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CAPITALISMO E CONTRADIÇÃO: ANÁLISE DA CONSOLIDAÇÃO

NEOLIBERAL DE SOCIEDADE

MORGADO, Suzana Pinguello1

MARCELINO, Janete Bernardo do Nascimento2

MARONEZE, Luciane Francielli Zorzetti3

Resumo

A partir da base material consolidada historicamente foi analisada a construção da


sociedade capitalista em suas fases de desenvolvimento na busca da compreensão da
organização neoliberal. Foram analisados os limites e as possibilidades, concedidos pelo
próprio capitalismo, a partir de suas contradições inerentes, de sua superação. Por meio
das leituras dos autores do neoliberalismo, representantes das três escolas neoliberais,
foram analisados as características do neoliberalismo. A partir das análises das
contradições históricas do neoliberalismo, compreenderemos os processos mais
significativos desse movimento, como a mundialização, a concentração e a
centralização na perspectiva de entender as possibilidades e limites da organização
capitalista de sociedade. Compreendeu-se que a organização atual do capitalismo
retorna às bases liberais para, por meio do ethos individualista, organizar a sociedade.
As contradições, na organização neoliberal são suprimidas e a sociedade capitalista é
entendida como natural; como fim último da sociedade. Observou-se que muitos dos
escritos dos autores neoliberais consolidam, de acordo com as especificidades históricas
de cada país, a organização dos Estados capitalistas da fase imperialista. No entanto, as
próprias relações que reproduzem o capitalismo são as bases para sua superação. Este
trabalho está centrado no eixo de Estado, lutas sociais e políticas públicas, sob a forma
de apresentação (1) comunicação oral.

1
Suzana Pinguello Morgado, graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM),
Mestre em Educação também pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Professora Colaboradora
da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) e pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em
Estado, Políticas Educacionais e Infância (GEPPEIN). Endereço para contato Universidade Estadual do
Paraná (UNESPAR) Campus Paranavaí, Av. Gabriel Esperidião, s/nº - Telefone (044) 423-3210, (44)
9864-8353, Caixa Postal, 306 – CEP 87.703-000, Paranavaí/PR. Email: su_morgado@rocketmail.com.
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Janete Bernardo do Nascimento Marcelino, graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de
Londrina (UEL), Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Professora
Colaboradora na Universidade Norte do Paraná (UENP).
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Luciane Francielli Zorzetti Maroneze, Assistente Social pela Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), pesquisadora do Grupo de Estudos
e Pesquisa em Estado, Políticas Educacionais e Infância (GEPPEIN).
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Palavras-chave: Capitalismo; Contradições; Neoliberalismo;

Introdução

A consolidação da sociedade capitalista enquanto sociedade neoliberal passou,


ao longo do processo histórico de construção das bases produtivas por diversas fases. O
início da sociedade capitalista, na transição do feudalismo para a sociedade burguesa a
organização se dava de maneira comercial, tinha-se o que conhecíamos por capitalismo
mercantil – período da acumulação primitiva que se estendeu do século XVI a meados
do século XVIII. Após este primeiro momento o capitalismo entra em sua fase
concorrencial – meados do século XVIII até o último terço do século XIX – marcado
pela livre concorrência e pelo capital industrial, período chamado de “laissez-faire”.
Por volta do último terço do século XIX até nossos dias o capitalismo está sem
sua fase imperialista em que se tem o capital financeiro – fusão do capital industrial
com o capital bancário – e marcado ainda por seu período monopolista, com três fases
particulares: a fase clássica entre 1890 a 1940 – organizações do capital e a existência
dos monopólios; os anos dourados de 1945 a meados de 1970 – na reestruturação do
capitalismo após a crise de 1929 e o pacto keynesiano que propiciou anos de
desenvolvimentos ao capitalismo; e a última fase que é a contemporânea que inicia por
volta de 1970 que é marcado pela de mundialização após a terceira crise do capital e
início do neoliberalismo.
Consideraremos a consolidação do neoliberalismo em suas bases materiais, as
características que são semelhantes e as que são divergentes, entre as várias escolas
neoliberais representadas por seus autores mais significativos Friedrich Von Hayek
(1899-1992) – da Escola Austríaca; Milton Friedman (1912-2006) e Theodore William
Schultz (1902-1998) – da Escola de Chicago, e Gordon Tullock (1922-) – da Escola da
Virgínea.

Reconstrução histórica da consolidação do capitalismo

Para compreender o neoliberalismo devemos entender suas bases, os princípios a


que se refere para desenvolver sua teorização, o que nos permite retornar aos autores da
livre concorrência Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823). Deve-se
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considerar que a significação dos valores e conceitos devem ser compreendidos a partir
de suas bases, pois, se tratam de tempos históricos distintos e a apropriação feita pelos
neoliberais das categorias dos primeiros liberais foram resignificadas. Falamos ainda de
posições distintas de uma mesma sociedade, o capitalismo nasceu como sociedade
revolucionária ao passo que negava a velha ordem – o feudalismo – e afirmava uma
nova forma de organizar e explicar as relações. Netto e Braz (2008) nos indicam que a
formação dessa nova ordem se consolidava enquanto uma nova ciência:

[...] sabe-se que o liberalismo clássico constituiu uma arma ideológica


da luta da burguesia contra o Estado absolutista e contra as
instituições do Antigo Regime [...] ela condensou os interesses da
burguesia revolucionária, que se confrontava com os benefícios da
feudalidade (a nobreza fundiária e a Igreja) (NETTO, BRAZ, 2008, p.
18).

A partir da superação por incorporação, a sociedade capitalista se consolidava e


precisava explicar as novas categorias, reafirmar a posição do homem na nova
sociedade. Smith (1983) em A riqueza das Nações define que a base da nova relação
social é o trabalho, e considerava que o trabalho individual pouco trazia de benefícios
ao trabalhador e para que se vivesse em sociedade civilizada, este trabalhador deveria
fazer parte do processo de divisão do trabalho.
Esta divisão do trabalho proporcionou três conseqüências: o trabalhador se
aprimorava cada vez mais em sua especificidade de trabalho; podendo ter, assim, a
economia do tempo de trabalho utilizado para se produzir uma mercadoria e; se tornava
possível desenvolver inúmeras máquinas para facilitar o trabalho do homem (SMITH,
1983, p.43-45).
Para os autores da economia política e para Marx (1982) – ao fazer a crítica da
economia política – o valor de uma mercadoria era dado pelo tempo de trabalho
necessário para produzi-la. No entanto, nem Smith (1983) nem Ricardo (1982)
chegaram a consideração de que é a expropriação do trabalho de seu trabalhador que
produzia a mais valia e a riqueza do capitalista. Esta visão que os autores liberais tinham
da sociedade capitalista os impedia de perceber a contradição dessa sociedade.
Para estes autores era natural que houvesse a divisão de classes – consideração
esta fundamental para estabelecer as relações sociais na sociedade capitalista. Existe
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nesse novo contexto a produção do valor de troca das mercadorias e a troca do trabalho
pelo seu equivalente – o salário.
O percurso de afirmação da sociedade burguesa a fez revolucionária, em um
primeiro momento, ao permitir uma nova organização de sociedade com bases no
trabalho – este que não natural teve, a partir da divisão das classes, uma apropriação
privada dos bens, mas uma produção coletiva. Foi esta relação que possibilitou a
exploração de uma classe sob a outra – mas também a fez reacionária ao impedir que as
forças produtivas continuassem a se desenvolver, conforme Netto e Braz (2008).
Apenas conhecer a organização liberal não é suficiente para esclarecer a
contradição existente nessa sociedade, para tal é necessário recorrer à crítica da
economia política construída por Marx (1982) em que avançou na compreensão das
categorias valor, trabalho e troca e, consolidou as bases para entender a contradição.
Pode-se inferir que o trabalho é a base material de reprodução da vida, mas que vista
sob a ótica liberal não é percebida a contradição entre a produção social e a acumulação
privada daquilo que é produzido. Sem as análises mediadas de forma dialética, não se
compreende também que ao ter o neoliberalismo retomando os escritos liberais, tais
contradições são suprimidas e todas as determinações se naturalizam.
O processo de decadência da sociedade capitalista é compreendido ao que Netto
e Braz (2008) indicam como uma revolução burguesa baseada nos ideais franceses de
igualdade, liberdade e fraternidade, em que não possibilitaram uma emancipação
humana aos trabalhadores, demonstrando que, na sociedade capitalista a única
emancipação possível é a política. Behring (2009, p. 5), ao analisar o papel
revolucionário do capitalismo afirma que “[...] É evidente que esta dimensão se esgota
na medida em que o capital se torna hegemônico e os trabalhadores começam a
formular seu projeto autônomo e desconfiar dos limites da burguesia a partir das lutas
de 1848 [...]”. Neste período a classe trabalhadora passa a ser o fator revolucionário da
sociedade e lutar por direitos.
O processo de lutas entre trabalhadores e burguesia foi culminado por múltiplas
determinações históricas. Com o avanço do capitalismo as forças produtivas foram
impedidas de desenvolver livremente – tendo em vista que são considerados enquanto
força produtiva os objetos de trabalho, os meios de trabalho e a força de trabalho que é o
próprio trabalhador (NETTO, BRAZ, 2008, p.58), causando o desemprego estrutural.
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Articulado ao desemprego observa-se ainda uma pressão dos capitalistas para baixar os
salários, expropriando ainda mais o trabalhador de sua força de trabalho. Constata-se
ademais um processo de pauperização do proletariado.
Os processos de lutas entre burguesia e trabalhadores que se desenvolveram no
capitalismo concorrencial indicam que é a contradição entre capital e trabalho que está
na base destas relações. A partir das contradições próprias do capitalismo e da transição
do período monopolista para o estágio imperialista e como considerado por Netto e Braz
(2008) as crises passam a ser inevitáveis.
Não é proposta uma naturalização das crises, mas a própria contradição inerente
ao sistema capitalista possibilita que as crises ocorram, dentre as contradições as mais
determinantes são a anarquia de produção, a queda na taxa de lucro e o subconsumo dos
trabalhadores (NETTO; BRAZ, 2008). A partir das incorporações históricas e do
movimento que é permitido ao capitalismo, pelas contradições que lhes são
características, há uma modificação na sua consolidação enquanto fase imperialista.
Esta transição é marcada pela intensificação das lutas dos trabalhadores e a falta de suas
garantias e participações sociais. Somado a uma lenta transição democrática o direito ao
voto, ainda muito restrito, era uma das poucas formas de participação dos trabalhadores
que caracterizam o início do período imperialista do capitalismo.
O imperialismo capitalista é marcado pela consolidação dos monopólios e o fim
do “Laissez-Faire”4. É indicado ainda que a partir dos escritos de Smith (1983) que a
base da economia é o mercado, que por meio de sua intervenção as relações individuais
movidas pelo interesse próprio seriam marcadas pela eficiência, riqueza e justiça
Moraes (2000, p. 10). Este mesmo argumento é utilizado pelos neoliberais para
defender a soberania do mercado sob o Estado, mas marcadamente distinto em seus
tempos históricos, o período em que escreve Adam Smith se fala em livre concorrência,
contrario ao que se tem no período dos monopólios.
O capitalismo em sua fase imperialista, como indica Netto (2009) recoloca as
contradições burguesas em patamar alto, no entanto a distinção entre os períodos
históricos e a diferença entre a livre iniciativa e os monopólios concedem características
distintas à sociedade.

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“Laissez-Faire” é entendido conforme Moraes (2000) como livre iniciativa, as relações entre indivíduos
sem a limitação dos regulamentos impostos pelos monopólios estatais e/ou privados.
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As constantes mudanças sofridas pela sociedade burguesa são marcadas por suas
crises cíclicas em que, por processos contraditórios consolidam os limites do
capitalismo e as possibilidades de superação, no entanto os limites do capitalismo
sempre se resolvem nas crises. Dessa forma a negação do trabalho imediato e a
tendência à superprodução são contradições que participam do processo de valorização
do capital e culminam nas crises. Há uma tendência à superprodução e uma relação
forçada entre “[...] compra e venda, produção e circulação, produção e consumo”
(MAZZUCCHELLI, 1985, p. 27), uma tentativa de valorização do capital pelo trabalho
não-pago. Lênin caracteriza este início da fase imperialista do capitalismo como:

[...] desenvolvimento onde se afirma a dominação dos monopólios e


do capital financeiro, onde a exportação dos capitais adquiriu
importância de primeiro plano, onde começou a partilha do mundo
entre os trustes internacionais e onde se pôs termo à partilha de todo o
território do globo, entre as maiores potências capitalistas. (LÊNIN,
1985, p.88).

No contexto de crise, de pauperização do trabalhador, fim do “laissez-faire”, de


valorização do capital, da expropriação da mais-valia, da negação do trabalho, da
superprodução capitalista, da tendência decrescente da taxa de lucro, do
desenvolvimento das forças produtivas na sociedade capitalista e dentre outros fatores,
se consolidou base material necessária para reorganizar a sociedade. A mudança
significativa da fase imperialista se consolidou com a Primeira Guerra Mundial e no
colapso de 1930 (PETRAS, 1997, p. 15). Neste sentido surgiram duas formas de se
pensar a organização desta sociedade o keynesianismo e o neoliberalismo.
Desenvolveu-se as políticas de John M. Keynes (1883-1946) que pensava as
ações do Estado e do mercado de maneira a permitir um domínio sobre a oscilação dos
investimentos e empregos, moderando as crises e controlando as flutuações do mercado,
Moraes (2001). Paulani (2006) destaca que, naquele estado de Bem-Estar Social, a forte
intervenção estatal conduziu a economia e o estado capitalista ao que hoje se considera
„as décadas de ouro do capitalismo‟ com alta taxa de emprego, baixa inflação e
crescimento acelerado da economia. Keynes (1978) desenvolveu suas críticas ao
“laissez-faire” e ao individualismo liberal que conduziam a economia, falava do fim da
livre iniciativa e fazia críticas ao socialismo.
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Entendia que o Estado deveria ser organizado por meio de outros princípios,
considera ainda a existência de organizações semi-autônomas dentro do Estado que
visem o bem público, a construção de uma Agenda para as ações que estão fora do
âmbito individual como o controle da moeda, a coordenação dos investimentos e da
poupança e ao funcionamento da população, Keynes (1978). Da mesma forma que os
neoliberais se apresentarão, Keynes era contrário à organização socialista, mas
considerava que algumas instituições deveriam ter uma organização semi-socialista que
fossem acompanhadas de perto. Keynes acredita que o capitalismo administrado
sabiamente seria o suficiente para alcançar os objetivos econômicos e conceder “[...] um
modo satisfatório de vida” (KEYNES, 1978, p. 126).
Após a crise de 1930 os escritos de Keynes com sua filosofia social foi a teoria
embasadora da organização da economia e do Estado mesmo sendo contemporâneo os
primeiros escritos neoliberais. O cenário internacional foi ser modificado a partir da
crise da década de 1970 em que os escritos neoliberais passaram a conduzir os aspectos
econômicos, políticos, culturais e sociais. Da mesma maneira que o taylorismo/fordismo
serviu ao keynesianismo para a organização da sociedade no momento anterior, passava
o toyotismo a servir ao neoliberalismo, Harvey (1999). Muda-se a função do Estado:

Na versão dos neoliberais, o Estado deixou de aparecer como a


fórmula salvadora defendida pelos keynesianos e se tornou parte
essencial problema. Conseqüentemente, não se tratava mais de
utilizar o Estado para promoção de um projeto de desenvolvimento
econômico, mas, ao contrário de encurtar o seu raio de ação de
forma a dinamizar o mercado que se acreditava contido por força
da própria política anterior. (NOMA; CARVALHO, 2007, p. 222 e
223).

Há um contexto de mudança que transforma a organização da sociedade, o


keynesianismo não foi capaz de orientar o capitalismo de maneira que articulassem de
maneira harmoniosa o interesse de mercado e o bem público, social. E este aspecto
apenas é compreendido ao retornar aos escritos de Marx e Engels (1986) em que a
forma de organização da vida em sociedade é histórica e se refaz em cada contexto
distinto e apenas a partir da consolidação da base material necessária. Neste sentido
cabe compreender a nova organização da sociedade capitalista no contexto da
acumulação flexível.
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O neoliberalismo e seus autores Hayek, Friedman, Schultz e Tullock

O momento de execução do neoliberalismo é marcado a partir da década de


1970, Estado, política, sociedade, cultura, economia e demais aspectos, passaram a ser
regulados por meio da ideologia neoliberal. Paulani (2006) destaca que a partir das
crises do petróleo de 1973 e 1979 houve aumento de juros e das crises fiscais. E, o
retorno da inflação, o fim da paridade entre as moedas e a globalização financeira, de
acordo com Peroni (2003). Dentre as determinações neoliberais o controle do Estado e
dos gastos representavam a diminuição da inflação, necessitaria dessa forma privatizar
as empresas estatais, não deveria mais existir regulamentação do mercado pela
intervenção do Estado, haveria uma flexibilização da força de trabalho, os gastos com
os trabalhadores deveriam ser reduzidos e ainda minimizar a ação do Estado na
promoção dos serviços públicos em apenas justiça e segurança, segundo Paulani (2006,
p. 77).
Foi a partir do final da segunda guerra mundial que consolidaram as bases para
as mudanças da fase imperialista do capitalismo. Hobsbawm (1995) considera que foi
após 1945 que os economistas passaram a falar em uma nova divisão internacional do
trabalho em que os países denominados de terceiro mundo passaram a ser
industrializados.
Nos países desenvolvidos se tinham aplicadas as políticas keynesianas e nos
países em desenvolvimento as práticas populistas que permitiram a organização do
capitalismo ao que se denomina „era de ouro do capitalismo‟. Para coordenar esta nova
economia em 1944 foi assinado o acordo de Bretton Woods que dentre suas várias
deliberações, transformou o dólar americano na moeda-reserva, Harvey (1999). Houve,
nesse contexto, entretanto, um rompimento na hegemonia norte-americana, o dólar foi
desvalorizado e as taxas fixas de expansão deram lugar ao capital volátil e ao câmbio
flutuante.
O período foi marcado pela crise de legitimação e pela crise fiscal, havia
excessos de fundos e uma forte inflação, houve ademais, uma crise do petróleo e as
conseqüências da estagflação, Harvey (1999). Neste contexto passa a ser desenvolvida
uma acumulação flexível, nova forma de organização do trabalho, novos padrões de
consumo e de produtos. Passa a existir um fundo de reserva de desempregados. Como
observa Harvey (2008, p. 27) o processo de consolidação de uma forma de organizar a
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economia mundial a partir do neoliberalismo possibilitou a reorganização do


capitalismo mundial restabelecendo as condições necessárias para a valorização e
acumulação do capital. O neoliberalismo representou ainda a „financeirização de tudo‟
no mundo.
No entanto Boito (1999) nos indica outra contradição base do neoliberalismo
que, ao retornar ao liberalismo clássico ele se apropria apenas do liberalismo econômico
do indivíduo, isto, pois, o aspecto político se consolida apenas enquanto representativo e
na medida em que assegura o direito à liberdade econômica. Outra característica diz
respeito à democracia capitalista que conforme as resignificações históricas se tornaram
representativas, o que não era nem democrática no início. Resguardando as
especificidades e os tempos históricos, o neoliberalismo passou a orientar a organização
da economia mundial, há uma aproximação base dentre os escritos neoliberais: sua luta
contra as sociedades socialistas, comunitárias, coletivas independentes da denominação
que recebam.
Friedrich August Von Hayek (1899-1992)5, foi representante da Escola
Austríaca que se relaciona com a Escola Marginalista entende o valor como algo
subjetivo, por meio do individualismo metodológico, o valor seria aquilo que vale para
cada indivíduo. No seu livro Caminho para a servidão (2009) além de fazer críticas à
teoria keynesiana critica o socialismo e todo o tipo de planificação da economia,
acreditava que qualquer forma de controle e planejamento da econômica levaria a uma
servidão. Hayek não culpabiliza o Estado – o tamanho do Estado – pela crise que passa
a sociedade e que a situação precária do indivíduo é culpa apenas do sujeito que passa a
lutar pelo socialismo. O conflito é explicado para Hayek (2009, p. 37) em virtude das
mudanças das idéias que ocorria no período – contexto da segunda guerra mundial.
A democracia defendida por Hayek (2009) se consolida a partir da garantia da
liberdade, mas uma liberdade econômica e não política seria a liberdade econômica que
garantiria todos os demais direitos aos indivíduos. Hayek tenta o retorno aos ideais
liberais, ao indivíduo proposto por Smith (1983) que deveria ser conduzido por seus
interesses egoístas. Hayek esclarece que há uma diferença entre igualdade absoluta e
uma maior igualdade e que esta deveria ser buscada, sem o controle do Estado na

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Hayek nasceu no ano de 1899 em Viena e morreu em 1992, foi professor na London School of
Economics da Universidade de Cambridge, ganhou o prêmio Nobel de economia de 1974 e tem como
principal obra o Caminho para a servidão de 1944.
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economia e movido pelos interesses individuais era a livre concorrência que garantiria
os direitos e a liberdade o homem, em defesa desta liberdade, Hayek considera que:

Um dos objetivos da política terá de ser a segurança adequada contra a


privação extrema, eliminar as causas e prevenir os efeitos. Mas para
garantir o sucesso destas tentativas e não destruir a liberdade
individual, há que garantir a segurança fora do mercado e não deve
haver obstáculos à concorrência (HAYEK, 2009, p. 168).

A concorrência é considerada como a ideal para intermediar as relações


econômicas, entre sujeitos, a política. Nessa consideração quanto mais as ações do
Estado forem descentralizadas maiores serão as possibilidades de concorrência em uma
sociedade, assim, o Estado não deve ter muitas ocupações e não deve interferir na
economia. Em relação aos monopólios Hayek (2009) se posiciona contrário aos
monopólios estatais e não em relação aos monopólios privados.
Milton Friedman (1912-2006)6, representante da Escola de Chicago teve seus
escritos mais como consolidadores de práticas a serem desenvolvidas do que dogmas a
serem ensinados como se apresentam os escritos de Hayek. No entanto ambos
reafirmam o papel do mercado e tentam diminuir o raio de ação do Estado.
Nega qualquer forma de sistema socialista, afirma o capitalismo competitivo e
considera como única forma de organização do Estado a democrática, mas a democracia
representativa, dos direitos formais. Não entende o Estado como causador das crises,
apenas aponta que uma má administração do governo – pela incompetência deste –
permite uma má organização da economia, impedindo o crescimento e livre
desenvolvimento do mercado, Friedman (1985, p. 43).
O Estado deveria apenas garantir direitos quando os mesmo se tratassem de um
efeito lateral, a educação é considerada para Friedman como efeito lateral, mas que
deveria ser deveria ser destinado apenas às famílias que não pudessem financiar a
educação de seus filhos. A proposta de financiamento era o repasse do montante
despedido para custear os estudos possibilitando o direito dos pais escolherem em qual
escola matricular seus filhos. É a partir da tentativa de garantir uma base mínima de
escolarização que passa a desenvolver a idéia de capital humano conforme afirmado por

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Nasceu no ano de 1912 nos Estados Unidos e morreu em 2006, após o doutorado se tornou professor na
Universidade de Chicago, ganhou o prêmio Nobel de economia de 1976 e dentre seus escritos são
destaque A monetary history of the United States de 1963 e Capitalismo e liberdade de 1962 organizado
com o auxílio de sua esposa Anna Schwartz.
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Friedman (1985, p. 85) “[...] Boa parte da instrução primária aumenta o valor
econômico do estudante [...]”. Esta é uma tentativa de desnacionalizar a educação, mas
que com as resignificações históricas a partir da década de 1990 passou a ser entendida
como privatizar. Desconsidera qualquer forma de organização social dos trabalhadores
e, o Estado deve apenas ter ação regulatória as leis espontâneas e livres do mercado
conduziriam a sociedade e, no âmbito do capitalismo competitivo o interesse social
apenas existirá quando coincidir com o interesse individual.
Theodore William Schultz (1902-1998)7, que representa a Escola de Chicago,
entende o capital humano como acréscimo individual desenvolvido por cada pessoa é
pessoal, individual e intransferível, para Schultz investir no homem poderia:

[...] aumentar tanto as suas satisfações quanto os serviços produtivos,


que são a sua contribuição quando trabalha; e os serviços produtivos
das máquinas e das estruturas podem, também, ser aumentados desta
maneira (SCHULTZ, 1973, p. 14).

Schultz (1973) considerava que com o investimento em capital humano tanto


lucro e salários poderiam ser aumentados. Os aspectos residuais para a economia se
consolidavam ao compreender que os países de capitalismo avançado eram
desenvolvidos, pois, investiam em capital humano. Contrário ao posicionamento de
Friedman (1985), Schultz (1973) considera que o governo deve investir no capital
humano por meio das pesquisas, possibilitando os Estados a desenvolverem se
utilizando da utilidade marginal do capital humano. No entanto, aspecto contraditório
deixado de ser observado é a impotência de ser, a escola, a redentora de uma sociedade
que é contraditória em todo seu processo de consolidação que tem problemas maiores
como o desemprego estrutural, as crises cíclicas, a desvalorização da taxa de juros,
aspectos que possibilitam a sua superação.
Gordon Tullock (1922-)8 é representante da Escola da Virgínea e desenvolveu a
teoria da escolha pública a Public choice que consiste na intervenção do Estado na

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Nasceu no ano de 1902 nos Estados Unidos e morreu em 1998, também foi professor na Universidade
de Chicago, ganhou o prêmio Nobel de economia de 1979 e tem como principal obra O capital humano:
investimento em educação e pesquisa publicado com título original Investment in Human Capital: The
role of education and of research em 1971. Também representante da Escola de Chicago Schultz é
relacionado ao pensamento utilitarista e marginalista.
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Nasceu no ano de 1922 nos Estados Unidos é professor aposentado pela George Mason University
School of Law, na Virgínea tem publicado diversos artigos e livros e dentre as obras de mais destaques
tem-se Falhas de governo: uma introdução à teoria de escolha pública de 2000.
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economia e, as análises dos aspectos ligados à ciência política. Pelo método da ciência
econômica estuda o processo eleitoral, os partido políticos, a análise constitucional e o
fracasso do governo, Moraes (2001).
A teoria econômica da escolha pública passou a subsidiar a consolidação das
políticas dos Estados como a consolidação das constituições firmando-os enquanto
democracias representativas, Tullock (2005, p. 21), neste sentido, esta sociedade é
considerada ideal para as classes minoritárias ao garantir o direito à competição. Os
serviços públicos dos Estados também são compreendidos em Tullock (2005) enquanto
aqueles denominados efeitos laterais por Friedman (1985). Utiliza como base
metodológica o individualismo, a sociedade nada mais é do que a somo das
individualidades e compreende o homem enquanto o ser econômico, o mesmo homem
de Adam Smith.
O parâmetro econômico é utilizado por Tullock (2005) para explicar todas as
demais relações sociais históricas, políticas, econômicas, sociais e entre outras. Cabe ao
Estado agir apenas quando o mercado falhar, deve existir a terceirização dos serviços
para incentivar a competição e há ainda a análise da situação de governo pelo processo
de rent-seeking. Os custos do consenso pelo direcionamento do Estado a partir dos
aspectos econômicos são pagos pelas minorias sociais com os processos de
descentralização e diminuição das políticas sociais.
Sem ter esgotado todos os aspectos discutidos pelos autores pode-se considerar
que eles configuram de maneiras bem específicas as organizações dos Estados nacionais
de cunho neoliberal. Com processos particulares em virtude das realidades históricas e
sociais de cada país características marcantes como a mundialização das finanças, das
dívidas e do próprio capital; a concentração de poder; e a centralização, fazem parte da
configuração da sociedade capitalista em sua fase imperialista. Chesnais (1996) nos
indica que o capitalismo vivido a partir da ênfase neoliberal deixou de ser globalizado
ao passo que não há mais fronteiras de Estados Nacionais. A partir das resignificações
históricas por seus sujeitos específicos a partir de uma base material consolidada, Marx
e Engels (1986), os aspectos apresentados pelos autores representantes do
neoliberalismo, são partes que constituem de modo particular a organização dos Estados
neoliberais. Configuram não apenas a economia, mas interferem na organização de toda
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a sociedade na sua educação, na cultura, na política, nas políticas sociais e dentre outros
setores para efetivar o consenso e hegemonia do capitalismo.

Considerações Finais

As análises desenvolvidas devem fazer parte de uma totalidade histórica que nos
permita compreender as contradições inerentes a esta sociedade, mas que, por processo
de naturalização, são deixadas à margem das considerações. As categorias e conceitos
são pensados como transposição direta sem considerar a realidade histórica, social,
econômica e política. Nem liberais e nem os neoliberais consideram que o mesmo
capital que produz riqueza é o que produz a mais valia e a expropriação do trabalho de
seu trabalhador, este entendimento dos autores liberais e neoliberais impede de se
compreender o capital como contradição em processo. Há uma naturalização do
capitalismo como fim último da sociedade.
Não é esclarecida pelos autores a contradição fundamental do capitalismo,
aquilo que o permite explorar ainda mais suas forças de trabalho, a produção coletiva,
mas a apropriação é feita de maneira privada. Há apenas uma naturalização da condição
social de vida. Tanto liberais quanto neoliberais consideram que mesmo sendo um
proletário, este viverá melhor em uma sociedade capitalista do que em qualquer outra
forma social – liberais se referem ao feudalismo e neoliberais às formas coletivas de
organização da sociedade.
No processo de luta em que os trabalhadores passaram a ser fator revolucionário
a ênfase na contradição entre capital e trabalho se constitui enquanto ponto central do
embate. Netto e Braz (2008) indicam inerente ao sistema capitalista que a anarquia de
produção, a queda na taxa de lucro e o subconsumo dos trabalhadores são fatores que
possibilitam as crises e a superação desta organização de sociedade.
O retorno dos neoliberais ao liberalismo clássico para organizar a sociedade em
sua fase imperialista se consolida enquanto contradição ao retomar os ideais
econômicos. Isto, pois, a democracia burguesa que sustenta a sociedade capitalista não
era parte do liberalismo político. Volta-se apenas para aquilo que convém para explicar
a ação do homem no mundo – no caso o retorno ao ethos individualista defendido por
Adam Smith.
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A consideração crítica e dialética, tendo por base a constituição histórica das


bases materiais, da sociedade capitalista a partir de suas fases de desenvolvimento nos
permite compreender que suas relações estão embasadas em fundamentos não eternos,
observáveis pelas contradições e pelas crises que permitem condições materiais para a
sua superação. A naturalização desta sociedade dificulta o processo de superação, mas
não impede que as mesmas instâncias que a reproduzem e a tornam hegemônica –
escola, igreja, família sociedade civil e entre outras – consolidem as bases para superá-
la.

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