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REDE DE ENSINO DOCTUM

CINARA LUISA SOUZA VENTURA

PROGRAMA INTERDISCIPLINAR DE CAPACITAÇÃO DISCENTE– PICD

TRANSEXUALIDADE:

Aspectos Jurídicos, Noções Gerais e Nome Social.

João Monlevade

2016

1
Cinara Luisa Souza Ventura

TRANSEXUALIDADE:

Aspectos Jurídicos, Noções Gerais e Nome Social.

Programa Interdisciplinar de Capacitação


Discente, apresentado à Rede de Ensino
Doctum – Campus João Monlevade, do curso
do bacharelado em Direito.

Orientadora: Sabrina Tôrres Lage

João Monlevade

2016

2
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................05

HISTÓRIA GERAL....................................................................................07

TRANSEXUALISMO NO BRASIL (PARTE CULTURAL)........................09

TRANSEXUALISMO NO BRASIL (PARTE JÚRIDICA)..........................11

DIREITO CONSTITUCIONAL E O TRANSEXUAL..................................13

DIREITO CIVIL E O TRANSEXUAL.........................................................15

NOME SOCIAL.........................................................................................17

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................18

ANEXOS....................................................................................................19

REFERÊNCIAS..........................................................................................22

3
RESUMO

O transexualismo na maioria das vezes é confundido ou comparado com


intersexualismo ou travestismo ou homossexualismo, que se trata de paridades
completamente distintas. Transexualismo é a consternação de total
inadaptação ao próprio sexo, ligado ao desejo de agregar as características
físicas do sexo no qual se identifica. Quando o individuo assume essa
condição, ele passa a enfrentar uma série de obstáculos, desde o apoio familiar
até conseguir alterar o nome no registro civil. O propósito deste artigo é
evidenciar a evolução do transexualismo, analisando os instrumentos
existentes que tutelam alguns direitos às pessoas transexuais, denotando a
dessemelhança entre transexualidade e outras definições e orientações
sexuais, para, a partir de então esclarecer a importância e necessidade do
Direito Civil e Constitucional e os Direitos Humanos para a efetividade dos
direitos correlacionados às pessoas que enquadram na condição do individuo
trans.

Palavras-chave:

Transexualismo; Direito Civil; Direito Constitucional; Direitos Humanos.

“Se transformou,
Se arriscou,
Se reinventou e gostou.
Ele se transformou.” (Pitty)

4
INTRODUÇÃO

O presente artigo versa a respeito da falha da evolução da sociedade e


legislação em relação à inaplicabilidade dos mesmos direitos assegurados
aos cidadãos identificáveis sob o gênero feminino e masculino às pessoas
transexuais, assim considerados os indivíduos que possuem sexo mental
diferente do sexo corporal.

Neste seguimento, pode-se atentar a várias lacunas nos dispositivos legais, os


quais hipoteticamente asseguram alguns anseios às “pessoas trans”.

Por esta razão, e ainda, considerando a imaturidade de grande parte da


sociedade para lidar com o tema, mister se faz um estudo que demonstre a
necessidade de respeito e igualdade entre os direitos dos indivíduos,
transcendendo a questão do gênero propriamente dita.

O tratado assunto é de extrema importância. Nesta perspectiva, a ascensão do


transexualismo tem evidenciado melhorias em determinados países, como
Argentina, Espanha, Inglaterra e Uruguai, que ratificaram a Lei da Identidade
de Gênero, que reconhece as cirurgias de transgenitalização e alternância nos
documentos às pessoas transexuais.

Enquanto isso, o Brasil situa-se ainda na fase de validação do nome social em


respeito à identidade de gênero, mas mesmo assim, trata-se de normativa
pouco reconhecida em alguns meios sociais tais como: bancos, instituições de
ensino e repartições públicas.

E mesmo assim tal mecanismo apresenta-se falho nas corporações citadas


acima, pois o Estado não está moldando este instrumento de modo que o
mesmo seja eficaz para os transexuais.

É expressivo o número de projetos de leis, decretos, regulamentos e leis que


ainda não entraram em vigor, e aqueles que entraram não são totalmente
eficientes para assegurar os direitos e a dignidade dessas pessoas.1

Diante exposto, presente o artigo traçará uma breve história acerca do


transexualismo, emaranhando os dispositivos já existentes, os métodos
1
Disponível em Anexos.

5
elaborados, para, ao final, ressaltar a problemática da alteração do nome civil
para o nome social das pessoas transexuais no registro civil e nos órgãos
públicos.

À vista disso, a primeira parte do artigo será reportada a historia geral do


transexualismo, relatando sua definição como uma perturbação mental e suas
alusões com outras definições sexuais; o conceito de gênero e os diversos
tipos de orientações sexuais existentes dando os devidos significados.

Na segunda parte será tratado à designação do transexualismo e seus reflexos


no Direito Civil e Constitucional brasileiro, além de expor os progressos
legislativos atuais.

E na terceira parte patentear as criticas relacionadas às propostas e


mecanismos vigentes apresentados, bem como, propor melhorias em prol do
amparo da igualdade e respeito dos direitos fundamentais dessas pessoas que
ainda são frutos da insciência travestida de preconceito na sociedade
brasileira.

6
1. HISTÓRIA GERAL

O transexualismo compõe o Diagnostic and Statistical Manual of Mental


Disorders (Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtorno Mental), que é
um manual publicado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) usado
por especialistas em saúde mental para descrever as características de certo
distúrbio mental e indicar como o mesmo pode ser distinguido de outros
problemas semelhantes.

Sendo assim, o transexualismo é considerado uma perturbação complexa,


proveniente de uma certeza que seu sexo mental é diferente de seu sexo
corporal. Difere-se da Esquizofrenia pelo fato de não denotar sintomas
compatíveis a este distúrbio. 2

No final do século XVI, extinguiu-se a regulamentação religiosa e pública qual


obrigava o agente hermafrodito escolher seu sexo na premissa que jamais
poderia usar o outro.

Este conceito faz alusão ao transexualismo pelo motivo de presumir uma


indefinição entre o sexo feminino e masculino. O transexualismo é retratado
como neuroendócrino, em objeção a todo molde de psicogênese3.

O transgenerismo agrega os anseios dos transexuais, travestis e dos


homossexuais.

Desse modo, a trajetória do transexualismo foi construída fundamentando em


concepções essencialistas e construtivista, pretendendo dizimar os
preconceitos.

A Psicanálise vê a homossexualidade como uma disfunção que não carece de


alteração de personalidade, e já a Sexologia estima que as condutas
homossexuais se encaixem a sexualidade natural. Mesmo assim o
transexualismo é confundido como homossexualismo, travestismo,

2
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders – DSM)
3
Elemento da Psicologia que possui a função de estudar o desenvolvimento dos recursos mentais e
funções psíquicas que podem causar variações no comportamento da pessoa.

7
intersexualíssimo e hermafroditismo, sendo assim segue o breve conceito dos
citados.

Karl-Maria Kertbeny foi um jornalista, escritor, ativista dos Direitos Humanos e


criador da palavra “homossexual”. Para ele, a homossexualidade é imutável e
de nascença, e os indivíduos homossexuais são homens que sentem atração
por outro homem e não afeminados por natureza.4

Já travestismo, conforme Jaqueline Gomes de Jesus é a pessoa que possui o


gênero feminino e masculino, porém não se identifica como mulher ou homem,
mas deve ser tratada sempre no feminino, em questão de respeito.5

Por fim, de acordo com o Manual de Comunicação LGBT, o intersexual e o


hermafroditismo baseiam-se na variedade de condições genéticas e/ou
somáticas com que um indivíduo nasce, de modo que sua anatomia não se
enquadra ás delimitações do sexo feminino ou masculino.6

Diante exposto nota-se que a evolução da sociedade faz com que a cultura
progrida de maneira eficaz, adaptando e criando novos conceitos que encaixe
toda a diversidade sexual daquela massa.

4
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl-Maria_Kertbeny Acesso em: 02/11/16.
5
Disponível em: https://issuu.com/jaquelinejesus/docs/orienta__es_popula__o_trans
6
Disponível em: http://www.abglt.org.br/docs/ManualdeComunicacaoLGBT.pdf

8
1.2 TRANSEXUALISMO NO BRASIL (PARTE CULTURAL)

A tratativa acerca do transexualismo normalmente é vista na literatura


psicanalítica, jurídica e médica, possuindo mais especialidade essencialista
que cultural.

No Brasil, no século XX, a Identidade de Gênero era dada a partir do gozo de


genitálias adequadas ao sexo. A Identidade Sexual direciona o indivíduo a uma
categoria deliberada. Esse princípio foi utilizado para criar a Identidade
Transexual.

O primeiro brasileiro que se submeteu a cirurgia de troca de sexo foi o João W.


Nery. Nascido na década de 50, João, nunca se considerou lésbica, ele se
considerava um ‘’ET sem classificação’’. Formou-se em Psicologia e
especializou-se em Sexologia, licenciando em três universidades do Rio de
Janeiro.

Antes da cirurgia, João, possuía uma figura andrógena, tinha documentação


feminina, mas se portava de forma masculina, com isso ele sofreu diversas
acusações, como por exemplo, de falsidade ideológica. Aos 27 anos, João,
conheceu uma equipe pioneira no Rio de Janeiro que estudava sobre a
transexualidade, interessou sobre este assunto e sujeitou-se a todos os
procedimentos.

Após a cirurgia ele não pode entrar na justiça para trocar seu nome, pois
naquela época (anos 70) ele corria risco de ser preso por portar dois CPFs.
Com o passar do tempo ele tomou a inciativa de ir ao cartório e tirou uma
documentação com nome masculino, como se fosse o primeiro registro,
ocasionando a perda de todo seu currículo escolar anterior, fazendo com que
ele trabalhasse em áreas não correspondentes a sua formação.

Após 30 anos de cirurgia, João W. Nery tornou-se militante dos direitos LGBT e
psicólogo virtual, atendendo todas as pessoas que o procuram, além de possuir
uma lista de médicos e advogados no país que ajudam os transexuais que
sofrem Transfobia no ramo social e familiar.

9
Os direitos postulados pelos transexuais estão voltados à troca de sexo e de
nome na documentação, pois conseguindo esses direitos, eles poderiam vir a
ter a liberdade explícita de poder frequentar vestiários referentes ao sexo no
qual ele aderiu pós-cirurgia, e demais direitos.

Para uma relevante parte da sociedade brasileira os travestis, homossexuais


(afeminados) e os transexuais são enquadrados em uma classe social
denominada de “Bicha”, pelo fato de serem homens, mas não usar a genitália
para penetração no sexo oposto.

Grande maioria dessas pessoas, a questão de permanecerem em uma


determinada esfera não condiz que estão submetidos a uma vida em
comunidade. Partes deles apenas reúnem por causas jurídicas e sociais como:
direitos civis, cirurgia gratuita, troca de nome no registro civil, casamento e
adoção. Essa demanda faz com que o encontro deles ocorra em associações e
hospitais onde são realizadas as cirurgias de troca de sexo.

A Identidade Transexual se ergue a partir das ações que são tomadas por eles,
como no ramo profissional optam por ser costureiros, cabelereiros, esteticistas
e afins, além de objetivarem ter uma vida tradicional dentro dos padrões
sociais.

Mas nem sempre conseguem obter esse sonho de forma acessível em virtude
dos preconceitos e discriminações atribuídas a eles, como não tratá-los pelo
nome social (nome relacionado ao sexo que ele se considera), sendo que
nome constado no Registro Geral é considerado humilhante e repugnante, já
que o mesmo não se refere ao sexo optado pela pessoa.

O desrespeito sofrido no seio acadêmico por alunos, professores e gestores e


a falta de apreço recebido em seu núcleo social e familiar, são fatores que
contribuem para saída de casa e para a prostituição.

10
1.2.1 TRANSEXUALISMO NO BRASIL (PARTE JURÍDICA)

Atualmente, a transexualidade está conquistando um espaço admirável na


sociedade. O transexualismo está deixando de ser considerada como doença,
a Classificação Internacional de Doenças7 (CID-11) que é editada pela
Organização Mundial de Saúde, deverá retirar o transexualismo da lista de
doenças8.

Além disso, a cirurgia de transgenitalização não é mais vista como um crime de


mutilação, no Código Penal Brasileiro, mas antes disso ocorrer, foram
registrados vários casos de cirurgias de mudança de sexo feitas de forma
clandestina, nas quais os médicos foram punidos. A cirurgia é regulada pela
Resolução do Conselho Federal de Medicina n° 1995/10, concedendo a aquele
transexual que apresenta incômodo com o sexo anatômico e que demonstra
vontade de assolar as genitálias e características pertencentes ao sexo natural.
Este quadro deve perdurar por no mínimo dois anos.

O artigo 13 do Código Civil de 2002 denota que a previsão que a cirurgia de


resignação seja legal e executada por exigência médica, e com fim terapêutico.

Para submeter a tal cirurgia, a pessoa deve seguir tais requisitos:

 Ser maior de vinte e um anos;


 Não apresentar aspectos físicos improprias para a execução da cirurgia;
 Ser reconhecido pelo médico, como transexual.

O individuo terá acompanhamento médico multidisciplinar, constituído por


assistente social, cirurgião, ginecologista, urologista, endocrinologista,
psicólogo e psiquiatra, por no mínimo dois anos. A cirurgia poderá ser feita
tanto na esfera particular, tanto na esfera pública, pelo Sistema Único de
Saúde (SUS).

O Sistema Único de Saúde oferece ao paciente:

7
Disponível em: http://www.cid10.com.br/
8
Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/12/1378921-transexualismo-
deve-sair-da-lista-de-doencas-mentais.shtml>

11
 Equipe de médicos que irão acompanhar a pessoa antes e após a
cirurgia;
 Exames laboratoriais (pré-cirúrgico);
 Exames laboratoriais para controle dos níveis hormonais;
 Hormônios necessários antes da realização da cirurgia;
 Hospital adequado para a efetuação da cirurgia.

E também credencia os hospitais9: Hospital de Clínicas de Porto Alegre


(UFRGS), Hospital Universitário Pedro Ernesto (Universidade Estadual do Rio
de Janeiro), Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo e Hospital das Clínicas (Universidade Federal de Goiás) para a
cirurgia de transgenitalização.

Após a cirurgia, o transexual deve alterar seu nome civil, inserido o nome
social, aquele condizente com o sexo atual do individuo, porém está questão
agrega divergências entre os doutrinadores. Para a jurista Maria Helena Diniz,
a jurisprudência deve aceitar a alteração do nome civil para o social, e para a
também jurista Patrícia Pires Cardoso, não há necessidade para alteração do
nome civil sendo que não haja nenhuma alusão discriminatória.

O transexual possui o direito de exercer sua personalidade e dispor do próprio


corpo, pois tais atos fazem parte dos direitos da personalidade, que estão
assegurados no Código Civil.

9
Diário Oficial da União, SAS/457 publicou os hospitais credenciados pelo SUS para a realização da
cirurgia.

12
2. DIREITO CONSTITUCIONAL E O TRANSEXUAL

A Constituição de 1988, fundada por representantes do povo, reunidos em


Assembleia Nacional Constitucional tem como função assegurar à aplicação
dos direitos sociais, individuais, a justiça, bem-estar, liberdade e igualdade
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos e consagrou o Principio da Dignidade da Pessoa Humana, em
seu primeiro artigo, como um fundamento da república e do Estado
Democrático de Direito. Destarte, o ser humano foi inserido no centro de todo o
ordenamento jurídico. Sendo assim, todas as leis, normas, decretos e dentre
outros mecanismos são elaborados de modo que não lese a dignidade do
indivíduo.
A Dignidade da Pessoa Humana é constituída por direitos básicos, como
saúde, educação, segurança, moradia e trabalho, que através da execução
destes o individuo possui o mínimo existencial para viver de forma respeitosa e
digna na sociedade. Em palavras mais concretas, segundo Ingo Wolfgang
Sarlet10 define o conceito da Dignidade da Pessoa Humana como:
Qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que
o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do
Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de
direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra
todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a
lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável,
além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável
nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os
demais seres humanos. (Sarlet, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa
Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988.
2001 p.50).

Ressaltando dois dos direitos que compõem o Principio da Dignidade da


Pessoa Humana, a saúde e emprego. De acordo com artigo 196 da
Constituição Federal, a saúde é direito de todos e dever do Estado, e o artigo
197, §1° explana o Sistema Único de Saúde, que em 2008 passou a custear
cirurgias de transgenitalização em apenas oito hospitais do país, instalado em
cada região do Brasil, e nestes hospitais foram implantados os denominados
centros de processo transexualizador. Após esse avanço, a demanda de
pessoas interessadas em fazer a cirurgia de transgenitalização aumentou de

10
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição
Federal de 1988. Porto Alegre : Livraria do Advogado. 2001.

13
forma exacerbada, fazendo com que a lista de espera ultrapassasse um
número significativo e ocasionando as pessoas que carregam esse anseio,
procurar unidades particulares para realizar esse procedimento.
No artigo 3°, paragrafo 4°, menciona que promover o bem de todos, sem
preconceito de origem, raça, cor, sexo, idade e quaisquer outras formas de
discriminação, são um dos objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil. E o trabalho está inserido no artigo 6° da Constituição Federal como um
dos direitos sociais.
Mesmo com essas leis, é muito fastidioso para um transexual conseguir um
emprego e manter-se no mesmo de forma harmônica com os colegas de
trabalho. Por começar pelo processo de contratação, quando um transexual é
convocado para participar de uma entrevista, seu nome social que logicamente
diverge do nome constado no registro geral, passa a ser um entrave, pois nota-
se que trata de uma pessoa trans e há pessoas que possuem certo tipo de
preconceito ou desconhecimento sobre o assunto. Após a contratação, o
individuo passa a sofrer preconceito e/ou isolamento por seus colegas de
trabalho, além de sofrer ameaças ou insultos e até mesmo perguntar o porquê
que essa pessoa não procurou outro tipo de profissão, como cabelereiro ou
manicure, pois para algumas pessoas as profissões citadas acima devem ser
realizadas por mulheres, homossexuais, travestis e transexuais, que podem ser
configuradas como preconceito e discriminação.

14
2.2 DIREITO CIVIL E O TRANSEXUAL

A Dignidade da Pessoa Humana está centro de todo o ordenamento jurídico.


Sendo assim, o citado acima impulsiona todos os direitos previstos em lei
respeitarem este princípio.
Com base nisso, nota-se que o Direito Civil não tutela apenas o direito à vida,
ele legitima e assegura o direto à vida digna, como o patrimônio, casamento e
a personalidade da pessoa jurídica e física.
O Código Civil reconhece a personalidade civil da pessoa a partir do
nascimento com vida, além de entender que na fase gestacional, o feto, possui
titularidade de direitos de feitio que o faça adquirir o direito da personalidade.
Os artigos 16°11·, 17°12 e 19°13 preveem o direito e a proteção ao nome.
A partir dessas noções, percebe-se que o cumprimento desses artigos não
abrange de forma considerável todos os indivíduos da sociedade, por exemplo,
os transexuais. Quando um indivíduo assume sua condição trans, ele escolhe
um nome relacionado ao gênero no qual se identifica denominado como nome
social.
A partir disso, a pessoa prefere ser chamada pelo nome social em qualquer
ambiente que esteja frequentando, porém em algumas instituições esse nome
não é respeitado, podendo ser alvo de discriminação e desrespeito, algumas
pessoas ironizam o nome social, intitulando-o como “nome de guerra” de modo
pejorativo.
O nome social quando incompatível com o nome contido no registro geral
ocasiona um desconforto em qualquer ambiente, principalmente em instituições
de ensino e empregatícias.
O Ministério da Educação através da Secretária de Educação Continuada,
rente às unidades educacionais de diversos níveis de ensino vem desde 2004
por meio de ações qualificadas e metas implantadas pelo governo brasileiro,

11 Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. Artigo 16°, Código
Civil, 2002.
12
O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a
exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. Artigo 17°, Código Civil,
2002.
13
O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome. Artigo 17°, Código
Civil, 2002.

15
valorizar, resguardar e comprometer a diversidade sexual nestes espaços
educativos, porém tal método não gera tanta eficácia, educadores e alunos
continuam desrespeitando a pessoa transexual chamando-a pelo nome
constado em registro.
Em outras organizações não há aplicação de técnicas que façam as pessoas
dirigirem ao individuo com o nome social, bastando somente à compreensão e
respeito para com o próximo.
Tendo em vista a memorável porcentagem de pessoas insatisfeitas com o
nome de nascimento, o Estado reconhece o fato e disponibiliza possibilidades
de mudança de nome ou sobrenome, que acontece nos seguintes casos:
1- Erro de grafia: neste caso a correção poderá ser feita no cartório onde a
pessoa foi registrada, por meio de petição assinada por ele ou pelo procurador.
2- Quando expõe a pessoa ao ridículo: a modificação poderá ser feita a
qualquer tempo, basta estar munido de petição e apresenta-la a Vara de
Registros Públicos com justificativas plausíveis.
3- Mudança de Sexo: nesta situação o Estado ainda não autorizou, porém
autoriza a operação de mudança de sexo em rede de saúde pública. Alguns
transexuais conseguem obter essa conquista, pelo fato dos magistrados
aceitarem a Ação de Retificação de Registro Civil, por concordarem que o
nome de nascimento fere a dignidade do individuo trans.
Almejando ser totalmente uma pessoa com o gênero na qual se enxerga, o
transexual precisa recorrer à justiça, gerando lentidão, ao passo que o acesso
à justiça esbarra em entraves que inviabilizam o exercício desse e de outros
direitos, tais como: custo processual elevado, morosidade e quaisquer outros
obstáculos que dificultem a pessoa a obter a tutela jurisdicional.

16
3. NOME SOCIAL

O nome social é empregado quando uma pessoa portadora de um nome ou de


uma designação sexual não é condicente com sua real identidade de gênero 14,
podendo ocasionar o dilaceramento da integridade moral do indivíduo que vive
sob essa condição.

Determina-se o nome social como o nome civil15que ainda não foi incorporado
à personalidade da pessoa natural. Consequentemente o prenome 16 é
publicamente diverso do nome civil de quem o possui.

Sendo assim, o Direito Civil resguarda os direitos inerentes da personalidade,


através do Poder Judiciário que exerce tal proteção de duas formas: repressiva
e preventiva. A primeira impõe sanção criminal e civil quando ocorre o
ferimento na personalidade do agente, a integridade moral. E a segunda visa
prevenir o dano na personalidade e os acontecimentos que possam gerá-lo.

Atualmente o Estado dispõe de decretos, portarias e dentre outros


instrumentos que visam efetivar os direitos dos transexuais e travestis e da
personalidade, a partir da alteração ou mudança do prenome apenso ao nome
civil, de modo que o nome social edulcore o dessabor ou impasses enfrentados
cotidianamente por essas pessoas.

O Decreto N°8.727, de abril de 2016, assim como a Portaria 1820 de


13/08/2009 do Mistério da Saúde e a Portaria 1.612 de 18/11/2011 tutelam e
permitem o direito de usar o nome social em entidades e órgãos educacionais,
da administração pública federal direta, repartições e autarquias. E conforme o
artigo 1°, II do Decreto citado acima, o nome social abrange não somente os
transexuais, mas também os travestis.

14
Dimensão da identidade de uma pessoa que diz respeito à forma como se relaciona com as
representações de masculinidade e feminilidade e como isso se traduz em sua prática social, sem
guardar relação necessária com o sexo atribuído no nascimento. Artigo 1°, II do Decreto N°8727, de abril
de 2016.
15
Nome civil é a designação pela qual a pessoa identifica-se no seio da família e na sociedade.
Goncalves, Carlos Roberto, p51. 2003.
16
Nome que antecede o sobrenome (nome de família), nome de batismo.

17
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante décadas, a transexualidade é vista com olhos vilipendiosos pela


sociedade e pelo Estado, devido à morosidade do último para reconhecer os
direitos dos transexuais e travestis, e da população em respeitar os indivíduos
que vivem sobre essa condição.

Compreende-se que através dos movimentos em prol da obtenção dos direitos


da comunidade LGBTI, acima de tudo o respeito para com os indivíduos
pertencentes a este grupo, o Estado juntamente com outros órgãos e entidades
começaram a desenvolver mecanismos para minimizar o sofrimento que essas
pessoas passam devido as suas condições.

Os direitos da personalidade, assim como outros direitos basilares são


inerentes ao ser humano, sem distinção de sexo, cor, raça, etnia, orientação
sexuais e afins, que contribuem para a preservação da dignidade daquele
individuo.

O cumprimento dos direitos dos transexuais, não se dá apenas pelo emprego


do nome social, e sim pela alteração do nome e sua adequação ao Cartório do
Registro Civil, além da descomplexificação do procedimento de
transgenitalização por inteiro.

A criação de inúmeras portarias, projetos de leis, decretos, regulamentos e


resoluções, apenas demonstra o quão são ineficazes, uma vez que o artigo 5°
da Constituição da República prega que todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza. Restando apenas acessibilização da alteração
do nome civil para o social sem utilizar o acesso à justiça e a metodologia da
cirurgia de mudança de sexo.

Destarte, o respeito mútuo aplicado em forma do emprego do nome social em


todas as instituições, a viabilidade de forma célere da cirurgia de
transgenitalização no Sistema Único de Saúde e a alteração do nome social
em registro civil seria os primeiros passos essenciais para efetivação dos
direitos dos transexuais na sociedade.

18
ANEXOS

A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e


Transexuais apresenta em seu site um rol de Decretos, Leis, Pareceres,
Projetos de Leis, Resoluções e Referências que foram criados em prol da
efetivação dos direitos dos LGBTI17, abrangendo as esferas estaduais, federais
e municipais18.

ESTADUAL
Administração Pública;
Decreto nº 1675/2009 - Estado do Pará - Administração Direta e Indireta;
Lei 5916/2009 - Estado de Piauí - Administração Direta e Indireta;
Decreto 55.588 - Estado de São Paulo - Administração Direta e Indireta;
Decreto 35051/2010 - Estado de Pernambuco - Administração Direta e outros;
Decreto 43065/2011 - Estado do Rio de Janeiro - Administração Direta e Indireta;
Decreto Normativo 13684, de 12/07/2013 - Estado do Mato Grosso do Sul - Administração Direta e
Indireta.
Assistência Social
Portaria Nº 26/2009 Estado do Piauí - nome social nas unidades de assistência social e cidadania;
Portaria nº 220/2009 - Estado da Bahia - unidades e órgãos da SEDES;
Portaria 438/2009 - Amazonas;
Portaria 041/2009 – Paraíba.
Educação
Resolução CEE/CP Nº 05/2009 Estado de Goiás - nome social nas escolas;
Parecer Nº 04/2009 CEE - Estado de Goiás - nome social nas escolas;
Ofício 731/2009-CG-SEDUC - Estado do Maranhão;
Parecer Nº 04/2009 CEE - Estado de Goiás - nome social nas escolas;
Portaria Nº. 016/2008 – GS - PA - nome social nas escolas;
Parecer nº 277 de 11/08/2009 - Estado de Santa Catarina - nome social nas escolas;
Resolucao 132/2009 - Santa Catarina;
Portaria Nº. 016/2008 – GS - PA - nome social nas escolas;
Parecer 010/09 - Mato Grosso;
Parecer nº 277 de 11/08/2009 - Estado de Santa Catarina – nome social nas escolas;
Parecer 155/2010 - CEE Alagoas;
Resolucao 132/2009 - Santa Catarina;
Portaria - Distrito Federal;
Parecer 010/09 - Mato Grosso;
Parecer CP/CEE 01/2009 – Paraná;
Parecer 155/2010 - CEE Alagoas;
Resolução 32/2010 – Tocantins;
Portaria - Distrito Federal;
Parecer 739/2009 – Rio Grande do Sul;
Parecer CP/CEE 01/2009 – Paraná.
Serviços de Saúde
Resolucao 208/2009 - CRME São Paulo;
Resolução 188/2010 - SESA – Paraná.

17
LGBTI: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis e Intersex.
18
Disponível em: http://www.abglt.org.br/port/nomesocial.php

19
FEDERAL
Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional.
Sistema Único de Saúde
Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde / Portaria GM 1820/2009.
Supremo Tribunal Federal
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4275 - Nome Social Transexuais;
Mensagem do Presidente Lula e Parecer AGU - ADI 4275.
Congresso Nacional
Projeto de Lei da Câmara nº 072/2007 (PL 6655/2006);
Projeto de Lei 2976 2008 - Nome Social Travestis.
Ministério da Educação
MEC/SECAD Parecer nº 141/2009;
Indicação 6497/2010.
Instituições Federais de Ensino
Instituto Federal de Santa Catarina - Deliberação CEPE/IFSC 006;
Universidade Federal do Paraná – Processo Nº 23075.048870/2008-57 AGU/PGF – Procuradoria Federal
na UFPR;
Universidade Federal de Sergipe - Portaria 2209, de 18/06/2013;
Conselho Federal de Serviço Social.

MUNICIPAL
Administração Pública;
Decreto Nº 3902/2009 - São João Del Rei-MG - nome social na administração pública e na iniciativa privada;
Portaria nº 384/2010 - João Pessoa-PB;
Decreto nº 006/2009 - Picos-PI - nome social na administração pública;
Decreto 51180/2010 - São Paulo-SP;
Lei 5992/2009 – Natal-RN;
Decreto 8328/2010 – Botucatu-SP.
Assistência Social
Educação
Parecer CME nº 052/2008 - Belo Horizonte-MG;
Resolução CME/BE Nº 002/2008 - Belo Horizonte-MG - nome social nas escolas;
Portaria 03/2010 - Fortaleza-CE.
Serviços de Saúde
Portaria/SS/GAB/Nº 026/2010 – Florianópolis-SC;
Pareceres sobre nome social para menores de 18 anos;
Parecer nº 01/2013 - Núcleo de Prática Jurídica da Universidade Federal do Paraná.

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Nome Social – Referências
Documentos de Referência;
Anais da 1ª Conferência LGBT (p. 211);
Texto base da 1ª Conferência LGBT (p. 22);
Folheto: “A travesti e o educador” ;
Juventudes e sexualidade (pesquisa da UNESCO) (p. 277-304);
Princípios de Yogyakarta (p. 23);
Programa Brasil Sem Homofobia (p. 22);
Legislação e Jurisprudência LGBTTT (p. 265);
Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde (p.4-5);
Plano Nacional de Enfrentamento da Epidemia de Aids (p. 32-33);
Resoluções do I Congresso da ABGLT (p. 41);
Bibliografia - Artigos Zambrano;
Breves considerações registro civil.
Cotidiano
Decisão judicial autoriza mudança de nome;
Novo registro TJ/SP;
TJ completo;
Transexuais lutam para trocar nome de registro;
Artigo - Os gays e seus pais.

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REFERÊNCIAS:

Jesus, Jaqueline Gomes; Orientações sobre Identidade de Gênero:


Conceito e Termos; 2ª Edição. Brasilía, 2012.

Ribeiro, Mara Rejane; Ribeiro, Getúlio; Educação em Direitos Humanos e


Diversidade: Diálogos Interdisciplinares; Ufal, Maceio-AL.2012.

Vieira, Tereza Rodrigues; Direito à Adequação de Sexo do Transexual;


UNOPAR Cient., Ciênc. Juríd. Empres., Londrina, v. 3, n. 1, p. 47-51, mar.
2002.

REFERÊNCIAS ONLINE:

http://www.abglt.org.br/docs/ManualdeComunicacaoLGBT.pdf

http://www.abglt.org.br/port/nomesocial.php

Almeida, Milena Piovezan; Transexualismo: possibilidades e limites


jurídicos de uma nova identidade sexual; Disponível em:
<http://milenapiovezan.jusbrasil.com.br/artigos/113501120/transexualismo-
possibilidades-e-limites-juridicos-de-uma-nova-identidade-sexual>

Ballen, Kellen Cristina Gomes, Bizetti, Lilian Fernanda; NOME CIVIL EM


CONTRAPOSIÇÃO COM NOME SOCIAL COMO (DES)SERVIÇO A
EFETIVIDADE DE DIREITOS NA SOCIEDADE GLOBALIZADA; Centro
Universitário Cesumar – UNICESUMAR. Disponível em:
<http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=73ed442a8eafbb12>.

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/28/politica/1440778259_469516.html

Ceccarelli, Paulo Roberto; A Invenção da Homossexualidade. Disponível


em: <http://ceccarelli.psc.br/pt/?page_id=163>.

http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/12/1378921-
transexualismo-deve-sair-da-lista-de-doencas-mentais.shtml

http://ggemis.blogspot.com.br/2014/08/lgbt-lgbti-lgbtq-ou-o-que.html

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http://karl-maria-ketbeny.blogspot.com.br/2006/03/origem-da-palavra-
homossexual.html

Martines; Rafael Henrique Gonçalves. Os principais direitos e os problemas


enfrentados pelos transexuais. Disponível em:
<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6669/Transexualismo>.

Moraes, Maria Celina Bodin de. Sobre o Nome da Pessoa Humana.


Disponível
em<http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista12/revista12_
48.pdf>.

Oliveira, Antônia Leonida de. Análise Jurídica da Transexualidade no


Brasil. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/41713/analise-juridica-da-
transexualidade-no-brasil>.

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20152018/2016/Decreto/D8727.htm#
art3

http://www.plugbr.net/cirurgia-de-mudanca-de-sexo-%E2%80%93-hospitais-
credenciados-e-a-intencao-do-sus/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Maria_Kertbeny

Ribeiro, Leonídio; Ciencia, homossexualismo e endrocrinologia. Disponível


em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
47142010000300009>.

Rodrigues, Gustavo; Nome Civil x Nome Social. Disponível em:


<https://gustavorodriguesgr18.jusbrasil.com.br/artigos/111988247/nome-civil-x-
nome-social>.

Stamatis, Carolina Dias Lopes; A CIRURGIA DE MUDANÇA DE SEXO E AS


RELAÇÕES JURÍDICAS. Disponível em:
<http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=9900>.

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