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ESCOLA POLITÉCNICA
COLEGIADO DO CURSO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL
Salvador
2017
VITOR PESSOA SILVA
Salvador
2017
AGRADECIMENTOS
À Bine, por ser minha fortaleza e meu porto seguro, minha fonte de amor, paz, alegria e
confiança. Por ter me ensinado a nunca me render, nem retroceder jamais.
Aos meus pais, Júnior e Stela, por terem sido a base sobre a qual se formou meu caráter
e meu profissionalismo.
À Albert, Carol, Raísa, Larissa, Ricardo, Tila, Sérgio, Isabella e Victoria, por toda a
caminhada que fizeram comigo. Nos momentos mais difíceis, um simples encontro com
vocês me dava a força e leveza de que precisava para seguir em frente.
À Felipe, por toda a paciência, compreensão e presteza que teve para me ajudar no
desenvolvimento do meu projeto. Sua ajuda me poupou meses de trabalho, e sua
simplicidade e humildade foram um exemplo de nobreza.
À Carpenter Brut, Danger, The Toxic Avenger, Lorn, Scattle, Waveshaper e Kn1ght, por
terem elaborado a trilha sonora que conduziu este trabalho, e a The Game Bakers, por ter
me apresentado à mesma.
À Yvonilde, por me possibilitar o contato com o tema deste trabalho e por todos os
recursos disponibilizados, que foram determinantes para seu desenvolvimento.
À Luciano, que apesar de não ter tido envolvimento direto com este trabalho, teve com
minha formação. Suas aulas e conselhos me ajudaram a ver de outra forma a profissão do
engenheiro.
À André Luiz, por ter sido o melhor professor que já tive. Assistir suas aulas me inspirava
e motivava a buscar o conhecimento, e a querer sempre ser o melhor que eu poderia.
À André Luiz, novamente, por ter sido o melhor orientador que eu poderia ter. Suas
orientações me ajudaram a trilhar meu caminho, sem limitá-lo. Sem elas, este trabalho
não teria sido possível.
À André Luiz, uma última vez, por além de tudo, ter sido um amigo. Suas palavras me
tranquilizaram no momento em que mais precisava, e isso foi além de seu dever como
professor e orientador. A isto, sou eternamente grato.
“Dude, suckin’at something is the first step towards being sorta good at something.” Jake
the Dog
RESUMO
Estuários são zonas de transição entre ambientes fluviais e marinhos, que apresentam
características de ambos. Por conta da grande quantidade de fatores que afetam o
comportamento destes ambientes (maré, transporte de sedimentos, vazão fluvial, vento,
entre outros) e por estes serem variados e variáveis, a simulação e análise dos fenômenos
presentes são um desafio. Devido à grande diversidade observada, até meados do século
XX estuários eram estudados apenas como fenômenos locais. Pritchard, Simmons, Ippen
e Harleman foram alguns dos pioneiros na elaboração de modelos para representação e
classificação destes ambientes, e o trabalho de Hansen & Rattray (1965) foi um dos
avanços mais importantes, sendo utilizado até hoje para determinação das forçantes mais
expressivas em um estuário. O presente trabalho analisou o escoamento hidrodinâmico
em um canal retangular simulando um ambiente estuarino, em situações normais e de
estiagem, com particular interesse no transporte de sal. Este fenômeno possui relevância
principalmente para o campo da gestão de recursos hídricos, visto que a presença de água
salobra altera os usos dados à água em uma bacia hidrográfica. Para alcançar este
objetivo, foi feita uma revisão de literatura a respeito dos tipos de estuários e dos
fenômenos da mecânica dos fluidos de interesse. Na simulação numérica, foi utilizado o
software MIKE 3, que utiliza as médias de Reynolds das equações de Navier-Stokes para
simular o escoamento tridimensional. Com base nos resultados, o canal foi classificado
de acordo com a metodologia proposta por Hansen & Rattray (1965), se caracterizando
como parcialmente misturado na maior parte do tempo e espaço, com presença de ondas
progressivas e estacionárias de maré. A variação na incursão de sal entre as situações
normal e de estiagem chegou a 1600 metros. O modelo utilizado se mostrou satisfatório
na simulação de ambientes estuarinos.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Representação esquemática do transporte de uma propriedade ao longo do tempo 16
Figura 2 – Esquema representativo das marés de sizígia e de quadratura ................................ 19
Figura 3 – Oscilação das marés ................................................................................................ 20
Figura 4 - Diagramas esquemáticos da estratificação de salinidade e perfil de velocidade em
estuário tipo Cunha Salina. (a) e (b) indicam situações sem e com tensão interfacial de atrito,
respectivamente ........................................................................................................................ 23
Figura 5 - Diagrama esquemático de um estuário tipo Cunha Salina ...................................... 24
Figura 6 - Diagrama esquemático do estuário tipo Parcialmente Misturado ........................... 25
Figura 7 - Ondas de maré em estuários parcialmente misturados ............................................ 26
Figura 8 - Diagrama esquemático de um estuário tipo Lateralmente Estratificado ................. 27
Figura 9 - Perfis verticais de salinidade de estuários tipo cunha salina, parcialmente misturado
e verticalmente homogêneo ...................................................................................................... 28
Figura 10 - Variação na estratificação vertical observada no Rio Fraser durante a maré vazante.
.................................................................................................................................................. 29
Figura 11 - Salinidade observada no Rio Merrimack na maré enchente, 5.3 (esquerda) e 8.3
horas (direita) após a maré baixa .............................................................................................. 30
Figura 12 - Curvas paramétricas dos processos dispersivo e advectivo. Q e S representam
condições na quadraduta e sizígia, respectivamente ................................................................ 34
Figura 13 - Diagrama estratificação-circulação, como proposto por Hansen & Rattray (1965).
x+ e x- representam variações longitudinais estuário abaixo e acima, respectivamente. R+ e R-
representam aumento e decréscimo na vazão fluvial ............................................................... 35
Figura 14 - Perfil esquemático da seção longitudinal de um estuário, representando a vazão
fluvial (Qf), salinidade (S), oscilação da maré (η) e profundidade média (Ho) ....................... 36
Figura 15 - Efeito das condições iniciais em uma simulação ................................................... 45
Figura 16 – Malha estruturada (a) e não-estruturada (b) .......................................................... 47
Figura 17 - Polígono no qual será gerada a malha ................................................................... 49
Figura 18 - Polígono com vértices complementares interpolados e dividido em quadriláteros
.................................................................................................................................................. 49
Figura 19 - Notação usada nos quadriláteros............................................................................ 50
Figura 20 - Malha gerada individualmente para cada quadrilátero. O número de intervalos na
direção t é o mesmo, entretanto o número de intervalos na direção s pode variar de maneira
significante ............................................................................................................................... 51
Figura 21 - Malha quadrangular criada no Mesh Generator .................................................... 51
Figura 22 - Detalhe da malha gerada ........................................................................................ 52
Figura 23 - Canal retangular produzido.................................................................................... 54
Figura 24 - Malha tridimensional gerada a partir de malha triangular ..................................... 54
Figura 25 - Ilustração do nível de precisão em diversos modelos de simulação numérica de
escoamentos .............................................................................................................................. 56
Figura 26 - Componentes do sistema de equações de águas rasas ........................................... 64
Figura 27 - Perfis de salinidade na superfície do canal ............................................................ 68
Figura 28 - Perfil de salinidade no fundo do canal ................................................................... 69
Figura 29 - Perfil máximo e médio de salinidade no fundo do canal, respectivamente ........... 70
Figura 30 - Perfil máximo e médio de salinidade na superfície do canal, respectivamente ..... 70
Figura 31 - Perfis longitudinais de salinidade .......................................................................... 71
Figura 32 - Perfis de salinidade na superfície do canal ............................................................ 81
Figura 33 - Perfil de fundo ....................................................................................................... 82
Figura 34 - Perfil máximo e médio de salinidade no fundo do canal, respectivamente ........... 83
Figura 35 - Perfil máximo e médio de salinidade na superfície do canal, respectivamente ..... 83
Figura 36 - Perfis longitudinais de salinidade .......................................................................... 84
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Perfil Vertical de Salinidade.................................................................................. 73
Gráfico 2 - Perfil Vertical de Salinidade .................................................................................. 73
Gráfico 3 - Perfil Vertical de Salinidade .................................................................................. 74
Gráfico 4 - Perfil Vertical da Velocidade ................................................................................. 74
Gráfico 5 - Perfil Vertical da Velocidade ................................................................................. 75
Gráfico 6 - Perfil Vertical da Velocidade ................................................................................. 75
Gráfico 7 - Variação temporal da salinidade ............................................................................ 77
Gráfico 8 - Variação temporal da salinidade ............................................................................ 77
Gráfico 9 - Variação temporal da salinidade ............................................................................ 78
Gráfico 10 - Variação temporal da salinidade .......................................................................... 78
Gráfico 11 - Variação temporal da velocidade u ...................................................................... 79
Gráfico 12 - Variação temporal da velocidade u ...................................................................... 79
Gráfico 13 - Variação temporal da velocidade u ...................................................................... 80
Gráfico 14 - Variação temporal da velocidade u ...................................................................... 80
Gráfico 15 – Perfil Vertical de Salinidade................................................................................ 86
Gráfico 16 – Perfil Vertical de Salinidade................................................................................ 86
Gráfico 17 - Perfil Vertical de Salinidade ................................................................................ 87
Gráfico 18 - Perfil Vertical de Velocidade ............................................................................... 87
Gráfico 19 - Perfil Vertical de Velocidade ............................................................................... 88
Gráfico 20 - Perfil Vertical de Velocidade ............................................................................... 88
Gráfico 21 - Variação temporal da salinidade .......................................................................... 90
Gráfico 22 - Variação temporal da salinidade .......................................................................... 90
Gráfico 23 - Variação temporal da salinidade .......................................................................... 91
Gráfico 24 - Variação temporal da salinidade .......................................................................... 91
Gráfico 25 – Variação temporal da velocidade u ..................................................................... 92
Gráfico 26 - Variação temporal da velocidade u ...................................................................... 92
Gráfico 27 - Variação temporal da velocidade u ...................................................................... 93
Gráfico 28 - Variação temporal da velocidade u ...................................................................... 93
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Classificação de estuários com base no adimensional G/J ..................................... 32
Quadro 2 - Dados de entrada de batimetria .............................................................................. 53
Quadro 3 - Parâmetros adotados na simulação 2D ................................................................... 66
Quadro 4 - Parâmetros adotados na simulação 2D ................................................................... 67
Quadro 5 – Parâmetros circulação e estratificação no canal .................................................... 72
Quadro 6 - Parâmetros circulação e estratificação no canal ..................................................... 85
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 13
1.3. MARÉS......................................................................................................................... 17
2. CLASSIFICAÇÃO ........................................................................................................ 20
5. METODOLOGIA ......................................................................................................... 48
7. CONCLUSÃO ............................................................................................................... 94
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 96
1. INTRODUÇÃO
1.1. ESTUÁRIOS
O termo estuário deriva do latim aestuarim, que significa maré ou onda abrupta de grande
altura. É um ambiente de grande variabilidade em decorrência dos processos naturais
dinâmicos que ali ocorrem (MIRANDA, CASTRO & KJERFVE, 2002). Genericamente
é entendido como a zona de transição entre o ambiente fluvial e marinho. Cameron e
Pritchard (1963) o definem como “um corpo costeiro semifechado de água que possui
uma conexão livre com o mar e onde a água salina é mensuravelmente diluída pela água
doce vinda da drenagem do terreno”. Essa definição não é a mais correta, visto que se
limita a descrever os estuários positivos, onde vazão de água fluvial e a precipitação são
maiores que a evaporação. Há os estuários negativos, onde ocorre o inverso, com
evaporação maior que vazão de água fluvial e precipitação, e existem condições
hipersalinas (DYER, 1997). Além disso, muitos não são corpos semifechados, tendo a
fronteira de montante aberta (SAVENIJE, 2012). Uma definição mais aceita é a dada por
Dionne (1963) como “a zona de entrada de água do mar no vale do rio até o ponto em que
há influência da maré”.
Devido a interação entre estes meios tão distintos, um estuário possui características
hidrodinâmicas, morfológicas e biológicas próprias. Apesar de sua forma variar bastante,
possui em geral uma forma de funil, com ondas de tipo misturado e água salobra, com
zonas de água doce a montante e salina a jusante. Essas características fazem com que
seja uma área importante para alimentação e reprodução de muitas espécies (SAVENIJE,
14
2012). Muitos zoologistas defendem que foram nos estuários que os primeiros sinais de
vida orgânica surgiram, e que milhões de anos depois, a vida animal começou a se adaptar
para uma forma terrestre e que respira ar (DYER, 1997).
Este trabalho visa realizar uma contribuição nessa área através da simulação
computacional da influência de maré e intrusão salina em um canal retangular.
∆ = (∆ , , ( 1 − 2), ∆ ) (1)
∆ = Número de partículas transferidas;
∆ = Intervalo de tempo;
= Área de transferência;
( 1 − 2) (2)
∆ = ∆
∆
No caso da propriedade em análise ser a massa, multiplicamos a equação pela massa
molecular M, obtendo:
17
( 1 − 2) (3)
∆ = ∆
∆
Considerando o volume V constante, podemos multiplicar e dividir o membro direito da
equação por ele. Dessa forma, ficamos com a diferença de concentração, ∆ . Passando
o intervalo de tempo para o lado esquerdo da equação, tem-se:
∆ ∆ (4)
=
∆ ∆
é uma constante, simplificada pela letra D. Passando a área para o lado esquerdo da
equação, temos a variação de massa pelo tempo e pela área, conhecida como fluxo de
massa e representada por . Além disso, o membro da direita pode ser representado de
maneira mais elegante calculando-se seu limite para ∆ → 0. Fazendo todas essas
alterações, fica-se com:
(5)
=
Por último, é importante perceber que a transferência de massa ocorre da maior para
menor concentração. Por conta disso, acrescenta-se um sinal negativo na equação.
(6)
=−
A equação 6 é reconhecida como a Lei de Fick para transferência de massa. Representa
o fluxo de massa como proporcional ao gradiente de concentração em uma dimensão
(SCHULZ, 2003).
= (7)
Sendo u a velocidade longitudinal do escoamento.
1.3. MARÉS
Apesar de ter uma massa extremamente menor que a do Sol, a proximidade da Lua faz
com que seu efeito sobre os corpos d’água seja aproximadamente 2,25 vezes maior. Os
movimentos relativos entre estes corpos celestes e a Terra faz com que as marés sejam
18
A Terra sofre efeitos da força gravitacional e da força centrífuga por conta da revolução
em volta da Lua, sendo o centro dessa revolução localizado abaixo da superfície da Terra.
O equilíbrio entre estas forças faz com que não haja colisão nem afastamento entre estes
corpos. Todavia, embora o sistema esteja em equilíbrio, massas individuais na Terra não
estão, como é o caso dos oceanos. Enquanto a força centrífuga possui o mesmo valor em
todos os pontos da superfície terrestre, a força gravitacional não, pois partículas mais
próximas da Lua sofrem uma atração maior. Além disso, cada uma dessas partículas
possui um eixo próprio que liga seu centro de massa ao centro de massa da Lua,
provocando uma resultante com direção diferente daquela da Terra (MIGUENS, 1993).
A resultante dessas forças fará com que a água na superfície flua para os pontos mais
próximos e mais afastados da Lua, causando níveis de água mais altos nestes pontos e
mais baixos na origem do fluxo. Este movimento resulta nas marés. Por conta da rotação
da Terra em torno do seu próprio eixo, cada ponto da Terra fica na direção da Lua e na
direção transversal duas vezes por dia, dando origem a duas marés altas (ou preamares) e
duas marés baixas (ou baixa-mares) a cada 24 horas. Devido a inclinação do eixo de
rotação terrestre, normalmente as marés altas ou baixas sucessivas não são exatamente
iguais (MIGUENS, 1993).
O movimento da Lua em torno da Terra faz com que esta fique na mesma direção do Sol
duas vezes a cada período de lunação (intervalo de aproximadamente 30 dias). Nestes
momentos, que correspondem a Lua cheia e nova, as forças de atração da Lua e do Sol se
somam, levando a marés altas mais elevadas e baixas mais reduzidas, com amplitude
maior. Estas recebem o nome de marés de sizígia.
Da mesma forma, duas vezes por mês a Lua fica em direção diametralmente oposta ao
Sol, e suas forças se subtraem. Isso resulta em variações menores entre a maré alta e maré
baixa. Estas são chamadas de marés de quadratura.
19
O nível do mar segue uma oscilação rítmica, caracterizada por sete etapas:
2. CLASSIFICAÇÃO
Uma das principais dificuldades em se estudar zonas estuarinas é que seu escoamento
apresenta não uniformidade (escoamento variado) e também não permanência
(escoamento variável), dependendo tanto do espaço quanto do tempo (SIMÕES,
SCHULZ & PORTO, 2017). A vazão fluvial, amplitude de maré e morfologia do canal
estão em constante mudança, e por conta da interação de tantas variáveis não há dois
estuários idênticos, o que dificulta determinar se o que está sendo observado são
princípios gerais ou particulares (DYER, 1997).
Por conta dessa ampla diversidade, até cinquenta anos atrás os estuários eram estudados
puramente como fenômenos locais (MIRANDA et al., 2002). Para poder prever as
características do escoamento e dos processos de mistura em um estuário, foi essencial
agrupar sistemas semelhantes de modo a compará-los. Diversas metodologias de
classificação surgiram a partir dos vários fatores intervenientes na dinâmica estuarina,
como a topografia e geomorfologia, ação das marés e estratificação salina.
21
Stommel (1951) foi o pioneiro nesse esforço e elaborou uma classificação considerando
a maior influência da maré, dos ventos e da descarga fluvial no escoamento e mistura.
Em seu trabalho, ele reconheceu a importância da forma e topografia do estuário, mas
atribuiu a estes fatores apenas uma influência secundária na hidrodinâmica. Com base
nesses critérios, ele classificou os estuários do Rio Raritan, Pamlico e Mississipi como
predominantemente governados pela maré, pelos ventos e pela descarga fluvial,
respectivamente. Já nesse trabalho foi observado que apesar da maioria dos estuários
apresentar água com teor de salinidade menor que a marinha, havia casos em que a
pequena descarga fluvial e grande evaporação faziam com que o trecho estuarino tivesse
salinidades maiores (STOMMEL, 1951).
maior relevância que as demais, mas apenas focar no objetivo deste trabalho. As
classificações apresentadas não são contraditórias, mas apenas revelam maneiras
diferentes de analisar estes ecossistemas tão complexos em sua diversidade (SILVA,
2000).
Considere um estuário descarregando em um mar sem marés, com uma fonte de água
doce em sua extremidade de montante. Considere também que não há atrito e a água se
comporta como um fluido sem viscosidade. Nessas condições, a água doce, sendo menos
densa que a água salina, flui na superfície do estuário em direção ao mar, enquanto a água
salina permanece no fundo. A interface entre elas seria uma linha horizontal, na qual a
velocidade da água é nula. Não haveria mistura de sal na água doce e a cunha salina
(entendida como o volume de água salina) permaneceria inalterada (DYER, 1997).
Para tornar a situação mais realista, vamos acrescentar o atrito no escoamento na forma
da viscosidade. Aparecerá cisalhamento na interface entre as águas, fazendo com que a
cunha salina seja empurrada no sentido de jusante. Essa ação fará surgir uma declividade
na interface, que não será mais uma linha horizontal, capaz de resistir a essa força (DYER,
1997).
Por conta do atrito na interface, uma fina camada da cunha salina será arrastada para
jusante. O aumento da tensão de cisalhamento faz surgir ondas nesta interface e provoca
a mistura da água salina com a doce. Este processo é conhecido como entranhamento, e
é o principal responsável pela mistura em estuários do tipo cunha salina. Para que a
conservação de massa seja mantida, uma pequena vazão de água salina no sentido de
jusante é formada para compensar a massa que se misturou e foi arrastada para jusante.
A concentração de sal é constante no volume da cunha salina ao longo do estuário
(DYER, 1997).
23
= (8)
∆
∗ ∗
u = velocidade relativa da camada superficial em relação à de fundo;
g = gravidade;
∆
Sendo = ∗ ∗ a velocidade de propagação da onda interna na interface.
Semelhante à análise para escoamentos, temos Fi<1 para uma condição subcrítica; Fi=1
para condição crítica e Fi>1 para supercrítica. Quando a velocidade relativa u aumenta,
Fi se aproxima de 1 e a energia da onda acumula-se, e ao quebrar-se gera muita mistura.
Após a quebra, a espessura da camada volta a aumentar e consequente sua velocidade
diminui, passando para a condição subcrítica. Esse fenômeno é denominado de ressalto
hidráulico, e ocorre na interface entre a cunha salina e a água doce (STOMMEL &
FARMER, 1952).
24
Estes estuários são típicos de regiões de micromaré e com grande descarga fluvial. Devido
às variações de descarga, a cunha salina move-se lentamente buscando uma posição de
equilíbrio, não ficando estacionária (MIRANDA apud STOMMEL, 1953). Essa variação
foi estudada no estuário Fraser, Columbia Britânica (EUA), e os resultados mostraram
uma variação significativa na posição e estratificação vertical entre as marés enchente e
vazante. O número de Froude interfacial variou de subcrítico durante a enchente, quando
o fluxo de água salina se opõe ao de água doce, a supercrítico durante a vazante, quando
ambos os fluxos estão no mesmo sentido. Já a penetração da cunha salina variou entre 2
quilômetros ao fim da maré vazante e 18 quilômetros ao fim da enchente (GEYER &
FARMER, 1989).
Há produção de turbulência interna devido a energia da maré, que realiza trabalho tanto
contra o atrito nas margens do estuário, quanto contra a tendência de estabilização do
empuxo. São gerados vórtices turbulentos internos, que ocasionam a mistura de água doce
e salina e a erosão do gradiente vertical de salinidade. Devido a isso, a energia potencial
da coluna de água aumenta por conta da salinidade da camada superficial. Para respeitar
25
1
Linha que une pontos com o mesmo valor de salinidade.
26
Na prática, há dissipação de energia antes e depois da reflexão, levando a maior parte dos
estuários a apresentar um misto entre ondas estacionárias e progressivas (DYER, 1997).
Esse fenômeno foi observado no Rio James (EUA), onde foi constatado que a vazão na
camada superior, em direção ao mar, era 20 vezes maior que a vazão do rio, e que a vazão
na camada inferior, no sentido contrário, era 19 vezes maior que a mesma (PRITCHARD,
1955).
Estuários deste tipo ocorrem usualmente em canais rasos e estreitos, com vazão fluvial
pequena e forçante de maré muito maior (MIRANDA et al., 2002). Nessas condições, o
atrito no fundo pode ser grande o bastante para provocar a completa erosão da haloclina2,
causando a mistura total da água. Não há gradiente vertical de salinidade, e por
2
Linha em que há mudança brusca de salinidade (ACHA & MIANZAN, 2003).
27
Em estuários com maior largura, o atrito nas margens pode ser suficiente para criar
homogeneidade longitudinal. A salinidade aumenta em direção ao mar e o escoamento
médio segue essa direção em praticamente todas as seções. Este escoamento tende a
remover todo sal do estuário, mas isso não ocorre devido ao fluxo estuário acima por
difusão turbulenta, influenciado por irregularidades topográficas e o atrito com o fundo.
A água salina é confinada em baías presentes no canal durante a maré alta, e lentamente
é devolvida ao mar durante a maré baixa (DYER, 1997).
Neste tipo de estuário o efeito da difusão turbulenta tem maior relevância do que em
outros, e a onda de maré é predominantemente progressiva. Quando isso ocorre a máxima
velocidade de escoamento na enchente ocorre próxima a maré alta, quando a área
28
molhada do canal é maior, enquanto que a máxima da vazante ocorre próxima a maré
baixa, quando a área molhada é menor. Como resultado há um maior transporte de sal
durante a enchente do que durante a vazante (DYER, 1997).
A Figura 9 mostra uma comparação entre os tipos de estuários discutidos até aqui. Pode-
se perceber a atenuação do gradiente vertical de salinidade do tipo A ao D, em função dos
processos dominantes em cada um deles: vazão fluvial (cunha salina), combinação entre
vazão fluvial e maré (parcialmente misturado) e dominado pela maré (verticalmente
homogêneo) (MIRANDA et al., 2002).
Geyer et al. (1989) observou no estuário do Rio Fraser (EUA) que durante a maré de
enchente, o cisalhamento entre a água doce e salina é pequeno e há pouca mistura, com
grande gradiente vertical de salinidade. Já na maré de vazante, com a passagem do
escoamento para o estado supercrítico, o cisalhamento aumenta e haloclina se rompe, com
intensa mistura. Essas variações ocorreram no intervalo de 6 horas.
Um amplo estudo foi feito por Ralston, Geyer e Lerczak (2010) no estuário do Rio
Merrimack (EUA), o quarto maior rio no estado de New England, com vazão média de
220 m³/s (variando entre 50 m³/s e 1500 m³/s). É considerado um estuário relativamente
raso com alta influência da vazão e da maré. Foi observado que com vazões elevadas o
estuário se mostrou altamente estratificado, enquanto que a vazões menores ele se
mostrou parcialmente estratificado. Também foram observadas variações de acordo com
a escala temporal da maré, devido aos processos advectivos e difusivos. Entretanto, a
30
Figura 11 - Salinidade observada no Rio Merrimack na maré enchente, 5.3 (esquerda) e 8.3
horas (direita) após a maré baixa
O trabalho de Ippen & Harleman (1961) foi resultado de uma longa investigação iniciada
pelo Comitê do Corpo de Engenheiros em Hidráulica Marinha em janeiro de 1954. Os
objetivos da investigação, foram estabelecidos na sua vigésima primeira reunião em
Vicksburg, Mississipi:
3
Determinar os efeitos das componentes físicas e hidráulicas de estuários (como prisma de maré,
amplitude de maré, vazão fluvial, profundidade do canal, largura do canal, etc.) no que concerne
a intrusão salina, as magnitudes e durações das velocidades do escoamento e outros fatores
31
çã (9)
=
E dado por:
∗ ∗ (10)
=
∆
2∗ℎ ∗ ∗
ℎ(2 ) (11)
=
cos(2 ) + cosh(2 )
c = celeridade da onda de maré;
h = profundidade da água;
= Número da onda;
L = Comprimento do estuário.
∆
Analisando o adimensional percebemos que quando a estratificação relativa ( ) diminui,
(12)
= 0,85
∆
considerados essenciais para a solução dos problemas estuarinos enfrentados pelo Corpo de
Engenheiros (tradução nossa).
32
− (13)
=
̅ ̅
= Salinidade de fundo;
= Salinidade de superfície;
̅= Salinidade média.
33
A circulação fica definida por meio da razão us/uf, onde uf é a velocidade da corrente de
água doce e us a velocidade residual de superfície (HANSEN & HATTRAY, 1965).
Quando uf não é bem conhecido, utiliza-se em seu lugar o valor médio da velocidade na
coluna d’água. É uma medida da circulação vertical, variando do valor teórico 1,5 para
estuários pouco estratificados a 105 para os altamente estratificados (MIRANDA et al.,
2002). É sempre um valor maior que um, pelo fato de uf ser apenas uma parcela do
escoamento da superfície, que também inclui a vazão de água levada à superfície pelo
entranhamento e difusão turbulenta (MIRANDA et al., 2002).
(14)
( ) 210 + 252 − 1,5
̅
152 (15)
32 + 76 − 1,5 + − 1,5 =0
3
34
A equação 15 tem como única solução matemática com significado físico o valor 1,5,
mostrando que quando o mecanismo de transporte é dominado exclusivamente pela
Figura 13 - Diagrama estratificação-circulação, como proposto por Hansen & Rattray (1965). x+
e x- representam variações longitudinais estuário abaixo e acima, respectivamente. R+ e R-
representam aumento e decréscimo na vazão fluvial
(16)
1
− =− −
: pressão;
: massa específica;
: aceleração da gravidade;
: oscilação da maré;
: salinidade;
Entretanto, são referidas na literatura como forças. A primeira parcela, − , mostra que
assume valores positivos durante a maré enchente ( > 0), impulsionando correntes
integrado entre a profundidade z e a superfície livre. Ela possui valor igual a zero na
superfície e valor máximo no fundo, com valores sempre negativos devido ao constante
aumento da salinidade em direção à jusante. Essa componente é denominada de
baroclínica, e é responsável por gerar movimentos estuário acima. Como possui valor
máximo no fundo, concorda com observações que mostram que a cunha salina tem maior
penetração no fundo do que na superfície. Para um estuário com 10 metros de
profundidade e salinidade da água do mar de 30‰, sua magnitude varia de 0 a -10-4 m/s2
(MIRANDA et al., 2002).
(17)
=
: Vazão fluvial;
Essa forçante é responsável pela diluição da água salina, e gera movimentos orientados
estuário abaixo. Se a forçante barotrópica for eliminada, restam dois movimentos
orientados em sentidos diferentes, gerados pela baroclínica e pela vazão fluvial. Essa
circulação é denominada de gravitacional, corrente de gravidade ou circulação estuarina
clássica (MIRANDA et al., 2002).
circulação gravitacional está associada ao regime de marés, tendo seu efeito elevado na
quadratura e reduzido na sigízia.
= + + +
(21)
A quantificação da massa que entra e que sai é feita por meio do fluxo de massa. O fluxo
de massa que entra no volume controle na direção y é:
= (22)
E o fluxo de massa que sai, calculado através da Série de Taylor, é:
(23)
=( + )
Dessa forma, a diferença entra a massa que entra e a massa que sai é:
(24)
= −( )
De forma análoga são desenvolvidas as expressões para as direções x e z. Unindo as
expressões e dividindo-as por dt, tem-se:
− (25)
=− − −
39
(34)
= + + +
Substituindo a derivada total na equação 33, tem-se:
(35)
= + + +
A equação 35 é uma equação vetorial, composta pelas três direções cartesianas. Na
direção x, ela é escrita como:
(36)
= + + +
A escrita para as outras direções é análoga. A força resultante é o somatório das forças de
campo e de tensão. As forças de tensão podem ser normais ou tangenciais. Analisando a
direção x, isso pode ser escrito como:
= + + (37)
A resultante das forças normais e das tangencias é:
(38)
=
(39)
= +
As forças de campo podem ser diversas, cada uma com seu equacionamento específico.
Por conta disso, aqui ela será apresentada em função de uma aceleração B, e a força total
devido a ação do campo na direção x é:
= (40)
Onde é a massa específica do fluido. Substituindo as equações 38, 39 e 40 na equação
36, obtém-se:
(41)
+ + + = + + +
Em que o volume dxdydz foi passado para o membro direito, e dividido pela massa, foi
substituído pela massa específica. O desenvolvimento para as direções y e z é análogo.
Percebe-se na equação 41 que há duas incógnitas, a velocidade de escoamento e as tensões
tangenciais e normais, que também são funções do campo de velocidades. De maneira a
trabalhar apenas com a velocidade como incógnita, utiliza-se de conhecimentos do campo
da resistência dos materiais para equacionar a relação entre a tensão aplicada e as
velocidades do fluido.
No caso das tensões de cisalhamento, estas são equacionadas de acordo a lei da
viscosidade de Newton:
(42)
=
42
(43)
=
Em que é a viscosidade dinâmica. A tensão normal pode ser traduzida na expressão:
= ã + (44)
Sendo a pressão, matematicamente escreve-se:
(45)
=− +
O que leva a:
− (46)
= +
Substituindo as equações 42, 43 e 46 na equação 41, obtém-se as Equações de Navier
Stokes válidas para escoamentos incompressíveis. Representadas de maneira completa,
nas três direções cartesianas, elas são:
− (47)
+ + + +
= + + +
− (48)
+ + + +
= + + +
− (49)
+ + + +
= + + +
4. MODELOS HIDRODINÂMICOS
Alguns cuidados devem ser tomados com as condições iniciais. Caso as profundidades de
água iniciais sejam muito pequenas, pode haver erros que façam a simulação convergir
para valores absurdos. O mesmo ocorre caso seja colocado como condição de jusante uma
vazão defluente muito alta, incoerente com o volume de água no canal, o que conduziria
ao esvaziamento do mesmo (TUCCI, 1998).
Quanto a geometria da malha, existem dois tipos aplicados na mecânica dos fluidos
computacional, a estruturada e não-estruturada. A malha estruturada é caracterizada por
cada volume interno da malha ter o mesmo número de vizinhos. Isso ocorre quando os
volumes de controle são obtidos a partir de uma discretização que segue um sistema de
coordenadas globais (MALISKA, 1995).
Por muito tempo as malhas estruturadas dominaram o cenário da mecânica dos fluidos
computacional. A atenção da comunidade científica estava no tratamento adequado das
não-linearidades das equações de Navier-Stokes, e poucos esforços foram dedicados a
resolver problemas de geometria irregular (MALISKA, 1995).
47
As malhas não estruturadas são mais versáteis, se adaptando bem a geometrias com cantos
e saliências. Como esse é o caso da maior parte dos rios naturais, muitos problemas da
simulação fluvial ficam limitados ao uso destas malhas. Apesar de se adequarem bem à
domínios irregulares, a ordenação é dificultada, o que resulta em matrizes não ortogonais.
A Figura 16 exemplifica uma malha estruturada e uma não estruturada, ambas na mesma
geometria quadrangular simples. Por meio da ilustração é possível notar a dificuldade de
ordenação dos elementos, mesmo se tratando de um domínio trivial. O volume 3 está
conectado a outros 4 volumes, enquanto o volume 9 está conectado a 5 outros. Essa
variação leva a uma variação no tamanho de banda dos elementos, o que impossibilita a
aplicação de diversos métodos de solução de sistemas lineares (MALISKA, 1995).
Uma malha não estruturada pode ser formada por triângulos ou quadriláteros (tetraedros
e hexaedros em 3D, respectivamente), e os volumes de controle podem ser criados pelo
método das medianas, no qual os centroides dos elementos são unidos às medianas dos
seus lados. Essas malhas ganharam muito espaço nas simulações envolvendo mecânica
dos fluidos, normalmente associadas ao método dos volumes finitos (MALISKA, 1995).
48
5. METODOLOGIA
O comprimento das duas poli linhas é determinado e cada vértice é identificado por um
Figura 18 - Polígono com vértices complementares interpolados e dividido em quadriláteros
= Número de linhas;
‖ ̅ ‖=Comprimento do par de vértices i.
Figura 19 - Notação usada nos quadriláteros
= 1− 1− + 1− + 1− (54)
, , , ,
+ ,
51
= 1− 1− + 1− + 1− (55)
, , , ,
+ ,
Para o problema proposto, foi gerada uma malha quadrangular com max(∆ ) = 600 m e
max(∆ ) = 60 m, o que forneceu um excelente detalhamento da malha.
= Número de Courant;
= Celeridade da onda;
∆ = passo temporal;
∆ = passo espacial;
A condição para estabilidade é que o número de Courant seja menor que 1. O passo
espacial pode ser entendido como o nível de detalhamento da malha. Dessa forma, malhas
muito finas, com elementos pequenos, tendem a fazer o número de Courant aumentar, e
53
necessitam de um passo temporal menor para que seja alcançada a estabilidade. O número
de Courant para o modelo hidrodinâmico bidimensional é escrito como:
∆ ∆ (57)
= ℎ+| | + ℎ+| |
∆ ∆
= aceleração da gravidade;
ℎ = profundidade d’água;
= velocidade na direção x;
= velocidade na direção y.
Dessa forma, a estabilidade também depende da profundidade d’água considerada, e
quanto maior for, menor deve ser o passo temporal. Para a malha criada, foram obtidos
passos temporais maiores que 4 segundos, satisfatórios para processamentos rápidos
considerando a máquina utilizada.
Após a geração da malha, é necessário interpolar os dados de entrada de relevo para
geração da batimetria do terreno. Os dados de entrada foram produzidos considerando
uma altitude inicial ao nível do mar e as demais foram calculadas com base na declividade
de fundo do canal.
Com estes dados, foi feita uma interpolação linear ao longo da malha, o que resultou no
canal retangular desejado.
Para a entrada no modelo 3D, a malha não-estruturada horizontal é utilizada para criação
de uma malha estrutura na vertical. A malha vertical é baseada em coordenadas sigma ou
sigma e z. Os elementos desta malha são primas de base triangular ou quadrangular, como
pode ser observado na Figura 24. O usuário define a quantidade de camadas sigma
desejadas na malha, o que influenciará na fineza da malha. No presente trabalho, foram
utilizadas 10 camadas.
5.2. EQUACIONAMENTO
= + ′ (59)
+ = + + +
− ̅ (61)
+ − + − + −
+ = + + +
− ̅ (62)
+ − + − + −
+ = + + +
Essa tentativa de simplificar o problema resultou, devido a não linearidade das equações,
em um sistema com 4 equações, 4 incógnitas semelhantes às originais, mas com valores
médios, e mais nove incógnitas que são as médias dos produtos das flutuações de
velocidades, conhecido como tensor de Reynolds. Os modelos de turbulência foram
desenvolvidos para fechar esse sistema de equações. Comparando as equações originais
com as equações com as médias, apenas na componente x, identifica-se as seguintes
relações constitutivas:
(63)
= −
(64)
= −
(65)
= −
(67)
= +
(68)
= +
(70)
=−
(71)
=−
+ = + + +
(73)
+ + =0
O manual do programa cita a equação 73, modelo que inclui uma vazão por unidade de
volume como termo fonte, S. Usualmente, em códigos de mecânica dos fluidos
computacional esse termo é desnecessário porque qualquer entrada ou saída de água é
tratada como condição de contorno.
+ + =
(74)
+ + +
1
= − − −
1
− + + + +
ℎ
(75)
+ + +
1
= − − −
1
− + + + +
ℎ
, = Coordenadas cartesianas;
= Parâmetro de Coriolis;
60
= Aceleração da gravidade;
= Viscosidade turbulenta;
= Pressão atmosférica;
(76)
= +
(77)
= +
(78)
= +
(79)
+ + = + + + + +
= + +
Essas equações são conhecidas como Equações de Águas Rasas. No caso específico dessa
simulação, não foi considerada a força de Coriolis, efeitos de radiação ou fontes pontuais
de vazão, reduzindo as equações à:
61
(80)
+ + +
1
=− − − + +
(81)
+ + +
1
=− − − + +
(82)
= 2 + +
(83)
= 2 + +
(84)
+ + − = 0,
1
, = , , =
(85)
+ + = 0,
1
, = , , =−
62
A elevação total da superfície de água h pode ser determinada por meio das condições
cinemáticas na fronteira, uma vez que o campo de velocidades é conhecido através das
equações da continuidade e do momento. Entretanto, uma equação mais robusta é obtida
pela integração vertical da equação da continuidade local:
ℎ ℎ ℎ ̅ (86)
+ + =ℎ + −
= Taxa de precipitação;
= Taxa de evaporação;
(87)
ℎ = ,ℎ ̅=
(88)
+ + + = + + +
(89)
+ + + = + +
(90)
( , )= ℎ + ℎ ( , )
(91)
=0
A forma integral do sistema das equações de águas rasas pode ser escrita como:
(92)
+ ∇. ( ) = ( )
(93)
+ + + + + + =
(94)
Ω+ ( . ) = ( ) Ω
= Volume da célula;
Ω= Variável de integração;
Avaliando a integral do volume por uma lei de quadratura de um ponto, sendo o centroide
da célula o ponto de quadratura, e a integral de fronteira por uma lei de meio ponto de
quadratura, a equação pode ser escrita como:
1 (95)
+ . ∆Γ =
∆Γ = Área da interface.
=ℎ (96)
= ℎ ,ℎ ,ℎ (97)
(98)
= ℎ ,ℎ ,ℎ
= −ℎ +ℎ (99)
Primeiramente foi feita uma simulação no modelo bidimensional, MIKE 21 FM, para que
esta fosse utilizada como condição inicial do modelo tridimensional. Como já discutido
anteriormente, este artificio evita geração de ondas de perturbação no período desejado
para estudo. Primeiramente se alcança o regime permanente no modelo bidimensional, e
66
este é utilizado então como condição inicial. O uso de uma simulação anterior como
condição inicial, denominada “hot-start file”, é altamente recomendável e leva a
resultados mais coerentes.
Foram feitas duas simulações: uma com vazão afluente de 600 m³/s e outra com 1300
m³/s. As vazões foram escolhidas em função da Resolução 742/2017 da ANA, que
autoriza a redução da descarga mínima de efluente da barragem de Xingó de 1300 m³/s
para 600 m³/s (ANA, 2017). Isso ocorreu para impedir que os reservatórios atinjam o
volume morto, por conta da estiagem que atinge a região. Dessa forma, se simulou uma
situação normal e outra de seca.
Foi feita a simulação com estes parâmetros por 48 horas, de modo a atingir o regime
permanente. Uma vez alcançada, esta serviu de condição inicial para a simulação no
modelo tridimensional. Na simulação no MIKE 3, a condição de montante foi a mesma,
enquanto que para condição de jusante foram adotadas as alturas d’água coletadas pela
67
Como o monitoramento não é diário, mas apenas de dois dias por maré de sizígia, diversos
dados tiveram que ser estimados para os dias em que não houve monitoramento. Para esta
estimativa, foi utilizada a média dos dados disponibilizados pela Chesf, e a esta foi
acrescentada e reduzida a variação observada de maré no Terminal Marítimo Inácio
Barbosa, para maré alta e baixa, respectivamente. Os dados utilizados estão apresentados
no Apêndice A.
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Percebe-se que na maior parte do tempo e do espaço, o estuário fica classificado como
tipo 2 de alta estratificação. Neste tipo de estuário, os processos advectivos e difusivos
exercem influência significativa sobre o transporte de massa, e o fluxo resultante é
revertido com a profundidade. Entretanto, este padrão não ocorre em todos os ciclos de
maré.
Na seção intermediária, houve baixa estratificação no primeiro período, e com o decorrer
do tempo, esta aumentou. Já nas seções mais a jusante, ocorreu o contrário, com presença
de baixa estratificação apenas no último período observado. Considerando que no último
período ocorreram as maiores variações de maré, o sentido físico deste resultado é que
com avanço da cunha salina, a haloclina foi erodida até a seção a 4 quilômetros da foz.
Desta forma, houve pequeno gradiente de salinidade, que aumentou à medida que se
avança no sentido de montante, apresentando alta estratificação na seção intermediária.
Quanto ao parâmetro circulação, este apresentou variações significativas apenas nas
seções mais próximas da foz do estuário, que foram classificadas como 1 em um
momento. Este resultado mostra que o transporte de sal nestas seções, nestes ciclos, foi
dominado pela difusão turbulenta, sendo a advecção pouco significativa.
Os perfis verticais de salinidade média e velocidade longitudinal estão apresentados nos
Gráfico 1 a Gráfico 6.
73
Novamente, foi criado um perfil com o valor máximo e valor médio observado em cada
célula da malha, apresentados nas Figura 34 e Figura 35. Através destes perfis, foi
possível observar que há presença de água salobra (PSU>0,5‰) a 8940 metros da foz na
intrusão salina máxima, enquanto que o valor médio de incursão foi de 5140 metros.
Como esperado, estes valores foram menores que na simulação do período de estiagem,
devido ao aumento da vazão fluvial.
83
7. CONCLUSÃO
Com base nas análises feitas, o canal foi classificado como parcialmente misturado,
apresentando outras características em momentos pontuais. Em estuários desse tipo, os
processos de advecção e difusão são importantes para o transporte de sal. A diferença
entre a salinidade de superfície e de fundo varia de 2 a 3 PSU, apresentando um gradiente
vertical de salinidade moderado.
Em ambas as simulações foi observada uma defasagem entre a ocorrência dos picos de
velocidade e salinidade, indicando que a onda de maré se propaga no estuário como uma
combinação de ondas estacionárias e progressivas.
Apesar dos mecanismos de circulação e mistura não terem sido drasticamente alterados
entre os períodos estudados, foi possível perceber que no período de estiagem a incursão
da salinidade foi maior, viajando 1600 metros a mais na incursão máxima e 1400 metros
a mais na incursão média. Esta variação é esperada em estuários, mas significa desafios
para a população usuária da água e órgãos gestores dos recursos hídricos, visto que a
95
presença de água salobra na calha do rio altera de maneira significativa os usos destinados
à água.
O uso destes modelos permite aos tomadores de decisão maior segurança no momento de
realizar intervenções de engenharia. Em épocas críticas, como de estiagem, alterações na
operação de reservatórios ou captações de água a montante pode ter impactos
significativos na intrusão salina a jusante, como demonstrado no exemplo feito. Desta
forma, a simulação destas situações é um passo importante que deve ser incorporado
como exigência por parte de órgãos ambientais antes de autorizar tais intervenções.
REFERÊNCIAS
ADVENTURE TIME. His Hero. 1ª temporada, episódio 25. Direção: Larry Leichliter.
Cartoon Network, Georgia, EUA, 2010.
DHI. MIKE ZERO: The Common DHI User Interface for Proect Oriented Water
Modelling. 2017a. Disponível em: <
97
OKUBO, A. Oceanic Mixing. The Johns Hopkins University. Chesapeake Bay Institute.
Tech. Rept., n. 62, 1970. 140 p.
Data e horário Nível d'água Data e horário Nível Data e horário Nível
d'água d'água
20/08/2016 06:18 5,53 07/09/2016 12:00 5,32 30/09/2016 06:00 7,42
20/08/2016 07:07 4,93 07/09/2016 18:00 7,42 30/09/2016 12:00 5,32
20/08/2016 08:07 4,71 08/09/2016 00:00 5,32 30/09/2016 18:00 7,42
20/08/2016 09:07 4,35 08/09/2016 06:00 7,42 01/10/2016 00:00 5,32
20/08/2016 10:07 4,17 08/09/2016 12:00 5,32 01/10/2016 06:00 7,42
20/08/2016 11:07 3,88 08/09/2016 18:00 7,42 01/10/2016 12:00 5,32
20/08/2016 12:07 3,65 09/09/2016 00:00 5,87 01/10/2016 18:00 7,42
20/08/2016 13:07 3,51 09/09/2016 06:00 6,87 02/10/2016 00:00 5,32
20/08/2016 14:07 3,59 09/09/2016 12:00 5,87 02/10/2016 05:51 7,70
20/08/2016 15:07 4,23 09/09/2016 18:00 6,87 02/10/2016 06:51 6,99
20/08/2016 16:07 4,73 10/09/2016 00:00 5,87 02/10/2016 07:51 6,24
20/08/2016 17:07 5,11 10/09/2016 06:00 6,87 02/10/2016 08:51 6,65
20/08/2016 18:07 5,41 10/09/2016 12:00 5,87 02/10/2016 09:51 6,19
21/08/2016 06:16 10,17 10/09/2016 18:00 6,87 02/10/2016 10:51 6,21
21/08/2016 07:03 7,37 11/09/2016 00:00 5,87 02/10/2016 11:51 6,19
21/08/2016 08:03 7,13 11/09/2016 06:00 6,87 02/10/2016 12:51 5,92
21/08/2016 09:03 7,87 11/09/2016 12:00 5,87 02/10/2016 13:51 7,35
21/08/2016 10:03 7,86 11/09/2016 18:00 6,87 02/10/2016 14:51 8,62
21/08/2016 11:03 8,94 12/09/2016 00:00 5,87 02/10/2016 15:51 8,52
21/08/2016 12:03 9,12 12/09/2016 06:00 6,87 02/10/2016 16:51 8,62
21/08/2016 13:03 9,17 12/09/2016 12:00 5,87 02/10/2016 17:51 8,46
21/08/2016 14:03 8,67 12/09/2016 18:00 6,87 03/10/2016 05:59 5,22
21/08/2016 15:03 9,06 13/09/2016 00:00 5,87 03/10/2016 07:02 4,83
21/08/2016 16:03 8,59 13/09/2016 06:00 6,87 03/10/2016 08:02 4,61
21/08/2016 17:03 8,91 13/09/2016 12:00 5,87 03/10/2016 09:02 4,32
21/08/2016 18:03 8,57 13/09/2016 18:00 6,87 03/10/2016 10:02 4,05
22/08/2016 00:00 5,22 14/09/2016 00:00 5,87 03/10/2016 11:02 3,88
22/08/2016 06:00 7,52 14/09/2016 06:00 6,87 03/10/2016 12:02 3,57
22/08/2016 12:00 5,22 14/09/2016 12:00 5,87 03/10/2016 13:02 3,59
22/08/2016 18:00 7,52 14/09/2016 18:00 6,87 03/10/2016 14:02 3,85
23/08/2016 00:00 5,22 15/09/2016 00:00 5,87 03/10/2016 15:02 4,41
23/08/2016 06:00 7,52 15/09/2016 06:00 6,87 03/10/2016 16:02 4,09
23/08/2016 12:00 5,22 15/09/2016 12:00 5,87 03/10/2016 17:02 4,50
23/08/2016 18:00 7,52 15/09/2016 18:00 6,87 03/10/2016 18:02 4,81
24/08/2016 00:00 5,22 16/09/2016 00:00 5,12 04/10/2016 00:00 5,32
24/08/2016 06:00 7,52 16/09/2016 06:00 7,62 04/10/2016 06:00 7,42
24/08/2016 12:00 5,22 16/09/2016 12:00 5,12 04/10/2016 12:00 5,32
24/08/2016 18:00 7,52 16/09/2016 18:00 7,62 04/10/2016 18:00 7,42
25/08/2016 00:00 5,72 17/09/2016 00:00 5,12 05/10/2016 00:00 5,32
25/08/2016 06:00 7,02 17/09/2016 06:00 7,62 05/10/2016 06:00 7,42
25/08/2016 12:00 5,72 17/09/2016 12:00 5,12 05/10/2016 12:00 5,32
101