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MARCUSCHI, Luiz Antônio. Oralidade e letramento como práticas sociais.

In: ______
DIONÍSIO, A. P.(orgs.). Fala e escrita. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 31-55.

Oralidade e letramento como instrumentos de mudança da sociedade

Karina Bonisoni de Oliveira – UFRRJ¹


O presente trabalho trata-se de uma resenha sobre o texto Oralidade e letramento como
práticas sociais, de Luiz Antônio Marcuschi, que constitui um dos capítulos do livro Fala e
escrita, organizado pelo já citado, Marcuschi e Ângela Paiva Dionísio. Na obra, esses e outros
autores nos presenteiam com oito capítulos que abordam temas voltados para as questões de
fala, escrita, oralidade e letramento.
O primeiro capítulo é intitulado Princípios gerais para o tratamento das relações entre a
fala e a escrita e foi escrito por Luiz Antônio Marcuschi (Doutor em Filosofia da Linguagem,
em 1976, na Alemanha, fez Pós-Doutorado em Freiburg sobre problemas de língua escrita e
oral e Angela Paiva Dionisio (Formada em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, possui
mestrado e doutorado em Linguística). O segundo é Oralidade e letramento como práticas
sociais de Luiz Antônio Marcuschi, de que trata esta resenha. O terceiro é A oralidade no
contexto dos usos linguísticos: caracterizando a fala, também de Marcuschi. O quarto capítulo,
A escrita no contexto dos usos linguísticos: caracterizando a escrita, escrito por Luiz Antônio
Marcuschi e Judith Hoffnagel (Ph.D. em Antropologia pela Indiana University em 1978, fez
Pós-Doutorado em Antropologia Linguística na University of Texas). O quinto é Estratégias
de textualização na fala e na escrita, de Angela Paiva Dionísio e Judith Hoffnagel. O sexto
chama-se Formas de observação da oralidade e da escrita em gêneros diversos, de Marianne
C. B. Cavalcante e Beth Marcuschi Professora de Linguística e Língua Portuguesa no
Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas na UFPB e da Pós-graduação em Letras da
UFPB). O sétimo, As relações interpessoais na produção do texto oral e escrito. De Cristina
Teixeira V. de Melo (Jornalista, Doutora em Linguística pelo Instituto de Estudos da
Linguagem da Unicamp) e Maria Lúcia F. de F. Barbosa (Doutora é em Linguística pela UFPE).
E, por último, Multimodalidade discursiva na atividade oral e escrita, de Angela Paiva
Dionisio. O livro também possui uma Apresentação, Referências e uma parte que faz um breve
resumo da carreira dos autores. Os capítulos são divididos ao longo de 205 páginas. O texto
objeto deste trabalho encontra-se entre as páginas 31 e 55.

1. Professora de Língua Portuguesa na SEEDUC-RJ. Graduada em Letras pela Universidade Estácio de Sá.
Especialista em Docência no Ensino da Língua Portuguesa na Educação Básica pelo Programa de Residência
Docente do Colégio Pedro II. Mestranda no Programa de Mestrado Profissional- PROFLETRAS pela UFRRJ.
O autor inicia o capítulo relembrando a diferença entre "fala" e "escrita", sendo a primeira
utilizada para designar formas orais do material linguístico e a segunda as formas de
textualização, deixando claro que fala e escrita são aspectos organizacionais da língua. Já,
oralidade e letramento referem-se às práticas sociais. A oralidade é citada como "habilidades
da língua falada" (STUBBS, 1986), aquela habilidade que independe da escolarização e que vai
ocorrer naturalmente no meio humano. Letramento, que é diferente de alfabetização, diz
respeito às práticas textuais em que se faz o uso da escrita e também poderá ocorrer fora do
meio escolar, já que vivemos em uma sociedade em que os documentos escritos têm papel
fundamental. Marcuschi enfatiza que uma pessoa, mesmo analfabeta, pode ser letrada e
dominar as práticas de oralidade, pois ela entende a função de um bilhete ou sabe dar
informações sobre como chegar a um lugar, por exemplo.
O letramento difere-se da alfabetização, como já dito, pois esta última se dará quase que
em sua totalidade dentro da escola de forma sistematizada, com o objetivo de apropriar-se do
sistema de escrita, enquanto o letramento se dará dentro e fora da escola num processo de
continuidade que envolve a prática com textos de funções variadas.
Há um contínuo no processo de letramento, como visto em Tfouni, que consiste no fato
de que há vários níveis de letramento e que eles podem variar de um nível bastante rudimentar,
como a capacidade de saber escolher um produto pelo preço, por exemplo, para níveis mais
complexos, como escrever um artigo de opinião para um jornal.
O autor observa que a questão histórica deve ser levada em consideração ao tratarmos da
oralidade e do letramento. Como mostra Havelock (1976), a sociedade não seria como é hoje
sem a tradição escrita. Contudo, não se deve esquecer do importante papel da oralidade na
transmissão do conhecimento humano.
Retomando o tema com o objetivo de evitar possíveis confusões, o autor cita novamente
Tfouni (1988) que sugere a distinção entre os termos alfabetização, letramento e letrado.
Alfabetização é "prática formal e institucional de aquisição da escrita para interagir e dominar
a cultura" e "letramento seria melhor usado para indicar os aspectos sócio-históricos da
aquisição e domínio da escrita em relação à situação etnográfica no grupo em que a escrita
ocorre ou pretende ser introduzida ". Após mais essa abordagem de alfabetização e letramento,
letrado e iletrado aparece não como opostos, mas sim dois extremos de um contínuo que vão
de um mínimo a um máximo (SOARES, 1998). Não há pessoa iletrada em uma sociedade como
a nossa, devido ao fato de não ser possível estar inserido nela sem ter o conhecimento da
importância da escrita mesmo que seu uso não seja dominado por essa pessoa.
Marcuschi evidencia que a escrita é utilizada como meio de dominação, pois através do
domínio dessa tecnologia, grupos com maior grau de letramento se sobrepõem a grupos na outra
ponta desse contínuo, ou seja, menos letrados. É claro que a escrita tem papel fundamental em
nossa sociedade, porém o fato de haver uma parcela da população com baixo grau de letramento
não deve ser motivo para que uma camada dessa sociedade subjugue a cultura da outra. A
racionalidade e a cognição não devem ser associadas ao nível de letramento; uma pessoa pouco
letrada pode ter a mesma capacidade de abstração de uma pessoa com alto nível de letramento.
É um dos papeis da escola, valorizar a oralidade e o conhecimento do público pouco letrado e
promover situações que elevem esse letramento.
A partir deste ponto, Marcuschi subdivide o texto em mais quatro partes tratando de
aspectos distintos. O primeiro subtítulo é "Letramento, alfabetização e prosperidade social". O
texto é iniciado citando Ong (1998) que diz que " Uma sociedade pode ser totalmente oral ou
de oralidade secundária". Neste caso, a oralidade primária é aquela que ocorre em um povo sem
escrita. Nesse contexto, fala e escritas são produções textuais-discursivas, sendo a primeira oral
e inerente ao ser o humano e a segunda, uma tecnologia com suas próprias especificidades.
Faz-se neste momento uma distinção entre escolarização e alfabetização ao longo da
História. "A escolarização é uma prática formal de ensino em que uma das atividades é a
alfabetização". E alfabetização não é o simples domínio de uma tecnologia. Levantam-se então
algumas questões: “Em que contextos e condições são usadas a fala e a escrita nas nossas
práticas orais e letradas?”, “Quais são, de fato, as demandas básicas de letramento em nossa
sociedade relativamente ao dia-a-dia e ao trabalho?” e “Quais são as práticas orais e de
letramento comuns em nossa sociedade?”. À primeira pergunta o autor responde que, apesar de
depender de sociedade para sociedade e da situação, sempre haverá momentos em que a
oralidade se fará mais presente e que somos basicamente oralistas no dia a dia. A segunda
pergunta fica como reflexão e então ele encerra com a resposta para a terceira; Marcuschi chama
a atenção para a questão política e ideológica mais uma vez. Não devemos associar
alfabetização à desenvolvimento, mas sim tratar com a mesma atenção grupos com diferentes
níveis de alfabetismo. A capacidade intelectual e tecnológica de um povo não depende do seu
domínio da escrita. Existe uma “cultura produzida pelas classes populares” e uma “cultura
imposta às classes populares” (Ginsburg, 1987). A ideia de cultura de massa fica explícita
quando se há uma intenção de manter as classes populares presas sempre ao mesmo nível de
produção cultural e também um impedimento das camadas populares consumirem a cultura da
elite.
Agora o autor dá início a mais uma subdivisão do texto intitulada “Oralidade e letramento
como questão sociopolítica”. O autor cita Hasan (1996) que afirma que há um desgaste do termo
letramento, que já possui variações como letramento cultural, letramento digital etc. Deixa
claro, porém, que não se trata mais do letramento da escrita, mas sim de todos os outros tipos
de mídias. A questão ideológica permeia o letramento que não pode ser visto apenas do ponto
de vista linguístico, mas também da pragmática social. O autor refere-se à linguística tradicional
de Saussure e Chomsky como insensível para as questões sociais, em outras palavras, ainda
está presa apenas à questão de uso da língua. Briam Street (1993) menciona o “modelo
autônomo” como sendo aquele em que o conceito de letramento é afastado do contexto social
e que prevalecia até a década de 80. Essa concepção de escrita autônoma não deve ser aceita,
pois, a escrita está ligada aos fatores sociais, históricos e culturais. Segundo Shuman (1983),
letramento passou a ser sinônimo de cultura de classes privilegiadas e diz, ainda, que a
padronização estabeleceu a diferença entre o que é de prestígio e o que não é, facilitando o uso
da escrita como meio de dominação. Voltando às ideias de Street, é a visão do contínuo entre
letramento e oralidade que vai combater essa dicotomia do modelo autônomo; propõe o modelo
ideológico do letramento, o qual vai valorizar as diferentes formas de cultura e os graus variados
de oralidade e letramento.
Ao fim desse subcapítulo, o autor sugere como forma “adequada para tratar dos
problemas do letramento é a que parte da observação das relações entre a oralidade e o
letramento na perspectiva do contínuo das práticas sociais e atividades comunicativas,
envolvendo parcialmente o modelo ideológico (em especial o aspecto da inserção da fala e da
escrita no contexto da cultura e da vida social) e observando a organização das formas
linguísticas no contínuo dos gêneros textuais.” Dessa forma Marcuschi posiciona-se em defesa
do trabalho com os gêneros textuais, pois esta é a melhor forma de dar continuidade ao processo
de aquisição de leitura com o objetivo de inserir o leitor nas práticas sociais, já que os gêneros
são os textos com os quais lidamos no dia a dia, considerando sempre o contínuo entre oralidade
e letramento.
Na penúltima parte do texto, intitulada “Eventos de letramento e práticas de letramento”,
faz-se a distinção entre as expressões eventos de letramento, práticas de letramento e práticas
comunicativas. De acordo com Barton e Hamilton (2000), “eventos de letramento são em geral
atividades que têm textos escritos envolvidos, seja para serem lidos, seja para serem falados
sobre eles”. “A noção de “práticas de letramento”, segundo Barton, diz respeito aos “modos
culturais gerais de utilizar o letramento que as pessoas produzem num evento de letramento”
(v. Street, 1995). Pode-se entender a partir dessas visões que os eventos de letramento
correspondem a qualquer situação em que se entre em contato com um texto escrito,
independente da forma como a pessoa vai se relacionar com esse texto; as práticas de letramento
vão corresponder justamente à forma como se lida com o material escrito, a capacidade de
entender e desfrutar daquele texto e também a de refletir e discutir sobre ele. Para Grillo, “as
práticas comunicativas incluem as atividades sociais através das quais a linguagem ou
comunicação é produzida.” Sob essa perspectiva, o letramento é considerado um tipo de prática
comunicativa, já que é uma das formas da escrita se apresentar na sociedade.
Finalmente, na última parte do texto, o autor fala de “Domínios discursivos e práticas
comunicativas”. Neste momento o autor define muito bem domínio discursivo como sendo uma
área de abrangência de um letramento específico de um grupo. Através do estudo da etnografia
- que vai considerar a formação, o grau de letramento, a cultura de cada segmento da sociedade
- fica estabelecida a noção de que grupos de advogados, professores, médicos, domésticas,
estudantes, por exemplo, vão constituir diferentes domínios discursivos, o que é diferente de
gêneros. Dentro desses domínios, haverá diferentes discursos e letramentos pertinentes às
práticas características do grupo de domínio.
As práticas discursivas serão permeadas pelo trabalho com os gêneros, pois eles é que
darão base para que a pessoa faça parte de diferentes situações comunicativas; mais uma vez
ressalta-se a importância da visão ideológica do letramento proposta por Barton e Hamilton
(1998) “ao frisarem que o letramento, enquanto uma prática de ler e escrever, não é uma
habilidade autônoma, mas enquadrada na grande narrativa pública, isto é, no quadro social vivo
e em andamento.”
Esta resenha encerra-se neste ponto, porém sem deixar de apontar para questões
importantes sobre o texto de Luiz Antônio Marcuschi. O autor faz uma divisão bastante didática
do eixo trabalhado, retomando todo o tempo discussões e definido com detalhes os conceitos e
nomenclaturas utilizadas. Ao terminar a leitura do texto, é impossível não perceber como a
questão ideológica está presente em todas as esferas da nossa sociedade. O trabalho com a
oralidade e o letramento são importantes, não só pelo fato do aluno enriquecer-se cultural e
socialmente, mas também porque através do trabalho em sala de aula, é possível mudar toda
uma sociedade. É claro que o letramento não se restringe à escola, contudo seu papel é
fundamental ao dar início a um processo que vai continuar fora dela por toda a vida do
educando.

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