Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
, ,
AR E ~RE·HISTORICA DO BRASIL .
Editora C/ARTE
Editor
Fernando Pedro da Silva
Coordenação Editorial
Fernando Pedro da Silva
Marília Andrés Ribeiro
Conselho Editorial
Eliana Regina de Freitas Outra
João Diniz
Lígia Maria Leite Pereira
Lucia Gouvêa Pimentel
Maria Auxiliadora de Faria
Marília Andrés Ribeiro
Marília Novais da Mata Machado
Otávio Soares Dulci
Orientações Pedagógicas
Lucia Gouvêa Pimentel
Assistente de Produção
Jacqueline Prado de Souza
Revisão
Roberto Arreguy Maia
Capa
Marcelo Belico
Projeto gráfico
Marcelo Belico
Poliana Perazzoli
Imagem de capa
Pinturas do abrigo Vão Grande/H), Foto: André Prous
ISBN: 978-85-7654-033-5
1. Artes pré-históricas - Brasil. 2. Arte antiga I. Pirnentel, Lucia Gouvêa, 1947- 11.
Silva, Fernando Pedro da, 1965- 111.Título. IV. Série.
COO: 781.
COU: 7.031.1(81))
INTRODUÇÃO
A arte pré-histórica
Há centenas de milhares de anos, os distantes Homo erectus
recriam a natureza, colorindo objetos (pigmentos preparados são
datados em cerca de 300.000 anos) e dando a seus instrumentos de
pedra formas geométricas, por meio de técnicas complexas. Essas
formas proporcionavam um aspecto harmonioso aos objetos, inde-
pendentemente da sua eficiência; assim sendo, podemos considerar
que os bífaces de pedra do Acheulense final são verdadeiros objetos
de arte. Entre 60.000 e 40.000 anos atrás, com os últimos represen-
tantes do Homo neandertha/ensís e o desenvolvimento do Homo sa-
píens em todo o Velho Mundo, aparecem os primeiros adornos - co-
lares de conchas ou dentes perfurados. Logo depois surgem as
primeiras representações figurativas.
12 . ANDRÉ PROUS
ras paleolíticas; desenhos pré-históricos em forma de grade foram as-
sim interpretados como armadilhas para prender os espíritos a partir
de exemplos siberianos.
14 . ANDRÉ PROUS
métodos aos novos campos e uma multiplicação das abordagens. Não
se pode mais estudar a arte pré-histórica apenas a partir das ocorrên-
cias européias, cujas características aparecem hoje como tendo cunho
apenas regional. A divulgação e o estudo das artes rupestres do Saara
(desde os anos 1950), da Austrália (desde os anos 1960) e do Brasil (a
partir dos anos 1970) tiveram um papel muito grande nesta renovação
dos olhares sobre as manifestações gráficas pré-históricas.
«~ * ... .....
"--~
~
~
~~ IIIfI
.....
-
...
@) ·. • •••••
• ••••••
- ...
>~
•
Fosfenos geométricos.
,~
Arte Pré-Histórica do Brasil, 15
va que, à primeira vista, lembra a do Pe. H. Breuil, mas que dela difere
bastante. Com efeito, não se trata mais de imaginar o que seria a arte
das tribos que pertenceriam a um determinado patamar de evolução,
com características válidas no mundo inteiro, mas de encontrar, na arte
de cada região, o que poderia ser explicado por populações nativas so-
breviventes, supostamente pouco aculturadas pelo mundo moderno.
16 . ANDRE PROUS
o
I
20 em
,
18 . ANDAÉ PAOUS
começam, no entanto, a divulgar o interesse pela primeva arte brasileira
dentro de um público mais amplo.
= Sam3tém
SRaimundo Inga
Nonato
~:r
-: ) li
; .... -
Mont~nia
I'ef~:.:
~r
~:)~
·1-
/
s.n,a
~<)\.O'~"'"
Principais concentrações de sítios rupestres mencionadas no texto: ~, Frontena entre Proto-Ium e Proto-Guaran
Tradição Nordeste
22 . ANDRÉ PROUS
Incisões, provavelmente menos de 2.000 anos. Abrigo do Alvo, Analândia, São Paulo.
Acervo do Setor de Arqueologia da UFMG. Foto: G. Collet.
24 . ANDRÉ PROUS
Incisões e cúpulas, provavelmente menos de 2.000 anos. Tradição Meridional. Pedra
Grande, Rio Grande do Sul. Foto: J. Brochado.
A tradição do Litoral
No estado de Santa Catarina, desde Porto Belo até o Farol Santa
Marta, encontram-se painéis verticais, orientados para o alto-mar nas
ilhas espalhadas ao longo do litoral, assim como em praias do conti-
nente, que foram decorados com figuras geométricas; compõem o
que chamamos tradição Litorânea. Apesar de todas as ocorrências
apresentarem características comuns e alguns temas repetidos, cada
sítio (ou pequeno grupo de sítio) parece ter um tema preferencial espe-
cífico, como se as populações que decoraram os paredões - separados
uns dos outros por cerca de uma dezena de quilômetros - os tivessem
utilizado para marcar sua individualidade, estabelecendo marcos fron-
teiriços com seus vizinhos. Desta forma, a Ilha do Arvoredo apresenta
séries de círculos e depressões elípticas, enquanto a Ilha das Aranhas
e a Praia do Santinho parecem caracterizadas por losangos e figuras
em forma de ampulheta. No município de Palhoça, são retângulos com
um apêndice que predominam, enquanto na Ilha do Campeche perfi-
lam-se alinhamentos de triângulos, ou de retângulos sem apêndice. Os
sítios da Barra da Lagoa e da Praia da Guarda do Embaú são, por sua
vez, caracterizados por desenhos reticulados.
Grafismos enterrados, incisões e picoteados datados entre 9.000 e 7.000 anos. Lapa
do Boquete, Vale do Peruaçu, Minas Gerais. Foto: André Prous.
26 . ANDRÉ PROUS
dos pelo radiocarbono de vários momentos entre 2.800 e 4.400 anos
atrás em vários outros abrigos, no centro do estado. No Piauí, um gran-
de painel com representações de animais e uma plaqueta pintada com
figura humana estavam também recobertos por pisos milenares. Ao
longo de pelo menos oito milênios, uma grande quantidade de tradi-
ções e estilos sucederam-se no Brasil Central e Nordeste.
Pinturas rupestres, realizadas em vários momentos entre 4.000 e 7.000 anos. Serra
do Cipó, t~in(]s Gerais. Foto: André Prous.
28 . ANDRt PROUS
Pinturas rupestres da tradição P/ana/to. Jaracussu, Minas Gerais. Foto: Acervo do
Setor de Arqueologia da UFMG.
superior, cheios de pontos - alguns dos quais parecem sair dele por
uma pequena abertura - que hoje acreditamos serem representações
de ninhos de abelhas ou marimbondos.
30 . ANDRÉ PROUS
Os grafismos "astronômicos"
No sul de Goiás (Serranópolis) e ao longo do curso alto-médio do
rio São Francisco (Montalvânia), no Alto Rio Grande (Andrelândia) e na
Bahia (Central), pinturas que parecem representar corpos celestes (sol,
lua, cometas, estrelas ...) associam-se a linhas em ziguezague, "grades",
pontos, representações de lagartos e, por vezes também, pássaros vo-
ando. Caracterizam uma unidade estilística reconhecida por M. Beltrão,
que a denominou sucessivamente "Astronômica" e "Cosmológica". Na
região de Montalvânia, os painéis mais típicos ocupam o topo de gran-
des elevações, decorando tetos que podem ser uma evocação do céu
- como já tinha notado P. Seda a respeito de sítios de Unaí. Algumas
dessas manifestações parecem corresponder mais a uma temática
que perpassa várias tradições (tal como a tradição São Francisco, no
Norte de Minas Gerais) que uma única tradição estilística, enquanto
outras (em Serranópolis, no Sul de Goiás, por exemplo), marcam real-
mente um momento preciso da decoração dos abrigos.
32 . ANDRÉ PROUS
Pinturas da Lapa do Dragão. Complexo Montalvânia, Minas Gerais. Foto: Loredana Ribeiro.
A tradição Nordeste
Reconhecida inicialmente por N. Guidon na região de S. Raimundo
Nonato (Piauí), onde seria extremamente antiga, essa tradição é notável
pela quantidade de representações humanas. Encontram-se cenas de
sexo (cópula em várias posições, masturbação), de execução, de caça e
de rituais ao redor de uma árvore. Algumas dessas cenas estão sendo
interpretadas por alguns pesquisadores à luz dos rituais dos atuais índios
Fulnió: a árvore poderia ser a Jurema, que fornece uma substância alu-
cinógena; as cenas de "masturbação" seriam, na verdade, flagelação ri-
tual do pênis com uma planta urticante etc. As representações zoomor-
fas incluem um grande número de emas e de cervídeos, isolados ou
correndo em bando; em alguns abrigos aparecem porcos-do-mato, qua-
tis e até caranguejos de água doce.
A tradição Nordeste estendeu-se num vasto território que vai do
sul do Piauí até o Mato Grosso, passando por Goiás, infiltrando-se tar-
diamente em parte do território mineiro. A oeste, chega até o pé dos
Andes - na Bolívia, no Peru e na Colômbia Meridional.
34 . ANDRÉ PROUS
Pinturas rupestres da tradição Nordeste. Representação de uma aldeia. Abrigo do
Cacique, 8ahia. Foto: Loredana Ribeiro.
A tradição Agreste
Típica do sertão nordestino, a tradição Agreste, particularmente
estudada por A. Aguiar e G. Martins, é caracterizada por figuras antro-
pomorfas e zoomorfas bastante toscas. São características do período
pós-Nordeste no Piauí e em Pernambuco - embora ambas pareçam ter
coexistido algum tempo. Alguns conjuntos dessa tradição ocorrem no
Norte e Centro de Minas Gerais, e no Sul de Goiás, onde são posteriores
às tradições Planalto e São Francisco.
As manifestações Agreste são bastante variadas e parecem res-
surgir em vários momentos. De fato, a definição dessa unidade estilística
é ainda muito imprecisa. Na sua versão mais característica, as figuras
Agreste aparecem isoladas ou formando pequenos conjuntos dominados
por uma ou duas grandes figuras antropomorfas (ditas "bonecões"),
eventualmente rodeadas por poucos grafismos zoomorfos ou pinturas ca-
rimbadas na parede - inclusive impressões de mãos - e conjuntos de
pontos. Homens e animais são geralmente desenhados toscamente, mas
36 . ANDRÉ PROUS
Os leigos costumam acreditar que a arte pré-histórica existiu ape-
nas na Europa Ocidental; muitos livros didáticos reforçam essa crença
ao mencionar somente as grutas pintadas de Altamira, na Espanha, ou
de Lascaux, na França. No entanto, essa opinião é completamente er-
rada. É verdade que as representações figurativas mais antigas conhe-
cidas atualmente (mais de 30.000 anos) encontram-se na França, mas
isto decorre da maior intensidade das pesquisas nesse país. Vestígios
de arte paleolítica foram também encontrados na África do Sul (na
Namíbia, há pinturas datadas de cerca de 28.000 anos); ocorrências
possivelmente muito antigas estão sendo analisadas também na América
do Sul e na Austrália.
Pinturas rupestres com mais de 30.000 anos. Gruta Chauvet. França. Foto: Jean Clottes.
10 . ANDRÉ PROUS