Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
1590/1678-49442017v23n1p077
Mas os irmãos não se casavam. Em segredo, a mãe lhes preparava banhos tera-
pêuticos para mantê-los desinteressados pelas mulheres. Com a continuidade
do tratamento administrado pela mãe, uma verdadeira aversão por mulheres
se desenvolveu. Os rapazes passaram a considerar sua própria mãe repulsiva.
O cheiro insuportável da mãe tinha um efeito sufocante e os irmãos não con-
seguiam mais comer o que ela preparava.
Eles pensaram muito e decidiram ir embora. Viajaram por quatro dias pela
floresta e construíram uma casa nas margens de um rio distante. Durante os
meses iniciais, trabalharam muito para se estabelecer ali. Cultivavam inhame
em abundância e obtinham carne de caça em grandes quantidades, de maneira
que o couro retirado dos animais passou a obstruir o rio.
Em sua nova casa, os irmãos acreditavam ter despistado sua mãe para sempre.
Até que um dia, chegando de uma expedição de caça, encontraram novamente
a casa arrumada. Dessa vez, uma fragrância agradável perfumava o ambiente.
Viram suas roupas limpas. Viram madun e viram a comida preparada. Havia
sementes de algodão dispersas pelo chão. Os rapazes discutiram e resolveram
que um deles ficaria em casa para ver o que acontecia.
De volta a casa, os três irmãos estavam curiosos para saber o que tinha aconte-
cido. Após ouvirem o relato do mais novo, eles não podiam acreditar. Os rapazes
discutiram e resolveram que o irmão mais velho ficaria em casa para confirmar
a história. No dia seguinte, enquanto ele observava de longe, as moças voltaram
e repetiram a sequência de atividades domésticas. O irmão mais novo estava
falando a verdade.
Nos primeiros dias que se passaram, o irmão mais novo ficou em casa para
impedir que Olonadili fugisse. Mas ela já tinha se acostumado com o cheiro
dele e não tentaria mais fugir. Olonadili contou que as quatro irmãs pretendiam
se casar com os rapazes. Elas fugiram porque ficaram assustadas. Os irmãos
discutiram e resolveram que Olonadili se casaria com o mais velho, mas ela não
concordou. Casou-se com o irmão mais novo, conforme sua vontade.
Os rapazes voltaram para sua aldeia natal com Olonadili, que engravidou e deu
à luz uma menina. Todos os dias, ela cantava para acalmar sua filha:
O rapto do noivo
Agora vocês vão viver juntos. Vocês vão ajudar um ao outro. É muito importante
que vocês estejam sempre alegres!
Para ver seu esposo alegre, você não pode ser preguiçosa! Você deve trabalhar
para ele: oferecer madun bem cedo, “quando já se pode enxergar, mas ainda não
se sente o calor do sol” (waggudar); servir uma boa comida quando ele chegar
do trabalho no campo, cansado e com fome; lavar as roupas dele e buscar água
para tomarem banho; manter a casa limpa, onde viverão seus filhos.
Para ver sua esposa alegre, você não pode ser preguiçoso! Você deve trabalhar
para ela: buscar cocos e bananas da terra para preparar dulemasi [sopa de
coco]; trazer muitos peixes para ela dividir em seu nome; consertar o telhado
da casa quando houver uma tempestade; cultivar alimentos para os seus filhos
e pensar neles para que não tenham fome.
A mãe e a esposa
la madre comenzó a temer por el día que se fueran de casa, ya que los hombres,
al casarse, pasan a las casas de sus señoras. Ella pensó: He criado a mis hijos
de manera que sean ayuda para mí y no para otras personas. Quiero que se
queden en casa conmigo para siempre.
86 A ALIANÇA ENQUANTO DRAMA: EST/ÉTICA DA MASCULINIDADE
NO CONTEXTO DE UMA ECONOMIA AFETIVA UXORILOCAL (GUNA, PANAMÁ)
O reconhecimento da autonomia
O desprivilégio massigwa
O almoço de um homem
Trabalhei até aqui com dados que se encontram dispersos pela etno-
grafia guna, cuja organização em conjunto tem a vantagem de oferecer
uma perspectiva integral sobre o ethos de residência e suas consequências
para a experiência masculina. Valorizando a relação de afinidade feminina,
apresentei elementos que permitem compreender a aliança nos termos de
um drama residencial que ressoa no mito, no rito, no cotidiano e no ciclo
de vida dos homens.
Quero finalizar com uma reflexão proveniente de um trabalho em curso
sobre as canções de ninar como contexto privilegiado de comunicação oral,
situação “quase ritual” (Severi 2014:165) de enunciação do drama da resi-
dência entre os Guna. Considerando o escopo deste artigo, não há espaço
aqui para trabalhar com exemplos do corpus textual em língua guna. Nesta
seção final, meu objetivo é apontar linhas futuras de investigação que serão
desenvolvidas oportunamente.
96 A ALIANÇA ENQUANTO DRAMA: EST/ÉTICA DA MASCULINIDADE
NO CONTEXTO DE UMA ECONOMIA AFETIVA UXORILOCAL (GUNA, PANAMÁ)
O mito conta que as canções de ninar foram ensinadas por uma das
irmãs Nadili, capturada na rede enquanto descansava. No cotidiano, essas
canções exprimem uma infinidade de temas e situações singulares: seu con-
teúdo é improvisado de acordo com a relação entre a cantora e o bebê para
quem se oferece acalanto. A cantora pode estar em posição de nan (mãe),
muu (avó), anmor (tia), ior (irmã/prima mais velha, Ego feminino) ou buna
(irmã/prima, Ego masculino). Encontramos nos versos situações tais como o
parto difícil, o bebê que é xamã, o menino malvado, a briga entre cunhados,
a doença ou a morte na família, a falta d’água, a escassez de comida...
É comum que o conteúdo dos versos assimile dados biográficos ou
eventos recentes, como nas canções que eu recolhi para o menino que não
tem pai, para o irmão mais velho, para a menina que acabou de chegar da
cidade etc. De maneira geral, os versos improvisados se referem ao pas-
sado e ao contexto presente para então sugerir uma sequência no futuro.
Ressaltam assim uma dimensão de “caminho pessoal”, como me explicou a
velha Permina: “vamos cantando por onde o bebê andou, mas não sabemos
quais caminhos ele ainda vai percorrer”.
Expressando incerteza, as mulheres cantam o futuro virtuoso de um
pescador ou de uma coletora de água. A cantora “inventa”23 o futuro do bebê,
comunicando expectativas quanto ao desenvolvimento das “capacidades
afetivas” ou “afecções de gênero”. O ideal de cooperação indica a maneira
“adequada” (nabiri) para o desenvolvimento infantil: aprende-se a pensar
nos outros e a demonstrar seu pensamento por meio das habilidades do
corpo (por exemplo, pescar ou coletar água).
A linguagem da intimidade
Deslocando o olhar dos termos para as relações (cf. Bateson 1936, 1982;
Strathern 1998), eu pude organizar a riqueza e a diversidade de temas tra-
tados nas canções de ninar em torno de duas possibilidades de interação:
a filiação cruzada (cross-sex, mãe-filho) e a filiação paralela (same-sex,
mãe-filha).24 O conteúdo dos cantos revela uma perspectiva localizada de
percepção das relações mútuas, em que tanto a cantora quanto o bebê apa-
recem como sujeitos da interação corresidente.
A ALIANÇA ENQUANTO DRAMA: EST/ÉTICA DA MASCULINIDADE 97
NO CONTEXTO DE UMA ECONOMIA AFETIVA UXORILOCAL (GUNA, PANAMÁ)
Notas
12 Cf. N-C Mathieu (2007): Une maison sans fille est une maison morte. La
personne et le genre en sociétés matrilinéaires et/ou uxorilocales. [Uma casa sem
menina é uma casa morta].
21 an gassi seredi, e.g., quer dizer “minha rede está velha” (precisa ser con-
sertada ou trocada).
22 Por exemplo, a sentença anga masi omeloed é entendida por “sirva-me mais
comida”, com ênfase para o sentido de abundância (diferente da forma napi, que
significa “outra vez” e é utilizada para repetir).
A ALIANÇA ENQUANTO DRAMA: EST/ÉTICA DA MASCULINIDADE 103
NO CONTEXTO DE UMA ECONOMIA AFETIVA UXORILOCAL (GUNA, PANAMÁ)
Referências bibliográficas
BALINT, A. 1939. “Love for the mother Memória. Ensaio sobre a relação do
and mother love” (1939). Published corpo com o espírito. São Paulo: M.
posthumously in the International Fontes.
Journal of Psycho-Analysis (XXX, BEYSEN, P. 2013. “A arte gráfica dos
1949) and collected in: M. Balint. traços fortes entre os Ashaninka do
1965. Primary love and psycho- Oeste Amazônico”. In: E. Lagrou
-analytic technique. London: Tavis- & C. Severi (orgs.), Quimeras em
tock Publications. diálogo: grafismo e figuração nas
BALINT, M. 1965. Primary love and artes indígenas. Rio de Janeiro: 7Le-
psycho-analytic technique. London: tras, pp 223-245.
Tavistock Publications. BOLTANSKI, L. 1990. L’amour et la
BATESON, G. Naven. 2008 [1936]. São justice comme compétences. Trois
Paulo: EdUSP. essais de sociologie de l’action. Paris:
_____. 2000 [1972]. Steps to an ecology Métailié.
of mind. Chicago: The University of CHAPIN, M. 1989. Pab igala: historias
Chicago Press. de la tradición kuna. Quito: Ediciones
_____. 1982. “De la clasificación al proce- Abya Yala.
so”. In: Espíritu y Naturaleza. Buenos CHODOROW, N. 1978. The reproduction
Aires: Amorrortu, pp. 211-219. of mothering. Berkeley: University of
BELAUNDE, L. E. 2005. El recuerdo California Press.
de Luna. Género, sangre y memoria CLASTRES, P. 2003 [1974]. A sociedade
entre los pueblos amazónicos. Lima: contra o estado. Pesquisas de antropo-
CAAAP. logia política. São Paulo: Cosac Naify.
_____. 2013. “Movimento e profundidade COHN, C. 2000. A criança indígena: a
no kene shipibo-conibo da Amazônia concepção Xikrin da infância e do
Peruana”. In: E. Lagrou & C. Severi aprendizado. Dissertação de Mestra-
(orgs.), Quimeras em diálogo: grafis- do, PPGAS-FFLCH/USP.
mo e figuração nas artes indígenas. DELEUZE, G. & GUATTARI, F. 1995
Rio de Janeiro: 7Letras, pp 199-222. [1980]. Mil platôs. Capitalismo e es-
BERGSON, H. 1990 [1896]. Matéria e quizofrenia. São Paulo: Ed. 34.
104 A ALIANÇA ENQUANTO DRAMA: EST/ÉTICA DA MASCULINIDADE
NO CONTEXTO DE UMA ECONOMIA AFETIVA UXORILOCAL (GUNA, PANAMÁ)
DESCOLA, P. 2001. “The genres of gen- & F. Loveland (eds.), Frontier adap-
der: local models and global paradig- tations in Lower Central America.
ms in the comparison of Amazonia Philadelphia: Institute for the Study
and Melanesia”. In: T. Gregor & D. of Human Issues, pp. 131-150.
Tuzin (eds.), Gender in Amazonia and HOWE, J. 1985. “Marriage and domestic
Melanesia: an exploration of the com- organization among the San Blas
parative method. Berkeley: University Kuna”. In: W. Darcy & M. Correa
of California Press, pp 91-114. (eds.), The botany and natural history
FORTIS, P. 2008. Carving wood and of Panama. St. Louis: Missouri Bota-
creating shamans. An ethnographic nical Garden, pp.317-331.
account of visual capacity among the HOWE, J.; SHERZER, J. & CHAPIN,
Kuna of Panama. Doctoral Disserta- M. 1980. Cantos y oraciones del
tion, University of St. Andrews. congreso Cuna. Panamá: Editorial
FREUD, S. 2010 [1914]. Introdução ao Universitaria.
narcisismo. São Paulo: Companhia LAGROU, E. 2006. “Rir do poder e o
das Letras. poder do riso nas narrativas e per-
GELL, A. 2001. “A rede de Vogel, arma- formances Kaxinawa”. Revista de
dilhas como obras de arte e obras de Antropologia, 49(1):55-90.
arte como armadilhas”. Arte e Ensaios _____. 2007. A fluidez da forma: arte, al-
– PPGAV/UFRJ, ano VIII, 8:174-191. teridade e agência em uma sociedade
GONÇALVES, M.A. 2001. O mundo amazônica (Kaxinawa, Acre). Rio de
inacabado. Ação e criação em uma Janeiro: TopBooks.
cosmologia amazônica. Etnografia _____. 2008. “El corazón que piensa”. In:
pirahã. Rio de Janeiro: Editora UFRJ. L. E. Belaunde (org.), El recuerdo de
_____. 2007. “Do cromático ao diatônico: Luna. Lima: CAAAP, pp. 17-21.
as mitológicas e o pensamento ame- LAGROU, E. & SEVERI, C. (orgs.). 2013.
ríndio”. Revista Brasileira de Ciências Quimeras em diálogo: grafismo e fi-
Sociais, 22(65):173-181. guração nas artes indígenas. Rio de
_____. 2010. Traduzir o outro: etnografia e Janeiro: 7Letras.
semelhança. Rio de Janeiro: 7Letras. LEA, V. R. 1993. “Casas e casas Meben-
GOW, P. 1991. Of mixed blood. Kinship gokre (Jê)”. In: E. Viveiros de Castro
and history in Peruvian Amazonia. & M. Carneiro da Cunha (eds.),
Oxford: Clarendon Press. Amazônia: etnologia e história indí-
GUERRA, M.D. & SÁNCHEZ, L. 2000. gena. São Paulo: NHII-USP/FAPESP,
Los indios Kuna: mitología, mujer y pp.265-284.
territorio. Medellín: Instituto Misio- _____. 2004. “Aguçando o entendimento
nero de Antropología / Ethnia (85). dos termos triádicos Mebêngôkre via
HIRSCHFELD, L. & HOWE, J. 1981. os aborígenes australianos: dialogan-
“The star girls’ descent: a myth about do com Merlan e outros”. Liames,
men, women, matrilocality, and sin- 4:29-42.
ging”. Journal of American Folklore, LÉVI-STRAUSS, C. 1936. “Contribution
94(373):292-322. à l’étude de l’organisation sociale des
HOLLOMAN, R. 1969. Developmental Indiens Bororo”. Journal de la Société
change in San Blas. Doctoral Dis- des américanistes, 28(2):269-304.
sertation, Northwestern University. _____. 1976 [1969]. As estruturas elemen-
_____. 1976. “Cuna household types and tares do parentesco. Petrópolis: Vozes.
the domestic cycle”. In: M. Helms
A ALIANÇA ENQUANTO DRAMA: EST/ÉTICA DA MASCULINIDADE 105
NO CONTEXTO DE UMA ECONOMIA AFETIVA UXORILOCAL (GUNA, PANAMÁ)
_____. 1979. “A organização social _____. 2001. How real people are made.
Kwakiutl”. In: A via das máscaras. Gender and sociality in Amazonia.
Lisboa: Martins Fontes, pp. 143-167. Oxford: Berg Publishers.
_____. 1984. Paroles données. Paris: Plon. McCOSKER, S. 1974. The lullabies of the
_____. 2000. “Postface”. L’Homme [en lig- San Blas Cuna of Panama. Göteborg:
ne], 154-155 | avril-septembre 2000, Etnografiska Museet.
mis en ligne le 04 mai 2007. Disponí- NORDENSKIÖLD, E. 1938. An historical
vel em: http://lhomme.revues.org/57; and ethnological survey of the Cuna
DOI: 10.4000/lhomme.57. Acesso em indians. Göteborg: Etnografiska
02/05/2017. Museet.
_____. 2006. A origem dos modos à mesa. ORTNER, S. 1974. “Is female to male as
Mitológicas 3. São Paulo: Cosac nature is to culture?”. In: M. Rosaldo
Naify. & L. Lamphere (eds.), Women, cultu-
LIPSET, D. 2009. “O que faz um homem? re, and society. Stanford: University
Relendo Naven e The Gender of the of California Press, pp. 67-87.
Gift”. Cadernos Pagu, 33:57-81. OVERING, J. 1975. The Piaroa; a peo-
LOPEZ, G. & JOLY, L. 1981. “Singing ple of the Orinoco Basin: a study in
a lullaby in Kuna: a female verbal kinship and marriage. Oxford: Cla-
art”. Journal of American Folklore, rendon Press.
94(373):351-358. _____. 1981. “Amazonian anthropology”.
MADI DIAS, D. 2015. Gênero disperso: Journal of Latin American Studies,
estética e modulação da masculini- 13(1):151-164.
dade Guna (Panamá). Tese de Dou-
_____. 1984. “Elementary structures
torado, PPGSA-IFCS/UFRJ.
of reciprocity: a comparative note
MARGIOTTI, M. 2010. Kinship and the
on Guianas, Central Brazilian and
saturation of life among the Kuna of
NorthWest Amazon sociopolitical
Panamá. Doctoral Dissertation, Uni-
thought”. In: A. Colson & D. Heinen
versity of St. Andrews.
(eds.), Themes in political organiza-
_____. 2011. “Bodies, relatedness and
tion: the Caribs and their neighbours.
density: a view from the Kuna hou-
Caracas: Fundación La Salle, pp.
se”. Paper presented at the School of
331-348.
Anthropology and Museum Ethno-
_____. 1986. “Men control women? The
graphy, University of Oxford. Mimeo.
‘Catch 22’ in gender analysis”. Inter-
MARTÍNEZ, M.M. 2007. De Tule Nega
national Journal of Moral and Social
a Kuna Yala. Mediación, territorio y
Studies, 1(2):135-156.
ecología en Panamá 1903-2004. Tesis
_____. 1991. “A estética da produção: o
Doctoral, Universitat Autònoma de
Barcelona/ École des Hautes Études senso da comunidade entre os Cubeo
en Sciences Sociales. e os Piaroa”. Revista de Antropologia,
MATHIEU, N-C. (ed). 2007. Une maison 34(2):7-33.
sans fille est une maison morte. La _____. 1999. “Elogio do cotidiano: a
personne et le genre en sociétés ma- confiança e a arte da vida social em
trilinéaires et/ou uxorilocales. Paris: uma comunidade amazônica”. Mana,
Maison des Sciences de L’Homme. 5(1):81-107.
McCALLUM, C. 1999. “Aquisição de _____. 2000. “The efficacy of laughter.
gênero e habilidades produtivas. The ludic side of magic within Ama-
O caso Kaxinawá”. Revista Estudos zonian sociality”. In: J. Overing &
Feministas, 7(1-2):157-175. A. Passes (eds.), The anthropology of
106 A ALIANÇA ENQUANTO DRAMA: EST/ÉTICA DA MASCULINIDADE
NO CONTEXTO DE UMA ECONOMIA AFETIVA UXORILOCAL (GUNA, PANAMÁ)
love and anger. The aesthetics of con- SPERBER, D. & WILSON, D. 1986. Rele-
viviality in native Amazonia. London: vance: communication and cognition.
Routledge, pp. 64-81. Cambridge: Blackwell.
_____. 2002. An Amazonian philosophy SPERBER, D. 1974. Le symbolisme en
of folly. St. Andrews, EASA: ‘Comedy, général. Paris: Hermann.
Mischief, Deceit’. SPINOZA, B. 1983 [1677]. Ética. São
_____. 2012. “Adiwa! Piaroa philoso- Paulo: Abril Cultural.
phies of power, violence, ingestion, STRATHERN, M. 1988. The gender of
excretion, blood and beauty”. Paper the gift. Problems with women and
presented at the Institute of Cultural problems with society in Melanesia.
Analysis, Vienna. Mimeo. London: University of California
PERRIN, M. 1999. Magnificent molas. Press.
The art of the Kuna indians. Paris: _____. 2010. “Porcos e celulares: uma
Flammarion. conversa com Marilyn Strathern
PRESTÁN SIMÓN, A. 1975. El uso de la sobre antropologia e arte”. Revista
chicha y la sociedad Kuna. México/ PROA de Antropologia e Arte, 1(2)
DF: Instituto Indigenista Interame- [on-line].
ricano. TAUSSIG, M. 1999. Defacement: public
REVERTE COMA, J.M. 1967. El ma- secrecy and the labor of the negative.
trimonio entre los indios Cuna de Stanford: Stanford University Press.
Panamá. Panamá: Edilito. TAYLOR, A-C. 2000. “Le sexe de la proie.
SANTOS-GRANERO, F. 1991. The power Représentations jivaro du lien du pa-
of love: the moral use of knowledge renté”. L’Homme, 154-155:309-333.
amongst the Amuesha of Central VAN VELTHEM, L.H. 2003. O belo é
Peru. London: Athlone Press. a fera: a estética da produção e da
SEVERI, C. 1987. “The invisible path. predação entre os Wayana. Lisboa:
Ritual representation of suffering in Assírio & Alvim / Museu Nacional
Cuna traditional thought”. Anthro- de Etnologia.
pology and Aesthetics, 14:66-85. Pe- VIVEIROS DE CASTRO, E. 1993.
abody Museum / Harvard University. “Alguns aspectos da afinidade no
_____. 2000. “Cosmologia, crise e para- dravidianato amazônico”. In: E.
doxo. Da imagem de homens e mu- Viveiros de Castro & M. Carneiro da
lheres brancos na tradição xamânica Cunha (orgs.), Amazônia: etnologia
kuna”. Mana, 6(1):121-155. e história indígena. São Paulo: NHII/
_____. 2014. “Être patrocle: jeux et ri- USP-FAPESP, pp. 149-210.
tuels funéraires dans l’Iliade”. In: _____. 1996a. “Images of nature and
C. Severi & C. Fausto (eds.), L’image society in Amazonian ethnology”.
rituelle. Paris: L’Herne, Cahiers Annual Review of Anthropology,
d’anthropologie sociale, 10, pp. 25(1):179-200.
147-173. _____. 1996b. “Os pronomes cosmológi-
SHERZER, J. 1990. Verbal art in San cos e o perspectivismo ameríndio”.
Blas: Kuna culture through its dis- Mana, 2(2):115-144.
course. Cambridge: Cambridge Uni- _____. 2002. A inconstância da alma
versity Press. selvagem. São Paulo: Cosac Naify.
A ALIANÇA ENQUANTO DRAMA: EST/ÉTICA DA MASCULINIDADE 107
NO CONTEXTO DE UMA ECONOMIA AFETIVA UXORILOCAL (GUNA, PANAMÁ)
Resumo Abstract
O artigo lança um olhar para os This article looks at the Guna through
Guna a partir da casa de residência, the prism of the residential home, a
espaço privilegiado de comunhão e privileged space for communion and
compartilhamento de recursos. Meu sharing scarce resources. I first show
objetivo é demonstrar que a residência that residence in Gunayala is based on
em Gunayala movimenta uma economia a “domestic economy of thoughts”: a
doméstica dos pensamentos: os Guna lazy person (wiegala) is someone who
dizem que a pessoa preguiçosa (wiegala) does not think of others (binsaed suli),
não pensa nos outros (binsaed suli). and is thus called sunnasuli – “not a true
Ela é considerada sunnasuli – “não é relative” or simply “mean person”. The
parente de verdade” ou, simplesmente, language of the gift stamps transactions
“malvada”. O dom é a linguagem that take place in the context of intimacy.
utilizada para dar conta das transações I explore the consequences of the Guna
que ocorrem no registro da intimidade. ethics of conviviality in relation to
Procuro explorar as consequências manhood, considering the thought of
da ética da convivialidade guna no men towards their wives as a condition
que se refere à masculinidade, na for maintaining and keeping them in
medida em que os homens são levados the house of their affines. The issue
a pensar em sua esposa como condição of exchange is analysed through the
de fixação e permanência na casa dos mythological, ritual and sociological
afins. O problema da troca é examinado roots of uxorilocality, allowing us to frame
a partir das raízes mitológicas, rituais the effort in consubstantializing affines
e sociológicas da uxorilocalidade, in terms of residential drama: the drama
permitindo compreender o esforço de of alliance or alliance as drama.
consanguinização da afinidade nos Key words: Gender, Intimacy, Ethics,
termos de um drama residencial: o drama Uxorilocality, Manhood, Guna.
da aliança ou a aliança enquanto drama.
Palavras-chave: Gênero, Intimidade,
Ética, Uxorilocalidade, Masculinidade,
Guna.
108 A ALIANÇA ENQUANTO DRAMA: EST/ÉTICA DA MASCULINIDADE
NO CONTEXTO DE UMA ECONOMIA AFETIVA UXORILOCAL (GUNA, PANAMÁ)