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Primeira edição
Editora Draco
São Paulo
2012
© 2012 by Octavio Aragão, M arcelo A. Galvão, Carlos Orsi, Cirilo
S. Lemos, Romeu M artins, Alexandre M andarino, Rosana Rios,
Lúcio M anfredi
Vários autores.
ISBN 978-85-8243-000-2
CDD-869.93
Editora Draco
R. José Cerqueira Bastos, 298
Jd. Esther Yolanda – São Paulo – SP
CEP 05373-090
editoradraco@gmail.com
www.editoradraco.com
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Twitter: @editoradraco
Índice
Capa
Folha de rosto
Créditos
O grande jogo – uma introdução por
Carlos Orsi
A aventura do americano audaz um
relato póstumo de John H. Watson, MD.
~ Octavio Aragão
Das reminiscências do Dr. Ormond
sacker, clínico geral ~ Marcelo A.
Galvão
A aventura do falso Dr. Watson ~ Carlos
Orsi
O caso do detetive morto ~ Cirilo S.
Lemos
O caso do desconhecido íntimo ~
Romeu Martins
A aventura do Penhasco dos Suicidas ~
Alexandre Mandarino
Um estudo em azul ~ Rosana Rios
O punhal adamantino do vazio ~ Lúcio
Manfredi
Os cronistas das aventuras secretas
O grande jogo – uma
introdução por Carlos Orsi
Octavio Aragão
Londres, 1894, das reminiscências de
John H. Watson, M. D.
Seu filho,
Quincey
– Isso é sangue?
– Não exatamente, parece saliva, mas
deve servir para meus intentos. A Srta.
Lucy devia estar sofrendo com alguma
febre malsã e, se apresentava os
sintomas que imagino, deveria haver
certa quantidade de sangue em seu
cuspo.
Holmes quebrou o ovo e coletou a
clara numa pipeta, que misturou a uma
solução salina. Em seguida, recortou
pedacinhos da carta, jogou-os em dois
tubos de ensaio, gotejou a solução e
levou-os ao bico de Bunsen, onde logo
começaram a borbulhar.
– Sabe, meu amigo, este é um teste
precário, mas se eu estiver correto em
minhas suspeitas, não precisaremos de
outros experimentos. A solução final
para o desaparecimento de Quincey
Morris depende parcialmente das cores
que aparecerão nesses tubos. Vamos
torcer para que o resultado cromático
final seja o que espero. Veja, estão
estabilizando no tradicional tom
acastanhado, mas, como imaginava, não
tanto quanto seria de se esperar do
sangue de alguém saudável.
– E isso significa o quê?
– Ainda não sei. Esta será uma longa
noite de trabalho, mas creio que amanhã
terei uma ideia mais precisa do que nos
aguarda em Whitby.
– Então iremos até Seward?
Holmes, sem me encarar, respondeu:
– Apenas se ele não vier a nós
primeiro.
Vince – Saudade
Victor – Bondade
Mary – Eu
Benchy Head – Alto
Doença – Saúde
XIX – A Conclusão
1
DOIS HOMENS À BEIRA do abismo.
Indivíduos com uma inclinação maior
para a metáfora certamente não
deixariam de ver as ressonâncias
ominosas desta cena. Quanto a mim,
prefiro deixar as metáforas aos poetas e
me ater aos fatos, que não poderiam ser
mais simples. Dois homens à beira do
abismo. Não é um confronto de vida ou
morte, porque nenhum de nós dois está
destinado a viver. Há muito sei que seria
esse o final da minha carreira. Talvez
não exatamente aqui, talvez não
exatamente hoje, mas assim, de qualquer
forma. Eu e Moriarty, sozinhos, frente a
frente. Sem seus asseclas fiéis, sem meu
devotado assistente. Dois homens à
beira do abismo.
Moriarty me encara, seus frios olhos
cinzentos tão cientes do fim quanto os
meus. Ele me fala, mas o bramido das
águas encobre as palavras. Pelo
movimento de seus lábios, porém,
percebo que repete o meu nome várias
vezes. Holmes... Holmes... Holmes.
Estará me ameaçando? Estará se
gabando? Faz alguma diferença?
Durante dez anos nos enfrentamos sem
nos confrontar. Duas mentes
privilegiadas, de lados opostos da lei. O
imperador do crime e o investigador
solitário. O homem que viveu para o
poder e o homem que viveu pela
verdade. O líder da matilha e o lobo da
estepe. E é aqui que nossos passos
paralelos finalmente desembocam. Nesta
trilha estreita, a duzentos e cinquenta
metros de altura, onde as Cataratas de
Reichenbach esperam sob o cinzento céu
suíço para nos tragar a ambos.
Meu corpo se retesa. Com um urro
animalesco, Moriarty se atira sobre mim
e agarra-me com seus longos braços.
Cambaleamos juntos à beira do
abismo.
8
Fui despertado pelo uivo dolorido do
cão se desvanecendo à distância. Antes
mesmo de abrir os olhos, o odor
pungente no ar, uma mistura de álcool,
éter e amoníaco, informou-me que eu
estava de volta ao hospital. O Dr.
Mortimer continuava sentado ao meu
lado, mas agora em uma cadeira. Olhei-
o, surpreso. Havia coisas demais fora de
contexto e minha mente continuava
enevoada mas, aos poucos, fui
elaborando uma hipótese que dava
sentido à maior parte dos fatos.
Apesar de todos os meus esforços, o
falso Holmes percebera que estava
sendo seguido e me armara uma
emboscada. Assim que pus os pés na
casa, ele deve ter me atacado com uma
seringa e injetado uma substância
alucinógena em meu sangue. Alguém me
encontrara vagando a esmo, mergulhado
no delírio, e me trouxera para o hospital.
Uma explicação simples, elegante, que
só não explicava a presença do Dr.
Mortimer ao meu lado.
– Você teve sorte, meu bom homem! –
disse o médico, num tom jovial. – Se eu
não o tivesse visto quando estava a
caminho da residência de um amigo, por
estas alturas estaria sob as rodas de um
coche.
“Meu bom homem”, repeti
mentalmente. Então, ele também não me
reconhecera. Não ousei perguntar quem
era o amigo que ele estava indo visitar.
Mas pelo menos, seu relato ia ao
encontro de minhas suposições. Por
outro lado, a aparição providencial do
Dr. Mortimer no momento mesmo em
que eu deparava com indícios de que
Rodger Baskerville não só sobrevivera
ao nosso confronto, como arquitetara um
complexo plano de vingança contra mim,
não podia ser coincidência.
– Por um acaso – sondei – a visita
que você estava a caminho de fazer tem
alguma relação com o retorno de Rodger
Baskerville?
O Dr. Mortimer arregalou dois olhos
espantados.
– Não sei de onde o cavalheiro tirou
essa ideia, nem como ouviu falar da
falecida ovelha negra dos Baskerville –
respondeu – mas asseguro-lhe que não.
Eu estava indo ver um grande amigo
que, infelizmente, está às portas da
morte.
E, embora eu não seja dado a
metáforas, suas palavras seguintes
cravaram um punhal certeiro em meu
peito:
– Certamente já ouviu falar dele. O
famoso detetive, Sr. Sherlock Holmes.
Era demais para mim. Levantei-me da
cama, disposto a esclarecer de vez
aquele mistério.
– Onde você vai? – protestou o Dr.
Mortimer. – Ainda não se recuperou da
carraspana!
– Fique certo de uma coisa, Dr. James
Mortimer – retruquei, frio. – Meus
problemas não têm nada a ver com o
flagelo do álcool.
E saí, antes que ele pudesse dizer
mais alguma coisa.
Tratei de voltar à casa de Irene Adler.
Fora lá que eu perdera a pista do falso
Holmes. Esperava retomá-la ou, ao
menos, encontrar evidências para a
teoria de que eu tinha sido drogado. O
que eu não esperava encontrar, contudo,
era o corpo de Irene Adler de volta ao
seu lugar e pose habituais, ainda com o
phurba enterrado na garganta.
Aproximei-me da falecida Srta. Adler,
tomado por uma espécie mórbida de
fascinação. A pose fora reconstituída
nos mínimos detalhes. Por que o
assassino dar-se-ia a esse trabalho? Isto
é, partindo-se do princípio, ainda por
demonstrar, de que o autor daquele
quadro vivo e o autor do assassinato
fossem a mesma pessoa. Tudo o que eu
conseguia pensar era que se tratava de
alguma elaborada armadilha e, nesse
caso, a arapuca só poderia ter sido
armada para capturar uma pessoa – este
seu criado.
– Não se mova! – gritou Gregson,
irrompendo pela porta da frente.
Não querendo ficar atrás, Lestrade
entrou logo a seguir, bradando:
– O senhor está preso!
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