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Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes),


o mártir da Independência.

História Integrada
Módulos
9 – Pombal e o Renascimento Agrícola
1 – Período Pré-Colonial 10 – Independência das Treze Colônias
2 – Administração Colonial 11 – Movimentos Emancipacionistas
3 – Economia Colonial – Características 12 – Independência do Haiti
Gerais e Açúcar 13 – Crise do Império Colonial Espanhol
4 – União Ibérica e Invasões Francesa, 14 – Independência dos Vice-Reinos e
Inglesa e Holandesa das Capitanias-Gerais
5 – Domínio Holandês e Restauração 15 – Independência do Vice-Reino de
6 – Bandeirismo e Interiorização Nova Espanha
7 – Mineração 16 – Formação dos Estados Nacionais
8 – Movimentos Nativistas Latino-Americanos

Palavras-chave:

1 Período Pré-Colonial • Expedições • Escambo


• Assistemático • Pau-brasil

1. As primeiras visitas portuguesas ao Brasil

Oscar Pereira da Silva (1867-1939). Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro.

HISTÓRIA 1
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A primeira fase da História brasileira foi assinalada Em 1530, o rei D. João III organizou a expedição de
pelo grande desinteresse oficial pela terra (salvo o mono- Martim Afonso, que aqui chegou em janeiro de 1531,
pólio régio do pau-brasil), na medida em que as atenções tendo três finalidades: dar início à colonização (povoar);
do Estado lusitano estavam voltadas para a formação do fazer reconhecimento (exploração); e proteger as costas
Império Colonial Português nas Índias Orientais. Nessa contra a presença francesa (defesa). Os resultados mais
fase, em termos econômicos, encontramos a exploração concretos e positivos da atuação de Martim Afonso
do pau-brasil, desenvolvida basicamente por compa- foram a introdução da cana-de-açúcar na região do litoral
nhias particulares, que estabeleciam apenas feitorias paulista e a consequente criação do primeiro engenho do
nômades ao longo do nosso litoral. Associada a essa Brasil, Engenho do Governador (São Jorge dos
prática extrativista, houve a participação dos contraban- Erasmos), fatos que deram condições para a fundação,
distas franceses que tentavam se estabelecer na região em 1532, de São Vicente, a primeira vila e núcleo popu-
costeira Brasil. lacional do Brasil. Ocorreu, ainda, o contato com João
O abandono relativamente generalizado era apenas Ramalho, náufrago que vivia entre os indígenas do
entrecortado pela chegada de expedições exploradoras Planalto, onde foi instalada outra vila.
(ou de reconhecimento) e guarda-costas (policiadoras). O período colonial brasileiro, do ponto de vista admi-
Dentre as expedições exploradoras, destaca-se a de nistrativo, é dividido em dois subperíodos: o pré-colo-
1501 (oficial), comandada por Gaspar de Lemos e con- nial (de 1500 a aproximadamente 1530); e o colonial
tando com a participação do piloto italiano Américo (por volta de 1530 a 1815).
Vespúcio. Tal expedição fez o reconhecimento do litoral, O primeiro subperíodo foi marcado por uma explora-
dando denominações aos acidentes geográficos e ção assistemática.
elaborando um mapa da região. Outra expedição foi a de
Gonçalo Coelho (particular), que aqui esteve em 1503,
havendo dúvidas quanto a uma vinda de Américo
Vespúcio. Essa incursão está diretamente relacionada à ! O Destaque
exploração do pau-brasil. Américo Vespúcio: nascido em Flo-
Dentre as expedições guarda-costas, destacaram-se rença, Itália, em 1451, trabalhou para
a de 1516, que aqui permaneceu até 1519, e a de 1526, a Espanha e em 1500 foi contratado
que se prolongou até 1528, ambas comandadas pelo pelo rei português D. Manuel. Esteve
almirante Cristóvão Jacques, que fez tentativas de
no Brasil entre 1501-1502 e depois
afastar a presença francesa. Em face do relativo fracasso
entre 1503-1504. Foi o defensor da
de tal intenção e diante da ameaça de Portugal vir a
perder a terra, o rei D. João III, o Colonizador, na década tese segundo a qual Colombo teria
de 1530, inicia o período colonial propriamente dito, descoberto um novo continente em vez de ter chega-
organizando expedições com o propósito de assegurar do às Índias. O seu nome deu origem ao da América.
as posses de Portugal.

Benedito Calixto (1853-1927). Fundação de São Vicente.

2 HISTÓRIA
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2. Pau-brasil
A fase mais intensa de exploração do pau-brasil foi
do período pré-colonial até meados do século XVI.
Sua extração, entretanto, poderá ser encontrada até no
século XIX.
O extrativismo dessa madeira tintorial, muito utilizada
na Europa, era praticado ao longo do litoral brasileiro,
desde o Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro, por
intermédio da criação de feitorias nômades.
O pau-brasil era considerado um monopólio da Coroa
(estanco), e sua exploração foi basicamente realizada
pelo sistema de arrendamento do trato, por meio de
contratos nos quais ficava estipulada que companhia
particulares teriam o direito de extração e comercializa-
ção da madeira; em troca, pagariam ao Estado um per-
centual do lucro obtido . Posteriormente, a exploração
passou a ser feita mediante a prévia autorização for-
necida pelo governador-geral. Nessa atividade, extrema-
mente predatória e itinerante, a mão de obra utilizada
era livre e se limitava aos elementos indígenas, com os
quais as companhias faziam o escambo, recebendo
deles diversos produtos em troca de bugigangas. Os
portugueses que participavam do comércio do pau-brasil Área de exploração de pau-brasil
passaram a ser conhecidos pelo nome de “brasileiros”.
Somente em 1605 surgiu o Regimento do pau-brasil, lei
que tentou regulamentar a exploração, evitando o A exploração econômica do pau-brasil não chegou
esgotamento da espécie. a provocar o povoamento da terra, pois este somente
Houve o problema da participação e do contrabando surgiu em função de uma atividade agrícola vinculada à
da madeira, principalmente relacionado à ação de contra- cana-de-açúcar.
bandistas franceses que chegaram a instalar diversas fei-
torias, notadamente no litoral do Nordeste e Rio de
Janeiro.

3. Cronologia

1500 – Descobrimento do Brasil por Cabral.


1501 – Primeira expedição exploradora.
1502 – Contrato entre a Coroa portuguesa e Fernando de Noronha para a exploração comercial de pau-brasil e escravos.
1503 – Segunda expedição exploradora.
1516 – Primeira expedição guarda-costas.
1526 – Segunda expedição guarda-costas.
1530 – Expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa.
1532 – Fundação da vila de SãoVicente.

Estanco: monopólio comercial imposto pelo Estado sobre determinados produtos, sendo que, algumas vezes, tal monopólio era concedido a
terceiros.
Escambo: troca realizada entre brancos e índios, durante o período de colônia, em que os brancos trocavam bugigangas por produtos de valor.
Bugigangas: objetos de pouco ou nenhum valor.

No Portal Objetivo
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST2M101

HISTÓRIA 3
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Exercícios Resolvidos

 (PUC-CAMP – MODELO ENEM)


Sobre o contexto histórico em que se insere o d) no chamado período pré-colonial, o plantio
fenômeno que os versos identificam, é correto e a exploração do pau-brasil incentivaram o
afirmar que: tráfico africano.
“Erro de português
a) a descoberta de metais preciosos favore- e) apesar de ter tomado posse da terra em no-
Quando o português chegou
ceu o estabelecimento das primeiras me do rei de Portugal, o interesse da mo-
Debaixo duma bruta chuva
relações econômicas entre portugueses e narquia estava voltado para o Oriente.
Vestiu o índio
indígenas.
Que pena! Resolução
b) a agressividade demonstrada pelos nativos
Fosse uma manhã de sol O texto fala sobre a chegada dos portugueses
despertou o interesse metropolitano pela
O índio tinha despido ao Brasil, quando estes buscavam primordial-
ocupação efetiva das novas terras.
O português” mente assegurar-se do caminho para as Índias,
c) a conquista da América pelos portugueses
(Oswald de Andrade. Poesias reunidas. contribuiu para o crescimento demográfico conquistado por Vasco da Gama em 1498.
2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.) da população indígena no Brasil. Resposta: E

 (MODELO ENEM) – Com base na representação cartográfica do


Brasil e em outros conhecimentos sobre o assunto, pode-se conside-
rar que
a) o Brasil era visto como uma terra cuja economia se apoiava na agri-
cultura.
b) os europeus realizavam o escambo do pau-brasil, utilizando para
tanto a mão de obra indígena.
c) indígenas e africanos, na época em que o mapa foi confeccionado,
eram utilizados pelos europeus como trabalhadores escravos.
d) a representação de navios europeus e de animais nativos sugere o
contrabando de espécimes da fauna silvestre brasileira.
e) os indígenas brasileiros costumavam escravizar membros de tribos
inimigas.

Resolução
Tendo sido confeccionado em 1519, o mapa reproduzido refere-se ao
Brasil Pré-Colonial, no qual a única atividade econômica praticada
pelos europeus era a extração de pau-brasil, retirado com a utilização
de mão de obra indígena livre. Esta era recompensada com produtos
de baixo valor monetário, configurando a prática do escambo.
Resposta: B

Mapa de Lopo Homem, 1519.

Exercícios Propostos

 Por que podemos afirmar que, nos primeiros trinta anos


após a descoberta, Portugal adotou uma postura de relativo
descaso com a colonização do Brasil?

RESOLUÇÃO:
Porque naquela época o Oriente oferecia maiores possibilidades de
lucro e Portugal procurava assegurar o caminho para as Índias, já que
no primeiro contato não encontraram metais preciosos no Brasil.

4 HISTÓRIA
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 As feitorias portuguesas no Novo Mundo foram formas de III. Na exploração econômica do pau-brasil, o escambo repre-
assegurar, aos conquistadores, as terras descobertas. Sobre sentou a principal forma de relações comerciais entre euro-
essas feitorias, é correto afirmar que: peus e indígenas da América Portuguesa.
a) a feitoria foi uma forma de colonização, empregada por por- IV. A exploração do pau-brasil só se tornou economicamente
tugueses na África, na Ásia e no Brasil, com pleno êxito para rentável para os portugueses com a introdução da mão de
a atividade agrícola. obra escrava africana.
b) as feitorias substituíram as capitanias hereditárias durante o V. Tanto franceses como portugueses aproveitavam-se das
Governo-Geral de Mem de Sá, como proposta mais mo- desavenças entre grupos tribais para a obtenção de homens
derna de administração colonial. para o trabalho e para a guerra.
c) as feitorias foram estabelecimentos fundados por portugue- VI. A presença de Jean de Léry em solo brasileiro está associa-
ses no litoral das terras conquistadas e serviam para da ao episódio da criação da França Austral, momento em
armazenamento de produtos da terra, que deveriam seguir que aquela potência expandiu os seus domínios até o ex-
para o mercado europeu. tremo sul do continente americano.
d) tanto as feitorias portuguesas fundadas ao longo do litoral RESOLUÇÃO:
brasileiro quanto as fundadas nas Índias tinham idêntico Verdadeiras: 01, 02, 04, 32
caráter: a presença do Estado português e a ausência de Falsas: 08, 16
A afirmativa 08 está incorreta porque a mão de obra utilizada na
interesses de particulares.
extração do pau-brasil era indígena e livre.
e) o êxito das feitorias afastou a presença de corsários france- A assertiva 16 está errada porque as relações iniciais entre indíge-
ses e estimulou a criação das capitanias hereditárias. nas e europeus eram amistosas.

RESOLUÇÃO:
Segundo o dicionário Houaiss, feitoria é a “agência de companhia
comercial nos portos das colônias, onde se armazenavam e se
negociavam mercadorias, servindo também como fortificação
primitiva, provida de uns tantos soldados e armamentos, para a
defesa da colônia contra a intromissão de aventureiros”.
Resposta: C

 Jean de Léry, em seu livro Viagem à terra do Brasil, fala do  “...Da primeira vez que viestes aqui, vós o fizestes somen-
estranhamento que os tupinambás tinham com relação ao inte- te para traficar. (...) Não recusáveis tomar nossas filhas e nós
resse dos europeus pelo pau-brasil: "Uma vez um velho pergun- nos julgávamos felizes quando elas tinham filhos. Nessa épo-
tou-me: Por que vindes vós outros, mairs e perôs (franceses e ca, não faláveis em aqui vos fixar. Apenas vos contentáveis
portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não com visitar-nos uma vez por ano, permanecendo, entre nós,
tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos muita, somente durante quatro ou cinco luas [meses]. Regressáveis
mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como então ao vosso país, levando os nossos gêneros para trocá-los
ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir (...). Retru- com aquilo que carecíamos.”
cou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito?
(Mário Maestri. Terra do Brasil: a conquista lusitana e o genocídio
– Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes
tupinambá. São Paulo: Moderna, 1993, p. 86.)
que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras
mercadorias do que podeis imaginar, e um só deles compra
O texto faz alusão ao comércio que marcou o período
todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados.”
pré-colonial brasileiro conhecido por
(J. de Léry. Viagem à terra do Brasil. Belo Horizonte: ltatiaia; a) mita. b) escambo. c) encomienda.
São Paulo: Ed. USP, 1980. p.168-9.) d) mercantilismo. e) corveia.

RESOLUÇÃO:
Com base no seu conhecimento da história das primeiras
Trocava-se pau-brasil extraído pelos índios por produtos e
décadas da colonização do Brasil, assinale verdadeiro ou falso: bugigangas trazidas pelos portugueses.
I. Alguns Estados europeus não reconheciam o direito de Por- Resposta: B
tugal sobre a "nova terra" e, dessa forma, empreendiam incur-
sões a fim de disputar a posse das riquezas naturais nela
existentes.
II. O pau-brasil, árvore então encontrada em abundância na
Floresta Atlântica, era o principal produto brasileiro comer-
cializado na Europa, onde o utilizavam como matéria-prima
nas manufaturas têxteis.

HISTÓRIA 5
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 (UFU – MODELO ENEM) – O mapa a seguir apresenta  ”De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã
uma série de imagens representativas de uma prática que os e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista
europeus associavam aos povos indígenas do Brasil nos sécu- do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos
los XVI e XVII. ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa.
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata,
nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a
terra em si é de muito bons ares [...]. Porém o melhor fruto que
dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente.”
(Carta de Pero Vaz de Caminha. In A. Marques, F. Berutti e R. Faria.
História moderna através de textos. São Paulo: Contexto, 2001.)

A carta de Pero Vaz de Caminha permite entender o projeto


colonizador para a nova terra. Nesse trecho, o relato enfatiza o
seguinte objetivo:
a) Valorizar a catequese a ser realizada sobre os povos nativos.
b) Descrever a cultura local para enaltecer a prosperidade
portuguesa.
c) Transmitir o conhecimento dos indígenas sobre o potencial
econômico existente.
d) Realçar a pobreza dos habitantes nativos para demarcar a
superioridade europeia.
e) Criticar o modo de vida dos povos autóctones para
evidenciar a ausência de trabalho.
RESOLUÇÃO:
Embora Caminha, em sua carta a D. Manuel, tenha apontado outros
benefícios que o Brasil poderia proporcionar a Portugal (fertilidade
do solo e probabilidade de encontrar metais preciosos), foi a pos-
sibilidade de conversão dos nativos, dentro do espírito cruzadista
(ou “impulso salvífico”, segundo o historiador Fernando Novais)
que influenciou, ao menos parcialmente, a expansão marítima e o
Detalhe do mapa: America sive quartae orbis partis nova processo colonizador empreendidos pelos lusitanos.
et exactissima descriptio, de Diego Gutiérrez, 1562. Resposta: A

Sobre esta prática, é correto afirmar que ela está relacionada: ”Em geral, os nossos tupinambás ficam bem
I. aos sacrifícios humanos, pois, segundo os portugueses e os admirados ao ver os franceses e os outros dos
espanhóis, os índios do Brasil eram idólatras e ofereciam países longínquos terem tanto trabalho para buscar o seu
esse tipo de sacrifício aos seus deuses (vistos, pelos arabotã, isto é, pau-brasil. Houve uma vez um ancião da tribo
cristãos, como demônios); que me fez esta pergunta: ‘Por que vindes vós outros, mairs e
II. ao canibalismo, introduzido no Brasil após a cristianização perós (franceses e portugueses), buscar lenha de tão longe
dos índios, como resultado da incompreensão indígena a para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?’”
respeito dos sentidos corretos da eucaristia;
(J. Léry. Viagem à Terra do Brasil. In F. Fernandes.
III. à ingestão de carne humana, que, segundo alguns autores, Mudanças sociais no Brasil. São Paulo: Difel, 1974.)
pode ser explicada como um ritual de vingança contra tribos
rivais e inimigos de guerra; O viajante francês Jean de Léry (1534-1611) reproduz um
IV. à antropofagia, cujas evidências de ter realmente existido diálogo travado, em 1557, com um ancião tupinambá, o qual
são controversas e próprias de um imaginário europeu demonstra uma diferença entre a sociedade europeia e a
detrator das práticas culturais indígenas, entendidas, em indígena no sentido
muitos casos, como diabólicas e bestiais. a) do destino dado ao produto do trabalho nos seus sistemas
culturais.
Assinale a alternativa que apresenta somente afirmações b) da preocupação com a preservação dos recursos
corretas: ambientais.
a) II e IV. b) I e III. c) III e IV. d) I e II. c) do interesse de ambas em uma exploração comercial mais
lucrativa do pau-brasil.
RESOLUÇÃO:
d) da curiosidade, reverência e abertura cultural recíprocas.
A afirmativa I está incorreta, porque a imagem expõe partes do
corpo humano sendo ingeridos por nativos, o que significa e) da preocupação com o armazenamento de madeira para os
canibalismo. A afirmativa II está incorreta, porque o canibalismo períodos de inverno.
era praticado antes da chegada dos portugueses, e os missioná- RESOLUÇÃO:
rios cristãos condenavam taxativamente esse hábito. Mera interpretação de texto, sintetizando as diferenças entre as
Resposta: C culturas indígena e europeia na destinação por elas dada ao
pau-brsil: simplesmente lenha, para a primeira; matéria-prima
(utilizada na tinturaria) comercializável, para a segunda.
Resposta: A

6 HISTÓRIA
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Palavras-chave:

2 Administração Colonial • Capitanias • Foral • Donatário


• Sistemático • Centralismo
• Localismo

1. Início da colonização A partir de 1534, teve início o referido regime, criado


por D. João III, ainda que, desde o início do século,
Após um período de relativo abandono, Portugal Fernando de Noronha já tivesse recebido uma capitania,
altera seus planos para o Brasil e procura desenvolver a de São João (atual ilha de Fernando de Noronha).
uma colonização sistemática. Essa mudança se explica Naquela década, o Brasil foi inicialmente dividido em 14
por uma série de fatores. Os empreendimentos orientais capitanias, com 15 lotes, doadas a 12 donatários
não eram mais tão lucrativos, em razão da distância e (Martim Afonso recebeu duas partes, e Pero Lopes, três
dos seus altos custos de manutenção; os franceses partes). Posteriormente, ocorreram novas subdivisões.
estavam rondando o litoral do Brasil e não aceitavam o Essa forma de administração das terras coloniais já havia
Tratado de Tordesilhas, por isso a ocupação das terras sido adotada com sucesso nas ilhas do Atlântico.
era fundamental para garantir a sua posse; naquela O regime possuía como bases jurídicas os seguintes
época, os espanhóis encontravam metais preciosos na documentos: a carta de doação (documento de conces-
sua parte do Novo Mundo. são e conjunto de deveres dos donatários); e a carta
foral (direitos e tributos devidos ao rei, mais os deveres
e direitos dos colonos). Segundo os documentos básicos
2. Regime de capitanias do sistema, os donatários possuíam jurisdição civil de
hereditárias sesmarias; direito de exportar certo número de índios e
escravos; direito sobre parte de determinados impostos.
Por outro lado, pagariam impostos à Coroa, e a capitania
era inalienável, podendo, no entanto, ser readquirida
pelo rei. Tal sistema, de modo geral, fracassou, visto que
apenas duas capitanias alcançaram certo desenvol-
vimento: a de Pernambuco, pertencente a Duarte
Coelho, e a de São Vicente, de Martim Afonso de Sousa,
ambas em função da agricultura canavieira e da instala-
ção de engenhos. Na de São Vicente, houve a ajuda
proporcionada pela Coroa; e a de Pernambuco foi favore-
cida, também, pela exploração do pau-brasil e pela
capacidade administrativa de Duarte Coelho, que soube
captar a amizade dos chefes indígenas locais. Entre as
principais razões do insucesso do regime de capitanias,
temos: a falta de recursos econômicos dos donatários,
acarretando o desinteresse pela terra; a vastidão do
território recebido em contraste com as obrigações e
encargos; a hostilidade dos indígenas; a distância da
Metrópole; dificuldades quanto ao clima e à natureza
tropical; e, fundamentalmente, a ausência de um órgão
centralizador, coordenador das ações dos donatários, por
parte da Coroa Portuguesa.
O sistema de capitanias não foi uma forma de feuda-
lismo, visto que os donatários deviam grande obediência
a um rei absolutista português, sendo, portanto, verda-
deiros agentes metropolitanos ou mandatários reais que
administravam as capitanias. A produção agrícola desti-
nava-se a um mercado de consumo europeu (extroverti-
do) vinculado ao desenvolvimento do capitalismo, o que
não é uma característica do mundo econômico feudal
A divisão do Brasil em donatárias correspondeu aos interesses lusos (introvertido).
de ocupação sistemática do litoral brasileiro.
Donatário: o recebedor e senhor de uma capitania-geral ou donatária.

HISTÓRIA 7
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básico da criação do novo regime era a centralização


administrativa. Nele, encontramos os encargos básicos
do governador: fundar cidades; pacificar os indígenas e
punir os revoltosos; construir fortes e fiscalizar os
armamentos, a arrecadação dos impostos, bem como a
exploração do pau-brasil (monopólio régio); combater a
penetração dos corsários; doar sesmarias; e praticar a
justiça superior.
Principais governadores-gerais: o primeiro gover-
nador-geral foi Tomé de Sousa (1549/53), que em 1549
fundou a primeira cidade, Salvador, contando com a
valiosa colaboração de Diogo Álvares Correia ("Caramu-
ru"). Tomé de Sousa trouxe consigo colonos, degredados
Capitania de São Vicente. e seis missionários jesuítas chefiados pelo padre
Manuel da Nóbrega, que, em 1549, fundou o primeiro
O regime de capitanias não foi extinto com a criação colégio. Em 1551, foi criado o primeiro bispado do Brasil
do Governo-Geral, em 1548. Paulatinamente, a Coroa foi (D. Pero Fernandes Sardinha). Na parte econômica,
tomando de volta algumas capitanias, dando origem às houve o desenvolvimento da cana-de-açúcar, contando,
Capitanias da Coroa, por meio de compra, confisco, ou até mesmo, com a mão de obra escrava negra, e da pe-
em razão do abandono. O regime, como um todo, so- cuária, com a introdução das primeiras cabeças de gado.
mente seria extinto em 1759, pelo Marquês de Pombal. O segundo governador foi Duarte da Costa
(1553/58), que conheceu durante sua administração
3. Governo-Geral inúmeros distúrbios. Houve, em 1555, a invasão france-
sa no Rio de Janeiro, comandada por Villegaignon, que
Foi criado em 1548, pelo rei D. João III, mas somen-
fundou a colônia da França Antártica.
te instalado no Brasil em 1549, em face do fracasso das
capitanias. O filho do governador, D. Álvaro da Costa, entrou em
choque com o bispo Sardinha. Este último, chamado
pelo rei, quando se retirava do Brasil, naufragou e foi
trucidado pelos índios antropófagos caetés. Com a
chegada do seminarista José de Anchieta e sob a chefia
do Pe. Manuel de Paiva, em janeiro de 1554, os jesuítas
fundaram o Colégio de São Paulo de Piratininga, futura
vila homônima.

? Saiba mais
A primeira grande invasão francesa ocorreu em 1555,
no Rio de Janeiro, onde os franceses estabeleceram
uma colônia denominada França Antártica. Os
franceses (em número inicial de aproximadamente
Com a criação do Governo-Geral do Brasil, a coroa portuguesa passou 600 pessoas) estavam sob o comando do almirante
a centralizar os esforços da empresa colonizadora.
Nicolau Durand de Villegaignon, havendo uma
O governador era nomeado pelo rei por um período grande participação de huguenotes (calvinistas
de quatro anos, possuindo três auxiliares básicos: o ouvi- franceses, que constituíam um dos grupos da
dor-mor, encarregado dos negócios da Justiça; o prove- oposição político-religiosa na França). Apesar de
dor-mor, dos negócios das Finanças; e o capitão-mor, serem oposicionistas, receberam apoio do rei Hen-
da defesa do litoral. Todos compunham o denominado rique II, por meio da mediação do almirante Gaspar
Conselho de Governo, que tinha por finalidade global de Coligny. Após alguns desentendimentos entre os
criar um órgão administrativo centralizador da ação colo- huguenotes e os católicos, em 1559, o comando saiu
nizadora. Durante o domínio espanhol (1580-1640), o das mãos de Villegaignon, passando para Bois-le-
cargo de governador-geral passou a ser denominado Comte. Os franceses, desde o início, contavam com
vice-rei; e foi novamente adotado a partir de 1720. Após o apoio dos índios tamoios, que os ajudavam na
1642, com a criação do Conselho Ultramarino, esse
luta contra a Coroa Portuguesa.
órgão ficava encarregado da administração de todas as
terras coloniais lusitanas e das nomeações dos cargos
do Conselho de Governo, no Brasil. De acordo com o Confisco: apreensão de um bem em proveito do fisco.
Regimento de Tomé de Sousa, de 1548, o objetivo Antropófagos: aqueles que comem carne humana.

8 HISTÓRIA
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Oscar Pereira da Silva (1867-1939). Fundação de São Paulo.

O terceiro governador, Mem de Sá (1558/72), em 1560, conseguiu derrotar os franceses, mas estes se refugiaram
nas aldeias indígenas, retornando às ilhas da Baía de Guanabara logo depois, a fim de reconstruir a colônia.
Em 1563, chegaram reforços de Portugal, comandados pelo sobrinho do governador, Estácio de Sá, e o
movimento de expulsão tomou novo impulso. Aliando-se aos índios temiminós, chefiados por Arariboia, e com a
adesão dos jesuítas Nóbrega e Anchieta (que em 1563 haviam conseguido neutralizar a Confederação dos Tamoios
por intermédio do Armistício de Iperoig), Estácio de Sá fundou, em 1o. de março de 1565, a povoação de São Sebastião
do Rio de Janeiro (que se tornou, pouco depois, a segunda cidade do Brasil), para facilitar as operações contra os
invasores. Estácio de Sá, porém, foi ferido mortalmente quando alcançava a vitória em Uruçu-Mirim. A derrota final dos
franceses ocorreu, em 1567, sob o comando do próprio governador Mem de Sá.
Em 1570, a Coroa nomeou D. Luís de Vasconcelos governador-geral em substituição a Mem de Sá, mas ele não
chegou a tomar posse, pois foi morto em alto-mar pelos franceses. Mem de Sá governou até 1572, quando faleceu
em Salvador, fato que fez com que o rei D. Sebastião dividisse o Brasil em dois governos.

4. Divisão do Brasil em dois governos


A primeira divisão foi de 1572 a 1578 em: Governo do Norte, entregue a D. Luís de Brito e Almeida, com sede em
Salvador; e Governo do Sul, entregue a D. Antônio Salema, com sede no Rio de Janeiro. Em 1578, em face do fracasso
da divisão, ocorreu uma reunificação, com a nomeação de um só governador (Lourenço da Veiga). De 1608 a 1612,
durante a fase do domínio espanhol, ocorreu uma divisão idêntica à primeira e uma nova reunificação. Em 1621, houve
uma nova divisão em dois: Estado do Brasil (capital: Salvador até 1763 e, depois, Rio de Janeiro) e Estado do Maranhão
(capital: São Luís e, após 1737, Belém, sendo que o Estado passou a denominar-se Estado do Grão-Pará e Maranhão).
A reunificação, em 1775, foi feita pelo Marquês de Pombal.

No Portal Objetivo
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST2M102

HISTÓRIA 9
C1_2A_HIST_MARINA_2018 30/10/17 08:19 Página 10

va a uma descentralização política. Era representado pela


força dos grandes senhores de terras e escravos: a
aristocracia rural, com interesses regionais divergentes,
mas uma uniformização decorrente das próprias
relações de produção e políticas. Essa força local era
expressada por meio da ação concreta das Câmaras
Municipais, formadas pelos “homens-bons”, isto é,
elementos da elite aristocrática rural local. Do outro lado,
encontramos o centralismo político, força centrípeta,
visando à unidade política, representado pelos órgãos
governamentais portugueses e caracterizado pelo
fiscalismo. Tais tendências centralizadoras eram expres-
sadas pelo Governo-Geral ou por algum outro órgão
governamental de funções locais, como a Intendência
das Minas.
Até meados do século XVII, houve uma relativa
coexistência e harmonia entre as duas forças acima cita-
das; mas, a partir da Restauração Portuguesa (1640),
ocorreu um enorme crescimento das forças centraliza-
doras, que passaram a expressar o crescente fiscalismo
e absolutismo portugueses. A partir desse momento,
ocorreu a tendência de um desencontro de interesses
entre os colonos e a Coroa Portuguesa.

José Wasth Rodrigues (1891-1957). Paço Municipal, em 1628.


5. Câmaras Municipais Na administração colonial portuguesa, destaca-se,
No âmbito geral do Brasil, o órgão básico era o Con- portanto, o seu caráter eminentemente fiscalista, além
selho de Governo, mas nas cidades passaram a existir de ser incoerente, desordenada, inepta e marcada, até
as Câmaras Municipais (ou Conselhos Municipais), mesmo, por momentos de grande corrupção e pelas
presididas por um juiz e formadas por três vereadores superposições de órgãos governamentais (e suas
(homens-bons), eleitos por meio de sorteio entre os funções), acarretando confusão das competências.
membros da aristocracia rural.
Os juízes eram os escolhidos pela própria cidade 7. O estatuto jurídico da Colônia
(juízes ordinários), ou os denominados juízes de fora,
A base jurídica da Colônia estava assentada num es-
letrados nomeados para o cargo pela Coroa. O símbolo
tatuto, idêntico ao da Metrópole, isto é, seguia as deno-
dessa autonomia administrativa municipal era o pelou-
minadas Ordenações Reais, conjuntos de leis publica-
rinho, marco construído na praça principal da cidade.
das pelo Estado português, que possuíam como carac-
terística a ação centralizadora e absolutista. As primeiras
6. A Política na Colônia foram as Ordenações Afonsinas (1446), alteradas em
Durante o período colonial brasileiro, de modo geral, 1512 pelas Ordenações Manuelinas e, em 1603, pelas
encontramos o choque político entre duas forças. De um Ordenações Filipinas. Tinham por inspiração originária o
lado, temos o denominado localismo político, que visa- Código Romano e o direito de Justiniano.

10 HISTÓRIA
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8. Cronologia
1534 – Implantação do regime de capitanias hereditárias.
1549 – Tomé de Sousa, primeiro governador-geral; fundação da cidade de Salvador.
1553 – Duarte da Costa, segundo governador-geral.
1554 – Fundação de São Paulo.
1555 – Instalação da França Antártica na Baía da Guanabara.
1558 – Mem de Sá, terceiro governador-geral.
1565 – Fundação da cidade do Rio de Janeiro.
1567 – Expulsão dos franceses do Rio de Janeiro.

Exercícios Resolvidos

 (UERJ – MODELO ENEM) – GOVERNO ção constituía-se como espaço de negociação


política, no Brasil colonial:
qual havia gente da pequena nobreza,
burocratas e comerciantes, tendo em comum
DO ESTADO ACUSA O PREFEITO CESAR
a) Câmara Municipal. suas ligações com a Coroa.”
MAIA DE DIFAMAR A POLÍCIA EM ARTIGO
b) Tribunal da Relação. (Boris Fausto, História do Brasil.)
“O procurador-geral do Estado do Rio, Fran-
c) Capitania Hereditária.
cesco Conte, pediu ontem à Justiça agilidade
d) Conselho Ultramarino. No texto, o historiador refere-se às
no processo aberto na quarta-feira contra o
Resolução a) câmaras setoriais.
prefeito Cesar Maia, que atacou a política de
As Câmaras Municipais foram os primeiros b) sesmarias.
segurança pública do governo estadual em
orgãos administrativos criados no Brasil e, com c) colônias de povoamento.
artigo publicado no dia 15 de agosto na seção
a implantação do Governo-Geral, a partir de d) capitanias hereditárias.
‘Tendências/Debates’ da Folha.”
1548, passaram a lutar constantemente em e) controladorias.
(Folha de S.Paulo, 24 ago. 2001.) busca de autonomia. Resolução
Resposta: A A descrição oferecida pelo texto identifica o
Os conflitos entre as várias instâncias político-ad- sistema de capitanias hereditárias, estrutura
ministrativas não constituem um problema ex-
(UNESP – MODELO ENEM) – “O Brasil foi criada por Portugal, implantada com sucesso
clusivo dos dias de hoje. Desde a época colo- dividido em quinze quinhões, por uma série de nas ilhas atlânticas e que, posteriormente,
nial, cada instância administrativa desejava o linhas paralelas ao equador que iam do litoral ao seria utilizada no Brasil para transferir a parti-
poder para si, tornando-se cenário de disputas meridiano de Tordesilhas, sendo os quinhões culares os custos da colonização.
diversas. O seguinte órgão local da administra- entregues (...) [a] um grupo diversificado, no Resposta: D

Exercícios Propostos

 Do que tratavam as cartas de doação e a foral?  Com a fundação da Vila de São Vicente, instalou-se na
colônia a primeira administração local. Que instituição foi essa
RESOLUÇÃO: e como estava organizada?
Na carta de doação, o rei transferia o direito de uso da terra que
lhe pertencia. Na foral, estabelecia os direitos e deveres do dona- RESOLUÇÃO:
tário. Trata-se das Câmaras Municipais, órgãos político-administrativos
locais, formadas a partir da aristocracia rural (“homens-bons”),
que representavam o localismo político.


Sobre o regime de capitanias hereditárias, responda:
a) quais os fatores que levaram o governo português a implan-
tá-las?
b) quais os motivos que as levaram ao fracasso? Justifique a criação do Governo-Geral em termos admi-
nistrativos.
RESOLUÇÃO:
a) O governo queria implantar um sistema que já tinha dado certo RESOLUÇÃO:
nas ilhas atlânticas e transferir os custos da colonização a O Governo-Geral foi formado visando promover a centralização e
particulares, garantindo, assim, a posse da terra. a unidade administrativa da Colônia.
b) Ausência de centralização político-administrativa, falta de re-
cursos dos donatários, distância da Metrópole e hostilidade
indígena.

HISTÓRIA 11
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(FUVEST) – Sobre a presença francesa na baía de Guana- (UFPR – MODELO ENEM) – "O ser senhor de engenho é
bara (1557-1560), podemos dizer que foi título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido,
a) apoiada por armadores franceses católicos que procuravam obedecido e respeitado por muitos". Essa frase de João
estabelecer no Brasil a agroindústria açucareira. Antônio Andreoni (conhecido como Antonil), escrita no seu
b) um desdobramento da política francesa de luta pela liberda- livro Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas,
de nos mares e assentou-se numa exploração econômica refere-se aos:
do tipo da feitoria comercial. a) ricos comerciantes que lidavam com os negócios de expor-
c) um protesto organizado pelos nobres franceses hugue- tação e importação.
notes, descontentes com a Reforma Católica implementada b) lavradores assalariados que plantavam a cana-de-açúcar.
pelo Concílio de Trento. c) trabalhadores livres dos engenhos: artesãos, barqueiros,
d) uma alternativa de colonização muito mais avançada do que capatazes.
a portuguesa, porque os huguenotes que para cá vieram d) grandes proprietários das fábricas de manufaturas têxteis.
eram burgueses ricos. e) proprietários das terras que formavam a aristocracia agrária,
e) parte de uma política econômica francesa levada a cabo de grande poder econômico e político.
pelo Estado com intuito de criar companhias de comércio.
RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: Também conhecidos como “homens-bons” ou ainda “homens de
A França não reconhecia o Tratado de Tordesilhas e afirmava que cabedal”, ou seja, de posses e riquezas.
as terras do Novo Mundo não pertenciam a quem as descobriu, Resposta: E
mas a quem as ocuparia de fato.
Resposta: B

 (UFRS – MODELO ENEM) – As Câmaras Municipais foram Hoje em dia, nas grandes cidades, enterrar os
instituições fundamentais em todos os lugares onde houve a mortos é uma prática quase íntima, que diz
presença do Império ultramarino lusitano. Na América respeito apenas à família. A menos, é claro, que se trate de
portuguesa não foi diferente, pois nas principais aglomerações uma personalidade conhecida. Entretanto, isso nem sempre foi
urbanas elas exerciam um papel político essencial. assim. Para um historiador, os sepultamentos são uma fonte
de informações importantes para que se compreenda, por
Considere as seguintes afirmações, referentes à caracteriza- exemplo, a vida política das sociedades.
ção dessas instituições. No que se refere às práticas sociais ligadas aos sepultamentos,
I. Eram os canais de expressão política das elites locais, dos a) na Grécia Antiga, as cerimônias fúnebres eram desvalori-
“homens-bons” residentes nas diferentes vilas coloniais. zadas, porque o mais importante era a democracia experi-
Através da ocupação dos cargos na Câmara, essas elites mentada pelos vivos.
expressavam suas demandas junto aos poderes centrais, b) na Idade Média, a Igreja tinha pouca influência sobre os
como os governadores e a própria Coroa. rituais fúnebres, preocupando-se mais com a salvação da
II. Eram órgãos legislativos dedicados à aplicação das alma.
Ordenações Filipinas, sendo a eleição para os cargos cama- c) no Brasil Colônia, o sepultamento dos mortos nas igrejas
rários feita pelo voto direto e democrático do conjunto da era regido pela observância da hierarquia social.
população. d) na época da Reforma, o catolicismo condenou os excessos
III. Eram corpos deliberativos para os quais podia ser elegível a de gastos que a burguesia fazia para sepultar seus mortos.
maior parte da população, excetuando-se somente os es- e) no período posterior à Revolução Francesa, devido às
cravos africanos e os indígenas. grandes perturbações sociais, abandona-se a prática do luto.

Qual(is) está(ão) correta(s)? RESOLUÇÃO:


A forte hierarquização da sociedade colonial brasileira transpa-
a) Apenas I. b) Apenas III. c) Apenas I e II. recia não só no posicionamento dos vivos durante os serviços
d) Apenas I e III. e) Apenas II e III. religiosos (os “homens-bons” e suas famílias ocupavam os
assentos mais próximos do altar), mas também no dos mortos.
RESOLUÇÃO: Com efeito, os membros das famílias influentes tinham suas
A afirmativa II está incorreta, pois as Câmaras Municipais foram sepulturas no interior das igrejas, ao passo que os mortos de
orgãos administrativos criados antes da União Ibérica (1580-1640), menor expressão social eram enterrados nos terrenos circun-
quando foram implantadas as ordenações filipinas. A escolha dos vizinhos, com uma simples cruz a marcar o local da inumação.
seus representantes era reservada aos membros da elite, os Resposta: C
chamados “homens-bons”.
A afirmativa III está incorreta, porque somente os homens-bons
poderiam votar e serem votados.
Resposta: A

12 HISTÓRIA
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Economia Colonial – Palavras-chave:


• Predatória/dependente
3 Características Gerais e Açúcar • Pacto Colonial • Ciclo
econômico • Plantation

1. Características gerais por unidade territorial de plantio, não seria lucrativo.


Necessariamente, para sê-lo, teve de ser cultivado em
Em consequência do tipo de colonização desenvol- larga escala de produção.
vida por Portugal no Brasil, uma colônia de exploração, No Brasil, a grande propriedade dominante foi o
encontramos as características gerais a seguir. denominado latifúndio (grande propriedade, carac-
Foi uma economia integrada ao sistema capitalista terizada pelo uso de muita mão de obra, por técnicas
nascente, fornecendo ao seu centro produtos vegetais precárias e por baixa produtividade). Em algumas re-
tropicais, alimentos, matérias-primas e minérios. Conse- giões, como Bahia e Pernambuco, na época do apogeu
quentemente era complementar, especializada, alta- da cana-de-açúcar, entre os séculos XVI e XVII, desenvol-
mente dependente do mercado consumidor metropo- veram-se algumas grandes propriedades do tipo plan-
litano e basicamente extrovertida, ou seja, de expor- tation (menos mão de obra, técnicas mais aperfeiçoa-
tação. Foi caracterizada, também, por ser uma economia das e alta produtividade), mas que não chegaram a ter a
predatória, isto é, altamente desgastante em relação aos mesma produtividade que as famosas plantations da
recursos naturais da colônia. Essa característica depre- região antilhana.
dadora esteve relacionada à própria utilização de práticas Outra característica geral foi a predominância do
agrícolas rudimentares, tais como a queimada ou coivara, trabalho escravo. A implantação desse novo escravismo
que acarretaram um rápido esgotamento da terra. está adequada às exigências do sistema capitalista nas-
cente e de sua efetivação na periferia do sistema colonial,
ou seja, foi fundamental para realizar a acumulação de
capitais. No Brasil, a mão de obra escrava abrangeu dois
tipos: a indígena (ou escravismo vermelho); e a negra
africana. A primeira, apesar de toda uma reação contrária
dos padres jesuítas, foi praticada até 1758, quando
ocorreu a abolição do escravismo indígena em face do
decreto neste sentido publicado pelo Marquês de
Pombal. A mão de obra escrava negra já era adotada
pelos portugueses nas ilhas do Atlântico, sendo, portan-
to, o tráfico negreiro preexistente ao descobrimento do
Brasil (remonta a aproximadamente 1440). No Brasil, as
primeiras levas de escravos negros foram introduzidas na
década de 1530, mas o tráfico negreiro se tornou mais
intenso a partir de 1550, com a dinamização da agricultu-
ra canavieira no Nordeste, na Bahia e no Rio de Janeiro.
A predominância da escravidão africana explica-se pela
O escambo no século XVIII alta lucratividade que este comércio proporcionava ao
Estado português, e não pela produtividade em relação
A produção colonial estava baseada na grande pro- ao indígena, como se justificava antigamente. Ao che-
priedade monocultora. O surgimento da grande pro- garem ao Brasil, os africanos eram submetidos às mais
priedade no Brasil não está relacionado apenas à exi- cruéis formas de submissão. Muitos deles resistiram a
gência de uma produção em larga escala objetivando o esse trabalho compulsório, por meio de fugas, revoltas,
lucro pela exportação de produtos tropicais, mas suicídio, mutilações e “corpo mole”. Do século XVI até a
também a determinados fatores históricos de origem, abolição do tráfico (1850), foram introduzidos e ficaram
como as doações das grandes áreas na forma de no Brasil quase 3.500.000 negros, divididos, basicamen-
sesmarias (pertencentes a determinada capitania te, em virtude de sua origem, em dois grupos: sudane-
hereditária); à necessidade de ocupação efetiva do ses e bantos.
território; e – principalmente – às exigências criadas pela O último aspecto geral da nossa economia foi o fato de
cana-de-açúcar, produto inicialmente cultivado no Brasil ter sido caracterizada por períodos ou fases, em que se
e que se tornou a base da nossa colonização inicial. O sobressai um “produto-rei ou chave”. Tais períodos econô-
referido produto, possuindo uma baixa produtividade micos são chamados por alguns estudiosos de ciclos.
Coivara: ato de queimar mato ou lavoura para limpar o terreno a ser plantado, adubando-o com a própria cinza.

HISTÓRIA 13
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2. Cana-de-açúcar Na agricultura e no mundo canavieiros, deve ser des-


tacada a intensa participação dos flamengos. Estes atua-
A fase canavieira abrangeu da segunda metade do vam em diversos setores e etapas de produção do
século XVI até o final do século XVII, e a época do apo- açúcar: financiamento de capitais; produção de materiais
geu do açúcar corresponde ao período de 1570 a 1650. para engenhos; transporte do açúcar para a Europa; co-
A agricultura canavieira foi o fator que determinou a mércio negreiro; refinação do açúcar e distribuição do
colonização portuguesa no Brasil e consequen- produto nos centros consumidores europeus.
temente a criação de formas político-administrativas aqui Nas principais regiões produtoras – Bahia, Pernam-
desenvolvidas pelo Estado português, como a criação buco, outras regiões do Nordeste e Rio de Janeiro –, en-
das capitanias hereditárias, dos governos gerais e a intro- contramos a instalação da unidade produtora, que eram
dução do elemento escravo negro. os engenhos. Estes podiam ser basicamente de dois
A introdução da cana-de-açúcar por Martim Afonso tipos: o engenho – d'água ou real; e o engenho trapiche,
de Sousa, no início da década de 1530, encontrou uma movido por força animal (no Nordeste, engenhos deste
conjuntura favorável externa e internamente. Na último tipo também eram chamados de banguês). Em
Europa, naquela época, havia ocorrido um aumento geral ambos os tipos, eram encontradas as denominadas
dos preços e um crescimento da demanda, havendo por- “casas”, ou seja, espécie de compartimentos que
tanto um mercado favorável. Internamente, há diversos constituíam a grande unidade produtora. Destacavam-se
fatores explicativos do desenvolvimento da agricultura a denominada casa da moenda, a casa das fornalhas e a
canavieira, tais como: a experiência anterior adquirida casa de purgar. Além desses engenhos, existiam
pelos portugueses nos engenhos instalados nas ilhas do pequenas unidades produtoras: as engenhocas ou
Atlântico; as condições naturais propícias, principal- molinetes.
mente no Nordeste, onde são encontradas boas caracte- No mundo canavieiro, formavam-se diversos tipos
rísticas climatológicas e pedológicas (solo de massapê de fazendas ou propriedades. Existiam os engenhos
do litoral do Nordeste); facilidade de obtenção da mão de ou a grande propriedade senhorial (latifúndio ou
obra escrava negra nas colônias portuguesas da África; plantation). Nessas grandes fazendas, eram construídas
mercado consumidor em expansão, com boa penetração de três a quatro edificações caracterizadoras da época: a
dos flamengos, que eram os principais distribuidores do casa-grande, a senzala, a capela e o engenho pro-
produto na Europa; facilidade de aquisição dos capitais priamente dito. Existiam também as fazendas livres,
flamengos para o financiamento dos grandes engenhos. médias e pequenas propriedades, e as denominadas fa-
zendas obrigadas. Estas últimas eram trechos de terras
cedidas pelos senhores de engenho a um colono,
mediante a obrigação deste de moer a cana no engenho
central. Na oportunidade, entre 50% e 60% da produção
ficavam para o senhor da terra.
Esses tipos de propriedades fundiárias estão intima-
mente ligados ao aparecimento de camadas e tipos
sociais característicos do mundo agrícola do Nordeste
(jagunços, dependentes, cangaceiros etc.).
Era em torno dessas propriedades que gravitava
toda a vida fundamentalmente rural desses primeiros
séculos da História brasileira. Desse mundo é que resul-
tou a própria formação social e étnica do Brasil. Nasceu
uma sociedade basicamente rural, patriarcal, conser-
vadora, escravista, em crescente miscigenação com
os elementos indígenas e negros e rigidamente estrati-
ficada, ou seja, destituída de mobilidade social.
A economia canavieira pode, portanto, ser caracteri-
zada pela existência da grande propriedade escravista;
pela aplicação de grande capital inicial (de investimento
normalmente estrangeiro); pela grande concentração de
renda nas mãos senhoriais; e pela baixa produtividade,
em face das técnicas rudimentares de preparo do solo.
Na segunda metade do século XVII, teve início o
processo de decadência da produção canavieira. Suas
principais causas estão relacionadas ao aumento da
Áreas de produção açucareira
Flamengo: o mesmo que holandês, ou batavo.
Casa de purgar: local onde se drenava a massa pastosa para separar o açúcar do melaço.

14 HISTÓRIA
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concorrência, caracterizada pelo aumento da produção A principal finalidade do gado introduzido no Brasil,
da região antilhana, fato este estreitamente relaciona- desde o século XVI, era sua utilização como força mo-
do à introdução de capitais e melhores técnicas imple- triz, como animal de tração e transporte (animal de tiro),
mentadas pelos holandeses, que em grande parte e em segundo plano é que se destinava à alimentação
tinham sido expulsos do Nordeste do Brasil, em 1654. por meio da produção das carnes em conserva: carne-
Outros fatores atuaram na decadência: a queda de seca, carne de sol e o charque do Sul do Brasil.
preços do produto no mercado europeu, acompanhada A pecuária foi uma atividade subsidiária ou à grande
de uma crise econômica nas metrópoles, fato que veio a lavoura de exportação, como a da cana, ou à mineração
reduzir o consumo. e centros urbanos, a partir do século XVIII.
A decadência abrangeu a segunda metade daquele As principais regiões pecuaristas foram:
século de tal forma que, ao chegar ao século XVIII, o
• Sertão do Nordeste e Vale do São Francisco.
Brasil, que havia sido o primeiro exportador mundial de
Nessas regiões a mão de obra da pecuária extensiva, de
açúcar, passou a ocupar a quinta posição. A cana-de-açú-
baixo índice técnico, era livre, representada pelos
car somente recuperou uma posição considerável um
vaqueiros e seus auxiliares, os "fábricas". Advinda do
século depois, ou seja, no final do século XVIII, com a
sertão do Nordeste, a pecuária atingiu a região do
decadência da mineração do ouro.
Maranhão, Piauí e o Vale do Rio São Francisco, cogno-
minado de o Rio dos Currais, onde ocorreu a formação
3. Atividades subsidiárias de grandes fazendas pecuaristas em face das melhores
condições naturais de pasto, água e sal-gema (séculos
Entre as principais atividades subsidiárias, encon-
XVI e XVII).
tramos a agricultura de subsistência e a pecuária.
• Outra região foi o sul de Minas Gerais, onde era
Agricultura de subsistência encontrada uma pecuária com técnica superior, fazendas
com cercados, pastos mais bem cuidados, rações extras
Atividade independente do setor exportador, com para o gado e a utilização da mão de obra escrava. O
predominância de pequenas e médias propriedades que grande mercado era representado pelas zonas urbanas
se utilizavam de mão de obra livre, do agregado e princi- mineradoras, o que provocou uma diversificação da pro-
palmente do pequeno arrendatário de terras. Nesse dução: gado bovino, muar, suíno, caprino e equino (sécu-
setor, havia uma pequena produtividade e um baixo nível lo XVIII).
de renda. • Campos Gerais, correspondendo ao interior de
A produção de gêneros de subsistência – mandioca, São Paulo e Paraná, foi outra região de pecuária, com a
milho, batata, cará, arroz e inhame – destinava-se funda- produção de animais de tiro para a região mineradora, no
mentalmente ao consumo nos engenhos e aos centros século XVIII. Há predominância da mão de obra livre,
urbanos, como o ocorrido na época da mineração. constituída de tropeiros.
Pecuária • A última região foi o Rio Grande do Sul, que,
desde o século XVIII, com a colonização açoriana, iniciou
Belém a criação de gado. Mão de obra predominantemente
zo nas São Luís livre, mas havendo paralelamente a utilização de escra-
Ama Fortaleza
Rio vos negros e indígenas nas missões jesuíticas. Desen-
Natal volvimento da indústria do charque e da criação de gado
bovino, muar, equino e ovino.
ins
ia

Jaguaribe
gua

Rio Tocant
Ara

Atividades subsidiárias: atividades de segunda importância que


Rio

co

reforçam aquelas que são principais, de apoio ou complementar.


cis

Jaguaçu
an

Agricultura de subsistência: agricultura de produtos destinados ao


Fr

Salvador
ão

sustento cotidiano.
oS

Força motriz: aquela que tem a capacidade de mover.


Ri

Rio Paraíba Tropeiros: aqueles que conduziam as tropas de animais.


Charque: carne de vaca salgada e em mantas.
Rio
Tie Muar: mulas.
Paraguai


Rio Paranapa
raná

nema
Rio de Janeiro
Rio Pa

Santos
Curitiba São Vicente
NTIC
O No Portal Objetivo
Uruguai
N O ATLÂ
A
OCE
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL
PECUÁRIA OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite
HIST2M103
Expansão territorial provocada pela pecuária (século XVIII)

HISTÓRIA 15
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4. Cronologia
1533 – Fundação do Engenho do Governador ou dos Erasmos, em São Vicente, por Martim Afonso de Sousa.
1534 – Introdução do gado na capitania de São Vicente.
1535 – Primeiro engenho de açúcar em Olinda.
1538 – Chegada ao Brasil dos primeiros escravos africanos.
1568 – Início do tráfico regular de escravos negros para o Nordeste do Brasil.

Exercícios Resolvidos

 (UEL – MODELO ENEM) – Examine o quadro abaixo.


(PUC-RIO – MODELO ENEM) – “Costumam alguns senhores dar
aos escravos um dia em cada semana para plantarem para si,
mandando algumas vezes com eles o feitor para que não se
descuidem. E isto serve para que não padeçam fome, nem cerquem
cada dia a casa de seu senhor pedindo-lhes a ração de farinha. Porém
não lhes dar farinha nem dia para a plantarem, e querer que sirvam de
sol a sol no partido, de dia e de noite com pouco descanso no engenho,
como se admitirá no Tribunal de Deus sem castigo?”

(Antonil. Cultura e opulência do Brasil por


suas drogas e minas. 1711.)

A partir da citação anterior e de seus conhecimentos sobre a sociedade


colonial da América Portuguesa, examine as afirmativas a seguir.
I. Na sociedade colonial, o prestígio social residia em ser senhor de
terras e de homens, e a possibilidade de riqueza vinha da atividade
comercial.
II. Os senhores de engenho permitiam que alguns de seus escravos
possuíssem uma lavoura de subsistência, inclusive com direito à
venda de excedentes.
(Johann Moritz Rugendas, Família de Plantador, 1812. III. Apesar da violência que marcava o cotidiano dos engenhos, os
In L. de M. Souza (org.) História da vida privada no Brasil: cotidiano e escravos conseguiram, em certa medida, criar e recriar laços cul-
vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das
turais próprios, vários deles herdados de suas raízes africanas.
Letras, 1997, p. 100.)
IV. Diante do risco de punições pelos senhores – surras, aprisionamen-
Com base nesse quadro, que retrata o interior de uma residência abas- to com correntes de ferro, aumento do trabalho etc. – as tentativas
tada do mundo rural, é correto afirmar: de fugas escravas diminuíram ao longo do período colonial.
a) Nas moradias mais ricas, os escravos eram impedidos de conviver
com as crianças brancas nos aposentos da casa. Assinale a alternativa correta.
b) Nos primeiros séculos da colonização, as casas mais abastadas a) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
possuíam um mobiliário luxuoso que acomodava confortavelmente b) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
os moradores. c) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.
c) Por se tratar de uma sociedade sem estratificação social, o convívio d) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.
entre brancos e negros decorreu sem maiores tensões, favorecen- e) Todas as afirmativas estão corretas.
do reuniões permeadas de cordialidade. Resolução
d) Os moradores da colônia deram grande importância à privacidade, A afirmativa IV está incorreta, porque as fugas de escravos não
separando, para tanto, as mulheres do convívio com escravos e cessaram, apesar de todo o aparato repressivo, estruturado pelos
demais membros da família. senhores.
e) Embora existissem domicílios de vários tipos de norte a sul da Resposta: C
colônia, eram inevitáveis a presença de escravos e a sua convi-
vência com os senhores e demais membros da família.
Resolução
Os escravos eram os braços e pernas dos senhores de engenho,
afinal, para os brancos, o trabalho braçal era considerado aviltante. A
depreciação do trabalho foi um dos elementos formadores do pen-
samento social brasileiro.
Resposta: E

16 HISTÓRIA
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Exercícios Propostos

 No Nordeste brasileiro colonial, compare as áreas açuca-  (PUC-MG) – Foram características marcantes do processo
reira e pastoril no que se refere à economia e à sociedade. de colonização do Brasil no período colonial:
a) Trabalho livre, produção comercializada com outras colônias,
RESOLUÇÃO: pequena e média propriedade.
A atividade açucareira no Nordeste colonial era desenvolvida no b) Trabalho livre, cultura de subsistência, pequena propriedade
litoral e voltada para o mercado externo. Exigiu altos investimen-
tos e mão de obra escrava. Produziu uma sociedade patriarcal,
e produção para consumo interno.
escravista e rigidamente hierarquizada. c) Mão de obra compulsória, produção manufatureira comer-
A pecuária voltava-se para o abastecimento dos engenhos de cializada com a Metrópole e latifúndio.
açúcar; utilizava-se o gado para tração, couro e alimentação. Com d) Mão de obra escrava, produção para o mercado externo,
o crescimento da atividade açucareira, as áreas de pastagens grande propriedade e monocultura.
foram substituídas por áreas de cultivo. A atividade criatória se
expandiu para o interior em busca de água e pastos, produzindo
e) Mão de obra familiar, grandes propriedades, apego à terra e
as fazendas de gado e propiciando a ocupação do Sertão Nordes- produção extrovertida.
tino. Utilizava mão de obra livre e assalariada de mulatos, índios
e negros forros. RESOLUÇÃO:
Essa é a definição de “plantation” para a História.
Resposta: D

(UFC – MODELO ENEM) – Leia o texto a seguir.


“A barbarização ecológica e populacional acompanhou as

Justifique os investimentos flamengos na agromanufatura marchas colonizadoras entre nós, tanto na zona canavieira
do açúcar. quanto no sertão bandeirante; daí as queimadas, a morte ou a
preação dos nativos. Diz Gilberto Freyre, insuspeito no caso
RESOLUÇÃO: porque apologista da colonização portuguesa no Brasil e no
Os flamengos investiram em razão dos privilégios comerciais que mundo: 'O açúcar eliminou o índio'. Hoje poderíamos dizer: o
receberam, como o direito ao comércio negreiro, produção de gado expulsa o posseiro; a soja, o sitiante; a cana, o morador.
materiais para os engenhos e distribuição do açúcar nos centros O projeto expansionista dos anos 70 e 80 foi e continua sendo
consumidores europeus.
uma reatualização em nada menos cruenta do que foram as
incursões militares e econômicas dos tempos coloniais”.

(Alfredo Bosi. Dialética da colonização.


São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 22.)

A partir da leitura do texto, pode-se concluir, corretamente, que


a) os princípios republicanos garantiram, no século XX, uma
ocupação territorial, feita com base na realocação
 (FUVEST-FGV) – A escravidão indígena adotada no início econômica, nos centros urbanos, dos sujeitos expulsos
da colonização do Brasil foi progressivamente abandonada e pelas novas atividades implantadas no interior do país.
substituída pela africana, entre outros motivos, devido b) o impacto ambiental e social das atividades econômicas
a) ao constante empenho do papado na defesa dos índios implantadas é um problema que surgiu recentemente, a
contra os colonos. partir da mecanização das práticas agrícolas e pastoris.
b) à bem-sucedida campanha dos jesuítas em favor dos índios. c) a marginalização social e econômica de alguns grupos
c) à completa incapacidade dos índios para o trabalho. constitui um dos efeitos das atividades econômicas desen-
d) aos grandes lucros proporcionados pelo tráfico negreiro aos volvidas no Brasil desde o período colonial.
capitais particulares e à Coroa. d) o desenvolvimento da atividade açucareira na colônia
e) ao desejo manifestado pelos negros de emigrarem para o alterou as condições naturais do território, ao introduzir o
Brasil em busca de trabalho. plantio em áreas extensas, o que reverteu em ganhos para
as comunidades locais.
RESOLUÇÃO: e) a introdução de atividades modernas, desde a colônia, vem
Antigamente, explicava-se a escravidão pela resistência física do
negro e sua melhor adaptação ao trabalho agrícola.
substituindo a ocupação predatória do meio ambiente, pelos
Resposta: D nativos, por outra mais racional que, ao otimizar os recursos
naturais, garante sua renovação.
RESOLUÇÃO:
A lógica capitalista (de acordo com o pensamento marxista) pro-
duz o enriquecimento de alguns e gera inevitavelmente a pobreza
de outros.
Resposta: C

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 (UFPR – MODELO ENEM) – “Moradores dos 'sertões', c) reprodução de conflitos entre grupos étnicos africanos.
instalados além das cidades coloniais, transformaram tais d) manutenção das características culturais específicas de
espaços físicos em espaços humanos. (...) A presença desses cada etnia.
nossos antepassados é de fundamental importância para e) resistência à incorporação de elementos culturais indígenas.
entendermos por que, no Brasil Colônia, houve mais do que a RESOLUÇÃO:
pura e simples plantation de cana. A 'visão plantacionista', que A alternativa corrobora as afirmações do texto, nas quais o
considera todas as atividades não voltadas para a exportação brazilianist Robert Slenes detecta, entre os escravos negros
como irrelevantes, embaçou durante muito tempo a trazidos para o Brasil, o surgimento de uma identidade cultural
forjada por sua própria condição de escravos. Essa unidade
contribuição que milhares de agricultores – responsáveis pela
africana sobrepôs-se às diferenças etnoculturais das diversas -
agricultura de subsistência ou pelo abastecimento do mercado populações transplantadas do continente negro para o Brasil.
interno – deram à história de nosso mundo rural.” Resposta: A

(Mary Del Priore e Renato Venâncio. Uma história da vida rural no


Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006, p. 47-48.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a organização


social do Brasil no período colonial, é correto afirmar:
a) Os autores do texto destacam um elemento característico ”Em um engenho sois imitadores de Cristo

da vida social durante a Colônia: a inexistência de núcleos crucificado porque padeceis em um modo
econômicos situados além das cidades coloniais. muito semelhante o que o mesmo Salvador padeceu na sua
b) Confirma-se no texto a exclusividade da lavoura exportadora cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi composta de dois
como atividade responsável pela ocupação dos espaços madeiros, e a vossa em um engenho é de três. Também ali não
agrícolas nacionais. faltaram as canas, porque duas vezes entraram na Paixão: uma
c) No Brasil Colônia, uma característica fundamental da vez, servindo para o cetro de escárnio, e outra vez para a
agricultura de alimentos foi a variedade de técnicas e de esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cristo parte foi de
ferramentas utilizadas para o manejo das terras. noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as
d) A atividade agrícola dos moradores dos 'sertões' era vossas noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos;
essencial para a produção e o mercado colonial de gêneros Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado,
alimentícios. e vós maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites,
e) A imensa disponibilidade de terras não cultivadas contribuiu as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a
para uma ocupação intensiva do solo, o que evitou a vossa imitação, que, se for acompanhada de paciência,
dispersão demográfica pelo território nacional. também terá merecimento de martírio.”
(A. Vieira. Sermões. Tomo XI.
RESOLUÇÃO: Porto: Lello & Irmão, 1951. Adaptado.)
O texto e a alternativa explicam as atividades complementares
dos ciclos econômicos coloniais (da grande lavoura canavieira ou O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma
da atividade mineradora).
Resposta: D
relação entre a Paixão de Cristo e
a) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos bra-
sileiros.
b) a função dos mestres de açúcar durante a safra de cana.
c) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos ameríndios.
d) o papel dos senhores na administração dos engenhos.
 ”Torna-se claro que quem descobriu a África
e) o trabalho dos escravos na produção de açúcar.
no Brasil, muito antes dos europeus, foram os
próprios africanos trazidos como escravos. E esta descoberta RESOLUÇÃO:
não se restringia apenas ao reino linguístico, estendia-se O Padre Antônio Vieira – o maior orador sacro da língua portu-
também a outras áreas culturais, inclusive à da religião. Há guesa – estabelece um paralelismo entre a Paixão de Cristo e o
razões para pensar que os africanos, quando misturados e sofrimento dos escravos nos trabalhos da produção de açúcar no
Brasil Colônia. E, embora demonstre compaixão pelos maus-tra-
transportados ao Brasil, não demoraram em perceber a
tos infligidos aos cativos, o jesuíta encerra sua fala conclamando
existência entre si de elos culturais mais profundos.” os negros a ter paciência, pois sua resignação os aproximaria
(R. Slenes. Malungu, ngoma vem! África coberta e descoberta do ainda mais do martírio de Jesus. Ou seja, os métodos de trabalho
vigentes são criticados duramente, mas o sistema escravista
Brasil. Revista USP, n. 12, dez./jan./fev. 1991-92. Adaptado.)
acabava sendo admitido.
Resposta: E
Com base no texto, ao favorecer o contato de indivíduos de
diferentes partes da África, a experiência da escravidão no
Brasil tornou possível a
a) formação de uma identidade cultural afro-brasileira.
b) superação de aspectos culturais africanos por antigas
tradições europeias.

18 HISTÓRIA
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União Ibérica e Invasões Palavras-chave:


• Império Luso-Espanhol
4 Francesa, Inglesa e Holandesa • Invasores • Relativa autonomia
• Enfraquecimento português

Extensão do Império Espanhol

1. A União das Coroas Ibéricas mas foi atingido por uma grande crise econômica. Outra
consequência foi o fechamento dos portos ibéricos aos
Esta fase é conhecida pelas denominações de Perío- navios flamengos, inclusive nas colônias, boicotando
do Habsburgo, Filipino, União Ibérica ou Domínio Espa- desta forma o comércio açucareiro. Tal boicote e confis-
nhol. co dos navios flamengos acarretaram as invasões holan-
Após a morte de D. Sebastião I, em 1578, em desas no Brasil e em outras colônias portuguesas, onde
Alcácer Quibir, no norte da África, o trono português (de a Holanda tinha capitais investidos. No Brasil, além
1578 a 1580) ficou com seu tio-avô, o cardeal D. Henri- desses fatos, ocorreu a supressão temporária dos limi-
que, que veio a falecer nesta última data. Felipe II, rei da tes de Tordesilhas, a expansão territorial, a interrupção
Espanha, era o parente mais próximo com direito a do tráfico negreiro devido às invasões holandesas e o
ocupar o trono. Contando com o apoio da nobreza e da consequente incremento da escravidão indígena.
burguesia portuguesa, ordenou ao duque de Alba, em
1580, a invasão de Portugal. 2. Ataques e invasões
Entre as consequências da união das Coroas Ibéri- Entre os fatores básicos que justificam as invasões
cas, destacam-se a constituição de um grande Império e ataques estrangeiros ao Brasil, encontramos, inicial-
Colonial Ibérico, que provocou, entretanto: o desmante- mente, a estipulação do Tratado de Tordesilhas (junho de
lamento do Império Luso no Oriente; e a formação da 1494), firmado entre Espanha e Portugal, a partir do qual
“Invencível Armada”, que, diante da sua derrota, em ocorreu uma marginalização da Inglaterra, da França e da
1588, não só acarretou uma grande decadência militar Holanda em relação à partilha das terras recém-conquis-
em Portugal, como também arrastou este país para os tadas, provocando por parte desses países diversas
conflitos desastrosos com a Inglaterra, a França e princi- represálias. Em um segundo momento, temos a União
palmente a Holanda. Apesar do domínio espanhol em das Coroas Ibéricas (1580-1640), que provocou uma
Portugal, este manteve sua autonomia administrativa, grande reação daqueles países aos monopólios ibéricos

Boicote: punição feita, geralmente, em represália, recusando manter relações comerciais ou sociais.
Invasões e ataques estrangeiros: presença em território brasileiro de indivíduos que não eram de nacionalidade portuguesa, com vistas ao saque
e à posse de terras.

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estabelecidos em relação ao comércio e à navegação Ataques de corsários


coloniais. As principais invasões e ataques empreen- ao Rio de Janeiro (1710-1711)
didos por Inglaterra, França e Holanda ocorreram durante
o domínio espanhol (relacionando-se com as rivalidades Esses ataques estão relacionados à cobiça desper-
da política europeia) e arrastaram Portugal nos tada pela França sobre o ouro que saía pelo porto do Rio
desastrosos conflitos que envolviam a Espanha. de Janeiro e a um pretexto que está vinculado à posição
de Portugal, contrário às pretensões do rei francês Luís
3. As invasões inglesas XIV, na Guerra de Sucessão da Espanha. Em represália a
tal postura, em 1710 foi organizado um ataque ao Rio de
Desde a década de 1530, havia um comércio ilícito Janeiro, sob o comando de Jean Duclerc, que foi der-
mantido pelos ingleses diretamente com os indígenas. rotado, preso e posteriormente assassinado por motivos
Tal fato constituiu a causa básica dos ataques ingleses, particulares. Em 1711, ocorreu um novo ataque, desta
que objetivavam o saque praticado por piratas, corsários vez sob o comando de Duguay-Trouin, corsário vincula-
e almirantes ingleses, principalmente na fase do governo do ao rei da França, o qual, em poucos dias, contando
da rainha Elizabeth I (Isabel). com 18 navios, apossou-se da cidade, que foi enorme-
Em 1583, o almirante Edward Fenton entrou em mente saqueada, e exigiu também um vultoso resgate
Santos, mas foi repelido. Em 1586, entretanto, Thomas pago em ouro.
Cavendish, na noite de Natal, ocupou a Vila de Santos,
saqueando-a e exigindo o pagamento de um resgate. No
ano seguinte, tentou um novo ataque a Santos, mas sem
sucesso. Em 1587, ocorreu um ataque fracassado à cidade
de Salvador, chefiado por Robert Withrington e Lister.
Em 1595, nova expedição, comandada pelo inglês James
Lancaster, tendo a participação do corsário francês
Venner, atacou com grande sucesso o povoado de Recife.

4. As invasões francesas
Desde o período pré-colonial já ocorriam incursões
francesas, principalmente no litoral do Nordeste e do
Rio de Janeiro, onde praticavam o contrabando do
pau-brasil e contavam com a colaboração indígena.

A França Equinocial
(Maranhão – 1612-1615)
A segunda tentativa de se formar uma colônia
francesa no Brasil foi no Maranhão. A origem dessa colô-
nia remonta ao ano de 1594, quando alguns náufragos
franceses, liderados por Jacques Riffault, estabelece-
ram-se na região. Um outro francês, Charles de Vaux,
que havia sido aprisionado no Ceará, regressou à França Áreas ocupadas pelos franceses no Brasil
e difundiu a ideia de ser criada uma colônia francesa na
região do Maranhão, área ainda abandonada. Em 1612, A presença francesa e a conquista do
chegou ao Maranhão uma expedição comandada pelo
litoral do Norte-Nordeste
nobre Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière,
contando com a participação de diversos outros fidalgos. Algumas regiões do Norte e do Nordeste do Brasil
Os franceses estabeleceram as bases da colônia, que tiveram seu povoamento iniciado devido aos ataques
recebeu o nome de França Equinocial, sendo, em 1612, realizados pelos portugueses contra as bases francesas
fundado o Forte de São Luís (futura cidade). estabelecidas no litoral dessas regiões. Tal foi o caso da
A expulsão dos franceses ocorreu em 1615, após Paraíba, onde os portugueses, para expulsar os france-
um acordo firmado entre eles e os portugueses (estes ses, em 1584, fundaram, por meio de Frutuoso Barbosa,
últimos não o cumpriram). o Forte de Filipeia de Nossa Senhora das Neves, que

Corsário: piratas que possuíam a “Carta do Corso”, uma autorização para realizar ataque contra nações inimigas.
Contrabando: comércio de mercadorias sem o pagamento de direitos.
Equinocial: antiga denominação da Linha do Equador.

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veio a dar origem à terceira cidade do Brasil (atual João e comandada por D. Fradique de Toledo Osório. Em 1625,
Pessoa). Nessa região, os portugueses contaram com o os holandeses eram derrotados e expulsos da Bahia –
apoio dos índios tabajaras, chefiados por Piragibe. episódio que ficou conhecido como Jornada dos
Outra região foi a do Rio Grande do Norte, onde, em Vassalos.
1597, Jerônimo de Albuquerque fundou o Forte dos Reis Em 1628, entretanto, Pieter Heyn atacou barcos espa-
Magos (atual cidade de Natal) para fazer frente aos fran- nhóis carregados de prata nas Antilhas. Este e outros
ceses, que já há algum tempo faziam da região seu ataques (como um novo saque ao porto de Salvador, em
reduto. Os índios potiguares davam grande apoio aos 1627) criaram condições para a WIC se reestruturar e
invasores. Na região do Ceará, ocorreram fatos idênti- preparar um novo e maior ataque, agora em uma região
cos, pois os franceses constantemente frequentavam menos protegida e a maior produtora de açúcar do Brasil.
seu litoral. Em 1603, Pero Coelho iniciou os ataques aos
franceses e indígenas, mas não foi bem-sucedido. A
conquista ocorreu em 1611, com Martim Soares
Moreno (fundador de Fortaleza).
Todos esses fatos estão inseridos na História da
conquista das regiões setentrionais do Brasil.

5. As invasões holandesas
As relações mantidas por Portugal com os Países
Baixos eram bem intensas antes da própria colonização
do Brasil. Na análise da economia colonial brasileira foi
destacado o papel de grande importância dos holande-
ses na montagem da empresa canavieira colonizadora,
na qualidade de financiadores, transportadores, refina-
dores e distribuidores do açúcar do Brasil no mercado
europeu. Foi destacado também o papel que desempe-
nhavam no denominado "comércio triangular" entre
Europa, África e Brasil (incluindo o tráfico negreiro). O
início da União Ibérica, entretanto, veio modificar enor-
memente este quadro, na medida em que a situação po-
lítica entre os dois países se alterou sobremaneira em
virtude dos decretos publicados pelo rei Filipe II da Espa-
nha, boicotando o comércio açucareiro flamengo com o
Brasil.
Invasão e conquista dos holandeses no Nordeste
A invasão holandesa na Bahia
(1624-1625) A invasão holandesa em
Vinte e seis navios da WIC, com 3.300 homens, sob Pernambuco (1630-1654)
o comando de Jacob Willekens, tendo o destaque do Com 56 navios grandes e 7.300 soldados, a WIC
almirante Pieter Heyn e do governador Johan van Dorth, realizou a sua segunda invasão, agora sob o comando de
invadiram a Bahia. Esta foi escolhida por ser um grande Diederik van Waerdenburgh e Hendrick Lonck. Os 400
centro produtor de açúcar e a capital da colônia. A notícia soldados de Pernambuco nada puderam fazer diante de
da vinda dos holandeses já havia sido anunciada, mas, tão desigual situação. Dessa forma, os holandeses não
apesar de um relativo preparo para a chegada destes, o encontraram resistência para penetrar na capitania (feve-
governador Diogo Mendonça Furtado não conseguiu reiro de 1630). O governador de Pernambuco, Matias de
evitar a queda de Salvador. A população, sob a liderança Albuquerque, deu ordem de retirada à população,
do bispo D. Marcos Teixeira, retirou-se para o interior, incendiando os armazéns e navios e realizando a fuga
onde organizou diversos grupos de guerrilhas. Os portu- mais para o interior ("fuga da terra arrasada"). Nesse local
gueses receberam, logo depois, a ajuda de Matias de organizaram a resistência, formando o famoso Arraial
Albuquerque, proveniente de Pernambuco. O movimen- do Bom Jesus. O movimento guerrilheiro que reunia
to de guerrilha dos habitantes locais teve sucesso e a senhores de engenho, escravos, índios e a população de
situação dos holandeses tornava-se cada vez mais Olinda e Recife denominou-se Guerra Brasílica.
problemática. Tornou-se insustentável quando chegou à
Bahia uma imensa esquadra luso-espanhola (aproxima- O Arraial do Bom Jesus conseguiu algumas vitórias,
damente 12 mil soldados) organizada pelo rei Filipe IV mas em abril de 1632 Domingos Fernandes Calabar,
profundo conhecedor da região e participante do
Regiões setentrionais: refere-se a regiões do Norte.
Arraial: acampamento, especialmente de tropas.
“Arraial”, deixou de apoiar os portugueses e se uniu aos

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invasores, denunciando o local do centro de resistência.


O Arraial do Bom Jesus foi derrotado e os holandeses
6.Cronologia
estenderam suas conquistas para outras regiões do litoral
nordestino, desde o Rio Grande do Norte até a Paraíba. 1578 – Morte do rei D. Sebastião na Batalha de
Matias de Albuquerque ordenou a retirada para Alagoas e Alcácer Quebir, na África.
no caminho retomou Porto Calvo, onde derrotou os 1580 – Morte do cardeal-rei D. Henrique; extinção da
holandeses. Aprisionou Calabar e mandou executá-lo. Dinastia de Avis e início da União lbérica (Do-
Essas vitórias, entretanto, foram infrutíferas, pois os mínio Filipino).
holandeses obtiveram uma vitória fundamental em Mata
1588 – Derrota da “Invencível Armada”.
Redonda. Em 1637, a WIC entregou a administração do
1591 – Thomas Cavendish saqueia Santos e São
Brasil holandês ao conde João Maurício de Nassau.
Vicente.
1595 – James Lancaster saqueia o Recife.
1602 – Criação da Companhia Holandesa das Índias
Orientais.
No Portal Objetivo 1612 – Fundação da França equinocial.
1621 – Criação da Companhia Holandesa das Índias
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL Ocidentais.
OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite 1624 – Invasão holandesa na Bahia.
HIST2M104 1630 – Invasão holandesa em Pernambuco.

Exercícios Resolvidos

 (UFMG – MODELO ENEM) – Analise este quadro: Resolução


A União Ibérica (1580-1640) foi o período em que Portugal e Espanha
Evolução do número de engenhos de açúcar em cada Capitania
estavam sob o domínio Habsburgo.
Capitania 1570 1503 1612 1629 Obs.: Pela tabela se observa um crescimento nas capitanias de
Pará, Ceará, Pernambuco, Itamaracá e Paraíba entre os anos de 1612 e 1629,
– – – – portanto anterior à invasão holandesa de Pernambuco (1630-54).
Maranhão
Resposta: D
Rio Grande – – 1 –
Paraíba – – 12 24
(MODELO ENEM) – “Em 1580, instalou-se uma crise sucessória
Itamaracá 1 – 10 18 em Portugal. Em 1578, o rei Dom Sebastião I morrera na batalha de
Alcacer-Quibir, no Marrocos contra os mouros, no norte da África, não
Pernambuco 23 66 99 150
deixando herdeiros. Assumira o trono português, como regente, o
Sergipe – – 1 – cardeal Dom Henrique, seu tio-avô, que morreu em 1580. Extinguia-se
Bahia 18 33 50 8 com ele a dinastia de Avis. Vários candidatos, por ligações de paren-
Ilhéus 8 3 5 4 tesco, apresentaram-se para a sucessão. Felipe II, rei da Espanha, por
ser neto de Dom Manuel, o Venturoso, e tio de D. Sebastião, julgava-
Porto Seguro 5 1 1 –
se o candidato com mais direito ao trono português. Assim, as forças
Espírito Santo 1 6 8 8 espanholas invadiram Portugal, em 1580, e Felipe II tomou a Coroa
Rio de Janeiro – 3 114 60 portuguesa, unindo Portugal e Espanha. Este fato ficou conhecido
como União Ibérica, que se estendeu até 1640.”
São Vicente,
4 6 – –
Santo Amaro (Disponível em: <http://brasil-imperio.blogspot.com/2009/01/unio-
ibrica-e-expanso-oficial-do-brasil.html>.
Total 60 118 201 350 Acesso em: 14 ago. 2009.)
(Francisco Bethencourt; Sobre a União Ibérica, é correto afirmar:
Kirti Chauduhuri. História da expansão portuguesa. a) A morte de D. Sebastião levou imediatamente a um sucessor
Lisboa: Círculo de Leitores, 1998, p. 316.) espanhol.
A partir dessas informações sobre a evolução do número de engenhos b) D. Felipe II era sobrinho de D. Sebastião.
açucareiros no Brasil, entre 1570 e 1629, é correto afirmar que c) Em 1578 começa a União Ibérica e se encerra em 1640.
a) a expulsão dos holandeses da Bahia provocou a retração da d) A dinastia de Avis continua a existir com D. Felipe II.
produção açucareira nessa Capitania. e) União Ibérica foi a união entre Portugal e Espanha sob o comando
b) a invasão holandesa no Nordeste açucareiro destruiu a base de Felipe II.
produtiva instalada pelos portugueses na região. Resolução
c) a substituição do trabalho escravo indígena pelo africano não Com a crise sucessória em Portugal, provocada pela falta de um
alterou a produção de açúcar na região de São Paulo. herdeiro luso direto, o rei da Espanha impôs o seu comando sobre
d) a expansão da área açucareira em Pernambuco ocorreu, de forma Portugal. Esse período se estendeu de 1580 até 1640.
significativa, durante o período da União Ibérica. Resposta: E

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Exercícios Propostos

 (FUVEST) – Na segunda metade do século XVII Portugal  Rui Guerra e Chico Buarque de Holanda
encontrava-se em grave crise econômica. escreveram uma peça para teatro chamada
Calabar, pondo em dúvida a reputação de traidor que foi
a) Explique os motivos dessa crise. atribuída a Calabar, pernambucano que ajudou decisivamente
os holandeses na invasão do Nordeste brasileiro, em 1632.
RESOLUÇÃO:
A União Ibérica, com a perda de significativa parte do Império “– Calabar traiu o Brasil que ainda não existia? Traiu Portugal,
Oriental e entrepostos africanos; as concessões comerciais para a
Inglaterra e a crise da economia açucareira por causa da concor-
nação que explorava a colônia onde Calabar havia nascido?
rência holandesa nas Antilhas. Calabar, mulato em uma sociedade escravista e discrimi-
natória, traiu a elite branca?”

Os textos referem-se também a esta personagem.

Texto I: “...dos males que causou à Pátria, a História, a inflexí-


vel História, lhe chamará infiel, desertor e traidor, por todos os
b) De que forma o Brasil contribuiu para solucioná-la? séculos”.
(Visconde de Porto Seguro. In A. Souza Júnior. Do Recôncavo aos
RESOLUÇÃO: Guararapes. Rio de Janeiro: Bibliex, 1949.)
Do Brasil viria a salvação de Portugal, por uma maior centraliza-
ção administrativa e um rígido controle fiscal, ou por qualquer Texto II: “Sertanista experimentado, em 1627 procurava as
outro meio que resultasse em maiores recursos para o Estado. minas de Belchior Dias com a gente da Casa da Torre; ajudara
Matias de Albuquerque na defesa do Arraial, onde fora ferido,
e desertara em consequência de vários crimes praticados...“
(os crimes referidos são o de contrabando e roubo).
(P. Calmon. História do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959.)

Pode-se afirmar que:


a) A peça e os textos abordam a temática de maneira parcial e
chegam às mesmas conclusões.

(UNESP) – A solução dada à questão dinástica portuguesa, b) A peça e o texto I refletem uma postura tolerante com
após o desaparecimento de D. Sebastião em Alcácer-Quibir relação à suposta traição de Calabar, e o texto II mostra uma
(1578) repercutiu na Europa e no ultramar. Considere a fase de posição contrária à atitude de Calabar.
união das Monarquias Ibéricas (1580-1640) e relacione as c) Os textos I e II mostram uma postura contrária à atitude de
consequências no Brasil. Calabar, e a peça demonstra uma posição indiferente em
relação ao seu suposto ato de traição.
RESOLUÇÃO: d) A peça e o texto II são neutros com relação à suposta traição
Anula-se o Tratado de Tordesilhas, formando um gigantesco
Império Colonial Ibérico. Os inimigos da Espanha (França,
de Calabar, ao contrário do texto I, que condena a atitude de
Holanda e Inglaterra) tornam-se inimigos de Portugal e decidem Calabar.
invadir o Brasil. Sem o Tratado de Tordesilhas, facilitam-se as e) A peça questiona a validade da reputação de traidor que o
inserções pelo interior do Brasil com os bandeirantes. texto I atribui a Calabar, enquanto o texto II descreve ações
positivas e negativas dessa personagem.

RESOLUÇÃO:
A alternativa se explica por si mesma. Deve-se apenas observar,
para esclarecimento, que o texto de Rui Guerra e Chico Buarque
foi escrito num contexto de oposição ao regime militar brasileiro
e seus valores, que enfatizavam a visão tradicionalista e ufanista
de nossa História. O visconde de Porto Seguro representa esse
mesmo pensamento tradicional, inserido na estrutura conserva-
dora do Segundo Reinado. Já Pedro Calmon – um historiador do
século XX – demonstra uma visão mais objetiva a respeito do
personagem Calabar.
Resposta: E

HISTÓRIA 23
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Domínio Palavras-chave:
• União Ibérica • Independência
5 Holandês e Restauração holandesa • Brasil holandês
• Nassau / tolerância

1. Administração Nassoviana e tal fato exigiu de Portugal a elaboração de diversos


tratados e acordos. Em relação à Holanda, tivemos a
(1637-1644) Trégua dos Dez Anos (1641-1651), acordo que tentava
Nassau imprimiu um sentido expansionista, ocu- justificar a contraditória e ambígua situação luso-fla-
pando o Nordeste até o Maranhão. Na África tomou menga: na Europa (Portugal), os dois países estavam
São Jorge da Mina e feitorias em Angola para assegurar aliados contra a Espanha; no Brasil, os holandeses ocu-
a vinda da mão de obra escrava negra. Falhou, entretanto, pavam sete capitanias (do Maranhão a Sergipe). Essa
nas tentativas de conquistar a Bahia, em 1638. Enquanto paradoxal situação de paz foi bem aproveitada por Nas-
a luta prosseguia no Brasil, a Restauração Portuguesa sau em sua obra administrativa.
(visando derrubar o domínio espanhol) iria modificar sen- A política nassoviana caracterizou-se pelas relações
sivelmente as relações entre Portugal e Holanda. cordiais com a população, principalmente com os senho-
Durante a denominada Guerra da Restauração, Por- res de engenho, de quem procurou ganhar a simpatia fi-
tugal contou com o apoio de Inglaterra, França e Holanda nanciando engenhos, encampando suas dívidas, cobran-
do juros baixos e recuperando engenhos abandonados.
Consequentemente, aumentou a produção canavieira.
Nassau procurava dar garantias a uma justiça mais igua-
litária e uma maior liberdade de culto, além de ter pu-
blicado normas protegendo a alimentação dos escravos
(obrigatoriedade de cultivo de 200 covas de mandioca
para os escravos). Politicamente, criou o Conselho dos
Escabinos, espécie de Câmara Municipal constituída
pelos senhores locais, mas dirigida por um membro da
WIC, o esculteto. Nassau cuidou ainda de obras de
embelezamento de Recife e culturais, como a criação do
Observatório Astronômico e da Biblioteca.
A política de Nassau, entretanto, entrou em choque
com os interesses da WIC. Esta considerava a sua
administração muito dispendiosa e personalista. Nassau,
pressionado, acabou por se demitir em 1643, mas
somente no ano seguinte retirou-se de Pernambuco.

2. A Insurreição Pernambucana
(1645-1654)
Após uma fase inicial de reação ao invasor (1630-35)
e um período de acomodação (1635-45), teve início em
1645 uma forte reação visando à expulsão dos holande-
ses. Tal movimento já se fazia sentir desde 1642 no Mara-
nhão; com a saída de Nassau, alastrou-se a tendência
libertadora entre os pernambucanos.
As causas básicas da Insurreição Pernambucana
estão no endividamento dos senhores de engenho,
cobrança das dívidas de forma diferente da que vinha
sendo feita, queda no preço do açúcar e reflexos de
Maurício de Nassau, que governou as áreas de conquistas holande-
sas no Brasil entre 1637 e 1644.
catástrofes naturais sobre a produção canavieira.

Escabino: membro da Câmara Municipal criada pelos holandeses durante o período de dominação em Pernambuco.

24 HISTÓRIA
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Diante das primeiras reações revolucionárias, o rei 3. Restauração Portuguesa


de Portugal, D. João IV, censurou a atitude dos líderes da
insurreição – João Fernandes Vieira, o negro Henrique
Dias, André Vidal de Negreiros e Filipe Camarão (índio Em 1640, ocorreu a Restauração Portuguesa (fim
Poti) –, chamando-os de “maus vassalos” por não res- da União Ibérica), movimento liderado pelo Duque de
peitarem o acordo firmado na Trégua dos Dez Anos. Bragança, que, contando com o apoio de Inglaterra,
Consequentemente, até 1651, o movimento recebeu de França e Holanda, conseguiu derrotar as tropas de Filipe
Portugal apenas um apoio não oficial. IV da Espanha, ascendendo ao trono português com o
Após uma primeira vitória no Morro das Tabocas, nome de D. João IV (iniciando a Dinastia de Bragança).
conseguida pelo senhor de engenho João Fernandes As causas da Restauração estão relacionadas à deca-
Vieira, e graças à hábil política de André Vidal de Negrei- dência em que o país se encontrava. O movimento ar-
ros, que chegou da Bahia com "tropas mediadoras", os rastou-se até 1668, tendo por base econômica a ajuda
holandeses sofreram novas derrotas. Dessa forma, Ala- do Brasil, que aderiu à Restauração por intermédio dos
goas e Sergipe foram libertados. Em Pernambuco, em governadores do Rio de Janeiro e de Salvador.
1648 e 1649, ocorreram as duas Batalhas de Guarara- Para garantir a Restauração e sua vitória, D. João IV
pes, com significativas vitórias dos insurretos. iniciou uma política de alianças com a Inglaterra, a Fran-
Em 1653, o rei de Portugal enviou reforços, sob o co- ça e a Holanda, que em seu sentido global produziu uma
mando de Pedro Jaques de Magalhães. Recife, cercado, enorme dependência de Portugal em relação a esses
assistiu a uma nova derrota holandesa. A rendição final países, principalmente em relação à Inglaterra. Com a
ocorreu em 1654, quando os holandeses capitularam na Holanda, D. João IV assinou a Trégua dos Dez Anos
Campina do Taborda. (1641 a 1651), enquanto os holandeses ocupavam o Nor-
A guerra dos holandeses contra os ingleses de deste brasileiro. Em 1661 (após a expulsão dos holande-
Oliver Cromwell (1651-54), devido à decretação do Ato ses do Brasil), Portugal firmou com a Holanda um tratado
de Navegação (1651) pela Inglaterra, contribuiu para o de paz (Tratado de Haia), pelo qual cedia a ela as ilhas
enfraquecimento dos flamengos. Molucas, o Ceilão e uma indenização de 4 milhões de
cruzados pela perda do Nordeste brasileiro.
Consequências Com a Inglaterra foram assinados vários tratados,
Entre as principais consequências da expulsão dos que levaram, progressivamente, à total subordinação
flamengos do Brasil, temos uma de ordem econômica: o econômica de Portugal. Em 1642, foram reduzidas as
início da decadência da produção canavieira (a partir de tarifas alfandegárias que incidiam sobre as manufaturas
aproximadamente 1660), devido à concorrência da pro- inglesas e permitiu-se o comércio direto com o Brasil,
dução antilhana. As Antilhas devia sua crescente produ- salvo com relação aos produtos estancados.
ção à introdução de uma tecnologia mais aprimorada, Tratado de Methuen – Panos e Vinhos
levada pelos holandeses da WIC, expulsos do Brasil. Ao
terminar o século, o Brasil, que anteriormente era o O Tratado de Methuen, em 1703, consagrou em de-
finitivo o domínio econômico da Inglaterra no mundo
primeiro produtor mundial de açúcar, colocava-se em
português.
quinto lugar, tendo à sua frente regiões antilhanas, como
a Jamaica. Esse último tratado versava sobre os panos ingleses
e os vinhos portugueses, um dos principais produtos de
Outra consequência interna foi o despertar do senti-
exportação do reino. Daí a denominação de Tratado dos
mento nativista, visto que, após a intensa participação na
Panos e Vinhos. Por ele, os panos ingleses receberiam
guerra contra os invasores, os habitantes de Pernam-
tarifas preferenciais nos portos portugueses; em
buco, depois de 1654, voltavam ao jugo português. O mo-
contrapartida, o vinho português receberia uma redução
vimento insurrecional evidenciava condições de maior
nas taxas, quando fosse admitido no mercado inglês. O
participação e organização política por parte dos
Tratado de Methuen teve consequências desastrosas pa-
pernambucanos.
ra Portugal, arruinando suas manufaturas, gerando, assim,
Outra consequência interna diz respeito ao acordo a dependência dos produtos ingleses e conduzindo os
entre Portugal e Holanda, firmando o Tratado de Paz de portugueses a catastrófica especialização na produção
Haia (1661), graças à mediação inglesa. Segundo tal vinícola, o que gerou em pouco tempo crises de
tratado, a Holanda recebia uma indenização de 4 milhões abastecimento.
de cruzados e a cessão pelos portugueses das ilhas
Molucas e do Ceilão, recebendo ainda o direito de co-
merciar com mais liberdade nas possessões portu-
guesas, devido à perda do ”Brasil holandês”. No Portal Objetivo
Brasil holandês: área do Nordeste ocupada pelos holandeses entre Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL
1630 e 1654. OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite
Ascendendo: subindo. HIST2M105

HISTÓRIA 25
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No Brasil, ocorreram importantes transformações na municipal, quebra da “relativa harmonia” entre colônia e
política administrativa após a Restauração. Houve um Metrópole, através das revoltas nativistas e, principal-
enrijecimento progressivo do Pacto Colonial, com mente após 1642, com a centralização empreendida
aumento da centralização do poder, fim da autonomia pelo Conselho Ultramarino.

4. Cronologia
1637 – Início do governo de Nassau.
1640 – Edital de Maurício de Nassau proibindo a produção do açúcar sem o plantio paralelo da mandioca.
– Fim da União Ibérica (Restauração Portuguesa); expulsão dos jesuítas de São Paulo.
1642 – Criação do Conselho Ultramarino.
1645 – Início da Insurreição Pernambucana.
1654 – Expulsão dos holandeses do Brasil.

Enrijecimento: endurecimento de arrocho.

Exercícios Resolvidos

 (FUVEST – MODELO ENEM)


(UFMG – MODELO ENEM) – Leia o texto.
“Nassau chegou em 1637 e partiu em 1644, deixando a marca do ad-
ministrador. Seu período é o mais brilhante de presença estrangeira.
Nassau renovou a administração (...). Foi relativamente tolerante com
os católicos, permitindo-lhes o livre exercício do culto. Como também
com os judeus (depois dele não houve a mesma tolerância, nem com
os católicos e nem com os judeus – fato estranhável, pois a Compa-
nhia das Índias contava muito com eles, como acionistas ou em pos-
tos eminentes). Pensou no povo, dando-lhe diversões, melhorando
as condições do porto e do núcleo urbano (...), fazendo museus de
arte, parques botânicos e zoológicos, observatórios astronômicos.”
(Francisco lglésias)
Esse texto refere-se
a) à chegada e instalação dos puritanos ingleses na Nova lnglaterra,
em busca de liberdade religiosa.
Este quadro, pintado por Frans Post por volta de 1660, pode ser correta- b) à invasão holandesa no Brasil, no período de União lbérica, e à
mente relacionado fundação da Nova Holanda no nordeste açucareiro.
a) à iniciativa pioneira dos holandeses de construção dos primeiros c) às invasões francesas no litoral fluminense e à instalação de uma
engenhos no Nordeste. sociedade cosmopolita no Rio de Janeiro.
b) à riqueza do açúcar, alvo principal do interesse dos holandeses no d) ao domínio flamengo nas Antilhas e à criação de uma sociedade
Nordeste. moderna, influenciada pelo Renascimento.
c) à condição especial dispensada pelos holandeses aos escravos e) ao estabelecimento dos sefardins, expulsos na Guerra da Recon-
africanos.
quista lbérica, nos Países Baixos e à fundação da Companhia das
d) ao início da exportação do açúcar para a Europa por determinação de
Índias Ocidentais.
Maurício de Nassau.
e) ao incentivo à vinda de holandeses para a constituição de pequenas
Resolução
propriedades rurais.
A União Ibérica (1580-1640) fez com que Portugal rompesse relações
com a Holanda, que até então comercializava o açúcar brasileiro, mas
Resolução
Durante a dominação holandesa em Pernambuco, ocorreu a adminis- se encontrava em guerra com a Espanha. Em consequência, a Compa-
tração de Maurício de Nassau (1637-1644), o qual trouxe para o Brasil nhia das Índias Ocidentais, formada por capitais holandeses, atacou o
o pintor Frans Post, autor da tela “O engenho com capela”, reproduzi- Nordeste Brasileiro, principal região produtora de açúcar. Nassau admi-
da na prova. O artista chegou ao Brasil em 1637, com 24 anos de nistrou o Brasil holandês entre os anos de 1637 e 1644.
idade, e tomou parte em diversas expedições, com o objetivo de Resposta: B
montar uma grande coleção de desenhos com motivos brasileiros para
o seu mecenas.
Resposta: B

26 HISTÓRIA
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Exercícios Propostos

 Quais fatores motivaram a demissão do conde Maurício de (PUC-CAMP – MODELO ENEM) – “(...) a pré-história das
Nassau? nossas letras interessa como reflexo da visão do mundo e da
linguagem que nos legaram os primeiros observadores do país.
RESOLUÇÃO: É graças a essas tomadas diretas da paisagem, do índio e dos
Nassau foi demitido por discordar da nova política holandesa em grupos sociais nascentes, que captamos as condições pri-
relação aos senhores de engenho do Nordeste, que exigia o
imediato pagamento das dívidas com a Holanda. Com sua saída,
mitivas de uma cultura que só mais tarde poderia contar com
implementou-se a cobrança das dívidas. o fenômeno da palavra-arte.”
(Alfredo Bosi. História concisa da Literatura Brasileira.
São Paulo: Cultrix, 1970, p. 15.)

Dentre os muitos observadores do país, que se dedicaram a


fazer tomadas diretas da paisagem, do índio e dos grupos
sociais nascentes, temos artistas holandeses como Frans Post
e Albert Eckhout. Tais artistas vieram ao Brasil, no século XVII,
em função da
a) Companhia de Jesus, que estimulou a difusão de obras
artísticas que retratavam a beleza do Brasil, a fim de
desmistificar a ideia de "selvageria" associada à natureza e
ao indígena.
b) administração pombalina, que valorizou a produção artística
 O que foi a Insurreição Pernambucana? e científica desenvolvida por estrangeiros, no Brasil,
exercendo o chamado "despotismo esclarecido".
RESOLUÇÃO: c) chamada Missão Francesa, que foi constituída por artistas e
Movimento de rebeldia dos colonos pernambucanos em face da cientistas de várias nacionalidades, encarregados de
cobrança das dívidas com os holandeses após a demissão do
Conde Maurício de Nassau.
registrar a geografia, as raças, a flora e a fauna brasileiras.
d) Companhia das Índias Ocidentais, que se empenhou em
avaliar economicamente a riqueza natural brasileira, para
atender aos interesses comerciais da Coroa Portuguesa.
e) administração nassauviana, que procurou desenvolver a
vida cultural da "Nova Holanda", patrocinando a vinda e a
produção de artistas, cientistas, escritores e teólogos.

RESOLUÇÃO:
Erudito e humanista, Maurício de Nassau interessava-se pelas

 (FUVEST) – Foram, respectivamente, fatores importantes


ciências e pelas artes. Tão logo foi nomeado pela Companhia das
Índias Ocidentais como administrador da Nova Holanda (parte do
na ocupação holandesa no Nordeste do Brasil e na sua poste- nordeste do Brasil), reuniu um grupo de cientistas, teólogos,
rior expulsão: arquitetos, médicos e pintores para trazer consigo ao Brasil.
a) o envolvimento da Holanda no tráfico de escravos e os de- Resposta: E
sentendimentos entre Maurício de Nassau e a Companhia
das Índias Ocidentais.
b) a participação da Holanda na economia do açúcar e o
endividamento dos senhores de engenho com a Companhia
das Índias Ocidentais.
c) o interesse da Holanda na economia do ouro e a resistência
e não aceitação do domínio estrangeiro pela população.
d) a tentativa da Holanda em monopolizar o comércio colonial
e o fim da dominação espanhola em Portugal.
e) a exclusão da Holanda da economia açucareira e a mudança
de interesses da Companhia das Índias Ocidentais.

RESOLUÇÃO:
O interesse dos holandeses no Brasil era controlar a produção
do açúcar.
Resposta: B

HISTÓRIA 27
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(FUVEST) – Entre as mudanças ocorridas no Brasil Colônia (MODELO ENEM) – “No dia 1.° de dezembro de 1640,
durante a União Ibérica (1580-1640), destacam-se eclodiu por fim em Lisboa a revolta, imediatamente apoiada
a) a introdução do tráfico negreiro, a invasão dos holandeses no por muitas comunidades urbanas e concelhos rurais de todo o
Nordeste e o início da produção de tabaco no recôncavo país, levando à instauração da Casa de Bragança no trono de
Baiano. Portugal. Finalmente, um sentimento profundo de autonomia
b) a expansão da economia açucareira no Nordeste, o estreita- estava a crescer e foi consumado na revolta de 1640, na qual
mento das relações com a Inglaterra e a expulsão dos jesuítas. um grupo de conspiradores da nobreza aclamou o duque de
c) a incorporação do Extremo-Sul, o início da exploração do Bragança como Rei de Portugal, com o título de D. João IV
ouro em Minas Gerais e a reordenação administrativa do ter- (1640-1656), dando início à quarta Dinastia – Dinastia de
ritório. Bragança.”
d) a expulsão dos holandeses do Nordeste, a intensificação da (Disponível em:
escravização indígena e a introdução das companhias de co- <http://pt.wikipedia.org/wiki/Restauracao_da_Independencia>.
Acesso em: 14 ago. 2009.)
mércio monopolistas.
e) a expansão da ocupação interna pela pecuária, a expulsão A partir do texto, podemos afirmar que
dos franceses e o incremento do bandeirismo. a) retrata o momento de independência do Brasil e a forte
reação portuguesa.
RESOLUÇÃO: b) o sentimento nacionalista foi fundamental para o fim da
Período marcado pelo início das feiras de gado (BA), pela
União Ibérica.
expulsão dos franceses do Maranhão (França Equinocial) e
pelo bandeirismo de preação (caça ao índio). c) o duque de Bragança se opôs à independência portuguesa.
Resposta: E d) a Dinastia de Bragança foi favorável à união com a Espanha.
e) as comunidades urbanas e rurais lutaram contra a restauração.

RESOLUÇÃO:
Depois de muitos anos de dominação espanhola, os portugueses
não aguentavam mais o desdém com as causas lusitanas nem o
aumento dos impostos decretado por Felipe III.
Resposta: B

 A partir da Restauração Portuguesa, a política colonial por- ”Quando tomaram a Bahia, em 1624-5, os
tuguesa passou a ser assinalada pelo enrijecimento. O principal holandeses promoveram também o bloqueio
órgão político-administrativo encarregado da governança das naval de Benguela e Luanda, na costa africana. Em 1637,
colônias e que demonstrava o rigor dessa nova política colonial Nassau enviou uma frota do Recife para capturar São Jorge da
era o(a) Mina, entreposto português de comércio do ouro e de escravos
a) Conselho das Índias. no litoral africano (atual Gana). Luanda, Benguela e São Tomé
b) Casa de Contratação. caíram nas mãos dos holandeses entre agosto e novembro de
c) Tribunal do Santo Ofício. 1641. A captura dos dois polos da economia de plantações
d) Conselho Ultramarino. mostrava-se indispensável para o implemento da atividade
e) Conselho Consultivo de Administração Colonial. açucareira.”
RESOLUÇÃO: (L.F. Alencastro. Com quantos escravos se constrói um país?
Portugal adota uma política ainda mais centralizadora, passando In Revista de História da Biblioteca Nacional.
a controlar a colônia diretamente da Europa. Rio de Janeiro, ano 4, n. 39, dez. 2008. Adaptado.)
Resposta: D
Os polos econômicos aos quais se refere o texto são
a) as zonas comerciais americanas e as zonas agrícolas
africanas.
b) as zonas comerciais africanas e as zonas de transformação
e melhoramento americanas.
c) as zonas de minifúndios americanas e as zonas comerciais
africanas.
d) as zonas manufatureiras americanas e as zonas de en-
treposto africano no caminho para a Europa.
e) as zonas produtoras escravistas americanas e as zonas
africanas reprodutoras de escravos.
RESOLUÇÃO:
A produção açucareira do Nordeste brasileiro necessitava de mão
de obra escrava. Para a Companhia das Índias Orientais holande-
sa, que atacou a Bahia de 1624 a 1625 e ocupou Pernambuco de
1630 a 1654, era importante controlar as zonas africanas forne-
cedoras (e não “reprodutoras”) de escravos. Daí a conquista,
pelos flamengos, das localidades africanas mencionadas no texto.
Resposta: E

28 HISTÓRIA
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Palavras-chave:

6 Bandeirismo e Interiorização • Expansionismo • Expedição


paramilitar • Alargamento
• Quilombo • Preação

1. A interiorização da • Aproveitamento dos rios navegáveis


Particularmente, dos Rios São Francisco, Tietê e
colonização: a queda Paraíba do Sul.
da linha de Tordesilhas • Agentes humanos
O elemento humano responsável pela expansão ter-
Considerações gerais ritorial foi representado pelos bandeirantes (expedicio-
Até meados do século XVI, apenas certo trecho do nários militares encarregados do apresamento de indíge-
litoral brasileiro – e ainda assim de forma intermitente – nas e da descoberta de ouro e pedras preciosas), pelos
foi povoado pelos portugueses, de São Vicente a Itama- boiadeiros (em busca de pastagens para o gado, em uma
racá. Isso justifica a expressão de Frei Vicente do Sal- ocupação do solo vinculada à contiguidade das proprie-
vador, autor da primeira História do Brasil: “Os portu- dades), pelos missionários (por meio da catequese e da
gueses andavam como caranguejos, arranhando o fundação de missões) e pelas milícias portuguesas
litoral”. Entretanto, a expansão dos horizontes geográ- (visando à conquista do Norte e do Nordeste do Brasil).
ficos do Brasil, com o consequente povoamento das
regiões conquistadas (partindo do litoral para o interior), A expansão oficial
obedeceu a alguns princípios gerais: Entende-se por expansão territorial oficial o proces-
• Condições econômicas so de anexação e ocupação de vastíssimas áreas promo-
Enquanto o principal interesse foi a agricultura, ape- vido pela Metrópole.
nas uma faixa litorânea, de dez a vinte léguas, era co- O ponto de partida dessa expansão oficial foi a luta
nhecida e povoada; a interiorização da colonização efeti- contra os franceses na época da fundação da França
vou-se com a pecuária (séculos XVI-XVII) e o complexo Antártica (1555-67). Contudo, a fase mais importante da
minerador (século XVIII). ampliação territorial coordenada pela Metrópole ocorreu
durante o domínio filipino (1580-1640).
Durante o século XVI e o início do século XVII, a com-
petição entre as metrópoles europeias para a aquisição
de colônias do Novo Mundo, particularmente entre as
nações marginalizadas pelo Tratado de Tordesilhas, resul-
taria na tentativa de ocupação de territórios na América;
o Brasil tornou-se um dos principais alvos durante o
longo período da dominação espanhola. Temendo a per-
da de parte da colônia, a Coroa viu-se obrigada a expul-
sar os invasores e criar núcleos de povoamento naquelas
regiões.

Fundação da Colônia
do Sacramento (1680)
Esse acontecimento está diretamente vinculado à
importância comercial da região. Por um lado, a velha
ideia dos portugueses no sentido de expandir a co-
Área de Exploração das drogas do sertão. lonização até a região do Prata e, por outro, o interesse
econômico da Inglaterra visando a criar uma "ponta de
• Necessidade de território contínuo lança" para o contrabando na região platina, o que
Tal necessidade se devia a motivos de segurança e possibilitaria a hegemonia comercial inglesa em território
de interesse econômico comuns, pois a continuidade hispano-americano. Efetivamente, a colônia foi fundada
territorial facilitaria o intercâmbio da produção, haja em 1680 por Manuel Lobo, o que acabaria provocando
vista a colonização de Sergipe e Alagoas, bem como a intensos conflitos diplomáticos que se estenderam até
conquista do trecho entre Laguna e Rio Grande do Sul. princípios do século XIX.
Intermitente: que sofre interrupções; não contínuo. Contiguidade: continuidade.
Intercâmbio: trocas. Ponta de lança: ponto de partida.

HISTÓRIA 29
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2. Entradas e bandeiras de serviços domésticos aos próprios paulistas. Logo,


porém, transformou-se em atividade lucrativa, destinada
As entradas e bandeiras, movimentos de expansão a complementar as necessidades de braços escravos
geográfica, proporcionaram ao Brasil sua atual configu- para a lavoura nordestina.
ração. A diferenciação entre os dois tipos de penetração
para o interior é mais tradicional que efetiva. As entra-
das seriam de origem e organização oficiais e não ultra-
passariam a linha demarcatória do Tratado de Torde-
silhas; as bandeiras resultariam da ação de particulares
e deslocariam nossos limites para além de Tordesilhas.
Entradas
Podemos destacar as seguintes:
– Américo Vespúcio: primeira entrada (1503 a
1504), na região de Cabo Frio;
– Em 1531, Martim Afonso de Sousa ordena uma
entrada no Rio de Janeiro;
– Expedição de Antônio Dias Adorno, em 1574, por
ordem do governador-geral Luís de Brito, atingindo a
região leste de Minas e apresando sete mil indígenas;
– Entrada de Belchior Dias Moreia: atingiu a Chapa-
da Diamantina e o São Francisco, permanecendo oito
anos no sertão e dando origem à lenda do descobri- João Batista da Costa (1865-1927). Casa e capela de Antônio Raposo
mento de minas de prata (1595). Tavares.
Bandeiras Na primeira metade do século XVII, os índios volta-
A penetração dos vicentinos para o Rio Grande do ram-se principalmente contra as missões (ou "reduções")
Sul, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso foi facilitada jesuíticas espanholas, resultando na destruição de vários
pelos rios que corriam para o interior (Tietê, Paraíba e estabelecimentos missionários, como os de Guairá,
Ribeira); isolados no planalto, sem poderem exportar Itatim e Tape, por Antônio Raposo Tavares. A formação
seus produtos de clima temperado, desenvolveram uma de um verdadeiro "ciclo de caça ao índio" está diretamen-
agricultura de subsistência, além de estarem livres de te relacionada com a escassez de mão de obra durante
ataques estrangeiros; a pobreza da região fomentava a o domínio filipino, uma vez que as fontes fornecedoras
necessidade de procurar novas riquezas: índios vendá- de negros africanos caíram nas mãos dos holandeses.
veis e metais preciosos. O declínio da caça ao índio ocorreu a partir da segunda
Ciclo da caça ao índio (preação) metade do século XVII, quando os portugueses retomaram
dos holandeses as regiões africanas, possibilitando o aten-
Inicialmente, a caça ao índio assumiu a forma de
dimento das exigências de mão de obra escrava no Brasil.
suprimento da carência de mão de obra para a prestação

Almeida Júnior (1850-1899). A Partida da Monção.

30 HISTÓRIA
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Ciclo do bandeirismo de contrato Grande ciclo do ouro


e dos diamantes (séc. XVIII)
A ação de bandeirantes contratados pelo governa-
dor-geral ou por particulares do Nordeste, a fim de Inicialmente, os vicentinos se dedicaram à procura
combater indígenas inimigos e quilombos de negros do chamado ouro de lavagem, encontrando-o nos
fugidos, é uma fase que corresponde, principalmente, à arredores de São Paulo, Iguape, Paranaguá, Curitiba e
segunda metade do século XVII. Santa Catarina.
O principal acontecimento ligado a este ciclo do Entretanto, a atuação dos bandeirantes paulistas na
bandeirismo foi a destruição do Quilombo dos Palma- procura de metais preciosos acabou por se concretizar
res, efetivada pelo paulista Domingos Jorge Velho. em fins do século XVII, quando foram realizadas as
primeiras descobertas de ouro e, no século XVIII, quando
Quilombos: lugar cercado e fortificado no qual os escravos se refu-
giavam da escravidão.
se encontraram diamantes. Esse fato foi o fator domi-
nante para a ocupação da região Centro-Oeste.

Mapa das principais bandeiras no período de colônia, indicando a ultrapassagem da linha de Tordesilhas.

HISTÓRIA 31
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3. Os tratados de limites
A expansão territorial do Brasil atingiu seu apogeu nos séculos XVII e XVIII, com a ocupação de territórios que
pertenciam à Espanha. Esse fato iria repercutir nas relações diplomáticas dos dois países ibéricos, dando origem a uma
série de tratados de limites.
A separação dos domínios ibéricos na América havia sido estabelecida em 1494, com a assinatura do Tratado de
Tordesilhas. Tornou-se inoperante durante o domínio filipino, permitindo as penetrações em regiões muito além dos
limites fixados entre as duas nações.
Com a restauração da monarquia portuguesa em 1640, o problema dos limites ibéricos voltou a existir. Já no século
XVII, para garantir seus domínios na América e evitar penetrações espanholas no Sul do Brasil, Portugal fundou em
1680 a Colônia do Sacramento. Em 1681, era assinado o primeiro tratado diplomático entre Portugal e Espanha a
respeito desse ponto de apoio lusitano no Rio da Prata.

As fronteiras do Brasil depois de assinado o Tratado As fronteiras do Brasil depois de


de Madri, confirmado pelo Tratado de Badajós assinado o Tratado de Santo Ildefonso

No século XVIII eclodiu a Guerra de Sucessão Es-


panhola, cujo trono era disputado pelo duque de
Anjou e pelo arquiduque Carlos de Habsburgo. Este
contava com o apoio da Inglaterra, do Sacro Império,
da Holanda e de Portugal. A luta terminou com o
reconhecimento do duque de Anjou como rei da
Espanha, com o nome de Filipe V. Em contrapartida,
a Espanha, pelo segundo Tratado de Utrecht (1715),
reconhecia a permanência dos portugueses na Colô-
nia do Sacramento. Porém, os atritos na Região
Platina, entre portugueses e espanhóis, continuaram.
Em 1750, foi celebrado o Tratado de Madri. A
atuação do brilhante diplomata luso-brasileiro Alexan-
dre de Gusmão, defendendo o princípio do uti
possidetis (a propriedade deriva da posse sem
contestação), foi de extrema importância para a
consolidação de um território três vezes maior do que
aquele fixado pelo Tratado de Tordesilhas. Porém, a
condição exigida pelos espanhóis para aceitarem o
princípio do uti possidetis foi a entrega da Colônia do
Sacramento. Em troca, a Espanha cedia a Portugal a Sete Povos das Missões e Sacramento foram as principais áreas de litígio
região de Sete Povos das Missões. dos tratados ibéricos pós-1640.

32 HISTÓRIA
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As demarcações do Tratado de Madri foram aceitas


quase unanimemente, exceto pelos jesuítas da região de 4. Cronologia
Sete Povos. Quando as tropas de demarcação se aproxi-
maram, os índios guaranis, insuflados pelos missioná-
rios, rebelaram-se contra elas. Foi a Guerra Guaraní- 1606 – Destruição das reduções jesuíticas de Guairá
tica. Em decorrência desse fato, foi assinado em 1761 o
por Manuel Preto e Antônio Raposo Tavares.
Tratado ou Convênio de El Pardo, que anulava a cláu-
sula do tratado anterior, referente ao Sul do Brasil. 1693 – Descoberta de ouro em Minas Gerais pelo
Com a ascensão de D. Maria I ao trono, portugueses paulista Antônio Rodrigues Arzão.
e espanhóis resolveram retomar as discussões sobre as
fronteiras na Região Platina. Em 1777, foi assinado o 1695 – Destruição final do Quilombo dos Palmares
Tratado de Santo Ildefonso, que outorgava à Espanha por expedição de Domingos Jorge Velho.
direitos de soberania sobre a Colônia do Sacramento e a 1715 – Tratado de Utrecht.
região de Sete Povos das Missões. Mesmo após a as-
sinatura do tratado de 1777, porém, colonos brasileiros 1750 – Tratado de Madri.
ocuparam a região de Sete Povos, resultando na assina- 1777 – Tratado de Santo Ildefonso.
tura do Tratado de Badajós (1801), que confirmou as
1801 – Tratado de Badajós.
fronteiras demarcadas anteriormente pelo Tratado de
Madri.

? Saiba mais
Monções
Tipo de bandeira que utilizava os rios navegáveis para penetrar no interior do Brasil. Partindo do Rio Tietê, os
paulistas chegavam até Cuiabá, no Mato Grosso. Essa importante via serviu para dar acesso aos garimpos da região
e abastecê-la com suprimentos.
Quilombo dos Palmares
Localizado na Serra da Barriga, no atual Estado de Alagoas, é considerado o maior e mais importante quilombo
já existente no Brasil. Sua origem é incerta, mas seu período áureo corresponde à conquista do Nordeste brasileiro
pelos holandeses até o reinado de Zumbi. O nome deriva da cobertura das casas que utilizavam a folha de uma
palmeira abundante na região.
Macaco, Subupira, Osenga, Zumbi, Acotirene, Tabocas, Danbrabanga e Andalaquituche são algumas das aldeias
que compunham o quilombo. A quantidade da sua população é incerta e compunha-se de negros ex-escravos,
mulatos, mamelucos, índios e até alguns brancos. Como o número de mulheres era pequeno, permitia-se a
poliandria.
Sua economia era autossuficiente, com uma próspera agricultura e a criação de pequenos animais. Caso
produzissem excedentes, negociavam com as vilas portuguesas próximas.
Seus principais líderes foram Acotirene, Ganga-Zumba e Zumbi. Quando Ganga-Zumba aceitou um acordo com os
portugueses para abandonar o quilombo, Zumbi recusou-se a aceitá-lo e passou a liderar a resistência, que chegou
a ameaçar o domínio português.
Um forte ataque apoiado por canhões, sob o comando de Domingos Jorge Velho, levou à destruição do
quilombo e Zumbi foi morto em 20 de novembro de 1695. Contudo, muitos estudiosos afirmam que o local
continuou habitado até o fim do Segundo Reinado.

Exercícios Resolvidos

 (UNIFESP – MODELO ENEM) – “A substância do Tratado [de c) silencia sobre o fato de que o entendimento entre Portugal e
Espanha resultava prejudicial para a Inglaterra.
Madri, 1750] consiste em concessões mútuas e na partilha de um
d) defende o acordo por ser parte interessada no mesmo, pois foi
imenso território despovoado. Nós cedemos a Portugal o que não nos
pago pelo governo português para que a Espanha o aceitasse.
serve e para eles será de grande utilidade; e Portugal nos cede a
e) revela que Portugal e Espanha souberam preservar com muita
Colônia e o rio da Prata que não os beneficia e nos destrói.”
habilidade seus interesses coloniais no Novo Mundo.
(Francisco de Auzmendi, oficial maior da Secretaria dos Negócios
Resolução
Estrangeiros da Espanha e partícipe do Tratado.)
Mera interpretação de texto, pois o oficial relata as vantagens para as
duas nações ibéricas.
Essa interpretação do autor
Cabe lembrar que o Tratado de Madri redefiniu as possessões
a) ignora as vantagens que a Espanha obteve com o Tratado, haja vista
territoriais após o acordo de Tordesilhas (1494) e deu ao Brasil quase o
a tentativa de Portugal reconquistar a região em 1809.
seu tamanho atual.
b) demonstra a cordialidade existente entre Portugal e Espanha nas
Resposta: E
disputas pela posse de seus territórios americanos.

HISTÓRIA 33
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 (PUC-CAMP – MODELO ENEM)


No que se refere à faixa escura a leste, é correto afirmar que a ocupação
e povoamento dessa faixa
a) ocorrem desde a vinda das expedições exploratórias no litoral e ligam-
se à exploração econômica do pau-brasil.
b) têm início em meados do século XVIII e associam-se ao sucesso das
capitanias do Nordeste e do Sudeste.
c) vêm desde a época colonial e expressam a ligação econômica em
relação aos centros mundiais do capitalismo, desde sua formação.
d) resultam da invasão do litoral pelos imigrantes europeus e associam-
se à desestruturação econômica do feudalismo.
e) têm origem econômica na indústria açucareira e ligam-se à integração
gradativa do índio e do negro à sociedade brasileira.
Resolução
A ocupação do litoral marca o início da colonização pela facilidade de
escoamento da produção.
Resposta: C

No Portal Objetivo
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL
(José William Vesentini. Geografia: série Brasil.
OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite São Paulo: Ática, 2003. p. 181. Adaptado.)
HIST2M106

Exercícios Propostos

 Quais os fatores que contribuíram para o processo de  Diferencie entradas e bandeiras.


interiorização da colônia?
RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: As entradas eram expedições oficiais do governo português e não
Atividades econômicas de pecuária e mineração; necessidade de podiam ultrapassar os limites de Tordesilhas, enquanto as bandei-
território contínuo visando à segurança; presença de rios nave- ras eram expedições de particulares para além de Tordesilhas.
gáveis; e ação dos bandeirantes, jesuítas, boiadeiros e militares
portugueses.

 Quais os principais ciclos do bandeirismo?

RESOLUÇÃO:
Caça ao índio, bandeirismo de contrato, mineração.

34 HISTÓRIA
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O mapa a seguir apresenta parte do contorno (UNESP – MODELO ENEM) – Observe o mapa e responda.
da América do Sul destacando a bacia ama-
zônica. Os pontos assinalados representam
fortificações militares instaladas no século XVIII pelos
portugueses. A linha indica o Tratado de Tordesilhas revogado
pelo Tratado de Madri, apenas em 1750.

(Carlos de Meira Mattos. Geopolítica e teoria de fronteiras. Adaptado.)

Pode-se afirmar que a construção dos fortes pelos portugue-


ses visava, principalmente, dominar (Atlas histórico escolar, Fename/MEC, 1980. Adaptado.)
a) militarmente a bacia hidrográfica do Amazonas.
b) economicamente as grandes rotas comerciais. a) O meridiano de Tordesilhas, enquanto esteve em vigor, obs-
c) as fronteiras entre nações indígenas. truiu a efetiva ocupação do interior do território brasileiro.
d) o escoamento da produção agrícola. b) As riquezas do Vice-Reinado do Rio da Prata atraíram muitos
e) o potencial de pesca da região. aventureiros em busca de fortuna fácil e que acabaram por
se fixar na região sul do Brasil.
RESOLUÇÃO: c) A busca por pau-brasil e terras férteis para a cana-de-açúcar
A localização das fortificações assinaladas no mapa mostra clara- impulsionou a derrubada da mata atlântica e a fixação do
mente que elas circundam a área da Bacia Amazônica que os colonizador no sertão nordestino.
portugueses tencionavam controlar. Nesse contexto, a posição
d) Apesar do aspecto extensivo da atividade, a pecuária de-
das fortificações, situadas nos limites do território em que se
praticava a coleta das “drogas do sertão”, destinava-se a repelir sempenhou importante papel no processo de interiorização
possíveis ataques dos espanhóis ou dos franceses (estes últimos da ocupação.
na região do Amapá). e) O intenso povoamento da região norte causou sérios pro-
Resposta: A blemas para a Metrópole, que não dispunha de meios para
abastecer a área.

RESOLUÇÃO:
O mapa apresenta as atividades econômicas desenvolvidas
durante o Brasil Colônia. As drogas do sertão, a mineração e a
pecuária cooperaram para a expansão e a ocupação de porções
territoriais além do limite de Tordesilhas.
Resposta: D

HISTÓRIA 35
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 ”A moderna ‘conquista da Amazônia’ inverteu


o eixo geográfico da colonização da região.
Desde a época colonial até meados do século XIX, as correntes
principais de população movimentaram-se no sentido Leste-
Oeste, estabelecendo uma ocupação linear articulada. Nas
últimas décadas, os fluxos migratórios passaram a se verificar
no sentido Sul-Norte, conectando o Centro-Sul à Amazônia.”

(N. B. Olic. Ocupação da Amazônia, uma epopeia inacabada.


Jornal Mundo, ano 16, n. 4, ago. 2008. Adaptado.)

O primeiro eixo geográfico de ocupação das terras amazônicas


demonstra um padrão relacionado à criação de
a) núcleos urbanos em áreas litorâneas.
b) centros agrícolas modernos no interior.
c) vias férreas entre espaços de mineração.
d) faixas de povoamento ao longo das estradas.
e) povoados interligados próximos a grandes rios.

RESOLUÇÃO:
O processo de ocupação da Amazônia teve início com a criação do
(L. Bethel. História da América. v. I. São Paulo: Edusp, 1997.) forte de Belém, em 1616. A partir dessa cidade, a ocupação
amazônica se interiorizou, utilizando os vales fluviais como eixo
As terras brasileiras foram divididas por meio de tratados entre de penetração e assentamento, ato que caracteriza a distribuição
Portugal e Espanha. De acordo com esses tratados, identifi- populacional da região até hoje.
Resposta: E
cados no mapa, conclui-se que
a) Portugal, pelo Tratado de Tordesilhas, detinha o controle da
foz do rio Amazonas.
b) o Tratado de Tordesilhas utilizava os rios como limite físico
da América portuguesa.
c) o Tratado de Madri reconheceu a expansão portuguesa
além da linha de Tordesilhas.
d) Portugal, pelo Tratado de San Ildefonso, perdia territórios na
América em relação ao de Tordesilhas.
e) o Tratado de Madri criou a divisão administrativa da América
Portuguesa em Vice-Reinos Oriental e Ocidental.

RESOLUÇÃO:
O Tratado de Madri (1750), com base no princípio romano do uti
possidetis, reconheceu o domínio de Portugal sobre os vastos
territórios espanhóis ocupados por aquele país a oeste do
Meridiano de Tordesilhas. Com esse acordo, o Brasil adquiriu
praticamente sua configuração atual, com exceção do Acre (com-
prado à Bolívia em 1903) e dos Sete Povos das Missões (ocupados
pelos riograndenses em 1794).
Resposta: C

36 HISTÓRIA
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Palavras-chave:

7 Mineração • Estanco • Aluvião


• Fiscalismo • Mercado interno
• Urbanização

1. Mineração: o brilho do ouro transformar o ouro em barras timbradas e quintadas.


Em 1730, o quinto foi reduzido de 20% para 12%, mas
A época da mineração (ouro e diamantes) abrangeu em 1735 foi criado um novo imposto: a capitação, que
fundamentalmente o século XVIII, e o seu apogeu cor- correspondia a 17g de ouro por escravo que o minerador
respondeu mais ou menos ao período compreendido possuísse.
entre 1750 e 1770. A partir de 1750 (época do apogeu), o governo esti-
As principais regiões de exportação do ouro foram pulou uma cota fixa de 100 arrobas anuais de ouro, a
Minas Gerais, que teve sua exploração inicial a partir de qual incidia sobre toda a região aurífera. Esse tributo
1693, com Antônio Rodrigues Arzão, em Caeté (próximo estava relacionado à finta – um tributo já anteriormente
a Sabará); Mato Grosso, a partir de 1718, quando estipulado e lançado em proporção aos rendimentos de
Pascoal Moreira Cabral Leme atingiu a região de Cuiabá; cada morador da região aurífera –, quinto presumível.
e em Goiás, a partir de 1725, com Bartolomeu Bueno da Evidentemente, esse exorbitante tributo provocou uma
Silva Filho, na região de Goiás Velho. Antes dessa época, série de protestos da população de Minas Gerais e, com
já tinham ocorrido explorações (desde o século XVI) nas o esgotamento das jazidas, ocorreram deficits de
regiões de São Paulo, Paraná, Ceará e Bahia, arrecadação. Em 1765, foi criada a derrama, ou seja, o
relacionadas ao denominado ouro de lavagem. deficit deveria ser pago na forma de doação de bens pes-
O ouro que foi explorado no século XVIII foi denomi- soais dos moradores, o que acarretou maiores movi-
nado ouro de aluvião, tendo como principais carac- mentos de rebeldia, que num crescendo foram as-
terísticas o baixo nível técnico (técnicas rudimentares) sumindo consequências políticas: conflitos entre os
e o rápido esgotamento das jazidas. As duas formas colonos e os representantes do governo metropolitano
mais encontradas de exploração foram a faiscação (ga- devido ao aumento do fiscalismo tributário. O ápice
rimpo individual) e a lavra (pequena empresa explo- desses movimentos contra o governo luso esteve
radora com utilização da mão de obra escrava negra e vinculado ao nosso primeiro movimento de eman-
uma técnica mais apurada). cipação, que foi a Inconfidência Mineira, organizada
para 1789, exatamente quando seria cobrada uma
Legislação aurífera enorme "derrama".
Em 1603, foi publicada a Carta Régia que declarava A ação administrativa e política portuguesa na região
a livre exploração, mediante o pagamento do quinto. Em mineradora provocou três levantes: Guerra dos Emboa-
1702, surgiu o Regimento do ouro, regulamentando e bas (1708-1709), a Revolta de Vila Rica ou de Felipe
disciplinando a exploração e a distribuição das terras aurí- dos Santos (1720) e a Inconfidência Mineira, sendo
feras. Na organização da distribuição das jazidas, era que somente esta última chegou a ter caráter emancipa-
feita uma divisão em datas, trechos de terra doados cionista.
para a prática de exploração, mediante o sistema de
sorteio, promovido pelo principal órgão controlador e 2. Diamantes
fiscalizador: a Intendência das Minas. O diamante foi considerado, também, um monopólio
Principais tributos da Coroa e teve sua exploração iniciada por volta de
1729, quando Bernardo da Fonseca Lobo encontrou
Quanto aos impostos, inicialmente existia o quinto. jazidas no Arraial do Tijuco (atual Diamantina, em Minas
Para melhor efetivar sua cobrança, em 1720 foram cria- Gerais).
das as Casas de Fundição (que somente começaram a Em 1733, foi criado o Distrito Diamantino, única
funcionar em Vila Rica em 1725), com a finalidade de área demarcada e em que se podiam explorar legalmen-
te as jazidas. Tal região era controlada pela Intendência
Aluvião: depósito de cascalho, areia e argila, que se forma junto às
margens ou foz dos rios, proveniente do trabalho de erosão das
dos Diamantes. Ante o intenso contrabando e o alto
enchentes ou enxurradas. valor do produto, em 1771 foi decretada a Real Extração:
Jazida: depósito de uma ou mais substâncias úteis, como combustí- esta somente seria empreendida diretamente e por
veis e minérios. conta da Coroa, que passou a se utilizar de escravos
Faiscação: tipo de garimpo na beira dos rios, onde o sol faiscava os alugados. Posteriormente, com nova liberação, foi criado
grãos (de ouro) maiores.
Lavra: lugar onde se extrai ouro ou dinamite.
o Livro de Capa Verde, contendo o registro dos explora-
Data: área de exploração mineral destinada aos proprietários de no dores, e o Regimento dos Diamantes. O monopólio esta-
mínimo doze escravos, correspondendo a 4.356m2 cada uma. tal sobre os diamantes vigorou até 1832.

HISTÓRIA 37
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mica e social propiciou o surgimento de maiores opor-


tunidades no mercado interno e, consequentemente,
maior mobilidade social, principalmente se contrastada
com o enorme hermetismo da sociedade canavieira.
• O fluxo populacional-urbano, por seu turno, acar-
Uma das consequências retou um grande crescimento demográfico, fazendo
da mineração foi o barroco, com que a população brasileira tivesse uma verdadeira
que, apesar de tardio no "explosão", pois, se no começo do século XVIII era de
Brasil, produziu maravilhosas
obras, como o Anjo aproximadamente 330 mil habitantes, ao findar do
Esvoaçante, atribuída a século da mineração era de 3.300.000 habitantes.
Francisco Vieira Servas. • Com o aparecimento do pequeno e médio pro-
3. Consequências da mineração prietário (urbano e rural) e uma maior divisão de trabalho,
a mineração gerou uma menor concentração de renda
A exploração aurífera provocou importantes conse- em relação à que existia. Inicialmente ocorreu uma infla-
quências políticas, sociais, econômicas e administra- ção e alta nos preços dos produtos alimentícios, mas
tivas, que se refletiram de forma acentuada sobre a vida depois houve o desenvolvimento de uma rica lavoura de
colonial brasileira. subsistência e da pecuária como atividades subsidiária e
• A mineração acarretou uma grande imigração periférica.
portuguesa, além de uma verdadeira “corrida do ouro” • Todas as consequências anteriores refletiam-se
para Minas Gerais. Ao longo do século XVIII, houve o nos movimentos culturais e intelectuais. Ocorreu o
deslocamento de, aproximadamente, 800 mil portugue- surgimento da escola mineira, relacionada ao arcadismo:
ses para o Brasil, o que correspondia a 40% da o desenvolvimento das artes e da arquitetura (estilo
população da Metrópole. barroco do Mestre Valentim, no Rio de Janeiro, e de
• Paralelamente, ocorreu o desenvolvimento de um Antônio Francisco Lisboa, o "Aleijadinho", em Minas
comércio interno de escravos (sentido Nordeste para o Gerais); a música, principalmente sacra barroca, com o
Centro-Leste), chegando a Minas Gerais aproximada- Padre José Maurício Nunes Garcia e o mineiro José Joa-
mente 600 mil negros. quim Emérico Lobo de Mesquita; e a música popular:
• A "corrida do ouro" para Minas Gerais, Mato Gros- modinha (origem lusitana), cantigas de ninar (origem
so e Goiás acarretou uma penetração e consequente lusitana) e o lundu (origem africana).
povoamento do interior do Brasil. Como não poderia
deixar de ser, todos esses aspectos provocaram um
deslocamento do centro de gravidade econômica, social
e política, do Nordeste para a região Centro-Leste (eixo
Minas Gerais – Rio de Janeiro).
• Uma consequência administrativa foi a mudança
da capital do Brasil, de Salvador para o Rio de Janeiro, a
partir de 1763, em face do decreto do Marquês de Pombal.
• A mineração, em relação ao período anterior, acar- Barreta e barra de ouro.
retou um maior desenvolvimento comercial associado a
um maior desenvolvimento urbano (no eixo Minas
Gerais – Rio de Janeiro). Toda essa dinamização econô- Hermetismo: qualidade do que é inteiramente fechado.

4. Cronologia
1693 – Descoberta do ouro em Minas Gerais por Antônio Rodrigues.
1700 – Descoberta das minas em Sabará por Borba Gato.
1719 – Descoberta de ouro em Cuiabá; criação das casas de fundição.
1725 – Descoberta de ouro em Goiás.
1729 – Descoberta de diamantes em Minas Gerais.
1733 – Demarcação do Distrito Diamantino.
1735 – Substituição do quinto pela capitação.
1740 – Instituição do regime de contratação de diamantes.
1751 – Fim da capitação e restabelecimento do quinto, cobrado pelo regime de fintas (cobranças por estimativa).
1765 – Instituição da derrama.
1771 – Criação da Real Extração de Diamantes.

38 HISTÓRIA
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Exercícios Resolvidos

 (UFRRJ – MODELO ENEM) – “Cada ano, vêm nas frotas quanti-


(UFRS – MODELO ENEM) – Observe o gráfico a seguir, relativo à
dade de portugueses e de estrangeiros, para passarem às minas. Das produção aurífera no Brasil do século XVIII.
cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil, vão brancos, pardos e
pretos, e muitos índios, de que os paulistas se servem. A mistura é
toda a condição de pessoas (...).”

(Antonil. Cultura e opulência do Brasil. São Paulo:


Companhia Editora Nacional, 1967, p. 264.)

O processo de ocupação do sertão e extração de ouro e diamantes ao


longo do século XVIII permitiu
a) a articulação econômica de regiões até então dispersas,
juntamente com a formação de um mercado interno.
b) a perpetuação do sistema de feitorias, apesar da desaprovação da
Coroa Portuguesa.
c) o rompimento do Tratado de Methuen assinado entre Portugal e
Inglaterra.
d) a eliminação do comércio de contrabando nas relações entre Com base nos dados do gráfico, considere as seguintes afirmações.
Metrópole e colônia. I. O auge da produção de ouro em Minas Gerais foi atingido ainda na
e) o aprofundamento das relações comerciais entre o Brasil e as 13 primeira metade do século XVIII, mas, na segunda metade do
colônias inglesas na América. século, a extração aurífera na capitania entrou em declínio
acentuado.
Resolução II. A produção aurífera conjunta de Goiás e de Mato Grosso suplantou
A atividade mineradora provocou um ajuntamento populacional em durante alguns períodos a produção de ouro da capitania de Minas
torno de áreas de garimpo e, consequentemente, alterou significa- Gerais.
tivamente uma das características da economia colonial – a produção III. A produção aurífera de Goiás atingiu seu ápice ao mesmo tempo
voltada para o mercado externo. em que ocorria a queda nos rendimentos do ouro produzido na
Resposta: A região de Minas Gerais.
Qual(is) está(ão) correta(s)?
a) Apenas I. b) Apenas I e II. c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III. e) I, II e III.
Resolução
A afirmativa II está incorreta, porque a linha representando a produção
mineira nunca foi suplantada.
Resposta: C

No Portal Objetivo
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST2M107

Exercícios Propostos

 Aponte os principais tributos cobrados sobre as áreas de  Quais as principais consequências do período minerador
mineração. para a vida interna da colônia?

RESOLUÇÃO: RESOLUÇÃO:
Quinto (inicialmente correspondia a 20% do total da exploração e, Grande imigração portuguesa, desenvolvimento do comércio in-
a partir de 1720, passou a corresponder a 12% do total); capitação; terno de escravos, interiorização da colônia, mudança da capital
e as 100 arrobas anuais. para o Rio de Janeiro, relativa urbanização e crescimento
demográfico.

HISTÓRIA 39
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 As minas de ouro do Brasil, na realidade, serviram para  (UFU – adaptada – MODELO ENEM) – “A indústria mine-
alimentar a industrialização inglesa. Portugal teve acesso à radora no Brasil nunca foi além, na verdade, desta aventura
riqueza, porém não teve condições de retê-la, em razão do passageira que mal tocava um ponto para abandoná-lo logo em
escoamento de quase sua totalidade para a Inglaterra. Um seguida e passar adiante. É esta a causa principal por que,
tratado entre Portugal e Inglaterra possibilitou a evasão do ouro apesar da riqueza relativamente avultada que produziu,
das Gerais para mãos inglesas. drenada aliás toda para fora do país, deixou tão poucos
Estamos nos referindo vestígios, a não ser a prodigiosa destruição de recursos
a) ao Tratado de Comércio e Navegação. naturais que semeou pelos distritos mineradores, e que ainda
b) ao Tratado de Utrecht. hoje fere a vista do observador; e também este aspecto geral
c) ao Tratado de Methuen, ou Panos e Vinhos. de ruína que em princípio do século passado [XIX] Saint-Hilaire
d) ao Tratado de Haia. notava consternado, e que não se apagou ainda de todo em
e) ao Tratado de Madri. nossos dias.”
(Caio Prado Júnior. Formação do Brasil Contemporâneo.
RESOLUÇÃO: São Paulo: Brasiliense, 1942. p. 171.)
Esse tratado provocou um deficit na balança comercial portu-
guesa e o ouro brasileiro serviu para suprir a diferença.
Resposta: C No trecho acima, o historiador Caio Prado Júnior refere-se a
uma das causas do declínio da mineração do Brasil entre o final
do século XVIII e o início do século XIX.
Podemos afirmar sobre o período da mineração no Brasil A respeito desse assunto e considerando a citação acima,
que: marque a alternativa correta.
a) atraídos pelo ouro, vieram para o Brasil aventureiros de toda a) Viajantes naturalistas que estiveram na região das minas no
espécie, que inviabilizaram a mineração. início do século XIX tenderam a relatar o aspecto decadente
b) a exploração das minas de ouro só trouxe benefícios para da civilização e da paisagem que lá se originaram a partir do
Portugal. século XVIII. Esses relatos são marcados por uma visão
c) a mineração deu origem a uma classe média urbana que eurocêntrica de mundo e por uma crítica ambiental de base
teve papel decisivo na independência do Brasil. cientificista.
d) o ouro beneficiou apenas a Inglaterra, que financiou a sua b) A indústria mineradora era uma atividade manufatureira clan-
exploração. destina no período colonial, por isso, ela era realizada sem a
e) a mineração contribuiu para interligar as várias regiões do devida fiscalização do Estado, o que acarretava em práticas
Brasil e foi fator de diferenciação da sociedade. predatórias da natureza. Também em razão de sua clandesti-
nidade, não há muitos vestígios que comprovem sua
RESOLUÇÃO: existência histórica.
Várias regiões do país buscam abastecer o mercado consumidor c) A região mineradora do Brasil entre os séculos XVIII e XIX
mineiro. A possibilidade de obtenção de riquezas criou uma socie-
dade menos estática do que a do açúcar.
restringia-se às adjacências de cidades mineiras que hoje
Resposta: E são consideradas patrimônio histórico, como Ouro Preto,
Tiradentes e Diamantina, por exemplo. Caio Prado Júnior e
Segundo Caio Prado Júnior, em História Econômica do Saint-Hilaire as consideram ruínas, negando-lhes, assim, os
Brasil, "ao contrário do que se deu na agricultura e em outras seus valores histórico e estético.
atividades da colônia (como na pecuária), a mineração foi d) O declínio da mineração no Brasil é tratado, no trecho an-
submetida desde o início a um regime especial de minuciosa e terior, como resultado da exploração sistemática dos recur-
rigorosa disciplina". sos naturais. Isso se deu em função de a indústria minera-
Com o estabelecimento desse regime especial para a explora- dora ser altamente poluente, pois eliminava gases tóxicos
ção do ouro, o governo português visava na atmosfera, decorrentes da fusão do aço, do cobre e do
a) eliminar o sistema tributário metropolitano que não benefi- alumínio.
ciava a Coroa.
b) estimular o aparecimento de novas áreas agrícolas, amplian- RESOLUÇÃO:
O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853) esteve
do a exportação para a Metrópole. no Brasil entre 1816 e 1822 viajando por diversos Estados bra-
c) impedir a emigração portuguesa para a colônia, para preser- sileiros. Escreveu oito livros descrevendo minuciosamente as
var a exploração do ouro só para os reinóis. atividades cotidianas dos habitantes, os costumes, a geografia, a
d) impulsionar a produção aurífera determinando a desativação fauna, a flora. Apesar de deslumbrado com a nossa biodiver-
das Casas de Fundição. sidade, fez relatos etnográficos com base em valores europeus.
Resposta: A
e) incentivar a produção do ouro, assegurando os lucros da
Coroa, e evitar o contrabando e a sonegação.

RESOLUÇÃO:
O rigoroso controle fiscal da região era fundamental para dar a
Portugal mais tranquilidade econômica após a Restauração.
Resposta: E

40 HISTÓRIA
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Palavras-chave:

8 Movimentos Nativistas • Nativismo • Revoltas


• Descontentamento
• Brasilidade

1. Caracterização geral Nosso Pai, em Pernambuco (1664-65), também houve a


rebelião local contra o governador português Jerônimo
Conjunto de movimentos políticos caracterizados de Mendonça Furtado, apelidado de Xumberga, acusado
pela repulsa aos abusos do fiscalismo português, deriva- de corrupção e de ser conivente com os franceses. Na
dos do próprio enrijecimento do Pacto Colonial realidade, nesse acontecimento já havia indícios da
português e que ocorreram entre meados do século XVII rivalidade entre Olinda e Recife.
e princípios do XVIII. Na Revolta de Beckman, no Maranhão, em 1684,
Tais movimentos podem ser caracterizados pela não mais uma vez se evidenciou a divergência de interesses
contestação ao domínio português como um todo, entre os colonos locais, representados pelos Irmãos
limitando-se a atos de rebeldia e conflitos regionais Beckman (Manuel e Tomás), e a Companhia Geral de
contra aspectos isolados do colonialismo, Comércio do Estado do Maranhão, que possuía o
principalmente após 1640, quando a “relativa harmonia” monopólio do comércio e da introdução de escravos
entre os interesses da aristocracia rural local e os da africanos. A rebelião ocorreu contra os abusos da Com-
Metrópole foram-se rompendo, à medida que endurecia panhia de Comércio, que não cumpriu os acordos feitos
a política portuguesa. A Insurreição Pernambucana com os colonos, e contra a Companhia de Jesus, que se
(1645-54) contribuiu para o advento desses movimentos, opunha à escravidão indígena.
visto que no seu decorrer houve divergência entre os in- Outro movimento nativista foi a Guerra dos
teresses dos colonos e os objetivos pretendidos pela Emboabas, em Minas Gerais (1708-09), com a rivalida-
Metrópole. Daí estarem os movimentos nativistas de entre os paulistas e os "emboabas" forasteiros, princi-
menos relacionados com um ideal emancipacionista, palmente portugueses, que acabavam sendo protegidos
ligando-se mais a um sentimento de defesa de pelos órgãos do governo colonial, pois recebiam o mono-
interesses locais ou regionais. pólio de diversos ramos comerciais. O movimento eclo-
diu em face de diversos incidentes, nos quais sempre
2. Principais movimentos havia de um lado elementos paulistas e do outro os
Cada movimento nativista possui um fator especí- emboabas.
fico de características locais ou regionais, o qual atua Em 1720, novamente na região de Minas Gerais, em
como elemento causal. Vila Rica, ocorreu a Revolta de Filipe dos Santos, outra
Na aclamação de Amador Bueno da Ribeira, em rebelião contra os abusos do fiscalismo português,
março de 1641, como rei de São Paulo, ocorreu diver- caracterizados pela elevação dos impostos decretada
gência entre clãs locais (Garcia Pires, "portugueses", e pelo governador, Conde de Assumar. A revolta dos mine-
Camargos, "espanhóis"), em face da notícia da Restau- radores reivindicava a redução dos impostos, a abolição
ração em Portugal. Esse fato fora interpretado como dos monopólios exercidos pelos portugueses e a
uma ameaça aos interesses espanhóis na região. Mais extinção das Casas de Fundição.
tarde, evidenciou-se a tensão entre jesuítas e bandei- Um dos mais famosos movimentos nativistas foi a
rantes, por causa da escravidão indígena, ocorrendo Guerra dos Mascates (1710-12), em Pernambuco, cuja
então a Botada dos Padres para Fora, por parte dos causa geral básica foi a rivalidade entre senhores de en-
colonos de São Paulo. Esse episódio se repetiria no Pará genho de Olinda e comerciantes portugueses de Recife,
e, em 1684, no Maranhão. apelidados de “mascates”. Estes últimos eram apoiados
Na Revolta do Rio de Janeiro (1660-61), o pelo governador Sebastião de Castro Caldas. O conflito
movimento ocorreu em razão da forte política fiscalista irrompeu quando o Recife foi elevado à categoria de vila,
aplicada pelo governador português Salvador Correia de o que favorecia o grupo português. Ao terminar o mo-
Sá e Benevides. Seu líder foi Jerônimo Barbalho, que, vimento, em 1712, Recife passava a ser cidade e capital
após ter deposto o governador por causa da decretação de Pernambuco, o que acentuou ainda mais a rivalidade
de novos tributos, foi preso e executado. Na Revolta de da aristocracia pernambucana contra os portugueses.

No Portal Objetivo
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST2M108

HISTÓRIA 41
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3. Cronologia
1640 – Restauração Portuguesa.
1660 – Revolta do Rio de Janeiro.
1664 – Revolta de Nosso Pai.
1684 – Revolta de Beckman.
1708 – Guerra dos Emboabas.
1710 – Guerra dos Mascates.
1720 – Revolta de Felipe dos Santos.

Vista de Vila Rica, aquarela de Henry Chamberlain.

Exercícios Resolvidos

 (MACKENZIE – MODELO ENEM) – “A fome já me tem mudo


(FUVEST-adaptada – MODELO ENEM) – Um dos mais famosos
que é muda a boca esfaimada mas se a frota não traz nada por que movimentos nativistas foi a Guerra dos Mascates (1710-12), em Per-
razão leva tudo?” nambuco, cuja causa geral básica foi a rivalidade entre senhores de en-
genho de Olinda e comerciantes portugueses de Recife, apelidados
Os versos críticos de Gregório de Matos descrevem a crise na colônia
de “mascates”. Estes últimos eram apoiados pelo governador
no final do século XVII, cujas raízes eram:
Sebastião de Castro Caldas. O conflito irrompeu quando o Recife foi
a) a tradicional dependência econômica em relação à Holanda, sócia
elevado à categoria de vila, o que favorecia o grupo português. Ao
na produção açucareira.
terminar o movimento, em 1712, Recife passava a ser cidade e capital
b) a centralização administrativa e o rígido monopólio impostos por
de Pernambuco, o que acentuou ainda mais a rivalidade da aristocracia
Portugal, para superar a crise econômica após o domínio espanhol.
pernambucana contra os portugueses.
c) a ascensão do açúcar brasileiro no mercado internacional, A chamada Guerra dos Mascates, ocorrida em Pernambuco em 1710,
derrotando o concorrente holandês. deveu-se
d) a extinção de Companhias de Comércio particulares, devido à a) ao surgimento de um sentimento nativista brasileiro, em oposição
pressão colonial que desorganizara o comércio externo. aos colonizadores portugueses.
e) as pressões inglesas diante da independência econômica e b) ao orgulho ferido dos habitantes da vila de Olinda, menosprezados
concorrência de Portugal. pelos portugueses.
Resolução c) ao choque entre comerciantes portugueses do Recife e a
Os versos de Gregório de Matos apresentam uma crítica à exploração aristocracia rural de Olinda pelo controle da mão de obra escrava.
portuguesa, notadamente após a Restauração em 1640 (fim da União d) ao choque entre comerciantes portugueses do Recife e a
Ibérica), quando Portugal impôs uma política colonial centralizadora e aristocracia rural de Olinda cujas relações comerciais eram,
mais fiscalizadora. respectivamente, de credores e devedores.
Resposta: B e) a uma disputa interna entre grupos de comerciantes, que eram
chamados depreciativamente de mascates.
Resolução
A decadência da atividade canavieira deixou os brasileiros de
Pernambuco em dificuldades financeiras, sem condições de saldarem
as suas dívidas com os comerciantes portugueses.
Resposta: D

42 HISTÓRIA
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Exercícios Propostos

 Caracterize os movimentos nativistas.  A Revolta de Beckman, no século XVII, a Guerra dos Em-
boabas, a Guerra dos Mascates e a Sedição de Filipe dos
RESOLUÇÃO: Santos, em Vila Rica, no século XVIII, tiveram em comum o
Eram movimentos de caráter local, geralmente contra os abusos
da Coroa portuguesa e seus representantes; não pretendiam o
fato de que
rompimento político com a Metrópole. a) representavam uma tentativa de combate à ação de-
sempenhada pelo sistema de exploração das Companhias
de Comércio.
b) visavam a promover a autonomia de núcleos regionais, com
a valorização do elemento nacional.
c) apresentavam medidas reivindicatórias, sem, contudo,
oferecer um projeto de separação política de Portugal.
d) tentaram promover, sem êxito, o término da exploração do
sistema de escravidão africana.
e) pretendiam estabelecer medidas reformistas, a fim de criar
novas condições sociais menos sujeitas à influência do
liberalismo português.

RESOLUÇÃO:
 Estabeleça a relação entre os movimentos nativistas e a Essas revoltas são reações à política adotada por Portugal após a
Restauração lusa em 1640. Restauração.
Resposta: C
RESOLUÇÃO:
Os movimentos nativistas ocorreram em resposta à mudança da
política colonial lusa pós-restauração.

O afluxo de forasteiros à região de Minas Gerais foi um


dos fatores do movimento nativista conhecido por
a) Guerra dos Emboabas.
b) Rebelião de Filipe dos Santos.
c) Revolta de Beckman.
d) Revolta dos Suaçunas.
e) Inconfidência Mineira.

RESOLUÇÃO:
A disputa pelas áreas de mineração provocou a tensão entre
vicentinos e forasteiros em Minas Gerais.
Resposta: A

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A chamada Guerra dos Mascates decorreu, entre outros  “Quando as notícias da descoberta de ouro em Minas
fatores, do fato de Gerais se espalharam pelo Brasil e chegaram a Portugal, milha-
a) Recife não possuir prestígio político, apesar de sua res de pessoas acorreram à região. O afluxo de forasteiros
expressão econômico-financeira. desagradou os paulistas. Por terem descoberto as minas e por
b) Pombal promover a Derrama, para a cobrança de todos os elas se encontrarem em sua capitania, os paulistas reivindica-
quintos atrasados. ram direito exclusivo de explorá-las. Entre 1708 e 1709, ocor-
c) Olinda não se conformar com o papel que a aristocracia reram vários conflitos armados na zona aurífera, envolvendo de
rural exercia na capitania. um lado paulistas e de outro portugueses e elementos vindos
d) Portugal intervir na economia das capitanias, isentando os de vários pontos do Brasil.”
portugueses do pagamento de impostos. (Disponível em: <http://pt.shvoong.com/humanities/1674845-guerra-
e) Pernambuco não apoiar a política de tributação fiscal do dos-emboabas>. Acesso em 1o. nov. 2009.)
governador Félix José Machado de Mendonça.
De acordo com o texto:
RESOLUÇÃO: a) as relações entre portugueses e brasileiros sempre foram
Durante o domínio holandês, Recife se desenvolveu muito, amistosas.
tornando-se maior que a capital, Olinda.
Resposta: A
b) os paulistas dividiram com os portugueses o direito de ex-
plorar a região mineradora.
c) forasteiros eram apenas os que vinham de Portugal.
d) um forte sentimento nativista aflorou entre os paulistas no
início da mineração.
e) a extração de minério estimulou as relações pacíficas entre
colonos e portugueses.

RESOLUÇÃO:
A Guerra dos Emboabas foi um movimento que conflitou inte-
resses brasileiros e portugueses.
Resposta: D

44 HISTÓRIA
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Pombal e o Palavras-chave:
• Despotismo esclarecido
• Reformismo • Reorganização
9 Renascimento Agrícola administrativa • Redefinição do
Pacto Colonial • Policultura

vogação, na prática, do Tratado de Methuen, conhecido


como o dos “panos e vinhos”.
“Neste plano iniciou a chamada política das compa-
nhias, protegendo os grandes empresários metropolita-
nos contra o comércio livre. Criou para isso organizações
monopolistas, espécies de sociedades por ações, aber-
tas à participação tanto de nacionais como de estrangei-
ros, e às quais ficavam entregues a autoridade e a inicia-
tiva do comércio de certos gêneros ou em determinadas
regiões. Assim, defendendo o grande negociante, criou
em 1753 a Companhia da Ásia; em 1755, a Companhia
do Grão-Pará e Maranhão; em 1756, a Companhia da
Pesca da Baleia e a Companhia da Agricultura dos Vinhos
do Alto Douro; e, em 1759, a Companhia de Pernam-
buco e Paraíba. Efetivamente tal política monopolista
Louis – Michel Van Loo / Claude – Joseph Vernet combateu o pequeno comércio, estrangulando seu
crédito e perseguindo os comissários volantes, ativos e
numerosos, que negociavam com o Brasil.”
1. As Reformas Pombalinas
(Ricardo Maranhão. Brasil História: texto e consulta.
Pombal, na qualidade de secretário de Estado do rei São Paulo: Brasiliense, 1976 v.1.)
D. José I, tornou-se o “homem forte” do governo. Quan- A política colonial tornou-se muito rígida durante seu
do um terremoto devastador destruiu Lisboa em 1755, governo, pois era fundamental aumentar a arrecadação.
comandou as forças de auxílio e organizou a reconstru- As Companhias de Comércio do Grão-Pará e Maranhão
ção da cidade, sendo por isso nomeado para o cargo de e de Pernambuco e Paraíba estimularam nessas regiões
primeiro-ministro. Ao assumir, tinha consciência do o tráfico de escravos e o desenvolvimento de várias
enfraquecimento do absolutismo português, da desor- culturas, como o algodão, o açúcar, o tabaco, o arroz, o
ganização político-administrativa do reino, da situação cacau, o cravo e o anil. Pombal criou o estanco dos
privilegiada da nobreza com interesses ultramarinos, da diamantes, e a exploração dessas pedras preciosas foi
influência da Igreja sobre o trono luso, particularmente limitada ao Distrito Diamantino.
da ordem dos jesuítas e, no plano externo, do domínio
A política tributária pombalina para a colônia preocu-
exercido pela Inglaterra.
pou-se fundamentalmente com a cobrança dos quintos.
Fundamentou-se em ideias iluministas ao abolir a Para isso, Pombal instituiu o sistema de quotas anuais –
escravidão em Portugal, reformar o sistema educacional 100 arrobas – e mais tarde criou a derrama, forma de co-
e criar um novo código penal. brança forçada dos impostos atrasados. Criou ainda um
As principais medidas adotadas por Pombal volta- grande número de impostos circunstanciais, o que foi
ram-se para as questões relativas à reorganização do classificado como um verdadeiro abuso fiscal.
Estado, o que necessariamente envolvia a recuperação A administração colonial passou por uma racionaliza-
econômica portuguesa. Reestruturou o exército e forta- ção. As missões e o ensino foram secularizados com a
leceu a marinha. expulsão dos jesuítas. Mudou a capital do Estado do
Procurou neutralizar o poder da nobreza e das or- Brasil, de Salvador para o Rio de Janeiro, e em 1774 ex-
dens religiosas, iniciando uma grande perseguição a es- tinguiu o Estado do Maranhão e Grão-Pará. A centrali-
ses grupos. Quando ocorreu o atentado contra a vida do zação era seu principal objetivo e, para isso, acabou com
rei em 1758, conseguiu implicar alguns nobres e tentou o sistema de capitanias hereditárias.
envolver os jesuítas como cúmplices; alguns acusados Após a morte de D. José I (1777) e a ascensão de
foram torturados, com requintes de crueldade, até a sua filha D. Maria I como rainha de Portugal, Pombal e
morte. Expulsou os inacianos de todas as possessões seu ministério foram demitidos e o estilo administrativo
portuguesas em 1759. do país sofreu alterações. Isso ficou conhecido como a
Era fundamental fortalecer as finanças do Estado, “viradeira”.
adotando uma rígida política mercantilista e buscando Expulso da Corte, retirou-se para sua propriedade
neutralizar o domínio inglês em Portugal por meio da re- rural em Pombal, onde faleceu no dia 8 de maio de 1782.

HISTÓRIA 45
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2. Renascimento agrícola de escravos e da proibição do tráfico negreiro para a


Jamaica. O Brasil passava a ser o 3o. produtor mundial,
Essa foi uma fase intermediária (transição) da econo- com destaque para Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro.
mia colonial brasileira, entre a época da mineração e o – O tabaco, que desde o século XVII era utilizado
advento do café. Abrangeu, portanto, o final do século para o escambo de negros na África e considerado mo-
VIII, até aproximadamente 1830. nopólio régio desde 1642, teve seu impulso no período
Fatores básicos em estudo. Seu maior desenvolvimento ocorreu na Ba-
hia e no sul de Minas Gerais. Era uma atividade pratica-
A principal causa do renascimento agrícola no Brasil da em grandes propriedades, com mão de obra escrava
foi a exigência de maior produção de matérias-primas, negra, e exigia cuidados especiais: adubo, galpões etc.
como o algodão, provocada pela Revolução Industrial
– Outro produto de exportação foi o cacau, que
europeia. A essa causa está relacionado o crescimento
inicialmente era atividade extrativista praticada nas
demográfico da população das metrópoles, bem como,
capitanias do Pará e do Rio Negro, sendo posteriormente
indiretamente, a Independência dos EUA (1776), fato
introduzido como agricultura na Bahia e no Maranhão,
que reduzia a produção de algodão para a Inglaterra, e as
com mão de obra escrava negra. O arroz, o anil (do Rio
guerras napoleônicas, provocando entraves ao comér-
de Janeiro) e outros produtos agrícolas chegaram a ser
cio desse produto do Egito e da Índia.
exportados naquela fase, o que provocou o desloca-
Outros fatores podem ser relacionados: internamen- mento do eixo econômico novamente para o litoral.
te, a decadência da mineração, que provocou uma volta
– Naquele período agrícola, um novo produto
à prática da agricultura de exportação; e, externamente,
começava a se destacar na economia brasileira: o café.
problemas sociopolíticos em áreas coloniais concorren-
Introduzido no Brasil no início do século XVIII, no Pará,
tes, como as Antilhas.
foi trazido para a Baixada Fluminense e para o Vale do
Principais produtos de exportação Paraíba, onde se desenvolveu. No início do século XIX, já
representava 18% de nossas exportações. Seu grande
– O mais importante foi o algodão, matéria-prima momento ocorreu no Brasil Império, após 1830, no cha-
básica para a indústria europeia. A produção interna mado oeste paulista.
chegou a ser fomentada por Portugal com a Companhia
Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão. Era
cultivado em grandes propriedades escravistas, porém 3. Outras atividades econômicas
sem necessidade de instalações tão complexas e
onerosas quanto os engenhos. O principal produtor, na Indústria colonial
época, foi o Maranhão (região de Caxias), destacando-se,
posteriormente, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro. No interior de Minas Gerais, no século XVIII, desen-
volveu-se uma indústria artesanal doméstica e, no litoral
(Rio de Janeiro e Bahia), manufaturas, com a organização
de corporações de ofício e a utilização de escravos
negros alugados.
Destacavam-se as indústrias de tecidos, a metalur-
gia do ferro e a ourivesaria; mas, em face das limita-
ções impostas pelo Pacto Colonial, em 1785, a rainha
D. Maria I publicou o Alvará de Proibição Industrial na
colônia, diante da concorrência com o comércio metro-
politano e das pressões inglesas. Em 1795, foi permitida
a reabertura das indústrias de metalurgia de ferro. A
proibição sobre as indústrias de tecido manteve-se até
abril de 1808, quando D. João publicou o Alvará de
Permissão Industrial, que se tornou, na realidade, letra
morta com a grande indústria e a concorrência dos
produtos britânicos, principalmente após o Tratado de
Comércio e Navegação com a Inglaterra, de 1810.

Comércio interno
Foi caracterizado por uma fraca atividade, pela distri-
Áreas produtoras de algodão (século XVIII). buição dos produtos importados e pelo abastecimento
dos grandes centros urbanos. Com a época da mine-
– O açúcar volta a adquirir importância nas exporta- ração e a consequente urbanização, no século XVIII,
ções, pois, no final do século XVIII, a produção antilhana ganhou certo impulso o comércio interno, como o de
começava um processo de crise em razão das revoltas gado, carnes em conserva, sal e escravos.

46 HISTÓRIA
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Nesse comércio, desempenharam papel de des-


taque tanto os mascates como os tropeiros (comércio 4. Cronologia
de gado e carnes).
Comércio externo 1750-77 – Despotismo esclarecido luso: reinado de D.
Foi considerado desde o século XVI “exclusivo”, ou José I e governo do Marquês de Pombal.
seja, um monopólio metropolitano. Existia a obrigação 1755 – Criação da Companhia Geral de Comércio do
de se navegar em frotas e facilitar a fiscalização, obri- Grão-Pará e Maranhão.
gação esta que perdurou até 1765. 1759 – Extinção das últimas capitanias hereditárias;
Portugal fazia concessões às companhias holandesas criação da Companhia Geral de Comércio de
no século XVI, em face da impossibilidade de dar vazão por Pernambuco e Paraíba; expulsão dos jesuítas
seus próprios meios a todo o açúcar produzido no Brasil. de Portugal e colônias.
No século XVII, o governo português iniciou a cria- 1760 – Início da Revolução Industrial na Inglaterra;
ção das companhias gerais de comércio. Em 1649, sur- intensificação da cultura do algodão no Ma-
giu a Companhia Geral do Comércio do Brasil; em 1682,
ranhão.
a do Estado do Maranhão; em 1755, criada pelo
Marquês de Pombal, a Companhia Geral do Comércio do 1765 – Publicação de A Riqueza das Nações, de
Grão-Pará e Maranhão; e, em 1759, a de Pernambuco e Adam Smith; criação da derrama.
Paraíba. Tais Companhias monopolizavam, em suas áre- 1777 – Morte de D. José I e ascensão de D. Maria I;
as de ação, todo o comércio externo, ficando, portanto, demissão de Pombal.
altamente vinculadas à política econômica mercantilista.

No Portal Objetivo
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST2M109

Exercícios Resolvidos

 (UFP – MODELO ENEM) – Observe o


d) ao incremento da política agrária de cunho
mercantilista, que beneficiava os pequenos
tes do despotismo esclarecido em Portugal.
Acerca do chamado período pombalino, é
mapa, abaixo apresentado:
proprietários. correto afirmar que:
e) ao processo de criação do gado, respon- a) se reorganizaram as estruturas administra-
sável pela ocupação de diferentes regiões tivas por meio da recriação das Câmaras
do Brasil. Municipais e do restabelecimento do poder
Resolução dos donatários.
A produção de algodão na região foi estimulada b) houve a criação de companhias de comér-
pelo governo de Pombal por meio da criação de cio na colônia e estabeleceu-se a cobrança
companhias monopolistas de comércio: a do de 100 arrobas anuais de ouro para Minas
Grão-Pará e Maranhão; e a de Pernambuco e Gerais.
Paraíba. c) se criou um tributo exclusivo para o ouro –
Resposta: B quinto – com a intenção de evitar o contra-
bando e aumentar a arrecadação do fisco
português.

(FGV – MODELO ENEM) – Ao contrário do d) por meio de uma legislação específica,
que se verificou na monarquia absolutista ampliou-se o poder da nobreza portuguesa,
De acordo com o destaque dado à parte do francesa do século XVIII, houve diversos além da distribuição de cargos públicos e de
território de algumas “Capitanias”, incluindo a Estados absolutistas nos quais os respectivos pensões vitalícias.
monarcas e seus ministros tentaram de e) o Brasil obteve ganhos, como o direito de
do Piauí, no século XVIII, podemos associá-lo
a) ao desenvolvimento da mineração em dife- alguma forma pôr em prática certos princípios comercializar diretamente com as colônias
rentes regiões, que tinha como polo da Ilustração, sem abrir mão, é claro, do próprio portuguesas na África, o que significou o
principal Minas Gerais. absolutismo – tal foi, em essência, o absolu- fim do pacto colonial.
b) à expansão do plantio do algodão, valori- tismo ilustrado. Resolução
zado tanto pelo mercado interno como pelo (Francisco José Calazans Falcon. Pombal redefiniu a política colonial para obter
externo. Despotismo Esclarecido.) da exploração da colônia uma maior arrecada-
c) à retomada do plantio da cana-de-açúcar O rei D. José I e seu primeiro ministro Sebas- ção para a Metrópole.
após a expulsão dos holandeses de Per- tião José de Carvalho e Melo – futuro marquês Resposta: B
nambuco e da Bahia. de Pombal, são considerados os representan-

HISTÓRIA 47
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Exercícios Propostos

 O que foi o Alvará de Proibição Industrial de 1785?  (UFPA) – A plena centralização administrativa da colônia foi
alcançada no tempo de Pombal, que determinou
RESOLUÇÃO: a) a extinção das capitanias hereditárias, transformadas em
Publicado por D. Maria I, em face das limitações impostas pelo capitanias reais;
Pacto Colonial e pressões inglesas, visava proibir a industriali-
zação da colônia.
b) a ampliação dos poderes atribuídos às câmaras municipais;
c) reformas eleitorais para escolha dos representantes das
câmaras municipais;
d) a extinção do direito de os “homens-bons” se reunirem em
assembleia;
e) a transferência de todos os tribunais de relação para Lisboa.

RESOLUÇÃO:
Pombal retoma para o Estado português o controle das capitanias.
Resposta: A

 Quais os fatores que levaram ao Renascimento Agrícola? “Como se não bastassem as execuções e banimentos de
membros da nobreza, o ministro possibilitou o acesso de buro-
RESOLUÇÃO: cratas e burgueses à aristocracia, transformando-os em seus
Externos: Revolução Industrial, Independência dos EUA e Guerras seguidores mais fiéis. Esse gesto não significava, contudo, que
Napoleônicas.
a atitude do conde de Oeiras em relação à plebe fosse mais
Internos: decadência da mineração e ausência de um único
produto-chave. favorável. Quando a população do Porto se rebelou contra o
alto custo de vida, em 1757, o ministro reagiu com uma
repressão impiedosa, à qual não faltaram nem torturas nem
execuções.”
O ministro referido no texto é
a) Colbert. b) Turgot. c) Aranda.
d) Pombal. e) Richelieu.

RESOLUÇÃO:
O Conde de Oeiras ou Marquês de Pombal combateu duramente a
nobreza e o clero.
Resposta: D

48 HISTÓRIA
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A cultura do tabaco praticada no Recôncavo Baiano foi im-  (PUC-CAMP – MODELO ENEM) – “O nosso foi um Século
portante economicamente, porque das Luzes dominantemente beato, escolástico, inquisitorial;
a) representava valor de troca exportado para África com vis- mas elas se manifestaram nas concepções e no esforço refor-
tas ao comércio negreiro. mador de certos intelectuais e administradores, enquadrados
b) representava valor de troca nas permutas com as comuni- pelo despotismo relativamente esclarecido de Pombal. Seja
dades primitivas indígenas. qual for o juízo sobre este, a sua ação foi decisiva e benéfica
c) servia às trocas no setor de consumo interno. para o Brasil, favorecendo atitudes mentais evoluídas, que
d) o produto era exportado para a Índia em troca de especiarias incrementariam o desejo de saber, a adoção de novos pontos
e drogas. de vista na literatura e na ciência, certa reação contra a tirania
e) era o principal produto exportado para a Europa em troca de intelectual do clero e, finalmente, o nativismo.”
manufaturas. (Antonio Candido. Formação da Literatura Brasileira.
São Paulo: Martins, 1959, v.1.)
RESOLUÇÃO:
O tabaco era usado por mercadores no escambo por escravos na Ao Brasil, dentre as várias medidas adotadas pelo Marquês de
África.
Resposta: A
Pombal, foi particularmente importante
a) a autorização do livre-comércio entre o Brasil e as demais
nações aliadas, que mudou o equilíbrio das relações co-
lônia-Metrópole a favor da colônia e de sua autonomia.
 (UFPel – MODELO ENEM) – O desenvolvimento desigual b) o decreto que suspendeu a proibição de atividades indus-
entre os povos, na atualidade, tem suas origens em limitações triais na colônia e a isenção tarifária para as importações de
históricas, como: matérias-primas necessárias às manufaturas.
“ALVARÁ DE 1785 c) o decreto que autorizou a abertura de um Jardim Botânico
Eu, a Rainha, faço saber aos que este alvará virem que, no Rio de Janeiro, para apoiar o trabalho de naturalistas bra-
sendo-me presente o grande número de fábricas, manufaturas sileiros ou estrangeiros na pesquisa da flora na colônia.
que de alguns anos a esta parte se têm difundido em dife- d) a criação do centro de estudos técnicos e científicos
rentes capitanias do Brasil, com grave prejuízo da cultura e da destinado à preparação de pessoal especializado para atuar
lavoura, e da exploração das terras minerais daquele vasto nas áreas de engenharia, artilharia, geografia e topografia.
continente; [...] hei de por bem ordenar que todas as fábricas, e) a mudança da sede do governo-geral de Salvador para o Rio
manufaturas, ou teares de galões, de tecidos – excetuando tão de Janeiro por razões econômicas e estratégicas, ligadas à
somente aqueles dos ditos teares e manufaturas em que se crescente importância do centro-sul da colônia.
tecem ou manufaturam fazendas grossas de algodão, que
servem para o uso e vestuário dos negros, para enfardar e RESOLUÇÃO:
A transferência da capital da colônia para o Rio de Janeiro tinha
empacotar fazendas e para outros ministérios semelhantes –,
como objetivos: o maior controle sobre a atividade mineradora; e
e todas as demais sejam extintas e abolidas em qualquer parte a afirmação da soberania portuguesa na área dos Sete Povos das
onde se acharem nos meus domínios do Brasil”. (Adaptado.) Missões (atualmente, Rio Grande do Sul).
A intenção da rainha, expressa no texto, foi Resposta: E
a) promover a concentração dos recursos coloniais na
monocultura cafeeira da exportação e numa industrialização
substitutiva.
b) manter a economia colonial embasada no algodão, que
dominou o valor das exportações no século XVIII.
c) subordinar os interesses brasileiros ao Tratado de Methuen,
fazendo com que o ouro brasileiro acabasse em Portugal,
através da Inglaterra.
d) acelerar a industrialização portuguesa em detrimento do
desenvolvimento agrícola brasileiro.
e) evitar que, na fase do ciclo da mineração, ocorresse um
desenvolvimento industrial no Brasil, concorrendo com a
Metrópole.

RESOLUÇÃO:
Dentro do Pacto Colonial, a função de uma colônia é comple-
mentar a economia e promover o enriquecimento da Metrópole.
Resposta: E

HISTÓRIA 49
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Independência Palavras-chave:
• Locke • Medidas restritivas
10 das Treze Colônias • Autonomia • Leis intoleráveis

1. Introdução
A evolução do capitalismo comercial acabou criando suas próprias contradições. Na Europa, a burguesia tomou
consciência de sua importância, buscando o rompimento com os entraves mercantilistas e absolutistas. Ao tentar
legitimar seu poder, criou sua própria ideologia, o iluminismo, utilizando a lógica e o racionalismo para justificar a
ascensão ao poder.

A colonização inglesa na América do Norte que deu origem às Treze Colônias.

Lógica: coerência de raciocínio, de ideias; conjunto de estudos que tem por fim determinar categorias racionais válidas para a apreensão da
realidade, concebida como uma totalidade em permanente transformação.

50 HISTÓRIA
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No âmbito externo, as sementes das abomináveis sociedade dessa região apresentava uma grande homo-
ideias francesas atravessaram o oceano, encontrando na geneidade em comparação com a do sul.
América um campo fecundo para sua germinação. Essas A colonização do sul, propícia para a produção de
ideias foram difundidas no Novo Mundo, contribuindo gêneros tropicais, deu-se em bases mercantilistas. A
decisivamente para o rompimento do pacto colonial, ou função histórica dessas colônias era atender às necessi-
seja, o fim da exploração da colônia por sua Metrópole. dades da Metrópole, inseridas no contexto da plantation:
A Inglaterra, mãe do liberalismo político, acabou sen- latifúndio, monocultura e trabalho escravo, voltadas para
do alvo de suas próprias ideias. Nas Treze Colônias da os interesses do mercado externo.
América, surgiu o primeiro clamor aos princípios da
Dessa forma, enquanto nas colônias do centro-norte
liberdade, lançando a fagulha do liberalismo que acabou
se desenvolveu uma colonização de povoamento, o sul
acendendo a fogueira das rebeliões coloniais.
era tipicamente marcado pelas colônias de exploração.
O movimento de independência dos Estados Unidos Cabe ressaltar que, independentemente das diferenças
inaugurou, dessa forma, a falência do Antigo Regime, regionais e colonizadoras, até o século XVIII as Treze
influenciando com seus ideais a eclosão da maior revo- Colônias gozaram de certa dose de autonomia, pois seus
lução da história do Ocidente: a Revolução Francesa.
governadores, que representavam os interesses metro-
politanos, eram em sua maioria eleitos pela população
2. A colonização local. Cada uma das colônias tinha uma liberdade abso-
luta em relação às outras e apresentava-se ao poder real
inglesa na América totalmente separada das demais.
No século XVI, Portugal e Espanha eram as mais im-
portantes potências da Europa, detentoras da descober-
ta do Novo Mundo. A preocupação mercantilista orien-
tou a exploração do novo continente, em busca de pro-
dutos tropicais e, principalmente, de metais preciosos.
Os territórios considerados menos valiosos aos interes-
ses ibéricos foram relegados, cabendo aos países margi-
nalizados pelo Tratado de Tordesilhas a investida sobre
essas regiões.
Coube à Inglaterra, no século XVII, a colonização da
costa litorânea atlântica do atual território dos Estados
Unidos. A formação das Treze Colônias Inglesas da Amé-
rica processou-se de forma bastante diferente dos in-
teresses ibéricos, que visavam primordialmente à ex-
ploração de riquezas naturais para o abastecimento de
seus mercados.
A conturbada situação política e religiosa da Ingla-
terra naquele período, marcado por violentas persegui-
ções, provocou a fuga de dissidentes puritanos, que O comércio triangular praticado pela Nova Inglaterra.
buscavam na América uma nova atmosfera, longe das
sistemáticas perseguições. Vinham com a finalidade de O desenvolvimento das colônias do norte ultrapas-
fixar-se, sem o espírito aventureiro de “fazer a colônia”, sou suas fronteiras. Foram organizados os triângulos co-
isto é, enriquecer e voltar para a Europa. merciais, cuja finalidade era comercializar produtos,
Os imigrantes fundaram no norte dos Estados Uni- americanos no exterior, onde adquiriam novos produtos,
dos, na fronteira próxima ao Canadá, a Nova Inglaterra. A que revendiam em outras regiões; desses locais, traziam
existência de clima e solo semelhantes aos da Inglaterra equipamentos e mercadorias necessárias ao crescimen-
possibilitou o desenvolvimento de uma agricultura de to interno. Um desses comércios mais dinâmicos con-
subsistência, baseada na pequena propriedade; apesar sistia em vender peixe, madeira e gado nas Antilhas,
da existência de um grande número de indentured onde compravam melaço e rum; a bebida era então
servants (servos de contrato), predominava a mão de enviada à África para a compra de escravos, introduzidos
obra livre e assalariada. Independentemente disso, a nas colônias do sul ou nas Antilhas.

Indentured servants: emigrantes que, em troca de passagem,


Abomináveis ideias francesas: termo utilizado para fazer referência
trabalhavam sem remuneração para os colonos por um período de três
às ideias iluministas.
a sete anos, conseguindo a partir daí sua liberdade.
Puritano: ramo mais radical do protestantismo calvinista, pois pre-
Melaço: líquido viscoso obtido a partir da cana-de-açúcar; mel de
tendia interpretar melhor que ninguém o sentido literal das Escrituras.
engenho.

HISTÓRIA 51
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3. A mudança na Leis Intoleráveis, determinando a interdição do porto de


Boston; o julgamento dos culpados em tribunais no
política colonial exterior – em outras colônias ou na própria Inglaterra; e
As divergências pela hegemonia mundial, existentes a obrigação imposta aos colonos de alojar tropas
na Europa entre a França e a Inglaterra, acabaram che- inglesas em território americano.
gando à América, provocando conflitos pela exploração Nesse momento, teve início o processo que
do comércio colonial. Em 1756, teve início a Guerra dos culminaria com a independência dos Estados Unidos.
Sete Anos, na qual a Inglaterra, envolvida em outros
palcos do conflito, deixou praticamente aos colonos a
defesa de suas possessões na América.
4. O processo de independência
A luta contra os franceses e seus aliados indígenas
despertou nos colonos um forte sentimento de autocon-
fiança, assim como a consciência de sua força militar.
Pela primeira vez, as Treze Colônias uniram-se em torno
de um ideal comum. Vários líderes militares surgiram
nesse conflito, destacando-se a figura do aristocrata
George Washington.
A Inglaterra saiu vitoriosa do conflito contra a França,
contraindo, porém, uma forte crise econômica devido
aos gastos militares. Procurando recuperar seu erário
bastante abalado, os ingleses adotaram uma nova
política administrativa sobre suas colônias, caracterizada
pelo arrocho. A liberdade comercial que os colonos até
então possuíam restringiu-se às rígidas práticas do pacto
colonial.
Com o término da Guerra dos Sete Anos, a Inglaterra
proibiu a apropriação de terras situadas a Oeste, entre as
regiões dos Montes Alleghany e o Mississippi, e entre a
Flórida e o Quebec, justificando serem reservas indíge- As Leis Intoleráveis provocaram a convocação do
nas, o que causou forte descontentamento entre os co- Primeiro Congresso Continental de Filadélfia, que se
lonos, ávidos por novas terras. reuniu em 1774, quando uma petição foi enviada ao Par-
No ano seguinte, 1764, a Inglaterra promulgou a Lei lamento Britânico solicitando a revogação das leis. Com
do Açúcar, que estabelecia uma taxa sobre o melaço a recusa do rei Jorge III em atender às reivindicações
comercializado pelos colonos com outras nações. Novas coloniais, no ano seguinte os americanos reuniram-se no
restrições mercantilistas surgiram quando, em 1765, foi Segundo Congresso Continental de Filadélfia, com pro-
aprovada a Lei do Selo, pela qual a Metrópole inglesa postas nitidamente separatistas.
obrigava que vários produtos, como jornais, revistas, Em 1775, teve início oficialmente a guerra, sendo
baralhos e livros, fossem sobretaxados com um selo. George Washington nomeado comandante das forças
A recusa do governo britânico em retirar os impostos rebeldes. Em 4 de julho de 1776, foi publicada a Decla-
provocou forte reação dos colonos, que passaram a ração de Independência, por Thomas Jefferson, o qual
boicotar os produtos ingleses e a queimar publicamente continha a Declaração dos Direitos do Homem, baseada
os selos. Apesar de atenderem às exigências coloniais, em princípios iluministas.
em 1767 os ingleses impuseram novas restrições, princi- Após a vitória inglesa nas primeiras batalhas, em
palmente a Lei do Chá, que dava o monopólio de comer- outubro de 1777 os americanos obtiveram a grande
cialização do produto à Companhia das Índias Orientais. vitória de Saratoga, o que permitiu a Benjamin Franklin
Essa medida provocou um grave incidente. No ano conseguir o apoio da França e da Espanha. Na Batalha de
de 1773, um grupo de colonos jogou ao mar um grande Yorktown, os ingleses foram derrotados; em 1783, com
carregamento de chá em protesto à lei. O episódio, o Tratado de Versalhes, a Inglaterra reconheceu a
conhecido como Boston Tea Party, provocou fortes independência dos Estados Unidos da América,
represálias da Inglaterra. O governo inglês decretou as elaborando sua Constituição em 1787.

Arrocho: pressão ou coação exagerada. Petição: ato de pedir; requerimento.

52 HISTÓRIA
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5. Cronologia
Séc. XVII – Início da colonização da América do Norte.
1757-63 – Guerra dos Sete Anos.
1764 – Lei do Açúcar e Ato de Québec.
1765 – Publicação de A Riqueza das Nações, de Adam Smith; Lei do Selo.
1767 – Atos Townshend.
1773 – Lei do Chá; Boston Tea Party.
1774 – Leis Intoleráveis; Primeiro Congresso Continental de Filadélfia.
1775 – Início da luta entre ingleses e colonos; Segundo Congresso Continental de Filadélfia.
1776 – Declaração de Independência das Treze Colônias.
1781 – Vitória decisiva dos norte-americanos em Yorktown.

No Portal Objetivo
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Exercícios Resolvidos

 (UFF – MODELO ENEM) – “Consideramos evidentes as seguintes


(PUC-PR – MODELO ENEM) – Leia o texto a seguir e extraia a
verdades: que todos os homens foram criados iguais; que receberam ideia central:
de seu Criador certos direitos inalienáveis; que entre eles estão os “São verdades incontestáveis para nós: todos os homens nascem
direitos à vida, à liberdade e à busca da felicidade.” iguais; o Criador lhes conferiu certos direitos inalienáveis, entre os
quais os de vida, o de liberdade e o de buscar a felicidade; para
(Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, 4 assegurar esses direitos se constituíram homens-governo cujos
jul. 1776.) poderes justos emanam do consentimento dos governados; sempre
que qualquer forma de governo tenda a destruir esses fins, assiste ao
Essa passagem denota
povo o direito de mudá-la ou aboli-la, instituindo um novo governo
a) o desejo do Congresso Continental de delegados das Treze
cujos princípios básicos e organização de poderes obedeçam às
Colônias no sentido de empreender reformas profundas na
normas que lhes pareçam mais próprias para promover a segurança e
sociedade do novo país.
a felicidade gerais.”
b) a utilização de categorias do Direito Natural Racional, no contexto
(Trecho da Declaração de Independência dos Estados Unidos da
das ideias do iluminismo.
c) que o Congresso Continental, apesar de rebelde à lnglaterra, América,
Ministro das Relações Exteriores, EUA.)
permanecia fiel ao ideário do absolutismo, pois deste emanavam os
ideais que defendia.
A ideia central do texto é:
d) influência das reformas empreendidas no século XVIII pelos
a) A forma de governo estabelecida pelo povo deve ser preservada a
chamados "déspotas esclarecidos" da Europa.
qualquer preço.
e) que os delegados das Treze Colônias tinham uma concepção
b) A realização dos direitos naturais independem da forma, dos
ingênua e equivocada das sociedades humanas.
princípios e da organização do governo.
Resolução
c) Cabe ao povo determinar as regras sob as quais será governado.
O trecho da Declaração de Independência dos EUA é uma adaptação
d) Todos os homens têm direitos e deveres.
do pensamento de John Locke (pai do iluminismo), primeiro a justificar
e) Cabe aos homens-governo estabelecer as regras para o povo.
de forma racional o direito de rebelião contra um governo estabelecido.
Resolução
Resposta: B
Na verdade, o texto fala do governo como expressão da vontade dos
governados, ou seja, um governo não deve se impor de forma
arbitrária.
Resposta: C

HISTÓRIA 53
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Exercícios Propostos

 Qual é a relação entre a Guerra dos Sete Anos, entre a  A capitulação de Yorktown (1781), na história política do
França e a Inglaterra, e o processo de independência dos Esta- Novo Mundo, é de grande significação porque
dos Unidos? a) representou o término do domínio inglês sobre as Treze Co-
lônias Inglesas da América do Norte;
RESOLUÇÃO: b) significou o fim da Guerra dos Sete Anos, com o envolvi-
Após a Guerra dos Sete Anos, a Inglaterra (vitoriosa, porém endi- mento de várias nações, inclusive a Inglaterra e a Prússia;
vidada) iniciou uma política de aumento de impostos sobre as co-
lônias, acabando com a autonomia dos colonos e gerando um
c) deu à Inglaterra as terras do Canadá e da Flórida, além da
sentimento separatista. liberdade de ação nas Índias;
d) permitiu à França, pelo Tratado de Versalhes, reconhecer a
independência do Canadá;
e) possibilitou à Inglaterra estabelecer amplo domínio sobre a
parte ocidental dos Estados Unidos.

RESOLUÇÃO:
Em Yorktown, os ingleses se renderam às tropas americanas.
Resposta: A

(UFES – MODELO ENEM) – A Declaração de Indepen-


 O que foram as “Leis Intoleráveis”? dência das Treze Colônias Inglesas da América do Norte, em 4
de julho de 1776, da qual Thomas Jefferson foi relator,
RESOLUÇÃO:
Conjunto de leis aprovadas pelo Parlamento Inglês em represália
consagrou, em seu texto, o princípio do(a)
ao episódio “Boston Tea Party”: o fechamento do porto, o a) direito de reação à tirania, inspirado em Locke.
julgamento dos colonos fora das colônias e o aquartelamento. b) negação do contrato social, nos termos expostos por
Rousseau.
c) separação da Igreja do Estado, conforme o pensamento de
Mably.
d) ilustração monárquica, defendida por Diderot.
e) utilitarismo, preconizado por Benthan, Mill e William James.

RESOLUÇÃO:
Locke afirmava que todo ser humano nasce com três direitos: à
vida, à liberdade e à propriedade. A função do governo é garantir
os direitos naturais do cidadão; caso viole algum deles, o cidadão
adquire um quarto direito, o de rebelar-se.
Resposta: A

54 HISTÓRIA
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Na América inglesa, não houve nenhum pro-  ”Em 4 de julho de 1776, as treze colônias que
cesso sistemático de catequese e de conver- vieram inicialmente a constituir os Estados
são dos índios ao cristianismo, apesar de algumas iniciativas Unidos da América (EUA) declaravam sua independência e
nesse sentido. Brancos e índios confrontaram-se muitas vezes justificavam a ruptura do Pacto Colonial. Em palavras profunda-
e mantiveram-se separados. Na América portuguesa, a mente subversivas para a época, afirmavam a igualdade dos
catequese dos índios começou com o próprio processo de homens e apregoavam como seus direitos inalienáveis, o direi-
colonização, e a mestiçagem teve dimensões significativas. to à vida, à liberdade e à busca da felicidade. Afirmavam que o
Tanto na América inglesa quanto na portuguesa, as populações poder dos governantes, aos quais cabia a defesa daqueles
indígenas foram muito sacrificadas. Os índios não tinham direitos, derivava dos governados.
defesas contra as doenças trazidas pelos brancos, foram Esses conceitos revolucionários que ecoavam o iluminis-
derrotados pelas armas de fogo destes últimos e, muitas mo foram retomados com maior vigor e amplitude treze anos
vezes, escravizados. mais tarde, em 1789, na França.”

No processo de colonização das Américas, as populações (Emília Vioti da Costa. Apresentação da coleção. In Wladimir Pomar.
indígenas da América portuguesa Revolução Chinesa. São Paulo: UNESP, 2003. Adaptado.)
a) foram submetidas a um processo de doutrinação religiosa
que não ocorreu com os indígenas da América inglesa. Considerando o texto acima, acerca da independência dos EUA
b) mantiveram sua cultura tão intacta quanto a dos indígenas e da Revolução Francesa, assinale a opção correta.
da América inglesa. a) A independência dos EUA e a Revolução Francesa inte-
c) passaram pelo processo de mestiçagem, que ocorreu am- gravam o mesmo contexto histórico, mas se baseavam em
plamente com os indígenas da América inglesa. princípios e ideais opostos.
d) diferenciaram-se dos indígenas da América inglesa por te- b) O processo revolucionário francês identificou-se com o
rem suas terras devolvidas. movimento de independência norte-americana no apoio ao
e) resistiram, como os indígenas da América inglesa, às doen- absolutismo esclarecido.
ças trazidas pelos brancos. c) Tanto nos EUA quanto na França, as teses iluministas
sustentavam a luta pelo reconhecimento dos direitos
RESOLUÇÃO: considerados essenciais à dignidade humana.
Conforme o enunciado explica, na América Inglesa a catequese de d) Por ter sido pioneira, a Revolução Francesa exerceu forte
indígenas ocorreu apenas circunstancialmente. Já na América influência no desencadeamento da independência norte-ame-
Portuguesa, esse procedimento teve uma dimensão maior, fosse
ricana.
para justificar ideologicamente a colonização, fosse porque a acul-
turação decorrente da catequese favorecia a submissão dos in- e) Ao romper o Pacto Colonial, a Revolução Francesa abriu o ca-
dígenas, devido à aceitação implícita dos conceitos e valores dos minho para as independências das colônias ibéricas situadas
dominadores europeus. na América.
Resposta: A
RESOLUÇÃO:
Apesar da incoerência entre os princípios expostos na Declaração
de Independência dos Estados Unidos e a continuidade do escra-
vismo naquele país, pode-se aceitar que as Revoluções
Norte-Americana e Francesa incorporavam as ideias fundamen-
tais do pensamento iluminista: liberdade e igualdade de direitos,
dentro obviamente de uma perspectiva burguesa.
Resposta: C

HISTÓRIA 55
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Movimentos Palavras-chave:
• Crise geral
11 Emancipacionistas • Brasilidade/separatismo
• Conjura e inconfidência

1. Contexto geral a exploração e a dependência em relação à Metrópole. O


grande dilema é que para explorar as colônias era
A Época Moderna, demarcada tradicionalmente necessário desenvolvê-las, e este desenvolvimento traz
entre 1453 e 1789, constitui uma unidade completa, um o ideal da emancipação. Seguindo o exemplo das Treze
sistema com uma estrutura própria. No plano econômi- Colônias Inglesas – marco inicial da crise do sistema
co, assistimos ao aparecimento do capitalismo comer- colonial tradicional –, tornaram-se independentes as
cial, da política mercantilista e do sistema colonial. De colônias espanholas da América e o Brasil.
modo geral, podemos também designar essa época por No Brasil, no século XVIII, em função do endurecimen-
Antigo Regime, definido pelo Estado Absolutista e pela to da política colonial lusitana durante a fase de maior
sociedade estamental. exploração aurífera, acentuava-se a dissociação entre os
A segunda metade do século XVIII e o início do XIX interesses metropolitanos e coloniais. Ocorria a tomada
foram marcados pela crise do sistema colonial tradicio- de maior consciência por parte dos colonos, em determi-
nal, em função dos reflexos da própria política europeia, nadas regiões, da crescente espoliação desenvolvida
agravados por fatos diretamente vinculados às colônias pela Metrópole. Entre os fatos que contribuíram para
da América. É neste quadro que se insere um conjunto agravar tal situação, podemos citar a decretação do Alvará
de acontecimentos, configurando uma crise mais ampla, de Proibição das Manufaturas Brasileiras, em 1785, e o
a do Antigo Regime. início do processo de cobrança da derrama do ouro.
Essa crise se dá, em nível econômico, pela pas-
sagem do capitalismo comercial para o industrial, com a 2. Principais movimentos
Revolução Industrial necessitando da ampliação do
mercado consumidor para seus produtos; e pela substi- Entre os principais movimentos emancipacionistas,
tuição da política mercantilista pelo liberalismo econô- que já possuem um caráter questionador do sistema
mico. No plano social, é marcada pela ascensão e afirma- colonial, o de maior importância foi a Inconfidência ou
ção da burguesia por meio da manipulação das massas Conjuração Mineira, em 1789. Nessa rebelião encon-
populares, com a Revolução Francesa; simultaneamen- tramos diversos antecedentes, como o crescente abuso
te, desponta uma nova classe social: o proletariado. No do fiscalismo português na região aurífera, acom-
plano político, a crise é marcada pela liquidação das mo- panhado pelo acirramento da dominação político-militar
narquias absolutistas tanto na Inglaterra quanto na lusa. As influências das ideias liberais (do Movimento
França e pelo nascimento do Estado liberal burguês, es- das Luzes) e da independência dos Estados Unidos são
tabelecido segundo critérios censitários. No plano religi- nítidas nas manifestações dos participantes. Estes eram
oso, assistimos à desvinculação da Igreja do Estado e ao em sua maioria letrados: alguns estudantes brasileiros
fim da intolerância religiosa. No plano cultural, temos o na Europa, tais como José Joaquim da Maia, que tentou
triunfo da razão, com o movimento iluminista. o apoio de Thomas Jefferson; os poetas Cláudio Manuel
da Costa, Inácio de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio
Também se faz necessário considerar a ruptura do Gonzaga; os doutores José Álvares Maciel, Domingos
equilíbrio político europeu que ocorreu na época da for- Vital Barbosa e Salvador Amaral Gurgel; os padres Ma-
mação do Império napoleônico. O jogo de forças entre a nuel Rodrigues da Costa, José de Oliveira Rolim e Carlos
França e a Inglaterra mantinha sob sua tutela os países de Toledo Piza; e alguns militares, como o tenente-co-
possuidores de imensos impérios coloniais, no caso ronel Francisco de Paula Freire de Andrade e o alferes
Portugal, que se ligou à Inglaterra, e a Espanha, que Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
buscou a proteção da França. Ao invadir a Península Ibé-
Nos planos dos conjurados, grandemente idealistas,
rica, Napoleão expõe a fragilidade das Metrópoles e
mas caracterizados pelo despreparo militar e por certa
possibilita um ambiente favorável aos movimentos de
inconsistência ideológica, evidenciavam-se, no entanto,
libertação.
alguns princípios teóricos, como o ideal emancipacio-
Por fim, os anos de dominação colonial exigiram dos nista vinculado a uma forma republicana de governo.
colonizadores alguns investimentos nas colônias, o que Este teria como sede a cidade de São João del Rey.
provocou um pequeno desenvolvimento, que aos pou- Quanto à abolição da escravidão, porém, não chegaram
cos foi se tornando contrário aos seus objetivos iniciais: a um acordo. Desde a composição de seus participantes,

Estamental: sociedade marcada pela existência de ordens sociais com raríssima mobilidade social.

56 HISTÓRIA
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a conspiração perdia-se em um emaranhado de ideias Ainda em Pernambuco, em 1817, eclodiu outro mo-
vagas, chegando os conspiradores a definir apenas o dese- vimento emancipacionista: a Revolução Pernambu-
nho de uma nova bandeira (Libertas Quae Sera Tamen), cana, com tendência republicana e grande participação
e planos em relação ao incremento à natalidade sobrepu- da maçonaria. Entre seus líderes (intelectuais, militares e
nham-se à organização militar do próprio movimento. clérigos), destacavam-se o comerciante Domingos José
A eclosão da revolução tinha na cobrança da “der- Martins, o capitão José de Barros Lima ("o Leão
rama” (596 arrobas) do ouro o seu pretexto. Em maio de Coroado"), o Dr. José Luís de Mendonça e novamente os
1789, porém, a conjura foi denunciada pelos portugue- padres Miguelinho e João Ribeiro e até mesmo o
ses Joaquim Silvério dos Reis, Brito Malheiros e Correia paulista Antônio Carlos de Andrada. Os revolucionários
Pamplona. Foi iniciada uma enorme devassa dirigida chegaram a organizar um governo provisório republicano
pelo próprio governador, Visconde de Barbacena, que se baseado em uma lei orgânica, inspirada nas Constitui-
prolongou até 1792; finalmente, após decreto de ções francesas. A rebelião chegou a receber a adesão de
D. Maria I comutando a pena de morte dos inconfiden- outras regiões do Nordeste, mas foi violentamente
tes, foi executado Tiradentes, o único para o qual a abafada pela ação do Conde dos Arcos, governador da
sentença foi mantida. Bahia, que atuou como representante direto da Família
Real Portuguesa, que estava no Brasil.
Apesar de seu caráter idealista e intelectualizado,
esse movimento foi a primeira contestação mais conse- Os movimentos emancipacionistas, apesar de terem
quente ao sistema colonial português. grande significado para o processo de independência do
Brasil, não conseguiram alcançar uma repercussão
Em 1794, ocorreu a Conjuração do Rio de Janeiro,
global, ficando restritos a determinadas áreas regionais
que não ultrapassou o nível de meras reuniões de inte-
do território brasileiro. Toda essa ação revolucionária
lectuais, sobretudo da Sociedade Literária, liderados pelo
também não implicou o fim das economias periféricas,
Dr. Mariano Pereira da Fonseca e influenciados pelos
visto que, com a independência, surgiu um novo
"abomináveis princípios franceses" (liberdade, igualdade
colonialismo "liberal", da Inglaterra, relacionado com a
e fraternidade).
Revolução Industrial e com a criação de áreas econô-
Importante movimento emancipacionista ocorreu micas de influência e controle britânicos.
em 1796, com a Conjuração Baiana ou dos Alfaiates; a
influência da Loja Maçônica "Cavaleiros da Luz" fornecia
o sentido intelectualizado do movimento. Os seus
líderes, Cipriano Barata, Francisco Muniz Barreto,
Pe. Agostinho Gomes e tenente Hermógenes de Aguiar,
contavam, no entanto, com uma boa participação de
elementos provenientes das camadas populares, como
os alfaiates João de Deus e Manuel Faustino dos Santos
Lira ou os soldados Lucas Dantas e Luís Gonzaga das
Virgens. Nesse movimento havia um fator que o diferen-
ciou dos demais: o seu caráter social mais popular,
propugnando a igualdade racial e contando com uma
grande participação de mulatos e negros. Em 1799, no Autos de devassa da Inconfidência Mineira.
entanto, após devassa, os principais representantes das
camadas mais simples foram executados, sendo
absolvidos os intelectuais.
Outro movimento emancipacionista foi a Conspi-
ração dos Suaçunas, em Pernambuco (1801), em que a
presença de intelectuais e padres ficava mais uma vez
patenteada. Seus líderes, padres Manuel Arruda Câmara
(da Sociedade Areópago de Itambé), João Ribeiro e
Miguelinho (ambos do Seminário de Olinda), eram in-
fluenciados pelas ideias liberais da época. O movimento
permaneceu, porém, no plano ideológico, tendo sido aba-
fado pela ação das ideias das autoridades portuguesas,
que prenderam seus participantes, entre os quais se des-
tacavam os irmãos Francisco de Paula e Luís Francisco
Museu da Inconfidência. Edição de 1792 da
de Paula Cavalcanti, do Engenho Suaçuna, membros da obra Marília de Dirceu, de Tomás Antônio
elite local, mas que pouco depois foram soltos. Gonzaga.

Libertas Quae Sera Tamen: expressão latina que significa “liberdade ainda que tardia”.
Devassa: ato de invadir e pôr a descoberto o que estava defeso ou vedado; sindicância, inquérito.
Comutando: trocando, permutando.

HISTÓRIA 57
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A leitura da sentença
de Tiradentes.
Pintura de Leopoldino Faria, 1921.

5. Cronologia
1789 – Inconfidência Mineira; queda da Bastilha e início da Revolução Francesa.
1792 – Execução de Tiradentes.
1792-94 – Fase popular da Revolução Francesa.
1794 – Conjuração do Rio de Janeiro.
1798 – Conspiração dos Alfaiates.
1801 – Conspiração dos Suaçunas (PE).
1817 – Revolução Pernambucana.

No Portal Objetivo
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST2M111

Exercícios Resolvidos

 (FGV – MODELO ENEM) – O movimento Resolução


A Conjuração Baiana foi um movimento eman-
c) denunciavam a total adesão dos colonos às
pressões da burguesia industrial britânica a
político organizado na Bahia em 1789 incluía
cipacionista de caráter popular e igualitário. favor da independência e da abolição do
em seu bojo e na sua liderança mulatos e
negros livres ou libertos, ligados às profissões Resposta: A tráfico negreiro para se constituir, no Brasil,
urbanas, como artesãos ou soldados, bem um mercado de consumo para os manu-
como alguns escravos.
(CESGRANRIO – MODELO ENEM) – Du- faturados.
rante as últimas décadas do século XVIII, a d) representavam uma forma de resistência
“Os conspiradores defendiam a proclama- colônia portuguesa na América foi palco de dos colonos às tentativas de recolonização
ção da República, o fim da escravidão, o movimentos como a Inconfidência Mineira empreendidas, depois da Revolução do
livre-comércio especialmente com a França, o (1789), a Conjuração do Rio de Janeiro (1794) e Porto, pelas Cortes de Lisboa, liberais em
aumento do salário dos militares, a punição de a Conjuração Baiana (1798). A respeito desses Portugal, que queriam reaver o monopólio
padres contrários à liberdade. O movimento movimentos pode-se afirmar que: do comércio com o Brasil.
não chegou a se concretizar, a não ser pelo lan- a) demonstravam a intenção das classes pro- e) tinham cunho separatista e uma ideologia
çamento de alguns panfletos e várias articu- prietárias, adeptas das ideias liberais de marcadamente nacionalista, visando à liber-
lações. Após uma tentativa de se obter o apoio seguirem o exemplo da Revolução America- tação da colônia da Metrópole e à formação
do governador da Bahia, começaram as prisões na (1776) e proclamarem a independência, de um Império no Brasil através da união
e delações. Quatro dos principais acusados
construindo uma sociedade democrática em das várias regiões até então desunidas.
foram enforcados e esquartejados. Outros
que todos os homens seriam livres e iguais. Resolução
receberam penas de prisão ou banimento.”
b) expressavam a crise do Antigo Sistema Os movimentos emancipacionistas estão in-
O texto anterior refere-se à: Colonial através da tomada de consciência, seridos no contexto da crise geral do Antigo
a) Conjuração dos Alfaiates. por parte de diferentes setores da socie- Regime. Apesar de majoritariamente elitistas, a
b) Balaiada. dade colonial, de que a exploração exercida Conjuração Baiana apresenta uma vertente
c) Revolução Praieira. pela Metrópole era contrária aos seus in- popular destes movimentos.
d) Sabinada. teresses e responsável pelo empobreci- Resposta: B
e) Inconfidência Mineira. mento da colônia.

58 HISTÓRIA
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Exercícios Propostos

 Caracterize os movimentos emancipacionistas. Entre as propostas defendidas pela Inconfidência Mineira,


pode-se indicar
RESOLUÇÃO: a) a independência do Brasil e o estabelecimento de um go-
Movimentos que queriam o rompimento definitivo do pacto colo- verno republicano.
nial, foram influenciados pelo iluminismo e possuíam o ideal de
brasilidade.
b) o término das concessões especiais à Inglaterra, constantes
Nota: consciência de ser um explorado, sem conteúdo nacio- nos Tratados de Comércio e Amizade.
nalista. c) a mudança da sede do governo da Bahia para Minas Gerais.
d) a restrição à produção manufatureira, que impedia a concen-
tração de recursos nas atividades mineradoras.
e) a abolição da escravatura no Brasil, mediante indenização
aos proprietários.

RESOLUÇÃO:
Os mineiros eram emancipacionistas e republicanos.
Resposta: A

 Diferencie a Inconfidência Mineira da Conjura Baiana.

RESOLUÇÃO:
Mineira: foi elitista, influenciada pela independência dos EUA e
manteve a escravidão.
Baiana: foi popular, influenciada pela Revolução Francesa (fase
popular) e abolicionista.

 (UECE – MODELO ENEM) – “Cada hum soldado he cida-


dão mormente os homens pardos e pretos que vivem
escornados, e abandonados, todos serão iguaes, não haverá
diferença, só haverá liberdade, igualdade e fraternidade.”
(Manifesto dirigido ao "Poderoso e Magnífico Povo Bahiense
Republicano", em 1798. Cit. por Joana Neves e
Elza Nadai. História do Brasil: da Colônia à República.
 “(…) Quando lhes falar, diga-lhes assim: – O povo tem inten- 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. p. 119.)
tado numa revolução, a fim de tornar esta capitania num governo
democrático, nelle seremos felices; porque só governarão as Assinale a opção que melhor expressa as diferenças entre a
pessoas que tiverem capacidade para isso, ou seja, brancos ou Conjuração Baiana e a Inconfidência Mineira:
pardos, ou pretos, sem distinção de cor, e sim de juízo, e he me- a) Os mineiros eram mais radicais do que os baianos com
lhor do que ser governado por tolos, e logo os converá.” relação à escravidão, pois defendiam não só liberdade dos
negros mas sua participação no governo.
(Excerto do Manifesto Revolucionário da Conjura Baiana, 1798.)
b) Enquanto em Minas os revoltosos evitavam tocar em ques-
Quais os princípios básicos defendidos pelos revolucionários? tões delicadas como a escravidão, na Bahia a influência da
Revolução Francesa era mais marcante.
RESOLUÇÃO: c) A revolta na Bahia foi liderada e apoiada por setores instruí-
A implantação de um governo democrático no qual haveria a dos da população, o que ditou seu tom mais moderado, mas
igualdade social e racial.
em Minas a população pobre foi às ruas e expulsou as
lideranças conciliadoras.
d) A influência da Independência dos EUA foi mais intensa na
revolta baiana, enquanto que, em Minas, a presença dos
ideais franceses foi mais forte.

RESOLUÇÃO:
A Revolta dos Alfaiates foi um movimento influenciado pelas
ideias iluministas e pela fase popular da Revolução Francesa, dos
quais retirou seus ideais de igualdade e abolição da escravatura.
Resposta: B

HISTÓRIA 59
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 (UnB – adaptada – MODELO ENEM) – “A Inconfidência ”No clima das ideias que se seguiram à Revolta
Mineira não foi um fato isolado. Ela está integrada ao contexto de São Domingos, o descobrimento de planos
social, político e econômico do Brasil colonial. Na Capitania de para um levante armado dos artífices mulatos na Bahia, no ano
Minas Gerais, houve muitos outros, e também importantes, de 1798, teve impacto muito especial; esses planos demons-
movimentos rebeldes. Considerando a História do Brasil como travam aquilo que os brancos conscientes tinham já começado
um todo, a Inconfidência Mineira também não foi única: ela se a compreender: as ideias de igualdade social estavam a
coloca ao lado de movimentos como a Conjuração dos propagar-se numa sociedade em que só um terço da população
Alfaiates (Bahia, 1798), a Conjuração do Rio de Janeiro (1794) era de brancos e iriam inevitavelmente ser interpretados em
e a Revolução Pernambucana de 1817, entre outros que termos raciais.”
também enfrentaram a dominação colonial.”
(K. Maxwell. Condicionalismos da Independência do Brasil.
(Carla Anastasia. Os temas da liberdade e da Republicana na In M. N. Silva (coord.) O Império luso-brasileiro, 1750-1822.
Inconfidência Mineira. Adaptado.) Lisboa: Estampa, 1966.)

Com o auxílio das informações contidas no texto, julgue os O temor do radicalismo da luta negra no Haiti e das propostas
itens seguintes. das lideranças populares da Conjuração Baiana (1798) levaram
I. Ao contrário do movimento de Vila Rica, fortemente marca- setores da elite colonial brasileira e novas posturas diante das
do pela participação das elites locais, a Conjuração Baiana reivindicações populares. No período da Independência, parte
teve um cunho essencialmente popular. da elite participou ativamente do processo, no intuito de
II. Todos os movimentos citados no texto inscrevem-se no a) instalar um partido nacional, sob sua liderança, garantindo
quadro geral de crise do antigo sistema colonial, quadro esse participação controlada dos afro-brasileiros e inibindo novas
que também refletia as transformações vividas pela Europa rebeliões de negros.
a partir da Revolução Industrial e das revoluções liberais b) atender aos clamores apresentados no movimento baiano,
burguesas. de modo a inviabilizar novas rebeliões, garantindo o controle
III. A Revolução Pernambucana de 1817, que eclodiu durante a da situação.
permanência do Estado português no Brasil, traçou uma c) firmar alianças com as lideranças escravas, permitindo a
linha libertária que teve prolongamento na Confederação do promoção de mudanças exigidas pelo povo sem a
Equador, dois anos após a Independência. profundidade proposta inicialmente.
IV. A imagem de Tiradentes, cultuada durante o período monár- d) impedir que o povo conferisse ao movimento um teor
quico, sofreu forte oposição por parte daqueles que procla- libertário, o que terminaria por prejudicar seus interesses e
maram a República, pelo que poderia inspirar contra o novo seu projeto de nação.
regime. e) rebelar-se contra as representações metropolitanas,
Estão corretos: isolando politicamente o Príncipe Regente, instalando um
a) I, II e III apenas. b) II, III e IV apenas. governo conservador para controlar o povo.
c) I, II e IV apenas. d) Todos estão corretos.
e) Todos estão incorretos. RESOLUÇÃO:
Os processos de independência nas Américas geralmente foram
conduzidos pelas elites locais (sendo exceção a rebelião popular
RESOLUÇÃO:
de escravos e libertos no Haiti). O receio de subversão da ordem
I) V II) V III) V IV) F
latifundiária e escravista fez com que as elites se unissem em
O item IV está incorreto, porque no período monárquico Tiraden-
torno da construção de Estados que garantissem sua condição
tes era considerado um inimigo da Coroa. Foi somente na Procla-
socioeconômica privilegiada.
mação da República que a imagem de Tiradentes foi tomada pelos
Isso ocorreu não apenas na América Hispânica, mas também no
militantes do republicanismo como um mártir da Independência,
Brasil.
na luta contra a monarquia.
Resposta: D
Resposta: A

60 HISTÓRIA
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Palavras-chave:

12 Independência do Haiti • Vodu • Negros • Mulatos


• Dupla independência
• Sui generis

1. Introdução obras dos negros – libertos e escravos –, e não da elite


local, como em outras regiões da América.
O estudo do processo emancipacionista da Ilha Ainda no século XVIII, desencadeou-se uma série de
Espanhola é um caso à parte. revoltas de escravos.
Originariamente, a Ilha foi ocupada por espanhóis, A primeira delas data de 1754 e foi liderada por um
servindo de centro de irradiação para a colonização nas escravo, Mackandal, que aterrorizou os brancos por
Antilhas e no continente. La Isabela foi a primeira cidade meio de práticas de guerrilha e do vodu, religião de
fundada, na América, pelos espanhóis, em 1494; em origem africana praticada nas Antilhas, semelhante ao
1496, fundaram Santo Domingo Del Porto; em 1538, a candomblé brasileiro.
Ordem dos Pregadores (dominicanos) fundou a Universi-
dade de Santo Tomás de Aquino. Em 1758, Mackandal foi preso e queimado na fo-
gueira sob a acusação de feiticeiro.
Quando Cortéz descobriu as minas do México, a
Ilha, por não possuir grande quantidade de metais pre- Vicente Ogé, um mestiço, em 1791 iniciou um movi-
ciosos, perdeu a importância diante dos olhos da Espa- mento com rebeliões e levantes de feições nitidamente
nha e passou a ser atacada e ocupada por franceses, socioeconômicas, revelando o descontentamento com a
ingleses e holandeses. situação de exploração e o escravismo.
Pelo Tratado de Ryswick, em 1697, a Espanha reco-
nheceu a presença francesa na parte ocidental da Ilha
Espanhola.
? Saiba mais
Nessa região, os franceses haviam feito florescer Rebelião de Agosto
uma rica colônia, Saint-Domingue, produtora de cana-de- Foi o mais importante levante de escravos verificado
açúcar, café e cacau, com base no braço escravo, en- na Ilha Espanhola (Haiti). No referido mês, em 1791,
quanto na parte espanhola a decadência era visível.
escravos negros, 80% de uma população de pouco
Com essa divisão da Ilha Espanhola em uma área mais de 60.000 habitantes, massacraram parte da po-
francesa (Saint-Domingue) e uma área espanhola (São pulação branca da ilha.
Domingos), a emancipação não seria homogênea: o lado
oriental e o lado ocidental seguiram caminhos diferen-
ciados nesse processo. O movimento
Em 1788, subiu ao trono espanhol Carlos IV e, no ano
seguinte, teve início a Revolução Francesa. Esses epi-
sódios alteraram consideravelmente a realidade da Ilha.
A Revolução Francesa, ao pregar a liberdade e a
igualdade entre os homens, levou os escravos e negros
libertos da Ilha a se rebelarem contra seus senhores, exi-
gindo os direitos pregados na Metrópole.
Após a declaração de guerra entre França e Espa-
nha, em 1793, começaram as hostilidades espanholas –
com apoio de ingleses, franceses, monarquistas e escra-
vos insurgentes – contra os franceses de Saint-
Domingue. Entre os combatentes pelo lado espanhol,
encontrava-se Toussaint Louverture.
2. Haiti
Em 1794, quando na França foi decretada a abolição
Considerações do escravismo, Toussaint Louverture abandonou as tro-
No caso específico do Haiti, pesou a participação Ilha Espanhola: também chamada de Hispaniola nos tempos
dos escravos. A sua independência é considerada uma coloniais, é a ilha de São Domingos, hoje dividida em dois países: a
exceção, no quadro geral dos movimentos de libertação, República Dominicana e o Haiti.
justamente por ter constituído um duplo movimento de Santo Domingo Del Porto: primeira cidade fundada pelos espanhóis
independência: política, em relação à Espanha; e social, na América; atualmente, São Domingos, capital da República
com o fim do escravismo. Além disso, as lutas foram Dominicana.

HISTÓRIA 61
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pas espanholas em favor da República Francesa, levan- A morte de Dessalines provocou uma divisão do país
do consigo grande massa de combatentes. por uma guerra civil. Alexandre Pétion passou a controlar
Toussaint reconquistou boa parte do território perdi- o sul do país e Henri Christophe comandou o norte, pro-
do para a República Francesa. clamando-se rei Henrique I em 1811.
Alexandre Pétion foi sucedido por Jean Pierre Boyer,
O Tratado de Basileia, de 1795, assinado entre
que, com a morte de Henri Christophe (1820), unificou o
França e Espanha, entregou o domínio sobre toda a Ilha
norte e o sul do Haiti, sob um governo republicano.
aos franceses, mas estes, não dispondo de Exército
suficiente, não promoveram a posse efetiva. Boyer anexou a parte oriental da Ilha (São Domingos)
em 1821, fato que interrompeu a recém-declarada inde-
A ascensão do Diretório, na França, com uma políti-
pendência da região.
ca extremamente conservadora, devolveu o escravismo
às colônias. Nesse momento, as reações coloniais se A França reconheceu a independência do Haiti em
intensificaram. 1825.
No ano de 1801, Toussaint Louverture declarou inde- Apesar de seu expressivo movimento pela indepen-
pendente toda a Ilha. Foram aprovados o fim do dência, o Haiti constituiu uma fraca nação, marcada por
escravismo, a Constituição e a entrega do cargo de sucessivas crises, intervenções militares norte-america-
governador vitalício a Toussaint Louverture. nas e golpes militares internos, que marcam sua história
até o presente.
A ascensão de Napoleão Bonaparte fez com que a Fran-
ça decidisse pela retomada do território. Assim, enviou o
comandante Leclerc, que derrotou e aprisionou Toussaint, 3. República Dominicana
que foi enviado à França, onde morreu em 1803. (São Domingos)
Quando Napoleão invadiu a Espanha, em 1808, o
lado oriental da Ilha, de população espanhola, liderado
por João Sánches Ramírez, levantou-se contra os fran-
ceses, reincorporando-se à Espanha.
Em meio aos movimentos de independência que
ocorriam no continente, São Domingos, em 30 de
novembro de 1821, declarou sua independência em
relação à Espanha, sob a denominação de Estado Inde-
pendente de Haiti Espanhol, pretendendo incorporar-se à
recém-criada Grã-Colômbia, de Bolívar.
Essa emancipação foi efêmera. O lado ocidental
sempre defendera a unidade da Ilha, e Boyer, presidente
do Haiti, invadiu e anexou a parte oriental, em 1822.
A partir de 1838, João Paulo Duarte passou a prepa-
rar o movimento de independência em relação ao Haiti,
por meio da fundação da Sociedade Secreta La Trinitaria.
Em 27 de fevereiro de 1844, o movimento declarou
a independência e a nova nação passou a denominar-se
República Dominicana.
Em 1863, temendo o vizinho Haiti, a República incor-
Toussaint Louverture, líder da independência do Haiti.
porou-se à Espanha, mas, em 1865, foi restaurada a
independência.
No ano seguinte à morte de Toussaint, Jean Jacques
Dessalines liderou um exército – apoiado por ingleses e
norte-americanos – e retomou as lutas pela independência,
4. Cronologia
tendo ao seu lado Alexandre Pétion e Henri Christophe.
1791 – Revolta de Escravos Negros no Haiti.
Em 1o. de janeiro de 1804, foi declarada a indepen-
dência do lado ocidental (francês) da Ilha, que passou a 1804 – Independência do Haiti.
chamar-se Haiti (terra de montanhas).
Dessalines foi nomeado governador vitalício e logo
em seguida proclamou-se imperador, sob o título de
Jacó I. Seu governo durou pouco, pois, em 1806, foi
assassinado. No Portal Objetivo
Tratado de Basileia: entre França e Espanha, assinado em 22 de
junho de 1795, no qual a França restituía aos espanhóis os territórios Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL
conquistados por Napoleão, além dos Pireneus, recebendo em troca OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite
a parte espanhola da Ilha Espanhola, ou seja, São Domingos. HIST2M112

62 HISTÓRIA
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Exercícios Resolvidos

 (PUC-RIO – MODELO ENEM) – Assinale a na defesa de seus monopólios junto às


antigas metrópoles, tentaram impedir a
a) elite branca que se recusava a aceitar as
principais ideias revolucionárias dominantes
opção correta a respeito das lutas de inde-
proclamação da independência política. na França.
pendência no Haiti (1791-1804) e nas Treze
Resolução b) elite criolla que buscava romper com o pac-
Colônias Inglesas (EUA – 1776-1783).
As Treze Colônias conquistaram a indepen- to colonial, ligando-se aos princípios defen-
a) Ambas promoveram a instalação de go- dência sem abolir a escravidão; já no Haiti, didos pelos fisiocratas.
vernos republicanos e a imediata abolição além do separatismo político, o movimento foi c) população mestiça que pretendia manter o
do trabalho escravo. acompanhado da libertação dos escravos. novo país integrado no sistema econômico
b) O ideal federalista conformou a implantação Resposta: D francês.
do regime republicano no Haiti e nos EUA no d) elite branca aliada aos escravos e que tinha
momento imediatamente posterior à indepen- como objetivo evitar a chegada das ideias li-
dência.
(FGV – MODELO ENEM) – O Brasil lidera, berais à região.
c) As pressões dos grandes proprietários de desde 2004, uma força de paz que pretende e) população escrava fortemente influenciada
terras, tanto no Haiti quanto nas Treze contribuir para estabilizar politicamente o Haiti, pelas ideias revolucionárias em voga na
Colônias Inglesas, resultaram na manuten- objetivando a realização de eleições que levem França.
ção do trabalho escravo. à formação de um novo governo. A república Resolução
d) Diferentemente do que ocorreu nas Treze antilhana de língua francesa tem sua história Durante a fase popular da Revolução, os
Colônias, as lutas de independência no Haiti marcada por grave instabilidade política, grande jacobinos aboliram a escravidão nas colônias
estiveram associadas a uma série de desigualdade social e frequentes intervenções francesas, medida que causou grande impacto
rebeliões escravas que conduziram à estrangeiras em seus assuntos internos. no Haiti. Quando veio a contrarrevolução (dire-
abolição da escravidão. Seu processo de emancipação percorreu um tório) houve uma tentativa de reescravização,
e) Tanto no Haiti quanto nas Treze Colônias caminho diferente das outras colônias ameri- causa direta do movimento de independência.
Inglesas, facções da burguesia comercial, canas, porque foi liderado pela Resposta: E

Exercícios Propostos

 Por que podemos considerar o processo de independência e dos principais bandidos, e as massas de negros tenham sido
do Haiti como uma dupla independência? desarmadas, enviai ao continente todos os negros e mulatos
que tenham participado nas guerras civis (...). Livrai-nos destes
RESOLUÇÃO: africanos iluminados e já não teremos mais o que recear.”
Por ter-se tratado de um movimento que, ao mesmo tempo, (Instruções de Napoleão Bonaparte ao General Leclerc, 1801.)
aboliu escravismo e proclamou a independência política.
Texto 2
“Nenhum branco, qualquer que seja sua nação, colocará os
pés neste território com o título de dono ou proprietário; e não
 Relacione as fases do processo de independência do Haiti poderá no futuro adquirir propriedade alguma”. Art. XII, da
com as medidas tomadas pela Revolução Francesa quanto ao Constituição de 1805, da França.
escravismo.
(In Rubim Santos Leão de Aquino et al. História das Sociedades
RESOLUÇÃO: Americanas. 7. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.)
Revolução Burguesa: no Haiti, os escravos e os negros libertos co-
meçam a se rebelar contra os senhores e os brancos. Os documentos relacionam-se
Revolução Popular: no Haiti, é decretada a abolição do escravis- a) a Cuba e manifestam o caráter revolucionário desse proces-
mo, e Toussaint Louverture, que combatia junto aos espanhóis,
passa para o lado francês.
so político.
Contrarrevolução Burguesa: restabelece o escravismo colonial, e b) ao México e demonstram as preocupações escravistas da
as reações se intensificam, levando a cabo as lutas pela indepen- burguesia francesa.
dência. c) ao Paraguai e indicam a reação dos indígenas frente ao
colonialismo europeu.
d) à Revolta dos Malês, movimento ocorrido no Nordeste
brasileiro em reação à dominação francesa.
 (UFpel – MODELO ENEM) – Os textos a seguir refe- e) ao Haiti e demonstram a radicalidade social do movimento.
rem-se à luta emancipacionista que resultou na primeira
RESOLUÇÃO:
república da América Latina.
A independência do Haiti foi o único caso (sui generis) em que o
processo foi comandado por elementos negros e mestiços.
Texto 1 Resposta: E
“Segui vossas instruções ao pé da letra, e no momento em
que vos tenhais liberado de Toussaint, Christophe, Dessalines

HISTÓRIA 63
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Crise do Império Palavras-chave:


• Decadência • Bourbons
13 Colonial Espanhol • Invasão • Juntas governativas
• Criollos

1. Histórico
A mudança da política colonial espanhola ocorreu em virtude do envolvimento da Espanha nas guerras europeias,
da decadência da mineração, que não chegava a custear o sistema de frotas anuais enviadas à América, e, finalmente,
das próprias dificuldades que o governo encontrava para abastecer o mercado colonial.
Durante o século XVIII, a Espanha, sob os Bourbons (Filipe V e Carlos III), passou por um processo de moderni-
zação econômica e aproximou-se da França e da Inglaterra, com nítidos reflexos sobre suas colônias americanas.
Após a aliança feita com os franceses para deter o expansionismo inglês – que tinha Portugal por aliado –, a França
passou a ter acesso às colônias espanholas, por intermédio de suas companhias de comércio presentes no Porto de
Cádiz.

O Porto de Cádiz no século XVIII. Carlos III (1776-1788).

Com o Tratado de Utrecht (1713), assinado após a Guerra de Sucessão Espanhola, os ingleses passaram a deter
os direitos sobre o asiento (fornecimento de escravos para as colônias) e o permisso (comércio direto de manufaturas
com as colônias).
Além desses fatos, cabe ressaltar que, em 1740, a Espanha aboliu o sistema de frotas; em 1765, foi liberado o
comércio intercolonial; em 1778, acabou o sistema de porto único; e, finalmente, os criollos passaram a ter o direito
de comercializar diretamente com a Espanha.
Essa nova fase de abertura do comércio colonial vivenciada pela Espanha contrastava com as reformas realizadas
na administração, que se tornou mais rígida e centralizadora.
Esses fatos revelam a quebra do pacto colonial espanhol – que se manteve rígido até o início do século XVIII – e o
começo do enfraquecimento do Império Colonial Espanhol.
O reinado de Carlos III (1757 a 1788) pode ser considerado o apogeu do domínio colonial espanhol sobre a Amé-
rica, bem como o momento em que as colônias começaram a manifestar seu descontentamento em relação ao secular
domínio exercido pela Metrópole.
Criollos: filhos de espanhóis nascidos na América.

64 HISTÓRIA
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2. Expansão Napoleônica Além disso, algumas lutas pela independência são do


século XVIII, portanto anteriores à invasão napoleônica.
O início do século XIX foi marcado pela ascensão de A rigidez da administração espanhola nas colônias e
Napoleão Bonaparte ao poder, na França, e por uma os abusos praticados contra os grupos dominados, na
profunda alteração no cenário político europeu. América, foram fatores de revoltas coloniais, principal-
Nesse novo contexto, a Espanha optou por aliar-se a mente por parte das camadas populares.
Napoleão Bonaparte. Em 1807, assinou com a França o Em 1730, no Paraguai, um movimento liderado pelo
Tratado de Fontainebleau, que estabelecia a invasão Partido Popular proclamou a República; em 1765,
de Portugal e a posterior divisão dos domínios portu- explodiu um movimento no Equador contra o estabele-
gueses na Europa e na América. cimento de impostos no varejo; entre 1780 e 1783,
Na realidade, a Espanha acabou sendo vítima da no Peru, José Gabriel Condorcanqui – o Tupac Amaru –
hábil diplomacia francesa, que com o tratado neutrali- liderou mestiços, índios e criollos no movimento
zaria as forças espanholas por algum tempo, até que, considerado precursor das lutas pela independência.
após a invasão de Portugal, pudesse invadir a própria Somando-se a esses, podemos citar o Movimento
Espanha. Comunero de Nova Granada, em 1781; o dos vene-
Em 1807, após a invasão de Portugal – fato que zuelanos, em 1797; o dos indígenas mexicanos, entre
levou à transferência da Corte Portuguesa para o Brasil 1777 e 1779.
–, a Espanha foi dominada pelos franceses. No ano
seguinte, foi tirada do trono espanhol a Dinastia de
Bourbon. Carlos IV abdicou ao trono em favor de seu
filho, Fernando VII. Este, por sua vez, renunciou ao trono
em favor de José Bonaparte – irmão de Napoleão.
A ocupação francesa levou à resistência popular e à
formação de Juntas Governativas na Espanha – Juntas
de Sevilha, Cádiz e Junta Central –, que acabaram
perdendo de vista seus objetivos políticos em razão das
rivalidades comerciais. Mas, mesmo assim, o governo
de José Bonaparte encontrou resistência. Enquanto ele
governava com sede em Madri, os espanhóis impunham
resistência por meio da Junta de Cádiz.

Gravura indígena do século XVIII alusiva à execução de Tupac Amaru.

Reunião da Corte de Cádiz, 1811. É evidente que esses movimentos não obtiveram os
resultados esperados, pois se tratava de reivindicações
feitas pelas camadas populares, que não tiveram apoio
3. Antecedentes na América para lutar contra a ordem estabelecida. Mas foram
movimentos de insubordinação que inauguravam uma
Primeiras revoltas – Século XVIII nova fase na consciência dos colonos.
O que diferencia esses movimentos das lutas pela
Não podemos atribuir apenas à invasão napoleônica independência é o fato de que os primeiros traduziam,
na Espanha o desencadeamento das independências na basicamente, a insatisfação das camadas populares, en-
América. Este deve ser visto como resultado de todo um quanto os segundos traduziam a insatisfação das elites.
movimento histórico que, em determinado momento, Nesse sentido, tornam-se mais claros os fatores que le-
encontrou condições favoráveis para se efetivar. varam à derrota dos primeiros e ao sucesso dos últimos.

HISTÓRIA 65
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Contexto internacional No período compreendido entre 1808 – ascensão de


José Bonaparte – e 1814 – derrota de Napoleão e Con-
Ademais, convém lembrar que as conjunturas euro- gresso de Viena –, as três tendências acabaram por se
peia e americana haviam-se alterado consideravelmente unificar em torno do projeto separatista em relação à
na passagem do século XVIII para o século XIX, e os Espanha.
novos fatos foram decisivos para o início do rompimento
A vitória da terceira tendência deu-se em função
entre colônias americanas e metrópoles europeias, haja
do fato de que o Congresso de Viena foi marcado pela
vista a Independência dos Estados Unidos, a Revolução
restauração do absolutismo na Europa e, portanto, pela
Industrial Inglesa, o iluminismo, a Revolução Francesa e
volta do mercantilismo e do pacto colonial na América,
a expansão napoleônica.
contrariando os interesses econômicos das elites
Precisamos ter claro que esses episódios influencia- coloniais.
vam a vida dos colonos espanhóis – os criollos, que
Dessa forma, podemos, inclusive, dividir o processo
constituíam a classe economicamente dominante nas
de independência da América Espanhola em duas eta-
áreas coloniais – os quais, descontentes com a Me-
pas. A primeira, entre 1808 e 1814/15, é caracterizada
trópole, precisavam apenas de uma justificativa para
pelas primeiras lutas emancipatórias, seguidas da
declarar a independência.
repressão por parte da Espanha; a segunda fase, entre
No momento em que José Bonaparte assumiu o 1816 e 1824, é marcada pela vitória dos movimentos de
governo da Espanha, na América também houve reação. independência, que contaram com o apoio da Inglaterra,
Os antigos Cabildos foram transformados nas primeiras interessada em manter livre o comércio com a América.
Juntas Governativas – Alto Peru, Caracas e Buenos
Aires –, que depois proliferaram por todo o território
colonial, entre 1808 e 1810. 4. Cronologia
Diferentes tendências 1810 – Início dos movimentos de independência
na América Latina.
A liderança das Juntas Governativas na América 1814-15 – Congresso de Viena.
coube à elite criolla, que se dividiu em três tendências 1815 – Criação da Santa Aliança.
políticas em relação ao caráter da formação das Juntas.
A primeira tendência política defendia a fidelidade
total a Fernando VII, considerado o legítimo rei da
No Portal Objetivo
Espanha; a segunda defendia Fernando VII, mas reivindi-
cava autonomia em relação à Junta de Cádiz; e a terceira
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL
propunha a independência definitiva em relação à OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite
Espanha, quer esta fosse dominada por um francês ou HIST2M113
por um espanhol.

Exercícios Resolvidos

 (MODELO ENEM) – “A Independência da


II. A independência da América Latina está
diretamente relacionada à dominação napo-
V. A independência dos países da América Es-
panhola resultou de uma guerra prolongada
América Espanhola processou-se entre 1810 e
leônica na Península lbérica, a qual foi e sangrenta, na qual as elites crioulas
1825. É, dessa forma, um acontecimento si-
responsável pela desorganização dos laços recorreram ao elemento servil, no combate
multâneo ao processado na América portugue-
de dominação metropolitana sobre as áreas às forças espanholas.
sa. A simultaneidade não é uma coincidência
coloniais. Assinale se
fortuita. Ao contrário, componentes históricos
III. A independência do Brasil assume caráter a) estiverem corretas apenas I, II, III e V.
em toda a América Latina têm relação comum
singular em relação à da América Espanho- b) estiverem corretas apenas I, II, IV e V.
entre si.”
la, pelo fato de esse país ter se separado da c) estiverem corretas apenas II, III, IV e V.
(Ribeiro Júnior. p. 61.)
Metrópole, adotando a monarquia como d) todas são corretas.
forma de governo e mantendo à sua frente e) todas são falsas.
Com base no texto anterior e no conhecimento um representante legítimo da Casa de Resolução
sobre o processo de independência na América Bragança. A afirmativa IV está incorreta, porque a manu-
Latina, julgue as proposições: IV. A unidade nacional brasileira, conseguida tenção da unidade territorial era um projeto
I. A "simultaneidade" referida no texto é resul- com a independência, era uma antiga político da elite rural e a realização desse plano
tante da presença de ideias iluministas, reivindicação das camadas populares e foi foi conseguida através da luta contra algumas
componentes do quadro geral de crise do efetivada em decorrência das lutas travadas províncias separatistas.
antigo sistema colonial. em todo o território nacional. Resposta: A

66 HISTÓRIA
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(UEL – MODELO ENEM) – "A emancipação camponesa permaneceu sob a exploração e o
domínio dos seus antigos senhores.
futuramente se constituiriam em espaços
nacionais, foi conduzido pela Igreja, que lu-
das colônias hispano-americanas, liderada
craria com as emancipações, agregando mais
pelos grandes senhores de terras e pela (R. S. L. de Aquino; N. J. F. Lemos;
O. G. P. C. Lopes. História das sociedades terras ao seu já rico patrimônio.
burguesia ‘criolla’, encontrou apoio nos setores
médios e populares, os quais, em alguns americanas. Rio de Janeiro: Record, 2000. d) A participação dos Estados Unidos nos
momentos, chegaram a ameaçar a estrutura de p. 165-166.) processos de independência das Américas
dominação de classe imposta pelo regime foi de crucial importância para a adoção
De acordo com o texto, é correto afirmar: do Regime Republicano pelos espaços
colonial. Entretanto, com exceção dos Estados
a) A América hispânica estava vivenciando, já recém-independentes.
Unidos, que implantaram um regime liberal
há algum tempo, um maior grau de liber- e) Após sua independência, a América Portu-
burguês, no restante da América a indepen-
dade comercial em função da crise guesa rompeu os laços com a Metrópole –
dência revelou-se um fato político. Realizada a
econômica metropolitana, bem como a Portugal – e aliou-se às forças de Napoleão
autonomia, rompidos os vínculos com as
crise política desencadeada pelo domínio Bonaparte, adotando para esse espaço
metrópoles, as classes dominantes das antigas
francês, entre os anos de 1808 a 1813. recém-independente os princípios da
colônias tomaram o poder e constituíram
b) O fenômeno da emancipação política na Revolução Francesa.
Estados Nacionais que mantiveram afastada
das decisões políticas a massa da população Nova Espanha foi peculiar na América. A Resolução
trabalhadora (majoritariamente indígena, Revolução Mexicana foi o movimento mais Com a restauração do trono espanhol (1814),
camponesa ou não). A estrutura colonial não representativo do descontentamento da Fernando VII adotou uma série de medidas
sofreu qualquer alteração de peso. A Inglaterra parcela camponesa da população contra o eliminando a autonomia política e o liberalismo
abriu mais ainda a sua porta no continente, autoritarismo e dominação da Espanha, comercial vividos durante o domínio napoleôni-
assegurando-se de mercados consumidores e culminando na emancipação do território do co (1808-1813). Interessados em preservar
de matérias-primas; a propriedade territorial México. essas vantagens, a elite criolla partiu para a luta
continuou nas mesmas mãos, a despeito de c) Em toda a América Hispânica e também na pela consolidação da independência da América
algumas tentativas de líderes liberais das Portuguesa, o processo de lutas pela emanci-
Hispânica.
Guerras de Independência; a população pação dos diversos espaços geográficos que
Resposta: A

Exercícios Propostos

 Qual a importância da Revolução Francesa para os mo-  Com o Bloqueio Continental, Napoleão Bonaparte procurou
vimentos de independência da América Espanhola? a) fazer aliança com a Rússia, Prússia e Áustria contra a
Espanha.
RESOLUÇÃO: b) aliar-se aos ingleses para obter apoio e tornar-se imperador.
A Revolução Francesa foi o movimento pelo qual houve a c) ampliar as relações econômicas com a Inglaterra, pois os
propagação das ideias iluministas de liberdade e igualdade, além
do liberalismo econômico, que defendia a liberdade de comércio
franceses dependiam dos produtos ingleses.
e o fim do pacto colonial, ideias que incentivaram os movimentos d) derrotar economicamente a Inglaterra, com o fechamento
de libertação. dos portos da Europa Continental.
e) impedir a entrada de produtos orientais que competiam
com as manufaturas francesas.

RESOLUÇÃO:
O objetivo de Napoleão era impedir a Inglaterra de ter acesso ao
mercado consumidor europeu.
Resposta: D

 Por que os movimentos pela Independência do século


XVIII não obtiveram resultados positivos?

RESOLUÇÃO:
Pelo fato de terem sido realizados por agentes vindos das
camadas populares, sem o apoio da elite colonial.

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Independência dos Vice-Reinos Palavras-chave:


• Diferenças • Centralismo
14 e das Capitanias-Gerais • Federalismo • Fragmentação
• Monarquista • Republicanos

1. Independência As demais regiões, que tiveram seu sentimento


localista e regionalista despertados, desejavam a federa-
do Vice-Reino do Prata ção e levantaram-se contra Buenos Aires.
Quando da ocupação da Península Ibérica pelas Os portenhos reagiram com violência contra os
forças napoleônicas e da substituição de Fernando VII adversários, aumentando a resistência destes contra a
por José Bonaparte, a reação das colônias espanholas foi proposta unitarista. Assim, Paraguai e Uruguai, durante o
no sentido de formarem as Juntas Governativas. processo de independência do Vice-Reino do Prata,
promovem também suas independências em relação à
A irradiação da luta anticolonialista hispano-america-
Junta de Buenos Aires.
na partiu de três centros coloniais: Buenos Aires, Cara-
cas e México. Lima, por sua vez, constituiu o foco de Nesse quadro, formou-se a corrente monarquista, à
resistência espanhola na América. qual se integrou José de San Martín, que via como saída
para esse impasse a imposição da autoridade de um
Foi nesse contexto que, em 25 de maio de 1810,
monarca à nação.
eclodiu o movimento pela independência do Vice-Reino
do Prata.
No momento da formação da Junta de Governo, o
Vice-Reino do Prata estava dividido em três regiões
economicamente distintas. A primeira e mais impor-
tante, que correspondia a Buenos Aires, tinha sua
economia baseada no controle de exportações; a
segunda, que correspondia a Santa Fé e Corrientes (às
margens do Rio Paraná), interessava-se pelo escoamen-
to de sua produção pecuária; e a terceira correspondia à
região do interior, Córdoba, Rioja e Tucumán, dedicada à
produção de subsistência e ao artesanato.
Em razão dessa diversidade econômica, as divergên-
cias logo apareceram, levando o movimento a se desen-
volver segundo os interesses locais e fazendo prevalecer
o federalismo ou o poder dos caudilhos contra as forças
unitaristas; daí a fragmentação da América Espanhola.
Em termos políticos, a divisão se estabelecia entre San Martín.
partidários da Monarquia e partidários da República.
A partir da declaração de 1810, do Vice-Reino do 3. Paraguai
Prata surgiram Argentina, Paraguai e Uruguai.
O Paraguai, mera dependência de Buenos Aires, em
1811 formou uma Junta Governativa, liderada por
2. Argentina Fulgêncio Yegros e Rodrigues de Francia, que declarou a
A Junta Governativa, formada principalmente pelos sua independência em relação à Espanha e a Buenos
ricos comerciantes de Buenos Aires – defensores do Aires.
unitarismo –, em 1810, declarava-se oficialmente fiel ao Nesse momento emergiu a figura de Francia, que
rei Fernando VII. deu início ao processo de fechamento do país ao
O fato de ser a região preponderante, em termos exterior.
econômicos, fez com que a Junta de Buenos Aires Francia foi o responsável pela nacionalização dos
tentasse manter sob sua hegemonia o processo de bens da Igreja Católica, estabeleceu o monopólio sobre
independência política do Prata. madeiras e a erva-mate, criou as “estâncias da pátria”
A oposição entre Buenos Aires e as demais provín- (propriedades arrendadas aos camponeses e aparelha-
cias aparece nos seguintes termos: os portenhos tinham das pelo Estado) e confiscou propriedades de espanhóis
uma proposta política liberal, baseada no sistema repre- e inimigos políticos.
sentativo e na divisão de poderes, mas de caráter Em 1814, Francia recebeu o título de “Ditador Per-
centralista (Buenos Aires seria o núcleo das decisões). pétuo”, com poderes absolutos, sem que o país tivesse
uma Constituição ou uma organização burocrática.

68 HISTÓRIA
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4. Uruguai O Brasil, que desde o período colonial tinha interes-


ses em anexar a região, passou a alegar os direitos de
O movimento geral pela independência encontra- herança de Dona Carlota Joaquina – filha de Fernando VII
va-se, no Uruguai, na figura de José Gervásio Artigas, – e, também, que a instabilidade política da região
uma liderança com propostas de forte caráter agrarista e constituía séria ameaça para o Brasil. Assim, em 1821,
federalista. A proposta de reforma agrária de Artigas por força das armas, o Uruguai foi anexado ao Brasil e,
encontrava fortes resistências do setor latifundiário e após a independência brasileira, passou a chamar-se
significava uma ameaça concreta para os setores domi- Província Cisplatina.
nantes de Buenos Aires. Juan Antonio Lavalleja, em 25 de agosto de 1825,
liderou um grupo de revoltosos que proclamava a
independência do Uruguai em relação ao Brasil e a sua
anexação ao território argentino. Esse fato desencadeou
a Guerra da Cisplatina, que se estendeu até 1828,
quando, sob mediação da Inglaterra, tanto o Brasil quan-
to a Argentina desistiram de anexar o território uruguaio.
Criava-se, então, a República Oriental do Uruguai, como
um Estado-tampão entre Brasil e Argentina.
Em 1830, o presidente Frutuoso Rivera promulgou a
Constituição do Uruguai.

5. Independência da Venezuela
e do Vice-Reino de Granada
O movimento de libertação da região setentrional da
América do Sul, compreendendo a Capitania-Geral da
Venezuela e o Vice-Reino de Nova Granada (Colômbia,
José Gervásio Artigas. Equador e Panamá), começou em território venezuelano
e fracassou em 1806, liderado por Francisco de Miranda.
Em 1815, Artigas havia conquistado as extensas áreas
Venezuela
de Entre Rios a Missões e de Montevidéu a Córdoba.
Buenos Aires passou a rivalizar com Montevidéu No Congresso Geral da Venezuela, em 1811, foi no-
pelo predomínio das exportações e a combater Artigas, vamente proclamada a independência da capitania, o que
cujo poder sobre essas regiões teve fim em 1816. resultou numa reação por parte da Metrópole, que
Nesse mesmo ano, no Congresso de Tucumán, era reprimiu o movimento em 1812. Nessa fase, o movimento
proclamada a independência do Vice-Reino do Prata e, estava concentrado nas mãos da aristocracia criolla.
em 1819, aprovava-se uma Constituição monarquista, A partir desse fato, surgiu a liderança de Simón
fato que desencadeou ferrenhas lutas entre unitaristas e Bolívar, que se retirou da Venezuela e, formando um
federalistas. A vitória coube, nesse momento, aos pequeno exército, reiniciou as lutas pela independência.
federalistas, fazendo prevalecer os interesses locais. Em 1813, entrou em Caracas e foi proclamado o
"Libertador". Depois de travadas várias lutas contra as
forças metropolitanas, as tropas de emancipação foram
temporariamente derrotadas.
Bolívar foi para o Haiti em 1816, onde recebeu apoio
de Alexandre Pétion para prosseguir os combates.
Retornando à Venezuela, reiniciou as lutas, alterando
a estratégia militar do movimento. Ocupou o interior,
onde estavam as fazendas de gado, em vez do litoral,
dominado pelos espanhóis.
Em 1819, suas tropas, auxiliadas por mercenários
ingleses e irlandeses, conseguiram várias vitórias sobre
os espanhóis da Venezuela e de Nova Granada. Nesse
mesmo ano, reuniu-se o Congresso de Angostura, no
qual Bolívar conseguiu a aprovação de seu plano de
estabelecer um governo constitucional, viabilizando a
Congresso de Tucumán, que declara o nascimento das Províncias unidade da proclamada República da Grã-Colômbia, for-
Unidas do Prata, em 1816. mada por Venezuela, Nova Granada, Panamá e Equador.

HISTÓRIA 69
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Nova Granada A guerra de Bolívar


A independência de Nova Granada foi conseguida na Com a deposição de Bolívar, reuniu-se o Congresso
Batalha de Boiacá, também em 1819; e a da Venezuela, de Bogotá, no mesmo ano, com a finalidade de manter
em 1821, na Batalha de Carabobo. a unidade da Grã-Colômbia. Porém, era tarde, pois a
No Congresso de Cúcuta, Colômbia, em 1821, apro- Venezuela havia proclamado sua separação da República
vava-se a Constituição, e Bolívar – de tendência republi- no dia 13 de janeiro, e o mesmo foi feito pelo Equador
cana e centralista – era eleito presidente, tendo Francis- em 10 de agosto.
co Paula de Santander – de tendência federalista e
caudilhesca – como vice.
No Equador, em 20 de julho de 1822, foi realizada a
famosa entrevista de Guaiaquil, que apresentou um
debate entre os dois líderes da Independência da Améri-
ca Espanhola – Bolívar e San Martín –, saindo-se o pri-
meiro vitorioso. San Martín, monarquista, retirou-se do
movimento e partiu para Paris, onde morreu em 1850.

A volta de Bolívar
Em 1827, Bolívar retornou das lutas do Equador e
Peru e reassumiu a presidência, que havia deixado nas
mãos de Santander. É o início da crise da República da
Grã-Colômbia, gerada pelas divergências entre centra-
listas e federalistas, cujo auge se deu com a tentativa de
assassinato de Bolívar.

Monumento ao libertador Bolívar, Colômbia.

Em 1830, a Venezuela aprovou sua Constituição no


Congresso de Valência, convocado pelo general Paéz. O
Equador, em agosto daquele ano, sob a liderança do
general Juan José Flores, havia se desligado da Re-
pública. Flores permaneceu no poder até 1845.
A Colômbia, com o nome de Nova Granada, em
1832 adotou uma Constituição de caráter centralizador,
que mantinha a escravidão, a tributação sobre as massas
indígenas. As terras das comunidades indígenas – res-
guardos – foram desestruturadas e o latifúndio manteve
seu monopólio.

6. Panamá
O Panamá, que fazia parte da Confederação da
Grã-Colômbia desde 1821, proclamou uma independên-
cia passageira em 1840, sob a denominação de Repú-
blica do Istmo.
A partir da corrida do ouro para a Califórnia, a região
passou a compor as áreas de interesses norte-ame-
Simón Bolívar, líder da Independência da América Espanhola.
ricanos, que a utilizavam como rota para o oeste dos Es-
tados Unidos. O Canal Interoceânico começou a ser
Santander, acusado de estar envolvido no atentado, construído, em 1881, pelos Estados Unidos, com a opo-
foi desterrado, e Bolívar assumiu, como um ditador sição do Senado colombiano que, em 1903, não ratificou
intransigente com as oposições, o governo de uma Re- o Tratado Hay-Herrán, levando à independência do Pana-
pública fictícia. Foi deposto em 1830. má, apoiada pelos norte-americanos.

70 HISTÓRIA
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7. Chile Em 1814, os espanhóis reagiram contra a indepen-


dência do Chile, voltando a controlar a região, o que
Enquanto se desenvolviam os movimentos de inde- passou a constituir séria ameaça para a Argentina – loca-
pendência nas diversas partes da América Espanhola, o lizada ao sul e em meio ao seu processo de independên-
Chile ocupava uma posição bastante peculiar nesse cia –, a qual vinha tentando, sem sucesso, atacar os
processo. espanhóis no Alto Peru (atual Bolívia).
A Capitania-Geral do Chile, subordinada ao Vice-Rei- O comando da reação militar argentina contra os
no do Peru, estava localizada entre a Cordilheira dos espanhóis encastelados no Peru estava nas mãos de
Andes e o Oceano Pacífico, completamente isolada em San Martín, que em 1817 – mudando a estratégia
relação aos demais territórios. prevista de ataque direto ao Peru – deslocou-se através
A partir de 1778, a região passou a comercializar dos Andes à frente de um poderoso exército e libertou o
diretamente com a Espanha, o que favoreceu o seu de- Chile, com o apoio de Bernardo O’Higgins.
senvolvimento econômico. Destituído, naquele momento, de pretensões políti-
cas, San Martín não aceitou a presidência da República
As ideias liberais tiveram grande dificuldade de se
que lhe foi oferecida. O posto coube, então, a Bernardo
expandirem em razão desse isolamento vivido pelo
O’Higgins, que havia iniciado o movimento em 1808 e
Chile.
que lutou junto aos exércitos de San Martín.
Sua economia era de base agropecuária e comercial, A conquista definitiva do Chile só viria em abril de
monopolizada pelos criollos, que, diferentemente de ou- 1818, após a derrota espanhola na Batalha de Maypu.
tras regiões da América Espanhola, possuíam interesses
comuns em manter as exportações e o livre-comércio. 8. Peru
Subordinaram o elemento indígena, base de forma- Em 1817, San Martín partiu do Chile em direção ao
ção do campesinato, que, devido à grande exploração e Peru. A estratégia consistia em um ataque militar por
aos maus-tratos, no momento das lutas de indepen- terra e mar. A libertação do Chile fez engrossar as fileiras
dência, colocou-se a favor das forças espanholas em lideradas por San Martín contra os espanhóis no Peru.
oposição aos libertadores. Por mar, o líder contratou os serviços do inglês Lorde
Em 1808, o Chile forma a Junta Governativa, lidera- Cochrane.
da por Bernardo O’Higgins, declarando-se independente Uma ofensiva por terra, liderada por San Martín,
da Espanha. sitiou a cidade de Lima – foco da resistência espanhola –
e, por mar, Lorde Cochrane bloqueou o Porto de Callao,
também em Lima.
O vice-rei abandonou Lima e, em 1821, San Martín
declarava a independência do Peru.
No ano seguinte, ocorreu o encontro de San Martín
e Bolívar, na entrevista de Guaiaquil, depois da qual San
Martín se retirou das lutas pela libertação, sendo exilado
em Paris, onde morreu em 1850.
Nesse momento, os espanhóis conseguiram
retomar Lima, sendo libertada, dessa vez, por Bolívar,
que aceitou o título de ditador.
A vitória definitiva ocorreu em 1824, na Batalha de
Ayacucho, liderada por Antonio José de Sucre.

9. Bolívia
A Bolívia, conhecida durante o período colonial como
Alto Peru, interessava à Coroa Espanhola, devido à
importância de suas minas de prata.
Quando Napoleão Bonaparte ocupou a Espanha, o
Alto Peru, que integrava o Vice-Reino do Prata, deu início
a uma série de revoltas infrutíferas contra as autoridades
espanholas.
O apoio dos argentinos não veio imediatamente,
pois estes decidiram pela conquista da parte sul do
Vice-Reino, e não do norte, região onde se localizava o
Bernardo O’Higgins, iniciador das lutas no Chile.
Alto Peru. Daí essa porção do Vice-Reino ter-se integrado
Até o final de 1813, os chilenos não tiveram de no movimento de independência, mediante o avanço
enfrentar as tropas espanholas, entre outros fatores, por dos Exércitos que vinham no sentido norte-sul,
sua geografia, que dificultava o acesso à região. comandados por Bolívar.

HISTÓRIA 71
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Após conquistar Colômbia, Equador e Venezuela, Bolí- A formação de um novo Estado forte passou a preo-
var entrou no Peru, retomando Lima do domínio espanhol. cupar tanto o Chile quanto a Argentina, que iniciaram
Em 1824, ocorreu a Batalha de Ayacucho, liderada campanhas militares contra a Confederação, derrotada
por Sucre, que no ano seguinte libertou o Alto Peru. em 1839 – fato que levou à separação entre Peru e
À semelhança de Bolívar, Sucre adotou uma Consti- Bolívia.
tuição autoritária e centralista, tornando-se presidente
em 1826. No Portal Objetivo
Sucre foi deposto da presidência em 1828, numa
revolta nacionalista liderada pelo general Augustín Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL
Gamarra, que entregou o poder a Andrés Santa Cruz. OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite
No ano de 1837, o Congresso de Tacna levou à HIST2M114
formação da Confederação do Grande Peru, composto
por Peru e Bolívia.

10. Cronologia
1810 – Formação da Junta de Governo na Argentina.
1811 – Independência do Paraguai
1813 – Tentativa de independência da Venezuela por Bolívar.
1816 – Independência da Venezuela, Congresso e Tucu-mán (Argentina) e Invasão do Uruguai pelo Brasil.
1818 – Libertação do Chile por O'Higgins e San Martín.
– Congresso de Aix-La-Chapelle.
1819 – Libertação da Colômbia por Bolívar.
1821 – Proclamação da independência do Peru por San Martín.
1822 – Libertação do Equador por Sucre.
1823 – Intervenção da Santa Aliança na Espanha.
1825 – Independência da Bolívia.
1828 – Independência do Uruguai.

Exercícios Resolvidos

 (UFPel – MODELO ENEM) – As emancipações políticas do


México, da Grã-Colômbia, do Peru, do Chile, do Paraguai e da
Argentina, expressas no mapa, estão relacionadas
a) aos interesses ingleses em oposição à política adotada por
Napoleão sobre a Península Ibérica, desde o Bloqueio Continental.
b) às determinações do Congresso de Viena, que restauraram as
fronteiras europeias na América, vigorantes antes da Revolução
Francesa.
c) às unificações alemã e italiana, e às ideias nacionalistas que
inspiraram os movimentos de independência na América.
d) à política da "América para os americanos", que serviu de
fundamento para a independência dos Estados Unidos.
e) à atuação da Santa Aliança na restauração das possessões na
América Latina e à manutenção do equilíbrio político entre os
países europeus.

Resolução
Napoleão, ao decretar o Bloqueio Continental, conseguiu, em grande
parte, dificultar o comércio britânico com a Europa, forçando os ingle-
ses a procurar novos mercados na América Latina, estimulando assim
os movimentos de independência na região.
Resposta: A

72 HISTÓRIA
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 (UERJ – MODELO ENEM) – “Na América espanhola, as lutas


a) a invasão das tropas napoleônicas provocou o declínio da economia
colonial espanhola – a não invasão de Portugal garantiu a manuten-
pela independência começam numa conjuntura precisa: a caduquice
ção de um rígido pacto colonial sobre o Brasil.
da Coroa espanhola por obra e graça do poder napoleônico. A Espanha
b) a invasão francesa na Espanha possibilitou a rápida difusão das
está ocupada. Um rei francês (...) ocupa o trono real e os últimos ves-
ideias liberais em suas colônias – a não expansão dos ideais libe-
tígios de soberania refugiam-se numas espectrais Juntas ou num
rais no Brasil ocorreu devido à manutenção de um Estado
Conselho de Regência.”
absolutista em Portugal.
c) a invasão napoleônica contribuiu para a reorganização das colônias
(Leon Pomer. As independências na América Latina. São Paulo,
espanholas em cabildos livres – a transferência da corte por-
Brasiliense, 1981.)
tuguesa para o Brasil possibilitou a autonomia sem o rompimento
definitivo com Portugal.
“Para Portugal e sua colônia americana outro será o desenrolar dos d) as colônias espanholas tiveram apoio de Napoleão e dos liberais
acontecimentos e outras serão suas consequências. A ocupação do franceses em sua luta contra a exploração metropolitana – as elites
Reino não significou o fim da Monarquia, apesar da solene declaração coloniais brasileiras não se rebelaram contra Portugal devido ao
de Napoleão neste sentido.” apoio inglês a esta Metrópole.
Resolução
(Denis Bernades. Um Império entre repúblicas. São Paulo, Global, A invasão da Península Ibérica pelas tropas napoleônicas deu início de
1983.) imediato ao processo de independência das colônias espanholas; já no
caso do Brasil, a vinda da Família Real criou um desenvolvimento inter-
De acordo com os textos apresentados, a diferença entre os no que a colônia se recusava a perder, após a derrota de Napoleão e o
processos de independência política das colônias espanholas e retorno dos monarcas portugueses à Europa em 1821.
portuguesa na América, respectivamente, está indicada na seguinte Resposta: C
alternativa:

Exercícios Propostos

 Estabeleça as divergências políticas entre Bolívar e San  Qual a estratégia de San Martín para a conquista do Peru?
Martín e a rota dos movimentos de cada um.
RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: San Martín planejou um ataque conjunto por terra e mar (Lorde
San Martín era monarquista e orientou suas conquistas no Cochrane). Por terra, a cidade de Lima foi sitiada pelas tropas de
sentido sul-norte. Bolívar era república e orientou suas conquistas San Martín; e, por mar, Lorde Cochrane bloqueou o Porto de
no sentido norte-sul. Callao.

HISTÓRIA 73
C1_2A_HIST_MARINA_2018 30/10/17 08:19 Página 74

 Por que os indígenas não apoiaram os libertadores no Chile? Assinale verdadeiro ou falso sobre a Independência da
América Espanhola.
RESOLUÇÃO: I. Atendia aos interesses ingleses de novos mercados para
Devido aos maus-tratos a que eram submetidos. seu industrialismo.
II. De modo geral, desligou-se da órbita do capitalismo inglês,
passando a girar em torno do industrialismo norte-ame-
ricano.
III. Caracterizou-se pela implantação de regimes republicanos
oligárquicos.
IV. Foi uniforme e geralmente pacífica, como ocorreu no Brasil.
V. Vincula-se à queda da Dinastia Bourbon e à ascensão de
José Bonaparte ao governo espanhol.

RESOLUÇÃO:
I, III e V: verdadeiros; II e IV: falsos.
A proposição II está errada, pois a independência levou os novos
(PUC) – “Em 1822, a América espanhola, de indepen- países para o capitalismo inglês.
dência conquistada em oposição a uma metrópole e suas A proposição IV está incorreta, pois a independência foi multifor-
Cortes em muitos aspectos tidas por opressoras, agora me e houve muitos conflitos armados.
plenamente reconhecida por uma potência de primeira
grandeza como eram os Estados Unidos, ofereceria um
modelo para a independência do Brasil.”

(João Paulo Pimenta. A independência do Brasil e a experiência


hispano-americana (1808-1822). São Paulo: Hucitec, 2015, p. 448.)

O caráter exemplar que a independência da América espanhola


representou, segundo o texto, para aqueles que lutavam pela
independência do Brasil pode ser identificado, por exemplo, na
a) capacidade de manter a coesão territorial da antiga colônia,
que acabou por gerar uma única e poderosa nação.
b) subserviência imediata aos interesses comerciais e políticos
norte-americanos, que rapidamente se impuseram sobre
toda a América.
c) disposição de defender princípios emancipacionistas e
enfrentar militar e politicamente as forças da metrópole.
d) possibilidade de estabelecer laços comerciais imediatos e
lucrativos com as antigas colônias portuguesas do litoral
africano.

RESOLUÇÃO:
Embora o exemplo citado pelo autor não tenha sido adotado pelo
Brasil em relação ao republicanismo, o ideal emancipacionista e a
luta para defendê-lo podem ser tomados como – ao menos em
parte – impulsionadores da independência brasileira.
Resposta: C

74 HISTÓRIA
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Independência do Vice-Reino Palavras-chave:


• Morellos e Hidalgo • Plano de
15 de Nova Espanha Iguala • Monarquia curta
• Republicanos • Fragmentação

1. México previam a volta do controle das metrópoles sobre as


colônias.
No Vice-Reino de Nova Espanha (México), o Havia duas tendências ideológicas entre as classes
movimento emancipacionista teve um caráter peculiar, dominantes mexicanas em relação a projetos para o país
na medida em que, contando com a participação da após a independência.
massa camponesa e indígena, constituiu um processo
de feições nitidamente populares. A primeira tendência era monarquista, liderada por
Iturbide, e pretendia uma emancipação de forma pacífi-
A luta pela emancipação do México revestiu-se, ca, sem romper definitivamente com a Espanha.
também, de um caráter de guerra civil, até o momento
em que elementos das camadas dominantes se impuse- A segunda tendência era republicana e pretendia a
ram sobre as facções populares, desviando a revolução separação definitiva com a Espanha, embora se encon-
de seus objetivos democráticos. trasse dividida entre os interesses centralistas e federa-
listas, o que a enfraquecia diante dos monarquistas.

? Saiba mais
A tendência monarquista, liderada por Iturbide, era
apoiada pelos latifundiários, pelo clero e pelo Exér-
cito, enquanto os republicanos contavam com o
apoio dos mercadores e das camadas trabalhadoras
urbanas e rurais.

Padre Miguel Hidalgo.

O início da luta pela independência do México


situa-se entre 1808 e 1810, quando o padre Miguel
Hidalgo y Costilla liderou um levante insurrecional, che-
gando a abolir a escravidão.
Em 1811, Hidalgo foi fuzilado e o padre José Maria
Morellos deu continuidade ao movimento de caráter
popular, em meio ao qual efetivou a reforma agrária.
Morellos foi derrotado pelas tropas de Augustín Iturbide.
Após as mortes de Hidalgo e Morellos, as forças
conservadoras mantiveram o controle da situação.
Entretanto, depois de 1815, a luta emancipacionista,
que se circunscrevia até então aos elementos das cama- A Independência, Gorman, Museu Nacional do México.
das populares – camponeses, índios e mestiços –,
passou a interessar à própria elite aristocrática, em razão Restauração: princípio e base das decisões tomadas pelos quatro
das alterações da conjuntura europeia, marcada, agora, grandes (Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia) no Congresso de Viena,
pelo Congresso de Viena e pela Restauração, que tentando restaurar o Antigo Regime abalado pela Revolução Francesa.

HISTÓRIA 75
C1_2A_HIST_MARINA_2018 30/10/17 08:19 Página 76

Em 1821, Iturbide assinou o Plano de Iguala – um Em 1821, Gabino Gaínza, de tendência realista, após
acordo com rebeldes seguidores de Hidalgo e Morellos a Revolução Liberal de 1820, na Espanha, lidera a procla-
–, proclamando a independência do México e esta- mação da independência da Capitania-Geral da Guate-
belecendo a igualdade de direitos para espanhóis e mala.
criollos e o catolicismo como religião oficial, além de o- Temendo a invasão da Guatemala pelas tropas libe-
ferecer a Coroa Mexicana a Fernando VII, da Espanha, rais mexicanas, lideradas pelo general Filisola, os cabil-
que a recusou. dos resolveram declarar toda a região unida ao México.
Com a deposição de Iturbide, em 1823, os liberais
do México negociaram um pacto, por meio do qual
foram criadas as Províncias Unidas da América Central,
independentes do México e organizadas em forma de
Confederação.
A dissolução da Confederação Centro-Americana,
em 1838, pelo fim do pacto federal, e a luta entre liberais
e conservadores levaram à formação de vários países, na
condição de unidades nacionais independentes.
Em 1842, formou-se a República Maior da América
Central, composta por Nicarágua, Honduras e El Salva-
dor, a qual, dois anos mais tarde, se desintegrou.
A instabilidade política na área acabou favorecendo
os interesses ingleses, que ocuparam Mosquitos e
consolidaram suas posições na região. A partir de 1862,
mantiveram sob seu domínio o território denominado
Honduras Britânicas, que somente se tornou um Estado
independente em 1973, passando a denominar-se Belize
e compondo a Comunidade Britânica.
A Costa Rica tinha uma Constituição desde 1821,
chamada de Pacto de Concórdia. Foi anexada ao México
em 1821 e, em 1823, tornou-se independente. Mas a
confirmação de sua autonomia ocorreu somente em
1848.
A Capitania-Geral de Cuba, graças ao excelente Porto
de Havana, era ponto de encontro das frotas anuais que
Augustín Iturbide entrando na cidade do México em 1821. demandavam as ricas regiões sob domínio espanhol.
A luta pela independência de Cuba iniciou-se em
Em 1822, apoiado pelo Exército, Iturbide procla-
1868, com a chamada Guerra dos Dez Anos, tendo sido
mou-se imperador do México, com o título de Augustín I.
retomada em 1895 pelo poeta José Martí e pelos
Um levante republicano, liderado por Antonio López generais Antonio Maceo e Máximo Gomez.
de Sant’Ana, em 1823, provocou a deposição e o fuzila-
mento de Iturbide. No ano seguinte, em meio às divergên-
Independências na América Central
cias entre centralistas e federalistas, o Congresso pro-
mulgou a Constituição dos Estados Unidos do México.

2. América Central
No caso da América Central, vamos tratar aqui dos
casos mais significativos, ou seja, daqueles processos
emancipacionistas que estiveram sincronizados com o
quadro de crise do Antigo Regime na Europa, da expansão
das ideias liberais, da Revolução Industrial e da crise do
sistema colonial tradicional.
Destaca-se a Capitania-Geral da Guatemala, sede da
administração espanhola para toda a região.
Na esteira do movimento pela independência do
México, a partir de 1820, intensificam-se as campanhas
pela emancipação da região centro-americana. Cabildos: corresponde às câmaras municipais no Brasil.

76 HISTÓRIA
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O projeto separatista cubano foi truncado quando A Jamaica entrou nas disputas coloniais entre as
estourou a Guerra Hispano-Americana (1898). metrópoles europeias. Colonizada pelos espanhóis desde
A Espanha, derrotada, cedeu Cuba, Porto Rico, Fili- o século XVI, em 1655 passou a pertencer à Inglaterra.
pinas e Guam aos Estados Unidos. Com a abolição do escravismo, em 1833, a econo-
Os norte-americanos ocuparam Cuba até 1902, mia entrou em decadência, resultando em uma profunda
quando cederam à independência. pobreza e grande inquietude social.
Pela Emenda Platt, a ilha foi mantida sob intervenção A resposta inglesa aos negros rebeldes foi a decre-
até 1909. Mesmo após a revogação desta, os Estados tação da Lei Marcial, entre 1865 e 1868, e o estabeleci-
Unidos mantiveram arrendada a base naval de Guantána- mento de um governo colonial britânico na ilha.
mo e uma profunda interferência na vida de Cuba, que A Jamaica conheceu sua independência em 1962.
somente se findou com a revolução liderada por Ernesto Permanecem, ainda hoje, sem independência polí-
“Che” Guevara e Fidel Castro, na década de 1960. tica as regiões de Porto Rico e as Guianas Francesa e
Holandesa.

3. Cronologia 1821 – Plano Iguala.


1823 – Deposição e Fuzilamento de Iturbide.
1808-1810 – Início das lutas pela Independência.

Exercícios Propostos

 Quais as propostas de Hidalgo e Morellos para o México? (UNICAMP) – As revoluções de independência na América
hispânica foram, ao mesmo tempo, um conflito militar, um
RESOLUÇÃO:
processo de mudança política e uma rebelião popular.
Hidalgo propunha o fim da escravidão; e Morellos, a reforma
agrária.
(Rafael Rojas. Las repúblicas de aire. Buenos Aires: Taurus.
2010, p. 11.)

São características dos processos de independência nas ex-


colônias espanholas na América:
a) o descontentamento com o domínio colonial e a agregação
 Escreva sobre o conteúdo do Plano de Iguala, de 1821. de grupos que expressavam a heterogeneidade étnica,
regional, econômica e cultura do continente.
RESOLUÇÃO:
b) o caudilhismo, sob a liderança política criolla, e o discurso
Proclamação da independência do México, estabelecimento de
direitos iguais para espanhóis e criollos e a oficialização da revolucionário de uma nova ordem política, que assegurou
religião católica. profundas transformações econômicas na América.
c) o uso dos princípios liberais de organização política
republicana e a criação imediata de exércitos nacionais que
lutaram contra as forças espanholas.
d) a participação de indígenas e camponeses, determinante
para a consolidação do processo de independência em
 Defina a importância de Cuba na América Central. regiões como o México, e sua ausência nas ações
comandadas por Bolívar.
RESOLUÇÃO:
Por sua localização estratégica e pelo porto de Havana, Cuba era RESOLUÇÃO:
o ponto de encontro das frotas anuais espanholas. A alternativa contempla não apenas um dos fatores para o
sucesso das campanhas de independência na América Espanhola
(união de distintos segmentos sociais contra a dominação
metropolitana), mas também o elemento impeditivo de uma
possível união política entre as regiões recém-emancipadas
(“heterogeneidade étnica, regional, econômica e cultural do
continente”).
Resposta: A

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OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite
HIST2M115

HISTÓRIA 77
C1_2A_HIST_MARINA_2018 30/10/17 08:19 Página 78

Formação dos Estados Palavras-chave:


• Fragmentação • Diferenças/

16 Nacionais Latino-Americanos
divergências • Hegemonia britânica
• Militarismo/caudilho
• Bolivarismo

1. Introdução
Ao final das lutas de independência das antigas colônias da América Espanhola, praticamente assistimos à sua total
fragmentação territorial.
Os fatores explicativos para tal acontecimento são de várias naturezas.
A teses tradicionais limitam-se a explicar a situação a partir da adoção de regimes republicanos pelas nações
recém-emancipadas.
Atualmente, consideramos que a fragmentação da antiga América Espanhola em repúblicas resultou da conjugação de
uma série de fatores – geográficos, econômicos, políticos e sociais – e que a adoção de regimes republicanos foi antes uma
consequência do que uma causa.

2. Os fatores da fragmentação territorial


A ocupação do espaço físico da América, durante a
colonização, esteve intimamente ligada aos interesses
mercantilistas da Era Moderna, concentrando-se em
áreas das quais o Estado absolutista pudesse extrair o
máximo possível de riquezas.
Essas riquezas naturais e o comércio distribuíam-se
de forma irregular pelo continente. Dessa forma, as áreas
de maior concentração demográfica estavam, neces-
sariamente, vinculadas às áreas pecuaristas, extrativistas
– como as de minérios e produtos agrícolas –, ou então
próximas às cidades portuárias – responsáveis pelo
escoamento da produção e pela importação de manufa-
turas. A divisão administrativa da América Espanhola em
quatro vice-reinos e quatro capitanias-gerais e a subor-
dinação dessas áreas ao pacto colonial contribuíram para
que, entre esses polos econômicos, não houvesse a
integração de relações comerciais.
Nesse contexto, formaram-se os grupos sociais
básicos da colônia: os criollos, elite econômica local, com
interesses políticos presos a esses polos econômicos,
organizada e representada pelos cabildos; e a imensa
maioria da população, das mais diferentes etnias, vivendo
numa condição de ignorância e subordinação.
Esses dois grupos, durante a fase de colonização,
foram mantidos marginalizados do poder político e
emergiram no movimento de independência, com os
criollos liderando o processo e a população convertendo-
se em verdadeira massa de manobra em nome dos Independências na américa Latina
interesses desses grupos locais.
O fato de haver uma hegemonia dos criollos nos movimentos de independência não pode nos levar a crer que ha-
via uma unidade dentro da oligarquia, pois a emancipação política da América resultou da ação de diversos líderes vin-
culados a determinados interesses locais, inclusive com posições políticas diferenciadas ou até mesmo antagônicas –
por exemplo, San Martín e Bolívar.

Oligarquia: governo de poucas pessoas, pertencentes ao mesmo partido, classe ou família; predomínio de uma facção ou grupo na direção dos
negócios públicos.

78 HISTÓRIA
C1_2A_HIST_MARINA_2018 30/10/17 08:19 Página 79

Além desses fatores internos, temos de considerar 4. Os Estados Nacionais


a participação e os interesses da Inglaterra no processo
de emancipação – que geralmente são citados como O processo de formação dos Estados Nacionais nas
prin ci pal causa da fragmentação das colônias dezesseis nações resultantes dos movimentos de
hispânicas –, na medida em que a América fragmentada independência da América Espanhola começou a se
seria mais facilmente subordinada aos interesses do definir mais claramente a partir de meados do século XIX
capitalismo inglês. e não deve ser visto como um movimento isolado em
Porém, não podemos ter uma visão parcial sobre es- relação à conjuntura internacional.
se processo. Devemos, portanto, considerar que a frag- O século XIX foi marcado pela Segunda Revolução
mentação territorial da América espanhola resultou da Industrial, que provocou a divisão internacional do traba-
conjugação de todos esses fatores em determinado mo- lho. Dentro dessa nova realidade internacional, às
mento histórico, não sendo um fator mais relevante do antigas colônias da América foi imposta a condição de
que outro. fornecedoras de matérias-primas para as nações indus-
trializadas e de consumidoras de produtos manufatu-
3. O caudilhismo rados.
Em termos econômicos, as emancipações políticas Para que ocorresse a integração das antigas colônias
não levaram a alterações profundas; ao contrário, as a essa nova conjuntura internacional, havia um requisito
economias mantiveram-se presas à grande propriedade político básico: consolidar no poder os grupos vinculados
e dependentes das necessidades do mercado externo. à exportação de produtos primários. Assim, a formação
A sociedade do período colonial permaneceu, basi- dos Estados Nacionais ocorre ao mesmo tempo em que
camente, inalterada: a elite concentrando as riquezas e as novas nações se inserem na nova ordem capitalista.
as camadas populares mantendo-se submissas, sem
obter vantagens com o processo de independência. Características gerais
A vida política das nações recém-independentes foi dos Estados Nacionais
marcada por uma série de disputas entre o centralismo
e o federalismo, refletindo a diversidade de interesses e Entendida a formação dos Estados Nacionais como
a falta de coesão das elites oligárquicas no processo de parte integrante das necessidades do capitalismo no sé-
constituição dos Estados Nacionais. culo XIX, esses Estados terão muitos pontos em comum.
Esses fatos, aliados à falta de organização políti- A economia prendia-se ao setor primário-exportador.
co-institucional, ou seja, de organização do Estado –, Assim, países como México, Venezuela, Colômbia,
favoreceram a ação de líderes locais ligados ao latifúndio Equador, Brasil e os da América Central eram exporta-
exportador, no sentido de defender seus interesses com dores de produtos tropicais; outros, como México, Peru,
base no militarismo. Daí nascia a figura do caudilho. Bolívia e Chile, eram exportadores de minérios e
Os chefes políticos locais eram aversos ao liberalis- petróleo. Argentina e Uruguai eram fornecedores de pro-
mo – que propunha a formação de um Estado centrali- dutos primários similares aos dos países industrializa-
zado – e defendiam o federalismo como forma de man- dos, como carne e trigo.
ter intactos seus interesses regionais. Sua atuação po- Como podemos ver, não foram promovidas grandes
lítica se assentava principalmente na autoridade pessoal, transformações em relação ao período de colônia, pois
forte e paternalista, sobre as camadas populares. as economias se mantiveram em consonância com as
A utilização de exércitos pessoais era comum na necessidades do mercado externo, além do que o mer-
repressão às camadas populares rebeldes e nas disputas cado interno não foi estimulado. No Brasil e em Cuba,
internas da oligarquia. Assim, o poder militar colocava-se por exemplo, mesmo após a independência, manteve-se
acima das leis para decidir as questões sociais e o trabalho escravo.
políticas.
As transformações que ocorreram nesses países
Dessa forma, o caudilhismo constituiu uma solução
também estiveram ligadas às necessidades de desen-
imediata para os problemas surgidos com a existência
volvimento e expansão desse tipo de economia. A cons-
de Estados embrionários e, ao mesmo tempo, foi um
entrave à formação dos Estados Nacionais. trução de ferrovias visava escoar a produção e a introdu-
ção de tecnologia buscava favorecer a extração mineral
Mesmo com base no militarismo, os caudilhos
– por exemplo, do petróleo –, atividade na qual, por via
tinham grande prestígio entre as camadas populares, e
de regra, prevaleciam empresas estrangeiras.
podemos considerá-los o produto de sociedades cujo po-
der político ainda não se havia definido e fortalecido a Com o predomínio do latifúndio e da propriedade pri-
ponto de evitar essa expressão de mandonismo local. vada da terra, após as independências, manteve-se a

Caudilho: chefe político, na maioria das vezes militar, que exerce o poder pessoal sobre a nação.
Caudilhismo: a prática de dominação do caudilho, chefe militar no exercício do poder pessoal sobre o país.

HISTÓRIA 79
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concentração de riquezas. O reflexo social foi a manuten- Liberais ou conservadores, os políticos que se colo-
ção das desigualdades e da estratificação, mesmo com caram no poder eram todos membros das elites nacio-
a introdução do trabalho assalariado, mal remunerado. nais, não sendo rígidas as distinções e as posições.
Os indígenas e os negros escravos foram mantidos Os Estados que se formaram estavam à mercê dos
à margem do processo, dentro de uma perspectiva de interesses de elites nacionais agroexportadoras, consti-
suposta inferioridade desses grupos étnicos em razão tuindo Estados oligárquicos que, apesar da aparência
de, na fase colonial, terem realizado o trabalho braçal. A liberal, eram profundamente conservadores no trato das
própria integração desses segmentos sociais à econo- questões sociais e nacionais.
mia foi resultado de pressões do capitalismo inglês, inte-
ressado em ampliar os mercados consumidores internos. 5. Duas visões do
A questão política manteve-se dividida, como uma pan-americanismo
continuidade das lutas do processo de independência.
Os antagonismos que se impuseram na formação das O pan-americanismo representa um ideal de
novas nações ocorreram justamente entre os defenso- solidariedade e unidade entre as nações americanas que
res do unitarismo – que propunha a formação de gover- surgiu ainda no período de colônia, tendo como precur-
nos fortes e centralizados – e do federalismo – que sores o padre Alexandre de Gusmão (Brasil-Portugal),
propunha manter a unidade nacional, porém concedendo Pablo Olavide (Peru), Bernardo O’Higgins (Chile) e
autonomia relativa às províncias. Francisco de Miranda (Venezuela).
No Brasil e no México, prevaleceu o unitarismo, com Esse ideal se fortaleceu no momento das indepen-
a adoção da Monarquia como regime de governo. Nas dências e se desenvolveu sob duas modalidades
demais nações, prevaleceu o federalismo, com a adoção distintas e antagônicas: o bolivarismo e o monroísmo.
de regimes republicanos. O Chile e o Paraguai constituíram O bolivarismo, concebido por Simón Bolívar (l783-
casos à parte, pois, mesmo não adotando a Monarquia, 1830), defendia a necessidade de união das nações após
tiveram uma forte centralização político-administrativa. a independência em razão da contraofensiva espanhola
As disputas pelo poder ficaram por conta de liberais e apoiada pela Santa Aliança. Apesar dos esforços do “Li-
conservadores. Em todas as novas nações, era comum a bertador”, o resultado foi infrutífero, pois houve uma
existência de um Partido Liberal e um Partido Conservador. grande resistência às suas propostas. À Inglaterra não
Os liberais pretendiam a formação de Estados interessava a união da América em um único corpo,
leigos, relativa participação política da sociedade e comu- porque isso poderia prejudicar o exercício de sua influên-
mente defendiam o federalismo, pois este preservava os cia nas débeis nações surgidas – tanto que, por pressões
interesses econômicos e o poder político local. inglesas, países como o Brasil não participaram do Con-
Os conservadores defendiam a formação de Esta- gresso do Panamá em 1822. Mesmo não tendo saldos
dos centralizados, com o Executivo forte e participação políticos positivos, as ideias de inspiração bolivarista
política da sociedade de forma bem restrita, sendo, em persistiram na América e, no século XX, foram retoma-
geral, defensores do unitarismo. das por intelectuais como Pablo Neruda e Violeta Parra.

Pan-americanismo: tese da união de toda a América em um único Estado, defendida por Bolívar.

O contraste entre os grupos sociais manteve-se após as independências.

80 HISTÓRIA
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O monroísmo expressa a visão norte-americana de ca dos Estados Unidos – industrializados – sobre as na-
solidariedade e se baseia no predomínio dos Estados ções latino-americanas – exportadoras de gêneros pri-
Unidos sobre os demais países americanos. Trata-se do mários.
início de uma política preocupada com a expansão Da Doutrina Monroe, os norte-americanos caminha-
territorial e a segurança dos Estados Unidos, expressa ram, lenta, mas firmemente, para o “Big Stick”, que dará
pela famosa frase “A América para os americanos”. aos Estados Unidos o predomínio sobre o continente.
Em 1890, realizou-se a Primeira Conferência Interna-
cional Americana, marco do início da expansão econômi-

Doutrina Monroe: conjunção de princípios de James Monroe, presidente dos EUA (1823), visando à defesa da soberania da América
recém-emancipada das metrópoles europeias.

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Exercícios Resolvidos

 ”Por volta de 1880, com o progresso de uma econo-


(FUVEST – MODELO ENEM) – Simon Bolívar escreveu na
mia primária e de exportação, consolidou-se em conhecida CARTA DA JAMAICA de 1815:
quase toda a América Latina um novo pacto colonial que substituiu
“Eu desejo, mais do que qualquer outro, ver formar-se na América
aquele imposto por Espanha e Portugal. No mesmo momento em que
[Latina] a maior nação do mundo, menos por sua extensão e riquezas
se afirmou, o novo pacto colonial começou a se modificar em sentido
do que pela liberdade e glória.”
favorável à Metrópole.
A crescente complexidade das atividades ligadas aos transportes e Sobre esta afirmação podemos dizer que
às trocas comerciais multiplicou a presença dessas economias me- a) tal utopia da unidade, compartilhada por outros líderes da
tropolitanas em toda a área da América Latina: as ferrovias, as independência, como San Martín e O’Higgins, não vingou por inefi-
instalações frigoríficas, os silos e as usinas, em proporções diversas ciência de Bolívar.
conforme a região, tornaram-se ilhas econômicas estrangeiras em b) inspirou a união entre Bolívia, Colômbia e Equador, que formaram,
zonas periféricas.” por mais de uma década, uma única nação, fragmentada, em 1839,
por problemas políticos.
(T.H. Donghi. História da América Latina. 2. ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2005. Adaptado.) c) Bolívar foi o primeiro a pensar na possibilidade da unidade, ideia
posteriormente retomada por muitos políticos e intelectuais
De acordo com o texto, o pacto colonial imposto por Espanha e latino-americanos.
Portugal a quase toda a América Latina foi substituído em função d) essa ideia, de grande repercussão entre as lideranças dos
a) das ilhas de desenvolvimento instaladas nas periferias das grandes movimentos pela independência, foi responsável pela estabilidade
cidades. da unidade centro-americana.
b) da restauração, por volta de 1880, do pacto colonial entre a e) Bolívar foi uma voz solitária, nestes quase 200 anos de
América Latina e as antigas metrópoles. independência latino-americana, ausentando-se tal ideia dos
c) do domínio, em novos termos, do capital estrangeiro sobre a debates políticos contemporâneos.
economia periférica, a América Latina.
d) das ferrovias, frigoríficos, silos e usinas instaladas em benefício do Resolução
desenvolvimento integrado e homogêneo da América Latina. O Pan-americanismo do libertador Simón Bolívar foi retomado por
e) do comércio e da implantação de redes de transporte, que são ins- políticos como Hugo Chávez, que defendia a permanência da “Revo-
trumentos de fortalecimento do capital nacional frente ao estrangeiro. lução Bolivariana”.
Resposta: C
Resolução
A questão trata da chamada “divisão internacional do trabalho”, que
caracterizou as relações entre os centros do capitalismo e as áreas
periféricas durante o século XIX e grande parte do XX. No caso, a
Inglaterra faria parte do primeiro grupo, ficando a América Latina
relegada ao segundo.
Resposta: C

HISTÓRIA 81
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Exercícios Propostos

 No século XIX, a Inglaterra apoiou os movimentos pela e) vontade de participar do comércio internacional e diferentes
independência da América, sendo atualmente comum refe- quanto à adoção de regimes políticos.
rir-se a essa participação com a seguinte frase: “Dividir para RESOLUÇÃO:
reinar”. Com base na frase e em seus conhecimentos, aponte A questão compara, nos Estados Nacionais surgidos na América
os fatores que levaram à fragmentação da América Espanhola. Espanhola e Portuguesa, o interesse das elites agroexportadoras
quanto ao comércio externo e o fato de o Brasil ter adotado a
forma de governo (sic) monárquica, enquanto os países de língua
RESOLUÇÃO:
espanhola adotaram a forma republicana (exceto o México, que
Ausência de unidade entre os vice-reinos durante a época colo-
constituiu um Império entre 1821 a 1823).
nial, presença de grupos sociais básicos e diversidade étnica, di-
Resposta: E
vergências políticas entre os membros da elite, diferentes interes-
ses econômicos e interesses ingleses na formação de várias e
frágeis nações.

O caudilhismo é um fenômeno político hispano-americano


do século XIX, que se associa
a) à resistência contra o intervencionismo norte-americano,
sobretudo nas áreas do Caribe e América Central.
 (UERJ – MODELO ENEM) – “Com o termo caudilhismo b) às guerras civis entre unitários e federalistas durante o
nos referimos ao regime imperante na maior parte dos países processo de formação dos Estados nacionais.
da América espanhola, no período que vai dos primeiros anos c) aos pensadores liberais que lutaram pela emancipação
da consolidação definitiva da Independência, em torno de política e econômica do continente.
1820, até 1860, quando se concretizaram as aspirações de d) às lideranças militares que atuaram nas guerras de
unificação nacional.” independência e defenderam a unificação do continente.
(Norberto Bobbio. Dicionário de Política. e) ao temor, manifesto sobretudo na região do Prata, de que o
Brasília: Editora UnB, 1986.) Império brasileiro avançasse militarmente para o sul.

Levando-se em consideração o período citado por Bobbio, o RESOLUÇÃO:


A questão procura explicar o caudilhismo hispano-americano do
Caudilhismo é caracterizado, quase sempre, por
século XIX como um fenômeno político ideológico que opunha
a) centralizar o poder nas mãos das elites criollas e utilizar-se defensores do unitarismo (ou centralismo) e do federalismo
do paternalismo. (autonomia regional). Todavia, seria conveniente lembrar que
b) disputar o poder local e defender as estruturas socioeconô- muitos caudilhos agiam com motivação social (como os líderes
micas tradicionais. rurais da Revolução Mexicana) ou por meras ambições pessoais.
Resposta: B
c) incentivar o desenvolvimento de manufaturas e defender
uma maior mobilidade social.
d) possuir lideranças originárias de grupos étnicos discrimi-
nados e apoiar a rebelião popular.

RESOLUÇÃO: O Antigo Regime constitui o período histórico da pas-


Esse foi o principal desdobramento das práticas caudilhescas, a sagem do feudalismo para o capitalismo. Tal passagem se
partir da manutenção da estrutura agrária latino-americana. concretiza com a Revolução Industrial, na medida em que esta:
Resposta: B
a) exigindo a ampliação de mercado consumidor, promoveu a
independência das colônias americanas.
b) concentrou a população nas áreas urbanas.
c) acentuou a presença do trabalho assalariado.
d) exigiu o planejamento da economia pelo Estado.
e) acentuou a divisão do trabalho, o que caracterizava as
corporações medievais.
 (MODELO ENEM) – Os Estados Nacionais que se
organizam depois das independências no Brasil e nos países RESOLUÇÃO:
americanos, de colonização espanhola, entre as décadas de A necessidade de mercado levou a Inglaterra a lutar contra o
pacto colonial e a escravidão.
1820 e 1880, são semelhantes quanto à
Resposta: A
a) adoção de regimes políticos e diferentes com relação às
posições implementadas sobre a escravidão negra.
b) decisão de imediata abolição da escravidão e diferentes
com relação à defesa da propriedade comunal indígena.
c) defesa do sufrágio universal e diferentes com relação às
práticas do liberalismo econômico.
d) defesa da ampliação do acesso à terra pelos camponeses e
diferentes com relação à submissão à Igreja Católica.

82 HISTÓRIA
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Napoleão Bonaparte abalou o mundo,


e as ideias liberais se expandiram.

História Geral
Módulos

1 – Revolução Industrial –
Pioneirismo Inglês 5 – Fase Popular e Contrarrevolução
2 – Revolução Industrial – Consequências Burguesa
3 – Iluminismo e Despotismo Esclarecido 6 – Era Napoleônica
4 – Revolução Francesa – 7 – Congresso de Viena
das Origens à Revolução Burguesa 8 – Ideias Sociais e Políticas do Século XIX

Revolução Industrial – Palavras-chave:


• Acúmulo de capital
• Matérias-primas
1 Pioneirismo Inglês • Cercamentos • Estado liberal
• Evolução tecnológica

1. Introdução

A industrialização alterou sensivelmente a paisagem europeia. Sheffield, Inglaterra, 1850.

HISTÓRIA 83
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No final do século XVII, com o desenvolvimento do 3. Do artesanato à manufatura


capitalismo comercial e das práticas mercantilistas, a
burguesia se afirmava como a classe economicamente A indústria pode ser considerada simplesmente
dominante em quase todos os países da Europa Oci- como a transformação das matérias-primas para que
dental. A ascensão econômica da burguesia deveu-se, passam ser consumidas pelo homem. Antes de as trans-
em grande parte, à acumulação de riquezas provenien- formações serem efetuadas pelas máquinas, o que
tes dos empreendimentos marítimos e dos monopólios chamamos maquinofatura, existiam o artesanato e a
comerciais concedidos pelos monarcas, no processo de manufatura.
formação do Estado Absolutista. O artesanato é uma forma de produção industrial
O grande afluxo de metais preciosos e o cresci- muito simples. Não há divisão de trabalho, isto é, todas
mento da população europeia dilataram sobremaneira o as fases da produção são feitas pela mesma pessoa. Por
mercado consumidor. O desequilíbrio entre as necessi- exemplo, na indústria de tecidos, a mesma pessoa que
dades de consumo e a produção provocou a decadência faz os fios é quem os tece.
do sistema artesanal independente e o surgimento da Como o artesão trabalhava sozinho em sua casa
produção manufatureira doméstica. com o auxílio da família, essa fase da indústria é chama-
A fundação de impérios coloniais na Época Moderna da doméstica.
inundou a Europa com novas matérias-primas, utiliza- A manufatura representou um estágio mais
das amplamente na produção de manufaturas. As práti- avançado. Constituía uma concentração de numerosos
cas mercantilistas estimulavam a produção para exporta- trabalhadores sob a direção de um chefe, em um mes-
ção, com a finalidade de garantir uma balança comercial mo local, com o objetivo de completar a fase final de pre-
favorável. Ao mesmo tempo, os produtos que até então paração de um produto, como, por exemplo, o tingimen-
eram considerados artigos de luxo tornaram-se de con- to do tecido. Aqui já existe uma especialização do traba-
sumo mais popular. As transformações ocorridas na pas- lho. Cada trabalhador era encarregado de uma tarefa
sagem do século XVII para o XVIII, caracterizadas pela específica, o que aumentava a capacidade produtiva.
mudança da sociedade rural para a sociedade urbana, do A passagem da indústria doméstica para a manu-
trabalho artesanal e manufatureiro para o trabalho as- fatureira foi marcada pela transformação do artesão em
salariado na organização fabril, envolvendo um rápido pro- trabalhador assalariado. Isso ocorreu quando os artesãos
gresso tecnológico, culminaram na Revolução Industrial. deixaram de comprar a matéria-prima e possuir má-
quinas próprias, passando a recebê-las de um grande
2. Conceito e etapas da comerciante. O produto era manufaturado a preço fixo,
industrialização contratado entre o comerciante e o artesão, que, nesse
caso, recebia apenas um pagamento pelo trabalho da
O conceito de Revolução Industrial é bastante transformação da matéria-prima.
amplo. Designa um conjunto de transformações ocor- A diferença entre a manufatura e a maquinofatura,
ridas na Inglaterra, no século XVIII. Essas modificações que caracteriza a Revolução Industrial, é exatamente o
foram tão profundas que merecem ser rotuladas de uso das máquinas em substituição às ferramentas utili-
revolucionárias, pois transformaram radicalmente as zadas pelos homens, afastando de uma forma definitiva
estruturas econômica, social e política europeias. os trabalhadores dos meios de produção, ou seja, a
Costumamos demarcar a Revolução Industrial, que definitiva separação entre o capital e o trabalho.
começou no século XVIII e chega até os nossos dias, em
três períodos. 4. O início da industrialização
Durante o primeiro, que abrange de 1750 a 1850, a
revolução se ateve, praticamente, à Inglaterra. Nesse pe- na Inglaterra
ríodo, surgiram as primeiras máquinas movidas a vapor. Desde a segunda metade do século XVI, a Inglaterra
De 1830 a 1900, a revolução difundiu-se pela Europa da rainha Elizabeth já começava a despontar como uma
e pela América, atingindo Bélgica, França, Alemanha, forte candidata à hegemonia europeia. A pirataria e com
Itália e Estados Unidos. Surgiram novas formas de ener- a derrota da Invencível Armada da Espanha pareciam
gia, como a hidroelétrica, e novos combustíveis, como a confirmar esse favoritismo, porém foi com os Atos de
gasolina. A técnica foi aprimorada e a produção cresceu. Navegação, decretados por Oliver Cromwell, e com a
De 1900 em diante, várias inovações surgiram, co- fragorosa derrota da marinha holandesa, na segunda
mo a energia atômica, meios de comunicação mais metade do século XVII, que a Inglaterra assumiu
rápidos, produção industrial em massa e o desenvolvi- definitivamente a liderança do comércio europeu.
mento da informática e da engenharia genética.

Matéria-prima: produto em seu estado natural, essencial para o desenvolvimento da industrialização, tais como ferro e carvão.
Revolucionário: relativo a revolução; transformação radical, e geralmente, violenta, de uma estrutura política, econômica e social.

84 HISTÓRIA
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Esse assustador desenvolvimento econômico per-


mitiu que a burguesia inglesa rompesse precocemente
as amarras do absolutismo e as restrições impostas pela
política mercantilista, ascendendo ao poder com a Revo-
lução Gloriosa, de 1688-1689. Com a promulgação do Bill
of Rights, o poder do rei foi bastante limitado, instau-
rando-se uma monarquia parlamentar, que implantou
definitivamente na ilha o liberalismo político e econômico.
A natureza foi extremamente generosa com os
ingleses no processo de industrialização, pois lhes deu
enormes jazidas de ferro e carvão, matéria-prima indis-
pensável para a construção e o funcionamento das má-
quinas nas grandes indústrias. A posição insular lhes
permitiu também manterem-se à margem das convul-
sões que assolaram a Europa nos séculos XVII e XVIII e
acabaram prejudicando as economias europeias. Con-
vém ressaltar ainda que o clima bastante úmido era um
forte aliado da indústria têxtil, uma vez que dava mais
flexibilidade às suas fibras, que podiam resistir aos primi-
tivos teares mecânicos.
O interesse da burguesia capitalista e a abundância
de capitais permitiram a fundação, em 1694, do Banco
da Inglaterra, que facilitava os empréstimos para os
industriais, pois a taxa de juros cobrada era relativamen-
te baixa. Dessa forma, tornava-se possível o investimen-
to na construção de máquinas cujos custos demoravam
muito para serem compensados.
A Inglaterra e seus principais polos econômicos na fase da Revolução No final do século XVII, a importância industrial da
Industrial.
Inglaterra era secundária. A classe de pequenos proprie-
tários, os yeomen, era bastante numerosa. A terra na
No início do século XVIII, os ingleses expandiram o qual trabalhavam lhes pertencia ou era arrendada há
seu comércio em escala mundial, favorecidos por acor- muito tempo, tendo eles direito costumeiro de utilizá-la.
dos comerciais, como o Tratado de Methuen (“Panos e Além de ao trabalho agrícola e ao pastoreio, dedicavam-
Vinhos”), em 1703, que assegurou ao reino britânico se também a preparar a lã e a tecê-la. Era o artesão
grande parte do ouro brasileiro. O ouro do Brasil foi para inglês quem possuía a matéria-prima e a máquina de fiar.
a Inglaterra via Portugal. A substituição das antigas técnicas feudais provocou
o desaparecimento da agricultura comunal e do sistema
de campo aberto, o que permitiu maior
aproveitamento do cultivo do solo e o
aumento da produtividade.
Essa Revolução Agrícola possibilitou a
melhoria nas condições de vida, permi-
tindo um grande crescimento popula-
cional. A burguesia, vitoriosa contra a
realeza, empreendeu os cercamentos
das terras (enclosure), provocando o
desaparecimento dos yeomen, que
abandonaram os campos, empreen-
dendo o êxodo rural. Essa grande
população se concentrou nas cidades,
à disposição das manufaturas urbanas,
constituindo a mão de obra barata e
abundante utilizada nos primórdios da
Encontros de inventores tornaram-se comuns na Inglaterra. Revolução Industrial.

Tratado de Methuen: tratado firmado entre Portugal e Inglaterra, no Bill of Rights: ou Declaração dos Direitos, documento pelo qual o
início do século XVIII, no qual a nação lusa comprava manufaturados Parlamento se impõe ao rei.
têxteis ingleses, em troca da exportação de vinho. Comunal: relativo a comuna; comunidade, comunitária.

HISTÓRIA 85
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O puritanismo e o calvinismo inglês haviam feito As invenções que tornaram possível a maquino-
progressos nos anos precedentes. Essas crenças esti- fatura não foram obras do acaso. Um novo invento
mulavam a acumulação, a poupança e o enriquecimento, condicionava o aumento da produção, gerando capitais
pois eram consideradas evidências da salvação divina. que poderiam ser aplicados em outras experiências, que
resultavam em novas invenções, e assim por diante.
5. A indústria têxtil do algodão Devemos considerar ainda um desequilíbrio no pro-
cesso produtivo, resultante da criação de novas máqui-
e as invenções nas. Equivale a dizer que, quando uma invenção estimu-
O desenvolvimento industrial da Inglaterra está lava a realização do processo produtivo, provocava um
ligado à indústria de lã. O poder político procurou prote- desequilíbrio nas fases posteriores, que não podiam
gê-la, regulando o comércio e a indústria. Por isso, a le- acompanhar o ritmo da fase anterior, impondo, assim,
gislação que pesava sobre essa indústria era enorme. A novas modificações nas demais fases.
produção do tecido de lã exigia várias etapas especiali- Há, portanto, uma espécie de ciclo: invenção, au-
zadas. Começava pela escolha, limpeza e tingimento. mento da produção, criação de capitais, desequilíbrios
Em seguida, vinha o processo de pentear, fiar, tecer e nas fases produtivas, investimentos em novas inven-
dar os retoques finais no tecido pronto. ções, progresso tecnológico, aumento da produção etc.
O processo de mecanização da indústria têxtil
demonstrou muito bem esse mecanismo. O surgimento
da lançadeira volante, por John Kay, em 1733, aumentou
a capacidade de tecelagem. Os fios começaram a
escassear. James Hargreaves criou a spinning jenny, em
1764, aumentando a produção de fios. Essa máquina era
uma roca de fiar que fazia vários fios ao mesmo tempo,
com o problema de tornarem-se quebradiços, o que
dificultava a tecelagem. A water frame, de Richard
Arkwright, em 1769, produzia fios grossos, e o fato de
ser movida a água tornava-a bastante econômica.
A spinning jenny e a water frame foram combinadas
em uma única máquina, por Samuel Crompton, em
1779, a mule. O problema foi resolvido, pois a nova in-
venção fabricava fios finos e resistentes. Entretanto,
novo desequilíbrio foi gerado, pois sobravam fios que os
O algodão foi a principal matéria-prima da Revolução Industrial Inglesa. teares manuais não conseguiam fiar.
O comércio inglês no Oriente colocou os comer- Surgiram, então, novas tentativas de aumentar a
ciantes em contato com o algodão e com o tecido feito capacidade de tecer. O mais importante invento nessa
a partir dessa planta. Essa indústria superou rapidamen- fase da industrialização surgiu no ano de 1769, quando
te a produção lanífera, em razão da abundância de plan- James Watt inventou a máquina a vapor a partir das ex-
tações, tanto no Oriente quanto nos Estados Unidos, periências desenvolvidas anteriormente por Newcomen.
então colônia da Inglaterra. Além disso, não havia nenhu- Finalmente, em 1785, Edmund Cartwright inventou o
ma legislação impedindo a expansão dessa indústria, tear mecânico.
como aconteceu com a fabricação de tecidos de lã. Foi, A necessidade de construção de máquinas de me-
portanto, na maquinofatura do algodão que se concen- tal, em substituição às de madeira, estimulou a
traram os esforços dos empresários industriais. metalurgia do ferro e do aço, que por sua vez não
poderiam desenvolver-se sem os progressos na técnica
Lanífero: referente a lã; que produz lã. de produzir carvão.

6. Cronologia
1694 – Fundação do Banco da Inglaterra.
1733 – Invenção da lançadeira volante, por John Kay.
1760-1850 – Primeira Revolução Industrial.
1764 – Invenção da spinning jenny, por James Hargreaves.
1768 – James Watt inventa a máquina a vapor.
1769 – Invenção da water frame, por Richard Arkwright.
1779 – Invenção da mule, por Samuel Crompton.
1785 – Edmund Cartwright inventa o tear mecânico.

86 HISTÓRIA
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A mecanização foi extremamente importante para acelerar o processo As estradas de ferro diminuíram o tempo de percurso dos produtos.
produtivo.

Exercícios Resolvidos

 (PUC-CAMP – MODELO ENEM) – Consi- só de um tipo qualquer de expansão econô-


mica, técnica ou científica, mas da criação da
capital e o trabalho; no segundo, já se ob-
serva uma divisão social do trabalho preli-
dere as proposições a seguir.
fábrica, isto é, de um sistema fabril mecani- minar; no terceiro, o uso da máquina leva ao
I. “O progresso econômico foi conseguido à
zado, a produzir em quantidade tão rapi- extremo a separação entre o capital e o
custa da ruína dos pequenos produtores e,
damente decrescente a ponto de não trabalho.
como as manufaturas não podiam, particu-
depender de uma demanda existente, mas b) Na Alta Idade Média, a produção destina-
larmente nos primeiros tempos, absorver
de criar o seu próprio mercado.” va-se a um mercado em constante expan-
toda a massa de camponeses expulsos da
são, sob as ordens dos senhores feudais;
terra, muitos foram obrigados a vaguear
Segundo Hobsbawm, "a Revolução Industrial na Idade Moderna, aprofunda-se a rigidez
pelo país à procura de trabalhos ocasionais
assinala a mais radical transformação da vida do controle sobre a produção nas manufa-
e, se não encontrassem, tinham que se
humana já registrada". Em relação à referida turas; na Idade Contemporânea, os meios
entregar à mendicância, ao roubo e à
transformação, de produção são controlados pela burguesia.
pilhagem.”
a) somente IV é correto. c) Na Primeira Revolução Industrial, o surgi-
II. “Na agricultura, o processo de acumulação
b) somente V é correto. mento das máquinas; na Segunda
realizava-se sobretudo através das transfor-
c) somente I e III são corretos. Revolução Industrial, o avanço dos meios
mações agrárias conhecidas como cer-
d) somente II e IV são corretos. de transportes marítimos e ferroviários; na
camento. Essas refletem o avanço do
e) I, II, III, IV e V são corretos. Terceira Revolução Industrial, os avanços
capitalismo no campo e, portanto, a trans-
Resolução ultrarrápidos das novas tecnologias, a
formação da propriedade agrícola em
O texto apresenta um pequeno resumo sobre robótica e a biotecnologia.
empresa, administrada segundo os critérios
a Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra na d) No primeiro sistema de produção citado,
do lucro (...).”
metade do século XVIII. temos relações servis de produção; durante
III. “Para ele (Marglin), a reunião dos trabalha-
Resposta: E o segundo, começam a ser organizadas as
dores na fábrica não se deveu a nenhum
associações de comerciantes, Trade Union;
avanço das técnicas. Pelo contrário, o que
no terceiro, temos a perda da independên-
estava em jogo era justamente um
alargamento do controle e do poder por

(MACKENZIE – MODELO ENEM) – Na cia econômica da classe dos trabalhadores.
Idade Média, o sistema de produção basea- e) No período feudal, temos a supremacia da
parte do capitalista sobre o conjunto de
va-se na cooperação. Na Idade Moderna, até burguesia na ordem econômica; na Idade
trabalhadores que ainda detinham os
por volta de 1760, a manufatura foi caracterís- Moderna, ocorrerá a ascensão de uma
conhecimentos técnicos e impunham a
tica do sistema de produção. A partir de 1760, classe de ricos comerciantes e de banquei-
dinâmica do processo produtivo...”
aproximadamente, inicia-se a era da grande ros; após a Revolução Industrial, teremos a
IV. “A alienação fundamental reside nas
indústria. superação da divisão social do trabalho.
relações de produção: a divisão social do
(Carlos Guilherme Mota) Resolução
trabalho e a apropriação individual dos
A alternativa descreve respectivamente as for-
meios coletivos de produção provocam Dentre as características dos três sistemas de mas de produção artesanal (oficinas medie-
uma situação infra-humana em que o produção citados no texto, respectivamente, vais), manufatureira e maquinofatureira (ou
homem é explorado pelo homem.” destacamos: industrial).
V. “O progresso tecnológico não dependeu a) No primeiro, não havia separação entre o Resposta: A

HISTÓRIA 87
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Exercícios Propostos

 O que foi a Revolução Industrial? Entre os fatores que fizeram da Inglaterra o berço propício
à eclosão da Revolução Industrial, podemos citar, exceto:
RESOLUÇÃO: a) as condições sociais e políticas favoráveis da época;
Foi a fase da História na qual a produção começou a ser realizada b) a criação do Banco da Inglaterra, permitindo que a Nação se
por máquinas, substituindo o trabalho do homem e acelerando o
processo produtivo. Nela, inicia-se a supremacia do capital
tornasse o maior centro capitalista da época;
industrial sob o capital comercial. c) o sistema corporativo, que não chegara a se enraizar desde
a Idade Média;
d) a supremacia naval inglesa, que assegurava o controle das
rotas de distribuição de mercadorias;
e) o absolutismo monárquico, essencial para o desenvolvimen-
to das atividades industriais.

RESOLUÇÃO:
O absolutismo já fora superado pela monarquia parlamentarista,
que criou um Estado favorável ao desenvolvimento econômico.

 Por que a Revolução Industrial começou na Inglaterra?


Resposta: E

RESOLUÇÃO:
Porque a Inglaterra possuía capital acumulado, mão de obra
abundante e barata, Banco da Inglaterra, religião puritana,
burguesia no poder, máquinas, mercados consumidores,
matérias-primas, carvão e ferro etc.

(FUVEST – MODELO ENEM) – “…cabanas ou pequenas


moradias espalhadas em grande número, nas quais residem os
trabalhadores empregados, cujas mulheres e filhos estão
sempre ocupados, cardando, fiando etc., de forma que, não
havendo desempregados, todos podem ganhar seu pão, desde
o mais novo ao mais velho.”

(Daniel Defoe. Viagem por toda a ilha da Grã-Bretanha, 1724.)

Essa passagem descreve o sistema de trabalho


a) manufatureiro, no qual um empregador reúne num único
 O que diferencia a fase produtiva da manufatura em rela- local dezenas de trabalhadores.
ção ao artesanato? b) da corporação de ofício, no qual os trabalhadores têm o
controle dos meios de produção.
RESOLUÇÃO: c) fabril, no qual o empresário explora o trabalho do exército
Artesanato: o artesão realiza todas as fases do processo industrial de reserva.
produtivo.
Manufatura: inicia-se uma divisão do trabalho, na qual o artesão se
d) em domicílio, no qual todos os membros de uma família
limita a transformar a matéria-prima com o uso de ferramentas. trabalham em casa e por tarefa.
e) de cogestão, no qual todos os trabalhadores dirigem a
produção.

RESOLUÇÃO:
O texto mencionado refere-se a uma situação anterior à
Revolução Industrial, que começou na Inglaterra por volta de
1760. Trata-se, portanto, do chamado sistema doméstico de
produção, que aliás coexistiu na época com o sistema das
manufaturas (mencionado na alternativa a, mas que não está
descrito no texto).
Resposta: D

No Portal Objetivo
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL
OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite
HIST2M117

88 HISTÓRIA
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 ”Homens da Inglaterra, por que arar para os ”A prosperidade induzida pela emergência das
senhores que vos mantêm na miséria? máquinas de tear escondia uma acentuada
Por que tecer com esforços e cuidado as ricas roupas que perda de prestígio. Foi nessa idade de ouro que os artesãos, ou
vossos tiranos vestem? os tecelões temporários, passaram a ser denominados, de
Por que alimentar, vestir e poupar do berço até o túmulo esses modo genérico, tecelões de teares manuais. Exceto em alguns
parasitas ingratos que exploram vosso suor — ah, que bebem ramos especializados, os velhos artesãos foram colocados lado
vosso sangue?” a lado com novos imigrantes, enquanto pequenos fazendeiros-
tecelões abandonaram suas pequenas propriedades para se
(Shelley. Os homens da Inglaterra. Apud L. Huberman. História da concentrar na atividade de tecer. Reduzidos à completa
Riqueza do Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.)
dependência dos teares mecanizados ou dos fornecedores de
A análise do trecho permite identificar que o poeta romântico matéria-prima, os tecelões ficaram expostos a sucessivas
Shelley (1792-1822) registrou uma contradição nas condições reduções dos rendimentos.”
socioeconômicas da nascente classe trabalhadora inglesa (E. P. Thompson. The making of the english working class.
durante a Revolução Industrial. Tal contradição está identificada Harmondsworth. Penguin Books, 1979. Adaptado.)
a) na pobreza dos empregados, que estava dissociada da
riqueza dos patrões. Com a mudança tecnológica ocorrida durante a Revolução
b) no salário dos operários, que era proporcional aos seus Industrial, a forma de trabalhar alterou-se porque
esforços nas indústrias. a) a invenção do tear propiciou o surgimento de novas
c) na burguesia, que tinha seus negócios financiados pelo relações sociais.
proletariado. b) os tecelões mais hábeis prevaleceram sobre os inexpe-
d) no trabalho, que era considerado uma garantia de liberdade. rientes.
e) na riqueza, que não era usufruída por aqueles que a c) os novos teares exigiam treinamento especializado para
produziam. serem operados.
d) os artesãos, no período anterior, combinavam a tecelagem
RESOLUÇÃO: com o cultivo de subsistência.
O poeta Percy Shelley, amigo de Byron, mostra-se sensível às
mazelas do “capitalismo selvagem” presente na Revolução Indus-
e) os trabalhadores não especializados se apropriaram dos
trial Inglesa, embora ele próprio pertencesse à camada lugares dos antigos artesãos nas fábricas.
dominante. Todavia, sua visão é sobretudo emocional, embora
possamos associá-la às críticas formuladas na época pelos RESOLUÇÃO:
primeiros socialistas utópicos. Com o advento dos teares a vapor, os artesãos-tecelões e os
Resposta: E pequenos produtores independentes de lã, incapazes de concorrer
com a nova produção industrial, viram-se compelidos a trabalhar
nas fábricas têxteis em condições análogas às dos operários não
qualificados – inserindo-se nas relações de trabalho capitalistas
pelo viés da subordinação ao capitalismo selvagem.
Obs.: O gabarito oficial considera correta a alternativa d, embora
o texto transcrito não dê a entender que os “pequenos fazen-
deiros-tecelões” tivessem uma produção de subsistência (por que
eles não poderiam se dedicar, por exemplo, à pequena criação de
ovelhas?). Ademais, a alternativa d desconsidera os “velhos
artesãos”, que certamente não se confundiam com os “pequenos
fazendeiros-tecelões”. Seria preferível, portanto, a alternativa a.
Resposta: A

HISTÓRIA 89
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Revolução Industrial – Palavras-chave:


• Capital x trabalho
2 Consequências • Operariado • Exploração
• Reivindicações

1. Introdução salários. Não havia qualquer assistência aos desem-


pregados ou enfermos, nem qualquer regulamentação
O surgimento da maquinofatura tornou obrigatória a para o trabalho de crianças e mulheres, que concorriam
reunião dos operários em um só lugar, a fábrica, que com os homens, deixando-os sem emprego.
exigia grande concentração de mão de obra, pois era A utilização do trabalho feminino e do infantil agra-
muito mais econômico produzir em grande escala. vou ainda mais os problemas socioeconômicos; o de-
As fábricas na Inglaterra acabaram por aniquilar os semprego e a fome foram acompanhados de outros fla-
artesãos e a indústria doméstica, em decorrência dos gelos sociais, como a prostituição, o alcoolismo e a ex-
baixos preços das mercadorias (fruto da utilização das ploração dos filhos pelos pais, que buscavam na família
máquinas), bem como dos baixos salários pagos aos uma prole numerosa para assegurar a sua sobrevivência.
trabalhadores incipientes. Os antigos artesãos não
possuíam condições financeiras de serem os donos das 3. A reação do proletariado
máquinas, em razão de seu alto custo, que as tornava O antagonismo entre os trabalhadores e os patrões
acessíveis somente aos que possuíssem grandes capitais. teve início. Ambos procuravam organizar-se para a luta.
Dessa forma, deu-se a separação entre o capital e o Na primeira metade do século XVIII, havia surgido na
trabalho. Os antigos artesãos passaram a formar uma Inglaterra o clube dos tecedores e artesãos, que teve um
imensa massa de trabalhadores urbanos, que somente caráter temporário, pois desapareceu após terem
possuía a força de trabalho para vender, constituindo conseguido suas reivindicações.
uma nova classe social denominada proletariado. Os
A união entre os trabalhadores e os artesãos, por
meios de produção – capital, matéria-prima e instalações
volta de 1760, que provocou a destruição das máquinas,
– estavam em mãos de uma minoria de capitalistas, que
foi, igualmente, uma manifestação temporária, movida
contratavam o trabalho e, em contrapartida, remunera-
pela fome e pela falta de trabalho. Os poucos artesãos
vam o trabalhador por meio de um salário.
que ainda restavam rebelavam-se contra as fábricas, que
Ao mesmo tempo em que a Inglaterra se transfor- haviam retirado todas as possibilidades de continuarem
mava no principal produtor e exportador de produtos trabalhando como antes. Procuraram destruir as
manufaturados, a população dos centros urbanos crescia máquinas e as fábricas, como, em 1769, em Lancashire.
consideravelmente. A cidade de Londres tornou-se um
dos principais centros demográficos do país. Sua As sociedades mais importantes de trabalhadores
população ultrapassava um milhão de habitantes. começaram a aparecer nos centros de produção mais
intensa, como Lancashire, Yorkshire e Manchester. O
Houve também uma tendência à concentração interesse comum levou-os à união. Em tempo de crise,
industrial em certas regiões do país. A preferência recaía
os trabalhadores ajudavam-se mutuamente.
sobre as regiões que possuíam carvão. Assim, surgiu a
Inglaterra Negra, do Norte e do Oeste, dominada pela Em 1799, foi criada uma lei proibindo as associa-
indústria, em oposição à Inglaterra Verde, do Sul e do ções. A oposição foi muito forte, e a lei, abolida. Apesar
Sudoeste, dominada pela agricultura e pastoreio. das leis contrárias, as sociedades operárias se multi-
plicavam. No início do século XIX, uma nova reação dos
2. A indústria e os problemas trabalhadores contra os baixos salários e as péssimas
condições resultou na destruição das máquinas e fábri-
sociais cas, sendo o movimento conhecido como ludistas.
Nas regiões mais industrializadas, a urbanização foi Em 1824, foram suspensas as repressões contra a
mais violenta: a falta de habitações era enorme e os organização dos trabalhadores e revogadas todas as leis
aluguéis, elevadíssimos. Os trabalhadores se aglomera- que impediam a formação das associações, denominadas
vam em um só quarto e várias famílias moravam juntas trade unions, que progrediam lentamente, dando força aos
em total promiscuidade. operários em suas reivindicações. Em 1830, foi feito um
Na segunda metade do século XVIII, as condições relatório que procurava mostrar as condições de trabalho
dos trabalhadores ingleses eram péssimas, por causa na Inglaterra: o relatório Sadler. Alguns problemas foram
das grandes jornadas de trabalho, que se elevavam a resolvidos, como a regulamentação de idade para o
14 horas diárias, quase ininterruptas, e aos baixos trabalho das crianças e das mulheres, por exemplo.

Incipiente: que está no começo; principiante.


Associação: grupo de pessoas que se submetem a um regulamento a fim de exercer uma atividade comum ou defender interesses comuns; agremiação.

90 HISTÓRIA
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4. Cronologia
1760-1850 – Primeira fase da Revolução Industrial.
1769 – Destruição de máquinas e fábricas na
Inglaterra.
1797 – Lei Speenhamland garantia a subsistên-
cia mínima ao homem que não fosse
capaz de se sustentar.
1799 – Proibição das trade unions.
1811 – Movimento ludista criado por Ned Ludd.
1830 – Movimentos swing e cartista. A abertura de redes de canais e rios e as ferrovias surgiram como
1850-1900 – Segunda fase da Revolução Industrial. necessidade de uma economia industrial.

Exercícios Resolvidos

 (PUC-CAMP – MODELO ENEM) – “No desenvolvimento das


A Revolução Industrial ocorrida no final do século
forças produtivas, ocorre um estágio em que nascem forças produtivas XVIII transformou as relações do homem com o
e meios de circulação que só podem ser nefastos no quadro das trabalho. As máquinas mudaram as formas de
relações existentes e não são mais forças produtivas, mas sim forças trabalhar, e as fábricas concentraram-se em regiões próximas às
destrutivas (a máquina e o dinheiro) – e, em ligação com isso, nasce matérias-primas e grandes portos, originando vastas concentrações
uma classe que suporta todos os ônus da sociedade, sem gozar das humanas. Muitos dos operários vinham da área rural e cumpriam
suas vantagens...” jornadas de trabalho de 12 a 14 horas, na maioria das vezes em condi-
ções adversas. A legislação trabalhista surgiu muito lentamente ao
O texto descreve um processo que pode ser associado longo do século XIX e a diminuição da jornada de trabalho para oito
a) às causas sociais que explicam o surgimento da Revolução horas diárias concretizou-se no início do século XX.
Industrial.
b) às transformações técnicas levadas a efeito pela Revolução Pode-se afirmar que as conquistas no início desse século, decorrentes
Industrial. da legislação trabalhista, estão relacionadas com
c) aos efeitos sociais da Revolução Industrial, consubstanciados na a) a expansão do capitalismo e a consolidação dos regimes monár-
diferença crescente entre ricos e pobres. quicos constitucionais.
d) ao mecanismo que levou a Revolução Industrial a responder pela b) a expressiva diminuição da oferta de mão de obra, devido à
concentração do capital nas atividades mercantis. demanda por trabalhadores especializados.
e) ao desenvolvimento tecnológico da Revolução Industrial, que c) a capacidade de mobilização dos trabalhadores em defesa dos seus
trouxe como consequência a necessidade de modernização nas interesses.
relações sociais. d) o crescimento do Estado ao mesmo tempo que diminuía a
Resolução representação operária nos parlamentos.
O texto apresenta uma visão marxista a respeito do sistema produtivo e) a vitória dos partidos comunistas nas eleições das principais
industrial, no qual a apropriação do lucro e da mais-valia pela burguesia capitais europeias.
relega ao operário a menor parte da riqueza por ele gerada. Resolução
Resposta: C A classe proletária surgida com o início da Revolução Industrial, na
segunda metade do século XVIII, era um grupo social novo, sem identi-
dade consolidada e oprimido pelo “capitalismo selvagem”.
Preocupados inicialmente com sua própria sobrevivência em
condições adversas, os trabalhadores demoraram para adquirir a cons-
ciência de classe que lhes daria coesão na luta por melhores condições
de trabalho e de vida. Isso ocorreu a partir da segunda metade do
século XIX, com a organização do movimento operário, embasado
ideologicamente nas diversas correntes do pensamento socialista.
Resposta: C

No Portal Objetivo
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST2M118

HISTÓRIA 91
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Exercícios Propostos

 Quais as mudanças ocorridas com a Revolução Industrial? “(...) Quando chegávamos a Bolton (...) encontramos no
caminho várias centenas de homens. Creio que eram
RESOLUÇÃO: aproximadamente uns quinhentos; e como perguntássemos a
Separação definitiva entre capital e trabalho, divisão do trabalho, um dentre eles por que se encontravam reunidos em tão
trabalho alienado, surgimento do proletariado, divisão da
sociedade em classes, destruição progressiva da natureza,
grande número, responderam-nos que iam destruir as
desenvolvimento das ideias liberais que conduziriam à Crise do máquinas e que fariam o mesmo em todo o país (...).”
Sistema Colonial. (Carta do industrial inglês Wedgwood a Thomas Bentley, 1769.)

A introdução das máquinas na Inglaterra provocou, de


imediato, violentas reações por parte dos trabalhadores, na
medida em que se fez acompanhar
a) do desemprego, da exploração desenfreada do trabalho de
mulheres e crianças, de baixos salários e da ausência de
regulamentação do trabalho.
b) do desemprego, de baixos salários, da regulamentação do
trabalho e do desaparecimento das corporações de ofício.
c) do excesso de oferta de empregos, de baixos salários, da
ausência de regulamentação do trabalho e da fraca atuação
do Partido Trabalhista.
 A Revolução Industrial na Inglaterra (1760-1830) teve como d) da separação do trabalhador dos meios de produção, do fim
decorrência(s): da manufatura, do Movimento Cartista e da eliminação dos
a) o aumento da produção manufatureira, com a diminuição partidos trabalhistas.
progressiva do desemprego. e) do cercamento das áreas comunais, do desemprego e da
b) a identificação e a perfeita integração do operariado com a substituição do sistema artesanal pelas indústrias
máquina. domésticas.
c) o surgimento de um estado de tensão entre empregadores
e empregados. RESOLUÇÃO:
d) o aparecimento de associações patronais, visando a propor- Essas características identificam o capitalismo selvagem.
Resposta: A
cionar melhores condições de trabalho ao operariado.
e) a formação de grandes centros populacionais urbanos, com
ótimas condições de moradia para os operários.
Até o século XVII, as paisagens rurais eram
RESOLUÇÃO:
marcadas por atividades rudimentares e de
Diante da exploração vivida, os trabalhadores se organizaram baixa produtividade. A partir da Revolução Industrial, porém,
para lutar pela defesa de seus interesses. sobretudo com o advento da Revolução Tecnológica, houve um
Resposta: C desenvolvimento contínuo do setor agropecuário.
São, portanto, observadas consequências econômicas, sociais
e ambientais inter-relacionadas no período posterior à Revo-
 O grande desenvolvimento decorrente da Revolução In- lução Industrial, as quais incluem
dustrial, na Inglaterra, teve como consequência social, no início a) a erradicação da fome no mundo.
do século XIX, b) o aumento das áreas rurais e a diminuição das áreas
a) o encurtamento das jornadas de trabalho para oito horas. urbanas.
b) a introdução de máquinas e o desenvolvimento dos trans- c) a maior demanda por recursos naturais, entre os quais os
portes. recursos energéticos.
c) o crescimento do proletariado em condições de vida precárias. d) a menor necessidade de utilização de adubos e corretivos
d) a formação de correntes migratórias dos centros urbanos na agricultura.
para o campo. e) o contínuo aumento da oferta de emprego no setor primário
e) o decréscimo demográfico, em virtude do aumento da mor- da economia, em face da mecanização.
talidade infantil.
RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: Com a Revolução Tecnológica, a demanda por matérias-primas e
Os operários trabalhavam por longas jornadas, recebiam baixos recursos energéticos aumentou exponencialmente, exigindo uma
salários, viviam em péssimas condições de moradia e inexistia reorientação na produção agropecuária, que deixou de gerar,
uma legislação trabalhista. quase exclusivamente, produtos alimentícios, passando a suprir a
Resposta: C indústria com a produção de matérias-primas (algodão, oleagi-
nosas etc.) e recursos energéticos (etanol, por exemplo).
Resposta: C

92 HISTÓRIA
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 “…Um operário desenrola o arame, o outro o ”A poluição e outras ofensas ambientais ainda
endireita, um terceiro corta, um quarto o afia não tinham esse nome, mas já eram
nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer a largamente notadas no século XIX, nas grandes cidades
cabeça do alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; inglesas e continentais. E a própria chegada ao campo das
…” estradas de ferro suscitou protestos. A reação antimaquinista,
(Adam Smith. A riqueza das nações: investigação sobre a sua protagonizada pelos diversos luddismos, antecipa a batalha
natureza e suas causas. v. I. São Paulo: Nova Cultural, 1985.) atual dos ambientalistas. Esse era, então, o combate social
contra os miasmas urbanos.”
(M. Santos. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e
emoção. São Paulo: Edusp, 2002. Adaptado.)

O crescente desenvolvimento técnico-produtivo impõe modi-


ficações na paisagem e nos objetos culturais vivenciados pelas
sociedades. De acordo com o texto, pode-se dizer que tais
movimentos sociais emergiram e se expressaram por meio
(Jornal do Brasil, 19 fev. 1997.) a) das ideologias conservacionistas, com milhares de adeptos
no meio urbano.
A respeito do texto e do quadrinho são feitas as seguintes b) das políticas governamentais de preservação dos objetos
afirmações: naturais e culturais.
I. Ambos retratam a intensa divisão do trabalho, à qual são c) das teorias sobre a necessidade de harmonização entre
submetidos os operários. técnica e natureza.
II. O texto refere-se à produção informatizada e o quadrinho, à d) dos boicotes aos produtos das empresas exploradoras e
produção artesanal. poluentes.
III. Ambos contêm a ideia de que o produto da atividade e) da contestação à degradação do trabalho, das tradições e da
industrial não depende do conhecimento de todo o natureza.
processo por parte do operário.
Dentre essas afirmações, apenas RESOLUÇÃO:
a) I está correta. b) II está correta. O texto faz alusão aos movimentos sociais do início do século
XIX, destacando os movimentos luddistas, uma referência a um
c) III está correta. d) I e II estão corretas. de seus líderes, Ned Ludd, contrários aos avanços tecnológicos da
e) I e III estão corretas. 1.a Revolução Industrial, mediante invasão de fábricas e quebra de
máquinas, pois eram consideradas responsáveis pelo desempre-
RESOLUÇÃO: go e pelas péssimas condições de trabalho.
O texto de Adam Smith (século XVIII) data do início da Revolução Portanto, havia contestação à degradação do trabalho, como o
Industrial, na qual a divisão do trabalho teria enorme importância uso da mão de obra de baixa qualificação profissional, enquanto
para aumentar a produtividade. Essa tendência atingiu seu auge a tradição artesanal e manufatureira mantinha o trabalhador
na atualidade, pois a especialização do trabalhador dentro da como dono de seu instrumento de trabalho, envolvendo o traba-
linha de montagem o exclui de um conhecimento mais amplo do lho familiar e especializado. Com a máquina, o trabalhador muda
processo de que ele faz parte. a sua rotina, que passa a ser adequada ao ritmo da máquina,
Resposta: E como se ele fosse apenas uma peça em suas engrenagens. Muitas
vezes, havia a preferência pelo trabalho infantil, com salários
muito mais reduzidos do que os dos adultos, fato que provocava
desemprego.
No contexto atual, destacam-se os movimentos contrários ao
desemprego estrutural provocado pelos avanços tecnológicos da
3.a e da 4.a Revolução Industrial, assim como os protestos contrá-
rios à degradação ambiental.
Resposta: E

HISTÓRIA 93
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Iluminismo e Palavras-chave:
• Racionalismo = luz
• Antiabsolutismo
3 Despotismo Esclarecido • Anticlericalismo • Três poderes
• Vontade da maioria

1. Introdução se tenha como princípio para a reflexão filosófica uma


dúvida universal indiscutível (axioma) e, a partir dessa,
O século XVIII foi marcado por uma revolução não só seja utilizado o método de dedução matemática para
no pensamento filosófico, mas também no modo de vida atingir a verdade. Dessa forma, Descartes introduzia
europeu. Naquele século, a Europa vivenciou a Revolução uma visão mecanicista do universo em todas as áreas da
Industrial Inglesa e a tomada do poder político pela Ciência.
burguesia, brilhantemente exemplificada pela Revolução • Isaac Newton (1642-1727) – físico, levando
Francesa e o marco da queda do Antigo Regime. adiante os estudos de Galileu, Copérnico, Kepler e
Era o Século das Luzes, que marcava o início de Descartes, aprofundou a visão de universo mecanicista.
uma nova era, a ser conduzida pela burguesia, que se Para Newton, o universo possui leis físicas invariáveis
firmou socialmente como classe econômica durante a que regem seus movimentos. O estado de repouso de
Idade Moderna. um corpo é relativo, e o estado de movimento é
O iluminismo foi a filosofia que inspirou a burguesia absoluto. Com suas ideias, revolucionou o modo de
nessas mudanças de rumos históricos. pensar, ainda preso a concepções medievais de universo
A crise do sistema colonial tradicional, na América, estático.
faz parte de um quadro muito mais amplo, que é o • John Locke (1632-1704) – filósofo inglês e
quadro de crise do Antigo Regime na Europa. teórico da Revolução Gloriosa (1688), é considerado o
As transformações econômicas e políticas ocorridas pai do liberalismo político. O combate ao absolutismo é
no século XVIII afetaram tanto as metrópoles europeias feito por Locke em duas grandes obras: O Primeiro
quanto as colônias na América. Tratado sobre o Governo Civil (1689) e o Segundo Trata-
do sobre o Governo Civil (1690). Nessas obras, Locke
Na Europa, a crise do Antigo Regime fez-se sentir
coloca que o estado de sociedade e o poder político
com o surgimento das ideias iluministas e com a Revo-
nascem de um contrato entre os homens livres e iguais.
lução Industrial Inglesa, que, em um primeiro momento,
Antes desse pacto ser feito, os homens viviam em es-
marcaram a ruptura da aliança rei-burguesia.
tado natural, no qual possuíam direitos também naturais,
Realizada a acumulação capitalista pela burguesia como a igualdade (segundo Locke, ”nascemos livres na
mercantil, o Estado Absolutista e a política econômica mesma medida em que nascemos racionais”) e o direito
mercantilista tornaram-se obstáculos ao pleno desenvol- à propriedade privada (para o filósofo, “todo homem
vimento do modo de produção capitalista. possui uma propriedade em sua própria pessoa, de tal
forma que a fadiga de seu corpo e o trabalho de suas
2. Pensadores ilustrados mãos são seus”). Assim, defende o princípio de que a
propriedade resulta do trabalho realizado pelo homem,
O século XVII e os pais do iluminismo daí o seu direito de torná-la privada. Outro direito natural
que os homens possuem é o de liberdade e resistência
Desde o século XVII, as bases da filosofia iluminista à tirania. Esses direitos estarão constantemente amea-
vinham sendo formuladas por pensadores que passaram çados se os homens permanecerem no estado natural,
a contestar a ordem estabelecida. Podemos considerar em que o poder é exercido individualmente. Daí a neces-
como fundadores do pensamento iluminista René Des- sidade de fazerem um contrato, abrindo mão do poder
cartes, Isaac Newton e John Locke. individual, em nome de uma força coletiva que exerça a
• René Descartes (1596-1650) – publicou, em função de fazer cumprir os direitos naturais. Dessa
1637, O Discurso sobre o Método, obra que o coloca forma, os homens passam do estado natural para o
como "pai do racionalismo moderno". Nessa obra, Des- estado de sociedade, no qual as leis são aprovadas por
cartes afirma que o conhecimento deve ser buscado por mútuo consentimento, executadas por juízes imparciais,
meio da razão, mas não se trata de uma razão simplista, e o poder político é outorgado a um governante pelos
pois o método serve justamente para tornar o conhe- indivíduos que fizeram e se incorporaram ao pacto.
cimento resultado de uma razão científica. Propõe que

Antigo Regime: termo utilizado para designar as Monarquias


Fadiga: cansaço.
Nacionais Absolutistas.
Outorgado: imposto.
Estático: paralisado.

94 HISTÓRIA
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O século XVIII e os pensadores políticos Mas os principais ataques ao Estado Absolutista


seriam feitos por três filósofos: Voltaire, Montesquieu e
O século XVIII marcou o apogeu das ideias iluminis- Rousseau.
tas, que inspiraram movimentos como a independência
• Voltaire (1694-1778) – filósofo que atacou
dos Estados Unidos e a Revolução Francesa.
violentamente a centralização do Estado Absolutista e a
A Revolução Intelectual que vinha sendo gestada Igreja Católica e defendeu, da mesma forma, o direito às
chegava ao seu ápice. Formularam-se as concepções liberdades individuais. Uma característica marcante de
políticas – liberalismo político – e as concepções econô- Voltaire era o fato de que usava do humor e da sátira pa-
micas – o liberalismo econômico –, que nortearam a bur-
ra colocar suas críticas.
guesia no processo de tomada do poder.
Entre suas máximas sobre o absolutismo estão a
pergunta: “O que é o otimismo?”; e a resposta: “É sus-
tentar que tudo vai bem, quando tudo vai mal!” Apesar
das furiosas críticas, defendia a manutenção de um
governo monárquico, mas com poderes limitados.
• Montesquieu (1689-1755) – celebrizou-se pela
obra O Espírito das Leis, publicada em 1748, na qual
defendia a separação dos poderes como única forma de
garantir a liberdade política. Montesquieu visualizava três
formas de governo existentes: a republicana, a despóti-
ca e a monárquica. O governo republicano resultava da
detenção do poder pelo povo (democracia) ou por uma
parcela do povo (aristocracia), mas não era aceito por
Montesquieu, que o considerava fadado ao fracasso,
pois se o poder fosse entregue ao povo, este não sa-
beria manter a República, e se o poder fosse entregue a
uma parcela do povo, esta governaria em benefício
próprio. O despotismo consiste em um
regime de governo no qual todos
os homens são subordinados a
um homem; esse regime é
contestado por Montesquieu,
que o considera resultado
das paixões pessoais de um
Denis Diderot (1713-1784) – escritor e divulgador da filosofia único homem. O regime
iluminista. Organizou com D’Alembert a Enciclopédia.
monárquico é inconvenien-
Com a participação de intelectuais de todos os te, pois apenas um governa
ramos da Ciência, Denis Diderot e Jean D’Alembert com leis fixas e estabele-
conceberam a Enciclopédia, o principal meio de difusão cidas (instituições), e apenas
das ideias ilustradas. Era uma obra imensa, que pretendia a detenção do poder não basta
reunir todo o conhecimento racional formulado na época. – o monarca exerce um poder
baseado em sua honra pessoal.
Charles du Secondat. Barão de Montesquieu
(1689-1755) – iluminista francês.

Diante da incapacidade desses modelos em esta-


belecer uma verdadeira harmonia política, Montesquieu
preconiza a formação de um quarto regime, denominado
governo moderado, em que o poder se fundamenta na
lei, que é a garantia da liberdade política. Para Mon-
tesquieu, "A liberdade é o direito de fazer tudo o que as
leis permitem; e, se um cidadão pudesse fazer o que
elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros
teriam também esse poder". O governo proposto en-
contra o poder dividido em três instâncias – executiva,
legislativa e judiciária –, que mantêm entre si relações de
Frontispício da Enciclopédia,
obra que buscou reunir todo o
interdependência e, ao mesmo tempo, uma instância
conhecimento racional coíbe a outra de ultrapassar suas funções ou cometer
produzido até o século XVIII. abusos contra a sociedade.

HISTÓRIA 95
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• Jean Jacques Rousseau (1712-1778) – é sem Iluminismo na América


dúvida o mais brilhante dos filósofos franceses do século Quando afirmamos que o liberalismo político foi o
XVIII. Dono de uma vasta obra, publicou, em 1755, O conjunto de ideias que influenciou a independência da
Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigual- América, precisamos ter claro que a América estava
dade entre os Homens, no qual afirma que os homens, vivenciando os efeitos da política absolutista europeia;
quando viviam no estado de natureza, eram bons, huma- as elites e as camadas sociais que participaram dos
nitários e satisfaziam suas necessidades com o que a movimentos de independência diferenciavam-se, e
natureza lhes propiciava. Ao passar para o estado social, muito, em relação aos interesses políticos das classes
os homens ganham capacidade de se desenvolver mais sociais que depuseram o Estado Absolutista na Europa.
rapidamente, ampliando seus horizontes, mas a própria
sociedade corrompe os homens, colocando-os, em Na própria América, temos de considerar o desen-
termos morais, em situação inferior àquela em que se volvimento desigual das colônias de povoamento e de
encontravam quando no estado de natureza. Nesse exploração, que acabaram por propiciar diferentes in-
sentido, Rousseau passou a defender que o homem teresses em romper com as metrópoles.
deve retornar ao estado natural, não em termos de de- Somente tendo em vista esses fatos é que iremos
senvolvimento, mas em termos de voltar a ter os sen- entender os limites que o liberalismo político encontrou
timentos que o tornavam digno. Outro aspecto da obra é na América, principalmente nas áreas de exploração,
o que trata da passagem do estado de natureza para o pois a maior parte dos movimentos constituiu a ruptura
estado social, momento em que se funda a propriedade dos laços de subordinação em relação às metrópoles,
privada, assim descrito por Rousseau: "Tal foi ou deveu deixando de lado os aspectos teóricos do iluminismo
ser a origem da sociedade e das leis, que deram novos que propunham a formação de um Estado que consi-
entraves ao fraco e novas forças ao rico, destruíram derasse a participação política mais ampla.
irremediavelmente a liberdade natural, fixaram para
sempre a lei da propriedade e da desigualdade, fizeram 3. Pensadores econômicos
de uma usurpação sagaz um direito irrevogável e, para
Se, no campo político, o Estado Absolutista foi des-
proveito de alguns ambiciosos, sujeitaram doravante
truído pelas "abomináveis" ideias francesas, no campo
todo gênero humano ao trabalho, à servidão e à miséria".
econômico, a prática desse Estado, o mercantilismo,
também não foi poupada.
O liberalismo econômico destruiu os pressupostos
mercantilistas, pondo fim às crenças no metalismo, no
intervencionismo estatal, no monopólio e no protecio-
nismo de mercados.
Na França, surgiram as primeiras contestações ao
mercantilismo pelos teóricos Quesnay e Gournay, os
pais da escola fisiocrata. Para a escola econômica fran-
cesa, a natureza é a produtora fundamental de riquezas,
pois dela deriva a produção da subsistência humana e de
matérias-primas. Assim, os agricultores constituíam a
única classe produtora de riquezas. Ao produzir e vender
matérias-primas e alimentos, tinham em suas mãos o
produto que circulava e mantinha ativa toda a sociedade,
Jean-Jacques Rousseau
(1712-1778), filósofo gerando impostos ao Estado, empregos nas indústrias,
iluminista belga que salários e produtos manufaturados, que acabavam re-
apresentou propostas tornando às mãos dos agricultores por meio da compra.
populares e democráticas.
Aos fisiocratas coube a formulação do lema: “laissez
faire, laissez passer, le monde va de lui même” (deixai
Em 1762, publicou O Contrato Social, que inicia fazer, deixai passar, que o mundo anda por si mesmo).
afirmando: "o homem nasce livre e em toda parte encon-
tra-se a ferros". Para Rousseau, o poder político deve ser Na Inglaterra, Adam Smith (1723-1790) publicou,
legitimado por meio de um contrato feito entre homens em 1765, A Riqueza das Nações, defendendo que a eco-
em condição de igualdade; eles abririam mão do poder nomia funciona por si mesma, não sendo necessária a
individual em favorecimento da “vontade geral” (que é intervenção do poder político, que desvia os recursos
“uma força real, superior à ação de qualquer vontade nacionais para fins pessoais. Para ele, o mercado possui
particular”). Dessa vontade geral, resultariam um gover- regras próprias, que atuam como uma “mão invisível”,
no legitimado e leis que garantiriam a liberdade de todos mantendo estável sua lei básica de funcionamento: a o-
os indivíduos. ferta e a procura. Criticou, ainda, o metalismo, defen-

Usurpação: roubo. Vontade geral: vontade da maioria.


Irrevogável: que não pode ser mudado. Abomináveis: detestáveis.

96 HISTÓRIA
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dido pelos mercantilistas, o qual pregava que a riqueza grandes reformas,


nacional poderia ser traduzida na quantidade de ouro e que jamais realizou na
prata que o país possuísse. Para Smith, a riqueza de uma prática, apesar de ter
nação é gerada pelo trabalho livre em geral. Nesse concedido liberdade
aspecto, discorda dos fisiocratas, que consideram religiosa e preocupar-
apenas o trabalho agrícola como produtivo. se em desenvolver a
Ao não apontar a forma pela qual o trabalho gera educação das altas
riqueza, que é a exploração do trabalho assalariado, classes sociais. O es-
Adam Smith deixou uma lacuna em sua obra. Porém, sencial permaneceu
podemos dizer que, em relação aos fisiocratas, seu pen- como era, ou melhor,
samento é mais abrangente para o capitalismo. foi agravado, pois a
servidão não foi
4. O Despotismo Esclarecido abolida e os direitos
dos proprietários so-
Estimulados pelos filósofos da Ilustração, numero- bre os servos da terra
sos príncipes procuraram pôr em prática as novas ideias, foram aumentados,
procurando governar de acordo com a razão, segundo os inclusive a condena-
interesses do Estado, mas sem abandonar seu poder ção à morte. Melho- Catarina II, déspota esclarecida da Rússia.
absoluto. Essa aliança de princípios filosóficos e poder rou a administração e
monárquico deu origem a um regime típico do século estimulou a colonização da Rússia meridional, na Ucrânia
XVIII: o despotismo esclarecido. e no Volga. Talvez o resultado único de sua política tenha
Frederico II (1716-1786) foi rei da sido a polidez da alta sociedade russa, completamente
Prússia de 1740 até falecer. afrancesada nos usos e costumes.
Filósofo, discípulo de Voltaire José II (1741-1790), imperador da Áustria de 1765 a
e indiferente à religião, deu 1790, foi o tipo mais acabado do despotismo esclare-
liberdade de culto. Estimu- cido. Fez numerosas reformas ditadas pela razão: aboliu
lou o ensino básico, tendo a escravidão; deu igualdade a todos perante a lei;
ele mesmo baixado o prin- uniformizou a administração em todo o Império; e deu
cípio de instrução primária liberdade de culto e direito de emprego aos católicos.
obrigatória para todos. Houve reações às suas reformas na Hungria e um
Apesar de os jesuítas esta- levante dos belgas nos Países Baixos.
rem sendo expulsos de
Na Espanha, o ministro Aranda pôs em execução uma
quase todos os países da
série de reformas: o comércio foi liberado internamente;
Europa, pelas suas ligações
as indústrias de luxo e de tecidos de algodão foram estimu-
com o papado, atraiu-os por
ladas; e a administração foi dinamizada com a criação dos
causa de suas qualidades como
intendentes, que fortaleceram o poder do rei Carlos III.
Frederico II, da Prússia. educadores. A tortura foi
abolida e um novo código de Em Portugal, destaca-se Sebastião José de Carvalho
justiça foi organizado. Exigia obediência total às ordens, e Melo, o Marquês de Pombal, como representante
mas permitia liberdade de falar e de culto. Procurou desse estilo de governo, durante o reinado de D. José I.
estimular a economia adotando medidas protecionistas, No geral, a tentativa de realizar reformas com base
contrárias às ideias iluministas, preservando a ordem em ideias iluministas (reformismo ilustrado) fracassou.
social existente. A Prússia permaneceu um Estado feudal, As mudanças eram apenas aparentes, sem alterar a
com servos sujeitos à classe dominante dos pro- essência do governo, que continuava absolutista; a aris-
prietários, chamados junkers. tocracia resistiu a essa tentativa, por ser a maior prejudi-
Catarina II (1729-1796), imperatriz russa, reinou de cada; e muitos recuaram diante da possibilidade de go-
1762 a 1796. Atraiu os filósofos franceses à sua corte, vernos representativos ou de manifestações populares,
mantendo com eles correspondência regular. Anunciou bem como do péssimo exemplo da Revolução Francesa.
Lacuna: espaço que não foi preenchido.
Intendente: funcionário que fiscalizava as províncias; pessoa que dirige ou administra.

5. Cronologia
1734 – Publicação de Cartas Inglesas, de Voltaire.
1748 – Publicação de O Espírito das Leis, de Montesquieu.
1751-72 – Publicação da Enciclopédia, dirigida por Diderot e D’Alembert.
1762 – Publicação de O Contrato Social, de Rousseau.

HISTÓRIA 97
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Exercícios Resolvidos

 (UNESP – MODELO ENEM) – “Os filóso-


(MODELO ENEM) – Adam Smith, autor
Resolução
O mercantilismo foi a política econômica segui-
fos adulam os monarcas e os monarcas adulam de A Riqueza das Nações (1776), referindo-se à
da pelos Estados europeus ocidentais (e não
os filósofos.” produção e à aquisição de riquezas, observou:
apenas pelos “Estados absolutistas”, pois a
Assim se refere o historiador Jean Touchard à “Não é com o ouro ou a prata, mas com o traba-
Inglaterra e a Holanda não se incluíam nessa
forma de Estado europeu que floresceu na lho que toda a riqueza do mundo foi provida na
classificação) durante a Idade Moderna. Além
segunda metade do século XVIII. Os “reis filóso- origem, e seu valor, para aqueles que a pos-
de defender o intervencionismo, o protecio-
fos”, temendo revoluções sociais, introduziram suem e desejam trocá-la por novos produtos, é
nismo e a manutenção de uma balança comer-
precisamente igual à quantidade de trabalho
reformas inspiradas nos ideais iluministas. cial favorável, o mercantilismo valorizava o me-
que permite alguém adquirir ou dominar.”
talismo, isto é, a crença de que o ouro e a prata
Estas observações se aplicam: Os pontos de vista de Adam Smith opõem-se (metais amoedáveis) constituíam a riqueza de
a) às Monarquias Constitucionais. às concepções um país. Ora, no século XVIII, o metalismo já
b) ao Despotismo Esclarecido. a) mercantilistas, que foram aplicadas pelos demonstrara sua fragilidade, tendo em vista os
c) às Monarquias Parlamentares. diversos estados absolutistas europeus. casos da Espanha e de Portugal. Por essa
d) ao Regime Social-Democrático. b) monetaristas, que acompanharam historica- razão, os novos economistas do iluminismo
e) aos Principados ítalo-germânicos. mente as economias globalizadas. passaram a considerar, como base da riqueza
Resolução c) socialistas, que criticaram a submissão dos nacional, os recursos naturais de um país
O texto descreve os reis absolutistas (déspo- trabalhadores aos donos do capital. (fisiocratismo) ou, no caso de Adam Smith, o
tas) que se utilizavam de algumas ideias da d) industrialistas, que consideraram as má- trabalho (entendido como know-how, isto é,
Ilustração (esclarecidos) para modernizar e quinas o fator de criação de riquezas. conhecimento técnico).
reformar o Estado. e) liberais, que minimizaram a importância da Resposta: A
Resposta: B mão de obra na produção de bens.

Exercícios Propostos

 No século XVIII, o que propunham os filósofos iluministas  O que distinguia Rousseau dos demais filósofos do perío-
em relação às estruturas política e social dominantes na Europa do da Ilustração era
Ocidental? a) sua defesa dos chamados direitos naturais.
b) seus ataques à burguesia e, em especial, à propriedade.
RESOLUÇÃO: c) seu apoio ao despotismo esclarecido.
Política: o fim da concentração do poder nas mãos do rei. d) sua descrença na soberania popular.
Sociedade: a organização da sociedade com base no critério
econômico.
e) suas críticas ao absolutismo e à economia liberal.

RESOLUÇÃO:
Rousseau foi o único a falar em “vontade da maioria”, o que,
evidentemente, não se referia à burguesia.
Resposta: B
 “Embora discordassem muito entre si, os filósofos aplica-
vam o método de Descartes, baseado na razão e no espírito
crítico à política e à religião, exaltando a razão e o progresso em
oposição à tradição.”

Explique a importância de René Descartes para o pensamento


iluminista.

RESOLUÇÃO:
A racionalidade como base do processo de produção do saber.

98 HISTÓRIA
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 ”Para que não haja abuso, é preciso organizar Texto para as questões  e .
as coisas de maneira que o poder seja contido
pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o O texto abaixo, de John Locke (1632-1704), revela algumas
mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, características de uma determinada corrente de pensamento.
exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as
resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências “Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme
dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, dissemos, se é senhor absoluto da sua própria pessoa e
Executivo e Judiciário, atuando de forma independente para a posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele
efetivação da liberdade, sendo que esta não existe se uma mão dessa liberdade, por que abandonará o seu império e
mesma pessoa ou grupo exercer os referidos poderes sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer outro poder?
concomitantemente.” Ao que é óbvio responder que, embora no estado de natureza
(B. Montesquieu. Do espírito das leis. tenha tal direito, a utilização do mesmo é muito incerta e está
São Paulo: Abril Cultural, 1979. Adaptado.) constantemente exposto à invasão de terceiros porque, sendo
todos senhores tanto quanto ele, todo homem igual a ele e, na
A divisão e a independência entre os poderes são condições
maior parte, pouco observadores da equidade e da justiça, o
necessárias para que possa haver liberdade em um Estado.
proveito da propriedade que possui nesse estado é muito
Isso pode ocorrer apenas sob um modelo político em que haja
inseguro e muito arriscado. Estas circunstâncias obrigam-no a
a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas.
abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de
b) consagração do poder político pela autoridade religiosa.
temores e perigos constantes; e não é sem razão que procura
c) concentração do poder nas mãos de elites técnico-científicas.
de boa vontade juntar-se em sociedade com outros que estão
d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às
já unidos, ou pretendem unir-se, para a mútua conservação da
instituições do governo.
vida, da liberdade e dos bens a que chamo de propriedade.”
e) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos
de um governante eleito. (Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.)
RESOLUÇÃO:
Montesquieu, um dos principais filósofos da Ilustração, propôs a
tripartição de poderes como solução para o estabelecimento de
 Do ponto de vista político, podemos considerar
um regime político baseado na harmonia, no equilíbrio e na o texto como uma tentativa de justificar:
independência entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
Resposta: D a) a existência do governo como um poder oriundo da natureza.
b) a origem do governo como uma propriedade do rei.
”É verdade que nas democracias o povo c) o absolutismo monárquico como uma imposição da natu-
parece fazer o que quer; mas a liberdade reza humana.
política não consiste nisso. Deve-se ter sempre presente em d) a origem do governo como uma proteção à vida, aos bens e
mente o que é independência e o que é liberdade. A liberdade aos direitos.
é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão e) o poder dos governantes, colocando a liberdade individual
pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais acima da propriedade.
liberdade, porque os outros também teriam tal poder.”
(Montesquieu. Do Espírito das Leis. RESOLUÇÃO:
São Paulo: Nova Cultural, 1997. Adaptado.) O texto do Locke compara o estado de natureza e o estado em
sociedade, ressaltando as vantagens do segundo ao afirmar que
A característica de democracia ressaltada por Montesquieu diz ele assegurava os direitos à vida, à liberdade e à propriedade.
respeito Resposta: D
a) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as
decisões por si mesmo.
b) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à
conformidade às leis.
c) à possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse Analisando o texto, podemos concluir que se
caso, livre da submissão às leis. trata de um pensamento:
d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proibido, a) do liberalismo.
desde que ciente das consequências. b) do socialismo utópico.
e) ao direito do cidadão de exercer sua vontade de acordo com c) do absolutismo monárquico.
seus valores pessoais. d) do socialismo científico.
RESOLUÇÃO: e) do anarquismo.
No texto, Montesquieu fala sobre a verdade democrática (que se
diferencia da liberdade política) e estabelece uma diferenciação RESOLUÇÃO:
entre independência e liberdade, com a indagação: o que é John Locke, autor do texto citado, é considerado o “Pai do
liberdade? Na sua concepção, é fazer tudo o que a lei permite: o iluminismo” e, portanto, precursor das ideias liberais que
cidadão não pode fazer aquilo que é proibido pelas leis. Portanto, caracterizaram o pensamento burguês do século XVIII.
trata-se de uma liberdade condicionada aos parâmetros legais. Resposta: A
Resposta: B

HISTÓRIA 99
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Revolução Francesa – das Palavras-chave:


• Desigualdade social
4 Origens à Revolução Burguesa • Privilégios • Falências • Fome
• Declaração dos direitos

1. O processo da revolução A partir de 1770, crises sucessivas afligiram a


França. Faltavam produtos agrícolas e os preços exorbi-
No século XVIII, o regime feudal agonizava em toda tantes davam origens a revoltas. O absolutismo monár-
a Europa Ocidental. Em muitos países, porém, como na quico era incapaz de administrar o Estado, repousando
França, a aristocracia detinha grande parte das proprie- suas finanças em uma precária arrecadação de impos-
dades, e sobreviviam ainda muitos resquícios feudais. tos. O Terceiro Estado, explorado ao máximo, passou a
A partir de 1730, a população europeia cresceu ex- reivindicar a igualdade civil e a abolição dos privilégios
traordinariamente. Apesar da introdução de novas técni- concedidos ao clero e à nobreza.
cas de cultivo e de novos produtos, as propostas defen- Os filósofos aproveitaram esses problemas sociais
didas pelos fisiocratas não alteraram o panorama geral em suas críticas, apresentando soluções bem radicais,
da agricultura, e as inovações ficaram restritas às terras principalmente Rousseau, que pregava a soberania do
dos grandes proprietários. Dessa forma, as crises povo. Em nenhum lugar da Europa os filósofos foram tão
agrícolas eram constantes, provocando a ruína dos lidos como na França. Suas ideias eram difundidas pelas
pequenos proprietários e periódicas crises de fome. sociedades culturais formadas na época: salas de leitura,
O desenvolvimento do comércio e da indústria forta- lojas maçônicas e sociedades agrárias.
lecera a burguesia, que era detentora de grandes
riquezas e passou a aspirar ao poder político e a Vários outros problemas se associaram para tornar a
questionar os privilégios da nobreza. Já os camponeses crise ainda mais aguda. O acordo feito em 1786, abrindo
pretendiam libertar-se das obrigações feudais que o comércio francês aos ingleses, levou à falência várias
deviam aos senhores. indústrias, por causa da concorrência; a péssima colheita
A França tinha naquela época aproximadamente 25 do ano de 1788 diminuiu a produção de alimentos e
milhões de habitantes, dos quais mais de 20 milhões provocou uma alta violenta nos preços, o que gerou
moravam nos campos. Essa imensa massa populacional fome; e o inverno do ano de 1789 foi também muito ri-
formava uma sociedade de estamentos que sobreviveu goroso. De tudo isso, resultou uma massa de mendigos
da Idade Média, dividindo-se em três “ordens” ou que percorriam os campos, esfaimados. As revoltas su-
“Estados”. O Primeiro Estado era cederam-se nas cidades. A Revolução estava às portas!
formado pelo clero, com cerca de As dificuldades financeiras do Estado levaram o con-
120 mil pessoas; o Segundo Es- trolador – geral das finanças, Calonne, a convocar a
tado, pela nobreza, representado Assembleia dos Notáveis, em fevereiro de 1787. Essa
por aproximadamente 350 mil Assembleia era composta por notáveis, isto é, repre-
pessoas; e o Terceiro Estado repre- sentantes das duas primeiras ordens sociais: clero e
sentava 98% da população e era nobreza. Um dos privilégios dessas ordens era a isenção
formado pela burguesia, por pobres de impostos e Calonne pretendia convencê-los a abdicar
urbanos (sans-culottes), campo- desse direito, devido às dificuldades financeiras.
ses livres e servos. Cabe ressaltar Os notáveis não abriram mão dos seus direitos e
que, enquanto o clero e a nobreza ainda provocaram várias revoltas de protesto em provín-
formavam as camadas privilegiadas cias onde seu poder era mais forte, como Grenoble,
da sociedade, o Terceiro Estado Dijon, Toulouse e Rennes. Calonne foi substituído por
assumia os ônus dos impostos e Necker, ministro de reconhecida capacidade, que
das contribuições para o sustento convenceu Luís XVI a convocar a Assembleia dos Esta-
do Estado Absolutista.
Sans-culotte. dos-Gerais, composta por notáveis e pelo Terceiro
A vitória da Inglaterra na Guerra Estado, representado pela burguesia.
dos Sete Anos (1756-1763) foi prejudicial para a França,
A eleição foi realizada em abril de 1789, coincidindo
que perdeu parte de seu império colonial. Os gastos com
com as revoltas geradas pelas péssimas colheitas. Os
o envio de ajuda militar e financeira para a guerra de
eleitores escreveram suas queixas e esperanças em
independência dos Estados Unidos completaram a ruína
cadernos especiais, chamados cadernos de queixas.
financeira do Estado francês.

Sans-culottes: referência à população pobre de Paris que, em vez das Maçônico: pertencente à maçonaria; sociedade secreta, original-
calças tradicionais, usavam calças compridas e listradas. mente influenciada pelo iluminismo; seus membros defendiam os
Exorbitante: exagerado, grande. princípios da liberdade e igualdade; atualmente, tem finalidade predo-
Abolição: ação de acabar, pôr fim. minantemente filantrópica e fraternal.

100 HISTÓRIA
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2. A marcha da revolução
Os Estados-Gerais reuniram-se em Versalhes em
5 de maio de 1789. Foram eleitos 291 deputados para
o Primeiro Estado, 270 para o Segundo, e o Terceiro
Estado era representado por 578. Como os votos
eram por Estado social, o clero e a nobreza sempre
levavam vantagens, votando juntos contra o Terceiro
Estado, que passou a reivindicar votações individuais.
Os notáveis insistiam em voto por Estado, tendo o
apoio do rei.
O Terceiro Estado, revoltado com a situação,
reuniu-se separadamente na sala de jogo da pela, em
20 de junho, tendo jurado não se dispersar enquanto o
rei não aceitasse uma Constituição que limitasse seus
poderes.
A Assembleia dos Estados-Gerais, Parlamento francês que reunia represen-
Luís XVI cedeu, mandando o clero e a nobreza se tantes do clero, da nobreza e do Terceiro Estado.
juntarem ao Terceiro Estado, surgindo assim a Assem-
bleia Nacional Constituinte. O rei queria ganhar tempo, pois pretendia juntar tropas para dispersar a Assembleia. Os
produtos alimentícios começavam a faltar, surgindo revoltas nas cidades e nos campos. Em julho de 1789, o Terceiro
Estado era muito temido.
A reunião de tropas próximas a Paris e a demissão de Necker provocaram a insurreição. No dia 14 de julho, a
Bastilha, símbolo da tirania, onde eram mantidos os presos políticos, foi tomada. Não era uma simples revolta, como
acreditava o rei Luís XVI. Era a própria revolução!
Luís XVI visitou Paris, tentando acalmar a situação. Nas províncias, entretanto, o movimento se alastrava. Os
camponeses rebelavam-se contra os senhores. Tanto a nobreza e o clero quanto o Terceiro Estado temiam pelo que pu-
desse acontecer.
Assim, devido à pressão criada pela Revolta Camponesa (4 de agosto de 1789), aboliram-se os direitos feudais. No
dia 26 do mesmo mês, foi aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Os pontos básicos eram
liberdade, igualdade, inviolabilidade da propriedade e direito de resistir à opressão.
Como Luís XVI se recusou a sancionar estes últimos decretos, o povo de Paris, a comuna, marchou em direção
ao Palácio de Versalhes e trouxe o rei para a cidade, a fim de ratificar as decisões da Assembleia Nacional Constituinte.

Pela: bola utilizada pela nobreza para jogar em uma sala reservada para essa finalidade.
Sancionar: dar sanção a; confirmar, aprovar, ratificar.
Comuna: população que faz parte da menor subdivisão administrativa do território francês.

Tábua contendo os dezessete artigos da Luís XVI, monarca absolutista que foi guilhotinado Maria Antonieta, esposa de Luís XVI.
Declaração dos Direitos do Homem e do em 1793 durante a Revolução Francesa.
Cidadão.

HISTÓRIA 101
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Em 1790, com a Constituição Civil do Clero, os bens A Igreja foi reorganizada. Não tendo mais rendas de-
eclesiásticos foram confiscados, servindo de lastro para rivadas das propriedades, o sustento teria de ser ga-
a emissão dos assignats. rantido pelo Estado. O clero foi transformado em uma
A Constituição ficou pronta em setembro de 1791 e instituição civil, mantida por salários pagos pelo Estado.
modificou completamente a organização social e admi- Tanto o papa quanto a maior parte da Igreja da França
nistrativa da França. rejeitaram a medida.
A administração foi modificada. A França passou a
3. As primeiras mudanças ser dividida em departamentos, distritos, cantões e co-
munas. Cada uma dessas regiões seria administrada por
A França passava a ser uma monarquia constitucio- assembleias eletivas locais. Os juízes eram igualmente
nal. O Poder Executivo caberia ao rei, e o Legislativo, à eleitos no local.
Assembleia, que passaria a funcionar regularmente. O
poder seria dividido entre esses dois órgãos. A
monarquia continuaria hereditária e a Assembleia seria Lastro: depósito em ouro que serve de garantia ao papel-moeda.
composta por deputados, com mandatos de dois anos. Assignats: moeda emitida durante a Revolução Francesa.
Os eleitores precisavam ter uma riqueza mínima para Cantões: Divisão administrativa de um país, equivalente a Estados no
exercer o direito de voto, o que dava um caráter burguês Brasil.
a essa primeira fase revolucionária.
Luís XVI negou-se a aceitar es-
sa Constituição, sendo, porém,
obrigado a assinar o documento
em julho de 1791. No dia 20 de
junho, o rei tentou fugir da França
para dar início a uma contrarrevo-
lução de fora do país. Foi preso em
Varennes e reconduzido a Paris.
A obra da Constituição foi
valiosa. Completou a abolição do
feudalismo, suprimindo as antigas
ordens sociais, e estabeleceu a
igualdade civil. A escravidão so-
mente foi mantida nas colônias.
Os direitos eram iguais no que
dizia respeito ao exercício de
cargos públicos.
Os bens da Igreja foram nacio-
nalizados com vistas a pagar os
débitos públicos que se tinham
agravado durante a revolução. As
terras foram vendidas à burguesia
e aos proprietários camponeses.
Alguns trabalhadores rurais tam-
bém estavam em condições de A tomada da Bastilha, prisão francesa que simbolizava o absolutismo.
adquirir terras.

4.Cronologia 1791 – Constituição que estabeleceu a Monarquia


1787 – Revolta dos Notáveis. Constitucional.
1789 – Revolta do Terceiro Estado – Tentativa de fuga e prisão do rei Luís XVI.
– Tomada da Bastilha. 1792 – Invasão da França pela Áustria e Prússia.
1790 – Confisco dos bens do clero.

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102 HISTÓRIA
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Exercícios Resolvidos

 (MACKENZIE – MODELO ENEM) – A char- d) o povo, que formava o Primeiro Estado,


arcava com as pesadas tributações
aristocracia, os camponeses e os trabalha-
dores urbanos – de um lado, e o bloco de
ge da época, reproduzida abaixo, retrata o jogo
impostas pelo monarca absoluto. apoio à república operário-burguesa, de
de relações sociais da França pré-revolucionária.
e) a estrutura social francesa denunciava ser a outro.
divisão em Ordens correspondente à b) a burguesia conseguiu a adesão ideológica
realidade existente no país, na qual um da aristocracia, especialmente no que
indivíduo poderia ascender socialmente. respeita à “abertura das carreiras públicas
Resolução aos talentos individuais”, o que possibilitou
A charge demonstra as três ordens sociais e o a ascensão de seus representantes ao
Terceiro Estado sustentando os outros Esta- poder do Estado.
dos (clero e nobreza) em suas costas. O Ter- c) o comando da burguesia desde o início se
ceiro Estado buscava suprimir as desigual- revelou como irrefutável, uma vez que ela
dades e obter participação política na França.
colocou a serviço de seus objetivos revo-
Resposta: A
lucionários os mais variados setores da


(PUC-SP – MODELO ENEM) – “(...) a
população, – liderando assim uma restau-
ração do Antigo Regime.
revolução que não se radicaliza morre
d) as vanguardas operário-camponesas colo-
melancolicamente, como a burguesa. A rigor,
caram-se ao lado da burguesia, pois tinham
uma só revolução existe, a que se deflagrou
claro que suas reivindicações somente al-
em 1789: enquanto viveu, ela quis expandir-se,
cançariam um patamar de consequência nu-
e, assim, a República Francesa se considerou
ma sociedade em que as relações burgue-
e tentou universal - até o momento em que a
sas de produção já estivessem desen-
pretensão de libertar o mundo se converteu na
A esse respeito, é correto afirmar que: volvidas.
a) a França era estruturada em uma socie- de anexá-lo, em que os ideais republicanos se
e) os resultados políticos das sucessivas
dade estamental, dividida em três Estados, reduziram ao imperialismo bonapartista.”
convulsões sociais geradas nos quadros da
sendo o Terceiro Estado composto, desde (Renato Janine Ribeiro. A última razão dos
crise do estado monárquico francês foram,
a alta burguesia até as camadas populares, reis. São Paulo: Cia. das Letras, 1993.)
ao final, capitalizados pela burguesia, que
incidindo sobre estas todas as tributações.
O motivo pelo qual o conjunto de mudanças pôde assim dar início à viabilização de seus
b) apesar de a França ter uma sociedade divi-
políticas que resultou na implantação do regi- interesses políticos e econômicos.
dida em estamentos, não havia conflitos de
me republicano na França, no século XVIII, Resolução
classes, pois a Igreja, por meio da teoria do
pode, genericamente, ser classificado como Apesar de o texto não contribuir para a escolha
direito divino, garantia a imobilidade social.
uma revolução burguesa é o fato de que nesse da alternativa correta, a Francesa é consi-
c) o povo permanecia obediente ao seu
processo derada a maior dentre as revoluções burgue-
monarca, havendo o respaldo da Igreja, que
a) a estrutura social francesa viu-se reduzida a sas devido a sua radicalização e à abrangência
doutrinava seus fiéis a se submeterem à
vontade de Deus, que apoiava uma uma polarização entre o bloco de apoio ao de suas ideias.
estrutura social hierarquizada. antigo regime – no qual se encontravam a Resposta: E

Exercícios Propostos

 Como se dividia a sociedade francesa às vésperas da  O principal ato revolucionário que iniciaria todo o processo
Revolução de 1789? da Revolução Francesa de 1789 consistiu na
a) proclamação do Terceiro Estado em Assembleia Nacional,
RESOLUÇÃO: para fins de elaborar uma Constituição.
Em Estados-Gerais, sendo:
Primeiro Estado – clero;
b) abolição oficial da realeza e implantação da República pela
Segundo Estado – nobreza; Convenção Nacional.
Terceiro Estado – burguesia e povo (servos, camponeses e artesãos). c) estruturação de duas Câmaras – o Conselho dos Quinhen-
tos e o dos Anciãos – para eliminar o autoritarismo monár-
quico.
d) aprovação pelos Estados-Gerais da “Declaração dos Direi-
 Qual a relação entre a independência dos Estados Unidos tos do Homem e do Cidadão”.
e a Revolução Francesa? e) publicação das obras dos filósofos iluministas, especialmen-
te as de Voltaire.
RESOLUÇÃO:
O apoio da França à independência dos EUA agravou a situação
do seu erário, levando o rei Luís XVI a convocar os Estados-Gerais. RESOLUÇÃO:
O Terceiro Estado se revolta com a manipulação do sistema de
votação, durante a Assembleia dos Estados-Gerais.
Resposta: A

HISTÓRIA 103
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(FATEC – MODELO ENEM) – A "Declaração dos Direitos


RESOLUÇÃO:
Robespierre foi o dirigente máximo da Revolução Francesa
do Homem e do Cidadão", da Revolução Francesa, traz o durante sua fase popular, quando o poder foi assumido pelos
seguinte princípio: "Os homens nascem e se conservam livres representantes da pequena e média burguesias e dos sans-
e iguais em direitos. As distinções sociais só podem ter por coulotes trabalhadores urbanos. Esse grupo político, inicialmente
fundamento o proveito comum". chamado “montanheses”, com o tempo passou a ser conhecido
pela designação de “jacobinos”, em referência ao grupo político
de Robespierre. Nessa fase, que se radicalizaria como o “Terror”,
Tal princípio é decorrente foram aprovadas medidas de interesse popular, como o ensino
a) da incorporação das reivindicações da classe média por primário obrigatório e a fixação de tetos para o preço dos
maior participação na vida política. alimentos.
b) do reconhecimento da necessidade de assegurar os direitos Resposta: E
dos vencidos, sem distinção de classes.
c) da incorporação dos camponeses à comunidade dos
cidadãos com direitos sociais e políticos reconhecidos na  ”O que chamam de corte principesca era es-
lei. sencialmente, o palácio do princípe. Os
d) da crença popular na perspectiva liberal burguesa de que a músicos eram tão indispensáveis nesses grandes palácios
Revolução fora feita por todos e em benefício de todos. quanto os pasteleiros, os cozinheiros e os criados. Eles eram o
e) da determinação burguesa de levar avante um processo que se chamava, um tanto pejorativamente, de criados de
revolucionário de distribuição da propriedade privada. libré. A maior parte dos músicos ficava satisfeita quando tinha
garantida a subsistência, como acontecia com as outras
RESOLUÇÃO:
pessoas de classe média na corte; entre os que não se
No início da Revolução, o Terceiro Estado (composto de burgue-
ses e populares) estava unido na luta contra o Antigo Regime. En- satisfaziam, estava o pai de Mozart. Mas ele também se
tretanto, logo depois a burguesia buscou isolar-se dos populares curvou às circunstâncias a que não podia escapar.”
com a finalidade de garantir os seus próprios interesses. (Norbert Elias. Mozart: sociologia de um gênio.
Resposta: D Ed. Jorge Zahar, 1995, p. 18. Adaptado.)

Considerando-se que a sociedade do Antigo Regime dividia-se


tradicionalmente em estamentos: nobreza, clero e 3.o Estado,
é correto afirmar que o autor do texto, ao fazer referência a
”Em nosso país queremos substituir o “classe média”, descreve a sociedade utilizando a noção
egoísmo pela moral, a honra pela probidade, os posterior de classe social a fim de
usos pelos princípios, as conveniências pelos deveres, a tirania a) aproximar da nobreza cortesã a condição de classe dos
da moda pelo império da razão, o desprezo à desgraça pelo músicos, que pertenciam ao 3.o Estado.
desprezo ao vício, a insolência pelo orgulho, a vaidade pela b) destacar a consciência de classe que possuíam os músicos,
grandeza de alma, o amor ao dinheiro pelo amor à glória, a boa ao contrário dos demais trabalhadores manuais.
companhia pelas boas pessoas, a intriga pelo mérito, o c) indicar que os músicos se encontravam na mesma situação
espirituoso pelo gênio, o brilho pela verdade, o tédio da volúpia que os demais membros do 3.o Estado.
pelo encanto da felicidade, a mesquinharia dos grandes pela d) distinguir, dentro do 3.o Estado, as condições em que viviam
grandeza do homem.” os “criados de libré” e os camponeses.
e) comprovar a existência, no interior da corte, de uma luta de
L. Hunt. Revolução Francesa e vida privada. In: M. Perrot (Org.) classes entre os trabalhadores manuais.
História da Vida Privada: da Revolução Francesa à Primeira Guerra.
vol. 4. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. Adaptado.)
RESOLUÇÃO:
Embora conceituados pelo autor como “classe média”, os mú-
O discurso de Robespierre, de 5 de fevereiro de 1794, do qual sicos e outros servidores na corte principesca (no caso, a corte do
o trecho transcrito é parte, relaciona-se a qual dos grupos príncipe-arcebispo de Salzburgo), por não pertencerem ao Pri-
político-sociais envolvidos na Revolução Francesa? meiro Estado (clero) nem ao Segundo (nobreza), forçosamente se
a) À alta burguesia, que desejava participar do poder legislativo enquadravam no Terceiro Estado, juntamente com os demais seg-
mentos sociais do Antigo Regime.
francês como força política dominante. Resposta: C
b) Ao clero francês, que desejava justiça social e era ligado à
alta burguesia.
c) A militares oriundos da pequena e média burguesia, que
derrotaram as potências rivais e queriam reorganizar a
França internamente.
d) À nobreza esclarecida, que, em função do seu contato, com
os intelectuais iluministas, desejava extinguir o absolutismo
francês.
e) Aos representantes da pequena e média burguesia e das
camadas populares, que desejavam justiça social e direitos
políticos.

104 HISTÓRIA
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Fase Popular e Palavras-chave:


• Política dos comitês
• Conquistas populares • Terror
5 Contrarrevolução Burguesa • Caos administrativo
• Golpismo

1. A Convenção Nacional ção em 26 de julho de 1794. Em março e abril do mes-


mo ano, tinha executado os líderes das camadas in-
Os franceses avançaram em direção a Bélgica, re- feriores que lhe davam apoio, por se negarem a par-
gião do Reno, Savoia e Nice. ticipar do Terror. Sem a Comuna de Paris para sustentá-lo,
Internamente, a Convenção estava dividida entre Gi- ficou à mercê dos Girondinos, que começaram a retomar
rondinos e Montanheses. Os Girondinos, partido repre- o poder.
sentante da alta burguesia, pretendiam uma República Teve início a reação termidoriana. Foram abolidas as
burguesa na França e a difusão da Revolução pela Eu- medidas montanhesas: o Edito do Máximo, as leis
ropa. Os Montanheses, pequena burguesia apoiada pela sociais e os esforços para a igualdade econômica.
Comuna de Paris, liderados por Robespierre, queriam Robespierre e Saint-Just foram presos e levados à
mais participação política e poder econômico para as bai- guilhotina. Era o fim da fase popular da Revolução.
xas camadas da população e restrição do movimento re-
volucionário à França, para sua consolidação. Duração pelo
O rei Luís XVI foi julgado pela Convenção em 21 de Novo Mês Calendário
janeiro de 1793 e, a despeito do esforço dos Girondinos, Tradicional
foi condenado à morte como traidor.
1.° Vendemiário (colheita de uvas) 21/09 a 20/10
A guerra externa entrava em sua terceira fase, quan-
do ocorreram várias derrotas. A Inglaterra unira-se à 2.° Brumário (névoa ou brumas) 21/10 a 20/11
Áustria e à Prússia. A França perdeu a Bélgica e o Reno.
Paris estava ameaçada. 3.° Frimário (geadas) 21/11 a 20/12
Isso acentuou o poder dos extremistas, os Monta-
nheses. Os Jacobinos, núcleo mais radical da Montanha, 4.° Nivoso (neve) 21/12 a 20/01
eram apoiados pela Comuna de Paris, composta por tra-
balhadores, artífices, pequenos proprietários e trabalha- 5.° Pluvioso (chuvas) 21/01 a 20/02
dores rurais.
6.° Ventoso (ventos) 21/02 a 20/03
2. O Governo dos Montanheses
7.° Germinal (germinação das plantas) 21/03 a 20/04
O governo da Montanha impôs o Edito do Máximo,
por meio do tabelamento dos preços dos produtos. 8.° Floreal (flores) 21/04 a 20/05
Taxou os ricos, obrigando-os a pagar mais impostos,
protegendo os pobres e desamparados. Tornou a edu-
9.° Plairial (pradarias, campo) 21/05 a 20/06
cação gratuita e obrigatória. Confiscou as propriedades
dos emigrados e colocou-as à venda para cobrir des-
pesas do Estado. Chegou a propor o confisco de proprie- 10.° Messidor (colheitas) 21/06 a 20/07
dades de indivíduos suspeitos para serem distribuídas
11.° Termidor (calor) 21/07 a 20/08
aos pobres.
Ocorreram revoltas contra essas medidas. Surgiu
12.° Frutidor (frutas) 21/08 a 20/09
uma guerra na Vendeia e levantes separatistas na Nor-
mandia e na Provença. O governo da Montanha tomou Calendário que passou a vigorar na França com o governo da
medidas drásticas, implantando o Terror. Mais de 30 mil Convenção que proclamou a República em 22 de setembro de 1792.
suspeitos morreram nas prisões, esperando julgamento.
Ao mesmo tempo, o exército revolucionário ascen-
dia a 1 milhão de homens. A guerra entrava em sua quar- 3. A República Burguesa
ta fase, após 1794. A vitória sobre os austríacos, em
junho, permitiu a ocupação da Bélgica.
e a Expansão da Revolução
As vitórias deram mais segurança, pois acabaram Com os Girondinos no poder, mais conservadores,
com o extremismo, abalando o governo da Montanha. uma nova Constituição foi organizada. O Poder Executivo
Robespierre, líder da Montanha, foi deposto da Conven- passou a ser exercido por um Diretório formado por cinco

HISTÓRIA 105
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Georges Jacques Danton (lado esquerdo), líder da fase radical da Revolução, que disputou com Maximilien François Marie Isidore de
Robespierre (no centro) o destino do governo montanhês. Tudo isso depois do assassinato de Marat por uma girondina.

membros eleitos por cinco anos, sendo substituído um enfraquecê-la tomando posse do Egito, cortando assim
dos diretores a cada ano. O Poder Legislativo era o comércio inglês com o Oriente. A vitória do Almirante
exercido por duas câmaras, eleitas por três anos e com Nelson, em Abukir, em 16 de agosto de 1798, sobre a
renovação de 1/3 de seus componentes a cada ano. A esquadra francesa, pôs os planos a perder.
organização administrativa estabelecida pela Constituição Nova coligação foi retomada contra a França:
de 1791 foi mantida, sendo abolidos apenas os distritos. Áustria, Rússia, Turquia e Inglaterra constituíram pode-
Muito provavelmente, esse regime republicano diri- roso adversário. Napoleão voltou à França, em 1798,
gido pela burguesia se consolidaria caso não continuas- para explorar politicamente seu prestígio militar. A inca-
sem as guerras externas. Estas deturparam as relações pacidade do Diretório em conter as revoltas, tanto das
entre o Diretório e o Conselho Legislativo. Os golpes baixas camadas quanto da aristocracia, criou condições
políticos sucederam-se. para que o jovem corso assumisse o poder com o apoio
O Diretório discutia nova Constituição, enquanto do exército e da burguesia.
explodia o terror branco no sul e no oeste do país: era a Em 9 de novembro de 1799, Napoleão desfechou o
contrarrevolução dos realistas (partidários da realeza). Golpe de 18 Brumário, destituindo o Diretório.
Estes tentaram tomar o poder em Paris, mas foram ba-
tidos por um jovem oficial, Napoleão, em 5 de outubro
de 1795. Em 4 de setembro de 1797, os realistas foram 4. Cronologia
retirados do Diretório e do Conselho.
1793 – Início da Convenção, dominada pelos
O exército francês ocupou o Reno e a Holanda,
impondo a paz aos seus adversários: Prússia e Espanha. Jacobinos.
Depois penetrou na Itália, em 1796, e forçou a paz de – Oficialização da República, morte do rei Luís
Campo Fórmio com a Áustria em 1797. XVI e segunda Constituição.
As ideias revolucionárias continuaram a ser dis- – Terror contra os inimigos da revolução.
seminadas. Os diretores haviam herdado a ideia girondi-
1794 – Deposição de Robespierre.
na de espalhar a revolução pela Europa. Por esse motivo,
as tropas francesas dominaram os Estados da Igreja e a 1795 – Regime do Diretório – ter-ceira Constituição.
Suíça, fundando repúblicas. – Conspiração dos Iguais.
Dentre os adversários, o mais inatingível era a Ingla- 1797 – Paz de Campo Fórmio.
terra. A sua insularidade, aliada à força naval que pos- 1799 – Golpe de 18 Brumário, de Napoleão.
suía, tornavam-na quase inexpugnável. Napoleão tentou

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Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST2M121

106 HISTÓRIA
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? Saiba mais
Mas não foi ele o inventor des-
se aparelho de cortar cabeças,
“A guilhotina é um instrumento utilizado para aplicar
usado muitos séculos antes.
a pena de morte por decapitação.
Guillotin, na verdade, apenas su-
O aparelho é constituído de uma grande armação reta
geriu sua volta na Revolução Fran-
(aproximadamente 4 m de altura) à qual é suspensa uma
cesa como eficiente método de
lâmina triangular pesada (cerca de 40 kg). A lâmina é
execução humana. O aparelho
guiada à parte superior da armação por uma corda e fica
serviu para decapitar 2.794 ‘ini-
mantida no alto até que a cabeça do condenado seja
migos da Revolução’ em Paris.
colocada sobre uma barra que a impede de se mover. Em
seguida, a corda é liberada e a lâmina cai de uma distância
de 2,3 metros, seccionando o pescoço da vítima. (As Joseph-Ignace Guillotin.
medidas e peso indicados são os das normas francesas). O médico Joseph-Ignace Guillotin não morreu guilho-
O aparelho recebeu esse nome em homenagem ao tinado, ao contrário do que muitos acreditam.
médico e deputado Joseph-Ignace Guillotin (1738-1814), No primeiro projeto de guilhotina havia uma lâmina
que considerava esse método de execução mais humano horizontal. Foi o doutor Louis, célebre cirurgião da época,
do que o enforcamento ou a decapitação com um ma- que preconizou, em um relatório entregue em 7 de março
chado. Na realidade, a agonia do enforcado podia ser de 1792, a construção de um aparelho com lâmina
longa, e certas decapitações a machado não cumpriam oblíqua, única maneira de matar todos os condenados
seu papel ao primeiro golpe, o que aumentava conside- com precisão e rapidez, o que era impossível com uma
ravelmente o sofrimento da vítima. Guillotin estimava que lâmina horizontal.”
a instantaneidade da punição era a condição necessária e (Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Guilhotina e
absoluta de uma morte decente. Joseph-Ignace_Guillotin>. Adaptado.)

Exercícios Resolvidos

 (UNESP – MODELO ENEM) – “...a Revo- dos) com um desdobramento muito mais
amplo, que se estendeu ao longo do século XIX
vitória definitiva sobre os entraves que re-
lução de 1789 não fez nada pelo operário: o presentava ao desenvolvimento socioeconô-
(liberalismo econômico). Aliás, convém lembrar mico da burguesia, a estrutura de proprieda-
camponês ganhou a terra, o operário está mais
que o Estado Francês, durante a Revolução e a
infeliz que outrora e os monarquistas têm de e de direitos feudais do Ancien Régime.
Era Napoleônica, tendeu muito mais para o
razão quando afirmam que as antigas Corpo- II. A condução do processo revolucionário
intervencionismo do que para o liberalismo.
rações [de Ofício] protegiam melhor o trabalha- pelos membros da alta burguesia, após o
Resposta: A
dor do que o regime atual.” “golpe do termidor” (1794), assegurou-lhes
(Jornal Le Matin, 7 mar. 1885.)

(MACKENZIE – MODELO ENEM) – “(...) a efetivação do projeto político de sua
pode não ter sido um fenômeno isolado, mas classe em oposição ao projeto radical dos
Com tal declaração, o escritor francês Émile
Zola fazia um balanço dos efeitos sociais da foi muito mais fundamental do que os outros representantes da pequena burguesia e
Revolução de 1789, referindo-se fenômenos contemporâneos, e suas conse- das camadas populares.
a) aos confiscos dos bens dos nobres france- quências foram mais profundas. Em primeiro III. A influência internacional que a revolução
ses emigrados e à política liberal implemen- lugar, ela se deu no mais populoso e poderoso exerceu se deveu a ter sido ela um modelo
tada pelo Estado. Estado da Europa (não considerando a Rússia). histórico bem-sucedido de coletivização da
b) à baixa participação dos trabalhadores Em 1789, cerca de um em cada cinco euro- propriedade das terras, de estatização dos
urbanos nas lutas sociais na França do final peus era francês. Em segundo lugar, ela foi, meios de produção e de estabilização
do século XIX. diferentemente de todas as revoluções que a política por meio do regime de partido único.
c) ao apoio dos operários ao projeto de Res- precederam e a seguiram, uma revolução
tauração do absolutismo francês, como ga- social de massa, e incomensuravelmente mais Assinale
rantia de melhoria social. radical do que qualquer levante comparável. a) se apenas I é correta.
d) à liderança política dos camponeses fran- (...) Em terceiro lugar, entre todas as b) se apenas II é correta.
ceses nas revoluções socialistas e comu- revoluções, (...) foi a única ecumênica. Seus c) se apenas a III é correta.
nistas do século XIX. exércitos partiram para revolucionar o mundo; d) se apenas I e II são corretas.
e) à política de bem-estar social instituída pelo suas ideias de fato o revolucionaram.” e) se I, II e III são corretas.
Partido Social Democrata francês ao longo Resolução
(Eric Hobsbawm. A era das revoluções.)
do século XIX. A proposição III é incorreta, porque o projeto bur-
Resolução A respeito do momento histórico a que se re- guês concretizado na Revolução Francesa pres-
Alternativa escolhida por eliminação, já que fere o trecho dado, afirma-se que: supunha a manutenção da propriedade privada.
combina uma medida conjuntural da Revolu- I. Inspirada nos princípios de liberdade, igual- Resposta: D
ção Francesa (confisco dos bens dos emigra- dade e fraternidade, a revolução significou a

HISTÓRIA 107
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Exercícios Propostos

 O que foi o Edito do Máximo?  “Na Convenção, dominada pelos thermidorianos, suprimi-
ram-se a Comuna de Paris, o clube Jacobino, a legislação social
RESOLUÇÃO: avançada. Restabeleceu-se a liberdade econômica. Esvaziou-se
Foi uma lei publicada pelo governo popular, a qual tabelava e o caráter de exceção dos órgãos do Governo Revolucionário e
congelava os salários e os preços dos alimentos na França.
elaborou-se uma nova Constituição, a do Ano III (1795 a 1799).”

(J. Monnier e Jardin. A historie de 1798 a 1848.


Fernand Nathan.)

Com base no trecho acima, como o governo do diretório deve


ser encarado?

RESOLUÇÃO:
Como um governo conservador burguês e contrarrevolucionário.

 O que era o Comitê de Salvação Pública?

RESOLUÇÃO:
Era o comitê eleito pela convenção e executava a política interna,
segundo a pressão exercida pelo dono da comuna de Paris.

Assinale a alternativa correta, relativa à Revolução Fran-


cesa.
a) Um dos estopins da Revolução Francesa foi a convocação
da Assembleia dos Estados-Gerais por Luís XVI, em 1789,
com o objetivo de forçar a nobreza e o clero a pagar impostos.
b) Significou a tomada do poder político pela burguesia e a
superação das instituições feudais do Antigo Regime,
criando condições para o desenvolvimento do capitalismo
 (UNESP-SP) – No processo da Revolução Francesa, os na França.
jacobinos representaram c) Significou a tomada da Bastilha pelo povo de Paris, em 14
a) o partido de centro, conhecido como Pântano, devido ao de julho de 1789, manobrado indiretamente pelo clero, que
oportunismo e à corrupção que caracterizavam a atuação de não via com bons olhos o poder da nobreza.
seus membros. d) Representou a abolição dos direitos feudais, porém sem
b) a média e a pequena burguesia que procuravam o apoio dos que os direitos da nobreza e do clero fossem alterados.
sans-culottes e sentavam-se à esquerda na Assembleia. e) Apesar de constituir um movimento revolucionário, a Revo-
c) o partido independente dirigido por Lafayette. lução Francesa pouco afetou os demais países europeus,
d) a alta burguesia, e sentavam-se à direita na Assembleia. controlados por forças absolutistas.
e) aqueles que durante o período da Assembleia Legislativa
RESOLUÇÃO:
defendiam a monarquia constitucional.
A alternativa resume o significado da Revolução Francesa.
Resposta: B
RESOLUÇÃO:
Os jacobinos tinham ideais afinados com a população.
Resposta: B

108 HISTÓRIA
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 (FUVEST – MODELO ENEM) – “Mesmo se o alvo per- Algumas transformações que antecederam a
seguido não tivesse sido alcançado, mesmo se a constituição Revolução Francesa podem ser exemplificadas
por fim fracassasse, ou se voltasse progressivamente ao pela mudança de significado da palavra “restaurante”. Desde o
Antigo Regime, ... tal acontecimento é por demais imenso, por final da Idade Média, a palavra restaurant designava caldos
demais identificado aos interesses da humanidade, tem ricos, com carne de aves e de boi, legumes, raízes e ervas. Em
demasiada influência sobre todas as partes do mundo para que 1765 surgiu, em Paris, um local onde se vendiam esses caldos,
os povos, em outras circunstâncias, dele não se lembrem e usados para restaurar as forças dos trabalhadores. Nos anos
não sejam levados a recomeçar a experiência.” que precederam a Revolução, em 1789, multiplicaram-se
(Kant. O conflito das faculdades, 1798.)
diversos restaurateurs, que serviam pratos requintados,
descritos em páginas emolduradas e servidos não mais em
O texto trata
mesas coletivas e malcuidadas, mas individuais e com toalhas
a) do iluminismo e do avanço irreversível do conhecimento
limpas. Com a Revolução, cozinheiros da corte e da nobreza
filosófico; revelando-se falso nos seus prognósticos sobre o
perderam seus patrões, refugiados no exterior ou
futuro político-constitucional.
guilhotinados, e abriram seus restaurantes por conta própria.
b) do retorno do Antigo Regime, na Europa, depois do fracas-
Apenas em 1835, o Dicionário da Academia Francesa oficializou
so da Revolução Francesa, revelando-se incapaz de
a utilização da palavra restaurante com o sentido atual.
vislumbrar o futuro da história.
c) da Revolução Francesa, dos seus desdobramentos políticos
A mudança do significado da palavra restaurante ilustra
e constitucionais, revelando a clarividência do autor sobre
a) a ascensão das classes populares aos mesmos padrões de
sua importância e seu futuro.
vida da burguesia e da nobreza.
d) da Revolução Inglesa, do impacto que causou no mundo,
b) a apropriação e a transformação, pela burguesia, de hábitos
com seus princípios liberais e constitucionais, revelando-se
populares e dos valores da nobreza.
profético sobre seu futuro.
c) a incorporação e a transformação, pela nobreza, dos ideais
e) do despotismo ilustrado, dos seus princípios filosóficos e
e da visão de mundo da burguesia.
constitucionais e de seu impacto na política europeia, reve-
d) a consolidação das práticas coletivas e dos ideais
lando caráter premonitório.
revolucionários, cujas origens remontam à Idade Média.
RESOLUÇÃO: e) a institucionalização, pela nobreza, de práticas coletivas e de
Os ideais da Revolução Francesa espalharam-se pela Europa e por uma visão de mundo igualitária.
todo o mundo, contaminando-o com seus princípios de Liberdade,
Igualdade e Fraternidade. Por esse motivo, a Revolução Francesa é RESOLUÇÃO:
considerada o marco inicial da Idade Contemporânea. Interessante questão que aborda um aspecto sociocultural
Resposta: C significativo da Revolução Francesa: a ascensão da burguesia,
ocupando o espaço de camada dominante até então preenchido
pela nobreza. Visando legitimar sua nova posição, os burgueses
procuraram incorporar hábitos e atitudes de refinamento até
então privativos dos aristocratas; mas, simultaneamente, ado-
taram costumes populares que se lhe afiguravam convenientes,
como a preparação de refeições nutritivas, com uma apresentação
mais atraente.
Resposta: B

HISTÓRIA 109
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Palavras-chave:

6 Era Napoleônica • Reorganização • Código Civil


• Expansionismo • Bloqueio
Continental

1. Introdução fiança no Estado deu-se com a fundação do Banco da


França, que recebeu o direito de emitir papel-moeda. Em
Ao assumir o poder, em 1799, Napoleão Bonaparte 1806, porém, surgiu sua mais importante e conhecida
instituiu o regime de Consulado. Apesar de dividir, teori- realização, o Código Civil, que atendia aos anseios
camente, o Poder Executivo com outros dois cônsules, burgueses, reconhecendo o direito de propriedade e a
que tinham apenas caráter consultivo, Napoleão cen- liberdade individual e econômica.
tralizou os poderes nas próprias mãos. Em seu governo,
“O exame do Código Napoleônico deixa isso bem
exerceu uma verdadeira ditadura militar, enfraquecendo
o poder Legislativo. claro. Destinava-se evidentemente a proteger a proprie-
dade – não a feudal, mas a burguesa. O Código tem
cerca de 2.000 artigos, dos quais apenas 7 tratam do
trabalho e cerca de 800 da propriedade privada. Os sindi-
catos e as greves são proibidos, mas as associações de
empregados permitidas. Numa disputa judicial sobre
salários, o Código determina que o depoimento do pa-
trão, e não o do empregado, é o que deve ser levado em
conta. O Código foi feito pela burguesia e para a bur-
guesia: foi feito pelos donos da propriedade para a
proteção da propriedade.”
(Leo Huberman. História da Riqueza do Homem.
Rio de Janeiro: Zahar, 1974. p. 162.)

3. O Império Napoleônico
Os ideais revolucionários que emergiram na França
atingiam agora a Europa. Apesar de ser um país liberal, a
Inglaterra estimulava a formação de coligações contra a
França, esperando conquistar-lhes os mercados e as
colônias. Em 1800, a vitória dos franceses em Marengo,
Jacques-Louis David (1748-1825), A coroação do imperador Napoleão sobre a Áustria, transformou a Itália – com exceção de
Bonaparte, na Catedral de Notre-Dame, quando Napoleão tomou a Veneza – em domínio napoleônico, sendo assinada a paz
coroa do papa Pio VII e colocou-a sobre a própria cabeça. com a Inglaterra em Amiens.
Em 1802, sua grande popularidade permitiu subme- Em 1805, Inglaterra, Rússia e Áustria formaram uma
ter a reforma constitucional a um plebiscito, cuja carac- nova coligação. Apesar da vitória napoleônica em Ulm e
terística principal era o primeiro cônsul exercer um Austerlitz, a esquadra francesa foi derrotada em
mandato vitalício, podendo designar o seu sucessor. Daí Trafalgar, pelo almirante inglês Nelson, frustrando
em diante, uma nova Constituição legalizou a instituição Napoleão e o dissuadindo de invadir a Inglaterra.
do Império, sendo Napoleão Bonaparte coroado impera- Após derrotar a nova coligação, em 1806 Napoleão
dor em dezembro de 1804. dissolveu o Sacro Império Romano-Germânico, fundan-
do a Confederação do Reno. No mesmo ano, após der-
2. As realizações napoleônicas rotar a Prússia, decretou o Bloqueio Continental contra a
Inglaterra. Tratava-se de um projeto que tinha por
Apesar de ter instaurado na França um governo con-
tra o qual lutara a Revolução, para a grande maioria do finalidade asfixiar o poderio econômico inglês na Europa,
povo Napoleão representou os ideais nacionais e particu- proibindo o comércio e a escala de navios britânicos nos
lares de tranquilidade e prosperidade, conservando algu- portos aliados.
mas reformas da Revolução. Além disso, em razão dos Foi para manter o bloqueio que se fez a invasão de
estímulos concedidos ao comércio e à indústria, recebeu Portugal e Espanha. A família real portuguesa, fugindo à
também o apoio da burguesia. invasão francesa, refugiou-se no Brasil. Em seguida,
A obra napoleônica foi bastante expressiva e a con- José Bonaparte, irmão de Napoleão, foi colocado como
rei do trono espanhol, provocando forte reação popular
Plebiscito: resolução submetida à apreciação do povo. na Espanha.

110 HISTÓRIA
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Aproveitando-se da luta de Napoleão na Espanha, a


Áustria formou, em 1809, uma coligação, porém foi 4. Cronologia
derrotada em Wagran, perdeu vastos territórios e
transformou-se em potência secundária. 1799 – Regime do Consulado.
Nesse momento, o Império Napoleônico estava em 1801 – Concordata com a Igreja.
seu apogeu, com mais de 70 milhões de habitantes, dos 1802 – Regime do Consulado Vitalício.
quais somente 27 milhões eram franceses. O exército
1804 – Proclamação do Império.
francês parecia imbatível.
1806 – Bloqueio Continental.
Em 1812, porém, a Rússia rompeu o bloqueio ao co-
1812 – Campanha da Rússia.
mércio inglês e foi invadida por um poderoso exército.
Apesar da vitória de Napoleão na Batalha de Moscou, o 1813 – Derrota de Napoleão em Leipzig.
exército foi obrigado a fazer uma retirada desastrosa, na 1814 – Abdicação de Napoleão e retiro em Elba.
qual morreram milhares de homens. – Reunião do Congresso de Viena.
Inglaterra, Áustria, Prússia, Rússia e Suécia, entusias- 1815 – Governo dos Cem Dias, derrota em Waterloo
madas com esse fracasso de Napoleão, formaram uma e prisão em Santa Helena.
coligação, derrotando os franceses na Batalha de Leipzig, – Derrota definitiva de Napoleão Bonaparte.
em 1813. Napoleão foi então aprisionado na ilha de Elba, – Formação da Santa Aliança.
de onde fugiu um ano depois. Ao retornar à França,
retomou o poder, dando início ao Governo dos Cem
Dias. No Portal Objetivo
A partir daí, enfrentou a última coligação contra a
França, sendo derrotado pelos ingleses em Waterloo, na Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL
Bélgica. O imperador foi novamente aprisionado e exila- OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite
do na ilha de Santa Helena, onde morreu em 1821. HIST2M122

Exercícios Resolvidos

 (UFRRJ – MODELO ENEM)


(UNESP – MODELO ENEM) – Durante o império de Napoleão
Bonaparte (1804-1814), foi instituído um Catecismo, que orientava a
relação dos indivíduos com o Estado.
“O cristão deve aos príncipes que o governam, e nós devemos parti-
cularmente a Napoleão 1.o, nosso imperador, amor, respeito,
obediência, fidelidade, serviço militar, os impostos exigidos para a
conservação e defesa do império e de seu trono; nós lhe devemos
ainda orações fervorosas pela sua salvação, e pela prosperidade
espiritual e material do Estado.”
(Catecismo Imperial de 1806.)

O conteúdo do Catecismo contradiz o princípio político da cidadania


estabelecido pela Revolução de 1789, porque
As ordens de Napoleão: soldados franceses queimando impor-
a) o cidadão participa diretamente das decisões, sem representantes
tações britânicas em 1810.
políticos e comandantes militares.
(W. O. Henderson. A revolução industrial. b) a cobrança de impostos pelo Estado impede que o cidadão tenha
São Paulo: Verbo/EDUSP, 1979. p. 27.) consciência de seus direitos.
c) a cidadania e a democracia são incompatíveis com as formas
A explicação para o quadro anterior está políticas da monarquia e do império.
a) na repulsa da população francesa aos produtos ingleses vendidos na d) o cidadão foi forçado, sob o bonapartismo, a romper com o
Europa Continental, em geral muito caros e de péssima qualidade.
cristianismo e o papado.
b) no protesto de operários franceses contra o desemprego causado
e) o cidadão reconhece os poderes estabelecidos por ele e
na Inglaterra pela introdução de máquinas no processo produtivo
obedientes a leis.
(início da chamada “Revolução Industrial”).
Resolução
c) na disputa, até militar, entre uma Inglaterra já em acelerado estado
A Revolução Francesa, durante a fase da Convenção Nacional (1792-95),
de industrialização e uma França que busca o mesmo intento,
estabeleceu o princípio da soberania popular; esta seria representada pelo
abrindo concorrência ao produto inglês.
conjunto dos cidadãos, os quais exerceriam o sufrágio nacional. O Império
d) na tentativa francesa de evitar que matérias-primas, mais baratas,
Napoleônico originou-se de um plebiscito universal (masculino), mas depois
oriundas da Inglaterra, arruinassem os produtos franceses.
e) na revolta dos franceses contra o apoio dado pela monarquia assumiu feições centralizadoras e autocráticas, das quais o citado
inglesa à Família Real portuguesa quando esta decidiu retornar à “Catecismo” constitui um exemplo emblemático.
Europa, após sua estadia no Brasil. Resposta: E
Resposta: C

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Exercícios Propostos

 Cite as etapas do governo de Napoleão Bonaparte na “6 de abril de 1814. As potências aliadas tendo proclamado
França. que o Imperador Napoleão era o único obstáculo ao restabe-
lecimento da paz na Europa, o Imperador, fiel ao seu juramen-
RESOLUÇÃO:
to, declara que renuncia por si e por seus herdeiros aos tronos
• Consulado.
• Império. da França e da Itália e que não há sacrifício algum pessoal, até
• Cem Dias. o da própria vida, que não esteja pronto a fazer, pelos interes-
ses da França.”

Após assinar esse ato de abdicação, Napoleão I


a) tornou-se duque da Toscana.
b) compareceu perante o Congresso de Viena.
c) foi desterrado em Santa Helena.
d) foi confinado na ilha de Elba.
e) ficou prisioneiro na Inglaterra.
 Qual era a finalidade de Napoleão Bonaparte, ao decretar o
Bloqueio Continental, em novembro de 1806? RESOLUÇÃO:
Após a derrota na batalha de Leipzig, Napoleão foi exilado na
RESOLUÇÃO: ilha-prisão de Elba, de onde mais tarde fugiu.
Forçar as nações europeias a comprar os produtos da Revolução Resposta: D
Industrial Francesa e destruir a economia inglesa.

 “Aterrei o abismo anárquico e pus ordem no caos” (Napo-


leão Bonaparte). Sobre o período napoleônico na França, entre
 O que levou as nações absolutistas a se coligarem com a 1799 e 1815, podemos afirmar que:
Inglaterra burguesa para derrotar Napoleão Bonaparte?
a) no 18 Brumário (9 nov. 1799), Napoleão destituiu o Diretório
controlado pelos girondinos, assumindo o poder por meio
RESOLUÇÃO:
O expansionismo burguês realizado por Napoleão, considerado o do Consulado.
inimigo comum das nações europeias. b) no Consulado (1799-1804), o confisco e a distribuição de
terras da Igreja aos camponeses provocaram o rompimento
das relações entre o clero e o Estado, expresso na
Concordata de 1801.
c) no Império (1804-1815), a aliança militar com a Áustria e a
Rússia provocou o fim da expansão territorial francesa na
Europa e no norte da África.
O interesse de Napoleão Bonaparte em decretar o Blo- d) no período dos “Cem Dias” (1815), Napoleão ratificou a paz
queio Continental, em 1806, deve-se ao fato de com a Inglaterra e a Prússia, acatando a legitimidade das
a) estimular a industrialização na França, reagindo contra a fronteiras europeias anteriores à Revolução Francesa.
hegemonia britânica. e) o Decreto de Berlim (1806), ao instituir o Bloqueio Continen-
b) ter acesso ao mercado brasileiro, por meio da transferência tal, restaurou as antigas aristocracias e monarquias ao gover-
da família real para a colônia. no dos países recém-invadidos, como Portugal e Espanha.
c) deter o processo de independência das colônias francesas
RESOLUÇÃO:
na América.
Napoleão assume o poder por meio de um golpe que o levará ao
d) impedir a expansão da industrialização no continente ameri- poder, promovendo a reorganização da França.
cano. Resposta: A
e) bloquear a Inglaterra militarmente, com vistas a uma poste-
rior invasão.

RESOLUÇÃO:
O interesse de Napoleão era impedir a Europa de consumir
produtos ingleses, deixando os britânicos sem mercado.
Resposta: A

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(UFRS – MODELO ENEM) – Por volta de 1811, o Império (FUVEST)


napoleônico atingiu o seu apogeu. Direta ou indiretamente,
Napoleão dominou mais da metade do continente europeu. Tal
conjuntura, no entanto, reforçou os sentimentos nacionalistas
da população dessas regiões. A ideia de nação, inspirada nas
próprias concepções francesas, passou a ser uma arma desses
nacionalistas contra Napoleão.

Assinale a afirmação correta, relativa à conjuntura acima delineada.


a) Após o bloqueio continental, em todos os Estados subme-
tidos à dominação napoleônica, os operários e os campone-
ses, beneficiados pela prosperidade econômica, atuaram na
defesa de Napoleão contra o nacionalismo das elites locais.
b) A Inglaterra, procurando manter-se longe dos problemas do
continente, isolou-se e não interveio nos conflitos desenca-
deados pelos anseios de Napoleão de construir um Império.
c) A Espanha, vinculada à França pela dinastia dos Bourbon
desde o século XVIII, não reagiu à dominação francesa. Em Francisco José de Goya y Lucientes, 03 de maio [de 1808] em Madri.
nome do respeito às suas tradições e ao seu nacionalismo,
a Espanha aceitou a soberania estrangeira imposta por A cena retratada no quadro acima simboliza a
Napoleão. a) estupefação diante da destruição e da mortalidade causadas
d) Em 1812, Napoleão estabeleceu sólida aliança com o Papa, por um tipo de guerra que começava a ser feita em escala
provocando a adesão generalizada dos católicos. Tempora- até então inédita.
riamente, os surtos nacionalistas foram controlados, o que b) Razão, propalada por filósofos europeus do século XVIII, e
o levou a garantir suas progressivas vitórias na Rússia. seu triunfo universal sobre o autoritarismo do Antigo
e) Herdeira da Filosofia das Luzes, a ideia de nação, tal como Regime.
difundida na França, fundou-se sobre uma concepção uni- c) perseverança da fé católica em momentos de adversidade,
versalista do homem e de seus direitos naturais. Essa como os trazidos pelo advento das revoluções burguesas.
concepção, porém, pressupunha o princípio do direito dos d) força do Estado nacional nascente, a impor sua disciplina
povos de dispor sobre si mesmos. civilizatória sobre populações rústicas e despolitizadas.
e) defesa da indústria bélica, considerada força motriz do
RESOLUÇÃO:
desenvolvimento econômico dos Estados nacionais do
No pensamento iluminista, o governo representa a vontade da
maioria dos governados. Napoleão feria esse princípio ao invadir século XIX.
as nações europeias e a submeter estas populações à sua vontade
pessoal. RESOLUÇÃO:
Resposta: E Os fuzilamentos de 3 de maio de 1808, ordenados pelo marechal
Murat em represália ao levante da população madrilenha contra
os ocupantes franceses, ocorrido no dia anterior, foram retratados
por Goya de forma a demonstrar o horror e a perplexidade do
artista diante da brutalidade do acontecimento. Esse episódio foi
o ponto de partida de uma encarniçada luta dos espanhóis contra
as tropas napoleônicas, a qual se estenderia até 1813. Esse
conflito caracterizou-se pela ampla utilização da guerra de
guerrilhas, pelo envolvimento da população civil e pelas
atrocidades praticadas de parte a parte, rompendo as convenções
militares que se haviam consolidado no século XVIII.
Resposta: A

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Palavras-chave:

7 Congresso de Viena • Restauração • Legitimidade


• Equilíbrio militar

1. A reconstrução da Europa guerra e a ocupação de seu território por um exército


aliado. Os custos de manutenção desse exército recaíam
O Congresso de Viena empreendeu a chamada re- sobre a França. Suas fronteiras, não muito atingidas, per-
construção da Europa. Antes mesmo de o Congresso se maneciam, grosso modo, as mesmas do Antigo Regime.
reunir, tratados importantes tinham sido assinados pelas
potências europeias aliadas vencedoras: os dois tratados 2. A Santa Aliança
de Paris impostos a Luís XVIII (maio de 1814 e novembro
de 1814), e os tratados coloniais entre Inglaterra e A proposta que deu origem à Santa Aliança partiu do
Holanda. czar Alexandre I. Em 26 de setembro de 1815, o czar da
Rússia, o imperador da Áustria e o rei da Prússia as-
De setembro de 1814, após a primeira abdicação sinaram o tratado em nome da Santíssima Trindade e,
de Napoleão, a junho de 1815, passando pela restau- segundo as regras da caridade cristã, prometiam ajuda
ração dos Cem Dias do Império, reuniu-se o Congresso mútua. A França aderiu ao tratado.
de Viena, num ambiente festivo, onde se regozijava a
vitória sobre as forças revolucionárias do Império. Parti- Foi o príncipe de Metternich, entretanto, que deu à
cipavam apenas as grandes potências, representadas Santa Aliança princípios objetivos. Deveria haver reuniões
diretamente por seus chefes ou por ministros plenipo- periódicas entre as potências signatárias do tratado, nas
tenciários. quais se discutiriam problemas relativos à preservação
da ordem estabelecida pelo Congresso de Viena. Em
A Rússia estava representada pelo czar Alexandre I, última instância, era uma forma de manter a França sob
assistido pelo ministro Nesselrode; havia o chanceler vigilância e conter os possíveis movimentos revolucioná-
Metternich pela Áustria; Castlereagh pela Inglaterra; e rios e liberais que viessem a eclodir em qualquer ponto
Hardenberg pela Prússia. As discórdias decorrentes dos da Europa. É óbvio, também, que qualquer movimento
interesses pessoais facilitaram o trabalho do ministro de caráter separatista, nacional, seria abafado pelo
francês Talleyrand. instrumento da reação europeia, a Santa Aliança.
Dentre os princípios gerais propostos, vingou o O primeiro congresso foi realizado em Aix-la-Chapelle,
ponto de vista de Talleyrand, ou seja, de que a França em 1818. Decidiu a retirada das tropas de ocupação da
deveria conservar seus limites de 1789. Na verdade, foi França, que passou a compor efetivamente a Santa Aliança.
a busca do equilíbrio entre as potências que norteou as
decisões do Congresso, princípio que favoreceu O chamado sistema de Metternich funcionou em
extraordinariamente a França.
O mapa geográfico da Europa foi bastante modifi-
cado, havendo mudanças também no quadro colonial.
A Inglaterra assegurou: a supremacia nos mares
graças à anexação das ilhas de Malta e Jônicas, no
Mediterrâneo; a Cidade do Cabo e o Ceilão, no
caminho das Índias; e posições nas Antilhas. A
Bélgica, dominada pela França, foi ligada à Holanda
(Países Baixos) com o intuito de anular uma possível
ação da França sobre a Antuérpia, porto privilegiado
do ponto de vista econômico.
Os demais aliados também foram recompen-
sados: a Rússia recebeu parte da Polônia, a Finlândia
e a Bessarábia; a Prússia recebeu grande parte da
região renana da Alemanha; e a Áustria recebeu a
supremacia política sobre o norte da Itália.
O Tratado de Paris, confirmado pelo Congresso,
impunha à França o pagamento de uma indenização de O mapa político da Europa, resultado das decisões do Congresso de Viena.
Regozijar: alegrar muito; gozo intenso, grande satisfação. Renana: relativa à região do Rio Reno, na Alemanha; pertencente à
Plenipotenciário: que tem poderes; enviado de um governo que leva Renânia.
poderes para celebrar negociações junto a outro governo. Signatário: que ou aquele que assina ou subscreve um documento.

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várias oportunidades desde sua criação. Uma associação A supressão dessas duas revoltas liberais pode ser
de estudantes na Alemanha provocou distúrbios por considerada o último êxito da Santa Aliança. Com efeito,
ocasião da comemoração do terceiro centenário da Re- por volta de 1830, seu poder efetivo havia desaparecido.
forma Protestante de Lutero. Os Congressos de A rebelião dos gregos contra os turcos e a independên-
Carisbad e de Viena (1819-1820) organizaram uma vio- cia das colônias latino-americanas não foram abafadas
lenta repressão, impondo vigilância às universidades, pela Santa Aliança, o que a enfraqueceu. No caso da
combates às sociedades secretas de caráter nacionalista América Latina, os interesses da Grã-Bretanha tiveram
e censura aos jornais. um papel relevante, pois a independência das colônias
As posições liberais de certos militares da Espanha significava para os ingleses a abertura de mercados e o
e do Reino das Duas Sicílias provocaram revoluções que surgimento de novas áreas de influência política. Por
resultaram na imposição de Constituições a seus respec- este motivo, tão logo a Santa Aliança começou a cogitar
tivos soberanos: Fernando VII, da Espanha, e Fernando I, a adoção de medidas contra as colônias rebeladas, a
do Reino das Duas Sicílias. Esses monarcas, porém, Grã-Bretanha passou a defender o princípio da não
apelaram para a Santa Aliança, que nos Congressos de intervenção, colocando-se, na prática, ao lado dos movi-
Troppau (1820) e Laybach (1821) decidiu sobre a inter- mentos emancipacionistas. Essa ruptura se oficializou
venção da Áustria nas Duas Sicílias para restaurar o com a saída dos ingleses da Santa Aliança, que na época
absolutismo. Quanto à Espanha, o Congresso de Verona fora rebatizada como Quíntupla Aliança.
(1822) resolveu que caberia à França a missão de orga- Princípio da não intervenção: princípio segundo o qual a Santa
nizar a intervenção restauradora, o que foi executado sob Aliança não teria o direito de intervir nos movimentos de indepen-
o comando do duque de Angoulême. dência que estavam ocorrendo na América.

3. Cronologia
1814 – Abdicação de Napoleão e retiro em Elba.
– Reunião do Congresso de Viena.
1815 – Governo dos Cem Dias, derrota em
Waterloo e prisão em Santa Helena.
– Derrota definitiva de Napoleão Bonaparte.
– Formação da Santa Aliança.
1818 – Primeira reunião da Santa Aliança.

Charles Maurice de
Talleyrand-Périgord, mi-
nistro do Exterior No Portal Objetivo
durante o governo de
Napoleão e Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL
representante da OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite
França no Congresso HIST2M123
de Viena.

Exercícios Resolvidos

 (MAKENZIE – MODELO ENEM) – “Durante e) o apoio incondicional da Inglaterra aos


objetivos da Santa Aliança.
dinastia dos Habsburgos era símbolo da ordem
tradicional, da Contrarreforma e do Antigo
o Congresso de Viena, estabeleceram-se as
Resolução Regime.”
bases políticas e jurídicas para uma nova
O Congresso de Viena, reunido após a queda (René Rémond)
ordenação da Europa, destinada a durar cerca de
de Napoleão, caracterizou-se por sua postura
um século redondo. O resultado dos pactos Dentre as decisões acordadas no Congresso
contrarrevolucionária. Para restaurar as dinas-
inaugurou uma época na qual os conflitos exter- de Viena em 1814-1815, podemos assinalar a
tias destronadas a partir da Revolução Fran-
nos foram poucos; por outro lado, aumentaram as a) criação de um organismo multinacional,
cesa, foi criado o Princípio da Legitimidade. Por
guerras civis e a ‘revolução’ se fez incessante.” denominado Santa Aliança.
outro lado, a destruição do poder militar
(R. Koselleck) b) convocação da Reunião dos Estados-Gerais.
napoleônico abriu espaço para o restabeleci-
c) criação do Comitê de Segurança Geral.
Entre os objetivos e as decisões do Congresso mento do equilíbrio político-militar entre as
d) formação da II Coligação antifrancesa.
de Viena, podemos assinalar grandes potências europeias.
e) restauração dos princípios revolucionários.
a) a discussão das indenizações de guerra e a Resposta: B
Resolução
aprovação do Decreto de Berlim.
b) o restabelecimento do antigo equilíbrio  (MODELO ENEM) – “Os soberanos do
O Congresso de Viena, convocado pelos
“Quatro Grandes” (Inglaterra, Áustria, Prússia
europeu e o Princípio da Legitimidade. Antigo Regime venceram Napoleão, que eles
e Rússia), após a primeira queda de Napoleão,
c) o reconhecimento da independência das viam como o herdeiro da Revolução. A escolha
em 1814, decidiu criar um organismo ultracon-
colônias e a extinção da Santa Aliança. de Viena para a realização do Congresso, para a
servador – a Santa Aliança, de caráter inter-
d) o impedimento ao trono das antigas sede de todos os Estados Europeus, foi
vencionista, militarista e recolonialista.
dinastias e o apoio às novas Repúblicas simbólica, pois Viena era uma das únicas cidades
Resposta: A
Americanas. que não havia sido sacudida pela Revolução e a

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Exercícios Propostos

 O que defendia o ministro francês Talleyrand no Congres- (UFPR – Adaptada – MODELO ENEM) – Utilizando o texto
so de Viena? a seguir, responda à questão.
“Em nome da Santíssima e Indivisível Trindade e conforme as
RESOLUÇÃO: palavras das Sagradas Escrituras, segundo as quais todos os
O princípio da legitimidade, segundo o qual as fronteiras homens devem ter-se como irmãos, Suas Majestades o
europeias voltariam a ser as mesmas de 1789.
Imperador da Áustria, o Rei da Prússia e o Imperador da Rússia
permanecerão unidos por laços de verdadeira e indissolúvel
fraternidade: considerando-se compatriotas, em toda ocasião e
em todo lugar, eles se prestarão assistência, ajuda e socorro.”
 Como se chamou o organismo criado pelo Congresso de
Viena e o que ele pretendia? (Trechos do Art. 1.° do Tratado da Santa Aliança, citado por
R. S. L. Aquino et alii. História das sociedades: das sociedades
RESOLUÇÃO: modernas às sociedades atuais. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1979.)
Santa Aliança: exército dos reis absolutistas para reprimir os
movimentos burgueses. Considerando o exposto e a relação entre Napoleão Bonaparte
e a “Santa Aliança”, é correto afirmar:
I. Reunidos no Congresso de Viena em 1814-1815, os
vencedores de Napoleão pretendiam refazer o mapa político
europeu e restabelecer o equilíbrio político no continente
 O Congresso de Viena (1814), organizado com vistas à re- europeu que existia antes da Revolução Francesa de 1789.
formulação do mapa da Europa, teve suas determinações II. A "Santa Aliança" foi um tratado idealizado pelo czar
questionadas ao longo do século XIX, porque Alexandre I da Rússia, após a derrota definitiva de Napoleão
a) deu estímulo à divulgação dos ideais defendidos pela Revo- e dos franceses, e destinava-se a implantar um sistema de
lução Francesa. intervenção nos países ameaçados por revoluções.
b) combateu o princípio da legitimidade das fronteiras ante- III. De maneira geral, as ações da "Santa Aliança" afirmavam a
riores a 1789. ascendência das forças de conservação sobre as forças de
c) reformulou as divisas da França em proveito das nações que transformação. Estas estavam presentes nas reformas
lhe eram limítrofes. introduzidas por Napoleão durante suas conquistas na
d) procurou solucionar os problemas de interesse exclusivo Europa, como a supressão dos direitos feudais e divulgação
das grandes potências. da ideia de igualdade civil.
e) manteve os territórios conquistados por Napoleão em suas IV. A conjuntura pós-napoleônica foi marcada pela ação da bur-
guerras imperialistas. guesia em prol dos ideais liberais e nacionais desencadea-
dos com a Revolução Francesa, e contra a velha ordem
RESOLUÇÃO: absolutista representada pela Europa do Congresso de
As grandes potências queriam garantir seus interesses. Viena.
Resposta: D
Assinale:
a) Se todas estiverem corretas.
b) Se todas estiverem incorretas.
c) Se apenas I e II estiverem corretas.
d) Se apenas II e III estiverem corretas.
A Santa Aliança, entendida como o braço armado do Con- e) Se apenas III e IV estiverem corretas.
gresso de Viena, propunha, em relação às colônias luso-espa-
nholas da América, RESOLUÇÃO:
a) a adoção dos princípios da Doutrina Monroe. As alternativas apresentam um resumo das características do
b) a difusão do ideário político e social da Revolução Francesa. Congresso de Viena e da Santa Aliança.
c) o apoio irrestrito a todos os movimentos nacionalistas de Resposta: A
caráter separatista.
d) o estabelecimento de um novo colonialismo que atendesse
à industrialização europeia, em franca expansão.
e) a restauração do Antigo Sistema Colonial.

RESOLUÇÃO:
A ideia era devolver à Espanha as colônias perdidas durante o
domínio napoleônico.
Resposta: E

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Ideias Sociais e Políticas Palavras-chave:


• Livre-iniciativa • Reformismo
8 do Século XIX • Revolucionário • Libertário
• Igualdade econômica

1. Introdução Antes mesmo do século XVIII, vários escritores já


haviam descrito sociedades que viviam na base da
O fenômeno revolucionário de 1848 resultou, ime- igualdade social, sem a diferença de posses e de rique-
diatamente, das condições econômicas precárias da Eu-
zas. Nessas sociedades, não havia pobres nem ricos e
ropa. Em seu âmago, era fruto do movimento revolucio-
todos viviam do seu trabalho em igualdade de condições.
nário apoiado nas tendências liberais, nacionalistas e
socialistas. Thomas Morus, em sua obra Utopia (1516), idealizou
De forma geral, os movimentos foram liderados pela uma sociedade imaginária, marcada pela igualdade.
burguesia, apoiada pelo proletariado urbano, sem o qual Atacou a propriedade privada, considerando-a responsável
não conseguiria tomar o poder. Na França, o caráter por todos os crimes. Desde então, a palavra “utópico”
liberal-socialista da Revolução foi mais acentuado; já na passou a designar toda teoria social que pregasse a igual-
Áustria, na Alemanha e na Itália, predominou o sentido dade social sem apresentar meios práticos de consegui-la.
liberal-nacionalista. Nas revoluções inglesas do século XVII, os nive-
Além do liberalismo, outras tendências políticas do ladores e escavadores, à medida que buscavam igualdade
século XIX merecem destaque: o nacionalismo, que era social, representavam uma tentativa concreta de igual-
o resultado da existência de povos ainda sem unidade dade, portanto de socialismo. Na Revolução Francesa,
política ou sem independência, marcado pelas unifica-
Gracco Babeuf pregava uma república igual para todos.
ções da Itália e da Alemanha; e o socialismo, que resul-
tou, por outro lado, da ampliação da massa trabalhadora
e da crescente proletarização da sociedade, após a Re-
volução Industrial, com as consequentes ideias de
igualdade social.

2. As origens do socialismo

Robert Owen, um dos utópicos de Karl Marx, pai do socialismo


grande atuação política nos EUA e científico.
na Inglaterra.

Houve várias tentativas de pôr em prática as ideias


socialistas. Na Inglaterra, Robert Owen, rico proprietário,
tentou realizar seus ideais socialistas criando uma comu-
nidade em Orbiston, na Escócia, e em New Harmony,
Desfile de uma trade-union, associação de trabalhadores que precedeu nos Estados Unidos. Nessas comunidades, cada um
os sindicatos. recebia um bônus proporcional às horas de trabalho.
As revoluções dos séculos XVIII e XIX propiciaram o
O socialismo resultou das transformações econômi- aparecimento de novos pensadores, tais como Fourier,
cas e sociais ocorridas na Europa no transcorrer dos Saint-Simon, Louis Blanc e Proudhon, denominados
séculos XVIII e XIX. A Revolução Industrial provocou o socialistas utópicos ou românticos. Louis Blanc foi o
crescimento dos centros urbanos, concentrando uma
autor do livro A organização do trabalho. Participou da
enorme massa de trabalhadores que viviam de baixos
Revolução de 1848, na França. Pregava a igualdade
salários. A miséria os fez pensar em reformas sociais.
Daí surgirem as ideias reformistas de igualização social, social que, entretanto, só poderia ocorrer se o Estado se
apresentando-se soluções para os problemas. apropriasse de todo o sistema econômico.

HISTÓRIA 117
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3. O marxismo Durante a reunião da Associação Internacional dos


Trabalhadores (I Internacional), os anarquistas e os socia-
O mais célebre teórico do socialismo foi Karl Marx listas se confrontaram, pois Marx insistia na ditadura do
(1818-1883). Auxiliado por F. Engels, publicou suas proletariado como etapa necessária e obrigatória para se
ideias, às vésperas da Revolução de 1848, na França, no chegar ao comunismo, enquanto Bakunin pregava que,
Manifesto Comunista, dando assim origem ao socia- após a Revolução Proletária, o Estado deveria ser imedia-
lismo científico. Porém, a obra mais importante de Marx tamente suprimido, o que levou os anarquistas a serem
foi O Capital, em que expõe com mais detalhes todas as conhecidos como libertários.
suas teorias.
5. Doutrina Social Católica
A Igreja Católica também se manifestou sobre as de-
sigualdades sociais. O abade francês Robert de
Lamennais foi o primeiro a se posicionar a respeito das
questões sociais. Contudo, por meio da encíclica Rerum
novarum, do papa Leão XIII, a doutrina social católica
atingiu a sua mais alta expressão. Ela propõe a caridade
cristã para solucionar as desigualdades sociais, conde-
nando simultaneamente a ganância capitalista e o
materialismo socialista. Outros pontífices fizeram afirma-
ções dentro dessa linha, como Pio IX (Quadragesimo
anno) e João XXIII (Mater et magistra).

6. Conclusão
Os socialistas tomaram parte ativa nos movimentos
revolucionários de 1848, sendo derrotados pela burgue-
sia. Isso provocou uma cisão entre os próprios socialis-
tas, surgindo daí várias tendências diferentes. Os socia-
listas reformistas acreditavam não ser necessária uma
revolução para se obter a igualdade social, pois o capita-
Esse livro lismo poderia ser melhorado. Os marxistas e os anar-
de Marx quistas pregavam o fim do capitalismo.
expõe com
mais clareza Somente em 1860 surgiu na Alemanha o primeiro
suas ideias. partido político socialista. Em 1864, realizou-se em Paris
a Primeira Internacional dos Trabalhadores, cujo objetivo
Basicamente, as ideias de Marx repousavam no
era coordenar a ação do proletariado no sentido da toma-
princípio de que a história sempre foi marcada pela
da do poder em todo o mundo. A partir de então, princi-
exploração de uma classe social por outra, daí a luta de
palmente nos países adiantados da Europa, o prole-
classes ser a mola mestra da história, dos aconteci-
tariado tomou consciência de suas necessidades e, por
mentos. A igualdade somente seria atingida se o
meios reformistas, anárquicos ou revolucionários, vem
proletariado vencesse a burguesia, impondo a ditadura
lutando por mudanças.
do proletariado; o Estado proletário se apossaria dos
bens de produção (máquinas, capital), conduzindo a
sociedade para a igualdade total – o comunismo, último
7. Cronologia
estágio da evolução histórica. 1848 – Publicação do Manifesto Comunista, de Marx
e Engels.
1852 – Instauração do Segundo Império Francês.
4 . Anarquismo 1864 – Primeira Associação Internacional dos Traba-
O francês P. J. Proudhon escreveu o livro O que é a lhadores.
propriedade? e a resposta a que chegou foi: “a proprie- 1891 – Encíclica Rerum Novarum.
dade é um roubo”. Essa frase compõe uma das mais im-
portantes afirmações desse pensamento e por isso
muitos o consideram como um pré-anarquista. Entretan-
to, os fundamentos teóricos do anarquismo foram elabo-
No Portal Objetivo
rados por dois russos: Bakunin e Kropotkin.
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL
Anarquismo é a negação de toda e qualquer forma de OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite
poder, portanto o Estado deve ser eliminado, bem como HIST2M124
a propriedade, que se constitui na base de todo poder.

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Exercícios Resolvidos

 (MODELO ENEM) – “O revolucionário


por a revolução das massas (sem que o prole-
tariado formasse sua vanguarda) e ao rejeitar a
rar, através da intervenção governamental
na atividade econômica, a felicidade e o
rompeu com todas as leis e códigos morais do
“ditadura do proletariado” como etapa neces- conforto ao maior número possível de
mundo instruído. Se ele vive nesse mundo, fin-
sária para o igualitarismo. Com isso, Bakunin pessoas.
gindo fazer parte dele, é apenas para estar em
tornou-se o principal arauto do anarquismo – b) a crença no racionalismo, na livre-iniciativa e
melhores condições de destruí-Io; tudo o que
corrente radical libertária que teve grande no progresso, daí decorrendo a necessidade
há nesse mundo é igualmente odioso para ele.
influência sobre o movimento operário no final
Tem de ser frio: deve estar disposto a morrer, de manter a menor interferência gover-
do século XIX e início do XX.
deve preparar-se para resistir a torturas e deve namental possível na atividade econômica.
Resposta: E
prontificar-se a esmagar qualquer sentimento c) a crença de que o bem-estar social seria as-
nele surgido, inclusive o de honra, no momento segurado pelo respeito aos costumes
em que este interferir com seu objetivo.”
(PUC-SP – MODELO ENEM) – Segundo o tradicionalmente aceitos e estabelecidos.
(Mikhail Bakunin. Catecismo historiador Eric Hobsbawn, para o liberalismo d) a ideia de que a sociedade seria formada
do revolucionário.) clássico o homem era um animal social apenas por uma teia de relações, tornando neces-
na medida em que coexistia em grande
sário ao homem agir em função dos seus
O fragmento acima foi escrito por um dos mais número. Por isso, considera que o símbolo
semelhantes.
importantes teóricos da corrente de pensamento literário do "homem" dessa corrente de
e) a ideia de que só um governo centralizado e
a) comunista. b) socialista. pensamento foi Robinson Crusoé, que
forte poderia assegurar a liberdade econô-
c) social-democrata. d) fundamentalista. conseguiu, após um naufrágio, viver quase três
décadas numa ilha deserta, criando, sozinho, mica e a obtenção dos objetivos individuais.
e) anarquista.
as condições de sua sobrevivência. Resolução
Resolução
Em consonância com esse perfil, o pensamen- O liberalismo clássico representava a ideologia
Mikhail Bakunin, embora tivesse participado da
to liberal pressupõe da burguesia.
Primeira Internacional fundada por Marx,
distanciou-se do pensamento marxista ao pro- a) a crença no progresso, que deveria assegu- Resposta: B

Exercícios Propostos

 Quais as bases teóricas do socialismo científico?  Corrente política, desenvolvida pelos russos Bakunin e
Kropotkin, defendia que a origem de todos os males sociais,
RESOLUÇÃO: inclusive o industrialismo e o capitalismo, era a existência do
As bases eram: a Economia e a História. A partir delas, Marx Estado. Diante dessa constatação, propunha sua extinção.
formulou suas ideias: luta de classes, a Revolução Proletária e a
mais-valia. Referimo-nos ao
a) socialismo. b) anarquismo. c) liberalismo.
d) comunismo. e) totalitarismo.

RESOLUÇÃO:
O anarquismo é conhecido por muitos como socialismo libertário.
Resposta: B

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 (UFPEl – MODELO ENEM) – As ideias de Proudhon (1809- ”Na produção social que os homens realizam,
1865): eles entram em determinadas relações
• A propriedade é um roubo e a mãe da tirania; indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações
• Quem quer que ponha as mãos em mim com a intenção de produção correspondem a um estágio definido de
de governar-me é um usurpador e um tirano. desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A
caracterizam o totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da
a) comunismo. b) materialismo histórico. sociedade – fundamento real, sobre o qual se erguem as
c) liberalismo. d) socialismo. superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem
e) anarquismo. determinadas formas de consciência social.”

RESOLUÇÃO: (K. Marx. Prefácio à Crítica da economia política.


O francês Joseph Proudhon é considerado um precursor do In K. Marx. e F. Engels. Textos 3.
anarquismo. Em seu livro, “O que é a propriedade?”, ele conclui São Paulo: Edições Sociais, 1977. Adaptado.)
que “ela é um roubo”, combinando com o axioma libertário de
que “a propriedade é a raiz de todo poder”. Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida
Resposta: E
no sistema capitalista faz com que
a) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia.
b) o trabalho se constitua como o fundamento real da
produção material.
c) a consolidação das forças produtivas seja compatível com o
progresso humano.
d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao
desenvolvimento econômico.
e) a burguesia revolucione o processo social de formação da
consciência de classe.

RESOLUÇÃO:
Para Marx, o trabalho é condição fundante do ser humano, forma
única e necessária para transformar a natureza em bens úteis para
promover a vida. Contudo, especificamente no estágio capitalista,
o trabalho é marcado pela forma de exploração do homem pelo
homem e de alienação, devido ao assalariamento e ao estranha-
mento em relação ao fruto do trabalho.
Resposta: B

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