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FLAVIO M .

H E IN Z
organizador .

Por outra história das elites


ISBN 85-225-0545-4

Copyright © Flávio M. Heinz

Direitos desta edição reservados à res


EDITORA FGV
bre
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1®edição — 2006
po, n
Revisão de originais: Claudia Martinelli Gama tenta;
Editoração eletrônica: Cristiana Ribas form<
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Revisão: Aleidis de Beltran e Marco Antonio Corrêa
crono
Capa: Studio Creamcrackers lhos ei
N
Todas as traduções foram feitas por Flávio Madureira Heinz, exceto a do capítulo “A
elite nacional” (“The national elite”), de Michael Conniff, realizada por Geraldo esconc
Korndõrfer. expõer
coletiv;
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iam ostr:
Ficha catalográfica e la b o rad a pela B iblioteca
de infor
M ario H e n riq u e S im onsen/F G V
to m an d
Por o u tra história das elites / Flávio M. H einz, organizador. — Rio p e lo prtí
de Janeiro : E ditora FGV, 2006.
^ íin a s G
224p.
00 0s au to r
Inclui bibliografia.
povas té<
1. Elites (Ciências sociais). I. Heinz, Flávio M adureira. II. Funda- "o N n o ra m
ção Getulio Vargas. iõ
CD pa. Aindt
O) fcue esses
O O O CDD — 301.4492 -o
«3 ferm iterr
Biblioteca de Ciências Humanas e Educação-Antropologia jü ' O seg
Berton e Cosmo Ltda (b através
Por outra história das elites ' do C
cr:
T erm o. 75/2008 R e g istro 453285 Q_
R $ 14,50 18/01/2008 LICITAÇÃO ^
Elite s regionais*
J o s e p h L. L o v e
Bert J. Barickm an

O s estu d o s sobre elites conheceram u m ráp id o avanço desde o advento do co m ­


p u ta d o r, cuja capacid ad e de análise e de arm azen am en to de inform ações p erm itiu
colocar novas q u estões a dados preexistentes. Este cap ítu lo foi c o n stru íd o a p a rtir de
três estu d o s de John W irth , R obert Levine e Joseph Love, que re u n ira m u m banco de
d ad o s biográficos sob re centenas de lideranças políticas ativas do início da República
brasileira até o E stado Novo, c o b rin d o os anos 1889-1937. Suas h istó ria s paralelas dos
estados de M inas G erais, P ern am buco e São Paulo analisam esses dados, buscando
re tra ta r as elites políticas d o período. O s autores d efin iram as elites com relação a um
c o n ju n to de posições form ais julgadas relevantes para o exercício de p o d er político e
clientelism o, isto é, eles u saram o critério posição preferencialm ente ao critério re p u ­
tação o u to m a d a de d ecisão .1
Este c ap ítu lo vai além desse esforço, realizando com parações sistem áticas entre as
três elites regionais e a n alisan d o um a elite am pliada resultante; a d ic io n a n d o e an ali­
san d o novos dados; co lo can d o — com novas técnicas estatísticas — novas questões a
velhos d ados; e c o m p a ra n d o a elite am pliada resultante com o u tra s elites p olíticas.2
A lguns esclarecim entos sobre os três conjuntos regionais de dados se fazem neces­
sários: m ais d o que am o stras das elites estaduais, essas elites constituem populações e
são in teiram en te com paráveis entre si. A inda, elas são apenas um a am o stra de todos os

* Publicado originalm ente sob o título “Regional elites" (C onniff e M cCann, 1991).
1 Os estudos originais são: W irth (1977), I.evine (1978) e Love (1980). Para um a discussão
dos três m étodos de definição de elites políticas, ver o clássico artigo de Dahl (1958). Gos­
taríam os ainda de agradecer aos professores Levine e W irth o suprim ento de informações
adicionais relativas à ocupação dos pais.
2 Utilizaremos doravante a expressão “elite am pliada” para designar o conjunto das três
am ostras regionais (composite elite, no original). (N. do T.)
78 Por outra história das elites

estados e da elite nacional. Esses estados não podem ser considerados “típicos” — se
algum o é — nem sua seleção é aleatória. Foram escolhidos estados cujas elites exerce­
ram p o d er real d u ra n te u m período em que os partidos estaduais se constituíam na
única u n id ad e coesa de o rganizarão política. São Paulo e M inas Gerais, com as m aiores
populações e econom ias, dom inavam a política federal. Pernam buco, o m ais im p o rta n ­
te estado do N ordeste, talvez seja o que m elhor representa os dilem as políticos, sociais e
econôm icos que sua região, assim com o hoje, colocava para o resto do país. Os estudos
originais foram além da sim ples com paração biográfica de idade, educação e ocupação,
no in tu ito de d escobrir com o esses políticos atu aram com o elites. O u tras variáveis fo­
ram acrescentadas, incluindo a participação em eventos políticos-chave, os atributos
sociais, os vínculos com o exterior, laços com outros estados, as ligações familiares, as
características intra-estaduais (com o origens urbanas e rurais ou procedência sub-regio-
nal) e os aspectos relativos à geração. Variáveis com binadas expandiram de tal form a a
análise que cerca de 100 variáveis foram codificadas ou derivadas.3
P opulações de 263 (São Paulo), 276 (P ernam buco) e 214 (M inas G erais) pessoas
p odem parecer p eq u en as em com p aração com alguns o u tro s estudos sobre elites, mas
os três estu d o s ex p lo raram d im ensões que estudos de g ru p o s m aiores haviam ig n o ra­
d o .4 Por exem plo, os tra b a lh o s tra ta ra m de fam ília e vínculos com o exterior, am bos os
aspectos exigindo rigorosa análise contextual. Esse m aio r ap ro fu n d am e n to talvez co m ­
pense u m a m e n o r extensão do estudo, possibilitando um a visão de relações que um a
ab o rd ag em m ais inclusiva — em term os de n ú m e ro — possivelm ente deixaria passar.
A análise de Love sobre a elite de São Paulo, p o r exem plo, fez surgir um a in trin cad a
rede de laços de fam ília e negócios, m o stran d o com o 97 dos 263 m em bros do c o n ju n ­
to estavam interlig ad o s (ver figura).

O s c o n t o r n o s da elite ampliada

Após esta breve introdução, voltam o-nos para o com portam ento da elite e as caracte­
rísticas de sua origem . Um im portante exemplo de com portam ento é a proporção em que
os m em bros da elite se m antêm fiéis ao partido no poder (situação) ou rom pem suas
fileiras. Este tópico foi tratado após se ter determ inado com o m em bros das três elites atua-
*ram em m om entos críticos. Prim eiro, com o as lideranças políticas se posicionavam qu an ­
to à escravidão um ano e m eio antes da Abolição? Apenas 15% da coorte de idade relevante
(N = 322) tin h am facilitado a libertação de escravos, com pequena variação regional. Se­
gundo, quais eram as filiações políticas dos m em bros da elite antes do golpe que pôs fim à
m onarquia, em 1889? Apenas 42% eram republicanos “históricos”, isto é, aqueles que eram

3 Definições explícitas e um a lista de variáveis estão em Love (1980:277-287).


4 Smith (1979), p o r exemplo, inclui 6 mil pessoas em um estudo do período 1900-71.
Elites regionais 79

favoráveis à m udança do regime antes da queda do Im pério (N = 268). Os outros 58%


eram adesistas que se converteram ao republicanism o depois que a República se tornara
u m fato, presum ivelm ente para continuar a habilitar-se a postos políticos. (Variações regio­
nais eram notáveis, com o um a m aioria de “históricos” entre os paulistas, contra apenas
23% entre os pernam bucanos.) Por essas duas medidas, a elite am pliada revelava então
que a República seria com andada pelos conservadores desde seu início.
O u tro s testes co n firm aram a natureza cautelosa da elite am pliada. D urante a ten ta ­
tiva de golpe de D eodoro da Fonseca, em 1891, e d u ran te as únicas eleições presidenciais
em que houve efetiva disputa — 1910,1922 e 1930 — ,pelo menos 86% dos m em bros da
elite, em cada u m a das disputas, ad otaram a posição oficial dos respectivos partidos
estaduais. D o m esm o m odo, apenas 8% da elite am pliada identificavam -se com os te­
nentes após a Revolução de 1930. (O s pernam bucanos eram relativam ente m enos caute­
losos, já que 19% se ju n ta ra m à facção tenentista.) N ovam ente, os dados m o stram elites
estaduais p ouco inclinadas a rom per fileiras com os grupos dom inantes.
Houve pouca sobreposição entre as elites políticas e as lideranças sociais, ainda que
dados incom pletos possam parcialm ente corroborar esta afirmação. Quase ninguém este­
ve associado ao m ovim ento operário, e nenhum m em bro da elite pertencia às classes ope­
rária ou cam ponesa. Surpreendentem ente, poucos m em bros da elite ocuparam posições
em associações agrícolas, comerciais ou de advogados (5%, 3% e 4% , respectivam ente).
M enos de 20% pertenciam a clubes sociais de destaque. Essa ausência de correspondência
pode ser parcialm ente atribuída m ais ao aparecim ento tardio de m uitas dessas organiza­
ções — após a I G uerra M undial — que à falta de preem inência social dos políticos. Além
disso, a sobreposição cresce de baixos 11% em M inas para 27% em São Paulo, fato que
deve prim ordialm ente ter resultado da m aior urbanização do últim o estado.
Q uanto à educação, 70% da elite am pliada cursaram faculdades de direito, a maioria
esm agadora escolhendo realizar esses estudos em seu próprio estado. Em m edicina gradua­
ram -se 8% e quase 8% diplom aram -se em engenharia. Apenas 2% seguiram form ação m i­
litar. No total, 93% dos m em bros das elites possuíam formação universitária, fazendo delas
as elites políticas m ais “educadas” para as quais pudem os localizar dados comparativos. Por
volta de 1940, apenas u m a em 370 pessoas nesses três estados possuía títulos universitários,
o que significa que a probabilidade de um m em bro da elite am pliada ser diplom ado por
um a universidade era 345 vezes m aior do que em relação ao cidadão com um .5
A im p o rtâ n c ia d os títu lo s universitários na política brasileira antecede a R epúbli­
ca. O m odelo dos “m a n d a rin s” da elite política im perial, p ro p o sto p o r Eul-Soo Pang e
Ron Seckinger, m o stra que a educação universitária era v irtu al requisito para um alto
p osto p o lítico .6 N o en ta n to , com o advento da República, o u tro req uisito im perial

5 Os dados educacionais e ocupacionais são do censo de 1940.


6 Pang e Seckinger, 1972: 217-218.
Elite de São Paulo

lAdolfo Gordol* jA .C . Ferraz Sales |‘ - P ■ Campos Sales Cerqueira César

S i _ t gf ...a i
José Silva Vicente Carvalho Júlio Mesquita
Gordo Paulo Morais Barros

\ Prudente Morais Barros C. Mota e Silva


Armando Sales F. Mesquita
si pm
| N. Morais BarroJ João Sampaio j I Numa Oliveira I Silvio Portugal
. . B. Sampaio Vidal
P. Morais Neto|---- 1 c IFernando Prestesl

f F. Glicério J . Sampaio
Rocha Az<ivedo Gastão Vidigal
Vidal
Julio Prestes
9
A. Pádua Sales Herculano Freitas
E. Pacheco Chaves J. Paulino Nogueira R. Sampaio
Vidal
Armando C. Altenfelder Silva
J. Cardoso
Prado A.C. Sales Jr.
Almeida
Antônio Prado Martinho Paulo Nogueira Filho
Prado Jr.
| Paulo Prado |— j —^
J. M. Whitaker Firmino Whitaker
A. Prado Jr. V. Rodrigues Alves
Fábio Prado
f
A. Ulhoa Cintra
A. Meireles Reis J. M. Rodrigues Alves
Jorge Tibiriçá <— c ----- > Adalberto Queiroz
Teles_______
A . A rrudo Botclho
t 9 J. M. Martins
A.M. Reis
Afrodísio Coelho
Filho
4------ 1 \ Siqueira
Carlos F. Morais
Luis Toledo Piza F Fonseca Teles U. sm —£| F. Rodrigues Alves
Botelho Pinto M a rc o n d e s ]-

t ' °U
1S Í | J. R. Alves Sobrinho [■

B. Pereira
| j . Toledo Piza| s Antônio Queiroz
O. Rodrigues Alves
u
Bueno
L. T. Piza Sobrinho
J Teles Cardoso
Melo Neto
A. Carvalho

A. M. Alves Lima
F. Carvalho
J. B. Melo c —H Alfredo Ellis
Alfredo Maia Luís Silveira Oliveira

J. Lopes Chaves Washington Luís


Bernardino de Campos
Carlos de Campos
Elói Chaves F. Souza Queiroz
Sílvio de Campos
Domingos de Morais O. E. Souza Aranha

Vitorino Carmilo P. Souza Queiroz


Altino Arantes A. Lacerda Franco
Vicente Azevedo t Albuquerque Lins
c?

Vicente R V. Azevedo írt í Rubião Jr. Lr H. Souza Queiroz

Cesário Coimbra
M. L. Oliveira Sobrinho Arnolfo Alfredo F. Cunha
sm Azevedo Guedes Junqueira Laerte Assunção A. C. Assunção
sLi
J . G. Monteiro

Legenda

c cunhado pm p rim o p o r m a tr im o m o
f f ilh o s s o b r in h o
g g e n r'o sm s o b r in h o p o r m a t r im ô n io
i ir m ã o sn s o b r in h o - n e t o
n n e to
A s lin h a s p o n tilh a d a s re p r e s e n t a r
P p rim o
d ir e t o r e s da m esm a firm a .
82 Por outra história das elites

p ara a o cu p ação de altos p o sto s — experiência política tran sregional — desapareceu,


em b o ra perm anecesse a necessidade de educação universitária.
N o que con cern e à o cupação, dois terços da elite política eram co m postos de ad ­
vogados, in c lu in d o -se aqui aqueles que eram juizes. O político com um possuía 2,5
o cupações (e, em São Paulo, quase três), isso sem co nsiderar “po lítico ” u m a ocupação.
O p eq u en o n ú m e ro de u n iv ersitários form ados fazia frente a um n ú m e ro m u ito ex­
pressivo de d em a n d a s e o p o rtu n id a d e s para deixar-se confinar em u m a sim ples car­
reira; eles, en tão , duplicav am ou triplicavam suas áreas de atividade.
Engenheiros e médicos representavam, cada categoria, aproxim adam ente 10% das eli­
tes, enquanto militares constituíam apenas 3%, e clérigos m enos de 1%. Além do mais, 28%
dos m em bros trabalhavam com o jornalistas e 27% como professores do ensino médio e
superior. Q uando todas essas categorias são fundidas em um a só, descobre-se que 91% dos
m em bros das elites exerciam um a profissão. Por volta de 1940, a probabilidade de esses m em ­
bros das elites possuírem um a profissão é 285 vezes m aior do que o é para o cidadão comum.
V oltando-se p ara as o cupações associadas à pro p ried ad e, en c o n tram o s u m q u a r­
to da elite am p liad a fo rm ad o p o r fazendeiros. Essa p ro p o rção parece reduzida, dado o
c aráter p re d o m in a n te m e n te ru ral da econom ia. Além disso, diferenças acen tuadas
o co rrem en tre os estados: os fazendeiros co n stitu íam 38% da elite paulista, ap ro x im a­
d am en te o d o b ro de sua p articip ação entre as elites de M inas e P ernam buco. In d u stri­
ais c o m p u n h a m 20% da elite am pliada, mas, novam ente, em São Paulo ocorre um a
p articip ação m u ito su p e rio r àquela dos o u tro s estados. C om erciantes e b anqueiros
c o rre sp o n d ia m resp ectiv am en te a 12% e 14% do todo. Da elite am p liad a, 34% eram
h o m en s de negócio (co m erciantes, in dustriais, b an queiros e in term ed iário s ou com is­
sários, investidores em estrad as de ferro e p ro p rietário s de m inas). R eagrupando as
categorias, e n c o n tra m o s 28% ligados ao seto r e x p o rtad o r agrícola (lideranças de asso­
ciações rurais, ex p o rtad o res, p ro p rietário s de terras e comissários). U m a categoria c o m ­
posta ch am ad a “p ro p rie tá rio ”, e que inclui to dos os detentores de p ro p ried ad e, c o n ta ­
va com 47% dos m em b ro s de todas as elites. N ovam ente, a elite paulista apresenta um
envolvim ento m u ito m a io r nessa categoria (56% ) que as elites dos o u tro s estados.7
A análise das ocup açõ es dos pais dos m em bros da elite fornece inform ações sobre
as origens de classe da elite e sobre sua m obilidade social (ver tabela 1). E ntre as 344

7 Seguindo o texto original, utilizaremos “proprietário” para designar o conjunto daqueles in­
divíduos que detêm propriedade privada, correspondendo esta a diferentes setores da atividade
econômica, rural ou urbana, como definido no corpo do texto; quando se tratar de designar
fazendeiros, por exemplo, utilizaremos sempre a categoria adjetivada “proprietário rural”; ain­
da, para traduzir a categoria businessmen, utilizaremos o termo “homens de negócio”. Preferi­
mos, neste caso, não utilizar o termo mais comum de “empresário”, ao qual recorreremos pos­
teriormente apenas em duas situações, para traduzir entrepreneur. (N. do T.)
Elites regionais 83

pessoas cuja o cu p ação dos pais pôde ser identificada (46% do to ta l), a esm agadora
m aio ria era co m p o sta de profissionais liberais ou de p ro p rietário s de algum tipo, ou
de am bos. Nove o u m en o s (3% ) tin h am pais cuja ocupação p o d e o u não ter sido de
classe in fe rio r (tropeiro e “o u tra ”). Assim, com o esperado n u m a sociedade ru ral tra d i­
cional, os m em b ro s da elite política derivam em larga escala dos estratos su p e rio r e
m édio su p e rio r da sociedade.

T a b e la 1
O c u p a ç ã o do p a i: São P a u lo , M in as G e r a is ,
P e rn a m b u co e e lite a m p lia d a

Ocupação do pai São Paulo Minas Gerais Pernambuco Ampliada


Número % Número % Número % Número %
A dvogado 45 3 4 ,6 17 1 8 ,3 22 1 8 ,2 84 2 4 ,4
M é d ic o 6 2 ,3 3 3 ,2 3 2 ,5 12 3 ,5
J o r n a lis t a 9 6 ,9 1 1,1 - - 10 2 ,9
F a z e n d e iro 61 4 6 ,9 53 5 7 ,0 83 6 8 ,6 197 5 7 ,3
C o m e r c ia n t e 10 7 ,7 7 7 ,5 10 8 ,3 27 7 ,8
In d u s tria l 8 6 ,2 2 2 ,2 - - 10 2 ,9
B a n q u e iro 8 6 ,2 - - 1 0 ,8 9 2 ,6
Educador 10 7 ,7 - - 3 2 ,5 13 3 ,8
E n g e n h e iro 2 1 ,5 3 3 ,2 1 0 ,4 6 1 ,7
C lé r ig o - - - - 1 0 ,8 1 0 ,3
O fic ia l d o E x é r c it o 8 6 ,2 3 3 ,2 3 2 ,5 14 4,1
M a g is tra d o 9 6 ,9 6 6 ,5 3 2 ,5 18 5 ,2
N e g o c ia n te
de te rra s 2 1 ,5 - - - - 2 0 ,6
C o m is s á rio 4 3,1 — — - — 4 1 ,2
A d m in is t ra d o r d e
e s tra d a d e fe r ro 6 4 ,6 - - — — 6 1 ,7
B u ro c ra ta d e
b a ix o e s c a lã o 4 3 ,1 2 2 ,2 2 1 ,7 8 2 ,3
B u ro c ra ta d e
a lto e s c a lã o 1 0 ,8 2 2 ,2 1 0 ,8 4 1 ,2
T ro p e iro 3 2 ,3 - - - - 3 0 .9
F a rm a c ê u t ic o 1 0 ,8 - - - - 1 0 ,3
O u tra o c u p a ç ã o 6 5 ,0 6 1 ,7

P o s iç õ e s s o c ia is
O fic ia l da G u a rd a
N a c io n a l 7 5 ,4 42 4 5 ,2 — — 49 1 4 ,2
M e m b ro da
e lit e im p e ria l 17 1 3,1 8 8 ,6 • 10 8 ,3 35 4 ,6
Total 130 93 121 344
O b s .: Todos os percentuais foram arredondados. O cupações foram m ultico dificad as. Ver as
definições em Love (1980:285), exceto para as seguintes: burocrata de baixo escalão (funcionário
público local ou provincial); burocrata de alto escalão (alto funcionário im perial) e tro peiro. O
teste qui-quadrado de ajustam ento indica que esta amostra não é influenciada pelas características
dos m em bros da e lite mais bem -sucedidos.
84 Por outra história das elites

A alta p ro p o rç ã o de fazendeiros en tre os pais m erece um a nota especial. A m aio ­


ria ab so lu ta (197 em 344) era co m posta de p ro p rietá rio s de terra. O segundo m aior
g ru p o era o de advogados. A inda entre os filhos (isto é, os m em bros da elite), quase
dois terços eram advogados e apenas um q u arto era de p ro p rie tá rio s de terra. C om o se
po d eria prever, os fazendeiros, u m a vez que exercem u m a ocupação “ h ered itária”, ta m ­
bém “rep ro d u zem a si m esm o s” na m aior p roporção, com o revela a tabela 2.

T a b e la 2
M e m b ro s da e lite com a m esm a o c u p a çã o de se u s p a is

O cup ação P e r c e n t u a l (% ) Q u i- q u a d r a d o *

F a z e n d e iro 7 9 ,0 0 ,0 0 0 0
O fic ia l do E x é r c it o 3 3 ,3 0 ,0 1 0 6
C o m e r c ia n t e 2 7 ,7 0 ,0 0 0 0
M é d ic o 2 0 ,0 0 ,0 0 0 1
In d u s tria l 8 ,9 0 ,0 0 1 8
E n g e n h e iro 7 ,5 0 ,0 2 3 8

* Um n ível de sig n ificâ n c ia de 0 ,0 5 ou m enor indica haver no mínimo 19 ch an ces em 20 de


que a re lação não seja ca su al.

As relações da elite com o estrangeiro são obviam ente u m aspecto im p o rta n te —


ainda que com freqü ên cia negligenciadas nos estudos sobre elites — , so b re tu d o em
países e c o n o m icam en te depen d en tes. N ossa com paração revela que ap ro x im ad a m e n ­
te um terço de to d o o g ru p o tin h a algum tip o de vínculo com o exterior.8 Além disso,
aqueles que d isp õ em de conexões com o estrangeiro tendem a ser os políticos m ais
p ro em in en tes. U m q u in to do co n ju n to viveu no exterior ao m enos seis meses. Dos
três estados, São Paulo tem a elite ex p o rtad o ra com m ais conexões com o estrangeiro,
en q u a n to M inas é o que tem m enos conexões.
Um tipo de vínculo com o estrangeiro é interessante em função de sua baixa incidência:
nascim ento no exterior. M enos de 1% da elite política nasceu no estrangeiro, e apenas 4%
tinham ao m enos u m dos pais nascidos no exterior. Isso é surpreendente dada a experiência
de imigração de massa vivida pelo Brasil naquele período. Além disso, havia pouca diferença
entre os estados. Apesar do fato de São Paulo haver recebido metade de todos os imigrantes
do período estudado, sua elite possuía apenas um m em bro nascido no exterior (N = 239) —
Miguel Costa, que acom panhara seus pais da Argentina para o Brasil ainda criança.
Os d ad o s sobre conexões interestaduais das elites revelam m u ito s vínculos. Um
q u a rto de to d o o g ru p o d esem p en h o u fora de seu estado de origem o u tras atividades

8 Vínculos com o exterior incluem im portação e exportação; interesses econôm icos em


firmas estrangeiras ou esquemas de imigração; representação de firmas ou governos es­
trangeiros; nascim ento no exterior; nascim ento da esposa ou dos pais no exterior; período
de residência ou estudo fora do país, distinções ou títulos estrangeiros.
Elites regionais 85

além de p o sto s no governo federal ou m andatos no C ongresso. Dos m em b ro s da elite


política p e rn a m b u c a n a, 44% possuíam tais conexões, en q u an to esse p ercentual é de
17% en tre m em b ro s das elites paulista e m ineira. A parentem ente, essa descoberta re­
flete o p o rtu n id a d e s econôm icas relativam ente escassas em P ernam buco. Dezesseis por
cento d o g ru p o am p liad o nasceu em um estado da Federação diferente daquele onde
c o n stru iu sua carreira, com pouca diferença entre os três casos. Q uase a m esm a parte
percen tu al realizou sua educação secundária fora do estado de origem . U m a variável
am pliada c o m p a ra n d o to d as as ligações fora do estado de origem m o stro u que 57%
do total p o ssu íam tais ligações.9 S eparadam ente, os m ineiros possuíam m ais ligações
(72% ), e n q u a n to os p aulistas apresentavam m en o r incidência (39% ) destas. E ntre os
ú ltim o s havia, ap are n te m en te , m e n o r propensão que en tre os p rim eiro s a trab a lh ar
no Rio de Janeiro, a ligação fora do estado de origem m ais freqüente en tre os m ineiros.
Laços fam iliares eram u m im p o rtan te elem ento que m a n tin h a próxim as as elites.
Dois q u in to s d o to tal p o ssuíam parentes na elite do m esm o estado. S u rp reen d en te ­
m ente, u m estado de perfil trad icio n al com o Pernam buco ap rese n to u a m en o r inci­
dência (34% ), co m p arad o com os 46% de M inas G erais e 43% de São Paulo. Em com ­
pensação, a elite de P ern am b u co possuía a m aior incidência de parentes em o u tros
estados. São Paulo su rp re e n d e talvez p o r apresentar-se tão sem elhante aos dem ais es­
tad o s a este respeito, com o tam b ém na ausência de p en etração estrangeira. Um q u in to
de to d o o g ru p o p erten cia, ou estava in tim am e n te relacionado, à elite im perial, e q u a­
se m etad e p ossuía algum tip o de parentesco com o u tro s m em b ro s da p ró p ria elite,
com o u tra s elites estad u ais o u com a elite im p erial.10 Os níveis su p erio res de liderança
parecem a p re se n ta r m aiores ligações fam iliares: 81% dos governadores possuíam la­
ços de paren tesco com o u tro s m em bros da elite, com p arad o s com apenas 46% dos
não-gov ern ad o res.
Sexo, raça e religião da elite apresentam poucas surpresas. Apenas um a m ulher apare­
ce entre 753 m em bros da elite, e seu papel era m enor: M aria Tereza de Azevedo participou
d urante apenas um ano do Com itê Executivo do Partido C onstitucionalista de São Paulo.
Raça era um tem a sensível para a elite do período, e ser branco, um a condição assum ida ou
atribuída na esm agadora m aioria dos casos. Em São Paulo, apenas duas pessoas eram re­
conhecidas com o não-brancas: Francisco Glicério e A rm ando Prado; em Pernam buco,
com entava-se que M anoel Lubam bo possuía ancestrais africanos. M uitos mais devem ter

9 Laços interestaduais incluem nascim ento, escolarização secundária, carreiras profissio­


nais ou postos governam entais em outros estados ou no D istrito Federal, excluindo o C on­
gresso ou postos no gabinete.
10 Parentesco foi definido de m odo a incluir relações de sangue, relações familiares criadas
por m atrim ônio e prim os. A definição de elite im perial inclui senadores e possuidores de
títulos de barão ou superior.
86 Por outra história das elites

tido origem m estiça, mas tais assuntos eram raram ente evocados em público e não apare­
cem na m aior p arte das biografias. O m esm o era verdade para a religião, já que pratica­
m ente to d o m u n d o assum ia ser católico ou de tradição católica, ainda que um certo n ú ­
m ero fosse de não-praticantes. Encontram os apenas um núm ero insignificante de não-
católicos (incluído u m declarado ateísta), mas nenhum protestante.
U m a classificação das bases políticas entre ru ral e u rb a n o m ostra que três qu in to s
do to tal desenvolviam atividades nas cidades, n o rm alm e n te na capital estadual. A va­
riação era c o n tu d o am pla, de 44% em M inas Gerais a 67% em São Paulo e 71% em
P ern am b u co (visto que Belo H o rizonte, capital de M inas Gerais, foi co n stru íd a na
década de 1890, in clu ím o s Juiz de Fora na categoria “u rb a n o ”). Em geral, a p ro b ab ili­
dade de u m m em b ro da elite residir em cidades era oito vezes su p erio r à de u m cida­
dão co m u m dos três estados: 61% da elite, co m parados com apenas 8% da população
em geral, viviam nas capitais (ou em Juiz de Fora) em 1920.
M o v im en tação geográfica foi um a característica de pelo m enos duas das elites
estaduais e stu d ad as (as inform ações sobre P ernam buco não estão disponíveis). Das
elites m in eiras e p aulistas, 70% tin h a m bases políticas em m unicípios diferentes d a ­
queles o n d e haviam nascido. Esse m ov im en to não era, co n tudo, sem pre d irecionado
às cidades: em São Paulo, 63% da elite vivendo ainda no in terio r (n = 71) não m ais
residiam em seu m u n ic íp io de origem .
Para as elites, diferentem ente das massas, a dicotom ia ru ra l-u rb a n o era talvez pouco
significativa. Em São Paulo, p o r exem plo, m etade daqueles m em bros da elite que eram
fazendeiros (n = 89) possuía suas bases políticas na capital estadual. Jorge Tibiriçá, o
pai do esquem a de valorização do café, duas vezes governador de São Paulo, e o ateísta
a n te rio rm e n te m en cio n ad o , não era m enos fazendeiro p o r ter nascido em Paris. M as a
conexão u rb a n a g a ra n tiu às elites o acesso às inform ações e o p o rtu n id a d e s negadas às
m assas rurais.
A idade m édia com a q ual os m em bros da elite ingressavam na política era de 44,2
anos, com p o u ca variação nos três casos. Isso parece su rp reen d en te se co n sid erarm o s
que a g ran d e m aio ria p rim e iro ocupava postos no âm b ito estadual e que 44 anos era a
idade m édia com a qual m in istro s do gabinete assum iram suas funções d u ra n te o
Im p ério (1822-89), isto é, em âm b ito n a c io n a l." Para a elite republicana aqui consi­
d erada, 35% do g ru p o am p liad o , d istrib u íd o entre os três estados, o cu p a ram seu p ri­
m eiro p o sto p o lítico antes dos 40 anos. Q u aren ta p o r cento de m in eiro s e p e rn a m b u ­
canos o c u p a ra m p o sto s antes dos 40 anos, com p arad o s a apenas 25% dos paulistas. O
ú ltim o caso p o d e ser em p a rte explicado pela n atureza m ais fo rm alm ente buro crática
do processo p o lítico n aq u ele estad o .12

11 Carvalho, 1974.
12 Ver Love (1980:162-163, 165).
Elites regionais

U m a análise das gerações revela o u tro s aspectos do c o m p o rta m e n to da elite. As


três gerações fo ram d efinidas com o: pessoas nascidas em 1868 ou antes, que alcança­
ram a m a tu rid a d e antes da q u eda do Im pério; pessoas nascidas en tre 1869 e 1888, que
ch egaram à m a io rid a d e em m eados do p eríodo de q u atro décadas da República Velha
e te ste m u n h a ra m a p rim e ira cam p an h a presidencial, disp u tad a em 1910; pessoas n a s­
cidas d u ra n te a R epública (1889 e depois). Q uase m etade de to d a a elite inclui-se na
p rim e ira geração, a p ro x im ad am en te u m terço na segunda geração e u m u m q u in to na
terceira geração. A tabela 3 classifica a elite am pliada p o r gerações e apresenta os valo
res das variáveis que eram significantes q u an d o cruzadas p o r gerações (teste qu i-q u a-
d ra d o no nível 0,05).
As p rim eiras d uas colunas m o stram que, ao longo dos anos, a p arte da elite per­
ten cen te às lideran ças do P artid o R epublicano d im in u iu , e n q u a n to cresceu a parte
dos m em b ro s que eram líderes da oposição. Em São Paulo, a terceira geração e n co n ­
trava-se co m p le ta m e n te excluída da liderança republicana do p eríodo a n te rio r a 1930.
Esse fato foi provavelm ente u m fator significativo no d e sco n te n tam en to que levou à
fu n d ação d o P artid o D em o crático em São Paulo, em 1926.13
As trê s colu n as seguintes m o stram resultados previsíveis: m em bros da terceira
geração eram três — o u m ais — vezes m ais p ropensos a ro m p e r com a situação que os
p rim eiro s; a experiência legislativa declinou através das gerações, m as u m a m aioria da
terceira geração ain d a c u m p riu m andatos nos níveis estadual e federal; e o ingresso na
elite antes d os 40 an o s cresceu m u ito com a terceira geração, que ten d eu a afastar os
m ais velhos após a Revolução de 1930.
As trê s colu n as seguintes d em o n stram que hom ens de negócio, fazendeiros e o u ­
tro s que estavam ligados à exportação, m ais todos aqueles com vínculos com o exterior,
tiveram m a io r im p o rtâ n c ia na segunda geração. Isso parece sem elhante à experiência
arg en tin a: a geração de 1880 — co rresp o n d en d o ap ro x im ad am en te à nossa prim eira
geração — e stu d o u n o país, m as seus filhos estu d aram e v iajaram para o exterior.
E ntre as profissões, a m aio ria dos cruzam entos p o r geração não alcançou significância
estatística. D as três q u e a a p resen taram , a particip ação dos juizes declin o u ao longo
das gerações, a dos ed u cad o res cresceu em 50% e a dos engenheiros m ais que d o brou.
A elite q u e em erg iu da revolução de G etúlio Vargas, em 1930, m erece tra ta m e n to
à parte, já que o evento se co n stitui n u m divisor de águas. A proxim adam ente u m qu arto
de to d a a elite ingresso u n o g ru p o após o golpe. A centuadas diferenças separam as
experiências dos três estados. São Paulo possui a m aior p ro p o rç ão de recém -chegados,
37% . Esse p a d rã o deve m u ito à form ação de novos p a rtid o s políticos assim com o à
in terv en ção federal. M inas não sofreu intervenção federal, ainda que ten h a u m percen­
tu a l m aio r de recém -ch eg ad os que P ernam buco, o n d e o establishm ent foi deposto.

13 Ver Love (1980:117-118).


88 Por outra história das elites

C om p araçõ es e n tre os p erío d o s a n te rio r e p o sterio r a 1930 m ostram m udanças tan to


em educação q u a n to em ocupação. A penas 2% dos m em bros da elite am pliada que
ingressaram na política antes de 1930 eram m ilitares, co m parados com 5% daqueles
que ingressaram após esse ano. A inda, é notável que esse percentual não seja ainda
m aior, visto a dívida de Vargas com seus apoiadores m ilitares. O g ru p o dos bacharéis
(g rad u ad o s em d ireito ou m edicina) caiu de 80% , entre as elites do p erío d o a n te rio r a
1930, p ara 68% , en tre aqueles que ingressaram na política d u ra n te o governo Vargas.
Da m esm a form a, a p ro p o rç ã o de hom ens de negócio caiu de 37% para 26% , o que se
deu p aralelam en te à d im in u ição de sua participação en tre as elites da terceira geração,
antes m en cio n ad a.

T a b e la 3
C ru z a m e n to d as g e ra ç õ e s da e lite com v a riá v e is s e le c io n a d a s (%)

G e ra ç ã o E x p e r iê n c ia p o lít ic a

C o m itê C o m itê Ruptura com o E x p e r iê n c ia In g re s s o


e x e c u t iv o e x e c u t iv o esta b lish m en t le g is la tiv a na e lite
do P a rtid o d e p a rtid o d u ra n te c ris e a n te s d o s
R e p u b lic a n o d e o p o s iç ã o n a c io n a l 4 0 an o s

1 3 2 ,5 5 ,8 1 3 ,3 7 1 ,7 2 5 ,6
2 2 9 ,2 1 7 ,7 2 5 ,5 6 0 ,0 2 9 ,3
3 8 ,5 3 3 ,3 4 8 ,6 5 2 ,6 6 9 ,0
X 2 0 ,0 0 0 0 ,0 0 0 0 ,0 0 0 0 ,0 0 1 0 ,0 0 0

O cupação V ín c u lo s P ro fis s ã o
com e x t e rio r
N e g ó c io s E x p o rta ç ã o J u iz Eoucad or E n g e n h e iro
1 3 2 ,5 2 7 ,2 2 7 ,2 3 1 ,9 2 4 ,8 7,1
2 4 1 ,9 3 4 ,7 4 6 ,6 1 0 ,9 2 6 ,6 1 2 ,5
3 2 5 ,9 2 1 ,9 3 2 ,5 6 ,0 3 7 ,1 1 5 ,5
X 2 0 ,0 1 1 0 ,0 4 4 0 ,0 0 0 0 ,0 0 0 0 ,0 4 1 0 ,0 2 1

O b s.: Vínculos com o e xte rio r, N egócios e Exp o rtação são variáveis am pliadas (ver definições
acim a).

S u c e s s o na elite

A pós e s b o ç a r as lin h a s gerais da elite a m p lia d a e das elites do s trê s estad o s,


p o d e m o s p e rg u n ta r: q u e c a ra c te rístic a s d istin g u e m os m e m b ro s da elite m ais bem -
su c e d id o s d a q u e le s m e n o s b e m -su ced id o s? T o m an d o e m p re sta d o u m p ro c e d im e n ­
to d o e s tu d o de P e te r S m ith , p o d e m o s e stra tific a r as posiçõ es a tin g id a s p a ra c o ­
lo c a r a q u e stã o : há c o rre la ç õ e s e n tre sucesso (d e fin id o co m o o m ais a lto p o sto
o c u p a d o ) e o u tr o s a trib u to s ? P o d é m o s c o d ific a r os p o sto s p o lític o s na seg u in te
classificação :
Elites regionais 89

♦ presidentes, v ice-presidentes e m inistros;


♦ governadores e juizes do S uprem o T ribunal Federal;
♦ o u tro s p o sto s diferentes de m in istro no Legislativo e no Executivo federal;
♦ m em b ro s d os com itês executivos dos partidos;
♦ secretários estaduais e presidentes dos trib u n a is estaduais;
♦ o u tro s p o sto s diferentes de secretário no Legislativo e no Executivo estadual.

Essa classificação parece estar em consonância com ò p o d e r dos cargos. A p artic i­


pação em com itês executivos era m ais im p o rta n te que qu alq u er o u tro po sto estadual,
exceto o de g o vernador, p o rq u e os m em bros desses com itês lançavam can d id ato s para
m u ito s o u tro s p o s to s .14 P orém , o governo foi sem pre u m a posição-chave no sistem a
p olítico estadual e m esm o na constelação federal do poder. Os juizes do S uprem o ga­
ra n te m sua inclusão no seg undo nível em razão de seu prestígio e relativa in d e p e n ­
dência em face do Executivo d u ra n te o período.
P odem os, com tal. classificaçãpj,çorrelacionar a o c u p a ção do m ais alto p o sto c o m
as variáveis codificadas p ara m em bros da elite, no in tu ito dej>e conhecerem os a trib u ­
tos que parecem m ais úteis ao avanço na carreira p o lític a.15 C o n sideram os significantes
to d as as correlações de nível 0,05.16 Tam bém exigim os para inclusão, de form a algo
a rb itrá ria , u m valo r gam a de m ais ou m enos 0,3.
Entre as variáveis políticas m encionadas, a experiência legislativa possui um a asso­
ciação razoavelm ente forte com o sucesso, em especial para a elite de São Paulo (+0,35).
Esse fato reforça nossa visão de que há aí um a progressão de carreiras m ais ordenada
q u e em P ern am b u co . N ão há resultados estatisticam ente significantes distin g u in d o
abolicionistas de não-abolicionistas, ou republicanos históricos de m onarquistas.
E n tre lideran ças n ão -p o líticas, o papel de advogados e m agistrados prestigiosos é
especialm ente notável em P ernam buco; de fato, há um a correlação perfeita en tre su ­
cesso e lid eran ça da en tid a d e dos pro cu rad o res (+ 1,0). Laços econôm icos com o exte­
rio r eram a p a re n te m en te im p o rtan te s apenas em São Paulo (+0,32 para ex p o rta d o r e

14 Ver Love (1982:63-64).


15 Depois de Sm ith, utilizarem os o coeficiente gama de correlação. Ver Smith (1979:107-
108).
16 Formação universitária com pleta e exercício de profissão liberal não produziram resul­
tados estatisticam ente significantes quando correlacionados com o m ais alto posto obtido
porque havia pouca variância: mais de nove décimos do conjunto da elite se com punham
de indivíduos form ados em universidades e profissionais, estes atributos eram quase assu­
m idos com o critérios para presença na elite.
90 Por outra história das elites

+0,31 p ara gerente de u m a co m p an h ia estrangeira); laços interestaduais de vários ti­


p o s aparecem m ais in tim a m e n te co rrelacionados com sucesso em Pernam buco (+0,37
p ara o cu p a n te s de p o sto s políticos fora do estado). Padrões educacionais m ostram
q u e os b ach aréis tin h a m m elh o r desem penho em P ernam buco (+ 0,33), que os farm a­
cêuticos tin h a m m a u d esem p en h o em M inas (-0 ,4 5 ), que os engenheiros iam igual­
m en te m al nesses dois estados (-0 ,6 1 ) e que, su rp reen d en tem en te, u m a educação m i­
lita r se co n stitu ía no p io r títu lo (u m a correlação negativa perfeita, -1 ,0 ) para galgar
posições de sucesso n o estado nord estino.
E ntre as ocupações, é notável que apenas duas estivessem positivam ente correlacio­
nad as acim a do nível +0,3. A tividade bancária e negócios im obiliários estavam mais
associados com a p ro p ried ad e do que com profissões, e am bos estavam correlacionados
com o sucesso exclusivam ente em São Paulo, com os níveis +0,33 e +0,51, respectiva­
m en te (neste estado, os in d u striais tam b ém chegaram pró x im o ao nível + 0,3). C o n e­
xões fam iliares estavam associadas ao sucesso em M inas G erais (+0,36 para laços no
in te rio r da elite m in eira).
C o n tu d o , “sucesso” n ão precisa — com o no estudo de Sm ith — ser definido em
term o s d o m ais alto p o sto ocup ad o. O ferecem os aqui u m a definição alternativa: o
g rau de sucesso n u m a elite é indicado pelo n ú m ero de posições ocupadas. Por esta
definição, A n tô n io C arlos R ibeiro de A ndrada, governador de M inas que teria dito,
em 1930, “façam os a revolução antes que o povo a faça”, era o m ais bem -sucedido: dos
753 m em b ro s das elites dos três estados, apenas ele o c u p o u 11 postos. Q uase dois
terços de to d o o g ru p o o c u p a ra m apenas um p o sto .17
U tilizan d o esse p a râ m e tro para sucesso, observam os u m a constelação algo dife­
rente de variáveis “ú te is”. Q u a n to à “longevidade” na elite, era d ecididam ente p re ju d i­
cial (-0 ,5 9 ) ter sido u m rep u b lican o histórico em P ernam buco, da m esm a form a que
era b astan te p reju d icial p ara u m m em bro da elite paulista ter apoiado o golpe a b o rta ­
do de D eo d o ro da Fonseca (-0 ,6 4 ). Experiência legislativa era claram ente útil nos es­
tad o s m ais o rd e n a d o s de M inas G erais e São Paulo (+0,47 e +0,62, respectivam ente),
ao passo q u e ter sido líder da oposição era fator fo rtem en te negativo em Pernam buco
(-0 ,5 4 ) — e m b o ra n ão o fosse nos o u tro s estados. Nas atividades não-p o líticas, a lide­
rança em u m a e n tid a d e agrícola era im p o rta n te em São Paulo, m as o era du p lam en te
a liderança em u m a associação de advogados em P ern am b u co (+0,90).
Q u a n to aos laços externos, ser um e x p o rta d o r era útil para p erm an ecer na elite
em P ern am b u co (+ 0 ,4 1 ), en q u a n to po ssu ir interesses em um a firm a estrangeira era
im p o rta n te em São Paulo (+0,34). N o to can te aos laços interestaduais, era previsivel-
m en te p reju d icial p a ra os m in eiro s ter nascido fora do estado (-0 ,3 6 ) e, su rp re e n d e n ­
tem ente, ain d a m ais prejudicial ter freqüentado u m colégio fora de M inas (-0 ,5 7 ); da

17 Para um a análise do m ovim ento de uma posição a outra, ver Love (1982:59-64).
Elites regionais 91

m esm a fo rm a, u m a carreira no D istrito Federal e, especialm ente, n u m a agência in te­


restadual parece p re ju d ic a r os p ern am b u can o s (-0 ,3 8 e -1 ,0 ). Se a ocup ação de um
posto em o u tro estad o ajudava os n o rd estin o s na escalada ao “p o sto m ais alto ”, isto
sugere que talvez necessitassem de ajuda externa para essa ascensão; no en ta n to , dei­
xar sua base estad u al p o d e te r e n c u rta d o suas carreiras. (Esta visão é tam b ém apoiada
pela m u ito baixa correlação de sucesso, nas duas definições, de P ern am b u co em rela­
ção aos o u tro s dois estados, com o m o strad o adiante.)
Em relação à educação, a form ação em direito no p ró p rio estado era im p o rtan te
apenas em P e rn am b u co (+ 0,37) e um a atividade an te rio r com o de bacharel (n o p ró ­
p rio estado e fora dele) im p o rta n te em P ernam buco e M inas (+ 0,32 para am bos).
S urpreen d en tem en te, a ausência de educação su p erio r possuía correlação perfeitam ente
negativa em São P aulo (-1 ,0 ), ain d a que estatisticam ente não significante nos o u tro s
dois estados.
Q uan to às ocupações, era im portante para os m ineiros serem advogados para sobre­
viver na elite (+0,57); eles tin h am m uito m enores chances de avançar na política se fossem
m édicos (-0,48). Ser fazendeiro em Pernam buco era útil (+0,51). C om o já foi dito, ban­
queiros saíam -se bem nas elites paulista e m ineira (+0,34 para am bos). Laços de família na
m esm a elite estadual eram , com o esperado, positivam ente correlacionados em São Paulo
(+0,37) e ainda m ais em M inas Gerais (+0,53), onde qualquer laço fam iliar codificado
(para as elites estaduais contem porâneas ou para a elite im perial) era tam bém fortem ente
positivo (+0,45). C ontrariam ente ao esperado, laços no interior da m esm a elite estadual
estavam negativam ente correlacionados em Pernam buco (-0,45). N ão obstante, laços fa­
m iliares com a elite im perial eram úteis (+0,34) no estado do Nordeste.
A ssim com o p a ra o g rau de co rrespondência entre a trib u to s de sucesso pelas duas
definições — m ais alto p o sto o b tid o e n ú m ero de postos o cu p ad o s — , há considerável
d ispersão en tre os valores das duas classificações. C o n tu d o , as seguintes regularidades
eram observáveis: p a ra M inas e São Paulo, a experiência legislativa era im p o rta n te em
am bas as definições de sucesso, assim com o o era a liderança da associação de advoga­
dos em P ern am b u co . A ssociação a um a firm a estrangeira era im p o rta n te em São P au­
lo, em am b o s os tip o s de definição, e u m a experiência prévia ajudava para am bos os
tip o s de sucesso n os o u tro s dois estados.
U m teste p a ra o g rau de associação en tre as duas definições de sucesso p ro d u ziu
u m valor relativ am en te alto: + 0 ,5 3 .18 Este valor é ainda su p e rio r p ara as am o stras de
São Paulo e M inas G erais (+0,63 e + 0,69), m as m u ito m ais baixo (+ 0,14) e estatistica­
m ente n ão significativo em P ernam buco. Assim, o sjse rn a m b u c a n o s que foram bem -
sucedidos nessas duas form as de sucesso político eram m u ito m en o s parecidos entre
si que o eram aqueles de São Paulo e M inas G erais.

18 Foi usado gama.


92 Por outra história das elites

Comparações in ter nac io nai s

Nas co nsiderações finais deste texto, explorarem os as form as pelas quais as elites
regionais brasileiras eram sim ilares ou diferentes de o u tra s elites políticas. Este exercí­
cio é u m a ten tativ a, pois to d o s &s estudos aqui levados em conta definem elite d iferen ­
tem ente. A m aio ria das elites é nacional (em bora algum as incluam q u ad ro s executivos
estaduais o u pro v in ciais). A m aioria é de elites p arlam entares, em b o ra algum as p o u ­
cas se co n stitu a m em m esclas de m em bros do Executivo, do Legislativo e de o u tros
g ru p o s .19 Estas co m p araçõ es irão realçar o que parecem ser os c o n to rn o s distintivos
da elite p o lítica brasileira, que é com o nos irem os referir, daqui em diante, ao grupo
am p liad o das três elites estaduais.
C om respeito à o cu p ação dos pais, o p adrão brasileiro revela pais de classe m édia
alta e de classe alta (95% ), co n trasta n d o com as elites políticas em três regim es ale­
m ães (W eim ar, regim e nazista e República Federal), on d e os pais dos m em bros da
elite política p o ssu íam o cupações de classe m édia baixa e de classe baixa nas seguintes
pro p o rçõ es: 47% em 1925, 59% em 1940 e 54% em 19 5 5.20 M esm o no M éxico de
Porfírio D iaz (1900-11), 11% dos m em bros da elite política tin h am pais com o c u p a ­
ções de classe baixa, com o “o p e rário ” e “cam p o n ês”. A p a rte de m em bros com pais de
classe baixa cresce para 17% no M éxico revolucionário (1917-40) e para 24% na era
p ó s-rev o lu cio n ária (19 4 6 -7 1 ).21 Levando em conta o nascim ento no exterior, a elite
b rasileira p ode ser tam b ém co n trastad a com dep u tad o s e senadores arg entinos em
três m o m e n to s de tran sição estu dados p o r D arío C an tó n (1889, 1916 e 1946). No es­
tu d o de C a n tó n , n os três c o n ju n to s de senadores e dep u tad o s, os nascidos no exterior
cresceram de 10% a 53% , a tin g in d o este percentual em 1946. Em co n traste, apenas
0,6% da elite brasileira se c o m p u n h a de pessoas nascidas fora do país e m enos de 4%
p o ssu íam pelo m enos u m pai estrangeiro. A m bos os países tiveram a experiência de
im igração de m assa, m as os im igrantes na A rgentina foram m ais b em -sucedidos na
política, talvez em p a rte devido à m en o r base pop u lacio n al naquele país.
Legisladores a rg en tin o s chegaram a altos postos m ais cedo que seus pares b rasi­
leiros. Em 1889, 85% dos ú ltim o s haviam ingressado no P arlam ento nacional antes
dos 40 anos e 4% tin h a m o cu p ad o postos provinciais antes dos 35 anos. No estudo de
C a n tó n sobre a elite arg en tin a, em 1889, 89% haviam ocupado postos regionais ou

19 Estes estudos são: C antón (1966); Campo, Tezanos e Santín (1982); Daalder e Van Den
Berg (1982); Lasswell, Lerner e Rothwell (1952); Frey (1965); Higonnet e H igonnet (1969);
Imaz (1970); Putnam (1976); Sm ith (1979); Zapf (1965).
20 O cupações de classe baixa eram , sozinhas, 14,5% e 16%, respectivam ente (Zapf,
1965:182).
21 Sm ith, 1979:77.
Elites regionais 93

federais antes dos 40 anos, co m parados com 35% entre a elite brasileira. No entanto,
en tre os congressistas arg en tin o s de 1916 e 1946, a particip ação daqueles que ingressa­
ram na p o lítica an te s dos 40 anos caiu de 69% para 41% . A inda assim , o ú ltim o
p ercen tu al era su p e rio r ao da elite brasileira.22
Os estu d o s de o u tra s elites latin o -am erican as citados na no ta 19 não oferecem
d ad o s sobre parentesco, m as as elites brasileiras não eram provavelm ente as únicas a
p o ssu ir extensas redes de relações. R obert P u tn am observou que “43% dos m inistros
dos gabinetes que governaram a H o landa entre 1848 e 1935 eram ligados p o r p a re n ­
tesco a o u tro s m in istro s; (...) ap ro x im adam ente um sétim o dos d e p u tad o s da Terceira
República francesa (1870-1940) possuía relações en tre si; e (...) cerca de u m décim o
de tod o s os congressistas n o rte -a m erican o s entre 1790 e 1960 possuía parentes que
tam b ém haviam sido congressistas”.23 Suspeitam os que parentesco perm aneça com o
um a variável im erecid am en te negligenciada na m aioria dos estudos de elites políticas.
Se os líderes políticos latino -am ericanos fossem tam bém proprietários de fábricas, plan­
tações o u fazendas (co m o no caso de São Paulo), este fato não alteraria drasticam ente
nossa visão sobre os conflitos setoriais?24
Assim com o se dá no tocante ao passado escolar, as diversas elites políticas para as
quais com param os inform ações m ostravam um a sobre-representação de graduados u n i­
versitários em face da população em geral, num a proporção de 8 por 1 nos Estados Unidos
para mais de 100 p o r 1 para os países subdesenvolvidos.25 A elite brasileira situa-se próxi­
m a ao final deste espectro, já que 93% de seus m em bros possuíam título universitário.
A com paração de ocupações é com plicada, visto que nem to dos os autores utiliza­
ram m últipla codificação e que as definições eram diferentes. De qualquer form a, p ro ­
fissionais u n iv ersitários26 pred om inam em toda parte. A elite brasileira sobressai-se em
razão da alta p ro p o rção de seus m em bros que eram proprietários rurais ou hom ens de
negócios de algum tipo. O contraste é especialm ente acentuado com relação à elite m e­
xicana, o n d e os p ro p rietário s rurais não constituíram m ais que 4% e hom ens de negó­
cios alcançaram 6% , respectivam ente 25% e 34% no caso do Brasil (Sm ith dedica de
fato u m capítulo inteiro de seu livro à ausência de integração entre as elites econôm ica e

22 C antón, 1966:46, 77. Recalculamos os percentuais para elim inar não-respostas e obter
um valor único para cada coorte, ponderando deputados e senadores pelo núm ero em
cada câm ara p o r ano em questão.
23 Putnam , 19/6:61. %
24 Ver “Topical review: the theory o f sectoral clashes" (Latin American Research Review, v. 4,
n. 3, p. 1-114, 1969).
25 Putnam , 1976:27.
26 Professionals, no original. (N. do T.)
94 Por outra história das elites

política). O m esm o p ad rão se m anifesta no últim o Parlam ento da M onarquia de Julho,


na França (1846-48), na qual apenas 13% dos deputados eram hom ens de negócios. De
todos os dep u tad o s burgueses, apenas um décim o tin h a ocupações nos negócios. Patrick
e Trevor H ig o n n et co m en tam que “estes últim os núm eros são surpreendentem ente bai­
xos para u m regim e que era (.*.) descrito por M arx e Tocqueville com o u m a sociedade
an ô n im a governando m uitos com vistas à vantagem m aterial de alguns poucos (...) a
grande m aioria não possuía ligação direta com o m u n d o dos negócios”.27
D uas o u tra s elites p arlam en tares para as quais dispom os de dados ocupacionais
são as câm aras de d e p u tad o s da Espanha e dos Países Baixos. Em sete p arlam en to s
espanhóis, 1879-1979, “em p resário ” e “fazendeiros”, os dois únicos g ru p o s p ro p rie tá ­
rios iden tificad o s n o estu d o desta elite, representavam ju n to s, em m édia, 18% do total
dos m em bros. Na câm ara h o lan d esa dos anos 1848-1967, a m édia em q u a tro períodos
(definidos pela extensão d o sufrágio) era de 11%.28
Talvez o m ais curioso de todos seja o caso da elite política dos Estados Unidos (1877-
1934), consistindo n o presidente, vice-presidente e m em bros do gabinete, dos quais 13%
eram hom ens de negócios e 2% proprietários rurais. P utnam observa, sobre as lideranças
nacionais norte-am ericanas no período 1790-1940, que “a proporção de hom ens de negó­
cios (ou filhos de hom ens de negócios) que ingressaram na elite política se m anteve relati­
vam ente pequena e não se m odificou essencialmente ao longo do período no qual a Amé­
rica passou de um a sociedade predom inantem ente agrícola para um a sociedade predom i­
nantem ente industrial”.29 Esses dados estão em aparente contradição com um estudo an ­
terior, sobre os m em bros do gabinete dos Estados Unidos, no qual a m aioria era identificada
com o de em presários d u ran te o período 1889-1949. De qualquer form a, este últim o estu­
do m ostra que profissionais, mais do que proprietários, dom inaram m esm o nas elites go­
vernam entais (gabinetes nacionais) do Reino Unido, França e A lem anha.30
Se ex cetuarm os as constatações conflitantes relativas à elite de definição m ais res­
trita q u e é esta dos E stados U nidos (isto é, um a elite exclusivam ente do Executivo), o
baixo nível de p articip ação dos p ro p rietá rio s é notável em toda p arte, à exceção do
Brasil. A ú n ica elite que se aproxim a à do Brasil n o concernente à particip ação de
p ro p rie tá rio s é a da A rgentina. E ram p ro p rietário s en tre 24% e 45% dos p a rla m e n ta ­
res arg en tin o s nos três estudos de C an tó n , com a m édia p o n d erad a de 31% . Estes n ú ­
m eros ain d a são in feriores em u m terço ao resultado brasileiro de 47% . O estudo de
José Luis de Im az sobre a elite argentina inclui em presários em suas “equipes gover­

27 H igonnet e H igonnet, 1969:132.


28 C am po, Tezanos e Santín (1982:129); Daalder e Van Den Berg (1982:225, 227).
29 Putnam , 1976:188.
30 Lasswell, Lerner e Rothwell, 1952:30.
Elites regionais 95

n an tes” que, p resum ivelm ente, incluem tam bém os p ro p rietário s de terra. E m presários
c o n stitu íra m en tre 8% e 16% das equipes de 1936, 1941 e 1946, caíram em 1951 e
su b iram , en tão , p ara 24% e 32% nas equipes de 1956 e 1961.31
Assim, a elite política brasileira parece ter sido m ais am plam ente penetrada pelos
p ro p rietário s do que foram o u tras elites. Ainda que não haja tendência de predom ínio
de p ro p rietário s nas elites políticas ocidentais, as pesquisas não provaram definitiva­
m ente sua não-representatividade. A literatura m ostra que as elites políticas tendem igual­
m ente a ser form adas p o r profissionais de origem relativam ente privilegiada, ligados a
p ro p rietário s através de laços econôm icos e sociais, ou ser form adas (em m en o r n ú m e ­
ro) pelos p ro p rietário s eles m esm os.32 C om o afirm a Ralph M ilib an d ,“a razão para a tri­
b u ir im p o rtân cia considerável à com posição social da elite do Estado em países capita­
listas avançados reside na forte suposição de que esta influencia seus pontos de vista,
suas disposições ideológicas e suas tendências políticas”.33 Esta afirm ação parece em p rin ­
cípio válida para a elite brasileira, que m anifestam ente não se sentia m uito pressionada
para representar os interesses das classes trabalhadoras do cam po e da cidade, isso para
não citar o u tro s g ru p o s excluídos — não-brancos, m ulheres e im igrantes.
Para ser claro, nossa descoberta sobre a relativam ente elevada particip ação de p ro ­
p rietário s n o Brasil deve ser percebida com o aproxim ada. A codificação profissional
m ú ltip la no caso de algum as elites (in clu in d o a brasileira) ap o n ta para percentuais
m aiores que a codificação sim ples. Os dados de P u tn am , para os Estados U nidos, e de
Sm ith, p ara o M éxico, eram , q u a n to à ocupação, codificados apenas no m o m en to de
e n tra r na elite, e as definições ocupacionais não eram idênticas. A elite brasileira pos­
sui m aio r p ro p o rç ã o de paulistas do que realm ente haveria em u m estudo nacional,
ain d a q u e M inas G erais e m esm o P ernam buco apresentem um a p articip ação relativa­
m en te am p la de p ro p rie tá rio s. Paulistas e m ineiros pesaram m ais no processo político
do que indica o seu n ú m e ro de m inistros e presidentes. N ão o b stan te, d en tro destes
lim ites, o fato de o Brasil sobressair-se em relação ao grau de ocup ação de posições
políticas pelos p ro p rietário s tende a levantar dúvidas — ao m enos no que é concernente
aos anos estu d ad o s — q u a n to à tão propalada hipótese da “relativa a u to n o m ia ” do
E stado brasileiro em face dos interesses econôm icos.34

31 Imaz, 1970:27.
32 Nagle (1977:233, 248-49); M iliband (1969:66).
33 M ilib a n d , 1 9 6 9:6 8 .

34 Sobre a idéia da “relativa autonom ia” no Brasil, ver Faoro (1975). Sobre o período em
análise, conferir Pont (1987). Para a literatura sobre a “relativa autonom ia” em outros
períodos da história brasileira e o argum ento de que as políticas do Estado favoreceram
interesses econôm icos representados no governo, ver Love e Barickman (1986), e a réplica
de Joseph Love a M aurício Font (Love, 1989).
96 Por outra história das elites

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