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Em seu texto “Da fala à escrita”, Roland Barthes se refere metaforicamente à “toalete
do defunto” como a prática de registro da palavra dita. Nas palavras do autor,
“embalsamos nossa palavra, como uma múmia, para fazê-la eterna” (BARTHES,
2004, p.1). Para ele, é preciso um pouco mais que própria voz (falada); inscrever-se
em algum lugar através da escrita é uma necessidade. Mas se ganhamos algo com esta
inscrição, também abrimos mão de alguma coisa para registrá-la, assim como
pagamos também por esta inscrição. É isto que Roland Barthes se propõe a discutir.
A segunda perda pontuada por Barthes está no rigor das transições, resultando na
ausência de conjunção coordenativa entre palavras, termos da oração ou orações na
forma escrita. Barthes salienta que essas palavras não tem um grande valor lógico,
sendo mais expletivos do pensamento. Na verdade o que ocorre é que as inflexões do
nosso discurso não ficam evidentes no fenômeno da escripção porque temos tempo de
coordenar logicamente as orações, dispensando o uso delas.
A última perda explicitada por Barthes no processo de transcrição seria a dos trechos
de fala com função fática ou interpelativa. São palavras e expressões que tem algo de
“discretamente dramático” (BARTHES, 2004, p. 4), apelos e modulações que são
apagados no processo de escrita.
Por fim, Roland Barthes suscita uma terceira prática de linguagem, que seria a escrita
propriamente dita (a escrita que se encarrega de produzir textos). Partindo do
pressuposto que a escrita não é nem fala (oral) e nem transcrição, tem-se que nela o
corpo volta por uma vida indireta para dizer tudo, mas não pela imagem e sim pelo
gozo. Nas palavras do autor, “No fundo, essa viagem do corpo (do sujeito) através,
que nossas três práticas (fala, escrito, escrita) modulam, cada uma a seu modo:
viagem difícil, tortuosa, variada, à qual o desenvolvimento da radiodifusão, ou seja,
de uma fala ao mesmo tempo transcriptível, efêmera e memorável, torna hoje de um
interesse surpreendente” (BARTHES, 2004, p.7). Ele conclui pontuando o valor dos
diálogos transcritos na obra “O grão da voz” não apenas pelas informações nele
contidas, mas pelo valor de uma experiência de linguagens diversas (fala, transcrição
e escrita), onde leitor/ouvinte seguem um sujeito enunciador diferente (e dividido), a
medida que este fala, transcreve ou enuncia.