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NEOLIBERAL DE SOCIEDADE
Resumo
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Suzana Pinguello Morgado, graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM),
Mestre em Educação também pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Professora Colaboradora
da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) e pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em
Estado, Políticas Educacionais e Infância (GEPPEIN). Endereço para contato Universidade Estadual do
Paraná (UNESPAR) Campus Paranavaí, Av. Gabriel Esperidião, s/nº - Telefone (044) 423-3210, (44)
9864-8353, Caixa Postal, 306 – CEP 87.703-000, Paranavaí/PR. Email: su_morgado@rocketmail.com.
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Janete Bernardo do Nascimento Marcelino, graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de
Londrina (UEL), Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Professora
Colaboradora na Universidade Norte do Paraná (UENP).
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Luciane Francielli Zorzetti Maroneze, Assistente Social pela Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), pesquisadora do Grupo de Estudos
e Pesquisa em Estado, Políticas Educacionais e Infância (GEPPEIN).
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Introdução
considerar que a significação dos valores e conceitos devem ser compreendidos a partir
de suas bases, pois, se tratam de tempos históricos distintos e a apropriação feita pelos
neoliberais das categorias dos primeiros liberais foram resignificadas. Falamos ainda de
posições distintas de uma mesma sociedade, o capitalismo nasceu como sociedade
revolucionária ao passo que negava a velha ordem – o feudalismo – e afirmava uma
nova forma de organizar e explicar as relações. Netto e Braz (2008) nos indicam que a
formação dessa nova ordem se consolidava enquanto uma nova ciência:
nesse novo contexto a produção do valor de troca das mercadorias e a troca do trabalho
pelo seu equivalente – o salário.
O percurso de afirmação da sociedade burguesa a fez revolucionária, em um
primeiro momento, ao permitir uma nova organização de sociedade com bases no
trabalho – este que não natural teve, a partir da divisão das classes, uma apropriação
privada dos bens, mas uma produção coletiva. Foi esta relação que possibilitou a
exploração de uma classe sob a outra – mas também a fez reacionária ao impedir que as
forças produtivas continuassem a se desenvolver, conforme Netto e Braz (2008).
Apenas conhecer a organização liberal não é suficiente para esclarecer a
contradição existente nessa sociedade, para tal é necessário recorrer à crítica da
economia política construída por Marx (1982) em que avançou na compreensão das
categorias valor, trabalho e troca e, consolidou as bases para entender a contradição.
Pode-se inferir que o trabalho é a base material de reprodução da vida, mas que vista
sob a ótica liberal não é percebida a contradição entre a produção social e a acumulação
privada daquilo que é produzido. Sem as análises mediadas de forma dialética, não se
compreende também que ao ter o neoliberalismo retomando os escritos liberais, tais
contradições são suprimidas e todas as determinações se naturalizam.
O processo de decadência da sociedade capitalista é compreendido ao que Netto
e Braz (2008) indicam como uma revolução burguesa baseada nos ideais franceses de
igualdade, liberdade e fraternidade, em que não possibilitaram uma emancipação
humana aos trabalhadores, demonstrando que, na sociedade capitalista a única
emancipação possível é a política. Behring (2009, p. 5), ao analisar o papel
revolucionário do capitalismo afirma que “[...] É evidente que esta dimensão se esgota
na medida em que o capital se torna hegemônico e os trabalhadores começam a
formular seu projeto autônomo e desconfiar dos limites da burguesia a partir das lutas
de 1848 [...]”. Neste período a classe trabalhadora passa a ser o fator revolucionário da
sociedade e lutar por direitos.
O processo de lutas entre trabalhadores e burguesia foi culminado por múltiplas
determinações históricas. Com o avanço do capitalismo as forças produtivas foram
impedidas de desenvolver livremente – tendo em vista que são considerados enquanto
força produtiva os objetos de trabalho, os meios de trabalho e a força de trabalho que é o
próprio trabalhador (NETTO, BRAZ, 2008, p.58), causando o desemprego estrutural.
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Articulado ao desemprego observa-se ainda uma pressão dos capitalistas para baixar os
salários, expropriando ainda mais o trabalhador de sua força de trabalho. Constata-se
ademais um processo de pauperização do proletariado.
Os processos de lutas entre burguesia e trabalhadores que se desenvolveram no
capitalismo concorrencial indicam que é a contradição entre capital e trabalho que está
na base destas relações. A partir das contradições próprias do capitalismo e da transição
do período monopolista para o estágio imperialista e como considerado por Netto e Braz
(2008) as crises passam a ser inevitáveis.
Não é proposta uma naturalização das crises, mas a própria contradição inerente
ao sistema capitalista possibilita que as crises ocorram, dentre as contradições as mais
determinantes são a anarquia de produção, a queda na taxa de lucro e o subconsumo dos
trabalhadores (NETTO; BRAZ, 2008). A partir das incorporações históricas e do
movimento que é permitido ao capitalismo, pelas contradições que lhes são
características, há uma modificação na sua consolidação enquanto fase imperialista.
Esta transição é marcada pela intensificação das lutas dos trabalhadores e a falta de suas
garantias e participações sociais. Somado a uma lenta transição democrática o direito ao
voto, ainda muito restrito, era uma das poucas formas de participação dos trabalhadores
que caracterizam o início do período imperialista do capitalismo.
O imperialismo capitalista é marcado pela consolidação dos monopólios e o fim
do “Laissez-Faire”4. É indicado ainda que a partir dos escritos de Smith (1983) que a
base da economia é o mercado, que por meio de sua intervenção as relações individuais
movidas pelo interesse próprio seriam marcadas pela eficiência, riqueza e justiça
Moraes (2000, p. 10). Este mesmo argumento é utilizado pelos neoliberais para
defender a soberania do mercado sob o Estado, mas marcadamente distinto em seus
tempos históricos, o período em que escreve Adam Smith se fala em livre concorrência,
contrario ao que se tem no período dos monopólios.
O capitalismo em sua fase imperialista, como indica Netto (2009) recoloca as
contradições burguesas em patamar alto, no entanto a distinção entre os períodos
históricos e a diferença entre a livre iniciativa e os monopólios concedem características
distintas à sociedade.
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“Laissez-Faire” é entendido conforme Moraes (2000) como livre iniciativa, as relações entre indivíduos
sem a limitação dos regulamentos impostos pelos monopólios estatais e/ou privados.
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As constantes mudanças sofridas pela sociedade burguesa são marcadas por suas
crises cíclicas em que, por processos contraditórios consolidam os limites do
capitalismo e as possibilidades de superação, no entanto os limites do capitalismo
sempre se resolvem nas crises. Dessa forma a negação do trabalho imediato e a
tendência à superprodução são contradições que participam do processo de valorização
do capital e culminam nas crises. Há uma tendência à superprodução e uma relação
forçada entre “[...] compra e venda, produção e circulação, produção e consumo”
(MAZZUCCHELLI, 1985, p. 27), uma tentativa de valorização do capital pelo trabalho
não-pago. Lênin caracteriza este início da fase imperialista do capitalismo como:
Entendia que o Estado deveria ser organizado por meio de outros princípios,
considera ainda a existência de organizações semi-autônomas dentro do Estado que
visem o bem público, a construção de uma Agenda para as ações que estão fora do
âmbito individual como o controle da moeda, a coordenação dos investimentos e da
poupança e ao funcionamento da população, Keynes (1978). Da mesma forma que os
neoliberais se apresentarão, Keynes era contrário à organização socialista, mas
considerava que algumas instituições deveriam ter uma organização semi-socialista que
fossem acompanhadas de perto. Keynes acredita que o capitalismo administrado
sabiamente seria o suficiente para alcançar os objetivos econômicos e conceder “[...] um
modo satisfatório de vida” (KEYNES, 1978, p. 126).
Após a crise de 1930 os escritos de Keynes com sua filosofia social foi a teoria
embasadora da organização da economia e do Estado mesmo sendo contemporâneo os
primeiros escritos neoliberais. O cenário internacional foi ser modificado a partir da
crise da década de 1970 em que os escritos neoliberais passaram a conduzir os aspectos
econômicos, políticos, culturais e sociais. Da mesma maneira que o taylorismo/fordismo
serviu ao keynesianismo para a organização da sociedade no momento anterior, passava
o toyotismo a servir ao neoliberalismo, Harvey (1999). Muda-se a função do Estado:
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Hayek nasceu no ano de 1899 em Viena e morreu em 1992, foi professor na London School of
Economics da Universidade de Cambridge, ganhou o prêmio Nobel de economia de 1974 e tem como
principal obra o Caminho para a servidão de 1944.
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economia e movido pelos interesses individuais era a livre concorrência que garantiria
os direitos e a liberdade o homem, em defesa desta liberdade, Hayek considera que:
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Nasceu no ano de 1912 nos Estados Unidos e morreu em 2006, após o doutorado se tornou professor na
Universidade de Chicago, ganhou o prêmio Nobel de economia de 1976 e dentre seus escritos são
destaque A monetary history of the United States de 1963 e Capitalismo e liberdade de 1962 organizado
com o auxílio de sua esposa Anna Schwartz.
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Friedman (1985, p. 85) “[...] Boa parte da instrução primária aumenta o valor
econômico do estudante [...]”. Esta é uma tentativa de desnacionalizar a educação, mas
que com as resignificações históricas a partir da década de 1990 passou a ser entendida
como privatizar. Desconsidera qualquer forma de organização social dos trabalhadores
e, o Estado deve apenas ter ação regulatória as leis espontâneas e livres do mercado
conduziriam a sociedade e, no âmbito do capitalismo competitivo o interesse social
apenas existirá quando coincidir com o interesse individual.
Theodore William Schultz (1902-1998)7, que representa a Escola de Chicago,
entende o capital humano como acréscimo individual desenvolvido por cada pessoa é
pessoal, individual e intransferível, para Schultz investir no homem poderia:
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Nasceu no ano de 1902 nos Estados Unidos e morreu em 1998, também foi professor na Universidade
de Chicago, ganhou o prêmio Nobel de economia de 1979 e tem como principal obra O capital humano:
investimento em educação e pesquisa publicado com título original Investment in Human Capital: The
role of education and of research em 1971. Também representante da Escola de Chicago Schultz é
relacionado ao pensamento utilitarista e marginalista.
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Nasceu no ano de 1922 nos Estados Unidos é professor aposentado pela George Mason University
School of Law, na Virgínea tem publicado diversos artigos e livros e dentre as obras de mais destaques
tem-se Falhas de governo: uma introdução à teoria de escolha pública de 2000.
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economia e, as análises dos aspectos ligados à ciência política. Pelo método da ciência
econômica estuda o processo eleitoral, os partido políticos, a análise constitucional e o
fracasso do governo, Moraes (2001).
A teoria econômica da escolha pública passou a subsidiar a consolidação das
políticas dos Estados como a consolidação das constituições firmando-os enquanto
democracias representativas, Tullock (2005, p. 21), neste sentido, esta sociedade é
considerada ideal para as classes minoritárias ao garantir o direito à competição. Os
serviços públicos dos Estados também são compreendidos em Tullock (2005) enquanto
aqueles denominados efeitos laterais por Friedman (1985). Utiliza como base
metodológica o individualismo, a sociedade nada mais é do que a somo das
individualidades e compreende o homem enquanto o ser econômico, o mesmo homem
de Adam Smith.
O parâmetro econômico é utilizado por Tullock (2005) para explicar todas as
demais relações sociais históricas, políticas, econômicas, sociais e entre outras. Cabe ao
Estado agir apenas quando o mercado falhar, deve existir a terceirização dos serviços
para incentivar a competição e há ainda a análise da situação de governo pelo processo
de rent-seeking. Os custos do consenso pelo direcionamento do Estado a partir dos
aspectos econômicos são pagos pelas minorias sociais com os processos de
descentralização e diminuição das políticas sociais.
Sem ter esgotado todos os aspectos discutidos pelos autores pode-se considerar
que eles configuram de maneiras bem específicas as organizações dos Estados nacionais
de cunho neoliberal. Com processos particulares em virtude das realidades históricas e
sociais de cada país características marcantes como a mundialização das finanças, das
dívidas e do próprio capital; a concentração de poder; e a centralização, fazem parte da
configuração da sociedade capitalista em sua fase imperialista. Chesnais (1996) nos
indica que o capitalismo vivido a partir da ênfase neoliberal deixou de ser globalizado
ao passo que não há mais fronteiras de Estados Nacionais. A partir das resignificações
históricas por seus sujeitos específicos a partir de uma base material consolidada, Marx
e Engels (1986), os aspectos apresentados pelos autores representantes do
neoliberalismo, são partes que constituem de modo particular a organização dos Estados
neoliberais. Configuram não apenas a economia, mas interferem na organização de toda
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a sociedade na sua educação, na cultura, na política, nas políticas sociais e dentre outros
setores para efetivar o consenso e hegemonia do capitalismo.
Considerações Finais
As análises desenvolvidas devem fazer parte de uma totalidade histórica que nos
permita compreender as contradições inerentes a esta sociedade, mas que, por processo
de naturalização, são deixadas à margem das considerações. As categorias e conceitos
são pensados como transposição direta sem considerar a realidade histórica, social,
econômica e política. Nem liberais e nem os neoliberais consideram que o mesmo
capital que produz riqueza é o que produz a mais valia e a expropriação do trabalho de
seu trabalhador, este entendimento dos autores liberais e neoliberais impede de se
compreender o capital como contradição em processo. Há uma naturalização do
capitalismo como fim último da sociedade.
Não é esclarecida pelos autores a contradição fundamental do capitalismo,
aquilo que o permite explorar ainda mais suas forças de trabalho, a produção coletiva,
mas a apropriação é feita de maneira privada. Há apenas uma naturalização da condição
social de vida. Tanto liberais quanto neoliberais consideram que mesmo sendo um
proletário, este viverá melhor em uma sociedade capitalista do que em qualquer outra
forma social – liberais se referem ao feudalismo e neoliberais às formas coletivas de
organização da sociedade.
No processo de luta em que os trabalhadores passaram a ser fator revolucionário
a ênfase na contradição entre capital e trabalho se constitui enquanto ponto central do
embate. Netto e Braz (2008) indicam inerente ao sistema capitalista que a anarquia de
produção, a queda na taxa de lucro e o subconsumo dos trabalhadores são fatores que
possibilitam as crises e a superação desta organização de sociedade.
O retorno dos neoliberais ao liberalismo clássico para organizar a sociedade em
sua fase imperialista se consolida enquanto contradição ao retomar os ideais
econômicos. Isto, pois, a democracia burguesa que sustenta a sociedade capitalista não
era parte do liberalismo político. Volta-se apenas para aquilo que convém para explicar
a ação do homem no mundo – no caso o retorno ao ethos individualista defendido por
Adam Smith.
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Referências
NETTO, José Paulo. Capitalismo monopolista e serviço social. 7. ed. São Paulo:
Cortez, 2009.
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NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. 4 ed.
São Paulo: Cortez, 2008. Volume 1. (Biblioteca Básica de Serviço Social).
NOMA, Amélia Kimiko; CARVALHO, Elma Júlia Gonçalves de. Práticas educativas
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PERONI, Vera. Política educacional e papel do Estado: no Brasil dos anos 1990. São
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RICARDO. David. Princípios de economia política e tributação. São Paulo: Abril
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SCHULTZ, Theodore William. O capital humano: investimento em educação e
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SMITH, Adam. A riqueza das nações. São Paulo: Abril Cultural, 1983. Volume 1.
(Coleção Os Economistas).
TULLOCK, Gordon. Falhas de governo: uma introdução à teoria de escolha pública.
Tradução de Roberto Fendt. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 2005.
BEHRING, Elaine Rossetti. Fundamentos de política social. Disponível em:
<www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_saude/texto1-1.pdf>. Acesso em: 10 out 2009.