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LIVROS
Inspirado em Jorge Luis
Borges, projeto tenta
ensinar poesia aos robés
Experiéncia busca a dimensio teria ds algoritmos para
tomar interagdo entre humanas e computadores mals
complexa
Foo tterota pee Google Deep Orson tera delle etal que apse as
onwoan ronaes f¥ 8 in
RIO — Passamos cada vez mais tempo interagindo com miquinas. nero
Algoritmos conduzem nossas buseas na internet, nos ajudam com
tarefase, em tese,simplificam nossas vidas. Embora mais intenso do
‘que nunca, 0 diélogo com esses robds, no entanto, continua limitado.
Até agora, as méquinas aprenderam a fazer apenas associagesprecisamos usar termos liters e puramente descritivos. Da mesma
forma, assistentes operacionsis como o Siri, do Phone, no saber
lidar com perguntas flosficas ou exstenciais(experimente pergualar
algo como “Qual éo sentido da existénci, Sir?" ea resposta no
convidar a uma discuss). Em resumo, somos abrigados a nos
adaptar & pobreza da linguagem dos robds se quisermos nos
‘comuniear minimamente com cles. ULTIMAS DELIVROS
Em um artigo de 1986, intitulado “The poet and the computer” (O poeta e faennnenalct
computador, em traducio literal), ojornalista e pesquisador americano vencedores de prémio
Tterério mao 429
Norman Cousins (1915-1990) jé antecipava esse fendmeno, Diante da nos
dependéncia erescente dos computadores, Cousins temia que acabéssemc Emmeioadisputade
. herdeiras, Ceca
porimitara linguagem pritica das maquinas, desumanizando nossa relag Haaren
com o mundo, De tanto nos comuniearmos com os algoritmos, explicon, livraias zswaotr0
nnossas mentes iriam absorver a sua logia friae caleulista. Para ele, a poe:
stichés podem ser
‘As maquinas jé fazem
parte do nosso dia a dia, e
nessa relagao é
importante que nao
aprendamos demais na
diregao delas’
bbem-vindes
Mais de 25 anos depois, no momento em que os ssa 490
algoritmos invadiram de vez 0 nosso cotidiano, uma,
De Pero Vaz de
nova pesquisa tenta colocar em pritica a receita de Caminhaa Michel
‘ ‘ Tomer Chico
Cousins, ligando a subjetividade das metéforas com o Fete ee
raciocinio objetivo da informética. Parceria entre _cartaseflebres aso 20
dliversos centros de pesquisa americanos, 0 projeto
Poetry for Robots (Poesia para Robs) quer ensinar as
“coneypressuan -™4quinas a entenderem — e, por que ndo? —
apreciarem a linguagem postca.
‘A experineia funcionaré em duas partes. Langada em maio, a primeira
etapa convida os internautas a enviarem poemas para ilustrar uma série de
120 fotos sugeridas pelo site do projeto(http://poetrygrobots.com), Cada
‘texto ser associado a uma imagem especifica, gerando “metadados
poéticos” (a pedido do Prosa, os autores André Vallias, Angélica Freitas,
Jacques Fux e Leonardo Villa-Forte esereveram poemas inspirados na
_proposta). Em setembro, a equipe faré operagdes de busea nesse baneo de
imagens para conferir o que as méquinas aprenderam “da nossa poesia e das
nossas conexdies metafbricas, nossa visio humana do mundo”, ou melhor:
aque tipo de associagdes clas eriam entre uma imagem e seu equivalente
lirieo, Em uma segunda etapa, o projeto testaré ainda mais aeriatividade dos
robs, fazendo com que eles escrevam seus proprios poemas a partir dessas
informagaes.
— As méquinasjé fazem parte do nosso dia a dia, e nessa relagdo &
importante que ndo aprendamos demais na diregdo delas — argumenta 0
antropélogo e produtor de midia Corey Pressman, idealizador do Poetry forenvolvendo diretamente o pensamento das artes e das humeniades na
ciéneia da computagio, Entio, sim, ex concordo com a reeita de Cossins
oetas, artistas, autores, filésofos, todos devem acompanbar os engenbeiros
para que possamos transformara eomputagio em uma verdadeire eholstica
realizagio humana.
_Além de Cousins, Jonge Luis Borges € outa font deinspiragio para 0
projet. Em uma palestra sobre linguagem humana na Universidade de
Harvard, nos anos 60, oescritor argentino definiu a metifora como “uma
identficagio voluntéria, por meio da emoglo, entre dois ou mais concetos
diferentes", capa de eriarconexies entre palavras to dispares quanto
“olhos”e“estrelas". Atualmente, os sistemas de busca usados na internet
fancionam na contramio desse coneeito: quanto mais pobre e descrtiva for
alinguagem, maior a possibilidade de sucesso. Se digitarmos “olhos" no
Google, dficilmente receberemos fotos de estrelas em troca,
Com os “metadados potticos”gerados pelo pojeto, no entanto, isso poder
smudar. Se os robs forem capazes de manipular metéforase entender as
conexies deseritas por Borges, as possibildades de busca seréo ampliadas
signifcatvamente, Para Corey, nossa rlagio com as mquinas ficaré muito
‘mais complexa se as ensinarmos a pensar como nés — e nio o contrario,
— Pereehemas, descrevemos ¢experimentamos a realidade através de nossa
capacidade linguistica —explica 0 pesquisedor. — Este éuma operagio rea ¢
complexa, enja abordagem ainda eseapa ao metadado deseritvo tipieo. Em
ver disso, ele incu informagies ténieas ¢, na melhor das hipéteses, una
pequena lista de adjetivos metonimicos fomecidos por estagirios nao
remunerados.
Poctry for Robots é apenas mais uma iniciativa recente a mergulbar na
sensibilidade digital. Novos programas de intligéncia artificial, como 0
_Deep Dream, nos permitem conhecer as “reds neurais” do Google. Ao
reinterpretar uma imagem através de uma camada de newrbnios artis,
«que a transforma praticamente em uma obra surrealist, o sistema nos
‘mostra uma espécie de "sonho" ou “inconsciente coetivo dos robs.
Jorge Lis Brae, cs palseas am Haran saram de inspira paa o Paty for Robe
Como previn Cousins, a poesia se mostrow uma ferramenta preciosa para
desenvolvero potencial intelectual e erative dos computadores. Emboraseia
preciso esperar até setembro para conhecer os versos que os robis do Poetry
for Robots io eriar, outros projetosjé nos dio exemplos concretos de uma
nova corrente conhecida como “poesia-robs". 0 easo do Pentametron
(@pentametron), uma conta de Twitter que compde sonetos a partir de
‘tweets alheios. Com o uso dos algoritmos, ele rastreia publicagJes aleatbriasOs autores dos tweets nio sio avisados de que esto participando da
experiéneta, o que signifiea que, neste exato momento, o leitor desta
reportagem pode estar compondo versos em parceria com robés sem sequer
saber disso, Mesmo abusando involuntariamente do nonsense, 0s sonetos
permanecem figs & métrica rigorosa do pentémetro,e aesbam
‘surpreendendo por sua estranha beleza e sonoridade,
= 0s poemas so interessantes porque so tecnicamente perfeits:o ritmo e
a rima costumam funcionar muito bem, mesmo que o contetido seja
arbitrério — avalia o artista e programador Ranjit Bhatnagar, eriador do
projeto, — E interessante ver as conexes entre dois tweets aleatorias,e&
satisfatorio quando eles parecem se relacionar de alguma forma,
CCriado pela b_areo, um centro cultural de pesquisa de
‘As Humanidades Digitais,
que aplicam técnicas da
ciéncia da computagao e
de data para entender a
literatura de outras
maneiras, é uma drea de
pesquisa relativamente
nova.’
‘Si Paulo, o Pootweet é um exemplo parecido de
.gerador automético poético. Ele permite a qualquer
usuério transformar seus tweets em trés tipos de
\driso. Autora de
soneto, rondel
‘composi por
“Nilo conhego ninguém que nio seja artista” (Editor
Confetaria), a poeta Ana Guadalupe testou o programa,
€ ficou bastante impressionada (leia o poema abaixo).
lsd Darts Conptagiora Utada
—O algoritmo tem uma eapacidade de encontrar
DANIEL ROCKVORE —_trechos eideias que voeé nunca usara, rimando coisas
Dewoah ahsurdas que até fazem sentido — diz ela, — Parece que
‘orobé alcanca um espirto livre e um *eaos criativo” que
fa gente nfo consegue.
‘Nao por acaso, a academia também passou a explorar com mals énfase 0
assunto, Em 2015, @ Universidade de Dartmouth promoverd o primeira
‘Neukom Institute Prizes in Computational Arts, uma série de competigdes
‘em que os partcipantes deverio montar eédligos capazes de gerarcontos,
oemas e misias, Estes concorreréo mais tarde com outras obras eiadas
por humanos — sem que o jr saiba qual é qual.
— As Humanidades Digits, que aplicam téenieas da ciéncia da computacio
‘ededata para entender a literatura de outras maneira, uma érea de
pesquisa rlativamente nova — diz Daniel Rockmore, Professor de Ciéncias
dda Computagio na Universidade de Dartmouth e deslizador da competi,
= Quanto ao nexo particular entre inteligéncia artificial eeseritacriativa,
cxeio que essa colsio de diseiplinas rende questées interessantes em torno
da filosofiae da neurociéneia cognitiva
A jungdo entre algoritmo e literatura nao é exatamente uma novidade, panne
A iferenga é que, nos iltimos anos, os projetos estabeleceram trocas
cada vez mais complexas com os humanos. Como bem observou aacabam, bem ou mal, refletindo a “cadéncia da vida contemporanea” e
dando um sentido ao luxo frenético de informagio das redes sociais,
Os automatismos na literatura existem hé décadas, Basta lembrar as
experiéncias dos dadaistas e 0s poemas combinat6rios do OuliPo —
corrente literéria formada por escritores e mateméticos, que desde os
‘anos 1960 brincam com os geradores de texto informaticos. Dot
‘em Comunicagio e Semiética pela PUC-SP e autor de “Poesia digital: Teoria,
Historia
Antologias” (Kd, Navegat),o pesquisador Jorge Liz Antonio
lembra que a poesia eletriniea se iniciow em 1959, com a publicacko dos
estudos do alemio Theo Luts, eriador de um programa para produzi textos
‘partir de estoques de palavras.
= 0 surgimento dos programas hipertextuais, em 1967, ofereceu inimeras
possibilidades de desenvolvimento do uso das teenologias computacionais
para a eriagdo da literatura: poesia, narrativa e géneros bibridos — lembra
Antonio. — Parece-me que hoje poderiamos pensar que o engenheiro de
‘mundos ¢ grande artista do século XX, como escreveu Pierre Lévy
[Artista de midia e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
sempre foi mediada por uma relagZo maqu‘nica, do pergaminho 30
computador. Mas a simbiose aumenta na medida em que ela encontra os
ispositivos atuais, eapazes de em um s6 tempo ler, escrever e publicar. A
difere da humana em um
maguinizagio de produgio litera, porém,
aspecto essencial: depende da inteligéncia de seu autor, seja ele um ser em.
came eosso ou um algoritmo,
em todo hurmano que sabe ler pode eserever um texto com qualidade
literéria, assim como nem todo algoritmo é um narrador em potencial ~ diz
Giselle
Com algoritmos cada vex mais sfisticados, pode-se temer que a receita de
Cousins seja invertida: depois de permitir uma relago qualificada com os
/humanos, méquinas sensfvels acabariam substituindo a literatura humana,
Hveria alguma chance dos robés se tornarem os escrtores do futuro?
— Obras importantes influenciam mecanismos neurolgios de seus leitores,
tragas sua densidade psioldgicae ao seu entendimento humano, Nao
cio que méquinas gerem textos desse porte — apina oeseitor Jacques
ux, autor de diversos estudos sobre matemsticae literatura, equelanga seu
novo romance, “Brochadas” (Roeco),na proxima quarta. — Mas talvez las
possam criar tramas de livros policiais ou alguns poemas mais triviais.
Corey Pressman, por sua vez, acredita que nfo hé nada a temer desse acordo
entre computadores e humanos. E vai além:cing
O inferno
(Soneto de Ana Guadalupe gerado pelo Poetweet)
Parece ser uma étima consequéncia
Veres e nada falta de respeito,
Comida estragada ou eoincidéncia?
O taxista bastante satisfeito
Divulgar a propria art, ter filho
‘Té morando em sao paulo, amanda?
Cursinho de estilo para susan milko
Gentileza sua! (runea ouvi a banda)
Que beber o qué, litros de pinga?
Recomendo!
Ima little bit nerso da eapitinga
(Querendo “tirar uma graninha
_Momentinhos embalixo delicia
Sentido nenhurn, grande pegadinha
QUATRO POEMAS INSPIRADOS NO PROJETO POETRY FOR
ROBOTS:
André Vallia, autor de ‘ORATORIO - encantagio pelo Rio"
(Azougue/Cultura e Barbirie)como ficou chato
‘ser contempordineo
serelinstantdneo
agora
como ficou chato
ser instantiineo
agora
ae10-i6-016-4
-ghams
n8.pier7-s6-19
1c MIL ous doi caculy METI Moe Weve Cachan MEBRI The wine deat Oncrincionincaotie | MELPoot for Robte-Diulgagso
do inverno,o sol
também o asticar
tarde nos dedos
(namorada nova)
Jacques Fux, autor de "Brochadas” (Roceo)
Posty fr Robots -Reprodugto
Nossos corpos e nossas amas
Deixaram de se entrelagar no despertar da manhaE também aiittima
Brochadas: hé ainda mais mistérios entre o Clu ea Terra
Perdi o mindinho, estimado G.
Bra um rojo explosive, ninguém fazia aniversério
Pendeu por um fio, o dedo sem costura
fax falta. Menos ao digitar,
para isso 6 desnecesstirio
sr rss
Eseritora argentina Selva Almada Angel Rama mostra conexes
‘ver ao Brasillangar novela’O centre mundo das letras ¢
‘vento que arasa’ projetos urbanos na América
Latina