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Tecnicismo: ele está de volta

Publicado em 26/08/2016por Luiz Carlos de Freitas


Ele voltou sob a batuta da reforma empresarial da educação. De fato, nunca se
foi; mas da mesma forma que a ideia de termos um golpe político era distante, o
tecnicismo também parecia algo já recusado e distante. Não era bem assim.

Esta reconstrução do tecnicismo está sendo trabalhada há algum tempo no


plano internacional e nacional. E é até explicável. Se há retrocesso geral no
mundo, no Brasil, sob o impacto do golpe, nada a estranhar que também a
educação, um fenômeno social, acompanhe este movimento e acelere o seu
retorno.

Não é automático, claro. Há resistência etc. Mas o fato de que terá resistência só
atesta que ele voltou, ou não precisaríamos resistir a ele. Portanto é bom
pararmos de acreditar num “ente superior” que costumamos chamar de
“resistência” e por o pé na estrada real da resistência e isso supõe, saber ao que
se resiste e como ele se caracteriza.

Ele voltou completamente reformulado, ainda que conceitualmente seja o


mesmo. Podemos chamá-lo de neotecnicismo. Em 1992, de fato, apresentei um
trabalho em uma das nossas Conferências Brasileiras de Educação onde
indagava: “conseguiremos escapar ao neotecnicismo?” Era o tempo da primeira
onda neoliberal de Fernando Henrique Cardoso. A questão do tecnismo é hoje,
envoltos que estamos na segunda onda neoliberal de um governo golpista, mais
atual ainda e, se considerarmos a nova base tecnológica que pode ser mobilizada
para apoiar este retorno, isso poderá fazer com que aquela nascente “tecnologia
da educação” dos anos 70 pareça uma precária pré-história do neotecnicismo.

No início dos anos 80, Saviani (em Escola e Democracia: 1983) definiu o
tecnicismo como:

“A partir do pressuposto da neutralidade científica e inspirado nos princípios


da racionalidade, eficiência e produtividade, […] advoga a reordenação do
processo educativo de maneira a torná-lo objetivo e operacional.” (…) “… na
pedagogia tecnicista (…) é o processo que define o que professores e alunos
devem fazer, e assim também quando e como o farão”.
Conceitualmente, não precisamos mexer nesta definição. Destaque-se o
“pressuposto da neutralidade científica”. A definição continua válida para
caracterizar o núcleo do neotecnicismo. Mas se conceitualmente pouco mudou,
do ponto de vista de sua constituição, vale dizer, do ponto de vista das
categorias que o descrevem no presente momento, há alterações substanciais.

Ele volta fazendo uso de novos (alguns nem tão novos) desenvolvimentos
científicos da psicologia, neurociência, administração, informação, entre outras,
reinserido em uma nova proposta de política educacional que potencializa seu
poder de penetração no sistema público de ensino pela via da accountability
meritocrática e da privatização (tanto do processo educativo como da gestão das
escolas), e com nova base tecnológica que permite o desenvolvimento de formas
de interatividade do aluno com o conteúdo escolar jamais pensadas
antes, redefinindo – como era seu desejo inicial inacabado, pois o nível
tecnológico nos anos 70 não ajudou neste objetivo – o próprio trabalho do
professor e do aluno, tornando-o dependente de um processo tecnológico que
comanda, por si, o quê, quando e como se ensina. Alie-se a isto, o fato dele vir
associado à mobilização do setor empresarial com amparo da mídia e re-
inserção na academia, constituindo um bloco de alianças o qual ele utiliza para
pressionar as políticas públicas na direção de sua própria hegemonização como
teoria pedagógica, executada em um espaço mercantilizado que atende tanto
interesses ideológicos do grande capital internacional (OCDE), como aos
interesses práticos de faturamento das indústrias e consultorias educacionais
locais ou não.
Esta é a nova face do tecnicismo. Cada um destes componentes do
neotecnicismo precisará ser analisado e estudado em profundidade para uma
devida caracterização desta modernização conservadora do tecnicismo.

Mas Saviani diz mais sobre o tecnicismo:

“Compreende-se, então, que para a pedagogia tecnicista (…) marginalizado


será o incompetente (no sentido técnico da palavra), isto é, o ineficiente e
improdutivo. A educação estará contribuindo para superar o problema da
marginalidade na medida em que formar indivíduos eficientes, portanto,
capazes de dar sua parcela de contribuição para o aumento da produtividade
da sociedade. Assim, ela estará cumprindo sua função de equalização social “.
Não há o que mexer nesta conclusão. Basta atualizar o conteúdo das categorias
para que expressem o atual estágio de desenvolvimento do capitalismo,
marcado pelo revolucionamento dos processos produtivos e pelo advento do
desemprego estrutural, os quais demandam igual revolucionamento nas formas
de preparação de uma juventude trabalhadora mais polivalente e até mesmo da
juventude desempregada estacionada no exército de reserva, mas que devem
estar disponíveis para serem lançadas, juntamente com os fluxos de capital que
transitam de um ramo para outro da produção, como previu Marx em
“Maquinaria e grande capital”, em sua obra “O Capital”.

Marx também adverte para a contradição que se estabelecerá entre explorar,


(segundo as novas bases e exigências do novo padrão de automação da
organização do trabalho), e ter que “educar” esta nova força de trabalho
(correndo riscos de que este upgrade educativo leve a uma maior
conscientização das condições de exploração), o que neste momento em que
vivemos aflora mais fortemente, exigindo das forças conservadoras/liberais um
maior controle político-ideológico da escola atual (tanto da forma de gestão
como do conteúdo do processo educativo) impondo uma pseudo-neutralidade
no âmbito escolar.
É neste quadro que vem renascendo com força o tecnicismo. A educação é
atingida pela privatização em todos os níveis (no processo de ensino e na gestão
da escola), por um lado, e de outro, por uma onda conservadora que se expressa
muito bem no projeto de retirada de autonomia do professor como o “escola
sem partido”. São faces de um mesmo processo.

A privatização coloca a gestão da escola sob controle direto de empresas,


vigiando a gestão, o “escola sem partido” transforma cada personagem da escola
em um soldado pronto para denunciar qualquer um que tente promover maior
conscientização. Aliado a isto, a introdução de sistemas de ensino pre-
fabricados isola e retira a centralidade do professor, colocando alunos e
professores sob controle de processos de ensino on line previamente
“neutralizados” e aprovados. Com isso, tenta-se que o espaço da sala de aula seja
padronizado nos termos da política vigente, sem oponentes. Nem mesmo a sala
de aula, tida como um espaço do professor, pode escapar, procurando pôr fim à
ideia de que “na sala de aula é o professor que faz o que ele entende que deve
fazer, independentemente da política oficial”. No limite, onde estas ações de
controle não conseguem chegar, o “escola sem partido” estimulará o estudante
mais conservador a denunciar o professor.
Trata-se de forçar a “neutralização” da forma de organização escolar
(privatização) e a “neutralidade” de seus atores (“escola sem partido”) para que
o conteúdo do projeto de upgrade da força de trabalho se desenvolva e
transcorra em ambiente politicamente controlado, abrindo espaço privilegiado
para o projeto político conservador/liberal, sem concorrentes. Como vivemos
sob o projeto político de interesse do capital e o vivenciamos em todos os
aspectos da vida, ele é “naturalmente” assimilado nestes espaços e levado para
dentro das escolas, sendo também vivenciado na própria organização política e
pedagógica da escola (esta mesma forma e conteúdo escolar que os estudantes
mais organizados rejeitam hoje ao ocupar as escolas).

Tudo que se pretende é tentar abafar as contradições evitando que tais


concepções políticas conservadoras/liberais, assumidas em outros ambientes
sociais e exercitadas pela forma e conteúdo da escola atual, sejam “perturbadas”
por alguma ação educativa “esquerdizante” (uma outra visão de mundo) e
permitir que, na ausência desta oposição, aquelas concepções sejam
“naturalmente” reforçadas pela vivência da subordinação e exclusão, embutidas
na organização escolar (a “Ordem e Progresso” do golpe). A disputa de agendas
educacionais que estamos há algum tempo vivenciando, é também uma disputa
pelo “chão da escola”.

São estes processos que precisamos entender e combater. Eles caracterizam um


novo tecnicismo, revigorado tecnologicamente e violento politicamente, um
neotecnicismo. A nossa capacidade de resistência depende também do
entendimento destas novas características. Não se combate o neotecnicismo de
hoje, como se combateu o tecnicismo de ontem.

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