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apresenta
Ars et Vita
Rio de Janeiro
2016
MOSTRA
Curadoria Luiz Gustavo Carvalho e Maria Vragova
Direção Executiva Maria Vragova
Direção Financeira Marcos Antônio Miranda A CAIXA é uma das maiores patrocinadoras da cultural no Brasil, e destina, anualmente, mais
Identidade Visual e Design Gráfico Phamela Dadamo de R$ 60 milhões de seu orçamento para patrocínio a projetos culturais em espaços próprios
Assessoria de imprensa Bárbara Chataignier
e espaços de terceiros, com ênfase especial para exposições de artes visuais, peças de teatro,
Tradução Maria Vragova
Revisão Maria Vragova mostras de cinema, espetáculos de dança, shows musicais, apoio ao artesanato brasileiro e
Dublagem Mabel Cezar, Ronaldo Júlio e André Brilhante festivais de teatro e dança em todo o território nacional.
Inserção de Legendas e VT Alessandro Cerri e Marcus Rodrigues
Confecção de objeto e fotografia Ricardo Coelho Os projetos são escolhidos através de seleção pública, uma opção da CAIXA para tornar mais
democrática e acessível a participação de produtores e artistas de todas as unidades da federação,
CATÁLOGO
Coordenação Editorial Luiz Gustavo Carvalho e Maria Vragova e mais transparente para a sociedade o investimento dos recursos da empresa em patrocínio.
Textos Luiz Gustavo Carvalho, Serguei Kapkov, Roman Katchanov, Fiodor Khitruk, Andrey Khrzhanovsky, Larissa Maliukova,
Yuri Norstein e Maria Vragova
A Mostra de Animação Russa, com curadoria de Luiz Gustavo Carvalho e Maria Vragova,
Revisão Maria Vragova é a primeira oportunidade do público brasileiro conhecer parte da vasta e rica produção
Design Gráfico Phamela Dadamo cinematográfica de animação da ex-União Soviética e da Rússia, através de 37 desenhos de 20
diretores, realizados entre os anos de 1950 e 2014.
AGRADECIMENTOS
Aurora B. Bernardini, Alessandro Cerri, Laura Vragova Carvalho, Ricardo Coelho, Valentina Dadamo Coelho, Fábio Flaks, Svetlana
A Mostra exibe animações infantis e adultas, na maioria curtas-metragens, com histórias
Filippova, Serguei Kapkov, Larissa Maliukova, Daniela Mountain, Yuri Norstein, Fabíola Notari, Marcia Pereira, Irineu Perpétuo, baseadas no folclore russo, em contos e poemas de autores importantes, como Kornei
Alexander Petrov, Andrei Plakhov, Escola Municipal Penedo, Estúdio “Soyuzmultfilm” Tchukovski e Vladimir Maiakovsky, além de diversos outros temas, dentre eles o amor, a guerra e
a convivência entre seres humanos e animais de estimação.
ISBN 978-85-66122-04-6
Diretores e realizadores renomados, como Svetlana Filippova, Yuri Norstein, Ivan Ivanov-Vano e
Alexander Petrov, enchem a tela de desenhos feitos com técnicas e traços singulares, levando
o espectador ao encantamento, seja através do humor, do drama ou da alegoria. Ao mesmo
MOSTRA DE ANIMAÇÃO RUSSA Alvará da CAIXA Cultural RJ nº 041667, de 31/03/2009, sem vencimento.
tempo, as trilhas sonoras dos filmes trazem músicas compostas por Shostakovich, Prokofiev
17 a 29 de maio de 2016 - Cinemas 1 e 2
ou Gubaidulina, alguns dos principais compositores do país. Assim, a programação da Mostra de
CAIXA Cultural Rio de Janeiro Animação Russa oferece ao público infantil e adulto uma oportunidade singular de ver reunidos
Av. Almirante Barroso, 25 . Centro
no cinema, através de animações, importantes nomes da literatura e da música.
Tel. (55) 21 3980-3815
Através da Mostra de Animação Russa, a CAIXA reafirma sua política cultural, sua vocação
#vivamaiscultura
www.caixacultural.gov.br social e a disposição de democratizar o acesso aos seus espaços e à programação artística,
facebook/CaixaCulturalRioDeJaneiro cumprindo, desta forma, o papel institucional de estimular a disseminação de ideias, mantendo
Baixe o aplicativo CAIXA Cultural
viva a vocação de abrigar e promover a pluralidade de pensamento.
Prefira o transporte público
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
sinopses
a animação na rússia
Serguei Kapkov e Larissa Maliukova
biografias
ponto de partida
Yuri Norstein
17 19 infantil 16h palestra 17h
PROGRAMAÇAO terça-feira quinta-feira CINE 1 CINE 1
Tcheburashka I Roman Katchanov. 1969, 20 min História da animação na União Soviética e na
O crocodilo Guena I Roman Katchanov. 1971, 20 min
infantil 15h CINE 1 infantil 15h CINE 1 Rússia contemporânea I com Serguey Kapkov
O ursinho Taptizhka I Fiodor Khitruk. 1964, 9 min
Tcheburashka I Roman Katchanov. 1969, 20 min A flor vermelha I Lev Atamanov. 1952, 42 min
A luva I Roman Katchanov. 1967, 10 min Espera, você vai ver! - 3º e 4º episódios I Vicheslav
adulto 19h CINE 1
O ursinho Puff I Fiodor Khitruk. 1969, 10 min Kotenotchkin. 1969-1986, 10 min (cada)
infantil 18h CINE 1 A história de um crime I Fiodor Khitruk. 1962, 20 min
Umka I Vladimir Popov e Vladimir Pekar. 1969, 10min A ilha I Fiodor Khitruk. 1973, 10 minn
adulto 17h CINE 1 adulto 19h CINE 1 A garça e a cegonha I Yuri Norstein. 1974, 10 min A gaita de vidro I Andrei Khrzhanovsky. 1968, 20 min
A raposa e a lebre I Yuri Norstein. 1973, 12 min A vaca I Alexander Petrov. 1989, 10 min
A batalha de Kerzhenets I Yuri Norstein e Ivan Lavatory - Lovestory I Konstantin Bronzit. 2007, 10
Terem teremok I Leonid Amalrik. 1971, 10 min O ouriço no nevoeiro I Yuri Norstein. 1975, 10 min
Ivanov-Vano. 1971, 10 min min
O ouriço no nevoeiro I Yuri Norstein. 1975, 10 min
A história de um crime I Fiodor Khitruk. 1962, 20 min Três histórias de amor I Svetlana Filippova. 2007, 12 min
25
O conto dos contos I Yuri Norstein. 1979, 29 min Onde morrem os cães I Svetlana Filippova. 2011, 12 min
quarta-feira
adulto 19h CINE 1
A história de Sara I Svetlana Filippova. 2006, 6 min
Brutus I Svetlana Filippova. 2014, 13 min 22 domingo
infantil 11h CINE 1
Meu amor I Alexander Petrov. 2006, 26min infantil 15h CINE 1
A vaca I Alexander Petrov. 1989, 10 min
O sonho de um homem ridículo I Alexander
20 sexta-feira Espera, você vai ver! - 5º, 6º, 7º e 8º episódios I
Vicheslav Kotenotchkin. 1969-1986, 10 min (cada)
O conto do pescador e do peixinho I Mikhail
Tsekhanovskiy. 1950, 30 min
Petrov. 1992, 20 min Espera, você vai ver! - 11º episódio I Vicheslav
A Sereia I Alexander Petrov. 1996, 10 min
infantil 11h CINE 1 Kotenotchkin. 1969-1986, 10 min
O velho e o mar I Alexander Petrov. 1999, 20 min O quebra-nozes I Boris Stepantsev. 1973, 27 min mesa redonda 17h CINE 1
10 Espera, você vai ver! - 3º e 4º episódios I Vicheslav Animação Russa I com Serguey Kapkov, Svetlana infantil 15h CINE 1 11
Kotenotchkin. 1969-1986, 10 min (cada) Filipppova, Maria Vragova e Luiz Gustavo Carvalho
18
A ilha I Fiodor Khitruk. 1973, 10 minn
quarta-feira infantil 16h CINE 1 Meu amor I Alexander Petrov. 2006, 26min
adulto 19h CINE 1 Lavatory - Lovestory I Konstantin Bronzit. 2007, 10 min
Espera, você vai ver! - 5º, 6º, 7º e 8º episódios I
infantil 11h CINE 1
Vicheslav Kotenotchkin. 1969-1986, 10 min (cada) A ilha I Fiodor Khitruk. 1973, 10 minn
Espera, você vai ver! - 1º e 2º episódios I Vicheslav O homem na moldura I Fiodor Khitruk. 1966, 10 min adulto 19h CINE 1
Kotenotchkin. 1969-1986, 10 min (cada) Onde morrem os cães I Svetlana Filippova. 2011, 12 min A batalha de Kerzhenets I Yuri Norstein e Ivan
A luva I Roman Katchanov. 1967, 10 min adulto 19h CINE 1
A Sereia I Alexander Petrov. 1996, 10 min Ivanov-Vano. 1971, 10 min
Cuidado, macaquinhos! I Leonid Schwartzman O sonho de um homem ridículo I Alexander O leão e o touro I Fiodor Khitruk. 1984, 10 min A história de um crime I Fiodor Khitruk. 1962, 20 min
(URSS, 1984) 10 min Petrov. 1992, 20 min O velho e o mar I Alexander Petrov. 1999, 20 min
A gaita de vidro I Andrei Khrzhanovsky. 1968, 20 min
24
Brutus I Svetlana Filippova. 2014, 13 min
infantil 14h CINE 1 O conto dos contos I Yuri Norstein. 1979, 29 min terça-feira
Espera, você vai ver! - 1º e 2º episódios I Vicheslav
Kotenotchkin. 1969-1986, 10 min (cada)
O quebra-nozes I Boris Stepantsev. 1973, 27 min 21 sábado infantil 11h CINE 1
A ilha I Fiodor Khitruk. 1973, 10 minn
infantil 14:30h CINE 1 Espera, você vai ver! - 9º e 10º episódios I
adulto 18h CINE 1
A luva I Roman Katchanov. 1967, 10 min
Vicheslav Kotenotchkin. 1969-1986, 10 min (cada)
A ilha I Fiodor Khitruk. 1973, 10 min Lavatory - Lovestory I Konstantin Bronzit. 2007, 10 min
O ursinho Puff I Fiodor Khitruk. 1969, 10 min
O homem na moldura I Fiodor Khitruk. 1966, 10 min O ursinho Puff faz uma visita I Fiodor Khitruk. 1969,
O leão e o touro I Fiodor Khitruk. 1984, 10 min 10 min
A gaita de vidro I Andrei Khrzhanovsky. 1968, 20 min O ursinho Puff e um dia atarefado I Fiodor Khitruk.
1972, 19 min
26 quinta-feira 28 sábado
27 sexta-feira
adulto 18:30h CINE 1
A Sereia I Alexander Petrov. 1996, 10 min
infantil 11h CINE 1
Meu amor I Alexander Petrov. 2006, 26min
12 O quebra-nozes I Boris Stepantsev. 1973, 27 min Três histórias de amor I Svetlana Filippova. 2007, 13
Espera, você vai ver! - 3º e 4º episódios I Vicheslav 12 min
Kotenotchkin. 1969-1986, 10 min (cada) Lavatory-Lovestory I Konstantin Bronzit. 2007, 10 min
A“Terem
lguns animais decidem viver juntos em um “teremok”, uma
casinha típica russa. Baseado em um conto do folclore russo,
teremok” é o último filme do diretor Leonid Amalrik.
Pparaaraqueachar
que uma árvore cresça, é necessário planta-la; para
a primavera comece, é antes necessário limpar a neve;
“o novo”, é necessário despedir-se “do velho”. Assim
pensa, aos 6 anos, a menina Sara.
16
Hayao Miyazaki.
Ucoisas,
m homem cresce e deixa a sua casa. Durante toda a sua vida,
ele quer regressar em busca do seu passado. Mas acontecem
as quais ele não pode mudar: a sua mãe envelhece, a casa 17
fica meio destruída e o seu cachorro morre. Acontecimentos
inevitáveis, aos quais estamos todos destinados.
KONSTANTIN BRONZIT
Lavatory-Lovestory Brutus I Brut
Rússia, 2007, 10 min
Classificação livre. Versão original em russo. Legendas em português. Rússia, 2014, 13 min
Classificação livre. Versão original em russo. Legendas em português.
Prêmio de Melhor Filme, no Festival Anima Mundi, 2007
Nomeado ao Oscar, na categoria “Melhor curta-metragem”, 2007
ABrutus
autora e animadora Svetlana Filippova aborda um dos
episódios mais trágicos da humanidade. A história do cão
Tumaendo como cenário um banheiro público, Konstantin Bronzit,
um dos principais nomes da animação contemporânea, relata
historia de amor repleta de pureza e romantismo.
na Alemanha nazista.
Odo filme conta a história de uma mosca que é atacada por uma
aranha no dia do seu aniversário. O filme foi realizado a partir
conto homônimo de Korney Tchukovsky, um dos principais
escritores infantis da antiga União Soviética.
ROMAN KATCHANOV O homem na moldura I Tchelovek v ramke
URSS, 1966, 10 min
A luva I Varezhka Classificação livre. Versão original em russo. Legendas em português.
Rhistória
ealizado a partir do livro infantil “O Crocodilo Guena e os desenho animado foi considerada a melhor pelo escritor inglês.
seus amigos”, o filme apresenta-nos o personagem ícone da
da animação soviética: “Tcheburashka”.
O ursinho Puff faz uma visita I Vinni Pukh idet v gosti
URSS, 1969, 10 min
Tcheburashka Classificação livre. Versão original em russo. Dublagem em português.
Úagradar
ltimo filme da trilogia. O episódio relata o aniversário do
burrinho Ió e as peripécias do ursinho Puff e seus amigos para
FIODOR KHITRUK o aniversariante.
Prêmio “Golden Gate” no VII Festival Internacional de San Franscico, 1962 Palma de Ouro no Festival Internacional de Cannes, 1974.
Leão de Prata no Festival de Veneza, 1962 “A ilha” conta a história de um Robinson Crusoe contemporâneo.
Diploma no IX Festival Internacional de Cinema e Animação de Uma reflexão poética sobre a solidão humana na sociedade
Oberhausen, 1963 moderna.
Ca hibernar
onsiderado pelo diretor como o seu melhor filme, “Taptizhka”
relata a história de amizade entre um ursinho que se recusava
e um coelhinho.
ANDREI KHRZHANOVSKY A garça e a cegonha I Tsaplia i zhuravl
URSS, 1974, 10 min
A gaita de vidro I Stekliannaya garmonika Classificação livre. Versão original em russo. Dublagem em português.
URSS, 1968, 20 min Prêmio Especial do Júri no Festival de Cinema de Annecy, 1975
Classificação livre. Versão original em russo. Legendas em português. Primeiro Prêmio no III Festival Internacional de Cinema de New York, 1975
Fa qual
ilme baseado na lenda e no poema sinfônico do compositor
russo Rimsky-Korsakov sobre a cidade invisível de Kitezh,
ficou submersa para evitar a sua ocupação pelas tribos
tártaras.
YURI NORSTEIN
A raposa e a lebre I Lissa e zaiats
URSS, 1973, 12 min
Classificação livre. Versão original em russo. Dublagem em português.
Melhor Filme Infantil e Prêmio Especial, no II Festival Internacional de
Cinema de Zagreb, 1974
Uquemdeintegrava
dos primeiros filmes do diretor, “A vaca” narra as memórias
uma criança sobre o seu relacionamento com uma vaca, “M eu amor” é baseado no romance “A história de amor”,
do escritor russo Ivan Shmelev. No final do século XIX,
o jovem Anton passa a viver em um mundo de sonhos, após se
o cotidiano de uma família rural. O filme é baseado
no livro homônimo do escritor russo Andrei Platonov. entregar à dúvida entre o seu primeiro amor e o desejo por uma
“femme fatale”. O diretor e animador russo Aleksander Petrov
utiliza uma técnica especial para a realização do filme, pintando
quadros de vidro a óleo com os dedos, para então fotografá-los.
O sonho de um homem ridículo I Son smeshnogo tcheloveka
Rússia, 1992, 20 min
Classificação livre. Versão original em russo. Legendas em português.
Primeiro Prêmio e Prêmio Especial da ACIFA no Festival Internacional de VLADIMIR POLKOVNIKOV
Animação de Ottawa, 1992
Primeiro Prêmio no Festival Internacional de Animação de Annecy, 1993 Tarakã, o Bigodudo
Primeiro Prêmio no VII Festival Internacional de Animação de
URSS, 1963, 16 min
Stuttgart, 1994
Classificação livre. Versão original em russo. Dublagem em português.
Bcometer
aseado no livro homônimo do escritor russo Fiodor
Dostoievsky. Um personagem desiludido com o mundo decide
suicídio. Após ignorar uma menina que em prantos Otodasfilme, baseado no conto homônimo do escritor russo Korney
Tchukovsky, conta a história de uma barata capaz de deixar
23
22 implora por ajuda, ele volta para casa, pega um revólver para se as feras do reino animal em pânico. Somente o pequeno e
matar, porém acaba adormecendo. Em seguida, em um estranho corajoso pardal pode enfrentar o temível agressor.
sonho, encontra a verdade projetada em uma sociedade ideal,
livre da luxúria e do egoísmo humano.
Umsereia.
conto envolvente sobre um monge, o seu noviço e uma
Uma história de amor, tentação e traição. Umka procura um amigo I Umka ishet druga
URSS, 1970, 10 min
O velho e o mar I Starik e more Classificação livre. Versão original em russo. Dublagem em português.
Bdecide
aseado no livro homônimo do escritor americano Ernest
Hemingway, o filme conta a história de um velho pescador que
enfrentar o alto mar em busca de um peixe gigante.
VLADIMIR POPOV
Os 3 de Prostokvashino I Troie iz Prostokvashino
URSS, 1978, 19 min
Classificação livre. Versão original em russo. Dublagem em português.
24 25
BORIS STEPANTSEV
O Quebra Nozes I Schelkuntchik
URSS, 1973, 27 min
Classificação livre. Versão original em russo. Legendas em português.
Primeiro Prêmio no Festival de Cinema Infantil de Girona, 1974
MIKHAIL TSEKHANOVSKY
O conto do pescador e do peixinho I Skazka o ribake i ribke
URSS, 1950, 30 min
Classificação livre. Versão original em russo. Dublagem em português.
“Melhor filme” do VI Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary,
1951
Em 1988, foram criados na União Soviéticos estúdios não estatais mais dinâmicos
e com linhas artísticas próprias. Eles atraíam os jovens artistas. Graças à lei “da
cooperação”, Alexander Tatarsky e Igor Kovalev criaram o estúdio “Pilot”, primeiro estúdio
independente. A coluna vertebral deste estúdio era composta por graduandos da escola
fundada pelo próprio Alexander Tatarsky, durante os anos em que ele trabalhava para a
televisão. No estúdio “Pilot”, os diretores souberam combinar com sucesso o trabalho
em filmes autorais e as encomendas do mercado. O estúdio quebrou o estereótipo
relativo à duração dos filmes: somente as questões artísticas determinavam a duração
de cada título. Assim, estudantes provenientes da “Escola Estúdio Pilot” imediatamente
começaram a ganhar reconhecimento do mercado internacional e receberam os
principais prêmios nos concursos internacionais.
Durante os anos 1990, cerca de dez novos estúdios foram criados pelo país. O famoso
diretor de cinema e artista Alexander Petrov criou o estúdio de animação “Panorama”, em
Yaroslavl. No entanto, a crise econômica que assolou o país foi extremamente prejudicial
para o cenário cinematográfico do país. Alexander Petrov concluiu no Canadá o seu filme
“O velho e o mar”, pelo qual ganhou o Oscar americano. Este fato fez com que tanto a
transformação na linguagem artística de Tsekhanovsky, muitos artistas simplesmente
Mikhail Tsekhanovsky: um pioneiro da não aceitaram estas mudanças e deixaram a indústria da animação para outros campos
animação Maria Vragova das artes, tais como a pintura ou a ilustração literária.
O filme “O conto do padre e do seu trabalhador Balda”, baseado na obra do poeta russo
Alexander Pushkin deveria ser o primeiro longa-metragem do diretor, com música de
Um dos pioneiros da animação na União Soviética, Mikhail Mikhailovitch Tsekhanovsky Dmitri Shostakovich. Os trabalhos começaram em 1933 e, após ter escrito parte da
nasceu em 1889, na cidade de Khmelnyntsky. Começou a desenhar ainda no Liceu de partitura, Shostakovich relatou entusiasmado: “Há diversas situações hiperbólicas
Pintura de Moscou, antes de continuar os seus estudos na Academia de Belas Artes de e personagens grotescos... Escrever a música é prazeroso e fácil.” No entanto, em
Paris, entre 1908 e 1909. De volta à Rússia em 1911, formou-se na Academia Imperial de 1936, Shostakovich foi forçado a interromper os trabalhos, após a publicação do artigo
Artes de São Petersburgo e na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou. “Confusão ao invés de música”, o qual criticava o “formalismo” nas obras do compositor.
Entre 1918 e 1923, integrou o Exército Vermelho, onde realizou diversos trabalhos em arte Além disso, os movimentos mecanicamente interligados dos personagens em preto e
aplicada e escultura. Trabalhou ainda como artista instrutor na Escola Técnica Estatal de branco foram considerados “incompatíveis” com o estilo pushkiniano pelos críticos.
Arte e Indústria, em Petrogrado (atual São Petersburgo). Finalmente, a animação do filme ficou praticamente pronta e foi enviada aos arquivos do
A partir de 1926, Mikhail Tsekhanovsky trabalhou na editora “Raduga” (Arco-íris) e estúdio “Lenfilm”. Durante a Segunda Guerra Mundial, o material foi destruído durante
na editora infantil Lengiz, ilustrando diversos livros infanto-juvenis em colaboração um bombardeio. Apenas o fragmento “Bazaar”, com poemas de Alexander Vvedensky, e a
com Vladimir Lebedev. O jovem artista foi rapidamente seduzido pelo movimento partitura fragmentada e inacabada de Shostakovitch² sobreviveram ao incêndio. Em seus
construtivista, e logo incorporou o método gráfico proposto por El Lissitzky no seu diários, Tsekhanovsky aponta o destino do filme como “um desastre.”
universo criativo. Esta influência construtivista fica evidente nos assim chamados “cine- Após sobreviver a meses sombrios durante o Cerco de Leningrado, Tsekhanovsky
livros”, criados por Tsekhanovsky na década de 20: “Bola”, “Bim-Bom” e “Trem”. Nestes mudou-se para Moscou no final da Segunda Guerra Mundial e começou a trabalhar no
volumes, nos quais o artista já utilizava algumas técnicas cinematográficas, criava-se, ao “Soyuzmultfilm”. Nos filmes realizados após a Guerra, o diretor retrata o maravilhoso
folhear o livro, uma espécie de animação das imagens. mundo dos contos de fadas russo. Com uma técnica precisa e consciente dos sentimentos
Em 1928, iniciou os seus trabalhos como diretor de animação no estúdio “Sovkino”¹ em de heroísmo, tragédia e poesia presentes nestas obras, Tsekhanovsky conseguiu criar
32 imagens dotadas de uma poesia fabulosa, refutando a opinião daqueles que alegavam ser 33
Leningrado. Com um universo complexo e um vasto horizonte, Mikhail Tsekhanovsky
encontrou na animação uma linguagem ideal para transferir na integralidade o seu estilo a animação apenas um meio para ninharias cômicas.
e a sua visão artística. Já o seu primeiro filme, “Correio” (1929), foi em muitos sentidos um
grande marco na história da animação soviética. Neste primeiro curta-metragem, baseado ¹ O estúdio cinematográfico “Sovkino” passou a ser chamado de “Lenfilm” a partir de 1934.
nas suas ilustrações para o livro de Samuil Marshak, o diretor trouxe para o cinema a ² A partitura foi restaurada e terminada por Vadim Bibergan, aluno do compositor, em 2005.
estética construtivista, que havia aperfeiçoado nas suas ilustrações. Em 1929, ao lado de
Evgueny Sholpo e Arseny Avramov, Tsekhanovsky foi um dos pioneiros do “som desenhado”,
uma síntese de obras musicais através de uma imagem gráfica gravada na película, a
partir de trilhas sonoras. Em 1930, a versão sonora de “Correio” com música de Vladimir
Deshevov e apresentação de Daniil Kharms, ficou conhecida como o primeiro desenho
animado sonoro da União Soviética. O filme foi ainda o primeiro desenho animado a atingir
um grande público na União Soviética e a sua versão em cores (desenhada à mão) constitui
a primeira animação colorida do país. O filme revolucionou o universo da animação na União
Soviética, utilizando ângulos diagonais inesperados, os quais nos remetem às fotografias de
Boris Ignatovitch e trazendo uma organização rítmica da imagem. Essa organização rítmica
Frames de “O conto do pescador e do peixinho”
da imagem e a sincronização entre o som e imagem continuaram a ser desenvolvidas pelo
diretor em “Pacific 231” (1931). Com música de Arthur Honegger, o filme é construído a
Filmografia na mostra
partir de uma complexa composição sonoro-visual. O conto do pescador e do peixinho” (Skazka o ribake
i ribke)
Com o estabelecimento do realismo socialista, Tsekhanovsky foi forçado a abandonar URSS, 1950, 30 min
este estilo extremamente inovador para praticar a técnica genérica que viria a ser
conhecida na União Soviética sob o nome de “Éclair” (no Ocidente esta técnica é chamada
de rotoscopia). Se as diferenças visuais são claramente visíveis, marcando uma profunda
fiodor khitruk
diretor I cenarista I animador I pedagogo
Nasceu em Tver, em 1917. Após concluir os seus estudos no Instituto de
Ilustradores, Fiodor Khitruk integrou o corpo de profissionais do estúdio
“Soyuzmultfilm” entre 1937 e 1941 e entre 1948 e 1983. Animou cerca
de 200 filmes, antes de iniciar a carreira de direção. Colaborou com S.
Alimov, E. Nazarov. Foi professor na Escola Superior para Roteiristas
e Diretores, na Escola de Animadores do Estúdio Soyuzmultfilm e no
Instituto de Cinema de Moscou, além de ter sido diretor artístico do
mesmo estúdio. Vencedor de diversos prêmios internacionais, entre
os quais destacam-se o prêmio do Festival Internacional de Cinema de
Cannes, o Prêmio Estatal da URSS e o Prêmio Starevitch de animação.
Em 1985, foi condecorado como “Artista do Povo”, na União Soviética.
34 35
Filmografia na mostra
A luva (Varezhka)
URSS, 1967, 10 min
A história de um crime (Istorya odnogo prestuplenya)
URSS, 1962, 20 min
A Ilha (Ostrov)
URSS, 1973, 10 min
“Nu pogodi!” pode ser, acima de tudo, visto como uma pequena enciclopédia da vida
soviética: a população do país se reconhecia nos hábitos alimentares dos personagens
e até mesmo nos papirosis fumados pelo lobo nos diversos episódios. Os episódios
mostram os apartamentos khruschevianos, nos quais vivia a maior parte da população,
46 os balneários, que atraiam as pessoas durante o verão, e a moda da época. Enquanto 47
a lebre aparece quase sempre vestida com uma blusa verde e shorts azuis, o lobo, ao
longo da série, desfila todo um guarda-roupa com as principais novidades da moda
do país. Kotenotchkin soube ainda integrar de forma inteligente nos seus desenhos os
maiores sucessos musicais da época e importantes acontecimentos históricos, tais como
a corrida espacial e os Jogos Olímpicos de Moscou. A cultura clássica dos contos russos,
que havia influenciado tantos diretores e animadores nos anos 1950 e no início dos anos
1960, é também visível nos episódios da série, mas ela é inserida com virtuosismo em
situações cotidianas da sociedade soviética. Diversos nomes da cultura contemporânea do
país foram citados nas aventuras do lobo e da lebre, tais como Alla Pugacheva, Vladimir
Vissotsky e até mesmo o brasileiro Chico Buarque, cuja canção “A banda” integra a trilha
sonora de um dos episódios.
Um detalhe, através do qual constatamos como a animação soviética fazia parte da vida
cotidiana das pessoas e a seriedade com a qual eram tratados todos os componentes
envolvidos na produção de um desenho animado, é o fato de grande parte das vozes dos
protagonistas dos filmes pertencerem aos principais nomes do teatro e do cinema russo.
Desta forma, Innokenty Smoktunovsky é o narrador do conto “A garça e a cegonha”, de
Yuri Norstein, e a voz de Oleg Tabakov ficará para sempre associada ao gato Matroskin, ¹ - United Productions of America
² - Tarakã, o Bigodudo (Tarakanishe), lançado durante a Mostra de Animação Russa pela editora Kalinka.
personagem do desenho animado “Os 3 de Prostokvashino”, de Vladimir Popov. Em “Nu Traduzido por Aurora Fornoni Bernardini e Maria Vragova.
pogodi”, Kotenotchkin queria que o personagem do lobo fosse dublado por Vladimir ³ - Tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Maria Vragova.
Vissotsky. Como o cantor e poeta não era bem visto pelo governo e a sua obra encontrava-
se então proibida no momento pelas autoridades, a ideia foi censurada e o diretor teve
que optar pelo grande ator de teatro e cinema Anatoly Papanov. A lebre é dublada por
biografias vicheslav m. kotenotchkin
diretor I animador
leonid a. amalrik
Nasceu em Moscou, em 1927. Estudou na Escola de Artistas-Animadores
do “Soyuzmultfilm”. Participou da produção de mais de 60 desenhos
animados , em colaboração com L. Amalrik, L. Atamatov, I. Ivanov-Vano,
diretor I animador M. Pashenko e B. Dezhkin, entre outros. Foi o diretor da primeira série
de animação da União Soviética: “Nu, pogodi!”. Foi condecorado como
“Artista do Povo”, em 1987 e recebeu diversos prêmios internacionais.
Nasceu em 1905, em Moscou. Trabalhou como decorador e diretor de
Faleceu em Moscou, em novembro de 2000.
arte no estúdio “ Merzhrabpom-Rus”, sob a direção de A. Rodtchenko, S.
Eisenstein e V. Pudovkin. Em 1928, começou a trabalhar com animação.
Como animador, contribuiu com I. Ivanov-Vano, V. Suteev, D. Babichenko,
vladimir i. polkovnikov
entre outros. Lutou no Exército Vermelho durante a Segunda Guerra
Mundial. Vencedor do prêmio Starevitch de animação. Leonid Amalrik
faleceu em Moscou, em 1997.
diretor
48
boris p. dezhkin Nascido na região de Moscou, em 1906, trabalhou como animador no
estúdio cinematográfico “Soyuzkino” e “Soyuztekhfilm”. A partir de 1936,
começou a trabalhar no estúdio “Soyuzmultfilm”, como assistente de
49
diretor I animador I caricaturista I roteirista L. Amalrik. Durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou no Estúdio
Cinematográfico Técnico de Guerra.
Nasceu em Kursk, em 1914. Após terminar os estudos de animação, Regressou ao “Soyuzmultfilm” em 1946, colaborou com importantes
trabalhou como animador experimental, com V. Smirnov, e na “Mosfilm”. A animadores, tais como A. Trusov, R. Katchanov e M. Rudatchenko, entre
partir de 1936, integrou a equipe do estúdio “Soyuzmultfilm”, trabalhando outros.
como animador, roteirista e diretor. Contribuiu com importantes diretores,
tais como E. Migunov, V. Vasilenko e S. Rusakov, entre outros.
vladimir i. popov
ivan p. ivanov-vano diretor I animador
diretor I roteirista I pedagogo
Nasceu em 1930, em Moscou. Iniciou os seus estudos no “Soyuzmultfilm”
em 1952, onde, trabalhou como animador e diretor. Colaborou com V.
Nascido em 1900, em Moscou, Ivan Ivanov-Vano é um dos ícones da
Pekar, L. Khachatrian e A. Sher.
animação soviética. Foi o diretor do estúdio “Merzhabpomfilm” no início
dos anos 1930. A partir de 1936, trabalhou no estúdio “Soyuzmultfilm”.
Colaborou com L. Amalrik, M. Botov, B. Butakov e Y. Norstein, entre
outros. Foi professor do Instituto de Cinema (VGIK) e da Escola de
Animação do estúdio “Soyuzmultfilm”. Foi condecorado como “Artista do
Povo”, em 1985.
roman katchanov
diretor I roteirista I animador
Roman Katchanov nasceu em Smolensk, em 1921. Em
1941, iniciou os seus estudos no Instituto de Engenharia de
Moscou. Foi convocado pelo Exército Vermelho, durante a
Segunda Guerra Mundial, quando lutou como paraquedista.
Após a guerra, iniciou os estudos de animação, na Escola
de Animação do estúdio “Soyuzmultfilm”, graduando-
se em 1947. Trabalhou como animador e assistente de
direção. Foi professor na Escola de Animação do estúdio
“Soyuzmultfilm” e na Escola Superior de Cenaristas e
Diretores de Moscou. Colaborou com os animadores N.
Serebryabov, L. Schwartzman e N. Orlova, entre outros.
Em 1981, foi reconhecido como “Artista do Povo”, na União
Soviética.
Tudo começou durante a guerra. Nós estávamos assistindo um filme americano, o qual De novo, eu tinha sorte, pois conheci V. Polkovnikov. Ele já era um diretor bastante
falava sobre as vantagens do piloto automático em comparação ao piloto humano. O filme conhecido. Junto com L. Amalrik, tinha feito o filme “A patinha cinza” e outros filmes
utilizava-se de técnicas de animação. importantes. O encontro com V. Polkovnikov teve um grande significado para mim.
Trabalhando com ele, eu apreendi a trabalhar com pintores, atores e compositores.
De repente, na cabeça do piloto que estava no comando aparecem ovos mexidos em uma
Posteriormente, na então recém-criada União de Filmes de Animação de Bonecos, eu
frigideira. O avião começa a balançar, mas os ovos mexidos desaparecem e a aeronave
conheci A. Karanovitch, que me convidou para ser o assistente de direção e animador do
endireita-se. Depois, na imaginação do piloto aparece uma imagem de uma menina
filme “Pedro e o lobo”. Eu aceitei a proposta. Até hoje, eu me lembro do prazer que senti
trocando de roupa. O avião começa a dar voltas..., e bate em uma montanha. Mas no final,
quando eu vi o boneco que eu havia animado.
tudo termina bem. O piloto está deitado em um leito hospitalar, todo enfaixado, e a mesma
menina está dando-lhe comida na colher, falando-lhe alguma coisa e colocando a comida O filme “Pedro e o lobo” impressionou-me menos do que aquela primeira cena que eu
em algum lugar entre as faixas. Ela diz alguma coisa e ele tosse. próprio fiz. Mas eu já estava atraído pelos bonecos. Junto com escritor I. Fink, eu escrevi
um roteiro baseado no antigo conto russo “O velho e a garça” e o propus a Karanovitch. O
Estes desenhos animados ingênuos me fascinaram. Eu pensei como seria ótimo, se eu
movimento e a plasticidade já eram bem melhores do que em “Pedro e o lobo”, mas ainda
pudesse animar os meus próprios desenhos e caricaturas.
estavam longe da perfeição. Eu quero falar só de uma cena deste filme.
A guerra terminou e eu entrei no estúdio “Soyuzmultfilm”. Era junho de 1946. Os meus
Em um lago, há um barco parado próximo às margens. Um velho senta-se no barco. Fui eu
professores eram os principais animadores do país.
que filmei esta cena e fiz da seguinte maneira: entrando na embarcação, o velho empurra
Após terminar o curso, eu comecei a trabalhar na produção. Alexander Ivanov foi o o barco com o pé.
primeiro diretor com quem eu trabalhei. Ele era uma pessoa emocional, que sabia como
52 entusiasmar os seus colegas. Depois, eu trabalhei com as joviais irmãs Brumberg, com
Quando vimos a cena filmada no écran, ficamos muito impressionados, pois vimos um 53
personagem vivo, com o seu próprio caráter. Não era um simples boneco. Aquele traço
o valente Bredis, cuja técnica era ótima, com o calmo e sensato Sazonov e com o cordial
simples, e os movimentos do pé ficaram muito expressivos. Era uma “bicicleta” animada
Babitchenko. E, finalmente, com o misterioso Tsekhanovsky. Eu o chamo de misterioso,
que eu próprio havia inventado.
pois ele sempre guardava uma certa distância. Se todos os diretores ainda buscavam
uma estética própria ou, em outras palavras, estavam em fase de formação e na maioria O desenho é algo bem complexo e, muitas vezes o uso da imagem torna-se muito
das vezes apenas tinham diferentes personagens, Tsekhanovsky já havia criado o filme difícil. No desenho, tudo acontece de forma rápida. Por isso, uma rápida adaptação
“Correio”, considerado até hoje como um clássico da animação. do espectador à imagem ilustrada é essencial. O tempo necessário para o espectador
acreditar no que está acontecendo no écran e aceitar as regras do jogo.
Naquela altura, Tsekhanovsky era um grande adepto da técnica conhecida como
rotoscopia. Nesta técnica, as filmagens eram feitas com atores verdadeiros, os quais Em primeiro lugar, penso nas crianças. Elas são muito receptivas e entendem muito bem
com algumas modificações eram copiados para o papel, entrando desta forma no filme. a ideia transformada em ações dos protagonistas. Muitas vezes elas adivinham antes dos
Muitos amaldiçoam esta época, alegando que este método causou danos à arte da adultos, ou seria melhor dizer, preveem por que tudo acontece. Elas são muito sensíveis
animação. Talvez isto seja verdade, mas este método também era útil. A movimentação e às ideias falsas e composições estudadas. Em primeiro lugar, elas precisam ver a verdade
sonorização das filmagens contavam com a participação de grandes atores, tais como M. no cinema. Em um conto, em uma fantasia, nos cenários mais surreais, nas ações mais
Astangov, M. Ianshin, G. Vitsin, A. Gribov e N. Bogoliubov. Os animadores, transcrevendo extravagantes dos protagonistas as crianças sentem muito nitidamente a verdade.
as cenas interpretadas pelos autores para o papel, ficavam mais próximos aos mistérios
de arte cênica, gestos, articulações e movimentos. Isto não pode ser nunca subestimado.
Os seus cérebros, ainda sem muita experiência de vida, rejeitam a mentira e
elas não são capazes de se entusiasmarem por cenários falsos.
Em 1949, Lev Atamanov começou a trabalhar no estúdio e me convidou como seu
Tudo isto diz respeito à verdade no conteúdo do filme, ao cenário. Mas ainda existe, se assim
assistente. Eu aceitei o convite e nós fizemos três filmes juntos: “A cegonha amarela”, “A
podemos nos expressar, a verdade dos movimentos.
flor vermelha” e “O antílope dourado”. Em minha opinião, os dois últimos são os melhores
filmes de Atamanov. E obviamente, não digo isso porque estive envolvido. Todo o mérito é
do ótimo trabalho de direção e do bom roteiro, escrito para o filme “A Flor vermelha” por
G. Grebner e por N. Abramov para “O antílope dourado”. Além disso, estes filmes foram
O ator real, como qualquer pessoa real faz muitos movimentos “excessivos”, sem pensar Para mim, é difícil entender os cineastas que vão ao departamento de roteiros,
nisso. Você se senta em uma cadeira e arruma a sua roupa, em um mero instinto. Você se perguntando se havia algum novo roteiro. Eu acho que o encontro com um tema é como o
levanta da cadeira e sem pensar, involuntariamente, sacode as migalhas que ficaram na encontro com a mulher amada e acontece casualmente. Assim foi o meu encontro com o
roupa. Mas quando um animador dá vida a um desenho ou objeto, ele esquece isso. Ele roteiro do filme “A luva”.
esquece, porque neste momento ele movimenta somente o personagem. O personagem
Quem o viu primeiro foi Karanovitch. Chegou, dizendo que eu ia gostar do roteiro e que
parece um robô, mexendo sem movimentos excessivos ou detalhes vivos, e o espectador,
poderia fazer alguma coisa boa com ele.
inconscientemente, percebe que nesta cena não há vida. Se um ator real faz estes
movimentos involuntariamente, o espectador da mesma maneira, involuntariamente, Realmente, eu gostei do roteiro e comecei a trabalhar com a autora, Zhanna Vitenzon. O
percebe estes movimentos. primeiro roteiro era bem diferente da versão final. No primeira versão, haviam diálogos,
mas eu achava que seria também possível contar a história sem usar palavras.
Uma vez, os alunos de animação tinham que observar a seguinte cena: uma menina brinca
de amarelinha. Num desenho ela saltava melhor, em outro pior. Mas ela simplesmente Eu também compreendi que a música não deveria ser obrigatoriamente sincronizada no
saltava. E de repente, em uma das cenas, nós vimos uma menina real. Aconteceu o filme. Segundo minha experiência, a sincronização feita durante a pós-produção é mais
seguinte: levada pelo animador até o final da linha, ela virou-se para saltar de volta, e produtiva do que quando feita durante as filmagens.
neste momento jogou a trança para o outro lado, para que ela não a atrapalhasse a saltar. Quando o diretor trabalhava em um filme que seria sincronizado após as filmagens, o
Eu chamo estes detalhes e traços vivos de “incomodidades planejadas”. Eles devem trabalho de montagem era muito importante. Para que um compositor escrevesse a
existir em cada cena. Se um filme está repleto destes detalhes, o tempo de adaptação música sincronizada para um filme, eu precisava fazer cálculos, quebrando a cabeça,
será mínimo. É muito importante que o diretor e animador, a partir de um estudo preciso e determinar os momentos de destaque, com uma precisão de até dois quadros.
de encenação, pensem nas “incomodidades planejadas”. O compositor, limitado neste desafio, tinha que enfiar a sua musica neste espaço,
Quando Karanovitch e eu filmávamos “A nuvem apaixonada”, eu não podia aplicar a previamente calculado. A partitura voltava para mim como um bumerangue, e eu virava
minha “descoberta”, pois o filme foi feito a partir de objetos semi-dimensionais, com os refém desta música. Perdia a liberdade de montagem e de medir a duração do filme.
movimentos limitados. Trabalhando neste filme, eu tive a oportunidade de conhecer Nazim Em algumas cenas, tornava-se impossível mudar o tempo de movimentação. Tudo isto
Khikmet, grande poeta turco e uma pessoa muito simpática. Eu guardarei as conversas prejudicava a qualidade. Além disso, para o compositor é mais interessante escrever a
54 com ele para sempre na minha memória. música tendo a possibilidade de ver o filme. 55
Enquanto filmava “A nuvem apaixonada”, eu estava escrevendo o roteiro para o filme Houve uma época, quando se dava muita importância à sincronização. Um roteiro simples,
“Masha e o urso”, baseado na peça de G. Landau. uma história ingênua e a falta de personagens com caráteres diferentes e de psicologia
nos filmes eram compensados pela musicalidade e abundância de temas musicais.
Eu precisava de um diretor de arte e pedi um conselho a Vadim Kurchevsky. Quando ele
Muitas vezes, um longa-metragem é acompanhado por um tema musical, composto de
soube que eu precisava de um pintor talentoso, jovem e alegre, disse-me que conhecia
forma talentosa pelo compositor. Se este é o caso em um longa-metragem, o mesmo não
uma pessoa assim. E me apresentou a Nikolay Serebryakov. Realmente, Serebryakov era
se aplica em um curta-metragem.
um jovem simpático. E o mais importante, ele era talentoso. Ele realizou os esboços dos
cenários e dos bonecos. Quando os bonecos ficaram prontos, começamos as filmagens. Há ainda dois assuntos importantes a serem abordados quando um diretor começa a
No filme “Masha e o urso”, eu vivenciei uma experiência importante. As bonecas eram pensar em um filme ou começa as filmagens. Trata-se da questão do conto de fadas e da
pensadas e confeccionadas sem bocas e toda a importância durante a sincronização foi questão da diversão. O que me atrai em um conto de fadas, não é o lado fantástico, mas o
focada na gesticulação, que resultou bem expressiva no filme. Aqui, a minha experiência comum, aquilo que reconhecemos. E o humor. Ele é obrigatório, independente do conteúdo
de trabalho com o método da rotoscopia me foi útil. Os diálogos também foram bem de cada filme. E em um roteiro inspirado em uma história triste, o humor torna-se ainda
gravados. O papel do urso foi dublado por Anatoly Papanov, que era muito jovem na mais necessário. Há inúmeras possibilidades de fazer o espectador rir. Eu gostaria de dar
época. Após a primeira exibição, eu perguntei aos meus colegas o que eles acharam alguns exemplos dos meus filmes e explicar essas possibilidades.
da articulação e todos acharam bem sincronizado. O mais interessante é que ninguém Eu me guio, quase sempre, pelo contraste ou pela associação: o constaste de ações
reparou que os bonecos não tinham bocas. Graças a isso, eu compreendi que o mais da personagem com o seu caráter ou da desconformidade dos acontecimentos com as
importante na frase é o gesto. normas fixas.
A maestria na confecção dos objetos animados crescia a cada filme. Junto a eles, eu No filme “A luva”, o coronel demitido faz continência ao buldogue e mostra, de maneira
procurava um tema próprio. “O sapinho procura um papai”, “Como contruíram uma casa
para o gatinho” - todos esses filmes e, especialmente, “A netinha perdida”, foram uma
preparação para o filme “A luva”.
óbvia, que é submisso ao cão... orgulhoso da animação soviética e sinto uma grande responsabilidade. Tenho a sensação
que ainda não fiz o meu filme principal, que ainda não achei o meu caminho.
É muito importante que os personagens
façam tudo de maneira perfeita. Talvez isto seja ruim, pois, como sabemos, o mais importante é a descoberta e não a procura.
Qualquer exagero do próprio movimento,
Muitas vezes é no final da sua vida artística que um autor cria a sua obra “principal”.
qualquer comicidade elimina a
descoberta. Quanto mais sério for o Não devemos ficar tristes, pensando que é pouco. Somos muitos, e se cada um de nós
movimento, quanto mais o contraste fizer a sua obra, mesmo que seja somente uma, elas serão suficientes.
for sublinhado, mais cômica torna-se
a situação. Lembrem-se do mesmo
coronel, em “A luva”. Solenemente ele dá
o binóculo ao buldogue, o qual está em
uma pose muito séria e isto nos faz rir.
Nós fizemos três filmes sobre Tcheburashka e Guena: “Crocodilo Guena”, “Tcheburashka”
e “Shapokliak”. Não estamos com pressa em fazer a continuação.¹ Quando se filma uma
série, o próximo filme tem que ser sempre melhor do que o precedente. E isto é realmente
obrigatório, quando eles não são interligados somente pelo enredo.
Recentemente, recebemos a visita dos dois principais animadores dos estúdios de Walt
Disney: Ollie Johnston e Frank Thomas. Eles trabalharam mais de 40 anos nos estúdios e
são autores dos melhores episódios nos filmes mais conhecidos de Disney. Conversando
com eles, eu contei sobre o primeiro desenho animado que eu vi e sobre a história do
piloto. “Fui eu que pensei o personagem”, exclamou, de repente, Ollie Johnston.
Depois, ele me enviou uma carta muito simpática, dizendo que havia contado este caso ¹ - O texto do autor foi escrito no início dos anos 1980 e o livro de S. V. Asenin, A sabedoria da imaginação, foi
para os seus colegas e que estava muito contente por me haver “trazido” para o mundo da publicado em 1983. Em 1983, R. Katchanov realizou ainda o último filme sobre Tcheburashka: “Tcheburashka vai à
escola”
animação.
² - Em 1983, a população da URSS eram 271 milhões de habitantes
Quando eu imagino, mesmo que por um momento, o número de espectadores² que
assistem os nossos desenhos, fico com medo. Mas, quando eu vejo com quanto amor os
nossos filmes são recebidos, sinto uma gratidão pelo calor e atenção que recebemos, fico
andrey khrzhanovsky
diretor I roteirista
Nasceu em 1939, em Moscou. Realizou os seus estudos
de direção no Instituto de Cinema de Moscou (VGIK). A
partir de 1962, trabalhou no estúdio “Soyuzmultfilm”, onde
trabalhou com N. Orlova, N. Popov e G. Arkadiev, entre
outros. O seu filme, “A gaita de vidro” foi o primeiro filme de
animação a ser censurado na União Soviética. Premiado em
diversos festivais internacionais, Andrey Khrzhanovsky foi
condecorado como “Artista do Povo”, na Rússia, em 2011.
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Filmografia na mostra
A gaita de vidro (Stekliannaya garmonika)
URSS, 1968, 20 min
convincente, como se fosse uma testemunha. Pushkin se tornou o herói preferido dos
meus desenhos infantis. Eu adorava desenhar a boca vermelha de um africano e uma
Fidelidade ao caminho escolhido Andrey Khrzhanovsky farta cabeleira, cheia de caracóis que desciam até suíças.
Em um dos desenhos do duelo, eu, seguido por minha intuição e querendo livrar Pushkin
da morte, desenhei os adversários atirando para lados opostos. Ao encontrá-lo, trinta
Um dia, eu gostaria de fazer um filme que tenha tudo o que o poeta prometeu: anos depois, eu o utilizei no meu filme “O belo dia” (um filme realizado a partir de
“... terá tudo: o passado, desenhos infantis e baseados nos temas de Pushkin).
e o presente, Por que eu me lembrei destas historias? Para fazer uma confissão: eu compreendia a
as minhas aspirações e fundamentos, realidade como um arranjo artístico. Isto é bom ou ruim? Eu acho que é bom e ruim.
e o que vi na vida...” Para mim, este conceito era frutífero, porque me ajudou a enxergar a cultura como um
Neste filme, eu gostaria de falar sobre as pessoas, acontecimentos e obras de arte que processo atrelado ao desenvolvimento. Sem esta sensação, de fazer parte deste processo,
me influenciaram e afinal fizeram-me escolher a minha profissão. Eu não gostaria de eu não me imagino no cinema. Assim, sem a continuidade não pode existir um espírito
fazer isso porque me considero uma pessoa interessante ou a minha vida instrutiva, inovador. Esta sensação alimenta o meu interesse à cultura clássica, às construções
mas porque acredito, como Fellini, que “tentando contar sobre si próprio com a maior polifônicas, à criação (para uso individual) de vários micro-sistemas.
franqueza, é possível ajudar as outras pessoas a alcançar uma compreensão mútua...”. Concluindo as minhas lembranças da infância e com a predisposição de trabalhar no
Isto seria a maneira mais natural de expressão. Mas, por enquanto, direi algumas cinema, eu falarei dos dois interesses que surgiram nesta época.
palavras sobre mim e sobre o meu trabalho. Um deles é ligado à música. Tanto os meus estudos, quanto os meus estudos na área de
Algumas recordações. desenho, não me conduziram a continuar uma formação profissional no ramo (a música
agradece). Mas assim como a pintura me ajudou nas questões de compreensão do espaço,
As recordações mais vivas da minha infância estão interligadas com as artes visuais. a música aumentou o meu interesse em relação à duração temporária como uma das
Uma das primeiras é ligada diretamente aos trabalhos do meu pai, pintor por formação e principais substâncias da vida e da arte.
60 aluno de K. Malevitch e P. Filonov. Talvez não com as obras em si, mas com o processo de 61
trabalho, o fascinante cheiro de tinta, espremida na paleta ou guardada no estreito tubo Nesta época, o meu pai trabalhava no teatro de variedades, onde participava de comédias
dentro do álbum de estudos. de um ato e fazia espetáculos baseados na arte da imitação. Daí surgiu o meu amor pelos
espetáculos, que incluía o amor pela cena e pelos bastidores, pela variedade de gêneros
Na infância, eu também tentei pintar. Participei de várias exposições, sendo até premiado. típicoa desta época (final dos anos 1940/ início dos anos 1950). Em outras palavras, por
Mas eu não me tornei pintor. Eu compreendi agora, que não tinha a bravura e a obsessão tudo que me fazia pensar sobre a natureza carnavalesca da arte.
necessárias, componentes importantes ao talento. Eu gostava mais de simplesmente
observar do que de pintar. Eu acredito que a animação é a linguagem mais próxima da minha natureza artística,
que eu definiria como lírico-satírico. Creio que esta definição foi, em primeiro lugar,
Outra fonte de inspiração para mim era o armário de livros. Até hoje, ele está no meu influenciada pela literatura russa.
quarto, o velho, “muito respeitado” armário com os livros, que seria o “protagonista” de
um dos meus filmes. Gogol me impressionou muito. Espero poder leva-lo, um dia, ao écran.
No armário, além dos livros, nós guardávamos álbuns com reproduções. Em um grande O mesmo, posso dizer sobre a poesia de Maiakóvski.
livro azul, que continha quase toda a obra de Van Gogh, eu fiquei impressionado pelo L. Tolstoi, uma vez, falou que o seu principal problema era ter a imaginação mais viva
desenho de um velho escondendo o seu rosto entre os joelhos. Eu tinha a impressão que do que os outros. Este “problema”, também presente na minha família e nos grandes
ele chorava. pintores me cativava. Neste cativeiro, eu sentia uma liberdade maior.
O corpo do velho, a cabeça, as grandes mãos faziam-no parecer com o meu avô. Desde E, por fim, o destino me presenteou com a amizade de dois grandes satíricos: E. Garin e
então, sempre que eu olhava para o meu elegante e otimista avô polonês (um traço típico N. Erdmann. O contato com eles e com as suas artes determinou de uma vez por todas a
dos livreiros profissionais), eu me lembrava daquele velho. Era difícil de imaginar o meu direção do meu caminho, assim como o meu posicionamento.
avô em uma pose triste, com as mãos escondidas entre os joelhos. Mas eles faziam parte
Mesmo assim, foi o acaso que levou-me à animação.
do mesmo conto e uniram-se contra a minha vontade. Era um milagre de outra existência,
e esta se tornava realidade.
Outra lembrança vinda do “armário” era o livro “As anotações d`Arshiak”, de Grossman.
Eu conhecia a cena do duelo entre Pushkin e Dantes de cor e a contava de maneira tão
Terminando o curso de direção do Instituto de Cinema de Moscou (VGIK), eu recebi a
proposta de realizar o meu trabalho de conclusão de curso no estúdio “Souyzmultfilm”.
Devo ressaltar que naquela altura cada aluno deveria realizar uma filmagem. E como o
número dos diretores formados pelo Instituto chegava a trinta por ano, conseguir manter
esta condição era bastante complicado. Nós, que estávamos formando da faculdade de
direção, nos encontrávamos diante de um dilema: esperar anos pela sua vez em um dos
estúdios de cinema ou fazer o trabalho final sem perder tempo em um estúdio alternativo.
“Era uma vez Koziavin”, o meu primeiro filme, foi o meu trabalho de conclusão de curso.
Certa originalidade deste filme, apontada pelos críticos, foi o resultado da minha
inexperiência na questão da assim chamada especificidade da animação. De algum
modo, eu entendia esta especificidade, pois durante alguns meses, eu assisti os cursos
práticos de mestres experientes, tais como V. e Z. Brumberg e F. Khitruk. Mas as nossas
tarefas eram mais largas do que esta especificidade e, de alguma maneira, a ignoramos
conscientemente. Neste trabalho, eu e o diretor de arte Nikolai Popov, que também estava
fazendo o seu primeiro filme e por isso compartilhava comigo a liberdade virginal em
relação à tirania dos clichês, recebemos uma ajuda relevante do experiente animador
Anatoly Petrov. Ele também queria ultrapassar as barreiras das formas tradicionais.
Durante os trabalhos para o meu próximo filme, eu encontrei novos colegas talentosos: os
pintores Yulo Sooster e Yuri Sobolev e o compositor Alfred Shnitke.
Neste sentido, eu considero “A gaita de vidro” como mais um passo na luta (em primeiro
lugar, comigo) pela “nova visão” (expressão de Y. Tianianov). A livre construção da
composição e o uso de vários estilos tem um objetivo: uma expressão de forma livre e
completa e o equilíbrio entre a estrutura emocional e lógica.
O trabalho de animação pode ser comparado, pelo seu caráter pessoal e intimista, ao
trabalho de um pintor que trabalha com miniaturas ou de um poeta.
A animação, em uma linguagem ampla e lacônica, é o caminho mais curto para atingir tanto
as emoções quanto o consciente do espectador. Eu creio que, se alguém tentasse modelar o
processo de pensamento no cinema, a linguagem da animação seria a mais apropriada.
yuri norstein
diretor I roteirista I animador I pedagogo
Um dos principais nomes da animação contemporânea, Yuri
Norstein nasceu em 1941e frequentou a Escola de Animação
do estúdio “Soyuzmultfilm”, onde trabalhou entre 1961 e
1989. Com diversos filmes realizados em uma parceria
com a sua esposa, Francesa Yarbussova, Yuri Norstein
também colaborou Roman Fatchanov e Ivan Ivanov-Vano,
entre outros. Em 1993, junto com Fiodor Khitruk, Andrey
Khrzhanovsky e Eduard Nazarov, criou a esolca-estúdio
Shar. Vencedor do Prêmio Estatal da URSS, Yuri Norstein foi
condecorado “Artista do Povo”, na Rússia, em 1996.
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Filmografia na mostra
A batalha de Kerzhenets (Setcha pri Kerzhentse)
URSS, 1971, 10 min
Direção I Yuri Norstein e Ivan Ivanov-Vano
Ivan Ivanov-Vano, um dos nossos mais antigos diretores,
me convidou para ser o co-diretor do filme “A batalha de
A raposa e a lebre (Lissa e zaiats)
URSS, 1973, 12 min
Kerzhenets”. Nós utilizamos a música de Rimski-Korsakov
e a nossa ideia era unir o som e a plasticidade visual. Era A garça e a cegonha (Tsaplia i zhuravl)
um trabalho colossal e não se tratava de uma ideia formal. URSS, 1974, 10 min
Não queríamos simplesmente fazer conexões coloridas
com a música. O objetivo era alcançar um efeito emocional O ouriço no nevoeiro (Ezhik v tumane)
URSS, 1975, 10 min
para as imagens. Através de uma mistura de cores,
tentamos dar um desenvolvimento dramático às imagens. Conto dos contos (Skazka skazok)
“A batalha de Kerzhenets” é uma tentativa de unir a cor ao URSS, 1979, 29 min
ritmo e à música.
Yuri Norstein e Franceska
Iarbussova
Eu não creio que o meu trabalho com Francesca Iarbussova possa ser um exemplo para
outros artistas. Um dia, eu estava vendo algumas gravuras japonesas. Em uma delas, eu
vi uma mulher sentada com um galo, o qual tinha a cabeça ao lado do rosto dela e o seu
enorme bico quase lhe tocava os olhos. Eu estava perplexo. O que é isso? Franchesca me
contou que quando ela tinha quatro anos, ela gostava de entrar nos galinheiros. Ela ficava
de cócoras e permanecia quietinha até que as galinhas achassem que ela era uma delas.
Elas começavam a rodeá-la, examinando-a. Ela me contou que o galo, com o seu bico
enorme, começava a limpar os seus cílios.
Franceska me fez sentir uma comoção, mostrando como de uma crisálida nasce uma
borboleta. Ela trouxe um grande molho de urtiga coberto de lagartas para casa. Elas se
espalharam pelo quarto. Dentro de alguns dias, por todo lado apareceram as crisálidas.
Em um belo dia, Francheska diz: “Agora, desta crisálida virá uma borboleta”. Eu fiquei
olhando, olhando, olhando e, de repente, as batentes da crisálida se abriram e fecharam.
Meu coração começou a bater forte de tanta emoção. É uma visão cósmica. Você é
testemunha do surgimento de uma nova vida. As pétalas da crisálida se abriram e ficaram
sem mexer. Tudo estava em silêncio. Através da abertura das conchas, apareceram as
asas molhadas. Elas eram enrugadas, como o corpinho de um bebê, acabado de sair do
66 ventre materno. Finalmente, a recém-nascida saiu da crisálida. O que aconteceu depois 67
foi um espetáculo. Observar como um novo ser, lentamente, se enchia de tempo. Tudo,
na vida humana, acontece no espaço de dois ou três anos, aqui acontecia em horas. A
borboleta encheu os vasos com resina. A resina ficou sólida, as asas se enrijeceram,
como sob o vento. Elas eram incrivelmemte limpas, ainda com pólen. As asas ainda não
mostravam os buracos causados pela força do vento. As asas, duras, tremiam um pouco
e depois começaram a mexer. Assim o avião verifica o motor e o volante antes de chegar Frame de “O conto dos contos”
à pista de decolagem. “A borboleta se prepara para o vôo. Ela está secando as asas.”,
comentou Franceska. Ela previa cada movimento da borboleta, porque na infância as Às vezes ela não alcança o meu ritmo, as minhas exigências, e eu fico com a impressão
cultivara por todo lado. Eu acho que ela própria, um dia, foi uma borboleta, um cardo, uma que ela está com preguiça ou não consegue chegar ao estado necessário da criação. E
flor... Como a protagonista de Marquez, ao redor da qual sempre adejavam as borboletas. afinal, quando ela alcança a temperatura criativa necessária, a tensão cai e temos que
Franceska sente muito bem o mundo que cresce, floresce e respira. Ela realmente o começar tudo do zero.
conhece como os artistas renascentistas. Ela é um mistério para mim. Quanto mais eu a Mas eu nunca conseguiria fazer um esboço com a sua força, como ela é capaz de fazer nos
conheço, menos a conheço. Em uma longa vida conjugal isto é ótimo, sem dúvida. Mas como seus melhores momentos de devaneio artístico. As suas revelações me impressionam.
nós somos ligados um ao outro pelo trabalho, as relações tornam-se mais complexas. Muitas vezes, em meia hora ela passa do estado de uma pessoa incapaz de pensar,
Pode parecer que a nossa união seja uma união feliz. Estamos juntos também quando ao estado da mais alta tensão de um pintor profissional. Para mim, trata-se de uma
não trabalhamos. Torna-se mais fácil discutir o que estamos fazendo e alcançar algum inspiração mágica...
resultado nas nossas disputas “ardentes”. Mas acabamos atrapalhando bastante um ao
outro. A dependência familiar entra diretamente em conflito com o processo artístico.
dos dois como roteiristas. Roman Katchanov é um ótimo diretor. Os seus filmes “A Luva”,
“Crocodilo Guena” e “Tcheburashka” são obras primas da animação mundial. Eu posso
Extratos de “A neve na grama” Yuri Norstein chamá-lo de professor. É um homem de uma bondade eterna, de muito tato. Sabe usar
perfeitamente os detalhes do jogo. Eu não exagero em dizer que Roman Katchanov criou
a sua própria escola de movimentação na animação de objetos (animação de bonecos). Eu
O roteiro do filme “A Garça e a Cegonha” é bastante simples, e em minha opinião, lembra acho que sem ele, eu não viraria diretor.
o universo poético de Tchekhov e Gogol. Não estou usando a palavra poesia por acaso. Voltando ao roteiro, podemos dizer que enquanto uma frase é consecutiva, o
Trata-se de uma história simples: dois personagens que não podem fazer as pazes e ficar
cinema é, simultaneamente, consecutivo e paralelo. É o seu fenômeno.
felizes, porque ambos têm medo de ser humilhados e por isso, tentam mostrar a sua
independência e superioridade. Uma história humana e não um mero conto animal. E aqui Por isso, o sentido de construção no cinema e na literatura é distinto. No cinema, nós
começaram todos os problemas. Eu pressentia, porém não adivinha que seria tão difícil. percebemos a ação em várias camadas: som, cor, luz... Que riqueza de percepção! Neste
Eu li este conto na infância e depois eu o li para os meus filhos. sentido, o cinema apresenta grandes vantagens em comparação à literatura. E mesmo
assim, a literatura é a forma de expressão autoral e de anotação imaginativa e metafórica
Porém, eu só senti o desejo de filmá-lo quando mais potente e sólida. Aí reside a sua grande força. Pelo conjunto de sinais e sons,
eu comecei a ficar perseguido pelo barulho de repetimos a realidade na consciência.
grama, pelo barulho dos juncos dos rios. Pode-
se achar estranho, pois trabalhando com artes Na consciência, a realidade inventada é
visuais, foi o som que me causou um impacto, sempre mais forte do que na vida. Nela,
levando à criação do filme. somos livres da dependência física.
Depois, ainda antes de começar a escrever o roteiro, eu imaginei uma cena: a garça e a
cegonha imitam um a outro. Uma fala: “Toma!”, e a outra responde: “Toma você!”. Eu ainda A palavra é o intermediário entre a realidade e nós. A palavra é a moeda de troca da
não sabia onde colocaria esta cena no filme. Mas eu fiz a desenhei. Posteriormente, eu realidade. E o mais importante: a realidade é representada pela palavra, quer dizer, pelo
68 escrevi algo parecido com o roteiro, apesar de não poder chama-lo de roteiro. Resumia-se sinal através do qual ela se revela. 69
a algumas simples ações, nada mais do que isso. O tempo todo, eu estava preocupado em No cinema, a realidade é apresentada pela realidade. Aqui, faz se necessário um esforço
não mostrar uma mera história de dois animais. Ao contrário, o foco da história deveria do autor para ultrapassá-la. A força da linguagem cinematográfica e, ao mesmo tempo,
ser a natureza humana. Finalmente, o roteiro foi escrito por Roman Katchanov. E a partir a autenticidade têm um grande significado no caminho rumo à perfeição espiritual da
daí, realizei os filmes com os meus esboços. Nos créditos do filme aparecem os nomes obra cinematográfica e, consequentemente, de nós próprios. A palavra é a linguagem que
nós usamos. E não nos comunicamos na língua cinematográfica. É o primeiro sistema de
sinais entre os animais. Talvez, sob a pressão da televisão, algo acontecerá nos nossos
conscientes. Por enquanto, nós estamos somente perdendo o hábito de falar. Já não
somos mais capazes de expressar o nosso pensamento de forma correta, imaginativa e
rica. Estamos ficando preguiçosos. O cinema nos faz passivos. Lendo uma obra literária
temos que passar um caminho esgotante de imersão no texto. O cinema, por princípio,
nega este caminho. Os filmes, nos quais o trabalho de imersão na imagem, na ação e
na linguagem cinematográfica se faz necessário, não passam o critério de “cinema”.
Assim, muitas vezes, a percepção do espectador não corresponde aos critérios do autor.
Podemos lembrar-nos das salas vazias nos filmes “A noite de Cabiria” e “A ilha nua”.
Casos de convergência entre a verdade artística e o sucesso junto aos espectadores
acontecem raramente. Eles acontecem quando a sociedade é abalada pelo acontecimento
histórico retratado pelo artista.
Já desaprendemos a nos
surpreender com o dia a dia, por
isso, exigimos da arte pratos mais
apimentados.
72 73
Filmografia na mostra
A Vaca (Korova)
URSS, 1989, 10 min
A Sereia (Rusalka)
Rússia, 1996, 10 min
entrevista
fragmento que nos faltava. Comecei a filmar e, de repente,
deu certo. Eu levei este material para o estúdio e nele
Com A. Petrov havia algo especial. Ainda não tínhamos nenhum material
por Elena Dolgopyat concreto, mas havia uma poesia própria. E, enquanto eu
filmava, Volodya Petkevitch veio até mim, e perguntou-me
o que eu fazia. Ele disse que Platonov havia escrito algo
parecido. Ele conhece bem os contos infantis de Platonov e
O seu primeiro trabalho individual, “A vaca”, é baseado no conto me trouxe o livro. E imagine! Era o que eu procurava. Mais
de Platonov. Por que Platonov? simples e menos intelectual do que tudo o que eu havia
A.P. Antes ainda de realizar o filme “A vaca”, eu fiz um criado, ele ia diretamente ao ponto. Eu desfiz-me de todas
filme baseado em Platonov, em colaboração com Vladimir as minhas dúvidas e comecei a filmar. Não filmei todo o
Petkevitch. De maneira geral, ele foi o responsável pelo conto de Platonov. Eu excluí um grande episódio: a parte
meu entusiasmo com Platonov. Nós fizemos o filme “A cotidiana do conto, o qual me pareceu menos importante.
noite”, do qual eu gosto muito. Cerramos os dentes e Concentrei-me no aspecto místico da obra.
quebramos a cabeça, mas hoje, eu posso garantir que não
me senti, neste filme, como um apêndice. Eu não quero
Todos os seus filmes são adaptações
falar mal do trabalho de direção de arte, mas neste filme,
literárias, exceto “A sereia”...
de repente, eu me via em cada detalhe. Eu me reconhecia
neste lugar e, provavelmente, havia nascido para isso. A. P. “A sereia” também é uma adaptação.
E é quase impossível adivinhar de onde
Com “A vaca” foi tudo diferente. Primeiro, eu fiz um roteiro
ela foi adaptada. Tudo começou com “A
baseado em um fragmento de uma obra de Vassily Belov.
74 pobre Liza”. Também é um trabalho dos 75
Um fragmento sobre uma vaca, a qual deverá ser abatida no
meus anos de estudos. Como você vê, os
dia seguinte. Uma situação dramática, pois a proprietária
anos de estudos nos trouxeram algumas
faleceu, e ninguém poderia sustentá-la. A vaca não sabe,
ideias, que apareciam para, logo em
porém pressente o seu fim próximo e recorda a sua vida.
seguida, desaparecer, morrer ou serem
Essas recordações tocaram-me. Eu tentei realizar um
guardadas em algum “armário”. “A pobre
roteiro sobre isso, ainda
Liza” foi apenas uma ideia passageira.
quando era estudante, Frame de “Sereia” Nasceu a partir de um exercício, feito por cada estudante.
na Escola Superior de
Era necessário escolher entre três ou cinco temas:
Roteiristas e Diretores.
“Mumu”, os contos de Tchekhov (se não me engano, “A
Tínhamos a seguinte tarefa:
dama e o cachorrinho”) e ainda algum outro tema. Cada
criar um roteiro e então,
estudante podia escolher o seu tema preferido e deveria
filmar um fragmento de
criar não um, mas três roteiros, com três interpretações
um ou dois minutos. Assim,
do conto: uma comédia, uma tragédia e um melodrama.
nasceu “A vaca”.
O exercício era interessante, proporcionando, a muitos,
Eu a torturei por muito inúmeras descobertas. Sinceramente, era difícil realizar
tempo, pois não sabia o que as três versões. Eu consegui, com muito custo, concluir
fazer. Em paralelo à história somente uma versão e meia: a tragédia e a comédia.
da vaca, de Belov, eu criei Elogiaram-me por este trabalho. Eu não fiz nenhuma
a história do menino. Às alteração e guardei-o em uma pasta. Não me lembro como
vezes, ele é pequeno e vai
Frame de “A vaca”
até ela para beber leite, às vezes, já é grande e vai até
ela com um pedaço de pão. Criei diversas situações. Nós
eu o encontrei novamente, seis anos após a conclusão dos de maneira intuitiva. Não é possível
meus estudos. simplesmente decidir que o personagem
Eu examinei, reli o cenário e pensei: “Pode virar um bom será de tal jeito e que o protótipo dele
desenho. Era preciso enviar um projeto ao Goskino”. Eu o será tal pessoa. Isso nunca aconteceu.
fiz, e ele foi aceito. Eu tinha dúvidas, mas eles decidiram É sempre o resultado de uma procura,
positivamente: podia-se fazer um filme a partir do roteiro onde no final espera-nos uma
proposto. Ele não era mal, mas disso a um filme... Ontem, descoberta ou uma frustração. Depois,
eu vivi a seguinte situação: Em frente da minha janela, de repente, vem uma ideia: e se eu
havia uma macieira. Eu queria desenha-la e, ainda no tentar assim... Ou algum personagem
inverno, havia realizado alguns estudos. Eu não desenhava desenhado começa a lembrar-me
nada, sem ter realizado esboços prévios. No entanto, Frame de “O velho e o mar”
alguém conhecido. Mas nunca aconteceu
quando eu estava pronto para desenhar esta macieira, um simplesmente por minha vontade própria. Posso até dizer
vento forte passou e a derrubou. E, de repente, diante dos que eu nunca percebi este momento conscientemente.
meus olhos, toda essa beleza encontrava-se no chão. Eu me lembro de começar a convencer o meu operador de
câmera, Serguei, a ser o meu “homem ridículo”, quando
já havíamos realizado o filme. O personagem já existia e
Você tem uma escrita realista. Por que a animação e não o
se movimentava. Nós filmamos algumas cenas e eu sentia
cinema?
que havia algo errado. Eu tinha diversas fotografias. Após
A. P. Já me fizeram essa pergunta e eu respondi alguma examiná-las, escolhi a fotografia de um jovem, proveniente
meia verdade, para esquivar-me. Na verdade, eu de uma familha camponesa. Tinha algumas fotografias...
simplesmente não sei. Provavelmente, eu não realizo filmes Mas, ou eu não podia enxergá-las, ou não tinha fotografias
para falar sobre eles, mas para que eles possam levar-nos suficientes... Não sei como, mas eu abordei Serguei.
ao mundo dos sonhos. Até essa esfera, na qual é impossível
76 filmar com uma câmera ordinária, na qual tudo acontece na
Foi uma grande sorte, que eu pude finalmente enxergá-lo, 77
apesar de ele ter estado todo o tempo ao meu lado. Não
imaginação, de onde também tudo emerge. Isso é o que já
teria sido necessário tanto sofrimento. Subitamente, eu
podemos chamar de objeto de animação, ou seja, algo que
compreendi que ele poderia me ajudar. Eu pedi-lhe para
não existe na vida real. É como se todos os meus desenhos
servir como modelo para a animação, pedi-lhe para filmar
da vida real são uma mera moldura para mostrar a minha
algumas cenas. Convidamos ainda uma menina e eles
fantasia ou para penetrar o universo dos sonhos.
atuaram juntos em algumas cenas, as quais poderiam
Para mim, os sonhos têm significados. Os sonhos, a ser usadas para o filme. Por que eu fiz isso, eu próprio
fantasia e todo este mundo paralelo, que existem ao lado não sei. Eu simplesmente o vi com aquela boina. Ele fazia
da nossa vida cotidiana e que parecem muito com a nossa parte daquela época. O seu rosto e o seu caráter eram
vida real. Eu até mesmo tento não opor estilisticamente exatamente o que eu buscava. Podemos dizer que foi uma
o sonho e a realidade, desenhando somente a realidade. feliz coincidência. E, graças a Deus, ele finalmente aceitou,
Eu me esforço para que as transições nos meus filmes pois no início ele tinha dúvidas e chegou até mesmo a
não possam ser percebidas, a fim de levar o espectador, recusar categoricamente.
inconscientemente, até essa esfera superior.
Mas há também situações, nas quais eu encontro um
personagem nos meus desenhos, e tenho a impressão
Alguns dos seus heróis foram feitos a partir de protótipos. O que ele vive. Foi assim com o velho, no filme “A sereia”.
protótipo do menino, no filme “A sereia” foi o seu filho; o velho, Eu procurei um velho, porém não o encontrei na vida real.
em “O velho e o mar”, o seu sogro. Você precisa conhecer bem Também tinha diversas fotografias de diferentes velhos:
a pessoa que inspirará os seus personagens ou basta apenas um monge, um pintor e algum outro. Todos barbudos
um olhar?
A. P. Sem dúvida, é melhor conhecê-la. Eu não sei como
isso acontece. Algumas vezes, acontece completamente
e diferentes. Eu tentei colocar todas essas pessoas na uso da computação. Sobretudo, não me convenceram
mesma medida. Em todo caso, ao assistir o filme, é que o resultado será melhor. Obviamente, o trabalho é
possível perceber que o velho é diferente nas diversas gigantesco. Passo muito tempo para criar uma ilustração
cenas. Em algumas, ele é como Lev Tolstói; em outras, sintética, que pareça uma pintura. Talvez, eu gastaria
como Dostoievsky; em outras como Serafim Sarovsky. Em menos tempo e energia se esta parte fosse realizada
outras ainda, recorda o padre Serguei. Não encontrei uma por outro artista, com o auxílio da computação. Mas
única ilustração para o personagem. eu lamentaria deixar esta parte do trabalho. Estou
acostumado e sem ela, tudo me pareceria monótono.
Sim, podemos falar de muitas pessoas que encontramos Eu achava que se Dostoiévski acreditava que a obra de
ao longo da vida. Às vezes, vemos certa pessoa uma única Claude Lorrain correspondia a este ideal, eu deveria
vez na vida, mas é o suficiente para, em algum momento, colocar os seus quadros ao meu redor. No entanto, no filme
entendermos algo sobre a vida, sobre o nosso lugar nela e não há nenhuma referência ao estilo de Claude Lorrain. Eu
sobre a arte. acho que não é necessário utilizar o estilo de um artista
para transmitir pensamentos e ideias. Tento inventar
O mais importante, provavelmente, é o contato com colegas
imagens, sinais, símbolos, composições. É muito mais
e o diálogo com os estudantes. É importante estar e
interessante. Contudo, “O Sonho de um homem ridiculo”
aprender com eles, sentir como eles crescem ao seu lado.
Talvez seja possível evitar as instituições e a educação, e
permanecer solitário. De alguma maneira, isto pode até
ser melhor do que uma educação organizada. Mas eu,
é um manual visual. Nele, encontram-se todos os meus Norstein. Ele também falou sobre a falta da dinâmica
artistas favoritos: Rembrandt, Goya, Bruegel. Estão todos da ação. Isto também parece preocupá-lo. Um filme não
presentes, mas sem utilizar citações diretas. pode simplesmente contar fatos históricos. Ele precisa de
vida, de ação. Precisa de um caleidoscópio de imagens e
quadros. E se não há uma faísca no momento da leitura, é
O que mais lhe ajuda no seu trabalho?
melhor deixar esta ideia.
A. P. Eu não leio sem parar. Já vive assim, mas este período
passou. Eu leio lentamente. Não aprendi a ler rápido.
Tampouco tenho problemas com essa nova geração que não
lê. Eu leio tudo o que pode ser útil para os projetos atuais
e futuros. Na verdade, eu gosto de ler durante o processo
de criação de um filme. Leio tudo o que encontro no meu
caminho: jornais, revistas... Tudo é valido. Percebi que eles
colaboram com o filme. Neste processo, você se encontra
em um estado tão inquieto, que tudo o que passa por você é
filtrado através desta inquietude. Às vezes, isso é útil.
A criação de um filme é um processo muito demorado.
Durante um ou dois anos você vive com o mesmo
pensamento. Você dorme e acorda com ele. Toma chá
e trabalha com ele. Vive todo o tempo sob o seu olhar
fixo. Neste momento, a leitura torna-se um processo
consciente e útil.
82 83
Você tem desenhos e esboços do “Grande Inquisidor” ...
A. P. Eu ainda tenho esta ideia. Para dizer a verdade, eu
tenho medo de realizá-la. Naquela altura, quando eu era
jovem, eu achava que podia realizar qualquer ideia e que
conseguiria fazer tudo. Hoje em dia, eu não arriscaria. Eu
entendi que Dostoiévski não é nada fácil. Eu sabia que ele
é um escritor bastante complicado para a animação e para “A sereia”
o cinema.
“O Sonho de um Homem Ridículo” é um conto bastante
dinâmico, com uma intriga e ações que podem ser
representadas. Há várias cenas que ganham visualmente.
“A Lenda do Grande Inquisidor” começa de uma forma
intrigante e interessante: Espanha, século XVI. Os hereges,
a Inquisição, incêndios e outros fatos. A prisão, onde
se encontram o Grande Inquisidor e Jesus Cristo, que
voltou à terra novamente. Depois, há um diálogo bastante
complicado. Não é um diálogo, mas um monólogo. Jesus
não fala uma palavra, somente o Grande Inquisidor fala.
Na literatura, isto foi feito de maneira brilhante. Há uma ¹ - Sverdlovsk, hoje Ekaterinburg.
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Filmografia na mostra
A história de Sara (Skazka Sari)
Rússia, 2006, 6 min
Brutus (Brut)
Rússia, 2014, 13 min
entrevista
Yuri Norstein
Ponto de partida Revista “Nostalgia” n 1, 2007
Com S. Filippova
por Elena Gubaidulina para a Revista Psychologies
Sveta Filippova mostrou-me um roteiro: “Um zelador morava com os seus pertences em
um cômodo apertado. No final do inverno, nevava intensamente. A neve caía durante toda
a noite. Era uma vingança da neve por todo o esforço do zelador para manter limpas as
ruas. O zelador estava deitado com o seu chapéu, embaixo do coberto e tinha um olhar
Como surgem as ideias para os seus filmes?
perplexo. A neve batia freneticamente na janela. O zelador ainda permaneceu deitado
até que, de repente, jogou longe o cobertor, permanecendo deitado. Ele estava vestido S.F. Vou contar uma história. Eu estudei na Escola Superior
e segurava nas mãos uma pá de madeira, que repousava sobre o seu peito”. Neste de Cineastas e Cenaristas, na faculdade de direção de
momento, eu comecei a rir. É um detalhe curioso e engraçado: um zelador que dorme animação. Yuri Borisovitch Norstein nos deu a seguinte
com uma pá nas mãos. O que nos resta na vida e o que nos une? O que torna a realidade tarefa: inventar o despertar de uma pessoa, e através de
mais leve, transformando-a em metáfora? Somente a memória. Ela nos obriga a trabalhar detalhes, mostrar o caráter deste personagem. E deixou-
a partir das nossas experiências anteriores. O zelador dormia toda a noite vestido, pois nos na sala de aula por duas horas. Eu me lembro de olhar
estava sempre pronto para enfrentar a neve. pela janela e ver a neve que caía lá fora. E pensei: como
é bonito para nós, espectadores, ver a neve caindo, mas
Quantas vezes Sveta “despejou” inúmeras possibilidades no desenho? Quantas vezes, no como é difícil para quem tem que limpa-la. Eu desenhei
seu roteiro, o zelador não saiu da sua cova confortável rumo ao espaço aberto? Cada vez algumas cenas, nas quais um zelador dormia vestido,
de maneira diferente. Quanta neve (desenhada) o zelador não limpou, somente para voltar com uma pá embaixo do travesseiro. E como na guerra,
ao seu leito para, em seguida, levantar-se novamente e reiniciar o trabalho, somente para estava sempre pronto para a batalha com a neve. Esse foi o
que ela pudesse amadurecer o personagem e retirar novos detalhes da neve? Eu sempre primeiro desenho que eu mostrei a Norstein. O desenho me
86 repeti a mesma frase: ao achar um novo detalhe, é necessário limpar novamente todo o parecia pobre, e eu sentia vergonha de levá-lo a sua mesa.
87
cenário, para compreender como este novo detalhe influencia o tempo da imagem. Sveta Estava certa que ele me expulsaria do curso por falta de
concluiu a Escola Superior de Cineastas e Cenaristas, foi premiada internacionalmente aptidão profissional. E, de repente, Yuri Borissovitch deu
com o seu trabalho de conclusão de curso, deu à luz a gêmeos. E o seu zelador continuava uma gargalhada. Algo neste zelador com a pá parecia-lhe
a retirar a neve, em uma briga eterna. E nunca conseguia deixar a cidade livre da neve. engraçado. A partir deste episódio nasceu o meu filme “A
De volta à Rússia, Sveta realizou ilustrações maravilhosas para alguns livros de Ludmila história de Sara”.
Ulitskaya, enquanto o zelador continuava a dormir segurando a pá de madeira. E a neve
caía, caía, enquanto as crianças cresciam, cresciam. E tudo terminou quando a sua filha
pegou o material do cenário e escreveu um novo conto. O filme passou a chamar-se “A
Esboços de “A história de Sara” Neste filme surpreendente, o mundo é visto através do olhar de
história de Sara”. uma criança. Observar os seus filhos ajuda-lhe no trabalho?
S. F. “A história de Sara” não existiria se eu não tivesse
Eu assisti o seu filme “A história de Sara”. Não se trata, obviamente, de uma campanha
filhos. Os meus filhos nasceram logo após a conclusão dos
com o título “Precisamos de trabalhadores para limpar o território”, mas eu ouvi o
meus estudos como diretora e animadora e as filmagens
sussurro do meu neto de seis anos: “Mamãe, eu também quero pegar uma pá para retirar
tiveram que ser adiadas por vários anos. Eu os eduquei e os
a neve”.
observava. Nas horas vagas, desenhava cenas para futuros
filmes. O resultado, porém, não me satisfazia. Os finais
me pareciam previsíveis e planos. Os meus filhos pediam-
me para ver o material desenhado e eu lhes pedia para
contar uma história a partir dos desenhos. Sara, que tinha
cinco anos, me contou uma história, inventando um final
completamente inesperado. E eu compreendi que deveria influência de Pirosmani. Depois, a sua chegada à cidade. Já
fazer o filme a partir da sua história e colocar o seu nome se trata de uma estética completamente diferente: Chagall,
no título do filme. Tanto o meu filho quanto a minha filha Tchekriguin, Mansurov, Labas, Gontcharova, Larionov.
ajudam-me no meu trabalho. Eu lhes peço para desenhar Vendo este trabalho no Festival Krok (Festival Internacional
algo, e estes desenhos sempre mostram outro olhar na de Animação Krok), um produtor francês
composição geral e nos protagonistas dos filmes. Estes pediu-me uma ideia para um próximo
desenhos muitas vezes servem como ponto de partida para filme.
os meus filmes.
Esboço de “Brutus”
94 95
Bibliografia
Assenin, Serguey. Mudrost Vimisla. Mastera multiplilkatsi o sebe
i o svoem iskusstve. Moskva: Iskusstvo, 1983
r e n t e! Viu? 97
o de t r ás pr a f . Mas
m inglês os
ie o li v r b o o k , e
o” é flip s r uss
Folhe essa “técnica de aneimcainçeã-livro, assim cuotmivoisomo russo,
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O nome hamar t ambém
d do cons t t an t e .
e m o s c p o , n o período essan te e impor ce?
po d t em t er Conhe
á muito muito in
f aziam h e n t o a r tís tico
um movim
VAMOS
TENTAR? SSO A
A A S E G UIR O PA -SE!
VEJ DIVIR TA
PA S S O E
Pense na história que você quer contar e no
personagem (ou personagens) que ela terá
1 dica
Agora que você está começando
escolha formas mais simples!
2
um pronto. Para fazer o bloco é só
cortar folhas A4 em pedaço menores
e grampear
dica
Para fazer 1 segundo de animação
você vai precisar de 12 a 24
desenhos!
3
98 pequenas alterações na forma e
posição para fazer o movimento que
você pensou, um em cada folha
dica
Os profissionais trabalham sobre
uma mesa de luz, assim é possível
ver o desenho anterior e saber onde
você deve alterar a forma. Mas você
pode usar o vidro de uma janela da
sua casa. Ela funcionará como uma
mesa de luz!
LHA
E S TA Q UE A F O E
D E US
E N T E A O L A DO DA
AR OS
T R A NSP E R OS DE SE NH Ã O!
FA Z MAÇ
PAR A SU A A NI
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