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relato de experiência / report of an experience / relato de experimento

Saúde mental e fonoaudiologia: uma experiência interdisciplinar em


uma clínica-escola
Mental health and phonoaudiology: an interdisciplinary experience in a school-clinic
Salud mental y fonoaudiología: una experiencia interdisciplinaria en una clínica-escuela

Beatriz Oliveira*
Marta G. Gimenez Baptista**
Rafael Michael Domenes***

Resumo: Atualmente, os trabalhos em Saúde Mental se configuram a partir de uma heterogeneidade de direções de tratamento que
cada instituição ou profissional tomam. No Brasil estes serviços devem tributos às conquistas do movimento da Reforma Psiquiátrica.
Porém, não são todos os serviços que puderam aderir a estas conquistas. Para se pensar em uma clínica que possa dialogar com a reforma,
a escuta dos sujeitos deve ser priorizada. Neste sentido, a partir da demanda da clínica-escola do curso de Fonoaudiologia do Centro
Universitário São Camilo, iniciou-se um trabalho interdisciplinar em Saúde Mental, privilegiando esta experiência na formação do aluno
enquanto terapeuta. Além de pensar a construção do papel profissional, a interdisciplinaridade foi o ponto de partida para a montagem
deste trabalho. Segundo estes pressupostos, a equipe interdisciplinar não se apóia na idéia de complementação de conhecimentos, mas
sim em uma construção clínica que se apóia no reconhecimento de limites de cada discurso, criando, assim, uma articulação possível.
Este trabalho propiciou um enriquecimento da clínica promovendo resultados na direção do crescimento. Famílias mais implicadas e
comprometidas com o tratamento de seus filhos, e crianças deixando uma condição de deficiência para reaparecer como sujeitos, não
apenas assujeitados pela língua ou pelo outro, mas sim manifestando e construindo linguagem própria.
Palavras-chave: Saúde mental. Fonoaudiologia. Formação terapêutica.
Abstract: Currently Mental Health assistance is marked by heterogeneity in treatment choices according to each institution or pro-
fessional attitude. In Brazil these services were helped by the accomplishments of the Psychiatric Reform movement. However, not all
services were able to adhere to these conquests. To think about a clinic that can dialogue with the Reform, listening subjects must be
a priority. In this sense, from a demand of the school-clinic of the course of Phonoaudiology of the University Center São Camilo, we
began an interdisciplinary work in Mental Health, privileging this experience in the training of students as therapists. Besides examining
the construction of the professional role, we choose interdisciplinarity as our starting point for developing this work. Based on these
assumptions, the interdisciplinary team does not rely on the idea of knowledge complementation but rather in a clinical construction
that recognizes the limits of each discourse, creating thus a possible integration of them. This work promoted an enrichment of the
clinic, promoting results that more contribute to growth. Families more involved and engaged in the treatment of their children, and
children leaving a condition of impaired people to reappear as subjects not only subjected by language or the other, but rather using
and constructing their own language.
Keywords: Mental health services. Phonoaudiology. Patient assistance team.
Resumen: La asistencia a la salud mental es marcada actualmente por una heterogeneidad de opciones de tratamiento según la actitud
de cada institución o profesional. En el Brasil estos servicios fueron ayudados por las realizaciones del movimiento de reforma psiquiátrica.
Sin embargo, no todos los servicios pudieran adherir a estas conquistas. Para pensar en una clínica que pueda dialogar con la reforma,
escuchar los sujetos debe ser una prioridad. En este sentido, desde una demanda de la clínica-escuela del curso de Fonoaudiología del
Centro Universitario São Camilo, comenzamos un trabajo interdisciplinario en salud mental, privilegiando esta experiencia en el entre-
namiento de los estudiantes como terapeutas. Además de examinar la construcción del papel profesional, elegimos la interdisciplinaridad
como nuestro punto de partida para desarrollar este trabajo. De acuerdo con estas asunciones, el equipo interdisciplinario no se basa en
la idea de la complementación del conocimiento sino en una construcción clínica que reconozca los límites de cada discurso, creando así
una integración posible de ellos. Este trabajo promovió un enriquecimiento de la clínica, promoviendo resultados que más contribuyen
al crecimiento. Familias comprometidas y dedicadas al tratamiento de sus niños, y niños que dejan una condición de gente deteriorada
para reaparecer como sujetos, y no solamente sujetados por la lengua o el otra, pero usando y construyendo su propia lengua.
Palabras llave: Servicios médicos mentales. Fonoaudiología. Equipo de ayuda al paciente.

* Psicóloga. Psicanalista. Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP. Membro do Fórum do Campo Lacaniano – SP.
** Fonoaudióloga. Especialista em Linguagem. Mestre em Distúrbios da Comunicação pela PUC-SP. Docente do curso de Fonoaudiologia do
Centro Universitário São Camilo. Membro da clínica interdisiciplinar Prof. Dr. Mauro Spinelli.
*** Psicólogo. Psicanalista. Educador Terapêutico do Projeto Quixote.

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Introdução os próprios usuários destes servi- proposta de mudança no paradig-


ços. Este movimento questionava ma dos serviços de Saúde Mental;
Quando fazemos menção a um o tratamento dispensado nestes principalmente após a criação do
trabalho em Saúde Mental diver- serviços até então, tratamento que SUS que atesta que a saúde é um
sas questões podem ser levantadas, consistia, na maioria das vezes, na direito do cidadão e um dever do
principalmente por que se trata de institucionalização, internação e Estado criando assim novas políti-
uma campo vasto, repleto de nu- reclusão dos “doentes mentais”. O cas de atendimento à população.
ances e maneiras de se entender tratamento era centrado quase que Com a desinstitucionalização
esta forma específica de tratamen- unicamente no hospital psiquiátri- ocorreu um apelo para uma mu-
to. De que se trata em Saúde Men- dança de olhar nas relações e ser-
co que excluía os pacientes e lhes
tal? Qual a especificidade dos casos
tirava direitos básicos de cidadania. viços prestados em Saúde Mental e,
apresentados neste âmbito? Como
Este movimento denunciava a vio- nesta perspectiva, o sujeito eclipsa-
será direcionado o olhar para os
lência e maus tratos que sofriam do pela “doença mental” pôde fazer
usuários de serviços de Saúde Men-
os pacientes de manicômios, assim sua aparição, pôde finalmente ser
tal? Enfim, como se trata um caso
como a mercantilização da loucura escutado. Não se trata apenas de um
em Saúde Mental?
e a “cronificação” de pessoas com fechamento de hospitais psiquiátri-
Precisamos ter clareza que este
anos de histórico de internação psi- cos, mas sim de toda uma reestru-
termo atualmente é usado em uma
quiátrica. “A Reforma Psiquiátrica é turação técnica, uma nova forma
infinidade de trabalhos e atendi-
um processo político e social com- de tratar os usuários destes serviços.
mentos. Estes, frequentemente,
plexo, composto de atores institui- Sobre a Reforma, Amarante (2001)
evidenciam uma heterogeneida-
ções e forças de diferentes origens, escreveu que é preciso reinventar
de de direções de tratamento que
e que incide em territórios diver- a clínica como uma construção de
cada instituição, ou profissional
sos, nos governos federal, estadual subjetividades, como possibilidade
toma. No Brasil este termo ou, es-
tes serviços devem tributos a um e municipal, nas universidades, no de ocupar-se de sujeitos com sofri-
importante movimento chamado mercado dos serviços de saúde, nos mentos. Em que podemos pautar
Reforma Psiquiátrica que propôs conselhos profissionais, nas asso- uma clínica que pode dialogar com
uma reestruturação técnica e polí- ciações de pessoas com transtornos esse novo paradigma? Entendemos
tica nos serviços de Saúde Mental. mentais e de seus familiares, nos que somente através da escuta esta
A partir deste movimento impor- movimentos sociais, e nos territó- clínica pode ser construída. Segun-
tantes mudanças puderam ocorrer rios do imaginário social e da opi- do Lobosque (2001 apud Amaran-
no que tange o tratamento de casos nião pública. Compreendida como te) para se pensar uma clínica no
psicopatológicos considerados gra- um conjunto de transformações de contexto da reforma psiquiátrica
ves. No entanto não podemos ser práticas, saberes, valores culturais há a necessidade em se privilegiar a
ingênuos em pensar que em todas e sociais, é no cotidiano da vida das palavra: a esta palavra, matéria pri-
as instituições ou serviços que se instituições, dos serviços e das rela- ma do tratamento, cabe-nos cavar-
ocupam desta clientela a mudança ções interpessoais que o processo da lhe um lugar – quando partimos do
pôde ser acolhida. Alguns profissio- Reforma Psiquiátrica avança, mar- princípio de que o sujeito fala, situ-
nais e instituições puderam, a par- cado por impasses, tensões, confli- ando a materialidade do seu dizer
tir de sua clínica, dialogar de forma tos e desafios.” (Brasil, 2005) como o alicerce possível da nossa
profícua com este movimento, Esta luta resultou em impor- construção. Portanto, as mudan-
outros, no entanto atuam apenas tantes frutos para os usuários de ças conquistadas pelo movimento
a partir de um discurso que não se saúde em geral. Além da crítica ao da Reforma Psiquiátrica devem ir
concretiza em uma clínica. modelo de internações, este movi- ao encontro de uma clínica que
Para nos situarmos devemos mento pôde estabelecer mudanças privilegia os sujeitos, sua fala, sua
retomar as discussões realizadas no âmbito legislativo. Em 1989 o produção subjetiva, ou seja, devem
nas décadas de 70 e 80 a cerca da deputado Paulo Delgado dá en- ir ao encontro de uma clínica que
Política de Saúde Mental. Neste trada no Congresso Nacional um escuta e não cala.
período ocorreu à citada Reforma Projeto de lei que “propõe a regu-
Psiquiátrica, movimento formado lamentação dos direitos da pessoa Formação terapêutica e
por psicólogos, médicos, sanitaris- com transtornos mentais e a extin- interdisciplina
tas, psicanalistas, e outros profissio- ção progressiva dos manicômios no
nais da área da saúde juntamente país” (Brasil, 2005). Desta forma Pensar uma clínica que escuta
com familiares de usuários e com podemos entender que houve uma e não cala foi o que norteou a pro-

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posta de trabalho em Saúde Mental para ser um terapeuta (ocupacio- A participação de diversas dis-
inserido na clínica-escola do curso nal, fonoaudiólogo, um fisiotera- ciplinas, quando pensamos no tra-
de fonoaudiologia do Centro Uni- peuta) e profissional envolvido no balho com casos clínicos, nos leva
versitário São Camilo. É importante cuidado ao paciente (enfermeiro, a refletir e consequentemente res-
situar que a clínica fonoaudiológica, médico, nutricionista, farmacêu- ponder questões de várias ordens.
por tratar de problemas relaciona- tico, assistente social), traz inúme- Questões a respeito do diagnósti-
dos à linguagem de maneira geral, ras situações comuns a todos que co, da avaliação, do prognóstico,
recebe muitos casos de crianças e necessitam serem cuidadas, citan- da terapêutica, enfim uma gama de
adolescentes com diagnósticos di- do alguns exemplos: histórias que reflexões que nos proporciona am-
versos: autismo, psicose,transtorno se misturam, a do profissional e a pliar e ao mesmo tempo estreitar
de personalidade, hiperatividade, do paciente, “comunicações do- relações. O contato direto com as
déficit de atenção e distúrbio de lorosas” e devolutivas adiadas ao outras disciplinas, quando se atua
aprendizagem, fobias, transtornos paciente e família, demandas fami- na clínica interdisciplinar, permite
invasivos do desenvolvimento, ou liares misturadas às demandas do uma ampliação porque nos leva a
simplesmente sem diagnóstico. Às paciente, pré-conceitos do profis- conhecer e compreender dados da-
vezes não falam, ou falam pouco; sional versus limitações pessoais do quele paciente em comum. Ainda
apenas repetem a fala do outro profissional a serem consideradas, amplia conhecimentos no sentido
(fala ecolálica), ou ainda apresen- impactos do primeiro encontro de utilizarmos tais descobertas com
tam um discurso fora do contexto. com o paciente e sua família. outros pacientes também.
Inicialmente os casos indicados Cuidar da formação é comparti- Embora trabalhando numa
para um trabalho em saúde mental lhar com o aluno-estagiário dessas equipe interdisciplinar tratemos de
eram tomados como difíceis para um mesmo paciente, o olhar sobre
situações que são acontecimentos
serem tratados por alunos, em um ele dependerá do discurso em que
humanos comuns durante a for-
contexto de clínica-escola. Do la- estejamos inseridos e do recorte
mação profissional. Mas para essa
do do aluno, justificava-se o não particular que nosso discurso nos
discussão é necessário favorecer
acolhimento destes casos pelo fato permita e nos autorize a fazer. Nes-
que o aluno perceba esses acon-
de que o aluno não teria formação te tipo de intervenção os terapeutas
tecimentos em sua prática clínica.
suficiente que lhe desse a experiên- tem que reconhecer os pontos de
Aqui, destacamos a importância
cia necessária para tanto; do lado cruzamento e o que caminha nu-
do exercício da observação na
da clínica a explicação se pautava ma mesma direção embora não ha-
formação profissional. Anterior à ja superposição no sentido estrito.
pela necessidade destes casos serem
acompanhados a longo prazo. observação do paciente a ser aten- (Gueller, 2007).
Esta proposta de trabalho, tal dido, falamos da observação de si Citando ainda a mesma autora
como se colocou, apostava na ex- na formação do ser terapeuta ou “[…] o maior desafio do trabalho
periência em saúde mental como profissional que estabelece uma interdisciplinar é que cada um pos-
privilegiada para a formação do relação com o outro, seu paciente sa se desvencilhar mesmo que seja
aluno enquanto terapeuta. Nesse ou cliente. por um instante de suas certezas,
sentido, acreditávamos que o en- Da mesma maneira que pensar não para incorporar as do outro,
contro do aluno em formação com a construção do papel profissional mas para fazer, como numa análise,
as questões psíquicas importantes era fundamental nesta proposta, a experiência desse encontro com a
de seus pacientes contribuiria não a interdisciplinaridade foi o ponto alteridade. Trata-se de que cada um
só com um aporte teórico neces- de partida para a montagem deste possa se estranhar ouvindo o outro
sário para a clínica de linguagem, trabalho. de seu próprio olhar, da sua própria
como também implicaria a própria Trabalhar com crianças na escuta. Trata-se de deixar-nos sur-
subjetividade do aluno terapeuta. clínica da linguagem exige uma preender pelo que o outro fala mas
Partíamos do pressuposto que a complexidade muito maior que se também de deixar-nos surpreender
formação de qualquer terapeuta pode imaginar. Partindo da discipli- pela nossa própria fala tomada pelo
passa por colocar em questão suas na que estudamos, seja ela Fono- outro.” (Gueller, 2007).
certezas e posições. audiologia, Psicanálise, Foniatria, Portanto o trabalho numa equi-
Durante a formação, aponta Di Terapia Ocupacional etc., nos depa- pe interdisciplinar não se apóia
Loreto (1998) o dia-a-dia de um ramos com uma rede de conceitos e na idéia de complementação de
profissional “psi” (psicólogo ou psi- entrecruzamentos teóricos que nos conhecimentos: o olhar do fono-
quiatra) ou não “psi”, mas formado faz refletir e pesquisar a respeito. audiólogo não é complementar

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à escuta do psicanalista, ou à in- da terapêutica. Muitas vezes nos um espaço para que cada pai pu-
tervenção do médico. Então se os deparamos com discursos sobre desse falar e também se implicar
conhecimentos não são comple- crianças que não aprendem, que no tratamento dos filhos. Segundo
mentares, como é possível dialogar, não são inteligentes, que não tem Oliveira (1999) com esse trabalho
ou ainda,trabalhar em conjunto? o que dizer. Crianças que estão fora objetivamos deslocamentos na po-
Na perspectiva aqui proposta o da língua, não sendo reconhecidas sição subjetiva dos pais em relação
trabalho primordial passa pelo re- na relação parenta, nem ao menos à problemática dos filhos.
conhecimento dos limites e pela pertencendo a um grupo social. Inicialmente a demanda dos
demarcação de fronteiras de cada A proposta em Fonoaudiolo- pais era de respostas para o fato
discurso. Sem esse reconhecimento gia para este atendimento parte de seus filhos “serem assim”, res-
é impossível necessitar ou até dese- do pressuposto que mesmo que a postas sobre as melhores formas
jar a articulação com outras áreas criança venha na condição de quem de lidar com seus filhos; queriam
do conhecimento (Gueller,2007). apresenta um “ erro “ na aquisição receitas. No entanto, a direção que
da linguagem, entende-se que a os coordenadores tomavam era a
fala desta criança apresenta dife- de questionar os pais, fazê-los falar
Uma proposta de trabalho para, desta forma, possibilitar ou-
renças, heterogeneidade e nunca
Partindo da demanda da clínica- manifesta simplesmente uma fala tros enunciados e lugares para os
escola do Centro Universitário São siderada ou sem sentido . filhos em tratamento. “Para tanto,
Camilo, iniciaram-se atendimentos Quando o sujeito fala com o desde o início, pedimos aos pais que
fonoaudiológicos, desde 2002, em fonoaudiólogo se sente descom- falem dos filhos, que contem a his-
grupos para crianças com queixas promissado de interpretações por tória deles e da criança. Na maio-
de linguagem e saúde mental. Des- parte do terapeuta e portanto se ria das vezes, essa reconstrução da
de o início os atendimentos eram permite falar e usar um discurso história torna-se ponto de partida
realizados por alunas-estagiárias sem barreiras. A questão é que o para mudanças; torna-se a chance
de fonoaudiologia e as supervisões fonoaudiólogo que faz um traba- para que os pais possam situar o fi-
acompanhadas por uma professora lho interdisciplinar na clínica da lho em outra posição no simbólico”
fonoaudióloga, com formação no linguagem, está preocupado com (Oliveira, 1999).
interacionismo e uma psicanalista. a subjetividade em sua articulação
Também participavam das discus- com a linguagem e não somente Finalizando
sões de casos alguns estagiários de com as trocas articulatórias, ou A experiência com este traba-
psicologia, os quais atendiam as atraso na aquisição, ou repetições lho propiciou uma formação dife-
crianças individualmente, depen- que o paciente apresenta . renciada para os alunos do curso de
dendo da demanda. Aos poucos, constatou-se a ne- Fonoaudiologia , especialmente na
Cada grupo era composto por cessidade de oferecer aos pais das construção do papel de terapeuta .
no máximo cinco pacientes, sendo crianças um espaço de escuta para A possibilidade de escutar e
atendidos por duas alunas-estagi- que pudessem trazer suas questões olhar essas famílias que se queixam
árias. Tinham freqüência de duas e angústias. Não era raro eles abor- na clínica fonoaudiológica por uma
vezes semanais, com duração de darem as terapeutas de seus filhos visão interdisciplinar,possibilitou
quarenta e cinco minutos. Além para desabafarem, questionarem um enriquecimento da clínica o
dos atendimentos aos grupos, os ou apresentarem problemas nos que comparece nos resultados do
estagiários em Fonoaudiologia corredores ou em sala de espera. trabalho Famílias mais implicadas ,
realizam entrevistas com os pais, Os grupos de pais passaram a apostando e investindo novamen-
sempre que necessário, contatos ocorrer na instituição uma vez por te em seus filhos e ,como resposta,
com as escolas e demais terapeutas semana sendo coordenado por um filhos mais comunicativos e inseri-
dos pacientes . estagiário de psicologia. Os pais dos no contexto social .
As queixas apresentadas pelos eram convidados a participar des- Sujeitos que desaparecem de
pais, durante as primeiras entrevis- ses grupos enquanto seus filhos uma condição aprisionante, a da
tas, incidiam sobre as crianças e é a eram atendidos, não havendo obri- deficiência, e reaparecem em outra
partir daí que iniciamos o trabalho. gatoriedade por parte dos pais em condição, surpreendendo de outro
O entendimento sobre a criança participarem dos grupos. O objeti- lugar, onde não era esperado , con-
que ali é apresentada pela família é vo do grupo não era o de ensinar dição necessária para que a lingua-
fundamental para o planejamento ou orientar, mas sim proporcionar gem possa surgir.

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REFERÊNCIAS

Amarante P. Sobre duas proposições relacionadas à clínica e à reforma psiquiátrica. In: Quinet A. Psicanálise e psiquiatria: contro-
vérsias e convergências. Rio de Janeiro: Marca d’Á; 2001.
Brasil. Ministério da Saúde. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental. In: Conferência Regional de Reforma dos Serviços de
Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. Brasília; 2005.
Di Loreto ODM. Patologia da vida psi cotidiana: (um cotidiano na vida de um clínico psi). Rev CETO – Centro de Estudos de Terapia
Ocupacional 1998;3(3):2-15.
Gueller AS. O psicanalista , a criança e a clínica interdisciplinar. In: Gueller AS, Vidigal MC, organizadores. Psicanálise com crianças
na contemporaneidade: extensões da clínica. Goiânia: Dimensão; 2007.
Lier de vitto MF, Arantes L, organizadores. aquisição, patologias e clínica de linguagem. São Paulo: PUC-SP; 2006.
Oliveira LGM. A escuta psicanalítica dos pais no tratamento institucional da criança psicótica [dissertação]. São Paulo: Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo; 1999, 206p. Mestrado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento.

Recebido em 18 de janeiro de 2008


Aprovado em 12 de março de 2008

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