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RAQUEL FREIRE BARACHO

Dislexia ou Dislexias: um estudo sobre conceitos e atuações.

BATATAIS
2008
5

RAQUEL FREIRE BARACHO

Dislexia ou Dislexias: um estudo sobre conceitos e atuações.

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao Centro Universitário
Claretiano como requisito parcial para a
conclusão do curso de especialização em
Psicopedagogia no Processo Ensino-
aprendizagem, sob orientação da Profª.
Ms. Patrícia da Silva Pereira.

Batatais
2008
6

RAQUEL FREIRE BARACHO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Claretiano para


obtenção do título de graduado em Psicopedagogia no Processo Ensino-aprendizagem sob
orientação da Profa. Ms. Patrícia da Silva Pereira.

Dislexia ou Dislexias: um estudo sobre conceitos e atuações.

Orientadora: Profª. Ms. Patrícia da Silva Pereira


Examinadora: Juliana da Rocha Picado

Batatais, 20 de Dezembro de 2008.


7

RESUMO

A dislexia é um distúrbio caracterizado por dificuldade na aquisição da linguagem escrita e

leitura. Gera muita ansiedade para pais e educadores que não sabem agir diante das dificuldades

de aprendizagem das crianças afetadas. Diante deste problema, encontram-se crianças disléxicas

“excluídas” da escola por não se adequarem ao ensino tradicional e sendo retidas sucessivas

vezes, comprometendo sua auto-imagem e sua vida, bem como a vida dos que estão em seu

entorno. Dessa forma, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, com o objetivo de analisar o tema

dislexia, suas particularidades e as diferentes estratégias, propostas e atividades aplicáveis na sala

de aula. O diagnóstico deste transtorno é difícil, pois envolve muitas características distintas e

uma grande equipe de profissionais, o que torna o processo ainda mais lento e oneroso para a

família que muitas vezes não possui recursos para financiar o tratamento ou a quem recorrer para

que a ajude, o que acaba condenando a criança ao fracasso escolar e até mesmo uma possível

evasão.

Palavras-chave: Dislexias. Equipe multidisciplinar. Psicopedagogia. Professor. Transtorno

de Aprendizagem.
8

Sumário

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 9
CAPÍTULO I –A DISLEXIA. ....................................................................................................... 13
1.1 - Algumas Definições de Dislexia. .................................................................................. 13
1.2- Dificuldade de Aprendizagem X Distúrbio de Aprendizagem X Dislexia. ................... 16
1.3- Dislexia: Diferentes Abordagens. .................................................................................. 17
CAPÍTULO II – A DISLEXIA OU AS DISLEXIAS? ................................................................. 19
2.1 Dislexias Adquiridas. ...................................................................................................... 19
2.2- Dislexias do Desenvolvimento. ...................................................................................... 22
CAPÍTULO III – NA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR: O PAPEL DO PROFESSOR E DO
PSICOPEDAGOGO. ..................................................................................................................... 24
3.1 O Papel do Professor ....................................................................................................... 25
3.2- O Papel do Psicopedagogo Institucional ........................................................................ 27
CONSIDERAÇÕES FINAIS. ....................................................................................................... 29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 34
9

INTRODUÇÃO

A dislexia é um distúrbio de aprendizagem que se encontra em muitas salas de aula, que

traz dificuldades para que a criança aprenda a ler e escrever e com isso gera muita ansiedade e

frustração para professores, crianças e pais. Neste presente trabalho pretende-se estudar os

métodos e instrumentos diferenciados para que um aluno com dislexia possa ser alfabetizado de

maneira mais eficiente.

Esta pesquisa possui caráter bibliográfico, pois mobiliza conhecimentos anteriormente

construídos por outros estudiosos. De forma que utilizamos diversos recursos bibliográficos, tais

como livro, documentos oficiais, artigos de revistas acadêmicas, bem como revistas

especializadas. A ferramenta de busca da Internet foi amplamente utilizada devido ao pouco

acesso às obras literárias sobre o tema, e por estar em constante atualização.

Começa-se com a etimologia da palavra dislexia: ela deriva de dyz -,mal em grego e lexia

que quer dizer linguagem e em latim quer dizer leitura, ou seja, um distúrbio da linguagem ou da

leitura. Uma criança que não é capaz de adquirir a linguagem como as outras ou é capaz de ler,

mas não entende eficientemente o que lê. (LOPES E OLIVEIRA, 2007, p. 3)

A psicopedagogia se propõe a auxiliar as crianças com este distúrbio através de estímulos

multissensoriais, “Cada disléxico é único em suas características, mas atualmente já podemos

afirmar que a melhor maneira de um disléxico aprender a ler é através da ativação de todos os

sentidos”. (ESTILL, Ano, 2003). Além do trabalho multissensorial, é fundamental para um bom

trabalho com as crianças com dislexia, que este seja individualizado, uma vez que existem três

graus de dislexia – leve, moderado e severo – onde o parâmetro que determinará o que deve ou

não ser trabalhado é a própria avaliação da criança disléxica. A avaliação de uma criança com

dislexia deve ser feita por uma equipe multidisciplinar – psicopedagogo, pedagogo, neurologista,
10

fonoaudiólogo e psicólogo. A família também é uma importante parceira no processo de

habilitação e reabilitação da criança para aquisição da linguagem e leitura.

Em geral, esse distúrbio é percebido pelos pais e escola assim que começa o processo de

alfabetização desta criança. Apesar de o recomendado é avaliá-la apenas após o período de dois

anos sendo alfabetizada, ou seja, no princípio da terceira série, existem indícios de que a criança

apresenta os distúrbios que podem ser detectados ainda na educação infantil, como por exemplo:

fala tardia, dificuldade em pronunciar alguns fonemas e vocabulário reduzido, dificuldade em

reconhecer e produzir rimas, contar ou recontar, lembrar nomes e símbolos, entre outros. “Quanto

mais precocemente percebermos os indícios destas dificuldades, mais oportunidades poderemos

oferecer para um melhor desempenho da criança, diminuindo as chances de frustrações a serem

vividas por elas”. (ESTILL, 2003, p. 66)

A dislexia é um distúrbio que gera muita ansiedade para pais e educadores que não sabem

agir diante das dificuldades de aprendizagem das crianças afetadas. Diante desse problema,

encontramos crianças disléxicas sendo “excluídas” da escola por não se adequarem ao ensino

tradicional e serem retidas sucessivas vezes, comprometendo sua auto-imagem e sua vida bem

como a vida dos que estão em seu entorno.

Este estudo é de grande valia para a ciência, pais e professores, pois pretende esclarecer o

que é este transtorno de aprendizagem ainda tão pouco conhecido chamado dislexia, ou como

veremos mais adiante, as dislexias. Para os professores é ainda mais importante, pois para o

profissional da educação que tenha aluno ou alunos com as características neste trabalho citadas e

que não sabem como devem agir, este estudo traz estratégias para a atuação do professor, que

poderão ser aplicadas a diversos alunos com características semelhantes à dislexia. Outro ponto

importante neste estudo é diferenciar os termos: dificuldade de aprendizagem, distúrbio de

aprendizagem e dislexia. Estes termos são muitos confundidos no microssistema escolar.


11

O primeiro capítulo apresenta os conceitos nacionais e internacionais para a dislexia. No

dicionário Aurélio1, um dos mais tradicionais no Brasil, encontra-se a descrição de dislexia como

uma dificuldade mental e patológica de ler e, para o dicionário on-line Michaelis 2 , dislexia

resume-se à dificuldade de ler e compreender as palavras, ambas as visões são reducionistas e

excludentes do que é este transtorno de aprendizagem. Ainda no primeiro capítulo é apresentada

a diferença entre os termos, dificuldade de aprendizagem, distúrbio de aprendizagem e a dislexia;

termos esses que se misturam e acabam confundindo pais e professores. Este estudo se propõe

também a apontar as principais diferenças entre os termos acima citados. Ao final do primeiro

capítulo encontra-se as abordagens de trabalho com as crianças com dislexia: abordagem clínica e

abordagem educacional. É possível perceber que embora o sujeito e transtorno a serem

trabalhados sejam os mesmos, a relação do profissional com eles é diferenciada, enquanto a

abordagem clínica preocupa-se em tratar o distúrbio patológicamente e sem a influência do

entorno, a abordagem educacional trabalha este transtorno de aprendizagem de uma forma

holística, ou seja, considera diversos fatores, tanto pessoais quanto contextuais.

O segundo capítulo dedica-se a apresentar os diversos diagnósticos possíveis para a

dislexia, ou seja, não é um transtorno de aprendizagem com um conjunto de características

fechado e, sim, um transtorno com diversas variantes possíveis, tendo incomum a dificuldade na

aquisição da linguagem escrita e leitura. As dislexias podem apresentar origens diferentes,

podendo, ser genética ou hereditária, ou ainda ser consequência de uma lesão cerebral. As

dislexias podem ser de ordem visual, uma dificuldade em visualizar a palavra; ou ser de ordem

semântica, quando a dificuldade reside nos significados. O segundo capítulo apresenta alguns dos

gradientes possíveis da dislexia.

1
Dicionário Aurélio, 1ª edição, 15ª impressão, 1975
2
Consultado no site: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=dislexia
12

Por serem muitos os diagnósticos possíveis para a dislexia, se faz necessária uma equipe

multidisciplinar, tanto para o diagnóstico quanto para tratamento e acompanhamento da criança

com dislexia. A equipe consiste em: Pedagogo, psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo e

neurologista. No último capitulo essa equipe é apresentada seguida de suas funções.

Ainda no último capítulo, a atuação do professor é ressaltada, sendo este profissional um

ator muito importante, pois irá acompanhar a criança disléxica diariamente, por isso, este trabalho

traz estratégias de ensino e avaliação diferenciadas para esta criança. O trabalho do

psicopedagogo será de avaliar esta criança e criar estratégias de atuação que auxiliará o professor,

isso também será mencionado no último capítulo.


13

CAPÍTULO I –A DISLEXIA.

Nesse primeiro capítulo iremos mostrar algumas definições de dislexia, nacionais e

internacionais. Também mostraremos algumas diferenças entre a dificuldade de aprendizagem, o

distúrbio de aprendizagem e a dislexia, e encerraremos o capítulo comentando sobre as diferentes

abordagens sobre a dislexia.

Para dar início a este capítulo é importante ressaltar a diferença entre dificuldade de

aprendizagem e transtorno de aprendizagem, lembrando que a dislexia se enquadra no último

caso.

Dificuldades de aprendizagem são as que aparecem no percurso da vida escolar, podem

ser evolutivas ou transitórias, como também podem ser secundárias a outras patologias, como

deficiência mental ou sensorial, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, etc. Transtornos

de aprendizagem são aqueles previstos e descritos nos manuais de diagnósticos como CID-103 e

o DSM – IV4.

1.1 - Algumas Definições de Dislexia.

Segundo a British Dyslex!a Association. 5 (2008) “Dislexia é uma dificuldade específica

da aprendizagem que afeta principalmente o desenvolvimento da alfabetização e linguagem

relacionada com as competências”. Uma definição que usa critérios excludentes e bastante

simplistas diante de um transtorno tão complexo.

3
Código Internacional de Doenças.

4
O DSM IV (ou DSM-IV), abreviatura de Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - Fourth
Edition (Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais )

5
Segundo o site da British Dyslex!a Association. http://www.bdadyslexia.org.uk/research.html#what acessado em
novembro de 2008
14

Já a Associação Brasileira de Dislexia (2008) tem uma definição mais ampla, observe:

Dislexia
Definida como um distúrbio ou transtorno de aprendizagem na área
da leitura, escrita e soletração, a dislexia é o distúrbio de maior
incidência nas salas de aula. Pesquisas realizadas em vários países
mostram que entre 05% e 17% da população mundial é disléxica. 6

E por fim, a definição da Organização Mundial de Saúde (2008) que consta no CID-10:

F81.0 Transtorno específico de leitura


A característica essencial é um comprometimento específico e
significativo do desenvolvimento das habilidades da leitura, não
atribuível exclusivamente à idade mental, a transtornos de acuidade
visual ou escolarização inadequada. A capacidade de compreensão da
leitura, o reconhecimento das palavras, a leitura oral, e o desempenho
de tarefas que necessitam da leitura podem estar todas
comprometidas. O transtorno específico da leitura se acompanha
frequentemente de dificuldades de soletração, persistindo comumente
na adolescência, mesmo quando a criança haja feito alguns progressos
na leitura. As crianças que apresentam um transtorno específico da
leitura tem frequentemente antecedentes de transtornos da fala ou de
linguagem. O transtorno se acompanha comumente de transtorno
emocional e de transtorno do comportamento durante a escolarização.
Dislexia de desenvolvimento7

Como podemos perceber e já foi mencionado na introdução, dislexia é um transtorno na

aquisição da leitura e da escrita. Segundo Ellis (1995, 37) “transtorno decorrente do fracasso na

habilidade alfabética que acarreta sérias implicações para a escrita e para qualquer tipo de leitura

que requeira decodificação, na análise e síntese de letras e na interrupção da aquisição da

habilidade alfabética, resultando em disfunção básica do sistema fonológico”.

Existem muitas teorias sobre a origem da dislexia, mas não existe um consenso. Acredita-

se que possa ter causa genética e hereditária, sendo mais comum nos meninos. Uma linha teórica

acredita que em torno da 20ª a 23ª semana de gestação, os neurônios migram do núcleo para a

6
Consultado no site oficial da Associação Brasileira de Dislexia. http://www.dislexia.org.br/ acesso em novembro de
2008.
7
Consultado no site do governo. http://www.datasus.gov.br/cid10/v2008/webhelp/cid10.htm acesso em novembro de
2008.
15

periferia do cérebro dos fetos, e que nos disléxicos alguns destes neurônios se “perderiam” no

caminho, comprometendo a área cerebral relativa ao processamento de linguagem.

Os sinais mais comuns na dislexia, segundo MOUSINHO (2007) são:

Indicadores
Possibilidade de atraso de linguagem.
Dificuldade em nomeação.
Dificuldade na aprendizagem de música com rimas.
Palavras pronunciadas incorretamente; persistência de fala infantilizada.
Dificuldade em aprender e se lembrar dos nomes das letras.
Falha em entender que palavras podem ser divididas (sílabas e sons).
Dificuldade de alfabetização.

Dificuldades básicas
Dificuldade de alfabetização.
Leitura sob esforço.
Leitura oral entrecortada, com pouca entonação.
Tropeços na leitura de palavras longas e não familiares.
Adivinhações de palavras.
Necessidade do uso do contexto para entender o que está sendo lido.

Desdobramentos com o avançar da


escolaridade
Leitura lenta, não automatizada.
Dificuldade em ler legendas.
Falta de compreensão do enunciado prejudicando outras disciplinas.
Substituição de palavras no mesmo campo semântico (Ex: mosca/abelha).
Substituição de palavras por aproximação lexical atrapalhando a
interpretação geral
Dificuldade para aprender outros idiomas.

Alterações na escrita
Omissões, trocas, inversões de grafemas – (surdo/sonoro: p/b,t/d, K/g, f/v,
s/z, x/j; em sílabas complexas: paria ao invés de praia, trita ao invés de
trinta)
e outros desvios fonológicos.
Dificuldade na expressão através da escrita.
Dificuldades na concordância (sem que apresente oralmente)
Dificuldade na organização e elaboração de textos escritos.
Dificuldades em escrever palavras irregulares (sem correspondência
direta entre grafema e fonema – “dificuldades
ortográficas”).(MOUSINHO, 2007, p. 32)

Podemos observar que muitos destes sinais também são percebidos em crianças com

dificuldade de aprendizagem, por isso é necessária uma equipe multidisciplinar para dar um

diagnóstico correto, e mesmo com uma equipe com diversos especialistas, não é um diagnóstico

fácil de ser feito. Falaremos um pouco mais sobre a equipe multidisciplinar no terceiro capítulo.
16

1.2- Dificuldade de Aprendizagem X Distúrbio de Aprendizagem X Dislexia.

Dificuldade de Aprendizagem

Na dificuldade de aprendizagem encontram-se estudantes com um déficit específico na

atividade escolar, relacionados a problemas de origem pedagógica.

Segundo Santos & Maturano (1999), são aquelas dificuldades que se apresentam ou são

percebidas quando a criança é inserida no ensino formal, inclui problemas internos do sistema

educacional e também características próprias da criança e das influências ambientais. As

crianças que passam por dificuldades de aprendizagem, vivenciam uma condição de

vulnerabilidade psicossocial e podem desenvolver sentimentos de baixa auto-estima e

inferioridade.

Distúrbio de Aprendizagem

O distúrbio de aprendizagem é caracterizado por uma disfunção neurológica que acarreta

problemas na leitura, na escrita e na matemática. Muitas vezes a criança tem inteligência normal,

mas apresenta distúrbio fonológico, falhas nas habilidades sintáticas, semânticas e pragmáticas da

linguagem oral e escrita. Apresenta problemas na habilidade para contagem e recontagem de

histórias, sequenciamento lógico dos eventos no texto, dificuldade para responder a perguntas

sobre os elementos do texto. Tem dificuldade em organizar, planejar e executar atividades

matemáticas isoladas ou com enunciados, não só na execução como na resolução de problemas.

Existe um comprometimento do processo de desenvolvimento e aprendizagem desde os primeiros

anos de vida.

Dislexia

Na dislexia, temos pessoas com inteligência normal que podem ou não apresentar

distúrbios fonológicos antes da escolarização, mas que possuem falhas nas habilidades sintáticas,
17

semânticas e fonológicas da linguagem escrita. Apresentam habilidade narrativa comprometida

para recontagem de histórias, ou seja, para usar a memória, dificuldade com o conteúdo textual e

com a complexidade da sentença e uso de pronomes referenciais. Dificuldade em realizar

atividades matemáticas que envolvam leitura prévia (enunciados). Apresentam uma defasagem

entre o desempenho esperado nas habilidades de leitura e escrita e o desempenho observado no

processo de aprendizagem iniciado na fase escolar. Não apresentam dificuldades de entendimento

da execução de um cálculo matemático e sim no enunciado pela dificuldade de compreensão do

texto.

1.3- Dislexia: Diferentes Abordagens.

Durante muito tempo (e ainda encontra-se) uma tendência à medicalização dos problemas

de aprendizagem de uma forma geral. Ver-se-á a diferença entre a abordagem clínica e a

abordagem educacional.

A abordagem clínica estabelece uma relação entre a saúde e a educação, centrada na

patologização da aprendizagem. Avalia ações individuais e faz encaminhamentos clínicos,

descaracterizando o contexto educacional. Culpabiliza o aluno pelo fracasso escolar, isentando a

escola e as práticas pedagógicas como co-responsáveis pela situação. Na abordagem clínica são

desconsideradas as singularidades das relações entre o aluno e a linguagem. Não possui

conhecimentos específicos sobre o ensino e aprendizagem e utiliza nomenclatura patológica para

se referir as questões da escolarização.

Na abordagem educacional são consideradas as práticas sociais perpassadas pelas

singularidades e onde não existe a patologização da aprendizagem, sinalizando justamente o


18

contrário. O fracasso escolar é responsabilidade de vários fatores: linguísticos, psicossociais,

cognitivos, acadêmicos e sócio-culturais.

Linguístico: manifestações da linguagem como a fala ininteligível, a produção verbal

alterada e limitada, a sintaxe imatura, etc.

Psicossocial: adaptação social, estrutura emocional, etc.

Cognitivo: atenção, seleção, memória, percepção, etc.

Acadêmico: Aspectos utilizados no aprendizado formal da leitura e da escrita.

Sócio-culturais: condições de aprendizado e letramento anterior ao acesso escolar, falta de

acesso aos recursos culturais, etc.8

8
As informações contidas neste capítulo formam retiradas de uma palestra sobre educação especial ao CAPE –
Centro de Apoio Pedagógico Especializado da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, ministrada por
Cláudia Regina Mosca Giroto.
19

CAPÍTULO II – A DISLEXIA OU AS DISLEXIAS?

Neste segundo capítulo, procura-se mostrar as muitas nuances possíveis das dislexias,

enfatizar sua complexidade e assim demonstrar que por serem muitos os gradientes possíveis, não

é um diagnóstico fácil de ser estabelecido.

Quando nos propomos a estudar a dislexia, nos deparamos com uma mudança na flexão

numérica deste substantivo, deixa de ser “a dislexia” e passamos a estudar “as dislexias”.

Ellis (1992) nos mostra alguns estudos de caso que ilustram as diferentes formas de

dislexias, que são divididas em: Dislexias Adquiridas e Dislexias de desenvolvimento.

2.1 Dislexias Adquiridas.

Segundo Ellis (1995), uma dislexia adquirida seria aquela consequente de danos ao

cérebro. “Os transtornos que afetam a compreensão ou a produção da linguagem falada e que

ocorrem como uma consequência de dano cerebral, são conhecidas como afasias.” (ibid, 1995, p.

46). Um dano cerebral pode afetar certos aspectos da leitura de um paciente e outros aspectos

diferentes e outro paciente.

As dislexias adquiridas subdividem-se entre periféricas e centrais:

As dislexias periféricas são transtornos nos quais o sistema de análise visual está
danificado, resultando em uma faixa de condições, nas quais a percepção de letras nas
palavras está prejudicada. As dislexias centrais são um agrupamento de transtornos nos
quais os processos, além do sistema de análise visual, estão danificados, resultando em
dificuldades que afetam a compreensão e/ou comunicação de palavras escritas. (ibid,
1995, p. 48.)
20

2.1.1- Dislexias Periféricas

Podem ser classificadas como: dislexia por negligência, dislexia de atenção e a leitura

letra-por-letra.

Dislexia por negligência: cometem erros que afetam a primeira ou primeiras letras das

palavras. “O problema surge de um fracasso para atentar para o lado esquerdo das palavras” (ibid,

p. 48)

Dislexia da atenção: segundo a autora, pessoas com este tipo de dislexia, são

razoavelmente boas em leitura de palavras ou letras isoladas, entretanto, o problema surge

quando encontram várias letras em uma cadeia ou diversas palavras na página. Neste grupo o

processo de atenção é deficiente. “(o) processo de atenção é necessário para a manutenção do

foco sobre uma letra ou palavra que está sendo identificada e para garantir que o indivíduo não

seja suplantado por demasiadas informações de outros pontos no mundo visual.” (ibid, 1995, p.

50).

Leitura letra-por-letra: São indivíduos que identificam uma letra de cada vez antes de

dizerem a palavra completa “estão reduzidos a um processo de identificação serial, de uma letra

por vez”.(ibid, 1995, p. 50)

2.1.2 Dislexias Centrais

As dislexias centrais subdividem-se em Leitura não semântica, Dislexia Fonológica e

Dislexia Profunda.

Leitura não semântica: são pessoas que podem ler em voz alta com certa habilidade, mas

não lê através de significados. Existe uma preservação da leitura com a perda da compreensão

das palavras escritas, isto é, há um prejuízo no sistema semântico.


21

Dislexia de superfície: São pessoas que ao lerem as palavras, as decompõem “em letras

componentes e agrupamentos de letras, convertendo cada uma em fonemas e pronunciando a

sequência sonora resultante” (ibid, 1995, p 52).

A autora nos mostra que isso funciona bem com palavras regulares, pois nessas palavras,

existem uma relação direta entre letra-som, mas este tipo de leitura falha com palavras

irregulares, citando ela um caso onde a paciente lê a palavra “broad” como “brôde”. Apesar da

pronuncia incorreta, neste caso o paciente saberá o que significa a palavra ainda que mal

pronunciada, o que não ocorre com a pessoa com a leitura não semântica.

Dislexia Fonológica: “é uma forma leve de dislexia adquirida, que poderia ser facilmente

ignorada” (ibid, p. 52) podem ler bem as palavras reais, mas são incapazes de ler palavras não

familiares ou não-palavras9 inventadas. “muitas das crianças diagnosticadas como tendo dislexia

desenvolvimental apresentam sintomas muito semelhantes àqueles da dislexia fonológica

adquirida, a tal ponto que tornou-se algo comum os psicólogos falarem acerca da ‘dislexia

fonológica desenvolvimental’”. (ibid, 1995, p. 53)

Dislexia Profunda: os disléxicos profundos consideram, segundo Ellis, que palavras com

referência concreta e imaginável como mais fácil de ler do que palavras abstratas. Assim como

no caso anterior, o disléxico profundo não consegue ler palavras não familiares e não-palavras.

“A incapacidade quase completa dos disléxicos profundos para lerem não-palavras em voz alta,

sugere que eles também perderam (...) as conexões entre o sistema de análise visual e o nível do

fonema” (ibid, 1995, p. 55).

9
São palavras inventadas, é apenas juntar letras para formar cadeias que poderiam ser palavras, mas que não são.(...)
Essas palavras inventadas são chamadas(...) de “pseudopalavras” ou “não-palavras”. (ELLIS,1995 p.20)
22

2.2- Dislexias do Desenvolvimento.

São as dislexias oriundas de forma hereditária conforme consta na introdução deste

presente trabalho.

Ellis (1992) faz um amplo estudo sobre a dislexia fonológica do desenvolvimento e sobre

a dislexia de superfície do desenvolvimento. Entretanto, existem outros estudos que citam mais

alguns tipos de dislexia de desenvolvimento. São elas: dislexia disfonética, dislexia diseidética,

dislexia visual e dislexia auditiva.

Dislexia Fonológica do Desenvolvimento: são leitores que não se saem “melhor na leitura

de palavras regulares do que de palavras irregulares e cometia erros visuais em ambas” (ibid, p.

110). Costumam associar a aparência da palavra com seu significado e pronúncia.

Dislexia de superfície do desenvolvimento: baseiam-se basicamente na conversão de

letras em sons, ou seja, são capazes de ler razoavelmente bem palavras regulares, mas como no

caso da dislexia de superfície encontram dificuldades para ler palavras irregulares, tendendo a

regularizá-las (como no exemplo de “broad” lido como “brôde”) e tendo grande dificuldade

com não-palavras.

Outras dislexias de desenvolvimento10:

Dislexia Disfonética: Dificuldades de percepção auditiva de fonemas, troca de grafemas e

fonemas semelhantes, fazem alterações na ordem silábica.

Dislexia Diseidética: Dificuldade na percepção visual relacionada à coordenação visual

dos fonemas; faz leitura silábica, aglutinação e fragmentação de palavras e trocas por

equivalentes fonéticos.

10
Informações apresentadas na palestra de Claudia Regina Mosca Giroto.
23

Dislexia Visual: Dificuldade na percepção relacionada à coordenação viso-motora;

dificuldade para visualizar cognitivamente o fonema.

Dislexia Auditiva: Dificuldade de audibilizar cognitivamente o fonema em função de uma

deficiência de percepção auditiva.

Através desta leitura podemos perceber que existem muitas formas de dislexia, que são ao

mesmo tempo distintas e semelhantes, se misturam e se separam em diversos matizes,

características e sintomas.

A dislexia não é uma doença como sarampo, que possa ser claramente diagnosticada ou
não. Existe um gradiente, indo desde boa te má leitura, e o ponto onde podemos traçar
uma linha e dizer que as crianças abaixo desta são candidatas ao rótulo de “disléxicas”
(...) é demasiadamente arbitrário. (ELLIS, 1995, p 107).

Através deste estudo percebemos a multiplicidade e complexidade que envolve o

diagnóstico da dislexia. Ainda existem muitos estudos acerca desse transtorno, o que significa

que ainda podemos ainda mais subdivisões de categorias sobre a dislexia. No próximo capítulo

estudaremos a equipe multidisciplinar.


24

CAPÍTULO III – NA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR: O

PAPEL DO PROFESSOR E DO PSICOPEDAGOGO.

Neste último capítulo, falaremos um pouco sobre as especialidades dos atores que

participam da equipe multidisciplinar que deve atuar com a pessoa com dislexia. Dando uma

maior ênfase ao professor, que irá interagir diretamente e diariamente com o aluno com dislexia,

é aberto um pouco o estudo sobre o papel do psicopedagogo que irá também atuar com esta

criança.

Como vimos anteriormente, a dislexia é um transtorno de aprendizagem complexo, que

exige uma equipe multidisciplinar para que seja feito um diagnóstico, intervenção e o

acompanhamento do disléxico.

Desta equipe participam: psicopedagogo, professor ou pedagogo, psicólogo,

fonoaudiólogo e neurologista. De forma resumida os papéis desempenhados são:

Psicopedagogo: articula, apoiado na psicologia da educação e ensino escolar,

conhecimentos das práticas educativas escolares.

Professor / Pedagogo: favorece o acesso ao currículo, propondo adequações afim de que

se faça um ajuste pedagógico às necessidades do aluno.

Psicólogo: Interfere nos processos de mudanças comportamentais em situações

educativas.

Fonoaudiólogo: Favorece situações de estimulação das habilidades de aprendizagem que

influenciem nas atividades escolares e exigem leitura e escrita.


25

Neurologista: Identifica fatores neurológicos que possam estar envolvidos por meios de

exames capazes de medir a atividade metabólica envolvida na atividade cerebral.

3.1 O Papel do Professor

As crianças com dislexia precisam de uma atenção diferenciada dos professores. “O

professor tem um papel importante e essencial neste momento, pois cabe a ele, percebendo as

dificuldades desta criança, ajudar e incentivar este aluno” (Ibid, p. 63). Mas estará o professor

apto a tais atribuições? Estará ele capacitado para lidar com uma dificuldade tão complexa?

O professor, que é quem passa a maior parte do tempo com as crianças,


consciente destes novos aportes trazidos pela neurociência, terá sua função
educacional ampliada ao incluir no espaço pedagógico os aspectos
neuropsicológicos associados às suas práticas de ensino. (ibid, p.. 65)

Segundo Estill (2003) o papel do professor é acreditar e investir na sua capacidade de

auxiliar e na capacidade de seu aluno com dislexia de ser auxiliado. Muitas vezes o professor se

sente inseguro e ansioso por não conseguir orientar o aluno e a família adequadamente por

desconhecer a dislexia.

Muitos pais e professores podem pensar que diagnosticar um aluno como disléxico irá

rotulá-lo ou segregá-lo, o que é um equivoco, pois com um diagnóstico correto é possível

oferecer um tratamento adequado àquele transtorno de aprendizado específico. Transtorno este

que pode ser confundido com outras dificuldades de aprendizagem.

O professor que tiver um aluno com dislexia, deve utilizar recursos multissensoriais, pois

as crianças com dislexias apresentam dificuldades de memória auditiva e visual, consciência

fonológica e apropriação do sistema alfabético, como já vimos nos capítulos anteriores. Ele

deverá estar atento a uma série de sinais que ajudam a identificar a criança com dislexia, e como
26

ele tem um maior tempo com a criança, assim como seus familiares, é normal que sejam eles os

primeiros a notar qualquer sintoma ou sinal de dislexia e, assim, encaminhá-la para fazer um

diagnóstico correto.

Quanto antes for diagnosticado o transtorno, maiores serão as chances de sucesso na

prevenção e intervenção da equipe multidisciplinar para minimizar os problemas na aquisição da

leitura e da escrita.

É fundamental que todos os professores, tenham ele ou não alunos com dislexia, busquem

sempre formas para melhor auxiliar o aluno a compreender um texto, pois o importante é adequar

o texto ao leitor e não o leitor ao texto. “Sempre que sabemos ‘o que e por que’ trabalhar, o

‘como’ trabalhar fica mais fácil para criar.” (ESTILL, 2003 p. 71)

O professor também deverá estar atento às principais dificuldades de seus alunos e assim

ensinar estratégias que o auxiliem no processo de estudo e compreensão do texto, como por

exemplo, ensinar o aluno a fazer um auto-regulação (fixando metas, supervisionando-se,

avaliando-se). “Para um leitor fluente, o sistema de auto-regulação acontece naturalmente, mas

para o leitor disléxico devemos pensar num sistema inicial de co-regulação entre professor e

aluno, para que ele aprenda os passos da auto-regulação.” (ibid, p. 74)

Além disso, é necessário que o professor seja sensível às limitações e dificuldades dos

seus alunos, evitando assim situações constrangedoras (como fazê-los ler em voz alta). É

fundamental fazer um reforço positivo de seus acertos e trabalhar a auto-estima de seus alunos,

que geralmente é bem baixa. Uma boa estratégia é esquematizar o conteúdo utilizando palavras

chaves.

O sistema de avaliação para o disléxico também deve ser diferenciado, pois em geral eles

não gostam de fazer provas, pois têm dificuldades em ler as perguntas e enunciados, como
27

também em escrever as respostas. Como têm a escrita lenta, não conseguem terminar a prova

dentro do tempo estipulado.

O ideal é que ao elaborar, aplicar e corrigir estas avaliações, sejam tomados alguns

cuidados:

- Ler a questão junto com o aluno, de forma que ele entenda o que está sendo perguntado;

- Mostrar-se solícito para caso seja necessário esclarecer alguma dúvida sobre o que está

sendo perguntado;

- Dar-lhe tempo necessário para que ele possa fazer a prova com calma;

- Ao recolher a prova, verificar as respostas, e caso haja dúvida, perguntar ao aluno o que

ele quis dizer com o que escreveu, e escrever próximo a resposta dele.

- Ao corrigi-la valorize ao máximo a produção do aluno;

- Promover avaliações orais.

Sobre o papel do professor, cabe ser um agente de transformação, para que ele possa

alcançar todos os seus alunos, inclusive os disléxicos. “Se o disléxico não pode aprender do jeito

que ensinamos, temos que ensinar do jeito que ele aprende.” (ibid, p. 77)

3.2- O Papel do Psicopedagogo Institucional

O psicopedagogo é um profissional que apareceu recentemente no contexto educacional

se comparado aos demais especialistas da equipe multidisciplinar, e por isso ainda vem

batalhando pelo seu campo de atuação, que muitas vezes é desconhecido e não reconhecido pela

própria escola. Para isso cabe ressaltar que “a Psicopedagogia trabalha e estuda o processo de

aprendizagem e suas dificuldades, contribuindo na recuperação das habilidades cognitivas,


28

emocionais, sociais, visando o sucesso nos diversos contextos em que atua.” (LOPES &

OLIVEIRA, 2007, p 1). Segundo Freitas (apud LOPES & OLIVEIRA, 2008, p. 1) a intervenção

do psicopedagogo é reintegrar o disléxico ao seu mundo como alguém responsável e competente.

O psicopedagogo deverá estar sempre buscando conhecimento para melhor capacitá-lo a

compreender a dislexia e assim elaborar estratégias para trabalhar de forma significativa com o

disléxico, o que compreende um trabalho de estímulos e desenvolvimento através de métodos

multissensoriais, que trabalhem a linguagem oral, estruturação do pensamento, leitura e

compreensão do texto, incorporando o processo de aprendizagem. É importante ressaltar, que

para cada diagnóstico de dislexia é necessário um trabalho diferenciado, específico e individual,

ou seja, não existe uma “fórmula mágica”.

A responsabilidade e seriedade do trabalho psicopedagógico com clientes disléxicos,


faz com que muitos alunos propensos ao fracasso escolar sejam resgatados, através de
um plano de trabalho individualizado e comprometido com o sucesso em todos os
âmbitos: escolar, emocional e social. (ibid, 2008, p. 6 )

Moojen (2003, p.3) nos traz três objetivos a serem alcançados ao se trabalhar com uma

pessoa disléxica, são eles:

1º) levar o disléxico a reencontrar-se consigo mesmo. Através de mudanças no sistema


motivacional, favorecer um controle emocional durante a leitura e auxiliar para que
tenha uma boa imagem de si mesmo e consiga conviver com as dificuldades.
2º) possibilitar ao disléxico o reencontro com a leitura. Partindo de textos curtos,
interessantes e lidos de forma conjunta, possibilitar que a leitura desperte, no disléxico,
sentimentos positivos.
3º ) criar redes com a escola e a família (ibid, 2003, p. 3)

Os professores necessitam de ajuda para trabalhar com disléxicos, empregando diferentes

estratégias, orientação mais concreta com propostas e atividades aplicáveis. E aí reside o desafio

do psicopedagogo institucional.
29

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Longo é o caminho para quem pretende se enveredar pelos campos da dislexia, uma vez

que é muito amplo e complexo. Como as dislexias possuem muitas variantes, existem muitas

pesquisas em andamento para melhor compreendê-las e assim melhor auxiliarmos as pessoas

com esse transtorno de aprendizagem.

As principais características da criança com dislexia são: a dificuldade de alfabetização;

leitura sob esforço, entrecortada e com pouca entonação; falta de compreensão dos significados

dos textos, alterações na escrita como omissões, trocas e inversões de grafemas; e outros desvios

fonológicos.

Constatou-se que a incidência deste transtorno de aprendizagem, segundo a Associação

Brasileira de Dislexia (2008) é de 05% à 17% de pessoas no mundo. Uma pesquisa realizada

entre janeiro e junho de 2008 informa que a relação de diagnósticos comprovados de dislexia é

maior em homem, aproximadamente de 2 a 3 homens para cada mulher. Não existem dados ou

pesquisas consistentes que indiquem a incidência da dislexia no Brasil, mas costuma-se supor um

número de 15 milhões de pessoas com dislexias no país.

Este estudo demonstrou os diferentes conceitos de dislexia no Brasil e no mundo, sendo a

mais abrangente encontrada no CID-10, onde encontramos que este é um transtorno específico da

leitura, não atribuível à idade mental, a transtorno de acuidade visual ou escolarização

inadequada.

É importante ter atenção ao empregar os termos dificuldade de aprendizagem, distúrbio de

aprendizagem e dislexia, são termos que se misturam muito no contexto escolar, gerando

confusão para pais e professores, dificuldades de aprendizagens são aquelas com origens
30

exclusivamente pedagógicas; distúrbio de aprendizagem é quando uma disfunção neurológica

acarreta em problemas na leitura, escrita e na matemática, por exemplos, crianças com doenças

mentais, TDA-H 11 e outros; dislexias são comprometimentos exclusivos na linguagem, sem

prejuízo à matemática ou raciocínio lógico.

Existem duas formas de se acompanhar a criança com dislexia: a abordagem clínica e a

abordagem educacional. Na abordagem clínica existe uma relação entre a saúde e a educação,

centrada na patologização da aprendizagem. Na abordagem educacional, são consideradas as

práticas sociais, não existe a patologização da aprendizagem o fracasso é considerado

responsabilidade de vários fatores, inclusive da prática escolar inadequada.

As dislexias podem ter duas origens. As dislexias podem ter origem genética e hereditária,

são as dislexias do desenvolvimento; ou ter origem em uma lesão cerebral ou afasia cerebral, que

ocorre após o nascimento, são as dislexias adquiridas.

As dislexias adquiridas são subdivididas em periféricas e centrais, sendo que na primeira

ocorre um déficit no sistema visual e na segunda na análise semântica ainda que acompanhe

comprometimento visual, dentre periféricas e centrais ainda há outras subdivisões. As dislexias

do desenvolvimento subdividem-se em dislexia fonológica do desenvolvimento, leitores com

melhor leitura nas palavras regulares e dificuldades com palavras irregulares; dislexia de

superfície do desenvolvimento, são leitores que convertem letras em sons, o que funciona com

palavras regulares, mas não com as irregulares.

São muitos os diagnósticos possíveis, por isso é necessário uma equipe multidisciplinar

para diagnóstico, intervenção e acompanhamento da criança com dislexia. São eles:

Psicopedagogo, pedagogo, psicólogo, fonoaudiólogo e neurologista. Cada uma atuando em sua

área, contribui para melhor atender à criança com dislexia.

11
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
31

O professor tem papel muito importante na vida e desenvolvimento educacional saudável

da criança com dislexia, pois ele passa a maior parte do tempo com a criança e deve dar a ela

atenção diferenciada. O professor deve se sentir capaz de auxiliar e ser acreditar que seu aluno é

capaz de ser auxiliado.

O professor pode se sentir inseguro e ansioso diante de um aluno com dislexia, e isso

ocorre por desconhecer as características do transtorno, desconhecer como proceder com ele e

orientar a família igualmente ansiosa. O ideal é que esse professor seja assessorado por alguém

mais preparado para lidar com esse tipo de transtorno, como o psicopedagogo.

O professor deve estar atento às primeiras características de dislexia, como dificuldades

de: memória auditiva; visual; consciência fonológica e apropriação do sistema alfabético. Este

aluno deve ser encaminhado para uma avaliação adequada afim de que se faça um diagnóstico

apropriado. Quanto antes for feito o diagnóstico correto melhor para que se oferecer um

tratamento adequado a criança e minimizar os problemas na aquisição da leitura e da escrita.

Não existe um método eficaz e sim estratégias que devem ser utilizadas. Emprega-se

usado com sucesso os recursos multissensoriais, trabalhando ao mesmo tempo os sentidos visual,

auditivo e tátil.

O professor deve evitar qualquer situação que gere constrangimento ao aluno (como ler

em voz alta para turma), esquematizar o conteúdo em palavras chaves, fazer reforço positivo dos

acertos e trabalhar a auto-estima de seus alunos. Quando fizer avaliações, deve minimizar a

importância dos erros, pois estes alunos em geral têm baixa auto-estima e tais correções tem

efeitos negativos sobre a criança, piorando assim sua auto-imagem. Por outro lado, elogios

sinceros e valorização dos progressos aumentam a auto-estima e o motiva a conquistar novos

progressos. Ao avaliar este aluno, o professor deve ter postura diferenciada; deve ler as questões
32

junto com o aluno, de forma que ele entenda o que está sendo perguntado, dar-lhe tempo

necessário para que faça a prova com calma, promover avaliações orais etc.

O psicopedagogo é o profissional que apareceu mais recentemente no contexto

educacional e seu objetivo final é reintegrar o disléxico ao seu mundo como alguém responsável

e competente. Para isso deve estar atento e sempre se atualizando sobre os métodos e estratégias

mais adequadas para aquele aluno. Como cada tipo dislexia de tem suas características e não

existindo uma fórmula mágica, cada criança deve ser trabalhada com estratégias próprias, únicas

e diferenciadas.

Cabe ao psicopedadogo desenvolver estratégias e atividades práticas e aplicáveis que irá

apoiar e assessorar o professor em sala de aula. Ele deve procurar estimular a linguagem oral, a

estruturação do pensamento, leitura e compreensão do texto. Deve haver cooperação do

psicopedagogo para com o professor. O professor normalmente tem 30 ou mais alunos em salas

de aula, muitas vezes trabalha em mais de um turno, e sendo um ser humano com necessidades

particulares, fica difícil para ele ter um olhar individualizado para a criança com dislexia. O

psicopedagogo é o profissional que deverá auxiliar o professor de perto, criando as estratégias e

atividades praticáveis em sala de aula, além de instruí-lo sobre sua postura diante deste novo

desafio. O bom profissional não irá apenas instruí-lo e deixá-lo a fazer como bem entender, pois

o professor já está bastante atarefado com a demanda de seu ofício, cabendo ao psicopedagogo

que, está de fora, auxiliar o trabalho desse professor, mantendo a parceria entre escola, criança,

família e professor.

Muitas são as definições encontradas, o que significa que existem muitas dislexias

possíveis e muitos teóricos pesquisando-as. Fechar uma definição é engessar dentro de um padrão

de comportamento o conceito de um transtorno que tem muitas e variadas manifestações.


33

A educação é assim: não é uma ciência exata, mas apresenta teóricos que com suas

pesquisas tem cada vez mais contribuído para elucidar este transtorno que é a dislexia e assim

desenvolver técnicas de tratamento mais eficientes.

A dislexia era até bem pouco tempo totalmente desconhecida da grande maioria da

população, e como tudo que é desconhecido também é temido, crianças com dislexias eram

consideradas problemas. Um tabu na escola e em casa, quando não tachadas de incapazes e

outros nomes menos merecedores de nossa atenção.

O diagnóstico deste transtorno é difícil, pois envolve muitas características distintas e uma

grande equipe de profissionais, o que torna o processo ainda mais lento e oneroso para a família

que muitas vezes não possue recursos para financiar o tratamento ou a quem recorrer para que a

ajude, o que acaba condenando a criança ao fracasso escolar e até uma possível evasão.

Quanto mais se estudar e promover um debate social sobre o tema, melhor será o

esclarecimento de familiares e professores, que muitas vezes percebem que o aluno é inteligente,

mas que tem um problema com a linguagem, mas não sabem ao certo o que é, e nem a quem

recorrer.

Acredito que o psicopedagogo é o profissional que tem uma grande possibilidade de fazer

a diferença na vida destas crianças, por sua grande abrangência, na área da psicologia da

educação, poderá adequar o que ele deve aprender ao como fazê-lo.

Para que se consiga resolver as dificuldades escolares referentes as dislexia, antes de mais

nada é preciso conhecê-las, quanto melhor nos informarmos, melhores serão os esforços para

auxiliar a criança com dislexia a minimizar seus problemas com a linguagem. Como coloca

Lerner (2001, pg.24), “Analisar e enfrentar o real é muito duro, mas é imprescindível quando se

assumiu a decisão de fazer tudo o que é possível para alcançar o necessário: formar todos os

alunos como praticantes da cultura escrita.”.


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