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2 | CONCRETO & Construções
CONCRETO & Construções
Instituto Brasileiro do Concreto
Organização técnico-científica nacional de defesa
e valorização da engenharia civil

Fundado em 1972, seu objetivo é promover e divulgar conhecimento sobre a tecnologia do concreto e de
seus sistemas construtivos para a cadeia produtiva do concreto, por meio de publicações técnicas, eventos
técnico-científicos, cursos de atualização profissional, certificação de pessoal, reuniões técnicas e premiações.

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da revista CONCRETO & Construções pelo IBRACON, inclusive o Congresso Brasileiro
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técnicas do IBRACON e de até 20% nas à Oportunidade de participar de Comitês Técnicos,
publicações do American Concrete Institute intercambiando conhecimentos e fazendo valer
(ACI) suas opiniões técnicas

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CONCRETO & Construções | 3


u sumário

seções
7 Editorial
REVISTA OFICIAL DO IBRACON PRESIDENTE DO COMITÊ
9 Coluna Institucional Revista de caráter científico, tecnoló- EDITORIAL
gico e informativo para o setor produ- à Guilherme Parsekian
10 Converse com o IBRACON tivo da construção civil, para o ensino (alvenaria estrutural)
e para a pesquisa em concreto.
12 Encontros e Notícias COMITÊ EDITORIAL – MEMBROS
à Arnaldo Forti Battagin
ISSN 1809-7197
20 Personalidade Entrevistada: Tiragem desta edição: (cimento e sustentabilidade)
CRÉDITOS à Bernardo Tutikian
5.000 exemplares
CAPA Vladimir Antonio Paulon (tecnologia)
Publicação trimestral distribuida
Sequência ilustrativa do à Eduardo Millen
gratuitamente aos associados
39 Mercado Nacional
Técnicas Técnicas

processo de inspeção e
de reforço de reforço
(pré-moldado)
recuperação de bloco de à Enio Pazini de Figueiredo
JORNALISTA RESPONSÁVEL
fundação afetada pela 59 Mantenedor à Fábio Luís Pedroso - MTB 41.728
(durabilidade)
reação álcali-agregado. à Ercio Thomas

Sérgio Otoch 96 Acontece nas Regionais fabio@ibracon.org.br (sistemas construtivos)


à Evandro Duarte
PUBLICIDADE E PROMOÇÃO (protendido)
à Arlene Regnier de Lima Ferreira à Frederico Falconi
arlene@ibracon.org.br (projetista de fundações)
à Guilherme Parsekian
PROJETO GRÁFICO E DTP (alvenaria estrutural)

ENTENDENDO O CONCRETO à Gill Pereira

gill@ellementto-arte.com
à Helena Carasek

(argamassas)
à Hugo Rodrigues

27 Reação álcali-agregado:
o que é e como evitar?
ASSINATURA E ATENDIMENTO
office@ibracon.org.br

GRÁFICA
(cimento e comunicação)
à Inês L. da Silva Battagin

(normalização)
à Íria Lícia Oliva Doniak

30
Ipsis Gráfica e Editora (pré-fabricados)
Contribuição à previsão de danos em Preço: R$ 12,00 à José Martins Laginha Neto

estruturas de concreto atacadas pela RAA (projeto estrutural)


à José Tadeu Balbo
As ideias emitidas pelos entre-
(pavimentação)
vistados ou em artigos assinados
à Nelson Covas
NORMALIZAÇÃO TÉCNICA são de responsabilidade de seus
autores e não expressam, neces-
(informática no projeto
estrutural)

44
sariamente, a opinião do Instituto.
A nova norma brasileira de RAA à Paulo E. Fonseca de Campos

(arquitetura)
© Copyright 2016 IBRACON à Paulo Helene

(concreto, reabilitação)
Todos os direitos de reprodução à Selmo Chapira Kuperman
PESQUISA E DESENVOLVIMENTO reservados. Esta revista e suas (barragens)
partes não podem ser reproduzidas

48 Eficácia de cimentos com cinzas volantes nem copiadas, em nenhuma forma IBRACON
de impressão mecânica, eletrônica,
para prevenção de RAA ou qualquer outra, sem o consen-
Rua Julieta Espírito Santo
Pinheiro, 68 – CEP 05542-120
timento por escrito dos autores Jardim Olímpia – São Paulo – SP

51 Metodologia laboratorial para avaliação


da expansão por RAA
e editores. Tel. (11) 3735-0202

INSPEÇÃO E MANUTENÇÃO Instituto Brasileiro do Concreto

61 Modelagem computacional da expansão


por RAA
INSTITUTO BRASILEIRO
DO CONCRETO
Fundado em 1972
Declarado de Utilidade
DIRETORA DE MARKETING
Iria Licia Oliva Doniak

DIRETOR DE EVENTOS

69
Pública Estadual | Lei 2538
Avaliação de RAA na barragem de Pirapora de 11/11/1980
Bernardo Tutikian

Declarado de Utilidade
DIRETORA TÉCNICA
Pública Federal | Decreto
Inês Laranjeira

75
86871 de 25/01/1982
Abertura de juntas de expansão na barragem da Silva Battagin

de Pedra DIRETOR PRESIDENTE


DIRETOR DE RELAÇÕES
Julio Timerman
INSTITUCIONAIS

83 Reparos nas estruturas afetadas pela RAA


na barragem de Jaguari
DIRETOR 1º VICE-PRESIDENTE
Túlio Nogueira Bittencourt

DIRETOR 2º VICE-PRESIDENTE
Paulo Helene

DIRETOR DE PUBLICAÇÕES
E DIVULGAÇÃO TÉCNICA

89
Luiz Prado Vieira Junior Eduardo Barros Millen
RAA em estrutura de concreto armado
de uma edificação DIRETOR 1º SECRETÁRIO DIRETORA DE PESQUISA
Antonio D. de Figueiredo
E DESENVOLVIMENTO
Leandro Mouta Trautwein
DIRETOR 2º SECRETÁRIO
Carlos José Massucato
DIRETOR DE CURSOS
DIRETOR 1º TESOUREIRO Enio José Pazini Figueiredo
Claudio Sbrighi Neto
DIRETORA DE CERTIFICAÇÃO
DIRETOR 2º TESOUREIRO DE MÃO DE OBRA
Nelson Covas Gilberto Antônio Giuzio

6 | CONCRETO & Construções


u editorial

Divulgando conhecimento
sobre a RAA para sua
prevenção
Caro leitor,

E
sta edição da nossa Revista apresenta como tes da reação álcali-sílica
tema de capa a reação álcali-agregado (RAA). no concreto incluem fis-
Nada mais oportuno em vista das ações que o surações, expansão e consequente desalinhamento de ele-
Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON) vem mentos estruturais, pop-outs, presença de gel preenchendo
conduzindo nesse assunto. Aconteceu em julho fissuras ou associados com agregados no interior do concre-
passado, em São Paulo, a décima quinta edição da ICAAR- to, formando bordas de reação. Essa reação normalmente
International Conference on Alkali Aggregate Reaction, rea- demora entre cinco e doze anos para se desenvolver, em-
lizada pela Unesp - Ilha Solteira e que teve amplo apoio do bora existam muitas exceções, e é tanto mais grave quanto
IBRACON. Nessa oportunidade foram discutidas pelos mais maiores as concentrações de álcalis nas fases líquidas dos
renomados especialistas internacionais questões sobre o poros de concreto.
entendimento dos mecanismos da reação, metodologias de Ainda no século XIX, observações davam conta de que o con-
ensaio, medidas de prevenção, diagnóstico e reparo das es- creto, embora considerado um material durável, poderia se
truturas de concreto, cujos trabalhos mais importantes foram deteriorar sob ação do gelo/degelo e sob ação da água do
selecionados para fazer parte desta edição. Assim nossos mar. Durante os anos 20 e 30, do século passado, numero-
leitores são agraciados com o que há de mais atualizado so- sas estruturas de concreto na Califórnia apresentaram intensa
bre esse tema. Mas o que é a RAA? Trata-se de um termo fissuração, embora não expostas às condições ambientais ci-
genérico aplicado a dois tipos distintos de deterioração do tadas e nas quais boas práticas de engenharia tivessem sido
concreto, denominados reação álcali-sílica e reação álcali- adotadas. Foi, portanto, um grande avanço científico, quando,
-carbonato. Esta última é de mais rara ocorrência em âmbi- em 1940, Thomas Edson Stanton, numa publicação que se
to mundial e nacional. Já a reação álcali-sílica, como o pró- tornaria clássica, propôs a existência da reação álcali-agrega-
prio nome indica, é uma reação entre a sílica amorfa ou mal do como um processo deletério intrínseco dos constituintes
cristalizada, e alguns silicatos presentes em certos tipos de do concreto. Nesse trabalho, o autor atribuiu a fissuração ob-
agregados, e os álcalis precipitados presentes nas soluções servada em pavimentos de concreto à expansão provocada
dos poros do concreto. Esta reação tem como produto um pela reação entre a sílica constituinte dos agregados e os álca-
gel expansivo e para sua ocorrência há necessidade de três lis do concreto, na presença de umidade proveniente do solo.
fatores simultâneos, quais sejam água, fase reativa e álcalis. Suas recomendações da época para a prevenção da reação
A quantidade de gel e as pressões exercidas são muito va- já apontavam para o uso de materiais pozolânicos e para a
riáveis, dependendo da temperatura, do tipo e proporções redução da quantidade de compostos alcalinos no concreto.
das fases reativas, da composição do gel, e de outros fa- Nas primeiras décadas após a constatação do fenômeno nos
tores, mas que podem ser suficientes para induzir o desen- Estados Unidos, ele foi detectado em diversas regiões do
volvimento e propagação de microfissuras que, por sua vez, mundo. Na Dinamarca nos anos 50, na Alemanha nos anos
levem à expansão e fissuração generalizada do concreto ou 60, no Reino Unido em meados dos anos 70 e no Japão nos
elemento estrutural afetado. anos 80. Na sequência, alguns países iniciaram pesquisas
As feições típicas das manifestações patológicas decorren- sobre o tema, desenvolvendo técnicas laboratoriais para a

CONCRETO & Construções | 7


observação do desenvolvimento da reação e buscando al- permitiu a verificação da existência de muitos casos onde
ternativas para prevenção e correção do problema, cujas houve fissuração dos blocos de coroação de estacas ou de
principais manifestações foram verificadas em obras hidráu- sapatas corridas. A análise acurada dessas ocorrências por
licas, especialmente barragens de concreto, além de casos especialistas, a partir de testemunhos de concreto extraídos
em pavimentos, dormentes de concreto de estradas de ferro dos elementos de fundação, mostrou realmente tratar-se de
e outros de menor expressão. Desde então muitas pesqui- reação álcali-agregado, tendo, por exemplo, os laboratórios
sas foram desenvolvidas no mundo inteiro e grande parte do da ABCP estudado mais de 60 casos.
conhecimento moderno foi se acumulando nos congressos Contudo não se tem notícia de casos onde os efeitos da rea-
ICAAR, cuja primeira edição foi na Dinamarca, em 1974, e ção tenham levado à falta de segurança no uso das cons-
que o Brasil teve a honra de sediar a edição deste ano. Atual- truções; mas, sim, à necessidade de manutenção corre-
mente é prática internacional a eliminação de, pelos menos, tiva, que, em qualquer situação, é mais onerosa do que a
um dos três fatores concorrentes da RAA como técnica de prevenção do fenômeno. Na oportunidade, mais uma vez o
prevenção dessa patologia e a utilização de materiais miti- IBRACON cumpriu seu papel de disseminar o conhecimen-
gadores quando do uso de agregados comprovadamente to, reunindo, dentre seus associados, um grupo de especia-
reativos. Alguns autores já associaram a RAA à AIDS, em vis- listas que elaboraram dois textos: um dirigido à mídia não
ta da facilidade da prevenção em detrimento do tratamento. especializada e de grande penetração, procurando cons-
Efetivamente as técnicas de recuperação são onerosas, nem cientizar a população afetada por notícias alarmantes de
sempre eficazes e pouco vem evoluindo. colapso das edificações; Outro dirigido a especialistas, que
No Brasil, historicamente conhecido como um fenômeno raro culminou, dentro do Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto
e de lento desenvolvimento, a reação álcali-agregado foi, du- e Agregados da Associação Brasileira de Normas Técnicas
rante décadas, objeto de estudos específicos para a cons- (ABNT/CB-18), no início de trabalhos que levaram à criação,
trução de obras hidráulicas. A adoção de medidas sistemá- em 2008, de uma norma moderna com seis partes, envolven-
ticas de prevenção vem, atualmente, evitando a ocorrência do um guia de prevenção da RAA e outras partes dedicadas
de manifestações patológicas dessa natureza, mas, no pas- à amostragem e aos métodos de ensaios. Em 2016, o Comi-
sado, essa iniciativa não era comum. Constituem exemplos tê Técnico CT 2001 do IBRACON concluiu, após quase dois
de prevenção as barragens de Jupiá (concluída em 1963), anos de estudo, novos textos-base, que foram encaminha-
Água Vermelha (construída entre 1975 e 1979), Salto Osório dos ao CB-18 como contribuição para revisão das normas
(construída entre 1971 e 1975), Tucuruí, Itaipu, dentre outras, de RAA, incorporando os avanços desde 2008. Os trabalhos
onde foram utilizados materiais pozolânicos para inibir a ex- darão os subsídios necessários para imprimir às normas a
pansão com o uso local de agregados reativos. Entretanto a mesma qualidade de suas congêneres internacionais. Para-
partir de 1985, o meio técnico brasileiro tomou conhecimento lelamente, o CT 201 programou quatro publicações a serem
da ocorrência desse fenômeno nas barragens de Moxotó e oferecidas pelo Instituto, tendo iniciado a Prática Recomen-
Joanes II, ambas localizadas na Região Nordeste, por reuni- dada da RAA, documento dirigido a não especialistas, e, na
rem as condições que favoreceram a reação e do desconhe- sequência, deverão ser redigidos textos sobre inspeção e
cimento até então da natureza do agregado reativo utilizado. diagnóstico de estruturas suspeitas de RAA, como agir em
A constatação da reação álcali-agregado em obras de edi- casos de estruturas afetadas pela RAA e, finalmente, um tex-
fícios foi verificada pela primeira vez na região metropolitana to comentado sobre a nova norma.
de Recife, em Pernambuco, devido ao interesse gerado na Todas essas atividades são um exemplo e prova contumaz
inspeção das fundações de diversos edifícios habitacionais, de que o IBRACON pratica efetivamente sua missão de criar
após a queda do Areia Branca em 2004. Cumpre esclarecer e divulgar o conhecimento, em benefício de seus associados,
que as causas do desabamento do Edifício Areia Branca fo- do meio técnico e de toda a sociedade. Boa leitura.
ram devidamente apuradas e nada se constatou que pudes-
se apontar a RAA como causa do episódio. No entanto, a ARNALDO FORTI BATTAGIN
inspeção das fundações de diversos edifícios naquela região Membro do Comitê Editorial e Representante do CTA

8 | CONCRETO & Construções


u coluna institucional

58º Congresso Brasileiro do Concreto:


ambiente de aprendizado e qualificação

C
aros leitores e amigos Ainda, em conjunto com a Diretora
do Instituto Brasileiro do de concursos estudantis, consegui-
Concreto. mos promover a cortesia do jantar
Saúdo-os, como Diretor de gala do IBRACON para os primei-
de Eventos do IBRA- ros 300 alunos que se inscrevem no
CON, apresentando as novidades do evento, desde que participem de al-
58º Congresso Brasileiro do Concreto gum concurso estudantil.
(58º CBC), que acontecerá de 11 a 14 Serão ofertados cursos, de adesão
de outubro, promovido pelo IBRACON. opcional, com os temas de estruturas
Reconhecido como o evento de maior de concreto pré-fabricadas, projetos
relevância para a cadeia do concreto de lajes em concreto armado e pro-
no Brasil, este congresso consiste tendido, e ensaios destrutivos e não
em uma oportunidade ímpar de es- destrutivos para avaliação de estrutu-
tar em contato com as novas tecno- ras de concreto. Todos os créditos dos
logias e materiais empregados nas cursos são válidos para o programa
edificações, buscando construções de Educação Continuada Master PEC,
eficazes, duráveis e de desempenho conduzido pela Diretoria de Cursos.
satisfatório aos usuários. Será realizada nova edição da compe-
Nesta edição, o 58º CBC será se- tição acadêmica OUSADIA, propondo
diado em Belo Horizonte, Minas Gerais, trazendo em sua uma obra de arte em concreto que garanta acessibilidade da
programação debates sobre a tecnologia do concreto e a Rua Sapucaí ao túnel de acesso ao Metrô/Praça da Estação,
normalização técnica, e promovendo, através de suas ses- contemplando a requalificação urbanística para a Rua Sapu-
sões científicas, a divulgação das tecnologias inovadoras em caí e seu entorno, localizada no bairro Floresta da cidade de
termos de produtos e processos, obtidas através do desen- Belo Horizonte. Dessa forma, propõe-se que os estudantes
volvimento das pesquisas científicas e tecnológicas. possam solucionar um problema real, vivenciando o trabalho
Nesta edição, realizaremos seis excelentes seminários, com criativo de engenharia civil e arquitetura e urbanismo. Os de-
os seguintes temas: mais concursos serão mantidos, visando o desenvolvimento
u Obras emblemáticas – 2ª edição; de composições avançadas de concreto, como o concreto de
u Concreto autoadensável – 3ª edição; alta performance colorido, o concreto leve para o Concrebol
u Ensaios não destrutivos; e o concreto resistente do aparato de proteção ao ovo (APO).
u Novas tecnologias; Esses concursos garantem ambiente de conhecimento e apli-
u Ensino da Engenharia; cação da ciência do concreto para os estudantes.
u Boas práticas na execução das estruturas de concreto. A expectativa da equipe organizadora é de superar o público
Teremos ótimas palestras internacionais, com pesquisado- médio de 1000 pessoas, possibilitando capacitação para um
res de renome no cenário mundial, como os doutores Ro- grande número de interessados.
bert Stark, Hugo Corres e Donald Macphee, através dos Tenho certeza de que o evento será um sucesso! A bem da
quais os congressistas poderão conhecer as maiores ino- verdade já é, uma vez que inúmeros e bons artigos foram
vações e tecnologias para o aprimoramento das estruturas recebidos e estão em fase final de avaliação, garantindo o
e construções. sucesso em termos de exposição das pesquisas no setor.
As inscrições para o evento já estão disponíveis online, atra- Em nome da comissão organizadora, afirmo que o esforço
vés do site do IBRACON. Destaco que para esta edição tem sido grande para manter a qualidade dos últimos con-
do congresso, fizemos um grande esforço para garantir a gressos, envolvendo o público, qualificando o mercado e
participação expressiva do público. Reduzimos despesas, proporcionando muito conhecimento.
sem alterar a qualidade do evento, o que nos permitiu não Conto com sua presença, nos vemos em Belo Horizonte.
reajustar as inscrições e até reduzir os valores, como para o
aluno de graduação sócio do IBRACON, que poderá partici- BERNARDO TUTIKIAN
par do evento com R$500,00 para inscrições antecipadas. Diretor de Eventos do IBRACON

CONCRETO & Construções | 9


u converse com o ibracon

ENVIE SUA PERGUNTA PARA O E-MAIL: fabio@ibracon.org.br

PERGUNTAS TÉCNICAS Gostaria de parabenizá-lo pela excelente veríamos aumentar o cobrimento até ficar
discussão sobre o cobrimento das estru- conforme com ABNT NBR 6118 e 12655.
Li que o senhor é um especialista em al- turas de concreto armado. Foi uma exce- Não existe uma regra geral consensua-
venaria estrutural. Por isso, como pre- lente aula histórica e técnica. A cada dia da e acordada nem normalizada. Cabe
ciso de alguém que saiba mais sobre esse aprendo mais e mais com o senhor. Recor- sempre dialogar com o Proprietário. Em
assunto para me esclarecer algumas dú- do-me de quando te conheci pessoalmente geral eu adoto:
vidas, decidi lhe escrever, pois ninguém no congresso nacional de patologia em 1. No caso de obra de reparo localizado
parece ter muita certeza do que diz a Sobral, no Ceará, no ano de 2003, quan- deixar como foi projetado e executa-
respeito. Gostaria de saber se é permi- do eu era formando. do. No caso de obra geral de retrofit,
tido fazer furos de 7cm de diâmetro em Gostaria de tirar uma dúvida sobre o tema. na qual vai haver novo ‘Habite-se’ e
uma parede de alvenaria estrutural para Tenho acompanhado algumas edificações novos proprietários, convém aumen-
atravessar uma tubulação de ar condicio- aqui em Salvador, próximas à área litorâ- tar cobrimentos para ficar dentro das
nado split de um cômodo para outro. Ou nea, em situação de corrosão das armadu- prescrições atuais;
seja, sei que não é possível embuti-los, ras em lajes e vigas. Especificamente notei 2. Obra Pública convém deixar dentro
mas ninguém sabe dizer se um furo tão nas lajes notei cobrimentos que variam de da lei e obra privada depende de dia-
pequeno comprometeria a estrutura. Mas 5mm a 15mm. Pela atual tabela 3 da NBR logar com proprietário;
como não quero que nenhum prédio caia 6118, a recomendação é que o cobrimento 3. As normas prescrevem espessura de
por uma decisão precipitada, gostaria de seja de 35mm, já que a classe de agressivi- concreto, mas argamassas estrutu-
saber se o senhor pode me dar alguma dade ambiental é tipo III. rais de areia e cimento e grouts são
informação a respeito. Agradeço desde Neste caso, após o tratamento da corro- considerados concretos. Podemos
já e peço desculpas pelo incômodo. são, é recomendado que se faça uma ca- chapiscar e aplicar argamassas de
PATRÍCIA FONSECA mada de cobrimento (grout ou projeção areia e cimento ou escarificar e aplicar
Servidora Pública Federal de argamassa polimérica) para se atingir graute com fôrmas tipo cachimbo;
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais os atuais limites normativos, com vistas à 4. Também se pode aplicar pintura su-
– CEFET-MG manutenção da durabilidade da estrutura perficial, mas isso não está contem-
ou uma pintura epoxídica poderia resolver plado nas normas. Pode ser pintura
É preciso avaliar como um todo. Realizar o problema? com caiação renovada a cada ano, ou
um furo de 7 cm cruzando uma parede com tinta 100% acrílica para exterio-
estrutural de comprimento razoável, com PROF. DSC. FRANCISCO GABRIEL SANTOS SILVA res (MetaLatex ou Suvinil) renovada a
o furo executado com equipamentos Universidade Federal da Bahia – UFBA cada 4 anos (ver NBR 15575); ou tinta
corretos e cuidado, não compromete a ou verniz poliuretanico ou epóxi (não
estrutura. O ideal é fazer esse furo na ca- Obrigado pelas amáveis palavras. Fico pode receber luz do sol) renovados a
naleta grauteada, no respaldo da laje. feliz em saber de seu progresso e vitórias, cada 8 anos (ver ANBT NBR 15575).
É melhor que esse detalhe já faça parte e de que hoje esteja professor universitá- Porém, lembre-se que o maior problema
do projeto original, permitindo que seja rio. Muito bom, mas não se afaste nunca é incêndio. No caso que dependa de li-
executado antes do grauteamento da do meio produtivo (construção e projeto) beração do Corpo de Bombeiros, será
canaleta, deixando um tubo para pas- porque fazemos ciência aplicada, não ci- necessário pintar com tinta intumescen-
sagem de instalações. ência básica. te ou aumentar cobrimento de concreto.
Gostei de sua dúvida. Em princípio, nos Não serve pintura imobiliária usual.
GUILHERME A. PARSEKIAN, COORDENADOR casos de retrofit deveríamos restabele-
DA PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTRUTURAS E cer a estrutura colocando-a dentro dos PAULO HELENE, DIRETOR DE RELAÇÕES

CONSTRUÇÃO CIVIL DA UFSCAR E PRESIDENTE prescrições atuais. Então, no caso de INSTITUCIONAIS DO IBRACON E MEMBRO DO

DO COMITÊ EDITORIAL durabilidade e corrosão de armadura, de- COMITÊ EDITORIAL

10 | CONCRETO & Construções


RESISTÊNCIA DO CONCRETO ídas ou não do mesmo concreto, há ne- c) ocorreram diferenças importantes no
Qual é a justificativa para um resultado cessidade de tratamentos estatísticos, que preparo e/ou nos ensaio dos CPs,
de ensaio de resistência à compressão aos partem sempre do pressuposto de que a com falta de controle de variáveis
28 dias apresentar um valor inferior ao aleatoriedade anteriormente referida con- importantes, incluindo até mesmo a
resultado de 7 dias? duz a resultados de resistência que obede- mudança de equipamento de ensaio
JÉSSIKA PACHECO cem a uma distribuição Normal, ou curva e/ou do próprio operador / técnico
Engenheira Civil de Gauss, conforme indicado na figura 1. de laboratório;
d) ocorreram problemas no transporte
A variação da resistência dos concretos dos corpos de prova (choques, vibra-
convencionais de cimento Portland, não ção excessiva, ação do calor etc);
incluindo, portanto, os concretos de alto e) em função do posicionamento na
desempenho, ocorre em função do grau prensa, ou acabamento irregular dos
de hidratação do cimento e da forma de corpos de prova, ocorreram con-
desenvolvimento e embricamento dos centrações de tensão, resultando
cristais, supondo-se sempre crescente aos 28 dias rupturas ocorridas sob
com o aumento da idade sob condições u Figura 1 importante influência de tensões tan-
adequadas de cura (temperatura adequa- Curva de distribuição normal/ genciais (e não simples tensões nor-
percentuais típicos de resultados
da, com a necessária quantidade de água mais de compressão);
de CPs de concreto em torno
e sem a presença de agentes deletérios). da média f) foram inadequadas as condições de
A dinâmica das reações de hidratação, (Adam Neville – Propriedades do cura entre os sete e os 28 dias de ida-
Concreto – 5ª edição)
supondo-se água de amassamento e de, podendo, por exemplo, ter ocorri-
agregados isentos de matéria orgânica do retração considerável do concreto,
ou outros contaminantes, dependerá da Ao encontro à sua pergunta, e supondo- com o desenvolvimento de microfis-
composição química e da finura do ci- -se que seja muito pequena a diferença suras superficiais e/ou destacamentos
mento, da relação água/cimento, da tem- de resistência observada entre CPs en- localizados entre a pasta e os agrega-
peratura do meio ambiente e da eventual saiados aos sete e aos vinte e oito dias, dos graúdos, com consequente redu-
ação de aditivos plastificantes, acelerado- pode-se supor que: ção na resistência à compressão do
res de pega ou endurecimento e outros. a) o concreto foi preparado com cimento concreto; temperaturas muito baixas
Observe-se inicialmente que há uma va- de altíssima resistência inicial, fazendo podem também ter “congelado” os
riabilidade natural na resistência de cor- com que sua resistência potencial fos- processos de reação química;
pos de prova produzidos com o mesmo se quase que totalmente desenvolvida g) caso não sejam verdadeiras as hi-
concreto, em função da aleatoriedade após sete dias do início das reações póteses anteriores, ocorreu alguma
verificada nos processos de moldagem, de hidratação; ou seja, pode ser que, anomalia no interior da massa (início
transporte e estocagem dos corpos de na realidade, não existia diferença de reação álcali-agregado, reações
prova. Nessa variabilidade interfere ain- estatisticamente significativa entre a expansivas decorrentes da presen-
resistência de CPs dos dois grupos
da o tamanho e a forma do corpo de ça de sulfatos, presença de algum
(ensaios aos sete ou aos 28 dias);
prova, seu processo de obtenção (mol- agente inibidor da continuidade das
b) por coincidência, CPs ensaiados
dagem ou extração), as características e reações de hidratação etc), cujo
aos sete dias alojaram-se sempre
a forma de execução do ensaio (qualida- diagnóstico requer investigações
próximos à calda da direita da dis-
de da prensa de ensaios, regularidade bastante aprofundadas.
tribuição Normal anteriormente ilus-
do acabamento dos corpos de prova,
trada, enquanto que CPs ensaiados
velocidade de carregamento e outras). ENG° ERCIO THOMAZ – PESQUISADOR DO CENTRO
aos 28 dias alojaram-se próximos à
Para concluir-se pela diferença significativa TECNOLÓGICO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO DO IPT
calda da esquerda;
de resistência entre duas amostras, extra- (CETAC) E MEMBRO DO COMITÊ EDITORIAL

CONCRETO & Construções | 11


u encontros e notícias | LIVROS

Engenharia Estrutural – Portfólio


V alorizar o projeto estrutural de obras
espalhadas pelo país. Este foi o pro-
pósito do livro “Engenharia Estrutural
– Portfólio”, lançado recentemente pela
Associação Brasileira de Engenharia e
Consultoria Estrutural de Minas Gerais
(ABECE-MG).
O livro reúne 165 obras de 33 escritórios
de projetos estruturais associados à re-
gional mineira da ABECE. Com 152 pá-
ginas, o livro traz informações e imagens
dessas obras, bem como apresenta os
escritórios associados, suas equipes de
profissionais e as principais obras realiza-
das por eles.
Patrocinado pela ArcelorMittal Brasil, Atex
Brasil e Belgo Bekaert Arames, o livro
está sendo distribuído pela ABECE aos
escritórios de arquitetura, construtoras,
universidades e associações do setor de
construção civil.

JORNADA INTERNACIONAL ABCIC 2016


Estruturas Pré-moldadas de Concreto

Evento voltado para empresários do


setor produtivo e empresas usuárias de
pré-moldados de concreto, projetistas
de arquitetura e estruturas, gerentes de
engenharia, produção e obras, coordenadores
de projeto gerenciadores, meio acadêmico
(professores e pesquisadores), profissionais
das empresas fornecedoras de materiais
insumos e serviços.

LOCAL DE REALIZAÇÃO:
Millenium Centro de Convenções
São Paulo/SP

Conheça a programação completa e inscreva-se já as vagas limitadas: www.abcic.org.br


12 | CONCRETO & Construções
Guia de Ética & Compliance para Instituições
e Empresas da Construção Civil
A Câmara Brasileira da Indústria da
Construção (CBIC) lançou recente-
mente seu Guia de Ética & Compliance
para o setor. Baseado no Guia para Pro-
gramas de Compliance do Conselho Ad-
ministrativo de Defesa Econômica (Cade),
na cartilha da extinta Secretaria de Direito
Econômico sobre Combate a Cartéis em
Sindicados e Associações, e no Pacto
Global pelo Combate à Corrupção da Or-
ganização das Nações Unidas (ONU), o
código da CBIC pretende servir como re-
ferência e sugestão para que entidades e
empresas do setor construtivo criem suas
próprias políticas de ética e transparência,
prevenindo crises e infrações concorren-
ciais, valorizando sua reputação e garan-
tindo um ambiente competitivo saudável.
O Guia CBIC pode ser obtido gratuita-
mente no site: www.cbic.org.br.

FSB

para escrever a história de


um país, é preciso cuidar dele.

Para um país crescer, é preciso investimento. Mas é necessário também pensar no meio
ambiente, na sociedade e nas futuras gerações.
A indústria do cimento investe em qualidade e utiliza as tecnologias mais avançadas para
promover um desenvolvimento sustentável. Colabora ainda para tornar o meio ambiente mais
limpo com o co-processamento: a destruição de resíduos industriais e pneus em seus fornos.
Onde tem gente tem cimento.
CONCRETO & Construções | 13
u encontros e notícias | EVENTOS

Equipe vencedora do
CONCREBOL 2015 conquista
prêmio internacional
A equipe do Centro Universitário FEI
(Fundação Educacional Inaciana “Pa-
dre Sabóia de Medeiros”), vencedora do
role em trajetória retilínea. Ele é realizado
anualmente durante as edições do Con-
gresso Brasileiro do Concreto.
No concurso do ACI é verificada a homo-
geneidade das esferas de concreto atra-
vés do seu diâmetro e do ensaio do bo-
Concurso CONCREBOL 2015, ganhou na Já, o FRC Bowling Ball Competition é re- liche. A resistência é avaliada através da
categoria “Desempenho” o concurso FRC alizado pelo American Concrete Institute média das cargas nos deslocamentos de
Bowling Ball Competition. (ACI). A edição de 2016 aconteceu em 5, 10, 15, 20 e 25mm, ou seja, a esfera
O CONCREBOL é um concurso técni- Milwaukee, nos Estados Unidos, entre os deve apresentar tenacidade.
co promovido pelo Instituto Brasileiro do dias 17 e 21 de abril. Ao todo, foram inscri- Na confecção do traço do concreto para a
Concreto que desafia os estudantes de tas 57 bolas de 10 países (Brasil, Equador, esfera, o Concurso do ACI permite o uso
engenharia civil a construir uma esfera de México, EUA, Canadá, Porto Rico, Índia, de fibras e a colocação de um núcleo es-
concreto leve, com dimensões pré-esta- Guatemala, Egito e Peru). A equipe da FEI pecial. A densidade da esfera da equipe
belecidas, resistente, homogênea e que foi a única representante do Brasil. girou em torno de 1100 kg/m³.

Cinpar 2016
O Congresso Internacional sobre Pa-
tologia e Reabilitação de Estruturas
vai ser realizado na cidade do Porto, em
Portugal, de 26 a 29 de outubro.
O evento objetiva discutir os métodos de
inspeção das estruturas e de caracteriza-
ção dos materiais e as soluções de reabili-
tação e reforço das estruturas de concreto.
à Informações: https://www.fe.up.pt/cinpar

14 | CONCRETO & Construções


IABMAS 2016
A Conferência Internacional sobre Ma-
nutenção, Segurança e Gerenciamen-
to de Pontes (IABMAS, na sigla em inglês),
pesquisadores e profissionais, a Confe-
rência apresentou o estado da arte, os
conceitos emergentes e as aplicações
O presidente do Instituto Brasileiro do
Concreto (IBRACON), Eng. Julio Timer-
man, esteve presente no evento, que
foi realizada de 26 a 30 de junho, em Foz inovadoras do campo de engenharia foi coordenado pelo vice-presidente do
do Iguaçu, no Brasil, com organização da de pontes, contribuindo para melhorar Instituto, Prof. Tulio Nogueira Bittencourt.
Associação Internacional para Manuten- o diagnóstico de patologias e a identifi- Conjuntamente com a Associação Bra-
ção e Segurança de Pontes e da Escola cação de danos, os sistemas de manu- sileira da Construção Industrializada em
Politécnica da Universidade de São Paulo. tenção, a modelagem de deterioração, o Concreto (ABCIC), o IBRACON divulgou
Com a presença de 336 pessoas vindas monitoramento e a avaliação do ciclo de suas atividades num estande num espa-
dos cinco continentes, entre estudantes, vida de pontes, entre outros temas. ço de exposição no evento.

XVIII COBRAMSEG

C om mais de 1200 trabalhos técnico-


-científicos inscritos, o Congresso
Brasileiro de Mecânica dos Solos e Enge-
pecialista em barragens de rejeitos, Roger
Frank (presidente da International Society
for Soil Mechanics and Foundation Engine-
tados Unidos), autor do conhecido método
de análise de estabilidade de barragem ao
efeito de liquefação de solos e Kristhna Re-
nharia Geotécnica acontece entre os dias ering), diretor do Laboratório Central de Pon- ddy (professora da Universidade de Illinois),
19 e 22 de outubro, em Belo Horizonte. tes e Viadutos da França, na área de me- especialista em engenharia geoambiental.
Presenças confirmadas são os palestrantes cânica dos solos e fundações, Scott Olson As inscrições estão abertas no site:
Luis Valenzuela (diretor da Arcadis Chile), es- (professor da Universidade de Illinois nos Es- à http://cobramseg2016.com.br

CONCRETO & Construções | 15


u encontros e notícias | EVENTOS

ICAAR 2016
R ealizada pela primeira vez na América
Latina, a 15ª Conferência Internacio-
nal sobre a Reação Álcali-Agregado (ICA-
Além das sessões foram realizadas seis
palestras temáticas e uma visita técnica à
Usina Hidrelétrica de Jaguari, localizada no
ação álcali-agregado em todo mundo.
O presidente do IBRACON, Julio Timer-
man, participou das cerimônias de aber-
AR 2016) aconteceu de 3 a 7 de julho, Rio Paraíba do Sul. O evento contou com tura e encerramento da ICAAR 2016, o
no Maksoud Plaza Hotel, em São Pau- a participação de 196 profissionais, 80% conselheiro Selmo Kuperman e o diretor-
lo, com realização conjunta do Instituto deles estrangeiros, vindos de 21 países. -tesoureiro Cláudio Sbrighi Neto integra-
Brasileiro do Concreto (IBRACON) e da Com periodicidade quadrienal, a pri- ram o Comitê Científico e o Conselho de
Unesp de Ilha Solteira. meira ICAAR foi organizada na Di- Revisores do evento.
No evento foram apresentados 129 tra- namarca, em 1974. Desde então, o Estão à venda na Loja Virtual do
balhos técnico-científicos, sendo 103 em evento consolidou-se como o mais im- IBRACON (www.ibracon.org.br) os Anais
sessões orais e 26 em sessões pôsteres. portante fórum de debates sobre a re- do evento.

IBRACON marcou presença na Concrete Show 2016


O Instituto Brasileiro do Concreto – IBRA-
CON esteve presente no tradicional
ponto de encontro da Concrete Show South
da feira e de 80 anos da Associação Brasilei-
ra de Cimento Portland – o evento contou a
história da ABCP e fez uma homenagem ao
que abordou os princípios norteadores em
seus projetos arquitetônicos, como confor-
to, bem-estar, inovação, dignidade, estética,
America, feira de negócios em tecnologia de arquiteto Ruy Ohtake, com uma exposição sustentabilidade, entre outros.
sistemas à base de cimento, que acontece de fotos de suas obras, que consagram a O corpo diretivo do IBRACON compareceu
de 24 a 26 de agosto, no São Paulo Expo. flexibilidade de formas do concreto, e com em todos os dias da feira, estreitando rela-
Nesta edição – comemorativa dos 10 anos uma palestra dele no Concrete Congress, cionamentos e ideias com os participantes.

16 | CONCRETO & Construções


u encontros e notícias | CURSOS

Estruturas pré-fabricadas de concreto

O curso integra o Programa Master em


Produção de Estruturas de Concreto
(Master PEC), sistema de cursos do Insti-
Seu objetivo é introduzir o uso das estru-
turas pré-fabricadas de concreto, abor-
dando seu processo (projeto, produção
Franco, que atuou como assessor técni-
co na Pavi do Brasil e foi gerente de pro-
jetos na Stamp Painéis Arquitetônicos,
tuto Brasileiro do Concreto que objetiva a e montagem), a normalização cabível e sendo atualmente diretor da CAL-FAC
difusão do conhecimento sobre a tecno- algumas aplicações. Consultoria e Engenharia.
logia do concreto e seus sistemas cons- Seu instrutor é o Eng. Carlos Franco, pro- O curso vai ser realizado no dia 12 de ou-
trutivos de uma forma sistêmica, ética, fissional com experiência de mais de 16 tubro, das 14h às 18h, no Minascentro,
com responsabilidade social e ambiental. anos no Escritório Julio Kassoy e Mario em Belo Horizonte.

CONCRETO & Construções | 17


u encontros e notícias | CURSOS

Projeto de lajes em concreto armado e protendido


O curso pretende dar uma visão
geral do projeto de lajes, abor-
dando os tipos de lajes, vãos máxi-
de fissuração, punção e vibrações.
Seu instrutor, o Eng. Fábio Albi-
no de Souza, foi professor do Cen-
Personal Directory” do Post Tensio-
ning Institute. Atualmente é diretor do
Escritório Brasileiro de Protensão.
mos, espessura mínima, ações atu- tro Universitário Adventista de São O curso será realizado no dia 13
antes, metodologia de cálculo de laje Paulo e das Faculdades Metropoli- de outubro, das 9h às 18h, no Mi-
lisa em uma e duas direções, cálculo tanas de Campinas, tendo recebi- nascentro, em Belo Horizonte. Ele
de laje nervurada em uma e duas di- do a certificação internacional na integra o Programa Master PEC do
reções, flechas, fluência, momento área de protensão “Certified Field IBRACON.

Ensaios destrutivos e não destrutivos


para avaliação de estruturas de concreto
O curso vai oferecer uma visão geral dos
ensaios destrutivos e não destrutivos
para avaliação de estruturas de concreto,
mostrará as aplicações da esclerome-
tria e do ultrassom;
u Maria Teresa Paulino Aguilar (UFMG)
de corrosão, a resistência de polariza-
ção e a resistividade elétrica superficial.
O curso, que será realizado dia 14 de ou-
ministrado pelos seguintes especialistas: abordará os ensaios de resistividade tubro, das 9h às 18h, em Belo Horizonte,
u Prof. Paulo Helene (USP) vai tratar da elétrica volumétrica, frequência resso- contará com aulas práticas no Labora-
extração de testemunhos de concreto nante forçada e termografia; tório de Caracterização de Materiais de
segundo a ABNT NBR 7680-1:2015; u Enio Pazini Figueiredo (UFG) explicará Construção Civil e Mecânica da Universi-
u Eng. Rodrigo Moyses Costa (Ultra-lab) os ensaios eletroquímicos de potencial dade Federal de Minas Gerais.

C o n c re t o : M i c ro e s t r u t u r a ,
P ro p r i e d a d e s e M a t e r i a i s
à Autores P. Kumar Mehta e Paulo J. M. Monteiro
(Universidade da Califórnia em Berkeley)

à Coordenadora Nicole Pagan Hasparyk (Eletrobras Furnas)


da edição em
português

à Editora IBRACON • 4ª edição (inglês) •2ª edição (português)

Guia atualizado e didático sobre as propriedades, comportamento e tecnologia do


concreto, a quarta edição do livro "Concreto: Microestrutura, Propriedades e
Materiais" foi amplamente revisada para trazer os últimos avanços sobre a
tecnologia do concreto e para proporcionar
em profundidade detalhes científicos sobre DADOS TÉCNICOS
este material estrutural mais amplamente
ISBN / ISSN: 978-85-98576-21-3
utilizado. Cada capítulo é iniciado com uma Edição: 2ª edição
apresentação geral de seu tema e é Formato: 18,6 x 23,3cm
finalizado com um teste de conhecimento e Páginas: 782
um guia para leituras suplementares. Acabamento: Capa dura
Ano da publicação: 2014
à Informações: www.ibracon.org.br

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18 | CONCRETO & Construções


CONCRETO & Construções | 19
u personalidade entrevistada

Vladimir
Antonio
Paulon

D
irecionado para a engenharia civil por seu De seu contato com a construção de barragens, veio o
irmão mais velho, Vladimir Paulon formou- interesse pela reação álcali-agregado (RAA), reação química
se, em 1963, pela Universidade Federal do entre os álcalis do cimento e os agregados reativos, que, na
Rio Grande do Sul. Após um período de presença de água, forma um gel expansivo que pode causar
cinco anos na França-país que visita todos a fissuração do concreto. A RAA foi tema de seu mestrado,
os anos, onde fez vários amigos-passou obtido na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em
pelo Instituto Tecnológico do Rio Grande do Sul (ITERS), pela 1982. Com os casos recentes das fundações das edificações
Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), pela EPT, de Recife apresentando RAA, Paulon voltou ao tema em seu
antes de chegar a Promon, em 1975, onde permaneceu pós-doutoramento pela Universidade de Berkeley.
grande parte de sua vida profissional, como funcionário e Conjuntamente à sua vida corrida de consultor, visitando
consultor, assessorando grandes projetos de infraestrutura obras por todo país, Paulon dedicou-se também às aulas na
no país, principalmente a construção de barragens, bem Universidade de Campinas (UNICAMP) desde 1972, onde se
como outros tipos de obras, como a construção de escolas aposentou compulsoriamente. “O sagrado para mim sempre
pré-moldadas do programa educacional do governo Collor. foi dar aulas”, confidenciou.

20 | CONCRETO & Construções


IBRACON – Você poderia discorrer Brasileira de Cimento Portland 90, como consultor da Promon, fui
sobre os motivos e circunstâncias que (ABCP), para ser chefe do recém- para o Rio de Janeiro assessorar o
o levaram a se formar engenheiro civil inaugurado Laboratório de Concreto, projeto dos CAICs, projeto do governo
e a se especializar em consultoria de em São Paulo, onde fiquei por um federal para a construção de escolas
obras de barragens e outras obras de ano. Em 1970, na EPT (Engenharia pré-moldadas em todo Brasil, nas
grande porte. e Pesquisas Tecnológicas), o Eládio quais as crianças permaneciam em
Vladimir Antonio Paulon – Eu não Petrucci, diretor técnico, encarregou- tempo integral, em atividades de
conhecia outras profissões em minha me da consultoria para a Barragem ensino e lazer. O plano inicial era
época de ingressar na faculdade a de Salto Osório, no Paraná, projeto construir cinco mil escolas até o final
não ser engenharia civil, medicina da Copel/Eletrosul. Foi minha grande do Governo Collor, tendo sido atingidas
e advocacia, áreas mais fortes na sorte: eu não conhecia nada de 14 fábricas de peças pré-moldadas
graduação em Porto Alegre. Acabei barragem, mas tive um tremendo de argamassa armada e cerca de 480
optando pela engenharia civil porque professor ao meu lado, trabalhando escolas espalhadas pelo Brasil. Após
meu irmão, bem mais velho do que em Salto Osório durante cinco anos. ter construído três CAICs (Brasília, Rio
eu, era engenheiro civil. Eu já tinha Com a morte do Petrucci, fui para de Janeiro e Paraná), o arquiteto Lelé
naquela época o hábito de visitar seu a Promon, em 1975, trabalhar nos (João Filgueiras Lima), idealizador do
escritório e ajudar nos desenhos de grandes projetos de barragens, projeto, retirou-se, fazendo críticas à
arquitetura. Por isso, fui praticamente como Itaipu, Água Vermelha, Xingó, qualidade das construções. Ao assumir
direcionado para a profissão. Três Irmãos. A Promon era uma das verifiquei que o projeto era único para
Ao me formar pela Universidade cinco grandes projetistas da época, todo o Brasil, o que resultava em
Federal do Rio Grande do Sul, em com projetos fabulosos, não só de problemas construtivos por causa das
1963, fui trabalhar num escritório de barragens. Fiquei na Promon, como diferenças de clima entre as regiões.
engenharia em Paris como desenhista funcionário, até 1985, passando Devido às baixas temperaturas de São
de arquitetura. Em seguida, ganhei em seguida a dar consultoria aos Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio
uma bolsa do governo francês para seus projetos. Grande do Sul, as peças pré-moldadas
estudar concreto protendido. Por ter não alcançavam o endurecimento
gostado das aulas do Prof. Robert IBRACON – Como consultor necessário para a desforma em
L’Hermite, fui trabalhar em pesquisa independente você participou do poucas horas, exigindo a espera de
no Laboratório do ITBS (Institute Projeto CAIC, do Ministério da até 25 horas, inviabilizando o projeto.
Technique du Bâtiment et des Travaux Educação, que usou a argamassa Para as peças despachadas para os
Publics) em Paris, direcionando-me armada para a construção de escolas estados abaixo do Rio de Janeiro,
para a área de tecnologia do concreto. num volume inédito no país. O que foi recomendamos a cura térmica das
Voltei para o Brasil em 1968. Por um o projeto CAIC (Centro de Atenção peças, com o aquecimento da água
curto período trabalhei no Instituto Integral à Criança e ao Adolescente), do tanque no qual as peças eram
Tecnológico do Rio Grande do Sul quais foram os desafios para o mergulhadas após cinco horas da
(ITERS), como chefe do serviço engenheiro consultor e por que ele moldagem, permanecendo por cinco
de dosagens, e, em 1969, fui foi tão importante em sua carreira dias. Para uma fábrica no Paraná,
convidado pelo Francisco Basílio, profissional? fizemos um túnel de cura a vapor
então presidente da Associação Vladimir Antonio Paulon – Nos anos das peças.


VERIFIQUEI QUE O PROJETO [CAIC] ERA ÚNICO


PARA TODO O BRASIL, O QUE RESULTAVA EM
PROBLEMAS CONSTRUTIVOS POR CAUSA DAS
DIFERENÇAS DE CLIMA ENTRE AS REGIÕES

CONCRETO & Construções | 21



[NOS ENSAIOS DE ITAIPU] FOI


CONSTATADA A REAÇÃO ÁLCALI-SILICATO,
AO INVÉS DA REAÇÃO ÁLCALI-SÍLICA,
UMA NOVIDADE NO BRASIL

Havia outros problemas. Os pilares Na especificação original era proibido Apesar de minha vida agitada como
eram moldados com duas fôrmas – o uso de aditivos, um consumo consultor, o sagrado para mim era a
uma externa e outra, interna, redonda, mínimo de 650 kg de cimento por sexta-feira, por causa das aulas.
deixando espaço para drenagem da metro cúbico de argamassa e relação
água de chuva. No projeto original, água/cimento máxima de 0,55. Mudei IBRACON – Sua dissertação de
era colocada a fôrma interna de ferro, para consumo máximo de 650 kg de mestrado foi sobre a reação álcali-

que era puxada imediatamente após a cimento por metro cúbico e máxima agregado em concreto, sendo o título

moldagem, causando irregularidades relação água/cimento de 0,45, fácil de de mestre obtido em 1982. Por que a
na peça. Substitui a fôrma interna ser obtida com o uso de aditivos. RAA mereceu sua atenção como tema
de ferro por um tubo de PVC, que Em Feira de Santana, não havia água acadêmico naquele momento?

permanecia na peça. para a construção das peças. O Vladimir Antonio Paulon – Meu
A vibração das fôrmas durante a poço aberto acabou servindo como primeiro contato com a reação
moldagem era feita com molas, o que cisterna, enchida com caminhões- álcali-agregado foi na construção da
marcava as peças em seu movimento pipa. Havia ainda o problema com barragem de Salto Osório. Uma parte
dentro das fôrmas metálicas. Esse a qualidade das areias da região. da jazida de agregados da região
sistema de vibração foi trocado para Mesmo sem ter materiais adequados apresentou amígdalas, preenchidos
que as peças não ficassem mal e água suficiente, a fábrica de com outro material. Verificamos que
acabadas. Feira de Santana foi colocada em eram agregados reativos. Como
A impermeabilização era feita com funcionamento. houve necessidade de usá-los para
cinco camadas de PVA, que facilitava Minha vida nessa época consistia o fechamento das adufas, foram
a oxidação das armaduras das peças. em viajar no domingo, ir durante a tomados os cuidados preventivos
Passou a ser feita com uma mistura semana até os locais de implantação necessários para que o concreto
de resina acrílica com cimento. das escolas, e, na sexta-feira, dar não apresentasse a reação álcali-
As peças de 2,5 cm de espessuras aula na Universidade Estadual de agregado, como o uso de um cimento
eram colocadas em pallets e Campinas (Unicamp). Comecei a dar com baixo teor de álcalis.
transportadas até a obra, gerando aula na Unicamp, em 1972. De 75 a Os primeiros estudos sobre RAA
no transporte muitas quebras, 76 fui professor na Escola Politécnica no Brasil foram feitos quando da
problema que foi solucionado com a da Universidade de São Paulo, ano construção da barragem de Jupiá.
modificação dos pallets e um manual em que voltei para a Unicamp, onde Sob orientação do Roy Carlson,
para recuperação das peças. me aposentei compulsoriamente. foram efetuados ensaios de RAA
sob coordenação do Heraldo de
CRÉDITO: TRACTEBEL

Souza Gitahy.
Em 1976, após não ter sido
constatada RAA nos ensaios
realizados no Brasil para a construção
de Itaipu, fui enviado para a
Universidade de Berkeley, para
acompanhar os ensaios realizados lá.
Vista da barragem de Salto Osório (Paraná) Neles foi constatada a reação

22 | CONCRETO & Construções


álcali-silicato, ao invés da reação autoridade

CRÉDITO: ACERVO ABCP


álcali-sílica, uma novidade no Brasil. no assunto
Para inibir a reação expansiva na época.
adicionou-se ao concreto 15% de Aproveitei o
cinza volante. fato de ter
Por essas razões me interessei sido retirado
pela RAA como tema para meu um cilindro de
mestrado, cuja parte prática foi sobre a concreto de
experiência que tive em Salto Osório, os toda a altura da
cuidados tomados em sua construção. barragem, para
Ainda nesta época tínhamos pouco a colocação do
conhecimento da RAA, principalmente pêndulo, para
sobre os casos de reação álcali- extrair uma
silicato. Nosso conhecimento avançou quantidade Microfissuras na borda de agregado e argamassa.
Aumento 10x
com os estudos na barragem de grande de
Moxotó. O relatório técnico da corpos de prova, de cotas diferentes Vermelha, foram usados 150. Quer
Promon sobre a causa da fissuração da barragem. O relatório do Mielenz dizer: quanto mais cimento, mais
de Moxotó tinha três partes. Na sobre os ensaios constatou que reação! Além disso, a estrutura
primeira parte verificou-se se a a reação álcali-agregado estava de Moxotó era muito delicada,
vibração das máquinas podia ser a presente das fundações até o topo com as máquinas praticamente
causa da fissuração. Na segunda da barragem. Ela era muito forte penduradas no concreto. Por isso,
parte foi verificado se havia algum embaixo, próximo às fundações, e qualquer alteração do concreto
problema com a fundação. A terceira diminuía de intensidade à medida estrutural afetava as máquinas. A
parte, sob minha responsabilidade, que se subia, por causa da menor solução para recuperá-la foi fazer
associou a fissuração à reação umidade. Mas havia RAA em toda cortes no concreto, de cerca de 15
álcali-agregado. A Promon resolveu a barragem. Quando o Mielenz veio centímetros cada, que possibilitaram
tirar do relatório final a minha parte, ao Brasil para examinar de perto a expansão do concreto sem afetar
alegando que, por eu ter feito minha a barragem, o Simão Priszkulnik a estrutura. Não tive contato com a
dissertação de mestrado sobre a mostrou-lhe os corpos de prova barragem depois dessa intervenção,
RAA, via a reação até onde ela não das barragens de Paulo Afonso e mas, acredito, que as suas quatro
estava presente. Um dia recebo um seu parecer foi que havia também máquinas estão ainda em pleno
telefonema do presidente da Chesf na a reação álcali-silicato em Paulo funcionamento.
época, respaldando minhas opiniões Afonso. Em Moxotó a situação IBRACON – Passados mais de

sobre o problema em Moxotó, porque era crítica. A barragem era quase setenta anos após sua descoberta

a RAA era a única causa que havia estrutural, construída com 350 por Stanton, hoje a RAA é bem

sobrado nos estudos. Recomendei kg de cimento por metro cúbico. conhecida em termos dos mecanismos

que fossem feitos ensaios no Canadá, Hoje usa-se 70 kg de cimento e fatores envolvidos na reação, dos

com o Richard Mielenz, maior por metro cúbico. Em Água tipos de obras mais suscetíveis a ela


UM DIA RECEBO UM TELEFONEMA DO PRESIDENTE


DA CHESF NA ÉPOCA, RESPALDANDO MINHAS OPINIÕES
SOBRE O PROBLEMA EM MOXOTÓ, PORQUE A RAA ERA
A ÚNICA CAUSA QUE HAVIA SOBRADO NOS ESTUDOS

CONCRETO & Construções | 23


inibir a expansão Em pontes com RAA, a solução
CRÉDITO: ACERVO DA ABCP; GEÓLOGA ANA LÍVIA SILVEIRA

é preciso fazer adotada tem sido o reforço dos


testes! pilares. Em fundações, também! O
Sabemos cuidado a ser tomado nesses casos
também como é que o concreto usado no reforço
lidar com uma não seja feito com material reativo ou
obra com seja feito com inibidores para evitar a
RAA. Prestei expansão pela reação álcali-agregado.
consultoria para Não conheço casos nos quais havia
um problema RAA e ela deixou de existir. Veja o
no Aeroporto caso da barragem de Peti, construída
de Palmas. em 1946. Nela o concreto está
Suas pistas de sujeito à reação ácali-agregado. Mas,
Testemunho de concreto onde se observa gel porcelânico asfalto foram continua funcionando normalmente,
esbranquiçado. Microscopia estereoscópica. Aumento 12x
empurradas por causa das várias medidas
e da extensão das consequências pelo concreto usado nos pátios de corretivas adotadas.
estruturais advindas dela? estacionamento dos aviões, ficando A RAA causa uma pequena
Vladimir Antonio Paulon – A química onduladas. Constatei que a reação perda de resistência, mas uma
da reação álcali-agregado não é álcali-agregado, além de fissurar queda pronunciada no módulo de
completamente conhecida. Suas todo o concreto, fez ele se expandir, elasticidade. Isto foi visto no estudo do
consequências, sim! A grande empurrando as pistas, inviabilizando- concreto da barragem de Ilha Solteira,
lacuna no conhecimento é não as. Não sendo possível parar a com vários teores de pozolonas.
ser possível determinar o estágio reação, a solução prescrita foi deixar O concreto afetado com RAA teve
no qual se encontra a expansão o concreto do estacionamento sua resistência quase não alterada,
e quando ela terminará. Se continuar a se expandir livremente. mas seu módulo de elasticidade
conhecêssemos a fundo a reação, O problema no aeroporto era com caiu drasticamente em relação ao
talvez, conseguiríamos determinar o a restrição. Sugeri fazer várias do concreto de referência. Por que a
estágio atual da expansão e quando juntas no piso de concreto, após resistência não cai? É um fato ainda
ela terminaria. consultar o projetista. Com as não bem explicado. Para mim, a
Por outro lado, conhecemos juntas realizadas, o funcionamento melhor hipótese é a de que os poros
perfeitamente como evitar a RAA e do aeroporto foi retomado. Visitei e fissuras do concreto vão sendo
como detectar se um concreto tem novamente o aeroporto há um ano preenchidos pelo gel da RAA, que se
ou não RAA. Do ponto de vista da e verifiquei que a sujeira bloqueava torna vítreo, com resistência maior do
engenharia, o importante é saber as juntas realizadas, não deixando o que a do ar.
como evitar. Basta adicionar uma certa concreto expandir livremente. Sugeri, Por que não estou preocupado
quantidade de escória ou de pozolana, então, a limpeza das juntas e tudo com o que podemos encontrar em
materiais que inibem a reação. Para voltou ao normal, porém a expansão termos de danos causados pela RAA
saber a quantidade necessária para ainda continua. em estruturas? Em primeiro lugar,


A QUÍMICA DA REAÇÃO


ÁLCALI-AGREGADO NÃO É
COMPLETAMENTE CONHECIDA.
SUAS CONSEQUÊNCIAS, SIM!

24 | CONCRETO & Construções



NA PROMON INSTITUI QUE TODAS AS BARRAGENS


DE CONCRETO FOSSEM CONSTRUÍDAS COM
CONCRETO COM POZOLANAS, EM QUANTIDADE
SUFICIENTE PARA ELIMINAR A EXPANSÃO PELA RAA

porque sabemos perfeitamente como O importante é tomarmos as medidas concretos usados nas fundações
determinar e mitigar a RAA. Em preventivas. Na Promon institui que dos edifícios em Recife, foi possível
segundo lugar, porque os cimentos todas as barragens de concreto constatar que, dependendo da
hoje são fabricados com adições de fossem construídas com concreto com temperatura ambiente no momento
pozolanas ou escórias. pozolanas, em quantidade suficiente de lançamento do concreto, este
Com relação à normalização brasileira para eliminar a expansão pela reação atingia temperaturas de até setenta
da RAA, persiste uma dúvida. O álcali-agregado. graus, condição para a formação da
resultado do ensaio acelerado de certos etringita tardia. Com isso, a etringita,
basaltos caracteriza-o como agregado IBRACON – Além da RAA, que outras composto expansivo formado durante
reativo. No entanto, não conhecemos linhas de pesquisa você perseguiu na a hidratação do cimento, formava-se
nenhuma obra que utilizou o basalto Universidade de Berkeley? também num momento posterior ao
que tenha apresentado reação álcali- Vladimir Antonio Paulon – Na minha da hidratação, provocando as fissuras
agregado. Essa questão precisa ser pesquisa de doutorado, obtida em no concreto. A RAA e a etringita
ainda melhor estudada. 1991, estudei a interface entre a pasta tardia, combinadas ou não, explicam
de cimento e o agregado no concreto a enorme variabilidade na abertura de
IBRACON – É possível estimar o grau por meio da microscopia eletrônica, fissuras nos blocos de fundação das
de incidência médio da RAA em obras de orientado pelo Prof. Paulo Monteiro. edificações da região metropolitana
concreto, tendo em vista a proporção No pós-doutorado, realizado em de Recife. Este trabalho está para
de jazidas de agregados reativos, a 2006 e 2007, voltei à Universidade de ser publicado.
proporção dos tipos de cimentos mais Berkeley para estudar a reação álcali-
consumidos e a umidade relativa média do agregado no concreto das fundações IBRACON – Você participa
ar no mundo? dos edifícios da região metropolitana regularmente das atividades do

Vladimir Antonio Paulon – Não. Uma de Recife. Suspeitava que o problema IBRACON. Qual é a importância
aluna que orientei fez uma pesquisa da fissuração, com aberturas do Instituto?

de mestrado sobre as jazidas em São enormes em


Paulo e a RAA. Outro pesquisador alguns blocos CRÉDITO: SELMO KUPERMAN

fez o mesmo no Paraná. Mas essas de fundação,


pesquisas tem sempre escopo não fosse
regional. Por outro lado, existem vários causado apenas
tipos de granitoides. Para ser reativo, pela RAA.
ele tem que ter o quartzo deformado. Verificamos,
Na região de São Paulo tem muito com o Prof.
granito com quartzo deformado. Paulo Monteiro,
Em Moxotó foi quartzo deformado. que, além da
Por sua vez, uma jazida pode ser RAA, havia a
classificada como livre de quartzo etringita tardia.
deformado, mas, com a continuidade Verificando
da escavação, pode aparecer alguma a curva Bloco de fundação de edifício em Recife afetado por RAA,
porção com quartzo deformado. adiabática dos onde se observa quadro fissuratório

CONCRETO & Construções | 25



A RAA E A ETRINGITA TARDIA, COMBINADA OU NÃO,


EXPLICAM A ENORME VARIABILIDADE NA ABERTURA
DE FISSURAS NOS BLOCOS DE FUNDAÇÃO DAS
EDIFICAÇÕES DA REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE

Vladimir Antonio Paulon – Sou centenas. Eu mesmo reviso uma momento de lançamento do foguete
sócio-fundador do IBRACON grande quantidade de trabalhos. a temperatura na plataforma atinge
e sempre participei de suas dois mil graus, caindo bruscamente
atividades. Foi no IBRACON, em IBRACON – Por fim, o que você faz em após o lançamento. O objetivo era
suas reuniões, que os tecnologistas seu tempo livre? dosar um concreto para suportar
novatos puderam aprender Vladimir Antonio Paulon – Presto 600 graus. Mas, de repente, a
com as lições dos tecnologistas consultoria para projetos que me Ucrânia se retirou do projeto, que
experientes, como o Petrucci, o interessam. Estava envolvido, junto parou completamente.
Basílio e o Falcão Bauer. Para com a Falcão Bauer, no projeto Fora consultoria, estou há quase dois
mim, o IBRACON foi o indutor do brasileiro-ucraniano da plataforma de anos no IMED (Complexo de Ensino
desenvolvimento da tecnologia do lançamento de foguetes para a base Superior Meridional), em Passo Fundo,
concreto no Brasil. Nos primeiros de Alcântara. O estudo consistia em como professor de pós-graduação,
congressos eram apresentados de verificar como o concreto é afetado aguardando a abertura da primeira
quatro a cinco trabalhos. Hoje, são pela alta temperatura, porque no turma, que deve sair em março.

ANAIS DA 15ª CONFERÊNCIA


INTERNACIONAL SOBRE A
REAÇÃO ÁLCALI-AGREGADO
(ICAAR 2016)
Editores: Haroldo de Mayo Bernardes & Nicole Pagan Hasparyk

Adquira o pen-drive contendo os mais de 100 trabalhos técnico-científicos apresentados no evento


ICAAR 2016.

Textos escritos por especialistas em reação álcali-agregado, de 21 nacionalidades, sobre


seus mecanismos e fatores, ensaios para seu diagnóstico e para avaliação das estruturas afetadas, casos
de deterioração de estruturas atacadas, modelagem de danos, medidas de recuperação e
medidas preventivas.
A ICAAR é realizada a cada quatro anos e se
consolidou como o mais importante fórum de
debates sobre a reação
álcali-agregado em todo mundo.

Visite: www.ibracon.org.br
26 | CONCRETO & Construções
(Loja Virtual)
u entendendo o concreto

Reação álcali-agregado:
o que é e como evitar?
SÉRGIO OTOCH - Engenheiro Civil
Sergio Otoch Projetos Estruturais

1. BREVE HISTÓRICO
DO FENÔMENO

D
ata de 1940 a primeira
publicação tratando da
relação da expansão no
concreto com a reação álcali-agre-
gado. Antes, por volta de 1916, já
haviam estudos isolados. Desde en-
tão, o tema tem sido estudado, pes-
quisado e apresentado em vários
simpósios e congressos em todo o
mundo. No Brasil, os primeiros re-
gistros ocorreram em 1963. Reno-
mados professores, pesquisadores
e engenheiros dedicaram-se ao es-
tudo da RAA, tendo sido produzida
Topo de bloco de fundação com fissuras devidas à RAA
grande quantidade de trabalhos que
foram publicados e apresentados 3 a 20 anos. Logo, em Fortaleza, sur- da RAA, tudo de modo bastante sim-
em congressos, simpósios e reuni- giriam os primeiros casos, também ples, sem aprofundar-se na complexi-
ões anuais, muitos deles específicos em blocos de fundações de alguns dade do fenômeno, já brilhantemente
para tratar do tema. edifícios. Praticamente, todos os descrito por outros autores.
O fenômeno da expansão do anos, têm ocorrido casos de RAA.
concreto devido à RAA, até pou- Como profissional projetista de es- 2. O QUE É A REAÇÃO
cos anos, era de ocorrência predo- truturas, preocupa-me a inércia, por ÁLCALI-AGREGADO (RAA)
minante em estruturas de grande parte de alguns setores envolvidos A RAA é um processo químico que
100porte: barragens e partes de usinas na produção dos nossos edifícios, na ocorre no concreto endurecido, onde
95 hidrelétricas. Mais recentemente, a adoção de medidas que visem preve- minerais reativos dos agregados (bri-
partir do final de 2004 e por todo o nir a ocorrência da RAA. Com essa ta e/ou areia) reagem com hidróxilos
75
ano de 2005, na região metropoli- motivação e com base na experiência alcalinos presentes nas soluções dos
tana de Recife, foram identificados pessoal, a seguir apresento o fenô- poros da pasta do concreto, for-
25 vários casos de RAA acometendo meno, as condições propícias ao de- mando um gel higroscópico expan-
blocos e sapatas de fundações de senvolvimento da reação e as ações sivo (às vezes, não há formação de
5
edifícios, com idades variando de sugeridas para prevenção e inibição gel). Quando a RAA ocorre de forma
0

CONCRETO & Construções | 27


do ataque dos álcalis – dos três
tipos é o mais raro de ocorrer.
Em situações extremas da RAA,
é possível ocorrer pressões devido à
expansão do concreto, da ordem de
13 MPa (1300 tf/m 2) que, em muitos
casos, é superior à resistência à tra-
ção do concreto!
Detalhe do testemunho extraído Colação dos perfis metálicos e das
barras Dywidag, apicoamento das
3. CONDIÇÕES PROPÍCIAS AO faces e colocação das armaduras, para
deletéria (expansão do concreto) po-
recuperação dos blocos afetados
DESENCADEAMENTO
dem ocorrer fissuras, deslocamentos
DA REAÇÃO reativos; neste sentido, é im-
diferenciais, lascamentos, aumento
Para que ocorra a reação é ne-
da permeabilidade e diminuição da prescindível realizar ensaios dos
cessária a presença, simultânea, de:
resistência química e mecânica do agregados para identificar o po-
a) Agregado reativo ou potencial-
concreto. Atualmente, sabe-se que tencial reativo; baixos teores de
mente reativo (sílica, silicato ou
há três variedades da RAA: agregados reativos são permiti-
carbonato);
1. Reação álcali-sílica: quando a dos se forem empregados neu-
b) Álcalis, principalmente da pasta
sílica reativa (do agregado) rea- tralizadores da RAA no concreto;
de cimento, em teor suficiente;
ge com os álcalis provenientes, b) Limitar o teor de álcalis solúveis
pode vir de outras fontes: água
principalmente, da pasta de ci- no concreto: a principal fonte de
de amassamento, aditivos, adi-
mento, com formação de gel hi- álcalis é o cimento, que deve pos-
ções minerais, agregados;
groscópico expansivo – essa é a suir teores abaixo de 0,4%; entre-
c) Umidade suficiente, proveniente
reação mais comum e a que mais tanto, é preciso examinar a água
do contato direto com a água ou
rápido se desenvolve; de amassamento, os aditivos, as
em ambientes com umidade rela-
2. Reação álcali-silicato: muito si- adições minerais e até mesmo os
tiva do ar acima de 80%.
milar à anterior, exceto que a agregados, pois todos são fontes
Além dos elementos acima, outros
reação agora é pela ação dos fornecedoras de álcalis;
fatores contribuem para a variação da
silicatos dos agregados – uma c) Proteger o elemento estrutural
velocidade e magnitude da RAA:
reação mais lenta que a anterior contra o contato com o lençol
a) Temperatura: quanto mais eleva-
e, também, há formação de gel; freático: uso de métodos imper-
da, mas intensa é a reação;
3. Reação álcali-carbonato: não for- meabilizantes;
b) Consumo de cimento: quanto
ma gel, ocorrendo pela expansão
maior o consumo de cimento,
das rochas carbonáticas a partir
mais intensa é a reação, mesmo
em presença de baixo teor de ál-
cali (< 0,6%).

4. AÇÕES PREVENTIVAS E
INIBIDORAS DA REAÇÃO
Como ações para prevenir ou ini-
bir a RAA, recomenda-se: Bloco concluído, depois de seu
a) Se possível, não utilizar agrega- envelopamento com concreto
Identificação da “borda de reação” e gel com microssílica e pintura
de RAA por meio de ensaio laboratorial dos potencialmente reativos ou impermeabilizante

28 | CONCRETO & Construções


d) Reduzir a relação a/c: o exces- hidratação: é uma tentativa de ainda não é conclusivo sobre quais
so de água, além do necessário evitar a elevação da temperatura; medidas adotar para estancar a rea-
para a hidratação do cimento, é h) Forma: evitar usar forma lateral ção. Para a recuperação do elemento
fonte de umidade e aumenta a com alvenaria, pois dificultam a (BLOCO) afetado é necessário um es-
porosidade do concreto; dissipação do calor e alteram a tudo específico do caso, após a rea-
e) Reduzir o consumo de cimento: relação a/c nas faces dos blocos, lização dos ensaios em testemunhos
podem-se usar adições minerais podendo ocorrer fissuras por au- extraídos do concreto. Envolvimento
com critério; sência de cura; com concreto, aplicação de protensão
f) Aditivos (superplastificantes e i) Armaduras: adotar detalhe de ar- e impermeabilização são procedimen-
redutores de água): esses com- mação na forma de gaiola. tos frequentemente adotados como
postos contêm álcalis que se forma de reduzir o processo reativo. É
somarão aos outros; portanto, 5. E SE O PROBLEMA necessário monitorar o elemento recu-
o uso de aditivos deve ser feito ESTIVER OCORRENDO perado para acompanhar a eficiência
com critério; EM MINHA OBRA? da solução, isto é, aferir se a reação
g) Usar cimento com baixo calor de O estado do conhecimento atual foi extinta, reduzida ou aumentada.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] CONCRETO: Ensino, Pesquisa e Realização. Instituto Brasileiro do Concreto: São Paulo, Vol. 2, 2005.
[02] REAÇÃO ÁLCALI-AGREGADO. Sindicato da Indústria da Construção de Pernanbuco (SINDUSCON/PE), Recife, 2006.

CONCRETO & Construções | 29


u entendendo o concreto

Contribuição à previsão
de danos para estruturas
de concreto atacadas pela
reação álcali-sílica
HELENA CARASEK – Professora Doutora • OSWALDO CASCUDO – Professor Doutor • GEOVANNE CAETANO – Mestrando
Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Estruturas e Construção Civil – PPG-GECON / EECA – Universidade Federal de Goiás

1. INTRODUÇÃO o quartzo tensionado por processos considerada relevante, notadamente

A
reação álcali-agregado (RAA) tectônicos. Essa reação também for- pela sua grave repercussão na estrutura
é uma manifestação pato- ma um gel expansivo e, geralmente, é e pelos grandes transtornos trazidos às
lógica que pode represen- mais lenta do que a que ocorre com a obras de infraestrutura e de edificação.
tar um alto grau de deterioração do sílica reativa. No que tange à sua ocorrência, tem-se
concreto, principalmente em obras de A reação álcali-carbonato (RAC), fe- o registro desse fenômeno em pelo me-
infraestrutura, como barragens, pavi- nômeno bem mais raro de ser observa- nos 50 países, incluindo-se o Brasil, o
mentos e pontes, além das fundações do, manifesta-se em alguns agregados que torna a RAA um tema de estudo de
em geral. Trata-se de um processo rochosos carbonáticos, sendo que a amplo espectro em nível mundial.
de deterioração de natureza química forma mais conhecida de deterioração No campo do estudo e investigação
endógena, ou seja, ocorrem reações do concreto por essa reação é a des- da reação álcali-agregado, além das
químicas internas ao concreto sem o dolomitização da rocha e, consequen- pesquisas experimentais de laborató-
aporte de agentes agressivos externos. te, enfraquecimento da ligação pasta/ rio e dos estudos de campo em obras
A ABNT NBR 15577-1: 2008 – Agre- agregado. Dada a especificidade da atacadas por ela, uma importante ferra-
gados: Reatividade Álcali-Agregado RAC, além de sua baixa ocorrência, menta de análise que surgiu a partir dos
define três tipos de reação álcali-agre- essa reação não é tratada pela ABNT anos 80 foi a simulação numérica. Esta
gado, a saber: álcali-sílica, álcali-silicato NBR 15577: 2008. linha de estudo tem propiciado tanto
e álcali-carbonato. Dentre esses três tipos, a RAS é a modelagem do fenômeno quanto a
A reação álcali-sílica (RAS) envolve a a reação mais comumente relatada predição de danos ou de vida útil das
sílica reativa dos agregados e os álcalis como responsável pela deterioração estruturas afetadas por esta reação.
– Na+ e K+, que na presença de hidróxi- de obras, de modo que a maioria dos Devido à importância do tema, o
do de cálcio proveniente da hidratação estudos sobre RAA enfoca essa forma presente artigo tem como objetivo pro-
do cimento, formando um gel expansi- de ocorrência do problema, como é o mover uma discussão sobre os mo-
vo (Figura 1). Esse é o tipo de reação caso no presente trabalho. delos numéricos que vêm sendo de-
que mais rapidamente se desenvolve. Apesar dessa reação ser conhecida senvolvidos para previsão de dano de
Considerada um tipo específico de há cerca de 80 anos pelo meio técnico estruturas afetadas pela reação álcali-
reação álcali-sílica, a reação álcali-si- e de suas formas de prevenção serem -sílica, bem como apresentar as prin-
licato ocorre entre os álcalis e alguns também bem difundidas, a deterioração cipais classificações e estabelecer os
tipos de silicato, como, por exemplo, do concreto resultante da RAS ainda é níveis que diferenciam esses modelos.

30 | CONCRETO & Construções


2. PRINCIPAIS FATORES QUE
INFLUENCIAM A REAÇÃO
ÁLCALI-SÍLICA
O entendimento dos fatores que
propiciam e influenciam a reação álcali-
-agregado é de essencial importância
quando se pretende trabalhar com as
simulações numéricas, uma vez que
esses fatores se constituirão em dados
de entrada dos modelos.
É consenso no meio científico que
a reação álcali-agregado ocorre se, e
somente se, houver a ocorrência con-
comitante de três fatores: presença
de minerais reativos no agregado, pre-
sença de álcalis na pasta de cimento
e umidade suficientemente alta para
propiciar a reação. Salienta-se, contu-
do, que outros fatores também podem
afetar a reação, como a temperatura
do ambiente, a porosidade do concreto
e as condições da estrutura (tensões
confinantes e presença de armaduras),
resumidos na Figura 2.
Quanto à reatividade dos agrega-
dos, ela é devida, principalmente, aos
tipos de minerais presentes em sua
u Figura 1
estrutura. Alguns agregados silicosos, Representação da ocorrência da reação álcali-sílica, com formação do gel
quando constituídos de sílica amor- e fissuração do concreto
fa mal cristalizada ou microcristalina,
são atacados pela solução intersticial
dos poros do concreto. Constituem-
-se exemplos de sílica reativa: opala,
calcedônia, tridimita, cristobalita e vi-
dro vulcânico. A severidade das rea-
ções depende, além da reatividade dos
agregados, também de seu proporcio-
namento na mistura de concreto e de
sua granulometria.
A principal fonte de álcalis no concre-
to é o cimento utilizado no seu preparo.
Para se evitar a reação, as prescrições
mais antigas instituíam teores limites
máximos iguais a 0,6% de equivalente
u Figura 2
alcalino (Na2O + 0,658K2O). No entan- Principais fatores que influenciam a reação álcali-sílica
to, os álcalis podem ser provenientes

CONCRETO & Construções | 31


de outras fontes intrínsecas ao concre- prova de laboratório atacados pela RAS. um sistema real em determinada forma
to, como os aditivos e as adições, ou A porosidade do concreto, função de linguagem, geralmente a linguagem
mesmo os próprios agregados que con- da relação água/ligante e dos seus ma- matemática. Modelos matemáticos são
tenham um alto teor desses íons; além teriais constituintes, também influen- descrições construídas em linguagem
dessas fontes, os álcalis também po- cia a RAS. No entanto, não existe um matemática, mediante simplificações
dem ser oriundos do ambiente no qual a consenso de como é esta influência. Se do sistema, sendo representados por
estrutura está inserida. Por essa razão, houver uma baixa porosidade, esta ten- componentes, variáveis, parâmetros e
atualmente um parâmetro mais aceito é de a dificultar o transporte dos reagen- relações funcionais.
o teor total de álcalis ativos do concre- tes até os agregados, mas, uma vez Os modelos para previsão de vida
to, fornecidos por todos os seus mate- iniciada a reação, mais rápidas e mais útil e de danos podem ser desde os
riais constituintes. Assim, a ABNT NBR acentuadas serão as expansões devi- mais simples, chamados de modelos
15577-1: 2008 limita o teor de álcalis das à limitação de espaço para acomo- empíricos, passando pelos modelos
do concreto a valores menores do que dação do gel formado. Por outro lado, analíticos (ou semianalíticos), chegan-
3,0 kg/m e 2,4 kg/m , respectivamente
3 3
um concreto com alta porosidade dis- do nos mais complexos, os modelos
para as intensidades de ação preventiva põe de maior espaço físico para arma- numéricos.
mínima e moderada. zenamento de água intersticial, tendo Os modelos empíricos não se ba-
A umidade tem uma ação funda- assim maior quantidade de reagentes seiam em dados físicos e, portanto,
mental no desenvolvimento da RAS. para propiciar o fenômeno, porém, em existe a necessidade de que sejam
O primeiro papel da água é ionizar e função desse maior espaço, há melho- calibrados para os fins de predição
transportar íons alcalinos e hidroxila res condições para o armazenamento do comportamento futuro da estrutu-
ao longo da porosidade da matriz para do gel formado antes que se atinja um ra, tendo, em geral, um interesse limi-
reagirem com o agregado, produzindo estágio crítico de tensões que leve o tado no campo preditivo. Os modelos
um gel sílico-alcalino ou cálcio-sílico- concreto a iniciar um processo de ex- analíticos consideram como dados de
-alcalino. O segundo papel é propiciar a pansão (evoluindo para a fissuração). entrada, de maneira direta ou indireta,
expansão do concreto devida à adsor- indicadores de desempenho quanto à
ção de água pelo gel. Por esta razão, 3. MODELOS PREDITIVOS DE durabilidade físico-química, como a po-
de forma geral, considera-se que a re- DANO GERADO PELA RAA rosidade, a permeabilidade, o estado
ação não pode danificar o concreto se Nas últimas décadas, a comunidade hídrico, etc. Eles apresentam a vanta-
a umidade relativa média do ambiente científica tem se dedicado ao desenvol- gem da simplicidade e da boa repre-
não for superior a 80%-85%. vimento de modelos de previsão de vida sentatividade global dos fenômenos,
A temperatura é um fator importan- útil e de previsão de danos de estruturas porém, não são capazes de represen-
te de ser considerado na RAS por pos- de concreto, dentre eles os relacionados tar de modo detalhado as reações.
suir um efeito cinético no fenômeno. à RAS. Atualmente, na literatura, já exis- Os modelos numéricos propõem-
A elevação da temperatura acelera o tem disponíveis vários modelos, que se -se a descrever detalhadamente a físi-
início e também a velocidade inicial da diferenciam quanto à sua concepção, ca dos fenômenos, levando em conta,
expansão e, consequentemente, as ex- dados de entrada, escala de aborda- principalmente, os mecanismos de
pansões e a deterioração da estrutura. gem, natureza, etc. A seguir, são tecidas transporte em meio poroso não satu-
As tensões confinantes, bem como considerações que visam esclarecer al- rado, os equilíbrios químicos, as cinéti-
a presença de armaduras passivas ou guns aspectos conceituais importantes cas das reações e as modificações de
ativas no concreto, tendem a limitar o e de aplicação dos modelos. porosidade do material. Consequente-
fenômeno ou até mesmo suprimir a livre mente, o grau de complexidade envol-
expansão do concreto, tendo uma influ- 3.1 Considerações gerais sobre vido requer a implantação de métodos
ência benéfica sobre a reação. Por esta os modelos numéricos, devido ao grande esforço
razão, os danos nas estruturas reais de cálculo. Na sequência deste item,
tendem a ser menos pronunciados do Um modelo pode ser definido, de será dada ênfase aos modelos numé-
que os danos no concreto de corpos de forma geral, como a representação de ricos aplicáveis à RAS.

32 | CONCRETO & Construções


u Tabela 1 – Pesquisas acadêmicas brasileiras sobre modelos preditivos de danos para estruturas de concreto afetadas
pela RAS

Autor Ano Tipo Universidade


Pappalardo 1998 Tese Universidade de São Paulo
Farage 2000 Tese Universidade Federal do Rio de Janeiro
Carrazedo 2004 Dissertação Universidade Federal do Paraná
Lopes 2004 Tese Universidade Federal do Rio de Janeiro
Madureira 2007 Tese Universidade Federal de Pernambuco
Nóbrega 2008 Tese Universidade Federal de Pernambuco
Oliveira 2013 Dissertação Universidade Federal do Paraná
Rodrigues 2014 Dissertação Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Balbo 2015 Tese Universidade Federal do Paraná

3.2 Modelos numéricos aplicáveis 3.2.1 Modelos preditivos quanto plo. Eles fazem a simplificação de algu-
à reação álcali-sílica à natureza: determinística mas variáveis, considerando-as cons-
ou probabilística tantes no tempo e, geralmente, são
No contexto internacional, desde o modelos analíticos, sendo os dados de
início dos anos 80 têm sido desenvol- Nos modelos determinísticos, em saída estritamente resultantes dos da-
vidos modelos voltados a descrever a geral, valores médios são atribuídos dos de entrada inseridos.
reação álcali-agregado. No Brasil, no aos parâmetros de entrada, havendo, Contrariamente à abordagem deter-
entanto, o estágio no qual se encontra portanto, necessidade de parâmetros minista, em que os valores representa-
a produção de modelos de RAA ainda de calibração. Os modelos de natureza tivos das variáveis são modelados por
é incipiente. É importante frisar que um determinística usam diversos tipos de valores únicos (as médias), a aborda-
modelo que se propõe ser universal no leis em seu desenvolvimento, como as gem probabilista ou estocástica consi-
âmbito da RAA ou RAS deve, a cada Leis de Darcy e de Laplace, por exem- dera a variabilidade dos fenômenos, re-
momento, descrever a cinética de for-
mação e expansão do gel e, em segui-
da, determinar a resposta do concreto
a essa expansão. A Tabela 1 apresenta
um resumo dos trabalhos acadêmicos
brasileiros (dissertações e teses) levan-
tados sobre o tema.
Segundo Carles-Gibergues e Hor-
nain (2014), os modelos para previsão
de danos causados pelo fenômeno da
RAS podem ser classificados, entre
outros, conforme a sua natureza deter-
minística ou probabilística; conforme a
sua escala de análise (micro, meso ou
macroscópica) e de acordo com a sua
vocação exclusivamente explicativa do
fenômeno ou explicativa e preditiva. A
u Figura 3
Figura 3 ressalta essa classificação e o
Classificação dos modelos numéricos existentes para RAS
seu conteúdo respectivo.

CONCRETO & Construções | 33


elemento está ligada ao momento em
que a solicitação ultrapassa a resis-
tência, como se pode ver na Figura 4.
A probabilidade Pf do evento (R ≤ S) e
a quantificação da segurança podem,
então, ser descritas como segue:

Pf = Prob (R ≤ S) ≤ Pf-alvo [1]

As abordagens probabilistas são


ferramentas poderosas que possibi-
litam uma melhor compreensão do
comportamento de uma estrutura,
levando em conta as incertezas ine-
rentes aos materiais de construção
e ao ambiente. Essas abordagens
u Figura 4 devem ser respaldadas em dados
Avaliação probabilística da vida útil de uma estrutura confiáveis, de modo que possam
(BAROGUEL-BOUNY et al., 2014) alimentar os modelos de maneira
consistente.
presentando uma variável pela lei de casos, de teorias de confiabilidade Apesar de sua complexidade, a
distribuição de seus valores possí- para predizer o dano. abordagem probabilística vem sendo
veis (densidade de probabilidade das No contexto probabilístico, então, usada como parte da normalização
variáveis aleatórias). Assim, na visão um dimensionamento é aceitável caso europeia para a compreensão da du-
probabilística, as variáveis não são a probabilidade de ruína ou de falha rabilidade de estruturas de concreto,
constantes no tempo, já que as alea- (Pf), em relação a um critério de esta- como, por exemplo, no Eurocode
toriedades são consideradas (quanti- do limite, seja inferior a um valor alvo 2 – Design of concrete structures
ficadas), bem como verificados seus que define o risco admissível (Pf-alvo). (EN 1992-1).
efeitos dentro do processo como um Se R e S representam, respectiva- Alguns exemplos de modelos de-
todo. Para tanto, faz-se uso de mé- mente, a resistência e a solicitação de terminísticos e probabilísticos para a
todos de probabilidade e, em alguns um elemento da estrutura, a falha do RAS podem ser vistos na Tabela 2.

u Tabela 2 – Exemplos de modelos preditivos de dano referente à RAS, de natureza determinística e probabilística

Natureza Autores Ano Periódico


Groves e Zhang 1990 Cement and Concret Research
Furusawa et al. 1994 3rd Intern. Conference on Durability of Concrete
Determinística Bazant et al. 2000 Journal of Civil Mechanics
Suwito et al. 2002 Concrete Science and Engineering
Pan et al. 2013 Science China Technological Sciences
Swenson e Gillolt 1964 Highway Research Board
Pappalardo 1999 Revista Mackenzie de Engenharia da Computação
Probabilística
Huang e Pietruszczak 1999 Journal of Engineering Mechanics
Capra e Sellier 2003 Mechanics of Materials

34 | CONCRETO & Construções


3.2.2 Modelos preditivos quanto com seus autores e anos de publicação. siderando o papel da água como
à escala transportador de íons hidroxilas e
3.3 Exemplos de modelos alcalinos. A reação química é, então,
No que se refere à escala, esta numéricos para RAS controlada por esse processo difusi-
poder ser dividida em microscópi- vo, sendo seu produto acomodado
ca, mesoscópica e macroscópica. A seguir, a título de exemplifica- na região porosa em torno da partí-
Na escala microscópica, o material ção, são apresentados resumos de cula de agregado.
concreto é caracterizado como uma três diferentes modelos numéricos Para representação dessa consi-
matriz sólida com porosidade e so- existentes para a RAS, referentes às deração, foi criada uma célula cúbica
lução intersticial, a qual responde à escalas micro, meso e macroscópica. de lado S, com uma partícula de diâ-
ação de um gel expansivo. Na esca- metro D, onde z representa o raio da
la mesoscópica, por meio de resul- 3.3.1 Modelo preditivo na escala superfície da partícula que ainda não
tados obtidos com corpos de prova microscópica – B azant e reagiu e δc refere-se à espessura da
em laboratório, em uma ordem de Steffens (2000) região onde o gel formado é acomo-
dimensão decimétrica, explica-se dado (Figura 5).
a relação da formação do gel e a Bazant e Steffens (2000) desen- A partir disso, foi proposto pelos
expansão das amostras. Na mode- volveram um modelo em nível mi- autores que a equação de difusão
lização macroscópica, realiza-se o croscópico que se embasou, dentre em regime estacionário (Equação 2)
cálculo dos efeitos da expansão na outros aspectos, no efeito da con- resulte na concentração de sílica,
estrutura, a partir de experimentos centração, em massa, de sílica rea- considerando as condições de con-
laboratoriais com corpos de prova. tiva no concreto e da permeabilidade torno, conforme Equação 3.
Na Tabela 3 estão ilustrados alguns do gel formado, como também da
¶ æ -2 x w ö
dos principais modelos desenvol- dependência da reação com a evo- x -2 çx ÷=0 [2]
¶x è ¶c ø
vidos para cada escala, juntamente lução da umidade nos poros, con-

u Tabela 3 – Principais modelos de predição de danos referentes à RAS, separados em função da escala

Nível Autores Ano Periódico


Hobbs 1981 Magazine of Concrete Research
Groves e Zhang 1990 Cement and Concret Research
Furusawa et al. 1994 3rd International Conference on Durability of Concrete
Microscópico Bazant e Steffens 2000 Cement and Concret Research
Bazant et al. 2000 Journal of Civil Mechanics
Suwito et al. 2002 Concrete Science and Engineering
Xi et al. 2002 Mechanis of Quasi-brittle Materials and Structure
Comby-Peyrot et al. 2009 Computional Materials Science
Mesoscópico Dunant e Scrivener 2010 Cement and Concret Research
Pan et al. 2013 Science China Technological Sciences
Swenson e Gillolt 1964 Highway Research Board
Larive e Coussy 1994 Jounées des Science pour l’ingénieur
Léger et al. 1995 Canadian Journal of Civil Engineering
Macroscópico
Pappalardo 1999 Revista Mackenzie de Engenharia da Computação
Huang e Pietruszczak 1999 Journal of Engineering Mechanics
Capra e Sellier 2003 Mechanics of Materials

CONCRETO & Construções | 35


abordada na mesoescala, enquan-
to que a formação do gel na escala
microscópica.
Para a simulação da RAS, os agre-
gados inseridos em uma matriz ci-
Legenda
mentícia são gerados em uma malha
Partícula sem reagir
de elementos finitos, considerando
Região de acomodação do gel
uma distribuição granulométrica real.
Partícula com reação
No modelo, ao redor desses agrega-
Célula cúbica
dos são introduzidas zonas reativas.
A AMIE, então, gera a representação
discreta do arranjo, como ilustrado
pela Figura 6; em cada passo, con-
dições de contorno são aplicadas e
u Figura 5 as zonas reativas são expandidas; os
Modelo de célula cúbica idealizada por Bazant e Steffens danos causados por essa expansão
são computados e as propriedades
3.3.2 Modelo preditivo na escala macroscópicas são extraídas. O pro-
1 - (2 z / Dx ) 2x
x w = ws F (x ), F (x ) = , x= [3] mesoscópica – Dunant cesso, então, repete esses passos
(2 z / D ) D
e Scrivener (2010) por diversas vezes.
em que: ξw corresponde à concentra- Com a média das tensões e das
ção de sílica, ws, à concentração de O modelo desenvolvido por Du- deformações em cada ponto da
água nos poros da partícula, F ( x ) , nant e Scrivener (2010) demons- amostra, pode-se calcular a sua ri-
ao perfil dimensional e (x) , à coor- tra a possibilidade de simular os gidez aparente, e, então, relacionar
denada radial adimensional. mecanismos da reação álcali-sílica o avanço da reação ao nível de dano
Esse estudo resultou, então, em baseando-se em uma estrutura de na amostra. Esses resultados, en-
relações entre o parâmetro diâme- elementos finitos (AMIE) a qual inte- tão, são comparados com valores
tro da partícula e a concentração gra uma série de ferramentas neces- experimentais. A perda de rigidez é
de gel, a pressão e a umidade. Na sárias para a simulação do concreto. dada principalmente devido às fis-
relação diâmetro da partícula/gel Nesse modelo, a previsão do dano é suras no agregado e à densidade
observou-se que, quanto menor
a partícula, maior a quantidade de
gel formado. Na relação diâmetro/
pressão, verificou-se que a pressão
aumenta conforme se aumenta o
7 cm

4 cm

diâmetro da partícula até se atingir


um tamanho crítico, a partir do qual
esse comportamento se inverte, ou
seja, a pressão diminui com o au-
mento do diâmetro. No que se refere
à relação diâmetro/umidade, devido a b c
ao fato da formação do gel consu-
mir água, quanto menor o diâmetro, u Figura 6
menor a umidade relativa dos poros, Representação do modelo - (a) concreto real utilizado na simulação;
(b) simulação em tamanho real; (c) simulação da microestrutura da
pois ocorre a diminuição da absor- argamassa (DUNANT; SCRIVENER, 2010)
ção de água.

36 | CONCRETO & Construções


de seu acondicionamento, uma vez descrevem o comportamento do
que a argamassa está sob compres- concreto baseando-se na descri-
são com o nível de tensões próxi- ção da sua deterioração por meio
mas ao seu estado limite. Pode-se da criação de uma superfície de
observar na Figura 7 a malha com descontinuidade.
a distribuição das tensões sobre os A parte elástica do comporta-
agregados, a qual gera compressão mento do concreto baseia-se na te-
na argamassa. oria ortotrópica de danos, proposta
A expansão do gel é dada confor- por Lemaitre e Chaboche (1988 apud
me a Equação 4, em que Ωgel corres- CAPRA; SELLIER, 2003). O estado
ponde à superfície do gel, e, ao ele- do material, em termos de rigidez, é
mento de superfície, h i, à função de dependente de uma variável fenome-
forma associada ao grau de liberda- nológica “d”, a qual é definida como u Figura 7
de considerado, fi, à força associada a razão entre a superfície de des- Mapeamento das zonas da
e E, ao tensor de tensão do gel. continuidade (fissuras, vazios, etc) e amostra que estão sob tensão
(DUNANT; SCRIVENER, 2010)
- a superfície total da amostra, sendo
fi = ò Ñhi Ee imp d (Ω gel Çe ) [4] que seu valor varia entre 0 e 1.
Ω gel Çe sem uma carga externa, a amostra
De posse do valor do coeficien-
de concreto sujeita à reação, que
te “d” é possível calcular a tensão
expande, surgindo uma tensão de
3.3.3 Modelo preditivo na escala efetiva através da Equação 5, sendo
autoequilíbrio dentro do material (Fi-
macroscópica – C apra e esta dada pela relação entre a ten-
gura 8).
Sellier (2003) são aparente σ app e o coeficiente de
Sendo P g a pressão média exer-
dano “d”.
cida pelos produtos da matriz ci-
Segundo Capra e Sellier (2003), s app mentícia e σ gi a tensão induzida pelo
a dificuldade para modelação da re- s eff = [5]
1- d material sem dano. A equação de
ação álcali-agregado se dá devido
equilíbrio leva à relação expressa
à distribuição aleatória dos locais As deformações e as tensões
pela Equação 6, válida para as três
com reatividade e ao escasso co- aparentes são calculadas conforme
direções principais “i”.
nhecimento da química e dos me- as tensões efetivas, baseando-se no
canismos que envolvem as reações. trabalho de Sellier et al. (2001 apud Pg
s gi = [6]
1 - Pf aari
Todavia, baseando-se em uma des- CAPRA; SELLIER, 2003).
crição probabilística dos principais Partindo-se para a modelação da
em que: Pf aari representa a probabi-
parâmetros físicos do concreto e da reação, verificam-se as tensões de
lidade de fissuração na direção “i” e
RAA, é possível simular a expansão equilíbrio geradas pela RAS, isto é,
(1 - Pfaari) é a fração de material não
a que o material está sujeito. Para
tanto, modela-se o concreto como
um material sujeito à fissuração com
sgi Pg sgi
tensões elásticas e inelásticas. A
RAA é modelada levando em consi-
deração a temperatura, a umidade,
o estado de tensões e a cinética da
reação. Os autores propõem, ainda,
a verificação da probabilidade de
abertura de fissuras.
u Figura 8
Antes de desenvolverem a mo-
Tensões de equilíbrio geradas pela RAA (CAPRA; SELLIER, 2003)
delagem para a RAA, os autores

CONCRETO & Construções | 37


fissurado na direção “i” na qual a Posteriormente, os autores fazem útil das estruturas atacadas pela RAS.
tensão σ gi é exercida. uma série de verificações, como a Em se tratando da natureza da
Para a determinação da pressão probabilidade de fissuração devido análise, a modelagem determinística é
gerada pelo gel, considera-se essa à RAS e às tensões de compressão mais simplificada, sendo pautada por
(Pg) sendo proporcional ao volume de geradas. Ademais foram realizadas diferentes leis físicas e considerações
gel e sua taxa de confinamento. Onde simulações numéricas em uma viga, em seu desenvolvimento, cuja realiza-
Vg é o volume de gel criado durante cujos resultados se mostraram em ção, geralmente, dá-se de forma ana-
as reações, Vεaar, o volume de fissu- concordância com os resultados de lítica. A abordagem probabilística, por
ras ocupadas pelo gel e VpO, o volume experimentos realizados. sua vez, é mais complexa e elaborada,
de poros conectados com os locais Segundo os autores, constatou- fazendo a aplicação de teorias e mé-
reativos e com potencial de serem -se que a modelagem apresenta todos de probabilidade na sua con-
usados para alojar o gel formado. A uma formulação completa e deta- cepção, resultando em dados mais
pressão exercida pelas reações é re- lhada, que inclui a descrição global próximos da realidade. Muito embora
presentada pela Equação 7. da cinética química das reações e a uma abordagem probabilista acarrete
descrição física dos mecanismos de muitas dificuldades, pois é necessário
Pg = K Vg - VPO - Ve aar [7] expansão, com um critério de danos analisar todas as fontes possíveis de
pautado nos postulados da análise incertezas, que podem ser diversas
Outra consideração feita pelo mo- de probabilidade. (implicando um grande volume de da-
delo é em relação à cinética global dos de entrada), sem dúvida ela signi-
da reação, a qual é caraterizada pela 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS fica uma avaliação mais rica e sofisti-
concentração total de álcalis (Na2O + Modelos numéricos auxiliam no cada. A despeito dessas dificuldades,
0,658K2O) na solução do poro. prognóstico dos problemas relacio- a abordagem probabilística é factível
Assumindo A (t) como sendo a nados à RAS, uma vez que se pro- e já vem sendo empregada na norma-
porcentagem de álcalis reativos du- põem a descrever a evolução da ma- lização europeia, como, por exemplo,
rante um tempo t, chega-se à Equa- nifestação patológica no concreto, no Eurocode 2.
ção 8. levando em conta os mecanismos
é Na2Oeq ùû (0 ) - éë Na2 Oeq ùû (t ) de transporte em meio poroso não 5. AGRADECIMENTOS
A (t ) = ë [8] saturado, os equilíbrios químicos, Os autores agradecem ao Con-
éë Na2 Oeq ùû (0 )
as cinéticas das reações e as modi- selho Nacional de Desenvolvimento
Então, considera-se que o volume ficações de porosidade do material. Científico e Tecnológico – CNPq e à
de gel criado durante um tempo t é Dessa forma, eles podem ser con- Coordenação de Aperfeiçoamento de
proporcional à porcentagem de álcalis siderados importantes ferramentas Pessoal de Nível Superior – CAPES
reativos, sendo desenvolvidas outras preditivas de danos estruturais, em pela concessão das bolsas PQ e de
correlações a partir disso. especial voltadas à previsão de vida mestrado, respectivamente.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] BAROGUEL-BOUNY, V. CAPRA, B.; LAURENS, S. A durabilidade das armaduras e do concreto de cobrimento. In: OLLIVIER, J-P.; VICHOT, A. Durabilidade do Concreto:
Bases científicas para a formulação de concretos duráveis de acordo com o ambiente. Ed. Tradução: Cascudo, O.; Carasek, H. 1. ed., São Paulo: IBRACON, 2014.
[02] BAZANT, Z.P.; STEFFENS, A.A. mathematical model for kinetics of alkali-silica reaction in concrete. Cement and Concrete Research, USA, v. 30, n. 3,
p. 419–428, 2000.
[03] CAPRA, B.; SELLIER, A. Ortotropic Modelling of Alkali-Aggregate Reaction in Concrete Structures: Numerical Simulations. Mechanics of Materials, v. 35,
p. 817-830, 2003.
[04] CARLES-GIBERGUES, A; HORNAIN, H. A durabilidade do concreto frente às reações expansivas de origem endógena. In: OLLIVIER, J-P.; VICHOT, A. Durabilidade
do Concreto: Bases científicas para a formulação de concretos duráveis de acordo com o ambiente. Ed. Tradução: Cascudo, O.; Carasek, H. 1. ed., São Paulo:
IBRACON, 2014.
[05] DUNANT, C. F.; SCRIVENER, K. L. Micro-mechanical modelling of alkali-silica reaction induced degradation using the AMIE framework. Cement and Concrete
Research, USA, v. 40, n. 4, pp. 517–525, 2010.

38 | CONCRETO & Construções


u mercado nacional

A evolução da cultura
da prevenção da reação
álcali-agregado no
mercado nacional
ARNALDO BATTAGIN • ANA LÍVIA SILVEIRA • FLAVIO MUNHOZ • INÊS BATTAGIN
Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)

1. INTRODUÇÃO e pelo desconhecimento até então da Contudo, não se tem notícia de

N
o Brasil acreditava-se que natureza do agregado reativo utilizado, casos onde os efeitos da reação tenham
a reação álcali-agregado o que motivou novas investigações. levado à perda de segurança no uso
(RAA) era um fenômeno li- Outro fato marcante foi a cons- das construções; mas, sim, à neces-
gado a obras hidraúlicas e as iniciativas tatação dos primeiros casos de re- sidade de manutenção corretiva, que,
para sua prevenção se restringiam a ação álcali-agregado em fundações em qualquer situação, é mais onerosa
esses tipos de obras. de edifícios na região metropolitana do que a prevenção do fenômeno. Na
Atualmente, a adoção de medidas da Grande Recife/PE, decorrente do oportunidade, o IBRACON cumpriu seu
sistemáticas de prevenção nas obras interesse gerado na inspeção das fun- papel de disseminar o conhecimento,
em geral vem evitando a ocorrência dações de diversos edifícios habita- reunindo, dentre seus associados, um
de manifestações patológicas dessa cionais após a queda do Edifício Areia grupo de especialistas que elaboraram
natureza, pois com o avanço do co- Branca, em 2004. Cumpre esclarecer dois textos: um, dirigido à mídia não
nhecimento foram relatados casos em que as causas do desabamento des- especializada e de grande penetração,
vários outros tipos de obras. Consti- se edifício foram devidamente apura- procurando conscientizar a população
tuem exemplos clássicos de prevenção das e nada se constatou que pudesse afetada contra notícias alarmantes de
as ações tomadas nas barragens de apontar possibilidade de ocorrência colapso das edificações; outro, dirigi-
Jupiá (concluída em 1963), Água Ver- de reação álcali-agregado. No entan- do a especialistas, incluiu comentários
melha (construída entre 1975 e 1979), to, a inspeção das fundações de ou- técnicos que foram divulgados inten-
Salto Osório (construída entre 1971 e tros edifícios permitiu a verificação da samente pelos meios de comunicação
1975), Tucuruí, Itaipu, dentre outras, existência de fissuração dos blocos do IBRACON.
onde foram utilizados materiais pozolâ- de coroação de estacas ou de sapa- No Brasil, atualmente, a tecnologia
nicos para inibir a expansão com o uso tas corridas. A análise acurada dessas de avaliação e prevenção da reação
local de agregados reativos. Entretanto, ocorrências, a partir de testemunhos álcali-agregado é dominada por alguns
a partir de 1985, o meio técnico brasi- de concreto extraídos dos elementos centros de pesquisas, destacando-se
leiro tomou conhecimento da ocorrên- de fundação, mostrou tratar-se efeti- os ligados às empresas geradoras de
cia desse fenômeno nas barragens de vamente de reação álcali-agregado e energia elétrica, institutos públicos, al-
Moxotó e Joanes II, ambas localizadas somente nos laboratórios da ABCP gumas universidades e centros de pes-
na Região Nordeste, por reunirem as foram investigados mais de 60 casos quisa e laboratórios da iniciativa priva-
condições que favoreceram a reação dessa região. da. Popularizar esse conhecimento tem

CONCRETO & Construções | 39


sido o grande desafio lançado à socie-
900
dade técnica brasileira. Ápice das Construções de

norma brasileira
Infraestrutura da Copa de 2014

Divulgação da
Atento a essa realidade e ao papel da 800
746 742

Econômica no Brasil
normalização no Brasil, o ABNT/CB-18,

norma brasileira
Início dos trabalhos de normalização

Trabalhos adiantados

Publicação da
700

Divulgação dos casos de RAA de Recife


estimulado pelo grupo de especialistas

Início da Crise
de normalização
623 613
585

Colapso do Edifício Areia-Branca, PE


do IBRACON e com base nos textos pro- 600

Número de ensaios
duzidos, iniciou os trabalhos de desen- 500 487
502

volvimento de documentos para ordenar 439


401
400
o conhecimento existente e difundir as
diretrizes para avaliação e prevenção do 300

fenômeno, visando incorporar esse co- 201


200
nhecimento no dia a dia dos responsá- 133
veis pelas obras de engenharia no País. 100 82
56
O conhecimento adquirido na pre- 23
0
venção dessa manifestação patológica 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

na construção das grandes barragens


brasileiras estabeleceu as bases para u Figura 1
a nova norma brasileira, que, visando Evolução da quantidade de ensaios de RAA realizados na ABCP de acordo
com as normas ASTM C-1260 e ABNT NBR 15577 – Partes 4 e 5
prevenir a ocorrência do fenômeno nos
mais diversos tipos de estruturas de
álcali-agregado em uma estrutura es- tipo de estrutura (maciça ou não ma-
concreto, culminou na publicação, em
pecífica e, em última instância, prescre- ciça), sua inserção no meio ambiente
2008, dos seis textos normativos que
ve a realização de ensaios laboratoriais. (concreto em ambiente seco, exposto
compõem a ABNT NBR 15577, envol-
Esses dados compreendem não à umidade do ar, enterrado, submerso,
vendo um guia de prevenção da RAA
somente ensaios de apreciação e etc.). O teor de álcalis do concreto, o
e outras partes dedicadas à amostra-
análise petrográficas dos agregados, nível de responsabilidade da estrutura
gem e aos métodos de ensaios.
ensaios de barras de argamassa e de e a necessidade de medidas preventi-
Inspirada também em normas inter-
corpos de prova prismáticos de con- vas são fatores que também devem ser
nacionais, a Norma Brasileira foi além
creto, mas também o conhecimento do considerados na análise crítica.
dos documentos que lhe serviram de
base e estabeleceu uma análise de ris-
500
470
co relativa à possibilidade de uma es-
450
trutura vir a apresentar manifestações
400
patológicas devidas à reação álcali- 364
380 377

350 343 343


-agregado. Assim, serve atualmente de
guia a projetistas estruturais, tecnolo- 300
Número de amostras

271

gistas de concreto, fornecedores de 250

insumos, construtores e proprietários 200


170
de empreendimentos quanto aos cui- 150
150

dados necessários para garantir a du- 100


103

rabilidade das estruturas, evitando a 48


50
28 34 19
ocorrência da reação.
0
A Norma indica os dados relevantes 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

que devem ser obtidos para uma aná-


lise crítica consistente da viabilidade u Figura 2
de uso de um agregado com relação à
Evolução da quantidade de análises petrográficas de agregados quanto
à RAA realizadas na ABCP
potencialidade de ocorrência da reação

40 | CONCRETO & Construções


70
5%
5%
63
Construtoras
60
Laboratórios
55 34% 16%
Concreteiras
48
50
Pedreiras
Número de amostras

43
23% Pré-fabricados
40 17% Consultorias

30
24

20
19 u Figura 4
Perfil dos clientes solicitantes de
10 ensaios de RAA, Parte 4

0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 cória em sua composição ou com o
uso de cimento Portland pozolânico
u Figura 3 (CP IV), com no mínimo 30% de pozo-
Evolução da quantidade de ensaios de RAA de longa duração realizados lana. Assim, o uso de cimentos com-
na ABCP de acordo com a norma ABNT NBR 15577 – Parte 6 postos com escória de alto-forno ou
pozolana, atendendo às condições aci-
Indubitavelmente, a norma contri- (ABNT NBR 11578), CPIII (ABNT NBR ma mencionadas, conforme estabeleci-
buiu para uma mudança no “mercado” 5735) e CPIV (ABNT NBR 5736). do na norma, é considerado suficiente
de ensaios de RAA. Ações preventivas de moderada para garantir a ausência de efeitos de-
intensidade, que correspondem a me- letérios devidos à RAA em obras de
2. A PREVENÇÃO DA OCORRÊNCIA didas mitigadoras também de mode- concreto que não contenham elemen-
DA REAÇÃO ÁLCALI-AGREGADO rada intensidade, são atendidas com o tos maciços e que não estejam perma-
O processo pelo qual se evita a uso de cimento Portland de alto-forno nentemente em contato com a água.
ocorrência da reação álcali-agregado (CP III), com pelo menos 60% de es- A norma aponta que, para uma
consiste basicamente em limitar o teor
de álcalis ou combinar os álcalis pre-
sentes no concreto, aprisionando-os
na matriz cimentícia, de forma a não
permitir o desenvolvimento da reação.
A ABNT NBR 15577 classifica o ris-
co de ocorrência da RAA em função da
necessidade de ações preventivas da
reação: desnecessária, mínima, mode-
rada e forte; correspondendo ao mes-
mo grau de intensidade das medidas
mitigadoras.
Considerando a tradição brasileira
de produção e consumo de cimentos
com adições, essa Norma estabelece
seu uso como suficiente para preve-
nir efeitos danosos da reação quando
a classificação da ação preventiva for
mínima. Estão contemplados nessa u Figura 5
Distribuição das amostras por Estado
condição os cimentos CPII-E, CPII-Z

CONCRETO & Construções | 41


ação preventiva forte, as medidas mi-
tigadoras devem sempre contemplar a
realização de ensaios, para comprovar
que o agregado apresenta comporta-
mento potencialmente inócuo ou para
comprovar a mitigação da reação pelo
uso de materiais inibidores, nos casos
de agregados reativos.
Estão incluídas nessa condição to-
das as obras hidráulicas e estruturas em u Figura 6
contato direto com água, elementos es- Avaliação da reatividade das amostras de agregado miúdo e graúdo
truturais enterrados ou em contato com
o solo, elementos maciços de concreto,
todas as construções consideradas de u Tabela 1 – Avaliação da potencialidade reativa dos agregados
grande porte e, portanto, de grande res-
ponsabilidade estrutural, cuja manuten- Potencialidade reativa (%)
Estado Total de amostra Potencialmente Potencialmente
ção, além de difícil, é onerosa e cuja pa-
inócua reativa
ralisação pode gerar grandes transtornos
Brasil 1994 64 36
à população, como barragens, pontes,
viadutos, usinas produtoras de energia, SP 532 66 34

e similares. Esses fatos impulsionaram a PE 228 71 29

demanda por ensaios para comprovar a PI 45 44 56


inocuidade dos agregados ou a mitiga- BA 70 59 41
ção da expansão causada pela reação. RJ 119 100 0
RS 41 27 73
3. A EXPERIÊNCIA DA APLICAÇÃO MG 58 65 35
DA ABNT NBR 15577 E
A ESTATÍSTICA DOS ENSAIOS antes de 2008, e ABNT NBR 15577, A partir de 1621 amostras de agre-
REALIZADOS Partes 4 e 5 (ensaios acelerados de gado miúdo e graúdo recebidas pelos
A prevenção da reação álcali-agre- barras de argamassa), a partir de 2008, laboratórios da ABCP, nas quais havia
gado é simples, segura e de fácil assimi- bem como as análises petrográficas suficiente identificação que permitisse
lação pela comunidade técnica. Quando (ABNT NBR 15577, Parte 3), mostra- sua rastreabilidade quanto ao tipo de
necessárias, as formas de prevenção das na Figura 2. A Figura 3, por sua vez, cliente final ou procedência de unida-
através do uso de materiais mitigadores exibe a estatística de ensaios de longa de da Federação, foi possível levantar
da RAA são uma primeira alternativa a duração, em prismas de concreto. o perfil dos clientes solicitantes dos
ser avaliada técnica e economicamente Interessante comentar que as amos- ensaios (Figura 4) e a procedência das
compatível com a obra e seu projeto, em tras de agregados são enviadas pelos amostras de agregado por estados
função do nível de risco apurado. mais diferentes segmentos, incluindo brasileiros (Figura 5). Observou-se que
As Figuras 1 e 2 exemplificam o fornecedores de agregados (pedreiras), as construtoras atualmente constituem
impacto do desenvolvimento dos tra- empresas de serviços de concretagem, a comunidade mais preocupada na
balhos de divulgação do IBRACON e construtoras, projetistas, universidades, prevenção do problema de RAA, segui-
de normalização sobre o número de além de outros laboratórios, mostrando do da concreteiras e fornecedores de
ensaios efetuados nos laboratórios da que toda a cadeia da construção civil agregado. A maior parte das amostras
ABCP, na ausência de estatística dos vai aos poucos se conscientizando da vem de São Paulo e Pernambuco, com
demais laboratórios. Esses ensaios re- importância da prevenção de manifesta- registro de solicitações de todos esta-
ferem-se aos métodos ASTM C 1260, ções patológicas ligadas à RAA. dos brasileiros, exceto Acre.

42 | CONCRETO & Construções


1400
Total
1274 Agregado Miúdo
Agregado Graúdo
1200

1000
experiência adquirida ao ensaiar inúme-
Número de amostras

ras amostras de agregados pelo méto-


766
800 do acelerado de barras de argamassa
a disparidade de valores de expansão
600
508 obtidos aos 28 dias de ensaio em cura
409
400 agressiva alcalina. De fato, observam-
270 -se barras de argamassa com expan-
200 163
139 141 147 134 são desde 0,01% até 1,86%. A Figura
22 13 7 ilustra os resultados obtidos.
0
< 0,19 0,19 ≤ E < 0,40 0,40 ≤ E < 0,60 ≥ 0,60 Em vista desses resultados, como
Intervalo de expansão (%)
integrantes do CT-201, do IBRACON,
representantes da ABCP colocaram em
u Figura 7
Perfil de expansão das amostras de agregado miúdo e graúdo ensaiados discussão o tema nesse comite técnico,
na ABCP que deliberou por apresentar uma suges-
tão de incorporar na norma da ABNT, em
sua próxima revisão, a classificação dos
u Tabela 2 – Sugestão de classificação do grau de reatividade de agregados agregados quanto ao grau de reativida-
de potencial e, assim, orientar com mais
Expansão das barras de Classificação da reatividade Classificação da
detalhe os usuários quanto à intensidade
argamassa aos 28 dias (%) potencial do agregado ação preventiva
das medidas de mitigação. As intensida-
Menor que 0,19% Potencialmente inócuo Desnecessária
des das medidas de mitigação estão atu-
Entre 0,19 e 0,40% Potencialmente reativo grau 1 Mínima
almente na norma ligadas à intensidade
Entre 0,41 e 0,60% Potencialmente reativo grau 2 Moderada
da ação preventiva (desnecessária, míni-
Maior que 0,60% Potencialmente reativo grau 3 Forte
ma, moderada ou forte), mas não ao grau
de reatividade dos agregados.
A Figura 6 apresenta uma síntese A Tabela 1 apresenta uma síntese Acredita-se que a introdução de
da avaliação da potencialidade reativa da avaliação da potencialidade reativa classificação de grau de reatividade
dos agregados miúdos e graúdos nos dos agregados dos sete Estados com potencial nível 1, 2 e 3, em função da
ensaios de acordo com a NBR 15577 maior número de amostras ensaiadas expansibilidade da barra de argamassa
– Parte 4. Cumpre esclarecer que, para pela NBR 15577 – Parte 4. do ensaio acelerado aos 28 dias, pode-
esses cálculos, foram utilizados um to- ria contribuir para maior segurança na
tal de 1994 amostras, não importando 4. SUGESTÕES DO COMITÊ prevenção de manifestação patológica.
sua procedência ou tipo de cliente e, TÉCNICO DO IBRACON PARA O A Tabela 2 apresenta a sugestão de
portanto, em quantidade maior em re- APRIMORAMENTO DA NORMA classificação dos agregados quanto ao
lação à mostrada na Figura 5. Desperta a atenção com relação à grau de reatividade potencial.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM C 1260 Standard Test Method for Potential Alkali Reactivity of Aggregates. Philadelphia, 2007.
[02] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM C 1293 Standard Test Method for Determination of Length Change of Concrete Due to Alkali-Silica
Reaction. Philadelphia, 2006.
[03] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM C 1567 Standard Test Method for Determining the Potential Alkali-Silica Reactivity of Combinations of
Cementitious Materials and Aggregate. Philadelphia, 2007.
[04] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND. Relatórios internos, vários, São Paulo de 2000 a 2016
[05] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15577 Agregados – Reatividade álcali-agregado – Partes 1 a 6. Rio de Janeiro, 2008.
[06] BATTAGIN, I. L. S; BATTAGIN, A. F.; SBRIGHI NETO, C. A Norma técnica brasileira de reação álcali-agregado faz seu primeiro aniversário. Revista Concreto e
Contruções, v. 54, p. 34-47, 2009.

CONCRETO & Construções | 43


u normalização técnica

A nova Norma Brasileira


de reação álcali-agregado
CLAUDIO SBRIGHI NETO – Coordenador • EDUARDO BRANDAU QUITETE – Secretário
CT 201 – Comitê IBRACON de Reação Álcali-Agregado

1. INTRODUÇÃO u Texto comentado da Parte 1 da cupação com a qualidade e durabili-

O
Instituto Brasileiro do NBR 15577; dade das estruturas de concreto, que
Concreto – IBRACON, u Guia para inspeção e diagnóstico tem recentemente avançado muito.
através de seu Comitê da reação álcali-agregado; O fenômeno patológico conhecido
CT 201, tem trabalhado no desen- u Guia de ações frente a estrutu- como reação álcali-agregado (RAA)
volvimento de uma proposta para a ras afetadas pela reação álcali- é complexo e foi identificado há mais
revisão da ABNT NBR 15577 – Guia agregado. de 60 anos, porém a sua natureza en-
para avaliação da reatividade poten- Essas tarefas estão sendo rea- volvendo interação entre reações quí-
cial e medidas preventivas para uso lizadas ao longo de suas reuniões, micas, características mineralógicas
de agregados em concreto, de forma que ocorrem com a periodicida- dos reagentes, princípios básicos da
a oferecer à ABNT esse trabalho téc- de média mensal e para as quais tecnologia do concreto e seus efeitos
nico e dinamizar o processo de atuali- os sócios do IBRACON podem se na estabilidade dimensional e na inte-
zação dessa Norma e, paralelamente, inscrever e participar dando sua gridade das estruturas de concreto,
encontra-se desenvolvendo as se- contribuição. resultam ainda hoje em ação nefasta
guintes publicações: A Norma ABNT NBR 15577 e sua para centenas, para não dizer milha-
u Guia prático para prevenção da rea- revisão fazem parte do esforço do res, de obras em todo mundo.
ção álcali-agregado; meio técnico frente à crescente preo- Reportam-se em referências técni-
cas, escritas em muitas línguas diferen-
CRÉDITO: SELMO KUPERMAN

tes, a sua ocorrência em obras relevan-


tes, como pontes, viadutos, barragens,
túneis, pavimentos, bem como em fun-
dações de edificações residências e co-
merciais, com grande prejuízo decorren-
te dos altos custos envolvidos em sua
recuperação.

2. ESCOPO
O escopo atual da NBR 15577
da ABNT, por se tratar de um Guia,
envolve seis Partes que enfocam:
especificação, amostragem, en-
saios petrográficos, ensaios de curta
duração, ensaios de longa duração e
a verificação de medidas mitigadoras
da reação.
Viga e laje de uma barragem no Brasil afetada com RAA, nas quais se vê a
abertura de fissura provocada A tarefa de preparar, dentro do

44 | CONCRETO & Construções


CT 201, o texto-base para revisão da
Norma Brasileira coube a um grupo de
profissionais e envolveu ao longo de
suas 15 reuniões, iniciadas em agosto
de 2013, mais de 30 profissionais com
formação principalmente em engenha-
ria, geologia e química. O texto-base foi
entregue a ABNT em maio de 2016.
Até o momento, centenas de horas

CRÉDITO: SELMO KUPERMAN


técnicas foram dedicadas pelo CT e pe-
los Grupos de Trabalho, formados por
profissionais experientes para desenvol-
ver tarefas específicas, tais como: estru-
turar a Parte 1 de modo a sintetizar e Bloco de fundações afetado por RAA de edifício em São Paulo
consolidar as informações técnicas obti-
das nas demais Partes do texto norma- experiência nacional e internacional, contar com novas adesões de sócios
tivo; consolidar os dados petrográficos que assegure uma metodologia ágil para incrementar suas tarefas.
e compatibilizá-los com os dados dos e eficiente na definição da reatividade
ensaios em barras de argamassa; e a potencial de agregados e de sua com- 5. REFLEXÕES SOBRE O
definição atualizada dos estudos de mi- binação em traços de concreto. Am- FUTURO DA NBR 15577
tigação da reação. Agora o projeto está bientes propícios à aceleração e limi- DA ABNT
em avaliação na Comissão de Estudos tes seguros para definir potencialidade O excelente resultado técnico do
do Comitê Brasileiro de Cimento, Con- reativa deverão ser os focos principais 15º International Conference on Alkali
creto e Agregados (ABNT/CB-18), que desta tarefa que caberá à Comissão Aggregate Reaction (ICAAR 2016), rea-
espera enviar o projeto para Consulta de Estudos. lizado em conjunto com a Universidade
Nacional ainda no final de 2016. Estadual Paulista (UNESP), de 3 a 7 de
4. O GUIA PRÁTICO PARA julho, no Hotel Maksoud Plaza, em São
3. MOTIVAÇÃO PARA REVISAR PREVENÇÃO DA REAÇÃO Paulo, leva à necessidade de algumas
A NORMA ÁLCALI-AGREGADO reflexões sobre o futuro do conheci-
Além da responsabilidade formal da O Comitê CT 201 está empenhado mento sobre a reação álcali-agregado
Comissão de Estudos de revisar perio- em finalizar o texto deste Guia, que pro- após quinze eventos ICAAR e mais de
dicamente a Norma Técnica, tornando- cura de maneira simplificada orientar o 60 anos de pesquisa sistemáticas. Fo-
-a sempre um reflexo do conhecimento meio técnico quanto à prevenção ao ram trabalhos técnicos incríveis sobre a
técnico disponível na data em que foi risco da ocorrência da reação patoló- química e os mecanismos da reação,
registrada, há também o objetivo de gica e suas conseqüências técnicas tentativas de modelagem do fenôme-
tornar a Norma Técnica um propulsor e financeiras envolvidas, que quase no, avaliação de medidas preventivas e
na disseminação de novos conheci- sempre são de grande monta. Existe muitos outros temas correlatos.
mentos e de novas técnicas, de modo a pretensão de lançar esta publicação Após tantos dados técnicos recolhi-
que seu papel didático, fundamental IBRACON, dentro da série de Práticas dos, constituindo um acervo consisten-
para o desenvolvimento do meio técni- Recomendadas, durante o próximo te de informações, nos cabe a estraté-
co, seja cumprido. Congresso Brasileiro do Concreto, que gia de dar um passo para trás e olhar
Assim, a Comissão de estudos ocorrerá no Minascentro, em Belo Hori- holisticamente o assunto.
também enfrentará o desafio de im- zonte, em outubro de 2016. Assim, em primeiro lugar, deverí-
plantar com segurança uma sétima As demais publicações citadas no amos focar onde queremos chegar e
Parte, enfocando o ensaio acelerado primeiro tópico deste artigo serão alvos nos parece claro que se trata de uma
em prismas de concreto, com base na subseqüentes do CT 201, que espera Norma Técnica de Engenharia com sua

CONCRETO & Construções | 45


objetividade característica. Claro que Por seu turno, se considerar- várias formas nos reagentes envolvidos
os fundamentos químicos são neces- mos que os vários tipos de cimentos na reação álcali-agregado, há também
sários, pois tudo começa, e às vezes Portland mudam regularmente seus o constante avanço na tecnologia do
nos esquecemos disto, com uma rea- atributos químicos em função de va- concreto, que inclui o desenvolvimento
ção química, que, por mais complexa riações em sua matéria-prima, de de aditivos. Aditivos estes que contri-
que seja, está sujeita às leis da química. alternativas de operação do forno, buíram para o avanço que vai desde o
Este panorama químico envolve, entre como diferentes pressões para atingir concreto com trabalhabilidade reduzida
outros, o aumento ou a diminuição da metas de produção e, mais recente- e baixa resistência até aqueles denomi-
velocidade de reação, com a presença mente, com o processo denominado nados autoadensáveis e com elevadís-
de catalisadores ou inibidores, poden- coprocessamento, no qual inúmeros sima resistência mecânica. Com este
do chegar até a completa inibição em elementos químicos menores são in- progresso fatalmente haverá a inserção
função das condições de temperatura, troduzidos no clínquer por ocasião da de compostos químicos que, mesmo
variações da concentração dos reagen- queima de materiais potencialmente em pequena quantidade, poderão ace-
tes e do meio de reação, que pode ser poluentes, com as mais diversas ca- lerar ou retardar as reações químicas,
mais ou menos oxidante, ou redutor, e racterísticas químicas, aumenta-se além do fato de que a microestrutura
há outras tantas variáveis que podem ainda mais a quantidade de variáveis do concreto também muda, certamen-
estar envolvidas. envolvidas na reação álcali-agregado. te afetando o desenvolvimento das
O produto de um processo químico Além disso, as jazidas de agrega- feições patológicas características da
não depende só das condicionantes da dos mudaram com a aceleração da ex- reação álcali-agregado.
reação, mas das relações estequiométri- ploração, especialmente em torno dos Enfim, é preciso um novo olhar
cas dos reagentes, no caso álcalis e sílica grandes centros consumidores, não só que comece com o entendimento do
em suas mais variadas formas, da pre- por exigências dos órgãos controlado- que os projetistas consideram como
sença de compostos ou elementos pre- res do meio ambiente, mas também adequado em termos de resistências
sentes em pequenas quantidades que em função da exaustão de muitas das mecânicas e durabilidade do con-
possam acelerar ou retardar as reações. fontes tradicionais de fornecimento, creto, parâmetros que garantem a
Desse modo, as variáveis são quase in- obrigando o uso de alternativas com vida útil projetada para a obra. Por
finitas se considerarmos em conjunto características menos adequadas à exemplo, qual o nível de fissuração
todas as condições ambientais à quais a produção de agregados para concreto. admissível, quais as dimensões, dis-
estrutura de concreto estará submetida Soma-se a isto a variabilidade intrínse- tribuição e características dessas fis-
durante a construção ou quando exposta ca dos maciços rochosos, bastante co- suras, qual a perda de resistências
em condições de trabalho. mum na forma de variações petrográ- mecânica que, mesmo ocorrendo,
ficas texturais e ainda mantém a estabilidade e segu-
ACERVO DA ABCP; GEÓLOGA ANA LÍVIA SILVEIRA

estruturais, além rança da obra, e outros parâmetros,


das variações do como aqueles ligados a proprieda-
nível de intempe- des específicas, como o módulo de
rismo, que altera elasticidade do concreto.
sua composição Para a obra e para o engenheiro
petrográfica e, responsável, o que importa é o com-
portanto, suas portamento do concreto de sua obra.
características Assim parece razoável que o traço ou
químicas. traços específicos, com seus materiais
Fora essas selecionados para obra em particular,
condições de sejam submetidos a um procedimento
contorno, que ou aos procedimentos que possam dar
influenciam di- resposta quanto ao nível de risco que
Dendritos de gel proveniente da RAA sobre agregado retamente e de determinado traço ficará submetido,

46 | CONCRETO & Construções


considerando condições ambientais e traços utilizados,

ACERVO DA ABCP; GEÓLOGA ANA LÍVIA SILVEIRA


a sua posição na estrutura. Claro que o que nem sem-
o ideal seria conduzir corpos de prova pre é possível na
para as condições previstas e aguardar prática corrente
resultados de longa duração, mas, mui- das obras.
tas vezes, estes prazos são incompatí- É o momen-
veis com as necessidades da obra. to de objetivar
Há, portanto, necessidade de en- pragmaticamen-
contrar respostas, acelerando o pro- te e concentrar
cesso de avaliação com a simulação da esforços de pes-
reação álcali-agregado num determina- quisa, pensando
do traço e, certamente, a temperatura em como uma
e o ambiente alcalino serão importantes obra pode se
aliados nesta tarefa. Não é uma tarefa beneficiar, atra- Petrografia de agregado onde se vê gel proveniente da RAA
fácil, mas devido à complexidade do vés da normali- preenchendo poro
fenômeno, é a mais promissora trilha zação, de todo do. Portanto, o membros do CT 201
para encontrar uma definição confiável arsenal de conhecimento concentrado não só trabalharam na proposta de
e adequada à necessidade da maioria e da elevada competência estabeleci- revisão da NBR 15577, como ainda
das obras, pois a outra solução seria da, num ‘timing’ aceitável, de modo a têm participação ativa na Comissão de
obviamente a adoção de medidas mi- garantir a durabilidade e a segurança Estudos da ABNT, sempre atentos a
tigadoras em praticamente todos os com respeito à reação álcali-agrega- esses objetivos.

DURABILIDADE
DO CONCRETO
à Editores Jean-Pierre Ollivier e Angélique Vichot

à Editora francesa Presses de l'École Nationale des Ponts


et Chaussées – França
à Coordenadores da Oswaldo Cascudo e Helena Carasek (UFG)
edição em português

à Editora brasileira IBRACON

Esforço conjunto de 30 autores franceses, coordenados pelos DADOS TÉCNICOS


professores Jean-Pierre Ollivier e Angélique Vichot, o livro
ISBN / ISSN: 978-85-98576-22-0
"Durabilidade do Concreto: bases científicas para a formulação de
Edição: 1ª edição
concretos duráveis de acordo com o ambiente" condensa um vasto
Formato: 18,6 x 23,3cm
conteúdo que reúne, de forma atualizada, o conhecimento e a
Páginas: 615
experiência de parte importante de membros da comunidade científica
Acabamento: Capa dura
europeia que trabalha com o tema da durabilidade do concreto.
Ano da publicação: 2014
A edição brasileira da obra foi enriquecida com o trabalho de
tradução para a língua portuguesa e sua adaptação à realidade
técnica e profissional nacional.
à Informações: www.ibracon.org.br

Patrocínio

CONCRETO & Construções | 47


u pesquisa e desenvolvimento

Eficácia de cimentos com


adição de cinzas volantes
para prevenção de RAA
SILVIA R. S. S. VIEIRA – Gerente de Pesquisa & Desenvolvimento & Qualidade • PAULO ROBERTO NIEBEL – Consultor técnico de mercado
Votorantim Cimentos

1. INTRODUÇÃO talina, respectivamente, que consti- plo. Estudo recente de Soares et al.

A
s reações álcali-sílica e tui os agregados, em ambientes de 2016, apresentado no ICAAR 2016
álcali-silicato (reações ál- pH elevado, ou seja, maior que 12 (International Conference on Alkali
cali-agregado, RAA) são (Tang & Su-Fen, 1980) (Figura 1). Aggregate Reaction in Concrete),
processos químicos que envolvem No caso do concreto, o pH elevado indica que alguns minerais, como
agregados reativos usados em con- é resultado da presença de Ca(OH) 2, feldspatos e micas, também podem
creto, e álcalis, como sódio e potás- gerado pela hidratação do cimento, contribuir com álcalis para a reação.
sio. Os produtos dessas reações são e dos hidróxidos gerados pelas re- A sílica dissolvida dos agregados
expansivos e podem causar desloca- ações dos íons sódio e/ou potássio forma ácido silícico que reage com Na+,
mentos estruturais, além de fissura- com água. A fonte destes álcalis é, K+, Ca2+ e H2O, formando gel cálcico sí-
ção e deterioração do concreto. em geral, o próprio cimento, mas lico alcalino, viscoso e expansivo.
As reações álcali sílica e álcali- eles também podem ser fornecidos Embora estudos recentes tenham
-silicato são desencadeadas pela pelos aditivos químicos ou pela água mostrado que o uso de selantes pode
dissolução da sílica amorfa ou cris- de mistura do concreto, por exem- reduzir as expansões causadas pelas
reações álcali-agregado (ex. Lute et
al. 2016), a paralisação do proces-
so é ainda impossível. Portanto, sua
prevenção é essencial.
A prevenção pode ser feita atra-
vés do uso agregados inertes – o que
nem sempre é possível – pela limita-
ção do teor de álcalis no concreto e
garantindo-se que não haverá apor-
te de álcalis durante a vida útil da
estrutura, e, mais eficazmente, pela
diminuição do pH do concreto. Isso
pode ser conseguido pela redução
do teor de álcalis no concreto e/ou
u Figura 1 redução do teor de Ca(OH) 2 da pas-
Influência do pH na dissolução de sílica amorfa (modificado a partir ta de cimento. Esta redução do teor
de Tang and Su-Fen, 1980)
de portlandita [Ca(OH) 2] é, por sua

48 | CONCRETO & Construções


vez, alcançada pelo uso de adições turais, seu caráter inibidor depende-
ativas, como escórias e pozolanas, rá não somente de sua composição
que durante sua hidratação conso- química, mas também de sua reati-
mem portlandita para formar C-S-H. vidade, que tende a ser muito mais
variável que a reatividade das cinzas
2. PREVENINDO REAÇÕES e das escórias.
ÁLCALI-SILICATO COM De modo geral, são precisos te-
CIMENTOS INIBIDORES ores da ordem 10% de adição de sí-
Praticamente todas as adições lica ativa e maiores que 25% de cin-
ativas, ou seja, escórias, cinzas vo- zas volantes e 50% de escórias para
u Figura 2
lantes e pozolanas naturais e artifi- a prevenção das reações álcali-sílica Composições químicas,
ciais podem ser usadas para inibir as e álcali-silicato. No entanto, esses esquemáticas, em termos de seus
reações álcali-sílica e álcali-silicato. valores devem ser definidos por en- teores de SiO 2, Al 2O 3 e CaO, das
adições comumente usadas para
No entanto, os teores necessários saios que considerem os insumos a
inibição das reações álcali-silicato
para a prevenção variam grande- serem usados no concreto, já que e álcali-sílica, e de um cimento
mente e dependem da composição eles dependem fortemente da reati- tipo I, para comparação
química desses cimentícios e de ou- vidade dos agregados e dos álcalis
tros fatores, tais como: reatividade provenientes do cimento, dos aditi-
do agregado e quantidade de álca- vos e de quaisquer outras fontes. analisados por petrografia e ensaios
lis disponíveis para a reação (Tho- acelerados, de acordo com os mé-
mas & Folliard 2007). 3. ESTUDO DE CASO todos prescritos pelas NBR 15577-
De acordo com Thomas (2011), a Seixos e basaltos, a serem usa- 3 e NBR 15577-4, respectivamente.
eficácia das adições, no que diz res- dos como agregados no concreto O método especificado pela NBR
peito à prevenção das reações álcali- a ser aplicado em uma instalação 15577-4 é indicado para avaliar a
-silicato e álcali-sílica, aumenta com industrial em Minas Gerais, foram reatividade de agregados frente a
o aumento dos seus teores de sílica
e diminuição dos seus teores de cál-
cio e álcalis. A Figura 2 apresenta,
esquematicamente, as composições
químicas, em termos de suas quan-
tidades de sílica, alumina e óxido de
cálcio, das adições comumente usa-
das para inibição das reações álcali-
-silicato e álcali-sílica. Assim, com
base nesta Figura, é possível deduzir
que, todos os outros fatores sendo
iguais (ex. agregado, teores de ál-
calis e condições de exposição do
concreto), os teores de adição ne-
cessários para prevenir as reações
álcali-silicato e álcali-sílica aumen- u Figura 3
tam conforme a relação: sílica ativa Variação dimensional de barras de argamassa preparadas com agregados
→ cinzas volantes → escórias de reativos e cimento padrão não inibidor (NBR 15577-4). A linha vermelha
indica o limite de expansão (0,19%) aos 28 dias de cura
alto forno. No caso da pozolanas na-

CONCRETO & Construções | 49


na inibição da reação álcali-silicato
promovida pelo seixo, mas não pelo
basalto. Embora aos 14 dias de
cura a variação dimensional medida
na barra de argamassa preparada
com o basalto tenha ficado abaixo
do limite máximo de expansão, ela
ultrapassou este valor aos 22 dias,
indicando que, para mitigar de for-
ma segura a reação álcali-agregado
seriam necessários maiores teores
de adição de cinzas volantes.
São necessários estudos mais de-
talhados para entender esta diferen-
u Figura 4 ça de comportamento. No entanto,
Variação dimensional de barras de argamassa preparadas com agregados
é muito provável que a maior reativi-
reativos e cimento CP IV 32 (NBR 15577-5). A linha vermelha indica o
limite de expansão (0,10%) aos 14 dias de cura dade do basalto se deva à presença
de vidro vulcânico, que é um material
uma solução alcalina de hidróxido foram realizados testes destes agre- silicoso amorfo, comum neste tipo de
de sódio, pela medida da expansão gados com um cimento CP IV com rocha. Sílica amorfa ou de baixa cris-
de barras de argamassa preparadas adição de, aproximadamente, 30% talinidade tende a dissolver mais rápi-
com este agregado e um cimento de cinzas volantes, segundo a NBR do que as formas de sílica cristalinas,
reconhecidamente não inibidor. De 15577-5, que mede a variação di- como o quartzo, em geral presentes
acordo com a NBR 15577-1, ex- mensional de barras de argamassa nos seixos, sendo, portanto, mais
pansões maiores que 0,19% aos 28 preparadas com o agregado reativo propensa à reação álcali-agregado.
dias de cura indicam que o agrega- e cimentos com adições. Os resul-
do é potencialmente reativo. tados são apresentados na Figura 4. 5. CONCLUSÃO
Os resultados mostraram que, Os estudos comprovam que as
tanto os seixos quanto os basaltos, 4. DISCUSSÃO cinzas volantes são capazes de re-
são potencialmente reativos e que DOS RESULTADOS duzir as expansões devidas às re-
a reatividade do basalto é extrema- Os resultados dos ensaios rea- ações álcali-sílica e álcali-silicato.
mente elevada (Figura 3). lizados mostraram que o cimento Os teores de adição necessários de
Assim, visando prevenir a ocor- CP IV 32, com adição de cerca de cinzas volantes, porém, dependem
rência de reações álcali-agregado, 30% de cinzas volantes, foi eficaz da reatividade dos agregados.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] Lute, R.; Folliard, K. J.; Drimalas, T.; Rust, C. K. Coatings and sealers for mitigation of alkali-silica reaction and/or delay ettringite formation. Proceedings of the 15th
ICAAR International Conference on Alkali Aggregate Reaction in Concrete, São Paulo, 2016
[02] Soares, D.; Silva, A. S.; Mirão, J.; Fernandes, I.; Menéndez, E., Study on the factors affeting álcalis release from aggregates into ASR. Proceedings of the 15th ICAAR
International Conference on Alkali Aggregate Reaction in Concrete, São Paulo, 2016
[03] Tang, M.S., Su-Fen, H., Effect of Ca(OH)2 on Alkali-Silica Reaction. Proceedings of the Eight International Congress of Cement Chemistry, Paris, France, Vol. 2, 1980,
pp. 94-99.
[04] Thomas, M. & Folliard, K. J., Concrete aggregates and the durability of concrete. In: C. L. Page, M. M. Page (eds), Durability of concrete and cement composites,
Woodhead, Cambridge, U.K., 2007, pp. 247 – 281.
[05] Thomas, M (2011): The effect of supplementary cementing materials on alkali-silica reaction: A review. Cement and Concrete Research (41): 1224-1231.

50 | CONCRETO & Construções


u pesquisa e desenvolvimento

Metodologia laboratorial para


avaliação de expansão em
estruturas afetadas por RAA
FRANCISCO RODRIGUES ANDRIOLO – Diretor Técnico
Andriolo Engenharia Ltda.

MARCO ANTONIO CAMARGO JULIANI – Diretor Técnico • DANIELA C. LEMES DAVID – Engenheiro Civil
TIAGO MARRARA JULIANI – Engenheiro Civil
Ieme Brasil

1. INTRODUÇÃO ambiente marítimo, com temperatura do sobre um bloco de fundação com

E
ste texto apresenta uma média anual de 22,3°C. 8 a 12 estacas de concreto e cami-
proposta de metodologia A ponte consiste em 33 vãos sa metálica. Os apoios centrais são
para avaliar o tempo rema- isostáticos, com tabuleiros tipo gre- constituídos por pilares duplos, apoia-
nescente até a estabilização das ex- lha, cada um com 4 (Pista Sul) ou 5 dos também sobre blocos de fundação
pansões decorrentes da reação álca- (Pista Norte) longarinas. e estacas. Nos encontros, os apoios
li/sílica-agregado (RAA). Os estudos Cada um dos 28 apoios interme- consistem em uma viga associada ao
foram baseados nos resultados de diários da ponte é constituído por um bloco de fundação, sem segmento de
ensaios realizados em testemunhos único pilar, de seção variável, apoia- pilar. A Figura 1 ilustra a ponte.
extraídos de estruturas de concreto
afetadas por esse fenômeno.
Os estudos e resultados usados
nesta publicação foram desenvolvi-
dos através de um conjunto de ações
adotadas para atestar a segurança
do tráfego de mais de 12.000 veícu-
los diários sobre a Ponte do Mar Pe-
queno, construída no início dos anos
80, pertencente ao complexo de vias
expressas Imigrantes, operada pela
Ecovias, sob regime de Concessão
desde 1998.
A ponte do Mar Pequeno é com-
posta por duas vias duplas de 11 m
de largura cada uma, com compri-
mento de 1013 m. Foi construída so- u Figura 1
bre o Canal Santos-São Vicente, na Vista da ponte sobre o Mar Pequeno na baía de Santos, sobre o canal
Santos – São Vicente
orla do Oceano Atlântico, ou seja, em

CONCRETO & Construções | 51


de modo que a provável evolu- e proteção das armaduras quanto à
ção das aberturas das fissuras durabilidade). Uma série de ensaios
não permitissem a ocorrência laboratoriais em testemunhos de con-
de ações agressivas devido ao creto extraídos da estrutura (março/
ambiente marítimo, afetando maio de 2006) confirmou a ocorrência
ainda mais a durabilidade das de RAA.
estruturas; A partir de dezembro de 2006
u Figura 2 u Estudar a evolução da RAA, de iniciou-se uma campanha de instru-
Fissuração nos blocos
modo a se ter uma possível ava- mentação e monitoramento (Figura
liação do tempo requerido para 3) dos elementos da estrutura (vigas
Os agregados graúdos utilizados uma manutenção sistemática, travessas e blocos), de forma a per-
foram adquiridos de jazidas da Baixa- considerando o fenômeno e a se- mitir a condução segura das análises
da Santista, tratando-se basicamente gurança operacional da estrutura. para desenvolvimento de um projeto
de granitos. Ou seja, procurou-se avaliar condi- de recuperação eficiente.
Sob o regime de Concessão, os ções e cuidados, cujos procedimen- Também foram realizados en-
procedimentos técnicos consideram tos permitissem operar a ponte com saios dinâmicos, através do posicio-
inspeções periódicas com especi- segurança. namento de acelerômetros em cada
ficidades distintas, que se iniciaram tramo da estrutura para determina-
em 1999. A partir dessas inspeções 2. OBSERVAÇÕES RELEVANTES ção de suas frequências naturais. Os
foram observadas fissuras em al- E AÇÕES ADOTADAS valores medidos em campo serviram
guns elementos estruturais, (Figura As inspeções periódicas permiti- para validar o modelo matemático
2), que foram monitoradas e exigi- ram observar fissuras nas faces supe- computacional da ponte (Figura 4).
ram atenção crescente e ensaios riores das vigas travessas originadas A comparação entre os resultados
de averiguação. Em 2006/2007, foi de falhas executivas durante a época teóricos e empíricos mostrou que o
constatado que as fissuras eram de- de construção. Constatou-se que as comportamento estrutural da ponte
correntes das expansões devidas ao armaduras principais (tirantes das vi- ainda é próximo às condições iniciais
fenômeno RAA. gas travessas) e secundárias (acima de projeto, apesar das patologias
Diante desse recém-descoberto das armaduras dos tirantes) não eram existentes provocadas pelas reações
cenário, foram tomadas ações para: consistentes com o detalhamento de expansivas.
u Avaliar a segurança estrutural da projeto original; a abertura de fissuras Provas de carga estáticas e dinâ-
ponte, de modo a permitir a ope- encontradas na superfície dos blocos micas (Figura 5) foram realizadas para
ração sem restrição de tráfego de de transição sobre estacas eram supe- avaliar o comportamento estrutural
veículos; riores às toleradas pela Norma ABNT- e eventuais reservas elásticas. Con-
u Estabelecer ações reparatórias, -NBR 6118 (Limites para fissuração cluiu-se que a estrutura continuava

u Figura 3
Aspectos do Sistema de monitoração implantado

52 | CONCRETO & Construções


u Figura 4
Ilustrações gráficas do modelo computacional adotado para estimar o comportamento das estruturas

u Figura 6
Aspectos da recuperação
superficial de modo a estabelecer
u Figura 5 a estanqueidade dos elementos
Prova de carga estática (esquerda) e dinâmica (direita) estruturais

trabalhando de forma elástica, ape- reparo (Figura 6), executadas du- 3. ASPECTOS TÉCNICOS
sar das fissuras existentes. rante os anos de 2009 a 2011, es- ADICIONAIS
O modelo matemático tridi- tendendo-se até o ano de 2012, Na etapa de consulta a entida-
mensional adotado, consideran- quando se observou a estabilização des e profissionais especializados,
do uma taxa de expansão de 50 prática das leituras de deformações procurou-se também comparar pro-
microstrains/ano, simulou os efeitos (Figura 7). cedimentos, no que diz respeito a
provocados pela expansão do con-
creto devido à RAA. Os resultados
foram analisados verificando-se as
tensões nas três direções.
Paralelamente, foram consulta-
das várias entidades internacionais
especializadas no assunto, buscan-
do conhecer sobre produtos a serem
aplicados para a restauração das su-
perfícies e garantir proteção e estan-
queidade para mitigar eventuais ata-
ques às armaduras, potencializadas
pelo ambiente marinho.
O início da monitoração dos ele- u Figura 7
mentos estruturais coincidiu com
Medição da expansão entre pontos (distantes mais de 2,5m) de alguns
blocos afetados, durante o período 05/03/2010 a 30/12/2011
o início do período de obras de

CONCRETO & Construções | 53


solução 1 N de NaOH) e a 38º C. O
principal objetivo desse ensaio é ava-
liar o potencial de expansão futura
induzida devido à RAA ou quantias
remanescentes de sílica reativa nos
agregados. Esse ensaio adota con-
dições similares de armazenagem
indicadas no ASTM C 1260 – Stan-
dard Test Method for Potential Alkali
Reactivity of Aggregates (Mortar-Bar
Method). Conservar os testemunhos
em uma solução a 80°C condiciona a
uma grande disponibilidade de álca-
lis que pode induzir toda a sílica res-
u Figura 8
Simulação gráfica para os resultados de expansões medidas nos corpos de tante a reagir. Esse ensaio destina-
prova sazonados em distintas condições de temperatura -se a fornecer um limite superior para
a expansão residual devida a RAA.
monitoramentos, testes, avaliações outras indicações, sugeriu estimar A sugestão do Prof. Folliard foi
e práticas de reparo estrutural, ado- o potencial remanescente de ex- de adotar 38°C como a temperatu-
tados em outros países, aplicados a pansão das peças. Isto implicaria na ra de cura. Entretanto, optou-se por
estruturas afetadas por RAA e sua extração de núcleos de concreto da realizar testes adicionais em con-
adaptabilidade ao meio brasileiro. estrutura, armazenando-os em um juntos distintos de corpos de prova,
O Prof. Kevin J. Folliard, entre ambiente úmido a 100% (com uma armazenando os mesmos em três

u Figura 9
Aspectos durante a realização dos ensaios, mostrando os anéis para a medida das deformações, a exsudação de gel
da RAA, o tanque de cura, o terminal de leitura e a caixa de leitura

54 | CONCRETO & Construções


temperaturas distintas (23°C, 38°C
e 50°C), sob as mesmas condições
de umidade e saturação de NaOH. A
escolha das temperaturas para rea-
lização dos testes adicionais teve a
intenção de se estabelecer uma re-
gressão matemática, visando obter o
tempo necessário que minimizasse a
chance de ocorrer aumento das fis-
suras (incremento das expansões),
considerando a temperatura ambien-
te da estrutura. Ou seja, estimar a
taxa de expansão remanescente.
Os ensaios foram realizados a Gráficos das deformações obtidos com base nas leituras durante os ensaios a 23°C

usando uma amostra de 3 corpos


de prova extraídos aleatoriamente da
ponte (sem uma preferência que in-
duzisse a uma determinada prepon-
derância). As condições ambientais
de armazenamento estão apresenta-
das na Figura 8.
Os ensaios (Figura 9) iniciaram-se
em março/2009, sendo que as leitu-
ras e aquisições de dados se esten-
deram até o final de 2011, em cerca
de 900 dias de duração. As leituras
e observações foram realizadas sis-
tematicamente permitindo obter os b Gráficos das deformações obtidos com base nas leituras durante os ensaios a 38°C

gráficos da Figura 10.

4. CONSIDERAÇÕES SOBRE
OS RESULTADOS E ANÁLISES
A taxa de expansão à tempera-
tura de 23ºC (próxima à temperatu-
ra ambiente da obra) foi de aproxi-
madamente 20 microstrains/ano, ou
seja, muito inferior àquela inicialmen-
te adotada nos modelos matemáti-
cos (50 microstrains/ano). Estes re-
sultados confirmaram a redução da
taxa de expansões futuras.
O critério de aleatoriedade na se- c Gráficos das deformações obtidos com base nas leituras durante os ensaios a 50°C

leção de amostras, adotado no início


do experimento (sem a devida carac- u Figura 10
Gráficos das deformações
terização da zona, peça estrutural,

CONCRETO & Construções | 55


composição química e proporção de Os valores de deformação unitá- A equação foi, então, aplicada ao
cimento/agregados usada durante a ria, obtidos das amostras, indicaram caso estudado, para as temperaturas
execução da obra), resultou em ta- um crescimento desacelerado numa de ensaio de 23°C, 38°C e 50°C. Em-
xas de expansão mais baixas quando primeira fase, seguida por uma esta- bora tenha ocorrido certa dispersão,
expostas a temperaturas mais eleva- bilização e posterior queda. Um pos- ocasionada pela complexidade da rea-
das. Tal fato levou a se adotar uma sível modelo para representar o com- lização dos ensaios, em condições de
curva de interpolações dos pontos portamento descrito é o da curva de temperatura controlada, ao longo de
de máximos das curvas de expan- Gauss, a exemplo do usado para muitos meses, notou-se a ocorrência
são, levando a um maior empenho representar a hidratação de sistemas de diversos ciclos de expansão em
estatístico-matemático, admitindo- cimentícios conforme Riding, Kyle A. cada corpo de prova. Esse compor-
-se que, a partir dessas expansões et al (2012). tamento é compatível com as carac-
máximas, não serão medidos valores O modelo assumido foi dado pela terísticas da reação álcali-agregado,
superiores ao longo do tempo equação: uma vez que a formação de fissuras
de exposição. aumenta a facilidade do ataque e alte-
É importante levar em consideração [1] ra qualitativamente as expansões.
que no desenvolvimento de um mé- De acordo com o que mostra-
todo padrão é imprescindível que se Nessa equação, ram os resultados dos ensaios, e
minimize a aleatoriedade no critério “e” é a deformação unitária calculada sendo coerente com a metodologia
de amostragem. por regressão; proposta, conclui-se que as taxas
Em 2011, ficou provado que a “e max” é a máxima deformação unitá- de expansão apresentam tendência
expansão de todas as amostras ria calculada; de redução. Supondo temperatura
expostas a diferentes temperatu- “e“ é o número de Euler, igual a constante de 21°C na região onde a
ras permitiu a caracterização do ní- 2,71828; ponte foi construída, a estimativa do
vel de estabilização (minimizando a ”t” é o tempo decorrido até se obter valor máximo das deformações por
taxa de expansão). Em função disso, a deformação unitária considerada; expansão foi obtido dentro de 720
realizou-se uma análise físico-mate- ”t´” é o tempo decorrido até se obter dias, após o início dos ensaios.
mática, de modo a complementar os a deformação unitária máxima. O tempo calculado assemelhou-
modelos de regressão matemática e Uma vez encontrada a função que -se ao observado nas medições du-
determinar o tempo esperado para seja representativa do comportamento rante a monitoração da estrutura.
que a expansão da estrutura da pon- observado, seria possível estimar a du-
te cesse. ração do fenômeno para diversos ce- 6. SUGESTÃO DE METODOLOGIA
nários, tanto para a temperatura média DE ENSAIO
5. ANÁLISE DOS DADOS da região de 22,3ºC quanto para tem- Tendo em vista as dificuldades
OBTIDOS DOS TESTEMUNHOS peraturas superiores ou inferiores. verificadas em se estimar o tempo de
DE CONCRETO O procedimento apresentado estabilização das taxas de expansão
Considerando que o procedimen- aponta a ocorrência de erro em cer- decorrentes da RAA e os custos de
to utilizado para a realização dos ca de 10% dos casos. Essa expecta- manutenção satisfatória das estrutu-
ensaios é inovador, não tendo ainda tiva pode se alterar ligeiramente em ras, os autores propuseram, basea-
sido padronizado em Norma Técnica, função da dispersão de resultados, dos nos resultados obtidos, uma me-
o objetivo foi fazer a interpretação dos uma vez que os testemunhos foram todologia para avaliações do tempo
resultados obtidos nos ensaios, base- extraídos de regiões da estrutura como se segue.
ada em uma análise de regressão que submetidas a diferentes estados de
mostrasse a tendência do comporta- tensão normal de compressão, níveis 6.1 Objetivo
mento expansivo à condição de tem- de insolação (que afetam a tempera-
peratura média de 21º C. tura) e grau de umidade. Este procedimento contempla a

56 | CONCRETO & Construções


determinação da variação de com-
u Tabela 1 – Características de corpos de prova e ambientes para o
primento de corpos de prova de ar-
armazenamento durante os ensaios
gamassas e/ou concreto, extraídos
de elementos e/ou peças estruturais,
Número de
expostos em determinadas condi- Condições Temperatura Umidade
corpos de Dimensões
de cura (ºC) (%)
ções controladas de temperatura e prova

umidade, em laboratório, ao longo A (Normal) 23 + 0.5 Diâmetro > 3* T.M.A


3 Tamanho máximo
de um período de exposição. As de- B – 38 ºC 38 + 1.0 do agregado
> 75
terminações de variação volumétrica C – 50 ºC 50 + 1.0 Comprimento – Altura >
aqui referidas não dizem respeito 2
D – 60 ºC 60 + 1.0 2* Diâmetros
às que são produzidas por forças
ou pressões externas aplicadas aos
corpos de prova. As medições aqui relacione as condições de exposição de que uma eventual ocorrência de
referidas dizem respeito aos efeitos acelerada com as medições efetua- fissuras, durante o ensaio, danifique
expansivos decorrentes de reações das em corpos de prova estocados o ponto de apoio), e sim por delgada
autógenas dos componentes de ar- à temperatura ambiente sob a con- sapata de apoio. Deverá, preferivel-
gamassas e/ou concretos moldados dição úmida. Os corpos de prova mente, ser adotada uma caixa de ter-
com cimentos hidráulicos e agrega- serão estocados em ambiente de minais de leitura para o acoplamento
dos rochosos, mais especificamente temperatura e umidade controlada, dos cabos de medição ao sistema
às expansões oriundas das reações sem, entretanto, estarem imersos em de leitura de deformações e tempe-
do tipo álcali-agregado. água, como indicado na Tabela 1. ratura, que faça leituras compatíveis
com as capacidades de medição
6.2 Terminologia 6.4 Aparelhos e instrumentos dos instrumentos adotados. A umi-
dade dos tanques deverá ser con-
Nos procedimentos aqui sugeri- Deverão ser utilizados recipientes trolada de modo a atender os limites
dos, a expansão remanescente deve tanques ou depósitos herméticos, estabelecidos.
ser entendida como a expansão, de- que garantam a exposição requeri-
corrente da reação álcali-agregado, da. É recomendado que se utilizem 6.5 Corpos de prova
que ocorrer após a extração e prepa- pares de medidores, fixados exter-
ração dos testemunhos, até que as namente e diametralmente opos- Corpos de prova, de dimensões
medições se tornem estatisticamen- tos a cada corpo de prova, do tipo estabelecidas (Tabela 1), deverão ser
te assintóticas ao longo do tempo. “strain-meter”, com capacidade de extraídos da estrutura, através do
leitura contínua e campo de medição corte com serra de disco, com topo
6.3 Significado e uso superior a 500microstrains (mínima e base ortogonais ao eixo do cilindro.
leitura < 3microstrains). Deverão ser
As medições das variações de utilizados anéis metálicos, não afeta- 6.6 Condições de
comprimentos permitirão avaliar o dos por corrosão, com diâmetro in- armazenamento
potencial de expansão que poderá terno de 160 mm, diâmetro externo
ocorrer nas peças/elementos estru- adequado para permitir a fixação dos Após o preparo dos corpos de
turais representadas pelos corpos de extensômetros e espessura suficien- prova, instalação dos medidores
provas obtidos através dos testemu- te para dar rigidez à fixação por meio e leituras iniciais, eles deverão ser
nhos extraídos. As medições deve- de parafusos metálicos. O contato armazenados nos respectivos reci-
rão ser feitas nos corpos de prova ar- do parafuso com o a superfície do pientes indicados. A solução de 1N
mazenados em quatro temperaturas corpo de prova não poderá ser por NaOH deverá ser despejada no fun-
distintas. Isto permitirá que se cor- puncionamento (para eliminar risco do do tanque.

CONCRETO & Construções | 57


6.7 Procedimento para o ensaio iniciais de umidade, temperatura e de cada ensaio, para cada corpo de
deformação. prova, realizar ensaio para determi-
Logo após o preparo, identifi- A cada dia, durante 5 dias se- nação do módulo de elasticidade à
cação e instalação do sistema de guidos, efetuar leituras de umidade, compressão, considerando uma ten-
fixação dos medidores, os corpos temperatura e deformação. Caso não são de ruptura de aproximadamente
de prova deverão ser mantidos em seja adotado um registrador contí- 30MPa. Com parte dos fragmentos
ambiente climatizado de temperatura nuo, as leituras deverão ser registra- dos corpos de prova ensaiados, rea-
constante por volta de 23 ± 0,5°C, das em impresso próprio, contendo lizar ensaios de microscopia e petro-
por 48 horas. Após isso, imediata- as identificações de cada corpo de grafia, de tal modo a caracterizar os
mente, far-se-á uma leitura de de- prova, condições de armazenamen- estados de reações álcali-agregado
formação e temperatura. Os corpos to, exposição, data, hora, operador e eventuais ataques por sulfatos.
de prova serão colocados, após essa e as respectivas leituras de umidade, Com outra parte dos fragmentos dos
leitura, em um ambiente à tempera- temperatura e deformação. corpos de prova realizar ensaios para
tura de 38 ± 1,0°C por outras 48 ho- Comparar as leituras dos 5 pri- determinação da massa específica e
ras. Em seguida far-se-á uma outra meiros dias com as correspondentes absorção.
leitura de deformação e temperatu- verificações indicadas anteriormente.
ra a cada par de medidores diame- Caso sejam verificadas anomalias, 7. COMENTÁRIOS ADICIONAIS
tralmente instalados em cada corpo repetir os procedimentos. Caso não Este artigo apresentou a suges-
de prova. ocorram anomalias, efetuar leituras tão para uma nova rotina de ensaios
Os dados de deformações e tem- espaçadas a cada semana, durante para avaliar o fenômeno expansivo
peraturas serão comparados com os 3 primeiros meses, a cada quin- de estruturas de concreto devido à
a adoção de um coeficiente de ex- zena, nos 6 meses subsequentes, e reação álcali-agregado.
pansão térmica médio de concretos mensais no período restante. A base do método proposto con-
com agregados de mineralogia aná- As leituras poderão ser finalizadas sidera os efeitos da expansão em
loga ao dos usados nos concretos após a verificação de estabilização condições diferentes de temperatura
em avaliação. Caso as leituras não das deformações (compatíveis com e umidade, estabelecendo uma re-
mostrem um comportamento análo- a mínima leitura dos extensômetros), gressão até que se obtenha os resul-
go ao admitido, para esse parâmetro e/ou a orientação do responsável tados condizentes com as condições
de coeficiente de expansão térmi- técnico pelos ensaios. ambientais ao qual a estrutura estu-
ca, verificar o sistema de fixação e Verificar sistematicamente as dada está exposta.
os apoios. condições indicadas de temperatu- Esta metodologia foi baseada em
Após a verificação, armazenar ra e umidade. Estabelecer gráficos dados obtidos através de testes rea-
os corpos de prova em quantida- de acompanhamento para avaliar os lizados em testemunhos de concreto
des e nos ambientes indicados gradientes de expansão e a estabi- extraídos da ponte do Mar Pequeno/
anteriormente. Efetuar as leituras lização das deformações. Ao final SP e evidenciou bons resultados.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] American Society for Testing and Materials. ASTM C 1260-07, Standard Test Method for Potential Alkali Reactivity of Aggregates (Mortar-Bar Method),
West Conshohocken, Pennsylvania, 2010
[02] FOLLIARD, K. Recomendações, ECOVIAS, 2007
[03] ANDRIOLO, F. Relatório de Viagem aos Estados Unidos, ECOVIAS, Dezembro 2007
[04] CESP/ECOVIAS. Relatórios de Ensaios de Expansão, Período 2009 a 2011
[05] IEME/ECOVIAS. Relatórios de Inspeções e Monitoração das Estruturas, Período 2007 a 2011
[06] BERNARDES, H. M. Relatório de Análise Físico-Matemática, ECOVIAS, 2012
[07] RIDING, KYLE A.; POOLE, JONATHAN L.; FOLLIARD, KEVIN J.; JUENGER, MARIA C. G.; SCHINDLER, ANTON K. Modeling Hydration of Cementitious Systems,
ACI Materials Journal, Volume: 109, Issue: 2, March-April 2012, pp: 225-234.

58 | CONCRETO & Construções


u mantenedor

Como saber qual tipo de


argamassa colante usar
em sua reforma?
NICOLAUS MUELLER - Gerente-Executivo
MC no Brasil

Q
uando compramos revesti- minerais e aditivos químicos, que quan- para que a aderência seja mais efetiva,
mentos para decorar pisos do misturada com água torna-se pas- já que os poros destes revestimentos
em geral, fachadas ou até tosa, plástica e aderente. Temos três são menos absorventes.
mesmo cozinhas e banheiros, sempre modalidades de argamassas. São elas: Por ser mais flexível, esta argamas-
surge a dúvida de qual tipo de arga- AC1, AC2 e AC3. sa acompanha a movimentação das
massa colante utilizar. Afinal, quando Nas áreas internas, quando se usa peças, sejam das paredes ou dos pi-
uma obra é grande, preferimos comprar cerâmica, que possui uma base aver- sos, que possam a vir ocorrer devido
todos os produtos de uma só vez, até melhada com poros mais absorventes, a movimentação da estrutura ou ações
para ter descontos e deixar a equipe de utilizam-se argamassas do tipo AC1, externas, principalmente pela oscilação
obra munida de material para trabalhar. que possuem aderência mecânica. Já, de temperatura do tempo.
E muitas vezes o grande erro da maioria quando usamos porcelanatos de todos Uma das dicas que eu dou é que
das pessoas é comprar o mesmo tipo os tipos, mármore ou pedras, tanto nas para revestimentos, cuja peça, tenha
de argamassa colante para todos os áreas externas quanto internas, o ideal metragem acima de 30x30, é necessá-
revestimentos adquiridos, sendo que é utilizar argamassas colantes do tipo rio que seja feita uma dupla colagem.
eles são de materiais distintos e serão AC2 e AC3, que possuem aderência Ou seja, deve-se colocar a argamassa
utilizados em lugares diferentes. química e são mais sofisticadas, pois colante tanto no substrato quanto no
Para não haver desperdício e até contam com adesivo em pó de PVA revestimento para a melhor aderência.
mesmo retrabalho no futuro é neces-
sário tomar alguns cuidados. O primei-
ro passo é identificar se o revestimento
será utilizado em um ambiente interno
ou um ambiente externo. Depois, ve-
rificar o tipo de revestimento. Ou seja,
se é cerâmica, porcelanato, mármore,
pastilha etc. Também é importante
saber se será utilizado no piso ou na
parede e se esta região sofrerá intem-
péries das estações climáticas ou não.
Todas estas variáveis são relevantes
na hora de decidir qual argamassa co-
lante escolher.
A argamassa colante industrializada
é composta por cimento, agregados

CONCRETO & Construções | 59


Acrílico, pois já vem pronto, facilitando
a aplicação.
Ademais, o rejunte Acrílico têm um
acabamento muito liso, cores mais du-
radoras, evita sujeira e é mais imperme-
ável que o rejuntamento convencional.
O produto pode ser utilizado para qua-
se todos os tipos de revestimentos.
Atualmente, outra opção bastan-
te aplicada, tanto nas áreas externas
quanto internas, são as pastilhas. Elas
podem ser de cerâmica, de porcelana
ou de vidro. Há muitas dúvidas na colo-
cação das pastilhas. O que precisamos
nos atentar é que a argamassa deve
ser colocada aos poucos, porque ao
Outra dica é respeitar o chamado ou azulejo não teremos mais cobertura secar ela inibe a aderência da pastilha,
“tempo em aberto” na colocação dos suficiente no verso dos revestimentos e a qual pode se descolar com o tempo.
revestimentos, ou seja, se trata do os materiais podem descolar. Por isso, O ideal é utilizar AC2 para áreas
tempo que você tem de respeitar após é sempre recomendado espalhar a ar- internas e AC3 para áreas externas e
aplicação da argamassa no substrato gamassa em uma metragem pequena o interessante é que a argamassa já
para inserir os pisos ou azulejos. Espe- e inserir o piso imediatamente. serve como cola e rejunte ao mesmo
cialmente em dias quentes e secos, em Após a colocação dos revestimen- tempo. Não há a necessidade de utili-
áreas externas ou substratos absorven- tos com a argamassa colante, deve-se zar rejuntes posteriormente.
tes, este tempo pode ser reduzido para esperar secar de dois a três dias para, Tomando estes cuidados e esco-
5-10 minutos. então, inserir o rejunte. Atualmente, lhendo a argamassa colante correta
E, se esperarmos mais do que este existem diversas cores para acom- para cada revestimento, você terá bons
tempo, a argamassa já estará seca em panhar os revestimentos escolhidos. resultados e uma durabilidade maior
excesso e quando inserirmos o piso Eu recomendo a utilização do rejunte em sua obra!

PALESTRAS GRATUITAS NA MC

O Ciclo de Palestras de cunho técnico e


com parte prática acontece no Centro de
Treinamento da MC, em Vargem Grande Paulista (SP)
u 21/09 – Revestimentos para Aumento
da Durabilidade do Piso de Concreto 
u 19/10 – Tratamento de trincas e fissuras
e na filial do Nordeste, em Vitória de Santo Antão no Concreto 
(PE). No primeiro semestre, as palestras tiveram a u 09/11 – Soluções para Indústria de Concreto
participação de 600 profissionais. Pré-Fabricado - Produtividade e Qualidade 
Para participar, os interessados devem ser u 23/11 – Impermeabilização de estruturas
inscrever no site: www.mc-bauchemie.com.br/ de Concreto - ETA’s, ETE’s e Reservatórios
noticias/calendario-ciclo-de-palestras-mc.  
MC - FILIAL VITÓRIA DE SANTO ANTÃO (PE)
Programação u 16/08 – Sistemas de Injeção - Tratamento
de trincas e fissuras no Concreto 
MC - MATRIZ VARGEM GRANDE PAULISTA (SP) u 14/09 – Revestimentos para Aumento
u 10/08 – Soluções para obras de Edificação  da Durabilidade de Pisos de Concreto (RAD) 
u 31/08 – Patologia das Estruturas de Concreto u 10/10 – Patologia das Estruturas de Concreto
e Sistemas de Reparo  e Sistemas de Reparo

60 | CONCRETO & Construções


u inspeção e manutenção

Modelagem computacional
da expansão por RAA
ALFONSO PAPPALARDO JR. RUY MARCELO DE OLIVEIRA PAULETTI THOMAS GARCIA CARMONA
Escola de Engenharia da Universidade Escola Politécnica da Universidade de São Paulo TIAGO GARCIA CARMONA
Presbiteriana Mackenzie
ANTONIO CARMONA FILHO
Carmona Soluções de Engenharia

1. INTRODUÇÃO são de metodologia para a modelagem (i) tipo, quantidade e granulometria do

O
número de casos noticia- computacional da RAA e sua aplicação agregado reativo presente no concreto;
dos de outras estruturas de a um caso de grande relevância prática. (ii) a quantidade de álcalis provenientes
concreto armado, além das do cimento e de fontes externas; (iii)
barragens, afetadas pela Reação Álcali- 1.1 Fatores intervenientes da RAA grau de umidade do concreto; (iv) distri-
-Agregado (RAA) é crescente. A deterio- buição da temperatura; (v) estado triaxial
ração induzida pela RAA impacta dire- Nas primeiras idades do concreto de tensões; e (vi) taxa de armadura nas
tamente os requisitos mínimos exigidos potencialmente reativo, a RAA produz três direções ortogonais.
pelas normas, relativos aos aspectos um gel higroscópico, que expande por
funcionais e operacionais, a perda de absorção de água. Este gel migra para 2. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL
capacidade resistente e a durabilidade os poros do concreto, até que esses De um modo geral, a simulação das
e seus planos de intervenção. estejam completamente preenchidos. A expansões de estruturas afetadas pela
Desde a década de 80, diversas partir deste ponto, estabelece-se uma RAA ao longo do tempo, consideran-
metodologias têm sido propostas, uti- significativa pressão osmótica, condu- do-se todos os fatores de influência,
lizando-se modelos calibrados basea- zindo a um quadro de microfissuração requer procedimentos numéricos para
dos no Método dos Elementos Finitos intenso em todo o concreto afetado pela análises não lineares acopladas, fazen-
(MEF), de estruturas afetadas pelas RAA. A intensidade, a distribuição espa- do uso de algoritmos incrementais e
expansões deletérias devidas à RAA. cial e a taxa de expansão da RAA são iterativos. Na década de 90, recursos
Neste trabalho, apresenta-se uma revi- influenciadas por uma série de fatores: de supercomputação eram exigidos
para a análise não linear acoplada de
um modelo de 300.000 graus de liber-
dade (estrutura e camadas de solo),
mostrado na Figura 1. Tais recursos
viabilizaram a análise deste modelo
para a verificação dos efeitos causados
pela RAA, varrendo um período de 60
anos, em um tempo de processamen-
a b to de três horas [PAPPALARDO, 1999].
Atualmente, pode-se contar com o uso
u Figura 1 computadores pessoais que perfazem
Barragem Billings-Pedras (a) modelo de elementos finitos com estrutura a mesma tarefa em um tempo inferior
de concreto e múltiplas camadas de solo estratificado (b) deformações por a três horas.
RAA após 60 anos nas faces montante e jusante e nas paredes do
Os principais fatores que contribu-
contraforte [PAPPALARDO JR., 1999]
íram para os avanços observados nas

CONCRETO & Construções | 61


u Tabela 1 – Programas comerciais de elementos finitos recomendados para a simulação da RAA

Análise de transporte

Sub-rotina definida
Fluência e retração
armado não linear
Modelo concreto

termo-estrutural
fraturamento

pelo usuário
Multifísico

de massa

Mecânica

Análise
Programa
Desenvolvedor (país)
comercial

ABAQUS X X X X X Dassault Systemes (França)


ADINA X X X X X X ADINA R&D, Inc (Massashussets, EUA)
ANSYS X X X X X X X ANSYS, Inc. (Pittsburgh, EUA)
ATENA X X X X X X X Cervenka Consulting (Prague, República Checa)
COMSOL X X X X X X X COMSOL Group (Stockholm, Suécia)
DIANA X X X X X X TNO DIANA BV (Delft, Holanda)
GTSTRUDL X X X X X X X INTEGRAPH System (EUA)
LUSAS X X X X UK Software (London, Reino Unido)
NASTRAN X X X X X X X MacNeal-Schwendler Corporation (EUA)
SAP2000 X X X CSI Computers and Structures Inc. (EUA)

metodologias de simulação matemá- e depois da instalação do sistema de 2.2 Modelos constitutivos


tica da RAA, nos últimos vinte anos, monitoramento (LÉGER,1995). Antes
estão relacionados à alta evolução da da instalação do sistema de monitora- A modelagem das estruturas de
Ciência da Computação e ao rápido mento, um modelo de elementos finitos concreto armado requer uma repre-
crescimento da Indústria da Informá- permite: (i) explicar os principais efeitos sentação fiel das leis constitutivas do
tica. Estes dois fatores permitiram a patológicos observados por meio de concreto e do aço, assim como das leis
produção de computadores pessoais inspeções visuais; (ii) orientar o tipo de de aderência-escorregamento na zona
com alta capacidade de processamen- instrumentos de monitoramento insta- de interface dos materiais. O critério
to e de armazenamento a um baixo lados e sua disposição espacial. Depois de ruptura de Willam-Warnke tem sido
custo de aquisição. Simultaneamente, da instalação do sistema de monitora- utilizado para o concreto na verificação
as empresas desenvolvedoras de pro- mento, o modelo é necessário para: da capacidade resistente no estado
gramas comerciais de elementos fini- (iii) interpretar os dados de campo; (iv) multiaxial de tensões e na previsão de
tos criaram recursos computacionais prever os efeitos da RAA ao longo do ocorrência dos mecanismos de falha.
para a simulação da RAA com o uso tempo; (v) especificar os serviços de Para a modelagem das armaduras uti-
de interfaces gráficas avançadas. A manutenção e a sua periodicidade; liza-se o diagrama tensão-deformação
Tabela 1 lista os programas comerciais (vi) avaliar a viabilidade técnica-eco- bilinear, considerando-se um material
recomendados para a simulação das nômica dos métodos de reabilitação elastoplástico perfeito, com critério de
expansões devidas à RAA que abran- considerados; (vii) verificar a inter- plastificação de Von Mises. As mes-
gem esses recursos. -relação das técnicas de reabilitação mas considerações são utilizadas para
estrutural aplicadas em conjunto; (viii) a chapa metálica de reforço. Podem
2.1 Aspectos gerais estimar o aumento da vida útil diante ser utilizadas relações de aderência-
das medidas remediadoras adotadas; -escorregamento multilineares na zona
A construção de modelos de ele- (ix) atender os requisitos de qualidade, de interface aço-concreto, baseadas
mentos finitos, para avaliação dos efei- relativos à segurança e estabilidade da nos códigos modelos ou teorias consa-
tos estruturais de longa duração de- construção em diferentes cenários de gradas. Os modelos constitutivos dos
vidos à RAA, faz-se necessária antes carga, dentre outros. materiais, incluindo, o comportamento

62 | CONCRETO & Construções


u Figura 2
Caracterização de parâmetros dos materiais considerados no modelo matemático

nas suas interfaces é esquematizado mente influenciada pelo estado triaxial Quando a resistência à tração
na Figura 2. de tensões. Segundo o modelo adapta- for atingida, inicia-se o processo de
A equação constitutiva para o esta- do de Charlwood (LÉGER, 1995), a influ- microfissuração interrompendo a ex-
do triplo de tensões com acoplamento ência do estado de tensão na expansão pansão por RAA. A Figura 3 apresen-
termo-estrutural de materiais elásticos- por RAA pode ser representada por: ta o modelo teórico utilizado neste
-lineares de comportamento ortotrópi- trabalho, que considera a dependên-
co, é definida por:
ì εg = 0 para s i ³ ftef cia do estado triaxial de tensão com
ï
ï εg = εu
ï para s U £ s i < ftef as expansões ortogonais por RAA,
í [2]
ε = C × σ + α × DT [1] ( )
ï ε g = ε u - K × log10 σi / σ U para s L £ s i £ s U conforme descrito anteriormente.
ï
îï ε g = 0 para s i < s L De acordo com esta metodologia,
onde e={ex, ey, ez, gxy, gyz, gzx}, a expansão química por RAA pode
s={sx, sy, sz, txy, tyz, tzx}, a={ax, ay, az, Onde: ser considerada análoga à expan-
0, 0, 0} são as deformações (lineares e eg é a taxa de expansão por RAA de um são térmica, a partir da calibração
distorções), as tensões (normais e tan- elemento parcialmente confinado (em dos coeficientes de expan­s ão tér-
genciais) e os coeficientes de expan- me/ano –“microdeformação/ano”); mica equivalentes com os da­­dos
são térmica, respectivamente. As ten- eu é a taxa de expansão por RAA de um experimentais. Considerando-se,
sões e a matriz de rigidez da estrutura, elemento desconfinado (expansão livre) arbi­tra­ria­m ente, a variação da tem-
dada por D = C , podem ser decom-
-1
si é a tensão principal na direção peratura e o incremento de tempo
postas nas parcelas s = sc + sr + ss e analisada; unitários, pode-se escrever:
D = Dc + Dr + Ds , relativas ao concreto, sU é o limite superior de tensão, acima
j j
armaduras e chapas de reforço. Desse do qual o efeito do confinamento é inó- ε g, i =ai [3]
modo, pode-se acessar os níveis de ten- cuo em termos de expansão por RAA;
são e de deformação em cada material. sL é o limite inferior de tensão, abaixo Sendo:
do qual a expansão por RAA é total- i = x,y,z (direção analisada);
2.3 Modelo constitutivo para mente inibida; j = 1,2,3,…(tempo)
o concreto afetado pela RAA f t
ef
é a resistência à tração efetiva cal- ai o coeficiente de expansão tér-
culada, por exemplo, pelo critério de mica linear para comportamento
A expansão por RAA é significativa- Willan-Warnke. ortotrópico.

CONCRETO & Construções | 63


3. ESTUDO DE CASO

3.1 Descrição geral

O caso de obra selecionado é refe-


rente aos pilares de concreto armado
de uma estrutura metálica de cobertura
de um ginásio poliesportivo em Cuiabá,
concluído em 2007. Foram observadas
fissuras nos pilares, logo nos primeiros
meses após a construção. Os pilares
u Figura 3
têm 3,40 m de diâmetro e 3,90 m de al- Metodologia para análise incremental
tura a partir dos blocos de apoio, confor-
me mostrado na Figura 4a. A armação do material branco depositado na super- po. Os procedimentos dos ensaios de
longitudinal é composta por 56 barras fície foram utilizadas as técnicas de Mi- expansibilidade utilizados tendo como
de 20 mm, com estribos de 8 mm a croscopia Eletrônica de Varredura (MEV) base as normas NBR 15577-4 (ABNT,
cada 10 cm. A resistência à compressão e Espectroscopia de Energia Dispersiva 2008a) e NBR 15577-6 (ABNT, 2008b),
característica especificada é de 25 MPa. (EDS). Esse estudo revelou a existência prescrevem dois tipos de exposição,
A fundação dos pilares é constituída de de etringita com certa abundância, que um acelerado, para comparação com
um bloco de coroamento com 6,20 m x produziu a reação expansiva por forma- os limites aceitáveis, e outro normal,
6,20 m x 2,10 m (altura), sobre quatro ção de etringita secundária. para simular as condições de exposi-
tubulões de 70 cm de fuste e 150 cm Dada a suspeita deste outro tipo ção no local. Os resultados apontados
de base. Adota-se a espessura de 5 mm de reação, decidiu-se realizar ensaios pelos dois ensaios revelaram valores
para as chapas de reforço. adicionais para a identificação da RAA. superiores aos limites práticos, levan-
Devido ao estado de fissuração avan- Foram extraídos dois testemunhos (Fi- do-se à conclusão que a expansão
çado, conforme observado na Figura 4b, gura 4c) para análises preliminares da ocorrida pode ser considerada elevada.
foi levantada a suspeita da ocorrência de reatividade, com o acompanhamento De posse dos resultados de expan-
RAA. Para se caracterizar a composição de suas expansões ao longo do tem- sibilidade, ficou clara a existência de

a b c

u Figura 4
(a) Pilar afetado por expansões deletérias; (b) Fissuras mapeadas típicas da RAA; (c) Extração de testemunho para
os ensaios de expansibilidade

64 | CONCRETO & Construções


a b c

u Figura 5
(a) Método de reforço por encamisamento metálico do pilar; (b) Sistema pneumático para injeção de resina epóxi;
(c) Extensômetros elétricos aderidos na chapa de reforço

reação de expansão, seja ela decorren- de resistência, para monitoração de no modelo matemático são mostradas
te da RAA, seja por formação de etrin- tensões (Figura 5c). na Tabela 2. Os cinco parâmetros de
gita secundária, ou ambas. resistência para a descrição da superfí-
Levando-se em conta o quadro de 3.2 Modelo de elementos finitos cie de ruptura de Willan-Warnke, dados
fissuração avançado e os resultados em função da resistência à compres-
dos ensaios realizados, julgou-se por Foi elaborado modelo tridimensio- são, são: resistência à tração uniaxial
bem realizar um reforço com chapas nal composto por elementos sólidos, (f.t=0.1.fc), resistência à compressão
de aço (Figura 5a) aderidas com inje- de casca e de barra, para a simulação biaxial (f.bc=1.15.fc), resistência à com-
ção de resina epóxi em toda a altura numérica do efeito de expansão do pressão biaxial com tensão de confina-
dos pilares (Figura 5b). Com o objeti- conjunto pilar-fundação. A face inferior mento imposta (f.1=1.73 fc) e resistên-
vo de avaliar a eventual evolução de do bloco na região dos tubulões é con- cia à compressão uniaxial com tensão
tensões nas chapas de reforço foi ins- siderada com translações impedidas de confinamento imposta (f.2=1.45 fc)
talado um sistema de instrumentação, nas três direções, negligenciando-se (CHEN, 1988).
composto por sensores de deforma- os efeitos da interação solo-estrutura. De modo a considerar a influência
ção do tipo extensômetros elétricos As propriedades mecânicas utilizadas da umidade nas expansões causadas
pela RAA, o pilar foi dividido em duas
u Tabela 2 – Propriedades mecânicas dos materiais utilizadas porções: uma camada externa de 10
no modelo matemático cm com 100% de umidade, de acor-
do com os testemunhos de concreto,
Módulo de Peso e um núcleo interno seco. As taxas de
Fc / Resistência de Coeficiente de
Atividades elasticidade E específico g
escoamento fy Poisson n deformação livre por RAA (variável eu),
(Mpa) (kN/m3)
C25 (pilar) 25 23800 0,2 25
que são parâmetros de calibração do
modelo matemático, obtidas para as
C20 (bloco
20 21287 0,2 25 duas porções, valem, respectivamen-
de fundação)
CA-50 te, 135 me/ano e 60 me/ano (Figura 6).
500 210000 0,3 78,5
(armaduras) Os valores dos parâmetros de calibra-
ASTM A-570 ção foram obtidos por retroanálise com
(chapas
310 205000 0,3 78,5 base nos resultados da instrumentação
metálicas
de reforço) das tensões na chapa de reforço. Neste
estudo, foram negligenciados os efeitos

CONCRETO & Construções | 65


u Figura 6
Parâmetros de calibração obtidos por retroanálise para a simulação das expansões por RAA do conjunto
pilar-fundação em função das tensões devidas ao carregamento e outros mecanismos

da fluência e retração do concreto e o foi eficiente para atenuar as expansões os dois cenários analisados. A Figura 11
decaimento da taxa de expansão por verticais por RAA no corpo do pilar. Ao apresenta as tensões de Von Mises nas
RAA ao longo do tempo, devido ao cur- passo que no topo do pilar não foi ob- chapas de reforço e a evolução delas
to período de observação. Assume-se servada a mesma eficiência por conta nos pontos de instrumentação, cujos
que as interfaces aço-concreto estejam da flexão da chapa. A Figura 10 indica resultados extrapolados correspondem
perfeitamente aderidas. Para a análi- a evolução das tensões principais míni- aos obtidos na análise numérica. E, fi-
se computacional foram considerados mas s3 na porção externa do pilar para nalmente, a Figura 12 exibe a evolução
três incrementos de tempo: o primeiro,
para a imposição das condições de
contorno iniciais do problema; o segun-
do, para a simulação da expansão por
RAA um ano após a sua identificação; o
terceiro, para a simulação da expansão
por RAA um ano após a instalação das
chapas de reforço.

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Na Figura 7 observa-se um aumen-
to de tensão nas armaduras circunfe-
renciais em relação ao concreto isento
de expansões por RAA. As Figuras 8
e 9 apresentam, respectivamente, as
expansões verticais no bloco e no pilar.
Pode-se constatar, mediante a com-
paração das Figuras 9a e 9b, que a
u Figura 7
Tensões nas armaduras um ano após a identificação da RAA
execução do encamisamento metálico

66 | CONCRETO & Construções


das expansões verticais devidas à RAA
nos elementos de concreto, confirman-
do-se a eficiência do sistema de reforço
no controle das deformações por RAA.

5. CONCLUSÃO
Em termos gerais, pode-se realizar
análises de campos acoplados para a
a b interação dos problemas térmico e de
transporte de massa com o estrutural.
u Figura 8 Como os campos de temperatura e
Expansão vertical no bloco devida à RAA (a) um ano após a identificação de umidade não são afetados pelos
da RAA; (b) um ano após o reforço por encamisamento metálico deslocamentos estruturais, sugere-se
resolver um problema estrutural incre-
mental com influência indireta dos fa-
tores intervenientes.
O modelo matemático não line-
ar proposto permite a descrição dos
mecanismos deletérios dos elementos
de concreto afetados pela RAA. Os
resultados numéricos apresentaram
boa correlação com os resultados ex-
perimentais, ressaltando a importância
da calibração e validação do modelo
a b
matemático.
O MEF, desde seus primeiros de-
u Figura 9 senvolvimentos e aplicações na década
Expansão vertical no pilar devida à RAA (a) um ano após a identificação da
de 60, consagrou-se como o método
RAA; (b) um ano após a instalação do reforço por encamisamento metálico
mais eficaz para resolver problemas da
mecânica do contínuo, e continua nos
dias atuais como um método dominan-
te da Mecânica Computacional.
Algoritmos iterativos dotados de
poderosas ferramentas de conver-
gência, formulações de métodos sem
malha, elementos especiais de múltiplo
propósito, critérios de resistência de
novos materiais inovadores, algoritmos
rápidos de otimização estrutural e efi-
cientes para retroanálise permitirão fa-
a b cilitar a modelagem estrutural do con-
creto afetado pela RAA.
u Figura 10 Particularmente no caso da modela-
Tensões principais mínimas s3 da camada externa do pilar (a) um ano gem da RAA, propriedades mecânicas e
após a identificação da RAA (b) um ano após a instalação do reforço por
químicas adequadas dos materiais afeta-
encamisamento metálico
dos por RAA são difíceis de adquirir, os

CONCRETO & Construções | 67


a b

u Figura 11
Tensões normais na chapa de reforço um ano após a execução do encamisamento metálico (a) solução numérica;
(b) dados experimentais nos primeiros 3 meses

u Figura 12
Evolução das expansões verticais devidas à RAA no período entre a identificação do fenômeno (ano de referência)
e um ano após a execução do encamisamento metálico (2 anos)

dados relacionados à fadiga do concreto as expansões da RAA devido ao estado Esses são alguns dos desafios a serem
afetado pela RAA são inexistentes (o que de tensão multiaxial envolvem a constru- enfrentados pelos pesquisadores em
dificulta o desenvolvimento de modelos), ção de protótipos e ensaios exaustivos. RAA nas próximas décadas.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15577-4:2008 Agregados - Reatividade Álcali-Agregado. Parte 4: Determinação da expansão em barras
de argamassa pelo método acelerado. Versão Corrigida 2:2009. Rio de Janeiro, ABNT, 2008a.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15577-6:2008 Agregados - Reatividade álcali-agregado. Parte 6: Determinação da expansão em prismas
de concreto. Versão Corrigida 1:2008. Rio de Janeiro, ABNT, 2008b.
[3] CHEN, W.F.; HAN, D.J. (1988) Plasticity for Structural Engineers. Springer-Verlag, New York: pp 606.
[4] LÉGER, P.; TINAWI, R.; MOUNZER, N. (1995) Numerical Simulation of Concrete Expansion in Concrete Dams Affected by Alkali-Aggregate Reaction: State-of-the-Art.
Canadian Journal of Civil Eng., v.22, n.4, p.692-713.
[5] PAPPALARDO JR., A (1999) Uma Metodologia para a Modelagem Matemática de Barragens de Concreto Afetadas pela RAA. 181 p. Tese (Doutorado em Engenharia
Civil). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo.

68 | CONCRETO & Construções


u inspeção e manutenção

Avaliação de RAA na
barragem de Pirapora
MARCELA B.S. SOLLERO – Supervisora Operacional • LILIAN Q.G. BAIMA – Gerente Operacional • HELOISA BOLORINO – Diretora
CONCREMAT Engenharia e Tecnologia S.A.

1. INTRODUÇÃO

A
ocorrência de reações ex-
pansivas no concreto da Bar-
ragem de Pirapora foi diag-
nosticada na década de 1990, após a
ampliação da divulgação desse fenôme-
no no meio técnico. Os sintomas visuais
dessas reações concentram-se princi-
palmente nos vertedouros, nos contra-
a b
fortes e na região das vigas munhão. A
preocupante possibilidade de o avanço
u Figura 1
do quadro patológico prejudicar o fun-
Lado jusante (a) e lado montante (b) da barragem de Pirapora
cionamento das comportas norteou o
desenvolvimento de um amplo estudo.
O presente artigo expõe a caracteri- em Pirapora de Bom Jesus, em São 3. Ensaios dinâmicos para determina-
zação do concreto da barragem e as rea- Paulo, foi construída em 1956, visando ção das propriedades mecânicas
ções expansivas que o afetam, decorren- reter as vazões do Rio Juqueri e apro- das estruturas;
tes da reação álcali-agregado (RAA) e do veitá-las para a geração de energia para 4. Modelos matemáticos e calibração
aporte de sulfatos. A divulgação de técni- a Usina Henry Borden, em Cubatão, em com os resultados experimentais;
cas efetivamente aplicadas em casos de São Paulo. Trata-se de uma barragem 5. Avaliação da segurança estrutural;
estruturas reais, bem como dos resulta- de gravidade executada em concreto 6. Caracterização dos parâmetros da
dos obtidos e de sua interpretação, é de armado, constituída por contrafortes e RAA e dos materiais constituintes;
grande valia na determinação do curso por uma parede de base larga, à qual se 7. Elaboração de modelo matemático
de ação em situações semelhantes. Des- integra um vertedouro com dois vãos. A tridimensional e simulação do com-
sa forma, objetiva-se não só apresentar barragem possui cerca de 85 m de ex- portamento da barragem;
o trabalho desenvolvido, mas também tensão na crista e 25 m de altura. A Fi- 8. Avaliação das alternativas para
expor como alguns dos ensaios ampla- gura 1 ilustra a Barragem de Pirapora. mitigação;
mente estudados academicamente po- A investigação do quadro patológi- 9. Simulação por meio dos modelos
dem ser utilizados por profissionais da co da Barragem de Pirapora, iniciada matemáticos calibrados das possí-
área de Engenharia Civil que diagnosti- em 2013, foi estruturada em 11 etapas: veis intervenções nas estruturas;
cam estruturas com reações expansivas. 1. Coleta e análise dos dados de 10. Projeto básico para execução da
projeto, construção, operação e solução adotada;
2. INVESTIGAÇÃO DA REAÇÃO instrumentação; 11. Elaboração de projeto de monitora-
ÁLCALI-AGREGADO NA 2. Inspeção visual, cadastramento de mento de longo prazo.
BARRAGEM DE PIRAPORA anomalias nas estruturas e execu- O presente artigo aborda as etapas
A Barragem de Pirapora, localizada ção de ensaios não destrutivos; 2 e 6.

CONCRETO & Construções | 69


2.1 Métodos para avaliação vés do método direto, utilizando a fre­ dos após a extração de testemunhos
e análise quência de 54 Hz. O ensaio consiste, de das estruturas.
forma simplificada, na emissão de ondas
Founier e Bérubé [1] indicam que a ultrassônicas por um circuito gerador-re- Análise petrográfica, microscopia
investigação detalhada de RAA em estru- ceptor, que as transmite para as amos- estereoscópica e ótica, e microscopia

turas deve abranger inspeção visual de- tras através de um transdutor emissor eletrônica de varredura (MEV)

talhada, petrografia, ensaios mecânicos, e as recebe através de um transdutor


ensaios de expansão de testemunhos, receptor. O tempo necessário para que Para a identificação das reações
medições de álcalis e investigações es- as ondas atravessem um comprimen- expansivas no concreto, é fundamen-
truturais. As atividades realizadas foram to conhecido do material é registrado tal a realização da análise petrográfi-
estruturadas de forma semelhante, como pelo equipamento, que calcula sua ve- ca do concreto combinada a técnicas
demonstrado pelos itens a seguir. locidade de propagação. A velocidade como MEV. Através delas, é possível
das ondas é relacionada à qualidade do verificar não só a reatividade potencial
Inspeção visual concreto quanto à sua compacidade e dos agregados, mas a presença de
homogeneidade e é fortemente reduzi- eventuais produtos das reações, entre
A inspeção visual realizada na Bar- da pela presença de vazios e fissuras no outros itens. Os ensaios, guiados pe-
ragem de Pirapora compreendeu o ma- interior das amostras. las normas ABNT NBR 15577-3:2008
peamento das anomalias apresenta- A determinação da absorção de água, (Agregados – Reatividade álcali-agre-
das pelas estruturas de concreto, bem do índice de vazios e da massa específica gado. Parte 3: Análise petrográfica para
como a classificação de suas caracte- do concreto foi realizada conforme a nor- verificação de potencialidade reativa
rísticas e sua quantificação. ma ABNT NBR 9778:2009 (Argamassa de agregados em presença de álcalis
Para esse fim, as estruturas foram e concreto endurecidos - Determinação do concreto) e ASTM C856-83:1983
acessadas através de técnicas de al- da absorção de água, índice de vazios e (Standard Practice for Petrografic
pinismo industrial por profissionais que massa específica). Os resultados foram Examination of Hardened Concrete), fo-
coletaram, entre outras informações, o analisados pelos parâmetros do CEB 92 ram realizados pela ABCP (Associação
tipo, as dimensões, a localização pre- [2] e indicam a qualidade do concreto Brasileira de Cimento Portland).
cisa e a criticidade de cada anomalia em relação a essas propriedades, que
segundo um padrão pré-estabelecido. influenciam sua durabilidade. Determinação dos teores de álcalis
Os dados obtidos foram registrados em Como apontado por Mehta e Mon-
planilhas e desenhos. teiro [3], a expansão e a fissuração do Através desse ensaio, obtêm-se os
concreto em decorrência de reações teores de álcalis solúveis e totais, bem
Caracterização das propriedades expansivas podem levar à perda de re- como o equivalente alcalino em Na2O.
do concreto sistência e do módulo de deformação. Dado que a RAA consome os álcalis
Estudos reportam perda de 40% a 80% do concreto ao se desenvolver, o valor
Antes da realização dos ensaios la- da resistência à tração do concreto [1]. do equivalente alcalino pode ser utili-
boratoriais, os testemunhos de concre- Langdon e Marzouk [4] afirmam zado para avaliar o progresso da rea-
to tiveram sua homogeneidade e com- ainda que o tipo de agregado (alta- ção: quanto menos álcalis restantes no
pacidade avaliadas por meio do ensaio mente ou moderadamente reativo), material, menor a degradação adicional
de ultrassom, seguindo as prescrições assim como o tipo de concreto (re- potencialmente provocada pela RAA ao
das normas ABNT NBR 8802:2013 sistência normal ou alta resistência), longo do tempo.
(Concreto endurecido — Determina- são parâmetros que influenciam for-
ção da velocidade de propagação de temente a redução das propriedades Determinação da expansão residual
onda ultrassônica) e ASTM C597-09 mecânicas do material. Dessa forma, em corpos de prova de concreto

(Standard Test Method for Pulse Veloci- a resistência à compressão axial, o


ty Through Concrete). módulo de elasticidade e a resistên- O ensaio, realizado ao longo de
As amostras foram ensaiadas atra- cia à tração do concreto foram avalia- um ano, acelera em laboratório a

70 | CONCRETO & Construções


evolução da RAA presente em amostras
extraídas da estrutura. Com os resulta-
dos obtidos, pode-se avaliar a tendên-
cia de comportamento do material em
relação às reações expansivas apresen-
tadas. As normas NBR 15577-1:2008
(Agregados – Reatividade álcali-agrega-
do. Parte 1: Guia para avaliação da rea-
tividade potencial e medidas preventivas
a b para uso de agregados em concreto) e
NBR 15577-6:2008 (Agregados – Re-
u Figura 2 atividade alcali-agregado. Parte 6: De-
Fissuração aleatória e eflorescências na lateral do contraforte (a)
e na região da viga munhão (b) terminação da expansão em primas de
concreto) nortearam a realização do en-
saio e a análise dos resultados.
As quantidades de amostras foram
definidas com base em três princípios:
1. Requisitos normativos;
2. Minimização do dano causado à
barragem pela extração de teste-
munhos de concreto;
3. Disponibilidade dos resultados dos
ensaios realizados desde a desco-
berta da RAA na estrutura, obtidos
a b
na Etapa 1 da investigação do qua-
dro patológico.
u Figura 3
Fissuras aleatórias no topo do contraforte – (a) e (b)
3. RESULTADOS

Inspeção visual
u Tabela 1 – Resultados dos ensaios de caracterização das propriedades
do concreto Entre as anomalias possivelmente
causadas pelas reações expansivas do
Quantidade Coeficiente
Ensaio Valor médio concreto, foram visualizadas a exsuda-
de amostras de variação
ção de material esbranquiçado – eflo-
Velocidade de propagação
16 4262 8.0% rescências e/ou produtos das reações –,
de onda ultrassônica (m/s)
Absorção de água (%) 2 4.95 30.0% fissuras mapeadas com abertura máxi-
Índice de vazios (%) 2 11.75 25.9% ma entre 0,3 e 2,0 mm e o lascamento
Massa específica (g/cm³) 2 2.68 0.2% do concreto decorrente da evolução de

Resistência à compressão (MPa) 6 33.7 18.4%


fissuras (Figuras 2 a 4).
Foram mapeados ainda os pontos e
Módulo de elasticidade
3 26 27.0% as áreas afetados por outras anomalias,
tangente – Eci (GPa)
Módulo de elasticidade secante – Ecs (GPa) 3 25 27.0% como o desgaste superficial do concreto
Resistência à tração indireta – fct,sp (MPa) 2 3.2 9.5% por erosão. Onde se mostrou necessá-
Resistência à tração direta – fct (MPa) 2 2.6 27.3% rio, a inspeção visual foi complementada
pela prospecção dos elementos, que

CONCRETO & Construções | 71


constatou o bom estado de conserva-
ção das armaduras embutidas.

Caracterização das propriedades


do concreto
a b
Os resultados são apresentados na
Tabela 1. u Figura 4
Fissuras nos vertedouros da barragem – (a) e (b)
Análise petrográfica, microscopia
estereoscópica e ótica, e microscopia
eletrônica de varredura
G

Foram realizados ensaios com o ob- E G P


jetivo de avaliar a presença de reações
expansivas nas amostras (Figura 5 e
M
Figura 6).
Através desses ensaios verificou-se:
u Ausência de fraturamento, apesar
a b
da presença de microfissuras em
parte das amostras;
u Figura 5
u Aderência deficiente entre argamas-
Etringita (E) nos poros do concreto ampliados em 12x (a) e fissura
sa e agregado graúdo; entre o agregado e a argamassa preenchida pelo gel da reação ampliada
u Rara presença de bordas de reação em 100x (b) (ABCP)
no entorno dos agregados;
u Presença de agregado graúdo gra-
nítico potencialmente reativo, com
presença de quartzo microgranular
localmente recristalizado e quartzo
deformado com extinção ondulante;
u Agregado miúdo potencialmen-
te reativo com fragmentos de
quartzito constituídos por quartzo
microgranular;
u Cristais aciculares fibrorradiados
de etringita depositados na forma a b
de tufos em poros, dando indícios
de sua formação tardia (Delayed u Figura 6
Imagens obtidas em MEV do gel de reação e dos cristais de RAA ampliadas
Ettringite Formation – DEF), ou em
respectivamente em 2500x (a) e 3000x (b) (ABCP)
grandes massas na interface pasta-
-agregado;
u Presença de minerais característi- agregados graúdos; Determinação dos teores de álcalis
cos da RAA na interface agregado- u Indícios da ocorrência de reação
-argamassa; álcali-silicato; O equivalente alcalino em Na2O
u Grande quantidade de gel da u Distribuição heterogênea das rea- médio, calculado a partir do teor de
RAA nos poros e no entorno dos ções expansivas nas amostras. álcalis solúveis das amostras, é de

72 | CONCRETO & Construções


0,075±0,015%, valor baixo e que não além da capacidade resistente da es- afetaram significativamente essas pro-
torna necessária a aplicação de medidas trutura, sua durabilidade frente ao am- priedades do material.
mitigadoras de forte intensidade no mo- biente, refletindo as mudanças na per- É importante destacar que a rea-
mento. O equivalente alcalino em Na2O cepção da comunidade técnica. Como lização dos ensaios de ultrassom nos
médio, calculado a partir do teor de álca- a Barragem de Pirapora foi inaugurada testemunhos é particularmente reco-
lis totais das amostras, no entanto, é de na década de 50, a versão citada da mendável por possibilitar a comprova-
2,66±0,55%, valor notavelmente maior norma não estava em vigor na época ção de sua integridade antes da deter-
do que o limite normativo de 0,6%. da construção e não foi considerada no minação da resistência à compressão
projeto. Ainda assim, esses conceitos axial. Como o valor dessa propriedade
Determinação da expansão residual são de grande importância e devem ser foi utilizado para o cálculo dos valores
em corpos de prova de concreto aplicados na análise da estrutura. teóricos de resistência à tração e mó-
Verificou-se que a resistência à dulo de elasticidade, nota-se que um
Verificou-se que a expansão residu- compressão média das amostras foi comprometimento na avaliação da re-
al das amostras foi muito baixa, atingin- igual a 33,7±6,2 MPa, menor do que sistência à compressão do concreto
do 0,1% após o período de um ano de os 40 MPa atualmente recomenda- afetaria a análise de todas as proprie-
ensaio. O limite para expansão nesse dos pela ABNT NBR 6118:2014 para dades mecânicas analisadas.
período é de 0,4%. Como os resulta- concreto exposto à Classe de Agres- Através da análise petrográfica veri-
dos encontrados são inferiores a 0,4%, sividade Ambiental IV. Na ausência de ficou-se que, além da RAA, o concreto
pode-se afirmar que a expansão resi- registros do módulo de elasticidade apresenta DEF. O baixo teor de álcalis
dual das amostras se apresenta dentro do concreto especificado à época da solúveis, porém, indica que há poucos
do limite admissível. construção, foi realizada uma compara- álcalis disponíveis para a continuida-
ção entre os resultados obtidos e valo- de da RAA no momento. De fato, as
4. DISCUSSÃO res teóricos calculados de acordo com amostras foram aprovadas na avaliação
Os resultados obtidos permitem a ABNT NBR 6118:2014. Constatou-se da expansão residual, indicando que o
verificar que o concreto das amostras que o módulo de elasticidade secante e quadro patológico decorrente das re-
analisadas apresentou bom desempe- o módulo de elasticidade tangente do ações expansivas não deve evoluir de
nho quando submetido ao ensaio de concreto, ambos experimentais, foram forma significativa futuramente.
ultrassom, o que indica a ausência de maiores do que os módulos teóricos,
fissuração e falhas de concretagem no mostrando-se próximos aos valores in- 5. CONCLUSÕES
interior dos testemunhos, bem como dicados na Tabela 8.1 da norma para Conclui-se que a Barragem de Pira-
compacidade boa a alta. De acordo concretos de classe C30 e C35 (Eci = pora possui um quadro fissuratório sig-
com o padrão indicado por Cánovas 32±3 GPa e Ecs = 29±3 GPa). nificativo, além de anomalias de menor
[5], as amostras analisadas são classi- A resistência à tração obtida expe- gravidade como disgregação e desgas-
ficadas como de qualidade alta à durá- rimentalmente por compressão diame- te superficial do concreto, identificadas
vel em relação à sua homogeneidade tral resultou no valor médio de 3,2±0,3 na inspeção visual.
e compacidade. MPa, ou seja, 5% maior do que o va- Conclui-se ainda que o concreto da
Quanto ao índice de vazios, proprie- lor teórico calculado de acordo com a Barragem de Pirapora apresenta expan-
dade que também pode ser relaciona- ABNT NBR 6118:2014 [6], com base são por RAA e DEF, mas suas proprie-
da à compacidade, o concreto apre- na resistência à compressão obtida nos dades mecânicas não se encontram
sentou qualidade moderada a boa. Sua ensaios previamente descritos. Como comprometidas, e que não é esperada
absorção de água, no entanto, variou a resistência à tração e o módulo de evolução significativa das reações ex-
de média a alta. elasticidade do concreto não foram re- pansivas, contanto que os álcalis totais
É valido mencionar que a norma duzidos em relação a seus valores teó- não sejam liberados para o meio.
brasileira para projetos de estruturas de ricos, como poderia ocorrer em função Quanto às demais características
concreto (ABNT NBR 6118) incorpo- da ocorrência de RAA e DEF, pode-se referentes à durabilidade do material
rou em 2003 critérios que consideram, afirmar que as reações expansivas não analisadas, verificou-se que o concreto,

CONCRETO & Construções | 73


apesar de possuir resistência à compres- necessárias intervenções de mitigação impedindo que a água em estado líqui-
são inferior ao que a norma ABNT NBR de reações expansivas generalizadas do adentre os elementos. Essa medida
6118:2014 recomenda atualmente para ou de grande complexidade, podendo é importante dado o fato de que tanto a
concreto em ambientes de Classe de essas se limitar às áreas mais afetadas RAA como a DEF dependem da presen-
Agressividade IV (classificação aplicável – os contrafortes. Além disso, faz-se ça de água para seu desenvolvimento.
à Barragem de Pirapora) e absorção de necessária a aplicação de sistemas de Os resultados apresentados permitiram
água de média a alta, apresenta homo- proteção com resistência química e re- ainda a priorização das atividades e for-
geneidade e compacidade satisfatórias. sistência à abrasão, dadas as condições neceram dados essenciais para a reali-
Dessa forma, entende-se que a Bar- de exposição, além de permeáveis ao zação das etapas posteriores da avalia-
ragem de Pirapora se apresenta pas- vapor, permitindo a evaporação da água ção da estrutura, como a elaboração de
sível de recuperação e que não serão presente no interior dos elementos, mas modelos numéricos.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] BÉRUBÉ, M.A; FOUNIER, B. Alkali-aggregate reaction in concrete: A review of basic concepts and engineering implications. Canadian Journal of Civil Engineering
V. 27, p. 167 – 191, 2000.
[2] COMITÉ EURO-INTERNATIONAL DU BÉTON. Diagnosis and assessment of concrete structures - State-of-art report. CEB Bull 1989. 1989.
[3] MEHTA, K.; MONTEIRO, P.J.M. Concreto: Microestrutura, propriedades e materiais. 3ª. ed. São Paulo, 2008.
[4] LANGDON, S.; MARZOUK, H. The effect of alkali-aggregate reactivity on the mechanical properties of high and normal strength concrete. Cement & Concrete
Composites V. 25, p. 549 – 556, 2003.
[5] CÁNOVAS, M F. Patologia e terapia do concreto armado. Ed. Pini. São Paulo, 1988.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6118. Projeto de Estruturas de Concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

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74 | CONCRETO & Construções
u inspeção e manutenção

Abertura de juntas de
expansão na barragem
da UHE Pedra
ALBERTO JORGE C. TAVARES CAVALCANTI • PATRICIA NEVES SILVA • THAIS AMORIM ALBINO DA SILVA
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf)

1. INTRODUÇÃO

A
barragem da UHE Pedra,
localizada no Rio de Con-
tas, no local denominado
Pedra da Santa, 18 km à montante da
cidade de Jequié, no Estado da Bahia,
é do tipo contrafortes e foi construída
entre 1964 e 1968. A Casa de Força é
dotada de uma unidade geradora com
turbina tipo Francis com potência no-
minal de 20 MW.
A barragem é constituída por 24 u Figura 1
blocos de 17 m de largura. No trecho Vista de jusante da UHE Pedra
da margem direita existem onze blo-
cos não vertentes com comprimento dação. Os blocos do vertedouro têm das juntas verticais de contração entre
total de aproximadamente 200 m. No características geométricas semelhan- blocos à montante, resultando na ex-
trecho da margem esquerda existem tes às dos blocos laterais até a cota de pulsão do betume de preenchimento da
seis blocos com extensão total de 105 200,64 m. Acima dessa cota o bloco junta; abertura e deslocamento relativo
m. Entre esses dois trechos existem tem uma forma de soleira vertente. Em das juntas de contração entre blocos à
sete blocos vertentes com comprimen- cada bloco vertedouro apoia-se uma jusante, o que é particularmente visível
to total de 119 m ( Figura 1), equipados comporta suportada por vigas munhão. na região das vigas munhão (Figura 3).
com comportas do tipo segmento, com A altura máxima da barragem acima da Em 2006 foi contratada pela Chesf
9,0 m de altura e 12,50 m de largura. fundação é de aproximadamente 60 m. a Ieme Brasil Engenharia para realiza-
100
Os vãos das comportas são separados A reação álcali-agregado (RAA) está ção de estudos de medidas corretivas
por pilares duplos, com largura de 2,25 causando a expansão do concreto, o a partir de modelo matemático simulan-
95
m. A capacidade de vazão do verte- que resultou na dificuldade de operação do os efeitos da expansão do concreto
75 douro é da ordem de 8000 m /s, com o
3
da comporta da extremidade esquerda e levando em consideração a anisotro-
reservatório na cota 231,30 m. do vertedouro. Além disso, a reação pia da reação e a relaxação do material
A seção de cada bloco é constituída provocou outras anomalias, tais como: (Cavalcanti et al., 2008). Em função dos
25 por um contraforte com largura cres- fissuras em forma de mapa na crista da resultados da modelagem matemática
5
cente de cima para baixo, ou seja, com barragem (Figura 2) e no topo das vigas foi elaborado um projeto de reabilita-
6,74 m no topo e 10,50 m junto à fun- munhão do vertedouro; compressão ção da estrutura a fim de mitigar os
0

CONCRETO & Construções | 75


B11, B19/B20 e B20/B21, nas adja-
cências do vertedouro, abrangem os
blocos tipo contraforte da barragem,
com extensão montante-jusante de
5,75 m, 13 m de profundidade e área
de 66,90 m2 ( Figuras 4, 5 e 6).
O corte das juntas de expansão na
Barragem de Pedra foi executado pela
Betonpoxi Engenharia Ltda, em ou-
tubro de 2009. Devido à extensão da
área, a execução de cada corte foi re-
alizada em etapas sucessivas, para as
quais essa área foi fracionada em faixas
com altura máxima de 3,00m.
O fracionamento da seção trans-
u Figura 2 versal foi feito através de furos de alívio u Figura 3
Fissuração na barragem Abertura de junta nos pilares
executados com brocas com coroas
diamantadas de diâmetro 5,0cm, com
efeitos da RAA, que especificou o corte dotado de uma cordoalha central com
extensão suficiente para atravessar
de juntas de expansão e instalação de fios de aço envolvidos por anéis de aço
por completo o maciço. Os furos de
um sistema de monitoramento do com- com pequenos diamantes encrustados
alívio são essenciais para evitar que o
portamento da barragem. em sua superfície (Figuras 7 e 8).
fio fique preso durante a execução do
Em função das características da
corte, que pode ocorrer devido às altas
2. CORTE DAS JUNTAS área de corte descritas acima, a primei-
tensões internas oriundas da reação
DE EXPANSÃO ra fatia da seção transversal foi cortada
álcali-agregado.
Para mitigar o efeito da expansão com o método de corte em mergulho,
Os cortes e recortes de juntas fo-
do concreto sobre as comportas das onde o fio corta da cota superior para
ram executados com a utilização de fio
extremidades do vertedouro foram pro- a cota inferior. Para as demais fatias, foi
de corte diamantado galvanizado com
jetadas quatro juntas de expansão. As utilizado o método de corte de laçada,
10 mm de diâmetro. O fio de corte é
juntas entre os blocos B9/B10, B10/ passando o fio através dos furos e exe-

u Figura 4
Planta da barragem com numeração dos blocos

76 | CONCRETO & Construções


u Figura 5
Junta ente os blocos não vertentes

cutando o corte da cota inferior em


direção à cota superior.
A realização dos cortes das juntas,
entre as El 232 m e EL 219 m, exigiu
o rebaixamento do reservatório até a El
217,5 m. A junta B9/B10 foi cortada em
u Figura 6
3 etapas e a junta B10/B11 em 2 eta- Vista de montante dos blocos da ombreira esquerda
pas, devido à interferência com o nível
de água do reservatório (Figura 9).
Para que fosse possível acessar a foi instalado um sistema de tubos 3. MONITORAMENTO DO CORTE
junta ao longo de sua extensão foram dotados de fixadores, abraçadeiras DAS JUNTAS DE EXPANSÃO
instalados balancins elétricos, tanto na e polias auxiliares. Tal sistema de- Para o monitoramento das juntas
face de montante quanto na face de nomina-se de “Corte de Mergulho”. de expansão durante o corte foram
jusante. Tais balancins são dotados de Esse sistema de polias utilizado para instaladas bases de alongâmetro,
quatro cabos de sustentação e duplo o corte de mergulho foi modificado posicionadas segundo os vértices de
sistema de segurança independentes, para ser também utilizado no siste- um triângulo equilátero, com 40 cm
sendo um realizado pelo motor elétrico e ma de “Corte de Laçada”, de modo a de lado, fixadas com resina epóxi em
outro por um sistema de trava-quedas. guiar o fio na direção do furo execu- furos executados no concreto nas
Para manter o alinhamento da tado, propiciando um melhor desliza- proximidades das juntas de contra-
junta durante a execução do corte mento no interior da junta (Figura 10). ção (Figura 12). Foram monitoradas
as 4 juntas cortadas e as 4 juntas vi-
zinhas aos cortes.
As bases de alongâmetro foram
instaladas ao longo da crista da bar-
ragem e no paramento de jusante,
permitindo a determinação dos des-
locamentos diferenciais entre blocos
ao longo das direções (Tabela 1):
u Normal à junta (+ abertura –
fechamento);
u Tangencial à junta (deslocamento
cisalhante).
u Figura 7 u Figura 8
Nas Figuras 13 e 14 são apresen-
Equipamento de corte Detalhe do resfriamento do cabo
tados os gráficos das leituras das

CONCRETO & Construções | 77


bases de alongâmetro, na direção juntas da ombreira esquerda, cer- ao longo de 14,0 m de altura, entre
normal às juntas, durante o período ca de 1,5 mm, enquanto nas juntas as elevações 218,0 e 232,0 m, per-
de agosto a outubro de 2009. Obser- da ombreira direita foi da ordem de fazendo o total de 56,0 m. O sistema
va-se que: 1 mm). adotado foi composto de duas ca-
u Nas juntas 8/9 e 21/22, vizinhas madas de suporte e uma camada de
às juntas cortadas, não houve 4. VEDAÇÃO DAS JUNTAS impermeabilização.
movimentação; DE EXPANSÃO As camadas de suporte constitu-
u As juntas 11/12 e 18/19, entre o A vedação das juntas de expan- íram-se de faixas de manta de PVC
vertedouro e os blocos internos são foi projetada através de uma fai- flexível, com largura mínima de 0,42
extremos das ombreiras direita e xa de manta de PVC flexível dotada m, fixadas ao concreto ao longo de
esquerda, apresentaram grande de uma segunda manta entre a mes- ambas as laterais com perfis de aço
dispersão nas leituras que varia- ma e o concreto, para servir de dre- inox e chumbadores de impacto.
ram entre -0,5 mm e 0,5 mm; no, e fixadas ao longo da lateral com A camada de impermeabilização
u As juntas cortadas 9/10, 10/11, um perfil de aço inox aparafusado constituiu-se de uma faixa de manta
19/20 e 20/21 apresentaram uma ao concreto.
clara tendência de fechamento O trabalho foi executado pela
(este fechamento foi maior nas Carpi Brasil Ltda em quatro juntas,

u Figura 9
Cronograma dos cortes das juntas
u Figura 10
Sistema de alinhamento do cabo
u Tabela 1 – Locação das bases de alongâmetro para monitoramento das juntas diamantado

Base de alongâmetro
Junta
Crista Galeria El. 225,50m EL. 227,50 m
B8/ B9 BA-1 / BA-2 BA-3 –
B9/ B10 BA-4 / BA-5 BA-6 –
B10/ B11 BA-7 / BA-8 BA-9 –
B11/ B12 BA-10 / BA-11 – BA-12
B18/ B19 BA-13 / BA-14 – BA-15
B19/ B20 BA-16 / BA-17 BA-18 –
B20/ B21 BA-19 / BA-20 BA-21 –
u Figura 11
B21/ B22 BA-22 / BA-23 BA-24 – Perfuração de furo de alívio

78 | CONCRETO & Construções


com largura mínima de 0,82 m, fixada Na Barragem da Pedra foi proje- do. O objetivo da instrumentação se
por meio de dois conjuntos de per- tado um sistema de instrumentação, norteia na leitura de cinco elementos
fis chatos de aço inox AISI 304; um cujo objetivo principal é verificar as distintos, apresentados na Tabela 2.
intermediário, com 50 mm de largu- deformações da estrutura e acompa- A instrumentação se concentra
ra e 3 mm de espessura, fixado por nhar a evolução da expansão do con- principalmente nos blocos B10, B11,
meio de chumbadores de expansão, creto devido à reação álcali-agrega- B15, B19 e B20 (Tabela 3). Para
com fita de selagem de PVC; e outro
perimetral, com placas de 80 mm de
largura e 8 mm de espessura, assen-
tadas sobre um berço de argamas-
sa epoxídica e ancoradas a cada 20
cm, em ambos os lados da junta, por
meio de chumbadores de aço inox
envolvidos em resina. A estanqueida-
de total foi obtida comprimindo-se as
placas de aço contra uma gaxeta de
EPDM apropriada (Figura 15).

5. INSTRUMENTAÇÃO
A instrumentação tem por obje-
tivo fornecer informações sobre o
comportamento das estruturas, con-
tribuindo para o entendimento do
seu desempenho e servindo de gati-
lho para a tomada de ações preven-
tivas e emergenciais que garantam
sua segurança.

u Figura 12
Bases de alongâmetro na crista u Figura 13
da barragem Monitoramento das juntas da ombreira direita

CONCRETO & Construções | 79


u Figura 14
Monitoramento das juntas da ombreira esquerda

1. Manta de PVC flexível geocomposta (PVC + geomembrana


+ geotextil)
2. Primeira camada de suporte
3. Segunda camada de suporte
4. Perfil longitudinal de aço inox
5. Gaxeta
6. Camada de regularização
7. Chumbador com ancoragem química
8. Chumbador com ancoragem de impacto

u Figura 15
Seção transversal da impermeabilização da junta de expansão

80 | CONCRETO & Construções


os demais blocos foram instalados
marcos superficiais, medidores trior-
u Tabela 2 – Instrumentos instalados
togonais de junta e medidores de
vazão. Os instrumentos foram forne- Instrumento Parâmetros a serem avaliados
cidos e instalados pela Concremat Medidas das deformações verticais e sub-horizontais do concreto,
Extensômetros múltiplos
devido à expansão decorrente dos efeitos da reação álcali-agregado
Engenharia. de hastes
e deformações da fundação do vertedouro
O primeiro elemento corresponde
Deslocamentos relativos entre a crista da barragem
ao extensômetro múltiplo de haste, Pêndulo direto
e galeria de drenagem nas três direções
cujo mecanismo de funcionamento Marcos superficiais Deslocamentos verticais e horizontais da crista da barragem
Medidores de vazão Medidas das infiltrações de água através do concreto e fundação
Medidas dos deslocamentos relativos nas três direções,
Medidores triortogonais
nas juntas de contração e nas fissuras principais

consiste em medir deslocamentos comprimento superior a 2,0 m. Nos


transmitidos através de hastes rígi- trechos compreendidos entre as an-
das entre o ponto de ancoragem e coragens, o furo foi preenchido com
a cabeça de referência. No caso es- cascalho fino com granulometria en-
pecial da barragem da Pedra foram tre 2,0 a 5,0 mm. A cabeça de cada
u Figura 16 instalados 7 extensômetros. extensômetro foi fixada a uma base
Regularização da superfície Os extensômetros foram insta- solidária à estrutura de concreto.
lados em furos de sondagem rota- As Figuras 22 e 23 mostram alguns
tiva de 3”, após a sua limpeza por desses detalhes. Cada extensôme-
jateamento de água. Para a anco- tro permite a leitura dos desloca-
ragem das hastes dos extensôme- mentos entre o ponto de ancoragem
tros utilizou-se de calda de cimento e a cabeça de referência, ligados
(relação a/c = 0,6) de modo que o por hastes rígidas.
ponto de ancoragem da haste ficas- Outro instrumento utilizado foi o
se no meio do trecho injetado e com medidor triortogonal de junta, que
mede os deslocamentos em três di-
reções ortogonais, construídos em
aço inox e fixados convenientemen-
u Figura 17
Fixação dos perfis de inox te na estrutura. A fixação foi realiza-
da através de dois furos de 7,5 cm

u Figura 18 u Figura 19 u Figura 20


Vista de cima dos perfis Colocação da manta da base Vista de cima da manta

CONCRETO & Construções | 81


u Tabela 3 – Instrumentos de auscultação para a Barragem de Pedra

Blocos “chave”
Instrumento Total
B10 B11 B15 B19 B20
Pêndulo direto (PD) 1 1 1 1 1 5
Extensômetro múltiplo (EM) – 3 2 2 – 7
Medidor triortogonal (MT) 1 1 3 1 1 31
Marco superficial (MS) 1 1 1 1 1 12
Estação topográfica (ET) – – – – – 2
Medidor de vazão (MV) – 1 – 1 – 4
Total geral 61

u Figura 22 u Figura 23
u Figura 21 Detalhe das hastes do Detalhe da fixação da cabeça
Vista de baixo da manta extensômetro do extensômetro

de profundidade com 2,5 cm de diâ- das extremidades do vertedouro. los matemáticos, mas confirmou o
metro, preenchido com resina epóxi, Um teste de abertura e fechamen- padrão de ser maior na ombreira
onde foram instaladas as hastes da to das comportas, realizado após a esquerda.
base do medidor. conclusão dos cortes, não apresen- A instrumentação da barragem
tou nenhuma dificuldade com sua possibilitará o acompanhamento da
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS operação. expansão do concreto causada pela
A execução dos cortes de juntas O fechamento das juntas de ex- reação álcali-agregado (RAA), le-
de expansão mostrou-se eficiente pansão, medido durante a operação vantando dados que permitirão uma
para mitigar os efeitos da expansão dos cortes, foi menor do que o cal- previsão do seu comportamento a
do concreto sobre as comportas culado nas simulações dos mode- longo prazo.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] CAVALCANTI, A. J. C. T, JULIANI, M. A C., TRISTÃO, G., SILVEIRA, J. F. A. (2008) –“Evaluation of Alkali-Aggregate Reaction Expansion on Pedra Dam by Mathematical
Model”, 13th International. Conference on Alkali-Aggregate Reaction in Concrete, Trondheim.
[02] CAVALCANTI, A. J. C. T, SILVEIRA, J. F. A., JULIANI, M. A C., SILVA, P. N.,. (2011) –“Projeto de Reabilitação da Barragem da UHE Pedra”, XXVIII Seminário Nacional
de Grandes Barragens, Rio de janeiro.
[03] CAVALCANTI, A. J. C. T, TRISTÃO, G.., DOS SANTOS, R. T., DA SILVA, T. A. A.. (2011) –“Reabilitação da Barragem da UHE Pedra”, XXVIII Seminário Nacional de
Grandes Barragens, Rio de janeiro.
[04] CAVALCANTI, A. J. C. T, SILVA, P. N., DA SILVA, T. A. A., SOARES, R. C. . (2016) –“EXPANSION SLOT CUTTING TO COUNTERACT ALKALI AGREGGATE REACTION AT
PEDRA DAM”, 15th International. Conference on Alkali-Aggregate Reaction in Concrete, São Paulo.

82 | CONCRETO & Construções


u inspeção e manutenção

Reparos nas estruturas


da tomada d’água da UHE
Jaguari afetadas pela RAA
EDVALDO FABIO CARNEIRO – Engenheiro Civil | Supervisor da Divisão de Engenharia Civil
JULIO CESAR PINFARI – Engenheiro Civil | Gerente da Divisão de Engenharia Civil
TATIANA P. ARARIPE CAPPI – Engenheira Civil
CESP – Cia Energética de São Paulo

MAURO H. L.COVRE – Engenheiro Civil

1. INTRODUÇÃO túnel adutor com 5,0 m diâmetro e mado. Apresentam-se nas figuras

A
UHE Jaguari é uma usina 572,50 m de extensão, localizado na 1 e 2 uma vista das estruturas da To-
de geração pertencente a ombreira esquerda entre a barragem mada d’água e da ponte de acesso
CESP – Companhia Ener- de terra e o vertedouro de superfí- respectivamente.
gética de São Paulo, sendo dotada cie. Os equipamentos de adução da Em 2001, conforme registros nos
de duas unidades geradoras de tomada d’água foram especificados relatórios CESP [4][5], a reação álca-
13,8MW cada, com função de ge- e construídos para uma vazão to- li-agregado (RAA) foi confirmada na
rar energia e regularizar vazões do tal pelo conduto forçado de até 64 UHE Jaguari, através da análise pe-
Rio Jaguari, afluente do Rio Paraíba m³/s, para o nível d’água de mon- trográfica nas amostras retiradas das
do Sul. tante na cota 623,00m (Nível d’água estruturas de concreto da tomada
A Tomada d’água é constituída máximo útil). d’água.
de uma estrutura tipo torre, com O acesso à estrutura da to- Esse fenômeno deletério foi com-
63 m de altura, conduzindo a água mada d´água é feito através de provado pela a presença da sílica
armazenada no reservatório até a uma passarela metálica, apoiada (SiO 2) do agregado utilizado na pro-
Casa de Força, através de um con- em dois pilares e blocos de fun- dução do concreto, sendo altamente
duto forçado, constituído de um dação, ambos em concreto ar- reativo com o álcali do cimento (Na 2O
e K2O), causando uma expansão nas
estruturas e tendo, como conse-
quência, o surgimento de fissuras
nelas.
Ao longo dos anos, desde o apa-
recimento da RAA nas estruturas, a
CESP vem monitorando esse fenô-
meno, através das instalações de
instrumentos adicionais, de projetos
Figura 1 Figura 2 de pesquisas e desenvolvimento, de
manutenções preventivas (injeções
u Figuras 1 e 2 e reparos), tendo como objetivo in-
Vista das estruturas de concreto da tomada d'água e da passarela metálica
crementar a durabilidade e garantir a

CONCRETO & Construções | 83


u Figura 3
UHE Jaguari – vista e cortes da tomada d'água

operacionalidade da tomada d’água. paredes internas da galeria de venti- Com o objetivo de melhorar as
Este artigo apresenta os procedi- lação da tomada d’água. condições de acesso à galeria, mer-
mentos, metodologias e resultados A estrutura da galeria de ventila- gulhadores realizaram os primeiros
obtidos após a realização dos repa- ção possui dimensões externas de serviços, através da calafetação das
ros nas juntas e fissuras nas estrutu- 1,25m x 3,20m, com comprimento juntas e eventuais cavidades na pa-
ras de apoio (blocos de fundação e estimado em 20,00 m e espessura rede externa da estrutura da galeria
pilares) da ponte metálica e na gale- de parede - face para o reservató- de ventilação, com aplicação de ar-
ria de ventilação da tomada d’água. rio de 0,25m. Nas figuras 3, apre- gamassa epóxi. Entretanto, o resul-
sentam-se uma elevação da tomada tado da aplicação não atendeu o
2. MANUTENÇÕES PREVENTIVAS d’água e da galeria de ventilação objetivo de reduzir significativamente
– METODOLOGIA E MATERIAIS respectivamente. as infiltrações, em função da pressão
APLICADOS

2.1 Estrutura interna


da tomada d’água

Em 2010, ocorreu uma paralisa-


ção geral da usina, para a moder-
nização e manutenções dos equi-
pamentos eletromecânicos. Foram
instaladas as comportas tipos “stop’s Figura 4 Figura 5
logs” de emergência e de montante,
possibilitando realizar uma inspeção u Figuras 4 e 5
no conduto do túnel de adução e Infiltrações pelas fissuras situadas na parede interna da galeria
de ventilação
programar o serviço de reparo nas

84 | CONCRETO & Construções


9. O trabalho de reinjeção das áre-
as tratadas foi constante, motivado
pela pressão e quantidade de água
percolada.
O serviço foi executado pela
CESP durante 22 dias na Usina.
Nesse período de trabalho foram
aplicadas as quantidades indicadas

Figura 6 Figura 7
na tabela 1.

u Figuras 6 e 7 2.2 Estruturas dos pilares


Limpeza da área a ser reparada, com utilização de cimento de pega rápida, e blocos de fundação da
para inicialmente estancar a infiltração da água do reservatório pela lado passarela metálica
interno da galeria

No segundo semestre de 2014


da água do reservatório para o lado da, para calafetação, e de produtos foi realizada uma inspeção visual de
interno da galeria. para injeção, tipo poliuretano hidroa- rotina nas estruturas de concreto
Nas ilustrações 4 e 5 apresen- tivado e resina acrílica. da UHE Jaguari, conforme registros
tam as infiltrações acentuadas, para Havia, também, a necessidade de no relatório CESP [2],Na ocasião a
dentro das estrutura da galeria de eliminar as infiltrações que afetavam cota do reservatório encontrava-se
ventilação. os trabalhos da equipe de manuten- em 609,70m, muito abaixo dos re-
Com o esgotamento do túnel ção mecânica, na cota 608,00m. As gistrados nos últimos anos, devido
adutor foram iniciados os reparos atividades para estancar as infiltra- a um período de estiagem na região
nas juntas, fissuras e cavidades que ções de água seguiram com os pro- Sudeste, deixando exposto os blo-
apresentavam elevadas percolações cedimentos de furação cuidadosa do cos de fundação e parte dos pila-
de água próximo à cota 615 m. Des- concreto, em função da espessura res da passarela, situados na cota
se modo, foi estancado esse vaza- da parede, limpeza da área a ser aproximada 612,00m. Na figura 10
mento na junta próxima à laje, no tér- reparada, com hidrojato e escova apresenta-se um desenho esque-
mino do primeiro lance das escadas. de aço, calafetação das juntas com mático das dimensões dos blocos
Para se conseguir resultados sa- cimento de pega rápida e injeções e pilares. A figura 11 apresenta a
tisfatórios no interior da estrutura, com os produtos mencionados aci- ilustração da passarela metálica e
os serviços realizados associaram o ma. As ilustrações dos reparos são pilares sobre os blocos de funda-
emprego de cimentos de pega rápi- apresentadas nas figuras 6, 7, 8 e ção. Na ocasião verificou-se que
os blocos de apoio encontravam-se
muito fissurados.

u Tabela 1 – Quantidades e produtos


usados nos serviços

Produto Quantidade
Poliuretano
40,0 litros
hidroativado
Resina acrílica 54,5 Kg
Figura 8 Figura 9
Cimento de
135,0 Kg
paga rápida
u Figuras 8 e 9
Instalação de bicos e injeção com poliuretano e resina acrílica Bicos de injeção 168 unidades

CONCRETO & Construções | 85


u Figura 10
Dimensões dos blocos de fundação e pilares

Na visita técnica, realizada pe- ras mais acentuadas, com abertura bloco e estabelecendo o cronograma
los técnicos da CESP, verificou-se entre 1,0 mm a 4,0 mm. Verificaram- das atividades para execução dos
a necessidade de recuperação dos -se também pontos de segregação serviços.
blocos e pilares, que apresentavam do agregado na base dos pilares e, Decidiu-se por injetar resina epó-
fissuração acentuada com aberturas na superfície do bloco de fundação, xi, pois, apesar dos blocos e pilares
acima de 1 mm, o que comprometia processo de lixiviação da argamassa apresentarem fissuras decorrentes
a resistência, elasticidade e durabili- de revestimento. do RAA, necessitavam de uma re-
dade do concreto. Foi realizado pela equipe CESP o cuperação que possibilitasse resta-
Nas figuras 12 a 15 apresentam- mapeamento das fissuras, definindo belecer a monoliticidade e integrida-
-se os blocos de fundação e pilares a metodologia para recuperação do de do conjunto estrutural. A resina
da passarela metálica, de acesso à
tomada d’água, destacando as fissu-

Figura 12 Figura 13

u Figuras 12 e 13
u Figura 11 Vista dos blocos de fundação e pilares da passarela metálica, de acesso
Vista da passarela, apoiada sobre à tomada d'água, destacando as fissuras mais acentuadas, com abertura
pilares e blocos superior a 1,0 mm

86 | CONCRETO & Construções


Figura 16 Figura 17
u Figura 14
Vista da base de apoio dos pilares u Figuras 16 e 17
da passarela metálica, de acesso Furos calafetados, introdução dos bicos injetores e realização da injeção
à tomada d'água, destacando as utilizando-se resina epóxi
fissuras mais acentuadas, com
abertura superior a 1,0mm.
Superfícies do concreto lixiviado ra. Após o jateamento, iniciou-se o da manta líquida altamente flexível
e presença localizada de processo de calafetação das trincas, como agente impermeabilizante so-
segregação com adesivo epoxi impermeável e bre os blocos e parte dos pilares,
aderente ao concreto. evitando-se, assim, o contato da es-
possui alta resistência à compressão e
Para inserir os bicos de injeção, trutura de concreto recuperada com
à tração, colando a estrutura. Para via-
foram feitos furos na diagonal da a água do reservatório e de chuvas.
bilizar as injeções com resina, foi ne-
fissura (45º), a cada 15 cm no má- Esta manta foi escolhida, pois a RAA
cessário calafetar as trincas com ade-
ximo, de tal forma que houvesse o pode ainda estar ativa, provocando
sivo à base de epóxi bicomponente.
trespasse entre fissuras numa pro- movimentações na estrutura, sendo
A recuperação do bloco e pilares
fundidade de 12 a 30 cm. Após a a manta resistente a aberturas de
teve início no primeiro semestre de
furação, os bicos injetores foram in- até 1,8 mm de espessura. A manta
2015, conforme registro no relatório
seridos (figura 16). Com a estrutura líquida foi aplicada em duas demãos
CESP [1], com o jateamento de água
limpa e seca, foram iniciadas as inje- (figura 18).
para limpeza da superfície. Esta lim-
ções com resina epóxi de baixa vis- Nesse período de trabalho foram
peza visa deixar a estrutura livre de
cosidade (figura 17). Após a aplica- aplicadas as quantidades indicada
qualquer partícula que venha a impe-
ção da resina, os bicos para injeção na tabela 2.
dir a correta recuperação da estrutu-
foram retirados.
Finalmente, como a presença de 3. RESULTADOS
água é o fator que desencadeia as Os serviços de reparos executados
reações álcali-agregado, foi utiliza-

u Tabela 2 – Quantidades aplicadas


dos produtos utilizados nos serviços

Produto Quantidade
Adesivo estrutural
8,00 Kg
a base de epóxi
u Figura 15 Resina de epóxi
Vista detalhada dos blocos de 23,43 Kg
para injeção
fundação, medição da abertura u Figura 18
Manta líquida
de fissura da ordem de 2,0 mm. 72,00 kg Vista do conjunto blocos e pilares
flexível de acrilatos
Observarmos o gel resultante do impermeabilizados após realizado
RAA sobre a fissura Bicos de injeção 120 und o serviço de injeção

CONCRETO & Construções | 87


nas paredes da galeria de ventilação para reduzir as infiltrações. d’água, para monitoramento dos
da estrutura da tomada d’água não As injeções de resinas epóxi nas efeitos da RAA, instrumentos adicio-
conseguiram uma vedação plena das fissuras dos blocos de fundação nais de auscultação, como extensô-
infiltrações, mas a redução das infil- foram adotas na expectativa de re- metro de haste, medidores triortogo-
trações foi significativa, a ponto do constituição da monoliticidade das nais, pêndulo invertido e aquisição
resultado alcançado ser considerado estruturas. remota dos deslocamentos relati-
satisfatório. Com as manutenções realizadas, vos entre as guias de descida dos
haverá um incremento na durabilida- “stop-logs”.
4. CONCLUSÕES de das estruturas reparadas, porém Apesar de a estrutura conviver com
Podemos afirmar que os mate- ainda é certa presença da RAA. o fenômeno da reação, a RAA não está
riais, equipamentos utilizados e a Além das manutenções preven- atualmente interferindo na operaciona-
técnica adotada no processo de re- tivas e para fins de pesquisa, fo- lidade de geração e na manutenção
paros nas estruturas contribuíram ram instalados na crista da tomada dos órgãos de descarga.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] CESP – GEC/017/2015 - Relatório Técnico – “UHE Jaguari - Recuperação das Estruturas de apoio da passarela de acesso à Tomada D’água”.
[2] CESP – GEC/037/14 - Relatório de Inspeção – “Inspeção visual na Tomada D’água Da UHE Jaguarí e vertedouro da barragem de Paraitinga - Outubro – 2014”.
[3] CESP – 299/2001 – Relatório Técnico - “Verificação de reações expansivas nos empreendimentos da unidade de produção do Paraíba”.
[4] DESEK, Relatório de visita técnica às usinas hidrelétricas Jaguarí, Paraibuna e barragem Paraitinga, Novembro, 2003.
[5] CARNEIRO, E. F.; PINFARÍ, J. C.; CAPPI, T.P.A. Maintenance and Repairs on the Water Intake of Jaguari Hydropowerplant affected by AAR, 15º ICAAR,
SÃO PAULO, 2016.

COMENTÁRIOS E EXEMPLOS DE
APLICAÇÃO DA ABNT NBR 6118:2014
A publicação traz comentários e exemplos de aplicação da nova
norma brasileira para projetos de estruturas de concreto - ABNT
NBR 6118:2014, objetivando esclarecer os conceitos e exigências
normativas e, assim, facilitar seu uso pelos escritórios de projeto.

Fruto do trabalho do Comitê Técnico CT 301, comitê formado por


especialistas do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON) e da
Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural
(ABECE), para normalizar o Concreto Estrutural, a obra é voltada
para engenheiros civis, arquitetos e tecnologistas.

DADOS TÉCNICOS
ISBN 9788598576244
Formato: 18,6 cm x 23,3 cm
Páginas: 484
AQUISIÇÃO:
Acabamento: Capa dura
www.ibracon.org.br
Ano da publicação: 2015
(Loja Virtual)

Patrocínio

88 | CONCRETO & Construções


u inspeção e manutenção

RAA em estrutura de
concreto armado de uma
edificação residencial
ROMILDO ALVES BERENGUER – Graduando de Engenharia Civil • LAUZANNE BARBOSA CORDEIRO – Engenheira Civil
Universidade Católica de Pernambuco

TIBÉRIO ANDRADE – Professor Doutorando PAULO HELENE – Professor Doutor ELIANA CRISTINA
Universidade Federal de Pernambuco PhD – Engenharia BARRETO MONTEIRO – Professora Doutora
Universidade Católica de Pernambuco
Universidade de Pernambuco

1. INTRODUÇÃO 2. ESTUDO DE CASO mesoestrutura formada basicamente

E
m outubro de 2004, após o A presente pesquisa abordará ex- por concreto armado, sendo apoiado
colapso do edifício residen- clusivamente as análises feitas na sob fundação direta (superficial), ou seja,
cial de concreto armado Areia fundação do edifício estudado, que possui sapatas que estão apoiadas no
Branca, localizado na região metro- apresentou reação álcali-agregado e solo, sobre uma camada de 5 cm con-
politana de Recife, surgiu uma grande passou por um processo de recupera- creto magro. O concreto estrutural es-
preocupação em relação à qualidade ção estrutural. A pesquisa contou com pecificado em projeto foi de 25Mpa.
construtiva e o estado de conserva- a execução das seguintes etapas:
ção das edificações residenciais e co- u Relato dos ensaios realizados na 2.2 Histórico de RAA na estrutura
merciais da região. Em junho de 2006, mesoestrutura do edifício, tais
foi aprovada a Lei de inspeção (Lei como: levantamento das fissuras, A construção do edifício foi iniciada
nº 13.032), visando evitar que outras da profundidade de carbonatação, em 1998 e finalizada em 2002. Apreen-
situações desse tipo ocorressem. Após do teor de íons cloreto; sivos com o desabamento do edifício
implementação desta lei, as edificações u Relato dos serviços de inspeção vi- Areia Branca, em 2004, os moradores
começaram a passar por mais inspe- sual nas faces das sapatas visuali- do edifício analisado contrataram uma
ções e descobriu-se que várias estrutu- zadas após escavação, com a iden- empresa para inspecionar o imóvel em
ras apresentavam diferentes casos de tificação e classificação das fissuras 2005, em razão de algumas de suas sa-
manifestações patológicas, dentre elas existentes; patas apresentarem fissuras. Essas sa-
a reação álcali-agregado (RAA). u Ensaios de compressão nos teste- patas foram recuperadas com a injeção
A RAA é uma reação lenta, que munhos extraídos das sapatas; de resina epóxi rígida. Nesta primeira
100 ocorre em estruturas de concreto, for- u Descrição e dos procedimentos de intervenção, a empresa contratada para
mada pela reação entre alguns minerais recuperação estrutural. recuperação não fez os ensaios neces-
95
que compõe os agregados e hidróxidos sários para o diagnóstico sobre as pos-
75 alcalinos, oriundos do cimento. Este 2.1 Características da estrutura síveis causas da fissuração das sapatas.
tipo de patologia compromete as ca- Em 2014, após 9 anos da primeira
racterísticas mecânicas do concreto, O edifício residencial multifamiliar vistoria, foram realizadas visitas de profis-
25
podendo haver perda de resistência está localizado em Jaboatão dos Guara- sionais da empresa especializada , com o
5 à tração e à compressão (MEHTA e rapes (PE), situado no nordeste do Brasil intuito de investigar o estado de conser-
MONTEIRO, 2014). e foi construído há 12 anos. Possui sua vação da edificação como um todo e,
0

CONCRETO & Construções | 89


u Figura 1 u Figura 2 u Figura 3
Sapata SP (10+11) com fissuras Sapata (10+11) com fissuras Croqui esquemático com a
marcadas com giz marcadas com giz na sua face distribuição dos pilares e das
lateral sapatas do edifício
caso necessário, estudar as alternativas
consideradas adequadas para possíveis sapatas que compõe a fundação, a fim mar e sofre grande influência dos agen-
intervenções. Foram analisados os pilares, de identificar possíveis manifestações pa- tes agressivos externos, como o gás
vigas, lajes, por meio de inspeção visual, e tológicas, para posterior correção. Assim, carbônico e a maresia. O croqui apre-
feitos ensaios de profundidade de carbo- a empresa contratada para realizar o lau- sentado na Figura 4 representa a dis-
natação e de teor de cloretos. Além disso, do técnico de vistoria predial, executou tribuição estrutural do prédio e indica
as sapatas passaram por inspeções vi- os seguintes ensaios nas estruturas: onde foram realizadas as coletas de
suais e por ensaio de resistência à com- u Inspeção visual; materiais para a realização dos res-
pressão, com extração de testemunhos e u Avaliação da profundidade de pectivos ensaios. A cor verde repre-
ensaios laboratoriais petrográficos. carbonatação; senta o ensaio de carbonatação e a
As sapatas inspecionadas e recupe- u Determinação do teor de íons cloreto; azul o ensaio de cloretos, que foi rea-
radas no passado apresentavam muitas u Resistência à compressão, através lizado no Pilar 17, pois este é um dos
trincas e fissuras (Figuras 1 e 2), ou seja, da extração de testemunhos. mais expostos às intempéries vindas
voltaram a ter o mesmo quadro de ma- Os ensaios de profundidade de car- do ambiente de praia.
nifestação patológica. Desta forma, a bonatação e teor de íons cloreto foram O ensaio para medir a profundidade
empresa especializada solicitou o ensaio necessários para o método de avalia- de carbonatação (aspersão de solu-
de resistência à compressão dessas ção do edifício, pois este é localizado ção alcoólica de fenolftaleína, que indi-
sapatas e, após estudo do histórico da numa área urbana a 100 metros do ca se houve variação do pH natural do
fundação, dos fatores ambientais e das
características do edifício e diante dos
ensaios realizados, chegou-se à conclu-
são de que a fundação apresentava o
quadro de manifestação patológica co-
nhecido como reação álcali-agregado.
Ficou decidido, devido ao alto custo
do serviço, que a recuperação estrutu-
ral seria iniciada nas sapatas que já ti-
nham sido recuperadas, corresponden-
tes aos Pilares 10, 11 e 15 (destaque
em vermelho na Figura 3) e, em segui-
da, seria dada a sequência à recupera-
ção das outras sapatas.

2.3 Ensaios gerais realizados

Toda a estrutura do edifício passou u Figura 4


Croqui esquemático das áreas dos ensaios
por uma inspeção geral, não somente as

90 | CONCRETO & Construções


u Figura 5 u Figura 6 u Figura 7
Detalhe do trecho do pilar 7 onde Detalhe do ensaio para avaliação Furo realizado no pilar para coleta
foi realizado ensaio para avaliação da profundidade de carbonatação de amostra para a determinação
da profundidade de carbonatação do teor de cloretos

concreto), usado para análise da pas- O ensaio de perfil de cloretos deter- de concreto armado em condições de
sivação das armaduras, foi realizado mina, em porcentagem, a concentração exposição não severas (seco ou pro-
conforme as recomendações da RILEM de íons cloreto por massa de cimento. O tegido de umidade nas condições de
(CPC-18 – Measurement of hardened ensaio foi realizado conforme o método serviço da estrutura). As regiões mais
concrete carbonation depth, 1988). da ASTM C 1152 – Standard Method profundas, próximas à armadura dos
Este ensaio foi executado em 5 pilares For Acid-Soluble Chloride in Mortar and dois pilares, apresentam menos da me-
de concreto armado presentes no pavi- Concrete, (2012) – e sua execução está tade da concentração de íons cloreto
mento de garagem térrea (Figuras 5 e 6). apresentada na Figura 7. totais em relação à massa de cimento
Os resultados são apresentados Apesar dos valores encontrados recomendados pela ABNT NBR 12655
na Tabela 1 e confirmam que todos os (Tabela 2) indicarem maiores concen- (2015). Os resultados obtidos indicam
pilares se encontram passivados (pro- trações de íons cloreto na região mais que para os elementos analisados por
tegidos) no tocante à ação do gás car- interna quando comparada com a mais amostragem, P13 e P17, a armadura
bônico, tendo em vista que o avanço externa, os dois casos estudados têm encontra-se passivada (protegida) no
da profundidade de carbonatação foi concentrações significantemente abai- tocante ao ataque por cloretos.
menor, em todos os casos estudados, xo do limite máximo encontrado na Para o ensaio de resistência à com-
que o recobrimento da armadura. Vale literatura e recomendado por norma pressão, foram extraídos 6 testemunhos
salientar que a quase totalidade das ABNT NBR 12655 (2015) – Concreto por amostragem das sapatas SP 10+11
amostras estudadas apresentou pro- de cimento Portland – Preparo, con- e SP 15 e mais 6 das sapatas SP 14, 19,
fundidade de carbonatação nula. trole e recebimento, para estruturas 20, obedecendo a norma ABNT NBR
7680 (2007) - Concreto: Extração, preparo
e ensaio de testemunhos de concreto. Os
u Tabela 1 – Profundidade de carbonatação do concreto
testemunhos também passaram por uma
análise visual para avaliação do concreto
Recobrimento Profundidade de
Orientação da (Figuras 8 e 9). Os resultados obtidos são
Peça ensaiada Local da armadura carbonatação
face
(mm) (mm) apresentados na Tabela 3 comprovam
Pilar 7 Térreo Norte 23 11 que a resistência à compressão obtida no
Pilar 7 Térreo Leste 24 10 ensaio é muito superior ao Fck indicado
Pilar 8 Térreo Oeste 30 0 no projeto estrutural do edifício (25 Mpa).
Pilar 8 Térreo Norte 40 0
Pilar 18 Térreo Leste 35 0 2.4 Procedimento de recuperação
Pilar 18 Térreo Sul 25 0 das sapatas
Pilar 20 Térreo Norte 35 0
Pilar 20 Térreo Oeste 30 0 O procedimento de recupera-
Pilar 22 Térreo Oeste 15 0 ção das sapatas seguiu as etapas

Pilar 22 Térreo Sul 20 0


constantes na Figura 10 e está descrito
nos subitens a seguir.

CONCRETO & Construções | 91


u Tabela 2 – Concentração de íons cloreto em amostras extraídas dos pilares

% Cloretos % Cloretos
Amostra (face) Localização Profundidade (massa de (massa de
concreto) cimento)
Pilar 17 (leste) Térreo 0-5 mm 0,0069 0,0483
Pilar 17 (leste) Térreo 5-15 mm 0,0074 0,0518
Pilar 17 (leste) Térreo 15-25 mm 0,0138 0,0966
Pilar 13 (Sul) Pilotis 0-5 mm 0,008 0,056
u Figura 8 Pilar 13 (Sul) Pilotis 5-15 mm 0,0056 0,0392
Corpos de prova obtidos do Pilar 13 (Sul) Pilotis 15-25 mm 0,0083 0,0581
edifício em estudo de caso
ção das trincas e fissuras.
2.4.1 Escavação das sapatas Após as faces das sapatas estarem u Tabela 3 – Resumo das
limpas, foram retirados corpos-de-pro- resistências à compressão
A escavação dos blocos seguiu a NR va, com o auxílio de um equipamento
Resistência à
18 (2013) - Condições e Meio Ambiente denominado serra-copo, para que fos-
Nº compressão Sapata
de Trabalho na Indústria da Construção, se verificado se as fissuras foram cau- (Mpa)
visando à segurança do ambiente de sadas pela RAA, bem como analisar se
1 33,1 SP15
trabalho e dos funcionários envolvidos a resistência da estrutura estava com-
2 31,4 SP15
no serviço. A Figura 11 ilustra o momen- patível com a estipulada em projeto.
to em que as sapatas estavam passan- Também foi feita a demarcação das 3 32,3 SP15
do pelo processo de escavação. fissuras (Figuras 12 e 13) para poste- 4 40,7 SP(10+11)
rior análise das respectivas aberturas e 5 38 SP(10+11)
2.4.2 Limpeza das faces da sapata e orientação delas, cujos dados encon- 6 43 SP(10+11)
extração de corpos de prova tram-se na, sendo criada a Tabela 4,
7 40,5 SP14
para análise laboratorial para as Sapatas SP (10+11) e SP 15.
8 39,9 SP14
9 42,9 SP19
Depois de escavadas as faces das 2.4.3 Sopragem das trincas e fissuras
sapatas, foi realizado o procedimento 10 45 SP19
de limpeza com a lavagem da estrutu- A etapa consistiu em retirar da área 11 34,3 SP20
ra, utilizando um equipamento de jato que recebeu anteriormente o epóxi 12 34,7 SP20
de alta pressão para melhor visualiza- todo material pulverulento, proveniente

u Figura 9
Aspecto visual do concreto u Figura 10
do testemunho Fluxograma das etapas de recuperação das sapatas

92 | CONCRETO & Construções


é injetada a pasta de microcimento à
base de resina epóxi. Porém, existiam
trincas que não possuíam abertura igual
ou maior que 10 mm. Nelas foi realiza-
SP 19 do o furo utilizando uma furadeira, com
SP 14
profundidade de aproximadamente 100
mm, para que os purgadores ficassem
devidamente fixados.
Depois dos procedimentos de
u Figura 11 furo, sopragem e limpeza das trincas u Figura 13
Serviço de escavação das sapatas e fissuras, foram colocados os purga- Fissura na sapata com abertura
dores, que ficaram espaçados aproxi- de 30 mm
dos furos realizados nas trincas e fis- madamente 250 mm uns dos outros
suras. É importante lembrar que a reti- e penetraram 90 mm (Figura 14). A epóxi, por ser muito fluido, escorreria
rada desse material deve ser feita com parte do purgador introduzida ficou no na face das sapatas, não atendendo
a injeção de ar comprimido e não com mesmo sentido da trinca e a parte que à função de fechar as fendas. A mis-
água, pois caso seja feita com água, ficou exposta tinha o intuito de receber tura foi aplicada modelando o material
não haverá aderência suficiente entre o material a ser injetado, a pasta de sobre as fendas e entorno dos pur-
a superfície afetada e o epóxi. microcimento. gadores, preenchendo e fechando o
restante dos espaços (Figura 15).
2.4.4 Furações das trincas para 2.4.5 Colmatação das trincas
colocação de purgadores e fissuras 2.4.6 Lavagem das trincas e fissuras

Purgadores são mangueiras plásti- Para recuperar as trincas que pos- Passadas 24 horas após o serviço de
cas transparentes com diâmetro de 10 suíam abertura maior que 10 mm, foi fechamento externo das trincas e fissuras
mm, que são posicionadas ao longo preferível utilizar o graute, com as ca- foi realizada a lavagem interna dessas,
das trincas e fissuras, através dos quais racterísticas de ser isentos de retra- com a injeção de água sobre pressão
ção, ter rápido ganho de resistência para remoção de possíveis detritos.
e liberação para o uso, foi utilizado a
quantidade de água que seria suficien- 2.4.7 Injeção de pasta de microcimento
te para deixar a argamassa trabalhável, nas trincas e fissuras
visto que o custo do epóxi sairia muito
elevado para a recuperação das sapa- O procedimento de injeção é inicia-
tas do condomínio. do nas camadas de baixo, fazendo com
Já, para a colmatação superficial,
que evita a saída do material inserido
no interior da estrutura, foi utilizado
u Figura 12
Mapeamento das trincas e fissuras uma mistura de epóxi e caulim, pois o

u Tabela 4 – Quantidades de fissuras encontradas inicialmente

Quantidade de Menor abertura Maior abertura


Sapata
fissuras encontradas encontrada encontrada
SP (10+11) 45 0,6 mm 35 mm
u Figura 14
SP 15 24 0,5 mm 3,5 mm Purgadores na sapata

CONCRETO & Construções | 93


u Figura 15 u Figura 16 u Figura 17
Colmatação das trincas e fissuras Malha de aço para encapsulamento Sapata concretada
da sapata

que o ar seja expulso nos purgadores possíveis manifestações patológicas, 30 minutos antes da concretagem;
das camadas superiores, garantindo, como corrosão das armaduras ou no- u Concretagem das sapatas (Figura 17).
assim, o máximo de preenchimento dos vas expansões. As vantagens desse método esco-
espaços vazios no interior das trincas. lhido foram:
Quando é observado que o excesso 2.4.8 Encapsulamento das sapatas u Restringir ao máximo a expansão;
do microcimento está esborrando nos u Boa capacidade para impedimento
purgadores da camada superior, estes Decidiu-se que o reforço das sa- de passagem de água;
são fechados com arame 18 e, dessa patas seria dado por encapsulamento, u Maior durabilidade do reforço
maneira, com a pressão do material conforme projeto estrutural fornecido estrutural.
que está sendo injetado na estrutura, por empresa especializada no ramo. As
os demais espaços vazios passam a etapas do reforço estrutural seguiram 3 CONCLUSÕES
ser preenchidos. O procedimento se as seguintes fases: Através das vistorias e histórico da
repete até que todos os purgadores es- u Furação e apicoamento da sapata edificação em análise foi constatado o
tejam fechados. de concreto. Os furos foram execu- quadro da reação álcali-agregado nas
Após 5 dias, os purgadores são tados com diâmetro de 12,5 mm, sapatas do edifício.
cortados rente a face da sapata. Não espaçados a cada 15 cm, e a su- O serviço de recuperação foi incom-
se pode assegurar que todas as trin- perfície da sapata foi arranhada e pleto, pois, ao final do encapsulamento
cas foram totalmente preenchidas pela apicoada; das sapatas, estas não foram imperme-
pasta de microcimento, pois, apesar u Colocação das barras e tela de aço. abilizadas, o que pode facilitar a pene-
de todos os cuidados tomados, ao As barras de aço com 12,5 mm de tração de agentes externos agressivos
longo dos anos foram depositadas diâmetro foram inseridas cerca de e umidade.
quantidades de areia ou outro mate- 30 cm nos furos feitos; foi colocada O método descrito neste trabalho é o
rial, que, possivelmente, se solidificou uma tela soldada Q503 sobre a su- mais utilizado e conhecido até o presente
na face interna das trincas e fissuras. perfície tronco piramidal com gram- momento para recuperação de reação ál-
Mesmo sabendo que a situação de pos no concreto, conforme ilustrado cali-agregado, porém ele não é totalmen-
transmissão de esforços não será total- na Figura 16; te eficaz. A prova disso, é que algumas
mente garantida, é necessário que se u Foi realizada uma aplicação do ade- sapatas que já haviam sido recuperadas
preencha ao máximo as trincas e fissu- sivo estrutural à base de resina nas anteriormente mas, após alguns anos,
ras para precaver a estrutura quanto a superfícies de união do concreto, voltaram a apresentar as fissuras.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ASTM C 1152/2012: Standard test method for acid-soluble chloride in mortar and concrete. Philadelphia, 2012.
[2] NBR 12655/2015: Concreto de cimento Portland – Preparo, controle e recebimento. Rio de Janeiro, 2015.
[3] NBR 7680/2007: Concreto: Extração, preparo e ensaio de testemunhos de concreto. Rio de Janeiro, 2007.
[4] MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: estrutura, propriedades e materiais. São Paulo: Pini, 2014
[5] RILEM RECOMMENDATIONS. CPC-18. Measurement of hardened concrete carbonation depth. 1988.
[6] NR 18/2013: Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção. Rio de Janeiro, 2013.

94 | CONCRETO & Construções


CONCRETO & Construções | 95
u acontece nas regionais

58º Congresso Brasileiro do Concreto


acontece em outubro
O Instituto Brasileiro do Concreto –
IBRACON promove, de 11 a 14
de outubro, em Belo Horizonte, o 58º
we know”) e Kamal
Khayat
do
(professor
Departamento
Congresso Brasileiro do Concreto, fó- de Engenharia Civil
rum nacional de divulgação e debates da Universidade de
sobre a tecnologia do concreto e seus Ciência e Tecnologia
sistemas construtivos. do Missouri);
O evento objetiva divulgar as pesqui- u II Seminário sobre
sas científicas, tecnológicas e as inova- obras emblemáticas,
ções sobre o concreto e as estruturas no qual engenheiros A cada edição do Congresso, realiza-
de concreto, em termos de materiais e apresentarão os desafios de projeto -se a Feira Brasileira das Construções
suas propriedades, gestão e normaliza- e execução do Museu da Imagem e em Concreto - Feibracon, espaço de
ção, análise e projeto estrutural, méto- do Som, Museu do Amanhã eTea- exposição para os produtos e serviços
dos e sistemas construtivos, controle tro Digital, entre outras obras; das empresas da cadeia produtiva do
tecnológico, ensaios destrutivos e não u I Simpósio sobre ensaios não des- concreto. Adicionalmente, as empresas
destrutivos, e sustentabilidade. trutivos para avaliação de estruturas patrocinadoras do evento têm a chan-
Em média, serão apresentados apro- de concreto; ce de apresentar palestras técnico-
ximadamente 600 trabalhos científicos u I Seminário sobre ensino de Enge- -comerciais no Seminário das Novas
por pesquisadores de universidades, nharia Civil, que vai debater a qua- Tecnologias, que também compõe a
institutos de pesquisa e centros de de- lidade e atualidade do ensino de programação.
senvolvimento e inovação de empre- engenharia civil no país, com vistas Por fim, serão também oferecidos os
sas, nacionais e estrangeiros. a gerar propostas de projetos de cursos “Projeto de lajes em concreto
Os destaques da programação são os mudança da legislação que rege armado e protendido”, “Ensaios destru-
palestrantes internacionais: o pesqui- os currículos de graduação e pós- tivos e não destrutivos para avaliação
sador Donald Macphee (Universidade -graduação no Brasil; de estruturas de concreto” e “Estrutu-
de Aberdeen, Escócia) vai abordar a u I Seminário sobre melhores práti- ras pré-fabricados de concreto”.
físico-química das adições no concre- cas na execução de estruturas de O Congresso Brasileiro do Concreto
to; Hugo Corres Peiretti (Universidade concreto. é aberto aos profissionais em geral
Politécnica de Madri) vai destacar o pa- Concursos técnicos entre estudantes do setor construtivo, tecnologistas de
pel do concreto para a construção de de Engenharia Civil, Arquitetura e Tec- concreto, projetistas de estruturas,
um mundo mais sustentável; e Robert nologia vão ter lugar na Arena das Com- professores e estudantes de Enge-
Stark (Instituto Americano do Concreto, petições. O objetivo desses concursos nharia Civil, Arquitetura e Tecnologia,
Estados Unidos) apresentará detalhes é fazer o estudante aplicar o conheci- profissionais técnicos de construtoras,
de projeto de edifícios altos no México. mento adquirido nas aulas para confec- empresas de energia, fabricantes de
Vão integrar o evento: ção de uma bola resistente de concreto equipamentos e materiais para cons-
u III Seminário sobre pesquisas e (Concrebol), um pórtico de concreto ca- trução, laboratórios de controle tecno-
obras em concreto autoadensá- paz de resistir aos impactos dinâmicos lógico, órgãos governamentais e asso-
vel, que contará com palestras dos (Aparato de Proteção do Ovo), um cor- ciações técnicas.
pesquisadores norte-americanos po de prova cúbico colorido (Concreto Nas últimas edições, o evento con-
Joseph Daczko (gerente de produto colorido de alta resistência) e um projeto tou com a participação de cerca de
da Basf e autor do livro “Self Con- arquitetônico e estrutural de uma passa- 1000 inscritos.
solidating Concrete: Applying what rela de concreto (Ousadia). Mais informações: www.ibracon.org.br .

96 | CONCRETO & Construções


Concursos estudantis na Regional de Tocantins
D urante a VI Jornada do Curso
de Engenharia Civil do Centro
Universitário Luterano de Palmas
tições estudantis Con-
crebol, Cocar e Ponte
de Macarrão.
(Ceulp), ocorrida de 16 a 19 de maio, Os concursos regionais
com o objetivo de proporcionar aos Concrebol e Cocar tive-
estudantes e profissionais atuali- ram o intuito de capa-
zação do conhecimento técnico e citar os alunos para as
científico, foram realizadas compe- competições nacionais,
realizadas pelo Instituto
Brasileiro do Concre-
u Concrebol
to (IBRACON), durante as edições do pela PINI, palestrou na VI Jornada so-

1º lugar EQUIPE CEULP Congresso Brasileiro do Concreto. O bre o tema “Tecnologia do concreto
André Soares, Eduarda Suelen, Concrebol demanda do estudante co- autoadensáavel”.
João Matheus, Kaio Vilela, e nhecimento e técnica para confecção
Yhago Borges u Cocar
Q = 25.292,00 Kgf de uma bola de concreto simples, que
r = 0,115 m seja resistente à compressão. O Cocar 1º lugar EQUIPE CEULP
Massa = 9,27 kg
testa a habilidade dos estudantes na Ariane Samanda, Átila Noleto,
NF = 12,7320) Augusto Ivan e Dayelle Elias
preparação de corpos de provas de
2º lugar EQUIPE DO INSTITUTO Fck = 69,80 Mpa
TOCANTINENSE PRESIDENTE concretos coloridos, capazes de atingir C = 1,0
ANTÔNIO CARLOS DA CIDADE altas resistências à compressão. Já, a NF = 69,80)
DE PORTO NACIONAL (ITPAC) 2º lugar EQUIPE CEULP
competição “Pontes de Macarrão” é re-
Jonathas Gabryel, Lays Oliveira, Ana Clara, Diego Araújo,
Thais Cristina, Bruno de Sousa alizada em diversas instituições supe- Fabrício José, Lídia Georgiana,
e José Mecenas riores de ensino pelo país, estabelecen- Lucas Kaique e Sandra Andreia
Q = 18.983,00 Kgf Fck = 74,60 Mpa
do relação com os assuntos teóricos
r = 0,115 m C = 0,90
Massa = 9,20 kg da disciplina “Resistência dos Mate- NF = 67,14
NF = 12,7320 riais”. Na última edição dos concursos 3º lugar EQUIPE CEULP
3º lugar EQUIPE CEULP do IBRACON, a equipe do Ceulp ficou Aníbal Hermício, Gabriela
Ariane Samanda, Átila Noleto, Ferreira, Hiago Gringel, Hiromu
em quinto lugar no Cocar e sexto lugar Bringel, Maria Thays e Mateus
Augusto Ivan e Dayelle Elias
Q = 19.373,00 Kgf no Concrebol. Maurício
r = 0,115 m O diretor de eventos do IBRACON, Fck = 57,80 Mpa
Massa = 9,70 kg C = 1,0
NF = 12,7235 Prof. Bernardo Tutikian, autor do livro NF = 57,80
“Concreto autoadensável”, publicado

Regional Mato Grosso do Sul


A Regional apoiou a sexta edição do En-
contro sobre Tecnologia do Concreto
(ETEC 2016), realizado em 17 de junho, na
Universidade Federal de Mato Grosso. O
evento debateu o concreto com fibras, com
palestra do secretário do IBRACON, Prof.
Antonio de Figueiredo.

CONCRETO & Construções | 97


u acontece nas regionais

Palestra na Regional do Rio de Janeiro


D ecorrente de parce-
ria entre a Regional
IBRACON, a Regional
ABECE e o Clube de En-
genharia do Rio de Janei-
ro, a palestra “Resistência
do concreto em estrutu-
ras existentes para fins de
verificação da segurança
estrutural” foi proferida no
dia 12 de julho, no Clube
de Engenharia, pelo Prof.
Paulo Helene, diretor
de relações institucionais
do IBRACON.
Com participação de
300 profissionais e estudantes, a pa- sidente do Clube de Engenharia, Pe- lidades ilustres da área. A coordenação
lestra foi prestigiada pelo presidente do dro Pereira Filho, pelo projetista Bruno coube ao diretor regional do IBRACON,
IBRACON, Julio Timerman, pelo pre- Contarini, entre muitas outras persona- Robson Veiga.

SISTEMAS DE FÔRMAS PARA


EDIFÍCIOS: RECOMENDAÇÕES
PARA A MELHORIA DA QUALIDADE
E DA PRODUTIVIDADE COM
REDUÇÃO DE CUSTOS

Autor: Antonio Carlos Zorzi

O livro propõe diretrizes para a racionalização de


sistemas de fôrmas empregados na execução de
estruturas de concreto armado e que utilizam o molde
em madeira

As propostas foram embasadas na vasta experiência


do autor, diretor de engenharia da Cyrela, sendo
retiradas de sua dissertação de mestrado sobre o tema.

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Formato: 18,6 cm x 23,3 cm
Páginas: 195
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98 | CONCRETO & Construções
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EMPRESAS BRASILEIRAS DA CADEIA PRODUTIVA DO CONCRETO

PALESTRANTES „ Bruno Contarini (BC Engenharia) „ Joseph Daczko (Basf, EUA)


CONFIRMADOS „ Donald Macphee (Universidade de Aberdeen, Escócia) „ Kamal Khayat (Universidade do Missouri, EUA)
„ Hugo Corres Peirreti (FHECOR, Espanha) „ Robert Stark (ACI)

„ Apresentação de Trabalhos Técnico-científicos TEMAS


„ Concursos Técnicos Estudantis „ Gestão e Normalização „ Análise Estrutural
„ Simpósio Sobre Ensaios Não Destrutivos „ Materiais e Propriedades „ Materiais e Produtos Específicos
para Avaliação de Estruturas de Concreto
„ Projeto de Estruturas „ Sistemas Construtivos Específicos
„ Seminário Sobre Ensino de Engenharia Civil
„ Métodos Construtivos „ Sustentabilidade
„ Seminário sobre Boas Práticas na Execução
de Estruturas de Concreto
CURSOS
„ Seminário Sobre Obras Emblemáticas
„ Ensaios destrutivos e não destrutivos para avaliação de estruturas
„ Seminário Sobre Pesquisas e Obras em de concreto
Concreto Autoadensável
„ Estruturas pré-fabricadas de concreto
„ XII Feira Brasileira das Construções em Concreto –
FEIBRACON „ Projeto de lajes em concreto armado e protendido

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CONCRETO & Construções | 99


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