulativas e abusivas? Estariam os direitos dos povos indígenas (art. 231, § 3º), não é permitido a terceiros, nem mesmo ao
sobre suas terras e recursos naturais em risco? Estado, realizar qualquer tipo de obra, projeto ou atividade no
A proteção de direitos territoriais e sobre recursos naturais dos interior de TIs se não for do interesse dos povos indígenas e se
povos indígenas – na Constituição brasileira,4 normas indigenistas não forem por eles expressamente autorizadas. Esse é um arranjo
e ambientais além de instrumentos internacionais de direitos jurídico sui generis do ordenamento brasileiro, porque embora
humanos5 – confere aos povos indígenas a titularidade sobre não reconheça às populações indígenas a propriedade sobre suas
quaisquer benefícios gerados por atividades desenvolvidas em TIs, terras, atribui aos indígenas todas as faculdades inerentes ao
inclusive os chamados créditos de carbono.6 E aqui vale esclarecer domínio das mesmas. Assim, é garantido aos povos indígenas a
que a nomenclatura créditos de carbono refere-se genericamente administração e o controle sobre suas vidas e sobre suas terras,
a benefícios gerados por atividades de REDD. No entanto, há dentro da estrutura do Estado.
que se diferenciar as atividades florestais que gerariam créditos Quanto aos chamados créditos de carbono – ou quaisquer outros
para compensar emissões de outros países, e que dependem do benefícios advindos de atividades de restauração de floresta ou
122 TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
de desmatamento evitado, ou REDD – eles não existem apenas outro Ponto Polêmico
porque as florestas, sumidouros de carbono, estão num deter
É quanto ao acesso aos benefícios de REDD, de titularidade
minado espaço físico. Os créditos de carbono nascem de uma
exclusiva indígena. Os recursos gerados podem ser aplicados
atividade humana: recuperar áreas degradadas, evitar o des
em atividades de interesse coletivo (educação, saúde, alternati
matamento, conservar florestas. No caso das TIs, tais atividades
vas econômicas sustentáveis, segurança alimentar, valorização
compõem a chamada gestão indígena de seu território, pois os
cultural, proteção territorial, infraestrutura de transporte,
povos que tradicionalmente habitam tais terras são os únicos com
comunicação e eficiência energética) que, preferencialmente,
poder de dispor sobre o uso dos recursos naturais ali encontrados.
apoiem exatamente os modos de vida e as gestões sustentáveis
Notadamente nos casos em que, ao serem demarcadas, as TIs
que contribuem para a mitigação das mudanças climáticas. Além
incorporaram áreas desmatadas por antigos ocupantes – caso
disso, a repartição desses benefícios deve observar os arranjos
comum de se verificar quando as TIs tardam em ser demarcadas
definidos entre os titulares de maneira participativa, bem como
e protegidas – a atividade de reflorestamento pode não só ser uma
estabelecer mecanismos de controle social evitando que confli
fonte de renda para essas populações, mas também uma forma
tos derivados surjam. Por fim, apesar da titularidade indígena
de recuperar ambientalmente essas áreas, para que voltem ater
exclusiva sobre tais créditos ou benefícios, a União e os diferentes
as condições necessárias para sustentar uma população viável.
atores governamentais (Funai, Ibama, PF) podem se beneficiar
Assim, só podemos concluir que tais créditos são de titularidade
indígena. das iniciativas de REDD em TIs no sentido de potencializar a ação
fiscalizadora e protetora de seus territórios, como já ocorre hoje
Ademais, no Brasil, não há qualquer proibição à realização de em diversas TIs no Brasil.
atividades de desmatamento evitado ou reflorestamento em TIs,
O desafio é agora reunir esforços coletivos e individuais, nacionais
desde que em consonância com o uso tradicional dos recursos
e internacionais, públicos e privados – apesar das diferentes
florestais pelos indígenas. As atividades florestais nas TIs devem
naturezas de interesses – para possibilitar que as TIs com seus
ser realizadas por iniciativa dos próprios povos, mediante amplo
povos continuem a coexistir com a sociedade envolvente, dan
acordo interno, e não podem ter o condão de interferir em seus
do mostras de que modo*s de vida sustentáveis são possíveis.
modos de vida ou afetar sua sobrevivência física ou cultural, mas
janeiro, 2011)
devem fazer parte dos planos de gestão e de vida dos referidos
povos. Iniciativas de natureza contratual para REDD são nulas
se contrariam a legislação nacional. Assim, são nulos e incons notas
titucionais quaisquer negociações, projetos ou contratos que 1 Segundo dados do Inpe acumulados até 2008, dos cerca de 700.000km2 de
comprometam os direitos dos povos indígenas sobre suas terras, desmatamento na região amazônica, apenas 13.226km² ocorreram em TIs(que
o usufruto exclusivo dos povos indígenas sobre seus recursos e a somam cerca de 1 milhão de hectares na Amazônia), sendo que destes, somente
cerca de 2.400km² podem ser relacionados a atividades indígenas.
manutenção física e cultural dos mesmos.
2 Ver www.fundoamazonia.gov.br.
No caso de iniciativas legais de REDD voltadas ao mercado oficial
3Política Nacional de Mudanças Climáticas/2009. Para implementar a PNMC, o
ou voluntário, devem ser considerados, no mínimo, aspectos
governo brasileiro está desenvolvendo planos setoriais de redução de desmata
como: o crescimento demográfico passado e futuro da população mento, de expansão das fontes de energias mais limpas e renováveis e de uso
indígena envolvida, as áreas necessárias à produção agrícola ou do solo com baixa emissão de gases, dentre outros.
associadas para prover segurança alimentar e geração de renda 4O art. 231 da Constituição Federal de 1988 estabelece que são reconhecidas
para as comunidades; e as áreas necessárias para a expansão como TIs aquelas “por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas
das comunidades existentes e implantação de novas, segundo os em suas atividades produtivas, às imprescindíveis à preservação dos recursos
usos, costumes e necessidades dos povos indígenas. Devem ser ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física
consideradas também as áreas de risco de ocorrência de invasão, e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições” (art.231, § 1º).
fogo ou supressão florestal, a serem definidas no ordenamento 5 Convenção 169 da OIT, recepcionada pelo ordenamento jurídico brasileiro
territorial/planos de gestão territorial. Portanto, o estoque total de pelo Decreto 5.051/2004 e a Declaração da ONU sobre Direitos dos Povos
Indígenas, aprovada pela Assembléia Geral da ONU com voto favorável do
carbono das TIs não pode ser negociado em projetos de REDD,
Brasil em 2007.
mas apenas uma parte dele.
6 Ver VALLE, R. S. T do, YAMADA, E.,“Brasil:Titularidade Indígena sobre créditos
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS 123
TERRAS INDÍGENAS
A CONFERÊNCIA DA ONU DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS Caso essas áreas não fossem protegidas, 5 bilhões de toneladas
DE CANCUN, OS DIREITOS E O PAPEL DE POVOS de carbono seriam emitidas para a atmosfera até o ano de 2050.
INDÍGENAS E COMUNIDADES TRADICIONAIS NA Este volume corresponde a cerca de 2,5 vezes o esforço de redução
FLORESTA AMAZÔNICA BRASILEIRA de emissões do primeiro período de compromisso do Protocolo
de Quioto, considerando sua efetiva implementação.3
124 TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
maPa 1. densidade de carbono total (toneladas Por hectare) em terras indígenas no brasil
e outros mecanismos de incentivo à redução de desmatamento e da ONU de Direitos de Povos Indígenas pela Assembleia Geral
preservação das florestas nativas tenham como foco a transição da ONU;
para um novo modelo de vida, de produção e de consumo que
2. Participação plena e efetiva dos atores interessados relevantes,
não leve ao esgotamento dos recursos naturais.
em particular povos indígenas e comunidades locais;
As decisões sobre REDD+ adotadas em COP 16 ainda carecem
3. Que as ações de REDD+ sejam consistentes com a conserva
de demais definições relacionadas a valores de financiamento, ção de florestas naturais e diversidade biológica, assegurando
prazos e arranjos institucionais para iniciar a sua implementação.
que não sejam usadas para conversão de florestas naturais, mas
Tais decisões foram adiadas para a COP 17, que ocorrerá na África
sim para incentivar a proteção e conservação de florestas natu
do Sul, em dezembro de 2011.
rais e seus serviços ecossistêmicos e para fortalecer os demais
benefícios sociais e ambientais”.
salvaguardas socioambientais Apesar de não ter natureza vinculante, essa decisão já provoca
O anexo I da Decisão de Cancun,5 traz Orientações e Salvaguar resultados condicionando o financiamento às atividades de
das para os países em desenvolvimento implementarem ações REDD+ ao apoio e promoção das salvaguardas socioambien
de REDD+. As salvaguardas socioambientais que os países em tais. Isso significa que os países vão precisar mostrar que estão
desenvolvimento devem respeitar, promover e apoiar, ao reali protegendo suas florestas naturais e que estão envolvendo
zarem ações de REDD+ e ser acompanhadas pelo Sistema de as sociedades que delas dependem na elaboração de suas
Informações, são as seguintes: estratégias de REDD+ para receber financiamento para os
seus projetos.
1. “Respeito ao conhecimento e aos direitos de povos indí
genas e membros de comunidades locais,6 levando em consi De grande relevância em todo esse contexto foi também a cria
deração as obrigações internacionais relevantes, circunstâncias ção do Comitê de Adaptação, cuja função será a de auxiliar as
nacionais e leis, e levando em conta a adoção da Declaração políticas nacionais de adaptação às consequências das mudan
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS 125
ças climáticas. Um canal que não pode ser desconsiderado ao atividades de REDD+ no Brasil, relacionados à transparência,
tratarmos de REDD+. participação, garantia de direitos tradicionais e também, critérios
para distribuição de benefícios, que visam contribuir para uma
reflexão crítica relacionada ao uso da terra no Brasil, como a
sociedade civil brasileira e o sistema
intrínseca relação entre os temas de uso e conservação da biodi
de informação Para redd+ versidade, direitos sociais, mudanças climáticas e agricultura.
As atividades de REDD+ devem resultar na redução das taxas O Observatório do REDD já é uma ferramenta eficaz que deverá
de desmatamento de florestas e fortalecimento dos estoques estar em constante aperfeiçoamento, podendo ser à base do
de carbono segurados pelas florestas nativas nos países em Sistema de Informação de Acompanhamento de Cumprimento
desenvolvimento. Isso exige a adoção de ações que melhorem a das Salvaguardas previstas no Acordo de Cancun no Brasil, forta
governança florestal nesses países, o que impacta diretamente a lecendo a governança das florestas do país por seus usuários.
vida de milhares de povos indígenas e comunidades tradicionais
que vivem na floresta e dependem de recursos florestais como Depois de o Brasil ser o primeiro país em desenvolvimento
principal fonte de manutenção de suas vidas. a ter regulamentada sua meta de redução de gases de efeito
estufa anunciado em Cancun,7 o país poderá ser, novamente,
Adecisão de Cancun ressalta a importância da própria sociedade
um exemplo para mundo, relatando a implementação das sal
se mobilizar para pensar esse sistema de informação para
vaguardas socioambientais de seu regime nacional de REDD+
acompanhar a implementação das Salvaguardas que devem e, principalmente, utilizando para tal um arranjo institucional
ser desenvolvidas em cada país, em especial aqueles que não
criado pela sociedade civil. (fevereiro, 2011)
possuem em suas legislações a garantia dos direitos dos povos
indígenas e comunidades locais como, por exemplo, os direitos
territoriais ou nenhum mecanismo para fiscalização e cumpri notas
mento destes. No Brasil, é muito importante que a sociedade 1Quase 7 milhões de ha são áreas de sobreposição entre os diferentes tipos de
civil atente para as possibilidades e incentivos para ações de Áreas Protegidas, os quais não estão representadas. Os dados são de 2008.
monitoramento de REDD+ abertas pelo Acordo de Cancun, pois 2 P. Moutinho, O. Stella, A. Lima, M. Christovam, A. Alencar, I. Castro, D. C.
elas devem colaborar para aumentar a participação da sociedade Nepstad. 2011. REDD no Brasil: um enfoque amazônico. Fundamentos, critérios
civil no desenvolvimento de políticas florestais, fortalecendo a e estruturas institucionais para um regime nacional de Redução de Emissões
por Desmatamento e Degradação florestal- REDD. IPAM e Centro de Gestão de
governança de REDD+ do país. Poderá haver propostas para o Estudos Estratégicos, Brasília. p.147
desenvolvimento do Sistema de Informação pela própria socie
dade civil e, sobretudo, é possível e bastante adequado que se 3 Soares-Filho B., Moutinho P., Nepstad D., Anderson A., Rodrigues H., Garcia
R., Dietzsch L., Merry F., Bowman M., Hissa L., Silvestrinia R. e Cláudio Maretti.
utilizem os arranjos institucionais já construídos pela própria 2010. The role of Brazilian Amazon protected areas in climate change mitigation.
sociedade civil brasileira com o fim de acompanhar e monito PNAS. www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas. 0913048107
rar ações, projetos, programas e políticas de REDD+, como o
4No âmbito da Convenção de Clima da ONU e organismos multilaterais e bila
observatório do redd. terais de proteção florestal, foram consagradas as siglas “REDD” como ações
O Observatório de REDD (ver http://www.observatoriodoredd. de Redução de Emissão de Desmatamento e Degradação e a sigla REDD+ (ou
“REDD plus”) para as ações mencionadas na decisão “Plano de Ação de Bali”,
org.br/site/) foi criado em 2010 após um longo e amplo processo aprovada na Convenção de Clima da ONU de Bali em 2007 (COP 13). Essa
de consultas públicas de construção dos Princípios e Critérios decisão foi adotada, determinando que países desenvolvidos devem aportar
Socioambientais de REDD+ (P&C) (ver www.reddsocioambien incentivos positivos aos países em desenvolvimento que realizarem cinco tipos
tal.org.br) conduzidos pela sociedade civil. As consultas públicas de ações: (I) redução de emissões de desmatamento, (II) redução de emissões
com povos indígenas e comunidades tradicionais foram liderados de degradação, (III) ações para fortalecimento de conservação, (IV) manejo
sustentável florestal e (V) aumento de estoque de carbono. Essas ações ganha
pelo GTA, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia ram internacionalmente o nome de “ações de REDD+” (ou de REDD Plus),
Brasileira (Coiab), Conselho Nacional das Populações Extrativistas sigla utilizada também pelos Ministérios de Ciência e Tecnologia, de Relações
(CNS) e Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Exteriores e do Meio Ambiente do Brasil, que, por sua vez, está liderando a
(Contag), apoiados por Ipam e Imaflora, enquanto as consultas construção do “regime nacional de REDD” que deverá ser um dos setores que
com o setor privado foram liderados pelo Funbio e Biofílica. comporão a Política Nacional de Clima aprovada em 2009.
5Anexo I da decisão tomada pelo Grupo de trabalho Ad-Hoc de ações cooperativas
A missão do Observatório do REDD é ser um instrumento de a longo prazo (AWG-LCA), item 2 disponível em http://unfccc.int/files/meetings/
controle social dos povos da floresta e da sociedade civil, que se cop_16/application/pdf/cop16_lca.pdf
propõe monitorar as ações de REDD+ na Amazônia e nos demais
6Para o contexto brasileiro, o termo “comunidades locais” utilizado pela
biomas brasileiros. Dentre seus objetivos, está a contribuição para UNFCCC é mais bem definido como comunidades “tradicionais” nos termos
a implementação dos P&C. do Decreto 6.040/2007.
Nos P&C brasileiros, assim como nas Salvaguardas da Decisão de 7Conforme Política Nacional de Mudanças Climáticas (Lei Nº 12.187/2009) e
Cancun, estão abordados aspectos críticos para a efetividade das artigo 3º, inciso IV, do Decreto nº 7.39 de 9/12/2010 que a regulamentou.
126 TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
MINERAÇÃO
Interesses Minerários
nas TIs da Amazônia Legal
Equipe de edição
EM SETEMBRO DE 2010, SOMAVAM-SE 151 TERRAS o Projeto de Lei 1610/96 de autoria do senador Romero Jucá
INDÍGENAS COM INTERESSES MINERÁRIOS EM SEUS (PMDB-RR) que regulamenta mineração em TIs. A Comissão
SUBSOLOS, REPRESENTANDO MAIS DE 37% DA
EXTENSÃO DAS TIS NA AMAZÔNIA LEGAL. ESSAS títulos irregulares incidentes em tis1
INFORMAÇÕES FORAM RETIRADAS DO CADASTRO
MINEIRO DO SITE DO DEPARTAMENTO NACIONAL DE Autorização de Pesquisa 178
MINERAÇÃO (MME) E RELACIONADAS NO SISTEMA Concessão de lavra 5
GEORREFERENCIADO DE TERRAS INDÍGENAS DO ISA total 183
Processos minerários2
Requerimento de lavra por empresa 5
No período coberto por este livro, as discussões sobre a regu
Requerimento de lavra garimpeira 65
lamentação das atividades minerárias nas TIs ocorreram na
Comissão Especial da Câmara dos Deputados, criada para discutir Requerimento de licenciamento 4
Requerimento de pesquisa 4.404
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS 127
tis com maior número de Processos dez tis com títulos irregulares
Kayapó
terraRioindígena
Yanomami
Menkragnoti
Alto
Mundurucu
Bau
Waimiri
Rio
Tumucumaque
Uru-eu-Wau-Wau
ParuNegro
Atroari
d´Este nº de processos
790
377
188
180
160
410
274
245
233
199 Xipaya 89 Autorização de pesquisa
Rio Paru d’Este 15 Autorização de pesquisa
Trombetas Mapuera 13 Autorização de pesquisa
Xikrin do Cateté 12 Autorização de pesquisa
Apyterewa 9 Autorização de pesquisa
Kayapó 9 Autorização de pesquisa
Trincheira Bacajá 4 Autorização de pesquisa
Baú 3 Autorização de pesquisa
Arariboia 2 Autorização de pesquisa
Jacareúba/Katawixi 2 Autorização de pesquisa
Kaxarari 2 Autorização de pesquisa
128 TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 -INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
tem caráter
caso de recurso)
conclusivo
e tramita
(o PL
emnão
regime
precisa
de irurgência.
a plenário, salvo em Política Indigenista (CNPI), através de consultas à comunidades,
por ocasião da elaboração do novo Estatuto dos Povos Indígenas,
ACoiab recusou aos convites para discussão na Comissão Espe- que está na Câmara dos Deputados aguardando tramitação.
cial, mas os índios discutiram o tema na Comissão Nacional de (Análise realizada pelo Geoprocessamento do ISA, 2010)
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS 129
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Representatividade Indígena
em Conselhos Gestores
EMBORA AS POLÍTICAS AMBIENTAIS BUSQUEM de extensões passa de 1.238.571,00 km2, cerca de 25% da
FOMENTAR A PARTICIPAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES E Amazônia e dez vezes mais do que todas as demais UCs federais
ASSOCIAÇÕES INDÍGENAS NOS ESPAÇOS DE DIÁLOGO localizadas no restante do território brasileiro. Dessas, 146 já
E GESTÃO DAS UCS QUE LHES AFETAM DIRETAMENTE, tiveram seus conselhos gestores criados. Entretanto, embora
ESTA PARTICIPAÇÃO AINDA SEGUE MUITO AQUÉM a taxa de criação dos conselhos venha tendo um acréscimo
considerável– 112 foram criados nos últimos seis anos (2006
DO DESEJADO. DOS 128 CONSELHOS GESTORES
2011) – é importante lembrar que infelizmente muitos deles
DAS UCS FEDERAIS E ESTADUAIS DA AMAZÔNIA não são efetivamente atuantes. Além disso, 58 UCs, por exemplo,
LEGAL ANALISADOS, APENAS 21 POSSUEM ALGUMA tiveram seus representantes nomeados há mais de quatro anos,
ORGANIZAÇÃO OU ASSOCIAÇÃO INDÍGENA, SENDO até dez/2007. Ou seja, o fato de uma UC já ter tido seu conselho
QUE A MAIORIA DELES SÃO PERTENCENTES A UCS criado em algum momento, não significa, na prática, que ela
FEDERAIS DE PROTEÇÃO INTEGRAL possua um conselho gestor presente e atuante. A partir de 2010,
o mandato dos conselheiros de UCs federais passou a ter duração
de dois anos, seja para conselhos novos ou preexistentes, sendo
Um dos grandes avanços legais da Constituição Federal de passível de renovação do mandato por igual período. Esta medida
1988 foi o reconhecimento da necessidade e legitimidade da busca assegurar uma avaliação do envolvimento e da atuação e
construção de fóruns democráticos para definição, execução renovação contínua dos conselheiros.
e acompanhamento das políticas públicas. Impulsionado pela
Além da grande concentração numérica e territorial de UCs, ha
Conferência Rio-92, no setor ambiental instituíram-se conselhos,
bitam aAmazônia Legal mais de 160 povos indígenas localizados
comitês de bacias e outras instâncias que contribuem para a a
em 359 TIs – entre identificadas, aprovadas, declaradas, homo
consolidação da participação popular nas diversas esferas de
logadas e com restrição de uso – as quais representam quase
consulta e decisão.
2/3 das TIs existentes no Brasil e 98,61% da extensão delas. Este
Dentre outros importantes instrumentos legais, seguem nessa li cenário, somado ao restante do contexto amazônico, traz-nos um
nha o SNUC, o qual prevê a participação, controle social, discussão grande desafio: a construção de fóruns representativos, composto
e assessoria na gestão transparente da UC por meio dos conselhos por atores conscientes, críticos e atuantes, e o reconhecimento
gestores, deliberativos ou consultivos, que devem ser paritários e diálogo com outras formas de representação que não apenas
entre órgãos públicos e a sociedade civil; e o Plano Estratégico as estruturadas pelo poder público.
Nacional de Áreas Protegidas, que prevê em um de seus eixos, a
Uma avaliação dos atos legais responsáveis pela nomeação de 128
participação dos povos indígenas, comunidades quilombolas e
conselhos gestores mostra-nos a representatividade de setores, ex
locais na gestão das UCs e outras áreas protegidas.
plicitada no gráfico. Dezoito conselhos não tiveram sua composição
Há atualmente 308 UCs federais e estaduais na Amazônia Legal, avaliada, nove em virtude de criarem o conselho mas não nomea
distribuídas em aproximadamente 330 municípios, cuja soma rem os conselheiros e os outros nove por não termos tido acesso
130 TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
grÁfico 1. freQuência, em Porcentagem, dos setores da sociedade
nos conselhos de ucs da amazônia legal
aos documentos legais. Foram computadas como associações ou Amazônia Legal, apenas 21 possuem alguma organização ou
representações indígenas as assim auto denominadas. associação indígena dentre as instituições nomeadas, sendo
Comparadas as representações em suas totalidades, não há que a maioria deles, 13, são pertencentes às UCs federais de
proteção integral. Dentre as UCs do grupo de uso sustentável,
muita discrepância entre os diferentes setores da sociedade: com
quatro conselhos estaduais e três federais possuem represen
exceção do setor empresarial/financeiro, do setor ensino/pesquisa
privado e do religioso, a priori setores já com menor representa tações indígenas.
tividade, a maior disparidade dá-se entre o governo municipal e No caso das UCs estaduais, somados os grupos de proteção
sociedade civil presente em aproximadamente 96% dos conse integral e uso sustentável, há apenas cinco conselhos gestores
lhos, e o governo estadual, presente em aproximadamente 90%, com representações indígenas. Em parte, essa falta de equidade
proporções relativamente próximas. O governo federal e estadual na representatividade indígena nos conselhos gestores pode se
são os setores que, nesta comparação absoluta, apresentam maior dar em virtude da própria disparidade entre o número de con
disparidade de representação quando comparados os grupos de selhos formados nas esferas estaduais e federal, pois enquanto
análise: a incidência do governo federal apresenta uma diferença esta conta com 86 conselhos formados aquela conta com 60.
de 18% entre as UCs de uso sustentável de ambas as esferas Todavia, por outro lado, pode ser também parte de uma política
enquanto a incidência do governo estadual apresenta maior estadual de inclusão das organizações e associações indígenas:
diferença (10%) entre as UCs federais de proteção integral e as dos cinco conselhos, três deles são de UCs estaduais do AM.
estaduais de uso sustentável. Essas, por sua vez, tiveram seus fóruns de representação criados
Apesar do Decreto 4340/2002 sugerir que a “representação da entre 2008 e 2010.
sociedade civil deve contemplar, quando couber, a comunidade As etnias mais representadas nos conselhos gestores e as UCs
científica e organizações não-governamentais ambientalistas correspondentes são: Waimiri-Atroari, no Parna de Anavilhanas
(...)” optamos, para maior efeito de análise, por agregar em (AM) e na Rebio Uatumã (AM); Yanomami/Yekuana, nas Esec
sociedade civil, as associações e organizações indígenas, de po Niquiá (RR) e Maracá (RR) e no Parna da Mocidade (RR); Apu
pulações remanescentes de quilombos, extrativistas, pescadores, rinã/Jamamadi, nas Flonas Mapiá-Inauini (AM) e Purus (AM).
ambientalistas e comunitárias, dentre outras organizações não Todas as demais 15 organizações/associações indígenas estão
governamentais, excetuando-se as de cunho privado empresarial/ presentes exclusivamente em um conselho. Aúnica organização
financeiro ou pesquisa/ensino e religioso. que se atribui uma especificidade de gênero é a Organização das
Mas qual a realidade da representação indígena neste contexto? Mulheres Indígenas de Roraima, presente no conselho gestor da
Dos 128 conselhos gestores das UCs federais e estaduais da Esec Maracá (RR).
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS 131
Entretanto, além da simples ocorrência nos conselhos gestores, é na Amazônia Legal. Embora o histórico, o contexto e os grupos
relevante atentar ao número de conselheiros por setor. Pois uma sociais envolvidos apresentem suas particularidades, a existência
vez que os conselhos, deliberativos ou consultivos, legitimem de conflitos relacionados a recursos ambientais, território ou
as decisões e encaminhamentos por aprovação ou rejeição de acesso a políticas públicas, é um fator comum, sejam travados
maioria simples, a concentração de representantes (cadeiras no entre as comunidades locais cujas identidades se diferenciam ou
conselho) por cada setor traz um detalhamento mais rico das entre as comunidades e o próprio estado. O conselho gestor com
circunstâncias associadas. A comparação entre o número real representação indígena surge nesse momento como mais uma
de representantes por setor, ou seja, o número de cadeiras de possibilidade de fomentar um espaço de diálogo, compreensão
conselheiros que cada setor possui nos traz a interessante consta das diferentes perspectivas e atuação conjunta na mitigação de
tação de que a sociedade civil é o setor melhor representado nos conflitos e construção de soluções legítimas e criativas.
conselhos gestores, independentemente das instâncias e grupos Das 31 UCs que apresentam sobreposição com uma ou mais
de UCs. Seja dentre as UCs federais ou estaduais, de ambos os TIs, 13 possuem conselho gestor. Destes 13 conselhos, sete são
grupos, proteção integral ou uso sustentável, a sociedade civil de UCs federais e três de UCs estaduais de uso sustentável e três
representa mais de 40% dos conselheiros, atingindo 51% nas são de UCs federais de proteção integral. Surpreendentemente,
UCs federais de Uso Sustentável. a Resex Guariba Roosevelt (MT), a Flona do Tapajós (PA) e a
Sob esse aspecto, todavia, a representatividade indígena é mí RDS Mamirauá (AM), UCs que possuem o maior número de
nima, totalizando apenas 1,8% do total de número de cadeiras sobreposições com TIs dentre as já com conselho formado, a
pertencentes à sociedade civil. Como era de se esperar, uma vez saber, respectivamente, 2, 2 e 4, são as únicas que não possuem
que está presente em 13 dos conselhos gestores das UCs federais nenhuma representação indígena em seu conselho.
de proteção integral, é nesse agrupamento que a representativi
Infelizmente podemos notar a mesma tendência de carência de
dade indígena é proporcionalmente maior, totalizando 11,1% das
representatividade das comunidades indígenas necessariamente
cadeiras da sociedade civil. Nas UCs federais de uso sustentável,
envolvidas em alguns aspectos da gestão de UCs sobrepostas
as organizações e associações indígenas concentram apenas 0,3% quando analisamos TIs e UCs justapostas. Das 59 UCs com con
do numero de cadeiras das sociedade civil representadas.
selho que estão justapostas a uma ou mais TIs, 42 delas não têm
Além da extrema relevância de um conselho gestor representativo, nenhuma representação indígena em seu conselho. Concluímos
atuante e esclarecido na construção do diálogo e resolução de assim, que embora as políticas ambientais, como SNUC e PNAP
conflitos que tangem as UCs, há ainda uma situação específica busquem fomentar a participação das organizações e associa
que explicita sua primordial importância: as sobreposições ções indígenas nos espaços de diálogo e gestão das UCs que lhes
entre áreas protegidas. Atualmente, há aproximadamente 80 afetam diretamente, esta participação ainda segue muito aquém
casos de sobreposições entre TIs e UCs no Brasil, sendo 43 deles do desejado. (agosto, 2011)
132 TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
INTERCÂMBIOS INTERCULTURAIS
Luís Donisete Benzi Grupioni Antropólogo, coordenador-executivo do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé) e
secretário-executivo da Rede de Cooperação Alternativa (RCA)
INTERCÂMBIOS INTERCULTURAIS ENTRE Convidados a refletir sobre a relevância dos intercâmbios, repre
ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS E INDIGENISTAS sentantes indígenas e indigenistas que tomaram parte em viagens
CONSTITUEM UMA FERRAMENTA PARA ROMPER de intercâmbio por diferentes regiões da Amazônia, salientaram
O ISOLAMENTO E DIFICULDADES DE ARTICULAÇÃO sua importância na formação política e profissional ao propor
POLÍTICA, INCREMENTANDO AÇÕES DE GESTÃO cionar um maior conhecimento e vivência sobre o modo de vida
de outros povos indígenas, com tradições linguísticas e culturais
TERRITORIAL E AMBIENTAL NA AMAZÔNIA
diversas. O conhecimento sobre diferentes formas de organização
das comunidades, por meio de suas associações representativas,
Arealização de intercâmbios interculturais entre representantes com gestão administrativa e política diversa, amplia os modelos
de diferentes povos indígenas tem sido uma modalidade de disponíveis de representação política conhecidos. O contato com
formação cada vez mais utilizada por várias organizações indí experiências de gestão territorial e ambiental, com iniciativas de
genas e indigenistas em toda a Amazônia. Entre elas, destaca-se manejo e desenvolvimento comunitário, de valorização cultural
a Rede de Cooperação Alternativa (RCA), que nos últimos 10 e linguística e de práticas pedagógicas e de gestão escolar cons
anos realizou mais de uma centena de intercâmbios, concebi tituem outros temas que tem suscitado interesse e motivado a
dos como viagens em que um grupo de indivíduos desloca-se realização de intercâmbios.
de sua região para conhecer outros povos, projetos, iniciativas Os intercâmbios interculturais também têm sido uma ferramenta
e contextos regionais. Os intercâmbios promovidos pela RCA importante de desenvolvimento pessoal, motivando os participan
têm mobilizado dezenas de índios e assessores, entre homens tes a refletirem sobre suas capacidades individuais e a buscarem
e mulheres, que tiveram a oportunidade de sair de suas terras se adequar às exigências de diferentes modalidades de relações.
e comunidades e conhecer outras realidades sócioculturais, Assim, falar em público e se fazer entender, expor e debater idéias,
ambientais e políticas. O intercâmbio como modelo de troca de resumir e sistematizar informações, relatar situações, manejar
informações entre povos de tradição oral e cultural diversa tem recursos financeiros, interessar-se por assuntos diversos, planejar
se mostrado uma rica forma de propiciar contato e aprendizado e se responsabilizar por atividades, respeitar opiniões e modos de
com experiências diferenciadas sobre temas e questões que são pensar diferentes dos seus constituem alguns dos desafios que
comuns aos povos indígenas da Amazônia, na construção de os participantes enfrentam quando estão participando de uma
processos de sustentabilidade territorial, ambiental, econômica atividade de intercâmbio.
e cultural. Eles têm criado oportunidades de discutir temáticas
Intercâmbios, entendidos e trabalhados como uma modalidade
de interesse comum, trocando experiências e metodologias,
de formação de representantes indígenas, têm permitido que
discutindo resultados e dificuldades, e produzindo documentos
para intervir nas políticas públicas relacionadas aos povos indí estes implementem em suas comunidades e Terras Indígenas
de origem soluções elaboradas em outros contextos culturais
genas e à conservação da Amazônia. De maneira mais ampla,
e ambientais. Foi assim, por exemplo, que os povos indígenas
a troca de informações e a sistematização de saberes e práticas
do Xingu reformularam o modelo de gestão de sua associação
entre as organizações indígenas e indigenistas potencializa a
(Atix), inspirando-se na organização da Foirn, no rio Negro; que
atuação local, regional e nacional desses atores e sua capacidade
os Tuyuka aumentaram o povoamento de plantas frutíferas na
de interlocução em reuniões, fóruns e colegiados, na defesa de
tivas e exóticas após realizarem intercâmbio comos Ashaninka,
seus interesses e pontos de vista.
no Acre, assim como introduziram a meliponicultura em suas
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS 133
aldeias após verificarem os resultados que os Ashaninka vinham A RCA está estruturada em três instâncias, com papéis definidos
obtendo com essa prática; que os Matis passaram avalorizar mais e acordados entre as organizações que a compõem. O Encontro
seus conhecimentos tradicionais nas escolas após visitarem as Anual da Rede (EAR) é sua instância máxima de deliberação,
escolas dos Yanomami; que os Wajãpi resolveram construir o seu composta pela participação de todas as instituições que a in
Centro de Documentação e Formação após visitarem o Centro de tegram, quando se definem a agenda e as prioridades do seu
Formação dos Povos da Floresta no Acre; que os Kaxinawá passa plano de trabalho anual. O Conselho Político (CP) é a instância
ram a realizar captação de águas de chuvas após conhecerem esse políticoestratégica da RCA, intermediária entre o EAR e a Secre
sistema no rio Negro; e que os Wajãpi passaram a utilizar palhas taria Executiva. É composto por quatro instituições integrantes
de murumuru e inajá na cobertura de casas após intercâmbio aos da RCA, sendo duas indígenas e duas indigenistas, que têm um
Kaiabi. Essa lista se desdobra em muitos outros aprendizados e mandato de dois anos e a função de fazer cumprir as deliberações
mudanças positivas na vida das comunidades participantes dos dos EAR; propor diretrizes políticas, estratégicas e agendas de
intercâmbios nos últimos anos. trabalhos visando o aperfeiçoamento e o cumprimento da missão
da RCA. Por fim, conta-se com uma Secretaria Executiva (SE),
articulação em rede instância de gestão da rede, a cargo de uma das organizações
membro, cujas atribuições são implementar as ações previstas
Asituação de isolamento e dificuldades inerentes de articulação pelo planejamento anual; assegurar a participação de todas as
de experiências e práticas similares, espalhadas no vasto território organizações-membro nas atividades da RCA; coordenar e formu
amazônico, historicamente têm resultado num baixo índice de lar projetos de interesse e buscar financiamento para eles; realizar
articulação política e troca de experiências entre organizações a gestão financeira em concordância com o Conselho Político e
indígenas ou indigenistas que desenvolvem trabalhos e proje cuidar de seus equipamentos e acervo documental.
tos com populações indígenas. Nesse contexto, a RCA é uma
Com essa estrutura, a RCA desenvolve atividades que direta e in
iniciativa diferenciada que investe no diálogo das experiências
diretamente atingem mais de 50.000 índios, de ambos os sexos e
dessas organizações resultando, dentre outras coisas, no forta
todas as faixas etárias, habitantes das 28 TIs abrangidas pela ação
lecimento e articulação dessas organizações, inclusive perante
das dez organizações indígenas e indigenistas que a integram.
o setor público.
Como objetivo estratégico, a RCA visa a promover a articulação e
A RCA originou-se em 1996 de uma Rede de Aliança Latinoa o protagonismo político dessas organizações em torno de temas
mericana, congregando organizações apoiadas pela Rainforest estratégicos voltados para a sustentabilidade e governanças locais
Foundation da Noruega (RFN). Esta agência de cooperação inter nas TIs; reconhecimento público do papel fundamental que os
nacional incentivou a articulação das organizações que apoiava povos indígenas desempenham na conservação das florestas
em diferentes países, com vistas a trocarem experiência entre si e e fortalecimento das organizações indígenas e indigenistas na
difundirem seu trabalho. Em 1997, criou-se uma seção brasileira defesa dos interesses e direitos indígenas na Amazônia.
dessa rede, que, em 2000, tornou-se independente, originando
uma articulação nacional em torno da questão indígena, dos
parceiros brasileiros da RFN. Essa articulação formalizou-se
intercâmbios e gestão territorial
como RCA e tem como missão promover a cooperação e troca de As experiências relevantes de trabalho da RCA referem-se todas
conhecimentos, experiências e capacidades entre organizações aos acúmulos adquiridos na própria construção dessa articulação
indígenas e indigenistas, para fortalecer a autonomia e ampliar entre as organizações que a integram nesses últimos dez anos.
a sustentabilidade dos povos indígenas no Brasil. Hoje, a RCA é Foram 14 encontros temáticos, reunindo em média mais de 30
constituída por 10 organizações-membro, sendo 6 indígenas (Atix, pessoas, dentre lideranças indígenas de diferentes povos, espe
Foirn, Apina, Hutukara, Opiac, Wyty Catë) e 4 indigenistas (CTI, cialistas e indigenistas, e mais de uma centena de intercâmbios
CPI-AC, Iepé e ISA) que representam mais de 60 povos indígenas, realizados entre 1998 e 2010, que possibilitaram uma efetiva
que vivem no bioma da Amazônia e no seu entorno. interlocução entre organizações, assessores e povos indígenas.
Em comum, além de serem parceiras da RFN, todas essas organi Entre diferentes temas que têm suscitado interesse no âmbito
zações atuam na Amazônia brasileira, mantêm fortes afinidades das atividades da RCA, destaca-se o da gestão territorial e am
políticas, temáticas e metodológicas em seus trabalhos junto a biental das TIs e de seus entornos. Nos últimos quatro anos, a
diferentes povos indígenas e vêm buscando, nos últimos anos, RCA realizou um conjunto de intercâmbios coletivos voltados à
influenciar as políticas públicas dirigidas aos índios. O campo de discussão dessa temática. Em 2007, a rede promoveu um inter
ação dessa articulação foi delimitado pelas organizações-membro câmbio simultâneo na região do rio Negro (AM), seguido por um
em termos da realização de atividades coletivas de intercâmbios encontro de sistematização, focado na gestão territorial indígena,
interculturais, seminários temáticos, encontros regionais, pro que permitiu não só a troca de informações, mas a sistematização
dução e difusão de publicações e monitoramento das políticas de experiências e de dificuldades comuns aos diferentes contextos
públicas indigenistas e ambientalistas. regionais e culturais de origem dos participantes, possibilitando
134 TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
docuMenTo final coM recoMendações ao esTado brasileiro
do seMinÁrio “gesTão TerriTorial e aMbienTal das Tis”
A Rede de Cooperação Alternativa Brasil (RCA), constituída pelas 4. O Governo Federal deve intensificar a fiscalização e proteção do
organizações Atix, CTI, CPI-AC, Apina, Foirn, HAY, Iepé, ISA, Opiac e entorno dos territórios indígenas mediante a elaboração de uma
Associação Wyty Catë, realizou de 21 a 24 de outubro de 2009, em Rio legislação específica que regulamente as atividades produtivas numa
Branco, Acre, o Seminário sobre Gestão Territorial eAmbiental das faixa de amortecimento de 20 km a partir do limite das TIs;
TIs. Com a participação de representantes de organizações indígenas,
5. Os órgãos governamentais competentes devem apoiar e financiar
indigenistas e socioambientais, o seminário possibilitou discussões
programas de elaboração e implementação de Planos de Manejo
em grupos de trabalho e plenárias, uma reflexão sobre um amplo
para populações não indígenas que vivem e trabalham no entorno
mosaico de iniciativas de gestão territorial e ambiental em TIs.
das TIs. Esses órgãos devem passar a desenvolver iniciativas de
Dentre as boas práticas de gestão territorial e ambiental em curso formação com a população do entorno de modo a desmistificar
nas TIs foi salientada a importância de se formarem agentes in estereótipos a respeito dos povos indígenas, provendo informações
dígenas para a gestão de seus territórios, como forma de engajar qualificadas sobre os mesmos;
as comunidades indígenas na construção de iniciativas coletivas
6. É preciso haver maior integração entre programas e agências
relativas ao presente e futuro de seus territórios e dos recursos neles governamentais responsáveis pela assistência e fiscalização de
existentes. Planos de gestão, construídos e acordados coletivamente,
áreas protegidas, incentivando a troca de conhecimentos entre os
envolvendo vigilância e fiscalização de limites, segurança alimentar,
diversos povos e indivíduos que moram e/ou usam a floresta. Esses
proteção da floresta e relação com vizinhos, foram indicados como
programas e agências devem se esforçar para dialogar e criar ações
ferramentas estratégicas para a proteção territorial e conservação
conjuntas com governos do outros países voltadas para TIs situadas
ambiental das TIs. A organização comunitária para o planejamento
em áreas de fronteira;
e implementação de atividades coletivas e a realização de intercâm
bios entre aldeias, povos e TIs foram apontados como mecanismos 7. Agências governamentais como o Instituto Brasileiro do Meio
importantes para viabilizar uma gestão territorial e ambiental Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Fundação
integrada das TIs. Por fim, a necessidade de uma política pública Nacional do Índio (Funai) e a Polícia Federal (PF), dentre outras, de
específica para a proteção e gestão territorial e ambiental das TIs, vem ser mais rigorosas nas fiscalizações e penalizações aos invasores
elaborada com a participação efetiva de representantes das comu e à retirada e venda de recursos naturais das TIs. É fundamental que
nidades e organizações indígenas, foi indicada como fundamental essas agências governamentais intensifiquem e retomem, deforma
para que os povos indígenas possam alcançar qualidade de vida integrada e sistemática, sua participação nas expedições indígenas
em seus territórios tradicionais. de fiscalização das fronteiras das TIs;
A seguir, as organizações participantes do seminário propõem um 8. O Governo Federal deve garantir o direito aos povos indígenas de
conjunto de ações e recomendações às instâncias do governo, direta serem previamente consultados, deforma livre e informada, sobre
e indiretamente envolvidas com o tema em questão, que, se adotadas a implantação de grandes obras de infraestrutura e exploração de
ou intensificadas, contribuiriam para uma mudança qualitativa recursos naturais que impactam diretamente os territórios desses
na forma como vêm sendo implementada a gestão territorial e povos, tal como estabelecido na Convenção 169 da Organização
ambiental das TIs no Brasil: Internacional do Trabalho, ratificada pelo governo brasileiro em
2002;
1. O Governo Federal deve conceber e implementar um programa
nacional de gestão territorial e ambiental das TIs, com um forte 9. OMinistério do Meio Ambiente e o Ministério do Desenvolvimento
componente voltado para a sua fiscalização que envolva diretamente Agrário devem contemplar a participação de representantes indíge
as organizações indígenas em ações de proteção territorial; nas nos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente e de Desenvolvimento
Rural Sustentável;
2. O Governo Federal deve ampliar o apoio financeiro e a assis
tência técnica a projetos de gestão territorial e ambiental nas TIs, 10. Os governos federal, estaduais e municipais devem reconhecer
dando prioridade às iniciativas que já estão sendo desenvolvidas as iniciativas em curso de educação escolar indígena diferenciada
pelas próprias comunidades indígenas nas áreas de segurança do ensino fundamental e do ensino médio integrado, inclusive
alimentar, sustentabilidade econômica e fiscalização dos limites aquelas que em seu currículo contemplam e executam atividades
de seus territórios; deformação de agentes indígenas de gestão territorial e ambien
tal, bem como incentivar e garantir a implementação da merenda
3. O Governo Federal e os governos estaduais devem promover o
escolar regionalizada, a ser adquirida nas próprias comunidades
reconhecimento oficial, como categoria profissional, dos agentes
e aldeias indígenas;
indígenas hoje diretamente envolvidos com a gestão territorial e am
biental das TIs, tais como agentes indígenas de manejo ambiental, 11. A Fundação Nacional do Índio (Funai) deve dar continuidade
gestores territoriais e agentes agroflorestais indígenas; aos processos de regularização fundiária das TIs do Brasil.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS 135
a identificação de pontos comuns e divergentes nas estratégias colhido por estar enfrentando uma crescente deterioração das
e metodologias de trabalho empregadas por suas organizações condições ambientais do seu entorno, resultado do desmata
membro. Os representantes dos povos indígenas de diferentes mento intenso, praticado pelas fazendas com plantação de soja e
regiões da Amazônia viajaram para o município de São Gabriel da criação de gado, poluição e assoreamento dos rios e afloramento
Cachoeira (AM) e lá se constituíram em três grupos que viajaram de conflitos ambientais. O intercâmbio no Xingu contou com 37
por rios distintos, com o objetivo de conhecer as estratégias de participantes, envolvendo representantes de 20 povos indígenas
gestão territorial e ambiental implementadas pela Foirn e pelo diferentes, que residem em 13 TIs distintas. Durante os 14 dias
ISA naquela região. Visitaram os rios Uaupés, Içana e Tuyuka e de intercâmbio, esse grupo de representantes visitou instituições
na volta dessa viagem, por três dias, os 35 participantes do inter e equipamentos sociais na cidade de Canarana, fazendas de di
câmbio discutiram e sistematizaram conhecimentos acumulados ferentes portes nos limites do PIX, bem como percorreu os rios
sobre práticas em gestão territorial indígena. Culuene, Xingu e Suiá Miçu, passando pelo Alto, Médio, Baixo
e Leste Xingu, visitando aldeias dos povos Kuikuro, Yawalapiti,
Em 2009, a RCA ampliou a discussão aprofundando o tema da Ikpeng, Kawaiwete e Kisêdjê, além dos postos indígenas Pavuru,
gestão territorial, promovendo um novo intercâmbio para o Acre Diauarum e Wawi. Amaioria dos integrantes indígenas do grupo
com o tema “Formação para a gestão territorial e ambiental das era composta por jovens que saíam de suas áreas de residência
TIs”, que reuniu 40 pessoas – dentre lideranças, agentes ambien e atuação pela primeira vez; outros, porém, eram mais velhos,
tais e professores indígenas provenientes de 18 povos distintos, lideranças em suas comunidades. Todos ficaram satisfeitos por
bem como assessores e agentes diretamente envolvidos com o ver de perto os povos do Xingu, que já conheciam pela mídia, e
tema, pertencentes a 17 organizações indígenas e indigenistas que por entrar em contato com a realidade do Xingu e do seu entorno,
integram a rede e/ou mantêm parceria com suas organizações tendo a oportunidade de comparar a realidade local com suas
membro. Os participantes viajaram para a terra dos Ashaninka, próprias experiências e identificar diferenças e semelhanças de
visitaram o Centro de Formação Yorenka Ãtame (em Marechal contextos e metodologias. Um novo documento, sistematizando
Tamaturgo) e conheceram as experiências de gestão territorial as discussões ocorridas durante a viagem do intercâmbio e as
implementadas por esse povo. Depois, retornaram a Rio Branco lições apreendidas, foi elaborado e divulgado pela RCA.
e por quatro dias sistematizaram conhecimentos sobre as estra
tégias de formação envolvidas na gestão das TIs. Um documento A realização desse conjunto de intercâmbios coletivos sobre a
com sugestões para a política de gestão territorial e ambiental temática da gestão territorial e ambiental nas TIs propicia, além
nas TIs foi elaborado e divulgado pelos participantes. de uma rica troca de experiências entre povos indígenas da
Amazônia, o conhecimento acerca de diferentes modalidades de
Concluindo esse ciclo de intercâmbios, a RCA promoveu, em gestão territorial e do seu entorno e a sistematização de idéias e
2010, um intercâmbio coletivo para a região do Parque Indígena práticas com a colaboração autoral de várias lideranças indígenas,
do Xingu, com o intuito de colocar em discussão a questão da contribuindo com as políticas públicas voltadas à proteção das
gestão do entorno das TIs. O Parque Indígena do Xingu foi es TIs e das florestas brasileiras. (março, 2011)
136 TERRAS INDÍGENAS: DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PROTAGONISMO INDÍGENA 137
VÍDEO
INICIADO EM CARáTER ExPERIMENTAL EM 1986, da TV”, “A arca dos Zo’é” e “Eu já fui seu irmão”, compõem a
trilogia que melhor revela esse contexto.
O VÍDEO NAS ALDEIAS fESTEjA, EM 2011, SEUS
25 ANOS DE ATIVIDADES. PRECURSOR NA áREA
DE PRODUçãO AUDIOVISUAL INDÍGENA NO BRASIL, CINEASTAS INDÍGENAS
REALIzOU MAIS DE 100 OfICINAS COM 32 POVOS A partir de 1997, iniciamos um programa de formação de reali
INDÍGENAS, E PROMOVEU UMA GERAçãO DE zadores indígenas, e o Vídeo nas Aldeias tornou-se uma escola
REALIzADORES INDÍGENAS e um centro de produção de cinema de autoria indígena. Além
dos registros para memória e transmissão de seu patrimônio
cultural para as novas gerações, os índios passam a narrar as
Depositário de um acervo de 6 mil horas de imagens sobre 37 suas histórias e a revelar o seu olhar sobre o seu universo, ga
povos indígenas brasileiros, o Vídeo nas Aldeias (VnA) produziu nhando visibilidade e reconhecimento mundo afora. Ao levar a
uma coleção de mais de 80 filmes, 40 de autoria indígena, vários intimidade do mundo indígena para mostras e festivais, os índios
premiados internacionalmente, transformando-se em uma refe brasileiros passam a se conectar com a emergente mídia nativa
rência nacional e internacional nessa área. O conjunto da obra já em diversas partes do mundo.
recebeu dois prêmios da Unesco e a Ordem do Mérito Cultural Dez anos mais tarde, com um corpo consistente de filmes de
2009 do governo brasileiro. autoria indígena, acolhidos com entusiasmo por públicos varia
dos, resolvemos lançar uma coleção de DVDs para um público
A FASE EXPERIMENTAL
Nos primeiros 10 anos, o trabalho consis
tiu em colocar a nossa câmera a serviço de
projetos culturais indígenas: o foco princi
pal era a reflexão gerada pela apropriação
da sua própria imagem, potencializando
movimentos de resistência e rearticulação
cultural das comunidades indígenas.
Nesse período, além de extensos registros
dos povos Nambikwara, Gavião, Xikrin,
Kayapó, Krahô, Guarani Kaiowá e Wajãpi,
para contribuir para sua memória cultu
ral, produzimos 15 filmes que revelam a
experiência vivida por esses povos, articu
lamos uma rede de circulação de filmes
entre aldeias, e distribuímos câmeras para
que os índios pudessem produzir registros Início do Vídeo nas Aldeias: Vincent Carelli (à esq.) registra a “Festa da Moça”, em 1986, e as reações dos
para a sua plateia. Os filmes “O espírito Nambikwara do Vale do Guaporé (MT) durante as sessões diárias para assistir às gravações.
O REGISTRO DO PATRIMÔNIO
A SÉRIE EDUCATIVA “ÍNDIOS NO BRASIL”
IMATERIAL INDÍGENA
Entre 1999 e 2000, realizamos para a TV Escola, a televisão de
ensino à distância do Ministério da Educação, a série “Índios no Outro avanço importante no reconhecimento dos povos indíge
Brasil”: dez programas que apresentam um panorama da diver nas na esfera oficial, tem sido o registro no Patrimônio Cultural
sidade dos povos indígenas dispersos pelo Brasil. Apresentada Imaterial Brasileiro, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
por Ailton Krenak, a série trata de maneira didática os grandes Artístico Nacional (Iphan), de “tesouros” das culturas indígenas.
temas da realidade indígena na forma de um dialogo intercultural Participamos em alguns desses processos com o filme “Iauaretê,
entre plateia e lideranças indígenas, desconstruindo equívocos Cachoeira das Onças” (2007) que integrou o registro da Cachoeira
recorrentes sobre os povos indígenas, como por exemplo a ideia de Iauaretê, no rio Negro, no Livro dos Lugares, e com o filme
de que os índios são todos iguais ou que eles estão fadados ao “Yaokwá” (2009), para o registro do ritual dos índios Enawewê
desaparecimento. nawê no Livro das Celebrações.
Replicada em dez mil cópias distribuídas pela rede pública de Trabalhamos agora, com uma equipe Guarani, num novo do
ensino, e retransmitidas por dez anos por todas as redes edu cumentário para o Iphan registrar como patrimônio imaterial
cativas do país, essa série, que chegou a ser vista por milhões brasileiro o significado mítico-religioso das ruínas jesuíticas da
região missioneira do Rio Grande do Sul para os índios Guarani
de brasileiros, é de domínio público e se encontra disponível
para download nos seguintes portais: www.dominiopublico. Mbya. Assim, não teremos mais só a versão oficial dos “con
gov.br e http://portaldoprofessor. Recentemente foi postada quistadores” sobre esses fatos históricos, mas também a visão
por nós para download no portal da Vimeo: http://vimeo.com/ mística dos “vencidos”.
videonasaldeias
CORUMBIARA, UM BALANÇO INDIGENISTA
AS CULTURAS INDÍGENAS NAS ESCOLAS O Vídeo nas Aldeias, que nasceu de uma militância indigenista,
Oito anos após a produção da série “Índios no Brasil”, um decreto nunca perdeu esse viés. Na sequência da primeira experiência
instituiu o ensino de aspectos das culturas indígenas nas escolas com os Nambikwara em 1986, fomos, com uma câmera VHS,
do ensino fundamental e médio. O país assumir oficialmente registrar os vestígios de um massacre numa fazenda do sul de
a sua diversidade étnica e cultural é muito positivo, mas como Rondônia. Por vinte anos acompanhamos o caso até encontrar
preparar o corpo docente para ministrar aulas de “introdução à os sobreviventes e colher os testemunhos confirmando os fatos
antropologia” sem reforçar os preconceitos recorrentes do senso denunciados. O filme Corumbiara revela a saga para esclarecer
comum em relação aos índios? Certos de que a visão dos índios um crime de genocídio, ignorado pelas autoridades brasileiras.
sobre a sua própria realidade não poderia deixar de fazer parte do Trazendo à tona um dos muitos crimes cometidos contra os povos
conjunto de materiais didáticos para subsidiar a implementação indígenas jogados para debaixo do tapete da história do Brasil, o
dessa lei, investimos nessa nova janela. filme bateu fundo no emocional da plateia. Grande vencedor do
Em 2010, o Vídeo nas Aldeias produziu um kit para escolas de festival de Gramado 2009, além de prêmios em outros festivais,
ensino médio, “Cineastas Indígenas: um outro olhar”: 5 DVDs Corumbiara contudo, como a maioria dos documentários bra
com 20 filmes e um guia para professores e alunos. Em um mês sileiros, não conseguiu entrar em circuito comercial.
de oferta recebemos 5 mil pedidos, dos quais só pudemos atender Na mesma linha de Corumbiara, ou seja, uma reflexão retros
três mil, e até hoje recebemos novos pedidos. O balanço dessa pectiva sobre processos de mudanças de grupos indígenas com
experiência nos mostrou que há uma demanda enorme por esse os quais trabalhamos, preparamos agora um filme sobre o povo
tipo de material, que a linguagem dos filmes cativa os alunos, mas Gavião Parkatêjê do sul do Pará. Com o seu território atingido por
que falta ainda um investimento enorme a ser feito pelo MEC e todos os grandes projetos de desenvolvimento do sul do Pará, os
Políticas Viabilizam
Protagonismo Indígena
Fabio Vaz Ribeiro de Almeida Antropólogo e assessor técnico do PDPI entre 2000 e 2008
Cássio Noronha Inglês de Sousa Antropólogo e assessor técnico do PDPI entre 2003 e 2008
DESDE 1994, O MMA TEM REPRESENTADO UM DOS participação mais efetiva do MMA na construção de políticas
PRINCIPAIS INTERLOCUTORES GOVERNAMENTAIS públicas para os povos indígenas aos já consolidados resultados
PARA OS POVOS INDÍGENAS BRASILEIROS, de apoio a projetos do PDPI e Carteira Indígena. Além de uma
ESPECIALMENTE POR MEIO DA IMPLEMENTAçãO destacada participação na Comissão Nacional de Política Indi
DE DOIS PROGRAMAS DE APOIO A PROjETOS genista (CNPI), a ação indigenista do MMA, por intermédio da
Gerência Indígena foi determinante para a construção da Política
INDÍGENAS: O PDPI E A CARTEIRA INDÍGENA
Nacional de Gestão Ambiental em Terras Indígenas (PNGATI),
hoje em fase de finalização (ver box).
Apartir da aprovação da Constituição de 1988, a ação indigenista Neste trabalho, nos concentraremos nos resultados alcançados
do Estado brasileiro deixou de ser responsabilidade exclusiva da pela Gerência Indígena de apoio a projetos indígenas em todo
Funai, vinculada ao Ministério da Justiça, e passou a ser execu o Brasil, articulando os esforços de PDPI e Carteira Indígena. O
tada por diversos outros ministérios e instituições. A relação do ponto de partida será um levantamento quantitativo de propostas
Ministério do Meio Ambiente (MMA) se consolida a partir do financiadas, povos e Terras Indígenas beneficiadas, áreas temá
Decreto 1.141/94 de 1994, quando fica determinada sua parti ticas alavancadas e organizações indígenas apoiadas. Feito isso,
cipação principalmente em processos de gestão ambiental em sintetizaremos alguns dos principais pontos positivos e problemas
Terras Indígenas. enfrentados pelos programas. Com isso, apresentaremos breve
O Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas (PDPI) é vin mente algumas oportunidades e desafios para cenários futuros
culado ao Programa Piloto (ex-PPG7) e fruto de parceria entre o da ação indigenista do MMA.
MMA, Coiab e cooperação internacional, especialmente o governo
alemão, por intermédio da GTZ e KfW.1 Desde 2001, o PDPI apoia PROjETOS DEMONSTRATIVOS
iniciativas de economia sustentável, valorização cultural, proteção
territorial, fortalecimento institucional e gestão ambiental em toda
E COMUNITÁRIOS
a Amazônia. A Carteira Indígena, por sua vez, é fruto de parceria Até fevereiro de 2010,2 os programas ligados à Gerência Indígena
entre o MMA, Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar haviam recebido mais de 1.400 propostas de iniciativas indíge
e Combate à Fome (Mesa) e do Ministério do Desenvolvimento nas, incluindo tanto projetos comunitários como solicitações de
Social e Combate à Fome (MDS), apoiando, desde 2003, projetos apoio à articulação do movimento indígena. De um total de 495
de segurança alimentar e sustentabilidade em todo o Brasil. projetos protocolados junto ao PDPI, 173 foram aprovados. A
A partir da gradual articulação entre os dois programas, o MMA Carteira Indígena aprovou 337 projetos.
instituiu, em 2007, a Gerência Indígena. Vinculada à Diretoria Em termos de abrangência, com exceção de Goiás e Rio de Ja
de Extrativismo (DEX) da Secretaria de Extrativismo e Desenvol neiro, os programas da Gerência Indígena apoiaram projetos em
vimento Rural Sustentável (SEDR), a Gerência Indígena passou todas as Unidades da Federação que possuem Terras Indígenas
a centralizar a ação indigenista do ministério, agregando uma regularizadas, conforme pode ser visto na tabela.
organizações indígenas. A primeira versão do curso, considerada e Médio Solimões – AM), visando diminuir custos operacionais
uma experiência piloto e inovadora, elaborada em conjunto com a e adequar às realidades regionais. O impacto esperado é a for
Coiab e especialistas, foi realizada entre 2004 e 2005, atendendo a mação de 240 gestores indígenas, selecionados de um conjunto
30 representantes indígenas de todos os estados da Amazônia. total de 137 etnias, presentes em mais de 200 TIs. A maior parte
desses cursos foi implementado em 2009, mas alguns ainda
Com base na experiência acumulada nessa primeira edição do
encontram-se em andamento.
curso, foi elaborado em 2008 o “Guia de Formação de Gestores
Indígenas”, que é uma sistematização do material didático uti
lizado. Além disso, foi implementada, em 2006, uma segunda FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL
iniciativa, de formação de gestores de organizações indígenas,
A partir de 2005, o PDPI apoiou três projetos de Fortalecimento
com foco regional na Amazônia Oriental. Esse curso foi realizado
Institucional junto a organizações indígenas regionais: Coapima
em conjunto entre o PDPI, GTZ e a Coordenação das Organizações
(MA), OIT (TO) e Cita (PA). Com base na metodologia do Desen
e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (Coapima).
volvimento Organizacional Participativo, foi realizado diagnóstico
Em 2008, foram lançados editais que selecionaram organizações participativo e construção das atividades de fortalecimento das
indígenas e ONGs para a implementação de mais seis Cursos organizações (capacitação, estruturação material, articulação
de Formação de Gestores de Projetos Indígenas. Esses cursos com as bases) em conjunto com lideranças. Nesse processo, é
tiveram abrangência mais localizada nas regiões (Amapá e Norte destacada a situação da Coapima no Maranhão, que aproveitou o
do Pará, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Alto Rio Negro e Alto projeto para se estruturar, se habilitando para executar o Curso
COM A EMERGÊNCIA E O fORTALECIMENTO DO recebido votos de moradores no centro da cidade, onde, segundo
MOVIMENTO INDÍGENA, OBSERVAMOS UM NÚMERO ela, encontram-se alguns simpatizantes da causa indígena, grande
CRESCENTE DE INDÍGENAS ExERCENDO MANDATOS parte dos votos que a elegeram vieram da aldeia, hoje situada nas
NO ExECUTIVO E NO LEGISLATIVO. NO PLEITO DE 2008, cercanias da cidade erguida sobre as TIs depois da instalação de
fORAM REGISTRADAS MAIS DE 350 CANDIDATURAS uma fábrica de tecidos na região.
INDÍGENAS EM 150 MUNICÍPIOS BRASILEIROS, Simpática, Cal Cacique recebeu-me numa palhoça próxima à
ESPALHADOS POR 21 ESTADOS DA fEDERAçãO E, sua residência. Perguntou-me se havia sido fácil encontrar sua
APROxIMADAMENTE, 78 INDÍGENAS fORAM ELEITOS casa. Contei que eu havia estado na Câmara Municipal, onde me
informaram o endereço dela na Vila Regina. Fui imediatamente
corrigida: Vila Regina, não; Aldeia Monte-Mór.
Em 2010, pelo menos 18 indígenas registraram candidatura para A trajetória de Claudecir iniciou-se em meados de 1990, quando
atuarem nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional; ingressou no movimento indígena e tornou-se secretária da
mas, apesar do número crescente de indígenas exercendo man associação indígena de seu povo. Participou ativamente do mo
datos em seus municípios, desde a eleição de Mário Juruna para vimento pela retomada das terras potiguara em Jaraguá, Três
o cargo de Deputado Federal pelo Rio de Janeiro, na década de Rios e Monte-Mór, ocupadas pelas Usinas Miriri,Japungu e pela
1980, nenhum outro indígena conseguiu eleger-se para cargos Companhia de Tecidos Rio Tinto. Foi por sua trajetória e por
representativos em âmbito estadual e federal. seu engajamento no movimento indígena – e pelo incentivo dos
Embora exista hoje um número relevante de indígenas viven parentes que participam do movimento – que ela decidiu pleitear
do nas grandes cidades, é nos pequenos municípios que as uma vaga na Câmara de Rio Tinto, a despeito da oposição de sua
mãe, temerosa pela vida de Claudecir ao engajar-se na política
candidaturas indígenas encontram maior respaldo. Grande
parte dos indígenas eleitos em 20081 – aproximadamente 70% partidária numa região onde indígenas e lideranças populares
– concorreram a cargos em municípios de pequeno porte, onde já haviam sido perseguidos e assassinados.
estão localizadas Terras Indígenas, e que contam com menos Não foi fácil para Cal Cacique ter sua candidatura aprovada na
de 10.000 eleitores. Analisando os dados relativos ao pleito de convenção do partido. Pendiam contra ela processos judiciais
2010, verificamos que foi também nesses municípios que mui que tentavam responsabilizá-la pelo movimento de retomada
tos desses candidatos obtiveram uma votação mais expressiva. das casas ocupadas pelos Potiguara em Monte-Mór. Por muito
Sandro Tuxá obteve 2.571 votos no estado da Bahia; 835 destes, tempo, a Funai pagou o aluguel dessas casas, construídas para
apenas em Rodelas, onde recebeu 19,8% dos votos válidos. os funcionários da Companhia de Tecidos Rio Tinto, para que
Portanto, para compreendermos o significado das candidatu os Potiguara pudessem residir ali, mas os Potiguara decidiram
ras indígenas é interessante observarmos o que ocorre nessas em assembleia geral que não pagariam mais os aluguéis dos
pequenas localidades. imóveis situados em suas terras e que alguns deles ocupavam
há mais de 50 anos. Em dezembro de 2007, essas terras foram
consideradas de posse permanente dos Potiguara, mas, mesmo
CAL CACIqUE: UMA VEREADORA INDÍGENA
assim, em agosto de 2008, Cal Cacique foi acusada na Justiça de
Em 2008, Rio Tinto, na Paraíba, elegeu sua primeira vereadora estelionato e de constranger os demais indígenas a não pagarem
indígena. Embora Claudecir da Silva Braz – Cal Cacique – tenha os aluguéis. O processo foi encerrado e Cal Cacique inocentada,
mas, segundo ela, outros processos se seguiram, numa tentativa representados na Câmara Municipal de Rio Tinto são conflitantes.
de impugnar sua candidatura. Mas, a despeito dos conflitos de interesses, como vereadora, Cal
Claudecir enfrentou ainda a falta de recursos, embora o PMDB Cacique pode negociar suas propostas diretamente com os demais
tenha acatado sua candidatura, ela não recebeu qualquer ajuda vereadores e obteve apoio para todos os projetos. Assim, se, há
do partido em sua campanha. A sua campanha foi feita com faixas cinco décadas, a participação indígena na política partidária dos
e cartazes elaborados pelos próprios indígenas e suas propostas municípios onde estão situadas suas terras era praticamente nula
discutidas em reuniões e conversas com os moradores de Monte e esses não tinham voz ativa nas questões legislativas em âmbito
Mór. Os candidatos que tradicionalmente dominavam a política local, dependendo dos poderes estaduais e federais para terem
local tentaram comprar os votos indígenas e não contavam com seus direitos assegurados, hoje, existe espaço para articulações
a eleição de Cal Cacique. Mas numa campanha de boca em boca, e negociações em âmbito local. Dessa forma, a participação indí
nas conversas com os parentes, ela acabou conseguindo os votos gena na política partidária brasileira tem modificado as relações
necessários para eleger-se. Cal Cacique foi eleita com 760 votos entre indígenas e elites locais.
nominais. A atuação de Cal Cacique na Câmara de Rio Tinto coaduna deman
das locais – como a ampliação da escola e da rede de abasteci
Para elaborar suas propostas de campanha, contou com o apoio
mento de água – a demandas do movimento indígena em geral,
de pessoas e entidades vinculadas à Universidade, à Comissão
como seu projeto para o magistério indígena, bandeira de luta de
Pastoral da Terra, ao Movimento Sem Terra e ao Centro das
muitos povos indígenas que, com o fim da tutela em 1988, viram
Mulheres do Cabo. Uma vez eleita, as mesmas entidades que a
na educação uma forma de empoderamento e de apropriação
auxiliaram prestaram assessoria para elaboração dos projetos
apresentados por ela na Câmara de Rio Tinto. Em 2009, trami de conhecimentos da sociedade colonizadora úteis para defesa
tavam na Câmara três projetos de sua autoria que tratavam da de seus direitos. Dessa forma, os mandados indígenas, mesmo
restritos às esferas locais do poder executivo e legislativo, vão
melhoria da rede de abastecimento de água da aldeia Monte
aos poucos contribuindo para ampliar o espaço de exercício da
Mór, da ampliação da escola e do magistério indígena. O projeto
para ampliação da rede de abastecimento de água já havia sido cidadania pelos indígenas. (fevereiro, 2011)
aprovado e, por ocasião do nosso encontro, esperava apenas a
liberação de recursos para ser implementado. NOTA
1Asinformações quantitativas relativas ao pleito de 2008 são oriundas do projeto
Como demonstram as diferentes visões sobre um mesmo Da Aldeia à Câmara Municipal: Candidatos indígenas nas eleições de 2008,
território: Vila Regina, para os não índios; Aldeia Monte-Mór, que contou com a participação de Flávia Roberta Babireski, João Vitor Fontanelli
para os indígenas, as perspectivas dos diferentes grupos sociais dos Santos, Luís Fernando Carvalho Cintra e Nádia Philippsen Fürbrigen.
Poéticas Indígenas
NãO SE PODE TOMAR AS ExPERIÊNCIAS POéTICAS produzidas pela civilização por meio da escrita. Esse panorama,
INDÍGENAS PELO GÊNERO LITERáRIO qUE ESTUDAMOS claramente etnocêntrico, serve para justificar, ainda que silencio
EM CAMÕES OU fERNANDO PESSOA. AS POESIAS DE samente, a submissão dos povos indígenas aos nossos critérios
TODA PARTE IMPLICAM EM fORMAS DIVERSAS DE políticos, econômicos e culturais. Mas o que, afinal, eles têm a
ExPERIÊNCIA E DE CRIAçãO ver com isso? Que espécie de pensamento criativo produziram
nos últimos milêios?
Antes de mais nada, é preciso esclarecer um ponto: existem
Aeducação formal brasileira, como se sabe, possui uma base eu inesgotáveis maneiras de se produzir complexidades (de pen
roamericana. Quando terminamos o segundo grau, adquirimos samento, de sentido), a despeito daquela com a qual estamos
uma noção geral sobre as artes e literaturas francesas, inglesas acostumados, derivada da escrita e de uma civilização que se
ou norteamericanas, que constituem assim o repertório cultural destaca pelo domínio da tecnologia. Sob o aparente despojamento
de qualquer cidadão. Os pressupostos que aí se formam sobre de suas construções e artefatos, os povos indígenas construíram
expressões estéticas e intelectuais são marcados, porém, por uma sistemas de pensamento e expressões criativas que, ainda hoje,
imensa e antiga lacuna. Não sabemos praticamente nada sobre escapam à compreensão dos melhores cientistas das principais
os povos indígenas (para não falar dos africanos), ignoramos universidades do Ocidente. Trata-se de sistemas que não têm exa
completamente os seus regimes de pensamento e de criação. Se tamente a ver com a nossa imagem genérica da cultura popular
estivéssemos no México, teríamos no meio da praça central da (que, evidentemente, tem também o seu inestimável valor). Os
capital uma imensa pirâmide de pedra azteca. Sua imponência sistemas indígenas se aproximam bastante, diga-se de passagem,
serve como advertência para o processo de dominação (física e dos pensamentos e das artes chinesas ou japonesas.1
espiritual) que se iniciou há cinco séculos. Com exceção, talvez,
Vamos partir aqui do princípio de que há poesia por toda parte.
do que acontece na Amazônia contemporânea, onde os índios têm
Mesmo assim, não se pode tomar as experiências poéticas indíge
uma presença maior nas cidades, o Brasil permanece ignorando
nas pelo gênero literário que estudamos em Camões ou Fernando
as produções culturais de seus povos indígenas.
Pessoa. As poesias de toda parte implicam, portanto, em formas
As lacunas de nosso sistema educacional não são responsáveis diversas de experiência e de criação. Estas são marcadas por
apenas pelo desconhecimento sistemático dos universos indíge distintas estruturas de língua e de pensamento, mas também
nas, mas também pela disseminação de uma série de estereótipos por instituições políticas, processos de educação, dentre outras
que inviabilizam uma compreensão, ainda que mínima, de tais características. Por conta disso, os problemas de interpretação
povos. Imaginamos assim (e mesmo quando simpatizamos com e de tradução se multiplicam, mas não a ponto de se tornarem
os habitantes da floresta) que eles ainda permanecem no estado um impedimento para a compreensão das poéticas da floresta.
de natureza, que são primitivos, simplórios, pouco sofisticados, Suas artes verbais, ou artes da palavra, são bastante distintas,
repetitivos ou mesmo ingênuos. Donde a razão para publicar e portanto, do que estamos acostumados a ver como literatura
traduzir as suas histórias em livros infanto-juvenis, aproximados escrita. Seguem outros critérios de composição, de criação, de
automaticamente de toda aquela cultura popular genérica povo autoria, de recepção e de fruição estética. Fazem sentido em
ada pelos sacis, cecis, peris e mulas sem cabeça. Imaginamos, um outro registro de realidade que tendemos a rotular como
assim, que se trata de algo bastante distinto das literaturas “mítico” ou “fictício” por contraposição aos conhecimentos
clássicas, provenientes da Grécia antiga e do velho continente, científicos modernos.
MC’s Guaranis
O qUE LEVOU OS GAROTOS DE UMA RESERVA é dividida entre ele, a mãe, o pai e cinco irmãos. O avô morreu
INDÍGENA EM MATO GROSSO DO SUL A ADOTAR espancado supostamente por capangas de fazendeiros que que
O HIP HOP COMO CULTURA E A CRIAR O PRIMEIRO riam os indígenas longe dali. O irmão mais velho escapou por
GRUPO DE RAP INDÍGENA NO BRASIL pouco, mas leva um projétil alojado na perna. Na casa dos Verón,
arroz e feijão são lei. Carne, pouca. Salada, “coisa de paulista”.
Mandioca brota no quintal. Banho, só de caneca. A geladeira está
Os olhos do índio Bruno Verón dizem que algo na aldeia não quebrada. A TV funciona. O Playstation, também. E sempre, a
vai bem. Junto a três outros jovens da mesma tribo, ele tranca o qualquer hora, os celulares dos garotos tocam Eminem, Snoop
sorriso, amarra oNike e mira o alvo: o governador de Mato Grosso Doggy, Racionais, MV Bill e Fase Terminal.
do Sul, André Puccinelli. André está sentado na primeira fileira
O hip hop chegou às reservas indígenas de Mato Grosso do Sul
ao lado do prefeito de Dourados, Murilo Zauith, e de vereadores
como se fossem ali as quebradas do Capão Redondo. Para os
que inauguram com festa e discursos a Vila Olímpica Indígena da
filhos adolescentes das 15 mil famílias das etnias Terena, Gua
região, um espaço esportivo com campo de futebol e quadras de
rani Kaiová e Guarani Ñandeva, era como se cada verso tivesse
basquete. Bruno terá sua chance logo depois das meninas dança
sido criado para suas próprias vidas. Se Mano Brown fala de
rinas da etnia terena. Assim que o locutor anuncia a entrada de
conflitos entre pobres e policiais, eles têm pais e avôs retirados
seu grupo de rap, o Brô MC’s, o índio procura pelo governador na
de suas terras a tiros pelo homem branco. Se MV Bill cita o trá
plateia e joga a lança: “Esta vai pra vocês que não conhecem nossa
realidade, que não sabem dos
nossos dilemas. Aldeia unida,
mostra a cara!”
A real que Bruno canta forte,
em uma mistura de guarani e
português, está bem perto da
quele complexo esportivo de R$
1,6 milhão cheirando a tinta.
Sua casa de quatro cômodos
Um dos aspectos também marcantes nas discussões do Simpósio Isso mostra que a articulação entre o uso da internet e as formas
foi a relação entre comunicação e política. de organização social e política indígenas pode fortalecer essa
organização e ao mesmo tempo atualizá-la. Nesse sentido, o uso
As questões de liderança e organização política dos grupos mos dos meios de comunicação mostra ser um importante instru
traram ter uma incidência determinante no curso dos projetos de mento na atuação dos grupos sobre o próprio destino, na gestão
inclusão digital nas comunidades. Os casos são muitos e diversos, e ampliação de suas relações com a sociedade não indígena.
mas foi possível perceber uma linha de demarcação bastante Política e comunicação aparecem mutuamente dependentes e
clara entre a situação dos grupos em que chegada da internet se se confundem em muitos aspectos, dando a entender porque a
limitou a preencher a agenda externa dos parceiros de projetos e gestão dos meios de comunicação e especialmente da internet é
a situação dos grupos cujos atores políticos integraram a gestão um assunto polêmico para os grupos e tem bastante influência
dos meios de comunicação em um projeto político. na sua organização.
Em sentido inverso, os projetos de comunicação também incidem Quando a tecnologia de comunicação se inscreve na visão po
sobre a organização política dos grupos. Isto porque as posições lítica das lideranças como um meio renovado de produzir as
de chefia ou liderança estão sendo questionadas e reavaliadas práticas sociais e culturais do grupo, e não como um fator de
neste processo. Não raro, as questões colocadas pela chegada da ruptura dessas práticas, ela é apropriada. É justamente porque
internet na comunidade reconfiguram esses papeis. a ideia importante associada à tecnologia de comunicação é a de
O caso mais claro nesse sentido é o suruí paiter. A criação do continuidade, que ela pode ser um instrumento de empodera
Plano Suruí 50 Anos, um plano de sustentabilidade territorial mento para o grupo. O Simpósio demonstrou que a capacidade
que envolve na sua base um vasto projeto de comunicação com a das lideranças indígenas em enxergar nessas ferramentas um
sociedade não indígena, levou os Suruí Paiter a resgatar e a adap projeto político e tomar para si sua utilização está em pleno
tar seu modelo político tradicional ao contexto atual, porque este crescimento. (Edição de relatos e informações colhidos no Iº
era, segundo seu líder Almir Suruí, a única forma de organização Simpósio Indígena sobre os Usos da Internet e do texto “Para
capaz de garantir um consenso para as decisões envolvidas no que diabo os índios precisam da internet?”, de Nicodème de
plano. Neste “novo modelo tradicional”, eles criaram um cargo Renesse, agosto, 2011).
de líder maior do povo suruí, o labiway e saga, que é o repre
sentante dos Suruí perante a sociedade não-suruí e o responsável NOTAS
pela articulação da política com os atores externos. O labiway
1O acesso ao acervo da transmissão online do simpósio está disponível na
e saga é designado pelas lideranças tradicionais de cada aldeia, página http://www.usp.br/nhii/simposio/?page_id=15
que continuam representando a autoridade legítima entre os
2 Que pode ser acessado em http://www.ikpeng.org/
Suruí. Essa foi a maneira como os Suruí adaptaram seu modelo
político a uma situação em que têm de assumir coletivamente 3 http://coletivokuikurodecinema.blogspot.com/
Áreas Protegidas e
UHEs na Amazônia
O RISCO É O DE QUE A TRANSFORMAÇÃO DOS Para essa época, elas contribuirão com cerca de 74% da eletrici
RIOS AMAZÔNICOS EM GRANDES LAGOS, COMO JÁ dade gerada no país, patamar próximo ao de hoje.
OCORREU NO SUL DO PAÍS, CAUSE IMPACTOS QUE Para o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH),2 aprovado
VÃO MUITO ALÉM DO DESLOCAMENTO DE PESSOAS em 2007, “o grande potencial hidrelétrico brasileiro representa
OU DA INUNDAÇÃO DE PORÇÕES DE FLORESTAS, uma indiscutível vantagem comparativa em relação às matrizes
COMPROMETENDO A PRÓPRIA SUSTENTAÇÃO DO elétricas adotadas por outros países”. Ele confirma, portanto, a
ECOSSISTEMA REGIONAL, SOBRETUDO PARA tendência de expansão da geração hídrica e da prevalência dessa
AS POPULAÇÕES INDÍGENAS forma de geração sobre as demais. E onde poderia ocorrer essa
expansão hidrelétrica?
Dentre as sub-bacias do Amazonas, as que têm maior potencial É na Amazônia também que, por diversas razões, se concentra
inventariado ou estimado estão, respectivamente, a do Tapajós a maior parte das terras indígenas brasileiras. São 416 áreas,
(29.995 MW), Xingu (27.931 MW), Madeira (21.906 MW) e Negro 109.831.397 hectares, representando 21,73% do território ama
(13.016 MW).4 Dessas, apenas a dos rios Negro/Branco ainda não zônico e 98,61% da extensão de todas as TIs do país.
teve seu inventário finalizado e não tem nenhuma hidrelétrica em Se olharmos para as quatro bacias amazônicas com maior poten
operação ou construção, embora na segunda fase do Programa cial hidrelétrico, veremos que nelas há um grande número de áre
de Aceleração do Crescimento (PAC 2), esteja prevista a instalação as protegidas. Considerando-se apenas UCs federais e estaduais,
para os povos indígenas, é preocupante. O Congresso Nacional, socioeconômica e ambiental de UHE e LT.
que foi alçado pelo legislador constituinte a guardião dos inte 12Carta em resposta à carta aberta apresentada pelo WWF- Brasil, relativa ao
resses indígenas e árbitro de eventuais confrontos entre estes e Plano Decenal de Expansão de Energia. Disponível em http://www.epe.gov.br/
MeioAmbiente/Paginas/MeioAmbiente_8.aspx?CategoriaID=, acessado em
o interesse nacional, abriu mão de seu papel por razões mera 21/01/2010.
mente políticas – o projeto é considerado prioritário pelo núcleo op.cit., p.111.
13
duro do Poder Executivo Federal e agrada sobremaneira às elites
op. cit., pg. 114.
locais – e literalmente atropelou todas as regras estabelecidas 14
O TRIUNFALISMO DA HISTÓRIA OFICIAL SE VALE DA O Tocantins era sua rua, sua fonte de água, de alimento, de traba
AUSÊNCIA DE UM ÍNDICE CAPAZ DE MEDIR ETRADUZIR lho, de vida. Depois de tantas gerações se sucedendo na margem
NUMERICAMENTE A FELICIDADE. SE HOUVESSE do vasto curso d’água, tirar dele as vantagens, minimizando os
ESSE INDICADOR DE SATISFAÇÃO, ELE REVELARIA A prejuízos eventuais, era o grande patrimônio dessa população. Um
TRISTEZA DO HOMEM OBRIGADO A TROCAR O RIO À aprendizado de séculos. Conhecimento experimental, empírico,
sofrido, valioso, único.
SUA PORTA PELA CASA DE ALVENARIA NO MEIO DA
MATA – QUE, ALIÁS, DESAPARECEU. O HOMEM DA Subitamente, são remanejados rigorosamente manu militari (o
AMAZÔNIA É DETALHE OU ENFEITE NO “MODELO” DE primeiro presidente da Eletronorte, subsidiária da Eletrobrás,
INTEGRAÇÃO FORÇADA DA REGIÃO AO PAÍS E responsável pela hidrelétrica, foi um coronel-engenheiro do
Exército, Raul Garcia Llano). O legado de séculos no trato com
AO MUNDO, DEFINIDO A PARTIR DE FORA
o ciclo das águas, subindo e descendo por turnos semestrais, se
tornou inútil na terra firme, longe do rio, em ambiente pouco
Fui um crítico constante da hidrelétrica de Tucuruí durante sua conhecido.
construção, de 1975 a 1984, ano em que a usina instalada sobre Pelos critérios quantitativos, o engenheiro podia provar matema
o leito do rio Tocantins, no Pará, foi inaugurada, como a quarta ticamente que a mudança foi positiva. Por essa régua, também
maior do mundo. Mas não era um crítico à distância: estava é superavitário o balanço da transformação que ocorreu na
sempre na obra. E, por incrível que pareça, conversando com os Amazônia no último meio século, principalmente em função de
“barrageiros”, que me atendiam. “grandes projetos”, como o de Tucuruí, que representou inves
Certa vez, um deles, para me demonstrar que todos ganhariam timento superior a 10 bilhões de dólares.
com a hidrelétrica, me levou para percorrer as novas cidades. Elas Mas o triunfalismo da história oficial se vale da ausência de um
estavam sendo preparadas para receber a população que seria rema índice capaz de medir e traduzir numericamente a felicidade. Se
nejada da beira do rio para a formação do reservatório. O futuro lago houvesse esse indicador de satisfação, ele revelaria a tristeza do
artificial, o segundo maior do Brasil, alagaria uma área de três mil homem obrigado a trocar o rio à sua porta pela casa de alvenaria
quilômetros quadrados (mais de duas vezes o tamanho de Belém, no meio da mata – que, aliás, desapareceu.
a capital do Estado, com seus 1,4 milhão de habitantes).
O homem da Amazônia é detalhe ou enfeite no “modelo” (que
O engenheiro tinha todos os motivos – mas os seus motivos – nada tem de modelar) de integração forçada da região ao país e
para achar que os ribeirinhos viveriam muito melhor nas novas ao mundo. Modelo definido a partir de fora para fazer a vontade
cidades. Lá eles teriam casas de alvenaria, ruas pavimentadas, do migrante, seja ele pessoa física ou empresa, João da Silva ou
água, luz e todos os serviços básicos, que não existiam na margem Vale do Rio Doce, nascido no país ou vindo do exterior (quanto
do rio. Mas eu não tinha dúvida de que os remanejados não iam mais distante, mais poderoso).
partilhar a convicção do técnico.
Para a “modernização” compulsória pouco importa que o nativo
É claro que eles estariam em melhores condições materiais num esteja ou não feliz. Seu mundo está condenado a desaparecer.
núcleo urbano planejado. Mas lhes faltaria no novo domicílio algo Tudo que é considerado primitivo, atrasado e isolado será pro
que todas essas vantagens não seriam capazes de compensar: gressivamente esmagado pela máquina que produz mercadoria,
o próprio rio. à medida que ela vai avançando sobre as novas áreas. Seu rótulo
O Desafio da Coexistência
com Terras Indígenas
SE, POR UM LADO, O CENÁRIO DO AGRONEGOCIOÉ no transporte e até na produção de plásticos e outros produtos
POSITIVO, JÁ QUE INDICA UMA DEMANDA BASTANTE químicos. Atualmente, o Brasil é responsável por mais de 30%
ELEVADA PARA OS PRODUTOS AGRÍCOLAS NOS das exportações mundiais de soja, mais de 40% de açúcar e mais
PRÓXIMOS ANOS, POR OUTRO, SÃO CRESCENTES de 80% do mercado exportador de suco de laranja.
AS DÚVIDAS QUANTO À CAPACIDADE DE RESPOSTA Se, por um lado, esse cenário é positivo, já que indica uma de
EFETIVA À CAPACIDADE DE CONVIVER OU COEXISTIR manda bastante elevada para os produtos agrícolas nos próximos
COM POVOS QUE DETÊM OUTRAS MANEIRAS DE VIVER anos, por outro, são crescentes as dúvidas quanto à capacidade
ESE RELACIONAR COM OS RECURSOS NATURAIS E AS de resposta efetiva à capacidade de conviver ou coexistir com
QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS povos que detêm outras maneiras de viver e se relacionar com
os recursos naturais e as questões socioambientais.
São notórias as diferentes naturezas e situações das TIs espa
Nos tempos remotos, os índios não tinham uma ideia clara do lhadas pelo Brasil. No que tange à relação com o Agronegócio,
significado dos limites estabelecidos. As matas iam muito além devemos fazer uma distinção entre seus gradientes, comumente
das linhas cartesianas e prevalecia o sentido de infinitude dos equiparados pelo senso comum. O agronegócio empresarial, de
recursos naturais. Porém, com o avanço da colonização em di excelência, que precisa estar socioambientalmente adequado
ferentes épocas ao longo do Brasil, foi ficando claro o cerco que para se posicionar nos mercados internacionais, longe das listas
se constituía. Além do barulho das tecnologias invasivas que se do trabalho escravo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)
aproximavam e a perda da cobertura vegetal, a caça foi ficando e das áreas embargadas do Ibama, também não tem qualquer
mais escassa e as águas mais sujas. Doenças se disseminaram, interesse em estar envolvido em conflito de terra com confron
alimentos então desconhecidos passaram a ser introduzidos e tantes indígenas. Porém, existe outro “tipo” de agronegócio,
as invasões por exploradores e aventureiros foram se tornando aquele que se relaciona com a ineficiência ou com atividades
mais frequentes. ilícitas que se valem de táticas de cooptação, pautado nas pro
O Agronegócio brasileiro, para muitos uma ideologia que se messas de ganhos econômicos fáceis, buscando a concessão
contrapõe a uma situação de justiça socioambiental e econô ao direito de uso das terras para produção de grãos, arroz ou
mica, é reconhecido pelo governo brasileiro como um setor soja, na maioria dos casos. As terras indígenas, segundo dispõe
expoente especialmente das exportações brasileiras, sendo o o Inciso XI do artigo 20 da Constituição Federal, pertencem à
principal responsável pelo superávit da balança comercial. Esse União, cabendo aos índios o seu usufruto exclusivo. A prática de
agronegócio vem ganhando força e respaldo ao longo dos anos arrendamento de terras indígenas é proibida e pode configurar
ao mesmo tempo que aparecem os desafios. São crescentes como crime, conforme o artigo 2º da Lei nº 8.176/91. Nos casos
as pressões sobre o setor, com a demanda por alimentos em históricos, os índios têm sido obrigados a assinar TACs (Termo
expansão, fruto do crescimento populacional, da urbanização de Ajustamento de Conduta) atestando que não arrendam terra
e do crescimento da renda em países emergentes, como China e que são plenamente capazes de produzir sua própria soja. Um
e Índia. Além da alimentação, surgem novos mercados para os dos casos emblemáticos denunciado pelo MPF àJustiça Federal
produtos agrícolas, como ouso na produção de energia elétrica, ocorreu entre 1996 e 2008 e envolveu 400 dos 1,2 mil hectares
agenda setorial e utilizando as suas vantagens comparativas para Assim, a campanha busca inverter a lógica habitual das mobili
ampliar apoios ao esforço de recuperação florestal e para agregar zações sociais, que é a de pressionar facções da burocracia por
algum valor à sua produção. vantagem comparativa em relação a outros setores, e que, no caso,
E, se quiserem, eles podem fazer mais do que isso. Sendo deten passa por construir consensos delimitados, porém, hegemônicos
na base da sociedade, para fazer o que cada um pode e requerer
tores do maior passivo e da maior parte do custo de recuperação
ações mais consistentes dos poderes públicos. O Estado não é
– portanto, da maior dentre as responsabilidades diferenciadas e
sequer o alvo da campanha – que é a situação de fato – embora
compartilhadas – os representantes do agronegócio, os médios e
dele se espere que também faça a sua parte, que não é pequena,
grandes proprietários, deveriam assumir a liderança dos esforços
na proporção da sua responsabilidade histórica pela situação e
de campanha.
dos meios de que dispõe para ajudar a transformá-la.
A Campanha Y Ikatu Xingu não é mais ou menos importante
do que outras campanhas que estão em curso no Brasil, mas
tem uma peculiaridade: tenta costurar, no seu território alvo, o conviver ou coeXistir
apoio de todos os setores interessados, independentemente de AAmazônia é um espaço de dimensões continentais em disputa.
onde estejam situados em relação aos governos e aos demais Interesses, opiniões, expectativas e mitos – locais, nacionais
conflitos regionais. e planetários – se sobrepõem para tentar influir sobre o seu
O estado brasileiro tem fortes características corporativas, dispon destino. Não é o caso de discutir aqui a legitimidade desses
do de braços supostamente especializados em clientelas sociais interesses, mas apenas de constatar que o que a afeta terá, cada
específicas. O Agronegócio tem o Ministério da Agricultura, os vez mais, repercussões em cadeia que não se restringem ao
pequenos e familiares têm o do Desenvolvimento Agrário, os universo local.
índios têm a Funai, os ambientalistas têm o do Meio Ambiente Há a visão daqueles que preferem uma Amazônia intocada,
e ainda há o da Ciência e Tecnologia para os pesquisadores. Não com as suas exuberantes florestas contínuas, tendo na pesquisa
são partes equivalentes, na sociedade ou no Estado, mas o todo científica a sua principal atividade e finalidade, que valorizam a
conforma um organismo gigante, aparentemente detentor de sua importância para a regulação do clima e como estoque de
um grande poder, mas que, no entanto, dificilmente se move recursos naturais que poderão ser imprescindíveis para nós e
decidido a resolver os problemas. a humanidade. Não é uma posição irracional ou ilegítima, des
A hipótese política da campanha é a de que a união com foco provida de sabedoria e de bons propósitos, mas que vem sendo
objetivo entre os atores relevantes em um mesmo território deve impactada pelo processo histórico contínuo de ocupação e de
mudar essa conta. Favorece que as energias e recursos disponí afetações antrópicas à floresta, de modo que a sua viabilidade
veis pelas partes se orientem para o objetivo comum, e que os vai sendo restringida aos espaços amazônicos mais remotos ou
governos disponham das melhores condições para superar a que constituem áreas protegidas.
esquizofrenia e somar na mesma direção. Qualquer investimento Há, também, a visão daqueles que veem a Amazônia como futuro
numa região coesa e mobilizada deve levar, supostamente, aos celeiro da humanidade, e que, sinceramente, gostariam que ela
melhores resultados. fosse transformada em um contínuo de plantações e pastagens,
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
Yuhupde
Desana
Hupda
Mirity-tapuya
Maku
Pira-tapuya
Kubeo
Coripaco
Siriano
Tuyuka
Tukano
Tariana
Kotiria
Warekena
s/l Baixo Rio Negro Tukano
Baniwa
Baré Em identificação.
Portaria 1.309 de 30/10/2009 publicada em 03/11/2009. - Barcelos AM
2 Balaio Desana
Baniwa
Baré 350/GT Funai: 2000 Decreto s/n de 21/12/2009 publicado em 22/12/2009.
Homologada. 257.281 São Gabriel da Cachoeira AM
Pira-tapuya
Kubeo
Coripaco
Tuyuka
Tukano
Tariana
s/l Cué-Cué/Marabitanas Arapaso
Baniwa
Baré 1.645/ISA: 1996 Em identificação.
Portaria 776 de 12/08/2003 publicada em 18/08/2003. - São Gabriel da Cachoeira AM
Desana
Coripaco
Tukano
Tariana
Warekena
Coripaco
Tukano
Tariana
Tukano
Tariana
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
ha), Matr. 184 Liv. 2-C fl. 01 em 03/11/99. Reg. CRI no município
e comarca de São Gabriel da Cachoeira (78.795 ha), Matr. 1.502
Liv. 2-8 fl. 241 em 12/04/99. Reg. SPU Certidão n° 12 em
27/07/2000.
s/l Tapuruquara
(Médio Rio Negro) Em identificação.
Portaria 476 de 29/05/2007 publicada em 04/06/2007. - Santa Isabel do Rio Negro AM
O RETORNO DOS ORNAMENTOS SAGRADOS (BASÁ namentos e instrumentos musicais foi destruída nesse contexto.
BUSÁ)1 QUE ESTAVAM NO MUSEU DO ÍNDIO, UMA No entanto, outra parte foi levada, guardada e mesmo exposta
INSTITUIÇÃO SALESIANA EM MANAUS, FOI UM em museus do Brasil e do Exterior, pelos próprios missionários,
PROCESSO LONGO, REPLETO DE DISPUTAS POLÍTICAS exploradores ou mesmo antropólogos.
PELO (RE) ESTABELECIMENTO DE RELAÇÕES ENTRE
O local onde foi implantada a maior missão salesiana do Alto Rio
SETORES DO MOVIMENTO INDÍGENA E CONHECEDORES Negro é hoje um núcleo urbano indígena: Iauaretê, situada às
TRADICIONAIS ORGANIZADOS EM UM MOVIMENTO margens do Alto Uaupés, na linha da fronteira Brasil-Colômbia.
AUTODENOMINADO “REVITALIZAÇÃO CULTURAL”.
Nesse povoado habitam hoje cerca de três mil indígenas, perten
TUDO COMEÇOU EM 2006, COMO PARTE DAS
centes a 15 grupos étnicos de três famílias linguísticas distintas:
ATIVIDADES DE SALVAGUARDA DA “CACHOEIRA
Maku, Tukano e Aruák. Essa grande concentração populacional
DE IAUARETÊ”, REGISTRADA COMO PATRIMÔNIO
IMATERIAL DO BRASIL PELO IPHAN encontrou seu auge no final da década de 80, justamente com
o fechamento dos internatos. Em 1998, as terras indígenas do
Alto Rio Negro foram reconhecidas pelo Estado brasileiro e de
Os ornamentos corporais em questão eram usados durante marcadas. A partir de 2002, um movimento autodenominado
rituais de iniciação masculina, dabucuris –trocas de bens entre “revitalização cultural”, iniciado por lideranças tradicionais de
cunhados e aliados, e em danças rituais que envolviam as miriã sib’s, alta hierarquia Tariana e Tukano, propôs-se a “organizar
(Jurupari), o consumo de ka’pi (bebida alucinógena usada em Iauaretê”, ou seja, recompor uma esfera de relação entre as
rituais) e danças que recontavam a narrativa da trajetória de pessoas que obedecessem o ideal cosmológico regional. Desse
transformação dos povos em humanos –kapiwaia. Basicamente movimento surgiram duas associações indígenas: o Centro
compõem-se de ornamentos de cabeça (mohã po’ari); colares de Revitalização das Culturas Indígenas de Iauaretê (Cerci) e
(itabohó, da’siato), braçadeiras, cinto de dente de onça e cho o Centro de Revitalização da Cultura Koivate (Ceremak), que
calho de perna (kitió). implicou na reconstrução de duas malocas (wi’i) no povoado,
onde foram retomadas atividades rituais, principalmente danças
Em 1927, na confluência dos rios Uaupés e Papuri, foi implemen
tradicionais da região.
tada uma grande missão salesiana onde existiam três malocas
Tariana. Prometendo a salvação da violência provocada pela Representantes dessas duas organizações distintas, lideradas
escravidão nos campos de seringa, tanto no Brasil quanto na por Tariana e Tukano, fizeram uma primeira visita ao Museu do
Colômbia, os padres salesianos logo colocaram em prática um Índio, em Manaus, em novembro de 2006, com apoio do ISA,
sistema de educação que visava, em colaboração com o Estado pelo então coordenador adjunto do Programa Rio Negro, Geraldo
Nacional, a incorporação da população indígena ao contingente Andrello, e do Iphan, por Ana Gita de Oliveira, coordenadora
nacional como “bons cristãos” – e como reserva de mão de obra. geral de identificação e registro/DPI; essa visita foi registrada
Da década de 1920 até o final da década de 1980, os salesianos por Vincent Carelli, da ONG Vídeo nas Aldeias, e pode ser vista
reprimiram sistematicamente as expressões mais visíveis da no premiado documentário “Iauaretê, Cachoeira das Onças”. Na
identidade e do sistema cultural da região. Grande parte dos or ocasião, os conhecedores indígenas tiveram a oportunidade de
Indígenas do Rio Negro celebram devolução de ornamentos sagrados. Acima, moradores de Iauaretê
que apareceram no dia da chegada dos enfeites na maloca do Cerci, São Gabriel da Cachoeira, AM.
eles, pois demandam um tratamento especial e um cuidado O direito de guarda e uso dos ornamentos foi estabelecido
cotidiano que não tiveram oportunidade de aprender com seus durante o período mítico, mais especificamente nas viagens de
pais e avós, justamente pela repressão dos missionários – mo transformação da Anaconda Ancestral (Tukano e Maku) ou dos
vimento do qual ele e seu irmão fizeram (e ainda fazem) parte. Heróis Demiurgos (Aruák). Alguns enfeites eram “encontrados”
Agora tentavam corrigir esse engano, mas se sentiam inseguros, e “incorporados” nas paradas nas casas de transformação, ao
pois não havia mais ninguém que pudesse orientá-los no sentido longo dos rios, enquanto outros foram entregues diretamente
de retomar relações com os ornamentos e garantir a segurança pelo Avô do Universo (Ômeo Oakihii) para os grupos exogâmicos,
deles e da comunidade. Continuou dizendo que essas peças eram mais especificamente para os ancestrais dos sib’s, em função de
vistas, naquele momento, como se fossem os corpos de seus avôs sua hierarquia e da divisão ritual de papéis. Portanto, o uso fora
mortos que estavam voltando, e que esse retorno fazia com que dessas diretrizes míticas e hierárquicas pode provocar doenças
eles se lembrassem de toda a tristeza e da violência que os povos e mortes ao transgressor e sua família.
indígenas do rio Negro haviam sofrido. Como se pensasse em voz No entanto, esse direito estabelecido pelas narrativas de origem
alta, disse: – “por que esse peso recaiu sobre nós?” não é suficiente para garantir a relação pacífica entre os orna
mentos e seus usuários, uma vez que os ornamentos são consi
Antes de terminar, entretanto, o senhor Guilherme, depois de
derados seres vivos – logo, portadores de agência e necessidades.
outra longa pausa, concluiu dizendo que a tarefa não era impos
Eles exigem a observação de condutas pessoais regradas, como
sível e que, com reflexão e calma, eles iriam achar um caminho.
jejuns e resguardos sexuais, bem como um cuidado cotidiano por
A chama de uma vela estava ainda acesa, iluminando um futuro parte dos bayaroa (mestres de dança) e kumua (xamãs ou ben
próximo no qual o uso compartilhado dos ornamentos pelos
zedores) especializados em seu trato. Regularmente, os enfeites
grupos indígenas de Iauaretê e região se tornaria realidade.
eram retirados de suas caixas específicas e recebiam cuidados
Pude constatar, nos dias subsequentes à cerimônia de recepção xamânicos e físicos, que incluíam o oferecimento de “soul food”
dos ornamentos, o temor e as dúvidas de grande parte das pes (tabaco e ipadu), a substituição de plumas, o conserto de partes
soas do povoado. Elas não se referiam à especulação da condição danificadas e banhos de sol após seu uso. Dessa maneira, os
da vida ou morte dos ornamentos (questão que parecia resolvida), princípios vitais (he’riporã) dos ornamentos se harmonizavam
mas sim sobre os males que eles seriam capazes de provocar se (ni’ka nohô ninisé tisé) com os de seus portadores. Sete décadas
os seus guardiões não tivessem a capacidade de reintegrá-los sem esses cuidados acabaram transformando dóceis xerimbabos
pacificamente à sociedade. Temor motivado por feitiços (estragos, em parentes canibais, que poderiam devorar o usuário, cujos
armadilhas xamânicas) que teriam sido feitos nos ornamentos sintomas iniciais são o branqueamento e queda de cabelos, o
pelos seus antigos donos quando os padres tomaram-nos; o uso surgimento de cáries, passando para problemas de visão e pele
coletivo de ornamentos, inadequado idealmente, uma vez que e, finalmente, morte. Tal relação de hostilidade é chamada em
deveriam ser usados apenas pelos homens do sib que os recebeu tukano de wa’pasehé, que pode ser glosada como “cobrança”.
Antes do início das danças, o Sr. Guilherme pediu a palavra. Todos NOTA
se sentaram para escutar o velho Tukano. Ele cumprimentou 1Todas as expressões em itálico são grafias de palavras da língua tukano. As
todos os parentes, cunhados e amigos presentes, dizendo que era palavras em língua geral não serão destacadas.
Do Manejo Ambiental
ao Manejo do Mundo
ENTRE OS POVOS INDÍGENAS DO NOROESTE Tiquié e Piraparaná (Canoa); (2) pesquisas indígenas e conjuntas
AMAZÔNICO, MANEJO AMBIENTAL OU TERRITORIAL (com não indígenas) sobre calendários; (3) encontros de manejo
é UMA EXPRESSÃO COMUM AOS PROJETOS de peixes na bacia do Tiquié, com ampla participação das comu
ELABORADOS E DESENVOLVIDOS NO ÂMBITO DAS nidades e associações, que evidenciou avisão mais propriamente
PARCERIAS ENTRE ASSOCIAÇÕES INDÍGENAS, NÃO indígena do manejo dos peixes.
GOVERNAMENTAIS E AGÊNCIAS DE FINANCIAMENTO.
NÃO DEVE SER ENTENDIDA DE MODO TRIVIAL, NA
CANOITAS2 E MANEjO TERRITORIAL
MEDIDA EM QUE REÚNE E TRADUZ CONCEITOS DE CONjUNTO TIqUIé-PIRAPARANÁ
DIFERENTES LÍNGUAS E CONTEXTOS SOCIOCULTURAIS
Em 2005 teve início uma aproximação entre indígenas do rio
Tiquié com do Piraparaná, com respaldo das respectivas organi
Em termos gerais, abrange manejo ou gestão de recursos flores zações indígenas, e apoio e participação do ISA e Fundacion Gaia,
tais e fluviais, sejam eles específicos (como uma espécie de árvore no âmbito da rede trinacional Canoa (Cooperação e Aliança no
utilizada para determinado fim), ou em conjunto (por exemplo, Noroeste Amazônico). Foram realizadas três viagens de grupos
peixes) ou ainda paisagens ou ecossistemas. do Tiquié para o Piraparaná, e três viagens no sentido contrário
Apartir de projetos relacionados a segurança alimentar e manejo (duas vezes foram homens e uma, mulheres).
agroflorestal, com fortes componentes de assistência técnica e Em 2005 um grupo de lideranças do Piraparaná veio para um
produção de alimentos,1 foi possível avançar para iniciativas que encontro e a formatura da primeira turma de ensino fundamental
priorizam o entendimento indígena de manejo ambiental. Não da Escola Tuyuka. Em 2006, um grupo do Tiquié (tukano, tuyuka,
cabe nesse texto descrever em detalhes essa trajetória, que de todo desana) fez um viagem de vinte dias por várias comunidades do
modo não é linear. Obviamente as comunidades indígenas do Piraparaná. Em 2008 outra equipe do Tiquié foi participar de um
noroeste amazônico demandam e necessitam investimentos em seminário conjunto de pesquisa sobre calendários em Hena (alto
projetos de diversas modalidades, desde saneamento, água potável, Pirá). As mulheres também fizeram encontros em San Miguel
saúde, educação até mesmo novas iniciativas de produção. O foco (Pirá, 2007) e Cachoeira Comprida (Tiquié, 2007).
aqui, no entanto, é restrito ao manejo ambiental e a forma como Entre os dias 15 e 30 de agosto de 2009, representantes dos
está se caracterizando nos últimos anos em alguns contextos da povos Tatuyo, Eduria (ou Taiwano), Barasana e Makuna do rio
região, como nos rios Tiquié, Piraparaná e médio Içana. Piraparaná (Colômbia) visitaram o rio Tiquié (Brasil), entre a
Descrevendo especificamente o caso do Tiquié, três fatores foram comunidade de Serra de Mucura, em seu médio curso, e a fron
decisivos para o rumo que os projetos relacionados ao manejo teira Brasil/Colômbia. Os Tatuyo e Eduria consideram o rio Tiquié
ambiental vem tomando nos últimos anos: (1) intercâmbio entre parte de sua rota de origem, situando-se ao longo de seu curso
Juvêncio da Silva Cardoso Professor Baniwa da Escola Indígena Baniwa e Coripaco (EIBC-Pamáali)
MEIO AMBIENTE, MANEJO AMBIENTAL, GESTÃO enriquecendo-os com suas vivências e observações. Essa é uma
TERRITORIAL, BIODIVERSIDADE, SUSTENTABILIDADE. prática comum em nosso método de trabalho, por acreditarmos
DENTRE TANTOS OUTROS, ESSES SÃO ALGUNS que um dos maiores desafios postos na discussão relacionada
TEMAS-CHAVE QUE VÊM SE CONSOLIDANDO E ao manejo ambiental em terras indígenas seja o de garantir e
ORIENTANDO DIVERSOS TIPOS DE INTERAÇÃO ENTRE manter uma certa especificidade de cada povo e dos seus modos
POPULAÇÕES INDÍGENAS COM SEUS PARCEIROS, de pensar, traduzindo o máximo possível as questões a cada
E COM A SOCIEDADE EM GERAL, NO SENTIDO DE contexto sociocultural.
BUSCAR MELHORIAS NAS SUAS CONDIÇÕES DE
VIDA, DIANTE DAS TRANSFORMAÇÕES, PROBLEMAS Depois de escutar da turma de alunos que poucos deles ha
E OPORTUNIDADES PELOS QUAIS O COTIDIANO DAS viam estudado o que significa a tão propalada expressão “meio
COMUNIDADES PASSAM ATUALMENTE ambiente”, pareceu-nos apropriado apresentar ao menos três
conceitos de meio ambiente largamente consolidados, antes de
abrir a discussão:
Na bacia do Içana, onde vivem sobretudo os Baniwa e Coripaco,
a Escola Indígena Baniwa e Coripaco (EIBC-Pamáali) está se a) O conceito da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
firmando como um espaço bastante privilegiado de discussão e Ambiente celebrada em Estocolmo, em 1972, onde definiu-se
interação desses conceitos com as visões e vivências indígenas. o meio ambiente como: “o conjunto de componentes físicos,
O surgimento dessas discussões, bem como o surgimento da químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos
própria EIBC, não se dá isolado do movimento socioambiental ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos
regional e global, nem de outras escolas indígenas (Tuyuka, e as atividades humanas.”
Tukano, Wanano), que surgiram nas duas últimas décadas no Alto b) O conceito da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA),
Rio Negro. Tampouco, esses temas estão isolados de interesses, estabelecida pela Lei 6938 de 1981, que define meio ambiente
percepções e preocupações das próprias comunidades baniwa e como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de
coripaco. As comunidades, reiteradas vezes, proferem discursos ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a
que denunciam escassez na disponibilidade de peixes e de caça vida em todas as suas formas”.
na região, bem como uma série de problemas e dificuldades
associadas ao manejo de recursos e ambientes importantes para c) O conceito mais aberto, mais complexo, e popularmente di
sua qualidade de vida. fundido, de meio ambiente como “tudo o que nos rodeia e que
nos afeta” ou “todo o lugar ou espaço em que cada indivíduo ou
Adiscussão que se segue aqui é resultante de uma aula inaugural
sociedade está inserido e que influencia sua vida”.
realizada na EIBC-Pamáali, em maio de 2010, onde dialogáva
mos sobre alguns desses conceitos, estimulando o grupo que se Tratamos de deixar claro que, ainda que esse conceito tenha sido
reunia ali a expressar visões propriamente baniwa sobre eles, grafado e difundido principalmente pelas ciências ocidentais,
sobretudo pelas ciências naturais, deveríamos encará-lo como baniwa, todos os peixes, animais, aves e vegetais se vêem e se
um conceito aberto, capaz de incorporar a visão de mundo consideram como gente-humana, assim como os Baniwa se
indígena. consideram como gente-humana.
Se todo vivente ou sociedade tem um ambiente – para mapear, Assim, se como gente-humana, vemos a planta constituída de
para manejar, para gerir, para fazer tornar-se sustentável – então raiz, tronco, ramos, folhas verdes e as frutas que nos servem
qual seria a novidade que a visão indígena agregaria e que seria de alimento, a mitologia baniwa diz que, em tempo imemorial,
importante para perseguirmos nas discussões sobre manejo e gente-humana se comunicava com gente-planta. E nos dias atuais
sustentabilidade na bacia do Içana? não sabemos de que forma ela (a planta) nos vê e nos classifica.
Hoje em dia vemos o peixe daquele jeito, vivendo dentro da água,
CONCEITO DE MEIO AMBIENTE e nos alimentamos dele.
PARA OS BANIwA “Mas, de que forma será que ele nos vê?”, indagou Juvêncio,
que continuou:
Estimularam a discussão as observações do professor Juvêncio
Cardoso de que “no meio ambiente se convive entre e com “Dizemos, nos dias atuais, que algumas espécies de peixes
os ‘outros’, incluídos os materiais vivos e não vivos”, e que o fazem piracema para se reproduzir. Mas a mitologia explica
propósito do manejo do ambiente praticado por um indivíduo ou que eles estão é fazendo festa de cerimônia de Podáali [ritual
por uma sociedade deveria ser o de “permitir conviver e estar de troca de presentes] durante a viagem de ida para ofertar
bem no mundo”. objetos à sua tia, cujo nome em baniwa éManuwadzaro, e que
mora na direção do poente do sol (kamoi heewali neerhe).”
O professor ainda detalhou que “no ambiente estamos cercados
de várias gentes e agentes, seja vivo ou não, materialmente Nessa altura da conversa um dos alunos, Daniel Lopes, acrescenta
ou abstrata e espiritualmente”, os quais podemos ver e clas que existe história de um testemunho que explica isso: “uma vez
sificar como enorme, médio, pequeno, micro, presa, predador, ocorreu de um gente-homem, transformado pelo peixe-gente em
espírito... ou vice-versa, dependendo do “mundo” de onde parte homem-peixe, mergulhar, nadar pelo rio e vivenciar as festas
a visão. Porque cada uma dessas classes de gentes ou agentes deles durante a viagem. E ele percebeu, no mundo deles, que
possui seu próprio mundo também. Explicou que, na mitologia estavam eram fazendo festa Podáali. Apenas na visão de gente
E a conclusão foi a de que deve acontecer a mesma coisa conosco. O TERMO MEIO AMBIENTE EM BANIwA
Podemos ser vistos como “algo simples, presa, brinquedo, ou
animal... pelos seres grandes, visíveis e invisíveis”. Os chama Diante de tudo o que foi exposto, o grupo sentiu a necessidade
dos Yoopinai, por exemplo, na maioria das vezes a gente os vê em de traduzir o significado de meio ambiente, em língua baniwa,
forma de pedra [ou será que a pedra é o meio deles?], mas não como “paheekoapite peemali neeni painaiwaaka nheette
sabemos como eles nos vêem. Muitas vezes os Baniwa dizem que pakhoettewaaka”. Traduzindo, literalmente, seria “o mundo da
gente onde se vive, entre a gente, e em convívio com um mun
estão doentes pela ação de Yoopinai. Mas não sabemos se eles não
estavam apenas brincando, no mundo deles, com essas pessoas do do outro”. Diferentemente da visão mais ocidental associada
afetadas. Aqui, no nosso mundo, a brincadeira dos Yoopinai ao conceito, esse “outro” quase nunca se reduz apenas a um
aparece para a gente como doença, e não como brincadeira. objeto físico, químico ou biológico facilmente apropriável como
“recurso natural”. Quase sempre se trata de um outro “humano”,
Juvêncio ainda refletiu: “Nós temos o nosso conhecimento e
dotado de intenções e de uma cosmovisão própria, a coabitar
visão sobre a astronomia. Os ciclos das estrelas e da lua, por
exemplo, são nossos calendários. Percebemos as estrelas, o mundo com os Baniwa. Aqui, facilmente, nos identificamos
com as ideias do perspectivismo ameríndio que foi amplamente
no alto do céu, naquele formato redondo e brilhante. Uns
divulgada pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro em vários
solitários, outros em conjunto formando um tipo de desenho
de seus estudos.
com devido significado, e assim por diante. Isso é a nossa
concepção para a constituição do nosso mundo. Mas será que
para os peixes, plantas e animais, as estrelas são vistas desse MANEjO AMBIENTAL PARA VIVER
mesmo jeito? Acho que não. Ou será que eles os vêem como E ESTAR BEM NO MUNDO
uma data para comemoração especial no calendário, como
Entre 2008-2010, a EIBC-Pamáali, em parceria com o ISA,
temos a data do Natal ou de Ano Novo?”
desenvolveu com o nome de “Kaawhiperi Yoodzawaaka: o que
De acordo com o conhecimento baniwa, para que os peixes de a gente precisa para viver e estar bem no mundo”, uma série
algumas espécies possam se reunir e se reproduzir [ou fazer bibliográfica composta de pesquisas monográficas produzidas
festa de podáali], eles dependem da chuva e enchente especial por pesquisadores indígenas, dedicada aos temas de manejo na
do rio, causada por certos tipos de constelação, como Waliperia, bacia do Içana. Seu primeiro volume está “no prelo”, disponível
por exemplo. Assim como as plantas e animais dependem de brevemente em línguas baniwa e português.
certo comportamento astronômico para frutificar e reproduzir
A expressão “Kaawhiperi Yoodzawaaka” é utilizada para se
se. Eles devem ter um universo constituído diferente porque são
referir à vitalidade e interdependência entre os diferentes seres,
“gente-humana”.
objetos, ambientes, bens, que são importantes para a vida das
Uma ampliação do entendimento do conceito de meio ambiente comunidades. Em baniwa, o adjetivo Káawhi indica estado de
depois do que conversamos foi a de que poderíamos dizer que consciência vital. Kaawhiperi se refere, então, a tudo que está em
todos os seres considerados vivos (animais, vegetais e microorga estado de consciência vital, ou ainda, tudo o que procede daquilo
nismos) e também aqueles considerados não vivos (pedra, água, que possuiu, em algum momento, essa vitalidade. Yodzawaaka
sol, lua, constelações) definem e delimitam o seu ambiente, de incorpora o sentido de “todos em relação”, ou no dizer baniwa:
acordo com sua concepção e tipo de relacionamento que esta “de vocês a mim”, “de mim a outros” e “de outros a outros”.
belecem com aquilo que os rodeia. Kaawhiperi Yoodzawaaka é talvez a expressão baniwa-coripaco
Hupda e Yuhupde:
Projetos e Desafios1
NOS ÚLTIMOS ANOS VIMOS UMA CRESCENTE estão distribuídos ao longo do rio Tiquié nas áreas interfluviais.
MOBILIZAÇÃO POR PARTE DAS POPULAÇÕES A primeira concentração se encontra nos igarapés Ira e Cunurí,
DENOMINADAS MAKU NO SENTIDO DE SE próximos à foz do Tiquié. Asegunda se encontra no Médio Tiquié,
ORGANIZAREM PARA O DESENVOLVIMENTO nos igarapés Samaúma e Castanha. Existe ainda outra concentra
DE VÁRIOS TIPOS DE PROJETOS NA ÁREA DE ção no rio Apapóris, nas proximidades de Vila Bittencourt.
SAÚDE, DE EDUCAÇÃO E DE CULTURA
Nos últimos anos vimos uma crescente mobilização por parte
dessas populações no sentido de se organizarem para o desen
Os Maku são conhecidos no Noroeste Amazônico por ocuparem volvimento de vários tipos de projeto. Associada a essa mobili
uma posição inferior na armadura hierárquica que compõe zação encontramos cada vez mais uma reivindicação para se
o sistema social integrado que caracteriza a região. A palavra inserirem nas políticas públicas do governo.2 Esse movimento
Maku origina-se do Aruák e significa “aquele que não tem fala” de intensificação de inserção em projetos e em programas de
ou “aquele que não tem a nossa fala” (Ma = prefixo privativo + política pública vem ocorrendo na região pelo menos desde o
aku = fala). O termo é sempre associado a “selvagem”, a “índios início da década de 1990, quando o discurso de revalorização
da-floresta”, em oposição a “índios-do-rio”, como os Tukano e cultural passou a ser adotado pelo movimento indígena da região.
Aruák que são horticultores e praticam a exogamia linguística. A demarcação da terra indígena em 19983 foi fundamental para
Os índios tidos como Maku não aceitam essa designação e se o fortalecimento do movimento indígena e para a criação de um
autodenominam Hupda, Dow, Yuhupde, Kákwa, Nukak e Nadob contexto favorável de reivindicação de outros direitos garantidos
(Athias, 2006). O objetivo aqui não é adentrar tal discussão pela constituição de 1988.
sobre esse termo, mas apresentar um panorama geral em que Dentro desse contexto, os Hupda e os Yuhupde, assim como
se encontram algumas dessas populações no que diz respeito à outros povos considerados Maku, tiveram inicialmente uma parti
inserção delas em projetos que vêm sendo desenvolvidos na re cipação reduzida e não encabeçaram nenhum projeto. Entretanto,
gião. Para tanto, as informações fornecidas se apoiam, sobretudo, nesta última década, foi possível observar uma mudança nesse
nos povos Hupda e Yuhupde. cenário. Muitas comunidades hupda e yuhupde passaram a fazer
Os Hupda habitam a região do Alto Rio Negro (AM), na área reivindicações no sentido de desenvolver projetos específicos para
interfluvial do rio Tiquié e Rio Papuri, afluentes da margem es- seus povos, principalmente nas áreas de saúde e de educação.
querda do rio Uaupés. Estão distribuídos em cerca de 35 aldeias Até recentemente as vagas de agentes indígenas de saúde (AIS)
(Brasil e Colômbia), e sua população é estimada num total de e professores indígenas das escolas das comunidades hupda e
1.500 indivíduos. É um povo normalmente caracterizado como yuhupde eram ocupadas por pessoas de outras etnias. Essa situ
nômade e caçador-coletor (Reid, 1979; Athias, 1995). Os Yuhupde ação muitas vezes foi motivo de conflitos entre essas populações,
os longos períodos na cidade de São Gabriel são também desafios leva as mercadorias para trocar por cipó em bruto. Esse regatão vende esse
cipó na sede do município de São Gabriel da Cachoeira para um comerciante
que vêm sendo enfrentados em nome de melhorar o mundo
maior, que, por sua vez, vende para um comprador da indústria moveleira do
vivido atual. (abril, 2011) Rio de Janeiro.
9 Os atendimentos ficaram comprometidos devido à mudança exigida pela
La Exploración y Explotación de
la Mineria y de Hidrocarburos
Ramón Esteban Laborde Rubio Abogado Consultor en Temas Indígenas y Medio Ambiente
LA ACTIVIDAD EXTRACTIVISTA DE LOS RECURSOS • Promoción de la inversión extranjera atraída por la seguridad
DEL SUBSUELO SE ENCUENTRA ACTUALMENTE jurídica y la confianza empresarial (reglas claras, estables y
POSICIONADA COMO UNO DE LOS PILARES SOBRE unificadas) e incentivos tributarios.
LOS CUALES EL GOBIERNO HA CENTRADO LAS
EXPECTATIVAS DE DESARROLLO ECONóMICO ASPECTOS CRíTICOS EN MATERIA
DEL PAÍS AMBIENTAL Y SOCIOCULTURAL
Los estatutos legales que regulan las actividades extractivas
En consecuencia con este propósito estatal se han venido mineras y de hidrocarburos resultan insuficientes, precarios
desarrollando intensas actividades exploratorias en territorios o desatendidos por las autoridades encargadas de su
que anteriormente se habían reservado para fines de administración o de realizar control y vigilancia.
conservación de la diversidad en Colombia, esta situación a) El Código de Petróleos y en general la normatividad del sector
puede tornarse particularmente grave en ecosistemas con un
hidrocarburífero no tienen ninguna disposición que restringa
alto grado de fragilidad como el amazónico y llegar a afectar el adelantar emprendimientos de éste tipo, en consideración
hábitat del cual las comunidades indígenas toman los recursos al mandato constitucional a favor de la conservación de la
necesarios para su subsistencia física y cultural. diversidad biológica.
La problemática ambiental y sociocultural generada por las En razón de aspectos socioculturales no se encuentra dispuesta
actividades de exploración y explotación de los recursos limitación alguna, particularmente las comunidades indígenas y
mineros y de hidrocarburos en Colombia como se ha señalado, negras tienen el derecho de ser consultados previamente ante
puede considerarse a partir de los elementos de juicio que se las actividades de este tipo que puedan afectarlos, sin requerir
sugieren a continuación. su consentimiento, por lo que ante la falta de un acuerdo entre
estas comunidades y el Estado, éste último podrá adoptar la
LA POLíTICA PúBLICA decisión que considere conveniente. En la práctica, existen
En la última década se han diseñado y puesto en acción casos en los cuales las comunidades han aprobado el ingreso a
ambiciosos planes y políticas públicas encaminadas en obtener sus territorios y otros en los cuales se han opuesto radicalmente
la información que permita explorar y explotar las reservas y aún así el Estado no ha procedido contra su voluntad. La
reglamentación del derecho ala Consulta Previa expedida por
mineras y de hidrocarburos existentes en todo el territorio
nacional, con algunas de las siguientes particularidades: el gobierno nacional (Decreto 1320 de 1998) contraviene el
espíritu y la letra del Convenio 169 dela OIT y la Constitución
• Priorización
de las actividades extractivas en el contexto
Política, en opinión de la OIT y la Corte Constitucional,
normativo y económico.
mientras que se encuentra ajustada a las normas que le sirven
• Flexibilización y desconocimiento de las normas de fundamento, en opinión del mismo Gobierno Nacional y el
ambientales. Consejo de Estado, lo cual constituye una clara contradicción de
• Desconocimiento de limitantes socioculturales. principios al interior del Estado.
limitaciones de índole ambiental para adelantar exploración y aclarar que para el caso de las reservas forestales se considera
extracción en los parques naturales (nacionales y regionales) y viable proceder a levantar total o parcialmente la afectación
en las zonas de reserva forestal. ambiental a la que se encuentran sometidas para emprender
posteriormente actividades de exploración y explotación de los
La Constitución de 1991 estableció como principio fundamental
recursos del subsuelo, mientras que en los Parques Naturales del
la obligación del Estado y de la sociedad en general de proteger
orden Nacional o Regional, la afectación ambiental se considera
las riquezas culturales y naturales dela Nación, el derecho
establecida a perpetuidad, mientras subsistan las actuales
al desarrollo dela Nación a través de la explotación de sus
normas constitucionales que así lo contemplan.
recursos naturales del subsuelo se encuentra limitado por el
derecho al medio ambiente sano representado enla obligación En ambos casos no se cumple la normatividad, se cuentan
cientos de situaciones en donde se han otorgado concesiones
SOLICITUD DE TíTULOS MINEROS mineras en áreas excluidas legal y
constitucionalmente.
Gestão Compartilhada da
Educação Escolar Indígena
SENDO OS POVOS INDÍGENAS OS ATORES DO Como reforço de toda essa mobilização, em fevereiro de 2007, a
PROCESSO DE CONSTRUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, a
SUAS POLÍTICAS, EM PARCERIA COM INSTITUIÇÕES pedido do conselheiro indígena Gersem Luciano Baniwa, realizou
GOVERNAMENTAIS E NÃO GOVERNAMENTAIS, sua reunião ordinária na maloca da Foirn, em São Gabriel da
ESSA POLÍTICA NÃO SOFRERIA RUPTURA COM Cachoeira. Nessa reunião, todos os conselheiros puderam ouvir
AS MUDANÇAS DE GOVERNO, MAS SERIA, SIM, os relatos dos professores indígenas sobre o funcionamento
FORTALECIDA, CONTRIBUINDO PARA A MELHORIA específico e diferenciado de suas escolas. Para o movimento
DA QUALIDADE DE VIDA DOS POVOS INDÍGENAS indígena essa reunião foi um marco histórico, e impulsionou
DE SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA o apoio que precisavam para as escolas indígenas funcionarem
com autonomia, segundo seus projetos de futuro.
Em 2006, no município de São Gabriel da Cachoeira (SGC), TERMOS DE AjUSTE DE CONDUTA (TAC)
aconteceu uma grande mobilização para construir um Progra
ma de Educação Escolar Indígena com o objetivo de fortalecer Vale ressaltar que todas essas mudanças resultaram de um
a diversidade socioambiental do rio Negro. Envolveu todas as processo prolongado, com reuniões realizadas em São Gabriel
instituições que atuavam com a questão: Federação das Orga da Cachoeira e Brasília com a presença das instituições acima
nizações Indígenas do Rio Negro (Foirn); Saúde Sem Limites citadas, além do Ministério Público Federal e MEC, para com
(SSL); Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política isso traçar estratégias para os poderes públicos, municipal e
Linguística (Ipol); Escola Agrotécnica Federal de São Gabriel da estadual assumirem seus papéis na execução da educação escolar
Cachoeira (atualmente Instituto Federal do Amazonas – campus indígena na região.
São Gabriel da Cachoeira); Secretaria Municipal de Educação (Se Foram firmados TACs que tiveram uma grande repercussão
mec); Instituto Socioambiental (ISA); Associação dos Professores nas instituições educacionais e o resultado foi a abertura para
Indígena do Alto Rio Negro (Apiarn). A Secretaria Estadual de que os povos indígenas construíssem suas escolas segundo
Educação (Seduc/AM) sempre foi convidada, compareceu, mas seus objetivos, conforme garantido formalmente na legislação
não aderiu à proposta. indigenista.
Essa mobilização contou com apoio da Secretaria de Educação Com relação às escolas estaduais, algumas mudanças ocorre
Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Edu ram, como a continuidade do Magistério Indígena II, que estava
cação (MEC). Dentre as metas traçadas, considerou-se como paralisado, a retomada da realização das reuniões do Conselho
prioridade a realização de seminários para a construção coletiva Estadual de Educação Escolar Indígena/AM, naquele ano, e a
dos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas indígenas. garantia de que o ensino médio não fosse à distância.
ao funcionamento dos Conselhos Municipais –Alimentação Esco específicos, principalmente com transporte, produção de material
lar (CAE), Educação (CME) e Fundef –, dentre outros avanços: didático, atividades pedagógicas e recursos humanos. Os recursos
públicos não dão conta de atender aos projetos diferenciados das
- Realização de viagens para acompanhamento pedagógico e
escolas indígenas, devido principalmente à extensão territorial da
realização de diagnósticos nas escolas indígenas de todas as região e à sua peculiar geografia que encarece as atividades. Por
calhas de rio;
esses motivos, a coordenação multiinstitucional daquele período
- Reestruturação dos cursos de formação continuada em oficinas buscou novos parceiros para apoiar tais atividades.
regionais;
para seguir ritmos próprios, mantendo canais distintos para sua Que apostassem também em uma grande ação formativa de
implementação. Apostando, para tanto, no fortalecimento dos recursos humanos para a mudança nos paradigmas que orientam
mecanismos de articulação do governo e dos atores civis (índios as políticas de educação escolar indígena, a fim de dar lugar à
e não índios) e em possibilidades de gestão compartilhada dessas criação e à inovação pedagógica proposta pelos povos indígenas.
ações na região. (abril, 2011)
EM NOVEMBRO O CONSELHO CONSULTIVO DO ao longo do Rio Negro e afluentes em um território que abrange
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTóRICO E ARTÍSTICO os municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Ga
NACIONAL (IPHAN) RECONHECEU, POR UNANIMIDADE, briel da Cachoeira, noroeste amazônico, até as fronteiras com a
O SISTEMA AGRÍCOLA DO RIO NEGRO COMO Colômbia e a Venezuela.
PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO. O BEM SERÁ O alicerce do dossiê que sustenta a tese de patrimonialização do
REGISTRADO NO LIVRO DE REGISTRO DE SABERES sistema agrícola do rio Negro é o projeto de pesquisa denomi
E O INSTITUTO DEVE APOIAR A ELABORAÇÃO E
nado Pacta (Populações, Agrobiodiversidade e Conhecimentos
IMPLEMENTAÇÃO DE UM PLANO DE SALVAGUARDA
Tradicionais Associados), iniciado em final de 2005, no âmbito
da cooperação bilateral Unicamp-CNPq e IRD (Institut de Re
A proposta de registro do sistema agrícola como patrimônio foi cherche pour le Développement) e coordenado pelo antropólogo
inicialmente feita pela Associação das Comunidades do Médio Mauro Almeida e pela botânica Laure Emperaire e contou com
Rio Negro (Acimrn), com sede em Santa Isabel do Rio Negro, em a participação de pesquisadores de outras instituições. Ao longo
parceria com a Federação das Organizações Indígenas do Rio desses quatro anos, foram construídas parcerias com a Acirmn
Negro (Foirn) e a Associação Indígena de Barcelos (Asiba). e a Foirn. O apoio do Departamento do Patrimônio Imaterial
O sistema agrícola do Rio Negro é entendido como um conjunto do Iphan, com a atuação de Márcia Sant’Anna e de Ana Gita de
de práticas, saberes e modos de transmissão de conhecimentos Oliveira, levou à realização de um projeto de documentação sobre
que se relacionam entre si. Dentre eles estão: as práticas e o sistema agrícola do rio Negro e à assinatura de um termo de
conhecimentos associados à forma de plantar e os processos cooperação técnica entre IRD e IPHAN, em agosto de 2009. Mais
contínuos de inovação e experimentação de variedades de plan recentemente, em dezembro de 2010, ISA, Foirn e MinC também
tas; o valor dos utensílios que processam os produtos da roça assinaram um termo de cooperação técnica (DOU nº 243, 21
e suas características únicas de sociabilidade entre eles e deles de dezembro de 2010), visando confluir esforços para a imple
com os humanos; a diversidade de receitas e sabores derivados mentação de políticas públicas culturais com vistas a garantir a
dos produtos da roça e das experimentações das cozinheiras; as salvaguarda do Patrimônio Cultural e de suas formas específicas
técnicas de manejo da roça, do entorno da casa de forno e dos de transmissão, de fomento e a promoção da diversidade socio
quintais; e, por fim, a conformação de redes sociais de troca ambiental dos povos indígenas do rio Negro.
de plantas e conhecimentos associados. O cultivo da mandioca A abordagem das pesquisas de base do dossiê apresentado ao
brava (Manihot esculenta), por meio da coivara – técnica de Iphan é sistêmica e interdisciplinar, por isso o conceito de siste
queima e pousio –, das constantes experimentações e da rede ma agrícola. A partir de pesquisas participativas realizadas com
de troca de saberes e plantas, constitui a base desse sistema, pesquisadores indígenas e acadêmicos com famílias do município
compartilhado por mais de 20 povos indígenas, os quais vivem de Santa Isabel do Rio Negro pode-se aferir que existem mais de
Lucia van Velthem, do Ministério da Ciência e Tecnologia e pesqui Jurema Souza Machado, arquiteta, vinculada à Unesco e uma
sadora do Pacta, afirma que nesse sistema, os utensílios emprega das conselheiras, destacou que um dos riscos que ameaçam a
dos no processamento da mandioca e dos cultivares têm agência, atualização do sistema agrícola do rio Negro relaciona-se ao fato
e é atribuído às coisas uma organização de trabalho que reflete de a juventude não se identificar com a atividade de fazer roça,
relações de sociabilidade que se baseiam em companheirismo. atribuindo a ela uma imagem de atraso e de trabalho árduo. O
Não se trata de um repertório de artefatos passivo, o forno de relator, Roque Laraia, argumentou que o dossiê explicita essa
torrar a farinha e beijús, por exemplo, “sabe” se ela vai ficar boa preocupação e indica algumas possibilidades e iniciativas para
ou não. Outros artefatos, trançados, são dotados de componentes aproximar a juventude.
estéticos, percebidos como suas “pinturas”. Essas características
orientam a gestão do uso e produção desses bens compondo um SEGURANÇA ALIMENTAR E
importante aspecto do valor patrimonial do sistema. ESTRATéGIAS DE SALVAGUARDA
Aexperimentação faz parte também do universo da casa de forno Durante o processo de formulação do dossiê e registro do sistema
e da cozinha, na elaboração dos alimentos e receitas. Os modos de agrícola como patrimônio cultural do Brasil, o ISA, o projeto
preparo dos derivados da mandioca são extremamente complexos de pesquisa Pacta (Unicamp-CNPq e IRD) e o próprio Iphan
e variados: farinhas, beijus, caxiris, mingaus e outros. As recei apoiaram a Acimrn e a Foirn na realização de encontros sobre
tas, de uma maneira geral, são compartilhadas entre os grupos patrimonialização, divulgação do processo de registro e levanta
étnicos e as famílias localizadas nas diferentes sub-localidades, mentos acerca de iniciativas desejadas para a salvaguarda do bem.
contudo, há variações. Cada receita associa variedades diferentes Com essas consultas, tornou-se patente a preocupação dos povos
de mandioca e de outros produtos, como pimentas e frutas. Em indígenas com a transmissão intergeracional de práticas e saberes
2009, no âmbito do Ano da França no Brasil, os sabores do rio associados e com uma certa desvalorização de seus modos de
Negro, receitas e produtos agrícolas foram matéria de intercâmbio vida, especialmente, em relação à transmissão de conhecimentos
entre mestres da culinária local de São Gabriel da Cachoeira e xamânicos, benzimentos e rituais, bem como sobre as técnicas
chefs de restaurante de São Paulo e Paris. [verNSA: http://www. de tecer os utensílios e de processar os alimentos. A segurança
socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2994] e um seminário alimentar, garantida pela base da diversidade de receitas e plantas
sobre Patrimônio cultural e sistemas agrícolas tradicionais em cultivadas, também foi destacada como uma das preocupações
parceria entre o Iphan e o IRD.
nesses fóruns de discussão.
• Ampliar nas comunidades a oferta de serviços de saúde e de escolas • Ampliação da pesquisa intercultural sobre roças e plantas cultiva
até o final do ensino médio, permitindo que as famílias que assim o das na região de Santa Isabel, Barcelos e S. Gabriel da Cachoeira;
desejam possam continuar morando nas comunidades;
• Construção de uma maloca em Santa Isabel, de preferência pró
• Superação das contradições entre escola formal, práticas e xima ao bairro de Santa Inês. Esta maloca deve funcionar como
conhecimentos agrícolas, por exemplo, valorizando com notas na espaço de criatividade e transmissão de conhecimentos indígenas
escola o trabalho nas roças e na casa de forno, compatibilizando tradicionais;
o calendário escolar com o calendário agrícola, e deforma geral
Em relação à formação do Comitê Gestor, considerando que a
reconhecendo a importância dos saberes tradicionais que devem
missão dele é atualizar, quando necessário, as ações do Plano de
ser transmitidos da forma tradicional, ou seja, pela prática com as
Salvaguarda, construir uma agenda de responsabilidade compar
respectivas famílias;
tilhada para execução das ações previstas no Plano e promover
• Conseguir que a merenda escolar em cada comunidade seja pre articulações necessárias com demais órgãos e instituições afins, os
ferencialmente comprada diretamente da produção da comunidade, grupos indicaram as seguintes orientações:
e que se preserve a diversidade de produtos agrícolas e silvestres
• Formação de um núcleo gestor para cada um dos municípios e
locais, tais como beiju, maçoca, curadá, bem como todas as frutas
mais um geral, para o Rio Negro todo;
disponíveis para uma melhor alimentação nas escolas e educação
do paladar; • Inclusão de órgãos do governo federal, estadual e dos três mu
nicípios
• Promoção de feiras locais para a comercialização de produtos
agrícolas e formas sustentáveis de escoamento e transporte dos • Número reduzido de instituições para que as reuniões tenham
agricultores e produtos; custo relativamente baixo e sejam exequíveis;
• Articulação com as prefeituras orientando os planejamentos das • Construção de uma agenda de ações e projetos para que o comitê
sedes municipais. Os Planos Diretores Municipais devem considerar não passe muito tempo apenas realizando reuniões;
as roças familiares periurbanas como locais de extrema importância • Importância das mulheres agricultoras terem representatividade
da dinâmica social e econômica, preservando espaços potenciais no comitê, bem como as comunidades dos municípios: bairros das se
de roça e os igarapés que possibilitam a agricultura, bem como des municipais e comunidades das margens do Rio Negro e afluentes.
planejando o escoamento de lixo, que muitas vezes é feito próximo [ver NSA: http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=3370]
aos igarapés e roças prejudicando a qualidade do plantio;
• Fomento de textos, oficinas de vídeos e registros audiovisuais (Este texto reúne trechos de Notícias Socioambientais (NSAs) publicadas,
que funcionem como atrativos para os jovens e contribuam para entre 2009 e 2011, no site doISA. Para a elaboração das notícias a autora
a valorização e divulgação do Sistema Agrícola do Rio Negro como contou com contribuições das pesquisadoras do Pacta: Laure Emperai
patrimônio; re, Lucia H. van Velthem, Manuela Carneiro da Cunha e Esther Katz)
GERAL íNDIOS DO RIO NEGRO que na hora de o Estado nos ouvir, conhecer
COMEMORAM 20 ANOS DA FOIRN nossas experiências de gestão territorial bem
sucedidas e nos apoiar para ampliar as ações.
“VISÕES DO RIO BABEL”: A Foirn comemorou duas décadas de uma his
A gestão territorial nas TIs deve ser feita pelos
IDEIAS SOBRE O FUTURO tória de lutas e conquistas, como a valorização
índios e para os índios”. (Andreza Andrade,
Uma confluência entre múltiplos saberes, da identidade indígena e a garantia da posse dos
ISA, 03/12/2007)
histórias, temporalidades e instituições esteve territórios tradicionais, entre muitas outras. O
em curso durante o encontro “Visões do Rio ciclo de comemorações, que aconteceu o ano
Babel: conversas sobre o futuro da bacia do todo nas sub-regiões da Foirn, foi encerrado PROjETOS NO RIO NEGRO
Rio Negro”, em Manaus, de 22 a 25 de maio com uma grande festa entre 08 e 12/10/2007 GANHAM PRÊMIO CULTURA 2007
de 2007. Organizado pelo ISA e pela Fundação em São Gabriel da Cachoeira. As comemo A coleção Narradores Indígenas do Rio Negro -
rações incluíram exposições de artesanato e
Vitória Amazônica, com apoio da Fundação Memória Identidade e Patrimônio Cultural e o
Moore e da Secretaria de Cultura do Amazonas, comidas regionais, esporte indígena, ciclo de Grupo de Dança Maadzero Keerada Inewikite
palestras e ainda o primeiro Festival de Música Irapakape, do Mestre Luiz Laureano Baniwa,
o evento contou com cerca de 110 convidados,
incluindo índios, extrativistas, pesquisadores dos Povos do Rio Negro. (Andreza Andrade, ganharam o prêmio Cultura Viva, na edição
e autoridades governamentais. “Estamos ISA, 05/10/2007) de 2007. A iniciativa do Ministério da Cultura
fortalecendo um capital social que servirá de mapeia e premia ações de grupos ou organi
base para a construção de uma rede. Só com GESTÃO TERRITORIAL INDíGENA zações públicas e privadas que fomentam a
reconhecimento mútuo daqueles que vivem NO INTERCÂMBIO DA RCA diversidade cultural do Brasil. Os projetos do
e trabalham na bacia é que conseguiremos Rio Negro ficaram em 2° lugar, nas categorias
completar seu ordenamento territorial, ga Grupos de indígenas e indigenistas reuniram grupo informal e organização da sociedade
se em São Gabriel da Cachoeira, entre 11 e civil. A Coleção Narradores Indígenas do Rio
rantindo os direitos coletivos dos indígenas
26/11/2007, para mais um encontro promovi Negro reúne narrativas de autoria indígena
e das populações tradicionais”, afirmou Beto
Ricardo, coordenador do Programa Rio Negro do pela Rede de Cooperação Alternativa. Criada sobre os mais importantes mitos de criação,
em 1997, a RCAvisa definir estratégias e diretri
do ISA. A programação do encontro incluiu história dos povos, explicações de benzimentos
zes políticas comuns na área de educação indí de cura ou proteção contra doenças, assim
duas palestras – do antropólogo Eduardo
gena, pesquisa, conservação da biodiversidade como a visão indígena do contato com os
Viveiros de Castro, sobre perspectivismo e
em TIs, fortalecimento da autonomia dos povos brancos em versões repassadas por avôs e
multinaturalismo na América Indígena, e do
pesquisador do Inpe Carlos Nobre, sobre as indígenas e ampliação da sustentabilidade das pais às futuras gerações.Já o grupo Maadzero
mudanças climáticas e conseqüências para a comunidades indígenas. O principal instru Keerada Inewikite Irapakape surgiu pela sau
Amazônia e o Rio Negro –, além de mostras mento utilizado pela RCA para difundir suas dade que a comunidade de Itacoatiara-Mirim,
ações é o intercâmbio entre seus integrantes.
de filmes e depoimentos de convidados de vivendo no perímetro urbano de São Gabriel
diferentes formações e repertórios, mas que Formado por 35 pessoas, o grupo foi recebido da Cachoeira desde 1985, manifestava do seu
pelas equipes da Foirn e do ISA, anfitriões do
têm em comum a vida ou o trabalho na região. lugar de origem, o rio Ayari, assim como das
(Thais Brianezi, ISA, 28/05/2007) intercâmbio. A Rainforest da Noruega deu danças e cantos que ali se realizavam. (Andre
apoio ao evento, cujo objetivo foi identificar e
za Andrade, 21/12/2007)
sistematizar de que forma cada povo ali repre
“CANOA” REALIZA REUNIÃO sentado pensa a sua gestão territorial e quais os
TRANSFRONTEIRIÇA EM SGC principais desafios enfrentados. Para conhecer CHEFS DE COZINHA VISITAM
São Gabriel da Cachoeira foi palco da 5ª reunião experiências de gestão territorial no Rio Negro, ALTO RIO NEGRO
bianual da Canoa – Cooperação e Aliança no formaram-se três equipes que se dirigiram para Visitar roças, casas de farinha e provar vários
Noroeste Amazônico. Trata-se de uma rede o rio Içana, o Uaupés e o Tiquié. Com avolta dos menus degustação foram o foco da agenda
transfronteiriça formada por comunidades grupos à cidade de São Gabriel, foi organizado semanal da dupla de chefs de cozinha Alex Atala
e organizações indígenas e não indígenas um seminário de sistematização das experi e Pascal Barbot no entorno de São Gabriel da
do Brasil, Colômbia e Venezuela, que com ências. Alguns dos pontos mais citados foram Cachoeira. A visita fez parte do calendário do
partilham dois objetivos fundamentais: o a educação, o manejo e a sustentabilidade. Ano da França no Brasil. Insere-se também no
desenvolvimento dos direitos coletivos dos A gestão territorial empreendida pelos povos processo iniciado pela Associação das Comuni
povos indígenas e a conservação da floresta indígenas hoje enfrenta problemas, como a dades Indígenas do Médio Rio Negro (Acimrn)
tropical. Aorganização do evento, que ocorreu ausência de recursos naturais tradicionalmente em 2007 para o reconhecimento do sistema
de 23 a 28 de julho de 2007, esteve a cargo usados, causados muitas vezes pelo aumento agrícola do Rio Negro como patrimônio cultural
da Fundação Gaia Amazonas, da Colômbia, populacional empreendido pelo sedentarismo; no Iphan. A base do dossiê que sustenta a tese
do ISA e da Foirn, com apoio financeiro da longo processo de catequização missionária; dessa patrimonialização é o projeto de pesquisa
Rainforest da Noruega. Com 120 participantes, incorporações de novas necessidades como denominado Pacta (Populações, Agrobiodiver
o encontro teve como meta principal promover bens e serviços de “fora”; invasões dos mais sidade e Conhecimentos Tradicionais Associa
o intercâmbio de experiências e informações, diversos tipos como de garimpeiros, fazen dos), iniciado no final de 2005 no âmbito da
num esforço para criar um ambiente favorá deiros e até mesmo das cidades, em razão de cooperação bilateral Unicamp-CNPq e IRD e
vel às políticas públicas que contemplem as seu crescimento. O final do encontro contou coordenado pelo antropólogo Mauro Almeida
demandas dos povos indígenas. (Andreza com uma síntese das demandas por André e pela etnobotânica Laure Emperaire, do qual
Andrade, ISA, 27/07/2007) Fernando Baniwa, da Foirn: “Já está mais do participam pesquisadores do ISA. Ao longo des
FOIRN
REDE INDíGENA DE RADIOFONIA
GANHA 14 ESTAÇÕES
A rede de radiofonia indígena do Rio Negro
ganhou mais 14 estações localizadas nos
municípios de Barcelos e Santa Isabel do
Rio Negro. Dessa forma, mais comunidades
estarão integradas à rede da Foirn, que reúne
mais de 60 associações indígenas de base,
compreendendo 123 estações de radiofonia,
em sistema de freqüência fixa. Elas operam
nas comunidades localizadas nos 10,6 milhões
ha de TIs demarcadas na porção mais alta da Diretoria eleita da Foirn para a gestão 2009-2012. Da esquerda para a direita: Luís Brazão, Maximiliano Correa Me
bacia. (ISA, 26/03/2008) nezes (vice presidente), Abrahão de Oliveira França (presidente), Erivaldo Almeida Cruz e Irineu Laureano Rodrigues.
ENSINO SUPERIOR
INDíGENA
SEMINÁRIO DA ARRANCADA
Há mais de uma década o Alto Rio Negro vem
acumulando a memória de diversas ações que
nasceram no movimento indígena e que se
tornaram políticas públicas em educação. Os
grandes encontros de educação na maloca da
Formatura da Escola Tuyuka Utapinopona, que envolveu 30 formandos (17 do Ensino Fundamental e 13 da primeira
turma do Ensino Médio), na comunidade de São Pedro, alto rio Tiquié.
Foirn, os termos de compromissos assinados
interinstitucionalmente, as formações de
professores por meio do magistério indígena
manejo de recursos naturais; meliponicultura; e as escolas-piloto forneceram subsídios para
culinária tradicional e avicultura, entre outros. LíNGUAS INDíGENAS as atuais demandas dos povos indígenas por
(ISA, 12/08/2009) uma formação superior que dê continuidade
UNIVERSIDADE LANÇA aos trabalhos feitos na região. O seminário de
MALIKAI DAPANA: A ESCOLA DICIONÁRIO EM HUPD’AH “arrancada” do processo de consulta sobre
formação superior indígena, realizado de 04
DE XAMÃS Depois de três anos de pesquisas, o Depar
a 08/08/2009 em S. Gabriel da Cachoeira,
tamento de Ciências Sociais da UFPE lança o
Em 30/11/2009, na aldeia de Uapui Cachoeira, levantou diversas questões para organizar um
nas cabeceiras do Rio Ayari, afluente do Içana, primeiro dicionário da língua dos Hupd’ah. De programa que atenda aos atuais desafios das
acordo com o professor Renato Athias, um dos
realizou-se um encontro de comunidades responsáveis pelo projeto, além de fortalecer comunidades indígenas do Rio Negro. Entre
Baniwa para a inauguração da escola de xa elas estão modos de efetivar a formação; o
mãs, Malikai Depana. Fundada pelos filhos a identidade cultural dos povos Hupd’ah, o di diálogo entre os conhecimentos indígenas e os
do principal xamã dos Baniwa, Manuel da cionário vai contribuir para a educação escolar
conhecimentos científicos da universidade; o
Silva, Mandu, com apoio do antropólogo Robin específica, já que “mais de 1,6 mil indígenas compromisso das instituições e pesquisadores
de 35 aldeias da etnia ainda não estão alfabe
Wright, a cerimônia contou com a presença do presentes com a proposta e quais os primeiros
presidente da Funai, Márcio Meira. A escola é tizados”. Athias destacou que 40 professores
encaminhamentos para organizar o desenho
índios começaram a ser capacitados, dentro
fruto de anos de pesquisa patrocinada pela institucional do programa. Iniciativa da Foirn
Fundação para Estudos Xamânicos, na Cali das próprias aldeias, para iniciar o trabalho
e do ISA, com apoio do Instituto Arapyau,
fórnia (EUA), interessada em apoiar a arte e de alfabetização da tribo. (Márcia Wonghon,
o evento reuniu cerca de 70 pessoas, entre
Radiobrás, 05/04/2006)
a prática do xamanismo tradicional. Wright pesquisadores, indígenas e suas lideranças. O
trabalha com as comunidades do Rio Ayari seminário contou com mesas-redondas que te
desde 1976. Entre os povos Baniwa, com uma LIVROS LANÇADOS EM matizaram o multilinguismo que caracteriza a
população de cerca de 12 mil pessoas, só em LíNGUAS INDíGENAS região e o diálogo intercultural como princípio
regiões remotas é que os “xamãs jaguar” Em todo o município de S. Gabriel da Cachoeira de construção da proposta de formação.Já por
continuam com suas práticas. De acordo com já existem 33 escolas diferenciadas indígenas, meio de grupos de trabalho foram debatidas
as histórias Baniwa, esses xamãs controlaram que ensinam em línguas tão diferentes quanto questões específicas. Por exemplo, o desenho
epidemias que assolaram a região durante o tariana, wanano, tuyuka e ianômani. O projeto institucional da proposta de ensino superior,
boom da borrada no século XIX e XX, assim começou com quatro escolas-modelo. Na Paá que deve ser aberto e flexível, a partir dos
como enfrentaram várias catástrofes que mali, os alunos vão publicar um livro financiado projetos desenvolvidos nas escolas-piloto e
dizimaram seu povo, afastando os inimigos pelo MEC chamado “Kophenai nako”, sobre os podendo incluir pessoas que nunca estudaram
e mantendo a estabilidade do mundo. (ISA, peixes da região. São 200 páginas, escritas em nas escolas indígenas diferenciadas. Ainda, foi
22/12/2009) baniwa, com desenhos, resumos das espécies, relevada a importância de criar uma rede de
MULHERES BANIwA E
VARIEDADES DE PIMENTAS
Em encontro promovido pela Oibi na Comu
nidade Tucumã-Rupitá, no rio Içana, de 07 a
11/4/2006, mulheres baniwa mostraram os
experimentos que vêm realizando em suas
roças tradicionais para tentar conquistar os
mercados do Sudeste com os frutos que culti
vam, agregando-lhes valor cultural e ambiental.
A Oibi, em parceria com o ISA, traçou em 2005
um plano de implementação de uma experi
ência comercial que prevê o lançamento da
pimenta em centros do Sudeste brasileiro sob o
mesmo rótulo da arte de arumã (Arte Baniwa)
praticada pelos homens baniwa. (Adeilson
Lopes da Silva, ISA, 27/04/2006)
MANEjO PESqUEIRO
NA BACIA DO IÇANA
Preocupados com a crescente escassez de
peixes, os índios Baniwa, representados pela
Oibi e com apoio da Foirn, do ISAe do Instituto
Leônidas e Maria Deane (ILMD)/Fiocruz vêm
empreendendo, desde meados de 2006, uma
série de encontros e conversas. O objetivo
principal é implementar um plano de manejo
que fortaleça as condições de sustentabilidade
da pesca na bacia do Içana, onde vivem apro
ximadamente 6 mil pessoas. A partir daí foi
elaborado o projeto Kophé Koyaanale, que em
Baniwa significa “casa/fonte/mãe de peixe”,
coordenado pela Oibi e financiado pelo PDPI/
MMA. Os resultados foram debatidos durante
uma assembléia da Oibi que ocorreu entre
os dias 17 e 19/07/2008, na comunidade de
Tukumã-rupitá, no Médio Rio Içana. Partici
param cerca de 250 pessoas, representantes
de 30 comunidades, coordenadores e alunos
de seis escolas e de dez associações indígenas Grupo tuyuka conhece Buraco da Transformação em Ipanoré, rio Uaupés.
CONSTRUÇÃO DO MOSAICO
DE ÁREAS PROTEGIDAS
Desde 2006, diversas organizações não gover
namentais, governamentais, entidades ligadas
ao movimento social, comunidades indígenas
e ribeirinhas vêm se reunindo em oficinas
e grupos de trabalho com a finalidade de
construir o “Mosaico de Áreas Protegidas do
Baixo Rio Negro”. A idéia é promover a gestão
conjunta e integrada das áreas protegidas da
região, de forma a criar espaços democráticos
de colaboração e de diálogo entre os gestores
e destes com as populações residentes. A ini
Em Brasília, comitiva que participou da cerimônia de assinatura doTermo de Cooperação Técnica ciativa teve impulso nos dias 12 e 13/08/2008
para promover novo modelo de gestão de TIs na Bacia do Rio Negro. com a realização da I Oficina de Gestão do Mo
saico do Baixo Rio Negro. As áreas de proteção
de gestão de TIs, visando a implementação de Negro da Cidadania Indígena, firmou também abarcadas pela iniciativa são onze, totalizando
ações que contribuam para o desenvolvimento Termo de Cooperação com a prefeitura de São uma área de aproximadamente 10 milhões de
sustentável e avalorização da diversidade socio Gabriel da Cachoeira. Ao longo de 2009 foram hectares. Ao final foi feito um levantamento
ambiental da Bacia do Rio Negro. ISA e Foirn feitos seminários com membros da Foirn, dos temas-chave a serem trabalhados no pla
são parceiros desde a criação da federação, mas Funai e ISA para discutir a gestão participativa no de ação do mosaico. Entre eles, o uso de
a formalização da cooperação com a Funai foi da Administração Executiva da Funai em São recursos naturais e alternativas econômicas
um passo importante no reconhecimento do Gabriel da Cachoeira e para elaborar o plano foi tema presente em todos os GTs, seguido
espaço público como fruto da gestão comparti de gestão participativa, divulgado durante o por educação ambiental e organização social,
lhada entre o Estado, a sociedade civil e o setor evento. (Ana Paula Caldeira Souto Maior, e ainda turismo e visitação educativa. (Thiago
privado. A Funai, articuladora do Território Rio ISA, 09/07/2009) Mota Cardoso, IPÊ, 25/08/2008)
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
26 Anaro Wapixana 77/CIR:2010 Homologada (suspensa parcialmente por liminar da Justiça). 30.473 Amajari RR
MS 28.574 de 19/01/2010 publicado em 19/01/2010.
19 Anta Makuxi 142/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 3.173 Alto Alegre RR
Wapixana Decreto 376 de 24/12/1991 publicado em 26/12/1991. Reg. CRI do
município e comarca de Boa Vista (3.174 ha) Matr. 12.483 Liv. 2
RG fl. 01 em 24/03/92. Reg. SPU Certidão n° 3 em 20/11/95.
27 Araçá Makuxi 1.512/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 50.018 Amajari RR
Wapixana Decreto 86.934 de 17/02/1982 publicado em 18/02/1982. Reg. CRI
no município e comarca de Boa Vista (50.018 ha) Matr. 9341 Liv.
2-RG fl. 1 em 22/11/88. Reg. SPU Certidão n° 13 em 28/11/95.
21 Barata/Livramento Makuxi 707/CIR:2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 12.883 Alto Alegre RR
Wapixana Decreto s/n de 10/12/2001 publicado em 11/12/2001. Reg. CRI
no município Alto Alegre, comarca de Boa Vista (12.883 ha) Matr.
23.734 Liv. 2-RG fl. 1 em 21/03/2002. Reg. SPU Certidão n° 11
de 03/06/2002.
4 Bom Jesus Makuxi 48/CIR:2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 859 Bonfim RR
Wapixana Decreto 257 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI do
município e comarca de Boa Vista (859 ha) Matr. 9.176 Liv. 2RG fl.
1V em 23/8/88. Reg. SPU Certidão n° 11 em 02/12/96.
28 Cajueiro Makuxi 130/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 4.304 Amajari RR
Decreto 86.932 de 17/02/1982 publicado em 18/02/1982. Reg. CRI
no município e comarca de Boa Vista (4.304 ha) Matr. 9.345 Liv. 2/
RG fl. 1 em 22/11/88. Reg. SPU Certidão n° 20 em 04/12/95.
5 Jaboti Makuxi 312/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 14.210 Bonfim RR
Wapixana Decreto s/n de 15/02/1996 publicado em 16/02/1996. Reg. CRI
no município de Bonfim e comarca de Boa Vista (14.210 ha) Matr.
23.993 Liv. 2-RG fl. 1 em 25/06/2002. Reg. SPU Certidão n° 19
em 19/09/2002.
9 Jacamim Wapixana 1.353/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 193.493 Bonfim RR
Decreto s/n de 11/10/2005 publicado em 13/10/2005. Reg. CRI Caracaraí RR
no município de Bonfim e comarca de Boa Vista (94.341 ha) Matr.
26.237 Liv. 2-RG fl. 1 em 22/09/2003. Reg. CRI no município e
comarca de Caracaraí (99.151 ha) Matr. 2.776 Liv. 2-J fl. 168 em
05/09/2003. Reg. SPU Certidão n° 03 em 06/10/2006.
11 Malacacheta Wapixana 927/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 28.631 Cantá RR
Decreto s/n de 05/01/1996 publicado em 08/01/1996. Reg. CRI
no município de Bonfim, comarca de Boa Vista (28.831 ha) Matr.
17.305 Liv. 2/RG fl. 1/2 em 19/01/98. Reg. SPU Certidão n° 9 em
14/05/99.
16 Mangueira Makuxi 104/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 4.063 Alto Alegre RR
Wapixana Decreto 86.923 de 16/02/1982 publicado em 17/02/1982. Reg.
CRI no município de Alto Alegre, comarca de Boa Vista (4.063 ha)
Matr. 9.339, Liv. 2-RG fl. 1 em 22/11/88. Reg. SPU Certidão n°
19 de 01/12/95.
6 Manoá/Pium Makuxi 1.942/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 43.337 Bonfim RR
Wapixana Decreto 86.924 de 16/02/1982 publicado em 17/02/1982. Reg.
CRI no município de Bonfim, comarca de Boa Vista (43.336 ha)
Matr. 9336 Liv. 2RG fl. 1v/2v em 22/11/88. Reg. SPU Certidão n°
14 em 29/11/95.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA SERRA E LAVRADO 249
RORAIMA SERRA E LAVRADO
Terras Indígenas (continuação)
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
24 Ouro Makuxi 221/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 13.573 Amajari RR
Decreto 86.931 de 17/02/1982 publicado em 18/02/1982. Reg. CRI
no município e comarca de Boa Vista (13.572 ha) Matr. 9.338 Liv.
2-RG fl. 1 em 22/11/88. Reg. SPU RR-43 Liv. 382 em 29/07/88.
20 Pium Makuxi 320/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 4.607 Alto Alegre RR
Wapixana Decreto 271 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no
município e comarca de Boa Vista (4.607 ha) Matr. 12.335 Liv. 2RG
fl. 1 em 02/01/92. Reg. SPU Certidão n° 09 de 24/11/95.
25 Ponta da Serra Makuxi 235/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 15.597 Amajari RR
Wapixana Decreto 86.935 de 17/02/1982 publicado em 18/02/1982. Reg. CRI
no município e comarca de Boa Vista (15.597 ha) Matr. 9.337 Liv.
2-RG fl.1 em 22/11/88. Reg. SPU Certidão n° 17 de 30/11/95.
14 Raimundão Makuxi 305/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 4.276 Alto Alegre RR
Wapixana Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no
município de Alto Alegre, comarca de Boa Vista (4.276 ha) Matr.
17.301 Liv. 2-RGfl. 1 em 19/01/98. Reg. SPU Certidão n° 3 de
29/05/98.
1 Santa Inês Makuxi 181/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 29.698 Amajari RR
Decreto 86.922 de 16/02/1982 publicado em 17/02/1982. Reg. CRI
no município e comarca de Boa Vista (29.698 ha) Matr. 9.345 Liv.
2-RGfl.1/2 em 22/11/88. Reg. SPU Certidão n° 016 de 30/11/95.
23 Serra da Moça Wapixana 490/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 11.626 Boa Vista RR
Decreto 258 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI
no município e comarca de Boa Vista (11.626 ha) Matr. 6.691 Liv.
2-ZRG fl. 192 em 10/01/86. Reg. SPU n° 012 em 06/12/96.
15 Sucuba Makuxi 238/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 5.983 Alto Alegre RR
Wapixana Decreto 86.921 de 16/02/1982 publicado em 17/02/1982. Reg.
CRI no município de Alto Alegre comarca de Boa Vista (5.983 ha)
Matr. 9.444 Liv. 2-RG fl. 1 em 22/11/88. Reg. SPU Certidão n° 14
em 04/09/2000.
12 Tabalascada Makuxi 527/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 13.014 Cantá RR
Wapixana Decreto s/n de 19/04/2005 publicado em 20/04/2005. Reg. CRI
no município de Cantá comarca de Boa Vista (13.014 ha) Matr.
28.589 Liv. 2-RG fl. 1 em 02/06/2005. Reg. SPU Certidão n° 01
em 25/05/2006.
22 Truaru Wapixana 360/CIR: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 5.653 Alto Alegre RR
Decreto 387 de 24/12/1991 publicado em 26/12/1991. Reg. CRI Boa Vista RR
no município e comarca de Boa Vista (5.562 ha) Matr. 12.482 Liv.
2-RG fl. 1 em 24/03/92. Reg. SPU Certidão n° 09 em 30/05/97.
250 RORAIMA SERRA E LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
RAPOSA SERRA DO SOL
A Demarcação no
Prato da Balança do STF
APóS UM LONGO PROCESSO DE MOBILIZAçãO, A Funai e o próprios indígenas já haviam indenizado as benfeito
LUTAS E CONFLITOS, A ALTA CORTE DE JUSTIçA DO rias da maior parte dos ocupantes não índios, tendo sido pagos
PAIS APROVOU A HOMOLOGAçãO DA DEMARCAçãO mais de 11 milhões de reais. Foram retirados os ocupantes de
MAIS POLêMICA DA AMAZôNIA BRASILEIRA, cerca de 300 fazendas e sítios, de três bases de garimpo ilegal
MAS A CONDICIONOU A “SALVAGUARDAS”, qUE (Mutum, Água Fria e Socó) e mais de mil garimpeiros. Meia
PODEM COMPROMETER O ExERCÍCIO DE DIREITOS dúzia de plantadores de arroz, que se instalaram no sul da TI e
FUNDAMENTAIS GARANTIDOS NA CONSTITUIçãO começaram a produzir arroz depois que a Funai identificou a TI
em 1993, se recusaram a sair. Eles tinham comprado as fazendas
Em abril de 2008, o Supremo Tribunal Federal ao suspender, de ocupantes que estavam saindo da TI, pago pouco por uma
em decisão unânime, a operação Upakaton da Polícia Federal, terra fora do mercado, começado a produzir sem arcar com custos
de retirada de ocupantes não índios da Terra Indígena Raposa ambientais e sociais e recebido do governo local isenção fiscal até
Serra do Sol, localizada no estado de Roraima, trouxe inquieta o ano de 2018. A lucratividade do negócio os levou a ampliar a
ções à respeito do processo de demarcação de TIs e dos direitos área de produção, destruindo matas de beira dos rios, extraindo
conquistados na Constituição de 1988 água para irrigação sem licença, soterrando lagos, poluindo rios
O presidente
visita a comunidade
Luiz InácioMaturucá,
Lula da Silva
na
RSS,
TIdo Dia durante
do Índioas
e do primeiro ano
comemorações
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA SERRA E LAVRADO 251
e igarapés com agrotóxicos e impedindo acesso e utilização aos que o total da população indígena, metade da população rural
índios da área mais piscosa da terra indígena. do Estado, tem na prestação de serviços ambientais, como a
manutenção da qualidade da água e a não emissão de carbono.
O STF havia, antes da decisão de suspender a Operação Upakaton,
A TI RSS e a TI Yanomami juntas abrigam as cabeceiras dos
negado aos arrozeiros a possibilidade de continuar ilegalmente
rios e igarapés que formam o rio Branco, na bacia amazônica, e
dentro da TI, reconhecendo que a retirada deles significava um
possuem mais de cinco milhões de hectares de florestas.
passo consequente à demarcação e que “O procedimento admi
nistrativo de demarcação das terras indígenas Raposa Serra O prato da balança recebeu ainda o peso do descontentamento de
do Sol não é mais do que o proceder conforme a natureza ju militares que não concordam com a demarcação de TIs extensas
rídica da Administração Pública, timbrada pelo auto-impulso em faixa de fronteira e do Ministro da Defesa, Nelson Jobim.
e pela auto-executoriedade”.2 Em 1996, Jobim havia determinado à Funai que excluísse da TI
algumas áreas ocupadas por não índios, estradas, a sede do mu
No entanto, o que parecia ser um entendimento favorável ao nicípio do Uiramutã instalada ilegalmente e as vilas de garimpo
reconhecimento do direito dos índios mudou completamente – o que na sua visão atenderia ao interesse público. Os Macuxi,
com a suspensão da retirada dos arrozeiros. A surpreendente Ingarikó, Wapichana, Patamona e Taurepang, organizados, não
decisão favoreceu aqueles que desafiaram o cumprimento do permitiram à Funai fazer os recortes desejados. Jobim assim,
decreto presidencial de homologação da demarcação, incen enquanto Ministro da Defesa, persistiu na ideia dos recortes. O
diando pontes, detonando bombas caseiras, invadindo prédios decreto de homologação de 2005, no entanto, já havia retirado a
públicos – e colocou em estado de alerta organizações indígenas sede do município e as estradas do usufruto exclusivo indígena
e seus aliados. e criado a figura da dupla afetação entre TI e UCA (unidade de
Pesou no outro lado do prato da balança o pedido feito pelo es conservação ambiental).
tado de Roraima pela continuação dos arrozeiros dentro da TI, A suspensão da operação da Polícia Federal aqueceu a campanha
sob a alegação de que eles contribuíam com 6% da economia do iniciada pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) e a mobilização
estado e que a demarcação da TI ameaçava a soberania nacional de organizações indígenas, indigenistas, socioambientais e de
e a existência do estado, que tem 46% do seu território ocupado outros setores da sociedade civil, como também atiçou a espe
por populações indígenas. rança dos setores mais conservadores do agronegócio, militares,
políticos e do governo do estado de Roraima.
O governo de Roraima preteriu a contribuição econômica de mais
de 19 mil indígenas, dentre eles professores, agentes de saúde,
criadores de animais de pequenos e grande porte, fornecedores O JulgamentO
de farinha e de produtos agrícolas. Tampouco considerou o papel Por quase um ano, o futuro da TI RSS e da demarcação das
TIs no país ficou novamente em voga
(a votação do capítulo dos índios na
Constituição em 1988 foi outro mo
mento significativo). O julgamento
pelo STF, que durou seis meses, para
decidir sobre o pedido de anulação da
demarcação foi o foco da mobilização.
Especiais em sites, como o do ISA, de
252 RORAIMA SERRA E LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
jornais de grande circulação e blogs foram criados, documen Gracie, Cezar Peluso). Foram exceção o Ministro Joaquim Barbosa
tando e disseminando as informações produzidas. que, coerentemente, votou pela improcedência total da ação e o
Ministro Marco Aurélio que pediu vista do processo suspendendo
Na primeira sessão do julgamento, em agosto de 2008, houve a
novamente o julgamento da ação.
defesa oral das comunidades indígenas, realizada pela primeira
vez no STF por uma advogada indígena, Joênia Batista de Carvalho Esta segunda parte do julgamento da ação popular que ques
– o diferencial que permitiu que não houvesse simplesmente o tionou a demarcação da TI foi uma vitória, pois reconheceu a
julgamento do procedimento administrativo de demarcação de constitucionalidade da demarcação. De acordo com o voto de oito
TIs, mas da afirmação de vários povos sobre a autodefinição de dos 11 ministros, o procedimento administrativo da demarcação
seus territórios. é válido, a TI corresponde à ocupação que os índios dela fazem,
a demarcação não compromete o exercício de defesa da sobera
O relator do caso, o Ministro Carlos Ayres Britto, fez a leitura do
nia nacional em faixa de fronteira nem impede a existência e o
seu voto pela improcedência da ação e foi brilhante ao lastrear
desenvolvimento do ente federado em que se localiza. Porém, a
a demarcação como um avanço do constitucionalismo fraterno,
criação de condições à demarcação apresentadas pelo Ministro
e ao sincronizá-lo com “a era constitucional reparatória de
Menezes de Direito e acatadas pela maioria dos demais ministros,
desvantagens historicamente acumuladas, a se viabilizar por
deixou dúvidas se elas se referem apenas à demarcação do caso
mecanismos oficiais de ações afirmativas”. O peso do lado da
em julgamento ou às futuras demarcações.
balança dos direitos indígenas aumentou fortemente, e foi neces
sária a intervenção do Ministro Gilmar Mendes, que bruscamente Na terceira e última sessão do julgamento que durou dois dias,
interrompeu a sessão enquanto o relator lia o seu voto, para que o Ministro Marco Aurélio, em leitura de voto que durou a maior
os opositores desses direitos tivessem tempo para se recuperar. parte do tempo, foi o único a votar pela procedência da ação que
O Ministro Menezes de Direito, agora falecido e então o primeiro pedia a anulação da demarcação. Os dois ministros que faltavam
em ordem a votar, ao retornar à sessão, pediu vista do processo votar (Gilmar Mendes e Celso de Mello) seguiram a maioria dos
e interrompeu o julgamento. ministros que votaram pela procedência parcial da ação.
Em dezembro, o Ministro Menezes de Direito apresentou seu voto Abalança manteve-se favorável aos direitos indígenas. No entanto,
em que julgou a ação parcialmente procedente, reconhecendo a fugindo ao objeto da ação e buscando orientar futuras demarca
legalidade da demarcação da TI, mas, numa inovação de técnica ções e o uso dos recursos naturais existentes em TIs, foram cria
jurídica, submetendo-a a 18 “condições”, acrescidas de mais das condições à demarcação. O relator, sabiamente, as chamou na
uma posteriormente. O Ministro Ayres Britto, em ágil habilidade ementa do julgamento de “salvaguardas”, para contextualizar a
de relator, manifestou-se no sentido
de que o voto do Ministro Menezes
de Direito estava contido no seu voto,
para contextualizar e transformar as
“condições” em “salvaguardas”.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA SERRA E LAVRADO 253
sua interpretação de acordo com a Constituição de 1988, em que vai assim tomando dimensão. O direito dos índios permaneceu
fundamenta o seu voto. Essas salvaguardas, quando não repetem intacto, mas foram criadas brechas que permitem que decisões,
o texto constitucional, podem permitir interpretações negativas mesmo liminares, produzam efeitos nefastos aos povos indígenas.
e causar danos aos direitos indígenas à posse permanente da A seguir, um resumo breve das principais salvaguardas:
terra, ao usufruto exclusivo dos recursos naturais, aos seus usos,
1. O relator do caso estabeleceu a data da promulgação da CF, 5
costumes, tradições e à sua organização social.
de outubro de 1988, como marco temporal para a aplicação do
De fato, de dezembro de 2009 a janeiro de 2010, o Ministro Gilmar direito à terra. A aplicação desse direito exige a prova da tradicio
Mendes, em decisões que precisam passar pelo plenário do STF, nalidade da ocupação: os povos indígenas têm que demonstrar a
suspendeu a demarcação de várias TIs, com base em interpreta ocupação efetiva das terras em 1988, ressalvado o direito daqueles
ção negativa das salvaguardas. A real extensão das salvaguardas povos que não estavam ocupando a terra em 1988 em razão de
254 RORAIMA SERRA E LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
expulsão por parte de terceiros. Ocorre que a fixação de um critérios constitucionais estabelecidos, é legalmente possível pedir
marco em 1988 abriu a possibilidade para a interpretação de que, a reparação desse erro. Atualmente existem na Funai cerca de
se há títulos dominiais concedidos antes de 1988 e os índios nela 90 pedidos de revisão de demarcação de TIs.3 Se assim não for, a
não se encontravam nesta data, as terras não seriam indígenas, vedação contraria o dispositivo constitucional que diz que a TI é
ignorando a obrigatória observância do motivo da ausência da inalienável, indisponível e os direito sobre elas imprescritíveis.
habitação permanente dos índios.
3. Usufruto indígena em Unidade de Conservação sobreposta
2. Vedação à ampliação de TI. É vedada a ampliação no caso à TI é de responsabilidade do ICMBio, com a participação das
em que a demarcação foi feita de acordo com os princípios comunidades indígenas, que deverão ser ouvidas, levando-se
constitucionais de 1988, como no caso em questão. Pois, se a em conta os usos, tradições e costumes indígenas, podendo
Administração errou ao demarcar e/ou não considerou os quatro para tanto contar com a consultoria da Funai. O ICMBio deve
considerar a participação indígena e a forma que os índios
usam a área de sobreposição, partindo da discussão sobre gestão
compartilhada iniciada em 2005, com o decreto de homologação,
para criar a gestão participativa da área sobreposta pelo órgão e
que nele vivem e dele cuidam. O ICMBio passa a ter que cumprir o
comunidades indígenas.
seu mister observando a legislação específica relativa aos direitos 4. O ingresso, o trânsito e a permanência de não índios não
indígenas, obrigatoriamente internalizando na gestão do Parna os
pode ser objeto de cobrança de quaisquer tarifas ou quantias de
usos, os costumes e as tradições indígenas.
qualquer natureza por parte das comunidades indígenas; nem
As “salvaguardas” do STF se inserem também num contexto de avan poderá incidir ou ser exigida em troca da utilização das estradas,
ço nos últimos anos sobre a necessidade de trabalhar em conjunto
com os povos indígenas a promoção da conservação da biodiversida equipamentos públicos, linhas de transmissão de energia ou de
de. Em 2010, num esforço interinstitucional liderado pelo MMA com quaisquer outros equipamentos e instalações colocadas a serviço
ampla participação indígena, foi elaborada a proposta de Política do público, tenham sido excluídos expressamente da homologa
Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas
ção, ou não. Essa restrição pode impedir os povos indígenas de
(PNGATI). Trata-se de uma política voltada à consolidação das TIs
como áreas protegidas, valorizando os conhecimentos tradicionais praticarem atividades de geração de renda como o turismo, além
dos Povos Indígenas e promovendo a etnogestão da biodiversidade. de ser discriminatória em relação aos demais brasileiros que
A PNGATI reconhece a possibilidade de compatibilizar os casos de podem ser indenizados por danos causados aos seus direitos.
dupla afetação de TIs e UCs, prevendo a elaboração e implementação
conjunta, entre comunidades indígenas e órgãos ambientais e indi 5. As Forças Armadas podem intervir em território indígena sem
genistas, de planos de administração dessas áreas sobrepostas. consulta à Funai e às comunidades indígenas, inclusive para a
Outro fator importante no cenário é a criação pelo Ministerio de realização de obras consideradas de interesse estratégico. Apartir
Desenvolvimento Agrario (MDA) do Território da Cidadania da TI de 2002, foram editadas várias normas que visam regulamentar
RSS e São Marcos, o que levou à elaboração do Plano de Etnodesen a atuação das Forças Armadas em TIs, harmonizando a obrigação
volvimento do Território Indígena (PEI, 2011). Frente ao surgimento
de defender a pátria com os direitos indígenas, principalmente
dessas mudanças que ocorreram após a elaboração do Plano Pata
Eseru, é necessário haver a sua atualização de maneira a integrar em área de fronteira. Em julho de 2008, no auge da pressão sobre
o seu conteúdo com as demais políticas públicas do governo federal a demarcação da TI RSS foi expedido decreto4 que cria para o
voltadas à sustentabilidade e à gestão das terras indígenas. Exército a obrigação de instalar unidades militares permanentes
O resultado da decisão do STF sobre a TI RSS, ao colocar o ICMBio em terras indígenas, além das já existentes, conforme plano de
como responsável pela gestão do parque, não inviabiliza o Plano trabalho a ser entregue diretamente pelo Ministério da Defesa
Pata Eseru, mas cria a necessidade de adequação do Plano, que deve à Presidência da República. Esse decreto retira a obrigação do
ser realizada em conjunto com os povos indígenas e suas organi Exército, existente no anterior, de submeter plano de trabalho
zações. A validade da dupla afetação não significa a sobreposição
dos interesses de conservação ambiental sobre os direitos indígenas, ao Conselho de Segurança Nacional, que é formado por vários
mas o caminho para que os órgãos federais promovam a proteção órgãos do governo, suprimindo, além da participação democrá
da biodiversidade ao mesmo tempo em que respeitam os povos que tica, a possibilidade de a Funai ouvir as comunidades indígenas
detêm direitos originais sobre a terra, a sua organização social e e de se manifestar sobre eventuais impactos. A exclusão de
o uso exclusivo dos seus recursos naturais. (Ana Paula Souto Maior,
abril, 2011) consulta às comunidades indígenas representa um retrocesso
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA SERRA E LAVRADO 255
e contraria a Convenção 169 da OIT, que estabelece consulta nOtas
às comunidades indígenas em caso de medidas legislativas ou 1A Funai começou a identificação em 1977. Em 1993 houve a delimitação da
área, o Ministro da Justiça declarou a terra de posse permanente indígena em
administrativas que as afetarão. Aconsulta estabelece um diálogo 1998 e a Funai fez a demarcação física. Houve a homologação da demarcação
entre as comunidades indígenas e o órgão executor das medidas. em 2005 e em 2006 a TI foi registrada no CRI correspondente e na Secretaria de
A arbitrariedade e unilaterização na tomada de decisões podem Patrimônio da União (SPU), como bem da União destinado à posse permanente
dos povos indígenas que nela habitam.
levar a acirramentos desnecessários.
2 MS 25483 / DF – Relator Min. CARLOS BRITTO Julgamento: 04/06/2007
Ainterpretação e aplicação das 19 salvaguardas devem considerar, 3 Programa Monitoramento de Áreas Protegidas/Instituto Socioambien
além de todo o conteúdo do acórdão do caso, a sólida legislação tal/2010.
brasileira indigenista e os tratados internacionais a que o país 4Decreto 6.513, de 23/07/08, altera o Decreto 4.412, de 07/10/02, que dispõe
se comprometeu, sob pena de violar direitos indígenas e fazer sobre a atuação das Forças Armadas e da Polícia Federal nas TIs.
perdurar a insegurança jurídica, desregulando a balança do STF.
(abril, 2011)
Índios da TI RSS, na praça dos Três Poderes, em frente ao STF, aguardam para assistir ao julgamento da demarcação.
256 RORAIMA SERRA E LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
GADO NA RAPOSA SERRA DO SOL
“PASSA PIMeNTA NOS OLhOS!” CONTAM AINDA vivência acumulada pela população indígena com os rebanhos
HOJE OS MAIS IDOSOS HABITANTES DO LAVRADO que proliferaram na região. Com efeito, desde a decadência do
E DAS SERRAS DE RORAIMA SOBRE COMO ERAM extrativismo da borracha ao final do século XIX e início do século
INSTRUÍDOS PELOS ANTIGOS A LIDAR COM O GADO XX – quando começaram a se instalar na região os migrantes e a
BOVINO qUE HAVIA SIDO INTRODUZIDO NA REGIãO se apossar de cabeças de gado que vagavam pelos campos natu
PELOS COLONIZADORES PORTUGUESES AO FINAL DO rais do rio Branco –, instituiu-se o costume de tomar nas aldeias
SéCULO xVIII. TENDO SE ESPALHADO E PROLIFERADO crianças índias para serem criadas junto às famílias adventícias
SOLTO PELOS CAMPOS NATURAIS DESDE ENTãO,
O GADO PASSAVA A SER ARREBANHADO PELOS
MIGRANTES NORDESTINOS qUE COMEçARAM A
AFLUIR NO SéCULO SEGUINTE. CONTAM AINDA HOJE
OS ÍNDIOS qUE OUVIRAM DE SEUS ANCESTRAIS, qUE,
AO SE DEPARAREM COM OS ENORMES ANIMAIS, NeM
gOSTAvAM De OLhAR O gADO! PRá OLhAR, eLeS
TINhAM que PASSAR PIMeNTA NOS OLhOS DeLeS
PRA PODeR OLhAR AqueLe bIChO
De PReDaDORes a PResas
Passar, esfregar pimenta nos olhos é o mesmo procedimento
instado pelos xamãs –piasán Makuxi – para se olhar o inaudito,
sejam as frutas exóticas, manga, laranja, os bovinos trazidos pelos
colonizadores, ou os vultos dos mauari, os seres que vivem nas
encostas das serras e que podem adquirir qualquer forma e
encantar os humanos. Os piasán dizem aos que saem da aldeia:
“Esfrega pimenta nos olhos para não cair doente”; para não se
deixar encantar, fascinar, com a eventual aparição de figuras de
grandes animais com as quais costumam se revestir os mauari
para atrair e roubar as almas – stekaton – dos humanos.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA SERRA E LAVRADO 257
e, assim, ensinar-lhes as lides próprias da pecuária. Tornou-se l’indio”, e, com os recursos assim obtidos, investir na aquisição
muito frequente, nas trajetórias de vida dos índios mais idosos de rebanhos bovinos, que então passaram a ser cedidos, com
na região, o convívio prolongado por anos junto às famílias dos a mediação dos tuxauas, em sistema de rodízio por cinco anos
pecuaristas, durante o qual realizavam as tarefas rotineiras nos a cada uma das comunidades indígenas. Além do suprimento
criatórios de gado. Tornou-se muito frequente também a pres alimentar alternativo aos índios num momento de ruptura das
tação de serviços dos índios habitantes nas aldeias – de plantio, relações clientelistas, o objetivo expresso do projeto era promover
corte de madeira etc. – aos pecuaristas que vieram estabelecer-se a ocupação dos campos naturais com a mesma visibilidade dos
nas imediações, apossando-se das fontes de água e extensões fazendeiros, tornando, assim, os próprios índios pecuaristas.
das pastagens nativas para a expansão de criatórios privados. A
No entanto, se, por um lado, o projeto supostamente dotava
pecuária extensiva praticada desse modo, com o envolvimento
de legitimidade a ocupação indígena na região de campos
da população indígena, expandiu-se consideravelmente por dé
naturais perante a sociedade regional e nacional, nas quais era
cadas – durante as quais os índios habituaram-se não apenas
considerada “naturalmente vocacionada à pecuária”, por outro
com as tarefas e serviços afetos ao gado, mas também com os
lado, suscitava questionamentos e perplexidade entre os grupos
instrumentos, apetrechos, linguagens e formas de socialidade
locais quanto ao engendramento de relações hierarquizadas
dos migrantes adventícios –, até culminar, ao final do século
com a injunção de categorias como “vaqueiro” e “capataz”, tão
passado, em conflitos endêmicos em torno da disputa pela terra,
estranhas a povos eminentemente agricultores, caçadores, pes
opondo índios e fazendeiros.
cadores e coletores. Suscitava questionamentos e perplexidade
No contexto das lutas pelo reconhecimento dos direitos territoriais também devido ao previsível agravamento da invasão das roças
indígenas, um fator da maior relevância para a mobilização das li pelo gado e a decorrente necessidade de construção de cercas,
deranças locais, e mesmo da população das aldeias e estruturação seccionando o espaço.
das entidades que vieram a reivindicar a representação da popu Com efeito, não foram poucos os impasses surgidos nas aldeias
lação indígena, consistiu, certamente, no manejo, na posse e na com o inconformismo pelo afastamento do convívio corriqueiro
propriedade do rebanho bovino. Retomando as origens comuns
com os parentes mais próximos àqueles a quem se atribuiria a
da concepção de uma ocupação territorial com limites fixos, “de incumbência de pastorear o gado, e, portanto, se lhe imporia o
rio a rio”, e das denúncias de violências praticadas contra os seus isolamento para vagar diuturnamente pelos campos; como tam
habitantes pelos fazendeiros e garimpeiros que vieram se apos bém não foram poucas as reuniões da população das aldeias e das
sando das terras por eles ocupadas tradicionalmente, ocorreu respectivas lideranças para debater a escassez da caça e, mesmo,
também nos anos 1970, em meio aos debates entre lideranças a desaparição de grandes mamíferos com a expansão que se
locais indígenas reunidas nas assembleias anuais de tuxauas, o promovia da pecuária numa escala sem precedentes. Chegou-se a
aguçamento da consciência do teor clientelístico das relações esta recorrer até mesmo à metáfora de “semente” para designar o lote
belecidas com os posseiros adventícios, e, portanto, da necessidade de gado cedido às aldeias e incutir em seus habitantes a ideia de
de sua reversão. Nesse contexto, em que se fazia imprescindível que ele não deveria ser caçado, nem simplesmente comido, mas
romper as relações de prestação de serviços em troca de artigos antes pastoreado e cuidado. E mais: a despeito das adversidades
industrializados que engendravam o endividamento e a submis e dos tantos outros problemas surgidos na sua implantação, o
são da população indígena aos desígnios dos posseiros, foram-se projeto foi seguido pela Funai nos anos subsequentes e ampla
tecendo os contornos de um projeto para viabilizar a aquisição de mente difundido entre as comunidades indígenas em diversas
gado para os índios de modo a tornar mais visível e legítima, aos regiões, inclusive nas florestas.
olhos da sociedade nacional e regional, a sua ocupação nas áreas
do Lavrado e das serras vis-à-vis aos fazendeiros.
a RaPOsa e as VaCas
Em abril de 2010, o Conselho Indígena de Roraima promoveu
CamPanHa: uma VaCa PaRa O ÍnDIO
uma festa na aldeia Maturuca em comemoração à ratificação dos
Nesse sentido, uma iniciativa decisiva adotada à época pela Dio procedimentos administrativos adotados para a regularização
cese de Roraima foi implementar o chamado “projeto do gado”, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol pelo Supremo Tribunal
que consistiu basicamente em angariar fundos nas regiões de Federal e convidou os seus habitantes e a todos os que de algum
origem da Ordem da Consolata, sob o apelo “Una muca per modo participaram de tais procedimentos, que se arrastaram por
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mais de três décadas, a compartilhar do churrasco feito com o TIs regularizadas, cabe agora interrogar as relações e práticas
abate de centenas de reses. nefandas que se procurou extirpar com a retirada dos invasores.
O que é feito da degradação ambiental, social, sanitária... causada
A celebração adquiriu, naquela ocasião, com a presença do Presi pelo garimpo? Da exploração exacerbada do trabalho por meio
dente da República, múltiplos significados, dentre eles, de modo
do endividamento compulsório ocorrido com a expansão da
mais evidente por dois feitos, quanto aos propósitos e à forma da
pecuária? E da violência e devastação perpetradas pelo avanço
celebração: a conclusão de uma etapa na luta pelo reconhecimento
da monocultura?
dos direitos territoriais com a sentença expedida pelo STF ratifi
cando os limites demarcados da terra indígena, e, feito conexo, Não seria este o momento pertinente para retomar tantas ques
expresso com o próprio megachurrasco, que bem emblematizava a tões negligenciadas no calor dos embates políticos passados,
propriedade dos índios do maior rebanho bovino em Roraima. como, por exemplo, a questão das fontes de água assoreadas pelo
gado, que já se pensou em preservar selecionando e instalando
De fato, a história de ambos os feitos se confunde. São ambos
bebedouros apropriados? Das matas e buritizais definhantes, que
indissociáveis. Não se poderia entender um separado do outro.
se cogitou revitalizar interditando a extração de madeira e palha
Mas eis que a oportunidade em que se celebra o marco de con pelos regionais? Do escasseamento dos animais de caça, que se
clusão de uma etapa na luta pelo reconhecimento dos direitos propôs reverter com a criação de áreas de refúgio?
territoriais indígenas, até mesmo pela própria forma que se
conferiu à celebração, não é menos propícia para a reflexão e Por certo, não seria razoável pretender agora cobrar dos índios
para o questionamento das relações sociais e práticas econômicas todo o passivo ambiental causado pela exploração colonizadora,
que se estabeleceram ao longo das últimas décadas em nome da a começar da extinção dos quelônios que povoavam as areias
bandeira de luta maior, pois que sobre ela inflectiram – como é do rio Branco no século XVIII, nem muito menos pretender
o caso do chamado “projeto do gado”. pressionar os índios a apresentar aquele ganho, aparentemente
fantástico, dos que propalavam a “vocação natural” da região
No presente momento, superado seu principal objetivo, o de para o garimpo, para a pecuária, ou a rizicultura e acabaram
propiciar o reconhecimento da ocupação territorial indígena
promovendo a sua devastação. Nem mesmo, após trinta anos de
no Lavrado e nas serras – ou ao menos em parte, com a re
lutas pelo reconhecimento de direitos históricos, insistir ainda
gularização da TI Raposa Serra do Sol –, importa atentar para
em mostrar com o gado a ocupação exercida pelos índios: o atual
as suas consequências em diversos planos: o projeto do gado,
ordenamento jurídico do país dispensa qualquer apelo à mutação
até mesmo pelo êxito, talvez tenha acarretado consequências
em vaqueiros ou produtores rurais, dos procedimentos requeri
das mais relevantes, porém, ao seguir ideia análoga à de tantos
dos para o reconhecimento oficial de direitos territoriais.
outros, enseja questões semelhantes. Houve tempo em que se
propagava que, por sua riqueza mineral, “a vocação natural” Cabe agora invocar o preceito xamânico de esfregar pimenta nos
da região seria a exploração garimpeira de ouro e diamante; olhos e não se deixar levar, nem muito menos pretender incitar
assim como houve ocasião em que se alardeava que, devido a os índios aos encantos simulados com o brilho dos cristais
pastagens naturais, a região estaria fadada à pecuária extensiva nas encostas das serras, com a silhueta dos grandes animais
de corte; e, mais recentemente, houve mesmo oportunidade para multiplicados indefinidamente nos campos naturais, nem com
que se atrevesse a sentenciar que, em razão da composição dos os pequenos grãos infestando as imensas planícies sulcadas
solos e do relevo, a região estaria “naturalmente” vocacionada à com máquinas agrícolas: basta reconhecer aos índios sua alma
monocultura do arroz. Mas, lembremos, tudo isso para justificar própria, sem pretender roubá-la para metê-la nos descaminhos
sua invasão por posseiros! Uma vez superada tal questão, ou, ao de um aparente/prometido progresso que já revelou seu poder
menos com o desintrusamento dos posseiros nos limites das de devastação. (maio, 2011)
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WAPIxANA E MAKUxI
A MAIORIA DAS TIS DE RR FAZ PARTE DE UM Algumas TIs, como Ouro, Ponta da Serra, Sucuba eJaboti, foram
CONJUNTO DE TERRAS PEqUENAS E DEMARCADAS demarcadas em áreas com grande predomínio das formações de
NA FORMA DE “ILHAS” ESPALHADAS PELOS CAMPOS Savana e com acesso limitado às formações florestais usadas na
NATURAIS DO LAVRADO. DAS 32 TIS, 28 ESTãO NO prática da agricultura tradicional e na obtenção de fibras, frutas,
LAVRADO. AS 20 MENORES, JUNTAS, REPRESENTAM caça, madeira e outros recursos. A percepção de que esses recur
MENOS DE 1% DA ÁREA HOMOLOGADA COMO TI NO sos estão se tornando menos disponíveis, ou de que isso pode
ESTADO. AS DEZ MENORES NãO ULTRAPASSAM CINCO ocorrer no futuro próximo, é ainda mais intensa nessas terras
MILHAS E SãO, EM MUITOS CASOS, MENORES qUE AS indígenas menores e tem motivado a busca de alternativas para
FAZENDAS LOCALIZADAS NO SEU ENTORNO o manejo e gestão desses recursos.
A consequência da redução da disponibilidade das áreas de
Pequenas, isoladas e rodeadas de fazendas, essas terras indíge mata para a sustentabilidade do sistema de produção indígena
nas (TIs) estão mais sujeitas à ação de invasores e às pressões foi recentemente analisada em diagnósticos oficiais e trabalhos
do entorno. Além disso, a redução das áreas utilizadas para acadêmicos, e cada vez mais a questão é tema de debates nas
obtenção dos recursos naturais, aliada ao crescimento popula assembleias e seminários indígenas visando alternativas capazes
cional e ao aumento do consumo de produtos industrializados, de reduzir a pressão do desmatamento para ampliação das roças e
contribuiu para criar um cenário de dependência por recursos suprir as comunidades com as espécies madeireiras mais usadas,
externos que vem sendo parcialmente suprido com a renda de como o “pau-rainha” (Centrolobium paraense).
empregos públicos e programas sociais, com a comercialização Outra consequência do modelo de demarcação em ilhas utilizado
de produtos agrícolas e também com o trabalho nas fazendas. em Roraima nas décadas de 1980 e 1990 foi a interrupção do
Esse cenário favorece também a continuidade das velhas práticas acesso aos principais rios do Lavrado, historicamente conhecidos
assistencialistas da classe política local, intensificadas no período pela abundância de peixes, como ocorreu nas TIs Serra da Moça,
eleitoral. Boqueirão, Mangueira, Ananás, e muitas outras, que ficaram
com acesso apenas aos rios secundários. Em alguns casos, esses
aCessO aOs ReCuRsOs natuRaIs pequenos rios ficam com a vazão bastante reduzida no período
seco (dezembro a março), sobretudo nos anos com chuva abaixo
O Lavrado é um mosaico de áreas abertas e formações florestais,
da média, quando a escassez de água se torna uma ameaça à
onde várias fisionomias de Savana são entrecortadas por ‘ilhas’
agricultura e à pecuária.
de mata, veredas de buritizais e florestas associadas a rios e
serras. Entretanto, como o processo de demarcação não foi capaz A falta de acesso aos rios motiva alguns dos 19 pedidos de am
de representar essa diversidade de ambientes, as pequenas TIs pliação para as TIs do Lavrado e também está relacionada à luta
ficaram desprovidas do conjunto de áreas necessárias à obtenção da comunidade Lago da Praia pela demarcação de uma área
dos recursos naturais tradicionalmente utilizados, sobretudo com situada entre o rio Uraricoera e a TI Serra da Moça, que teve seu
reduzidas áreas de mata. limite leste artificialmente demarcado a 3 km da margem desse
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rio. A área encontra-se hoje dentro do Projeto de Assentamento os casos de invasão do gado das fazendas nas roças e plantios
Truaru, do Incra, onde foram recentemente assentados agricul de fruteiras dos indígenas, problema que em menor intensidade
tores retirados da TI Raposa Serra do Sol (RSS), acirrando ainda continua acontecendo nas áreas que permanecem invadidas,
mais os conflitos que resultaram em prisões, atos de violência e como a TI Anaro, e mesmo em áreas já desintrusadas, envolvendo
na expulsão da comunidade, obrigada a se refugiar na TI Serra o gado das fazendas vizinhas. Como o gado é criado em regime
da Moça. A criação da TI Lago da Praia figura entre as reivindi extensivo e está distribuído por toda a região, a cerca de arame
cações da 40ªAssembleia Geral dos Povos Indígenas de Roraima, farpado se tornou uma ferramenta de proteção territorial cada
encaminhadas à presidente Dilma em março de 2011. vez mais presente nas comunidades.
A prática da piscicultura nas fazendas do entorno também é
FaZenDas, COnFlItOs e PRessÕes apontada como outro fator de impacto que ganhou importância
Introduzido pelo colonizador no fim do século XVIII, o gado bovi nos últimos anos, uma vez que a aquicultura em Roraima teve
no se adaptou aos campos naturais do Lavrado, o que contribuiu seu crescimento concentrado na região do Lavrado. O manejo e
para o estabelecimento de fazendas por toda a região. Nesse pro o transbordamento dos tanques nos cursos d‘água localizados
cesso de ocupação, os índios foram gradativamente expulsos pelos a montante das terras indígenas, como na TI Raimundão, são
fazendeiros ou incorporados como mão de obra, submetidos ao apontados como o motivo de periódicas alterações na qualidade
aviamento e a condições de trabalho análogas às da escravidão. da água.
A relação conflituosa entre índios e fazendeiros não foi resolvida A ação de invasores que realizam extração ilegal de madeira re
após a homologação das terras, persistindo até hoje os atos de presenta uma importante pressão nas terras indígenas pequenas.
violência e as diversas formas de pressão exercidas por invasores Entretanto, as comunidades que ainda possuem abundância de
e fazendeiros que habitam as áreas do entorno. recursos madeireiros, sobretudo de pau-rainha, precisam não
apenas controlar a exploração ilegal, mas também administrar
Entretanto, o boi se tornou também um personagem impor
as demandas internas e as contínuas solicitações de madeira
tante no processo de reconquista das terras tradicionalmente
feitas por comunidades onde esse recurso se tornou escasso ou
ocupadas pelos povos indígenas do Lavrado, com a implantação
nunca esteve amplamente disponível. A doação de madeira entre
do projeto de criação de gado comunitário nas TIs, apoiado pela
as TIs, viabilizada por meio de acordos entre as lideranças e co-
Diocese de Roraima a partir de 1979, e posteriormente pela
munidades, tem sido a solução adotada para resolver em curto
Funai e pelo governo estadual. A despeito das ações violentas de prazo o problema da falta de matéria prima para a construção de
fazendeiros que tentaram impedir a entrada do gado indígena
casas. Entretanto, a dificuldade em formalizar o transporte dessa
e das dificuldades técnicas até hoje vivenciadas pelo projeto, o
madeira de acordo com as normas da legislação já resultou em
êxito em reduzir a dependência dos fazendeiros, gerar renda e
autuações realizadas pelos órgãos ambientais.
fornecer alimento foi determinante para aumentar a autonomia
das comunidades e ampliar a criação do gado bovino para todas A introdução de cultivos empresariais da árvore exótica Acacia
as TIs do Lavrado. mangium representa a mais nova forma de pressão no entorno
de várias TIs, dentre elas Moskow, Tabalascada, Canauanim,
O bloqueio de estradas e pontes, como no caso da TI Ananás,
Malacacheta, Muriru, Serra da Moça, Boqueirão e Barata-Livra
sua destruição, como no caso recente da TI RSS, ou o simples
mento. Aintrodução de monocultivos dessa espécie nos campos
fechamento das porteiras ao longo das estradas, como ocorria na
naturais teve inicio em 1997, e hoje os plantios de acácia ocupam
TI Muriru, são formas recorrentes de violência empregadas contra
aproximadamente 30 mil ha. Um dos problemas citados pelas
os povos indígenas do Lavrado. Durante o processo de reconhe
lideranças na região da Serra da Lua é a dispersão das acácias
cimento das terras, esses casos eram ainda mais frequentes e
para dentro das terras indígenas. Apercepção do fato pelas comu
resultaram em diversos prejuízos para as comunidades, incluindo
nidades demanda uma ação do Estado, uma vez que essa espécie
mortes que foram atribuídas à demora no atendimento médico
exótica apresenta comportamento invasor em outras regiões do
em casos de emergência.
mundo, e teve sua dispersão natural no Lavrado recentemente
A retirada dos fazendeiros e outros invasores das terras homo comprovada. Outro problema é o aumento do número dos aci
logadas foi um processo lento e problemático que até hoje não dentes com abelhas, que são atraídas pelos nectários extraflorais
foi inteiramente concluído. Durante esse período, foram comuns das acácias, mas também fazem suas casas nos buritizais usados
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA SERRA E LAVRADO 261
pelos indígenas. Entretanto, os potenciais impactos socioambien comunidades) advertiram as autoridades sobre a necessidade
tais associados aos cultivos de Acacia mangium e à presença de de ações coordenadas dos órgãos públicos para evitar que o fato
outras atividades no entorno das TIs não tem sido devidamente se repetisse nas eleições de 2010, o que realmente aconteceu.
investigados e fiscalizados pelo poder público. Raramente, entretanto, esses crimes são apurados ou se tornam
de conhecimento público. A divulgação pela imprensa nacional
A produção e a destinação do lixo é um problema que se agravou
de gravações telefônicas em que autoridades estaduais tentavam
com o maior acesso aos produtos industrializados dentro das
negociar o apoio do tuxaua da comunidade Boca da Mata, da
comunidades. Na falta de programas de coleta e reciclagem, esse
TI São Marcos representa apenas a parte visível de um grande
material tem sido enterrado, queimado ou depositado em lixões
volume de denúncias não apuradas, que vão desde a compra de
a céu aberto, como ocorre na comunidade de Três Corações, no
voto feita de porta em porta até a entrega de dinheiro por meio
município do Amajari. Entretanto, o problema do lixo tem sido
de helicópteros.
objeto de diversas ações educativas empreendidas pelas escolas
e também de trabalhos acadêmicos dos estudantes indígenas, A compra do voto se materializa na doação de itens como
que começam a discutir a viabilidade das práticas de reciclagem bicicleta, forno de farinha, motosserra, arame farpado, cesta
e as soluções possíveis para a destinação adequada do lixo gerado básica, combustível e material de construção, pela facilitação do
nas comunidades. acesso aos serviços públicos por meio do tráfico de influência
e, claro, pelo pagamento em dinheiro, que nas eleições de 2010
ausÊnCIa DO estaDO, assIstenCIalIsmO teria chegado a R$ 500 por eleitor. Um indicativo do grau de
e CRImes eleItORaIs corrupção eleitoral nesse pleito é o fato de mais da metade do
dinheiro apreendido durante as eleições em todo o Brasil ter
Embora a rede de serviços públicos tenha sido ampliada nos sido apreendido em Roraima, estado que abriga apenas 0,2%
últimos anos, esses serviços são em geral precários ou até mes da população nacional.
mo ausentes em muitas comunidades do Lavrado. A situação
da TI Ananás, com apenas 1,7 mil hectares, sem escola, posto ameaÇas e PeRsPeCtIVas
de saúde ou meios de comunicação, se configura um caso grave
de ausência do Estado, também relacionado à impunidade dos As condicionantes do STF no caso TI RSS, a despeito de suas
atos de violência cometidos por fazendeiros do entorno, situação interpretações jurídicas, serviram para fortalecer os grupos
já denunciada às autoridades brasileiras e organismos interna contrários aos pedidos de ampliação, que agora incorporam em
cionais. O permanente estado de desassistência e ameaça tem seu discurso o surgimento das condicionantes como uma vitória
contribuído para a migração de seus moradores e produzido da classe política local sobre o movimento indígena. O repasse
contínua redução na sua população: 49 habitantes em 2000, 38 das terras da União e a consequente titularização de posses nas
em 2006 e apenas 19 em 2010. áreas pretendidas para ampliação vão tornar o processo ainda
mais custoso politicamente, em um cenário que já é bastante
A insuficiência do Estado em prover adequadamente os ser
desfavorável às ampliações.
viços essenciais contribui para a manutenção de um ciclo de
dependência alimentado por ações assistencialistas de políticos Por outro lado, a titularização das posses aliada aos incentivos
e fazendeiros, tornando a correlação de forças ainda mais públicos para a expansão do agronegócio podem alterar o cenário
assimétrica em desfavor das comunidades. Dessa forma de as de pressões, substituindo a tradicional pecuária extensiva sobre o
sistencialismo derivam também as relações de compadrio ente capim nativo por complexos agroindustriais voltados à exportação
índios e fazendeiros, o que legitima o livre acesso destes para de grãos, isso se os incentivos públicos forem suficientes para
visitar os afilhados e fazer campanha eleitoral, e também facilita compensar o alto custo do transporte que incide sobre a compra
o aliciamento dos moradores para colaborar com a exploração de insumos e a venda da produção.
ilegal de madeira e a ação de invasores que realizam caça e pesca
A introdução dos grandes plantios de cana-de-açúcar para a pro
no interior das TIs.
dução de etanol, empreendimento que tem oito TIs em sua área
A prática de crimes eleitorais nas TIs tem sido continuamente de influência direta, está sendo questionada judicialmente desde
denunciada ao poder público. Durante a 39ª Assembleia Geral 2008 pelo MPF e Ibama. Entretanto, o governo do estado segue
dos Povos Indígenas de Roraima, os tuxauas (líderes políticos das com o licenciamento ambiental e, em novembro de 2010, passou
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a analisar a concessão da licença de instalação, aparentemente mas ainda de modo restrito ou experimental. A capacitação
baseando-se em uma interpretação muito particular do decreto técnica dos estudantes por intermédio do Centro de Formação e
presidencial de 2009 que proíbe a expansão da cana-de-açúcar Cultura Indígena RSS, do Centro Amazônico de Formação Indí
no bioma Amazônia. gena (Cafi/Coiab) e do Instituto Insikiran de Formação Superior
O enfrentamento dos problemas vivenciados atualmente pelos Indígena/UFRR pode se tornar um elemento importante para o
habitantes das pequenas terras indígenas do Lavrado dependerá, sucesso dessas iniciativas, uma vez que favorece a autonomia das
em parte, do fortalecimento das ações do poder público nos comunidades na sua elaboração e execução.
setores onde sua presença é insuficiente, mas principalmente O sucesso na implementação desses planos, entretanto, depende
da capacidade das organizações e comunidades para executar da continuidade dos debates e dos programas de formação e
os diversos planos de gestão e etnodesenvolvimento elaborados capacitação, necessários para que as comunidades identifiquem
dentro do movimento indígena. essas iniciativas como uma demanda comunitária, dissociada
Aimplantação de viveiros agroflorestais nas comunidades Araçá, dos pacotes tecnológicos que normalmente são introduzidos
Mutamba e Malacacheta, que está sendo realizada com apoio de por agentes externos. Outro fator indispensável ao êxito dessas
organizações parceiras, bem como a implantação de sistemas iniciativas será a capacidade do movimento indígena de manter
agroflorestais, o zoneamento das áreas de uso e conservação, o sua unidade política e de fortalecer sua estrutura administrativa
plantio de árvores nativas como buriti e pau-rainha, o controle para acessar e administrar programas de financiamento que
do uso do fogo e a adoção de novas práticas de manejo dos solos ainda continuam burocratizados e complexos na sua gestão.
e das roças são algumas das iniciativas que começam a surgir, (abril, 2011)
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA SERRA E LAVRADO 263
GUIANA
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estão geograficamente relativamente “isoladas” dos centros “NóS DEVEMOS ESTAR PREPARADOS PARA
políticos estatais de poder. Rupununi durante muito tempo FAzER NOSSAS PRóPRIAS DECISõES”
permaneceu inacessível até a construção da única estrada
Muitos tuxauas e councilors9 mostram que estão
de terra que liga Lethem (cidade de fronteira com a cidade comprometidos e que são capazes de gerir autonomamente
de Bonfim no Brasil) à capital guianense, Georgetown, em os assuntos e recursos de suas comunidades. Há diversos
1989/1990. órgãos políticos onde discutem e negociam problemas atuais no
Mas há algumas diferenças. Em Rupununi os povos não foram nível de comunidade (o conselho da maloca), regional, e no nível
sujeitados pelos projetos da infraestrutura e da agricultura nacional (o Conselho Nacional de Tuxauas). Organização makuxi
de grande escala alimentados por uma agressiva ‘ideologia nacionalmente reconhecida, a North Rupununi District Deve
desenvolvimentista’, como ocorre em Roraima. Um ponto a ser lopment Board (NRDDB), tem voz expressiva e é o catalisador
considerado é o fato de a Guiana ser, comparativamente ao principal das decisões representativas de suas 16 comunidades
Brasil, enquanto país, mais pobre e escassamente povoado. membro. Muitos argumentam que se todos os líderes indígenas
A relação de contestação e exigibilidade de direitos frente ao fossem mais comprometidos e unidos poderiam ocupar uma
governo guianês não tem causado conflitos e violência, como é posição muito mais central e exercer mais influência na política
experimentado por grupos indígenas em Roraima. O governo da nacional.
Guiana parece amigável e cooperativo com relação às causas e A segurança alimentar é um dos desafios maiores que os
reivindicações indígenas. Makuxi enfrentam atualmente. Enquanto a população está
Ainda assim, a presença do governo é fraca no interior de Guiana crescendo, os peixes e a caça estão se tornando cada vez
e os povos ameríndios têm sido negligenciados no que se refere mais escassos; a maioria de solos são nutritivamente pobres;
a investimentos em estrutura pública. Enquanto atualmente e a produção para subsistência pouco supre as necessidades.
não há o provimento de serviços básicos como eletricidade Além disso, o acesso a um mercado é limitado. A irresponsável
ou água corrente, o governo recentemente assegurou que em exploração de minerais e da terra, e a corrupção são igualmente
cada maloca serão garantidas uma escola primária, um centro problemas dentro das comunidades e os líderes não tem lidado
da saúde e uma rádio comunitária. Além disso, por causa das com esses desafios de forma eficaz. Entretanto, diversas
recentes políticas vinculadas à estratégia de desenvolvimento malocas estão conseguindo impor algumas quotas de caça
com baixa emissão de carbono,6 a relevância dos ameríndios e estão envolvidas em projetos locais de conservação, como
e do meio-ambiente em que vivem forçam o governo a prestar o desenvolvido em conjunto com Iwokrama, uma reserva de
mais atenção a estas comunidades, que também se configuram floresta tropical adjacente, através do manejo do pirarucu e do
em parte significativa de seu eleitorado. monitoramento de tartarugas e lontras nos rios da área.
O Ministério da Causa Ameríndia afirma que, em 2007, 14% do Um grande desafio presente no atual contexto é o interesse das
empresas nacionais e estrangeiras na exploração do petróleo
território guianense se encontravam em posse de ameríndios.7
A maioria das comunidades makuxi receberam títulos legais e no cultivo de arroz e da soja. Algumas delas já receberam
de posse das suas terras e qualquer projeto governamental de contratos do governo guianês. Paulo Cesar quartiero, fazendeiro
desenvolvimento que tem a pretensão de ser realizado na área de arroz brasileiro, alugou porções de terra perto do território
necessita de uma prévia consulta e do consentimento das Makuxi na Guiana para cultivar arroz na grande escala. Isso
comunidades. Muitas pessoas criticam o “Amerindian Act”,8 aconteceu depois que o arrozeiro entrou em conflito com os
povos indígenas do Brasil da TI Raposa Serrado Sol. Por causa
afirmando que ele precisa de emendas, e que a titulação das
terras e o processo de demarcação são demasiado lentos. A da colaboração e do contato entre os Makuxi guianeses e
morosidade se apresenta como um dilema crucial para um brasileiros, o plano de quartiero neste momento está paralisado.
Alguns dizem que o governo guianês rescindiu a permissão
Governo de um país como a Guiana, pois alega-se que o
orçamento nacional não é suficiente para monitorar e policiar concedida ao cultivo de arroz; outros dizem que a empresa
os territórios indígenas. Há críticas também ao fato de que a somente trocou de gerente.
atitude laissez-faire do governo tem contribuído para incentivar Esses empreendimentos transnacionais têm gerado
empreendedores e companhias a atuar em seu território com discussões entre os indígenas: “A preocupação é que os projetos
“atividades duvidosas”. de desenvolvimento estejam baseados na comunidade, assim
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA SERRA E LAVRADO 265
nós todos temos uma parte do bolo”, afirma um líder. “Além Pode demorar mais cinco anos até que Guiana tenha uma estrada
disso, é necessário instalar sistemas de manejo e ter recursos asfaltada para o interior. Às vezes parece que é como se o povo
para empregar advogados e guardas-florestais indígenas. estivesse esperando por algo inevitável e ao mesmo tempo pre
Também é importante aumentar o fluxo de informação e ocupante e auspicioso: “O desenvolvimento está vindo”, muitos
colaboração entre líderes indígenas guianeses e brasileiros.” dizem. A boa notícia é que parece ainda haver um tempo para que
as comunidades possam se preparar e se unir para imaginar o
“NãO DEIxEMOS A ESTRADA NOS USAR, futuro que desejam ter. (junho, 2011)
VAMOS USAR A ESTRADA”10
NOTAS
Um dos tópicos principais na discussão recente entre líderes
1Entre os moradores da região do Rupununi a maior parte da informação circula
Makuxi, ONGs e o governo foi o asfaltamento da estrada que
através da transmissão boca-a-boca. assim, este texto reflete predominantemente
liga Lethem a Georgetown, pois ela atravessa grande parte do estas conversas, as observações e a atmosfera que prevaleceu durante os dois anos
que vivi e trabalhei entre os Makuxi (ou Makushi) na Guiana Inglesa. O texto também
território makuxi.11 Desde que a ponte na fronteira entre Lethem se baseia na literatura antropológica e histórica e em notícias públicas sobre a área.
e Bonfim foi inaugurada em 2009, garimpeiros brasileiros estão Agradeço a Marcele Guerra pela revisão atenta.
passando diariamente em direção a Rupununi, a caminho de 2Um titulo de uma canção Makuxi que significa “Eu sou uma mulher Makuxi, eu sou
um homem Makuxi”.
garimpos oficiais e não oficiais na Guiana. Algumas pessoas
3O meu argumentoé contra as teorias de assimilação dos Makuxi propostos de Myers
noticiam que muitos desses garimpeiros eram originalmente ([1944] 1993) e Potter (1993).
expulsos do território Yanomami e depois da Raposa Serrado
4 Palavras Makushi-Guianese: tuma = peixe ou carne cozido no suco fresca da mandioca
Sol. e com muita pimenta; farinha; parakari = como caxiri – bebida fermentada tradicional
feita a base de mandioca.
O projeto é que a atual estrada de terra estreita torne-se uma
5 Comentário de um líder makuxi brasileiro numa visita ao território Makuxi na
moderna rodovia internacional de funcionamento ininterrupto. Guiana.
O governo brasileiro está pressionando há anos pela construção 6A tradução literal para o portuguêsé Estratégia de Desenvolvimento de Baixo Carbono,
desta estrada, de modo a conseguir um acesso mais rápido à que gera créditos de carbono por desmatamento evitado. Em novembro de 2009, o
presidente guianês, Bharrat Jagdeo, assinou um contrato com o embaixador da Noruega
costa do Atlântico Norte para exportar seus produtos. A antro para receber créditos de carbono. Uma grande quantidade de lideres indígenas estão
póloga Janette Forte chega a descrever o interesse do Brasil no comitê de EDBC (ou LCDS).
como não somente econômico, mas também geopolítico. 7 Para ler mais sobre a legislação indígena, ver: http://www.amerindian.gov.gy/
legislation.html.
Na avaliação de um estudo socioambiental em 2010 ficou 8 Documento parte da Constituição guianesa que contém as bases dos direitos e
evidente que a maioria das comunidades makuxi é a favor da garantias aos povos indígenas guianenses.
pavimentação da estrada. Para as pessoas, as consequências 9 O conselho da maloca normalmente tem um ou uma tuxaua e varios councillors
(conselheiros) que, juntos, têm diferentes responsabilidades sociais, políticas e
negativas serão compensadas pelas vantagens de uma mobili econômicas na maloca.
dade melhor, por oportunidades para negócios locais e por um 10“Don’tlet the road use us, let us use the road”, uma frase famosa de um líder Makuxi
acesso mais fácil a hospitais e outros serviços. Os Makuxi estão que ficou um slogan para muita gente na Rupununi.
muito cientes da complexidade e da seriedade dos projetos de 11O contrato para construir a estrada foi recebido pela empresa brasileira Parana
panema.
desenvolvimento atuais na área e sabem como querem participar
no processo decisório.
266 RORAIMA SERRA E LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Grafismo Wapixana
Fonte: “Del Roraima al Orinoco”,
Theodor Koch-Grünberg
ACONTECEU
rinha, no rio Uailan, que atenderá 90% das que a questão ainda está sob análise do Poder
GERAL comunidades indígenas por 30 anos. Ainda na Judiciário”, em ação que corre na Justiça
Raposa Serra do Sol, outro potencial descoberto Federal de Roraima. Com a liminar, os efeitos
lICenÇa PRÉVIa PaRa usIna em foi na cachoeira do Carunã, no rio Maú, em do decreto em relação à Fazenda Topografia
RORaIma É COntestaDa Normandia. Entretanto, a avaliação técnica estão suspensos até que o STF se manifeste em
está prejudicada, uma vez que durante visita definitivo sobre o pedido. (Luana Lourenço,
O apontamento de falhas por parte de órgãos
ao local chovia muito. A proposta é que a PCH Agência Brasil, 20/01/2010)
como o MPF e pelo Ibama não impediu a
nesta região atenda em torno do município de
concessão da licença prévia à Biocapital para
Normandia e parte do baixo Cotingo, também
a instalação de usina de cana-de-açúcar em
na mesma cidade. (Andrezza Trajano, Folha CANAUANIM
Bonfim (RR). Referendado pela Fundação Es
de Boa Vista, 02/02/2010)
tadual de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia
(Femact), o documento foi oficializado no dia
sOFtwaRe De eDuCaÇãO
15 de julho de 2009, dois meses antes do lan TI ANARO InFantIl InDÍgena
çamento do Zoneamento Agroecológico (ZAE) Uma iniciativa inédita no Brasil foi lançada
da Cana-de-Açúcar, que proíbe a expansão da oficialmente neste sábado, na comunidade
produção de açúcar e de etanol na Amazônia,
maIOR PRODutOR De anaRO indígena de Canauanim, município de Cantá.
Pantanal e Bacia do Alto Paraguai, proposto DeCIDe Que VaI saIR Trata-se de um software educacional para
pelo governo federal. Nove meses antes da O administrador regional da Funai, Gonçalo séries iniciais de escolas indígenas, batizado
emissão do documento (ainda em outubro de Teixeira, disse que o maior fazendeiro que de Nativo Digital, que foi idealizado por um
2008), MPF e Ibama protocolaram ação civil ainda ocupa a terra indígena Anaro decidiu grupo de ex-acadêmicos do curso de Sistema
pública para requisitar a transferência da com sair da região. Das 14 fazendas que existiam da Informação da Faculdade Atual da Amazô
petência do licenciamento para a esfera federal em Anaro, seis proprietários foram indeniza nia, com a idéia de contribuir para o processo
e a emissão de um novo EIA/Rima. O EIA/Rima dos e já se retiraram. Como os demais não de ensino-aprendizagem e inclusão digital de
aprovado pela Femact, segundo os órgãos do atenderam a convocação de quatro editais crianças e adolescentes. Toda a composição
poder público, tem falhas graves. Uma delas publicados, a Funai decidiu fazer o depósito do programa contou com a participação de
é afirmar que não há “tribos indígenas” pró judicial. Segundo Gonçalo Teixeira, o fazen professores e alunos da comunidade de Cau
ximas à usina, omitindo a existência de nove deiro Elenilson Cicinho, dono de 6 fazendas, nanin, que escreveram e traduziram histórias
TIs – São Marcos, Jabuti, Canauanim, Manoá procurou a administração regional e se propôs
indígenas, produziram jogos e fizeram toda a
Pium, Tabalascada, Malacacheta, Moskow, a sair da área mediante o pagamento da indeni ilustração do programa. O resultado, conside
Serra da Moça e Raposa Serra do Sol – na área zação. A Funai o orientou a procurar aJustiça
rado inovador no meio tecnológico, é o fato do
de influência direta da usina. (Thaís Brianezi, a fim de retirar a ação para que legalmente o Nativo Digital ser todo traduzido para língua
Repórter Brasil, 19/10/2009) órgão indigenista peça à AGU o desbloqueio
wapichana, e ainda preservar costumes, lendas
do recurso para o pagamento da indenização. e toda a cultura indígena. (Folha de Boa Vista,
estuDO QueR ImPlantaR Todas as seis propriedades foram reconhecidas 12/01/2009)
de boa-fé, mas o fazendeiro não concordava
mInI-HIDRelÉtRICas com os valores das indenizações, por isso ele
A Secretaria Estadual do Índio, Funai e Eletro entrou com uma ação judicial. (Folha de Boa MALACAChETA
norte concluíram estudo prévio para implantar Vista, 07/12/2009)
PCHs nas reservas São Marcos e Raposa Serra
do Sol, situadas ao norte de Roraima. As peque COmunIDaDe ImPlanta
nas hidrelétricas devem custar R$ 3 milhões. gIlmaR menDes DÁ VIVeIRO De Plantas natIVas
A implantação depende de aprovação das co lImInaR a FaZenDeIRO O Núcleo de Gestão Ambiental do CIR começa
munidades indígenas. Os equipamentos serão O presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, hoje a implantar o projeto Viveiro de Plantas
instalados em rios com potenciais hidráulicos e concedeu uma liminar suspendendo parcial Nativas na Comunidade Malacacheta, a 37
têm capacidade de produzir 950 KW (kilowatts), mente a demarcação de TIs homologadas no Km de Boa Vista. Serão dois dias de oficina
ou seja, o máximo previsto para a legislação de fim de dezembro pelo presidente Luiz Inácio para treinar as pessoas envolvidas no projeto.
PCH. Em São Marcos foi detectada aviabilidade da Silva. Mendes suspendeu parcialmente a O projeto faz parte do Programa de Agentes
de construção de uma pequena hidrelétrica demarcação da TI Anaro, retirando a Fazenda Ambientais Voluntários e Monitoramento da
na cachoeira do Surumu, em Pacaraima, que Topografia da área de posse dos índios. Os TI Malacacheta. O objetivo é contribuir para
atenderia as comunidades do Alto e Médio São proprietários argumentam que os 1,5 mil hec conservação e recuperação do ecossistema,
Marcos – descendo da sede do município de tares da fazenda Topografia foram comprados além de promover a atividade florestal como
Pacaraima até a comunidade Boca da Mata. legalmente em 1943 e não podem ser incluídos meio eficaz de gerar renda para a comunidade.
Também beneficiaria a vila Surumu, até o na área repassada aos índios, já que o STF fixou Agentes ambientais e membros da comunidade
olho d’água Iaraçá, em Normandia, na região a data de 5 de outubro de 1988 como marco vão participar hoje e amanhã de oficina para
do baixo Cotingo, na terra indígena Raposa para reconhecimento de terras indígenas. No aprender ainda a preparar a terra, o trato diário
Serra do Sol. Para lá, a PCH tem previsão de total, a reserva tem 30 mil hectares. De acordo com as mudas, construção do viveiro e plantio
funcionamento de 20 anos. Em Uiramutã, com o STF, os proprietários alegam ainda que em áreas degradadas. A oficina de reprodução
na Raposa Serra do Sol, será construída uma a ordem do governo federal de desocupação de mudas nativas terá a participação de 15
pequena hidrelétrica na cachoeira da Ando da área em 30 dias “desconsidera o fato de agentes ambientais, dois acadêmicos do curso
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA SERRA E LAVRADO 267
ACONTECEU
de Gestão Territorial da UFRR e cinco lideranças JOBIm DemIte geneRal equipamentos continuam chegando à capital
da própria comunidade. (CIR, 26/05/2010) Contrário ao apoio das Forças Armadas à de Roraima para reforçar o contingente da Po
operação que a Polícia Federal programou lícia Federal. O caminho pela BR-174 também
para retirar arrozeiros de Raposa Serra do Sol, tem pontes destruídas na estrada que liga a
RAPOSA SERRA DO SOL rodovia federal àVila Surumu. (Marco Antônio
o general Maynard Santa Rosa foi demitido
do cargo de secretário de Política, Estratégia Soalheiro, Agência Brasil, 04/04/2008)
stF mantÉm emPResa e Assuntos Internacionais do Ministério da
na seRRa DO sOl Defesa. A decisão foi do ministro da Defesa, stF susPenDe RetIRaDa De
O STF deferiu liminar no mandado de segu Nelson Jobim. O afastamento de Santa Rosa nãO-ÍnDIOs Da ÁRea
rança para suspender, até o julgamento final, gerou mal-estar no Alto Comando do Exército,
O Plenário do STF acompanhou o voto do rela
a desocupação de área da reserva indígena que também tem restrições ao uso de tropas
Raposa Serra do Sol (RR) pelos proprietários tor, ministro Carlos Ayres Britto, e decidiu, por
na ação em Roraima. Santa Rosa foi substituído unanimidade, suspender qualquer operação de
da empresa Itikawa. Eles foram notificados pela pelo general Barros Moreira. O ministério ne
gou que a saída do general tenha relação com retirada de ocupantes não-índios da TI Raposa
Funai de que teriam de sair até 30 de abril. Para
Serra do Sol. Adecisão, que vale até o julgamen
o STF, “a desocupação implica concretos danos suas declarações sobre Raposa Serra do Sol.
to do mérito da ação cautelar, atendeu a pedido
patrimoniais”. (OESP, 05/05/2007) (Evandro Éboli, O Globo, 30/09/2007)
feito ontem (8) pelo governo de Roraima. Na
ação, o governo informava temer confrontos
stF ORDena saÍDa De ÍnDIOs sOFRem atentaDO na “com consequências imprevisíveis” entre ar
FaZenDeIROs De ReseRVa COmunIDaDe DO mutum rozeiros, índios e a Polícia Federal, responsável
O STF revogou ontem, por unanimidade, uma Os conflitos na TI Raposa Serra do Sol tiveram pelo Operação Upakaton 3. O ministro Carlos
liminar que autorizava a permanência de mais um capítulo ontem. Indígenas da vila do Ayres Britto atendeu ao pedido do governo de
fazendeiros na reserva indígena Raposa Serra Mutum, localizada no município de Uiramutã, Roraima com o argumento de que para evitar
do Sol, em Roraima. Com isso, a Funai poderá tiveram oito casas queimadas. A suspeita é que a eclosão de um confronto, que poderia levar
expulsar da região produtores de arroz e pe o atentado tenha sido provocado por garimpei a “uma verdadeira guerra civil”, deixou de
cuaristas. Segundo o governo federal, o grupo ros da região, segundo informações do prefeito ouvir a outra parte, representada pela União
ocupa a área ilegalmente. Com a decisão, fica de Pacaraima, Chico Roberto, que se encontra e a Funai. (Antonio Arrais, Agência Brasil,
valendo a demarcação contínua da área, decre reunido com lideranças do CIR, na Assembléia 09/04/2008)
tada pelo presidente Lula em 2005. (Carolina dos Tuxauas, próximo ao Surumu. (Folha de
Brígido, O Globo, 05/06/2007) Boa Vista, 08/03/2008) IBama multa lÍDeR aRROZeIRO
De RORaIma em R$ 30,6 mI
RaPOsa seRRa DO sOl nOVa POnte É DestRuÍDa e O Ibama multou em R$ 30,6 milhões o líder
em PÉ De gueRRa ClIma De tensãO PeRmaneCe arrozeiro e prefeito de Pacaraima (RR), Paulo
A decisão do governo federal de protelar a O aparentemente inevitável confronto entre Cesar Quartiero (DEM), por degradação am
operação policial de retirada de sete grandes Polícia Federal e manifestantes que prometem biental na reserva Raposa Serra do Sol.
produtores de arroz da área indígena de Raposa resistir à retirada de não-índios da Raposa A área é terra indígena homologada pelo go
Serra do Sol, em Roraima, transformou a reser Serra do Sol ainda não foi deflagrado, mas verno federal em 2005. A fazenda Depósito,
va num barril de pólvora prestes a explodir. Há teve novos capítulos preliminares. Outra via de Quartiero, fica dentro da reserva. Além
uma semana, seis malocas foram incendiadas de acesso à área ficou inviabilizada com a da multa, o Ibama embargou ontem toda e
numa das 194 aldeias da reserva, e os índios, destruição de uma ponte sobre o Rio Maú, na qualquer atividade econômica na fazenda
divididos em oito diferentes grupos, atribuíram divisa do Brasil com a Guiana. Mais agentes e (produtora de arroz) e informou que, na
o crime a arrozeiros interessados em aumentar
a briga entre eles. Os índios também
acusam os rizicultores de contratar
seguranças armados para rodar de
moto pelas comunidades, sempre
à noite, disparando tiros para cima
e fazendo arruaças. Em junho, no
mais grave conflito dos últimos me
ses, índios atiraram flechas contra
motoqueiros a serviço do rizicultor
Paulo César Quartiero, que se nega
a sair da reserva, apesar de já ter
sido indenizado pela Funai, e é acu
sado de provocar o terror na aldeia
Surumu, próxima de uma de suas O coordenador-geral do CIR, Dionito José
fazendas. (Rodrigo Taves, O Globo, de Souza, protocola na Polícia Federal
30/09/2007) denúncia de incêndios criminosos em
aldeias da TI RSS.
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ACONTECEU
segunda-feira, vai apreender os equipamentos são de direito dos índios. Ele afirmou que os distribuidora de bebidas, a pergunta sobre se
de produção existentes nela em uma ação produtores invadiram terras da União a partir valeria a pena tanto esforço, uma vez que ela
com a Polícia Federal, que bloqueou o local. de 1992, quando o processo de demarcação dificilmente exerceria a profissão por causa
A perícia completa na reserva ainda será con da reserva já havia iniciado. O ministro está da concorrência. “Fiquei indignada e pedi
cluída–outras 12 fazendas serão fiscalizadas. convencido de que os índios foram expulsos demissão no dia seguinte”, lembrou ontem
O laudo apresentado ontem, baseado só na de suas terras originais, que teriam sofrido, Joênia, depois de ter feito a sustentação oral
fazenda Depósito identificou quatro grandes ao longo dos anos, um “processo de espreme no STF. Ela se disse protegida “pelas boas
“blocos de crimes ambientais”: 1) destruir dura topográfica”. “Os rizicultores não têm energias e pelos pajés”.
áreas de preservação permanente; 2) impedir direito adquirido sobre a posse. Ela é fruto de Joênia começou a defesa no idioma wapi
regeneração natural; 3) destruir reserva legal inescondível esbulho. Os índios foram de lá chana, o que, por um momento, espantou
e 4) licença ambiental (expedida por órgão enxotados, escorraçados, não sem antes opor os 11 ministros do STF. Pediu, resumida
estadual) usada indevidamente. As irregula resistência – afirmou, acusando os arrozeiros mente, que a terra, a cultura e as tradições
ridades em outras fazendas são parecidas. de degradar o meio ambiente e de impedir dos índios sejam respeitadas. “Nossa vida é
(Lucas Ferraz, FSP, 10/05/2008) o acesso dos índios a solos férteis e a rios. nossa terra”, afirmou. Em português claro
(Carolina Brígido e Jailton de Carvalho, O deixou no plenário da corte a contabilidade
Globo, 28/08/2008) da violência: casas queimadas e 21 índios
nOVOs DOCumentOs aDIam assassinados sem que ninguém tenha sido
DeCIsãO sOBRe RaPOsa punido. “Somos acusados de ladrões e invaso
O julgamento que discute a demarcação da TI
ÍnDIa aDVOgaDa
res na nossa própria terra. Somos caluniados
Raposa Serra do Sol vai ficar para o segundo FaZ HIstÓRIa e difamados dentro de casa”, queixou-se. No
semestre deste ano. A notícia foi dada pelo Primeira índia do País a ganhar o registro da momento mais forte da intervenção, disse o
presidente do STF, ministro Gilmar Mendes. O OAB, Joênia Batista Carvalho, 34 anos, fez que, em sua opinião, está em jogo: “A terra
motivo do atraso, segundo o ministro, é por mais história, ontem, no julgamento sobre indígena não é só a casa onde se mora, é o
que novas peças foram anexadas ao processo a demarcação da reserva Raposa Serra do local onde se caça, onde se pesca, onde se
e agora precisam de uma melhor análise do Sol. De rosto pintado, trajando indumentária caminha. A terra não é um espaço de agora,
caso. Está nas mãos do Supremo decidir se da etnia wapichana reservada para ocasiões mas um espaço para sempre”. Joênia disse
mantém ou não o decreto presidencial que solenes e falando com segurança, a advogada, que falou com o coração, porque tratou de
homologou a terra indígena. (Consultor Jurí ex-empregada doméstica e ex-secretária de fatos vividos desde sua infância na Raposa
dico, 30/05/2008) uma empresa distribuidora de bebidas, foi Serra do Sol. “Cresci ouvindo gritos de ‘bota
também a primeira índia a falar na tribuna cerca, tira cerca’ e que ‘o índio não é capaz’.”
da corte suprema. Jôenia formou-se pela Depois de reclamar da proposta de redução do
DIsPuta POR RaPOsa FICa Universidade Federal de Roraima em 1997, tamanho da reserva, concluiu: “Um dia só nos
em 1 a ZeRO disputando o vestibular numa época em que restará o quintal da reserva, onde viveremos
Com plenário lotado e sob olhares de índios, não havia o sistema de cotas sociais e raciais. confinados e infelizes”. (Vannildo Mendes e
políticos e arrozeiros de Roraima, o STF iniciou Passou em quinto lugar e ouviu do chefe, na Felipe Recondo, OESP, 28/08/2008)
ontem o julgamento que decidirá o modelo de
demarcação da reserva indígena Raposa Serra
do Sol. O relator, ministro Carlos Ayres Britto,
votou pela delimitação contínua das terras,
como determinou o governo federal em 2005,
com o apoio da maioria dos índios da região.
Ayres Britto defendeu a retirada imediata dos
não-índios que habitam o local, entre eles
produtores de arroz. A sessão foi interrompida
por um pedido de vista do ministro Carlos
Alberto Direito. O pedido de vista foi negociado
entre os ministros nos intervalos da sessão,
que sentiram a necessidade de acrescentar
tópicos a seus votos após a manifestação de
advogados e do relator. O presidente do STF,
Gilmar Mendes, defendeu a decisão de Direito:
- Tivemos um voto brilhantíssimo do ministro
Carlos Ayres Britto, mas há muitas dúvidas que
podem demandar verificação. Num caso como
este, temos que nos acostumar, eventualmente,
com um pedido de vista - disse ele. Em seu
voto, com mais de três horas de duração,
Ayres Britto ressaltou que as terras da reserva, A advogada wapixana Joênia batista de Carvalho faz sua sustentação oral
com extensão de 1,74 milhão de hectares, em favor da demarcação em área contínua da TI RSS no Supremo Tribunal Federal.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA SERRA E LAVRADO 269
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QuaRtIeRO É DenunCIaDO Brasília, afirmou ter orientado funcionários a fície cultivada já era três vezes maior: 7.585
A Procuradoria Regional da República da 1ª Re atirar em índios, se houver invasão de fazendas. hectares. Em 2005, último ano analisado pelo
gião denunciou o prefeito de Pacairama (RR), (Lucas Ferraz, Hudson Corrêa e Breno Costa, INPA, a rizicultura já respondia por 14.444
Paulo César Quartiero – líder dos produtores FSP, 09/12/2008) hectares. Para a safra 2008/2009, os cinco pro
de arroz da região que brigam pela derrubada dutores da região têm disponíveis para cultivar
da demarcação contínua na reserva Raposa ÁRea De aRROZ em RR CResCe 3 arroz uma área de 17 mil hectares, embora a
associação dos arrozeiros diga que a área de
Serra do Sol –, pelos crimes de seqüestro e CamPOs De FuteBOl POR DIa cultivo seja um pouco menor. As seis fazendas,
cárcere privado, roubo e dano qualificados. A demarcação e homologação da TI Raposa
O prefeito é acusado de coordenar invasão à juntas, ocupam quase 25 mil hectares, 1,5%
Serra do Sol não impediu o crescimento da da área total da Raposa Serra do Sol. (Lucas
missão religiosa do Surumu, a 230km de Boa área destinada à produção de arroz, a prin
Vista, em 6 de janeiro de 2004. Na época, reli Ferraz, FSP, 10/12/2008)
cipal causa do imbróglio que será retomado
giosos e alunos foram ameaçados e três padres
no julgamento pelo STF. Desde 2005, quando
seqüestrados por dois dias. A Procuradoria suPRemO enCeRRa sessãO
o presidente Lula assinou decreto que ho
Regional da República explica, na denúncia, mologou a reserva, a área produtiva de arroz COm 8 VOtOs
que a ação teve o “intuito de dar publicidade à
cresceu por dia uma média de três campos de Novamente o julgamento do STF que definirá o
sua causa e forçar as autoridades a realizarem futebol de dimensões oficiais. A Folha levantou futuro da TI Raposa Serra do Sol foi interrom
a demarcação da reserva indígena Raposa Serra os dados com base em pesquisa do INPA, que pido. Asessão encerrou por um pedido de vista
do Sol da forma que lhes é mais conveniente acompanhou a evolução da área plantada de do ministro Marco Aurélio Mello. Antes de a
(em ilhas)”. (CB, 06/09/2008) arroz, com imagens de satélites, entre 1992 e sessão ser suspensa, oito magistrados votaram,
2005, com a projeção da safra 2008/2009 feita todos favoráveis à manutenção da demarcação
tensãO na RaPOsa aumenta À pela Associação dos Arrozeiros de Roraima. Os contínua da reserva. O placar já aponta um
esPeRa Da DeCIsãO DO stF dados, além de contradizer os rizicultores, que entendimento do Supremo sobre o tema, pois
Contrários à demarcação contínua da terra afirmam ocupar a região com a monocultura a maioria dos ministros já votou (o STF possui
indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, desde pelo menos os anos de 1970, mostram 11 ministros). O julgamento será retomado
o governador do Estado, José de Anchieta como eles aumentaram significativamente em data ainda não definida, provavelmente
Júnior (PSDB), e o líder arrozeiro e prefeito a produção mesmo com a homologação da somente em 2009, com o voto de Marco Au
de Pacaraima (RR), Paulo César Quartiero área pelo governo. Em 1992, segundo o estudo rélio. Além dele, Celso de Mello e o presidente
(DEM), afirmaram ontem que haverá conflito “A invasão das monoculturas - O Desafio da da Corte, Gilmar Mendes, ainda devem votar.
Demarcação da Terra Indígena Raposa Serra O presidente do STF, ministro Gilmar Mendes,
na reserva, seja qual for a decisão do STF. O
governador disse, em Brasília, que está de do Sol”, o arroz ocupava 2.111 hectares da encerrou a sessão após debate acalorado sobre
reserva, que tem área total de 1,7 milhão de a cassação da liminar que suspende qualquer
prontidão para mobilizar médicos, ambulân
cias e helicóptero, após o julgamento amanhã. hectares. Seis anos depois, quando o governo operação de retirada de não-índios da reserva
Quartiero, que também viajou ontem para FHC (1995-2002) demarcou a área, a super em Roraima. Embora a maioria dos magistra
dos tenha votado a favor da cassação, Mendes
afirmou que só haverá uma decisão definitiva
e com valor legal quando o ministro Marco
Aurélio Mello apresentar o seu voto. Com isso,
os arrozeiros permanecem na reserva. (Folha
de Boa Vista, 10/12/2008)
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ACONTECEU
aRROZeIROs tÊm PRaZO e trocar conhecimentos, como também de mologação da terra indígena em área contínua.
atÉ 30 De aBRIl senvolver o trabalho de agricultura. Em nossa Apesar de satisfeitos com os oito votos favorá
comunidade temos eleitores, professores e veis a seus interesses –faltam se manifestar os
Os não índios presentes na TI Raposa Serra enfermeiros, por isso não acho necessário ministros Marco Aurélio Mello, Celso de Mello
do Sol, deverão sair da área até o dia 30 de
abril, sob o risco de serem retirados à força haver um isolamento de uma área onde os e o presidente da Corte, Gilmar Mendes – eles
pela Polícia Federal e pela Força Nacional de índios pensam em participar ativamente do temem as condicionalidades expressas pelo
processo de desenvolvimento econômico do ministro Carlos Alberto Menezes Direito, que
Segurança. Os arrozeiros não poderão colher
Estado. Ou seja, queremos uma demarcação em dezembro apresentou sua decisão depois
o que já está plantado, mas receberão, se ficar
em ilha”, afirmou, completando que os índios de pedir vista do processo. (Paloma Oliveto,
comprovado que agiram de “boa-fé”, indeniza
ção pela colheita perdida. A definição da data da que são favoráveis à demarcação contínua são CB, 18/03/2009)
de comunidades que vivem de recursos de
retirada ocorreu depois de uma reunião ontem
ONGs estrangeirais. O tuxaua Avelino Pereira,
no gabinete do ministro do STF Carlos Ayres stF autORIZa COlHeIta
da comunidade Santa Rita, no Município de
Britto com a participação do ministro Tarso Uiramutã, disse que sua comunidade não O ministro do STF, Carlos Ayres Britto, auto
Genro (Justiça), do advogado-geral da União, rizou ontem que funcionários de rizicultores
José Antonio Dias Toffoli, do presidente do concorda com a demarcação. “Somos uma
civilização inteligente, educada, e todos que vi retornem às fazendas na TI Raposa Serra do
TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, Sol, para colher o restante da safra de arroz. O
Jirair Meguerian, e do diretor-geral da PF, Luiz vem em nossa comunidade são índios Macuxi,
e não estrangeiros. E quando oito ministros do trabalho deverá ser realizado sob fiscalização da
Fernando Corrêa – para definir como executar Polícia Federal. Eles terão 10 dias para concluir
Supremo deram uma decisão favorável à de
a decisão do STF sobre a Raposa. (Felipe Selig marcação das terras nos provocou. Queremos o trabalho, a partir de amanhã. O ministro fez
man e Lucas Ferraz, FSP, 26/03/2008) a concessão devido à incapacidade de órgãos
que o Governo Federal nos ouça agora”, disse.
Em apoio à manifestação do grupo ligado ao da União em ficar responsáveis pela colheita.
ÍnDIOs COntRÁRIOs ÀÁRea Sodiurr, estavam presentes líderes dos grupos Os produtores de arroz continuam proibidos de
COntÍnua PROtestam Alidcirr, Arikon, Amkb, Ceikal e Oider, expondo retornar à reserva para que não causem novos
uma faixa com a seguinte frase: “Também problemas para sair. Aautorização atende, em
Cerca de 200 índios de comunidades indígenas
ligados à Sociedade dos Índios Unidos do Norte queremos ser ouvidos”. (Folha de Boa Vista, parte, a um pedido do produtor Paulo César
de Roraima (Sodiurr), contrários à homo 23/01/2009) Quartiero que, na última sexta-feira, ao sair
logação da TI Raposa Serra do Sol de forma da reserva, solicitou ao desembargador federal
contínua, iniciaram na manhã de ontem uma Jirair Meguerian, presidente do Tribunal Regio
PaJelanÇa em FRente aO stF nal Federal (TRF) da 1ª Região, que pudesse
manifestação na Praça do Centro Cívico. Eles A pajelança garantiu chuva grossa na tarde de
reivindicam uma presença mais efetiva dos go concluir a colheita e, assim, evitar desperdícios
ontem, mas só hoje os índios da Raposa Serra e prejuízos. (CB, 05/05/2009)
vernos Federal e do Estado, com postos de saú
de, escolas e segurança. Homens, mulheres e do Sol saberão se o apelo aos deuses vai pôr
fim num imbróglio que já dura 11 anos: a
crianças indígenas participam da manifestação. palavra final sobre a demarcação do território PResIDente
JulIO maCuXIDa FeDeRaÇãO
É eleItO
Os índios estão pintados a caráter e entoam de 1,7 milhão de hectares. Munidos de cocares
cânticos e fazem danças tradicionais. De acordo e chocalhos, cerca de 30 moradores da Raposa As organizações indígenas que compõem a
com o presidente da Sodiurr, Sílvio da Silva, a estiveram ontem em frente ao STF, que hoje Federação de Reocupação da Raposa Serra do
ocupação dos índios na praça permanecerá até
que o Estado, a Funai e Funasa se manifestem deve encerrar o julgamento a respeito da ho Sol estiveram reunidas na segunda-feira, dia
sobre suas reivindicações. “Estamos
sem condições financeiras para
manter nossas necessidades básicas.
A reivindicação contra a demarcação
contínua da área indígena, segundo
Silva, impossibilita o desenvolvimen
to social das comunidades indígenas.
Além disso, ele afirmou que os índios
querem uma integridade social com
os não-índios. “Não queremos viver
somente de caça e pesca, queremos
espaço na sociedade para expandir
em 2009,
em brasília, a demarcação
índios comemoram,
contínua
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA SERRA E LAVRADO 271
ACONTECEU
11, com a finalidade de eleger o presidente da localidades. Conforme sua contagem, somente Cotingo. A declaração ocorre na semana em
organização. Ao final da apuração dos votos no Flexal há 72 famílias que eram mantidas que foi anunciada a liberação de recursos do
das lideranças das organizações indígenas, pela atividade. Ele denunciou ainda ter sido governo federal para a realização de estudos
Júlio José de Sousa, coordenador de projetos ludibriado pelos militares e agentes da PF, que técnicos, que visam edificar a segunda hidre
do Conselho Indígena de Roraima, foi eleito chegaram por volta das 8h ao local, em dois létrica de Roraima e solucionar o problema
presidente da Federação. A vice-presidência caminhões, duas viaturas e uma caminhonete, energético local. A pretensão é aproveitar o
será ocupada pela representante da OPIR, pedindo informações do ponto onde estava a potencial da cachoeira do Tamanduá, locali
Pierangela Nascimento. O primeiro secretário tríplice fronteira, entre o Brasil, a Venezuela e zada a cerca de 50 km, em linha reta, da sede
da Federação será o coordenador do Coping, a Guiana. Barbosa garante que a exploração do município de Uiramutã, no extremo norte
Dilson Domente; a segunda secretária será de minério no local é feita há bastante tempo, e dentro de áreas de índios (Willame Souza,
Leoma Ferreira, da Apirr. (CIR, 12/05/2009) inclusive por seus antepassados. Questionado Folha de Boa Vista, 11/01/2010).
se tinha conhecimento de que a garimpagem
é ilegal, ele contestou e afirmou que os índios
PF COnCluI RetIRaDa
têm sim o direito de garimpar, pois a terra é
lula FesteJa um anO De
De nãO ÍnDIOs DemaRCaÇãO De ReseRVa
deles. (Folha de Boa Vista, 13/10/2009)
A Polícia Federal concluiu a retirada dos não Uma grande festa, com direito a almoço com
índios da TI Raposa/Serra do Sol. Cerca de danças típicas e um cocar na cabeça do pre
50 famílias não índias deixaram a reserva nãO ÍnDIOs na RaPOsa seRRa sidente Lula, comemorou ontem, no Dia do
desde março, quando o STF determinou que DO sOl leVam tensãO À ÁRea Índio, um ano da demarcação definitiva da TI
decisão do governo federal de 2005 que desti Nove meses depois do que parecia o fim da po Raposa Serra do Sol. Em discurso, após fazer
nava a área só aos índios fosse mantida. (FSP, lêmica na TI Raposa Serra do Sol, em Roraima, um retrospecto da polêmica que marcou por
16/06/2009) a permanência de 20 a 30 não índios na área, anos a luta entre indígenas e arrozeiros da
mesmo depois da retirada das 50 famílias de região pela posse da terra, o presidente falou
lIDeRanÇas PlaneJam COmO agricultores e do desmonte das fazendas, é mo de sua satisfação pessoal com o desfecho, e
tivo de tensão na região. A operação de expulsão disse que os índios estão hoje mais espertos
InVestIR ReCuRsOs dos agricultores e arrozeiros foi finalizada em e querem muito mais. Lula prometeu voltar
Cerca de 80 lideranças indígenas, juntamente junho. Parte dos cerca de 18 mil a 20 mil índios à reserva daqui a seis meses para ver como
com representantes do Programa Território que a habitam reclama agora da presença de 20 estão suas promessas, reafirmadas ontem,
da Cidadania Indígena Raposa Serra do Sol a 30 não índios que, por serem casados com de garantir luz, saneamento, escola e postos
e São Marcos, se reuniram ontem, na UFRR, índias, ganharam doJudiciário um “visto” para de saúde para os mais de 19 mil índios que
em plenária, para discutir ações deliberativas permanecer dentro da Raposa. Para membros vivem na TI. “A gente começa a descobrir que os
e consultivas, previstas na matriz de ações do CIR, entidade que defendeu a expulsão do índios estão muito mais sabidos do que a gente
ofertadas pelo Programa Território da Cida “homem branco”, essas pessoas resistem a um pensa. Eles me entregaram com uma mão
dania, do governo federal. O programa prevê modo de vida coletivo e levam bebida alcoólica um documento agradecendo e, com a outra
intensificar a gestão social, desenvolvida em para dentro da reserva, além de facilitarem o mão, vinte documentos reivindicando”. Lula
conjunto com os três poderes, para a promoção furto de gado por pessoas de fora. Na Surumu, citou várias vezes o conflito entre indígenas
do desenvolvimento sustentável nas regiões por exemplo, há um não índio casado com uma e fazendeiros, sempre defendendo a posição
indígenas. As oficinas começam em 10 de indígena que, segundo o CIR, colocou seu re- dos “donos originais da terra”: “(Os índios)
agosto e terão duração de um mês. (Folha de banho em uma área que havia sido delimitada Venceram, e venceram sem revidar um único
Boa Vista, 25/07/2009) como de toda a comunidade. Um caso grave gesto de violência de que foram vítimas. Os
ocorre na comunidade Nova Esperança, onde inimigos deles tinham arma de fogo, poder eco
gaRImPOs em tI um homem apelidado Paraná - que só passou nômico e poder político. Mas eles não sabiam
a viver na reserva junto com sua mulher índia que os nossos índios possuem armas ainda
sãO DesatIVaDOs após a decisão do STF - se apossou de um sítio
O Exército e a Polícia Federal desativaram mais poderosas: o espírito de luta, a união, a
no qual há a maior nascente de água da região. proteção dos seus ancestrais”. (Luiza Damé,
ontem dois garimpos de ouro e diamante na Para demarcar a posse, passou uma cerca em
TI Raposa Serra do Sol, localizados na aldeia O Globo, 20/04/2010)
volta da área, onde cria gado, conforme a Folha
Flexal e na antiga vila do Mutum. A informação viu numa visita à área. O furto de animais
foi passada à Folha pelo tuxaua da maloca preocupa os índios, já que a criação dos bois TI SãO MARCOS
Flexal, Abel Barbosa, e por moradores do e vacas é seu principal meio de sobrevivência.
Mutum, que ligaram para a Redação no final (João Carlos Magalhães e Marlene Bergamo,
da tarde desta segunda-feira. Conforme os mPF, unIãO e FunaI PeDem
FSP, 27/12/2009)
relatos, os barracos foram queimados, assim DesOCuPaÇãO Da tI sãO maRCOs
como os mantimentos e utensílios de cozinha O MPF, a União e a Funai ajuizaram Ação Cível
utilizados pelos garimpeiros. Já os motores CIR É COntRa COnstRuÇãO Ordinária (ACO 1074), com pedido de liminar,
para dragagem teriam sido quebrados pelos De HIDRelÉtRICa contra a microempresária Maria Helena Vieira
policiais e militares. A ação irritou o tuxaua O coordenador do CIR, Dionito José de Souza, Gomes, proprietária da Panificadora Três Ir
Abel Barbosa. Segundo ele, o garimpo era dos em entrevista exclusiva à Folha, disse que as mãos e do Supermercado Três Irmãos, pedindo
índios, que utilizavam a exploração de ouro e comunidades da TI Raposa Serra do Sol não que seja determinado liminarmente à ré que se
diamante para sustentar suas famílias nas duas permitirão a construção da hidrelétrica de abstenha de praticar qualquer ato tendente a
272 RORAIMA SERRA E LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ACONTECEU
manter a ocupação ou a reocupar área indígena ParaJosé Lourenço, “o termo é uma alavanca não-índios. O prefeito Altemir Campos disse
em Vila Pacaraima, município de Pacaraima, para a nossa melhoria, principalmente para que caso o decreto seja publicado, iniciará o
no Estado de Roraima. Os autores da ação, que as nossas atividades agropecuárias. Esse processo de ordenação territorial do município
foi distribuída ao ministro Marco Aurélio no momento é um exemplo para as outras terras e emitirá os títulos definitivos de propriedades
dia 4, pedem, ainda, que seja determinado à indígenas. Agradecemos à Eletrobras Eletro aos moradores. (Andrezza Trajano, Folha de
ré que se retire da área indígena, no prazo de norte por contribuir com o futuro do nosso Boa Vista, 04/09/2010)
30 dias, juntamente com seus representantes, povo”. Adhemar Palocci explica que o convê
empregados e prepostos, efetuando também
a desocupação quanto aos bens móveis e
nio foi firmado em função da TI São Marcos
ser cortada pela linha de transmissão Santa
SERRA DA MOÇA
benfeitorias removíveis. Por fim, pedem que Elena-Boa Vista (RR), que traz àquele Estado
a ré seja proibida de usar construção por ela a energia elétrica proveniente da Venezuela. tOmate Das COmunIDaDes
erguida na área indígena, imediatamente após (Eletrobras, 03/06/2010) InDÍgenas aBasteCe BOa VIsta
a sua retirada, permanecendo a edificação Semanalmente, tomates vindos das comunida
fechada e lacrada por ordem judicial, até a des indígenas do Truaru e Serra da Moça estão
decisão final da ação. E que seja determinado gt PaRa analIsaR eXClusãO Da
seDe De PaCaRaIma sendo comercializados na Feira do Produtor. A
à Polícia Federal que garanta o cumprimento mercadoria chega ao local de venda geralmente
da ordem. A área em conflito é, segundo os Faltando um mês para as eleições e três para nas quintas-feiras no período da tarde, já que a
autores da ação, de “ocupação imemorial e o fim do mandato do presidente Lula da Silva, colheita é realizada na quarta-feira à tarde e na
tradicional” dos índios Macuxi, Taurepang e o secretário executivo do Ministério daJustiça, quinta pela manhã. Eliander Trajano, Gestor de
Wapixama. (STF, 10/10/2007) Rafael Favetti, esteve ontem em Roraima, para
Assuntos Indígenas da Secretaria Municipal de
assinar uma portaria ministerial, que criará Gestão Ambiental e Assuntos Indígenas, explica
PaCaRaIma PODe seR um grupo de trabalho (GT) responsável por que a venda direta pelo produtor indígena evita
RIsCaDa DO maPa conduzir estudos que podem resultar na exclu
atravessadores e a elevação do preço do tomate,
são da área urbana do município de Pacaraima
Ninguém paga IPTU em Pacaraima, município da TI São Marcos, homologada em 1991. O
deixando o valor da caixa de 21 quilos entre R$
de 9 mil habitantes, na região serrana que 25 a R$ 40. Nesta safra, os indígenas esperam
documento foi assinado nesta sexta-feira à
separa o Brasil da Venezuela. E isso não ocorre tarde, em Pacaraima, em evento que teve tom colher 63 toneladas de tomates. A previsão é de
porque sejam caloteiros ou o prefeito, o fazen político-eleitoreiro. Participaram o senador 16 caixas por semana. Foram plantados 12 mil
deiro Paulo Quartiero (DEM), perdoe a todos. pés de tomate na Serra da Moça e seis mil no
Romero Jucá (PMDB), o governador Anchieta
Não pagam porque ninguém possui título de Júnior (PSDB), além de alguns candidatos a Truaru. Cada pé produz em média 3,5 quilos.
propriedade. Oficialmente, ninguém é dono de cargos proporcionais neste pleito. Até crianças (Folha de Boa Vista, 08/08/2007)
nada. Nos negócios, compradores e vendedores portavam santinhos distribuídos durante o
assinam recibos e reconhecem a firma. Nem evento. Segundo as autoridades presentes, a CÂmaRa FeDeRal DeBate
cartório de registro de imóveis a cidade tem. proposta de exclusão do perímetro urbano do amPlIaÇãO De tI em RORaIma
Pacaraima tem prefeitura, Câmara Municipal, município foi elaborada há 1 ano e 6 meses
hospitais e escolas públicas, agência do Banco A possível ampliação da TI Serra da Moça,
pela Prefeitura de Pacaraima em conjunto próxima ao Projeto de Assentamento Nova
do Brasil, tudo aquilo que uma cidadezinha
com o Ministério do Desenvolvimento Agrário Amazônia, na região do Truaru, será alvo de
necessita. Mas, tecnicamente, não existe. Ou, (MDA). Pela proposta, a área que será retirada
se existe, deve sumir do mapa. O município, discussão durante uma audiência pública
do limite da reserva será recompensada com marcada para acontecer às 14h de hoje, na
criado em 1995, após se desmembrar de Boa
uma área de floresta, a oeste do município, Comissão da Amazônia, Integração Nacional e
Vista, foi plantado em área da União – na TI
que ficou fora da demarcação. Entretanto, em Desenvolvimento Regional, na Câmara Federal.
São Marcos. (OESP, 14/12/2008) 2007, a deputada federal Ângela Portela (PT) O pedido foi feito pela deputada Maria Helena
já havia apresentado indicação ao Ministério Veronese (PSB) e deve contar com as presen
eletROBRaseletROnORte da Justiça propondo a exclusão do perímetro ças do governador Anchieta Júnior (PSDB)
assIna COnVÊnIO urbano de Pacaraima, correspondente a 1.167 e do presidente da Funai, Márcio Meira. De
A Eletrobras Eletronorte, que já desenvolve hectares. E sugerido como compensação, a per acordo com a deputada, a Funai apresentou
os programas indígenas Waimiri Atroari e muta de uma área de 11.186 hectares, evitando um pedido de ampliação da reserva em 2002,
Parakanã, exemplares na questão e tidos que os índios tivessem seu território reduzido. mas recentemente a situação começou a gerar
entre os melhores do mundo, assinou termo O grupo de trabalho terá 90 dias para analisar a conflitos, já que na área vivem cerca de 500
de compromisso com a Associação dos Povos proposta e realizar laudos técnicos ambientais famílias, incluindo 83 que foram retiradas
Indígenas de São Marcos e a Funai para per e antropológicos, definindo assim o limite recentemente da terra indígena Raposa Serra
mitir aos índios daquela região de Roraima a territorial que pode ser excluído. O resultado do Sol. “As autoridades dizem que não há mo
gestão autônoma de projetos produtivos nas do estudo será então encaminhado ao presi tivo para instabilidade na região, pois o Incra
comunidades. Participaram da assinatura do dente Lula, a quem compete publicar ou não reconhecerá a posse das famílias indígenas
convênio, no valor de R$ 8 milhões, o diretor o decreto, definindo a questão. Para Favetti, a como assentados. Dessa forma, fica excluída a
de Planejamento e Engenharia da Empresa, situação dos moradores de Pacaraima é a mais hipótese da demarcação de uma nova reserva
Adhemar Palocci, o presidente da Funai, Márcio “agonizante” do país e uma definição poderá indígena no local. A Regional do Incra em
Meira, e os representantes da Associação José servir de modelo para outras demarcações Roraima, por sua vez, afirma que nunca se
Lourenço, Galdino Pereira e Firmino Alfredo. de terras indígenas que envolvem moradores pensou em transformação da área em reserva
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA SERRA E LAVRADO 273
ACONTECEU
e que os indígenas podem ou não aceitar o Nova Amazônia. No local, além das cerca de 700 mais 400 indígenas ameaçam entrar na área
reconhecimento da posse da terra que ocupam, famílias assentadas, estão 83 famílias egressas para pressionar a ampliação. A ação cautelar
pelos termos da reforma agrária”, explicou. da Raposa Serra do Sol. A Funai entrou com poderá ser analisada pelo presidente do STF,
(Folha de Boa Vista, 11/08/2009) agravo em relação à liminar na SeçãoJudiciária ministro Gilmar Mendes, que responde pelo
em Roraima e não obteve êxito, então recorreu plantão do tribunal até o fim de janeiro, ou
tRF DeteRmIna RetORnO De à Brasília, e no início de novembro, o desem – caso o ministro não considere a causa ur
bargador do TRF da 1ª Região proferiu decisão gente – entregue a um dos ministros da Corte
gRuPO InDÍgena favorável aos indígenas. A assessoria jurídica na volta do recesso forense, a partir de 1° de
O desembargador do Tribunal Regional Federal dos não-indígenas aguarda a publicação para ir fevereiro. (Luana Lourenço, Agência Brasil,
da 1ª Região, João Batista Gomes, em caráter à Brasília recorrer da decisão. (Vanessa Lima, 20/01/2010)
liminar, suspendeu a decisão do juiz da 2ª Folha de Boa Vista, 28/11/2009)
Vara Federal da Seção Judiciária de Roraima, DeCIsãO DO stF mantÉm
Atanair Nasser Ribeiro, que determinou a
desocupação da área do Projeto de Assenta gOVeRnO De RORaIma VaI aO ÍnDIOs em FaZenDa De RORaIma
mento Nova Amazônia, na região do Truaru, stF COntRa eXPansãO Da tI O presidente do STF, ministro Gilmar Mendes,
pelas oito famílias indígenas oriundas da O governo de Roraima entrou com um pedido negou, em medida liminar, o pedido do gover
maloca Serra da Moça que ali se instalaram. de liminar no STF para impedir a expansão da no de Roraima para a retirada de índios que
A ação de reintegração de posse foi movida TI Serra da Moça para dentro dos limites de ocuparam uma fazenda próxima à TI Serra
pela Associação de Trabalhadores e Trabalha uma área que foi destinada para agricultores da Moça. Na decisão, Mendes determina “a
doras Rurais em Regime Familiar do Truaru brancos que tiveram que deixar a TI Raposa manutenção de assentamentos já existentes
(Assottrut), e com a decisão do juiz federal, Serra do Sol. De acordo com a ação, assinada na área e proíbe o acesso de novos grupos
as famílias da comunidade indígena Lago da pelo governador do estado, José Anchieta indígenas ao local”. O governo argumenta que
Praia, como se autodenominavam, deixaram Júnior, um grupo de oito famílias indígenas não se trata de terra ocupada tradicionalmente
a região no mês de agosto. A área era a antiga invadiu parte da área do Projeto de Assen pelos índios e que, na região, foram assentados
fazenda Bamerindus, que foi destinada para tamento Nova Amazônia e quer que a área parte dos fazendeiros não-índios retirados da
a reforma agrária como pagamento de dívida ocupada seja incorporada à Reserva Serra da reserva Raposa Serra do Sol. (Amazonia.org,
01/02/2010)
do banco com a União. Ali, o Incra criou o PA Moça. O governo estadual alega que cerca de
274 RORAIMA SERRA E LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Hixkaryana
Katuena
Waiwai
Waimiri Atroari
Yanomami
Ye’kuana
Isolados
N° Mapa Terra Indígena Povo População (n°.fonte. ano) Situaçãojurídica Extensão (ha) Município UF
3 Waimiri-Atroari Isolados Piriutiti 1.076/Funai-Manaus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 2.585.910 Novo Airão AM
Waimiri Atroari Decreto 97.837 de 16/06/1989. Reg. CRI no município de Presidente Presidente Figueiredo AM
Figueiredo, comarca de Itapiranga (889.400 ha) Matr. 459 Liv. 2-RG fl. 225 Urucará AM
em 17/4/89. Reg. CRI no município e comarca de Novo Airão (1.030.200 Rorainópolis RR
ha) Matr. 755 Liv. 2-B fl. 368 em 17/6/89. Reg. CRI no município e comarca São João da Baliza RR
de São Luiz( 539.000) Matr. 1.225 Liv. 2-E fl. 26 em 18/02/99. Reg. CRI
no município de São João da Baliza, comarca de São Luiz (127.311 ha)
Matr. 1.226 Liv. 2 -E fl. 26 em 17/02/99. Reg. SPU Certidão n° 292 em
22/11/88. Reg. SPU Certidão n° 16 em 01/10/99
Novos “isolados” ou
antigos resistentes?
“OS MOxI HATëTëMA THëPë SãO YANOMAMI E POR segunda metade dos anos 1990. Este grupo é tradicionalmente
ISSO A HUTUKARA ASSOCIAçãO IRá DEFENDê-LOS conhecido pelos seus antigos vizinhos e inimigos Yanomami
DOS GARIMPEIROS E GARANTIR qUE ELES POSSAM de língua Yanomae/Yanomama2 do oeste e do sul como Moxi
VIVER EM PAz, NãO DEIxANDO qUE NENHUM BRANCO hatëtëma thëpë. Esta designação remete ao fato que estes índios
OS ENCONTRE” (Davi Kopenawa, junho de 2011) manteriam o prepúcio do pênis (moxi) preso entre dois barbantes
(hatëtë-) amarrados na cintura.3
1A FPEYY, implantada na TI Yanomami em junho de 2010, é ligada ao Depar 9 Relatórios do sertanista F. Bezerra de Lima de 1973 e 1974 (Funai, 1ª DR).
tamento de Índios Isolados da Funai. 10 Peters (comunicação pessoal) observa que estes objetos lembram a cultural
2 A família linguística Yanomami é composta de quatro línguas principais: material dos Ninam do Mucajaí e do Apiaú tais como a encontrou no final
Yanõmami, Yanomae/Yanomama, Sanöma e Ninam/Yanam. dos anos 1950. Entretanto, os habitantes do Apiaú eram reputados por suas
panelas de barro “mais frágil, simétrica e leve” que as cerâmicas dos Ninam
3Ao contrário dos outros Yanomami que usam (ou usavam) um único bar
centrais (Peters, 1998: 187).
bante.
11Aocupação garimpeira do Apiaú começou em 1982 (Apiaú velho) e aumentou
4 Tributário da margem direita do médio Mucajaí.
consideravelmente em 1985-1986 (rio Novo, Cambalacho). O relatório citado, de
5 Por ex., nas fotos dos padres R. Silvestri e S. Sabatini (Consolata) de 195-54 e maio 1985, é de autoria do chefe do PI Paapiú, T. de Souza Filho (10ª DR).
1963-1964 no médio Apiaú. O subgrupo linguístico Ninam é situado a periferia
12Em 1985 a FUNAI documentou a invasão da área dos “Yawari, um subgrupo
leste da TI Yanomami, nas regiões do rio Uraricáa (Ninam septentrionais), médio
Yanomami que ainda encontra-se isolado” pelos garimpeiros (relatório da an
Mucajaí (Ninam centrais) e Apiaú e Ajarani (Ninam meridionais).
tropóloga G. de Melo, junho de 1985, 10ª DR). O relatório mencionado na nota
6 Missionários evangélicos se instalaram entre os Ninam setentrionais (rio anterior registra também roubos dos garimpeiros nas roças dos Moxi hatëtëma
Uraricaá) e centrais (rio Mucajaí) em 1958 (Migliazza, 1972:387, Early & thëpë e recomenda sua atração nas imediações do PI Apiaú.
Peters, 2000 : 32-33). Os Ninam meridionais do médio Apiaú foram contata
um
13 Durante
líder da
umregião
encontro
relatou que da
regional noHAY
auge
realizado no Apiaú,
do garimpo na TIY
em os
junho
garimpeiros
de 2011,
dos por missionários italianos da ordem da Consolata em 1953 e novamente
em 1963-1964 (Sabatini, 2003), bem como por missionários evangélicos do
médio Mucajaí a partir de 1959 (Early & Peters, 2000:33). As comunidades atacaram e mataram um grande número de Moxi hatëtëma thëpë.
do Ajarani foram contatadas pelos mesmos missionários evangélicos em 1961 14Talvez no começo de 1985 durante a instalação de um efêmero posto de
(loc. cit.), após uma visita destes Índios a sua missão do rio Mucajaí em 1960 vigilância da Funai no alto Apiaú (Serra da Estrutura), ver CCPY 1989.
(Peters, 1998: 187, 212-213). Os missionários da Consolata também tinham
estabelecido relações com os habitantes da região em 1962-1963 (Sabatini, 15Relato de Ivan Xiriana (Uxiú) ao coordenador da FPEYY, Michel Idris da
2003). Em 1967-1968 as comunidades do Ajarani foram vítimas de uma epi Silva.
demia de sarampo (Pinto Figueiredo Costa, 1967) e de um ataque dos Ninam 16Durante o encontro da HAY mencionado em nota acima, o mesmo líder do Apiaú
do Mucajaí e Apiaú (Peters 1998 :212-215). Os sobreviventes foram finalmente relatou que, há alguns anos, garimpeiros o procuraram em Boa Vista perguntando
alcançados pela construção de estrada Perimetral Norte em 1973 e vítimas de se ele conhecia os “índios bravos” do rio Novo (alto Apiaú) que estavam impedindo
uma incursão guerreira dos seus vizinhos do Catrimani em 1974 (ver Ramos, seu trabalho na região, chegando a afirmar que pretendiam eliminá-los.
1978; Verdum, 1995).
17Lembrando assim a história dos primeiros contatos dos Ninam centrais em
7O explorador suíço G. Salathé e o Padre A. Meyer visitaram o alto Catrimani (rio busca de ferramentas no fim dos anos 1950, ver Peters 1998:177-78.
Jundiá) em 1929-1930. Salathé menciona ataques regulares das comunidades
da região contra os “Jauary” e Meyer evoca a presença dos “Yauari” numa região 18Deacordo com um estudo recente de imagens de satélite (Nilsson, 2011) os
situada entre o alto Mucajaí e o alto Catrimani, nas cabeceiras do Mucajaí bem Moxi hatëtëma thëpë teriam aberto em 2007 as roças desta nova localização.
“Infanticídio”:
Esclarecimentos e Comentários
A PRáTICA DO “INFANTICÍDIO” ERA SEMPRE PARA (neonato) pela mãe da criança. As mulheres yanomami dão à
AS MãES YANOMAMI UMA ESCOLHA ExTREMA, luz na floresta, sozinhas ou, quando mais novas, acompanhadas
CAUSADORA DE GRANDE TORMENTO PSICOLÓGICO. de mulheres de seu círculo familiar. Os homens estão excluídos
PORTANTO, NADA NOS PERMITE ROTULá-LA do parto e das decisões referentes ao recém-nascido. Uma vez
PREGUIçOSAMENTE COMO UMA SIMPLES “REGRA aceito pela mãe e iniciada a amamentação, o bebê é trazido à
CULTURAL” – PARA NãO DIzER “RITUAL” –E aldeia e, assim, constituído como ser humano e membro do
LOGO CONDENá-LA COM TODO O ARSENAL DE grupo em sua plenitude, não podendo ser morto posteriormente
PRECONCEITOS COM O qUAL NOSSO IMAGINáRIO por nenhuma razão. Não existe, portanto, filicídio entre os
PROJETIVO ASSOLA HABITUALMENTE OS POVOS Yanomami.
INDÍGENAS. DEVEMOS FAzER O ESFORçO DE
2. Para as mulheres yanomami, eliminar um recém-nascido nas
ENTENDER O CONTExTO SOCIAL NO qUAL ESSAS
condições descritas acima era recorrer a uma opção drástica,
MãES ERAM LEVADAS A TAL ESCOLHA porém coletivamente aceita em função de circunstâncias noto
riamente adversas. Portanto, do ponto de vista da sua sociedade,
Casos de “infanticídio” ocorriam tradicionalmente entre os Yano essa conduta não era julgada como um desvio de conduta indi
mami logo após o parto quando o recém-nascido encontrava-se vidual – um crime – como o seria a partir dos nossos próprios
acometido por uma grave malformação ou deficiência de desenvol códigos morais e jurídicos.
vimento, mas também, mais raramente, quando a mãe não tinha 3. As mulheres yanomami praticavam também, ocasionalmente,
condições normais de amamentar e de cuidar de seu bebê. Isto o aborto por alguns dos motivos acima citados e outros, como ex
podia acontecer quando ela estava muito doente, era excessivamen cesso de crianças para criar em função dos recursos alimentares
te jovem e/ou sem apoio alimentar do genitor, ou ainda quando disponíveis etc. Portanto, o neonaticído não era considerado, na
tinha gêmeos (neste caso um era sacrificado, pois não poderia sociedade yanomami tradicional, como uma medida corriqueira,
ser amamentado).1 Ocorria também, pela mesma razão, quando ocorrendo somente como último recurso.
o nascimento acontecia fortuitamente antes do fim do período de
Em todos os casos, essa prática era sempre para as mães yano
amamentação de outro bebê. De fato, as mães yanomami procu
mami uma escolha extrema, causadora de grande tormento psi
ram geralmente manter um intervalo de cerca de três anos entre
cológico. Portanto, nada nos permite rotular preguiçosamente o
cada nascimento a fim de garantir uma amamentação adequada
neonaticídio como uma simples “regra cultural” – para não dizer
a seus filhos.2 Portanto, quando se pretende discutir o “infanticídio
“ritual” – e logo condená-la com todo o arsenal de preconceitos
yanomami”, três coisas devem ser esclarecidas de antemão:
com o qual nosso imaginário projetivo assola habitualmente os
1. Falamos aqui, de acordo com nossa nomenclatura jurídica, povos indígenas. Devemos fazer o esforço de entender o contexto
de neonaticídio, eliminação pós-parto de um recém-nascido social no qual essas mães eram levadas a tal escolha.
coivara.
1 O trabalho das mulheres (roça e coleta) bem como a qualidade da sua dieta
ENTRE OS DIAS
40 XAPIRI E 24DE YANOMAMI
THËPË22(xAMãS) MARçO DE 2011,
SE Equipe de edição
Los Yanomami en
Alto Orinoco
Aimé Tillet Antropólogo, Grupo de Trabajo Socioambiental para la Amazonía
(Wataniba)
José Antonio Kelly Professor de Antropologia/UFSC, Wataniba
SUMAN UNAS 15 MIL PERSONAS qUE VIVEN concertadas y a veces encontradas entre entes estatales (alcaldía,
EN APROxIMADAMENTE 250 COMUNIDADES gobernación, programas de gobierno, iniciativas ministeriales).
DISTRIBUIDAS EN ALREDEDOR DE 192.000 KM2 EN ‘El 12 de Octubre del 2005 el Presidente Chávez anunció la expul
LOS ESTADOS BOLÍVAR Y AMAzONAS AMBOS AL sión dela MNT de Venezuela. En el seno del estado se diseñó un
SUR DEL PAÍS Y FRONTERIzOS CON BRASIL. ESTE programa de sustitución de servicios otrora ofrecidos por la MNT
BREVE REPORTE SE CENTRA EN LA REALIDAD DEL (logística aérea, educación y salud) que en realidad se convirtió
MUNICIPIO ALTO ORINOCO DEL ESTADO AMAzONAS, en un plan de incremento de presencia estatal
DONDE SE CONCENTRA LA MAYOR PARTE DE LA
al sur del Orinoco con el fin principal de resguardar la
POBLACIÓN Y DONDE HA ExISTIDO UNA MAYOR
soberanía (control de fronteras, minería ilegal, narcotráfico,
PRESENCIA DEL ESTADO, RAzÓN POR LA CUAL
contrabando de combustible) además de promover la expansión
TAMBIÉN SE DISPONE DE MáS INFORMACIÓN
ciudadana a través del apoyo a las comunidades indígenas.
Esto ha redundado en la creación de una base aérea en La
Los procesos más influyentes que han afectado grandes partes Esmeralda – capital del municipio Alto Orinoco y puerta de en-
dela población yanomami durante los últimos años son: 1) el trada al territorio yanomami– así como la ampliación y moderni
proceso de incremento de presencia estatal que siguió a la zación dela base aérea de Puerto Ayacucho – capital del estado
expulsión de la Misión Nuevas Tribus (MNT) en enero/febrero Amazonas. Una flota de 19 avionetas constituye un grupo aéreo
2006 y 2) el incremento del flujo de bienes, salarios y servicios militar que sirve de logística a los entes estatales que suplen
a través de programas sociales de gobierno, la profundización de servicios y envían equipos y materiales al Alto
la politica de partidos y la proliferación de formas de organi Orinoco. Así mismo se han creado dos pequeños puestos
zación local (consejos comunales) con fines de adjudicación de militares en las comunidades yanomami de Koyowe, en el río
Orinoquito y Yahanama, en el Alto río Padamo. Entre el 2006 y
recursos del estado. Estos cambios se sobreponen a la histórica
precariedad del estado venezolano tanto en materia de control 2009 un importante apoyo aéreo militar incluyó, con una mediana
regularidad, la presencia de helicópteros que fueron vitales para
dela minería ilegal en territorio yanomami como en lo referente
ala expansión y consolidación de un sistema de salud digno y la expansión del sistema de salud (puestos nuevos, atención mé
eficiente para toda la población yanomami. dica, formación de personal yanomami y extensión de programas
de prevención y control de enfermedades). A
Estos cambios son procesos generalizados, pues influyen enla
partir de entonces la presencia de helicópteros ha sido más esca
vida de los yanomami expansivamente a partir de los antiguos
sa, limitándose ala atención de emergencias médicas.
centros de misión en las orillas del Orinoco y la serranía Parima;
irregulares, porque a sus avances muchas veces siguen retrocesos
y dentro de sus lineamientos amplios se tejen micro-políticas
SITUACIóN dE SALUd
siempre cambiantes; y heterogéneos, porque su intensidad en las Como consecuencia del acuerdo suscrito por el Estado venezo
diversas regiones yanomami es variable y responde a políticas no lano ante la Comisión Interamericana de Derechos Humanos en
O Amadurecimento da Hutukara
Associação Yanomami
APÓS SEIS ANOS DE SUA FUNDAçãO, A HUTUKARA Pró-Yanomami (CCPY), a Funasa/RR, a Embaixada da Noruega
ASSOCIAçãO YANOMAMI (HAY) SE CONSOLIDA e a Rainforest Foundation, ONG norueguesa.
COMO IMPORTANTE INSTRUMENTO PARA
Com a possibilidade inaugurada pelo artigo 231 da Constituição
ARTICULAçãO INTERNA E REPRESENTAçãO
DOS POVOS YANOMAMI E YE’KUANA de 1988, de organizações como essas constituírem-se como
pessoas jurídicas, a Hutukara foi registrada em cartório no ano
seguinte, para então dar início, em meados de 2006, à sua atua
“A Hutukara é para os Yanomami dormirem tranquilos, ficarem ção expressiva como instrumento de representação política dos
sadios”, declarou o presidente da associação, Davi Kopenawa Yanomami. A estes, se juntaram em 2008 os Ye’kuana e a repre
Yanomami, em seu discurso de abertura da IV Assembleia Ge sentação da Hutukara estendeu-se então a toda a TI Yanomami.
ral da Hutukara. A reunião aconteceu entre 1 e 7 de novembro Desde então, ela vem realizando regularmente ações que visam o
de 2010, na região do Toototobi (Terra Indígena Yanomami) e cumprimento de assistências de qualidade à saúde e à educação
agrupou aproximadamente 1.025 Yanomami de 72 comunida escolar bilíngue, além de medidas em prol da valorização cultural,
des diferentes. Alguns dos destaques da IV Assembleia foram as da defesa do território e de seus recursos naturais que, neste
eleições para a nova diretoria da associação, as declarações dos caso, têm como principais ameaças a intrusão de fazendeiros e
xamãs yanomami sobre as mudanças climáticas e as pautas madeireiros locais, o garimpo ilegal e o projeto de lei que prevê
sobre saúde e educação, que contaram com as visitas do secre a regularização de mineração em TIs.
tário Dr. Antônio Alves, responsável pela recém-criada Secretaria
Especial de Saúde Indígena (Sesai), e de Alda Regina Amorim um altO Falante cOm ressOnâncIas
Franco, secretária adjunta da Secretaria de Educação do Estado Internas e externas
de Roraima (SECD/RR). Ao longo dos últimos seis anos, a HAY dedicou-se a inúmeras
A associação foi criada em novembro de 2004, na aldeia de negociações com representantes do Estado, seja para denunciar
Watoriki (no interior da TIY), durante uma Assembleia Geral as ações governamentais que não são executadas a contento,
convocada para esse fim pelo xamã e líder Davi Kopenawa Yano seja para participar da elaboração e implementação de políticas
mami. Reuniram-se ali 64 representantes de 11 distintas regiões públicas que afetem diretamente os povos da TIY. A Hutukara
do território, além de representantes de outras organizações participa do Conselho do Distrito Sanitário Especial Indígena Yano
indígenas, de órgãos indigenistas do Estado e de ONGs de apoio, mami (DSEI-Y) e Davi Kopenawa, presidente da associação desde
tais como o Conselho Indígena de Roraima (CIR), a Coordenação sua fundação, foi nestes últimos anos um dos defensores ferrenhos
das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), a da retirada da saúde indígena dos auspícios da Funasa e da criação
Conselho das Aldeias Waiãpi (Apina), a Associação Yanomami de uma Secretaria Especial de Saúde Indígena ligada diretamente
do Rio Cauaboris e seus Afluentes (Ayrca), a então Comissão ao Ministério da Saúde. Com a criação da nova secretaria, o desafio
NO INÍCIO DE 2005, A MORTE DE UM JOVEM DE que a bebida é consumida. Os meios mais comumente usados
APENAS 14 ANOS CAUSOU GRANDE CONSTERNAçãO pelos jovens são o enforcamento, arma de fogo (no caso dos
NA ALDEIA YE’KUANA DE FUDUWAADUINHA, rapazes) e envenenamento por timbó (sobretudo por mulheres),
ENGROSSANDO A FUNESTA ESTATÍSTICA A qUE uma planta tóxica usada na pesca em locais represados, que não
MUITOS YE’KUANA SE REFERIAM COMO SENDO causa dano à saúde quando é macerada na água, paralisando os
“O PROBLEMA DA COMUNIDADE”: AS MORTES peixes temporariamente, mas leva à morte por asfixia quando
POR SUICÍDIO o veneno é diretamente ingerido por humanos. Mas o que nos
dizem os Ye’kuana sobre as causas do suicídio dos jovens?
No Brasil são cerca de 400 Ye’kuana vivendo em quatro aldeias,
três ao longo do rio Auaris (Tajädedatänha, Fuduwaaduinha e as mOrtes anuncIadas
Kudatanha) e uma no rio Uraricoera (Waikás), no norte do estado A maior parte dos velhos associa os suicídios à escola. É por meio
de Roraima na Terra Indígena Yanomami. Fuduwaaduinha é a dela que as gerações mais jovens têm contato com o mundo dos
aldeia ye’kuana mais populosa e contava com 282 habitantes brancos. A escola, nesse discurso, representa o contato com uma
em 2006. Em 2008, duas das famílias extensas que viviam em realidade que lhes é alheia. Só é possível compreender o projeto
Fuduwaaduinha fundaram uma nova aldeia (Kudatanha) na ye’kuana que se iniciou com a escolarização desses primeiros
região conhecida como Tucuxim, próximo à foz do Auaris. jovens, e que desembocou na criação de uma escola indígena em
Auaris com auxílio de uma professora não indígena (uma missio
Uma das dificuldades em analisar o suicídio é a precariedade
nária da Missão Evangélica da Amazônia que, por mais de vinte
de dados no que se refere tanto às mortes quanto às tentativas
anos, trabalhou na escola de Auaris a convite dos próprios índios),
frustradas. Os Ye’kuana apontam o ano de 1998 como o mo
quando consideramos o conjunto de narrativas wätunnä, que se
mento crítico, quando o suicídio de um jovem soldado ye’kuana
constitui no corpus de conhecimento ye’kuana que reúne o saber
inaugurou uma sequência de eventos dessa natureza em Auaris.
adquirido em tempos imemoriais, a análise de eventos do passado
No período de 2005 a 2010, foram sete mortes por suicídio, e ao
e o conhecimento sobre o destino futuro dos Ye’kuana, revelado
longo dos 13 meses em que vivi em Fuduwaaduinha, de junho
por antigos e poderosos xamãs. Esse último conjunto de histórias,
de 2005 a julho de 2006, registrei nove tentativas de suicídio, o
que venho chamando de “profecia”, afirma que o atual ciclo de
que pode servir de parâmetro para o período, já que dificilmente
vida na terra não é a primeira tentativa do demiurgo Wanaadi de
se conseguem dados seguros sobre tais tentativas.
povoar o mundo, mas a terceira. Em cada um desses ciclos de
A faixa etária das vítimas é de jovens de ambos os sexos na faixa vida, foi delegado a um povo em particular o conhecimento que
de 14 a 25 anos. É forte a associação entre o suicídio e o consumo lhes permite assumir uma posição privilegiada com relação aos
de caxiri (a cerveja de mandioca fermentada) – grande parte das demais povos. No presente ciclo, essa posição é ocupada pelos
mortes e tentativas de suicídio ocorrem após festas e rituais em brancos, que, no entanto, têm se utilizado desse poderio de forma
NOS ÚLTIMOS ANOS, O EVENTO MAIS MARCANTE passo é reforçar a presença da Funai, qualificando a atuação da
PARA OS ÍNDIOS DO COMPLExO CULTURAL Coordenação Regional à qual essa região está jurisdicionada e
TARUMã-PARUKOTO (DENTRE OS qUAIS, OS WAIWAI a partir da criação de uma nova Coordenação Técnica Local da
SE TORNARAM OS MAIS CONHECIDOS) FOI A Funai em Oriximiná (PA), para garantir o atendimento regular e
HOMOLOGAçãO DA TI TROMBETAS/MAPUERA uma política de sustentabilidade socioambiental, considerando,
POR MEIO DO DECRETO DO PRESIDENTE LULA inclusive, a presença de povos isolados neste território”.1
EM DEzEMBRO DE 2009
dIFIculdades da presença da FunaI
Essa Terra Indígena, localizada nos estados do Pará, Amazonas Pode-se dizer que a atuação do órgão indigenista junto à popula
e Roraima, compreende uma área de 3,97 milhões de ha, numa ção indígena habitante da TI é muito dificultada pela distância
região de floresta muito preservada e onde habitam povos indí
dos centros administrativos e pela dificuldade de acesso às
genas das etnias Hixkaryana, Karafawyana, Katuena, Mawayana, aldeias, localizadas na região mais alta dos rios, que são, ali,
Pianokoto, Tikiana, Tunayana, Waimiri Atroari, Waiwai e Xereu, bastante encachoeirados. Além disso, tendo em vista que essa
além de povos em situação de isolamento voluntário. TI se inscreve dentro de diferentes unidades da federação
O processo de regularização desta TI iniciou-se em 1987, por (Amazonas, Pará e Roraima) e seis diferentes municípios,
meio de uma portaria de interdição da área, que foi expedida segue-se que as políticas públicas (como saúde e educação) são
em função da presença ali de índios isolados e da ameaça à sua recortadas e pautadas de acordo com a dinâmica de cada uma
sobrevivência e em virtude dos avanços da sociedade envolvente dessas unidades administrativas e, quase sempre, sem levar em
por intermédio da construção da Perimetral Norte (BR 210), que conta uma unidade cultural mais ampla no território.
ligaria o estado de Roraima ao estado do Amapá. A fase de iden
Talvez, por isso mesmo, a reestruturação da Funai, por meio
tificação e delimitação da área propriamente dita iniciou-se no
do Decreto 7.056, de 28/12/2009, tenha colocado as TIs Waiwai
final de 2000 e foi até 2004. A Portaria Declaratória foi expedida
pelo Ministério daJustiça no dia 16/09/2005. (RR), Nhamundá/Mapuera (PAe AM) e Trombetas/Mapuera (RR,
PA e AM) sob a jurisdição da Coordenação Regional de Manaus.
Todo o processo de regularização fundiária de Trombetas Antes desse decreto, a população indígena dessas terras estava
Mapuera foi realizado no contexto do PPTAL. Nos dias 17 e 18 vinculada a três diferentes administrações da Funai, de acordo
de junho de 2010, o Presidente da Funai, Márcio Meira, esteve com sua relativa proximidade: os índios do rio Mapuera, à admi
presente nas aldeias de Kassauá (no rio Nhamundá, Amazonas) nistração de Belém; os índios do rio Nhamundá e do rio Jatapu, à
e de Mapuera (no rio Mapuera, Pará) para participar junto com administração de Parintins; os índios do rio Jatapuzinho e do rio
a população indígena de uma festa de comemoração pela assina Anauá, à administração de Boa Vista. A criação da Coordenação
tura do decreto de homologação. Já na aldeia deJatapuzinho (rio Técnica Local de Oriximiná poderá significar uma melhor assis
Jatapuzinho, Roraima), a festa aconteceu nos dias 18 e 19 de julho tência aos índios do rio Mapuera. Por outro lado, os índios do rio
de 2010. Depois de homologada, disse Márcio Meira, “o próximo Jatapuzinho e do rio Jatapu, que não tiveram a criação de uma
TI TROMBETAS/MAPUERA paranapanema paga r$ 1,4 mutuns, cutias, pacas, tatus e antas, à beira da
mIlHãO para WaImIrI-atrOarI BR-174, no posto conhecido por Nawa. Os ou
tros são libertados na floresta para repovoarem
pOvOs de trOmbetas/mapuera Todos os dias, caminhões da mineradora Pa
as espécies. Os waimiri-atroari, do rio Alalaú
celebram HOmOlOgaçãO da tI ranapanema cruzam os 60 km de estrada de
e Camanaú, ao Norte do Amazonas e Sul de
Os povos que habitam a TI Trombetas Mapue terra que corta a terras dos waimiri-atroari no
Roraima, vivem em 22 aldeias, num território
ra receberam esta semana o presidente da Amazonas. Essa passagem tem um custo: 0,5%
de 2,2 milhões de ha. (Orlando Farias, Ama
Funai, Márcio Meira, e equipe, para celebrar a do faturamento da empresa com a extração do
zonas em Tempo, 21/06/2008)
homologação do território tradicional em que minério. Este ano, o mínimo previsto é de R$
vivem, delimitado pela Funai em 2004. Aos in 1,44 milhão, segundo a assessoria de imprensa
dígenas, o usufruto exclusivo do território que da empresa. O pagamento é fruto de um acor WaImIrI atrOarI crescem
do com os índios. A mineradora diz explorar 5,76% aO anO
tradicionalmente ocupam esta garantido pela
terras devolutas da União sobre as quais tem a Os waimiri atroari, comunidade composta por
Portaria Declaratória do Ministério da Justiça,
concessão do direito de lavra. Aárea é uma ilha 20 aldeias, localizadas no norte do Amazonas e
de 16 de setembro de 2005, e pelo Decreto de
Homologação da Presidência da Republica, entre terras demarcadas. A Paranapanema não sul de Roraima, crescem a uma taxa de 5,76%
tem dúvidas de que as terras indígenas vizinhas ao ano, graças ao Programa Waimiri Atroari,
de 21 de dezembro de 2009. (Blog da Funai,
21/06/2010) também são ricas em estanho. Mas afirma não uma parceria da Eletronorte com a Funai, para
ter interesse em disputar uma eventual licita assistir o grupo, depois que a UHE de Balbina
ção caso a mineração em terras indígenas seja
inundou parte de suas terras. Antes da criação
TI WAIMIRI-ATROARI mesmo regulamentada pelo governo. (Valor do Programa, em 1988, a população waimiri
Econômico, 31/05/2007) atroari era constituída por 374 membros. As
tcuJulga ImprOcedente ações mitigadoras empreendidas pela Eletro
açãO cOntra prOgrama pOlêmIca envOlve norte possibilitaram essa taxa de crescimento.
O TCU julgou improcedente representação parlamentares e ÍndIOs Até janeiro de 2008, 1.245 membros formavam
contra o programa indígena Waimiri-Atroari e Uma suposta crise envolvendo os índios Waimi a comunidade. O programa, que venceria em
2013, foi prorrogado. Quando o Programa
determinou ampla divulgação “dos resultados ri-Atroari e ribeirinhos de Roraima motivou um
que vêm sendo alcançados no que tange à começou, os índios tinham pouco contato
grupo de parlamentares deste estado a montar
melhoria da qualidade de vida daquele povo uma comissão para investigar o assunto. Eles com o mundo ocidental, por isso o trabalho
indígena”. A representação anônima contra o afirmam que os índios aumentaram por conta foi feito de forma gradativa. Segundo o líder
programa questionava possíveis irregularida própria os limites de seu território, e estariam da comunidade, Mário Parwe Atroari, o povo
des e citava o nome do indigenista e consultor impedindo os ribeirinhos de pescar e fazer Waimiri Atroari passou por muitas dificuldades
da Eletronorte José Porfírio Carvalho, respon coleta de castanha na região. Para José Porfí nas mais diversas áreas. “Antes do Programa
sável pela criação e condução das ações de rio, coordenador do projeto Waimiri-Atroari a era muito ruim. Morreram muitas pessoas na
educação, saúde, apoio à produção e proteção história não é bem essa. Ele diz que nenhum nossa comunidade, inclusive minha esposa e
ambiental junto aos Waimiri-Atroari. (Anaind, marco foi movido e que os índios têm excelente meu pai, por falta de assistência médica. Hoje
11/04/2006) relacionamento com os ribeirinhos. Ele explica a nossa população está feliz com o apoio da Ele
que a demarcação da área, feita em 1987, tronorte. Temos saúde, educação, fiscalização e
não contemplou locais que já eram ocupados demarcação”, relata o líder. Quando o Programa
“WaImIrI É a etnIa Que pelos índios. O problema estaria no fato de que começou, Marcelo Ewepe Atroari, hoje coorde
maIs cresce” empresários em Manaus teriam feito contratos nador da educação indígena e professor, tinha 14
A etnia Waimiri-Atroari comemora o Dia do com moradores da região para o fornecimento anos. Ele aprendeu a ler e escrever e se tornou
Índio como o povo indígena que mais cresce de castanha, prevendo a realização de coleta professor. Hoje, a maioria das pessoas já sabe ler
no Brasil. De 419 em 1987, a etnia tem hoje dentro da Terra Indígena. Seriam estas e escrever as duas línguas. Os líderes repassam
tem uma população de 1.201 pessoas divididas pessoas, e não os ribeirinhos, que estariam o conhecimento para as novas gerações. “A
em 19 aldeias, com uma taxa de crescimento sendo impedidas de entrar na reserva. (Renata responsabilidade do nosso povo está nas mãos
anual de mais de 60%. (Diário do Amazonas, Gaspar, Amazônia.org, 04/07/2007) da nova geração. Temos que começar a nos
19/04/2007) preparar para dar andamento ao trabalho que
WaImIrI-atrOarI sãO exemplO foi iniciado. O papel da Eletronorte foi trabalhar
gOvernO recOrre ÀJustIça com a educação para que nosso povo não fosse
de sustentabIlIdade enganado. Isso já foi feito. Estamos na luta
para lIberar br blOQueada Em abril, os waimiri-atroari libertaram 300 pelos nossos direitos”, reafirma o professor.
O governo de Roraima entrou com uma ação mil filhotes de tartarugas repovoando os rios e (Folha de Boa Vista, 21/08/2008)
no STF para tentar liberar o trânsito na BR lagos do território. Essa é uma prática que eles
174 bloqueado por índios waimiri-atroari. De conservam há muitos anos. O coordenador do
acordo com o pedido, os índios interrompem Programa Waimiri-Atroari, Marcelo Cavalcante, amazônIa na vItrIne
diariamente o tráfego entre os quilômetros diz que a preocupação em manter o território Foi inaugurada em Manaus a primeira loja/
205 a 328, das 18h às 6h. A estrada liga em permanente fartura é uma constante. galeria dedicada ao artesanato indígena e
Roraima ao Amazonas. (Folha de Boa Vista, Para se ter uma idéia do zelo com a fauna, os àquele das comunidades à margem dos rios. A
08/05/2007) índios reproduzem em cativeiro animais como GaleriAmazônica, inaugurada no mês de abril,
com 200m1 de área em construção tombada, perÍcIa avalIa ImpactO outras comunidades e com a gente” comenta
no Largo do Teatro, ocupa o mesmo prédio da dO trÁFegO na br 174 Valter Gumeson, Coordenador Substituto do
sede do ISA, entidade idealizadora do projeto, Programa Waimiri-Atroari, ao falar sobre a
A Ação Ordinária impetrada pelo Governo construção da rede que está sendo feita ao
em colaboração com a etnia indígena Waimiri
de Roraima junto ao STF para desobstruir
Atroari. É um espaço destinado à valorização longo da rodovia BR-174, que liga Manaus a
a BR-174 no trecho que fica dentro da TI Boa Vista. (Blog da Funai, 27/10/2010)
da diversidade socioambiental da Amazônia. A
GaleriAmazônica comercializa hoje peças das Waimiri-Atroari durante a noite está em fase
marcas Arte Baniwa, Waimiri-Atroari, Kumurô de perícia técnica. A 1ª Vara da Justiça Fede
Banco Tukano, Wariró, Fundação Almerinda
ral, que analisa o caso, quer saber o impacto YANOMAMI
Malaquias e Hutukara –Associação Yanomami, socioambiental que pode ser causado à flora
entre outros. (Maria Helena Estrada, ARC e à fauna da região, caso decida pela liberação YanOmamI pedem respeItO e
Design, 31/08/2008) do tráfego. Após o trabalho técnico, as partes atençãO a seus prOJetOs
serão chamadas em juízo para expor seus
Os Yanomami da região do Maturacá rejeitaram
posicionamentos, segundo o procurador-geral
trÁFegO nOturnO na tI a execução de projetos do Estado que não
do estado, Francisco das Chagas Batista. Em os incluam ou que ignoram suas demandas
prOvOca reaçãO seguida, deve haver uma decisão final sobre a e trabalhos já em andamento. Essa posição
A pressão externa pela liberação do tráfego questão, que já se arrasta há anos. (Folha de foi reafirmada em reunião convocada pelos
noturno de veículos dentro da reserva Waimiri Boa Vista, 23/08/2010) diretores AYRCA, em 12/02/2006 na Missão
Atroari será tema de audiência pública no Salesiana, respondendo à visita não previa
Senado. Atualmente, entre 18h e 6h da manhã, WaImIrI atrOarI terãO acessO mente informada de um grupo participante
só podem trafegar dentro da reserva ônibus, ca da Operação Rondon. Segundo os Yanomami,
minhões com carga perecível ou ambulâncias
À Internet e teleFOne
A cada dia que se passa, as comunidades e o a ida do grupo apenas foi o catalisador dessa
conduzindo enfermos. Só em 2008, mesmo reação, ensaiada há tempos devido à chegada
com a proibição do tráfego, cerca de 400 ani mundo estão interligados por meio de uma rede
constante, sem aviso prévio, de indivíduos com
mais silvestres foram atropelados nesses 125 de comunicação, na qual se incluem o telefone,
interesses estranhos à população yanomami
km de rodovia. (A Crítica, 10/11/2008) a carta e principalmente a internet. Com a local, sejam aqueles com autorizações de or
evolução das plataformas multimídias os meios
ganizações governamentais ou os que entram
de comunicação oferecem suportes para todos,
stF nega a rOraIma lImInar ilegalmente na TI, como garimpeiros e turistas
para qualquer comunidade. Um exemplo disso que frequentemente rumam ao Pico da Nebli
para desObstruIr rIOs é a parceria do Programa Waimiri-Atroari junto na, localizado na área. (CCPY, 30/03/2006)
O ministroJoaquim Barbosa, do STF, negou pe a Telemar Norte Leste S/A e TNL PCS S/A - OI
dido do governo de Roraima em uma ação cível que com o apoio e colaboração de servidores
contra a comunidade indígena Waimiri-Atroari. da Funai estão realizando a implantação da aldeIa maturacÁ recebe
O governo queria que o Supremo determinasse fibra ótica que levará telefone e internet gratuita presIdente da FunaI
à comunidade a desobstrução da passagem nos para 26 aldeias das etnias Waimiri e Atroari, no Por ocasião do lançamento do PAC indígena, na
Rios Jauaperi e Macucuaú, sob a alegação de estado de Roraima e Amazonas. “Essas ações região da Cabeça do Cachorro (AM), o presiden
existir risco iminente de conflito armado entre vão favorecer a comunicação dos índios entre te da Funai e sua comitiva seguiram de avião
os índios e os ribeirinhos. O relator, com base
em observações do MPF, ressaltou haver dúvida
sobre a legitimidade do Estado para pedir a
tutela antecipada. (OESP, 19/09/2009)
FuncIOnÁrIOs da Funasa
reduzem atendImentOs
Os funcionários contratados pela Fundação
Universidade de Brasília para prestar serviço
à Funasa resolveram reduzir o número de
servidores em apenas 30% nas áreas de as
sistência a saúde yanomami. O presidente do
Sindicato dos Servidores das Áreas Indígenas
de Roraima, Rondinelle Rodrigues, disse que a
redução de servidores começa a partir de hoje e
o motivo que levou à paralisação parcial foram
os dois meses de salários atrasados, além da
Grupo de jovens yanomami, depois do desmonte de um dos regularização do pagamento, já que, segundo
abrigos construídos em local sagrado no Pico da Neblina (AM). o sindicalista, os atrasos vêm ocorrendo com
freqüência há cerca de seis meses. (Folha de
para uma rápida visita a duas comunidades das lideranças tradicionais e executada nos Boa Vista, 09/05/20006)
indígenas da região: Maturacá (TI Yanomami) primeiros dias de janeiro. A construção dos
e Iauaretê (TI Alto Rio Negro). Os Yanomami abrigos foi determinada pelo Instituto Chico Funasa cOnFIrma grave
de Maturacá receberam a comitiva em clima Mendes, órgão gestor do Parque Nacional, mas epIdemIa de malÁrIa
de festa. A comunidade tem mais de 1300 construída pelo Exército a título de compen
habitantes, na qual está situada uma base da sação pelos danos ambientais causados pela Finalmente a Funasa através do “Relatório
Missão Salesiana e um pelotão de Fronteira do Técnico da Malária- Distrito Sanitário Yano
abertura irregular de um ramal na BR 307,
Exército, situação bastante atípica dentro do pa mami - 2006” reconhece que está em curso
que tangencia aquela unidade de conservação.
no DSEI-Y uma grave epidemia de malária
drão Yanomami. Toda a conversação, que não Um acordo extra-judicial, que não contou com que pode superar, até o final do ano, os níveis
passou de duas horas, requereu tradução de a participação das comunidades indígenas nem epidêmicos registrados na década de 90 que
mão dupla, yanomami-português, coordenada da Funai, determinou que o Exército implan
pelos jovens dirigentes da Associação Yanoma foram motivo de escândalo internacional e de
tasse tais acampamentos-base até 12 de janeiro vergonha para o Brasil.
mi do Rio Cauaburis e Afluentes (AYRCA). Os de 2009, sob pena de multa. Os yanomami
Yanomami expressaram preocupação com a Somente no primeiro semestre de 2006 foram
denunciaram o caso ao MPF, que participou notificados 2.591 casos, representando um au
possibilidade de o Governo retomar a abertura do acordo e tem uma ação judicial relacionada mento de 470 % em relação ao mesmo período
de um ramal ligando a BR-307 a aldeia, entre ao caso. Além dos Yanomami não terem sido
outras reivindicações. (ISA, 25/09/2007) no ano anterior. Além dos fatores que sempre
ouvidos e terem manifestado desde o princípio contribuíram para a penetração da doença no
contrariedade quanto à construção, o Parque DSY (garimpo e frentes de colonização), e que
ÍndIOs cOntra abrIgOs em não tem ainda plano de manejo, documento não se alteraram significativamente nos últi
lOcal sagradO que deveria prever qual a infra-estrutura a ser mos dois anos, a Funasa Identificou problemas
Acampamentos-base de estruturas metálicas instalada no parque. Apesar da denúncia, feita no gerenciamento do DSY e os conseqüentes
implantados na trilha que leva ao Pico da Nebli em 1º/12/2008, as obras continuaram e foram efeitos na qualidade e intensidade das ações
na foram desmontados por integrantes de uma finalizadas. (ISA, 29/01/2009) de controle da doença:
expedição de jovens yanomami da comunidade “Outros fatores importantes que contribuíram
de Maturacá, localizada no extremo oeste da TI SAÚdE significativamente para o incremento, dissemi
Yanomami, no Amazonas. A informação consta nação da doença e falta de sustentabilidade das
de nota pública assinada pela diretoria da Ayrca ações de controle executadas foram a instabi
(Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Ong suspende aJuda lidade dos convênios com as ONG’s parceiras
Afluentes) e entregue à Foirn, em S. Gabriel a YanOmamI (Fubra e Secoya principalmente), falta de
da Cachoeira/AM. A operação-desmonte foi AONG Serviço e Cooperação com o Povo Yano repasses dos recursos e paralisação dos traba
decidida em reunião realizada em Maturacá no mami (Secoya) suspendeu no dia 20 de abril lhos de campo pelos funcionários.” Nenhuma
dia 29 de dezembro último com a participação o atendimento médico ao povo ianomâmi. novidade. Desde o início de 2005, lideranças
yanomami reiteradamente denunciaram a o pagamento dos profissionais. Depois da libe malária, enquanto que até 17 de novembro
degradação da assistência e o aumento da ração e da troca de turno dos 11 profissionais deste ano foram registrados 565 casos da do
malária. Reclamavam que as aldeias deixaram que estavam na área, seis voltaram a Boa Vista ença. (Folha de Boa Vista, 26/11/2008)
de receber visitas na freqüência desejável e (RR) e cinco permaneceram na região para
algumas comunidades de mais difícil acesso dar continuidade ao atendimento médico à surtO de malÁrIa se
foram simplesmente abandonadas. Com dados comunidade. (Radiobrás, 04/10/2007)
obviamente incorretos pela sub-notificação,
IntensIFIca na tI YanOmamI
a Funasa negava a palavra dos Yanomami e A malária, longe de ser parte do passado dos
permanecia inerte à situação. YanOmamI lIberam avIÕes Yanomami, voltou a crescer e está novamente
A omissão da Funasa pode ser confirmada
apreendIdOs vitimando suas crianças. Na região de Auaris,
pela análise do número de exames de sangue Os índios da maloca Papiu, no município de extremo noroeste de Roraima, a doença voltou
realizados no DSY para o diagnóstico da ma Alto Alegre, liberaram hoje os três aviões da a ser frequente entre os 2.404 indígenas Sanu
lária. De 2000 até a metade de 2004 a URIHI Funasa, que foram apreendidos no último ma (subgrupo Yanomami) e Yekuana que ali
se responsabilizou pela assistência de cerca de domingo, dia 18. Na próxima segunda-feira, a vivem. Servidores da Funasa afirmam que na
50 % da população Yanomami. Encontrando a Funasa deve assinar um acordo para que outra semana que passou foram registrados 70 casos,
malária em níveis epidêmicos, a Urihi coletou, entidade assuma a saúde indígena em Roraima número que se aproxima da situação vivida
em seu primeiro ano de trabalho, 73.650 e regularize a situação. (Folha de Boa Vista, pelo povo Yanomami nas décadas de 1980 e
1990, quando suas terras foram invadidas por
exames. Os casos diagnosticados eram pron 21/11/2007)
tamente tratados. milhares de garimpeiros. Em julho, só em Aua
Assim, o número de casos nas áreas atendidas ris foram registrados 239 casos da doença.
mpF/am entra cOm açãO Apesar da Funasa ter intensificado os trabalhos
pela organização foi diminuindo a cada mês e,
cOntra Funasa de combate à doença durante os últimos dias,
ao final de 2003, foi alcançada uma redução
de 99% na incidência da doença. De principal O MPF do Amazonas entrou com uma ação civil são ainda insuficientes, pois trata-se de uma
pública contra a Funasa, para garantir o atendi região com grande densidade populacional. De
causa de morte entre os Yanomami na década
de 90, a partir de 2002 a mortalidade pela mento de saúde a cerca de dois mil indígenas acordo com os indígenas, as comunidades de
malária caiu a zero. Já em 2005, início da da etnia yanomami. O atendimento, que era Kolulu u e Kalisi são as mais atingidas.
atual epidemia, foram realizados em todo o realizado por meio de convênio com o Instituto O atendimento à saúde dos Yanomami atra
DSY apenas 72.963 exames, o que representa Brasileiro pelo Desenvolvimento Sanitário vessa um dos mais difíceis momentos de sua
uma queda de 50 % na principal atividade de (IBDS), está paralisado desde março deste ano. história recente. Inviabilizada por denúncias
controle da malária. Óbitos pela doença volta O convênio, firmado no final de 2007, prevê o de corrupção e má gestão de recursos pela Fu
ram a ocorrer. Para aumentar a estranheza e pagamento de R$ 2.251.242,00 em 2008 para nasa, a estrutura de atendimento baseada em
a indignação, a decadência da assistência da a prestação de serviços de saúde nos pólos convênios . Um chamamento público realizado
população Yanomami ocorre enquanto são base Maturacá, Maiá e Inambu, pertencentes em seguida selecionou a Secretaria de Saúde de
triplicados os gastos com a sua saúde. ao Dsei Yanomami, com base em São Gabriel Roraima (Sesau/RR) para o atendimento aos
Diante de tudo disso, o Conselho Distrital de da Cachoeira. A Funasa alegou que as parcelas dois Dseis do estado, mas não foi efetivada o
Saúde do DSY vem exigindo repetidamente que do convênio não vêm sendo repassadas em de devido a protestos das populações indígenas,
corrência de irregularidades por parte do IBDS que exigem a implementação da autonomia
a Funasa tome providências concretas para
enfrentar essa desastrosa crise na saúde dos no cumprimento do termo, como denúncias dos Dseis e a criação de uma Secretaria Espe
Yanomami. Dentre as medidas recomendadas por parte dos yanomamis contra a conveniada, cial de Saúde Indígena vinculada diretamente
estão a revisão do modelo de gestão do DSY, aplicação indevida de recursos e falta de docu ao Ministério da Saúde.
a investigação do inexplicável aumento dos mentação necessária. (Notícias do Ministério As incertezas sobre a política de atendimento
gastos bem como a substituição dos convênios Público Federal, 21/11/2008) e a ausência de contratações na área de saúde
claramente ineficientes por uma parceria com têm causado insegurança entre as populações
o CIR, organização com reconhecida experiên indígenas. E têm sido temporariamente resol
malÁrIa atInge cOmunIdade vidas por meio de contratos com funcionários
Saúde atendimento01/11/2006)
cia no Yanomami, à saúde indígena.(Urihi- Que tInHa erradIcadO dOença colaboradores, muitos dos quais estão traba
Um surto de malária foi registrado pela Funasa lhado na TI Yanomami pela primeira vez.
há cerca de duas semanas, em comunidades A falta de experiência dos servidores afeta di
YanOmamI lIberam mÉdIcOs indígenas Yanomami, localizadas na região do retamente o trabalho de assistência na região,
e enFermeIrOs Alto Catrimani. Casos de malária são comu como relata Carlos Sanuma, liderança local e
Já foram liberadas as duas equipes médicas que mente registrados. Mas o que chamou atenção conselheiro do Distrito de Saúde Yanomami:
prestam serviço para a Funasa e que ficaram especial para esta situação, segundo o médico “Na nossa terra os funcionários colaborado
retidas durante quase todo o dia de ontem (3) sanitarista do DSEI Yanomami e Ye’kuana, res da Funasa, até sabem trabalhar, mas não
pelos Yanomami da aldeia Papiu, na região Oneron Pithan, é o fato de a doença ter sido conhecem nossa área e nosso povo, os novatos
de Surucucu, município de Alto Alegre. De reintroduzida nesta região, depois de sete não entendem nossa língua e nossos parentes
acordo com a nota à imprensa divulgada pela anos sem haver qualquer registro. O motivo, não entendem a língua deles, por isso estamos
Fundação, as duas equipes e as aeronaves conforme ele, foi a reativação de um garimpo muito preocupados, todos nós, as lideranças,
foram liberadas depois do anúncio do repasse ilegal próximo das comunidades indígenas. Em os xamãs e toda a comunidade. Nós queremos
dos recursos, no valor de R$ 2,8 milhões, para 2007, foram 825 indígenas acometidos pela que os funcionários que trabalhavam aqui
antes voltem para cá, pois eles entendem um pelo vírus Influenza A, sub-tipo do H1N1. O Inconformados, os Yanomami fizeram uma
pouco nossa língua e conhecem nosso povo. treinamento é uma parceria da Funasa com manifestação pacífica em Roraima, no dia 18,
Marcelo Lopes está dizendo que a malária está a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) e o em frente à Funasa, denunciando a falta de
aumentando aqui porque estamos fazendo fes Laboratório Central (Lacen) e faz parte do assistência. A falta de voos para transportar
tas e reuniões com muita gente e os venezue Plano de Ação de Vigilância Epidemiológica pacientes a Boa Vista, já teria, segundo eles,
lanos estão participando, mas não é verdade, que está sendo implantado pela Coordenação resultado na morte de um indígena da região
os venezuelanos não participaram das nossas Regional da Funasa em Roraima (Core/RR) de Toototobi, na segunda-feira passada, dia 14,
festas nem das reuniões, a malária não está na região fronteira com a Venezuela. (Funasa, que estava com malária.
acabando porque não tem borrifação sempre, 13/11/2009) A Hutukara havia protocolado, na véspera da
está faltando microscopistas e microscópios manifestação, uma denúncia sobre a desconti
nas comunidades.” Funasa cOnFIrma casOs da nuidade do atendimento de saúde ao Ministério
Ao contrário do que afirmou o coordenador Público Federal de Roraima. Preocupado, o
nOva grIpe entre YanOmamI Sindicato dos Trabalhadores em Área Indígena
de regional da Funasa em Roraima, Marcelo
A Funasa confirmou ontem os primeiros casos no Estado de Roraima (Sintran) divulgou um
Lopes, em entrevista ao jornal Folha de Boa
de gripe A (H1N1) entre os ianomâmis no país relatório sobre a precária situação de trabalho
Vista no dia 5 de agosto, as comunidades locais
-os infectados são dois homens, que passam dos funcionários, que dependem completa
não contam com microscópios e microscopista
para o controle local da doença. A borrifação bem. Há ainda uma criança indígena de dez mente do transporte aéreo.
anos com suspeita de ter contraído a doença. O motivo alegado para a suspensão dos voos
e a busca ativa (coleta preventiva de amostras Os casos ocorreram em uma comunidade lo
de sangue) têm acontecido em Auaris, mas pela Funasa é a falta de homologação de várias
calizada a 100 km de Santa Isabel do Rio Negro pistas pela Anac. O problema, entretanto, é an
é ainda insuficiente para evitar o avanço da (632 km de Manaus). A doença já matou dez
malária. Além disso, como ressaltam as lide tigo. A maioria das pistas de pouso existentes na
índios no Brasil. (FSP, 06/01/2010) área Yanomami é herança da corrida do ouro
ranças Sanuma, é preciso que a doença seja
monitorada sempre a em todas as regiões da na segunda metade da década de 1980. Funai,
Terra Indígena Yanomami, e não apenas duran Funasa IdentIFIca prImeIrO Funasa e Anac já deveriam ter regularizado há
casO de HIv+ muito tempo a situação de todas as pistas úteis.
te surtos localizados. (Ana Maria Machado/
ISA, 10/08/2009) A falta de regularização em faixa de fronteira
A Funasa identificou em 2009 três novos casos pode inclusive favorecer a existência de pistas
de HIV positivo entre índios de Roraima. Uma
clandestinas utilizadas por empresas de táxi
Funasa desatIva pOstO das vítimas é uma mulher que representa a pri aéreo e pilotos independentes a serviço de
dO urarIcOera meira ocorrência entre os Yanomami. Segundo atividades ilegais, como o garimpo, atualmente
a Funasa, existem 28 indígenas contaminados, em franco aumento na terra indígena.
Depois da agressão a um servidor que presta
entre eles duas crianças, que já desenvolveram Nos últimos anos se intensificaram as críticas
serviço terceirizado à Funai, anteontem, a
a doença. (Amazônia.org.br, 18/01/2010) contra a corrupção na Funasa e o péssimo
Funasa decidiu desativar temporariamente,
por falta de segurança, o posto do Uraricoera, atendimento à saúde indígena, o que levou
Funasa paralIsa assIstêncIa o movimento indígena a propor a criação de
na terra indígena Yanomami, onde ocorreu o
incidente. (Andrezza Trajano, Folha de Boa de saÚde aOs YanOmamI uma Secretaria de Saúde Indígena, vinculada
Vista, 15/08/2009) A Funasa de Boa Vista suspendeu repenti diretamente ao Ministério da Saúde. Apesar
namente o atendimento de saúde em boa de anunciada como certa pelo presidente Lula
parte das comunidades indígenas Yanomami, nas reuniões da Comissão Nacional de Política
YanOmamI nO brasIl e na Indigenista (CNPI), das quais participou em
venezuela cOm medO da grIpe alegando falta de homologação das pistas pela
Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), ex abril e junho deste ano, a secretaria ainda
Por temer o contágio pelo vírus da gripe A pondo a sua população a risco de morte, devido não saiu do papel, faltando ser aprovada no
(H1N1), os índios yanomamis brasileiros Congresso Nacional.
ao grau de isolamento físico e vulnerabilidade
evitam visitar seus parentes nas aldeias vene A paralisação de voos de atendimento à saúde
a doenças.
zuelanas. Segundo o líder indígena Davi Yano na TI Yanomami demonstra, mais uma vez,
mami, há duas semanas, os índios de Platanal, Apesar de alegar publicamente que a posição do
órgão é de não interromper o serviço de saúde a urgência de se retirar a saúde indígena da
no sul da Venezuela, enviaram mensagens responsabilidade da Funasa e de transferi-la
informando que muitos já estavam infectados nas comunidades indígenas, o coordenador re-
gional da Funasa em Roraima, Marcelo Lopes, para a nova Secretaria a ser criada. (Ana Paula
pela doença no país vizinho. (Globo Amazônia, paralisou os voos para 14 pólos-base da terra Caldeira Souto Maior/ISA, 21/06/2010)
05/11/2009)
indígena, inviabilizando ações como a remoção
de doentes, reabastecimento dos postos de saÚde dOs YanOmamI
dseI InIcIa treInamentO para saúde com remédios e alimentação. ameaçada
cOleta de exames de H1n1 Estes pólos-base de saúde atendem cerca de Há cerca de um mês, a Funasa proibiu a
A coordenação técnica do Dsei Yanomami, cinco mil Yanomami. A situação pode ser realização de voos para as 15 pistas nas terras
sob a gerência do Comitê de Crise da Gripe ainda mais grave, pois a paralisação de voos indígenas, prejudicando o atendimento médico
H1N1, iniciou ontem (12), o treinamento de causa instabilidade e temor aos funcionários de 5 mil índios dessa etnia considerada a mais
‘Diagnóstico, coleta de exames e vigilância do órgão, prejudicando o atendimento de saúde preservada do país. Aárea só pode ser acessada
epidemiológica’, para combate a infecção a toda a população indígena. por via aérea. As aeronaves são responsáveis
por levar remédios, mantimentos e profissio “A CIÊNCIA NÃO É UM DEUS QUE SABE TUDO”,
nais de saúde para as comunidades. O motivo DIZ LÍDER YANOMAMI
alegado pela Funasa é que as pistas não pos
suem homologação da Anac para decolagens O líder ianomâmi Davi Kopenawa disse estar triste de saber que esse sangue nosso e de nossos
“muito contente” com a notícia de que as mais de parentes mortos ainda estava guardado.
e aterrissagens. “A questão é que nenhuma 2.000 amostras de sangue de seu povo, que desde Folha - Napoleon Chagnon e James Neel agiram
pista indígena no Brasil tem essa homologação. 1967 repousam em centros de pesquisa dos Esta errado com vocês?
Mesmo assim, continuam recebendo os voos. dos Unidos, serão devolvidas à tribo. Conforme a Kopenawa - Eu acho que estavam muito errados,
Somente em Roraima eles foram paralisados”, Folha adiantou no último domingo, há um acordo porque eles pensaram que os ianomâmis podem
aponta o líder ianomâmi Davi Kopenawa, 59, sendo finalizado entre cinco universidades e o go ser tratados como crianças e não têm pensamento
que se tornou famoso por combater a inefici verno brasileiro para a devolução, que ainda não próprio. Não dá para fazer pesquisa com povos
ência da Funasa no combate a epidemias na tem data. Da Alemanha, onde está para assistir a indígenas sem explicação. Pesquisa que interessa
região, nos anos 1980 e 90. Após reclamação uma ópera que tem seu povo como protagonista, à gente é para melhorar nossa saúde. Não dá
o líder indígena respondeu por e-mail, por inter para pesquisar e deixar agente depois morrer de
do líder ianomâmi, a Anac emitiu comunicado
informando que autorizava a movimentação médio do antropólogo Bruce Albert, a perguntas doenças. Um tempo depois que esses cientistas
feitas pela reportagem. foram embora, em 1967, morreu quase todo o
nas pistas não homologadas, por se tratar Folha - Como o sr. recebeu a notícia de que as meu povo do Toototobi de sarampo.
de problema de saúde. “Entretanto, mesmo universidades aceitaram devolver o sangue? Folha - Por que o sangue será jogado no rio
assim, a coordenação da Funasa em Roraima davi Kopenawa - Foi uma luta de dez anos. Agora, quando ele voltar?
continuou não permitindo os voos.”, afirmou fiquei muito contente que os brancos acabaram Kopenawa - Vamos entregar esse sangue do povo
o filho de Davi, Dario, de 26 anos, que trabalha entendendo a importância desse retorno. ianomâmi ao rio porque o nosso criador, Omama,
com o pai na Associação Hutukara. (Luciano Folha - O sangue foi coletado nos anos 1960, mas pescou sua mulher, nossa mãe, no rio no primeiro
Cavenagui, Diário de S. Paulo, 27/07/2010) só nesta última década os ianomâmis começaram tempo. Mas não gosto da palavra “jogar”, não
a se esforçar para tê-lo de volta. Por quê? vamos jogar o sangue dos nossos antigos; vamos
Kopenawa - O sangue foi tirado do nosso povo devolver para as águas.
davI KOpenaWa cOnvOca quando eu era menino. Os cientistas não expli Folha - Os cientistas dizem que, sem poderem
luta pela sesaI caram nada direito. Só deram presentes, panelas, estudar o sangue e o DNA de vocês, informações
facas, anzóis e falaram que era para coisa de saú que podem ser preciosas para toda a humanida
Em um vídeo endereçado às lideranças indíge
nas do Brasil, Davi Kopenawa conclama a todos de. Depois todo mundo esqueceu. Ninguém pensou de se perderão para sempre. Como o sr. reage a
para que se mobilizem no sentido de pressio que o sangue seria guardado nas geladeiras deles, essa crítica?
como se fosse comida! Só em 2000 que eu soube Kopenawa - A ciência não é um deus que sabe
nar os senadores a votarem, sem alterações, o que esse sangue estava ainda guardado e sendo tudo para todos os povos. Se querem pesquisar o
Projeto de Lei de Conversão (PLC 8/2010), que usado para pesquisa. Aí me lembrei da minha sangue do povo deles, eles podem. Quem decide
modifica a estrutura da Presidência da Repú infância, e os velhos também se lembraram de que se pesquisas são boas para nosso povo somos nós,
blica e retira o atendimento à saúde indígena nosso sangue foi tirado. Todo mundo ficou muito ianomâmis. (Cláudio Angelo, FSP, 12/05/2010)
da competência da Funasa.
A criação da Secretaria Especial de Saúde In
dígena (Sesai) é uma antiga reivindicação dos
em 2006, realizada pela Universidade Federal Algumas instituições norte-americanas aceitam
povos indígenas. Aliada à autonomia dos Dseis
do Pará, por meio de procedimento seme devolver o material, mas alertam para supostos
a Sesai pretende dar um fim às péssimas con lhante instaurado no MPF-RR em 2002. Essas riscos de contaminação das amostras, mesmo
dições de atendimento às populações indígenas amostras haviam sido coletadas no início dos que elas passem por um processo de esteri
e, sobretudo, dar um basta à corrupção que lização. Os Yanomami, por sua vez, querem
anos 1990.
assola a Funasa, loteada politicamente desde Ambos os casos têm sua origem em uma receber o material em forma líquida, para que
2004, quando voltou a ser responsável pela campanha lançada por Davi Kopenawa, com possam devolvê-lo aos rios. Portanto o processo
saúde dos índios. (Blog do ISA, 28/07/2010) ajuda da então CCPY, a partir de 2001. Ela de esterilização escolhido deve levar este ponto
seguiu um rastro de exposição na mídia sobre em consideração. Eles ainda querem garantias
SANgUE YANOMAMI a ética na condução de pesquisas biomédicas de que todo o material biológico, inclusive sub
dos anos 1970 entre os Yanomami, derivada produtos, como sequências de DNA extraídos
da publicação, em 2000, do livro “Trevas no das amostras, lhes serão devolvidos.
amOstras de sangue: enFIm Eldorado”, de Patrick Tierney, nos EUA. [Ver Outro aspecto em discussão é que algumas
de vOlta para casa? mais em “Freezer Anthropology” e Bioética: instituições norte-americanas querem se
Atendendo a uma reclamação dos Yanomami, o Caso do Sangue Yanomami, publicado no isentar de responsabilidade civil, incluindo no
em 2005, o MPF em Roraima instaurou um PIB 2001-2006]. termo de devolução das amostras uma cláusula
procedimento administrativo para reaver Finalmente, em 2010, cinco instituições con de acordo com a qual o governo brasileiro não
amostras de sangue Yanomami coletadas nos cordaram em devolver as amostras de sangue ingressará com nenhuma ação de reparação
anos 60 e guardadas em várias instituições que possuem e estão em negociações com por danos no futuro. O MPF, que tem como
norte-americanas, como o Instituto Nacional autoridades brasileiras para devolvê-las aos uma de suas obrigações constitucionais de
do Câncer e as universidades do Estado da Pen Yanomami. A burocracia envolvida no processo, fender judicialmente os direitos e interesses
silvânia, do Estado de Ohio, da Califórnia (em contudo, arrasta-o no tempo. O Itamaraty ainda indígenas, recusa-se a aceitar esta condição,
Irvine) e de Binghampton (em Nova York). está negociando um termo de transferência do que está sendo analisada pela Advocacia Geral
O caso tem como precedente a devolução de material biológico, que esbarra em procedi da União. Enquanto esses detalhes jurídicos e
outras amostras de sangue aos Yanomami, mentos de segurança e de garantias legais. logísticos da transferência estão sendo ajus
tados, os Yanomami ganharam esta longa e renda e material escolar nas instituições. O diretor da Escola Ye´kuana, Reinaldo Wa
fundamental disputa política, mas ainda não Apesar de todo esforço e empenho por parte deyuna Luis Rocha, falou de sua preocupação
levaram as amostras de sangue de volta para dos professores Yanomami e suas respectivas em relação aos jovens que saem das comuni
casa. (Ana Paula Souto Maior/ISA, junho comunidades na produção do Censo Escolar dades para continuar seus estudos na cidade
de 2011) de 2009, Dário afirmou que 17 escolas foram e propôs a criação de escolas profissionali
paralisadas no Censo Escolar de 2009 e os zantes na TI Yanomami. Já Anselmo Xiropino
YanOmamI Querem Quer Fazer alunos Yanomami foram excluídos do sistema Yanomami, da região do Demini, destacou a
nacional de ensino, uma vez que não constam necessidade de haver autonomia financeira em
Funeral para amOstras mais nos bancos de dados do Inep. (Folha de cada território, para que os Yanomami possam
Os ianomâmis sabem direitinho o que fazer Boa Vista, 18/07/2010) ter um controle social efetivo e eficaz sobre os
com as mais de 2.000 amostras de sangue recursos destinados às escolas indígenas.
coletadas por James Neel e colegas quando O líder Yanomami Davi Kopenawa relatou o
elas voltarem a Roraima. Chamarão os velhos, dIscussãO sObre terrItÓrIO
histórico do processo de escolarização pelo
chorarão pelos parentes mortos e despejarão etnOeducacIOnal qual passaram os Yanomami e concluiu
tudo no rio. Não há lugar para a permanência Reunidos em Boa Vista, em 30 e 31 de agosto, apontando para a necessidade de os Yanomami
dos mortos na Terra na visão de mundo iano lideranças e professores indígenas de 40 regi aprenderem a ler e escrever para fazer docu
mâmi. As cinzas dos parentes são misturadas a ões da TI Yanomami, organizações locais que mentos e defender seus direitos e suas línguas
comida ou bebida para que não sobre nada do trabalham com os Yanomami e representantes maternas. Foi formada uma Comissão Gestora
finado. Seu nome nunca mais é mencionado. do MEC e da Funai discutiram a criação do ter composta por 20 representantes Yanomami e
“É a maneira como você constrói a separação ritório etnoeducacional Yanomami e Ye’kuana. 23 representantes de todas as instituições que
entre o mundo dos mortos e o dos vivos”, Cerca de 60 lideranças indígenas de 40 regiões trabalham com educação na TI Yanomami.
diz o antropólogo Bruce Albert, da Comissão da TI Yanomami deram prosseguimento à Ela será responsável, entre outras coisas, por
Permanente Pró-Yanomami, em depoimento conversa iniciada em 2009 pelo MEC para coordenar um diagnóstico da educação escolar
no filme “Napëpë” (2004), da antropóloga discutir novas perspectivas e políticas para a indígena dentro do território. A partir desse
Nadja Marin. “Se você não faz isso, os mortos educação escolar indígena, por intermédio da diagnóstico será possível elaborar um Plano
voltam e ficam perseguindo os vivos.” Para criação dos Territórios Etnoeducacionais. E de Ação, que deverá conter as necessidades e
Davi Yanomami, os cientistas não disseram o assim garantir o reconhecimento pelo Estado prioridades a serem atendidas em relação à
que seria feito com o sangue – só que as pes brasileiro do atendimento à educação escolar educação. E contará com o apoio do MEC e da
quisas trariam benefício. “Em parte vacinaram indígena de cada povo, a partir de sua própria Funai. (Hanna Limulja/ISA, 04/09/2010)
para sarampo, mas sangue eles não falaram, organização territorial.
não.” Albert chama a coleta de “biopirataria”. O representante do MEC, Gersen Baniwa, apon
“Um dia [o DNA] pode ser explorado comer tou a necessidade de aproveitar a oportunidade escOlas serãO recOnHecIdas,
cialmente, sem que os ianomâmis possam para tirar dúvidas referentes à implantação do cadastradas e credencIadas
controlar qualquer coisa.”(Claudio Angelo, território e pensar estratégias para a constru Na última quinta-feira, 19 de agosto, os Ministé
FSP, 09/05/2010) ção de um diagnóstico da educação escolar rios Públicos Federal e Estadual apresentaram
indígena na TI Yanomami. A participação de dois Termos de Ajustamento de Conduta (TAC)
representantes do governo, instituições não referentes às escolas indígenas que foram assi
EdUCAÇÃO
governamentais e lideranças indígenas tam nados pela Secretaria de Educação de Roraima
bém foi destacada para discutir a situação atual (SEE-RR), pelo Conselho Estadual de Educação
ÍndIOs Ye’Kuana da educação Yanomami e traçar um Plano de de Roraima (CEE-RR), pelo Instituto Nacional
lançam lIvrO Ação. Gersen destacou a necessidade de discu de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Índios yekuana alunos do curso de licencia tir a proposta e os encaminhamentos para que Teixeira (Inep) e pela Funai. Os documentos
tura intercultural da Universidade Federal de estejam mais consolidados até o fim do ano, de visam garantir os direitos legais das escolas
Roraima, lançam hoje o livro “Tanöökö: Festa forma a facilitar sua continuidade depois das indígenas de serem cadastradas no censo es-
eleições e para os próximos anos. Com essa colar e devidamente credenciadas na auditoria
dos caçadores yekuana”. O lançamento é um
marco inédito para os yekuana, que pela pri nova política do território será possível perce de ensino e no CEE-RR.
meira vez têm registrada sua história em livro. ber quais são as fragilidades e as debilidades Após inúmeras tentativas de promover junto
Os capítulos estão todos relacionados à festa no atendimento à educação escolar indígena à SEE-RR ações positivas que organizassem
conhecida por Tanöökö, que envolve contato de cada povo, e apontará para o desafio atual o Censo Escolar Yanomami incluindo suas
entre comunidades, caçadas, festas e cantos. de fazer funcionar a educação escolar indígena escolas no cadastro no Inep-MEC (que garan
(Folha de Boa Vista, 09/02/2009) específica, diferenciada e de qualidade. tem recursos federais para material didático
Lideranças Yanomami colocaram as suas e merenda escolar, além do próprio funcio
insatisfações em relação ao atendimento à namento das escolas), o ISA e a Hutukara
HutuKaracOntesta educação. Relataram vários obstáculos para o acionaram o Ministério Público Federal para
declaraçÕes dO gOvernO atendimento às escolas por parte das Secreta reverter essa situação e dar solução à crescente
A Hutukara e o ISA contestam declarações rias de Educação, entre eles o difícil acesso à TI demanda da educação Yanomami e sua falta de
da Secretaria Estadual de Educação sobre a Yanomami, que em grande parte é feito por via reconhecimento oficial pelo Estado.Junto com
exclusão das escolas Yanomami no Censo aérea, dificultando o envio de material escolar o Ministério Público estadual, promoveram
Escolar 2009, o que acarretou falta de me e o acompanhamento pedagógico. uma audiência pública, em 29 de julho, onde
discutiram e avaliaram a questão das escolas alunos e ao Inep promover assessoria técnica como é garantido pela lei. O Projeto Político
indígenas. Nesta ocasião, os MPs anunciaram e material. A Funai terá um ano para expedir Pedagógico do Magistério está passando pela
a proposta do TAC visando garantir a inclusão todos os registros de nascimento dos estudan terceira análise e pela Auditoria de Ensino
do cadastro das escolas indígenas no censo tes Yanomami e regularizar a situação. (Lidia da Secretaria estadual de Educação (SECD) e
escolar 2010. Montanha Castro/ISA, 23/08/2010) enquanto o curso ainda não é reconhecido, a
Os termos dos TACs assinados visam assegurar Defensoria Pública da União entrará com uma
que as escolas indígenas de Roraima sejam re-
Os YanOmamI na unIversIdade solicitação para a UFRR para que os yanomami
conhecidas como tal. As escolas Yanomami, por aprovados no vestibular façam suas matrículas.
exemplo, sofrem com a falta de atendimento Federal de rOraIma (ISA, 29/06/2011)
adequado e ainda correm o risco de ficarem Eles conquistaram espaço inédito na UFRR.
fora do censo escolar da educação básica de Nove deles, formados pelo Magistério Yarapiari -
desenvolvido pela CCPY/ISA -, foram aprovados
ORgANIZAÇÕES INdígENAS
2010, como ocorreu no ano passado. Na época,
apesar de estarem em funcionamento, não no processo seletivo dos cursos de Licenciatura
foram cadastradas no censo escolar, constando Intercultural e Gestão Territorial. O resultado aYrca realIza assembleIa
como escolas paralisadas para o sistema, e em do vestibular específico para indígenas, di extraOrdInÁrIa
conseqüência, não receberam material nem vulgado em 22 de junho pela Universidade
Entre os dias 25 a 27 de julho, aconteceu a
merenda escolar. Federal de Roraima, mostrou que entre os
13 yanomami que participaram do processo Assembleia Extraordinária da Associação Ya
Tendo em vista os vários problemas enfrenta nomami do Rio Cauburis e Afluentes (AYRCA).
dos pelas escolas indígenas em Roraima, os seletivo, oito foram classificados para o curso
Durante a reunião foi reivindicado pelas pró
procuradores dos MPs buscaram por meio dos de Licenciatura Intercultural e um para o prias lideranças a presença dos profissionais
TACs garantir as ações na política estadual, indi curso de Gestão Territorial no Núcleo Insikiran
de Saúde em área, pois já estavam quase três
cando medidas que deverão ser desenvolvidas, daquela universidade. Entretanto, os nove Ya
meses sem o atendimento médico. Durante
independentemente da mudança de governo nomami que cursaram o Magistério Yarapiari essa ausência o Exército estava fazendo alguns
que poderá acontecer. desenvolvido a partir de 2000 e concluído no atendimentos emergenciais. O objetivo princi
Desta forma, o primeiro TAC foi assinado pela final de 2009, esperam ainda pela certificação pal da Assembleia foi para somar a força de voz
SEE-RR e pelo CEE-RR, tratou da situação legal (são 18 os professores formados em 2009) pelo para a melhoria da Saúde Indígena Yanomami e
das escolas indígenas no estado, indicando a Magistério Yarapiari e pelo seu reconhecimento da Educação para esta comunidade. (Infoirnet,
necessidade de fazer um levantamento das oficial e sua continuidade. Os exames para a 04/08/2008)
escolas que existem nas comunidades, mas UFRR foram realizados no dia 1º de maio deste
que ainda não foram criadas legalmente. O ano. O vestibular específico para indígenas
prazo para este levantamento é 15/12/2010. saiu a frente entre as universidades brasileiras assembleIa dIscute deFesa de
Uma segunda ação prevê a implementação dos por realizar um processo seletivo no qual os tI e FOrtalecImentO da HaY
Planos Político-Pedagógicos (PPP) das escolas indígenas puderam realizar as entrevistas e as A 3ª Assembléia da Hutukara Associação Yano
indígenas credenciadas e autorizadas, cabendo redações em suas línguas maternas. O resul mami (HAY) reuniu cerca de 200 yanomami
à Secretaria estadual de Educação assessorar tado da avaliação de todo o grupo yanomami e ye’kuana, na comunidade do Ajarani, em
as escolas indígenas na elaboração dos seus foi muito satisfatório. O desafio seguinte será Caracaraí (RR), para discutir fiscalização,
respectivos PPPs. O Conselho Estadual de contribuir com a UFRR para a permanência gestão territorial, saúde e educação. Os indí
Educação por sua vez, deverá apreciar os PPPs desses alunos na universidade. genas representam 75 aldeias dispersas em
até julho de 2011. O magistério Yarapiari - O Magistério Yara 30 regiões, que compõem a TI Yanomami.
O segundo TAC trata especificamente do Censo piari é um curso voltado especificamente para Considerada histórica, a assembléia da Hu
Escolar da Educação Básica e foi assinado a formação de professores yanomami. O curso tukara foi realizada na comunidade do Ajarani,
pela SEE-RR, pela Funai e pelo INEP. Em sua foi idealizado em 2001 pela antiga CCPY como município de Caracaraí, em Roraima e, além de
primeira cláusula deixa claro a necessidade resposta ao desejo de Davi Kopenawa e outras representantes vindos de diferentes locais da TI
de a secretaria coletar os dados em todas as lideranças yanomami que desejavam que suas Yanomami, contou com a participação de oito
escolas indígenas, com maior ênfase no caso comunidades tivessem acesso à educação yanomami da Venezuela e de representantes da
das escolas Yanomami. Para isso, a secretaria escolar. Yarapiari, na língua yanomae, quer Ayrca (Associação Yanomami do Rio Cauburis
terá de visitar as escolas da floresta, mudando dizer espírito do sabiá, que está relacionado ao e Afluentes), que reúne seis aldeias da região
radicalmente a inexistência da atuação do desenvolvimento da inteligência. O Magistério de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.
estado nas escolas Yanomami. Elas nunca rece sempre teve como princípios norteadores a O grupo se reuniu durante 15 dias. Estavam
beram a visita de nenhum representante desta formação política dos yanomami para defesa presentes diversas lideranças tradicionais,
secretaria, mesmo mantendo vínculos com ela de seu território, língua, cultura e luta pelo xamãs e também professores e agentes de
por mais de sete anos. Além da visita às escolas, reconhecimento de seus direitos. Desde 2007 saúde, que ficaram responsáveis pelo registro
a secretaria deverá, ainda este ano, iniciar a a CCPY / ISA vêm buscando o reconhecimento da assembléia em quatro línguas yanomami e
capacitação dos professores indígenas para o do Magistério pelo estado, assim como a cer na língua yekuana. O presidente da Hutukara,
preenchimento dos formulários do censo esco tificação dos professores yanomami formados Davi Kopenawa, fez um discurso histórico de
lar, já que a maioria das escolas indígenas não em 2009, porém o Estado de Roraima tem se como começou o seu trabalho em defesa do
tem acesso à internet e não podem preencher mostrado muito resistente ao reconhecimento povo Yanomami e de criação da Hutukara.
os cadastros virtuais. Caberá à Funai expedir de um curso de formação para professores (Ana Paula Caldeira Souto Maior com equipe
o Registro de Nascimento Indígena (Rani) dos indígenas que seja específico e diferenciado, da CCPY/ISA, 02/12/2008)
naturais em suas terras. Os deputados Eduardo morto a tiros na semana passada. As empresas, a ações judiciais, perdendo em todas as ins
Valverde (PT-RO), Édio Vieira Lopes (PMDB segundo a PF, seriam usadas para lavagem de tâncias. O Tribunal Regional Federal, em 2004,
RR) e MárcioJunqueira (DEM-RR) - negaram a dinheiro. Investigações apontaram a suposta reconheceu que essas terras são mesmo dos
intenção. As lideranças indígenas distribuíram participação deles na fuga dos cinco garim Yanomami e que os fazendeiros devem sair.
um ofício ontem, durante reunião da comissão peiros acusados de matar um índio Yekuana Hoje, em abril de 2010, a situação permanece
que analisa o projeto de exploração de minério, e deixar outro ferido, na semana passada, em a mesma e a FunaiI se mostrou incapaz até
para mostrar a indignação com o ocorrido. Alto Alegre. (Andrezza Trajano, Folha de Boa agora de concluir este processo de retirada
(CB, 27/02/2008) Vista, 29/01/2009) destes invasores, mesmo que todos eles já
concordem e sair e só esperam que a Funai dê
ÍndIOs denuncIam 12 garImpeIrOs se entregam encaminhamento ao processo. Estamos aqui
para exigir que eles sejam retirados de maneira
garImpOs na reserva na pOlÍcIa Federal imediata e definitiva. É obrigação da FunaI
Na estimativa dos índios, há cerca de dois Ontem, Aldenor Alves Pereira, José Raimundo providenciar a desintrusão da nossa terra.
mil homens extraindo ouro em 12 garimpos da Silva, o “Acelerado” ou “Burrêgo”, Ivo Sousa 18 anos se passaram desde a homologação e
somente no lado roraimense da reserva. A dos Santos e os irmãos Daniel Bezerra Ribeiro ainda não temos o usufruto exclusivo daquela
exploração do minério utiliza balsas e pistas e Márcio Bezerra Ribeiro se entregaram à PF, região. Este escândalo se perpetua por quase
clandestinas, além de disseminar doenças acompanhados de advogados. Eles são acusa duas décadas e nós Yanomami não queremos
entre os yanomami. A garimpagem ilegal é uma dos de matar a tiros, quarta-feira da semana mais esperar.
das principais reclamações dos cerca de 280 ín passada, o tuxaua da comunidade de São Luiz garimpo - Nos últimos três anos, a atividade
dios que participam da III Assembléia Geral da do Arame, em Alto Alegre, o índio yekuana Luiz garimpeira tem aumentado muito na nossa
Hutukara Associação Yanomami, que acontece Vicente Carton e ferir também a bala o filho terra. Os garimpeiros já estão roubando nas
desde o dia 23 na sede da instituição na terra dele, Ronildo Luiz Carton. (Andrezza Trajano, nossas roças e ameaçando nossos parentes.
indígena, às margens do rio Ajarani, no muni Folha de Boa Vista, 30/01/2009) Eles já atiraram com espingarda em um
cípio de Caracara. Os yanomami identificaram
grupo de jovens Yanomami que se aproximou
os pontos de garimpagem e montaram um deles na região de Hoyamou (Hakoma). Em
mapa onde destacam com pontos vermelhos pF desatIva garImpOs
janeiro do ano passado, um índio Ye’kuana
os locais onde a atividade é exercida. (Folha de ADelegacia de Combate aos Crimes Ambientais
da PF desencadeou, na segunda-feira, 04, a foi assassinado por garimpeiros. Estamos
Boa Vista, 29/11/2008) com medo que aconteçam coisas piores. Eles
Operação Aracaça, destinada a combater o ga
rimpo ilegal na região do Uraricuera, a noroeste usam várias pistas clandestinas, têm jericos e
tuxaua Ye’Kuana É mOrtO da terra indígena Yanomami, no Município de motos e ouvimos muitos aviões passando. Nós
pOr garImpeIrOs Amajari. A ação executada por sete policiais Yanomami estamos revoltados com a ousadia
Um grupo de garimpeiros matou a tiros o federais foi encerrada ontem com a apreensão dos garimpeiros e isto nos lembra a época dos
tuxaua da comunidade de São Luiz do Arame, de equipamentos utilizados para a garimpagem anos 80 quando muitos de nos morreram por
em Alto Alegre, o índio Yekuana Luiz Vicente (Folha de Boa Vista, 06/05/2009) causa do garimpo. A Hutukara já protocolou
Carton e feriu também a bala o filho dele, Ro vários documentos denunciando esta situação
nildo Luiz Carton. Ronaldo contou que o tuxaua às autoridades e até agora nada foi feito. Conti
HaY denuncIa FazendeIrOs nuamos sofrendo e a Funai não toma nenhuma
de Uaicás, identificado apenas por Eduardo,
teria informado ao pai dele que não queria a
e garImpeIrOs providencia para acabar com esta atividade ile
presença de garimpeiros em sua comunidade. A Hutukara - HAY vem por meio deste docu gal. Os garimpeiros têm empresários e políticos
Por esse motivo, Vicente teria se negado a fazer mento manifestar sua preocupação em relação que os apóiam na cidade. Nossa terra e nossos
a travessia e foi morto com um tiro de espingar à permanência de vários fazendeiros na região rios estão poluídos e ainda somos ameaçados
da calibre 20, na cabeça. (Andrezza Trajano, de Ajarani e à invasão crescente de garimpeiros. de morte pelos garimpeiros. Precisamos que
Folha de Boa Vista, 23/01/2009) Apesar de inúmeros documentos protocolados as autoridades façam uma operação grande e
e denúncias, os Yanomami não estão vendo bem organizada para retirar os garimpeiros que
nenhum progresso, pelo contrário a situação estão dentro da nossa terra e para impedir que
empresÁrIOs rOraImenses vem piorando como expomos a seguir. A TI eles voltem. Apenas retirar eles não resolve, eles
FInancIam garImpO Yanomami foi demarcada em 1991 e homo sempre voltam. Por fim, neste mês de abril,
O delegado Alan Gonçalves, titular da Delega logada em 1992. Na fronteira leste da terra no que simboliza o mês dos Povos Indígenas,
cia de Meio Ambiente (Delemaph) da Polícia BR 210 Perimetral Norte, região do Ajarani, esperamos que a visita à Roraima do nosso
Federal, revelou com exclusividade à Folha que havia ocupantes não-índios a serem retirados Presidente da República, Sr. Luis Ignácio Lula
empresários roraimenses de sucesso seriam da área declarada de ocupação tradicional da Silva, e do Presidente da Funai, Sr. Márcio
os grandes financiadores dos garimpos ilegais indígena. A Funai fez levantamento fundiário Meira, sejam acompanhadas de ações que
existentes no estado, inclusive na terra indí e indenizou a maior parte deles. Porém, um livrem de uma vez a Terra Yanomami de seus
gena Yanomami, onde um índio Yekuana foi pequeno número se recusou a sair e recorreu invasores. (07/04/2010)
N° Mapa Terra Indígena Povo População In°,fonte. ano) Situação Jurídica Extensão (ha) Município UF
7 Galibi Galibi do Oiapoque 130/Funai-Macapá: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 6.689 Oiapoque AP
Karipuna do Amapá Decreto 87.844 de 22/11/1982 publicado em 24/11/1982. Reg. CRI
no município e comarca de Oiapoque (6.689 ha) Matr. 1 Liv. 2 fl. 1 em
10/10/83. Reg. SPU PA Certidão n° 71 em 12/12/83.
8 Juminá GaIibi-Marworno 61 /Funai-Macapá: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 41.601 Oiapoque AP
Karipuna do Amapá Decreto s/n de 21 /05/1 992 publicado em 22/05/1992. Reg. CRI no
município e comarca de Oiapoque (41.601 ha) Matr. 16 Liv. 2 fl.1 7F em
15/09/92. Reg. SPU Certidão n° 02 em 20/03/95.
1 Nhamundá-Mapuera Kaxuyana 2.218/Funasa-Parintins: 2002 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.049.520 Nhamundá AM
Hixkaryana Decreto 98.063 de 17/08/1989 publicado em 18/08/1989. Reg. CRI no Urucará AM
Katuena município de Nhamundá (191.520 ha) Matr. 556 Liv. 2-C fl. v176. Reg. Faro PA
Waiwai CRI no município de Faro (322.000 ha) Matr. 1.030 Liv. 2-A, fl. 230 em Oriximiná PA
15/06/90. Reg. CRI no município de Oriximiná (536.000 ha) Matr. 1029
Liv. 2-A fl. 229 em 15/06/90. Reg. SPU Certidão n° 11 em 21/09/90.
3 Rio Paru d'Este Aparai 240/Funai-Macapá: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.195.790 Alenquer PA
Wayana Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no Almeirim PA
município e comarca de Monte Alegre (53.663 ha) Matr. 4.548 Liv. Monte Alegre PA
2-R fl. 50 em 03/04/98. Reg. CRI no município e comarca de Alenquer
(85.619 ha) Matr. 2.855 Liv. 2-J fl. 166 em 03/06/98. Reg. CRI no
município e comarca de Almeirim (1.056.502 ha) Matr. 100 Liv. 2-A fl.
100 em 18/08/98. Reg. SPU Certidão s/n em 17/11/98.
4 Tumucumaque Aparai 1.700/Funai-Macapá: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 3.071.070 Laranjal do Jari AP
Al‹urio Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no Alenquer PA
Kaxuyana município de Laranjal do Jari, Matr. 13 Liv. 2-A fl. 19 em 21/11/97. Almeirim PA
Tiriyó Reg. CRI no município de Alenquer, Matr. 2.854 Liv. 2-J em 03/06/98. Obidos PA
Wayana Reg. CRI no município de Obidos, Matr. R1-2100 Liv. 2/RG fl. 2100 em Oriximiná PA
18/11/97. Reg. CRI no município de Oriximiná, Matr. R1/338 Liv. 2-G fl.
185 em 21 /07/98. Reg. SPU Certidão s/n em 30/06/80.
6 Uaçá I e II GaIibi-Marworno 4.462/Funai-Macapá: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 470.164 Oiapoque AP
Karipuna do Amapá Decreto 298 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no
Palikur município e comarca de Oiapoque (470.164 ha) Matr. 16 Liv. 2 fl. 16 em
06/03/92. Reg. SPU Certidão n° 01 em 17/02/95.
5 WaiapI Wajãpi 91 g/Funai-Macapá: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 607.000 Laranjal do Jari AP
Decreto s/n de 23/05/1996 publicado em 24/05/1996. Reg. CRI no Mazagão AP
município de Pedra Branca do Amapari (262.243 ha) Matr. 01 Liv. 2-RG Pedra Branca do AP
fl. 1 em 31 /03/97. Reg. CRI no município e comarca de Laranjal do Jari Amapari
(344.773 ha) Matr. 04 Liv. 2-A fl. 6 em 20/12/96.
Reg. SPU Certidão s/n em 25/04/97.
POVOS INDIGENAS NO BRASIL 2006/201 O- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ I NoETE Do PARA 313
ZO’É
Outilizadas
eles
urubu-rei
são domesticados
para
é muito
os ornamentos
apreciado
e suaspelos
femininos.
penasZo’é;
são
316 AMAPÁ / NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Após um dia de caça, os Zo’é levam os macacos mortos para suas famílias.
a parte mais frágil imunologicamente, menos experiente, mais “OS ÚLTIMOS HOMENS LIVRES”?
“ansiosa” e consequentemente mais manipulável, os coloca re Mesmo sob críticas – de missionários a antropólogos – quanto
petidamente em alta vulnerabilidade nesses contatos “eventuais” à interferência da CGIIRC/Funai nas aproximações espoliativas
(na verdade, produzidos e previamente organizados e financiados e articulado assédio de frações Karíb aos Zo’é, dois aspectos
por interesses outros). E enquanto os Zo’é aceitam ou procuram
apresentam-se como preeminentes. O primeiro é que ainda
tais contatos, conduzindo esforços diplomáticos dentro de seus que consideradas as motrizes sociais das relações interétnicas
próprios parâmetros ancestrais de trocas – estes “outros”, ainda
seculares entre os povos da região, em períodos recentes é
que “igualmente índios”, se acercam dos Zo’é hipoteticamente evidente a obstinada manipulação de agentes proselitistas, com
em busca de suas “almas”, mas usufruindo de seus recursos claro objetivo de resgatar a viabilidade do “plano divino” supos
naturais, sua mão de obra, seus corpos físicos e sua suposta tamente destinado aos Zo’é. Para tal, utilizam quaisquer alianças
vulnerabilidade ideológica. possíveis; políticos locais, exploradores ilegais, mas, sobretudo,
Um crítico fator adicional são repetidos surtos epidêmicos indígenas de outras etnias já doutrinados e amoldados às práticas
praticamente a cada “visita” dos Karíb ou dos Zo’é: um único missionárias que no decorrer de décadas de ausência do Estado
contaminado torna-se vetor de infecções coletivas, que implicam tornou o Maciço Guianense um reduto de povos supostamente
em grave morbidade e risco de mortalidade, exigindo da Frente “convertidos” ao mais radical evangelismo.
Cuminapanema/Funai ações massivas e ágeis na contenção Em segundo (e não necessariamente nessa ordem), é fato que os
de cada novo evento. Nos últimos dez anos, as únicas mortes Zo’é superaram totalmente seus antigos medos em relação aos
de indivíduos jovens entre os Zo’é – um menino de dois anos “kirahí” e aos outros povos indígenas de seu entorno — virtuais
(2009) e uma adolescente de treze (2008) – foram diretamente oponentes num passado talvez nem tão remoto — e atualmente
provocadas por agravos patológicos oriundos dessas situações de desejam conhecer e estabelecer relações, ainda que eventuais,
“visitas intertribais não monitoradas”. com todos os segmentos sociais externos que lhes sejam aces
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 317
síveis: movidos pelo desejo de conhecer, de ver, de ter. Ainda “Ethos sano, CorporE sano”
que a não seletividade desses novos relacionamentos venha se Preservar parâmetros tradicionais não tem sido obstáculo para a
demonstrando como muitíssimo onerosa à sociedade Zo’é. prática de excelência em atendimento primário preventivo e curativo
e inserção de alta tecnologia em procedimentos clínicos complexos,
A prática indigenista inovadora que a Frente Cuminapanema/ numa estrutura física ambulatorial permanente que prima pela
CGII teve o mérito de construir ao longo de mais de uma década qualidade e com atendimento médico de alto padrão
entre os Zo’é permitiu reverter processos deculturativos, resta A última década de atuação da Frente Cuminapanema em Saúde
belecer a saúde coletiva em patamares excelentes e resguardar Zo’é tem se notabilizado pela junção incomum de tradição cultural
indígena e tecnologia médica ocidental. Com excelentes resultados,
esse povo de maiores impactos diretos desestruturantes de sua
tanto na recuperação demográfica desse povo, que teve severas
cultura e modos de viver e operar na natureza. Entretanto, a perdas nos primeiros anos pós-contato, quanto na manutenção
roda do tempo e o expansionismo em território amazônico não dos pilares fundamentais que sustentam a cultura e a saúde Zo’é: a
param, exigindo permanentemente reelaborações para que se dê alimentação tradicional de um povo Tupi caçador-coletor-agricultor,
conta das demandas internas e pressões externas, aglomeradas, o respeito às práticas físicas e cerimoniais que envolvem o corpo e a
concepção de “saúde” e “doença” da própria cultura Zo’é e um foco
crescentes e multifacetadas. privilegiado na proteção ambiental do ecossistema nativo, esteio
Mais que perturbações de caráter religioso, é a “isca” econô primordial da sobrevivência e qualidade de vida Zo’é.
mica – estimulando o consumo e desejo por novas demandas A partir de 2000 – ano em que os antigos “postos indígenas de
materiais, a maioria notadamente supérflua – que se apresenta contato” se tornaram “frentes de proteção etnoambiental” –, a FPE
Cuminapanema/CGII investiram metodicamente na edificação e im
como ameaça e incógnita, em meio a uma sociedade ímpar – os plantação de uma infraestrutura de atendimento clínico que pudesse
instigantes Tupi autônomos incrustados nas fronteiras de um atender aos Zo’é com toda a qualidade possível na própria Terra In
mar dos Karíb cristianizados. Um povo de apenas 256 indivíduos dígena, evitando problemas reincidentes no deslocamento de índios
(2010), que no século XXI tem conseguido crescer e se fortalecer de recente contato para a rede hospitalar urbana, com os agravos
decorrentes de tais atendimentos; inadequados, descontextualizados
preservando seus próprios parâmetros de “sociedade da fartura”,
e de alto custo e risco. A indianidade definiu modelos arquitetônicos
sem a dependência de espingardas, panos e salários, manejando e materiais construtivos adaptados ao ambiente de floresta tropical,
com habilidade plena sua autonomia de produção alimentar e enquanto revestimentos internos, mobiliários e equipamentos clí
plenamente senhores de sua sustentabilidade ecológica. Ainser nicos seguem os padrões internacionais da Organização Mundial
ção dos Zo’é nos moldes capitalistas de produção e dependência de Saúde (OMS) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa). Em meio à selva equatorial, aos poucos surgiu o Centro
de um mercado regional, sobretudo se alicerçadas em demandas da Saúde Zo’é – composto de ambulatório, farmácia informatizada,
artificialmente estimuladas pelas pressões anti-indígenas em seu enfermaria adaptada ao usufruto habitual dos Zo’é (esteios coletivos
entorno é um grande risco. Aincógnita não é como se comportará para as redes tradicionais, piso de terra para fogueiras domésticas
a sociedade Zo’é diante de tamanhas pressões – dispomos de e cocção de alimentos etc.) e unidade odontológica totalmente
equipada. Instrumental cirúrgico e equipamentos odontológicos,
exemplos históricos suficientes desse tipo de embate desigual
autoclaves, microscópios, monitor multiparamétrico e outros ítens
– mas como, nesse contexto, o Estado irá lidar com o suporte tecnológicos foram sendo adquiridos ou captados como doações ao
e proteção constitucionalmente devidos aos Zo’é, reiterando o longo dos anos. O Centro da Saúde Zo’é foi atestado formalmente
bem-estar, a autonomia e a sociodiversidade que representa pela Anvisa (2006) como adequado ao atendimento clínico/cirúrgico
hoje esse povo num sombrio panorama nacional e planetário de média complexidade.
de genocídio e extinção das últimas sociedades ancestrais livres A essência do bom funcionamento dessa estrutura é o envolvi
e resistentes a inexorável “globalização”. mento direto e atuação de uma equipe ampliada de profissionais
318 AMAPÁ / NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
de saúde articulados em dedicado voluntariado,
possibilitando a disponibilização de especialistas e
instrumentais específicos a partir das demandas de
saúde da coletividade indígena, mesmo em situações
de emergência. O atendimento de base, como multi
vacinações periódicas e campanhas antimaláricas,
continuam a cargo da Funasa por meio de equipes
regulares programadas pelo Polo de Saúde Indígena/
DSEI-Santarém. A estabilidade da equipe interna da
Frente, que conseguiu superar a alta rotatividade
de profissionais de enfermagem –problema comum
em áreas indígenas –permite o pronto atendimento
cotidiano e monitoramento individual contínuo.
Permanência e aprendizado durante vários anos
possibilitam às duas técnicas em enfermagem que
atualmente se revezam na TI, Sandra Pena e Suely
com pacientes, objetivo
Brito,oscomunicarem-se exclusivamente
perseguidoem anos pelo
hálíngua Zo’é Wo’ý , uma das pacientes Zo’é, é preparada para a videolaparoscopia.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 319
“aLICIaDos nos CaMpos Do sEnhor”
Na segunda quinzena do mês de outubro de 2010, um evento al “pastores indígenas” nas cercanias de Manaus (AM) em 2008, ou ao
voroçou a cidade de Oriximiná: um grande número de índios da aldeamento Kwamara, dos Tiriyó protestantes, em pleno Suriname
etnia Zo’é, tidos por “índios brabos” pela população local, estaria (2009/2010).
em castanhais próximos à região conhecida por Campos Gerais do implícitosdiz coletiva,
risco
Nessemais
contexto,
evidente
os riscos
e implacável àsrespeito
andançasà saúde
têm sido imensos.O
pois
Erepecuru, deslocando-se à caminho da cidade. A notícia chegou à
Coordenação da Funai em Belém e ao polo base do Dsei-Santarém
contatos desordenados têm sido recorrentes na origem de epide
por meio de um telefonema à Casa do Índio (Casai), em Oriximi
ná, de certo castanheiro regional, Ângelo Ferrari. Ele pedia por mias graves, como a infecção gastrointestinal que afetou 90% da
população entre março e abril de 2009. Com um óbito infantil, ela
“socorro”, pois os índios estariam devorando toda a alimentação foi carreada para a comunidade logo após uma “visita” aos Tiriyó
de seus trabalhadores, e “pressionando-o” a levá-los de caminhão
do Tumucumaque. Outra preocupação alarmante é a facilitação de
até a cidade. Ângelo é irmão de conhecido político local, deputado
intercursos sexuais com jovens Zo’é, visto que sua cultura poligâ
Júnior Ferrari.
mica admite a cessão sexual como valor em trocas alimentares e
Contato eletrônico imediato com a TI Zo’é confirmou que a maior de prestação de serviços. Um contágio nesses termos pode provocar
parte dos homens havia se dispersado a partir do dia 10 de outu uma tragédia incomensurável, considerando-se o alto índice de
bro de 2010, alegando pescarias e caçadas — dispersão usual e doenças venéreas, ginecológicas e mesmo incidência de AIDS entre
necessária ao cotidiano de subsistência Zo’é. Não foi preciso muita povos Karíb que têm assediado os Zo’é — além da possibilidade
pesquisa por parte da equipe interna da Frente Cuminapanema para de abusos previsíveis por exploradores e mercenários regionais.
confirmar em área que, na verdade, haviam intencionalmente se Tuberculose, leishmaniose e altos índices maláricos também são
teria
dirigido
sidoaosbuscar “presentes”
Campos que lhesda
Gerais. O objetivo foram
viagem,
prometidos,
segundo os
objetos
Zo’é, alguns ítens do grave quadro infecto-contagioso da saúde indígena
no entorno Zo’é.
que não fazem parte do rol de materiais regularmente cedidos aos
As consequências da presença massiva dos Zo’é (96 indivíduos,
Zo’é pela Funai.
conforme verificação interna) nos Campos Gerais foram imediatas:
Entre os Zo’é, após conversas explícitas ou cochichos reservados, desencadeou-se uma campanha midiática caluniosa contra otra
soube-se que o enredo iniciara cerca de um mês antes, com a incur balho da Funai e da Equipe da Frente Cuminapanema, por meio da
são furtiva de alguns índios WaiWai e Tiriyó na aldeia Narét, sob a divulgação de um vídeo supostamente filmado por “castanheiros”.
alegação de um convite. O convite teria sido dirigido aos membros Nele, um grupo Zo’é travestido com roupas doadas, é induzido pelo
de algumas das famílias locais, proximamente relacionadas no final “entrevistador” à repetição do mote: “Funai não dá, João não dá,
dos anos 80 a um dos missionários da MNTB, o Luís da Missão. E roupa, panela, espingarda”. Divulgado na TV Atalaia, retransmissora
teria partido do próprio, que os aguardaria nos Campos Gerais, da TV Record em Oriximiná, a reportagem local descreve osZo’é como
com “roupas bonitas e muitas panelas” para lhes oferecer. Um pri “índios aculturados” e caracteriza como “abandono” o discurso de
meiro grupo teria se deslocado em setembro, retornando com cuias, solicitações “declaradas” pelos Zo’é. Outra consequência imediata
roupas e uma espingarda doada a um dos homens Zo’é, atiçando foi a pronta intervenção da Funai, por intermédio da CGIIRC e da
inefáveis desejos dos demais grupos familiares ao convite. O referido Diretoria de Assuntos Fundiários, para reavaliação de parâmetros
missionário, após a retirada da MNTB dos Zo’é (1991), declarou-se e diretrizes de atuação do órgão na Frente Cuminapanema.
na imprensa como “missionário independente” e permaneceu na
Quais as consequências futuras a médio e a longo prazo dessas
região, supostamente atuando entre ribeirinhos na área Tapajós
pressões e intervenções junto aos Zo’é, só a história dirá. É certo
Arapiuns. Por diversas vezes, Luís da Missão, segundo informação que há uma conjugação de fatores críticos e atores que ambicio
dos próprios Zo’é, retornou ocultamente a TI.
nam bem mais do que as “almas” Zo’é: a expansão agropecuária a
De toda forma, lá se foram os Zo’é em mais uma de suas andanças partir de Santarém e da BR-163, a cobiça madeireira e extrativista
aventureiras. Sua recomposição demográfica e vitalidade cultural interessadíssima na exploração das Florestas Estaduais (Flotas)
têm reforçado a intensa mobilidade e reocupação de antigas áreas nos limites leste e oeste da TI Zo’é (Paru e Trombetas), o interesse
tradicionais abandonadas, bem como a abertura de novos caminhos da poderosa mineradora anglo-canadense Rio Tinto, pressionando
e instalação de novos aldeamentos. E os desejos relacionados ao fortemente pela liberação de áreas intocadas da Estação Ecológica
mundo além-fronteira, somados ao renitente assédio organizado Grão-Pará (limite norte da TI Zo’é) e da Flota Parú (limite leste)
pelas “missões-de-fé” por meio da manipulação de frações cristia para a continuidade de pesquisas e projetos de exploração mineral.
nizadas das etnias Karíb do entorno, têm levado indivíduos Zo’é (Rosa Cartagenes, Amazoé, dezembro de 2010)
a algumas rotas inseguras e longínquas, como a um congresso de
320 AMAPÁ / NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
COMPLEXO DO TUMUCUMAQUE
COM EXTENSãO REOCUPADA ATÉ OS LIMITES, de uma aldeia, por exemplo, era determinante no seu abandono
GRAÇAS à DESCENTRALIZAÇãO DAS ALDEIAS e na busca de outro local). De modo que, até então, como diz
E, JUNTO COM ESTAS, DOS SERVIÇOS BÁSICOS uma expressão nativa “nossa terra ia até onde a sola dos nossos
DE ASSISTÊNCIA (SAúDE, EDUCAÇãO E PISTAS pés queria ir”. E, com efeito, os ancestrais dos grupos étnicos
DE POUSO), OBSERVA-SE HOJE UMA OUTRA que hoje se encontram no Complexo do Tumucumaque, não
PREDISPOSIÇãO NA POPULAÇãO DESSAS DUAS apenas se espalhavam por uma região muito mais ampla, como
se consideravam pertencentes a uma diversidade muito maior de
TERRAS CONTÍGUAS EM TERMOS DE OCUPAÇãO
grupos que, com o tempo, se extinguiram ou passaram a compor
TERRITORIAL: A DE DISPERSAR PARA SEDENTARIZAR
os atuais grupos étnicos.
Se hoje tais grupos encontram, a leste e oeste, áreas consideradas
As Terras Indígenas Parque do Tumucumaque (com 3.071.067 de “proteção integral” (respectivamente Parque Nacional das
ha) e Paru d’Este (com 1.195.785 ha), contíguas entre si, com Montanhas do Tumucumaque e Estação Ecológica do Grão Pará)
preendem o que chamamos de “Complexo do Tumucumaque”, onde não podem mais pisar em nome da preservação da altíssima
situado, em sua maior parte, no Estado do Pará, e numa pequena biodiversidade ali detectada, cabe notar que, no passado, ambas
faixa no Estado do Amapá. Esse complexo encontra-se na região as áreas foram habitadas por seus ancestrais, tendo, desse modo,
em que o Brasil faz fronteira com o Suriname e a Guiana Fran também abrigado uma altíssima sociodiversidade. Estudos his
cesa. Nele habitam em maior número os Tiriyó e Kaxuyana, a tóricos demonstram que, até meados do século XX, a população
oeste, e os Wayana e Aparai, a leste. Todos esses grupos, que são indígena que se espalhava por toda essa região era constituída
falantes de línguas Karíb, atualmente totalizam cerca de 2.000 de gente que se considerava extremamente diferenciada entre si,
pessoas no lado brasileiro, mas possuem parentes no outro lado tanto do ponto de vista linguístico, quanto social e político. Isso se
da fronteira, tanto no Suriname, quanto na Guiana Francesa que, reflete na imensa profusão de nomes (mais de 200) encontrados
por sua vez, perfazem uma população de cerca de 4.000 pessoas.
nas fontes escritas e orais, para designar esses coletivos, que
No Brasil, a experiência de convívio desses grupos com não índios eram chamados de “tribos” pelos viajantes e estudiosos dessas
se deu a partir de 1960, por iniciativa da FAB e de missionários populações locais. De lá para cá, embora muitas mortes tenham
católicos entre os Tiriyó e Kaxuyana, e da Funai e missionários ocorrido, nem toda essa diversidade de tribos foi completamente
protestantes entre os Aparai e Wayana. extinta, o que ocorreu é que muitas foram aglutinadas em grupos
O padrão de ocupação territorial que se observou na longa his maiores, que passaram a ser chamados pelos nomes genéricos
tória dessa região, e que se estendeu até meados do século XX, Tiriyó, Kaxuyana, Aparai e Wayana, conforme foram se reunindo
era baseado em uma altíssima mobilidade motivada tanto por em torno de algumas poucas aldeias-base, onde, a partir de 1960,
razões de ordem prática (infestação de pragas, diminuição de se instalaram missões religiosas, destacamentos militares e/ou
recursos, etc.), quanto de ordem cultural (a morte do fundador postos da Funai. Isso provocou uma rápida mudança no padrão
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 321
de assentamento na região, de tal modo que, se antes dificilmente de extrema centralização que perdurou por cerca de três décadas,
a população de uma aldeia passava de 50 pessoas, após esse a ocupação da área e a circulação foi drasticamente reduzida. As
período nenhuma delas tinha menos de 150, e no decorrer dos viagens costumeiras para visitações entre aldeias e para o comér
anos seguintes, aldeias como a Missão Tiriyó, no alto rio Paru de cio de trocas de bens pela região diminuíram significativamente.
Oeste, chegaram a ter mais de 500 moradores. Mas passou-se a contar com um novo meio de transporte: o avião,
e com novas vias de acesso aos bens que costumavam ser adqui
O CASO KAXUYANA ridos com grupos indígenas vizinhos, e com os negros Maroon do
Suriname, antigos parceiros de troca na região. Com esse abruto
Apesar de terem convivido e compartilhado, por mais de três
abandono das antigas áreas de ocupação tradicional, criou-se um
décadas, a mesma terra com os Tiriyó, no Tumucumaque, para
imenso vazio populacional em toda a faixa de fronteira do Brasil
onde foram em decorrência de graves epidemias, os chefes de
não apenas com o Suriname e a Guiana Francesa, mas também
família kaxuyana nunca deixaram de manifestar o sonho de
com a Guiana Britânica.
retornar para sua região de origem no rio Trombetas, empreita
que iniciaram a partir de 2000, com a volta de uma primeira Essa situação perdurou até o início dos anos 90, quando toma
família. Atualmente já são oito famílias distribuídas em três força o processo de demarcação das Terras Indígenas na região,
aldeias: duas no rio Cachorro e uma no rio Trombetas. Porém, seguido da implementação de um conjunto de ações de apoio à
em dezembro de 2006, essas famílias viram seu território se dispersão territorial, como forma de vigilância das áreas demar
transformar em Floresta Estadual, denominada FES Trombe cadas. Assim, em 1997, foi conduzido, de maneira concomitante,
tas, pelo Governo do Estado do Pará. No estudo que embasou a o processo demarcatório que culminou na homologação da TI
instituição dessa FES foi dito que não havia presença humana Parque do Tumucumaque e da TI Rio Paru d’Este (Decreto s/
na área. No entanto, não só havia a presença dos Kaxuyana, n° DOU 04/11/97).
ao sul, como dos Tunayana, ao norte, outro grupo indígena
de língua karíb, historicamente habitante dessa região. Além DISPERSãO SEM MOBILIDADE?
disso, os próprios Kaxuyana e Tunayana já haviam dado en
Como é possível observar, o processo de centralização e seden
trada em 2005 no pedido de regularização fundiária de parte tarização vivido pelas populações indígenas aqui em foco faz
de seu território de ocupação tradicional na Funai. Em razão parte de um período específico da história da política indigenista
desse pedido, foi instituído um Grupo de Trabalho voltado brasileira, marcado por esse modelo de assistência centralizada
para a realização dos estudos necessários ao embasamento
em aldeias-base destinadas a atrair contingentes populacionais
dessa demanda. de grandes distâncias para o seu entorno. Alguns conflitos sociais
É fato inconteste que, com seu modo de ocupação e produção e políticos decorrentes do estreito convívio entre famílias de di
tradicional, esses povos não apenas souberam manter preser ferentes origens, que antes viviam distantes entre si, e algumas
vadas as áreas em que habitavam, como souberam enriquecer desordens ambientais decorrentes da superexploração das áreas
a biodiversidade nativa. Por isso, conforme dizem hoje, se seus das duas principais aldeias-base situadas no Complexo do Tumu
ancestrais sabiam manter as florestas em pé é porque “a sua terra cumaque (Missão Tiriyó e Posto Indígena Apalaí), contribuíram
era aberta”. Mas agora que “fechou”, sentem-se diante de uma para que, a partir dos anos 80, tivesse início um movimento
situação paradoxal: se a mobilidade está limitada, não têm mais de redispersão das aldeias, com a reocupação de antigas áreas
como manter a mesma paisagem bio e sociodiversa de quando de moradia. Mas foi apenas nos anos 90 que essa tendência se
a mobilidade era ilimitada. efetivou a partir do apoio do Programa de Proteção das Terras
da Amazônia Legal (PPTAL/Funai), sem o qual dificilmente essa
Com efeito, até os anos 50, os Tiriyó, Kaxuyana, Aparai e Wayana
redispersão teria sido tão ampla.
não apenas se espalhavam muito além da região que hoje lhes
cabe, de direito, ocupar, como correspondiam a muito mais do Ocorre que, graças a esse apoio do PPTAL e a outros apoios
que simplesmente quatro “etnias”. Porém, na virada dos anos complementares do Governo do Estado do Amapá, finalmente
1950 para os 1960, a região mudou radicalmente de configuração, se tornou possível contar com os serviços básicos de assistência
e aquela miríade de tribos passou por um processo rápido de (saúde, educação e pistas de pouso) em aldeias menores, e com
“fusão”, por assim dizer, amalgamando-se em quatro unidades mais fartura de recursos, principalmente por estarem mais
maiores denominadas “etnias”. Paralelamente, com o processo afastadas das aldeias-base.
322 AMAPÁ / NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
De tal modo que, atualmente, em todo o Com
plexo do Tumucumaque já somam mais de
50 pequenas aldeias organizadas segundo o
tradicional padrão de ocupação dispersa. Essa
reocupação, que se consolidou nos últimos
cinco anos, foi conduzida pelos descendentes
dos donos das antigas aldeias que existiam na
região antes dos anos 1960.
Nesse processo de retomada de antigos locais,
uma primeira questão veio à tona: quais
famílias, de quais origens, têm direito a ocu
par quais locais, dentro dessas TI? Embora
o direito ao usufruto das terras do Complexo
do Tumucumaque tenha sido concedido
aos Tiriyó, Kaxuyana, Aparai e Wayana, por
serem considerados diferentes entre si, não
apenas do ponto de vista interétnico, mas
sobretudo, intraétnico, isso se reflete em sua
organização sociopolítica e territorial atual.
De tal modo que sua distribuição e direito de
uso dos recursos locais não é aleatória, mas
depende de uma série de acordos que seguem
uma lógica baseada nessa sociodiversidade
preeexistente. em aldeias distantes e isoladas dos serviços de assistência se
Em parte decorrente dessa primeira questão, e em parte de outros torna impensável.
fatores, surge uma outra questão: os fundadores dessas dezenas
Para os fundadores dessas aldeias, a quem cabe zelar pela quali
de aldeias, hoje espalhadas pelo Complexo do Tumucumaque,
dade de vida de seus corresidentes, não é mais tão simples como
não veem mais como retomar o antigo padrão de ocupação
era, para seus pais e avós, manter o mesmo padrão de mobilidade
baseado nos mesmos ciclos e ritmos de mobilidade das aldeias,
baseado em abandonos periódicos (em média, a cada 15 anos) de
que caracterizava todo um modo de gestão ambiental e territo
seus locais de moradia. Tendo em vista todos os fatores e dificul
rial próprio, baseado em conhecimentos tradicionais que não
apenas garantiam o uso sustentável da biodiversidade nativa, dades envolvidos na constituição de cada nova aldeia, a perspectiva
hoje desses fundadores das aldeias atuais é a de se sedentarizarem
como também contribuíam para o seu incremento, de tempos
nesses locais. Diante disso, a grande questão hoje, para eles e suas
em tempos.
comunidades, é a de pensar como será possível equacionar social,
Como dito acima, acordos internos entre os grupos, conforme política e ambientalmente suas relações nesse novo contexto marca
suas distintas origens, regulam as áreas de direito de uso, prin do, por um lado, pela possibilidade de viverem dispersos, em aldeias
cipalmente entre famílias de aldeias vizinhas, onde é preciso menores, conforme seu padrão tradicional de ocupação, mas, por
estabelecer até onde vão as áreas de caça, pesca, coleta e roças outro lado, pela impossibilidade de continuarem se dispersando
de cada uma. Além disso, cada aldeia hoje conta com estruturas para além dos limites de suas TIs. Portanto, o seu desafio hoje é
físicas que permitem justamente que se disponha localmente dos encontrar saídas alternativas para continuarem vivendo de forma
serviços de assistência básicos. Assim, escola, posto de saúde, sustentável no interior de suas TIs, sabendo que a população vai
pista de pouso, instalações de fornecimento de energia e alguns aumentar e que os recursos disponíveis nos entornos de suas
equipamentos constituem hoje o “kit” básico, sem o qual a vida aldeias tendem a diminuir. (março, 2011)
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 323
SURINAME
NA FRONTEIRA COM O PARÁ E O AMAPÁ ESTÁ O maioria desses grupos étnicos mantêm suas próprias línguas e
SURINAME, UM PAÍS RELATIVAMENTE PEQUENO, culturas. No Suriname, no entanto, apenas o holandês é reconhe
COM UMA POPULAÇãO APROXIMADA EM cido como língua oficial.
MEIO MILHãO DE HABITANTES. A EX-COLÔNIA
HOLANDESA CONQUISTOU SUA INDEPENDÊNCIA EM POVOS INDÍGENAS E POVOS MAROONS
1975, E FAZ PARTE DO ESCUDO DAS GUIANAS, NA
COSTA NORDESTE DA AMÉRICA DO SUL, TENDO A No Suriname, quatro grupos indígenas são mais conhecidos publi
GUIANA A OESTE, A GUIANA FRANCESA A LESTE, O camente: os Kali’na, Lokono, Wayana e Trio (Tiriyó). Esses são os
OCEANO ATLÂNTICO AO NORTE, E O BRASIL AO SUL nomes genéricos adotados por grupos que se caracterizam por
apresentar uma diversidade interna menos conhecida publicamen
te. Na aldeia Kwamalasamutu, por exemplo, considerada uma co
Aproximadamente 80% da população vive em áreas costeiras, o munidade trio, convivem os descendentes de uma diversidade de
que compreende em torno de 10% do país. Cerca de 90% do ter povos que foram para lá atraídos nos anos 1960 por missionários
ritório do Suriname é coberto por florestas, ricas em diversidade protestantes em troca de assistência em saúde e educação. Nes
biológica, e com grande número de espécies endêmicas. Essas sa aldeia, além dos que se assumem propriamente como trio, há
florestas são também o local em que vivem os povos indígenas e indivíduos que se identificam como de origem tunayana, akoeriyo,
os chamados “povos tribais”, representados pelas comunidades okomoyana, sikiyana, mawayana, pïropï, marasso, aramayana,
de descendentes dos africanos que, nos séculos XVII e XVIII, tatuyana e pïrouyana. Lá vivem ainda algumas famílias de origem
foram trazidos do oeste e do centro da África para o Suriname, wai wai também atraídas nos anos 1960. Em seu conjunto, os
como escravos. Conhecidos como Maroons, aos poucos foram povos indígenas do Suriname fazem parte de, basicamente, duas
fugindo das fazendas e das plantations, e construindo uma nova famílias linguísticas: Karíb e Aruák, sendo a primeira predomi
forma de vida nas florestas, com ajuda dos povos indígenas. nante. Apenas na comunidade lokono de Washabo, no oeste do
De acordo com o censo de 2004, os povos indígenas e esses Suriname, vive um pequeno grupo de Waraos que compõe outra
povos tribais representam respectivamente 3,7% e 14,7% da família linguística. Também considerados extintos no país, os ido
população do país. Em números, isso significa aproximadamente sos Warao continuam a falar sua língua e os Lokono incorporaram
18 000 indígenas e 72 000 indivíduos considerados Maroons. palavras do vocabulário Warao ao seu idioma.
A história da colonização iniciada pelos ingleses e seguida pelos Os Maroons estabeleceram comunidades viáveis ao longo dos
holandeses, de 1650 até 1975, reflete-se na composição da principais rios do Suriname. E hoje estão divididos em seis grupos:
população remanescente: crioulos descendentes de africanos; os Aucaner ou N’djuka, Saramaka, Paramaka, Aluku, Kwinti e
descendentes de trabalhadores da Índia e Indonésia empregados Matawai. Esses grupos reconhecem-se e são reconhecidos como
em trabalho compulsório; chineses; libaneses, judeus sefarditas distintos da comunidade nacional do ponto de vista social, cultural
de Pernambuco; e europeus, em sua maioria de origem holande e econômico. Eles também agem conforme sua própria tradição,
sa. Nas últimas décadas, um grande contingente de brasileiros, cultura e leis; e gozam de direitos similares aos dos povos indíge
atraído pela mineração, passou a compor esse número. A nas frente às leis internacionais.
324 AMAPÁ / NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
DESAFIOS mais além, até Manaus, atravessando territórios de ocupação
Os povos indígenas e os Maroons não são reconhecidos como tradicional indígena e maroon.
tais pela Constituição do Suriname ou outra legislação nacional.
Isso lhes nega o acesso aos direitos dos povos indígenas e tribais PASSOS ADIANTE
dispostos pelas leis e normas internacionais, tais como: o reco
Por meio de suas respectivas organizações, tanto os povos
nhecimento da autoridade tradicional; o direito à participação na indígenas como os Maroons vêm demandando, há anos, o
formulação de políticas e nas tomadas de decisão sobre assuntos
reconhecimento do direito à terra; ainda que sem sucesso em
que os afetam; o direito a sistemas de educação e saúde diferen
nível nacional. Internacionalmente, progressos significativos
ciados; o direito de manterem identidades distintivas; e o direito foram alcançados na medida em que a importância da terra para
de não serem impedidos de gozar de sua cultura e modo de vida. A povos tribais está sendo reconhecida por órgãos internacionais
legislação nacional do Suriname tampouco reconhece os direitos
de que o Suriname é membro, tais como a Organização das
coletivos à terra, privando os povos indígenas e as comunidades Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos
maroons do direito de acesso às terras ancestrais e aos recursos (OEA). Foi por intermédio da Corte Interamericana de Direitos
naturais, assim como de seu direito à autodeterminação segundo definição
quedeo uma
povojurisprudência
Humanos
na Saramaka conquistou seu principal
internacional para a questão
avanço
seus próprios objetivos e estratégias de desenvolvimento.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 325
Associação das Lideranças de Aldeias Indígenas do Suriname de Maho por conta da concessão pelo Estado de licenças de
(Association of Indigenous Village Leaders of Suriname – VIDS), mineração e exploração de madeira a terceiros em territórios
foi rejeitado unanimemente pelo povo Saramaka em dezembro tradicionais Maho.
de 2010. Uma das razões apontadas foi a falta de participação Considerando os fatos acima, parece haver motivos para
e tomada de decisão de povos indígenas e tribais na definição e otimismo com relação à resolução da questão do direito à terra
execução do SSDI. Isso levou, por exemplo, a sérias discrepân
no Suriname. As lideranças das aldeias indígenas, determinadas
cias entre as áreas mapeadas e/ou delimitadas pelo programa em obter o reconhecimento legal de seu direito inerente aos
do SSDI e o mapa produzido pela própria comunidade Sara seus territórios tradicionais decidiram, em 2009, usar todos
maka. Devido à rejeição do projeto pelas lideranças indígenas e os meios a fim de alcançar seus objetivos. Decidiram participar
dos Maroons, o ministro do Desenvolvimento Regional por fim nas eleições nacionais de maio de 2010, apoiando em massa
suspendeu a continuidade do projeto. O povo Saramaka, por
os candidatos indígenas. Conseguiram eleger duas lideranças
seu turno, concedeu ao Estado uma prorrogação do prazo para indígenas como membros do Parlamento. Embora sejam parte
que ele resolva a questão do direito à terra.
de um partido político tradicional, os dois membros reiteram
Em 16 de fevereiro de 2007, o VIDS, junto com a Comissão sua identidade indígena colocando as questões indígenas como
pelo Direito à Terra dos Indígenas do Baixo Marowijne, prioridade. Não obstante, essa questão permanece, ainda, como
submeteu uma petição à Comissão Interamericana de Direitos um grande desafio para que os povos indígenas desenvolvam
Humanos contra o Estado pela emissão de títulos individuais suas comunidades e territórios de acordo com suas próprias
de terra a não indígenas, garantindo direitos de concessão para percepções e estratégias. (fevereiro, 2011)
exploração de madeira e estabelecendo três reservas naturais
dentro do território dos povos do Baixo Marowijne, sem seu NOTA
conhecimento ou consentimento. Em 15 de outubro de 2007, 1Povo Saramaka v. Suriname. Objeções Preliminares, Méritos, Repartições e Cus
a Comissão aceitou a petição. Em dezembro de 2009 outra tos. Julgamento de 28 de novembro de 2007. Série C. No. 172, at para. 194-96.
Disponívelem: http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_172_ing.pdf.
petição foi submetida pelo VIDS e pela comunidade indígena
326 AMAPÁ / NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
WAJãPI
Desenvolvimentos do Programa
de Educação Escolar
A TRAJETÓRIA DO PROCESSO DE FORMAÇãO Mas isso não era viável, entre outros fatores, devido à forma de
DOS WAJãPI COMO PROFESSORES REVELA ocupação territorial tradicional dos Wajãpi, que vivem dispersos
AS DIFICULDADES DA IMPLEMENTAÇãO DE em um grande número de pequenas aldeias. O modelo de escola
UMA EDUCAÇãO DIFERENCIADA VOLTADA AO que vinha sendo construído com os professores no curso de
FORTALECIMENTO CULTURAL magistério buscava respeitar esta forma específica de organiza
ção sociopolítica, prevendo pelo menos um professor capaz de
trabalhar todas as disciplinas com turmas multisseriadas em
O ano de 2006 marcou uma virada na educação escolar dos
cada aldeia.
Wajãpi. Foi o ano em que se formou a primeira turma do Magis
tério Indígena em Nível Médio – um grupo de dez professores Além dos professores que se formaram em 2006, havia mais 18
que iniciou sua formação em 1992. Após o reconhecimento pelo em processo de formação, que tinham começado a lecionar para
Conselho Estadual de Educação dos estudos realizados no curso suas próprias turmas naquele mesmo ano. Praticamente cada
iniciado pelo CTI e concluído pelo Iepé, os Wajãpi realizaram um deles trabalhava em uma aldeia diferente, sendo responsável
por acompanhar as migrações sazonais de um grupo familiar
uma grande festa na aldeia Kwapo’ywyry, onde os professores
receberam seus certificados. específico. Mesmo com seus próprios alunos, os professores
recém-formados ainda não haviam conseguido chegar ao final
Pouco antes da festa, a Secretaria de Educação do Amapá (Seed) das 12 etapas que haviam idealizado para o ensino de 1ª a 4ª série,
promoveu um concurso específico para professores indígenas no e não se sentiam capazes de assumir a demanda dos alunos dos
Estado, no qual foram aprovados os dez recém-formados. Todos professores não índios, que exigia uma solução alternativa para
foram contratados ainda em 2006, assim como mais um Wajãpi prevenir uma migração de estudantes para a cidade.
que havia estudado na cidade, e em seguida a Secretaria anunciou a Depois de 2006, a Seed não renovou mais o convênio que vinha
retirada dos professores não índios que ainda mantinha nas escolas
mantendo com o Iepé desde 2002 para a formação dos profes
da TI Waiãpi. Embora esses professores frequentassem muito pouco
sores wajãpi, não obstante o fato de que a segunda turma havia
as aldeias, a perspectiva de sua saída preocupou os Wajãpi, que
iniciado o curso em 2002 e ainda não o concluíra. Entre 2007 e
a viram como uma interrupção definitiva dos estudos dos alunos
2010, o instituto conseguiu realizar apenas mais uma etapa da
mais velhos, muitos dos quais nunca haviam estudado com os
formação desta turma, com apoio da Funai. Seus integrantes só
professores indígenas. Em resposta ao anúncio, começaram a se
não pararam totalmente de estudar porque resolveram participar
mobilizar pela certificação desses alunos e pela implantação de um
dos cursos do projeto “Fortalecimento dos Direitos Culturais dos
curso de 5ª a 8ª série em que pudessem continuar estudando.
Povos Indígenas nas Políticas Públicas”, desenvolvido com apoio
A proposta da Secretaria era de que os 11 professores indígenas da Fundação Rainforest da Noruega. Também foi possível realizar
contratados assumissem todos os 342 alunos das escolas wajãpi. uma oficina sobre o currículo diferenciado das escolas com apoio
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 327
do Iphan, mas, de modo geral, a falta de financiamento levou representantes das comunidades, no segundo semestre de 2008,
à interrupção do trabalho de 15 anos de construção de uma o Iepé realizou uma oficina com os professores indígenas para
educação escolar própria dos Wajãpi. iniciar a elaboração de um projeto próprio para a 5ª a 8ª série,
A ausência de financiamento não provocou apenas a suspensão que foi concluído e verbalmente aprovado pela comissão em
da formação dos professores, mas também dos processos de 2009, mas não foi implementado. O projeto previa a contratação
acompanhamento pedagógico às escolas; de construção coletiva de professores não índios para trabalharem de acordo com um
de seus projetos político-pedagógicos; e de produção de materiais currículo diferenciado, recebendo capacitação e acompanhamen
didáticos específicos. Provocou, inclusive, a paralisação das to contínuos e contando com materiais didáticos específicos para
aulas em muitas escolas, já que muitos professores perderam tanto. Os professores wajãpi ficariam responsáveis apenas pelas
a motivação com a falta de acompanhamento, a interrupção disciplinas Língua e Cultura Wajãpi. Para atender à demanda
dos cursos e, no caso dos professores não concursados, com de todas as aldeias e respeitar os trabalhos dos alunos, as aulas
o fim da bolsa que recebiam através do convênio com a Seed. seriam ministradas em sistema modular, em cinco polos dentro
Embora prometesse assumir o acompanhamento às escolas da terra indígena. Apenas em 2010, às vésperas das eleições, a
dali para frente, a Secretaria praticamente restringiu seu diá Seed realizou, em uma única aldeia, o primeiro módulo de um
logo com os professores a questões burocráticas e trabalhistas. curso de 5ª a 8ª série na modalidade EJA (Educação de Jovens
Tudo isso gerou grande preocupação nas comunidades, que se e Adultos), que nada tinha a ver com o projeto elaborado pelos
mobilizaram de várias formas para reivindicar a continuidade Wajãpi.
do trabalho que vinha sendo feito com apoio do governo. Diver Diante da falta de perspectivas para a continuidade dos estudos
sos documentos foram produzidos e enviados à Seed, ao MEC, dos alunos mais velhos, em 2009, pela primeira vez na história,
à Procuradoria da República e outras instituições, e diversas algumas famílias assalariadas matricularam seus filhos em
reuniões com representantes governamentais foram feitas, mas escolas da cidade. Vale notar que o movimento partiu de profes
sem obter resultados. sores “veteranos”, formados para garantir uma educação escolar
A partir de 2007, começou a funcionar o curso de licenciatura diferenciada e de qualidade na TI, que foram capazes de enviar
indígena da Universidade Federal do Amapá (Unifap) voltado a seus filhos à cidade porque recebem salários bem mais altos do
professores formados em nível médio. Os dez Wajãpi formados que os demais Wajãpi (ressaltando que salários governamen
pelo Iepé solicitaram que a universidade estabelecesse uma par tais e aposentadorias são praticamente a única fonte de renda
ceria com a instituição para dar continuidade à sua formação e monetária das famílias). Esse movimento se renovou e ampliou
que abrisse todas as vagas a eles destinadas num mesmo ano, de em 2010, mesmo após o início do curso de EJA, seja por falta de
forma que pudessem continuar estudando juntos e construindo confiança dos Wajãpi na continuidade do projeto após a mudança
coletivamente o projeto político pedagógico de suas escolas. Por de governo, seja por desconfiança em relação à qualidade do cur
questões políticas, porém, a coordenação da licenciatura recusou so, associada à crença de que as escolas da cidade os deixariam
a participação de pessoas ligadas à USP (e ao Iepé) no curso. melhor preparados para conquistar empregos e espaço político
Recusou-se também a abrir as vagas reservadas aos Wajãpi em junto ao governo.
um único ano, alegando que isso provocaria descontentamento
Embora legítima, essa preocupação com a escolarização parece
entre outros grupos indígenas. Até 2010, apenas quatro Wajãpi
deixar de lado a proposta de construção de uma educação voltada
conseguiram entrar na Unifap e passaram a formar um pequeno
ao fortalecimento cultural dos povos indígenas e à gestão susten
grupo de “acadêmicos”, pensando a educação escolar praticamen
tável de suas terras. Ela coincide com um processo de crescente
te sem dialogar com os demais professores, com as comunidades
especialização ou profissionalização dos Wajãpi, que por sua vez
e com o projeto político pedagógico que vinha sendo construído
vem contribuindo para a desmobilização política dos professores
coletivamente nos anos anteriores.
e demais agentes comunitários, transformados em funcionários
Atendendo à reivindicação dos Wajãpi, depois de dar um certi dos serviços de assistência governamental. No que diz respeito
ficado de conclusão da 4ª série aos ex-alunos dos professores ao funcionamento das escolas das aldeias, a tendência é uma
não índios, no final de 2007 a Secretaria de Educação criou aceitação cada vez maior dos modelos e conteúdos não indígenas
uma comissão para elaborar um projeto de implantação da 5ª impostos pelos sistemas de ensino, com os respectivos corolários
a 8ª série na TI. Logo após a primeira reunião da comissão com ideológicos. Infelizmente, esse processo vem ocorrendo nos anos
328 AMAPÁ / NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
em que deveria se consolidar o “Plano de Salvaguarda do Patrimô Oral e Imaterial da Humanidade pela Unesco, que tinha como
nio Imaterial Wajãpi”, elaborado por ocasião da candidatura dos um de seus pilares o fortalecimento de uma educação escolar
Wajãpi à Segunda Proclamação das Obras Primas do Patrimônio diferenciada. (fevereiro, 2011)
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 329
GUIANA FRANCESA
A GUIANA FRANCESA É UM DOS MENORES margem francesa do baixo Oiapoque (cerca de 600 pessoas) são
TERRITÓRIOS DO CONTINENTE AMERICANO, os únicos ameríndios que não possuem uma ZDU, ocupando uma
COM 90 000 KM2, E O SEGUNDO MENOR DA pequena zona agrícola sujeita à contestação. Com apoio técnico
AMÉRICA LATINA, DEPOIS DE EL SALVADOR. SUA da Secretaria Nacional de Florestas (Office National des Forêts,
POPULAÇãO INDÍGENA CORRESPONDE HOJE A ONF) e do Observatório Sociedade/Meio Ambiente do Oiapoque
APROXIMADAMENTE 9.500 PESSOAS. (do Centro Nacional de Pesquisa Científica, CNRS), eles tentam
A DESPEITO DE ESTAR EM CRESCIMENTO hoje em dia, ao norte da cidade de São Jorge do Oiapoque, deli
CONTÍNUO, A PROPORÇãO DE INDÍGENAS EM mitar e reconhecer uma zona de uso tradicional de cerca de 30
RELAÇãO à POPULAÇãO TOTAL (QUE É DE 000 ha, a qual estão dispostos a compartilhar com os Saramaka,
210.000 HABITANTES) VEM DIMINUINDO, pequena comunidade de negros maroons (quilombolas) da região.
CHEGANDO HOJE A 4,52%
Em relação a essa figura jurídica, as ZDU não são menos frágeis,
na medida em que podem ser suprimidas se instâncias do Estado
Os ameríndios na Guiana Francesa são representados por seis não atestarem seu uso por parte dos ocupantes. De modo que
povos indígenas, cuja presença já era registrada no final do numerosas vozes de associações ameríndias vêm reinvindicando
século XIX: os Arawak propriamente ditos (lokono) e os Palikur, que as ZDU sejam juridicamente consolidadas. No entanto,
da família linguística Aruák; os Wajãpi e os Teko (Emerillon), da algumas comunidades indígenas como Awala-Yalimapo e Camopi
família linguística Tupi-Guarani; os Kali’na e Wayana (aos quais estão reivindicando a revisão de limites de suas ZDU, na medida
se uniram recentemente um pequeno grupo aparai que emigrou em que os atuais limites vêm causando constrangimentos na
do rio Paru de Leste/BR), da família linguística Karíb. à exceção organização das aldeias.
dos Teko, esses povos têm representantes no Brasil ou nas duas
outras Guianas, e, no caso dos Kali’na, na Venezuela. ÁREAS PROTEGIDAS
As áreas protegidas são entidades relativamente novas na
TERRAS Guiana Francesa, cuja criação reflete o crescimento mundial de
Na Guiana Francesa, os ameríndios são cidadãos franceses modos de proteção do meio ambiente. No Parque Natural Re
desde o final dos anos 1960. Após longos anos de luta, em 1987 gional da Guiana (PNRG), criado em 1995, e no Parque Nacional
lhes foram oficialmente reconhecidas Zonas de Direito de Uso Amazonense da Guiana (PAG), criado em 2007, vivem quatro das
(ZDU), as quais, contudo, demoraram para ser efetivadas. Atual seis populações ameríndias. As regras adotadas pela França são
mente, elas são em número de 24 para os ameríndios, totalizan relativamente flexíveis no que concerne à presença de comuni
do uma superfície de 679.214 ha. As ZDU vêm sendo ampliadas dades humanas em áreas protegidas, sendo uma das missões
desde meados dos anos 1990, e os ameríndios que as ocupam do PNRG “contribuir para o desenvolvimento econômico, social,
procuram hoje em dia preservá-las por meio de programas de cultural e para a qualidade de vida” das pessoas. Já o PAG é
desenvolvimento de longo prazo, como éo caso da Balaté II dividido em “área de livre acesso” e “coração do parque”. As co
pelos Lokono, e Awala-Yalimapo pelos Kali’na. Os Palikur da munidades que ali habitam e tradicionalmente obtêm seus meios
330 AMAPÁ / NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
de subsistência da floresta, no caso os ameríndios e os negros do exército. Os repetidos incidentes apontam claramente que os
maroons Aluku, são parte integrante do estatuto (artigo L331 ameríndios gostariam de enfrentar a questão de uma maneira
4-1 da Lei de 2006 sobre os Parques naturais) e por isso podem mais enérgica se o Estado não puser fim à atividade.
entrar no “coração do parque” para atividades tradicionais.
Os direitos dos povos indígenas em áreas protegidas serão defi REPRESENTAÇÃO POLÍTICA
nidos num documento que está sendo elaborado pelos Conselhos Os ameríndios ocupam um lugar crescente na política regional e
dos moradores. A partir de 2012, tais Conselhos elegerão os a imprensa repercute cada vez mais seus problemas e inicia
representantes do Comitê da Vida Local, que será uma instância tivas. As comunidades do Camopi e Awala-Yalimapo têm hoje
consultiva a ser seguida pela direção do Parque. em dia um papel de farol, sinalizando as questões prementes.
Se o PAG é hoje bem aceito pelas populações ameríndias (e bem A comunidade do Camopi, criada em 1969, há muito vinha
menos pelos negros maroons), elas julgam contudo que as ações sendo uma máquina de produzir votos para os partidos políticos
da instituição têm sido insuficientes para erradicar o garimpo dominantes. Mas essa situação mudou, e hoje o jovem prefeito,
clandestino. Por sua vez, a administração do PAG apela ao René Monerville, um Teko casado com uma Wajãpi, é uma figura
A proa no
recente (criada
decomunidade
movimento indígena.
também aocupa
deemAwala-Yalimapo,
1988), despeito
um lugar
de seressencial
mais
Estado como responsável por fazer com que as leis da República
sejam respeitadas no Parque, tanto no que diz respeito à imigra
ção clandestina quanto à exploração mineral ilegal.
inserir original.
ao demonstrar
cultura no que
sistemaO comunal
clássico
uma comunidade
Conselho indígena
Municipal
francês sem écapaz
deixaré de replicado
alivalorizar
de se sua
O OURO
A exploração aurífera foi retomada na Guiana desde 1986.
Ocupando progressivamente os rios, ela vem ocorrendo nas ca por um Conselho Costumeiro que possui direito de veto a tudo
que concerne às questões relevantes da tradição, ou seja, cada
beceiras das bacias fluviais onde estão concentrados os locais
de aluvião e veios. Se a economia do ouro afeta o conjunto da vez que as decisões comunais são consideradas contrárias aos
Guiana, o impacto humano recai diretamente nas populações valores kali’na. Na prática, porém, a abordagem consensual das
questões importantes para as duas instâncias tem sido mais
ameríndias e nos negros marrons. Nas zonas habitadas pelos
ameríndios, o garimpo clandestino localiza-se sobretudo na frequente do que o uso de tal veto.
parte setentrional do PAG, apesar de mesmo o garimpo legal ser
proibido no “coração” do Parque. Inicialmente concentrado no SAÚDE
vale do Camopi e da Waki, rapidamente o garimpo se alastrou Até por volta dos anos 2000, o apoio médico dependia da
pela região do Maroni, alcançando o território wayana a partir Direção Departamental de Assistêcia Sanitária (DDASS), depois
da região que corresponde à margem surinamesa. A despeito de foi passado à administração do Hospital de Caiena, implicando
reiteradas demandas da administração, a política do Suriname é a burocratização crescente dos serviços de saúde. Médicos e
sobretudo aquela do laisser-faire. farmácias liberais consideram o sistema de distribuição gratuita
Se a erradicação total do garimpo clandestino é sem dúvida de medicamentos e de disponibilização de tratamento no
utópica – já que existe um lobby do ouro com ramificações inter interior do país como uma concorrência desleal, e gostariam de
nacionais, extremamente poderoso na Guiana –, a promulgação pôr fim a essa prática. Entretanto, caso não fossem gratuitos,
do Esquema Departamental de Orientação Mineral (Schéma os ameríndios que ainda praticam uma economia de subsistên
Départemental d’Orientation Minière: SDOM), a ser efetivado no cia não teriam recursos monetários suficientes para adquirir
início de 2010, constitui sem dúvida – se não sofrer alterações medicamentos e ter acesso a tratamentos médicos. Além disso,
de última hora – um avanço legal considerável. O texto prevê, riscos sanitários são crescentes, direta ou indiretamente liga
particularmente, a interdição total da atividade mineral em dos ao garimpo, como mercúrio nos cursos d’água, alcoolismo
áreas protegidas (incluindo as áreas de livre acesso do PAG), crescente e entrada recente de drogas.
nas ZDU e nas cabeceiras das bacias fluviais, que resultarão na A criação da Agência Regional de Saúde (ARS) promoveu uma
preservação da quase totalidade das áreas ocupadas pelas co reorganização desse setor na Guiana, ampliando a estrutura de
munidades indígenas. Entretanto, o SDOM não regulamentará a apoio médico em locais isolados. Uma de suas primeiras ações
questão do garimpo ilegal, que ficará sob jurisdição da polícia e foi propor, no Camopi, com o aval e apoio incondicional de seu
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 331
prefeito, uma longa campanha de prevenção ao alcoolismo. A modo, os jovens que menos experenciam o fracasso escolar são
boa adesão da população permitiu que, em vez de uma retórica frequentemente os de famílias mais tradicionais e, paradoxal
de culpabilização, se informasse sobre os maiores riscos, como mente, cultural e politicamente mais conscientes.
a alcoolização do feto na gravidez. Nesse contexto aparentemente negativo, encontramos contudo
movimentos de valorização cultural despontando em toda parte.
EDUCAÇÃO Por exemplo, os jogos kali’na que, em eventos nos últimos dois
O ensino direcionado aos jovens indígenas na Guiana é ainda anos, têm valorizado as relações interétnicas; publicações como
o mesmo de qualquer estudante francês. As línguas maternas a revista Oka.mag, que dão expressão ao conjunto das comuni
vêm tendo contudo uma entrada tímida nas escolas, apresen dades por meio de números temáticos; ou ainda a associação
tadas como apoio ao ensino do francês. Tal apoio é assegurado Gadepam, em Caiena, que comercializa um artesanato de
pelos Interventores em Língua Materna (ILM), cujos contratos, qualidade, provando assim aos jovens que o conhecimento das
após longos anos de precariedade, foram efetivados em 2010, artes tradicionais pode ser fonte de crescimento intelectual e
graças à vontade da nova reitora da Academia da Guiana. Infe de recursos significativos. Ainda, outras ações estão em curso,
lizmente, a despeito de a população escolar estar em aumento como a inscrição do maraké e do kalau wayana como Patrimônio
constante, esses novos atores ainda são pouco numerosos. Imaterial da Humanidade (Unesco).
As línguas indígenas continuam bastante vivas no interior (wa
jãpi, teko, wayana, aparai), onde são faladas pela totalidade da CULTOS PROTESTANTES
população. Já na costa a situação é mais alarmante: os falantes Após os anos 1990, os cultos protestantes fizeram um imenso
ativos não ultrapassam 10% da população entre os lokono; esforço de evangelização em toda a Guiana. Entre os amerín
entre os Palikur e os Kali’na, respectivemente 60 e 70% são dios, a evangelização é comumente feita a partir de indígenas
falantes, mas não se deve esquecer que até a década de 1980, convertidos vindos do Brasil e do Suriname. A primeira popula
90% dessas populações ainda falavam sua língua materna ção alvo da evangelização foram os Palikur; após uma década,
cotidianamente. foi a vez sobretudo dos lokono e dos Wayana. Já os Teko, os
É evidente que a política de educação praticada até hoje não Wajãpi e os Kali’na apresentam resistência notadamente maior
favorece o florescimento das línguas e culturas indígenas. Mas a essa influência deletéria.
é igualmente verdadeiro que as pessoas envolvidas na área da
educação e a Direção Regional de Assuntos Culturais (Minis O PORVIR DAS COMUNIDADES INDÍGENAS
tério da Cultura) demonstram estarem abertas à diversidade Ao longo dos últimos trinta anos, as comunidades indígenas da
cultural e linguística da região. Guiana Francesa lograram impor sua presença política na região e
a se organizar na escala local e internacional. Esta última dimen
VALORIZAÇÃO CULTURAL são se efetivou em sua representação no âmbito da Coica e pouco
É inegável que as culturas indígenas são ameaçadas por uma depois na participação nas Reuniões Transfronteiriças organiza
escola ainda pouco adaptada a suas necessidades. Ademais, das pelo Iepé (com apoio do Observatório Sociedade/Meio Am
o mundo contemporâneo, mediatizado ao extremo, veicula biente Oyapock na segunda reunião), envolvendo representantes
valores essencialmente contrários aos dessas sociedades, indígenas do Brasil, Guiana Francesa e Suriname. Sua demografia
como por exemplo, os filmes com imagens de violência ou está florescendo e não estão mais ameaçados de extinção como
as músicas afroamericanas famosas na região que incitamà estiveram por muito tempo. A despeito de sua autoridade sobre
violência, inclusive sexual, e banalizam o consumo de drogas. seus territórios ter se fortalecido, ela continua precária. Ainda, as
A influência da mídia, articulada a uma situação crônica de culturas e as línguas seguem inegavelmente frágeis. Entretanto,
fracasso escolar, é diretamente responsável pelo mal-estar das por clarões que observamos aqui e ali, podemos esperar que as
jovens gerações, que não encontram mais na cultura tradicio comunidades cada vez mais abracem suas questões identitárias.
nal o isolamento seguro que ela representava antes. Desse (setembro, 2010)
332 AMAPÁ / NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
A ponte sobre o rio oiApoque
Françoise Grenand e Pierre Grenand
Nos primeiros meses de 2011, uma ponte ligará as margens brasileira e Três populações autóctones vivem na margem francesa, sendo duas
francesa do rio Oiapoque, em uma obra inteiramente sob responsabilidade transfronteiriças: os Palikur e os Wajãpi; a terceira é inteiramente
do Brasil. Em conformidade com a legislação brasileira, a França cedeu a guianense: os Teko. No total, somam 2 500 pessoas. Seria abusivo
seu grande vizinho a porção do território convertida em canteiro de obras concluir que os ameríndios serão mais afetados que os outros pela
na margem esquerda do rio. Mas a fronteira recobrará seu presença da ponte. Os ameríndios do baixo Oiapoque, Palikur e Karipuna,
traçado anterior ao fim do trabalho! têm como tradição a passagem pela fronteira, seja atravessando o rio
na direção de Saint-Georges, seja passando do Uaçá ao Oiapoque pelo
A obra trará impactos sobre a organização e o equilíbrio na vida dos estuário comum a ambos.
ribeirinhos, razão pela qual o Centro Nacional de Pesquisa Científica
(Centre National de la Recherche Scientifique - CNRS) criou no local De todo modo, a comunidade palikur estabelecida perto da região de
um Observatório da Sociedade e Meio Ambiente chamado Oiapoque, Saint-Georges foi afetada pelo clima de angústia que se difundiu na
um rio compartilhado (“Oyapock, un fleuve en partage”), que trabalha Guiana após o anúncio da abertura da ponte. Tendo como referência
de acordo com quatro eixos e suas respectivas dinâmicas: populações o modelo brasileiro, pelo seu reconhecimento aos direitos indígenas,
humanas, questões identitárias, ambientais e econômicas. Suas tarefas a comunidade reivindica um território propício à agricultura e terras
são múltiplas, tais como analisar o presente e o passado, dimensionar reservadas para suas atividades de caça, pesca e coleta. A municipalidade
impactos, avaliar mudanças, estabelecer modelos, constituir um banco de Saint-Georges recorreu ao Observatório da Sociedade e Meio Ambiente
de dados e, enfim, responder às demandas de auxílio às decisões. do CNRS para que arbitrasse sobre essa questão, envolvendo de um lado
o Estado e sua Secretaria Nacional de Florestas, que é proprietária das
De modo geral, os guianenses experimentam um medo difuso em relação
terras, e de outro lado a comunidade palikur. Esta última recentemente
à abertura dessa ponte. Particularmente, os habitantes de Saint-Georges
fez um avanço substancial de seu território, propondo englobar a aldeia
de l’Oyapock temem a chegada de uma avalanche de produtos brasileiros
na Guiana que estarão em conformidade com a legislação européia de Tampack, pequena comunidade de negros marrons (quilombolas), dos
quais alguns habitantes de Saint-Georges são descendentes.
aplicável à fronteira.
Em relação às pessoas, após o Contesté, regimento que em 1900 Para os que vivem no Camopi, as origens do problema são de outra
definiu a fronteira brasileira e guianense no Oiapoque, movimentos natureza: a luta velada contra a garimpagem clandestina na costa
migratórios passaram a ocorrer num único sentido, do Brasil à Guiana. francesa levou os dois governos a colaborarem em uma porção de sua
Em sua maioria clandestinos ou ilegais, tais migrantes alimentam uma fronteira na qual o Brasil havia até então negligenciado: a margem direita
economia informal, por definição difícil de calcular. É consenso entre os do rio Oiapoque, na altura do salto Maripa. Consequentemente, na porção
especialistas que a construção da ponte não mudará muito o quadro do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, a aldeia Vila Brasil,
atual. O trânsito fluvial, por exemplo a travessia de piroga entre na frente do Camopi, foi desviada do perímetro do parque para poder
Saint-Georges e Oiapoque, não será muito afetado. Desejosos de dar continuar existindo. Os Wajãpi, todos cidadãos franceses, já tinham sido
continuidade às trocas que sempre fizeram, em pequena escala, os constrangidos pelas autoridades francesas a estabelecer todas as suas
habitantes de ambas as margens esperam que os dois países entrem num aldeias na margem esquerda do rio. Por sua vez, recentemente, foram
consenso rapidamente oferecendo um estatuto especial transfronteiriço. as autoridades brasileiras que lhes pediram para se restringir à margem
Mas isso pressupõe a supressão do visto exigido dos brasileiros para francesa para suas atividades de caça, pesca e agricultura. Isso implica a
entrar na Guiana (e não no Estado francês), o que implicaria renúncias renúncia à metade de suas terras ancestrais. Mesmo que saibamos que a
na política de segurança nacional que o atual governo francês não está quase totalidade dos milhares de garimpeiros que trabalham no território
disposto a fazer. da Guiana Francesa são brasileiros, o preço a pagar é um pouco caro.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 333
PLANALTO DAS GUIANAS
REPRESENTANTES INDÍGENAS DO BRASIL, SURINAME E Guiana Francesa, está em grande parte ligada à economia do
GUIANA FRANCESA TÊM SE REUNIDO EM ENCONTROS garimpo, tanto que as comunidades do interior desses países
TRANSFRONTEIRIÇOS, PAUTADOS PELA DISCUSSãO identificam os invasores de forma genérica como “brasileiros”.
DE PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS COMUNS, Os garimpos constituem atividade legal no Suriname e na Guiana
REATIVANDO ANTIGAS REDES DE RELAÇÕES QUE SE Francesa. No entanto, esses países não conseguem controlar a
RESTRINGIRAM EM FUNÇãO DA CONSOLIDAÇãO DAS maneira como é conduzida essa atividade, e muito menos as
FRONTEIRAS NACIONAIS suas consequências nas regiões exploradas. O Brasil é mais
frequentemente reconhecido não só como fornecedor de mão de
obra mas também como abastecedor do garimpo e escoadouro
A região do Planalto das Guianas – ou Escudo das Guianas –
do ouro comprado sem controle nas lojas de fronteira.
engloba a calha norte do rio Amazonas (os estados do Amapá,
Pará, Roraima e Amazonas) e também a Guiana Francesa, Suri Uma forte tensão entre duas tendências distintas, a da conser
name, Guiana, parte da Venezuela e parte da Colômbia. Ela está vação ambiental, de um lado, e a da exploração predatória, de
delimitada ao sul pelo rio Amazonas, ao norte pelo rio Orinoco outro, também caracteriza a região do Planalto das Guianas,
e a nordeste pela costa do Atlântico. Dentro dessa vasta região, o condicionando o futuro das florestas e de seus habitantes, prin
Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé) vem promoven cipalmente o das comunidades indígenas.
do, nos últimos anos, uma articulação transfronteiriça entre re
presentantes dos povos indígenas situados no Brasil (nos estados REDES E RELAÇÕES DE INTERCÂMBIO
do Amapá e norte do Pará), no Suriname e na Guiana Francesa,
Os povos indígenas que vivem na parte oriental do planalto das
esta última, território ultramarino pertencente à França.
Guianas são, em sua maior parte, falantes de línguas karíb,
O distanciamento histórico entre o Brasil, a Guiana Francesa e além de tupi (Wajãpi e Teko) e aruaque (Palikur e Aruák) ou
o Suriname originou fronteiras nacionais muito pouco ativas, falantes de língua crioula (Karipuna e Galibi-Marworno). A
diferentes das relações que o país mantém com o restante de população indígena total nessa região é de aproximadamente
nossos vizinhos. A recente aproximação política do Brasil com a 21 mil pessoas. Esses grupos resultam de variados processos
França resultou na construção da primeira ponte a ligar os países de contato, guerras, alianças e fusões, documentadas desde o
da região, mas ainda sem perspectivas de maior aproximação século XVII. Historicamente, eles mantiveram intensas relações
comercial regional. A única atividade econômica que une toda de intercâmbio, trocando casamentos, bens e conhecimentos.
a região é o garimpo. A atividade vem crescendo a cada ano, Essas redes de troca ainda existem hoje, embora muito mais
invadindo novas áreas, sem se preocupar com as fronteiras restritas, em função do impacto da consolidação das fronteiras
nacionais. A presença de brasileiros, seja no Suriname seja na nacionais e das políticas implementadas pelos diferentes gover
334 AMAPÁ / NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
nos, distanciando os grupos indígenas. As políticas de assistência os povos indígenas em sua legislação e tampouco seus direitos
praticadas pelos três países tiveram impactos sobre a mobilidade territoriais. AGuiana Francesa considera os índios como cidadãos
e sobre os modos de vida de todos os grupos indígenas que ha franceses desde 1960. Os valores de igualdade, tão presentes na
bitam essa região, interrompendo, de certa forma, a circulação Constituição francesa, dificultam o reconhecimento de quais
e as trocas entre eles, tanto nos âmbitos regionais, quanto no quer direitos especiais às minorias, como o uso das línguas
âmbito transfronteiriço. indígenas nas escolas e os direitos territoriais coletivos. Após
longa luta, foram criadas “Zonas de Direito de Uso” (ZDU) para
Aproposta de constituição de uma rede de articulação transfron
as comunidades tradicionais que dependem da floresta, mas
teiriça no Planalto das Guianas, tendo por objetivo identificar
sua existência ainda não é reconhecida pelo Estado francês em
problemas socioambientais que afetam os povos indígenas, bem
caráter permanente. Nesse primeiro encontro também foram
como confrontar e discutir as soluções adotadas em cada região
identificados os principais atores indígenas e indigenistas dessa
em prol da sustentabilidade desses povos e construir uma agenda
região, que poderiam integrar uma agenda de contatos e reuniões,
de possíveis colaborações entre os atores da região, foi iniciada
com vistas à discussão de problemas comuns e à elaboração de
em 2008 com visitas de representantes indígenas do Brasil ao
estratégias coletivas para enfrentá-los.
Suriname e à Guiana Francesa, onde foram contatadas comunida
des indígenas, instituições governamentais e não governamentais. Como desdobramento dessa primeira articulação transfrontei
A partir dessas viagens e dos contatos realizados, a estratégia riça foi realizado, em dezembro de 2009, o segundo encontro,
adotada ao longo desses últimos três anos, para composição na cidade de Saint-Georges de l’Oyapock, na Guiana Francesa,
dessa rede, tem sido a realização de encontros transfronteiriços, fronteira com o Brasil. Esse novo encontro contou com a presença
com a presença de representantes indígenas e indigenistas e de de mais de 170 representantes dos povos Wajãpi, Tiriyó, Wayana,
órgãos de governo dos três países. A proposição dessa rede de Aparai, Galibi, Galibi-Marworno, Karipuna, Palikur, Kali’na e Teko,
articulação é uma iniciativa do Iepé, no âmbito das atividades e representantes de organizações indigenistas, ambientalistas e de
do projeto Construindo uma rede de experiências indígenas e órgãos governamentais dos três países. Durante o encontro foram
de projetos sustentáveis para o futuro, no Planalto das Guianas, discutidos temas que haviam sido postos em evidência na pri
desenvolvido com apoio da Rainforest Foundation, da Noruega, meira reunião transfronteiriça, dentre eles: garimpo e mineração
e em parceria com comunidades e organizações indígenas do em territórios indígenas e no seu entorno; agricultura; manejo
Amapá e norte do Pará. da caça, da pesca e das atividades extrativistas; produção de
artesanato e gestão das matérias-primas. Os debates, realizados
AARTICULAÇãO TRANSFRONTEIRIÇA com tradução para português, francês e sranantongo, incluíram
uma rica troca de experiência sobre as diferentes maneiras com
O primeiro encontro transfronteiriço dos povos indígenas dos
que cada comunidade lida com essas questões e as soluções que
três países foi organizado pelo Iepé na cidade de Macapá (AP),
em novembro de 2008, com a presença de mais de 50
representantes de comunidades e organizações indí
genas, órgãos de governo, instituições e organizações
não governamentais. Nesse encontro, os principais
problemas socioambientais comuns à região foram
levantados, mapeados e discutidos, e a questão do
reconhecimento dos territórios indígenas e de sua
gestão mobilizou parte importante das discussões. Os
direitos territoriais indígenas no Brasil, assegurados
pela Constituição de 1988, são uma referência para os
dois países vizinhos. O Suriname ainda não reconhece
336 AMAPÁ / NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
OIAPOQUE
DIANTE DAS FORTES PRESSÕES QUE CERTAMENTE adjacentes situadas nas TIs Uaçá, Galibi e Juminã e na cidade
AUMENTARãO COM A FINALIZAÇãO DA de Oiapoque. As relações entre esses povos e outros setores da
PAVIMENTAÇãO DA BR-156 E A CONSTRUÇãO DA população regional intensificaram-se nos últimos 40 anos. Os ín
PONTE BINACIONAL BRASIL-GUIANA FRANCESA, dios passaram a ocupar um grande espaço nas redes de relações
OS POVOS INDÍGENAS DO OIAPOQUE ELABORARAM urbanas, elegendo vereadores, participando do comércio local
UM PLANO DE GESTãO TERRITORIAL E AMBIENTAL como importantes compradores e fornecedores de mercadorias,
PARA SUAS TERRAS ocupando cargos da administração pública e participando do
movimento indígena nos planos local, estadual e nacional.
Na década de 1970, os quatro povos indígenas do Oiapoque
Os povos indígenas do extremo norte do Amapá, habitantes da
iniciaram um processo de articulação política, com a realização
bacia do rio Uaçá e baixo curso do rio Oiapoque – Karipuna, Pali
anual de grandes assembleias. As principais conquistas dessa
kur, Galibi-Marworno e Galibi Kali’na – são o resultado de várias
organização coletiva foram a homologação de suas terras, em
migrações, fusões antigas e mais recentes de etnias diferentes
1992, e a criação da Associação dos Povos Indígenas do Oiapoque
e mesmo de não índios. São portadores de tradições culturais
(Apio), que atualmente possui graves problemas financeiros em
heterogêneas, histórias de contato e trajetórias diferenciadas,
função da dificuldade de gestão de projetos e convênios com
assim como suas línguas e religiões. Além disso, cada povo tem órgãos governamentais.
seu próprio território na região, controlando áreas situadas às
margens de rios diferentes. Esses quatro povos falam línguas Os povos indígenas do Oiapoque, a exemplo do que hoje acon
aruák (os Palikur), karíb (os Galibi-Kali’na) e o patoá, uma língua tece em todo o país, enfrentam cada vez mais a necessidade de
creoulo da Guiana (os Karipuna e os Galibi-Marworno). Falam participarem da formulação e de fiscalizarem a execução de
programas de desenvolvimento e políticas públicas. Para isso,
também português e alguns, o francês, devido à proximidade
com a Guiana Francesa. precisam se organizar e capacitar para atuarem como protago
nistas nos processos de mudança que a sociedade global cada
Apesar das diferenças, prevalece uma visível solidariedade entre vez mais lhes impõe.
esses povos por compartilhar um mesmo território, vivenciar uma
No Amapá, a realização de grandes obras de infraestrutura,
situação geopolítica comum, por manter e reativar relações de
como a pavimentação da BR-156, ligando a cidade de Macapá
parentesco e ajuda mútua, assim como lutar unidos pela terra,
ao Oiapoque, e a construção da ponte binacional entre Brasil e
saúde, educação e infraestrutura. Compartilham uma cosmologia
Guiana Francesa tem trazido grandes mudanças, como o aumento
específica, indígena, karíb, aruák, tupi e também cristã, um as
da população nas cidades e a especulação imobiliária. Apesar do
pecto marcante que os índios definem como “nosso sistema”.
longo processo de negociação entre as comunidades indígenas
Cerca de 7 mil índios vivem atualmente no município do Oia e os governos estadual e federal acerca da compensação pelo
poque. Essa população está dividida em 39 aldeias e localidades impacto causado por essas obras, pouco ou nenhum avanço foi
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 337
alcançado nos últimos oito anos. Além disso, as ações nas áreas A proposta de elaboração do Plano de Vida foi apresentada e apro
de educação e saúde têm sido executadas sem planejamento e vada na Assembleia Geral dos Povos Indígenas do Oiapoque, em
de forma precária. agosto de 2008. Entre setembro e dezembro daquele ano, foram
realizadas cinco oficinas e atividades de capacitação do comitê
Para diminuir os impactos dessas transformações na região,
indígena eleito para a gestão do plano. Esses eventos tiveram
há tempos os povos e organizações indígenas do Oiapoque vêm
como objetivo estabelecer conteúdos e técnicas para o processo do
buscando o apoio de um conjunto de instituições parceiras, go
planejamento participativo, preparando os povos indígenas para
vernamentais e não governamentais para a execução de alguns
analisar a sua realidade e para identificar, monitorar e avaliar
projetos de desenvolvimento e de fortalecimento de sua capacidade
projetos prioritários. As oficinas também levantaram pontos que
de ação e gestão. Entre esses projetos e programas de trabalho,
poderiam limitar ou potencializar as mudanças propostas pelos
podemos citar a formação de pesquisadores indígenas e gestores
povos e organizações indígenas do Oiapoque, assim como os
do patrimônio cultural indígena; a implantação do Museu Kuahí
desafios de sustentabilidade das mesmas.
dos Povos Indígenas do Oiapoque; o mapeamento participativo das
terras indígenas do Oiapoque, a formação de agentes ambientais Em fevereiro de 2009, o resultado sistematizado dessas oficinas
indígenas e o fortalecimento de organizações indígenas. Porém foi apresentado e validado em plenária pelos representantes das
esses projetos vinham sendo desenvolvidos sem muita articulação quatro etnias do Oiapoque e de suas organizações indígenas,
entre si, o que acabava reduzindo o seu potencial de fortalecer as durante a Assembleia Anual de Avaliação e Planejamento. A
comunidades indígenas para enfrentar os novos empreendimen validação também incluiu um novo acordo com as entidades
parceiras sobre o processo de implementação do Plano de Vida.
tos e problemas que vêm surgindo em sua região.
O desenvolvimento dessas primeiras etapas foi avaliado pelos
participantes como uma iniciativa muito feliz e como um processo
PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO
adequado para pensar e discutir os problemas que preocupam
DO PLANO DE VIDA os índios.
Visando melhorar a articulação entre as ações voltadas para a Em agosto de 2009, foi realizada em Macapá uma grande apre
gestão socioambiental de suas terras, as lideranças indígenas sentação dos resultados alcançados no processo de construção
e parceiros (Funai, TNC, Iepé, Eletronorte e GTZ) discutiram e do Plano. Apublicação Plano de Vida dos Povos e Organizações
propuseram estratégias para a construção participativa de um Indígenas do Oiapoque registra as diretrizes e ações estratégicas
Plano de Gestão Socioambiental dos Povos Indígenas do Oiapoque, propostas pelas comunidades indígenas nos eixos temáticos
nomeado “Plano de Vida”.
saúde, educação, produção, território, meio ambiente, cultura
O Plano de Vida descreve e organiza os anseios de futuro dos Povos e movimento indígena. Para o lançamento, foram convidados
Indígenas do Oiapoque e indica como se espera que aqueles sejam representantes de várias instituições governamentais federais,
alcançados. Seu objetivo maior é garantir uma boa qualidade de estaduais e municipais, associações indígenas e organizações
vida, tanto no âmbito social quanto no ambiental. Para sua ela não governamentais. A proposta do evento foi construir novas
boração foi proposto e executado um planejamento participativo, parcerias e novos compromissos coordenados em favor de uma
com atuação coletiva e direta dos principais interessados. Os melhoria na qualidade de vida interna, das ações externas e da
objetivos, prioridades, problemas e soluções foram organizados sustentabilidade socioambiental desses povos.
de maneira compartilhada, procurando atender as necessidades
Para atingir esses objetivos, será necessária a implementação de
e desejos de toda a comunidade. Oito etapas foram previstas programas e projetos alinhados com os objetivos do Plano, que
para colocar o Plano de Vida em funcionamento: 1) articulação
deverão ser monitorados e avaliados periodicamente.
dos parceiros; 2) mobilização; 3) oficinas de planejamento; 4)
validação pelas comunidades; 5) elaboração de projetos; 6) O processo de construção desse Plano de Vida representa a
implementação dos projetos; 7) monitoramento participativo; reafirmação da posição específica dos índios dentro da socie
e 8) avaliação da implementação do Plano de Vida. Todas essas dade nacional, com direitos garantidos na Constituição, mas
etapas têm como objetivo principal definir de maneira clara e sempre em busca do fortalecimento de suas formas próprias
objetiva as mudanças necessárias para a melhoria da qualidade de organização social, cultural e de conservação ambiental.
de vida dos povos indígenas da região. (fevereiro, 2011)
338 AMAPÁ / NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
EXposIÇÕEs E atIVIDaDEs Do MUsEU Dos poVos InDÍGEnas Do oIapoQUE
Em abril de 2007 foi inaugurado o Museu dos Povos Indígenas do peças mais antigas do acervo do Museu do Índio, recolhidas entre
Oiapoque – Kuahí, com uma exposição planejada e montada pelos 1940-50 pelo inspetor do SPI Eurico Fernandes. Assim, velhas cole
próprios índios, resultado de um amplo projeto de valorização e ções, com peças belíssimas, mas pouco documentadas, foram rein
fortalecimento cultural, desenvolvido durante dois anos, de 2004 seridas no contexto museográfico e serviram de referência histórica
a 2006. para os índios, hoje. Trinta representantes indígenas viajaram para
a inauguração no Rio de Janeiro, tendo ajudado nos acabamentos e
OMuseu tem por finalidade afirmar a diversidade cultural dos povos
realizado a montagem do lakuh, no espaço externo do Museu, onde
indígenas da região, assim como promover um diálogo intercultural
apresentaram um turé na inauguração da exposição.
com outros povos e instituições indígenas, o município de Oiapoque
e visitantes, mas especialmente mantém um vínculo contínuo com Em 2009, com o apoio do Iepé, os índios desenvolveram um projeto
as aldeias, promovendo encontros, oficinas e pesquisas. nas aldeias ao longo da BR-156. Entrevistaram os moradores mais
velhos, com a intenção de registrar a história deformação de cada
A concretização desse museu levou dez anos de esforços conjuntos.
Cabe ressaltar que os processos e projetos do Museu, assim como seu aldeia que, por conta da pavimentação da BR-156, terão que ser
estatuto (ainda não reconhecido pela Secretaria de Cultura do Estado removidas. Com esse vasto material, montou-se uma exposição
do Amapá – SECULT), seguem, na medida do possível, as diretrizes itinerante por meio de banners que circulavam nas aldeias.
da Comissão Internacional de Museus (ICOM) e contam com a Ainda em 2009, o Museu Kuahí recebeu uma exposição sobre a
assessoria de profissionais experientes nas áreas de antropologia, organização social dos Wajãpi, “Jane Reko Mokasia”, incentivando
museologia, ação educativa e outras. maior aproximação e intercâmbio entre os povos indígenas do
Apesar das dificuldades, hoje o Museu Kuahí é uma instituição Amapá. Com isso, a população regional e os índios do Oiapoque
indígena consolidada na região, com poder de representação, uma puderam entrar em contato com esse belo material e conhecer uma
conquista do movimento indígena. Muitos eventos da cidade de Oia outra realidade cultural.
poque acontecem no Museu, pelo espaço de qualidade que ele oferece, Em 2010, foi montada no Kuahí uma exposição um tanto quanto
o que também prestigia os índios no meio urbano e municipal. diferente. Devido a uma maior aproximação entre os índios dos dois
Além das atividades museológicas e educativas, os técnicos do Museu lados da fronteira, surgiu a idéia de uma exposição transfronteiriça
vêm desenvolvendo pesquisas cujo produto têm sido, por um lado, Brasil-Guiana Francesa que apresentaria fatos históricos sobre os
publicações a partir de textos e material audiovisual produzido Galibi Kali’na da Guiana Francesa e a história e vida dos Galibi
pelos próprios índios e distribuído nas escolas, e, por outro lado, Kali’na que migraram para o Brasil em 1950, abarcando diferentes
diversas exposições. tempos e lugares, como o Brasil, a Guiana Francesa, a Europa, desde
as exposições universais do final do século XIX até os dias de hoje.
Em 2007 foi montada no Museu do Índio (RJ) uma grande exposição, Com estas duas faces, a histórica e a contemporânea, em espaços
“A Presença do Invisível – vida cotidiana e ritual dos Povos Indígenas diferenciados, a exposição tornou-se muito rica, pois ela na verdade
do Oiapoque”. A ideia foi dar maior visibilidade às manifestaçõesxa apresenta diferentes histórias, eventos e viagens marítimas no tempo
mânicas, rituais e artísticas dos povos indígenas do Oiapoque. Uma e no espaço e engloba várias exposições, desde o século XIX, que vão
belíssima coleção foi adquirida junto aos diferentes povos indígenas se articulando uma na outra ao longo do tempo.
da região. Para a montagem da exposição foram utilizadas também
Para 2011, a perspectiva é consolidar um programa de
formação continuada dos técnicos indígenas do Museu,
bem como apoiar novas atividades. Com recursos cap
tados pelo Iepé junto ao Iphan foi realizada em 2010
uma oficina sobre roças, produção e comercialização
de farinha de mandioca. Uma grande exposição sobre
o tema está prevista para abril no Museu Kuahí. Além
disso, como resultado das oficinas de formação de
pesquisadores indígenas realizadas com recursos da
Rainforest Foundation da Noruega e Usaid, está sendo
finalizado um catálogo de matérias-primas utilizadas
na produção de artesanato. (Lux Boelitz Vidal e Ana Paula
Nóbrega da Fonte)
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 339
Grafismo Tiriyó
Fonte: Acervo de Luis Donisete B. Grupioni
ACONTECEU
SAÚDE ponsáveis pela administração dos recursos des Defesa para a recuperação de pistas de pouso e
tinados pelo governo federal à saúde indígena. decolagem. O presidente da Funai, Márcio Mei
A medida é uma resposta à ocupação pacífica ra, informou que a fundação já está planejando
REFÉNS DA FUNASA da sede da Funasa em Macapá, por cerca de pistas de pouso, e que o Plano Plurianual da
NO OIAPOQUE 150 indígenas das etnias Karipuna, Palikiur, Funai prevê a aquisição de uma aeronave para
Nove funcionários da Funasa são mantidos e Galibi-karinã. Eles saíram do município de atender essas áreas. No caso do acesso por via
reféns desde 2ª feira pelos karipunas, na aldeia Oiapoque para cobrar do poder público mais rodoviária, a Funai comprou dois carros para a
do Manga, em Oiapoque. Os servidores só se- atenção à saúde indígena na região. Durante a região do Oiapoque. Para o transporte em todo
rão liberados quando a Funasa fizer o depósito reunião os indígenas denunciaram atraso de o Brasil, a fundação está recebendo 80 carros.
de R$ 1,6 milhão na conta da Associação dos dez meses no pagamento dos salários dos que O secretário Karipuna sugeriu que a Funasa
Povos Indígenas do Tumucumaque (Apitu). atuam no setor administrativo da Apitu, falta de crie um distrito sanitário de saúde indígena
O valor é referente à primeira parcela de um medicamentos básicos nas unidades de saúde e Oiapoque. A presidente da Comissão da Ama
convênio de R$ 3,1 milhões para desenvolver de mantimentos na Casa do Índio em Macapá. zônia, deputada Janete Capiberibe (PSB-AP),
ações básicas de saúde nas aldeias e o paga E exigiram mais autonomia para os Dseis e comprometeu-se a encaminhar o diagnóstico
mento dos agentes de saúde, que estão há obras de saneamento nas aldeias. (Amanda às autoridades federais, estaduais e municipais
três meses sem receber salários. Nos últimos Mota, Radiobrás, 24/10/2007) competentes. (Ana Raquel Macedo, Agência
meses, quatro índios teriam morrido por falta Câmara, 21/05/2008)
de atendimento médico. De acordo com o su
perintendente da Funasa no Amapá, Abelardo FUNASA PREPARA AÇãO PARA
EVITAR SURTO DE COQUELUCHE POLÍTICAS PUBLICAS PARA OS
Junior, a burocracia está atrasando a aprovação
do convênio e a liberação dos recursos. (Alci
INDIOS DO TUMUCUMAQUE
Dois casos confirmados de coqueluche em
néa Cavalcante, OESP, 05/07/2006) indígenas Apalay, no lado leste do Parque do Técnicos da Coordenação Regional da Funasa
Tumucumaque (Almeirim-PA), deixaram em no Amapá e do Governo do Estado do Pará
alerta os técnicos do DSEI/AP. Uma ação preven estarão reunidos nesta terça-feira (24) para
MALÁRIA ENTRE OS ZO’É discutir com lideranças indígenas do Parque
tiva de emergência está sendo organizada para
A Procuradoria da República em Santarém evitar que a doença se alastre. Foram monito do Tumucumaque a política pública de aten
visitou a área dos Zo’é, no norte do Pará, para dimento à população residente na área. O
radas 20 aldeias das etnias apalay, kaxuyana,
discutir um plano de erradicação da malária. tiriyo e wayana, onde a equipe realizou busca encontro é preparatório para a I Conferência
O médico ErickJennings e o indigenista João dos Povos Indígenas do Pará que tem por ob
ativa de casos suspeitos, coleta de material
Lobato, da Funai, acompanharam a visita. No para exame, bloqueio vacinal e aplicação de jetivo definir as diretrizes da política estadual,
verão de 2006, 80% dos moradores da reserva medicações específicas para o caso. (Antonio dentre eles, do Parque do Tumucumaque.
Zo’é foram contaminados pela doença, causada Ivone Medeiros, gestora do DSEI/AP, falou da
pela presença de madeireiras explorando a Correa Neto Online, 09/01/2008) importância da participação do Amapá em
Floresta Estadual Trombetas, área contígua ao busca de melhorias para a saúde dos povos
rio Erepecuru, no limite oeste da TI. O MPF FALTA DE TRANSPORTE E indígenas do Tumucumaque, que têm como
deve propor ao governo do Estado que se crie ATENDIMENTO À SAÚDE maior dificuldade o acesso à área, que só
uma zona de amortecimento de impacto, 20 KARIPUNA pode ser feito via aérea, o que compromete o
km a partir do rio que seriam bloqueados para O secretário-executivo da Coiab, Kleber dos deslocamento dos indígenas que necessitam
projetos de manejo florestal, evitando aproxi Santos Karipuna, denunciou as dificuldades de especialidades médicas e são encaminhados
mação entre os brancos e os Zo’é. Também para atendimento em Macapá na rede do SUS.
enfrentadas pelas populações indígenas do
será necessário reforçar a fiscalização através Amapá e do norte do Pará quanto ao acesso “Com o Estado do Pará atuando em parceria
de ação conjunta entre as Polícias Federal e com a Funasa temos grandes possibilidades de
à saúde e à educação. Durante a reunião das
Militar. Os Zo’é são considerados um grupo ex melhorar esse atendimento”, disse a gestora.
comissões da Amazônia, Integração Nacional
tremamente isolado, vivendo em uma área de O Parque Nacional Montanhas do Tumucu
e de Desenvolvimento Regional; e de Relações
floresta primária entre os rios Cuminapanema maque fica em uma área de 3,8 milhões ha,
Exteriores e de Defesa Nacional, ele também
e Erepecuru. Aceitaram a convivência pacífica nos estados do Amapá e Pará. Possui uma
com os brancos em 1987 e imediatamente reclamou da falta de um plano de transporte
população indígena estimada em mais de 2 mil
começaram a ser atingidos por doenças como aéreo para o atendimento às comunidades, índios das etnias Apalai, Waiãpi, Wayana, Tiriyó,
malária e gripe. Houve grande mortandade e principalmente das TIs Tumucumaque e Rio Kaxuiana, Txykuyana e Akurió, distribuídos
eles chegaram a ser apenas 133 indivíduos, Paru d’Este. Karipuna conta que o acesso a em 50 aldeias. (Antonio Correa Neto Online,
começando a se recuperar demograficamente essa região ocorre somente por via aérea. 24/06/2008)
nos últimos anos. Hoje, são 238 índios. (Hele “As comunidades vivem isoladas sem apoio
na Palmquist, MPF/PA, 16/01/2007) emergencial. Com isso, há uma série de conse
qüências, como o aumento da vulnerabilidade
PF
ÁLCOOL
COMBATE
EM TIVENDA
NO AMAPÁ
DE
às doenças, o êxodo dos alunos indígenas para
FUNASALIBERA RECURSOS APÓS as cidades, e também as invasões e crimes A PF e a Funai deflagraram no Amapá a Ope
OCUPAÇãO DA SEDE EM MACAPÁ ambientais nas TIs”. Ele pediu aos parlamen ração Presença, com o objetivo de fiscalizar e
A Funasa vai liberar R$ 1,5 milhão para o tares que apóiem a celebração urgente de um evitar a venda de bebidas alcoólicas nos arre
pagamento de dívidas da Apitu, uma das res convênio entre os ministérios da Justiça e da dores da TI Waiãpi. A ação também teve como
340 AMAPÁ / NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ACONTECEU
foco registrar as armas de caça existentes na levisiva, à internet e aos filmes vistos em DVD a construção de três unidades de saúde em
comunidade. Proprietários de bares e estabele é a principal causa. Mas o que mais preocupa diferentes aldeias e seis postos de vigilância
cimentos comerciais nos arredores das aldeias os pais é a violência e o consumo de álcool e devidamente equipados para a fiscalização do
foram notificados para que não forneçam álco drogas crescente nas aldeias devido ao contato local. (Clarissa Tavares, Editora do Porantim/
ol aos indígenas que residem na comunidade. com a zona urbana do Oiapoque e também de Cimi, 10/01/2008)
(Notícias Terra, 01/12/2009) Saint Georges, cidade da Guiana Francesa que
faz fronteira com o Brasil.
GERAL A conclusão dos trabalhos de asfaltamento da
MINISTRO VISITA TERRA ZO’É
BR ganhou novo fôlego com a inclusão da obra A equipe do Estado acompanhou o presidente
no PAC. A rodovia chegará até a fronteira com a da Funai, Márcio Meira, o ministro daJustiça,
DOSSIÊ WAJãPI Tarso Genro, e o diretor da polícia Federal,
Guiana Francesa e será estendida à ponte sobre
O Iphan lança o Dossiê Wajãpi, com o o rio Oiapoque que ligará o Brasil a cidade de Luiz Fernando Corrêa, em visita à área zo´é.
objetivo de mostrar e preservar os bens A política da Funai tem sido preservar ao má
Saint George, em território francês. Porém,
culturais desse povo indígena, registrando no trecho em que a rodovia atravessa a área ximo esses 245 índios numa frente de proteção
ações de produções de conhecimento. O etnoambiental. Mas os próprios zo’é mostram
indígena Uaçá, a licença ambiental para que
documento mostra que os Wajãpi têm uma o asfaltamento prossiga não foi renovada pelo se ansiosos pelo contato com o que está fora
tradição peculiar na pintura de seus corpos Ibama. O motivo foi o não cumprimento por da área indígena. A depender da Funai, essa
e objetos de enfeites e manuseio, utilizando parte do governo das medidas compensatórias aproximação demorará pelo menos dez anos.
pigmentos naturais de urucum e suco de e mitigatórias exigidas pelos povos indígenas Até lá, tentarão descobrir como preparar os zo’é
jenipapo verde. Cada pintura tem um mo para amenizar os impactos da estrada nas para ter esse convívio e manter suas tradições.
tivo, pode retratar uma cerimônia ou uma suas terras e nas comunidades. Entre outras Um dos principais empecilhos para preservar
atividade do cotidiano. Os Dossiês serão medidas, está a reconstrução das oito aldeias os zo’é desse contato imediato é a constante
distribuídos em bibliotecas em todo o Estado. que se encontram à margem da BR-156 em pressão de missionários interessados em levar
(Diário do Amazonas, 19/06/2007) locais mais reservados dentro da área indígena, a religião católica ou evangélica para dentro
COMPENSAÇÕES
BR-156: IMPACTOS
AOSE INDÍGENAS
Notícias que iNcomodam: suicídios iNdígeNas
A finalização das obras da BR-156 ameaça No sul da guiaNa FraNcesa
a vida e a tradição na TI Uaçá. Na defesa de Os grupos indígenas que vivem na Guiana Fran Guiana: reclamam de seu cotidiano totalmente
seus direitos, os povos indígenas exigem que cesa podem ser vistos apartir da seguinte diferen administrado, sem que lhes seja possível encon
sejam adotadas medidas para amenizar os ciação: os do litoral, que são bem ocidentalizadas trar um lugar próprio que concilie lógica indígena
impactos. Dos cerca de 135 Km da rodovia no e crioulizadas, e os do interior (Wayana, Aparai, e tarefa administrativa. Estão submetidos cada
município de Oiapoque, aproximadamente Teko e Wajãpi), que têm mantido dificilmente vez mais a um olhar exterior que é bastante
os modos de vida tradicionais. No entanto, nos depreciativo.
80 atravessam ou margeiam a TI Uaçá. A últimos anos, esses povos vêm sofrendo os efeitos Concomitantemente, mudanças radicais estão em
BR-156 tem início na cidade de Laranjal do do contato com a sociedade envolvente, como é processo, como por exemplo, o projeto do Minis
Jarí (fronteira com o Pará), e se estende até o o caso do aumento significativo de suicídios. Só tério da Educação que obriga a escolarização em
município de Oiapoque, no extremo norte do muito recentemente o poder administrativo se francês (que não é a língua materna) apartir de
Brasil. São ao todo 804 Km, dos quais cerca da mostrou sensível a esse fenômeno. 3 anos de idade. Trata-se de uma ameaça a toda
metade estão asfaltados. Nos 40 Km em que Apesar de não ser exclusivo, os suicídios têm forma de transmissão familiar, sem mencionar o
atravessa a terra Uaçá, a BR-156 contabiliza sido praticados por homens e deforma violenta: fato de que afetará o desenvolvimento da lingua
espingarda ou enforcamento. Fenômenos isolados gem na e da língua indígena.
em sua margem oito comunidades indígenas
são raros. A maior parte dos casos são seguidos Nesse contexto, há ainda um programa de “con
dos povos Karipuna, Galibi-Marworno e Palikur. de outros, levando a uma banalização do ato. A trole do suicídio”, que ignora todas as dimensões
Para as populações indígenas, a BR-156 ao decisão de deixar esta vida é um projeto que é culturais próprias desses grupos, abrindo espaço
mesmo tempo em que proporciona acesso amadurecido ao longo do tempo, e muitas vezes a uma psiquiatrização da população. O saber é,
facilitado a diversos serviços - como o atendi é assunto em conversas familiares. O alcoolismo, uma vez mais, exterior, piedoso e inferiorizante.
mento à saúde, a comercialização de farinha que geralmente precede o ato, permite a sua re A psiquiatria clássica a ser implantada vai de
e frutas produzidas nas aldeias, a compra de alização – não sendo porém a única causa, nem encontro às concepções tradicionais de cura. O
produtos na área urbana - também representa a única explicação plausível. governo, ao invés de incorporar especialistas
ameaças ao território e ao modo de vida tra A pressão e a ameaça aos valores tradicionais em etnopsiquiatria e etnolinguística nessa ação
dicional. Proteger os rios é uma preocupação vindas de modelos ocidentais, e a perda do con junto aos grupos indígenas, vai impor atividades
permanente. Além da poluição, os moradores trole sobre a existência em beneficio de instâncias pontuais, como é de praxe na periferia parisiense,
estranhas às culturas indígenas estão cada vez como práticas esportivas e artísticas. Estas, des
temem a invasão de madeireiros, garimpeiros
mais presentes, levando esses grupos a um senti tinadas a preencher o tempo livre das pessoas,
e caçadores em seus territórios. Outros fatores mento de impotência. Este sentimento associado serão impostas sem qualquer relação com as
são as contradições geradas pela influência dos ao alcoolismo massivo e ao consumo de drogas, necessidades locais, levando a um verdadeiro
padrões de vida externos sobre as comunida cada vez mais comum, está na origem de conflitos controle do cotidiano dessas pessoas.
des. Nesse, tem chamado a atenção a mudança muitas vezes violentos. Que vida resta a estes povos na Guiana Francesa?
no comportamento da juventude indígena. Um exemplo desse incômodo é o caso de jovens (Eliane Camargo e Serge Léna, abril 2011)
Para os adultos, o acesso à programação te wayana que trabalham no ParqueAmazônico da
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 341
ACONTECEU
DO TUMUCUMAQUEAO XINGU:
TROCAS DE EXPERIÊNCIAS
Quatro indígenas das etnias Tiriyó e Katxuyana
saíram do Parque Indígena do Tumucumaque
e percorreram mais de 2.300 km para chegar
ao Parque Indígena Xingu. Até o dia 10/05, eles
vão conhecer as técnicas de cultivo e plantio
dos xinguanos. O intercâmbio, promovido
pelo Iepé, pretende proporcionar a troca de
conhecimentos na lida com a terra, já que
tanto as etnias do Tumucumaque quanto as
xinguanas têm em comum o fato de viverem
em parques indígenas e em área de transição
entre floresta e cerrado. (Fernanda Bellei, Y
Ikatu Xingu, 03/05/2010)
Zo’é dialogam com o presidente da Funai (dir.) e o ministro da Justiça (esq.),
com tradução da linguista Ana Suelly Arruda.
WAYANA E APARAI VISITAM
O ALTO RIO NEGRO
Assessorados pelo Iepé, eles cruzaram Ama ZO’É QUEREM MUDANÇA NA atual Frente Etnoambiental Cuminapanema,
zônia vindos do extremo norte do Pará, na POLÍTICA DA FUNAI prevendo um conjunto de ações voltadas à
Serra do Tumucumaque, até a Cabeça do Ca promoção de direitos e à proteção física e
A imagem de M’Badjá, Ipó, M’Bóy, Sin’hú,
chorro, no extremo noroeste amazônico, para cultural dos Zo’é.
Kurú, Namihít, Tor’ken e Padj E’tarãndit no
conhecer de perto as experiências que várias O Ministro da Saúde, durante seu encontro
Planalto Central não estampou a capa de
comunidades baniwa, animadas pela Oibi, nenhum jornal, mas o significado da viagem com os índios, demonstrou preocupação com
iniciaram há cerca de dez anos, em conjunto dessa comitiva Zo’é à Brasília, entre 14 e a saúde deles. Conforme o site do Ministério,
com o ISA e Inpa. Durante a visita, realizada após ser informado da incidência de um recen
17/02/2011, marca uma mudança substancial
entre 22 e 29/04, eles discutiram a importância na política de relação desse povo com o Estado te surto de gripe na TI, solicitou ao secretário
em testar as experiências apresentadas pelos brasileiro, bem como das formas de proteção especial de Saúde Indígena, Antônio Alves de
Baniwa na região onde vivem no Amapá, uma garantidas pela Funai a ele. A notícia publicada Souza, a criação de uma barreira de controle
vez que as respostas dos experimentos do Alto para evitar que a situação não se repita. Ele
pelo site da Funai informa que: “Segundo Elias
Rio Negro podem ser diferentes das que podem Bigio, Coordenador-Geral de Índios Isolados e mencionou ainda a intenção de construir uma
ser obtidas ali. O intercâmbio faz parte de um Recém-Contatados da Funai, os Zo’é manifes política de saúde específica para os povos de
programa de pesquisa e manejo de arumã que taram interesse em aprender a língua portu recente contato.
os Wayana-Aparai pretendem implementar guesa e iniciar projetos autossustentáveis, que Na manhã do dia 15, recebidos pelo Ministro
junto com o Iepé, e com apoio financeiro do permitam
Tendo como a aquisição
intérpretede
a professora
alguns bens”.
Ana Suelly da Justiça, José Eduardo Cardozo, os índios
MDA, motivados pelas mesmas circunstâncias solicitaram material de caça e pesca, barcos
que os Baniwa dez anos atrás. Com a ampliação Arruda, que estuda sua língua há mais de 15 e combustível.
da produção de arte de arumã para comercia anos, os Zo’é participaram de reuniões junto Conforme informações da Funai, os Zo’é foram
lização, arumã vai acabar? Perguntavam os à Funai, ao Ministério daJustiça, ao Ministério a Brasília acompanhados pelo Dr. Erik Leonar
compradores, preocupados com a emergente da Saúde e visitas ao Laboratório de Línguas do Jennings Simões, da Funasa, que atende
responsabilidade socioambiental. Os morado da UnB, à Fundação Darci Ribeiro e à TV da o grupo na TI, e pelo Coordenador da Frente
res da comunidade explicaram aos visitantes de universidade. Etnoambiental de Cuminapanema,João Carlos
que forma estão manejando seus arumanzais A reunião na Funai teve como objeto o de Lobato. (A partir de informações do Site da
e resumiram algumas de suas práticas. (Adeil senvolvimento do Programa Zo’é, que deve Funai, do Ministério da Justiça e da Agência
son Lopes da Silva, ISA, 06/05/2010) substituir e transformar as atividades da Brasil 15/02/2011)
342 AMAPÁ / NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Kaixana
Kambeba
Kanamari
Karapanã
Kokama
Matsés
Miranha
Mura
Ticuna
Witoto
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
29 Acapuri de Cima Kokama 141/Funai-Alto Solimões: 2011 Declarada de posse indígena. 19.400 Fonte Boa AM
Portaria 287 de 13/04/2000 publicada em 17/04/2000.
42 Barreira da Missão Kambeba 788/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI. 1.772 Tefé AM
Kaixana Decreto 303 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI do
Miranha município e comarca de Tefé (1.772 ha) Matr. 2.178 Liv. 2 I fl. 230V em
Ticuna 20/11/91.
Witoto
22 Barro Alto Kokama 62/Funai-Alto Solimões: 2011 Declarada de posse indígena. 1.964 Tonantins AM
Portaria 1.390 de 14/08/2007 publicada em 15/08/2007.
19 Betânia Ticuna 5.341/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 122.769 Amaturá AM
Decreto s/n de 03/07/1995 publicado em 04/07/1995. Reg. CRI no Jutaí AM
município e comarca de Santo Antonio do Içá (122.769 ha) Matr. 107 Liv. Santo Antônio do Içá AM
2-B fl.107 em 10/10/95. Reg. SPU Certidão n° 02 em 19/03/96. Tonantins AM
2 Bom Intento Ticuna 378/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.693 Benjamin Constant AM
Decreto s/n de 05/01/1996 publicado em 08/01/1996. Reg. CRI no
município e comarca de Benjamin Constant (1.613 ha) Matr. 586 Liv. 2-3
fl. 8V em 12/01/96. Reg. SPU Certidão n° 35 em 05/11/2004.
43 Cajuhiri Atravessado Kambeba 51/Funai-Manaus: 2010 Declarada de posse indígena. 12.500 Coari AM
Miranha Portaria 1.487 de 15/08/2008 publicada em 18/08/2008.
Ticuna
34 Cuiú-Cuiú Miranha 721/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 36.450 Maraã AM
Decreto s/n de 23/06/2003 publicado em 24/06/2003. Reg. CRI no
município e comarca de Autazes (36.450 ha) Matr. 181 Liv. 2-A/RG fl. 172
em 11/03/2004. Reg. SPU Certidão n° 26 de 16/06/2004.
28 Espírito Santo Kokama 425/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 33.849 Jutaí AM
Decreto s/n de 19/04/2005 publicado em 20/04/2005. Reg. CRI no
município e comarca de Jutaí (33.849 ha) Matr. 599 Liv. 2-2 fl. 169 em
25/05/2005. Reg. SPU Certidão n° 08 em 13/09/2006.
27 Estrela da Paz Ticuna 645/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI. 12.876 Jutaí AM
Decreto s/n de 03/07/1995 publicado em 04/07/1995. Reg. CRI no
município e comarca de Jutaí (12.876 ha) Matr. 252 Liv. 2/RG fl. 52 em
25/08/95. Ofício ao SPU n° 249/DAF em 15/04/96.
8 Évare I Kokama 18.086/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI. 548.177 Santo Antônio do Içá AM
Ticuna Decreto s/n de 05/01/1996 publicado em 08/01/1996. Reg. CRI no São Paulo de Olivença AM
município e comarca de São Paulo de Olivença (57.205 ha) Matr. 541 Liv. Tabatinga AM
2-C-I fl. 61 em 20/06/96. Reg. CRI no município e comarca de Tabatinga
(307.173 ha) Matr. 242 Liv. 2-B fl. 97 em 01/03/96. Reg. CRI no
município e comarca de Santo Antonio do Içá, Matr. 138 Liv. 2-B fl. 138
em 15/04/96. Ofício ao SPU n° 551/DAF em 14/08/96.
12 Évare II Ticuna 2.347/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 176.205 São Paulo de Olivença AM
Decreto s/n de 05/01/1996 publicado em 08/01/1996. Reg. CRI no
município de São Paulo de Olivença, Matr. 542 Liv. 2C-1 fl. 62 em
20/06/96. Reg. SPU Certidão s/n em 18/02/97.
5 Guanabara Kokama 382/ Funai-Alto Solimões: 2011 Identificada. Aprovada pela Funai. Sujeita a contestações. 15.600 Benjamin Constant AM
Despacho 15 de 19/04/2011 publicado em 20/04/2011.
41 Igarapé Grande Kambeba 52/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.539 Alvarães AM
Decreto s/n de 19/04/2004 publicado em 20/04/2004. Reg. CRI no
município e comarca de Alvarães (1.539 ha) Matr. 171 Liv. 2-A fl. 171 em
14/05/2004. Reg. SPU Certidão n° 29 em 19/01/2004.
44 Ilha do Camaleão Kokama 457/Funai-Manaus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 236 Anamã AM
Ticuna Decreto s/n de 03/07/1995 publicado em 04/07/1995. Reg. CRI no
município de Anamã, Matr. 01 Liv. 1-RGfl.1V em 30/09/96. Reg. SPU
Certidão s/n em 02/04/97.
38 Jaquiri Kambeba 66/Funai-Manaus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.820 Uarini AM
Decreto 264 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991.
Reg. CRI no município e comarca de Maraã (1.819 ha) Matr. 81 Liv. 2-A fl.
77 em 27/11/91. Reg. SPU Certidão n° 02 em 20/11/95.
45 Lago Beruri Ticuna 120/Funai: 1994 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 4.080 Beruri AM
Decreto s/n de 03/07/1995 publicado em 04/07/1995.
Reg. CRI no município e comarca de Beruri (4.080 ha) Matr. 79 Liv. 2/RG
fl. 41 em 22/09/95. Reg. SPU Certidão n° 01 de 11/03/96.
13 Lago do Correio Kokama 50/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. 13.209 Santo Antônio do Içá AM
Ticuna Decreto s/n de 21/12/2009 publicado em 22/12/2009.
4 Lauro Sodré Ticuna 667/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 9.478 Benjamin Constant AM
Decreto s/n de 27/10/2004 publicado em 28/10/2004. Reg. CRI no
município e comarca de Benjamin Constant (9.478 ha) Matr. 764 Liv. 2/3
B fl. 92 em 11/05/2006. Reg. SPU Certidão n° 02 em 08/06/2006.
26 Macarrão Ticuna 721/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 44.267 Jutaí AM
Decreto 260 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no
município e comarca de Jutaí (44.267 ha) Matr. 62 Liv. 2 fl. 62 em
25/11/91. Reg. SPU Certidão n° 3 em 11/03/2002.
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
40 Méria Karapanã
Witoto
Miranha
Mura 68/Funai-Alto Solimões: 2011 Decreto s/n deRegistrada
Homologada. 04/10/1993no CRI e SPU.em 05/10/1993. Reg. CRI no
publicado 585 Alvarães AM
36 Miratu Karapanã
Witoto
Miranha
Mura 126/Funai-Alto Solimões: 2011 Decreto
Homologada.
390 de
Registrada
24/12/1991
no CRI
publicado
e SPU. em 26/12/1991. Reg. CRI no 13.199 Uarini AM
município de Uarini, comarca de Tefé (13.198 ha) Matr. 2.183 Liv. 2-I fl.
208 em 14/01/92. Reg. SPU Certidão n° 37 em 12/11/2004.
município e comarca de Maraã (7.866 ha) Matr. 160 Lv. 2-A fl. 151 em
25/09/2000. Reg. SPU Certidão n° 02 em 25/04/2001.
município de Uarini, comarca de Alvarães (4.769 ha) Matr. 172 Liv. 2-A fl.
172 em 14/05/2004. Registro SPU Certidão n° 32 em 26/01/2004.
21 Aliança
Santa Cruz da Nova Kokama 339/Funai-Alto Solimões: 2011 de posse
Declarada1.392
Portaria indígena. publicada em 15/08/2007.
de 14/08/2007 5.759 Tonantins AM
25 e Estação
São Domingos do Jacapari Kokama 604/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada.
Decreto s/n de 21/12/2009 publicado em 22/12/2009. 134.781 Tonantins
Jutaí AM
AM
9 Sururuá Ticuna
Kokama 197/Funai-Alto Solimões: 2011 de posse
Declarada3.077
Portaria de 27/09/2010
indígena. publicada em 28/09/2010. 36.125 Benjamin
São PauloConstant
de Olivença AM
AM
município e comarca de Benjamin Constant (1.065 ha) Matr. 546 Liv. 2-2
fl. 109 em 18/06/95. Reg. SPU Certidão n° 20 em 24/09/2002.
N° Mapa Terra Indígena Povo População (n°. fonte. ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
6 Tikuna Porto Espiritual Ticuna 410/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 2.839 Benjamin Constant AM
Decreto s/n de 05/01 /1 996 publicado em 08/01 (1996. Reg. CRI no
município e comarca de Benjamin Constant (2.839 ha) Matr. 587 Liv. 2-3
fl. 09 em 29/01/96. Reg. SPU Certidão n° 08 em 22/04/96.
Tukuna Umariaçu Ticuna 7.219/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 4.854 Tabatinga AM
Decreto s/n de 11/12/1998 publicado em 14/12/1998. Reg. CRI no
município e comarca de Tabatinga (4.855 ha) Matr. 1.498 Liv. 2-C fl. 98
em 20/11/2000. Reg. SPU Certidão n° 01 em 09/02/2001.
37 Tupã-Supé Ticuna 735/Funai-SEII: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 8.589 Alvarães AM
Decreto s/n de 19/04/2004 publicado em 20/04/2004. Reg. CRI no Uarini AM
município e comarca de Alvarães (4.324 ha) Matr. 173 Liv. 2-A fl. 173
em 14/05/2004. Reg. CRI no município de Uarani, comarca de Alvarães
(4.264 ha) Liv. 2-A fl. 174 em 14/05/2004. Reg. SPU Certidão n° 07 em
12/09/2006.
30 Uati-Paraná Ticuna 772/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 127.199 Fonte Boa AM
Decreto 284 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no Japurá AM
município e comarca de Fonte Boa (127.199 ha) Matr. 743 Liv. 2-RG fl. Tonantins AM
1/5 em 03/05/93. Reg. SPU Certidão n° 07 de 22/11/95.
16 Vui-Uata-In Ticuna 1.898/Funai-Alto Solimões: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 121.198 Amaturá AM
Decreto s/n de 03/07/1995 publicado em 04/07/1995. Reg. CRI no
município de Amaturá,comarca de São Paulo de Olivença (121.198 ha)
Matr. 534 Liv. 2C-1 fl. 54 em 02/05/96. Reg. SPU Certidão n° 02 em
21 /01 /98.
Organizações Indígenas e as
Políticas de Reconhecimento
NOS CADASTROS DE ÓRGÃOS INDIGENISTAS reconhecimento, via demarcação da terra, confere, em especial
REGIONAIS É RECONHECIDO COMO ÍNDIO QUEM o direito à saúde diferenciada.
NASCEU OU MORA EM TERRA INDÍGENA, SEJA A oferta de saúde aos povos indígenas do médio Solimões insti
ELA DEMARCADA OU AINDA EM PROCESSO DE tuiu um quadro de demandas complexo na região. O convênio
IDENTIFICAÇÃO. ATUALMENTE, NO ENTANTO,
entre a União das Nações Indígenas (UNI-Tefé) e a Funasa para a
A LUTA PELA TERRA NÃO É MAIS A ÚNICA CAUSA criação do Distrito Especial de Saúde Indígena (DSEI) foi firmado
DAS MOBILIZAÇÕES INDÍGENAS NO MÉDIO SOLIMÕES em 1999. A partir dessa data, a implementação de um direito
E MUITOS ESTÃO MAIS INTERESSADOS NOS DIREITOS
diferenciado em um contexto de baixa distintividade étnica e
QUE O RECONHECIMENTO, VIA DEMARCAÇÃO
atendimento precário proporcionado pelos órgãos públicos
DA TERRA, CONFERE, EM ESPECIAL O DIREITO
estimulou uma numerosa procura pelo reconhecimento oficial
À SAÚDE DIFERENCIADA
como indígena. Em linhas gerais, esse é o quadro de um processo
conflituoso, complexo e mal compreendido, desencadeado por
A região do médio Solimões é caracterizada por um número um número expressivo de comunidades do interior interessadas
relativamente pequeno de terras indígenas, principalmente em passar para indígena, ou se matricular, expressões usadas
quando comparada com o alto Solimões. Ao mesmo tempo, para caracterizar o processo de reconhecimento na região.
a população é amplamente conhecida como tendo uma forte A instrumentalidade presente na decisão de passar para indíge
ascendência indígena. O descompasso entre os que oficialmente na é um dos aspectos de um processo intricado de alianças locais
são reconhecidos como indígenas e os que o são em potencial envolvendo os próprios moradores das comunidades, as relações
manteve-se latente até a década de 1990, quando novos direitos entre elas e as comunidades vizinhas, e entre estas e instituições
indígenas começaram a oferecer outro contexto para a população políticas de mediação – de prefeituras a ONGs, Igrejas e órgãos
do médio Solimões expressar seu alinhamento étnico. Formal governamentais, incluindo gestores de unidades de conservação.
mente, o reconhecimento de indivíduos como indígenas está Ainda que o passar para indígena constitua um processo de
ligado à demarcação de suas terras. Nos cadastros de órgãos amplo alcance na região, cada autoatribuição da identidade
indigenistas da região, são registrados como índios quem nas indígena repercute em uma rede particular de relações. Vários
ceu ou mora em terra indígena, seja ela demarcada ou ainda fatores estão em jogo em cada caso, dificultando a construção
em processo de identificação. Hoje, no entanto, a luta pela terra de modelos abrangentes para descrever e explicar os pedidos.
não é o único interesse das mobilizações indígenas no médio O investimento em pesquisas etnográficas poderá esclarecer a
Solimões havendo um novo destaque para os direitos que o generalidade de motivações particulares.
Após a demarcação das terras ticuna, em 1992, registraram-se vítimas fatais.Já a agricultura na “terra firme” é valorizada como
cultura permanente, face à agricultura temporária da várzea. Essa
deslocamentos de grupos residenciais que viviam na área da
valorização está presente no mito registrado por Nimuendaju
aldeia Vendaval (TI Evare I), na boca do Igarapé São Gerônimo,
para áreas mais distantes da TI, formando “aldeias” como Bu sobre a aquisição das plantas cultivadas.
necü (“Barro Vermelho”) e Otaware (“Gente do Morro”). Esses Aágua do rio Solimões não é valorizada, sendo reconhecida como
deslocamentos foram motivados por cisões faccionais entre as fonte de doenças, pois serve grandes amontoados urbanos, como
famílias e para a garantia do território demarcado, bem como a Belém do Solimões. Ademais, os Ticuna alegam que o sol aquece
busca de aproximação dos valores dos “primeiros homens” do muito a água do Solimões, constituindo um sinal do “fim dos
povo Magüta, o povo de seus antepassados, que foram pescados tempos”. Em contrapartida, a água dos igarapés é considerada
no Igarapé Evare. Tal deslocamento incorreu no afastamento do potável, bem como a água da chuva.
acesso aos bens mercantis, em um movimento correspondente
Ademais, na beira dos rios, a não ser pela presença dos pássaros
a um abandono da “sede” de um antigo seringal para áreas de
domesticados, observa-se a diminuição de aves, cuja presença
colocações mais distantes, de difícil acesso.
aumenta quando se sobem os igarapés.
Pude refletir sobre as motivações de tais deslocamentos quando
A “beira” é o local do contato com os barcos de comerciantes que
entrevistei Pedro Inácio Pinheiro em 1997, que acabara de se
facilitam os vínculos com as cidades. Por essas razões, a “beira” se
instalar na aldeia Enepü, em migração posterior, mas articulada
contrapõe em sua visão de mundo ao alto dos igarapés, onde, na
a tais aspirações de “aproximação aos valores Magüta”. Segundo
“terra firme”, os Ticuna se aproximam da situação de isolamento
esse depoimento, a busca do modo de vida nos igarapés implica
vivida por seus antepassados Magüta. Segundo o mencionado
uma inversão de valores em relação ao citado “avanço das coisas
depoimento de Pedro Inácio, as festas são realizadas “conforme
do branco”, no sentido de aproximação com os valores ticunas,
nossos deuses (Ngutapa, Yoi) deixaram para nós, para não morrer
com a floresta e com a natureza. Eles valorizam a vida nos iga
nossa tradição. No dia em que não fizéssemos mais a festa, não
rapés, pois ali há abundância de peixes (habitantes do mundo
vivêssemos mais na floresta, na natureza, nós iríamos esquecer
subaquático) durante todo o ano.
deles. Se esquecermos, viramos como qualquer pessoa branca, e
Na beira do rio e na várzea, eles vivem uma situação mais pre alguns problemas irão acontecer conosco”. O esquecimento dos
cária, principalmente na época das cheias, quando escasseia o pais fundadores implicaria assim a identificação com o mundo
peixe. Além disso, a pesca predatória, controlada pelos proprietá dos brancos, com as suas doenças e outros problemas, como as
rios de grandes barcos pesqueiros, tem acarretado a diminuição pragas que enfraquecem a agricultura, ou a poluição dos rios
dos peixes em qualquer período. A valorização da pesca nos que contamina e afasta os peixes. Nesse raciocínio, a recorda
igarapés também tem uma conotação estratégica, visto que os ção dos ensinamentos dos “mais velhos” implica fortalecer a
Ticuna podem controlar seu acesso, mais estreito que o rio, ao organização ticuna.
passo que no Solimões dificilmente teriam condições de fiscali
É certo que não se trata de demonstrar aqui uma continuidade
zar a pesca predatória. Nesse sentido, a “volta aos igarapés” por
entre a situação primordial desse povo e sua situação atual, mas
alguns Ticuna é motivada por uma expectativa de viver próximo
considerar essa performance em sua historicidade, na qual os ato
aos mananciais do território ticuna e afastar-se das demandas
res e facções envolvem-se com investiduras de prestígio, poder e
da sociedade mercantil.
reconhecimento social. Constituem assim representações produ
O fato de se instalarem nos igarapés é visto positivamente tam toras do conhecimento sobre sua própria etnia, estruturantes de
bém porque as áreas de várzea estão sujeitas às inundações sua visão de mundo. Tais disputas e investiduras são importantes
para a compreensão dos papéis envolvidos no conflito entre as com as lideranças da aldeia Vendaval já eram difíceis quando per
organizações políticas na dinâmica da representação. A referência tenciam ao mesmo grupo de referência, quando passam a ocupar
à busca de poder, quando associada à ideia de uma “política do localidades mais distantes, passam a ser excluídos do acesso aos
branco”, indica uma denúncia implícita dos que buscam apoio de recursos advindos de instâncias governamentais ali instaladas.
políticos locais, e de associações (de professores, de agentes de Foram por isso levados a uma situação de precariedade e hoje
saúde) que são organizadas segundo parâmetros associativos da reivindicam serem atendidos em igualdade de condições em re
sociedade envolvente, e vão de encontro às formas de organização lação àqueles que vivem na Vendaval. Tais reivindicações são um
específicas ticuna. indicador de que os deslocamentos ticuna são condicionados a
uma situação que implica a reprodução das desigualdades sociais
Venho realizando pesquisas com os Ticuna desde 1997, quando
que se manifestam na assimetria entre áreas remotas e áreas
justamente se efetivou esse movimento de afastamento nos igara
pés por alguns agrupamentos, como os liderados por Pedro Inácio de beira dos grandes rios, onde, embora se registre escassez de
recursos naturais, verifica-se um monopólio do acesso aos bens
ou Toeru. O movimento de aproximação com os ensinamentos
e instituições da sociedade nacional. (dezembro, 2010)
dos mais velhos, de Yoi e dos cantos do Eware implica a prescrição
de uma maior integração com a natureza e afastamento da “vida
nota
dos brancos”. Mas o quadro que encontramos atualmente indica
1Equipe coordenada por Fan Hui Wen, do Instituto Butantan, com o seguintes
que essa escolha de viver em relativo isolamento nos igarapés está participantes: Priscila Faulhaber (Mast), Rute Gonçalves (Butantan), Marília
seriamente ameaçada pela falta de apoio e assistência. Ademais, Facó Soares (Museu Nacional, UFRJ) e Regina Erthal (Ipec/Fiocruz). A viagem
os líderes dos grupos que saíram da Vendaval foram movidos foi custeada com recursos do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em
Toxinas e pela Fapesp.
também por rupturas faccionais, de modo que, se os contatos
TANTO NO PERU COMO NA COLÔMBIA, OS TICUNA modo análogo à maloca tradicional, na aldeia se desenvolve
SE CONFRONTAM HÁ DÉCADAS COM INTRUSÕES o essencial das trocas matrimoniais, rituais, econômicas, de
DO MUNDO EXTERIOR, COMO A PROLIFERAÇÃO modo que a aldeia pode ser considerada como uma área local
DE MADEIREIROS E DE FRENTES COLONIZADORAS alargada.
E MOVIMENTOS RELIGIOSOS QUE LEVAM A
Ao longo das últimas décadas, a constituição dessas aldeias
PRÁTICAS SOCIAIS E CULTURAIS DIFICILMENTE
não raro foi motivada por promessas religiosas, como a de
COMPATÍVEIS COM AS SUAS Cushillo Cocha no Peru (missionário evangélico norte-ameri
cano), de Macedonia (visionário indígena) e de Arara (padre
católico) na Colômbia. Ali as novas práticas rituais, cultos
Os Ticuna formam uma sociedade ameríndia de cerca de religiosos e esportes coletivos substituem os ritos tradicionais,
50 mil pessoas, repartidas entre a terra do alto – com seis a frequentemente condenados pelos líderes messiânicos, mesmo
sete mil moradores no território peruano e oito a nove mil que haja uma tendência recente de sua reintrodução de forma
na Colômbia – e a terra do baixo, em território brasileiro. adaptada, por demanda dos Ticuna e igualmente dos brancos
Seu modo de organização social ainda hoje implica grande (ONGs, organizações e turistas na Colômbia), como atestado
mobilidade, em razão da residência uxorilocal (segundo a qual de sua “autenticidade étnica”.
os novos casais habitam junto à familía da esposa), de cisões, Na Colômbia e no Peru, cada aldeia ticuna é dotada de um
práticas xamânicas, movimentos messiânicos e da situação posto de saúde sob responsabilidade dos indígenas. Há também
socioeconômica. educação bilíngue ministrada por professores ticuna formados,
Nos anos 1970-80, as políticas no Peru e na Colômbia existente desde os anos 1960 no Peru e 1980 na Colômbia. As
incitaram comunidades isoladas, que viviam em malocas no organizações que reúnem a maioria das aldeias ticuna buscam
interflúvio, a se reunirem a fim de obterem benefícios nas áreas reforçar a coesão entre elas. As principais são a Federación de
de saúde, educação e por vezes auxílio na alimentação. A maior Comunidades Ticunas y Yaguas del Bajo Amazonas (Fecotiva),
parte se agrupou em aldeias nas margens dos grandes rios. Na criada em 1998 no Peru, a Asociación de Cabildos Indígenas
terra do alto, os Ticuna se encontram hoje em dois conjuntos del Trapecio Amazónico (Acitam), a Asociación Zonal de
territoriais, um deles correspondente às margens esquerda e Cabildos Indígenas de Tierras Altas (Azcaita), a Asociación de
direita do rio Amazonas, no Peru e Colômbia, e outro, nas ba Autoridades Indígenas del Resguardo Tikuna, Kokama, Yagua
cias dos rios Cotuhué (Colômbia) e Putumayo (Colômbia e Peru). de Puerto Nariño e Leticia (Aticoya) e o Cabildo Indígena Mayor
Na Colômbia, as vilas e comunidades ticuna são agrupadas em de Tarapacá (Cimtar) na Colômbia. Neste último país, os órgãos
resguardos, e no Peru, em terras concedidas para cada local do Estado e numerosas ONGs acompanham os habitantes dos
de residência, nos dois casos, com títulos coletivos. As aldeias resguardos em projetos relativos a biodiversidade, fortaleci
ribeirinhas frequentemente são divididas em bairros clânicos mento cultural, desenvolvimento econômico etc., com o apoio
sob o comando moral de um ancião, modelo que constitui uma das associações locais, como o das Famílias Guardabosques,
adaptação do ambiente endogâmico ou local que caracterizava das Famílias en Acción, das Madres Comunitarias, dos Grupos
a maioria das malocas, sob autoridade de um ‘pai da casa’. De Juveniles etc.
COM A CHEGADA DO GESAC, OS OLHARES SÃO era o programa Linux. Nunca tive uma capacitação para manu
DIFERENTES, OS JOVENS ESTÃO INTERESSADOS EM sear o programa junto com os alunos. Mas essa experiência está
APRENDER E CONHECER MUITO MAIS O MUNDO DA sendo muito importante para a comunidade. A rede de inclusão
INTERCULTURALIDADE digital na comunidade ticuna Filadélfia, principalmente na Escola
Indígena Ebenezer, fez muito progredir e desenvolver a aprendi
O Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão zagem dos alunos ticuna. A comunidade escolar sempre busca
(Gesac), programa de inclusão digital do Governo Federal, co incentivar da melhor forma o uso adequado dos computadores,
ordenado pelo Ministério das Comunicações, privilegia o aten principalmente o uso de internet. Com isso os alunos buscam
dimento a locais de difícil acesso e a comunidades em estado aperfeiçoar seu conhecimento na disciplina que está sendo mi
de vulnerabilidade social. O Programa Inclusão Digital Direitos nistrada pelo professor.
de Todos foi implantado nas comunidades indígenas ticuna do Com as séries iniciais eu ensino o uso do computador na digitação
Alto Solimões no ano de 2009. Nos seis principais municípios de trabalhos escolares através de uma aula básica de computação.
da região estão localizados 34 Pontos de Presença em escolas Outro trabalho é orientar os professores no uso do computador
municipais, prefeituras, pelotões de fronteira, Hospital de Guar para realizar suas pesquisas para trabalhar o assunto relacionado
nição de Tabatinga, Universidade do Amazonas, dentre outros. ao cotidiano de cada aluno. A internet está contribuindo bastante
Desses, quatro Pontos de Presença estão operando em comu no desenvolver das aulas, os professores e alunos sempre buscando
nidades indígenas: Umariaçu (TBT), Filadélfia e Feijoal (BC) e se orientar da melhor forma sobre oportunidade de tecnologias
Betânia (SAI). O professor ticuna, Nibison Marcelino Salvador, da e de inovações que não tínhamos antes. Ainternet é bastante uti
comunidade de Filadélfia, relata sua experiência como monitor lizada nas pesquisas e também está servindo como um meio de
do programa do Gesac: orientação escolar, por exemplo, para navegar e conhecer espaços
escolares de outras regiões e ter contatos com outras etnias do
“Na comunidade de Filadélfia estavam previstas 22 máquinas,
Brasil. Os alunos do ensino médio indígena de Filadélfia também
mas o poder público local, aproveitando a oportunidade, dividiu
para duas escolas. Onze computadores foram destinados à co utilizam a internet para melhorar seu trabalho escolar e digitam
atividades extras que os professores passam. Os professores do
munidade ticuna de Feijoal e 11 à de Filadélfia, no município de
ensino médio buscam aperfeiçoar suas práticas escolares pes
Benjamin Constant (AM). Foram beneficiadas também as comu
quisando conteúdos para serem aplicados dentro e fora da sala
nidade vizinhas como Porto Cordeirinho e Bom Caminho, e as
com os alunos. O Gesac, como um instrumento de comunicação,
comunidades não indígenas como Santo Antonio e Santa Rita.
vem inovando o desempenho do desenvolvimento humano e
Apenas após um ano vieram a funcionar, quando foi instalada a a capacidade dos alunos ticuna de ver o mundo da civilização
antena do Gesac. Fui deslocado para ser responsável pelo setor contemporâneo, o modo de viver num mundo tão complexo,
de informática como um monitor, mas sem ter noção de como cheio de diversidade cultural. (fevereiro, 2011)
ALTO SOLIMÕES Aloysio Guapindaia, da Funai em Brasília, avalia convocaram oficiais das polícias federal, civil
que “o principal interesse dos traficantes não e militar de Tabatinga para um encontro em
é criar consumidores entre os índios, mas Umariaçu, onde vivem cerca de 5.200 ticuna.
Livro ticUna retrata a vÁrZea mobilizá-los para o tráfico. (...) Por isso, nossa Eles pediram que a polícia faça mais para
do aLto soLimÕes maior preocupação é criar mecanismos de controlar os traficantes de drogas e prender
A várzea do Alto Solimões sob a visão de pro desenvolvimento auto-sustentável nas comuni os infratores em suas comunidades.
fessores ticunas é apresentada no livro “Ngiã dades, oferecer meios para gerar renda e abrir A região também tem sido um entreposto para
nüna tadaugü i torü nnãne: Vamos cuidar de mais perspectivas para os jovens”. (Roldão os traficantes de drogas desde os anos 70. A
nossa terra”, que será lançado no próximo Arruda, OESP, 19/03/2008) repressão recente do governo colombiano às
dia 14 de janeiro, em Benjamin Constant/ narco-guerrilhas desviou mais carregamentos
AM. O livro é um dos produtos do subprojeto cantores ticUna de drogas para o território brasileiro. A polícia
“Educação Ambiental e Conservação da Várzea federal de Manaus já confiscou mais de duas
em Áreas Indígenas Ticuna do Alto Solimões”, LanÇam novo hit toneladas de cocaína este ano, e cerca de 770
executado pela Organização Geral dos Pro Os índios da tribo Ticuna fazem mais um quilos apenas em novembro. Na cadeia de
fessores Ticunas Bilíngües (OGPTB), com o clipe com música gravada na aldeia Umaria Tabatinga, meia dúzia de índios foram detidos
apoio do ProVárzea/Ibama. Organizado pela çu, em Tabatinga. O hit “Se não fosse você” recentemente, suspeitos de atuar como mulas
antropóloga Deborah Lima, o livro resulta de é interpretado por Genaro, integrante do de drogas. A maioria dos ticuna em Umariaçu
pesquisas dos professores em aldeias indígenas grupo Eware, que já faz sucesso no Peru e na ganha pouco mais do que o salário mínimo
e comunidades ribeirinhas de várzea e terra Colômbia com a canção “Minha princesa”. O brasileiro, de US$ 168 por mês. Na cadeia, um
firme dos municípios de Benjamin Constant, clipe desta canção também está disponível no índio de 20 anos da tribo cocama, no oeste da
Tabatinga, SP de Olivença, Amarutá e Santo You Tube. A banda se apresenta desde o forró Amazônia, disse que aceitou US$ 404 em janei
Antônio do Içá, onde promoveram campanhas brasileiro até a cumbia peruana. Sem muitos ro para levar um pacote de cocaína rio acima,
de educação ambiental. (Jane Dantas, Jornal conhecimentos de internet e vítimas da lenta enquanto trabalhava num barco. Uma mulher
da Ciência/SBPC, 11/01/2007) conexão da rede em Tabatinga, o grupo Eware de 23 anos, que é parte ticuna e parte cocama,
demorou para conseguir colocar os clipes na também está na cadeia. Ela disse que recebeu
avanÇo da cocaína em web. Amesma tribo se divide entre as músicas mais de 12 vezes o que ganhava como empre
aLdeias da Fronteira do grupo Eware e as da Banda Cultural Aitcha. gada doméstica em Tabatinga para transportar
(Globo.com. 26/03/2008) um pacote de uma substância branca que mais
Na região do Alto Solimões, na fronteira do
tarde ficou sabendo que era cocaína. (Alexei
Brasil com o Peru e a Bolívia, os índios brasi
índios gaYs são aLvo Barrionuevo, UOL, 07/12/2008)
leiros enfrentam uma nova ameaça: o avanço
da cocaína. De acordo com o administrador de preconceito
regional da Funai em Tabatinga, o ticuna A população ticuna no Alto Solimões soma 32 ii FestivaL de mÚsica ticUna
Davi Félix Cecílio, a droga está presente na mil índios. Na aldeia Umariaçu 2, que fica no Foi realizado, na TI Belém do Solimões, entre
maioria das 230 aldeias da região, nas quais perímetro urbano de Tabatinga, vivem 3.649 os dia 1 e 4 de maio, o II Festival de Música
vivem cerca de 54 mil índios das etnias ticu ticunas, 40% com menos de 25 anos. Entre Indígena Tikuna, que teve a participação de
na, cocama, cambeba, caixana, canamari. O esses jovens, pelo menos 20 são conhecidos das etnias Kokama e Kanamari. Ao ar livre, 45
grupo mais numeroso é o ticuna, com 37 mil como homossexuais assumidos. Segundo a grupos indígenas apresentaram suas músicas
integrantes. De acordo com Cecílio, o consumo Funai, há registros de gays também nas aldeias e danças. O Festival foi também oportunidade
da droga aumenta entre os jovens indígenas, de Umariaçu 1, Belém do Solimões, Feijoal para que os Tikuna voltassem a celebrar o
que também estariam sendo utilizados para o e Filadélfia. Alguns dizem sofrer preconceito “Ritual da Moça Nova”, esquecido por longos
transporte da droga. A situação mais grave é a dentro da aldeia, onde são agredidos e chama anos, em decorrência da repressão promovida
da comunidade de Umariaçu, na área urbana dos de nomes pejorativos como “meia coisa”. especialmente pela igrejas evangélicas. Há
de Tabatinga. “Pela minha estimativa, de cada Quando andam sozinhos, podem ser alvos de três anos trabalhando na Comunidade Belém
cinco jovens dali, um já está viciado”, disse pedras, latas e chacotas. (Kátia Brasil, FSP, de Solimões, o Frei Paolo, incentivador das
ele. Segundo Constantino Ramos Lopes, pre 27/07/2008) tradições daqueles povos, criou uma escola
sidente da Organização Geral dos Professores de música, como forma de prevenir o uso do
Ticuna Bilíngüe, no município de Benjamin álcool, largamente disseminado entre os indí
Constant, “a droga circula de noite, de dia, a comUnidade ticUna soFre genas que trabalhavam nas usinas alcooleiras
qualquer hora. Boa parte vem do Peru, onde com o trÁFico de drogas ali instaladas. (Funai, 08/05/2009)
alguns grupos cultivam a coca como qualquer Alarmados pela violência e desobediência da
outra cultura agrícola.” As autoridades milita juventude da aldeia, dois chefes ticuna na
res brasileiras constataram que o plantio de aldeia de Umariaçu fizeram recentemente sUicídios são oito veZes
coca também avança na região de Tabatinga. um apelo desesperado e incomum por ajuda: maior QUe mÉdia nacionaL
Helicópteros do Exército descobriram há pouco pediram à polícia brasileira, que normalmente A prática de suicídio entre indígenas que
um laboratório de refino da droga a 130 km não tem jurisdição sobre as aldeias indígenas, vivem na região do Alto Rio Solimões deve-se
daquela cidade. Segundo Cecílio, há cerca de para entrar na comunidade e reprimir os tra principalmente a aspectos culturais e à falta de
uma semana, quatro índios do grupo cocama ficantes e usuários de substâncias. Quatro dias perspectivas, segundo o gerente do Programa
foram presos em Manaus, acusados de tráfico. depois de mais um caso de suicídio, os chefes de Saúde Mental da Funasa, Carlos Coloma.
Um
participaram
dosMúsica
mais de
Indígena
do40II grupos
Festival
Tikuna.
que
de
Discussões sobre a prática de suicídio entre após a consolidação das discussões feitas nos Ministério Público e juízes ao mesmo tempo.
indígenas estiveram em pauta nesta semana três dias de programação. Outros problemas, Eles prendem, julgam, condenam e aplicam
em Tabatinga, no Seminário sobre o Enfrenta como a insuficiência de escolas e de cursos as punições. Isso é muito perigoso”. Ele disse
mento de Situações que Colocam em Risco as profissionalizantes, o número de casos de que enviou um ofício para o Ministério da
Comunidades Indígenas do Dsei Alto Rio Soli suicídio e a falta de perspectiva também foram Justiça para que o caso seja analisado de forma
mões. Promovido pela Funasa, com apoio da apontados pelos participantes como alvo de técnica. “Os índios estão em uma região aonde
Unicef, o encontro reuniu, entre os dias 26 e 28 superação. (Amanda Motta, Agência Brasil, a segurança pública não chega com facilidade,
deste mês, quase 100 pessoas, entre indígenas 29/05/2009) assim como também não chegam serviços
e representantes do Poder Público municipal, essenciais de saúde e infra-estrutura”.
estadual e de ONGs, além de integrantes do secretÁrio deFende criaÇão Os índios pedem a legitimação da “polícia
Exército e das polícias Civil e Militar. (Amanda indígena”, treinamento e até mesmo paga
Motta, Agência Brasil, 29/05/2009) da poLícia indígena mento, já que o grupo é formado por volun
Cerca de 60 tikuna montaram uma “delegacia” tários. “O grupo não existe para confrontar
indígena na aldeia de Umariaçu desde janeiro as polícias Civil, Militar e Federal. O que
FUnasa terÁ pLano contra deste ano. Eles usam chicotes, cassetetes, cor eles querem é proteção contra a influência
drogas e vioLÊncia das e até palmatórias e se intitulam policiais. de traficantes e até mesmo de guerrilheiros
Até o fim de junho, a Funasa deverá concluir a O secretário dos Povos Indígenas, Jecinaldo das Farc”, disse Sateré. (Glauco Araújo, G1,
elaboração do Plano de Enfrentamento de Situ Barbosa Sateré, disse que quer apoiar a cor 09/11/2009)
ações que Colocam em Risco as Comunidades poração em virtude dos problemas de falta
Indígenas que vivem em Tabatinga, Benjamin de segurança vividos pelos índios na região
Constant, Santo Antônio do Içá, Amaturá, São de fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia. miLícia indígena compLeta Um
Paulo de Olivença e Tonantins, no sudoeste A Secretaria de Segurança Pública do Ama ano comemorando eXpansão
do Amazonas. O documento será utilizado zonas não considera a corporação legítima, Apesar de considerada ilegal pela PF e pela
pelos profissionais que trabalham no Dsei do mas avalia que a presença efetiva dos índios Funai, a Polícia Indígena do Alto Solimões
Alto Solimões, responsável por mais de 42 mil na região como “polícia armada” deve ser (Piasol) completou um ano de controle sobre
indígenas. O objetivo é utilizar as diretrizes estudada. “O que existe em Tabatinga é uma a aldeia ticuna Umariaçu, de 4 mil habitan
apresentadas no plano para, sobretudo, redu milícia. Não há como considerarmos aquele tes, adjacente a Tabatinga, na fronteira entre
zir o consumo de bebidas alcoólicas e drogas grupo de índios como uma parte da segurança Brasil, Peru e Colômbia. A Piasol foi formada
(maconha e cocaína) e os índices de violência pública do estado. No entanto, sabemos que em dezembro de 2008 e tem hoje cerca de
nas aldeias. O plano será formulado com eles enfrentam problemas na região”, disse 100 soldados, uniformes, estatuto próprio e
base nos problemas e desafios identificados, Francisco Sá Cavalcante, secretário de Segu hierarquia. A “delegacia”, na entrada da aldeia,
bem como nas propostas apresentadas por rança Pública do Amazonas. Cavalcante afir é improvisada em uma casa de madeira, com
lideranças e adolescentes indígenas Ticuna mou que os detidos pelos índios são levados pinturas de panteras negras, uma cela e um
em seminário realizado pela Funasa em para celas improvisadas na aldeia. “Eles não depósito onde estão guardadas garrafas de
Tabatinga. O encontro terminou ontem (28), têm limites. Eles estão atuando como polícia, cachaça apreendidas pelos soldados. O objetivo
proJeto contra
a pesca predatÓria
Para impedir o avanço da pesca predatória em
suas terras, indígenas da região do município
de São Paulo de Olivença (982 quilômetros de
Manaus) se articularam para conseguir apoio
técnico e financeiro a execução do projeto
Gestão e Manejo da Pesca. As atividades serão
realizadas nas TIs Tikuna Éware 1 e Éware 2. Há
quase dez anos, os indígenas do Alto Solimões
sentem o impacto da falta de peixe. Entre as
Rua da TI Tikuna Umariaçu, na região de Tabatinga (AM).
espécies mais em fase de desaparecimento
estão tambaqui, pirarucu e tucunaré.
A articulação institucional foi realizada esta
da milícia – rótulo rejeitado pelos integrantes semana em Manaus por representantes da As
sete caso de aids em sociação dos Caciques Indígenas de São Paulo
da Piasol –é “garantir a ordem na aldeia”, que BenJamin constant
segundo eles estava à mercê do alcoolismo, de Olivença (Acispo), com apoio da Secretaria
Um conflito de atribuições tem dificultado a de Estado para os Povos Indígenas (Seind). O
do consumo de drogas e de um alto índice objetivo é apoiar o manejo comunitário dos
vida dos pacientes indígenas que vivem com
de suicídio. De acordo com o cacique ticuna
Aids na região do Alto Solimões. E o que é pior: recursos pesqueiros, de modo a suprir o consu
Santo Mestâncio Alexandre, que participou pode fazer aumentar o número de óbitos por
da criação da Piasol, “a Funai e a PF nunca mo local nas comunidades e a comercialização
conta da doença entre os índios. No Município do excedente a preços justos. O projeto é finan
tomaram providências” sobre a violência na
aldeia. “Não tinha jeito de melhorar. Senta
de Benjamin Constant existem atualmente sete ciado pelo Governo do Amazonas, por meio do
casos confirmados de HIV entre índios, sendo Proderam, e executado pelo Laboratório de
mos e resolvemos que somos capazes de ter quatro homens e três mulheres. “O problema Manejo de Fauna (LMF), do Instituto Nacional
nossa própria segurança”, disse. Segundo é que os casos já chegam para o sistema de
a milícia, a criminalidade diminuiu muito. de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
saúde do município em estágio avançado. A cooperação técnica é da Seind. “É resultado
Cerca de 90% dos integrantes do grupo é de Os índios não aceitam diagnóstico de HIV. É
reservistas do Exército, que fazem patrulhas do projeto de pesquisa realizado em parceria
cultural, acham que existem outras formas entre Seind e Inpa há três anos, com financia
à noite na área da aldeia. O modelo da milícia de tratar, recorrem à pajelança e retardam o
foi copiado em oito localidades, cada uma mento da Fapeam”, afirma o titular da Seind,
tratamento”, diz Raimundo Coelho de Oliveira, Bonifácio José Baniwa. Mais de 4 mil famílias
com sua Companhia, em que há relatos de secretário municipal de Saúde, informando
uso de espingardas de caça. O próximo passo de 72 comunidades serão beneficiadas direta
que quando recebe um paciente tem que mente e a atividade abrange 17 mil indígenas
da Piasol em Umariaçu, contou o cacique, é cumprir um fluxograma de atendimento - que
tentar uma lei que garanta remuneração do dos povos Tikuna, Kokama, Cambeba e Caixana
inclui um teste de confirmação, além de coleta de São Paulo de Olivença e Benjamim Constant,
governo para os membros da milícia. Hoje, para carga viral, CD4 e CD9 que vão definir a
eles dizem viver de “doações voluntárias da na região da tríplice fronteira: Brasil, Colômbia
dosagem de antiretrovirais. “Esses exames só
comunidade”. O objetivo, acordado por todos e Peru. Aconcepção do projeto – cujo valor total
são feitos em Tabatinga e Manaus e demoram. é de R$ 608 mil, oriundos do Banco Mundial –
na “delegacia”, é oficializar a “polícia indíge A Funasa poderia atuar nessa assistência”, surgiu a partir de demandas da população indí
na”. A última investida da 1ª Companhia foi acredita. (A Crítica, 31/01/2010) gena tikuna da Mesorregião do Alto Solimões,
pedir ao Ministério Público Federal para portar
armas, o que foi negado. No entanto, os índios apresentadas à extinta Fundação Estadual dos
afirmam manter a intenção “para impor res oLimpíadas indígenas Povos Indígenas (Fepi) e ao Inpa em meados
peito”. A PF investiga duas mortes ocorridas do aLto soLimÕes de 2003. (A Critica, 22/07/2011)
em aldeias próximas a Umariaçu, em que A primeira edição das Olimpíadas Indígenas do
a suspeita caiu sobre membros da Piasol. A Eware – área sagrada onde foi criado o povo MÉDIO SOLIMÕES
Funai afirmou, por meio de sua assessoria Tikuna – foi encerrada dia 11, na comunida
de comunicação, que não reconhece o status de Belém do Solimões, em Tabatinga. Desde
de polícia dos ticunas. E que não recebeu o último domingo, quando foi oficialmente KoKama denUnciam empresa
nenhuma comunicação oficial da Funai em aberta, a competição reuniu indígenas de 12 a amaZonense de dendÊ
Tabatinga alertando para riscos da atuação da 35 anos de ambos os sexos, dos municípios de Três lideranças do povo Cocama da aldeia Nova
milícia. (OESP, 01/12/2009) Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo Esperança, na TI Barreira da Missão de Baixo,
reunidos com a Coiab em Manaus, solicitaram porto pode ser ameaÇa Barroso Laranhaga organizava a conferência
que a organização cobre do Governador do À ti Barreira da missão com participação
O fatoa foi denunciado
de àcerca dee150
Funai ao MPF,
pessoas”.
mas
Estado o cumprimento de compromissos
Ainda na primeira gestão do presidente Lula, o
assumidos com a comunidade indígena pela até o momento ninguém foi responsabilizado.
Ministério dos Transportes aprovou a constru
estatal Empresa Amazonense de Dendê (Ema ção de um novo porto para a cidade de Tefé. O “Nós esperamos que a Funai demarque nossas
de), que no início da década de 1990 explorou porto está para ser construído nos limites da terras para acabar com esses conflitos, antes
os recursos naturais da região e saiu da área que algum indígena seja morto pelos fazendei
TI Barreira da Missão, a apenas 200 metros da
com a promessa de indenizar os indígenas ros”, reclama Eledilson. Os indígenas esperam,
pelos impactos socioambientais. primeira de suas quatro aldeias, sem ter havido também, com a regularização da terra, ter
consulta à população. Em 2006 a Associação
A Emade, além de depositar o valor líquido de melhor assistência na educação e saúde. (J.
R$ 16.000,00 na conta corrente da Associação Cultural dos Povos Indígenas do Médio Soli Rosha, Cimi NorteI, 02/10/2009)
da Comunidade Indígena, prometeu, entre mões e Afluentes (ACPIMSA), UNI-Tefé e Funai
organizaram um movimento para embargar
outras medidas de indenização, construir na
a construção da estrada de acesso ao porto
territÓrio etnoedUcacionaL
aldeia uma escola em alvenaria com 5 salas,
secretaria, cozinha, banheiros e refeitório; um através de um abaixo-assinado ao governador. para o mÉdio soLimÕes
posto de saúde; um poço artesiano; um flutu Este acabou conseguindo um acordo com as O diretor da Diretoria de Promoção ao De
lideranças das aldeias, se comprometendo a senvolvimento Sustentável da Funai, Aloysio
ante; e proporcionar motores de popa, rabetas,
tratores, canoas de alumínio e rede telefônica. melhorar o desenvolvimento social, incluir Guapindaia, participou nesta quinta-feira
Na prática nada disso aconteceu. Os problemas, as comunidades no programa Luz para Todos (7) da cerimônia de assinatura do acordo de
no entanto, ficaram: as áreas próximas à aldeia do Governo Federal, pavimentar as ruas e pactuação do Território Etnoeducacional para
ajudar no escoamento da produção. Apesar o Médio Solimões. Elaborado em conjunto
foram devastadas, a destruição da cobertura
vegetal próxima à orla do rio acelerou a queda das promessas, muitos indígenas e entidades com as comunidades indígenas, prefeituras
de barrancos, um processo de erosão que não defendem ainda que todos permaneçam aten estaduais e municipais, Ministério da Educação
existia antes. (Coiab, 08/03/2006) tos aos riscos da situação. (Centro de Mídia e Funai, o projeto consiste em proporcionar
Independente, 29/09/2007) um ensino diferenciado para as populações
indígenas baseado na territorialidade e não
LideranÇas indígenas pedem mais por unidade de Federação. A medida vai
apoio para FiscaLiZar tis KaiXana soFrem
ameaÇas contemplar os povos Kokama, Kambeba, Kaixa
Cerca de 80 lideranças indígenas de 15 etnias na, Tikuna e Makú. O novo modelo educacional
fizeram nesta segunda-feira (5) em Tefé (AM) Fazendeiros e madeireiros estão ameaçando está previsto no Decreto nº 6.861, de 27 de
lideranças do povo Kaixana. A denúncia é feita
um ato público pelo Dia Mundial do Meio maio de 2009. (Funai, 11/10/2010)
Ambiente. No protesto, elas leram a carta com por Eledilson Corrêa Dias, coordenador geral
os resultados do seminário Sustentabilidade da Coordenação das Organizações Indígenas
Kaixana do Alto Solimões (Coikas). As ameaças comUnidade KoKama
Econômica e Meio Ambiente em TIs do Médio
Solimões e Afluentes, do qual participaram vêm acontecendo com mais freqüência depois soFre com a seca
no fim de semana. “A gente precisa fortalecer das agressões praticadas contra os indígenas A comunidade Kokama em Porto Praia de
o que os povos indígenas já fazem tradicio durante a realização de uma conferência, em Baixo, em Tefé, com aproximadamente 300
nalmente: proteger suas terras”, declarou o junho passado, na cidade de Santo Antônio do indígenas, está isolada por causa de uma
coordenador da Uni Tefé, Tomé Fernandes, Içá. Os Kaixana habitam tradicionalmente a das maiores secas na região. De acordo com
da etnia cambeba. “Em muita coisa a Funai região do Alto Solimões em áreas localizadas Raimundo Nonato da Silva, tuxaua da comuni
precisa também estar presente. Não basta nos municípios de Tocantins, Jutaí e Santo dade, falta água potável para os moradores, os
só demarcar o território, é preciso proteger Antonio do Içá. De acordo com o Cimi Norte I, lagos estão secando e os peixes morrendo. “Os
a área contra invasões de madeireiros e de existem 13 terras ocupadas por aquele povo, que conseguimos pescar para venda, chegam
pescadores.” A Uni Tefé busca parcerias para mas apenas A TI Mapari, no município de Jutaí, ao mercado já estragados, devido ao transporte.
expandir a iniciativa piloto apoiada pelo PPTAL, e TI São Sebastião, em Tonantins, constam na Para carregar por terra, a distância é de mais
que envolve 1,6 mil moradores das TIs Cuí-Cuí, lista oficial da Funai. Outras onze encontram-se de 4 km a pé, no sol”. Os indígenas também
Maraã-Urubaxi, Paraná do Paricá e Lago do sem nenhuma providência. Por causa disso, já não podem fazer farinha, devido à falta de
Alá. O financiamento, com valor total de R$ as aldeias dos Kaixana são constantemente água e de meio de transporte para o produto.
78 mil, termina no próximo mês. “Em 2003, invadidas por pescadores e madeireiros, con “A comunidade já sofre com diarréia, gripe e
a gente começou esse projeto em quatro terras forme relata o coordenador da Coikas. Várias outras doenças causadas pela má qualidade da
indígenas, oferecendo oficinas de legislação lideranças, inclusive ele próprio, já foram água adquirida de um córrego atrás da aldeia
ambiental e construindo tapiris (casas de ameaçadas de morte. Eledilson relata que sem nenhum tratamento”, diz. A situação de
apoio, equipadas com radiofonia e veículos de no dia 28 de junho, na Primeira Conferência calamidade se estende por outras comunida
transporte hidroviário)”, contou Fernandes. Comunitária Indígena Kaixana, na comunidade des, como SãoJorge e NovaJerusalém no lago
“Com um motorzinho rabeta (canoa motori Vila Presidente Vargas, fazendeiros interrompe de Tefé; Barreirinha no lago do Caimbé; Nossa
zada), em vez de passar três dias para visitar ram violentamente o evento. “Vários indígenas Senhora de Fátima no lago do Catuá; Boará e
sua área, você passa um dia”. (ThaísBrianezi, foram espancados. Os agressores atearam fogo Boarazinho no rio Solimões. (Antonio Nasci
Agência Brasil, 05/06/2006) na maloca principal, onde o Cacique Francisco mento, Cimi, 22/10/2010)
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
Isolados
EU TRABALHEI DIAS E NOITES PARA MINHAS de bebês de menos de um ano de idade nesses 11 anos foi de
MENINAS VIVEREM. CHÁ, TABACO, REZA, MUITO crianças kanamari. Em 11 anos, 152 bebês, 58 crianças de um
TRABALHO DE PAJÉ, MAS ELAS MORRERAM, AS a dez anos (18%) e 41 jovens de 11 a 25 anos (13%) morreram.
DUAS NO MESMO DIA, NO MEU COLO. FUI PARA Assim no total, portanto, 251 crianças e jovens com menos de
CRUZEIRO DO SUL, ENDOIDECI, QUERIA MORRER, 25 anos de idade faleceram, representando 77% de todas as
COMPRAVA BRIGA E SÓ VIVI PORQUE MEUS AMIGOS mortes no período. Os povos indígenas do Vale do Javari vêm
ME ARRASTAVAM PARA FORA (...) (César Marubo, acompanhando a morte de suas crianças e jovens e vendo a sua
Fórum Social Mundial de 2009, Belém) própria continuidade enquanto povo ser ameaçada.
“Em 2007, no Vale do Javari, morreram 123 bebês para cada mil
nascidos vivos, índice similar ao do Afeganistão e ao de países
A grave situação da saúde no Vale do Javari se arrasta há várias
miseráveis da África. Os números do Vale doJavari superam o de
décadas sem que o Estado brasileiro seja capaz de solucioná-la.
países como Moçambique, que enfrenta uma epidemia de Aids,
O drama de seus habitantes vem sendo denunciado há pelo me
onde morrem 81 crianças de cada mil nascidas. Índice cinco
nos dez anos pelo Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja)
vezes maior que a média nacional entre não índios (22,6 em
e há seis anos pelo CTI. O Vale do Javari continua sendo uma
2006) e duas vezes e meia acima da média indígena”. (O Globo
fronteira distante e invisível, palco de uma das maiores tragédias
e O Estado de S.Paulo, 25/05/2008)
da assistência à saúde indígena no Brasil. Nos últimos 11 anos
foram registrados pelo menos 325 óbitos, o equivalente a 8% da Grande parte das mortes foi causada por hepatite B e D ou por
população do Vale doJavari, em média uma morte a cada 12 dias. doenças decorrentes, como a cirrose e insuficiência hepática.
Um número de óbitos que, ano após ano, só tem aumentado: 2007 Segundo Oesp, na mesma reportagem, existem aldeias com índice
foi um ano especialmente trágico, com 46 óbitos, o que equivale de 7% a 14% da população com hepatite B, quando o aceitável
a quatro mortes por mês, um óbito a cada oito dias. pela Organização Mundial de Saúde é de apenas 2%.
Os Kanamari são um dos povos que mais têm sofrido com o De acordo com o relatório feito pelo antropólogo Walter Coutinho
descaso da assistência à saúde na região, com 40% do total de para o Ministério Público Federal em outubro de 2008, há pelo
mortes registradas no período de 2000 a 2010. Especificamente menos 15 anos técnicos do Ministério da Saúde comprovaram
grave é a situação daqueles que vivem no rio Itaquaí, onde vive a alta prevalência de hepatites virais entre os povos do Vale do
25% da população total do Javari, além de dois grupos indígenas Javari, e observaram a ocorrência de mortes atribuídas a essa
isolados. Ali foram registrados 31% de todos os óbitos desse causa nessa área. Entre 1999 e 2007, as hepatites virais (incluindo
período. Os Kanamari e os Korubo de recente contato foram a síndrome febril íctero-hemorrágica aguda) foram a principal
os grupos mais afetados, perdendo nos últimos 11 anos 16% e causa de morte no Vale do Javari, acumulando 42 ocorrências,
15% de sua população, respectivamente. Cerca de metade dos o equivalente a 17,9% do total de óbitos no período. Cerca de
óbitos registrados no Javari (46%) foi de crianças com menos um quarto das mortes resultantes de hepatites em 2003 e 2006
de um ano de idade. Quase a metade (43%) de todos os óbitos recaíram sobre crianças com menos de dez anos. Ainda segundo
CASOS DE CORRUPÇÃO
NA GESTÃO DA SAÚDE NÚmERO DE mORTOS NA TI VAlE DO JAVARI ENTRE 2000 E 2010
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Apesar dos acidentes, o uso de aeronaves é a melhor forma de O impressionante número de mortes de crianças kanamari no
prestar socorro em casos mais graves. No entanto existe uma Itaquaí, que é o mesmo entre os Kanamari no médio Juruá,
resistência do Ministério da Defesa em permitir o uso de pistas sempre foi visto pela Funasa como decorrência de casos de
de pouso em uma área de fronteira e com muitas ações do nar desnutrição, perpetuando um discurso discriminatório em
cotráfico. Remoções que poderiam durar menos de duas horas relação a esse povo. É evidente que crianças que tiveram tantas
prolongam-se por mais de cinco dias, em condições difíceis e malárias, verminoses, filarioses, dentre outras doenças, não
com custos muitas vezes mais elevados do que o de remoções podem apresentar um quadro nutricional adequado. No entanto,
aéreas. a Funasa se exime da responsabilidade pelo atendimento a essas
pessoas que ficaram desnutridas, quando afirma que a culpa é
DRAmAS PESSOAIS E COlETIVOS dos indígenas e alega que estes “não sabem nem alimentar seus
filhos”. Essa instituição não considera que o fato de as pessoas
“A aldeia está em silêncio, pois as noites são intensas com
estarem doentes, tomando tantos remédios e passando por inú
rituais de pajelança e por isso ninguém acorda cedo. Já não
meros momentos de luto, acaba interferindo em suas atividades
há roçados e até a comida na aldeia está escassa”. (Mulher
econômicas, comprometendo o trabalho nas roças, a pesca e a
marubo do rio Ituí, 25 de outubro de 2010)
caça, e afetando diretamente seu quadro nutricional.
As mortes têm provocado dor, medo e tristeza e abalam a vida
Essa situação dramática é resultado do descaso do governo
emocional das pessoas que vivem no Vale do Javari, gerando
brasileiro e do oportunismo de um grupo de pessoas ligado a
reflexos quase imediatos em sua organização social.
um esquema de corrupção e desvio de dinheiro. Não se trata
Os Matis, recuperados do trauma coletivo de 1981, quando mais da inexistência de recursos destinados ao atendimento à saúde
de um terço da população morreu em apenas um ano, voltam a no Vale do Javari, o que falta é uma equipe de gestores de saúde
duvidar de sua sobrevivência enquanto povo. Os diversos casos de competente que saiba lidar com uma área de mais 8,5 milhões
malária vividos por pacientes com um histórico de hepatite crô de ha e que crie uma estrutura logística capaz de superar as
nica comprovam que a malária, nessas condições, compromete enormes distâncias e a forte pressão de interesses políticos locais
seriamente as funções hepáticas de indivíduos que, como se não e regionais. (fevereiro, 2011)
bastasse, acabam também por padecer de anemia e desnutrição.
Às malárias e hepatites somam-se também o elevado consumo (...) pelo visto as autoridades responsáveis querem o fim defi
de medicamentos, alcoolismo, diarreias e altíssimos índices de nitivo dos nossos povos, o nosso extermínio definitivo, por isso
verminoses. permanecem silenciosos, sem se manifestar sobre as mortes
dos nossos parentes do Vale do Javari. (Carta SOS Javari dos
Nos últimos anos, a extrema insatisfação dos índios com o aten povos indígenas da TI Vale do Javari, janeiro de 2008)
dimento de saúde tem levado a sérios conflitos com os técnicos
A versão integral desse texto pode ser encontrada em http://www.trabalhoindigenista.com.br e está
de enfermagem que atuam nas comunidades indígenas, e que registrada em nome do autor sob uma licença Creative Commons.
colaboração José Ninha Tavares Kanamary Coordenador Técnico Local da Coordenação Regional do Vale do Juruá e Javari/Funai
OS KANAMARI QUE VIVEM NA TI VALE DO JAVARI, Kanamari em mudar, por meio de ações exemplares, a imagem
FALANTES DA LÍNGUA KATUKINA, SOFREM que comumente se fazia deles.
PRECONCEITO E MARGINALIDADE NAS RELAÇÕES DE
PODER JUNTO ÀS INSTÂNCIAS GOVERNAMENTAIS E SAÚDE
NAS TOMADAS DE DECISÃO DOS DEMAIS POVOS DO
A situação de saúde dos Kanamari e do atendimento que se
JAVARI QUE SÃO FALANTES DA FAMÍLIA PANO. ESSAS
presta é lastimável. Em um documento da Funasa1 de agosto de
RELAÇÕES, ALIADAS À DEPLORÁVEL SITUAÇÃO DA
SAÚDE, IMPULSIONARAM UMA SÉRIE DE ATITUDES 2008, consta que no polo-base da aldeia São Luis, no rio Javari,
estariam instaladas cinco geladeiras solares e que a construção
POSITIVAS DOS KANAMARI NOS ÚLTIMOS ANOS,
do polo-base na aldeia Massapê deveria acontecer em dezembro
FRENTE A SEU FORTALECIMENTO POLÍTICO INTERNO E
À REPRESENTATIVIDADE NAS SITUAÇÕES EXTERNAS do mesmo ano. Pois bem, na aldeia São Luis, há uma estrutura
construída, mas não existem as cinco geladeiras solares, nem
vacinas, nem equipamentos que o façam funcionar como deveria.
Os Kanamari vivem nas TIs Kanamari do rio Juruá, Mawetek, Já a estrutura na aldeia Massapê, no rio Itacoaí, continua em
Maraã/Urubaxi, Paraná do Paricá, Patauá e Vale do Javari. Estima ruínas, o matagal tomou conta da fundação de tijolos e o único
se que ao todo sejam cerca de 1.700 pessoas. Os Kanamari que cômodo que foi levantado até o teto hoje serve como depósito
hoje vivem no Javari, provenientes de afluentes do Alto e Médio de gasolina dos auxiliares de enfermagem. Tais técnicos, que
Rio Juruá, são cerca de 760 pessoas. Há pequenas aldeias e acam habitam e atendem em um pequeno posto de saúde de madeira
pamentos intermitentes, mas as principais ocupações consistem na mesma aldeia, contam com uma baleeira para realizarem as
em dez aldeias no rio Itacoaí e cinco no Médio Rio Javari. visitas ao longo do rio.
Com exceção dos povos considerados isolados pela Funai, todos Outras sete aldeias kanamari contam com agentes indígenas
os demais – Matis, Matsés (Mayoruna), Marubo e Kulina – são de saúde (AIS) e microscopistas indígenas que nunca recebe
da família linguística pano. Diante desse contexto, em artigo da ram cursos de atualização desde sua contratação. Em algumas
edição anterior de Povos Indígenas no Brasil, o antropólogo aldeias, a população constrói casas de paxiúba e palheira para
Luis Costa se referiu aos Kanamari como “os outros dos outros”, servir de “farmácia”. Mas a maioria das “farmácias” são as
explicitando as dificuldades impostas pelo preconceito, discri casas dos AIS, onde não é difícil encontrar medicamentos com
minação e marginalidade que os Kanamari sofriam. Contudo, a validade vencida ou sem embalagens e bula. Os moradores
a caracterização desse povo como “os outros dos outros” vem das aldeias menores dependem do atendimento nas maiores. As
se alterando há pelo menos cinco anos devido ao esforço dos comunidades não possuem embarcações específicas para levar
pacientes graves até os técnicos, e em algumas não há sequer Pública (Lacen) ao rio Itacoaí, que atestou o problema da falta
rádios de comunicação para chamá-los. Quatro das aldeias de formação continuada entre os microscopistas indígenas e
mais populosas, no rio Itacoaí, possuem rádio de comunicação, conseguiu realizar busca ativa na maioria das aldeias. Entretan
dois implantados pela Funai local, um, pela Frente de Proteção to, por falhas na logística, os responsáveis pela borrifação não
Etnoambiental e outro, pela Funasa. Na aldeia Estirão do Pedra, chegaram a tempo para controlar o vetor, atividade que deveria
conseguiram um aparelho de rádio usado, mas a Funasa não ser concomitante à busca ativa, e desse modo não foi possível
concedeu a antena para fazê-lo funcionar. O mesmo acontece evitar uma nova epidemia de malária.
na aldeia Lago do Tambaqui, no rio Javari. Nesse rio a situação é
Especialistas kanamari no tratamento dos males que afetam
ainda pior, pois as comunidades são distantes umas das outras e
a saúde se sentem impotentes frente ao caos sanitário. São
o único rádio instalado para uso dos técnicos de enfermagem e
muitas enfermidades exógenas e o espectro de suas ações não
dos Kanamari fica na aldeia São Luis. Em nenhuma das aldeias
é suficiente na maioria dos casos relacionados às hepatopatias,
há poço artesiano.
filarioses, DSTs e os já citados casos de diarreia e vômito. Con
Apesar da divulgação, em 2008, dos resultados do inquérito so tudo, os tratamentos autóctones continuam sendo realizados, e
rológico para hepatites virais feito pela Funasa e pelo Instituto de por vezes os especialistas kanamari são chamados até a cidade
Medicina Tropical em 2005, os Kanamari se queixam de nunca para auxiliar no tratamento de pacientes na Casa do Índio ou
haver recebido informações concisas sobre todos os enfermos e as no hospital.
possibilidades de tratamento. Apesar da megaoperação realizada
pela Funasa, em parceria com o Ministério da Defesa em 2008, os EDUCAÇÃO
Kanamari continuam sem um esquema completo de vacinação.
No âmbito do projeto Pirayawara, a Secretaria de Educação do
Além dos óbitos relacionados às hepatopatias, a mortalidade
Amazonas iniciou a formação de professores do Vale doJavari em
infantil é gritante e vem piorando nos últimos anos. Somente
2001 e, até o momento, quase dez anos depois, o processo não
no mês de outubro de 2010 sete crianças faleceram. Grande
parte dos casos aponta oficialmente como causa mortis diarreia foi concluído. Nenhum polo de educação kanamari foi construído
pelo estado do Amazonas no Vale doJavari. A prefeitura de Atalaia
e vômito, no entanto, não há nenhuma investigação acerca do
do Norte construiu, em 2007, três escolas kanamari no rio Javari,
que realmente levou a esse quadro sintomático.
feitas de madeira e zinco; um ano depois as madeiras já estavam
Em março de 2010, em uma ação do Plano Estadual de Combate apodrecidas e as escolas, inutilizadas. No rio Itacoaí, as escolas
à Malaria (Secretaria de Saúde-AM e Fundação de Vigilância em são todas construídas pelas comunidades, por vezes com apoio
Saúde), foi enviada uma técnica do Laboratório Central de Saúde de parceiros não governamentais.
ARTICUlAÇÕES E A
VOlTA POR CImA
Diante das questões expostas, os Kanamari
reconhecem a necessidade de tomar provi
dências. Para além dos esquemas tradicionais
de autoridade e sem ferir a autonomia das
aldeias, caciques, professores, xamãs, agentes
indígenas de saúde e jovens lideranças deram
início a uma série de diálogos e rearranjos
internos, buscando coesão, organização e
mobilização. Tentando conciliar os interesses
das diferentes aldeias e mantendo a identidade
étnica como ponto em comum, os Kanamari
renovaram sua estratégia política, tanto na
definição das responsabilidades dentro da TI,
quanto na representatividade com os demais
povos do Vale doJavari e de fora, e com pessoas
e instituições não indígenas.
No início de 2009, Maria José Bohoni Kanamary, professora da
Adelson da Silva Saldanha, o Kora Kanamary, que já havia deixado aldeia Irari II, no rio Javari, foi nomeada assessora da Secretaria
o posto de AIS em sua aldeia para se dedicar completamente Municipal de Assuntos Indígenas de Atalaia do Norte. Em março
ao “movimento indígena”, é o primeiro Kanamari a ser votado de 2009, a Assembleia Geral da Univaja foi realizada na aldeia
como coordenador da Univaja, em março de 2008. Em agosto Massapê, e é a segunda vez que um dirigente da Funai local
do mesmo ano, os Kanamari no rio Itacoaí se organizam para comparece ao PIN (a primeira vez foi em 1975). Para a ocasião,
substituir o então chefe do PIN Massapê, não indígena, e nome os anfitriões construíram alojamentos para os convidados e
aram o professor da aldeia, José Ninha Tavares, para assumir o levantaram a primeira maloca kanamari no Vale do Javari. A
cargo. Em dezembro desse ano foi realizado o I Festival Cultural pressão intensa do cargo de coordenador e a necessidade de
Kanamari. atenção especial aos Kanamari fez com que Kora, nessa as
A RIQUEZA CULTURAL EXISTENTE NA TI VALE mero de roças, tapiris e malocas encontradas entre 2000 e 2010,
DO JAVARI PROPORCIONA UM DOS MAIORES apontam para um aumento perceptível dessa população.
DESAFIOS PARA A SALVAGUARDA DOS ISOLADOS.
Acredita-se que os graus de isolamento, a distribuição e a elevada
ALÉM DA INTENSIFICAÇÃO DAS RELAÇÕES ENTRE
OS ÍNDIOS ISOLADOS E OS DE CONTATO CONTÍNUO – e crescente – densidade demográfica desses grupos indígenas
podem ser explicados pelos seguintes pontos: (1) a delimitação
COM A SOCIEDADE NACIONAL, HÁ TAMBÉM O
DESAFIO DA FUNAI EM SE POSICIONAR FRENTE ÀS de uma TI com dimensão adequada para garantir sua reprodu
RELAÇÕES ENTRE ESSES ATORES ção física e cultural; (2) a existência de uma Frente de Proteção
Etnoambiental da Funai; (3) a dificuldade de acesso de agentes
externos; (4) a integridade ambiental das regiões onde residem;
Na TI Vale do Javari, a segunda maior terra do país com mais de (5) o histórico indígena e de exploração econômica da região; (6)
8,5 milhões de ha, há uma grande concentração de referências a concepção territorial e as relações com o espaço que ocupam;
de índios isolados. Junto com a macrorregião Manu/Purus, for (7) as lógicas sociais que regem suas estruturas cosmológicas e
ma um corredor amazônico de grande presença desses povos. (8) as estratégias de (sobre)vivência (isolamento) que decidiram
São reconhecidas oficialmente 14 referências, entretanto, em um adotar diante de fatores diversos que os tornaram vulneráveis, e
levantamento realizado pela Frente de Proteção Etnoambiental Vale dos quais, provavelmente, têm consciência.2
do Javari (FPEVJ),1 em 2008, foram contabilizadas informações re
ferentes a 18 áreas onde é provável a presença desses grupos. Além Há uma diversidade de situações e configurações de “contato”
dos isolados, há também povos com diferentes formas e relações versus “isolamento”. Alguns são raramente vistos. Não derrubam
de contato e de trocas com a sociedade nacional, constituindo um clareiras para plantio de roça, e há apenas registros de parcos
rico mosaico cultural e fazendo dessa TI um complexo espaço de vestígios, tais como quebradas ou rastros. Já outros derrubam
tensões, contatos e sobreposições territoriais entre os diferentes grandes áreas e constroem grandes malocas. Outros ainda se
povos isolados, aqueles recém-contatados e os que já se relacionam expõem em determinados períodos, nas margens dos grandes
sistematicamente com a sociedade nacional. rios da região. Diante das informações disponíveis, conjectura-se
que os isolados do Vale do Javari são, possivelmente, povos de
Entre os anos 2006 e 2010, foram localizadas, por meio de so
línguas das famílias pano e katukina.
brevoos e expedições terrestres, entre roças, tapiris e malocas
– algumas delas colossais – mais de 90 indícios da ocupação
territorial de pelo menos cinco agrupamentos distintos de índios
CONTATADOS E ISOlADOS
isolados. Essas observações apontam para a existência de uma A inigualável riqueza cultural existente na TI Vale do Javari propor
população de número elevado. Análises comparativas sobre o nú ciona um dos maiores desafios para a salvaguarda dos isolados.
Desses casos, aqueles que mais causam preocupação são os que PRESSÃO ANTRÓPICA: DESFlORESTAmENTOS,
envolvem os Korubo isolados, que são provavelmente mais de mADEIREIROS E IIRSA
200 pessoas. Durante a estiagem, vão assiduamente às margens Todos os rios na TI Vale do Javari seguem no sentido sul-norte:
dos rios Itacoaí e Ituí, aproximando-se e estabelecendo contato nascem ao sul e desaguam ao norte nos riosJavari e Solimões. O
com aqueles que transitam nessa áreas. No passado, os Korubo sul da área é constituído por nascentes, já o norte, pelo baixo cur
já frequentavam as margens dos rios Itacoaí e Ituí durante seu
so dos riosJaquirana (denominação do rio Javari da nascente até
ciclo anual de ocupação, mas deixaram de fazê-lo em decorrência a confluência com o rio Galvez, no lado peruano),5Javari, Curuçá,
da intensificação do avanço não indígena em seus territórios e Ituí, Itacoaí, Jandiatuba e Jutaí. Essa característica hidrológica
dos inúmeros conflitos acarretados por ele. sempre fez do norte a porta de entrada na região da exploração
Tal retomada territorial se deu a partir da retirada de não in de madeira e de fauna silvestre e da atividade garimpeira. Tais
dígenas da região, após homologação da TI Vale do Javari, em pressões vêm, gradualmente, se modificando. Nos últimos anos
2001, e da presença permanente da Funai (FPEVJ), que controla e registra-se a aproximação de grandes derrubadas para a criação
evita o ingresso de agentes de exploração comercial dos recursos de gado, oriundas das cidades de Ipixuna, Eirunepé e Cruzeiro
ambientais nos rios Ituí e Itacoaí. Assim, os índios isolados estão do Sul, localizadas no rio Juruá, ao sul da TI. Entre 2006 e 2010,
por meio de imagens de satélite e sobrevoos, a Funai identificou
se sentindo mais seguros para se expor, aumentando nos últimos
anos o número de encontros ocasionais com os Matis, Kanamari grandes desflorestamentos no interior da área e próximos ao
e Marubo, que transitam por esses rios em seus deslocamentos limite. Há locais onde o desmatamento está a 25 km de malocas
para a cidade. de grupos isolados.
Em algumas áreas ao sul da TI, há grande incidência de madeira
No Javari, situações como essas engatilham processos de re
de lei, tais como mogno e cedro. Aliado a isso, está sendo pla
configuração e retomada territorial, ocasionando sobreposições
nejada a construção de uma estrada pavimentada denominada
com grupos que já travam relações sistemáticas com a sociedade
de “interoceânica central”. O projeto faz parte da “Iniciativa de
nacional, e com isso, possíveis contatos, trocas epidemiológicas
Integração da Infraestrutura Regional Sul-americana” (IIRSA) e
e conflitos.
ligará Cruzeiro do Sul a Pucallpa, cidade peruana considerada um
grande polo madeireiro. Assim que concluída, a estrada represen
PESCADORES E CAÇADORES IlEGAIS tará uma definitiva pressão madeireira e da pecuária na região.
A ação ilegal de pescadores e caçadores na TI Vale do Javari é um O sul da área, que até pouco tempo era de difícil acesso e por
problema crônico da região, que sofre com isso em praticamente isso refúgio de grupos isolados, vem se tornando, gradualmente,
Ainda assim, há períodos em que muitas famílias nucleares se 4 As preocupações se justificam à medida que há a possibilidade de transmis
e Recém-Contatados. A FPEVJ foi criada em 1996 e hoje conta com três serviços 6Adaptado da dissertação de mestrado “Preliminares sobre a Fonética e a Fono
de proteção etnoambiental que atuam permanentemente em três regiões espe logia da língua falada pelo primeiro grupo de índios Korubo recém contatados”,
cíficas no Vale do Javari. Suas atribuições são: a proteção de grupos indígenas de Sanderson Castro Soares de Oliveira. UNB, 2009. P. 11-13. Sanderson Oliveira
isolados e o acompanhamento de um grupo korubo de recente contato. é lingüista e indigenista da FPEVJ.
2Provavelmente, as relações que historicamente os grupos isolados estabelece 7Cipó utilizado pelos Korubo e Matis (denominado tatxi) é geralmente com
ram com os não indígenas, aquelas pautadas por conflitos, trocas materiais e/ parado com o nosso café, pois é tomado várias vezes ao dia. Ralam o cipó com
ou microbiológicas (doenças), foi o fator mais determinante para que optassem um ralador feito de dentes e depois embebem-no em água, espremem-no e
pela estratégia do isolamento. tomam o seu sumo.
3 Tratam-se de ferramentas normativas ou metodológicas: extrusão de TI, 8Coutinho Jr., W. Hepatopatias no vale do Javari: virulento agravo à saúde
Restrição de Uso, Vigilância etc. indígena e afronta aos direitos humanos. Manaus: Ministério Público Federal:
Procuradoria da República Federal, 2008.
Isolados na Fronteira
BRASIL E PERU COMPARTILHAM EM SEUS MAIS DE a rodovia BR-364 à cidade peruana de Pucallpa, atualmente o
2.800 KM DE FRONTEIRA A MAIOR CONCENTRAÇÃO maior centro madeireiro do país. Se implementada, a estrada cor
DE GRUPOS INDÍGENAS ISOLADOS DO MUNDO, tará ao meio a Reserva Territorial Isconahua, criada pelo governo
COM MAIS DE 20 POVOS OU SOBREVIVENTES peruano em 1998, onde vivem os isolados Isconahua. Além disso
DESTES. OS DADOS POPULACIONAIS ESTIMADOS passará muito próximo à Reserva Territorial Maquia-Calleria,
ULTRAPASSAM O NÚMERO DE MIL PESSOAS proposta pelas organizações indígenas peruanas e até hoje não
reconhecida pelo governo. Lá habitam isolados Kapanahua e
Isconawa.
Sete das dez áreas criadas para a proteção dos isolados no
Peru se localizam nessa região de fronteira, assim como a TI Em 2005, o governo de Alan Garcia seguiu sua agenda desenvol
Vale do Javari e outras terras indígenas no estado do Acre, que vimentista e iniciou um processo acelerado de concessões para
abrigam as maiores populações de isolados no Brasil. Além dis a exploração de petróleo e gás. Muitas das concessões incidem
so, essa extensa área concentra as maiores taxas de biodiversi sobre áreas de isolados reconhecidas pelo governo peruano em
dade de toda a Amazônia. anos anteriores. Este é o caso, por exemplo, da Reserva Terri
No início de 2000, a região amazônica tornou-se alvo de uma torial Murunahua, reconhecida oficialmente pelo Peru em 1997
política de concessões florestais do governo peruano, que como território dos povos Chitonahua e Mashco-Piro. Até 2010,
entregou mais de sete milhões de hectares para a exploração grande parte da referida reserva estava sobreposta ao lote 110,
cuja concessão foi vencida em leilão pela empresa Petrobras
madeireira a empresas do setor desde então. Muitas concessões
foram outorgadas em áreas próximas ou sobrepostas a territórios no ano de 2005. A Petrobras é hoje a terceira maior empresa
dos isolados em região de fronteira. No mesmo ano, foi criada a brasileira no Peru em volume de investimentos e a segunda maior
produtora de petróleo no país, detentora, até o final de 2009, de
Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional da Améri
ca do Sul (IIRSA), com o objetivo de desenvolver a infraestrutura dez lotes de petróleo/gás, que correspondiam a aproximadamente
para transporte, energia e comunicações em escala regional. 13% da superfície amazônica peruana. Atualmente esse percen
Obras de infraestrutura, que contam com apoio do BNDES, tual é menor, já que a empresa desistiu da concessão de lotes que
cada vez mais alteram a paisagem da região. A mais importante não foram considerados viáveis economicamente. Hoje algumas
dessas obras é a rodovia Interoceânica, que liga Rio Branco aos das maiores empresas brasileiras têm atuação de destaque no
portos da costa pacífica peruana por meio de seus 2.500 km Peru: além da Petrobras, a Odebrecht, Vale, Votorantim, Gerdau,
de extensão. Inaugurada no final de 2010, a rodovia corta as dentre outras.
áreas mais preservadas da Amazônia peruana e passa próximo No final de 2010, foi assinado o “Acordo para o fornecimento
à Reserva Territorial Madre de Dios, criada em 2002 e habitada de eletricidade ao Peru e exportação de excedentes ao Brasil”,
por povos isolados Mashco-Piro e povos Pano não identificados. que prevê a construção de 14 hidrelétricas no Peru por empresas
Outra obra planejada e ainda não executada no âmbito da IIRSA brasileiras. Esses empreendimentos contam com financiamento
é a conexão rodoviária Brasil-Peru via Cruzeiro do Sul, que ligará do BNDES e sua produção está estimada em 20 mil megawatts.
Nos últimos anos a política do governo peruano tem sido pautada Essa articulação também está acontecendo em nível local, por
pelo desrespeito aos direitos coletivos dos povos indígenas. As meio de uma série de atividades que envolve comunidades e
comunidades indígenas e suas organizações têm sido tratadas organizações indígenas, entidades de apoio e outros atores da
como obstáculos à modernização do país. Dessa forma o governo região de fronteira Brasil-Peru. O CTI, a CPI-Acre, a Federación
tem criminalizado seus protestos, reagindo com violência e Nativa del Río Madre de Dios y Afluentes (Fenamad), a Asocia
promovendo ampla campanha contra as organizações e lideranças ción Interétnica de Desarrollo de la Selva Peruana (Aidesep) e
indígenas, as entidades de direitos humanos e demais aliados dos o Instituto delBien Común (IBC) tiveram um papel expressivo
povos indígenas no Peru. Tem demonstrado forte resistência em nesse contexto, que teve o apoio fundamental da Fundação
reconhecer os direitos dos isolados sobre os territórios que ocu Rainforest da Noruega.
pam tradicionalmente. Em 2007, o próprio presidente chegou a de
Em 2008, na cidade de Pucallpa, foi realizado o I Encontro
clarar para o mais importante jornal do país que os isolados eram Regional para a Proteção dos Direitos dos Povos Indígenas
uma invenção das ONGs para impedir a exploração de petróleo. Isolados da Fronteira Peru-Brasil, que contou com a participa
O governo brasileiro, apesar de ter uma política de reconhecimen ção do presidente da Funai, Márcio Meira, fato que deu grande
to dos direitos e de proteção aos povos isolados, também tem visibilidade à questão dos isolados na região.
ATÉ 2005, A GRANDE PREOCUPAÇÃO EM RELAÇÃO 72% de toda a região amazônica no Peru já estava loteada para
À FRONTEIRA DA TI VALE DO JAVARI COM O PERU tal atividade. Toda a área da fronteira do Vale do Javari com o
ERA COM A AGRESSIVA POLÍTICA DE CONCESSÕES Peru estava tomada por lotes, inclusive um deles foi entregue à
FLORESTAIS DESTE PAÍS. A PARTIR DE ENTÃO, A empresa brasileira Petrobras.
PREOCUPAÇÃO SE VOLTOU PARA UMA POLÍTICA As concessões de petróleo na Amazônia passaram a ser o
TAMBÉM AGRESSIVA DO GOVERNO DE ALAN tema prioritário das agendas das organizações indígenas,
GARCIA: AS CONCESSÕES DE HIDROCARBONETOS indigenistas, ambientalistas e de direitos humanos no Peru.
Assim se iniciou uma forte e ampla resistência do movimento
indígena regional e nacional e da sociedade civil peruana. Foi
Os interesses pelos recursos de petróleo e gás na região do Vale
do Javari se iniciaram nos anos 1980 com a invasão de mais nesse contexto de resistência que os Matsés no Peru (também
de 400 homens a serviço da Petrobras nas áreas dos isolados conhecidos como Mayoruna) enfrentaram o loteamento de seus
dos rios Itacoaí e Jandiatuba, momento em que a TI ainda não territórios para essas empresas.
estava reconhecida. Entre 1983 e 1984, dois funcionários, um
de uma empresa a serviço da Petrobras e outro da Funai, foram LOTES DE PETRÓLEO NO TERRITÓRIO
flechados e duas pessoas foram mortas por 50 Korubo, levando DOS MATSÉS NO PERU
a uma situação de extrema tensão. Essa resultou na entrega Os Matsés são hoje um povo com cerca de 2 700 pessoas,
de uma espingarda e munição para cada um dos funcionários a vivendo na região de fronteira entre o Brasil e o Peru, nas
serviço da Petrobras, como medida de segurança. Não se sabe margens e nos afluentes do rio Javari ou Jaquirana (denomina
quantos isolados morreram. A verificação de malocas queima ção do Javari da nascente até a confluência com o rio Galvez).
das pode significar a morte de indígenas, pois essas populações Em 2006 e 2007, foram leiloados pelo governo peruano quatro
costumam queimar e abandonar suas malocas depois da morte lotes de petróleo que se sobrepõem completamente ao território
de moradores. matsés e às áreas de ampliação propostas. A empresa Pacific
Apesar de todos os incidentes, a Petrobras instalou uma “ope Stratus Energy ficou com os lotes 135 e 137, a Occidental, com
ração silêncio” entre seus funcionários, abriu várias clareiras e o lote 142 e a Gustavson/Talimã, com o 136. Os Matsés em ne
implantou uma base de operações e uma sonda. Em novembro nhum momento foram consultados a respeito dessas iniciativas.
de 1984, a Funai mudou sua postura, declarou-se contra as A partir desse momento os Matsés no Peru iniciaram uma
ações da empresa na região, pedindo a sua saída e solicitando a ampla campanha de resistência e repúdio às concessões pe
interdição da área.
troleiras em suas terras. Sua resistência ganhou a capa e uma
Desde então nunca mais se tinha ouvido falar de interesses página inteira no mais importante jornal peruano, El Comercio,
pelos hidrocarbonetos na região da TI Vale do Javari, até que, dando visibilidade a um povo até então pouco conhecido pela
em 2007, o petróleo voltou a ameaçar os povos dessa terra. No mídia peruana.
entanto, dessa vez, a ameaça vem do lado peruano da fronteira. Dois anos depois, motivadas, dentre outras coisas, pela resis
Em 2004, 14% da Amazônia peruana estava sob avaliação para tência desse povo, as duas últimas empresas devolveram ao
exploração de petróleo. Em 2008, apenas quatro anos depois, governo os lotes 142 e 136. A resistência matsés resultou na
Cientes do risco de enfrentar um governo autoritário e com na região são alguns pontos preocupantes que foram levantados
pelos indígenas.
uma política agressiva de concessão dos recursos amazônicos
para o grande capital, os Matsés no Peru lançaram uma nova O futuro desses interesses econômicos na região do rio Javari/
estratégia: a articulação com os seus parentes no Brasil. Jaquirana ainda é incerto. O certo é que os Matsés do lado peru
Apoiada pela organização indígena nacional peruana Asociaci ano conseguiram chamar a atenção de seus parentes no Brasile
ón Interétnica de Desarrollo dela Selva Peruana (Aidesep), a das organizações que os apoiam e formaram um grupo binacional
Comunidad Nativa Matses por intermédio de seu chefe, Angel de repúdio à atividade petroleira na região. Essa área é ocupada
Uaqui Dunu Maya, iniciou um processo formal de aproximação e hoje por mais de 2.700 Matsés e 200 Kanamari, além de índios
aliança política com os Matsés no Brasil. isolados cuja presença foi confirmada pelo governo brasileiro.
Os Matsés do lado peruano realizaram, em 2009, o I Encontro
Binacional Matsés Peru-Brasil que contou com a participação O INTERESSE CRESCENTE
de mais de 200 indígenas do Peru e alguns matsés do Brasil. As possíveis reservas de petróleo e gás na Amazônia peruana
Foi pedido de forma unânime o apoio dos parentes matsés bra não é um evento isolado. Reflete uma nova busca, iniciada há
sileiros e de suas organizações de apoio, Funai, Univaja e CTI. alguns anos pelo mercado de hidrocarbonetos, por fontes de pe
Durante a reunião todos tomaram conhecimento de um mapa tróleo e gás a partir do esgotamento das reservas mais antigas.
que mostra que mesmo com a proibição da entrada dos traba A bacia sedimentar da Amazônia Ocidental tem sido uma dessas
lhadores das petroleiras em seus territórios, esses realizaram novas áreas a ser explorada.
pesquisas sísmicas na área e definiram quatro áreas para a
O que de fato se nota é que a TI Vale do Javari é hoje uma ilha
instalação de poços exploratórios. Três deles situam-se em
cercada por lotes petroleiros do Peru e da região de Urucu no
afluentes do rio Javari/Jaquirana e um deles, num afluente do Brasil. Os incidentes de 1984 afastaram temporariamente a Pe
rio Ucayali. Além disso, esse mapa oficial da empresa Pacific trobras da região. Em um documento oficial interno da Petrobras,
Stratus Energy sobre as áreas de influência direta e indireta de 1996, éfeita a solicitação à direção da empresa para que con
do lote 137 demonstra que partes da TI Vale do Javari estão sulte a Funai sobre a possibilidade de liberação de perfuração de
na zona afetada. No Brasil, a comunidade matsés chamada um novo poço na região do Itacoaí, para que a Petrobras possa
Trinta e Um, onde vivem cerca de 200 pessoas, está dentro da “cumprir sua missão, que é a de descobrir jazidas de hidrocarbo
área de influência direta desse lote. Já a comunidade Soles, netos, onde quer que se encontrem”.
onde vivem 70 Matsés, apesar de estar fora da área de influên Um ano antes do documento, o Grupo de Trabalho de identifi
cia considerada pela empresa, localiza-se logo abaixo de um dos cação e demarcação da TI Vale do Javari já havia iniciado os
poços e seria fortemente afetada por qualquer vazamento. trabalhos de campo, frustrando os interesses da Petrobras.
Em 2010, o II Encontro Binacional Matsés Peru-Brasil contou Paralelamente, em 2007, a Agência Nacional de Petróleo (ANP)
com a participação de mais de 30 Matsés da TI Vale do Javari, iniciou os levantamentos sobre o potencial da região do Juruá
que enviaram uma carta ao governo peruano e às autoridades no Acre — que também faz parte da bacia sedimentar onde se
competentes. Nesse documento questionaram o fato de o go localiza o Vale do Javari — para a exploração de petróleo e gás
verno peruano e de a empresa Pacific Stratus Energy levarem natural. No Amazonas, o Campo de Juruá, descoberto em 1978,
adiante um empreendimento que poderia afetar águas interna éa maior reserva de gás natural do país (não associada ao
cionais e os direitos indígenas garantidos pelo Estado brasileiro petróleo), com 40 bilhões de metros cúbicos, e um dos projetos
sem um diálogo binacional. Documento que resultou na busca prioritários no planejamento estratégico da Petrobras até 2012.
oficial do início de um diálogo com a presidência da Funai por No Purus, áreas de ocorrência de isolados já receberam visitas
parte do consulado peruano em janeiro de 2011. de técnicos da Petrobras.
A TI Vale do Javari está sob nova ameaça. Em março de 2008 uma operação em território peruano da fronteira, e 25 pessoas moradoras da cidade de
conjunta do exército e da polícia civil encontrou as primeiras plantações de Tabatinga (brasileiros, peruanos e colombianos) assassinadas.
coca, de variedade andina, em terras brasileiras, justamente nos arredores
O envolvimento de indígenas da região com o plantio de coca para
dessa TI. A operação “Cocada verde” localizou quatro pequenas plantações,
o narcotráfico já é uma realidade e a violência decorrente desse
totalizando 2 ha, além de um laboratório de refino ao longo dos 150
envolvimento também. Em janeiro de 2010 foi desmontada uma rede
quilômetros do rio Javari, fronteira do Brasil com o Peru e também limite da
internacional de narcotraficantes que atuava em terras dos Ticuna da
TI Vale do Javari.
comunidade peruana de Cushillococha. Outras quatro comunidades
A descoberta surpreendeu as forças de segurança da região que nunca tinham ticuna, também do lado peruano, se viram obrigadas a deixarem seus
registrado plantações da variedade andina em território brasileiro. Foram territórios devido a constantes ameaças dos narcotraficantes.
encontradas mais de sete mil pés de coca transgênica ou geneticamente
modificadas que poderiam produzir até 150 quilos de cocaína. O achado Em 2010 a violência do narcotráfico também atingiu as forças de
despertou a atenção da ONU e da Agência Federal de Combate às Drogas segurança da região. Em junho, um enfrentamento da polícia do Peru
dos Estados Unidos. A ONU teme que os traficantes estejam começando a com narcotraficantes na pequena cidade de Islândia, no Baixo Rio
Javari, deixou três policiais peruanos feridos e um morto. Cinco meses
utilizar a Amazônia brasileira não apenas para o tráfico, mas também para a
produção das drogas, baseando-se no modelo colombiano que utiliza as áreas depois, dois policiais federais brasileiros foram mortos e um, ferido em
de proteção ambiental para o plantio de coca entre as grandes árvores e o confronto com narcotraficantes perto de Manaus, durante abordagem
recrutamento dos agricultores locais. de uma embarcação suspeita proveniente da fronteira. Foi a primeira
vez que policiais federais foram mortos em confrontos com traficantes
Situação extremamente ameaçadora que poderia significar o uso de áreas internacionais no Amazonas.
preservadas da TI Vale do Javari para o cultivo. Há ainda a preocupação de
que algumas
possam também vir a plantar
famílias, moradoras região do rio Javari ou da própria TI,
cocadanela. Segundo declarações da ONU, o Peru, no ano de 2009, virou o maior
exportador de cocaína do mundo, superando a Colômbia. Enquanto 90%
da cocaína da Colômbia vai para os Estados Unidos, a cocaína peruana
Essa descoberta chamou a atenção para uma situação de risco social vai para os países europeus, Rússia, Ásia e América do Sul.
que afeta todos os moradores indígenas da região do alto Solimões,
principalmente os jovens. Várias lideranças ticuna alertaram sobre essa O que se percebe é um aumento da violência nas ações dos
situação entre seus jovens, viciados em álcool e cocaína, o que tem provocado narcotraficantes da região a partir do final de 2009, inclusive com
o aumento da violência em suas aldeias. Muitos jovens indígenas da região do confrontos com policiais. A dificuldade no escoamento da produção de
alto Solimões estão sendo aliciados por traficantes para servirem de mula e já cocaína para Manaus pode levar os traficantes ao uso de novas rotas,
existem casos de indígenas presos por tráfico. e o rio Itacoaí, dentro da TI Vale do Javari, pode ser uma delas. Isso
ameaçaria a vida dos Kanamari e de pelo menos dois grupos indígenas
Desde a década de 1970, a região da tríplice fronteira (Brasil, Colômbia e isolados, cujos territórios ficam nessa região. O narcotráfico em
Peru) é um centro de operação para o tráfico de drogas, sendo o rio Solimões Tabatinga também está associado a uma rede que alimenta o tráfico
e a cidade de Tabatinga dos maiores corredores de escoamento da cocaína interno e internacional de mulheres, ao turismo sexual, à prostituição de
produzida na Colômbia e no Peru. Além disso, Tabatinga é a rota usada pelas
menores e ao tráfico de crianças.
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para distribuir a cocaína
pelo Brasil. O território dos Korubo isolados, em 2010, foi local de acampamento
de uma missão sigilosa do Exército, provavelmente ligada à inspeção
O narcotráfico na região tem provocado também um alto índice de homicídios.
de ações de narcotraficantes. Esse episódio contrariou todas as
Em 2007, Tabatinga, cidade de 40 mil habitantes, registrou em apenas
recomendações que existem sobre atuação em área de isolados e
cinco meses a morte de 26 pessoas. Em setembro de 2009, com a morte de
colocou a vida dessas populações em risco.
cinco pessoas, deu-se início a uma onda de chacinas na região por acertos
e disputas entre narcotraficantes, fechando o ano com 19 assassinatos, Essa é a realidade com a qual lidam diariamente jovens da TI Vale
situação que levou à presença da Força Nacional na região. A partir de do Javari que migram para as cidades da região em busca de saúde,
2010 a região se viu convulsionada por uma violenta disputa de territórios e educação e trabalho remunerado, ou mesmo à procura de maior
acertos de contas entre narcotraficantes. Foram pelo menos duas chacinas conhecimento e domínio da sociedade do entorno.
mATSÉS PEDEm ENERGIA E Rieli Franciscato, encontrou vestígios de índios e monitoramento feitos pelas equipes da
lIVROS DIDÁTICOS isolados, não contactados, a cerca de 40 quilô Funai, detectaram uma aparente diminuição
metros dos limites da TI Vale doJavari, no Ama demográfica, além das malocas e roças, o que
Para as comunidades que vivem próximas pode demonstrar uma série de problemas
zonas. São quebradas, varadouros e varadouros
aos pelotões militares de fronteira, a presença
de caça, que indicam que há perambulação do entre esses índios, como a hipótese de terem
do governador do Amazonas, Eduardo Braga
grupo isolado próximo à nascente do rio Boia, contraído “doenças de branco” às margens
(PMDB), junto com a comitiva que acompanha
onde ainda há mata virgem. Para Franciscato, dos rios Ituíe Itaquaí. Sabe-se que no entorno
a visita do ministro da Defesa, NelsonJobim, às
bases do Comando Militar da Amazônia serviu
os índios saem da área do rio Jandiatuba e das áreas dos índios isolados, ou seja, nos
para reivindicar melhorias como o fornecimen
cruzam os limites da terra indígena em busca territórios dos Kanamari, Matis e Marubo,
de caça e pesca, abundante na região. O grupo a malária, a hepatite e outras doenças são
to de energia elétrica, a instalação ou ampliação
de isolados do rio Jandiatuba já é conhecido. endêmicas e pode estar afetando, da mesma
de postos de saúde. Durante a passagem da co
Por meio de sobrevoos, a Funai constatou a forma, os grupos que vivem isolados. Segundo
mitiva pelo 8º Batalhão de Infantaria de Selva,
existência de malocas e roças. Até hoje, eles o informe da FPEVJ, das nove aldeias cataloga
em Palmeiras do Javari, localidade isolada na
selva, na fronteira com o Peru, o missionário não têm contato direto com não-índios, não das pela Funai desde os anos 90, apenas uma
se sabe quantos membros são e sua área de está “visivelmente” habitada e sem nenhum
indigenista Ricardo Lopes Dias entregou ao
perambulação não foi delimitada. Franciscato, problema aparente. As restantes simplesmente
governador uma lista com pedidos dos Mayo
que marcou em um localizador via satélite as estão abandonadas, junto com as roças, e não
runa, que vivem em quatro aldeias próximas ao
coordenadas de cada vestígio, não acredita foi identificada nenhuma outra referência que
pelotão. “Solicitamos que, através do programa
que os indícios sejam suficientes para pedir possa apontar para uma possível migração
Luz para Todos, a rede de energia elétrica que
chega a Palmeiras do Javari seja ampliada até uma nova demarcação de terra, mas vê como dos Korubo para outras regiões da reserva.
essencial que a área seja monitorada. Fora Para se ter uma ideia da gravidade sobre a
Cruzeirinho”, explicou Dias, referindo-se à vila
da terra indígena, o grupo está desprotegido situação de saúde entre os índios isolados,
onde, segundo ele, vivem cerca de 80 índios.
e pode sofrer com ação de garimpeiros, que dos 21 indivíduos de recém-contato que são
Outra reclamação dos indígenas diz respeito à exploram ilegalmente o rio Boia, a 500 quilô
obtenção de documentos. Segundo o missioná monitorados pelas equipes da FPEVJ, quatro
rio, boa parte dos Mayoruna da região opta por metros da cidade deJutaí. Suas margens estão já tiveram contato com o vírus da hepatite.
devastadas e há enormes bancos de areia, do
morar próximo ao pelotão para se beneficiar (Univaja, 23/06/2009)
tamanho de 30 campos de futebol, subproduto
de serviços como luz elétrica e do atendimen
do garimpo. (Roberto Almeida, Oesp Online,
to de saúde. Vivendo há dez anos no local, o mATIS CONSTROEm GAlINHEIRO
15/01/2009)
missionário afirma que a Funasa, através da
Sucam, visita a região semestralmente a fim de
PERmACUlTURAl
apoiar o controle de pragas como o mosquito GENOCÍDIO CONTINUA, mORRE Dez índios Matis das aldeias Aurélio e Beija
transmissor da malária. (Alex Rodrigues, Ra EDIlSON KANAmARY Flor, na TI Vale do Javari, e o Chefe de Posto da
diobrás, 16/10/2007) Edilson Kanamary morre e se torna símbolo da Funai no Rio Ituí receberam certificação do
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural para
luta indígena pela vida. Na semana em que o
movimento político indígena do Vale do Javari o manejo da galinha caipira, passo importante
ÍNDIOS CRUZAm FRONTEIRA Em perde mais um dos seus, vítima da incom para criação de uma possível certificação de
BUSCA DE ATENDImENTO mÉDICO petência governamental e do amplo desprezo produto. O Curso de Avicultura foi realizado na
Até domingo, 500 índios residentes no Vale do da Funasa pela vida daqueles que ela deveria aldeia Aurélio, em julho passado, capacitando
Javari, no oeste do Amazonas, poderão atraves proteger. Edilson Kanamary, considerado uma os indígenas para exercer o controle direto
sar o RioJavari, que delimita a fronteira com o liderança entre seu povo, fez história na cons sobre o processo produtivo, de modo que cada
Peru, para buscar atendimento médico contra a trução de um dos pilares que impulsionaram etapa funcionalmente ordenada e disposta
malária no país vizinho. Desde 3 de dezembro, a luta do movimento político indígena no Vale no galinheiro possa ser acompanhada pelos
sete indígenas morreram (cinco crianças). A doJavari. No seu último discurso, ele dizia que criadores indígenas. A proposta de um projeto
causa principal foi a reincidência de malária. a luta teria que continuar e que a morte não de criação de galinha partiu do próprio povo
Segundo a Funasa, o DSEI do Vale do Javari poderia cair no esquecimento. “Eu acredito Matis. O contato com os Matis ocorreu na
registrou no ano passado 39 mortes provocadas em vocês... Agradeço a Deus por ter existido... década de 1970 e a comunidade ainda vive de
pela malária, tuberculose, meningite e hepatite Temos que dar nome e sobrenome aos denun modo tribal, alimentando-se essencialmente
tipo B e D (delta). Segundo o coordenador do ciados senão vamos continuar morrendo”. de suas roças, caça e pesca. Por essa razão, foi
Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja), (Coiab, 22/01/2009) preciso utilizar metodologia diferenciada, na
qual as aulas práticas tomaram maior parte
Clóvis Marubo, os índios estão recorrendo a
autoridades estrangeiras para pedirem assis do tempo. O cacique Binã Matis explica que,
KORUBO ISOlADOS PODEm no método convencional da comunidade, as
tência por causa da precariedade da saúde na ESTAR À BEIRA DA EXTINÇÃO
região. (Agência Brasil, 11/01/2008) galinhas ficavam integralmente soltas, dormin
Segundo levantamentos da Frente de Proteção do no tronco das árvores, chocando no mato
Etno-ambiental Vale doJavari (FPEVJ) “há algo e, assim, a criação não prosperava. “O curso
VESTÍGIOS DE ISOlADOS de errado e preocupante” no cotidiano dos foi muito bom. Bom pra aldeia que aprendeu
NO RIO BOIA índios Korubo que ainda permanecem isolados coisas novas”, diz Binã. Além do conteúdo bá
Aexpedição da Frente de Proteção Etnoambien nessas regiões do Vale do Javari. Nas fotos de sico de manejo de galinha caipira, um módulo
tal Vale do Javari, comandada pelo indigenista satélites e nos sobrevoos de reconhecimento específico sobre técnicas de construção de
galinheiro permacultural, com telhado vivo e tigação que vem sendo aplicada no Peru e das balsas, mas não há previsão de início dos
capacidade produtiva para 150 galinhas, foi in Brasil para a identificação dos territórios dos trabalhos.
corporado ao curso. Toda a aldeia participou da índios isolados. (Blog da Amazônia, Altino Quando funcionários da primeira balsa avista
capacitação, porém somente os dez indígenas Machado, 02/12/2009) ram o barco da expedição da Funai, por volta
certificados tiveram o treinamento integral. O das 15 horas, desligaram o equipamento. Em
curso foi realizado pela Funai/AER de Atalaia FUNAI FlAGRA GARImPEIROS seguida, dois deles partiram em disparada em
do Norte em parceria com o Senar e com o uma voadeira, encapuzados. Subiram o Rio
Instituto de Permacultura da Amazônia (IPA).
NO RIO BOIA
Boia em direção às outras balsas para avisar. Na
(Funai, 30/07/2009) Cinco grandes balsas de garimpo de ouro estão passagem pelas demais dragas, todas estavam
trabalhando a todo vapor no Rio Boia, afluente desligadas e todos os funcionários encapuza
do Rio Jutaí, no sudoeste do Amazonas. São dos. (Roberto Almeida, Oesp, 26/12/2009)
ENCONTRO BRASIl-PERU BUSCA dragas mecanizadas, operadas por pelo menos
PROTEÇÃO DE ISOlADOS
cinco funcionários cada, que puxam o cascalho
Antropólogos brasileiros e peruanos estarão do leito do rio e jogam em esteiras, criando mARUBO QUEREm CUIDAR
reunidos nesta quinta-feira, 3, em Lima, numa enormes bancos de areia e desmatando suas DE SEUS POVOS
conferência sobre metodologia de investigação margens. O garimpo nessas condições é crime Cansados do abandono histórico do Estado, os
de território de povos indígenas em isolamento ambiental. indígenas do Vale do Javari não esperam mais e
voluntário. A iniciativa partiu da equipe do CTI. As balsas foram encontradas no dia 20(de vão à luta na busca de seus direitos. Artemiza
“Urge reconhecer oficialmente os territórios zembro) pela expedição da Frente de Proteção Marubo, 29, fez vestibular para Medicina na
dos povos indígenas em isolamento voluntário Etnoambiental do Vale doJavari, realizada pela UnB e está aguardando o resultado. Eliesio Ma
para garantir sua integridade, afirma Gilberto Funai em parceria com o CTI e acompanhada rubo, 29, está estudando para fazer o vestibular
Azanha, diretor do CTI. pelo Estado. Cerca de 30 funcionários, não de Direito. Cláudio Marubo, 26, fez vestibular
Brasil e Peru compartilham amplos espaços identificados, estavam encapuzados dentro das para Enfermagem na UnB. Todos têm um mes
da Amazônia habitados por povos indígenas balsas. O uso do mercúrio, altamente tóxico, é mo objetivo: defender os seis povos (Marubo,
em isolamento, também conhecidos como não comum para finalizar o processo de extração Korubo, Mati, Mayuruna, Kulina e Kanamari)
contatados, que recusam relações de interação do ouro. Os primeiros indícios da operação de da reserva de 8,5 milhões de hectares, uma
com estranhos, mantendo-se em isolamento balsas de garimpo no Rio Boia foram encon área maior que vários países da Europa, como
cultural e geográfico, assim como altos níveis trados a 405 quilômetros ao sul da cidade de Bélgica, Holanda e Suíça. “Cansei de ver gente
de autonomia. Jutaí (AM) no dia 11 de dezembro. Bancos de morrer nas aldeias. Quero eu mesma cuidar
Existem pelo menos quatorze povos em isola areia recém-formados indicavam que o leito delas e como médica”, disse Artemiza, que,
mento voluntário no Peru. Um dos principais do rio havia sido revolvido pelas dragas. Uma além de Brasília também fará vestibular na
entraves do governo do presidente peruano primeira balsa, mais simples, foi encontrada Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e
Alan García é reconhecer a existência dos povos por funcionários da Funai escondida em um Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
em isolamento voluntário e conseqüentemente igarapé. Ela, que é técnica de enfermagem e que atua
seus territórios. Subindo o rio em direção à sua nascente, nas aldeias Marubo e Mayuruna nos rios Curu
Nunca foi o pensamento nem de brasileiros porém, a situação é alarmante. A cerca de 500 çá e Pardo, está indignada com o descaso das
nem dos peruanos que defendem os direitos quilômetros de Jutaí, balsas com pelo menos autoridades federais de saúde, que não dispo
dos povos indígenas e dos isolados manter 25 metros de comprimento, dois andares, nibilizam médicos no Vale do Javari, onde não
contato com isolados. Ao contrário, a confe equipadas com braços mecanizados estão há um sequer trabalhando, permanentemente,
rência tem por objetivo chamar a atenção da desmatando as margens e destruindo o leito na região. Cláudio Marubo, que trabalha na
necessidade de contar com metodologias para a do Boia. Nenhuma das lanchas de apoio tem Casai de Atalaia do Norte, é outro que vem se
comprovação da existência de povos isolados e nome registrado, fugindo à regulamentação da desdobrando nas horas vagas para estudar
para identificação de territórios que venham a Capitania dos Portos. Biologia, Química, Língua Portuguesa e outras
ser reconhecidos e protegidos pelo Estado. O estrago feito pelas balsas é visível a partir do matérias necessárias para vencer o obstáculo
“Aqui no Peru, por conta dos interesses diver espaço. Imagem de satélite feita há um ano do vestibular. “Quero me formar e vir para
sos, principalmente das concessões de petróleo pelo Inpe já mostrava o surgimento dos bancos cá. Minha gente precisa de mim”. (Antônio
e madeira, o Estado tem procurado negar de areia. Com a expedição da Frente Etnoam Ximenes, A Crítica, 31/01/2010)
as propostas formuladas pelas organizações biental, ficou confirmado que os bancos são
indígenas e da sociedade civil”, assinala o subproduto do garimpo ilegal.
antropólogo Marcelo Piedrafita Iglesias. DOENÇA POUCO CONHECIDA
Até mesmo as águas do rio, escuras, muda
O governo peruano já reconheceu cinco Reser ram de tonalidade por conta da operação das AFETA ÍNDIOS
vas Territoriais (RT): Kugapakori-Nahua, Madre dragas. No trecho em que há garimpo, a água Uma nova pesquisa feita no Vale do Javari, re-
de Dios, Mashco Piro, Murunahua e Isconahua. é marrom e carrega garrafas plásticas jogadas gião sudeste do Amazonas onde vivem cerca de
Porém, ainda falta o reconhecimento oficial pelos garimpeiros. 4 mil índios, mostra que a população indígena
de outras cinco RT, que foram solicitadas ao AMarinha, a Polícia Federal e o Ibama já foram continua sendo contaminada por parasitas que
Estado peruano por cinco organizações. informados pelo indigenista Rieli Franciscato, causam uma doença ainda pouco conhecida
A Conferência Internacional, realizada em chefe da expedição, sobre a operação do ga no país, chamada mansonelose. A Secretaria
parceria com a Universidade de São Marcos, rimpo na região. As três instituições estudam de Estado para os Povos Indígenas vai solicitar
pretende socializar a metodologia de inves realizar uma ofensiva conjunta para a retirada que mansonelose seja reconhecida como uma
doença para garantir tratamento correto. (Di indígenas já mobilizaram vários setores do manifestações das lideranças e organizações
ário do Amazonas, 19/03/2010) governo, denunciam com frequência por quanto à gestão dos recursos e administração
meio da imprensa local e nacional, acionaram dos DSEIs. (Cimi Norte I, 18/01/2011)
mARUBO VÃO DEBATER PROJETOS inúmeras vezes o Ministério Público Federal e
nenhuma das ações até o momento desenvol FUNAI CONFIRmA mAIS Um
DE CRÉDITO DE CARBONO vidas por todos esses órgãos resultaram em
Lideranças indígenas da Associação Marubo solução de curto, médio ou longo prazo. Além GRUPO DE ÍNDIOS ISOlADOS
de São Sebastião (AMAS), no Vale do Javari, disso, os indígenas enfrentam o preconceito de A região é onde se concentra o maior número
criaram um grupo de trabalho para debater vários agentes públicos, seja eles municipais ou de isolados do país, segundo a Funai. Entre
e consultar comunidades indígenas quanto a dos órgãos da esfera federal. 2000 e 2010, a Frente de Proteção Etnoam
políticas de crédito de carbono. Nos últimos meses, com alguma frequência, biental Vale do Javari (FPEVJ), na fronteira do
O grupo planeja promover um Seminário fatos novos vêm à tona envolvendo autorida Amazonas com o Peru, localizou pelo menos
Regional sobre Crédito de Carbono, com o des sanitárias e representantes dos indígenas, 90 pontos com referências de índios isolados
maior número de líderes indígenas da região. especialmente em razão do tratamento desres vivendo em floresta densa naquela região.
Segundo nota da AMAS, a iniciativa partiu da peitoso dispensado aos indígenas por dirigentes Uma das referências foi identificada em 2010,
etnia Marubo, preocupada com o desmata de órgãos governamentais responsáveis pela quando uma maloca dos indígenas do rio
mento que chega em suas terras por Cruzeiro atenção à saúde naquela região. Quixito foi vista durante sobrevoo da Funai.
do Sul, no Acre. Em todo o Amazonas, a situação de saúde vive Desde 1978 não havia qualquer referência
Em nota, os Marubo criticam as organizações momentos difíceis, mas adquire contornos dra deste povo. No último dia 22 de abril uma
ambientalistas, que não se manifestaram sobre máticos no Vale do Javari. Sob a gestão da Fu nova referência surgiu durante expedição da
a preocupação dos povos indígenas da região, e nasa, os inúmeros escândalos divulgados pela FPEVJ da Funai.
a Funai. “Já que os órgãos responsáveis não se imprensa drenaram recursos que poderiam Foram identificados três grupos de malocas
comprometem na fiscalização, os Marúbo que ter salvo muitas vidas. Agora, sob orientação na região na bacia do rio Jutaí, afluente do
rem discutir projeto de Crédito de Carbono, que da recém-criada Secretaria Especial de Saúde Solimões. O chefe de Frente Etnoambeintal
será uma alternativa para os povos indígenas Indígena (Sesai), um dos primeiros conflitos Vale do Javari, Fabrício Amorim, diz que ainda
estruturarem suas vigilâncias, adquirir meios se deu em razão da nomeação, no dia 18 de não é possível concluir se estas pessoas vivendo
de transporte, melhorarem rede de radiocomu novembro de 2010, de uma enfermeira para em isolamento são da família dos indígenas
nicação, escolas, criar centros de referências, assumir a chefia substituta do DSEI-Javari, fato korubo (que também vivem em isolamento,
saúde, sustentabilidade e garantir a formação que causou surpresa e revolta nos indígenas mas já foram contatados há 15 anos) ou se
indígena a curto, médio e longo prazo”, diz a pois suas manifestações quanto às nomeações pertencem a algum grupo ainda desconhecido
nota. (Amazônia.org.br, 30/07/2010) não foram consideradas pelo titular da Sesai, da língua Pano. Nas malocas registradas duran
Antônio Alves de Souza. te o sobrevoo feito pela Funai, os indigenistas
Nos primeiros dias de janeiro, lideranças acreditam que vivem pelo menos 100 pessoas.
UmA mORTE A CADA 12 DIAS NOS indígenas e entidades de apoio foram infor Há registros de malocas menores, tapiris e
UlTImOS 11 ANOS mados de que o Ministro da Saúde, Antônio plantações de milho.
O governo da presidente Dilma Roussef tem Padilha, estaria agendando viagem ao Vale do Conforme o chefe da Frente, é preciso fazer
que agir com firmeza, eficácia e competência Javari ainda este mês. No entanto, a viagem foi novas expedições (provavelmente no próximo
na região do Vale do Javari (AM), para evitar adiada e deverá acontecer somente no mês de ano) na região para confirmar se a nova área
a extinção de povos indígenas como os Kana março. A presença do Ministro na região tem de referências de índios isolados está dentro
mari, cuja população foi reduzida em cerca de grande importância para que o novo governo da terra demarcada dos indígenas do Vale do
16% nos últimos dez anos em decorrência de tome conhecimento da dimensão do problema Javari ou na fronteira. Carlos Travassos, chefe
malária, hepatite e outras endemias. As ações enfrentado pelos indígenas, das dificuldades de da Coordenação Geral de Índios Isolados e de
com esta finalidade precisam ser adotadas acesso, comunicação e da falta de profissionais Recente Contato (CGIIRC) da Funai reiterou
com a máxima urgência, sem o jogo de cena qualificados e comprometidos com a prestação que a identificação dos isolados não pressupõe
e sensacionalismo de operações anteriores, de serviço diferenciado e de qualidade. que o contato será feito. “A área passará a ser
mas com a firme determinação de solucionar As organizações indígenas e entidades de apoio estudada e trabalhada para que os instru
o problema com medidas duradouras e com aos povos do Vale do Javari consideram que o mentos de vigilância seja realizado no local
respeito aos povos assistidos. sofrimento destes povos só terá fim quando o onde vivem os indígenas”, disse ele. Conforme
De acordo com levantamento divulgado em Governo Federal destinar recursos necessários Travassos, no Vale do Javari, localizado na
dezembro passado pelo Centro de Trabalho para dotar a região da infra estrutura e logística região do município de Atalaia do Norte há
Indigenista (CTI), “nos últimos 11 anos (de necessária para atender com eficiência nas três postos de vigilância da Funai. Algumas
2000 a 2010) a TI Vale do Javari registrou pelo unidades de saúde da cidade e todas as al das principais ameaças dos indígenas daquela
menos 325 óbitos. Em 11 anos já morreu 8% deias; manter profissionais permanentemente região são invasões de madeireiro, pescadores
da população dessa terra indígena. Em média nesses locais; qualificar os próprios indígenas e doenças transmitidas por “brancos”. (A
uma morte a cada 12 dias”. As organizações para prestação desses serviços e respeitar as Crítica, 16/06/2011)
6.
390 JURUÁ / JUTAÍ / PURUS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
JURUÁ / JUTAÍ/ PURUS
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
24 Acimã Apurinã 68/Funai-Lábrea: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 40.686 Lábrea AM
Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no
município e comarca de Lábrea, Matr. RI-1963 Liv. 2-H fl. 25 em 15/12/97.
Reg. SPU Certidão n° 08 em 19/04/99.
31 Água Preta/Inari Apurinã 255/Funai-Rio Branco: 2002 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 139.763 Pauini AM
Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. no CRI
da Comarca de Pauini (139.763 ha) Matr. 276 Liv. 2-A fl. 83/83V em
17/05/99. Reg. SPU Certidão n° 11 em 17/07/2000.
25 Alto Sepatini Apurinã 47/Funai-Lábrea: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 26.095 Lábrea AM
Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no
município e comarca de Lábrea (26.095 ha) Matr. R1-1962 Liv. 2-H fl. 24
em 15/12/97. Reg. SPU Certidão n° 02 em 31/03/99.
8 Apurinã do Igarapé Apurinã 142/Funai-Purus: 2010 Homologada. Registrada no CRI. 18.232 Tapauá AM
São João Decreto s/n de 12/03/2007 publicado em 13/03/2007. Reg. CRI no
município e comarca de Tapauá (18.232 ha) Matr. 143 Liv. 2 -F fl. 133 em
04/05/2007.
9 Apurinã do Igarapé Apurinã 295/Funai-Purus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 96.456 Tapauá AM
Tauamirim Decreto 253 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no
município e comarca de Tapauá (96.456 ha) Matr. RI-613 Liv. 2-D fl. 15 em
31/05/90. Reg. SPU Certidão n° 06 em 16/04/96.
42 Apurinã km-124 BR-317 Apurinã 209/Funai-Rio Branco: 2002 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 42.198 Boca do Acre AM
Decreto 251 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no Lábrea AM
município e comarca de Boca do Acre (8.900 ha) Matr. 1758 Liv. 2 fl. 79
em 09/12/91. Reg. CRI no município e comarca de Lábrea (33.297 ha) Matr.
1.642 Liv. 2Ffl. 386 em 28/11/91. Reg. SPU Certidão n° 17 em 14/12/99.
41 Boca do Acre Apurinã 248/Funai-Rio Branco: 2002 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 26.240 Boca do Acre AM
Decreto 263 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI do Lábrea AM
município e comarca de Boca do Acre (8.772 ha) Matr. 1.716 Liv. 2-D fl.
30 em 21/12/90. Reg. CRI do município e comarca de Lábrea (17.512 ha)
Matr. 1.508 Liv. 2-Ffl. 209 em 02/05/89. Reg. SPU Certidão n° 30 em
15/06/99.
37 Cacau do Tarauacá Kulina 230/Funai: 2003 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 28.367 Envira AM
Decreto 272 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no
município e comarca de Envira (28.367 ha) Matr. R-1-171 Liv. 2-A fl. 171
em 22/10/91. Reg. SPU Certidão n° 15 em 15/08/97.
15 Caititu Apurinã 1.022/Funai-Purus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 308.062 Lábrea AM
Jamamadi Decreto 282 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no
Paumari município e comarca de Lábrea (308.062 ha) Matr. 1.503 Liv. 2-F fl. 192
195 em 31/03/89. Reg. SPU AM Certidões n° 173/378 em 29/07/88.
32 Camadeni Jamamadi 148/Funai-Purus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 150.930 Pauini AM
Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no
município e comarca de Pauini (150.930 ha) Matr. 280 Liv. 2-A fl.89 em
17/05/99. Reg. SPU Certidão n° 2 em 07/01/2000.
39 Camicuã Apurinã 454/Funai-Rio Branco: 2002 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 58.519 Boca do Acre AM
Decreto 381 de 24/12/1991 publicado em 26/12/1991. Reg. CRI no
município e comarca de Boca do Acre (58.519 ha) Matr. 1.766 Liv. 2-G fl.
87/88 em 22/01/92. Reg. SPU Certidão n° 10 em 24/11/95.
30 Catipari/Mamoriá Apurinã 197/Funai-Rio Branco: 2002 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 115.044 Pauini AM
Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no
município e comarca de Pauini (115.044 ha) Matr. 279 Liv. 2-A fl. 88/88V
em 17/05/99. Reg. SPU Certidão n° 03 em 14/01/2000.
4 Fortaleza do Patauá Apurinã 22/Funai-Manaus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 743 Manacapuru AM
Decreto s/n de 19/04/2004 publicado em 20/04/2004. Reg. CRI no
município e comarca de Manacapuru, Matr. 572 Liv. 2-RG fl. 1 em
14/10/2004. Reg. SPU Certidão n° 09 em 21/09/2006.
29 Guajahã Apurinã 65/Funai: 2002 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 5.036 Pauini AM
Decreto s/n de 11/12/1998 publicado em 14/12/1998. Reg. CRI no
município e comarca de Pauini (5.038 ha) Matr. 282 Liv. 2-A fl. 91/91V em
17/05/99. Reg. SPU Certidão n° 08 em 19/06/2000.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL JURUÁ / JUTAÍ / PURUS 391
JURUÁ / JUTAÍ / PURUS
Terras Indígenas (continuação)
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situaçãojurídica Extensão (ha) Município UF
município e comarca de Boca do Acre (122.555 ha) Matr. 2.030 Liv. 2-H fl.
75/76 em 29/12/97. Reg. SPU Certidão n° 36 em 10/11/2004.
Tapauá
19 Kanamanti
Jarawara/Jamamadi/ Jarawara
Jamamadi 530/Funai-Purus: 2010 s/ne comarca
município
Decreto
Homologada. deRegistrada
14/04/1998
de Lábrea e SPU.em ha)
no publicado
CRI(390.233 15/04/1998. Reg. CRI
Matr. R1-2007 Liv.no
2-H fl. 89 390.233 Tapauá
Lábrea AM
AM
município e comarca de Canutama (38.351 ha) Matr. 902 Liv. 2-A-1 fl. 191
em 31/08/2005. Reg. SPU Certidão n° 11 em 28/09/2006.
Pauini
13/07/88. Reg. CRI no município de Porto Velho (48.647 ha) Matr. 4.909
Liv. 2-RG fl. 1 de 23/12/88. Reg. SPU Certidão n° 90 em 20/09/99.
de Ipixuna (182.009 ha) Matr. 175 Liv. 2-A fl. 175 em 08/05/2000. Reg.
SPU Certidão n° 06 em 25/03/2002.
município e comarca de Juruá (80.035 ha) Matr. 183 Liv. 2-B fl. 183 em
0312/2004. Reg. SPU Certidão n° 42 em 29/03/2005.
12 Paumari do Cuniuá Katukina do Rio Biá 66/Funai-Lábrea: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 42.828 Tapauá AM
Paumari 96/Funai-Purus: 2010 Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no
município e comarca de Tapauá (42.828 ha) Matr. 1.755 Liv. 2-E fl. 45 em
31/12/97. Reg. SPU Certidão n° 5 em 06/04/99.
392 JURUÁ / JUTAÍ / PURUS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
JURUÁ / JUTAÍ / PURUS
Terras Indígenas (continuação)
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
10 Paumari do Lago Paumari 63/Funai-Purus: 2010 Homologada. Registrada no CRI. 22.970 Tapauá AM
Manissuã Decreto s/n de 05/05/2003 publicado em 06/05/2003. Reg. CRI no
município e comarca de Tapauá (11.229 ha) Matr. R1-792 Liv. 2-E fl. 82 em
13/01/99. Ofício ao SPU n° 1.077/DAF em 26/01/99.
17 Paumari do Lago Marahã Apurinã 1.076/Funai-Purus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 118.766 Lábrea AM
Paumari Decreto s/n de 10/02/2003 publicado em 11/02/2003. Reg. CRI no
município e comarca de Lábrea (79.140 ha) Matr. 2.032 Liv. 2-H fl. 125 em
19/10/99. Reg. CRI no muncipio e comarca de Lábrea (118.766 ha) Matr.
Av. 3-2 032 Liv. 2-H fl. 125 em 15/04/2003. Reg. SPU-AP Certidão n° 05
em 29/08/2003.
11 Paumari do Lago Paricá Apurinã 159/Funai-Purus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 15.792 Tapauá AM
Katukina do Rio Biá Decreto s/n de 08/09/1998 publicado em 09/09/1998. Reg. CRI no
Paumari município e comarca de Tapauá (15.792 ha) Matr. R1-800 Liv. 2E-RG fl. 90
em 18/01/99. Reg. SPU Certidão n° 4 em 05/04/99.
16 Paumari do Rio Ituxi Paumari 235/Funai-Purus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 7.572 Lábrea AM
Decreto s/n de 11/12/1998 publicado em 14/12/1998. Reg. CRI no
município e comarca de Lábrea (7.572 ha) Matr. 2.008 Liv. 2-H fl. 90 em
04/02/99. Reg. SPU Certidão n°06 em 07/04/99.
28 Peneri/Tacaquiri Apurinã 365/Funai-Rio Branco: 2002 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 189.870 Pauini AM
Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no
município e comarca de Pauini (189.870 ha) Matr. 281 Liv. 2-A fl. 90 em
17/05/99. Reg. SPU Certidão n° 01 em 04/01/2000.
1 Rio Biá Katukina do Rio Biá 701/Funai-Alto Solimões: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.185.790 Carauari AM
2011 Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no Jutaí AM
município e comarca de Carauari (701.378 ha) Matr. 1.233 Liv. 2-E fl.
248 em 12/01/98. Reg. CRI no município e comarca de Jutaí (484.413 ha)
Matr. 323 Liv. 2-RG fl. 1.123 em 08/12/97. Reg. SPU Certidão n° 06 em
11/09/2006.
23 São Pedro do Sepatini Apurinã 121/Funai-Lábrea: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 27.644 Lábrea AM
Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no
município e comarca de Lábrea (27.644 ha) Matr. R-1964 Liv. 2-H fl. 26 em
15/12/97. Reg. SPU Certidão n° 3 em 31/03/99.
27 Seruini/Marienê Apurinã 160/Funai: 2003 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 144.971 Lábrea AM
Decreto s/n de 12/09/2000 publicado em 13/09/2000. Reg. CRI no Pauini AM
município e comarca de Lábrea (96.859 ha) Matr. R1/2.060 Liv. 2-H fl. 175
em 16/11/2000. Reg. SPU Certidões n° 39 e 40 em 23/11/2004.
26 Tumiã Apurinã 85/Funai-Lábrea: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 124.357 Lábrea AM
Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no
município e comarca de Lábrea (124.357 ha) Matr. R1-1965 Liv. 2-H fl. 27
em 15/12/97. Reg. SPU Certidão n° 7 em 09/04/99.
21 Zuruahã Zuruahã 134/Funai-Lábrea: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 239.070 Tapauá AM
Decreto 266 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no
município e comarca de Tapauá (239.069 ha) Matr. 614 Liv. 2-D fl. 17 em
13/06/90. Reg. SPU Certidão n° 04 de 12/04/96.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL JURUÁ / JUTAÍ / PURUS 393
JUMA
NOVAS ALIANÇAS DE PARENTESCO SE FORMARAM, dos frutos mais valiosos dessa expedição, a saber, o deslocamento,
ALGUMAS PESSOAS MORRERAM, MUITAS NASCERAM, ainda que momentâneo, de uma posição marginalizada e passiva
GRUPOS DE TRABALHO DA FUNAI AVALIARAM A a que os Juma tiveram que se sujeitar para outra, muito mais
SITUAÇÃO, UMA AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM FUNÇÃO ativa e poderosa, a partir da relação revigorada com a própria
DA TRANSFERÊNCIA DOS JUMA DE SUAS TERRAS FOI história e com a terra de origem.
ENCAMINHADA À JUSTIÇA, DIVERSAS ENTIDADES
GOVERNAMENTAIS E NÃO GOVERNAMENTAIS SE Desde meados do século XIX, há registros de que os Juma peram
MANIFESTARAM SOBRE O ASSUNTO ATÉ QUE, PELA bulavam pela bacia do Purus e estima-se que eles tenham sido
PRIMEIRA VEZ, FOI ORGANIZADA UMA EXPEDIÇÃO um dos povos mais numerosos e resistentes ao contato da região.
Apartir da década de 1940, sucessivos ataques promovidos por
PARA QUE OS JUMA, COM SEUS CÔNJUGES URU-EU
WAU-WAU E FILHOS, PUDESSEM VISITAR AS TERRAS regionais acabaram por provocar tal redução do povo Juma que,
ONDE VIVERAM SEUS ANTEPASSADOS E QUE ELES SE nos anos 1990, esse povo se viu restrito a seis indivíduos. Foi
VIRAM OBRIGADOS A ABANDONAR quando, com a saúde abalada, eles passaram a conviver com
os pescadores que por ali transitavam. AFunai começou, então,
a receber denúncias de que eles estariam sendo explorados
Em outubro de 2008 completar-se-iam dez anos desde que por algumas dessas pessoas e, em 1998, transferiu-os para a
os então seis últimos remanescentes do povo Juma saíram de Casa do Índio, em Porto Velho, sob a alegação de que lá eles
suas terras – no sudeste do estado do Amazonas, município seriam mais bem tratados em razão do estado de saúde frágil
de Canutama – e foram dali para Porto Velho e, depois, para a de alguns. Quando chegaram a Porto Velho, rapidamente, as
aldeia do Alto Jamari, na Terra Indígena Uru-eu-wau-wau, em três meninas Juma – Boreá, Maitá e Mandeí –, que, na época,
Rondônia, sem que lá retornassem. Desde então, muitas águas deviam ter entre 14 e 18 anos, se casaram com três rapazes
passaram pelo rio dessa história. Este texto pretende apresentar Uru-eu-wau-wau da aldeia Alto Jamari e, logo em seguida, se
alguns aspectos dessa viagem, realizada entre os dias 13 e 23 de mudaram para lá. O pai (Aruká), a tia paterna (Ité) e o avô
outubro de 2008.1 paterno (Arimã) delas as acompanharam. Os dois últimos
vieram a falecer alguns meses após a chegada no Alto Jamari.
Aquilo que mais saltou aos olhos de todos os não índios que
Aruká acabou se casando com uma menina Uru-eu-wau-wau,
acompanharam a expedição talvez tenha sido a postura assumida Boropó, e teve com ela uma filha, mas o casamento foi logo
por Aruká, o mais velho e último homem Juma, nos dias em
desfeito e ele passou a viver só.
que passou em sua terra natal, principalmente se comparada ao
cotidiano dele na aldeia uru-eu-wau-wau. É preciso, portanto, ex Boreá, hoje casada com Erowaque, tem com ele quatro filhos:
plicitar minimamente alguns fatos e os contextos que antecedem Kunhãjuvi, Puré, Mborep e Avip. Maitá casou-se com Puruá e
à viagem para que se possa vislumbrar o que penso ter sido um também teve com ele quatro filhos: Kunhãvé, Kwaimby, Poteí e
Quando, no início dos anos 1990, a Funai teve que se haver com Boreá, Maitá e MandeíJuma sofrem uma pressão cotidiana e não
o “problema” dos remanescentes dos Juma, imaginou-se que a participam de boa parte das redes sociais (formais e informais)
solução seria promover casamentos das três jovens desse povo por onde circulam os Uru-eu-wau-wau. Na maior parte do tempo,
com indivíduos de organização social, língua e cultura semelhan a sociabilidade delas se restringe ao convívio entre irmãs, os
tes. Essa “solução” parece ter tido alguma correspondência com respectivos maridos e filhos. Aruká, o último homem Juma (já
aquilo que os próprios Juma, quando se viram reduzidos a tão que os filhos das três meninas nesse sistema que é patrilinear
poucos, projetaram para o futuro deles. Segundo Mandeí Juma, são, por definição, Uru-eu-wau-wau), tem uma vida socialmente
antes mesmo que a Funai os procurasse, foram os parentes dela miserável. Mal se vê Aruká nos “locais públicos” da aldeia, onde
quem decidiram que não era mais possível viver apenas entre os outros costumam passar horas a fio conversando entre si.
si e que era preciso se misturar, de preferência com outros ín Normalmente, quando se procura por ele, o velho Juma foi para
dios Kagwahiva que eles sabiam existir em outros lugares. Para o mato, fechou-se sozinho em sua casa ou está realizando alguma
completar, os Uru-eu-wau-wau do Alto Jamari atravessavam uma tarefa ordinária para a qual foi designado. Mas, essa “exclusão”,
crise devido à falta de mulheres disponíveis para casar. Some-se do ponto de vista Uru-eu-wau-wau, não é sem razão: ao contrário,
a isso toda uma bela história de “paixão à primeira vista” que ela parece fazer parte de uma dinâmica social propriamente
envolveu o encontro dos três jovens Uru-eu-wau-wau com as três indígena, principalmente no que diz respeito ao modo como a
meninas Juma. Essas uniões resolveriam os problemas conjugais relação com o exterior é concebida, isto é, como tensa e perigosa.
de ambos os lados com uma vantagem suplementar: em cada Suspeita-se, por exemplo, que Aruká “tenha pajé” e que a paralisia
casal, nenhum dos indivíduos ver-se-ia obrigado a se submeter de uma das meninas da aldeia (sequela de uma meningite) tenha
(ou a submeter o outro) aos termos da sua própria cultura (lín sido responsabilidade dele. Dizem também que ele assedia as
Armadilhas da Cidade
OS DENI, EMBORA COMPARTILHEM UMA HISTÓRIA rio Riozinho, afluente do Cuniuá, parece ter limitado a atuação
SEMELHANTE, ENFRENTAM DESAFIOS DIFERENTES dos barcos pesqueiros.
QUE DECORREM, EM GRANDE PARTE, DAS DIFERENTES
DISTÂNCIAS DE CADA UM DELES COM RELAÇÃO AOS NOVAS RELAÇÕES COMERCIAIS
NÚCLEOS URBANOS, EM ESPECIAL, LÁBREA, PRINCIPAL
CIDADE DA REGIÃO A aquisição de mercadorias industrializadas durante muitas
décadas levou à dependência de certos itens industrializados. Os
paladares foram conquistados; o sal tornou-se um item essencial,
Os Deni, estimados em 1.042 pessoas (Siasi/Funasa, 2009) e sendo também muito apreciado o consumo de café e açúcar. A caça
falantes da língua deni (família arawá), se distribuem em dois com zarabatana, flecha e veneno foi substituída por espingarda,
conjuntos populacionais localizados no interflúvio Juruá-Purus. chumbo e pólvora. Atransferência das habitações das áreas de ter
Um, nas imediações do rio Xeruã, afluente do Juruá (cinco al ra firme para as margens dos rios tornou o peixe fundamental na
deias, 458 moradores); outro, na região do rio Cuniuá, afluente dieta, bem como o anzol e a linha de pesca para sua obtenção.
do Tapauá, que deságua no Purus (seis aldeias, 552 pessoas).
A aquisição desses itens havia se tornado difícil nos últimos
No lado do Xeruã, a proximidade favorece a exploração dos recur anos. A vida estava marcada pela dependência frente ao único
sos naturais na TI por parte dos não indígenas, principalmente comerciante que duas ou três vezes por ano navegava pela re
por meio da pesca industrial. No Cuniuá, foco deste artigo, a gião. Sendo a única via de acesso regular às mercadorias, esse
situação é oposta: há uma distância muito maior, sendo neces comerciante controlava a instituição do crédito para compra ou
sários ao menos quatro dias de viagem em um barco rápido para a obrigatoriedade da quitação das dívidas anteriores, conforme
se atingir a primeira aldeia deni a partir da boca do rio Tapauá, a situação do mercado que lhe fosse mais vantajosa. Mesmo as
no Purus. Devido a esse afastamento, não há grandes pressões possibilidades de compra são limitadas àquilo que sobra no barco
sobre o território e seus recursos, ainda que os Deni enfrentem após a sua passagem por todas as outras comunidades indígenas
sérias dificuldades na obtenção de assistência à saúde e das e ribeirinhas ao longo do rio Cuniuá.
mercadorias de que necessitam. A partir de fins do ano de 2009, os Deni passaram a acessar,
No Cuniuá, após a homologação da TI em 2003, os Deni na cidade de Lábrea, o direito universal à aposentadoria rural.
conseguiram impedir a invasão do rio, cujas cabeceiras se Embora uma conquista, é preciso atentar para o surgimento ou
localizam em suas terras. O único regatão que continua a potencialização de alguns problemas. Na cidade, o modo de rela
comercializar com os indígenas, após ter sua carga de bichos ção que mantinham com os regatões se reproduz. Submetem-se
de casco apreendida pela Frente de Proteção Etnoambiental a “patrões” que assumem o controle do seu dinheiro e consumo,
da Funai no início de 2010, parece se limitar agora à compra mantendo-se na lógica do sistema de aviamento.
de óleo de copaíba e farinha. A atuação do órgão estatal na A situação dos professores indígenas em Tapauá é um exemplo
assistência dos Zuruahã, com a implantação de uma base no marcante do modo como as relações assimétricas se atualizam
Os Paumari em Busca
do Estado
APESAR DE RELATIVO ISOLAMENTO POLÍTICO, representado por um único chefe de posto, baseado na cidade de
AS POPULAÇÕES INDÍGENAS DO MÉDIO PURUS Lábrea, que, sem pessoal de apoio e com poucos recursos, mal
MANTÊM UM CONTATO HISTÓRICO E INTENSO dava conta de resolver os inúmeros problemas que surgiam na
COM OS NÃO ÍNDIOS DA REGIÃO E, HÁ MAIS DE própria cidade e nos quatro cantos dessa vasta região (que abarca
QUATRO DÉCADAS, COM MISSIONÁRIOS CRISTÃOS: os dois imensos municípios de Lábrea e Tapauá, contemplando
CATÓLICOS E EVANGÉLICOS cerca de 5 mil pessoas). Essa situação durou até a segunda
metade da década, quando o Posto Indígena foi transformado
em Núcleo de Apoio. Em 2010, o Núcleo foi convertido em Coor
Os Paumari, habitantes dos lagos e igarapés do Médio Rio
denação Regional.
Purus, no sul do estado do Amazonas, estiveram envolvidos
na economia da borracha, como a grande maioria dos povos As relações com os regatões e comerciantes do Purus, geralmente
indígenas da região. Sua cosmologia e sua organização social são herdeiros da economia da borracha, se mantêm até hoje, e se
fortemente marcadas pela relação entre patrões e empregados, intensificam segundo os períodos do ano e o tipo de produção
por sua vez marcada pela violência e pela submissão. Até o final extrativa que os Paumari exploram. Assim, no verão amazônico
dos anos 1960, os patrões da região impediam os Paumari de (época da estiagem), são mais ativas as relações com os regatões
plantar, de adquirir bens dos regatões e de pescar nas águas que que navegam Purus acima. Eles sobem o rio aviando mercadorias
consideravam sua propriedade. Com a decadência do mercado (descendo no final da estação para receber seus pagamentos em
da borracha, a chegada da Missão evangélica (na década de espécie) com a produção agrícola, extrativa e de produtos da
1960) e da Funai, e com a progressiva legalização das terras nos pesca dos Paumari. No inverno, intensificam-se as relações na
anos 1990, o sistema repressivo foi extinto mas, ainda hoje, os cidade, com os comerciantes locais que compram principalmente
Paumari costumam endividar-se com os patrões comerciantes castanha, mas também madeira, copaíba, andiroba e produtos
fluviais ou da cidade. da pesca. Complexas relações também se entretecem entre os
Paumari e os patrões de barcos pesqueiros vindos dos grandes
Na última década, o cenário político e econômico da região do portos da região (principalmente de Manaus, Manacapuru e
Médio Purus vem atravessando transformações rápidas e radicais.
Coari). Esses barcos invadem periodicamente os lagos e igarapés
Até final dos anos 1990, a região ainda era pouco conhecida, tanto
das terras paumari para extrair toneladas de peixes, geralmente
no âmbito acadêmico quanto no ambientalista, e relativamente
em troca de mercadorias e alimentos industrializados.
pouco frequentada, seja por antropólogos, representantes do
Estado ou ONGs – com exceção do Cimi e da Opan. Até então, Nos anos 1990, nasceu o movimento político indígena regional.
os Paumari, assim como os outros povos indígenas da região, Sua gênese foi amplamente incentivada e apoiada pelo Cimi e
dependiam quase que exclusivamente da presença tênue do pela Opan, que organizavam e articulavam assembleias, reuniões,
Estado, materializada principalmente pela Funai. Esse órgão era cursos, oficinas, associações e discussões nas aldeias e entre os
FelipeMilanez Jornalista
DEPOIS DE CINCO ANOS, O BRASIL CONSEGUIU veladas em busca de aborígines isolados e o uso indevido de
RETIRAR UMA ONG RELIGIOSA DOS EUA DE TERRAS imagens dos Zuruahã. Também é acusada de incitar os índios
INDÍGENAS NO AMAZONAS. LEIA ABAIXO UMA contra os representantes do Estado brasileiro, no caso a Funai e a
CRONOLOGIA SOBRE O CASO, COM REPORTAGEM Funasa. Os funcionários das duas fundações têm sido ameaçados
QUE DENUNCIA AS AÇÕES DOS MISSIONÁRIOS ANTES de morte. “É uma atuação muito complicada. Eles fazem o que
DE SUA EXPULSÃO E INFORMAÇÕES ATUALIZADAS querem sem prestar contas a ninguém”, afirma o presidente
SOBRE A REPRESSÃO AO PROSELITISMO RELIGIOSO em exercício da Funai, Aloysio Guapindaia. Os missionários são
ENTRE OS ZURUAHÃ os únicos a falar a língua dos Zuruahã. E resistem a sair com o
argumento de que os índios desejam a sua companhia.
Numa área pouco povoada entre os rios Purus e Juruá, dois AJocum, junto com outras entidades evangélicas, como a Missão
grandes afluentes da margem direita do Amazonas, próximo à Novas Tribos do Brasil (MNTB), e a Sociedade Internacional de
cidade de Lábrea, a aldeia Zuruahã vive um drama que ameaça Linguística (SIL) atuam intensamente na maioria dessas aldeias.
levá-la à extinção. Localizados em meio a um mosaico de 24 TIs, Contam com a logística necessária para fazer a mediação cultural
próximo ao gasoduto Urucu-Porto Velho, os Zuruahã têm convi com os índios e controlar o fluxo de pessoas. E também com o
vido com uma onda de suicídios. Diante da ausência do Estado, respeito dos nativos, complicando o trabalho dos funcionários da
eles dependem de uma missão evangélica norte-americana, a Funai, que estão longe de deter o controle do território zuruahã.
Jocum (Jovens com uma Missão), que há anos mantém contato Na verdade, até bem pouco tempo atrás, a Funai contava com
com os índios, levando a “palavra do Senhor”. apenas um funcionário para atender toda a região. Recentemente,
contratou-se outro.
Há mais de cinco anos o Ministério Público e a Funai tentam
retirar os missionários, a quem atribuem uma série de ilegali Em maio de 2003, o então procurador da República no Amazonas
dades. Documento interno da Funai, ao qual Carta Capital teve Sérgio Lauria Ferreira determinou a expulsão dos missionários
acesso, intitulado Missão: O veneno lento e letal dos Zuruahã, da Jocum e do Cimi, ligado à Igreja Católica. Até hoje aJocum
reúne graves denúncias contra aJocum. Assinado pelo indige se nega a sair e impõe condições. A ONG evangélica também
nista Antenor Vaz, da Coordenação Geral de Índios Isolados da está na mira da Secretaria Nacional de Justiça, do Ministério da
Funai, acusa a missão de proselitismo religioso, evangelização Justiça. AAgência Brasileira de Inteligência (Abin) considera que
e desestruturação da comunidade zuruahã, hoje às voltas com aJocum “ameaça a identidade étnica e interfere na ‘cosmovisão’
uma onda de suicídios. dos índios, por introduzir rituais religiosos e entidades místicas
estranhas à cultura Zuruahã”.
Entre as acusações, a de escravizar indígenas, extração ilegal de
sangue dos índios, contrabando de sementes, construção de pistas A presidente da Jocum, Bráulia Ribeiro nega as acusações, ao
de pouso clandestinas, uso de radioamador pirata, venda ilegal de justificar por que se recusa a sair da TI. “Somos parte da família
madeira, remoção de indígenas de seu território sem autorização dos índios. Nosso papel é promover o bem-estar. Não pregamos
da Funai, adoção suspeita de crianças, realização de expedições religião, mas os índios têm direito de ouvir e escolher se querem
“A entrada e permanência de quaisquer indivíduos ou organizações Em 8 de abril de 2009, a Funai emitiu o Ofício nº 187 DAS/CGII/09
na TI Suruwahá, ou mesmo o retorno daqueles que serão extrusados, à Polícia Federal informando o ingresso ilegal de missionários no
fica condicionada à autorização dos órgãos públicos federais, após interior da TI Suruwahá. Mais uma vez o Sr. Moisés Barreto Viana,
analisados os fundamentos e a relevância do pedido de ingresso na missionário da Jocum, acompanhado de sua esposa Lucília Oliveira
terra indígena, e estabelecidos formalmente o prazo e os parâmetros Maia e das filhas Ester Maia Viana, Lídia Maia Viana, Alessandra
de atuação junto à comunidade indígena”. Maia Viana e Harani Vitória Maia Viana, filha adotiva do casal, e
um terceiro acompanhante, o índio Eli Ticuna, que reside em Brasília
Em suma, após a assinatura do citado TAC foi expedida Ordem de (DF) ingressaram sem autorização na TI. O grupo teve o pedido de
Desintrusão da TI Suruwahá, mas não foi acatada pelos missionários ingresso, protocolado na Coordenação Geral de Índios Isolados (CGII)
da Jocum. Destaca-se que a Funai não mais emitiu autorização de em 07/04/09. Após análise, em 09/04/09 foi indeferido. No entanto,
ingresso na TI Suruwahá para qualquer um dos missionários. Se como constam nos autos do grupo de controle da entrada na TI
gundo o processo administrativo nº 3138/88 que trata da presença Suruwahá, o Sr. Moisés não aguardou resposta e ingressou sem auto
da Missão Jocum em TIs, a única autorização de ingresso em TI rização na TI, desobedecendo a recomendação do Ministério Público
concedida a missionários da Jocum foi emitida no ano de 1989. Após à Funai para que esta promovesse a extrusão dos missionários da
esta não foram concedidas outras autorizações e, portanto, todos os Jocum e Cimi do interior da TI, tendo a Jocum inclusive participado
ingressos que se têm registro ocorreram deforma não autorizada, e, da reunião determinante, no MPF do Amazonas.
consequentemente, em afronta à legislação. Ressalta-se que aJocum
jamais cumpriu sua parte no TAC, mantendo as entradas e práticas Em suma, desrespeitando todas as formas de autoridade cabíveis,
ilegais na TI Suruwahá. Sr. Moisés e família ingressaram na TI e se instalaram em uma
antiga casa da Jocum, no interior da TI, que era usada pelo próprio
Após anos de intransigência em acatar a determinação do MPF grupo missionário antes da extrusão de 2008. Alegaram que por lá
a respeito da desintrusão da TI Suruwahá e da necessidade de ficariam, mas de imediato partiram para a aldeia Zuruahã.
autorização da Funai para ingresso na TI, a Jocum se manifestou
oficialmente através do Ofício nº35/2008, solicitando que fosse Uma vez dentro da TI, Moisés e Eli Ticuna entregaram para os índios
marcada nova reunião com o MPF, a Funai, a Funasa, a Jocum e o uma fita com mensagens religiosas gravadas na língua Zuruahã,
Cimi, além de representantes do povo Suruwahá, para discussão da a fim de dar continuidade ao processo de catequização do grupo.
permanência dos missionários que atuavam na área. Vale chamar atenção para o fato de o invasor Eli Ticuna ser pastor
do Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas
A reunião aconteceu em 5 de maio de 2008, e foi devidamente (Conplei), grupo indígena também proselitista religioso e com fortes
registrada em ata e assinada por todos os participantes. Reiterou ligações com a Jocum.
se que as organizações missionárias deveriam retirar-se da TI dos
Suruwahá até o dia 15 de maio de 2008; solicitou-se que Cimi e A história do ingresso ilegal é contada em detalhes no documento de
Jocum apresentassem proposta de trabalho pertinente a perspectiva Valmir Torres, funcionário da Funai responsável pela chefia do Posto
de entrada em TI e na capacitação dos funcionários da Funai e da Indígena Avançado a época. Dessa forma, no dia 28/04/2009 foi
Funasa em relação à língua Suruwahá. O Procurador da República, expedido o ofício nº 166/DAS/CGII/09 determinando a saída imediata
Dr. Rodrigo da Costa Lines, reafirmou que a Funai e a Funasa teriam do interior da TI de Moisés Viana e de todos que o acompanhavam.
de reforçar os mecanismos de controle e identificação ao ingresso (Excertos do documento da Funai Relatório sobre a subtração de índios
no interior da TI Suruwahá. Zuruahã pelaJocum, de 02/02/2011).
INCRA PROMOVE LOTEAMENTO observando que pode ter havido um ato de isso há muito tempo atrás. Há muito tempo
RURAL EM TI violência extremada, mas negando que haja não escuto que isso esteja acontecendo em
entre os índios do grupo étnico dos Kulina a nossa realidade. Antigamente acontecia isto.
“O Instituto Nacional de Colonização e Reforma prática do canibalismo.
Agrária (Incra) está realizando loteamento de Ouvia meu pai contar isso. Não podemos
Depois de inflar o noticiário com a primeira comer os brancos. Eles não são animais para
terrenos rurais sobre as nossas terras tradi versão, os jornais registraram o contraditório, a gente comer. Não somos urubus para comer
cionais atualmente em processo de estudo
para regularização fundiária”, denunciaram mas o leitor atento fica com a sensação de que os mortos.
falta alguma coisa. Afinal, o indígena ainda Devem estar enganados ou mentindo quando
comunidades indígenas Apurinã eJamamadi,
é visto, neste lado do mundo, como um ser dizem que os Kulinas estão comendo os mor
localizadas no município de Boca do Acre-AM, primitivo, bem capaz de cozinhar e comer o tos. Não podemos comer uma pessoa igual a
através de documentação encaminhada ao fígado do desafeto. gente.” (LucianoMartins Costa, Observatório
Conselho Deliberativo e Fiscal da Coordenação Onde a grande imprensa deixou um vazio que da Imprensa, 25/02/2009)
das Organizações Indígenas da Amazônia Bra
rescende a preconceito, a internet vai mais
sileira (Condef/Coiab), reunido em Manaus, fundo. O Blog da Amazônia, produzido pelo jor
nos dias 22 e 23 de novembro último. (COIAB, KATUKINA RELATAM PRESENÇA
28/11/2006) nalista Altino Machado, foi à fonte e entrevistou DE ISOLADOS NO RIO BIÁ
o pagé Tata Yawanawá, de 94 anos, reconhecido
como uma grande reserva de conhecimento A expedição da Frente Etnoambiental Vale do
FUNAI QUER IMPEDIR FILME Javari, realizada pela Funai em parceria com
sobre as tradições culturais das etnias unidas
QUE DIFAMA ZURAHÃ pelo tronco linguístico Pano. o Centro de Trabalho Indigenista, decidiu
Recentemente, ele foi o responsável pela realizar uma nova entrada na selva a partir
A Funai estuda qual instrumento jurídico vai desta terça-feira (19). Os katukinas afirmam
utilizar para impedir, na Justiça, a divulgação iniciação, pela primeira vez, de uma jovem
indígena no chamanismo. Ao submeter a jovem que tiveram contato com um grupo isolado
do filme Hakani pela internet e emissoras de desconhecido, descreveram sua fisionomia e
televisão brasileiras. Com 36 minutos de dura aos duros rituais antes permitidos apenas aos
jovens do sexo masculino, ele ampliou as pos o local onde caçam.
ção, o misto de documentário e drama conta a
O objetivo da expedição, comandada pelo
história de duas crianças indígenas enterradas sibilidades de preservação das tradições tribais. indigenista Rieli Franciscato, é catalogar os
vivas por terem nascido com deficiências físicas Tata Yawanawá garante que o canibalismo não vestígios deixados na mata pelo suposto grupo
e faz parte da campanha contra o infanticídio faz parte dessas práticas.
isolado para embasar uma possível demarca
nas tribos da Amazônia. “A Funai está tomando Entrevista com tradução de Joaquim Tashka. ção de terras. De acordo com os relatos dos
providências para que o vídeo seja retirado do “- Venho da Terra Indígena do Rio Gregório, katukinas, o contato visual e verbal com os
site YouTube, pois entende que o conteúdo onde moro, para uma breve visita a Rio Bran isolados foi feito a sudeste dos limites da Terra
denigre a imagem das mais de 220 etnias que co, a capital do Acre. Fiquei sabendo aqui que Indígena Rio Biá. A área do contato, entre
vivem no Brasil”, diz a nota da instituição. nossos parentes Txapunawá, conhecidos como os rios Jutaí e Juruá, é transitada por não
Com cenas consideradas exageradamente Kulina pelos brancos, estão sendo acusados de índios. Nus, de baixa estatura, com cabelos
prática de canibalismo contra um branco no
fortes e até criminosas por antropólogos, o longos e pintados com urucum, os isolados
filme foi produzido pela ONG Atini - palavra município de Envira, no Estado do Amazonas. não teriam sido agressivos e tentaram fazer
que significa voz pela vida - e financiado pela Fui convidado a falar sobre este assunto pelo contato verbal. Eles possivelmente falam
instituição evangélica Jovens com um ideal Blog da Amazônia e devo esclarecer que jamais
katukina. (Roberto Almeida, Estadão Online,
(Jocum), que tem sede nos Estados Unidos meus avós e pais mencionaram a prática 18/01/2010)
e vários escritórios no Brasil. (Leonel Rocha, desse tipo de ritual entre nossos parentes
Correio Braziliense, 03/07/2008) Txapunawá. MPF RECOMENDA MELHORIAS NA
Nós conhecemos os Txapunawá como grandes
cantadores, fortes pajés e por gostarem de co SAÚDE INDÍGENA EM TAPAUÁ
CANIBALISMO: DESINFORMAÇÃO mer cobra jibóia. Desde pequeno, cresci com Em decorrência de inspeção realizada nos
AFETA OS KULINA meus pais e meus avós antigos. Ouvi falar de dias 30 de setembro e 1/10/ 2009 no muni
O cidadão alemão Armin Meiwes foi condenado muita coisa. Desde jovem aprendi com os mais cípio de Tapauá o Ministério Público Federal
em 2006 à prisão perpétua por ato de canibalis velhos a tomar uni, a bebida sagrada também no Amazonas (MPF/AM) encaminhou duas
mo. O episódio grotesco foi notícia na imprensa conhecida como ayahuasca. Aprendi a rezar recomendações para corrigir irregularidades
de todo o mundo, mas não ocorreu a ninguém com os mais velhos, a usar as plantas medici e melhorar o atendimento à saúde indígena
afirmar que os alemães são antropófagos. nais, a fazer tratamento de pessoas enfermas no município. Durante a inspeção realizada, o
Na semana passada, cinco jovens indígenas da com a nossa medicina tradicional. Vendo isto, MPF/AM constatou a precária estrutura física
tripo Kulina foram acusados de matar e devorar pude aprender com os mais velhos. dos postos de saúde das aldeias do município
um jovem branco num ritual de canibalismo. Hoje estou velho, já ficando velho. O que ouvi de Tapauá, bem como a ausência de rabetas
A notícia correu mundo, através da rede CNN, de meu pai é que existiram alguns povos, povos para o deslocamento dos indígenas das aldeias
e foi publicada como verdadeira pela imprensa muito antigos, que guerreavam entre sie quan para a Casa do Índio (Casai) e vice-versa.
brasileira. do morriam eles comiam seus mortos. Não Nesse sentido, o MPF/AM recomendou à Coor
Representantes da Funai, de ONGs que atuam perdiam nada, cremavam o falecido e faziam denação Regional da Funasa no Amazonas que
na região onde vivem os indígenas e antro uma sopa. Faziam isso porque acreditavam que sejam criados ou reformados, em 16 aldeias
pólogos refutaram a veracidade da notícia, podiam incorporar o espírito do falecido. Mas localizadas no município, postos de saúde indí
gena. Recomendou ainda que as aldeias sejam APURINÃ E JAMAMADI OCUPAM das Mulheres Indígenas do Médio Solimões
dotadas de meios de transportes para a locomo FUNASA EM BOCA DO ACRE e Afluentes (AMIMSA), sediada na cidade de
ção de pacientes, equipadas de um rádio para Tefé (AM). Segundo ela, está acontecendo um
Lideranças indígenas das etnias apurinã e
comunicação e que se determinem padrões de jamamadi ocuparam na manhã de hoje a descaso muito sério contra os índios “Madija
boa administração, quanto à requisição e dis Kulina” – de pouco contato que vive em área
tribuição de medicamentos. A recomendação sede do Pólo Base do Distrito Sanitário do isolada, na região do rio Juruá. “O Conselho
Alto Purus, no município de Boca do Acre, no
é que a Funasa adote providências no sentido Distrital de Saúde Indígena (Condisi), do qual
Sul do Amazonas, para reivindicar melhorias
de implementar ações de saneamento básico faço parte no controle social, recebeu uma
no atendimento à saúde. Os índios exigem
nas comunidades e a inclusão, por parte da mudança administrativa do Pólo Base, que denuncia verbal, feita pela coordenadora da
Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e saúde do município, de que há indígenas com
atualmente é dirigido por Maria de Nazaré
Nutricional do Ministério de Desenvolvimento (Nazira), além de melhorias no atendimento tuberculose, morando em uma casa alugada
Social e Combate à Fome, das aldeias de Taqua pelo município, e que estes estariam sendo
em suas comunidades. (Altino Machado,
rizinho, Tauwamirim, Banawá, São Sebastião, discriminados pela população local”, diz Er
Sabazinho, Paraíba, Xila, Açaí, Terra Nova, Amazônia.org, 11/07/2010)
cília. Ela relata que os indígenas teriam sido
Abaquadí, Cidadezinha, Marrecão, Viagem, agredidos quando foram à cidade. Moradores
Volta Grande, Sikuriha e Samaúma em algum ÍNDIOS KULINA SOFREM do bairro onde está localizada a casa alugada
projeto ou programa destinado a promover a DISCRIMINAÇÃO EM IPIXUNA para os indígenas fizeram abaixo assinado
segurança alimentar das comunidades. Duran Indígenas do povo Madija Kulina estão sendo dirigido a prefeita municipal para que ela não
te a inspeção na Casa do Índio, verificou-se inú hostilizados pela população de Ipixuna, muni aceite a permanência dos índios na casa. “Eles
meras irregularidades na Casai Tapauá, dentre cípio no sul do Amazonas. A denúncia é feita poderiam estar na aldeia fazendo tratamento,
as quais, a inexistência de poço artesiano, com por Ercília Tikuna, coordenadora da Associação mas devido à seca nos rios que está crítica
constantes interrupções no abastecimento de
água da unidade, a falta de alimentos para os
indígenas, a ausência de visitas in loco por parte
dos enfermeiros e técnicos de enfermagem aos Gado na aldeia Jarawara?
indígenas nas aldeias, a inexistência de recur Num fim de tarde, sentada com o cacique assistin bovina em uma aldeia jarawara não é exatamen
sos para pagamento de passagens de Tapauá do ao jogo de futebol da aldeia, ele disse: “um dia te uma boa ideia. Foi provavelmente por isso que
para aldeias e vice-versa, denúncias de negativa vou comprar umas vacas e deixar aí no campo, ela se volatilizou em meio de outras reflexões,
de atendimento aos pacientes indígenas por vou criar gado aqui”. A ideia, pois se tratava outros planos do cacique.
parte do Hospital Municipal de Tapauá, dentre sobretudo de uma divagação momentânea, não No entanto, o pensamento do nosso interlocu
outras falhas no sistema de atendimento às pareceria estranha se os Jarawara tomassem leite, tor não é tão aleatório quanto parece, já que
comunidades indígenas. comessem queijo ou carne de gado, o que não é reflete aquilo que está ocorrendo na região do
Segundo a recomendação do MPF/AM, o De o caso. Mas ela me pareceu ainda mais absurda sul do Amazonas, onde a pecuária começa a se
sai , deverá promover a construção de poço dada a localização da aldeia: eles moram em desenvolver, a exemplo de seus vizinhos Acre,
terra firme em meio da floresta densa onde as Rondônia e Mato Grosso. No avião, indo de
artesiano na Casai, que hoje é abastecida com únicas áreas abertas são os roçados e o campo de Porto Velho à Lábrea, podemos observar áreas
a água do município e tem apenas uma hora futebol/pista de pouso. O pasto teria assim uma cada vez maiores sendo abertas para a criação
de abastecimento por dia, e a aquisição de superfície completamente limitada. Além disso, de pequenos rebanhos. Ao chegarmos à cidade
rabetas para a locomoção dos indígenas das a aldeia se encontra em um baixo platô: quando de Lábrea, no caminho do aeroporto à cidade,
aldeias para a Casai e vice-versa. O Dsei Médio saímos das áreas habitadas e cultivadas existem observamos extensos pastos com alguns poucos
Purus deverá disponibilizar combustível para ladeiras que levam à várzea, inundada durante bovinos. “De quem são estes gados?” - pergunta
o transporte dos pacientes e garantir alimentos a metade do ano. As chances de as ‘vacas irem mos. “Doprefeito” – nos responde o taxista – “Ele
suficientes para funcionários e pacientes da para o brejo’ seriam infinitas. Então por que uma tem outras fazendas também” – ele explica, com
Casai de Tapauá. De acordo com a recomen criação bovina? Para quê? “Para vender” – me um quê de orgulho.
dação do MPF/AM, o DSEi e a direção da Casai explicou o cacique. Sabemos que no norte do país os políticos locais
Imaginemos como eles fariam para comercializar não somente apoiam a criação de bovinos como
deverão, dentre outras ações, acompanhar a
uma peça de gado nas condições em que vivem: são eles próprios os que mais lucram com ela.
frequência de todos os prestadores de serviço, ao matarem o animal teriam que moqueá-lo Para justificarem o aumento constante de seus
independente do vínculo (prefeitura, entidade imediatamente, pois não existe energia elétrica latifúndios ainda utilizam a desculpa do atraso
conveniada, Funasa) e, em caso de não compa ou geladeira nas aldeias e os insetos são inúme da região, que precisa de desenvolvimento, de
recimento ao serviço, notificar aos contratantes ros. Esse processo é longo e trabalhoso. Para a modernidade. As estatísticas demonstram que o
para a adoção das providências cabíveis. As re venda teriam que ir à comunidade ribeirinha principal fator de desmatamento da floresta ama
comendações expedidas pelo MPF/AM preveem mais próxima, a quatro horas de caminhada em zônica hoje é a soja, mas o gado surge em segunda
prazo de dez e 15 dias úteis para que os órgãos floresta cerrada. Essa comunidade possui apro posição. Os projetos recentes de pecuária rentável
que receberem os documentos informem ximadamente trinta pessoas, crianças inclusas, e sustentável ainda podem vir a comprovar que
quanto ao acatamento das recomendações, que não seriam suficientes para o consumo do é possível gerar renda, empregos e preservar os
animal. Para chegarem à cidade, precisariam recursos naturais. Mas enquanto isso não ocorre,
com detalhamento do planejamento das ações de mais oito horas de barco “motor rabeta” sob o ideal seria que oAcre e o Mato Grosso deixassem
necessárias. O não cumprimento implicará a a temperatura média de 35˚C, onde o alimento de ser exemplos de desenvolvimento para o estado
adoção de medidas judiciais cabíveis. (MPF, transportado competiria com aqueles fornecidos do Amazonas. (Fabiana Maizza, antropóloga/USP,
30/03/2010) pelos diversos açougues locais. Ou seja, a criação dezembro, 2010)
este ano, eles têm que ir para a cidade, de pela Constituição Federal de 1988.Em 2009, o após terem consumido bebida alcoólica, teriam
onde querem expulsá-los”, relata Ercília. Em Município de Tapauá entrou com uma ação matado a vítima e, em seguida, esquartejado o
carta dirigida à Funai, MPF, Funasa e Coiab, cautelar inominada na Justiça Estadual, ale seu corpo, ingerindo partes dele.
a presidente do Condisi do Médio Solimões, gando que representantes indígenas requeriam A Polícia Civil diz que o corpo foi encontrado
Francisca das Chagas Correia, cobra solução a demarcação das TIs sem pagar indenização em partes, marcado por golpes de facão. O
para o caso de dois indígenas Kulina que aos ocupantes não índios. O Município tam fígado, coração e coxa, não foram encontrados
levaram 37 dias em deslocamento de Manaus bém defendia que a demarcação feria a Lei por peritos. Por conveniência da instrução
até a cidade de Eirunepé, na região do rio Municipal n 1/70, de 13 de julho de 1970, que criminal, foi determinado o desmembramento
Juruá. A assistente social da Casa de Saúde estabelece o perímetro urbano municipal. O do processo, prosseguindo-se o julgamento tão
do Índio (Casai) de Eirunepé, Priscila Bezerra procedimento demarcatório, de acordo com somente em relação aJoão Valdeci Kulina, que
comunicou ao Condisi que Pissi Kulina, de 48 o município, estava abrangendo terras que alegou, em seu interrogatório e com ajuda de
anos, e Alfredo Kulina, de 70 anos, passaram seriam do patrimônio público municipal. O um intérprete, que não participou do crime.
fome, frio e sentiram muitas dores durante o processo foi encaminhado à Justiça Federal, Nenhuma das testemunhas ouvidas confirmou
percurso. “Os mesmos chegaram a esta Casai que tem competência para tratar das questões a participação do acusado no crime, tanto que
desnutridos, doentes, abaixo do peso e deso indígenas. A procuradora da República Luciana o próprio Ministério Público pediu sua absolvi
rientados”, informou Priscila Bezerra. (Cimi, Portal Gadelha, no parecer do MPF/AM, afir ção, no que foi acompanhado pelos jurados.
www.cimi.og.br, 20/09/2010) mou “os direitos dos indígenas sobre as terras O julgamento foi presidido pelo juiz Rafael da
tradicionalmente ocupadas constituem-se em Rocha Lima, tendo como representante do
JUSTIÇA GARANTE A DEMARCAÇÃO direitos originários, sendo, portanto nulos Ministério Público o promotor André Lavareda
todos os títulos que versem sobre as referidas Fonseca, enquanto que a defesa dos réus foi pa
DA TI APURINÃ áreas”. (MPF AM, 28/10/2010) trocinada pela assessoria jurídica da Funai. Dos
A juíza da 1ª Vara Federal, Jaiza Maria Pinto sete índios acusados, dois foram presos:João e
Fraxe, garantiu a demarcação da TI Apuri Messias Culina. Os outros cinco, incluindo uma
nã do Igarapé São João, com a extinção do ABSOLVIDO UM DOS ÍNDIOS mulher, são considerados foragidos daJustiça.
processo movido pelo Município de Tapauá, ACUSADOS DE CANIBALISMO Messias continua preso na delegacia da cidade.
AM, contra a Funai, que visava a suspensão Acabou na tarde de hoje (4), em Envira/AM, Apesar de solicitação da Funai, a Polícia Federal
da demarcação das Terras Indígenas naquele o julgamento de João Valdeci Kulina, um dos não investigou o crime sob argumento de que
município. Em parecer, o Ministério Público índios acusados de matar e ingerir partes do não foi praticado pela tribo como um todo. O
Federal no Amazonas opinou pela extinção do corpo de Océlio Alves de Carvalho. O crime teria crime foi considerado um homicídio isolado.
processo, com base nos direitos originários acontecido em 01.02.2009 na aldeia Cacau dos (Boletim Jurídico, http://www.boletimjuridi
dos índios sobre a área em questão, garantidos Kulina. Segundo consta dos autos, os índios, co.com.br e Folha.Com, 04/08/2011)
7.
416 TAPAJÓS / MADEIRA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
TAPAJÓS / MADEIRA
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
28 Andirá-Marau Sateré Mawé 7.376/Funasa-Parintins: 2002 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 788.528 Barreirinha AM
Decreto 93.069 de 06/08/1986 publicado em 07/08/1986. Reg. CRI do município Maués AM
e comarca de Parintins (30.994 ha) Matr. 1.888 Liv. 2-G fl. 141 em 10/02/87. Parintins PA
Reg. CRI do município e comarca de Barreirinha (143.044 ha) Matr. 266 Liv. Aveiro PA
2-B fl. 89 em 16/02/87. Reg. CRI do município de Aveiro, comarca de Itaituba Itaituba PA
(115.253 ha) Matr. 3.060, Liv.2-G fl. 29 em 26/02/87. Reg. CRI do município
e comarca de Itaituba (350.615 ha) Matr. 3.059 Liv. 2-G fl. 28 em 26/02/87.
Reg. SPU PA Certidão n° 07 em 07/05/87. Reg. SPU RR Certidão n° 160 fl.
359 em 01/05/87.
49 Apiaká do Pontal e Apiaká 144/Relatório GT: 2010 Identificada. Aprovada pela Funai. Sujeita a contestações. 982.324 Apiacás MT
Isolados Munduruku Despacho 14 de 19/04/2011 publicado em 20/04/2011.
Isolados
10 Apipica Mura 68/GT Funai: 1998 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 652 Careiro da Várzea AM
Decreto s/n de 05/05/2003 publicado em 06/05/2003. Reg. CRI município e
comarca de Careiro da Várzea (63.358 ha) Matr. 957 Liv. 2 em 30/06/2003. Reg.
SPU Certidão n° 33 de 26/01/2004.
37 Ariramba Mura 73/GT Funai: 1996 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 10.357 Manicoré AM
Decreto s/n de 11/12/2001 publicado em 12/12/2001. Reg. CRI no município de
Manicoré, Matr. 335, Lv. 2-Bfl. 35 em 05/10/2004. Reg. SPU Certidão n° 10
em 26/09/2006
11 Boa Vista Mura 54/Funai-Manaus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 337 Careiro da Várzea AM
Decreto s/n de 10/02/2003 publicado em 11/02/2003. Reg. CRI no município de
Careiro da Várzea, comarca de Careiro (337 ha) Matr. 249 Liv. 2 em 09/09/2004.
Reg. SPU Certidão n° 3 em 13/03/2002.
56 Bragança/Marituba Munduruku 231/GT Funai: 2008 Identificada. Aprovada pela Funai. Sujeita a contestações. 13.515 Belterra PA
Despacho 52 de 29/10/2009 publicado em 30/10/2009.
29 Coatá-Laranjal Munduruku 2.484/Funai-Manaus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.153.210 Borba AM
Sateré Mawé Decreto s/n de 19/04/2004 publicado em 20/04/2004. Reg. CRI no município e
comarca de Borba (1.153.210 ha) Matr. 1.424 Liv. 2-G fl. 59 em 26/05/2004
Reg. SPU Certidão n° 31 em 20/01/2004.
15 Cuia Mura 77/Funai-Manaus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.322 Autazes AM
Decreto 309 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no município
e comarca de Autazes (1.322 ha) Matr. 531 Liv. 2-B fl. 191 em 26/02/92. Reg.
SPU Certidão n° 10 em 03/06/97.
41 Diahui Jiahui 77/Funai-Madeira: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 47.354 Humaitá AM
Decreto s/n de 27/10/2004 publicado em 28/10/2004. Reg. CRI no município e
comarca de Humaitá (47.354 ha) Matr. 1.618 Liv. 2-H fl. 180 em 25/04/2005.
Reg. SPU Certidão n° 03 em 09/06/2006.
1 Fortaleza do Castanho Mura 83/Funai-Manaus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 2.756 Manaquiri AM
Decreto s/n de 05/05/2003 publicado em 06/05/2003. Reg. CRI no município e
comarca de Manaquiri (2.756 ha) Matr. 2.756 Liv. 2-RG fl. 13 em 10/07/2003.
Reg. SPU Certidão n° 24 em 25/09/2003.
9 Gavião Mura 115/Funai-Manaus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 8.611 Careiro da Várzea AM
Decreto 305 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no município e
comarca de Careiro (8.611 ha) Matr. 29 Liv. 2 RG fl. 1 em 06/05/97. Reg. SPU
Certidão n° 17 em 09/08/2002.
39 Ipixuna Parintintin 62/Funai-Madeira: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 215.362 Humaitá AM
Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no município
e comarca de Humaitá (215.362 ha) Matr. 2.527 Liv. 2-I fl. 272 em 28/07/98.
Reg. SPU Certidão n° 05 de 24/08/2001.
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
32 Lago Aiapuá Mura 420/Funai: 1994 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 24.866 Anori AM
Decreto s/n de 12/08/1993 publicado em 13/08/1993. Reg. CRI no município Beruri
e comarca de Beruri (24.866 ha) Matr. 75 Liv. 2-RG fl. 40V em 09/12/94. Reg.
SPU Certidão n° 01 em 17/11/1995.
36 Lago Capanã Mura 28/GT Funai: 1996 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 6.321 Manicoré AM
Decreto s/n de 11/12/2001 publicado em 12/12/2001. Reg. CRI no município e
comarca de Manicoré (6.321 ha) Matr. 326 Liv. 2-B/RG fl. 16 em 10/11/2003.
Reg. SPU-AM Certidão n° 30 em 19/10/2004.
38 Lago Jauari Mura 145/GT Funai: 1996 Homologada. Registrada no CRI. 12.023 Manicoré AM
Decreto s/n de 27/10/2004 publicado em 28/10/2004. Reg. CRI no município e
comarca de Manicoré (12.023 ha) Matr. 1.614 Liv. 2-2 fl. 284 em 29/11/2004.
Ofício n° 094/DAF ao SPU-AM (por meio do Ofício 147/GRPU/AM, foi solicitada
a correção do nome de um igarapé no memorial descritivo, enquanto isso a GRPU
não pode realizar o cadastro da TI).
21 Miguel/Josefa Mura 315/Funai-Manaus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.628 Autazes AM
Decreto s/n de 20/04/2001 publicado em 23/04/2001. Reg. CRI no município
e comarca de Autazes (1.628 ha) Matr. 856 Liv. 2-RG fl. 154 em 19/03/2002.
Reg. SPU Certidão n° 10 em 20/05/2002.
51 Mundurucu Apiaká 6.038/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 2.381.800 Itaituba PAPA
Munduruku Decreto s/n de 25/02/2004 publicado em 26/02/2004. Reg. CRI no município de Jacareacanga
Jacareacanga, comarca de Itaituba (2.381.795 ha) Matr. 5.480 Liv. 2-RG fl. 1/2
em 28/04/2004. Reg. SPU Certidão n° 10 em 04/06/2004.
55 Munduruku-Taquara Munduruku 171/GT Funai: 2008 Identificada. Aprovada pela Funai. Sujeita a contestações. 25.323 Aveiro PAPA
Despacho 51 de 29/10/2009 publicado em 30/10/2009. Belterra
40 Nove de Janeiro Parintintin 206/Funai-Madeira: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 228.777 Humaitá AM
Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no município
e comarca de Humaitá (228.777 ha) Matr. 2.528 Liv. 2-I fl. 274 em 28/07/98.
Reg. SPU Certidão n° 04 em 14/08/2001.
22 Padre Mura 22/Funai: 2003 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 797 Autazes AM
Decreto s/n de 05/05/2003 publicado em 06/05/2003. Reg. CRI no município e
comarca de Autazes ( 391 ha) Matr.747, Liv. 2-D/RG fl. 48 em 22/01/97. Reg.
CRI no município e comarca de Autazes (797 ha) Av 10.747 Lv. 2-D fl. 48 em
17/09/2003. Reg. SPU Certidão n° 13 em 19/06/97 (ref. área de 391 ha). Reg.
SPU Certidão n° 27 em 21/06/2004.
23 Paracuhuba Mura 67/Funai: 2003 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 927 Autazes AM
Decreto 310 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no município e
comarca de Autazes (927 ha) Matr. 530 Liv. 2-B fl. 191 em 25/02/92. Reg. SPU
Certidão n° 11 em 06/06/97.
27 Paraná do Arauató Mura 103/Funai-Manaus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 5.915 Itacoatiara AM
Decreto s/n de 27/10/2004 publicado em 28/10/2004. Reg. CRI no município e
comarca de Itacoara (5.915 ha) Matr. 13.370 Liv. 2/RG fl. 1 em 15/03/2005.
Reg. SPU Certidão n° 44 em 26/09/2005.
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
14 Patauá Mura
Kanamari 47/GT Funai: 1998 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 615 Autazes AM
Decreto s/n de 05/05/2003 publicado em 06/05/2003. Reg. CRI no município e
comarca de Autazes (615 ha) Matr. 881 Liv. 2-D fl. 181 em 17/09/2003. Reg.
SPU Certidão n° 34 de 29/01/2004.
35 Pinatuba Mura 458/GT Funai: 1996 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 29.564 Manicoré AM
Decreto s/n de 10/12/2001 publicado em 11/12/2001. Reg. CRI do 2° Ofício
no município e comarca de Manicoré (29.564 ha) Matr. 351 Liv. 2-B fl. 51 em
25/07/2005. Reg. SPU Certidão n° 05 em 17/07/2006.
46 Pirahã Pirahã 477/Funai-Madeira: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 346.910 Humaitá AM
Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg. CRI no município
e comarca de Humaitá (229.777 ha) Matr. 2.528 Liv. 2-I fl. 274 em 28/07/98.
Reg. SPU Certidão n° 06 em 11/09/2001.
16 Recreio/São Félix Mura 139/Funai: 1994 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 251 Autazes AM
Decreto 295 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no município e
comarca de Autazes (251 ha) Matr. 532 Liv. 2-Bfl. 191 em 25/02/92. Reg. SPU
Certidão n° 06 em 22/11/95.
5 Rio Jumas Mura 204/Funai-Manaus: 2010 Homologada. Registrada no CRI. 9.482 Careiro AM
Decreto s/n de 27/10/2004 publicado em 28/10/2004. Reg. CRI no município e
comarca de Careiro (9.462 ha) Matr. 522 Liv. 2 fl. 1 em 07/12/2004. Ofício n°
602/DAF em 10/11/2005.
48 Rio Manicoré Mura 52/GT Funai: 1998 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 19.481 Manicoré AM
Decreto s/n de 10/12/2001 publicado em 11/12/2001. Reg. CRI no município e
comarca de Manicoré (19.481 ha) Matr. 356 Liv. 2-B fl. 56 em 12/12/2005. Reg.
SPU Certidão n° 01 em 08/01/2007.
26 Rio Urubu Mura 378/Funai-Manaus: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 27.354 Itacoatiara AM
Decreto s/n de 27/10/2004 publicado em 28/10/2004. Reg. CRI no município
e comarca de Itacoatiara ( 27.354 ha) Matr. 13.369 Liv. 2/RG fl. 1 em
15/03/2005. Reg. SPU Certidão n° 45 em 26/09/2005.
52 Sai Cinza Munduruku 1.371/Funasa:2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 125.552 Jacareacanga PA
Decreto 393 de 24/12/1991 publicado em 26/12/1991. Reg. CRI no município e
comarca de Itaituba (125.552 ha) Matr. 4.155 Liv. 2 fl. 275 em 10/01/90. Reg.
SPU Certidão n° 06 em 07/03/89.
20 São Pedro Mura 47/Funai: 2003 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 726 Autazes AM
Decreto s/n de 05/01/1996 publicado em 08/01/1996. Reg. CRI no município e
comarca de Autazes (726 ha) Matr. 314 Liv. 2-A fl. 314 em 14/12/87. Reg. SPU
Certidão n° 175 Liv. 380 em 29/07/88.
43 Tenharim do Igarapé Tenharim 100/Funai-Madeira: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 87.413 Novo Aripuanã AM
Preto Decreto s/n de 19/04/2004 publicado em 20/04/2004. Reg. CRI no município
e comarca de Novo Aripuanã (87.413 ha) Matr. 1.644, Lv.2-A fl. 245 em
30/09/2004. Reg. SPU Certidão n° 04 em 17/07/2006.
44 Tenharim Marmelos Tenharim 393/GT Funai: 2002 Declarada de posse indígena. 473.961 Humaitá AM
(Gleba B) Portaria 2.367 de 15/12/2006 publicada em 18/12/2006. Manicoré AM
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº,fonte, ano) Situaçãojurídica Extensão (ha) Município UF
47 Torá Torá
Apurinã 211/Funai-Madeira: 2011 Decreto s/n deRegistrada
Homologada. 27/10/2004no publicado
CRI. em 28/10/2004. 54.961 Manicoré AM
e comarca de Autazes (1.624 ha) Matr. 288 Liv. 2-A fl. 313 em 14/12/87. Reg.
SPU AM-174 em 29/07/88.
OS TENHARIM POSSUEM SUAS TERRAS professores, agentes de saúde, fazem faculdade, jogam futebol,
RELATIVAMENTE REGULARIZADAS, SÃO fazem festas. Tudo isso, obviamente, de um modo bem próprio.
ORGULHOSOS DE SEU MODO DE SER E DE SUA Vejamos, então, como os Tenharim lidam com suas questões.
ORIGEM. MAS O FUTURO TAMBÉM LHES INTERESSA
E O BEM-ESTAR DE SEUS FILHOS E NETOS NÃO Garimpo no iGarapé preto
DEPENDE APENAS DOS RECURSOS NATURAIS. A
GERAÇÃO DE RENDA É PREOCUPAÇÃO ENTRE AS No início da década de 1970, a TI Tenharim do Igarapé Preto foi
LIDERANÇAS E CACIQUES TENHARIM ocupada pela empresa mineradora multinacional Paranapanema,
que de lá retirou grande quantidade de cassiterita. Anos depois,
a empresa abandonou o local, restando o passivo socioambiental
Os Tenharim habitam a região do curso médio do rio Madeira, que perdura até hoje. Depois de muitos anos da saída da empresa
ao sul do estado do Amazonas. Ocupam três territórios distintos: mineradora, a TI foi demarcada (os estudos de identificação
Igarapé Preto, Marmelos e Sepoti. Ao longo do tempo, viveram foram realizados em 1997). Nesse período iniciava-se um novo
de várias alternativas econômicas, vinculadas ou não ao sistema ciclo de interesses na região. Situada em uma região de grandes
regional. Sempre caçaram, pescaram e produziram suas próprias campos, a TI passou a ser cobiçada por levas de produtores ru
roças. Organizam-se por meio de um sistema de metades matri rais interessados no plantio de soja e de arroz. Distantes um dia
moniais denominadas pelos pássaros Mutum e Gavião. Nos anos de viagem de Humaitá, o centro urbano mais próximo, pouco
de 1950, além de tais atividades, trabalharam na extração da assistidos pela antiga Funai de Porto Velho e sem apoio do Mu
sorva, da copaíba e da seringa para um regatão que viveu longo nicípio de Novo Aripuanã, onde fica a TI, os Tenharim das três
período entre eles. Com a abertura da Transamazônica, que cor
aldeias lá existentes resolveram voltar a explorar a cassiterita. Em
tou seu território, começaram a produzir também artesanato para comparação com a Paranapanema, no entanto, os métodos de
comercialização e a coletar castanha para o mercado regional. extração são rudimentares e a organização do trabalho é outra.
No período da abertura da BR-230, chegaram à região empresas
Por mais que as condições atuais de vida dos Tenharim do Igarapé
de mineração e instalaram-se no interior da TI dos Tenharim
Preto sejam melhores do que aquelas do tempo da mineradora
do Igarapé Preto (na época sem regularização). Após momentos
Paranapanema, é evidente que a atividade mineradora não traz
difíceis com relação à sobrevivência, os Tenharim avançaram na
grandes benefícios para eles, sob nenhum aspecto. Muita coisa
conquista de seus direitos, mas ainda há pendências.
ali não funciona direito e os índios sabem disso. Os caciques
Hoje, os Tenharim compram comida, roupas, eletrodomésticos, são francos ao explicarem a situação do garimpo: é irregular e
ferramentas, motores geradores, combustível, pagam passagens, continua degradando o solo e os rios do território, mas é, por
possuem documentos, conta no banco, prestam serviços, são enquanto, a única fonte de renda que as famílias possuem.
Florêncio Almeida Vaz Indígena do povo Maytapu, frade franciscano e professor na Ufopa
HOJE SÃO 48 COMUNIDADES QUE SE ASSUMEM na Flona do Tapajós e no PAE Lago Grande, e outra parte, em
COMO INDÍGENAS, PERTENCENTES A DOZE POVOS, áreas chamadas devolutas, disputadas também por madeireiros
A SABER: APIAKÁ, BORARI, MAYTAPU, MUNDURUKU, e fazendeiros.
CARA PRETA, TUPINAMBÁ, CUMARUARA, ARAPIUM,
A maioria dos etnônimos reivindicados são aqueles documenta
JARAQUI, TAPAJÓ, TUPAIU E ARARA VERMELHA.
dos pela história como dos povos encontrados pelos europeus na
CALCULA-SE EM SETE MIL OS INDÍGENAS
região, entre os séculos XVI e XVIII. Porém, mesmo representantes
PERTENCENTES A ESSES POVOS
dos povos Arara Vermelha eJaraqui, para os quais não se encontra
referência na literatura, dizem que seus antepassados já viviam
A região do Baixo Rio Tapajós, no oeste do Pará, é conhecida nessas terras antes da chegada dos portugueses. Ou seja, os atuais
desde os primeiros escritos nos séculos XVI e XVII como sendo indígenas afirmam ser a continuidade histórica e cultural dos
habitada por numerosa população indígena, onde se destacavam povos que foram encontrados pelos portugueses na região, e que,
os Tupinambá, Arapium e Tapajó, dentre outros. Os Tapajó se mesmo tendo passado por profundas mudanças socioculturais,
concentravam onde hoje está a cidade de Santarém, mas sua inclusive a perda da língua nativa, persistiram indígenas.
influência se estendia por todo o Baixo Tapajós e a vasta área de O reconhecimento de que perderam muitos dos costumes dos
várzea no entorno. Segundo informações deixadas pelos viajan antepassados leva-os a iniciar um processo de revalorização cul
tes, foram extintos no final do século XVIII. No século XIX, os tural intenso, que inclui o aprendizado do Nheengatu. Resgatar a
escritos se referiam apenas aos Munduruku, que haviam baixado cultura expressa, na verdade, uma nova dinâmica de construção
recentemente do Alto Tapajós, e da grande massa dos Tapuios, e reconstrução das suas cosmologias e práticas, que compreende
descendentes dos indígenas destribalizados, catequizados e colo uma boa dose de elementos tidos como tradicionais, e outra dose
nizados que constituíram a maioria dentre os rebeldes da guerra de novidades incorporadas sob a justificativa de fortalecer a tradi
da Cabanagem (1845-1840), contra a dominação portuguesa na ção indígena. Esse esforço aponta, finalmente, para a construção
Amazônia. No início do século XX, já nem dos Munduruku se da distinção entre índios e não índios, em um contexto de grande
falava e o termo tapuio desapareceu. Os moradores das pequenas homogeneidade cultural.
cidades e vilarejos passaram a ser chamados indistintamente de
O movimento de resgate cultural e o desencadeamento, por
caboclos. Todos acreditavam que os índios da região haviam sido parte da Funai, do processo de identificação e delimitação das
extintos, inclusive os descendentes dos próprios indígenas.
TIs e a implantação da educação escolar indígena diferenciada
Foi no final da década de 1990 que algumas comunidades ri suscitaram a reação de organizações, instituições e empresas,
beirinhas passaram novamente a se identificar como indígenas que se sentiram ameaçadas e passaram a hostilizar o movimento
nos municípios de Aveiro, Belterra e Santarém. Seu número indígena. Os dois grupos estabeleceram relações tensas e ten
cresceu rapidamente. Uma parte vive na Resex Tapajós-Arapiuns, dentes ao conflito, que mostram, de forma eloquente, como a
Quando, há duas décadas, se iniciaram os trabalhos de demar A revisão desse processo de loteamento iniciou-se em 1996,
cação das TIs Mura da Amazônia, a Funai acumulava uma série quando a Funai deu início aos procedimentos de identificação e
de demandas das populações Mura do rio Madeira por maiores delimitação das TIs Mura da Amazônia, criando cinco GTs que
garantias de seus territórios, como atestam os relatórios de Silvia atuaram inicialmente nos municípios de Careiro, Borba, Autazes
Tafuri na década de 1980. Ao final das atividades dos primeiros e Manicoré. O resultado desse processo em muitos dos casos foi,
GTs da Funai, no início da década de 1990 e do investimento – entretanto, marcado por forte conservadorismo, no sentido de que
inédito – em pesquisas sistemáticas sobre as condições de vida a definição da TI atendia mais aos antigos arranjos do passado,
dos Mura nos rios, lagos e igarapés do sistema hidrográfico do que constrangeram famílias em áreas exíguas, do que propria
rio Madeira, constataram-se temas comuns nos laudos antro mente cumpria o que a Portaria nº 14/1996 do MJ recomendava.
pológicos. Segundo a portaria, deveriam ser garantidos aos Mura seus direi
tos originários às terras tradicionalmente ocupadas. O quadro do
Alguns dos relatórios aludiam a um quadro de dispersão dos
loteamento das áreas em glebas encontrado pelos GTs/Funai foi
Mura pelos rios e de evasão em direção às cidades datado das
primeiras décadas do século XX. Os relatórios registraram que em muitos casos mantido, não gerando sequer uma apreciação
mais acurada das reais necessidades da população mura dispersa
a época fora marcada pela ação dos patrões do extrativismo
entre as aldeias e a periferia das cidades da Amazônia.
da castanha-do-pará, consorciados com os administradores e
funcionários do SPI. Nos municípios de Borba, Novo Aripuanã, Uma honrosa exceção se faz à proposta de demarcação da TI
Manicoré, Careiro da Várzea, Autazes, Manaquiri, Anori, Beruri Cunha-Sapucaia, hoje homologada, mérito da habilidade de
UHEs E PCHs Durante o evento, que contou com a presença próximo ano. Isto porque, segundo Muniz, não
do procurador da República no Pará, Felício conseguiram ainda obrter a licença ambiental
moraDoreS CritiCam Pontes, e de especialistas de diversas áreas, para o projeto, o que dura em torno de um ano
foram relatados os graves impactos sociais que para ser executado.
uSinaS Do tapaJÓS já ocorrem em Rondônia e apontadas supostas Essas usinas usarão o conceito de plataforma,
O Complexo Tapajós terá cinco usinas hidrelé ilegalidades que marcaram os processos de ou seja, o complexo instalado no rio, e operado
tricas, que darão uma capacidade instalada de licenciamento e instalação dos projetos do rio a distância como plataformas de petróleo para
10.600 MW – 500 MW menor que Belo Monte. Madeira e de Belo Monte. evitar impacto no meio ambiente. A usina de
Povos da região do Teles Pires/Tapajós, em Representantes dos atingidos pelas obras de São Luís do Tapajós só deverá ir a leilão em
reunião na cidade de Itaituba, já divulgaram Santo Antonio e Jirau descreveram a situação 2012. Os projetos do Tapajós terão um conceito
carta em que recusam o projeto e dão sinal de de miséria da população e problemas com de inserção regional diferente. A proposta é
que esse novo passo do governo para explorar aumento nos preços de alimentos, violência, manter os reservatórios das usinas na mesma
o potencial hidrelétrico da Amazônia será tão prostituição e drogas. (Fátima Lessa, OESP, área que é alagada no período de cheia das chu
polêmico quanto foi e é Belo Monte. 31/08/2010) vas. E outra proposta será usar parte da receita
Há um aspecto adicional na discussão da da usina para garantir a integridade física da
viabilidade ou não do complexo Tapajós: a área (Parque Nacional da Amazônia, diversas
hidrovia. Setores do governo federal ligados mme e Funai BuSCam reDuzir
florestas e áreas de preservação) explicou
à área de transporte e logística reivindicam impaCto DaS pCHs Muniz Lopes. (O Globo, 21/12/2010)
a implantação de uma hidrovia no corredor Aconstrução de pequenas centrais hidrelétricas
Teles Pires/Tapajós. Alegam que a hidrovia é (PCHs) nos rios Teles Pires e Apiacás, no norte
uma excepcional opção para o escoamento em de Mato Grosso, levou o Ministério de Minas e SAÚDE
escala da produção de grãos da região Centro Energia (MME) a promover um encontro entre
Norte de Mato Grosso até o porto de Santarém representantes dos empreendedores, da Funai maniCoré
ContaS SoBre
DeVeSaúDe
preStar
inDíGena
(PA), atualmente sem utilização. e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente,
Hoje, essa região não tem opção de escoamento em Brasília.
De acordo com o procurador do Estado, Fran O Ministério Público Federal no Amazonas
da produção de soja e milho e corre o risco de
perder sua capacidade produtiva em razão do cisco Lopes, que acompanhou a reunião, a con (MPF/AM) entrou com uma ação civil pública
para obrigar o município de Manicoré a prestar
isolamento provocado pela falta de um corre versa tem caráter preventivo. “A preocupação
contas dos recursos federais destinados à saúde
dor de exportação. A Antaq (Agência Nacional do Ministério é mitigar os possíveis impactos
nas comunidades indígenas que ocupam a indígena. A ação, com pedido de liminar, pede
de Transportes Aquaviários) e a área de logística que a Justiça Federal determine a prestação
e transporte do Ministério da Agricultura nego região que deve ser alagada para construção
das barragens”, afirmou Lopes. Segundo o de contas do município ao Conselho Distrital
ciam com o grupo de energia do governo para
que a hidrovia seja considerada no projeto do procurador, as usinas estão em fase de estu de Saúde Indígena (Condisi) de Manaus, sob
dos e pendentes de licenciamento ambiental. pena de multa diária de R$ 1 mil.
Complexo Tapajós.
A região atingida pelos empreendimentos é O município de Manicoré recebe, mensalmen
O modelo funcionará, segundo a estatal, como te, R$ 80.150 de recursos federais referentes ao
as plataformas de petróleo da Petrobras. Não ocupada por três comunidades indígenas: os
caibis, os apiacás e os mundurucus. (Vinícius Incentivo de Atenção Básica à Saúde dos Povos
haverá estradas ou grandes alojamentos na Indígenas (IAB-PI). Os valores repassados
região de construção das usinas. O conces Tavares, Olhar Direto, 01/09/2010)
levam em conta a quantidade de índios por
sionário terá de montar uma logística para
localidade e cada município deve apresentar
transporte dos trabalhadores com helicópteros. CompLeXo Do tapaJÓS poDe a prestação de contas relativa à aplicação dos
Com a usina pronta, haverá o reflorestamento ter potÊnCia maior recursos ao Condisi.
da região. Sem cidades criadas no entorno, a
As cinco usinas hidrelétricas que formarão o Em abril de 2009, o MPF/AM recomendou
hidrelétrica operará no meio da floresta, sem
chamado Complexo Tapajós, no Rio Tapajós, no aos prefeitos dos municípios localizados no
vilas na região. O modelo jamais foi testado em
Pará, terão potência instalada total da ordem de âmbito do Condisi de Manaus, incluindo o
usinas e é chamada pela Eletrobras de “hidre prefeito de Manicoré, a prestação de contas
létricas do bem”. (O Eco, 23/04/2010) 12 mil megawatts (MW), superior aos 10 mil
MW previstos inicialmente. A informação foi dos recursos destinados à saúde indígena. No
dada, há pouco, pelo presidente da Eletrobras, curso de inquérito civil público verificou-se
ínDioS e aGriCuLtoreS José Antônio Muniz Lopes, ao explicar que que existe saldo de R$ 2 milhões não utilizado
Contra uSinaS com os novos dados de hidrologia, os estudos no atendimento à saúde indígena. (MPF/AM,
Cerca de 600 lideranças de ribeirinhos, pe de viabilidade da primeira das cinco usinas, a 09/06/2010)
quenos agricultores, e indígenas das etnias São Luis do Tapajós, mostrou que é possível ter
Mundukuru, Karitiana, Tupaia, Borari, Arara, uma potência maior. PIRAHÃ
Juruna, Xicrin e Kaiapo, decidiram fechar alian O estudo de viabilidade de São Luis do Tapajós,
ça contra “as investidas” do governo federal a primeira usina, mostrou que poderá ter uma
na construção de projetos hidrelétricos nos potência de 7.880 MW contra os 6.188 MW triBo Da amazÔnia pÕe em
rios Madeira (RO); Teles Pires (MT); Tapajós e previstos anteriormente. Apesar de o projeto da XeQue teoria De CHomSKY
Xingu (PA) (Usina de Belo Monte). O encontro usina de São Luis do Tapajós estar concluído, Um americano que pesquisa desde os anos 70
ocorreu em Itaituba, Pará. a Eletrobras não conseguirá levá-la a leilão no uma tribo da Amazônia afirma que a língua fa
DeSaSSiStÊnCia À SaúDeCauSa
amorte De noVe piraHÃ
Oito crianças e um adulto do povo Pirahã Grupo Pirahã em Humaitá (AM), cuja língua foi objeto de uma polêmica entre linguistas, em 2007.
(Amazonas) morreram, de janeiro a junho des
te ano, vitimados provavelmente pela malária.
rucu, os índios de aldeias no limite do Pará rumo às casas da aldeia. O fenômeno segundo
A falta de assistência à saúde das comunidades
localizadas ao longo dos rios Maici e Ipixuna,
com o Mato Grosso estão adoecendo de gripe, o cacique Nezinho Saw, vem acontecendo há
no município de Humaitá (distante 450 Km de
pneumonia, diarréia e malária e muitos aca cerca de 10 anos, quando começou a primeira
Manaus), tem sido apontada pelos indígenas
bam morrendo nas aldeias mais isoladas sem cratera. ‘Estamos muito preocupados, pois a
medicação e atendimento de médicos. cada ano os buracos aumentam. Já pedimos
como causa dos óbitos. A Prefeitura Municipal
Na aldeia Santa Maria, no alto rio Cururu, mais ajuda à Funai e o chefe do escritório no muni
de Manicoré é responsável pelo atendimento
àquelas aldeias. de 20 índios estão doentes e não podem ser cípio de Itaituba nos mandou como resposta 10
levados ao hospital porque a lancha voadeira carrinhos de mão para aterrarmos o buraco’,
Os conselheiros do Conselho Distrital de
usada pela Funasa está parada por falta de disse o cacique.
Saúde Indígena encaminharam documento combustível. Segundo o relatório da comissão enviada pelo
à coordenação regional da Funasa relatando
que foram diagnosticados casos de malária, A situação piorou nas aldeias Munduruku prefeito Carlos Veiga, parte da aldeia Sai Cinza
a partir de maio do ano passado, quando a corre o risco de ser engolida pelas crateras, pois
tuberculose, hanseníase, diarréias, desnutrição Funasa deixou de renovar o convênio com a o crescimento contínuo das erosões se dá por
e outras doenças. Segundo eles, 14 indígenas prefeitura. Agora, o órgão do governo federal conta das águas das chuvas. Na aldeia Sai Cinza,
morreram naquela região, somando os nove
Pirahã e cinco de outros povos indígenas da
assinou um contrato com a ONG Fundação foram catalogadas 7 crateras com diâmetro de
Esperança, que tem sede em Santarém, no até 25 m de extensão e até 9 m de profundida
localidade. Os Pirahã que vivem nesta região
oeste do Pará. As doenças também maltratam de. (Agência Amazônia, 11/04/2007)
são indígenas de pouco contato, que somam os índios adultos. Cerca de 42 mundurucus
230 pessoas. As mortes ao longo deste ano
estão internados na Casa do Índio, em Belém,
afetaram 3,9% da população. (J. Rosha - Cimi para tratamento médico. (Ullisses Campbell, FLona tapaJÓS:
SuStentÁVeL e DiSputa
maneJo étniCa
Norte I, 25/06/2008)
Correio Braziliense, 27/01/2006)
No centro da nova fronteira agrícola da soja,
MUNDURUKU a BR-163 – que liga Cuiabá (MT) a Santarém
eroSÃo ameaÇa aLDeia (PA) – moradores de 25 comunidades tra
Sai Cinza em JaCareaCanGa dicionais que vivem dentro de uma Floresta
SituaÇÃo Da SaúDe DoS Localizada de subida à margem esquerda do Nacional – Flona, montaram uma cooperativa e
munDuruKu é GraVe rio Tapajós e a 25 minutos de voadeira da sede elaboraram um plano de manejo florestal sus
Três crianças mundurucus estão internadas do município de Jacareacanga, no sudoeste tentável, que, com o aval do Ibama e do ICMBio,
num hospital, no município de Jacareacanga do Estado, a aldeia ‘Sai Cinza’, possui uma lhes permite explorar madeira de pequenas
(PA), com desidratação por conta de uma diar população de mais de 750 indígenas que está parcelas da floresta. Mas a experiência, consi
réia severa que ataca seis aldeias indígenas no ameaçada pela força da natureza. Na parte fron derada pelo governo alternativa de sucesso a
Pará. Uma menina de cinco anos morreu há tal da aldeia, que fica à margem do rio Tapajós, ser replicada na Amazônia, vem gerando um
uma semana com a mesma doença. Segundo estão se formando gigantescas crateras que a conflito. Três das 25 comunidades pleitearam o
o vice-prefeito da cidade, José Krixe Mundu cada ano caminham de forma ameaçadora reconhecimento da tradição indígena e contam
com o aval da Funai para que duas parcelas da SATERÉ-MAWÉ sateré-mawé”, disse Júlio Miquiles, tuxaua
Flona de Tapajós sejam convertidas em terras geral (chefe) da tribo. Os sateré-mawé tem
indígenas. Das 7 mil pessoas que vivem na cerca de 8,5 mil indivíduos.
Flona, apenas 300 seriam beneficiadas com CaSamentoS ComprometiDoS Como as artes são trabalhadas não somente
o reconhecimento indígena. Na legislação não Mais de 12% da população sateré-maué, et como práticas tradicionais, mas também como
há previsão para exploração madeireira em nia formada por cerca de 8,5 mil indivíduos alternativa econômica, o projeto ganha força
terras indígenas. originários da terra indígena Andirá-Marau, por ser a primeira oportunidade de geração de
As pessoas que estão melhorando de vida vão localizada entre os estados do Amazonas e do emprego e renda entre jovens do povo. Cada ofi
ter que voltar ao que era antes. A luta vai ser Pará, mora em áreas urbanas, principalmente cina oferece 12 vagas a crianças e adolescentes
perdida – reclama Sergio Pimentel, presiden nas cidades de Parintins, Maués e Barreirinha. sateré-mawé, preenchidas a partir da divisão
te da Cooperativa Mista Flona Tapajós Verde Amigração, facilitada pelo progresso dos meios elaborada pela organização. (Michelle Portela,
(Coomflona), composta por três associações: de transporte na região, tem gerado desequilí Agência Fapesp, 18/12/2007)
Asmiprut, representando oito comunidades; brio entre os sexos nas aldeias. A constatação
Aita, que reúne nove comunidades, e Apru foi feita por Raylene Rodrigues de Sena,
santa, composta de outras três. Todos somos professora do Departamento de Economia e TI KAIABI
índios. A gente não quer voltar para as origens. Análise da Faculdade de Estudos Sociais da
Nós queremos andar para frente – diz Manuel Universidade Federal do Amazonas (Ufam). pF inDiCia 40 por Crime
Maria Xavier, um dos trabalhadores em manejo Segundo Raylene, que visitou periodicamente amBientaL na ti KaYaBi
florestal. Ainda este mês, as associações das co as três áreas urbanas onde os sateré-maué
residem para saber os motivos que os levaram a Chega a 40 o número de indiciados pela Polícia
munidades farão uma assembleia para decidir Federal acusados de formação de quadrilha,
como evitar, naJustiça, a perda das áreas. sair das aldeias, mais da metade dos migrantes
são mulheres em idade econômica ativa para falsidade ideológica, e prática de crimes contra
A Flona, criada em 1974, teve o plano de ma o meio ambiente na TI Kayabi . Em novembro
nejo aprovado em 2005. A partir daí, as comu o trabalho e para o estudo. O trabalho foi
realizado com base nos dados de um censo do ano passado, a PF desencadeou uma ope
nidades começaram a implementar o Projeto sociodemográfico realizado em 2003 na terra ração que levou à prisão 43 pessoas. Ao todo
Ambé. No primeiro ano foram explorados cem indígena, coordenado por pesquisadores da foram cumpridos 67 mandados de busca e
hectares. No ano seguinte, 300. Este ano foram apreensão.
700 ha, que renderam 13.450 m3 de madeira. Ufam, da Fundação Estadual de Política Indige
nista do Amazonas, da Secretaria de Educação Pelo menos 1,5 milhão de metros cúbicos
Como a atividade acontece numa floresta pú de madeiras nobres, número suficiente para
blica, a venda do produto obedece a regras de do Estado do Amazonas, da FundaçãoJoaquim
Nabuco, da Coordenação das Organizações In encher 37 mil carretas, foram retiradas da
uma licitação pública. A vencedora do pregão terra indígena, segundo estimativas da PF,
foi uma madeireira de Santarém, que pagou R$ dígenas da Amazônia Brasileira e do Fundo das
Nações Unidas para a Infância (Unicef). mas o montante real e valores exatos de área
197 por metro cúbico de madeira. As toras de destruída somente serão conhecidos após
Maçaranduba, Jatobá, Ipê e outras 25 espécies O estudo mostra que, apesar de o número de
nascimentos ser praticamente o mesmo nas análise técnica oficial.
de madeira de lei foram cortadas e exportadas A quadrilha, muito bem articulada, era forma
para a Europa, gerando R$ 2,7 milhões para os aldeias para os sexos, atualmente existem cerca
de 110 homens para cada grupo de 100 mulhe da por empresários, madeireiros, proprietários
envolvidos no projeto. A exploração é feita por rurais, grileiros e funcionários do Ibama e da
áreas demarcadas respeitando o tempo de re res com idades entre 15 e 49 anos. Segundo ela,
a migração também tem causado mudanças extinta Fema, que autorizavam falsos projetos
cuperação de 30 anos.Trabalham na exploração de manejo rural, o que “legalizava” a extração
culturais dos índios, como a perda do idioma,
da madeira 74 pessoas das comunidades que em terras indígenas. (Patrícia Neves, Gazeta
dos rituais e da forma de vida comunitária.
beiram o Rio Tapajós. A gratificação mensal é de Cuiabá, 23/01/2007)
(Agência Fapesp, 22/08/2007)
de R$ 1.100. O restante é usado para comprar
equipamentos, alimentação e implementar
melhorias na região. Este ano, foram investi reVitaLizaÇÃo CuLturaL SenaDor ConteSta
dos R$ 80 mil na estrada que liga a BR-163 a Incomodada com a situação e com a crescente DemarCaÇÃo Da ti KaYaBi
algumas comunidades. ausência de retorno de pesquisas realizadas O senador Jayme Campos (DEM-MT) anun
O Projeto Ambé é uma das iniciativas de REDD nas aldeias da terra indígena Andirá-Marau, ciou nesta quinta-feira (26) que encaminhou
já em prática no Brasil. Ganhou este ano o no oeste do Amazonas, a Organização dos ao ministro da Justiça, Tarso Genro, um
Prêmio Chico Mendes, do governo federal, Professores Indígenas Sateré-Mawé dos rio requerimento de informações a respeito da
na categoria Negócios Sustentáveis. Jeremias Andirá e Waikurapá (Opisma) tenta mudar esse demarcação da terra indígena Kayabi, que
Batista Dantas, morador da comunidade de quadro com o projeto “Revitalização da língua totaliza uma superfície de 1,053 milhão de
Pedreira, conta que a nova atividade mudou e das artes sateré-mawé”, desenvolvido desde hectares em um perímetro de 723 km. A
a vida das pessoas que moram na Flona. junho de 2006 com apoio da Unicef. terra foi declarada de posse permanente dos
Ao todo, os trabalhadores das comunidades Anciães que ainda detinham conhecimentos grupos indígenas Kayabi, Mundukuru e Apiaká
terão 31.560 ha (5% da área da Flona) de tradicionais foram transformados em profes numa decisão considerada pelo senador
onde poderão explorar, a cada ano, pequenos sores de oficinas de arte. São aulas de redes, como “controvertida”. Segundo ele, diversos
lotes. Depois, uma área de mil hectares será cerâmica, tecelagem e história mitológica, cada procedimentos administrativos do processo de
remanejada, num processo que derruba de 15 uma coordenada por um professor, responsá demarcação foram simplesmente ignorados ou
a 20 árvores a cada cinco hectares (Catarina vel por mobilizar os jovens à participação. “É mesmo contrariados. “A Portaria do Ministério
Alencastro, O Globo, 03/01/2010) um trabalho para proteger e fortalecer o povo daJustiça nº 1.149/02 descumpre vários dos
procedimentos previstos pelo Estatuto do Índio, carregamento, composto por mais de 3 mil me TENHARIM
além de contrariar dispositivos essenciais ao tros cúbicos de madeira. Na opinião de Cláudio
bom cumprimento do processo de demarca Henrique Machado, procurador da república
ção. Ao ampliar os limites da reserva, a Portaria do Ministério Público Federal do Pará, o conflito CoiaB DenunCia retiraDa De
nº 1.149/02 declara de posse permanente, para ainda não terminou e dois problemas continu maDeira na ti tenHarim
um grupo de 69 índios que ocupam uma área am evidentes: a falta de fiscalização, por parte A Coiab denuncia a retirada ilegal de madeira
de 117,25 hectares, uma área imensamente da Secretaria Estadual do Meio Ambiente do da Terra Indígena Tenharim, no Sul do Ama
maior, de 1,053 milhão de hectares, que na Pará, e a morosidade na demarcação da terra zonas. Segundo o coordenador geral da Coiab,
verdade nunca foi por eles habitada de forma indígena, responsabilidade da Funai. (Mariana Jecinaldo Saterê-Mauê, a madeira é levada a
permanente, em tempo algum”, observou. Fontes, Globo Amazônia, 12/11/2009) uma serraria localizada no Km 180 da BR-230,
(Agência Senado, 26/03/2009) a Transamazônica. Ele afirma que o desmata
mento irregular já avançou mais de 500 metros
LiDeranÇa inDíGena Da GLeBa no interior dos limites da TI.
BAIXO TAPAJÓS noVa oLinDa é ataCaDa Segundo os índios, madeireiros e grileiros
O conflito social e ambiental na Gleba Nova teriam ameaçado funcionários da empre
Luta peLo reConHeCimento Olinda I é fato amplamente divulgado em sa contratada para colocar os marcos da
DaS terraS âmbito regional e nacional. O capítulo mais demarcação da TI, por isto o trabalho teria
recente da violência perpetrada aos indígenas sido suspenso. A Coiab entregou ao MPF um
Famílias das etnias Borari e Arapium vivem na região ocorreu no último domingo quando
em parte dos 1,2 milhão de hectares que estão levantamento antropológico e ambiental da
o indígena Adenilson Alves de Sousa, conhecido região e pediu providências para acabar com
sendo ordenados no oeste do Pará. O Ministério como Poró, foi atacado e espancado a socos,
Público Federal no Pará tem participado de os crimes ambientais e invasão da área. (O
pontapés e pauladas por um grupo de 15 a 20 Eco, 18/01/2008)
audiências sobre o ordenamento territorial de homens na Comunidade de Curi, no Rio Ara
1,2 milhão de hectares que formam a maior
piuns. A vítima é irmão do Cacique OdairJosé
área de florestas não-destinadas do estado, no Alves de Sousa, conhecido como Dadá Borari, MURA
oeste paraense, com o objetivo de garantir que e reside na Aldeia de Novo Lugar, Rio Maró,
o direito de indígenas ao reconhecimento do participando ativamente da luta dos índios DermarCaÇÃo De tiS mura
seu território não seja prejudicado. na Gleba Nova Olinda I. (Terra de Direitos,
As glebas Nova Olinda I, II e III, Mamuru e Gera auDiÊnCia em autazeS
05/05/2010)
Curumucuri, nos municípios de Santarém, A demarcação de áreas indígenas em Autazes
Aveiro eJuruti foram interditadas pelo estado será discutida hoje, em audiência pública, na
para que o governo, setores empresariais e PARINTINTIN sede do município. A iniciativa foi da Federação
os movimentos sociais pudessem discutir e da Agricultura do Amazonas e Federação dos
sugerir modelos de destinação fundiária para aÇÃo iLeGaL De maDeireiraS e Trabalhadores na Agricultura, que temem
o local. Entre as propostas estão a criação de prejuízos na maior bacia leiteira do Estado.
aVanÇo Do aGroneGÓCio A produção de Autazes é de 9,450 milhões de
unidades de conservação, de projetos de assen
tamento e a definição de áreas para concessão O avanço da fronteira agrícola no norte do Mato litros de leite ao ano.
de produtos e serviços florestais. Grosso e em Rondônia, além da atuação ilegal “É no diálogo que as coisas se resolvem”, diz
Odair José Borari, liderança borari da aldeia de madeireiras, já atinge o sul do Amazonas e o coordenador regional substituto da Funai,
Novo Lugar, manifestou preocupação com vem assustando as comunidades indígenas da Odiney Hayden. “Apesar de o convite para a
região. A denúncia é feita pelo líder indígena audiência ter chegado à instituição somente
a sobreposição entre o território indígena e
23 lotes permutados pelo governo do estado Walmir Parintintin, cujo povo vive nas proximi ontem à tarde, a Funai será representada por
em acordo com empresários vindos da região dades das BRs 230 e 319 da Transamazônica. um técnico do setor fundiário”, prometeu.
sul do Brasil, bem como a possibilidade de Segundo ele, forasteiros tomam conta da re- As áreas em questão são denominadas: Mu
concessão de novas permutas para a região. gião, levando o desmatamento e ao surgimento rutinga, Ponciano e Sissaíma, que além de
(Ministério Público Federal, 07/05/2009) de pastagens, ao mesmo tempo que trazem Autazes, abrangem também uma parte do
doenças com a contaminação das águas dos Careiro da Várzea. Demarcadas, as reservas
proCuraDor Diz Que ConFLito rios com agrotóxicos. irão abranger áreas do Autaz-Mirim, compre
Esse avanço sobre a floresta e as áreas indíge endendo o rio Mutuca, Sissaíma, Patauá, Vila
em Santarém nÃo terminou nas, afirma Walmir, vem ocorrendo desde o iní do Novo Céu, lago de Murutinga, parte do lago
Durante um mês, duas balsas que transporta cio da década, quando surgiram os primeiros Mastro, lago do Iauaçu, Paraná do Cuia e ramal
vam madeira foram retidas por moradores das problemas com o plantio da soja. As cabeceiras do Novo Céu.
comunidades da Gleba Nova Olinda, Reserva de rios e igarapés foram contaminadas, atingin A Faea pretende mostrar na audiência que a
Extrativista Tapajós/Arapiuns e Gleba Novo do as aldeias. Agora, prossegue ele, a principal demarcação pode trazer prejuízos porque para
Grande, em Santarém. Os manifestantes rei preocupação é com a ação de madeireiros, criar as reservas, será necessário desapropriar
vindicavam, entre outras coisas, a paralisação que “agem ilegalmente”. “As terras indígenas em torno de 400 propriedades. (A Crítica,
por completo de todos os planos de manejo correm o risco de serem atingidas, porque a 08/06/2010)
da gleba Nova Olinda e a demarcação de terras madeira que existe nas fazendas está acabando.
que eles denominam indígenas. Após um mês O governo não enxerga o problema.” (José
de protestos, os manifestantes atearam fogo no Carlos Mattedi, Radiobrás, 17/04/2007)
8.
436 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
suDEsTE Do PARÁ
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
N" Mapa Terra Indígena Povo População (n°, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
1 Alto Rio Guamá Guajá 1.425/Funasa: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 279.897 Nova Esperança do Piriá PA
Tembé Decreto s/n de 04(10/1993 publicado em 05(10/1993. Reg. CRI no Paragominas PA
Ka'apor município de Nova Esperança do Piriá, comarca de Vizeu, Matr. 1.518 Liv. Santa Luzia do Pará PA
2-E fl. 18 em 13/09/94. Reg. CRI no município de Santa Luzia do Pará,
comarca de Ourém, Matr. 5.410 Liv. 2-L fl. 79 em 14/09/94. Reg. CRI
no município e comarca de Paragominas, Matr. 4.849 Liv. 2-P fl. 189 em
17(10(94. Reg. SPU Certidão n° 07 em 29/07/94.
8 Anambé Anambé 124/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 7.883 Moju PA
Decreto 380 de 24(12/1991 publicado em 26/12/1991. Reg. CRI do
município e comarca de Moju (7.883 ha) Matr. 4.024, Liv. AT fl. 124v em
20/03/92. Reg. SPU Certidão no 09 em 05(08/94.
24 Apyterewa Paral<anã 452(Funai-Altamira: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 773.470 São Félix do Xingu PA
Decreto s/n de 19/04/2007 publicado em 20/04/2007. Reg. CRI no
município e comarca de São Félix do Xingu (773.470 ha) Matr. 3.291 Liv.
2-R fl. 94v em 08/05/2007. Reg. no SPU Certidão s/n em 14/10/2008.
17 Arara Arara 256(Funai-Altamira: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 274.010 Altamira PA
Decreto 399 de 24(12/1991 publicado em 26/12/1991. Reg. CRI no Brasil Novo PA
município e comarca de Altamira (206.862 ha) Matr. 21.084, Liv. 2-ACC Medicilândia PA
fl. 255 em 15/07/92. Reg. CRI no município e comarca de Uruará (35.530 Uruará PA
ha) Matr. 103 Liv. 2-A fl. 103 em 06/02/2006. Reg. SPU Certidão n°
04 em 22/06/94.
15 Arara da Volta Grande Arara llluFunai-Altamira: 2010 Declarada de posse indígena. 25.500 Senador José Porfírio PA
do Xingu Portaria 1.233 de 30/06/2008 publicada em 01(07(2008.
23 Araweté/Igarapé Ipixuna Araweté 397/Funai-Altamira: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 940.901 Altamira PA
Decreto s/n de 05(01/1996 publicado em 08/01/1996. Reg. CRI do São Félix do Xingu PA
município e comarca de São Félix do Xingu (175.126 ha) Matr. 1.485 Liv. Senador José Porfírio PA
2-H fl. 76 em O9(02(96. Reg. CRI do município e comarca de Sen. José
Porfírio, Matr. 522 Liv. 2-C fl. 29 em 09/02/96. Reg. CRI no município e
comarca de Altamira (721.149 ha) Matr. 22.357 Liv. 2-AAO fl. 220 em
04(03/96. Reg. SPU Certidão s/n em 20/05/97.
32 Badiõnkôre Kayapó Kuben Kran Ken 230(Funasa: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 221.981 Cumaru do Norte PA
Kayapó Decreto s/n de 23/06/2003 publicado em 24(06(2003. Reg. CRI no São Félix do Xingu PA
município de Cumaru do Norte, comarca de Redenção, Matr. 10.681 em
28/08/2003. Reg. CRI no município e comarca de São Félix do Xingu,
Matr. 2.707 Lv. 2-0 fl. 31 em 02/09/2003. Reg. SPU Certidão n° 06
em 10/02/2004.
18 Cachoeira Seca do Iriri Arara 86lFunai-Altamira: 2010 Declarada de posse indígena. 734.027 Altamira PA
Portaria 1.235 de 30/06/2008 publicada em 01/07/2008. Placas PA
Uruará PA
35 Capote/Jarina Kayapó 1.388/Funai-Colíder: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 634.915 Peixoto de Azevedo MT
Kayapó Metuktire Decreto s/n de 25/01/1991 publicado em 28/01/1991. Reg. CRI no Santa Cruz do Xingu MT
Tapayuna município de Luciara, comarca de São Félix do Araguaia (139.000 ha) São José do Xingu MT
Matr. 6.162 Liv. 2 fl. 1(2 em 16/04/86. Reg. CRI no município e comarca
de Colíder (495.915 ha) Matr. 1.790 Liv.2 em 7/07/87. Reg. SPU
Certidão s/n em 18/05/87. Reg. SPU Certidão n° 94 de 23/09/99.
19 Kararaô Kayapó Kararaô 54lFunai-Altamira: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 330.838 Altamira PA
Kayapó Decreto s/n de 14/04/1998 publicado em 15/04/1998. Reg. CRI no
município e comarca de Altamira (330.837 ha) Matr. 22.890 Liv. 2-AAO
fl. 284 em 04(03/99. Reg. SPU Certidão n° 2 em 06/01/99.
29 Kayapó Kayapó Gorotire 4.536/Funasa: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 3.284.005 Bannach PA
Kayapó Kuben Kran Ken Decreto 316 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI Matr. Cumaru do Norte PA
Kayapó Kol‹raimoro 18.807 Liv. 2-AAD fl. 129 em 21/12/87. Reg. SPU n° 03 em 27/10/87. Ourilândia do Norte PA
Kayapó São Félix do Xingu PA
20 Koatinemo Asurini do Xingu 154/Funai-Altamira: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 387.834 Altamira PA
Decreto s/n de 05(01/1996 publicado em 08/01/1996. Reg. CRI no Senador José Porfírio PA
município e comarca de Altamira (387.834 ha) Matr. 22.341 Liv. 2-AAO
fl. 197 em 05(02/96. Reg. SPU Certidão n° 09 em 23/09/2003.
N° Mapa Terra Indígena Povo População (n°, fonte. ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
28 Las Casas Kayapó Gorotire 3371Funasa: 2010 Homologada. 21.344 Floresta do Araguaia PA
Kayapó Decreto s/n de 2111212009 publicado em 2211212009. Pau D'Arco PA
Redenção PA
12 Mãe Maria Gavião Parkatêjê 6701Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 62.488 Bom Jesus do Tocantins PA
Decreto 93.148 de 2010811986 publicado em 2110811986.
Reg. CRI no município de São João do Araguaia, comarca de Marabá
(62.488 ha) Matr. 6.587 Liv. 2-Z fl. 1 em 17107185.
Reg. SPU PA-04 Liv. 2 fl. 4841485 de 08109186.
Reg. SPU Certidão n° 04 em 07103189.
4 Marakaxi Tembé 361GT Funai: 2007 identificada. Aprovada pela Funai. Sujeita a contestações. 720 Aurora do Pará PA
Despacho 25 de 2610112011 publicado em 2710112011.
31 Menkragnoti Kayapó 9841Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 4.914.255 Matupá MT
Kayapó Mekragnoti Decreto s/n de 1910811993 publicado em 2010811993. Reg. CRI no Peixoto de Azevedo MT
lsolados município de São Félix do Xingu (1.432.481 ha) Matr. 1.209 Liv. 2-F fl. Altamira PA
195 em 2616195. Reg. CRI no município de Altamira (3.336.390 ha) Matr. São Félix do Xingu PA
22.341 Liv. 2-AAOfl. 197 em 912196. Reg. CRI no município de Peixoto
de Azevedo (128.305 ha) Liv. 2-RG fl. IV em 27109193. Reg. CRI no
município de Matupá, comarca de Peixoto de Azevedo (17.078 ha) Matr.
1.742 Liv. 2-RG fl.1 em 12112193. Reg. SPU-MT Certidão n° 26 em
03105194. Reg. SPU-PA Certidão no 05 em 05107194.
11 Nova Jacundá Guarani Mbya 441Funasa: 2010 Dominial Indígena. Registrada no CRI. 424 Rondon do Pará PA
Terra adquirida pelos índios Guarani Mbyá que viviam na TI Mãe Maria,
com o apoio do CTI e recursos financeiros de Wilde Ganzen/Holanda. Reg.
CRI no município e comarca de Jacundá (424 ha) Matr. Escrit. Liv. 06 fl.
53v154 em 14102196.
33 Panará Panará 4801Funai-Colíder: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 499.740 Guarantã do Norte MT
Decreto s/n de 1810412008 publicado em 2210412008. Reg. CRI no Matupá MT
município e comarca de Altamira (375.296 ha) Matr. 24.220 Liv. 2-AAOX Altamira PA
fl. 248 em 0310712002. Reg. CRI no município e comarca de Guarantã do
Norte (3.747 ha) Matr. 5.796 Liv. 2-RG fl. 1 em 2910512002. Reg. CRI no
município e comarca de Matupá (114.974 ha) Matr. 5.795 Liv. 2-RG fl. 1
em 2910512002. Reg. SPU Certidão n° 14 em 0910912002.
16 Paquiçamba Yudiá 951Funai-Altamira: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 4.348 Vitória do Xingu PA
Decreto 388 de 2411211991 publicado em 2611211991. Reg. CRI no
município e comarca de Sen. José Porfírio (4.348 ha) Matr. 103 Liv. 2 A
fl. 108 em 12111190. Reg. SPU Certidão n° 10 em 05108194.
14 Parakanã Parakanã 8141Programa Parakanã: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 351.697 Itupiranga PA
2009 Decreto 248 de 2911011991 publicado em 3011011991. Reg. CRI no Novo Repartimento PA
município de ltupiranga, comarca de Marabá, (229.497 ha) Matr. 9.681
Liv. 2-AM fl. 1V12 em 29105187. Reg. CRI no município e comarca de
Jacundá (122.200 ha) Matr. 04 Liv. 2-A fl. 2 em 1810511987. Reg. SPU
Certidão n° 02 em 27110187.
6 Sarauá Amanayé 871GT Funai: 1998 Declarada de posse indígena. 18.635 Ipixuna do Pará PA
Portaria 772 de 1810412008 publicado em 2210412008.
13 Sororó Ail<ewara 3321Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 26.258 Brejo Grande do Araguaia PA
Decreto 88.648 de 3010811983 publicado em 3110811983. Reg. CRI no Marabá PA
município de São João do Araguaia, comarca de Marabá (26.257 ha) São Domingos do PA
Matr. 4.857 Liv. 2 RG fl. 1 em 07103189. Reg. SPU Certidão n° 05 em Araguaia PA
07103189. São Geraldo do Araguaia
5 Tembé Tembé 601Funai-Belém: 1998 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.075 Tomé-Açu PA
Turiwara Decreto 389 de 2411211991 publicado em 2611211991. Reg. CRI no
município e comarca de Tomé-Açu (1.075 ha) Matr. 2.970 Liv. 2 em
29101192. Reg. SPU Certidão n° 03 em 15106194.
22 Trincheira/Bacaiá Kayapó Kararaô 7461Funai-Altamira: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.650.939 Altamira PA
Kayapó Decreto s/n de 0211011996 publicado em 0411011996. Reg. CRI no Anapu PA
Xikrin Kayapó (Bacaiá) município e comarca de Sen. José Porfírio (1.451.203 ha) Matr. 535 São Félix do Xingu PA
Xikrin Kayapó Liv. 2-C fl. 42. Reg. CRI no município e comarca de Altamira (63.940 ha) Senador José Porfírio PA
Matr. 22.552 Liv. 2-AAOfI. 167 em 02104176.
Reg. CRI no município de Pacajá, comarca de Portel (25.482 ha) Matr.
1.075 Liv. 2-l fl. 142 em 04105198. Reg. CRI no município e comarca de
São Félix do Xingu (17.458 ha) Matr. 1.742 Liv. 2-l fl. 141 em 04105198.
Reg. CRI no município e comarca de São Félix do Xingu, área ll (91.833
ha) Matr. 1.743 Liv. 2-l fl. 142 em 04105198. Reg. SPU Certidão s/n em
01109198.
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
no município de Tucuruí, Matr. 3.092 Liv. 2-N fl. 269 em 24/05/90. Reg.
SPU/PA Certidão n° 72 em 12/12/83.
27 Xikrin do Cateté Kayapó 1.056/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 439.151 Água Azul do Norte PA
Xikrin Kayapó (Cateté) Decreto
município384
e comarca
de 24/12/1991
de Parauapebas
publicado(439.150 ha) Matr.Reg.
em 26/12/1991. 98 Liv.
CRI 2noRG fl. Parauapebas PA
Entrevista realizada por Vincent Carelli Indigenista, cineasta e secretário executivo do Vídeo nas Aldeias
KOKRENUM, OU “CAPITÃO” COMO É CHAMADO, Os Gavião começam a reconquistar a sua autonomia no final
ÉO LÍDER SOBREVIVENTE DO PRIMEIRO GRUPO dos anos 1970, assumindo a gestão de seus castanhais, com o
GAVIÃO CONTATADO EM 1957. AGORA COM MAIS apoio do general Ismarth, presidente da Funai, dos antropólogos
DE 80 ANOS, ELE SE DIZ DO TEMPO DO “ÍNDIO BRAVO Olimpio Serra e Iara Ferraz e dos juristas Dalmo Dallari e Fre
NO MATO”. TRAUMATIZADOS PELAS MORTES DO derico Marés. O contato com o grupo Gavião do Maranhão, que
CONTATO, ESCRAVIZADOS NA COLETA DE CASTANHA se juntou à turma de Kokrenum, possibilita novos casamentos,
PELO SPI/FUNAI, O GRUPO FOI QUASE EXTINTO. a retomada da língua e de sua vida cultural. Nessa época eu
PEDRO, UNS DOS ÓRFÃOS DO CONTATO CRIADOS iniciava o Vídeo nas Aldeias, e durante três anos registramos a
POR KOKRENUM, CONTA: “NAQUELE TEMPO O NOSSO realização dos grandes rituais que haviam sido abandonados
MUNDO GAVIÃO TINHA ACABADO, A GENTE QUERIA depois do contato.
É SER KUPEN(CIVILIZADOS)”
Kokrenum, também conhecido como “capitão”, em 2010, na TI Mãe Maria. Ele é o líder sobrevivente do primeiro grupo Gavião, contatado em 1957.
A CASTANHA “Ainda hoje eu falo: lembrem-se como a gente A COMIDA E A DOENÇA “Eles estão se estragando, só com a
carregava paneiro de castanha pesado debaixo de chuva, trazia de comida dos kupen, aí eu choro. Eles só compram as coisas do
longe, se matando para nada. Eles pegavam a castanha, vendiam, kupen. Eu não gosto das coisas do Kupen. Eu falo demais para
ficavam com um bocado e só davam o resto para a gente. A gente eles: por que vocês não largam isso, para ver se vocês vivem
gastava tudo no mesmo dia e não ficava com nada. Eu ainda fico mais? Eu peço muito para eles: por que pelo menos dois de
com raiva, só de lembrar. Eles vendiam para eles mesmos e a vocês não param com isso e fazem alguma coisa? Senão vocês
gente ficava só esperando. Kupen mandava em mim, para eu vão se acabar tudinho com barriga grande. Quando seus filhos
Para Kokrenum é triste o fato de que os jovens gavião não se interessem mais por brincar. Refletindo sobre o filme que o Vídeo nas Aldeias gravou
em 2010, Kokrenum diz aos jovens: “Quando eu morrer vai ficar a minha imagem. Aívocês vão ver o filme e fazer como fazia lá atrás”.
OS KAYAPÓ QUE, ASSIM COMO OS XIKRIN, SE vamente denominados Kayapó; e (3) os Irã-a mrayre, extintos na
AUTODENOMINAM MEBENGOKRE, FORMAM UM DOS década de 1940. Enquanto a separação do grupo ancestral Xikrin
MAIS POPULOSOS E POLITICAMENTE INFLUENTES do ancestral dos demais grupos atuais Mebengokre (Kayapó)
GRUPOS INDÍGENAS DO BRASIL, E HABITAM ocorreu provavelmente a cerca de três séculos, todas as cisões
ATUALMENTE GRANDES PORÇÕES DE TERRAS que originaram os subgrupos Kayapó, ocorreram apenas após o
NO SUDESTE DA AMAZÔNIA. POSSUEM HÁBITOS início do século XX. Os Kayapó, subgrupo Mebengokre objeto deste
TRADICIONALMENTE SEMINÔMADES E, DESDE artigo, habitam hoje as TIs Kayapó, Menkragnotí, Baú, Capoto/
OS PRIMEIROS REGISTROS DO GRUPO, JÁ ERAM Jarina, Badjonkôre, Las Casas e Kararaô, que juntas, correspon
DESCRITAS SUAS GRANDES PERAMBULAÇÕES AO dem a uma área de 10,9 milhões de hectares (Figura 1).
LONGO DO INTERFLÚVIO ARAGUAIA E TAPAJÓS, ASSIM
COMO AS CONSTANTES CISÕES DE SUAS ALDEIAS
AS CISõES KAyAPÓ NAS
úLTIMAS quATRO DéCADAS
Após o contato, apesar de um conjunto de mudanças ter es- Com exceção da comunidade de Gorotire, cujo contato pacífico
timulado a sedentarização das comunidades Kayapó, cisões e ocorreu em meados da década de 30, o contato de todas as de
formações de novas aldeias continuam ocorrendo. Neste artigo, mais comunidades Kayapó ocorreu após 1950. Na década de 50
tentamos preencher a lacuna de informações existente em rela os subgrupos Kayapó encontravam-se divididos em 10 aldeias,
ção às cisões recentes dos Kayapó ocorridas até 2010, discutindo com aproximadamente 1.550 habitantes no total, excetuando
suas motivações, assim como outros fatores que influenciam a se os grupos isolados. Somente a partir da década de 1970 os
mobilidade de seus grupos em seus territórios. Kayapó entraram em uma fase de recuperação demográfica,
após as epidemias decorrentes do contato, voltando a originar
Os Mebengokre são um grupo indígena pertencente ao tronco
novas comunidades.
linguístico Macro-Jê, família linguísticaJê, cuja origem parece ter
ocorrido na região entre os Rios Araguaia e Tocantins. O grupo Em 1976, uma cisão na comunidade de Gorotire originou a co-
Mebengokre ancestral sofreu cisões que originaram três grupos munidade de Kikretum. As comunidades de A´Ukre e Kranhãpare
principais: (1) Os Pore-kru, ancestrais dos atuais Xikrin; (2) os surgiram de cisões da comunidade de Kuben-Kran-Ken em 1979
Gorotire, ancestrais dos atuais subgrupos Gorotire, Kuben-Kkran e 1988, respectivamente. Da cisão ocorrida em A´Ukre, em 1995,
Ken, Kokraimoro, Kararaô, Menkragnotí e Metuktire, aqui coleti originou-se a comunidade de Moikarakô, enquanto que a cisão
ocorrida em Kranhãpare, em 2007, deu origem à comunidade formação de três novas aldeias, Kâkamkuben, Omeikrankum
de Kawatire. Cisões ocorridas na comunidade de Gorotire em e Koróróti. Já a aldeia Metuktire surgiu em 1985 após a junção
1994, 1996 e 2003 originaram as comunidades de Kokokuedjã, das antigas aldeias de Krétire e Jarina. Em 1989, uma cisão de
Las Casas (reocupação) e Kriny, respectivamente. Em 1999, Metuktire originou a aldeia Kapot. Piaraçú, também originária da
surgiu a comunidade de Pukarãrãnkre em decorrência de uma aldeia Metuktire, surgiu no final da década de 80, inicialmente
cisão na comunidade de Kokraimoro. Mais recentemente, em como um Posto de Vigilância. Cisões recentes das comunidades
2009 e 2010, cisões na comunidade de Kikretum originaram as de Metuktire e Piaraçu, uma delas ocorrida em 2003 e as de
comunidades de Apeití e Turedjam, respectivamente. Dentro do mais após 2007, originaram as comunidades de Jatobá, Kenpó,
subgrupo Mekragnotí, cisões na comunidade de Pykany em 1999 Kameretikô, Bytire, Pykatãkwyry, Kromare e Krétire. Atualmente
e 2010 deram origem às comunidades de Kendjam e Pungraiti, os Mebengokre estão distribuídos em 40 comunidades e somam
respectivamente. Também dentro do subgrupo Mekragnotí, uma cerca de 8.978 pessoas, sendo 1818 do subgrupo Mebengokré
cisão na comunidade de Kubenkókre, em 2007, resultou na Xikrin (Tabela 1).
1 Fonte: Siasi-Funasa/MS, 12/2010; 2 Data de reocupação; 3 Data de retorno da maior parte dos Xikrin que se encontravam no Posto Las Casas (cerca de 300) para
a região do Cateté; 4 Data aproximada; 5 Data da cisão da aldeia Bacajá que originou a antiga aldeia Tricheira (atual Pàtkrô).
PRé E PÓS CONTATO ATé A DéCADA DE 1970 serviços e mediadoras das relações com outras comunidades
Os históricos de origens e cisões dos Kayapó até o final da década e com autoridades governamentais, além de estimularem a
de 80 foram descritos detalhadamente por Nimuendajú, Arnaud, sedentarização, reduziram os conflitos entre as comunidades
Verswijver e Turner. Segundo esses autores, conflitos entre grupos Kayapó, assim como entre elas e comunidades de outras etnias.
sob o comando de algumas lideranças, desencadeados por acu O poder tradicional das lideranças de manter a coesão entre os
sações de feitiçaria, ciúmes, conflitos sobre decisões relacionadas membros de uma comunidade foi assim enfraquecido e criou-se
a guerras com outros grupos Kayapó ou outras etnias, assim um cenário favorável para cisões que antes seriam inibidas por
ameaças de sanções violentas, especialmente sobre subgrupos
como sobre decisões de mudanças de aldeamento pela busca por
localidades com maior abundância de determinados recursos menores e, consequentemente, mais vulneráveis.
naturais, foram os principais motivos que levaram às cisões nas Nas décadas de 1960 e 1970, as comunidades Kayapó ainda ti
comunidades Kayapó durante o período que antecedeu o contato nham pouca inserção nas atividades econômicas da região. Neste
com a sociedade envolvente. período a comercialização da castanha-do-Brasil com o auxílio
Após os primeiros contatos com a sociedade nacional, no en da Funai representava aos Kayapó a mais relevante possibilidade
para a aquisição de bens dos não-indígenas, embora todo o pro
tanto, novos fatores passaram a influenciar as tensões internas
e, consequentemente, a dinâmica de cisões dentro das comu cesso de venda e aquisição destes bens fosse intermediado por
nidades Kayapó. Mesmo antes dos primeiros contatos pacíficos funcionários da Funai. Além disso, com o início da ocupação do
com o SPI, epidemias originárias dos contatos esporádicos com entorno de suas aldeias, alguns Kayapó passaram a levar artesa
colonos resultaram em grandes conflitos internos e até cisões natos e produtos da floresta para trocar em algumas fazendas do
nas aldeias Kayapó devido a acusações de feitiçaria por parte entorno. Assim, o acesso a recursos naturais com valor comercial
de grupos rivais. Paralelamente, a atração exercida por novas ou de troca passou a influenciar os processos de cisão.
tecnologias e bens de consumo encontrados com ribeirinhos
(seringueiros e gateiros), em vilarejos e nos centros urbanos DéCADAS DE 1980 E 1990 – OS CICLOS DO
da região, levaram a cisões em comunidades onde a decisão OuRO E DO MOGNO
pela mudança para localidades com maior facilidade de acesso
Na década de 1980, o contexto regional no qual os Kayapó estão
a tais bens não foi consenso na população, devido ao receio das
inseridos passa por um processo de radical transformação, com
conseqüências do contato.
a abertura de grandes fazendas no norte do Mato Grosso e sul
A partir dos primeiros contatos pacíficos, nas décadas de 1940 do Pará, seguida da exploração de ouro a céu aberto (garimpos)
e 1950, o fornecimento de bens de consumo foi a estratégia e da exploração madeireira. Enquanto a atividade garimpeira,
utilizada pelo SPI para a “atração e pacificação” dos Kayapó, concentrada nos territórios de poucas comunidades, como
buscando reverter o quadro de ataques dessa população aos Gorotire e Kikretum, teve seu auge na década de 1980 e passou
regionais, cuja motivação principal era a obtenção destes itens. por uma progressiva retração no início da década de 1990, a
Esta e outras estratégias de pacificação implementadas pelo SPI exploração de mogno cresceu significativamente nos anos 1990,
e, posteriormente, pela Funai, como a instalação de agências do envolvendo a maioria das comunidades Kayapó, inclusive as mais
governo nas aldeias e da atuação destas como prestadoras de isoladas geograficamente. O envolvimento com as atividades
Aldeia Kikretum, uma das que formam a Terra Indígena Kayapó no sudeste do Pará. Ao fundo, o Rio Fresco.
Castanha-do-Brasil: Geração de
Renda e Proteção Territorial
SE NO FINAL DA DÉCADA DE 1980 E ANOS 1990 OS Por ser uma árvore nativa e apresentar uma ampla distribuição
KAYAPÓ DO SUL DO PARÁ SE DESTACARAM PELO nas florestas da região, sua exploração também contribui para a
ENVOLVIMENTO COM ATIVIDADES PREDATÓRIAS conservação dessa área conhecida como “Arco do Desmatamen
REALIZADAS EM SEUS TERRITÓRIOS, COMO A to”. Este vínculo direto com a conservação florestal favorece a
MINERAÇÃO DE OURO E A EXPLORAÇÃO DE MOGNO, captação de recursos junto a organizações interessadas nos diver
NOS ÚLTIMOS ANOS A MAIORIA DAS COMUNIDADES sos benefícios gerados pela conservação das florestas, incluindo
KAYAPÓ TEM BUSCADO APOIO PARA PROTEGER a manutenção do clima e regime de chuvas e a conservação da
SEUS TERRITÓRIOS E DESENVOLVER INICIATIVAS biodiversidade. Outro importante aspecto que torna a castanha
SUSTENTÁVEIS DE GERAÇÃO DE RENDA um produto promissor para a geração de renda é a existência
de mercados consumidores, tanto no Brasil quanto no exterior,
Este artigo descreve tais iniciativas desenvolvidas em três associado à possibilidade de agregar valor a este produto através
comunidades Kayapó – A’Ukre, Moikarakô e Kikretum – pela de intervenções simples em sua cadeia produtiva, gerando mais
Associação Floresta Protegida (AFP), organização indígena não benefícios para as comunidades produtoras. Por fim, a coleta de
governamental fundada em 2002 que, atualmente, representa castanha contribui diretamente para a proteção territorial, para
onze comunidades Kayapó, dez delas localizadas na TI Kayapó e a complementação da dieta, assim como para o fortalecimento
uma localizada na TI Menkragnoti, no sul do Estado do Pará. cultural. O fato de muitos castanhais estarem localizados em
regiões vulneráveis dos territórios Kayapó, próximos aos seus
POR quE CASTANHA? limites, faz com que a presença dos Kayapó durante o período de
A castanha é um recurso extremamente abundante nos territórios coleta ou de manutenção das trilhas, iniba a prática de atividades
ilegais e predatórias por terceiros.
de muitas comunidades Kayapó, favorecendo a sustentabilidade
de sua exploração, assim como sua viabilidade econômica e seu Os coletores têm acesso a regiões onde, pelo maior distanciamen
potencial para atender as demandas das comunidades. A coleta to das áreas mais utilizadas pela comunidade, a disponibilidade
da castanha é uma atividade tradicional, sobre a qual os Kayapó de caça é significativamente maior, favorecendo o aumento do
têm total conhecimento e domínio, não exigindo, como outras consumo de proteína animal. Além disso, nas regiões próximas
alternativas de geração de renda, processos de capacitação. Além de muitos castanhais são encontrados recursos florestais que
disso, a renda gerada por esta atividade é totalmente compatível não ocorrem nas proximidades das aldeias. Assim, durante
com a capacidade de gestão das comunidades Kayapó e distribu a coleta de castanha, os Kayapó também desenvolvem outras
ída entre a grande maioria de seus membros, já que participam atividades extrativistas, como a coleta de frutos, de remédios
da coleta homens e mulheres, jovens e adultos. tradicionais e de materiais para a confecção de artesanato. Por
embarcação de metal de 12 metros de comprimento com AAFP também está monitorando a contaminação por aflatoxinas
capacidade para transportar cerca de sete toneladas de carga. da castanha produzida pelas comunidades Kayapó em questão,
Esta embarcação contribuirá significativamente para melhor visando se adequar às exigências dos mercados mais restritivos,
estruturar a cadeia produtiva da castanha-do-Brasil nas co como o mercado europeu.
munidades Kayapó, facilitando o escoamento da produção e
reduzindo seus custos. RESuLTADOS
Como resultado direto da estruturação destas iniciativas a
MONITORAMENTO DA SuSTENTAbILIDADE DA
ExPLORAÇÃO E CERTIFICAÇÃO ORGâNICA AFP conseguiu viabilizar a comercialização total das safras de
2008/2009 (60 toneladas), 2009/2010 (100 toneladas) e da sa
Em parceria com pesquisadores do Inpa, a AFP tem realizado fra de 2010/2011 (100 toneladas) das comunidades de A´Ukre,
a avaliação da sustentabilidade da exploração de castanha pelos Moikarakô e Kikretum por preços bastante superiores ao preço
Kayapó. Os resultados preliminares desta pesquisa indicam que a mínimo estabelecido pelo governo federal para a castanha do
exploração realizada pelos Kayapó é sustentável e, inclusive, que Brasil. Nas safras mencionadas, o hectolitro da castanha dos
existe a possibilidade da atividade ser expandida em algumas Kayapó foi comercializado a R$ 78,00, R$ 72,00 e R$ 90,00, res
comunidades onde é muito alta a abundância de castanhais. A pectivamente, o que representa preços entre 37 e 71% superiores
parceria com tais pesquisadores também viabilizou a elabora ao preço mínimo deste produto.
ção do “Projeto extrativista sustentável orgânico”, documento Os bons resultados alcançados por estes projetos nas comu
exigido pela empresa que realizou a certificação orgânica das nidades de A’Ukre, Moikarakô e Kikretum atraíram a atenção
iniciativas de castanha-do-Brasil das comunidades Kayapó de outras comunidades Kayapó (Kokraimoro e Pukararankre),
apoiadas pela AFP. que passaram recentemente a fazer parte destas iniciativas. No
TERRAS,
APÓS QUASE
PREDATÓRIAS
ATIVIDADES
DUAS
DE GARIMPO
DÉCADAS
ESSASEINICIADAS
MADEIRA
DE ATIVIDADES
EM
PELO
SUAS em andamento com as mulheres das aldeias Pukanu e Pungraiti
na Terra Indígena Menkragnoti no Estado do Pará, sendo a aldeia
Pukanu a base do projeto.
GOVERNO FEDERAL NA DÉCADA DE 1980, OS KAYAPÓ O objetivo do projeto é o de preservar e divulgar a cultura desse
DA MARGEM OESTE DO RIO XINGU ABANDONARAM
povo por meio de uma alternativa de renda sustentável para es-
ESSAS PRÁTICAS E ESTÃO CONVENCIDOS DE QUE AS
sas mulheres, que não dominam o português e são símbolo da
ALTERNATIVAS ECONÔMICAS SUSTENTÁVEIS SÃO O
resistência e sobrevivência da cultura kayapó. São elas as grandes
CAMINHO PARA GARANTIR A SOBREVIVÊNCIA DAS
responsáveis por transmitir sua cultura aos seus filhos e assim
FUTURAS GERAÇÕES. APESAR DESSA DETERMINAÇÃO,
possibilitar sua perpetuação.
AINDA CARECEM DE POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS
A ENFRENTAR ESSE GRANDE DESAFIO Pelas mãos dessas mulheres, os grafismos tradicionais são trans
feridos de seus corpos para os tecidos e adereços de miçangas.
Pintura
Menire,
em na
tecido
aldeia
é uma
Pukanu,
das atividades do Projeto
TI Menkragnoti (PA).
CENáRIO
Em julho de 2010 ocorreu, na aldeia Pukanu, uma cisão
tradicional entre os Kayapó e um grupo formou uma nova
Em 2008, painéis pintados pelas mulheres do Projeto foram selecionados
para participar da 2ª Off Bienal de São Paulo. aldeia de nome Pungraiti.
A SEDENTARIZAÇÃO E FIXAÇÃO DA ALDEIA, EM PARTE Ao longo do processo de aproximação com a sociedade nacional,
POR CONTA DOS BENEFÍCIOS DA PISTA DE POUSO, que teve início em 1968, os Panará sofreram acentuada perda
ESTRADA, ESCOLA E POSTO DE SAÚDE, NÃO FORAM populacional. Ao se dar o contato, em 1973, a população era de
ACOMPANHADAS, EM NÃCEPOTITI, DA IMPLANTAÇÃO 140 a 150 indivíduos; estudos indicam que, no início da década
DE NECESSÁRIA ESTRUTURA DE SANEAMENTO BÁSICO anterior, esse número situava-se entre 350 e 500. Dois anos após o
E DE ATENÇÃO À SAÚDE, DE RESPONSABILIDADE contato, em 12/10/1975, face à contínua queda populacional e aos
DO MINISTÉRIO DA SAÚDE POR MEIO DO DSEI. AS riscos decorrentes da proximidade da rodovia Cuiabá-Santarém,
EQUIPES DE SAÚDE SÃO INSUFICIENTES E NÃO HÁ os Panará que haviam sobrevivido foram transferidos pela Funai
ATENDIMENTO MÉDICO REGULAR NA ALDEIA. OS para o Parque Indígena do Xingu (PIX), medida controversa, à
SERVIÇOS DE SAÚDE DE REFERÊNCIA, NA CIDADE DE época justificada pela necessidade de preservação física do grupo
COLIDER (MT), DEIXAM MUITO A DESEJAR, TANTO frente ao genocídio em curso, decorrente da ocupação de seu
EM ACESSO COMO EM EFICÁCIA território pelos colonizadores. Ingressaram no PIX 79 indivíduos
Odochefe
filmeAkã
Kiãsãrâ
Panará Jâty (O amendoim
Yõ durante as gravações
da
TAbELA 2. POPuLAÇÃO PANARá POR GRANDES GRuPOS DE IDADES E SExO, EM 1975, 1995 E 2007 (%)
Parasitárias
Doenças do
Aparelho Respi 3 20,0 4 25,0 7 22,6 2 22,2 2 40,0 4 28,6 1 16,7 5 33,4 6 28,6
ratório
Causas Externas 1 6,7 3 18,7 4 12,9 2 22,2 _ 2 14,3 2 33,2 2 13,3 4 19,0
Afecções Originá-
rias do Per. 2 13,3 1 6,3 3 9,7 _ _ _ _ _ _
Perinatal
Congênitas
Malformações _ _ _ _ _ _ 1 16,7 _ 1 4,8
Puerpério
Gravidez, Parto e _ 1 6,3 1 3,2 _ _ _ _ 1 6,7 1 4,8
Total 15 100,0 16 100,0 31 100,0 9 100,0 5 100,0 14 100,1 6 100,0 15 100,0 21 100,0
* De acordo com a 10ª Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, 1993.
Fonte de dados brutos: Projeto Xingu/DMP/Unifesp/EPM.
Nos primeiros 20 anos após a remoção dos Panará para o PIX, houve uma redução de 73% no coeficiente de mortalidade infantil. De 1995 a 2006, de volta ao seu
território tradicional, a redução foi de 26%. Apesar da queda, os valores da mortalidade infantil panará permanecem mais elevados que os da população brasileira.
OS ÚLTIMOS ANOS FORAM INTENSOS PARA OS implantação do empreendimento hidrelétrico, os não indígenas
ARAWETÉ, MARCADOS POR BOAS NOTÍCIAS E que virão trarão ainda mais doenças à região.
GRANDES PREOCUPAÇÕES. HOUVE UM CRESCIMENTO
POPULACIONAL DE 14% E O NÚMERO DE ALDEIAS Quanto ao território e aos recursos naturais, os Araweté se preocu
MAIS QUE DOBROU, PORÉM A SAÚDE CONTINUA pam com o aumento das invasões, especialmente de madeireiros
RUIM. HÁ SUSPEITAS DE INVASÕES À TERRA, E A e dos pescadores que levam bebidas para perto de suas aldeias.
POSSIBILIDADE DE IMPLANTAÇÃO DA UHE BELO Falas de diversos Araweté2 testemunham que os pescadores ficam
MONTE TRAZ UM CENÁRIO DE INCERTEZAS muito próximos às aldeias, chegando até a entrar no Igarapé Ipi
E INSTABILIDADE TERRITORIAL xuna, que fica completamente dentro da TI. Os Araweté apontam
que a invasão de pescadores a seu território já é preocupante e
a perspectiva é de agravamento por conta da usina. (…) “Para
A população Araweté aumentou e está se dividindo em aldeias lá para baixo, onde vai ter barragem, não vai ter lugar para os
menores, que se aproximam do padrão tradicional de aldeias pescadores, então eles vão vir para cá”, explica Tatuawy. Além
familiares, ocupando uma área maior da Terra Indígena. De 350 dos pescadores, eles suspeitam de invasão por madeireiros ou
indivíduos habitando duas aldeias, em 2005, os Araweté passaram fazendeiros na cabeceira desse igarapé, que nasce dentro da TI
para 400 pessoas, morando atualmente em cinco aldeias. Três e passa pelas aldeias Pakañã, Ipixuna eJuruãty. “Lá em Belém
delas se localizam às margens do Igarapé Ipixuna – Ipixuna, não tem mais mata, só tem fazenda, não tem mais árvore. [...]
Pakañã eJuruãty –, enquanto as duas mais recentes se localizam agora estão vindo para cá”, reforça Tosan.
no Rio Xingu – Parataty e Araditi.1
A preocupação dos Araweté acerca dos impactos da UHE Belo
É pelo Rio Xingu que chegará a principal preocupação dos Ara Monte é confirmada pelo Estudo de Impacto Ambiental (Muller
weté: os impactos advindos da implantação da Usina Hidrelétrica et al., 2009) e pelo Parecer Técnico nº 21, no qual consta que “o
(UHE) de Belo Monte. maior risco às terras indígenas se encontra na dinamização da
A perspectiva de implantação da usina trouxe para os Araweté pressão sobre recursos naturais, exacerbando os processos e pro
muitas dúvidas e apreensões. E uma certeza: o aumento da pres blemas já existentes na região” (Cmam/Cgpima-Funai, 2009).
são sobre seu território e seus recursos. Os Araweté não sabem
Afora a implantação da UHE Belo Monte, os Araweté se encontram
se terão acesso à energia elétrica, nem quantas barragens serão
na área de influência de mais três grandes empreendimentos:
construídas, e os mais velhos estão assustados, pensando que
o asfaltamento das rodovias BR-230 e BR-163 e a construção da
suas aldeias serão alagadas.
Linha de Transmissão de Tucuruí àJuruparí/PA. Se os últimos
Aincerteza com relação à saúde também é grande. O cenário hoje, cinco anos foram intensos para os Araweté, o futuro não promete
conforme eles apontam, é o de falta de remédios; alto número ser diferente. O que se pode prever são profundas transformações
de casos de diarreia e malária; e de excesso de pessoas na Casa na região e que podem afetar a qualidade de vida desse povo.
do Índio e no hospital em Altamira. Eles acreditam que, com a (abril, 2011)
bIbLIOGRAFIA NOTAS
Cmam/Cgpima-Funai. Parecer Técnico nº 21: Análise do Componente Indígena 1 Informações levantadas em visitas de campo em 2005 e 2010.
dos Estudos de Impacto Ambiental. Brasília: Funai, 2009. 99p.
2 Todas falas dos Araweté que baseiam este texto constam das entrevistas
Muller et al. Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte: Volume 35, meio so informais apresentadas no Anexo do Estudo de Impacto Ambiental, Vol. 35,
cioeconômico e cultural, apêndice Tomo 6, Estudos Etnoecológicos, Estudo Tomo 6 (2009).
de Impacto Ambiental. Brasília: Eletrobrás, Ministério de Minas e Energia e
Governo Federal, 2009. 284 p.
A TENTATIVA DO GOVERNO E DE EMPRESAS DE são considerados diretamente atingidos pelo governo e, portan
VIABILIZAR O COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO to, não foram ouvidos como prevê o artigo 233 da Constituição
MONTE TEM MAIS DE 30 ANOS. A PARTIR DE 2007 brasileira e a Convenção 169 da OIT. Essa questão foi motivo de
O PROJETO FOI RETOMADO COM VORACIDADE ações judiciais e de diversas recomendações ao Estado brasileiro,
ATROPELANDO A LEGISLAÇÃO, O DIREITOS DOS como as da Plataforma Dhesca e da OEA, para parar o processo
POVOS INDÍGENAS, EXTRATIVISTAS, POPULAÇÕES de licenciamento de Belo Monte.
RURAIS E URBANAS
O discurso do governo e dos empreendedores é de que estão
realizando uma obra exemplar para o país, com excelente
Belo Monte, principal projeto do PAC, do governo brasileiro, prevê custo-benefício, ampla participação da sociedade e investimen
a construção da terceira maior hidrelétrica do mundo, atrás tos nunca antes vistos na preparação de uma região para uma
somente de Três Gargantas, na China, e de Itaipu na fronteira do grande obra. Infelizmente, e como alertado repetidamente pelos
Brasil com o Paraguai. Está prevista a instalação de turbinas com movimentos sociais, esse discurso está muito distante do que
potencial de gerar 11.233 MW, divididas em duas casas de força, se verifica na prática.
uma ao lado do barramento principal, cerca de 30 km abaixo de
Altamira e uma na Vila de Belo Monte no Rio Xingu, cerca de 100 quAIS AS CONSEquÊNCIAS
km do primeiro barramento projetado. A água será desviada por DESSE PROCESSO ATROPELADO?
um canal, formando um lago artificial de 668 mil ha, e a região
onde vivem mais de 20.000 pessoas será alagada. Os resultados apontam para grandes conflitos socioambientais,
de diversas formas, em diversas frentes, sem controle e com
Ao longo do trecho entre a primeira e a segunda barragem, cha
consequências irreversíveis. Violações de direitos humanos e
mado de Trecho de Vazão Reduzida, a TI Paquiçamba, TI Arara da
conflitos na região dos canteiros de obra já são esperados e
Volta Grande e centenas de ribeirinhos ficará permanentemente
bem conhecidos – a exemplo da construção das hidrelétricas
com o rio seco em suas portas, afetando para sempre a navegação,
de Tucuruí (PA) e, mais recentemente, de Jirau e Santo Antônio,
a pesca, a dinâmica de caça e diversos outros aspectos que tornam
no rio Madeira (RO). Avolumam-se brigas, drogas, prostituição,
suas vidas possíveis. Também se reduzirá a vazão do rio Bacajá,
exploração do trabalho, desmatamentos irregulares, especulação
principal afluente nesse trecho, afetando a TI Trincheira-Bacajá.
imobiliária, ocupações desordenadas etc.
Sobre essa terra não há estudos dimensionando os danos que
os índios podem vir a sofrer com a instalação da hidrelétrica. Belo Monte, porém, tem características particulares, como a
Não há também estudos dimensionando os danos nas diversas possibilidade de secar cerca de 100 km do rio Xingu; alagar
populações ribeirinhas. Por não serem alagados, os indígenas não parcialmente Altamira, a principal cidade da região; e, dada a
sua magnitude, necessitar de enorme quantidade de trabalha aparelhos públicos de saúde, educação, saneamento, segurança,
dores e recursos naturais, em uma região já bastante explorada, dentre outros. Cabe ressaltar que tais estruturas não atendem
com situação fundiária bastante precária e histórico de graves sequer à demanda atual da região.
conflitos.
Haverá pressão sobre os recursos naturais muito além da região
Está previsto, segundo o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), um de instalação da usina, colocando em risco a vida de populações
fluxo migratório de 98.000 pessoas e, segundo especialistas, de tradicionais indígenas e extrativistas. Com o aumento do consumo
mais de 200.000 para a região de Altamira, o que sobrecarregaria do peixe nas cidades da região, a pressão irá recair sobre as Resex
(análise
nômica
Avaliação
ao longo
etécnica,
ambiental)
de
dolocais
rioeco- Avaliação
econômica
técnica e Preparação
Editais dos Detalhamento
Projeto do Projeto Executivo/
Construção
Operação
Estudos
bientais
Estudos
cos,
Interação(EIA/Rima,
Socioam-
Comunicação
Antropológi-
Social) e
(PBA)
Projetos
Programas
Ambientais
e Implantação
gramas
Ambientais
e Projetos
de Pro- Execução de ações
e acompanhamento
ambiental
Reuniões
Comunidade
com a Audiência
Pública Indígena
Oitiva Prévia (LP)
Licença Licença de(LI)
Instalação Licença de
Operação (LO)
Seca. Só essas condicionantes levariam mais de cinco anos para previstos para investimento nas condicionantes foram aplicados
serem cumpridas. Sem o cumprimento, o projeto não poderia ter a até o momento e apenas cinco de 81 condicionantes haviam sido
Licença de Instalação. cumpridas totalmente. Mesmo assim, o empreendedor já protocolou
o pedido para a Licença de Instalação Definitiva.
O projeto de construção foi a leilão em abril de 2010, mesmo com
ações judiciais de irregularidades deferindo sua suspensão e di Isso significa, na prática, a confirmação de uma grande irres
versas manifestações sociais contrárias no Brasil inteiro. Ganhou ponsabilidade. Da parte dos empreendedores, por não honrarem
o consórcio Norte Energia (Nesa), formado às pressas com grande compromissos assumidos para a preparação da região; da parte do
articulação do governo brasileiro e composto em sua maioria por governo brasileiro, por aceitar o processo feito forma atropelada, sem
empresas estatais, fundos de pensão de empresas estatais (74%) e critérios técnicos, e sem respeitar, em diversos aspectos, a própria
empresas privadas (26%). A Nesa começou a etapa seguinte do pro legislação do país.
cesso de licenciamento: o cumprimento das 66 condições da Licença
São 12 ações esperando julgamento, muitas delas deferidas limi
Prévia e a elaboração dos Planos Básicos Ambientais (PBAs), mais
narmente em 1ª instância pela Justiça Federal, mas caçadas pelo
uma pilha de papéis sem analise e nem críticas.
Tribunal SuperiorFederal da 1ª Região em Brasília, sempre em tempo
Foi solicitada então uma Licença de Instalações Parciais, figura recorde. Os motivos alegados são sempre os mesmos: justificam que
inexistente na legislação brasileira. Ela foi obtida em janeiro de se trata de uma obra de relevância para o país, que não pode ser
2011, sem que as condicionantes fossem cumpridas. Uma avaliação interrompida. Assim as ações devem aguardar julgamento de mérito
do MPF de maio de 2011 afirmou que somente 1,3% dos recursos enquanto o processo continua. (Marcelo Salazar, maio, 2011)
dores sobre o cumprimento de condicionantes. A Norte Energia o empoderamento de populações locais (agricultores, indígenas,
(Nesa) é a única a produzir informações sobre o cumprimento das extrativistas, populações citadinas). Esse empoderamento deve
condições prévias e implantação de Planos Básicos Ambientais passar por (1) garantir a essas populações os seus territórios
(PBAs). Há também um sério conflito de interesses na fiscaliza de direito; (2) fortalecer suas formas de organização social; (3)
ção do licenciamento, pois o órgão ambiental responsável pela buscar atrair políticas básicas de educação, saúde e renda; e
fiscalização é o Ibama e o maior acionista da Nesa é o próprio (4) conduzir o processo de formação política para que possam
governo. Deve ser criada, portanto, uma instância externa de compreender melhor o momento que o país e a região atravessam
avaliação do cumprimento das condicionantes em formato de e as demandas da sociedade sobre eles. Esse é um trabalho de
auditoria. Porém, para que tenha legitimidade, essa instância deve fôlego, de longo prazo, porém basal para qualquer mobilização
obter credibilidade tanto dos movimentos sociais e ONGs, quanto social consistente contra os atropelos crescentes de direitos que
de setores dos governos locais, estadual e federal, de grupos de estamos assistindo a cada dia. No fim, são estas populações que
empresários, Defensoria Pública, Ministério Público Federal etc. ficarão na região e sentirão as consequências diretas de mandos
Esse observatório pode conceder ao processo mais transparência e desmandos do governo e empresas.
e irá evidenciar o não cumprimento das condicionantes como
Belo Monte é um dos 63 projetos de barramentos previstos para
manda a Lei.
os rios da Amazônia. Seguramente é o que oferece mais resistên
Os movimentos sociais e ONGs devem avaliar a participação em cia, no qual estão bem documentadas as inúmeras violações de
espaços formais de decisão como, por exemplo, o recém criado direitos. Temos a enorme responsabilidade de aprender com essa
“Conselho do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do luta, buscar a criação de novos marcos legais para processos de
Xingu (PDRS Xingu)”, destinado a investir R$500 milhões para o licenciamento e qualificar o melhor possível os desafios que os
desenvolvimento da região da Transamazônica e do Xingu, que diversos povos enfrentarão, nos próximos anos, preparando-os para
envolve onze municípios. um novo ciclo de embates e luta por direitos. Em especial o direito
Por fim, há que se buscar condições de fazer investimentos para de permanecer em suas terras com dignidade. (maio, 2011)
Equipe de edição
DEPOIS DE 20 ANOS, O GOVERNO FEDERAL RETOMA TEMOR É QUE OS IMPACTOS DE BELO MONTE SERÃO
A CONSTRUÇÃO DE BELO MONTE. OS VÁRIOS MAIORES DO QUE INDICAM OS ENGENHEIROS DA
PROTESTOS DOS ÍNDIOS, RIBEIRINHOS E MORADORES ELETRONORTE, E QUE APESAR DO GOVERNO DIZER
DE ALTAMIRA CONTRA A USINA, AS AÇÕES DO QUE ELA SERÁ A ÚNICA USINA NO XINGU, OS KAYAPÓ
MINISTÉRIO PÚBLICO E AS LIMINARES DO JUDICIÁRIO DESCONFIAM QUE BELO MONTE SERÁ A PRIMEIRA A
A FAVOR E CONTRA FAZEM PARTE DA HISTÓRIA DA SER CONSTRUÍDA E QUE DEPOIS VIRÃO AS OUTRAS, JÁ
LUTA CONTRA A CONSTRUÇÃO DA HIDRELÉTRICA. O PLANEJADAS NO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DO XINGU
A índia Tuíra Kayapó, com o dedo em riste, ao discutir com o representante da Funai, Aloysio Guapindaia, durante audiência pública
sobre os impactos da construção da UHE Belo Monte (PA), na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, em Brasília.
Paula de Souza, uma das principais organizadoras do evento e Ambiente da Eletrobrás, que estuda a instalação da UHE Belo
coordenadora da Fundação Viver Produzir e Preservar (FVPP), Monte. No entanto, o próprio Sérgio pondera: “Uma coisa é não
reuniu indígenas, ribeirinhos, produtores familiares e populações inundar terra indígena, mas que a obra vai incidir sobre o modo
urbanas para discutir não só a UHE de Belo Monte, mas também de vida dessas populações, vai”. Paulo Fernando Rezende, coor
um projeto de desenvolvimento mais amplo para a região. “Foi denador de estudos de Belo Monte, é categórico: “Os índios não
um marco histórico nesse sentido. O encontro realizado em 1989 serão deslocados em hipótese alguma. A diminuição da vazão
[em que os indígenas também deixaram claro que eram contra não deverá prejudicar a navegação do rio para os índios”. Em
a construção do projeto que na época era chamado de Kararaô] entrevista, os engenheiros da Eletrobrás detalharam dados do
foi mais puxado pelas comunidades indígenas. Desta vez, houve a projeto daquela que será a maior hidrelétrica 100% brasileira.
junção dos diversos povos”. Segundo Ana Paula, a forma como as “Estamos falando de 11.181 MW de potência instalada. Vai ser a
populações locais estão sendo tratadas – sob ameaça, sem que se maior usina genuinamente brasileira em capacidade instalada,
levem em conta as condições para a sobrevivência e reprodução pois Itaipu, embora gere mais energia, é dividida com o Paraguai”,
dos povos –já é “uma violência”. (Maurício Hashizume e Verena afirma Paulo Fernando. Para que fique clara a dimensão da obra,
Glass, Repórter Brasil, 28/05/2008) Belo Monte deve gerar 41,6 milhões de MWh/ano, o suficiente
para atender ao consumo de 20 milhões de pessoas durante um
ELETRObRáS: bELO MONTE ano. A área inundada pela usina hidrelétrica corresponderá a um
NÃO INuNDARá TERRA INDíGENA terço da área inundada por Itaipu. Estima-se que em 2020, Belo
“Não será inundada nenhuma terra indígena”. É o que assegura Monte atenda a 6,4% do consumo de energia elétrica do Brasil”.
o engenheiro Sérgio Almeida, chefe do departamento de Meio (Terra Magazine, 18/06/2008)
Cacique Raoni Metuktire no ato público contra a construção da UHE Belo Monte, na Esplanada dos Ministérios, diante do Congresso Nacional, Brasília, em 2011.
Desintrusão é Condicionante
OS PARAKANÃ ESTÃO HOJE CONFINADOS NA PONTA tempo já conheciam bem o dinheiro, as cidades, os toria. Os
NOROESTE DO TERRITÓRIO, À MARGEM DIREITA DO mais antigos, por outro lado, continuaram com seu modo de vida
RIO XINGU, NAS PROXIMIDADES DA FOZ DO IGARAPÉ aldeão, transformado, todavia, tanto pela situação de interação
BOM JARDIM. NOS ANOS DE 2006, 2007 E2008, constante com funcionários da Funai como pelo fim dos tempos
FORAM CADASTRADOS PELA FUNAI MAIS DE MIL E de guerra com Araweté e Xikrin. Tal conflito geracional – muito
DUZENTAS FAMÍLIAS DE POSSEIROS, E A EXTRUSÃO acentuado quando comparado a outros povos Tupi-Guarani
DA TI AINDA NÃO FOI CONCLUÍDA do médio Xingu, como os Asuriní e Araweté – é ainda mais
aparente quando o tema é a invasão da TI. Em diversas reuni
ões interinstitucionais realizadas nas aldeias em 2009 e 2010,
Ao cabo de três longas décadas de ocupação por madeireiros,
enquanto os mais velhos continuavam firmes em sua proposta
fazendeiros, garimpeiros e colonos assentados pelo Incra, a TI
de fazer incursões guerreiras (como as feitas em 2003) contra
Apyterewa foi finalmente homologada em 19/04/2007, com ex
os posseiros, os jovens investiam em articulações institucionais
tensão de 773.000 ha, no município de São Félix do Xingu (PA).
e em ferramentas jurídicas para encaminhar o caso.
Por conta da presença das famílias de posseiros, mais de 60.000
ha da TI já foram desmatados, conforme dados da Coordenação Como resultado dessas três décadas de interação constante com
Geral de Monitoramento Territorial (CGMT/Funai). Na bacia do agentes invasores e com órgãos oficiais, os índios fizeram algu
igarapé Bom Jardim, em seu baixo e médio cursos, encontram-se mas inovações que de certa forma ampliaram o protagonismo
as últimas extensas áreas de floresta e os últimos grandes casta
do grupo frente ao Estado. Instituíram, por exemplo, em seu
nhais controlados pelos Parakanã. As aldeias Apyterewa, Xingu
cotidiano e em seu espaço social, reuniões comunitárias na “casa
e Kwaraya Pya (aberta em 2011) somam um total aproximado
dos guerreiros”. As inúmeras idas de lideranças para Altamira e
de quinhentas pessoas. No entanto, o sedentarismo associado
Brasília para fazer de certa forma negociações sobre a situação
tanto à estrutura do Posto Indígena como à situação de imobi
lismo territorial gerado pela pressão dos invasores, produziu nos fundiária da TI contribuíram para que os Parakanã acumulassem
últimos anos uma situação de escassez de alimentos. Alguns dos experiência na gestão das relações interétnicas.
resultados têm sido a ampliação do espaço ocupado pela pesca O confinamento territorial a que estão submetidos (as derrubadas
na alimentação e o incremento da dependência por mercado distam 15 km da aldeia) e a demora do Estado em fazer a extrusão
rias comercializadas em Altamira, cidade de referência para os da TI têm deixado os Parakanã apreensivos. Algumas novidades
indígenas no médio Xingu.
despontam no horizonte do grupo, mas não de forma concreta.
Tanto o evento do “contato”, em 1983/84, como as primeiras Por exemplo, a regularização da TI foi colocada pela Funai em
décadas de interação com o toria (homem não indígena) 2009 (Parecer Técnico nº 21/CGPIMA/Funai) como condicionante
produziram uma fissura no seio do povo parakanã. Logo na ao processo de licenciamento ambiental do Aproveitamento Hi
primeira década do contato alguns jovens (hoje adultos) foram drelétrico (UHE) Belo Monte. Como resultado, atualmente uma
fortemente cooptados pelos invasores e, portanto, em pouco operação conjunta entre Funai, Polícia Federal e Força Nacional
A REGIÃO DE ALTAMIRA ESTÁ MARCARDA POR esse momento, em relatório encomendado pela Funai, o antro
UM INTENSO CONFLITO FUNDIÁRIO. APARENTEMENTE, pólogo Márnio Teixeira Pinto relata uma série de impactos no
A LUTA OPÕE OS ARARA DA CACHOEIRA SECA A modo de vida tradicional dos Arara, bem como suas estratégias
CAMPONESES ASSENTADOS PELO INCRA SOBRE para enfrentar o mutilamento de seu território e a proximidade
A TI, MAS SOB ESSE CONFLITO ESCONDEM-SE com trabalhadores das obras e colonos que começavam a ser
INTERESSES ECONÔMICOS DE MADEIREIROS, assentados na região. Foi quando, segundo Pinto, ocorreu uma
GRILEIROS E FAZENDEIROS DA REGIÃO, BENEFICIADOS reorganização socioespacial dos Arara e, nesse “processo de
INDIRETAMENTE PELA AÇÃO CONTRADITÓRIA DO aglutinação estratégica de vários grupos locais diferentes, razões
ESTADO BRASILEIRO particulares e conjunturais acabaram produzindo uma situação
de isolamento radical de alguns daqueles grupos, que se viram
Final dos anos sessenta. A região de Altamira (PA), prestes a impedidos de se aproximarem dos demais”.
ser atravessada pela rodovia Transamazônica, testemunhou Após mais de dez anos de tentativas de aproximação fracassa
uma transformação radical em sua dinâmica demográfica e das, entre 1981 e 1983, conseguiu-se contato com, no mínimo,
territorial. Além do início das obras da rodovia, desencadeou-se quatro subgrupos ao sul da Transamazônica e um subgrupo ao
um intenso processo de colonização da região, motivado, em norte dela. Todos foram aldeados nas proximidades do igarapé
muito, pela falta de reforma agrária no sul e no nordeste do país. Laranja, ao sul da Transamazônica. Hoje, a aldeia Laranjal fica
O Estado idealizava o assentamento de 100 mil famílias numa na TI Arara, homologada em 1991. Outro subgrupo, porém,
faixa de dez quilômetros de cada lado da porção paraense da contatado apenas em 1987, teve um trajeto bem mais penoso, e,
Transamazônica. ainda hoje, enfrenta os efeitos da indefinição em relação ao seu
De forma emblemática, em 1972, o então presidente Médici território, a TI Cachoeira Seca.
aplaudiu a derrubada de uma castanheira em Altamira, como
ato simbólico da abertura de mais um trecho da Transamazônica HISTÓRICO
em direção à Itaituba, outra cidade paraense. A implantação
Em 1985, a portaria 1854 do Ministério do Interior determinou
dessa porção, em particular, dividiria de modo irremediável o
a interdição de 1.060.400 hectares, ao sul da Transamazônica,
território do povo indígena Arara, um dos poucos que, à época, para fins de atração dos índios Arara. A área se estendia pelos
ainda mantinha seu isolamento, inclusive resistindo fortemente
municípios de Altamira, Medicilândia, Uruará, Placas e Rurópolis.
às diversas tentativas de contato.
Em 1988, a Funai criou o primeiro Grupo de Trabalho (GT) com
Esse povo, que ocupava as bacias do Xingu e do Amazonas, missão de delimitar a TI Cachoeira Seca que, dois anos e meio
viu-se, então, obrigado a se restringir ao Xingu. Referindo-se a depois, apresentou um traçado de 686.501 hectares, desconectado
Porém, como diz Márnio Pinto, “malgrado sua origem viciada A reação daqueles que tinham interesses econômicos na área
(ou talvez por isso mesmo), o Laudo antropológico da Srª Leitão não foi pequena. Da Prefeitura, da Câmara de Vereadores, de
[antropóloga que coordenou o primeiro GT] acaba servindo sindicatos e associações –todos de Uruará vociferaram contra
de base a uma Comissão Especial de Análise (CEA) do próprio a delimitação, com ênfase na área que uniria as TIs. A grande
órgão indigenista – formada por servidores mais atentos e celeuma sobre a tal área de conexão (que pode ser observada
experientes no trato das questões relativas a grupos indígenas no Mapa 1) não é por pouco. Nesse trecho, estava instalada a
recém-contatados (como é o caso)”. Esta comissão recuou para Madeireira Bannach, uma das mais poderosas da região e sobre
o sul o limite norte proposto na primeira delimitação elaborada a qual pesam diversas acusações, inclusive a de protagonizar
pelo GT e estendeu a área ao leste, conectando-a à TI Arara. A enormes saques de madeira na TI e conflitos com indígenas. Essa
CEA justificava as alterações com base no argumento de que madeireira prolongou um dos travessões da Transamazônica até
se tratava de não criar conflitos com os colonos instalados nas a margem esquerda do rio Iriri, onde instalou seu porto e uma de
proximidades da Transamazônica, no caso do recuo da linha suas serrarias. Note-se que, para defender sua permanência na
norte, e de assegurar aos Arara (ao menos) parte de seu terri TI e a continuidade de sua operação, a Bannach, em 1991, atuava
tório tradicionalmente ocupado por meio da continuidade das escondendo-se por detrás do interesse de colonos que já estavam
duas TIs. Acolhida essa alteração, a Portaria Declaratória nº 26 assentados no ramal aberto pela madeireira no interior da TI.
PODE-SE AFIRMAR QUE A MAIOR AMEAÇA À Com a estrada, observou-se a multiplicação de lotes e fazendas
MANUTENÇÃO DO MODUS VIVENDI DOS AIKEWARA ao redor da aldeia, contribuindo para o aumento da incidência
É A BR-153, QUE ATRAVESSA A TI POR 11 KM. de queimadas que atingem a reserva, como o incêndio em 2007,
PARA ALÉM DA PERDA ORIGINAL NÃO INDENIZADA que consumiu cerca de três mil ha da TI. Mesmo na estação das
DE 200 HA DE TERRITÓRIO, CONSIDERANDO AS chuvas, o fluxo de carros à via interestadual apresenta riscos à
PIÇARREIRAS E A COBERTURA VEGETAL NO população local, como o atropelamento dos já escassos animais
ENTORNO PRÓXIMO, ANO APÓS ANO, A ESTRADA e até mesmo de indígenas, com um óbito confirmado.
É ORIGEM DE AGRESSÕES AO TERRITÓRIO SOB
A FORMA DE QUEIMADAS Em setembro e outubro de 2010, os indígenas observaram atô
nitos a perda de pelo menos 4 mil hectares de mata, para não
mencionar as centenas de animais, consumidos por um incêndio
Os Aikewara, mais conhecidos na literatura especializada pela iniciado nos acostamentos da rodovia – provavelmente originado
alcunha de Mudjetire ou Suruí do Pará, são hoje aproximada pelo descaso dos motoristas.
mente 360 indivíduos falantes de uma variante tupi-guarani,
que se encontram localizados nos 26.258 ha da Terra Indigena Por essa mesma rodovia, os Aikewara enfrentarão os maiores
Sororó, à margem dos municípios de São Geraldo do Araguaia e impactos da construção da hidrelétrica de Santa Isabel, no Rio
São Domingos do Araguaia. Araguaia. Mesmo que os laudos encomendados pela empresa
responsável afirmem que a obra não apresentará risco direto à
Necessariamente contraposto ao mundo dos brancos, o modus TI, sabe-se que será justamente pela BR-153 que serão realizados
vivendi aikewara legisla para além das fronteiras do humano,
os transportes da mão de obra especializada, cerca de quatro
abarcando em si um outro muito específico, a floresta. “A mata
mil trabalhadores, e de matéria-prima leve. Equação simples:
é nossa mãe e nós outros somos os filhos dela. Quem vive sem
aumento no fluxo de carros significa aumento nos riscos para a
mato são os brancos”. Essa fala de um Aikewara é emblemática
população aikewara. Para não falarmos no desenvolvimento das
da centralidade da floresta na produção da vida e das relações. Ali
áreas, vilas e cidades no entorno da TI e com ele toda a sorte
estão a caça e os outros produtos consumidos, compartilhados,
de malefícios que esse tipo de situação traz a uma população
doados ou recebidos. Por meio deles, produz-se um sistema em
indígena: impacto que já começa a ser observado com o cresci
que cada alimento pode e deve ser remetido a um produtor re
conhecido como parente. Interromper tal sistema significa inter mento das cidades de Marabá, São Domingos do Araguaia e São
romper o próprio parentesco: “parente é aquele com quem você Geraldo do Araguaia.
come”. Ocorre que a mata vem sendo o alvo central de ameaças Se, por um lado, a população do Sororó comemora sua recupera
e desafios que essa população enfrenta atualmente. ção demográfica –viram-se reduzidos a meros 30 indivíduos nos
OS ASURINÍ DO TROCARÁ (OU DO TOCANTINS) acompanhara com “curiosidade, entusiasmo e um certo orgulho
TÊM VIVIDO, AO LONGO DOS 60 ANOS DE CONTATO, a trajetória desse povo”, que ela teve a oportunidade de conhecer
DIVERSAS SITUAÇÕES DE RISCO, DESCASO E melhor, e conclui que “... os Asuriní são hoje um povo fortalecido,
IMPACTOS NEGATIVOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS orgulhoso de sua cultura e que se mobiliza para enfrentar os
QUE OS TÊM PREJUDICADO SOCIAL, CULTURAL desafios que a relação com nossa sociedade lhes coloca”.
E EMOCIONALMENTE
Essa é uma descrição atual do sentimento de ser Asuriní, a qual
se expressa em seus rituais, na defesa de suas terras e dos seus
Tais situações, entretanto, não conseguiram destruir a base mi direitos. Por exemplo, em sua reação à abertura da estrada Trans
lenar de sua cultura tupi-guarani, tampouco silenciaram a sua Cametá, realizada pelo Governo do estado do Pará sem consultá
língua nativa – ainda viva e surpreendentemente conservadora na
voz de uma vintena de pessoas
que desafiam as impetuosas
forças externas do contato
contrárias à sua existência e
transmissão.
A antropóloga Lúcia M. de An
drade escreveu, há quase duas
décadas, em sua dissertação de
mestrado, concluída em 1992,
que não se arriscaria a fazer
qualquer prognóstico sobre o
futuro dos Asuriní, pois apenas
Asurinído Trocará.
Dentre os seus objetivos estava a implantação de um viveiro de Os professores e sábios que atuam nessa aula cooperam com
mudas para a recuperação de áreas degradadas. Outro marco um projeto do Observatório da Educação Indígena (MEC/Secad),
na atuação política da Aipat foi a sua participação no Convênio coordenado pelo Laboratório de Línguas Indígenas da UnB (Lali)).
Nº 1254/2007, que celebrou com a Funasa, para facilitar as Em 2010, os Asuriní também contribuíram fundamentalmente
ações de saúde em áreas de difícil acesso, beneficiando, além da com um projeto piloto no âmbito do Inventário Nacional da
comunidade Asuriní, as comunidades Anambé, no município de Diversidade Linguística (Iphan/Minc), também coordenado pelo
Mocajuba, e Amanayé, em Goianésia. E, em 2010, foi implantado Lali. O projeto, por centrar-se no inventário linguístico e cultural
um ponto de cultura na aldeia Trocará, o qual recebeu um kit dos Asuriní, promoveu a participação intensa de parte significativa
multimídia composto de computador com acesso à internet de dos Asuriní no levantamento das informações, estimulando as
banda larga e placa de vídeo para edição, filmadora e fitas, além memórias individuais e coletivas e a responsabilidade dos indí
de outros equipamentos de audiovisual. Esse ponto de cultura genas no registro do seu conhecimento e na transmissão desse
tem estimulado a produção de técnicas artesanais tradicionais, conhecimento, o que contribuiu para uma mudança significativa
como a fabricação de panelas de barro e o ensino dessa técnica nas atitudes linguísticas dos Asuriní.
na escola da aldeia Trocará. O projeto tem também estimulado
Destacamos ainda estudos e pesquisas para a avaliação de
o registro de outros saberes tradicionais Asuriní. impactos ambientais e socioculturais da UHE Tucuruí na TI
Uma experiência positiva foi concretizada em 2004, quando os Trocará (2005-2006). Toda a comunidade Asuriní se mobilizou
Asuriní passaram a contar com os benefícios do projeto “Esporte para auxiliar no levantamento de dados relativos ao meio am
Para Todos”, desenvolvido pela Secretaria de Estado de Esporte biente, extrativismo, caça, pesca, fauna, flora, história do contato,
e Lazer e, em seguida, por meio da parceria entre o Governo do educação formal, situação sociolinguística da língua Asuriní,
Estado e o Ministério do Esporte no projeto “Segundo Tempo”. instituições tradicionais, dentre outros tópicos de relevância para
Esses projetos, com ênfase no futebol, tinham como principais o estudo, que identificou e definiu 51 impactos causados pela
objetivos resgatar valores culturais e promover a autoestima dos construção da UHE.
índios e, em comum acordo com a comunidade, impôs como
Atualmente, duas questões têm fundamental importância para
requisito para participação o afastamento do álcool. Segundo seus
o povo Asuriní: a conclusão da regularização da TI Pacajá, que
organizadores, o comprometimento e respeito dos jovens Asuriní
é parte de seu território tradicional, e a efetivação da demorada
com a sua música e suas danças foi valorizado nesse projeto que
compensação dos danos causados pela UHE Tucuruí. Aantropó
organiza a participação dos índios nos Jogos Indígenas do Brasil
loga Lúcia M. de Andrade tinha grande razão quando ressaltou,
e do estado do Pará.
há vinte anos, que a força dos Asuriní é o seu orgulho de ser
Em 2010, a Secretaria Municipal de Educação de Tucuruí, sen culturalmente diferenciado. Não fora essa força inconfundível de
sibilizada com as manifestações dos Asuriní em favor de ações velhos guerreiros Awáeté, certamente não estariam eles, hoje, de
que privilegiem o ensino da língua asuriní nas escolas das al prontidão, à espera madura do cumprimento das obrigações do
deias, assim como os fazeres tradicionais nativos, contratou um Estado Brasileiro para com eles. (março, 2011)
AMANAYÉ constantes de luz. A empresa afirma que os a Funai. Eu não posso ir encontrar o senhor aí
problemas de fornecimento foram resolvidos na cidade para participar dessa reunião, mas
e que ações da tribo estariam prejudicando sei que meus tios e meus primos e o meu
FAzENDA bALALAICA PERTENCE cerca de 22 mil clientes da região. A diretoria povo Kayapó irão receber bem o senhor”. Pelo
À TI AMANAyé da Celpa vai se reunir com a liderança da tribo rádio, o líder Kayapó Paulinho Payakã, da aldeia
O MPF foi comunicado oficialmente essa sema e um representante da Funai para dialogar a Rio Vermelho, onde vive em reclusão, saudou
na de decisão unânime no Tribunal de Justiça respeito do atendimento no local afetado pela a presença do presidente da Funai, Mércio
do Pará que reconhece o direito dos índios falta de energia. Até o fechamento da reporta Pereira Gomes, em encontro com lideranças
Amanayé sobre 18 mil ha da fazenda Balalaica, gem, os índios Assurini permaneciam na sede Kayapó na cidade de Tucumã. O objetivo era
disputados pela Empresa Agrícola Fluminen da empresa. (Portal ORM, 15/07/2010) a inauguração da sede do Núcleo de Apoio
se, em Ipixuna (PA). A decisão extingue uma de Tucumã, uma reivindicação dos índios da
sentença da Vara Agrária de Castanhal de 2008, região que pediam uma administração mais
que mandou fazer a reintegração de posse em KAYAPÓ próxima de suas aldeias. O núcleo serve a oito
favor da empresa. A ação demonstrou que a comunidades da região: Aukre, Kikretum, Rio
sentença da Vara Agrária é descabida, já que a PF ENCONTRA GARIMPOS Vermelho, Pukararankre, Kendjan, Kokrai
fazenda está dentro de uma TI já demarcada. ILEGAIS EM TI KAIAPÓ moro, Kokoeydjan e Moikarako. Nelas, vivem
O Instituto de Terras do Pará demonstrou que A Polícia Federal identificou, nesta semana, cerca de 2.600 índios. Em breve, próximo
os documentos de propriedade apresentados três áreas de garimpo ilegal na TI. O objetivo à TI Kayapó, a companhia Onça Puma dará
eram fraudulentos. Mesmo que fossem verda inicial da operação era expulsar invasores início à mineração de níquel, o que irá trazer,
deiros, no entanto, qualquer discussão sobre da TI Kaiapó que desmatam a floresta para além de possíveis problemas ambientais,
posses dentro da área indígena só poderia ser pastagem. Contudo, relatos de índios sobre um crescimento considerável nas cidades de
discutida naJustiça Federal. Ocupantes que se- mercúrio em rios levaram a polícia a descobrir Tucumã e Ourilândia. As negociações entre a
jam considerados de boa-fé serão remanejados os garimpos. “Identificamos três áreas de ga empresa e os índios já estão em curso. (Funai,
para assentamentos do Incra. Outros intrusos rimpo, uma delas com cerca de cem pessoas 31/01/2007)
deverão ser retirados. A Balalaica soma mais e em plena atividade. Não pudemos prender
de 340 km², e há registro de assassinatos, con nem expulsar ninguém porque estávamos RAONI RECEbE ORDEM DO
flitos e crimes ambientais na área, incluindo com poucos policiais”, disse o delegado. A PF MéRITO CuLTuRAL DO MINC
extração ilegal de madeira. (Ascom da Procu gravou imagens dos garimpos e com a Funai
Em cerimônia realizada em Belo Horizonte
radoria do Pará, 05/10/2010) prepara uma nova operação para expulsar os (MG), em 7 de novembro de 2007, o líder
garimpeiros. Sete fazendeiros e cinco grileiros
Raoni Metuktire foi condecorado com a Ordem
apontados como responsáveis serão investi
ARARA do Mérito Cultural pelo ministro da Cultura,
gados por inquérito da PF. (Cíntia Acayaba,
Gilberto Gil, e pelo presidente Luiz Inácio
FSP, 11/08/2006) Lula da Silva. Essa condecoração foi criada em
MPF VAI ÀJuSTIÇA PELA 1995 pelo Ministério da Cultura como uma
DEMARCAÇÃO DE TERRAARARA
TI bAú FAz SuA PRIMEIRA VENDA homenagem do Governo Federal a cidadãos
O MPF encaminhou àJustiça ação civil pública DE ÓLEO CERTIFICADO e instituições que se destacaram na prestação
exigindo que a Funai entregue dentro de 30 dias de serviços à Cultura do país. As lideranças
Os Kayapó fecharam negócio com a indústria
o relatório de demarcação da TI Cachoeira Seca. indígenas Raoni e Kanuá Kamayurá, celebrado
beneficiadora de óleos vegetais Beraca logo
O MPF pede ainda multa diária de R$ 10 mil após o evento em que receberam as certifica como guardião da sabedoria milenar dos povos
para o órgão, em caso de descumprimento. do Xingu, receberam muitos aplausos da pla
ções FSC e orgânica - do IBD , nessa quarta
O documento deveria ter sido entregue em teia ao receber a premiação, que consiste em
junho do ano passado e o órgão alerta para feira na sede da Fiesp na avenida Paulista. “A
um diploma e uma medalha, réplica da antiga
visita a São Paulo foi muito produtiva, o contato
a constante invasão de terras na região, os condecoração de São Tiago da Espada. Nessa
com empresários foi ótimo para divulgarmos
crimes ambientais e a ameaça à etnia arara. cerimônia, além de Raoni e Kanuá, foram
nossos produtos e já estamos sendo procurados
(OESP, 15/08/2006) por outras empresas também”, contou Luís homenageados, entre outros, o arquiteto Oscar
Niemeyer, o músico TomJobim, o antropólogo
Carlos Sampaio, técnico da Funai que auxilia
Claude Lévi-Strauss, o cineasta Glauber Rocha,
ASURINI o Instituto Raoni em Colíder (MT). A Beraca,
além do Museu Paraense Emílio Goeldi. (Com
que fornece matéria-prima beneficiada para a
informações do MinC)
ASSuRINI INVADEM SEDE DA indústria cosmética, comprou toda a produção
certificada dos Kayapó, de 750 litros. (Renata
CELPA EM TuCuRuí Moraes, Amazônia.org, 15/12/2006) PARAKANÃ
Índios Assurini invadiram ontem a sede da
Central de Energia Elétrica do Pará (Celpa)
em Tucuruí. Os representantes indígenas NúCLEO DE TuCuMÃ E íNDIOS PEDEM RETIRADA
protestaram contra preços abusivos nas taxas
MINERAÇÃO DE NíquEL DE INVASORES
de energia e abastecimento precário do serviço “Quando eu recuperar a minha liberdade, vou O procurador da República em Altamira,
na aldeia, que estaria sofrendo com quedas voltar a lutar para ajudar os índios e a fortalecer Marco Antonio Delfino de Almeida, e uma
Federal. A Vale não quis comentar o processo recurso cabível apenas para esclarecer dúvidas acompanha o caso dos Gavião da Montanha.
e não informou se vai oferecer uma proposta quanto a uma sentença. “A leitura dos embar Os índios akrãnkykatejês, ou gavião da mon
maior. (Radiobrás, 30/07/2007) gos revela o intuito meramente protelatório, tanha, moravam na região onde hoje existe o
como forma de adiar o efetivo cumprimento da lago de quase 3 mil quilômetros quadrados da
ELETRONORTE NÃO quER ordem judicial emanada”, afirma o procurador hidrelétrica de Tucuruí. Expulsos pela cons
CuMPRIR SENTENÇA A FAVOR DE da República Felício PontesJr na manifestação trução da usina, a montanha sagrada que os
àJustiça. identificava foi submersa e a eles restou se mu
íNDIOS ATINGIDOS POR TuCuRuí AEletronorte alega que desconhece “elementos darem para a Terra Indígena Mãe Maria, onde
O processo judicial chegou ao fim mas a em básicos de um contrato de compra e venda morava outro grupo de índios gavião, próximo
presa entrou com recurso protelatório alegando imobiliária, como por exemplo, proprietário, da cidade de Marabá, no sudeste do Pará.
que não tem os dados para comprar as terras valor, localização do cartório de registro de imó Desde o enchimento do lago da Usina de Tucu
indicadas pelaJustiça veis competente”. Acrescenta que a ordem de ruí há controvérsias sobre a remoção do povo
O Ministério Público Federal no Pará (MPF/PA) entregar o imóvel rural à comunidade indígena gavião da montanha, com acusações contra a
mandou manifestação à Justiça pedindo que é de “difícil cumprimento: qual pessoa, física Eletronorte de que usou de violência e ardis
a Eletronorte seja obrigada imediatamente a ou jurídica, representará a referida comuni desonestos contra os índios para obrigá-los
comprar terras para compensar a área que os dade nesse ato?” a deixar as terras, reconhecidas pelo governo
índios akrãnkykatejês, conhecidos como gavião O MPF considera as alegações absurdas: “Du paraense como indígenas desde 1945. O pro
da montanha, perderam com a construção da rante todas as fases processuais, por inúmeras cesso judicial contra a empresa, para obrigá-la
usina hidrelétrica de Tucuruí. vezes, a ré Eletronorte manifestou-se nos autos a comprar terras equivalentes para a população
O caso tramita desde 1989 na Justiça Federal quanto à área indicada pela comunidade indí indígena foi iniciado em 1989.
e teve decisão transitada em julgado - sem gena e emitiu até um parecer em que pedia O MPF ressalta na manifestação enviada à
possibilidade de recurso. A decisão veio do apoio da Funai para trabalhos de melhoria Justiça “que as compensações materializadas
Tribunal Regional Federal da 1ª Região em da qualidade ambiental”. Em dezembro de no curso do processo com a sentença termi
Brasília e originou uma ordem, em que o 2009, inclusive, houve reunião da Eletronorte nativa revestem-se da condição de minimizar
juiz Ronaldo Destêrro, da 9ª Vara Federal em com a Funai, os índios e o MPF para definir a os danos causados pela UHE-Tucuruí, jamais
Belém, determina à Eletronorte que compre escolha das terras. compensar integralmente, posto que o patri
as terras do Condomínio Bela Vista, um con “É o típico comportamento do setor elétrico mônio intangível, os vínculos culturais desen
junto de fazendas já aprovado pela Funai e com as populações indígenas na Amazônia. volvidos na terra inundada não se traduzem
pelos índios. Causam impactos irreversíveis no modo de vida emvalores econômicos, tampouco se revestem
A ordem judicial data de junho de 2010, mas, dos índios e depois empurram com a barriga de um critério financeiro aferível”. O processo
em vez de cumpri-la, a Eletronorte interpôs no por décadas as indenizações, compensações tramita com o número 89.00.01377-7. (MPF,
mês passado embargos de declaração, tipo de e mitigações”, afirma Felício Pontes Jr, que 29/03/2011)
9.
496 NORDESTE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
NORDESTE
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
13 Atikum Atikum 4.404/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 16.290 Carnaubeira da Penha PE
Pankará Decreto s/n de 05/01/1996 publicado em 08/01/1996. Reg. CRI no município
de Carnaubeira da Penha, comarca de Floresta (16.290 ha) Matr. 1.099 Liv. 2-I
fl. 26 em 18/01/96. Reg. SPU Certidão n° 05 em 27/08/96.
37 Barra Atikum 183/Funai-SEII: 2011 Reservada. Registrada no CRI e SPU. 62 Muquém de São Francisco BA
Kiriri Adquirida pela Funai em 1986. Reg. CRI do município de Muquém de São
Francisco, comarca de Barra (62 ha) Matr. Av.1 2.963 Liv. 2-L fl. 13 em
15/04/2002. Reg. SPU Certidão n° 110 em 15/10/2002.
ha) Matr. R-1-9.937 Liv. 2-BA fl. 52 em 21/05/2002. Reg. CRI no município de
Rodelas, comarca de Paulo Afonso (11.585 ha) Matr. R-1.9939 Liv. 2 BA fl. 54
em 21/05/2002. Reg. SPU Certidão n° 112 em 15/01/2002.
e comarca de Porto da Folha (4.316 ha) Matr. 1-4-685 Liv. 2-U fl. 14 em
31/08/92. Doação averbada 3.211 em 19/08/85. Reg. SPU Certidão n° 01
em 13/07/2004.
CRI no município de Itarema, comarca de Acaraú (2.730 ha) Matr. 3.385 Liv.
2-N fl. 154 em 24/02/2006. Reg. SPU Certidão n° 148 em 04/08/2006.
22/10/99. Reg. CRI no município e comarca de Inajá (17.849 ha) Matr. 1.539
Liv. 2-I fl. 58V em 11/05/99. Reg. SPU Certidão n° 01 em 18/02/2002.
de Glória, comarca de Paulo Afonso (1.811 ha) Matr. R-1 8.902 Liv. 2-AS fl.
121 em 31/10/2000. Reg. SPU Certidão n° 07 em 15/02/2001.
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
17/03/99. Reg. CRI no município e comarca de São Brás (397 ha) Matr. 152
Liv. 2-G/RG fl. 7 em 03/03/99. Reg. SPU Certidão n° 13 em 19/09/2002.
e comarca de Euclides da Cunha (8.020 ha) Matr. 2813 Liv. 2-H fl. 577 em
23/12/88. Reg. SPU Certidão n° 66 em 16/10/96.
16 urbana)
Nova Rodelas (área Tuxá 409/UFBa: 1989 Adquirida
Área para pela
adquirida CHESF para reassentamento dos Tuxá atingidos pela UHE
assentamento. 104 Rodelas BA
21 Quixabá Xukuru-Kariri 126/Funai: 2003 Área adquirida de posseiro pela Funai para remoção do grupo familiar dos
Reservada. 16 Glória BA
17 Riacho do Bento Tuxá 708/Funai: 1994 Adquirida pela CHESF, porém ainda sob sua posse, nos termos do acordo
Reservada. 4.032 Rodelas BA
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
11 Tuxá de Inajá/Fazenda Tuxá 1.671/Funasa: 2010 Adquirida para assentamento. - Mata Grande AL
Funil de
Terra
Itaparica
adquirida
(Sampaio:
pela Chesf para reassentamento dos Tuxá atingidos pela UHE
1989). Inajá PE
s/l Tuxá de Rodelas 1.141/ Funai-SEII: 2011 s/n de 21/12/2009 publicado em 22/12/2009.
Reservada.
Decreto 4.328 Rodelas BA
de Bom Jesus da Lapa, Matr. 8.205 Liv. 2-E fl. 153 em 11/12/91.
HÁ, HOJE, NOS ESTADOS DE SERGIPE, BAHIA, territoriais, não obstante difusos, por parte de comunidades de
ALAGOAS, PERNAMBUCO, PARAÍBA E CEARÁ, PERTO identidade indígena nos estados de Piauí e Rio Grande do Norte,
DE UMA CENTENA DE TERRAS INDÍGENAS, ISTO É, como os Caboclos do Assu (RN) e os Kariri da Serra Grande (PI).
TERRITÓRIOS RECLAMADOS E/OU OCUPADOS POR Entretanto, essas reivindicações ainda não integram os registros
47 GRUPOS AUTOIDENTIFICADOS COMO INDÍGENAS. oficiais da Funai, tampouco há dados suficientes sobre elas ou
JUNTAS, ELAS TOTALIZAM MENOS DE 600 MIL HA, sobre os grupos sociais que as formulam. O Maranhão, por
O QUE CORRESPONDE A 0,52% DO TOTAL DA ÁREA exemplo, possui povos indígenas conhecidos apenas no domínio
OCUPADA POR TIS NO BRASIL territorial da Amazônia Legal, o que justifica a supressão de suas
TIs da região Nordeste.
Polícia Federal, com a tropa de choque de Petrolina (PE), desocupa a fazenda Tucutu, em Cabrobó (PE).
O local foi palco de uma ocupação por nove dias por movimentos sociais e os povos indígenas Truká,
Tumbalalá, Kambiwá, Pipipã e Kariri-Xocó contrários à transposição do rio São Francisco.
Os Povos Indígenas
na Cidade de Crateús
CRATEÚS É UM POLO URBANO DESTACADO NO Tabajara) e Monsenhor Tabosa (Poiyguara, Tabajara, Gavião e
INTERIOR DO CEARÁ. HOJE PODEMOS ENCONTRAR Tubiba-Tapuia).
CERCA DE UMA DEZENA DE NÚCLEOS INDÍGENAS
LOCALIZADOS NAS PERIFERIAS DA CIDADE E QUE A maioria das atuais aldeias urbanas teve início com ocupações
SE ORIGINARAM DE MOBILIZAÇÕES POPULARES de terrenos ociosos nas periferias da cidade para a construção
ESTIMULADAS PELA DIOCESE de casas populares. Em 1990, ocorreu a primeira ocupação: a
Terra Prometida (Tabajara, Kalabaça e Tupinambá). Em 1991, a
ocupação de Nova Terra (Tabajara e Potiguara). Em 1993, foi a
O atual movimento indígena na cidade de Crateús e nos demais vez de Vila Vitória (Tabajara, Kalabaça e Tupinambá). Em 1994
municípios da região tem suas origens nas experiências de or ocorreu a de Terra Livre (Potiguara). Planaltina (Potiguara, Taba
ganização da igreja voltadas para a libertação dos grupos sociais jara e Kalabaça), em 1996. Pedra Viva (Tabajara e Potiguara), em
mais pobres. 1998. Hoje somam-se a essas Maratoã (Kariri, Tabajara, Potiguara
e Kalabaça) e Altamira (Potiguara).
Localizada próximo à divisa com o Piauí, Crateús tem uma popu
lação urbana de mais de 50.000 habitantes. A cidade concentra Seguiram-se outras ocupações e mobilizações que resultaram
importantes serviços públicos (ferrovia, quartel, bancos, universi em conjuntos habitacionais. Assessoradas pelas pastorais, essas
dade, dentre outros órgãos administrativos), possui um pequeno famílias, ao conseguirem os espaços para construção das casas,
parque industrial e é sede de diocese da igreja católica. recebiam donativos que permitiam a edificação dos primeiros
cômodos e trabalhavam em mutirão na construção de um
A Diocese de Crateús ficou conhecida em todo o Brasil devido à centro comunitário que, ainda hoje, serve para reuniões e o
inclinação progressista que tomou durante o episcopado de D. funcionamento de salas de aula. Esse modelo de ação coletiva e
Antônio Fragoso. Entre as décadas de 1960 e 1990, inúmeras organização do espaço desenvolvia-se sob orientação direta dos
experiências de evangelização popular tiveram lugar na Diocese, agentes pastorais, de modo a criar as condições mínimas para
com destaque para a atuação das Comunidades Eclesiais de Base garantir organicidade dos grupos familiares enquanto Comu
(CEBs), as pastorais sociais e os sindicatos rurais (Thomé, 1994 nidades Eclesiais de Base, unidade básica do projeto da igreja
e Montenegro, 2004). popular em Crateús.
Além das concentrações urbanas, o movimento indígena no Posteriormente, durante os trabalhos pastorais de organização
sertão do Ceará conta com uma rede translocal de comunidades das comunidades, realizaram-se encontros nos quais as pessoas
organizadas na zona rural de Crateús e nos demais municí eram estimuladas a falar sobre suas histórias de vida, sobre suas
pios da região: Poranga (Tabajara e Kalabaça), Novo Oriente raízes e, nesses momentos, abria-se espaço para narrativas que
(Potiguara), Quiterianópolis (Tabajara), Tamboril (Potiguara e falavam sobre o passado, notadamente, o confronto entre as
Até o ano de 2007, todas as etnias de Crateús estavam organizadas que estes, assim como os Kariri não podiam ser considerados
no Cincrar. Contudo, após discordâncias diversas, o Conselho foi como etnias, uma vez que não existiam documentos da Funai
desativado e cinco novas associações foram criadas reunindo os citando os dois grupos nos arquivos do órgão. No decorrer do
grupos indígenas a partir de redes de parentesco e vizinhança, processo de cadastro, os Kariri conseguiram ser reconhecidos
sendo elas: Associação Indígena dos Kariri de Crateús (A-I-KA e foram cadastrados separadamente. Já os Tupinambá, não. A
CRA), que inclui também Tabajara, Potiguara e Tupinambá; alternativa oferecida foi cadastrarem-se como potiguara, pois
Associação Raízes Indígenas dos Potyguara em Crateús (Arinpoc); são uma única família extensa, mas que mantém relações de
Associação dos Povos Indígenas Tabajaras em Crateús (Apitc), parentesco com os Potiguara.
dos Tabajara da Nova Terra, migrados do Pé-de-Serra do Ipu; a
O processo de organização dos indígenas na periferia de Crateús
Associação da Aldeia Vila Vitória – Favela (AVFVLA), dos Tabajara
configura-se como uma guerra de interpretações, uma luta de
da Vila Vitória, originários da serra das Melancias e a Associação
classificações sobre a identidade e os limites dos grupos sociais.
Indígena Calabaça de Crateús (AICC), que congrega os Kalabaça
Toda a problemática que envolveu, primeiro, a aceitação de que
Jandaíra, dispersos pela cidade.
fossem cadastradas as etnias residentes nas periferias de Crate
Após uma intervenção do MPF, a Funai e a Funasa realizaram em ús, depois, a exclusão dos Kariri e Tupinambá e, por último, as
abril de 2008 o primeiro cadastramento oficial dos indígenas na alternativas distintas de inclusão deles no cadastro evidenciam
área urbana de Crateús. Durante duas semanas foi realizado o parte do campo social onde se dá o contexto das etnogêneses
trabalho de cadastro, que além de permitir acesso ao subsistema indígenas no Ceará contemporâneo. Esse quadro envolve não
de saúde indígena da Funasa, conferiu grau de reconhecimento só as rotinas burocráticas e as ideologias próprias dos órgãos
étnico oficial às etnias que até então eram citadas muitas vezes oficiais, mas os elementos simbólicos e as concepções sobre a
como não reconhecidas ou em processo de reconhecimento. vida indígena, que são atualizados por atores sociais diversos.
Assim, existe uma reificação dos modos de vida indígenas que
De acordo com os dados disponibilizados pela Funasa e com
deveriam transcorrer nas aldeias, mas não nas áreas urbanas.
levantamentos feitos em campo a partir de censos, dos cadernos
Esse é um novo desafio para o Estado brasileiro: a capacidade
e fichas cadastrais das associações indígenas pude montar o
de reconhecer os processos de reorganização étnica que não
quadro populacional ao lado.
cabem no esquema ultrapassado do indigenismo tutelar, mas
Durante o cadastro da Funasa, a etnia tupinambá foi contabilizada que nem por isso cessam de ocorrer em lugares inesperados.
como potiguara, pois os funcionários responsáveis afirmaram (maio, 2011)
A Presença Indígena no
Rio Grande do Norte
TRÊS COMUNIDADES APRESENTARAM-SE COMO meio aos plantios de cana-de-açúcar, predominante em grande
“REMANESCENTES” INDÍGENAS: MENDONÇA DO parte da região litorânea, e em meio a fazendas que recrutam
AMARELÃO, CATU DO ELEOTÉRIO E OS CABOCLOSS a mão de obra local para as atividades de fruticultura, da mo
DO ASSU (OU CABOCLOSS DO RIACHO), EM UMA nocultura açucareira e de produção de calcário. Com o controle
AUDIÊNCIA PÚBLICA REALIZADA NO DIA 15 DE JUNHO das terras, mediado sobretudo pelas usinas sucroalcooleiras,
DE 2005 NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA além da criação de uma Área de Proteção Ambiental (APA), as
atividades de coleta de frutos, de madeira e de caça praticadas
pelos Eleotério passaram a ser ameaçadas. Isso ocasionou ten
Esse fato tornou-se um marco no quadro político e étnico do Rio
Grande do Norte. Os índios emergentes do estado reivindicaram sões, principalmente no tocante ao acesso às matas e áreas de
o reconhecimento de sua especificidade étnica e cultural e, tabuleiros, dada a presença e ocupação das terras pelas usinas
por conseguinte, a garantia de políticas públicas diferenciadas. e até a intervenção dos órgãos ambientais.
Sob a forma de um abaixo-assinado, os indígenas ali presentes Com uma população estimada em 150 pessoas, os Caboclos do
dirigiram-se aos deputados estaduais e aos representantes da
Assu estão situados no limite entre os municípios de Assu e Paraú,
Funai, do Ministério Público Federal, da Universidade Federal na região oeste do RN. Habitam em terras de fazendeiros, com
do Rio Grande do Norte, do Governo do Estado e da Comissão de quem estabelecem uma relação de patronagem, na condição de
Direitos Humanos e à Comissão de Assuntos Indígenas da ABA. meeiros. Os atuais moradores reconhecem seu vínculo com a
região denominada Vale do Assu, mais precisamente, a região
Com aproximadamente 1.500 pessoas, os Mendonça do Amare
lão se concebem como integrantes de uma grande família, cuja serrana nas proximidades do município de Triunfo Potiguar e
origem indígena é vinculada à migração proveniente da Paraíba, identificam as migrações entre faixas de terras ao longo dos rios
mais especificamente da cidade de Bananeiras (localizada na Paraú-Assu como a marca da ocupação tradicional, da presença
região nomeada de Brejo) e do aldeamento indígena de São indígena e das ameaças sofridas pelos invasores de terras.
Gonçalo no RN. Atualmente, a população vive em faixas de terras
localizadas no município de João Câmara na região do Agreste a EmErgência dE grupos indígEnas
potiguar, as quais foram regularizadas por meio de mobilizações no rio grandE do norTE suBvErTEu
do MST, correspondendo ao Assentamento Santa Terezinha. o discurso oFiciaL
Já os Eleotério, que residem na Comunidade do Catu, vivem às Que era respaldado pela historiografia – e sugeria a extinção ou
margens do rio Catu, no litoral sul do RN, especificamente nos o desaparecimento dos indígenas no estado do Rio Grande do
municípios de Canguaretama e Goianinha. Compõem um contin Norte desde o período colonial. No Nordeste, o número de grupos
gente populacional de aproximadamente 760 pessoas. Vivem em que se autodefinem por uma ascendência indígena somavam 58
indígenas, sugestão já acolhida pela Funai e identificação e delimitação das terras. Por isso, Von Demeter. Existe a possibilidade de que o
pela Secretaria de Educação do Estado. Já na a ação solicita que seja assegurado o uso e o problema tenha sido a repercussão provocada
saúde, o principal gargalo é o saneamento. usufruto exclusivo à etnia Anacé da área a ser por uma reportagem divulgada num site ale
Em 1994, naquele mesmo local, ocorrera a delimitada como TI. (MPF, 15/12/2009) mão denunciando os abusos ambientais na
primeira Assembléia dos Povos Indígenas do Lagoa da Encantada e seu entorno. O Ibama,
Ceará. (MelquíadesJúnior, Diário do Nordes criado gT dE idEnTiFicação a Funai e o MPF já haviam acusado a empresa
te, 18/12/2008) de provocar poluição bioquímica na Lagoa da
da Ti anacÉ Encantada, causando proliferação de algas
A Funai anuncia portaria criando o GT para e mortandade de peixes. Após a perda da
anacÉ dispuTam árEa identificar e delimitar terras do povo indígena
com pETroBras certificação pela empresa, o jornalista Daniel
anacé, nas cidades de Caucaia e São Gonçalo do Fonseca publicou informações relativas aos
O terreno reservado para a instalação do Com Amarante. O terreno previsto para a instalação danos ambientais e ao desrespeito com que
plexo Industrial do Pecém, no litoral cearense, da refinaria Premium II, da Petrobras, no Com
que vai abrigar, entre outros empreendimen a empresa tratava o povo indígena Jenipapo
plexo Industrial e Portuário do Pecém, não será Kanindé, que vive no entorno da Encantada. A
tos, uma refinaria da Petrobras, é área indíge incluído nos estudos do GT. A área era motivo Ypióca decidiu então interpelar judicialmente
na, segundo parecer do MPF. Como ainda não de discussões e impasses entre o povo anacé e o jornalista e negar a presença de indígenas na
foi demarcado, o lugar está prestes a se tornar o Governo do Estado. Mas um acordo firmado zona costeira cearense. Conforme a declaração
alvo de disputa judicial. Aárea reclamada pelos entre o governador Cid Gomes (PSB) e outros no processo n° 2007.01.11000-7, “Inexiste
anacés é de 11.888 ha, menor do que o total gestores estaduais com lideranças da comu qualquer registro histórico da presença de
declarado de utilidade pública para fins de nidade indígena, no início do mês, permitiu a índios naquela área (Lagoa da Encantada)
desapropriação pelo governo do Ceará para a liberação do terreno, localizado em Caucaia. Os do litoral cearense, sendo oportuno assinalar
instalação do complexo, que é de 33.500 ha. anacés, por sua vez, devem receber do Governo que o nome “Jenipapo-Kanindé” foi criado
Bem nessa área indígena planeja-se construir do Estado uma série de investimentos sociais e por interessados no ressurgimento de índios
a refinaria da Petrobras, que ocuparia espaço de infraestrutura, em um montante de R$ 4,5 no litoral cearense (...). Não há, em toda costa
onde hoje existe um cemitério centenário, milhões. (O Povo, 22/07/2010) cearense, qualquer comunidade que tenha ou
locais sagrados e 70 comunidades, com cerca usos,pela empresa
O
mantenha
texto emitido costumes e tradições
contrastatribais”.
com a
de 800 famílias. Os anacés já solicitaram a
abertura de um processo para a delimitação EsTudo É conTra
posição do Ministério Público Federal, respon
da área indígena e sua demarcação. Como não a rEFinaria
sável, juntamente com a Funai e o Iphan, pela
conseguiu evitar o início do processo de desa A Petrobras tem em suas mãos um estudo que
publicação, em 2004, do livro “Ceará, Terra da
propriação, o MPF agora prepara uma ação civil desaconselha a instalação da refinaria Pre
Luz, Terra dos Índios”, lançado em um semi
pública. Como resposta, o governo afirmou que mium II, no Pecém. A pesquisa foi encomen
nário em que se fizeram presentes as etnias
não há nenhum impedimento para a utilização dada pela própria estatal e indica que a área “é
das terras, pois não há “tradicionalidade”. O reconhecidas (Tapeba, Tremembé, Pitaguary e
terra tradicionalmente ocupada”. O local é alvo
levantamento dos moradores já foi iniciado Jenipapo-Kanindé) e as que estão em processo
de um trabalho de identificação e delimitação
para o pagamento de indenizações e para de reconhecimento (Calabaça, Potiguaras).
de terras indígenas da comunidade anacé. O
seu reassentamento, e há pressa, pois, pelos (Instituto Terramar, 01/07/2007)
Povo teve acesso ao material, assinado pelos
planos da Petrobrás, a refinaria deve começar pesquisadores Max Maranhão Piorsky Aires e
a operar em 2013. (Kamila Fernandes, FSP, Isadora Lídia Gonçalves de Araújo. O trabalho comunidadE piTaguarY vai
06/02/2009) relaciona pressões de empreendimentos como ganHar EscoLa indígEna
a refinaria sobre o “território indígena”, entre A secretária estadual da Educação, Izolda Cela,
mpF/cE ajuíza
garanTir ação dos
dirEiTos paraanacÉ outros pontos. “Por último, nas considerações assinou ordem de serviço para a construção
finais, nos posicionamos contrários à implan de uma escola na comunidade pitaguary de
tação da refinaria Premium II”, opina. A con
Na ação, o MPF/CE pede que aJustiça Federal Maracanaú. A previsão é que, até maio, as
clusão de que a terra é tradicional engrossa os
determine que o governo do Ceará se abstenha obras sejam concluídas e a escola esteja fun
argumentos da Procuradoria da República no
de realizar qualquer desapropriação nas terras cionando Para a professora da comunidade
Ceará. Em julho, uma reunião entre Governo
ocupadas pela comunidade indígena devido à indígena pitaguary, Rosenilda Alexandre, 32,
do Estado e anacés terminou com acordo em
intenção de instalação de empreendimentos a notícia não poderia ser mais maravilhosa. A
que a comunidade abriu mão do terreno.Já o
do Complexo Industrial e Portuário do Pecém procurador regional da República, Francisco secretária estadual da Educação, Izolda Cela,
(CIPP). Em parecer técnico de peritos do MPF é de Araújo Macedo Filho, avisa que o acordo é esteve ontem na comunidade assinando a
indicada uma área alternativa para a instalação ilegítimo e que o órgão “não pode chancelar ordem de serviço para a construção da Escola
de empreendimentos, de 29.234 ha, a poucos um acordo nesses termos”. (Diego Lage, O Indígena Chuí, que receberá os mais de 400
quilômetros do Porto, de modo que o CIPP é
Povo Online, 09/12/2010) alunos da região. De acordo com o presidente
plenamente viável fora das terras da etnia. A do Conselho Comunitário Indígena Pitaguary
Funai, em agosto de 2009, constituiu GT para de Maracanaú (Coipy), Jeová Ferreira, o povo
elaboração de relatório de fundamentação EmprEsa Ypióca conTra inteiro lutou por essa conquista. O prédio
antropológica para a demarcação das terras jEnipapo-KanindÉ onde as aulas são realizadas hoje é uma antigo
Anacé. O grupo apontou a necessidade de Em janeiro de 2007, a empresa Ypióca per criadouro de ovinos e caprinos adaptado. (O
constituição de um GT para os trabalhos de deu o Selo Orgânico concedido pelo Instituto Povo, 28/12/2007)
estão acampadas desde o dia 19 de março ral, é preocupante, visto que a comunidade, equipe para demarcar o restante do nosso
de 2007 e trabalham na construção de casas consciente da demora no reconhecimento território”, afirmou o cacique Neguinho Truká.
e a abertura de roças. A partir da década de da área indígena, está mobilizada e disposta Apesar das obras da transposição seguirem, a
1970, as terras Potiguara foram invadidas por a resistir contra qualquer força que venha questão ainda não está judicialmente resolvida.
plantações de cana, usada para a produção de cumprir a ordem de reintegração de posse. (Cimi, 06/08/2008)
álcool e açúcar nas usinas que se instalaram na (MPF, 07/12/2007)
região, incentivadas pelo programa Próalcool. riTuaL FuLni-Ô sEcrETo na
Naquela época, junto com as promessas de
emprego as usinas trouxeram desmatamento,
índios dEnunciam TráFico úLTima sEmana dE agosTo
nas aLdEias No próximo domingo (31), os índios da etnia
diminuição das áreas de roça, degradação do
solo, envenenamento dos manguezais onde a O tráfico chegou às aldeias indígenas do litoral Fulni-ô darão início ao evento mais importante
norte da Paraíba e trouxe com ele preocupação para eles: o Ouricuri. A aldeia fica vazia pois
comunidade coletava mariscos e caranguejos
para se alimentar e vender. Em agosto de e medo às famílias que moram na região. todos se deslocam para a região sagrada onde
2003, os Potiguara retomaram a terra da Traficantes que agem na cidade têm procura anualmente acontece o ritual religioso e secre
então usinaJapungu, após os usineiros terem do as aldeias para se esconder e, em alguns to. O Fulni-ô tem como regra a proibição de
tentado passar um trator por cima de roças
casos, aliciar jovens índios que terminam se falar do ritual. Para o Fulni-ô, Awassury de Sá,
para aumentar sua área de plantação de cana. tornando usuário de drogas, o que faz crescer 23 anos, um dos motivos do ritual ser secreto
o índice de violência e criminalidade nas é que os indígenas acreditam que se não fosse
Desde a retomada, os Potiguara usam a área sigiloso, os seus conterrâneos brasileiros te
para moradia e produção de alimentos. (Cimi, aldeias. Preocupados com o problema, índios
22/03/2007) dos municípios de Baía da Traição, Marcação riam algo mais para destruir. O Fulni-ô, Cícero
e Rio Tinto, denunciaram o assunto durante o Brito, 33 anos, explica que a expectativa é tão
lançamento da Secretaria Especial de Saúde grande que aproximadamente um mês antes
mpF rEcomEnda HomoLogação Indígena (Sesai), ocorrido ontem na sede da do início do ritual, os indígenas deixam de
da Ti dE monTE mor Funasa. (O Norte, 10/08/2010) lado atividades rotineiras para se concentrar.
O MPF na Paraíba fez recomendação ao Mi Muitos se deslocam da aldeia para dormir no
nistério da Justiça - encaminhada por meio local onde é realizado o culto. Liderados pelo
PERNAMBUCO cacique e o pajé, os Fulni-ô têm o Ouricurí
da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do
MPF - para que o órgão do Executivo formalize, como fator fundamental para a resistência e
imediatamente, o ato de homologação da terra TruKá EXigEm TErra Em quE os costumes ancestrais, como a língua Yaathe
passaria a Transposição que é a base para a prática do rito. A 5 km da
indígena potiguara de Monte Mor, localizada
Aldeia, antigamente o Ouricurí era composto
no litoral norte do estado da Paraíba, entre os Os índios Truká impetraram uma ação no Mi por casas de palhas, as quais eram refeitas
municípios de Rio Tinto e Marcação. A reco nistério Público Federal pedindo a agilização da
mendação, assinada pelo procurador regional anualmente. Para maior segurança do povo
demarcação de território que consideram origi e devido à escassez da matéria-prima e sua
dos direitos do cidadão na Paraíba Duciran nalmente seu, em Cabrobó (PE). A área, onde
Van Marsen Farena, adverte que tal medida é pequena durabilidade, as casas passaram a ser
estava uma fazenda, foi desapropriada pela construídas em taipa e depois tijolos. (Funai,
necessária para evitar um conflito de propor União para as obras de transposição do Rio São
ções incontroláveis no local, o que colocará em 29/08/2008)
Francisco. No local, hoje, estão acampados 1,5
risco a vida das pessoas e as propriedades da mil manifestantes contra a transposição, entre
região. O processo de reconhecimento desta eles os Truká. Os manifestantes começaram FaLEcE a anciã quiTÉria
área teve início há mais de dez anos, tendo ontem a tapar um buraco feito pelo Exército maria panKararu
sofrido diversos obstáculos administrativos e para marcar o início das obras. (Radiobrás, Faleceu no dia 6 de dezembro de 2009, em
judiciais. A comunidade indígena da aldeia 29/06/2007) Paulo Afonso (BA), a anciã do povo Pankararu,
de Monte Mor vive atualmente em sua maior Quitéria Maria deJesus. Ela foi uma das primei
parte em um núcleo urbano (Vila Regina, no
os TruKárEconsTroEm ras mulheres a se destacar na luta pelos direitos
município de Rio Tinto) cercada de proprieda dos povos indígenas do Nordeste. Liderança
des particulares, sem qualquer alternativa de casas após incêndio política e religiosa de seu povo, sempre bata
subsistência. Os índios, inconformados com a Os Truká já reconstruíram as casas que foram lhou pela terra tradicional Pankararu - Brejo
demora no processo de demarcação, ocuparam destruídas por um incêndio acidental que, no dos Padres - perto do município de Jatobá.
área particular (de propriedade da Destilaria dia 1º de julho, atingiu a área retomada pelo (Cimi, 07/12/2009)
Miriri) para fixação de residências, plantação povo perto do canteiro de obras da transposição
e reflorestamento com espécies nativas. Apro das águas do rio São Francisco. O povo segue
prietária da área invadida ingressou com ação lutando pela demarcação da área, que pode ser XuKuru-Kariri rEivindicam
de reintegração de posse na Justiça Estadual, afetada pela construção. A retomada também dirEiTos Fundiários
obtendo, sem oitiva, liminar determinando a foi uma seqüência da ocupação no canteiro O retorno à terra natal é a luta de 93 famílias
desocupação. Em seguida, o MPF/PB e a Funai de obras da Transposição, realizado junto com de índios desaldeados, que vivem precaria
requereram o deslocamento do processo para a movimentos sociais em julho de 2007. “O mente em bairros da periferia de Palmeira dos
Justiça Federal. A 3ª Vara daJustiça Federal na incêndio aconteceu no período em que estáva Índios. Formado por mais de 300 membros,
Paraíba ratificou a decisão daJustiça Estadual. mos avaliando positivamente nossa retomada, os Xucurus-Palmeira são dissidentes da etnia
Asituação, segundo o Ministério Público Fede pois conseguimos que o governo enviasse uma Xucuru-Kariri, atualmente dividida em sete
aldeias situadas em Palmeira dos Índios. pessoa, que é o montante declaradamente já da Baía da Traição/PB, deve-se estar atentos
Segundo o procurador Rodrigo Tenório, “Pal pago a cada indígena que reside na capital à construção de suas identidades específicas
meira dos Índios, se não for a pior, é uma das pernambucana. Sem acesso à terra, os xucu e diferenciadas, além de sua conexão com an
mais complicadas situações de demarcação de rus desaldeados ficaram impossibilitados de tecessores indígenas, embora não apresentem
terra do País.Já houve cinco grupos de trabalho prover o próprio sustento econômico. (MPF, contemporaneamente uma cultura marca
da Funai que não foram levados a termo”, es- 03/09/2009) damente diferenciada, dada as adversidades
tudos que se arrastam desde a década de 1980. sofridas ao longo de sua história.
(Gazeta de Alagoas, 30/09/2007) Todos esses grupos estão com problemas
SERGIPE relacionados à questão territorial, a exemplo
da comunidade da praia de Sagi, no litoral de
prêmio cuLTuras indígEnas mpF/sE quEr quE Funai aTEnda Baía Formosa/RN. A especulação imobiliária
2007 HomEnagEia LídEr do estrangeira está ameaçando tomar-lhe as ter
povo XuKuru assassinado rEivindicaçõEs dos índios
A Procuradoria Regional dos Direitos do Cida ras para construção de resorts. Há indígenas
Segundo o secretário da Identidade e da Di dão em Sergipe cobra do presidente da Funai Potiguara na comunidade de Sagi, vindos da
versidade Cultural do MinC, Sérgio Mamberti, atender as reivindicações das comunidades Baía da Traição, que ali se estabeleceram no
“o edital é a continuidade de um trabalho que indígenas Kaxagó e Xocó-kaurá, principalmente início do século passado. Outras famílias da
teve início no ano de 2006, quando foi criada comunidade, além de ressaltarem a origem
o processo de demarcação das terras. Muitos
a premiação, que resultou do diálogo entre dos Xocó-kaurá estão fora das aldeias e vivem indígena, falam que se estabeleceram no lugar
representantes de grupos/entidades indígenas em situações precárias nos municípios de há mais de cem anos, muito antes do povoado
e o Governo Federal, durante as reuniões do começar a se desenvolver na região.
Grupo de Trabalho para as Culturas Indígenas, Nossa Senhora do Socorro, na grande Aracaju,
e em Porto da Folha, a 190 km de Aracaju. Os A partir de 2005 as comunidades indígenas
implantado pelo MinC em abril de 2005”. Kaxagó hoje estão em terras no município do Estado passaram a participar ativamente
A segunda edição do prêmio homenageia o alagoano de Porto Real do Colégio, às margens de encontros, audiências públicas, marcando
ex-cacique Xicão Xukuru, de Pernambuco, presença em diversos eventos culturais, além
do rio São Francisco e na divisa como estado
morto a tiros em maio de 1998. Ele teve uma de Sergipe, estado em que reivindicam uma
de elaborarem projetos em benefício de suas
participação decisiva na mobilização indígena comunidades. Nessas ocasiões, eles têm de
área. Em 7 de novembro de 2007 foi realizada
no período em que ocorreu a Constituinte marcado suas peculiaridades históricas e cul
uma audiência na Procuradoria da República
(1987/1988). Foi líder na organização do povo turais. Mais recentemente, uma representação
no município de Arapiraca/AL para tratar da
Xukuru na luta pela posse das terras de origem questão do atendimento médico aos Kaxagó e
dos Eleotério de Canguaretama e dos Mendon
da etnia. Atualmente, os Xukurus somam algo ça do Amarelão-João Câmara esteve presente
compromissos foram assumidos pela Funai e
em torno de nove mil pessoas, divididas em Funasa. (MPF, 09/11/2007)
nas discussões da Comissão Nacional dos Povos
mais de 20 aldeias. (MinC, 10/10/2007) Indígenas, realizadas entre 15 e 17/10/2008,
em Fortaleza. Dentre outras ações, a comuni
mpF/pE garanTE iguaLdadE na RIO GRANDE DO NORTE dade Mendonça (da etnia Potiguara), de João
Câmara/RN, encaminhou projeto ao Ministério
assisTência a XuKuru da Cultura e foi contemplada com o Prêmio
O MPF/PE obteve sentença judicial que con moBiLizaçõEs indígEnas no Xicão Xucuru - Prêmio Culturas Indígenas. O
denou a Funai a estender as mesmas ações rio grandE do norTE referido projeto intitula-se Motyrum-Caaçu:
de assistência destinadas aos índios xucurus Ao se falar de grupos que recentemente rei unidos pela arte (o nome está escrito na língua
que vivem no Recife àqueles que residem no vindicam oficialmente o reconhecimento de Tupi que em português significa Mutirão no
município de Pesqueira, no interior do estado. sua identidade indígena, como os Eleotério Mato Grande). O projeto realizará oficinas em
AJustiça Federal reconheceu a obrigação da do Catu – Canguaretama/RN; os Mendonça do outras comunidades indígenas, difundindo o
Funai de implementar a distribuição equitativa Amarelão –João Câmara/RN; os Caboclos de ofício do artesanato indígena e, posteriormente,
de cestas básicas entre os índios xucurus de Açu; a Comunidade de Banguê e a de Trapiá, irá constituir o primeiro grupo de artesãos
Cimbres, desaldeados após conflito de 7 de estas últimas também em Açu; a Comunidade indígenas no Rio Grande do Norte. (Diário de
fevereiro de 2003, no valor de R$ 100,00 por de Sagi, cujos antecessores Potiguara vieram Natal, 19/01/2009)
10.
516 ACRE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ACRE
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº,fonte, ano) Situaçãojurídica Extensão (ha) Município UF
de Porto Walter, comarca de Cruzeiro do Sul (86.805 ha) Matr. 4.831 Liv. 2-P
fl. 187 em 16/05/2006. Reg. CRI no município e comarca de Tarauacá (766
ha) Matr. 1.085 Liv. 2-E fl. 48 em 02/08/2006. Reg. SPU Certidão n° 01 em
29/11/2006.
30 Cabeceira do Rio Acre Isolados 238/Iglesias e Aquino: 2005 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 78.512 Assis Brasil AC
Yaminawá Decreto s/n de 14/04/1998 publicado em 15/04/1998. Reg. CRI no município de
Assis Brasil, comarca de Brasiléia (78.512 ha) Matr. 2.464 Liv. 2-E fl. 429 em
05/06/98. Reg. SPU Certidão n° 64 em 15/09/99.
s/l Cabeceiras
Muru e Iboiaçu
dos rios Isolados Em identificação.
Portaria 1.243 de 07/10/2009 publicada em 08/10/2009. - Tarauacá AC
comarca de Ipixuna (6.762 ha) Matr. 76 Liv. 2-A fl. 76. Reg. CRI no município
e comarca de Tarauacá (25.861 ha) Matr. 758 Liv. 2-B fl. 3 em 12/01/95. Reg.
SPU Certidão n° 11 em 21/06/99.
comarca de Tarauacá (12.317 ha) Matr. 583 Liv.2-C fl. 119 em 12/12/91. Reg.
SPU Certidão n° 04 em 25/06/98.
19 Igarapé
Alto Tarauacá
Taboca do Isolados Com restrição
Portaria 17 de de
11/01/2008
uso a não-índios.
publicada em 19/02/2008. 287 Jordão AC
3 Jaminawa do Igarapé Yaminawá 210/Iglesias e Aquino: 2005 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 25.651 Cruzeiro do Sul AC
Preto Decreto s/n de 11/12/1998 publicado em 14/12/1998. Reg. CRI no município de
Rodrigues Alves, comarca de Mâncio Lima (25.651 ha) Matr. 89 Liv. 2-A fl. 90
em 25/01/99. Reg. SPU Certidão n° 35 em 22/04/99.
s/l Caeté
Jaminawa do Rio Yaminawá Em identificação.
Portaria 964 de 05/10/2007 publicada em 08/10/2007. - Sena Madureira AC
12 Rio Bagé
Jaminawa/Arara do Arara Shawãdawa
Yaminawá 169/Iglesias e Aquino: 2005 Marechal
Decreto s/n
Homologada.
Thaumaturgo,
deRegistrada
11/12/1998comarca
no publicado
CRI e de
SPU.
Cruzeiro
em 14/12/1998. Reg. CRI
do Sul (28.926 ha) no
Matr.
município
4.319 de 28.926 Marechal Thaumaturgo
Tarauacá AC
AC
23 Jaminawa/Envira Kulina
Ashaninka 111/Funai-Rio Branco: 2003 comarca
Decreto s/n
Homologada.
de Feijó (80.618noha)publicado
deRegistrada
10/02/2003 CRIMatr.
e SPU.
707
emLiv. 2-D fl. 144Reg.
11/02/2003. em 09/06/92.
CRI no município
Reg. SPU
e 80.618 Santa Rosa do Purus
Feijó AC
AC
Certidão n° 60 em 05/08/2003.
9 Kampa do Igarapé
Primavera Ashaninka 21/Iglesias e Aquino: 2005 Decreto s/n deRegistrada
Homologada. 23/04/2001 CRI e SPU.em 24/04/2001. Reg. CRI no município e
no publicado 21.987 Tarauacá AC
comarca de Tarauacá (21.987 ha) Matr. 950 Liv. 2-D fl. 207 em 02/01/2002.
Reg. SPU Certidão n° 02 em 01/04/2002.
14 Kampa do Rio Amônea Ashaninka 450/Funai-Rio Branco: 2003 Decreto s/n deRegistrada
Homologada. 23/11/1992no CRI e SPU.em 24/11/1992. Reg. CRI no município de
publicado 87.205 Marechal Thaumaturgo AC
Marechal Taumaturgo, comarca de Cruzeiro do Sul (87.205 ha) Matr. 3.764 Liv.
2-L/RG fl. 202 em 29/12/92. Reg. SPU Certidão n° 08 em 23/11/95.
21 Kampa e Isolados do Ashaninka 283/Iglesias e Aquino: 2005 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 232.795 Feijó AC
Rio Envira Decreto s/n de 11/12/1998 publicado em 14/12/1998. Reg. CRI no município e
comarca de Feijó (232.795 ha) Matr. 603 Liv. 2-D fl. 13/V em 09/02/99. Reg.
SPU Certidão n° 85 em 13/09/99.
6 Katukina/Kaxinawa Shanenawa
Kaxinawá 708/Iglesias e Aquino: 2005 Decreto
Homologada.
283 de
Registrada
29/10/1991
no CRI e SPU. em 30/10/1991. Reg. CRI no município e
publicado 23.474 Feijó AC
comarca de Feijó (2.830 ha) Matr. 430 Liv. 2-C fl. 93 em 04/10/89. Reg. CRI no
município e comarca de Envira, Matr. R-1-223 Liv. 2 fl. 223 em 06/05/97. Reg.
SPU Certidão n° 12 em 06/07/99.
5 Kaxinawa da Colônia Kaxinawá 70/Funai-Rio Branco: 2003 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 105 Tarauacá AC
Vinte e Sete Decreto 268 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no município
de Feijó, Matr. 321 Liv. 2- Bfl. 141 em 04/09/85. Reg. SPU Certidão n° 05
em 15/04/96.
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº,fonte, ano) Situaçãojurídica Extensão (ha) Município UF
17 Kaxinawa do Baixo
Jordão Kaxinawá 319/Iglesias e Aquino: 2005 Homologada.
Decreto s/n deRegistrada
30/04/2001no publicado
CRI e SPU.em 02/05/2001. Reg. CRI no município 8.726 Jordão AC
de Jordão, comarca de Tarauacá (8.726 ha) Matr. 948 Liv. 2-D fl. 205 em
02/01/2002. Reg. SPU Certidão n° 01 em 14/03/2002.
25 Kaxinawa do Rio
Humaitá Kaxinawá
Kulina
Ashaninka 287/Iglesias e Aquino: 2005 Homologada.
Decreto 279 de
Registrada
29/10/1991
no CRI e SPU. em 30/10/1991. Reg. CRI no município
publicado 127.383 Feijó AC
e comarca de Feijó (127.383 ha) Matr. 313 Liv. 2-B fl. 252 em 08/10/86. Reg.
SPU RO Certidão n° 54 em 23/09/87.
16 Kaxinawa do Rio
Jordão Kaxinawá 1.230/Iglesias e Aquino: 2005 Homologada.
Decreto 255 de
Registrada
29/10/1991
no CRI e SPU. em 30/10/1991. Reg. CRI no município
publicado 87.293 Jordão AC
de Tarauacá (87.293 ha) Matr. 392 Liv. 2-B fl. 219 em 04/07/88. Reg. SPU AC
Certidão n° 55 em 28/04/88.
e comarca de Feijó (27.533 ha) Matr. 439 Liv. 2-C fl. 105V em 01/08/90. Reg.
SPU Certidão n° 11 em 30/08/2002.
8 Carapanã Praia do
Kaxinawa Kaxinawá 485/Funai-Rio Branco: 2003 Homologada.
Decreto s/n deRegistrada
30/04/2001 CRI e SPU.em 02/05/2001. Reg. CRI no município e
no publicado 60.698 Tarauacá AC
comarca de Tarauacá (60.698 ha) Matr. 949 Liv. 2-D fl. 206 em 02/01/2002.
Reg. SPU Certidão n° 01 em 14/03/2002.
18 Kaxinawa Seringal
Independência Kaxinawá 166/Iglesias e Aquino: 2005 Essa terraIndígena.
Dominial Registrada
foi comprada no CRI.que esperam seja regularizada como Terra
pelos índios 14.750 Jordão AC
15 do Rio Breu
Kaxinawa/Ashaninka Kaxinawá
Ashaninka 400/Funai-Rio Branco: 2003 de
Decreto
Homologada.
Jordão,
s/ncomarca
deRegistrada
30/04/2001
de Tarauacá
no publicado
CRI e(20.464 ha) Matr. 961Reg.
SPU.em 02/05/2001. Liv.CRI
2 fl.no218
município
em 31.277 Marechal Thaumaturgo
Jordão AC
AC
26 do
Kulina
Paudo Igarapé Kulina 127/Funai-Rio Branco: 2003 Decreto
Homologada.
s/n deRegistrada
18/04/2001no publicado
CRI e SPU.em 19/04/2001. 45.590 Feijó AC
Reg. CRI no município e comarca de Feijó (45.590 ha) Matr. 664 Liv. 2-D fl. 87
em 06/06/2001.
Reg. SPU Certidão n° 02 em 31/01/2001.
Reg. CRI do município e comarca de Feijó (84.364 ha) Matr. 405 Liv. 2-C em
04/08/88.
Reg. SPU Certidão n° 13 em 11/12/96.
29 Mamoadate Manchineri
Yaminawá 1.105/Iglesias e Aquino: 2005 Reg.CRI
Decreto
Homologada.
254
no município
de
Registrada
29/10/1991
e comarca
no CRI
publicado
edeSPU.
SenaemMadureira (152.846 ha) Matr. 1.518
30/10/1991. 313.647 Assis Madureira
Sena Brasil AC
AC
s/l Manchineri
Guanabara do Seringal Manchineri 166/Iglesias e Aquino: 2005 Em identificação.
Portaria 1.073 de 14/11/2003 publicada em 19/11/2003. - Assis Madureira
Sena Brasil AC
AC
Reg. CRI no município e comarca de Mâncio Lima (27.263 ha) Matr. 3.620 Liv.
2-Lfl. 49 em 15/01/92.
Reg. SPU Certidão s/n em 12/05/97.
Reg. CRI no município e comarca de Mâncio Lima (23.353 ha) Matr. 165 Liv. 2-A
fl. 166 em 29/05/2002.
Reg. CRI no município de Rodrigues Alves, comarca de Mâncio Lima (1.126 ha)
Matr. 166 Liv. 2-A fl. 167 em 29/05/2002.
Reg. CRI no município de Guajará, comarca de Ipixuna (19.425 ha) Matr. 219
Liv. 2-B/RG fl. 19 em 04/06/2002.
Reg. SPU Certidão n° 18 em 14/08/2002.
Reg. CRI no município e comarca de Tarauacá (92.859 ha) Matr. 320 Liv. 2-B fl.
142 em 03/09/85. Ainda não tem registro da área ampliada em 2006. Reg. SPU
Certidão n° 06 em 04/07/2002.
NA GRANDE REGIÃO FORMADA PELAS CABECEIRAS Trabalhando com o povo jaminawa, nas cabeceiras do rio Iaco,
DE TRÊS DOS MAIORES TRIBUTÁRIOS DO RIO é possível ouvir os relatos dos mais velhos, todos remanescentes
AMAZONAS, OS RIOS MADEIRA, JURUÁ E PURUS do tempo em que viviam sem contato com o homem branco, de
EM TERRITÓRIO PERUANO, SOMADA À REGIÃO DE como foi o encontro com os caucheiros e o que isso representou
FRONTEIRA DO ESTADO DO ACRE, VIVE A MAIOR em suas vidas. Esse povo vivia nas cabeceiras das bacias doJuruá
POPULAÇÃO DE POVOS ISOLADOS DO PLANETA
e Purus e o primeiro contato que teve com um homem branco
foi por meio de um rifle 44 Winchester, o famoso papo amarelo,
Nas terras firmes das cabeceiras dos rios Acre, Iaco, Chandless, usado pelo 7º Batalhão de Cavalaria do General Custer para
Purus, Envira e Juruá habitavam numerosos povos indígenas, matar índios nos Estados Unidos. Testado e aprovado, mudou
em sua grande maioria falantes de línguas pano e aruak, antes de mãos e passou a ser largamente usado contra os índios da
da chegada dos brancos. As aldeias eram construídas longe da Amazônia Ocidental.
calha dos rios maiores, nas cabeceiras de pequenos igarapés, O povo Jaminawa perdeu uma quantidade incalculável de ho
isentos das nuvens de piuns, maruins, catuquis e carapanãs que mens, mulheres e crianças massacrados pelos caucheiros, mas
infestam as margens dos grandes rios. Amoradia longe das águas começou a caçá-los para roubar rifles 44 e poder guerrear de
grandes, ao longo do tempo, foi estabelecendo maior intimidade
igual para igual. Segundo eles, quanto mais caucheiros eram
dessas populações com a mata do que com os rios, cujas canoas
mortos, outros mais apareciam, como bandos de formigas. Com
só os cruzavam na época da seca.
a população de guerreiros reduzida, com pouca comida, pois
A fertilidade das terras firmes das cabeceiras propiciou uma não havia tempo para cultivar os roçados, e sempre fugindo, eles
agricultura rica entre as populações mais sedentárias dessa resolveram se entregar a um caucheiro peruano nas cabeceiras
região, bem como caça farta o ano todo e o peixe na época da do rio Purus.
seca, proporcionando condições de densidade populacional
O sarampo e a gripe acabaram matando mais que o rifle 44. A
relativamente alta.
população foi reduzida para menos de 300 pessoas, de um povo
Amaioria desses índios utilizava o caucho, um elastômero natural que podia ser contado aos milhares. Trabalharam muitos anos
retirado da árvore de mesmo nome, produzindo vários artefatos. para esse caucheiro e, cansados de serem explorados, mudaram
A descoberta pelos brancos dessa matéria-prima modificaria se para o rio Iaco, para serem explorados pelos patrões no seringal
radicalmente suas vidas. Os caucheiros utilizaram grupos con Petrópolis, em território brasileiro. Uma pequena parte do povo
tatados, principalmente os Ashaninka e Kaxinawá, para expulsar Jaminawa não se entregou e talvez viva até hoje, isolada, entre
e matar os grupos que iam sendo encontrados pela expansão da as cabeceiras do Purus e Juruá, ocupando parte de seu antigo
frente exploratória. território entre o Brasil e o Peru.
conflitos entre índios e seringueiros do lado brasileiro. O povo um quadrilátero de estradas no meio do qual se encontram os
Masko, por exemplo, usa como área de deslocamento, na época povos isolados e outros povos indígenas.
do verão, as cabeceiras dos rios Iaco, Chandless, Purus, Envira
A grande região formada pelas cabeceiras de três dos maiores
e Juruá. Com a ocupação do território Masko por madeireiros
tributários do rio Amazonas, os rios Madeira, Juruá e Purus em
peruanos ilegais, esse povo está ocupando, do lado brasileiro,
território peruano, somada à região de fronteira do estado do
território de outros índios isolados e contatados.
Acre, constitui um complexo de mais de dez milhões de hectares.
Paralelamente, veio se implantando uma indústria de venda de Argumentos para sua preservação não faltam. Tal área abriga as
carne de caça e pele de animais comercializados em Pucalpa, às cabeceiras do Madeira, Juruá e Purus, índios conhecidos de várias
toneladas. Por sua vez, a pesca é praticada até com dinamite nos etnias, brasileiros e peruanos, cidades fronteiriças, a maior popu
remansos das cabeceiras dos rios. Intensificando esse comércio, lação de povos isolados do planeta, além de uma diversidade única,
recentemente foi construída uma estrada inter-oceânica da cidade por ser a transição da Amazônia para a Cordilheira dos Andes.
de Assis Brasil até Lima, atravessando a calha dos rios Tauhama
Para informar e sensibilizar a população em relação aos isolados,
nu e Madre de Dios, que são os formadores do rio Madeira.
a Frente vem investindo em oficinas, cuja maioria de participantes
é indígena, com o objetivo de mostrar que a proteção de seus
AUMENTO DA EXPLORAÇÃO MADEIREIRA territórios será mais efetiva tendo os isolados como aliados e
A estrada possibilitou inicialmente o aumento da atividade não como inimigos. Também tem crescido a articulação entre a
madeireira ilegal na região, assim como o garimpo de ouro na Funai e instituições peruanas, ONGs, organizações indígenas e
calha desses rios, exatamente nas áreas dos índios isolados co antropólogos. Mas os conflitos existentes ao longo da fronteira
nhecidos como Masko. Para agravar o quadro, existe um projeto entre Brasil e Peru, decorrentes da exploração madeireira, mi
dos madeireiros do lado peruano de ligar essa estrada à outra, neração, prospecção de petróleo e gás, bem como o narcotráfico,
que iria da cidade de Puerto Esperança (Rio Purús) à Iberia. Há exigem ações diplomáticas urgentes entre os governos dos dois
também um projeto de ligar Cruzeiro (AC) à Pucallpa, fechando países. (maio, 2008)
DIZEM qUE “O ACRE PODERÁ TER NO FUTURO Como serão repartidos os prejuízos e benefícios advindos da
UMA NOVA GRANDE FONTE GERADORA DE exploração do petróleo, e para quem irão os maiores lucros? Que
RECURSOS, PARA INVESTIR NA MELHORIA DA entidades regulatórias tratarão desse tema? Qual será o papel das
qUALIDADE DE VIDA DE SUA POPULAÇÃO”. MAS populações indígenas e das comunidades rurais nessas entida
A SIMPLES EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS des? Essas perguntas são sonegadas nas matérias na imprensa
TRARÁ AUTOMATICAMENTE ESSA MELHORIA? e nos argumentos daqueles favoráveis à iniciativa.
COMO SERÃO REPARTIDOS OS PREJUÍZOS E
BENEFÍCIOS? Apesar da avaliação do que venha a ser riqueza, pujança, bem
estar e fartura depender muito da perspectiva daquele que fala,
também tomaremos como hipótese inicial que a exploração de
O mês de fevereiro de 2007 chegou com a notícia de que o petróleo e gás no Acre, particularmente no Alto Juruá, são favas
senador Tião Viana tinha conseguido assegurar recursos no contadas, para podermos refletir sobre algumas de suas possíveis
Orçamento Geral da União para incluir o estado do Acre na implicações futuras.
agenda das prospecções a serem licitadas pela Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
EXPLORAÇÃO EM ÁREAS PROTEGIDAS?
De lá para cá muita tinta correu sobre o assunto e alguém já
A simples ideia da prospecção reacende no horizonte desacertos
escreveu, com certa ironia, que, antes mesmo da prospecção
antigos. Na Serra do Divisor, o Departamento Nacional da Produ
ser iniciada, a existência de petróleo e gás no Acre é tida como
ção Mineral e a Petrobrás realizaram prospecções nas décadas de
favas contadas. Parecem ser favas contadas também tudo o que
1930, 1960 e 1970, como mostrou o professor Alceu Ranzi, em 4
se alardeia sobre a riqueza e os benefícios que advirão. Com a
de abril de 2007, no blog do jornalista Altino Machado.
exploração do petróleo, o Acre supostamente poderia reviver
o período de opulência econômica do início da exploração da No Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD), onde se suspeita
borracha na virada do século XX. Não custa recordar que dentre mais fortemente que exista petróleo em abundância, em meados
os resultados dessa opulência, inúmeras populações indígenas dos anos de 1990, algumas famílias começaram a reivindicar
desapareceram e os seringueiros e índios foram submetidos o reconhecimento de sua identidade indígena – eram e são os
a condições de vida que não deixavam nada a dever à escravi Nawa. Esses índios foram então duramente rechaçados por agen
dão, recém-abolida oficialmente no Brasil quando o boom da tes governamentais e não governamentais, que questionaram,
borracha começava. inclusive na Justiça Federal, a autenticidade de sua indianidade,
O Peru pós-Bagua
PARA ALAN GARCÍA, A MAIORIA DOS MALES te tem sido aquela de ver o país como “um mendigo sentado em
DO PERU SE EXPLICA PELO FATO DE TER “CAÍDO um banco de ouro”. Com efeito, não há político que não tenha se
NA ILUSÃO DE ENTREGAR PEqUENOS LOTES servido dela, alguns, com a expectativa de que essa figura caída
DE TERRA PARA FAMÍLIAS POBRES qUE NÃO finalmente se levante. García também não escapa a essa tradição,
TÊM NENHUM CENTAVO PARA INVESTIR”, E mas faz dela uma leitura intolerante, substituindo o mendigo pela
qUE, ALÉM DISSO, NÃO ESTÃO DISPOSTAS A figura de um cão que resume depreciativamente a irracionalidade
VENDER SUAS PROPRIEDADES MODESTAS AO que, segundo alguns autores, é o estigma das culturas nativas.
CAPITAL INTERNACIONAL. ELAS SÃO EL PERRO Essa imagem agressiva tem sido a ponta de lança retórica de
DEL HORTELANO, O CÃO DO JARDINEIRO, qUE García para justificar a ruptura do diálogo democrático e para dar
NÃO COME NEM DEIXA COMER AS RIqUEZAS rédea solta à sua política de imposições.
ESCONDIDAS EM SEU TERRITÓRIO
COMUNERO POSESIONARIO
Um dos momentos-chave para entender a dinâmica recente do Em 2008, por ocasião da concessão de poderes extraordiná
movimento indígena no Peru foi a publicação, em 28 de outubro rios pelo Congresso para a adequação normativa do Peru ao
de 2007, de um artigo no jornal El Comercio assinado pelo presi Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos, o governo
dente Alan García sob o título “El Perro del Hortelano”. Trata-se, de Alan García fez um primeiro ataque contra os territórios
no que diz respeito ao conteúdo, de uma proposta pouco original, comunitários. Por meio de um pacote de decretos, reduziu para
já que aponta para a privatização das assim chamadas tierras
50% os votos necessários nas assembleias para deliberar sobre
comunales, uma medida que notoriamente faz parte do programa as tierras comunales, criando também o estatuto de comunero
liberal desde o início da era republicana. Alan García apresenta posesionario como uma figura intermédia no caminho para a
essa proposta sob nova aparência, chamando atenção para os be propriedade privada. Por outro lado, atribuiu à Comisión de For
nefícios da formalização defendidos por Hernando de Soto, mas a malización de la Propiedad Informal (Cofopri), criada no governo
ênfase, no seu caso, recai menos na inclusão jurídica de setores de Fujimori, sob a orientação de De Soto, o poder de ignorar o
informais do que nas garantias oferecidas para que as grandes título das comunidades e de redefinir os limites de seus territó
empresas, por meio de seu investimento e de suas tecnologias,
rios qualificando parte deles como meros prédios rústicos que
cumpram suas funções quase demiúrgicas, tornando produtivos teriam caído em desuso e que, portanto, poderiam ser oferecidos
territórios que supostamente estão improdutivos até hoje. a quem pagasse mais. Esses decretos, porém, foram desativa
A análise de García tem sido severamente contestada de dos parcialmente nesse mesmo ano em função de uma ampla
diferentes ângulos. É provável, no entanto, que seja menos pelos mobilização amazônica liderada pela Asociación Interétnica para
seus argumentos do que pela forma escolhida que chegou a ser el Desarrollo de la Selva Peruana (Aidesep), criada em 1980,
vista como uma declaração de guerra ideológica. Pois, se é certo que reinvindicou a Convenção 169 da OIT, assinada pelo Peru,
que cada povo procura entender-se por meio de variações de uma segundo a qual é dever dos governos “consultar os povos inte
metáfora, no Peru essa imagem recorrente e flutuante geralmen ressados, mediante procedimentos apropriados e em particular
A ESTRADA CORTANDO AO MEIO A TI DO RIO interditaram a estrada e “para evitar conflitos dos índios com
CAMPINAS MOSTRA DIA APÓS DIA SUA FACE motoristas, uma equipe de policiais militares permaneceu no
PERVERSA, E OS KATUKINA ESTÃO SOZINHOS local do bloqueio durante toda a noite”. O Estado preocupou-se
EM SUA TRISTEZA. REAÇÃO AO ATROPELAMENTO em zelar exatamente pela segurança de quem? Até a morte de
E MORTE DE UM JOVEM KATUKINA Rodrigo, não havia qualquer medida de instrução aos motoristas
que transitavam na TI e segurança aos moradores daquele local.
A rodovia não dispunha, como ainda não dispõe, de sinalização,
O segundo semestre de 2010 ficará marcado na lembrança
de fiscalização nem de acostamentos. Quando a população se
dos Katukina, da TI do rio Campinas, no Acre, como de muita
revolta, o Estado deve protegê-la contra aqueles que perderam
dor, pois foram muitas as mortes em um curto período. Em
um ente querido ou adotar medidas para responsabilizar os
16 de setembro morreu Rodrigo Pequeno, de 26 anos, violen culpados e buscar estabelecer providências imediatas, mas
tamente atingido por um veículo de passeio quando retornava
duradouras, para impedir novas tragédias? Afinal, não deve ser
do trabalho para sua casa, teve morte imediata. Rodrigo era
fatalidade um acidente em que a vítima morre imediatamente.
agente do posto de saúde da TI do rio Campinas, localizado
Em que velocidade transita um carro que mata um pedestre
nas proximidades da aldeia Samaúma. No final daquela tarde,
instantaneamente? As omissões se acumulam, a tristeza e a
fazia seu caminho habitual pelas margens (não se pode dizer
que existe ali um acostamento) da BR-364. Para assumir o desesperança também.
cargo que ocupava, Rodrigo se empenhou e concluiu o ensino Quase um mês após o acidente que vitimou Rodrigo, seu pai e
médio em Cruzeiro do Sul, a cidade mais próxima, na qual seu irmão, respectivamente Davi e Levino Pequeno, encaminha
morou durante seus estudos. Certamente não imaginava que o ram uma carta à regional da Funai em Rio Branco solicitando
emprego, para o qual tinha se preparado, e a rodovia em meio esclarecimentos sobre o acidente e apoio para a responsabiliza
a seu local de vida, não lhe garantiam qualquer segurança. O ção dos culpados. A carta foi encaminhada logo após tomarem
veículo que o atingiu ainda capotou várias vezes, mas o moto conhecimento de que sequer a perícia para apurar as responsa
rista e os demais ocupantes tiveram ferimentos leves. Quando bilidades havia sido providenciada e não constituiria nenhuma
os moradores da proximidade viram que Rodrigo tivera morte novidade se os culpados restassem impunes. Não se tem notícia
imediata, uma breve revolta iniciou-se. Os Katukina fecharam de qualquer fato novo para o caso. Restam os fatos velhos, com
a rodovia, impedindo o tráfego. Os ânimos se exaltaram e, a habitual omissão dos agentes públicos e o histórico sangrento
conforme noticiou a imprensa acreana, o motorista escapou de da BR-364.
ser agredido pelos Katukina porque pensou rápido e passou-se
por outra pessoa, por um passageiro, dizendo que o condutor SUICÍDIOS
do carro havia fugido pela mata. Em 20 de outubro – poucas semanas após a morte de Rodrigo –
Um veículo de imprensa do Acre noticiou que os Katukina ficaram algo novo e triste começou a ocorrer entre rapazes katukina: sui
revoltados com o violento atropelamento e morte de Rodrigo, cídios sequenciais. Em 20 de outubro, no dia de seu aniversário,
GERAL em ajudar a população do interior do Vale do da barriga e cortava o cordão umbilical. “Às
Purus a melhorar de vida, Padre Paolino Bal vezes a criança estava fora da posição, sentada
dassari retornou recentemente de mais uma ou em pé. Tirei seis crianças pelo pé. A mais
ACRE DEBATE CRIAÇÃO DE longa viagem de nova desobriga pelo rio Purus. complicada foi uma que nasceu de bunda, já
PARLAMENTO INDÍGENA Logo após retornar para Sena Madureira, lugar estava toda roxa, então fiz bastante massagem
O Acre discute atualmente a criação de um de sua paróquia, Padre Paolino escreveu mais no peito, chupei e assoprei na boca, depois a
parlamento indígena, que serviria para orientar uma das muitas cartas que envia ao senador coloquei emborcada e ela chorou bastante,
as políticas públicas para as comunidades indí e médico Tião Viana (PT-AC) retratando o que agora já tem filhos e netos”, afirma. “Não sei
genas, fazendo uma ponte entre o governo e as viu nas suas peregrinações rio acima e rio quantas crianças já aparei, mas fico muito feliz
14 etnias do estado. “Esse parlamento é um es- abaixo para cuidar do povo da floresta. Desta porque nunca perdi nenhuma delas.” Após o
paço onde a gente coloca todas as organizações feita, a carta de Padre Paolino é um libelo de parto, se houver hemorragia Manîcá prepara
e lideranças indígenas em nível de igualdade. preocupações sobre os males que o choque um chá com as folhas da runstarri. (Juracy
Um espaço democrático onde todos participam. de cultura vem provocando nas populações Xangai, Página 20, 11/09/2007)
É uma forma de a gente, como governo, ter um dos índios Kulina e Kaxinawá, que não estão
diálogo direto com as comunidades”, afirma sabendo lidar com o dinheiro que passaram RATINHO VAI EXPLORAR MADEIRA
Francisco Pinhanta, assessor especial dos a receber de aposentadorias, dos salários de EM FLORESTA NATIVA DO ACRE
povos indígenas do governo do Acre. Segundo professores e de outros pagamentos. Segundo
o índio Isak Piankó, da etnia Ashaninka, a A Radan Administração e Participação Ltda.,
o padre, os índios da região estão deixando
maior vantagem da criação do parlamento é que tem como sócio majoritário o apresentador
as aldeias abandonadas, preferindo ir para as
a “participação mais direta das comunidades Carlos Massa, o Ratinho, obteve licenciamento
cidades gastar o dinheiro com a família. A ida
indígenas” nas decisões que serão tomadas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
dos índios para as cidades, particularmente Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para
pelo governo estadual. O Acre é o único estado para Sena Madureira, acaba criando, com o
que discute uma proposta do gênero. (Kátia exploração madeireira em 150 mil hectares
fim do dinheiro, problemas sociais para eles de floresta nativa, na margem esquerda da
Paiva, Radiobrás, 23/04/2007) mesmos continuarem vivendo fora de seus lu
gares tradicionais. (Romerito Aquino, Página BR-364, sentido Tarauacá-Cruzeiro do Sul, no
Estado do Acre. Aempresa de Ratinho adquiriu
COIAB CRITICAINDÍGENA
PARLAMENTO 20,12/08/2007) duas glebas, em maio de 2002, da Companhia
Paranaense de Colonização Agropecuária
A Coiab divulgou um manifesto com duras ENCONTRO DE PARTEIRAS e Industrial do Acre (Paranacre). Ela tinha
críticas ao parlamento indígena pretendido E PAJÉS conhecimento de que haviam sido destacadas
pelo governador do Acre, Binho Marques (PT), da área inicial da “Gleba Paranacre”, as áreas
Médicos, pajés e parteiras tradicionais de
que foi anunciado durante solenidade no Dia que foram reconhecidas e demarcadas para os
comunidades indígenas de todo o Estado
do Índio. A entidade considera que o governo povos Yawanawá/Katukina e Kaxinawá, respec
estão reunidos desde a manhã de ontem e
trata o tema indígena de maneira unilateral tivamente a TI Yawanawá do Rio Gregório e a
continuam até a tarde de amanhã o mais amplo
e cita como exemplo a extinção da Secretaria
debate já realizado com o objetivo de conciliar TI Kaxinawá da Praia do Carapanã, totalizando
Extraordinária dos Povos Indígenas, criada a 130 mil hectares. Região do Rio Gregório foi
partir da sugestão das lideranças indígenas. os princípios das duas ciências de forma que,
aprendendo um com o outro, os dois lados sobrevoada no sábado. Na verdade a área
“Foi extinta sem uma consulta, assim como sejam beneficiados. É o primeiro Encontro inicial da Radan era 195 mil hectares, mas foi
nomeações sem a participação dos povos, reduzida porque a empresa aceitou doar parte
organizações, associações e federação, o que Estadual de Parteiras e Pajés Indígenas. O para comunidades indígenas e menos de 10
evento foi aberto pelo canto de boas-vindas
consideramos um retrocesso, principalmente mil hectares para assentar posseiros da região
entoado pelas parteiras e pajés do povo sha
do governo do Partido dos Trabalhadores”, que ocupavam a propriedade. A empresa se
nenawa. Representando o governo do Estado,
assinala o manifesto. O documento condena, viu forçada a ceder a área aos indígenas após
o assessor para assuntos indígenas, Francisco
ainda, os atos da justiça trabalhista do Acre, que a Organização dos Agricultores Extrativistas
Pianko, declarou: “O conteúdo deste encontro
leiloou a antiga sede da União das Nações In Yawanawá do Rio Gregório fazer circular Carta
dígenas. Para a Coiab, os mandatos de despejo trata das coisas mais sagradas dos nossos
povos e a base do trabalho que tem garantido Aberta na internet, em setembro de 2005, na
caracterizam violação de direitos e insegurança, qual negou qualquer intenção de negociar suas
por não permitir que os líderes indígenas a sobrevivência de nossos povos durante os
áreas de ocupação tradicional. (Altino Macha
possam exercer suas funções com “segurança tempos. São práticas que efetivamente existem do, Blog da Amazônia, 17/05/2010)
e tranqüilidade”. “Sede de organizações são e salvam pessoas, por isso é tão importante
patrimônio coletivo dos povos indígenas e não saber valorizá-los e respeitá-los porque muito
temos a aprender com eles”. Maria Alves de PRIMEIRA TURMA DE AGENTES
podem ser penhorados por atos de pessoas e AGROFLORESTAIS INDÍGENAS
com o envolvimento da Funasa”. (Altino Ma Souza, ou simplesmente “Manîcá”, como é
chado, Amazonia.org.br, 10/05/2007) mais conhecida essa parteira do povo Kaxarari, O curso é um projeto do Centro de Formação
tem 67 anos. Segundo ela, assim que retirava dos Povos da Floresta, uma escola da ONG
a criança do ventre da mãe, limpava a boca do Comissão Pró-Índio (CPI), aprovado pelo
CHOQUE DE CULTURA FAZ MAL bebê com um pano para facilitar a respiração, Conselho Estadual de Educação e Ministério
A ÍNDIOS DO PURUS depois o restante do corpo, enrolava num da Educação. Com uma carga horária de 2.680
Considerado um dos maiores guardiões dos po pano e esperava a mãe desocupar (soltar a horas/aula, a formação dos AAFIs incluiu disci
vos da floresta, onde vive há 50 anos, obstinado placenta), só então media três dedos a partir plinas de conhecimentos básicos como língua
indígena, língua portuguesa, matemática e geo Júnior, coordenador da Frente de Proteção de índios isolados localizada na remota Ama
grafia com ênfase em cartografia; e disciplinas Etnoambiental da Funai, comandou um so zônia peruana. De acordo com a ONG britânica
profissionalizantes como os Sistemas Agroflo brevôo que resultou nas primeiras fotografias Survival International, a decisão foi anunciada
restais, ecologia indígena e artes e ofícios, entre dos índios de uma das quatro etnias isoladas esta manhã em Londres pela Perupetro, a
outras. Participaram do curso, índios de 11 que vivem na fronteira do Acre com o Peru. empresa estatal responsável pela promoção da
terras indígenas das etnias Kaxinawá, Katukina As mulheres e suas crianças fugiram para a exploração de petróleo e gás no Peru. A maioria
e Manchineri. (Tatiana Campos, Agência de floresta em busca de proteção, enquanto os da reserva havia sido aberta para exploração
Notícias do Acre, 13/08/2010) guerreiros da tribo se posicionaram e reagi pela empresa brasileira Petrobras, em uma
ram atirando flechas no avião. Nas cabeceiras área conhecida como Lote 110. Estima-se a
do Igarapé Xinane, conhecido nos mapas de existência de 15 povos indígenas isolados na
ISOLADOS geografia como Cachoeira, muito próximas floresta amazônica peruana. Há dois anos,
ao paralelo 10º, no limite Brasil-Peru, foram lideranças ashaninka da TI Kampa do Rio
FUNAI ENCONTRA fotografadas duas malocas de índios isolados. Amônia, no Brasil, denunciaram que a Petro
ISOLADOS NO ACRE Ambas foram localizadas inicialmente, a partir bras estava preparada para iniciar atividades de
dos recursos da ferramenta Google Earth, pelo prospecção e exploração de petróleo e gás, no
Durante sobrevoo de fiscalização da região
sertanista Rieli Franciscato, da Frente de Pro alto rio Juruá, no Peru, em lote sobreposto a
amazônica na fronteira com o Peru, no norte
teção Etnoambiental do Javari, no Amazonas, territórios de comunidades nativas e de índios
do Acre, em operação conjunta entre Funai,
que tratou de enviar as coordenadas ao colega isolados. O lote é sobreposto à Reserva Territo
Ibama e Polícia Federal, na quinta-feira
(15), foram vistas algumas aldeias, roças e dele no Acre. As mulheres índias do grupo rial Murunahua e a territórios de comunidades
de isolados que foi fotografado usam saiote ashaninka, jaminawa e amahuaca, já titulados
acampamentos de caça de grupos indígenas
de algodão. Os homens usam uma cinta de ou reivindicados. A leste, o lote tem limites, ain
autônomos. “Tratando-se de índios isolados, da, com o Parque Nacional Alto Purús, estando
nunca podemos afirmar quem eles são. Temos algodão na qual amarram o pênis. Raspam o
sobreposto à sua zona de amortecimento, no
alguns indicativos. Mas o importante não é cabelo até a metade da cabeça, mas a cabeleira
trecho onde está a Reserva Territorial Mashco
saber quem são eles, a qual grupo pertencem, se estende até o meio das costas. Usam tiaras Piro, criada em 1997 para proteger grupos
e sim protegê-los, garantir o seu território e aparecem pintados de urucum (vermelho).
Chama a atenção o fato de que alguns poucos isolados Mashco-Piro. A reserva entregue à
e deixar que vivam do jeito que quiserem,
aparecem pintados de jenipapo, isto é, com os Petrobras é habitada pelas últimas tribos de
como nações autônomas”, disse o sertanista índios isolados no mundo. (Altino Machado,
José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, chefe corpos pretos, mas sem arco e flecha. (Altino
Blog da Amazônia, 21/05/2010)
da Frente de Proteção Etnoambiental Envira, Machado, Terra Magazine, 23/05/2008)
da Funai. A área possui mata intacta, e não
foi ocupada durante o período da seringa na INDÍGENAS PERUANOS ASHANINKA
região. A aldeia que foi sobrevoada pode ser
pano, da famíliaJaminawa. Ao lado da cidade
RUMO AO ACRE
A crise no Peru já provoca, segundo a Funai, ETNIA ASHANINKA CRIA ESCOLA
de Feijó, às margens do rio Envira, há uma
aldeia Shanenawa. Nela, vive uma senhora
movimentação de grupos de diversas etnias PARA ENSINAR AOS BRANCOS
chamada Maria, capturada nos anos 1950, indígenas rumo ao Brasil, especificamente para Além de lutar diariamente para conter a inva
numa expedição de caça chefiada por um o Acre. A Funai já identificou pelo menos dois são e a destruição dos recursos naturais de suas
conhecido caçador de índios da região, Pedro grupos indígenas peruanos que, atipicamente, terras por madeireiros peruanos, na fronteira
Biló. A ela foi arrumado um marido na aldeia, começaram a frequentar as matas brasileiras, do Brasil com o Peru, a Associação Ashaninka
Antonio Alves, e mesmo algum tempo depois, nas cabeceiras de rios da fronteira. Apesar do Rio Amônia (Apiwtxa) ainda consegue se
ela continuava a encontrar seus parentes, ain da distância -Bagua fica a mais de 3.000 km mobilizar para inaugurar no sábado a Yorenka
da autônomos, nas matas da região. Falava a de Assis Brasil (AC)-, o motivo para a fuga, Ãtame - Escola Saberes da Floresta, uma inicia
língua da família pano, e pelo corte de cabelo e segundo a Funai, é o mesmo que originou os tiva que poderá se tornar num marco na defesa
hábitos, pode pertencer a uma comunidade do conflitos que deixaram ao menos 34 mortos: das florestas da região. AYorenka Ãtame pode
grupoJaminawa. “Já avistamos índios pelados, a lei pró-investimentos na Amazônia peruana, ser um exemplo de como restaurar o meio
com o cabelo raspado dos lados, bem ao estilo editada pelo governo Alan García. ambiente e ter uma facilidade muito mais
Jaminawa. Eu não me surpreenderia se um A ação de empresas petrolíferas, garimpeiros prática de ensinar os ribeirinhos. Apoiada pela
dos grupos isolados da região fosse Jaminawa. e madeireiras, além da constante presença de Rede de Amigos da Escola, Governo do Estado
Mas não podemos afirmar nada, insisto, com narcotraficantes, tem afugentado índios, princi do Acre e prefeitura de Marechal Thaumaturgo,
certeza, em se tratando de índios isolados”, palmente isolados, afirma o sertanista brasilei a escola é um desafio do povo ashaninka, que
pondera Meirelles. Segundo o sertanista, há roJosé Carlos Meirelles, coordenador da Frente vai ensinar a população branca da região a
pelo menos três grupos indígenas diferentes de Proteção Etno-Ambiental do rio Envira, no estabelecer uma relação com a floresta sem da
na área. (Site da Funai, 16/02/2007) Acre. (Lucas Ferraz, FSP, 10/06/2009) nos ambientais. “A Escola é um desafio grande
para o nosso povo, para enfrentar até mesmo
os conhecimentos acadêmicos”, afirma Benke
ÍNDIOS ISOLADOS SÃO PROIBIDA DE EXPLORAÇÃO DE Pinhanta, ashaninka criador e coordenador
FOTOGRAFADOS NO ACRE RESERVA DE ISOLADOS NO PERU da escola. Segundo Benke, a escola veio para
Após quase 20 horas num avião monomotor, Empresas de exploração de petróleo e gás mostrar um novo modelo que a comunidade
o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles foram proibidas de operarem numa reserva ashaninka desenvolveu voltado à segurança e
indenização por danos morais causados aos percentual mais elevado de desnutrição aguda tações orais feitos pelos indígenas. Para isso,
membros da comunidade indígena, e de R$ (14%) do que outras crianças indígenas de trabalharam-se temáticas como saúde, edu
5,9 milhões ao Fundo de Defesa de Direitos Di outras regiões do país: Suruí (6,6%), Alto Xingu cação, cultura, recursos florestais, criação de
fusos, para custear a recomposição ambiental (7,5%), Yanomami (7%), Xavantes das Terras animais, entre outras. Participaram da oficina
na área explorada. Em valores atualizados, o Indígenas de Sangradouro (1,1%) e Terras o professor, o agente de saúde, a liderança e
montante da condenação soma aproximada Indígenas de São Marcos (0,7%). a vice-liderança, o agente agroflorestal, estu
mente R$ 15 milhões, de acordo com avaliação Os pesquisadores verificaram que existe uma dantes, artesãs, pajés e demais moradores. Os
daAGU. (Altino Machado, Blog da Amazônia, prevalência de índice de gordura corporal baixo dados obtidos irão compor o Plano de Gestão
16/11/2009) em ambos os sexos (masculino: 83,7% e femi Territorial e Ambiental, documento que con
nino: 62%), podendo ocorrer deficiências no tém os problemas de uma terra indígena com
crescimento e desenvolvimento das crianças. base nas temáticas trabalhadas nas oficinas,
POYANAWA No que se refere ao estado nutricional, foi reivindicações de soluções para esses proble
observado uma prevalência da desnutrição mas, bem como acordos e intenções entre os
POYANAWA DENUNCIAM pregressa (E/I), que foi de 76,3%, seguida moradores, visando uma melhor gestão do
INVASÕES EM SUA TERRA de crônica (P/I) que foi de 47,3% e a aguda território. (O Rio Branco, 22/01/2010)
O povo Poyanawa das aldeias Barão, Ipiranga (P/E), que foi de 14%. Eles concluem o estu
e BomJardim, no Município de Mâncio Lima, do sugerindo uma intervenção em ambas as
aldeias com o objetivo de minimizar a situação. ARARA DO RIO AMÔNIA
está mobilizado desde 2001 para a proteção de
(Notícias da Hora, 14/05/2007)
seu território. Em entrevista, gravada durante a
I Oficina de Etnomapeamento da TI Poyanawa,
MPF/AC QUER QUE FUNAI
realizada pela Comissão Pró-Índio do Acre e KAXINAWÁ VÃO INAUGURAR DEMARQUE TI APOLIMA-ARARA
a Associação Agro-extrativista Poyanawa do CENTRO DE MEMÓRIA O MPF/AC entrou com ação civil pública, com
Barão e Ipiranga (AAPBI), de 17 a 21 de abril, A comunidade Hunikuin e a Associação dos pedido de liminar, contra o Incra, a Funai e a
o ex-presidente da AAPBI e hoje vereador,Joel Seringueiros do Rio Jordão (Askarj) enviaram União para garantir que índios da etnia apoli
Ferreira Lima, conta como eles estão organiza convite para o senador Tião Viana (PT-AC) para ma-arara tenham o direito de permanecer em
dos e de que forma os órgãos de governo têm a festa de inauguração do Centro de Memória suas terras localizadas às margens do Rio Amô
sido negligentes diante de suas obrigações e Hunikuin dos Rios Yuraiá e Tarayá, na aldeia nia, no município de Marechal Thaumaturgo,
das solicitações de apoio feitas pelos Poyanawa. São Joaquim, município de Jordão. No fim do a 500km de Rio Branco e acessível apenas por
Entre as denúncias, a expansão do Ramal do ano passado, os Hunikui assinaram um con via aérea ou fluvial. O pedido do MPF é para que
aJustiça reconheça e preserve a posse dos in
Vinte, a 300 metros do limite da terra, sem vênio para finalização do projeto que já estava
qualquer EIA-RIMA e licenciamento prévios. em andamento com a força da comunidade. dígenas sobre a área, impedindo a construção
Até agora, apenas a Secretaria Extraordinária A inauguração vai acontecer no dia 20 deste de novas edificações, obras ou plantações dos
dos Povos Indígenas do Acre se manifestou: o mês. Segundo Banê Kaxinawa, representante assentados até que haja decisão final sobre o
secretário, Francisco Pianko, no último dia da do povo Kaxinawa do Jordão, “o chamado é caso. Também foi pedida a declaração da terra
para inaugurar a bela escola da floresta, onde em litígio como terra indígena e a demarcação
oficina, se dispôs a apoiar a realização de uma
repassaremos parte de nossos conhecimentos definitiva da área pela Funai, obrigando-se a
audiência pública em Rio Branco e solicitou
aos interessados. O Centro de Memória resulta Fundação a proteger o território. A ação tam
ao Instituto de Terras do Acre uma vistoria no
da força de organização do povo Hunikuin. bém demonstra a preocupação do MPF com a
entorno da TI. (Julieta Matos Freschi, Página situação dos parceleiros assentados, pedindo
20, 15/05/2006) Nesta inauguração, estarão presentes todas as
autoridades Hunikui dos quatro cantos do Acre, ao final que haja a obrigação de que o Incra
além de moradores e colaboradores do Breu, estabeleça lugar alternativo para os assentados,
KAXINAWA Purus, Envira e Tarauacá, uma confraterniza providenciando sua mudança e ofertando mo
ção que bem caracteriza essa forte união dos radia e alimentação, além do pagamento, pela
CRIANÇAS KAXINAWÁ TÊM Kaxinawa em sua luta pelos direitos iguais na União, de indenização de 300 salários mínimos
DESNUTRIÇÃO CRÔNICA sociedade da floresta. (Flaviano Schneider, a cada família retirada da área. (Hermington
Página 20, 03/06/2008) Franco, MPF, 19/11/2007)
Pesquisa realizada pelos professores Edson
dos Santos Farias e Orivaldo Florêncio de DEMARCAÇÃO DA TI SOBREPOSTA
Souza, do Departamento de Educação Física OFICINA DEFINE PLANO DE
da Universidade Federal do Acre, indica que GESTÃO DE TI KAXINAWÁ À RESEX GERA CONFLITOS
76,3% das crianças indígenas Kaxinawa das al A Comissão Pró-Índio do Acre (CPI/AC) e Moradores da Reserva Extrativista (Resex)
deias Caucho (Rio Muru) e Paroá (Rio Envira) a Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Alto Juruá vem se articulando contra a
apresentavam desnutrição crônica. Este valor (SEMA) realizaram, entre os dias 15 e 18 de demarcação da Terra Indígena (TI) Apolima
é extremamente elevado, quando comparado janeiro, a Oficina de Elaboração do Plano de Arara, localizada às margens do Rio Amônia,
com outros estudos realizados com indígenas Gestão Territorial e Ambiental da TI Kaxinawá no município de Marechal Thaumaturgo, a 500
de outras regiões do Brasil. Entre os Suruí, a da Colônia 27. O evento aconteceu na aldeia quilômetros de Rio Branco (AC).
desnutrição é de 46,3%, entre os Baré 45,4% e Pinuya, no município de Tarauacá. Durante a As reuniões dos habitantes da Resex vêm acon
entre os Xavantes 9%. Em relação ao peso para oficina, foram recolhidas informações sobre a tecendo desde 15 de outubro, quando foram
estatura, os Kaxinawá mostraram contingente aldeia através de textos, desenhos e apresen publicados no Diário Oficial do Estado do Acre
os limites da TI. O problema é que esses limites Na manhã de ontem, os apolimas-Arara fize demarcarem a terra indígena. A portaria foi
se sobrepõem à Rexex. Técnicos do governo ram refém o sertanista Antônio Macedo. Ele foi assinada no dia 8 de setembro deste ano. Na
e indigenistas se preocupam com os possíveis libertado após atuação da Polícia Federal. Os semana passada, os moradores se reuniram
confrontos e já registraram um aumento de indígenas pediram auxílio da PF para mediar na Câmara Municipal para debater a questão
retirada ilegal de madeira. uma reunião no MPF, onde reivindicaram e mostrar suas insatisfações com o decreto que
Para discutir o caso, representantes do Mi celeridade na assinatura de uma portaria deu posse permanente de uma área de 20.764
nistério Público Federal, da Funai e do Cimi do Ministério da Justiça que assegura a de hectares aos índios. Na ocasião, os moradores
realizaram um encontro para elaborar estra marcação de 20,6 mil hectares para as 287 se reuniram na Câmara Municipal para debater
tégias e minimizar possíveis conflitos. Uma pessoas da tribo. O processo corre na 1ª Vara a questão e mostrar suas insatisfações com o
das decisões do grupo foi cancelar as visitas daJustiça Federal do Acre, que decidirá sobre decreto que deu posse permanente aos índios
aos indígenas, que explicariam o processo de o caso. (Altino Machado, Blog da Amazônia uma área de 20.764 hectares. O encontro,
demarcação. “Suspendemos para não dar , 02/09/2009) que deveria ser pacífico, durou mais de três
conotação de provocação. Nós iríamos fazer dias já que as famílias fizeram seis vereadores,
um esclarecimento para os próximos passos, além dos secretários de Agricultura, Clemerson
ASSENTADOS NÃO
mas suspendemos, para evitar conflitos”, Souza, e do Meio Ambiente, Isaac Pianko de
explica Lindomar Padilha, coordenador do PRETENDEM SAIR DA TI reféns. (Amazonia.org. 30/09/2009)
Cimi no Acre. A situação em Marechal Thaumaturgo, cidade
Segundo ele é preciso que sejam atendidos os acreana que faz fronteira com o Peru, está
tensa. O motivo é uma disputa fundiária entre MPF/AC ENCAMINHA SOLUÇÕES
direitos das populações tanto indígenas como
dos assentados, mas no local não existe pre índios Apolima-Arara, que conquistaram o PARA OS APOLIMA-ARARA
sença governamental. “Eles ficam isolados, o direito a terra por meio de uma portaria do O Ministério Público Federal no Acre (MPF/AC)
município tem em torno de duas mil pessoas Ministério da Justiça, e famílias que vivem conduziu uma reunião ontem, 15 de março,
e eles ainda estão fora do município, uma área no Projeto de Assentamento (PA) Amônia há com o intuito de dar continuidade às ações
que não tem Funai, não tem Incra ou Ibama”. anos e podem ser realocadas, já que parte do referentes à demarcação definitiva da Terra
(Amazonia.org. 12/11/2008) assentamento está sobreposto à área indígena Indígena Apolima-Arara. Na reunião estiveram
pleiteada. Insatisfeitos com a possibilidade de presentes, além dos representantes indígenas
terem que sair do local, os assentados afirmam e das famílias assentadas, o Incra, a Funai
MPF APOIA INVASÃO DA SEDE e o Instituto de Terras do Acre (Iteracre). A
DA FUNAI PELOS ARARA que as pessoas que ganharam o direito pela
Terra Indígena não são índios. Os moradores reunião apresentou novidades para os índios
A administração da Funai no Acre não obteve se recusam a deixar o local onde vivem há e para as famílias assentadas, já que Funai e
apoio do MPF para o pedido de reintegração Incra criaram um grupo de trabalho para pro
anos e pedem uma solução do governo já que
de posse que solicita o uso de força policial os indígenas, segundo eles, estariam agindo ceder o levantamento inicial das benfeitorias
para retirada dos indígenas da etnia apolima a serem indenizadas às famílias assentadas
de má-fé.
arara que ocupam a sede do órgão há mais “Esses 17 que se dizem índios, que elaboraram na área e que serão reassentadas, tendo em
de 20 dias. todo o movimento, intitulando-se da etnia vista o reconhecimento da terra indígena.
O procurador da República Anselmo Henrique Apolima-Arara, eram assentados do Incra. Além disso, o Incra deu prazo para concluir
Cordeiro Lopes considerou em sua manifesta Eles exploraram celulose, venderam, tiraram o reassentamento até o final de 2012, tendo
ção que a ocupação da sede da Funai é inerente
madeira e depois saíram”, afirma o procurador o MPF pleiteado junto à direção do órgão que
à liberdade coletiva de manifestação dos povos agrário do Incra da região, Adaido Silva. Ele houvesse um esforço no sentido de antecipar
indígenas, prevista na Constituição Federal, explica que na época em que se registraram o final do reassentamento para uma data mais
exercida neste caso pela insurgência contra para fazer parte de um dos assentamentos não próxima. (MPF, 16/03/2010)
atos ilegais de responsabilidade do poder pú se intitularam como indígena e foram reconhe
blico. De acordo com o procurador, aJustiça cidos somente como “cidadãos beneficiários de YAWANAWÁ
Federal determinou, ainda em 2007, que a um projeto de reforma agrária”. Silva garante
Funai e a União iniciassem a demarcação das que quando o PA foi criado, a Funai foi indagada
terras dos apolima-arara, o que até o momento sobre a existência de famílias indígenas que YAWANAWÁ COMEMORAM
não foi realizado. A decisão judicial, que está poderiam ter interesse pela região. “Ocorre DEMARCAÇÃO DE TI
sendo descumprida há mais de um ano, decor justamente o seguinte, quando o Incra foi criar Os índios Yawanawá, da TI Rio Gregório, situada
reu de ação civil pública movida pelo próprio o projeto, na época da demarcação da área, no município de Tarauacá, no Acre, realizaram,
MPF. No entendimento do procurador, a “irre mandou um oficio, que é um praxe quando durante a última semana, a Festa da Terra,
signação” dos indígenas é legítima, pois pede se assenta em áreas longínquas e possa existir em comemoração à conquista definitiva de
simplesmente o cumprimento da decisão. Por interesses indígenas. O ofício foi mandado suas terras. Inicialmente identificada, com 92
entender que a ocupação de espaços ou prédios para a Funai e foi respondido que não havia mil hectares, a terra indígena, por solicitação
públicos é uma das poucas formas de pressão nenhum interesse. Então foi criado o projeto da comunidade indígena local, passou por
que ainda restam aos povos indígenas, o MPF de assentamento tranquilamente”, explica. um processo de revisão, que culminou com a
considera que a desocupação deva ocorrer de A área indígena da etnia Apolima-Arara só identificação final de 187.400 hectares, que já
forma negociada, sendo os índios respeitados foi reconhecida porque foi impetrada pelo estão em fase final de demarcação. Na Aldeia
como indivíduos de direitos fundamentais e MPF/AC), em novembro de 2007, uma Ação Nova esperança, onde foi realizada a festa
não como ofensores da Lei. Civil Pública que obrigou a Funai e a União a comemorativa, o cacique Biraci Brasil afirmou
KUNTANAWA
MPF/AC RECOMENDA
DEMARCAÇÃO DE TI
O MPF/AC enviou recomendação à Funai para
que ela inicie imediatamente o processo de
demarcação da área onde vive o povo indígena
kontanawa. Há mais de cinco anos os índios
solicitam, por parte dos órgãos e entidades do
poder público, o seu reconhecimento como
comunidade e, também, pela demarcação da
terra onde tradicionalmente vivem. A Funai terá
30 dias para se manifestar sobre o documento,
informando se cumprirá ou não a recomenda
ção. Após o encerramento do prazo, dependen
do do posicionamento da Fundação, o MPF/AC
definirá as medidas judiciais pertinentes. (Luci Aldeia Sete Estrelas dos índios Kuntanawa.
Maria Teston, MPF, 14/12/2007)
KUNTANAWA VÃO À GROENLÂNDIA da mensagem que seu povo Kuntanawa leva ao País como uma terapia indígena milagrosa.
O indígena Haru Kuntanawa e seu pai Iavu encontro. ‘Vivemos na Amazônia, vivemos na Enquanto isso, a substância e suas moléculas
Kuntanawa, habitantes do rio Tejo, altoJuruá, floresta e sabemos cuidar dela’. Segundo Haru, são patenteadas no mundo todo e o governo
embarcaram hoje para São Paulo e de lá para os índios, a consciência indígena está tranqüila federal tenta fazer do kampô um caso emble
a Groenlândia, onde participarão nos dias 17 quanto ao aquecimento global. “Nós cuidamos mático de repartição de benefícios associados
a 19 de julho da Cerimônia do Fogo Sagrado, de preservar nossa floresta e não danificar o aos recursos genéticos da biodiversidade
evento que reunirá milhares de representantes meio ambiente. Na Groenlândia, vamos levar brasileira. No começo deste mês, a Associação
de todo o planeta e pretende ser um alerta esta mensagem não apenas em nome do vale Katukina do Campinas (Akac)divulgou uma
sobre as conseqüências do aquecimento glo doJuruá ou do Acre, mas de toda a Amazônia”. carta solicitando que as pessoas que fazem a
bal. A Groenlândia é a maior ilha do mundo, (Flaviano Schneider, Agência de Notícias do prática comercial da “vacina do sapo”, como a
fica situada no extremo nordeste da América Acre,10/07/2009) substância é conhecida, não utilizem o nome
do Norte e sua maior parte está dentro do da etnia como forma de “legitimar” a ativida
Círculo Polar Ártico. Tem mais de dois mi KATUKINA de. A carta é direcionada em especial a duas
lhões de quilômetros quadrados, com 80% terapeutas, uma de São Paulo e outra de Belo
do território coberto de gelo. É um dos locais Horizonte, citadas nominalmente no documen
do mundo onde já é visível que a temperatura KATUKINA ALERTAM CONTRA USO to, que estariam valendo-se do nome da Akac
está subindo, com o derretimento de gelo e até INDEVIDO DO KAMPÔ para divulgar a substância e lucrar com isso. No
surgimento de vegetação em algumas partes do Índios do Alto Juruá, no Acre, divulgam carta documento, os Katukina também afirmam que
Sul da ilha. Haru e Iavu saíram de sua aldeia denunciando o uso não autorizado de seu a comercialização do kampô trouxe problemas
Kuntamanã, no rio Tejo, importante afluente nome na comercialização da secreção da pe para a comunidade indígena e pedem que a
do Juruá e, já em Cruzeiro do Sul, durante rereca Phyllomedusa bicolor, cuja aplicação prática seja encerrada. (Bruno Weis, Notícias
pajelança com a bebida sagrada Uni, falaram tem sido divulgada nas grandes cidades do Socioambientais, 27/04/2006)
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situaçãojurídica Extensão (ha) Município UF
26 Arara do Rio Branco Arara do Rio Branco 150/Seplan-MT e Funai: 2008 Homologada.
Decreto s/n deRegistrada
26/12/1996no publicado
CRI e SPU.em 27/12/1996. Reg. CRI no município de 114.842 Aripuanã MT
Aripuanã, comarca de Cuiabá (114.842 ha) Matr. 54.317 Liv. 2-ISfl. 191 em
01/04/97. Reg. SPU Certidão n° 11 em 26/02/98.
18 Aripuanã (Parque Cinta larga 360/Funai: 1989 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.603.250 Juína MT
Indígena) Decreto
de Juína98.417 de ha)
(938.200 20/11/1989
Matr. 31.351
publicado
Liv. 2-DH
em 21/11/1989. Reg. CRI Reg.
fl. 160 em 05/11/87. no município
CRI Vilhena RO
no município de Vilhena (671.500 ha) Matr. 4.146 Liv. 2-RG fl. 1 em 21/11/88.
Reg. SPU MT Certidão s/n em 06/11/87. Reg. SPU RO Certidão n° 101/389 em
29/07/88.
Reg.
e comarca
SPU DG-RO-90/293
de Ji-Paraná (185.533 ha) Matr.
em 18/12/86. Reg.5339
SPU Certidão
Liv. 2-R fl.n°259
09 em 30/08/2002.
18/01/84.
e comarca de Guajará-Mirim (47.863 ha) Matr. 2.060 Liv. 2-I fl. 266 em 23/09/81.
Reg. SPU AM/RO-69 em 09/10/81.
e comarca de Porto Velho (89.682 ha) Matr. 2.677 Liv. 1-A fl. 1 em 02/12/87.
Reg. SPU RO Certidão n° 95 em 23/09/87.
Parecis, comarca de Santa Luzia d´Oeste (16.799 ha) Matr. 1.222 Liv. 2-RG fl. 3
em 04/06/2003. Reg. SPU Certidão n° 81 em 24/09/2003.
Guaporé
11 Rio Branco Arikapu 679/Funai-Ji-Paraná: 2008 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 236.137 Alta Floresta RO
Aikanã Decreto 93.074 de 06/08/1986 publicado em 07/08/1986. Reg. CRI no municipiio D’Oeste RO
Aruá e comarca de Costa Marques (236.137 ha) Matr. 366 Liv. 2-B fl. 167/168 em São Francisco do RO
Kanoê 10/11/86. Reg. SPU Certidão n° 13 em 19/09/2002. Guaporé
Djeoromitxí São Miguel do
Makurap Guaporé
Tupari
N° Mapa Terra Indígena Povo População (n°, fonte, ano) Situaçãojurídica Extensão (ha) Município UF
9 Rio Guaporé Arikapu 589/Funai-Guaiará Mirim: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 115.788 Guaiará-Mirim RO
Aikanã 2005 Decreto s/n de 23/05/1996 publicado em 24/05/1996. Reg. CRI no município e
Waiuru comarca de Guaiará Mirim (115.788 ha) Matr. 4.759 Liv. 2-Z fl. 1 em 20/06/96.
Aruá Reg. SPU Certidão s/n em 22/05/97.
Kanoé
Kuiubim
Dieoromitxí
Mal‹urap
Wari'
Sakurabiat
Tupari
13 Rio Mequéns Mal‹urap 89/Paca: 2001 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 107.553 Alto Alegre dos RO
Sakurabiat Decreto s/n de 23/05/1996 publicado em 24/05/1996. Reg. CRI no município e Parecis
comarca de Alta Floresta d'0este (107.553 ha) Matr. 3.285 Liv. 2-RG fl. 1v em
12/07/96. Reg. SPU Certidão s/n em 26/05/97.
5 Rio Negro Ocaia (área Wari' Declarada de posse indígena. 131.006 Guaiará-Mirim RO
ampliada) Portaria 185 de 23/02/2011 publicada em 24/02/2011.
6 Rio Negro/Ocaia Wari' 670/Funai-Guaiará Mirim: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 104.064 Guaiará-Mirim RO
2010 Decreto 86.347 de 09/09/1981 publicado em 10/09/1981. Reg. CRI no município
e comarca de Guaiará-Mirim (104.063 ha) Matr. 2.058 Liv. 2-I fl. 264 em
23/09/81. Reg. SPU Certidão s/n em 09/10/81.
16 Rio Omerê Akuntsu 10/Funai CGII: 2009 Homologada. Registrada no CRI. 26.177 Chupinguaia RO
Kanoê Decreto s.n de 18/04/2006 publicado em 19/04/2006. Reg. CRI no município Corumbiara RO
de Chupinguaia, comarca de Vilhena (822 ha) Matr. 13.304 Liv. 2-RG tl. 1 em
18/07/2007. Reg. CRI no município de Corumbiara em andamento.
21 Roosevelt Apurinã 502/Paca: 2001 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 230.826 Rondolândia MT
Cinta larga Decreto 262 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no município Espigão D'Oeste RO
de Aripuanã, comarca de Cuiabá (86.410 ha) Matr. 46.635 Liv. 2-GS fl. 161 em Pimenta Bueno RO
22/01/92. Reg. CRI no município de Pimenta Bueno (6.320 ha) Matr. 2.816 Liv.
2-RG tl. 1 em 24/01/92. Reg. CRI no município de Espigão d'0este (138.096
ha) Matr. 1.480 Liv. 2-RG fl. 1 em 15/01/92. Reg. SPU-MT Certidão n° 13 em
25/01/94.
8 Sagarana Wari' 318/Funai-Guaiará Mirim: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 18.120 Guaiará-Mirim RO
2010 Decreto s/n de 23/05/1996 publicado em 24/05/1996. Reg. CRI no município e
comarca de Guaiará-Mirim (18.120 ha) Matr. 4.757 Liv. 2-X fl. 198 em O7/06/96.
Reg. SPU Certidão s/n em 23/05/97.
19 Serra Morena Cinta larga IIO/Paca: 2001 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 147.836 Juína MT
Decreto 98.824 de 15/01/1990 publicado em 16/01/1990. Reg. CRI no município
de Juíza, comarca de Cuiabá, Matr. 41.255 Liv. 2-FOtI. 11 em O8/03/90. Reg.
SPU MT Certidão n° O1 em 11/03/90.
22 Sete de Setembro Surui Paiter 950/Kanindé: 2002 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 247.870 Rondolândia MT
Decreto 88.867 de 17/10/1983 publicado em 18/10/1983. Reg. CRI no município Cacoal RO
e comarca de Cacoal (100.468 ha) Matr. 544 Liv. 2-C fl. 144 em 18/01/84. Reg. Espigão D'Oeste RO
CRI no município de Aripuanã, comarca de Cuiabá (147.401 ha) Matr. 24.215 Liv.
2-CC em 11/04/86. Reg. SPU Certidão n° 87 em 16/06/1996 (MT=147.401 ha,
RO=100.468 ha).
17 Tubarão/Latundê Ail‹anã 180/Vasconcelos: 2005 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 116.613 Chupinguaia RO
Nambikwara Decreto 259 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no município e
Nambikwara Sabane comarca de Vilhena (116.613 ha) Matr. 5.299 Liv. 2-RG fl. 1 em 02/12/91. Reg.
Nambikwara Latundê SPU Certidão n° 05 em 21/11/95.
Kwazá
10 Uru-Eu-Wau-Wau Oro Win 214/Funai-Ji-Paraná: 2008 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.867.120 Alvorada D'Oeste RO
Uru-Eu-Wau-Wau Decreto 275 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no município Cacaulândia RO
Amondawa de Jaru (351.117 ha) Matr. 1.571 Liv. 2-H fl. 172 em 30/01/87. Reg. CRI no Campo Novo de RO
Juma município de Ouro Preto do Oeste (46.000 ha) Matr. 1.892 Liv. 2-J tl. 111 em Rondônia RO
09/03/87. Reg. CRI no município de Presidente Médici (117.000 ha) Matr. 2.231 Costa Marques RO
Liv. 2-L fl. 312 em 23/02/87. Reg. CRI no muncípio de Porto Velho (64.000 ha) Governador Jorge RO
Matr. 2.903 Liv. 1-A fl. 1 em 23/01/87. Reg. CRI no município de Guaiará Mirim Teixeira RO
(606.000 ha) Matr. 3.304 Liv. 2-P fl. 119 em 20/03/87. Reg. CRI no município Guaiará-Mirim RO
de Costa Marques (661.000 ha) Matr. 422 Liv. 2-C fl. 24 em 27/02/87. Falta Jaru RO
registrar em Ariquemes c/ 15.303 ha. Reg. SPU-RO Certidão n° 131 em 14/09/88. Mirante da Serra RO
Reg. SPU Certidão no 01 em 06/02/2001. Monte Negro RO
Nova Mamoré RO
São Miguel do
Guaporé
Seringueiras
23 Zoró Zoró 599/Funai-Ji-Paraná: 2008 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 355.789 Rondolândia MT
Decreto 265 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no município de
Aripuanã, comarca de Cuiabá (352.600 ha) Matr. 31.352 Liv. 2-DH fl. 161 em
05/11/87. Reg. SPU Certidão s/n em 06/11/87.
GilbertoAzanha Antropólogo,CTI
O PROJETO LAJES É MAIS UMA TENTATIVA DE COIBIR Em 2009 os dirigentes da Funai fizeram uma chamada pública
AS “ATIVIDADES ILÍCITAS” ENTRE OS CINTA LARGA, para selecionar, via Unesco, um grupo de quatro técnicos, coor
PARTICULARMENTE GARIMPOS CLANDESTINOS E denados por um antropólogo, para fazer um diagnóstico nas TIs
VENDA DE MADEIRA. OU A FUNAI (RE)ASSUME SEU Cinta Larga e propor um “Plano de Salvaguardas” para tentar
PAPEL DE LIDERANÇA NAS ALDEIAS, OU O “PROJETO dar nova resposta à “questão Cinta Larga”. A idéia era substituir
LAJES” SERÁ OUTRO FRACASSO INDISPONDO AINDA os antigos “Grupos Tarefa” do órgão por “bons projetos” que a
MAIS AS LIDERANÇAS CINTA LARGA PARA COM O Funai pudesse tocar para convencer os Cinta Larga a abandona
ESTADO BRASILEIRO rem suas “atividades ilegais”. Eu me candidatei e fui escolhido
para ser o antropólogo-coordenador de um grupo que contava
com dois biólogos, um engenheiro florestal e um agrônomo. E lá
Com atividades ilegais interrompidas desde setembro de 2010,
fomos nós, a autodenominada Equipe Técnica Cinta Larga (ETCL)
o garimpo do Lajes está sob fiscalização de homens Cinta Larga para as aldeias desse povo, em outubro de 2009. Um ano depois
(CL) de várias aldeias e funcionários da Funai. Há também bar
nos reunimos com lideranças Cinta Larga e diretores e técnicos
reiras da PF em locais estratégicos na TI Roosevelt (RO) com
da Funai para apresentar nosso (na verdade, da Funai) “Plano
efetivos da Guarda Nacional. Essas ações fazem parte do “Projeto
de Salvaguardas”, dando por encerrado nosso contrato com a
Lajes” concebido pelo delegado-chefe da “Operação Roosevelt”,
Unesco. Nesse período visitamos todas as aldeias Cinta Larga,
patrocinado pela Funai e assumido pelo então Conselho do Povo
inventariamos parte de seus recursos naturais não madeireiros,
Cinta Larga. Além da fiscalização no ex-garimpo do Lajes, pelo
discutimos minimamente seus problemas; em suma fizemos o
projeto a Funai se compromete a instituir e bancar mais quatro
que se chama um “diagnóstico rápido participativo”.
“bases” de fiscalização, equipadas com veículos e radiocomunica
ção, locadas em pontos estratégicos do complexo territorial Cinta Poucos líderes, “caciques” e demais Cinta Larga enxergaram na
Larga, cuja extensão se aproxima de três milhões de hectares. Equipe Técnica uma proposta da direção da Funai que poderia
resolver de fato seus problemas. Em um primeiro momento nem
O “projeto Lajes” é mais uma tentativa de coibir as “atividades
mesmo entendiam o que vínhamos fazer. “Novos levantamentos”
ilícitas” entre os Cinta Larga, particularmente garimpos clandes
foi o que todos entenderam e, com ironia, diziam que, de tanto
tinos e venda de madeira, e partiu da constatação de que alguns
“levantamento” os Cinta Larga iriam chegar aos céus...
líderes CL ainda “tocavam” o garimpo no Lajes cobrando “pedá
gio” de garimpeiros “rodados” (isto é, com mandados de busca
e/ou condenados pela Justiça). Ainda, mais ao norte e noroeste A “QUESTÃO” CINTA LARGA
do Roosevelt, nas TIs Aripuanã e Serra Morena, a madeira ilegal O que vem a ser a tal “questão Cinta Larga”? São os Cinta Larga
continuava a ser vendida, apesar de surtos repressivos por parte diferentes dos demais povos indígenas “contatados” pela Funai
do Ibama e PF. nos anos 1970? E, se o são, em quais aspectos? Sofreram mais
Tristeza Índia1
FelipeMilanez Jornalista
OS ÚLTIMOS E DRAMÁTICOS DIAS DE VIDA resistência apresentada pela índia Akuntsu em sua última semana
DA MAIS VELHA SOBREVIVENTE DE UM de vida havia sido tenaz, mas agora se esvaíra.
MASSACRE CONTRA OS AKUNTSU
Nos anos 1980, Marcelo dos Santos era um jovem e promissor
indigenista da Funai, em início de carreira. Vindo de São Paulo,
Na quinta-feira, 1º de outubro de 2009, o sertanista Altair Algayer, viveu tempos que eram convidativos para aventuras na Amazô
o Alemão, amanheceu apreensivo. Fora uma noite tensa, prati nia. Ele foi designado para trabalhar junto dos Nambikwara, na
camente em claro. A cada zunido diferente de inseto ou ranger fronteira de Rondônia com o Mato Grosso. Olhos azuis profundos,
mais estridente de galhos, o ouvido despertava o sentido de alerta farta barba e cabelos claros, ele representava um tipo cada vez
e voltava toda concentração para o som não identificado. Seria mais comum por aquelas bandas amazônicas. Rondônia, nessa
o índio Pupak, filho adotivo da velha índia Ururu, vindo avisá-lo época, ainda recebia uma avalanche de migrantes sulistas. Muitos
da morte da mãe? chegavam iludidos por promessas de terra e crédito do governo
militar e se deparavam com condições muito diferentes das que
Alemão levantou-se antes de o sol nascer e vestiu uma bermuda
esperavam.
velha. Deixou de lado a camisa e preferiu pôr os pés direto no
chão. Por volta das 6h, foi até a maloca ver como estava a índia. Conseguir terra era um desafio pelo qual não imaginavam ter de
Aparentemente tudo estava normal. A pressão arterial de Ururu passar, já que o slogan corrente dizia haver “terras sem homens
se mantinha estável e, às 7h da manhã, estava em 100 por 50, para homens sem terra”. Grandes extensões de florestas eram
conforme constatou a enfermeiraJussara de Faria Castro, esposa divididas em glebas, e posteriormente loteadas pelo Incra para
de Alemão. O pulso era acelerado, rápido; o punho, fino, cansado a colonização. À Funai cabia determinar onde havia índios; ao
– nada diferente dos últimos dias. Mas a respiração estava mais antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF),
ruidosa, e a índia transparecia ansiedade. “Está muito difícil vê órgão antecessor ao Ibama, definir as áreas de preservação - o
la cada dia piorando”, dizia a enfermeira. Ururu não conseguia resto era passível de ocupação. Desde 1952, quando o SPI trans
permanecer deitada na rede, onde a dobra da garganta segurava feriu povos do sul de Rondônia para o norte do estado, próximo
o ar, e preferiu ser colocada no chão. Jussara levou um pano a Guajará-Mirim, a região era considerada “vazia” e passível de
úmido e o passou delicadamente no corpo da índia, que recebeu ocupação. E assim sucederam os loteamentos, a ocupação, a
a higiene como uma massagem. Algayer varreu o chão de terra exploração predatória das madeiras, a luta pela terra entre os
com uma palha, alimentou o fogo e ajeitou cuidadosamente posseiros e grileiros, e o mais intenso processo de desmatamento
os pertences da índia que ele ainda chama carinhosamente de já visto na história. Em um desses espaços de terra, na gleba cha
iamoi – “mãe” na língua akuntsu. mada Corumbiara, estavam os Akuntsu, vivendo, como sempre
fizeram, da floresta.
Dentro da maloca, a fumaça da fogueira irritava os olhos. Pró
ximos, apenas o filho e as índias Akuntsu. Reinava um silêncio “Em 1985, fui para uma fazenda verificar se havia índios por lá.
quase absoluto entre os funcionários da Funai e os enfermeiros Um fazendeiro precisava de uma certidão da Funai negando a
presentes. Uma sensação de angústia dominava o ambiente. A existência de índios naquelas terras para conseguir crédito no
Luta Contra
Assédio Madeireiro1
Equipe de edição
FORMAÇÃO DE AGENTES AMBIENTAIS, PRODUÇÃO de colocar em risco a vida das pessoas, seja pelas brigas, seja
AGROEXTRATIVISTA E FORTALECIMENTO DA pelos acidentes com carro e moto”.
ASSOCIAÇÃO INDÍGENA ZORÓ FAZEM FRENTE
Diante desse cenário, a Apiz renovou, em 2008, o seu quadro
À EXPLORAÇÃO MADEIREIRA
de diretores e passou a investir na formação de novos gestores
e a reforçar a realização de oficinas de planejamento estratégico
Desde a década de 1990 a exploração madeireira tem sido uma participativo entre os Zoró. Tais iniciativas têm contado com apoio
das principais atividades econômicas dos Zoró – apesar de ações da Embaixada da Noruega e vêm tornando a Apiz uma associação
de interdição por parte do Ministério Público Federal. Entretanto, fortalecida. Entretanto, as lideranças ainda enfrentam algumas
nos últimos cinco anos essa situação tem sofrido mudanças. Os dificuldades: Alfredo e Agnaldo testemunham que falta “ganhar
Zoró, cuja terra indígena se encontra homologada, lutam para confiança da comunidade para que possam apoiar as lideranças
manter esse direito a salvo das pressões e ameaças dos madei na proteção da nossa terra”.
reiros por meio da atuação da Associação do Povo Indígena Zoró
Para os jovens líderes, o principal papel representado pela orga
Pangyjej (Apiz).
nização indígena é o de combate à venda ilegal de madeira. Os
Contatados oficialmente em 1977, à época somando mais de 800 projetos mais importantes da Apiz na luta pela paralisação da
indivíduos, os Zoró sofrem ainda hoje com a presença de invaso venda ilegal de madeira são destacados por eles: “O que de mais
res em sua terra. “O maior problema enfrentado pelos Zoró é a importante está sendo executado é o projeto de monitoramento
retirada ilegal de madeira”, testemunham as lideranças Alfredo territorial na Terra Indígena Zoró. Foi com uma grande luta que
Sep Kiat Zoró e Agnaldo Zawandu Zoró, da Apiz. conseguimos esse projeto. Com esse projeto, estamos tentando
trazer aquelas pessoas envolvidas com a venda de madeira para
Assim como os Paiter Surui, Arara do Rio Branco, Ikolen, Rikbakt
trabalhar no monitoramento de nossa terra; alguns deles tam
sa e Cinta Larga, apesar de terem conquistado certa estabilidade
bém estão sendo capacitados para serem agentes ambientais em
populacional – somando hoje 625 pessoas –, os Zoró ainda parceria com o Ibama de Juína (MT) e a Funai”.
estão à mercê dos crimes ambientais perpetrados por madei
reiros, garimpeiros e fazendeiros. Um relatório da Associação O projeto de monitoramento da TI Zoró foi pleiteado pela Apiz
registra que, a partir de 2006, com a pressão sobre o garimpo junto à Funai e está em fase de implementação. “Alguns Zoró
de diamantes na área dos Cinta Larga, os madeireiros voltaram não resistem às ofertas dos madeireiros e deixam eles entrarem
a investir com força redobrada sobre os Zoró. “O dinheiro que e explorar a área, mesmo com muita gente que é contra a ex
começou a circular em maior volume entre os Zoró fez o uso de ploração madeireira. Mas, com o funcionamento do trabalho de
bebidas alcoólicas e outras drogas aumentar, chegando ao ponto monitoramento territorial, muitos já estão conscientes de que
de Rondolândia (1.100 km de de Cuiabá). A no Rio de Janeiro, mostra que o número de de desmatamento dentro do território suruí.
escola, que está sendo construída em parceria casos de tuberculose é cerca de 20 vezes mais Em relação ao estabelecimento de parcerias
entre a Seduc e a Prefeitura de Rondolândia, alto entre os índios suruís, de Rondônia, do como a dos Suruís com o Google, a assessora
terá o nome de Aldeia-Escola Indígena Estadual que na população brasileira: 815 casos a cada de advocacia da Oxfam International Nathalie
de Educação Básica Zarup’Wej. Atenderá 50 100 mil pessoas, ante aproximadamente 40 em Beghin lembra que, em primeiro lugar, a au
alunos, distribuídos em 22 aldeias ao longo 100 mil no restante da população. “No Brasil, tonomia de decisão do povo deve ser mantida,
da terra indígena do povo Zoró, com até 150 o único grupo que se assemelha aos índios em já que eles gozam de um território particular.
km de distância da unidade. Com quatro salas termos de incidência de tuberculose é a popu Ela afirma, porém, que é necessário haver um
de aula, refeitório, banheiros, alojamento lação presidiária”, avalia Coimbra. Sanitarista acompanhamento muito próximo por órgãos
– feminino e masculino –, funcionará em e antropólogo, há 20 anos ele coordena uma do governo em negociações desse tipo. (Camila
sistema de alternância, onde durante 19 dias equipe que inclui o médico Paulo César Basta Nobrega, O Globo, 17/03/2010)
no mês, eles ficarão concentrados, estudando e investiga a qualidade de vida e a saúde de
em tempo integral e depois retornam as suas povos indígenas em Rondônia e Mato Grosso.
aldeias de origem. A escola também está sendo Nos últimos cinco séculos a tuberculose con
SURUÍ QUER GARANTIR FUTURO
construída com arquitetura tradicional do povo tribuiu para dizimar a população indígena, que COM PROJETO DE CARBONO
Zoró, respeitando a cultura da etnia. (Diário já teve entre 1 milhão e 10 milhões de pessoas Os Surui, que detêm a posse da reserva Sete
de Cuiabá, 09/02/2006) na época em que chegaram os europeus e hoje de Setembro, na divisa entre Rondônia e Mato
está por volta de 460 mil indivíduos, estima a Grosso, querem receber recursos para manter
ZORÓ DENUNCIAM Funai. Há quem suspeite que a proporção de a floresta de pé, e aplicar o dinheiro em um
casos de tuberculose seja mais alta entre os plano de desenvolvimento capaz de garantir
AÇÃO DE MADEIREIROS
índios porque eles seriam mais suscetíveis à pelo menos meio século de sobrevivência da
A Coordenação das Organizações Indígenas da bactéria, em consequência de um sistema imu etnia. Para saber quanto carbono deixará de
Amazônia Brasileira – Coiab recebeu uma car nológico mais frágil. Para Coimbra, porém, não ser emitido, técnicos do Idesan estão fazendo
ta da APIZ - Associação do Povo Indígena Zoró, há dados suficientes que confirmem a hipótese. um estudo do estado de degradação da área e
na qual as lideranças indígenas denunciam a Para suprir a lacuna, sua equipe começou a de como ela poderia ser recuperada a partir da
ação madeireira na região de Espigão d’Oeste, investigar as características imunológicas e adoção de atividades sustentáveis. O modelo
bem como a estrada interestadual ligando Ron genéticas desses índios. (Maria Guimarães, deve ficar pronto até o fim de junho. A partir
dônia ao Mato Grosso que passa dentro da TI, Revista Pesquisa Fapesp, 23/02/2007) dele, um plano deve ser desenvolvido até
o que traz muitos problemas para o povo Zoró. setembro. O líder da etnia, Almir Surui, diz
A carta-denúncia também narra a apreensão que os recursos serão aplicados em um plano
de um trator de pneu, cujo proprietário é um PARCERIA PARA DIVULGAR de desenvolvimento sustentável da etnia que
conhecido madeireiro da região conhecido INFORMAÇÕES engloba os próximos 50 anos. O planejamento
porJairo. Na ocasião da vigilância da TI Zoró, Os representantes da aldeia dos Suruís, loca prevê, por exemplo, a produção sustentável de
no dia 14/01/2011, a equipe de fiscalização lizada no Pará, que estão pondo em prática castanha, óleo de copaíba e café orgânico e a
composta por indígenas, servidores da Funai uma parceria com a multinacional Google para prestação dos chamados “serviços ambientais”,
e Polícia Militar Ambiental fizeram a apreen divulgar mais informações sobre a cultura e como turismo. Outra parte do dinheiro seria
são do veículo e o deixaram na Aldeia Ipsyrej. os projetos no território indígena no mundo destinada ao fortalecimento das associações
Entretanto, os madeireiros roubaram o trator digital. Um único ponto, polêmico, ainda da etnia, e à educação e à saúde da população.
para continuarem a extração ilegal de madeira. não foi aprovado no contrato: a divulgação O diretor da ONG Equipe de Conservação da
A Coiab reforçou o pedido da Apiz, exigindo que de informações sobre o território dos Suruís, Amazônia (ACT-Brasil), Vasco van Roosmalen,
a Funai, em ação conjunta com o Ministério dentro da Amazônia brasileira, menina dos explica outro ponto que chama atenção no
Público, o Ibama, a Policia Federal e a Polícia olhos do mundo todo frente à crise climática projeto dos Surui: o mecanismo do fundo que
Militar Ambiental, articulem uma reunião com que se avizinha. A ideia, segundo Almir, era receberá os recursos provenientes da venda dos
os representantes dos Zoró, o condomínio de ampliar a gama de informações disponíveis créditos de carbono. Segundo ele, a aplicação
fazendas da região, as empresas de ônibus sobre a aldeia na internet, como uma forma de do dinheiro será decidida por representantes
que utilizam a estrada, bem como os governos proteger a cultura do povo indígena e divulgar dos quatro clãs dos Suruí, “talvez um ou dois”,
de Rondônia e Mato Grosso, para resolver os projetos ligados à floresta, num momento em diz Vasco. As organizações parceiras dos Surui
transtornos que são causados aos Zoró, por que tanto se fala em manejo e valorização da podem ter um papel no mecanismo, mas
conta da referida estrada e a constante invasão floresta em pé. Desde o fim do ano passado, as apenas consultivo. (Pablo Uchoa, BBC Brasil,
de madeireiros. (Coiab, 12/2/2011) informações sobre os projetos passaram a ser 13/04/2010)
inseridas no Google pelos próprios índios, com
ajuda de monitores da empresa que visitam
SURUÍ PAITER TREINAMENTO PARA FAZER
a aldeia para ministrar oficinas de inclusão
digital. E, com isso, o número de empresas INVENTÁRIO DE CARBONO
TUBERCULOSE É ALTA interessadas nos projetos aumentou sensivel Cerca de vinte guerreiros da etnia suruí, de
ENTRE OS SURUI mente. O único ponto que ainda não foi posto várias aldeias da terra indígena 7 de setembro
Levantamento concluído recentemente pela em prática, e por isso está em discussão, é a participaram do treinamento oferecido pelo
equipe de Carlos CoimbraJúnior, da Fiocruz, inclusão de informações referentes a atividades IDESAM - Instituto de Conservação e Desenvol
de sua história e lembrava e lembra palavras KARIPUNA indígenas. Em novembro passado, os Karitiana
na língua, porém não recordava o nome do seu detiveram cinco garimpeiros invasore, que
povo. No dia 25 de agosto de 2008, depois de contaram haver outros 50 garimpeiros no
trinta e oito anos, dona Dineuza e sua filha OPERAÇÃO DO IBAMA interior da área. Nesta ocasião, entregaram os
Ledy Laura foram se encontrar com o povo DESMANTELA SERRARIAS invasores detidos à Funai e à Polícia, exigindo
Kwaza, da aldeia São Pedro, no município de Com a Operação Rondônia Legal, iniciada no a fiscalização de seu território. Os Karitiana
Parecis , em Rondônia. O povo Kwaza, dona último dia 17 e encerrada hoje, a Superinten pedem a identificação da TI do Rio Candeias,
Dineuza, e sua filha Ledy Laura viveram o dência do Ibama de Rondônia autuou seis do retomada por eles, desde 2003. Naquele mo
momento único de sua história, momento nos de serrarias clandestinas que devastavam mento, a Funai criou o Grupo de Trabalho para
de encontro e reencontro, de identificação a floresta há mais de um ano, e autuará outros identificação da terra, mas as pesquisas estão
e de reconhecimento, de acolhida, de sentir dois – não encontrados no momento da ação – paralisadas. (Cimi, 01/03/2007)
se em “casa” e com um nome. Identificada, nos próximos dias. Não contentes em desmatar
reconhecida e assumida pelo povo. O pai de área pública sem autorização do Ibama, os
Dineusa, Luiz Kwazá, era pajé e vivia no Iga infratores cortavam madeira de unidades de
DEFINIÇÃO DE COMPENSAÇÕES
rapé Bom Jardim, afluente do rio São Pedro, conservação, como a ResexJaci-Paraná, o PE de DA UHE DE SANTO ANTÔNIO
lugar sagrado para o povo - que ficou fora Guajaramirim (onde uma estrada foi aberta ile Karitianas e Karipunas desejam participar das
do território demarcado. Neste espaço, havia galmente para transporte de madeira e drogas) decisões sobre compensações ambientais em
a aldeia e a maloca, onde o pai de Dineusa a TI de Karipuna e a Flona do Bom Futuro, a suas terras. Atingidos diretamente pela barra
faleceu, na época da epidemia de sarampo. mais afetada. A madeira apreendida, composta gem, os índios sofrerão mudanças em suas
(Cimi, 03/10/2008) por espécies como Castanheira, Cerejeira, terras, como elevação do nível dos córregos,
Caixeta, Angelim e Cedro-mara, encontra-se modificações na fauna e na flora, além do
no pátio das serrarias, aguardando destinação. aumento da pressão do desmatamento em
WAJURU (Rubens Amadori, Ibama, 28/07/2006) sua reserva. Para compensá-los destes danos,
o consórcio Santo Antônio Energia é obriga
WAJURU PERAMBULAM do por lei a investir em áreas como saúde,
KARITIANA educação, fiscalização e proteção, fomento a
ENQUANTO NÃO OBTÊM RESERVA modos de sustentabilidade, para geração de
Insatisfeita com o jogo de empurra, a cacique renda. O ponto discordante entre os índios é
da etnia Ajuru (ou Wayoro), Valda Ibañez SIPAM BENEFICIA ÍNDIOS
que eles não estão tendo voz nas decisões sobre
Braga, desabafa: “Na verdade, nosso povo não KARITIANA COM INTERNET compensações. (MPF, 08/10/2009)
tem mais a quem apelar para ter as terras de Trezentos e doze índios da Aldeia Kiwoã, na TI
volta”. Projetos hidrelétricos e fazendas inva Karitiana, foram beneficiados com a instalação
dem a área indígena e a situação só se rever de antena parabólica VSAT pelo Sistema de DECISÃO SOBRE COLETA E
terá por decisão judicial. Decepcionada com Proteção da Amazônia (Sipam). A instalação COMERCIALIZAÇÃO DE SANGUE
o tratamento recebido das autoridades, ela na aldeia, a 150 km da capital de Rondônia, foi O MPF/RO recorreu da decisão da Justiça
retrata o desalento desses índios encontrados resultado da parceria com o projeto de inclusão Federal de Rondônia em ação que trata da
há mais de um século e atualmente sujeitos digital do Tribunal deJustiça de Rondônia (TJ) coleta não autorizada de sangue dos índios
à contaminação pelo álcool, prostituição e e do Serviço Nacional de Aprendizagem Indus karitianas. A ação teve início em outubro de
drogas. Os cerca de 40 índios falam português, trial (Senai), que ofereceu curso de informática 2002 e pedia a condenação de Hilton Pereira
um pouco de espanhol e a língua Tupari/Tupi. e doou computadores para a escola municipal da Silva e Denise da Silva Hallak ao pagamento
Vivem de roças, da caça e pesca, da extração da aldeia. É a primeira terra indígena do estado de indenização, por dano moral, à comunidade
da borracha natural e da comercialização de a receber uma VSAT equipada com sistema de indígena Karitiana, no valor de R$ 500 mil,
seus produtos na cidade. Perderam a cultura banda larga IP Advantage, que permite um me além de obrigá-los a não usar o material bio
e estão impedidos de pescar no entorno dos lógico (sangue) retirado daquela comunidade
lhor acesso à rede mundial de computadores, .
rios de Porto Rolim, Guaporé e em Guajará A antena também permite ligações telefônicas indígena. (MPF/RO, 08/07/2010)
Mirim, respectivamente. Enquanto isso, não gratuitas para os demais terminais do mesmo
índios ocupam rios, igarapés e lagos, sem tipo (cerca de 700 instalados em toda a Amazô SAKURABIAT
restrição do Ibama e dos fiscais da Secretaria
nia Legal) e para linhas convencionais através
Estadual de Defesa Ambiental. Há mais de do direcionamento feito no Sipam em Porto
duas décadas que as lideranças Ajurus lutam Velho. (Assessoria de Comunicação Social
CACIQUE SAKURABIAT É
pelo reconhecimento, mas têm encontrado ASSASSINADO A TIROS
do Sipam, (01/10/2009)
barreiras em todas as esferas do Governo O cacique Maquéns Deusmar Ferreira Sa
Federal. Angustiada, a cacique considera a quirabiara, foi assassinado com três tiros na
situação “um verdadeiro descaso da Funai e KARITIANA QUEREM ESTUDOS madrugada de ontem, em frente à rodoviária
dos órgãos de apoio à causa indígena”. “Estão DA TI RIO CANDEIAS de Pimenta Bueno, a 500 kmde Porto Velho. A
protelando a demarcação das nossas terras O povo Karitiana é obrigado a defender seu polícia investiga se há ligação do crime com o
e precisamos disso imediatamente”, apela. território. Aausência do poder público faz com garimpo de ouro e a retirada ilegal de mogno
(Xico Nery e Montezuma Cruz, Agência que este grupo tenha que impedir, ele mesmo, e cerejeira na Reserva dos Mequéns, em Alta
Amazônia, 31/12/2008) a entrada de invasores e garimpeiros em terras Floresta do Oeste. (OESP, 24/06/2006)
LÍNGUA SAKURABIAT denomina “wanyam”. O físico muito alterado vos, durante operação de fiscalização integrada
É PRESERVADA contrastava com a lucidez e a garra de um do parque com a Reserva Extrativista Barreiro
guerreiro que não se entregava. Até o fim das Antas, Funai e a população indígena Oro
Apenas 23 pessoas. Esse é o número atual de
sonhou com a volta à sua terra e incentivava in. Os garimpeiros trabalhavam na área há 15
falantes da língua indígena sakurabiat. Para
seus parentes a lutarem por ela. Fazendeiros dias e foram detidos no alto rio Pacaás Novos,
contribuir para a revitalização da língua e
do rio São Miguel procuraram Marcirilo para que nasce na unidade de conservação. Os
tentar evitar o seu desaparecimento, o Museu
convencê-lo a negar a presença ancestral dos invasores entraram pelo município de Campo
Paraense Emílio Goeldi lança nesta sexta-feira miguelem na margem direita do rio. Em troca, Novo de Rondônia, atravessaram a Serra. O
(1º/9), em Belém, a coletânea bilíngüe Narrati prometiam apoio na retomada da área na mar parque fica localizado no centro de Rondônia,
vas Tradicionais Sakurabiat Mayãp Ebõ. A obra compreendendo uma área de 764.801 há.
registra, em livro e CD-ROM, parte da cultura gem esquerda, dentro da Rebio do Guaporé, de
onde os miguelem foram expulsos em 1984, O local é superposto à TI Uru-eu-wau-wau,
imaterial do povo sakurabiat, que habita a quando o Ibama criou a Reserva. Marcirilo fica totalizando uma área de 1.867.117 hectares.
reserva Rio Mequéns, em Rondônia. Composta va indignado com os fazendeiros. Na véspera de A unidade é responsável por proteger florestas
por 25 histórias que narram as principais tropicais nativas, campos naturais e serras
sua internação, Marcirilo não dormiu tentando
lendas mitológicas dessa etnia, a publicação foi lembrar a palavra “periquito” na sua lingua que dão origem às nascentes de importantes
organizada, em parceria com vários membros
materna. No dia seguinte, perguntou, falando rios do Estado, como Jamari, Candeias, Jaru,
da comunidade, pela pesquisadora Ana Vilacy com dificuldade, ao Gil (da equipe do Cimi): Cautário, Pacaás Novos, Urupá, São Miguel,
Galucio, que desde 1994 se dedica ao estudo
“Lembrou do periquito?”. Gil respondeu: “to Ouro Preto, dentre outros. (Portal Amazônia,
e registro da língua sakurabiat por meio do win!”. O rosto do Marcirilo por uns instantes se 12/04/2008)
programa de documentação científica das
iluminou e ele repetiu sorrindo: “towin, towin,
línguas amazônicas desenvolvido pelo Museu é isso mesmo!”. Em seguida, foi levado para o
Goeldi. De acordo com Ana Vilacy, o interesse hospital. (Cimi, 07/02/2008) ISOLADOS
pela documentação das narrativas tradicionais
partiu dos próprios sakurabiat. Narradas pelos úLTIMO SOBREVIVENTE DE
anciãos em sua língua de origem, as histórias URU-EU-WAU-WAU TRIBO FOGE DOS BRANCOS
foram transcritas para o sakurabiat e traduzi
das para o português com a ajuda dos jovens No meio da floresta, marcas em árvores, vestí
URU-EU-WAU-WAU DÃO gios de uma retirada de mel e cabanas de palha
e adultos da tribo. As crianças também cola ULTIMATO À FUNAI
boraram, desenhando as belas ilustrações do indicam que o índio continua vivo. Cada casa
livro. (Agência FAPESP, 31/08/2006) Indígenas Uru-Eu-Wau-Wau deram ontem um construída por ele esconde um buraco quadra
ultimato à direção da Funai em Porto Velho do, profundo, que ainda é um mistério para
para a retirada de grileiros que invadiram, há os pesquisadores. No início do ano, a Funai
OPERAÇÃO CONTINUA NA um mês, a reserva onde vivem, próxima ao conseguiu fotografá-lo, mas nunca ninguém
TI RIO MEQUENS município de Montenegro: se as 600 pessoas pôde se comunicar com ele. Para sua prote
Até ontem, 6 caminhões, com cerca de 25 toras que ocupam irregularmente a região não fo ção, uma grande área de floresta entre cinco
cada, haviam sido apreendidos na operação rem despejadas da área até o final da próxima fazendas foi interditada, gerando insatisfação
do Ibama, na reserva indígena dos Mequéns, semana, eles prometem agir por conta própria. dos vizinhos. O documentarista Vincent Carelli
de acordo com o comandante Canaza, de Alto (Diário da Amazônia, 12/01/2007) já conseguiu filmar o “índio do buraco”, mas
Alegre dos Parecis. Os caminhões foram autu levou uma flechada como recompensa. “Ele é
ados no distrito de Flor do Maracujá, próximo um indivíduo traumatizado. Por ser o último
OPERAÇÃO EXPULSA 800 DA sobrevivente, provavelmente sofreu uma cadeia
ao município. Ainda não há informações de TI URU-EU-WAU-WAU
pessoas detidas. O chefe de fiscalização do de massacres”, acredita Carelli. Hoje, a única
Uma operação conjunta entre a PF, o Ibama e a comunicação que a Funai mantém com o
Ibama deJi-Paraná, Felipe Guimarães, explicou
que na reserva há uma grande extração de Funai retirou mais de 800 invasores da maior índio é o oferecimento de alimentos. No meio
cabrieva, madeira de lei de alta qualidade. A terra indígena de Rondônia. De acordo com o da floresta, eles deixam milho e amendoim.
madeira é levada para Parecis, Alto Floresta, governo de Rondônia, a terra havia sido dividida “Ele também já levou uma lona e um facão”,
Chupinguaia e Vilhena. (Folha de Rondônia, em lotes e era vendida para pequenos produ conta Altair Algayer, o sertanista chefe da Frente
Juliana Coelho, 20/09/2007) tores rurais. A investigação da Polícia Federal de Proteção Etno-Ambiental do Rio Guaporé.
começou há seis meses. Os invasores foram (Profissão Repórter, 10/06/2009)
levados para instalações da Funai, da Polícia
MIGUELENO Militar e para um ginásio de esportes do mu
“ÍNDIO DO BURACO” PODE TER
nicípio de Seringueiras. Eles serão processados
por crime ambiental. (OESP, 10/06/2007) SIDO ALVO DE TIROS
POVO
úLTIMO
MIGUELENO
FALANTE DE
PERDE
SUA LÍNGUA O último remanescente de uma etnia até hoje
não identificada de índios isolados em Rondô
No dia 19 de janeiro, faleceu Antônio Marcirilo GARIMPEIROS SÃO PRESOS nia, conhecido como “Índio do Buraco”, pode
Maciel Miguelem, 82 anos – o último falante NA TI URU-EU-WAU-WAU ter sido alvo de um grupo armado há cerca de
da língua miguelem, que pertence à família Cinco garimpeiros foram presos recentemente duas semanas. É o que afirma a Funai, que
isolada txapakura. O povo miguelem se auto no interior do Parque Nacional de Pacaás No acionou a Polícia Federal após encontrar, no
último dia 14, um posto de apoio do órgão ÍNDIA AKUNTSU MORRE E DEIXA conta Elias Biggio, chefe da Coordenação-Geral
destruído e com dois cartuchos de espingarda CINCO SOBREVIVENTES de Índios Isolados da fundação. Das cinco
abandonados. Segundo a Funai, a ação foi pro pessoas que restaram, outra também já está
tagonizada por fazendeiros que não aceitam a Uma das últimas sobreviventes do povo indí muito doente. É Konibu, irmão de Ururu e hoje
restrição de uso da terra indígena Tanaru, que gena akuntsu morreu em Rondônia. Ururu, o mais velho da tribo. Além dele, vivem lá sua
possui 8.070 hectares e fica próxima a Corum que tinha cerca de 85 anos e era a mais velha esposa, duas filhas e um senhor de mais de 50
biara, no oeste do Estado. Vestígios observados do grupo, estava doente e deixou apenas cinco anos, filho adotivo da índia que faleceu. Caso
no local indicam que o índio isolado sobrevi familiares – os últimos representantes do seu as duas mulheres mais jovens não tenham
veu. Seis fazendeiros criam gado na área. Parte povo, dizimado nas décadas de 1970 e 1980 du descendentes - a mais nova já tem 25 anos -,
de suas fazendas está na terra indígena, onde rante a colonização do estado. As informações os akuntsus desaparecerão. Segundo Biggio,
não podem atuar ou circular. No posto atacado foram divulgadas pela ONG inglesa Survival a Funai não pode estimulá-las a namorar ou
foram danificados paredes, placa solar e cabo Internationale confirmadas pela Funai. “Ela fa a terem filhos. “São eles [os índios] que têm
de uma antena. (Matheus Pichonelli, Agência leceu há três semanas. Estava doente, tentamos que procurar isso.” (Iberê Thenório, Globo
Folha, 26/11/2009) levá-la para a cidade, mas ela preferiu ficar”, Amazônia, 19/10/2009)
CINTA LARGA título de donos da maior reserva de diamantes invasor no garimpo. “Só vão ficar os donos
do planeta, com capacidade para produzir entre da terra”, disse ao Estado o coordenador da
R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões ao ano, motivo da Comunidade do Povo Cinta-Larga do Estado
CINTA LARGA SE ASSOCIAM A cobiça e da violência que marcam o convívio de Rondônia e do Noroeste do Mato Grosso,
GARIMPEIROS dos indígenas com os não-índios. (Vannildo Marcelo Cinta-Larga. Ainda não está certo,
Endividados e sob forte pressão, os índios da Mendes, OESP, 11/11/2007) porém, se o garimpo será totalmente interrom
etnia cinta-larga fecharam uma sociedade pido. “Queremos parar com essa atividade e
informal com os garimpeiros para a explora CINTA LARGA VÃO A preservar a natureza, que está sendo destruída
ção de diamantes na Reserva Roosevelt, em por causa das escavações”, disse Marcelo. “Mas
TARSO RELATAR ABUSO
Rondônia. Eles se aliaram também a uma rede isso ainda vai depender do apoio que receber
de sócios não-índios, tidos como capitalistas Em reunião com o ministro da Justiça, Tarso mos do governo para desenvolver projetos de
de garimpo, para viabilizar o negócio. Como Genro, representantes dos índios cintas-largas sustentabilidade para o nosso povo.” (Roldão
se fossem representantes comerciais da selva, voltaram ontem a acusar a PF de cometer Arruda, OESP, 23/12/2007)
esses intermediários fazem a ligação dos ca abusos no trabalho de vigilância ao redor de
ciques das aldeias com traficantes de pedras suas aldeias, na TI Roosevelt, em Rondônia. Os
preciosas, na maior parte estrangeiros, que federais chegaram à região em 2004, logo após CASSOL E OS DIAMANTES
circulam na região. Mais de 90% dos diamantes o massacre de 29 garimpeiros pelos cintas Contra o senador Ivo Cassol corre um inqué
largas, e sua missão era impedir a mineração rito, de número 450, no STJ desde 2004, de
extraídos na área saem do País ilegalmente
rumo à Europa, ao Oriente Médio e aos Estados de diamantes no território indígena. Segundo autoria do MPF de Rondônia, no qual ele é
Unidos. Com aval dos caciques e auxílio dos o relato dos índios, o garimpo prossegue, ao acusado de se associar a contrabandistas de
índios, os garimpeiros construíram uma rede mesmo tempo em que as pessoas das aldeias diamantes para explorar ilegalmente jazidas
são submetidas a situações humilhantes nas localizadas na reserva cinta-larga por meio da
de acessos clandestinos na floresta para fugir Companhia de Mineração de Rondônia (CMR),
revistas realizadas nas barreiras. A saúde foi
das barreiras da polícia nas principais estradas
que levam à reserva. Segundo estimativas das outro tema enfatizado na reunião que reuniu, com apoio técnico da Universidade de Viçosa
além de dois cintas-largas, dois líderes suruís, (MG). A PF chegou a essas informações depois
autoridades locais, cerca de 1.500 garimpei
seus vizinhos, e um apurinã. (RoldãoArruda, de deflagrada, em 2003, a Operação Lince,
ros já voltaram sorrateiramente à área de
mineração. Trabalhando em ritmo frenético, OESP, 21/12/2007) voltada para a repressão a roubo de cargas
e contrabando no Norte e em São Paulo. De
eles infestam uma faixa de 22 quilômetros às
margens do Rio Roosevelt e seus afluentes. A CINTA LARGA ANUNCIA SAÍDA acordo com o inquérito, ainda em tramitação
no STJ, o envolvimento de Ivo Cassol com
destruição ambiental se amplia, enquanto as DE GARIMPEIRO
a quadrilha de contrabandistas foi revelado
autoridades esperam a regulamentação do Os cintas-largas da TI Roosevelt, em Rondô por Marcos Glikas, preso durante a operação
garimpo em terras indígenas. Situada no sul nia, decidiram retirar de seu território todos policial e apontado como chefe da quadrilha
de Rondônia, a região dos cintas-largas tem, os garimpeiros de diamantes que não sejam da qual participavam dois policiais federais de
conforme estimativas dos Ministérios daJustiça indígenas. A retirada de homens e máquinas Ribeirão Preto (SP), o delegado José Bocami
e de Minas e Energia, entre 15 e 20 formações está sendo feita de forma pacífica e, segundo no e o agente Marcos Aurélio Soares Bonfim.
rochosas de onde saem os diamantes. Essas informações dos líderes cintas-largas, dentro Segundo disse Glikas, em depoimento à PF, o
jazidas já mapeadas dão aos cintas-largas o de alguns dias não haverá mais nenhum governador Cassol foi informado das atividades
da quadrilha durante reuniões realizadas em
Porto Velho, em março de 2003, na presença
da chefe de gabinete, Leandra Fátima Vivian,
também presidente da CMR. Como prova desse
fato, Marcos Glikas apresentou algumas fotos
nas quais aparece em uma reunião com o go
vernador de Rondônia, quando, segundo ele, se
tratou da exploração de diamantes na reserva
Roosevelt, dos cinta-larga, sem a prévia auto
rização da União, como manda a lei. (Leandro
Fortes, Carta Capital, 25/06/2008)
MPF COBRA MAIS ATENÇÃO DA exploração de recursos naturais de suas terras ção nos últimos anos, segundo monitoramento
FUNAI PARA CINTA LARGA e que o efetivo fim destas práticas depende de do Ibama. Serra Morena e a reserva Aripuanã,
os índios serem atendidos, ao menos, em suas que concentram em suas terras pouco mais de
O MPF em Rondônia emitiu nesta sexta-feira,
12, uma recomendação à Funai para que tome necessidades mais elementares. Buscando 800 cinta-Largas, têm sido alvo de operações
algumas medidas de mais responsabilidade e alternativas para sua sobrevivência, os cintas ambientais que visam coibir a extração, o trans
largas estão em negociação para contratação porte e a venda ilegal de madeira pertencente
profissionalismo com algumas questões rela
da Viridor para comercialização de crédito de a terras da União. (Dhiego Maia, Diário de
tivas ao povo indígena Cinta Larga, designando
carbono. Os índios têm a expectativa de assinar Cuiába, 16/09/2010)
equipe de técnicos e dando a eles condições de
o contrato com a empresa mencionada até o
trabalho para buscar soluções para os proble
próximo mês. Outro ponto destacado pelo MPF
mas. O MPF também recomenda que a Funai PROJETOS ALTERNATIVOS À
assegure a liberação regular de recursos ao na recomendação é que a atual paralisação
do garimpo de diamantes foi obtida graças EXPLORAÇÃO MADEIREIRA
desenvolvimento do trabalho, fixando datas
aos esforços de algumas lideranças indígenas, Em meio às terras indígenas no estado do Mato
base certas e mensais; retome o trabalho de
concepção, financiamento e execução dos que estão arcando com os riscos de pressões Grosso, a Funai vem trabalhando um programa
externas por atrapalhar os interesses escusos de desenvolvimento sustentável com os índios
projetos de alternativas econômicas à atividade
de pessoas interessadas em lucrar através Cinta-Larga. Com auxílio para o extrativismo
mineral para o povo Cinta Larga; assegure o
destas atividades. (MPF, 04/06/2010) da borracha e da castanha, as comunidades
direito à alimentação e o acesso às aldeias; indígenas buscam novas fontes de renda
acompanhe e adote providências sobre os
aliadas à sustentabilidade. Ao invés de terem
relatos de abusos praticados contra os índios COMUNIDADE CINTA LARGA atravessadores, os índios estão organizando
pela Polícia Federal; impulsione a construção ACABA DE VEZ COM O GARIMPO seu trabalho para a venda direta da sua pro
de casas com o aproveitamento de madeiras já Após meses de negociações entre os principais dução. O Coordenador da Funai emJuína-MT,
apreendidas e atue para que a comunidade seja lideres da Nação Cinta Larga na busca por uma Antônio Carlos, comenta que com os 800 kits
beneficiada com energia elétrica nas aldeias. solução definitiva para a questão do garimpo adquiridos para a extração da seringa, a pro
(Agência Estado, 13/06/2009) de diamantes na reserva do Roosevelt, os dução da borracha Cernambi Virgem Prensada
indígenas chegaram a um consenso para reali (CVP) está sendo realizada em várias aldeias
CINTA LARGA APROVAM zação dea operação para a retirada de todos os Cinta-Larga. “Hoje, temos uma quantidade
TERRITÓRIO ETNOEDUCACIONAL brancos que se encontravam dentro da área es muito grande de borracha para vender, mas os
Após três dias de reunião com representantes cavando em busca de diamantes. Após mais de indígenas querem juntar mais” afirma Antônio
nove anos mantendo essa atividade clandestina Carlos, quando menciona a participação direta
do MPF em Rondônia, MEC, secretarias de dentro de suas terras, os índios Cinta Larga em
educação e Funai, líderes e caciques cintas das lideranças indígenas que estão a favor
largas aprovaram a criação de um território quase toda a sua totalidade acabaram aceitando dessa nova atividade para o desenvolvimento
a proposta de se fazer a retirada de todo ho econômico. O programa de sustentabilidade
etnoeducacional que vai abranger suas aldeias mem branco juntamente com suas maquinas
de Rondônia e Mato Grosso. Os territórios fortalece, também, o protagonismo indígena
da área denominada “Baixão do Laje”. Para isso na ação de proteção territorial, pois há mais
etnoeducacionais são uma proposta do MEC após a saída da última leva de garimpeiros os
para articular diversos órgãos públicos para o de 20 anos os Cinta-Larga vem sofrendo com o
índios estarão fazendo contato com a base da aliciamento de fazendeiros, grileiros e pessoas
atendimento mais uniforme da educação esco PF e Funai para coordenarem uma operação.
lar indígena, tendo em vista as peculiaridades diretamente envolvidas na exploração ilegal
(Rondoniaovivo, 09/07/2010) de madeiras em terras indígenas. Nas terras
de cada povo. (MPF, 28/05/2010)
indígenas Serra Morena e Parque Indígena
PF DESENCADEIA do Aripuanã, estava ocorrendo a extração de
DE OLHO NOS CONTRATOS DE OPERAÇÃO ADAMAS toras de madeiras ilegais feita por madeireiros
CRÉDITOS DE CARBONO e fazendeiros que ofereciam aos indígenas
A Polícia Federal desencadeou na manhã de
O MPF/RO emitiu uma recomendação para que ontem a Operação Adamas que interrompeu a dinheiro para alimentação, saúde até mesmo a
a Funai acompanhe de perto todo o processo doação de carros para as comunidades indíge
extração ilegal de diamantes e o comércio das
referente à comercialização de crédito de car pedras preciosas na TI Roosevelt, localizada nas em troca da exploração ilegal de madeiras
bono envolvendo o povo indígena cinta larga. entre Cacoal e Espigão D’Oeste. Foram mobi nas suas terras. Alguns índios aceitavam isso
Nessa recomendação a Funai deverá designar lizados 200 agentes que efetuaram a prisão de como uma forma de conseguir renda para as
uma equipe técnica para prestar assessoria 18 pessoas, sendo nove em Espigão D’Oeste comunidades. Tentando coibir esse aliciamento
antropológica, jurídica, econômica e de qual e também com o objetivo de proteção das terras
onde está localizada a sede reserva indígena.
quer outra ordem que se fizer necessária aos (Diário da Amazônia,19/08/2010) indígenas, a Funai em ação conjunta com o
índios durante todo o processo de pactuação Ibama e participação da PF estão ingressando
e desenvolvimento do projeto. Esta equipe fará nas terras para fazer apreensão de madeiras
também a análise do contrato a ser firmado TI SERRA MORENAJÁ PERDEU exploradas ilegalmente e de maquinários usa
entre os índios e a empresa Viridor Carbon Ser 2 MIL HA DE FLORESTA dos nessa atividade, além de pessoas envolvidas
vices, de forma que a efetiva contratação seja A reserva indígena Serra Morena, da etnia dos nessas ações clandestinas. Na última Operação
agilizada. O MPF argumenta na recomendação cinta-larga, localizada no município de Juína, Arco de Fogo realizada pelos órgãos Federais,
que o povo indígena tem sofrido a desenfreada já perdeu mais de dois mil hectares de vegeta que terminou segunda-feira (11), houve a
apreensão de 9 pessoas envolvidas diretamente final de semana, já foram apresentadas hoje o meio de vida de várias tribos indígenas que
na retirada de madeiras, além de máquinas e ao secretário-adjunto da secretaria estadual de vivem na Amazônia, sem contato com o resto
o confisco aproximado de 1000m³ de torras Meio Ambiente, Salatiel Araújo, que se encontra da sociedade.
de madeiras derrubadas ilegais. Na apreensão no local em negociação com os mais de 250 Em comunicado, a ONG britânica Survival
foram encontradas inúmeras documentações índios de 10 etnias. De acordo com Salatiel, as afirmou hoje que as hidrelétricas estão na
que serão analisadas pelos investigadores e propostas serão encaminhadas à secretaria da vizinhança de várias tribos isoladas, entre elas
peritos da Polícia Federal, em Juína/MT. Para Casa Civil, sob Eder Moraes, para que cada um, os Mujica Nava e os Jacareúba/Katawixi, tal
evitar a continuidade dessas explorações ilegais, nesse caso, o governo Estadual e Federal e a como se constatou em uma recente expedição
os índios estão sendo conscientizados para que própria empresa responsável pela construção realizada recentemente pela Funai.Segundo a
não aceitem ofertas em troca de madeira e que da obra, consórcio Energética Águas da Pedra Survival, as represas significam a construção
façam a denuncia para os órgãos responsáveis. S.A., possa analisar a viabilidade de atender as de novas estradas na área e causarão “um
O coordenador da Funai comenta sobre o fato exigências dos indígenas e apresentar “contra fluxo em massa de migrantes à região, o que
de os índios estarem favoráveis a novas formas proposta”. O coordenador regional da Funai destruirá com rapidez a floresta dos índios” e
de arrecadação financeiro, e isso está sendo de Juína, Antônio Carlos Ferreira de Aquino, propagará doenças mortais nessas comunida
fruto do trabalho do extrativismo da castanha afirmou que os indígenas cobram programas des, como a gripe e a caxumba.
e borracha “A venda da madeira era um lucro compensatórias às perdas que tiveram com Outras comunidades são igualmente amea
falso, com o extrativismo da borracha, será a implantação da usina na região. Um dos çadas, como os Parintintin, como afirmou o
uma forma de resgatar a identidade cultural, maiores problemas, segundo ele, foi pela obra porta-voz dessa tribo: “Nossa terra continua
e com a venda da borracha e da castanha, os atingir o local onde existiria um cemitério indí virgem. Esperamos que este projeto não siga
próprios índios irão colocar a mão na massa e gena. (Olhar Direto (RO), 27/07/2010) adiante, porque nossas crianças sofrerão. Não
dar valor a cada gota de suor”, afirma Antônio haverá pesca ou animais suficientes para que
Carlos. (Blog da Funai, 19/10/2010) possamos caçar”. A UHE de Jirau é construída
UHES NO RIO MADEIRA pela empresa GDF Suez, com parte do capital do
Governo francês. (Agência EFE, 19/05/2010)
UHE DARDANELOS TCU APROVA ESTUDOS DE
VIABILIDADE DE JIRAU UHE JIRAU ASSINA CONVÊNIO
FUNAI DIZ QUE ÍNDIOS DO MT O Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou COM A FUNAI
PROTESTAM CONTRA USINA hoje, em plenário, os estudos de viabilidade
“As ações previstas preveem melhorias na
A Funai informou hoje que os cerca de 300 técnica e econômica da hidrelétrica de Jirau, educação, saúde e outros aspectos sociais.
índios invadiram as obras da hidrelétrica no Rio Madeira. O TCU sugere uma redução de Esta iniciativa faz parte das ações que Jirau
Dardanelos, em Aripuanã (MT), no último R$ 6,00 no preço-teto definido para a energia
vem desenvolvendo, para propiciar a essas
domingo, e fizeram funcionários reféns em que será ofertada no leilão da usina. Isto le
comunidades melhor qualidade de vida”,
protesto contra a construção da usina em cima varia o valor limite de R$ 91 o megawatt-hora
afirma o diretor. Como parte do início das
de um cemitério sagrado. Os índios negam (MWh), definido pelo governo, para R$ 85 o
atividades desenvolvidas no sul da Amazônia,
que tenham pedido indenização e reivindicam MWh. O preço final será definido amanhã em
a Funai montou um escritório administrativo
melhorias para as comunidades indígenas reunião da Agência Nacional de Energia Elétrica
atingidas pela construção. Eles devem se (Aneel), que votará o edital com as regras da em Porto Velho, criando a chamada frente do
licitação da hidrelétrica. Madeira que irá desenvolver atividades mais
reunir hoje com a Polícia Federal e a Funai.
intensas na região. O presidente da Fundação
Na madrugada desta segunda-feira (26), os Outra usina do complexo Madeira, Santo An Indígena, Márcio Meira, destacou durante a
280 reféns, funcionários da empresa Águas da tônio, leiloada no ano passado, teve seu preço
Pedra, responsável pelas obras, foram liberados teto fixado pelo governo em R$ 122 o MWh, mas solenidade a importância da assinatura do
em troca de seis engenheiros e gerentes do o consórcio vencedor do leilão aceitou receber documento. “Temos toda a infraestrutura
para trabalharmos juntos. Esse é um grande
setor. A usina fica em Aripuanã, no noroeste R$ 78,87 o MWh pela energia a ser vendida
mato-grossense. (Portal R7, 26/07/2010) pela usina, com um deságio de 35%. (Gerusa marco na relação entre os povos indígenas e
Marques, Agência Estado, 09/04/2008) os grandes empreendimentos. O Brasil precisa
crescer, mas com responsabilidade e é nisso
ESTADO ANALISA DOS ÍNDIOS
REIVINDICAÇÕES que estamos trabalhando agora”, afirmou o
HIDRELÉTRICAS NO RIO presidente da Funai. O convênio abrange as
As reivindicações feitas pelos líderes indígenas MADEIRA AMEAÇAM INDÍGENAS áreas indígenas dos povos Igarapé Lage, Igarapé
para que encerrem o protesto na UHE de A construção das hidrelétricas de Santo An Ribeirão, Kaxarari e Uru Eu Wau Wau. (http://
Dardanelos, em Aripuanã, iniciado desde esse tônio e Jirau no rio Madeira ameaça destruir www.portalrondonia.com, 04/10/2010)
12.
562 OESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
OESTE DO MATO GROSSO
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental -30/06/2011
Nº Mapa Terra Indigena Povo População (nº, fonte, ano) Situação Jurídica Extensão (ha) Município UF
5 Apiaká-Kayabi Apiaká 446/Funai-Colíder: 2003 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 109.245 Juara MT
Kaiabi Decreto 394 de 24/12/1991 publicado em 26/12/1991. Reg.
Munduruku CRI no município de Juara, comarca de Porto dos Gaúchos
(109.245 ha) Matr. 3428 Liv. 2-RG fl. 1V/2 em 19/08/88.
Reg. SPU Certidão n° 19 em 24/11/88.
6 Batelão Kaiabi 150/GT Funai: 2001 Declarada de posse indígena. Suspensos os efeitos da portaria 117.050 Juara MT
através de liminar. Nova Canaã do Norte MT
Portaria 2.136 de 14/12/2007 publicada em 17/12/2007. Tabaporã MT
10 Enawenê Nawê Enawenê-nawê 347/Seplan-MT e Funai: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 742.088 Comodoro MT
Decreto s/n de 02/10/1996 publicado em 04/10/1996. Reg. Juína MT
CRI no município de Juína, comarca de Cuiabá (390.706 Sapezal MT
ha) Matr. 53.945 Liv. 2-IQfl. 21V em 18/11/96. Reg. CRI
no município de Comodoro, comarca de Pontes e Lacerda
(135.378 ha) Matr. 11.188 Liv. 2-RG fl. 1V em 22/11/96.
Reg. CRI no município de Campo Novo dos Parecis, comarca
de Tangará da Serra (216.003 ha) Matr. 5.135 Liv. 2-RG fl. 1
em 19/03/98. Reg. SPU Certidão n° 94 em 03/07/98.
4 Erikpatsa Rikbaktsa 676/Paca: 2001 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 79.935 Brasnorte MT
Decreto 398 de 24/12/1991 publicado em 26/12/1991. Reg.
CRI no município e comarca de Diamantino (79.935 ha) Matr.
17.609 Liv. 2 fl. 1 em 22/02/85. Reg. SPU Certidão s/n em
18/11/87.
2 Escondido Rikbaktsa 45/Funai: 2002 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 168.938 Cotriguaçu MT
Decreto s/n de 08/09/1998 publicado em 09/09/1998. Reg.
CRI no município de Cotriguaçu, comarca de Cuiabá (168.938
ha) Matr. 56.626 Liv. 2-JZ fl. 48 em 15/03/99. Reg. SPU
Certidão n° 63 em 21/07/99.
27 Estação Parecis Paresí 26/GT Funai: 2007 Identificada. Aprovada pela Funai. Sujeita a contestações. 2.170 Diamantino MT
Despacho 50 de 28/09/2010 publicado em 06/10/2010.
22 Estivadinho Paresí 33/Funai-Tangará da Serra: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 2.032 Tangará da Serra MT
Decreto s/n de 12/08/1993 publicado em 13/08/1993. Reg.
CRI no município e comarca de Tangará da Serra (2.031 ha)
Matr. 10.512 Liv. 2-RG fl. 1 em 20/09/93. Reg. SPU Certidão
n° 62 em 19/01/94.
21 Figueiras Paresí 23/Funai-Tangará da Serra: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 9.858 Barra do Bugres MT
Decreto s/n de 03/07/1995 publicado em 04/07/1995. Reg. Tangará da Serra
CRI no município e comarca de Barra do Bugres (9.858 ha)
Matr. 16.986 Liv. 2-RGfl. 1 em 13/11/95. Reg. SPU Certidão
n° 05 em 13/03/96.
8 Irantxe Iranxe Manoki 333/Funai-Tangará da Serra: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 45.555 Brasnorte MT
Decreto 98.827 de 15/01/1990 publicado em 16/01/1990.
Reg. CRI no município e comarca de Diamantino (45.555 ha)
Matr. 21.561 Liv. 2 fl. 1V/2 em 04/08/87. Reg. SPU Certidão
n° 02 em 23/04/90.
3 Japuíra Rikbaktsa 215/Paca: 2001 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 152.509 Juara MT
Decreto 386 de 24/12/1991 publicado em 26/12/1991.
Reg. CRI no município de São José do Rio Claro, comarca de
Diamantino (152.509 ha) Matr. 25.230 Liv. 2-CC fl. 176 em
12/09/89. Reg. SPU Certidão n° 30 em 06/06/94.
20 Juininha Paresí 74/Funai-Tangará da Serra: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 70.537 Conquista D’Oeste MT
Decreto s/n de 04/10/1993 publicado em 05/10/1993. Reg.
CRI no município e comarca de Pontes e Lacerda (70.537 ha)
Matr. 8.783 Liv. 2-RG fl. 1 em 27/10/93. Reg. SPU Certidão
n° 27 em 03/05/94.
1 Kawahiva do Rio Pardo Isolados Identificada. Aprovada pela Funai. Sujeita a contestações. 411.848 Colniza MT
Despacho 22 de 09/03/2007 publicado em 14/03/2007.
13 Lagoa dos Brincos Nambikwara 65/Funai: 2002 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.845 Comodoro MT
Nambikwara Negarotê Decreto s/n de 05/01/1996 publicado em 08/01/1996. Reg.
CRI no município de V. Bela da Santíssima Trindade, comarca
de Pontes e Lacerda (1.845 ha) Matr. 10.833 Liv. 2 RG fl. 1
em 18/01/96. Reg. SPU Certidão n° 03 em 13/03/96.
7 Manoki Iranxe Manoki 250/GT Funai: 2000 Declarada de posse indígena. 252.000 Brasnorte MT
Portaria 1.429 de 04/08/2008 publicada em 05/08/2008.
9 Myky Menky Manoki 103/Funai-Tangará da Serra: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 47.094 Brasnorte MT
Decreto 94.013 de 11/02/1987 publicado em 12/02/1987.
Reg. CRI no município e comarca de Diamantino (47.094 ha)
Matr. 21.183 Liv. 2 fl. 1 em 22/04/87. Reg. SPU Certidão
s/n em 26/08/87.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL OESTE DO MATO GROSSO 563
OESTE DO MATO GROSSO
Terras Indígenas (continuação)
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indigena Povo População (nº, fonte, ano) Situação Jurídica Extensão (ha) Município UF
Nambikwara Tawandê
Nambikwara Hahaintesu
Nambikwara Wasusu
Nambikwara Alantesu
Nambikwara Hoskokosu
564 OESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ENAWENÊ-NAWÊ
A Luta Contra
Hidrelétricas no Juruena1
Equipe de edição
DESDE 2002, OS PLANOS DE CONSTRUÇÃO DE O ato ocorreu após reunião entre índios e representantes da
HIDRELÉTRICAS NO RIO JURUENA (MT) AMEAÇAM Funai, no início de outubro de 2007, na qual foi apresentado um
A SOBREVIVÊNCIA FÍSICA E CULTURAL DOS ENAWENÊ mapa produzido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do
NAWÊ E OUTROS POVOS DA REGIÃO. APESAR DE Ministério de Minas e Energia, que identificou 22 novos aprovei
SUSPENSAS POR LIMINAR DO MPF/MT EM 2009, tamentos hidrelétricos com viabilidade econômica no entorno da
ELAS AINDA PODEM IMPACTAR A VIDA DOS POVOS TI dos Enawene-nawê, num trecho de cerca de 150 km de rio, logo
QUE VIVEM NAS CERCA DE 11 TERRAS INDÍGENAS acima da TI. No total, o mapa levanta 53 locais para construção
AO LONGO DA BACIA DO RIO de futuras PCHs nas bacias dos rios Aripuanã eJuruena.
Apesar do grande número de projetos a serem implementados
A oposição dos indígenas à construção de Pequenas Centrais na região, e de vários poderem potencialmente impactar as TIs
Hidrelétricas (PCHs) no rioJuruena não é novidade. Em dezembro (Enanawê-nawê, Menky, Nambikwara, Pirineus de Souza, Tireca
de 2007, os Enawenê-nawê já haviam ocupado os canteiros de tinga, Juininha, Paresi, Uirapuru, Utiariti, Rikbaktsa e Japuíra),
obras para reivindicar estudos independentes sobre os impactos nenhuma comunidade indígena foi previamente consultada sobre a
dos aproveitamentos hidrelétricos, que nunca foram realizados. possibilidade de construção dessas hidrelétricas, embora essa seja
uma obrigação do órgão ambiental estipulada na Convenção 169 da
Desde 2002, a empresa Maggi Energia planeja instalar nove
OIT, da qual o Brasil é signatário. Segundo Ivar Busatto, coordena
PCHs e duas usinas hidrelétricas (UHEs) no rio. Em 2005, os
dor da Opan, os povos indígenas da Bacia do Juruena só ficaram
empreendedores se transformaram em Consórcio Juruena, com
sabendo oficialmente da construção das hidrelétricas depois das
as transferências de licença da Maggi para duas outras empresas:
licenças prévias expedidas e das obras iniciadas e, então, foram
Juruena Participações e Linear Incorporações. Cinco projetos
procurados pelo Consórcio Juruena para negociar a compensação
foram licenciados em 2007 e, na sequência, licenciadas mais
financeira referente à construção das cinco PCHs.
três das 11 obras planejadas.
A proposta dos empreendedores era de R$ 4 milhões e 200 mil.
Ainda em 2007 as obras de cinco empreendimentos foram
A contraproposta dos índios foi de R$ 6 milhões, para as cinco
iniciadas mesmo sem haver qualquer consulta aos cinco povos
indígenas impactados (Paresi, Nambikwara, Menky, Rikbaktsa etnias afetadas – R$ 1 milhão e meio para os Menky e R$ 1
milhão e meio para os Enawene, além de R$ 1 milhão para cada
e Enawenê-nawê), como determina a Constituição Federal. Essas
um dos demais povos – Paresi, Nambikwara e Rikbaktsa.
PCHs terão capacidade instalada total de 91,4 MW e receberam
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BN No início de outubro, os índios Paresi, Nambikwara, Menky e
DES) financiamento no valor de R$ 360 milhões. Desse total, a Rikbaktsa fecharam o combinado com os empreendedores. O
Telegráfica, com capacidade instalada de 30 MW, teve apoio do povo Enawenê-nawê, no entanto, voltou atrás e não aceitou o
BNDES aprovado no valor de R$ 120 milhões. acordo – preocupado com o fato de estar prevista a construção
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL OESTE DO MATO GROSSO 565
de muito mais empreendimentos hidrelétricos na Bacia do rio proposta de uma moratória para impedir o licenciamento de
Juruena –ficando isolado politicamente. novos projetos de aproveitamento hidrelétrico. Eles exigiram a
realização prévia de uma avaliação dos impactos que o conjunto
No dia 11 de outubro de 2008, cerca de 120 Enawenê incendiaram
de barragens pode causar em cada uma das bacias do estado
o canteiro de obras da PCH Telegráfica, na cidade de Sapezal, a
de Mato Grosso. Esse tipo de moratória está em vigor em Goiás,
430 km de Cuiabá. Após retirarem os funcionários do local, os
desde 2004, quando o MPF de Goiás e a Agência Goiana de Meio
índios atearam fogo em equipamentos e galpões do Consórcio de
Ambiente e Recursos Naturais (Agmarn) celebraram um TAC
Empresas Juruena Participações Ltda., responsável pelo complexo para garantir que os processos de licenciamento de UHEs e PCHs
de usinas que integra o PAC do governo federal.
sejam precedidos do Estudo Integrado de Bacias Hidrográficas
para Avaliação de Aproveitamentos Hidrelétricos (EIBH), com
ÍNDIOS TEMEM REAÇÃO análise de impactos cumulativos, sem prejuízo à obrigatoriedade
DO ESPÍRITO DO RIO de apresentação, análise e aprovação dos EIA/RIMAs de cada
O líder Daliaywacê Enawenê-nawê diz que a sua comunidade não empreendimento hidrelétrico.
concorda com a construção das PCHs e que não quer negociar
Já em 28 de agosto de 2009, o MPF/MT obteve uma decisão
dinheiro para a compensação ambiental, como foi oferecido pelo
liminar da Justiça Federal para suspender a licença prévia
empreendedor. Segundo ele, que falou pelo telefone do escritório
que autorizava a construção da UHE Juruena, concedida pela
da Funai em Juína (MT), o dinheiro não vai repor o peixe e a
Secretaria Estadual de Meio Ambiente. A decisão judicial deter
água: “O rio é um espírito muito forte que come muito peixe e
minou também que o governo do estado deveria se abster de
bebe muita água nos nossos rituais, temos que fazer esculturas
para ele ficar feliz e abençoar a aldeia. Se houver todas essas prosseguir com os licenciamentos ambientais da UHE Juruena
e que a Maggi Energia, proprietária da UHE, parasse as obras.
barragens no rio, ele vai ficar bravo e com fome e vai causar a
A multa para o descumprimento da decisão judicial é de R$ 80
doença nas pessoas da nossa aldeia. Nós estamos com muito
mil por dia. Segundo afirma o procurador da República Mário
medo do que pode acontecer com o nosso rio e com o nosso povo”,
Lúcio de Avelar, os empreendedores informaram um potencial
afirma Daliaywacê. Ele conta que ninguém consegue explicar aos
de aproveitamento hidrelétrico menor do que o real. A Agência
índios quais serão os impactos na rotina da comunidade – o que
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) constatou tratar-se de 46
vai acontecer com os peixes, com as roças e com as pessoas. “A
MW, enquanto os empreendedores haviam afirmado que ele
Funai deveria estar nos protegendo e está apenas atendendo aos
seria de apenas 25 MW – potencial que dispensaria a realização
empreendedores, negociando dinheiro. Nós queremos é que façam
do estudo de impacto ambiental.
todas as compensações para que nada mude no rio.” Ele considera
que a empresa interessada na construção das PCHs enganou os in Depois da liberação das cinco obras – sem análise indepen
dígenas: “Disseram que seriam apenas cinco construções e já estão dente dos impactos gerados pelos empreendimentos –, a Funai
querendo fazer mais três PCHs perto da nossa área”, conta. “Eles liberou, em setembro, um parecer apontando irregularidades
mentiram pra gente a vão mentir de novo. Nós não queremos mais nos estudos apresentados pelos empreendedores. O parecer
conversar com o empreendedor e nem que nenhum pesquisador técnico da Coordenação de Patrimônio Indígena e Meio Am
venha aqui para estudar mais barragens no nosso rio”. biente (CGPIMA) da Funai – assinado pelo biólogo Marcelo
Logo após o incêndio, o MPF reforçou o pedido feito em duas Gonçalves de Lima – afirma que o principal estudo que per
mitiu o licenciamento do complexo de usinas do rio Juruena (a
ações civis públicas já em curso: a suspensão das obras até que
Avaliação Ambiental Integrada - AAI, elaborada pelos próprios
os impactos cumulativos de todas as PCHs sejam adequadamente
empreendedores, e que justificou a renovação das licenças
avaliados. As obras chegaram a ser paralisadas em abril de 2008,
das usinas, emitidas a partir de diagnósticos simplificados)
mas a medida foi cassada pelo ministro Gilmar Mendes após
é contraditório, incompleto e não permite estimar os reais
visita do governador do Mato Grosso. impactos das obras ao meio ambiente e aos índios. Além disso,
recomenda que o processo seja suspenso enquanto não forem
ANÁLISE DOS IMPACTOS feitos “estudos de impacto ambiental detalhados”, tendo em
Em outubro de 2008, um grupo de lideranças Enawenê-nawê vista que “o risco ambiental advindo da implementação de
discutiu com o Procurador da República em Mato Grosso a todos os empreendimentos supracitados no rio Juruena não foi
566 OESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
devidamente mensurado.” Apesar dessa recomendação interna, o sentimento de ameaça a seus eixos de referência no manejo
a Funai continua atuando na intermediação dos acordos entre ecológico e territorial e privam as gerações futuras de vivenciar
os povos indígenas afetados e os empreendedores, como se o as atividades tradicionais. Isso poderia gerar o colapso do seu
processo estivesse correto. sistema de vida e da sua estrutura social”.
Os Enawenê construíram a tradicional barragem de pesca no rio Juruena, mas o peixe não chegou.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL OESTE DO MATO GROSSO 567
HIDRELÉTRICAS AMEAÇAM RITUAL YÃKWA
Em fevereiro de 2009, o projeto Vídeo nas Aldeias, em parceria com de sera única fonte de proteína, o peixe ainda é a moeda de troca da
o Iphan, do Ministério da Cultura, e a Opan (Operação Amazônia sociedade enawenê. Como mandar colocar o estojo peniano no filho
Nativa), iniciou as filmagens do mais longo ritual indígena da Ama adolescente, como fazer as oferendas para os espíritospouparem o
zônia brasileira, o Yãkwa, dos índios Enawenê-nawê. OIphan estava seu filho que está doente, se não houver peixe para pagar?
Diário Oficial
oiniciando o processo
da União
de patrimonialização e, em de
trouxe a informação 25 de
suamaio
inscrição
de 2010,
no
Os Enawênê-nawê sabem muito bem que terminada a temporada
de pesca é preciso romper a tapagem para permitir que no ano se
livro de Registro de Celebrações. Com duração de sete meses, é um
guinte os peixes subam novamente para desovarem nas cabeceiras
dos quatro cerimoniais que os Enawenê realizam todo ano. Com um
dos igarapés. Imaginem o pavor quando souberam em 2008 que
ciclo cerimonial de 11 meses para reverenciar, alimentar e agradar
dezenas de barragens permanentes estavam sendo construídas
o panteão de espíritos que podem ser perigosos ou protetores, os
nos rios que atravessavam suas terras! Impactados com a notícia,
Enawenê se alimentam exclusivamente de peixes.
em 11 de outubro de 2008, ocuparam e destruíram um dos cantei
No ritual, os clãs que incorporam os espíritos naquele ano se es ros de obras. No final de março de 2009, pressionados por outros
parramam pelos igarapés de suas terras, construindo barragens povos indígenas da região, eles finalmente assinaram o Plano de
para capturar os peixes nobres que baixam nos igarapés após a Compensação de 1 milhão e meio de reais pela construção de nove
piracema. No ano passado, os peixes não retornaram da piracema PCHs no rio Juruena pelos empreendimentos da empresa do então
como de costume. Era a primeira vez que isso acontecia. O período governador de Mato Grosso, Blairo Maggi. OPlano de compensação,
das chuvas havia se estendido além do normal e todos os sinais da que não tem nada de ambiental, consiste numa lista de compras de
natureza que tradicionalmente indicam o tempo da descida dos pei veículos e motores de popa, para quem não tem nem estrada para
xes falharam. O descompasso da agenda cerimonial Enawenê com chegar na aldeia, o que deverá agravar a dependência de recursos
as mudanças climáticas parecia visível e desastrosa. Desorientados, para a compra de gasolina.
os índios se perguntavam por que os peixes não tinham subido.
A única coisa que os Enawênê ainda se recusam a permitir é a pes
Dois meses depois, os índios pressionaram a Funai para a compra de
quisa em seu próprio território, coisa que a Empresa de Pesquisas
peixes de criatório. Em três dias a Funai conseguiu dinheiro das cons
Energéticas (EPE) insistia emfazer, ameaçando os índios inclusive
trutoras da PCH Telegráfica para a compra de três mil quilos de peixe
com intervenção da Casa Civil, respaldada nas ressalvas da sentença
tambaqui para darem início ao capítulo mais importante do Yãkwa.
dada pelo STF, em março de 2009, no caso da Reserva Raposa-Serra
Pode parecer muito, mas em tempos normais eles pescariam e do Sol. Se a mudança climáticajá revelava a fragilidade da sobre
moqueariam dez vezes mais, para serem trocados e consumidos nos vivência física e cultural dos Enawenê-nawê, imaginem quando
quatro meses seguintes na aldeia. Em 2009, tudo isso fez com que o as comportas estiverem fechadas e todo esse Complexo Hidrelétrico
ritual tivesse uma versão compactada, e a tradicional troca genera estiver implantado na região. O que será do ritual do Yãkwa? (Vincent
lizada de raquetes de peixes no páteo da aldeia não aconteceu. Além Carelli, cineasta e diretor do Vídeo nas Aldeias, maio, 2010)
568 OESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
para a aldeia e consumidos durante os quatro meses seguintes não há como destruir seu habitat natural sem consequências
(período de cantos e danças do ritual Yãkwa). extremamente desastrosas. Portanto, medidas de mitigação e
compensação, do ponto de vista de uma cultura como essa, na
Quando esses índios estão doentes ou quando há qualquer outro
tipo de problema, consideram que a responsabilidade é dos verdade não compensam nem mitigam a continuidade de toda
uma relação fundante da densa máquina social, estética e eco
espíritos Yakairiti que estão insatisfeitos com alguma coisa, amea
lógica como a que está em jogo para os Enawenê-Nawê”. Para a
çando levá-los ao outro mundo. No ritual Yãkwa faz-se uma troca
antropóloga, a perda de diversidade de peixes e da salubridade
generalizada (homens e espíritos) por meio dos grupos rituais,
do rio, “pode sim significar a destruição de seus ritos complexos
entre todos os habitantes da aldeia. Tudo visando a cumprir os
e consequentemente da vitalidade de sua cultura e da vivacidade
ensinamentos e satisfazer os Yakairiti, de forma a, de um lado,
tão característica e reportada desse povo”. Para que não restem
não dar motivos para que esses espíritos ameacem a vida da
dúvidas a esse respeito, Ana Paula cita uma frase do chefe Kawari:
aldeia e, de outro, manter a harmonia do mundo.
“Se a destruição do habitat yakayriti prosseguir, todos irão morrer:
De acordo com a antropóloga Ana Paula Lima, que trabalha há nós, você, você, e todos vocês, iñoti (não índios). A diferença é
nove anos com esse povo, não há como trocar um território e que nós sabemos disso, mas vocês não...”.
rios saudáveis por, por exemplo, criadouros de peixes, como está
proposto. A atual coordenadora do GT para revisão de limites NOTA
instaurado pela Funai em outubro de 2007 explica: “Os peixes
1 Versão editada da reportagem “Enawenê-nawê pedem moratória para novos
fazem parte de uma concepção profunda de geografia fundada licenciamentos de hidrelétricas em Mato Grosso”, de 28/10/2008, publicada
e habitada pelos temíveis e poderosos espíritos subterrâneos, e pelo Instituto Socioambiental.
Debaixo da ponte que fica na estrada que liga Brasnorte a Juína (MT), a Funai despejou três mil tambaquis comprados de um criadouro para compensar a falta de peixe que os
Enawenê tradicionalmente capturam com barragens no rio. Esses tambaquis foram moqueados e levados para a aldeia. Porém, durante o ritual Yãkwa, esses peixes não puderam ser
trocados. Tradicionalmente, os Enawenê trocam entre si os peixes que cada um pescou.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL OESTE DO MATO GROSSO 569
PARESÍ / IRANTXE / NAMBIKWARA
ENTRE 2004 E 2006, TRÊS POVOS INDÍGENAS também”, argumenta o coordenador da Mobilização dos Povos
DA REGIÃO SUDESTE DO MATO GROSSO, UM Indígenas do Cerrado (Mopic), Hiparidi-Xavante.
DOS GRANDES POLOS SOJICULTORES DO ESTADO,
IMPLEMENTARAM UM POLÊMICO PROJETO DE Tanto os Paresi quanto os Nambikwara e Irantxe têm uma história
COPRODUÇÃO DE SOJA EM PARCERIA COM antiga de contato com os brancos, mas são os Paresi que mais
FAZENDEIROS LOCAIS se adaptaram à cultura não índia. Sua relação com o modelo
civilizatório capitalista data do século XVII, quando parte dos
indígenas foi escravizada pelos bandeirantes. Desde então, o
Paresi, Manoki e Nambikwara das Terras Indígenas Paresi, Rio cotidiano dessa população indígena passou a ser moldado pelos
Formoso, Utiariti (Paresi), Tirekatinga (Nambikwara) e Manoki ciclos econômicos que marcaram o sudeste mato-grossense:
(Irantxe) firmaram 19 contratos de parceria, envolvendo 41 al eles trabalharam na coleta da seringa e da poaia – erva de cujas
deias, para a coprodução de soja em áreas de 50 a 1000 hectares raízes se extrai a emetina, usada como princípio ativo em medi
no interior das Terras Indígenas, com validade até a safra de camentos –, como guarda-fios e guias das comissões telegráficas
2011/2012. Os acordos, formalizados com diversos fazendeiros no início do século XX, como vendedores de artesanato na beira
e empresas agropecuárias da região, preveem que os indígenas da BR-364 – construída em 1961, cortando o território paresi de
forneçam a terra e a mão de obra, e os parceiros empresariais, leste a oeste – e, a partir da década de 70, com a expansão da
insumos (sementes, agrotóxicos, adubos etc), financiamentos e fronteira agrícola por colonos do sul do país, como mão de obra
máquinas, sendo que o resultado da comercialização deve ser barata na implementação das fazendas.
dividido igualitariamente entre as partes. Arelação próxima com os fazendeiros deu aos Paresi um conhe
O processo de parcerias tem sido criticado por instituições indi cimento dos processos produtivos e da economia ocidental que
genistas, lideranças indígenas e pelo próprio Ministério Público acabou reproduzindo uma certa divisão de classes no interior das
Federal (MPF), que considera os acordos uma forma velada comunidades, com poucos que se beneficiam de muito e muitos
de arrendamento de terras indígenas. Segundo a Constituição que se beneficiam de pouco, avalia André Lopes, indigenista da
Brasileira, as TIs são bens da União, de usufruto exclusivo das organização Operação Amazônia Nativa (Opan). A instituição
populações tradicionais. Por isso, o Estatuto do Índio (de 1973) abandonou os trabalhos com o grupo em 2004, quando foram
não permite que elas sejam arrendadas, proibição reforçada firmados os primeiros acordos com os fazendeiros. De acordo
pela Instrução Normativa nº 3 de 2006 da Funai. O fato de que com Lopes, o mesmo não ocorreu com os Irantxe, cuja adoção
fazendeiros se beneficiam com 50% dos lucros advindos do plan do modelo capitalista de produção de soja é uma fonte de renda
tio de soja em terras indígenas é um dos principais problemas sim, mas, dentre outros motivos, se deu como um tipo de defesa
nessas relações, avalia o MPF. Na mesma direção, o movimento contra a discriminação e o preconceito por parte da sociedade
indígena do Mato Grosso considera que os contratos de parceria não indígena, cujo discurso “existe muita terra para pouco ín
representam uma forma de driblar a lei. “Eles são apenas outro dio” ou “para que tanta terra aos índios, se eles não fazem nada
nome do arrendamento. Os tratores são do branco, os lucros com ela?” é recorrente. “Os Irantxe fizeram, para além de uma
570 OESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
opção econômica, uma escolha política quando adotaram a soja. os jovens passam a construir suas perspectivas de futuro, seu
O significado dessa alternativa passa também por um desejo de ‘projeto de povo’? Há uma preocupação interna com o efeito que
contradizer o estigma local de que são ‘preguiçosos’ e ‘improdu isso poderá trazer para as novas gerações. A obtenção de renda,
tivos’, maneira como são rotulados os indígenas da região. Eles se não estiver de acordo com os padrões locais de divisão social,
sabem que é uma contradição com a luta pela terra tradicional, pode agravar os conflitos internos de uma comunidade ou criar
e que acabaram fazendo uma aliança com o ‘inimigo’. Mas esse novas tensões sociais”, pondera Lopes.
é um preço que resolveram pagar”, explica o indigenista.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL OESTE DO MATO GROSSO 571
deixamos de fazer festas tradicionais. Agente não faz mesmo festa O sonho dos sojicultores paresi é que, em 2012, a comunidade
para a soja, porque não é da nossa cultura. Mas fazemos oferta tenha economizado dinheiro suficiente para conquistar a inde
para o milho, o arroz”, afirmou o coordenador de lavoura da pendência dos nove fazendeiros com quem mantêm contratos
aldeia Bacaval, Arnaldo Zunizakae, mais conhecido como Branco. atualmente. Mas existem pendências ainda não solucionadas, ex
“Hoje já não vivemos só da caça e da pesca, e isso tem custo. plica o líder Branco. Atualmente, toda a comercialização da soja é
Para fazer festa hoje, a gente precisa de dinheiro”, argumentou, feita pelos fazendeiros porque os Paresi não têm a documentação
acrescentando que, graças à lavoura da soja, os 52 moradores de necessária para vender a produção. Também os financiamentos
Bacaval voltaram a plantar milho (mas já de forma mecanizada, são tomados pelos parceiros, já que os indígenas não têm como
na chamada safrinha, cuja produção também é comercializada). fornecer garantias aos bancos. “Quando um banco financia um
Para Branco, “cultura que não muda é a que está no museu”. “A fazendeiro, geralmente toma a terra dele como garantia. Como
gente estava passando fome, só comendo beiju, farinha, carne de nossa terra pertence à União, não temos como pegar financia
caça e pesca. Hoje, no nosso prato tem carne de boi, café, pão, mentos, e por isso o nosso lucro é pequeno”, diz Branco. Por
fruta, uma alimentação mais equilibrada”, defende ele, que há outro lado, o fato de que a soja paresi vem de terras indígenas
menos de um ano também trabalha como coordenador de saúde com pendências ambientais impede a ampliação de mercados.
da Associação Indígena Halitinã – conveniada com a Funasa –, De acordo com Branco, 60% dos desmatamentos ocorridos nas
para o atendimento dos 1.584 Paresi que vivem em nove TIs no áreas de soja foram feitos há cerca de 15 anos, sendo que os
Mato Grosso, todas elas já demarcadas. Nos anos 60, segundo outros 40% de mata foram derrubados entre 2000 e 2003. “Eu
dados da Funai, os Paresi eram apenas 360 pessoas. A taxa de adoraria dizer que estamos exportando nossa produção, mas
crescimento atual desse povo é alta: 7,2% ao ano. Branco foi o não é verdade. O Blairo Maggi [governador do Mato Grosso] é
primeiro Paresi a trabalhar com agricultura mecanizada dentro meu amigo pessoal e não compra um grão da nossa soja, porque
do território indígena, ainda em 1997, após ser funcionário sabe que pode dar problema. Nossa soja hoje vai para produção
de uma fazenda durante nove anos. “Quando saí de lá, meu de ração”, explica Branco.
ex-patrão me doou uma plantadeira velha e me emprestou um
A conta investimento na qual é depositada metade da renda
trator. O combustível, eu conseguia com a prefeitura de Sapezal”,
líquida da soja está em nome da associação Waymaré. No final
revelou. De início, ele plantou 45 ha de arroz. Na safra seguinte,
de 2009, o saldo era de cerca de R$ 2 milhões, dinheiro que,
foram 60 ha. No terceiro ano, em 1999, quando a área da lavoura
por exigência da Funai e do MPF, só pode ser sacado ao fim dos
mecanizada atingiu 90 hectares, o arroz já dividia espaço com a
contratos. O índio empreendedor reconhece, no entanto, que a
soja. Em 2000, a soja já era a cultura principal dos 150 hectares
maioria das comunidades envolvidas na agricultura mecanizada
plantados pela família Zunizakae.
deve investir em fontes de renda mais familiares à sua cultura
Os benefícios da agricultura comercial, porém, não são unani tradicional, como a produção e a venda de artesanato. AAssocia
midade entre os Paresi. As críticas mais contundentes, em geral, ção Halitinã, inclusive, usou parte do lucro já disponível da soja
vêm dos mais velhos. “Para mim a soja trouxe divisão. No meu como contrapartida para a criação de peixes em tanques-rede,
ponto de vista, o povo ficou muito individual, olhando só para o com apoio da Secretaria Nacional de Aquicultura e Pesca. Além
que é dele”, afirmou Carmindo André Orezu, que também mora disso, desenvolve o projeto Kani – Sustentabilidade e Geração de
na TI Utiariti, na aldeia Salto da Mulher, comunidade responsá Renda na Extração do Pequi, com financiamento do programa
vel por uma área de 500 ha de lavoura. A mulher dele, Emília Petrobras Fome Zero. “Estamos pensando em investir em outras
Zolazokero, ainda faz “roça de toco”, a agricultura familiar dos culturas comerciais, como eucalipto, reflorestamento. Mas com
Paresi, baseada em tubérculos (especialmente a mandioca). “Eu o preço da soja, é ela que continuará sendo a cultura principal”,
tenho cabaça de chicha [bebida tradicional], faço beiju e carne diz Branco.
moqueada no centro da maloca. Quando era pequena, não tinha
outra comida e eu não achava falta de nada. A gente comia isso NOTA
de manhã, no almoço, à noite e estava satisfeito. Hoje a criança 1Edição de texto originalmente publicado no relatório “Impactos da soja sobre
acorda para ir pra escola e se não tiver leite, bolacha e bolo, não Terras Indígenas no estado do Mato Grosso”, publicado em 2010 pelo Centro
de Monitoramento de Combustíveis, Repórter Brasil.
come nada”, contou ela.
572 OESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ISOLADOS PIRIPKURA
Sombras da Selva1
FelipeMilanez Jornalista
NO COMEÇO DE AGOSTO DE 2007, DOIS ÍNDIOS Aripã, dois índios da expedição que agiam como intérpretes,
DE UMA TRIBO QUE MUITOS CONSIDERAVAM começaram a conversar. “Então, eles aceitaram ir conosco até
EXTINTA FORAM LOCALIZADOS NO NOROESTE o acampamento”, completa Candor. “Sem a risada, a expedição
DO MATO GROSSO. CONHECIDOS COMO PIRIPKURA, teria passado a 30 metros deles, e não conseguiria contato.”
SÃO SOBREVIVENTES DE UM MASSACRE. Ninguém sabe exatamente ainda a que etnia pertencem os dois
A ETERNA ROTA DE FUGA DOS MISTERIOSOS índios buscados por Candor e sua equipe, mas a Funai refere-se
TUCAN E MANDE-Í REVELA NÃO APENAS A a eles como Piripkura, um nome dado anos atrás pelos índios
SAGA DE UM POVO PERDIDO MAS TAMBÉM gaviões, também do noroeste do Mato Grosso. Sabe-se apenas a
A BARBÁRIE OCULTA SOB O DESMATAMENTO língua que falam, o tupi-kawahib .
NA AMAZÔNIA Desde que o etnólogo Curt Nimuendaju e o antropólogo Levi
Strauss passaram pela região, antes da metade do século passado,
Diz um famoso ditado entre os sertanistas que, “no mato, sabia-se da existência de um grupo tupi-kawahib habitando
quem não quer ser visto deve ficar calado”. Por isso, assim que essa parte da floresta, há muito cobiçada por grileiros e madei
ouviu uma risada entre as árvores, o experiente Jair Candor reiros. Todavia, com a falta de novos sinais e a vulnerabilidade
também sorriu. Era 7 de agosto de 2007 e, com a estiagem na da área – não há reserva demarcada –, eles foram tidos como
Amazônia, o chão ardia da seca e das queimadas no norte do dizimados, até que, nos anos 1980, surgiram evidências de uma
Mato Grosso. família com cerca de 20 índios morando nas proximidades do
rio Pardo, 70 quilômetros ao norte de onde os dois Piripkura
Depois de cinco meses e várias expedições da Frente de Proteção
foram encontrados.
Etnoambiental Madeirinha, tudo o que seus exaustos integran
Essa aldeia nômade ainda resiste? Como estão vivendo? O contato
tes haviam visto eram vestígios antigos de presença indígena
de agora poderá revelar a história de um povo que parece estar
nada inspiradores. Agora, com a simples risada, tudo mudava.
fugindo da colonização, a cada dia mais próxima e ameaçadora
A esperança da sobrevivência de dois índios remanescentes de
nesse rincão da Amazônia? Tucan, cerca de 50 anos, o mais velho
massacres estava prestes a se confirmar.
dos dois Piripkura, estava doente.
“Ficar um mês direto dentro da floresta não é fácil. Estávamos No acampamento, a enfermeira Joelina Ribeiro Jorge, notou que
esgotados”, lembra-se Candor. “Insisti para seguirmos até o fim a urina dele tinha “cor de Coca-Cola”, o que explicava as fortes
do igarapé Garcinha, mas foi só andar um pouco mais para ouvi dores no estômago que ele sentia, e decidiu mandá-lo para Ji
los conversando e encontrar pegadas. Estavam rindo alto, num Paraná, em Rondônia. Sua vesícula estava necrosada. “Ele tinha
papo animado. Paramos. Desci até a margem e esperei.” pedras na vesícula do tamanho de bolas de gude. Uma semana
O sertanista não se esquece dos detalhes do encontro. “Quando mais e morreria”, relatou o cirurgião que o atendeu.
os dois passaram, saltei na frente deles. O mais velho ameaçou Para piorar, depois de 15 dias na cidade, Tucan contraiu catapora.
me agredir, mas logo viram que éramos gente amiga.” Rita e O outro índio, Mande-í, de uns 35 anos, ficou com a equipe de
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL OESTE DO MATO GROSSO 573
campo. Mas, entediado com as novas companhias e a monotonia Formalmente, essa selva de barbáries em que habitam Tucan
do acampamento – ou talvez por pensar que Tucan estivesse e Mande-í situa-se em Colniza, município com quase 28 mil
morto –, voltou para a floresta, uma semana depois. quilômetros quadrados – área equivalente à do estado de
Alagoas.
O período em que Tucan convalesce tem sido útil aos intérpretes
que tentam desvendar o mistério do seu povo. Quando abro a Quem vive lá sabe quão impreciso é o índice de 165 assassinatos
porta do quarto no hospital de Ji-Paraná, o índio está estirado por 100 mil habitantes, números que, oficialmente, já fazem
sobre uma rede. Parece desidratado, e o braço estendido deixa dela a cidade mais violenta do país. A questão é que, “nessas
correr soro pelas veias. estatísticas, eles só contam quem morre no hospital”, comenta
o dono de um pequeno restaurante.
São quase 10 da manhã, e Mauro de Oliveira tenta apresentar-me
a Tucan. Oliveira aprendeu a falar tupi-kawahib após o contato, “Se forem contabilizar quem perde a vida no campo, onde acon
em 1987, com índios Uru-Eu-Wau-Waus no leste de Rondônia. tecem assassinatos todos os dias, Colniza seria pior que Bagdá”,
Hoje trabalha para a ONG indigenista Kanindé. compara. Num hotel no bairro de Guariba, um jovem, que pede
para não ser identificado, pinta um bom retrato da cidade: “Aqui,
“Tapu’unha icatu”, diz ele para Tucan. “Branco bom”, traduz
para mim. O índio tem o olhar distante. Sua pele é dura, cheia de as pessoas são mortas”, diz ele. “Apenas isso. Simplesmente são
mortas, sem que ninguém as tenha matado.”
calos grossos. E falta a ponta do dedo médio de sua mão direita:
foi comida por um porco queixada. O caminho para Colniza é a estrada de terra desde a divisa com
Tucan não fala nada. Dias depois, porém, com a cicatrização Rondônia, uma viagem de 500 quilômetros por um cenário apo
do corte de 23 pontos em seu abdômen e muitos goles de calíptico em que, no auge da seca, nuvens de poeira, caminhões
água com mel, ele se mostra mais à vontade com estranhos. carregados de tora e queimadas ilustram boa parte do trajeto.
Passa a contar histórias, gesticular. Certo dia, afunila o rosto e O desmatamento no município é aterrador. Chegamos à cidade
faz bico numa careta engraçada: imitava uma anta, contando no dia seguinte ao de uma operação da Polícia Federal na qual
vantagens da vez em que roubaram o animal, caça de uma foram presos 40 bandidos, a maioria pistoleiros, mas era como
onça-pintada. se nada de anormal tivesse acontecido. Acriminalidade tornou-se
Os casos que Tucan descreve nos ajudam a entender a extraor um assunto banal. Sempre foi assim.
dinária capacidade de sobrevivência dos dois Piripkura em sua O norte mato-grossense era uma terra esquecida nos anos 1970,
eterna rota de fuga. Sem fazer flechas, eles caçam apenas com quando povos indígenas, como os Piripkura, sofreram os maiores
pedaços de pau ou com um facão e um machado que acharam massacres. Habitada por seringueiros, a região não contava com
na floresta. O índio conta repetidas vezes uma história sombria. nenhuma estrutura de ocupação. Em 1973, a tênue estabilidade
“Ele se lembra de um grupo de índios que atravessou um grande seringalista terminou.
rio, que deve ser o Roosevelt, em uma canoa”, traduz Oliveira.
“Mas, quando chegaram ao outro lado, um punhado de brancos O grileiro conhecido pelo nome de Reveria determinou que fosse
começou a atirar. Vários índios morreram. desmatada uma extensão de 90 quilômetros ao longo do rio
Roosevelt, nas duas margens, com uma largura de 3 quilômetros.
Os brancos pegaram a canoa e fizeram o trajeto inverso pelo
Os ribeirinhos correram para o mato, entrando em contato com
rio. Os outros índios, que estavam na margem oposta, fugiram.
índios isolados.
Mas os brancos seguiram seus rastros e chegaram à aldeia.”
Tucan senta-se na rede e junta os punhos, como se portasse Após esse primeiro conflito territorial, em 1975 um grupo madei
algemas. reiro fundou a Colonização Indústria e Comércio Ltda., com a sigla
de Colniza, cuja sede ficava próxima ao rio Aripuanã. O Estado
“Ele diz que estava sobre uma árvore, colhendo mel. Desceu
rápido e ficou olhando de longe, escondido. Amarraram as passou a distribuir títulos de terras para pessoas influentes. Foi
o começo da grilagem em uma das regiões mais vulneráveis e
mãos de seus parentes. Depois, cortaram a cabeça deles, uma a
menos protegidas de toda a Amazônia.
uma”, prossegue Oliveira. “Juntaram as cabeças com os corpos e
atearam fogo. Tucan diz que saiu correndo. Depois reencontrou Tradicionalmente espremidos entre os Gê, a leste, e os também
Mande-í e outros.” guerreiros Mondé, a oeste, os pacíficos e nômades Tupi-Kawahib
574 OESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
O sertanista Jair Candor localiza
uma pista deixada por Mande-í.
sobreviveram usando suas técnicas de esconderijo na floresta, uma Piripkura desgarrada do grupo. Aparentando ter cerca de
matando a fome com a caça e a coleta. O nome Piripkura é uma 40 anos, sua história de vida é tenebrosa.
espécie de apelido dado pelos inimigos índios Gavião, do grupo Em 1984, um piloto de avião fez uma denúncia de que havia
Mondé. Significa borboleta, mariposa. Aqueles que não param uma índia escravizada em uma fazenda da região. A Funai
em nenhum lugar e são frágeis. resgatou Rita e constituiu, com a Operação Amazônia Nativa
Outro protagonista desse drama é a índia conhecida como Rita. (Opan), uma frente de trabalho para demarcar uma terra
Integrante da equipe de campo do sertanista Jair Candor, ela é indígena no território kawahib. Rita foi levada para viver
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL OESTE DO MATO GROSSO 575
entre os Karipuna, no norte de Rondônia, também falantes para lá, só elas. Até rever Tucan e Mande-í, ela acreditava que
do tupi-kawahib. toda a sua nação havia sido morta.
Em 1991, sem que houvesse demarcado a terra dos índios A 70 quilômetros de onde os Piripkura foram encontrados, a
isolados, a frente Madeirinha foi deslocada para outra área. Funai está demarcando a TI Kawahib do Rio Pardo, onde vive o
Rita acompanhou esse trâmite a distância, até que passou a ser grupo isolado, com mais de 20 pessoas, avistado nos anos 1980.
requisitada pela Funai para servir de intérprete nas expedições Com base no relato de Tucan, é possível supor que sejam parentes,
recentes. separados no massacre do rio Roosevelt.
Dessa vez havia uma dificuldade especial: reencontrar parentes No entorno dessa região, a Funai afirma ter outras cinco evidên
que ela havia abandonado. Rita e um homem decidiram sair pela cias de índios isolados, hoje ameaçados por grileiros e madei
floresta em busca de mais índios para formar novas famílias. O reiros que temem perder as terras que exploram. “Há fortes evi
cerco a que estavam submetidos os fez bater, ingenuamente, à dências de que existam mais índios na área”, afirma Elias Bigio,
porta de uma fazenda. coordenador-geral de Índios Isolados da Funai. Ainstituição deu
início ao processo de demarcação de uma futura TI interditando
Rita virou escrava sexual. O índio que estava com ela foi colocado a área onde Tucan e Mande-í foram localizados.
dentro de um avião e nunca mais foi visto. Rita sempre escon
dera seu passado. No entanto, ao reencontrar Tucan e Mande-í, Tão logo deixe o hospital, Tucan vai voltar para o acampamento na
decidiu contar o que sabia. Ela recorda-se da vida com seus pais, mata. Espera-se que, com isso, Mande-í reapareça. Os sertanistas
de uma prima, de uma senhora que chama de avó, de irmãs e cogitam a possibilidade de andar com eles por outras áreas em
de outros homens. que ainda existam índios sem contato na região.
Junta nos dedos entre nove e 11 pessoas que viviam com ela. Se estiver correta a teoria de que foram separados pelo massacre
Mesmo com dificuldade para se expressar em português, descreve do rio Roosevelt e, posteriormente, isolados em ilhas cortadas
por estradas clandestinas e pela ocupação, é possível que, no
os ataques que sofreram.
futuro, uma grande nação Kawahib seja refeita - um símbolo de
“Uma vez, estava todo mundo dormindo. Chegou um monte de esperança em uma Amazônia a cada dia mais ameaçada.
branco atirando. Uma prima, que estava na rede, e outra prima,
mais velha, que dormia no chão, todas morreram. Um índio NOTA
flechou um branco bem aqui na costela. Fugimos de noite e 1Versãoeditada de texto originalmente publicado na edição da revista National
dormimos no mato. No outro dia, minha avó e minha tia voltaram Geographic de novembro de 2007.
576 OESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Grafismo
“Viagem
Nambikwara
Fonte: ao mundo indígena”,
ACONTECEU
Luís Donisete B. Grupioni, 1997
FUNAI INAUgURA CASA apoio diante da grave situação que enfrentam Civil, Márcio Moreno Vera, o soldado Carlos
DE CULTURA IRANTxE para o reconhecimento étnico e demarcação Francisco e o cabo José Teixeira Sobrinho,
dos seus territórios. O evento foi um espaço de ambos da Polícia Militar de Mato Grosso. Os três
Foi inaugurada na segunda-feira (08), a Casa de
intercâmbio e apoio entre as mulheres indíge policiais estavam sendo mantidos reféns desde
Cultura Irantxe, na TI Irantxe, no município de
nas que caminham para fortalecer uma arti a última segunda-feira, por índios da aldeia
Campo Novo dos Parecis. Essa é a segunda Casa culação que lhes permita somar forças na luta Umutina, em Barra do Bugres. O motivo foi
de Cultura no estado, que já conta com a dos pelos seus direitos constitucionais e melhores uma apreensão de 400 quilos de peixe, pescado
Paresi, na aldeia Formoso. Uma terceira, dos condições de vida. (Cimi, 27/09/2007) de forma irregular na aldeia. Para liberação dos
Chiquitano, está em construção na TI Portal do policiais foi montada uma comissão formada
Encantado. Ao todo, estão sendo construídas 24 por representantes da Funai, da Secretaria de
Casas de Cultura em todo o país. Além dos Iran INCÊNDIO
ALDEIA ENAWENÊ-NAWÊ
CONSOME
Meio Ambiente (Sema), da Prefeitura de Barra
txe – autodenominados Manoki – das aldeias
do Bugres e das Polícias Civil, Militar e Federal.
da região, estavam presentes seus parentes Há três dias a alimentação de aproximada
próximos, os Myky, e lideranças Paresi e Nam As negociações foram coordenadas pelo coro
mente 500 Enawene Nawe está comprometida. nelJosé Chaves do Batalhão de Operações de
bikwara, o presidente da Funai, o coordenador Um incêndio acidental destruiu toda a aldeia Policiamento Especializado (Bope). “O resul
da Coordenação Geral de Artesanato, Odenir Halataikwa, localizada às margens do rio Iquê. tado foi positivo, nenhum deles sofreu dano
Pinto de Oliveira e o administrador regional de Quatro pessoas ficaram feridas no incêndio.
físico, os bens foram devolvidos. O impasse
Tangará da Serra, Rony Walter Azoinayce Paresi. No momento do acidente, poucas pessoas fechou com muito sucesso”, disse o coronel.
“O objetivo da casa de cultura é promover a se encontravam na aldeia e por isso não foi
valorização da cultura material Irantxe, pela (MidiaNews, 05/12/2007)
possível salvar quase nada. Os Enawene estão
releitura dos processos de produção artesanal, em um período de entressafra e os estoques
a partir de um modelo que permita a integração de comida são armazenados nas casas. Com o FAZENDEIROS ARMADOS
de novas formas de produção com elementos incêndio, esses estoques foram todos queima AMEAÇAM ENAWENE-NAWE
tradicionais de sua cultura”, disse Odenir dos, juntamente com os utensílios domésticos No dia 06/03, Enawene-Nawe que realizavam
Oliveira. (Funai, 11/01/2007) utilizados para preparação dos alimentos. E sua pescaria ritual, na região do rio Preto, em
ainda a queimada do material de pesca difi Juína, foram surpreendidos por um grupo
CASTANhA DE ÍNDIO vIRA culta a obtenção da principal fonte protéica formado por proprietários locais armados
IgUARIA EM CIDADES da alimentação enawene. De acordo com a e acompanhados pela PM, que chegou ao
Opan, os Enawene encontram-se em uma acampamento de pesca com armas em punho.
Uma associação entre índios, seringueiros e situação de calamidade. Eles estão dormindo
agricultores para extrair castanha no noroeste Diante dessa cena, houve grande tumulto e as
no chão ao relento, ameaçados pelas fortes crianças que acompanhavam seus pais corre
do Mato Grosso resultou em uma safra 13 vezes chuvas características deste período do ano. Foi
maior e em um ganho de mais de 400% na ram para a mata ou se atiraram no rio. O grupo
elaborada uma lista com as demandas emer de adultos que ficou na margem do rio recebeu
venda do quilo da semente, em comparação à genciais e outra com os recursos necessários
época em que eles produziam separadamente. vários insultos verbais e foi informado de que
para a reconstrução das casas. (TVCA/Diário
Juntos, ganharam poder de barganha e come em breve os produtores e a polícia voltariam
çaram a vender o produto para uma indústria da Notícia, 19/10/2007) ao local e se encontrassem os indígenas ali
que faz azeite, farinha e creme e comercializa usariam a força para expulsá-los. A área em
esses artigos para lojas sofisticadas em cen ÍNDIOS DA TI UMUTINA MANTÊM questão é pleiteada pelos indígenas por se tratar
tros urbanos de nove estados. A formação da PMS REFéNS EM ALDEIA de território tradicional de pescaria. Apesar de
associação partiu do Programa Integrado da Um delegado e dois policiais militares são estar fora da TI, os Enawene vinham utilizando
Castanha, implementado pelo GEF (Fundo Glo mantidos reféns por índios da aldeia Umutina, a região para pescaria sem maiores problemas.
bal para o Meio Ambiente, na sigla em inglês). em Barra do Bugres (MT), desde segunda-feira. Construíam sua barragem, realizavam sua
O objetivo era elevar a renda dos moradores Representantes da Funai e das Polícias Civil, pescaria e ao fim do período desobstruíam o
da região. Hoje, a associação envolve 2.200 Militar e Federal tentam negociar a libertação rio. No entanto, a criação de um GT da Funai
pessoas, 60 aldeias de três etnias indígenas dos reféns. O delegado Márcio Moreno Vera, o para revisão da área Enawene deixou os pro
(rikbaktsa, zoró e arara), três assentamentos soldado Carlos Francisco e o caboJosé Teixeira prietários da região em clima beligerante. (24
de agricultores (Vale do Amanhecer, Juruena e Sobrinho foram detidos na aldeia porque os Horas News, 08/03/2008)
Lontra) e a Reserva Extrativista Guariba Roose índios se revoltaram depois de uma apreensão
velt. (PrimaPágina, 21/09/2007) de 400 quilos de pescado. Apesar da proibição LIMINAR SUSPENDEPROIbIÇÃO
da pesca até fevereiro, todos os anos os índios DE RITUAL ENAWENÊ
DEMARCAÇÃO pescam e comercializam o peixe recortado em
MULhERES INDÍgENAS
REIvINDICAM postas na cidade. (OESP, 05/12/2007) O desembargador do Tribunal Regional Federal
(1ª região), Fagundes de Deus, suspendeu a
De 6 a 9 de setembro, foi realizado o 6º Encon liminar de Interdito Proibitório concedida pelo
tro de Mulheres Indígenas de Mato Grosso, na POLICIAIS MILITARES JuizJeferson Scheneider da 2° Vara Federal da
área Portal do Encantado do povo Chiquitano. SÃO LIbERADOS Seção Judiciária do Mato Grosso, que impedia
O local foi escolhido por reivindicações das Foram libertados no final da manhã desta aos Enawene Nawe a realização de sua pescaria
mulheres dessa comunidade, que solicitaram quarta-feira (05/12) o delegado da Polícia ritual no rio Preto, região de Juína-MT.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL OESTE DO MATO GROSSO 577
ACONTECEU
A área em questão encontra-se fora da Terra pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de envolveu fiscais do Ibama e da Sema. O obje
Indígena Enawene Nawe, no entanto como Aripuanã com patrocínio do Programa Petro tivo, segundo a PF, era desarticular um grupo
consta do despacho do desembargador “pelo bras Ambiental, as estradas foram reabertas. de atravessadores que atuava dentro da área
menos desde 1999 um grupo de Enawene Nawe Estima-se que existam mais de 10 mil pés de para burlar o período de proibição à pesca
tem se dirigido pelas águas do rio Preto com a seringueiras nativas nestes territórios. (André -de novembro a fevereiro, quando ocorre a
finalidade de realizar o seu ritual Yankwa, que Alves, 24 Horas News, 05/05/2008) reprodução dos peixes. Foram expedidos 13
conforme esclarece trecho de tese de doutorado mandados de prisão e 15 de busca e apreen
sobre a referida etnia, além de possuir cunho PF DESARTICULA ExTRAÇÃO são. Até a conclusão desta edição, sete pessoas
religioso constitui-se em fonte de alimentação haviam sido presas. Nenhum índio teve prisão
ILEgAL DE MADEIRA EM TI
de toda a comunidade indígena da reserva”. decretada, mas podem ser indiciados por en
(24 Horas News, 20/03/2008) A Polícia Federal deflagrou hoje (28/05/2008) volvimento no esquema, diz a PF. Segundo as
a Operação Caipora, para desarticular um es- investigações, há cerca de 14 anos, os índios
quema de extração ilegal de madeira na Terra vendiam os peixes por valores abaixo dos
ÍNDIOS Myky PRESERvAM Indígena Vale do Guaporé, no estado do Mato praticados no mercado. De acordo com a PF,
DIvERSIDADE AgRÍCOLA Grosso. Policiais federais cumprem 54 man o embate ocorreu quando agentes tentavam
Cercados por campos de soja e pastagens que dados de busca e apreensão além de outros cumprir um mandado de busca e apreensão
reduzem drasticamente a biodiversidade da 45 mandados de prisão. As ações, segundo na aldeia. Segundo a PF, os índios afundaram
região, contaminam as nascentes e os encur nota divulgada hoje, acontecem de forma uma balsa sobre o rio que dá acesso à área,
ralam em sua própria terra, cabe agora aos simultânea nas cidades de Cuiabá, Cáceres, e armaram piquete na margem oposta. Os
Myky tentar preservar ao máximo as variedades Pontes e Lacerda, Nova Lacerda, Conquista policiais usaram armas não-letais para conter
agrícolas nativas em seus domínios. O que está Doeste e Comodoro -todas localizadas no Mato o grupo. Seis índios ficaram feridos. Sebastião
em jogo não é só a segurança alimentar. É a Grosso -, além do município de Vilhena, em Ipakiri, um dos feridos, negou a versão da PF.
sobrevivência do grupo, incluindo seus aspec Rondônia. A PF investiga ainda o envolvimento “A polícia chegou de surpresa e ninguém sabia
tos culturais e simbólicos. Com a ajuda de uma de integrantes da Polícia Militar, da Polícia de nada. Nosso cacique foi perguntar o que es-
equipe de biólogos, indigenistas e antropólo Rodoviária Federal, da Secretaria Estadual do tava acontecendo e já foi agredido. Então todos
gos, os Myky conseguiram aprovar o projeto Meio Ambiente (SEMA) e de proprietários de fomos tentar defendê-lo”, disse. Ele admitiu a
Alimentação Myky (Myky Ãkakje´y) no valor fazendas vizinhas à reserva, no Mato Grosso. existência dos atravessadores, que “sempre
de 30 mil dólares do Programa de Pequenos (Agência Brasil, 28/05/2008) vêm comprar o peixe”, mas atribuiu a situação
Projetos Ecossociais – PPP-ECOS, com recursos à “falta de alternativas”. (FSP, 28/02/2009)
do Global Environment Facility (GEF) e apoio LIDERANÇA PARESI
financeiro da Comissão Européia. Coordenado ASSASSINADA
pelo Instituto Sociedade, População e Natureza OPERAÇÃO PICA-PAU EMbARgA
(ISPN), o programa apóia comunidades tradi A liderança Valmireide Zoromará, assassinada 50 MIL hA DE LAvOURAS
cionais no Cerrado e áreas de interseção com a tiros em 09/01, enquanto pescava com sua O Grupo Fronteira, responsável pelas lavou
iniciativas de uso sustentável da biodiversidade família, já havia sofrido ameaças por causa ras, foi multado em R$ 990 mil. Segundo o
e fortalecimento das organizações sociais. da luta para recuperar a terra de seu povo Ibama, o mesmo grupo acumula mais de R$
(ISPN, 17/03/2008) na região de Diamantino (MT). O assassino
11 milhões em multas por ilícitos ambientais.
confesso, Ismael Lima, era gerente da fazenda
de Sebastião de Assis, um dos fazendeiros que As áreas ficam próximas do Rio Papagaio,
JUSTIÇA PROÍbE FAZENDEIROS já havia entrado em confronto com os Pareci. formador do Juruena, e são vizinhas às TIs
DE ExPLORAREM TI DOS PARESI Em 1996, a TI Estação Pareci foi declarada com Menku e Enawenê-nawê. As lavouras, que
Um juiz federal proibiu fazendeiros que ocu 3.620 ha. Em 02/1999, a portaria de declaração incluem soja transgênica, são mecanizadas
pam parte da TI Ponte de Pedra de explorar da TI foi anulada, por que não estaria de acordo e contam com aeronaves para aplicação de
com as regras do Decreto 1.775. Em 2005, a agroquímicos. A operação Pica-pau visa dar
os recursos naturais da área, considerada
pertencente aos Paresí. O despacho atende a Funai designou GT para coordenar novos estu continuidade ao monitoramento, controle e
pedido de um procurador da República, que dos sobre a terra. Em abril de 2007, foi criado gestão ambiental na região, onde há várias
denunciou o desmatamento ilegal da área pe um novo grupo para estudos complementares. áreas protegidas como as TIs Menku, Irantxe,
los agricultores. A Funai ainda não concluiu a Estes estudos foram publicados no dia 6 de Enawenê-Nawê, Caiabis-Apiacas-Mundurucu,
demarcação da reserva, em área de 17 mil ha. novembro de 2010. (Cimi, 15/01/2009) Erikbatsá, Tirecatinga, Utiariti, Cintas Larga,
(Marco Antônio Soalheiro, Agência Brasil, Arara Rio Branco, Escondido, Piripikura e do
25/04/2008) EMbATE ENTRE ÍNDIOS DA TI rio Pardo e as UCs federais Estação Ecológica
UMUTINA E PF do Iquê, Parque Nacional do Juruena, além
RIkbAkTSA RETOMAM de diversas unidades estaduais. (Christian
Seis índios ficaram feridos em confronto Dietrich, Ibama, 23/03/2009)
ExTRAÇÃO DE LÁTEx com homens da PF e da Força Nacional de
Depois de 20 anos, os Rikbaktsa estão retoman Segurança durante operação deflagrada ontem
do a produção de seringa em suas três áreas para combater suposto esquema de pesca ilegal COMISSÃO DA CÂMARA vOTA PELA
(Erikptsa, Japuíra e Escondido). Com apoio do operado de dentro da terra indígena Umutina, ExTINÇÃO DA TI bATELÃO
projeto União dos Povos da Floresta para Pro nas proximidades de Barra do Bugres (169 Após aprovação por unanimidade na comis
teção dos Rios Juruena e Aripuanã, executado km de Cuiabá). A operação Uauiara também são de agricultura, pecuária, abastecimento
578 OESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ACONTECEU
e desenvolvimento rural, a mesa diretora da índios da etnia Kawahib, também conhecidos estrangeiros e ambientalistas. A assessoria do
Câmara acatou o projeto de lei do deputado como “baixinhos”. Para preservar a área, a MPF informa que é pedida “a condenação de
Homero Pereira (PR/MT), sustando a demar instituição publicou uma portaria restringindo Hilton Campos (ex-prefeito de Juína), Aderbal
cação da Terra Indígena Batelão, da etnia a entrada de pessoas no local. De acordo com Bento, Geraldo Bento, Natalino Lopes dos
kayabi, emJuara, Tabaporã e Nova Canaã do o processo, grupos de fazendeiros, grileiros e Santos, Paulo Perfeito e Francisco de Assis
Norte (MT). Ainda cabe recurso, a ser apresen madeireiros, em ofensiva contra a portaria Pedroso por constrangimento ilegal, sequestro
tado em cinco sessões ordinárias a partir do da Funai, intensificaram a ocupação para e cárcere privado”. Os outros denunciados são
dia 13 de abril. A Terra Indígena Batelão tem expulsar, senão eliminar, os índios da terra do o dono do hotel João Marques Cardoso, pelo
117.050 hectares e foi criada por portaria do Rio Pardo. Os grileiros chegaram a constituir a crime de falso testemunho, e o coronel da
Ministério daJustiça em 25 de abril de 2008. Associação dos Proprietários Rurais de Colniza, Polícia Militar, Ricardo Almeida Gil, acusado
E praticamente desde que passou a existir com o intuito de coordenar ações de reparti de se omitir diante dos crimes quando tinha o
formalmente tem sido alvo de pressões pela ção, ocupação de terras e eliminação de índios. dever de reprimi-los.
sua destituição. De acordo com dados do Ins Ainda segundo o processo, o acusado é um De acordo com a denúncia, ambientalistas e
tituto Socioambiental (ISA), a área sofre com fazendeiro da região com notória influência jornalistas brasileiros e estrangeiros estiveram
interesses minerários, ameaças fundiárias e política em Mato Grosso e, especificamente, na cidade deJuína para produzir um documen
está totalmente dentro do bioma amazônico. no município de Colniza. A defesa do fazen tário na terra indígena Enawene Nawe, mas
(O Eco, 09/04/2009) deiro alega que ele é legítimo possuidor, em foram impedidos de realizar os trabalhos por
condomínio, de diversas áreas rurais há mais um grupo composto por dezenas de fazendei
de 20 anos e que as propriedades encontram ros, empresários e autoridades da cidade. “Os
INDÍgENAS COMbATEM
se fora do perímetro indicado como reserva fazendeiros e autoridades de Juína ocupavam
INCÊNDIOS NA TI UTIARITI áreas reivindicadas pelos povos indígenas e
Brigadistas indígenas de quatro etnias estão indígena pela Funai. A defesa sustenta ainda
a ausência de provas, a falta de justa causa temiam que os jornalistas e ambientalistas
em plena atividade no combate ao incêndio para instauração de inquérito e a ilegalidade estivessem ali para tratar da demarcação dessas
que consome parte do território da terra terras. Para evitar que a suposta demarcação se
na decisão da Funai ao criar a reserva. (STJ,
indígena Utiariti, localizada nos municípios 23/03/2010) concretizasse, na manhã do dia 20 de agosto de
de Campo Novo do Parecis e Sapezal, no Mato 2007 os fazendeiros, empresários e autorida
Grosso. Ainda não é possível definir a origem des da cidade cercaram o hotel onde estavam
do incêndio e avaliar os estragos causados. Os COMbATE À ExTRAÇÃO ILEgAL hospedados os repórteres e ambientalistas e
brigadistas chegaram ao local do incêndio na DE MADEIRA NA TI MANOkI exigiram que eles se retirassem do município.
noite de segunda-feira (03) e já controlaram o O Ibama/MT, deflagrou em conjunto com a Como se recusaram a cumprir as exigências,
maior foco de incêndio. Um grupo de 29 indí Funai/MT, na última quarta-feira (23), a ação jornalistas, ambientalistas do Greenpeace,
genas, das etnias Irantxe e Mynky, é contratado na TI Manoki dentro de ações da Operação índios e representantes da Operação Amazônia
pelo período de 6 meses para atuar na Brigada Guardiões do Arinos que já ataca polígonos de Nativa (OPAN) foram levados à câmara, onde
Municipal Temporária de Brasnorte. Além desmatamento na região a cerca de 30 dias. foram coagidos a permanecer por seis horas,
deles, mais 150 indígenas das etnias Paresi A operação faz parte do Plano de Ação para sob ameaças de que haveria guerra se eles
e Nambiqwuara, que atuam em brigadas co a Prevenção e Controle do desmatamento na resolvessem continuar a viagem”. (Só Notícias,
munitárias, foram treinados em seis cursos de Amazônia Legal (PPCDAM 2010), que combate 05/08/2010)
prevenção e combate aos incêndios florestais. a extração ilegal de madeira na TI e essa teve
Por meio do Programa de Brigadas Temporárias inicialmente duas frentes de trabalho, uma FÁbRICA CLANDESTINA NA TI
Municipais, os indígenas contratados recebem ao norte e outra ao sul da Terra Manoki. No APIAkÁ/kAyAbI é FEChADA
salários e são munidos com dois veículos 4x4 primeiro dia de atividades, na região sul da
e ferramentas de combate ao fogo. (Funai, área, foram autuadas em flagrante 13 pessoas Uma denuncia recebida pela Ouvidoria Setorial
05/08/2009) envolvidas no esquema de extração, transporte da Secretaria de Estado do Meio Ambiente deu
origem à operação, realizada no município de
e comércio ilegal de madeira da TI Manoki. (O
Juara, na última quarta-feira. Os fiscais da
STJ NEgA PEDIDO DE ACUSADO Documento, 29/06/2010)
Diretoria Desconcentrada de Juara, acompa
DE gENOCÍDIO DE ISOLADOS nhados de policiais militares do 21° Batalhão
Por unanimidade, a Quinta Turma do STJ DENUNCIA DE COERÇÃO CONTRA de Polícia Militar apreenderam 614,7 quilos
negou pedido para trancar o inquérito policial gRUPO DE APOIO AOS ENAWENÊ de palmito industrializado, em conserva,
que corre contra um dos fazendeiros acusado Após três anos de apuração e investigação de num depósito sem qualquer tipo de licença.
de envolvimento em genocídio contra os índios denúncias contra um grupo de empresários, O produto, proveniente da Terra Indígena
da região do Rio Pardo (MT), na formação de políticos e policiais militares de Juína, por Apiaká Kaiabi não possuía registro no Cadastro
quadrilha de grilagem de terras públicas e manterem jornalistas e ambientalistas do de Consumidores de matéria Prima Vegetal
em delitos ambientais. Em razão de disputas Greenpeace em cárcere privado, nos dias 20 (CC-Sema). O responsável pelo depósito, foi
de área de reserva indígena, a comunidade e 21 de agosto de 2007, o Ministério Público autuado e recebeu multa de R$ 184.410,00.
Kawahib, no município de Colniza, no Mato Federal de Mato Grosso concluiu o processo As empresas, que forneciam os rótulos, tam
Grosso, foi alvo de tentativas de eliminação e aponta que autoridades e empresários do bém serão autuadas pela conivência com o
por fazendeiros, grileiros e madeireiros. Em município ameaçaram e cercearam a liber esquema fraudulento. (Assessoria-Sema/
2001, a Funai reconheceu a existência de dade de locomoção de jornalistas nacionais e MT, 08/11/2010)
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL OESTE DO MATO GROSSO 579
ACONTECEU
FISCAIS APREENDEM TRATORES E bado o canteiro de obras da PCH Telegráfica, acordo assinado é o comprometimento do
MADEIRA ILEgAL NA TI MANOkI em Sapezal (MT). Pelo menos 12 caminhões consórcio Águas da Pedra de apresentar, em
foram destruídos, além dos alojamentos e do agosto, o detalhamento das ações integrantes
Agentes da PF, Força Nacional de Segurança
Pública, Ibama e Funai apreenderam neste escritório avançado da Juruena Participações do componente indígena do Plano Básico Am
Ltda. – consórcio de empresas que constrói a biental (PBA), instrumento de compensação
sábado (20), em Mato Grosso, tratores e toras
usina. Equipamentos de informática também dos impactos socioambientais. O documento
de madeira extraídas ilegalmente de uma
foram saqueados, diz a empresa. Os índios é requisito para liberação de operação de em
terra indígena. A fiscalização ocorreu na aldeia
abandonaram o local em seguida. “Eles ex preendimentos como a hidrelétrica, mas não
Irantxe-Manoki, na cidade de Brasnorte. Se
pulsaram os funcionários e depois colocaram havia sido apresentado em tempo hábil – o
gundo os fiscais, havia áreas de desmatamento fogo em tudo”, disse o coordenador-técnico que revoltou os indígenas da região de Dar
abertas por queimadas na reserva, que deverão
ambiental da empresa, Frederico Müller. A danelos, preocupados com as consequências
ser analisadas pelo Ibama por meio de imagens
Telegráfica integra um complexo de dez usinas da obra. Agora, o governo federal só libera a
de satélite. Durante a ação, foram identifica operação do empreendimento se a empresa
que será implantado ao longo de 110 km do rio
das toras de madeira extraídas ilegamente e
Juruena, na região noroeste de Mato Grosso. atender o PBA, assegurou a assistente-técnica
prontas para serem transportadas. Os fiscais
AJuruena Participações responderá por outras da gestão ambiental da Funai em Brasília,
também apreenderam 6 motosserras, 6 mo
quatro obras do conjunto (Rondon, Parecis, Vivian Gladys.
tocicletas, 4 tratores, 1 carreta e 1 espingarda. Sapezal e Cidezal), enquanto o restante ficará A Usina de Dardanelos terá capacidade para
Também foram presas 6 pessoas por crime
ambiental, além de um menor de idade que a cargo da Maggi Energia, empresa do grupo gerar energia suficiente para atender 600 mil
empresarial do governador Blairo Maggi. habitantes por dia. Alguns itens firmados on
deverá prestar depoimento na delegacia de
Os índios dizem que as obras vão causar im tem entre governo estadual, União, município
Brasnorte. Segundo a Força Nacional nenhum pactos ambientais e reduzir a oferta de peixes. de Aripuanã e a Águas da Pedra englobam se-
dos envolvidos no esquema tinha ligações com
ASecretaria Estadual do Meio Ambiente, encar tores como educação, saúde e desenvolvimento
a tribo indígena dentro da reserva. (Globo regada do licenciamento ambiental, diz que o sustentável. Exemplos: criação de estradas
Amazônia, 20/11/2010) impacto será pequeno. Segundo o secretário para as aldeias, a formação de professores
adjunto do órgão, Salatiel Araújo, dependia indígenas, criação de programas de fruticul
PCHS DO JURUENA apenas dos Enawenê-nawê a assinatura de um tura, extensão do programa Luz Para Todos,
acordo de compensação financeira em relação contratação de médicos para saúde indígena,
aos impactos na região – R$ 6 milhões, para as atendimento médico às comunidades, forne
ÍNDIOS DIvIDIDOS cimento de equipamentos para vigilância da
cinco etnias afetadas. Desde 2007, o Ministério
Nesta semana, as cinco etnias indígenas que Público Federal de Mato Grosso propôs duas terra indígena como caminhonete e barco a
serão afetadas pela construção do complexo ações civis pedindo a suspensão das obras motor. Outro ponto do acordo, sobre o qual
hidrelétrico do rio Juruena (MT) sentaram à por causa de seus impactos socioambientais. o consórcio se comprometeu, é a viabilização
mesa com representantes dos empreendedo Em abril, a Procuradoria obteve liminar no de um centro de cultura indígena para arma
res Maggi Energia e Juruena Investimentos e Tribunal Regional Federal, mas a ação foi zenar e expor o material arqueológico de um
Participações Ltda, secretaria estadual de meio cassada pelo STF. A Folha tentou contato com cemitério antigo prejudicado pelas obras da
ambiente e Funai para discutir cifras. Índios os índios, sem sucesso. Procurados, o grupo hidrelétrica, mas importante como patrimônio
Rikbaktza, Paresi, Nambiquara e Menky con Maggi e a Juruena Participações não ligaram para os índios.
cordaram em receber os seis milhões de reais de volta para a reportagem. (Rodrigo Vargas, As medidas puseram fim no impasse que
relativos à compensação financeira por oito FSP, 14/10/2008) tomava conta da usina de Dardanelos desde
PCHs em fase de instalação e não quiseram domingo, quando 100 funcionários da obra
mais saber de discutir os impactos das usinas. foram mantidos reféns logo de manhã por
Mas foram surpreendidos com a manifestação
ÍNDIOS LIbERAM CANTEIRO cerca de 250 índios revoltados com impac
contrária dos índios Enawenê-nawê, que du
DE ObRAS tos socioambientais do empreendimento.
rante a reunião mostraram aos demais mapas Os índios que ocupavam o canteiro de obras Eles ameaçavam atear fogo no canteiro
da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) aler da usina hidrelétrica de Dardanelos, em de obras. Cinco funcionários da empresa
tando para mais de 70 projetos hidrelétricos Aripuanã concordaram ontem em liberar o (três engenheiros e dois administradores)
em estudos próximos às terras indígenas. (O local e as atividades da construção, já em fase se ofereceram e trocaram de lugar com os
Eco, 10/10/2008) final, devem ser retomadas hoje. Na tarde reféns. Os cinco foram liberados na tarde
de ontem, os índios de etnias que se dizem de segunda-feira diante da perspectiva de
afetadas pelas obras assinaram um termo de uma reunião para atender às reivindicações
ENAWENÊ-NAWÊ DESTROEM compromissos com representantes do governo dos índios. Entre as etnias representadas,
CANTEIRO DE ObRAS DE PCh estadual, da Funai e do consórcio responsável estavam Menky, Arara, Cinta-larga, Ribkatsa,
Cerca de 120 índios da etnia Enawenê-nawê pela usina que pôs fim à tensão que tomava Enawenê-nawê, Kaiabi e Zoró. (Diário de
invadiram e incendiaram na manhã de sá o local desde domingo. O ponto principal do Cuiabá, 28/07/2010)
580 OESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Aweti
Ikpeng
Kalapalo
Kamaiurá
Kawaiwete (Kaiabi)
Kisêdjê (Suyá)
Kuikuro
Matipu
Mehinako
Nahukuá
Naruvotu
Tapayuna
Trumai
Waujá
Yawalapiti
Yudja
13.
582 PARQUE INDÍGENA DO XINGU POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
PARQUE INDÍGENA DO XINGU
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº,fonte, ano) Situaçãojurídica Extensão (ha) Município UF
3 Pequizal do
Naruvôtu Naruvotu 69/GT Funai: 2003 Portaria de posse
Declarada1.845 de 04/06/2009
indígena. publicada em 05/06/2009. 27.980 Gaúcha do Norte
Canarana MT
MT
s/l Rio Arraias Yudjá
Kaiabi Em identificação.
Portaria 469 de 26/05/2003 publicada em 09/06/2003. - Marcelândia MT
2 Wawi Tapayuna
Kisêdjê 375/Unifesp: 2010 de
Homologada.
Decreto
Querência,
s/n deRegistrada
comarca
08/09/1998
denoCanarana
publicado
CRI e SPU.
(150.329 ha) Matr.Reg.
em 09/09/1998. 6.447
CRILiv.
no 2-RG
município
fl. 1/v 150.328 São Félix do Araguaia
Querência MT
MT
1 Indígena)
Xingu (Parque Yudjá
Kuikuro
Naruvotu
Matipu
Mehinako
Kamaiurá
Kalapalo
Nahukuá
Kaiabi
Aweti 4.812/Ipeax-Unifesp: 2011 Canarana,
Certidão
Paranatinga,
de
Félix
Homologada.
Decreto
Luciara,
Sinop,
Juína,
do Araguaia,
s/n
s/n
Matr.
Matr.
de
em
Matr.
Registrada
Matr.
25/01/1991
3.864
18/05/87.
31.351
7.402
Matr.
31.350
3.293
Liv.
Liv.
7.401
noLiv.
2Liv.
publicado
CRI
2-DH
2fl.fl.
2-B
Liv.
2-DH
1e1em
fl.
SPU.
fl.
em
2160V
27/07/87.
fl.
1em
21/09/87.
em
159V Reg.
Reg.CRI
1 26/01/1991.
em
em
22/07/87.
21/09/87.
em Reg.
05/11/87.Reg.
Reg.
05/11/87.
CRI
Reg.Reg.
nono
CRI
CRI
município
CRI
município
CRI
nonoSPU
no
no
município
município
município
município
MT
dedeSão 2.642.004 Nova
Marcelândia
São
Querência
Paranatinga
FelizFélix
Canarana
Gaúcha
José
Natal
Ubiratã
dodoNorte
Araguaia
Xingu MT
MT
MT
MT
MT
MT
MT
MT
MT
Kisêdjê
Trumai
Ikpeng
Waujá
Yawalapiti
Tapayuna
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 583
PIX+50
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 585
relação às demais terras indígenas do Brasil, até meados da que foram transferidos para o Parque. A mediação dos irmãos
década de 80. Villas Bôas, intervindo para evitar conflitos e promovendo uma
convivência pacífica entre os grupos, foi fundamental para se
Além da questão da atenção à saúde diferenciada, a proteção do
estabelecer um novo modelo de relacionamento. Porém, nunca
Estado, aliada à exaltação do patrimônio cultural indígena das
se apagaram totalmente as disputas tradicionais entre eles;
etnias do Parque – por parte da academia, dos visitantes ilustres
permanecem manifestas sob outras formas.
e promovida pelos irmãos Villas Bôas – criou um ambiente de
autoestima muito diferente do de outros povos do Brasil que Há relatos de que à época dos Villas Bôas havia certo
ficaram expostos à violência, ao preconceito e à ignorância das controle sobre a circulação dos índios, sobre a ida às
frentes de colonização. cidades...
Para ilustrar de forma breve essa situação, podemos citar o caso Era mais fácil para o Estado fazer isso na época dos Villas Bôas.
da etnia Kaiabi [Kawaiwete], que teve parte de sua população As cidades não estavam consolidadas; as estradas, que dariam
transferida para o PIX nas décadas de 50 e 60 e cuja outra acesso aos limites do PIX, não existiam. A única forma de sair
parcela permaneceu em suas terras – não quis sair do seu do Parque era de avião. Nesse contexto, as condições de controle
território tradicional e ir para uma terra estranha. Hoje são sobre o fluxo de entradas e saídas do PIX era muito grande. No
bastante acentuadas as diferenças resultantes das histórias de momento em que as cidades se consolidaram e as estradas che
garam à beira do Parque, na década de 1980, o controle passou
contato entre aqueles que permaneceram em seus territórios
tradicionais e os que entraram no PIX. Os primeiros enfrentaram a ser interno a cada povo – até onde era possível, porque nessas
situações de contato adversas, que resultaram na fragilização de sociedades não existe o poder coercitivo. Se não há coerção, há o
aspectos culturais importantes. Houve, por exemplo, diminuição convencimento; e se você não está convencido, faz o que quer.
do uso cotidiano da língua, um indicador importante de “saúde Hoje o desafio é o equilíbrio político, cultural e econômico de
cultural”, e abandono de padrões gráficos de cestaria, “marca cada povo. São sociedades em movimento. Agora, mais do que
registrada” da identidade do povo Kawaiwete. Os que se mudaram nunca, existe um contexto regional muito presente, cidades que
para o Parque conservaram esses indicadores culturais, mas
se consolidaram e uma rede de estradas a cada dia com me
até hoje se ressentem de recursos naturais que não existem lá lhores condições de trânsito. Há uma presença indígena quase
e lamentam profundamente a perda de referências territoriais permanente nos centros urbanos [próximos], com destaque para
históricas importantes. Canarana, Gaúcha do Norte, Marcelândia e São José do Xingu.
Os índios estão atentos às novidades vivenciando um processo
MEDIAÇÃO ESTATAL permanente de contato, seleção e incorporação de novos hábitos
A delimitação do PIX não se orientou a partir de estudos antro e tecnologias que consideram positivos para suas vidas. Mas há
pológicos sobre a ocupação tradicional dos povos que habitavam também o desmatamento regional do entorno do PIX, que altera os
a região. Seu recorte final foi uma decisão política orientada por ciclos ecológicos e impacta de forma crescente o Parque, exigindo
um entendimento certamente insuficiente sobre a ocupação adaptações e colocando em risco sua sustentabilidade futura.
tradicional do conjunto de povos que habitava aquela região.
Mesmo depois de criado oficialmente por Jânio Quadros, os li DA TUTELA ÀS POLÍTICAS INDÍGENAS
mites do PIX sofreram alterações. Houve trocas de áreas do norte De que forma se estabelece a relação entre o Parque, que
por áreas do sul, que acabaram favorecendo mais o complexo
representa um determinado tipo de política indigenista, e
cultural Altoxinguano, em detrimento dos povos que habitavam as políticas indigenistas em sua conformação atual? Como
mais ao norte, como os Kayapó e Yudja. essa mudança de cenário é interpretada pelos povos do
Acriação do Parque foi também um projeto de engenharia social Xingu?
do Estado brasileiro, viabilizada por meio de uma ação indigenista Em 1984, Megaron [Txucarramãe] assume a direção do PIX
orientada para permitir a convivência entre povos, alguns tradi como o primeiro administrador indígena em uma administração
cionalmente rivais, dentro de um determinado território. Houve regional da Funai. Megaron foi um acontecimento emblemático
um adensamento da convivência entre esses grupos, sobretudo para os índios do Brasil no sentido de que a Funai deveria ou
com a acomodação daqueles que viviam na circunvizinhança e poderia ser um órgão conduzido pelos próprios índios.
586 PARQUE INDÍGENA DO XINGU POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Na década de 1990, começa um processo de fracionamento da Os Kisêdjê, contatados na década de 50, denominados inicial
política indigenista. A Funai, até então, era como se fosse um mente Suyá, retomaram uma parte e reivindicam outra parte
Estado dentro do Estado: estava contida nela a obrigação de que ficou fora da delimitação do Parque. Os Naruvôtu, que se
dar educação, saúde, proteção e fiscalização – atribuições que mimetizaram durante anos dentro dos Kalapalo, ressurgiram
existiam em outros órgãos do Estado, responsáveis por atender afirmando identidade própria e buscando o reconhecimento da
a população não indígena. Então houve uma transformação da sua territorialidade na parte sul do Parque. Mais recentemente, os
política no sentido de atribuir responsabilidades a outros órgãos Ikpeng, denominados até recentemente como Txicão, que foram
com relação à política indigenista. Antes o presidente da Funai contatados no rio Jatobá na década de 60, estão reivindicando
tinha que responder a tudo e, de repente, não existia mais esse junto à Funai a demarcação de sua terra tradicional.
“ser” que representava todas as políticas; cada política estava
agora em uma gaveta no armário da estrutura do Estado. Os Todo o trabalho continuado de monitoramento por satélite e
mapeamento do processo de ocupação regional realizado pelo
índios ficaram perdidos; demoraram algum tempo para entender
ISA desde 1993 ajudou na percepção desses povos sobre a viru
e se movimentar nessa nova política.
lência do processo de ocupação regional e o risco de destruição
É nesse contexto que surgem as associações indígenas e a pos de parcelas de seus territórios tradicionais.
sibilidade de parceria com organizações da sociedade civil. Uma
Muitas coisas aconteceram simultaneamente no final do século
nova forma de organizar a relação desses povos com o Estado e
XX, início do século XXI. Surgiram as associações indígenas em
com a sociedade brasileira no atendimento de suas demandas;
quase todas as etnias como uma forma de organizar e expressar
uma nova forma de dialogar com a nova política indigenista. A
suas demandas por meio de projetos e disputar no “mercado
ATIX foi a primeira associação do PIX que buscou ocupar um
espaço de articulação dos interesses e das políticas comuns de projetos” o acesso a recursos: o crescimento populacional, o
para os diferentes povos. Logo depois começam a surgir asso fortalecimento dos povos, a busca por autonomia e para reaver
perdas territoriais, o avanço do agronegócio na região, mas nem
ciações dentro de cada etnia. Esse movimento corresponde ao sempre esses processos conseguem dialogar ou estabelecer
momento de cada povo na busca por autonomia para resolver
mecanismos de gestão com essa territorialidade construída
suas demandas internas.
e partilhada entre os povos que é o Parque do Xingu. As dife
Há reivindicações entre os povos pelo retorno a seus ter renças culturais são acentuadas e há contradições de coesão
ritórios originários? política entre os povos. Não existe mais a mediação do Estado.
O contexto regional adverso e impactante exige um protocolo
De maneira geral, pode-se dizer que quase todos os povos do
pactuado internamente sobre inúmeras questões, no entanto,
PIX passaram um período traumático no pré ou pós-contato,
quando sofreram grandes perdas populacionais ocasionadas essa articulação é sofrida, raramente ocorre com a prontidão
pelas epidemias. Ademarcação do Parque, a proteção do Estado, que a agenda política externa exige. Esse é um desafio político
atual e para o futuro do PIX.
aliada a uma atenção continuada à saúde desses povos, permiti
ram uma recuperação populacional vertiginosa. Esse fato, entre Talvez seja intrínseco ao arranjo multiétnico do PIX a impos
alguns povos, virá a se somar a um conjunto de outras manifes sibilidade de alcançar a coesão. Não existe mais a figura do
tações de autoafirmação étnica, entre as quais a necessidade de mediador. O que existe é cada um com seu processo político,
afirmar a identidade de sua autodenominação – abandonando com sua história de contato e suas diferenças culturais. Talvez
a nominação que lhes foi dada pelos agentes de contato –, e a jamais venha existir um espaço mais institucionalizado para a
busca pela recuperação de parcelas de território tradicional que articulação xinguana, mas cada contexto político continuará
ficaram fora dos limites do PIX. sendo avaliado em si por cada etnia, suscitando arranjos políticos
específicos e conjunturais.
Os Wauja conseguiram, com a ajuda do ISA, uma ação judicial
para incentivar a Funai a abrir um processo de demarcação para
reconhecimento de uma parcela de seu território excluída da UM RALO REGIONAL
demarcação. Os Panará, contatados na década de 70, quando O desafio da “coesão” se coloca em um momento de vulnerabi
eram denominados Krenakarore, conseguiram retomar uma lidade do PIX diante do contexto regional. Hoje ele é uma área
parcela do seu território na fronteira do Pará com o Mato Grosso. de floresta em um contexto regional marcado por extensas áreas
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 587
de desmatamentos no seu entorno. A região das cabeceiras e Ao fazermos uma discussão com lideranças do PIX sobre pa
os principais afluentes do rio Xingu ficaram fora dos limites gamento por serviços ambientais e sobre a perspectiva futura
do Parque. O dinamismo e a pujança econômica da região das de isso vir a se tornar uma forma de acesso a recursos para os
cabeceiras do rio Xingu, vista como uma “Meca” do agronegócio, povos do PIX – uma maneira de valorizar e remunerar o trabalho
é crescente. Isso coloca em perspectiva mais desmatamento, de conservação que desempenham em relação a seus recursos
mais estradas, mais agrotóxicos, mais assoreamento dos rios. O naturais –, as lideranças mais velhas responderam taxativamente
Parque do Xingu acaba funcionando como uma espécie de ralo que, se isso fosse verdade, a prioridade seria usar os recursos para
regional de todos os afluentes do rio Xingu cujas cabeceiras fica comprar mais terra. A expressão deles é: “Nós estamos ficando
ram fora do Parque. Os índios têm tido percepções claras sobre apertados aqui no Xingu”.
mudanças climáticas; o ressecamento das florestas é a principal
Como os povos no Parque têm refletido sobre a comemo
delas. Toda a região vem crescentemente sendo impactada por ração dos 50 anos? Eles veem com entusiasmo?
incêndios. Avulnerabilidade das florestas ao fogo está colocan
do em xeque formas de manejo tradicional dos índios, que se Quando lideranças indígenas do Parque foram indagadas so
utilizam tradicionalmente do manejo do fogo em suas práticas bre a proximidade da data dos 50 anos de sua criação, ficou
agrícolas e extrativistas. claro que a memória desse tempo suscitava-lhes – a depender
do interlocutor e de a qual povo pertenciam – lembranças
Essas formas tradicionais são baseadas em uma agricultura de
contraditórias. Existe uma compreensão consensual de que
corte e queima, no manejo do fogo em determinados ambientes.
se o Parque não tivesse sido criado e não houvesse a dedica
O fogo que antes, ao chegar à beira do mato úmido, se apagava, ção dos irmãos Villas Bôas, a história poderia ter sido outra,
hoje se alastra e vira incêndio florestal. Isso coloca a necessidade provavelmente muito pior, a exemplo de outros povos que não
dos povos adaptarem suas técnicas tradicionais. Há também uma
tiveram a mesma atenção por parte do Estado. No entanto, as
situação de assoreamento crescente dos rios que vem alterando perdas populacionais e o fantasma da extinção são um legado
sua profundidade, e consequentemente a temperatura e a trans amargo que permanece vivo na memória de toda uma geração
parência da água. Há também a questão do barramento das cinco
que ainda está aí.
PCHs que estão sendo construídas praticamente nos formadores
do Xingu, nas suas cabeceiras. Todas essas alterações têm im Um aspecto que vale a pena destacar é a tensão geracional. Toda
pacto na manutenção dos recursos pesqueiros, principal fonte sociedade tem tensão geracional, mas o contraste entre gerações
de proteína dos índios, colocando em perspectiva a necessidade politicamente ativas dentro dos povos do PIX é muito grande. Há
de complementação da dieta desses povos. os mais velhos tentando segurar a raiz, o tradicional – aquilo
que realmente deve ser feito para manter a expressão de sua
Outra questão é a própria diminuição da caça, questão que afeta
identidade – e, ao mesmo tempo, há os jovens, que dominaram
mais as etnias que dependem desse recurso na sua dieta alimen
a língua [portuguesa] rapidamente, a fluência do contato, e que
tar. O PIX, por maior que seja, está se tornando um território
estão trazendo constantemente as novidades.
confinado, em formato de ilha de florestas. Todas as matas que
estavam fora e que, junto com as matas do Parque criavam um
ambiente formidável de reprodução da fauna local, estão sendo “O XINGU já NÃO éE NÃO SERá
restringidas.
O MESMO DO TEMPO DOS VILLAS BôAS”
Como, em sua opinião, se configuram os próximos 50 anos
Há a questão da escassez das terras férteis. Há uma taxa de
dos povos indígenas no Xingu?
crescimento populacional alta e alguns grupos buscam manchas
de terra preta férteis para a reprodução da sua agricultura. A Nessa geração nova há pessoas muito surpreendentes. E um
sedentarização das aldeias é também um fator que contribui processo seletivo sobre do que vale a pena se apropriar do mundo
para a exaustão de recursos estratégicos para subsistência e do branco, aquilo que faz sentido dentro da expressão cultural de
cultura material. Trata-se de povos que sofreram o trauma da cada povo. Você tem os videomakers que fazem vídeos incríveis
depopulação vertiginosa, ocasionada pelas epidemias e doenças justamente tentando reconstruir histórias e mitos. Tem pessoas
do contato, o que criou uma forte dependência das estruturas de que estão imbuídas desse senso de tentar equilibrar o tradicional
assistência. Hoje existem aldeias com mais de 50 anos no PIX, e o novo. O Xingu já não é e não será o mesmo Xingu do tempo
sendo que elas não costumavam ter essa longevidade. dos Villas Bôas, embora esse saudosismo permaneça na cabeça
588 PARQUE INDÍGENA DO XINGU POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
DESMATAMENTO NA BACIA DO XINGU EM MATO GROSSO
Fontes: Terras Indígenas e Unidades de Conservação (ISA, 2001); sedes municipais, hidrografia e rodovias (base cartográfica Brasil ao milionésimo, IBGE,
2010); limites da bacia do Xingu (ISA, 2009); desmatamento no Bioma Amazônia (Inpe, 2010); Desmatamento no Bioma Cerrado (Ibama/MMA, 2011).
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 589
O antropólogo Carlos Fausto e o cineasta Takumã Kuikuro, do Coletivo Kuikuro de Cinema, entrevistam Kamãg para o filme
“As Hiper Mulheres”, que recebeu dois prêmios no Festival de Gramado em 2011, incluindo o Prêmio Especial do Júri.
da geração mais velha. Essa juventude é muito vigorosa e acredito inseridos que é devastadora. O PIX é hoje uma ilha de floresta
que ela tem boas chances de conseguir encontrar um eixo de bastante significativa do ponto de vista ecológico e do ponto de
equilíbrio, apesar de todas as adversidades que enfrentam e que vista dos serviços ambientais que presta no contexto da região, da
ainda irão enfrentar. Amazônia, do Brasil e do planeta. Essa perspectiva de valorização
crescente dos serviços, que no caso do PIX, são socioambientais,
Paradoxalmente, as questões climática e ambiental podem trazer sobretudo por conta da questão das mudanças climáticas, recolo
um alento no sentido da valorização do papel dos povos indígenas
ca a importância das TIs e de suas populações. Essa perspectiva
em um contexto de graves problemas de sustentabilidade que o
é uma luz no fim do túnel, mas sua concretização vai depender
mundo contemporâneo enfrenta. As Terras Indígenas na Ama
zônia são grandes áreas e os povos indígenas possuem práticas não só da capacidade de nossa sociedade conseguir avançar na
tradicionais de manejo dos recursos naturais de baixo impacto. adequação socioambiental do seu modelo de desenvolvimento,
Efetivamente eles estão protegendo a floresta, sobretudo se se mas também dos índios saberem se colocar nesse contexto.
compara sua forma de agir à do contexto regional no qual estão (abril, 2011)
590 PARQUE INDÍGENA DO XINGU POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
PIX+50
EVENTO REUNIU MAIS DE 500 PESSOAS, ENTRE medalhas em madeira, colares de caramujo – considerados a
CACIQUES XINGUANOS, LIDERANçAS INDÍGENAS joia do alto Xingu – e troféus com o formato do Parque. Ao final
COMO RAONI KAYAPó E MEGARON TXUCARRAMãE, de cada dia de festa, eram exibidos filmes feitos por cineastas
AUTORIDADES LOCAIS E CONVIDADOS, NOS DIAS indígenas tais como: A história do monstro Kátpy, de cineastas
10, 11 E 12 DE JUNHO, PARA FESTEJAR, DANçAR Kisêdjê. No domingo, todos se reuniram para o “grande moitará
E REFLETIR SOBRE OS 50 ANOS DE EXISTêNCIA dos 50 anos”. O moitará é uma tradição de troca de objetos re
DO PARQUE E SOBRE OS DESAFIOS QUE O MUNDO alizada por diversos povos indígenas. Na ocasião, os convidados
CONTEMPORÂNEO COLOCA PARA ESSES POVOS puderam trocar roupas, materiais para pesca etc, por artesanatos
indígenas como colares e cerâmicas.
Durante três dias, as cores, danças e músicas dos 16 povos do
PIX tomaram conta da aldeia Kamaiurá da lagoa Ipavu, no Alto PASSADO E fUTURO DO XINGU: REflEXõES
Xingu, para o I Festival de Culturas Xinguanas, evento organizado A preservação das culturas xinguanas e dos recursos naturais do
pelas lideranças indígenas para celebrar e refletir sobre os 50 anos território foram as principais questões abordadas nas rodas de
dessa que é a maior terra indígena do estado de Mato Grosso e a conversas realizadas todas as tardes entre as lideranças indígenas.
primeira grande TI demarcada no Brasil. A beleza das danças e Cinquenta anos após a criação do PIX, muita coisa mudou para
dos cantos, bem como as músicas nas flautas gigantes tocadas por as 16 etnias xinguanas.
velhos e ensinadas aos jovens do Alto Xingu, provou que o tempo
A região do entorno cresceu, a produção agropecuária se
não só não apagou como fortaleceu as tradições xinguanas.
desenvolveu e já alcançou os limites do território. Xinguanos
Apresença de crianças e adolescentes em danças como a Taquara relatam o aumento do desmatamento e já sentem as mudanças
eJawari, e seus olhares atentos a apresentações tradicionais como na natureza e no clima do parque. Caciques expuseram suas
a luta Huka Huka, evidenciavam o envolvimento dos jovens com preocupações e questionamentos sobre o futuro do Xingu. “A
as tradições. “Queremos que nossos filhos e netos levem em gente tem essa terra, onde estamos sobrevivendo, vivendo em
frente a nossa cultura, continuem participando das festas. No paz. Só que temos uma grande preocupação com os desmata
Xingu, cada povo se pinta de uma maneira, tem rezas e danças mentos, queimadas e destruição nas beiras dos rios. Não sei se
diferentes, mas na luta para a preservação de nosso território o homem branco também está preocupado com isso, eu acho
e da nossa tradição somos todos iguais”, afirmou o cacique que não, pois essas coisas continuam acontecendo”, disse o
Afukaka Kuikuro. cacique Aritana Yawalapiti.
A arte xinguana esteve presente em cada detalhe do festival. Os As lideranças também ressaltaram a importância de manter as
vencedores das disputas de Huka Huka foram premiados com tradições e estimularam o protagonismo dos jovens para conti
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 591
nuar a luta na proteção dos limites do território. Alguns citaram estradas próximas ao Parque, que têm impacto direto nas
a saída de jovens das aldeias para morar na cidade e declararam comunidades indígenas, e apoiou a fala de Raoni a respeito da
temer que essa tendência sinalize o abandono das tradições e da UHE de Belo Monte.
luta pela proteção do território no futuro.
Kumaré Ikpeng, liderança indígena do povo Ikpeng, e Ianuculá
O líder kayapó Raoni Metuktire participou de todas as discussões Kaiabi Suyá, ambos integrantes da comissão organizadora do
e apoiou as colocações dos xinguanos. “Nós temos que defender evento, também chamaram a atenção dos participantes para a
nossas terras. Quero pedir que os jovens continuem a luta de oportunidade de discutir temas de interesse de toda a comuni
seus pais e fiquem aqui para continuar defendendo o Xingu e dade xinguana. “Temos que nos unir para provar que essa obra
garantir o futuro de nossos netos.” Raoni citou ainda problemas de Belo Monte terá impactos negativos para nosso rio Xingu e
como a construção da hidrelétrica de Belo Monte, afirmando nossa sobrevivência”, afirmou. “Este é nosso território e o rio
que são ações em que o governo brasileiro deveria recuar, pois Xingu faz parte dele. É inaceitável que nossos povos não tenham
prejudicarão a todos os indígenas do Xingu. Ele defendeu a im sido consultados no processo decisório de uma obra grande como
portância de se manter a união entre os povos para que projetos essa”, completou Ianuculá.
como esse de Belo Monte sejam barrados.
Megaron Txucarramãe, sobrinho de Raoni, liderança indígena JUVENTUDE E TRADIçãO XINGUANAS
que morou no PIX durante sua adolescência e foi o primeiro A roda de conversas do segundo dia de evento foi formada por
administrador indígena do Parque, também demonstrou seu jovens lideranças. O professor Mutuá Kuikuro Mehinako destacou
envolvimento com os povos do Xingu. “As mesmas preocu a importância de se passar a cultura dos mais velhos para os
pações que vocês têm com os seus jovens aqui, nós também jovens. “Eu aprendi o português com o meu avô, pois queria saber
temos. Hoje estou relembrando tudo o que vivi no Xingu como o homem branco chama as coisas… Mas eu também quis
quando era jovem.” Megaron também citou a construção de aprender nossas danças e músicas. Temos 15 rituais diferentes,
Representantes dos 16 povos do PIX tomam conta da aldeia kamaiurá da Lagoa Ipavu, no Alto Xingu, durante os
três dias do evento que celebrou os 50 anos do Parque em junho de 2011 – o IFestival de Culturas Xinguanas.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 593
território indígena do Xingu”, disse Wayukuma Naruvôto, lideran OS IRMãOS VIllAS BôAS
ça indígena que está lutando para a demarcação da TI Pequizal
A importância dos Villas Bôas para os xinguanos ficou evidente
do Naruvôto, ao sul do PIX. “Território é mais amplo que terra. nas falas das lideranças. Eles foram mencionados diversas vezes
Terra são fragmentos, território abrange tudo o que temos aqui, pelos caciques mais velhos como as pessoas que tornaram pos
os rios, florestas, espaço aéreo, a diversidade educacional, cul sível a sobrevivência dos índios que hoje habitam o PIX. Orlando,
tural e linguística”, disse o professor Takap Pi-Yu Trumai Kaiabi, Leonardo e Cláudio Villa Bôas ajudaram a consolidar o PIX com
representante do povo Trumai. o apoio do marechal Rondon, do antropólogo Darci Ribeiro, do
médico sanitarista Noel Nutels e do Presidente Jânio Quadros.
A reivindicação para a mudança do nome está presente na carta “Estamos comemorando este ano essa grande conquista que foi
final escrita pelas lideranças indígenas, que foi lida ao fim do deixada para nós pelos irmãos Villas Bôas. Eles possibilitaram
evento (ver Box). nossa vida aqui”, disse o cacique Kuiussi Suyá. (junho, 2011)
594 PARQUE INDÍGENA DO XINGU POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Carta Final do i Festival de Culturas Xinguanas
Aldeia Ipavu, 12 de junho de 2011 não existiria a sociedade indígena. Não existiriam línguas, culturas,
Exmº Sr. Ministro da Justiça nem os povos do Xingu. A riqueza de nosso território é a razão de
estarmos vivos, lutando para garantir o futuro das novas gerações
Exmº Sr. Ministro do meio Ambiente
indígenas do Xingu.
Exmº Sr. Presidente da Funai
O nosso território é repleto de significados, respeitamos o nosso
Senhoras e Senhores, autoridades e lideranças indígenas, professores território da mesma forma que respeitamos os anciãos, o pai e a
indígenas, caciques, pajés, jovens, crianças, mulheres e toda comuni mãe. Tudo para nós tem significado, tudo tem dono, o rio tem dono,
dade participante de 50 anos do Xingu. Nós, as 16 etnias do Território lagos e as árvores, as plantas, os cantos, as ervas medicinais, o dono
Indígena do Xingu, cumprimentamos a todos os presentes.
em forma física ou espiritual. Façamos a nossa reflexão sobre essa
Nesses 50 anos de criação do PIX, o processo do qual participaram questão. Por fim, queremos homenagear as pessoas que não estão
pessoas importantes, tais como Noel Nutels, Eduardo Galvão, Darcy mais entre nós, mas que fizeram muito pelo Xingu: Nahu Kuikuro,
Ribeiro, Getulio Vargas e Janio Quadros entre outros, trouxe à tona a Luis Kuikuro, Piomin Kayabi, Prepori Kayabi, Da’a Juruna, Bibina
luta dos povos indígenas do Xingu, que sempre preservaram os rios, Juruna, PawaideJuruna, Aluari Trumai, Iawaritu Trumai, Nitywary
as florestas, os cantos e a própria sabedoria para viverem em harmo Trumai, Kanato Ywalapiti, Amarika Kamaiura, Piaru Trumai.
nia. Valorizaram a própria cultura e sua sabedoria para mostrarem Queremos homenagear ainda, algumas pessoas muito importantes
ao homem branco sua forma de viver nesse território, pacificamente que estão vivas e que têm contribuído muito para a existência do
compartilhado com a natureza. A visão da sociedade não indígena Território Indígena do Xingu: Marawê Kayabi, Aruiawi Trumai,
de olhar os indígenas como incapazes está equivocada. Megaron Txukarramãe, Raoni Txukarramãe, Sapaim, Kamaiura,
Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas tiveram a percepção da Takumã Kamaiura, Aritana Yawalapiti, Kuiussi Kisedje, Melobo
riqueza cultural de nossos povos e, em nome disso, exerceram poder (Araca) Ikpeng.
sobre os povos indígenas. Porém, eles ficariam, com certeza, muito Aqui estamos nós lutando no tempo presente e olhando para o pas
tristes em ver hoje a construção de PCHs, turismo clandestino, des sado para podermos pensar o futuro das novas gerações e garantir a
matamento, poluição, assoreamento dos rios. Hoje não temos mais continuidade das nossas línguas, culturas, conhecimento e sabedoria
os irmãos Villas Bôas para nos aconselhar e nos ajudar a lidar e milenar que a sociedade não indígena quis tanto tirar de nossos
ter influência com a elite do poder, por isso, fortalecemos nossas pés, de nossas mãos e do nosso poder, para bem ou mal, fazerem o
próprias lideranças. que quiserem do nosso território, assim como já estão fazendo com
Felizmente conseguimos o direito ao nosso território, apesar de que, a natureza, com desmatamento, poluição, PCHs, Belo Monte... Tudo
na época apolítica tinha o objetivo de transformar o parque em um em nome do que chama de progresso, desenvolvimento do país e
zoológico humano e o nome “Parque Indígena” traz essa ideia para Programa de Aceleração do Crescimento. É um desastre ecológico
turistas e autoridades contemplarem. futuro, a natureza responderáfenomenalmente e espiritualmente,
porque a natureza é a vida que respiramos.
Neste exato momento, queremos ressaltar que a nossa terra não
pode mais ser chamada de Parque Indígena do Xingu, mas sim, de Autoridades, queremos que os nossos territórios sirvam de exemplo
Território Indígena do Xingu (TIX). de preservação ambiental, territorial, cultural e linguística. Respeita
mos o progresso e o desenvolvimento, mas queremos ser respeitados
Ouvir e compreender a realidade indígena da maneira que ela me da mesma forma que os senhores têm consideração com seus pais,
rece, com o reconhecimento pela riqueza e diversidade sociocultural
seus filhos, seus amigos e sua casa. O Território Indígena do Xingu
que representa. é a nossa casa, é a nossa liberdade de poder compartilhar com a
Terra, senhores, para o mundo político ou para o homem branco, família, com os amigos, com os animais, o ar, a floresta, a água, os
como é dito, representa a terra como chão, como fragmentos que cantos e as festividades. O território do Xingu não pertence a um só
não representam o território. Quando estamos falando de “territó povo, mas sim às 16 etnias com línguas e culturas diferentes, não é
rio indígena”, estamos defendendo os nossos direitos territoriais a mesma coisa que um latifúndio, ou empresário dono de grandes
equivalentes aos rios, florestas, espaço aéreo e uma diversidade hectares de terra.
educacional, cultural e linguística. Os grandes guerreiros indígenas Queremos manter a participação e o reconhecimento de jovens,
que aqui lutaram garantiram juntos o futuro de hoje, pois quando mulheres, crianças e velhos da nossa terra. Com essas palavras, e
nem se falava de educação indígena diferenciada, eles estavam em nome dos 16 povos que habitam o Território Indígena Xingu, nós,
lutando para entender a nova língua de fora e assim defender os lideranças indígenas do Xingu, deixamos aqui nossa mensagem.
nossos direitos. Se olharmos para trás, 50 anos não está muito longe
da nossa realidade, mas nos faz refletir no tempo passado, presente Assinam esta carta todos os participantes do I Festival de Cultu
e futuro e mostrar e dar exemplo que sem água, rio, floresta, sem ras Xinguanas na aldeia Ipavu, nos dias 10, 11 e 12 de junho de
terra como chão e terra como território, sem toda essa diversidade, 2011.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 595
PIX+50
INDIGENISTAS,
LIDERANçAS INDÍGENASDE DIVERSAS
ANTROPóLOGOS, MéDICOS,
ETNIAS, Mais de 600 pessoas estiveram na Cinemateca Brasileira, em
São Paulo, na noite do dia 30 de junho para a abertura do evento
FOTóGRAFOS, ARTISTAS PLÁSTICOS, EMPRESÁRIOS Parque Indígena do Xingu+50.1 A meteorologia previa chuva, mas
DENTRE OUTROS PARTICIPARAM DA CELEBRAçãO o tempo colaborou e o espaço externo da Cinemateca pôde ser
DOS 50 ANOS DO PARQUE INDÍGENA DO XINGU NA utilizado, com uma enorme mesa de conversa ao ar livre, rodeada
CINEMATECA EM SãO PAULO. DEBATES, ALMANAQUE pelo público presente, sob temperatura amena em pleno inverno
COMEMORATIVO, EXPOSIçãO FOTOGRÁFICA E paulistano. Para completar o cenário, uma enorme fogueira foi
MOSTRA DE FILMES REVIVERAM O PASSADO, acesa na área externa. Os debates nos dois dias que se seguiram
ANALISARAM O PRESENTE E FIzERAM PROJEçõES (1º e 2 de julho) também aconteceram ao ar livre. Todo o evento
SOBRE O FUTURO E A SUSTENTABILIDADE DO PIX foi entremeado pela questão da sustentabilidade e do futuro do
E DE SEUS HABITANTES
596 PARQUE INDÍGENA DO XINGU POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Abertura do evento na noite de 30/06 contou com depoimentos das lideranças indígenas Mairawê Kaiabi; Akã Panará,
Tinini Juruna, Kuiussi Kisêdjê, Raoni Metuktire, Melobô Ikpeng, Piracumã Yawalapiti e Afukaka Kuikuro.
Parque Indígena do Xingu, situado em Mato Grosso. A exposição do PIX como Piracumã Yawalapiti, Kuiussi Kisêdjê (traduzido
fotográfica, por exemplo, que surpreendeu e impactou os visi por Winti Suyá Kisêdjê), Melobô Ikpeng (traduzido por Kumaré
tantes, traz em alguns painéis exatamente uma pergunta para Ikpeng), Afukaka Kuikuro, Tuiati Kaiabi , Tinini Sadea Juruna
reflexão: “O que será do Parque Indígena do Xingu em 2061?” (traduzido por Yapariwa Juruna) e Akã Panará.
A exposição montada na Cinemateca ficou em cartaz até 31 de Dessa roda de conversa participaram ainda o Dr. Roberto Baruzzi,
julho. Enormes painéis com textos e fotos registravam desde os médico da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), e pioneiro no
primeiros contatos, as expedições, a ação dos irmãos Villas Bôas, atendimento à saúde indígena dos povos do Xingu, e a antropóloga
a criação do parque em 1961 por decreto do PresidenteJânio Qua Carmem Junqueira, da PUC de São Paulo, que trabalhou e ainda
dros, até cenas contemporâneas de escolas indígenas e de iniciativas trabalha com as etnias do Alto Xingu.
culturais de alguns povos. Imagens atuais e mapas mostravam as
No debate da tarde, o tema foi o Parque hoje. Falaram os líderes
pressões que o Parque sofre, não só por causa da expansão das indígenas Megaron Txucarramãe, Mairawê Kaiabi, Korotowê
fronteiras agrícolas, mas também porque as nascentes do rio Xingu
Ikpeng, o indigenista Claudio Romero, o médico sanitarista
ficam fora de seus limites. O desmatamento, que continua no seu
Douglas Rodrigues da Unifesp, que coordena o programa de
entorno, representa uma grave ameaça à sustentabilidade da Terra
atendimento à saúde no Xingu, e André Villas-Bôas, coordenador
Indígena e à sobrevivência dos 16 povos que lá vivem.
do Programa Xingu e Secretário Executivo do ISA.
As conversas começaram no dia 1º de julho de manhã com foco
Algumas lideranças como Raoni, por exemplo, fizeram questão de
nas histórias dos povos antes da criação do Parque e depois
ressaltar mais de uma vez que os índios não querem barragens
que para lá se mudaram. Depoimentos de diversas lideranças
no Xingu em alusão à UHE Belo Monte, no Pará. Raoni também
se sucederam, contando como viviam, como foram os contatos
criticou o presidente da Funai, Márcio Meira.
com os brancos e com os irmãos Villas Bôas. Entre eles estava
o cacique kayapó Raoni Metuktire, cuja fala foi traduzida por À noite, estreou o documentário Olhares Cruzados, realizado
Megaron Txucarramãe. Além dele, lideranças de outras etnias pelo ISA e pela Bangalô Filmes, que mostra de forma breve a
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história da criação do Parque e traz diferentes pontos de vista, PRESERVAR PARA SOBREVIVER
de indígenas e não indígenas, sobre sua importância e sobre a O professor Korotowï Ikpeng, que falou em seguida, disse que
região e os desafios para a sua sustentabilidade. para que a cultura indígena sobreviva é preciso cuidar dela, ga
rantir as festas, respeitar os ecossistemas e os seres da natureza.
O fUTURO NA VISãO DAS NOVAS GERAçõES “Aprendemos isso desde criança e precisamos disso”. Korotowï
No sábado, o debate girou em torno do futuro e da sustentabili defendeu a educação diferenciada e criticou o modelo tradicional
dade do Parque, reunindo jovens lideranças como Pikuruk Kaiabi de educação que, nas suas palavras, “não respeita nossos direi
(presidente da Atix), Ianuculá Kaiabi Suiá, Winti Suyá Kisêdjê, tos nem a Constituição Federal, artigo 211”. O professor ikpeng
Korotowï Ikpeng, Mutuá Mehinako e Marcelo Kamaiurá. Ao lado também ressaltou a preocupação de sua geração em defender
deles, estavam o jornalista Washington Novaes, o antropólogo a terra em que vivem e a necessidade de continuar a ouvir as
Carlos Fausto (Museu Nacional/UFRJ), a médica sanitarista Sofia conversas e conselhos dos velhos.
Mendonça (Unifesp), e Marcio Santilli (ISA). Da mesma forma, Mutuá Mehinako, jovem liderança que saiu da
Pikuruk Kaiabi disse que há mais de 40 anos, os antepassados aldeia para estudar na cidade e voltou, acredita que o grande de
lutaram pela demarcação e conseguiram preservar o Parque com safio é fazer com que as novas gerações preservem suas culturas.
a ajuda dos irmãos Villas Bôas. Hoje o futuro está nas mãos dos Para ele, os brancos precisam ser pacificados. “Quero pacificar
jovens das 16 etnias que habitam a Terra Indígena. Ele próprio é os brancos que querem acabar com as florestas e agora querem
uma dessas jovens lideranças. “Temos de cuidar de nossas terras e nos matar. Precisamos pacificar o branco, mas sem briga”.
fiscalizar, que é a herança que nossos antepassados deixaram”. Antes de dizer que um dos desafios na questão da saúde in
dígena é avançar para as universidades, formando médicos,
Ianuculá Kaiabi Suiá abordou as alternativas de geração de renda
para as comunidades do Parque como importantes para sua enfermeiros e dentistas especializados, a médica Sofia Mendonça
fez um resumo do trabalho de formação de agentes de saúde
sustentabilidade e lembrou o caso do ‘Mel dos Índios do Xingu’,
que a equipe da Unifesp/Escola Paulista de Medicina iniciou no
que chegou às prateleiras dos supermercados e ainda hoje é
Parque em 1984. Ela relatou que a visão que os índios tinham
comercializado pela rede Pão de Açúcar. Mas, se de um lado, a
geração de renda torna os povos indígenas autônomos, de outro, das doenças era muito diferente da dos brancos e a formação de
pode trazer desequilíbrios socioculturais. “É preciso estar atento uma equipe de agentes indígenas foi fundamental para garantir
um bom atendimento às comunidades. “Eles aprendiam muito
para o lado negativo que o dinheiro pode trazer”, disse Ianuculá,
fácil, pela prática, muitos mal falavam português”, contou Sofia.
referindo-se, por exemplo, ao alcoolismo. Liderança promissora,
“Na época, lidávamos com doenças infecciosas como malária e
Ianuculá, que é funcionário da Funai em Canarana (MT), chamou
outras”. Mais tarde a Unifesp iniciou a formação de alguns agentes
a atenção ainda para a importância das associações indígenas e
como auxiliares de enfermagem.
seu papel administrativo e de assessoria. “Elas não substituem
os caciques e seus conselheiros nem as funções do Estado”.
AVANçOS NA SAúDE
Carlos Fausto lembrou que o Parque está hoje totalmente co
Quando veio a lei Arouca, era preciso estruturar a saúde indígena.
nectado com o que acontece do lado de fora, com internet e
A lei n° 9836, de 23 de setembro de 1999, instituiu o Subsistema
novas tecnologias. Lembrou que o peso sobre a nova geração
de Atenção à Saúde Indígena, cujo modelo estava fundado na
é grande, pois os velhos esperam que eles dominem o mundo
existência dos DSEIs em regiões do território brasileiro. As ações
dos brancos e que, ao mesmo tempo, não se afastem das prá
se davam por meio de convênios entre a Funasa e organizações
ticas tradicionais de seu povo. Outra questão colocada sobre o
indígenas, não indígenas, estados e municípios. A partir de
futuro é a mudança na nutrição, já que a comida dos brancos, 2004, começou a formação de gestores indígenas. “Mas esse
o arroz e o sal especialmente, entrou nas aldeias nos momentos
movimento todo de formação de gestores indígenas para lidar
de escassez de peixe e isso vem trazendo problemas de saúde
com as questões de saúde no Xingu acabou por distanciá-los do
como a obesidade e a hipertensão, por exemplo. Outro desafio a
pensamento dos mais velhos”, explicou Sofia.
ser enfrentado é pensar na participação política dos índios nas
cidades do entorno do Parque. Fausto também sugeriu a criação Atenta a isso, a equipe da Unifesp começou a formação de uma
de uma “escola de governo” dentro do PIX. nova turma de agentes indígenas de saúde. Eles se formam este
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ano e vão precisar enfrentar doenças como diabetes, hiperten Já o líder Winti Suyá Kisêdjê, da aldeia Ngojwêrê, na Terra Indígena
são, câncer de próstata, de útero e obesidade. Os novos agentes Wawi, contígua ao PIX, enfatizou mais uma vez a necessidade
incluem homens e mulheres. “Se antes o curso era feito só por de preservar a cultura dos povos indígenas. Winti acredita que
homens, hoje as mulheres também participam e lutam ao lado o caminho é utilizar as novas tecnologias para registrar as
deles”, relata Sofia. Ela acredita que essa formação deve ajudar as manifestações culturais e os costumes que são o legado para as
novas gerações a restabelecer uma nova ordem e estimular uma futuras gerações.
interlocução intergeracional que alie conhecimentos tradicionais
Márcio Santilli, do ISA, encerrou a roda de conversa relacionando
e conhecimentos ocidentais. “É uma costura delicada entre os
as mudanças climáticas cada vez mais presentes na região do
povos indígenas para manter suas culturas”.
Xingu, com a necessidade de mudar atitudes e práticas. Lembrou
O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, Marcelo que em outubro de 2010 esteve no Posto Pavuru e quase não
Kamaiurá, da aldeia Morená, no Alto Xingu, lembrou que o tra conseguiu sair por causa da fumaça que tomou conta de tudo.
balho dos profissionais de saúde fez com que houvesse avanços Era fogo dentro e fora do Parque que se espalhava de modo
e crescimento da população no Parque, estimada em cinco mil impressionante. Santilli ressaltou a necessidade de mudar as
pessoas hoje. “Mas a terra será pequena para todos. Essa é uma práticas em relação aos rios e à natureza. “Até mesmo os índios
preocupação. Apopulação aumenta e procura lugares com recur que conseguem uma razoável integridade de seus territórios
sos naturais para que possa sobreviver. E esses recursos naturais terão de mudar seus jeitos de fazer as roças”. Para ele, o futuro
acabam se esgotando”. Marcelo relatou que o povo caminha e do Parque depende de todos nós e cada um desempenha um
não encontra mais macacos, peixes ou araras, cujas penas são papel diferenciado. “Por mais desafiadora que seja a questão do
usadas para fazer adornos utilizados em rituais sagrados durante futuro, o melhor a fazer é enfrentar as ameaças. Se o vermelho
as festas. do mapa que mostra o desmatamento no entorno do Parque
Tocou na questão da miscigenação como fator de desintegração predominar, não teremos como garantir um futuro para o Xingu”.
dos costumes e culturas e da própria identidade de cada povo. (julho, 2011)
Da mesma forma que o professor Korotowï defendeu a educação
diferenciada, propôs que se avance na criação de uma universi NOTA
dade de conhecimentos culturais. Também criticou o mau uso 1O evento Parque Indígena do Xingu+50 foi fruto de parceria entre o ISA e a
Cinemateca Brasileira, com apoio da Sociedade dos Amigos da Cinemateca e
das novas tecnologias, dando como exemplo, imagens de parentes patrocínio da Construcap e do Fundo Vale, graças à Lei Rouanet de Incentivo à
veiculadas de forma desrespeitosa na internet. Cultura/Ministério da Cultura.
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SAúDE
A Produção de Saúde e o
Enfrentamento das Doenças no PIX
Douglas Rodrigues Médico Sanitarista e chefe da Unidade de Saúde e Meio Ambiente da UNIFESP
NO PERÍODO DE 2006 A 2010, O PROJETO XINGU Culinária e Encontros de Mulheres Xinguanas. Tais encontros
AVANçOU NO PROCESSO DE PRODUçãO DE SAúDE pretendem resgatar junto às mulheres indígenas seus conheci
COM O ENVOLVIMENTO DE CONSELHEIROS, MULHERES mentos tradicionais na esfera da saúde, relacionados a todo o
E PAJéS E DE RESGATE DE PRÁTICAS TRADICIONAIS ciclo da vida, de forma a valorizar o papel social das mulheres
DE CUIDADOS E AUTOATENçãO. EM MEIO A DESAFIOS e a agregar conhecimentos científicos que poderão auxiliar no
TéCNICOS, à BUSCA POR NOVAS ESTRATéGIAS, enfrentamento dos novos problemas de saúde.
EQUIPAMENTOS E RECURSOS DIAGNóSTICOS E
TERAPêUTICOS, O PROJETO SE DEDICOU AO
“OUTRO” E A SUAS DIFERENTES FORMAS DE PENSAR DIAGNóSTICO DA SAúDE XINGUANA
O CORPO, A SAúDE E O PROCESSO SAúDE-DOENçA A relação dos xinguanos com a sociedade nacional, cada vez
mais intensa, tem impactado fortemente sua condição de vida
e saúde. A transição epidemiológica e nutricional coexiste com
Apolítica de saúde indígena nos últimos anos se caracterizou pela altos níveis de ocorrência de doenças infecto-parasitárias,
burocracia, pelo descaso e principalmente pela falta de diálogo que, associadas a uma baixa resolutividade dos serviços do
entre o nível central e as bases. Isso gerou caos em várias regiões SUS regional e à dificuldade do trabalho de saúde no espaço
do país, abrindo o caminho para a recrudescência de epidemias intercultural, caracterizam a complexidade do trabalho com as
e outros agravos em muitas áreas indígenas. populações indígenas.
No contexto da área de abrangência do Projeto Xingu – Polos
O caminho que a Unifesp vem trilhando é longo e árduo. Ele
Base Wawi, Diauarum e Pavuru do DSEI Xingu –, o período
procura construir um modelo de atenção a saúde que envolva
de 2006 a 2010 foi marcado pelas dificuldades relacionadas
a participação efetiva dos indígenas como protagonistas do
ao convênio estabelecido entre Unifesp/SPDM e Funasa, o que
gerou descontinuidade de ações, encontros e cursos que esta processo e utilizar a epidemiologia; as ações intersetoriais; a
vigilância à saúde; os protocolos assistenciais; o apoio matricial;
vam sendo implementados. No entanto, foi possível avançar no
e os programas de saúde voltados para os grupos de risco e
processo de produção de saúde com o envolvimento de outros
doenças prevalentes. Neste caminho destaca-se ainda um forte
atores sociais – como conselheiros, mulheres, pajés – e de
resgate de práticas tradicionais de cuidados e autoatenção, na componente de formação para indígenas e não indígenas, o que
não poderia ser diferente, pois este é o principal papel de uma
construção de estratégias e linhas de cuidado mais adequadas
universidade: a formação de recursos humanos; a produção
àquele território social.
de novos conhecimentos; a crítica e a construção coletiva de
Além dos cursos de formação de agentes indígenas de saúde e modelos de intervenção na realidade e a inovação pedagógica
de gestão em saúde indígena, têm sido realizadas Oficinas de e tecnológica.
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A POPUlAçãO DO PARQUE (Gráfico 1), embora já seja perceptível o alargamento do topo da
INDÍGENA DO XINGU pirâmide, indicando o envelhecimento da população. O grande
Os dados demográficos mostram alta taxa de crescimento po crescimento populacional observado deve-se ao aumento do
pulacional no período compreendido entre 1965 e 2009. Como número de nascimentos e à redução do número de mortes,
demonstra a tabela 1, em quatro décadas, a população do Xingu proporcionada pela proteção do território demarcado e pelo in
aumentou 5 vezes, enquanto a população brasileira aumentou cremento dos serviços de saúde acessíveis à população. No Xingu,
2,3 vezes. Esse altíssimo crescimento, embora importante para o a proporção de indivíduos com mais de 50 anos de idade passou
fortalecimento dos povos xinguanos, tem acarretado dificuldades de 3,5%, em 1975, para 7,8% da população, em 2008. Afaixa etária
para a manutenção da forma tradicional de viver, principalmente de 0 a 14 anos de idade representa 52% da população.
no que diz respeito à segurança alimentar. Soma-se os altos
índices de desmatamento no entorno do PIX e a construção de MORTAlIDADE GERAl
barragens nos formadores do rio Xingu, com seu impacto sobre
Ao compararmos a variação do Coeficiente de Mortalidade Geral
a fauna e as condições dos rios: contaminação e diminuição dos no Xingu, em décadas anteriores, fica evidente a diminuição da
peixes, fonte primária de proteínas para os xinguanos. mortalidade ao longo do tempo, como demonstra o gráfico 2.
Apopulação do PIX pode ser caracterizada como uma população
jovem, o que pode ser constatado na pirâmide etária de 2008 GRÁfICO 2. EVOlUçãO DO COEfICIENTE DE
MORTAlIDADE GERAl, 1971 A 2009, PIX
TABElA 1. POPUlAçãO DO PIX EM DIfERENTES ANOS,
NO PERÍODO DE 1965 A 2009
Ano População Xingu População Brasil
1965 1.135 82.222.000
1975 1.605 101.145.200
1985 2.555 135.105.916
1999 3.705 167.909.738
2009 5.630 189.909.983
Fonte: dados primários do arquivoUsma/Unifesp: censos e projeções
populacionais, IBGE disponível em www.ibge.gov.br, acessado em
10/06/2009 às 10 horas.
Fonte: dados primários do arquivo Usma/Unifesp.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 601
O gráfico 2 evidencia a queda consistente da mortalidade geral a indica que a maioria dos óbitos em menores de um ano tende a
partir da segunda metade da década de 1980. Este fato coincide ocorrer no período neonatal, tendo como causa problemas rela
com a estruturação dos serviços locais de saúde, iniciada nesse cionados à gravidez e ao parto. Dos 18 óbitos neonatais registrados
período, com forte investimento na formação de agentes indígenas entre 1999 e 2009, dez ocorreram nas referências (Canarana,
de saúde e na mudança das práticas sanitária, com ênfase na Sinop, Brasília e Cuiabá) e oito ocorreram nas aldeias e polos-base
promoção da saúde e na participação indígena. do DSEI Xingu, todos tendo como causas a prematuridade e as
malformações congênitas. Em seis óbitos, a gravidez de gêmeos
É o resultado de um processo que se iniciou há 20 anos – anterior,
foi causa da prematuridade. É preciso avançar na capacitação
portanto, à criação do subsistema de saúde indígena. Na virada
da equipe técnica para o acompanhamento do período perinatal
do século, ele foi incrementado pelo maior acesso a serviços de
buscando a diminuição da mortalidade infantil nesta fase.
saúde, proporcionado pela implantação do DSEI Xingu, e conse
quente aporte maior de recursos para a saúde do PIX. Em razão do pequeno tamanho da população indígena, é comum
observarmos maior oscilação do Coeficiente de Mortalidade
MORTAlIDADE INfANTIl Infantil ao longo dos anos. A tabela 2 mostra que a média do co
eficiente de mortalidade infantil no Xingu observada nos últimos
As condições sanitárias, associadas à alta prevalência de infecções
onze anos foi de 28,2 mortes por mil nascidos vivos, próximo ao
respiratórias agudas, diarreias e desnutrição infantil, constituem
Coeficiente de Mortalidade Infantil do Brasil que, entre 2000 e
um cenário de difícil atuação. Soma-se a isso a falta crônica de
2006, ficou em 24,9 mortes por mil nascidos vivos.
alguns medicamentos importantes; interrupções e atrasos no
custeio das ações por parte da Funasa; a estrutura precária das
instalações de saúde; a falta de tecnologia médica de apoio em MORTAlIDADE MATERNA ZERO
área; e as longas distâncias entre as aldeias, polos-base e as Em 2002, frente a alto índices de mortalidade materna, a co
referências de maior complexidade. Ainda assim, observamos munidade e a equipe multidisciplinar tornaram o controle e a
que a mortalidade infantil tardia no PIX tem diminuído, e se diminuição do Coeficiente de Mortalidade Materna os objetivos
concentrado no período neonatal, graças à atuação dos agentes prioritários do trabalho no Xingu.
indígenas de saúde na vigilância em saúde.
A adequada assistência e o acompanhamento ao pré-natal, parto
A tabela 2 permite identificar a importância cada vez maior do e puerpério é uma estratégia fundamental para a redução da
componente neonatal (precoce) da mortalidade infantil. Isso morbimortalidade materna e perinatal. Nos últimos seis anos, a
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mortalidade materna tem se mantido em zero, como mostra o GRÁfICO 3. COEfICIENTE DE MORTAlIDADE MATERNA
gráfico 3. A cobertura do programa; o acesso das gestantes a um NAS AlDEIAS E POlOS-BASE PAVURU, DIAUARUM E
maior número de consultas; o acompanhamento das gestantes WAWI, DSEI XINGU, 1999 A 2009
de risco; a realização dos exames preconizados pelo Ministério
da Saúde; associados a uma maior participação das mulheres
xinguanas em espaços de discussão;e à formação e capacitação
da equipe multidisciplinar, têm repercutido positivamente sobre
a mortalidade materna.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 603
um aumento da mortalidade por câncer de colo do útero entre os povos indígenas intensificaram seu contato com o mundo
as mulheres xinguanas:, foram registrados cinco óbitos. Destes urbano “ocidental”, as mudanças observadas no modo de viver,
cinco, dois haviam sido diagnosticados ao final de 2004, já em particularmente relacionadas ao comportamento, à alimenta
estado avançado, ocasionando morte em 2006. ção, às relações de trabalho e à diminuição da atividade física,
repercutiram de forma negativa em suas condições de saúde.
Em 1989 foi realizado um inquérito epidemiológico para identi
Casos de obesidade, hipertensão arterial, alterações no grau de
ficar a ocorrência de DSTs na área e foram identificadas lesões
tolerância à glicose e nos níveis de lipídios séricos, aparecem
de colo uterino até então insuspeitadas (Taborda et al, 2000).1
relatados na literatura atual e no atendimento clínico cotidiano,
O câncer do colo do útero, á época, ainda não era identificado
com frequência semelhante ou maior que aquela observada na
como problema, quando a malária, o sarampo, a gripe, a pneu
população brasileira.
monia e a tuberculose estavam entre os maiores agravos a serem
enfrentadas pelas equipes de saúde. A saúde de um indivíduo está intimamente relacionada ao am
Apesar da comprovada a exposição das mulheres do PIX a fato biente e às condições de vida da comunidade em que ele vive. Re
res de risco para câncer do colo do útero (MS, 2006)2 e a
necessidade de melhorar a cobertura dos exames e garantir GRÁfICO 5. CASOS DE HIPERTENSãO ARTERIAl* – 1986,
tratamento e acompanhamento dos casos, na prática tive 2007, 2008 E 2009
mos muitas dificuldades na implementação do programa.
Buscando melhorar a cobertura e a qualidade dos exames
colpocitológicos, a resolutividade dos casos, e diminuir a
mortalidade, foi adotada uma estratégia de matricialização
das ações de prevenção ao câncer de colo do útero. Para isso
foi estabelecida uma parceria com a equipe dos Setores de
Patologia do Trato Genital Inferior e de Colpocitologia do
Departamento de Ginecologia da Unifesp.
A TRANSIçãO EPIDEMIOlóGICA
EM CURSO
Dentro do enfoque epidemiológico de risco que norteia todas
as atividades da Unifesp na prestação de serviços de saúde
no PIX, no que se refere aos adultos temos priorizado, nos
últimos anos, o acompanhamento da situação denominada Fonte: dados primários do arquivo Usma/Unifesp.
de transição epidemiológica e nutricional. À medida que * Aldeias e polos-base Pavuru, Diauarum e Wawi - DSEI-Xingu.
604 PARQUE INDÍGENA DO XINGU POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
sultados de diferentes estudos mostram que pessoas submetidas problema está em andamento um diagnóstico participativo na
ao processo de “ocidentalização”, particularmente relacionado a área de abrangência do médio, baixo e leste Xingu.
mudanças no estilo de vida e no hábito alimentar, tornam-se mais
susceptíveis às doenças crônicas não-transmissíveis, tais como SAúDE BUCAl
as doenças cardiovasculares e o diabetes mellitus, bem como
As doenças bucais, especialmente as cáries e doenças periodon
transtornos mentais em função do processo de crise de identidade
tais, por suas peculiaridades e relevância no quadro epidemioló
e de mudanças de hábitos, além de problemas decorrentes do
gico, têm sido enfrentadas por meio de uma ação programática
“genótipo de thrifty” ou “genótipo econômico”.3
específica. Esse programa tem como eixos de trabalho a análise
Entre os povos xinguanos também têm sido identificado o situacional, a formação de recursos humanos, a educação em
aumento da ocorrência de obesidade, hipertensão arterial, e, saúde e a assistência odontológica propriamente ditas.
mais recentemente, aparecimento de casos de diabetes melli
O declínio dos indicadores e o aumento do acesso aos serviços
tus.4 Estudos têm revelado uma modificação, mais acentuada
odontológicos no Xingu estão relacionados à parceria estabeleci
nos últimos anos, no perfil metabólico e nos níveis de pressão
da, em 2004, com a Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto
arterial, indicando que estes povos têm apresentado alto risco
da Universidade de São Paulo (Forp/USP). A entrada da Forp/
cardiovascular, tendo sido registrados três óbitos por acidente
USP possibilitou, além da extensão da cobertura, a capacitação
vascular cerebral (AVC) nos últimos dez anos.
da equipe de saúde e o desenvolvimento de ferramentas de
Na clínica cotidiana também esta mudança fica evidente com o monitoramento e avaliação das ações.
aumento dos casos de obesidade e diabetes e hipertensão arterial
Em 2006, foi realizado um levantamento epidemiológico de
e, inclusive, casos de AVC, conforme mostram os gráficos 5 e 6. Os
toda população acima de um ano de idade das aldeias do baixo,
pacientes portadores de hipertensão arterial e diabete mellitus
médio e leste do PIX. A metodologia utilizada foi a preconizada
são acompanhados mensalmente, sendo que todos os portadores pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e a ficha clínica foi
de diabetes e 56% dos hipertensos realizaram os exames labo adaptada do modelo proposto para o levantamento nacional
ratoriais preconizados pelo protocolo do serviço.
do Ministério da Saúde (SB 2000). A prevalência de cárie foi
Em algumas aldeias o problema é mais significativo, principal avaliada pelo índice CPO (média de dentes cariados, obturados
mente em comunidades com maior acesso às cidades vizinhas e e perdidos em uma mesma faixa etária), que pode variar de 0 a
aos alimentos industrializados. Estes problemas, contudo, ainda 32. As informações permitiram o conhecimento (quantitativo ou
não têm sido percebidos pelas comunidades como tal. qualitativo) sobre a situação da saúde bucal das comunidades,
com o propósito de subsidiar as ações de enfrentamento do
O processo de alcoolização entre os povos indígenas do Xingu
problema. Segundo dados do arquivo da Usma/Unifesp, a média
vem crescendo nos últimos anos, principalmente em decorrência
de CPO dos adolescentes de 12 anos das áreas de abrangência
da intensificação do contato com a sociedade envolvente, com um
grande movimento de saída dos indígenas para os municípios dos polos-base Pavuru, Diauarum e Wawi, em 2006, era de 2,54.
Uma média, comparativamente, menor que a brasileira, que
vizinhos.
registrou, em 2003, 2,78, e menor que a meta estabelecida pela
Tem sido objeto de grande preocupação o aumento do número OMS no ano 2000, de média 3. A situação, contudo, permanece
de casos de indígenas alcoolizados, por conta da introdução de aquém da nova meta da OMS, estabelecida em 2010, em que a
bebidas alcoólicas fora do contexto sociocultural de consumo das média deve ser de apenas 1 dente cariado.
bebidas de uso tradicional, como o “caxiri”.
Há alguns anos esta questão vem sendo discutida nas reuniões de ENCONTROS DE MUlHERES INDÍGENAS
conselho, de lideranças e com as comunidades, que consideram No Xingu temos nos aproximado das comunidades e especial
que o aumento do consumo de álcool tem se tornado um sério mente das mulheres para entendermos quais, na visão delas,
problema de saúde no Xingu. No ano de 2009, vários foram os são os principais problemas de saúde. Buscando valorizar o
episódios envolvendo indígenas alcoolizados, com repercussões papel social do segmento feminino, temos realizado, desde 2003,
no cotidiano das aldeias e polos-base, fazendo aumentar os casos encontros anuais onde se reúnem mulheres das diversas etnias,
de violência doméstica. Como estratégia de enfrentamento deste as equipes multidisciplinares de saúde indígena e especialistas
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 605
nos temas escolhidos pelas mulheres para serem discutidos. São micidade das relações de poder e na avaliação contínua. Assim,
os Encontros das Mulheres Xinguanas, dos quais elas, cada vez as atividades desenvolvidas utilizam metodologias de ensino
mais, têm participado, colocando suas dúvidas, trocando conheci participativas e problematizadoras, pautadas pelas experiências
mentos e apontando caminhos. Estes encontros têm consolidado de vida e de trabalho dos envolvidos.
um espaço de diálogo e de construção coletiva de políticas e in
A formação de agentes indígenas de saúde está em andamento,
tervenções em saúde junto aos povos xinguanos, com um inédito
com uma nova turma de 60 alunos, que depois de nove módulos
protagonismo feminino. Deles saem propostas de enfrentamento
de concentração e dispersão, deve se formar em 2011, com a
dos problemas de saúde a partir do olhar das mulheres.
certificação concomitante à do ensino fundamental.
Aoportunidade de explicitar um problema, e seus determinantes, Formar profissionais indígenas para o gerenciamento e a gestão
e entendê-lo a partir dos olhares de diferentes atores, permite que em saúde indígena tronou-se uma das prioridades do Projeto
as mulheres, as comunidades e a equipe técnica o incorporem Xingu. Foram realizados, de 2004 a 2008, seis módulos do Curso
e legitimem como problema de fato, e não como um evento que de Gestão em Saúde Indígena para uma turma de 27 alunos,
faz parte da paisagem local, apontando para possíveis soluções. entre professores, diretores de associações, auxiliares de enfer
A comunidade deixa de ser objeto e passa a ser sujeito da ação. magem, chefes de posto, coordenadores de saúde, entre outros.
Esta interação de saberes dá concretude ao sonho da constru Este processo está em andamento e tem contribuído muito para
ção de uma saúde indígena para e com os índios, baseada no
o empoderamento dos próprios indígenas na tomada de decisões
diálogo intercultural desprovido de conceitos reducionistas e de e na gestão do sistema local de saúde. (agosto, 2011)
preconceitos. No contexto do médio e do baixo Xingu, o evento
foi ritualizado e já contou com seis edições: Mobilização das NOTAS
mulheres indígenas, saúde e educação – Primeira Conversa; 1Taborda WC, Ferreira SC, Rodrigues D, Stávale JN, Baruzzi RG. Rastreamento do
Doenças Sexualmente Transmissíveis e Câncer de Colo Uterino; câncer de colo uterino em índias do Parque Indígena do Xingu, Brasil central.
Gestação, parto e puerpério; Saúde da Criança e Segurança Rev Panam Salud Publica/ Pan AmJ Public Health. 2000; 7 (2): 92-95.
alimentar; Saúde dos Adolescentes; Alcoolismo, drogas e vio 2 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
606 PARQUE INDÍGENA DO XINGU POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ATIX
A ASSOCIAçãO TERRA INDÍGENA XINGU (ATIX), interesses e aspirações dos 16 povos que representa. As ações
EM SUA TRAJETóRIA DE 16 ANOS DE EXISTêNCIA, da associação são baseadas na missão de “fortalecer os povos
PASSOU POR VÁRIAS EXPERIêNCIAS COM PROCESSOS xinguanos, preservando sua cultura e seus costumes tradicionais,
INTEGRADOS DE GESTãO DE PROJETOS: AçõES DE buscando o desenvolvimento econômico de forma sustentável,
FISCALIzAçãO, COMERCIALIzAçãO DE PRODUTOS garantindo seu protagonismo e preservação dos recursos natu
E LOGÍSTICA TêM GANHADO VULTO. INTENSIFICOU rais”; e nos objetivos descritos em seu estatuto social, que são:
SE TAMBéM A INTERLOCUçãO POLÍTICA COM O “I - Promover a defesa ambiental e cultural relativa aos povos
MOVIMENTO INDÍGENA E INDIGENISTA; COM óRGãOS indígenas do Parque Indígena do Xingu; II - Promover, organizar e
PúBLICOS DAS MAIS VARIADAS INSTÂNCIAS executar atividades destinadas a proteger e fiscalizar o patrimônio
DE PODER; COM INSTITUIçõES NACIONAIS E territorial e os recursos naturais do Parque Indígena do Xingu;
INTERNACIONAIS; E, MAIS RECENTEMENTE, COM III - Promover o desenvolvimento de alternativas econômicas
AS ASSOCIAçõES DOS “PARENTES” INDÍGENAS auto-sustentáveis para os povos indígenas xinguanos, respeitan
do a preservação de suas culturas, de seus modos tradicionais
de produção e manejo dos recursos naturais; IV - Promover o
Nesse outro nível de relação institucional, os agentes das asso
desenvolvimento de atividades destinadas a garantir a saúde e o
ciações dos “parentes” indígenas passam de objetos a sujeitos
bem-estar dos povos xinguanos; V - Organizar cursos e progra
na luta pelos interesses mútuos que permeiam a continuidade
mas de estágio, além de outras atividades voltadas à educação
da existência dos povos que habitam o Parque Indígena do Xingu
dos povos indígenas xinguanos e; VI - Desenvolver e apoiar as
(PIX). São agentes de um aprendizado processual necessário
para saber lidar com um universo outro, sem que com isso per atividades que atendam às necessidades de transporte dos povos
indígenas xinguanos”.
cam suas referências culturais e suas maneiras tradicionais de
lidar com as discussões e as tomadas de decisões. Eles tomam AAtix conta com outras instituições para realizar ações de susten
frente e definem os caminhos a serem seguidos a partir desse tabilidade ambiental, cultural e econômica em seus territórios.
acúmulo de vivências e experiência. Caminhos que os conduzem Alguns exemplos são os projetos executados com o PDPI, do MMA;
para um modelo próprio de gestão, fortalecendo-os ao ponto de a parceria, desde 1996, com a Rainforest Foundation Noruega
construírem, por si mesmos, as respostas às suas interações com (RFN), que investe recursos em fortalecimento institucional e
o “mundo do branco”. capacitação de seus gestores e colaboradores; e a parceria com
o Instituto Socioambiental (ISA), que, por meio de um processo
Consolidada como a mais antiga associação em atividade no contínuo de apoio à formação dos gestores e colaboradores,
Parque, a Atix protagoniza ações, atuando de forma autônoma assessora a Atix desde sua criação na administração de recursos
e sendo o principal eixo político-institucional na defesa dos financeiros, gestão e execução de projetos.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 607
Encontro das Associações
do PIX, realizado em maio
de 2007.
SURGIMENTO DAS ASSOCIAçõES éTNICAS PARA olhar e uma nova forma de agir a partir do que representa hoje
A INSTITUCIONAlIZAçãO DAS RElAçõES NO PIX para os entes comunitários2 – dantes protagonistas únicos das
relações, articulações e decisões.
A partir dos anos 2000, a Atix passou por uma importante fase
de transição com a emergência de outras associações étnicas.
MUDANçA DE PARADIGMA – A REGIONAlIZAçãO
Esse fenômeno foi marcado pela necessidade dos povos habi
DA GESTãO DO PIX
tantes do PIX de garantir seus direitos e conquistas nos campos
da cultura e do resgate dos territórios que habitavam antes de A Atix busca o equilíbrio entre a visão de mundo indígena e o
passar a morar no Parque. aprendizado adquirido ao longo do tempo por meio do convívio
com os modelos do “branco”. O modelo de gestão experimen
As associações Yarikaiu (Yudja), Moygu (Ikpeng), AIK (Kisêdjê),
tado desde a sua fundação precisa ser, portanto, ressignificado,
Iakiô (Panará) e Tapawia (Kawaiwete – Kaiabi) passaram a dividir
tendo em vista o fato de que homens e mulheres têm buscado,
com aAtix a gestão do PIX, iniciando sua atuação como represen
no seio de suas aldeias, aliar os objetivos descritos no estatuto
tantes etno-institucionais. Os gestores e colaboradores buscaram
social da Atix com a legislação pertinente e as leis costumeiras
se preparar para os novos desafios, o que fez surgir um novo
tipo de liderança, político-institucional, capaz de interagir com o de seus povos.
“mundo do branco” e com o universo de relações estabelecidas Esses homens e mulheres sofrem grande influência de um
tradicionalmente por cada um dos povos representados. “mundo de consumo” ao qual não pertencem. Morando nas
cidades ou em trânsito, eles adquirem bens de primeira neces
As relações institucionais com a Atix principiaram com a condu
ção em conjunto de ações de proteção e fiscalização territorial; sidade, como roupas, remédios e alimentos; contratam serviços,
como hospedagens e fretes; e cultivam objetos de desejo, como
organização de assembleias e reuniões; efetivação de apoios e
computadores portáteis e aparelhos de áudio, foto e vídeo.
parcerias em processos de produção; comercialização de produ
tos; e prestação de serviços de transporte. Com a experiência ad Os recursos advindos do assalariamento pelas colocações em
quirida no fazer, as associações étnicas têm integrado suas ações Postos Indígenas de Vigilância, escolas, unidades básicas de saúde
com as ações da Atix por meio da execução e gestão financeira e pela prestação de serviços em eventos no PIX e, em alguns ca
de projetos, e do intercâmbio de experiências e conhecimentos sos, de ajudas de custo recebidas pelos serviços nas associações
acumulados. indígenas, têm oferecido fonte de renda aos povos do PIX. Em
Surge inicialmente a necessidade de buscar a união das re- suas aldeias, cultivam alimentos, confeccionam utensílios domés
ticos e artefatos artesanais, o que gera excedentes e possibilita o
presentatividades políticas e comunitárias do PIX; depois o
atendimento das necessidades adquiridas na relação, cada vez
imperativo de se organizar em um sistema capaz de dar corpo
mais próxima e cotidiana, com o “mundo do branco”.
ao grupo instituinte e transformar-se em um grupo instituído1
como fusão das diferenças evidentes que compõem o Parque; Como resultado dessa realidade inconteste, conforma-se um
e, por fim, a personificação dessa necessidade em uma nova novo modelo de gestão no seio das relações entre a Atix, as de
estrutura, que se traduza em um “reconhecimento”, um novo mais associações indígenas do PIX, os movimentos de jovens e
608 PARQUE INDÍGENA DO XINGU POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
de mulheres, e ainda as instituições públicas e privadas com as produtivos das aldeias. As mulheres vêm participando mais
quais interagem. Esse modelo de gestão busca corrigir as falhas ativamente dos processos de discussão e de tomadas de decisão,
do passado e traz o desafio de fortalecer a relação da Atix “para assumido a condição de liderança e participando de eventos den
dentro e para fora do PIX”, além de estabelecer contatos e definir tro e fora do Parque. Assumem posicionamentos e conquistam
caminhos a serem seguidos de forma organizada e estruturada. espaço político cada vez mais referendadas pelas suas lideranças
De forma que a Atix seja tratada não somente como um órgão tradicionais locais.
administrativo-financeiro para gerir recursos de projetos, mas
O grande desafio é encontrar um caminho possível sem ferir os
como uma instituição que representa e apoia os direitos e inte
modelos tradicionais de discussão e de tomada de decisão para
resses de todos os povos do PIX, bem como os defende e luta
por eles. Que seja uma organização capaz de atingir os objetivos que os agentes envolvidos3 sejam irradiadores do conhecimento
primeiros e os fins últimos a que se propõe. e estejam prontos para uma gestão cada vez mais autônoma, não
somente de suas estruturas institucionais e de seus projetos, mas
A gestão do PIX caminha para formar uma rede cujo núcleo também de seus recursos naturais e conhecimentos tradicionais,
é a Atix. Mantendo suas raízes ideológicas iniciais, a Atix tem como pilares de suas relações dentro e fora do PIX.
fortalecido suas relações institucionais de base por meio da
atuação dos diretores regionais do Alto, Médio, Baixo e Leste Que a Atix e as demais associações étnicas tenham o reconhe
Xingu, para continuar fazendo parte do dia a dia das comunida cimento geral de sua representatividade institucional. Que as
des que representa e manter a proximidade necessária com as ações sejam continuadas e complementares, buscando seguir
associações étnicas. As relações que formam as estruturas sociais, uma linha mestra coerente e sinérgica com sua missão, seus
institucionais e políticas do PIX são: Atix X associações étnicas objetivos e as aspirações dos 16 povos do PIX que buscam encon
X parcerias X lideranças tradicionais X comunidades, as quais trar uma formade se unir em favor de seus interesses comuns.
permitem que as ações da associação sejam executadas a partir (setembro, 2010)
da integração de saberes, normas e valores locais e com a nova
estrutura organizativa da Atix, há uma retomada da aproximação NOTAS
de todos os povos do Parque e as associações são copartícipes 1Grupo instituinte é, conceitualmente, o grupo que idealiza a criação de uma
instituição que o represente na busca da conquista de seus direitos. Grupo
nesse processo de mudança de paradigma. instituído representa um estágio elevado de crescimento e amadurecimento
do grupo no momento em que passa a ser uma instituição devidamente
reconhecida e legalizada.
UM GRANDE DESAfIO!
2 Entende-se aqui por “entes comunitários” os caciques e demais lideranças
Uma nova geração de gestores e colaboradores passa a assumir a comunitárias como mulheres, professores, chefes de postos indígenas.
gestão das organizações indígenas e dos grupos produtivos. São 3 Diretores e colaboradores das associações; membros dos grupos de jovens e
jovens geralmente com experiências acumuladas nas áreas de de movimentos de mulheres, grupos produtivos de mel e artesanato e demais
agentes envolvidos nos projetos executados pela Atix e associações étnicas.
educação, saúde, movimentos jovens e integrantes dos grupos
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 609
PROTAGONISMO
NO PIX ESTÁ EMERGINDO UM MOVIMENTO ainda estão lutando para conquistar credibilidade. “Ainda há
ORGANIzADO DE JOVENS. DIANTE DE UM conflito. São 16 etnias no Xingu e cada uma tem seu costume, sua
CONTEXTO DE ESTRANGULAMENTO DO PIX PELO tradição. No Alto Xingu, por exemplo, para ser liderança tem que
AVANçO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA, OS JOVENS ser uma pessoa de idade, lutadora; pessoas que ganham respeito
XINGUANOS INICIAM DISCUSSõES QUE ENVOLVEM A dentro da própria comunidade. Já no Médio, no Baixo, incluir
SUSTENTABILIDADE SOCIOCULTURAL, SE ENGAJAM o jovem nas discussões políticas já está ganhando visibilidade.
NO DOMÍNIO DE TECNOLOGIAS DE INFORMAçãO, E Cacique abre mão de participar de uma reunião e coloca o jovem
MUITAS VEzES AUXILIAM NA TOMADA DE DECISãO no lugar. Ele é orientado pelo cacique, que decide que poder dar
JUNTO àS LIDERANçAS TRADICIONAIS. é O QUE para ele”, conta o jovem ikpeng. Por enquanto, o Movimento de
TESTEMUNHA KUMARé IKPENG Jovens Ikpeng é vinculado à associação da comunidade, mas já
conta com uma diretoria, que está à frente de alguns projetos
Em abril de 2011, o jornal Folha de S. Paulo publicou a reporta próprios.
gem “Mais twitter, menos tradição”, afirmando que o acesso de
Ainda este ano, deverá acontecer o II Encontro de Jovens Xin
jovens indígenas às tecnologias da informação estaria mudando guanos, de cuja organização, estima-se, devem participar mais
a relação deles com rituais tradicionais. Como testemunha des jovens do que os do primeiro. Durante o I Festival Culturas Xin
sas transformações falava Kumaré Ikpeng, um protagonista no guanas, que marcou as comemorações dos 50 anos do Parque,
uso das mídias não indígenas no PIX. O que a reportagem não foi realizado um pré-encontro de jovens para pensar o próximo
trazia consigo eram as muitas outras discussões que estão sendo encontro, sua forma de organização e local dentro do Xingu.
travadas pelos jovens nas comunidades indígenas do Xingu. Contando com a participação de representantes das diferentes
Kumaré, que participa do Movimento Indígena Ikpeng e ajudou etnias do território, a reunião debateu a necessidade de comuni
a organizar o I Encontro de Jovens Xinguanos em 2008, afirma cação entre os jovens de diferentes povos para facilitar aspectos
que: “Uma política nova está sendo construída, diante de todas as organizacionais e temáticos para o próximo encontro. A reunião
políticas de fora. O I Encontro deJovens foi baseado nos fatos que ainda contou com a presença e o apoio de representante do Fundo
estavam acontecendo. Saúde e educação [estavam] em péssimas das Nações Unidas para as Crianças (Unicef) no Brasil e da Ecoar
condições. Então os jovens hoje estão interessados em partici Comunicação. Na ocasião, eles relembraram as deliberações do
par na política do município, do estado. Estão preocupados em I Encontro de Jovens e decidiram realizar o segundo na aldeia
acompanhar essas políticas junto com lideranças; em facilitar a do povo Kuikuro, em setembro de 2011.
informação das lideranças tradicionais –levando as informações
do Xingu para fora também”. HISTóRICO
Aparticipação política da juventude, contudo, não é ponto pacífico. O surgimento desse movimento de juventude tem a ver com a
Em muitas regiões do Parque, testemunha Kumaré, os jovens organização dos jovens ikpeng, iniciada na escola indígena de
610 PARQUE INDÍGENA DO XINGU POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
A campanha ‘Y Ikatu Xingu e o Movimento
de
Jovem
novembro 2007,promoveram,
Ikpengde(MJI) uma oficinaentre
temática
5 e 10
na
ensino fundamental em debates sobre cultura e meio ambiente. A partir desses debates, emergiu uma série de propostas e re
Kumaré lembra: “Passou o pessoal do ISA para dar palestra sobre soluções. Com relação às políticas de Educação, os jovens diag
o aquecimento global e nasceu essa preocupação. Os jovens da nosticaram problemas na forma como a educação diferenciada
escola e os professores se interessaram. Levaram essa proposta é tratada pelos órgãos governamentais. Segundo eles, instâncias
para sua família. Hoje a luta pra preservar o meio ambiente como o MEC e as secretarias estaduais e municipais de Edu
envolve pais e mães, começando pelos alunos... na comunidade cação não reconhecem características dos sistemas de ensino
toda”. Derivou daí a participação dos jovens em manifestações diferenciados e não acompanham o funcionamento das escolas
contra a PCH Kuluene – de que, até hoje, os impactos sobre as nas aldeias, por exemplo. As diretrizes elaboradas pelos jovens
terras indígenas não foram divulgados. xinguanos nesse âmbito envolvem dar continuidade à formação
de professores indígenas e à elaboração de materiais didáticos.
Ao longo de um ano e meio, a ideia de realizar um encontro
Eles reivindicaram também a construção de 27 escolas, cujas
de jovens xinguanos foi amadurecida pelos Ikpeng. O principal
objetivo do encontro era verificar a possibilidade de discutir instalações prediais devem responder ao padrão das construções
de cada povo.
conjuntamente a posição dos jovens diante dos problemas que
os preocupavam no Parque e descobrir se os jovens das outras O surgimento de casos de desnutrição, hipertensão, diabetes e
etnias traziam as mesmas preocupações. O I Encontro foi rea obesidade no Parque pautou a discussão sobre saúde. Com rela
lizado entre os dias 15 e 20 de junho de 2008. Jovens Ikpeng, ção à saúde da mulher xinguana, os jovens chegaram à conclusão
Kamaiura, Kawaiwete, Yudja, Trumai, Panará, Wauja, Kalapalo de que é preciso haver melhor acompanhamento do processo de
e Kuikuro se reuniram para discutir o futuro do Parque, de gestação, bem como melhorias no diagnóstico e acompanhamen
bateram questões relacionadas ao meio ambiente, educação, to de doenças como o câncer de colo do útero e doenças sexu
saúde e cultura. Eles compuseram mesas redondas para dis almente transmitidas (DSTs). Outro problema verificado pelos
cutir com as lideranças: “As ameaças externas e a situação dos jovens é o da necessidade de melhorias na atuação da equipe
recursos existentes no PIX”; “A situação da saúde e o trabalho multidisciplinar de profissionais de saúde na área. Eles avaliam
desenvolvido no PIX”; “As conquistas e a situação da educação que é preciso formar um número maior de Agentes Indígenas
no PIX”; “As experiências de promoção e fortalecimento cultural de Saúde (AIS), de Auxiliares de Enfermagem Indígena (AEI), de
das comunidades do PIX”. Agentes Indígenas de Saúde Bucal (AISB), além de técnicos em
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 611
radiografia, protética, farmácia e enfermagem. Tudo isso atrelado dicionais, cujo “pagamento” é feito por meio da celebração de
à valorização das parteiras e da medicina tradicional. festas. Adesvalorização do raizeiro, das parteiras, dos cirurgiões
odontológicos tradicionais e a introdução de pagamento aos pajés
A temática do meio ambiente, cara à juventude xinguana por
também estiveram em pauta.
ter estado inicialmente na base de suas mobilizações, também
esteve presente nas discussões. Preocupados com a situação de Também foi colocado em questão o uso das tecnologias de comu
degradação das matas ciliares que se encontram, em sua maior nicação, em especial o direito de imagem dos índios. Apesar de
parte, fora dos limites do PIX, e reconhecendo a Campanha ‘Y estar conectado com as políticas indígenas, esse uso é visto com
Ikatu Xing – Salve a Água Boa do Xingu, como um movimento de cautela: “Se você tira minha imagem, significa que vai roubar a
sucesso na recuperação de matas ciliares, os jovens propuseram minha alma. Trabalhei oito anos no vídeo, vivi com isso. E para
se participar mais da campanha. Além disso, dentre outras fazer vídeo tinha que explicar, dizer o que estava fazendo”, explica
deliberações, planejaram acompanhar o processo de formação Kumaré. As resoluções tomadas com relação a esse problema
do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Xingu e propor a criação envolvem, por exemplo, a elaboração de um modelo próprio de
de um programa (com a Unifesp e a Funasa) para tratar do pro contrato para uso de imagem e a realização de uma oficina de
blema do lixo. Foram discutidos também problemas referentes capacitação sobre uso de imagem para os jovens do Parque, em
à proteção territorial do PIX, que motivaram o grupo a decidir articulação com as associações indígenas e a Portaria nº 177/2006
pela implantação de um planejamento das ações de fiscalização da Funai, que regulamenta a questão.
dos limites do Parque.
Mas Kumaré identifica o uso dessas tecnologias também como
O encontro discutiu também questões relacionadas à cultura, a um tipo específico de política, articulado com as dinâmicas das
partir do reconhecimento de uma série de problemas que devem culturas indígenas: “Hoje a gente vê a tecnologia como um com
ser levados para debate nas comunidades. Chama a atenção o plemento que vem ajudar a população indígena; um instrumento
consumo de bebidas alcoólicas dentro e fora do Parque, em que a gente tem que usar em favor da gente. É um instrumento
especial entre jovens, e a crescente introdução de alimentos que leva a mensagem; e através dela a gente consegue chegar aos
industrializados nas comunidades – que pode afetar as práticas políticos. Esse instrumento está sendo útil para a gente no senti
de cultivo dos alimentos tradicionais. Crescente também é a do do reconhecimento e manifestação da cultura da população
introdução de trabalho remunerado no lugar dos mutirões tra indígena”. (julho, 2011)
612 PARQUE INDÍGENA DO XINGU POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Grafismo Kisêdjê
Fonte: Acervo/ISA
ACONTECEU
GERAL
MUTIRãO DA CIDADANIA
Promovida nesta semana em uma parceria
entre o Estado, a União e prefeituras de Gaúcha
do Norte, Canarana e Querência, entidades
e instituições se mobilizaram para levar aos
povos indígenas do Alto Xingu serviços aos
quais o acesso torna-se difícil em função das
distâncias. Tendo como base o posto Leonardo
Villas Bôas, o Mutirão da Cidadania atendeu os
Kuikuro, Yawalapiti, Aweti, Kamayurá, Waurá,
Mehinako, Kalapalo Nafukuá e Matipú. A
emissão de Carteira de Identidade, junto com
o Título Eleitoral e consultas médicas foram
alguns dos serviços mais procurados. (Raquel
Ferreira, Gazeta Digital, 21/09/2007)
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 613
ACONTECEU
DSpace, um software livre desenvolvido pelo PCHs nas CabeCeiras* conclusões das pesquisas complementares
Massachusetts Institute of Technology (MIT) ao Estudo de Impacto Ambiental Durante a
rio Culuene
e pela HP e que possui uma versão em por PCH Paranatinga II
reunião, os indígenas voltaram a exigir que
tuguês distribuída pelo Instituto Brasileiro de Situação: em funcionamento a Paranatinga II pare de funcionar e que ne
Informação em Ciência e tecnologia (IBICT). Município: Paranatinga e Campinápolis nhuma outra PCH seja construída na região.
Além do material histórico sobre a comunida Empresa: Paranatinga Energia Ltda. Além do presidente interino da Funai e diretor
de, a base de dados reunirá toda a produção Potência instalada (MW): 29 de Assistência, Aloysio Guapindaia, estavam
realizada pelos próprios Ikpeng, como filmes, PCH Culuene presentes representantes da Paranatinga, do
fotos, gravações de áudio, produção de livros Situação: Licença de Operação, em operação, Ibama, da Casa Civil e dos ministérios de Minas
e desenhos. Uma ferramenta de pesquisa e de fase de testes
e Energia, Meio Ambiente eJustiça.
fortalecimento cultural. O projeto conta ainda Município: Paranatinga
As obras da Paranatinga II chegaram a ser in
com um site para que os Ikpeng possam dia Empresa: Rede CEMAT Centrais Elétricas Mato
grossenses terrompidas durante a batalha judicial travada
logar com os não-índios (www.ikpeng.org, em entre a empresa e os indígenas. Desde 2004, as
Potência instalada (MW): 1.794
construção) Para isso, a comunidade também PCH Paranatinga I comunidades xinguanas vêm manifestando-se
vem buscando uma parceria com o programa Situação: Outorgada pela ANEEL, Licença de contrárias à construção da Paranatinga II e de
Gesac/MinC para estabilizar o acesso à internet Instalação, em instalação outras barragens perto de suas terras. Elas
na aldeia, ainda precário. (Instituto Catitu, Município: Paranatinga e Campinápolis argumentam que o ciclo de vida dos peixes,
dezembro, 2010) Empresa: Paranatinga Energia Ltda. importante fonte de alimento, será prejudicado
Potência instalada (MW): 22 e que sítios sagrados serão atingidos. Existem
rio roncador
DANOS AMBIENTAIS pelo menos mais cinco PCHs previstas para as
PCH Rio Roncador
Situação: sem informações cabeceiras do Xingu. Algumas ainda estão em
processo de licenciamento pela Secretaria do
ÍNDIOS NEGOCIAM DESOCUPAçãO Município: Nova Brasilândia
Empresa: José Pupim Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema). Uma
DA PCH PARANATINGA II Potência instalada (MW): 7.50 delas é de responsabilidade da Paranatinga
Uma comissão de três lideranças do PIX e rio ronuro Energia. Não existe um estudo integrado sobre
uma procuradora federal deixaram em 03/06 PCH Ronuro os impactos de todas elas nos rios da região.
o canteiro de obras da PCH Paranatinga II, em Situação: sem informações (Oswaldo Braga de Souza/ISA, 04/03/2008)
Campinápolis (MT), que foi invadida por cerca Município: Paranatinga
de 130 índios na última quarta-feira. O grupo Empresa: Sopave Norte S/A Mercantil
Potência instalada (MW): 70
PCHS NO XINGU PREOCUPAM
viajou para Brasília, onde vai tentar agendar
uma audiência do presidente da Funai com cer
rio von den steinen ÍNDIOS E PESQUISADORES
PCH Agro Rio Von Den Steinen Ltda
ca de 60 índios na próxima semana. O canteiro, Situação: Outorgada pela ANEEL, Licença de A falta de informações sobre as obras projeta
porém, permanece ocupado pelos indígenas até Instalação, em instalação
das e em andamento para a região do Xingu,
pelo menos a definição da data do encontro. Município: Nova Ubiratã incluindo hidrelétricas, estradas e empreendi
Os cerca de 220 trabalhadores da construção, Empresa: Tecnovolt Centrais Elétricas Ltda. mentos que causam impactos socioambientais
mantidos reféns durante 3 dias, foram libera Potência instalada (MW): 5.8 foi a queixa comum de várias lideranças
dos. Os índios querem a paralisação da obra por (*Informações da Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso de indígenas que participaram da mesa-redonda
acreditarem que o Kuarup, principal festa do 2006; com exceção dos dados sobre a Paranatinga II). “A questão energética e de infraestrutura no
Xingu, tenha se iniciado exatamente no local da Xingu”, durante o II Encontro das Nascentes
construção. (Midia News, 04/06/2006) do Xingu em 17/10. O evento realizou-se
paralelamente à I Feira de Iniciativas Socio
negociação feita diretamente com o presidente ambientais no Parque de Exposições Cidade
ESTUDOS DE PCH SUSPENSOS da Funai, Márcio Meira. Do dia 20 ao dia 25, Jardim, em Canarana. A principal preocupação
TEMPORARIAMENTE ficaram retidos na aldeia Moygu seis funcioná em relação às obras de infraestrutura para a
Mais de 80 índios do PIX, incluindo cerca de rios do órgão e oito consultores da Paranatinga região concentra-se nas PCHs previstas e em
70 guerreiros Ikpeng, conseguiram do governo Energia S.A., que coletavam dados sobre os construção no entorno do PIX. A preocupação
a suspensão temporária dos estudos comple efeitos para os povos indígenas da barragem, com as PCHs não é exclusiva dos índios, sendo
mentares sobre os impactos ambientais da de responsabilidade da empresa. Todos foram compartilhada com pesquisadores e organi
PCH Paranatinga II. A reivindicação foi atendi soltos e levados para Cuiabá. zações da sociedade civil. “Falta entender os
da depois de uma reunião na sede da Funai, Além dos Ikpeng, participaram da audiência reais impactos dessas PCHs e de que forma são
em Brasília, entre quinta e sexta-feira, com em Brasília representantes de outras etnias, monitoradas”, alerta o professor e pesquisador
representantes de vários órgãos do governo como os Kuikuro, Kamaiurá, Waurá, Kaiabi, Cesar Mello, da Universidade Estadual de Mato
federal. A usina começou a funcionar para Kalapalo e Yawalapiti. Agora eles voltarão às Grosso, participante da mesa. Especializado
testes há algumas semanas no Rio Culuene, suas comunidades para consultá-las sobre em ecologia de peixes, Mello questiona como é
um dos principais formadores do Xingu, entre a continuidade dos estudos. Se forem auto feito o monitoramento dessas PCHs. “Elas são
os municípios de Campinápolis e Paranatinga rizados, eles serão retomados com técnicos construídas em locais de difícil acesso, sempre
(MT), ao sul do parque. indicados pelos índios em acordo com a Funai. nas cabeceiras dos rios”. De acordo com Mello
A realização do encontro foi uma exigência dos As lideranças xinguanas pretendem manifestar é muito comum que os estudos de impacto
Ikpeng em troca da libertação de 14 reféns em se novamente só quando tiverem em mãos as sejam realizados ao mesmo tempo em que se
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 615
ACONTECEU
iniciam as obras de construção e os pesqui federal para evitar o alastramento do desma zada como se fosse retirada das fazendas e
sadores costumam ter pouco conhecimento tamento perto de uma aldeia desta etnia. Os ainda gerava crédito florestal. Os empresários
sobre os locais dos empreendimentos. “É índios afirmam que se os órgãos responsáveis e madeireiros participaram da organização
comum encontrar erros graves na identificação não intervierem pode haver conflitos violentos com o financiamento da grilagem e adquiriam
de espécies nos diagnósticos ambientais dessas entre aldeias do PIX, fato até hoje inédito. Em as madeiras extraídas ilegalmente da área
obras”. O professor diz ainda que as audiências ofício enviado no começo deste ano à Funai, indígena. Os índios Trumai, aliciados pelo
públicas são realizadas apenas nos municípios a Associação Indígena Moygu Comunidade bando, permitiam a exploração de madeiras no
onde o empreendimento será construído e não Ikpeng (Aimci) relata a gravidade da situação interior da reserva. Em troca, eles recebiam
inclui os municípios rio abaixo e rio acima. De na aldeia Ronuro, que, não por coincidência, é carros e dinheiro. (Débora Siqueira, Gazeta
fendeu ainda que as PCHs deveriam ser objeto vizinha à aldeia Terra Nova, dos Trumai, onde de Cuiabá, 17/05/2007)
de um longo monitoramento para que se possa 800 ha de floresta foram desmatados entre
avaliar efetivamente que impactos causaram 2004 e 2005. O administrador regional da fUNAI TENTA lIBERTAR
ou estão causando. E que os rios deveriam ser Funai no PIX, Tamalui Mehinako, esteve nas 6 ÍNDIOS PRESOS PElA Pf
monitorados pelos menos dois anos antes de duas aldeias cujos caciques associaram-se
se iniciar uma construção. Mello afirmou que aos madeireiros dos municípios vizinhos e São seis índios trumai, do PIX, presos semana
já avisou a presidência da Funai do risco de passada na Operação Mapinguari, da PF. Os
a falta de conhecimento da ictiofauna dos rios
está sendo usada para validar esses empreendi um conflito entre índios. O administrador do índios, que na avaliação da Funai são inim
putáveis, ao contrário do parecer do MPF e
mentos e o uso de equipamentos padronizados parque, contudo, afirma que nem dinheiro os
nas pesquisas nos rios não funciona em todos caciques envolvidos no esquema conseguem da Justiça, tiveram a prisão prorrogada por
eles e, por isso, a maioria dos peixes está ganhar. “Todo o lucro fica com os brancos, os mais 15 dias. AJustiça alegou que eles não
ficando fora desses estudos. Outro argumento índios não conseguem nada, apenas se endi colaboraram com as investigações. A Funai vai
propor que prestem novos depoimentos para
utilizado por Mello é que a saída encontrada vidar”. O problema é que a falta de recursos
pelos empreendedores para resolver a questão atinge também a própria Coordenação de serem soltos. Os índios integrariam quadrilha
que extraiu madeira ilegalmente no valor de R$
da reprodução dos peixes, construindo escadas, Fiscalização da Funai. Tamalui diz que desde 28,16 milhões. (OESP, 23/05/2007)
que supostamente facilitariam a subida dos o ano passado aguarda a liberação de verbas
peixes na piracema, tem eficiência discutível para que os fiscais do Xingu possam vistoriar
e custo altíssimo. Os peixes não conseguem os pontos mais vulneráveis da reserva em EMPRESAS RESPONDEM
encontrar a abertura para subir e da mesma condições mínimas de trabalho, o que inclui POR DANOS NO XINGU
forma, não a encontram na descida. Para agra equipamentos de rádio, barcos a motor e com As empresas da região do Xingu, flagradas e
var o quadro, quando as turbinas de uma usina bustível. Enquanto o apoio não chega, novas multadas pelo Ibama em 2006 por agressão
são acionadas, a correnteza do rio torna-se invasões pipocam no PIX. Na semana passada ao meio ambiente, agora vão responder judi
muito mais rápida e o aumento da velocidade Tamalui recebeu em seu escritório em Brasília cialmente pelo dano ambiental na Vara Agrária
faz com que os ovos e larvas que carrega um radiograma de Alupá Kaiabi, coordenador de Altamira e no Juizado Especial Ambiental
não consigam ultrapassar a coluna d´água, de fiscalização alocado no parque, que alerta do Xingu. O Ministério Público Estadual in
levando-os para o fundo e causando a morte para nova denúncia de extração ilegal de ma gressou com 137 ações civis públicas contra
dessas populações de peixes. Sem contar ainda deira na região norte do PIX. (Bruno Weis, os agressores do meio ambiente, requerendo,
que bancos de algas que antes não existiam no ISA, 02/02/2007) entre outras medidas, indenização pelo dano
ambiente começam a proliferar acima e abaixo causado, reflorestamento e outros serviços. Os
das barragens nos rios. Além de alterar o regi
me de águas, a operação das turbinas provoca
Pf PRENDE 35 POR crimes ambientais variam entre os de menor
EXTRAçãO IlEGAl potencial, como pesca predatória, até extração
desmatamento nas margens por conta da ve e transporte ilegal de madeira ou outros como
locidade da água. Um ponto comum levantado Trinta pessoas foram presas em MT e cinco incêndio e retirada de mata nativa, todas ações
pelas lideranças indígenas é a necessidade de em Londrina (PR), ontem, durante a Operação oriundas dos autos de infração realizados pelos
se criar um Comitê de Bacia para o Rio Xingu, Mapinguari, que desbaratou um esquema
fiscais do Ibama na região do Xingu. (Aline
como já existe em outros rios brasileiros desse de extração, transporte e comércio ilegal de Brelaz, OLiberal, 18/03/2008)
porte, para que a discussão sobre a questão madeira no PIX para exportação. Na denúncia
seja mais bem debatida e transparente. Ao do MPF, acatada pelo juiz da 1ª Vara Federal,
final, tanto as lideranças indígenas quanto grileiros, proprietários rurais e arrendatários DEZ SãO PRESOS NO XINGU
pesquisadores deixaram claro que ninguém é de fazendas em torno do PIX promoviam a Dez pessoas foram presas nos últimos dois
contra o desenvolvimento do estado, mas que exploração e providenciavam os recursos dias no município de Feliz Natal na Operação
o planejamento não pode ser equivocado. (Inês financeiros, materiais e humanos para atingir Arco de Fogo, da PF, por desmatamento e
Zanchetta, ISA, 19/10/2008) os objetivos da quadrilha. O suporte técnico transporte ilegal de madeira. As propriedades
era feito pelos servidores do Ibama e Sema, onde os crimes ambientais estavam sendo
encarregados de obter facilidades nos órgãos cometidos ficam dentro do PIX. Os agentes
NOVAS INVASõES MADEIREIRAS públicos, corrompendo os servidores para encontraram uma grande área devastada e
AMEAçAM PAZ ENTRE AlDEIAS regularizarem as terras griladas, além de uma quantidade expressiva de madeira pronta
O PIX segue sendo ameaçado por invasões elaborar e aprovar os projetos de exploração para ser transportada. Cinco caminhoneiros e
de madeireiras clandestinas. Agora é a vez de e manejo florestais fraudulentos. A madeira dois operadores de motosserra foram presos
lideranças Ikpeng pedirem auxílio ao governo extraída do Parque Indígena era comerciali por policiais federais. Entretanto, um dos
616 PARQUE INDÍGENA DO XINGU POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ACONTECEU
responsáveis pela exploração ilegal de recursos para que os povos do Xingu participem da EXONERAçãO DO CHEfE DO DSEI
ambientais continua foragido. (Alecy Alves, gestão de um método de ensino diferenciado e DA fUNASA REVOlTA ÍNDIOS
Diário de Cuiabá, 09/05/2009) de qualidade. (Paula Mendonça/Blog do ISA/
Os índios da aldeia Pavuru, no Xingu, no Mato
Globo Amazônia, 20/08/2010) Grosso, mantêm assembleia extraordinária
EDUCAÇÃO SAÚDE desde quinta-feira (25) com oito funcionários
da Funasa que participavam de um encontro
sobre o plano de trabalho de saúde na aldeia
TERRITóRIO ETNOEDUCACIONAl para os próximos três anos. Os índios detive
SE DElINEA NO PIX XINGU ENfRENTA AVANçO DE ram os servidores ao serem informados que o
Terminou hoje (20), no Posto Pavuru, no DSTS, DIABETES E OBESIDADE chefe do Distrito Sanitário do Xingu, Jamir Alves
Parque Indígena do Xingu, a reunião para É o que diz Douglas Rodrigues, médico sa Ferreira, no cargo desde de 2005, seria exo
pactuação do Território Etnoeducacional do nitarista e coordenador do projeto Xingu da nerado. Isso revoltou os índios, que possuem
Xingu. Trata-se de um plano de ação que está Unifesp. O projeto é responsável pelo atendi uma relação muito boa com ele e não querem
sendo acordado entre os povos indígenas, mento médico de 2.263 índios que vivem nas sua saída, explicou o índio Marcelo Camaiurá,
Funai, Secretaria de Educação do Estado, aldeias do Médio e Baixo Rio Xingu, por meio da Aldeia Pavuru. Camaiurá explicou que não
Ministério da Educação (MEC), Universidade de convênio com a Funasa. Em entrevista, se está mantendo ninguém como refém, mas
do Estado de Mato Grosso e ISA. Assim como Rodrigues relata que o trabalho médico no sim em assembleia extraordinária. A decisão
no Xingu, outros 31 Territórios Etnoeducacio Xingu enfrenta o desafio de estancar o avanço da Funasa descontentou os indígenas porque
nais estão em processo de implantação. Os de “novas” enfermidades na área, como as eles não foram consultados sobre a mudança
chamados Territórios Etnoeducacionais (TEE) DSTs, obesidade, hipertensão e desnutrição (Estadão Online, 27/10/2007)
foram recentemente criados pelo MEC para infantil. As DSTs, inclusive, estão por trás da
reformular a política educacional das mais de mais recente epidemia diagnosticada na região:
2 500 escolas indígenas existentes no Brasil. a de câncer de colo de útero. De acordo com ÍNDIOS OCUPAM ESCRITóRIO
O objetivo é reunir gestores públicos, povos Douglas Rodrigues, o atendimento prestado DA fUNASA EM CANARANA
indígenas, universidades e organizações não pela Unifesp - iniciado em 1965 - faz do Xingu O início de um protesto, organizado pelos ín
governamentais, que atuam em um mesmo uma exceção positiva em relação ao panorama dios do PIX, marcou a manhã de hoje, 18, no
território indígena, para definir as ações, a da saúde indígena no Brasil, mas não consegue escritório da Funasa, em Canarana. Cerca de
destinação do orçamento e os papéis na gestão avançar em ações de prevenção e promoção de 130 indígenas das etnias Kisêdjê, Ikpeng, Ka
– além de propor a formação de uma comissão saúde, e fica “correndo o tempo todo atrás das maiurá, Yudjá e Kaiabi reivindicam melhorias
que acompanhe e fiscalize a execução do plano doenças”. Ele afirma ainda que o convênio da no atendimento dispensado aos povos indíge
pactuado. No caso do PIX, onde habitam 16 universidade com a Funasa também sofre com nas na área da saúde, e querem esclarecimen
povos indígenas, existem 53 escolas municipais atrasos nos repasses de recursos e que a fun tos sobre o fim do convênio entre a Funasa e a
e estaduais com 106 professores indígenas dação ainda não conseguiu adequar o modelo Unifesp, responsável pelo Projeto Xingu. Eles
formados ou em formação, que atendem mais de atendimento às especificidades dos povos também reclamam que os povos indígenas e
de dois mil alunos. Prevê-se que este número indígenas. (Bruno Weis, ISA, 26/06/2006) a Unifesp não foram consultados sobre as
aumentará consideravelmente no futuro. O
atendimento à educação do PIX está distribuído
entre os municípios de Canarana, Querência,
Marcelândia, Feliz Natal, Nova Ubiratã e Gaúcha
do Norte. No entanto, nesta reunião estiveram
presentes apenas dois desses municípios,
Gaúcha do Norte e Canarana, o que confere
um desafio ainda maior para a organização
destes atores em torno do Território Etnoe
ducacional. O plano de ação que foi pactuado
na reunião no Pavuru possibilita a criação das
bases para o desenvolvimento de uma política
educacional no Xingu. Para sua concretização
é necessário o reconhecimento deste Território
Etnoeducacional pelas diferentes instituições
governamentais envolvidas, criando condições
Mairawê
contra
Kaiabi
o fim
coordena
do convênio
o protesto
entrede
a Funasa e a Unifesp.
cinco etnias do PIX
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 617
ACONTECEU
medidas tomadas pelo governo. Há 43 anos, a do”. Para Hélio Ramos, do setor de informações de informar-se sobre problemas que, segundo
equipe da universidade presta atendimento aos da Funasa em Canarana, o principal problema eles, “agridem o meio ambiente” – como o
índios do Parque e é considerada referência na é a burocracia no repasse dos recursos. “Nosso assoreamento dos rios, a retirada ilegal de
assistência à saúde indígena no Brasil. DSEI não é gestor do dinheiro que vem de Bra madeira, desmatamentos e queimadas – e
A continuidade do trabalho da Unifesp ficou sília e esse é um grande problema. As verbas sobre como isso afeta seu modo de vida.
inviabilizada por um decreto assinado em ficam todas centralizadas em Cuiabá e chegam Algumas atividades do evento chegaram a
25 de julho deste ano, pelo Presidente Lula, reduzidas, ou demoram muito para chegar no contar com a presença de até 50 pessoas, entre
que impede a assinatura de convênios com Xingu”. (Sara Nanni/ISA 18/11/2008) jovens, alunos da escola local, lideranças e
entidades dirigidas por servidores públicos velhos, que não deixaram de participar e de
federais. A Funasa então abriu edital em ou dar suas opiniões mesmo enquanto realizavam
tubro último. Escolheu a Associação Nacional
INICIATIVAS tarefas tradicionais, como a confecção de uten
dos Rondonistas, que deverá cuidar do DSEI do SOCIOAMBIENTAIS sílios e artesanato. Essas atividades ocorreram
Xingu. Em notícia publicada no site da Unifesp em vários lugares diferentes: na Mungye, casa
sobre o fim do convênio, o médico Douglas TOP BRASIlEIRA EM DEfESA do centro da aldeia, onde acontecem as reuni
Rodrigues, coordenador do Projeto Xingu, ões e são tomadas as decisões; na casa grande
afirma que uma forma de dar continuidade ao DA ÁGUA DO XINGU do cacique Mayaum, na escola, na roça, no
trabalho seria incluir os recursos atualmente Dois anos depois de sua primeira viagem à caminho da aldeia e nos quintais das casas.
destinados ao projeto no pacote de serviços Amazônia, Gisele Bündchen voltou à região e No encontro, foram abordados o histórico, a
contratados pelo governo junto ao hospital vestiu a camiseta da campanha Y Ikatu Xingu importância para as comunidades indígenas
escola da instituição. – Salve a Água Boa do Xingu. A top brasileira e as principais iniciativas da campanha,
O cacique Mairawê Kaiabi disse que os fun quer avisar ao mundo que as águas da bacia como ações de reflorestamento de nascentes
cionários não poderão sair até que todas as amazônica correm perigo. Como Gisele não e matas ciliares, a implantação de sistemas
indagações dos índios sejam respondidas e que é de emprestar sua beleza, seu nome e seu agroflorestais (SAFs) e a formação de agentes
o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, poder a qualquer causa, conclui-se que o caso socioambientais. Foram apresentadas ainda
seja informado das suas reivindicações. “Há é sério. Esta é a primeira vez que Gisele abraça informações sobre a participação dos vários
uma demora em resolver o problema do Xingu uma causa ambientalista. Amante da natureza, segmentos envolvidos, como os povos Kisêdjê
e a Funasa vem adiando isso. Queremos falar seu interesse real sobre os problemas com o e Yudja, assentados, agricultores familiares,
com o ministro para que ele saiba o que nós meio ambiente surgiu depois de sua primeira produtores rurais, prefeituras e escolas da
estamos precisando, e para discutir com ele o visita ao Alto Xingu, na aldeia Yawalapiti. Agora região das cabeceiras do Xingu.
problema do fim do convênio com a Unifesp. Gisele esteve no Médio Xingu, na região dos A oficina abriu espaço para as próprias práticas
Não queremos que a Unifesp saia do Parque. índios Kisêdjê, de cerca de 300 habitantes, para agrícolas e conservacionistas dos indígenas e
Nós estamos revoltados com isso”. conhecer melhor a situação da água no local. discutiu os principais impactos do desmata
Mairawê enfatizou a necessidade de discutir Por que você está apoiando a campanha mento e das queimadas dentro e fora do PIX.
outros problemas que também afetam a saúde y Ikatu Xingu? Acho que todo mundo tem de Ocorreram explanações teóricas e exercícios
indígena e não têm a ver com o atendimento da se preocupar com a questão das águas para práticos de técnicas agroflorestais que vêm
Unifesp, como a falta de medicamentos e trans que o planeta sobreviva e nossos descendentes sendo usadas nos projetos da campanha. Os
porte dos pacientes doentes para os hospitais e possam ter um futuro decente... O mundo vem participantes coletaram sementes, tiveram in
sofrendo reações muito fortes da natureza e formações sobre novas formas de manuseá-las
a ineficiência no repasse de recursos. O cacique
isso é um sinal de que temos de tomar uma e plantá-las, implantaram SAFs com espécies
informou que o protesto está sendo liderado
pelas mulheres indígenas, que, segundo ele, atitude. Já! Se a gente continuar só abusando nativas e frutíferas, em pequenas áreas expe
dos recursos naturais, sem a preocupação de rimentais em suas roças e quintais. Aprende
são as que mais sofrem com a precariedade preservá-los, vamos acabar nos destruindo. Y
dos serviços de saúde: “Nós, homens, estamos ram, por exemplo, como fazer a “muvuca”,
apenas acompanhando as mulheres aqui, Ikatu Xingu significa “água boa, água limpa”
uma mistura de sementes que é colocada em
na língua kamayurá. A campanha é uma ini
porque são elas que veem os filhos sofrerem uma mesma cova, e tiveram demonstrações
ciativa do ISA e visa à proteção e recuperação
por falta de atendimento”. A ideia do protesto de como evitar a erosão.Já há alguns anos, a
das nascentes e matas ciliares ao redor do rio.
em Canarana teve início no V Encontro de (Lilian Pacce, OESP, 25/05/2006) Escola Indígena Ikpeng, em especial por meio
Mulheres Xinguanas, que reuniu mais de de seus professores Korotowï, Maiua e Iokore,
200 mulheres no Posto Indígena Pavuru, na discute as mudanças no meio ambiente e o
primeira semana de novembro. ‘y IKATU XINGU EJOVENS que isso pode significar para a sobrevivência
Segundo Lauriel Francisco da Silva, chefe de IKPENG REAlIZAM OfICINA futura dos povos indígenas.
administração da Funasa em Canarana, o órgão A campanha ‘Y Ikatu Xingu e o Movimento Participação na campanha “Queremos
está disposto a prorrogar o convênio com a Jovem Ikpeng (MJI) promoveram, entre 5 e 10 discutir e nos informar sobre as causas [dos
Unifesp por mais quatro meses ou até abril do de novembro, uma oficina temática na aldeia impactos ambientais] para poder agir. Não
próximo ano. “Sempre vimos a Unifesp como Moygu, do povo Ikpeng, no Parque Indígena do queremos ficar parados, pelo menos pode
parceira e reconhecemos o seu trabalho. O que Xingu (PIX). A idéia de realizar o evento nasceu mos contribuir para melhorar, sabemos que
está acontecendo é um problema legal porque da preocupação da comunidade, sobretudo dos podemos não acabar com os problemas, mas
a Unifesp é uma instituição de ensino e, pelo jovens, com a preservação de sua cultura e de não queremos ficar parados”, afirmou Txonto
novo decreto, o convênio precisa ser encerra seu território. E também da sua necessidade Ikpeng, uma das lideranças do MJI, que condu
618 PARQUE INDÍGENA DO XINGU POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ACONTECEU
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PARQUE INDÍGENA DO XINGU 619
ACONTECEU
espécies de sementes nativas são misturadas do Cerrado. Para acompanhar esse crescimen crescente demanda por sementes nativas para
e colocadas em maquinários agrícolas para re- to e atender a grande procura por sementes restauração florestal na região. As novas opor
alizar o plantio direto. Essa mistura é chamada nativas para restauração florestal, a rede lançou tunidades e possíveis cenários para o futuro da
de “muvuca” e foi aperfeiçoada pela equipe de seu site oficial dia 4 de outubro. Por meio dele, rede foram discutidos durante o encontro. Mui
restauração florestal do ISA para se adaptar às pessoas de todo o Brasil poderão encomendar tos coletores desenvolvem sua própria técnica
necessidades da região, que abriga vegetação de as sementes nativas do Xingu, mediante um para beneficiar e limpar as sementes. Algumas
cerrado e floresta amazônica. A técnica oferece cadastro de associação à rede e ao pagamento frutas devem ser secas antes, outras devem ser
diversas vantagens, além de ser mais rápida e de taxas de entrega. Devido à demanda atual, passadas na peneira, com água corrente, para
barata em relação ao plantio de mudas. (Fer as próximas encomendas só poderão ser feitas que as sementes sejam separadas. Essas des
nanda Bellei/ISA, 10/12/2010) para entrega em 2011. (ISA, 04/10/2010) cobertas e experiências de cada grupo coletor
foram partilhadas no encontro. “Para limpar
a lobeira, eu tiro ela quando está bem madura
REDE DE SEMENTES REDE DE SEMENTES DO XINGU e mole, depois espremo bem com as mãos e
ESTREIA SITE QUER CONQUISTAR AUTONOMIA em seguida piso nela para separar toda a polpa.
Em 2010 a Rede de Sementes do Xingu come Mais de 40 coletores se encontraram em São Depois disso, lavamos em uma peneira até ficar
mora quatro anos com mais de 300 famílias Félix do Araguaia, (MT), nos dias 25 e 26/09, limpa. Ela deve ser seca na sombra”. Elivaldo
de coletores em 19 municípios e sete aldeias para o 7° Encontro da Rede de Sementes do da Silva Nogueira, de São José do Xingu-MT
indígenas, que complementam sua renda com Xingu. Em seu quarto ano de existência reúne coleta de 15 a 20 espécies do cerrado e da
a coleta, o beneficiamento e a comercialização mais de 300 famílias de coletores e dois desa floresta e garante que a atividade complementa
de mais de 200 espécies nativas da Amazônia e fios: desenvolver sua autonomia e atender à sua renda mensal. (ISA, 28/09/2010)
620 PARQUE INDÍGENA DO XINGU POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Apinajé
Avá-Canoeiro
Awá-Guajá
Canela
Gavião Pykobjê
Guajajara
Guarani Mbya
Ka’apor
Karajá
Karajá do Norte
Krahô
Krahô-Kanela
Krikati
Javaé
Tabajara
Tapirapé
Tapuia
Tembé
Timbira
Xerente
14.
622 GOIÁS / TOCANTINS / MARANHÃO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
GOIÁS / TOCANTINS / MARANHÃO
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº,fonte, ano) Situaçãojurídica Extensão (ha) Município UF
(9.100 ha) Matr. 210 Liv. 2-C fl. 16 em 07/03/88. Reg. CRI no
município de Monção, comarca de Penalva (51.850 ha) Matr.
487 Liv. 2-D fl. 41 em 28/03/83. Reg. SPU Certidão n° 04
em 22/04/83.
5 Araribóia Guajá
Guajajara 5.317/Funasa: 2010 SPU
(413.288 ha) Registrada
Homologada.
Decreto
CRI do
Certidão s/nde
município
98.852Matr.
de
em22/01/1990
1.476
Amarante
12/12/96.
noLiv.
CRIdo Maranhão,
2-Iepublicado
SPU.
fl. 211 em
emcomarca deReg.
19/06/90.
23/01/1990. Reg.
Grajaú 413.288 Bom
Arame
Amarante
SantaJesus
Buriticupu
Luziadodas
Maranhão
Selvas MA
MA
MA
MA
MA
s/n em 19/12/96.
s/l Canoanã Javaé Em identificação.
Portaria 658 de 30/06/2009 publicada em 02/07/2009. - Formoso do Araguaia TO
3 Caru Guajajara
Guajá 136/Funai: 2003 Decreto
Homologada.
87.843
Registrada no CRI eReg.
de 22/11/1982. SPU.CRI no município de 172.667 BomJoão
São Jardim
do Carú MA
MA
Bom Jardim, comarca de Santa Inês (172.667 ha) Matr. 70
Liv. 2-A fl. 73 em 28/03/83. Reg. SPU MA Certidão n° 161
em 22/04/83.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL GOIÁS / TOCANTINS / MARANHÃO 623
GOIÁS / TOCANTINS / MARANHÃO
Terras Indígenas (continuação)
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
23 Funil Xerente 348/Funasa-Palmas: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 15.703 Tocantínia TO
Decreto 269 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg.
CRI no município e comarca de Tocantínia (15.703 ha) Matr.
1.070 Liv. 2-D fl. 25 em 06/01/92. Reg. SPU GO Certidão n°
430 em 04/01/94.
7 Geralda/Toco Preto Guajajara 969/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 18.506 Arame MA
Decreto s/n de 16/05/1994 publicado em 17/05/1994. Reg. CRI Itaipava do Grajaú MA
no município e comarca de Grajaú (18.506 ha) Matr. 6.350 Liv.
2-AH fl. 66 em 22/01/96. Reg. SPU Certidão s/n em 12/12/96.
17 Governador Gavião Pykopjê 655/Funai: 2003 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 41.644 Amarante do Maranhão MA
Guajajara Decreto 88.001 de 28/12/1982 publicado em 29/12/1982. Reg.
Tabajara CRI no município de Amarante do Maranhão, comarca de Grajaú
(41.643 ha) Matr. 376 Liv. 2-D fl. 85 em 28/03/83. Reg. SPU
MA Certidão n° 159 em 22/04/83.
27 Inãwébohona Avá-Canoeiro 186/Funasa-Palmas: 2010 Homologada. Registrada no CRI. 377.114 Lagoa da Confusão TO
Javaé Decreto s/n de 18/04/2006 publicado em 19/04/2006. Reg. CRI Pium TO
Karajá no município da Lagoa da Confusão, comarca de Cristalândia
(249.438 ha) Matr. 1.422 Liv. 2-Ffl. 43 em 18/10/2006. Reg.
CRI no município de Pium em andamento. Ofício n° 347/DAF ao
SPU em 10/04/2007.
11 Kanela Canela Rankokamekra 2.103/Funasa-Palmas: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 125.212 Barra do Corda MA
Canela Decreto 87.960 de 21/12/1982 publicado em 22/12/1982. Reg. Fernando Falcão MA
CRI no município de Barra do Corda, Matr. 7.436 Liv. 2-AC fl. 8
em 23/03/83. Reg. SPU MA Certidão n° 160 em 12/04/83.
35 Karajá de Aruanã I Karajá 213/Funai-Goiás Velho: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 14 Aruanã GO
Decreto s/n de 12/09/2000 publicado em 13/09/2000. Reg.
CRI no município e comarca de Aruanã (14 ha) Matr. 5.591
Liv. 2-AD fl. 155 em 10/05/2001. Reg. SPU Certidão s/n em
09/08/2001.
36 Karajá de Aruanã II Karajá -/Funai-Goiás Velho: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 893 Cocalinho MT
Decreto s/n de 08/09/1998 publicado em 09/09/1998. Reg.
CRI no município de Cocalinho, comarca de Água Boa (893 ha)
Matr. 4.171 Liv. 2-RG fl. 1V em 20/10/98. Reg. SPU Certidão
n° 21 em 22/03/99.
34 Karajá de Aruanã III Karajá 23/Funai-Goiás Velho: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 705 Aruanã GO
Decreto s/n de 12/09/2000 publicado em 13/09/2000. Reg.
CRI no município e comarca de Aruanã (705 ha) Matr. 5.592
Liv. 2-AD fl. 1.156 em 10/05/2001. Reg. SPU Certidão s/n de
07/08/2001.
25 Karajá Santana do Araguaia Karajá 69/Funasa-Palmas: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.485 Santa Maria das Barreiras PA
Decreto 397 de 24/12/1991 publicado em 26/12/1991. Reg.
CRI (1.485 ha) Matr. 826 Liv. 2-Dfl.1 em 10/03/88. Reg. SPU
PA Certidão n° 01 em 08/03/89.
21 Kraolândia Krahô 2.989/Funasa-Palmas: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 302.533 Goiatins TO
Decreto 99.062 de 07/03/1990 publicado em 08/03/1990. Reg. Itacajá TO
CRI no município de Goiatins (169.133 ha) Matr. 1.377 Liv. 2-F
fl. 269 em 19/03/92. Reg. CRI no município de Itacajá (133.400
ha) Matr. 2.150 Liv. 2-Ffl. 100V em 19/03/92. Reg. SPU
Certidão s/n em 02/06/92.
18 Krikati Krikati 1.027/Funasa: 2011 Homologada. Registrada no CRI. 144.775 Amarante do Maranhão MA
Decreto s/n de 27/10/2004 publicado em 28/10/2004. Reg. Lajeado Novo MA
CRI no município e comarca de Amarante (28.947 ha) Matr. Montes Altos MA
2.842 Liv. 2-0 fl. 156 em 17/11/2005. Reg. CRI no município Ribamar Fiquene MA
Lajeado Novo, comarca de Porto Franco (6.229 ha) Matr. Sítio Novo MA
39 Liv. 2-A/1 fl. 94 (Gleba I) em 29/11/2005. Reg. CRI no
município de Lajeado Novo, comarca de Porto Franco (17.478
ha) Matr. 94 Liv. 2-A/1 fl. 95 (Gleba II) em 29/11/2005. Reg.
CRI no município e comarca de Montes Altos (85.156 ha) Matr.
2.804 Liv. 2-P fl. 40 em 09/12/2005. Reg. CRI no município de
Sítio Novo, comarca de Montes Altos (6.966 ha) Matr. 1.756
Liv. 2-L fl. 2 em 16/08/2005. Ofício n°081/DAF ao SPU em
22/02/2006.
8 Lagoa Comprida Guajajara 470/Funai: 2003 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 13.198 Jenipapo dos Vieiras MA
Decreto 313 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg.
CRI no município e comarca de Barra do Corda (13.198 ha)
Matr. 13.092 Liv. 2-AVfl. 9 em 26/11/92. Reg. SPU Certidão
s/n em 19/12/96.
624 GOIÁS / TOCANTINS / MARANHÃO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
GOIÁS / TOCANTINS / MARANHÃO
Terras Indígenas (continuação)
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
24 Maranduba Karajá 38/Funasa-Palmas: 2010 Homologada. Registrada no CRI. 375 Santa Maria das Barreiras PA
Decreto s/n de 19/04/2005 publicado em 20/04/2005. Reg. CRI Araguacema TO
no município e comarca de Araguacema (200 ha) Matr. 4.594
Liv. 2-N fl. 190 em 07/06/2005. Reg. CRI no município de
Santa Maria das Barreiras, comarca de Conceição do Araguaia
(174 ha) Matr. 25.471 Liv. 2-CL em 26/12/2005. Ofício/DAF ao
SPU em 20/03/2006.
16 Morro Branco Guajajara 110/Funai-São Luís: 2000 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 49 Grajaú MA
Decreto 88.610 de 09/08/1983 publicado em 11/08/1983. Reg.
CRI no município e comarca de Grajaú (48 ha) Matr. 3.427 Liv.
2-Qfl. 8 em 27/01/84. Reg. SPU Certidão n° 01 em 29/02/84.
13 Porquinhos Canela Apaniekra 677/Funasa-Palmas: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 79.520 Barra do Corda MA
Canela Decreto 88.599 de 09/08/1983 publicado em 10/08/1983. Fernando Falcão MA
Reg. CRI no município e comarca de Barra do Corda (79.520 ha) Grajaú MA
Matr. 8.081 Liv. 2-AE fl. 66 em 10/04/84. Reg. SPU Certidão
n° 290 em 18/05/84.
12 Porquinhos dos Canela Canela Apaniekra 569/GT-Funai: 2001 Declarada de posse indígena. 221.480 Barra do Corda MA
Apãnjekra área ampliada Canela Portaria 3.508 de 21/10/2009 publicada em 22/10/2009. Fernando Falcão MA
Formosa da Serra Negra MA
Mirador MA
4 Rio Pindaré Guajajara 1.448/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 15.002 Bom Jardim MA
Decreto 87.846 de 22/11/1982 publicado em 24/11/1982.
Reg. CRI no município de Bom Jardim, comarca de Santa Inês
(15.002 ha) Matr. 71 Liv. 2-A fl. 74 em 28/03/83. Reg. SPU
Certidão n° 05 em 22/04/83.
10 Rodeador Guajajara 126/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI. 2.319 Barra do Corda MA
Decreto 88.813 de 04/10/1983. Reg. CRI no município e
comarca de Barra do Corda (2.319 ha) Matr. 7.994 Liv. 2-AD fl.
277 em 26/01/84.
28 São Domingos Karajá 164/Funasa-Palmas: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 5.705 Luciára MT
Decreto 383 de 24/12/1991 publicado em 26/12/1991. Reg. São Félix do Araguaia MT
CRI no município de Luciara, comarca de São Félix do Araguaia
(5.704 ha) Matr. 12.357 Liv. 2-RG fl. 1/2 em 07/11/1997. Reg.
SPU Certidão n° 12 em 26/02/98.
32 Tapirapé/Karajá Karajá 512/Funasa-Palmas: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 66.166 Luciára MT
Tapirapé Decreto 88.194 de 23/03/1983 publicado em 24/03/1983. Reg. Santa Terezinha MT
CRI no município de Santa Terezinha, comarca de São Félix do
Araguaia (66.166 ha) Matr. 3.440 Liv. 2 em 16/07/84. Reg.
SPU-MT Certidão s/n em 08/07/87.
33 Urubu Branco Tapirapé 573/Funasa-Palmas: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 167.533 Confresa MT
Decreto s/n de 08/09/1998 publicado em 09/09/1998. Reg. CRI Porto Alegre do Norte MT
no município de Confresa, comarca de São Félix do Araguaia Santa Terezinha MT
(35.860 ha) Matr. 12.754 Liv. 2-RG fl. 1 em 2/06/99. Reg.
CRI no município de Porto Alegre do Norte, comarca de São
Félix do Araguaia (82.673 ha) Matr. 12.752 Liv. 2-RG fl. 1 em
24/06/99. Reg. CRI no município de Santa Terezinha, comarca
de São Félix do Araguaia (48.998 ha) Matr. 12.753 Liv. 2-RG fl.
1 em 24/06/99. Reg. SPU Certidão n° 10 em 22/11/99.
6 Urucu-Juruá Guajajara 416/Funai: 2003 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 12.697 Grajaú MA
Decreto 382 de 24/12/1991 publicado em 26/12/1991 Reg.
CRI no município e comarca de Grajaú, Matr. 5.664 Liv. 2-AD fl.
126 em 17/02/92. Reg. SPU Certidão s/n em 19/12/96.
26 Utaria Wyhyna/Iròdu Iràna Javaé 116/ Funasa-Palmas: 2010 Declarada de posse indígena. 177.466 Pium TO
Karajá Portaria 3.574 de 03/11/2010 publicada em 04/11/2010.
20 Xambioá Karajá do Norte 297/Funasa-Palmas: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 3.326 Santa Fé do Araguaia TO
Guarani Mbya Decreto s/n de 03/11/1997 publicado em 04/11/1997. Reg.
CRI no município e comarca de Araguaína (3.326 ha) Matr.
221 Liv. 2-RG em 10/03/98. Reg. SPU-GO Certidão n° 460
em 05/05/98.
22 Xerente Xerente 2.693/Funasa-Palmas: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 167.542 Tocantínia TO
Decreto 97.838 de 16/06/1989 publicado em 19/06/1989.
Reg. CRI no município e comarca de Tocantínia (167.542 ha)
Matr. 601 Liv. 2-A fl. 154 em 26/09/85. Reg. SPU GO Certidão
n° 278 em 03/11/1987. Reg. SPU GO Certidão n° 370 em
15/10/1987.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL GOIÁS / TOCANTINS / MARANHÃO 625
AWÁ-GUAJÁ
A VIDA NAS COMUNIDADES AWÁ-GUAJÁ ESTÁ EM na superfície da floresta, mas em outros patamares do cosmos.
RISCO. OCORRE OCUPAÇÃO ILEGAL E PERMANENTE Tal palavra é harakwá, e pode ser traduzida livremente por “local
HÁ DÉCADAS NAS TRÊS TIS QUE COMPÕEM O SEU que conheço”. Até o contato com a Funai, enquanto ainda viviam
TERRITÓRIO TRADICIONAL. IMAGENS RECENTES DE pelas matas dos rios Caru, Pindaré e Gurupi, fugindo dos karaí
SATÉLITE DETECTAM QUE TODA A PORÇÃO LESTE (os não indígenas) e do seu “catarro”, os Awá se organizavam
DA TI AWÁ ESTÁ COMPROMETIDA POR LAVOURAS E em pequenos grupos locais, formados por uma ou mais famílias
POVOADOS QUE AINDA SE ENCONTRAM NA RESERVA nucleares, cada grupo desse vivendo em um harakwá específico.
Cada área podia contar com até uma centena de km², e eram
feitas e refeitas, fundidas ou cindidas, de acordo com novos
O barulho dos tratores, que não param de abrir novas estradas,
casamentos, nascimentos, mortes, conflitos e fugas.
é cada dia mais frequente, e muitas dessas vias ilegais estão a
menos de duas horas de caminhada da aldeia e do Posto Indígena Desde o contato com a Funai, que foi iniciado na década de 1970,
Juruti. Para piorar a situação, a sentença judicial que obrigava os grupos locais que viviam afastados entre si deixaram suas casas
posseiros a se retirarem da área foi suspensa e encaminhada ao na mata e passaram a conviver em uma mesma aldeia, muitas
STF. Além da TI Awá, as áreas Alto Turiaçu e
Caru – também de ocupação dos Awá-Guajá –,
e a Reserva Biológica (Rebio) do Gurupi, estão
ocupadas por fazendas de gado, carvoarias,
lavouras ilegais e, obviamente, madeireiros.
A TI Awá, com 116 582 ha, é formada por uma área considera madeireiros As serrarias de Paragominas, Buriticupu e outros
velmente inferior à identificada e proposta em 1985 (com 232 entrepostos de beneficiamento de madeira estão sendo abaste
000 ha), e muito de sua cobertura vegetal está destruída, sendo cidos por madeiras de árvores extraídas das TI Awá, Caru e Alto
diminuída a cada dia. Em uma estimativa bruta, analisando Turiaçu. O assédio dos madeireiros às TIs aumentou desde 2008,
as imagens de satélite atuais (ver ao lado), podemos estimar quando o Ibama intensificou a repressão ao desmatamento no
que, pelo menos, de 30 a 40% da TI Awá esteja destruída pelo Pará. Durante os meses de verão, a madeira é escoada durante
desmatamento. E é impossível calcular, sem um diagnóstico a noite pelas estradas que ligam pequenos municípios, como
ambiental adequado, as pressões e ameaças na fauna e vegetação, São João do Caru às serrarias de Buriticupu. A empreitada dos
já que diversas espécies de árvores nobres (como o ipê, jatobá, madeireiros é, muitas vezes, contratada por comerciantes atraves
mogno, pequi, pequirana, bacuri e pau-d’arco) são derrubadas sadores dos municípios próximos à TI, devido ao conhecimento
no sistema de “corte seletivo”, quando a floresta aparentemente que possuem sobre a área e os moradores. Na época de chuvas
está intocada, ao mesmo tempo que as espécies de grande valor intensas (entre fevereiro e junho), o trabalho não cessa, pois, se
ambiental, e previamente selecionadas, são retiradas. não conseguem carregar madeiras, muitas árvores são marcadas
para que, assim que se inicie a estiagem, os tratores e caminhões
Os Awá-Guajá da TI Awá (bem como os das outras TIs, além da
retornem. É difícil mensurar a quantidade de estradas ilegais
área da Rebio do Gurupi) convivem hoje em dia com quatro
grandes ameaças: presentes na TI Awá, mas, se levarmos em conta as estradas
vicinais, interligadas às principais, e utilizadas como acesso às
Posseiros Há ao menos uma dezena de povoados dentro da TI áreas de desmatamento, o número pode chegar facilmente a
Awá, sendo o maior deles conhecido como povoado do “Caju”. uma centena, com novas estradas sendo abertas a cada mês.
A decisão judicial de 30 junho de 2009, do Juiz José Carlos Ma Operações esporádicas foram realizadas na área, tais como a
deira, da 5ª Vara Federal em São Luís, que ordenava a retirada Operação Arco de Fogo, de 2009 (um conjunto de operações que
dos posseiros e das instalações da Agropecuária Alto Turiaçu envolveu a Polícia Federal (PF), a Força Nacional, o Ibama, a Funai,
da TI Awá, foi suspensa em 23 de outubro no mesmo ano pelo o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério do Trabalho
presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª região,Jirair e Emprego (MTE), deflagrada em vários estados da Amazônia).
Estrada aberta
TI no
Awá,
interior
para da
escoamento
comunidade
de Juriti,
madeira.na
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL GOIÁS / TOCANTINS / MARANHÃO 629
traficantes Um problema ainda mais grave parece se anunciar. supõem que, em uma região entre as TIs Awá e Caru, haveria
Segundo notícias da imprensa nacional, o Maranhão é hoje o um grupo com cerca de 10 indígenas isolados, cujos vestígios já
maior produtor de maconha do país (sua produção superou a foram encontrados algumas vezes. E, embora não haja evidências
de Pernambuco), e na região noroeste do estado encontram-se mais contundentes, é um caso a se observar.
diversas plantações, inclusive dentro de algumas TIs. Os critérios
para os traficantes instalarem-se nas TIs parecem ser os mesmos A (falta de) política da Funai em relação aos Awá (contatados
e não contatados) é bastante confusa, pois, se por um lado há
que os de outros invasores: uma área de difícil acesso e sem
grupos awá isolados que são monitorados pela Frente de Proteção
fiscalização da Funai, Ibama ou PF, o que facilita em muito as
Etnoambiental Awá-Guajá, da Coordenação Geral de Índios Iso
atividades ilegais. Em outubro de 2009, uma plantação de ma
lados e Recém-Contatados (CGIIRC) da Funai, os Awá aldeados,
conha com 10 km² foi encontrada no interior da TI Alto Turiaçu
muitos dos quais com pouco mais de uma década de contato
contendo 70 000 pés da planta (verAconteceu), incrementando
e embora vinculados (ao menos juridicamente) à CGIIRC, não
as estatísticas da produção de maconha em TIs no Maranhão,
experimentam qualquer tipo de atenção diferenciada, seja na
tal como já fora reportado em 2007 para a TI Araribóia (ver
assistência à saúde (cujas equipes são as mesmas que atendem
Aconteceu), onde se encontram os Awá isolados. As informações
outro povos como os Guajajara), ou territorial (com uma frente de
sobre esse tema ainda são bastante incompletas e difusas, porém proteção permanente tal como ocorre com povos como os Zo’é,
muito pouco está sendo feito para conter a ameaça. Tais planta
cujo contato é tão recente quanto de alguns indivíduos awá-guajá).
ções, que chegam a dezenas de hectares, não são cultivadas para
Os indígenas das aldeias dos PIN Guajá (TI Alto Turiaçu), Awá
um uso “tradicional” das populações indígenas das áreas, mas,
e Tiracambu (TI Caru), por exemplo, estão muito próximos a
segundo as notícias divulgadas na imprensa, estão sob controle
povoados da região, e são instados pelos moradores desses
do narcotráfico.
locais a vender caça e frutos, sem ter a mínima habilidade para
Tanto os madeireiros que invadem a área para marcar e extrair esse tipo de “negócio” e sendo constantemente enganados por
madeira, quanto os posseiros, que a mando de comerciantes ou esses “parceiros” de troca. Se os Awá são considerados pela
pequenos fazendeiros derrubam e queimam a floresta e instalam Funai um grupo de “contato recente” – o que sugere que seja
grandes roças de mandioca, quase sempre são estranhos “sem um coletivo que viva dentro de uma TI, cuja língua e modos de
nome”, pessoas miseráveis e esquecidas; muitas vezes são eles os vida (caça, rituais, dentre outros) são bastante ativos – deve
incriminados pelas autoridades quando encontrados nas TIs. A riam ter a assistência que um grupo como esse requer. A falta
maior ameaça no entanto está em quem de fato está “apertando de uma política específica para os Awá-Guajá faz-nos supor
o gatilho”, isto é, o conjunto de empresários, fazendeiros, polí que os supostos isolados, tão logo sejam contatados, sejam
ticos locais e (agora) traficantes que aliciam tais trabalhadores, entregues à própria sorte, tal como estão as comunidades de
estimulando a invasão das áreas indígenas, e que jamais são contato recente.
autuados e punidos.
mUdanças
isolados, recém-contatados As iniciativas para a melhoria de vida dos Awá passam por pro
e entregUes à PróPria sorte postas relativamente simples. Porém, devem ser executadas com
atenção e completa participação das comunidades awá. Dentre
Segundo informações da Funai, há evidências da existência de
elas, podemos destacar:
um grupo awá isolado na TI Araribóia, área para o usufruto dos
Guajajara, que hoje encontra-se repleta de ilícitos ambientais. No • A agilidade no processo de retirada de todos os posseiros da
caso da TI Araribóia, a atuação dos madeireiros é tão agressiva TI Awá, com o seu devido reassentamento.
que já foram denunciados inúmeros casos de violência contra
• A expulsão e criminalização dos madeireiros e fazendeiros
aldeias guajajara, provocando um clima de terror entre indíge
que ocupam ilegalmente as TIs Alto Turiaçu, Awá, Caru, além
nas, invasores e moradores de municípios próximos à TI, como
da Rebio do Gurupi.
Amarante e Arame (verAconteceu). Uma das consequências mais
terríveis do desmatamento dessa TI é a dispersão dos animais • A elaboração, por parte da Funai, de diagnósticos etnoambien
de caça, a principal fonte alimentar dos Awá não contatados. Os tais sobre as três TIs: Alto Turiaçu, Caru e Awá a fim de mapear
indígenas do Posto Indígena (PIN) Tiracambu (TI Caru) ainda com exata clareza a situação ambiental das áreas, e possibilitar
O “PAIZ TIMBIRA”, DE ACORDO COM A DEFINIÇÃO urbanização das pequenas vilas, a migração de fazendeiros do
DE CURT NIMUENDAJU, OCUPA PARTE DO sul e sudeste e o rápido crescimento da exploração madeireira
QUADRILÁTERO FORMADO PELOS CERRADOS DO clandestina e agravando os desmatamentos. A pressão sobre os
ESTADO DO MARANHÃO (CENTRAL E MERIDIONAL), territórios indígenas tornou-se mais intensa e a disputa por terras,
PARTE DO NORTE DO TOCANTINS E A PONTA acirrada e violenta. Muitas TIs foram regularizadas nesse contexto
DA HILÉIA AMAZÔNICA NO PARÁ desfavorável aos indígenas, contexto cuja tendência inclinava
para o desenvolvimento à custa da exploração não sustentável
dos recursos naturais da Amazônia e do Cerrado.
Atualmente é composto por territórios fragmentados. São sete
Terras Indígenas, algumas regularizadas, outras, em processos de Outros empreendimentos, implantados em passado recente e
regularização. Há reivindicações por áreas que ainda não foram induzidos por políticas públicas de desenvolvimento regional, no
estudadas e o caso dos Krenyê, atualmente habitando na periferia médio Tocantins-Araguaia – a que se articularão com a UHE do
do município de Barra do Corda, no Maranhão. A colonização Estreito (tais como os incentivos fiscais para estabelecimento de
da região e, em especial, as frentes de expansão agropastoris empresas agropecuárias; os Terminais Graneleiros em Imperatriz
procedentes da Bahia e Piauí, no início do século XIX, foram e da Norte-Sul em Porto Franco; a Ferrovia Norte-Sul e os projetos)
determinantes para o atual confinamento territorial dos povos – são também responsáveis pela alta taxa de desmatamento e
Timbira, fragmentando os territórios em pequenas ilhas. devastação do Cerrado.
Os Timbira, como os demais povos indígenas habitantes do Cerra Para os povos Timbira, o aumento da exploração econômica de
do brasileiro, vêm enfrentando o desafio de garantir a integridade sencadeado na região tem acarretado transtornos e problemas em
de seus territórios face à crescente pressão do entorno. Apecuária suas terras, com a passagem de estradas de rodagem estaduais
extensiva de baixa tecnologia, o aproveitamento intensivo dos e federais, ferrovias e linhas de transmissão de energia. Além
solos para produção de grãos e eucalipto e a construção de usinas disso, os povos indígenas na região vêm sofrendo pressões quase
hidrelétricas são as principais ameaças às TI Timbira. Destaque cotidianas, advindas a reboque desse processo, principalmente
para o Projeto Grande Carajás, na década de 1980, e, atualmente, sobre os seus recursos madeireiros e faunísticos. O que coloca
para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). em risco a atualização e a transmissão de conhecimentos para
as novas gerações, um valioso patrimônio cultural.
As políticas públicas que alavancaram os “grandes projetos” na
região – iniciados na década de 1970 com a abertura da Belém A regularização de muitas das TIs timbira ocorreu durante as
Brasília e Transamazônia – Ferro-Carajás, Ferrovia Norte-Sul, décadas de 1970, 1980 e 1990. Foram processos difíceis e longos,
complexo siderúrgico Marabá-Açailândia, induziram a incorpo que nem sempre contemplaram a totalidade das reivindicações
ração das terras públicas às grandes propriedades privadas, tanto dos Timbira. Se o século XIX significou para os povos Timbira a
para seu uso como estabelecimentos agropecuários produtivos, retaliação de seu território pela guerra movida pelas Guarnições
quanto para a especulação imobiliária, acelerando o processo de da Guarda Nacional, o século XX foi marcado por uma aparente
“...OS TIMBIRA VÃO ESTAR SE OLHANDO EVÃO ESTAR teriais e imateriais –, fundada e referenciada em sua relação
PENSANDO JUNTOS DENTRO DESSA COISA QUE A com o Cerrado.
GENTE JÁ CRIOU QUE ESTÁ NO NOME DOS TIMBIRA,
A WYTY CATË...” (Alberto Hapyhi Krahô, coordenação da edUcação
Wyty Catë)
A Comissão de Professores Timbira, composta por 20 profes
sores, foi criada em 1997 como parte do setor de educação da
A Associação Wyty Catë dos Povos Timbira do Maranhão e To Associação Wyty Catë e tem sido a principal articuladora de uma
cantins, fundada em 1996, desenvolve um trabalho integrado política educacional para o povo Timbira. Essa Comissão tem
na garantia da autonomia dos povos Timbira frente à sociedade representantes nos conselhos de educação indígena dos estados
envolvente; do usufruto pleno e sustentável de seus territórios; do Tocantins e Maranhão. Aassociação foi a proponente da Escola
de suas manifestações e expressões culturais; do diálogo entre Timbira e do sistema modular para a formação de 50 jovens no
os diferentes e diversos saberes contemporâneos. Aatuação, que segundo ciclo do ensino fundamental no Centro de Ensino e
conta com a parceria do CTI, tem como fundamento/premissa Pesquisa Timbira Pënxwyj Hëmpejxà. Essa experiência pioneira
a articulação e mobilização da unidade do “Paiz Timbira”, com obrigou as diversas instâncias governamentais responsáveis pela
as suas diferenças linguísticas e sociais, para o desenho de educação indígena, incluindo as Secretarias de Educação do
estratégias conjuntas frente às políticas públicas voltadas para Maranhão e Tocantins, a se articularem além dos limites de suas
os povos indígenas. competências e ajustarem suas políticas próprias para atenderem
A inserção da Wyty Catë no contexto político regional foi ama a uma proposta curricular para os Timbira como um todo. Ex
durecida com o apoio à formação da Mobilização dos Povos periência que se torna referência para a proposta dos territórios
Indígenas do Cerrado (Mopic) que congrega diferentes povos etnoeducacionais do MEC. O trabalho pela unidade timbira no
indígenas que habitam esse bioma e discute sua participação âmbito das políticas públicas setoriais vem se afirmando com a
nas políticas públicas nacionais. criação do Território Etnoeducacional Timbira e com a exigência
de criação do DSEI-Timbira.
Os povos Timbira vêm, por meio da Associação Wyty Catë,
refletindo e trabalhando para a gestão ampla e integrada de
seus territórios, de forma a garantir um pjë impej, “um ter agroindústria
ritório bom, bonito, certo para se viver”; entendendo por isso AAgroindústria FrutaSã representa a atuação da Wyty Catë por
a garantia da integridade do território/meio ambiente, mas um novo modelo de desenvolvimento regional sustentável. Trata
também da expressão das suas manifestações culturais – ma se da coleta e beneficiamento de polpas de frutas do Cerrado por
próprios Timbira. Durante as oficinas todo esse material vem dos desafios comuns, mas principalmente como estratégia de
sendo organizado. manutenção do jeito de ser mehin:
O contato com as fotos e músicas que compõem o Acervo propor “Andar na mata para caçar. Trabalhar na roça e procurar lugar
ciona aos Timbira a atualização de seus conhecimentos e vínculos bom para plantar. Escolher onde existem frutos para coletar.
com as situações cotidianas. Pensam suas semelhanças e dife Procurar onde existe palha e madeira para fazer a casa. Pro
renças, refletem sobre suas identidades. Os povos Timbira atuam curar lugar de diversão nos rios, para pescar. Procurar local de
para o fortalecimento e a difusão de suas manifestações culturais fazer adobe de solo para fazer parede. Procurar os pajés para
e procuram dinamizar suas próprias formas de transmissão de tratamento com a própria medicina. Procurar onde existem
conhecimentos. É no âmbito das performances musicais e rituais moradias de abelhas. Procurar onde pyt (sol) nasce e se põe.
que crianças e jovens adquirem esses saberes, perpetuando sua Fazer amjekin (festa) no ka (pátio). E em outras aldeias tam
transmissão. O trabalho de formação com os jovens é prioritário bém. Fazer dormida no entorno do território. É continuar no
tendo em vista a necessidade de pautá-los na interlocução cada movimento do mehin, com o nosso modo de viver, de acordo
vez mais intensa com o mundo dos cupen (brancos). com o nosso jeito”. Pedro Jawiw Krahô, aluno da Escola Timbira
e do Projeto Mentwajê (fevereiro, 2011)
O histórico das ações da Wyty Catë aponta para o fortalecimento
A versão integral desse texto pode ser encontrada em http://www.trabalhoindigenista.com.br e está
da unidade Timbira como estratégia não só de enfrentamento registrada em nome do autor sob uma licença Creative Commons.
A ILHA DO BANANAL, FORMADA PELOS RIO 1969, que constatou a ausência de aldeamentos pelo contorno
ARAGUAIA E SEU BRAÇO MENOR, O JAVAÉS, É A norte da Ilha ente as atuais aldeias Macauba (Karajá) e Boto Velho
MAIOR ILHA FLUVIAL DO MUNDO. SITUADA EM UMA (Javaé). Ainda uma nova redelimitação do Parque Nacional foi
ZONA DE TRANSIÇÃO ENTRE OS BIOMAS CERRADO realizada em 1981 para abarcar nessa unidade o principal con
E AMAZÔNIA, DESTOA DE OUTRAS PORÇÕES DO tínuo florestal da ilha, a mata do Mamão, pela sua importância e
BRASIL CENTRAL POR TER AMBIENTES SIMILARES ÀS características únicas para conservação da biodiversidade local.
VÁRZEAS AMAZÔNICAS E UM RICO SISTEMA DE Porém, os conflitos entre índios, indigenistas e ambientalistas
LAGOS CONECTADOS SAZONALMENTE PELO CICLO não estavam encerrados na Ilha do Bananal.
DE CHEIA NO MÉDIO ARAGUAIA
O ápice do conflito ocorreu no final do ano 2000 com a ocupação
da sede do Parque Nacional pelos indígenas, que marcou a saída
É nessa ilha, habitada predominantemente pelos povos Karajá e dos gestores da UC no interior da ilha. O estreitamento das rela
Javaé, que em 1876 o engenheiro André Rebouças, maravilhado ções entre os órgãos indigenista e ambiental, bem como o diálogo
pelas belezas cênicas e culturais da região, propôs a criação de
com as comunidades indígenas com objetivo de aproximá-las da
um Parque Nacional. A criação dessa Unidade de Conservação, gestão do PNA, só foram iniciados de fato após o reconhecimento
entretanto, só foi efetuada em 1959, pelo presidente Juscelino formal dos direitos indígenas. Tal reconhecimento teve início com
Kubtischek. Inicialmente o Parque Nacional do Araguaia (PNA) a Portaria nº 359 de 20/04/2001, do Ministério da Justiça, que
compreendia toda a Ilha do Bananal, no atual estado do Tocan garantiu a posse permanente dos índios sobre a área que viria
tins, numa área de aproximadamente 2 milhões de hectares. a ser homologada em 2006 como TI Inãwébohona. A própria
A presença indígena na Ilha e a política de proteção ambiental portaria representou a primeira iniciativa legal de gestão compar
que não admite a presença humana permanente em parques tilhada ao estabelecer em seu art. 2º que “a Funai apresentará
nacionais geraram um conflito de interesses reconhecido por ao Ibama um Plano de Gestão Socioambiental com vistas à
conservacionistas e indigenistas. A solução encontrada no início preservação dos recursos naturais da terra ora declarada e
dos anos 70 pelo grupo de trabalho do então gestor dos Parques respeito aos direitos indígenas dos grupos que nela habitam”.
Nacionais, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal É compreensível que, sem tal garantia jurídica, os gestores do
(IBDF), e a Funai, foi a redelimitação do Parque Nacional para a Parque Nacional, no exercício de suas atribuições legais, tenham
porção norte da Ilha e a criação, ao sul, do Parque Indígena do entrado em conflito direto com o uso e ocupação indígena. O
Araguaia. Um dos critérios adotados para essa divisão da Ilha Estado brasileiro, a partir da portaria do Ministério da Justiça,
do Bananal foi o mapeamento de ocupação indígena no ano de acenou pela manutenção do Parque Nacional por sua peculiari
três crianças tinham entre um ano e um ano Funai em Imperatriz (MA), José Leite Piancó. há mais de Uma década
e meio de idade, e suas mortes ocorreram em (Radiobrás, 16/11/2007) ti KriKati resta Pendente
janeiro de 2008, janeiro e fevereiro de 2010.
O MPF/MA pediu àJustiça Federal que execute
Duas das crianças eram da Aldeia São José e gUajajaraé encontrado a sentença que obrigou a União e a Funai a
a outra, da Aldeia Girassol. Ao apresentarem
problemas de saúde em suas aldeias, elas morto na ti araribóia demarcarem a TI Krikati. No dia 28/04/1998,
foram levadas ao hospital público de Tocantinó O cacique Joaquim Guajajara, da aldeia Nova a Justiça julgou procedentes os pedidos for
polis, onde alguns funcionários não prestaram Providência, foi encontrado morto e com mar mulados pelo MPF/MA. Passados mais de dez
atendimento adequado, o que colaborou para o cas de tiros nesta sexta-feira na Terra Indígena anos, o processo de demarcação ainda não foi
óbito das pacientes. O MPF pede àJustiça que Araribóia. O corpo do índio de 65 anos estava concluído. Recentemente a Funai iniciou os
os requeridos sejam condenados à indenização às margens da rodovia estadual MA-006, que trabalhos de levantamento das benfeitorias
por danos morais às famílias e comunidades corta a área indígena, a 50 km de Arame (MA). existentes no local, mas os trabalhos da comis
das três crianças falecidas, além de pagarem A Polícia Federal já começou a trabalhar para são foram prejudicados por resistência de al
às famílias pensão equivalente a 2/3 do salário identificar as circunstâncias em que o crime guns posseiros que ainda se encontram na área
mínimo a partir da data em que as vítimas ocorreu. A Funai suspeita que a morte esteja indígena. A tensão foi agravada, culminando
completariam 14 anos até a que completariam ligada à disputa com homens brancos por ter com a retenção, pelos indígenas, da comissão
25 e metade do salário mínimo a partir daí, ras e recursos naturais na região. Desde o início técnica constituída para realizar os trabalhos
até a data em que as vítimas completariam 65 do mês, uma força-tarefa com mais de 200 de demarcação. (MPF, 03/06/2008)
anos. (MPF/TO, 03/12/2010) agentes de fiscalização e policiamento com
bate a extração ilegal de madeira, incêndios mPF/ma qUer demarcação da
criminosos e plantações de maconha dentro ti bacUriZinho dos gUajajara
MARANHÃO da TI Araribóia. Segundo a Funai, 64 índios
Guajajara morreram nos últimos 16 anos em O Ministério Público Federal no Maranhão
confrontos com madeireiros ou acidentes de pediu àJustiça Federal que obrigue a Funai e
KriKati ameaçam derrUbar trabalho em atividades de desmate. (Agência a União a concluir os trabalhos de demarcação
torres da eletronorte Brasil, 30/11/2007) da TI Bacurizinho, com a revisão dos limites
O líder indígena Davi Milhomem Krikati, que é pretendidos pela comunidade indígena, além
vereador do município de Montes Altos (MA), do reassentamento dos posseiros não indíos. O
Ka’aPor denUnciam extração MPF quer que aJustiça conceda um prazo de
afirmou que, se o governo não começar logo
os serviços de asfaltamento da rodovia MA-280 ilegal de madeira 180 dias para conclusão dos trabalhos.
(que interliga as cidades de Montes Altos e Sítio Dois índios Ka’apor encaminharam denúncia Desde 2006 tramita na 6ª Vara Federal do
Novo), os krikatis farão uma grande mobiliza ao procurador da República no Maranhão de Maranhão uma ação civil pública proposta
ção e uma fogueira para derrubar as torres extração ilegal de madeira nobre, tendo como contra a Funai e a União, objetivando a con
de transmissão de energia elétrica instaladas entrada a cidade de Maracaçumé e seguindo clusão do procedimento administrativo de
na aldeia São José. A ação afetaria perto de para as localidades Barro Branco, Bom Lugar, revisão dos limites e demarcação da TI e da
50 mil pessoas, que vivem em Montes Altos Quadra 50 e Quadra 60 e localidades vizinhas, demora na conclusão de diversas medidas
por onde dezenas de caminhões carregados de internas necessárias a assegurar a posse e o
e municípios vizinhos. Davi Krikati disse que
muitos veículos da aldeia que transportam os madeira adentram dia e noite na área indígena. usufruto exclusivo da área pelos indígenas do
índios doentes para os postos de saúde e hos 0utro foco está município de Centro do Gui grupo tenetehara-guajajara, que reclamavam
pitais localizados em Montes Altos e Imperatriz lherme, onde madeireiros conseguiram apoio a ampliação das terras, face aos erros na de
estão quebrados, devido ao péssimo estado de e cumplicidade de dois caciques, sob oferta de marcação ocorrida anteriormente.
conservação da rodovia MA-280. (Oswaldo dinheiro e outras vantagens. Há também foco O procedimento administrativo de definição
Viviani, Jornal Pequeno, 02/10/2007) em Santa Luzia do Paruá, com entrada pela al dos novos limites da TI já se encontra em fase
deia Ximborendá. Um quarto foco foi localizado mais avançada, com a publicação, da portaria,
na TI Awá-Guajá. Também nas margens do Rio pelo ministro da Justiça, reconhecendo os
PF qUeima Plantação de Gurupi, a partir da aldeia Sítio Novo, parentes limites e determinando a demarcação do terri
maconha em terra gUajajara de indígenas comercializam madeira. Ainda tório indígena. O que deverá ser feito em prazo
A presença de quase 200 agentes de fiscaliza denunciam um foco de extração de madeira razoável, ou seja, 180 dias. A TI foi ampliada
ção e policiamento em Arame, no Maranhão, nobre na localidade Ebeneza (Zé Doca), onde em 51.608 ha. (MPF, 21/07/2008)
no extremo leste da terra indígena Araribóia, os madeireiros conseguiram apoio de índios
já surte efeitos. Ontem foram apreendidos Ka’apor da aldeia Zé Gurupi. Segundo os de
e queimados por agentes da Polícia Federal nunciantes, a madeira é transportada pratica madeireiras deVastam
1.800 pés de maconha encontrados nas pro mente inteira às serrarias de Zé Doca, de onde reserVas indígenas no ma
ximidades da Aldeia Criuli, onde vivem índios partem para estados do Nordeste. O Ibama e a Cerca de 50 madeireiras funcionamem Bu
da etnia Guajajara. Era um plantio novo, que Funai já teriam sido informados das ocorrên riticupu, município de 60 mil habitantes do
não estava em fase de colheita, e o cacique cias, mas não houve nenhuma iniciativa para oeste maranhense. “O clima em Buriticupu
Manoel Paranan não foi preso, mas será indi resolver a questão. (Assembléia Legislativa do sempre foi hostil. É considerado o faroeste ma
ciado, informou o administrador regional da Estado do Maranhão, 05/03/2008) ranhense. A cidade foi crescendo, desmatando.
É comum eles (os madeireiros) extraírem a ao grupo autodenominado kreniê, oriundo da indígena Canela-Apãnjekra a TI Porquinhos.
madeira deles em qualquer lugar que possam”, aldeia Pedra Branca, bem como aos demais (STJ, 06/05/2010)
declarou um policial que não quis se identi integrantes da etnia dispersos pelo estado, em
ficar. O próprio Ibama local reconhece que especial no Vale do Pindaré. A etnia kreniê, ori gUajajaras Fecham estrada
entre as áreas onde ocorre a extração irregular ginária da região de Bacabal (MA), nunca teve
estão terras indígenas das reservas Guajajara, sua terra demarcada, passando por várias TIs
de Ferro e reiVindicam saúde
Awa-Guajá, Alto Turiaçu e Gurupi. Elas somam como Pindaré, Governador, Rodeador, Geralda O MPF/MA propôs ação civil pública contra
quase 16 mil km2, onde vivem mais de 10 mil Toco Preto e, por fim, nas terras dos Guajajaras, a Funasa e a União para que regularizem os
índios. Segundo o Ibama, pelo menos 60% em Barra do Corda (MA). Entretanto, houve serviços de saúde indígenas, prestados à etnia
da floresta que havia nas terras indígenas um grave conflito entre as duas etnias, com tenetehara/guajajara, que vive na TI Caru. Em
maranhenses já foi transformada em carvão diversas investidas por parte dos guajajaras reivindicação pelas más condições de atendi
ou acabou nas madeireiras. A insegurança na para expulsá-los de sua terra, culminando no mento, os índios chegaram até a bloquear a
região é tanta que até a polícia desistiu de lutar incêndio da aldeia dos kreniês, que tiveram estrada de ferro Carajás. O MPF decidiu propor
contra os madeireiros. No ano passado, depois suas casas completamente queimadas e agora a ação após ter tomado conhecimento da inter
vivem em uma periferia de Barra do Corda, ao dição da estrada de ferro por índios da aldeia
de uma fiscalização em Buriticupu, policiais
tiveram que fugir de pessoas revoltadas. (Glo relento, em um grupo de 76 pessoas das quais Maçaranduba. Eles ameaçavam destruir parte
boamazônia.com, 12/10/2008) 52 são crianças. (MPF/MA, 05/11/2009) da rede ferroviária com a implosão de uma
ponte por onde passam trilhos da Companhia
Vale do Rio Doce caso os serviços aos índios não
gaVião PUKobye libertam awá-gUajá sem contato fossem regularizados. A Funasa enviou ao MPF/
reFéns em amarante do ma continUam ameaçados MA as reivindicações dos indígenas por escrito,
Os índios da etnia Gavião que vivem na aldeia A situação de risco vivida pelos grupos Awá em grande parte relativas à saúde na região.
Riachinho, em Amarante do Maranhão (su Guajá sem contato na terra indígena Araribóia Após auditoria do Ministério da Saúde, o MPF
doeste do estado), libertaram, na manhã de continua. Em novembro deste ano de 2009 foi verificou que as exigências eram procedentes.
ontem, as três pessoas – dois funcionários constatado que os madeireiros abriram uma (MPF/MA, 09/06/2010)
do governo estadual e um do Incra – que estrada clandestina na parte norte da terra
permaneciam como reféns na aldeia. Os indígena Araribóia, rumo a Lagoa Buritizal,
onde é o espaço de caça e coleta dos grupos
BRASÍLIA
reféns foram libertados logo após a chegada
à aldeia Riachinho do caminhão com mate Awá-Guajá, sem contato, que vivem há anos ALDEIA BANANAL
rial destinado à construção de uma escola, nesta terra. A degradação ambiental, provocada
exigência feita pelos índios. A obra começaria pela abertura da estrada e pela retirada ilegal jUstiça imPede
a ser executada ontem. Para atender a reivin de madeira, chega a poucos quilômetros das constrUção da terracaP
dicação dos indígenas, Lourenço Vieira da Silva principais lagoas, que são áreas privilegiadas
de caça e coleta dos isolados. Para o Cimi, o As construções no Setor Noroeste, que deverá
conversou com o secretário de Diversidades
primeiro passo importante foi dado pela Funai, ser um bairro de alto padrão tecnológico, já
do MEC, André Lázaro, e recebeu autorização
para a construção de uma escola maior com quando confirma a existência dos indígenas começaram, mas há ações movidas por grupos
que querem impedir a criação do setor. Um
a modificação do projeto anterior. (Jornal isolados na terra Araribóia. Porém, o passo
mais importante agora é a intensificação dos deles é um grupo de 37 índios das etnias fulniô/
Pequeno, 26/10/2008) tapuia, kariri-xocó, korubo, guajajara, panka
esforços de fiscalização e proteção da terra
indígena Araribóia. (Cimi, 11/02/2010) raru e tuxá, que ocupam uma área pública ao
Polícia encontra maconha e lado do Parque Ecológico de Brasília, entre o
garimPo na alto tUriaçU Carrefour Norte e a W4 Norte. Os indígenas
Policiais do Maranhão descobriram 70 mil pés
garantida a tiPorqUinhos se recusam a deixar o local, que afirmam
de maconha e 32 mil mudas dentro da reserva aos canela-aPãnyeKra ocupar por 30 anos. Por enquanto, eles devem
indígena do Alto Turiaçu, no município de Cen A Primeira Seção do STJ denegou, por una permanecer onde estão graças a uma decisão
tro do Guilherme (MA), deveria ter plantação nimidade, mandado de segurança em que cautelar do MPF.
de mandioca e batata. Mas, além da maconha, municípios pretendiam desconstituir a por O órgão determinou,que a Companhia Imobi
um sobrevoo indicou a existência de um gigan taria de demarcação da TI Porquinhos, dos liária do Distrito Federal (Terracap) não realize
tesco garimpo ilegal. – A região é usada pelos Canela-Apãnjekra, alegando irregularidades. e impeça a realização de quaisquer obras
traficantes por ser de mata fechada, de difícil Os municípios questionaram parcialidade do tendentes a alterar, reduzir, impactar, transferir
acesso, e ser uma área indígena, o que dificulta antropólogo responsável pelo estudo elabora ou restringir o modo de ocupação e a área rei
o acesso da polícia – disse o policial Aluísio do pela Funai. Em outubro de 2000, a Funai vindicada pela Comunidade Indígena Bananal/
Mendes. (O Globo, 22/10/2009) constituiu GT para realizar novos estudos de Santuário dos Pajés. A empresa também não
identificação. O objetivo era adicionar à reserva pode promover qualquer ato que possa intimi
existente na região e demarcada na década dar ou ameaçar a comunidade, nem alienar
Uma terra Para os Kreniê de 1970 uma área de 392.682 ha. Posterior nenhum lote que interfira na área.
O MPF/MA pediu à Funai que inicie, em 90 dias, mente, a Portaria n. 3.508, de 22/10/2009, do Para o MPF, as terras estão registradas em
os trabalhos de demarcação da TI destinada MJ, declarou de posse permanente do grupo nome da Terracap, embora o indígena Santxiê
Tapuya detenha recibo de compra e venda Conduta (TAC), no qual se compromete a não MPF, teve que formar um Grupo de Trabalho
de terreno correspondente a 41.189 metros iniciar qualquer construção no local. Segundo formado por antropólogos, dentre outros
quadrados, datado de 20 de janeiro de 1980, a empresa, estão sendo feitos apenas trabalhos profissionais, para obter uma análise histórica
que já comprova a permanência dos índios há de topografia de medição da área. A Terracap da região.
quase três décadas no local, conhecido como informou que já tentou negociar com os índios O impacto ambiental é um dos mais graves,
Fazenda Bananal ou Chácara Indígena Tapuya. dentro de cinco opções de locais de moradia, pois o santuário se encontra próximo de um
Mas há controvérsia com relação ao tamanho de mesmo tamanho do ocupado, próximos Parque Nacional, sendo assim o santuário é
da área e o tempo de ocupação dela. Para a de onde eles estão, com toda a infraestrutura nada mais do que uma região de amortecimen
Terracap, são apenas 12 hectares e os índios necessária à construção de novas casas, mas a to do parque. Algumas nascentes também são
estariam no local somente há 23 anos. proposta não foi aceita. Para sair da área, eles encontradas, porém a Terracap tenta de forma
O MPF já havia ajuizado na semana passada exigem indenização de R$ 75 milhões. bruta apagar essas evidências com tratores,
ação civil pública contra a Funai, Instituto do O presidente da Terracap, Antonio Gomes, entre outros. O Cerrado nessa região ainda é
Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Dis afirmou que não vai ceder a essa exigência. bem preservado; tem árvores nativas com mais
trito Federal (Ibram), além da Terracap. O obje “Não vou pagar nenhum tostão a eles. Nós de 100 anos. É uma tristeza saber que tudo isso
tivo era garantir a permanência da Comunidade estamos cumprindo o TAC e vamos recorrer está prestes a ser destruído, tudo por conta de
Indígena Bananal em parte da área onde será dessa decisão do MPF. Só estamos oferecendo ganância de alguns empresários.
construído o Setor Habitacional Noroeste, até para eles novas áreas por questões humanís O projeto do Setor Noroeste foi idealizado pelo
que os estudos sobre a tradicionalidade da ticas, não porque eles tenham algum direito arquiteto Lúcio Costa, que por sua vez ficou
ocupação na região sejam concluídos. sobre as terras, que são públicas”, argumen famoso por estar em conjunto com Oscar Nie
Na ação, a procuradora da República, Luciana tou. (Francisco Gomes, Tribuna do Brasil, meyer na construção de Brasília. Porém o que
Loureiro Oliveira, também pede, liminarmen 25/11/2009) poucos sabem é que o Lúcio Costa sugeriu a
te, que a Funai constitua um grupo técnico de criação do Setor Noroeste a partir do momento
identificação e delimitação da Terra Indígena santUário dos Pajés que fosse avaliada a sua situação atual, levando
Bananal e adote medidas administrativas em consideração a cidade de Brasília. Isso foi
para impedir a remoção dos índios, além de não se moVe ignorado de forma absurda pelos interessados,
proteger e assegurar a integridade do território, Com a queda de [José Roberto] Arruda no pois com o Governo Arruda em conjunto com
as práticas culturais, religiosas e ambientais Governo do Distrito Federal, um tema muito Paulo Octávio (ambos fora do poder por conta
desenvolvidas pela comunidade. Os estudos importante foi levantado em pauta com mais da ação da PF), conseguiram obter autoriza
foram iniciados em 2003 e deverão ser finali força. Trata-se do Santuário dos Pajés, locali ção do Ibama para a construção do imóvel
zados em 90 dias. zado no Setor Noroeste. O local é especulado e ofereceram dinheiro para os indígenas se
A licença ambiental emitida pelo Ibama à por empresas imobiliárias para a construção retirarem da região.
Terracap previa que a empresa obtivesse da de um bairro nobre para aproximadamente 40 Estou escrevendo nesse espaço para pedir apoio
Funai um posicionamento definitivo sobre a mil pessoas na cidade de Brasília. A empresa de outras ONGs e movimentos que apoiem essa
situação das famílias indígenas que ocupam a que obteve a solicitação é a Terracap, que por luta para que a especulação imobiliária não
área em questão. Como essa definição nunca sua vez realiza obras para o Governo GDF de destrua mais a nossa natureza e não pise em
foi proferida, a Licença de Instalação 8/2008 Brasília. cima de nossa dignidade. Não iremos ganhar
tornou-se nula e o MPF impôs ao Ibram que A questão fundiária está no Ministério Público, em nada com esse novo bairro. Ao contrário,
notificasse a empresa. pois se trata de uma questão levantada pelos perderemos um cerrado lindo que poderá ser
Para a Terracap, a decisão do MPF não tem povos originários daquela região. A Funai, por o refúgio para o futuro da cidade de Brasília.
nenhum efeito prático, já que a empresa está alguns momentos, não se posicionou como (Luiz Tukano, http://www.indiosonline.org.
cumprindo um Termo de Ajustamento de instituição, porém a partir de uma liminar no br, 23/03/2010)
15.
646 LESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
LESTE DO MATO GROSSO
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
município e comarca de Água Boa (218.515 ha) Matr. 3.562 Liv. 2-RG fl.
1V em 18/10/96. Reg. SPU Certidão n° 71 em 30/01/97.
8 Bakairi Bakairi 606/Seplan MT e Funai: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 61.405 Paranatinga MT
2006 Decreto
município293
de Paranatinga,
de 29/10/1991comarca
publicado
de Cuiabá (61.405 ha)
em 30/10/1991. Reg.
Matr.
CRI29.146
do Planalto da Serra MT
(4.706 ha) Matr. 3.547 Liv. 3-C fl. 162V/3 em 20/08/58. Reg. SPU
Certidão s/n em 18/05/87.
1 Maraiwatsede Xavante 960/Funai-Ribeirão Homologada. Registrada no CRI e SPU. 165.241 Alto Boa Vista MT
Cascalheira: 2010 ha) Matr.s/n
município
Decreto 12.670
dedeAlto
11/12/1998
Boa
Liv. 2-RG
Vista,fl.
publicado
comarca
1v em 04/99.
de
emSão Reg.
14/12/1998.
FélixCRI noReg.
do Araguaia
município
CRI(125.354
no e JesusdodoAraguaia
São Félix
Bom Araguaia MT
MT
comarca de São Félix do Araguaia (39.866 ha) Matr. 12.669 Liv. 2-RG fl.
1/v em 08/04/99. Reg. SPU Certidão n° 83 em 08/09/99.
4 Parabubure Xavante 3.819/Funai-Barra do Garças: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 224.447 Campinápolis MT
2010 Decreto
município306
e comarca
de 29/10/1991
de Novapublicado
Xavantinaem(224.447 ha) Matr.
30/10/1991. Reg.4791
CRI noLiv. 2 em Nova Xavantina MT
10 Grande
Sangradouro/Volta Xavante
Bororo 858/Funai: 2004 Homologada.
Reg.
Decreto
município
CRI249
no Registrada
demunicípio
General
de 29/10/1991
Carneiro
deno
Poxoréu
CRI
publicado
(37.990
e SPU. ha)
(50.650 ha) Liv.40.152
em 30/10/1991.
Matr. 2-AG/RG
Reg.
em fl.
31/08/93.
CRI
93no
em 100.280 General
Novo
Poxoréo
SãoCarneiro
Joaquim MT
MT
MT
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LESTE DO MATO GROSSO 647
LESTE DO MATO GROSSO
Terras Indígenas (continuação)
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº,fonte, ano) Situaçãojurídica Extensão (ha) Município UF
6 Ubawawe Xavante 349/Funai: 2002 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 52.234 Santo Antônio do Leste MT
Decreto s/n de 30/08/2000 publicado em 31/08/2000. Reg. CRI no
município de Novo São Joaquim, comarca de Barra do Garças (52.234 ha)
Matr. 46.114 Liv. 2-RGfl. 46.114 em 21/09/2000. Reg. SPU Certidão n°
01 em 08/03/2001.
648 LESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
XAVANTE
A INFLUÊNCIA DA RENDA NA VIDA DOS XAVANTE junho de 2010). Esse montante pode ser considerado mais
NA TI PARABUBURE DIZ RESPEITO, SOBRETUDO, expressivo quando acrescido dos valores referentes aos outros
ÀS SUAS RELAÇÕES COM O ESTADO BRASILEIRO benefícios sociais (aposentadorias especiais e auxílio maternida
AO LONGO DA HISTÓRIA DE CONTATO. NO de), mais os salários auferidos por professores indígenas, agentes
CONTEXTO ATUAL, O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA de saúde e de saneamento, os quais totalizaram, em dezembro
VEM PROMOVENDO DESLOCAMENTOS NAS RELAÇÕES de 2007, R$ 80.256,00. Assim, mantendo-se os valores dessas
DOS XAVANTE COM O COMÉRCIO REGIONAL, EM QUE rendas para dezembro de 2007 e acrescentando-se o total de
GANHAM DESTAQUE COMO CONSUMIDORES benefícios do PBF recebidos em junho de 2008, obtém-se o valor
de R$ 183.059,00 sendo mensalmente disponibilizados para as
Data do final da década de 1970 a chegada das primeiras apo aldeias da TI Parabubure, cujo destino final é a circulação na
sentadorias rurais nas aldeias xavante. Atualmente, é possível economia dos municípios em que se localiza, notadamente em
encontrar um amplo leque de fontes de renda, oriundas de Campinápolis. Diante da precariedade da atualização do banco
diversas formas de trabalho remunerado, dentre as quais sa de dados sobre povos indígenas por parte da administração pú
lários de professores, agentes de saneamento e de saúde, e/ou blica federal e municipal, existe uma alta probabilidade de que
decorrente de benefícios sociais como aposentadoria rural ou esses números estejam subestimados, devendo-se considerar o
especial, auxílio maternidade e o Programa Bolsa Família (PBF). valor aqui apresentado como o “aporte mínimo” a ser recebido
Ressalte-se aqui a lacuna de pesquisas a respeito de renda oriunda mensalmente pelo conjunto das aldeias de Parabubure.
da comercialização de excedentes de produção nas aldeias. Em tal conjuntura, importa destacar os resultados apresenta
A partir de meados de 2007, a população da TI Parabubure, dos pelo 1° Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos
composta de cerca de 3.770 indígenas (1.866 homens e 1.904 Indígenas, realizado pela Funasa em 2010, segundo o qual os
mulheres), passou a ter acesso aos benefícios sociais do Pro benefícios sociais constituem a principal fonte de renda dos 5.277
grama Bolsa Família. A população foi dividida em 853 famílias, domicílios indígenas visitados em 113 aldeias de todas as regiões
classificadas segundo critérios do Programa, para efeito do do país, representando 63,9% do conjunto da renda, que inclui
recebimento de benefícios financeiros. Estes foram distribuídos trabalho remunerado, venda de produtos da agricultura/pecuária,
pelas 75 aldeias da TI, que mantêm vínculos administrativos e venda de artesanato ou produção cultural, venda de produtos de
comerciais com os municípios de Campinápolis, Água Boa, Nova extrativismo, aposentadorias e outras fontes.
Xavantina e Santo Antonio do Leste.
Os Xavante das aldeias Santa Clara e Campinas, além de conside
Nesse novo contexto, já não se conta apenas com a aposentadoria rarem o acesso à renda como um direito, associam o recebimento
dos mais velhos ou do salário de alguns, mas com rendimentos desta ao Governo Federal, percepção consistente com a pesquisa
que perfazem um total de R$ 102.803,00 mensais (dados de realizada para famílias não índias que são beneficiárias do PBF
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LESTE DO MATO GROSSO 649
de que se trata de Programa Federal que fornece uma “ajuda” às comércio local. Do ponto de vista dos Xavante, o comércio local
famílias que dela necessitam. Na pesquisa Desigualdades, Pobre depende deles e não o inverso, conforme afirma um residente
za e Políticas Sociais do Governo na Opinião dos Brasileiros na aldeia Campinas:
(Vox Populi, 2008), das 2.421 famílias entrevistadas em todas
“Que nada, os comerciantes gostam dos índios. O comerciante
as regiões do país, 65% afirmaram que receber o benefício do
oferece mais ainda pra gente. O índio não segura dinheiro. O
PBF é um direito do pobre. Note-se que a pobreza foi associada
comerciante chama a gente. Vem cá, compra comigo. Cada um
àqueles que não têm como prover a própria alimentação, com
compra onde tem mais conhecimento. Alguns vendem fiado. Tem
a palavra fome sendo associada a essa situação por 46% dos
um mercado onde só índio compra. Campinápolis é o índio que
entrevistados.
está sustentando. Tem muita aposentadoria. Muito funcionário
Em pesquisa realizada pela autora, os Xavante demonstraram ter que recebe e gasta tudo lá, agente indígena de saúde.”
o entendimento de que o Estado precisa prover os que estão em O aporte financeiro trazido ao município pela renda dos Xavante
situação de desvantagem e que essa provisão é de competência tem favorecido a economia local, uma vez que esses sustentam de
do Poder Público Federal. Por ser um direito, a renda deveria modo permanente a movimentação do comércio ao efetuarem
ter valores que respondessem às necessidades daqueles que a suas compras apenas no próprio município com regularidade,
recebem, precisando, assim, de ajustes periódicos. Via de regra, pois as compras acontecem durante o período do mês em que os
tais necessidades referem-se às dificuldades impostas por uma pagamentos são efetuados. Além da classificação de “clientes fiéis”,
nova despesa, que surgiu com a concessão do benefício social: o o fato de que os preços são aumentados quando se trata da venda
frete. Tema recorrente na grande maioria das falas dos Xavante, de mercadorias para os índios é outro fator que favorece o aumento
o frete passa a ser, em termos práticos, fator de redução do valor da arrecadação do comércio local. Tal procedimento foi registrado
do benefício social e de consequente endividamento das aldeias inúmeras vezes quando da realização da presente pesquisa.
junto ao comércio local.
É possível sugerir que está em curso um processo de superação
Considerando que o valor médio mensal recebido por família de certa “desvantagem em ser índio” (segundo visão que ainda
de Parabubure é de cerca de R$ 120,00, os gastos com o frete se tem do índio, no nível local), promovido pela disponibilidade
(que varia entre R$ 20,00 e R$ 50,00) reduz, de maneira signi de recursos financeiros. O papel do índio no contexto local passa
ficativa, o valor pago pelo benefício, trazendo implicações que a ser valorizado pela sua condição de consumidor, e, mais que
afetam diretamente as relações estabelecidas entre os índios e isso, como consumidor correto e que tem liquidez, pois compra
os comerciantes locais. Assim, com essa diminuição do poder e paga a vista, com dinheiro em espécie. Tal status promove uma
de compra, resta apenas recorrer ao endividamento, em que as relativa independência em relação à representação local da Funai,
mercadorias deverão ser pagas no mês seguinte, por ocasião do ao liberar o órgão da incumbência de prover cestas de alimentos
deslocamento das aldeias para a sede do município, quando é em situações de escassez.
realizado o saque do benefício no agente operador da Caixa.
Para os comerciantes locais, o status de consumidor é o que
Importa ressaltar que apenas seis meses após as concessões de importa e afirmam que, infelizmente, os Xavante só comparecem
benefícios do PBF para os Xavante de Parabubure, a PF realizou aos estabelecimentos na época do pagamento dos benefícios, pois
a Operação Aldeia Livre, cumprindo 13 mandados de busca e “é muito melhor vender para os índios, porque eles vêm aqui
apreensão, expedidos pela 3ª Vara Federal da Seção Judiciária de comer e pagam na hora, muito melhor do que muito branco
Mato Grosso, em estabelecimentos cujos responsáveis praticavam que tem por aí”.
a retenção de cartões magnéticos bancários e de documentos
No que diz respeito à utilização dos benefícios do PBF para a
pessoais pertencentes aos índios. Na ocasião, seis comerciantes
aquisição de alimentos, um conjunto de variáveis contribuem para
foram presos e, segundo informado pelo próprio denunciante,
as decisões tomadas pelos Xavante. Tais variáveis dizem respeito
alguns retinham até cem cartões de uma mesma aldeia.
à disponibilidade de recursos naturais que permitam a coleta de
Adependência de fornecimento pelos comerciantes, estabelecida frutos e tubérculos, caça e pesca nas aldeias; localização destas em
por meio de antecipação da entrega de mercadorias, mesmo relação a outras aldeias e aos territórios municipais; existência de
que o cliente não disponha do valor necessário ao pagamento roças familiares e, ao montante já disponível, por aldeia, de outros
das compras, passou a definir as relações dos Xavante com o recursos da seguridade social e de renda do trabalho.
650 LESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Os depoimentos dos Xavante de Santa Clara e Campinas permitem ao recebimento dos benefícios é denominado pelos Xavante como
sugerir que a renda torna-se crucial onde há pouco envolvimento aquele de “muito sofrimento”, sendo o atual caracterizado como
nas atividades de roça, caça, pesca e coleta e onde a proximidade um momento melhor.
com áreas urbanas e de fazendas é maior, desde que o contato
Essa situação, entretanto, não impede que esses índios questio
desses índios com essas áreas sejam mais intensos. As situações
nem a operacionalização da máquina da administração pública,
que indicam maior dependência dos comerciantes e de queixas
bem como a qualidade dos serviços que lhes são prestados.
em relação ao valor do frete também ocorreram com maior
Nesse sentido, apontam a ausência de regras diferenciadas para
frequência em Santa Clara, o que indica não ser a distância,
utilização de cartões magnéticos, demonstrando insatisfação e
propriamente, o fator determinante das situações de endivida
se dizendo desrespeitados diante das dificuldades de transporte
mento: o preço do frete passa a ser fator de maior pressão sobre
das aldeias para a sede do município para recebimento dos
o grupo onde a renda se tornou o meio preponderante para
benefícios. Ainda, acusam a imposição de que as mulheres se
acesso aos alimentos.
desloquem para realização desse saque, uma vez que, segundo
Amaior disponibilidade de renda permite estabelecer contrastes eles, essa prática coloca em xeque os princípios da lógica cultural
temporais bastante marcantes, uma vez que o período anterior xavante. (fevereiro, 2011)
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LESTE DO MATO GROSSO 651
XAVANTE
Impactos da Soja na
TI Maraiwatsede1
HISTORICAMENTE OCUPADA PELOS ÍNDIOS a maioria optou pela criação de gado na TI, porque mesmo com
AKWE-XAVANTE, A ÁREA DA TI MARAIWATSEDE menor rentabilidade do que a soja e o arroz, a pecuária demanda
PERMANECE COM 90% DE SEU TERRITÓRIO OCUPADO menos investimentos e apresenta menores riscos em caso de
ILEGALMENTE POR FAZENDEIROS E POSSEIROS NÃO uma repentina decisão favorável aos indígenas no processo de
INDÍGENAS, MAJORITARIAMENTE CRIADORES DE disputa pela terra.
GADO E PRODUTORES DE SOJA E ARROZ.2 ESSAS
ATIVIDADES SÃO RESPONSÁVEIS POR UM DOS De acordo com a Funai, Ibama e Ministério Público Federal
MAIORES DESMATAMENTOS EM ÁREAS PROTEGIDAS (MPF), há duas grandes áreas de soja na Maraiwatsede: a fazenda
DO ESTADO DO MATO GROSSO: 45% DA MATA Conquista, de propriedade de Claudemir Guareschi (que faleceu
NATIVA DE MARAIWATSEDE JÁ FOI DESTRUÍDA, em um acidente de avião em 18 de julho de 2010), e a fazenda
COMO APONTA O RELATÓRIO 2010 DO PROGRAMA DE Colombo, de Antonio Penasso – conhecido como Branco. Em
MONITORAMENTO DE ÁREAS ESPECIAIS DO SIPAM maio de 2008, Guareschi foi autuado pelo Ibama por “desmatar
a corte raso 4 mil hectares de floresta considerada de preservação
permanente por se tratar de área indígena (TI Maraiwatsede)”.
No mais recente levantamento sobre as ocupações irregulares A área foi embargada e o fazendeiro condenado a pagar mais
na TI Maraiwatsede, a Funai relacionou cerca de 70 fazendas de de R$ 2 milhões em multas. Seu nome também foi incluído na
maior porte, dentre elas propriedades de “personalidades” como lista dos cem maiores desmatadores do Brasil no ano de 2008,
Aldecides Milhomem de Ciqueira, prefeito de Alto da Boa Vista, e divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente.
seu irmão, Antonio Milhomem de Ciqueira; dois ex-prefeitos do Apesar do embargo, as plantações de soja na fazenda Conquista
município, Mario Cesar Barbosa e Deusimar Dias de Oliveira; o
prosseguiram nas safras 2008/2009 e 2009/2010. Em julho de
prefeito de São Félix do Araguaia, Filemon Gomes Costa Limoeiro;
2009, o Ibama voltou a notificar o fazendeiro Claudemir Guareschi,
o vereador de Alto da Boa Vista Raimundo Carlos Alves, e o ex
desta vez por descumprimento de embargo, e em abril de 2010 foi
vereador do município Clarindo Barbosa da Silva.
efetuada a segunda autuação pelo mesmo crime, desta vez com
Parte dos fazendeiros e posseiros que estão na TI vive hoje em apreensão da produção. Antonio Penasso, proprietário da fazenda
uma pequena vila cravada no interior de Maraiwatsede, conhecida Colombo, sofreu duas autuações do Ibama – em outubro de 2008,
como Posto da Mata, onde moram cerca de duas mil pessoas. quando o órgão constatou a prática de ilícito ambiental “consistente
Com pequenos comércios, dois silos de soja e arroz, posto de em impedir a regeneração natural de floresta nativa em uma área
gasolina, duas escolas municipais e uma escola estadual, Posto da de 1.571,20 ha no interior da TI Maraiwatsede”, e em setembro de
Mata simboliza a resistência dos não índios contra a desintrusão, 2004, quando foram embargados 2 mil ha por uso ilegal de fogo
mas não esconde a ciência da complexidade jurídica da situação. (queimada da área). Assim como Guareschi, Penasso, em cuja
Em depoimentos, produtores rurais explicaram que atualmente fazenda deu-se prosseguimento ao cultivo de soja, foi novamente
652 LESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
autuado por descumprimento de embargo, sofrendo adicional De acordo com Paridzane (que tinha 12 anos quando a comunida
mente uma Ação Civil Pública do Ministério Público Federal, e de foi retirada da área em 1966, e se tornou a principal liderança
tendo a produção da fazenda Colombo apreendida. da luta pelo retorno dos Xavante à sua terra), o cultivo de soja
na TI tem sido responsável pela maior parte do desmatamento
IMPACTOS DA SOJA SOBRE A POPULAÇÃO ocorrido nos últimos anos. Por conta disso, os confrontos com o
INDÍGENA DE MARAIWATSEDE fazendeiro Antonio Penasso, o Branco, têm sido constantes. “O
Branco é o que mais desmata aqui. Todos os anos pedimos para
Como apontado anteriormente, a Terra Indígena de Maraiwatsede
ele parar com a destruição, mas ele diz que a mata é dele e vai
é uma das áreas mais atingidas pelo desmatamento no estado do
derrubar. Em 2009, nossos guerreiros foram na área de soja e
Mato Grosso. De acordo com os Xavante, a destruição das matas
tomaram dois tratores do Branco, que estão conosco até hoje”,
tem uma série de impactos sobre a aldeia, tanto em relação aos
diz Paridzane.
hábitos alimentares, quanto a demais atividades produtivas.
Além dos desmatamentos, os Xavante apontam outros problemas
Segundo documentação antropológica do Instituto Socioam
causados pelo cultivo de soja, como a contaminação de rios e
biental (ISA), a dieta básica tradicional dos Xavante consiste em
dos próprios indígenas pelo veneno utilizado nas lavouras do
produtos coletados, como raízes silvestres, castanhas, frutos e
grão. Como a fumigação de veneno na soja é feita por aviões – de
outros vegetais, além de caça e pesca. O cultivo agrícola, sobretudo
acordo com o Ibama, todos os plantios na TI são com variedades
de milho (o alimento de maior destaque em termos cerimoniais
transgênicas –, com o vento o produto químico chega a afetar
e sociocosmológicos xavante), feijão e abóbora, desempenha um
os moradores da aldeia, afirma o cacique Paridzane. Segundo
papel apenas secundário. Com o desmatamento em Maraiwatsede,
Carolina Rewapti, quando as fumigações são iniciadas, nos me
explica o cacique da aldeia, Damião Paridzane, a dieta da popula
ses de janeiro e fevereiro, a população sofre com fortes dores de
ção sofreu fortes perdas, reforçadas pela alternativa do cultivo do
cabeça e barriga, vômito e “diarreia de sangue”. “Mas não é só
arroz como substituto, grão pouco nutritivo para os indígenas.
isso, porque as chuvas dessa época levam o veneno para os rios,
Além do impacto sobre os estoques de caça e pesca, afirmam os e muitas vezes ficamos doentes porque tomamos essa água”,
Xavante, o desflorestamento também afetou gravemente os esto completa ela. Já nos meses secos de julho e agosto, o principal
ques de matérias-primas utilizadas para a construção das casas problema para os Xavante são as queimadas promovidas pelos
(madeira e palhas), de lenha para cozinhar e de outros materiais fazendeiros vizinhos, cuja fumaça escurece os céus noite e dia e
usados para a manufatura de utensílios, como cestarias. Já para traz graves problemas respiratórios para as crianças e os idosos,
as mulheres, explica a professora indígena Carolina Rewapti, o explica a professora Carolina. Em uma recorrida pelas redondezas
maior problema é a escassez
de materiais utilizados na pro
dução dos artesanatos, como
sementes e palhas. “Já não
temos mais o buriti (palmeira
nativa) na nossa área, e as mu
lheres são obrigadas a sair da
terra indígena, buscar as palhas
nas fazendas ao redor. Ficamos
com muito medo de ameaças
dos brancos, de que possamos
sofrer alguma violência”.
Moradias xavante na
TI Maraiwatsede (MT).
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LESTE DO MATO GROSSO 653
Mudanças CliMátiCas, Biodiesel e outras reflexões
depoiMento de Cipassé xavante
Meu nome é Cipassé Xavante, vivo na aldeia Wederã, na TI Pimentel e estão falando que o Cerrado é uma área muito boa... que o biodiesel
Barbosa. é um dinheiro de entrada muito rápido, melhor do que a soja. Está
tendo essa propaganda, está tendo essa maior divulgação entre os
Apesar de estarmos em pleno século XXI, em nome do progresso, e em
empresários, entres os agricultores, entre os políticos, e nós estamos
nome do desenvolvimento, vemos a aceleração do desmatamento e
acompanhando isso.
da queimada, para plantarsoja e fazer pasto para o gado. Soja e gado
no Mato Grosso, junto com as queimadas que fazem os fazendeiros, Mas antes disso acontecer, a pecuária e a soja já fizeram estrago. Já
estão sendo responsáveis pelo desmatamento rápido no estado, e desmataram tanto, tanto... em nome dessas atividades, que agora
depois colocam a culpa no nosso pessoal, os povos indígenas que estão entrando para outras áreas da Amazônia. Estão entrando para
vivem no estado do Mato Grosso. o Pará, Rondônia, Roraima, e isso realmente afeta. Afeta em que
sentido? Nesse ano, o desmatamento chegou tão grande que alguns
Uma das coisas que nós estamos brigando é o negócio do etnozonea
rios que eram permanentes já estão diminuindo, mas poucas pessoas
mento Territorial do Mato Grosso, que a maioria, principalmente os
percebem. O rio das Mortes, que faz o limite com as terras indígenas
empresários, fazendeiros e os próprios deputados estaduais, puseram
dificuldades para que nós não participássemos completamente, Areões e Pimentel Barbosa, antigamente tinha o seu leito grande,
e agora não tem mais. Nem espera chegar agosto, setembro, já em
para que não ficássemos falando o que achamos. Eles conseguiram
julho temos uma ideia de qual o tamanho do leito. O leito é só uns 10
o que queriam, nós não tivemos 100% de participação. Com isso,
metros, enquanto antigamente era 30, 50 metros de fundura. Então
no nível estadual, eles aprovaram o etnozoneamento ao modo deles,
hoje diminuiu. Antes também não tinha muita praia, e hoje tem
que prevê não sei quantos hectares para pecuária e agricultura.
várias. Com a diminuição e o assoreamento de algumas partes do
Agora, no nível federal nós estamos vendo, também, que eles estão
rio, nessa época que começa em junho, apartir de maio, já começa
querendo fazer esse Código Florestal, que também vai fortalecer os
a diminuir o rio e o próprio leito. E essa conversa que o governo
empresários, vai desmatar ainda mais áreas para realizarem esse
está fazendo, incentivando a criação de usinas, minis ou grandes
tipo de atividades.
como Belo Monte lá no Xingu, tanto nos Xavante como também lá
Então, em termos de leis, os políticos estão fazendo tudo para real no rio das Mortes, rio Araguaia, rio Tocantins.
mente assegurar as atividades deles. Além disso - reforçando que já
Onde você vai garantir a chuva para reabastecer essas usinas,
tem o problema da soja e pecuária no Mato Grosso-, o ex-governador,
reabastecer esses tanques, para abastecer o próprio gerador? As
que é um dos maiores produtores de soja e continua como político,
vezes o governo, o grupo de empresários, não tem noção. Eles pen
agora como senador em Brasília, está incentivando junto com o
sam que a chuva vai cair sempre na mesma época, eles não estão
governo federal que haja realmente uma indústria para criar o bio
acompanhando. Eles estão visando mais no nível do lucro. Já houve
combustível, que é uma das coisas que virá arrasar o Cerrado. Porque
mudanças no regime de chuvas. Antigamente era no tempo certo,
as atividades de soja já têm problemas. Não só em plantar a soja,
mas o veneno que é lançado...
pois quando começa a chover
corre veneno nas valas, e vai
para os rios. E com a pecuária
é a mesma coisa... desmatando.
Mas agora, o plantio mecaniza
do de cana (para o biodiesel)
que está sendo implementado
no Cerrado é pior do que essas
outras atividades, pois isso a
gente vê em São Paulo. Mas
agora eles estão querendo criar
essa atividade no Mato Grosso,
654 LESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
da aldeia, foi possível verificar a invasão do fogo “sem controle”
sobre pastagens e roças indígenas. “Este ano, perdemos parte do
nosso arroz porque o fogo dos fazendeiros vizinhos entrou nas
era outubro que começava. Hoje não, hoje a chuva começa tarde; nossas roças”, diz o Xavante Paulo.
dezembro ou janeiro. Ou termina mais cedo... vai até fevereiro e já
acabou, e não vai mais até abril. Então o calendário da natureza
vem sofrendo essas mudanças. AÇÕES DE REPRESSÃO
Não tem só essa mudança – da natureza –, tem também a mudança No final de março de 2010, o Ibama e a Polícia Federal deram
do tempo, que os homens não estão acompanhando, estão desligados, início a uma operação de busca e apreensão de soja cultivada
porque estão vendo só o lucro mesmo. De desenvolvimento mesmo. ilegalmente em áreas embargadas por crimes ambientais nos
Não estão olhando essa preocupação. Por isso que um dos problemas
que o nosso povo indígena está enfrentando lá no Mato Grosso é municípios de Alto da Boa Vista – a chamada Operação Soja
em relação a isso. Pirata –, apreendendo cerca de 15 mil toneladas do grão culti
Na época de verão, de maio até setembro, sete horas já saiu o sol vado nas fazendas de Claudemir Guareschi e Antonio Penasso.
como se fosse um sol de dez horas. Então tem essa mudança! O sol Segundo o Ibama, das 15 mil toneladas de soja apreendidas,
das sete horas era para ser um sol fresquinho, que vai esquentando 2,4 mil toneladas foram produzidas na fazenda Conquista, de
aos poucos; não!... sete horas já está torrando. E quando a gente sai, Claudemir Guareschi, e 2,52 mil toneladas, na fazenda Colombo,
tem que voltar cedo. Pra pescar, pra caçar... . Quando a gente faz
de Antonio Penasso, ambas inseridas na TI e totalizando uma
a festa dos nossos jovens – ritual que a gente dança com os jovens
xavante, e seus padrinhos cantam o dia inteiro –, também não tem área de plantio de 3,6 mil hectares (o equivalente a quase 4 mil
condição. Começava cedo e ia até 17h30, mas agora você tem que campos de futebol).
terminar 14h ou 15h porque o sol não permite; esquenta tanto, e o
calor do sol molha e esquenta a cabeça. Isso também é uma mudança O restante da soja foi apreendido em outras fazendas do Grupo
que afeta a nossa vida como povo, afeta nossas festas; na verdade, Capim Fino, da família de Penasso, também embargadas por
afeta tudo. Afeta a relação com o espaço, com as árvores, com o
crimes ambientais mas não inseridas na TI (o grupo Capim Fino,
ambiente, com o tempo, e com a nossa vida também. Como pessoa,
do qual faz parte a fazenda Colombo, é campeão de autuações
como povo, pois nós fazemos a nossa festa.
do Ibama no Mato Grosso e computa mais de R$ 58 milhões em
A pessoas falam de mudanças climáticas, mas esquecem que aqui
multas por crimes ambientais).
no Brasil essas mudanças já estão acontecendo. Eles pensam que só
está acontecendo na Ásia, na África... Não! A coisa está realmente Toda a soja apreendida foi armazenada em um silo próximo às
acontecendo aqui, e quem está sentindo isso na pele são os povos
indígenas, são outros povos que moram na terra, como comuni
fazendas, pertencente a uma empresa de nome fantasia Company
dades quilombolas, o pessoal sem-terra, os seringueiros que vivem Comércio e Representações Ltda., do empresário e produtor
na floresta. Então, são os povos tradicionais, que vivem direto lá, Valmir de Souza. Souza entrou na Justiça para reaver a produção,
que sentem essas mudanças. E quando a gente relata isso, numas que está sob disputa judicial, mas, segundo o Ibama e o Minis
conferências ou em seminários que a gente participa, as pessoas
tério Público Federal, a soja deve ser leiloada e os dividendos da
não acreditam. Até os próprios pesquisadores não acreditam nisso.
parcela apreendida na Maraiwatsede devem ser revertidos aos
Porque eles só vivem em seminário, só vivem fazendo não sei o quê!
Eles não vão lá, in loco, não vão onde o povo vive para ver essas Xavante. O restante será encaminhado ao programa Fome Zero,
mudanças. Quem tem oportunidade de viver conosco, algumas do governo federal.
pessoas que são pesquisadores, que vão para essas comunidades,
veem essas mudanças. Para assegurar a apreensão da soja e garantir a punição dos
Eu sempre falo que a responsabilidade em relação à vida e ao meio crimes ambientais cometidos na TI Maraiwatsede, o Ministério
ambiente é uma responsabilidade de todo mundo. Não é só uma Público Federal impetrou uma Ação Civil Pública (ACP) junto à
responsabilidade minha, do Cipassé, ou do povo indígena, mas uma Justiça Federal no Mato Grosso, tendo como primeiro réu o fa
responsabilidade do ser humano, como pessoa, como indivíduo, e
zendeiro Antonio Penasso (uma ACP similar deve ser apresentada
como moradores desta Terra, em relação à vida, em relação ao meio
ambiente. E essas mudanças de lei propostas no Mato Grosso e no em breve pelo MPF contra Claudemir Guareschi, a despeito de seu
nível federal, vão afetar e acelerar mais ainda o que já está afetado, falecimento, afirma o procurador Mario Lucio Avelar).
acelerado. Aí que eu vejo que o homem não abre o olho, não abre
o coração para sentir isso. (Entrevista concedida a Tatiane Klein em Na ACP contra Penasso, o MPF solicita que:
dezembro de 2010)
- seja aplicada multa de R$ 1 milhão por crime ambiental come
tido pelo réu (Penasso);
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LESTE DO MATO GROSSO 655
- sejam deferidos liminarmente o arresto e indisponibilidade encontrados documentos que comprovem o arrendamento das
dos bens do réu até o limite de R$ 100.766.429,50 (cem milhões, terras, o empresário não foi envolvido nos processos judiciais,
setecentos e sessenta e seis mil, quatrocentos e vinte e nove reais afirma o Ibama. Sua empresa, a Company Comércio e Repre
e cinquenta centavos), com vista a garantir a efetividade da futura sentações Ltda., no entanto, foi notificada por receptação de soja
sentença condenatória; produzida ilegalmente.
- seja deferida liminar para que, não obstante o embargo da área, Por outro lado, pondera o Ibama, a ligação entre a família
seja imposto ao réu a obrigação de fazer a desocupação imediata Penasso e Souza fica evidenciada pela aquisição da Company
da área degradada e a proteção contra a intervenção de terceiros por uma empresa chamada Lendas Administradora de Bens e
e ocupação por animais que possam comprometer a sua recu Participações, sediada no município de Votuporanga, no estado
peração, bem como impedir qualquer contato da área com fogo, de São Paulo. Além de Souza, são sócios dessa empresa os filhos
sob pena de multa diária, a ser arbitrada pelo juízo; de Antonio Penasso.
656 LESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Grafismo Xavante
Fonte: Desenho de Öwa´u Ruri´õ
ACONTECEU
BORORO/JARUDORI em sua porta, pedindo água. Ao entregar a Executivas de Sinop e Barra do Garças para a
água, foi morto com três tiros à queima-roupa Funai, visando permitir a continuidade de um
pelos homens, que estavam num táxi. Sua dos mais importantes rituais da comunidade
APóS 50 ANOS, A LUTA PELA TI família nunca saiu da terra indígenaJarudóri, Bororo, da Aldeia Córrego Grande, na Terra
JARUDóRI é REINICIADA do povo Bororo, invadida desde os anos 1950 Indígena Tereza Cristina, município de Santo
Expulsos por invasores brancos há 50 anos da e sobre a qual incide uma ação civil pública Antonio do Leverger/MT. A liberação das peles
TI Jarudóri, localizada em Poxoréu, bororos desde julho de 2006. Um grupo Bororo abriu para o ritual da cultura Bororo evitou a caça
iniciaram um movimento para tentar recupe uma nova aldeia na área em junho de 2006, e de onças pintadas. No final do ano passado, a
rar uma área de 4,7 mil ha. A área é ocupada desde então ameaças e tentativas de homicídio Funai formalizou junto ao Ibama o pedido de
por 2,6 mil invasores desde 1958, com o aval vêm acontecendo. (Cimi, 22/03/2007) doação de peles de animais, principalmente
do poder público. A terra foi demarcada pela peles de onça que são utilizadas para realizar
primeira vez em 1912, pelo marechal Rondon. o ritual de vingança do morto, durante os
Em seguida, a União homologou o território.
NOvAS AMEAÇAS AOS BORORO
funerais Bororo. (Ibama, 11/04/2007)
No entanto, o ex-governador de Mato Grosso Os Bororo que vivem na em Jarudóri estão
Pedro Pedrossian distribuiu títulos de terra apreensivos diante das ameaças de invasores,
para posseiros que não pertencem ao Estado. O que prometem destruir a aldeia. A comunidade XAvANTE/SAúDE
procurador da República Mário Lúcio Avelar vai está aguardando que a Funai cumpra a pro
ingressar com uma ação civil pública pedindo messa de fazer uma reunião com a PF na área OAB COBRA DO MPf
para tentar resolver a situação. Segundo a caci
a reintegração de posse. Ele ameaça recorrer à INvESTIGAÇÃO SOBRE MORTES
Corte Internacional para manter as terras em que do grupo, as ameaças começaram há vinte
dias, mas se acentuaram desde 28/01. Das 28 A denúncia de que um índio xavante morre por
poder dos índios – a área demarcada de 100 semana na região de Campinápolis, no Vale do
mil ha foi reduzida para 4,7 mil hectares. “É pessoas que estavam na área, vinte saíram após
as ameaças. (Coiab, 31/01/2008) Araguaia, não chega a ser uma surpresa para a
dever do Estado recuperar as terras dos bororos
Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Gros
e indenizar integralmente os não-índios”, dis
so. Há um ano o fato jávinha sendo denunciado
se. (Nelson Francisco, OESP, 11/07/2006) MORADORES qUEREM pela Comissão de Direitos Sociais. “Na época
INTERvENÇÃO DO ESTADO cobrávamos uma firme investigação por parte
BORORO AfIRMAM vIvER EM A disputa por terra entre índios e não-índios do Ministério Público Federal, mas, ao que pa
CONDIÇÕES CRÍTICAS na região do Jarudore, distrito de Poxoréu, rece, o assunto não interessou” - disse Luciana
preocupa ambos os lados. Representante de Serafim, secretária-geral da OAB e presidente
A Comissão Interinstitucional de Apoio ao Povo
Bororo irá levar ao Ministério Público Federal moradores da vila de Jarudore diz que não da Comissão de Direitos Sociais. Em novem
a situação crítica vivida pelas famílias da etnia índios do local temem possíveis represálias bro, a situação havia chegado ao extremo: nas
que há dois meses retornaram à TI Jarudóri. diante da imagem que vem sendo construída aldeias Água Limpa e Pedra Grande, dos índios
deles, em muitos meios de comunicação, Xavantes, quatro crianças faleceram. Elas
Invadida desde a década de 1950, a área abriga
hoje a sede do distrito de Jarudore, . A Aldeia como “exterminadores” de índios. Para os tinham idade entre oito e quatro anos. Líderes
Nova, aberta em junho por cerca de 32 repre moradores de Jarudore, a solução mais viável indígenas denunciaram que algumas crianças,
para o impasse é a intervenção da Prefeitura acometidas de doenças, neuromusculares ou
sentantes da etnia, foi tema de reportagem
publicada pelo Diário. À ocasião, já era possível de Poxoréu e do Estado na questão. A área em degenerativas, aparentemente, encontram
perceber a falta de infra-estrutura da área de disputa tem 4.706 hectares, registrada como se “sem nenhuma assistência médica” nas
reserva indígena, tendo em seu território a aldeias onde ocorreram as mortes e também
aproximadamente 10 ha escolhida pelos índios
para iniciar a retomada da área original – 4,6 vila de não-índios. Conforme Carlos Ferreira em Sete Rios e São Benedito. “Infelizmente,
Graciano Junior, professor e morador da vila, as denuncias caíram no vazio” – criticou. A
mil ha. O relatório a ser encaminhado ao MPF
a proposta de uma permuta de terras com os desnutrição, segundo a Funai, é responsável
foi produzido a partir de uma visita de campo
índios, que receberiam uma área mais ampla por 80% das mortes dos índios Xavantes, que
da qual participaram representantes da Funa
sa, do CIMI, um antropólogo e um estudante e ainda não antropizada (sem ação do homem) habitam a região. Segundo o coordenador da
em outro lugar, foi feita em uma audiência pú Fundação no Vale do Araguaia, 17 crianças de
da UFMT. A situação relatada é de risco para
blica da Assembléia Legislativa de Mato Grosso, até cinco anos morreram por causa da doença
as oito famílias que permanecem no local.
em 2006, mas não foi adiante. “Não estamos
No documento, a comissão pede a colocação nos últimos 13 meses na Aldeia Marãiwatsede.
falando nada à revelia. Tem de haver um con Edson Silva Beiriz disse que a situação é agra
de placas oficiais de identificação de áreas
senso”, ponderou o professor, lembrando que vada pela falta de assistência da Funasa. (24
indígenas na entrada da área e da aldeia Nova. a proposta nunca foi discutida entre índios e
Entre as reivindicações, estão a instalação de Horas News, 09/02/2007)
não-índios. (24 Horas News, 17/02/2008)
uma bomba d’água e o início de atendimento à
saúde. (Diário de Cuiabá, 15/08/2006) XAvANTE INvADEM A fUNASA
BORORO/TEREZA CRISTINA EM BARRA DO GARÇAS
JOvEM BORORO é Índios Xavantes fecharam nesta manhã a Uni
MORTO NA TI JARUDóRI DOAÇÃO DE PELES A RITUAL dade da Funasa em Barra do Garças. Os índios
Às dez horas da noite de 17 de março, Helenildo BORORO EvITA A CAÇA DE ONÇAS reivindicam a nomeação de um novo chefe da
Bataru Egiri, índio Bororo de 20 anos, atendeu A Superintendência do Ibama no Mato Gros unidade local. O cacique Aniceto Tsudzavéré
alguns homens desconhecidos que bateram so doou peles apreendidas pelas Gerências Xavante no último dia 8, já tinha feito uma
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LESTE DO MATO GROSSO 657
ACONTECEU
declaração com clima de revolta, “a pessoa que Um dos problemas gravíssimos apontados é temos remédios para febre, para disenteria
esta aívai sair por bem ou por mal”, referindo a ausência de medicamentos básicos como nem para hidratação”. Aniceto reclama ainda
se a atual administração na chefia da Funasa, dipirona, paracetamol e antibióticos. Conforme da falta de estrutura da Funasa para transpor
em Barra do Garças. No documento o Cacique denúncias entregues ao MPF, parte das mortes te dos índios doentes, que precisam buscar
cobra das autoridades melhora na qualidade registradas na região teriam sido provocadas atendimento médico a pé ou de bicicleta. Além
de vida do povo Xavante, pede justiça e clama pela falta de transporte. “Muitas vezes o socorro dos problemas já comuns entre os xavantes, o
por socorro. Aniceto Tsudzavéré entende que se demora a chegar até a aldeia e, com isso, o cacique Edmundo Dzuaiwi Omori destaca que
continuar a atual direção vai colocar em sérios paciente chega já em estado grave, onde não a principal preocupação neste momento é a
riscos a etnia Xavante, pois segundo ele, há se tem mais nada o que fazer”, completa o re- prevenção contra a gripe suína. (Procuradoria
uma articulação que divide a tribo colocando latório. O documento de duas páginas também Geral da República, 30/10/2009)
uns contra os outros, podendo com isso “ocor destaca a morte de duas crianças indígenas
rer uma luta entre irmãos”, ressalta Aniceto. ocorridas em fevereiro no caminho da aldeia
(24 Horas News, 31/01/2008) para a cidade” pela demora no atendimento. XAvANTE/ TI SãO MARCOS
(Diário de Cuiabá, 12/04/2009)
AUMENTO DE CASOS DE XAvANTE PEDEM ESCOLA E
DIABETE ENTRE XAvANTE ÍNDIOS fEChAM A fUNASA EM POSTO DE SAÚDE PARA RESERvA
A população xavante em Mato Grosso corre PROTESTO CONTRA MORTES O superintendente de Políticas Indígenas,
risco elevado de epidemia de diabete tipo 2. De Xavantes fecharam o Dsei em Barra do Gar Idevar Sardinha, recebeu nesta quinta-feira a
acordo com um estudo da Unifesp, há mais de ças em protesto pelo aumento da morte de visita de dois representantes da nação Xavante
30 portadores da doença para cada mil índios. crianças e idosos. Representantes da Funasa na reserva São Marcos, localizada próxima a
Essa taxa era praticamente nula há 10 anos. estarão reunidos com as lideranças Xavantes Barra do Garças. A reserva São Marcos é com
posta por 42 aldeias, com aproximadamente
Os testes de glicemia foram feitos na Terra para discutirem as reivindicações. Segundo o
3,5 mil xavantes. O representante da reserva,
Indígena de Sangradouro, a 280 km de Cuiabá. coordenador regional da Funasa, Marco An
Como conseqüência da diabete, índios são tônio Stangherlin, “O Distrito passou por um Eugênio Rupawê, informou que os problemas
vítimas de enfarte e cegueira. O levantamento período difícil, mas esta semana foi entregue da reserva são muitos, principalmente em
foi feito com 1.684 índios, sendo que 382 têm uma remeça de medicamentos. Também relação à saúde e educação. De acordo com
30 anos ou mais. Destes, há 57 casos com Rupawê, existe na reserva a Missão Salesiana,
houve a contratação de novos funcionários”.
provados da doença e 35 pacientes precisam que conta com uma escola e posto de saúde
A aquisição de veículos também foi destacada,
de insulina diariamente. A raiz do problema para atender a demanda de todas as aldeias da
porém, Marco Antônio ressalta que o problema
está na configuração genética dos xavantes. maior não tem sido o tratamento de saúde, mas reserva. Se precisarmos ir até a cidade temos
que pegar emprestado o carro da Missão”,
Durante milênios, a etnia foi dependente do a falta de alimentação. “A Funasa ajuda como
armazenamento de energia no corpo, já que pode, mas não tem essa responsabilidade, diz Rupawê. “Gostaríamos que o Governo do
havia períodos de escassez alimentar. A dieta, muitos índios estão morrendo de fome”. (24 Estado nos ajudasse construindo uma escola
baseada em feijão, inhame, abóbora, milho Horas News, 20/08/2009) e um posto de saúde na reserva e que fosse
e batata-doce, era suficiente. Tanto que, nas cedido um
Segundo veículo para transporte
o superintendente Idevar Sardinha,
de índios”.o
primeiras visitas que fez à região, na década
CENTO E vINTE TRêS XAvANTE Governo do Estado já está trabalhando intensa
de 1980, Vieira Filho comprovou que os índios
eram magros, não havia casos de obesidade, a
MORRERAM ESTE ANO mente para atender as demandas das reservas.
dieta tradicional era cumprida e eles pratica Cento e vinte e três índios xavantes morre Sardinha ressaltou que Mato Grosso já possui
vam atividade física constante, especialmente ram este ano por problemas de saúde e as 12 projetos indígenas formatados e já estão
na roça, fonte de subsistência. Porém, com a lideranças indígenas acusam a Funasa pela sendo aplicados em aldeias do Estado. “A nação
chegada de novos alimentos – especialmente falta de atendimento médico nas aldeias de Xavante, que possui 180 aldeias, cerca de 12
açúcar e refrigerantes –, o número de obesos Mato Grosso. Entre as causas da morte está mil índios, já está sendo beneficiada com esses
cresceu. A solução seria a reeducação alimen a gripe suína que matou um índio na região projetos, a exemplo das aldeias localizadas em
tar, principalmente dos mais jovens. (Roberto de Barra do Garças. Outros 10 xavantes foram Primavera do Leste, Pimentel Barbosa e Santo
Almeida, Diário de Cuiabá, 17/02/2008) internados com sintomas da doença e os ín Antônio do Leste”, ressaltou o superintendente.
dios cobram providências para que o vírus da (24 Horas News, 27/05/2007)
DESCASO E BUROCRACIA Influenza A (H1N1) não se alastre nas aldeias.
A maioria das mortes é relacionada a crianças
MATAM ÍNDIOS EM MT com menos de 4 anos que foram a óbito por XAvANTE/ TI PIMENTEL
A precária situação dos índios xavantes em desnutrição e desidratação. O administrador BARBOSA
Campinápolis já era conhecida pelo DSEI da executivo regional Edson Beiriz, da Funai, des
região, 21 índios morreram até o início deste taca que os xavantes estão abandonados pela AGU ASSEGURA PERMANêNCIA DE
mês. Um memorando da Casa de Apoio à Funasa, sem medicamentos, vivendo a mercê
Saúde Indígena (Casai) de fevereiro de 2009 da sorte. O cacique Aniceto Tsudzawere, da ÍNDIOS EM COCALINhOS
mostra que a situação crítica do local já se aldeia Nossa Senhora do Guadalupe, em Barra AAdvocacia-Geral da União evitou, na Justiça,
arrasta há quase dois anos e até então não havia do Garças, afirma que os índios são enganados o cumprimento de ordem de reintegração de
sido resolvida. O documento ao qual o Diário pela Funasa, que manda poucos medicamentos posse na Fazenda Remanso, localizada no
teve acesso apresenta várias irregularidades. para as aldeias. “As prateleiras ficam vazias, não município de Cocalinho (MT), onde cerca de
658 LESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ACONTECEU
XAvANTE/
TI MARAIwATSEDE
JUSTIÇA DETERMINA
Xavante reocupam, em 2004, a TI Maraiwatsede, que foi homologada em 1998, mas está subjudice. A disputa em torno
REfLORESTAMENTO DE TI de Maraiwatsede remonta à década de 1960. Em 2004, o STF decidiu por unanimidade pelo retorno das famílias
A decisão judicial que devolveu aos Xavante a xavante à área, que estavam acampadas à beira da BR-158 há meses no aguardo da decisão. Em 2007, a Justiça
terra Marãiwatséde, em Mato Grosso, também Federal invalidou os títulos de propriedade de fazendeiros sobre a TI, mas a desintrusão não foi efetivada. Em 2011,
prevê que os atuais ocupantes reflorestem os a polêmica continua com a aprovação de uma lei estadual que troca a TI Maraiwatsede por áreas no PE do Araguaia.
160 mil ha devastados. A área foi usada durante
40 anos para as atividades de agricultura e
pecuária e hoje está “bastante devastada”, os meios possíveis. A hipótese de um conflito, na intenção de resolver o impasse das obras
segundo o coordenador do Programa Xavante segundo ele, não está descartada. (24 Horas que estão paradas no trecho que liga Ribeirão
e administrador da Funai em Goiânia, Edson News, 08/02/2007) Cascalheira a Porto Alegre do Norte. A polêmica
Beirez. “Agora, os índios vão poder retomar está no traçado original da rodovia que passa
suas atividades, como plantar, caçar, fazer os JUSTIÇA ENfIM DEvOLvE dentro da TI Marawatsêde. Dos 130 Km, 51,9
rituais e festas tradicionais. Mas a área está encontram-se dentro da área indígena. Se
bastante devastada pela agricultura e pecuária
MARAIWATSEDE AOS XAvANTE gundo o superintendente do DNIT no estado,
realizadas ao longo desse tempo. Os rios estão TI homologada em 1998, a Maraiwatsede, Rui Barbosa Egual, a reserva foi criada após a
contaminados por defensivos agrícolas. É pre localizada entre os municípios de São Félix do sedimentação do traçado da rodovia, por isso o
ciso fazer um trabalho cuidadoso e de longo Araguaia e Alto da Boa Vista, finalmente voltará conflito. Caso não chegue num consenso, ou
prazo para recuperarmos essa área, para que os a ser de posse permanente do povo xavante. tros dois traçados já foram discutidos. (Raquel
índios possam viver de forma digna”, afirmou Hoje seu território de 165 mil ha é ocupado Ferreira, Gazeta Digital, 15/05/2007)
Beirez (Terra Notícias, 08/02/2007) por fazendeiros, posseiros e assentados de pro
grama de reforma agrária. Um acampamento
indígena permanece ao lado da BR-158, que PRODUÇÃO ILEGAL DE GRÃOS
POSSEIROS PROMETEM REAGIR À corta a TI de Sul a Norte, lembrando quem são NA TI MARAIWATSEDE
ENTRADA DE ÍNDIOS EM TI os verdadeiros donos do território. A invasão, As fazendas vistoriadas, já multadas pelo órgão
A decisão do juiz federalJosé Pires da Cunha, contudo, está com os dias contados. Isso por por efetuarem desmatamentos ilegais na área
da 5ª Vara de Cuiabá, reintegrando a posse da que na semana passada aJustiça Federal no MT Xavante, foram novamente fiscalizadas. Os
Fazenda Suiá-Missú, na região do Vale do Ara decidiu pela retirada da população não-índia agentes do Ibama identificaram o descumpri
guaia, aos índios Xavante, não encerra a disputa da área, dando início ao último capítulo de mento do embargo aplicado anteriormente,
pela posse da terra. Posseiros – na verdade já uma das mais longas novelas sobre o direito de que impedia qualquer novo uso agrícola das
fazendeiros – estão se reunindo para reagir à um povo indígena a seu território tradicional. terras. As áreas haviam sido embargadas para
decisão judicial. Eles não aceitam deixar as ter (Bruno Weis, ISA, 13/02/2007) garantirem a recomposição da floresta derruba
ras que ocupam desde 1992. “Estamos sendo da. Os fiscais encontraram 10 tratores em plena
lesados com essa decisão. Queremos discutir atividade de preparo do solo para plantio. Todo
com as autoridades esse assunto”, disse File
REUNIÃO DISCUTE o maquinário foi apreendido e serão aplicadas
mon Gomes Costa Limoeiro, da Associação dos PAvIMENTAÇÃO DA BR-158 novas multas. Os responsáveis responderão
Produtores Estrela do Araguaia. O grupo deverá Entidades governamentais e indígenas se também criminalmente pelos danos. Os fiscais
deliberar várias decisões e encaminhamentos reúnem nesta terça-feira, no Posto da Mata ainda verificaram que outras seis fazendas
de luta para continuar ocupando as terras. En que fica dentro da reserva indígena Maraiwat localizadas fora da TI Marawatsede, porém
tre elas, eventuais medidas judiciais e ainda de sêde. Participam do encontro representantes limítrofes, estavam cometendo o mesmo crime
caráter mobilizatória. A idéia é recorrer a todos do Incra, Funai, Casa Civil, Sinfra e o DNIT ambiental. Estas fazendas também já haviam
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LESTE DO MATO GROSSO 659
ACONTECEU
sido autuadas pelo Ibama. A estimativa é que, TI Marãiwatséde, ainda abriga mais de seis cionalidade em tal ato. A Constituição Federal
ao final do levantamento efetuado pelo Ibama mil famílias de não índios, entre fazendeiros impede expressamente a remoção de grupos
na Operação Curuá, sejam aplicados cerca de e posseiros e cerca de 900 índios. Hoje, apenas indígenas de suas terras tradicionais”. No dia
R$ 35 milhões em multas, além das demais 15% dos 165 mil hectares de Marãiwatséde 1º de julho, o juiz Julier Sebastião da Silva,
sanções, com embargos de mais de 6 mil são ocupados pelos Xavante, primeiros habi da 1ª Vara daJustiça Federal de Mato Grosso,
ha de área desmatada ilegalmente. (Ascom tantes daquela área. Para o cacique Damião determinou a remoção, em até 20 dias, das
Ibama/MT, 30/07/2009) Paradzane, é chegada a hora de colocar fim seis mil famílias de não índios que vivem na
no conflito que seu povo enfrenta há mais de TI Marãiwatséde. No despacho, o juiz federal
XAvANTEANUNCIAM GUERRA quarenta anos, desde que foi retirado de sua explica que a retirada dos fazendeiros deve
terra em 1966. A polêmica em torno da TI ser feita com reforço da Polícia Federal. No
EM MARÃIWATSEDE Marãiwatséde reacendeu no último dia 27 dia seguinte, o Tribunal Regional Federal da
Índios xavantes prometem guerra caso o TRF de junho, quando foi aprovada e publicada 1º Região (TRF), em Brasília, determinou a
1 decida pela permanência de fazendeiros e no Diário Oficial do Estado de Mato Grosso permanência das famílias de não índios em
posseiros na TI Marãiwatsede. O julgamento a Lei nº 9.564, de autoria do presidente da Marãiwatséde, suspendendo a decisão daJus
do mérito de ação proposta pelo MPF, com Assembleia Legislativa,José Riva (PP), e do de tiça Federal de Mato Grosso. De acordo com a
decisão favorável aos índios naJustiça Federal, putado Adalto de Freitas (PMDB) autorizando decisão do TRF, os produtores vão permanecer
é esperada para o dia 14/08. Dos mais de 165 a permuta da TI, com a Funai, por áreas do no local até que a Funai e o Ministério Público
mil ha da TI, os índios ocupam apenas 30 Parque Estadual do Araguaia. Damião afirma Federal (MPF) apresentem uma solução
mil ha. O local foi tomado após invasão em que o ato demonstra desrespeito do governo viável para a retirada das famílias. Segundo o
2004, depois de permanecerem por 10 meses de Mato Grosso com a sua comunidade. “Não coordenador regional da Funai em Ribeirão
acampados às margens da BR-158. O restante fomos consultados, é uma grande falta de Cascalheira, Denivaldo Roberto da Rocha, o
da Marãiwatsede é ocupada por fazendeiros, respeito. Marãiwatséde é nossa terra original, plano de desintrusão da área, feito em par
posseiros e grileiros, além de 150 famílias não vamos sair daqui, a gente não aceita essa ceria entre Funai, MPF, Ibama e Incra, será
clientes da reforma agrária. Entre os invasores transferência”. O cacique diz ainda que a apresentado até final deste mês. (Fernanda
está um desembargador federal, políticos e tentativa de retirada é uma coisa do século Bellei, ISA,05/07/2011)
donos de cartórios, responsáveis pela falsifica passado. “O governo quer ver morrer mais
ção de títulos para vendas de lotes, que são de índios, como aconteceu em 1966? Naquela
propriedade da União. A TI já foi alvo de várias época morreram mais de 150 índios. Meu XAvANTE/
investigações policiais, sendo a última delas a pai e meus irmãos morreram de sarampo, TISANGRADOURO
operação “Pluma”, da PF, deflagrada no início porque tiveram contato com o branco. Isso
de julho e que resultou na prisão de 6 PMs. é uma coisa do século passado, hoje a gente
não vai mais deixar isso acontecer”. Damião
AGRICULTURA SUSTENTávEL
A PF apontou um esquema de loteamento a
partir de emissão de títulos falsos. Segundo o conta que sua comunidade está organizando DIMINUI DESNUTRIÇÃO
administrador da Funai, xavantes e funcioná uma manifestação em Brasília para reivindi Mandioca, milho, banana, arroz, galinha e
car a saída dos posseiros e fazendeiros da TI. hortaliças. Estes alimentos, que fazem parte
rios do órgão sofrem constantes ameaças de
morte como pressão para cessarem as ações “Eu sou pai de família, um também tenho da cultura alimentar Xavante, há alguns anos
para retirada. Placas colocadas pela Funai que autonomia. Não é só o governador de Mato vem sendo produzidos pelos próprios indíge
indicavam a Marãiwatsede como terra indíge Grosso que tem autonomia. Vamos defender nas. Residentes da Reserva de Sangradouro,
na e a necessidade de preservação ambiental nosso direito até o fim”. localizada no município de Primavera do Leste
O coordenador adjunto do Programa Política (MT), os índios dão exemplo ao combate à
foram pichadas e furadas por tiros. (Ana
Paula Bortolini, A Gazeta, 09/08/2009) e Direito Socioambiental do ISA, Raul Silva desnutrição infantil nas aldeias.
Telles do Valle, explica que a Lei nº 9.564 é in Para o índio Cacildo Tsiramne o principal fator
constitucional. “O artigo 231 da Constituição da melhora nos índices de desnutrição infantil
IBAMA APREENDE SOJA PIRATA Federal diz que é vedada a remoção dos povos é o cultivo do próprio alimento. A caça e os
EM MARÃIWATSEDE indígenas de suas terras, salvo em caso de peixes diminuem cada vez mais. Assim, a cria
O Ibama interrompeu ontem a colheita em catástrofe, epidemia ou interesse da soberania ção de animais e a plantação são alternativas
5,2 mil ha de soja ilegal plantada numa fazen do país, garantido sempre o retorno quando a para a diminuição dos casos de mortalidade
da embargada em BomJesus do Araguaia. Boa situação de emergência passar. Ademais, essa infantil. O projeto de agricultura sustentável
parte dessa área está dentro da TI Maraiwat situação tem que ser atestada pelo Congresso foi criado há alguns anos pelo Governo do
sede. Na ação, parte da Operação Soja Pirata, Nacional, o que não ocorreu nesse caso, já Estado, visando estabelecer relações pacíficas
o Ibama apreendeu cerca de 66 mil sacas e que não há catástrofe, epidemia ou interesse entre produtores rurais e índios na região.
o que ainda permanece no campo, estimado da soberania do país presentes, e a remoção Desenvolvido pela Associação dos Produtores
em 118 mil, que serão doadas ao Fome Zero. seria definitiva”. A publicação da Lei º 9.564 Rurais de Primavera do Leste, o trabalho teve
(Nelson Feitosa, Ibama, 31/03/2010) gerou uma série de manifestações. ONGs e início em 2005. De 2005 a 2008 houve uma
movimentos sociais lançaram uma nota de redução significativa no índice de mortalidade
POvO XAvANTE REIvINDICA repúdio ao texto dos deputados. No dia 29 de infantil. Neste período, a Funasa registrou
junho, a Funai também se pronunciou contra uma queda de 100% nos casos de óbitos de
SAÍDA IMEDIATA DE NÃO ÍNDIOS o ato, informando que “... a Lei estadual não crianças no Polo-Base de Sangradouro, onde
Apesar de ter sido homologada em 1998 obriga a União ou a Funai a qualquer tipo de vivem mais de mil índios da etnia. (Funasa,
para usufruto exclusivo do povo Xavante, a troca, visto que não há interesse nem constitu 29/05/2009)
660 LESTE DO MATO GROSSO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Aranã
Guarani Mbya
Kaxixó
Krenak
Maxakali
Pataxó
Pataxó Hã-Hã-Hãe
Tupinambá
Tupiniquim
Xakriabá
16.
662 LESTE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
LESTE
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
12 Águas Belas Pataxó 300/Funai-Sul da Bahia: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.189 Prado BA
Decreto s/n de 08/09/1998 publicado em 09/09/1998. Reg. CRI na
comarca de Prado, Matr. 13.751 Liv. RG em 11/01/2000. Reg. SPU
Certidão n° 02 em 03/05/2004.
9 Aldeia Velha Pataxó 1.200/Funai-Sul da Bahia: Declarada de posse indígena. 2.001 Porto Seguro BA
2011 Portaria 4.221 de 31/12/2010 publicada em 03/01/2011.
13 Barra Velha Pataxó 2.992/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 8.627 Porto Seguro BA
Decreto 396 de 24/12/1991 publicado em 26/12/1991. Reg. CRI no
município e comarca de Porto Seguro (8.627 ha) Matr.14.548 Liv.2-RG
em 03/02/92. Reg. SPU Certidão n° 60 em 27/09/96.
11 Barra Velha do Monte Pataxó 4.649/Funasa: 2010 Identificada. Aprovada pela Funai. Sujeita a contestações. 52.748 Itabela BA
Pascoal Despacho 04 de 27/02/2008 publicado em 29/02/2008. Itamaraju BA
Porto Seguro BA
Prado BA
19 Caieiras Velhas II Guarani Mbya 35/Funai: 2008 Homologada. Registrada no CRI. 57 Aracruz ES
Tupiniquim Decreto s/n de 19/04/2004 publicado em 20/04/2004. Reg. CRI no
município de Aracruz, comarca de Aracruz (57 ha). Reg. SPU Certidão n°
02 em 29/05/2007.
8 Coroa Vermelha Pataxó 6.000/Funai-Sul da Bahia: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.493 Porto Seguro BA
2011 Decreto s/n de 09/07/1998 publicado em 10/07/1998. Reg. CRI no Santa Cruz Cabrália BA
município e comarca de Porto Seguro (827 ha) Matr. 20.189 Liv. 2-RG
fl. 1 em 10/06/99. Reg. CRI no município de Santa Cruz de Cabrália,
comarca de Porto Seguro (589 ha) Matr. 20.188 Liv. 2-RG fl. 1 em
10/06/99. Reg. CRI no município de Santa Cruz de Cabrália, comarca de
Porto Seguro (77 ha) Matr. 20.287 Liv. 2-RG fl. 1 em 10/06/99. Reg.
SPU Certidão n° 54 em 30/06/99.
1 Fazenda Bahiana (Nova Pataxó Hã-Hã-Hãe 65/Funai: 2003 Homologada. Registrada no CRI. 304 Camamu BA
Vida) Decreto s/n de 11/12/1998 publicado em 14/12/1998. Reg. CRI no
município de Camamu (344 ha) Matr. 1.787 Liv. 2-RG fl. 192 em
04/12/87.
15 Fazenda Guarani Krenak 279/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 3.270 Carmésia MG
Pataxó Decreto 270 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no Dores de Guanhães MG
município de Carmésia, comarca de Ferros (3.165 ha) Matr. 1.169
Liv. 2-L fl. 143 em 24/06/97. Reg. CRI no município de Senhora do
Porto, comarca de Guanhães (104 ha) Matr. 10.770 Liv. 2-RG fl. 1 em
14/08/97. Reg. SPU Certidão n° 01 em 12/02/98.
16 Krenak Krenak 319/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 4.039 Resplendor MG
Decreto s/n de 19/04/2001 publicado em 20/04/2001. Reg. CRI no
município de Resplendor, Matr. 11.559 Liv. 3-M fl. 130V em 23/05/39.
Reg. CRI no município e comarca de Resplendor (4.039 ha) Matr. 10.399
Liv. 2-0 fl. 129 em 28/05/2001. Reg. SPU-MG Certidão n° 220 em
20/03/40. Reg. SPU Certidão n° 01 em 18/12/2001.
7 Mata Medonha Pataxó 360/Funai-Sul da Bahia: 2011 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 549 Santa Cruz Cabrália BA
Decreto s/n de 23/05/1996 publicado em 24/05/1996. Reg. CRI no
município de Sta. Cruz Cabrália, comarca de Porto Seguro (549 ha)
Matr. 18.365 Liv. 2-RG fl. 1 em 16/02/97. Reg. SPU Certidão n° 51
em 29/08/97.
14 Maxakali Maxakali 1.500/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 5.305 Bertópolis MG
Decreto s/n de 02/10/1996 publicado em 04/10/1996. Reg. CRI no Santa Helena de Minas MG
município de Bertópolis, comarca de Águas Formosas (5.305 ha) Matr.
3.427 Liv. 2-K em 17/10/96. Reg. SPU Certidão n° 02 em 27/12/96.
4 Riachão/Luiza do Vale Xakriabá 3/Funai: 1989 Dominial Indígena. Registrada no CRI. 9.709 Rio Pardo de Minas MG
Reg. CRI no município de Rio Pardo de Minas, Matr. 922 Liv. 2A em Serranópolis de Minas MG
19/02/79.
N° Mapa Terra Indígena Povo População (n°, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
sl) Tupinambá de Belmonte Tupinambá 600/ Funai-Sul da Bahia: 2011 Em identificação. - Belmonte BA
Portaria 1.417 de 28/09/2010 publicada em 29/09/2010.
2 Tupinambá de Olivença Tupinambá 4.486/Funasa: 2010 identificada. Aprovada pela Funai. Sujeita a contestações. 47.376 Buerarema BA
Despacho 24 de 17/04/2009 publicado em 20/04/2009. Ilhéus BA
Una BA
5 Xakriabá Xakriabá 5.438/Funasa: 1999 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 46.415 Itacarambi MG
Decreto 94.608 de 14/07/1987. Reg. CRI no município de Itacarambi, São João das Missões MG
comarca de Januária (46.414 ha) Matr. 10.043 Liv. 2-BD fl. 60 em
18/02/88. Reg. SPU Certidão n° 01 em 21/05/96.
6 Xakriabá Rancharia Xakriabá 896/Funasa-São João das Homologada. Registrada no CRI e SPU. 6.798 São João das Missões MG
Missões: 2009 Decreto s/n de 05/05/2003 publicado em 06/05/2003. Reg. CRI no
município de Itacarambi comarca de Januária (113 ha) Matr. 16.173
Liv. 2-CP fl. 135 em 26/09/2003. Reg. CRI no município de São João
das Missões, comarca de Manga (6.684 ha) Matr. 10.939 Liv. 2-RG em
18/05/2004. Reg. SPU Certidão n° 02 em 18/02/2005.
Renovando as Lutas e
Expandindo a Ocupação
NOS ÚLTIMOS ANOS OS XAKRIABÁ INICIARAM UM A mudança entre 2003 e 2004 também acontece em outra di
NOVO CAPÍTULO DE SUA HISTÓRIA, EXPANDINDO reção: Rodrigão era vice-prefeito de São João das Missões desde
SEU TERRITÓRIO E A PRESENÇA EM DIFERENTES a sua emancipação do município de Itacarambi, em 1996. Tal
INSTITUIÇÕES, ASSIM COMO AMPLIANDO SUAS composição política era consonante com o regime de tutela que
REDES SOCIAIS E PARCERIAS COM POPULAÇÕES marcou profundamente a vida dos povos indígenas do Brasil e
TRADICIONAIS DO NORTE DE MINAS E COM OUTROS dos Xakriabá em particular, envolvendo órgãos locais como a
POVOS INDÍGENAS prefeitura, a própria Funai e os serviços por ela agenciados. Em
2004 essa composição se rompe e os Xakriabá se organizam em
Em abril de 2003, a morte de Manuel Gomes de Oliveira, o segmento político partidário autônomo, vencendo as eleições. O
Rodrigão, personagem histórica na conquista definitiva da ho prefeito indígena,José Nunes de Oliveira (irmão do cacique), até
mologação da TI Xakriabá, levou o jovem Domingos Nunes de então era professor e diretor das escolas indígenas xakriabá. Mais
Oliveira à posição de cacique. O processo durou cerca de quatro quatro Xakriabá passam a compor o secretariado e outros se tor
meses de negociação e busca de consensos, implicando a consulta nam vereadores, incluindo o presidente da Câmara Municipal.
de várias autoridades. Aforma como esse povo fez suas escolhas Esse novo quadro de relações com o poder público pode ser lido
em um regime próprio de legitimação produziu os equilíbrios como uma ruptura radical, cuja cena emblemática foi o encontro
necessários para acolher suas diversas componentes em uma realizado por prefeitos dos municípios da região em 2008, no
unidade tão dinâmica quanto multifacetada. qual pela primeira vez o prefeito indígena participou lado a lado
com aqueles que, nas décadas anteriores, tinham sido dos mais
O jovem cacique é expressão de uma realidade demográfica
duros e violentos opressores do povo xakriabá. Na nova configu
contundente: mais de 50% dos Xakriabá tem menos de 19
ração, eram obrigados a tratar o prefeito indígena em igualdade
anos, e cerca de 60% estão abaixo dos 24 anos (dados de 2004
de condições, como um dos legítimos participantes dos pactos
e 2005). O crescimento demográfico sugere a necessidade de
de uma possível política intermunicipal.
expansão em todos os sentidos – e é esse movimento que marca
os últimos anos na vida desse povo. Houve aumento significativo A mudança pode ser lida também como a consolidação de um
dos serviços de saúde e educação, do número de associações percurso, que vinha se anunciando nas entrelinhas dos aconte
xakriabá – atualmente mais de dez – e de sua capacidade de cimentos ao longo da história. Como todos os povos indígenas
aceder a recursos e implementar os tão solicitados projetos em que conquistaram suas terras, também entre os Xakriabá o
diferentes aldeias e em diversos campos de atuação: agroecolo processo foi longo e marcado pela violência. Arrastando-se por
gia, pecuária, proteção ambiental e recuperação de nascentes, mais de vinte anos, os vários episódios de conflito e agressão
cultura e produção artesanal, dentre outros. De 2004, quando chegaram ao ápice em 1987 com o assassinato do líder Rosalino
os primeiros projetos começaram a ser implementados, aos dias (pai de Domingos e José Nunes), ao que se seguiu finalmente
atuais, somam-se mais de 40 iniciativas. a homologação da TI. Em seguida, os Xakriabá passaram, ao
mero aporte de recursos econômicos. Por exemplo, o quadro de Casas de Cultura, que seguem dinâmicas diferentes e demandas
mortalidade puerperal, ainda muito alto entre crianças e com diversas nas aldeias, é uma expressão desse movimento. Está
complicações sérias para a saúde das mulheres, o qual não se em curso uma elaboração mais vigorosa, informada e rica so
resolve no modelo oficial de atendimento à saúde, ainda muito bre diversos elementos da história, e sobre a ancestralidade do
deficitário. Mesmo quando atuante, tal modelo não responde território – com a produção de filmes e vídeos que abordam o
às exigências expressas pelas mulheres xakriabá, que veem no tema por parte dos jovens professores. Entre as iniciativas está o
acolhimento que caracteriza as práticas tradicionais do parto o contato com outros povos indígenas, e em particular com os de
modo mais seguro de enfrentar dificuldades de toda ordem que língua jê-akwén, na tentativa de recuperar os vínculos históricos
podem se apresentar. e linguísticos, abrindo um novo panorama de reconstrução e
reelaboração das referências simbólicas – e, também aqui, “para
Ao lado da proliferação dos objetos industrializados, assiste-se à
dentro e para fora”.
retomada de práticas tradicionais que parecem estar “à flor da
terra, ou à flor da pele”, como a prática da cerâmica. Em pouco Tudo isso faz com que hoje, para as novas gerações, crescer dentro
mais de três anos, o aumento da produção de cerâmica e sua da TI Xakriabá tenha um significado polissêmico, que projeta
vetores nas mais variadas direções – uma complexidade de
crescente e impressionante qualificação demonstram estar ali
desafios que os jovens universitários xakriabá estão começando
presentes, e ainda muito vivos, domínios de experiência e ha
a vislumbrar. No plano horizontal da existência, está em curso
bilidades que não tinham mais visibilidade externa ou registro
o processo de revisão dos atuais limites da TI. Mas também em
observável.
sentido vertical, está em curso o processo de entrada e busca
Projetos culturais se somam à ação de alguns dos professores de profunda em territórios transcendentes que, ainda hoje, escapam
arte e dos chamados “professores de cultura”. A construção de ao acesso dos pesquisadores. (março, 2011)
Os Mundos Maxakali
VISÕES PARADOXAIS SOBRE OS MAXAKALI: Fome Zero e desenvolvimento sustentável em terras indígenas”,
MONOLINGUISMO, TRADIÇÃO MUSICAL E POÉTICA, implementado pelo MDS/MMA; Fornecimento de Cestas Básicas
VIDA RITUAL E XAMÂNICA EXUBERANTE VERSUS pelo MDS; “Programa Formação de Professores Indígenas - PIEI/
UM QUADRO SOMBRIO DE VIOLÊNCIA, ALCOOLISMO MG”, nível 2º. Grau, da SEE de MG; o curso de 3º. Grau “Formação
E MISÉRIA, CONSIDERADOS PELOS ÓRGÃOS QUE Intercultural de Professores - Licenciatura Indígena - FIEI/MG” da
ATUAM EM SEU TERRITÓRIO E PELA VIZINHANÇA Faculdade de Educação/ UFMG; “Curso de Português paraJovens
COMO “ÍNDIOS PROBLEMA” e Adultos”, das SME de Santa Helena de Minas e de Bertópolis; o
“Programa de Combate a Desnutrição Infantil”, através do Vigisus;
Projeto de Piscicultura, em parceria com a Funai; projeto de
Distribuídos por quatro TIs1 no vale do Mucuri em Minas Gerais,
preservação ambiental e reflorestamento “Queremos a Mata de
confinados a uma área reduzida e exaurida, os Maxacali têm sido
volta” da Universidade de Lavras, em parceria com o Cimi e apoio
descritos na literatura e nos meios indigenistas a partir de dois
do IEF; “Programa de combate ao Alcoolismo” da Universidade de
relatos que para nós se apresentam como paradoxais. O primeiro
Uberlândia; “Programa de Assistência aos Maxakali” da Missão
relato evidencia a sua “resistência cultural”, uma recusa obstinada
Novas Tribos, entre outros. Ainda se encontram em andamento
a se inserirem na lógica da produção dentro dos moldes capita
diversas pesquisas nas áreas de antropologia, etnomusicologia,
listas, o monolinguismo, a exuberante vida ritual e xamânica que
linguística, biologia, epidemiologia e odontologia.
conserva um profundo conhecimento sobre um meio ambiente
devastado, a partir da sua tradição musical e poética. Por outro Este cenário de ativismo inflacionário, superaquecido nas duas
lado, é estampado na imprensa e nos meios indigenistas um qua últimas décadas pelo excesso de estímulos e intervenções, tem
dro bem mais sombrio de violência, alcoolismo e miséria, sendo como resultado uma superexposição dos Maxakali. Em proporção
considerados pelos órgãos que atuam em seu território e pela direta ao assédio sofrido pela atual avalanche de ações e inter
população das cidades vizinhas “índios problema”, “violentos” venções, tem ocorrido um desequilíbrio na delicada homeostase
e “perigosos”. Tornaram-se, portanto, alvo de inúmeros projetos entre a sociedade maxakali e a sociedade nacional. Desequilíbrio
de cunho salvacionista, e a iminente “desaparição dos Maxakali” esse que se evidencia no acirramento dos conflitos internos e no
tem sido o combustível para a implementação de inúmeros pro aumento do consumo alcoólico, aprofundando o quadro de des
jetos que pretendem resolver o “problema Maxakali” - apesar do nutrição e catalisando a violência e os homicídios intragrupo.
evidente crescimento demográfico (em 1999 contavam com uma
A partir de 1997, escolas foram implantadas nas aldeias pela Se
população de 800 pessoas, em 2010 o contingente populacional
cretaria de Estado de Educação (SEE/MG), através de um programa
atinge 1.500 pessoas - Funasa).
multi-institucional conduzido em parceria com o grupo, fazendo da
Além da Funai e da Funasa, que atuam permanentemente na área cultura maxakali o eixo gerador a partir do qual a sua própria esco
com seus próprios programas de “recuperação” dos Maxakali, ou larização se constituiu. O ensino do xamanismo foi introduzido no
tros programas governamentais de ONGs e Universidades também contexto escolar ministrado por seus especialistas – os xamãs mais
atuam entre o grupo. Entre eles: a “Carteira Indígena - Projeto prestigiados – e passou progressivamente a ocupar a maior parte
NO PERÍODO ENTRE 2005 E 2010, A VIDA DOS com o cultivo e produção de derivados da mandioca; d) a Área
TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA ESTEVE MUITO MARCADA de Montanhas, que abrange uma extensão pequena chamada
PELA EXPERIÊNCIA DE LUTA PARA A DEMARCAÇÃO área cacaueira.
DE SUAS TERRAS
Dentre os eventos mais intensos que marcaram a vivência dessa
primeira etapa do processo de demarcação da TI pelos Tupinam
A primeira etapa foi concluída em 20 de abril de 2009, com a bá, estiveram as ações de “retomada”, o enfrentamento com a
publicação no Diário Oficial da União da identificação de uma polícia em outubro de 2008 e a prisão de suas lideranças em
área com cerca de 47.000 ha. A Terra Indígena está inserida em períodos intermitentes desde 2008 até a atualidade. A tensão
diferentes zonas ecológicas, ocupadas pelos Tupinambá ao longo vivida em razão desses eventos tem sido ainda agravada por
dos séculos. Dentre essas, podemos considerar quatro zonas sucessiva divulgação de informações equivocadas sobre a área
principais: a) a Vila de Olivença, correspondendo à sede do antigo demarcada na mídia. Por exemplo, foi afirmado que a demar
aldeamento jesuíta, situada numa pequena elevação junto à costa cação incluiria grandes extensões da rica região cacaueira e de
marítima e banhada pelo rio Tororomba; b) a Área de Piaçaba, que vastos empreendimentos turísticos.
se estende da costa até cerca
de 5 km2 na direção noroeste
e sudoeste da vila; c) a Área
da Mandioca, onde a vida está
mais intensamente conectada
Imagens da audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados para discutir o relatório de delimitação da TI Tupinambá de Olivença (BA), em 2009.
ESPÍRITO SANTO participaram do ato, e não o povo. Quanto às pela Aracruz Celulose. Entre as ações, os índios
assinaturas, soube de pessoas que assinaram o prevêem a paralisação do corte de eucalipto e
documento sob pressão. Isso não representa a retirada dos não-índios que se encontram ile
TUPINIQUIM/GUARANI MBYÁ EM opinião do povo”, disse. (FSP, 11/11/2006) galmente dentro da área. Além de aguardar há
CONFRONTO COM A PF anos uma decisão, os índios foram obrigados
A reintegração de posse de uma área de 12 mil a conviver com inúmeras ações da Aracruz
ha à empresa Aracruz Celulose, em Aracruz
ARACRUZ QUESTIONA
IDENTIDADE DOS TUPINIQUIM Celulose tentando desqualificar a comunidade
(ES), deixou 10 índios feridos e duas aldeias indígena da região. Eles foram sujeitados a
destruídas ontem. Desde 1997 a área é alvo Está hoje em mãos do Ministério da Justiça humilhações públicas e até a uma campanha
de disputa entre índios guaranis e tupiniquins uma ampla contestação da Aracruz Celulose ilegal de distribuição de cartilhas em escolas do
e a empresa, líder mundial de produção de em relação à última portaria da Funai - cujos município de Aracruz. As cartilhas desqualifica
celulose de eucaliptos. No final do ano passado, relatórios, segundo a empresa, são, no mínimo, vam os indígenas, chamando-os de “supostos
os povos das duas etnias ocuparam o lugar. Só tendenciosos. Nela incluem-se, de acordo com índios” e renegando suas tradições. (Flávia
saíram ontem em razão da intervenção da Po a companhia, escrituras comprovando que as Bernardes, Século Diário, 24/07/2007)
lícia Federal. A desocupação da terra foi deter terras foram adquiridas legalmente, de proprie
minada pelo juiz federal Rogério Moreira Alves, tários detentores delas há várias gerações. No
da Vara Federal de Linhares (ES). O processo entanto, entre defensores da causa indígena, TIS TUPINIQUIM DECLARADAS
corria em segredo deJustiça, e somente ontem há uma série de desconfianças em relação à DE POSSE PERMANENTE
a Funai foi informada da operação. O Ministério veracidade e legitimidade desses documentos, Nessa segunda-feira, 27 de agosto, o Ministro
Público também não foi avisado. No final da que nunca foram trazidos a público. Para ga daJustiça, Tarso Genro, declarou a posse per
tarde, a Funai anunciou que o desembargador rantir a posse das terras, a empresa também manente dos índios sobre as terras indígenas
federal Paulo Freitas concedeu uma liminar argumenta que os tupiniquins há muito já se Comboios e Tupiniquim, no município de
ao governo federal suspendendo os efeitos da integraram à sociedade, não possuindo mais Aracruz. A disputa por terras entre os povos
reintegração de posse. Com a decisão, os índios traços da cultura tradicional. (André Campos, indígenas Tupiniquim e Guarany Mbyá com
poderão regressar à área. (Paloma Oliveto, Repórter Brasil, 02/05/2007) a empresa Aracruz Celulose dura mais de 20
Correio Braziliense, 21/01/2006) anos. (Funai, 28/08/2007)
ÍNDIOS INICIAM RETOMADA
ÍNDIOS DERRUBAM EUCALIPTO PACÍFICA DE TERRAS ARACRUZ E ÍNDIOS
Cerca de 200 índios tupiniquins e guaranis Os Tupinikim e Guarani iniciaram, nesta terça CHEGAM A ACORDO
derrubaram ontem três hectares de eucaliptos, feira (24), um conjunto de ações pacíficas para AAracruz Celulose aceitou os termos propostos
plantados próximos ao viveiro de mudas da retomar a posse dos 11.009 ha de terras com pelos índios no Termo de Ajustamento de Con
empresa Aracruz Celulose, ao norte do Espírito provadamente indígenas e que estão usurpadas duta (TAC), em reunião realizada com a Funai
Santo. A derrubada começou na quarta-feira,
como forma de pressionar a Funai e o Minis
tério da Justiça a garantir a demarcação de
11.009 atualmente ocupados pela empresa.
Maior produtora de celulose de mundo, a em
presa afirma ter comprado o terreno na década
de 60. A Procuradoria da Funai não reconhece
os documentos e alega que, naquela época, a
área já estava identificada como território indí
gena. (Correio Braziliense, 08/09/2006)
MANIFESTAÇÃO PRÓ-ARACRUZ
REÚNE MIL PESSOAS EM VITÓRIA
O Movimento de Apoio à Aracruz Celulose,
formado por funcionários da empresa, presta
dores de serviços e entidades de classe, realizou
ontem manifestação em Vitória para pedir que
aJustiça Federal agilize os processos contra os
índios pela posse das terras na região da cidade
de Aracruz. Um abaixo-assinado foi entregue
ao vice-governador do Espírito Santo, Lelo
Coimbra (PMDB). Para o cacique tupiniquim
Vilson Benedito de Oliveira, da aldeia Caieiras Indígenas Guarani Mbya e Tupiniquim conversam com o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o presidente
Velha, “a manifestação foi manipulada pela da Funai, Márcio Meira, durante assinatura de TAC para solucionar conflitos com a Aracruz Celulose
empresa Os próprios funcionários da empresa nas TIs Caieiras Velha, Pau-Brasil e Comboios (ES).
nesta segunda-feira (12), em Brasília. Os índios reram, conforme conta Kwaray Peru. (Flávia nização de R$ 12 milhões por danos morais
exigiram que fosse retirado do TAC o pedido da Bernardes, Século Diário, 19/04/2010) coletivos aos índios krenak. Na ação, de 2005,
empresa de que houvesse uma declaração dos o Ministério Público e a Funai acusaram as
índios afirmando que as terras do entorno dos HOMOLOGADAS AS TIS empresas de ignorarem, no contrato de cons
11.009 hectares em questão não são indígenas. trução da usina, os direitos e interesses dos
Em sua contraproposta, a Aracruz Celulose
TUPINIQUIM E COMBOIOS krenak que moram na zona rural do município
também pediu que os índios desistissem dos Os cerca de 3 mil índios do Espírito Santo de Esplendor. (OESP, 01/08/2008)
processos judiciais que mantêm contra a em estão comemorando a homologação de 18.154
presa. Já na proposta aceita pelos advogados hectares de terras que durante muitos anos
geraram um clima de conflito com a empresa KAXIXÓ: CINEMA
da transnacional, os índios afirmam estar
dispostos a abrir mão de alguns processos, Fíbria, antiga Aracruz Celulose. O documento COMO DOCUMENTO
assim como a empresa, mas que não abririam confirmando que as terras são indígenas foi A área do Capão do Zezinho, onde vivem em
mão daqueles ligados a atos de discriminação assinado pelo presidente Lula, na última sexta comunidade cerca de 300 caxixós, tem um
cometidos pela empresa ao longo de décadas feira, e publicado na edição de segunda-feira longo histórico de exploração por fazendeiros
de luta indígena. (Flávia Bernardes, Século do Diário Oficial da União. A partir de agora, das terras sobre as quais o povo indígena vive
Diário, 14/11/2007) os índios poderão colocar em prática os planos desde muito antes do período da colonização. E
traçados para a ocupação da área. (A Gazeta/ agora eles lutam naJustiça pelo reconhecimen
ES, 09/11/2010) to de suas terras como território indígena. “O
EX-ARACRUZ TENTA AMENIZAR reconhecimento da terra é um grande assunto
AUMENTO DE PLANTIO nosso. E o vídeo pode servir como documento
Ao contrário do que foi declarado em A Gazeta, MINAS GERAIS e também porque torna o assunto público”,
a ex-Aracruz Celulose (Fibria) não repassou diz a realizadora Jaciara, 21, que participou
R$ 1,8 milhão às comunidades indígenas do XACRIABÁ SEM RESPOSTA de todo o processo de produção de “Casca do
Estado. Este valor representa o pagamento, As 35 famílias Xakriabá que retomaram parte Chão”, do roteiro à edição. “Casca do Chão”
pela empresa, de uma verba que foi obrigada de seu território tradicional no início de maio foi realizado durante uma das oficinas do Fiei,
a liberar para que as aldeias tivessem meios de último permanecem acampadas sem uma res que têm direção de Pedro Portella. (Douglas
buscar sustentabilidade. Averba faz parte do posta para sua reivindicação. A Funai ainda não Resende, O Tempo, 12/07/2008)
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que se manifestou sobre a situação, mas a comuni
obrigou a empresa a devolver 11.009 ha de dade já acionou aJustiça para pedir que o órgão
terras indígenas ilegalmente ocupadas por ela e
MAXAKALI CELEBRA NOVA
continue o processo de demarcação desta terra, ALDEIA COM RITUAL
assim garantir a sua recuperação. Com o anún que está parado desde 2005. Segundo o Cimi,
cio, a transnacional tenta amenizar seus planos Hoje é dia de festa para os cerca de 200 índios
a terra do Morro Vermelho, como é chamada
de dobrar a produção e, portanto, ocupar mais a área ocupada, fica próxima ao município de Maxakali que foram expulsos da aldeia de
100 mil ha de terras do Espírito Santo. A Fibria SãoJoão das Missões, Estado de Minas Gerais. Bertópolis, na Região Vale do Mucuri, em no
completou seu primeiro ano à frente da ex (MPF via Adital, 12/06/2006) vembro de 2005, após confronto que culminou
Aracruz Celulose, mantendo a mesma relação na morte de dois membros da tribo. Às 10
conflituosa com as comunidades tradicionais horas eles vão fazer uma cerimônia religiosa
do Espírito Santo. Sem qualquer entendimento PATAXÓ DE MG LIBERAM para batizar a “Hãm Yixux”, (Aldeia Verde), em
entre as partes, a transnacional insiste na ima DOIS REFÉNS Ladainha, terra que receberam da Funai para
gem da boa relação, enquanto quilombolas e Índios de uma aldeia Pataxó em Carmésia, no formar a nova aldeia. A “Aldeia Verde” tem
indígenas continuam vivendo sob impacto dos leste de Minas Gerais, libertaram no início da 552 hectares e está habitada por 60 famílias,
eucaliptais da empresa. (Flávia Bernardes, noite de ontem os dois funcionários da Funasa totalizando cerca de 200 índios. (Ana Lúcia
Século Diário, 02/09/2010) que eram mantidos reféns desde a semana Gonçalves, O Tempo, 19/04/2007)
passada. Os pataxós exigiam melhorias no aten
dimento médico. O sociólogo Altino Barbosa
TRÁFICO E INTRUSOS Neto, chefe do Dsei em Governador Valadares, POVO MAXAKALI PEDE
NAS ALDEIAS e o coordenador técnico da área indígena, An MÉDICOS E SANEAMENTO
Os Tupinikim e Guarani que moram no norte tônio Divino de Souza, foram libertados, após Desde o início de janeiro de 2008, as 65
do Estado do Espírito Santo, em Aracruz, uma reunião em que foi firmado um termo famílias Maxakali que vivem na aldeia Verde,
continuam desamparados pelo poder público. de ajustamento de conduta. (Eduardo Kattah, município de Ladainha, em Minas Gerais, estão
Segundo o cacique, a situação foi repassada na OESP, 20/03/2007) tendo problemas de saúde agravados pela falta
última semana para agentes da Polícia Federal. de saneamento na área. A falta de acesso à
O objetivo da reunião entre caciques e a PF é água é um dos principais problemas da área.
impedir a entrada de intrusos nas aldeias e KRENAK RECEBERÃO No mês de janeiro, quase toda a comunidade
combater o tráfico de drogas na região. INDENIZAÇÃO ficou doente. Segundo nota da Funasa divul
Ao todo, faz três anos que os índios recupe O Ministério Público Federal firmou acordo gada hoje (31/01), o mal era uma virose e já
raram suas terras ocupadas pela ex-Aracruz com a Vale, a Companhia Energética de Minas começou a ser tratado. No dia 16 de janeiro,
Celulose (Fibria). Mas, até agora, os recursos Gerais e o Consórcio da Usina Hidrelétrica de lideranças Maxakali e entidades de apoio se
prometidos e a efetivação de projetos não ocor Aimorés, pelo qual as empresas pagarão inde reuniram com o coordenador do DSEI de Va
SUL DA BAHIA
PATAXÓ HÃHÃHÃE
ÍNDIOS OCUPAM MAIS
SETE FAZENDAS
Subiu para oito o número de fazendas ocupa
das pelos índios, desde a terça-feira última, na
região das Alegrias, em Itaju do Colônia. São
cerca de 400 pataxós hã-hã-hães, com o apoio
de outras etnias pataxós, do sul da Bahia, e
tupinambás, da Serra do Padeiro, entre Una
e Buerarema, que se dizem revoltados com a
concessão de liminares em favor dos fazendei
ros enquanto a ação em que pedem a nulidade
de títulos se arrasta há 23 anos no Supremo
Tribunal Federal (STF), em Brasília. Os pata
xós afirmam que também estão reagindo ao
cumprimento de liminar para reintegração
Durante oficina de vídeo kaxixó, na TI Kaxixó Capão do Zezinho (MG),
de posse dos imóveis Fazenda Alegria e Con
realizada em 2007 pela UFMG, Jaciara filma o cacique Djalma. junto Fazendas Reunidas Alegria, que estaria
prevista para hoje. (Luiz Conceição, A Tarde,
26/01/2006)
ladares para cobrar soluções para a situação. 30 dias para conclusão do processo de revisão
(Coiab, 31/01/2008) dos limites de demarcação; oito meses para
acordo de pagamento da indenização cabível; LÍDERES DENUNCIAM
oito meses para a Funai informar a conclusão DEVASTAÇÃO DE MATA NATIVA
MPF CONSTATA “SITUAÇÃO do processo. Esse foi o acordo firmado entre os Líderes dos pataxós hã hã hãe denunciaram
PRECÁRIA DA SAÚDE” ENTRE integrantes da comunidade indígena Xacriabá ontem a órgãos e entidades de defesa dos
OS MAXAKALI e os advogados dos fazendeiros durante audi índios e do meio ambiente no sul do estado a
O MPF em Governador Valadares, Minas ência do processo de reintegração de posse da intensificação de desmatamentos na reserva
Gerais, constatou, durante inspeção, que os comunidade indígena Xacriabá, na tarde de Caramuru Catarina Paraguaçu, área de mata
índios da Aldeia Maxacali vivem em estado de sexta-feira, 09, na justiça federal em Montes atlântica situada entre os município de Pau
miséria agravado pelas péssimas condições de Claros. (Rubens Santana, O Norte de Minas, Brasil, Itaju do Colônia e Camacã. O alvo da
saneamento e pelo alcoolismo. É o que consta 10/04/2010) acusação dos caciques é o fazendeiro Jaime
em um relatório elaborado em aldeias da tribo do Amor, que supostamente teria ordenado a
localizadas nos municípios de Bertópolis, Santa ÍNDIOS PATAXÓ OCUPAM derrubada de árvores centenárias para cons
Helena de Minas, Pavão e Machacalis, no Vale trução de pastagens.
FAZENDA EM AÇUCENA
do Mucuri, nordeste de Minas Gerais. Segundo Os pataxós hã hã hãe moraram na propriedade
os profissionais ouvidos, é comum registrar Cerca de 80 índios Pataxó, da aldeia de Carmé por cerca de cinco anos e foram retirados do
sia, no Vale do Aço, ocupam o Parque Estadual
se, em média, de oito a dez casos semanais local em cumprimento a uma decisão liminar
de diarreia entre crianças e adultos. O MPF do Rio Corrente, em Açucena, Leste de Minas da Justiça Federal em Ilhéus em favor do
Gerais, desde a manhã da última quinta-feira.
constatou que não existe, em nenhuma aldeia fazendeiro Jaime do Amor, tido como um dos
Maxacali, qualquer infraestrutura sanitária. “A Eles reivindicam a área para a criação de uma maiores pecuaristas do sul baiano. (Jairo Costa
totalidade das casas não possui rede de esgoto reserva indígena e prometem resistir a possí Júnior, Correio da Bahia, 09/05/2006)
e, ao que se pode notar, não possui banheiro.”, veis ações de reintegração de posse. Há sete
diz o relatório. Outro problema detectado pelo meses souberam de estudos para assentá-los
na Fazenda Brejaúba, distrito de Felicina, em MPF/BA ENTRA COM RECURSO
MPF foi a quantidade de lixo produzido pelas
comunidades, que não tem destinação alguma Açucena, propriedade que invadiram. O pro PARA GARANTIR TERRA
e acaba prejudicando ainda mais as condições blema é que a fazenda fica dentro do Parque A Procuradoria da República em Ilhéus (BA)
sanitárias. (O Globo, 26/02/2010) Estadual do Rio Corrente, criado em 17 de recorreu da decisão daJustiça Federal em Ita
dezembro de 1998 e, portanto, motivo de uma buna que negou liminar para garantir o direito
briga naJustiça. O proprietário da fazenda, Val dos pataxós hã-hã-hãe à posse e ao usufruto
ACORDO ENTRE FAZENDEIROS deci Dias da Silva, ajuizou ação de reintegração exclusivo da TI Caramuru-Paraguassu. A ação
E XACRIABÁ de posse naJustiça para reaver os 450 hectares civil pública foi proposta em julho último con
Permanência dos índios da comunidade Xacria que formam a fazenda, mas a ação ainda não tra 32 fazendeiros, as empresas Agropecuária
bá e posse das terras pelo período de um ano, teria sido julgada pela Justiça. (Ana Lúcia João Alves de Lima e Chaves Agrícola Pastorial
prazo para a Funai indenizar os fazendeiros; Gonçalves, Hoje em Dia, 25/07/2010) Ltda e pessoas físicas e jurídicas interessadas
ADIADO JULGAMENTO DA
TERRA PATAXÓ HÃ HÃ HÃE
O STF adiou ontem a decisão sobre uma
ação em que a Funai pede que sejam
anulados títulos de propriedade de terras
concedidos pelo governo da Bahia a agri
cultores no sul do estado. O adiamento
ocorreu devido a um pedido de vista do
ministro Carlos Alberto Menezes Direito - o
mesmo que, há um mês, interrompeu o Pataxó Hã-Hã-Hãe realizam, na Câmara dos Deputados, ato público em defesa da anulação de títulos
julgamento sobre a demarcação contínua de propriedade concedidos a fazendeiros que ocupam parte da TI Caramuru-Paraguaçu (BA), em 2008.
da reserva Raposa Serra do Sol, em Ro
raima, e, antes disso, havia adotado o mesmo
principais
procedimento na avaliação da legalidade das desencadear outros confrontos entre indígenas na decisão dos índios o fato de seus
pesquisas científicas com células-tronco em e fazendeiros, a Vara Federal de Ilhéus deter líderes terem viajado para Brasília, onde tratam
minou a reintegração de posse. (Bruno Lima amanhã de uma outra questão que também
brionárias. (Mirella D`Elia eHércules Barros,
CB, 25/09/2008) e Rafael Braga, Advocacia-Geral da União, provocou manifestação por parte dos Pataxó na
30/12/2009) semana passada: o cancelamento das obras de
melhoria de 215 sanitários e a construção de
ÍNDIOS TOMAM POSSE rede de água, interrompidas pela Funasa. (O
DE DUAS FAZENDAS NA BAHIA MAIS CINCO FAZENDAS SÃO
INVADIDAS NO SUL DA BAHIA Globo, 06/06/2006)
Na Bahia, índios pataxós tomaram posse de tapaxós hã hã
duas fazendas no sul do Estado. Eles reivindica Cerca de 350 índios da tribo
vam as áreas como terra indígena. Oito famílias hãe ocupam cinco fazendas no sul da Bahia, ESTUDO DA FUNAI É
(4), segundo CONTESTADO POR FAZENDEIROS
da tribo pataxó chegaram junto com os policiais desde a manhã de segunda-feira
para tomar posse dos cerca de 400 hectares. A informações da Funai. A intenção é pressio Proprietários de terras que estão inseridas em
que nar um desfecho para um processo sobre a áreas levantadas para fins de ampliação da Al
área pertence à Reserva Indígena Caramu propriedade das terras que está no STF desde deia Barra Velha, têm até 16 de setembro para
ru Paraguaçu fui reintegrada pela segunda vez.
G1, 05/10/2010) apresentar contestação da medida. O prazo
Segundo a Funai, dos 54 mil hectares que os 1983. (Portal
índios reivindicam demarcação naJustiça há de 90 dias começou a ser contado a partir da
mais de 20 anos, dezoito mil estão legalizados. SUL DA BAHIA/PATAXÓ publicação do resumo do estudo, assinado pela
(Site do Globo Rural, 15/01/2009) antropóloga Leila Sílvia Burger Sotto-Maior, no
Diário Oficial do Estado. Os produtores do en
PATAXÓ DE COROA VERMELHA torno do Parque Nacional do Monte Pascoal vão
AGU GARANTE REINTEGRAÇÃO DE DEIXAM ÁREA OCUPADA contestar o levantamento obedecendo ao prazo
POSSE AOS PATAXÓ HÃ HÃ HÃE Cedendo aos apelos do Ibama, no Dia Mundial estipulado. A área em questão está distribuída
A Advocacia-Geral União (AGU) garantiu, na do Meio Ambiente, os pataxós da Aldeia de nos municípios de Porto Seguro, Itabela, Ita
Justiça, a desapropriação da Fazenda Boa Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, sul maraju e Prado, com uma superfície de 52.748
Vista localizada na Reserva Indígena Caramu da Bahia, deixaram ontem um terreno de cerca ha. Distribuídas em pelo menos 90 fazendas
ru Catarina Paraguaçu, no município de Pau de 20 mil m2 às margens da BR-367, invadido estão aproximadamente 850 famílias, em mé
Brasil (BA). Aárea havia sido invadida por um no domingo. Os pataxós reivindicam a posse da dia 3,5 mil pessoas ocupando área particular.
fazendeiro da região, que expulsou, violenta terra alegando que a tribo necessita ampliar o Na parte que está sendo reivindicada existem
mente, os índios da Aldeia Água Vermelha. De seu território porque, segundo o cacique Aruã, famílias, além de rebanho bovino, plantios de
acordo com o processo judicial, vários deles falta área para abrigar os cinco mil indígenas cacau, café, seringueira, frutas e eucaliptos.
ficaram feridos, sendo socorridos por um fun que vivem na aldeia, numa área de 77 hecta Depois da contestação legal apresentada pelos
cionário da Funai. Acatando os argumentos e res. Além dos argumentos do Ibama sobre a produtores, a Funai terá 60 dias para responder
considerando que essas circunstâncias podem necessidade de preservação do território, pesou aos questionamentos apresentados acatando
ou não a solicitação dos fazendeiros. Os índios da Policia Federal no local para garantir a inte reclamam da expansão das plantações de eu
da Aldeia Barra Velha deixam claro que todos gridade física do grupo e investigar o paradeiro caliptos nas terras por eles reivindicadas. Afir
vivem em harmonia com os vizinhos, mas do índio seqüestrado. (Cimi, 17/07/2008) mam que os riachos estão secando e que houve
lembram que os produtores tiveram tempo uma redução da caça. (CB, 29/08/2008)
de apresentar argumentos anteriormente, e TENSÃO NA ÁREA RETOMADA
não o fizeram. “Tudo será resolvido dentro EM CUMURUXATIBA DEMARCAÇÃO DE BARRA VELHA
da lei, para que os direitos sejam respeitados PODE RETIRAR FAZENDEIROS
seguindo as normas”, afirma o líder indígena As 23 famílias Pataxó, organizadas através da
Neilton Braz Vieira. Ele faz questão de lembrar Frente de Resistência e Luta Pataxó, que no dia Um território hoje preenchido por fazendas,
que “hoje não se consegue as coisas através 14/07 retomaram uma fazenda no interior do plantações de eucalipto e hotéis de luxo pode
da força”. A proposta é de ampliação da TI de seu território tradicional na região de Cumu vir a ser desocupado pelo governo federal e
Barra Velha, que inclui o Parque Monte Pascoal,
ruxatiba, continuam sofrendo ameaças por devolvido aos índios pataxós da Aldeia de Barra
homens armados que à noite disparam tiros Velha, no sul baiano, moradores originais da
em área de 25.492 ha, e mais 27.250 ha de
em direção aos índios. O grupo decidiu retirar região. A Funai publicou um estudo em 2008
terra de propriedades particulares. A população
temporariamente as crianças e as mulheres com a nova demarcação, mas houve contes
indígena que será beneficiada pela demarcação tações internas no próprio governo federal. O
é composta de 4,5 mil indivíduos, levando-se prevendo um confronto com os pistoleiros.
Segundo as lideranças indígenas, que batizaram Incra, que cuida da reforma agrária, e o ICM
em conta os dados de 2006. A aldeia-mãe é Bio, responsável pela preservação ambiental,
composta ainda pelos grupos da Boca da Mata, o local de “Aldeia Pequi Velha”, os pistoleiros
liderado por um ex-policial militar conhecido questiona uma nova demarcação, porque irá
Meio da Mata, Guaxuma, Trevo do Parque, Pé por Zezito, estão impedindo o carro que trans retirar trabalhadores rurais e abrange áreas de
do Monte, Aldeia Nova, Águas Belas, Corumbau porta estudantes da aldeia Alegria Nova para preservação ambiental. “Está previsto que até o
zinho, Craveiro, Cassiana e Bugigão. A Aldeia
Cumuruxatiba, passar pela a estrada principal final de agosto os órgãos apresentem propostas
Barra Velha é considerada aldeia-mãe por ter
que dá acesso ao povoado; com isso o veículo de acordo”, explica Leila Sotto Maior, antro
sido a primeira aldeia pataxó do extremo sul da póloga da Funai. Após o acordo, no entanto, a
Bahia e também por serem ‘filhos’ dela todos tem que dar uma volta de 20 km para levar os
alunos até a escola em segurança. “Nós esta demarcação ainda estará passível de contesta
os pataxós que vivem nas aldeias do entorno ções judiciais. “Não dá para prever quando terá
mos abandonados e sofrendo ameaças, mas
do Monte Pascoal. Os produtores não querem início o processo”, diz Leila. O crescimento da
não vamos deixar nossa terra, que foi invadida
deixar a área e asseguram que os estudiosos pelos fazendeiros que destruíram as nossas população é o argumento usado pelos índios
não encontraram vestígios de sítio arqueológico para defender a ampliação do território. Hoje
que comprovam a permanência indígena no mata e ainda continuam agredindo a floresta”,
denuncia Zuza Pataxó, se referindo a falta de vivem cerca de 5.500 pataxós no território de
local. Segundo eles, a forma como foi traçado apoio do órgão indigenista oficial e a falta de Barra Velha, localizado dentro do município de
o perímetro da área não levou em conta os providencias à retirada ilegal de madeira no Porto Seguro. (A Tarde, 16/07/2010)
critérios antropológicos, mas “um critério
interior o “Parque do Descobrimento” pratica
abusivo de conveniência”. Organizados, eles do por fazendeiros que os índios descobriram
decidiram apresentar defesa administrativa ACORDO PARA GESTÃO DA TI
e denunciaram ao Ibama. A situação tem se BARRA VELHA E PARQUE
no Ministério da Justiça e entrar com ações agravado pela morosidade no processo de
coletivas e individuais. Eles sustentam os demarcação do território indígena. A Frente de O presidente do ICMBio, Rômulo Mello, acom
argumentos utilizando o parecer técnico de panhado de representante da Coordenação de
Resistência e Luta Pataxó, que reúne 12 aldeias,
outra historiadora, de nome não informado. vem denunciando sistematicamente falhas no Gestão Socioambiental, Fernando Brutto, e do
(Cristina Laura, A Tarde, 25/06/2008) processo de demarcação que tem beneficiado coordenador regional de Porto Seguro (CR 7),
alguns invasores do território Pataxó a exemplo Leonardo Brasi, reuniu-se no último dia 9, em
da Veracel Celulose e de empresas de turismo; Brasília, com o presidente da Funai, Márcio
GRUPO RETOMA FAZENDA Meira, e um grupo de cerca de 20 caciques e
NO SUL DA BAHIA O povo Pataxó solicita correção dos limites do
lideranças indígenas da etnia Pataxó, do sul
território apresentado nos estudos realizados
Na última segunda-feira (14), 23 famílias Pa pela Funai e pede agilidade no processo de da Bahia, para fechar acordo sobre a conti
taxó retomaram 340 hectares de uma fazenda nuidade da demarcação da TI Barra Velha e a
demarcação. Enquanto a Frente de Resistência
no lado norte de Cumuruxatiba, entorno do
articula os apoios e organiza a luta, as famílias sua relação com o Parque Nacional do Monte
“Parque do Descobrimento”, no município do Pascoal.
na retomada pede a presença da Policia Federal
Prado, extremo sul da Bahia. As famílias Pataxó
no local para desarmar os pistoleiros e garantir O encontro tratou da apresentação de proposta
foram expulsas desta terra na década de 70, por parte dos órgãos governamentais de como
pela antiga empresa de exploração madeireira a integridade física do grupo. (Cimi Leste,
23/07/2008) deverá ser a gestão compartilhada do Parna do
Brasil-Holanda. A área faz parte do território Monte Pascoal e a TI Barra Velha. Rômulo Mello
tradicional do povo Pataxó que se encontra em garantiu que a mesma linha de gestão entre
fase de estudos para demarcação. A fazenda ÍNDIOS RECLAMAM TERRAS ICMBio e comunidades indígenas no Parna
estava sob domínio do fazendeiro Clemente de AVeracel reconhece que 3.851 hectares de sua Monte Roraima (RR) será implementada com
Tal que já mandou seguranças armados para a propriedade estão dentro da área de ampliação o povo Pataxó, que participará ativamente da
área. Um índio conhecido como “Casa Grande” do território indígena dos pataxós no município gestão do Parna do Monte Pascoal, atendendo à
foi seqüestrado e ainda está desaparecido. As baiano de Porto Seguro. Caciques das aldeias recomendação do STF relativa à dupla afetação
famílias estão solicitando a presença da Funai e Guaxuma e Barra Velha, em Porto Seguro, de Unidades de Conservação e terras indígenas.
CONFLITO NA BAHIA
É LEVADO À ONU
A onda de violência deflagrada desde 2008 no
sul da Bahia, quando teve início o processo
de demarcação de terras dos tupinambás,
vem colocando indígenas e fazendeiros em
campos de guerra, aterrorizando a população
e, mais recentemente, culminou na prisão
de três lideranças da região. A detenção de
Glicéria de Jesus da Silva – irmã de Babau –,
serviu de estopim para o protesto à ONU. No
documento encaminhado, o Cimi e a entidade
Cena do acordo entre Funai, ICMBio e Incra para a continuidade da demarcação da TI Barra Velha (BA) e resolver de direitos humanos Justiça Global destacam
sua relação com o Parna Monte Pascoal. Foram apresentadas propostas para a gestão compartilhada das áreas. que Glicéria está encarcerada desde 2 de junho
com um bebê de apenas 2 meses, seu filho.
O Incra empenhará esforços para reassentar os (CB, 10/06/2010)
MPF/BA QUER AGILIDADE
trabalhadores rurais anteriormente fixados na NA DEMARCAÇÃO DE TERRA
área da terra indígena, com o apoio da Presi PRODUTORES RURAIS PEDEM
Com o objetivo de corrigir a abusiva demora
dência da República. Dessa forma, os legítimos
na demarcação da TI Tupinambá, localizada
FIM DAS DEMARCAÇÕES
interesses e direitos de ambos os grupos sociais Pequenos produtores rurais dos municípios de
nos municípios de Ilhéus, Una, Buerarema,
serão respeitados, sejam trabalhadores rurais Ilhéus, Una e Buerarema se reuniram no final
São José da Vitória e Belmonte, no sul da
ou comunidades indígenas, além de se resguar Bahia, o MPF em Ilhéus (BA) propôs ontem, da semana passada com lideranças políticas
dar o meio ambiente de forma participativa. A regionais e firmaram um compromisso para
17 de dezembro, ação civil pública com pe
reunião também tratou da TI Cahy. A situação que os parlamentares pressionem a Funai a
dido liminar contra a União e a Funai. O MPF
merecerá estudo mais aprofundado por um pede que, no prazo de um ano, a União e a entregar o relatório de demarcação do território
GT interministerial formado pela Funai, Incra
Funai realizem a delimitação da terra, com tupinambá ao Ministério daJustiça. Eles defen
e ICMBio, devido a questões administrativas e
jurídicas pendentes. (ICMbio, 23/11/2010) futura desapropriação, se houver necessidade, dem um acordo com o governo que deixaria
e que, além disso, apresentem em juízo rela os produtores em suas terras e criaria uma
tórios trimestrais acerca do andamento dos reserva tupinambá em terras do Estado, como
SUL DA BAHIA trabalhos de demarcação. O MPF em Ilhéus foi feito no Xingu. (Ana Cristina Oliveira, A
instaurou inquérito civil público para apurar Tarde, 23/08/2010)
TUPINAMBÁ o caso a partir de um ofício da comunidade
indígena tupinambá de Olivença. (Gladys
Pimentel, MPF, 18/12/2007)
CONCEDIDO HABEAS CORPUS
TUPINAMBÁ INVADEM FAZENDA A CACIQUE TUPINAMBÁ
Cerca de 100 índios tupinambás do distrito de A pedido do MPF, o Tribunal Regional Federal da
Jacuípe, município de Ilhéus (BA), 482 km ao TUXÁE PATAXÓ SE UNEM CONTRA
1ª Região concedeu habeas corpus a Rosivaldo
sul de Salvador, invadiram, na madrugada de PRISÃO DE CACIQUE TUPINAMBÁ Ferreira da Silva, conhecido como cacique
ontem, a Fazenda Santa Luzia. Eles reivindicam Índios tuxá e pataxó, da região de Itabuna, a Babau, e mais quatro indígenas pertencentes à
a remarcação das terras da região, que esta 433 km de Salvador, engrossaram ontem o comunidade Tupinambá, que teriam cometido
riam sendo invadidas por grileiros. Os índios protesto na porta da sede da PF, na capital, crimes no contexto da disputa de uma área de
reclamam da degradação ambiental promovida contra a prisão do índio tupinambá Rosivaldo 470 milhões de metros quadrados, localizada
pelos invasores nas terras protegidas. (CB, Ferreira da Silva, 35 anos, o cacique Babau. nos municípios baianos de Ilhéus, Buerarema
12/09/2007) Cerca de 80 índios pararam o trânsito na e Una. (MPF, 30/09/2010)
17.
680 MATO GROSSO DO SUL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
MATO GROSSO DO SUL
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº,fonte, ano) Situaçãojurídica Extensão (ha) Município UF
Liv. 3 fl. 191 em 25/03/66. Título definitivo em 12/80. Reg. SPU Certidão n°
03 em 06/01/94.
s/l Amambaipeguá
Bacia Guarani Em identificação.
Portaria 788 de 10/07/2008 publicada em 14/07/2008. - Caarapó
Laguna
Juti
Aral
Amambaí
Coronel Carapã
Sapucaia
Moreira MS
MS
MS
MS
MS
MS
s/l Bacia Apapegua Guarani Em identificação.
Portaria 793 de 10/07/2008 publicada em 14/07/2008. - Antônio
Bela
Guia
Ponta
Jardim
Vista
Lopes
Porã
João
da Laguna MS
MS
MS
MS
MS
e comarca de Sidrolândia (9 ha) Matr. 1.800 Liv. 2-RG fl. 1 em 10/06/96. Reg.
SPU Certidão n° 01 em 20/01/97.
Liv. 3-AP fl. 123 em 08/06/65. Reg. CRI no município e comarca de Caarapó
(3.594 ha) Matr. 6.594 Liv. fl. 42 em 17/12/91. Reg. SPU Certidão n° 04 em
11/01/94.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL MATO GROSSO DO SUL 681
MATO GROSSO DO SUL
Terras Indígenas (continuação)
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
24 Guaimbé Guarani Kaiowá 458/Funai-Ponta Porã: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 717 Laguna Carapã MS
Decreto 89.580 de 24/04/1984 publicado em 25/04/1984. Reg. CRI no
município e comarca de Ponta Porã (716 ha) Matr. 15.813 Liv. 2 em 28/05/84.
Reg. SPU MS Certidão n° 374 em 07/11/84.
29 Guasuti Guarani Kaiowá 516/Funai-Ponta Porã: 2010 Homologada. Reg. SPU. 930 Aral Moreira MS
Decreto s/n de 21/05/1992 publicado em 22/05/1992. Reg. CRI no município de
Aral Moreira em andamento. Reg. SPU Certidão n° 06 em 12/01/94.
1 Guató Guató 155/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 10.984 Corumbá MS
Decreto s/n de 10/02/2003 publicado em 11/02/2003. Reg. CRI no município e
comarca de Corumbá (9.550 ha) Matr. 24.808 Liv. 2-RG fl. 1 em 12/12/2003.
Reg. CRI no município de comarca de Corumbá (1.434 ha) Matr. 24.809 Liv.
2-RG fl. 1 em 12/12/2003. Reg. SPU Certidão n° 01 em 12/03/2004.
21 Guyraroká Guarani Kaiowá 841/GT Funai: 2001 Declarada de posse indígena. 11.440 Caarapó MS
Portaria 3.219 de 07/10/2009 publicada em 08/10/2009.
37 Jaguapiré Guarani Kaiowá 1.091/Funasa: 2009 Homologada. Registrada no CRI. 2.342 Tacuru MS
Decreto s/n de 23/11/1992 publicado em 24/11/1992. Reg. CRI no município
de Tacuru, comarca de Iguatemi (874 ha) Matr. R-2-5.084 Liv. 2-RG. fl. 1/4 em
27/11/2006. Reg. CRI no município de Tacuru, comarca de Iguatemi (1.467 ha)
Matr. R-1-5.127 Liv. 2-RG fl.1 em 02/07/2007.
27 Jaguari Guarani Kaiowá 150/Funai: 2004 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 405 Amambaí MS
Guarani Ñandeva Decreto s/n de 21/05/1992 publicado em 22/05/1992. Reg. CRI no município
de Amambaí (404 ha) Matr. 12.571 Liv. 2-RG fl. 1V em 09/06/92. Reg. SPU
Certidão n° 08 em 17/01/94.
17 Jata Yvary Guarani Kaiowá 480/GT Funai 2004 Identificada. Aprovada pela Funai. Sujeita a contestações. 8.800 Ponta Porã MS
Despacho 72 de 01/09/2005 publicado em 02/09/2005.
2 Kadiwéu Chamacoco 1.629/Funasa: 2006 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 538.536 Corumbá MS
Kinikinau Decreto 89.578 de 24/04/1984. Reg. CRI do município e comarca de Porto Porto Murtinho MS
Kadiwéu Murtinho (538.535 ha) Matr. 1-1154 Liv. 2 fl. 1/2 em 22/05/84. Reg. SPU-MS
Terena Certidão n° 52 em 06/11/84.
15 Ñande Ru Guarani Kaiowá 1.054/Funasa: 2009 Homologada (suspensa parcialmente por liminar da Justiça) 9.317 Antônio João MS
Marangatu Decreto s/n de 28/03/2005. MS em 21/07/2005.
20 Panambizinho Guarani Kaiowá 333/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.272 Dourados MS
Decreto s/n de 27/10/2004 publicado em 28/10/2004. Reg. CRI no município
e comarca de Dourados (1.272 ha) Matr. 75.027 Liv. RG fl. 1 em 02/02/2005.
Registro SPU Certidão n° 12 em 19/04/2005.
3 Pilade Rebuá Terena 2.104/69/Funai-Campo Homologada. Registrada no CRI e SPU. 208 Miranda MS
Grande: 2010 Decreto 299 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no município
e comarca de Miranda, Matr. 6.139 Liv. 2-P fl. 57/58 em 18/03/92. Reg. SPU
Certidão n° 02 em 28/12/93.
35 Pirajuí Guarani Ñandeva 1.562/Funai: 2004 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 2.118 Paranhos MS
Decreto 93.067 de 06/08/1986 publicado em 07/08/1986. Reg. CRI no
município e comarca de Sete Quedas (2.118 ha) Matr. 683 Liv. 2-RG fl. 1/2 em
30/09/91. Reg. SPU MS Certidão n° 01 em 10/03/92.
14 Pirakuá Guarani Kaiowá 272/Funai: 2004 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 2.384 Bela Vista MS
Decreto de 13/08/1992 publicado em 14/08/1992. Reg. CRI no município e Ponta Porã MS
comarca de Bela Vista (2.384 ha) Matr. 8.624 Liv. 2-RG fl. 1V em 22/04/93.
Reg. SPU Certidão n° 01 em 23/12/93.
682 MATO GROSSO DO SUL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
MATO GROSSO DO SUL
Terras Indígenas (continuação)
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº,fonte, ano) Situaçãojurídica Extensão (ha) Município UF
(777 ha) Matr. 15.814 Liv. 2 fl. 1V/2 em 28/05/84. Reg. SPU Certidão n° 58,
Reg. MS-375 em 17/12/84.
38 Sassoró Guarani Kaiowá 1.563/Funai: 2004 Reservada/SPI. Registrada no CRI. 1.923 Tacuru MS
Guarani Ñandeva Decreto 835 de 14/11/1928. Reg. CRI Matr. 271 Liv. 3 fl. 53 em 07/06/65.
comarca de Maracaju (535 ha) Matr. 8.254 Liv. 2-RG fl. 1 em 08/09/98. Reg.
SPU Certidão n° 36 em 09/12/2003.
5 Taunay/Ipegue Terena 4.090/Funai-Campo Grande: Identificada. Aprovada pela Funai. Sujeita a contestações. 33.900 Aquidauana MS
2010 Despacho 77 de 13/08/2004 publicado em 14/08/2004.
40 Yvy Katu Guarani Ñandeva 1.725/Funai: 2003 Declarada (suspensa parcialmente por liminar da Justiça) 9.454 Japorã MS
Portaria 496 de 16/03/2010 publicada em 17/03/2010.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL MATO GROSSO DO SUL 683
MATO GROSSO DO SUL
A PRÁTICA INDIGENISTA OFICIAL E A PRESENÇA posse dos fazendeiros (54%), transformando a paisagem guarani
DETERMINANTE DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS, em latifúndios de monocultivos para a agroexportação. Como se
BEM COMO DA AGROINDÚSTRIA DE SOJA E CANA DE explica esse processo combinado de etnocídio e ecocídio?
AÇÚCAR NO MATO GROSSO DO SUL, OCASIONARAM
Nos últimos cem anos, expandindo-se a partir do sul com a
UMA SITUAÇÃO DE PENÚRIA E EXCLUSÃO SOCIAL,
migração gaúcha, a sociedade não índia brasileira ocupou todo
AGRAVADA PELO RACISMO CRESCENTE
esse território, provocando a extinção de inúmeras comunidades
guarani ou obrigando-as ao confinamento em áreas reservadas
Os Guarani-Kaiowá e Guarani-Ñandeva no Mato Grosso do Sul pelo indigenismo governamental. Com uma perspectiva de fazer
representam uma população de aproximadamente 45 mil indiví desaparecer os índios, a política indigenista era de integração
duos, assentados em 29 áreas ou tekoha (“lugar onde realizamos dos Guarani ao subproletariado rural regional. Essa colonização
nosso modo de ser” ou comunidade), que se subdividem em interna criou um clima de intransigência, desprezo e aberto
oito unidades administrativas da Funai (“Postos Indígenas” ou racismo anti-indígena, especialmente no triângulo guarani do
“Reservas”) e outras 12 áreas. Dentre essas áreas, 12 foram sul do Mato Grosso do Sul.
recuperadas de fazendas nos últimos 25 anos. Outras áreas fo
ram identificadas e, com exceções, demarcadas, mas
sem posse definitiva, impedida por ações legais que
demoraram anos para se resolverem na Justiça. Em
consequência do impasse da política indigenista e fun
diária, existem atualmente 24 acampamentos à beira
das grandes estradas, com uma população flutuante,
que vive em condições de extrema vulnerabilidade.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL MATO GROSSO DO SUL 685
O confinamento Guarani em pequenas áreas ocasionou uma fontes de água não contaminadas. Para além dessas questões, o
superpopulação e a sobreposição de inúmeros grupos de famí quadro abaixo busca dar visibilidade às forças contraditórias que
lias extensas diferenciadas (a unidade sociopolítica e econômica incidem na ação indigenista entre os Guarani do MS.
dessa sociedade), compulsoriamente obrigados a conviver com Esse quadro trata de demonstrar esquematicamente a situação
outros grupos familiares e locais, gerando problemas sociais e de emergência humanitária que sofrem os Guarani na região, no
desespero. Ao mesmo tempo, avançou o desmatamento radical contexto de uma perda acelerada do seu espaço de vida, oposto
em função da agricultura mecanizada de monocultivos com utili a um modelo de desenvolvimento ecologicamente predatório,
zação intensiva de agrotóxicos, conduzindo à destruição massiva economicamente concentrador, socialmente empobrecedor e
do meio ambiente e da paisagem cultural guarani. culturalmente alienante, não só para os índios como para todos
Nos últimos 20 anos, outro fenômeno que se relaciona à deterio os brasileiros da região.
ração das condições de vida diz respeito aos suicídios frequentes Perante a obstaculização permanente dos direitos indígenas às
praticados pelos Guarani no MS e do aumento da violência
suas terras pelo poder judiciário regional, é necessária uma ação
intrafamiliar. urgente, coordenada e massiva para a recuperação do espaço
Tendo em vista esse cenário, torna-se imprescindível conhecer de vida dos Guarani, por via de uma indenização das terras
e interpretar uma nova cultura emergente entre os Guarani da ocupadas irregularmente, mas com títulos de “boa fé” outorga
faixa de idade entre 15 e 30 anos, dada sua formação radical dos pelo próprio Estado de MS. Uma das alternativas seria uma
mente diferente à da geração dos seus pais. Também é preciso emenda constitucional que permitisse a compra ou indenização
vincular a “luta pela terra” à existência de recursos naturais que de TIs ocupadas (PEC “Terra nua”), com o risco de servir como
permitam o seu uso cultural específico, concentrando esforços precedente para inúmeras demandas de ex-ocupantes de TIs,
para a identificação de novas áreas indígenas nas microrregiões principalmente na Amazônia. Outra alternativa seria haver um
que ainda mantêm uma cobertura com ecossistemas naturais e entendimento entre os governos federal e estadual para indenizar
686 MATO GROSSO DO SUL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
as terras cujos proprietários sejam portadores de “títulos de boa guarani, com um espaço de vida viável para evitar esse “fim do
fé” incidentes em TIs, sem consequências legais fora do Estado do mundo” anunciado.
MS. Seja como for, é fundamental que a identificação das terras
Com o avanço do desmatamento, das pastagens aniquiladoras
pelos GTs da Funai seja concluída, possibilitando uma negociação
e do cultivo da cana e soja, a pressão para o arrendamento das
baseada em conhecimentos precisos e com participação ampla
terras inúteis para a agricultura tradicional nas TIs aumentou, e
das comunidades indígenas.
hoje uma proporção considerável das terras com posse real está
Uma vez recuperadas as terras dos tekoha, começa o processo sendo arrendada aos mesmos vizinhos fazendeiros, que causam
de reconstruir um espaço de vida com base no uso dos recursos o colapso do agroecossistema guarani. Muitas vezes, são os “ca
naturais e culturais guarani. O desenvolvimento de uma agricul pitães” os intermediários, alegando que “a comunidade precisa
tura ecológica e culturalmente adaptada deve incluir recuperação de recursos”. Na vida real, porém, os “recursos” se transformam
do solo, bancos vivos de sementes tradicionais, adubação verde, em carros sucateados que quebram na primeira viagem, em
cultivo de árvores, substituição da coivara, manejo do lixo, con promessas de arar a terra nunca cumpridas, e numa corrupção
trole da braquiara e controle do fogo. Mas todas as técnicas de que envolve toda a “classe política” da área indígena, começando
recomposição socioambiental devem ser apresentadas dentro com o “Chefe de Posto” contratado pela Funai. O que se realiza é
do contexto cultural guarani e seus conhecimentos históricos a dilapidação do patrimônio indígena por corte de árvores, erosão
como povo da floresta. de solos e envenenamento das nascentes de água. Ademais, o gado
do arrendamento frequentemente escapa, invadindo e destruindo
Para compreender a pressão permanente para que os Guarani
as roças que ainda existem, e o fogo põe o ponto final.
deixem o uso tradicional da terra – marcada por uma produção
de subsistência cíclica e com excedentes eventuais –, basta ver Não é de surpreender que essa realidade quase apocalíptica di
a paisagem de plantações de soja, de cana e das fazendas de ficulte todas as atividades no campo do “bom uso dos recursos”
gado, com alta tecnologia, muito lucro e um estilo de vida cada entre os Guarani. Mesmo assim, surgiram várias experiências
vez mais urbano e monetarizado. Já não há roça, nem mata, com perspectivas promissoras nas diferentes comunidades, con
tampouco cabeceiras dos riachos. E, sim, terra transformada em centradas em ações de homens e mulheres guarani com vocação
“um mundo fora do mundo”, isto é, sem espaço de vida para os de “profetas” e o dom da perseverança. (novembro, 2010)
Guarani, que se chamavam ka’aygua, “gente da mata”. Hoje, em
vez da mata, a luta quase diária contra a pastagem que devora
tudo (braquiara) e logo pega fogo, além das fontes de água sujas ARTICULAÇÃO GUARANI
e envenenadas. E, para obter comida, os Guarani têm que pedir Por iniciativa da “Articulação Guarani”, da qual participaram as
“cesta básica” ou sofrer o trato humilhante na “changa”, cortando entidades brasileiras CTI, Cimi, UFGD e ISA, foi elaborado, durante
cana durante semanas sem ver a família. o ano 2008, um mapa detalhado das comunidades Guarani na
região da fronteira do Mato Grosso do Sul, Paraguai oriental e a
O maior êxito dos projetos de apoio está no desenvolvimento de província de Misiones, Argentina, documentando um território com
uma metodologia de trabalho participativo e ancorado na cultura mais de 500 lugares e uma população total de aproximadamente
100.000 pessoas que hoje é ameaçado pelo avanço das plantações
guarani, que combina a “questão fundiária” (em termos dos de soja e cana-de-açúcar. O mapa “Guarani Retã” e uma publicação
“brancos”) com a informação sistemática sobre os dois sistemas “Povos Guarani na Fronteira: Argentina, Brasil e Paraguai” podem
de pensamento e atuação legal ava–karai (guarani e brasileiro) ser consultados na página web do CTI:
e com o desafio monumental de manter um “bom uso” dos re para o mapa: www.trabalhoindigenista.org.br/Docs/guarani_
cursos naturais mesmo ante à ameaça da sua destruição radical. mapa_final_241108.pdf
O desafio maior é assim a reinvenção de uma paisagem cultural para o Caderno: www.trabalhoindigenista.org.br/Docs/Guarani
Reta-2008.pdf
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL MATO GROSSO DO SUL 687
GUARANI
A REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DAS TERRAS GUARANI décadas de 1960-1980, quando ocorre a expansão das atividades
KAIOwÁ E GUARANI ÑANDEVA NO MATO GROSSO DO agropecuárias.
SUL É COM CERTEZA O MAIOR DESAFIO ATUAL DO
ÓRGÃO INDIGENISTA OFICIAL. PARA ENFRENTÁ-LO, A perda do controle territorial caminhou pari passo com o
É FUNDAMENTAL CONSIDERAR A INTERDEPENDÊNCIA gradativo cerceamento da autonomia política das comunidades.
DAS VARIÁVEIS TERRITORIAL, ORGANIZACIONAL Deslocadas de sua base territorial, a maior parte das famílias
E AMBIENTAL foi constrangida a se recolher no interior das oito pequenas
reservas indígenas demarcadas pelo Serviço de Proteção aos
Índíos (SPI), entre as décadas de 1915 e 1928. No início da
Avariável territorial diz respeito à identificação das terras de ocupação agropastoril foi frequente a dispersão de famílias
ocupação tradicional, tendo em vista que as comunidades Kaiowá indígenas por fazendas em fase de instalação, incorporadas
e guarani foram expropriadas de seus territórios tradicionais como mão de obra temporária ou na condição de agregados de
para dar lugar à expansão da frente de ocupação agropastoril. A fazendas. De certa forma, elas faziam parte do patrimônio da
variável organizacional se refere à reconfiguração das famílias fazenda, pois sempre estavam presas aos patrões por dívidas
indígenas enquanto comunidades políticas que demandam re impagáveis. Em vários casos, famílias de agregados indígenas
conhecimento de territórios étnicos. Isso porque a expropriação permaneceram nos locais onde já estavam, negociando a
territorial atuou como fator desagregador da organização social, permanência no local mediante a disposição em assumir a
impondo a dispersão das famílias por várias localidades. Nas condição de agregados da fazenda que ajudaram a implantar
últimas três décadas vários líderes indígenas atuaram com de ou “formar” suas terras.
terminação buscando reagrupar suas comunidades com o fim de
Concluída a instalação das fazendas, a mão de obra indígena se
retomar áreas de ocupação tradicional. Avariável ambiental traz
tornou dispensável, e a maior parte das famílias que ali vivia
o desafio da gestão dos territórios indígenas, agora desmatados e
tinha apenas dois destinos possíveis: recolher-se nas reservas
desgastados por décadas de ocupação agropastoril.
demarcadas ou passar a morar na periferia dos núcleos urbanos
Estudos históricos e antropológicos atestam que, a partir da que surgiram na região. Brand, em sua tese de doutorado, afirma
penúltima década do século XIX, as comunidades kaiowá e gua que, a partir do final da década de 1970, as reservas aumen
rani foram sendo gradativamente expropriadas das terras que tam substancialmente sua população devido ao recolhimento
ocupavam de acordo com seus usos, costumes e tradições. Tal da população de famílias que perderam suas moradias nas
expropriação foi mais intensa em alguns períodos, como entre fazendas. O mesmo autor registra o termo sarambi, traduzido
as décadas de 1930 e 1950, coincidindo com o requerimento e no português falado por seus interlocutores indígenas como es-
titulação da maior parte das terras por particulares e, entre as parramo, como sendo a forma utilizada pelos Kaiowá e Guarani
688 MATO GROSSO DO SUL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
festivos e rituais religiosos que conformam
e dão sentido aos módulos organizacionais
kaiowá e guarani. A fragmentação, por eles
entendida como esparramo ou sarambi, tem
o sentido de dispersão, mas também o de
confusão, falta de sentido e orientação, o que
parece traduzir de modo preciso a situação de
muitas comunidades nas últimas décadas.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL MATO GROSSO DO SUL 689
“Ambrósio afirmou que quando iniciou o trabalho de sistema tradicional, pois ‘na reserva demarcada não tem
reorganizar as famílias para retomar o território, sentiu ambiente, as pessoas não se envolvem com a reza, as crianças
necessidade de aprender mais sobre o sistema dos antigos. quando vão para a escola são discriminadas pelos filhos dos ín
Disse que com a expulsão da comunidade de Guyraroká e a dios crentes que costumam chamá-las de demônios, só depois
vida errante pelas fazendas e reservas demarcadas, a família que viemos para o acampamento é que as crianças passaram
de seus pais (...) foi obrigada a interromper muitos ciclos a se envolver mais com a reza’ (Relato de Ambrósio).
de rezas. Dessa forma, as pessoas de sua geração ficaram (...) na compreensão dos Kaiowá, a recuperação das rezas é
com uma lacuna na sua formação (...) Em determinado uma condição primeira e necessária para o retorno a terra,
momento, sentiu necessidade de se dirigir até o Paraguai, só quando deus ouvir as rezas é que poderão recuperar as
segundo disse, em busca do conhecimento dos caciques terras de onde foram expulsos.”
antigos (xamãs), que existem em pequeno número no Brasil
hoje. Na verdade, os poucos que existem alegam que não dá Entretanto, quando os índios logram retomar o controle sobre
para rezar mais, pois vivem em reservas superpovoadas, com terras tradicionais, a ocupação agropastoril praticamente já
conflitos políticos, interferência de ‘crentes’, dependência do eliminou a diversidade florística e faunística, tornando inóspitos
‘branco’ e falta de recursos ambientais como caça, mel e cul os territórios recuperados. Isso promove o desencantamento do
tivos de plantas agrícolas tradicionais, imprescindíveis para mundo e impõe o afastamento de diversos seres míticos com
a realização dos rituais nos quais as rezas são executadas. os quais os xamãs se relacionam. O xamã Tingaú, da reserva
No Paraguai, Ambrósio procurou os velhos, rezou com eles de Dourados, afirmou certa vez que “sem a mata a vida do
e expôs as dificuldades que teria pela frente na retomada índio ficou triste”. Os xamãs atribuem a responsabilidade pela
da terra. Os velhos xamãs deram as instruções de como destruição da mata aos “brancos”, sendo comum ouvir a afir
ele haveria de proceder e após algum tempo de preparação mação: “karai ho’upa ore ka’aguype – os brancos devoraram
retornou ao Brasil, ‘aí tudo ficou mais fácil, o que parecia todo nosso mato”. Entretanto, afirmam que a recomposição
impossível começou a acontecer, a Funai criou o Grupo de ambiental nos territórios reocupados dependerá da retomada
Identificação e vocês estão aqui para realizar o trabalho’ das relações dos xamãs com as divindades, a partir da retomada
(Relato de Ambrósio). da prática das rezas.
Ambrósio (e a comunidade como um todo) encara a retomada Um exemplo dessa percepção está no uso do fogo. Os Kaiowá e
da terra tradicional como um movimento de reativação do Guarani consideram o fogo como um importante instrumento
de cultivo, aplicado desde tempos
imemoriais. O fogo é visto como uma
técnica profilática que esteriliza o solo:
“o fogo limpa e o Kaiowá gosta de viver
no limpo”.
690 MATO GROSSO DO SUL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
poucas décadas por criadores de gado –, resultam, no entanto, guarani, o que requer a identificação e demarcação de terras
em solos pobres e compactos. Decorre daí a dificuldade de tradicionalmente ocupadas.
utilizá-los para a produção agrícola sem a correção com calcário
As dificuldades que surgem no processo de recomposição política
e adubos. Isso já ocorre na maioria das reservas demarcadas,
das comunidades resultam, algumas vezes, em intensas disputas
mesmo em espaços que nunca foram cultivados, mas onde o
internas. Uma das fontes de conflito é a tendência da maior parte
solo foi empobrecido pelos incêndios que se repetem a cada ano.
das lideranças de projetar expectativas organizacionais a partir
Terras reservadas pelo SPI, como Dourados, Amambaí, Caarapó,
da experiência histórica nas reservas, onde durante quase um
Pirajuí, Limão Verde, Porto Lindo, Sassoró e Taquapiri, e as TIs
século predominou o regime tutelar do órgão indigenista oficial.
reconhecidas a partir da década de 1980, como Rancho. Jacaré,
Algumas lideranças já iniciam o debate nas assembleias gerais
Guaimbé, Pirakuá, Paraguasu, Cerrito, Guasuti, dentre outras,
– como a Aty Guasu –, procurando conceber um novo modelo
estão nessa situação. É possível afirmar que o descontrole do
organizacional para seus territórios.
fogo e a invasão das gramíneas tornou impraticável a agricultura
Órgãos públicos como o Ministério Público Federal e a Funai ain
tradicional kaiowá e guarani.
da carecem de metodologias de trabalho que permitam superar
Aracionalidade científica ou agronômica apontaria que os princi as dificuldades geradas nos processos políticos de recomposição
pais fatores de limitação da produção atual das roças cultivadas
das comunidades mobilizadas em função de suas demandas
pelos Kaiowá e Guarani seriam a introdução e proliferação das
territoriais. Uma contribuição importante pode ser explicitar
gramíneas na região; o descontrole do fogo que consome a massa para as lideranças e comunidades indígenas os parâmetros legais
seca produzidas pelas gramíneas; o empobrecimento dos solos que poderiam orientar a vida política nos territórios indígenas.
devido às seguidas queimadas; o confinamento em pequenas Seria fundamental a participação indígena na construção de
áreas de terra e o aumento da pressão sobre os recursos disponí um modelo de organização política e gestão territorial para
veis. Na compreensão indígena, contudo, abandonar o uso do fogo os Kaiowá e Guarani, condição para superar o antigo modelo
representa um duro golpe para a agricultura kaiowá e guarani. político implantado nas reservas. Tal modelo está em total falta
Para eles, a lavoura cultivada sem o conjunto de práticas culturais de sintonia com a legislação atual, já que foi pensado a partir
consolidadas, incluindo o uso do fogo, é lavoura incompleta. E do integracionismo, sepultado pela Constituição atual. A falta
a convicção de sua incompletude parece se reforçar na baixa de uma política indigenista oficial mais eficiente para dar conta
produtividade das roças atuais. dos problemas organizacionais apresentados pelas comunidades
A forma como os Kaiowá e os Guarani encaram os problemas indígenas favorece a entrada em cena de agentes políticos sem
gerados pelo uso do fogo tem foco na origem do descontrole do qualificação para a interlocução, o que torna o processo ainda
fogo, até porque reconhecem que ela coincide com a chegada mais complexo e problemático.
dos representantes das frentes de ocupação agropastoris. Eles Na ausência de alternativas para a exploração da terra pelos indí
reconhecem facilmente o perigo representado pelo fogo descon genas, as lideranças das comunidades ficam a mercê do assédio
trolado nos períodos de seca e sabem que ele deixou de ser uma de pessoas que têm interesse em arrendar Terras Indígenas. Vá
técnica de manejo e se transformou num risco permanente. Mas rias das terras kaiowá e guarani demarcadas nas últimas décadas
esses problemas, contudo, não são vistos de forma isolada e não em MS já se encontram arrendadas para criadores de gado. Isso
parecem passíveis de soluções práticas; refletem, antes, uma gera sérios problemas políticos internos à comunidade, com a
espécie de desalinhamento nas forças cósmicas responsáveis pelo divisão entre os que são contra os arrendamentos e os que são
equilíbrio da terra, com reflexo direto nas formas de convivência favoráveis. Novamente, nota-se aí a total inoperância do aparato
entre os homens e os deuses. indigenista oficial. (agosto, 2010)
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL MATO GROSSO DO SUL 691
GUARANI KAIOwÁ
Genocídio Surreal
IMAGINE UM LUGAR ONDE AS PESSOAS TÊM Depois, um relatório produzido pela ONG Survival International
para o Comitê para Eliminação da Discriminação Racial, da
EXPECTATIVA DE VIDA INFERIOR à DE PAÍSES
AFRICANOS EM GUERRA, ONDE A TAXA DE ONU, exclusivamente tratando das violações dos direitos dos
ASSASSINATOS É SEMELHANTE à DOS BAIRROS MAIS Guarani no Brasil. “A situação dos Guarani no MS é uma das
VIOLENTOS DE METRÓPOLES COMO SÃO PAULO E piores entre todos os povos indígenas da América”, aponta o
RIO, E ONDE AS TAXAS DE SUICÍDIO ESTÃO ENTRE texto. AAnistia Internacional, em seu relatório anual, também
AS MAIORES DO MUNDO. IMAGINE QUE, ALÉM DISSO destacou o caso ao falar dos direitos indígenas no país. Em
TUDO, ESSA É A TERRA ONDE VOCÊ NASCEU, MAS abril, o Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis, da ONG
QUE LHE FOI RETIRADA à FORÇA POR PESSOAS QUE Repórter Brasil, denunciou, no Brasil e na Europa, a ocupação
SE INSTALARAM ALI COM O APOIO DO GOVERNO DO pela indústria sucroalcooleira de terras guarani kaiowá já
SEU PRÓPRIO PAÍS, OBRIGANDO-O A SE REFUGIAR NO reconhecidas.
PAÍS VIZINHO PARA SOBREVIVER. E, SENÃO BASTASSE
Têm sido cada vez mais frequentes também as manifestações de
TUDO ISSO, QUANDO VOCÊ TENTOU VOLTAR PARA
entidades e personalidades em apoio à causa dos Guarani Kaiowá.
RECUPERAR O QUE ERA SEU POR DIREITO, FOI
No início de 2010, em carta, a ex-senadora Marina Silva (PV-AC)
TACHADO DE ESTRANGEIRO
alertou Lula para o “grau extremo da crise humanitária” pela
qual o grupo passa atualmente. Em março, após visita ao MS,
Imagine mais: uma situação de racismo tal que você não pode o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
frequentar um hospital, delegacia ou escola, nem ouvir a rádio, (CNBB), dom Dimas Lara Barbosa, também enviou carta a Lula
assistir às TVs ou ler os jornais sem ser humilhado cotidia pedindo agilidade nas demarcações das terras desses indígenas.
namente. Seja bem-vindo ao sul de Mato Grosso do Sul, onde Em agosto, centenas de lideranças indígenas de todo o país
sobrevivem os Guarani Kaiowá – 45 mil pessoas, em apenas 42 expressaram seu apoio aos Guarani Kaiowá com a realização do
mil ha. Tal quadro permaneceu, por muitos anos, praticamente 7° Acampamento Terra Livre em Campo Grande.
desconhecido da grande maioria dos brasileiros. Agora, cada vez
Em março de 2010, uma missão do Conselho de Defesa dos
mais, a situação vem chamando a atenção do restante do país e
Direitos da Pessoa Humana, órgão de Estado ligado à Secretaria
da comunidade internacional, e já se converteu num dos maiores
Especial dos Direitos Humanos (SEDH) foi avaliar a situação
desafios do país em relação aos direitos humanos. para fazer uma série de recomendações ao governo federal,
Só em 2010 foram pelo menos quatro os relatórios internacionais num trabalho de articulação que ainda continua. Em dezembro,
que destacaram a questão guarani kaiowá. Primeiro, em janeiro, o então presidente Lula entregou o Prêmio Direitos Humanos
o documento “A Situação dos Povos Indígenas do Mundo”, pu 2010, concedido pela Presidência da República, a representantes
blicado pelo Secretariado do Fórum Permanente sobre Questões do movimento guarani kaiowá de resistência, Aty Guasu. Lula
Indígenas das Nações Unidas –James Anaya, relator especial da discutiu publicamente o caso por várias vezes em 2010. Em feve
ONU para os Direitos Indígenas, visitara o estado em 2008. reiro, chegou a declarar a políticos e fazendeiros de MS que iria
692 MATO GROSSO DO SUL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
providenciar a compra emergencial de terras para os indígenas, do o relato dos índios, os três homens haviam chegado à área
mas o problema, no fim das contas, foi mesmo repassado, junto sem se apresentarem como policiais, à paisana e usando armas
com a faixa presidencial, a Dilma Rousseff. pesadas, em pleno sábado à tarde. Assustados com as ameaças
dos homens, que julgavam serem pistoleiros contratados pelos
Foi em 2005 que a situação do grupo passou a ser tratada
pelo CDDPH, órgão de Estado ligado à Secretaria Especial dos fazendeiros, os índios acabaram entrando em luta corporal com
o grupo, resultando nas duas mortes e em graves ferimentos
Direitos Humanos da Presidência da República, depois de para o terceiro.
apelos principalmente do Ministério Público Federal. Naquele
ano, ganharam destaque na imprensa os casos de mortes de O episódio deflagrou uma onda de hostilidade na imprensa
crianças em decorrência da desnutrição. Conforme a Funasa, o local, além das prisões de nove indígenas. Os índios relataram
número de mortes de crianças indígenas com até cinco anos no terem sido torturados pela polícia. Foi nesse momento que
MS praticamente quadruplicou entre 2000 e 2004 (passando de chegou a Dourados a comissão do CDDPH. Os indígenas presos
48 casos para 1900. denunciaram ter sofrido espancamentos dentro da delegacia
da polícia para onde tinham sido levados antes de chegar ao
Forte debate público se seguiu à divulgação da ligação desse
presídio. Também reclamaram das condições enfrentadas ali.
aumento nas mortes. Havia grande confusão sobre o número
Dentre as providências recomendadas pelo relatório final da
exato de óbitos efetivamente relacionados à desnutrição, mas,
comissão, estava o desaforamento do processo contra os índios,
sobretudo na imprensa e nos meios políticos, ficou marcada
em função do sentimento “escancaradamente contrário aos
a questão. Na Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul,
indígenas acusados” na comunidade local, bem como a garantia
chegou a ser instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito
de intérpretes para os réus.
da Desnutrição e Mortalidade Indígena. No final de 2007, CPI
semelhante foi instalada na Câmara Federal. O documento da comissão listou, ainda, uma série de demandas
Além da alta mortalidade das crianças, há duas décadas, chamam mais gerais ao Poder Público, dada a percepção de que aquele
a atenção as taxas de suicídio entre jovens indígenas ali – em conflito não era localizado, e, sim, o sintoma de um problema
alguns anos, já se registrou índice superior a 100 mortes por 100 bem mais geral na região. Recomendou-se a identificação, pela
mil habitantes –, quase 20 vezes acima da média brasileira, de Funai, da Terra Indígena Paso Piraju; a implantação de ações
5,7 por 100 mil. O índice de assassinatos, por sua vez, é também estruturais de combate à discriminação racial na região; a no
muito superior à taxa nacional e supera mesmo a das áreas mais meação, pela Advocacia Geral da União, de procuradores federais
violentas do país.
Dado esse conjunto de problemas, em 2005,
o CDDPH, como vários outros órgãos fede
rais, na mesma época, começava a estudar
a situação. Em 2006, na tarde de 1º de abril,
um sábado, grave episódio envolvendo a luta
pela terra chamou a atenção do conselho, que
rapidamente organizou uma missão ao estado.
Dois policiais civis armados foram mortos e
um terceiro ficou gravemente ferido após luta
corporal com indígenas que estavam acam
pados na área conhecida como Paso Piraju,
próxima a Dourados.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL MATO GROSSO DO SUL 693
para defender os interesses indígenas; a instalação de um núcleo (Coronel Sapucaia), Mbaraka’y (Tacuru), Ypo’i (Paranhos), Apykay
da Defensoria Pública da União em Dourados. (Dourados) e Itay Ka’aguyrusu (Douradina).
Poucos meses depois da visita a Dourados, seguindo a reco O resultado: pelo menos três mortos, dois desaparecidos e cinco
mendação da comissão, foi instituído oficialmente – por meio baleados, além de diversos episódios de espancamentos, atro
de decreto presidencial, em 19 de abril de 2007 – o Comitê pelamentos suspeitos e pelo menos um acampamento de beira
Gestor de Ações Indigenistas Integradas para a Região da de estrada incendiado. Às vezes, nem mesmo a imprensa local
Grande Dourados, com a participação de 14 órgãos federais, noticia os enfrentamentos, que são resolvidos sem autorização
incluindo dez ministérios. Dirigido pelo Ministério do Desen judicial na calada da noite, pelos próprios fazendeiros – caso
volvimento Social e Combate à Fome, o comitê tinha o objetivo de Mbaraka’y. Casos como o de Ypo’i, por outro lado, obtiveram
de coordenar, articular, avaliar e monitorar as ações federais destaque internacional. Nesse local, em novembro de 2009,
desenvolvidas junto aos Guarani Kaiowá. O comitê, na verdade, foram mortos dois professores indígenas durante uma tentativa
já vinha atuando extra-oficialmente desde 2005, na elaboração de ocupação do território reivindicado como tradicional.
de estratégias para enfrentar a crise humanitária que vivem os
Levantamentos do Cimi indicam que ocorrem ali mais da
Guarani Kaiowá. Infelizmente, esse esforço de coordenação das
metade dos assassinatos registrados entre indígenas em todo o
medidas se perdeu depois que arrefeceu o escândalo em torno país –foram 33, dos 60 anotados em 2009, e 42, também de 60,
da desnutrição indígena, e várias dessas ações se perderam em
em 2008. Grande parte deles envolve disputas entre as famílias
iniciativas pontuais e de curto fôlego.
indígenas, acentuadas pela escassez de recursos e comida, mas
há também vários crimes de perseguição política. Segundo o
PonTo nevrálgico MPF, atualmente correm processos referentes a 13 conflitos
Aterra é o ponto nevrálgico da discussão. Em 2008, após assinar mais graves envolvendo indígenas de áreas não demarcadas e
um Compromisso de Ajustamento de Conduta com o MPF, a proprietários de terra, desde 2000.
Funai lançou seis GTs de identificação das terras guarani kaiowá,
Também há alto índice de suicídios, principalmente entre jovens,
abrangendo 26 municípios do Cone Sul do MS. Aideia é resolver,
outro grave problema que persiste desde o início dos anos 90,
de uma vez por todas, o déficit na demarcação de terras ali
apesar de ter desaparecido da mídia. Só em 2008, foram 34 casos.
Desde essas portarias, o conflito com os ruralistas tornou-se ain Em 2009, 18. A taxa de suicídios, em determinados anos, pode
da mais forte e evidente. “Produtores declaram guerra aos índios”, chegar a mais de 100 por 100 mil habitantes, contra a média
destacou a manchete do maior jornal do estado, na época. nacional de 5,7 por 100 mil, segundo dados da Funasa.
694 MATO GROSSO DO SUL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
TERRA DA DISCÓRDIA
Ofim do governo Lula consagrou um atraso de 17 anos, e mais de um grupo guaranifora alvo de esbulho e por isso não estava na área
quatro mandatos presidenciais, sem resolver o problema das terras reivindicada por eles no ano de 1988 (marco temporal que, segundo
guarani-kaiowá. A Constituição de 1988 determinou que a demar o STF, determina se uma área pode ou não ser considerada Terra
cação das Terras Indígenas seria concluída em cinco anos após a Indígena). Mas, como estariam ali, se relatam terem sido expulsos
promulgação da Carta. pelos fazendeiros?
A presença guarani por todo o sul de MS foi exaustivamente regis Das três terras guarani kaiowá homologadas por Lula em seu go
trada desde o período colonial. Após a Guerra do Paraguai, as terras verno, duas tiveram a ocupação suspensa por liminar do STF. Além
da região foram cedidas à Cia. Matte Larangeira, que utilizava a de Arroio Korá, há o caso da TI Nhanderu Marangatu, cuja liminar
mão-de-obra indígena (em regime escravo) para explorar a erva já completou cinco anos sem julgamento. Isso quer dizer que, em
mate. As primeiras reservas para o grupo foram criadas na década toda a década passada, o território efetivamente ocupado pelo grupo
de 1910, pelo SPI. O problema é que eram demarcadas conforme a não aumentou mais do que uns2 mil ha (somando-se os 1,2 milha
conveniência dos brancos. As oito terras criadas somavam 18 mil da TI Panambizinho, homologada em 2004, e diversas outras áreas
ha. À medida que o afluxo de colonos aumentou, os índios foram pequenas
ou a resolução
onde os
das
grupos
disputas
locaisjudiciais,
aguardam normalmente
processos de após
identificação
acordos
sendo pressionados a deixar as matas e entrar nessas áreas do
SPI, ou ir para a beira da estrada – onde, até hoje, há mais de 20 mediados pelo MPF).
acampamentos indígenas na região. Muitos foram expulsos para A gravidade da situação contrasta com a grandiosidade das teorias
o Paraguai, sob ameaças. Logo nos anos 80, as oito áreas antigas conspiratórias. Em 2008, o filósofo gaúcho Denis Lerrer Rosenfield,
estavam superlotadas – Dourados, por exemplo, tem hoje mais de articulista de jornais do porte de O Estado de São Paulo, chegou a
12 mil pessoas em 3,5 mil ha. passear pelo MS dando entrevistas como consultor dos fazendeiros
Também nos anos 80, os Guarani Kaiowá organizaram sua resis locais. Para ele, as demarcações escondem a intenção de articular
tência. Surgia o movimento conhecido como Aty Guasu, ou “grande um movimento separatista e de compor uma “nação guarani”.
reunião”. A partir da união das dezenas de grupos locais, os indíge Chegava-se a dizer, na época, semeando pânico na população, que
nas deram visibilidade à luta por suas terras, chamadas de tekoha um terço do estado poderia ser transformado em Terra Indígena – o
–lugar onde se pode viver conforme os costumes. Uma a uma, foram que foi prontamente desmentido pela Funai e pelos antropólogos
conquistando pequenas ilhas de terra: mais de 20, ao todo, hoje em envolvidos no processo de identificação de terras.
diferentes estágios de regularização. Enquanto a solução vinha a
Com o objetivo principal de resolver o caso no MS – que também
conta-gotas, os problemas se acumulavam. Os fazendeiros também
inclui disputas envolvendo em menor grau outros grupos, como os
se articularam e se tornaram cada vez mais violentos: de uns dez
Terena –, vem sendo costurada no Congresso a aprovação de uma
anos para cá, as mortes de indígenas durante as recuperações de
Proposta de Emenda Constitucional que possibilite o pagamento
terra se tornaram frequentes. Ultimamente, até os integrantes dos
de indenizações pela terra nua no caso de demarcações de Terras
grupos de identificação da Funai têm sofrido ameaças.
Indígenas – hoje, o pagamento é apenas pelas benfeitorias. Apesar
Para tentar pôr fim aos problemas, de uma vez por todas, foi que, das tentativas de utilizar essa reforma para “abrir a porteira” ao
em 2008, a Funai lançou as seis portarias que resultaram na pagamento pelas terras a gente que expulsou comunidades de for
intensificação dos conflitos. A oposição dos fazendeiros é aberta ma criminosa, ou mesmo se apropriou indevidamente de terras, o
mente articulada com o poder estadual, que lhes dá apoio político senador Eduardo Suplicy (PT), com a concordância da Funai e de
e financeiro. Surfando na onda criada pelo julgamento do Supremo muitos indigenistas, apresentou um texto alternativo à PEC 03/04,
Tribunal Federal sobre a demarcação da TI Raposa/Serra do Sol, o permitindo a indenização pela terra nua apenas em caso de títulos
governador e a quase totalidade da bancada no Congresso fizeram de boa fé e que não envolvam esbulho. Espera-se que a discussão
o que puderam para atravancar o processo no estado. prossiga em 2011.
A entrega dos relatórios de identificação já deveria ter sido feita em O problema é que, embora se reconheça que boa parte das terras
2010, segundo o acordo da Funai com oMPF, mas a batalha política na região foi adquirida de boa fé, por colonos levados para lá pelo
dificultou o trabalho dos GTs, que ficaram até agosto sem poder entrar governo, existem suspeitas de que, em certas áreas, haja casos de
nas fazendas cujas terras são reivindicadas pelos indígenas. A arena grilagem e de esbulho. Para quem tem culpa no cartório, pode ser
a que os fazendeiros têm tentado conduzir a disputa é, sobretudo, o que uma solução legal simplesmente não interesse, e que o melhor
Judiciário. Segundo levantamento de 2009, são mais de 80 processos seja continuar criando confusão – à custa de mais vidas humanas.
na Justiça Federal contra as demarcações. (Joana Moncau e Spensy Pimentel)
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL MATO GROSSO DO SUL 695
Sem possibilidade de viver da agricultura, coleta ou caça, ainda anti-indígena”, resume o procurador da República Marco Antonio
segundo a Funasa, 80% das famílias dependem da distribuição Delfino, de Dourados.
de cestas básicas. Quando, em 2007, o serviço de fornecimento
Não bastasse a discriminação, o MS é o estado com o maior
foi suspenso temporariamente, sete crianças morreram de
número de detentos indígenas (148 no início de 2009, conforme
subnutrição no estado. As lideranças indígenas comparam sua
divulgado pela imprensa), e casos recentes, como o da área co-
situação à de animais domésticos num chiqueiro, a quem se dá
nhecida como Kurusu Ambá, demonstram que a criminalização
comida e se nega a liberdade até a hora da morte.
de lideranças já se tornou uma estratégia na luta contra os índios.
Quando se revoltam contra o confinamento e tentam recuperar No local, onde já foram assassinados quatro indígenas desde 2007,
suas terras, até mesmo a assistência de saúde lhes é negada – a os únicos presos até agora foram lideranças de grupo, acusadas
Funasa, alinhada com o governo do estado, se recusa a prestar de crimes como roubo.
assistência nas áreas em disputa. Os repasses federais para
apoio à produção agrícola em TIs também são controlados pelo Por conta desse grau de dificuldade com aJustiça, explica-se a
governo do estado e aplicados a seu critério, sem consultas às transferência para a cidade de São Paulo, a pedido do MPF, do
comunidades, o que agrava a situação de insegurança alimentar julgamento dos quatro acusados pela morte do cacique Marcos
nas aldeias. Verón. Aos 72 anos, ele foi morto a pauladas ao tentar recuperar
sua terra tradicional, Takuara, em 2003, supostamente a mando
Com tudo isso, a expectativa de vida entre os Guarani Kaiowá é
do proprietário da fazenda Brasília do Sul – município de Juti.
de 45 anos, quando a média brasileira é de 72,7 anos. Aos que
O julgamento foi suspenso em maio de 2010 e retomado em
sobrevivem, resta buscar a mendicância nas cidades, ou arranjar
fevereiro de 2011. Os acusados foram inocentados do crime de
trabalho, muitas vezes em condições irregulares, nas usinas e
homicídio, e condenados a 12 anos e três meses pelo crime de
fazendas da região. Em 2007, duas grandes ações de fiscalização
seis sequestros, tortura e formação de quadrilha armada, mas
de agentes do Ministério do Trabalho e Emprego em MS encontra
vão recorrer em liberdade dessa sentença.
ram condições degradantes de trabalho – análogas à escravidão,
segundo o Código Penal – em duas das usinas sucroalcooleiras Configura genocídio “intenção de destruir, no todo ou em parte,
onde trabalham os Guarani Kaiowá: a Dcoil (Iguatemi – cerca grupo nacional, étnico, racial ou religioso” (Lei 2.889/56). As
de 170 indígenas, entre os 498 trabalhadores) e a Debrasa (1.011 evidências demonstram que o que se está tentando fazer, direta
indígenas trabalhando, em Brasilândia). Adiscriminação racial é ou indiretamente, é exterminar física e culturalmente os Guarani
tão comum que mesmo figuras públicas, como políticos e jorna Kaiowá. Para além das demarcações de terras, ainda há uma
listas, não têm nenhum pudor em externá-la. Nos últimos anos, longa batalha a travar, até que mude esse quadro de vergonhosa
o MPF tem entrado com ações por racismo e danos morais para violação de direitos humanos. (Versão editada e atualizada de
coibir abusos nesse sentido, mas os casos são numerosos. “Há texto publicado no Especial Indígena n° 1 da Revista Caros
entre a população sul-matogrossense uma postura claramente Amigos de outubro de 2010)
696 MATO GROSSO DO SUL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
DEMARCAÇÃO
Cronologia da Luta
por Terra no MS
Equipe de edição
A DIFÍCIL TAREFA DE REALIZAR OS ESTUDOS porque eles podem acompanhar todo o processo de estudo e de
DE IDENTIFICAÇÃO DAS TIS GUARANI NO MATO marcação. (Clodoaldo Silva, Correio do Estado, 21/08/2008)
GROSSO DO SUL
MnP sUgere BloQUear esTrada
Para iMPedir visToria
PreFeiTos irão aJUizar ação conTra O presidente do Movimento Nacional de Produtores sugeriu
Tac da deMarcação hoje, durante audiência pública na Câmara Municipal de Campo
Grande, que os produtores bloqueiem estradas para impedir a
Os prefeitos de Mato Grosso do Sul cujos municípios deverão
vistoria determinada pela Funai em 26 municípios de MS. (Aline
ser afetados pela demarcação de Tis resolveram ajuizar ação e
dos Santos, Campo Grande News, 21/08/2008)
questionar judicialmente os efeitos do chamado TAC da Demar
cação, Termo de Ajustamento de Conduta, assinado pela Funai FUnai sUsPende esTUdos
com o MPF. Decisão foi tomada por 20 dos 26 prefeitos da área
de idenTiFicação de Tis
abrangida pelos estudos antropológicos que estão sendo iniciados
pela Funai, em atendimento ao citado TAC. (Alcindo Rocha, O presidente da Funai, Márcio Meira, atendeu aos protestos dos
produtores rurais e suspendeu temporariamente os estudos
Midiamax, 31/07/)
antropológicos no sul do estado. Segundo ele, as pesquisas para
liMinar iMPede FUnai de idenTiFicar Tis identificação de territórios tradicionalmente ocupados pela etnia
Guarani-Kaiowá serão retomadas “o mais breve possível”, mas so
Uma liminar, concedida pela Justiça na sexta-feira impediu o mente depois que a Funai publicar uma instrução normativa com
início de um estudo da Funai que pretende identificar TIs em novas diretrizes para a realização do trabalho. Meira comunicou
MS. Uma portaria expedida em julho pela Funai prevê a avaliação a suspensão dos estudos em entrevista coletiva, após reunir-se
em áreas de 26 municípios da região sul do estado. Dez milhões por mais de quatro horas com o governador André Puccinelli
de hectares devem ser vistoriados para a demarcação de novas (PMDB). Também participaram do encontro representantes de
reservas da etnia guarani-caiuá. (G1, 11/08/2008) associação de produtores rurais, de lojistas e de empresários.
(Vinicius Konchinski, Agência Brasil, 16/09/2008)
TrF cassa liMinares e FUnai
Pode reToMar visTorias ProcUrador QUesTiona TerMos
A pedido do MPF, o TRF-3ª Região cassou as liminares que de acordo enTre FUnai e governo
impediam a Funai de fazer a identificação e delimitação de TIs O procurador da República em Dourados, Marco Antônio de
em 26 municípios. O MPF alegou não existir qualquer prejuízo Almeida, questionou alguns termos do acordo firmado entre a
aos proprietários rurais nos trabalhos desenvolvidos pela Funai, Funai e o governo de MS, afirmando que o protocolo de intenções
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL MATO GROSSO DO SUL 697
assinado nessa segunda-feira é um “avanço”, mas destacou que ProdUTores PodeM Usar a Força se FUnai
algumas ações citadas no documento terão de ser bem estrutura enTrar eM Fazendas
das para que não infrinjam a lei. Para Almeida, o primeiro ponto Produtores rurais prepararam um esquema de proteção contra
questionável é o que prevê a participação do governo estadual o trânsito em suas fazendas de técnicos da Funai instruídos a
no GT para realizar o estudo antropológico. Almeida afirmou agirem no processo de demarcação de TIs. A medida, acertada
que a legislação nacional deixa claro que cabe exclusivamente pelos produtores após audiências promovidas em seis cidades,
à União a demarcação de TIs no país. O procurador refutou a inclui o uso da força caso a missão que examina a extensão da
possibilidade de o governo federal pagar pelas áreas rurais que área indígena insistir em entrar nas fazendas, segundo informou
eventualmente sejam declaradas TI, como também foi acordado o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Dourados,
entre o presidente da Funai, Márcio Meira, e o governador André Marisvaldo Zeuli. (Celso BejaranoJr., Midiamax, 03/08/2009)
Puccinelli (PMDB). (Agência Brasil, 17/09/2008)
liMinar do TrF sUsPende inÍcio
PresidenTe da FUnai convocado de esTUdos anTroPológicos
Para eXPlicaçÕes
Acolhendo o apelo feito pela Famasul, o TRF-3 proferiu decisão que
O presidente da Funai, Márcio Meira, foi convocado para dar suspende o início dos estudos antropológicos visando a demarcação
explicações sobre a demarcação de terras em MS à Câmara das TIs em MS. Os estudos antropológicos estavam previstos para
dos Deputados, em Brasília. (Ângela Kempfer, Campo Grande começar hoje, mas foram adiados para depois da reunião com
News, 08/10/2008) todos os envolvidos que estava marcada para a semana que vem.
Agora, a Funai terá que tentar derrubar a liminar para começar os
governo do Ms deve ir ao sTF estudos. (Jacqueline Lopes, Midiamax, 05/08/2009)
Para Barrar deMarcaçÕes
A secretária do Desenvolvimento Agrário de Mato Grosso do Sul,
MPF coBra deMarcação
Tereza Cristina da Costa Dias, afirmou que o estado vai recorrer O MPF em MS deve encaminhar esta semana um ofício cobrando
ao STF para tentar barrar possíveis demarcações de TIs. (Vinicius da Funai o andamento da demarcação de mais TIs para os Gua
Konchinski, Agência Brasil, 08/10/2008) rani Kaiowá. De acordo com o procurador Marco Antônio Delfino
de Almeida, o prazo para os procedimentos administrativos é de
PorTaria da FUnai deFine ProcediMenTos até 180 dias. (Gilberto Costa, Agência Brasil, 10/05/2009)
Para idenTiFicação de Tis
Pressionada, FUnai não inicia esTUdo
A portaria diz que quando os técnicos precisarem estudar as
áreas particulares ou de terceiros, a Funai notificará o governo soBre novas áreas
de MS, pedindo que um servidor estadual acompanhe os estu Dois meses depois de republicar as portarias, a Funai ainda não
dos como observador. O texto também determina que estudos iniciou os trabalhos para identificar novas áreas indígenas em
fundiários a serem realizados pela Funai, antes da demarcação, municípios da região sul de MS. O órgão enfrenta forte pressão
terão participação de funcionários do Incra e do órgão fundiário política e dos produtores rurais contra a ampliação das áreas
do estado. (Agência Brasil, 06/03/2009) destinadas aos índios Guarani-Kaiwá e Nhandeva. O reinicio
dos trabalhos enfrentou forte oposição do governador André
coMissão da cÂMara aProva sUsPensão Puccinelli (PMDB), deputados, senadores e produtores rurais.
de esTUdos Para deMarcaçÕes (Campo Grande News, 18/05/2009)
A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvol
ProdUTor será avisado 30 dias
vimento Rural da Câmara dos Deputados aprovou nesta semana o
Projeto de Decreto Legislativo 797/08, do deputado Dagoberto (PDT anTes de esTUdos eM Terras
MS), que interrompe os estudos para demarcação de seis TIs em MS. A Famasul garantiu hoje, na Justiça, que os produtores rurais
O projeto ainda será analisado pelas comissõesde Direitos Humanos sejam notificados com 30 dias de antecedência sobre a data e hora
e Minorias; e de Constituição eJustiça e de Cidadania. Depois, será para o início dos estudos antropológicos em suas propriedades.
votado em Plenário. (Agência Câmara, 05/04/2009) (Campo Grande News, 19/05/2009)
698 MATO GROSSO DO SUL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
deMarcação: Pressão Fracassa e FUnai vai decisão do sTF dá segUrança
iniciar visTorias JUrÍdica conTra deMarcaçÕes
O governador André Puccinelli (PMDB) foi chamado nesta Decisão do STF publicada na última sexta-feira deu “segurança
terça-feira a Brasília e informado por técnicos do Ministério da jurídica” para os proprietários de terras que têm título anterior
Justiça que os levantamentos previstos nas portarias publicadas a 5 de outubro de 1988, data da homologação da Constituição,
em 2008 e republicadas neste ano serão iniciados em menos de no caso dos estudos antropológicos para a demarcação de terras
dois meses. (Diário MS, 24/06/2009) em MS. Em acórdão, que pode servir de precedente para outros
julgamentos, ficou definida a data como “marco temporal”. No
noTa À iMPrensa do MPF esclarece caso, foi interpretada a Constituição como sendo terra indígena
deMarcação de Tis aquela tradicionalmente ocupada no dia 5 de outubro de 1988.
Reuniões com os diversos atores envolvidos na questão vêm Foi a 1ª vez que o STF deliberou sobre o tema. O acórdão já foi
sendo realizadas, onde se discute a adoção de um modelo que, seguido em duas decisões em 1ª instância, nesta segunda-feira,
não ferindo as disposições constitucionais, acelere o processo relativas aos estudos antropológicos em Fátima do Sul e Douradi
de demarcação e o retorno das comunidades indígenas a suas na. Em resposta à ação impetrada pelos dois municípios, aJustiça
terras originárias. O MPF/MS entende que não há ilegalidade estabeleceu que só poderão ser objeto de estudos demarcatórios
em mecanismos compensatórios aos proprietários de títulos de as terras tradicionalmente ocupadas por índios em 1988. (Paulo
boa-fé. (MPF, 10/07/2009) Fernandes, Campo Grande News, 28/09/2009)
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL MATO GROSSO DO SUL 699
Tacuru, Sete Quedas, Naviraí, Iguatemi eJuti, sob os argumentos mente até as propriedades que serão estudadas, sem necessidade
de que deveriam ter participação ativa no TAC - já que seriam de aviso prévio. Caso sejam impedidas de entrar nas áreas, podem
atingidos pela eventual demarcação, e que não havia sido respei requisitar apoio da Polícia Federal. (MPF, 18/08/2010)
tado o direito à ampla defesa. (MPF, 12/07/2010)
FaMasUl recorre conTra liBeração
Mais UM Pedido de anUlação do Tac das de esTUdos da FUnai
deMarcaçÕes É negado Pela JUsTiça
A Famasul entrou com recurso junto ao STF contra decisão que
AJustiça Federal de Dourados atendeu o MPF e negou pedido do na semana passada liberou estudos antropológicos em MS sem
município de Rio Brilhante para anular o TAC celebrado entre a aviso prévio aos donos de fazendas reivindicadas pelos índios.
instituição e a Funai. AJustiça entendeu que não há motivo para (Campo Grande News, 24/08/2010)
anular o acordo, acompanhando decisão anterior tomada pela
Vara Federal em Naviraí, que reforçou a legalidade do TAC e de JUsTiça ManTÉM deMarcação de Tis
terminou a continuidade dos estudos nos municípios de Tacuru, O TRF-3 negou recurso do município de Sete Quedas que pedia
Sete Quedas, Naviraí, Iguatemi eJuti. (MPF, 23/07/2010) o cancelamento dos estudos de identificação e delimitação de
TIs em sua área. O desembargador Henrique Herkenhoff, rela
MPF coBra na JUsTiça cUMPriMenTo tor do processo, indeferiu pedido de liminar e afirmou que o
de Tac das deMarcaçÕes município confunde interesse financeiro com interesse jurídico,
O MPF/MS ajuizou na última quinta, 29 de julho, pedido para ao invocar direito de propriedade de terceiros (proprietários
execução judicial do TAC firmado com a Funai em 2007. O TAC de terras). Na decisão, o magistrado determina que os estudos
estabeleceu uma série de obrigações para a Funai, que deveria são necessários porque é preciso uma prova “contundente para
resultar na entrega de relatórios de identificação e delimitação definir a ocorrência ou não da posse indígena nos imóveis,
de terras indígenas no estado. (MPF, 02/08/2010) bem como para verificar, nos casos de perda da posse, a forma
pela qual os silvícolas deixaram de ocupar os imóveis”. (OESP,
ProPrieTários de Terras não 21/09/2010)
PrecisaM ser noTiFicados
A Funai não será mais obrigada a notificar previamente os
esTUdos deveM ser conclUÍdos eM 2011
proprietários de terras de MS quando for realizar estudos de GTs de identificação e demarcação de seis TIs em MS devem
identificação e delimitação de TIs no estado. É o que decidiu o encerrar os estudos nas bacias dos rios Apa, Dourados, Brilhante,
ministro Cézar Peluso, presidente do STF. Agora, para realizar os Ivinhema, Iguatemi e Amambaí nos primeiros meses de 2011.
procedimentos de campo, as equipes da Funai podem ir direta (Gilberto Costa, Agência Brasil, 23/11/2010)
700 MATO GROSSO DO SUL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
KADIwÉU
Notícias da Associação
dos Kadiwéu – Acirk
A ACIRK É UMA ASSOCIAÇÃO CIVIL FUNDADA EM indicados pelas igrejas ou até mesmo pela Funai e, com base
MAIO DE 1989 NA TERRA INDÍGENA KADIwÉU. TINHA nessa representatividade, tornou-se apta a desempenhar princi
POR FINALIDADE CONGREGAR TODOS OS INDÍGENAS palmente duas funções:
DESSA ÁREA: ALÉM DOS PRÓPRIOS KADIwÉU, UM
A primeira foi a de destacar em usufruto familiar entre seus as
EXPRESSIVO CONTINGENTE TERENA E TAMBÉM
sociados o usufruto comunitário que o conjunto dos associados
ALGUNS CHAMACOCO, OFAIÉ XAVANTE E KINIKINAU
têm da totalidade das Terras da Reserva. Esse destaque permitiu,
entre outras finalidades, a nove famílias executarem projetos de
Como Associação Civil regida pela legislação ordinária e dirigida parceria entre 1994 e 2007. Algumas famílias se tornaram pro
por um conselho eleito por todos os seus associados, a Acirk dutoras autônomas depois de várias etapas de parceria. Outras
passou a ter uma representatividade muito mais expressiva que não tiveram o mesmo sucesso, devido à pressão dos arrendatários
a dos diversos caciques ou chefes tradicionais, muitos deles que, após serem formalmente despejados pela Funai, continuam
sendo tolerados por ela.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL MATO GROSSO DO SUL 701
A renovação do Conselho e das Diretorias da Acirk veio sofrendo principal, Alves de Barros, onde ainda foram distribuídas 64
vários percalços até o ano de 2009 em razão de não ter sido até senhas às dezesseis horas para completar a votação. Com a volta
então votado um regimento interno, embora já estivesse previsto dos mesários e fiscais ao escritório da Acirk, foram retomados
nos estatutos. Em 18 de julho de 2009 foi finalmente discutido às vinte horas os trabalhos da AGO, com a discussão de alguns
e adotado esse regimento interno, e as mais recentes eleições votos especiais, em número de oito, e deliberação acerca de sua
foram marcadas para o dia 15 de agosto de 2009, sendo então contagem ou não em função de sua validade. Tratava-se em geral
afixados editais com as chapas nas seis aldeias da Reserva. Duas de casos de esposos, ou esposas, não nascidos na Terra Indígena,
chapas se apresentaram de outra etnia ou não indígenas.
No dia marcado, foi aberta, às três horas da manhã, a Assembleia Acontagem final foi rápida, pois já havia contagem preliminar em
Geral Ordinária (AGO), no escritório da Acirk, na cidade de Bodo cada livro, e essa contagem final foi efetuada simultaneamente
quena, que oferece maior facilidade de acesso às seis aldeias. pelos integrantes de cada chapa. Por esse motivo não houve
contestação, o que foi o maior sucesso alcançado.
Às quatro horas os trabalhos da Assembleia foram suspensos e
O resultado foi muito apertado: Foram somados 569 votos válidos
os mesários e fiscais dirigiram-se para as seis aldeias, levando
assim distribuídos: 279 votos para a chapa Trilha da Reconstrução
sete livros, sendo que na Aldeia Alves de Barros haveria duas
e Ação Ejiwajegi (Kadiwéu na grafia autêntica); 290 votos para a
mesas de votação.
chapa Unidos Venceremos, liderada por Francisco Matchua, eleito
As votações foram iniciadas simultaneamente às oito horas e presidente na reunião do Conselho do dia 4 de setembro de 2009,
terminadas às dezesseis horas, com exceção da votação na aldeia com mandato de três anos. (fevereiro de 2011)
702 MATO GROSSO DO SUL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Grafismo Kadiwéu ACONTECEU
Fonte: Acervo/ISA
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL MATO GROSSO DO SUL 703
ACONTECEU
Homologada em 1991, a TI Taunay/Ipegue tem a primeira decisão do Supremo contra a am constituindo GT para realizar estudos em áreas
superfície de 6.461 ha e poderá atingir 33.900 pliação de 3,5 mil para 36 mil ha da reserva reivindicadas pelos Terena no Município de
ha com a revisão de limites. (Aquidauana situada em Miranda. (Campo Grande News, Miranda. A medida contraria liminar conce
News, 22/01/2008) 28/05/2009) dida em favor dos municípios da 1ª Subseção
Judiciária do MS, que compreende Aquidauana,
Terena da Ti Pilade reBUá Terena reToMaM ParTe Miranda, Jardim, Bonito, Porto Murtinho, Nioa
que, Guia Lopes da Laguna e Caracol. A liminar
deiXaM sÍTio eM Ms de sUa Terra Tradicional suspende a realização de estudos relativos à
Índios Terena da Aldeia Passarinho deixaram Duas comunidades dos Terena voltaram a ocu demarcação nesses municípios até a audiência
ontem o Sítio Boa Sorte, por ordem judicial de par parte de suas terras tradicionais no MS. No de conciliação, marcada para março de 2010.
reintegração de posse. Na manhã do dia ante dia 19, um grupo de famílias da aldeia Buriti (Dourados Agora, 11/02/2010)
rior, o despejo dos Terena que ocupavam o sítio retomou cerca de 500 ha de seu território,
desde sexta-feira deixou três PMs e oito índios próxima da cidade de Sidrolândia. Ontem, 21
feridos. Na tarde do mesmo dia, um grupo de de outubro, cerca de 300 Terena da aldeia Ca Pgr recorre de decisão
80 índios voltou a invadir o sítio. Segundo um choeirinha também retomaram uma fazenda
QUe sUsPendeU Posse
de seus líderes, Jelson de Almeida, a tribo vive situada na terra do povo, próxima ao município O procurador-geral da República, Roberto
em 105 ha, mas os registros da Funai apontam de Miranda. As ações visam pressionar os Gurgel, recorreu da decisão do presidente do
que a aldeia tem 160 ha. A Funai informou órgãos responsáveis para concluírem a demar STF, Gilmar Mendes, que concedeu liminar
que uma equipe de técnicos vai hoje ao local cação das duas TIs. (Cimi, 22/10/2009) para suspender a portaria que declarou a posse
para iniciar o levantamento e descobrir se os permanente da área Cachoeirinha ao grupo
55 hectares do sítio são TIs. Se a resposta for os Terena PodeM indígena Terena. O MPF quer que o presidente
positiva, fará a desapropriação. (João Naves do STF reconsidere a decisão ou submeta o
de Oliveira, OESP, 19/06/2008)
PerManecer na Fazenda recurso ao Plenário para cassar a liminar. Para
Por unanimidade, a 1ª Turma do TRF da 3ª Gurgel a mera exibição de registros de imóvel
Região suspendeu os efeitos da decisão de que datam de 1871 e 1898 não comprova nem
FUnai PUBlica nova PorTaria, primeiro grau que determinava a reintegração a posse dos supostos proprietários na terra
governador QUesTiona de posse de terras ocupadas por indígenas na pretendida nem a ausência de ocupação tradi
A Funai publicou ontem portaria determinando fazenda Petrópolis. Com essa decisão, os índios cional indígena relativa à data de 5 de outubro
estudo para a demarcação da TI Cachoeirinha. terenas poderão permanecer na área, já delimi de 1988. “A ocupação tradicional indígena em
A informação é do governador André Puccinelli, tada e demarcada pela Funai como sendo a TI 5 de outubro de 1988, da área em discussão,
que disse que irá “reclamar” da decisão na Cachoeirinha. (MPF/MS, 02/12/2009) não fica afastada pelo simples fato de ali incidir
Casa Civil. “Não concordo com a portaria ontem registro imobiliário” (MPF, 10/03/2010)
do estudo na Cachoeirinha. Tem que esperar a JUsTiça Federal decide QUe
conversa que temos marcada para o próximo Fazenda É ParTe da Ti
dia 15”, afirmou. A reunião foi marcada por
Índios resisTeM
causa de outros estudos da Funai iniciados AJustiça Federal de MS que parte da fazenda À ordeM de desPeJo
em Mato Grosso do Sul para a demarcação de Santa Bárbara, em Aquidauana, é terra tradi Os cerca de 300 índios da etnia Terena, que
terras. (Aquidauana News, 04/09/2008) cionalmente ocupada por indígenas da etnia ocupam há seis meses uma área da fazenda
Terena. O antigo proprietário havia pedido Petrópolis, resistiram ontem a uma ordem de
à Justiça que declarasse a área como terra despejo determinada pelaJustiça. Os índios es-
Índios Terena ManTÊM não indígena, mas o juiz decidiu o contrário, tão amparados por uma portaria do Ministério
ocUPação de Fazenda na Ti seguindo a argumentação do MPF. A decisão da Justiça, de 2007, que reconheceu parte do
Os Terena ocupam desde o dia 25/08 a fazenda baseou-se em um processo administrativo imóvel como terra indígena. O problema é que
Petrópolis do ex-governador Pedro Pedrossian, demarcatório, perícia judicial antropológica e a portaria foi cancelada pelo ministro Gilmar
em Miranda. Cerca de 40% da propriedade está inspeção judicial. A área deve ser reocupada Mendes, do Supremo Tribunal Federal, no fim
compreendida em área que será avaliada por pelos indígenas e anexada à TI Limão Verde, do mês passado. (OESP, 09/04/2010)
grupo de estudo constituído nesta semana pela que já foi delimitada, declarada, demarcada e
Funai para fins de demarcação. (Midiamax, homologada oficialmente. A terra indígena vai
MPF Faz iMasUl cassar
Alcindo Rocha, 06/09/2008) passar a ter 5,4 mil ha. (MPF, 02/12/2009) licenças aMBienTais eM Ti
Investigação do MPF apurou a emissão, pelo
sUPreMo sUsPende aMPliação FaMasUl aciona FUnai Por Instituto de Meio Ambiente de MS, de autori
da Ti cacHoeirinHa descUMPriMenTo daJUsTiça zações ambientais para o desmatamento de
Ministro do STF, Marco Aurélio, concedeu A Federação da Agricultura e Pecuária de MS áreas situadas dentro da TI Cachoeirinha, sem
tutela antecipada aos proprietários da Estância ingressou na 4ª Vara Federal de Campo Gran que fosse exigida a comprovação da existência
Portal de Miranda contra a ampliação da Aldeia de com pedido de prisão do presidente da de área de reserva legal e de preservação
Cachoeirinha. Ele suspendeu o processo no Funai, Márcio Meira. Descumprindo decisões permanente. Para o MPF, as autorizações
local até o julgamento do mérito da ação. É judiciais, a Funai editou no dia 4/02 Portaria contrariam o Código Florestal, que determina
704 MATO GROSSO DO SUL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ACONTECEU
que florestas situadas em TIs são sujeitas ao de Campo Grande. Os PMs responsáveis pelas teria sido desocupada porque os indígenas
regime de preservação permanente. O Imasul rondas táticas e os da CIGCOE (Companhia ficaram “assustados”. Os índios da TI Buriti
acatou recomendação do MPF e informou que Independente de Gerenciamento de Crises reivindicam uma área de 15,2 mil ha, na região
vai cassar as licenças ambientais expedidas e Operações Especiais) fecham o cerco na de Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti, sul do
para o desmatamento das propriedades rurais fazenda Querência SãoJosé, de Renato Bacha. estado. Aárea atual da TI é de dois mil hectares,
localizadas dentro da TI Cachoeirinha. (MPF Ao menos cem PMs estão no local. Segundo a onde vivem 4,5 mil pessoas, em nove aldeias. A
MS, 19/05/2010) Constituição Federal, áreas de conflitos indíge área reivindicada já foi considerada por perícia
nas devem ser monitoradas pela Polícia Federal judicial antropológica e histórico-arqueológica
FaMasUl consegUe liMinar (PF), mas a instituição depende de um pedido como terra de ocupação tradicional indígena. O
com,
da Funai.
26/11/2009)
(Midiamax - http://www.midiamax. Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3)
conTra esTUdos de Ti... havia cassado uma decisão liminar de 1ª ins
A Famasul conseguiu hoje uma liminar na tância e considerou válidos os estudos demar
Justiça Federal suspendendo os estudos an catórios que ampliam a área da na TI Buriti que
tropológicos que seriam realizados na região vÍdeo desMenTe versão da engloba a fazenda Querência São José - mas o
vizinha às aldeias Passarinho e Moreira, em PM Para desocUPação na Ti processo de demarcação foi interrompido por
Miranda, reivindicada como terra indígena. Os Gravação entregue pelos indígenas ao MPF um recurso judicial dos proprietários da área.
estudos, conduzidos pela Funai, começariam mostra ação da PM, que agiu sem ordem Embora o recurso impetrado pelos proprietá
amanhã. judicial de reintegração de posse. MPF pediu rios não tenha o poder de impedir o processo
Os donos de fazendas na região foram notifica abertura de inquérito à Polícia Federal. Um de demarcação, a Funai decidiu esperar pela
dos um mês atrás sobre o início dos estudos. A vídeo e áudio gravado pelos indígenas da TI decisão final daJustiça. O recurso terá que ser
medida teve como base determinação judicial, Buriti, no Mato Grosso do Sul, foi entregue julgado em uma sessão (por 12 desembarga
também favorável à Famasul, segundo a qual ao Ministério Público. A gravação foi feita du dores), mas está há dois anos sem qualquer
os proprietários deveriam ser informados rante ação da PM na desocupação da fazenda andamento. (MPF/MS, 09/12/2009)
antecipadamente sobre todos os passos dos Querência SãoJosé, em Dois Irmãos do Buriti,
levantamentos com finalidades de demarcação em 19 de novembro. O áudio revela conversa
das terras como indígenas. aPós nove anos de esPera,
entre um grupo de fazendeiros e índios, em
As áreas em questão são vizinhas das aldeias que os primeiros afirmam que, “se não houver
Ti BUriTi É reconHecida
Passarinho e Moreira, que tiveram o processo desocupação, haverá embate”. O vídeo mostra O Ministério daJustiça declarou nesta semana a
de ampliação suspenso por conta da briga judi a tropa de choque da Polícia Militar avançando TI Buriti como de posse permanente dos índios
cial travada entre produtores e índios da etnia pelo terreno, em direção aos indígenas, seguida terena. A área foi delimitada em portaria publi
Terena. Os índios reivindicam o território Pilad pelos fazendeiros. A ação resultou em pelo cada na terça-feira, 28/09, no Diário Oficial da
de Rebuá, que abrange áreas das propriedades menos dois índios feridos e na desocupação União. A TI Buriti deverá abranger 17,2 mil ha.
São Sebastião, Chácara Nade, Pesqueiro Joa da fazenda. Os índios afirmam que foram im A TI Buriti engloba nove aldeias, com cerca de
quim do Miranda, Fazenda Baiazinha, Chácara pedidos de levar pertences pessoais e utensílios 4,5 mil índios. Durante nove anos, os índios
Aconchego e Fazenda Canaã. (Campo Grande domésticos, entre eles um freezervertical, que da TI Buriti aguardaram a expedição da portaria
News, 15/06/2010) declaratória. O relatório de identificação da
foram deixados na área. Eles ocuparam a fazen
da por 32 dias, antes de serem desalojados. O área foi aprovado em 2001 pela presidência da
... e FUnai É oBrigada a material em áudio e vídeo foi entregue ao pro Funai e, desde então, decisões judiciais suspen
sUsPender esTUdos curador da República Emerson Kalif Siqueira deram o curso do procedimento demarcatório.
e, após sua reprodução, foi encaminhado à PF Em outubro de 2009, os Terena realizaram
Ontem, dia 15, foi concedida uma liminar, protesto na BR-163, que liga Campo Grande a
pela 4ª Vara Federal de Campo Grande, para para ser incorporado ao inquérito que investiga
essa e uma outra ação anterior da PM, ocorrida Cuiabá, pedindo celeridade no julgamento do
suspender os estudos antropológicos que
em 20 de outubro. Naquele dia, os indígenas recurso pelo TRF3. No mês seguinte, policiais
seriam realizados na região vizinha à Aldeia militares retiraram os índios à força, sem
Passarinho, em Miranda. A Funai estava pre da TI Buriti resistiram a uma tentativa de de
parada para iniciar os estudos para demarcar, socupação da área pela PM, quando dois deles ordem judicial de reintegração de posse, da
foram baleados com artefatos de borracha. O fazenda Querência São José, que está dentro
indicando ou não, a área como território indí da área reconhecida como tradicionalmente
gena da etnia Terena. Com a decisão a Funai inquérito tem como objeto de investigação os
crimes de lesão corporal dolosa e abuso de indígena. (MPF-MS, 01/10/2010)
não poderá, por enquanto, realizar os estudos,
que tinham início marcado para hoje (16). autoridade, podendo abarcar, durante o seu
(Capital News (MS), 16/06/2010) desenvolvimento, outras condutas delitivas GERAL
eventualmente constatadas. Testemunhas fo
ram ouvidas e as vítimas passaram pelo exame
PMs cercaM Fazenda na Ti de corpo de delito. gUarani aPonTaM evidÊncias
BUriTi Para eviTar conFliTo Para o MPF, as gravações desmentem nota da de ocUPação iMeMorial
O risco de mais um confronto entre ruralistas PM, que afirmou que a ação em 19/11 era para Índios remanescentes de aldeias que existiam
e indígenas na região de Dois Irmãos do Buriti “evitar qualquer animosidade dos produtores no distrito de Carumbé, em Itaporã, retor
mobilizou mais uma vez a PM (Polícia Militar) rurais contra os indígenas” e que a fazenda naram ontem ao local e apontaram para a
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL MATO GROSSO DO SUL 705
ACONTECEU
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indÍgenas são Mais Vale Universidade Indígena, com destinação testar o sistema há 10 anos, quando sete famí
eXPlorados no TraBalHo de bolsas de R$ 300,00 para alunos índios da lias foram selecionadas pela comunidade para
Mato Grosso do Sul está em segundo lugar
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. um projeto piloto que agora será oficializado
(Campo Grande News, 27/01/2009) pela Funai. Durante a experiência, os índios
no país entre os estados que mais exploram a
mão de obra análoga à escrava, segundo dados foram transformados em pequenos pecuaris
do Ministério do Trabalho. Das 5.968 liberações açÕes de disPUTa de Terras tas, legalizados perante instituições financeiras
de trabalhadores realizadas no ano passado pelo TraMiTaM na JUsTiça Federal e sanitárias e preparados para competir no
Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministé mercado. Os cadiuéus cuidam do gado dos
Mais de 140 ações judiciais envolvendo disputa fazendeiros vizinhos e ficam com metade dos
rio, 1.634 foram registradas em MS. Os dados de de terras e demarcação de áreas indígenas em
2007 superam em 5.500% os registros de 2006, bezerros que nascerem em suas terras. Já os
MS tramitam na Justiça Federal. Até o fim de fazendeiros garantem a assistência técnica e
quando 29 trabalhadores foram resgatados. As abril, eram 87 ações em fase de recurso no
principais liberações acontecem em áreas de fiscalizam o trabalho dos índios. (OESP, João
Tribunal Federal da 3ª Região e pelo menos Naves, 17/09/2009)
expansão de cana-de-açúcar e envolvem, em 56 em curso nas varas federais de primeira
especial, trabalhadores indígenas. (Sandra Luz, instância do estado. Grande parte desses
Campo Grande News, 04/02/2008) processos se refere a ações movidas por gUarani ProMeTeM denUnciar
fazendeiros ou municípios para impedir que FUnai À oea e onU Por oMissão
Índios do PanTanal acossados sejam realizados estudos para a demarcação Índios Guarani-Kaiowá e Terena da reserva
Pelo desMaTaMenTo de TIs. Também são frequentes os pedidos de Dourados prometem denunciar a Funai
Florestas da área de assentamento dos Kadiweu de retirada de grupos de índios que ocupam e o governo brasileiro por omissão à Orga
áreas para reivindicar o reconhecimento como nização dos Estados Americanos e à ONU. O
são cortadas para atender a crescente demanda
do pólo siderúrgico instalado em de Corumbá. território tradicional. (Daniel Mello, Agência A comunidade indígena está produzindo um
A companhia MMX, que desde 2007 produz Brasil, 09/06/2009) vídeo com imagens e informações sobre os
aço e ferro-gusa em Corumbá, já sofreu uma assassinatos, estupros, roubos e outros crimes
interdição por usar carvão ilegal e continua MPF recoMenda garanTia de ocorridos nas aldeias Bororó eJaguapiru, na TI
operando graças a uma liminar. A demanda Dourados. (Helio de Freitas, Campo Grande
ágUa PoTável aos oFaYÉ News, 30/10/2009)
do pólo siderúrgicoá, que reúne outras quatro O MPF em Três Lagoas expediu recomendação
grandes empresas, supera amplamente o car
à Funasa para que sejam adotadas as provi
vão vegetal que se possa produzir por projetos dências necessárias para garantir água potável MPF denUncia eMPresas Por
de reflorestamento próximos. Cerca de 3,5 mil à parte baixa da comunidade indígena Ofayé criMes aMBienTais
toneladas de árvores nativas são convertidas em Xavante, em Brasilândia , divisa com o estado O Ibama impôs embargo à Fazenda Reata, de
carvão diariamente. As autoridades ambientais de São Paulo. Fazem parte da comunidade propriedade da HF Agropecuária, pela extração
garantem que florestas nativas matogrossenses pouco mais de meia centena de indígenas, ilegal de madeira de lei em área considerada
também abastecem siderúrgicas de MG. (Ma que, sem abastecimento regular, se valem de TI Kadiwéu. Entretanto, em nova vistoria rea
rio Osava, Envolverde, 06/02/2008) córregos que, por atravessarem fazendas com lizada pelo órgão, verificou-se que a empresa
intensa atividade agropecuária, sofrem o risco Black continuou suas atividades de corte e
PolÍcia aBre inQUÉriTo Para de contaminação por resíduos de defensivos carvoejamento ilegais de espécies protegidas
aPUrar MorTe de indÍgena agrícolas ou dejetos animais. A Funasa afirmou na propriedade. O desmatamento pode ter
A Polícia Civil abriu inquérito para apurar as não constar de sua programação qualquer alcançado uma área de até 1.090 ha. Além
circunstâncias da morte do líder indígena Ra projeto de instalação de água potável, já que disso, foi constatado na fazenda o processo de
mão Machado da Silva. Ele foi morto ontem, “a parte baixa da aldeia Ofaié-Xavante está “brocagem” – corte e tombamento de árvores
com dois tiros, numa danceteria, onde estava localizada em área privada”. Para o MPF, os para secagem e ateamento de fogo, visando
acompanhado pela família e amigos, em Navi processos de regularização fundiária das TIs o posterior plantio de pastagem. (MPF-MS,
raí. Em 1998, Ramão ficou conhecido a nível têm um caráter meramente declaratório e, 20/03/2010)
nacional, depois que ele teve a prisão decretada por este motivo, a terra não passa a ser indí
pela Justiça Federal. O fato foi divulgado em gena em virtude da demarcação; esse status é MPF/Ms
FUnai e FUnasa
aPUra descaso
coM os gUaTó
da
reportagem de Maurício Lima, na Revista Veja. anterior aos procedimentos administrativos.
O então cacique, respondeu a processos por (MPF, 24/08/2009)
grilagem de terra e arregimentação de trabalho O MPF em Corumbá (MS), por meio do
procurador da República Wilson Rocha Assis,
escravo. (Dourados Agora, 03/03/2008) KadiWeUs assUMeM PaPel instaurou inquérito civil para acompanhar o
de ProdUTores rUrais atendimento às demandas e o respeito aos di
decreTo cria vale Para Depois de passar quase meio século adminis reitos da etnia guató, instalada na aldeia Ubera
Índios UniversiTários trando problemas surgidos com arrendamento ba. A Procuradoria da República em Corumbá
Decreto assinado ontem pelo governador, de terras, os Cadiuéus da Reserva Bodoquena recebeu relato de descaso e abandono da aldeia
André Puccinelli (PMDB), cria o programa decidiram optar pela parceria. Começaram a por parte da Funai e Funasa. Em depoimento,
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL MATO GROSSO DO SUL 707
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indígenas afirmaram que, em outubro, três considerados extintos e excluídos de qualquer e mesmo assim compram matéria-prima
crianças morreram. A comunidade afirma política de assistência oficial. Somente em cultivada em territórios indígenas. O MPF/MS
que a causa das mortes é a “ausência quase 1976, alguns índios guató foram encontrados questionou o banco sobre os critérios utilizados
absoluta de médicos na aldeia”, que tem cerca vivendo na periferia de Corumbá. São con para a concessão de empréstimos, mas ainda
de cem crianças. Os representantes da aldeia siderados, hoje, os últimos povos indígenas não obteve resposta. Para o MPF, ao financiar
afirmaram, ainda, que a Funai se comprome canoeiros, que ocuparam as terras baixas do empresas com procedimentos irregulares, o
teu a fornecer, mensalmente, 1,2 mil litros de Pantanal. Eles vivem na ilha Insuã, a 350 km BNDES está incentivando conflitos por terra
óleo diesel e 200 litros de gasolina, utilizados de Corumbá, que foi demarcada pela Funai em e violações aos direitos indígenas no estado.
no barco Guató I, que serve à comunidade 1998. A ilha, de 10.900 hectares, é acessível O financiamento público para expansão do
para o transporte até Corumbá. O combustível, somente por barco - 36 horas de viagem ou por cultivo de cana em terras indígenas é vedada
no entanto, não foi repassado durante todo o helicóptero. (MPF/MS, 25/11/2009) pela Resolução 3813/2009, do Banco Central.
ano. Outra queixa é quanto à falta de salas de (MPF-MS, 11/05/2010)
aula na escola da aldeia. Atualmente, duas conTinUa descaso da FUnai
classes funcionam nos corredores do prédio. coM os gUaTó eM corUMBá
Em 2010, caso o problema não seja resolvido,
cosan nega Ter Fazendas
O MPF em Corumbá ajuizou ação civil pública eM Terras gUarani
serão três classes na mesma condição. O MPF com pedido de liminar para exigir que a Funai
determinou que a Funai preste informações, Após denúncia do MPF em MS, a Cosan, gi
restabeleça serviços de atendimento ao povo
em 15 dias, sobre o fornecimento de combustí indígena Guató, etnia que vive em distante gante do setor sucroalcooleiro, negou que seja
vel aos guatós, a possibilidade de instalação de proprietária de fazendas com plantações de
ilha no Pantanal Sul-Mato-Grossense. O MPF cana-de-açúcar em TIs. Em 2009, a empresa
um posto do órgão na aldeia e, ainda, sobre as pede que a Funai forneça combustível para o
medidas tomadas para a expansão da estrutura comprou a Nova América S.A. Agroenergia,
abastecimento dos barcos Guató I e II e instale
física da escola da comunidade. mas alega que os ativos ainda não foram
um posto avançado de atendimento na Aldeia
Também foi determinado que a Funasa escla incorporados à companhia. Apesar de negar
Uberaba. Segundo relato dos índios, desde
reça as condições do atendimento médico à a propriedade, a Cosan reconhece que a Nova
2005 nenhum funcionário da Funai comparece
comunidade, especialmente quanto à especia à comunidade, à exceção de uma visita em ou América é sua fornecedora de cana-de-açúcar
lidade pediatria, e ainda quanto às causas pro tubro de 2009 para tratar da carteira indígena. na região de Dourados. De acordo com o MPF,
váveis dos óbitos e abortos ocorridos na aldeia Nesse período, foi informada a ocorrência de uma das fazendas do grupo está localizada na
no mês de outubro. A prefeitura de Corumbá óbitos de crianças recém-nascidas e abortos TI Guyraroca, em Caarapó, área que já passou
deverá esclarecer ainda qual a destinação que por estudos de identificação e delimitação da
em razão do processo de quase abandono da
deu às verbas que o município recebeu da aldeia. (MPF, 16/04/2010) Funai. (Globo Rural, 12/05/2010)
Funasa para “incentivo de atenção básica dos
povos indígenas”. A etnia guató ocupava as
terras hoje pertencentes aos estados de Mato MPF QUesTiona Bndes Por MUnicÍPio do Ms adoTa
Grosso e Mato Grosso do Sul, desde o século FinanciaMenTo a Usinas oFicialMenTe o gUarani
XVI. Assim como as outras etnias indígenas, os O plantio de cana de açúcar para uso comercial O município de Tacuru é o segundo no Brasil a
guatós foram expulsos de seu território, o que em terras indígenas é proibido pela legislação adotar um idioma indígena como língua oficial.
aconteceu com mais intensidade nas décadas brasileira, mas em Mato Grosso do Sul ele re- Com a sanção do projeto de lei que oficializa
de 1940 e 1950. As aldeias foram substituídas cebe incentivo oficial. As usinas Nova América, o guarani, os serviços públicos de saúde e as
por fazendas para criação de gado. A partir des do grupo Shell/Cosan, e Monteverde, da Bunge, campanhas de prevenção de doenças devem
sa época, migraram para a periferia das cidades receberam empréstimos do Banco Nacional de prestar informações em guarani e em portu
próximas ao Pantanal. Neste processo foram Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) guês. (OESP, 01/06/2010)
708 MATO GROSSO DO SUL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Guarani Mbya
Guarani Ñandeva
Kaingang
Krenak
Pankararu
Terena
Xetá
Xokleng
18.
710 SUL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
SUL
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - 30/06/2011
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
76 Água Grande Guarani Mbya 53/Funasa-Passo Fundo: 2010 Reservada. 165 Camaquã RS
Decreto 40.482 de 29/11/2000 publicado em 30/11/2000.
s/l Arandu Mirim (Saco do Guarani Mbya 28/Funai-Litoral Sudeste: Em identificação. - Parati RJ
Mamanguá) 2010 Portaria 184 de 05/03/2008 publicada em 06/02/2008.
3 Araribá Guarani Ñandeva 527/Funai-Litoral Sudeste: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.930 Avaí SP
Terena 2010 Decreto 308 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no
município de Avaí, comarca de Bauru (1.930 ha) Matr. 64.634 Liv.2-RG fl.
001 em 22/08/97. Reg. SPU Certidão n° 05 em 19/11/2004
29 Avá Guarani/Ocoí Guarani Ñandeva 560/Funai-Guarapuava: 2006 Dominial Indígena. Registrada no CRI. 251 São Miguel do Iguaçu PR
Escritura Pública de 30/11/1976. Reg. CRI Matr. 8.689 Liv. 02 fl. 01 em
26/07/85.
20 Barão de Antonina I Guarani Ñandeva 460/Funai-Chapecó: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 3.751 São Jerônimo da Serra PR
Kaingang Decreto 285 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI no
município e comarca de São Jerônimo da Serra (3.750 ha) Matr. 5.661
Liv. 2-RG fl. 01 em 29/07/92. Reg. SPU Certidão n° 32 em 24/06/77 e
Certidão s/n em 31/07/98.
11 Barragem Guarani Mbya 867/Funai-Litoral Sudeste: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 26 São Paulo SP
2010 Decreto 94.223 de 14/04/1987 publicado em 15/04/1987. Reg. CRI no
município e comarca de São Paulo (26 ha) Matr 204/607 Liv. 2-RG fl. 1/2
em 23/09/87. Reg. SPU Certidão n° 32 em 09/09/98.
31 Boa Vista (Sul) Kaingang 205/Funai-Chapecó: 2010 Declarada (suspensa parcialmente por liminar da Justiça) 7.344 Laranjeiras do Sul PR
Portaria 839 de 28/05/2010 publicado em 31/05/2010.
7 Boa Vista do Sertão do Guarani Mbya 161/Funai-Litoral Sudeste: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 906 Ubatuba SP
Pró-Mirim 2010 Decreto s/n de 26/09/2000 publicado em 27/09/2000. Reg. CRI no
em
município
07/11/2000.
e comarca
Reg.deSPU
Ubatuba
Certidão n°ha)
(801 30Matr.
em 09/09/98.
2-23078 Lv. 2/RG fl. 01V
s/l Cachoeira dos Inácios Guarani Mbya 801/Funai: 2011 Reservada. - Imaruí SC
Escritura Pública.
69 Cacique Doble Guarani Mbya 815/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 4.426 Cacique Doble RS
Guarani Ñandeva Portaria 1210 de 14/10/2008 publicado em 20/10/2008. Reg. CRI no
Kaingang município e comarca de Cacique Doble (4.426 ha) Matr. 875, Liv. 2/RG fl.
01/02 em 05/06/91. Reg. SPU Certidão s/n em 29/12/94.
80 Capivari Guarani Mbya 17/Funasa-Passo Fundo: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 43 Palmares do Sul RS
Decreto s/n de 18/04/2001 publicado em 19/04/2001. Reg. CRI no
município e comarca de Palmares do Sul (43 ha) Matr. 8.329 Liv.2-RG fl.
01 em 11/10/2002. Reg. SPU Certidão s/n em 08/01/2003.
66 Carreteiro Kaingang 194/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 602 Água Santa RS
Decreto s/n de 27/03/1991 publicado em 28/03/1991. Reg. CRI no
município e comarca de Tapejara (602 ha) Matr.8.412, Liv.2/RG fl. 01/V
em 16/05/91. Reg. SPU Certidão s/n de 29/12/94.
78 Coxilha da Cruz Guarani Mbya 128/Funasa-Passo Fundo: Reservada. 202 Barra do Ribeiro RS
2010 Decreto 40.481 de 29/11/2000 publicado em 30/11/2000.
26 Faxinal Kaingang 620/Funai-Chapecó: 2010 Homologada. Registrada no CRI. 2.043 Cândido de Abreu PR
Decreto 252 de 29/10/1991 publicado em 30/10/1991. Reg. CRI Matr. EP
172 de 05/09/59. Reg. CRI no município e comarca de Cândido de Abreu
(2.043 ha) Matr. 4.250 Liv. 2 fl. 1 V-2 em 09/04/92.
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
s/l Guarani do Rio Pequeno Guarani Mbya 20/ Funai-Litoral Sudeste: Em identificação. - Parati RJ
2010 Portaria 113 de 18/02/2008 publicada em 19/02/2008.
82 Guarani Barra do Ouro Guarani Mbya 100/Funai: 2004 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 2.266 Caraá RS
Decreto s/n de 18/04/2001 publicado em 19/04/2001. Reg. CRI no Maquiné RS
município de Caraã, comarca de Santo Antonio da Patrulha (610 ha) Riozinho RS
Matr. 17.004 Liv. 2-RG fl. 1/V em 19/04/2002. Reg. CRI no município de
Maquiné, comarca de Osório (1.454 ha) Matr. 98.260 Liv. 2-RG fl. 1/2 em
15/04/2002. Reg. CRI no município de Riozinho, comarca de Taquara (201
ha) Matr. 11.917 Liv. 2-RG Gl 1 em 23/04/2002. Reg. SPU Certidão s/n
de 04/06/2002.
77 Guarani de Águas Brancas Guarani Mbya 39/Funai-Passo Fundo: 1994 Declarada de posse indígena. 230 Arambaré RS
Portaria 104 de 13/02/1996 publicada em 14/02/1996.
49 Guarani de Araça’í Guarani Ñandeva 73/Funasa: 2010 Declarada de posse indígena. 2.721 Cunha Porã SC
Portaria 790 de 19/04/2007 publicada em 20/04/2007. Saudades SC
6 Guarani de Araponga Guarani Mbya 40/Funai-Litoral Sudeste: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 213 Parati RJ
2010 Decreto s/n de 03/07/1995 publicado em 04/07/1995. Reg. CRI no
município e comarca de Parati (213 ha) Matr. 1.881 Liv. 2-A fl. 2.466 em
08/03/96. Reg. SPU Certidão n° 12 em 16/04/96.
13 Guarani do Aguapeú Guarani Mbya 81/Funai-Litoral Sudeste: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 4.372 Mongaguá SP
2010 Decreto s/n de 08/09/1998 publicado em 09/09/1998. Reg. CRI no
município de Mongaguá, comarca de Itanhaém (4.372 ha) Matr. 192.516
Liv. 2/RG fl. 1/V em 13/10/98. Reg. SPU Certidão n° 06 em 19/11/2004.
4 Guarani do Bracuí Guarani Mbya 316/Funai-Litoral Sudeste: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 2.127 Angra dos Reis RJ
2010 Decreto s/n de 03/07/1995 publicado em 04/07/1995. Reg. CRI no
município e comarca de Angra dos Reis (2.127 ha) Matr. 13.309 Liv. 2-BE
fl. 258 em 14/09/95. Reg. SPU Certidão n° 20 em 15/09/97.
10 Guarani do Krukutu Guarani Mbya 170/Funai-Litoral Sudeste: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 26 São Paulo SP
2010 Decreto 94.222 de 14/04/1987 publicado em 15/04/1987. Reg. CRI no
município e comarca de S.Paulo (26 ha) Matr. 204.608 Liv. 2 fl. 1 em
23/09/87. Reg. SPU Certidão n° 26 em 09/09/98.
61 Guarani Votouro Guarani Ñandeva 43/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 717 Benjamin Constant RS
Decreto s/n de 11/12/1998 publicado em 14/12/1998. Reg. CRI no do Sul
município e comarca de São Valentim (717 ha) Matr. 03 Liv. 2-RG fl. 1 em
04/02/99. Reg. SPU Certidão s/n em 15/01/2001.
57 Guarita Guarani Mbya 5.397/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 23.406 Erval Seco RS
Guarani Ñandeva Decreto s/n de 04/04/1991 publicado em 05/04/1991. Reg. CRI no Redentora RS
Kaingang município e comarca de Tenente Portela (23.406 ha) Matr. 10.539 Liv. Tenente Portela RS
2-RG fl. 1/V em 17/05/91. Reg. SPU Certidão s/n em 29/12/94.
43 Ibirama-La Klãnõ Guarani Mbya 1.468/GT Funai: 2002 Declarada de posse indígena. 37.018 Doutor Pedrinho SC
Guarani Ñandeva Portaria 1.128 de 13/08/2003 publicada em 14/08/2003. Reg. CRI no Itaiópolis SC
Kaingang município e comarca de Ibirama (14.084 ha) Matr. 14./704 Liv. 2-RG fl. José Boiteux SC
Xokleng 1V/2V em 28/02/96 (área antiga). Reg. SPU Certidão n° 494 em 03/07/96 Vitor Meireles SC
(área antiga).
35 Ilha da Cotinga Guarani Mbya 165/Funai-Curitiba: 1998 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.701 Paranaguá PR
Decreto s/n de 16/05/1994 publicado em 17/05/1994. Reg. CRI no
município e comarca de Paranaguá (827 ha) Matr. 48.041/2 Liv. 1 fl. 1 em
28/06/94. Reg. CRI no município e comarca de Paranaguá (873 ha) Matr.
48.042/2 Liv. 1 fl. 1 em 28/06/94. Reg. SPU Certidão n° 10 em 02/08/94
(antigo).Reg. SPU Certidão s/n em 21/01/99.
73 Inhacapetum Guarani Mbya 180/Funasa-Passo Fundo: Reservada. 236 São Miguel das Missões RS
2010 Decreto 40.483 de 29/11/2000 publicado em 30/11/2000.
58 Inhacorá Kaingang 1.036/Funasa: 2010 Homologada. Registrada no CRI e SPU. 2.843 São Valério do Sul RS
Decreto s/n de 27/03/1991 publicado em 28/03/1991. Reg. CRI no
município de Santo Augusto (2.843 ha) Matr. 13.800 Liv. 2-RG fl. 1V/2 em
13/05/91. Reg. SPU Certidão s/n em 29/12/94.
74 Irapuã Guarani Mbya 71/Funasa-Passo Fundo: 2010 Identificada. Aprovada pela Funai. Sujeita a contestações. 222 Caçapava do Sul RS
Despacho 06 de 26/01/2011 publicado em 27/01/2011.
14 Itaóca Guarani Mbya 90/Funai-Litoral Sudeste: Declarada de posse indígena. 533 Mongaguá SP
Guarani Ñandeva 2010 Portaria 292 de 13/04/2000 publicada em 17/04/2000.
17 Itariri (Serra do Itatins) Guarani Ñandeva 66/Funai-Litoral Sudeste: Homologada. Registrada no CRI e SPU. 1.212 Itariri SP
2010 Decreto 94.225 de 14/04/1987 publicado em 15/04/1987. Reg. CRI no
município de Itariri, comarca de Itanhaém (1.212 ha) Matr. 142.028 Liv. 2
fl. 1 em 09/09/87. Reg. SPU Certidão n° 31 em 09/09/98.
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
município de Iraí, Matr. 5.594 Liv. 2-RG em 22/03/94. Reg. SPU Certidão
s/n em 05/04/94.
município e comarca de Tapejara (4.565 ha) Matr. 8.413 Liv. 2/RG fl. 1V
em 16/05/91. Reg. SPU Certidão s/n em 29/12/94.
32 Mangueirinha Kaingang
Guarani Mbya 1.421/Funai-Chapecó: 2010 Decreto
Dominial64
Indígena. RegistradaReg.
de 02/03/1903. no CRI.
CRI no município de Mangueirinha, 16.375 Mangueirinha PR
comarca de Palma (7.400 ha) Matr. 13.244 Liv. 3-0 fl. 168/169 em
10/02/61.
município e comarca de Biguaçu (49 ha) Matr. 17.542 Liv. 2-CT fl. 106 em
14/08/2003. Reg. CRI no município e comarca de Biguaçu (10 ha) Matr.
17.543 Liv. 2-CT fl. 107 em 14/08/2003. Reg. SPU Certidão n° 34 em
11/09/2003.
36 Morro Alto Guarani Mbya 76/Funai: 2011 de liminar. de posse indígena. Suspensos os efeitos da portaria através
Declarada 893 São Francisco do Sul SC
54 Nonoai KaingangMbya
Guarani Ñandeva 2.680/Funai-Passo Fundo:
2006 Decreto 13.795 de 10/07/1962 publicado em 10/07/1962.
Reservada/SPI. 14.910 Rio
Planalto
Nonoai
Gramado
Alpestre
dos Índios
dos Loureiros RS
RS
RS
RS
RS
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
(8.030 ha) Matr. 10.174 Liv. 2-RGfl. 1/1v em 07/07/2003. Reg. CRI no
município e comarca de Planalto (1.254 ha) Matr. 5.084 Liv. 2-RG fl. 1 em
02/07/2003. Reg. CRI no município de Trindade do Sul, comarca de Nonoai
(232 ha) Matr. 10.175 Liv. 2-RGfl. 1/1v em 07/07/2003.
Reg. SPU Certidão s/n em 16/09/2003.
município e comarca de Camacã (1.852 ha) Matr. 26.393 Liv. 2-RG fl. 1/2
em 19/09/2000. Reg. SPU Certidão s/n em 15/01/2001.
s/l Pacurity (Ilha do Cardoso) Guarani Mbya Em identificação.
Portaria 1.562 de 19/10/2010 publicada em 20/10/2010. - Cananéia SP
município de Parati Mirim, Matr. 1.882 Liv. 2-A fl. 2.467 em 08/03/96.
Reg. SPU Certidão n° 11 em 16/04/96
68 Forquilha
Passo Grande do Rio Kaingang 210/GT Funai: 2006 Despacho 33Aprovada
Identificada. de 13/08/2008
pela Funai.
publicado
Sujeita
ema14/08/2008.
contestações. 1.916 Cacique Doble
Sananduva RS
RS
06/03/86.
39 Piraí Guarani Mbya 155/Funasa: 2010 de liminar. de posse indígena. Suspensos os efeitos da portaria através
Declarada 3.017 Araquari SC
município e comarca de Ortigueira (3.077 ha) Matr. 4.164 Liv. 1-RG fl. 1
em 19/06/96. Reg. SPU Certidão s/n em 31/07/98.
s/l Reta Guarani Mbya Em identificação. -
Portaria 641 de 19/06/1998 publicada em 25/06/1998.
município de Inácio Martins, comarca de Irati (401 ha) Matr. 8.702 fl. 1/2
em 08/03/93. Reg. SPU Certidão n° 15 em 01/01/94.
s/l Rio Bonito Guarani Mbya Em identificação. -
Portaria 641 de 19/06/1998 publicada em 25/06/1998.
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situação jurídica Extensão (ha) Município UF
município e comarca de São Jerônimo da Serra (1.339 ha) Matr. 5.662 Liv.
2-RG fl. 1 em 29/07/92. Reg. SPU Certidão s/n em 31/07/1998
s/l Bugio)
Tekoa Jejyty (Toca do Guarani Mbya Em identificação.
Portaria 1.564 de 19/10/2010 publicada em 20/10/2010. - Pariquera-Açu
Iguape SP
SP
s/l Tekoa Peguaoty Guarani Mbya 117/Funai-Litoral Sudeste:
2010 Em identificação.
Portaria 1.563 de 19/10/2010 publicada em 20/10/2010. - Sete Barras
Miracatu SP
SP
Nº Mapa Terra Indígena Povo População (nº, fonte, ano) Situaçãojurídica Extensão (ha) Município UF
município e comarca de Xapecó (988 ha) Matr. 47.667 Liv. 2-RG fl. s/n em
15/10/93. Reg. SPU Certidão n° 349 em 30/08/94.
2 Vanuire Kaingang
Krenak 177/Funai-Litoral Sudeste:
2010 Homologada.
Decreto 289 de
Registrada
29/10/1991
no CRI e SPU. em 30/10/1991. Reg. CRI no
publicado 709 Tupã SP
município de Bauru, Matr. 4.104 Liv. 3-D fl. 199 em 07/06/1917. Reg.
CRI no município de Tupã (708,9 ha) Matr. 37.200 Liv. 2-RG fl. 1 em
05/10/2000.Reg. SPU Certidões n° 04 e 06 em 19/11/2004.
81 Varzinha Guarani Mbya 60/Funasa: 2010 s/ndedeCaraá,
município
Homologada.
Decreto Registrada
10/02/2003
comarca
no publicado
CRI
Santo
e SPU.
Antonio da PatrulhaReg.
em 11/02/2003. ha)noMatr.
(619CRI 776 Maquiné
Caraá RS
48 Xapecó Kaingang
Guarani Mbya 5.338/Funai-Chapecó: 2010 213
município
Decreto
Homologada.
em 16/10/65
297
de Abelardo
de Luz,
Registrada
29/10/1991
e Matr.
no11.485
comarca
CRI.
publicado
Liv.
de3-Ffl.
em
Xanxerê,
30/10/1991.
189Matr. Reg. CRI
em 14/06/71.
7.548 Liv. no
3-D fl. 15.623 Abelardo
Entre
IpuaçuRiosLuz SC
SC
SC
“Yvyrupa foi Nhanderu [nosso pai, divindade] quem fez. ele diz as nossos antepassados tiveram uma grande sabedoria e só eles sabem
sim: “eu vou criar Yvyrupa para os Mbya”. Então Yvyrupa é tudo que como conseguimos manter toda essa cultura até hoje. (...)
estamos vendo aqui hoje. É tudo ao nosso redor, é nela que estamos
pisando hoje. Ele criou a terra e, juntamente, nos criou também para Antigamente, antes dos jurua [os brancos] virem, nós não tínhamos
que possamos viver nela, com tudo aquilo que ele nos ensinou. Foi lei, não havia lei que dizia que esta terra era Guarani, esta terra
por isso que ele nos criou, para vivermos tranqüilos e de bem com a era de outro índio, essa terra não pode ser do índio... Na nossa terra
não havia limite, nós vivíamos livremente, tínhamos liberdade para
natureza. “(Marilza Kerexu Endy – ES)
viajar, para procurar outras matas, de ponta a ponta tínhamos
liberdade e hoje nós vivemos em uma terra onde os limites são
Em março de 2007, a 6ª Câmara do Ministério Público Federal, por
colocados, os jurua se apossaram de tudo. Para enfrentar essa limi
solicitação das lideranças guarani mbya, sediou uma reunião para tação nós precisamos nos organizar, para lutar e defender nossos
apresentação formal da Comissão Guarani Yvyrupa às instituições
direitos. Existem leis no Brasil que reconhecem os direitos dos povos
governamentais e à sociedade civil. Nessa ocasião foi divulgada a
indígenas, que reconhecem o jeito de nós nos organizarmos dentro
“Carta política” dessa comissão para expressar a forma de organi
das nossas comunidades. Nós vemos que há muito tempo essas leis
zação e representação guarani e o sentido e oportunidade de sua existem, mas elas não são colocadas na prática. Esta terra, por
criação. exemplo, é uma partezinha de uma luta que enfrentamos, é só mais
No atual contexto de adversidade e retrocesso em relação à regula um exemplo de uma luta que temos no Paraná, em Santa Catarina,
rização das terras guarani-mbya, surgiu a iniciativa das lideranças Rio Grande do Sul, a luta é a mesma. Então devido à apropriação
guarani de promover um amplo movimento de articulação entre dos brancos nós vivemos muitas vezes em acampamentos de beira
todas as comunidades guarani, situadas nas regiões sul e sudeste de estrada, debaixo de lonas, passando dificuldades, muitas vezes
do Brasil, com a finalidade de estabelecerem, juntamente com seus correndo risco de vida. E tudo isso porque não é dado na prática o
parceiros, estratégias e ações comuns na defesa das terras e do direito que existe no papel.
território tradicional guarani.
E por isso naturalmente fomos vendo que nós, enquanto povo gua
Resgatando os movimentos de luta dos seus antepassados pelo direito rani, precisávamos nos organizar e entender um pouco mais como
à terra, baseando-se nos ensinamentos de suas lideranças espirituais funciona a sociedade do branco, como está organizada a sociedade
e dos nhanderamõi, respondendo aos anseios de suas comunidades do branco, como ela é feita. Hoje nós somos formados enquanto lide
por uma vida digna e de conformidade com o nhandereko foi ranças indígenas que defendem o direito do nosso povo. Nós temos
criada a Comissão Nacional de Terra Guarani Yvyrupa. A Comissão nossa organização própria dentro das nossas comunidades, nós
Nacional de Terra Guarani Yvyrupa é uma organização política que temos nossos xeramõi [avô], nossas xejaryi [avó], nossas lideranças
se sustenta no próprio modo de articulação e representação Guarani, jovens, nossas mulheres, nossas crianças, e isto faz com tenhamos
diferenciando-se do modelo de organização imposto pela sociedade força pra que continuemos sendo o povo guarani. Os jurua avança
ocidental –formalista e burocrático. ram tanto que hoje as nossas terras estão praticamente todas na mão
dos jurua. Para nossa sobrevivência nós precisamos das terras, elas
Diversos encaminhamentos ao governo federal para demarcação e
têm que ser demarcadas pelo governo. Então para nós a Comissão
regularização de terras, bem como acompanhamentos de questões
Yvyrupa tem sido muito importante porque possibilita que nós lideran
e conflitosfundiários em diversas instâncias foram realizados por
ças tenhamos sempre contato com os caciques, e volta e meia fazemos
meio da Comissão Yvyrupa, cuja trajetória pode ser observada a
estes encontros de lideranças de outros estados em uma aldeia para
partir dos discursos de seus coordenadores, proferidos em língua
estarmos levando nossa discussão que afeta todas as comunidades de
guarani nas aldeias Guarani do Sul e Sudeste do Brasil, traduzidos
todos os estados. Dentro da cidade não tem como mantermos todo o
e apresentados parcialmente a seguir:
nosso sistema, não existe mata, não existe rio. E para nós mantermos
Maurício Gonçalves –A Comissão Yvyrupa é uma organização dos nossa cultura toda a noite temos nosso jeroky na Opy´i, isso fortalece
Guarani Mbya do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo. A luta guarani nossa luta e fortalece a união do povo guarani.
não é de agora, ela sempre foi anunciada, desde “o descobrimento”
Nós sabemos e dizemos que a terra é Guarani, mas infelizmente
do Brasil e, apartir daí, iniciou-se a luta do povo indígena e do povo
precisamos do kuatia, o papel de um jurua dizendo que aquela área
guarani. Na medida em que foram avançando as grandes cidades
é do Guarani. Nossa luta política é de enfretamento, com o governo,
e o povo não indígena foi aumentando, nós começamos a luta de
com a Funai, com o MPF, levando as nossas reivindicações.
manter nossa cultura, nossa língua e nosso jeito de ser. Tínhamos
tudo que precisávamos da natureza, ela nos oferecia a mata os É importante os mais jovens escutarem o que eles falam e ajudá-los,
rios, as caças, a pesca, tudo isso nós tínhamos, e quando começou a porque são eles que pedem força para Nhanderu para poder cuidar
formar o grande povo dos brancos, eles não olharam o grande povo de nós. É por isso que nós temos essa força, essa garra, essa vontade
que já vivia aqui, que é daqui mesmo. E nós estamos aqui nestes de continuarmos lutando pelos nossos direitos. Eles pedem pela
muitos estados, do RS ao ES, um povo que resistiu a tudo isso, ao demarcação para que possam ter sua casinha e suas plantações. É
massacre, ao extermínio, foram acontecendo várias coisas e nosso muito importante mesmo ouvirmos afala deles e seus conselhos. É
povo foi perdendo seu espaço, mas mantemos nosso próprio jeito de com a força deles e de Nhanderu que nós temos esta reunião. (17 de
viver e de ser guarani. Nossos velhos, nossos grandes xeramõi [avô], setembro de 2010 – TI Estiva, RS)
E a luta pela terra é assim, a gente tem o direito nosso, que não Na verdade Yvyrupa tem um grande significado para o povo Guarani,
se combina com o direito escrito, porque pelo nosso entendimento porque quando Nhanderu criou a terra, criou bem perfeito e nós
Nhanderu deixou essa terra para nós. Então muitas vezes a gente chamamos de Yvyrupa. E Yvyrupa não é só onde tem aldeia, mas se
tem essa dificuldade de explicar, mas hoje eu acredito que depois a gente vai falar do mundo é Yvyrupa. Quando Nhanderu fez o mun
que a gente formou a Comissão, todo mundo, em todos os estados do, ele fez com carinho, criou essa beleza natural, a natureza, que
estão entendendo, sabendo como que é o nosso direito pela terra. brota da terra. Nosso grande inimigo são as pessoas que destroem
Porque a terra, no nosso conhecimento é única, não tem divisão, a natureza, por exemplo o agronegócio. Nossas preocupações, hoje,
então, nessa parte é um pouco complicado, mas a gente tem um são também a mudança climática, saber por que teve esse aqueci
papel muito importante de informar as comunidades. (16/11/2010 mento global, tudo isso queremos discutir. Mas o Guarani já sabia,
– TI Pindoty, SP) o Guarani já sabia há 500 anos atrás que isso ia acontecer, a gente
ia chegar nesse ponto, os mais velhos sempre falavam.
Timóteo da Silva–Por que nasceu a Comissão Terra Guarani Yvyru
pa? Porque na ideia jurua ele divide a terra por exemplo em estado, Nós acompanhamos a reestruturação da Funai, em que participaram
município, mas não tem divisãofederativa para o povo Guarani. várias organizações, Coiab, Apoinme, Arpipan, Arpinsul, Arpinsudes
Então, começou a nascer essa organização que é própria do povo te, e CNPI. E também, na nossa região, a CTL - Coordenação Técnico
Guarani, na qual eu participo como coordenador. O intuito é de Local, que vai atender as comunidades. Então, chegou na hora certa
lutar por aquilo que nós acreditamos que é o significado também da essa reestruturação, até mesmo para melhorar o atendimento. Nós
terra. Yvyrupa significa que a terra é uma só, não tem divisão. Várias acreditamos que tem que mudar pra melhor. E pensando no futuro
cidades foram instaladas em cima das terras do povo Guarani, e a governo, a gente tem que procurar sempre dialogar, porque se for
gente está lutando para garantir o espaço onde nós permanecemos esperar com os braços cruzados com certeza não vai acontecer. É
hoje, no Sul, Sudeste, restituir o que já foi nosso, e também garantir claro que somos diferentes, tem que ser respeitada a diferença, nossa
a manutenção do nosso próprio modo de ser Guarani. Um grande cultura, nossa realidade, mas nós fazemos parte dessa nação, então
desafio nosso agora é de que as terras sejam homologadas, demar temos que ser respeitados pelo governo. A maior preocupação nossa
cadas fisicamente. Nossa luta pela demarcação envolve política, realmente é a terra, porque sem terra não há vida, sem terra não há
planejamento, gestão territorial, gestão ambiental, educação e saúde nhandereko, não há nosso modo de ser guarani. (24/11/2010 – TI
dentro das comunidades, e nós temos que acompanhar sempre. Eu Tenonde Porã, SP)
acho que a importância maior da Comissão é o Conselho, princi
palmente os pajés, caciques, conselheiros que são os mais velhos. NoTa
E a instância maior da nossa organização é a assembléia, onde
todos participam, e nós coordenadores, mas quem fortalece mesmo 1Edição por Maria Inês Ladeira e Eliza de Castilla (CTI) de pronunciamentos
a Comissão é a própria base, principalmente os tekoas [aldeias]. A dos coordenadores da Comissão Yvyrupa durante assembleias realizadas nas
aldeias Peguaoty (SP), Araçai (PR), Pindoty (SP) e em reuniões em aldeias no
Comissão é composta pelos caciques, pelos mais velhos, pelos pajés
RS, SC, PR, SP, RJ e ES, entre 2006 e 2010.
e nós, coordenadores, apenas coordenamos os encontros, as datas,
Supondo que os Guarani apreendam seu mundo em sua tota Até 2009, 16 Grupos Técnicos de Identificação e Delimitação (GTs)
lidade, onde todos os níveis de sua existência estão associados estavam em andamento, envolvendo cerca de 45 TIs guarani
(incluindo as contradições e as transgressões), é o seu território, nos estados do RS, SC, PR, SP e RJ. Dessas, 20 estão em fase de
aparentemente descontínuo e indefinido, compartilhado e frag estudos e elaboração de relatório, cinco já tiveram seus relatórios
mentado, a base que sustenta seu modo de vida e dinamiza as concluídos, em fase de análise, publicação ou em contraditório,
relações dentro e fora de sua sociedade. assim como seis obtiveram Portaria Declaratória entre 2008 e
2009, tendo sido a portaria declaratória da TI Araçai (SC) sus
paNoraMa aTuaL DaS TErraS GuaraNI pensa por ação judicial.
Em 2010 foram levantadas pelo CTI cerca de 290 aldeias guarani Com todo esse impulso, cerca de 2/3 das TI guarani ainda estão
mbya e nhandéva: cinco no Espírito Santo, 56 em Santa Catarina, sem providências administrativas ou com procedimentos em
87 no Rio Grande do Sul, 69 no Paraná, 61 em São Paulo e 10 no curso obstruídos por conflitos e ações judiciais propostas por
Rio de Janeiro, que foram ocupadas a partir dos anos 1980 nas particulares e pelo governo estadual (SP, SC). A vinculação às
regiões sul e sudeste do Brasil, e 60 aldeias kaiowá e ñandeva políticas públicas de assistência, o aumento demográfico, a im
no Mato Grosso do Sul; no Paraguai, segundo fontes oficiais, possibilidade da realização das práticas tradicionais, a expulsão
encontram-se 200 assentamentos (138 mbya, 57 pai tavyterã violenta de famílias das áreas que ocupam – como sucedeu
(kaiowá) e cinco ñandeva) de propriedade comunitária e/ou não recentemente em Ocoy (PR) e Arroio do Conde (RS) – são fatos
regularizados e, na Argentina, cerca de 150, sendo a maioria constantes na vida das famílias guarani que vivem nas regiões
mbya. Um total aproximado de 700 aldeias foram formadas ou mais desenvolvidas do país.
conservadas nos últimos trinta anos pelos Guarani.
Levantamentos realizados pelo CTI (2010) sobre as TIs guarani
Incontáveis locais foram desocupados pelos Guarani em razão de com processos de regularização concluídos nos estados do RS,
pressões fundiárias e da omissão do Estado. No Brasil, a partir SC, PR, SP, RJ e ES apontam que suas superfícies somam apenas
O Manejo do Palmito e
o Manejo da Política
Adolfo Timóteo Verá Miri Cacique da TI Ribeirão Silveira, presidente do Conselho Indígena do Estado de São Paulo
e do Instituto Teko Arandu
NA REGIÃO DA SERRA DO MAR, MUITO ANTES DA O problema na realização desses projetos é que tem família na
DEMARCAÇÃO DAS NOSSAS TERRAS, OS jURUá aldeia que acha que o que vem da natureza é a natureza que
(NÃO INDÍGENAS) JÁ TIRAVAM BASTANTE PALMITO cuida. Então não tem preocupação de plantar palmito, só de
PARA VENDER. MESMO DURANTE O PROCESSO DE tirar. Mas não é bem assim. Por isso temos que incentivar todas
RECONHECIMENTO DA TERRA INDÍGENA RIBEIRÃO as famílias a plantar e repovoar o palmito. Nós trabalhamos
SILVEIRA VINHA PALMITEIRO AVULSO OU EMPRESAS com produção familiar porque não conseguimos nos adaptar à
DE PALMITO EM CONSERVA PARA FAzER EXTRAÇÃO roça comunitária. No esquema comunitário todos têm direito,
NÃO AUTORIzADA. mas nem todos trabalham igualmente, então não dá certo. Por
isso é bom que cada família tenha seu sítio para limpar a roça
Osjuruá sempre compraram bastante palmito e para os Guarani e plantar. Tendo palmito, tem dinheiro. Nossa intenção é fazer
que vivem nessa região essa venda é hoje uma das poucas fontes um cadastro de famílias produtoras e conseguir um selo de
de renda. Mas o palmito já está acabando na nossa terra, e está certificação para comercializar o palmito que plantamos. Mas
em extinção em toda parte. Por isso, há quinze anos estamos isso demora um tempo. Então a gente vem orientando cada
desenvolvendo projetos de plantio e reflorestamento de palmito. família a ter a sua roça.
Não só palmito juçara, mas também o pupunha, que não é Algumas famílias já têm bastante plantação de palmito e também
proibido de vender e se reproduz mais rápido. Também estamos de árvores frutíferas. Estamos plantando jabuticaba, laranja,
plantando açaí, e esperamos um dia comercializar a polpa. goiaba, abacate, banana. Isso é para garantir a alimentação, já
Temos hoje três viveiros aqui na aldeia do Ribeirão Silveira e mui o palmito é para comercializar. Minha preocupação hoje é que
tas famílias plantam as mudas de palmito para reflorestamento. estamos consumindo muita comida de fora, industrializada,
enlatada, muito refrigerante, muito doce. E o corpo dos Guarani
Já fizemos vários projetos, com apoio dos ministérios do Meio
Ambiente e do Desenvolvimento Social, pelo Programa Fome Zero, acaba não ficando muito resistente. Então estamos incentivando
associado à segurança alimentar. Também conseguimos apoio do as pessoas a voltarem a plantar milho, batata doce, mandioca e
Ministério do Desenvolvimento Agrário, e fizemos um inventário assim ter comida menos gordurosa. Precisamos fazer com que as
que mostrou a escassez de matrizes de palmito na nossa terra. crianças saibam que temos comida saudável, e não só a comida
Esse projeto também incentivou a agricultura familiar. E estamos do mercado é que é boa. Então fizemos e vamos continuar fazendo
tendo ainda o apoio de uma fundação italiana chamada Slow encontros na aldeia de fortalecimento da culinária guarani. A gen
Food, com a linha de projeto Fortaleza do Palmito Juçara. Já fui te chamou cozinheiras mais velhas para ensinar a culinária aos
a Torino, na Itália, participar de eventos dessa Fundação que mais jovens. Fizeram ka’aguijy, bebida de milho que só as moças
reúne 130 países. É um movimento em defesa da alimentação novas, que passam de 11, 12 anos, podem preparar, aprendendo
saudável, por isso a gente participa. com as mais velhas. Também fizemos torta de milho, mbyta. E
Território em Construção
NO INÍCIO DA DÉCADA DE 1980, A FUNAI AINDA Águas Brancas, Taim, Mato Preto e Estrela Velha. Há grupos de
CONSIDERAVA O POVO GUARANI EXTINTO NO RIO trabalho de identificação e delimitação em: Itapuã, Ponta da
GRANDE DO SUL, APESAR DE EXISTIREM DIVERSOS Formiga, Morro do Coco, Arroio do Conde, Petim (acampamento),
PEQUENOS GRUPOS DE FAMÍLIAS ESPALHADOS e Passo Grande (acampamento).
PELA REGIÃO, MORANDO DEBAIXO DE PONTES E
NAS RESERVAS DAS RODOVIAS. AFORA ALGUMAS Há também comunidades assentadas sobre terras públicas do
FAMÍLIAS QUE MORAVAM DE FAVOR EM TIS KAINGANG estado do RS, como Riozinho e Itapuã. Além disso, algumas áreas
(GUARITA, NONOAI, VOTOURO E CACIQUE DOBLE), OS foram desapropriadas pelo estado para fins de assentamento de
GUARANI ESTAVAM DESTERRADOS EM SEU PRÓPRIO comunidades indígenas. São elas: Coxilha da Cruz (aquisição
TERRITÓRIO, FUGINDO PERMANENTEMENTE PARA não concluída), Água Grande, e Inhacapetum (Aldeia Koenjú).
PRESERVAR A EXISTÊNCIA E A SOBREVIVÊNCIA FÍSICA A Comunidade da Estiva foi deslocada do acampamento da
Pimenta, às margens da RS 040, para uma sobra de terras de
aproximadamente seis hectares pela Prefeitura de Viamão.
Um marco importante da relação entre Estado e o povo Guarani
é a Guerra Guaranítica, no Rio Grande do Sul, em que os índios Com a utilização de recursos da compensação e mitigação da
foram derrotados pelas tropas do estado. O marco mais visibili BR 101, a Funai adquiriu uma área de terras para o grupo de
zado desse conflito é a morte do líder indígena missioneiro Sepé famílias de Torres, hoje chamada Aldeia Figueira; para um grupo
ligado à Barra do Ouro, adquiriu a área Doze Tribos (Aldeia Sol
Tiarajú, em 1756. Com a morte de seu líder na Batalha do Caibo
até, os Guarani ficaram dispersos. Para sobreviverem, adotaram Nascente) e uma área contigua à Aldeia de Riozinho. Ainda há
uma “estratégia de retirada”, fugindo de uma região para a outra a disponibilidade de recursos para aquisição de mais uma área
ao menor sinal de ameaça, logrando assim a sobrevivência física no litoral norte.
de uma pequena população no RS. Está em negociação, pelo projeto de duplicação da BR 116, entre a
O período dos últimos 30 anos representa uma reversão desse Funai, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
quadro. Ainda que a atual situação esteja longe da razoável, e (DNIT) e o Ibama, a aquisição de terras para as comunidades de
muito distante da ideal, podem ser identificados avanços signi Arroio do Conde, Petim, Passo Grande I, Passo Grande II, Coxilha
ficativos, como se demonstra abaixo. da Cruz, Arroio Velhaco, Pacheca, Água Grande e Capiovy. Pelo
projeto de duplicação de parte da BR 290, está prevista a aquisição
SITuaÇÃo DaS DEMarCaÇÕES de terras também para os acampamentos de Irapuá e Divisa.
Estão homologadas atualmente as terras indígenas guarani no A comunidade indígena de Irapuá, apesar de ser um dos acam
RS: Barra do Ouro, Pacheca, Varzinha, Salto Grande do Jacui, pamentos mais antigos de que se tem referência – data ainda
Yriapú (chamada de Capivari na relação da Funai) e Guabiroba. da década de 1930 –, até agora não tem uma área efetivamente
Estão em processo de demarcação as TIs de Cantagalo, Irapuá, garantida. O processo demarcatório da Funai, iniciado no ano
zoneamento da área desde o início da constituição da aldeia. com as potencialidades naturais de cada região e dialogando
Foram construídas casas, centro comunitário e escola indígena; cuidadosamente com os avanços tecnológicos e científicos, para
houve instalação de um sistema de fornecimento, plantio de que possam ser apropriados e utilizados pelos Guarani quando
frutíferas diversas e plantas para produção de matérias-primas do seu interesse.
para confecção de artesanato ; preparo de terras e demarcação
Esse processo engendrado pelos Guarani no RS, de reconstrução a
de áreas para o plantio agrícola das famílias. partir de fragmentos do próprio povo, do meio ambiente original
É necessário promover um processo continuado na direção da e da espacialidade, após a enxurrada da ocupação colonial, cons
etnossustentabilidade efetiva em todos os sentidos, acentuando truindo novas lógicas e referências, possivelmente se constituirá
as características culturais indígenas específicas, de acordo num referencial para outros povos indígenas. (maio, 2011)
O REAL PARQUE É A TERRA ADOTADA PELO POVO como o IBGE/Pnad, Funai, Funasa, ou associações como a SOS
PANKARARU, EM SUAS VIAGENS E MIGRAÇÕES PARA Pankararu e ONGs como Cimi, CPI e Opção Brasil, ou ainda por
SÃO PAULO. NO ÚLTIMO REGISTRO REALIzADO PELA pesquisadores da área da educação e da etnologia apontam um
FUNASA (2007), EXISTIAM POUCO MAIS DE 2.000 número bastante expressivo de etnias originárias de várias regiões
INDÍGENAS CADASTRADOS, CORRESPONDENDO A do país, sobretudo aquelas com baixo índice de desenvolvimento
3,6% DA POPULAÇÃO INDÍGENA MIGRANTE QUE VIVE humano, vivendo em comunidades espalhadas pelos bairros de
NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO São Paulo. Dentre essas comunidades que migraram em seus
movimentos de diáspora, os Pankararu destacam-se como a etnia
mais numerosa, vivendo nas zonas sul e oeste, como no Real
Dentre esses indígenas, 1.338 pertencem àetniapankararu.
Parque, Capão Redondo, Osasco, Paraisópolis, Grajaú, Jardim
Outras fontes de dados estimam um total de 2 500 pessoas, das
Palmas, e outras na zona leste, como Sônia Maria, Jardim Elba,
quais aproximadamente 1.500 vivem na região sul da cidade.
Jardim Irene, São Miguel e Parque Santa Madalena.
Nos últimos anos, notícias sobre incêndios em favelas da cidade de Nossa vida não é fácil mesmo dentro da aldeia, imagine em um
São Paulo pipocaram na imprensa. Em 24 de setembro de 2010, mundo complexo como a cidade, onde tudo é mais difícil e cheio
o fogo deixou desabrigados aproximadamente 1.500 moradores de desafios, preconceito e discriminação. Assumir a identidade
da favela do Real Parque. Esta é bastante conhecida em fotografias indígena nesse contexto não é fácil e o fato de sermos indígenas
na mídia, que destacam o contraste entre os condomínios, de um do nordeste complica tudo mais um pouco. Além da visão este
lado, e os conjuntos habitacionais e barracos, de outro. reotipada de que os índios urbanos são aculturados, há outros
Mais uma vez, parte dessa população sofreu duramente em estereótipos correntes quando se fala em povo indígena da região
perder suas casas humildes, construídas com muito sacrifício, nordeste, como o de que esses povos foram extintos.
e sobre o fogo até o momento não se sabem as causas. Dentre Vale dizer que mesmo morando longe da terra onde eu nasci e
as 300 famílias que tiveram suas moradias incendiadas, 37 vivi até os dez anos, minha identidade é indígena, independente
famílias indígenas ficaram desabrigadas, sem apoio do serviço da localidade onde vivo ou passo. Essa identidade, que é singular
de habitação pública. Uns tiveram seus nomes encontrados em e coletiva, se expressa nas atividades culturais e educativas que
dados cadastrais do serviço de habitação, mas a maioria ficou a nossa comunidade desenvolve em parceria com outros grupos
sem assistência pública, sem destino e sem recurso. indígenas e também com não indígenas.
KAINGANG REIVINDICAM DEMARCAÇÃO CONTÍNUA localizadas nas bacias hidrográficas do rio Tibagi, do Rio Cinzas
DE TERRAS DA BACIA DO RIO TIBAGI E SE VEEM e do rio Laranjinha têm sido invadidas e fragmentadas por não
AMEAÇADOS PELA CONSTRUÇÃO DA UHE MAUÁ POR índios, o que se deu principalmente na forma do desmatamento
SOBRE O SEU TERRITÓRIO. O CASO É EMBLEMÁTICO e da colonização. O desmatamento, que inicialmente estava
DAS DIFICULDADES POSTAS À GARANTIA DOS restrito ao caminho dos tropeiros, passou a ser praticado nas
DIREITOS INDÍGENAS FORA DA AMAzÔNIA LEGAL terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, inclusive dentro
dos limites das povoações indígenas.
As TIs do norte do Paraná atualmente estão delimitadas de Os fazendeiros que se instalaram na região dos Campos Gerais
modo artificialmente descontínuo. A situação jurídica das terras derrubaram a madeira, especialmente aAraucaria angustifólia
delimitadas nas bacias hidrográficas do Tibagi, do Cinzas e do (árvore símbolo do Paraná) para ampliar as áreas de cultivo e
Laranjinha é bastante diversa. A TI Pinhalzinho foi delimitada de pastagens. A reserva natural de matas foi devastada nessas
pela Portaria nº 1.934/E (com extensão de 593 hectares) e TIs da bacia do Tibagi. As TIs de Mococa e Queimadas ainda
encontra-se registrada em Cartório desde 1985. Por sua vez, a TI possuem alguns pequenos remanescentes de floresta, os quais
Laranjinha, que fica em Santa Amélia, tem apenas 284 ha. A TI desapareceram completamente das TIs Barão de Antonina, São
Iwy Porã Laranjinha que tem 1.238 ha ainda está em processo Jerônimo e Apucaraninha, devido à exploração madeireira de
de reconhecimento jurídico, embora um grupo de 30 famílias serrarias instaladas pelo próprio SPI.
Guarani já esteja vivendo em um local dentro da área identifi O grande impacto dessa situação sobre os índios é que os pi
cada. A TI Mococa encontra-se hoje homologada, registrada em nhões desapareceram. As sementes das araucárias eram uma
Cartório e no Serviço de Patrimônio da União (SPU) desde 1996 importante fonte de proteínas (principalmente no inverno) que
(com extensão de 859 ha). ATI Apucaraninha está registrada em simplesmente desapareceu pela ação dos não índios. E não houve
Cartório desde 1953 (com extensão de 5.575 ha). ATI Queimadas qualquer compensação em troca da madeira, fato este que implicou
foi homologada e registrada em Cartório e no SPU desde 1996 em perdas significativas para as famílias indígenas que se alimen
(com extensão 3.077 ha). ATI Barão de Antonina foi homologada tavam do pinhão. Devido a esta política implantada até 1975, os
e está registrada em Cartório e no SPU desde 1991 (Decreto nº indígenas dessa região vivem em terras em que o ambiente natural
285, de 30/10/1991, com extensão de 3.751 ha). E, por fim, a TI está devastado e necessita urgentemente ser recuperado.
São Jerônimo foi homologada e está registrada em Cartório e no
Os Kaingang sempre viveram em toldos, em ranchos cobertos
SPU desde 1991 (Decreto nº 286 de 30/10/1991, com 1.339 ha).
por folhas de palmeira, faziam suas aldeias fixas (ema) nas re
Esta é uma divisão arbitrária. Desde o século XIX as terras giões de campo e acampamentos ou abrigos provisórios (wãre)
indígenas, que abrigavam os povos Kaingang, Guarani e Xetá, nas florestas e margens de rios, onde permaneciam caçando e
do ritual dos mortos, o Kikikoi). Deste relacionamento também nasceu uma mobilização muito
forte em torno da reivindicação de demarcação de suas terras.
As atividades de caça e as pescarias são consideradas não só de
Os movimentos indígenas têm crescido no norte do Paraná
lazer e de cultura hoje em dia, mas ainda significam uma im
desde 1979, tendo se intensificado a partir de 1986. Hoje esses
portante fonte de proteínas para essas pessoas. Afinal, os índios
movimentos protestam e pleiteiam não só a demarcação das TIs
armam os seus pari (armadilhas) nos meses de inverno, para
apanhar peixes nas corredeiras, para onde são arrastados pela efetivamente utilizadas e compensações pelos danos ambien
tais sofridos no passado, como também reivindicam melhores
força da água. Fazem ainda cestos e esteiras para vender como condições de saúde e atenção da Funai (principalmente da
artesanato, confeccionados de taquara ou criciúma. Perambulam,
reestruturação do órgão).
portanto, pelo território tradicional, demarcado ou não, para
as atividades de caça, pesca e coleta de material vegetal para a É certo, portanto, que apesar de estarem delimitadas de modo
confecção de seus artesanatos. descontínuo, as terras indígenas da bacia hidrográfica do rio
Tibagi formam um todo contínuo, dividido em especial por um
Os Kaingang, os Guaranis e os Xetás sempre estabeleceram es
acordo firmado pela União e o Estado do Paraná em 1949.
treita relação com o meio ambiente que os cerca. Dependem da
terra, da floresta, dos rios e dos campos para a sua sobrevivência. Atualmente, os Kaingang do norte do Paraná enterram seus
Na cosmologia Kaingang, há símbolos criados para explicar a mortos no cemitério de Natingui, que se localiza fora dos limites
relação estreita que eles têm com a natureza. Em seus mitos, as das terras demarcadas. Havia um cemitério usado pelos índios
serras, os rios, as águas, os animais e as aves são elementos que que habitavam a TI Mococa, situado em uma colina a 4 km do
aparecem com destaque. local em que está hoje a aldeia-sede, mas que foi abandonado.
E entre os rios Imbaú e Imbauzinho, ambos localizados fora dos
Assim sendo, é oportuno observar que os índios das bacias do
limites demarcados, também já foram documentados túmulos,
Tibagi, Cinzas e Laranjinha sempre dependeram de suas terras
o que evidencia o uso dessas áreas não demarcadas.
de ocupação tradicional, não só para suas atividades de sobrevi
vência, mas também e principalmente para pôr em prática suas
crenças, mitos, enterrar os seus mortos, fazer festas, celebrar ÁrEa Da uHE MauÁ DEvE SEr DEMarCaDa
uniões entre casais e estabelecer as suas redes de sociabilidade, No local em que está sendo edificada a UHE Mauá encontram-se
por meio do contato com os índios das demais aldeias. muitos vestígios da ocupação indígena. Segundo o parecer elabo
RIO GRANDE DO SUL opEraÇÃo vaI CoMBaTEr Segundo o escritório da Funai em Passo Fundo,
arrENDaMENTo Na TI GuarITa além deste processo, existem outras 40 reivin
dicações de comunidades indígenas no estado.
aSSEMBLÉIa GuaraNI CrITICa O MPF em Santa Rosa (RS), a PF, a Brigada
Há quatro anos, os índios estão acampados às
FaLHa DoS paÍSES Militar e a Secretaria da Receita Estadual
margens de uma estrada, perto da área que
Desde o dia 4/02, cerca de 1,2 mil lideranças deflagram em 31/03 uma operação conjunta
para combater o arrendamento de terras eles exigem que seja desapropriada pela união.
indígenas guaranis vindas de oito estados bra (G1, 02/06/2008)
sileiros, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai na Reserva da Guarita. Somente caminhões
se reuniram em São Gabriel (RS) para lembrar cadastrados no MPF estarão autorizados a
os 250 anos da morte do líder indígena Sepé retirar a soja plantada na reserva. Com o fim KaINGaNG proTESTaM CoNTra
Tiaraju e o massacre de 1,5 mil índios guarani do arrendamento, órgãos públicos envolvidos uHE MoNJoLINHo
que lutaram contra a dominação espanhola e com a questão indígena poderão implementar Kaingang da região norte gaúcha, atingidos pela
projetos e linhas de crédito oficiais. (Juarez Usina Hidrelétrica Monjolinho, participaram
portuguesa na região. Em documento divulga
do hoje (7), ao final da Assembléia Continental Tosi, Procuradoria Geral da República do no dia 20 de uma audiência pública com o
Guarani, os índios afirmam que assim como RS, 29/03/2006) consórcio Monel, Funai, Cimi e MPF. Enquanto
no Brasil, o Paraguai e a Argentina falham em uma comissão participava da audiência, cerca
reconhecer o direito à terra dos indígenas. No KaINGaNG BaTaLHaM de 150 índios realizaram protesto do lado de
caso argentino, a constituição federal também pELa TI Morro Do oSSo fora do prédio do Ministério Público em Ere
reconhece o direito à terra, mas falta vontade A comunidade indígena Kaingang, que em chim (RS). O objetivo é buscar soluções para
política para ações concretas. As constituições 09/04/2004 retomou o Parque Natural Morro os problemas sociais e ambientais causados
provinciais, por exemplo, não reconhecem pela construção da barragem, no Rio Passo
do Osso, em Porto Alegre, continua a sua luta
os direitos indígenas. Por causa disto, 75% pela demarcação da área. Desde então, houve Fundo, de propriedade da empresa Engevix,
dos territórios ainda não estão reconhecidos ações judiciais reclamando o Morro do Osso bem como discutir a aplicação do Plano Básico
e titulados. No Paraguai, a maior parte dos como patrimônio do município de Porto Alegre. Ambiental. Entre os pontos de reivindicação
territórios indígenas são insuficientes e não A comunidade assegura que naquele parque dos indígenas estão o pagamento de indeniza
ção à comunidade; construção de um posto de
reconhecidos, causando a migração de famílias existem elementos que comprovam a tradi
indígenas para cidades paraguaias, brasileiras cionalidade da ocupação indígena. A própria saúde com leitos para internação, contratação
e argentinas. (Roberta Lopes, Radiobrás, prefeitura de Porto Alegre fazia propaganda de profissionais pediátricos e ambulância
07/02/2006) equipada; construção de casas; ampliação do
turística sobre o parque usando-se destas in
formações. No dia 29/06 o juiz federal da Vara saneamento básico e energia elétrica gratuita
Ambiental, Agrária e Residual de Porto Alegre permanente. (Cimi, 24/08/2009)
GuaraNI FaZEM paSSEaTa EM
sentenciou, em ação de interdito proibitório
porTo aLEGrE proposta pela Prefeitura, que os índios teriam KaINGaNG rEToMaM ÁrEa
Centenas de guarani fizeram passeata ontem 30 dias para sair do local e que caberia à pre
para pedir a demarcação de suas terras e No Morro SaNTaNa No rS
feitura reassentar as famílias em outro lugar.
assistência à saúde. Os manifestantes foram Acomunidade indígena, por sua vez, ingressou No dia 19/02/2010, uma família kaingang
acompanhados por representantes do Movi com recurso, alegando a incompetência do ocupou uma área do Morro Santana em Porto
mento dos Sem-Terra (MST) e do Movimento juiz da Vara Ambiental e Agrária em julgar a Alegre, reconhecendo ali parte de seu território
dos Trabalhadores Desempregados (MTD). ação, uma vez que uma decisão da TRF-4, na tradicional. A área ocupada é atualmente de
(OESP, 14/04/2007) propriedade da UFRGS e é uma reserva am
sessão do dia 19/7/2006, assegurou aos Kain
gang o direito de permanecerem onde estão biental. Contudo, os kaingang utilizam a área
até que a Funai proceda aos estudos sobre a há pelo menos 20 anos - quando as primeiras
TI DE MaTo prETo DoS famílias da etnia começaram a aparecer nos
área. (Roberto Antonio Liebgott, Cimi Sul,
GuaraNI EM ESTuDoS 12/07/2007)
registros da cidade de Porto Alegre, que na
Termina no próximo dia 23 o prazo para que época começava a se expandir territorialmente.
a Funai conclua a primeira fase do processo As famílias que agora retomaram a área viviam
demarcatório da TI de Mato Preto, entre os
KaINGaNG DESoCupaM na vila Jari, próxima ao Morro Santana, e já
municípios de Erebango e Getúlio Vargas (RS). prÉDIo Da FuNaI faz alguns anos que reivindicam à Funai um
A decisão do TRF-4 acolhe ação civil pública do Eles deixaram o local nesta segunda-feira GT que realize estudos de identificação e de
MPF e fixa multa no valor de R$ 1 mil por dia (2) depois de fazer um acordo com o órgão. marcação da área. Como resposta à ocupação
de atraso. A postergação por parte da Funai Outro grupo que também bloqueava o trânsito kaingang, o setor jurídico da UFRGS entrou
em cumprir a decisão judicial já se arrasta na RS-343 deixou o local após o acordo. Na com um pedido de reintegração de posse. No
por vários anos. Há aproximadamente cinco próxima semana, uma comissão de índios dia 23/02, o juiz deferiu a liminar em favor à
anos os indígenas da comunidade de Mato da região deve ir à Brasília participar de uma UFRGS concedendo o prazo de 24 horas para a
Preto estão acampados próximos à rodovia audiência com o presidente da Funai e com desocupação kaingang da área. Como resposta
BR 153, reivindicando a demarcação de suas representantes do Ministério da Justiça. Os à ação, o departamento de Antropologia se
terras (Ascom/Procuradoria da República índios reivindicam a desapropriação de terras manifestou contrário à própria universidade
RS, 17/11/2009) ocupadas por agricultores em Sananduva (RS). e redigiu uma carta em resposta às decisões
do juiz. No dia 27/04/2010, uma juíza federal deve informar se voltou a fiscalizar as safras na Capital, iniciaram na tarde de ontem o
substituta realizou um despacho de reintegra posteriores a 2008/2009 nas TIs Carreteiro e plantio de 4 mil mudas de araucária, com
ção de posse a favor da Universidade. (Povos Serrinha e se realizou algum procedimento o objetivo de reflorestar a área em torno da
Indígenas do Sul, 04/05/2010) semelhante na TI Monte Caseros. O caso não reserva indígena. As mudas foram doadas pela
é novidade. Em 2003, a reportagem da Folha Embrapa Clima Temperado (Pelotas/RS). A
MpF INvESTIGa prÁTICaS DE de S. Paulo “Índios descumprem lei e plantam iniciativa integra o projeto Quintais Orgânicos
soja” apontava a discordância de 14 caciques de Frutas, responsável pelo plantio de 170 mil
arrENDaMENTo Na TI vENTarra no Rio Grande do Sul com relação à medida mudas de árvores nativas – dessas, 54 mil
O MPF instaurou, em maio de 2010, um inqué provisória que deu origem à lei que liberava o frutíferas – no Rio Grande do Sul, Paraná e
rito civil para apurar a legalidade de contratos plantio de transgênicos no país, exceto em TIs. Santa Catarina, beneficiando cerca de 30 mil
de parceria agrícola na TI Ventarra, no Rio Segundo a reportagem, os indígenas estavam pessoas. O cacique Ari Kaingang afirmou que
Grande do Sul. As possíveis irregularidades se articulando politicamente para eliminar a a cobertura vegetal da área onde fica a aldeia
na utilização das terras dessa comunidade restrição a transgênicos em suas terras. Em tem pouco valor nutricional. Conforme ele, a
kaingang foram objeto de um procedimento Cacique Doble, o plantio de soja transgênica escolha pela araucária deve-se ao seu grande
administrativo cível em 2009. Durante esse aconteceria desde 2000. Com o inquérito, as aproveitamento – a madeira, o pinhão e até a
processo, a Funai posicionou-se manifestando lideranças indígenas deverão ser alertadas pela resina, que, destilada, fornece alcatrão e óleos
que são inaceitáveis as práticas de arrenda
Funai sobre a proibição legal ao plantio de diversos. “Além do que, trata-se de uma árvore
mento e parcerias agrícolas em TIs e informou transgênicos em TIs. (FSP, 17/10/2003 e infor que tem relação histórica com a vida dos indí
que “as atividades de lavoura mecanizada que mações da Portaria de 08/07/2010 publicada genas do Sul do Brasil”, observou o indígena.
sejam fruto de contrato de parceria agrícola pelo Diário da Justiça, 13/07/2010) (Correio do Povo, 16/03/2010)
na Terra indígena Ventarra constituem-se, de
fato, em prática de arrendamento”, conforme
conteúdo do ofício n 019/CGDC/2009 (fl. 125) arrENDaMENTo Na TI NoNoaI SANTA CATARINA
da Coordenação Geral de Desenvolvimento Co pauTa aÇÃo Do MpF
munitário da Funai. A prática de arrendamen Um inquérito civil foi instaurado em agosto de FuNaI DEvE rEMovEr aLDEIaS
tos e parcerias agrícolas em terras indígenas é 2010 para apurar a existência de arrendamento prÓXIMaS À Br-101
expressamente proibida pelo Estatuto do Índio ilegal de terras na TI Nonoai (RS). A ação do
(Lei 6.001/73). (Informações da portaria nº MPF parte da informação de que o capitão AJustiça Federal em Florianópolis determinou
11 de 03/05/2010 publicada no Diario da indígena da Aldeia Pinhalzinho, na TI Nonoai, à Funai a imediata execução do Programa de
Apoio às Comunidades Indígenas Guarani,
Justiça em 12/05/2010) estaria ameaçando os indígenas da aldeia;
tomando suas terras; e arrendando-as para que estabelece a remoção de aldeias locali
não índios, a fim de tirar proveito financeiro zadas na área de influência da BR-101, sob a
TraNSGÊNICo EM TIS KaINGaNG para si. O procurador da república Michael von pena de multa no valor de 500 mil reais, que
É aLvo DE INvESTIGaÇÃo Mühlen de Barros Gonçalves determinou que reverteriam em benefício das comunidades
Segundo informações da 4ª Câmara de Coor devem ser investigadas a existência de arren indígenas do litoral de SC e RS. A ação foi
denação e Revisão do MPF, as TIs Carreteiro, damentos ou parcerias entre índios e pessoas ajuizada no ano passado, em que o MPF pedia
Serrinha e Monte Caseros, localizadas no Rio estranhas ao grupo na TI Nonoai; quais são os que o Dnit e a Funai cumprissem convênio
Grande do Sul, serão objeto de inquérito civil arrendatários e os indígenas arrendadores; e de 2002, com a finalidade de implementar o
para averiguar a existência de transgênicos nas qual o total de terras arrendadas ou que são programa de compensação ambiental de apoio
lavouras. ALei nº 11.460/071 veda o plantio de objeto de parcerias. Também será considerada às comunidades indígenas guaranis residentes
transgênicos em TIs e unidades de conserva na investigação a quantidade aproximada de na área, através de aquisições, serviços, obras e
ção. Documentos consultados pelo MPF indi terras que cada família indígena possui nas equipamentos orçados em R$ 11 milhões. Na
cam a presença de organismos geneticamente aldeia. Em dezembro de 2008, foi assinado região há nove comunidades indígenas, sendo
modificados (OGMs ou transgênicos) na safra um termo de ajustamento de conduta (TAC) cinco no território catarinense e quatro no RS.
de 2008/2009 das TIs Carreteiro e Serrinha, entre o MPF e lideranças indígenas da TI para Desse total, sete necessitam ser removidas em
bem como em outras áreas do estado, como barrar as práticas de arrendamento. Nesse TAC, virtude da duplicação da BR-101. No entanto,
a TI Monte Caseros. A portaria que orienta o o caciqueJosé Orestes do Nascimento e o atual além de não tomar as medidas necessárias, a
inquérito determina que a Funai deve indicar capitão da aldeia Pinhalzinho comprometiam Funai ausentou-se da audiência judicial, que
“quem foram os indígenas e ‘prestadores de se a não arrendar as terras de Nonoai, Planalto, ocorreu no último dia 13.(PGR - TV Justiça,
serviço’ ou arrendatários responsáveis pelos
Pinhalzinho e Bananeiras para pessoas não 20/12/2006)
plantios identificados nas TIs de Serrinha e indígenas. (Portaria nº 139 de 05/08/2010
Carreteiro, apontados no ‘quadro demonstra publicada pelo Diário da Justiça)
tivo dos testes realizados em lavouras de soja FuNaI aDQuIrE TErra para
plantadas nas terras indígena para verificação CoMuNIDaDE GuaraNI
do plantio de cultivares de transgênicos - KaINGaNG rEFLorESTaM Sua Em 02/04, a Funai comprou a primeira das
Safra 2008/2009’ (fls. 44/46), bem como se rESErva CoM arauCÁrIa nove terras que compõem a meta fundiária do
tal cultivo ocorreu com a complacência dos As 70 famílias de Caingangues que vivem na Programa de Apoio às Comunidades Indígenas
respectivos caciques”. Além disso, a Funai aldeia da parada 25 da Lomba do Pinheiro, Guarani. A aquisição faz parte de um convênio
com o DNIT, firmado em 2002, com objetivo de é crime vamos solicitar ao MPF que ingresse terras pela bacia de acumulação da Barragem
compensar as comunidades Guarani afetadas com uma representação contra essas pessoas, Norte, construída no rio Itajaí do Norte, no
pelos impactos sócio-ambientais decorrentes pra que essas atitudes não mais se repitam. Vale do Itajaí.
da duplicação da BR 101, no trecho entre (Cimi Sul, 14/09/2007) A juíza Rosimar Terezinha Kolm, da 1ª Vara
Florianópolis (SC) e Osório (RS). A área, de Federal de Blumenau, considerou que parte
aproximadamente 2.027 m2, está localizada das medidas não foi efetivamente cumprida. De
Nova oFENSIva No CoNGrESSo
no município de Canelinha (SC) e será des acordo com a sentença, proferida sexta-feira,
tinada à comunidade de Cambirela. (Funai,
CoNTra oS DIrEIToS INDÍGENaS 15, a União deve repassar os recursos para
05/04/2007) Desde que o Ministro da Justiça assinou, que o Estado execute as obras. Entre as obras,
em abril de 2007, as portarias declaratórias estão a abertura e melhoria de estradas e a
das TIs Toldo Imbu, Toldo Pinhal, Araçá’i e construção de casas e de uma escola. A Funai,
DNIT E FuNaI FaZEM Chapecó (Gleba Canhadão e Pinhalzinho),
que também é ré no processo, está obrigada
rECoLoCaÇÃo DE ÍNDIoS setores contrários às demarcações pressionam a remover o cemitério indígena existente na
O Dnit e a Funai realizam, no dia 04/06, a os poderes públicos. Amontoaram-se ações bacia de acumulação e a elaborar e executar
segunda recolocação de índios em atendimento judiciais contra as demarcações das áreas dos o Programa Ibirama, para reequilíbrio sócio
ao Programa Básico Ambiental das obras de povos Guarani e Kaingang. As quatro terras so econômico e cultural da comunidade afetada.
duplicação da BR-101 Sul. Desta vez são 24 freram decisões liminares que obrigam a Funai O prazo para conclusão das obras será de três
pessoas de cinco famílias indígenas da locali a paralisar os procedimentos demarcatórios. anos, a partir da data em que não couber mais
dade de Cachoeira dos Inácios, margem do Rio Ademais, um projeto (48/07) aprovado, em recurso. Cabe apelação ao Tribunal Regional
da Duna, no município de Imarui. A área foi 17/10/2007, pretende a anulação da Portaria Federal da 4ª Região, em Porto Alegre. (Justiça
desapropriada pela Funai como parte dos R$ Declaratória da Terra Toldo Imbu. O projeto Federal de Santa Catarina, 21/06/2007)
11 milhões que o DNIT repassou à instituição deverá passar ainda pelas Comissões de Direi
referentes à compensação ambiental. (Rádio tos Humanos e de Constituição eJustiça, para
Difusora, 04/06/2007) depois ser apreciado pelo plenário da Câmara. CoNFLITo Na TI IBIraMa/
(Cimi, 22/10/2007) La KLÃNÕ
A polícia decidiu reforçar o policiamento na
MaNIFESTaÇÃo púBLICa pELo JuSTIÇa MaNTÉM região do conflito entre indígenas e agricul
FIM Do prECoNCEITo tores, no Planalto Norte de Santa Catarina,
TI ToLDo IMBu
Em setembro de 2007, nossa comunidade e depois que os colonos fizeram reféns o prefeito
A Desembargadora Federal Maria Lúcia Luz
nosso povo Guarani foram duramente atingidos de Doutor Pedrinho e uma equipe da RBS TV.
por manifestações de preconceito, discrimina Leira decidiu manter em vigor os efeitos da
O grupo foi mantido na reserva Duque de
ção e ignorância que beiram axenofobia. Essas Portaria que declarou como indígena a terra
Caxias (TI Ibirama La Klãnõ) por cerca de três
Toldo Imbu, do povo Kaigang. A Portaria Decla
manifestações partiram de representantes do horas neste sábado. Na última quinta-feira, o
ratória 739 foi publicada em 19/04/2007 pelo
poder público e dos trabalhadores da cidade prefeito e vice de Itaiópolis, um vereador e dois
Ministro daJustiça Tarso Genro, mas os efeitos policiais militares também ficaram em poder
de Gaspar, localizada no Vale do Itajaí (SC).
dela estavam suspensos por uma decisão da
O fato começou quando decidimos comprar Justiça Federal. Agora, o governo pode dar dos agricultores por quatro horas. Os colonos
um pequeno lote de terra no município pra bloquearam a rodovia SC-477 como forma de
continuidade ao processo de demarcação da
assentar algumas famílias de nossa comu área. A terra Toldo Imbu fica no município de protesto pela ampliação da reserva indígena na
nidade. Assim que a prefeitura municipal Abelardo Luz e foi delimitada com 1.965 ha. O região. No local, o clima é tenso. De um lado
tomou conhecimento, publicou um decreto procedimento de regularização desta terra está estão cerca de 150 agricultores armados com
tornando a terra de utilidade pública. Em se em curso desde 1998. Mais de 80% da área é facões e foices. Do outro, aproximadamente
guida aconteceram diversas manifestações no 500 índios Xokleng, Guarani e Kaingang tam
ocupada por apenas quatro fazendeiros. (Cimi,
rádio e jornais locais, como a da presidente do 07/12/2007) bém armados. Os dois grupos reivindicam a
sindicato dos trabalhadores rurais, que insinua mesma área. Os ânimos esquentaram desde
que somos ladrões e preguiçosos. Além de
JuSTIÇa DETErMINa o dia 14/01, quando um colono que extraía
pronunciamentos de vereadores e do procu madeira de sua propriedade foi barrado. Como
rador do município, todos contrários à nossa CoMpENSaÇÃo aoS XoKLENG protesto, agricultores derrubaram eucaliptos
presença no município. Estamos fazendo uma Em épocas de PAC, informações sobre como as e pinus bloqueando a SC-477. A reserva indí
transação imobiliária conforme os costumes medidas de compensação sobre terras atingi gena Duque de Caxias abrange terras de José
dosJuruá kuery/brancos, que é comprar terra, das por barragens nem sempre são realizadas Boiteux, Doutor Pedrinho, Ibirama e Vitor
e não conforme nossos costumes, que é fazer como previsto nos acordos. AJustiça Federal Meireles, no Alto Vale do Itajaí. A ampliação de
nossos tekoha nas terras sonhadas. Mesmo condenou a União e o Estado de Santa Catarina 14 mil para 37 mil ha foi garantida em portaria
assim não querem permitir. Estamos usando a cumprirem o Protocolo de Intenções assinado assinada, em 2003, pelo então Ministro Márcio
nosso dinheiro, que conseguimos com a inde por eles em janeiro de 1992 para compensação Thomas Bastos, mas emperrou por causa de
nização da duplicação da BR 101, portanto não dos prejuízos à comunidade indígena Duque contestações. Atualmente, aguarda julgamento.
estamos pedindo nada a ninguém, queremos de Caxias, da terra Ibirama - La Krãno, situada Desde a primeira demarcação de terras, em
nosso direito como todo cidadão brasileiro. nos municípios de José Boiteux e Vítor Meire 1926, há relatos de desentendimentos entre
Como a manifestação de preconceito e racismo les, em função da ocupação de parte de suas índios e colonos. (A Notícia, 24/01/2009)
ENCHENTES, BarraGENS E FaLTa subiram para morar no alto, fugindo do es- de ampliação de limites segue estacionado,
DE apoIo aoS XoKLENG pelho d’água, agora o céu desaba em cima de ainda não houve compensação territorial das
suas cabeças. áreas perdidas com a barragem e os Xokleng
Com a chegada do período chuvoso no sul
Isolina Nunc-nfooro Jacinto, cacique da Aldeia continuam habitando as encostas. (Cimi ,
do país, o drama de centenas de famílias
Toldo, comunidade mais isolada da região, 03/05/2010)
Xokleng, no Alto Vale do Itajaí, vem à tona. As
águas trazem uma história suja de barragens afirma que nunca viu tanto descaso. “O des
respeito é tão grande. Eu não sei que lei é a que ÍNDIoS DE SC pEDEM por TISJÁ
e progresso, contra povos indígenas. pode resolver isso. E a gente briga, corre atrás,
Madrugada do dia 22 de abril. Fortes chuvas as
denuncia ao Ministério Público e não adianta
DECLaraDaS E aMEaÇaDaS
solam a região sul do país. Em Santa Catarina, Índios das tribos Kaingangs e Guaranis estive
nada. A pessoa chega ao seu limite. Quando
o volume de água atinge níveis alarmantes. O começamos a quebrar tudo, ai vem nos dizer ram ontem na Comissão de Direitos Humanos
Rio Hercílio sobe, exigindo muito da estrutura e Minorias para solicitar que sejam cumpridas
que somos selvagens. A defesa civil não vem
da Barragem Norte, construída na década de as portarias do Ministério daJustiça, publicadas
aqui olhar a nossa situação. As aldeias vivem
70 para conter as cheias que atingem várias em abril do ano passado, que permitem a de
sem atendimento, as estradas estão cortadas
cidades do Vale do Itajaí e para que não se marcação de terras no oeste de Santa Catarina.
repitam as tragédias ocorridas nos anos de e ficamos isolados do mundo. Cansada com
tanto pesar, Suzana Teiê, liderança da Aldeia A Comissão de Direitos Humanos analisa os
1983 e 1984 quando a cidade de Blumenau projetos de decreto legislativo 48/07, 49/07 e
Figueira protesta em tom de desabafo. “Índio
ficou completamente submersa. pode morrer que ninguém atende. Ninguém 50/07, do deputado Valdir Colatto (PMDB-SC),
Terra indígena Ibirama La Klãnõ - Aldeia que sustam essas portarias. Segundo o depu
fala dos índios, que estamos sendo prejudi
Palmeira, Alacok Patté dorme com seus filhos tado, uma comissão interinstitucional criada
cados. Meu filho está doente há uma semana.
e netos em sua casa de alvenaria construída pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz
pela empreiteira responsável pela construção Eu não consigo fazer nada. O problema dos
Xokleng é muito sério. A Figueira está a ponto Bastos constatou que as terras não pertencem
da barragem, como uma das tantas benfeitorias de cair”. aos índios. “A comissão mostrou o erro e a
prometidas no Protocolo de Intenções. Alacok Segundo o Cacique Geral do povo Xokleng, Aniel manipulação dos antropólogos e do Incra. As
e sua família acordam apavoradas com o Priprá, essa enchente foi a maior dos últimos
informações erradas induziram o ministro
barulho do morro caindo sobre a porta de sua tempos e lembra dos problemas gerados por ao erro. Essa comissão [interinstitucional ]
casa. “Com muita fé não aconteceu nada com esse grande projeto. “Não foi feito nenhum disse que não há índios [nessas áreas] e que
gente. Mas para cá eu não quero mais voltar”, estudo de impacto. Se o Ministério da Inte essas terras são dos agricultores” , denunciou
afirma a senhora, viúva do cacique Lauro, gração Nacional cumprisse com a sua palavra Colatto.
encontrado morto na estrada geral da aldeia. só iria amenizar. A barragem nos trouxe tanto O relator dos projetos na Comissão de Direitos
Cacique Lauro, como tantas outras lideranças, Humanos, deputado Pedro Wilson (PT-GO),
mal. Perdemos nossa terra, um parte da nossa
se mostrava insatisfeito com a construção da cultura, tradição e comunidade. Foram criadas apresentou parecer contrário às propostas. “É
barragem. 07 aldeias, antes era uma só, como uma grande preciso que haja essa negativa [rejeição dos
O Conselho dos Caciques e outras lideranças família”, afirma o cacique. projetos] para pressionar o governo federal
entraram em contato com a Defesa Civil, “Foi embora a nossa riqueza. Temos muitas e o governo de Santa Catarina a encontrar
municipal e estadual, solicitando que fosse saudades dos Caités e Salseiros que ficavam alternativa para os colonos e o assentamento
tomada alguma providência, mas não foram enfeitando a beira do rio. Virou tudo um grande definitivo dessas nações indígenas”. O cacique
atendidos. “Se não for tomada uma providência lamaçal, quando chove é enchente, quando Albari, representante dos povos Kaingangs
pelas autoridades, o nosso posicionamento seca é lama”, lembra Dona Isolina, comple informou que o descumprimento das porta
será outro, pois não podemos mais esperar”, tando com um olhar emocionado: “Dizem rias virou caso político. “Nós vivemos em 9
afirma Setembrino Vomblê, membro do que o índio é saudosista. Muitos índios vivem hectares. Somos 30 famílias, não tem mais
Conselho de Caciques. As fortes enxurradas doentes, com depressão, pois sabemos que não como sobreviver aqui. Nossa portaria já tá
cortaram estradas, impossibilitando inclusive voltará a ser como era antes. O que mostrare virando caso político”, lamentou o cacique. O
o transporte escolar. “As crianças estão sem mos aos herdeiros do nosso povo? Projeto de Decreto Legislativo 47/07, também
aula há uma semana, não sabemos mais o que A Barragem Norte, com capacidade para do deputado Valdir Collato, que trata do mesmo
fazer. É tudo tão difícil para a gente”, comenta 358.000.000 m3 de água é considerada uma assunto está na Comissão de Constituição eJus
a professora Margareth Patté. importante obra para conter as cheias que tiça e de Cidadania aguardando designação do
Seguindo os estragos do dilúvio, as águas tam atingem várias cidades do Vale do Itajaí. relator.Os quatro projetos já foram aprovados
bém romperam o sistema de abastecimento. As Mais de 900 hectares de terra fértil do Povo pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abas
sete aldeias Xokleng estão sofrendo com a falta Xokleng foi submerso com a construção da tecimento e Desenvolvimento Rural. (Rádio
de água. “Aqui está um caos e o governo vem Barragem Norte, no final da década de 70. Câmara, 27/02/2008)
falar de proteção ao meio ambiente. Eles estão AJustiça Federal já condenou a União e o
acabando com a gente com essas barragens e Estado de Santa Catarina a cumprirem o
usinas. De acordo com o cacique setembrino, Protocolo de Intenções assinado em janeiro NoTa púBLICa DaS LIDEraNÇaS
tem parente que precisa atravessar o rio de de 1992 para a compensação dos prejuízos INDÍGENaS DE SC
canoa, vendo troncos de árvores boiando bem ao povo Xokleng, em função da ocupação Nós, lideranças indígenas dos Povos Kaingang
perto da pequena embarcação. “Eu preciso de parte de suas terras pela bacia de acu e Guarani, representando as comunidades de
rodar 200 km para sair da aldeia. Os Xokleng mulação da Barragem Norte. O processo Toldo Chimbangue, Toldo Pinhal, Toldo Imbu,
Aldeia Kondá, Araçá`í, Nonoai, Acampamento Mauro Spalding, em 16 de dezembro de 2005. alguns documentos comprovando a posse das
Alto Pinhal (Clevelândia), Acampamento Kretâ A decisão representa o fim de uma disputa de terras e que que a luta pela posse da terra é
(Palmas) e TI Xapecozinho nos reunimos 31 anos, desde o ajuizamento da 1ª ação em longa. “É uma longa história. Os governos da
na aldeia Toldo Chimbangue para discutir 1974 – em todo o período foram oito ações. época da colonização foram tirando a terra dos
os principais problemas que afetam nossas A sentença julgou simultaneamente todas as índios para poder colonizar. Então o governo
comunidades. Diante disso, viemos a público oito ações que tramitavam na Justiça Federal mesmo demarcou uma determinada área, que
pedir providência dos órgãos oficiais para que tratando sobre a mesma área de terras. Em foi loteada posteriormente para fazendeiros e
atendam nossas reivindicações. síntese, a decisão que contém quase 200 sitiantes”, disse. Eles prometem permanecer
O início do pagamento das benfeitorias aos laudas, concluiu que a execução, e não o no local até que a situação seja resolvida. “Não
ocupantes não-índios da terra indígena Toldo conteúdo, do Convênio firmado entre a União queremos briga nem violência com os fazendei
Imbu; assinatura do Decreto de criação da Re e o Estado do Paraná violou o disposto no art. ros, mas vamos ficar até a Funai tomar alguma
serva Indígena Kondá; agilidade na avaliação das 216 da Constituição Federal de 1946, porque providência e vir fazer a demarcação.”
benfeitorias de boa fé da TI Araçá`’i, por parte os índios, por ocasião da alienação da área Ivan Rodrigues, integrante da Comissão
da Funai; Conclusão da desintrusão da TI Toldo disputada, detinham a posse permanente sobre Nacional de Política Indígena, explicou que
Chimbangue; Conclusão da desintrusão da TI a referida Gleba “B” da Colônia “K”. (Gazeta documentos e mapas antigos apontam como
Nonoai; Posição mais coerente do MPF de Cha do Povo, PR, 09/01/2006) propriedade dos índios uma área maior que a
pecó frente aos Direitos dos Povos Indígenas; ocupada atualmente. “Os mapas e documentos
Nós, lideranças, também repudiamos a forma revelam que a terra era indígena e foi loteada
INDENIZaÇÃo aoS ÍNDIoS pelo governo federal e estadual ao longo do
com que vem ocorrendo as negociações sobre
as terras a serem demarcadas. Queremos
DE apuCaraNa tempo.” Ele afirmou que já houve promessas,
que a Funai prossiga com os procedimentos A Copel depositou anteontem a primeira par há alguns anos, de que a demarcação da terra
administrativos. Não aceitamos de forma algu cela, de R$ 2,8 milhões, da indenização de R$ igual aos documentos e mapas originais seria
ma que nossos direitos sejam negociados. A 14 milhões que deverá pagar à comunidade realizada. “Vamos convocar algum represen
Constituição Federal é a nossa garantia. (Cimi, indígena de Apucaraninha. A empresa de tante de Brasília para ver essa questão.” (Jornal
13/11/2009) energia do Paraná concordou, após cinco anos de Londrina, 05/07/2009)
de discussões, em compensar os nativos por
impactos ambientais e culturais decorrentes da FuNaI INICIa rEESTuDo
LEGaLIDaDE Na DEMarCaÇÃo Da exploração, por 32 anos, de uma hidrelétrica
TI ToLDo CHIMBaNGuE II na reserva Tamarana, próxima a Londrina. A Da ÁrEa DE apuCaraNa
A Advocacia Geral da União garantiu, na Jus parcela será distribuída entre 1.322 membros A partir da constatação de ter havido supressão
tiça, a manutenção da Portaria 1535/2002, da comunidade, da etnia caingangue, mediante de área de ocupação tradicional desde a primei
do MJ, que reconheceu de posse permanente critério a ser definido até amanhã. O resto do ra demarcação física em 1951, o presidente da
Kaingang uma área de 975 ha que ampliou a dinheiro irá para um fundo e será pago em Funai, Marcio Meira criou um Grupo Técnico
reserva indígena Toldo Chimbangue I, loca cinco anos. Até então, a Copel pagava à reserva (GT) para estudos de natureza etnohistórica,
lizada em Chapecó. A Ação Popular movida compensação, mas cobrava a conta de luz. (FSP, ambiental, cartográfica e fundiária, necessários
contra a portaria foi julgada improcedente. A 14/12/2006) à caracterização da ocupação tradicional do
ampliação da reserva Toldo Chimbangue, de povo Kaingang, para rever os limites da Reserva
cretada no ano de 2002, gerou um período de ÍNDIoS DE apuCaraNa Indígena Apucarana. (DOU, 22/03/2010)
grande tensão entre os agricultores e os índios oCupaM ÁrEa EM TaMaraNa
da região. Hoje, a situação é de tranqüilidade Aproximadamente 300 famílias de índios ÁrEaDE ITaIpu oCupaDa
e a maioria dos agricultores já foi indenizada caingangue da Reserva Apucaraninha, no por ÑaNDEva
e deixou o local. A decisão judicial favorável Norte do Paraná, estão acampados desde o Dezessete famílias de índios Ñandeva ocu
à demarcação da reserva deve pacificar a fim da semana em áreas de fazendas e sítios param, em 17/03, uma faixa de preservação
questão. (Alanéa Priscila Coutinho e Rafael próximas a Tamarana, cerca de 60 km de ambiental localizada à margem do reservatório
Braga, AGU, 04/10/2010) Londrina. Eles reivindicam direitos sobre a da hidrelétrica binacional. Esta é a segunda vez
posse dessas áreas, que eram terras indígenas que os Ñandeva ocupam a área. Em outubro
PARANÁ e teriam sido loteadas pelos governos estadual de 2007, aJustiça Federal havia dado ganho de
e federal na metade do século. Os índios devem causa a Itaipu, que realocou os índios para a
ficar acampados na região a definição de um TI de Marrecas, uma área com 18 mil ha em
ÍNDIoS DE MaNGuEIrINHa posicionamento da Funai.
GaNHaM poSSE DE TErra Turvo. A hidrelétrica vai pedir novamente àJF a
De acordo com uma das líderes da comu reintegração de posse. (Lúcia Nórcio, Agência
O pedido da Funai reconhecendo a posse nidade, Gilda Kuita, a comunidade indígena
Brasil, 28/03/2008)
indígena sobre a Gleba “B” da Colônia K da pede há muito tempo o que eles chamam de
Reserva Indígena de Mangueirinha, localizada “devolução” das terras. “Nossos velhos sempre
nos municípios de Chopinzinho, CoronelVivida nos disseram que aquelas terras são dos índios. ITaIpu rECorrE ao SuprEMo
e Mangueirinha, no Sudoeste do Paraná, foi Por isso, estamos querendo aquilo que é nosso CoNTra ÍNDIoS
julgado procedente. A sentença foi assinada direito, de acordo com a documentação”, ex A Itaipu Binacional vai recorrer ao STF para
pelo juiz federal substituto da 7ª Vara Federal, plicou. Ela afirmou que os indígenas possuem tentar resolver uma disputa com os guaranis,
na cidade de Guaíra (PR). O caso havia seguido JuSTIÇa SuSpENDE auDIÊNCIa de Araribá, reivindicando a permanência da
para o TRF-4, que se manifestou favorável aos púBLICa SoBrE porTo BraSIL sede em Bauru e a indicação do administra
índios. A Itaipu decidiu então encaminhar duas dor regional. A Funai informa que existem
AJustiça Federal suspendeu a audiência pública
novas ações: uma ao STJ, ainda reivindicando cerca de 3.500 índios que vivem na região
sobre a construção do complexo Porto Brasil, da
a reintegração de posse; e outra ao STF, ques litorânea e que eles pleiteiam a mudança
LLX, em Peruíbe. A medida cautelar com limi
tionando o direito dos índios, uma vez que se na sede da regional. A favor da manutenção
nar solicitando a suspensão foi feita depois que
trata de área de preservação. (Roldão Arruda, da Administração em Bauru estariam cerca
OESP, 30/10/2008) o MPF apurou que o empreendimento ocuparia de 2 mil índios que vivem no interior de São
a TI Piaçaguera. O MPF alega ser incongruente Paulo. (Ricardo Santana, Jornal da Cidade
que um órgão público como o Consema, re de Bauru, 22/05/2008)
SÃO PAULO alizador da audiência, inicie o licenciamento
ambiental de um empreendimento que ocupará
área que o próprio poder público reconhece
IGrEJa pEDE DESpEJo
GuaraNI oCupaM FaZENDa Da como terra tradicionalmente ocupada pelos DE ÍNDIoS EM ITaporaNGa
IGrEJa EM ITaporaNGa índios. (Portal Exame, 26/03/2008) A Ordem Cisterciense da Igreja Católica reque
Um grupo de 85 índios guaranis ocupou a reu naJustiça Federal o despejo de 17 famílias
fazenda dos monges cistercienses em Itapo EMprESa propÔS rEaLoCar guaranis que invadiram área pertencente aos
ranga, no sudoeste paulista, alegando que as monges de Itaporanga. O processo, que tramita
ÍNDIoS DE pEruÍBE
terras são de seus antepassados. Com 1.161 naJustiça Federal de Ourinhos, foi suspenso
hectares, a fazenda é a maior propriedade da “A área em que eles estão não é indígena, não ontem por 40 dias para que os índios desocu
Igreja Católica no Estado. A invasão ocorreu está demarcada. Hoje eles não têm nem sequer pem voluntariamente as terras invadidas. O
água potável no local. Oferecemos uma fazenda acordo, conduzido pelo MPF, estabelece que a
em 01/05, mas os monges a mantiveram em
sigilo. Os guaranis saíram da Aldeia Tereguá, com mata, dois rios, cachoeira e possibilidade Funai buscará outra área para alojar a aldeia
de caça”, diz o diretor da LLX. Segundo ele, a Tekoá Porã. (OESP, 20/03/2009)
em Avaí, na região de Bauru, alegando que
fazenda tem 100 mil pés de palmito, além de
não havia mais espaço para todas as famílias. serralheria e marcenaria. A aldeia está dividida
(OESP, 11/11/2006) com a proposta. Doze famílias afirmam que TErENa Da TI ararIBÁ
aguardam a demarcação da terra e que não Aprovado no mês de maio o projeto de Im
proJETo DE EIKE BaTISTa para vão negociar de forma nenhuma com a LLX. plantação, Recuperação e Conservação da Mata
porTo INCIDE EM ÁrEa GuaraNI “Estamos
diz o cacique
batalhando paranasci
Pitotó. “Eu demarcar [a área]”,
na aldeia Bana Ciliar de Preservação Permanente do Córrego
Assim como em outros projetos, o grupo EBX, Barro Preto, situado na TI Araribá, em Avaí/SP.
do empresário Eike Batista, voltou a criar nal, também em Peruíbe. Mas essa é uma área Os Terena já executam desde abril de 2008 o
polêmica ao anunciar a intenção de construir tradicional dos índios. Uma índia vive aqui há mesmo projeto para recuperação do Córrego
um porto em Peruíbe, no litoral de SP. O pro 60 anos. E sempre usamos a área para trân Três Pilões, com o plantio de 8.334 mudas de
jeto, com investimentos estimados em US$ sito e coleta de frutas. Também há cemitérios espécies nativas em 5 ha. O Córrego Barro Preto
3 bilhões, prevê a construção de uma ilha indígenas”. Outra parte da tribo, entretanto, e Três Pilões, situados na TI, são de grande
admite que tenta negociar com a empresa. Eles importância para os 550 indígenas que dele
artificial a cerca de 3 Km da costa, ligada ao
afirmam que a LLX ainda não lhes deu nada e dependem para o abastecimento, irrigação de
continente por meio de uma ponte. Nesta ilha hortaliças e frutíferas produzidas para o con
que a negociação está estagnada no momento.
seriam construídos 11 berços, permitindo a
atracação de grandes navios de carga. O grupo “Eles não cumpriram nada até agora”, afirma sumo das famílias, recreação e para consumo
Fabíola dos Santos Cirino, vice-diretora da esco pelos animais. (Funai, 03/06/2009)
também negocia a compra de uma área de
la estadual indígena. A professora Lilian Gomes
53 milhões de m2 localizada na divisa entre
afirma que os índios acham difícil vencer uma
Peruíbe e Itanhaém, para construir no local empresa tão poderosa e que aceitaram negociar
GuaraNI pErMaNECErÃo NaS
um condomínio industrial e um retroporto. O para não “sair sem nada” caso tenham de deixar TErraS Do pICo Do JaraGuÁ
terreno, porém, abriga a aldeia tupi-guarani de a terra. (Ambiente Brasil, 31/03/2008) O TRF-3 seguiu, no último dia 31, manifestação
Piaçaguera, com cerca de 340 índios. Apesar do MPF e manteve a sentença que determinava
dos entraves, a assessoria de imprensa da se o mandado de manutenção de posse na área
cretaria de Estado do Meio Ambiente informou aEr Da FuNaI TraNSFErIDa DE ocupada pela Comunidade Indígena Guarani
que o grupo LLX (braço da EBX) entrou com Bauru para ITaNHaÉM do Jaraguá em SP. Os que alegam ser proprie
pedido de licenciamento para o Porto Brasil Após mais de três décadas como sede da Funai, tários das terras entraram com recurso contra
no último dia 11. O grupo apresentou um Bauru passará a ser um Núcleo de Apoio, com a decisão. A Funai alega que os guaranis já
plano de trabalho, que está sendo analisado a Administração Executiva Regional transferida estavam há muito tempo nas terras próximas
por uma equipe técnica para elaboração do para Itanhaém, no Litoral Paulista. A reação de ao Pico do Jaraguá, tendo, inclusive, parte das
futuro EIA. (Mariana Campos, Agência Folha, parte dos índios foi manter, desde anteontem, terras sido demarcada há mais de 35 anos.
27/10/2007) três reféns, na aldeia da Reserva Indígena (MPF 3ª Região, 11/09/2009)
ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS
COm SItE
Ação dos Jovens Indígenas de Dourados (AJI, MS) – www.jovensindigenas.org.br
Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) – http://apoinme.org.br
Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul) – http://www.arpinsul.org.br/
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) – http://www.apib.org.br/ e http://blogapib.blogspot.com
Associação Artístico Cultural Nhandeva (RJ) – http://www.nhandeva.org
Associação Ashaninka do Rio Amônia (APIWTXA, AC)– www.apiwtxa.blogspot.com
Associação das Comunidades dos Índios tapebas (CE) – http://tapeba.com.br/wordpress
Associação dos Povos Indígenas do Oiapoque (Apio, AP) – http://www.povosindigenasdooiapoque.com.br
Associação Floresta Protegida (Kayapó, PA) – http://www.florestaprotegida.org.br
Associação Guarani Nhe’ê Porã (SP)– http://www.culturaguarani.org.br
Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu (Aikax, MT) –http://associacaoindigenakuikuro.blogspot.com/
Associação metareilá do Povo Indígena Suruí (RO) – http://www.surui.org/
Associação Xavante Warã (MT) – http://wara.nativeweb.org
Centro Indígena de Estudos e Pesquisa (Cinep, DF) – http://www.cinep.org.br
Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina, AP) – http://www.apina.org.br/
Conselho do Povo Cinta Larga (CPCL, RO) – http://www.povocintalarga.blogspot.com
Conselho Indígena de Roraima (CIR, RR) – http://www.cir.org.br/
Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja, AM) – http://www.feis.unesp.br/grupos-associacoes/civaja
Conselho Indígena tapajós e Arapiuns (Cita, PA) – http://citastm.blogspot.com
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab, AM) –http://www.coiab.com.br
Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn, AM)– http://foirn.wordpress.com
Hutukara Associação Yanomami (HAY, RR) – http://www.hutukara.org/
Instituto Indígena maiwu de Estudos e Pesquisas de mato Grosso (Maiwu) – http://institutomaiwu.blogspot.com
Instituto Indigena para Propriedade Intelectual (Inbrapi) – http://www.inbrapi.org.br/
Instituto Kabu (Kayapó, PA)– http://www.kabu.org.br
Instituto Raoni (MT) – http://www.institutoraoni.org
Instituto teko Arandu (MS) – http://www.tekoarandu.org/
Organização Geral dos Professores ticunas Bilíngues (OGPTB, AM) – http://www.ogptb.org.br
SEm SItE
Associação Agroextrativista Poyanawa do Barão e Ipiranga (Aapbi, AC)
Associação Aldeia Vila Vitória –Favela (AVFVLA, CE)
Associação Comunidade Waimiri-Atroari (Acwa,AM)
Associação Comunidade Wotchimaucu (AM)
Associação Comunitária Indígena mura do Rio Urubu (Acimuru, AM)
Associação Comunitária Shanenawá (X-Acosha, AC)
Associação Comunitária Shanenawá de morada Nova (Acosmo, AC)
Associação Cultural dos Povos Indígenas do médio Solimões e Afluentes (Acpimsa)
Associação da Comunidade Aldeia marajaí do Povo mayoruna (CAM, AM)
Associação das Comunidades Indígenas do médio Rio Negro (Acimrn, AM)
Associação das Comunidades Indígenas do médio tiquié (Acimet, AM)
Associação das Comunidades Indígenas do Rio Castanho (Acirc,AM)
Associação das Comunidades Indígenas Putira Kapuamu (Acipk,AM)
Associação das mulheres Indígenas da Região de taracuá (Amirt)
Associação das mulheres Indígenas do médio Solimões e Afluentes (Amimsa, AM)
Associação das mulheres ticuna (Amit, AM)
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS E DE APOIO 745
ORGANIZAÇÕESINDÍGENASEDEAPOIO
Associação das Produtoras de Artesanato das mulheres Indígenas Kaxinawá de tarauacá e Jordão (Apaminktaj, AC)
Associação das tribos Indígenas do Alto Rio tiquié (Atriart, AM)
Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povo Indígena marubo do Alto Rio Curuçá (Asdec, AM)
Associação do Povo Indígena Zoró (Apiz, RO)
Associação do Povo Ye’kuana do Brasil (Apyb, RR)
Associação dos Caciques Indígenas de São Paulo de Olivença (Acispo, AM)
Associação dos Estudantes do Povo ticuna do Alto Solimões (Aeptas, AM)
Associação dos Kadiwéu (Acirk, MS)
Associação dos Povos Indígenas do tumucumaque (Apitu, AP)
Associação dos Povos Indígenas tabajaras em Crateús (Apitc, CE)
Associação dos Professores Indígenas do Alto Rio Negro (Apiarn, AM)
Associação dos Seringueiros Kaxinawá do Rio Jordão (Askarj, AC)
Associação Escola Indígena tukano Yupuri (Aeity, AM)
Associação Halitinã (AHA, MT)
Associação Indígena Calabaça de Crateús (AICC, CE)
Associação Indígena de Barcelos (Asiba, AM)
Associação Indígena do Povo Asuriní do trocará (Aipat, PA)
Associação Indígena Kariri de Crateús (A-I-KA-CRA, CE)
Associação Indígena matis (Aima, AM)
Associação Indígena SOS Comunidade Indígena Pankararu (SP)
Associação Katukina do Campinas (Akac, AC)
Associação marubo de São Salvador (Amass, AM)
Associação marubo de São Sebastião (Amass, AM)
Associação Raízes Indígenas dos Potyguara em Crateús (Arinpoc, CE)
Associação terra Indígena Xingu (Atix, MT
Associação Waymaré (MT)
Associação Wyty Catë das Comunidades timbira do maranhão e tocantins (Wyty Catë)
Coordenadoria das Associações Indígenas do Alto Rio Negro e Xié (CAIARNX, AM)
Coordenadoria das Associações Indígenas do médio e Baixo Rio Negro (Caimbrn, AM)
Comissão dos Professores Indígenas Guarani e Kaiowá do mato Grosso do Sul (MS)
Comitê Estadual do movimento Articulado de mulheres da Amazônia (Cemama, AC)
Comitê Intertribal – memória e Ciência Indígena (ITC, DF)
Comunidade Indígena de Pari-Cachoeira (Cipac, AM)
Conselho do Povo Indígena Ingarikó (Coping, RR)
Conselho Geral da tribo ticuna (CGTT, AM)
Coordenação das Associações Indígenas do Rio tiquié, Baixo Uaupés e Afluentes (Coitua,AM)
Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do maranhão (Coapima, MA)
Coordenação das Organizações Indígenas do Distrito de Iauaretê (Coidi, AM)
Coordenadoria das Associações Indígenas Baniwa e Coripaco (Cabc,AM)
Federação das Organizações e dos Caciques e Comunidades Indígenas da tribo ticuna (Foccitt, AM)
Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do médio Purus (Focimp, AM)
Federação dos Povos Indígenas de mato Grosso (Fepoimt)
Grupo Consciência Indígena (GCI, PA)
mobilização dos Povos Indígenas do Cerrado (Mopic)
Organização das Aldeias marubo do Rio Ituí (Oami, AM)
Organização dos Povos Indígenas do Alto madeira (Opiam, AM)
Organização dos Professores Indígenas de Roraima (Opir, RR)
Organização dos Professores Indígenas do Acre (Opiac, AC)
Organização dos Professores Indígenas do médio Solimões e Afluentes (Opimsa, AM)
746 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS E DE APOIO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ORGANIZAÇÕESINDÍGENASEDEAPOIO
ORGANIZAÇÕES DE APOIO
ACt Brasil- Equipe Conservação da Amazônia
Anaí - Associação Nacional de Ação Indigenista [http://www.anai.org.br/]: Atua junto e divulga informações sobre ações implementadasjunto aos
povos indígenas do Nordeste.
Amazoé -Apoio mobilizado ao povo Zo’é e outras etnias [http://www.amazoe.org.br/]: Atua junto e divulga informações sobre ações implementadas
junto aos Zo’é.
Cedefes - Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva [www.cedefes.org.br/]: Atua junto aos povos indígenasde Minas Gerais.
CI Brasil- Conservação Internacional
CPI/AC - Comissão Pró-Índio do Acre [http://www.cpiacre.org.br/]: Atua junto aos povos indígenas do Estado do Acre.
CPI/SP - Comissão Pró-Índio de São Paulo [http://www.cpisp.org.br/]: Atua, principalmente, junto aos povos indígenas do Estado de São Paulo.
CtI - Centro de trabalho Indigenista [http://www.trabalhoindigenista.org.br/]: Atua junto aos povos indígenas Guarani, Marubo, Matis, Timbira e
Terena.
IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil [http://www.iieb.org.br/]: Atua através de formação e capacitação em temáticas ligadas ao fortale
cimento das organizações e comunidades indígenas da Amazônia brasileira visando à gestão socioambiental das terras indígenas.
Iepé - Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena [http://www.institutoiepe.org.br/]: Divulga informações e realiza atividades junto aos
povos indígenas do Amapá e Norte do Pará.
ISA- Instituto Socioambiental [http://www.socioambiental.org/]: Divulga as ações dos diversos programas da instituição, campanhas e ações judiciais,
“clipping”diário, notícias exclusivas e verbetes por etnia. O site também abriga uma ferramenta que permite o acesso a um conjunto inédito de informações e
indicadores sobre as Terras Indígenas no Brasil
Kanindé - Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé [http://kaninde.org.br]: Realiza projetos socioambientais em Rondônia. Entre outras ações da
organização, estão a vigilância e fiscalização da TI Uru-eu-wau-wau e do Parque Nacional de Pacaás Novos.
Opan - Operação Amazônia Nativa [http://www.amazonianativa.org.br]: Atua e divulga informações sobre projetos de solidariedade a comunidades
indígenas, nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil.
tNC no Brasil- the Nature Conservancy
Vídeo nas Aldeias [http://www.videonasaldeias.org.br/2009/]: Divulga informações institucionais e o catálogo com fragmentos dos vídeos, feitos por
cineastas indígenas.
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS E DE APOIO 747
SIGLAS
AAPBI Associação Agroextrativista Poyanawa do Barão e Ipiranga AATZOT Associación de Autoridades Tradicionales Indígenas de los Capitanes
Indígenas del Pira Paraná ABA Associação Brasileira de Antropologia ABEP Associação Brasileira de Estudos Populacionais Abin Agência Brasileira
de Inteligência Abralin Associação Brasileira de Linguística AC Acre Acaipi Associación de Capitanes y Autoridades Tradicionales Indígenas del Pirá
Paraná Acimet Associação das Comunidades Indígenas do Médio Tiquié ACIMRN Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro
ACIPK Associação das Comunidades Indígenas Putira Kapuamu Acirc Associação das Comunidades Indígenas do Rio Castanha Acirk Associação
da Comunidade Indígena da Reserva Kadiwéu Acispo Associação dos Caciques Indígenas de São Paulo de Olivença Acitam Asociación de Cabildos
Indígenas del Trapecio Amazónico ACO Ação Cível Ordinária ACP Ação Civil Pública ACPIMSA Associação Cultural dos Povos Indígenas do Médio
Solimões e Afluentes ACT/Brasil Equipe de Conservação da Amazônia Adapec Agência de Defesa Agropecuária do Tocantins Adin Ação Direta de
Inconstitucionalidade ADR/Funai Administração Regional AEI Auxiliar de Enfermagem Indígena Aeity Associação Escola Indígena Tukano Yupuri
AER/Funai Administração Executiva Regional AFP Associação Floresta Protegida Agma Agência Goiana do Meio Ambiente Agmarn Agência Goiana
de Meio Ambiente e Recursos Naturais AGO Assembleia Geral Ordinária AGU Advocacia Geral da União AIA Avaliação Ambiental Integrada AICC
Associação Indígena Calabaça de Crateús Aidesep Asociación Interétnica para el Desarrollo de la Selva Peruana AIDS Acquired Immune Deficiency
Syndrome AIFP Associação Indígena de Floresta e Padauiri A-I-KA-CRA Associação Indígena Kariri de Crateús Aikax Associação Indígena Kuikuro
do Alto Xingu Aima Agentes Indígenas de Manejo Ambiental Aima Associação Indígena Matis Aimci Associação Indígena Moygu Comunidade Ikpeng
Aipat Associação Indígena do Povo Assurini Trocará AIS Agente Indígena de Saúde AISB Agente Indígenas de Saúde Bucal Akac Associação Katuki
na do Campinas Akavaja Associação Kanamary do Vale doJavari AL Alagoas AL Amazônia Legal AM Amazonas Amas Associação Marubo de São
Sebastião Amass Associação Marubo de São Salvador Amazonastur Empresa Estadual de Turismo do Amazonas Amimp Associação das Mulheres
Indígenas do Médio Purus Amimsa Associação das Mulheres Indígenas do Médio Solimões e Afluentes Amirt Associação das Mulheres Indígenas
da Região de Taracuá Anac Agência Nacional de Aviação Civil Aneel Agência Nacional de Energia Elétrica ANH Agência Nacional de Hidrocarburos
ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Anpoll Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguís
tica Antaq Agência Nacional de Transporte Aquaviários Anvisa Agência Nacional de Vigilância Sanitária AP Amapá APA Área de Proteção Ambiental
API Assessores Pedagógicos Indígenas Apiarn Associação dos Professores Indígenas do Alto Rio Negro Apina Conselho das Aldeias Wajãpi Apio
Associação dos Povos Indígenas do Oiapoque Apitc Associação dos Povos Indígenas Tabajaras em Crateús Apitu Associação dos Povos Indígenas do
Tumucumaque Apiz Associação do Povo Indígena Zoró Pangyjej APMT Agência Presbiteriana de Missões Transculturais Apoinme Articulação dos
Povos e Associações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo APP Área de Preservação Permanente Apyb Assembleia Geral da Asso
ciação do Povo Ye’Kuana do Brasil Arinpoc Associação Raízes Indígenas dos Potyguara em Crateús ARS Agência Regional de Saúde Ascom Asses
soria de Comincação Asdec Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povo Indígena Marubo do Alto Rio Curuça Asfax Associação dos Fa
zendeiros do Rio Xingu e Araguaia Asiba Associação Indígena de Barcelos Askarj Associação dos Seringueiros Kaxinawá do Rio Jordão Asprim
Associação dos Produtores Rurais de Primavera do Leste Assottrut Associação de Trabalhadores Rurais em Regime Familiar do Truaru Atesg As
sociação dos Trabalhadores de Enfermagem de São Gabriel Aticoya Asociación de Autoridades Indígenas del Resguardo Tikuna, Kokama, Yagua de
Puerto Nariño e Leticia Atix Associação Terra Indígena Xingu Atriart Associações das Tribos Indígenas do Alto Rio Tiquié AVC Acidente Vascular
Cerebral AVFVLA Associação aldeia Vila Vitória – Favela AXS Associação Xingu Sustentável Ayrca Associação dos Yanomami do Rio Cauaburis e seus
Afluentes Azcaita Asociación Zonal de Cabildos Indígenas de Tierras Altas BA Bahia BBC British Broadcasting Corporation BID Banco Interameri
cano de Desenvolvimento BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Bope Batalhão de Operações de Policiamento Especia
lizado CABC Coordenadoria das Associações Indígenas Baniwa e Coripaco CAE Conselho Municipal de Alimentação Escolar Cafi/Coiab Centro
Amazônico de Formação Superior CAIARNX Coordenadoria das Associações Indígenas do Alto Rio Negro e Xié Caimbrn Coordenadoria das Associa
ções Indígenas do Médio e Baixo Rio Negro Canoa Cooperação e Articulação do Noroeste Amazônico Casai Casa de Atendimento à Saúde Indígena
CB Correio Brasiliense CC/Sema Sistema de Cadastro de Consumidores de Produtos Florestais CCPY Comissão Pró-Yanomami CD-Rom Compact
Disc Read-Only Memory CD4 Cluster of Differentation CDB Convenção sobre Diversidade Biológica CDDPH Conselho de Defesa dos Direitos da
Pessoa Humana CDI Comitê para a Democratização da Informática CE Ceará CEA Comissão Especial de Análise CEBs Comunidades Eclesiais de
Base Cedi Centro Ecumênico de Documentação e Informação CEE Conselho Estadual de Educação CEF Caixa Econômica Federal Celade Centro
Latinoamericano y Caribeño de Demografía Celpa Central de Energia Elétrica do Pará CEM Companhia Energética Meridional Cemat Centrais
Elétricas Mato-grossenses Cemig Companhia Energética de Minas Gerais Cepal Comisión Económica para América Latina Ceste Consórcio Es
treito de Energia CF Constituição Federal CFDW Centro de Formação e Documentação Wajãpi CGEN Conselho de Gestão do Patrimônio Genético
CGI Grupo de Consciência Indígena CGIIRC/Funai Coordenação Geral de Índios Isolados e Recém-Contatados CGMT/Funai Coordenação Geral
de Monitoramento Territorial CGPIMA/Funai Coordenação Geral de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente CGU Controladoria Geral da União
Chesf Companhia Hidroelétrica do São Francisco Cia Companhia CI-Brasil Conservação Internacional CIGCOE Companhia Independente de
Gerenciamento de Crises e Operações Especias Cimi Conselho Indígena Missionário Cimtar Cabildo Indígena Mayor de Tarapacá Cincrar Conse
lho dos Povos Indígenas de Cratéus e Região Cipac Comunidades Indígenas de Pari-Cachoeira Cipiaci Comitê Indígena Internacional para a Pro
teção dos Povos em Isolamento e Contato Inicial da Amazônia Cipp Complexo Industrial e Portuário do Pecém CIR Conselho Indígena de Roraima
Cita Conselho Indígena dos rios Tapajós e Arapiuns Civaja Conselho Indígena do Vale do Javari CLT Consolidação das Leis Trabalhistas CMA Co
mando Militar da Amazônia Cmam/Funai Coordenação de Meio Ambiente CME Conselho Municipal de Educação CMG Coeficiente de Mortalida
de Geral CMI Coeficiente de Mortalidade Infantil CMR Companhia de Mineração de Rondônia CNA Confederação Nacional da Agricultura CNBB
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CNPI Conselho Nacional de Política Indigenista CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico CNPT/Ibama Centro Nacional de Populações Tradicionais CNRS Centre National de La Recherche Scientifique (Centro Nacional de
Pesquisa Científica) CNS Conselho Nacional dos Seringueiros CNS Conselho Nacional de Populações Extrativistas Coaf Controle de Atividades Fi
nanceiras Coapima Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão Coelba Companhia de Eletricidade da Bahia
Cofopri Comisión de Formalización de la Propiedad Privada Coiab Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira Coica Coor
dinadora de las Organizaciones Indígenas de las Organizaciones de la Cuenca Amazónica Coidi Coordenação das Organizações Indígenas do Dis
trito de Iauaretê Coikas Organizações Indígenas Kaixana do Alto Solimões Coipy Conselho Comunitário Indígena Pitaguary de Maracanaú Coitua
Coordenação das Associações Indígenas do Rio Tiquié, Baixo Uaupés e Afluentes Conab Companhia Nacional de Abastecimento Condef/Coiab
Conselho Deliberativo e Fiscal da Coordenação Condisi Conselho Distrital de Saúde Indígena Conjaba Conselho das Organizações Indígenas do
Povo Javaé da Ilha do Bananal Conplei Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas Contag Confederação Nacional dos Traba
lhadores na Agricultura Coomflona Cooperativa Mista Flona Tapajós Verde COP 15 Conferência do Clima das Nações Unidas em Copenhague
Copel Companhia Paranaense de Energia Elétrica Core/RR Coordenação Regional da Funasa em Roraima CPF Cadastro da Pessoa Física
CPI Comissão Pró-Índio CPI-AC Comissão Pró-Índio do Acre CPO Dentes Cariados, Perdidos e Obturados CRI Cartório de Registro de Imóveis
CTAs Conhecimentos Tradicionais Associados CTI Centro de Trabalho Indigenista Cufa Central Única de Favelas Cuia Comissão Universidades para
os Índios CVP Cernambi Virgem Prensada CVRD Companhia Vale do Rio Doce DAP Diâmetro à Altura do Peito DDASS Direção Departamental de
Assistência Sanitária DELEMAPH Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente e o Patrimônio Histórico DEM Democratas DF Distri
to Federal DFID Department For International Development DII/Funai Departamento de Índios Isolados DMP Departamento de Medicina Pre
ventiva Dnit Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral DNUDPI Declaração das
Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas DOU Diário Oficial da União DPG Departamento de Patrimônio Genético do MMA DPI/Iphan
Departamento de Patrimônio Imaterial DSEI Distrito Sanitário Especial Indígena DSG Diretoria do Serviço Geográfico do Exercito DST Doença
Sexualmente Transmissível DSY Distrito Sanitário Yanomami DVD Digital Versatile Disc EDBC Estratégia de Desenvolvimento de Baixo Carbono
EIA-Rima Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental EIBC Escola Indígena Baniwa e Coripaco EIBH Estudos Integrado de
Bacias Hidrográficas EJA Educação de Jovens e Adultos ELDP Endangered Languages Documentation Program Emade Empresa Amazonense de
Dendê Emarc Escola Agrícola Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária ENSP Escola Nacional de Saúde Pública EPE Empresa de
Pesquisa Energética EPI Estatuto dos Povos Indígenas EPM Escola Paulista de Medicina Erea Equipe de Recherche en Ethnologic Amérindienne
ES Espírito Santo ETCL Equipe Técnica Cinta Larga EUA Estados Unidos da América FAB Força Aérea Brasileira Famato Federação Mato-grossen
se da Agricultura Fapeam Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas Fapesp Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo Farc Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia Fecotiva Federación de Comunidades Ticunas y Yaguas del Bajo Amazonas Fema Fun
dação Estadual do Meio Ambiente Fenamad Federación Nativa del Río Madre de Dios y Afluentes Fepi Fundação Estadual dos Povos Indígenas do
Amazonas FES Floresta Estadual FFLCH/USP Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
FHC Fernando Henrique Cardoso FIEI Formação Intercultural de Educadores Indígenas Fiesp Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
Fiocruz Fundação Instituto Oswaldo Cruz FIP Fundo de Investimentos e Participações Amazônia Energia Flotas Florestas Estaduais Focimp Fe
deração das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus Foirn Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro Forp/USP Facul
dade de Odontologia de Ribeirão Preto FPE Frente de Proteção Etnoambiental FPE Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal
FPEVJ Frente de Proteção Etno-Ambiental Vale do Javari FPEYY Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye’kuana FSC Forest Stewardship
Council FSP Folha de São Paulo Fubra Fundação Universitária de Brasília Funai Fundação Nacional do Índio Funasa Fundação Nacional de
Saúde Funatura Fundação Pró-Natureza Funbio Fundo Brasileiro para Biodiversidade Funcef Fundação dos Economiários Federais FVA Funda
ção Vitória Amazõnia FVPP Fundação Viver Produzir e Preservar FVS Fundação Vigilância em Saúde GDF Gaz de France GEF Global Environmen
tal Facility Gesac Governo Eletrônico, Serviço de Atendimento ao Cidadão GO Goiás GPS Global Positioning System GSI Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da República GT Grupo de Trabalho GTZ Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (Agência de Coope
ração Técnica Alemã) Ha hectare HAY Hutukara Associação Yanomami HIV Human Immunodeficiency Virus HP Hewlett-Packard HPV Human
Papiloma Virus HUFPB Hospital Universitário da Universidade da Paraíba IAB-PI Incentivo de Atenção Básica à Saúde dos Povos Indígenas Ibama
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBC Instituto del Bien Común IBDF Instituto Brasileiro de Desenvolvi
mento Florestal IBDS Instituto Brasileiro pelo Desenvolvimento Sanitário IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBICT Instituto Bra
sileiro de Informação em Ciência e Tecnologia Ibram Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal ICMBio Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Icom International Council of Museums (Conselho Internacional de Museus) Ideflor Instituto
de Desenvolvimento Florestal do Pará Idesam Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas IDSM Instituto de Desenvol
vimento Sustentável Mamirauá IEB Instituto Internacional de Educação IEF Instituto Estadual de Florestas Iepé Instituto de Pesquisa e Formação
em Educação Indígena Ifam Instituto Federal do Amazonas IIRSA Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana ILM In
terventores em Língua Materna ILMD Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz) Imaflora Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
Incra Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INDL Inventário Nacional da Biodiversidade Linguística Inep/MEC Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisa Educacionais Inpa Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Inpe Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Inpi Insti
tuto Nacional de Propriedade Industrial IP Intellectual Property IPA Instituto de Permacultura da Amazônia Ipam Instituto de Pesquisa Ambiental
da Amazônia IPÊ Instituto de Pesquisa Ecológica Ipeax Instituto de Pesquisa Etno Ambiental do Xingu Ipec Instituto de Pesquisa Clínica Evandro
Chagas Iphan Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional IPJB/RJ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Ipol Instituto
de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística IRD Institut de Recherche pour le Développement ISA Instituto Socioambiental ISPN
Instituto Sociedade, População e Natureza Iteracre Instituto de Terras do Acre JFJustiça FederalJocumJovens com uma Missão KfW Kreditanstalt
für Wiederaufbau Km Quilômetro Lacen Laboratório Central de Saúde Pública Lali/UnB Laboratório de Línguas Indígenas LMF Laboratório de
Manejo de Fauna MA Maranhão Mast Museu de Astronomia e Ciências Afins MCT Ministério da Ciência e Tecnologia MDA Ministério do Desen
volvimento Agrário MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MEC Ministério da Educação e Cultura Mercosul Mercado
Comum do Sul Mesa Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome Meva Missão Evangélica da Amazônica MG Minas
Gerais Micali Ministério de Capacitação de Lideranças Indígenas Minc Ministério da Cultura MIT Massachusetts Institute of Technology MJ Minis
tério da Justiça MJI Movimento Jovem Ikpeng MMA Ministério do Meio Ambiente Semed Secretaria Municipal de Educação MME Ministério das
Minas e Energia MMT Movimento Minha Terra MNHN Muséum National d’Histoire Naturel MNTB Missão Novas Tribos do Brasil Mopic Mobiliza
ção dos Povos Indígenas do Cerrado MP Ministério do Planejamento MPEG Museu Paraense Emilio Goeldi MPF Ministério Público Federal MPT
Ministério Público do Trabalho MS Mato Grosso do Sul MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MT Mato Grosso MTD Movimento
dos Trabalhadores Desempregados MTE Ministério do Trabalho e Emprego Mw Megawatts Mwh Megawatt-Hora Nimos Natioonal Instituut voor
Milieu em Ontwikkeling in Suriname (Instituto Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento no Suriname) NHII/USP Núcleo de História Indí
gena e do Indigenísmo NRDDB North Rupununi District Development Board NSA Notícias Socioambientais NSP National Science Foundation (UK)
OAB Ordem dos Advogados do Brasil OACNUDH Oficina do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos ODK Sistema Open
Data Kit OEA Organização dos Estados Americanos Oesp O Estado de S. Paulo OGM Organismos Geneticamente Modificados OGM Organização
Geral Mayoruna OGPTB Organização Geral dos Professores Ticunas Bilíngues Oibi Organização Indígena da Bacia do Içana Oima Associação das
Aldeias Marubo do Rio Ituí OIT Organização Internacional do Trabalho ORM Organizações Rômulo Maiorana OMS Organização Mundial de Saúde
ONF Office National des Forêts (Secretaria Nacional de Florestas) ONG Organização Não Governamental ONU Organização das Nações Unidas Opan
Operação Amazônia Nativa Opimp Organização dos Povos Indígenas do Médio Purus Opir Organização dos Professores Indígenas de Roraima
Opisma Organização dos Professores Indígenas Sateré-Mawé dos Rios Andirá e Waikurapá Oscip Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público PA Pará PAC Programa de Aceleração do Crescimento Paca Proteção Ambiental Cacoalense Pacta Populações, Agrobiodiversidade e Co
nhecimentos Tradicionais Agregados PAE/Lago Grande Projeto de Assentamento Agroextrativista PAG Parque Nacional Amazonense da Guiana
Pahef Pan American Health and Education Foundation Parna Parque Nacional Paranacre Companhia Paranaense de Colonização Agropecuária
e Industrial do Acre PAWC Projeto Agroflorestal da Aldeia Wassu Cocal PB Paraíba PBA Plano Básico Ambiental PBBI Programa Biodiversidade
Brasil Itália PBF Programa Bolsa Família P&C Princípios e Critérios Socioambientais PCH Pequenas Centrais Hidrelétricas PDL Projeto de Desen
volvimento Locais PDPI/MMA Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas PDR Planos Diretores Regionais PDT Partido Democrático Trabalhis
ta PE Pernambuco PEC Projeto de Emenda Constitucional PEI Plano de Etnodesenvolvimento do Território Indígena PF Polícia Federal PGR
Procuradoria-Geral da República PI Piauí Piasol Polícia Indígena do Alto Solimões Piei-MG Programa de Implantação das Escolas Indígenas de
Minas Gerais PIN Posto Indígena PIX Parque Indígena do Xingu PL Projeto de Lei PLC Projeto de Lei de Conversão PMDB Partido do Movimento
Democrático Brasileiro PMG Projeto Mbyá Guarani PNA Parque Nacional do Araguaia Pnad Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Pnap
Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas PNDU Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNGATI Política Nacional de Gestão
Territorial e Ambiental de Terras Indígenas PNMA Política Nacional do Meio Ambiente PNMC Plano Nacional de Mudanças Climáticas PNRG Parque
Natural Regional da Guiana PNSD Parque Nacional da Serra do Divisor Pnud Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PP Partido
Progressista PPCDAM Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal PPGAS/USP Programa de Pós-Graduação
em Antropologia Social PPP Planos Político Pedagógicos PPP-ECOS Programa de Pequenos Projetos Ecossociais PPS Partido Popular Socialista
PPTAL Projeto Integrado de Proteção às Terras e Populações Indígenas da Amazônia Legal Brasileira PR Paraná PRN/ISA Programa Rio Negro
Prodes Programa de Avaliação do Desflorestamento na Amazônia Legal (Inpe) Prodoclin Programa de Documentação de Línguas Indígenas
Pronaf Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRTB Partido Renovador Trabalhista Brasileiro PSA Projeto Saúde e Alegria
PSB Partido Socialista Brasileiro PSDB Partido da Social Democracia Brasileira PSF Programa Saúde da Família PSY Plan de Salud Yanomami PT
Partido dos Trabalhadores PUC Pontifícia Universidade Católica PV Partido Verde PV Posto de Vigilância Rani Registro de Nascimento Indígena RCA
Rede de Cooperação Alternativa RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável RE Recurso Extraordinário Rebio Reserva Biológica REDD Redução
de Emissões por Desmatamento e Degradação Resex Reserva Extrativista RFN Rainforest Foundation Noruega RG Registro Geral RH Recursos
Humanos Rima Relatório de Impacto Ambiental RJ Rio de Janeiro RN Rio Grande do Norte RO Rondônia RR Roraima RS Rio Grande do Sul RSS
Terra Indígena Raposa Serra do Sol RT Reservas Territoriais S.A. Sociedade Anônima SAF Sistema Agroflorestal SB Saúde Bocal SBPC Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência SC Santa Catarina SDE Secretaria de Defesa Econômica SDOM Schéma Départemental d’Orientation Miniè
re (Esquema Departamental de Orientação Mineral) SDR Secretaria do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo SDS Secretaria de Estado
do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável SE Sergipe Seae Secretaria de Acompanhamento Econômico Seape Secretaria Executiva Adjun
ta de Projetos Especiais Secad/MEC Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade SECD/RR Secretaria de Educação, Cultura e
Desporto Secoya Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami Secult Secretaria de Cultura do Estado do Amapá SEDH Secretaria Especial dos
Direitos Humanos Seduc Secretaria Estadual de Educação SEDR Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural e Sustentável Seed Secreta
ria de Educação do Estado SEE-RR Secretaria de Educação de Roraima Seii/ Funai Serviço de Informação Indígena Seind Secretária de Estado
para os Povos Indígenas Sema Secretaria Estadual do Meio Ambiente Semec Secretaria Municipal de Educação Senai Serviço Nacional de Apren
dizagem Industrial Senar Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Seplan Secretária de Estado de Gestão e Planejamento Sesai Secretaria de
Saúde Indígena Sesau Secretaria de Saúde do Estado de Roraima SFB Sistema Florestal Brasileiro Siasi Sistema de Informações de Atenção à
Saúde Indígena SID/MinC Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural SIL Summer Institute of Linguistics, hoje Sociedade Internacional
de Linguística Sinfra Secretaria de Infra-Estrutura Sintran Sindicato dos Trabalhadores em Área Indígena no Estado de Roraima Sipam Sistema
de Proteção da Amazônia SME Secretaria Municipal de Educação Snuc Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza Sodiurr Socie
dade dos Índios Unidos do Norte de Roraima SP São Paulo SPDM/Unifesp Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina SPI Serviço
de Proteção ao Índio SPII Sistema de Proteção do Índio Isolado SPU Secretaria de Patrimônio da União SSDI Support for Sustainable Development
of the Interior (Desenvolvimento Sustentável do Interior) SSL Saúde Sem Limites STF Supremo Tribunal Federal STJ Superior Tribunal de Justiça
Suframa Superintendência da Zona Franca de Manaus SUS Sistema Único de Saúde TAC Termo de ajustamento de Conduta TCC Trabalho de
Conclusão de Curso TCU Tribunal de Contas da União TEE Territórios Etnoeducacionais Terracap Companhia Imobiliária do Distrito Federal TI
Terra Indígena TIX Território Indígena do Xingu TIY Terra Indígena Yanomami TNC The Nature Conservancy TNL PCS S/A Tele Norte Leste Parti
cipações TO Tocantins TRF Tribunal Regional Federal TRIPs Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights TVCA Televisão
Centro América UC Unidade de Conservação UCA Unidade de Conservação Ambiental UCDB Universidade Católica Dom Bosco Udesc Universida
de do Estado de Santa Catarina UEA Universidade Estadual do Amazonas UEL Universidade Estadual de Londrina UEM Universidade Estadual de
Maringá UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro UERN Universidade Estadual do Rio Grande do Norte Ufam Universidade Federal do Ama
zonas UFGD Universidade Federal da Grande Dourados UFM Unevangelized Filds Mission UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UFMT
Universidade Federal do Mato Grosso Ufopa Universidade Federal do Oeste do Pará UFPA Universidade Federal do Pará UFPB Universidade Fede
ral da Paraíba UFPE Universidade Federal de Pernambuco UFPR Universidade Federal do Paraná UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do
Sul UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRR Universidade Federal de Roraima UFSC Universidade Federal de Santa Catarina Ufscar
Universidade Federal de São Carlos UHE Usina Hidrelétrica UnB Universidade de Brasília Unesco Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura Unesp Universidade Estadual de São Paulo UNI União das Nações Indígenas Unicamp Universidade Estadual de Campinas
Unicef Fundo das Nações Unidas para a Infância Unifap Universidade Federal do Amapá Unifesp Universidade Federal de São Paulo UNFPA
Fundo de População da ONU Usma/Unifesp Unidade de Saúde e Meio Ambiente USP Universidade de São Paulo VIDS Association of Indígenous
Leaders of Suriname (Associação das Lideranças de Aldeias Indígenas do Suriname) VM Visão Mundial VSAT Very Small Aperture Terminal WWF
World Wildlife Foundation (Fundo Mundial para a Natureza) ZAE Zoneamento Agroecológico ZDU Zonas de Direito de Uso ZEE Zoneamento
Econômico-Ecológico.
754 INDICE REMISSIVO DE POVOS POVOS INDIGENAS NO BRASIL ZOOB/ZOIO- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ÍNDICE REmISSIVO DE POVOS
POVO CAPÍTULO POVO CAPÍTULO
Kamaiurá Parque Indígena do Xingu Kuruaya Sudeste do Pará
Kamba Mato Grosso do Sul Kwazá Rondônia
Kambeba Solimões Maku Noroeste Amazônico
Kambiwá Nordeste Makuna Noroeste Amazônico
Kanamari Solimões, Javari, Tapajós / Madeira Makurap Rondônia
Kanoê Rondônia Makuxi Roraima Serra e Lavrado
Kantaruré Nordeste Manchineri Acre
Kapinawá Nordeste Marubo Javari
Karajá Goiás/Tocantins/Maranhão Matipu Parque Indígena do Xingu
Karajá do Norte Goiás/Tocantins/Maranhão Matis Javari
Karapanã Noroeste Amazônico e Solimões Matsés (Mayoruna) Solimões e Javari
Karapotó Nordeste Maxakali Leste
Karipuna de Rondônia Rondônia Mebengokre (Kayapó) Sudeste do Pará
Karipuna do Amapá Amapá/Norte do Pará Mehinako Parque Indígena do Xingu
Kariri Nordeste Menky Manoki Oeste do Mato Grosso
Kariri-Xocó Nordeste Migueleno Rondônia
Karitiana Rondônia Miranha Solimões
Karo Rondônia Mirity-tapuya Noroeste Amazônico
Karuazu Nordeste Munduruku Oeste do Mato Grosso, Sudeste do Pará, Tapa
Katuena Amapá/Norte do Pará, Roraima - Mata jós / Madeira
Katukina do rio Biá Juruá/Jutaí/Purus Mura Solimões, Tapajós Madeira
Katukina Pano Acre Nadob Noroeste Amazônico
Kawaiwete (Kaiabi) Xingu,
Oeste do
Tapajós
Mato Grosso,
/ Madeira
Parque Indígena do Nahukuá Parque Indígena do Xingu
Nambikwara Rondônia e Oeste do Mato Grosso
Kaxarari Juruá/Jutaí/Purus Naruvotu Parque Indígena do Xingu
Kaxinawá Acre Nawa Acre
Kaxixó Leste Nukini Acre
Kaxuyana Amapá/Norte do Pará Ofaié Mato Grosso do Sul
Kinikinau Mato Grosso do Sul Oro Win Rondônia
Kiriri Nordeste Palikur Amapá/Norte do Pará
Kisêdjê Parque Indígena do Xingu Panará Sudeste do Pará
Koiupanká Nordeste Pankaiuká Nordeste
Kokama Solimões Pankará Nordeste
Korubo Javari Pankararé Nordeste
Kotiria Noroeste Amazônico Pankararu Sul, Nordeste
Krahô Goiás/Tocantins/Maranhão Pankaru Nordeste
Krahô-Kanela Goiás/Tocantins/Maranhão Parakanã Sudeste do Pará
Krenak Sul, Leste Paresí Oeste do Mato Grosso
Krikati Goiás/Tocantins/Maranhão Parintintin Tapajós/Madeira
Kubeo Noroeste Amazônico Patamona Roraima Serra e Lavrado
Kuikuro Parque Indígena do Xingu Pataxó Leste
Kujubim Rondônia Pataxó Hã-hã-hãe Leste
Kulina Javari, Acre, Juruá /Jutaí/ Purus Paumari Juruá/Jutaí/Purus
Kulina Pano Javari Pipipã Nordeste
Kuntanawa Acre Pira-tapuya Noroeste Amazônico
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL ÍNDICE REMISSIVO DE POVOS 755
ÍNDICEREmISSIVODEPOVOS
POVO
Pirahã
Pitaguary
Potiguara
Puroborá
Puyanawa
Rikbaktsa
Sakurabiat
Sateré
Shanenawa
Siriano
Suruí
Tabajara
Tapayuna
Tapeba
Tapirapé
Tapuio
Tariana
Taurepang
Tembé
Tenharim
Terena Paiter
Mawé (Mekem) CAPÍTULO
Tapajós/Madeira
Nordeste
Acre
Oeste
Rondônia
Noroeste
Rondônia Sul, Mato
Goiás/Tocantins/Maranhão,
Sudeste
Goiás/Tocantins/Maranhão
Roraima
Goiás/Tocantins/Maranhão,
Rondônia
dodo
Serra
Amazônico
Mato
Pará,e Grosso
Lavrado
Parque Indígena
Grosso
Sudeste Sul,
Nordeste
do
dodo
Xingu
Pará POVO CAPÍTULO
Wajãpi Amapá/Norte do Pará
Wajuru Rondônia
Wapixana Roraima Serra e Lavrado
Warekena Noroeste Amazônico
Wari Rondônia
Wassu Nordeste
Wauja Parque Indígena do Xingu
Wayana Amapá/Norte do Pará
Witoto Solimões
Xakriabá Leste
Xavante Leste do Mato Grosso
Xerente Goiás/Tocantins/Maranhão
Xetá Sul
Xikrin Kayapó Sudeste do Pará
Xipaia Sudeste do Pará
Xokleng Sul
Xokó Nordeste
Xukuru Nordeste
Xukuru Kariri Nordeste
Yaminawá Acre
Yanomami Roraima Mata
Tiriyó
Torá
Tremembé
Truká
Trumai
Ticuna
Timbira
Tingui
Tsohom-dyapa
Botó Amapá/Norte
Tapajós/Madeira
Nordeste
Parque
Oeste
Solimões
Goiás
Javari /doTocantins
Indígena
MatodoGrosso
Pará
do
/ Maranhão
Xingu Yawalapiti Parque Indígena do Xingu
Yawanawá Acre
Ye’kuana Roraima Mata
Yudja (Juruna) Sudeste do Pará
Yudja Parque Indígena do Xingu
Yuhupde Noroeste Amazônico
Zo’é Amapá/Norte do Pará
Zoró Rondônia
Zuruahã Juruá/Jutaí/Purus
756 ÍNDICE REMISSIVO DE POVOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
ÍNDICEGERAL
WAJÃPI ISOLADOS
327 Desenvolvimentos do Programa de Educação Escolar 375 Situações de contato e isolamento no Vale do Javari
– Lúcia Szmrecsányi – Fabrício Amorim, Ananda Conde
329 box Inauguração do Centro de Formação e 378 box Lideranças indígenas se reúnem para definir
Documentação Wajãpi – Funai estratégias de proteção aos isolados – Helena Ladeira
DO OUTRO LADO DA FRONTEIRA – GUIANA FRANCESA DO OUTRO LADO DA FRONTEIRA – PERU
330 Povos indígenas reivindicam consolidação jurídica 380 Isolados na fronteira – Hilton S. Nascimento, Helena
das ZDUs – Pierre Grenand, Françoise Grenand Ladeira, Gilberto Azanha, Conrado Rodrigo Octávio
333 box A ponte sobre o rio Oiapoque MATSÉS
PLANALTO DAS GUIANAS 383 Exploração de petróleo ameaça os povos na fronteira
334 Construindo uma articulação transfronteiriça – com Javari – Hilton S. Nascimento
Luís Donisete Benzi Grupioni, Décio Horita Yokota 385 box Narcotráfico avança para o Vale doJavari
OIAPOQUE 386 Aconteceu
337 Plano de vida dos povos indígenas – Ana Paula 389 6. JURUÁ/JUTAÍ/PURUS
Nóbrega da Fonte, Lux Boelitz Vidal
339 box Exposições e atividades do Museu dos Povos JUMA
Indígenas do Oiapoque 395 Uma canção de exílio: dez anos depois, a volta dos
Aconteceu Juma às suas terras – Luciana Barroso C. França
340 Saúde 398 box A pedido do MPF/AM,Justiça determina retorno
341 Geral de índios juma à terra de origem – MPF
DENI DO RIO CUNIUÁ
343 4. SOLIMÕES
399 Armadilhas da cidade – Marcelo Florido
MÉDIOSOLIMÕES MÉDIOPURUS
349 Organizações indígenas e as políticas de
402 Os Paumari em busca do Estado – Oiara Bonilla
reconhecimento – Deborah de Magalhães Lima, 405 box Os Paumari do Tapauá e o Projeto Aldeias
Mariana Oliveira e Souza, Rafael Barbi Costa e Santos 406 box A reafirmação do movimento indígena no Médio
TICUNA Purus perante as novas encruzilhadas no sul do
353 O dilema dos Ticuna nos igarapés – Priscila Faulhaber Amazonas – Miguel Aparício Suárez
DO OUTRO LADO DA FRONTEIRA – PERU/COLÔMBIA ZURUAHÃ
356 Os Ticuna na terra do alto –Jean-Pierre Goulard 408 Contágio nas matas – Felipe Milanez
TICUNA 411 box Jocum insiste na entrada ilegal na TI – Excertos
358 Inclusão digital: direito de todos no Alto Solimões – de Relatório da Funai
Nibison Marcelino Salvador 412 Aconteceu
Aconteceu 415 7. TAPAJÓS/MADEIRA
359 Alto Solimões
361 Médio Solimões TENHARIM
421 Busca de alternativas ao garimpo e à pesca esportiva
363 5. JAVARI – Edmundo Antonio Peggion, Ivã Gouvêa Bocchini
SAÚDE EMERGENTES
367 Descaso e morte no Javari – Centro de Trabalho 423 Povos indígenas no Baixo Tapajós querem
Indigenista reconhecimento – Florêncio Almeida Vaz
KANAMARI MURA
370 Os Kanamari no Vale doJavari: uma outra história 427 Revisão do loteamento do território e as questões
– Pollyana Mendonça, com colaboração de José Ninha ambientais – Marta Amoroso
Tavares Kanamary Aconteceu
372 box Organizações Indígenas no vale doJavari – CTI 431 UHEs e PCHs
431 Saúde
PAPEL
Miolo impresso em papel OffSet 75 g/m2 e Pólen Bold 70 g/m2
Encarte cor em papel Couché Fosco 115 g/m2
Guardas em papel Couché Fosco 170 g/m2
Capa em Cartão TP Premium 250 g/m2, revestida em Couché Fosco 150 g/m2
IMPRESSÃOEACABAMENTO
Pancrom Indústria Gráfica
São Paulo - SP
2.000 exemplares