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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA POLITÉCNICA
COLEGIADO DO CURSO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

VITOR PESSOA SILVA

SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE ESCOAMENTO EM


SUPERFÍCIE LIVRE E MULTICOMPONENTE COM
INFLUÊNCIA DE MARÉ

Salvador
2017
VITOR PESSOA SILVA

SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE ESCOAMENTO EM


SUPERFÍCIE LIVRE E MULTICOMPONENTE COM
INFLUÊNCIA DE MARÉ

Trabalho de conclusão de curso apresentada ao Curso


de graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental,
como requisito parcial para a obtenção do grau de
Bacharel em Engenharia Sanitária e Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. André Luiz Andrade Simões

Salvador
2017
AGRADECIMENTOS
À Bine, por ser minha fortaleza e meu porto seguro, minha fonte de amor, paz, alegria e
confiança. Por ter me ensinado a nunca me render, nem retroceder jamais.
Aos meus pais, Júnior e Stela, por terem sido a base sobre a qual se formou meu caráter
e meu profissionalismo.
À Albert, Carol, Raísa, Larissa, Ricardo, Tila, Sérgio, Isabella e Victoria, por toda a
caminhada que fizeram comigo. Nos momentos mais difíceis, um simples encontro com
vocês me dava a força e leveza de que precisava para seguir em frente.
À Felipe, por toda a paciência, compreensão e presteza que teve para me ajudar no
desenvolvimento do meu projeto. Sua ajuda me poupou meses de trabalho, e sua
simplicidade e humildade foram um exemplo de nobreza.
À Carpenter Brut, Danger, The Toxic Avenger, Lorn, Scattle, Waveshaper e Kn1ght, por
terem elaborado a trilha sonora que conduziu este trabalho, e a The Game Bakers, por ter
me apresentado à mesma.
À Yvonilde, por me possibilitar o contato com o tema deste trabalho e por todos os
recursos disponibilizados, que foram determinantes para seu desenvolvimento.
À Luciano, que apesar de não ter tido envolvimento direto com este trabalho, teve com
minha formação. Suas aulas e conselhos me ajudaram a ver de outra forma a profissão do
engenheiro.
À André Luiz, por ter sido o melhor professor que já tive. Assistir suas aulas me inspirava
e motivava a buscar o conhecimento, e a querer sempre ser o melhor que eu poderia.
À André Luiz, novamente, por ter sido o melhor orientador que eu poderia ter. Suas
orientações me ajudaram a trilhar meu caminho, sem limitá-lo. Sem elas, este trabalho
não teria sido possível.
À André Luiz, uma última vez, por além de tudo, ter sido um amigo. Suas palavras me
tranquilizaram no momento em que mais precisava, e isso foi além de seu dever como
professor e orientador. A isto, sou eternamente grato.
“Dude, suckin’at something is the first step towards being sorta good at something.” Jake
the Dog

(Adventure Time, 2010)


SILVA, Vitor Pessoa. Simulação numérica de escoamento em superfície livre e
multicomponente com influência de maré. 107 f. il. 2017. Monografia (Trabalho de
Conclusão do Curso) – Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, Salvador,
2017.

RESUMO
Estuários são zonas de transição entre ambientes fluviais e marinhos, que apresentam
características de ambos. Por conta da grande quantidade de fatores que afetam o
comportamento destes ambientes (maré, transporte de sedimentos, vazão fluvial, vento,
entre outros) e por estes serem variados e variáveis, a simulação e análise dos fenômenos
presentes são um desafio. Devido à grande diversidade observada, até meados do século
XX estuários eram estudados apenas como fenômenos locais. Pritchard, Simmons, Ippen
e Harleman foram alguns dos pioneiros na elaboração de modelos para representação e
classificação destes ambientes, e o trabalho de Hansen & Rattray (1965) foi um dos
avanços mais importantes, sendo utilizado até hoje para determinação das forçantes mais
expressivas em um estuário. O presente trabalho analisou o escoamento hidrodinâmico
em um canal retangular simulando um ambiente estuarino, em situações normais e de
estiagem, com particular interesse no transporte de sal. Este fenômeno possui relevância
principalmente para o campo da gestão de recursos hídricos, visto que a presença de água
salobra altera os usos dados à água em uma bacia hidrográfica. Para alcançar este
objetivo, foi feita uma revisão de literatura a respeito dos tipos de estuários e dos
fenômenos da mecânica dos fluidos de interesse. Na simulação numérica, foi utilizado o
software MIKE 3, que utiliza as médias de Reynolds das equações de Navier-Stokes para
simular o escoamento tridimensional. Com base nos resultados, o canal foi classificado
de acordo com a metodologia proposta por Hansen & Rattray (1965), se caracterizando
como parcialmente misturado na maior parte do tempo e espaço, com presença de ondas
progressivas e estacionárias de maré. A variação na incursão de sal entre as situações
normal e de estiagem chegou a 1600 metros. O modelo utilizado se mostrou satisfatório
na simulação de ambientes estuarinos.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Representação esquemática do transporte de uma propriedade ao longo do tempo 16
Figura 2 – Esquema representativo das marés de sizígia e de quadratura ................................ 19
Figura 3 – Oscilação das marés ................................................................................................ 20
Figura 4 - Diagramas esquemáticos da estratificação de salinidade e perfil de velocidade em
estuário tipo Cunha Salina. (a) e (b) indicam situações sem e com tensão interfacial de atrito,
respectivamente ........................................................................................................................ 23
Figura 5 - Diagrama esquemático de um estuário tipo Cunha Salina ...................................... 24
Figura 6 - Diagrama esquemático do estuário tipo Parcialmente Misturado ........................... 25
Figura 7 - Ondas de maré em estuários parcialmente misturados ............................................ 26
Figura 8 - Diagrama esquemático de um estuário tipo Lateralmente Estratificado ................. 27
Figura 9 - Perfis verticais de salinidade de estuários tipo cunha salina, parcialmente misturado
e verticalmente homogêneo ...................................................................................................... 28
Figura 10 - Variação na estratificação vertical observada no Rio Fraser durante a maré vazante.
.................................................................................................................................................. 29
Figura 11 - Salinidade observada no Rio Merrimack na maré enchente, 5.3 (esquerda) e 8.3
horas (direita) após a maré baixa .............................................................................................. 30
Figura 12 - Curvas paramétricas dos processos dispersivo e advectivo. Q e S representam
condições na quadraduta e sizígia, respectivamente ................................................................ 34
Figura 13 - Diagrama estratificação-circulação, como proposto por Hansen & Rattray (1965).
x+ e x- representam variações longitudinais estuário abaixo e acima, respectivamente. R+ e R-
representam aumento e decréscimo na vazão fluvial ............................................................... 35
Figura 14 - Perfil esquemático da seção longitudinal de um estuário, representando a vazão
fluvial (Qf), salinidade (S), oscilação da maré (η) e profundidade média (Ho) ....................... 36
Figura 15 - Efeito das condições iniciais em uma simulação ................................................... 45
Figura 16 – Malha estruturada (a) e não-estruturada (b) .......................................................... 47
Figura 17 - Polígono no qual será gerada a malha ................................................................... 49
Figura 18 - Polígono com vértices complementares interpolados e dividido em quadriláteros
.................................................................................................................................................. 49
Figura 19 - Notação usada nos quadriláteros............................................................................ 50
Figura 20 - Malha gerada individualmente para cada quadrilátero. O número de intervalos na
direção t é o mesmo, entretanto o número de intervalos na direção s pode variar de maneira
significante ............................................................................................................................... 51
Figura 21 - Malha quadrangular criada no Mesh Generator .................................................... 51
Figura 22 - Detalhe da malha gerada ........................................................................................ 52
Figura 23 - Canal retangular produzido.................................................................................... 54
Figura 24 - Malha tridimensional gerada a partir de malha triangular ..................................... 54
Figura 25 - Ilustração do nível de precisão em diversos modelos de simulação numérica de
escoamentos .............................................................................................................................. 56
Figura 26 - Componentes do sistema de equações de águas rasas ........................................... 64
Figura 27 - Perfis de salinidade na superfície do canal ............................................................ 68
Figura 28 - Perfil de salinidade no fundo do canal ................................................................... 69
Figura 29 - Perfil máximo e médio de salinidade no fundo do canal, respectivamente ........... 70
Figura 30 - Perfil máximo e médio de salinidade na superfície do canal, respectivamente ..... 70
Figura 31 - Perfis longitudinais de salinidade .......................................................................... 71
Figura 32 - Perfis de salinidade na superfície do canal ............................................................ 81
Figura 33 - Perfil de fundo ....................................................................................................... 82
Figura 34 - Perfil máximo e médio de salinidade no fundo do canal, respectivamente ........... 83
Figura 35 - Perfil máximo e médio de salinidade na superfície do canal, respectivamente ..... 83
Figura 36 - Perfis longitudinais de salinidade .......................................................................... 84
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Perfil Vertical de Salinidade.................................................................................. 73
Gráfico 2 - Perfil Vertical de Salinidade .................................................................................. 73
Gráfico 3 - Perfil Vertical de Salinidade .................................................................................. 74
Gráfico 4 - Perfil Vertical da Velocidade ................................................................................. 74
Gráfico 5 - Perfil Vertical da Velocidade ................................................................................. 75
Gráfico 6 - Perfil Vertical da Velocidade ................................................................................. 75
Gráfico 7 - Variação temporal da salinidade ............................................................................ 77
Gráfico 8 - Variação temporal da salinidade ............................................................................ 77
Gráfico 9 - Variação temporal da salinidade ............................................................................ 78
Gráfico 10 - Variação temporal da salinidade .......................................................................... 78
Gráfico 11 - Variação temporal da velocidade u ...................................................................... 79
Gráfico 12 - Variação temporal da velocidade u ...................................................................... 79
Gráfico 13 - Variação temporal da velocidade u ...................................................................... 80
Gráfico 14 - Variação temporal da velocidade u ...................................................................... 80
Gráfico 15 – Perfil Vertical de Salinidade................................................................................ 86
Gráfico 16 – Perfil Vertical de Salinidade................................................................................ 86
Gráfico 17 - Perfil Vertical de Salinidade ................................................................................ 87
Gráfico 18 - Perfil Vertical de Velocidade ............................................................................... 87
Gráfico 19 - Perfil Vertical de Velocidade ............................................................................... 88
Gráfico 20 - Perfil Vertical de Velocidade ............................................................................... 88
Gráfico 21 - Variação temporal da salinidade .......................................................................... 90
Gráfico 22 - Variação temporal da salinidade .......................................................................... 90
Gráfico 23 - Variação temporal da salinidade .......................................................................... 91
Gráfico 24 - Variação temporal da salinidade .......................................................................... 91
Gráfico 25 – Variação temporal da velocidade u ..................................................................... 92
Gráfico 26 - Variação temporal da velocidade u ...................................................................... 92
Gráfico 27 - Variação temporal da velocidade u ...................................................................... 93
Gráfico 28 - Variação temporal da velocidade u ...................................................................... 93
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Classificação de estuários com base no adimensional G/J ..................................... 32
Quadro 2 - Dados de entrada de batimetria .............................................................................. 53
Quadro 3 - Parâmetros adotados na simulação 2D ................................................................... 66
Quadro 4 - Parâmetros adotados na simulação 2D ................................................................... 67
Quadro 5 – Parâmetros circulação e estratificação no canal .................................................... 72
Quadro 6 - Parâmetros circulação e estratificação no canal ..................................................... 85
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 13

1.1. ESTUÁRIOS ................................................................................................................ 13

1.2. DIFUSÃO E ADVECÇÃO .......................................................................................... 15

1.3. MARÉS......................................................................................................................... 17

2. CLASSIFICAÇÃO ........................................................................................................ 20

2.1. CUNHA SALINA (TIPO A) ........................................................................................ 22

2.2. MODERADAMENTE OU PARCIALMENTE MISTURADO (TIPO B) .................. 24

2.3. VERTICALMENTE BEM MISTURADO (TIPOS C E D)......................................... 26

2.3.1. Lateralmente Estratificado (Tipo C) ...................................................................... 27

2.3.2. Bem Misturado (Tipo D).......................................................................................... 27

2.4. PARÂMETROS E DIAGRAMAS ............................................................................... 30

3. PROCESSOS DE CIRCULAÇÃO E MISTURA ...................................................... 35

3.1. EQUAÇÕES DE CONSERVAÇÃO DE MASSA....................................................... 38

3.2. EQUAÇÕES DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO............................................... 40

4. MODELOS HIDRODINÂMICOS .............................................................................. 43

4.1. CONDIÇÕES INICIAIS .............................................................................................. 44

4.2. CONDIÇÕES DE CONTORNO .................................................................................. 45

4.3. MALHAS NUMÉRICAS ............................................................................................. 46

5. METODOLOGIA ......................................................................................................... 48

5.1. GERAÇÃO E INTERPOLAÇÃO DA MALHA ......................................................... 48

5.2. EQUACIONAMENTO ................................................................................................ 54

5.2.1. Equações de águas rasas .......................................................................................... 58

5.2.2. Equações de transporte de sal e temperatura ........................................................ 62

5.2.3. Solução numérica ..................................................................................................... 63

5.2.4. Setup do modelo........................................................................................................ 65


6. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 68

6.1. SIMULAÇÃO DE 600 m³/s ......................................................................................... 68

6.2. SIMULAÇÃO DE 1300 m³/s ....................................................................................... 81

7. CONCLUSÃO ............................................................................................................... 94

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 96

APÊNDICE A – Dados de altura d’água de jusante utilizados na simulação............ 100

ANEXO A – Dados das campanhas da CHESF ............................................................ 103


13

1. INTRODUÇÃO

1.1. ESTUÁRIOS

O termo estuário deriva do latim aestuarim, que significa maré ou onda abrupta de grande
altura. É um ambiente de grande variabilidade em decorrência dos processos naturais
dinâmicos que ali ocorrem (MIRANDA, CASTRO & KJERFVE, 2002). Genericamente
é entendido como a zona de transição entre o ambiente fluvial e marinho. Cameron e
Pritchard (1963) o definem como “um corpo costeiro semifechado de água que possui
uma conexão livre com o mar e onde a água salina é mensuravelmente diluída pela água
doce vinda da drenagem do terreno”. Essa definição não é a mais correta, visto que se
limita a descrever os estuários positivos, onde vazão de água fluvial e a precipitação são
maiores que a evaporação. Há os estuários negativos, onde ocorre o inverso, com
evaporação maior que vazão de água fluvial e precipitação, e existem condições
hipersalinas (DYER, 1997). Além disso, muitos não são corpos semifechados, tendo a
fronteira de montante aberta (SAVENIJE, 2012). Uma definição mais aceita é a dada por
Dionne (1963) como “a zona de entrada de água do mar no vale do rio até o ponto em que
há influência da maré”.

Por ser um ambiente de transição, um estuário possui características tanto do oceano


quanto do rio. Uma das poucas coisas que estes ambientes guardam em comum é o fato
de serem aquáticos, possuindo diversas diferenças. Um rio é caracterizado pelo transporte
e não pela retenção de água; possui água doce; tem margens aproximadamente paralelas
e uma declividade de fundo na direção do escoamento; as ondas que ocorrem em seu
interior são progressivas. Já no oceano a principal característica é a retenção de água,
funcionando como um reservatório de grandes proporções; sua água é salina; não possui
margens paralelas ou declividade de fundo obedecendo a direção do escoamento e suas
ondas são do tipo estacionárias (SAVENIJE, 2012). Estas são apenas algumas das
diferenças, podendo-se encontrar outras na literatura.

Devido a interação entre estes meios tão distintos, um estuário possui características
hidrodinâmicas, morfológicas e biológicas próprias. Apesar de sua forma variar bastante,
possui em geral uma forma de funil, com ondas de tipo misturado e água salobra, com
zonas de água doce a montante e salina a jusante. Essas características fazem com que
seja uma área importante para alimentação e reprodução de muitas espécies (SAVENIJE,
14

2012). Muitos zoologistas defendem que foram nos estuários que os primeiros sinais de
vida orgânica surgiram, e que milhões de anos depois, a vida animal começou a se adaptar
para uma forma terrestre e que respira ar (DYER, 1997).

Os estuários também têm desempenhado papel importante no desenvolvimento das


sociedades humanas. Por volta de 60% das grandes cidades do mundo estão localizadas
próximas a estuários. São locais adequados para a instalação de portos, fornecendo uma
via de acesso fácil ao interior do continente; próximos a regiões de manguezais, com
grande comunidade biológica e potencial para o turismo (MIRANDA et al., 2002);
produzem grande quantidade de matéria orgânica, o que faz da área ao redor ideal para a
agricultura: solo fértil, terreno plano e com disponibilidade de água doce (SAVENIJE,
2012).

O crescimento humano nessas regiões e sua exploração econômica levaram a alterações


em larga escala nesses ambientes. A necessidade de facilitar a navegação levou a
mudanças em sua topografia; a disposição de efluentes sanitários e industriais alteraram
a qualidade da água e a dinâmica biológica; o desmatamento das matas ciliares ocasionou
o aumento da erosão das margens, com consequente aumento da turbidez no rio; a
impermeabilização do solo por conta da urbanização, somada ao desmatamento, acelera
o escoamento superficial (DYER, 1997). O impacto humano sobre estes ecossistemas não
foi considerado importante até metade do século XIX (MIRANDA et al., 2002).

Estuários também são ecossistemas frágeis, com espécies altamente específicas e


adaptadas às condições únicas que ocorrem ali. Pequenas alterações nesses ambientes
podem ser catastróficas para a biodiversidade local. Soma-se a isso o fato de estuários
funcionarem como uma “pia” de sedimentos, acumulando sedimentos vindos do rio e do
mar. Por conta disso, o tempo de residência de poluentes adsorvidos a sedimentos é alto
(SAVENIJE, 2012). Essas razões tornam essencial a proteção a esses ecossistemas.

Conhecimento acerca dos mecanismos que governam a influência da maré, fenômenos


de mistura e intrusão salina é de grande relevância, visto que esses são determinantes para
o ambiente e o potencial uso de recursos hídricos dessas áreas. Esta é uma época de
mudanças rápidas, em um ritmo inédito na história humana conhecida. O
desenvolvimento humano liberou forças que são difíceis de conter, e a sede pelo
crescimento econômico está no cerne de muitos de nossos problemas ambientais
(SAVENIJE, 2012). Para preservar nossos ecossistemas e sua capacidade de fornecer
15

recursos e serviços à sociedade, é importante ter compreensão desses ambientes e


capacidade de prever e simular alterações.

Este trabalho visa realizar uma contribuição nessa área através da simulação
computacional da influência de maré e intrusão salina em um canal retangular.

Antes de abordar as características dos estuários, é importante apresentar alguns conceitos


que serão utilizados ao longo deste trabalho.

1.2. DIFUSÃO E ADVECÇÃO

Uma propriedade física (massa, temperatura, quantidade de movimento) pode se


transferir entre dois pontos no espaço de diversas formas, por diferentes causas. Uma
classificação básica destes movimentos pode ser feita considerando os “mecanismos de
transferência” (SCHULZ, 2003). Dois dos principais mecanismos de transferência
presentes na Mecânica dos Fluidos e Fenômenos de Transporte são a difusão e a
advecção.

Na difusão a propriedade é transferida em razão de movimentos aleatórios no sentido da


concentração mais alta para mais baixa, de maneira a eliminar o gradiente de
concentração (SCHULZ, 2003). Este movimento provoca o espalhamento da propriedade
ao longo do tempo, com desprezível alteração da posição do seu centro de massa (VON
SPERLING, 2007). Este mecanismo pode ser dividido em duas subclasses:

 Difusão molecular: A propriedade se transfere devido ao movimento aleatório das


partículas, conhecido como movimento browniano (VON SPERLING, 2007).
 Difusão turbulenta: A propriedade se transfere devido ao movimento aleatório do fluido
em que está inserida, que pode percorrer grandes distâncias (SCHULZ, 2003).

Na advecção, a propriedade se transfere em razão do movimento do meio fluido


(SCHULZ, 2003). Não há alteração na concentração da substância neste movimento
(VON SPERLING, 2007).
16

Figura 1 - Representação esquemática do transporte de uma propriedade ao longo do tempo

Fonte: Von Sperling, 2007.

A seguir é feita a dedução da formulação diferencial da difusão de acordo com Schulz


(2003).

A difusão de partículas entre dois ambientes é proporcional ao tempo decorrido, a área de


transferência entre os ambientes, o gradiente de concentração e a distância entre os dois
ambientes (SCHULZ, 2003). Dessa forma, é possível escrever a função:

∆ = (∆ , , ( 1 − 2), ∆ ) (1)
∆ = Número de partículas transferidas;

∆ = Intervalo de tempo;

= Área de transferência;

( 1 − 2) = Diferença no número de partículas do ambiente 1 e 2;

∆ = Distância entre os ambientes.

A difusão é diretamente proporcional ao tempo, à área e à diferença no número de


partículas, e inversamente proporcional à distância. Sendo assim, para escrever uma
equação que relacione todas essas proporcionalidades, inserimos uma constante de
proporcionalidade, .

( 1 − 2) (2)
∆ = ∆

No caso da propriedade em análise ser a massa, multiplicamos a equação pela massa
molecular M, obtendo:
17

( 1 − 2) (3)
∆ = ∆

Considerando o volume V constante, podemos multiplicar e dividir o membro direito da
equação por ele. Dessa forma, ficamos com a diferença de concentração, ∆ . Passando
o intervalo de tempo para o lado esquerdo da equação, tem-se:

∆ ∆ (4)
=
∆ ∆
é uma constante, simplificada pela letra D. Passando a área para o lado esquerdo da
equação, temos a variação de massa pelo tempo e pela área, conhecida como fluxo de
massa e representada por . Além disso, o membro da direita pode ser representado de
maneira mais elegante calculando-se seu limite para ∆ → 0. Fazendo todas essas
alterações, fica-se com:

(5)
=
Por último, é importante perceber que a transferência de massa ocorre da maior para
menor concentração. Por conta disso, acrescenta-se um sinal negativo na equação.

(6)
=−
A equação 6 é reconhecida como a Lei de Fick para transferência de massa. Representa
o fluxo de massa como proporcional ao gradiente de concentração em uma dimensão
(SCHULZ, 2003).

No caso do transporte de sal, a Lei de Fick é aplicada com C representando a salinidade.


Já o transporte advectivo de sal é simulado através da equação (MIRANDA et al., 2002):

= (7)
Sendo u a velocidade longitudinal do escoamento.

1.3. MARÉS

A Lei da Gravitação Universal de Newton estabelece que as matérias se atraem em


proporção direta a suas massas e inversa a suas distâncias. É por conta dessa atração
gravitacional que ocorre o fenômeno conhecido como maré. A maré é a oscilação vertical
do nível do mar ou de outro grande corpo d’água sobre a superfície da terra, causada
prioritariamente pela Lua, e em menor escala, pelo Sol (MIGUENS, 1993).

Apesar de ter uma massa extremamente menor que a do Sol, a proximidade da Lua faz
com que seu efeito sobre os corpos d’água seja aproximadamente 2,25 vezes maior. Os
movimentos relativos entre estes corpos celestes e a Terra faz com que as marés sejam
18

movimentos harmônicos compostos, que podem ser expressos matematicamente pelo


somatório de vários movimentos harmônicos simples (MIGUENS, 1993).

A Terra sofre efeitos da força gravitacional e da força centrífuga por conta da revolução
em volta da Lua, sendo o centro dessa revolução localizado abaixo da superfície da Terra.
O equilíbrio entre estas forças faz com que não haja colisão nem afastamento entre estes
corpos. Todavia, embora o sistema esteja em equilíbrio, massas individuais na Terra não
estão, como é o caso dos oceanos. Enquanto a força centrífuga possui o mesmo valor em
todos os pontos da superfície terrestre, a força gravitacional não, pois partículas mais
próximas da Lua sofrem uma atração maior. Além disso, cada uma dessas partículas
possui um eixo próprio que liga seu centro de massa ao centro de massa da Lua,
provocando uma resultante com direção diferente daquela da Terra (MIGUENS, 1993).

A resultante dessas forças fará com que a água na superfície flua para os pontos mais
próximos e mais afastados da Lua, causando níveis de água mais altos nestes pontos e
mais baixos na origem do fluxo. Este movimento resulta nas marés. Por conta da rotação
da Terra em torno do seu próprio eixo, cada ponto da Terra fica na direção da Lua e na
direção transversal duas vezes por dia, dando origem a duas marés altas (ou preamares) e
duas marés baixas (ou baixa-mares) a cada 24 horas. Devido a inclinação do eixo de
rotação terrestre, normalmente as marés altas ou baixas sucessivas não são exatamente
iguais (MIGUENS, 1993).

O movimento da Lua em torno da Terra faz com que esta fique na mesma direção do Sol
duas vezes a cada período de lunação (intervalo de aproximadamente 30 dias). Nestes
momentos, que correspondem a Lua cheia e nova, as forças de atração da Lua e do Sol se
somam, levando a marés altas mais elevadas e baixas mais reduzidas, com amplitude
maior. Estas recebem o nome de marés de sizígia.

Da mesma forma, duas vezes por mês a Lua fica em direção diametralmente oposta ao
Sol, e suas forças se subtraem. Isso resulta em variações menores entre a maré alta e maré
baixa. Estas são chamadas de marés de quadratura.
19

Figura 2 – Esquema representativo das marés de sizígia e de quadratura

Fonte: Miguens, 1993.

O nível do mar segue uma oscilação rítmica, caracterizada por sete etapas:

 O nível sobe durante um tempo (0-b);


 Atinge uma altura máxima (c);
 Fica estacionado por um curto período (c-d);
 O nível abaixa durante um tempo (d-f);
 Atinge uma altura mínima (e);
 Fica estacionado por um curto período (e-g);
 Recomeça o movimento de subida (g-i).
20

Figura 3 – Oscilação das marés

Fonte: Miguens, 1993.

Abaixo estão conceituados alguns elementos desta dinâmica (MIGUENS, 1993):

 Enchente: Período no qual o nível do mar se eleva;


 Vazante: Período no qual o nível do mar se reduz;
 Nível Médio: Altura média em torno do qual há a variação do nível do mar;
 Maré alta: Maior altura alcançada durante uma oscilação;
 Maré baixa: Menor altura alcançada durante uma oscilação;
 Estofa: Período no qual o nível do mar fica estacionado, ocorrendo ao fim da
enchente ou da vazante.

2. CLASSIFICAÇÃO

Uma das principais dificuldades em se estudar zonas estuarinas é que seu escoamento
apresenta não uniformidade (escoamento variado) e também não permanência
(escoamento variável), dependendo tanto do espaço quanto do tempo (SIMÕES,
SCHULZ & PORTO, 2017). A vazão fluvial, amplitude de maré e morfologia do canal
estão em constante mudança, e por conta da interação de tantas variáveis não há dois
estuários idênticos, o que dificulta determinar se o que está sendo observado são
princípios gerais ou particulares (DYER, 1997).

Por conta dessa ampla diversidade, até cinquenta anos atrás os estuários eram estudados
puramente como fenômenos locais (MIRANDA et al., 2002). Para poder prever as
características do escoamento e dos processos de mistura em um estuário, foi essencial
agrupar sistemas semelhantes de modo a compará-los. Diversas metodologias de
classificação surgiram a partir dos vários fatores intervenientes na dinâmica estuarina,
como a topografia e geomorfologia, ação das marés e estratificação salina.
21

Stommel (1951) foi o pioneiro nesse esforço e elaborou uma classificação considerando
a maior influência da maré, dos ventos e da descarga fluvial no escoamento e mistura.
Em seu trabalho, ele reconheceu a importância da forma e topografia do estuário, mas
atribuiu a estes fatores apenas uma influência secundária na hidrodinâmica. Com base
nesses critérios, ele classificou os estuários do Rio Raritan, Pamlico e Mississipi como
predominantemente governados pela maré, pelos ventos e pela descarga fluvial,
respectivamente. Já nesse trabalho foi observado que apesar da maioria dos estuários
apresentar água com teor de salinidade menor que a marinha, havia casos em que a
pequena descarga fluvial e grande evaporação faziam com que o trecho estuarino tivesse
salinidades maiores (STOMMEL, 1951).

Outro sistema de classificação foi proposto por Pritchard (1952) considerando as


características geomorfológicas e sua influência nos padrões de circulação. Os estuários
foram agrupados nos grupos: planície costeira, fiorde, formado por barras e os que não se
encaixam em nenhuma destas. O grande interesse pela distribuição da salinidade, fator
que impacta diversos processos biogeoquímicos e atividades econômicas, fez com que
este e outros autores centrassem seus esforços de classificação nesse aspecto.

Stommel (1953) examinou características de estuários classificados como de mistura


desprezível, fiordes, moderada mistura e intensa mistura. Esse modelo serviu de base para
futuros desenvolvimentos propostos por Pritchard (1955), Cameron & Pritchard (1963),
Simmons (1955), Ippen & Harleman (1961), Harleman & Abraham (1966) e Hansen &
Rattray (1965). Nos dois últimos trabalhos foram introduzidos os conceitos de número de
estratificação e o Diagrama Estratificação-Circulação, extremamente importante para as
análises futuras destes ecossistemas.

Além das classificações que priorizam a relevância dos processos de mistura e da


geomorfologia, outras têm sido propostas englobando aspectos antropológicos e
ambientais. A crescente interferência humana nestes ecossistemas elevou a demanda por
análises que relevem estes fatores. Silva (2000) propõe um sistema que considera a
qualidade estética (frequência com que são visíveis substâncias que causam aspecto
desagradável), sanitária (presença de patogênicos e ameaça à saúde pública), estado
trófico e substâncias tóxicas.

A seguir são abordadas as classificações de acordo com a dinâmica de mistura e


estratificação salina. Não se pretende, entretanto, defender que esta classificação tenha
22

maior relevância que as demais, mas apenas focar no objetivo deste trabalho. As
classificações apresentadas não são contraditórias, mas apenas revelam maneiras
diferentes de analisar estes ecossistemas tão complexos em sua diversidade (SILVA,
2000).

Esta classificação é feita baseada nos termos dominantes da equação de conservação de


sal, que estabelece o balanço entre a advecção e a difusão e é abordada posteriormente.
Foi proposta primeiramente por Pritchard em 1955, e divide os estuários em cunha salina
(tipo A), moderadamente ou parcialmente misturado (tipo B), verticalmente bem
misturado e lateralmente estratificado (tipo C) e bem misturado (tipo D).

2.1. CUNHA SALINA (TIPO A)

Considere um estuário descarregando em um mar sem marés, com uma fonte de água
doce em sua extremidade de montante. Considere também que não há atrito e a água se
comporta como um fluido sem viscosidade. Nessas condições, a água doce, sendo menos
densa que a água salina, flui na superfície do estuário em direção ao mar, enquanto a água
salina permanece no fundo. A interface entre elas seria uma linha horizontal, na qual a
velocidade da água é nula. Não haveria mistura de sal na água doce e a cunha salina
(entendida como o volume de água salina) permaneceria inalterada (DYER, 1997).

Para tornar a situação mais realista, vamos acrescentar o atrito no escoamento na forma
da viscosidade. Aparecerá cisalhamento na interface entre as águas, fazendo com que a
cunha salina seja empurrada no sentido de jusante. Essa ação fará surgir uma declividade
na interface, que não será mais uma linha horizontal, capaz de resistir a essa força (DYER,
1997).

Por conta do atrito na interface, uma fina camada da cunha salina será arrastada para
jusante. O aumento da tensão de cisalhamento faz surgir ondas nesta interface e provoca
a mistura da água salina com a doce. Este processo é conhecido como entranhamento, e
é o principal responsável pela mistura em estuários do tipo cunha salina. Para que a
conservação de massa seja mantida, uma pequena vazão de água salina no sentido de
jusante é formada para compensar a massa que se misturou e foi arrastada para jusante.
A concentração de sal é constante no volume da cunha salina ao longo do estuário
(DYER, 1997).
23

Figura 4 - Diagramas esquemáticos da estratificação de salinidade e perfil de velocidade em


estuário tipo Cunha Salina. (a) e (b) indicam situações sem e com tensão interfacial de atrito,
respectivamente

Fonte: MIRANDA et al., 2002.

O processo de entranhamento também pode ser visualizado através do número de Froud


interfacial (Fi), definido como:

= (8)

∗ ∗
u = velocidade relativa da camada superficial em relação à de fundo;

g = gravidade;

H1 = espessura da camada superior;

∆ = ρ2 - ρ1 = diferença de densidade entre as camadas, sendo ρ2 > ρ1;


Sendo = ∗ ∗ a velocidade de propagação da onda interna na interface.

Semelhante à análise para escoamentos, temos Fi<1 para uma condição subcrítica; Fi=1
para condição crítica e Fi>1 para supercrítica. Quando a velocidade relativa u aumenta,
Fi se aproxima de 1 e a energia da onda acumula-se, e ao quebrar-se gera muita mistura.
Após a quebra, a espessura da camada volta a aumentar e consequente sua velocidade
diminui, passando para a condição subcrítica. Esse fenômeno é denominado de ressalto
hidráulico, e ocorre na interface entre a cunha salina e a água doce (STOMMEL &
FARMER, 1952).
24

Wright (1970) analisou o número de Froude interfacial no estuário do rio Mississippi


(EUA) em diferentes seções, e encontrou valores variando entre 0,41 (na penetração
máxima da cunha salina) e 0,80 (na boca do estuário), mostrando estratificação estável e
pouca mistura.

Figura 5 - Diagrama esquemático de um estuário tipo Cunha Salina

Fonte: MIRANDA et al., 2002.

Estes estuários são típicos de regiões de micromaré e com grande descarga fluvial. Devido
às variações de descarga, a cunha salina move-se lentamente buscando uma posição de
equilíbrio, não ficando estacionária (MIRANDA apud STOMMEL, 1953). Essa variação
foi estudada no estuário Fraser, Columbia Britânica (EUA), e os resultados mostraram
uma variação significativa na posição e estratificação vertical entre as marés enchente e
vazante. O número de Froude interfacial variou de subcrítico durante a enchente, quando
o fluxo de água salina se opõe ao de água doce, a supercrítico durante a vazante, quando
ambos os fluxos estão no mesmo sentido. Já a penetração da cunha salina variou entre 2
quilômetros ao fim da maré vazante e 18 quilômetros ao fim da enchente (GEYER &
FARMER, 1989).

2.2. MODERADAMENTE OU PARCIALMENTE MISTURADO (TIPO B)

Os estuários parcialmente misturados possuem gradientes verticais moderados de


salinidade. Isso ocorre devido à maior variação da maré, que faz com que a água dentro
do estuário seja agitada periodicamente. A vazão fluvial é pequena comparada à vazão
das marés, podendo ser até 150 vezes menor (DYER, 1997).

Há produção de turbulência interna devido a energia da maré, que realiza trabalho tanto
contra o atrito nas margens do estuário, quanto contra a tendência de estabilização do
empuxo. São gerados vórtices turbulentos internos, que ocasionam a mistura de água doce
e salina e a erosão do gradiente vertical de salinidade. Devido a isso, a energia potencial
da coluna de água aumenta por conta da salinidade da camada superficial. Para respeitar
25

o balanço de massa, o transporte de água na camada superficial, com sentido estuário


abaixo, aumenta consideravelmente, assim como o transporte estuário acima nas camadas
de fundo. Desenvolve-se então um movimento em sentidos opostos entre as duas camadas
(MIRANDA et al., 2002).

A estratificação vertical ao longo do estuário apresenta perfis semelhantes, com


gradientes maiores estuário abaixo. O aumento da energia potencial da coluna de água no
sentido do mar faz com que as isohalinas1 inclinem-se de forma ascendente na superfície,
e de maneira oposta próximo ao fundo (MIRANDA et al., 2002).

Figura 6 - Diagrama esquemático do estuário tipo Parcialmente Misturado

Fonte: MIRANDA et al., 2002.

Um dos mecanismos mais interessantes nesse tipo de estuário é a formação de ondas. Se


condições específicas de largura e comprimento forem atendidas, é possível que a onda
de maré adentre o estuário, seja refletida na extremidade de montante e retorne à outra
extremidade no tempo de um harmônico do período da maré. A onda que agora adentra
o estuário sofrerá interferência da onda refletida, provocando um sistema de ondas
estacionárias. Nesses casos, a maré alta e baixa e o momento de inversão da corrente
ocorrem simultaneamente ao longo do estuário. A variação de salinidade e a amplitude
de maré estão defasadas, portanto, de 90º com a velocidade (DYER, 1997).

Se a energia da onda de maré é completamente dissipada e não há reflexão, a onda atua


como progressiva. A amplitude da maré e das correntes diminui no sentido do rio, com
ambas em fase, ou seja, máxima velocidade ocorrendo na maré alta. Com o afunilamento
do estuário no sentido do mar, tende a ocorrer o aumento da amplitude da onda devido à
convergência, enquanto tende a haver uma redução devido ao aumento do atrito. Em

1
Linha que une pontos com o mesmo valor de salinidade.
26

estuários longos e rasos onde a velocidade da onda é reduzida, há favorecimento da


formação de ondas progressivas (DYER, 1997).

Na prática, há dissipação de energia antes e depois da reflexão, levando a maior parte dos
estuários a apresentar um misto entre ondas estacionárias e progressivas (DYER, 1997).

Esse fenômeno foi observado no Rio James (EUA), onde foi constatado que a vazão na

Figura 7 - Ondas de maré em estuários parcialmente misturados

Fonte: Dyer, 1997.

camada superior, em direção ao mar, era 20 vezes maior que a vazão do rio, e que a vazão
na camada inferior, no sentido contrário, era 19 vezes maior que a mesma (PRITCHARD,
1955).

2.3. VERTICALMENTE BEM MISTURADO (TIPOS C E D)

Estuários deste tipo ocorrem usualmente em canais rasos e estreitos, com vazão fluvial
pequena e forçante de maré muito maior (MIRANDA et al., 2002). Nessas condições, o
atrito no fundo pode ser grande o bastante para provocar a completa erosão da haloclina2,
causando a mistura total da água. Não há gradiente vertical de salinidade, e por

2
Linha em que há mudança brusca de salinidade (ACHA & MIANZAN, 2003).
27

consequência, não há fluxo vertical de sal. Os fenômenos de mistura ocorrem apenas na


direção longitudinal (DYER, 1997).

Este tipo é dividido em dois subtipos:

2.3.1. Lateralmente Estratificado (Tipo C)

Se o estuário apresenta relação largura/profundidade grande, a força de Coriolis pode


gerar uma estratificação lateral da salinidade (MIRANDA et al., 2002). A coluna
permanece verticalmente homogênea, porém há variações laterais ao longo do canal. Este
fenômeno foi observado no estuário da Baía Delaware (EUA) por Wong (1994) e no
estuário Hudson-Raritan (EUA) por Oey, Mellor & Hires (1985), que apresentava
variações pequenas de salinidade na vertical (menos de 1‰) mas variações significativas
lateralmente. Essa estratificação foi atribuída à circulação gravitacional e à ação do vento
(WONG, 1994).

Figura 8 - Diagrama esquemático de um estuário tipo Lateralmente Estratificado

Fonte: MIRANDA et al., 2002.

2.3.2. Bem Misturado (Tipo D)

Em estuários com maior largura, o atrito nas margens pode ser suficiente para criar
homogeneidade longitudinal. A salinidade aumenta em direção ao mar e o escoamento
médio segue essa direção em praticamente todas as seções. Este escoamento tende a
remover todo sal do estuário, mas isso não ocorre devido ao fluxo estuário acima por
difusão turbulenta, influenciado por irregularidades topográficas e o atrito com o fundo.
A água salina é confinada em baías presentes no canal durante a maré alta, e lentamente
é devolvida ao mar durante a maré baixa (DYER, 1997).

Neste tipo de estuário o efeito da difusão turbulenta tem maior relevância do que em
outros, e a onda de maré é predominantemente progressiva. Quando isso ocorre a máxima
velocidade de escoamento na enchente ocorre próxima a maré alta, quando a área
28

molhada do canal é maior, enquanto que a máxima da vazante ocorre próxima a maré
baixa, quando a área molhada é menor. Como resultado há um maior transporte de sal
durante a enchente do que durante a vazante (DYER, 1997).

A Figura 9 mostra uma comparação entre os tipos de estuários discutidos até aqui. Pode-
se perceber a atenuação do gradiente vertical de salinidade do tipo A ao D, em função dos
processos dominantes em cada um deles: vazão fluvial (cunha salina), combinação entre
vazão fluvial e maré (parcialmente misturado) e dominado pela maré (verticalmente
homogêneo) (MIRANDA et al., 2002).

Figura 9 - Perfis verticais de salinidade de estuários tipo cunha salina, parcialmente


misturado e verticalmente homogêneo

Fonte: MIRANDA et al., 2002.


A classificação de um estuário como foi apresentada possui fins didáticos de fácil
compreensão, porém na prática são os raros os casos em que um estuário se inclua
totalmente numa única classe. Dessa forma, são classificados por trecho, pois o gradiente
vertical de salinidade varia ao longo de suas seções, além de variar com o tempo. Na
extremidade de montante, onde a forçante de maré encontra-se bastante atenuada e a
vazão fluvial é dominante, o entranhamento pode ser o processo mais relevante de mistura
e o trecho se assemelha à condição de cunha salina. Já na extremidade de jusante o inverso
ocorre, com a maré predominante e a difusão turbulenta mais atuante, ocorrendo o tipo
bem misturado. A variação temporal também tem um papel importante, pois a amplitude
29

de maré varia significativamente entre a quadratura e a sizígia, e vazão fluvial varia


sazonalmente (MIRANDA et al., 2002).

Geyer et al. (1989) observou no estuário do Rio Fraser (EUA) que durante a maré de
enchente, o cisalhamento entre a água doce e salina é pequeno e há pouca mistura, com
grande gradiente vertical de salinidade. Já na maré de vazante, com a passagem do
escoamento para o estado supercrítico, o cisalhamento aumenta e haloclina se rompe, com
intensa mistura. Essas variações ocorreram no intervalo de 6 horas.

Figura 10 - Variação na estratificação vertical observada no Rio Fraser durante a maré


vazante.

Fonte: Geyer et al., 1989.

A Figura 10 ilustra curvas de salinidade representadas a cada 30 minutos. A salinidade na


superfície e no fundo não variam, mas a estratificação vertical muda de estrutura,
tendendo à mistura total a partir das 10:30.

Um amplo estudo foi feito por Ralston, Geyer e Lerczak (2010) no estuário do Rio
Merrimack (EUA), o quarto maior rio no estado de New England, com vazão média de
220 m³/s (variando entre 50 m³/s e 1500 m³/s). É considerado um estuário relativamente
raso com alta influência da vazão e da maré. Foi observado que com vazões elevadas o
estuário se mostrou altamente estratificado, enquanto que a vazões menores ele se
mostrou parcialmente estratificado. Também foram observadas variações de acordo com
a escala temporal da maré, devido aos processos advectivos e difusivos. Entretanto, a
30

conclusão foi de que características como estratificação vertical de sal e o comprimento


da intrusão salina variam de forma mais significativa sazonalmente, devido à vazão
fluvial (RALSTON et al., 2010).

2.4. PARÂMETROS E DIAGRAMAS

Figura 11 - Salinidade observada no Rio Merrimack na maré enchente, 5.3 (esquerda) e 8.3
horas (direita) após a maré baixa

Fonte: Ralston et al., 2010.

As tipologias estuarinas apresentadas até aqui são traduzidas analiticamente através de


parâmetros e diagramas, de maneira a ser possível definir objetivamente o fenômeno que
está sendo observado. A seguir são apresentados trabalhos importantes neste sentido.

O trabalho de Ippen & Harleman (1961) foi resultado de uma longa investigação iniciada
pelo Comitê do Corpo de Engenheiros em Hidráulica Marinha em janeiro de 1954. Os
objetivos da investigação, foram estabelecidos na sua vigésima primeira reunião em
Vicksburg, Mississipi:

The present broad purpose of the investigation is to determine the effects of


the physical and hydraulic features of estuaries (such as tidal prism, tidal
range, fresh-water discharge, channel depth, channel width, etc.) on the extent
of salinity intrusion, the nature of salinity intrusion, the magnitudes and
durations of current velocities, and other factors considered essential to proper
solution of estuarine problems encountered by the Corps of Engineers3.
(IPPEN & HARLEMAN, 1961)

3
Determinar os efeitos das componentes físicas e hidráulicas de estuários (como prisma de maré,
amplitude de maré, vazão fluvial, profundidade do canal, largura do canal, etc.) no que concerne
a intrusão salina, as magnitudes e durações das velocidades do escoamento e outros fatores
31

Nesse trabalho foi apresentado o adimensional Número de Estratificação (G/J), que


possuía correlação com o gradiente de salinidade vertical. Esse adimensional é um
quociente entre a energia de propagação da onda da maré (G) e a energia potencial da
descarga fluvial (J), podendo ser interpretado como:

çã (9)
=
E dado por:

∗ ∗ (10)
=

2∗ℎ ∗ ∗
ℎ(2 ) (11)
=
cos(2 ) + cosh(2 )
c = celeridade da onda de maré;

a = amplitude da onda de maré;

h = profundidade da água;

= velocidade do fluxo de água doce;

= Peso específico do fluido;

= Fator de atrito da onda;

= Número da onda;

L = Comprimento do estuário.


Analisando o adimensional percebemos que quando a estratificação relativa ( ) diminui,

o número de estratificação aumenta. No caso limite da estratificação tender a zero,


caracterizando um estuário verticalmente homogêneo, G/J tende ao infinito.

Foram sugeridas formas alternativas de analisar o adimensional. Prandle (1985)


apresentou a seguinte formulação:

(12)
= 0,85

considerados essenciais para a solução dos problemas estuarinos enfrentados pelo Corpo de
Engenheiros (tradução nossa).
32

k = Coeficiente de cisalhamento com o fundo;

= Amplitude da corrente de maré;

∆ = Diferença de massa específica entre a água salina e doce;

= Massa específica da água salina.

Nesse estudo ele propôs que a estratificação é proporcional do cubo da amplitude da


corrente de maré, e inversamente proporcional à velocidade do escoamento fluvial e à
gravidade reduzida (MIRANDA et al., 2002). Com essa formulação e usando dados de
estuários naturais e de simulações em modelos reduzidos, foram obtidos os seguintes
limites:

Quadro 1 - Classificação de estuários com base no adimensional G/J


Altamente G/J < 100
estratificados
Parcialmente 100 < G/J
misturados < 400
Bem misturado G/J > 400

Fonte: MIRANDA et al., 2002.

Já Hansen & Rattray (1965) inovaram ao introduzir o Diagrama Estratificação-


Circulação, desenvolvido por meio da solução analítica de um modelo bidimensional
estacionário com geometria simples. Este diagrama representava o estado da arte na
classificação de estuários e recebeu contribuições de diversos pesquisadores que
confirmaram os resultados teóricos do trabalho original, confirmando sua importância.

O diagrama estratificação-circulação foi construído com base em dois adimensionais. A


estratificação foi definida como:

− (13)
=
̅ ̅

= Salinidade de fundo;

= Salinidade de superfície;

̅= Salinidade média.
33

É uma medida da estratificação vertical do estuário, e varia de valores muito pequenos


em estuários bem misturados (10-1 a 10-5) a valores maiores que 1 em estuários altamente
estratificados (MIRANDA et al., 2002).

A circulação fica definida por meio da razão us/uf, onde uf é a velocidade da corrente de
água doce e us a velocidade residual de superfície (HANSEN & HATTRAY, 1965).
Quando uf não é bem conhecido, utiliza-se em seu lugar o valor médio da velocidade na
coluna d’água. É uma medida da circulação vertical, variando do valor teórico 1,5 para
estuários pouco estratificados a 105 para os altamente estratificados (MIRANDA et al.,
2002). É sempre um valor maior que um, pelo fato de uf ser apenas uma parcela do
escoamento da superfície, que também inclui a vazão de água levada à superfície pelo
entranhamento e difusão turbulenta (MIRANDA et al., 2002).

Na dedução teórica do diagrama foi utilizada a hipótese de condições estacionárias,


portanto as grandezas , , ̅, us e uf não devem depender do tempo, e são calculadas
como valores médios durante um ou mais ciclos de maré. Os parâmetros circulação e
estratificação estão ligados por outro adimensional, . Este representa o fluxo de sal
estuário acima, e permite estimar a importância relativa dos processos advectivos e
difusivos no transporte de massa (MIRANDA et al., 2002). Esta correlação é dada pela
seguinte equação de segunda grau em , deduzida por Hansen & Rattray (1965):

(14)
( ) 210 + 252 − 1,5
̅

+ 32 − 210 + 252 − 1,5


̅
152
+ 76 − 1,5 + − 1,5 =0
3
O parâmetro varia entre 0 e 1, representando condições de exclusiva influência da
advecção ou difusão, respectivamente. Para igual a 0, a equação não possui significado
físico. Para igual a 1, ela dica reduzida a:

152 (15)
32 + 76 − 1,5 + − 1,5 =0
3
34

A equação 15 tem como única solução matemática com significado físico o valor 1,5,
mostrando que quando o mecanismo de transporte é dominado exclusivamente pela

difusão, a solução é independente da estratificação ̅


.

Figura 12 - Curvas paramétricas dos processos dispersivo e advectivo. Q e S representam


condições na quadraduta e sizígia, respectivamente

Fonte: MIRANDA et al., 2002.

Os diagramas obtidos são curvas paramétricas em . É fixado um valor para o parâmetro


circulação, e então para diferentes valores de , o valor da estratificação é calculado. O
diagrama estratificação-circulação foi utilizado para análise de dados experimentais do
canal de Bertioga em São Paulo (MIRANDA et al., 2002). No período de quadratura, o
valor de =0,7 indicou importância tanto dos processos advectivos quanto dos difusivos.
Já na sizígia, com correntes de maré mais fortes, a difusão turbulenta foi mais decisiva
para o mecanismo de transporte de sal, com =0,9.

Utilizando da interpretação física destes parâmetros, os estuários podem ser classificados


em (IPPEN & HARLEMAN, 1966):

 Tipo 1: Escoamento resultante é estuário abaixo em todas as profundidades e o único


mecanismo de transporte de sal é a difusão.
 Tipo 2: O escoamento se inverte em determinada profundidade, e tanto a advecção
quanto a difusão estão presentes no transporte de sal.
 Tipo 3: O transporte de sal estuário acima é dominado pela advecção.
 Tipo 4: Estratificação vertical máxima, correspondendo ao tipo cunha salina.
35

As alíneas a e b indicam estuários com pequena ou alta estratificação, respectivamente.


Vários dados experimentais de diversos sistemas estuarinos foram utilizados e
comprovaram a efetividade do diagrama. Foi observado que sob diferentes condições de
vazão fluvial e amplitude de maré, os parâmetros do estuário migram sobre o diagrama.
Isso indica que o ideal não é representar um estuário por um ponto, mas por um segmento
de reta, compreendendo as principais situações de estratificação e circulação que o mesmo
pode apresentar (MIRANDA et al., 2002).

Figura 13 - Diagrama estratificação-circulação, como proposto por Hansen & Rattray (1965). x+
e x- representam variações longitudinais estuário abaixo e acima, respectivamente. R+ e R-
representam aumento e decréscimo na vazão fluvial

Fonte: MIRANDA et al., 2002.

3. PROCESSOS DE CIRCULAÇÃO E MISTURA

Os processos de circulação e mistura que determinam a ocorrência dos tipos de estuário


abordados anteriormente são diversos, e possuem diferentes escalas temporais de atuação.
A circulação da plataforma continental e o vento atuando sobre a superfície livre possuem
influência, mas os principais fatores determinantes são a oscilação da maré, a descarga
fluvial e o gradiente longitudinal de salinidade (MIRANDA et al., 2002).

O componente longitudinal da força de gradiente de pressão é dado por (PRITCHARD,


1971):
36

(16)
1
− =− −

: pressão;

: massa específica;

: aceleração da gravidade;

: oscilação da maré;

: coeficiente de contração salina médio;

: salinidade;

, : eixos de direção longitudinal e vertical, respectivamente.

Figura 14 - Perfil esquemático da seção longitudinal de um estuário, representando a vazão


fluvial (Qf), salinidade (S), oscilação da maré (η) e profundidade média (Ho)

Fonte: MIRANDA et al., 2002.

As parcelas da equação 16 representam uma força por massa, ou uma aceleração.

Entretanto, são referidas na literatura como forças. A primeira parcela, − , mostra que

a aceleração devido à maré independe da profundidade, e depende apenas da inclinação


da superfície livre na direção longitudinal. Seu efeito é denominado barotrópico. Ela

assume valores positivos durante a maré enchente ( > 0), impulsionando correntes

estuário acima, e negativo durante a maré vazante ( < 0 ), impulsionando correntes

estuário abaixo. No momento em que há mudança entre a vazante e a enchente, ou vice-


versa, o valor dessa inclinação se iguala a zero e essa forçante possui efeito nulo. Esse
momento é denominado de estofa de maré. Os valores obtidos para essa aceleração
variam entre -10-3 m/s2 e 10-3 m/s2 (MIRANDA et al., 2002).
37

A segunda parcela, − , representa o gradiente longitudinal de velocidade

integrado entre a profundidade z e a superfície livre. Ela possui valor igual a zero na
superfície e valor máximo no fundo, com valores sempre negativos devido ao constante
aumento da salinidade em direção à jusante. Essa componente é denominada de
baroclínica, e é responsável por gerar movimentos estuário acima. Como possui valor
máximo no fundo, concorda com observações que mostram que a cunha salina tem maior
penetração no fundo do que na superfície. Para um estuário com 10 metros de
profundidade e salinidade da água do mar de 30‰, sua magnitude varia de 0 a -10-4 m/s2
(MIRANDA et al., 2002).

A vazão fluvial é representada pela equação (MIRANDA et al., 2002):

(17)
=

: Velocidade do escoamento fluvial;

: Vazão fluvial;

: Área média da seção transversal durante ciclos completos de maré.

Essa forçante é responsável pela diluição da água salina, e gera movimentos orientados
estuário abaixo. Se a forçante barotrópica for eliminada, restam dois movimentos
orientados em sentidos diferentes, gerados pela baroclínica e pela vazão fluvial. Essa
circulação é denominada de gravitacional, corrente de gravidade ou circulação estuarina
clássica (MIRANDA et al., 2002).

Percebe-se a importância do ciclo de marés na mistura de sal em um estuário. Enquanto


as forçantes baroclínica e fluvial tem sentidos fixos, a barotrópica inverte seu sentido
entre a maré vazante e a enchente. Durante a vazante, essa forçante se soma à fluvial,
gerando um movimento estuário abaixo que tende a carregar o sal em direção ao mar. Já
na enchente, ocorre o inverso, com a forçante barotrópica e baroclínica se somando e
provocando um movimento estuário acima que é maior nas camadas mais profundas, e
aumenta o comprimento da intrusão salina (MIRANDA et al., 2002).

Durante as marés de quadratura, com a redução da forçante da maré, há um aumento na


circulação gravitacional. Esse aumento gera uma redução na mistura vertical no estuário,
aumentando a estratificação vertical. Esse fenômeno foi observado na Baía Norte de São
Francisco (EUA) (MONISMITH & BURAU, 1996). Dessa forma, a influência da
38

circulação gravitacional está associada ao regime de marés, tendo seu efeito elevado na
quadratura e reduzido na sigízia.

Estudos de modelação numérica foram conduzidos com o objetivo de determinar as


influências na circulação em estuários parcialmente estratificados. A conclusão obtida foi
que, desprezando o efeito do vento, a forçante de maré foi responsável por dois terços da
circulação e mistura, enquanto que a circulação gravitacional foi responsável por um terço
(BURCHARD & HETLAND, 2010).

3.1. EQUAÇÕES DE CONSERVAÇÃO DE MASSA

O princípio geral para o equacionamento da variação de massa em torno de um volume


de controle é simples e intuitivo, e pode ser traduzido na equação:
çã = − + (18)
O primeiro termo é equacionado decompondo a variação de massa em todas as dimensões
consideradas, ou seja, no volume (x, y, z) e no tempo (t). Dessa forma:
(19)
= + + +
Dividindo a equação 19 por dt, tem-se:
(20)
= + + +
Substituindo M por Cdxdydz por conveniência, de maneira a trabalhar com a
concentração C, obtém-se:

= + + +
(21)

A quantificação da massa que entra e que sai é feita por meio do fluxo de massa. O fluxo
de massa que entra no volume controle na direção y é:
= (22)
E o fluxo de massa que sai, calculado através da Série de Taylor, é:
(23)
=( + )
Dessa forma, a diferença entra a massa que entra e a massa que sai é:
(24)
= −( )
De forma análoga são desenvolvidas as expressões para as direções x e z. Unindo as
expressões e dividindo-as por dt, tem-se:
− (25)
=− − −
39

Onde − representa massa que entra menos a massa que sai.


A massa gerada depende da reação química envolvida, podendo se apresentar das mais
diversas formas. Aqui ela será simplesmente representada por:
= (26)
= taxa de geração por unidade de tempo;
= geração de massa por unidade de tempo e volume;
Substituindo as equações 21, 25 e 26 na equação 18, e eliminando dxdydz que aparece
em todos os membros, tem-se:
(27)
+ + + =− − − +
Utilizando a Lei de Fick para quantificar o fluxo de massa e assumindo que as
difusividades moleculares são iguais nas três direções (meio isotrópico), encontra-se:
(28)
+ + + = + + +
Esta é a equação diferencial para a conservação de massa. A primeira parcela do lado
direito da equação representa a variação temporal do elemento em questão. As três
parcelas seguintes representam a taxa de variação espacial da concentração devido ao
processo advectivo. As três primeiras parcelas do segundo membro representam a
variação espacial devido à difusão, e a última parcela representa a produção ou consumo
de massa.
No caso específico do balanço de sal em um estuário, a concentração de sal é representada
por ρS, sendo ρ a massa específica da água, e S a salinidade. Por se tratar de um elemento
conservativo, não há geração ou consumo de sal no volume de controle. A equação 28
fica então escrita como:
(29)
+ + + = + +
Em que S representa o valor médio da salinidade em um intervalo de tempo longo o
bastante para eliminar as flutuações turbulentas, mas curto o bastante para permitir que o
mesmo seja função do tempo (MIRANDA et al., 2002). Os componentes de velocidade
também representam valores médios. K representa o coeficiente efetivo da difusão
turbulenta de sal. Considerando que este varia nas 3 direções, e eliminando a massa
específica que aparece em todos os termos, obtém-se:
(30)
+ + + = + +
Os coeficientes Kx, Ky e Kz são determinados em função da flutuação turbulenta das
velocidades e da salinidade, pelas seguintes expressões (OKUBO, 1970):
40

< > < > < > (31)


=− ; =− ; =−

Multiplicando-se os numeradores das equações 31 pela massa específica ρ obtém-se o


fluxo de sal gerado pela difusão turbulenta (ρ<Vx’S’>, ρ<Vy’S’> e ρ<Vz’S’>). Pritchard
(1954) realizou estudo no rio James (EUA) que levou às seguintes conclusões:
 A manutenção do balanço de sal tem como principais fluxos o advectivo horizontal
longitudinal (ρVxS) e o difusivo vertical (ρ<Vz’S’>);
 O fluxo advectivo vertical (ρVzS) e o difusivo horizontal (ρ<Vx’S’>) são de relevância
secundária;
 O fluxo difusivo vertical relaciona-se parcialmente com a intensidade das correntes de
oscilação da maré.

3.2. EQUAÇÕES DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO

Após representar matematicamente o transporte de massa em estudo no elemento de


controle, é necessário quantificar o movimento do fluido. Isso é feito analisando-se a
quantidade de movimento através da segunda lei de Newton, adaptada para um elemento
que sofre deformação contínua com a aplicação de esforços tangenciais (SCHULZ,
2003). Aqui serão abordadas as Equações de Navier-Stokes, conforme desenvolvimento
apresentado por Schulz (2003). A elaboração dessas equações foi obtida através de
diversos aperfeiçoamentos que contaram com algumas das mentes mais brilhantes da
história humana, destacando-se aqui além de Navier e Stokes, Newton, Cauchy, Poisson
e Saint-Venant.
Os esforços aplicados sobre o volume de controle em estudo são resultantes de forças de
pressão, forças de campo (como a gravitação e campos eletromagnéticos) e de efeitos
viscosos, que se opõem ao movimento. Cada tensão é representada com dois índices, o
primeiro sendo referente à superfície no qual ela atua, e o segundo a direção no qual se
atua.
A lei de Newton, em sua forma tradicional, é dada por:
= (32)
é a resultante das forças aplicadas, e a aceleração. A aceleração é entendida como a
variação da velocidade com o tempo, podendo se escrever:
(33)
=
Como se trata de um elemento de volume, além do tempo, a velocidade é função das três
dimensões estudadas (x, y, z). Sua derivada no tempo é a derivada total:
41

(34)
= + + +
Substituindo a derivada total na equação 33, tem-se:
(35)
= + + +
A equação 35 é uma equação vetorial, composta pelas três direções cartesianas. Na
direção x, ela é escrita como:
(36)
= + + +
A escrita para as outras direções é análoga. A força resultante é o somatório das forças de
campo e de tensão. As forças de tensão podem ser normais ou tangenciais. Analisando a
direção x, isso pode ser escrito como:
= + + (37)
A resultante das forças normais e das tangencias é:
(38)
=
(39)
= +
As forças de campo podem ser diversas, cada uma com seu equacionamento específico.
Por conta disso, aqui ela será apresentada em função de uma aceleração B, e a força total
devido a ação do campo na direção x é:
= (40)
Onde é a massa específica do fluido. Substituindo as equações 38, 39 e 40 na equação
36, obtém-se:
(41)
+ + + = + + +
Em que o volume dxdydz foi passado para o membro direito, e dividido pela massa, foi
substituído pela massa específica. O desenvolvimento para as direções y e z é análogo.
Percebe-se na equação 41 que há duas incógnitas, a velocidade de escoamento e as tensões
tangenciais e normais, que também são funções do campo de velocidades. De maneira a
trabalhar apenas com a velocidade como incógnita, utiliza-se de conhecimentos do campo
da resistência dos materiais para equacionar a relação entre a tensão aplicada e as
velocidades do fluido.
No caso das tensões de cisalhamento, estas são equacionadas de acordo a lei da
viscosidade de Newton:
(42)
=
42

(43)
=
Em que é a viscosidade dinâmica. A tensão normal pode ser traduzida na expressão:
= ã + (44)
Sendo a pressão, matematicamente escreve-se:
(45)
=− +
O que leva a:
− (46)
= +
Substituindo as equações 42, 43 e 46 na equação 41, obtém-se as Equações de Navier
Stokes válidas para escoamentos incompressíveis. Representadas de maneira completa,
nas três direções cartesianas, elas são:
− (47)
+ + + +

= + + +
− (48)
+ + + +

= + + +
− (49)
+ + + +

= + + +

As derivadas da velocidade em função do tempo, últimas parcelas das equações acima,


representam a aceleração local, enquanto que as demais parcelas do lado direito
representam aceleração advectiva. Quando todas essas parcelas são iguais a zero, o
movimento é denominado estacionário e uniforme, pois não sofre alterações no tempo e
no espaço.
Já os primeiros termos do lado esquerdo da equação representam o gradiente de pressão
por unidade de massa. Em um estuário, estes são provocados pela diferença de densidade
entre a água saline e doce e pelas inclinações da superfície livre, induzidas pela maré.
Estas forçantes são denominadas respectivamente de baroclínica e barotrópica, como já
discutido anteriormente.
Os demais termos do lado direito, as derivadas segundas da velocidade multiplicadas pela
viscosidade cinemática, representam os componentes das tensões, associados às forças de
cisalhamento, responsáveis por dissipar energia cinética do movimento. Entretanto, na
43

interface entre o ar e a água ocorre o inverso. Há transferência de quantidade de


movimento do vento para a água, o que provoca aceleração (MIRANDA et al., 2002).

4. MODELOS HIDRODINÂMICOS

Segundo Tucci (1998), “o modelo é a representação de algum objeto ou sistema, numa


linguagem ou forma de fácil acesso e uso, com o objetivo de entendê-lo e buscar suas
respostas para diferentes entradas”. Em diversas áreas do conhecimento, como a
engenharia de estruturas ou de processos químicos, o pesquisador define seu sistema,
controlando todos os parâmetros necessários de modo a chegar a um objetivo. Na
modelagem fluvial, entretanto, este não é o caso. Os parâmetros de uma bacia hidrográfica
não estão sobre controle total do homem, ao qual resta buscar entende-los e representa-
los com a precisão necessária aos objetivos do estudo. Enquanto o objetivo de outras áreas
costuma ser a construção e controle operacional de um processo, no caso da modelagem
fluvial este está mais ligado à previsão da resposta do ambiente a eventos extremos ou
modificações feitas pelo homem.
Existem diversos modelos, que se diferenciam em função dos dados requeridos,
prioridades da representação e discretização do ambiente. É importante salientar que o
modelo não é o fim, mas um meio para alcançar um objetivo (TUCCI, 1998). Dessa
forma, o pesquisador deve ter a clareza sobre o objetivo do seu estudo, pois não faz
sentido estabelecer como meta a criação de um modelo que não tenha aplicação real.
Os modelos são importantes para prever e simular situações hipotéticas ou futuras, mas
não substituem ou eliminam a necessidade de obtenção de dados primários. Todos
modelos dependem da entrada de dados, e quanto maior a qualidade destes dados, menor
a incerteza na resposta obtida. O propósito de um modelo não é aumentar a base de dados
existentes, mas extrair melhores informações dos dados disponíveis (TUCCI, 1998).
Existem prioritariamente três tipos de modelos: físicos, analógicos e matemáticos
(TUCCI, 1998). Os físicos são representações físicas em menor escala do sistema em
análise. São especialmente importantes para verificar a validade das hipóteses assumidas
na teoria antes de partir para o projeto real. Os analógicos utilizam de equações elaboradas
para diferentes fenômenos, para por analogia, modelar o sistema desejado, com um custo
reduzido. Já os modelos matemáticos, ou digitais, utilizam de equações matemáticas para
representar o sistema. Estes possibilitam a simulação de uma grande variedade de
situações, pois pode-se facilmente modificar sua lógica para obter resultados diferentes
em um mesmo sistema. Além disso, fornecem respostas rápidas, principalmente após o
44

avanço recente na engenharia da computação. Sua desvantagem são as simplificações e


considerações que devem ser assumidas em muitos casos, afastando-os da situação real.
Em várias áreas de estudo ainda não existem modelos matemáticos eficazes, recorrendo-
se aos modelos físicos para fazer simulações (TUCCI, 1998).

4.1. CONDIÇÕES INICIAIS

Para se atingir a solução das equações diferencias envolvidas na modelagem


hidrodinâmica, as condições iniciais de escoamento devem ser conhecidas em todos os
pontos do domínio. Raramente isso será possível em casos reais, o que leva a um erro
inicial que deve ser minimizado (TUCCI, 1998).

Dessa forma, deve-se desprezar o período inicial em que as condições estimadas


inicialmente afetam a simulação. Forma-se uma onda de perturbação que não ocorre na
situação real, sendo apenas resultado da incoerência entre as condições iniciais e as
condições de contorno. Em sistemas de grande rugosidade, a tendência é que as condições
iniciais, ao atingir o contorno, sejam dissipadas e convirjam para respeitar as condições
de fronteira. (TUCCI, 1998 APUD CUNGE, HOLLY & VERMEL, 1980). Isso ocorre
quando as condições iniciais têm peso menor que as condições de fronteira para a solução
do modelo.
45

Figura 15 - Efeito das condições iniciais em uma simulação

Fonte: TUCCI, 1998.

Para se estimar as condições iniciais, usualmente se procede de uma das seguintes


maneiras (TUCCI, 1998):

 Calcula-se as condições de escoamento para o regime permanente, e estas são utilizadas


como condição inicial;
 Estimar, por interpolação, as condições iniciais a partir das condições de contorno;
 Utilizar uma das alternativas anteriores e realizar a simulação por um período maior que
o tempo de deslocamento da onda de perturbação. Em seguida, utiliza-se a solução, livre
da onda de perturbação, como condição inicial para o modelo.

Alguns cuidados devem ser tomados com as condições iniciais. Caso as profundidades de
água iniciais sejam muito pequenas, pode haver erros que façam a simulação convergir
para valores absurdos. O mesmo ocorre caso seja colocado como condição de jusante uma
vazão defluente muito alta, incoerente com o volume de água no canal, o que conduziria
ao esvaziamento do mesmo (TUCCI, 1998).

4.2. CONDIÇÕES DE CONTORNO

Usualmente as condições de contorno são obtidas de fontes externas. A escolha delas


deve ser feita de acordo aos objetivos da simulação. Se o objetivo for simular eventos
46

passados a que se tem acesso à dados primários, a escolha é direta. Entretanto, se o


objetivo for fazer simulações de situações hipotéticas, para servir de apoio ao
planejamento da bacia, é importante que as condições de contorno de montante e jusante
sejam independentes entre si.

4.3. MALHAS NUMÉRICAS

Tão importante quanto a definição das condições iniciais e de fronteira, é a definição do


domínio computacional. Em simulações hidrodinâmicas em 2D e 3D, um dos dados de
entrada é batimetria da calha do rio, que é uma discretização representativa do relevo.
Caso esta não seja representativa da realidade, os resultados da simulação serão irreais, e
todo o esforço dedicado à correta definição das condições iniciais e de contorno será
desperdiçado.

Quando a geometria é complexa, é comum se levar várias semanas na geração de uma


única malha. Considerando o peso da precisão da malha nos resultados obtidos, é uma
etapa que deve ter bastante tempo e atenção investidos (FERZIGER & PERIC, 2002).

Quanto a geometria da malha, existem dois tipos aplicados na mecânica dos fluidos
computacional, a estruturada e não-estruturada. A malha estruturada é caracterizada por
cada volume interno da malha ter o mesmo número de vizinhos. Isso ocorre quando os
volumes de controle são obtidos a partir de uma discretização que segue um sistema de
coordenadas globais (MALISKA, 1995).

Na solução numérica, o que interessa é a estrutura da matriz de coeficientes resultantes


do processo de integração. Uma malha estruturada possibilita a fácil ordenação dos
volumes, e a consequência disso é a obtenção de matrizes diagonais que permitem
soluções mais simples e eficientes. A grande limitação das malhas estruturas está na sua
adaptação a geometrias irregulares e complexas (MALISKA, 1995).

Por muito tempo as malhas estruturadas dominaram o cenário da mecânica dos fluidos
computacional. A atenção da comunidade científica estava no tratamento adequado das
não-linearidades das equações de Navier-Stokes, e poucos esforços foram dedicados a
resolver problemas de geometria irregular (MALISKA, 1995).
47

As malhas não estruturadas são mais versáteis, se adaptando bem a geometrias com cantos
e saliências. Como esse é o caso da maior parte dos rios naturais, muitos problemas da
simulação fluvial ficam limitados ao uso destas malhas. Apesar de se adequarem bem à
domínios irregulares, a ordenação é dificultada, o que resulta em matrizes não ortogonais.

Figura 16 – Malha estruturada (a) e não-estruturada (b)

Fonte: Maliska, 1995.

A Figura 16 exemplifica uma malha estruturada e uma não estruturada, ambas na mesma
geometria quadrangular simples. Por meio da ilustração é possível notar a dificuldade de
ordenação dos elementos, mesmo se tratando de um domínio trivial. O volume 3 está
conectado a outros 4 volumes, enquanto o volume 9 está conectado a 5 outros. Essa
variação leva a uma variação no tamanho de banda dos elementos, o que impossibilita a
aplicação de diversos métodos de solução de sistemas lineares (MALISKA, 1995).

Uma malha não estruturada pode ser formada por triângulos ou quadriláteros (tetraedros
e hexaedros em 3D, respectivamente), e os volumes de controle podem ser criados pelo
método das medianas, no qual os centroides dos elementos são unidos às medianas dos
seus lados. Essas malhas ganharam muito espaço nas simulações envolvendo mecânica
dos fluidos, normalmente associadas ao método dos volumes finitos (MALISKA, 1995).
48

5. METODOLOGIA

De modo a realizar uma simulação simples e exemplificar os conceitos aqui abordados,


foi elaborado um canal retangular simples que possibilitasse a avaliação da influência da
maré e da intrusão salina. Utilizou-se o baixo trecho do rio São Francisco como
inspiração. O canal teórico possui 2000 metros de largura (largura aproximada do rio em
sua foz) por 20000 metros de comprimento.
Foi realizada uma simulação computacional com uso do software MIKE Zero. Este foi
desenvolvido em 2004 pela Danish Hydraulic Institute (DHI), e consiste de um ambiente
integrado para desenvolvimento de simulações, análises pré e pós-processamento,
apresentação e visualização de resultados. O MIKE Zero inclui os seguintes sistemas de
modelagem (DHI, 2017a):
 MIKE HYDRO: Modelo físico e conceitual para rios e planícies de inundação;
 MIKE 11: Sistema de modelagem 1D para rios e canais;
 MIKE 21: Sistema de modelagem 2D para estuários, costas e mares;
 MIKE 3: Sistema de modelagem 3D para oceano profundo, estuários e costas;
 MIKE 21/3 modelos integrados;
 MIKE FLOOD: Sistema de modelagem 1D/2D para estudo de enchentes urbanas;
 LITPACK: Sistema de modelagem dos processos litorais e cinética costeira;
 MIKE SHE: Sistema de modelagem para recursos hídricos subterrâneos e superficiais.
Além destes, o MIKE Zero também inclui diversas outras ferramentas de
geoprocessamento, estimativa de marés e geração e interpolação de malhas numéricas, o
que facilita o trabalho do pesquisador ao fornecer um ambiente integrado, diminuindo a
necessidade de softwares adicionais.
Outra grande vantagem do MIKE Zero é a possibilidade de trabalhar com malhas
estruturadas e não estruturadas, ou mesmo uma combinação de ambas. Através do Mesh
Generator, é possível gerar e refinar a malha numérica com facilidade.

5.1. GERAÇÃO E INTERPOLAÇÃO DA MALHA

A ferramenta para geração de malhas no ambiente MIKE Zero é o Mesh Generator.


Através dele foi possível gerar a malha numérica e interpolar os dados de entrada de
batimetria de maneira a representar geometricamente o canal.
Por se tratar de um canal retangular com geometria regular e simples, optou-se pela
geração de uma malha estruturada quadrangular. Isto contribui para redução do custo
49

computacional e maior velocidade nas simulações. O software permite a utilização de


dois métodos para geração da malha: método de caixa algébrica e método de interpolação
transfinida. Neste trabalho foi utilizado o método da caixa algébrica.
O objetivo desse método é gerar uma malha cujas linhas estejam alinhadas com as poli
linhas que formam o polígono. O polígono, formado por duas poli linhas e dois arcos, é
dividido em vários quadriláteros. É ideal que os arcos sejam perpendiculares ao
escoamento, ou seja, sejam fronteiras de entrada e/ou saída do fluido (DHI, 2017b).

Figura 17 - Polígono no qual será gerada a malha

Fonte: DHI, 2017b.

O comprimento das duas poli linhas é determinado e cada vértice é identificado por um
Figura 18 - Polígono com vértices complementares interpolados e dividido em quadriláteros

Fonte: DHI, 2017b.

valor , onde n é o identificador da poli linha e m o identificador do vértice ao longo


da poli linha, ambos números naturais. Os vértices das duas poli linhas são então
combinados, e novos vértices interpolados são introduzidos caso não haja equivalência
entre os vértices das poli linhas. O resultado desse processo é a geração de um polígono
com duas poli linhas possuindo o mesmo número de vértices. A união dos vértices
complementares gera os quadriláteros (DHI, 2017b).
50

A geração da malha leva em consideração o tamanho máximo do elemento da malha. Os


comprimentos máximos dos lados de um elemento da malha é representado por ∆ e ∆ ,
onde t e s representam as direções. Estes são determinados pelo usuário de modo a
garantir a precisão necessária na malha. O número de linhas na direção paralela ao
escoamento deve ser a mesma para todos os quadriláteros gerados anteriormente, sendo
possível determina-lo por meio da máxima distância entre vértices complementares.
Dessa forma, o número de linhas é:
‖ ̅‖ (50)
= ,…

= Número de linhas;
‖ ̅ ‖=Comprimento do par de vértices i.
Figura 19 - Notação usada nos quadriláteros

Fonte: DHI, 2017b.

Após realizado este cálculo, a malha é gerada individualmente em cada quadrilátero. A


notação utilizada é a demonstrada na Figura 19. Primeiramente, o número de linhas na
direção s é determinada:
max( 1, 2) (51)
= ,…

= , , , −( , , , ) (52)
= , , , −( , , , ) (53)
Uma vez que o número de linhas foi determinado, a localização dos nós internos da malha
é encontrada da seguinte maneira:

= 1− 1− + 1− + 1− (54)
, , , ,

+ ,
51

= 1− 1− + 1− + 1− (55)
, , , ,

+ ,

Figura 20 - Malha gerada individualmente para cada quadrilátero. O número de intervalos na


direção t é o mesmo, entretanto o número de intervalos na direção s pode variar de maneira
significante

Fonte: DHI, 2017b.

Para o problema proposto, foi gerada uma malha quadrangular com max(∆ ) = 600 m e
max(∆ ) = 60 m, o que forneceu um excelente detalhamento da malha.

Figura 21 - Malha quadrangular criada no Mesh Generator

Fonte: Autor, 2017.


52

Figura 22 - Detalhe da malha gerada

Fonte: Autor, 2017.


Por meio da ferramenta Analyse Mesh, é possível fazer análise do passo temporal
necessário a estabilidade, área e ângulos internos de cada elemento da malha. A
estabilidade do processo de cálculo é avaliada através de número de Courant, ou Condição
de Courant-Friedrich-Lewis (Condição CFL) (DHI, 2017). Por meio desta, é possível
determinar o passo temporal mínimo em cálculos numéricos baseados numa marcha
temporal. Caso este passo temporal mínimo não seja respeitado, o processo não tem
estabilidade e os resultados alcançados são irreais e fisicamente desprovidos de
significado. O número de Courant é dado por:
∆ (56)
=

= Número de Courant;
= Celeridade da onda;
∆ = passo temporal;
∆ = passo espacial;
A condição para estabilidade é que o número de Courant seja menor que 1. O passo
espacial pode ser entendido como o nível de detalhamento da malha. Dessa forma, malhas
muito finas, com elementos pequenos, tendem a fazer o número de Courant aumentar, e
53

necessitam de um passo temporal menor para que seja alcançada a estabilidade. O número
de Courant para o modelo hidrodinâmico bidimensional é escrito como:
∆ ∆ (57)
= ℎ+| | + ℎ+| |
∆ ∆

= aceleração da gravidade;
ℎ = profundidade d’água;
= velocidade na direção x;
= velocidade na direção y.
Dessa forma, a estabilidade também depende da profundidade d’água considerada, e
quanto maior for, menor deve ser o passo temporal. Para a malha criada, foram obtidos
passos temporais maiores que 4 segundos, satisfatórios para processamentos rápidos
considerando a máquina utilizada.
Após a geração da malha, é necessário interpolar os dados de entrada de relevo para
geração da batimetria do terreno. Os dados de entrada foram produzidos considerando
uma altitude inicial ao nível do mar e as demais foram calculadas com base na declividade
de fundo do canal.

Quadro 2 - Dados de entrada de batimetria


Latitude Longitude Altitude
496940 9998440 0
496940 10000440 0
501940 9998440 -2.5
501940 9998940 -2.5
501940 9999940 -2.5
501940 10000440 -2.5
506940 9998440 -5
506940 9998940 -5
506940 9999940 -5
506940 10000440 -5
511940 9998440 -7.5
511940 9998940 -7.5
511940 9999940 -7.5
511940 10000440 -7.5
516940 9998440 -10
516940 9998940 -10
516940 9999940 -10
516940 10000440 -10

Fonte: Autor, 2017.


54

Com estes dados, foi feita uma interpolação linear ao longo da malha, o que resultou no
canal retangular desejado.

Figura 23 - Canal retangular produzido


Figura 24 - Malha tridimensional gerada a partir de malha triangular

Fonte: Autor, 2017.

Fonte: DHI, 2017c.

Para a entrada no modelo 3D, a malha não-estruturada horizontal é utilizada para criação
de uma malha estrutura na vertical. A malha vertical é baseada em coordenadas sigma ou
sigma e z. Os elementos desta malha são primas de base triangular ou quadrangular, como
pode ser observado na Figura 24. O usuário define a quantidade de camadas sigma
desejadas na malha, o que influenciará na fineza da malha. No presente trabalho, foram
utilizadas 10 camadas.

5.2. EQUACIONAMENTO

O software empregado neste trabalho resolve equações diferenciais parciais que


representam os princípios de conservação de massa e as leis de Newton associados a
relações constitutivas para tensão e deformação em fluidos newtonianos e a lei de Fick,
para difusão de massa. A equação da quantidade de movimento, originada a partir da
segunda lei de Newton, quando combinada à relação entre tensão e deformação para um
fluido newtoniano (como a água ou o ar) resulta nas equações de Navier-Stokes. Essas
equações (ou uma equação vetorial) em conjunto com a equação de conservação de massa
para um fluido em escoamento formam um sistema com quatro equações diferenciais e
quatro incógnitas, a saber: Vx, Vy, Vz e p (componentes do vetor velocidade e a pressão).
55

Os escoamentos em rios e estuários ocorrem geralmente em seções com grandes


diâmetros hidráulicos e, por isso, com números de Reynolds elevados, que correspondem
à turbulência. Desse modo, quando se pretende resolver tal sistema para esses casos,
torna-se necessário refinar a malha de modo que ela seja capaz de capturar as menores
escalas da turbulência, com elementos tão pequenos que se aproximem das escalas dos
menores turbilhões existentes em um escoamento turbulento, conhecida como escala de
Kolmogorov (SIMÕES, 2012).
Esse nível elevado de precisão numérica é conhecido como simulação numérica direta
(Direct Numerical Simulation – DNS), e objetiva resolver o escoamento não-permanente
de todas as escalas do escoamento turbulento. É o que há de mais avançado no estado da
arte da mecânica dos fluidos computacional. Para isso, emprega-se malhas
tridimensionais muito refinadas e supercomputadores capazes de processar a quantidade
de informação presente. Por conta do elevado custo computacional e complexidade, a
DNS não é utilizado para problemas práticos de engenharia. Desta forma, os
computadores atuais ainda não capazes de aplicar este método para simular escoamentos
em canais, estuários ou extravasores de barragens. Ainda assim, possui grande
importância no campo da pesquisa, sendo usado para calibrar modelos de turbulência,
produção de ruídos em aerodinâmica, entre outras utilidades (SIMÕES, 2012).
56

O nível seguinte na escala de precisão é a simulação de grandes escalas (Large Eddy


Simulation – LES). Esta técnica visa simular apenas os grandes vórtices, sendo os demais
modelados. Nessa modelagem, a turbulência de pequenas escalas é tratada como
estaticamente previsível, pois assume-se que seja isotrópica, independente da orientação
do sistema de coordenadas. Mesmo com essa importante simplificação, que reduz
drasticamente o custo computacional com relação ao DNS, o LES continua sendo
dispendioso para o uso em problemas de engenharia (SIMÕES, 2012).
Figura 25 - Ilustração do nível de precisão em diversos modelos de simulação numérica
de escoamentos

Fonte: Simões, 2012.


O último nível de simulação, mais simples, não objetiva simular a turbulência em nenhum
nível. Esta é modelada por meio de constantes ou funções empíricas com o objetivo do
fechamento matemático das equações. As equações de Navier-Stokes são operadas com
variáveis médias, e recebem a denominação de equações de Navier-Stokes com médias
de Reynolds (Reynolds-Averaged Navier-Stokes). O custo computacional é
consideravelmente menor, e nesta escala já se encontram aplicações práticas no campo
da engenharia (SIMÕES, 2012).

Nas equações de Navier-Stokes com médias de Reynolds, as variáveis instantâneas são


substituídas pelo valor médio mais a flutuação, isto é:
= ̅+ ′ (58)
57

= + ′ (59)

Com isso as equações assumem a seguinte forma:


− ̅ (60)
+ − + − + −

+ = + + +

− ̅ (61)
+ − + − + −

+ = + + +

− ̅ (62)
+ − + − + −

+ = + + +

Essa tentativa de simplificar o problema resultou, devido a não linearidade das equações,
em um sistema com 4 equações, 4 incógnitas semelhantes às originais, mas com valores
médios, e mais nove incógnitas que são as médias dos produtos das flutuações de
velocidades, conhecido como tensor de Reynolds. Os modelos de turbulência foram
desenvolvidos para fechar esse sistema de equações. Comparando as equações originais
com as equações com as médias, apenas na componente x, identifica-se as seguintes
relações constitutivas:
(63)
= −

(64)
= −

(65)
= −

Nas componentes y e z as relações são análogas. Para escoamentos turbulentos, as tensões


médias podem ser definidas em termos das viscosidades turbulentas, ou coeficiente de
Boussinesq (MONIN & YAGLOM, 1971; SCHULZ, 2003):
(66)
= +
58

(67)
= +

(68)
= +

Igualando as equações, obtém-se:


(69)
=−

(70)
=−

(71)
=−

Com estes resultados, a equação 60 é escrita com a seguinte forma:


− ̅ (72)
+ + 11 + + 12 + + 13

+ = + + +

Assumindo turbulência homogênea e isotrópica, as viscosidades turbulentas propostas no


modelo de Boussinesq passam a ser invariantes sob rotações e translações do sistema de
coordenadas, isto é, assumem valores iguais. Em geral essa viscosidade, que é uma
propriedade do escoamento e não do fluido, é muito maior que a viscosidade do fluido.
Esse modelo é conhecido como zero-equação porque não emprega equações diferenciais
para o fechamento do sistema de equações, mas apenas a substituição das componentes
de Reynolds por uma forma análoga à relação constitutiva para fluidos newtonianos,
transferindo o problema para a quantificação de um novo parâmetro denominado
viscosidade turbulenta.

5.2.1. Equações de águas rasas

O software MIKE 3 modela os escoamentos com a equação de conservação de massa e


as equações de Navier-Stokes com as médias de Reynolds, com o modelo de turbulência
de Boussinesq descrito anteriormente e assumindo escoamento incompressível, além de
distribuição hidrostática de pressão.
59

A equação de conservação de massa em sua forma incompressível e diferencial, válida


para volumes de controle, é:

(73)
+ + =0

O manual do programa cita a equação 73, modelo que inclui uma vazão por unidade de
volume como termo fonte, S. Usualmente, em códigos de mecânica dos fluidos
computacional esse termo é desnecessário porque qualquer entrada ou saída de água é
tratada como condição de contorno.

+ + =

As equações da quantidade de movimento em x e y (plano horizontal) são escritas, pelo


mesmo programa, com a seguinte forma:

(74)
+ + +

1
= − − −

1
− + + + +

(75)
+ + +

1
= − − −

1
− + + + +

, = Coordenadas cartesianas;

= Variação na elevação da superfície. A elevação total é dada por h= +d, onde d é a


elevação média;

, = Componentes das velocidades em x, y e z, respectivamente;

= Parâmetro de Coriolis;
60

= Aceleração da gravidade;

= Massa específica da água;

= Massa específica de referência da água;

, , = Componentes da tensão de cisalhamento por radiação;

= Viscosidade turbulenta;

= Pressão atmosférica;

= Vazão por unidade de volume devido a fontes;

= Velocidade das fronteiras de entrada do domínio.

Desenvolvendo os três últimos termos do lado esquerdo da equação:

(76)
= +

(77)
= +

(78)
= +

Portanto, conclui-se que:

(79)
+ + = + + + + +

= + +

Nota-se que o desenvolvimento acima leva ao aparecimento do primeiro membro da


equação de conservação de massa na forma incompressível, que é igual a zero.

Essas equações são conhecidas como Equações de Águas Rasas. No caso específico dessa
simulação, não foi considerada a força de Coriolis, efeitos de radiação ou fontes pontuais
de vazão, reduzindo as equações à:
61

(80)
+ + +

1
=− − − + +

(81)
+ + +

1
=− − − + +

O cisalhamento horizontal no escoamento é considerado nos termos e . Este efeito é


descrito por meio de uma relação com o gradiente de cisalhamento, que é simplificado
para:

(82)
= 2 + +

(83)
= 2 + +

= Viscosidade turbulenta horizontal.

As velocidades na superfície e no fundo são determinadas por:

(84)
+ + − = 0,
1
, = , , =

(85)
+ + = 0,
1
, = , , =−
62

, , = Componentes do cisalhamento do vento e do fundo, respectivamente.

A elevação total da superfície de água h pode ser determinada por meio das condições
cinemáticas na fronteira, uma vez que o campo de velocidades é conhecido através das
equações da continuidade e do momento. Entretanto, uma equação mais robusta é obtida
pela integração vertical da equação da continuidade local:

ℎ ℎ ℎ ̅ (86)
+ + =ℎ + −

= Taxa de precipitação;

= Taxa de evaporação;

̅ = Velocidades médias, dadas por:

(87)
ℎ = ,ℎ ̅=

O fluido é assumido incompressível, portanto sua densidade depende apenas da


temperatura e da salinidade.

5.2.2. Equações de transporte de sal e temperatura

O modelo utiliza as equações clássicas de advecção-difusão:

(88)
+ + + = + + +

(89)
+ + + = + +

= Coeficiente de difusão turbulenta vertical;

= Termo fonte de troca de calor com a atsmofera;

= Temperatura do termo fonte;


63

= Salinidade do termo fonte.

Os termos de difusão horizontal são definidos por e , dados por:

(90)
( , )= ℎ + ℎ ( , )

=Coeficiente de difusão horizontal.

Nesse estudo não foram levadas em consideração transferências de calor no escoamento.


As condições de fronteira de salinidade na superfície e no fundo são determinadas
considerando um gradiente de salinidade nulo, isto é:

(91)
=0

5.2.3. Solução numérica

A forma integral do sistema das equações de águas rasas pode ser escrita como:

(92)
+ ∇. ( ) = ( )

= Vetor das variáveis conservadas;

= Vetor função do fluxo;

= Vetor dos termos fonte.

Em coordenadas cartesianas 3D, o sistema de equações pode ser escrito como:

(93)
+ + + + + + =

Onde os sobrescritos I e V denotam fluxos convectivos e viscosos, respectivamente.


64

Figura 26 - Componentes do sistema de equações de águas rasas

Fonte: DHI, 2017c.

A integração da iésima célula, usando o teorema de Gauss para reescrever a integral do


fluxo, resulta em:

(94)
Ω+ ( . ) = ( ) Ω

= Volume da célula;

Ω= Variável de integração;

Γ = Fronteira da iésima célula;


65

= Variável de integração ao longo da fronteira.

Avaliando a integral do volume por uma lei de quadratura de um ponto, sendo o centroide
da célula o ponto de quadratura, e a integral de fronteira por uma lei de meio ponto de
quadratura, a equação pode ser escrita como:

1 (95)
+ . ∆Γ =

= Valor médio de U ao longo da iésima célula;

= Valor médio de S ao longo da iésima célula;

= Número de lados da célula;

∆Γ = Área da interface.

Para o transporte de sal, o mesmo método é utilizado. A equação 88 é utilizada, onde,


neste caso:

=ℎ (96)

= ℎ ,ℎ ,ℎ (97)

(98)
= ℎ ,ℎ ,ℎ

= −ℎ +ℎ (99)

A integração temporal é feita utilizando o método de Runge-Kutta de quarta ordem para


os termos horizontais e verticais convectivos, e a regra dos trapézios de segunda ordem
para os termos verticais viscosos.

5.2.4. Setup do modelo

Primeiramente foi feita uma simulação no modelo bidimensional, MIKE 21 FM, para que
esta fosse utilizada como condição inicial do modelo tridimensional. Como já discutido
anteriormente, este artificio evita geração de ondas de perturbação no período desejado
para estudo. Primeiramente se alcança o regime permanente no modelo bidimensional, e
66

este é utilizado então como condição inicial. O uso de uma simulação anterior como
condição inicial, denominada “hot-start file”, é altamente recomendável e leva a
resultados mais coerentes.

Foram feitas duas simulações: uma com vazão afluente de 600 m³/s e outra com 1300
m³/s. As vazões foram escolhidas em função da Resolução 742/2017 da ANA, que
autoriza a redução da descarga mínima de efluente da barragem de Xingó de 1300 m³/s
para 600 m³/s (ANA, 2017). Isso ocorreu para impedir que os reservatórios atinjam o
volume morto, por conta da estiagem que atinge a região. Dessa forma, se simulou uma
situação normal e outra de seca.

Para o alcance do regime permanente, foram definidas como condições de fronteira de


montante e jusante, as vazões de 600 m³/s ou 1300 m³/s e a altura de 5.53 metros,
respectivamente. A altura d’água de jusante coincide com a altura inicial do período de
simulação.

Quadro 3 - Parâmetros adotados na simulação 2D


Parâmetros Valores
Número de passos temporais 172800
Intervalo do passo temporal (s) 1
Modelo de turbulência Smagorinsky
Constante de Smagorinsky 0.28
Viscosidade turbulenta mínima 1.80E-06
(m²/s)
Viscosidade turbulenta máxima 10000000000
(m²/s)
Número de Manning (m^(1/3)/s) 32
Altura d'água inicial (m) 0
Velocidade inicial (m/s) 0
Vazão de montante (m³/s) 600 ou 1300
Altura d'água de jusante (m) 5.53
Condição inicial de salinidade (PSU) 0
Condição de montante de salinidade 0
(PSU)
Condição de jusante de salinidade 30
(PSU)
Fonte: Autor, 2017.

Foi feita a simulação com estes parâmetros por 48 horas, de modo a atingir o regime
permanente. Uma vez alcançada, esta serviu de condição inicial para a simulação no
modelo tridimensional. Na simulação no MIKE 3, a condição de montante foi a mesma,
enquanto que para condição de jusante foram adotadas as alturas d’água coletadas pela
67

Chesf. Face às subsequentes reduções de vazão defluente na operação das barragens, o


IBAMA determinou como condicionante ambiental o monitoramento da qualidade da
água, cunha salina e resgate de ictiofauna (CHESF, 2017). O monitoramento é feito em
média a cada 15 dias, e foram selecionados os dados entre o período de 20/08/2016 e
17/10/2016. Estes dados estão presentes no Anexo A.

Como o monitoramento não é diário, mas apenas de dois dias por maré de sizígia, diversos
dados tiveram que ser estimados para os dias em que não houve monitoramento. Para esta
estimativa, foi utilizada a média dos dados disponibilizados pela Chesf, e a esta foi
acrescentada e reduzida a variação observada de maré no Terminal Marítimo Inácio
Barbosa, para maré alta e baixa, respectivamente. Os dados utilizados estão apresentados
no Apêndice A.

Quadro 4 - Parâmetros adotados na simulação 2D


Parâmetros Valores
Número de camadas da malha vertical 10
Número de passos temporais 1263600
Intervalo do passo temporal (s) 4
Modelo de turbulência Smagorinsky
Constante de Smagorinsky 0.28
Viscosidade turbulenta mínima (m²/s) 1.80E-06
Viscosidade turbulenta máxima (m²/s) 10000000000
Número de Manning (m^(1/3)/s) 32
Altura d'água inicial (m) Simulação 2D
Velocidade inicial (m/s) Simulação 2D
Vazão de montante (m³/s) 600 ou 1300
Altura d'água de jusante (m) Variando
com o tempo
Condição inicial de salinidade (PSU) 0
Condição de montante de salinidade (PSU) 0
Condição de jusante de salinidade (PSU) 30

Fonte: Autor, 2017.


68

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1. SIMULAÇÃO DE 600 m³/s

Após a realização da simulação, foi obtido um arquivo com os dados do volume de


controle, por meio do qual é possível determinar as grandezas envolvidas em qualquer
ponto ou plano. Nas Figura 27 e Figura 28 estão demonstrados os perfis de salinidade na
superfície e no fundo do canal, respectivamente. Os momentos apresentados são
referentes à máxima intrusão longitudinal de sal em cada uma das 5 campanhas da Chesf.
Como esperado, a intrusão máxima ocorreu na maré de enchente, próximo ao momento
da maré alta.

Figura 27 - Perfis de salinidade na superfície do canal

Fonte: Autor, 2017.


69

Figura 28 - Perfil de salinidade no fundo do canal

Fonte: Autor, 2017.


Foi criado um perfil com o valor máximo e valor médio observado em cada célula da
malha. Este perfil não está associado a um momento temporal específico, mas reúne os
máximos de diferentes passos temporais, e calcula o valor médio da simulação em cada
célula. Através destes perfis, foi possível observar que há presença de água salobra
(PSU>0,5‰) a 10540 metros da foz na intrusão salina máxima, enquanto que o valor
médio de incursão foi de 6540 metros.
70

Figura 29 - Perfil máximo e médio de salinidade no fundo do canal, respectivamente

Fonte: Autor, 2017.

Figura 30 - Perfil máximo e médio de salinidade na superfície do canal, respectivamente

Fonte: Autor, 2017.


71

O perfil longitudinal de salinidade ao longo do canal, para os mesmos momentos das


Figura 27 e Figura 28, está apresentado na Figura 31. Por meio destes perfis, é possível
notar a estratificação vertical de salinidade.

Figura 31 - Perfis longitudinais de salinidade

Fonte: Autor, 2017.


72

Foram determinados os adimensionais estratificação e circulação a 2000 metros da


extremidade de jusante (coordenadas X e Y iguais a 514940 e 9999440, respectivamente),
4000 metros da extremidade de jusante (coordenadas X e Y iguais a 512940 e 9999440,
respectivamente) e no meio do estuário (coordenadas X e Y iguais a 506940 e 9999440,
respectivamente), para as quatro campanhas da Chesf.
Quadro 5 – Parâmetros circulação e estratificação no canal

SEÇÃO PERÍODO ESTRATIFICAÇÃO CIRCULAÇÃO CLASSIFICAÇÃO


02/09 a 03/09 0.0655 1.6873 2a
18/09 a 19/09 0.2557 2.5157 2b
X=506940
02/10 a 03/10 0.3704 1.8658 2b
16/10 a 17/10 0.3327 10.8470 2b
02/09 a 03/09 0.1850 6.1674 2b
18/09 a 19/09 0.1654 7.9074 2b
X=512940
02/10 a 03/10 0.2419 6.1626 2b
16/10 a 17/10 0.0997 36.6232 2a
02/09 a 03/09 0.1095 16.4165 2b
18/09 a 19/09 0.0989 50.1014 1a
X=514940
02/10 a 03/10 0.1484 11.3730 2b
16/10 a 17/10 0.0557 2.3957 2a

Fonte: Autor, 2017.

Percebe-se que na maior parte do tempo e do espaço, o estuário fica classificado como
tipo 2 de alta estratificação. Neste tipo de estuário, os processos advectivos e difusivos
exercem influência significativa sobre o transporte de massa, e o fluxo resultante é
revertido com a profundidade. Entretanto, este padrão não ocorre em todos os ciclos de
maré.
Na seção intermediária, houve baixa estratificação no primeiro período, e com o decorrer
do tempo, esta aumentou. Já nas seções mais a jusante, ocorreu o contrário, com presença
de baixa estratificação apenas no último período observado. Considerando que no último
período ocorreram as maiores variações de maré, o sentido físico deste resultado é que
com avanço da cunha salina, a haloclina foi erodida até a seção a 4 quilômetros da foz.
Desta forma, houve pequeno gradiente de salinidade, que aumentou à medida que se
avança no sentido de montante, apresentando alta estratificação na seção intermediária.
Quanto ao parâmetro circulação, este apresentou variações significativas apenas nas
seções mais próximas da foz do estuário, que foram classificadas como 1 em um
momento. Este resultado mostra que o transporte de sal nestas seções, nestes ciclos, foi
dominado pela difusão turbulenta, sendo a advecção pouco significativa.
Os perfis verticais de salinidade média e velocidade longitudinal estão apresentados nos
Gráfico 1 a Gráfico 6.
73

Gráfico 1 – Perfil Vertical de Salinidade

Fonte: Autor, 2017.

Gráfico 2 - Perfil Vertical de Salinidade

Fonte: Autor, 2017.


74

Gráfico 3 - Perfil Vertical de Salinidade

Fonte: Autor, 2017.

Gráfico 4 - Perfil Vertical da Velocidade

Fonte: Autor, 2017.


75

Gráfico 5 - Perfil Vertical da Velocidade

Fonte: Autor, 2017.

Gráfico 6 - Perfil Vertical da Velocidade

Fonte: Autor, 2017.


76

A análise dos perfis de velocidade permite observar que a profundidade de inversão do


sentido de escoamento diminui à medida que se avança no sentido de jusante, por conta
da influência maior da maré. Na seção intermediária, não houve inversão em dois
períodos de observação, enquanto que na seção mais próxima da foz esta chegou a ocorrer
a 30% de profundidade. Como era esperado, essa inversão ocorreu a profundidades
menores em todas as seções nos dias 16 e 17 de outubro de 2016, quando houve maiores
variações de maré.

A variação da salinidade com o tempo na seção intermediária do canal (x=506940 m) está


apresentada nos Gráfico 7 a Gráfico 10. Os picos máximos de salinidade ocorreram
durante a maré de enchente, pouco antes da maré alta. Apenas na simulação da última
campanha esse pico ocorreu na primeira maré alta do dia, às 06h00, momento em que
houve registro da maior profundidade d’água (10,2 m). As demais ocorreram na segunda
maré alta do dia, próximo às 18h00.

A variação da velocidade u (componente longitudinal) na mesma seção está apresentada


nos Gráfico 11 a Gráfico 14. Nota-se uma grande variação e inversão de velocidade
durante as marés de enchente e vazante. Há uma defasagem entre a ocorrência de picos
de velocidade mínima e salinidade máxima de aproximadamente uma hora. O mesmo
ocorre para os picos de salinidade mínima. Resultados semelhantes foram observados por
Miranda, Mesquita & França (1995). Essas defasagens são típicas de estuários
parcialmente misturados, em que a propagação da maré é uma combinação de ondas
progressivas e estacionárias. Também é perceptível que seus máximos e mínimos
ocorreram durante os períodos de sizígia, na qual há uma variação maior dos níveis de
maré.
77

Gráfico 7 - Variação temporal da salinidade

Fonte: Autor, 2017.

Gráfico 8 - Variação temporal da salinidade

Fonte: Autor, 2017.


78

Gráfico 9 - Variação temporal da salinidade

Fonte: Autor, 2017.

Gráfico 10 - Variação temporal da salinidade

Fonte: Autor, 2017.


79

Gráfico 11 - Variação temporal da velocidade u

Fonte: Autor, 2017.

Gráfico 12 - Variação temporal da velocidade u

Fonte: Autor, 2017.


80

Gráfico 13 - Variação temporal da velocidade u

Fonte: Autor, 2017.

Gráfico 14 - Variação temporal da velocidade u

Fonte: Autor, 2017.


81

6.2. SIMULAÇÃO DE 1300 m³/s

Nas Figura 32 e Figura 33 estão demonstrados os perfis de salinidade na superfície e no


fundo do canal, respectivamente. Os momentos apresentados são os mesmos analisados
anteriormente, referentes à máxima intrusão longitudinal de sal em cada uma das 5
campanhas da Chesf. Como esperado, a intrusão máxima ocorreu na maré de enchente,
próximo ao momento da maré alta, e foi menor que na simulação anterior.

Figura 32 - Perfis de salinidade na superfície do canal

Fonte: Autor, 2017.


82

Figura 33 - Perfil de fundo

Fonte: Autor, 2017.

Novamente, foi criado um perfil com o valor máximo e valor médio observado em cada
célula da malha, apresentados nas Figura 34 e Figura 35. Através destes perfis, foi
possível observar que há presença de água salobra (PSU>0,5‰) a 8940 metros da foz na
intrusão salina máxima, enquanto que o valor médio de incursão foi de 5140 metros.
Como esperado, estes valores foram menores que na simulação do período de estiagem,
devido ao aumento da vazão fluvial.
83

Figura 34 - Perfil máximo e médio de salinidade no fundo do canal, respectivamente

Fonte: Autor, 2017.

Figura 35 - Perfil máximo e médio de salinidade na superfície do canal, respectivamente

Fonte: Autor, 2017.

O perfil longitudinal de salinidade ao longo do canal, para os mesmos momentos


estudados anteriormente, está apresentado na Figura 36. Por meio destes perfis, é possível
notar a estratificação vertical de salinidade.
84

Figura 36 - Perfis longitudinais de salinidade

Fonte: Autor, 2017.


85

Novamente, foram determinados os adimensionais estratificação e circulação nas mesmas


seções estudadas anteriormente para as quatro campanhas da Chesf.

Quadro 6 - Parâmetros circulação e estratificação no canal


SEÇÃO PERÍODO ESTRATIFICAÇÃO CIRCULAÇÃO CLASSIFICAÇÃO
02/09 a 03/09 0.1709 1.2112 1b
18/09 a 19/09 0.1459 1.2825 1b
X=506940
02/10 a 03/10 0.0909 1.1918 1b
16/10 a 17/10 0.5057 2.0989 2b
02/09 a 03/09 0.2888 4.3643 2b
18/09 a 19/09 0.2745 5.1723 2b
X=512940
02/10 a 03/10 0.3865 4.3530 2b
16/10 a 17/10 0.1651 12.8235 2b
02/09 a 03/09 0.1807 8.3411 2b
18/09 a 19/09 0.1784 9.2896 2b
X=514940
02/10 a 03/10 0.2369 8.0814 2b
16/10 a 17/10 0.1005 19.7978 2b

Fonte: Autor, 2017.

Os processos advectivos e difusivos continuaram a exercer influência significativa sobre


o transporte de massa, e na maior parte do tempo e espaço o estuário se manteve com
classificação 2b. Apesar do aumento da vazão não ter alterado a classe, houve mudanças
perceptíveis no gradiente vertical de salinidade.

Diferente da situação anterior, em todos os períodos observados o estuário teve alta


estratificação. Com o aumento da vazão fluvial, esta forçante passa a ter maior influência,
diluindo mais as águas superficiais e aumentando a diferença entre a salinidade de
superfície e de fundo.

O mesmo aumento da vazão fluvial foi responsável pela diminuição da forçante


barotrópica na seção intermediária do estuário, que diferentemente da situação anterior,
apresentou baixa circulação. Neste caso, foi na seção mais distante do estuário que o
transporte de sal foi dominado pela difusão turbulenta. No período de 16/10 a 17/10, com
aumento da variação da maré, a forçante barotrópica causou aumento da circulação e sua
classe foi 2b.

Os perfis verticais de salinidade média e velocidade longitudinal estão apresentados nos


Gráfico 15 a Gráfico 20.
86

Gráfico 15 – Perfil Vertical de Salinidade

Fonte: Autor, 2017.

Gráfico 16 – Perfil Vertical de Salinidade

Fonte: Autor, 2017.


87

Gráfico 17 - Perfil Vertical de Salinidade

Fonte: Autor, 2017.

Gráfico 18 - Perfil Vertical de Velocidade

Fonte: Autor, 2017.


88

Gráfico 19 - Perfil Vertical de Velocidade

Fonte: Autor, 2017.

Gráfico 20 - Perfil Vertical de Velocidade

Fonte: Autor, 2017.


89

É possível perceber que a profundidade de inversão do escoamento foi maior em todos os


casos, acontecendo na seção intermediária apenas no último período observado, de
maneira sutil. Além disso, as velocidades negativas foram, em módulo menores, enquanto
as positivas foram maiores que na simulação com vazão de 600 m³/s. Isso está de acordo
ao esperado pelo aumento da vazão fluvial.

A variação da salinidade com o tempo na seção intermediária do canal (x=506940 m) está


apresentada nos Gráfico 21 a Gráfico 24. Os picos máximos e mínimos ocorreram em
momentos semelhantes aos observados na simulação anterior, não havendo grandes
variações na forma do perfil temporal. A diferença significativa foi no valor de salinidade
obtido, menor que aquele para vazão afluente de 600 m³/s.

A variação da velocidade u (componente longitudinal) na mesma seção está apresentada


nos Gráfico 25 a Gráfico 28. Assim como antes, nota-se uma grande variação e inversão
de velocidade durante as marés de enchente e vazante. A mesma defasagem entre a
ocorrência dos picos de velocidade mínima e salinidade máxima foi observada, indicando
uma combinação de ondas progressivas e estacionárias na propagação da onda de maré.
Os maiores valores observados também ocorreram na sizígia.
90

Gráfico 21 - Variação temporal da salinidade

Fonte: Autor, 2017.

Gráfico 22 - Variação temporal da salinidade

Fonte: Autor, 2017.


91

Gráfico 23 - Variação temporal da salinidade

Fonte: Autor, 2017.

Gráfico 24 - Variação temporal da salinidade

Fonte: Autor, 2017.


92

Gráfico 25 – Variação temporal da velocidade u

Fonte: Autor, 2017.

Gráfico 26 - Variação temporal da velocidade u

Fonte: Autor, 2017.


93

Gráfico 27 - Variação temporal da velocidade u

Fonte: Autor, 2017.

Gráfico 28 - Variação temporal da velocidade u

Fonte: Autor, 2017.


94

7. CONCLUSÃO

A modelagem hidrodinâmica de sistemas estuarinos ainda representa um desafio devido


à complexidade dos fenômenos de transporte que ocorrem, mas também em função da
grande quantidade de fatores que interferem no escoamento neste ambiente: variações de
maré, vazão fluvial, vento, infiltração e evaporação, entre outros. Em muitos casos, a
escassez de dados também é um limitante na caracterização destes ambientes, sobretudo
porque tal sistema é dependente do tempo (com o transporte de sedimentos, por exemplo).

Os primeiros estudos destes ambientes datam da década de 1950, sendo extremamente


recentes. Antes disso, as observações feitas eram tratadas como pontuais, pela falta de um
modelo teórico sólido. As contribuições de Ippen, Harleman, Hansen, Rattray e Dyer,
entre outros, foi decisiva para melhorar este quadro.

Com o avanço tecnológico no campo da computação, simulações ficaram muito mais


precisas e rápidas, permitindo a pesquisadores chegaram a resultados aceitáveis na análise
e predição destes ambientes. Diversos modelos matemáticos e softwares foram
desenvolvidos, e neste trabalho o dinamarquês MIKE Zero foi utilizado.

As simulações feitas permitiram comparar as condições do canal durante um período


normal e outro de estiagem. Foram analisados os padrões de circulação, a estratificação
salina e a incursão da salinidade no canal.

Com base nas análises feitas, o canal foi classificado como parcialmente misturado,
apresentando outras características em momentos pontuais. Em estuários desse tipo, os
processos de advecção e difusão são importantes para o transporte de sal. A diferença
entre a salinidade de superfície e de fundo varia de 2 a 3 PSU, apresentando um gradiente
vertical de salinidade moderado.

Em ambas as simulações foi observada uma defasagem entre a ocorrência dos picos de
velocidade e salinidade, indicando que a onda de maré se propaga no estuário como uma
combinação de ondas estacionárias e progressivas.

Apesar dos mecanismos de circulação e mistura não terem sido drasticamente alterados
entre os períodos estudados, foi possível perceber que no período de estiagem a incursão
da salinidade foi maior, viajando 1600 metros a mais na incursão máxima e 1400 metros
a mais na incursão média. Esta variação é esperada em estuários, mas significa desafios
para a população usuária da água e órgãos gestores dos recursos hídricos, visto que a
95

presença de água salobra na calha do rio altera de maneira significativa os usos destinados
à água.

Os resultados alcançados apontam para a adequação do modelo para estudo desses


ambientes. Por se tratar de um experimento teórico, não é possível averiguar a precisão
dos resultados, mas o software apresenta como vantagens a facilidade no uso e exibição
de resultados ao estuário. Com a obtenção de dados de batimetria, é possível a
caracterização de estuários reais.

O uso destes modelos permite aos tomadores de decisão maior segurança no momento de
realizar intervenções de engenharia. Em épocas críticas, como de estiagem, alterações na
operação de reservatórios ou captações de água a montante pode ter impactos
significativos na intrusão salina a jusante, como demonstrado no exemplo feito. Desta
forma, a simulação destas situações é um passo importante que deve ser incorporado
como exigência por parte de órgãos ambientais antes de autorizar tais intervenções.

Citando Santos (2017),

todos estes estudos e suas consequências contribuem para a avaliação


de modelos de engenharia que, na medida do progresso científico,
abarcam em si características da realidade, estas, quando interpretadas
através da linguagem matemática, proporcionam à civilização humana
a habilidade de antever eventos futuros, que serão tão nítidos quanto a
qualidade de seus modelos (SANTOS, 2017).
96

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100

APÊNDICE A – Dados de altura d’água de jusante utilizados na simulação

Data e horário Nível d'água Data e horário Nível Data e horário Nível
d'água d'água
20/08/2016 06:18 5,53 07/09/2016 12:00 5,32 30/09/2016 06:00 7,42
20/08/2016 07:07 4,93 07/09/2016 18:00 7,42 30/09/2016 12:00 5,32
20/08/2016 08:07 4,71 08/09/2016 00:00 5,32 30/09/2016 18:00 7,42
20/08/2016 09:07 4,35 08/09/2016 06:00 7,42 01/10/2016 00:00 5,32
20/08/2016 10:07 4,17 08/09/2016 12:00 5,32 01/10/2016 06:00 7,42
20/08/2016 11:07 3,88 08/09/2016 18:00 7,42 01/10/2016 12:00 5,32
20/08/2016 12:07 3,65 09/09/2016 00:00 5,87 01/10/2016 18:00 7,42
20/08/2016 13:07 3,51 09/09/2016 06:00 6,87 02/10/2016 00:00 5,32
20/08/2016 14:07 3,59 09/09/2016 12:00 5,87 02/10/2016 05:51 7,70
20/08/2016 15:07 4,23 09/09/2016 18:00 6,87 02/10/2016 06:51 6,99
20/08/2016 16:07 4,73 10/09/2016 00:00 5,87 02/10/2016 07:51 6,24
20/08/2016 17:07 5,11 10/09/2016 06:00 6,87 02/10/2016 08:51 6,65
20/08/2016 18:07 5,41 10/09/2016 12:00 5,87 02/10/2016 09:51 6,19
21/08/2016 06:16 10,17 10/09/2016 18:00 6,87 02/10/2016 10:51 6,21
21/08/2016 07:03 7,37 11/09/2016 00:00 5,87 02/10/2016 11:51 6,19
21/08/2016 08:03 7,13 11/09/2016 06:00 6,87 02/10/2016 12:51 5,92
21/08/2016 09:03 7,87 11/09/2016 12:00 5,87 02/10/2016 13:51 7,35
21/08/2016 10:03 7,86 11/09/2016 18:00 6,87 02/10/2016 14:51 8,62
21/08/2016 11:03 8,94 12/09/2016 00:00 5,87 02/10/2016 15:51 8,52
21/08/2016 12:03 9,12 12/09/2016 06:00 6,87 02/10/2016 16:51 8,62
21/08/2016 13:03 9,17 12/09/2016 12:00 5,87 02/10/2016 17:51 8,46
21/08/2016 14:03 8,67 12/09/2016 18:00 6,87 03/10/2016 05:59 5,22
21/08/2016 15:03 9,06 13/09/2016 00:00 5,87 03/10/2016 07:02 4,83
21/08/2016 16:03 8,59 13/09/2016 06:00 6,87 03/10/2016 08:02 4,61
21/08/2016 17:03 8,91 13/09/2016 12:00 5,87 03/10/2016 09:02 4,32
21/08/2016 18:03 8,57 13/09/2016 18:00 6,87 03/10/2016 10:02 4,05
22/08/2016 00:00 5,22 14/09/2016 00:00 5,87 03/10/2016 11:02 3,88
22/08/2016 06:00 7,52 14/09/2016 06:00 6,87 03/10/2016 12:02 3,57
22/08/2016 12:00 5,22 14/09/2016 12:00 5,87 03/10/2016 13:02 3,59
22/08/2016 18:00 7,52 14/09/2016 18:00 6,87 03/10/2016 14:02 3,85
23/08/2016 00:00 5,22 15/09/2016 00:00 5,87 03/10/2016 15:02 4,41
23/08/2016 06:00 7,52 15/09/2016 06:00 6,87 03/10/2016 16:02 4,09
23/08/2016 12:00 5,22 15/09/2016 12:00 5,87 03/10/2016 17:02 4,50
23/08/2016 18:00 7,52 15/09/2016 18:00 6,87 03/10/2016 18:02 4,81
24/08/2016 00:00 5,22 16/09/2016 00:00 5,12 04/10/2016 00:00 5,32
24/08/2016 06:00 7,52 16/09/2016 06:00 7,62 04/10/2016 06:00 7,42
24/08/2016 12:00 5,22 16/09/2016 12:00 5,12 04/10/2016 12:00 5,32
24/08/2016 18:00 7,52 16/09/2016 18:00 7,62 04/10/2016 18:00 7,42
25/08/2016 00:00 5,72 17/09/2016 00:00 5,12 05/10/2016 00:00 5,32
25/08/2016 06:00 7,02 17/09/2016 06:00 7,62 05/10/2016 06:00 7,42
25/08/2016 12:00 5,72 17/09/2016 12:00 5,12 05/10/2016 12:00 5,32
101

25/08/2016 18:00 7,02 17/09/2016 18:00 7,62 05/10/2016 18:00 7,42


26/08/2016 00:00 5,72 18/09/2016 00:00 5,12 06/10/2016 00:00 5,32
26/08/2016 06:00 7,02 18/09/2016 06:47 7,18 06/10/2016 06:00 7,42
26/08/2016 12:00 5,72 18/09/2016 07:22 6,69 06/10/2016 12:00 5,32
26/08/2016 18:00 7,02 18/09/2016 08:12 6,61 06/10/2016 18:00 7,42
27/08/2016 00:00 5,72 18/09/2016 09:12 7,95 07/10/2016 00:00 5,32
27/08/2016 06:00 7,02 18/09/2016 10:12 7,22 07/10/2016 06:00 7,42
27/08/2016 12:00 5,72 18/09/2016 11:12 7,85 07/10/2016 12:00 5,32
27/08/2016 18:00 7,02 18/09/2016 12:12 8,13 07/10/2016 18:00 7,42
28/08/2016 00:00 5,72 18/09/2016 13:12 8,16 08/10/2016 00:00 5,32
28/08/2016 06:00 7,02 18/09/2016 14:12 8,60 08/10/2016 06:00 7,42
28/08/2016 12:00 5,72 18/09/2016 15:12 9,14 08/10/2016 12:00 5,32
28/08/2016 18:00 7,02 18/09/2016 16:12 9,11 08/10/2016 18:00 7,42
29/08/2016 00:00 5,72 18/09/2016 17:12 9,64 09/10/2016 00:00 5,77
29/08/2016 06:00 7,02 18/09/2016 18:12 9,67 09/10/2016 06:00 6,97
29/08/2016 12:00 5,72 19/09/2016 06:36 5,86 09/10/2016 12:00 5,77
29/08/2016 18:00 7,02 19/09/2016 07:09 5,76 09/10/2016 18:00 6,97
30/08/2016 00:00 5,72 19/09/2016 08:09 4,98 10/10/2016 00:00 5,77
30/08/2016 06:00 7,02 19/09/2016 09:09 4,71 10/10/2016 06:00 6,97
30/08/2016 12:00 5,72 19/09/2016 10:09 4,38 10/10/2016 12:00 5,77
30/08/2016 18:00 7,02 19/09/2016 12:09 3,64 10/10/2016 18:00 6,97
31/08/2016 00:00 5,72 19/09/2016 13:09 3,56 11/10/2016 00:00 5,77
31/08/2016 06:00 7,02 19/09/2016 14:09 3,41 11/10/2016 06:00 6,97
31/08/2016 12:00 5,72 19/09/2016 15:09 3,85 11/10/2016 12:00 5,77
31/08/2016 18:00 7,02 19/09/2016 16:09 4,60 11/10/2016 18:00 6,97
01/09/2016 00:00 5,32 19/09/2016 17:09 5,01 12/10/2016 00:00 5,77
01/09/2016 06:00 7,42 19/09/2016 18:09 5,32 12/10/2016 06:00 6,97
01/09/2016 12:00 5,32 20/09/2016 00:00 5,12 12/10/2016 12:00 5,77
01/09/2016 18:00 7,42 20/09/2016 06:00 7,62 12/10/2016 18:00 6,97
02/09/2016 00:00 5,32 20/09/2016 12:00 5,12 13/10/2016 00:00 5,77
02/09/2016 05:33 7,59 20/09/2016 18:00 7,62 13/10/2016 06:00 6,97
02/09/2016 06:33 7,50 21/09/2016 00:00 5,12 13/10/2016 12:00 5,77
02/09/2016 07:33 7,64 21/09/2016 06:00 7,62 13/10/2016 18:00 6,97
02/09/2016 08:33 6,86 21/09/2016 12:00 5,12 14/10/2016 00:00 5,77
02/09/2016 09:33 6,53 21/09/2016 18:00 7,62 14/10/2016 06:00 6,97
02/09/2016 10:33 6,73 22/09/2016 00:00 5,12 14/10/2016 12:00 5,77
02/09/2016 12:33 6,66 22/09/2016 06:00 7,62 14/10/2016 18:00 6,97
02/09/2016 13:33 8,66 22/09/2016 12:00 5,12 15/10/2016 00:00 5,77
02/09/2016 14:33 9,24 22/09/2016 18:00 7,62 15/10/2016 06:00 6,97
02/09/2016 15:33 9,73 23/09/2016 00:00 5,77 15/10/2016 12:00 5,77
02/09/2016 16:33 9,08 23/09/2016 06:00 6,97 15/10/2016 18:00 6,97
02/09/2016 17:33 9,92 23/09/2016 12:00 5,77 16/10/2016 00:00 5,12
03/09/2016 05:55 5,53 23/09/2016 18:00 6,97 16/10/2016 05:48 5,46
03/09/2016 06:55 4,84 24/09/2016 00:00 5,77 16/10/2016 06:10 5,20
03/09/2016 08:55 4,35 24/09/2016 06:00 6,97 16/10/2016 07:10 4,60
102

03/09/2016 09:55 3,99 24/09/2016 12:00 5,77 16/10/2016 08:10 4,49


03/09/2016 10:55 3,92 24/09/2016 18:00 6,97 16/10/2016 09:10 4,18
03/09/2016 11:55 3,57 25/09/2016 00:00 5,77 16/10/2016 10:10 3,93
03/09/2016 12:55 3,51 25/09/2016 06:00 6,97 16/10/2016 11:10 3,78
03/09/2016 13:55 3,91 25/09/2016 12:00 5,77 16/10/2016 12:10 3,78
03/09/2016 14:55 4,30 25/09/2016 18:00 6,97 16/10/2016 13:10 4,02
03/09/2016 15:55 5,10 26/09/2016 00:00 5,77 16/10/2016 14:10 5,02
03/09/2016 16:55 5,54 26/09/2016 06:00 6,97 16/10/2016 15:10 4,93
03/09/2016 17:55 5,25 26/09/2016 12:00 5,77 16/10/2016 16:10 5,63
04/09/2016 00:00 5,32 26/09/2016 18:00 6,97 16/10/2016 17:10 5,31
04/09/2016 06:00 7,42 27/09/2016 00:00 5,77 17/10/2016 06:35 10,20
04/09/2016 12:00 5,32 27/09/2016 06:00 6,97 17/10/2016 07:12 9,72
04/09/2016 18:00 7,42 27/09/2016 12:00 5,77 17/10/2016 08:12 9,43
05/09/2016 00:00 5,32 27/09/2016 18:00 6,97 17/10/2016 09:12 9,25
05/09/2016 06:00 7,42 28/09/2016 00:00 5,77 17/10/2016 10:12 9,08
05/09/2016 12:00 5,32 28/09/2016 06:00 6,97 17/10/2016 11:12 8,97
05/09/2016 18:00 7,42 28/09/2016 12:00 5,77 17/10/2016 12:12 8,60
06/09/2016 00:00 5,32 28/09/2016 18:00 6,97 17/10/2016 13:12 8,86
06/09/2016 06:00 7,42 29/09/2016 00:00 5,77 17/10/2016 14:12 8,14
06/09/2016 12:00 5,32 29/09/2016 06:00 6,97 17/10/2016 15:12 8,90
06/09/2016 18:00 7,42 29/09/2016 12:00 5,77 17/10/2016 16:12 8,87
07/09/2016 00:00 5,32 29/09/2016 18:00 6,97 17/10/2016 17:12 9,73
07/09/2016 06:00 7,42 30/09/2016 00:00 5,32 17/10/2016 18:12 9,37
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ANEXO A – Dados das campanhas da CHESF


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