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Resumo do texto: Da fala à escrita

Autor: Roland Barthes


Referência: BARTHES, Roland. O grão da voz. Tradução de Mário Laranjeiras. 1.
ed. Sao Paulo: Martins Fontes, 2004.

Em seu texto “Da fala à escrita”, Roland Barthes se refere metaforicamente à “toalete
do defunto” como a prática de registro da palavra dita. Nas palavras do autor,
“embalsamos nossa palavra, como uma múmia, para fazê-la eterna” (BARTHES,
2004, p.1). Para ele, é preciso um pouco mais que própria voz (falada); inscrever-se
em algum lugar através da escrita é uma necessidade. Mas se ganhamos algo com esta
inscrição, também abrimos mão de alguma coisa para registrá-la, assim como
pagamos também por esta inscrição. É isto que Roland Barthes se propõe a discutir.

Considerando que a escrita não é forçosamente o modo de existência do que está


escrito, Barhtes usa o termo “armadilha de escripção” para se referir a esta colocação
da palavra dita no papel. A primeira perda desta escripção estaria na “perda da
inocência”: se a fala é sempre tática, imediatamente teatral, buscando seus torneios
em um conjunto de códigos oratórios e culturais, ao ser escrita ela se torna a própria
inocência dessa tática. Isto porque ao escrever aquilo que dissemos, passamos por
filtros que a fala, por ser imediata, não possibilita. “A fala é imediata porque não volta
atrás” (BARTHES, 2004, p.3). Assim, na escrita, podemos nos censurar, nos proteger
além de barrar nossos bloqueios (panes, provas de ignorância, complacência,
conforme citado por Barthes). A escripção, por ter tempo diante de si, permite
reflexões antes do registro final do pensamento. Desse modo, “ao escrever o que
dissemos, perdemos (ou guardamos) tudo aquilo que separa a histeria da paranoia”
(BARTHES, 2004, p. 3).

A segunda perda pontuada por Barthes está no rigor das transições, resultando na
ausência de conjunção coordenativa entre palavras, termos da oração ou orações na
forma escrita. Barthes salienta que essas palavras não tem um grande valor lógico,
sendo mais expletivos do pensamento. Na verdade o que ocorre é que as inflexões do
nosso discurso não ficam evidentes no fenômeno da escripção porque temos tempo de
coordenar logicamente as orações, dispensando o uso delas.

A última perda explicitada por Barthes no processo de transcrição seria a dos trechos
de fala com função fática ou interpelativa. São palavras e expressões que tem algo de
“discretamente dramático” (BARTHES, 2004, p. 4), apelos e modulações que são
apagados no processo de escrita.

As três perdas pontuadas por Barthes consistem na perda de um corpo exterior


(contingente). Segundo o autor, na passagem para a escrita este corpo exterior, em
processo de diálogo, lança para um outro corpo (também frágil ou assustado), com a
função intuito de agarrar o outro, mensagens intelectuais vazias.

“Transcrita, a palavra evidentemente muda de destinatário, e por isso mesmo de


sujeito, pois não há sujeito sem Outro. O corpo, embora sempre presente (não há
linguagem sem corpo), cessa de coincidir com a pessoa, ou, para dizer ainda melhor, a
personalidade. O imaginário do falante muda de espaço: já não se trata mais de um
jogo de contratos; trata-se de instalar, de representar um descontínuo articulado, ou
seja, na verdade, uma argumentação” (BARTHES, 2004, p.4). Se na fala
determinadas expressões existiam como uma simples ligação para preencher
silêncios, na escrita elas se constituem enquanto “relações sintáticas cheias de
semantemas lógicos” (BARTHES, 2004, p. 5). Assim, o autor explica que na língua
escrita, diferentemente da língua falada, desenvolve-se a subordinação. Graças
também à existência da pontuação e dos parênteses, que não são evidenciados na
oralidade, é possível concatenar os pensamentos, hierarquizar ideias de uma forma
diversa da fala, recuperando a estrutura de ordem.

Para Barthes, na fala escrita, o imaginário do pensamento se manifesta. E é um


pensamento mais refletido do que na oralidade, onde quem fala escolhe a imagem de
si que quer passar para o público, num espaço tático de proposições, ou de posições
propriamente ditas. Barthes fala ainda numa função atual do diálogo público, qual
seja, a persuasão, através da apresentação ao público de uma encenação de ideias. O
autor chama ainda de função social destes diálogos a comunicação em segundo grau,
o deslizamento espetacular dos imaginários do corpo e do pensamento.

Por fim, Roland Barthes suscita uma terceira prática de linguagem, que seria a escrita
propriamente dita (a escrita que se encarrega de produzir textos). Partindo do
pressuposto que a escrita não é nem fala (oral) e nem transcrição, tem-se que nela o
corpo volta por uma vida indireta para dizer tudo, mas não pela imagem e sim pelo
gozo. Nas palavras do autor, “No fundo, essa viagem do corpo (do sujeito) através,
que nossas três práticas (fala, escrito, escrita) modulam, cada uma a seu modo:
viagem difícil, tortuosa, variada, à qual o desenvolvimento da radiodifusão, ou seja,
de uma fala ao mesmo tempo transcriptível, efêmera e memorável, torna hoje de um
interesse surpreendente” (BARTHES, 2004, p.7). Ele conclui pontuando o valor dos
diálogos transcritos na obra “O grão da voz” não apenas pelas informações nele
contidas, mas pelo valor de uma experiência de linguagens diversas (fala, transcrição
e escrita), onde leitor/ouvinte seguem um sujeito enunciador diferente (e dividido), a
medida que este fala, transcreve ou enuncia.

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