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W. S. Silva
Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa.
R. F. Azevedo
Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa.
RESUMO: O presente trabalho apresenta os primeiros resultados obtidos com um edômetro para
ensaios de adensamento hidráulico (HCT – Hidraulic Consolidation Test) desenvolvido na
Universidade Federal de Viçosa (Silva, 1999). O equipamento é semelhante ao apresentado por
Abu-Hejleh et al. (1996). Neste sentido, faz-se uma breve apresentação do equipamento e em
seguida, a análise dos ensaios feita através da teoria unidimensional do adensamento por
deformações finitas e um procedimento de otimização para obter os parâmetros das relações
constitutivas (índice de vazios versus tensão efetiva e índice de vazios versus permeabilidade) é
apresentada. Finalmente, o novo equipamento e sua análise são usados com três diferentes
materiais e os resultados obtidos são comparados com os obtidos em um ensaio edométrico por
deformação constante (Silva, 1999).
2 EQUIPAMENTO HCT
Figura 1. HCT da UFV.
O equipamento desenvolvido na UFV
(Figura 1) pode ser dividido nos seguintes Com o primeiro ensaio, e00, é
componentes: (i) painel de controle de pressão; aproximadamente determinado misturando-se
(ii) bomba de fluxo; (iii) célula de ensaio com uma quantidade suficiente de lama com uma
um transdutor diferencial de pressão capaz de consistência desejável. Após a
medir até 35 kPa de diferença de pressão com homogeneização, o solo é colocado dentro de
uma precisão de 0,0875 kPa; (iv) sistema de dois vasilhames e deixado em repouso até uma
carregamento e (v) sistema de aquisição de interface sólido-líquido aparecer. Então, o
dados. líquido acima do topo do solo é
Uma descrição detalhada de cada cuidadosamente removido e duas amostras por
componente pode ser obtida em Silva (1999) e vasilhame são coletadas da superfície do solo
Silva e Azevedo (1999). para determinar seus teores de umidade.
Assumindo que as amostras estão saturadas e
conhecendo-se a densidade específica dos
3 PROCEDIMENTOS DE ENSAIO sólidos (Gs), índices de vazios são
determinados. A média desses valores é
A parte experimental do ensaio de considerada ser e00.
adensamento hidráulico é dividida em quatro O SICT inicia colocando a amostra com
fases que são: uma consistência desejada dentro da célula de
Um ensaio para a determinação do índice de ensaio. Duas horas depois, um top cap com
vazios correspondente à tensão efetiva zero uma pedra porosa é cuidadosamente colocado
(e00); sobre a amostra. A célula de ensaio é montada
Um ensaio de adensamento induzido por e o sistema saturado com uma contrapressão de
forças de percolação (SICT) em que um fluxo 250 kPa. Sob estas circunstâncias, a amostra
é imposto através da amostra e esta deforma adensa durante 24 horas decorrente de seu peso
até o estado permanente ser alcançado; próprio e da sobrecarga do top cap. Após este
Um ensaio de carregamento em etapas estágio, a bomba de fluxo é colocada em
(SLT) que consiste em um carregamento da funcionamento, succionando água da base da
amostra, após o SICT, com uma carga amostra. Decorrente deste fluxo de cima para
constante; e, baixo, a amostra adensa e uma diferença de
Um ensaio de permeabilidade com bomba pressão de água aparece entre seu topo e sua
de fluxo (FPPT), para cada carregamento base. Esta diferença aumenta com o tempo,
doSLT, para medir a permeabilidade enquanto a amostra adensa, até um valor
correspondente. constante, ∆PH, ser alcançado. Neste ponto, o
226
chamado estado permanente é alcançado, valores de σL, eL e kL é suficiente para a análise
significando que o adensamento induzido pelas do ensaio.
forças de percolação cessou. Conseqüentemen- Após o término do ensaio, a amostra é
te, a velocidade da fase sólida é nula e a removida e seu peso seco, Wd, determinado.
velocidade da fase líquida, v, é obtida
dividindo-se a vazão da bomba, q, pela área da
seção transversal da amostra, A. A altura da 4 ANÁLISE DO ENSAIO
amostra, HF, é medida e a tensão efetiva na
base da amostra deve ser calculada por: A análise do ensaio, apresentada por Abu-
Hejleh et al.(1996), é baseada na teoria
σ’b = σ’0 + γwHs(Gs - 1) + ∆PH (1) unidimensional do adensamento por
deformações finitas desenvolvida por Gibson
onde: σ’0 = tensão efetiva dada pelo top cap; γw et al. (1967). A equação governante é dada por:
= peso específico da água; Hs = altura de
sólidos da amostra igual a Wd/(GsγwA), onde k ∂e ∂ k dσ′v ∂e ∂e
(Gs −1) d − = (4)
Wd é o peso seco da amostra. de 1+ e ∂z ∂z γ w (1+ e) de ∂z ∂t
227
Note que conhecendo a distribuição de obtidos numericamente. A determinação de
índice de vazios, é também possível descobrir σ’bteor e HFteor é feita por um processo iterativo
a altura da amostra pela equação: seguindo os seguintes procedimentos:
Uma distribuição inicial de tensão efetiva,
∫ (1 + e )dz
HS
H Fteor = (9) decorrente do adensamento por peso próprio e
0 da sobrecarga do top cap é obtida utilizando-se
os dois primeiros termos da Eq. (7). Com essa
A análise do ensaio supõe que a relação distribuição de tensão efetiva e para valores
constitutiva entre índice de vazios e tensão assumidos dos parâmetros A, B e Z obtém-se
efetiva é dada por (Silva, 1999): uma distribuição de índice de vazios,
decorrente do adensamento por peso próprio e
e = A(σ’v + Z)B (10) da sobrecarga, utilizando-se a Eq. (10). Essa
distribuição de índice de vazios e valores
e a relação constitutiva entre permeabilidade e assumidos de C e D são utilizados como
índice de vazios é dada por (Silva, 1999): entrada na Eq. (11) determinando-se uma
distribuição de permeabilidade. Esses valores
k = CeD (11) de permeabilidade e índice de vazios são
utilizados no terceiro termo da Eq. (7) para
onde A, B, C, D e Z são parâmetros calcular as tensões efetivas devidas às forças
constitutivos do solo, sendo o objetivo da de percolação, atualizando assim, a
análise determiná-los. distribuição de tensões efetivas. Essa nova
Cabe mencionar que: distribuição de tensão efetiva é novamente
- conhecendo o índice de vazios para a tensão levada à Eq. (10), determinando-se uma nova
efetiva zero, a Eq. (10) pode ser escrita como: distribuição de índice de vazios que será
levada à Eq. (11) para a determinação de novas
e 00 permeabilidades. Essas permeabilidades serão
A= (12) novamente levadas ao terceiro termo da Eq. (7)
ZB
conhecendo-se nova distribuição de tensões
- a partir dos resultados do SLT e usando as efetivas. Esse processo é repetido até que seja
Eq. (10) e (12): atingido um critério de convergência
preestabelecido. Uma vez que a distribuição de
σ′L índice de vazios no estado permanente é
Z= (13) alcançada, a altura da amostra é calculada
(eL e 00 ) B −1
1
como descrito pela Eq. (9) e a tensão efetiva na
base é calculada como:
- e a partir do FPPT e Eq. (11):
σ’bteor = (eb/A)1/B - Z (16)
kL
C= (14)
(e L )D onde eb é o índice de vazios calculado na base
da amostra. Estes valores são então usados
para calcular o valor da função objetiva Err
Conseqüentemente, os parâmetros B e D
(Eq. 15). Caso o valor da função objetiva não
são independentes e cabe à análise do ensaio
esteja dentro dos limites previstos, inicia-se um
determinar o melhor par destes parâmetros.
processo de otimização dos parâmetros B e D,
Para isso, um processo de otimização é
baseado no método de Newton e na estratégia
realizado para minimizar a função objetiva
de procura em linha (Vanderplaats, 1984). Este
dada por:
processo de minimização continua até a função
σ′b HF
Err(B, D) = 1 − + 1− (15) objetiva, Err, tornar-se menor que um pequeno
′
σ bteor H Fteor valor fornecido, em geral 10-4.
Esta análise é automaticamente feita por um
onde σ’b e HF são valores experimentais programa de computador chamado SICTA
obtidos durante o SICT, e σ’bteor e HFteor são (Seepage Induced Consolidation Test)
228
desenvolvido pela Universidade do Colorado mm/min e o realizado com a amostra CB com
(Abu-Hejleh e Znidarcic, 1992). a velocidade de 0,035 mm/min.
229
Tabela 2. Resultados experimentais dos ensaios realizados
10
instrumentação fornece resultados confiáveis
CB
somente para valores de tensão efetiva acima
de aproximadamente 5 kPa.
Índice de vazios
8 CA
Com relação à permeabilidade, observa-se
6 RE
também, uma boa concordância entre os
4 resultados do ensaio HCT e os resultados do
ensaio CRD, exceto para a amostra CA.
2 Os resultados apresentados demonstram o
bom funcionamento do equipamento e a
0 confiabilidade dos resultados obtidos com a
0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000 análise.
Tensão efetiva (kPa)
Figura 5. Características de compressibilidade 6
Índice de vazios
5
das amostras ensaiadas.
4
3
10 2
1
Índice de vazios
8 CB 0
CA 0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000
6 Tensão efetiva (kPa)
RE
4 HCT CRD-simplif. CRD-complexa
Índice de vazios
permeabilidade do que o ensaio CRD. Por 5
outro lado, o ensaio CRD não dura mais do que
4
um dia enquanto o ensaio apresentado neste
3
artigo leva pelo menos três dias para ser
concluído. 2
Em conclusão, o novo ensaio de 1
adensamento é claramente melhor do que o 0
ensaio CRD que tem sido freqüentemente 1,E-10 1,E-09 1,E-08 1,E-07 1,E-06 1,E-05
usado no Brasil para ensaiar materiais muito Permeabilidade (m/s)
moles, como os rejeitos. O ensaio entretanto, é HCT CRD-simplif. CRD-complexa
mais demorado e mais trabalhoso. Nas
circunstâncias em que as relações constitutivas Figura 10. Verificação da permeabilidade,
de adensamento são necessárias para valores amostra CA.
de tensão efetiva maior do que 10 kPa, o
ensaio CRD é ainda uma boa alternativa. 10
Índice de vazios
8
6
6
Índice de vazios
4
5
4 2
3 0
2 0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000
1
Tensão efetiva(kPa)
0
HCT CRD-simplif. CRD-complexa
1,E-10 1,E-09 1,E-08 1,E-07 1,E-06 1,E-05
amostra RE. 8
6
6 4
Índice de vazios
5 2
4 0
3 1E-11 1E-10 1E-09 1E-08 1E-07 1E-06 1E-05
2 Permeabilidade (m/s)
1 HCT CRD-simplif. CRD-complexa
0 Figura 12. Verificação da permeabilidade,
0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000 amostra CB.
Tensão efetiva (kPa)
HCT CRD-simplif. CRD-complexa
8 AGRADECIMENTOS
Figura 9. Verificação da compressibilidade,
amostra CA. Os autores agradecem ao CNPq pela bolsa
concedida ao primeiro autor e à FAPEMIG
pelo suporte financeiro para o
desenvolvimento desta pesquisa. Os autores
são, também, gratos ao Prof. Znidarcic da
Universidade do Colorado em Boulder por ter
231
enviado a eles uma cópia do programa SICTA, REGEO’95, Ouro Preto, MG, Brasil, Vol. 2,
tão bem como cópia da referência 1. p.1-14.
Imai, G. (1979) Development of a new
consolidation test procedure using seepage
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Vol. 19, n. 3, p. 45-60.
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São Paulo, Brasil, Vol. 1, p. 117-124. Silva, W. S. (1999) Desenvolvimento de um
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consolidation of soft soils: an experimental induzido por forças de percolação, M. Sc.
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Consolidation of fine-grained mining consolidation test: equipment description
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Obtenção de parâmetros para consolidation of saturated clays, III.
dimensionamento de reservatórios para Existing testing procedures and analyses,
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