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DEPARTAMENTO DE FÍSICA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
POR
WILLIAM DE SOUZA SANTOS
-2010-
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
DEPARTAMENTO DE FÍSICA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA
São Cristovão
2010
ii
Dedico este trabalho aos meus pais,
Manoel e Maria e minha esposa
Carla.
iii
AGRADECIMENTOS
iv
PUBLICAÇÕES ASSOCIADAS À DISSERTAÇÃO
ARTIGO
Santos, W,S; Maia, A.F. Riscos associados ao uso de equipamento móvel de radiação
X pelos técnicos de radiologia durante exames de tórax em pronto socorro e em UTI
semi-intensiva: Estudo de caso de um hospital público de Sergipe. Scientia Plena,
2009.
Santos, W.S; Maia, A.F. Avaliação das doses ocupacionais no leito da enfermaria
durante exames radiográficos de tórax em um hospital público de Sergipe. In:
Congresso Brasileiro de Física Médica, São Paulo, 2009.
v
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................................X
1- INTRODUÇÃO ............................................................................................................01
vi
2.6.1 Exposição (X)............................................................................................................23
2.6.2 Kerma........................................................................................................................24
2.6.3 Dose absorvida..........................................................................................................24
2.6.4 Dose equivalente.......................................................................................................25
2.6.5Dose efetiva................................................................................................................25
4- MATERIAIS E MÉTODOS.....................................................................................33
5- RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................41
vii
5.4 Aspectos relevantes da população estudada associados com exposição à
radiação X..............................................................................................................................43
5.4.1 Faixa-etária................................................................................................................43
5.4.2 Sexo...........................................................................................................................44
5.4.3 Conhecimentos da população estudada sobre os efeitos biológicos da radiação X e
sobre proteção radiológica.........................................................................................45
5.5 Fatores associados com a exposição dos profissionais considerados como
indivíduos do público..........................................................................................................48
5.5.1 Categoria de profissionais envolvidos durante raios X no leito................................48
5.5.2 Posicionamento dos profissionais em relação ao paciente sob raios X...................48
5.5.3 Número de exames radiológicos acompanhados pelos profissionais no leito...........49
5.5.4 Uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs) durante a realização de
exames de raios X no leito pelos profissionais não ocupacionalmente expostos.....50
5.8 Avaliações das doses ocupacionais e do público nos setores que utilizam o
equipamento de raios X móvel.........................................................................................55
viii
5.8.2 Doses efetivas obtidas na enfermaria e na unidade de terapia de queimados–
UTQ..........................................................................................................................57
5.8.3 Doses efetivas obtidas na unidade de terapia intensiva e na unidade de terapia
semi-intensiva UTSI................................................................................................58
5.8.4 Doses efetivas obtidas no centro cirúrgico – CC.......................................................59
6- CONCLUSÃO................................................................................................................65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................67
ANEXOS
ANEXO A: Coleta de dados dos exames realizados com equipamento de raios X
móvel.............................................................................................................71
ix
RESUMO
O uso de aparelho móvel de raios X para fins de diagnóstico médico em hospitais é uma
prática muito comum para realizar diferentes tipos de exames, sendo o exame de tórax um dos
mais solicitados nos setores como UTI (unidade de terapia intensiva), PS (pronto socorro),
ENF (enfermaria), UTSI (unidade de terapia semi-intensiva), CC (centro cirúrgico) e UTQ
(unidade de terapia de queimados). Nesses tipos de ambientes, além dos técnicos em
radiologia envolvidos, as demais pessoas que se encontram na sala também ficam expostas à
radiação espalhada pelo paciente. O objetivo deste estudo foi avaliar as taxas de kerma no ar a
diferentes distâncias do equipamento e, assim, estimar as doses efetivas recebidas pelos
indivíduos presentes no recinto durante a execução dos procedimentos, tanto os indivíduos
ocupacionalmente expostos como os do público. Foram estudadas 413 radiografias, sendo a
maioria de tórax (75%). A partir dos dados coletados durante a realização dos exames, foram
realizadas medidas das taxas de kerma no ar utilizando uma câmera de ionização e um objeto
simulador de tórax confeccionado de acrílico com dimensões de 30 cm x 30 cm x 15 cm. Com
os dados obtidos, foi possível traçar um mapa de dose de cada setor do hospital. Em relação à
categoria considerada como individuo do público, o estudo revelou que a maioria não usa EPI
durante os exames no leito, que são predominantemente do sexo feminino (75%), que a
maioria alega ter conhecimento de efeitos biológicos (80%) e proteção radiológica (78%), que
estão em sua maioria em fase reprodutiva (20 a 40 anos) e que normalmente se posicionam
entre 2,0 e 3,0 m de distância do paciente sob raios X. Em relação aos indivíduos
ocupacionalmente expostos, o estudo revelou que são predominantemente do sexo masculino
(73%), que pertencem prioritariamente à faixa etária dos 20 aos 30 anos, que a maioria alega
possuir conhecimento sobre efeitos biológicos e sobre proteção radiológica (92%) e ter
participado de algum tipo de treinamento sobre proteção radiológica (60 %), que a grande
maioria faz uso de avental plumbifero (85 %) e do monitor pessoal (84 %), que normalmente
se posicionam a 3,0 m do paciente sob raios X (95%), e que 40% deles exerce atividade com
radiação ionizante em outra instituição. Em relação aos valores de doses efetivas medidas
neste estudo, não foi observado nenhum valor acima dos limites recomendados. Além disso,
os resultados obtidos neste estudo estão compatíveis com resultados de estudos listados na
literatura nacional e estrangeira. Os bons resultados comprovados neste estudo não isentam o
serviço de cuidados constantes. Em alguns casos, os resultados foram próximos de situações
limites para os trabalhadores não monitorados, o que é motivo de atenção.
Palavras-chave: Limites de dose e proteção radiológica.
x
ABSTRACT
The use of portable X rays equipment for medical diagnosis in hospitals is a very common
practice to perform different types of examinations, and the chest radiography is one of the
most requested in areas such as intensive care unit, emergency, ward room , care unit semi-
intensiv,center surgery and burn care unit. In these environments, in addition to radiology
technicians involved, there are other people in the room who are also exposed to radiation
scattered by the patient. The objective of this study was to evaluate the rate of air kerma at
different distances from the equipment to estimate the effective doses received by the people
present in the room during the procedures, whether they were occupationally exposed
individuals (IOE) or public individuals. 413 radiographies were evaluated, and the vast
majority of them were chest examinations (75%). From the information collected during the
examinations, it was possible to perform measurements in simulated situations. The air kerma
rates were measured using a ionization camara and a acrylic chest phantom, with dimensions
of 30 cm x 30 cm x 15 cm. By the results, it was possible to map the dose in each sector of the
hospital. For the workers considered as a public individual, the study showed that most of
them do not use protective equipment, are predominantly female (75%), allege knowledge of
biological effects (80%) and radiation protection to (78%), are mostly in the reproductive age
(20 to 40 years old), and usually stay positioned 2.0 to 3.0 m far from the patient under
examination. For the workers considered as occupationally exposed (IOE), the study revealed
that the vast majority are male (73%) and with ages in the range of 20 to 30 years old, have
knowledge of biological effects and radiation protection (92%), have participated in some
type of training in radiological protection (60%), use of lead apron (85%) and personal
monitor (84 %), stay positioned 3.0 m far from the patient under examination (95%) and 40%
have other job involving ionizing radiation. Regarding the values of effective doses found in
this study, it was not found any value above the recommended limits and the results of this
study are consistent with results of listed in national and international literature. Even though
the results found were very good, permanent radiation protection activities are necessary to
assure the minimization of the risks.
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1: Limites de doses anuais recomendados pela CNEN-NE 3.01, 2005....................23
Tabela 2.2: Valores do fator de ponderação wt recomendados pelas publicações do ICRP -
103........................................................................................................................26
Tabela 2.3: Fatores de ocupação sugeridos pelo NCRP 49 e por SIMPKIN e DIXON para
diferentes tipos de ocupação para pessoas não ocupacionalmente expostas.........27
Tabela 2.4: Fatores de ocupação propostos pelo NCRP 49 e por SIMPKIN e DIXON para
pessoas ocupacionalmente expostas......................................................................27
Tabela 4.1: Parâmetros radiológicos utilizados para determinação das doses efetivas...........36
Tabela 5.1: Número médio mensal de exames radiológicos acompanhados pelos profis-
sionais que não foram considerados ocupacionalmente exposto em um hospital
público do estado de Sergipe, 2009........................................................................50
Tabela 5.2: Número médio mensal e diário de exames radiológicos realizados nos setores que
utilizam o equipamento móvel de raios X............................................................51
Tabela 5.3: Distribuição da carga de trabalho dos profissionais por setor de um hospital
público do estado de Sergipe, 2009.....................................................................54
Tabela 5.4: Valores de dose efetiva obtidas no setor do pronto socorro de um hospital
público do estado de Sergipe, 2009....................................................................56
Tabela 5.5: Valores de doses efetivas obtidas na enfermaria de um hospital público do
estado de Sergipe, 2009........................................................................................57
Tabela 5.6: Valores de doses efetivas obtidas na unidade de terapia de queimados de um
hospital público do estado de Sergipe, 2009.........................................................58
Tabela 5.7: Valores de dose efetiva obtidas em uma unidade de terapia semi – intensiva de
um hospital público do estado de Sergipe, 2009...................................................59
Tabela 5.8:Valores de dose efetiva obtidas no setor da unidade de terapia intensiva de
um hospital público do estado de Sergipe, 2009...................................................59
Tabela 5.9:Valores de dose efetiva obtidas no setor do centro cirúrgico de um hospital
público do estado de Sergipe, 2009.......................................................................60
Tabela 5.10: Estudo comparativo de doses efetivas com outros pesquisadores......................64
xii
LISTA DE FIGURAS
xiii
Figura 5.6: Distribuição percentual da categoria profissional considerada não ocupacional-
mente exposta estudada sobre conhecimento dos efeitos biológicos...................45
Figura 5.7: Distribuição percentual da categoria profissional considerada não ocupacional-
mente exposta estudada sobre conhecimento de proteção radiológica................46
Figura 5.8: Distribuição percentual do IOE estudada sobre conhecimento dos efeitos
biológicos.............................................................................................................46
Figura 5.9: Distribuição percentual do IOE estudada sobre conhecimento de proteção
radiológica.............................................................................................................46
Figura 5.10: Distribuição percentual da categoria dos IOE que participou de treinamento
sobre proteção radiológica................................................................................47
Figura 5.11: Percentual da categoria profissional associado o uso de raios X no leito...........48
Figura 5.12: Distribuição percentual das distâncias dos profissionais não ocupacionalmente
expostos em relação ao paciente examinado, durante a realização de
procedimentos com equipamento móvel de raios X no leito............................49
Figura 5.13: Percentual de técnicos em radiologia que utilizam o avental de chumbo durante
raios X no leito...................................................................................................52
Figura 5.14: Percentual de técnicos em radiologia que utilizam equipamento de monitoração
individual em um hospital público de Sergipe, 2009.........................................53
Figura 5.15: Técnicos em radiologia que trabalham com radiação ionizante em outra
Instituição............................................................................................................53
Figura 5.16: Valores das doses efetivas em função da distância na enfermaria, durante a
realização de radiografias de tórax....................................................................62
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS
Al Alumínio
CC Centro cirúrgico
cm Centímetro
Enf. Enfermaria
kV Quilovoltagem
m Metro
mA Miliamperagem
mAs Miliamperagem-segundo
mm Milímetro
MS Ministério da Saúde
xv
NCRP National Council on Radiation Protection and Measurements
NE Norma Experimental
NN Norma Nuclear
PS Pronto socorro
RX Raios X
VS Vigilância Sanitária
xvi
LISTA DE SÍMBOLOS
E Energia de um fóton
h Constante de Planck
ν Frequência do fóton
Å Angstrom
c Velocidade da luz
λ Comprimento de onda (m);
W Tungstênio
T Taxa de dose
r Distância do tubo de raios X até o ponto de incidência
k Constante relacionada com a voltagem e com a corrente elétrica no tubo de
raios X
Z Número atômico
Ec Energia cinética
Be Energia de ligação do elétron
Ee Energia cinética de recuo do elétron
Frequencia do fóton após o choque com o elétron
m0 Massa de repouso do elétron
v Velocidade do elétron
q Momento linear do elétron
p Momento linear do fóton
Razão entre a energia do fóton incidente e a energia de repouso do elétron
Ee(max.) Energia máxima de recuo do elétron
Frequencia mínima do fóton
Intensidade da radiação ao atravessar um meio de espessura x
Intensidade da radiação em um meio homogêneo
x Espessura do meio absorvedor
µ Coeficiente de atenuação linear total
Coeficiente de atenuação linear do efeito coerente
Coeficiente de atenuação linear do efeito Compton
Coeficiente de atenuação linear do efeito de absorção fotoelétrico
xvii
Coeficiente de atenuação linear do efeito de formação de par
Densidade de um material
X Exposição
dQ Elemento de carga elétrica de um elétron ou pósitron
dm Elemento de massa de um material
R Roentgen
K Kerma
D Dose absorvida
HT Dose equivalente
Fator de ponderação
HE Dose efetiva
Fator de risco da radiação
U Fator de uso
T Fator de ocupação
i Corrente elétrica
W Carga de trabalho
W0 Carga de trabalho de individuo ocupacional
Wp Carga de trabalho de individuo do público
F Fator de conversão de dose absorvida para dose efetiva
Exames
Dia
Semana
Produto da corrente elétrica pelo tempo de exposição
Números de turnos trabalhados pelos técnicos em radiologia
σ Desvio padrão
Incerteza tipo A
Incerteza tipo B
Incerteza combinada
Incerteza padrão
xviii
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
A palavra radiação é muitas vezes associada a algo perigoso ou que pode causar algum
mal. Esta associação existe principalmente devido às bombas atômicas de Hiroshima e
Nagasaki e aos acidentes que ocorreram em algumas usinas nucleares. No Brasil, destaca-se,
ainda, o acidente com o césio 137 em Goiânia, em 1987, acontecimento que fez o público, de
um modo geral, passar a ter receio dos procedimentos médicos com radiação. Entretanto,
estes acontecimentos são casos excepcionais e raros; na grande maioria das vezes a radiação é
utilizada de forma benéfica, possibilitando grandes avanços aos diagnósticos e tratamentos
médicos, por exemplo.
Um tipo de radiação muito utilizada em medicina é a radiação X, ou raios X. Este tipo
de radiação é classificado como radiação ionizante, porque a energia que carrega é capaz de
causar danos biológicos devido à ionização gerada no meio. No entanto, é exatamente o fato
desta radiação ser mais energética que a torna adequada à utilização em radiodiagnóstico, uma
vez que ela é capaz de atravessar o corpo humano e sensibilizar o detector que está associado
ao registro da imagem.
A invenção de um dispositivo que possibilitou a descoberta dos raios X foi do inglês
William Crookes, que, por volta dos anos 70 do século XIX, criou a ampola de Crookes.
Usando essa ampola para estudar os raios catódicos, o alemão Wilhelm Roentgen, por volta
de 1895, descobriu os raios X. A partir de então, com o uso cada vez mais aprimorado de
recursos tecnológicos, foi possível a construção de modernos equipamentos emissores de
radiação X na aplicação em diversos campos das ciências, sendo a medicina uma das
principais. Acompanhando essa evolução, novos equipamentos radiológicos surgiram, em
versões fixas e portáteis. Os equipamentos de radiação X móveis foram projetados com uma
finalidade de permitir a realização de exames radiológicos de pacientes que não possam ser
deslocados até uma sala com sistema fixo de raios X. Assim, o uso desse equipamento nos
leitos dos pacientes é frequente nos setores, como em unidade de terapia intensiva , unidade
de terapia semi-intensiva, pronto socorro, enfermarias e, com menor frequência, em outros
setores, como os centros cirúrgicos e unidade de terapia de queimados. O uso destes
equipamentos para obtenção de diagnóstico médico é muito frequente e, com eles, é possível
realizar vários dos exames obtidos nos equipamentos fixos. No entanto, como esses
1
equipamentos são utilizados em ambientes desprotegidos sob os aspectos da proteção
radiológica, eles colocam em risco à saúde dos pacientes e dos profissionais técnicos
envolvidos nos procedimentos durante a realização de exames radiológicos no leito. Os riscos
podem ser ainda mais agravados em situações de superlotação.
A superlotação dos hospitais públicos muitas vezes impede a retirada de outros
pacientes dos ambientes onde o exame é realizado. Desta forma, a radiação espalhada,
proveniente do paciente, alcança os diversos profissionais presentes e até mesmo indivíduos
do público e outros pacientes. Com a filosofia da proteção radiológica leva em consideração
fatores econômicos e sociais, é justificável que o exame seja executado e que o paciente não
fique sem o correto diagnóstico, mesmo em condições de superlotação. Entretanto, é
importante avaliar o risco associado a estes procedimentos e quantificar a dose de radiação a
que os profissionais e os indivíduos do público estão sendo submetidos.
O objetivo maior deste estudo foi fazer uma avaliação das doses recebidas pelos
indivíduos ocupacionalmente expostos e pelos indivíduos do público associados à utilização
de equipamentos móveis de radiação X em um Hospital Público do Estado de Sergipe. Foi
estudada também a rotina de uso do equipamento de raios X móvel no hospital identificando
os exames mais solicitados, as respectivas técnicas radiográficas mais utilizadas na realização
do exame e as condições de execução do procedimento.
2
O capítulo 4, MATÉRIAIS E MÉTODOS, esboça de forma detalhada o método e os
materiais utilizados nas simulações experimentais de dose nos profissionais ocupacionalmente
expostos e indivíduos do público.
3
CAPÍTULO 2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4
filamento aquecido (catodo), chocam-se com um alvo (anodo), e parte da sua energia cinética
se transforma em energia eletromagnética. Na colisão, os elétrons emitem fótons de diferentes
energias (frequências). Algumas delas estão na faixa conhecida como radiação X (1%),
enquanto outras na faixa do infravermelho (calor, 99%). Os fótons só existem em quantidade
discreta e se propagam com velocidade da luz, transportando uma energia que é função da sua
frequência, como mostra a Equação 2.1 (GARCIA, 2006).
(2.1)
(2.2)
onde
→ velocidade da luz no vácuo (299,792 x 106 m/s);
→ comprimento de onda (m);
→ frequência (1/s).
5
Figura 2.1 Esquema de um tubo de raios X (adaptada de OLIVEIRA, 2010).
A Figura 2.2 mostra o principal componente interno do tubo de raios X, a ampola, que
é uma peça fundamental para a produção de raios X. Ela é composta pelo o catodo (1),
geralmente um filamento de tungstênio (W), que é aquecido por um circuito elétrico
específico para este fim até atingir elevada temperatura, acelerando os elétrons na direção do
anodo (2), para um ponto denominado de ponto focal. Na radiologia convencional, o anodo é
acoplado a um rotor giratório (4) que tem a função de evitar o superaquecimento. O anodo e o
catodo são revestidos por um invólucro de vidro (3), onde é feito vácuo (DIMENSTEIN &
NETTO, 2005).
Figura 2.2 Esquema de uma ampola de raios X diagnóstico (adaptada de DIMENSTEIN & NETTO, 2005).
Após serem produzidos no anodo, os raios X são direcionados para uma determinada
região de modo que haja pouco espalhamento no trajeto percorrido. Para que não haja
radiação X em direções que não são de interesse, o tubo é revestido por um invólucro
contendo chumbo, denominado de cabeçote. A radiação emitida originariamente do anodo é
6
conhecida como radiação primária. Quando o feixe primário incide em um objeto, parte dos
fótons interage com o meio, gerando diminuição da intensidade do feixe incidente, absorção
de energia pelo meio e fótons espalhados. Qualquer objeto atingido por um feixe de radiação
atua como um objeto espalhador. A radiação que é espalhada é denominada de radiação
secundária. Embora de menor intensidade e energia, a radiação espalhada pode provocar
exposições indevidas de trabalhadores e indivíduos do público. Portanto, é de extrema
importância que sejam estabelecidas práticas de proteção radiológica que visem minimizar a
presença de indivíduos nos ambientes dos exames durante o uso do feixe de raios X
(LIMACHER e col., 1998).
Depois de formado no interior do tubo, o feixe de radiação X é dirigido até a região a
ser examinada do paciente, percorrendo uma distância denominada de distância foco
superfície (DFS). No percurso, a intensidade do feixe é reduzida pelo o inverso do quadrado
da distância, como mostra a Figura 2.3.
Considerando que os raios X se propagam em linha reta, e que não haja nenhum objeto
atenuador entre o ponto de geração e o paciente, a taxa (T) de dose decai com o inverso do
quadrado da distância, como apresentado na Equação 2.3.
= (2.3)
onde é uma constante que depende dos parâmetros radiológicos do tubo (kVp, mAs) e r é a
distância do ponto onde os raios X são gerados até o ponto de incidência.
7
2.1.3 Fatores que influenciam a qualidade da imagem e a exposição aos raios X
A energia e a intensidade dos raios X são dois fatores importantes que influenciam a
qualidade da imagem e a exposição à radiação. Os parâmetros radiológicos selecionados pelo
técnico de radiologia definem estas duas características. Dentre os parâmetros radiológicos,
destacam-se a tensão aplicada ao tubo, conhecida como “quilovoltagem”, a corrente no tubo,
ou “miliamperagem”, e o tempo de exposição.
A tensão (kV) é responsável pela aceleração dos elétrons em direção ao anodo. Quanto
maior a aceleração desses elétrons, maior será a energia cinética adquirida pelos elétrons e,
como consequência, maior será a energia do feixe gerado. A Figura 2.4 mostra a relação entre
a energia do feixe com o poder de aceleração dos elétrons, ou seja, quanto maior for a tensão
selecionada pelo técnico em radiologia, maior será a energia efetiva do feixe de raios X
produzido. Os feixes mais energéticos têm maior poder de penetração.
Figura 2.4 Variação do espectro de energia pela variação da tensão aplicada ao tubo (alterada de DIMENSTEIN
& NETTO , 2005)
Pela Figura 2.4, observa-se que a tensão afeta a qualidade do feixe (associada com a
energia) e a quantidade de raios X produzidos (associados ao número de fótons X). Por afetar
a qualidade do feixe, a tensão altera de forma importante o contraste da imagem.
A corrente no tubo (mA) é responsável pelo número de elétrons liberados pelo
filamento em direção ao anodo. Ele modifica apenas a intensidade do número de fótons
produzidos e a amplitude do espectro de raios X. Observa-se pela Figura 2.5 que a corrente
8
aumentará somente o número de fótons produzidos, sem alterar o espectro de energia do
feixe.
Figura 2.5 Efeito da variação da corrente (mA) no espectro de raios X (alterada de DIMENSTEIN & NETTO,
2005)
9
Figura 2.6 Desvio de trajetória do elétron com perda energética (alterada de GARCIA, 2006).
Figura 2.7 Esquema ilustrativo da emissão de radiação X caracterísitca (alterada de DIMENSTEIN & NETTO,
2005).
10
Nas Figuras 2.4 e 2.5, o espectro em forma de curva e contínua corresponde aos raios
X de freamento e as linhas verticais, aos raios X característicos. A maior parte do espectro é
referente aos raios X de freamento e os raios X característicos têm energias bem definidas.
Figura 2.8 Energia dos fótons nos processos competitivos do efeito fotoelétrico e efeito Compton. (alterada de
TAUHATA, 2003).
11
2.2.1 Efeito fotoelétrico
= - (2.4)
12
observar na Figura 2.10, o fóton espalhado forma um ângulo em relação a sua trajetória
original. Considerando que o choque não seja central, o elétron sofrerá um deslocamento em
relação a sua posição inicial formando um ângulo em relação a sua posição inicial, seguindo
um novo trajeto com energia . (ALPEN, 1990).
= (2.5)
= = (2.6)
– (2.7)
13
onde
Levando em consideração as componentes do momento linear, encontra-se:
= (2.8)
= (2.9)
=h (2.10)
e
=h (2.11)
=h (2.12)
e
=h (2.13)
14
(2.14)
e a energia do fóton incidente será igual à energia do fóton defletido, como apresentado na
Equação 2.15
(2.15)
(2.16)
onde
→ espessura do meio absorvedor.
→ coeficiente de atenuação linear total, que representa a seção de choque de interação entre
cada fóton e o meio que atravessa, por unidade de volume.
representa a probabilidade de não interação por qualquer dos efeitos, ao atravessar
uma espessura x do meio absorvedor.
15
O coeficiente de atenuação pode ser obtido somando os coeficientes parciais para
cada um dos efeitos, considerados independentes, como o efeito coerente ( ,
espalhamento Compton ( absorção fotoelétrica ( ) e formação de pares ( , como
apresetando na Equação 2.17. No intervalo de energia do radiodiagnóstico, os efeitos mais
relevantes são o efeito fotoelétrico e o espalhamento Compton.
(2.17)
= + + (2.18)
Figura 2.11 Efeito do número atômico na atenuação de raios X (modificada de MCKETTY, 1998).
16
Além da dependência com o material, a intensidade depende também da energia dos
fótons que formam o feixe de raios X. A Figura 2.12 mostra a variação da intensidade em
função da espessura do meio absorvedor para dois feixes de energia e . O feixe de
energia possui energia maior do que o feixe de energia , logo este será atenuado mais
rapidamente do que .
Figura 2.12 Efeito da energia da radiação na atenuação de raios X (modificada de MCKETTY, 1998)
17
Do mesmo modo de um feixe de raios X monoenergético, o feixe polienergético ao
passar por um meio absorvedor, sofre atenuação. Entretanto, como a atenuação depende da
energia, como ilustrado na Figura 2.12, a forma como fótons de diferentes energias de um
feixe polienergético são atenuados varia significativamente. De modo geral, os fótons de
baixa energia são atenuados mais rapidamente do que os fótons de energia mais elevada o que
conduz a uma modificação tanto no número de fótons transmitidos, quanto na qualidade do
feixe, ou seja, na sua energia efetiva e no seu poder de penetração. Essa modificação será
tanto maior, quanto maior for a espessura do meio. A Figura 2.14 mostra o percentual do
número de fótons de um feixe polienergético em função da espessura do meio absorvedor, o
alumínio. À medida que a espessura vai aumentando, o feixe se aproxima mais de um feixe
monoenergético, diminuindo o declive da curva.
Figura 2.14 Atenuação do feixe polienergético em função da espessura do Al (adaptada de MCKETTY, 1998).
18
Figura 2.15 Comparação das curvas de feixe monoenergético e polienergético (adaptado de MCKETTY, 1998).
19
Figura 2.16 Ilustração da interação do feixe incidente com o paciente durante exame radiológico (modificada de
CASTRO, 2008).
Vários fatores contribuem para aumentar a radiação espalhada, sendo um dos mais
importantes a colimação do feixe, ou seja, quanto maior for o tamanho do feixe, maior será o
campo de radiação criado em torno do paciente e consequentimente maior será a exposição
dos indivíduos em torno do dele. Para uma redução significativa do feixe, é comum, em
equipamentos de raios X convencionais, o uso de um campo luminoso para definir de forma
mais cuidadosa a região examinada. Através da prática de colimação, é possível examinar a
área de interesse resultando em uma significativa redução da exposição tanto do paciente
quanto do corpo técnico envolvido nos procedimentos.
20
grande perigo quando as células sofrem modificações, pois estas podem originar outras
células modificadas, podendo causar danos mais tarde que induzem à doença, como o câncer.
Se as células alteradas forem das gônadas, pode acarretar sérios problemas como a
esterilização e até mesmo podem gerar danos aos descendentes do indivíduo exposto.
Os efeitos biológicos provocados pelas radiações ionizantes podem ser (ATTIX,
1986):
Efeitos determinísticos: quando se manifestam no próprio indivíduo irradiado, tais
efeitos não são transmitidos a gerações futuras, surgem depois de certo valor de dose
absorvida e a gravidade aumenta com a magnitude da dose.
Efeitos estocásticos: estão relacionados com alterações celulares. Uma célula
transformada pode resultar na produção de outras células modificadas, podendo ser
transmitidas aos descendentes do indivíduo irradiado. Estes efeitos surgem
independentemente do limite de dose.
Justificação: prega que toda prática utilizando radiação ionizante deve ser
devidamente justificada e só deve ser adotada se o beneficio produzido pelo seu uso à
sociedade for maior do que os detrimentos provocados pela radiação.
Otimização: prega que a quantidade de pessoas expostas à radiação e a magnitude das
doses devem ser tão baixas quanto possíveis (ALARA – As Low As Reasonably Achievable).
Principio de limitação de dose: prega que as doses, tanto para trabalhador com para
indivíduos do público, não devem exceder aos limites recomendados. Para tanto, as
combinações de todas as práticas devem obedecer a mecanismos de controle para garantir que
nenhum individuo seja exposto a risco de radiação considerado inaceitável em circunstâncias
21
normais. Isso garante que os efeitos determinísticos sejam evitados e que a probabilidade
de sofrer os efeitos estocásticos seja suficientemente baixa.
Para que o principio ALARA seja bem sucedido, alguns aspectos relacionados com a
proteção radiológica devem ser considerados, como distância do equipamento, tempo de
exposição e barreiras de proteção: quanto mais distante o indivíduo estiver da fonte emissora
de radiação ionizante, quanto menor for o tempo de exposição e quanto mais protegido por
barreiras ele estiver, menos risco haverá associado à prática e mais bem-sucedida estará o
estabelecimento do princípio ALARA. Outro aspecto importante do ponto de vista da
proteção radiológica é o uso de materiais que atenuam a passagem de radiação, como os
equipamentos de proteção individual.
Os limites de doses são valores fixados e não garantem o que é seguro ou perigoso.
Eles foram criados visando à restrição aos efeitos somáticos nos indivíduos ocupacionalmente
expostos e na população em geral.
No Brasil, o órgão responsável pelo estabelecimento dos limites legais de dose é a
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Os limites atualmente vigentes podem ser
encontrados na norma CNEN-NE-3.01 de 2005, e são apresentados na Tabela 2.1.
A norma da CNEN-3.01 de 2005 foi elaborada com base nos limites de dose propostos
pela Comissão Internacional de Proteção à Radiação (ICRP) 60 de 1990 (ICRP, 1990). Após a
publicação da CNEN NE 3.01 (CNEN, 2005), a ICRP publicou uma nova recomendação, a
ICRP 103 de 2007 (ICRP, 2007), cujas considerações devem ser incorporadas em alguma
norma futura da CNEN.
A CNEN-NE 3.01 estabelece que para mulheres grávidas em regime de exposição que
não seja médica, por não haver limites de dose, a dose não deve ultrapassar 1 mSv durante a
gravidez e a dose no abdômen não deve ser superior a 10 mSv durante um período de três
meses consecutivos e para o feto a dose não deve ultrapassar 1 mSv.
A definição de exposição está relacionada com a absorção de radiação pelo ar. Assim,
ela pode ser representada pelo quociente de por dm, onde é o valor absoluto da carga
total de íons de um dado sinal, produzidos no ar, quando todos os elétrons e pósitrons
23
liberados pelos fótons no ar, em uma massa , são completamente freados no ar, como
apresentado na Equação 2.19.
= (2.19)
1 = 2,58 x 10-4C/kg
2.6.2 Kerma
K= (2.20)
onde representa a energia cinética total liberada por partículas desprovidas de carga
elétricas incidentes em um material de massa . O kerma tem como unidade o joule por
quilograma (J/kg). O nome especial para unidade de kerma é o Gray (Gy).
= (2.21)
24
Na condição de equilíbrio eletrônico, é possível relacionar a exposição (X), medida no
ar, com a dose no ar pela Equação 2.22.
(2.22)
onde 0,876 é a energia média para formar um par de íons no ar por carga do elétron (ATTIX,
1896).
A intensidade com que a radiação deposita a sua energia por unidade de comprimento
no tecido depende do tipo de radiação e interfere diretamente nos efeitos químicos e
biológicos que podem surgir. Para quantificar a influência do tipo de radiação nos efeitos da
interação da radiação com o tecido, foi criada uma grandeza denominada de dose equivalente
( ), definida como o somatório do valor médio da dose absorvida num tecido ou
órgão T, devido à radiação R (ATTIX, 1986), conforme apresentado na Equação 2.23.
= (2.23)
Sob o ponto de vista de proteção radiológica, a ICRP, em sua publicação 103, define a
dose efetiva ( ) como a soma ponderada das doses equivalentes em todos os tecidos ou
órgãos do corpo. A dose efetiva não é mensurável diretamente, e pode ser representada
aplicando a Equação 2.24 (ATTIX, 1986).
= .HT (2.24)
25
onde é um fator que representa a proporção do risco devido a efeitos estocásticos
resultantes no tecido ou órgão T. A dose equivalente tem como unidade o Sievert, ou seja,
J.kg-1. Os valores de recomendados por ICRP 103 são apresentados na Tabela 2.2.
Tabela 2.2 Valores do fator de ponderação recomendados pelas publicações do ICRP 103
26
Tabela 2.3 Fatores de ocupação sugeridos pelo NCRP 49 (1976) e por SIMPKIN e DIXON (1998) para
diferentes tipos de ocupação para pessoas não ocupacionalmente expostas.
Tabela 2.4.Fatores de ocupação propostos pelo NCRP 49 (1976) e por SIMPKIN e DIXON (1998) para pessoas
ocupacionalmente expostas.
FATOR DE USO T
LOCAL
NCRP 49 Simpkin e Dixon
Sala de controle do equipamento de raios X 1 1
Área de leitura de filmes 1 1
Salas de exames de ultra-sonografia 1 1
Salas de medicina Nuclear 1 1/2
Outros escritórios 1 1/2
Salas de trabalho 1 1/2
Salas de repouso de funcionários 1 1/2
Salas de raios X adjacentes 1 1
Escritórios dos médicos 1 1/2
Escritórios do administrador e dos técnicos 1 1/2
Cozinha para preparo de contraste de bário 1 1/2
Quartos de repouso 1 1/4
Corredores 1 1/4
Áreas de espera de pacientes 1 1/4
Vestiários de pacientes 1 1/8
27
recebidas no local de trabalho por esse indivíduo devem ser registradas. Dessa forma,
entende-se por monitoração individual a medida da dose de radiação no trabalhador após seu
recebimento. Assim, o monitoramento individual passa a ter um caráter puramente
confirmatório. Ao contrário do monitoramento individual pessoal, a monitoração de área tem
um caráter preventivo, ou seja, pode-se empreender alguma ação antes mesmo que o
trabalhador receba a dose.
28
locais para verificar o ocorrido, sendo necessária a justificativa de procedimentos do
profissional durante o mês de referência ( CNEN, 2005; ICRP, 2007).
29
CAPÍTULO 3
30
radiológicos móveis, expondo os técnicos e profissionais desses locais à radiação. Para
diminuir o risco que a radiação pode trazer à saúde dessas pessoas, faz-se necessária a adoção
de medidas de segurança como o uso de avental plumbífero e, sempre que possível,
recomenda-se que as pessoas presentes no recinto sejam afastadas do centro do campo de
radiação a pelo menos dois metros de distância.
MEDEIROS e col. (2002) mencionam que durante o exame de raios X cria-se em
torno do paciente um campo de radiação devido aos raios espalhados, que podem alcançar os
diversos profissionais, paciente e indivíduos que ajudam a conter ou confortar o paciente. A
mesma autora afirma que, para uma carga de trabalho de 8400 mAs/mês, as doses
equivalentes nos exames de leito de um hospital de grande porte, à distância de 2,0 m, é, em
média, 0,56 mSv/mês, para regime de exposição ocupacional, e que a distância segura para os
profissionais envolvidos nos procedimentos como enfermeiros, auxiliares é de 2,5 m para que
os limites de dose para indivíduos do público sejam atendidos.
Em um estudo realizado por LARA e col. (2008), concluiu-se que um indivíduo
ocupacionalmente exposto deve manter-se a uma distância mínima de 1 m do paciente sob
raios X, enquanto que os indivíduos do público devem se manter a uma distância mínima de
2,5 m. Neste mesmo estudo, o autor relata que as doses encontradas para distâncias superiores
a 2,5 m ficaram todas abaixo do nível de registro, ou seja, foram menor as que 0,2 mSv ao
mês.
Um estudo realizado por ANDRADE e col. (2005), para avaliar a dose efetiva de
trabalhadores de UTI, mostraram que os valores de dose efetiva mensal medidas por
dosímetros termoluminescentes, durante seis meses de pesquisa, foram menores do que 0,2
mSv, ou seja, a utilização do equipamento de raios X móvel na UTI estava de acordo com o
que se pretende no âmbito da proteção radiológica.
VALUCKAS e col. (2007), em um estudo feito na Lituânia para avaliar a exposição
ocupacional em decorrência dos procedimentos de radiologia móvel, constataram que a dose
mais alta encontrada foi de 1,9 mSv/ano para os técnicos de radiologia. O mesmo estudo
confirmou que o serviço realizado pelos os técnicos era seguro sob o aspecto da proteção
radiológica, pois a dose encontrada obedecia aos limites de dose recomendados por normas
internacionais.
DUETTING e col. (1999), em um estudo realizado em uma Unidade de Terapia
Intensiva, encontraram uma dose de 5µSv nas proximidades do paciente sob raios X. Eles
concluíram que na exposição de outras crianças dentro da unidade não oferecia risco, pois as
31
doses encontradas foram muito baixas, não havendo necessidade de médicos, enfermeiros e
auxiliares se afastarem durante a realização de exames radiológicos.
Um estudo feito por BURRAGE e col. (2003) revelou que a dose da radiação
espalhada, a 1 m de distância de um simulador de tórax de um recém-nascido, foi de 0,1 µGy.
O mesmo estudo concluiu que a dose de radiação espalhada recebida por outros pacientes
nesta unidade de terapia intensiva, para distância igual ou superior a 1 m do simulador, não
foi significante e que a dose recebida pelo técnico em radiologia estava dentro do limite
recomendado pelos órgãos internacionais.
POZNANSKI e col. (1974) e DUETTING e col. (1999) avaliaram a exposição dos
profissionais ocupacionalmente expostos e do público durante a realização de exames de raios
X no leito de uma unidade de terapia neonatal, e concluíram que o abandono da sala pelos
profissionais seria desnecessário desde que fosse mantida uma distância de 1,5 m do eixo do
feixe de raios X.
CARRETA e col. (1998) confirmaram em seu estudo realizado em uma unidade de
terapia intensiva adulta e pediátrica que as doses efetivas dos profissionais desse setor foram
todas inferiores a 0,2 mSv por mês. Nesse mesmo estudo, os autores concluíram também que
os profissionais da saúde desse setor demonstram conhecer medidas de controle a exposição à
radiação ionizante, pois mais da metade deles usam avental de chumbo e afastam-se mais de
cinco metros no momento do exame.
32
CAPÍTULO 4
MATERIAIS E MÉTODOS
33
instituição é de aproximadamente 6500 exames por mês, sendo que, aproximadamente, 12,5%
deles são realizados no leito. As solicitações de exames no leito incluem os setores de UTI,
UTSI, UTQ, enfermaria (oncologia, clínica geral), pronto socorro adulto, pronto socorro
pediátrico, centro cirúrgico, entre outros. Visando avaliar as doses ocupacionais e do público
associadas à utilização de equipamento móvel de raios X, neste estudo foram avaliados 413
exames, sendo 80 na enfermaria, 13 na UTQ, 119 na UTI, 82 na UTSI, 16 no centro cirúrgico
e 103 no pronto socorro.
34
projeto. Nesta etapa, foi realizada a medida da dose efetiva dos profissionais de cada setor e
dos técnicos em radiologia relacionados com exames radiológicos no leito. Dessa forma, foi
possível avaliar e comparar os níveis de radiação a que esses profissionais estão expostos com
a legislação vigente do país e com estudos da literatura estrangeira.
Faz-se necessário esclarecer que os parâmetros radiológicos levantados durante a
pesquisa retratam a situação em que se encontram os equipamentos móveis de radiação X.
Dessa forma, as doses encontradas durante os processos de simulação refletem a real situação
em que se encontram os equipamentos de radiação desse hospital.
As medidas foram feitas por meio de simulação das condições típicas de exames.
Portanto, foi utilizado um objeto simulador de tórax construído com material de acrílico de
dimensões 30 cm x 30 cm x 15 cm. Este material foi escolhido por ser um dos mais utilizados
para simular tecido mole em feixe de radiação ionizante. Para a obtenção das medidas de taxa
de kerma no ar, foi utilizada uma câmara de ionização da marca Radcal, modelo 10x6-180,
número de série 08-0135 calibrada em fábrica. Esta câmara de ionização foi utilizada
acoplada a um eletrômetro da marca Radcal, modelo 9096, número de série 96-00. O objeto
simulador de tórax e a câmera de ionização utilizados estão apresentados na Figura 4.1.
Os parâmetros para simulação dos exames foram determinados por meio da avaliação
de 413 exames realizados no período de maio a outubro de 2009. Durante os procedimentos,
foram coletadas várias informações como: distância do técnico de radiologia ao centro do
35
campo de radiação, distância dos profissionais do setor em relação ao paciente sob raios X,
tipo de exame, espessura da região examinada, projeção, parâmetros radiográficos e distância
foco-pele. Foram utilizados 5 equipamentos de raios X móvel: 1 Medsystems, modelo 100/90,
com tubo de raios X marca Mobilary, com 2,3 mm de filtração total de alumínio e 4
equipamentos VMI modelo Áquila Plus 300, com tubo de raios X marca VMI, modelo Rotax,
todos com 2,3 mm de filtração total de alumínio. A Figura 4.2 apresenta um dos equipamentos
móveis de radiação X utilizados neste estudo.
Figura 4.2 Foto de um dos equipamentos de radiação X móvel utilizado neste estudo.
Os parâmetros radiológicos obtidos, como valores típicos dos exames realizados com
os equipamentos de raios X móveis e que, portanto, foram utilizados nos cenários simulados
para determinação das doses efetivas estão apresentados na Tabela 4.1. Para cada distância,
foram efetuadas três medidas em condições técnicas similares, de modo a obter um valor
médio do kerma no ar para cada distância.
Tabela 4.1 Parâmetros radiológicos utilizados para determinação das doses efetivas.
SETOR TÉCNICA RADIOGRÁFICA
kVp mAs T(s) DFS (cm)
Enfermaria e UTQ 60 –70 – 80 10 - 15 0,2 80
UTSI, pronto socorro e UTI 65 – 70 03 0,01 90
Centro cirúrgico 60 – 65 04 – 05 0,13 – 0,16 70
36
A câmera de ionização foi posicionada numa altura de 1,15 m na enfermaria e na
UTQ, 1,10 m na UTI e 1,30 m na UTSI, no pronto socorro e no centro cirúrgico em relação ao
piso da sala e afastado do centro do campo de radiação, nas distâncias de 0,5, 1,0, 1,5, 2,0, 2,5
e 3,0 m como mostra a Figura 4.3.
Figura 4.3 Geometria de distribuição das medidas nas medidas de dose efetiva.
Para a medida das doses nos cenários simulados, foi necessário medir as distâncias dos
demais indivíduos presentes na sala durante o procedimento ao paciente que estava sendo
examinado. Outro parâmetro que deve ser levado em consideração é a espessura da região
examinada, pois para cada tipo de exame é empregada uma técnica radiográfica. A técnica
radiográfica empregada depende sobremaneira do tipo de exame. Para obtenção desses dois
parâmetros, distância do paciente e espessura da região examinada, foram utilizados dois
instrumentos, uma trena e um espessômetro, mostrado na Figura 4.4.
37
A determinação da dose efetiva, tanto para os indivíduos ocupacionalmente expostos
como para indivíduos do público, para diferentes distâncias, foi efetuada por meio da
equação:
(4.1)
(4.2)
onde representa o número médio de exames realizados por dia, é o número de dias em
que o técnico trabalha por semana, é o numero de semanas por mês em que o técnico
trabalha, é o produto da corrente elétrica no tubo de raios X, em mA, pelo tempo de
exposição em segundos (s) e é o número de turnos por dia.
38
4.5 Determinação da carga de trabalho para indivíduos do público
= (4.3)
(4.4)
em que σ representa o grau de dispersão das medidas em relação ao valor médio da grandeza
medida e representa o número de medições realizadas.
A incerteza tipo B considerada nesse trabalho refere-se apenas ao erro instrumental
especificado por fábrica, igual a 4 %, conforme apresentado na Equação 4.5.
= 4% (4.5)
39
(4.6)
= (4.7)
(4.8)
onde k representa o fator de abrangência. Para fins da determinação das incertezas expandidas
associadas às medições utilizou-se o fator de abrangência k = 2, relativo a um intervalo de
confiança (P) de 95 % (VUOLO, 1996; ABNT/INMETRO, 2003).
40
CAPÍTULO 5
RESULTADOS E DISCUSSÃO
41
5.2 Classificação da população estudada em indivíduos do público e em
indivíduos ocupacionalmente expostos (IOE)
A demanda de exame radiológico no leito ocorre com grande frequência para controle
de infecções pulmonares e depende de forma significativa das funções respiratórias dos
pacientes, pois eles necessitam de ventilação mecânica e consequentemente de
acompanhamento dessas funções, que ocorrem mediante aquisição de imagens radiológicas,
principalmente a radiografia de tórax. Com base nos dados levantados entre maio e outubro de
2009, constatou-se que, dos 413 exames radiológicos analisados, 75% são referentes a exames
de raios X de tórax e os 25% restantes são referentes a exames de abdômen, extremidades e
pélvis.
42
5.4 Aspectos relevantes da população estudada associados com a exposição
à radiação X
5.4.1 Faixa-etária
Figura 5.2 Distribuição da categoria de profissionais considerada não ocupacionalmente exposta estudada por
faixa-etária.
43
5.4.2 Sexo
Figura 5.4 Distribuição percentual da categoria profissional considerada não ocupacionalmente exposta estudada
por sexo.
44
Como há cuidados de proteção radiológica adicionais para trabalhadores do sexo
feminino, o cenário encontrado é de extrema importância e reforça a necessidade de controle e
avaliação periódica associados ao uso das fontes de radiações ionizantes, inclusive os
equipamentos de raios X móveis.
Nas entrevistas, tanto para os indivíduos do público como para os IOE, foram feitas
perguntas sobre o conhecimento dos profissionais acerca de dois assuntos relacionados com o
uso de radiação X: se os profissionais tinham conhecimentos sobre os efeitos biológicos que
os raios X podem provocar no organismo e se tinham conhecimento sobre proteção
radiológica. Não foi criado nenhum mecanismo para verificação da veracidade das respostas.
A única intenção era avaliar quão confortáveis estes profissionais estavam em relação a estes
temas e se eles consideravam o seu conhecimento suficiente para execução dos
procedimentos. Os resultados para estas duas perguntas podem ser conferidos nas Figuras 5.6
e 5.7, para os profissionais considerados como indivíduos do público, e nas Figuras 5.8 e 5.9
para o IOE.
Figura 5.6 Distribuição percentual da categoria profissional considerada não ocupacionalmente exposta estudada
sobre conhecimento dos efeitos biológicos.
45
Figura 5.7 Distribuição percentual da categoria profissional considerada não ocupacionalmente exposta estudada
sobre conhecimento de proteção radiológica.
.Figura 5.8 Distribuição percentual do IOE estudada sobre conhecimento dos efeitos biológicos.
Figura 5.9 Distribuição percentual do IOE estudada sobre conhecimento de proteção radiológica.
46
Observa-se nitidamente que os profissionais consideram que possuem conhecimento
suficiente para lidar com os procedimentos que utilizam radiação X.
Vale salientar, entretanto, um ponto importante: cerca de 20 % dos profissionais
considerados como indivíduos do público, que podem estar envolvidos diretamente em
procedimentos que fazem uso de radiação ionizante, alegam não conhecer nem sobre os
efeitos nocivos das radiações e nem sobre proteção radiológica. Assumir ter conhecimento
não é garantia de tê-lo de fato, já que não foram realizados métodos confirmatórios. Assumir
não ter conhecimento, entretanto, é assumir ser incapaz de lidar com os riscos inerentes destes
procedimentos e isto é extremamente preocupante. Vale ressaltar ainda que, com exceção dos
técnicos em radiologia, nenhum profissional dos outros setores envolvidos na pesquisa
utilizou algum tipo de equipamento de proteção individual durante a realização de exame
radiológico no leito. O motivo alegado por estes profissionais é que não havia esses
equipamentos disponíveis no setor. Assim, no momento do exame de raios X, somente o
técnico em radiologia utilizava o avental plumbifero.
É necessário destacar também que, embora a grande maioria da população diz
conhecer sobre proteção radiológica, não se pode descartar a necessidade de se manter uma
educação permanente para todos os profissionais que participam de procedimentos utilizando
radiação ionizante. Nessa perspectiva, os técnicos em radiologia mostram conhecer os efeitos
biológicos da radiação, pois grande parte deles já realizou algum tipo de treinamento sobre
proteção radiológica. A Figura 5.10 mostra o percentual de técnicos em radiologia que já
fizeram curso de treinamento para entender mais sobre como se proteger da radiação X.
Figura 5.10 Distribuição percentual da categoria dos IOE que participou de treinamento sobre proteção
radiológica.
47
A Portaria 453/98 do Ministério da Saúde (BRASIL, 1998), prevê que as dependências
solicitantes de raios X em leito devem possuir equipamentos de proteção individual (EPIs)
para pacientes, equipe técnica e acompanhante. Os equipamentos de proteção individual
devem ser em quantidade suficiente para a realização de exames e devem estar em boas
condições físicas minimizando a quantidade de radiação transmitida ao usuário.
Dos trabalhadores lotados nos setores que utilizam raios X no leito, os profissionais de
maior presença durante os exames são respectivamente os auxiliares de enfermagem, os
técnicos de enfermagem, os enfermeiros e os médicos, como mostra a Figura 5.11.
Figura 5.12 Distribuição percentual das distâncias dos profissionais não ocupacionalmente expostos em relação
ao paciente examinado, durante a realização de procedimentos com equipamento móvel de raios X no leito.
49
Tabela 5.1 Número médio mensal de exames radiológicos acompanhados pelos profissionais que não foram
considerados como indivíduos ocupacionalmente expostos em um hospital público do estado de Sergipe, 2009.
Como pode-se observar pela Tabela 5.1, o setor em que mais se expõe seus
profissionais aos raios X é o do pronto socorro. Devido à condição clínica do paciente neste
setor, na maioria das vezes, é impossível a locomoção dos pacientes para a realização de raios
X em ambientes apropriados sob o aspecto da proteção radiológica.
Durante a pesquisa foi observado que nenhum setor solicitante de exames de raios X
no leito oferece equipamento de proteção individual (EPIs) em sua totalidade aos
profissionais que auxiliam o técnico em radiologia no posicionamento do paciente. Dos
setores solicitantes de raios X no leito, apenas o centro cirúrgico possui avental plumbífero e
protetor de tireóide, porém, no momento dos exames radiológicos, não foi observado nenhum
indivíduo desse setor utilizando esses equipamentos de proteção.
5.6.1 Demanda de exames com equipamento móvel de radiação X nos setores do hospital
50
Tabela 5.2 Número médio mensal e diário de exames radiológicos realizados nos setores que utilizam o
equipamento móvel de raios X.
A demanda de solicitação de exame nestes setores ocorre com grande frequência para
controle de infecções pulmonares. Por isso, a maior parte dos exames no leito é de tórax, que
é importante para acompanhamento das funções respiratórias dos pacientes, que, muitas
vezes, estão fazendo uso de ventilação mecânica. Já no setor do centro cirúrgico, a maior
causa de solicitação é para diagnosticar fraturas (período pré e pós-operatório).
51
Figura 5.13 Percentual de técnicos em radiologia que utiliza o avental de chumbo durante o procedimento de
raios X no leito.
A Figura 5.14 mostra que o percentual de uso do dosímetro pessoal pelos técnicos em
radiologia durante os exames de raios X no leito foi de 84% durante suas jornadas de trabalho.
52
Figura 5.14 Percentual de técnicos em radiologia que utiliza equipamento de monitoração pessoal em um
hospital público de Sergipe, 2009.
Embora o dosímetro não possibilite leituras das doses ou taxas de dose de forma
imediata no momento do exame, a informação sobre a dose adquirida durante as atividades
com equipamento de raios X fica armazenada e mantém a informação referente a um período
de uso, e conhecer essa dose é fundamental para o controle da exposição à radiação.
5.6.4 Técnicos em radiologia que exercem atividade com radiação ionizante em outra
instituição
A Figura 5.15 mostra o percentual de técnicos que trabalham com radiação ionizante
em outras instituições.
Não trabalha
Trabalha
40%
60%
Figura 5.15 Técnicos em radiologia que trabalham com radiação ionizante em outra instituição.
53
É importante destacar que os técnicos que desenvolvem atividade em outras
instituições relacionadas com radiação ionizante devem tomar certas precauções, pois, estão
ocupacionalmente expostos por um período muito maior à radiação, o que pode colocar sua
saúde em risco.
Tabela 5.3 Distribuição da carga de trabalho dos profissionais por setor de um hospital público do estado de
Sergipe, 2009.
CARGA DE TRABALHO (mAs/mês)
PROFISSÃO SETOR
ENF UTQ PS UTSI CC UTI
Enfermeiro 15 10 - - 45 06 - - 30
A.Enfermagem 45 30 75 50 60 42 08 10 45
T.Enfermagem 105 70 105 70 36 30 08 10 54
Médico - - - - 09 09 - - -
T. Radiologia 105 70 17 11 27 21 06 07 31
Pode-se observar pela Tabela 5.3 que dentre os indivíduos considerados não
ocupacionalmente exposto, a maior carga de trabalho obtida foi para os técnicos em
enfermagem lotados na enfermaria e na UTQ. A carga de trabalho encontrada relacionada
com o uso de equipamento de raios X móvel foi próxima da carga de trabalho da categoria
considerada IOE. Observa-se também que os médicos são os profissionais que menos se
expõem à radiação durante exames radiológicos no leito. Dos setores pesquisados somente no
PS e na UTSI esta categoria de profissional fica exposta à radiação.
54
5.7.1 Parâmetros radiológicos mais utilizados entre os setores
5.8 Avaliações das doses ocupacionais e do público nos setores que utilizam
o equipamento de raios X móvel
As doses encontradas por este estudo, referente aos profissionais considerados como
indivíduos do público, são específicas para o setor em que esses são lotados. Por exemplo, as
doses encontradas nos auxiliares de enfermagem na UTI são decorrentes do número de
exames acompanhados por esses indivíduos nesse setor, e não será levada em consideração se
esses indivíduos acompanham exames radiológicos em outros setores. No entanto, para os
técnicos em radiologia a dose efetiva total é o resultado da soma de todas as parcelas de doses
encontradas em cada setor que utilizam o serviço com equipamento móvel de radiação X.
A partir dos dados coletados e das cargas de trabalho calculadas, foi possível estimar
os valores médios das doses efetivas nos indivíduos ocupacionalmente expostos e nos
indivíduos do público para diferentes distâncias e técnicas radiográficas durante raios X de
tórax.
55
5.8.1 Doses efetivas obtidas no pronto socorro – PS
Tabela 5.4 Valores de dose efetiva obtidas no setor do pronto socorro de um hospital público do estado de
Sergipe, 2009.
Com base nos valores de doses apresentados na Tabela 5.4, percebe-se que os
auxiliares em enfermagem e os enfermeiros foram os profissionais que obtiveram os maiores
valores de dose dentre todos os profissionais, mesmo considerando os técnicos em radiologia.
O motivo que leva esses profissionais à exposição se deve ao grande número de atendimentos
prestados neste setor.
56
5.8.2 Doses efetivas obtidas na enfermaria e na unidade de terapia de queimados – UTQ
As Tabelas 5.5 e 5.6 mostram que, dentre as categorias profissionais estudadas nestes
setores, os técnicos em enfermagem foram os profissionais que obtiveram os maiores valores
de doses, maiores até mesmo do que as doses dos profissionais classificados como IOE.
Tabela 5.5 Valores das doses efetivas obtidas na enfermaria de um hospital público do estado de Sergipe, 2009.
57
Tabela 5.6 Valores das doses efetivas obtidas na unidade de terapia de queimados de um hospital público do
estado de Sergipe, 2009.
5.8.3 Doses efetivas obtidas na unidade de terapia intensiva e na semi - intensiva – UTSI
58
Tabela 5.7 Valores de dose efetiva obtidas em uma unidade de terapia semi – intensiva de um hospital público
do estado de Sergipe, 2009.
Tabela 5.8 Valores de dose efetiva obtidas no setor da unidade de terapia intensiva de um hospital público do
estado de Sergipe, 2009.
A Tabela 5.9 apresenta os valores das doses efetivas obtidos no setor do centro
cirúrgico. Vale ressaltar que os médicos e enfermeiros lotados nesse setor não ficam expostos
à radiação X durante a realização de exames no leito. A solicitação de exames nesse setor, na
maioria das vezes, é para os médicos avaliarem e acompanharem os procedimentos pré e pós-
59
operatórios. Observando a Tabela 5.9 é possível verificar que os valores de dose encontrados
são os mais baixos entre os setores pesquisados, pois a demanda de exames com equipamento
móvel de radiação X para este setor é muito pequena. No entanto, há algo em comum com os
outros setores: os auxiliares e técnicos em enfermagem são os profissionais que representam a
categoria considerada não ocupacionalmente exposta com maiores valores de dose, inclusive
maior do que até mesmo da categoria considerada IOE, ou seja, do técnico em radiologia.
Tabela 5.9 Valores de dose efetiva obtidas no setor do centro cirúrgico de um hospital público do estado de
Sergipe, 2009.
Técnica Dose efetiva CC (µSv/mês)
radiográfica D.O.S
Categoria profissional
kVp mA.s T(s) (m) Aux. Enf Téc.Enf Téc. Rad
60 05 0,16 0,5 0,52 ± 0,13 0,52 ± 0,13 0,36 ± 0,13
60 05 0,16 1,0 0,20 ± 0,11 0,20 ± 0,11 0,08 ± 0,11
60 05 0,16 1,5 0,15 ± 0,07 0,15 ± 0,07 0,04 ± 0,03
60 05 0,16 2,0 0,07 ± 0,03 0,07 ± 0,03 0,03 ± 0,02
60 05 0,16 2,5 0,03 ± 0,01 0,03 ± 0,01 0,01 ± 0,02
60 05 0,16 3,0 0,02 ± 0,01 0,02 ± 0,01 0,01 ± 0,01
65 04 0,13 0,5 0,64 ± 0,15 0,64 ± 0,15 0,45 ± 0,07
65 04 0,13 1,0 0,15 ± 0,07 0,15 ± 0,07 0,09 ± 0,05
65 04 0,13 1,5 0,07 ± 0,03 0,07 ± 0,03 0,04 ± 0,03
65 04 0,13 2,0 0,04 ± 0,01 0,04 ± 0,01 0,03 ± 0,02
65 04 0,13 2,5 0,02 ± 0,01 0,02 ± 0,01 0,02 ± 0,01
65 04 0,13 3,0 0,01 ± 0,01 0,01 ± 0,01 0,01 ± 0,01
Neste estudo foram apresentados os valores de doses efetivas associadas com o uso de
equipamento móvel de radiação X em diferentes cenários durante a realização de exame de
tórax no leito, que é o tipo de procedimento mais solicitado (75%). Também foi feito um
levantamento de um conjunto de dados associados à exposição de dois grupos profissionais
estudados: os trabalhadores monitorados, portanto, considerados como ocupacionalmente
expostos, e os trabalhadores não monitorados, considerados, portanto, como indivíduos do
público. Com isto, é possível fazer algumas discussões que logram ser as mais importantes
para este estudo.
60
A exposição dos profissionais não ocupacionalmente expostos em sua grande maioria
é devido aos serviços de apoio ao técnico em radiologia. O técnico em radiologia, na maioria
das vezes, ao realizar os exames, solicita aos profissionais presentes ajuda no posicionamento
correto do paciente e inclusive para contenção. Outro fator que contribui ainda mais para
exposição desses profissionais e dos técnicos em radiologia é a baixa qualidade das imagens
obtidas nos exames no leito, demandando muitas vezes repetições.
Os resultados de doses mostrados pelas Tabelas 5.4 a 5.9 indicam grandes variações
das doses de um setor para outro. Isso se deve ao fato da demanda de exames ser bastante
variada entre esses setores. Outro fator que está diretamente ligado com a variação das doses é
o emprego de diferentes técnicas radiológicas entre os setores. Como se pode observar pelas
Tabelas 5.7 e 5.8, por exemplo, o emprego de uma diferença de potencial maior (kVp)
forneceu doses mais altas.
Como esperado e comprovado pelos resultados listados nas Tabelas 5.4 a 5.9, os
valores das doses efetivas caem com o aumento da distância em relação ao paciente sob raios
X. A Figura 5.16 apresenta um exemplo gráfico deste decaimento, onde é possível observar a
rápida queda de intensidade da radiação espalhada, com a distância, para diferentes
potenciais. A partir da avaliação destes padrões de decaimento, foi possível determinar as
distâncias seguras para cada caso. Nessa perspectiva, é possível afirmar que a, pelo menos,
1,0 m de distância do paciente ou do feixe primário de raios X, os enfermeiros, auxiliares e
técnicos em enfermagem que trabalham no PS estariam seguros, enquanto que para os
médicos deste setor, devido à menor carga de trabalho, poderiam ficar até mais próximos, a
0,5 m. Para o setor da enfermaria, os enfermeiros e auxiliares de enfermagem devem se
posicionar a, pelo menos, 0,5 m e os técnicos em enfermagem a 1,0 m do paciente. Na UTQ,
os auxiliares em enfermagem devem se posicionar a 1,0 m, os enfermeiros e técnicos em
enfermagem a 0,5 m do paciente. Nos setores da UTSI, UTI e CC a pelo menos 0,5 m do
paciente todos os profissionais considerados como individuo não ocupacionalmente exposto
adquirem dose que não superam os limites recomendados. Para IOE, a distância segura foi
determinada considerando a dose total obtida entre os seis setores estudados. Dessa forma é
possível afirmar que a, pelo menos, 1,0 m de distância do paciente os limites de dose desta
categoria não devem ser atingidos. Para efeito conclusivo, os valores obtidos confirmam que a
distância estabelecida em norma é segura para quaisquer dos profissionais, em qualquer setor
do hospital.
61
Figura 5.16 Valores das doses efetivas em função da distância na enfermaria, durante a realização de radiografias
de tórax.
62
dose. Nesta filosofia, que os órgãos internacionais e normas nacionais não recomendam que
as doses sejam próximas aos limites legais. Para tanto, a norma CNEN-NN-3.01, define
valores para níveis de registro e níveis de investigação. Segundo a CNEN-NN-3.01, as doses
efetivas dos indivíduos ocupacionalmente expostos devem ser registradas se o valor medido
na monitoração individual mensal for superior a 200 µSv. Entretanto, se o valor for superior a
1000 µSv em qualquer mês ou a 6000 µSv por ano, a norma determina que é preciso realizar
investigações locais para verificar o ocorrido, sendo necessária a justificativa de
procedimentos do profissional durante o mês de referência. Adotar medida que vise diminuir
os valores de dose é sempre um ganho em termos de proteção radiológica, e é pensando assim
que este estudo recomenda fortemente que as categorias de profissionais estudadas,
especialmente os técnicos em enfermagem fiquem a, pelo menos, 1,0 m de distância do
paciente sob raios X.
Um dado que foi levantado nesse estudo é que apenas 12% dos profissionais
considerados não ocupacionalmente expostos ficam entre 0,5 m e 1,0 m do paciente, enquanto
a maioria desses profissionais (34%) situa entre 2,0 m e 3,0 m. Vale frisar também que
recomendações da portaria 453/98/MS devem ser seguidas, ou seja, sempre que possível esses
profissionais devem se proteger da radiação espalhada por barreiras de corpo inteiro, como
material em equivalência em chumbo de 0,5 mm. No entanto, com exceção dos técnicos em
radiologia, os profissionais em beira de leitos que se expõem aos raios X não têm a sua
disposição aventais de chumbo para serem utilizados no momento em que o exame
radiológico é executado.
Os técnicos em radiologia, em sua grande maioria, utilizam avental plumbifero no
momento do exame e mantém uma distância relativa ao paciente de aproximadamente 3,0 m,
considerada segura por este estudo. No entanto, é importante considerar alguns aspectos:
primeiramente, a carga de trabalho do técnico de radiologia devido a exames em leitos é uma
fração da carga de trabalho mensal. O técnico de radiologia realiza em média 300 exames
radiológicos nas salas com equipamentos fixos e 36 com equipamentos móveis em um mês de
trabalho, ou seja, os exames realizados nos leitos correspondem aproximadamente 12% em
relação aos exames na sala. Portanto neste caso, por segurança, é recomendável que as doses
efetivas dos técnicos referentes aos exames no leito não excedam 12% do limite mensal de
dose da norma nacional e internacional, ou seja, é recomendável que as doses efetivas não
superem 200 µSv/mês. Mesmo com esta consideração, os valores obtidos neste estudo
atendem os limites. Outro aspecto que concorre para que os limites de doses dos IOE seja
ainda mais atendido é o uso de EPI. Este estudo mostrou que 85% dos IOE utilizam avental
63
plumbifero. Com base pesquisas realizadas (OSEI, 2001; SIMPKIN e DIXON, 1998), avental
com equivalência em chumbo de 0,25 e 0,5 mm pode atenuar um feixe de radiação secundária
na faixa de energia em radiodiagnóstico por um fator de 10 e 200 respectivamente. Desta
forma, pelos valores obtidos neste estudo, se obedecida à distância segura e o uso de avental
plumbífero, muito dificilmente os limites para IOE serão atingidos.
Este estudo também evidenciou que o número de exames radiológicos realizados nos
leitos representa uma parcela considerável (12%) da demanda total do hospital e que às áreas
onde são realizados estes exames merecem atenção especial, pois, são desprotegidas sob o
aspecto da proteção radiológica. Neste sentido, a CNEN-NE 3.01/2005 determina três tipos de
área: área livre, supervisionada e controlada. Embora os valores de doses encontrados fossem
todos atendidos para os limites recomendados, fica evidente que, diante do número de exames
realizados, é possivel afirmar que os setores devem ser supervisionados sob o aspecto da
proteção radiológica, mesmo que medidas de proteção e segurança não seja normalmente
necessárias. Dessa forma, pode-se inferir que as categorias de profissionais que atuam nesses
setores devem receber atenção especial, pois esses não são monitorados e não fazem parte de
um programa de proteção radiológica.
Como podem observar pela Tabela 5.10, os valores de doses encontradas nesse estudo
estão dentro de uma faixa encontrada na literatura nacional e internacional. A única
disparidade observada foi em relação ao estudo realizado por MEDEIROS e col.(2002), pois
nesse estudo a pesquisadora estabeleceu uma condição extrema de carga de trabalho dos
profissionais lotados em uma enfermaria, em 8400 mAs/mês, o que está muito distante da
carga de trabalho encontrada nesse estudo, que foi de, no máximo, 105 mAs/mês.
64
CAPÍTULO 6
CONCLUSÃO
Com este estudo, foi possível mapear as doses efetivas dos profissionais que
trabalham em um hospital público do estado de Sergipe com relação ao uso dos
equipamentos de raios X móveis. Além disso, as características principais dos dois grupos
de trabalhadores, os ocupacionalmente expostos e os não ocupacionalmente expostos,
foram determinadas.
A categoria considerada não ocupacionalmente exposta, em sua maioria, é do sexo
feminino (75%), enquanto que a categoria ocupacionalmente exposta é majoritariamente do
masculino (73%). A maioria dos trabalhadores das duas categorias encontra-se na mesma
faixa etária, dos 20 aos 40. Como os trabalhadores possuem baixa idade média, é preciso
uma atenção especial para os efeitos estocásticos da radiação, que estão relacionados até
mesmo a valores muito baixos de dose e são mais preocupantes quanto maior for a
expectativa de vida do indivíduo.
Os resultados obtidos também permitiram avaliar a familiarização dos trabalhadores
com os temas de proteção radiológica e de os efeitos biológicos da radiação X. A grande
maioria dos trabalhadores alega conhecer os temas. Um dado que reforça isso é que a
maioria dos trabalhadores de todas as categorias de profissionais estudadas, no momento do
exame, se posiciona a pelo menos 2,5 m de distância do paciente. Esta distância é segura
pelos resultados obtidos neste estudo, e está dentro do que preconiza a portaria 453/98/MS
(no mínimo, distância de 2,0 m do feixe primário ou do paciente examinado). Entretanto,
quando isso não for possível, os profissionais devem utilizar avental como equivalência em
chumbo de no mínimo 0,25 mm. Neste estudo, o hábito de usar o avental plumbifero foi
observado apenas para os trabalhadores ocupacionalmente expostos. Outro dado levantado
neste estudo, 40% dos IOE estudados possuem atividades relacionadas com radiação
ionizante em outras instituições. Embora seja em menor percentual, esse dado também deve
ser levado em consideração, pois, se somadas às doses adquiridas por estes profissionais
dessas instituições com as encontradas neste estudo, o risco para saúde será ainda mais
aumentado, mesmo que seja para baixos valores de dose.
Portanto, no tocante ao uso de EPI, este estudo identificou que o serviço de
radiodiagnóstico do hospital está em desacordo com a portaria 453/98/MS, pois, segundo essa
65
mesma portaria, o serviço de radiodiagnóstico deve oferecer EPI em quantidade e qualidade
aos profissionais que transitam ou auxiliam o técnico em radiologia no posicionamento
correto do paciente irradiado. Dentre esses profissionais que auxiliam os técnicos em
radiologia, este estudo constatou que os auxiliares (47%) e técnicos de enfermagem (36%) são
a grande maioria.
Com os resultados obtidos permitem verificar que a distância segura para a categoria
de profissionais considerada não ocupacionalmente exposta que trabalha em beira de leito é a,
pelo menos, 1,0 m do objeto espalhador, ou seja, o paciente, durante a realização da
radiografia de tórax. Para os indivíduos ocupacionalmente expostos, é recomendável manter-
se nas mesmas distâncias adotadas em sua rotina, ou seja, a 3,0 m de distância do paciente.
Quanto às doses determinadas, é possível afirmar que foram todas inferiores aos
limites recomendados e que as atividades relacionadas com equipamento móvel de radiação X
para as duas categorias de profissionais estudadas são seguras sob os aspectos da proteção
radiológica.
Com este trabalho, foi possível traçar um mapa das doses em todos os setores que
solicitam exames radiológicos no leito em um hospital público do estado de Sergipe. Por meio
dos valores obtidos, o corpo técnico poderá executar os procedimentos médicos de forma
ainda mais segura e responsável, minimizando os riscos para eles e para indivíduos do
público. É importante ressaltar ainda que buscar a otimização do serviço de radiodiagnóstico,
ou seja, oferecer o serviço de qualidade com minimização da exposição da população, é uma
tarefa que cabe a todos os profissionais envolvidos no procedimento e que todos eles devem
ter consciência e responsabilidade sobre o correto uso da radiação ionizante.
66
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70
ANEXO A
8- Técnica radiográfica:
a) P1 ( )m b) P2 ( )m c) P3 ( )m d) P4 ( )m e) P5 ( )m
71
ANEXO B
______________________________________________________________________
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
7. Dos equipamentos de proteção individual listados abaixo, qual ou quais deles você
conhece?
( ) Sim ( )Não
72
ANEXO C
Caso seja afirmativo ou às vezes, a que distância do paciente sob raios X você fica?
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
73