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RA 00087279
São Paulo
2017
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................................. 3
INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 4
EM CRIAÇÃO......................................................................................................................... 10
CONCLUSÃO........................................................................................................................ 17
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................... 18
O fluxo criativo do corpo-aprendiz: o projeto poético na manutenção do estado de
dança.
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Radicalizando a experiência de desencaixe produzida pela modernidade, a
tecnologia desloca os saberes modificando tanto o estatuto cognitivo como
institucional das condições do saber, conduzindo a um forte apagamento das
fronteiras entre razão e imaginação, saber e informação, natureza e artifício, arte e
ciência, saber experto e experiência profana. O que na trama comunicativa da
revolução tecnológica introduz em nossas sociedades não é tanto uma quantidade
inusitada de novas máquinas, mas um novo modo de relação entre os processos
simbólicos. (MARTÍN-BARBERO, 2014, p.79)
O corpo não é um meio por onde a informação simplesmente passa, pois toda
informação que chega entra em negociação com as que já estão. O corpo é o
resultado desses cruzamentos, e não um lugar onde as informações são apenas
abrigadas. É com esta noção de mídia de si mesmo que o corpomídia lida, e não com
a ideia de mídia pensada como veículo de transmissão. A mídia à qual o corpomídia
se refere diz respeito ao processo evolutivo de selecionar informações que vão
constituindo o corpo. A informação se transmite em processo de contaminação.
(KATZ e GREINER, in GREINER, 2005, p.125)
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A percepção é um modo de agir que participa da cognição e atua como um
importante passo para o trajeto da criação, por ela o corpo-aprendiz comunica-se1 com o
ambiente e movimenta seu fluxo de imagens.
Partindo deste panorama, é importante compreender que este capítulo não é uma
manifestação contraditória à elaboração e realização de procedimentos de criação, este trata
da compreensão da abordagem das atitudes que envolvem procedimentos e fluxos criativos,
como diferentes entre si, com propósitos distintos, mas que podem permear-se mutuamente,
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Lembrando que o conceito de comunicação no qual esta pesquisa se baseia não se define pelo sistema emissor-
mensagem-receptor. Esta é fundamentada em conceitos que dialogam com a experiência sensório-motora e ações
recíprocas de trocas de sentidos, conforme referências apresentados.
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por um princípio de criação e “co-operam” entre si, na ampliação de possibilidades, em
semiose, abertas ao acaso e à vagueza.
Se você olhar pela janela para uma paisagem de outono, se ouvir a música de fundo
que está tocando, se deslizar seus dedos por uma superfície de metal lisa ou ainda se
ler estas palavras, linha após linha, até ao fim da página, estará formando imagens
de modalidades sensoriais diversas. As imagens assim formadas chamam-se
imagens perceptivas.
Mas você pode agora parar de prestar atenção à paisagem, à música, à superfície
metálica ou ao texto, e desviar os pensamentos para outra coisa qualquer. Talvez
esteja agora pensando em sua tia Maria, na torre Eiffel, na voz de Plácido Domingo
ou naquilo que acabei de dizer acerca de imagens. Qualquer desses pensamentos é
também constituído por imagens, independente de serem compostas principalmente
por formas, cores, movimentos, sons ou palavras faladas ou omitidas. Essas
imagens, que vão ocorrendo à medida que evocamos uma recordação de coisas do
passado, são conhecidas como imagens evocadas, em oposição às imagens de tipo
perceptivo. (DAMÁSIO, 2012, p.123)
Todo sistema artístico, como todo bom sistema vivo, é um sistema aberto. Todo
sistema aberto necessita abrir para um certo meio ambiente. Ele depende desse meio
ambiente, ele tem que realizar trocas com esse meio ambiente para poder
permanecer vivo. (VIEIRA, 2008, p.101)
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Observação baseada na conferência com Antônio Damásio para o projeto “Fronteiras do Pensamento”, em
2013. Publicada com o título de “Criatividade: a representação das memórias”. Disponível em:
<www.youtube.com/watch?v=n_g5vhzKaZQ>. Acesso: 02 de dezembro de 2017
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A ideia de sobrevivência, de manter-se vivo, contempla algo além da manutenção do
funcionamento dos sistemas biológicos, abrange a existência do corpo nas redes, nas trocas,
nas comunicações com o ambiente, na sociedade, do sujeito em comunidade, os movimentos
de interferência, inferência, semiose, contaminação, as transformações e negociações
movimentadas pelos fluxos criativos.
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processos de criação em Dança, a produção de conhecimento pela experiência sensório-
motora e suas interações com o ambiente, presentes nos processos co-evolutivos, podem
desenvolver práticas criativas que não vislumbrem, necessariamente, a produção de uma obra
de arte específica.
[...] A criação artística é marcada por sua dinamicidade que nos põe, portanto, em
contato com um ambiente que se caracteriza pela flexibilidade, não fixidez,
mobilidade e plasticidade. Uma memória criadora em ação que também deve ser
vista nessa perspectiva da mobilidade: não como um local de armazenamento de
informações, mas um processo dinâmico que se modifica com o tempo. (SALLES,
2008, p.12)
O corpo não é um lugar onde as informações que vêm do mundo são processadas
para serem depois devolvidas ao mundo. E também não é um meio por onde a
informação simplesmente passa, pois toda informação que chega entra em contato
com as que já estão e algo se produz a partir daí. O corpo é o resultado desses
cruzamentos, e não um lugar onde as informações são apenas abrigadas [...] A mídia
a qual o corpomídia se refere diz respeito ao processo evolutivo de selecionar
informações que vão constituindo o corpo. A informação se transmite em processo
de contaminação (GREINER e KATZ, 2011, p.5)
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outros espaços e situações, toda experiência vivida por este corpo compõe seu movimento de
dança, porque modifica a si, deste modo, “no universo da concretização do projeto poético do
artista, em que a experimentação mostra-se como seu momento de exploração” (SALLES,
1998, p.154) esta produz desestabilizações que geram operadores para outras experiências
sucessivas e deslocamentos entre culturas, hábitos de pensamento, rotinas, entre outros, com a
finalidade de fomentar novos olhares e caminhos para movimentar os fluxos criativos
(GREINER, 2005, p. 122).
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Podemos pensar em uma tríade composta por imagem, forma e conceito, como
operadores interdependentes e não segmentáveis (isolados somente para a investigação),
como um modo de compor projetos poéticos, em trajetos de aprendizagem em Dança, que
permitam aprimorar a compreensão dos critérios e as coerências entre si. Um projeto poético
com base em operadores cognitivos de imagem, por exemplo, pode desenvolver
experimentações que mantenham o estado de dança e, consequentemente, o fluxo criativo,
fundamentado com principal atenção a este operador, deste modo os nexos, contaminações,
trajetos, entre outros, deverão ser coerentes com este operador, e os critérios a serem
desenvolvidos e investigados também pertencem a este. Importante não confundir estas
experimentações com a realização das práticas comunicativas (SALLES, 2017), pois não
objetivam a criação de estratégias de criação de obras coreográficas, ou outros formatos de
espetáculo de Dança. Sua finalidade está na manutenção do estado de dança, como princípio
que permeia estes processos e do fluxo criativo, por meio da experimentação sensório-motora,
na produção de conhecimento, ou conceitos corporificados, como apresentam Lakoff e
Johnson (1999), por meio da definição de “embodiment”.
Com base nas reflexões aqui levantadas e suas fundamentações teóricas, a relevância
e os caminhos possíveis para manter e alimentar continuamente os operadores cognitivos, nos
quais se baseiam o estado de dança, princípio que permeia o corpo-aprendiz em fluxo criativo,
é verificada em seu diálogo com o conceito de projeto poético, como meio de aprendizagem
gerador de sujeitos críticos e autônomos. As experimentações, por meio da elaboração do
projeto poético, permite ao sujeito refletir e investigar sobre os fundamentos da criação, estar
presente como corpo-aprendiz, em diferentes abordagens e recortes, aprender caminhos de
criação, o que se distingue de investigar técnicas e métodos de criação desenvolvidos por
outros artistas. Este é um processo que ressalta a investigação, a experimentação, o estudo
prático-teórico, a aprendizagem pelo desenvolvimento de meios de aprendizado, a cognição
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O termo “corporificado” (embodiment) verifica-se como mais pertinente para esta tradução, como algo que é da
natureza do corpo, pois “incorporado” ou “encarnado” indicariam a ideia de algo somado ao corpo, que
anteriormente era ou estava separado deste, o que iria de encontro com o conceito apresentado pela pesquisa de
Jorge Lakoff e Mark Johnson (1999).
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corporificada, o que propiciará ao sujeito, este corpo-aprendiz posicionar-se criticamente e
perceber-se nos processos de criação de sua arte, atento às suas escolhas.
• Criação de diálogos;
• Comunicação intersemiótica;
• Regressão e progressão infinita dos signos;
• Generalização para chegar com mais acuidade ao que é peculiar;
• Relações de pertencimento entre ambiente e sujeitos;
• Interação entre as mídias;
• Apropriação dos procedimentos criativos;
• Confluências entre os elementos gerais da criação;
• Falibilidade do projeto poético pelas interferências à suscetibilidade,
permeabilidades e propriedades de relacionar-se em suas práticas comunicativas;
• Alterações por inferência- um signo é gerado por outro signo;
• Movimentos tradutórios;
• Brechas, fissuras para a desestabilização do “imprinting”;
• Verdade artística como resultante da coerência com os princípios do projeto
poético;
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CONCLUSÃO
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BIBLIOGRAFIA
DAMÁSIO, António. O erro de Descartes, emoção, razão e cérebro humano. Trad. Dora
Vicente e Georgina Segurado. 3ª. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
GLEICK, James. A informação: Uma história, uma teoria, uma enxurrada. São Paulo:
Companhia das Letras, 2013.
___________. Philosophy in the flesh: the embodied mind and its challenge to western
thought. Nova Iorque: Basic Books, 1999.
SALLES, Cecilia Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo:
Annablume, 1998.
___________. Redes da criação: construção da obra de arte. Vinhedo: Ed. Horizonte, 2006.
Vídeo
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