Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/282251168
CITATIONS READS
5 543
1 author:
Jorge de Brito
University of Lisbon
1,205 PUBLICATIONS 7,753 CITATIONS
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
High performance recycled aggregates concrete for the precast industry View project
All content following this page was uploaded by Jorge de Brito on 28 September 2015.
Jorge de Brito
Julho de 2002
ÍNDICE
1. Introdução 1
2. Classificação e processo construtivo das estacas moldadas 3
2.1. Vantagens e desvantagens 3
2.2. Com trado contínuo 5
2.2.1. Vantagens e desvantagens 5
2.2.2. Faseamento construtivo 6
2.2.3. Problemas potenciais 10
2.3. Com tubo moldador recuperável 11
2.3.1. Vantagens e desvantagens 11
2.3.2. Faseamento construtivo 12
2.3.3. Recurso ou não ao tubo moldador 20
2.3.4. Problemas potenciais 20
2.4. Com lamas bentoníticas 21
2.4.1. Vantagens e desvantagens 22
2.4.2. Faseamento construtivo 22
2.4.3. As lamas bentoníticas 24
2.4.4. Problemas potenciais 25
2.5. Selecção do tipo de estacas 27
3. Cortinas de estacas 29
3.1. Vantagens e desvantagens 29
3.2. Cortinas de estacas espaçadas 31
3.3. Cortinas de estacas contíguas 33
3.4. Cortinas de estacas secantes 33
3.5. Selecção do tipo de cortinas de estacas 35
3.6. Soluções mistas 35
3.7. Questões gerais 35
4. Processo construtivo 37
4.1. Aspectos gerais 37
4.2. Análise da envolvente e aspectos burocráticos 38
4.3. Execução dos muros-guia 39
4.4. Rebaixamento do nível freático 41
4.5. Execução da cortina 41
4.6. Execução da viga de coroamento 43
4.7. Execução das ancoragens 45
4.8. Execução dos escoramentos 51
4.9. Execução da superestrutura até ao piso térreo 53
5. Trabalhos preliminares e controlo de execução 55
5.1. Reconhecimento e prospecção geotécnica 55
5.2. Inspecção e controlo da qualidade 56
5.3. Ensaios durante e após a execução 57
5.3.1. Teste de carga 57
5.3.2. Testes de integridade 59
5.3.3. Análise da deformação 60
5.3.4. Ancoragens 60
6. Dimensionamento 62
7. Bibliografia 67
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
1. INTRODUÇÃO
A solução das cortinas de estacas moldadas no terreno como contenção periférica, quer em
edifícios quer noutros tipos de construção como túneis em zonas urbanas, ou em estabilização
de taludes tem vindo a ganhar popularidade nos tempos mais recentes, sobretudo devido à sua
facilidade e rapidez de execução comparativamente às soluções alternativas.
Ainda que, tal como as cortinas de estacas moldadas, estejam englobadas nas soluções de
contenção flexíveis, as soluções do tipo provisório, como as estacas-prancha metálicas e as
cortinas de painéis pré-fabricados de betão armado ou pré-esforçado, não serão tratadas neste
documento mas sim em outros entretanto elaborados [10] [11].
Este documento pretende servir de apoio aos alunos do Mestrado Avançado em Construção e
Reabilitação do Instituto Superior Técnico na Cadeira de Construção de Edifícios. Foca parte
do capítulo dessa mesma cadeira dedicado às contenções periféricas, neste caso podendo ou
não ser integradas na estrutura de um edifício.
A elaboração deste documento não resultou de investigação específica sobre o tema efectuada
1
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
pelo seu Autor mas sim de alguma pesquisa bibliográfica e de monografias escritas realizadas
por alunos do Instituto Superior Técnico, tanto no Mestrado em Construção como na
Licenciatura em Engenharia Civil. Assim, muita da informação nele contida poderá também
ser encontrada nos seguintes documentos, que não serão citados ao longo do texto:
Este documento baseia-se ainda em boa parte num texto didáctico anterior:
2
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Uma vez que as cortinas de estacas moldadas são, conforme o nome indica, constituídas por
essas mesmas estacas, haverá necessidade de as referir com algum detalhe. No entanto, evitar-
se-á uma descrição excessivamente exaustiva das mesmas e do seu processo construtivo, uma
vez que se elaborou um documento exclusivamente dedicado a esta solução [12], mais numa
perspectiva de sistema de fundações indirectas do que como contenção periférica. Tentar-se-á
no entanto referir os aspectos específicos das estacas quando utilizadas com esta última
função. Refira-se aliás que é bastante corrente o recurso às estacas servindo numa mesma
obra como solução de fundações e de contenção periférica, situação que por vezes viabiliza
em termos económicos a solução de cortina de estacas em relação a outras alternativas.
Estacas moldadas contra o terreno são aquelas em que é o próprio terreno que enforma as
estacas, independentemente de se utilizar ou não tubo moldador. A alternativa são as estacas
cravadas no terreno, pouco adequadas às situações em que se torna importante a redução dos
movimentos e perturbações do terreno.
Em virtude do processo de fabrico, o betão utilizado na execução destas estacas deve ser
fluido (a melhor trabalhabilidade é um sinónimo de melhor betonagem e vibração mais fácil),
de classe superior a C25/30 (com um mínimo de 300 kg de cimento por m3 de betão) e com
um slump da ordem dos 18 a 20. As armaduras deverão ter previsto um recobrimento superior
a 5 cm, de preferência 7.5 cm, recobrimento este conseguido com o auxílio de espaçadores de
argamassa de fabrico artesanal e formas variadas.
não existe durante a execução risco de levantamento do terreno, cujas condições iniciais
são pouco afectadas;
podem ser recolhidas amostras dos solos atravessados e atingidos que são comparadas
com os dados do projecto;
3
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
não há vibrações importantes associadas ao processo de execução, a não ser que se recorra
ao trépano;
existe uma grande variedade de diâmetros disponíveis;
podem ser executadas a grandes profundidades e o alargamento da base (ponteira) pode ir
até dois a três diâmetros, se executadas em terrenos coesivos ou de rocha branda;
o dimensionamento da armadura não depende das condições de manuseamento e
cravação, ao contrário do que se passa com as estacas cravadas;
podem ser executadas sem ruído sensível e sob condições de pé direito limitado.
4
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Neste método, prescinde-se do tubo moldador assim como das lamas bentoníticas na
sustentação das paredes do furo para a estaca. A execução do furo é feita por rotação
recorrendo a um trado contínuo, ou seja, um eixo com hélice semelhante a uma broca em que
a hélice se estende a praticamente todo o comprimento da haste (Fig. 2, à direita em segundo
plano), sendo a haste oca para introdução do betão fluido directamente no fundo do furo e a
armadura introduzida apenas após a betonagem.
Este processo é, para solos adequados, o mais económico e de mais fácil e rápida execução
(pode-se atingir rendimentos de 16 a 20 m/h, mas apenas se se verificar uma boa coordenação
entre as várias fases do processo), para além de que não dá origem a vibrações e os níveis de
ruído são baixos. Daí que seja o método preferido pelas empresas da especialidade. No
entanto, suscita algumas questões técnicas relacionadas com a qualidade e o controlo de
qualidade, nomeadamente:
5
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Estas duas últimas questões são ainda mais prementes para este do que para os restantes
métodos de execução de estacas moldadas, já de si algo imprecisos. Daí que este processo
apenas deva ser usado para estacas com diâmetro até 600 mm e em contenções com pouco
risco (não muito altas e com solos algo coerentes).
6
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Fig. 1 - Processo de execução de estacas com trado contínuo: 1) perfuração com trado
contínuo até à profundidade desejada; 2) extracção do trado contínuo em simultâneo com
bombagem de betão através do veio oco do trado; 3) introdução da armadura no betão
Descrevem-se de seguida as fases de execução de estacas com trado contínuo (Fig. 1):
Fig. 2 - À esquerda, máquina para execução de estacas com trado contínuo e , à direita; trado
contínuo (em segundo plano) e cabeça para furação de rocha (em primeiro plano)
furação com o trado até à profundidade prevista ao mesmo tempo que parte do solo vai
sendo expulsa pelo trado (Fig. 3, à esquerda); a haste oca, com cerca de 10 cm de
diâmetro, está obturada inferiormente para evitar a entrada de terra; a penetração no bed-
rock será limitada à resistência mecânica das ferramentas;
mantendo o trado no interior do furo, será feita a betonagem com injecção de betão
através do veio oco do trado (abrindo por pressão o obturador) e com recurso a uma
bomba de betão (Fig. 3, à direita); a dimensão máxima da brita será de 10 a 15 mm;
simultaneamente com a injecção de betão fluido (slump 180 a 200 mm), será retirado o
7
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
trado a uma velocidade correspondente ao caudal bombeado, mas garantindo sempre que
a coluna de betonagem está mergulhada no betão já colocado; depois da estaca ter sido
betonada até acima, é de toda a conveniência compactar os últimos 3 metros de estaca
usando um vibrador (Fig. 4), já que nesta zona o betão não tem força suficiente para se
auto-compactar (o restante betão é compactado pelo peso do betão colocado
superiormente);
com o betão injectado até à boca, será removido o cone de terra que se vai acumulando
junto ao furo e será colocada a armadura com auxílio do prato e tubo acoplado a vibrador
eléctrico (Fig. 3, à esquerda), em alguns casos tirando partido do seu peso mas
necessitando por vezes de ser empurrada para baixo com o auxílio de auxiliares de
8
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Fig. 5 - À esquerda, armadura já com prato e tubo rígido montados e, à direita, dificuldades na
fase final da introdução da armadura no betão
9
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Em alguns casos pode ser usada uma mistura de areia e cimento em substituição do betão.
Alguns construtores recorrem a esta modificação, uma vez que a ausência de brita torna o
processo de bombagem mais simples. Quando se opta por esta solução, deve ter-se em conta
que a água da mistura migra para o solo circundante. Caso se esteja em presença de um solo
arenoso, este fenómeno resulta num abaixamento do nível da mistura no topo da estaca. Para
minimizar este efeito, deve ser colocada mistura adicional de forma a manter o mesmo nível
de material na estaca.
São os seguintes os problemas potenciais principais que podem ocorrer durante a execução de
estacas moldadas com trado contínuo:
colunas de estacas cortadas - grande parte dos problemas com este tipo de estacas está
associada a uma extracção incorrecta do trado durante a betonagem; nesta fase, torna-se
importante uma assistência adequada que assegura uma velocidade de extracção do trado
igual ao ritmo de escoamento do betão;
redução da capacidade da estaca - a perfuração provoca uma descompressão do solo
10
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
cujo excesso deve ser evitado ao máximo; a potência de ponta do trado tem também uma
determinada influência na descompressão do solo, isto é, os trados com pontas de maior
potência têm melhores resultados em solos com uma descompressão limitada; devido à
descompressão, a força de atrito máximo é normalmente de 60 a 75% da força transmitida
para as estacas cravadas;
obstruções - o trado pode perfurar pedras de grandes dimensões, desde que sejam pedras
com menos de um terço do diâmetro da estaca e que não se apresentem muito juntas; para
pedras de maiores dimensões, a única solução é mudar a posição inicial da estaca;
dificuldades na introdução da armadura - o betão tende a endurecer, sobretudo na parte
inferior da estaca, sobretudo porque a água da amassadura exsuda para o terreno
circundante quando este é permeável; curiosamente, este processo, por ocorrer
preferencialmente na periferia da estaca, favorece a centralização da armadura.
Neste método, recorre-se a um tubo moldador cilíndrico e metálico, cuja função é conter as
paredes do furo enquanto o interior deste não é preenchido com betão. À medida que a
betonagem vai decorrendo, o tubo moldador é puxado para cima e recuperado, naquela que é
a fase mais crítica do processo.
Sendo um método mais moroso e oneroso do que o anterior é, no entanto, por comparação
com o mesmo, mais aconselhável em contenções com estacas com grandes diâmetros e em
solos menos coerentes. Apresenta ainda as seguintes vantagens:
11
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
em alternativa à base dilatada, pode ser criada uma ficha no bed-rock, (procedimento mais
fácil e rápido e, por isso mesmo, preferido hoje em dia em relação aos bolbos).
12
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
solo 1
solo 2
a) b) c) d) e) f)
13
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Fig. 9 - À esquerda, bate-estacas (“Kelly”) com um trado acoplado (do lado esquerdo, vê-se
ainda uma trémie) e, à direita, introdução do tubo moldador no terreno
14
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Fig. 11 - À esquerda, troços do tubo moldador e, à direita, trado ainda com terra aderente
15
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
um balde, faz a limpeza manual; por razões de segurança, esta prática caiu em desuso e é
mesmo proibida em vários países; o fundo pode ser comprimido através de um prato fixo
na extremidade da haste do bate-estacas; no fim destas operações e se possível, o fundo do
furo é inspeccionado por um supervisor;
se se pretender criar um bolbo na base da estaca, é então descarregada para o furo uma
pequena quantidade de betão com um slump muito baixo para ajudar a retirar o tubo
moldador; o tubo é puxado para cima na extensão correspondente à base ao mesmo tempo
que o betão é expelido do tubo através de pancadas do pilão, conseguindo-se assim a base
dilatada;
introduz-se então a armadura (Fig. 12, à esquerda) com os espaçadores, garantindo-se o
recobrimento inferior das mesmas suspendendo-as, através de varões transversais
apoiados no topo do tubo moldador, cerca de 0.50 m acima da ponta da estaca, e betona-se
o furo (Fig. 13) com coluna de betonagem (ou trémie, um tubo semi-rígido, constituído
por troços cilíndricos acoplados, com um funil no seu topo), cuja extremidade inferior
deve ser levada até ao fundo, numa primeira fase, e deve ficar sempre mergulhada - 2 a 5
m - no betão já colocado a partir daí (Fig. 14); quando se prevê um longo tempo de
betonagem, há que providenciar um aditivo retardador de presa (o primeiro betão
introduzido na estaca - em regime de betão submerso - deve subir do fundo ao coroamento
da estaca, mantendo a trabalhabilidade);
à medida que a betonagem vai decorrendo e com o auxílio de macacos hidráulicos
complementados com vibração, o tubo moldador deve ser puxado para cima de forma
gradual quando no fundo da estaca existir uma altura de betão de cerca de 2 a 3 m;
também esta operação poderá ter de ser interrompida para desacoplar troços do tubo
moldador (processo facilitado pelo recurso a massa consistente - Fig. 15) ou da trémie,
por limitações de altura da lança do equipamento de furação (Fig. 16); no entanto, se essa
limitação não existir, pode colocar-se a hipótese de o tubo moldador só ser retirado com o
seu comprimento final e no fim da betonagem (Figs. 14 e 17); em ambos os casos, o
recurso a uma mesa de bamboleamento em estacas de grande diâmetro é útil;
16
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Fig. 12 - À esquerda, armaduras prontas a ser colocadas e, à direita, trépano para perfurar
rocha
17
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
solo 1
solo 2
a) b) c) d)
tal como no método anterior, os 3 m superiores da estaca devem ser compactados com um
vibrador e a cabeça da estaca deverá ser saneada (Fig. 17); o comprimento de estaca a
sanear deverá ser no mínimo de 40 cm, aumentando com o diâmetro da estaca; o processo
inicia-se com a escavação em volta da estaca até à cota pretendida; procede-se depois com
um martelo pneumático ao destacamento do betão a sanear (Fig. 18, à esquerda); remove-
se depois o betão destacado com o auxílio de uma grua (Fig. 18, à direita); este
procedimento só se aplica em estacas de grande diâmetro e dá origem a uma superfície
muito rugosa; à semelhança do que se passa com as estacas de pequeno diâmetro, há então
necessidade de remover com ferramentas de menor potência e até à mão os restos de betão
18
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
(Fig. 19, à esquerda); esta remoção miúda encarece e torna muito lento o processo, para
além de danificar muito mais as armaduras (Fig. 19, à direita).
solo 1
solo 2
a) b) c) d)
solo 1
solo 2
a) b) c)
Fig. 17 - Remoção do tubo moldador e saneamento da estaca: a) remoção do tubo moldador
de uma só vez; b) assentamento e presa do betão; c) saneamento da cabeça da estaca
19
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Por vezes, em solos que têm águas superficiais agressivas, é adequada a colocação de um
revestimento permanente. O revestimento é colocado em posição apenas depois de a base
dilatada ter sido executada. O anel entre o revestimento e o tubo moldador é preenchido com
argamassa. O revestimento pode, por vezes, ser fixado à armadura funcionando os dois como
um só.
20
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Vale a pena referir que, em solos auto-sustentáveis e em que não aflui água ao furo, é possível
executar as estacas pelo processo agora descrito mas sem ter de recorrer ao tubo moldador,
com ganhos importantes de economia e rapidez. A questão da ocorrência de afluxo de água no
furo, extremamente comum, é aliás um dos factores mais importantes na decisão sobre a
forma de actuar em obra.
A água aparece pela parede do furo e a decisão sobre como fazer a betonagem da estaca
depende da quantidade de água que chega ao fundo do furo. Se for uma quantidade pequena,
então uma bomba retirá-la-á do poço durante a operação de limpeza. Quando acabar a fase de
limpeza, começa a betonagem da estaca até ao betão chegar a uma cota superior de onde é
oriunda a água. Seguidamente, é colocada a armadura no furo mergulhando-a no betão.
Betona-se então o restante da estaca. Se, durante o tempo em que se tira a bomba e se começa
a betonagem, aparece alguma água no furo, esta não vai alterar o betão da estaca, uma vez que
a betonagem é feita pelo centro e por isso concentra-se muito betão no centro e a água vai
para os bordos. Alguma da água que chega ao poço vai misturar-se com o betão durante a
betonagem, podendo isto ser compensado usando uma quantidade adicional de cimento. Se a
quantidade de água que chega ao poço é grande, é necessário betonar a estaca debaixo de
água. Para isso, é necessário usar um tubo moldador, tal como descrito acima, o que impedirá
o colapso da estaca. Outra alternativa é o uso de estacas moldadas em que se utilizam as
lamas bentoníticas, tal como será descrito mais adiante.
Um dos principais problemas potenciais associados a este método dá pelo nome de boiling.
Este fenómeno ocorre sobretudo devido à existência de um diferencial de pressões entre o
nível da água no exterior e no interior do tubo. Como tal, apenas ocorre na presença de nível
freático. Pode ter também como causa o efeito de sucção provocado pelas ferramentas de
escavação. Se for esse o caso, existe o risco de assentamento do solo em torno da estaca. Este
efeito pode ainda impedir a limpeza da estaca antes da betonagem. Para solos arenosos abaixo
21
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Mais dois problemas potenciais podem pôr em causa a qualidade e/ou a segurança associada
às estacas executadas com molde recuperável. O primeiro é o estrangulamento da secção da
estaca por adesão do betão às paredes do tubo quando este é retirado (Fig. 20, à esquerda). O
respectivo espaço é ocupado pelo betão (se ainda tiver alguma fluidez) e por terreno. O
segundo problema é a destruição local da secção da estaca por acção de água corrente que
arrasta os finos do betão (Fig. 20, à direita), mesmo algumas horas após a retirada do tubo
moldador.
22
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Descrevem-se de seguida as fases de execução de estacas com lamas bentoníticas (Fig. 21):
23
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
a parte superior da escavação deve ser delimitada e protegida por tubos-guia, cofragens
metálicas cilíndricas recuperáveis (Fig. 23, à direita), numa profundidade pelo menos
igual a dois diâmetros da estaca, para impedir a penetração das lamas no terreno
superficial, guiar o equipamento e possibilitar a suspensão das armaduras;
a terra é removida tal como referido no método anterior, sendo que, em virtude do tipo de
solo associado ao presente método, o balde será geralmente a ferramenta utilizada;
esporadicamente, poderá recorrer-se ao trado com pontas de metal endurecido ou ao
trépano;
à medida que a furação e a remoção da terra do interior do furo vão prosseguindo, este vai
sendo preenchido com as lamas bentoníticas, para estabilização das paredes; o nível
superior dessas lamas deve ser mantido aproximadamente constante durante todo o
processo, ligeiramente abaixo do topo dos tubos-guia;
ao atingir-se o final do furo, o balde (Fig. 22, à direita) efectuará a limpeza do fundo do
furo de detritos de terreno; também pode ser utilizado um sistema de aspiração;
24
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
reutilização nas estacas seguintes), menos densas que o betão mas mais do que a água; a
betonagem de qualquer estaca deve ser feita continuamente e num intervalo de tempo tal
que, no seu termo, o betão permaneça trabalhável; por outro lado, o bocal da trémie deve
estar sempre abaixo do nível superior do betão cerca de 2 a 4 m;
a betonagem estará completa quando o nível do betão no furo estiver cerca de 0.5 a 1.0 m
acima da cota do topo da estaca; o volume de betão acima desta cota será retirado quando
a armadura da estaca estiver exposta, garantindo assim que o betão que esteve em
contacto com a lama bentonítica e os detritos de terreno durante a betonagem não afectará
a capacidade resistente da estaca;
ainda com mais razão de ser do que métodos anteriores, a cabeça da estaca, por apresentar
um betão contaminado, deverá ser saneada.
As lamas bentoníticas são uma mistura, feita numa misturadora, de água com bentonite (cerca
de 5%), uma argila com propriedades tixotrópicas, ou seja, caracterizando-se por ter um
25
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Fig. 23 - À esquerda, suspensão da armadura através de uma trave metálica para empalme da
primeira e, à direita, pormenor do trado e dos tubos guia no topo da escavação
São os seguintes os problemas potenciais principais que podem ocorrer durante a execução de
estacas moldadas com recurso a lamas bentoníticas:
26
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
27
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
fechada na ponta no pé da trémie, e ser deixada penetrar no betão fresco pelo menos 2
metros (nesta operação, como em tudo o que envolve o uso de trémies, é necessário que o
tubo seja totalmente impermeável), após o que a trémie é cheia de betão até que, por
gravidade, se rompa o fecho da manga, prosseguindo-se então com a betonagem da forma
normal;
betão fluido - para o betão escorrer na trémie, é necessário que este tenha um slump da
ordem dos 20 cm; a obtenção deste slump sem ter excesso de água é muito difícil, se não
mesmo impossível com agregados e adjuvantes correntes; em estacas profundas, o
excesso de água no betão exsuda deste e tende a encaminhar-se para a superfície; o canal
que se forma é normalmente encontrado no centro da estaca onde a trémie tende a formar
uma zona de excesso de argamassa; o betão nesta zona mostra muitas vezes sinais de
excesso de água e pode ter alguma deficiência de cimento; este é um problema que não
pode ser completamente eliminado em estacas profundas betonadas usando uma trémie;
ainda que possa ser minimizado; adoptando técnicas convenientes, a percentagem de área
da estaca afectada pode ser mantida baixa, para que a sua capacidade de carga não seja
muito afectada; antes de se começar a construir, deve fazer-se também um estudo dos
agregados a utilizar para se conseguir a posologia ideal; finalmente, em obra a posologia
deve ser rigidamente seguida e não se deve juntar mais água à amassadura.
As soluções descritas podem ser ordenadas da seguinte forma por ordem crescente de custos:
com trado contínuo, com trado curto sem tubo moldador, com trado curto com tubo moldador
recuperável e com lamas bentoníticas, sendo estas duas últimas claramente as mais onerosas.
Como, por outro lado, a gama de aplicações geralmente decresce com o custo, a opção é pela
solução mais barata no seu domínio de aplicação, após o que se passa para a menos onerosa
das soluções restantes no domínio de aplicação desta não comum ao da primeira solução, e
28
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
assim sucessivamente.
Desta forma, nos solos coerentes e sem a presença de água (ou com uma presença residual /
acidental desta), opta-se pelas estacas executadas com trado contínuo. As estacas executadas
com trado curto e sem tubo moldador têm um domínio de aplicação pouco maior, aceitando
solos um pouco menos coerentes e uma presença de água mais acentuada. São por isso
preteridas em relação às primeiras, a não ser nas situações em que, em virtude do menor
controlo de qualidade associado à execução com trado contínuo, o caderno de encargos não
permite essa solução. Nos solos com alguma coesão mesmo que pequena (o que exclui por
exemplo os solos incoerentes ou os lodosos) e mesmo com presença do nível freático elevado
desde que não exista percolação de água, a solução das estacas com tubo moldador
recuperável é a preferida. Se existirem dúvidas sobre a garantia das condições atrás referidas
ou em solos sem qualquer capacidade de auto-sustentação, opta-se pelas estacas executadas
com o auxílio de lamas bentoníticas, sendo preciso garantir espaço de estaleiro para a estação
de tratamento das mesmas.
29
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
3. CORTINAS DE ESTACAS
baixo custo (se as estacas forem executadas com trado contínuo ou com trado curto mas
sem tubo moldador, aumentando significativamente se se recorrer a tubo moldador
recuperável ou a lamas bentoníticas; por outro lado, esta afirmação é mais válida para
30
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Fig. 26 - Outras aplicações de cortinas de estacas: muros de suporte junto a uma linha-férrea
(à esquerda) ou em túneis (à direita)
31
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
32
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Abóbadas de
Estacas moldadas betão armado
ancoradas
A
Fig. 27 - De cima para baixo, cortinas de estacas espaçadas (ver também Fig. 35, à esquerda),
contíguas (ou tangentes) e secantes
33
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
obrigam quase sempre à colocação de ancoragens, por serem menos resistentes por metro
de largura da cortina;
só são aplicáveis em solos relativamente estáveis (auto-portantes durante a fase
construtiva através de um efeito de arco).
As cortinas de estacas contíguas ou tangentes (Fig. 27, ao centro) são construídas ao longo de
uma linha com pequenos espaços livres entre as estacas, como regra entre 75 e 100 mm (fazer
as estacas tangentes entre si é extremamente difícil), exigindo um bom controlo do
posicionamento das estacas e da verticalidade da furação. Em consequência, esta solução não
pode ser facilmente usada para estruturas para contenção de água. A sua principal utilização é
em solos argilosos onde a afluência de água não constitui problema, se bem que também
tenham sido frequentemente usadas para reter materiais granulares. Claramente, onde a água
não é problema, o espaçamento entre estacas pode ser regulado de modo a que o solo entre
estacas não colapse. Prescinde-se desta forma da necessidade de estabilizar o solo com betão
projectado durante a construção, ainda que na fase de colocação dos elementos de
revestimento interior haja vantagem em o fazer.
34
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
As cortinas de estacas secantes (Fig. 27, em baixo) são construídas de tal modo que há uma
intersecção de cada estaca com as adjacentes. A prática usual consiste na construção numa
fase inicial de estacas alternadas ao longo da linha da parede, deixando um espaço livre entre
estacas de menos de um diâmetro. Estas estacas, também designadas por estacas fêmea,
podendo conter no seu interior um perfil metálico, não têm de ser construídas
necessariamente com a mesma profundidade que as estacas intermédias, também designadas
por estacas macho, que se vão seguir, dependendo do modo em que a parede foi
dimensionada e armada. Por outro lado, o betão das estacas iniciais tem uma posologia tal que
tem uma baixa resistência, a fim de facilitar o seu corte aquando da execução das estacas
intermédias, podendo pura e simplesmente recorrer-se à injecção de uma argamassa
desagregável, do tipo bentonite + cimento (Fig. 28). Pela mesma razão, as estacas iniciais não
têm geralmente armadura convencional. Esta solução só pode ser usada com estacas moldadas
sem tubo moldador ou com trado contínuo.
Estas cortinas podem ser usadas para formar uma parede contínua à prova de água, ou quase;
mas isso depende do controlo constante da tolerância para a posição do projecto e da direcção
da perfuração. Uma falha na intersecção fará com que a parede não seja impermeável. Tanto
nesta solução como na imediatamente anterior, é preciso controlar as tolerâncias horizontais
( 25 mm) e verticais (1:100) na instalação das estacas com muito mais cuidado que na
35
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
solução das estacas espaçadas, para evitar situações como a que é visível na Fig. 38, à
esquerda.
Fig. 29 [6] - Corte horizontal de solução de cortina mista estacas - paredes moldadas
36
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
A escolha do tipo de parede de contenção depende muito do facto de ser necessário que esta
seja impermeável ou não, assim como do tipo de terreno (necessariamente estável para as
cortinas de estacas espaçadas) e da posição relativa do nível freático. A utilização de cada tipo
de parede tem bastante influência na sua profundidade e custo (aumenta das estacas espaçadas
para as secantes).
Em virtude dos elevados impulsos a que as cortinas são sujeitas e para limitar os deslocamen-
tos na fase construtiva, as estacas são sempre de médio a grande diâmetro ( 1.00 m).
Não deve também deixar de ser referida a possibilidade que existe de fazer cortinas com
estacas inclinadas (Fig. 30, à direita), sobretudo nas situações em que existem construções
muito próximas e não se pretende perder muito espaço útil na nova construção.
Fig. 30 - À esquerda, corte vertical de solução de cortina mista estacas - paredes moldadas [6]
e, à direita, execução de cortinas de estacas inclinadas [8]
37
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
4. PROCESSO CONSTRUTIVO
O processo construtivo de uma cortina de estacas passa (pode passar) pelas seguintes fases:
38
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
O início dos trabalhos deve prever a remoção de todos os obstáculos existentes no perímetro
do estaleiro. Para tal, deve ser levantado o cadastro e desactivados todos os serviços (água,
gás, electricidade, esgotos e telefones) que possam interferir com a obra. Segue-se a vedação
do espaço em causa e a introdução de todas as medidas de segurança afectas a pessoas e
máquinas. Devem ser respeitadas todas as indicações regulamentares sobre higiene e
segurança no local do trabalho.
39
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Por parte da empresa adjudicatária, deverá existir um seguro de obra que cubra a
responsabilidade civil (sinistros materiais e acidentes pessoais) que se venha a verificar.
A análise da envolvente passa pela inspecção visual e análise dos projectos das construções
vizinhas. Relembra-se que, em virtude da sua deformabilidade, a execução de uma cortina de
estacas poderá dar origem a assentamentos nas estruturas mais pesadas nas imediações da
mesma, pelo que é preciso verificar se alguma dessas estruturas é muito sensível a esses
mesmos assentamentos. A vistoria deve ser, de preferência, registada fotograficamente ou
filmada, para poder testemunhar a situação inicial e evitar possíveis acções fraudulentas de
pedidos de indemnização indevidos. Deverá também ser elaborado um relatório escrito que
constará do Livro de Obra.
Os moradores da zona envolvente deverão ser avisados do início dos trabalhos. Em termos de
circulação de tráfego, deverá ser colocada a sinalização necessária para a realização da obra.
A ocupação da via pública rege-se pelas exigências regulamentares e municipais existentes
para o efeito (obtenção de licenças, pedido de policiamento, etc.).
Os muros-guia deverão estar sempre, no mínimo, 1.50 m acima do nível freático e serão
betonados contra o terreno virgem (Fig. 32); caso tal não seja possível, estudar-se-á para cada
caso a forma adequada do muro.
40
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
No caso de serem encontrados obstáculos à escavação por baixo dos muros-guia, estes serão
retirados e substituídos por um aterro argiloso compactado ou betão pobre C12/15. Se forem
encontrados vazios, estes serão preenchidos com a solução anteriormente descrita ou, em
alternativa, prolongar-se-ão os muros-guia até terreno compacto.
A cofragem dos muros-guia (Fig. 33, à esquerda) levanta algumas dificuldades, devido à
forma final que se pretende, nomeadamente nas cortinas de estacas contíguas. As cofragens
metálicas (Fig. 33, à direita) permitem uma produtividade mais elevada mas não se adaptam
aos pontos singulares, como os cantos.
41
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
extracção da água, por bombagem, com o auxílio de uma mangueira (Fig. 35, à esquerda)
à medida que a obra avança;
estabelecendo uma rede de poços de alívio (câmaras de visita provisórias, tipo
saneamento) dispostos na parte exterior da cortina, munidos, no fundo, de uma bomba que
garanta o rebaixamento desejado e a consequente regularização do nível freático a cotas
mais inferiores;
técnicas menos correntes, como a electro-osmose ou o congelamento da água freática.
As estacas da cortina são normalmente executadas à rotação, sendo as soluções mais correntes
as descritas no Capítulo 2 deste documento. Conforme referido no Capítulo 3, as estacas
42
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
43
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
150 mm de espessura total, executadas através de uma primeira camada de betão projectada
contra o terreno, à superfície da qual é colocada uma malha electrossoldada, após o que se
segue uma segunda camada de betão projectado (Fig. 37, à esquerda).
Para garantir a amarração destas armaduras, pode-se proceder das seguintes maneiras: prever,
incorporadas nas próprias estacas, armaduras de espera para posterior empalme da malha
electrossoldada; fazer com que esta passe no intradorso das estacas e, portanto, com
continuidade de cada abóbada para as adjacentes (solução normalmente preferida, por ser
mais prática, não obstante origine um maior consumo de malha e betão projectado).
Após a execução da cortina, há que proceder ao saneamento da cabeça das estacas (Fig. 36, à
esquerda) com a finalidade de retirar o betão contaminado e de obter comprimento de
amarração suficiente da armadura longitudinal destas na viga de coroamento. A finalidade da
viga de coroamento é a de proceder à distribuição de esforços equitativamente ao longo das
estacas e pode também servir de apoio à implantação das ancoragens (Fig. 26, à esquerda).
44
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Nas zonas da viga em contacto directo com o terreno (ou com uma eventual estrutura
confinante) e entre a viga e as estacas, tendo em consideração que, como é habitual, esta viga
fará parte da estrutura definitiva, há que garantir 5 a 10 cm de espessura de betão de limpeza
(Fig. 36, à direita) de classe C12/15, colocado após o saneamento da cabeça das estacas e
antes da execução da viga de coroamento. A adequada aderência entre o betão de limpeza e o
da estrutura confinante é conseguida picando o betão existente até obter uma superfície
rugosa, aplicando um produto selante à base de resina epoxi e colocando então o betão de
limpeza (se necessário, utilizando cofragem). Pela mesma razão, o betão de limpeza sob a
viga de coroamento deve ter um acabamento áspero.
O recobrimento das armaduras (Fig. 36, à direita) deve ser sempre assegurado, bem como o
comprimento de amarração da armadura das estacas na viga. Caso nada conste no projecto, o
recobrimento deve ser da ordem dos 5 cm e o comprimento de amarração da armadura das
estacas na viga deve ser o maior possível e nunca inferior a 50 Ø. Quando se pretender ligar
elementos da superstrutura à cortina de estacas, é preciso também deixar armaduras de espera
com o comprimento de amarração necessário (Fig. 37, à direita).
45
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Fig. 37 - À esquerda, projecção de betão contra malhasol (neste caso, numa pregagem) e, à
direita, armaduras de espera acima da viga de coroamento para execução de muro tradicional
Quando existir uma fiada de ancoragens implantada na viga de coroamento, há que prever os
negativos para as mesmas antes da betonagem da viga (Fig. 40, à direita).
Após a execução da viga de coroamento e das suas eventuais ancoragens, inicia-se uma fase
alternada de escavação na parte anterior das estacas (poder-se-á ter de recorrer a equipamento
auxiliar para a escavação e limpeza da terra adjacente às estacas - Fig. 37a, à esquerda) e
introdução do sistema de suporte intermédio (fiada de ancoragens ou escoramentos).
Para qualquer das soluções de cortinas, as estacas poderão ou não (Fig. 38, à esquerda, em
que se recorreu apenas a escoramentos com perfis metálicos) ser ancoradas, dependendo essa
opção do dimensionamento da cortina, do nível de deslocamentos permitido no topo, do tipo
de terreno, da altura livre da cortina e da rigidez das próprias estacas. As ancoragens poderão
estar ligadas directamente às estacas (Fig. 37a, à direita), para o que é preciso prever em obra
o negativo integrado nas armaduras das mesmas e garantir uma grande precisão na execução
das estacas a fim de posicionar correctamente a ancoragem. Em alternativa, geralmente
preferível, as ancoragens poderão ser colocadas entre as estacas, sendo as respectivas cargas
transferidas para estas últimas através de uma viga metálica (Fig. 38, à direita) e/ou de betão
armado (foto da capa). Embora esta última opção seja um pouco mais dispendiosa (obriga à
criação da viga transmissora de cargas), é mais prática e acaba por ser preferível em obra. O
46
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
posicionamento das ancoragens na vertical tanto pode ocorrer na viga de coroamento como a
qualquer nível intermédio (foto da capa e Fig. 38, à direita).
Fig. 37a - À esquerda, limpeza da terra junto às estacas na fase de escavação e, à direita,
cortina de estacas em que as ancoragens são aplicadas directamente nas estacas
Uma ancoragem é um sistema constituído por um tirante pré-esforçado, introduzido num furo
de sondagem, normalmente da ordem dos 8 a 14 cm, aberto num maciço e constituído por
uma armadura de aço de alta resistência (Fig. 40, à esquerda), geralmente pré-esforçada
(ancoragem activa). No extremo inferior do furo existe a zona de ancoragem, também
designada de zona de amarração ou bolbo de selagem (Fig. 39, à esquerda), e no outro
extremo (cabeça - Fig. 39, à direita) é absorvida a tracção exercida na armadura (corpo da
ancoragem ou zona livre) [7]. Os furos das ancoragens podem transmitir aos maciços forças
47
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
CORTE A-A
Abóbadas
Estacas
Ancoragens
Fig. 39 - À esquerda, corte vertical esquemático de uma cortina de estacas espaçadas (ver
também Fig. 16, em cima) com dois níveis de ancoragens e, à direita, cabeça de ancoragem
com 7 cabos de pré-esforço
48
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
As ancoragens são normalmente injectadas com calda à base de cimento, podendo essa
injecção ser efectuada com ou sem pressão. A injecção à pressão pode ser realizada em uma
ou mais fases variando, neste caso, a pressão da injecção. A aplicação de injecções faseadas é
normalmente utilizada em solos pouco resistentes. Em maciços rochosos, em vez da calda de
cimento, é usual utilizar-se resina (tempo de endurecimento muito curto, facilmente
controlável e facilidade de aplicação), podendo ainda recorrer-se a ancoragens mecânicas.
O posicionamento das ancoragens é feito com recurso a negativos deixados nas estruturas de
suporte (viga de coroamento, viga intermédia ou as próprias estacas), normalmente
constituídos por tubos metálicos ou de PVC (Fig. 40, à direita).
perfuração à roto-percussão com trado de varas e bit (Fig. 42, à esquerda), garantindo a
inclinação do furo com o plano horizontal definida em projecto (normalmente entre 20 e
35º); as paredes do furo deverão ficar rugosas, e é essencial que os detritos da furação
sejam removidos eficientemente usando um de três meios: ar, água (o método mais usado,
49
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
garante uma boa ligação da calda ao terreno, excepto se este amolecer quando húmido) ou
lama argilosa (suspensão de água / bentonite);
extracção das varas e bit e sondagem do furo para controlo do seu estado de limpeza;
introdução do tubo manchete (Fig. 42, à direita), para execução do bolbo de selagem, e do
tubo liso (de diâmetro igual ao do furo e não penetrando na zona de selagem), este último
só quando as paredes do furo não são auto-sustentáveis (nesta hipótese, ainda existe a
possibilidade de ir preenchendo o furo com calda logo na furação, o que permite dispensar
o tubo liso exterior);
Fig. 42 - À esquerda, perfuração à roto-percussão com trado de varas e bit e, à direita, tubo
manchete no interior do qual é colocada a armadura da ancoragem (as válvulas a preto, de
metro a metro em cerca de 6 m na extremidade inferior do tubo, permitirão a passagem da
calda para formação do bolbo de selagem)
introdução da armadura de pré-esforço (Fig. 40, à esquerda), no interior do tubo liso e fora
do tubo manchete (Fig. 43, à esquerda), munida de separadores / centralizadores ao longo
do seu comprimento (de 2 em 2 m na zona de amarração e de 4 em 4 m na zona livre);
para permitir a penetração da calda, os cabos devem estar afastados entre si pelo menos 5
mm (Fig. 43, à direita);
selagem do furo com calda, de modo contínuo e sem interrupções; se se tratar de
ancoragens provisórias, destinadas apenas a suster o terreno durante a execução da obra
de contenção, a selagem abrange apenas a extremidade dos cabos (zona de amarração);
para as ancoragens definitivas, a selagem tem que abranger todo o comprimento do furo
(fazendo a calda afluir à boca deste), mais para proteger a armadura contra a corrosão do
50
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Fig. 43 - À esquerda, armadura de pré-esforço, tubo manchete e tubo para selagem do furo e,
à direita, pormenor da armadura de pré-esforço e do espaçamento entre cordões
51
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
próprio empreiteiro. Essas nuances são descritas num documento específico sobre ancoragens
[13].
O sistema de escoramento pode ser utilizado para o suporte de vários tipos de paredes. Para
trincheiras e escavações de largura limitada, é utilizado um sistema de escoras colocadas
horizontalmente (Fig. 45, em cima à esquerda). Quando a distância é grande demais para a
solução anteriormente adoptada, a colocação das escoras passa a ser inclinada (Fig. 45, em
cima à direita). Se a escavação além de muito larga, também é profunda, pode usar-se a
escavação em socalcos, deixando banquetas adequadas para o suporte da fundação vizinha e
dando-se início à construção das fundações na parte central (Fig. 45, em baixo). À medida
52
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
53
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
em escavações mais profundas, são necessários procedimentos especiais, tais como o pré-
esforço das escoras.
É a seguinte a sequência de colocação dos escoramentos. Até ao primeiro nível de suporte ser
atingido, a escavação é feita com escoramento horizontal. O espaçamento vertical e horizontal
das escoras é função das forças de suporte necessárias e do tipo de parede em questão. Caso
seja necessário, é colocada na parede uma viga (longarina) horizontal que faz a ligação da
escora à parede (Fig. 38, à esquerda).
Após a execução das ancoragens, o terreno é escavado até à profundidade pretendida para
execução do piso térreo (Fig. 46, à esquerda) e fundações da superestrutura e esta começa a
ser construída de baixo para cima, devendo ser executadas as devidas amarrações entre a
cortina de estacas e a superestrutura (de forma idêntica ao que acontece com as paredes
moldadas). A escavação só deve fazer-se 28 dias após a betonagem das estacas, para garantir
que o betão apresente a resistência mecânica adequada.
Caso não tenham sido deixadas armaduras de espera para a superstrutura (Fig. 46, à direita),
terão que ser feitos roços na própria cortina de estacas e/ou na viga de coroamento destinados
54
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
a amarrar a armadura das lajes dos pisos. Neste processo, deve ser usado um produto selante,
à base de resinas epoxi, e um betão não retráctil para garantir a adequada aderência do betão
novo ao betão velho e assegurar um perfeito funcionamento da ligação.
Fig. 46 - À esquerda, piso térreo já executado e, à direita, armadura de espera de ligação entre
a cortina de estacas e a superstrutura a ser desdobrada
Todo este processo ocorre apenas nas cortinas de estacas integradas numa superestrutura
(edifício com caves ou túnel) e não é extensível a cortinas que funcionem independentemente,
como muros de suporte de terras, por exemplo.
55
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Antes do início de qualquer trabalho de fundações / contenção periférica, deve ser efectuado o
reconhecimento do terreno (estudo geológico) que permita identificar em termos geotécnicos
as formações encontradas, principalmente no que se refere a características de resistência e
deformabilidade. Devem ser tomados em consideração os elementos geográficos e geológicos
já existentes sobre o local.
Os ensaios mais frequentes são executados para determinação da coesão, ângulo de atrito
interno e módulo de deformabilidade do terreno. Os mais utilizados são:
56
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Os ensaios de sondagem deverão indicar a altura do nível freático. Devem ainda ser
analisadas as condições de circulação da água subterrânea, a natureza e localização das
formações aquíferas, níveis piezométricos e influência de marés de forma a poder ser
determinado o seu caudal.
Durante a execução da cortina de estacas, são anotados em fichas próprias dados como os
seguintes:
57
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
anomalias na execução;
desvios do eixo em relação ao projectado.
Fig. 46a - À esquerda, ensaio de abaixamento do betão fresco pelo cone de Abrams e, à
direita, provetes cúbicos para posterior ensaio em laboratório do betão endurecido
58
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
A forma mais comum de teste de carga é o teste de compressão estática (Fig. 47, à esquerda),
para o qual é aplicado gradualmente uma carga na cabeça da estaca enquanto a deformação
vai sendo medida. O teste de carga estática pode também ser executado em tensão e ainda
lateralmente (Fig. 47, à direita). As estacas podem também ser testadas utilizando testes de
carga dinâmicos ou semi-dinâmicos.
Fig. 47 - Teste de carga à compressão [9] (à esquerda) e por pressão lateral (à direita)
O teste de carga estática pode ser executado em estacas de trabalho (que não podem ser
danificadas no ensaio) ou em estacas de ensaio, executadas exclusivamente para este efeito,
que podem ser levadas à rotura (Fig. 47a). O teste consiste num carregamento gradual das
estacas (com incrementos de carga), seguido de um descarregamento também gradual. A
carga é aplicada no centro da cabeça da estaca, recorrendo a macacos hidráulicos (Fig. 47).
No entanto, como estes ensaios são de execução demorada e de elevado custo, acaba por se
realizar um número muito reduzido dos mesmos em relação à quantidade de estacas
executadas. Daqui resultam problemas de representatividade bem patentes no Quadro 1.
59
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Fig. 47a - Célula de pré-carga (à esquerda ) e estrutura de reacção para prova de carga até 600
toneladas (à direita )
N.º de estacas defeituosas N.º de estacas ensaiadas Probabilidade de pelo menos uma
estaca defeituosa seja ensaiada
2 2 0.04
2 5 0.10
2 10 0.18
2 20 0.33
2 2 0.18
10 5 0.41
10 10 0.65
Quadro 1 [14] - Relação entre o n.º de estacas ensaiadas (dimensão da amostra) num universo
de 100 e a probabilidade de que pelo menos uma das ensaiadas seja defeituosa
Conforme o nome indica, o teste de integridade tem como principal função confirmar se não
existem descontinuidades ao longo do comprimento da estaca, correspondentes a vazios ou a
espaços preenchidos com terreno. O teste torna-se indispensável sobretudo nas estacas
executadas com tubo moldador recuperável ou com lamas bentoníticas.
O teste de integridade pode ser executado com tecnologia sónica ou nuclear (menos
utilizada). Os métodos sónicos envolvem um conjunto de informação sobre reflexões de uma
onda sónica gerada por batidas leves da cabeça da estaca, ou por acumulação de informação
num colector de ondas sónicas que, por sua vez, são geradas por um emissor. Tanto o emissor
como o colector são colocados na estaca separadamente. No método nuclear, recorre-se a um
60
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Estes ensaios acabam por funcionar como um substituto dos ensaios de carga na maioria das
obras, sendo que nas mais importantes são também efectuados nas estacas carregadas e a
respectiva calibração é utilizada para ensaiar as restantes.
Destes, ressaltam os inclinómetros (Fig. 48, à esquerda), que permitem medir ângulos que o
paramento faz com a vertical, os teodolitos, para apoio topográfico, e os extensómetros
magnéticos, para medir os movimentos verticais do terreno a várias profundidades abaixo da
superfície. Também relacionados com a deformação da cortina, estão as medições do pré-
esforço (e respectivas perdas) nas ancoragens, feitas através de células de carga (Fig. 48, à
direita).
5.3.4. Ancoragens
61
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Para além do controlo de características geométricas, são efectuados ensaios de recepção para
efeito de controlo de qualidade. Os ensaios de recepção de ancoragem consistem na aplicação
de um esforço de tracção e na medição do deslocamento da extremidade livre. Nas
ancoragens que são instrumentadas aonde são instaladas células de carga, são efectuados
ensaios de recepção detalhados. Nas restantes, são efectuados ensaios de recepção
simplificados.
Nos primeiros, devem ser elborados os seguintes diagramas: tracções - deslocamentos totais;
tracções - deslocamentos elásticos e permanentes; evolução dos deslocamentos no tempo e
nos patamares de carga; relação entre o coeficiente de fluência e força de tracção. Nos
segundos, fazem-se os mesmos diagramas que no ensaio de recepção detalhada mas as
leituras são efectuadas num espaço de tempo mais curto.
62
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
6. DIMENSIONAMENTO
O diâmetro das estacas está relacionado com a sua profundidade, isto é, quanto mais
profundas, maior o diâmetro exigido. Para fundações profundas, utiliza-se a seguinte regra
empírica: L = 10 m Ø = 400 mm e L = 20 m Ø = 800 mm. Para contenções periféricas,
é aconselhável incrementar estes diâmetros, de forma a assegurar um eficiente
comportamento da cortina como uma parede contínua que tem que resistir a impulsos
63
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
horizontais significativos. Daí que a regra vigente seja a utilização de estacas de diâmetro
igual ou superior a 1.0 m na execução deste tipo de cortinas.
Nas cortinas actua o impulso activo proveniente das terras a conter. Há portanto que encastrar
as estacas em terreno firme numa altura suficiente (“ficha”) para haver um impulso passivo
que compense os impulsos activos, na sua totalidade (em cujo caso a cortina é auto-portante)
ou em parte (em que é necessário recorrer a ancoragens ou escoramentos, na fase provisória,
ou a ancoragens ou à própria superestrutura, na fase definitiva). Na prática, esta altura varia
entre 2 e 6 vezes o diâmetro da estaca, respectivamente para solos argilosos e areias, sendo no
entanto a gama entre 4 e 5 diâmetros a mais usual para penetração mínima na camada
resistente, excepto em rocha em que se torna muito mais difícil a penetração [5]. Como valor
mínimo, adopta-se os 2 m.
64
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
Fig. 50 [4] - Modelação das cortinas de estacas na fase definitiva: com elementos finitos
elásticos (à esquerda) e com viga de corte (à direita)
Um aspecto muito importante no dimensionamento destas cortinas é o facto de este ser muito
dependente da fase construtiva, a qual deve ser simulada fase a fase, tendo em conta o facto
de tanto as acções exteriores (impulso não equilibrado das terras) como as deformações
impostas (níveis e intensidade do pré-esforço introduzido nas ancoragens) evoluírem ao longo
do tempo.
65
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
que não têm em conta de forma explícita a interacção solo-estrutura. De facto, as cortinas de
estacas podem ser classificadas como estruturas de contenção flexíveis, ou seja, estruturas nas
quais as deformações sofridas em serviço para absorver os impulsos assumem valores tais que
condicionam a distribuição e grandeza desses mesmos impulsos.
Qualquer que seja o método de cálculo escolhido, a observação do comportamento real das
obras é da maior importância de forma a aferir os modelos de cálculo e os parâmetros
utilizados [6].
Do ponto de vista prático, as constatações / regras a ter em conta no dimensionamento são [6]:
66
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
pisos enterrados).
67
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas moldadas por Jorge de Brito
7. BIBLIOGRAFIA
68