Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
https://www.theguardian.com/artanddesign/gallery/2010/may/16/days-with-my-father
Para não magoá-lo mais toda vez que ele perguntava, Toledano decidiu dizer que a mãe tinha ido
para Paris cuidar de um irmão doente. Seu pai não tinha Alzheimer, mas sua memória não gravava
nada que fosse recente, e foi aí que Toledano decidiu registrar o cotidiano dele com o pai (com o
qual ele não morava mais junto e passou a morar). O resultado foi um ‘jornal’, um registro, que ele
publicou no site chamado: Days With My Father (Dias com meu pai). Começou como um blog de
registro dos 3 últimos anos com seu pai e tempos depois se transformou em um livro.
Se ela tinha tirado a sobrancelha, ou estivesse vestindo um vestido novo, ele iria comentar.
Meu pai frequentemente me diz que quer morrer.
Ele diz que é hora dele ir. Que está vivo há muito tempo. É estranho, porque parte de mim quer
que ele vá também.
Isso não é vida pra ele. Vivendo o crepúsculo de meias memórias. Mas ele é o único mais perto
da família que eu deixei.
Meu pai nunca lembra o nome dele, então ele o chama de “o vira-lata”. (…)
Meu pai desprende uma quantidade enorme de tempo no banheiro. Porque ele tem perda de
memória recente, ele pode ficar lá por horas a fio. É de cortar o coração, mas também dá muita
raiva.
Ele vai fazer suas necessidades. E então, quando ele está colocando as calças ele diz: “Espere
um segundo, eu tenho que ir”. (…)
Eu amo momentos como esse.
Por um pequeno instante, quase tudo parece normal de novo. Minha mãe não está morta, e não
estamos fingindo que ela foi pra Paris.
Eu pus esses pequenos cookies em seu peito, e ele disse: “Olha minhas tetas”
Eu adorava ouvi-lo por muito tempo desde que eu me lembro. E eu sempre tive muito orgulho de
suas performances vencedoras do Oscar. (…)
Eu sempre ficava surpreendido com o amor do meu pai pela minha mãe.
Ele nunca parou de falar dela, sua gratidão pelo seu amor, pela relação que eles tiveram. (…)
Então, meu pai faleceu ontem.
Eu fiquei a noite toda com ele, segurando sua mão, escutando sua respiração, me perguntando
quando seria seu fim. Ele morreu em sua cama, em casa, com Carla e eu próximos a ele.
Nos últimos três anos, eu estive esperando. Com medo de que ele morresse enquanto eu estivesse
fora. Eu não queria que ele fosse sozinho, ou cercado por estranhos, ou plugado a máquinas. Eu
sei que soa estranho. Mas eu estou muito agradecido pela forma que aconteceu.
Eu me sinto um sortudo por ter passado os últimos três anos. Por não ter mais nada pra dizer.
Por saber que nós amamos um ao outro nus, sem constrangimento. Por ter sentido seu orgulho
por minhas realizações. E ter descoberto o quanto engraçado ele era.
Que incrível, incrível presente.
Phillip Toledano.